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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
COORDENAÇÃO CENTRAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE
FERNANDA MESSIAS DE FIGUEIREDO OLIVEIRA
HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E SUA ARQUITETURA:
ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR EDGARSANTOS
Salvador2010
FERNANDA MESSIAS DE FIGUEIREDO OLIVEIRA
HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E SUA ARQUITETURA:
ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR EDGARSANTOS
Monografia apresentada como requisito paraaprovação do curso de Especialização deArquitetura em Sistemas de Saúde daUniversidade Federal da Bahia.Orientação: Prof. Dr. Antonio Pedro Alves deCarvalho
Salvador 2010
000:000 Oliveira, Fernanda Messiass683 Hospitais universitários e sua arquitetura:
Estudo de caso do Hospital Universitário Professor Edgar Santos– Salvador: Fernanda Messias de Figueiredo Oliveira, 2010
XX f.: Il.
Monografia (Especialização) – Programa de Pós-Graduação emArquitetura. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura, 2010.
1. Arquitetura Hospitalar2. Arquitetura e SaúdeI. TítuloII. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de ArquiteturaIII. Monografia.
FERNANDA MESSIAS DE FIGUEIREDO OLIVEIRA
HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E SUA ARQUITETURA:
ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR EDGARSANTOS
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃOsubmetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de
ESPECIALISTA EM ARQUITETURA DE SISTEMAS DE SAÚDE
àCâmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa
daUniversidade Federal da Bahia
Aprovado: Comissão Examinadora
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Data da Aprovação: ......./......./......... Conceito:
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus familiares pela paciência e ausência em muitos momentos. Aos
meus colegas de trabalho pelo apoio e por me ajudar resolvendo os problemas no
período do curso.
Aos colegas de profissão e ex-alunos do curso pelas informações para bom
desenvolvimento do trabalho.
A secretaria de saúde pela oportunidade de ingressar no ramo apaixonante da
arquitetura Hospitalar.
Agradeço principalmente a meu orientador Antônio Pedro pela oportunidade e pelo
crescimento profissional adquirido no decorrer do curso.
Por fim, agradeço a todos que contribuíram de alguma forma pela realização desse
sonho.
RESUMO
As múltiplas atividades existentes nos hospitais de ensino e o relevante papel nacontribuição do sistema de saúde nacional levaram à questão de compreender o seupapel na assistência e ensino. As tensões oriundas deste duplo papel acabamgerando conflitos de interesses que, atrelados às constantes mudanças e avançosna área da saúde, se refletem em toda a sua estrutura, gerando a necessidade deincorporação e aprimoramento de suas instalações físicas. A maior responsabilidadedos hospitais de ensino é de estarem atualizados, garantindo um ensino dequalidade aos profissionais de saúde. A falta de recursos econômicos, para aadequação do espaço físico às normas e exigências técnicas, contudo, gera gravesproblemas e promove desafios a esses estabelecimentos de saúde. O presenteestudo analisa o funcionamento dos hospitais de ensino, mostrando, através doestudo de caso do Hospital Universitário Professor Edgar Santos, as diversasreflexões da situação atual de organização e gestão dos seus espaços físicos e assoluções adotadas pelas unidades como respostas aos problemas vivenciados.Dessa forma, pretende-se contribuir para o aprimoramento do trabalho de arquitetos,engenheiros e consultores hospitalares, através de informações teóricas e práticas,que promovam o entendimento dos hospitais de ensino e suas particularidades e,consequentemente, ajude na confecção de projetos arquitetônicos que absorvamadequadamente todas as atividades e avanços ao longo dos anos.
Palavras-Chave: Hospitais de Ensino. Espaços físicos. Arquitetura hospitalar.
LISTA DE SIGLAS
AMN Ambulatório Professor Francisco Magalhães Neto
CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CME Central de Materiais Esterilizados
CPPHO Centro Pediátrico Professor Hosannah
DME Depósito de materiais e equipamentos
EAS Estabelecimentos assistenciais de saúde
HE Hospital de Ensino
HU Hospital Universitário
HUPES Hospital Universitário Professor Edgar Santos
SPD Serviço de desenvolvimento de pessoas
NECBA Núcleo de ensaio clínico da Bahia
ASCOM Assessoria de comunicação
ASSUFBA Associação dos servidores da UFBA
SUS Serviço Único de Saúde
UTI Unidade se Terapia Intensiva
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 Hospital Universitário Professor Edgar Santos 19
FIGURA 02 Planta de localização do HUPES 20
FIGURA 03 Forma Geral do HUPES 21
FIGURA 04 4° SUBSOLO 22
FIGURA 05 3° SUBSOLO 22
FIGURA 06 2º SUBSOLO 23
FIGURA 07 1º SUBSOLO 24
FIGURA 08 TÉRREO 25
FIGURA 09 MEZANINO 25
FIGURA 10 1° PAVIMENTO 26
FIGURA 11 2° PAVIMENTO 27
FIGURA 12 3° PAVIMENTO 27
FIGURA 13 4° PAVIMENTO 28
FIGURA 14 5° PAVIMENTO 29
FIGURA 15 6° PAVIMENTO 29
FIGURA 16 Centro Cirúrgico HUPES (corredor) 31
FIGURA 17 Centro Cirúrgico HUPES (área de escovação) 31
FIGURA 18 Centro cirúrgico HUPES (Sala de cirurgia) 32
FIGURA 19 Centro cirúrgico HUPES (sala de recuperação) 32
FIGURA 20 Enfermaria (corredor) 34
FIGURA 21 Quarto coletivo 34
FIGURA 22 Varanda da enfermaria 35
FIGURA 23 Acesso à varanda da enfermaria 35
FIGURA 24 Posto de enfermagem 36
FIGURA 25 Posto de enfermagem (armários e bancadas) 36
FIGURA 26 Área externa do HUPES 37
FIGURA 27 Visão da varanda da enfermaria 38
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 HOSPITAIS DE ENSINO PÚBLICOS NO BRASIL 13
3 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E SUA ESTRUTURA FÍSICA 18
4 A ESTRUTURA FÍSICA DO HUPES 19
5 A CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS 38
6 CONCLUSÃO 40
REFERÊNCIAS 43
1 INTRODUÇÃO
Os hospitais de ensino no Brasil surgiram a partir da necessidade da criação de
unidades de saúde onde fosse possível conciliar a prática do ensino e a realização
de pesquisas, possuindo a função educativa como foco. A redução do financiamento
do Ministério da Educação e Cultura, aliada ao surgimento do Sistema Único de
Saúde (SUS), induziu estas entidades à venda de serviços para o sistema público e
suplementar de saúde, visando suprir a demanda da assistência hospitalar de alta
complexidade (ABRAHUE, 2005).
Devido a esse fato, os hospitais de ensino (HE), portanto, acabaram por estabelecer
uma multiplicidade de papéis que acarretaram conflitos no seu desempenho. Esta
questão, aliada à falta de recursos, tornaram o espaço físico dos HE insuficiente e
ultrapassado, não acompanhando a evolução tecnológica e as normas sanitárias
vigentes, dificultando a melhora na qualidade de atendimento ao paciente.
O presente trabalho tem como tema principal os hospitais universitários e sua
arquitetura, exemplificada através do estudo de caso do Hospital universitário
Professor Edgar Santos. Busca conhecer as características do projeto arquitetônico
de um hospital universitário e suas particularidades para um bom desempenho das
atividades de ensino e pesquisa.
A abordagem deste tema no meio acadêmico tem sido tratada de forma modesta.
Faz-se necessário, dessa forma, fomentar a discussão sobre a importância da
arquitetura hospitalar e os processos projetuais utilizados na construção e
manutenção dos hospitais universitários.
A base de investigação desta pesquisa é o entendimento do conceito arquitetônico
presente em um hospital universitário, que alia a alta tecnologia, a prestação de
serviços de saúde e a formação de recursos humanos.
Baseando-se nas características que diferenciam os HE dos demais hospitais da
rede pública, busca-se descrever suas soluções arquitetônicas específicas, tomando
por base o estudo de caso do Hospital Geral Professor Edgar Santos (HUPES), que,
por ser uma das primeiras unidades projetadas exclusivamente para este fim, possui
soluções arquitetônicas exemplares.
Seu objetivo principal é a apresentação de alternativas para adequação de EAS
existentes e a elaboração de soluções que possam estabelecer, nas novas
edificações, formas mais eficazes no atendimento das necessidades e das diversas
atividades desenvolvidas num hospital universitário, investigando o processo de
elaboração de reformas, com intuito de melhorar a qualidade do ensino e
assistência.
Através dessas alternativas, torna-se possível identificar as implantações que
apresentam um bom funcionamento, buscando solucionar corretamente os fluxos
internos (pacientes, estudantes e funcionários).
Este processo foi dividido em três etapas. Foi realizada, inicialmente, pesquisa
bibliográfica através de literatura específica e legislações relacionadas. Em seguida,
implementadas diversas visitas técnicas ao Hospital Professor Edgar Santos, nas
quais foram produzidos relatórios fotográficos e descritivos para demonstrar as
principais características que diferenciam os HE dos demais hospitais da rede
pública de saúde. Foi possível, então, analisar a importância de uma correta
estruturação arquitetônica no planejamento dos espaços de hospitais de ensino.
2 HOSPITAIS DE ENSINO PÚBLICOS NO BRASIL
No Brasil, os primeiros relatos da integração ensino-assistência datam de 1808,
quando D. João VI fundou a Escola de Cirurgiões, que tornou-se a Faculdade de
Medicina da Bahia. Depois da transferência da família real para o Rio de Janeiro, foi
criada a Escola de Cirurgiões desta cidade, que hoje é a Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro. Ambas utilizavam-se das Santas Casas de Misericórdia como campo
de ensino (CLEMENTE, 1998).
De acordo com Caldas Júnior (1999), até as décadas de 1940 e 1950, as atividades
de ensino das poucas faculdades de medicina existentes no país eram sediadas em
instituições filantrópicas, que disponibilizavam seus espaços e pacientes para
auxiliar na aprendizagem dos alunos. Porém, a diferença de missão entre as
instituições de ensino, que eram voltadas para a formação de recursos humanos em
saúde, e as instituições filantrópicas, que tinham seus objetivos voltados à
assistência de pacientes carentes, passou a ser um obstáculo para essa associação,
pois, enquanto as faculdades de medicina necessitavam prementemente de
inovação tecnológica, as instituições filantrópicas tinham como objetivo o
atendimento mais simples.
Segundo Clemente (1998), as autoridades das instituições de ensino, buscando
desvencilhar-se das instituições filantrópicas e, para alcançar maior autonomia e
evolução tecnológica nas suas atividades e deter toda a administração dos serviços
oferecidos pelos hospitais, pleitearam a criação de hospitais próprios. Assim, em
1948, foi criado o primeiro Hospital de Clínicas, de propriedade da Universidade
Federal da Bahia, em Salvador, o atual Hospital Universitário Professor Edgar
Santos.
Até a Reforma Universitária de 1969, o sistema de ensino vigente no país era o de
cátedras, este sistema era caracterizado pela submissão da forma de organização
dos hospitais ao poder da instituição de ensino, desde a ocupação dos espaços
físicos até a lógica de funcionamento dos diversos setores, como ambulatórios e
enfermarias. (CLEMENTE, 1998)
A partir da evolução do movimento da Reforma Sanitária, estabeleceu-se o Sistema
Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988, colocando a saúde como um direito
de todos e um dever do Estado. O financiamento deste sistema se daria com
recursos da Seguridade Social, da União, Estados e Municípios. O setor privado
participaria deste sistema apenas em caráter complementar. Os hospitais
universitários de ensino foram incorporados ao SUS pela lei 8080, de 1990 (BRASIL,
1990).
Lei 8.080 de 1990/MSArt. 45°:Os serviços dos Hospitais Universitários e de Ensino integram-se aoSistema Único de Saúde SUS, mediante convênio, respeitada suaautonomia administrativa em relação ao patrimônio, aos recursos humanose financeiros, ensino, pesquisa e extensão, nos limites conferidos pelasinstituições a que estejam vinculados. (BRASIL, 1990).
Segundo Lima (2007), nas últimas décadas, devido à crise do financiamento destes
hospitais, e também ao sub-financiamento do setor saúde em geral, foi necessário
adotar a integração interinstitucional, inevitável e vital tanto para os hospitais
universitários e de ensino, quanto para o Sistema Único de Saúde.
De acordo com Lucchese (1996), a criação do Sistema Único de Saúde, a
descentralização da gestão, juntamente com a implementação dos mecanismos de
regulação do sistema, estreitaram as relações entre hospitais universitários e de
ensino e os gestores locais do SUS. Este estreitamento acabou por modificar parte
do objetivo principal dos hospitais universitários, que passaram a visar, além do
ensino e da pesquisa, o atendimento e a assistência em caráter prioritário e
complementar nas regiões em que estão estabelecidos.
Os hospitais públicos universitários, portanto, encontram-se incluídos no Sistema
Único de Saúde (SUS), podendo ser administrados diretamente pelos governos ou,
indiretamente, através de fundações de direito público ou empresas paralelas à
estatal. Segundo Bittar (2004), a autonomia dos hospitais públicos de ensino é
limitada em diversos aspectos, dificultando o seu correto gerenciamento.
Um hospital de ensino é bem diferente de um hospital comum. No primeirocaso temos de considerar uma tríplice função: de assistência social, deensino e de investigação cientifica. Estes setores em conjunto eficientedevem dispor de áreas comuns em equilíbrio conveniente e harmonioso. Sóassim poderão atender de modo eficaz às exigências do ensino clínico epré-clinico. (CAMPOS, 1999, p.24)
Os HE sofrem, desta forma, com conflitos de interesses. De um lado o Ministério da
Saúde que, por financiar parte do orçamento dos HU, cobra melhores resultados e
redução de custos nos serviços prestados à comunidade; do outro os convênios e
atendimentos particulares, que complementam a receita do hospital e, por isso,
cobram melhores condições de infraestrutura. Além disso, a necessidade de
formação dos profissionais e desenvolvimento da pesquisa é supervisionada pelo
Ministério da Educação, a quem os HE também devem relatar os resultados das
atividades desenvolvidas em suas instalações.
Segundo Lima (2004), o fato dos hospitais universitários desempenharem diversos
papéis implica que estes tornam-se responsáveis pelas diferentes interações e
circuitos que podem ocorrer nos espaços de produção da saúde, e que se
expressam através de algumas tensões no cotidiano do hospital.
Os hospitais universitários se caracterizam por serem de referência no atendimento
de alta complexidade. Por esse motivo, criou-se a imagem de que estes hospitais,
por serem especializados, apresentam melhor qualidade de atendimento. Isto induz
à crescente demanda espontânea de pacientes (um em cada dez brasileiros buscam
os serviços oferecidos pelos hospitais universitários), assim como a desorganização
do fluxo de atendimento, acarretando sérios problemas a estes hospitais, que têm
como missão a “assistência complexa e hierarquizada” e, ainda, recebem pacientes
de todos os níveis de atenção à saúde (GOMES, 2009).
Ainda estamos longe de uma integração pactuada e cooperativa, em que asduas partes assumam compromissos mútuos e compartilhemresponsabilidades, na construção do SUS, na formação de pessoal para asaúde e na produção de conhecimento, voltado para a qualificação daassistência oferecida. (VASCONCELOS, 2001, p.5)
A falta de integração dos HE com o Sistema Único de Saúde, e a ineficiência do
sistema de regulação, resulta em pequena quantidade de internações de pacientes
atendidos na urgência e emergência dos HE, o que confirma o fato desses hospitais
não estarem preparados para atender aos pacientes do SUS.
Para Medici (2001), o fato de existirem profissionais qualificados, recursos físicos e
equipamentos para a alta complexidade não define a qualidade do atendimento dos
hospitais universitários. Para o autor, o elevado custo dos HU para o governo não se
dá apenas pelo fato de serem hospitais de alta complexidade, mas por terem que
absorver as demandas de menor complexidade de outros estabelecimentos de
saúde.
Diante de tantas questões e particularidades, e visando uma melhor integração dos HU com o sistema de saúde
pública do país, foi criado complexo arcabouço legal. A Portaria Interministerial nº 1.000, de 15 de
abril de 2004, estabelece algumas exigências consideradas necessárias para o bom
funcionamento do hospital universitário. Uma outra portaria cria uma comissão
interministerial para a certificação dos hospitais de ensino, formada por 16
representantes de cada ministério, que analisará a documentação e fará visitas aos
hospitais que solicitarem o credenciamento (DIAS, 2004).
As portarias interministeriais nº 1000, 1005 e 1006, do ano de 2004, estabelecem
critérios para a certificação e criam o Programa de Reestruturação dos Hospitais de
Ensino. O hospital certificado deve, juntamente com os gestores, apresentar um
plano operativo que descreva atividades da instituição na área assistencial e de
ensino, pactuando metas assistenciais na área de consultas de especialidades,
exames de diagnose, atendimento de urgência e emergência e internações, de
acordo com a necessidade dos respectivos gestores. Passa a ser obrigatória a
estrutura física adequada para o ensino (salas, recursos audiovisuais) no ambiente
hospitalar, assim como dimensão adequada, limpeza, iluminação, acústica,
ventilação, conservação e comodidade da estrutura física, acervo e base de dados
(DIAS, 2004).
Os HE públicos no Brasil convivem com uma série de dificuldades estruturais. O
modelo de financiamento, as relações internas de poder caracterizadas pela
hegemonia do corpo docente, a alta concentração de tecnologia, o modelo
assistencial e as linhas de pesquisa desenvolvidas por estes hospitais ainda geram
conflitos com os gestores do SUS (LUCCHESE, 1996).
Segundo Machado (2007), os hospitais de ensino correspondem a 2,55% da rede
hospitalar brasileira, 10,3% dos leitos SUS, 11,8% das AIHs e 11,62% da produção
ambulatorial, englobando 25,6% dos leitos de UTI e 37,56% dos procedimentos de
alta complexidade. Essa rede de hospitais é composta por 45 unidades pertencentes
a 29 Instituições Federais de Ensino localizadas em vinte estados e no Distrito
Federal.
Devido à grande maioria dos hospitais universitários fazerem parte do SUS, que, por
sua vez, disponibiliza poucos recursos para sua manutenção, leva a que os hospitais
de ensino públicos encontrem-se completamente despreparados para atender, de
forma adequada, as funções agregadas à instituição. Isso implica em hospitais de
ensino sem estrutura para receber a grande quantidade de alunos, o que acaba
comprometendo todo o funcionamento do hospital (BITTAR, 2004).
Os Hospitais Universitários (HU) são unidades de saúde únicas em algumas regiões
do país, capazes de prestar serviços altamente especializados, com qualidade e
tecnologia de ponta, à população carente. Segundo Machado (2007), os HU
garantem, também, o suporte técnico necessário aos programas mantidos por
diversos centros de referência estaduais ou regionais e à gestão de sistemas de
saúde pública de alta complexidade, que possuem elevados riscos e custos
operacionais.
Reveste-se, portanto, de grande importância a análise arquitetônica do edifício
hospitalar de ensino, estudando suas características e peculiaridades ambientais.
3 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E SUA ESTRUTURA FÍSICA
Além dos conflitos das diferentes vertentes que gerenciam os hospitais universitários
e do mau funcionamento do sistema de saúde pública, os hospitais universitários
enfrentam problemas com a falta de recursos para investimentos, como compra de
equipamentos e de infraestrutura.
Sem dúvida, o edifício hospitalar é um complexo que concentra diversas funções e
requer uma análise mais criteriosa que os demais projetos de arquitetura. Pensar em
projetar um HE exige ainda mais esforço, principalmente pela grande maioria dos
HU existentes no Brasil não terem sido idealizados para obter resultados favoráveis
em todas as funções desempenhadas atualmente (FERNANDES, 2001).
Torna-se possível, assim, a constatação de que as constantes mudanças
administrativas na saúde e o surgimento de novas tecnologias conferem aos HU a
necessidade de renovação e investimentos para adequação da sua estrutura.
O estudo do projeto de um hospital universitário sugere um grande desafio,
principalmente devido ao número de atividades desenvolvidas. Para tal, o arquiteto
deve encontrar-se atento aos novos tipos de atendimentos e visões de saúde no
âmbito mundial, preparando e flexibilizando o edifício de forma a se adequar às
novidades e às suas necessidades.
Independentemente da forma e concepções do projeto arquitetônico, o planejamento
de uma estrutura hospitalar, no novo século, deve atender, invariavelmente, às
exigências do desenvolvimento da ciência médica, do desenvolvimento da
tecnologia dos materiais de construção, contribuir para a sustentabilidade ambiental
e, particularmente, preservar a humanização do ambiente hospitalar, promovendo a
adaptação da infraestrutura às exigências das necessidades de todos os seus
usuários (VISCONTI, 2000).
4 A ESTRUTURA FÍSICA DO HUPES
O HUPES é um dos mais antigos hospitais universitários do Brasil, inaugurado em
1948 para atender à faculdade de medicina da Universidade Federal da Bahia,
baseado em padrões arquitetônicos mais atuais da época (CLEMENTE, 1998).
Na década de 50 o Hospital das Clínicas era totalmente financiado pelo então
Ministério da Educação e Cultura e acabou tendo grande parte desse recurso
reduzido continuamente, o que culminou na crise dos anos 70 e 80, sendo, então,
obrigado a reduzir o número de leitos disponíveis. Outros hospitais locais que não
dependiam, ou dependiam parcialmente, dos recursos públicos foram se
desenvolvendo e acompanhando o progresso tecnológico da época. Sendo assim, a
maioria dos funcionários, atraída por melhores salários e, principalmente, por
melhores condições de trabalho, foi, aos poucos, deixando o HUPES (HUPES,
2010).
Com a criação do SUS, o governo passou a disponibilizar mais recursos aos
hospitais universitários através do Ministério da Saúde, constituindo uma nova fonte
de renda que, mesmo não sendo suficiente, ainda mantém o HUPES funcionado até
os dias atuais. Como, durante todo esse período de crise, as técnicas de
atendimento e a medicina evoluíram, a arquitetura hospitalar acabou assumindo
novos conceitos e os HUPES ficou à margem dessas atualizações (AMORIM, 2008).
FIGURA 1: Hospital Universitário Professor Edgar SantosFonte: Arquivo pessoal do Autor
O Complexo HUPES Bahia é constituído de três unidades: O HUPES, O Centro
Pediátrico Professor Hosannah de Oliveira (CPPHO) e Ambulatório Professor
Francisco Magalhães Neto (AMN).
O Hospital Universitário Professor Edgard Santos tem mais de 30 mil m², 256 leitos,
153 médicos, 107 enfermeiras, 1.298 funcionários, 163 professores de Medicina,
842 estudantes de graduação, 80 de pós-graduação e 116 médicos residentes.
Atende, em média, a mais de 500 pacientes por dia em seus ambulatórios. No
Centro Cirúrgico são realizadas cerca de 4.800 cirurgias por ano (AMORIM, 2008, p.
31).
O projeto do HUPES é um padrão executado em alguns estados no Brasil, com
planta em forma de H, onde se desenvolvem as alas A, B, C e D e uma ala central,
onde estão concentrados os serviços.
FIGURA 2: Planta de localização do HUPESFonte: Setor de projetos do HUPES
O hospital apresenta um total de treze pavimentos, sendo 04 subsolos, 01
pavimento térreo, 01 mezanino e mais sete pavimentos superiores.
No quarto subsolo (figura 4), está localizada apenas a unidade de anatomia
patológica, de extrema importância para a parte acadêmica, onde são feitas as
necrópsias e guardadas peças utilizadas como acervo da Faculdade de Medicina.
Também são localizados os laboratórios destinados às pesquisas na área. A
unidade possui localização estratégica, com acesso separado que permite a entrada
e saída do carro funerário longe da visibilidade dos usuários do hospital.
ALA A ALA C
ALA DALA B
ALACENTRAL
FIGURA 3: Forma geral do HUPES.Fonte: Setor de projetos do HUPES
O 3º subsolo (figura 5) apresenta outro andar da unidade de anatomia patológica
com os laboratórios de pesquisa específicos para hospitais universitários, oficinas e
depósitos.
FIGURA 5: 3° SUBSOLO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
Figura 4: 4° SUBSOLO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
No caso do HUPES as unidades de apoio técnico e logístico estão localizadas no
segundo subsolo (figura 6), em destaque a lavanderia. A ampliação do laboratório
central também fica inserida nesse pavimento, ocupando grande parte do mesmo,
que possui o fluxo restrito apenas para os funcionários. Vale salientar que, mesmo
nas unidades de apoio, são previstos espaços que acomodem adequadamente
professores e estudantes.
No primeiro subsolo (figura 7) também se concentra uma grande parte de apoio
técnico e logístico como farmácia, nutrição e almoxarifado.
Alguns serviços especializados de imagem, hemodinâmica e ginecologia encontram-
se inseridos no primeiro subsolo, com acesso distinto das unidades de apoio.
FIGURA 6: 2º SUBSOLO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
Com a evolução dos tratamentos cirúrgicos ambulatoriais, surgiram necessidade da
criação dos Hospitais Dia, que possibilitam a efetivação de procedimentos pouco
invasivos de alta rotatividade, proporcionando a redução dos custos hospitalares.
No HUPES, estas unidades concentram-se no térreo (figura 8), na ala B, com
espaços para consultórios, pequenas cirurgias, pronto atendimento e pré-anestésico.
Em todos os pavimentos percebe-se a presença de áreas de pesquisas, como
FIGURA 7: 1° SUBSOLO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
laboratórios de infectologia, doenças tropicais e pesquisa clínica, como mostra a
figura 8.
Ainda no pavimento térreo, com acesso rápido pela entrada principal, localiza-se o
ambulatório de infectologia, central de regulação, agência transfusional, serviço
social, bioimagem, Hemodinâmica, oncohematologia, dentre outros serviços (ver
figura 08).
No mezanino encontra-se a área administrativa com recursos humanos, financeiro,
auditório, diretoria, contabilidade e contas médicas (ver figura 9).
FIGURA 8: TÉRREO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
A partir do primeiro pavimento, estão dispostas as enfermarias nas quatro alas (ver
figura 10). Estas, por sua vez, encontram-se separadas por especialidades. Em
todas as enfermarias existem espaços destinados ao ensino. No primeiro (figura 10)
e segundo pavimentos (figura 11), na ala central, estão os serviços de apoio
acadêmico, como o comitê de ética em pesquisa, núcleo acadêmico, anfiteatro,
biblioteca, salas de aula e salas multidisciplinares, extremamente necessárias para a
formação dos profissionais de saúde.
FIGURA 9: MEZANINO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
FIGURA 10: 1° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
Seguindo o mesmo princípio de apoio ao ensino na ala central, no terceiro
pavimento (figura 12) estão os serviços acadêmicos e outro setor de pesquisa, com
laboratórios específicos.
FIGURA 11: 2° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
No quarto pavimento (figura 13), localizam-se as unidades que necessitam de maior
controle de acessos, como centro cirúrgico e CME, além de espaços para a
discussão de casos e salas de aulas.
SIGURA 12: 3° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
Serviços especializados como a hemodiálise, endoscopia digestiva, colonoscopia
ficam situadas no quinto pavimento, juntamente com o setor de pós-graduação e
outro laboratório de pesquisa. (ver figura 14). É notável a importância dos
laboratórios nos HU, presentes em quase todos os andares e ocupando todo o sexto
pavimento (figura 15).
FIGURA 13: 4° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
FIGURA 14: 5° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
No sétimo e último pavimento funciona o setor técnico, com casas de máquinas,
reservatórios e oficinas do serviço de desenvolvimento de pessoas (SPD).
Através da análise das plantas apresentadas é possível constatar as necessidades
de um hospital de ensino. A grande concentração de espaços acadêmicos e de
pesquisa enfatizam a importância do papel da instituição na formação dos
profissionais de saúde.
Analisando-se a estrutura física do HUPES, percebe-se que, com o passar dos
anos, ela tornou-se insuficiente para atender a demanda de pacientes e a
FIGURA 15: 6° PAVIMENTO.Fonte: Setor de projetos do HUPES
quantidade de estudantes e professores que utilizam de seus espaços físicos. Um
exemplo claro é o centro cirúrgico, que, atualmente, possui apenas 06 salas de
cirurgias em funcionamento, o que provoca espera para a realização de
procedimentos cirúrgicos. Contudo, toda a estrutura do HUPES encontra-se em fase
de adaptações ou com previsão de reforma.
O centro cirúrgico do Hospital Universitário Professor Edgar Santos possui apenas
06 salas de cirurgia para todas as especialidades. Sua planta é bastante simples,
com as salas voltadas para um corredor principal, onde existem circulações
intermediárias com unidades de serviços, inclusive a CME.
Segundo entrevistas feitas no local, essa é uma grande reclamação dos
profissionais. Algumas especialidades, como é o caso da ortopedia, planeja a
construção de uma unidade separada do prédio principal, para aumentar a
capacidade de cirurgias e, consequentemente, melhorar a condição do aprendizado,
principalmente em nível de residência médica.
Algumas de suas instalações atendem às normas vigentes, porém, na sua maioria,
apresentam necessidades visíveis de adequação às normas. Pode-se citar a área de
escovação (figura 17), possui quatro lavabos, porém, para adequar-se à norma,
deveriam existir, no mínimo, 07 lavabos, principalmente devido ao grande fluxo de
estudantes e residentes presentes na unidade.
FIGURA 16: Centro cirúrgico HUPES (corredor)Fonte: Arquivo pessoal do Autor
Atualmente nos projetos dos centros cirúrgicos modernos são especificadas
luminárias embutidas no forro e sistema de ar condicionado com insuflamento
superior e retornos de ar na parte inferior, permitindo a renovação continua do ar no
ambiente, o que não ocorre nesse centro cirúrgico.
FIGURA 17: Centro cirúrgico HUPES (área de escovação)Fonte: Arquivo pessoal do Autor
FIGURA 18: Sala de cirurgia HUPESFonte: Arquivo pessoal do Autor
A sala de recuperação pós-anestésica (figura 19) apresenta poucos leitos,
considerando o número de salas e a alta rotatividade das cirurgias, além de
localizar-se na área crítica da unidade e não dispor de um posto de enfermagem
adequado para monitoramento do paciente e para o alojamento de estudantes das
diversas áreas.
Mesmo com o déficit de salas e com o grande número de agendamentos de
cirurgias, fez-se necessário a utilização de uma das salas de cirurgia para o
armazenamento de equipamentos (DME).
Outra necessidade no projeto da unidade é a criação de uma área de apoio
acadêmica, principalmente de um espaço de convivência voltado para residentes e
alunos, que, muitas vezes, ficam nos corredores sentados em macas, aguardando
as cirurgias.
Apesar desses fatores, a unidade de centro cirúrgico funciona adequadamente e
apresenta grande nível de satisfação entre os acadêmicos e funcionários. É
inegável, contudo, a necessidade de ampliação do centro cirúrgico e outras
unidades do hospital, devido à grande quantidade de profissionais acadêmicos aptos
para atendimento em alta complexidade que podem ser aproveitados de melhor
forma, diminuindo o tempo de espera dos pacientes.
FIGURA 19: Centro cirúrgico HUPES (sala de recuperação)Fonte: Arquivo pessoal do Autor
Alguns investimentos recentes e importantes aconteceram no HUPES, como a
ampliação a criação de uma enfermaria especializada em transplantes de medula
óssea, para um atendimento especializado de alta complexidade e referenciado. As
figuras 20 à 25 ilustram uma parte desses investimentos, com a construção de uma
nova enfermaria.
FIGURA 20: Enfermaria (corredor)Fonte: Arquivo pessoal do Autor
FIGURA 21: Quarto coletivoFonte: Arquivo pessoal do Autor
A enfermaria segue basicamente os mesmos padrões das demais enfermarias dos
hospitais universitários do país, porém apresenta acabamentos com materiais mais
modernos. Os quartos possuem três leitos e varanda, com equipamentos de
qualidade e apropriados para o tratamento oferecido.
FIGURA 22: Varanda da enfermariaFonte: Arquivo pessoal do Autor
FIGURA 23: Acesso à varanda da enfermariaFonte: Arquivo pessoal do Autor
O posto de enfermagem possui uma localização central e um ambiente amplo,
levando em consideração a presença de estudantes, possuem visor para o leito de
isolamento e armários e bancadas adequados para as atividades que serão
desenvolvidas.
FIGURA 24: Posto de enfermagemFonte: Arquivo pessoal do Autor
FIGURA 25: Posto de enfermagem (armários e bancadas)Fonte: Arquivo pessoal do Autor
A estrutura atual do HUPES necessita de manutenção e adaptação para novas
tecnologias e aquisição de novos materiais. É nítida a necessidade de investimentos
em sua estrutura física. Apesar das dificuldades, contudo, o hospital continua
desenvolvendo suas atividades, formando profissionais de forma satisfatória, na
opinião dos seus alunos e professores.
Por se tratar de uma edificação antiga, toda a estrutura do prédio precisa de
manutenção constante e os recursos disponíveis são utilizados, prioritariamente, nas
reformas e ampliações para adaptações às normas atuais da arquitetura hospitalar,
deixando a parte externa e estética do hospital comprometida. (ver figuras 26 e 27)
FIGURA 26: Área externa do HUPESFonte: Arquivo pessoal do Autor
As intervenções mais recentes nas estruturas do HUPES demonstram a busca da
adaptação do projeto arquitetônico à evolução da medicina, da construção civil e da
tecnologia, tentando contemplar e acompanhar, de maneira simples e
economicamente viável, todo o avanço tecnológico da atualidade.
5 A CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS
O HUPES possui um plano diretor que, segundo o coordenador do setor de projetos,
é uma das referências para a definição das prioridades, buscando estabelecer a
localização correta de cada serviço.
Em termos de prioridade e metodologia, o setor de projetos se baseia na demanda
assistencial do hospital, do estado de conservação e manutenção dos seus
ambientes e da disponibilidade de recursos humanos para o funcionamento
adequado do serviço desenvolvido. Outros pontos que norteiam o setor de projetos
são: o retorno em nível de ensino e pesquisa, assistencial e financeiro, a
disponibilidade de alocação de recursos para obras e as instalações e
equipamentos.
FIGURA 27: Visão da varanda da enfermaria.Fonte: Arquivo pessoal do Autor
Sempre baseando-se na metodologia utilizada pelo plano diretor, os coordenadores
e professores buscam verificar a área prevista para implantação do serviço, além de
reavaliarem os impactos causados pelo fluxo à acessibilidade, à funcionalidade e ao
entorno do hospital durante a confecção do projeto. O setor executa programas de
pré-dimensionamento em conjunto com a equipe responsável pelo serviço,
elaborando e aprovando o anteprojeto com equipe responsável e comissão de
controle de infecção hospitalar (CCIH).
Segundo o estudo do plano diretor do HUPES, toda a organização dos pavimentos
será definida de acordo com as funções e atividades previstas em sua evolução
funcional. O sétimo pavimento será ampliado para alojar uma biblioteca, memorial e
centro de convivência. O sexto pavimento continuará sendo laboratório de pesquisa,
com previsão de ampliação para o pórtico frontal existente. No quinto pavimento
estão previstas ampliações dos laboratórios de pesquisa e UTI pediátrica, ocupando
toda a ala C e ala D.
Uma reforma bastante relevante, prevista no quarto pavimento, é a ampliação do
centro cirúrgico, utilizando toda a área atualmente ocupada pela CME. No primeiro
pavimento destaca-se a implantação da unidade de agudos, que ocupará grande
parcela da ala B, além do deslocamento do setor administrativo para a instalação do
almoxarifado em toda a ala C.
Recentemente foram feitas várias intervenções relevantes na infraestrutura e na
organização dos espaços físicos do HUPES, como: Serviço de Medicina Nuclear,
unidades de internação com semi-intensivas, unidades de internação de onco-
hematologia e transplante de medula óssea, unidades de internação de alta
complexidade em hepatologia, pólo de distribuição de medicamentos,
farmacotécnica e dispensação, além do Hospital Dia, serviço de endoscopia,
unidade de alimentação e nutrição, pronto atendimento adulto e pediátrico e UTIs
adulta e pediátrica, laboratório central, lavanderia, anfiteatro, centro de convivência,
centro cirúrgico e CME.
A concepção arquitetônica original do HUPES permitiu que as diversas unidades
fossem adaptadas às novas exigências sem interferir em sua forma inicial. As
circulações centrais, bem definidas, e a forma em H, permitiram a separação e
restrição dos fluxos, que puderam ser bem resolvidos com o passar dos anos.
6 CONCLUSÃO
Através do presente estudo foi possível perceber a importância, num projeto
hospitalar público, da inovação e utilização de materiais que apresentem não apenas
preços acessíveis, mas um custo-benefício adequado para evitar precoces
modificações.
O grande desafio para o profissional de arquitetura no desenvolvimento do projeto
de um HU é a enorme falta de informação acerca do tema. A RDC-50/02, estabelece
os ambientes necessários, porém, no caso dos hospitais de ensino, não indica
nenhum parâmetro mínimo de espaços.
A portaria interministerial n° 2400, de 2 de outubro de 2007 traz os requisitos para o
reconhecimento dos hospitais como instituições de ensino:
Para a Certificação: portaria Interministerial MEC/MS nº 2400 sãonecessários 17 itens entre eles:V - dispor de mecanismos de gerenciamento das atividades de ensino e depesquisa desenvolvidas no âmbito do hospital;VI - dispor de instalações adequadas ao ensino, com salas de aula erecursos audiovisuais, de acordo com a legislação vigente para a avaliaçãodas condições de ensino e da Residência Médica;VII - dispor ou ter acesso à biblioteca atualizada e especializada na área dasaúde (BRASIL, 2007)
Apesar dessas informações, na confecção do projeto tornam-se insuficientes para
estabelecimento do pré-dimensionamento de espaços para ensino em um HE.
Conhecer o trabalho a ser realizado e entender o seu funcionamento é fundamental
no processo de desenvolvimento do projeto.
É extremamente difícil para o arquiteto dominar as áreas de projeto em uma
instituição de atividades complexas, como em um edifício hospitalar. No que diz
respeito aos hospitais de ensino, isso se torna ainda mais complicado pela
necessidade de constante atualização e pela prática da pesquisa, que traz
inovações constantes aos tratamentos médicos, refletindo diretamente na estrutura
física dos espaços.
O projeto de um hospital universitário tem o objetivo de criar ambientes que sejam
funcionais, esteticamente atraentes e promovam a eficiência, reforçando o bem-
estar emocional e conforto físico dos pacientes, funcionários e visitantes, garantindo,
ao mesmo tempo, a formação de profissionais qualificados e atualizados.
As diversas atividades desempenhadas, os conflitos de gestão e a falta de recursos
geram a necessidade de uma reflexão maior acerca dos hospitais universitários.
Toda essa complexidade está refletida nitidamente em sua estrutura física.
Projetar um hospital universitário é um desafio que vai desde a responsabilidade de
propor espaços modernos e dinâmicos à necessidade de minimizar os conflitos de
interesses existentes nessas instituições. Além disso, cabe ao setor de engenharia e
arquitetura destes hospitais a responsabilidade de fazer toda a manutenção predial,
mantendo as condições necessárias para o atendimento adequado aos pacientes.
Foi possível perceber que o HUPES modificou-se e modifica-se na busca da
adequação de seus espaços físicos às normas técnicas. É necessário enfatizar a
importância do arquiteto na contribuição para a melhora do seu espaço físico.
A maioria dos setores de projetos existentes nos EAS possui um número de
funcionários restritos e não dispõe de profissionais especializados. Sendo assim,
torna-se imprescindível a utilização da ferramenta do plano diretor para projetos
hospitalares. Ela é de fundamental importância para se estabelecer metas e orientar
os demais profissionais, sinalizando os problemas e definindo metodologias
aplicáveis aos projetos e etapas de execução das obras.
Faz parte do papel do arquiteto estar sempre atualizado em relação aos novos tipos
de atendimento e tendências da saúde para, dessa forma, ter condições de projetar
um hospital moderno.
Projetar um hospital universitário remete à análise das tendências contemporâneas
da medicina, como adoção de cirurgias ambulatoriais, telemedicina, medicina
nuclear, dentre outros setores que vêm crescendo dentro do ambiente hospitalar
geral e de ensino. Assim, a criação de um projeto em um HE implica em uma série
de conhecimentos que exigem a ação multidisciplinar.
Por se tratar de uma instituição de assistência, faz-se necessário que todos os
ambientes sejam estabelecidos por norma e bem dimensionados, para comportar a
demanda de estudantes e professores, constantemente presentes em todos os
espaços. É essencial inserir, em todas as unidades dos HU, salas de professores,
de residentes, de discussão de casos, laboratórios para estudo, dentre outros
espaços que tendem a influenciar a configuração e funcionamento das demais
unidades.
A importância na escolha do HUPES como objeto da pesquisa está diretamente
ligada à sua relevância histórica, e por sua arquitetura ter conseguido absorver as
diversas mudanças técnicas no decorrer da sua história.
Fica, portanto, uma contribuição introdutória, mas importante para o
desenvolvimento do tema.
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