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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Instituto de Ciência da Informação Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação JOSEANE OLIVEIRA DA CRUZ DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA: INFORMAÇÃO E MEMÓRIA Salvador 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Instituto de Cincia da Informao

Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao

JOSEANE OLIVEIRA DA CRUZ

DESCRIO ARQUIVSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA: INFORMAO E MEMRIA

Salvador 2018

JOSEANE OLIVEIRA DA CRUZ

DESCRIO ARQUIVSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA: INFORMAO E MEMRIA

Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Informao, no Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao da Universidade Federal da Bahia. Linha de Pesquisa: Polticas e Tecnologias da Informao. Orientadora: Prof Dra. Zeny Duarte de Miranda.

Salvador 2018

C 957 CRUZ, Joseane Oliveira da

Descrio arquivstica da fotografia do arquivo pessoal de Rui Barbosa:

informao e memria. / Joseane Oliveira da Cruz. Salvador, 2018.

114 f. il.

Orientadora: Profa. Dra. Zeny Duarte de Miranda

Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Instituto de Ciencias da

Informao, 2017.

1. Barbosa, Rui 2. Arquivo pessoal. 3 Documentao fotogrfica. 4. Descrio

arquivstica 5. Recuperao da informao. 5. Memria. I. Universidade Federal da

Bahia. Instituto de Cincia da Informao. II. Miranda, Zeny Duarte de. III. Ttulo.

CDU: 930.253

CDD: 025.1714

CDU: 77.039

FOLHA DE APROVAO

DESCRIO ARQUIVSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA: INFORMAO E MEMRIA

JOSEANE OLIVEIRA DA CRUZ

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao,

do Instituto de Cincia da Informao, Universidade Federal da Bahia, em 26 de

fevereiro de 2018, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincia

da Informao.

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Prof. a Dr. a Zeny Duarte de Miranda

Universidade Federal da Bahia - UFBA

http://lattes.cnpq.br/3163746449445444

Titular interno: Prof. a Dr. a Ldia Maria Batista Brando Toutain

Universidade Federal da Bahia - UFBA

http://lattes.cnpq.br/2594676200025013

Suplente interno: Prof. Dr. Ricardo Coutinho Mello

Universidade Federal da Bahia UFBA

http://lattes.cnpq.br/2652839078793474

Titular externo: Prof. Dr. Pablo Antonio Iglesias Magalhes

Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB

http://lattes.cnpq.br/2208149605868630

Suplente externo: Prof. a Dr. a Jaci Maria Ferraz de Menezes

Universidade do Estado da Bahia UNEB

http://lattes.cnpq.br/0296701151804947

http://lattes.cnpq.br/2652839078793474http://lattes.cnpq.br/2208149605868630

A meu pai (in memoriam), que sempre acreditou no meu

potencial, est sempre ao meu lado e orgulhoso do meu existir.

A minha me Neuza, exemplo de vida e mulher, que sempre

incentivou e contribuiu com muito amor, zelo e cuidado para

seguir cada passo, dentre muitos que alcancei e alcano.

Ao meu irmo Rivelyno Oliveira da Cruz pelo incentivo e apoio

nas horas difceis, contribuio intelectual, ele que sempre

acredita em minhas metas, objetivos e aes.

A minha filha amada de corao, Vanessa Reis, inteligente e

dedicada menina, seguidora dos meus exemplos acadmicos.

Aos meus irmos Jos da Cruz, Alex da Cruz e Josaf da Cruz

pelo apoio moral e incentivo.

AGRADECIMENTOS

Deus, que cada dia me d fora e incentivo para o meu crescimento.

A minha orientadora, professora e pesquisadora Profa. Dra. Zeny Duarte pela interao,

compreenso, ensinamentos e dedicao.

A superintendente do Sistema de Bibliotecas e docente do PPGCI/UFBA Prof. a Dr. a

Ldia Brando Toutain pelo incentivo e estmulo.

Aos professores, Dr. a Hildenise Novo, Dr a. Henriete Gomes, Dr. Rubens Silva e Dr. a

Maria Teresa Navarro pela contribuio para o meu crescimento acadmico e

intelectual.

Aos servidores, colegas e professores do PPGCI/UFBA Instituto de Cincia da

Informao da Universidade Federal da Bahia.

Aos meus familiares e amigos que sempre contriburam para minha formao e

acreditam no meu potencial e ao meu noivo Reinan Queiroz pelo apoio, discusses,

e compreenso nos momentos difceis.

Aos amigos e amigas Elisana Soares Bally, Ycaro Swuan, Dbora Anjos, Thiago

Sarmento e Maria Alice Ribeiro, Milena Melo, Samir Lion, Teresa Coelho, Miriane

Fiuza e Sany Sena pelos momentos de dedicao, apoio e leitura do meu texto.

Aos meus colegas e amigos de trabalho dos Lugares de Memria: Estudos Baianos,

Maria Alice Ribeiro, Thiago Sarmento, Juvemrio Miranda, Neuza Neves, Wilson Dias,

Alda Silva, Elaine Sampaio e Talita Batista pelo apoio, incentivo constante e fora.

Aos estagirios que atuaram nos projetos da UFBA, no Sistema de Bibliotecas.

Aos professores Dr. Andr Malverdes, Dr. Jos Carlos Sales, pelo apoio, orientaes,

incentivo e ampliao do meu conhecimento.

Aos servidores da Casa de Rui Barbosa, que colaboraram atenciosamente, com

gentileza, eficincia e eficcia sendo participantes durante a pesquisa in loco.

Aos meus colegas de turma e amigos do Mestrado Bruno, Marina, Regis, Nanci, Ivana,

Franklin e Patrcia por nossas conversas, trocas de experincias e novos

conhecimentos, em especial ao colega Daniel Branco.

Ao meu felino gatinho Vick, sempre ao meu lado, nas madrugadas, embora, s vezes

dormindo.

...no h por ai, nas reparties pblicas, nos ministrios, onde

quer que exista a mnima parcela de experincia administrativa,

quem ignore que os documentos recolhidos ao seio de um

arquivo constituem de domnio pblico. (Rui Barbosa).

Quem impe suas ideias, seja atravs do tom de voz

exacerbado, da presso social, da presso financeira, de

cobranas excessivas ou de seus discursos interminveis, no

autor da prpria histria, nem formador de pensadores, mas

formador de servos, de pessoas passivas, intimidadas e

submissas. (Augusto Cury)

RESUMO

A pesquisa originou-se da percepo e inquietude dos arquivistas e outros

profissionais de reas afins, que atuam com a documentao fotogrfica,

principalmente, com relao ao processo de descrio, divulgao e recuperao da

informao. A documentao fotogrfica, embora presente na maioria dos arquivos

pblicos e privados, ainda pouco debatida no contexto da descrio arquivstica,

seja em meio analgico ou digital. A fotografia constitui-se em espcie documental

com especificidades prprias, sua descrio individualizada, mas possui o carter

orgnico em conjuntos documentais. Nesta conjuntura, so adotadas normas e

tcnicas compatveis ao princpio bsico da arquivologia de respeito aos fundos, que

permite a disseminao e o acesso informao. O objetivo propor uma discusso

sobre o tema, por meio do arquivo pessoal de Rui Barbosa, na srie Iconografia no

Servio de Arquivo Histrico e Institucional (SAHI). A documentao fotogrfica do

citado arquivo, de interesse para memria individual e social/coletiva. A anlise visa

compreender o problema da descrio arquivstica do documento fotogrfico, a partir

de reviso terica e conceitual. Observamos a utilizao dos critrios temticos nos

Arquivos, que nem sempre respeitam os princpios arquivsticos da provenincia e

ordem original. Nesta investigao foi aplicado um questionrio, realizadas

entrevistas, visitas in loco e acesso on line ao arquivo pessoal de Rui Barbosa. A

documentao fotogrfica est identificada, descrita e disponibilizada por meio do

sistema fotoWeb, franqueando a consulta e amplo acesso informao nela contida.

A partir desta pesquisa, espera-se contribuir para ampliar os estudos do tema em foco,

inserido no mbito da Cincia da Informao.

Palavras-chave: Arquivo pessoal. Documentao fotogrfica. Descrio arquivstica.

Recuperao da informao. Rui Barbosa. Memria.

ABSTRACT

This research was born when we realizad the difficulty process operated by the

archivists and other professionals from Information Sciennce about description,

divulgation and recuperation of the photographic documentation. The photographic

documentation, presente in all kind of archives - publics and privates - is already very

few in the context of the archival description and the information recover, in analogical

or digital suports. The photography is a special document, diferent from others, with

individualized description, but with organic character of documental groups. This

research adopted compatible techniques from the principle of Respeito aos Fundos,

that allows the dissemination and the access to the information. This research tries to

discuss the presente theme using Rui Barbosas personal archive Iconographic

Series, in the Historic and Institutional Archive Service. The fotographic document is

very important to the individual and social/collective memory. This study tries to

understand the problem of the archival description of the photographic document,

using a theoretical review. It is possible to observe the utilization of thematic rules in

the archives that are not respecting the archival principles of Provenincia and

Ordem Original (original order). The research applied a quiz (interview) with the local

employees, a guide tour in loco, with on line acess to the Rui Barbosas personal

archive. The photographic documentation is identified, described and available at

World Wide Web using the FotoWeb Sistem, authorizing extensive access to the

information. This research desires to develop the studies about this specific type of

personal archives to the Information Science and similar areas.

Keywords: Personal Archive. Photographic Documetation. Archival Description

Information Recover. Rui Barbosa. Memory.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Cmera escura ........................................................................................... 26

Figura 2: Banco de dados do acervo iconogrfico da FCRB ..................................... 48

Figura 3: Fotografia sobre o sepultamento de Rui Barbosa ...................................... 49

Figura 4: Comemorao centenrio abertura dos Portos, 1908, Rio de Janeiro. ...... 53

Figura 5: Praa Cabral - Rio de Janeiro, Brazil. ........................................................ 55

Figura 6: Grupo na Fazenda de Jaguari, Campinas, So Paulo, 1910 (?). ............... 56

Figura 7: Translado dos restos mortais de Rui Barbosa, 1949.................................. 60

Figura 8: Rio Tamisa, Teddington, Inglaterra. ........................................................... 63

file:///C:/Users/soutr/Desktop/Joseane/VERSO%20FINAL/Mestrado%20dissertao%20completa%20%2028.05.18%20at%20-%20revisada.docx%23_Toc515263438file:///C:/Users/soutr/Desktop/Joseane/VERSO%20FINAL/Mestrado%20dissertao%20completa%20%2028.05.18%20at%20-%20revisada.docx%23_Toc515263439file:///C:/Users/soutr/Desktop/Joseane/VERSO%20FINAL/Mestrado%20dissertao%20completa%20%2028.05.18%20at%20-%20revisada.docx%23_Toc515263440file:///C:/Users/soutr/Desktop/Joseane/VERSO%20FINAL/Mestrado%20dissertao%20completa%20%2028.05.18%20at%20-%20revisada.docx%23_Toc515263443file:///C:/Users/soutr/Desktop/Joseane/VERSO%20FINAL/Mestrado%20dissertao%20completa%20%2028.05.18%20at%20-%20revisada.docx%23_Toc515263444

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMLB Arquivo-Museu de Literatura Brasileira

CI Cincia da Informao

CIA Conselho Internacional de Arquivos

CONARQ Conselho Nacional de Arquivos

FCRB Fundao Casa de Rui Barbosa

G-Acervos Grupo de pesquisa em manuscriptolgicos, bibliogrficos,

iconogrficos, etnogrficos: organizao, preservao e

interfaces das tecnologias da informao e comunicao

ICA-ATOM International Council of Archives - Acronymn for Asess to

Memory (Software de descrio e acesso aos documentos

arquivsticos digitais)

ISAD(G) Padro Internacional de Descrio Arquivstica (Geral)

MIT Multi, Trans e Interdisciplinar

NOBRADE Norma Brasileira de Descrio Arquivstica

PPGCI Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao

SAHI Servio de Arquivo Histrico e Institucional

TIC Tecnologias da Informao e Comunicao

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e

a Cultura

SUMRIO

1 INTRODUO ....................................................................................................... 13

2 ARQUIVO PESSOAL E A FOTOGRAFIA ............................................................. 18

2.1 ARQUIVO PESSOAL: BREVE ABORDAGEM .................................................... 22

2.2 A FOTOGRAFIA COMO DOCUMENTO ARQUIVSTICO ................................... 25

3 PERCURSO METODOLGICO ............................................................................ 31

4 O CONTEXTO DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA ............................. 37

4.1 O RUI BARBOSA: BREVE TRAJETRIA ........................................................... 38

4.2 DESCRIO ARQUIVSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE

RUI BARBOSA .......................................................................................................... 40

4.3 A FOTOGRAFIA NO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA: CONTRIBUIO

MEMRIA COLETIVA ........................................................................................... 46

4.4 PROCESSO DE DIGITALIZAR DOCUMENTOS: RECUPERAO, ACESSO E

PRESERVAO DA FOTOGRAFIA ......................................................................... 57

5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 68

REFERNCIAS ......................................................................................................... 73

ANEXO A CARTA DE APRESENTAO DA PESQUISADORA ........................ 80

ANEXO B ORGANOGRAMA DA FUNDAO CASA DE RUI BARBOSA .......... 81

ANEXO C FOTOGRAFIAS CASA RUI BARBOSA ............................................... 82

ANEXO D SOFTWARE FOTOWARE ADOTADO NA FCRB ................................ 84

APNDICE A - ROTEIROS DAS ENTREVISTAS .................................................... 85

APNDICE B PRIMEIROS ESTUDIOSOS DA REPRODUO FOTOGRFICA 87

APNDICE C - INSTRUMENTO DE PRODUO DO REFERNCIAL TERICO . 88

13

1 INTRODUO

Sabemos que os seres humanos se utilizam do registro de informaes desde

tempos mais remotos. Ao registrarmos aquilo que vemos, sentimos e realizamos,

temos a possibilidade, ao longo da histria, das descobertas filosficas, cientficas,

tecnolgica e sociais.

Vale ressaltar que, a partir dos primeiros registros originaram-se os arquivos,

a partir de elementos de estudo e reflexo da Arquivologia, j no sculo XVI, conforme

afirma Fonseca (2005, p. 30) a longevidade da atividade arquivstica, considerando

que a histria dos registros se confunde com a histria das civilizaes humanas ps-

escritas, e que os arquivos, ainda em suas formas preliminares, brotaram na rea do

chamado crescente e frtil e no Oriente Mdio, gira em torno de seis milnios.

Os estudos arquivsticos ganharam novas bases de reflexo com a revoluo

francesa no final do sculo XVIII, quando se potencializa o trato do registro, luz de

uma cincia moderna que recebe o nome de Arquivologia1. Na segunda metade do

sculo XIX, com o desenvolvimento da compreenso terica e dos desdobramentos

tcnicos, a Arquivologia passa a compor um campo das cincias humanas e

aplicadas, passvel de investigao cientfica e aprofundamento terico-metodolgico.

No sculo XX, essa cincia mudou o seu olhar sobre o armazenado e

estimulou o dilogo dos arquivos com diversas reas do conhecimento. A

possibilidade da dialtica proporcionada pela interdisciplinaridade a partir do

desenvolvimento ou surgimento da Cincia da Informao (CI), includa nas Cincias

Sociais Aplicadas.

No contexto das tcnicas da Arquivologia, existem normas e princpios

capazes de promover os arquivos ao que se propem, sua divulgao e acesso

informao, a exemplo da descrio arquivstica. importante compreender a

descrio arquivstica, sua estrutura e, como foco deste estudo, analisamos a

descrio da fotografia contida no arquivo pessoal, tema pouco estudado. A fotografia

merece ateno porque, embora presente em muitos arquivos pessoais como fonte

de pesquisa, ela possui peculiaridade em relao sua descrio, algo que dificulta a

recuperao da informao e, consequentemente, sua disseminao e acesso.

Visto desta maneira, o objetivo geral deste estudo foi analisar a descrio

arquivstica aplicada a documentao fotogrfica, na srie iconografia do arquivo

1 Arquivologia: em alguns pases denominada de Arquivstica.

14

pessoal de Rui Barbosa, visando verificar os princpios arquivsticos a ele aplicados.

A partir de ento, compreendemos as ferramentas de recuperao da mencionada

documentao, de forma a contribuir para a preservao da memria, seja no contexto

analgico e/ou digital, por ser ela, desde sua inveno utilizada como fonte de

investigao cientfica nas diversas reas do conhecimento, sendo de grande

relevncia para a constituio do patrimnio documental2.

Os objetivos especficos desta pesquisa se relacionam da seguinte maneira:

identificar a poltica de descrio da documentao fotogrfica no contexto do arquivo

pessoal de Rui Barbosa; identificar na srie iconografia a organizao arquivstica

aplicada para a documentao fotogrfica e seus elementos de descrio;

compreender a recuperao da informao e representao da documentao

fotogrfica.

Para que a recuperao da informao seja eficaz, os documentos de arquivo

devem passar pelo processo de descrio arquivstica, assim como todo e qualquer

documento de arquivo produzido pelos seus titulares, sejam da esfera administrativa,

institucional ou da esfera privada/pessoal (jurdica e fsica). Nesse contexto, h

normas internacionais e nacional. No Brasil temos a Norma Brasileira de Descrio

Arquivstica (NOBRADE), BRASIL, 2006.

Assim, a preponderante justificativa para esta pesquisa, originou-se de nossa

inquietude em relao ao processo de descrio, recuperao da informao da

fotografia e o desenvolvimento do estudo sobre os aspectos eficientes/eficazes de um

sistema computacional, temtica a qual se faz muito importante na rea da CI, devido

aos aspectos ligados aos estudos sobre o tratamento e representao da informao,

esteja ela em ambiente digital ou analgico.

Deste modo, buscamos compreender a descrio da fotografia, no contexto

do arquivo pessoal, iniciando por meio da reviso terica sobre o tema, visando

contribuir e ampliar estudos no mbito da CI, Arquivologia e reas afins. Alm disso,

nosso intento apresenta-se, tambm, como uma possibilidade de contribuir para a

preservao da memria fotogrfica, de interesse social e fonte de informao

memria coletiva, definida por Pierre Nora (1978) como "a memria, ou o conjunto de

2 Patrimnio documental: os conjuntos documentais reunidos nos arquivos permanentes, tambm chamados histricos, vm a constituir o patrimnio documental institucional, municipal, estadual ou nacional.

15

memrias, mais ou menos conscientes de uma experincia vivida ou mitificada por

uma comunidade, cuja identidade parte integrante do sentimento do passado.

Devido variedade de documentos fotogrficos nos arquivos e, por se tratar

de fonte de informao, ratificamos a concepo da fotografia como trao de

representao memorial do homem. Ou seja, a partir da imagem que temos de ns

mesmos, de outros lugares e pessoas, possvel obtermos a constituio de nossa

memria.

Compreendemos que, na Arquivologia, o trabalho desenvolvido pode,

continuamente, ser otimizado e orientado, em funo do objetivo a se defender o

documento fotogrfico como mais exigente, onde so levantadas maiores dificuldades

na etapa de descrio do seu contedo. Assim, percebemos que se ergue uma

necessidade de ampliada e detalhada anlise da imagem, para a melhor descrio do

documento.

Para tal, as fotografias tambm devem ser disseminadas e compartilhadas

visando a sua contribuio social e a gerao do conhecimento, como afirma Lima

(2014, p. 22) [...] a imagem no desprendida de significados. Ela carrega consigo

seus signos e apresenta sinais e emblemas[...], se faz necessrio o uso de conceitos

sobre a informao e sua relao coma memria e a sociedade.

Ainda nesse contexto lembrarmos que o passado constitui a fonte de

justificao das atitudes que idealizamos, base cultural para o presente e o futuro,

como cita o Baudrillard (1991, p. 10): toda a nossa cultura linear e acumulativa que

desmorona se no pudermos armazenar o passado luz do dia.

Diante da afirmao acima, temos a confirmao da necessidade de

disponibilizarmos os arquivos e sua documentao, seja textual, iconogrfica,

audiovisual, cartogrfica, a gerar conhecimento como afirma Silva (2006, p. 24) a

informao quase sinnimo de facto; que deriva o conhecimento; pode ser trocada

com o mundo exterior e no simplesmente recebida, por isso cabe aos pesquisadores

de diversas reas do conhecimento. De acordo com o professor Dr. Armando

Malheiro da Silva (2006, p. 24)

[...] desde j, importa esclarecer que entendemos a informao como um fenmeno humano e social, que deriva de um sujeito que conhece, pensa, se emociona e interage com o mundo sensvel sua volta e a comunidade de sujeitos que comunicam entre si. (SILVA, 2006, p. 24)

Para tal, urge propagar o entendimento dos arquivos como fonte de

informao, seja pela sua acumulao e manuteno de documentos manuscritos,

16

narrativas gravadas ou, neste caso, da documentao fotografia, por ser um suporte

fixo capaz de nos possibilitar o conhecimento sobre cultura, histria, do presente e do

passado, como nos afirma Hall (2003, p. 199): Estudos culturais e seu legado terico

implica que se olhe o passado e os estudos culturais em retrospectiva.

A fotografia rene informaes e possui diversas utilidades. Bartalo (2008,

p.123) diz que Dos usos possveis que se tem feito da fotografia, pode-se mencionar

o comercial, o de exposio ou publicao, o probatrio, o didtico/cientfico e o

pessoal/familiar. A fotografia forma de representar fatos e atos.

No captulo 2, tratamos de conceitos e reflexes sobre arquivo pessoal e a

fotografia como documento arquivstico e no contexto da Cincia da Informao, e

principalmente seu lugar no ambiente cientfico, algo que ainda pouco estudado, e

ampliando-se nos ltimos anos, por ser fonte de pesquisa e contribuir para a memria.

Nesse captulo, discorremos, resumidamente, sobre a fotografia em seu contexto

histrico e social, destacando inventores e a evoluo de suas tecnologias,

destacando o Brasil na figura do francs naturalizado brasileiro, Hercule Romuald

Florence (1804-1879) - ver APNDICE B, primeiro estudioso do processo de

reproduo fotogrfica batizado de photographie [fotografia], e divulgado em 1833.

Seguido por leve descrio acerca do francs Louis-Jacques-Mand Daguerre (1787-

1851), pintor, artista, decorador, utilizador e divulgador da cmara escura (levando o

seu nome ao registro nominal do processo Daguerretipo, em 1939), seguidor dos

estudos da descoberta do processo de reproduo da imagem por Nicphore Niepce

(1765-1833). (LES MULTIPLES INVENTIONS DE LA PHOTOGRAPHIE. Mission du

patrimoine Photographique. 1989, s.d, p. s.p).

No captulo 3, discorremos sobre o percurso metodolgico, justificativa para o

espao pesquisado, a interpretao dos conceitos sobre a aplicabilidade da descrio

arquivstica na recuperao da informao da documentao fotogrfica.

No captulo 4, apresentamos a documentao fotogrfica do arquivo pessoal

de Rui Barbosa, seguindo com informe sobre o acervo. Ainda neste contexto falamos

sobre a descrio arquivstica da fotografia do arquivo pessoal de Rui Barbosa e a

digitalizao como recurso para recuperao da documentao e acesso fotografia,

de forma a contribuir para preservao do arquivo pessoal de Rui Barbosa.

O captulo 5, expomos as consideraes finais acerca do tema pesquisado,

descrio arquivstica no arquivo pessoal de Rui Barbosa e, tambm apresentamos

17

os resultados do estudo, deixando como legado nossa viso crtica com apontamentos

e reflexes abertas a outros estudos similares.

Esta dissertao est ligada linha de pesquisa Poltica e Tecnologias da

Informao do Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao da

Universidade Federal da Bahia (PPGCI/UFBA), e ao Grupo de pesquisa em

manuscriptolgicos3, bibliogrficos, iconogrficos, etnogrficos: organizao,

preservao e interfaces das tecnologias da informao e comunicao (G-Acervos)

que nos possibilitou o acesso ao aporte terico-metodolgico, a guiar e enriquecer

esta investigao.

3 Manuscriptolgico, segundo Luis Fagundes Duarte um registo escrito de actos e de pensamentos prprios de um tempo para uso de outro tempo (perspectivas histrica e filolgica, formuladas cientificamente sobretudo a partir do sculo XIX), e um registo de comportamentos de escrita de algum para contemplao alheia (perspectiva manuscriptolgica, que encara o Manuscrito per se). Enquanto objecto de estudo, o Manuscrito pode ainda ser entendido em duas perspectivas: o Manuscrito antigo, onde o conceito de autgrafo no pertinente, e que at divulgao da tipografia tinha por funo assegurar a circulao dos textos naquela que era tida como a verso definitiva (pelo que servia simultaneamente de memria e de modelo para cpias sucessivas), e o Manuscrito moderno, que frequentemente integra vrios testemunhos autgrafos sucessivos de um determinado processo gentico, registando assim o trabalho de escrita do seu autor e factor. Disponvel em: http://purl.pt/13858/1/abertura/maos-escrita.html.

18

2 ARQUIVO PESSOAL E A FOTOGRAFIA

A Arquivologia passou a ser elemento da rea da Cincia da Informao, pelo

alargamento da definio de documento proposta por tericos como Otlet (1937, p.1)

afirmando que o documento o livro, a revista, o jornal; a pea de arquivo, a

estampa, a fotografia, a medalha, a msica; tambm o filme, o disco e toda parte

documental que precede ou sucede a emisso radiofnica.

Temos na fotografia um documento de grande importncia, onde se registra

fatos, acontecimentos, resgate da histria de um povo, que serve tambm como

testemunho e instrumento na busca da prpria identidade, alm de ultrapassar as

barreiras lingusticas. Ela passou a ser classificada como documento, aps a exploso

documental, ou seja, uma grande produo de documentos, momento em que o

conceito de documento ampliado.

Rousseau e Couture (1998, p. 43) observam e nos faz refletir sobre a

necessidade se buscar convergir as diversas disciplinas, nas quais se reconhecem no

vasto campo da cincia da informao. Especificamente, a Arquivologia, na qual

devemos compreender a informao registrada e, seu objeto de estudo, a informao

orgnica, ou seja, os arquivos.

Ainda Rousseau e Couture (1998, p. 86) reforam que o fundo de arquivo

possui valores de testemunho privilegiados e objetivos dos componentes de vida da

pessoa fsica ou moral que os constituiu, algo a refora este estudo, a partir da

descrio documental de forma a atingir ao maior nmero de pessoas e promover

conhecimentos.

O arquivo possuidor de um reflexo social, instaurado no momento pelo qual

se passou a investir elementos para sua essncia, de forma a se desenvolver, a partir

da necessidade de evidenciar e garantir direitos, algo possvel por meio do registro

documental. Historicamente, escavaes arqueolgicas demonstraram a existncia

de arquivos reais, religiosos e privados na Antiguidade. (SCHELLENBERG, 1980, p.

75-78).

Os tijolos de argila, o papiro, o pergaminho, o papel so suportes da

informao e tambm foram registros resultados das atividades dos homens que os

idealizaram. medida que os grupos organizados sentiram necessidade de preserv-

los, tornou-se imperioso trat-los.

19

Neste sculo em que vrias correntes em relao ao acesso informao

esto mais voltadas para o social, o arquivo como lugar de memria4 fonte de

pesquisa, algo que com a utilizao das novas tecnologias da informao e

comunicao, a exemplo das mudanas em relao ao modo como os arquivistas

preservam os documentos, algo possvel de afirmar, conforme Eastwood e MacNeil

(2016 p. 11) as relaes entre os documentos, seu produtores e seus guardies, bem

como as circunstncias scio histricas que, com o passar do tempo, deram forma

aos documentos, tudo isso pensado a partir desse guarda-chuva.

Galindo (2010) ao buscar compreender e analisar o papel da cincia da

informao onde se amplia diariamente o acesso informao, afirma que compete

Cincia da Informao a investigao e o desenvolvimento de instrumentos de

descrio semntica das interfaces do conhecimento, mas mais especificamente a

reflexo sobre as estratgias de resgate da informao e preservao do acesso a

ela.

Numa viso ampla, temos a cincia da informao como rea de pesquisa

global, a qual busca compreender e estudar os registros, a partir de seus fenmenos,

ao tempo que tambm procura aperfeioar o ciclo informacional como Miranda e

Simeo (2003, p. 184) ratificam:

Na acepo popperiana proposta na presente anlise, a cincia da informao uma rea de pesquisa tpica do Mundo, ou seja, da metacincia como atividade que estuda o fenmeno dos registros de conhecimentos e trabalha pelo aperfeioamento das formas de produo, armazenamento e uso (ou seja, de todo o ciclo informacional) do conhecimento registrado (MIRANDA; SIMEO, 2003, p. 184).

Galindo, (2010, p. 183) afirma que cabe tambm cincia da informao a

reflexo sobre a tarefa de transformar informao potencial em conhecimento atravs

do acesso e uso da informao, em certa medida, um contraponto ao paradigma

custodial desenvolvido pela noo do controle bibliogrfico, preso ao de descrever

e controlar os objetos do registro da produo do conhecimento.

4Os locais nos quais os cientistas da informao exercem suas prticas arquivos, bibliotecas e museus considerados lugares de memria, bem como a memria das instituies, resultam em apropriaes dos conceitos de memria social e memria coletiva e no emprego de mltiplas extenses, tais como: instituies de memria, centros de memria, arquivos de memria e entidade de memria. Ainda nos referindo s extenses, so constantes as referncias a uma dinmica da memria possibilitada pela informao registrada: construo, reconstruo, formao, manuteno, recuperao, preservao, conservao, valorizao, incorporao, interao, excluso e destruio da memria. (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2011, p. 323).

20

Para Borko (1968 apud PINHEIRO; LOUREIRO, 1995, p. 43), a cincia da

informao uma disciplina que investiga as propriedades e comportamentos da

informao, sua utilizao, sua transmisso e seu processamento para armazenagem

e recuperao, elementos essenciais para compreendermos como a cincia da

informao atua, seja no contexto dos arquivos, bibliotecas, museus e reas afins.

De uma maneira geral, as pessoas guardam documentos que testemunham

momentos de sua vida, suas relaes pessoais ou profissionais, seus interesses.

Esses documentos, quando tomados reunidos podem revelar, no apenas a trajetria

de vida, mas anseios, hbitos e valores de quem os guardou, constituindo o seu

arquivo pessoal.

Por outro lado, essencial haver a preocupao com relao a disseminao

destes documentos via Web, na ntegra, pois, no se deve ferir o direito a honra,

conforme o artigo 31 da Lei de Acesso Informao (LAI),das informaes pessoais,

onde se deve cumprir e atuar, no arquivo pessoal com cautela, para no expor a vida

privada e honra do seu produtor e terceiros. (BRASIL, 2011),

Segundo Paes (2004, p. 16), arquivo acumulao ordenada de

documentos, em sua maioria textuais, criadas por uma instituio ou pessoa no curso

de sua atividade, e, acrescentamos cuja funo que se destinou deve ser

ressaltada. De acordo com o Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica

(BRASIL, 2005, p. 27), arquivo o conjunto de documentos que, independente da

natureza ou do suporte, so reunidos por acumulao ao longo das atividades de

pessoas fsicas ou jurdicas, pblicas ou privadas. O surgimento dos arquivos:

[...] abrange perodos bastante remotos, pois a criao dos primeiros arquivos se confunde com o surgimento da escrita e o processo de diviso das sociedades em classes sociais, fenmeno tambm associado formao do Estado; em outras palavras, os arquivos surgem como forma de perenizar direitos e formas de poder. (VENNCIO, 2012, p. 136).

A partir da reflexo de Venncio, podemos ratificar que os arquivos podem

perpetuar os direitos e s formas de poder, ou seja, s informaes que podem nos

oferecer so essenciais para a investigao de variados assuntos e, com essa fonte

de informao possvel, ultrapassarmos o tempo, as geraes e continuarmos a

gerar novos conhecimentos.

No contexto, do campo da cincia da informao com relao as outras reas

que atuam e organizam a informao, explicita Silva e Ribeiro (2002, p. 53):

A cincia da informao a que investiga as propriedades e comportamento da informao, as foras que regem o fluxo da informao e os meios de

21

processamento da informao para um mximo de acessibilidade e uso. (Silva; Ribeiro, 2002, p. 53)

Destarte se compararmos com a prtica possvel compreender como o

processo vai desde a origem do documento, disseminao, coleta, organizao,

armazenamento, recuperao, interpretao e, uso da informao.

Ainda neste contexto Arajo nos afirma sobre a recuperao da informao,

algo basilar para que haja maior disseminao do documento, de forma a alcanar o

maior nmero de pessoas, para tal Arajo nos menciona:

Um segundo marco da histria da Cincia da Informao o desenvolvimento da rea de Recuperao da Informao. Sua origem remonta s dcadas de 1930 e 1940, quando comearam a ser utilizados os microfilmes como alternativa de guarda e disponibilizao de acervos documentais. Tal fato despertou alguns tericos a refletir sobre a distino entre os suportes fsicos e seu contedo, na medida em que se permitia a transposio do contedo para outros suportes. Tal percepo se aprofundou com o progressivo desenvolvimento das tecnologias computacionais, e teve uma inspirao terica no artigo As we may think, de Vannevar Bush, publicado em 1945, onde apresentado a ideia de uma possibilidade de recuperao automatizada da informao (ARAJO, 2013, p. 282).

Pelo carter interdisciplinar, a arquivologia, cincia que estuda os arquivos,

permite difundir novas abordagens e reflexes sobre a documentao fotogrfica no

arquivo pessoal, pois tem sua interrelao com a tecnologia da informao, a

museologia, a biblioteconomia, letras, comunicao, psicologia, histria e com outras

reas traduz-se em conhecimento recproco.

A cincia da informao Multi, Inter e Transdisciplinar (MIT), hoje defendida,

possvel, no modo de ver atual, ou seja, no modelo distinto pelo paradigma custodial,

quando havia apenas o suporte fsico. Atualmente, o documento virtual possibilita um

maior acesso, seja pelo estudo cientfico e pela interveno terico-prtica desde a

produo, no fluxo, na difuso da informao, independente dos diversos suportes,

algo em constante evoluo, a ser pensado para a posteridade.

Com as novas tecnologias da informao e comunicao (TIC), sendo

ferramentas de apoio construo da inter-relao no arquivo, a dinmica de

produo da documentao humana, exige uma construo de novas metodologias

de trabalho, onde passamos dos documentos escritos aos impressos e atualmente

nos documentos virtuais.

Para tal, os profissionais envolvidos na rea da cincia da informao e afins

devem se apropriar e compreender os novos paradigmas para as cincias

documentais atuarem, a exemplo dos documentos em meio digital.

22

Em relao as polticas e legislao, o Brasil dispe de um corpo de leis

regulamentando vrias questes na rea de arquivos, entre elas, o acesso a

informaes de natureza privada, a saber: a lei 8.159, de 1991, conhecida como Lei

de Arquivos, que possui um captulo dedicado aos arquivos privados; o decreto 4.073,

de 2002; e a Resoluo n 17, do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ).

Ainda nesse contexto sobre legislao e informao, retomamos aqui a Lei n

12.527, de 18 de novembro de 2011, artigo 31, no que se refere as informaes

pessoais, onde deve se respeitar a intimidade, imagem e honra das pessoas, dessa

forma basilar se preservar os documentos pessoais e dar acesso, contudo, respeitar

a classificao do documento quanto a natureza que poder ser sigiloso ou ostensivo.

2.1 ARQUIVO PESSOAL: BREVE ABORDAGEM

Dentre os arquivos permanentes, os arquivos pessoais so os mais

procurados, considerando o lugar que as histrias pessoais e intelectuais tm

ocupado na pesquisa social e historiogrfica, aprofundando diversas reflexes sobre

o indivduo, a histria, a educao e a memria.

Conforme afirma Oliveira (2013, p. 29), [...] os arquivos pessoais, apesar de

no ocuparem um lugar privilegiado na formulao e implementao de polticas

arquivsticas pblicas, representam um conjunto relevante de registros que constituem

parte da memria coletiva. Os arquivos pessoais podem ser comparados, em muitas

situaes aos arquivos institucionais, pois muitas vezes, arquivos pessoais convivem

com os institucionais e os produtores possuem relao de duas vias que se cruzam,

seja no ambiente pessoal e nas atividades institucionais, contudo, eles no so iguais,

como afirma os autores:

Conforme esclarece Conforme Catherine Hobbs em sua investigao dos arquivos pessoais, as prticas arquivsticas dos indivduos e das famlias no so suscetiveis a controles de procedimento como os exercidos sobre os arquivos institucionais. (EASTWOOD; MACNEILL, 2016, p. 11).

Para Belloto (2006, p. 266) arquivo pessoal o conjunto de papis e material

audiovisual ou iconogrfico resultante da vida e da obra/ atividades de estadistas,

polticos, administradores, lderes de categorias, profissionais, cientistas escritores

etc, diante da afirmao, podemos reforar o quanto essencial o estudo nesse tipo

de arquivo, porque so fontes de informao e contribui para a memria.

23

Segundo Duarte (1999, p. 75) arquivo memria e esta, por sua vez, tem

potencialidade para informar e alterar a realidade dele e dominar o presente. A

memria s pensvel como arquivo quando se pretende determin-lo enquanto

monumentalidade.

Ao estudarmos o arquivo pessoal, observamos sua relao com a sociedade.

Em alguns momentos ele se relaciona com uma determinada instituio, na qual o

autor tenha atuado, ou seja, acumulou documentos.

O arquivo pessoal constitui valiosa fonte de informao, seja pela

especificidade dos tipos documentais que os caracterizam, seja pela possibilidade que

oferecem de complementar dados constantes em arquivos de natureza pblica e que

devem manter a organicidade5.

Por outro lado, Camargo e Goulart (2007, p. 36) refora que:

os arquivos pessoais tm sido abordados por meio de critrios originrios das bibliotecas, coerentes com a tradio de ali se depositarem as obras e demais papis de escritores. Dessa perspectiva, os documentos so tratados um a um gerando unidades descritivas autnomas (CAMARGO; GOULART, 2007, p. 36)

Nesse sentido, o uso de critrios bibliogrficos utilizados para documentos de

arquivos foge da teoria arquivstica, em relao ao contexto da descrio, tornando-a

inadequada.

Ainda sobre o arquivo pessoal, precisamos compreender o seu carter

polissmico, at porque Camargo e Goulart (2007, p. 41) nos faz refletir sobre este

tipo de arquivo, quando afirma: [...] os arquivos pessoais so prolferos documentos

desprovidos de metadados: fotografias sem legendas, anotaes de todo tipo em

inusitados suportes, objetos desvinculados dos conjuntos que lhe dariam suporte,

desta maneira podemos ver o quanto so diversos e reunidos, s vezes desvinculados

dos conjuntos que lhe dariam suporte.

De acordo com Mckemmish (2013, p. 32) As novas tecnologias permitem a

integrao dos arquivos pessoais e pblicos, medida que os arquivos pessoais

pblicos j nascem em formato digital nos ambientes da rede mundial de

computadores. A partir das novas Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC),

podemos verificar no arquivo pessoal uma crescente integrao entre as entidades,

sejam pblicas ou pessoais, principalmente no que se refere ao arquivo nato digital,

5 Organicidade: isto , da capacidade de refletir a estrutura, funes e atividades da entidade acumuladora (CAMARGO, 1998, p. 1)

24

algo que devemos ampliar os estudos, quanto a recuperao deste tipo de informao

e sua preservao em meio digital, pois esta realidade j fato.

Compreender sobre a recuperao dos documentos fotogrficos, neste caso,

no arquivo pessoal, nos remete a necessidade de incluir os metadados46desde o

momento da produo e descrio documental, algo essencial Desta forma, o acesso

se torna eficiente e visa a disseminao da informao.

Sobre o conceito de arquivo pessoal e sua finalidade, segundo Belloto (2006,

p. 24):

O primeiro momento corresponde ao processo de acumulao documental e sua utilizao no cotidiano, como uma forma de comprovar a existncia civil do sujeito perante as instituies ou um modo de remeter a seus relacionamentos com pessoas. No segundo momento, o da preservao, o arquivo pessoal extrapola a finalidade jurdica, profissional ou pessoal do seu titular e seu uso destinado a pesquisa cientfica, realizada por terceiros (BELLOTO, 2006, p. 24).

Reforamos, portanto, a importncia do arquivo pessoal, seu elo ou ligao

em alguns momentos com arquivo institucional, onde podemos observar uma via de

mo dupla, ou seja, o pessoal e institucional se relacionam diretamente e, ambos so

importantes para a pesquisa e memria.

Os arquivos privados de pessoas fsicas ou jurdicas, os quais contenham

documentos relevantes para a histria, a cultura e o desenvolvimento cientfico

nacional podem ser declarados de interesse pblico e social, ou seja, so essenciais

para pesquisa e gerao de saberes.

O arquivo pessoal se diferencia quanto sua tipologia e espcie documental,

pelo fato de apresentar grande nmero de tipos documentais, como cartas, cartes-

postais, dirios pessoais, etc. Em relao aos arquivos institucionais onde podem

conter documentos que so pblicos em funo, do rgo emissor, mas que possuem

um carter pessoal por se referir/pertencer a determinado indivduo, a exemplo:

certido de nascimento, certido de casamento, histrico escolar, convites, fotografias

de eventos etc.

Por outro lado, tambm h arquivo pessoal, cujo tipo de documentao muito

se assemelha, ao que comumente encontrado em Arquivos Pblicos. Para tal,

preciso saber explorar as caractersticas peculiares do arquivo pessoal, dentre elas a

prevalncia de gneros, formatos e tipos documentais diferenciados.

4 Metadados: dados que servem para descrever grupos de dados que poderamos chamar de objetos informatizados ou descries estruturadas de um objeto informatizado: citado por Gill (1998).

25

Muitos profissionais realizam pesquisas neste tipo de arquivo, a exemplo dos

antroplogos (trabalhando sobre lbuns de famlia), dos historiadores que pesquisam

em fotografias e manuscritos, alm disso, profissionais das reas de letras e reas

afins, os quais atuam nos mais variados gneros de documentos, seja textual,

iconogrfico7, audiovisual, cartogrfico e, mais recente, o musical.

Arquivos pessoais so classificados como de interesse pblico e social por

meio de dispositivo legal. Nesses casos, a lei de acesso informao determina que

sejam preservados e colocados disposio dos pesquisadores, mas, devemos

atender as restries e direitos de acesso.

Conforme Belloto (2006, p. 267) o primeiro momento corresponde ao

processo de acumulao documental e sua utilizao no cotidiano, como uma forma

de comprovar a existncia civil do sujeito perante as instituies ou um modo de

remeter a seus relacionamentos com pessoas.

Ainda Belloto (2006, p. 267) no segundo momento, o da preservao, o

arquivo pessoal extrapola a finalidade jurdica, profissional ou pessoal do seu titular e

seu uso destinado a pesquisa cientfica, realizada por terceiros.

Percebe-se que ao atuarmos com o arquivo pessoal, necessrio

compreender o quanto o social est presente, desde a acumulao, perpassando pela

sua utilizao diariamente, at sua utilizao para a pesquisa, responsvel pela

disponibilidade e acesso para gerar novos conhecimentos.

Para Cunha (2016, p.16) a arte de guardar que compe a essncia da

existncia dos acervos torna-se necessria no intuito de no apenas preservar

memrias, mas tambm de servir de fonte/documentos produo historiogrfica.

2.2 A FOTOGRAFIA COMO DOCUMENTO ARQUIVSTICO

A fotografia como documento e suporte de informao que tem a possibilidade

de mediar ou estabelecer um vnculo entre as geraes do passado e do presente,

contribui para a formao e manuteno da memria, o que a qualifica como um

importante instrumento de pesquisa e recordao.

5 Documento iconogrfico: Gnero documental integrado por documentos que contm imagens fixas, imagens impressas, desenhadas ou fotografadas, como fotografias e fotografias gravuras. (BRASIL, 2005, p. 232).

26

As limitaes da memria humana levaram o homem a buscar em recursos externos as chamadas memrias artificiais, a compensao para o esquecimento. A necessidade de possibilitar o acesso aos registros por ele produzidos no decorrer do tempo levou criao das chamadas instituies de memria que deveriam preservar os registros do conhecimento humano nas suas mais diversas formas de materializao: arquivos, bibliotecas e museus. (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2011, p. 2)

A fotografia, atravs da sua expanso, aps ser inventada e como

documentao, deixou sociedade atual um instrumento extraordinrio de registro da

memria coletiva. Por tudo isso, aliado aos sentimentos e emoes que uma fotografia

pode trazer, justifica-se, ento, a necessidade de conservar, preservar, restaurar e

disseminar os documentos fotogrficos, como afirma Kossoy:

[...] a reproduo sob os mais diferentes meios , em funo da multiplicao do contedo (particularmente quanto publicado), fundamentalmente um instrumento de disseminao da informao histrico-cultural. Da a importncia da organizao de arquivos sistematizados de imagem: iconotecas destinadas a preservar e difundir a memria histrica. em funo dessa multiplicao da informao que a fotografia alcana sua funo social maior. (KOSSOY, 2001, p. 42)

Alm disso, a fotografia um documento e fonte de informao, pelo fato de

ser figurada. Sabemos que o homem percorreu diferentes prticas, at chegar

inveno do daguerretipo8, passou pela criao e desenvolvimento da cmera

escura, formada por uma caixa preta vedada totalmente da luz, a qual possuia um

pequeno orifcio, que permitia a passagem da luz e a formao de imagens dentro

dela.

Figura 1: Cmera escura

Louis Jaques M. Daguerre foi o primeiro a dar incio ao processo fotogrfico,

comercializado ao grande pblico. Em relao a cmara escura, existe desde a

Antiguidade, contudo, em 1816, afirmam Rosseau e Couture, (1998, p. 231) que

Niepce realizou a primeira fotografia de fixao permanente, em 1839, Daguerre

8 Daguerretipo: antigo aparelho fotogrfico inventado pelo francs Louis Jacques Mand Daguerre.

27

aperfeioa o daguerreotipo conforme o ngulo de iluminao, na qual os sais de prata

parecem formar ento uma imagem positiva, sendo produzidas imagens. Nesse

contexto Burke nos afirma:

A era do Daguerretipo produziu imagens memorveis, tais como a reunio de cartistas em aparncia Kennington Cannon em 1848 [] que registra a aparncia ordeira do que a classe mdia via como aparncia ordeira do que a classe mdia via como um momento subsersivo. Na era da fotografia, a lembrana e de determinados acontecimentos tornou-se cada vez mais intimamente associada com suas imagen visuais. (BURKE, 2017, p. 209)

Ainda sobre a origem da fotografia, muito resumidamente, preciso

compreender que os daguerretipos so peas nicas, algo que no permite ser

retirada em outros exemplares. Ele foi utilizado at meados dos anos de 1860, sendo

ocupado o espao pelo emprego da placa de vidro em coldio mido, o qual surgiu

em 1851, como Duarte & Cruz nos explicitam:

Desde a inveno da fotografia, vrias tcnicas e processos vm sendo utilizados para (re)produo de imagens, cada uma apresentando caractersticas fsico-qumicas e estticas distintas, que devem ser conhecidas e mantidas. Um deles o daguerretipo, primeiro processo fotogrfico a conhecer sucesso comercial. Seu invento - oficializado na Frana em 1839 como descoberto por Louis-Jacques Mand Daguerre, representado por fotografia sobre metal, com estrutura muito fina de imagem obtida na cmara escura por partculas de mercrio sobre placa de prata polida - transformou os meios de comunicao e informao. (DUARTE, CRUZ, 2007, p. 4)

A imagem fonte de informao e evoluiu com o passar dos anos, desde as

primeiras capturas de imagem, o daguerreotipo, a fotografia analgica at a fotografia

digital, conforme explicita Filippi (2002, p. 18):

O desejo de registrar com maior realismo os fatos levou ao aparecimento de mquinas de desenhar e retratar, utilizada no princpio a cmera escura nos sculos XVI e XVII. A cmara escura foi, portanto, a origem da cmera fotogrfica, evoluiu com o passar dos anos at as atuais cmeras digitais. (FILIPPI, 2002, p. 18):

No contexto das fotografias que acompanham dossis textuais, apontam

Rouseau e Couture, (1998, p. 233), a sua avalio deve ter em conta o conjunto dos

documentos e no cada uma separadamente, algo que ao se observar no arquivo

pessoal, basilar para contextualizar a imagem aos fatos, e sua produo.

As fotografias nem sempre se encontram em sries estveis; ao contrrio, podem apresentar-se pulverizadas em vrias sries de tipologias documentais distintas, fazendo parte de documentos textuais, impressos, eletrnicos. (LACERDA, 2012, p. 289).

Para melhor ampliar os estudos sobre a fotografia como documento de

arquivo, a partir do sculo XX, se inicia a contextualizao com as teorias arquivstica.

Deve-se ressaltar tambm que o acmulo da documentao fotogrfica nas

28

instituies governamentais e privadas tem se ampliado com a era digital e preserv-

las de suma importncia para o registro e memria.

A documentao fotogrfica pode auxiliar na reconstruo da histria e

tambm da identidade de um povo, nela, o pessoal e o coletivo encontram uma

harmonia, relembrando muitas vezes o esquecido, como afirma Barros (1989, p. 39):

J est presente na inteno de deixar a imagem impressa no papel fotogrfico, como um documento de um fragmento de espao e de tempo, a necessidade ou o desejo de amanh relembrar um rosto, um gesto peculiar e um instante. A imagem traz ali presente uma pista para o caminho da memria. (BARROS, 1989, p. 39)

Segundo relata Burke, 2017 na obra Testemunha ocular, o uso da imagem

to importante quanto aos testemunhos orais e textuais por serem forma de

evidncia histrica; ele tambm nos alerta sobre a necessidade de apurar criticamente

a veracidade do que retratado, ou seja, investigar seu contexto hitrico, poltico e

social para assim tornar a fotografia como fonte de pesquisa histrica-cultural.

Sobre a documentao fotogrfica no arquivo pessoal, Lacerda (2012, p. 295)

nos remete a refletir sobre tentar rotular os diversos tipos documentais, ao afirmar

que impossvel reduzir todos os casos s categorias preexistentes.

Quando consideramos essas vrias facetas que regem a economia da produo de conjuntos de registros fotogrficos, por pessoas ou por instituies, percebemos por que no tarefa simples tentar rotular os diversos tipos documentais fotogrficos em categorias padronizadas. Em alguns casos so possveis aproximaes, mas logo se percebe que impossvel reduzir todos os casos s categorias preexistentes. Da a necessidade de nos voltarmos para o entendimento do percurso pelo qual uma imagem ascendeu categoria de documento. Dessa forma possvel descobrir que uma nica imagem pode ter estado envolvida em mltiplos atos de criao, como, por exemplo, se tiver sido utilizada em diversas situaes de comunicao. (LACERDA, 2012, p. 295).

Ainda sobre as fotografias como documento de arquivo, devemos reforar que

so produtos das aes e transaes de ordem burocrtica ou sociocultural,

responsveis pela sua produo, veiculao de contedo dos mais diversos. Para tal,

devem possuir um tratamento arquivistico, relacionando-as ao universo que as gerou,

algo que pouco ocorre nos arquivos, como cita Lacerda (2012).

Os materiais visuais e mais especificamente as imagens tcnicas de produo visual nos quais esto includos a fotografia e o registro flmico so tradicionalmente vistos como autorreferentes, imagens de alguma coisa, sem conexo clara com o restante do arquivo e com a entidade produtora e responsvel pela existncia do conjunto. A hegemonia do valor factual das imagens determina o tratamento a elas aplicado, e, a despeito do tipo de acervo que se tenha em mos, os esforos para a identificao e a descrio

29

dos materiais so sempre direcionados a fatos, pessoas, lugares e pocas retratadas. (LACERDA, 2012).

Devemos discutir sobre o valor documentrio da fotografia no arquivo,

deslocar o interesse pelo contedo da imagem, indo em direo a compreender o

contexto de produo desses registros. H estudos atuais que fortalecem por meio da

perspectiva terica e metodolgica que a anlise diplomtica oferece como

instrumento para se entender o estatuto documental de registros no mundo

contemporneo.

Por outro lado, vimos que temos a problemtica das fotografias nos arquivos,

por conta de suas diferenas em relao aos documentos textuais. necessrio

defender seu carter de documento arquivstico, principalmente se levarmos em conta

a diplomtica, algo que tambm se tem discutido em relao aos documentos digitais.

Lacerda (2012, p. 286-287) relata:

[...] embora o trabalho de Duranti se concentre em documentos surgidos de uma atividade administrativa prtica oficial e pblica , do gnero textual, acreditamos poder dialogar com seus fundamentos, levando em considerao o debate em torno dos documentos fotogrficos em arquivos a partir das diferenas que esses documentos apresentam em sua constituio como veculo de comunicao e documentao. Embora no totalmente aplicvel s fotografias nos arquivos, a crtica diplomtica contribui para uma reflexo mais profunda sobre esses registros que integram conjuntos documentais, uma vez que estabelece a necessidade da conexo entre documentos arquivsticos e contexto de produo. (LACERDA, 2012, p. 286-287).

Devemos tambm compreender o estudo orgnico-funcional, o qual pretende

identificar as entidades produtoras do contexto onde os documentos de arquivo so

produzidos. Silva e Ribeiro (1999, p. 132) descrevem que o arquivo composto por

dois elementos: a) Elemento orgnico - entidade produtora dos documentos; b)

Elemento funcional representado pelas funes e atividades desenvolvidas e

identificadas nos documentos, ainda Silva (2004, p. 58) explica que:

A primeira a ao humana e social que geram e contextualizam a informao

(os documentos), impondo-se, por isso, atravs da noo operatria de organicidade

bastante utilizada pelos arquivistas. Desta ideia decorre outra tambm fundamental: a

informao busca ser transversal, por meio de vrios planos da atividade humana e

social, na qual se verifica uma interao e uma integrao estabelecidas pela ao

humana e organizacional com os seus vnculos e traos prprios.

30

Os elementos orgnicos e funcionais do arquivo, apenas so identificados

quando estruturados na forma inteligvel. Para atender aos rigores da cientificidade do

paradigma atual exige na estrutura dos arquivos na era da informao.

Para Henrique (2010, p. 20):

[...] aos cientistas da informao, na leitura do documento, importa, principalmente, o contedo do documento fotogrfico, ainda que, a escolha do equipamento, da pelcula, da luz e a composio transmitam informaes, que ajudam a entender o contedo. (HENRIQUE, 2010, p. 20)

Diante das reflexes apresentadas, considerar o documento fotogrfico puro

e simplesmente equivale a desconsiderar essa espcie documental como integrante

em um processo informacional de registro histrico, merecedor de tratamento sua

perenidade.

31

3 PERCURSO METODOLGICO

Iniciamos a reviso terica para a escrita desta dissertao, em seguida foi

realizada a primeira visita a Fundao Casa de Rui Barbosa (FCRB), onde se encontra

o arquivo pessoal de Rui Babosa, o primeiro contato em maro de 2016, na cidade do

Rio de Janeiro (Anexo C), aps contato prvio e agendamento por e-mail, houve o

atendimento pela equipe do Arquivo Histrico da Fundao e, foi realizada a

observao por meio da pesquisa participante.

Em continuidade houve a leitura das referncias dos tericos vinculados

metodologia da pesquisa, algo fundamental para o entendimento do papel do

pesquisador inserido no desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, alm disso, foi

possvel depreender que essa pesquisa se trata de um estudo descritivo, com

abordagem qualitativa. Utilizamos um questionrio/entrevista, aplicado no Arquivo

Histrico da Fundao Casa de Rui Barbosa, aos responsveis pelo arquivo pessoal

de Rui Barbosa.

O foco do trabalho a descrio arquivstica da documentao fotogrfica,

pertencente a srie iconografia, identificada, descrita e disponibilizada via Web. A

documentao original em formato analgico est preservada e foi digitalizada para

ampliar o acesso.

Alm disso, com os itens analisados, por meio do questionrio, basilar

reforar a misso da Fundao Casa de Rui Barbosa, visando promover o acesso

para a pesquisa e preservao da memria da produo literria e humanstica, bem

como congregar iniciativas de reflexo e debate acerca da cultura brasileira.

Na realizao do estudo sobre a descrio da fotografia no arquivo pessoal

do citado jurista foi possvel, por meio da reviso da literatura, para assim traar um

caminho metodolgico, como nos afirma Yin (2010, p.23) primeira e primordialmente,

voc deve explicar como est se dedicando observao de um caminho

metodolgico rigoroso, se o realizou, poder focar e compreender as questes da

pesquisa.

Diante do exposto procuramos destacar o objetivo principal, estudar a

descrio arquivstica da fotografia no arquivo pessoal, seja em meio analgico ou

digital. A partir desse arquivo investigamos os critrios utilizados para este trabalho

intelectual e recuperao da informao da srie fotografia.

32

Por se tratar de um arquivo pessoal, cuja ltima data-limite de produo

encontram-se entre 1849 a 1923, este no ultrapassou o prazo legal de 100 anos,

conforme prazo da Lei de Acesso Informao (LAI), lei n 12.527, de 18 de novembro

de 2011, no seu artigo 31, seo V, das informaes pessoais, aderimos moderao:

1 As informaes pessoais, a que se refere este artigo, relativas intimidade, vida privada, honra e imagem: I - tero seu acesso restrito, independentemente de classificao de sigilo e pelo prazo mximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produo, a agentes pblicos legalmente autorizados e pessoa a que elas se referirem. (BRASIL, 2011).

Assim, houve a descrio dos elementos contextuais da documentao

fotogrfica do arquivo pessoal em anlise, sem transcries de contedo, em respeito

honra e imagem das pessoas envolvidas na documentao fotogrfica do arquivo,

at porque ao contabilizar a data de produo limite de 1923, com o ano atual de 2018,

h 95 (noventa e cinco) anos, ou seja, ainda faltam 05 (cinco) anos para cumprir o

prazo legal.

A partir de um planejamento sistematizado para a pesquisa cientfica que,

para Gil (2010, p. 42), tem um carter pragmtico por ser um processo formal e

sistemtico de desenvolvimento do mtodo cientfico. Destacamos como objetivo

fundamental, descobrir respostas para a pergunta, como afirma Vieira (1999, p. 21),

para organizar o contedo de cada captulo da sua tese, convm que voc veja sua

pesquisa como resposta a uma pergunta, neste caso: a documentao fotogrfica foi

realizada a partir da descrio arquivstica e seus elementos?

Este estudo objetiva propiciar reflexo sobre a descrio arquivstica na

documentao fotogrfica do arquivo pessoal. Deste modo, buscamos contribuir para

ampliar os estudos, especificadamente, o tratamento da documentao fotogrfica,

neste caso, da srie iconografia.

Uma caracterstica essencial do mtodo cientfico a investigao

organizada, o controle das observaes e a utilizao de conhecimentos tericos.

Para esta pesquisa se utilizou a leitura das referncias e em paralelo o preenchimento

de uma planilha (APNDICE C), cujos campos foram utilizados durante a escrita da

dissertao, dessa forma, elucidamos, ampliamos a capacidade de observar,

selecionar e organizar s informaes sobre o tema discutido.

Assim, direcionamos nosso olhar documentao fotogrfica pertencente ao

arquivo pessoal de Rui Barbosa, onde nosso objetivo foi analisar a srie fotografia,

33

com a pesquisa via site da FCRB e, posteriormente, questionrio aplicado in loco.

Neste estgio, conhecer a descrio arquivstica e recuperao da informao.

Em relao a definio de Marconi e Lakatos (1990, p. 78), "a caracterstica

da pesquisa documental que a fonte de coleta de dados est restrita a documentos,

escritos ou no, constituindo o que se denomina de fontes primrias. Consonante a

isto, observou Gil (2002, p. 47), dizendo que de suma relevncia a pesquisa

documental, ao considerar que os documentos constituem fonte rica e estvel de

dados, evidente que os documentos subsistem ao longo do tempo, tornando-o uma

das mais importantes fontes de dados em qualquer pesquisa.

Para Marconi e Lakatos (1991, p. 67), definir uma metodologia de pesquisa

um desafio enriquecedor ao pesquisador, que precisa estar atento ao cumprimento de

seus objetivos e esclarecimento das hipteses.

Ao selecionamos os autores para a reflexo terica-conceitual, o passo

posterior, foi a leitura e releitura que nos direcionou temtica levantada. Em seguida,

buscou-se efetivar o cruzamento das ideias constantes para que pudssemos iniciar

a construo deste texto.

Ao obtermos informaes de interesse para uma boa investigao, com um

objetivo definido, utilizamos como instrumento a entrevista (APNDICE A). Segundo

Minayo (2007, p. 64), a entrevista acima de tudo uma conversa a dois, ou entre

vrios interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, qual objetiva construir

informaes pertinentes para o objeto da pesquisa, [...] pesquisa in loco, estudos

tericos para fundamentao e aprofundamento dos objetivos. Somadas a essa

considerao, as tendncias metodolgicas das cincias humanas e sociais, em

especial das pesquisas descritivas desenvolvidas no contexto da organizao da

memria e do conhecimento, apontadas pela cincia da informao, traamos a

abordagem e o percurso da pesquisa, como afirma Martin e Gaskell:

Assume-se aqui que o pesquisador, ou j tenha desenvolvido um referencial terico ou conceitual que guiar sua investigao e identificao dos conceitos centrais e os temas que devero ser vistos na pesquisa, ou tenha se decidido a trabalhar dentro do referencial da Teoria Fundamentada (Grounded Theory - GLASER & STRAUSS, 1967). De acordo com esta escolha, duas questes centrais devem ser consideradas, antes que qualquer forma de entrevista: o que perguntar (a especificao do tpico guia) e a quem perguntar (como selecionar os entrevistados). (MARTIM e GASKELL, 2011 p. 66)

Em maro de 2017, aps contato por e-mail, pudemos agendar a visita por

meio do servidor Leandro Jaccoud (a quem agradecemos o apoio e contribuies para

34

a pesquisa), do setor do Servio de Arquivo Histrico e Institucional (SAHI),

responsvel pelo tratamento e organizao da documentao fotogrfica do arquivo.

L foi possvel compreender a dinmica e tratamento arquivstico para a

documentao, seja por meio do arranjo, com a srie Iconografia, at chegar a

fotografia, nosso objeto de estudo a descrio arquivstica da fotografia at a

disponibilizao para consulta e acesso dos pesquisadores.

Em julho do mesmo ano fui apresentada formalmente a FCRB, por meio de

Carta de Apresentao (Anexo A) o que possibilitou a aplicao do questionrio aos

dois funcionrios que atuam no arquivo pessoal de Rui Barbosa e acompanharam

todo o processo de estruturao do acervo, em especial da documentao fotogrfica.

Para compreender como ocorreu a descrio da documentao fotogrfica no

arquivo pessoal de Rui Barbosa, foi essencial aplicar o questionrio, onde foi relatado

que desde a identificao e, posterior descrio das fotografias, um ponto muito

significativo foi a participao de familiares conforme trecho retirado do questionrio

respondido pelo servidor da Casa de Rui Barbosa. De acordo com a servidora Leila

Stephanio, 2017 parentes vinham at a FCRB e contribuam para realizao das

atividades. Deve-se considerar tambm que familiares de Rui Barbosa e funcionrios

da Fundao Casa de Rui Barbosa, o que facilitou muito este processo.

Considerando nossa compreenso acerca dos caminhos trilhados na

metodologia caracterizada como de natureza descritiva, com abordagem qualitativa,

utilizando a tcnica de levantamento documental, tendo aplicado a entrevista e, por

meio das observaes diretas a partir do arquivo de Rui Barbosa, disponibilizados em

rede.

No percurso, com o intuito de produzir informaes inerentes ao objeto desta

pesquisa, realizamos entrevista in loco, que tambm nos possibilitou o acesso e

conhecimento do arquivo pessoal de Rui Barbosa, assim observamos a competncia

do arquivo dessa ordem transmite a ideia de transporte a temporalidade do titular.

Sobre os documentos fotogrficos analisados, vale salientar, no houve

interveno direta da pesquisadora no presente arquivo pessoal, ou seja, o processo

incluiu s agir como observadora, conforme a hiptese deste trabalho, os parmetros

de descrio arquivstica, presentes no srie iconografia fotografia, contribuem com

a preservao da memria pois, oferecem acesso estruturado ao acervo, outras

etapas foram percorridas, mantendo-se sempre em vista os objetivos geral e

especficos estabelecidos no momento da configurao da pesquisa.

35

Por meio do primeiro contato presencial na Fundao Casa de Rui Barbosa,

durante o evento do II Encontro de Arquivos Pessoais e Cultura, no perodo de 21 a

23 de setembro de 2016, evento do Programa de Ps-graduao em Memria e

Acervos da Fundao Casa de Rui Barbosa cujo tema O direito memria e

intimidade, realizado no auditrio da FCRB, na cidade do Rio de Janeiro.

O evento tratou das reflexes sobre a importncia dos arquivos pessoais, que

so produzidos fora dos contornos institucionais e representam um importante

conjunto sobre a vida em sociedade e a cultura, e os trabalhos apresentados foram

no contexto dos temas: Tema 1 - O direito memria e intimidade: visibilidade e

internet; Tema 2 - O impacto da tecnologia na construo, preservao e no acesso

memria; Tema 3- O direito intimidade: acesso, limites e parmetros.

J em fase de leituras e ajustes do projeto para a escrita desta dissertao

sobre a descrio arquivstica da documentao fotogrfica, a partir do arquivo

pessoal de Rui Barbosa, onde notamos a grande contribuio pesquisa e

preservao da memria.

O sistema utilizado para atender as questes do mtodo diplomtico, tem a

sua base principal estruturada pelas diretrizes normativas de descrio internacional

da arquivologia, representadas no Brasil pela Norma Brasileira de Descrio

Arquivstica (NOBRADE), datada de 2006, na qual pudemos observar as reas de

descrio apresentadas pela citada norma, como se apresentam no arquivo, sua

estrutura lgica, fsica e funcional.

Em relao a definio de Marconi e Lakatos (2010, p. 78), "a caracterstica

da pesquisa documental que a fonte de coleta de dados est restrita a documentos,

escritos ou no, constituindo o que se denomina de fontes primrias. Gil (2002, p. 47)

refora a importncia da pesquisa documental, ao considerar que os documentos

constituem fonte rica e estvel de dados. Para tal, evidente que os documentos

subsistem ao longo do tempo, tornando-o uma das mais importantes fontes de dados

em qualquer pesquisa. Para Marconi e Lakatos (2010, p. 67), definir uma metodologia

de pesquisa um desafio enriquecedor ao pesquisador, que precisa estar atento ao

cumprimento de seus objetivos e hipteses.

Realizamos o levantamento bibliogrfico, em paralelo ao contato do que se

referia a documentao fotografia e sua descrio arquivstica. Selecionamos os

autores, o passo posterior, foi leituras e releituras que nos direcionaram temtica e

36

problemtica levantada. Em seguida, buscou-se efetivar o cruzamento das ideias

constantes para que pudssemos iniciar a construo do texto dissertativo.

Na busca de obtermos informaes de interesse para uma boa investigao,

com um objetivo definido, utilizamos como instrumento a entrevista. Segundo Minayo

(2007, p. 64), a entrevista acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vrios

interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, qual objetiva construir

informaes pertinentes para o objeto da pesquisa, [...] pesquisa in loco, estudos

tericos para fundamentao, essencial para o aprofundamento dos objetivos.

Somadas a essa considerao, as tendncias metodolgicas das cincias humanas

e sociais, em especial das pesquisas descritivas desenvolvidas no contexto da

organizao da memria e do conhecimento, apontadas pela cincia da informao,

traamos a abordagem e o percurso da pesquisa.

Considerando nossa compreenso acerca dos caminhos trilhados na

metodologia caracterizada como de natureza aplicativa, com abordagem qualitativa,

utilizando a tcnica de levantamento documental, utilizando como instrumento da

entrevista e observaes diretas a partir do arquivo de Rui Barbosa, disponibilizados

na Web.

Com o intuito de produzir informaes inerentes ao objeto desta pesquisa,

realizamos entrevista in loco, que tambm possibilitou ter acesso e conhecer o arquivo

pessoal fsico Rui Barbosa, assim observamos a competncia que um arquivo pessoal

dessa ordem possui, ao sentir uma sensao nica de transporte no tempo e na vida

do titular. Esses documentos traduzem a memria, de quem o acumulou, e nos reporta

ao documento do homem em aspectos e temporalidade.

37

4 O CONTEXTO DO ARQUIVO PESSOAL DE RUI BARBOSA

O arquivo pessoal de Rui Barbosa est na propriedade e prdio onde funciona

a Fundao Casa de Rui Barbosa, na Rua Clemente n 134, Botafogo, Rio de Janeiro

De acordo com Mello e Mendona (1997, p. 9) pertenceu primeiramente ao 2 Baro

da Lagoa, tendo-se iniciado em 1849 (por coincidncia, ano de nascimento de Rui

Barbosa) e concludo em 1850 construo do prdio principal, embora o Rui Barbosa

comprou a propriedade a 23 de maio de 1823, perodo do governo da Repblica, j

pensando em recolher sua biblioteca, contudo, o mesmo foi exilado no governo de

Floriano Peixoto e, em 1895, quando voltou da Inglaterra.

Conforme destacam Mello e Mendona (1995) o precioso arquivo pessoal e

Rui Barbosa com cerca de 60.000 documentos acumulados por ele durante toda a

vida: a correspondncia, o legado intelectual, seus documentos pessoais, as

fotografias.

O arquivo pessoal de Rui Barbosa foi formado a partir dos documentos

acumulados e aps incorporado ao patrimnio pblico cultural brasileiro, no ano de

1924, alm de possuir informaes histricas, o arquivo compreende o perodo da

primeira repblica.

Em decorrncia do grande volume documental e outros arquivos que foram

doados a Fundao Casa de Rui Barbosa, hoje com um Sistema de Arquivo,

responsvel por coordenao, circulao, acumulao, organizao e controle,

buscam tambm preservar e conservar o grande patrimnio e, desta forma preservar

a memria.

Hoje a Fundao Casa de Rui Barbosa referncia no contexto histrico,

social e de memria. Possui em seu entorno: a casa, livros, documentos algo que

nos remete as trs marias, Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, alm de

atender a pesquisadores e comunidade em geral, onde podem aproveitar das

instalaes, seja do jardim, auditrio e casa museu e seus mais diversos eventos

nacionais e internacionais.

38

4.1 O RUI BARBOSA: BREVE TRAJETRIA

Rui Barbosa de Oliveira nasceu em 5 de novembro de 1849, Rua dos Capites

(que depois passou a ter o seu nome), Freguesia da S, cidade do Salvador, Bahia.

Filho de Joo Jos e Maria Adlia Barbosa de Oliveira. No ano de 1854 inicia os

estudos com o Professor Antnio Gentil Ibirapitanga, em 1861 ingressou no Ginsio

Baiano, do Dr. Ablio Csar Borges, depois Baro de Macaba, em 1879 morou no

Rio de Janeiro, ao ser eleito para a Assembleia Legislativa da Corte Imperial, ele

ganhou prestgio como orador, jurista e jornalista defensor das liberdades civis alm

disso, foi duas vezes, candidato Presidncia da Repblica. Rui era estudioso da

lngua portuguesa e presidiu a Academia Brasileira de Letras aps a morte de

Machado de Assis.

Em 1907, representou o Brasil na Segunda Conferncia Internacional da Paz

em Haia e, j no final de sua vida, foi eleito Juiz daquela Corte Internacional. Na casa

onde viveu de 1895 a 1923.

Em 1877, com o partido em alta, ingressou na Cmara Baiana e no ano

seguinte no Parlamento do Imprio. Empenhou-se pela reforma eleitoral, pela reforma

do ensino e pela libertao dos escravos sexagenrios, que foi derrotada na Cmara.

O controle dos votos feito pelos fazendeiros escravistas e uma campanha contra os

abolicionistas no reelegeu Rui Barbosa.

Nesse mesmo ano, durante o governo de Deodoro, exerceu as funes de

Ministro da Fazenda. Dois fatos marcaram sua passagem: a Constituio de 1891,

quase toda de sua autoria, e o encilhamento. Depois de graves crises e violenta

inflao, Rui Barbosa deixou o governo.

Rui Barbosa foi candidato presidncia da repblica em 1909, quando o

escolhido foi o Marechal Hermes da Fonseca. Em 1919, o nome de Rui surgiu com

fortes possibilidades de ser indicado pelo Partido Republicano, mas Rui se recusou

comparecer conveno, contudo mesmo assim recebeu 42 votos. Epitcio Pessoa,

paraibano, apoiado por So Paulo e Minas, venceu com 139 votos.

Embora derrotado, Rui Barbosa era respeitado nacionalmente. Foi convidado

para chefiar a delegao do Brasil na Liga das Naes, mas recusou o convite. Em

10 de maro de 1921, em ofcio ao Senado, mostrando sua descrena na Velha

Repblica, que os princpios e a lealdade que consagrou sua vida pblica eram corpo

estranho na poltica brasileira.

39

Homem culto e bem-educado, em cuja convivncia todos captavam

ensinamentos permanentes, intelectual, tendo recebido formao acadmica, Rui

Barbosa estava frente do seu tempo.

Rui Barbosa faleceu em Petrpolis, Rio de janeiro, para onde foi se

convalescer de uma pneumonia, no dia 1 de maro de 1923. Foi sepultado em

Salvador, Bahia, na galeria subterrnea do Palcio da Justia Frum Rui Barbosa.

O Museu Casa de Rui Barbosa, o qual foi adquirido pelo governo brasileiro,

com todo o seu acervo museolgico, bibliogrfico, arquivstico e extensa produo

intelectual

O estudo a partir do arquivo pessoal de Rui Barbosa, no contexto da descrio

arquivstica, por meio da documentao fotogrfica no arquivo pessoal, visa contribuir

para ampliar os estudos no mbito da Cincia da Informao e reas afins pois a

fotografia amplia o conhecimento, oferece benefcio informao e, dessa forma,

contribui para a preservao da memria.

H o Registro Nacional do Brasil do Programa Memria do Mundo da Unesco,

obtido em 2011 (MEMORIY, 2012), para o arquivo pessoal de Rui Barbosa, o qual

devido a importncia da documentao de Rui Barbosa e, por ser de interesse social,

patrimnio documental e memria.

Alm disso, o arquivo pessoal de Rui Barbosa, por meio das fotografias, traz

tambm um novo olhar sobre aspectos da vida pessoal e intelectual de seu titular,

corroborando com outras formas da escrita da nossa histria pois, sem dvidas as

fotografias podem ser fontes valiosas para a produo de pesquisas no campo

histrico como afirma Oliveira (2013, p. 2):

O primeiro ncleo de arquivos pessoais da Fundao Casa de Rui Barbosa formado pelo arquivo de Rui Barbosa, que composto por 60.000 documentos textuais; 2.400 imagens; e 53 documentos cartogrficos, de 1849 a 1930. O conjunto documental representa o espao social e poltico que o titular ocupou no cenrio nacional e sua projeo internacional, na imprensa, nos tribunais de justia, na tribuna parlamentar, na pasta da Fazenda, e nas misses diplomticas, desde a queda do Imprio e aos primrdios do Regime Republicano. (OLIVEIRA, 2013, p. 2)

Alm disso, a Fundao Casa de Rui Barbosa uma instituio

governamental que acolhe os mais diversos acervos documentais, possui um Centro

de Memria e Informao com setores especializados nas reas voltadas para

(Museu, Arquivo, Biblioteca, Arquivo-museu e literatura brasileira), portanto possui um

amplo campo de estudo, vale ressaltar que no recorte desta dissertao, o foco foi a

fotografia do arquivo pessoal de Rui Barbosa.

40

Conforme Silva (1972, p. 9) sobre a Fundao Casa de Rui Barbosa:

aps a morte de Rui Barbosa, ocorrida em 1 de maro de 1923, o Governo da Repblica - na inteno de prestar a mais alta homenagem ao eminente brasileiro - comea a tomar as iniciativas indispensveis a propriedade e dos pertences de Rui Barbosa, como patrimnio da vida cultural brasileira. Silva (SILCA, 1972, p. 9).

Numa das fases do trabalho de organizao e busca da disseminao da

informao do arquivo de Rui Barbosa, em relao ao banco de imagens, pudemos

verificar a partir da obra de (MELLO; MENDONA, 1997, p. 37) que [...] com vistas

futura informatizao do acervo e gerao de um banco de imagens, adotou-se a

indexao coordenada.9 A fotografia no mais um elemento ilustrativo do texto

histrico, ela o prprio objeto da histria, valorizada como fonte de informao.

Dessa forma, podemos reafirmar a preocupao em preservar e repassar s

geraes atuais e futuras a documentao do arquivo pessoal de Rui Barbosa,

contribuindo para novas pesquisas e disseminao da documentao, fonte de

informao e memria.

4.2 DESCRIO ARQUIVSTICA DA FOTOGRAFIA DO ARQUIVO PESSOAL DE

RUI BARBOSA

Dentre as metodologias, a descrio arquivstica visa e descrever e/ou

representar as informaes contidas em documentos, a partir de um fundo10, visa

gerar instrumentos de pesquisa (inventrios, guias, catlogos, etc.), os quais explicam

os documentos de arquivo quanto a sua localizao, identificao e administrao,

alm de colocar o pesquisador informado sobre o contexto documental.

As atividades de descrio so importantes em um arquivo porque garantem

a compreenso do documento arquivstico. Por meio das normas da descrio, h

elementos de significado nas etiquetas ou sinalizaes, a exemplo, mbito e

contedo, ou seja, um elemento descritivo que se refere a uma determinada

informao.

A NOBRADE visa apresentar com o elemento descritivo, uma explicao do

seu objetivo e as normas estabelecidas para o preenchimento de cada campo

9 Indexao coordenada: que consiste em atribuir a cada documento um nmero de ordem crescente, de acordo com sua entrada no aarquivo (MELLO; MENDONA, 1997, p.57)

10 Fundo: Conjunto de documentos de uma mesma provenincia. Termo que equivale a arquivo. (Dicionrio, 2005, p. 232).

41

descritivo. A descrio a representao de um objeto ou informao e, tem a funo

de dar significado ao objeto representado.

Em relao aos documentos iconogrficos, at ento sob a guarda do arquivo,

nos afirma:

j procedia sua catalogao, passam ao controle do arquivo, constituindo mais um conjunto documental do fundo Rui Barbosa, a srie Iconografia. Este acervo comeou a ser reunido aps a morte de Rui Barbosa, a partir de um ncleo inicial de fotografias guardadas pelo prprio Rui, seus familiares e por " seu " Antnio, o mordomo. (MELLO; MENDONA, 1997, p. 36)

Vale salientar que a descrio arquivstica se tornou a soluo em dado

momento histrico, quando os primeiros profissionais, historiadores contratados pelas

instituies de custdia, passaram a organizar os acervos por tema. Por outro lado,

houve a descaracterizao, o que seria a identidade de vnculo mais importante da

documentao com seu respectivo produtor, algo que culminou em uma situao

irreversvel, no que se refere organizao fsica do acervo, porm, contornada por

representaes da ordem original dos fundos, propiciada pela descrio arquivstica

(LEO, 2006).

A descrio da documentao fotogrfica, um tema no qual, ainda necessita

de maiores discusses, pois, h ainda poucos trabalhos acadmicos, algo

evidenciado no momento dos estudos, ao conformar a escassez de produo sobre o

tema, no contexto da documentao fotogrfica no Brasil.

A organizao descritiva atual do arquivo foi realizada por meio das

orientaes da Norma Brasileira de Descrio Arquivstica (NOBRADE), buscando

atender aos requisitos macro de descrio ISAD(G), aplicvel aos documentos

arquivsticos, utilizado tanto em sistemas manuais quanto automatizados de

descrio, tendo um alto grau de generalidade, definindo apenas a macroestrutura da

descrio, deixando a definio quanto a procedimentos especficos para outras

esferas de deciso, nacionais ou institucionais. (BRASIL, 2006).

Ao mesmo tempo, o estabelecimento da norma viabiliza a criao de relaes

e de interoperabilidade11 de sistemas, algo que vem sendo discutido no mbito dos

arquivos, bibliotecas e sistemas de informtica mais recentemente.

11Interoperabilidade: pode ser entendida como uma caracterstica que se refere capacidade de diversos sistemas e organizaes trabalharem em conjunto (interoperar) de modo a garantir que pessoas, organizaes e sistemas computacionais interajam para trocar informaes de maneira eficaz e eficiente. Disponvel em: .

42

As normas de descrio arquivstica tem como objetivo estruturar a

informao, a partir dos elementos de descrio semelhantes ou comuns; a partir da

padronizao da descrio se qualifica o acesso, dessa forma se facilita a relao ou

intercmbio de informaes seja no mbito nacional e internacional, contudo, vale

salientar que segundo a obra: Descrio arquivstica: referncias bibliogrficas (2004

p. 11) a padronizao da descrio comeou a ser sistematizada internacionalmente

na dcada de 1990, algo ainda novo.

Devemos tambm compreender a diplomtica como parte do processo

descritivo, principalmente, no mbito do sentido moderno da diplomtica, conforme

nos explicita Bellotto (2008, p. 6), o objeto da diplomtica a estrutura formal do

documento. Este deve ter a mesma estrutura semntica do discurso, quando sua

finalidade referente mesma problemtica jurdica e/ou administrativa.

Para tal, os princpios da arquivologia, so utilizados por ela para elucidar as

peculiaridades do documento, nesse sentido:

1. O princpio da provenincia: a marca de identidade do documento

relativamente ao produtor/acumulador, o seu referencial bsico, o

princpio, segundo o qual os arquivos originrios de uma instituio ou

de uma pessoa devem manter sua individualidade, no sendo

misturados aos de origem diversa. (BELLOTTO, 2006, p. 24).

2. O princpio da unicidade: ligado qualidade pela qual os documentos

de arquivo, a despeito da forma, espcie ou tipo, conservam carter

nico em funo de seu contexto de origem. Esse princpio nada tem

que ver com a questo do documento nico, original, em oposio s

suas cpias. Esse ser nico, para a teoria arquivstica, designa que,

naquele determinado contexto de produo, no momento de sua

gnese, com aqueles caracteres externos e internos genunos e

determinados dados, os fixos e as variveis, ele nico, no podendo,

em qualquer hiptese, haver outro que lhe seja idntico em propsito

pontual, nem em seus efeitos. (BELLOTTO, 2006, p. 24).

3. O princpio da organicidade: sua condio existencial. As relaes

administrativas orgnicas refletem-se no interior dos conjuntos

documentais. Em outras palavras, a organicidade a quali