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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MECATRÔNICA RICARDO RODRIGUES MAGALHÃES AVALIAÇÃO DO USO DA EXTENSOMETRIA NA ANÁLISE DE TENSÕES RESIDUAIS DE SOLDAGEM Salvador 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MECATRÔNICA

RICARDO RODRIGUES MAGALHÃES

AVALIAÇÃO DO USO DA EXTENSOMETRIA NA ANÁLISE

DE TENSÕES RESIDUAIS DE SOLDAGEM

Salvador 2008

1

RICARDO RODRIGUES MAGALHÃES

AVALIAÇÃO DO USO DA EXTENSOMETRIA NA ANÁLISE DE TENSÕES RESIDUAIS DE SOLDAGEM

Trabalho apresentado ao Programa de Pós-graduação em Mecatrônica, programa conjunto entre o Departamento de Engenharia Mecânica e o Departamento de Ciência da Computação, da Universidade Federal da Bahia como requisito para obtenção do grau de Mestre em Mecatrônica.

Orientador: Prof. Dr. Alberto B. Vieira Jr.

Salvador 2008

2

___________________________________________________________________ Magalhães, Ricardo Rodrigues

Avaliação do uso da extensometria na análise de tensões residuais de soldagem. Salvador, 2008.

128 p.

Orientador: Prof. Dr. Alberto B. Vieira Jr. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós-

graduação em Mecatrônica. 1. Análise de tensões residuais de soldagem. 2. Avaliação do uso da

extensometria - I. Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós-graduação em Mecatrônica. II. Título.

___________________________________________________________________

3

4

AGRADECIMENTOS

À Deus, pedo dom da vida. À minha esposa, Lígia, pela compreensão. Aos meus pais, Celso e Vanda, pela dedicação. Ao meu orientador, Alberto Borges Vieira Júnior, pela amizade, apoio e acompanhamento deste trabalho. Aos professores do Departamento de Estruturas da Universidade Federal da Bahia, Prof. Dr. Armando Sá Ribeiro Júnior e Profª Dra. Tatiana Bittencourt Dumet, por disponibilizar os equipamentos necessários para a realização dos experimentos. Aos colegas do grupo de pesquisa, especialmente à Karen de Oliveira, pela amizade e importante ajuda. Ao CIMATEC, especialmente ao Prof. Sérgio Barra e Tiara Pimentel, pelo suporte técnico durante a realização da parte experimental. À FAPEX, pelo suporte financeiro ao projeto que viabilizou a compra de diversos materiais para a realização deste trabalho.

5

RESUMO

Tensões residuais estão entre os principais determinantes da qualidade das juntas soldadas, já que afetam sua resistência e as predispõem à fratura e à corrosão. Podem, também, influenciar o desempenho das peças soldadas quanto à resistência à fadiga e à estabilidade dimensional. As tensões residuais podem assumir valores significativos em uma peça soldada e afetar diretamente a qualidade dos produtos em função de processos de manufatura. O uso de extensômetros, colados em regiões específicas das peças a serem soldadas, como forma de mapear os valores de tensões provenientes dos processos de soldagem tem um grande valor tecnológico. O método adotado neste trabalho define pontos estratégicos para a colagem de extensômetros ao longo de chapas de aço ASTM A36 a serem unidas através da soldagem de topo na posição plana utilizando o processo de soldagem TIG (Tungsten Inert Gas), e, com o auxílio de um condicionador de sinais, os registros dos valores de tensões são coletados. Os resultados levantados são leituras da evolução das tensões impostas pela operação de soldagem, bem como valores de tensões residuais pós-soldagem, levando em consideração as transformações de fases, os efeitos térmicos e as propriedades mecânicas dos materiais a serem soldados. Este método experimental pode ser correlacionado com resultados de análises numéricas, que auxiliam no entendimento dos mecanismos de formação das tensões residuais decorrentes do processo de soldagem através de métodos de elementos finitos, tendo como finalidade avaliar a eficácia de ambos os métodos. Como resultado, o trabalho auxilia na análise dos diferentes métodos e espera-se coerência destes resultados no sentido de validar o método proposto, objetivando a redução de tempo e custo durante a fase de desenvolvimento de produtos submetidos a processos de soldagem.

Palavras-chave: Tensões residuais, soldagem, extensometria, análise numérica.

6

ABSTRACT

Residual stresses can be considered the main issue regarding to welded joints since they affect its resistance causing fragile breaking and corrosion under stress. They can influence the performance of the parts welded as result of the fatigue strength and also the dimensional stability. The residual stresses can assume significant values in a welded parts and affect directly the product quality as result of manufacturing processes. The use of strain gauges placed in specific areas of the parts to be welded as the way of maping the stress values proceeding from the welding processes has a great technological value. The proposed method is to use the strain gauges distributed throughout ASTM A36 steel plates to be joined through the top welding geometry or plates in angle using the TIG (Tungsten Inert Gas) process helped by a data acquisition system, the stresses values are collected and registered. The expected results are the evolution of the mechanical tension during the welding as well as residual stresses values after welding, taking in consideration the phase transformation, the thermal effects and the mechanical properties of the material to be welded. This experimental method can be correlated against the numerical analyses results in order to stabilish the agreement of residual stresses mechanisms formation through the finite elements method. The final proposal is to evaluate the effectiveness of both methods. The expected conclusions is the agreement between the results in order to validate the presented method as well as experimental time optimization and cost reduction during the products development submitted to the welding processes.

Key-words: Residual stresses, welding, strain gauges, numerical analysis.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22

2.1 PRINCIPIOS DE RESISTENCIA DOS MATERIAIS APLICADOS À

EXTENSOMETRIA................................................................................ 22 2.1.1 O círculo de Mohr para o estado plano de tensões............................... 22 2.1.2 A relação entre tensão deformação....................................................... 23 2.1.3 Deformação de cisalhamento................................................................ 27 2.1.4 O círculo de Mohr para o estado plano de deformações....................... 28 2.2 O EFEITO DA SOLDAGEM NO SURGIMENTO DE TENSÕES

RESIDUAIS............................................................................................ 29 2.2.1 A evolução das tensões durante a soldagem........................................ 30 2.2.2 Métodos de medição das tensões residuais.......................................... 31 2.2.3 Aplicação da técnica do furo cego para medição das TRs ................... 32 2.2.4 A influência da temperatura no surgimento de TRs............................. 37 2.2.5 A influência das transformações de fases no surgimento das TRs....... 41 2.2.6 As condições de equilíbrio e compatibilidade de deformações............. 44 2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EXTENSOMETRIA................................... 46 2.3.1 Propriedade dos extensômetros............................................................ 48 2.3.2 Aplicação dos extensômetros na peça.................................................. 50 2.3.3 Características elétricas dos extensômetros......................................... 52 2.3.4 Influencia do gauge factor em um circuito elétrico................................ 55 2.3.5 Os efeitos da temperatura..................................................................... 56 2.4 PONTES DE WHEATSTONE................................................................ 59 2.4.1 Resistores de calibração (shunt cal)...................................................... 61 2.4.2 Métodos para compensação de temperatura........................................ 63 2.4.3 Configuração um quarto de ponte......................................................... 63 2.4.4 Um quarto de ponte ativa com conexão a 3 fios.................................... 65 2.4.5 Configuração meia ponte....................................................................... 66 2.4.6 Configuração de ponte completa........................................................... 68 3

AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA DE TENSÕES RESIDUAIS EM PLACAS SOLDADAS 70

3.1 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE TENSÕES RESIDUAIS............... 70 3.1.1 O sistema para condicionamento de sinais........................................... 70 3.1.2 Validação da colagem dos extensômetros no material......................... 72 3.1.3 Preparação e realização dos testes experimentais............................... 74 3.2 AVALIAÇÃO NUMÉRICA DAS TENSÕES RESIDUAIS....................... 79

8

3.2.1 Seleção dos dados de entrada.............................................................. 81 3.2.2 Execução da simulação numérica das chapas de topo......................... 82 3.2.3 Execução da simulação numérica das chapas em ângulo.................... 85 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 88 4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS: CHAPAS DE TOPO...................... 88 4.1.1 Resultados obtidos na chapa do lado esquerdo.................................... 90 4.1.2 Resultados obtidos na chapa do lado direito......................................... 94 4.1.3 A tentativa de reproduzir a técnica do furo passante............................. 97 4.2 RESULTADOS EXPERIMENTAIS: CHAPAS EM ÂNGULO................. 100 4.2.1 Resultados obtidos na chapa vertical.................................................... 101 4.2.2 Resultados obtidos na chapa horizontal................................................ 104 4.3 RESULTADOS NUMÉRICOS: CHAPAS DE TOPO.............................. 107 4.3.1 TRs obtidas na simulação da soldagem de chapas de topo................. 107 4.3.2 A simulação das transformações de fase nas chapas de topo.............. 110 4.3.3 Valores de tensão máxima nas chapas de topo.................................... 112 4.4 RESULTADOS NUMÉRICOS: CHAPAS EM ÂNGULO........................ 113 4.4.1 TRs obtidas na simulação da soldagem de chapas em ângulo............. 113 4.4.2 A simulação das transformações de fase nas chapas em ângulo......... 116 4.5 CORRELAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NA SOLDAGEM

DAS CHAPAS DE TOPO....................................................................... 117 4.6 CORRELAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NA SOLDAGEM

DAS CHAPAS EM ÂNGULO................................................................. 119 4.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 121 5 CONCLUSÕES 123 6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 125 REFERÊNCIAS 126

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LISTA DE FIGURAS

2.1 Círculo de Mohr para o estado plano de tensões 22

2.2 Instalação de roseta delta 23

2.3 Amostra submetida a um teste de tensão x deformação 24

2.4 Deformação específica nos eixos coordenados 25

2.5 Estado de tensões com tensões de cisalhamento 27

2.6 Círculo de Mohr para o estado plano de deformações 28

2.7 Flexão de uma viga até ocorrer deformação permanente 30

2.8 TRs decorrentes da operação de soldagem 31

2.9 Corpo de prova antes da usinagem do furo 33

2.10 Corpo de prova após usinagem do furo 35

2.11 Configuração típica de rosetas 36

2.12 Dimensões do furo cego 37

2.13 Valores de rendimento térmico 39

2.14 Isotermas na soldagem de chapas grossas 40

2.15 Isotermas na soldagem de chapas finas 41

2.16 Regiões da ZTA em um aço carbono 42

2.17 Diagrama CCT p/ aços com 20% de carbono 43

2.18 Modelo térmico na soldagem 45

2.19 Exemplo de histerese em leituras de sensores 46

2.20 Modelo de um extensômetro unidirecional simples 49

2.21 Códigos de extensômetros 50

2.22 Processo de colagem dos extensômetros 50

2.23 Execução do teste da borracha 52

2.24 Seção transversal em um fio simples 52

2.25 Seção transversal em um fio sob o efeito de carga (P) 53

2.26 Representação de um circuito elétrico simples 55

2.27 Deformação aparente x temperatura 59

2.28 Circuito simples em configuração de Ponte de Wheatstone 60

2.29 Representação de um resistor de calibração 62

2.30 Extensômetros colados a 90º 63

2.31 Circuito configuração um quarto de ponte 64

10

2.32 Circuito configuração um quarto de ponte a 2 fios 65

2.33 Circuito configuração um quarto de ponte a 3 fios 66

2.34 Circuito configuração meia ponte 67

2.35 Aplicação de extensômetros em flexão de chapas finas 67

2.36 Circuito configuração ponte completa 69

3.1 Esquema do condicionamento de sinais 71

3.2 Condicionamento de sinais utilizado nos experimentos 72

3.3 Variáveis do processo de aferição do sistema de medição 72

3.4 Dispositivo para medição de deformação 73

3.5 Gráfico Peso x Deformação para valores teóricos e práticos 74

3.6 Principais elementos do processo de soldagem TIG 75

3.7 Valores da temperatura de pico (Tp) para determinado valor de y 75

3.8 Resultados obtidos por simulação numérica e por Raio X 76

3.9 Marcação e colagem dos extensômetros na peça 77

3.10 Posicionamento dos extensômetros nos corpos de prova 77

3.11 Conferência da resistência de cada sensor 78

3.12 Esquema dos extensômetros colados na peça após ensaio 78

3.13 Modelo selecionado para a poça de fusão 82

3.14 Dimensionamento da poça de fusão para a soldagem de topo 82

3.15 Sistema de engaste das chapas utilizado para a simulação numérica 83

3.16 Evolução da temperatura durante a soldagem 83

3.17 Curvas de temperatura em nós a 30 mm do cordão de solda 84

3.18 Malha utilizada para a simulação da soldagem em ângulo 85

3.19 Elementos utilizados na simulação da soldagem em ângulo 85

3.20 Dimensionamento da poça de fusão p/ a soldagem em ângulo 86

3.21 Gradientes de temperatura da poça de fusão p/ a soldagem em ângulo 86

3.22 Curva de temperatura em nós a 30 mm do cordão na chapa horizontal 87

4.1 Evolução da temperatura em um ponto a 30 mm do cordão 89

4.2 Valores de tensão residual obtidos na soldagem de chapas de topo 90

4.3 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 3 e 21 91

4.4 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 16, 17 e 18. 92

4.5 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 0 e 5. 93

4.6 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 13, 14 e 15. 94

11

4.7 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 27, 28, 30 e 31. 95

4.8 Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 11 e 12. 96

4.9 Extensômetros colados à 45º próximos ao cordão de solda 97

4.10 Evolução da tensão durante a execução do furo passante 98

4.11 Distribuição de tensão na região do furo passante 99

4.12 Posicionamento dos extensômetros na soldagem em ângulo 100

4.13 Evolução da temperatura em um ponto a 30mm do cordão de solda. 101

4.14 Experimento realizado através da soldagem de chapas em ângulo 101

4.15 Valores de tensão residual obtidos na chapa vertical 102

4.16 Evolução da tensão durante a soldagem no canal 6 que ocorreu falha 103

4.17 Evolução das tensões nos canais 30, 31, 27 e 28 da chapa vertical 103

4.18 Valores de tensão residual obtidos na chapa horizontal 104

4.19 Evolução das tensões nos canais 25 e 26 da chapa horizontal 105

4.20 Evolução das tensões nos canais 20, 21, 22 e 23 da chapa horizontal 106

4.21 Evolução das tensões nos canais 17, 18 e 19 da chapa horizontal 107

4.22 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha A da junta de topo 108

4.23 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha B da junta de topo 108

4.24 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha C da junta de topo 109

4.25 Distribuição de TRs ao longo das duas placas soldadas de topo 110

4.26 Valores de TRs obtidos através da simulação numérica 110

4.27 Transformações de fase na simulação da soldagem de topo 111

4.28 Valores de tensão máxima na linha central da chapa horizontal à direita 112

4.29 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha A da junta em ângulo 113

4.30 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha B da junta em ângulo 114

4.31 Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha C da junta em ângulo 114

4.32 Resultados de TRs longitudinais na simulação da soldagem em ângulo 115

4.33 Valores de TRs obtidos por simulação numérica na soldagem em ângulo 115

4.34 Transformações de fase na simulação da soldagem em ângulo 116

4.35-a TRs longitudinais na linha A da chapa lado esquerdo 117

4.35-b TRs longitudinais na linha B da chapa lado esquerdo 118

4.35-c TRs longitudinais na linha C da chapa lado esquerdo 118

12

4.36-a TRs longitudinais na linha A da chapa lado direito 118

4.36-b TRs longitudinais na linha B da chapa lado direito 119

4.36-c TRs longitudinais na linha C da chapa lado direito 119

4.37-a Correlação entre TRs na linha A da chapa horizontal 120

4.37-b Correlação entre TRs na linha C da chapa horizontal 120

4.37-c Correlação de TRs na linha C da chapa horizontal 120

4.38 Correlação entre TRs a 60 mm do cordão na chapa vertical 121

13

LISTA DE TABELAS

2.1 Modelos de extensômetros unidirecionais 49

3.1 Principais características do aço ASTM A36 70

4.1 Dados utilizados para o cálculo do rendimento térmico do processo (topo) 88

4.2 Dados utilizados para o cálculo da tensão máxima 98

4.3 Dados utilizados para o cálculo do rendimento térmico do processo (ângulo) 100

14

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Abreviaturas:

Ac1 : temperaturas de início da austenização;

Ac3 : temperaturas de fim da austenização ;

ASM: American Society for Metals;

ASTM: American Society for Testing and Materials;

CCT: Continuous Cooling Transformation;

CP(s): corpo(s) de prova;

F: Ferrita;

FEM: Finite Element Methods;

GF: Gauge Factor;

HV: Dureza Vickers;

LN: Linha neutra;

MAG: Metal Argon Gas;

MEF: Método dos Elementos Finitos;

MIG: Metal Inert Gas;

Ms ou M: Martensita;

P: Perlita;

T0: Temperatura inicial;

TIG: Tungsten Inert Gas;

Tm: Temperatura média;

Tp: Temperatura de pico;

TRs: Tensões residuais;

XRD: Raio X;

ZTA : Zona Termicamente Afetada;

Zw: Percentual de Bainita.

15

Siglas:

A : Área total da seção transversal;

B : Largura da barra ;

b, c, ar e af : dimensões da poça de fusão;

c : calor específico do metal sólido;

e : dilatação volumétrica específica; diferença de potencial entre dois pontos em um

circuito eletrônico;

E: Módulo de elasticidade; diferença de potencial na entrada do circuito eletrônico;

G : Módulo de cisalhamento;

H : energia de soldagem;

I : intensidade da corrente elétrica;

K : Difusividade térmica;

L : comprimento;

P : Força ;

q0 : fonte de calor;

R : raio arbitrário em relação ao centro do furo cego ou passante; Resistência

elétrica; termo de incompatibilidade; taxa de resfriamento;

R0 : raio do furo cego ou cego ou passante;

r: quociente entre R e 0R ;

Rcal : resistência elétrica do resistor de calibração;

t : espessura; tempo;

T : Temperatura;

Tc = temperatura na qual a taxa de resfriamento deve ser calculada;

Tm : temperatura de fusão da chapa;

To: temperatura inicial da capa;

Tp : temperatura de pico a uma distância Y da linha de fusão;

V : tensão do arco de soldagem;

Vf : Volume inicial de um cubo elementar;

Vi : Volume inicial de um cubo elementar;

Y : distância a partir do centro do cordão de solda;

νs: velocidade de soldagem;

α , θ : ângulos;

16

mα : coeficiente de expansão térmica do material de base;

gα : coeficiente de expansão térmica do material resistivo;

γ : deformação de cisalhamento;

β : coeficiente de resistência-temperatura do material resistivo;

oTε : deformação aparente;

ρε : deformação do material resistivo em função da variação da resistividade;

yε , zε : deformações transversais;

xε : deformação longitudinal;

rε : deformação radial;

θε : deformação tangencial;

η : rendimento térmico;

λ : condutibilidade térmica;

ν : Coeficiente de Poisson;

ρ : resistividade; densidade;

σ : Tensão normal;

rσ : Tensão radial;

θσ : Tensão tangencial;

21 , σσ : Tensões normais principais;

minmax,σσ : tensões máximas e mínimas;

τ : Tensão cisalhante.

17

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Tensões residuais (TRs) estão entre os principais determinantes da

qualidade das juntas soldadas, já que afetam sua resistência e as predispõem à

fratura frágil e à corrosão sob tensão. Podem também influenciar no desempenho

das peças soldadas quanto à resistência à fadiga e à estabilidade dimensional.

As tensões residuais de soldagem podem assumir valores significativos

em uma peça soldada. Num cordão de solda em aço, por exemplo, a componente de

tensão orientada na direção da solda atinge valores próximos à tensão de

escoamento do material em sua maior parte. As tensões residuais têm distribuição

complexa ao longo da peça soldada e muitas vezes essa distribuição só pode ser

determinada a partir de técnicas de simulação numérica, como a análise térmica

elastoplástica através de elementos finitos como descrito por Chang e Teng (2004).

Entender os mecanismos de formação de TRs na soldagem e tentar evitá-

los de maneira efetiva através de métodos numéricos e experimentais tem sido

objeto de estudos para o controle de tensões residuais decorrentes da soldagem.

Estes estudos têm grande importância em setores, como por exemplo, na indústria

automobilística, onde é empregada a soldagem de chapas finas nas estruturas dos

veículos.

No campo da previsão de tensões, têm-se desenvolvido técnicas

analíticas e numéricas, tais como o Método dos Elementos Finitos (MEF), cujas

primeiras aplicações se deram, justamente, na análise estrutural. No entanto,

mesmo os métodos numéricos mais sofisticados mostram-se, muitas vezes,

limitados em sua capacidade de prever estados de tensão mais complexos, tais

como os resultantes de processos de fabricação termo-mecânicos (VIEIRA JR.,

2003).

A determinação experimental de tensões residuais em soldagem de

materiais metálicos pode ser executada através de métodos destrutivos

(seccionando a peça), semi-destrutivos (técnica do furo cego) e não-destrutivos

(raios-x, ultra-som, difração de nêutrons e foto-elasticidade). São métodos eficientes,

porém, em muitos casos, economicamente inviáveis devido ao elevado custo dos

18

equipamentos necessários, bem como da mão-de-obra especializada para a

realização dos ensaios.

Alguns destes métodos usam transdutores que são dispositivos que

transformam um tipo de energia em outra para fins de medida, ou seja, reproduzem

um sinal elétrico de saída que representa a grandeza física sendo medida. O sensor

é a parte sensitiva do transdutor para a geração do sinal elétrico e que depende do

nível de energia da grandeza física que afeta o dispositivo sensitivo. Os transdutores

de força são geralmente formados por extensômetros ou “strain gauges” e servem

para medir a deformação que um corpo sofre quando é submetido a forças externas.

A utilização da extensometria para determinação de tensões residuais é

denominada como método do furo cego (“Hole drilling method”). É uma técnica usual

de medição de tensões residuais que se baseia no uso de extensômetros. Ela

consiste na instalação de uma roseta com três extensômetros predispostos em

ângulos de 45º ou 120º, e, ao centro da roseta é executado um furo de profundidade

igual ao seu diâmetro onde são calculadas as tensões naquela região em função

das deformações medidas pelos extensômetros (ZUCCARELLO e BARCELONA,

2001). É uma técnica eficiente, que permite a medição de tensões residuais (ou seja,

tensões presentes na peça após a soldagem), até mesmo em regiões muito

próximas ao cordão de solda, mas que apresenta elevado custo por análise em

função da precisão do equipamento para confecção do furo.

Um método simplificado, não-destrutivo e de baixo custo para se obter

informações sobre os níveis de tensões residuais é de grande interesse tecnológico.

Regiões próximas ao cordão de solda apresentam temperaturas elevadas, e,

dependendo do processo utilizado, este valor chaga a ser próximo de 1500ºC, sendo

este um fator que dificulta a medição de deformações naquela região.

O Programa de Pós-graduação em Mecatrônica (PPGM) conta com um

programa computacional para previsão de tensões residuais a partir de simulação

numérica do processo de soldagem, o Sysweld®, que é um programa comercial de

soldagem que permite a previsão de tensões residuais e distorções em peças de

geometria complexa. No entanto, torna-se necessária uma técnica experimental para

validação dos resultados.

Neste trabalho, buscou-se avaliar o uso da extensometria em chapas de

aço ASTM A36 para o acompanhamento, em tempo real, dos valores de tensões

que surgem na direção do cordão de solda e obter os valores das tensões residuais

19

provenientes do processo de soldagem. Adotaram-se pontos mais próximos

possíveis do cordão de solda, e, ao mesmo tempo, que não pudessem afetar o

funcionamento dos sensores em função da alta temperatura. Ao final, foram

comparados os resultados experimentais com os resultados numéricos, obtidos

através do uso de elementos finitos, com o auxílio do Sysweld®.

Para atingir os objetivos propostos, adotou-se a seguinte seqüência de

atividades:

1) Aferição dos extensômetros e validação do processo de colagem dos

mesmos. Adotaram-se estes processos inicialmente no sentido de certificar a

eficácia do processo colagem dos extensômetros em amostras do mesmo material

em que foram executados os experimentos, bem como a aferição dos sensores

quanto às respostas pós-colagem. Nesta primeira etapa, buscou-se o

aperfeiçoamento das técnicas de colagem dos extensômetros em diversas placas,

visto que o correto manuseio dos sensores é essencial para se obterem resultados

mais precisos;

2) Estudo experimental sobre o melhor posicionamento dos

extensômetros nas amostras a serem soldadas. Nesta etapa, adotou-se como

referência valores teóricos, e, a partir de cálculos de temperatura máxima atingida

em determinados pontos da superfície, foram definidos os pontos. Este estudo se fez

necessário, partindo-se do princípio de que a influência da temperatura pode afetar a

resposta dos sensores colados na peça a ser testada.

3) Soldagem de corpos de prova de materiais metálicos (aço ASTM A36)

e avaliação da aplicação da extensometria na análise de tensões residuais. Esta

etapa foi precedida pela instrumentação das amostras a serem soldadas através da

colagem dos extensômetros e ligação dos mesmos ao sistema de aquisição de

sinais. Depois de finalizado o processo de instrumentação dos corpos de prova, foi

executada a soldagem através do processo TIG (Tungsten Inert Gas).

4) Simulação numérica das tensões residuais na soldagem. Para utilizar

este método, foi necessário entender os princípios de funcionamento do programa

computacional Sysweld®, que executa a simulação numérica para previsão das

tensões residuais de soldagem em qualquer geometria do corpo de prova.

Considerando que as distribuições das componentes de tensão residual de placas

soldadas são bastante complexas e difíceis de serem determinadas

experimentalmente, justifica-se o interesse de se recorrer à previsão numérica das

20

mesmas tensões residuais. Esta opção também se justifica pela necessidade de se

estudar um grande número de casos, buscando conhecer previamente os resultados

a partir das propriedades do material e informações sobre o processo de soldagem;

5) Análise da coerência entre os resultados obtidos experimentalmente e

por simulação numérica sobre amostras de materiais metálicos. Foi considerada

nesta etapa, a complexidade das distribuições de tensão residual, sendo necessário

correlacionar o método numérico auxiliado pelo Sysweld®, com os resultados

experimentais no intuito de se avaliar a eficácia de ambos os métodos.

Seguindo a seqüência de atividades descritas anteriormente, os capítulos

seguintes desta dissertação estão dispostos da seguinte maneira:

Capítulo II – Revisão Bibliográfica: Neste capítulo, foi necessário o

entendimento das tensões residuais no comportamento de placas soldadas e a

relação com a extensometria. São apresentados conceitos elementares de áreas do

conhecimento envolvidas: princípios básicos de resistência dos materiais, conceitos

de tensões residuais provenientes do processo de soldagem, bem como os

princípios básicos de extensometria.

Capítulo III – Análise experimental e numérica das tensões residuais

em placas soldadas: Neste capítulo é descrito o método experimental utilizado para

verificar a evolução das tensões durante o processo e a leitura das respectivas

tensões residuais ao final da soldagem, bem como a seleção de materiais e o

método de aquisição de dados utilizado, necessários para atingir os objetivos

propostos.

Também é abordada a metodologia utilizada para previsão numérica das

tensões residuais em placas soldadas com o auxílio do programa computacional

Sysweld®.

Capítulo IV – Resultados e discussões: São apresentados os gráficos

de correlação entre os resultados obtidos através do método experimental e por

elementos finitos, com o objetivo de avaliar e discutir suas vantagens e

desvantagens.

Capítulo V – Conclusões: São apresentadas as principais conclusões

através dos resultados obtidos, destacando-se a viabilidade do uso da extensometria

para a previsão de tensões residuais em placas soldadas e o uso da análise

numérica.

21

Capítulo VI – Sugestões para trabalhos futuros: São abordados alguns

temas sugeridos para trabalhos futuros.

22

CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 – PRINCÍPIOS DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADOS À

EXTENSOMETRIA

2.1.1 – O círculo de Mohr para o estado plano de tensões

Uma maneira de se obter a relação entre as componentes no estado

plano de tensão em um sistema de coordenadas é através do conhecido Círculo de

Mohr, conforme mostrado na figura 2.1.

Figura 2.1 – Círculo de Mohr para o estado plano de tensões (MURRAY e MILLER, 1992).

O eixo vertical representa os valores de tensão de cisalhamento (τ ) e o

eixo da horizontal, os valores das tensões normais ( xσ e yσ ). De posse aos valores

de xσ (ponto A), yσ (ponto C), e xyτ , é possível obter as coordenados do ponto B

( xσ , xyτ ) e as coordenados do ponto D ( yσ , - xyτ ). A união destes dois pontos é a

reta que cruza o centro do círculo (ponto E).

23

Com o auxílio de um compasso, traça-se o círculo a partir do centro do

círculo e a abertura do compasso até o ponto B. A partir daí, obtém-se os valores de

1σ e 2σ (pontos I e H, respectivamente). Os pontos F e G representam,

respectivamente, os valores de tensões de cisalhamento máximas e mínimas. O

ângulo formado pelas semi-retas EB e EH é o valor de θ2 . O raio do círculo pode

ser expresso pela equação:

2xy

2yx21

2,1 22τ

σσσσσ +

−=

−= (2.1)

O ciclo de Mohr é de extrema importância para a aplicação em

extensometria, visto que, através dele, obtêm-se os valores de tensões máximas

com o auxílio de 3 extensômetros dispostos em ângulos de 45º (roseta retangular)

ou à 120º (roseta delta). Zuccarello e Frattini (2005) obtiveram medições de tensões

próximas ao cordão de solda, através do uso de roseta delta, conforme mostrado na

figura 2.2.

Figura 2.2 – Instalação de roseta delta (adaptado de Zuccarello, 2005).

2.1.2 – A relação entre tensão deformação

Sabe-se que materiais homogêneos e normais considerados isotrópicos,

são aqueles em que as propriedades mecânicas independem da direção e do ponto

onde são consideradas as deformações. Considerando este tipo de material, e os

casos em que se possa admitir estado plano de tensão, pode-se representar a

24

relação entre tensão e deformação, de acordo com Lei de Hooke, representada pela

equação:

xx .E εσ = (2.2)

Onde: xσ = tensão longitudinal;

xε = deformação longitudinal;

E = módulo de elasticidade do material.

Para materiais isotrópicos, além do módulo de elasticidade, mais duas

constantes elásticas podem ser consideradas, que são: o coeficiente de Poisson (ν )

e o módulo de rigidez (G).

Quando uma determinada barra de seção retangular é carregada

uniformemente, conforme representado na figura 2.3, somente uma seção normal ao

eixo x está sujeita à tensão ( xσ ).

Observa-se, durante a aplicação da carga (P), um alongamento da

amostra na direção do eixo x, que é acompanhado pela contração lateral nas

direções y e z.

Figura 2.3 – Amostra submetida a um teste de tensão x deformação

Nota-se que as deformações nas direções y e z são negativas e

proporcionais à tensão no eixo x. Esta proporcionalidade é conhecida como

coeficiente de Poisson, sendo expressa pela relação:

axialdeformação

lateraldeformação−=ν (2.3)

25

A figura 2.4 representa as deformações específicas ( ,xε yε e zε ) nos

eixos x, y e z sob a ação de um carregamento multiaxial. A componente xσ causa na

direção do eixo x, uma deformação específica de valor E

xσ e nas direções do eixo y

e z a deformação específica dada por E

xνσ−. Da mesma maneira, a componente

yσ , aplicada separadamente, causa na direção do eixo y, uma deformação

específica de valor E

yσ e nas direções do eixo x e z a deformação específica dada

por E

yνσ−. Finalmente, a componente zσ , aplicada separadamente, causa na

direção do eixo z, uma deformação específica de valor E

zσ e nas direções do eixo x

e y a deformação específica dada por E

zνσ−.

Considerando-se a relação entre as deformações nos eixos x, y e z e a

equação 2.3, tem-se:

E. x

zyσ

νεε −== (2.4)

Figura 2.4 – Deformação específica nos eixos coordenados

E, combinando os resultados acima, obtêm-se as expressões das

componentes das deformações específicas:

26

( )[ ]zyxx E1

σσνσε +−= (2.5-a)

( )[ ]xzyy E1

σσνσε +−= (2.5-b)

( )[ ]yxzz E1

σσνσε +−= (2.5-c)

Os resultados são válidos para o caso de tensões que não excedam o

limite de proporcionalidade do material e deformações pequenas, que é o caso na

aplicação de extensômetros.

Considerando-se que o volume inicial do cubo (Vi) mostrado na figura 2.4

seja igual a 1, quando o mesmo encontra-se livre de tensões, pode-se considerar

que após a aplicação das tensões ,xσ yσ e zσ , seu volume (Vf) passa a ser:

)1).(1).(1(V zyxf εεε +++= (2.6)

Levando-se em consideração que o produto entre as deformações

específicas é extremamente pequeno, podendo ser desprezados, tem-se:

zyxf 1V εεε +++= (2.7)

A diferença entre o volume inicial e o final do cubo (∆V) passa a ser:

zyxzyxif 11VVV εεεεεε∆ ++=−+++=−= (2.8)

Ou seja, a dilatação volumétrica específica do material (e = ∆V/V0) é igual

à soma das equações 2.5-a, 2.5-b e 2.5-c. Assim, tem-se:

).(E

21e zyx σσσ

ν++

−= (2.9)

27

2.1.3 – Deformação de cisalhamento

Considerou-se a princípio, as equações 2.5-a, 2.5-b e 2.5-c para

situações em que não há tensões de cisalhamento ( xyτ , xzτ e yzτ ). Estas tensões

não têm nenhum efeito direto nas deformações específicas, e, enquanto as

deformações permanecerem pequenas, não vão influenciá-las. Porém, uma vez

consideradas, irão transformar-se em um cubo oblíquo, conforme figura 2.5.

O ângulo xyγ (expresso em radianos) define a distorção do cubo e é

chamado de deformação de cisalhamento correspondente às direções x e y. Quando

a deformação provoca uma redução no ângulo formado pelas faces orientadas

segundo os eixos x e y, respectivamente, a deformação de cisalhamento xyγ é

positiva; de modo contrário ela é negativa.

Figura 2.5 - Estado plano de tensões de cisalhamento.

De modo análogo ao estado geral de tensões e deformações específicas,

a relação inicial entre xyτ e xyγ é linear no início do diagrama tensão-deformação de

cisalhamento. Essa relação é a Lei de Hooke para tensões e deformações de

cisalhamento, onde o módulo de elasticidade transversal do material é expresso pela

constante G (módulo de elasticidade transversal). Obtêm-se, desta maneira, as

expressões das componentes das deformações de cisalhamento:

Gxy

xy

τγ = (2.10-a)

Gxz

xzτ

γ = (2.10-b)

28

Gyz

yz

τγ = (2.10-c)

O valor de G pode ser expresso em função de E e ν , conforme equação:

( )ν+=

12E

G (2.11)

2.1.4 – O círculo de Mohr para o estado plano de deformações

O mesmo raciocínio adotado para a obtenção das tensões máximas

através do circulo de Mohr para o estado plano as tensões pode ser usado para a

obtenção das deformações máximas e do ângulo θ2 . A figura 2.6 apresenta um o

círculo de Mohr para o estado plano de deformações, sendo o eixo vertical

representado pelos valores de deformações de cisalhamento (2xyγ

) e o eixo da

horizontal, os valores das deformações ( xε e yε ).

Figura 2.6 – Círculo de Mohr para o estado plano de deformações

De posse aos valores de xε , yε e 2xyγ

, formam-se os pares ordenados

X( xε , -2xyγ

) e Y ( yε ,2xyγ

). A união destes dois pontos é a reta que cruza o centro do

círculo (ponto C). Com o auxílio de um compasso, traça-se o círculo a partir do

29

centro do círculo e a abertura do compasso até o ponto X. A partir daí, obtém-se os

valores de máxε e minε (pontos A e B, respectivamente) e também o valor de médε ,

que coincide com o centro do círculo. Os pontos D e E representam,

respectivamente, os valores de deformações de cisalhamento máximas e mínimas.

O ângulo formado pelas semi-retas CA e CX é o valor de θ2 . Este ângulo, no circulo

de Mohr, é duas vezes maior que o ângulo na peca. Se este ângulo for de sinal

positivo no circulo (+2xyγ

), isto significa que, na peca, a deformação máxima estará

em sentido anti-horário em relação à xε . Se o angulo for de sinal negativo no circulo

(-2xyγ

), isto significa que na peça a deformação máxima estará em sentido horário

em relação à xε .

2.2 – O EFEITO DA SOLDAGEM NO SURGIMENTO DE TENSÕES RESIDUAIS

Quando um material é aquecido, suas dimensões tendem a aumentar

proporcionalmente à variação de temperatura. Se um corpo for resfriado ou aquecido

de maneira não uniforme ao longo de suas dimensões se houver algum tipo restrição

a que esse corpo não possa se expandir ou contrair-se livremente (como acontece

nos processos de soldagem). Então, surgem as tensões residuais, que podem

chegar a valores da magnitude do limite de escoamento do material, o qual pode

variar devido a seu encruamento.

Silva (2002) definiu TRs como sendo tensões que atuam num

componente ou estrutura na ausência de esforços externos, sejam cargas

mecânicas, esforços resultantes dos efeitos da temperatura ou de efeitos inerciais. A

ASM (2002) resumiu seu conceito na conseqüência de interações entre tempo,

temperatura, deformação e microestrutura. De uma maneira mais simplificada,

Almeida, Marques e Restivo (2003) descreveram TRs como sendo tensões

“bloqueadas” dentro de componentes e estruturas sem a aplicação de quaisquer

esforços externos.

Quando uma peça ou estrutura está livre de forças externas e de fontes de

tensões, como gradientes de temperatura, por exemplo, e ainda assim, existirem

tensões atuantes em seu interior, pode-se dizer que esta peça encontra-se no estado

30

de tensões residuais. Quando a mesma for solicitada por forças externas, estas

tensões residuais se somarão ao esforço imposto à peça, o que, dependendo da

disposição das tensões residuais e da solicitação externa, faz com que sua vida útil

seja reduzida consideravelmente. As causas da tensão residual podem ser de

origem térmica, química ou mecânica, como trabalho mecânico à frio, efeitos

térmicos e transformações de fase.

As tensões podem ser resultantes de esforços externos e necessários

para o equilíbrio de forças e momentos e também da interação entre partes

adjacentes do mesmo componente ou estrutura, que impõe restrições a

deformações diferenciais localizadas.

As tensões residuais são tensões secundárias em que a interação entre

as partes que a geraram provocou deformação plástica. Como exemplo, pode-se

citar uma barra de aço sendo flexionada ao ponto de se provocar deformação

permanente. Após a recuperação elástica, haverá o surgimento de tensões

residuais, pois parte da seção transversal da peça terá sido deformada

permanentemente por tração e parte por compressão, havendo interação entre as

partes após o descarregamento, conforme representado na figura 2.7, onde a barra

de comprimento L está engastada em uma das extremidades e sob um

carregamento F na extremidade oposta. Acima da linha neutra (LN) a barra sofre

tração ( 1σ ) e abaixo sofre compressão ( 2σ ). Y representa a flexão da barra a partir

do ponto C, suficiente para ocasionar a deformação permanente.

Figura 2.7 – Flexão de uma viga até ocorrer deformação permanente

2.2.1 - A evolução das tensões durante a soldagem

A Figura 2.8 permite, de forma simplificada, um melhor entendimento da

evolução das tensões durante a soldagem em determinadas seções no cordão de

solda, em função do ciclo térmico experimentado nestas regiões.

31

Figura 2.8 - TRs decorrentes da operação de soldagem (MODENESI, 2001, p.7).

Segundo Modenesi (2001), na seção AA’, o aporte de calor empregado no

material ainda não é suficiente para modificar os níveis de tensão na peça. Na seção

BB’, situada exatamente na poça de fusão, a temperatura de pico chega a

ultrapassar a temperatura de fusão do material. Este processo gera a expansão do

material, que sofre restrições internas (material circunvizinho mais frio) e externas

(efeito das fixações e da rigidez da estrutura), gerando tensões elásticas de

compressão, que vão crescendo até o escoamento do material. Na seção CC’, a

tensão de escoamento à compressão, que é a tensão experimentada pelo material

no ponto em questão, diminui em módulo. Neste momento, começam a surgir

tensões de tração no centro do cordão de solda, em função do resfriamento do

material naquela região e da contração do material circunvizinho.

No resfriamento, a retração do material sofre as mesmas restrições

internas e externas, chegando ao ponto de desenvolver tensões de tração, que

aumentam com a redução da temperatura. Estas tensões de tração podem ou não

atingir a tensão de escoamento do material, dependendo da máxima temperatura

atingida durante o ciclo térmico. Quando o material retorna à temperatura ambiente

(seção DD’), podem surgir tensões residuais, as quais se pretendem medir no

desenvolvimento dos experimentos que compõem este trabalho, bem como o

acompanhamento destas tensões durante a soldagem.

2.2.2 – Métodos de medição das tensões residuais

A medição das tensões residuais é complexa porque estas estão

presentes até mesmo em materiais isentos de forças externas, como visto

anteriomernte. Também, a tensão residual não é diretamente medida, mas a

32

deformação causada por ela. No entanto, seu cálculo raramente é feito durante o

ciclo produtivo do componente.

Algumas considerações devem ser admitidas para a medição das tensões

residuais, que são: a isotropia do material, o estado plano de tensões e a não

interferência (imposição de esforços solicitantes) das técnicas de medição no

material.

As técnicas para medição de tensões se baseiam na mudança de

determinadas propriedades antes e depois da aplicação de um carregamento. As

tensões residuais podem ser medidas através das seguintes técnicas:

- destrutivas ou semidestrutivas (dependendo da extensão danificada do

componente): baseiam-se na instalação de um transdutor e na eliminação das

tensões residuais, de forma que as mudanças nas propriedades devido à ausência

das tensões residuais são medidas pelo transdutor.

- não-destrutivas: baseiam-se na medição das propriedades do

componente tensionado e na comparação com aquelas do componente isento de

tensões.

Há vários métodos de medição de tensões residuais, que devem ser

escolhidos segundo diversos critérios, como tempo disponível para a medição,

incerteza requerida, extensão da região a ser medida, natureza do campo de

tensões e custo. Abaixo citam-se exemplos destas técnicas:

- técnicas destrutivas ou semidestrutivas: remoção de camadas;

seccionamento;

técnica do furo cego.

- técnicas não-destrutivas: difração de raios-X;

difração de nêutrons;

ultra-som;

técnicas magnéticas.

2.2.3 – Aplicação da técnica do furo cego para determinação das TRs

Um método consolidado e bastante utilizado para a medição de tensões

residuais em peças soldadas é a técnica do furo cego ou “hole drilling method”, que

é um método semidestrutivo e utiliza a extensometria para a medição das tensões

residuais provenientes do processo de soldagem. Segundo Sicot et. al. (2004), uma

33

das vantagens deste método é a capacidade de determinar os gradientes de tensão

através da profundidade do material.

A realização deste tipo de experimento deve ser de acordo com a norma

ASTM E837 (2001), e, basicamente são necessários os seguintes instrumentos:

- Uma roseta de extensômetros;

- Um condicionador de sinais, para a leitura de deformações nos

extensômetros;

- Uma fresa de precisão para a execução do furo.

A técnica consiste na usinagem de um pequeno furo na superfície do

corpo de prova, depois de instalada a roseta de extensômetros. O furo deve ser

realizado exatamente ao centro da roseta. Durante o processo de usinagem do furo,

a roseta mede as deformações aliviadas nas três direções. A partir destes dados é

possível calcular as tensões residuais assumindo-se um estado plano de tensões.

Estas tensões residuais podem ser relacionadas às tensões residuais antes do furo

por constantes de calibração.

A introdução do furo causa a eliminação das tensões na superfície

mudando a distribuição de tensões próximas. Uma solução analítica pode ser obtida,

no entanto, para o caso mais simples de um furo passante em uma placa fina, na

qual as tensões residuais estejam uniformemente distribuídas através da espessura

da placa.

A figura 2.9 representa o corpo de prova antes da usinagem de um furo

passante.

Figura 2.9 – Corpo de prova antes da usinagem do furo (Vishay, 2005).

34

De acordo com Timoshenko e Goodier (1951), representa-se o estado

inicial de tensão através das seguintes equações:

)2cos1(2

' xr α

σσ += (2.12.a)

)2cos1(2

' x ασ

σ θ −= (2.12.b)

)2sen(2

' xr α

στ θ −= (2.12.c)

Onde: xσ = Tensões ao longo do eixo x;

r'σ = Tensão radial no ponto P;

θσ ' = Tensão tangencial no ponto P;

θτ r' = Tensão de cisalhamento no ponto P;

α = o ângulo formado entre o eixo x e r'σ .

Conforme representado na figura 2.10, após a execução do furo, as

tensões em sua vizinhança passam a ser representadas através das seguintes

equações:

ασσ

σ 2cos).r

4

r

31(

2)

r

11(

2''

24x

2x

r −++−= (2.13.a)

ασσ

σ θ 2cos).r

31(

2)

r

11(

2''

4x

2x +−+= (2.13.b)

ασ

τ θ 2sen).r

4

r

31(

2''

24x

r +−−= (2.13.c)

Onde: )RR(RR

r 00

≥= ;

0R = raio do furo;

R = raio arbitrário em relação ao centro do furo.

O valor de R representa na prática, o raio em função da localização do

extensômetro na peça, em relação ao centro do furo, e, através de estudos

analíticos e experimentais foi estabelecido que o quociente entre R e 0R deve ser da

ordem de 0,3 a 0,45 (MEASUREMENT..., 2005).

35

Figura 2.10 – Corpo de prova após usinagem do furo (Vishay, 2005).

Subtraindo-se as tensões finais das tensões iniciais, obtêm-se as

variações de tensões no ponto P devido à execução do furo. Considerando-se o

material homogêneo e isotrópico, e, adotando-se a lei de Hooke, obtêm-se as

equações abaixo:

++−

+−= α

να

νσε 2cos.

)1(r

42cos.

r

3

r

1E2

)1(242

xr (2.14.a)

+−+−

+−= α

να

νσεθ 2cos.

)1(r

42cos.

r

3

r

1E2

)1(242

x (2.14.b)

Onde: rε = Deformação radial no ponto P;

θε = Deformação tangencial no ponto P.

A maneira mais comum de se medir as deformações é através do uso de

rosetas de extensômetros conforme ilustrado na figura 2.11, onde os mesmos estão

identificados pelos números 1, 2 e 3. A posição do extensômetro 2 pode ser tanto

em 2a como em 2b, sendo preferencialmente colado na posição 2b pelo fato de

cobrir todo o perímetro do furo e a posição 2a é utilizada quando se tem limitações

de espaço.

Embora os ângulos (α ) entre os extensômetros possam ser de qualquer

valor conhecido, na maioria dos casos adota-se o valor de 45º pela simplicidade em

se resolver as expressões analíticas.

36

Figura 2.11 – Configuração típica de rosetas (adaptado de Vishay, 2005).

Os valores de tensões máximas e mínimas podem ser expressos pelas

equações:

( ) ( )22132

1331

max 2B41

A4εεεεε

εεσ −++−−

+= (2.15.a)

( ) ( )2213

213

31min 2

B41

A4εεεεε

εεσ −++−+

+= (2.15.b)

31

213 22tg

εε

εεεα

−+= (2.15.c)

Onde:

+−=

2r

1E2

1A

ν;

+

+−=

42 r

3

r

11

4E2

1B

ν

ν.

Nota-se que A e B não somente dependem das propriedades do material

em que os extensômetros estão colados, mas também refletem à atenuação do

alívio das tensões em função da posição dos extensômetros em relação ao centro

do furo (MEASUREMENT..., 2005).

A técnica do furo cego mede a deformação resultante do alivio de tensões

residuais ao se fazer um furo em diferentes incrementos. As tensões são medidas

para várias profundidades, antes de chegar ao alivio máximo das tensões. Isto

permite construir uma curva, que mostra como as tensões evoluem até uma

profundidade de 0,4 vezes o diâmetro do extensômetro (Z/D = 0.4). Ou seja, as

37

tensões são totalmente aliviadas, se as medidas tendem a ser constantes. A figura

2.12 mostra as principais dimensões estabelecidas pela norma.

Figura 2.12 – Dimensões do furo cego

Nota-se que o diâmetro e a profundidade do furo devem ter alta precisão,

daí a necessidade de um equipamento capaz de atender os requisitos e habilidade

do operador, o que faz com que o experimento em muitos casos se torne inviável

devido ao seu alto custo.

2.2.4 – A influência da temperatura no surgimento das TRs

Para análise das propriedades metalúrgicas do material na soldagem, as

condições térmicas na solda ou nas suas vizinhanças devem ser consideradas. Os

fatores mais importantes que podem influenciar na distribuição da máxima

temperatura de pico na ZTA (Zona Termicamente Afetada) e consequentemente na

qualidade da junta soldada são: a energia de soldagem (potência fornecida,

rendimento térmico e velocidade de soldagem), a temperatura de pré-aquecimento e

a espessura das peças a serem soldadas.

Segundo ASM (1993), a distribuição das temperaturas de pico em um

metal base na ZTA é nas suas vizinhanças pode ser determinada através da

equação:

omop TT1

HY.t.C..13,4

TT1

−+=

ρ (2.16)

Onde: Y = distância a partir do centro do cordão de solda;

Tp = temperatura de pico a uma distância Y da linha de fusão;

To = temperatura inicial da capa;

38

Tm = temperatura de fusão da chapa;

C = calor específico do metal sólido;

ρ = densidade do material base;

t = espessura do material base;

H = energia de soldagem.

A energia de soldagem é a intensidade do calor imposto na junta para se

obter a fusão dos materiais e pode ser expressa pela equação:

vsi.V

H η= (2.17)

Onde: V = tensão do arco de soldagem;

i = intensidade da corrente;

νs = velocidade de soldagem;

η = rendimento térmico.

Na soldagem a arco elétrico, o calor necessário para fundir os metais de

base e de adição é gerado pelo arco elétrico. Esta energia determina não só o

volume da poça de fusão, como também o seu tempo de solidificação, as

velocidades de resfriamento e temperaturas na junta soldada, onde nem toda

energia gerada pelo arco elétrico é trasmitida para o metal de base (Ramirez-

Londono, 2001, p.2).

Verifica-se que uma parte da energia de soldagem é dissipada para a

atmosfera sob a forma de calor irradiante, outra pequena fração perde-se por

convecção no meio gasoso que protege a poça de fusão e a terceira parte é

realmente usada para a execução da soldagem. Depreende-se, portanto, que nem

toda a energia disponível é integralmente aproveitada para fundir o metal-base e o

eletrodo, sendo as perdas computadas através da chamada eficiência do arco ou

rendimento térmico (η ), traduzida pela relação entre a quantidade de energia

efetivamente absorvida na soldagem e a energia total fornecida ao arco. A figura

2.13 mostra graficamente o valor do rendimento térmico para alguns processos de

soldagem, visto que estes valores dependem de cada processo.

39

Figura 2.13 – Valores de rendimento térmico (WAINER, BRANDI e MELO, 2004).

Levando em consideração as condições de contorno e a geometria da

peça a ser soldada, pode-se aplicar a relação fundamental da transferência de calor

em um sólido para a determinação das temperaturas ao longo da peça para cada

instante através da equação:

tT

C.qzT

zyT

yxT

x 0TTT∂

∂=+

∂+

∂+

∂ρλλλ (2.18)

Onde: x, y, z = coordenadas cartesianas triortogonais;

Tλ = condutibilidade térmica do material;

T = Temperatura;

q0 = fonte ou sorvedouro de calor;

t = tempo.

Para o caso específico da soldagem, pode-se considerar na equação

2.19, a inexistência de fontes de calor no interior do material e a condutibilidade

térmica do material como sendo constante ( Tλ = λ ), originando a conhecida equação

de Fourier:

40

i2

2

2

2

2

2

tT

C.z

T

y

T

x

T∂

∂=

∂+

∂+

∂ρλ (2.19)

Para a dissipação do calor em chapas grossas, deve-se considerar o fluxo

de calor tridimensional, onde a taxa de resfriamento (R) é definida pela equação:

H)TT(k.2

R2

0c −=

π (2.20)

Onde: R = taxa de resfriamento;

Tc = temperatura na qual a taxa de resfriamento deve ser calculada;

T0 = temperatura inicial da chapa;

K = difusividade térmica do material.

A difusividade térmica do material é o quociente entre a condutibilidade

térmica do material e sua densidade. Portanto, tem-se:

ρ

λ=k (2.21)

A figura 2.14 ilustra as isotermas na soldagem de chapas grossas, onde

T1, T2, T3 e T4 representam as temperaturas calculadas ao longo da chapa.

Figura 2.14 - Isotermas na soldagem de chapas grossas.

Para chapas relativamente finas, onde o fluxo de calor é considerado

bidimensional, o valor de R é definido pela equação conforme a seguir:

41

30c

2

)TT(Ht

C.k.2R −+

= ρπ (2.22)

Neste caso, as isotermas aparecem na forma bi-dimensional conforme

representado na figura 2.15.

Figura 2.15 - Isotermas na soldagem de chapas finas.

Segundo ASM (1993), para conhecer se a diferença da distribuição de

temperatura é considerada bi-dimensional ou tri-dimensional, basta aplicar a

equação:

H

)TT.(C..tth 0c −

(2.23)

Onde: th = thickness (ou espessura, português).

Para efeitos práticos e de simplificação, se th > 0,75 a chapa é

considerada grossa e se th < 0,75 a chapa é considerada fina.

2.2.5 – A influência das transformações de fase no surgimento das

TRs

As transformações de fase normalmente produzem variações

volumétricas em regiões macroscópicas do material, resultando em tensões

residuais. Estas transformações envolvem mudança de estrutura cristalina no

material. Elas se processam de acordo com a distribuição de calor e as taxas de

resfriamento após a soldagem.

Para entender melhor os resultados em termos de tensões residuais, Silva

(2002) cita, como exemplo, a variação volumétrica na transformação austenita-

42

martensita de um aço com 0,4% de C, medida à temperatura ambiente, que é

aproximadamente de 4,2%, sendo a variação linear 1,4%. Para esta variação linear

ser atingida por gradiente térmico, com um coeficiente de dilatação 12x10-6 ºC-1, a

variação de temperatura necessária seria de 1167 ºC. Mesmo com a resistência

externa perfeita, a deformação permanente equivalente a de transformação de fase

não seria atingida, pois parte da transformação térmica seria recuperada

elasticamente.

A figura 2.16 mostra, de forma simplificada, a relação entre as regiões

vizinhas ao cordão de solda, temperatura de pico e transformações de fase durante

a soldagem dos aços-carbono. Estas transformações variam em função da

porcentagem de carbono do material e da temperatura de pico a certa distância do

centro do cordão de solda.

Figura 2.16 – Regiões da ZTA em um aço carbono.

Nota-se que a região de granulação grosseira (região A) localizada junto à

linha de fusão, e submetida à temperatura de pico superior a 1200 ºC é

caracterizada por um grande tamanho de grão austenítico. A região B é

caracterizada por sua granulação fina, não sendo em geral, uma região problemática

na ZTA dos aços. A região C é denominada região intercrítica e apresenta

transformação parcial em sua estrutura original. A região MB corresponde ao metal

base, aquecido a baixas temperaturas e sofre pequenas variações microestruturais

influenciadas pela solda.

43

A intensidade do calor imposto (energia de soldagem), a temperatura de

pico e a velocidade de resfriamento após soldagem determinam as características

da ZTA, relacionados à microestrutura presente na junta após a soldagem.

As transformações metalúrgicas na ZTA se processam de acordo com a

distribuição de calor e as taxas de resfriamento após a soldagem. Estas

transformações podem ser visualizadas através do conhecido diagrama CCT que

representa curvas de temperatura (°C) em função do tempo de resfriamento da junta

soldada (em segundos). A figura 2.17 mostra este tipo de diagrama para aços típicos

com 20% de teor de carbono em sua composição.

Figura 2.17 – Diagrama CCT p/ aços com 20% de carbono (BOITOUT et. al., 2004).

Percebe-se que o tempo de resfriamento da junta, onde as curvas

decrescem em relação à temperatura que determinam a dureza da ZTA (valores

representados no gráfico dentro de círculos ao fim das curvas), os quais têm seus

valores atribuídos em Dureza Vickers (HV).

As linhas Ac1 e Ac3 representam, respectivamente, as temperaturas de

início e fim da austenização. No gráfico CCT apresentado, a letra F corresponde ao

percentual de Ferrita, enquanto a letra P, o percentual de Perlita, e finalmente, Zw o

percentual de Bainita, que é um agregado de ferrita e carbonetos, com algumas

características próximas da martensita.

44

Materiais com maior dureza na ZTA após soldagem podem apresentar

maior probabilidade de falha em função da porcentagem de Martensita (Ms ou M)

presente em sua microestrutura final.

2.2.6 – As condições de equilíbrio e compatibilidade de deformações

Pela própria definição, as tensões residuais constituem num sistema em

equilíbrio. Para que um elemento qualquer esteja em equilíbrio estático sob a ação

de forças elásticas, incluindo eventualmente, forças de inércia que atuam no plano,

as seguintes relações devem ser satisfeitas:

0Xyxxyx =+

∂+

∂ τσ (2.24-a)

0Yxyxyy

=+∂

∂+

∂ τσ (2.24-b)

Onde X e Y são as forças de corpo atuantes sobre o elemento da placa,

nas direções dos eixos x e y, respectivamente. Considerando placas soldadas livres

sem atuação de forças externas, os valores de X e Y são nulos (VIEIRA JR., 2003).

Para que ambos os campos de deformações e de deslocamentos

ocorram, as deformações devem ser expressas pela seguinte equação:

yxxyxy

2

2y

2

2x

2

∂∂

∂=

∂+

∂ γεε (2.25)

Em uma placa fina soldada, pode-se admitir estado plano de tensões, isto

é, as tensões na direção normal ao plano da placa são nulas (o que não impede a

existência de deformações nessa direção), considerando x a direção do cordão de

solda, como mostra a figura 2.18.

45

Figura 2.18 - Modelo térmico na soldagem (adaptado de ASM, 1993).

As deformações totais na chapa ( xε , yε , xyγ ) podem ser decompostas nas

suas partes elásticas ( exε , e

yε , exyγ ) e inelásticas ( i

xε , iyε , i

xyγ ), sendo expressas como:

ix

exx εεε += (2.26-a)

iy

eyy εεε += (2.26-b)

ixy

exyxy γγγ += (2.26-c)

Desta forma, substituindo as equações 2.26-a, 2.26-b e 2.26-c na

equação 2.25, pode-se obter a equação de compatibilidade:

0xyxy yx

ixy

2

2

iy

2

2

ix

2

yx

exy

2

2

ey

2

2

ex

2

=

∂∂

∂−

∂+

∂+

∂∂

∂−

∂+

∂ γεεγεε (2.27)

A equação 2.27 indica que as tensões residuais existem quando o termo

de incompatibilidade (R), que é determinado através das deformações inelásticas, é

não nulo. Ou seja:

0xy

Ryx

ixy

2

2

iy

2

2

ix

2

∂∂

∂−

∂+

∂−=

γεε (2.28)

Rodeiro (2002) afirma que, partindo do princípio que não exista influência

de solicitações externas, somente surgem tensões residuais se a distribuição das

46

deformações inelásticas sobre a peça for irregular, condição que ocorre na soldagem

devido à grande irregularidade nas distribuições de temperatura.

2.3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EXTENSOMETRIA

O extensômetro é um sensor que se completa com um circuito eletrônico

para a transformação de um sinal elétrico em leitura de deformação. Abaixo,

apresentam-se as principais características deste tipo de sensor:

- Faixa: definida como todos os níveis de amplitude da grandeza física

medida nos quais se supõe que o sensor pode operar dentro da precisão

especificada.

- Resolução: é o menor incremento da grandeza física medida que

provoca uma mudança no sinal de saída do sensor.

- Sensibilidade: é a relação entregue na saída e a grandeza física medida

pelo sensor;

- Linearidade: é a capacidade do sensor em fornecer um sinal de saída

Linear e proporcional ao fenômeno medido.

- Histerese: é um erro de leitura de um sensor que aparece quando se faz

leituras no sentido ascendente e descendente, conforme mostrado na figura 2.19.

Nota-se no gráfico que o estímulo de entrada que excita o sensor aumenta até um

determinado valor de tal forma que durante a trajetória ascendente do gráfico o sinal

de saída seja diferente. Da mesma maneira, se o estímulo de entrada que excita o

sensor decrescer até o valor inicial, mas se o sinal fornecido forem valores diferentes

daqueles entregues anteriormente, é caracterizado o fenômeno de histerese.

Figura 2.19 - Exemplo de histerese em leituras de sensores

47

Como mencionado no capítulo 1, existem alguns métodos para a

determinação experimental das tensões residuais. A extensometria pode ser

considerada como um destes métodos, que usa extensômetros como transdutores

de força. Murray e Miller (1992) apresentaram todas as características desejáveis de

um extensômetro:

1- Habilidade para medir precisamente deformações em condições

estáticas e dinâmicas.

2- Baixo peso e pequenas dimensões. Sua pequena dimensão permite a

montagem em difíceis localizações, ou obter razoável indicação de precisão em

regiões de alto gradiente de tensões.

3- Possibilidade de observação remota e gravação. Esta característica

dos extensômetros é relativa ao fato de as medições poderem ser desde micro-

deformações no laboratório até quilômetros de distância do observador.

4- Independência da influência da temperatura. Este provavelmente é o

mais difícil de todos os requisitos. Resultados satisfatórios podem ser encontrados

sob baixas variações de temperatura. Quando se deseja efetuar medições em

ambientes onde as temperaturas excedam a 815 ºC ou em situações em que

temperaturas inferiores a -240ºC possam ser encontradas, as medições ficam

comprometidas. Mesmo dentro destes valores, ainda sim, deve-se tomar os devidos

cuidados para não comprometer as medições, ou até mesmo utilizar extensômetros

especiais confeccionados através de uma fina camada de material cerâmico,

conforme descrito por Otto e Gregory (2001) que, em seus experimentos, realizou

ensaios com extensômetros a temperaturas que podiam chegar até 1400ºC. No

entanto, alguns fabricantes recomendam trabalhar com extensômetros comuns em

faixas de temperatura que não ultrapassem a 180ºC.

5- Fácil instalação. No sentido de ser comercialmente atrativo, um

extensômetro deve ser suficientemente fácil de ser instalado a ponto de uma pessoa

sem conhecimento ser treinada em um curto período de tempo, para realizar esta

operação satisfatoriamente e com confiabilidade.

6- Estabilidade de calibração. Esta característica é extremamente

desejável sob qualquer variação nas condições de operação. Pode ser obtida a

partir de um bom equipamento condicionador de sinais com filtros suficientes e

através de um processo consistente de colagem dos sensores na peça a ser

ensaiada.

48

7- Deformação com resposta linear. Embora não absolutamente

essencial, a resposta linear é uma característica bastante desejável nos

extensômetros. Pequenos desvios de linearidade frequentemente podem ser

trazidos dentro dos limites de tolerância por combinação com a inerente não-

linearidade dos circuitos elétricos, especialmente desenhados para prover

automaticamente a compensação. Quando computadores em larga escala são

empregados para condições e processos de indicação de extensômetros, a relação

entre deformação e indicação da medição deve ser conhecida. Esta função pode ser

diretamente programada na máquina.

8- Baixo custo. O custo dos extensômetros deve ser relativamente

pequeno em comparação com outros custos associados em um projeto.

9- Dependência a fatores externos. Exceto pela indicação de medição da

deformação, o uso dos extensômetros torna-se muito limitado. Felizmente, os

extensômetros atualmente utilizados são independentes de outros fatores quando

usados sob condições para as quais eles foram fabricados.

10- Possibilidade de medições simultâneas. Os extensômetros podem ser

utilizados como medidor de deformações individuais ou em múltiplas combinações

para realizar medições simultâneas em vários locais ao mesmo tempo.

2.3.1 – Propriedade dos extensômetros

Extensometria é a técnica de medição de tensões/deformações nos

corpos solicitados mecanicamente, a partir do uso de extensômetros.

O extensômetro elétrico resistivo ou strain gauge é um resistor constituído

por uma base de poliamida ou epox e por um filamento metálico, normalmente de

constantan, que possui configuração em zigue-zague (grade). Seis ou mais marcas

inscritas na base do sensor servem para facilitar seu posicionamento na peça a ser

ensaiada.

O conjunto é colado sobre a estrutura em teste com auxílio de adesivos

especiais. Pequenas variações na dimensão da estrutura são transmitidas

mecanicamente ao extensômetro, que as transforma em variações equivalentes de

sua resistência elétrica (YUNG-LI et. al., 2005). Sua aplicação depende do material

ao qual se pretende realizar a medição. A figura 2.20 representa melhor um tipo de

extensômetro unidirecional simples.

49

Figura 2.20 – Modelo de um extensômetro unidirecional simples

No mercado, são encontrados diversos tipos de extensômetros para

diversas aplicações com dimensões diferenciadas, de acordo com a necessidade de

aplicação. A tabela 2.1 exemplifica alguns modelos unidirecionais simples.

Tabela 2.1 - Modelos de extensômetros unidirecionais (EXCEL Sensores, 2007).

A codificação é feita por um conjunto de letras e números que identifica o

extensômetro, conforme suas características. A figura 2.21 representa uma gama de

configurações a partir de códigos, que são específicos de cada fabricante.

50

Figura 2.21 - Códigos de extensômetros (EXCEL Sensores, 2007).

2.3.2 – Aplicação dos extensômetros na peça

Faz-se necessária, antes de qualquer análise sobre os extensômetros, a

eficácia da colagem dos extensômetros na peça a ser ensaiada. Esta etapa depende

da habilidade do operador e algumas técnicas que serão vistas a seguir:

Para a preparação da superfície, primeiramente recomenda-se usar lixa

para polir a superfície de teste removendo riscos, pinturas, etc. Em seguida, aplica-

se álcool isopropílico (recomendado para remoção de gorduras na superfície de

peças já pré-limpas e lixadas e também para a limpeza e remoção de gorduras de

objetos utilizados no processo de colagem do extensômetro como pinças, tesouras,

etc), bem como provenientes dos próprios locais de trabalho. A figura 2.22-a ilustra

esta primeira etapa para a colagem dos extensômetros.

Figura 2.22 – Processo de colagem dos extensômetros (adaptado de CRAIG, 2007).

51

Em seguida, recomenda-se aplicar um condicionador (líquido volátil

ligeiramente ácido) recomendado para a remoção de pequenas oxidações

superficiais, melhorando as condições de adesão do extensômetro. Logo após,

aplica-se o neutralizador (líquido volátil ligeiramente básico), a ser usado em

conjunto com o condicionador, para neutralizar a acidez introduzida pelo

condicionador, conforme ilustrado na figura 2.22-b.

Na seqüência, aplica-se uma pequena quantidade de cola sobre a

superfície a ser testada e coloca-se o extensômetro na posição correta, cobrindo-o

com uma folha de poliéster (material que não adere à superfície da peça em contato

com a cola), conforme ilustrado pelas figuras 2.22-c e 2.22-d. O processo deve ser

precedido pela marcação da posição na peça onde se deseja colar os

extensômetros, que devem coincidir com a marcação dos sensores.

Para garantir a completa adesão dos extensômetros na peça, recomenda-

se pressiona-los com o dedo ou com o auxilio de almofadas de borracha de silicone,

que permite uma uniformização na distribuição da pressão aplicada sobre o mesmo,

sem danificar o extensômetro. A figura 2.22-e representa esta etapa que é seguida

pela remoção da película de poliéster da peça, conforme mostrado na figura 2.22-f.

O tempo de cura difere dependendo do tipo do extensômetro, material a

ser testado, condições da superfície, temperatura, etc. Normalmente varia entre 30 a

60 segundos. Caso necessário pode-se utilizar de uma camada de silicone para

proteger o extensômetro.

O processo de colagem dos extensômetros na peça é uma etapa muito

importante para a realização de qualquer medida de tensões através do uso da

extensometria. Se não colado adequadamente, a leitura de deformação pode ficar

comprometida.

Segundo Paulino (2007), uma forma de testar a colagem é através da

utilização de uma borracha comum com o extensômetro ligado a um sistema de

medição. Deve-se pressionar a borracha contra o mesmo, conforme ilustrado na

figura 2.23, tomando-se o cuidado para não flexionar ou solicitar a peça. O sistema

de medição deverá ler um valor baixo (até 50 microdeformações). Se a leitura for

alta, mesmo com pouca carga é porque o extensômetro está parcialmente

descolado.

52

Figura 2.23 – Execução do teste da borracha (PAULINO, 2007).

2.3.3 – Características elétricas dos extensômetros

A resistência (R) medida em ohms do filamento depende da geometria e

resistividade do material. O cálculo de R em uma seção transversal do fio de

resistividade ρ, conforme representado na figura 2.24, que compõe o extensômetro,

é dado pela equação 2.30, que geralmente é estabelecida para metais comuns a

uma temperatura ambiente submetidos a uma baixa freqüência de corrente. Ou seja:

AL

R ρ= (2.29)

Onde: R = resistência;

L = comprimento do fio;

ρ = resistividade;

A = área da seção transversal do fio.

Figura 2.24 - Seção transversal em um fio simples

Quando aplicada uma força de tração (P) nas extremidades deste fio, a

resistência elétrica é alterada em função de pequenas variações da área e

comprimento do fio, conforme figura 2.25.

53

Figura 2.25 - Seção transversal em um fio sob o efeito de carga (P)

Desta forma, a variação na resistência elétrica do fio pode ser expressa

pela equação:

AA

LL)(

A

LR

∆ρ∆ρρ∆

+

++−= (2.30)

Onde: ∆R = variação da resistência;

∆L = variação do comprimento do filamento;

∆ρ = variação da resistividade;

∆A = variação da área.

Fisicamente, a grade do extensômetro sofre pequenas alterações quando

o material ao qual está colado é comprimido ou alongado. Ou seja, a variação na

resistência pode ser expressa também por meios diferenciais, conforme equação:

A

dA

L

dLd

R

dR−+=

ρ

ρ (2.31)

Sabendo que a área da seção transversal do fio é dada por 4

D.A

2π= ,

onde D é o diâmetro da circunferência, pode-se estabelecer que:

D

dD2

A

dA= (2.32)

A deformação axial ( xε ), a qual o fio é submetido, obedece a lei de Hooke

até que não seja excedido o limite de elasticidade do material. Para este caso, deve-

se considerar também a deformação específica na direção radial, a qual é

54

representada por εr. Esta deformação é produzida pela força P que proporciona

pequenas contrações na direção transversal do material.

Admitindo a hipótese de pequenos deslocamentos, a deformação radial

( rε ) e a deformação axial ( xε ) podem ser expressas por:

D

dDr =ε (2.33-a)

L

dLx =ε (2.33-b)

O coeficiente de Poisson (ν ) é obtido através da relação entre εr e εx e

pode ser expresso segundo a equação:

x

r

x

r

ε

εν

ε

εν −=⇒= (2.34)

As equações 2.32, 2.33-a e 2.34 podem ser usadas para se obter a

relação:

xr 22A

dAνεε −== (2.35)

Substituindo as equações 2.33-b e 2.35 na equação 2.31, pode-se

estabelecer que:

( ) xxx 21d

2d

R

dRεν

ρ

ρνεε

ρ

ρ++=++= (2.36)

Este resultado expressa a proporcionalidade entre resistência e

deformação, definida como Gauge Factor (GF), que pode ser expresso por:

xx

RdRd

21GFεε

ρρ

ν =++= (2.37)

55

2.3.4 - Influencia do gauge factor em um circuito elétrico

Considerando os pontos A, B e C do circuito elétrico representado na

figura 2.26, tem-se:

ERR

Re

bg

g

+= (2.38)

Onde: E = diferença de potencial na entrada do circuito;

Rg e Rb = resistores do circuito;

e = diferença de potencial entre os pontos A e B.

Figura 2.26 - Representação de um circuito elétrico simples

Ao se utilizar um extensômetro em substituição de Rg no circuito e após

aplicação de um carregamento sobre o material em que se encontra fixado, observa-

se uma pequena variação na resistência (∆Rg ~ dRg) que gera uma pequena

variação na diferença de potencial em função da variação na resistência no

extensômetro

gR

de, podendo ser expressa por:

g

g2

bg

b

g R

dR.

)RR(

E.RRde

+= (2.39)

E, substituindo a equação 2.38 na equação 2.40, tem-se:

x2bg

b

g

.GF)RR(

ERRde

ε+

= (2.40)

56

A máxima sensibilidade do circuito, ou seja, a maior variação da diferença

de potencial (∆e) na saída pode ser atingida quando se tem Rb = Rg, representada

pela equação:

E.4

GFe xε∆ = (2.41)

A grande desvantagem para o tipo de configuração do circuito analisado é

a produção de pequenas variações na saída. Como exemplo, pode-se citar uma

configuração típica com GF = 2,0; Rg = 120 Ohms e ε = 5 micro-deformações (5x10-6

mm/mm).

Através da equação 2.41, observa-se que a leitura na variação da

diferença de potencial (∆e) na saída seria igual a 0,0000025xE volts. Este exemplo

mostra que o circuito requer uma diferença de potencial com uma resolução de, pelo

menos, 6 décimos de precisão no aparelho.

Para este tipo de aplicação, uma das soluções que pode ser adotada para

se obter uma melhor resolução na leitura da diferença de potencial é o uso de

pontes de Wheatstone, conforme a seguir.

2.3.5 – Os efeitos da temperatura

Sabe-se que extensômetros são sensíveis à variação de temperatura,

pois o material em que é confeccionado sofre variações na resistência elétrica em

função do acréscimo ou decréscimo de temperatura. Isto pode ocorrer em função da

variação da resistividade do material de que é confeccionado o extensômetro ou

pela diferença do coeficiente de expansão térmico entre o material do extensômetro

e o material em que o mesmo é colado durante os experimentos.

A análise das características de metais e semicondutores que compõem

os extensômetros revela que as mudanças na resistência elétrica ocorrem não

somente como resultado de variações na deformação, mas também de mudanças

na temperatura. Embora a resposta em função da temperatura possa dificultar a

medição das deformações, o uso de sensores específicos para medições de

variação de temperatura pode ser usado com a mesma finalidade dos

extensômetros.

57

O material a ser usado como sensor, naturalmente, será diferente para

ambas as aplicações. Quando usado para medir deformações, com o mínimo de

influência da temperatura, o constantan é frequentemente empregado para

gradientes de temperatura que devem estar entre 155ºC e 260 ºC. Segundo Murray

e Miller (1992), para valores que não estejam dentro desta faixa, é necessário

selecionar uma outra liga para a confecção dos extensômetros.

Observou-se através da equação 2.30 que a resistência é dependente do

comprimento do filamento e resistividade do material condutor. Se não é verificada

nenhuma deformação mecânica, a variação de resistência ocorre quando o condutor

está submetido exclusivamente em função da variação de temperatura.

Considera-se um extensômetro colado a um material de base e conectado

a um aparelho indicador de deformação. Se o material de base não estiver

engastado e submetido a nenhuma deformação mecânica, ao variar a temperatura

ambiente, o aparelho indica uma leitura de deformação. Esta indicação de

deformação é constituída pela soma algébrica de três componentes:

1- O material de base ao qual está colado o extensômetro expande ou

contrai devido à variação de temperatura. Esta unidade de deformação pode ser

expressa por:

TLL

mm

mm ∆α

∆ε == (2.42)

Onde: mα = coeficiente de expansão térmica do material de base;

T∆ = variação de temperatura.

2- O material resistivo (grade) do extensômetro expande ou contrai devido

à variação de temperatura. Esta unidade de deformação pode ser expressa por:

TL

Lg

g

gg ∆α

∆ε == (2.43)

Onde: gα = coeficiente de expansão térmica do material resistivo.

3- Tem-se também a variação da resistividade do material resistivo em

função da temperatura. A variação de resistência pode ser expressa por:

58

T.RR

∆β∆

= (2.44)

Onde: β = coeficiente de resistência-temperatura do material resistivo.

A equação 2.51 pode ser expressa em termos de deformação, dividindo

ambos os termos por GF, o Gauge factor. Então, tem-se:

GFT.∆β

ε ρ = (2.45)

Onde: ρε = deformação do material resistivo em função da variação da resistividade.

A deformação aparente (thermal output - oTε ) registrada no aparelho pode

ser expressa algebricamente pelas equações abaixo:

ρεεεε +−= gmoT (2.46)

E, substituindo as equações 2.42, 2.43 e 2.45 na equação 2.46, tem-se:

T.GFgmoT ∆β

ααε

+−= (2.47)

A figura 2.27 mostra a variação da deformação aparente no eixo x em

micro-deformações em função da variação de temperatura (eixo y). Segundo

(Murray et al., 1992), os dados foram coletados a partir de diversos tipos de

materiais que constituem os extensômetros com GF = 2.0, colados em um corpo de

prova de aço. Nota-se que o constantan apresenta certa instabilidade com a

variação de temperatura.

59

Figura 2.27 - Deformação aparente x temperatura (MURRAY e MILLER, 1992).

Deve-se considerar que se a variação de temperatura for grande, o valor

de GF também varia. Então, dependendo da exatidão das medições requerida, a

correção do GF faz-se necessária. Esta variação depende dos vários tipos de ligas

que constituem o material resistivo do extensômetro.

2.4 - PONTES DE WHEATSTONE

A Ponte de Wheatstone é o método básico mais usual para medições

envolvendo variações de resistências em circuitos elétricos. Os recursos que uma

ponte de Wheatstone pode oferecer em um circuito com aplicação de extensômetros

são:

- Balanço inicial ou zeragem de lastros;

60

- Cancelamentos e ou separação de efeitos indesejáveis;

- Compensação de efeitos térmicos estáticos ou dinâmicos;

- Soma de efeitos desejados;

- Calibração simplificada por Shunt;

- Media aritmética de vários pontos em uma mesma Ponte;

- Compensação de cabos de interconexão;

- Compensações de Derivas térmicas e Ajustes de Zero;

- Sensibilidade em Transdutores;

- Uso de um ou mais extensômetros na mesma Ponte;

- Possibilidade de uso de Sistemas de 2, 3, 4 e 6 fios.

Faz-se necessário tomar como base o circuito mostrado na figura 2.28

como referência para as próximas análises.

Para este caso, a diferença de potencial entre os pontos 1 e 2 (E12) e os

pontos 1 e 4 (E14) são dadas por:

)R (R

.ER E

21

112

+= (2.48-a)

)R (R

.ER E

43

414

+= (2.48-b)

Onde: R1, R2, R3 e R4 = resistores do circuito.

Figura 2.28 - Circuito simples em configuração de Ponte de Wheatstone

Sendo e, a diferença de potencial entre os pontos 2 e 4 (E24), tem-se:

61

.E)R (R

R -

)R (R R

E - E E e43

4

21

1141224

++=== (2.49)

Para obter e = 0, é necessário que a diferença de potencial entre os

pontos 2 e 4 sejam iguais (E12 = E14). Para isto, basta ajustar os valores dos

resistores na equação 2.44 através da proporcionalidade entre eles.

Tomando-se 4321 R RRR === ou 4231 .RR .RR = , e a ponte torna-se

equilibrada (e = 0). Uma variação (∆R) em qualquer um dos resistores provocará um

desequilíbrio da ponte, gerando uma diferença de potencial, fazendo-se possível a

leitura de deformação com o auxílio de condicionadores de sinais.

O balanceamento inicial da ponte antes de se iniciar uma medição

utilizando extensômetros e opcional. Há quem utilize os instrumentos sem a referida

zeragem (zero vivo), descontando ou somando este valor ao da leitura final com

carga.

Estando a ponte balanceada, o valor sem carga será sempre 0, então o

valor com carga será o próprio valor lido no condicionador de sinais, seja ele

negativo ou positivo. Com essa atitude os relatórios e curvas ficam menos

trabalhosos e mais apresentáveis. A zeragem é realizável de várias formas, sendo a

mais comum através da utilização de um potenciômetro agindo na ponte sobre o

resistor R3 ou R4.

2.4.1 – Resistores de calibração (shunt cal)

Segundo Paulino (2007), entende-se por calibração, a ação de se

programar ou ajustar a escala ou a sensibilidade de um instrumento em função das

características dos sensores em uso. Após a calibração, o instrumento passa ter

uma escala e resolução definida, apresentando valores diretamente na unidade de

engenharia apropriada, no caso deste trabalho MPa. Quando se utiliza a Ponte de

Wheatstone, como é o caso de medições com extensômetros e transdutores à base

de extensômetros, a calibração é feita com auxílio de “Resistores Shunts” ou

“Resistor de Calibração”. Este Resistor é um dispositivo de baixa Tolerância (0,1 a

0,001%) e baixa deriva térmica (2 a 10 PPM / oC).

Uma vez realizado o zero inicial, o resistor Shunt é momentaneamente

colocado em paralelo com um dos braços da ponte, conforme ilustrado na figura

2.29.

62

Figura 2.29 – Representação de um resistor de calibração (ALMEIDA, 2006).

Isto equivale a dizer, ficar em paralelo com o respectivo extensômetro

daquele braço da Ponte. Esta associação em paralelo gera uma variação negativa

na leitura de deformação, pois a resistência equivalente entre o resistor de

calibração e o extensômetro será sempre menor que o valor da resistência do

extensômetro, conforme é verificado através das equações abaixo:

gcalg

calgif R

RR

R.RRR R −

+=−=∆ (2.50)

Onde: Rg = resistência elétrica do extensômetro;

Rcal = resistência elétrica do resistor de calibração;

Rf e Ri são as resistências finais e iniciais, respectivamente.

E, isolando-se o valor de Rg, tem-se:

1RR

R

RR

calg

cal

g

−+

=∆

(2.51)

Aplicando-se a eq. 2.37, vista anteriormente, pode-se chegar ao valor de

ε , conforme a seguir:

( )cal

calcal

cal

cal

R

RR

R

RG

+

+=−

+=

g

g

g R

R- 1

R F.ε (2.52)

Ou seja:

63

calg

g

RR

R.

FG1

+

−=ε (2.53)

2.4.2 – Métodos para compensação de temperatura

Alguns métodos são utilizados para compensar a variação de temperatura

em um circuito com extensômetros. Pode-se utilizar como exemplo, a colagem de

extensômetros à 90º em uma barra sujeita à tração, conforme figura 2.30.

Figura 2.30 – Extensômetros colados a 90º.

Nota-se que o extensômetro colado no sentido transversal à deformação

da placa sofre pequena variação de sua resistência em função da carga P, podendo

ter seus valores desprezados. Ou seja, a leitura de deformação deste extensômetro

será ocasionada pela variação da resistência somente em função da variação da

temperatura.

Outro método para se compensar a variação de temperatura, seria colar

um segundo extensômetro em um pedaço de material com as mesmas propriedades

e mesma temperatura em que se encontra o material a ser testado. Desta maneira, o

extensômetro não iria sofrer variação na sua resistência em função dos esforços

sofridos pela peça em teste, mas somente em função da temperatura.

Diferentes configurações de pontes de Wheatstone também são usadas

para compensar a temperatura através da utilização de extensômetros, sendo que,

para todas elas, deve-se inicialmente considerar o balanceamento do circuito (e0 =

0). Para um melhor entendimento, estas configurações são detalhadas a seguir.

2.4.3 – Configuração um quarto de ponte

De acordo com Paulino (2007), esta é a configuração mais comum na

extensometria. Apesar das suas limitações, esta configuração é muito utilizada

64

devida sua objetividade e simplicidade. Esta configuração se divide em duas formas:

configuração um quarto de ponte ativa com conexão a 2 fios e configuração um

quarto de ponte ativa com conexão e 3 fios.

Para aplicar a configuração um quarto de ponte ativa com conexão a 2

fios, um dos resistores da ponte de Wheatstone deve ser substituído por um

extensômetro, conforme figura 2.31. Se, por exemplo, o resistor R3 for substituído

por Rg (resistência inicial conhecida), o valor da pequena variação (em volts) atingida

através da aplicação de cargas sobre a peça em que o extensômetro estiver colado,

poderá ser obtido experimentalmente.

É possível obter a variação da resistência no extensômetro após a

aplicação de carga através da equação:

1

42g R

R.RR = (2.54)

Onde: R1, R2, R4 são resistores do circuito e Rg é a resistência do extensômetro.

Figura 2.31 - Circuito configuração um quarto de ponte

Considerando a ponte inicialmente balanceada (e0 = 0) e a influência da

temperatura sobre o valor da variação de Rg, obtém-se a diferença de potencial (e)

na saída da ponte através da equação:

( ) ( )E.4

GFE.

4GF

e T33 εε += (2.55)

Rg

65

Onde: 3ε = deformação real do extensômetro (Rg);

T3ε = leitura na deformação do extensômetro (Rg) sob o efeito da temperatura.

Este tipo de configuração de ponte é o mais sensível à variação de

temperatura. Para isto, é conveniente a utilização de outro extensômetro colado a

90º do sentido da deformação em substituição de um dos resistores, conforme visto

anteriormente.

2.4.4 – Um quarto de ponte ativa com conexão a 3 fios

No intuito de se evitar a influência da temperatura nos fios, utiliza-se a

configuração um quarto de ponte com conexão a 3 fios. Para isto, deve-se

primeiramente levar em consideração a figura 2.32 onde são representados os fios

sob influencia das variações térmicas, onde os mesmos devem possuir mesmo

diâmetro e comprimento.

Figura 2.32 - Circuito configuração um quarto de ponte a 2 fios (PAULINO, 2007).

Considerando-se a influência do comprimento dos fios de uma

configuração um quarto de ponte ativa, tem-se:

2

g

3

4

R

TTrb

TTra

rbraR

RR

∆∆

∆∆

+

+++

= (2.56)

Onde: T∆ = Variação de temperatura nos cabos;

ra e rb = medidas de resistência devido ao comprimento dos fios.

Para levar em conta a influência do sinal da deformação específica na

configuração de um quarto de ponte com 3 fios, admite-se ra, rb e rc as medidas de

66

resistência devido ao comprimento dos fios conforme representado na figura 2.33,

onde, em um dos terminais do extensômetro, são soldados dois fios.

Figura 2.33 - Circuito configuração um quarto de ponte a 3 fios (PAULINO, 2007).

Neste caso, a equação 2.56 pode ser escrita da seguinte maneira:

TT

rcT

T

rbrcrbR

TT

rbT

T

rarbraR

Rg

∆+∆

∆+++

∆+∆

∆+++

=

23

4

R (2.57)

Se os cabos tiverem o mesmo material e comprimento e estiverem

sujeitos à mesma temperatura, então ra = rb = rc e Tra

∆=

Trb

∆ =

Trc

∆. Neste caso,

deve-se considerar a relação entre as resistências conforme equação a seguir:

2

g

3

4

R

R

R

R= (2.58)

2.4.5 – Configuração meia ponte

Para o tipo de configuração meia ponte conforme mostrada na figura 2.34,

deve-se trabalhar com dois extensômetros em substituição a dois resistores, onde os

mesmos podem ser colados em braços opostos ou adjacentes da ponte, seguindo a

seguinte convenção:

- sinais iguais em braços adjacentes se subtraem;

- sinais iguais em braços opostos se somam;

67

- sinais diferentes em braços adjacentes se somam;

- sinais diferentes em braços opostos se subtraem.

Figura 2.34 - Circuito configuração meia ponte

Os extensômetros se encontram nas posições adjacentes 3 e 4 e o sinal

de saída é dado conforme equação:

[ ] [ ]E.4

GFE.

4

GFe T

4T

343 εεεε −+−= (2.59)

Onde: ε3, ε4 = deformações reais dos extensômetros (Rg3 e Rg4);

T3ε , T

4ε = leituras na deformação dos extensômetros (Rg3 e Rg4) sob o efeito

da temperatura.

Pode-se verificar que o sinal de saída é produzido somente quando as

deformações geram diferentes variações de resistências nos extensômetros Rg3 e

Rg4. Uma aplicação para este tipo de configuração de ponte seria a medição de

deformações em chapas de espessuras finas onde o extensômetro 3 (Rg3) é colado

em uma das faces do material sujeito à flexão e o extensômetro 4 (Rg4) é colado na

face oposta, conforme figura 2.35.

Figura 2.35 – Aplicação de extensômetros em flexão de chapas finas

Rg3 Rg4

68

Este tipo de montagem faz com que se tenha a auto-compensação de

temperatura no circuito, desde que as temperaturas, nos lados opostos da chapa,

sejam iguais. Isto se dá em função da anulação das leituras de deformação ( T

3ε e

T4ε ) em decorrência do efeito da igual variação de temperatura nas faces opostas.

Após a aplicação de uma carga P, ocorre o alongamento da face onde

está colado o extensômetro 3 (+ε3) e compressão da face onde está colado o

extensômetro 4 (-ε4).

A partir desta analogia, pode-se obter a diferença de potencial (e) na

saída da ponte através da equação:

[ ] [ ] E.2

GFE.

4

GFE.)(

4

GFe T

4T

343 εεεεε =−+−−= (2.60)

Onde ε = ε3 = ε4 = deformação real dos extensômetros.

2.4.6 – Configuração de ponte completa

Neste tipo de transdutor o comprimento do cabo bem como variações de

sua resistência com a temperatura, pode influenciar na medida de deformação

causando erros para baixo quanto maior for o cabo ou sua resistência. Este efeito

pode ser atenuado utilizando-se de cabos com maior área de secção transversal.

Levando-se em consideração a figura 2.36, onde todos os resistores da

ponte foram substituídos por extensômetros, pode-se estabelecer que o sinal de

saída (e) é dado conforme equação:

[ ] [ ]E.4

GFE.

4

GFe T

4T

3T

2T

14321 εεεεεεεε −+−+−+−= (2.61)

Onde: ε1, ε2, ε3, ε4 = deformações reais dos extensômetros (Rg1, Rg2, Rg3 e Rg4);

T1ε , T

2ε , T3ε , T

4ε = leituras na deformação dos extensômetros (Rg1, Rg2, Rg3 e

Rg4) sob o efeito da temperatura.

69

Figura 2.36 - Circuito configuração ponte completa

Nota-se que as deformações ocorridas em função do efeito da

temperatura poderão ser anuladas se ocorrer a mesma variação de temperatura nos

quatro pontos da peça onde estariam fixados os extensômetros. Porém, se houver

variações nas posições opostas (1 e 3, por exemplo), este efeito poderá ser somado,

o que não é desejável.

Para este tipo de configuração de ponte, é importante notar que:

- Para somar efeitos de sinais iguais, usam-se braços opostos;

- Para somar efeitos de sinais diferentes usam-se braços adjacentes;

- Para subtrair efeitos de sinais iguais, usam-se braços adjacentes;

- Para subtrair efeitos de sinais diferentes, usam-se braços opostos;

Procura-se sempre nestes arranjos, conseguir os objetivos desde que a

configuração escolhida também cancele os efeitos indesejáveis da temperatura.

Almeida (1996) ressalta que para todos os tipos de configurações de

ponte na investigação experimental, os extensômetros são colados em peças

estruturais que ficam afastadas dos condicionadores de extensometria. Dependendo

da distância entre o sensor e o condicionador, o sinal emitido pelo sensor,

proporcional à deformação da peça, pode ser significativamente atenuado ou sofrer

perturbações, tal como ruído ambiente, que introduz erros na medida da grandeza

de interesse. Dessa forma, deve-se levar em consideração, além da variação da

temperatura, também o aumento da resistência elétrica do circuito (do braço da

ponte) em função do comprimento dos fios que o compõem.

70

CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA DE TENSÕES

RESIDUAIS EM PLACAS SOLDADAS

O principal objetivo deste capítulo é apresentar toda a parte referente à

análise experimental e numérica dos testes realizados. A avaliação da extensometria

convencional para determinar experimentalmente as tensões residuais em chapas

de materiais metálicos e confronta-la com os resultados numéricos é o principal

objetivo deste trabalho. Para isto, o capítulo foi dividido em duas partes, a primeira

refere-se à parte experimental e a segunda refere-se à parte da análise numérica.

3.1 – AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DAS TENSÕES RESIDUAIS

Utilizou-se para o experimento corpos de prova de material ASTM A36 por

ser um dos aços mais utilizados na fabricação de perfis soldados e laminados e por

apresentar boa soldabilidade sem a necessidade de tratamentos térmicos especiais.

Este tipo de material é apropriado, principalmente para aplicações em estruturas

metálicas, onde se tem a necessidade de aplicação de solda entre uma peça e

outra. A tabela 3.1 mostra a composição química e as principais características

deste aço.

Tabela 3.1 – Principais características do aço ASTM A36 (PANNONI, 2007).

3.1.1 – O sistema para condicionamento de sinais

Condicionadores de sinais são dispositivos que adaptam o sinal de saída

dos extensômetros, ou qualquer tipo de transdutor, aos elementos de registro das

medições em que se deseja realizar, no caso deste experimento, as

microdeformações.

71

Este tipo de aparelho pode ser confeccionado ou adquirido no mercado.

Cuidados especiais devem ser tomados para que se possa filtrar as entradas não

desejadas, como ruídos elétricos, vibrações, baixa amplitude do sinal de saída, etc.

Para a aplicação de extensômetros, as principais funções do aparelho

condicionador de sinais são:

- Amplificar o sinal proveniente da leitura dos extensômetros;

- Ajustar o ganho para correção do offset e balanço inicial;

- Isolar o sinal de interesse dos ruídos inerentes das ligações e do

ambiente;

- Exportar os dados para o software específico.

A figura 3.1 apresenta de maneira simplificada o esquema de

condicionamento de sinais.

Figura 3.1 – Esquema do condicionamento de sinais (AQDADOS, 2006).

Utilizou-se neste trabalho, para o condicionamento de sinais, um aparelho

com 32 canais de saída, conforme figura 3.2. Ele permite a configuração adequada

para tipos ponte de Wheatstone (um quarto de ponte, meia ponte ou ponte

completa) e ainda converte o sinal lido (em Volts) para a unidade de engenharia

(tensão mecanica em MPa). A grande vantagem deste tipo de condicionador para os

experimentos é que se consegue realizar as leituras em tempo real, proporcionando,

assim, o acompanhamento da evolução das tensões na placa durante a realização

da soldagem.

72

Figura 3.2 – Condicionamento de sinais utilizado nos experimentos

3.1.2 – Validação da colagem dos extensômetros no material

Denominou-se por “aferição dos extensômetros”, o processo de validação

da colagem dos extensômetros no material a ser ensaiado. Para isto, utilizou-se

chapas de ASTM A36 com dimensões conhecidas, e, a partir daí, realizou-se testes

de flexão com pesos padrão e os extensômetros previamente colados em posição

conhecida. A ilustração deste tipo de teste está representada na figura 3.3, onde F é

a força a ser aplicada (posição dos pesos padrão), L é a distância entre o

extensômetro colado na amostra e o ponto de aplicação de da força F e as

dimensões da seção da barra são representadas por h e B.

Figura 3.3 – Variáveis do processo de aferição do sistema de medição.

73

Conhecendo-se todas as variáveis do sistema, é possível determinar

analiticamente a deformação (em microns) para cada peso padrão (50, 100, 200,

300 e 1000 grs) a partir da equação:

E.h.B

6.L.F2

=ε (3.1)

Onde: ε = deformação relativa;

F = força aplicada;

L = distância entre o extensômetro colado na amostra;

B = largura da barra;

h = espessura da barra;

E = módulo de elasticidade do material.

Para a validação do método de colagem dos extensômetros na peça, fez-

se necessária a construção de um dispositivo simples para a medição dos valores de

deformação, conforme ilustrado na figura 3.4. Para o teste, foram utilizados

extensômetros tipo PA-06-125AA-350L (os mesmos utilizados nos experimentos)

com o valor de GF igual 2,11 sendo que os mesmos foram ligados em configuração

de um quarto de ponte.

Figura 3.4 – Dispositivo para medição de deformação.

Utilizou-se, para o processo de aferição, uma barra com dimensões de

24,6mm de largura e 4,5mm de espessura. Sabendo-se que o módulo de

74

elasticidade do material é 204000 MPa e que o extensômetro foi colado a 144,5mm

da aplicação da força, obteve-se o gráfico de aferição com aproximadamente 3,4 %

de erro conforme representado na figura 3.5.

Conforme verificado no gráfico, os valores teóricos foram correlacionados

com as leituras feitas no sistema de aquisição de dados, obtendo-se valores muito

próximos, validando-se assim o método de colagem dos extensômetros na peça,

conforme detalhado no capítulo 2.

Peso x Deformação

0,00E+00

1,00E-05

2,00E-05

3,00E-05

4,00E-05

5,00E-05

6,00E-05

7,00E-05

8,00E-05

9,00E-05

1,00E-04

0 200 400 600 800 1000 1200

Peso (g)

Def

orm

ação

(st

rain

)

Teórico

Prático

Figura 3.5 – Gráfico Peso x Deformação para valores teóricos e práticos.

3.1.3 – Preparação e realização dos testes experimentais

Para a execução da soldagem dos corpos de prova, optou-se por utilizar o

processo TIG (Tungsten Inert Gas). O processo TIG utiliza-se de uma fonte de calor

com pequenas dimensões em relação às peças soldadas e o arco elétrico é mantido

entre o eletrodo não consumível, de tungstênio, e a peça-obra. A proteção da região

de soldagem é feita por um fluxo de gás inerte e a soldagem pode ser feita com ou

sem metal de adição a partir de um processo manual ou automático. A figura 3.6

mostra esquematicamente este processo de soldagem.

75

Figura 3.6 – Principais elementos do processo de soldagem TIG

Para os experimentos foram utilizados corpos de prova (CPs) com

dimensões 100x125mm e espessura 6 mm. Previamente, os CPs foram submetidos

a um tratamento térmico de alívio de tensões, onde foram aquecidos à temperatura

de 850 ºC e mantidos nesta temperatura durante duas horas. O processo de

resfriamento seguiu-se com os corpos de prova mantidos dentro do forno até a

temperatura de 600 ºC. A partir daí, os CPs foram retirados do forno e seguiu-se

com o resfriamento ao ar livre até a temperatura ambiente.

Em uma primeira etapa, as amostras foram preparadas para a soldagem

de topo. Através de valores teóricos, obtidos através da eq. 2.17 apresentada no

Cap. 2, obteve-se a relação entre temperaturas de pico (Tp) e a distância do centro

do cordão de solda (y), conforme apresentado na figura 3.7. A partir destes

resultados foi possível prever a posição de colagem dos extensômetros na peça,

respeitando os limites de temperatura que são informados pelos fabricantes de

extensômetros para evitar danos aos sensores.

Figura 3.7 – Valores da temperatura de pico (Tp) para determinado valor de y.

76

E, tomando-se como referência os resultados experimentais obtidos por

Chang e Teng (2004) que também utilizaram aço ASTM A36 e processo TIG em

seus experimentos, a partir de chapas com 4,5mm de espessura, verificou-se que

entre as distâncias de 30 e 50 mm do cordão de solda, ainda é possível obter

consideráveis valores de tensões residuais. Notou-se ainda que os valores de

tensão após a distâncias de 20 mm apresentaram-se com grandes discrepâncias,

chegando até aproximadamente a 100 MPa à 40mm do cordão. A figura 3.8 ilustra

os resultados obtidos por eles através de simulação numérica (FEM) e por Raio X

(XRD).

Figura 3.8 – Resultados obtidos por simulação numérica e Raio X (CHANG e TENG, 2004).

Adicionalmente foram realizados alguns experimentos que precederam o

experimento final no intuito de se obter a melhor posição dos extensômetros nas

amostras. Estudos utilizando extensômetros didáticos (com valor de GF indefinido)

foram realizados antes da soldagem oficial, sendo identificados os pontos mais

convenientes para a colagem dos extensômetros nas amostras, a fim de se cobrir a

maior parte da superfície das chapas soldadas. Estes pontos foram localizados o

mais próximo possível do cordão de solda e, ao mesmo tempo, foram posicionados

de forma a que os extensômetros não sofressem danos durante os testes, em

função das altas temperaturas próximas ao cordão.

A partir daí, todos os extensômetros foram colados nos CPs

longitudinalmente com espaçamentos de 10mm entre eles (perpendicular ao cordão

77

de solda), num total de 10 unidades coladas em cada amostra. A figura 3.9 ilustra

melhor a posição dos sensores nos CPs.

Figura 3.9 – Marcação e colagem dos extensômetros na peça

Todos os extensômetros foram colados nas devidas posições conforme

croqui mostrado na figura 3.10.

Figura 3.10 – Posicionamento dos extensômetros nos corpos de prova

O processo de colagem dos extensômetros foi realizado de acordo com

os procedimentos recomendados pelo fabricante, através do lixamento e limpeza

prévia da superfície e aplicação dos produtos para uma melhor adesão dos sensores

na peça.

Após a colagem de cada extensômetro na peça, já com os fios soldados

em cada terminal, conferiu-se a resistência de cada sensor conforme ilustrado na

figura 3.11.

78

Figura 3.11 – Conferência da resistência de cada sensor

A etapa final de preparação do experimento foi através da ligação dos

extensômetros ao condicionador de sinais, e, a partir daí, seguiu-se com a soldagem

e a coleta de dados para a análise. A figura 3.12 ilustra o experimento logo após a

realização da soldagem, onde é possível notar a posição dos extensômetros na

peça e suas devidas ligações ao sistema de aquisição de dados.

Figura 3.12 – Esquema dos extensômetros colados na peça após ensaio

A tensão de excitação (valores de tensão elétrica utilizados como entrada

no circuito eletrônico) adotada para os experimentos foi de 2,5 Volts, conforme

recomendação do fabricante no intuito de se obter resultados estáveis. Sabendo-se

79

que o GF = 2.11, os valores de tensão medidos pelos extensômetros puderam ser

lidos diretamente na tela do programa que acompanha o condicionador de sinais

utilizado nos experimentos. O programa converte, em tempo real, a diferença de

potencial medida em Volts para as leituras de tensões mecânicas em unidade de

engenharia (MPa).

Notou-se que alguns extensômetros foram descolados durante a

soldagem, o que comprometeu a medição dos resultados naqueles pontos. Na

tentativa de se descobrir o motivo do descolamento dos mesmos, notou-se que, eles

apresentavam reduzida camada de cola entre as suas bases e a placa, onde se

encontravam colados, fato que se constitui em uma possível causa da falha. A partir

daí, verificou-se que todos os demais que não foram descolados durante o teste se

encontravam em estados normais de uso, descartando-se assim a hipótese de falha

na leitura devido ao processo de colagem dos extensômetros.

É importante ressaltar que o processo de colagem foi validado através de

testes anteriores ao experimento, e, como já era esperada a falha no comportamento

de alguns deles, optou-se por colar os extensômetros nas duas chapas de maneira

simétrica, de forma que também pudessem servir de comparação entre pontos

eqüidistantes, onde teoricamente deveriam apresentar os mesmos valores de

tensão.

3.2 – AVALIAÇÃO NUMÉRICA DAS TENSÕES RESIDUAIS

Segundo Bezerra, Rade e Scotti (2006), os métodos numéricos têm sido

cada vez mais utilizados para simulação da soldagem, principalmente devido à

evolução dos recursos computacionais.

As técnicas de elementos finitos são métodos bastante utilizados na

obtenção da previsão de tensões residuais em peças soldadas. A complexidade do

fluxo de calor, a não-linearidade nas propriedades do material e as transformações

de fase são as principais razões que tornam difícil a quantificação das tensões

durante o processo de soldagem, principalmente porque as propriedades dos

materiais dependem da temperatura.

80

A análise numérica de tensões residuais em soldagem é a combinação

entre a análise térmica e análise estrutural, cabendo ao usuário promover a

interação entre estas análises.

As primeiras formulações analíticas foram propostas por volta da década

de 40, quando Rosenthal (1941) apresentou gradientes de temperatura para a

previsão de tensões residuais em juntas soldadas. Masubuchi (1980) apresentou

estratégias de resolução através de programas de elementos finitos que realizavam

numericamente a análise térmica. Atualmente, é muito comum encontrar artigos que

tratam especificamente da análise numérica através de elementos finitos, como em

Deng et al. (2007), que usaram a análise numérica para prever tensões residuais em

soldagem de tubos de aço inox com parede grossa.

Vários programas computacionais podem ser utilizados para este tipo de

análise, tais como ANSYS, ABAQUS e NASTRAN, que são programas de

análise numérica capazes de simular processos de soldagem, porém não se

destinam a esta finalidade e dependem da habilidade e conhecimentos do

programador. Neste trabalho, optou-se por utilizar o Sysweld, que é um programa

desenvolvido especificamente para este tipo de aplicação, sendo capaz de simular

as tensões residuais desenvolvidas pelo processo de soldagem, entre outras

funções.

Basicamente, o Sysweld é um programa que simula o processo de

soldagem em uma sucessão de instantes, para cada um dos quais se calculam a

distribuição de temperatura e os incrementos de deformação plástica devido à

variação de temperatura. Quando terminado o resfriamento da junta soldada, têm-se

as tensões residuais resultantes do processo de soldagem.

De acordo com Boitout et al. (2004), o Sysweld é capaz de simular

quase todos os processos de soldagem (soldagem por resistência elétrica, soldagem

a laser, MIG/MAG, TIG, etc.), e também simula diversos tratamentos térmicos, além

de prever as transformações metalúrgicas que ocorrem nos materiais em

decorrência do processo de soldagem. Informações estas, que podem ser usadas

para o monitoramento das tensões residuais no intuito de otimizar projetos de

produto, produção e análise de fadiga em juntas soldadas.

Segundo Dong, Hong e Bouchard (2005), é importante entender os

campos de tensão esperados através de métodos experimentais no intuito de se

81

obter um modelamento matemático mais consistente, e este foi o caminho que se

propôs seguir neste trabalho.

3.2.1 – Seleção dos dados de entrada

O programa Sysweld gera automaticamente a malha a partir da

geometria da junta a ser soldada em função dos dados definidos pelo usuário. Para

o caso deste trabalho, é evidente que, os valores selecionados foram os mesmos

utilizados na prática, ou seja, as dimensões de chapas utilizadas como dados de

entrada foram 125x100x6mm. A partir daí, a malha foi gerada em três dimensões e,

verificando-se ser necessário, fez-se o devido refinamento para a obtenção de

resultados mais precisos. O total de elementos para este tipo de configuração foi de

6916, sendo 4263 nós e 36 grupos.

O passo seguinte foi carregar os dados de materiais utilizados na

simulação do processo de soldagem. O material utilizado na simulação é codificado

pela sigla S355J2G3, que segundo a biblioteca do programa, apresentam

propriedades muito próximas às do aço ASTM A36. Desta forma, pode-se considerar

o mesmo tipo de material utilizado na parte experimental.

Na escolha da fonte de energia, deve-se selecionar o modelo a ser

utilizado para a poça de fusão, que depende do processo de soldagem utilizado.

Como o processo escolhido experimentalmente foi o TIG, então para a realização da

simulação, selecionou-se o “double ellipsoid heat source model” que está

representado pela figura 3.13.

A partir dos valores atribuídos às dimensões da poça de fusão (b, c, ar e

af) e dos demais parâmetros de soldagem (tensão, corrente, velocidade de sodagem

e rendimento térmico da junta), o programa calcula automaticamente os valores de

Qr e Qf, que são chamadas de funções da fonte de energia, cujos valores são

expressos em w/mm3.

82

Figura 3.13 – Modelo selecionado para a poça de fusão (BOITOUT et al., 2004).

3.2.2 – Execução da simulação numérica das chapas de topo

Os mesmos parâmetros de soldagem utilizados experimentalmente foram

atribuídos na simulação numérica, sendo que os valores de b, c, ar e af foram

medidos na prática, conforme mostrado na figura 3.14 que ilustra a macrografia da

seção e algumas dimensões do cordão de solda para a soldagem de topo.

Figura 3.14 – Dimensionamento da poça de fusão para a soldagem de topo

Para a soldagem de topo, fez-se necessária a aplicação de um ponto de

solda em um dos extremos da junção entre as duas placas para se evitar qualquer

abertura entre elas durante a soldagem. Este ponto de solda é requerido em alguns

casos devido às deformações provenientes do processo, e que no Sysweld a

representação deste engaste se faz necessária. Desta maneira, tomou-se o cuidado

de levar em consideração esta região de engaste no modelo numérico para a

soldagem de topo, onde as placas foram engastadas na direção do eixo x

(perpendicular ao cordão de solda), conforme ilustrado na figura 3.15.

83

Figura 3.15 – Sistema de engaste das chapas utilizado para a simulação numérica

Para este trabalho, a malha foi gerada levando-se em consideração os

mesmos dados utilizados na análise experimental e também o estudo de

convergência no intuito de se obter um alto grau de confiabilidade em relação aos

resultados gerados pelo programa. A partir dos a partir daí, o programa foi capaz de

executar a simulação numérica através de iterações que levam em conta as análises

sucessivas no tempo. Os resultados acumulados provenientes das iterações ao

longo do tempo são as deformações plásticas e as variações nas condições de

contorno ao longo do processo de soldagem, surgindo assim, uma estrutura

diferente da anterior a cada instante. Esse processo está ilustrado na figura 3.16.

Figura 3.16 – Evolução da temperatura durante a soldagem

84

Acompanhou-se a evolução da temperatura durante a simulação do

processo. A figura 3.17 ilustra o gráfico extraído do programa, onde são

apresentadas curvas de temperatura (ºC) ao longo do tempo (s). Cada curva do

gráfico represente um nó posicionado a 30 mm do cordão de solda, sendo possível

observar a evolução de temperatura de cada nó desde sua origem até a conclusão

do cordão de solda.

Notou-se ainda que os valores simulados de temperatura encontraram-se

coerentes com os resultados obtidos por meios experimentais através do uso de

termopares, ou seja, valores de temperatura de pico apresentaram-se inferiores a

140 ºC (referência fig. 3.13).

Figura 3.17 – Curvas de temperatura em nós a 30 mm do cordão de solda

Além da temperatura, foi possível também monitorar o desenvolvimento

das tensões durante a simulação. Identificou-se um nó para cada ponto onde foram

colados os extensômetros, com o objetivo de gerar os mesmos dados de TRs

obtidos experimentalmente.

Tem

pera

tura

(ºC

)

Tempo (s)

85

3.2.3 – Execução da simulação numérica das chapas em ângulo

Como primeiro passo para a simulação numérica das chapas em ângulo,

gerou-se malha que está representada através da figura 3.18. As propriedades do

material que se aproximam do aço ASTM A36 foram carregadas como parte da

construção do modelo numérico.

Figura 3.18 – Malha utilizada para a simulação da soldagem em ângulo

O modelo matemático foi subdividido em três conjuntos principais: chapa

vertical, chapa horizontal e cordão de solda. Os mesmos estão apresentados na

figura 3.19.

Figura 3.19 – Elementos utilizados na simulação da soldagem em ângulo

86

O total de elementos para este tipo de configuração foi de 10872, sendo

17656 nós e 38 grupos.

De forma similar à simulação da soldagem de topo, as dimensões do

cordão de solda e sua macrografia foram dimensionadas na prática, conforme

ilustrado na figura 3.20.

Figura 3.20 – Dimensionamento da poça de fusão p/ a soldagem em ângulo

A macrografia da parte experimental serviu como dado de entrada para a

simulação numérica que apresentou valores de temperatura no cordão e regiões

periféricas durante a soldagem, conforme ilustrado na figura 3.21.

Figura 3.21 – Gradientes de temperatura da poça de fusão p/ a soldagem em ângulo

A título de comparação com o resultado obtido na fase experimental, onde

foi utilizado um termopar para o acompanhamento da evolução da temperatura

87

durante o processo de soldagem das chapas em ângulo, coletaram-se curvas em

nós que simularam a temperatura a 30 mm do cordão de solda na chapa horizontal.

A figura 3.22 ilustra o gráfico temperatura x tempo em cada no localizados a 30 mm

do cordão de solda.

Figura 3.22 – Curva de temperatura em nós a 30 mm do cordão na chapa horizontal

Além da temperatura, coletaram-se também os valores de s22 para cada

linha onde os extensômetros encontravam-se posicionados nos experimentos

realizados.

Temperatura (ºC)

Tempo (s)

88

CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS: CHAPAS DE TOPO

Realizou-se a análise dos resultados das leituras obtidas através do

sistema de aquisição de dados, e de posse destes resultados, analisou-se a

evolução em tempo real das tensões na placa durante a realização da soldagem.

Apesar do processo de soldagem ter sido manual, a velocidade média de

soldagem foi controlada. Utilizou-se um cronômetro para medir o tempo total, e,

dividindo-se o comprimento total do cordão (125 mm) pelo tempo total cronometrado

(82s), calculou-se a velocidade média da soldagem (1,52 mm/s).

Durante o processo de soldagem, mediu-se a corrente (i) obtendo-se o

valor de 80 A. Mediu-se a tensão (V) e o valor encontrado foi de 20 V, pode-se

calcular o valor do rendimento térmico do processo (η = 0,48), sendo o mesmo

obtido através de estimação de parâmetros. Os dados utilizados para os cálculos

encontram-se na tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Dados utilizados para o cálculo do rendimento térmico do processo (topo)

Para conhecer o valor da temperatura de pico (Tp) em um ponto a 30 mm

do cordão de solda, um termopar tipo K foi posicionado entre dois extensômetros,

possibilitando assim o cálculo do valor do rendimento térmico do processo utilizado

através das equações vistas no capítulo 2. A partir da eq. 2.18, foi possível também

calcular a energia de soldagem (H), encontrando-se o valor de 505,8 J/mm.

O gráfico mostrado na figura 4.1 apresenta a evolução dos valores de

temperatura durante o processo, obtidos através do termopar colado na peça.

89

Figura 4.1 - Evolução da temperatura em um ponto a 30 mm do cordão

Notou-se que a temperatura partiu do zero devido a uma falta de ajuste

no início do ensaio. Neste caso, como a temperatura de pico encontrada foi de 140

ºC deve-se, então, somar 30 ºC que era a temperatura ambiente do local no

momento da realização dos ensaios.

Além disso, durante a realização destes experimentos, as temperaturas

em toda a região onde foram colados os extensômetros mais próximos ao cordão de

solda foram monitoradas através do uso de um termômetro a laser, sendo que os

valores das temperaturas de pico encontradas não ultrapassaram aos que já eram

esperados (aproximadamente 180 ºC).

Notou-se que para a completa estabilização da temperatura foi necessário

um tempo de espera de aproximadamente 1:30 h (uma hora e meia), até que a

leitura do termômetro à laser utilizado como controle indicasse o valor da

temperatura ambiente na placa.

Para a medição das tensões residuais, notou-se que em alguns canais

aparecem valores de tensão no início do teste, sejam elas positivas ou negativas.

Portanto, o valor adotado de tensão residual se deu a partir da diferença entre a

tensão lida no final e no início do teste. A figura 4.2 apresenta, de forma

esquemática, os resultados obtidos das tensões residuais através do uso de

extensômetros colados nas placas soldadas de topo.

Tempo (h)

Tem

pera

tura

(ºC

)

90

Figura 4.2 – Valores de tensão residual obtidos na soldagem de chapas de topo

4.1.1 - Resultados obtidos na chapa do lado esquerdo

A figura 4.3 apresenta resultados de tensão, em tempo real, obtidos

graficamente para os primeiros pontos da placa à esquerda durante a aquisição dos

sinais. O gráfico representa a tensão longitudinal registrada durante o processo de

soldagem em função do tempo. Observa-se na figura que existem 3 linhas,

denominadas como linhas A, B e C, que estavam, respectivamente a 30, 62,5 e 90

mm da origem do cordão de solda, considerando o sentido de soldagem de cima

para baixo. Esta representação é válida tanto para a chapa da esquerda como da

direita e será adotada daqui por diante neste trabalho.

A

B

C

91

Figura 4.3 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 3 e 21.

Os valores da evolução de tensão mecânica apresentados nos gráficos

não devem ser considerados definitivos até o momento em que as curvas se

apresentem de maneira estável e constante, ou seja, até o instante em que as

chapas atingiram temperaturas próximas à temperatura ambiente. Isto porque os

efeitos da temperatura podem influenciar na leitura de dados em tempo real para

este tipo de aplicação. O sistema de aquisição de dados utilizado não possui

recursos suficientes para a realização de conversão de unidades levando em

consideração os efeitos da temperatura.

Notou-se que o canal 3 apresentou maior pico de tensão durante a

soldagem em função da proximidade do cordão de solda. Ao final do tempo de

resfriamento das chapas, quando as tensões lidas não estavam mais influenciadas

pela temperatura, obtêm-se os resultados esperados, onde os gráficos exibem

leituras em que o canal 03 apresentou maior tensão residual de compressão (tensão

negativa).

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

92

Notou-se ainda que, no início dos gráficos, as curvas comportaram-se de

maneira semelhante onde foram observados picos iniciais de tensão. Observou-se

que a curva do canal 21 decresceu bruscamente e a do canal 03 de forma

exponencial, obedecendo-se um comportamento mais adequado, visto que o

processo de resfriamento das chapas soldadas seguiu à temperatura ambiente.

A figura 4.4 apresenta resultados de tensão em tempo real, obtidos

graficamente para os pontos da placa à esquerda e localizados na linha B.

Figura 4.4 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 16, 17 e 18.

Observou-se a presença de picos no início da soldagem onde as curvas

ainda se apresentavam de modo ascendente, sendo o maior pico de tensão

registrado no canal 18. As curvas seguiram trajetórias similares, apresentando-se

em picos simultâneos no momento em que o cordão de solda estava sendo formado

na linha B. Após os declives dos gráficos, que ocorreram de forma regular, notou-se

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

93

uma pequena variação negativa do canal 16, mas que ao longo do resfriamento da

chapa foi corrigido, voltando a sua forma constante como os demais.

Notou-se ainda que apesar das TRs na linha B apresentarem valores

decrescentes a partir do cordão de solda na chapa do lado esquerdo, os picos de

tensão em tempo real durante a soldagem não foram representados de forma

análoga.

A figura 4.5 apresenta o comportamento dos extensômetros localizados

na linha C da placa à esquerda.

Figura 4.5 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 0 e 5.

Notou-se a presença de picos no início da soldagem, onde as curvas

ainda se apresentavam de modo ascendente, sendo mais visível no gráfico do canal

0. A leitura do gráfico deste canal foi comprometida até o tempo de 50 minutos,

aproximadamente, em função de várias oscilações que podem ser originadas por

algum tipo de interferência. A partir deste instante, a curva seguiu com pequenas

oscilações, sendo possível realizar a leitura final da tensão residual.

Notou-se ainda que as tensões residuais apresentaram-se com valores

decrescentes a partir do cordão de solda, e, os picos de tensão durante a soldagem

foram representados de forma análoga em tempo real.

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

94

4.1.2 - Resultados obtidos na chapa do lado direito

Na placa do lado direito, houve apenas um extensômetro que falhou. A

figura 4.6 apresenta resultados de tensão mecânica, obtidos em tempo real, em

função do tempo.

Figura 4.6 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 13, 14 e 15.

Notou-se que os picos de tensão têm comportamentos diferentes na

escala de tempo, tendo o canal 15 apresentado maior valor.

Observou-se um vale no canal 13 logo após atingir a tensão máxima. Em

seguida, surgiram várias oscilações neste mesmo canal originadas por algum tipo de

interferência no sistema até obter-se um comportamento quase constante ao longo

do tempo.

Notou-se ainda uma pequena inclinação negativa no final das curvas foi

observada e considerada, visto que este comportamento foi comum nos três

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

95

gráficos. Os valores de TRs encontrados apresentaram-se decrescentes a partir do

centro do cordão de solda.

A figura 4.7 apresenta o comportamento dos extensômetros localizados

na linha B da placa à direita.

Figura 4.7 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 27, 28, 30 e 31.

Notou-se que apenas a curva que representada pelo extensômetro 28

apresentou oscilações fora do normal, mas que se estabilizou a partir do tempo de

1h. No canal 30, observou-se um declive acentuado entre os tempos 10 e 20 min.,

mas logo após, também se estabilizou, seguindo-se com valores de tensão

Tempo (h)

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

96

constante até o fim do experimento. Quanto às tensões de pico apresentadas pelos

gráficos, observou-se que os valores foram decrescentes a partir das leituras

próximas ao cordão de solda, com exceção do canal 27.

A figura 4.8 apresenta resultados de tensão em tempo real, obtidos

graficamente para os pontos da placa à esquerda localizados na linha C.

Figura 4.8 – Evolução das tensões durante a soldagem nos canais 11 e 12.

Notou-se que as curvas possuem comportamentos parecidos. Apesar dos

valores de tensões residuais apresentarem-se decrescentes a partir do cordão de

solda, os picos de tensão durante a soldagem não foram representados da mesma

forma, ou seja, o canal 12 apresentou-se com maior valor de pico em relação ao

canal 11.

De maneira geral, observaram-se pequenos picos de tensão na maioria

dos gráficos representados pela soldagem de topo no início da soldagem, sendo

alguns mais acentuados e outros menos. É provável que a causa deste fenômeno

tenha ocorrido em função de algum contato que o operador teve com a chapa

durante a soldagem, não sendo possível afirmar. Este é um comportamento difícil de

ser observado no momento do experimento, em função do uso de máscaras

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

97

protetoras e atenções voltadas para o monitoramento dos gráficos e temperatura

durante os experimentos.

4.1.3 – A tentativa de reproduzir a técnica do furo passante

No intuito de se medir as tensões residuais nas proximidades do cordão

de solda com o auxilio da extensometria, tentou-se reproduzir a técnica do furo

passante na configuração de chapas soldadas de topo.

De acordo com a teoria vista no capítulo 2, três extensômetros foram

colados em ângulos de 45º entre eles na linha central (30 mm) da chapa do lado

direito. Após a colagem dos extensômetros, executou-se um furo de 2 mm de

diâmetro localizado a 3 mm da extremidade do cordão de solda, conforme ilustrado

na figura 4.9.

Figura 4.9 – Extensômetros colados à 45º próximos ao cordão de solda

A evolução das tensões durante e após a execução do furo foram

monitoradas, cujos gráficos estão apresentados na figura 4.10.

98

Figura 4.10 – Evolução da tensão durante a execução do furo passante

Notou-se que os três gráficos obtiveram comportamento semelhante com

o início do decréscimo de tensão próximo ao tempo de 20 s, seguido de um pequeno

topo aos 30s. Este fato pode ser explicado pelo início da remoção de material no

instante em que as tensões tenderam a aumentar.

Observou-se também que o furo foi executado por completo nas

proximidades do instante de 46 seg., e, a partir daí, os gráficos apresentaram um

acréscimo de tensão que se estabilizou após o instante de 60 seg.

As leituras de deformações residuais nos canais 3, 5 e 6 foram

respectivamente -23 MPa, -3 MPa e -9 MPa. Os valores encontrados foram

utilizados para a realização dos cálculos, e, a partir dos dados da tabela 4.2 foi

possível obter o valor da tensão máxima para o ponto em estudo, que foi de 198

MPa. O ângulo formado pela tensão máxima e o extensômetro superior, levando em

consideração a figura 4.9, foi de 30º no sentido anti-horário.

Tabela 4.2 – Dados utilizados para o cálculo da tensão máxima

R (mm) R0 (mm) E (MPa) ν ε1 ε2 ε3

7 2 204000 0,32 -0,00113 -0,00015 -0,00044

Ten

são

(MP

a)

Tempo (s)

99

A tensão mínima calculada foi de 99MPa, e, a partir dos valores obtidos,

representou-se a distribuição de tensão para o ponto em estudo através da figura

4.11.

Figura 4.11 – Distribuição de tensão na região do furo passante.

É importante ressaltar que os métodos utilizados para a realização dos

experimentos não foram precisos e também não foi considerada toda a área de

contato sobre a qual os extensômetros estavam colados na peça. Em função disto,

os resultados devem servir somente como referência para as demais medições, não

sendo confiáveis o suficiente para conclusões a respeito.

A região de maior preocupação nos experimentos era considerada aquela

em que foram posicionados os extensômetros mais próximos do cordão de solda,

pois é a região onde havia a maior probabilidade dos sensores falharem em função

dos picos de temperatura, comprometendo assim os testes. No intuito de se evitar

este inconveniente, estudos prévios de localização dos extensômetros foram

executados tanto na soldagem das chapas de topo como em ângulo e observou-se

que os resultados obtidos, na prática, através do uso de termopares nesta região

puderam ser correlacionados com os resultados numéricos, obtendo-se valores

dentro do esperado, entre 150 e 180 ºC.

Outro dado importante coletado foi a medição da tensão residual máxima

nas proximidades do cordão de solda através da tentativa de uso da técnica do furo

passante na soldagem de topo. Apesar dos equipamentos e processos utilizados

para a confecção do furo não terem precisão, notou-se que os resultados

apresentaram coerência, ou seja, pelo método numérico o valor obtido foi de 210

MPa, enquanto que o resultado experimental foi de 180 MPa.

100

4.2 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS: CHAPAS EM ÂNGULO

Com a finalidade de coletar dados experimentais não somente através de

uma única configuração, realizou-se também a soldagem de chapas em ângulo de

90º, conforme ilustrado no croqui da figura 4.12.

Figura 4.12 – Posicionamento dos extensômetros na soldagem em ângulo

Para este experimento, foram utilizados 12 extensômetros colados, com a

mesma configuração, nas chapas horizontal e vertical. Os valores adotados para o

cálculo da eficiência térmica do processo encontram-se na tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Dados utilizados para o cálculo do rendimento térmico do processo (ângulo)

To (ºC)

ρ.C

(J/mm3.ºC) t (mm) Tm (ºC)

Tp (ºC)

Y (mm)

V (V)

I (A)

vs (mm/s) ηηηη

28,07 0,0044 6 1510 164,72 30 20 80 1,5 0,46

Similar ao processo de soldagem das chapas de topo, foi utilizado um

termopar tipo K posicionado a 30 mm do cordão de solda na chapa horizontal.

O gráfico mostrado na figura 4.13 apresenta a evolução dos valores de

temperatura durante o processo, onde o eixo y é representado pela temperatura (ºC)

e o eixo x corresponde ao tempo (h).

101

Figura 4.13 - Evolução da temperatura em um ponto a 30mm do cordão de solda.

Notou-se que, para a estabilização da temperatura, foi necessário um

tempo de espera de aproximadamente 1:00 h (uma hora), até que a leitura do

termopar se estabilizasse.

O valor da temperatura inicial foi de 28,07 ºC. Neste caso, a temperatura

de pico encontrada foi de 164,72 ºC. A partir da eq. 2.18, calculou-se a energia de

soldagem (H), encontrando-se o valor de 492,38 J/mm. A figura 4.14 apresenta uma

imagem das placas soldadas em ângulo logo após a realização do experimento.

Figura 4.14 – Experimento realizado através da soldagem de chapas em ângulo

4.2.1 – Resultados obtidos na chapa vertical

Realizou-se a análise dos resultados obtidos através das leituras

realizadas pelo sistema de aquisição de dados, e, de posse destes resultados,

analisou-se a evolução, em tempo real, das tensões na placa durante a soldagem.

A figura 4.15 apresenta, de forma esquemática, os resultados obtidos de

TRs através do uso de extensômetros colados na chapa vertical.

Tem

pera

tura

(ºC

)

Tempo (h)

102

Figura 4.15 – Valores de tensão residual obtidos na chapa vertical

Da mesma forma adotada na representação da soldagem de topo,

observa-se na figura que existem 3 linhas, denominadas como linhas A, B e C, que

estavam, respectivamente a 30, 62,5 e 90 mm da origem do cordão de solda,

considerando o sentido de soldagem de cima para baixo.

Notou-se que houve falha na maioria dos extensômetros. Este fato pode

ter ocorrido em função da chapa vertical não ter tido nenhum contato com outro

material de maior área durante a soldagem que pudesse ajudar na condução de

calor.

Todos os extensômetros que falharam durante os experimentos foram

analisados. De uma maneira geral, o motivo da falha se deu pela fusão da solda nos

terminais de ligação dos fios ao extensômetro ou simplesmente pelo fato de não

resistirem à elevada temperatura de trabalho, visto que estavam trabalhando

próximo ao limite estabelecido pelo fabricante. Os gráficos daqueles que falharam se

apresentaram de forma semelhante, onde a tensão era aumentada

instantaneamente até o fundo de escala do gráfico (1500 MPa) e não retornava

mais. Para exemplificar, a figura 4.16 apresenta o gráfico de um extensômetro que

falhou (canal 6 da chapa vertical na soldagem em ângulo).

A

B

C

103

Figura 4.16 – Evolução da tensão durante a soldagem no canal 6 que ocorreu falha

A figura 4.17 apresenta os gráficos obtidos da evolução de tensão

durante a soldagem medida pelos extensômetros que não falharam. Apesar da

curva representada pelo canal 0 iniciar o aclive antecipadamente em relação aos

demais, o pico de tensão (MPa) ocorreu primeiro no canal 4. Notou-se também uma

defasagem de tempo no início dos experimentos, isto ocorreu devido ao fato de que

o operador iniciou a soldagem instantes após o início da aquisição de dados.

Figura 4.17 – Evolução das tensões nos canais 30, 31, 27 e 28 da chapa vertical.

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

104

4.2.2 – Resultados obtidos na chapa horizontal

A figura 4.18 apresenta os resultados obtidos de tensão residual através

do uso de extensômetros colados na placa horizontal.

Figura 4.18 – Valores de tensão residual obtidos na chapa horizontal

Notou-se que apenas 3 extensômetros falharam. O melhor desempenho

dos sensores na chapa horizontal pode ser explicado pelo fato da chapa estar em

contato com outra chapa de dimensões maiores, proporcionando assim, condução

de calor mais favorável. O procedimento de se colocar a superfície a ser soldada em

contato com uma peça metálica é usual entre os soldadores e serve como

aterramento do sistema.

Observou-se ainda que, não houve coerência entre os resultados de TRs

apresentados. Foram obtidas leituras positivas em todos os canais, exceto o 17.

Este fato poderia ser explicado pelo atrito gerado entre as chapas e o plano de

apoio, gerando restrições das chapas durante a soldagem em ângulo, fazendo com

que as leituras de tensão mecânicas tornassem positivas e também devido à maior

complexidade do fluxo de calor para este tipo de configuração, porém não há

evidências para afirmar estas hipóteses.

A figura 4.19 apresenta gráficos obtidos através de leituras realizadas em

tempo real a partir da evolução dos valores de tensão mecânica em função do

tempo, para os canais 25 e 26.

A

B

C

105

Figura 4.19 – Evolução das tensões nos canais 25 e 26 da chapa horizontal

Observou-se que os gráficos se comportaram de forma irregular com

vales e picos de origens desconhecidas nos instantes iniciais, seguidos de

acréscimo de tensão. Fato que pode ser explicado talvez pelo efeito de

transformação de fase durante o processo.

A figura 4.20 mostra a evolução das tensões nos canais seguintes.

Tensão longitudinal (MPa)

Tempo (h)

106

Figura 4.20 – Evolução das tensões nos canais 20, 21, 22 e 23 da chapa horizontal.

Por fim, são apresentados através da figura 4.21, os resultados de tensão

em tempo real obtidos pelos extensômetros posicionados no final da chapa

horizontal. Observou-se um vale de origem desconhecida no início de todos os

gráficos, além de um decréscimo instantâneo de tensão no canal 17 nas

proximidades do tempo de 50 min. Apesar de ter sido um fenômeno isolado, levou-

se em consideração o valor final da tensão residual como nos demais canais.

Independente disto, o canal 17 foi o único que apresentou valor negativo neste tipo

de configuração de experimento.

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

107

Figura 4.21 – Evolução das tensões nos canais 17, 18 e 19 da chapa horizontal.

4.3 - RESULTADOS NUMÉRICOS: CHAPAS DE TOPO

4.3.1 - TRs obtidas na simulação da soldagem de chapas de topo

Os gráficos de TRs obtidos através da análise numérica foram gerados de

maneira em que o eixo x indica a distância a partir do centro do cordão de solda,

sendo que centro do cordão está representado pela linha 100. O eixo Y representa o

s22, ou seja, as tensões longitudinais geradas pelo processo de soldagem (em

MPa). A figura 4.22 representa o resultado das TRs simuladas ao longo de uma

linha localizada a 30 mm, a qual denomina-se linha A, a partir do início do cordão de

solda, no tempo de 1:30 h. Ou seja, apresentou-se a leitura da simulação das

tensões residuais após o início da soldagem, considerando o mesmo critério adotado

para a leitura dos valores através do método experimental.

Tens

ão lo

ngitu

dina

l (M

Pa)

Tempo (h)

108

Figura 4.22 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha A da junta de topo

Observou-se que nas extremidades das chapas foram apresentados

valores de TRs iguais à zero, sendo que no centro do cordão a tensão longitudinal

apresentou valores da ordem de 400 MPa e a transição entre tensões negativas e

positivas ocorre entre valores próximos de 10mm do centro do cordão.

A seguir, é apresentado o resultado das tensões residuais simuladas ao

longo da linha localizada a 62,5mm (linha B) a partir do início do cordão de solda, no

tempo de 1:30 h. O gráfico da relação entre o s22 e as respectivas distâncias do

cordão de solda está representado pela figura 4.23.

Figura 4.23 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha B da junta de topo

TRs longitudinais (MPa)

Distância (mm)

TRs longitudinais (MPa)

Distância (mm)

109

Notou-se que, em relação à figura 4.22, os picos de tensão longitudinal

apresentaram-se maiores na linha B, apesar das curvas serem parecidas. Esperava-

se este fato, visto que no centro das placas ocorrem as maiores tensões no sentido

longitudinal.

Por fim, são representados, através da figura 4.24, os resultados das

tensões residuais simuladas ao longo da linha C (localizada a 95 mm da origem do

cordão de solda). O gráfico assemelha-se com o da figura 4.23 e também apresenta

picos de tensões longitudinais maiores que as provenientes da linha A.

Figura 4.24 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha C da junta de topo

É possível visualizar estas informações de uma forma mais conjunta,

onde a distribuição de TRs longitudinais ao longo das duas placas no representadas

conforme mostrado na figura 4.25.

TRs longitudinais (MPa)

Distância (mm)

110

Figura 4.25 – Distribuição de TRs ao longo das duas placas soldadas de topo

A seguir, são apresentados, através da figura 4.26, os valores de tensão

residual simulados para cada nó correspondente aos pontos onde foram colados os

extensômetros na soldagem das chapas de topo.

Figura 4.26 – Valores de TRs obtidos através da simulação numérica

4.3.2 – A simulação das transformações de fase nas chapas de topo

O Sysweld também é capaz de simular a transformação de fases

durante o processo de soldagem, e esta característica pode ser considerada como

um diferencial em relação aos demais programas utilizados no mundo para este tipo

de aplicação.

A

B

C

Sigma 22

111

Ao inserir os dados de entrada no programa, é solicitado o carregamento

dos materiais para a simulação, bem como as suas porcentagens em relação às

fases metalúrgicas. A figura 4.27 apresenta graficamente estas transformações para

a simulação da soldagem de topo.

Figura 4.27 – Transformações de fase na simulação da soldagem de topo

O programa disponibiliza a opção de escalas múltiplas para este tipo

de gráfico, onde é apresentada a porcentagem de cada fase desde o início da

soldagem até seus valores finais. O gráfico representa a porcentagem de cada fase

durante o processo em função do tempo.

A fase 1, representada pela linha de cor azul claro, indicou a porcentagem

de Ferrita + Perlita e teve como valor final aproximadamente 57 %. A fase 2,

representada pela linha na cor azul escuro, indicou a porcentagem de Bainita e teve

como valor final pouco menos de 43 %. A fase 3, representada pela linha na cor

roxa, indicou a porcentagem de Martensita e teve como valor final 0,0001 %. A fase

6, representada pela linha de cor vermelha, indicou a porcentagem de Austenita e

teve como valor final igual a zero.

Notou-se que, devido ao tempo de resfriamento da junta ser lento, as

fases presentes ao final da soldagem indicam baixa dureza na região do cordão. Ou

seja, é provável que na prática a dureza do cordão de solda e regiões periféricas da

Fases (%)

Tempo (s)

112

junta de topo não comprometa o seu desempenho devido à baixa porcentagem de

Martensita presente no final do resfriamento das chapas.

4.3.3 – Valores de tensão máxima nas chapas de topo

Simularam-se também os valores de tensão máxima na mesma linha

onde, por meios experimentais, se mediu as tensões máximas através do uso da

técnica do furo passante. Gerou-se o gráfico representado pela figura 4.28 com o

objetivo de se realizar a correlação com os valores experimentais, em que a curva

representa a evolução das tensões máximas (MPa) na linha central (linha B) da

chapa a qual foi executado o furo durante os experimentos.

Figura 4.28 – Valores de tensão máxima na linha central da chapa horizontal à direita

Notou-se que as tensões máximas simuladas no centro do cordão

apresentaram na ordem de 260 MPa e aumentam na ZTA até valores próximos de

450 MPa para pontos distantes de 5 mm do cordão. A partir daí, começam a diminuir

na medida em que os pontos foram afastando-se do cordão de solda até valores

negativos de tensão. Por volta dos 50 mm distantes do cordão, os valores de tensão

voltam a aumentar até a estabilização em valores próximos de 0 (zero) MPa no final

da chapa.

Tensão máx (MPa)

Distância do cordão (mm)

113

Para o mesmo ponto que, na prática, foi executado o furo passante (a 10

mm do centro do cordão de solda), o valor de tensão residual máxima encontrado

através da simulação numérica foi de 210 MPa.

4.4 - RESULTADOS NUMÉRICOS: CHAPAS EM ÂNGULO

4.4.1 - TRs obtidas na simulação da soldagem de chapas em ângulo

De forma similar à simulação da soldagem das chapas de topo, atribuiu-

se um nó para cada ponto onde foram colados os extensômetros. Os gráficos estão

representados de forma que o eixo Y representa o s22 (MPa) e o eixo x indica a

distância (mm) a partir do centro do cordão de solda, sendo que a distância de 100

mm simula o centro do cordão de solda. De 0 a 100 mm, tem-se a leitura de tensão

residual para a chapa na posição horizontal, e, de 100 a 200 mm tem-se a leitura de

tensão residual para a chapa na posição vertical.

A figura 4.29 representa o resultado das TRs simuladas ao longo da linha

localizada a 30 mm medidos a partir do início do cordão de solda no tempo de 1 h

(uma hora). Notou-se, a partir do gráfico, que as extremidades das chapas

apresentam valores de tensão residual com valores próximos de zero, sendo que na

ZTA as TRs longitudinais chegaram a ultrapassar valores de 300 MPa para a chapa

vertical. No centro do cordão, TRs menores que 50 MPa foram encontradas.

Figura 4.29 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha A da junta em ângulo

TRs

long

itudi

nal (

MP

a)

Distância (mm)

114

A seguir, é apresentado através da figura 4.30 o resultado das TRs

simuladas ao longo da linha localizada a 62,5 mm. Notou-se que, os valores de

tensões longitudinais máximas apresentaram-se próximos a 350 MPa, sendo

maiores na chapa vertical.

Figura 4.30 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha B da junta em ângulo

A figura 4.31 apresenta os resultados das tensões residuais simuladas ao

longo da linha localizada a 95 mm. Notou-se que este gráfico apresentou picos de

TRs longitudinais na ordem de 300MPa na chapa horizontal e de 350 MPa na chapa

vertical em regiões próximas ao cordão de solda.

Figura 4.31 – Gráfico TRs longitudinais x distância do cordão na linha C da junta em ângulo

TRs

long

itudi

nais

(MP

a)

Distância (mm)

TRs

long

itudi

nal (

MP

a)

Distância (mm)

115

A figura 4.32 apresenta a distribuição de TRs longitudinais ao longo das

duas placas de uma maneira mais conjunta.

Figura 4.32 – Resultados de TRs longitudinais na simulação da soldagem em ângulo.

São apresentados, através da figura 4.33, valores gerais de TRs

simulados para cada nó correspondente aos pontos onde, na prática, foram colados

os extensômetros na soldagem das chapas em ângulo.

Figura 4.33 – Valores de TRs obtidos por simulação numérica na soldagem em ângulo

A

B

C

Sigma 22

116

4.4.2 – A simulação das transformações de fase nas chapas em

ângulo

De modo análogo à soldagem de topo, simulou-se também a

transformação de fase para a união das chapas em ângulo, em que o gráfico da

figura 4.34 apresenta a porcentagem de cada fase durante o processo em função do

tempo. O ponto analisado está representado por um nó no centro do cordão de

solda.

Figura 4.34 – Transformações de fase na simulação da soldagem em ângulo

A fase 1, representada pela linha de cor azul claro, indicou a porcentagem

de Ferrita + Perlita e teve como valor final aproximadamente 17 %. A fase 2,

representada pela linha de cor azul escuro, indicou a porcentagem de Bainita e teve

como valor final igual a 82 %. A fase 3, representada pela linha de cor vermelha,

indicou a porcentagem de Martensita e obteve valor próximo 0,0003 %. A fase 6,

representada pela linha de cor amarela, indicou a porcentagem de Austenita, e,

apesar de ter alcançado valores próximos a 100 % no início da soldagem, onde os

valores de temperaturas máximas se encontravam acima do ponto de fusão do aço,

no decorrer do resfriamento da chapa teve seu valor final igual à zero.

Notou-se que, devido ao tempo de resfriamento da junta ter sido mais

rápido em relação à soldagem das chapas de topo, as fases presentes ao final da

Fases (%)

Tempo (s)

117

soldagem apareceram-se divergentes principalmente quanto às porcentagens de

Bainita e Perlita + Ferrita.

Diante dos resultados simulados para a transformação de fases da

soldagem em ângulo, é provável que na prática a dureza do cordão de solda e

periferia não comprometa o desempenho da junta, devido à baixa porcentagem de

Martensita presente na região.

4.5 – CORRELAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NA SOLDAGEM DAS

CHAPAS DE TOPO

Os dados de tensões residuais obtidos através dos métodos experimental

e por simulação numérica foram correlacionados para a soldagem das chapas de

topo e também para a soldagem das chapas em ângulo. Primeiramente são

apresentados os resultados comparativos para a soldagem das chapas de topo

conforme a seguir.

As figuras 4.35-a, 4.35-b e 4.35-c representam, respectivamente, os

resultados obtidos nas linhas 30 mm (A), 62,5 mm (B) e 95 mm (C) na chapa

posicionada do lado esquerdo, levando-se em consideração a simulação numérica e

experimental da soldagem de topo.

Figura 4.35-a – TRs longitudinais na linha A da chapa lado esquerdo

-30-25-20-15-10-50

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual (MPa)

Elementos finitos

Experimental

118

Linha Y = 62,5mm

-40

-30

-20

-10

0

30 40 50 60

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.35-b – TRs longitudinais na linha B da chapa lado esquerdo

-40

-30

-20

-10

0

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.35-c – TRs longitudinais na linha C da chapa lado esquerdo

As figuras 4.36-a, 4.36-b e 4.36-c apresentam os mesmos resultados

anteriores, porém para a chapa localizada do lado direito.

-30

-25

-20-15

-10

-5

0

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual (Mpa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.36-a – TRs longitudinais na linha A da chapa lado direito

(MPa)

119

Linha Y = 62,5mm

-40

-30

-20

-10

0

30 40 50 60

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.36-b – TRs longitudinais na linha B mm da chapa lado direito

-40

-30

-20

-10

0

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.36-c – TRs longitudinais na linha C da chapa lado direito

Notou-se através dos gráficos apresentados que, apesar de não haver

coincidência em nenhum dos pontos analisados, os resultados numéricos e

experimentais apresentaram comportamentos similares, ou seja, à medida que os

extensômetros iam se distanciando do cordão de solda, os valores de tensão

residual tenderam a aproximar-se de zero.

4.6 – CORRELAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NA SOLDAGEM DAS

CHAPAS EM ÂNGULO

As figuras 4.37-a, 4.37-b e 4.37-c representam, respectivamente, os

resultados obtidos nas linhas 30 mm (A), 62,5 mm (B) e 95 mm (C) da chapa

horizontal, levando-se em consideração a simulação numérica e experimental da

soldagem em ângulo.

120

-150

-100

-50

0

50

100

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual (Mpa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.37-a – Correlação entre TRs na linha A da chapa horizontal

-150

-100

-50

0

50

100

30 40 50 60

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.37-b – Correlação entre TRs na linha B da chapa horizontal

-100

-50

0

50

100

30 40 50

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.37-c – Correlação de TRs na linha C da chapa horizontal

Notou-se que as curvas de tensões residuais obtidas através de meios

experimentais e através de simulação numérica não se apresentaram de maneira

similar. Neste caso, obtiveram-se melhores resultados através da simulação

numérica que se apresentaram coerentes com a literatura, porém os resultados

experimentais não foram o esperado.

121

Como os resultados obtidos experimentalmente na chapa vertical foram

somente através dos extensômetros colados a 60 mm do cordão de solda em função

de falha dos demais, optou-se por correlacionar somente os valores coletados nesta

região com os valores da simulação numérica, obtendo-se o gráfico que está

apresentado na figura 4.38.

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

Linha 30 Linha 62.5 Linha 95

Distância do Cordão (mm)

Tensão Residual

(MPa)

Elementos finitos

Experimental

Figura 4.38 – Correlação entre TRs a 60 mm do cordão na chapa vertical

4.7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos gráficos apresentados, pode-se afirmar que o método

sugerido neste trabalho para a medição das tensões residuais através do uso da

extensometria pode ser aplicado, porém com algumas restrições, as quais são

apresentadas a seguir:

- A habilidade do operador para a colagem dos extensômetros;

- Um sistema de condicionamento de sinais capaz de filtrar os ruídos e

executar a leitura em tempo real;

- Isolar o efeito da temperatura durante o processo de soldagem, seja

através do desenvolvimento de um programa específico para esta função ou através

do uso de extensômetros especiais.

Os fatores acima são os que mais influenciam no comportamento das

tensões residuais, levando em consideração a dinâmica do processo de soldagem

da placas.

Os resultados numéricos obtidos através da simulação da soldagem das

chapas em ângulo apresentaram-se mais coerentes com os encontrados na

A B C

122

literatura de soldagem se comparados com a simulação da soldagem de topo. Este

fato não quer dizer que o programa Sysweld® não seja capaz de fornecer resultados

precisos, mas que, se comparados com dados experimentais confiáveis, é possível

obter resultados que possam ser de grande interesse tecnológico.

123

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES

Este trabalho teve como objetivo principal avaliar o uso da

extensometria em chapas de aço para coletar valores de tensão residual

provenientes do processo de soldagem. Para isto, fez-se necessário a utilização de

métodos de elementos finitos, com o auxílio do programa computacional Sysweld®,

para prever os valores de tensões residuais e correlacioná-los com o método

sugerido.

Adicionalmente, foi proposto acompanhar, em tempo real, os valores de

tensões que surgem na direção do cordão de solda durante o processo. Para isto,

fez-se necessário utilizar um sistema de condicionamento de sinais e “software”

específico para conseguir coletar dados de tensão elétrica, lidos em volts, durante o

processo e fornecer resultados em termos de tensão residual em MPa.

Obteve-se coerência entre o modelo numérico e a parte experimental para

os resultados obtidos na soldagem das placas de topo. Para as placas soldadas em

ângulo, a correlação entre os dois tipos de resultados não foi satisfatória. Em função

disto, deve-se levar em consideração alguns pontos importantes, conforme descrito

abaixo:

- Altas tensões residuais longitudinais, tanto para as placas soldadas de

topo quanto em ângulo, são produzidas próximas ao cordão de solda. Seus valores

diminuem à medida que vão se afastando do cordão. Através do uso da

extensometria convencional, é possível realizar leituras de tensões residuais com

valores significativos e que não necessariamente estejam próximas ao cordão de

solda.

- A extensometria convencional pode ser utilizada para leituras de TRs

onde o efeito da temperatura não possa afetar o funcionamento dos extensômetros.

Ou seja, o método não é apropriado para medições em regiões onde a temperatura

da junta soldada ultrapasse o valor estipulado pelo fabricante de extensômetros.

Para medições a serem executadas em regiões próximas, ou até mesmo no cordão

de solda, recomenda-se o uso da técnica do furo cego ou passante.

124

- A integridade do funcionamento dos extensômetros durante os testes

depende do processo de colagem dos mesmos na peça, do sistema de

condicionamento de sinais e do isolamento do efeito da temperatura através de

softwares específicos ou através do uso de extensômetros especiais.

- A simulação numérica deve ser utilizada para prever o comportamento

de placas soldadas, bem como o uso deste recurso para o estudo de transformação

de fases durante o processo, obtendo-se assim valores de tensão residual que

possam ser comparados com os resultados experimentais.

Contudo, pode-se concluir que, apesar das limitações dos procedimentos

experimentais desenvolvidos, como o efeito indesejável da temperatura, que

influenciaram nos resultados de leitura de tensões em tempo real, obteve-se

coerência dos resultados de TRs com a análise numérica e com a literatura,

principalmente através da soldagem de topo. Resultados mais precisos poderiam ser

encontrados se fossem usados métodos para a correção das leituras de tensão em

tempo real, levando em consideração os efeitos da temperatura. No entanto, o

método proposto neste trabalho demonstrou-se eficaz para realizar leituras de TRs

através do uso da extensometria convencional para regiões mais afastadas do

cordão de solda. Espera-se que, no futuro, estes dados possam ser confirmados ou

não pelo uso de procedimentos mais precisos.

125

CAPÍTULO 6

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O monitoramento da distribuição de tensões durante o processo de

soldagem e sua influência sobre as respostas dinâmicas está associado diretamente

ao acompanhamento da evolução térmica ao decorrer do processo e que ainda

demandam esforços de pesquisa visando o aperfeiçoamento e a ampliação do

domínio de sua aplicação. Neste sentido, sugere-se o desenvolvimento de alguns

temas que possam aperfeiçoar ou dar continuidade a este trabalho de pesquisa:

- A verificação do efeito da temperatura nas propriedades dos materiais

durante o processo de soldagem. O foco deste tema seria o desenvolvimento de

softwares que possam filtrar os efeitos da temperatura em tempo real durante a

aquisição de dados e seguiria a mesma linha de pesquisa adotada por Poussier,

Rabah e Weber (2004) que desenvolveram um “chip“ programável para realizar a

compensação de temperatura nos extensômetros. Faz-se necessário um estudo

aprofundado sobre a influência que a temperatura exerce nas propriedades físicas

dos materiais e o desenvolvimento de algoritmos necessários para a correção das

leituras de tensão elétrica durante a aquisição de sinais.

- O estudo do comportamento de placas soldadas sob o efeito de fadiga.

Sugere-se para este tema, a realização de testes de fadiga a partir dos dados de

tensões residuais coletados através do uso da extensometria no processo de

soldagem. Os resultados obtidos também podem ser usados como dados de entrada

para uma análise da confiabilidade, considerando os efeitos das variáveis do

processo, como a variação da espessura das chapas, a energia de soldagem e a

temperatura inicial do processo.

- A utilização da técnica do furo para identificação de tensões residuais

em peças soldadas. O principal objetivo deste trabalho seria e construção de um

dispositivo, partindo dos princípios da mecânica de precisão, para a utilização de

experimentos que envolvam a técnica do furo cego e passante. A partir de um

projeto robusto, sugere-se a construção deste dispositivo e a realização de

experimentos variando, como por exemplo, a angulação da ferramenta de furação

no intuito de identificar seus efeitos na leitura de tensões residuais.

126

REFERÊNCIAS

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127

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