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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA MATEUS PIRES FERREIRA Análise Estratigráfica e Sedimentológica, com Base nos Perfis e Amostra de Calha do campo Bela Vista - Fm. Água Grande/Sergi (Bacia do Recôncavo). Salvador 2012

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

MATEUS PIRES FERREIRA

Análise Estratigráfica e Sedimentológica, com Base nos Perfis e Amostra de Calha do campo Bela Vista - Fm.

Água Grande/Sergi (Bacia do Recôncavo).

Salvador 2012

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

MATEUS PIRES FERREIRA

Análise Estratigráfica e Sedimentológica, com Base nos Perfis e Amostra de Calha do campo Bela Vista - Fm.

Água Grande/Sergi (Bacia do Recôncavo).

Monografia apresentada ao curso de Geologia, do Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Geraldo Girão Nery

Salvador 2012

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

TERMO DE APROVAÇÃO

AGRADECIMENTOS

Gostaria em primeiro lugar de agradecer à minha mãe, Lucia Maria

Eduardo Cardoso, Murigueto (Muriel), Luc

AGRADECIMENTOS

Salvador, 27 de Junho de 2012

MATEUS PIRES FERREIRA

Análise Estratigráfica e Sedimentológica, com Base nos Perfis e Amostra de Calha do campo Bela Vista - Fm.

Água Grande/Sergi (Bacia do Recôncavo).

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de

Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca

examinadora:

_______________________________________________________________ 1º Examinador – Prof. Geraldo Girão Nery Hydrolog Serviços e Perfilagens LTDA _______________________________________________________________ 2º Examinador – Prof. MSC. Roberto Rosa da Silva Instituto de Geociências, UFBA / Petrobrás _______________________________________________________________ 3º Examinador – Cicero Paixão Pereira Instituto de Geosciencias, UFBA.

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

AGRADECIMENTO

Gostaria em primeiro lugar de agradecer à minha mãe, Lucia Maria

oportunidade de vir a este mundo e todo apoio durante todas as fases da minha vida

e, além disto, por terem SEMPRE acreditado em mim.

A todos os amigos que surgiram e me ajudaram durante esta jornada, em

especial para: , Acácio, Edmar, Eduardo Cardoso, Murigueto (Muriel), Lucas Gontijo

Priscila Passos, Rafael Daltro (Cipri), Anderson Coelho (Bunnyman), Diego Melo

(Goiaba), Marcus Vinicius (MV), Substância (Rodolfo Gasser), Mário Coni, Gabriel

Alem (Mendigo), José Torres (Rapungeo), Laura Silveira, Alexandre Portela

(Scooby), Carlos, Trilobita (Bruno), Rebeca Marcelino, Carol Simões, Luana Cruz,

Deize Ribeiro, Paulo Benevides, Paulo Lopes (Motoca), Bruno Huoya, Alexandre

Moitinho, Itála Gabriela, Andre Lyrio, Silvandira (Dira) e meus irmãos Lucas, Thiago

e Pedro.

Agradecimento especial também aos professores, Cicero, Girão, Michael

Holtz, e Roberto Rosa, por sua presteza e vontade de compartilhar conhecimento e

experiência, contribuindo assim para que esse projeto se concluísse.

´´ O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu

tempo não descobriu o valor da vida.``

Charles Darwi

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

RESUMO

Durante décadas as Formações Sergi e Água Grande, bacia do Recôncavo, foram

alvo de diversos estudos. A maior parte dos trabalhos científicos publicados foca

principalmente no estudo de afloramentos, fazendo com que formações pouco

aflorantes, caso da formação Água Grande na área de estudo, tenham escassez de

informação. Tendo sua área de estudo localizada no campo de Bela Vista (Campo

escola), porção nordeste da bacia, dentro do município de Esplanada, o presente

trabalho se propõe uma abordagem diferente no estudo estratigráfico e

sedimentológico das formações supracitadas, de tal forma que na construção desta

monografia se utilizou de informações adquiridas através de perfilagens e descrições

das amostras de calha realizadas nos poços 1-BLV-1-BA, 7-BLV-4-BA, 7-BLV-5-BA.

Foram analisados neste trabalho perfis de radioatividade (GR), de potencial

espontâneo (SP), de resistividade (ILD, SFLA), de densidade (RHOB) e neutrônico

(NPHI), posteriormente foram feitas correlações dos perfis com as descrições das

amostras de calha com a finalidade de compreender a estratigrafia, características

sedimentológicas e a configuração externa dos corpos areníticos das formações

estudadas, o que culminou com construção de três seções, feitas no programa Corel

Draw. No estudo local das formações Sergi e Água Grande, campo de Bela Vista,

detectou-se significativa variação faciológica e de espessura entre os poços

avaliados, variações estas que ocorrem em algumas centenas de metros de

distância. Foram também identificadas duas falhas locais, onde uma esta disposta

entre o poço 7-BLV-5-BA e os poços 1-BLV-1-BA, e 7-BLV-4-BA, e outra é

responsável por omitir a Fm. Sergi no ultimo poço.

Palavras Chaves: Fm. Água Grande, Fm. Sergi, Estratigrafia, Perfis Geofísicos, Seções Geológicas.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

ABSTRACT

For decades, Sergi and Água Grande Formations, Reconcavo basin, were the

subject of several studies. Most scientific papers published mainly focuses on the

study of outcrops, making little outcropping formations, where the Big Water training

in the study area, have little information. Taking your study area located in the field of

Bela Vista (field school), the northeast portion of the basin within the city of

Esplanada, this paper proposes a different approach in the study of stratigraphic and

sedimentological of the formations above. The construction this monograph is used

information gained through profiling and descriptions of samples from wells 1-BLV-1-

BA, 7-BLV-4-BA, 7-VSB-5-BA. Profiles were analyzed in this study of radioactivity

(GR), spontaneous potential (SP), resistivity (ILD, SFLA), density (RHOB) and

neutron (NPHI), correlations were made later with the descriptions of the profiles of

the samples trough in order to understand the stratigraphy, sediment characteristics

and the external configuration of the studied formations of sandstone bodies, which

culminated in the construction of three sections, made in Corel. In the local study of

formations Sergi and Água Grande field of Bela Vista, detected a significant variation

in thickness and facies between the wells evaluated, these variations that occur in a

few hundred meters away. We also identified two local faults, where one of them is

disposed between the well 7-BA-5-BLV and BLV-1 wells-1-BA and 7-BLV-4-BA, and

another is responsible for omitting the Fm. Sergi on the last well.

Keywords: Fm. Agua Grande, Fm.Sergi, Stratigraphy, Geophysical Logs, Geological Sections.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Localização dos três poços do campo de Bela Vista. Em destaque o

município de Esplanada, no canto superior direito a posição relativa entre os poços

do campo...................................................................................................................13

Figura 2: Mapa geológico mostrando a distribuição de sedimentos pré, sin, e pós

rifte. Em destaque a bacia do Recôncavo. Retirado de Magnavita,

(1992).........................................................................................................................20

Figura 3: Seção esquemática da bacia do Recôncavo, detalhe para a morfologia

estrutural da bacia. Retirado de Milhomem et. al. (2003).........................................21

Figura 4: Mapa estrutural da bacia do Recôncavo, em destaque AA quatro seções

feitas em diferentes porções da bacia. Retirado de Destro

(2003)........................................................................................................................22

Figura 5: Carta estratigráfica da bacia do Recôncavo. Retirado de de Caixeta et al.

(1994)......................................................................................................................25

Figura 6: Reconstrução paleogeografica do Grupo Brotas. Retirado de Medeiros e

Pontes, (1981).........................................................................................................26

Figura 7: Isópacas da formação Sergi. FONTE: Retirado de Figueiredo et. al. 1994

apud Sampaio et. al. (2005)......................................................................................27

Figura 8: Isópacas da Fm. Água Grande na Bacia do Recôncavo, detalhe para a

porção nordeste da bacia. Retirado de Cicero Paixão..........................................32

Figura 9: : Esquema das correntes geradas dentro da rocha e entre os fluidos, a

esquerda o comportamento da curva SP quando a água da formação é mais doce

que a lama. Fonte Schlumberguer............................................................................38

Figura 10: Em destaque a resposta de um pacote arenitico (dentro do campo

amarelo) na curvas SFL (vermelho pontilhado) e ILD(azul continuo). Intervalo 1448 –

1458m, poço BLV-1...................................................................................................41

Figura 11: Principio da ferramenta de indução. Retirado de Carvalho,

(1993).......................................................................................................................42

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

Figura 12: Perfil mostrando a separação visível das curvas SFLA e ILD. A zona em

amarelo representa o pacote arenítico, tambem evidente na curva GR. FONTE:

ANP............................................................................................................................45

Figura 13: Perfil Densidade x Neutrônico. A linha marrom indica o cut off, nesse caso

cada quadrado equivale a uma variação de 6% de porosidade. A seta azul indica

valor de 15% de porosidade. Intervalo 1663 – 1673m, poço BLV-5

....................................................................................................................................49

Figura 14: Figura relaciona as ferramentas neutrônicas existentes com seus

respectivos campos energéticos de atuação, em destaque. Modificado de

www.geraldogirao.com.br...........................................................................................53

Figura 15: Perfil Densidade x Neutrônico. Em destaque um pacote de arenito, em

amarelo, balizado em cima e em baixo por pacotes de folhelho, em verde. Notam-se

claramente as inversões sofridas pelas curvas Densidade e Neutrônico. Intervalo de

1448 – 1458m, poço BLV-1........................................................................................55

Figura 16: Perfil do poço BLV1, em destaque a formação Água Grande subdividida

em sua facie eólica (vermelho), e sua facie fluvial (amarelo). Intervalo 1448 –

1458m, poço BLV-1....................................................................................................64

Figura 17: Perfil do poço BLV1, em destaque a formação Sergi..............................65

Figura 18: O perfil mostra relação entre o folhelho Candeias e o arenito Água

Grande (Retângulo amarelo). Poço BLV-4, intervalo 1570-1590m............................66

Figura 19: Perfil indicando contatos erosivo no topo e gradacional na base da

formação Água Grande, em destaque. Poço BLV-5, intervalo 1550-1650m............67

Figura 20: Perfil do poço BLV5, em destaque o topo da formação Sergi...............68

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Tabela demonstrativa das informações mais importantes do campo de

Bela vista......................................................................................................14

Tabela 2: Valores comparativos entre as densidades de laboratório (ρB), eletrônica

(ρe) e a registrada pelo perfil de densidade..................................................48

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12

2. OBJETIVOS ................................................................................................. 15

3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................. 16

4. METODOLOGIA ........................................................................................... 17

4.1. Estudo bibliográfico .........................................................................................17

4.2. Análise dos perfis geofísicos e de dados das pastas de poço............................18

4.3. Interpretação ambiental e construção de modelo geométrico dos reservatórios, com

base em perfis. ..........................................................................................................19

5. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ....................................................... 20

5.1. Bacia do Recôncavo...........................................................................................21

5.1.1. Evolução Tectono-Sedimentar....................................................................23

5.1.2. Super Sequência Pré-Rifte (Formações Sergi e Água Grande).................25

6. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA DOS PERFIS GEOFISICOS USADOS ...... 33

6.1. Curva Raios Gama – GR.................................................................................33

6.1.1. Interpretação do GR....................................................................................34

6.1.2. Interpretação do método.............................................................................36

6.1.3. Limites da Ferramenta................................................................................37

6.2. Perfis de Resistividade .......... ........................................................................37

6.2.1. SP (Potencial Espontâneo) ......... ...................................................................37

6.2.2. Principio da curva SP.....................................................................................38

6.2.3. Limites da ferramenta SP ......... .....................................................................38

6.2.4. Galvânicos ou de Contato...........................................................................39

6.2.5. Principio da Ferramenta SFL (Galvânico)..................................................39

6.2.6. Interpretação do perfil................................................................................40

6.2.7. Limitações do SFL......................................................................................40

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

6.2.8. Curva de Indução.......................................................................................41

6.2.9. Princípio de Funcionamento da Ferramenta de Indução............................41

6.2.10. Interpretação das Curvas Elétricos (SFLA e ILD).......................................45

6.2.11. Limites da Ferramenta................................................................................46

6.3. Curva de Densidade Compensada (ROHB).......................................................46

6.3.1. Princípio da curva Densidade (ROHB)..........................................................47

6.3.2. Interpretação da Curva Densidade (ROHB).................................................48

6.3.3. Limites da Ferramenta.................................................................................50

6.4. Curva Neutrônica (NPHI).................................................................................51

6.4.1. Principios da Ferramenta Neutrônica (NPHI)...............................................52

6.4.2. Interpretação da Curva.................................................................................53

6.4.3. Limites da Ferramenta..................................................................................55

7. AVALIAÇÃO SEDIMENTOLOGICA DOS POÇOS 1-BLV-1-BA, 7-BLV-4-BA E 7-

BLV-5-BA .......................................................................................................... 56

7.1. Poço 1-BLV-1-BA (Anexo I).............................................................................56

7.2. Poço 7-BLV-4-BA (Anexo II) ...........................................................................59

7.3. Poço 7-BLV-5-BA (Anexo III)............................................................................60

8. INTERPRETAÇÃO DOS AMBIENTES DEPOSICIONAIS DAS FORMAÇÕES

AGUA GRANDE E SERGI. ...... .........................................................................63

8.1. Analise do poço 1-BLV-1-BA...........................................................................63

8.2. Analise do poço 7-BLV-4-BA...........................................................................65

8.3. Analise do poço 7-BLV-5-BA...........................................................................67

9. CONCLUSÕES .................................................................................. 69

10. REFERÊNCIAS .................................................................................. 71

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1. INTRODUÇÃO

Historicamente a bacia do recôncavo tem sido alvo de diversos trabalhos,

concentrados no desenvolvimento prioritário dos aspectos sedimentológicos,

estratigráficos e estruturais da bacia, baseados em dados retirados de afloramentos.

Há, portanto a necessidade de uma abordagem que leve em consideração uma

caracterização petrofisica mais completa das formações, derivada do uso de perfis

compostos e das informações de subsuperficie da pasta de poço. O presente

trabalho se propõe a fazer uma integração entre as informações sedimentológicas e

estratigráficas já adquiridas em trabalhos anteriores e informações advindas de

superfície (perfilagens e pasta de poços) .

O objeto de estudo do trabalho proposto são as formações Sergi e Água

Grande, que compõem a seqüência Rifte da Bacia do Recôncavo, inclusos na área

do campo de Bela Vista. Os dados utilizados na confecção deste trabalho foram

fornecidos pela ANP, e são provenientes de três poços perfurados no respectivo

campo. Os perfis geofísicos bem como as informações da pasta de poço foram

essenciais no desenvolvimento do trabalho, pois através da análise e do confronto

dessas duas informações foi possível realizar uma interpretação mais completa das

seqüências supracitadas.

O campo de Bela Vista que está localizado na porção nordeste da bacia do

Recôncavo, próximo a ao município de Entre Rios (BA) (figura 1), foi descoberto em

1984 teve seu período de produção durante as décadas de 1984-1996. Trata-se de

um campo raso, que foi submetido à injeção de água. Nesse campo foram

perfurados os poços 1-BLV-001-BA, 3- BLV-002-BA, 3-BLV-003-BA, 7-BLV-004-BA,

7-BLV-005-BA, 7-BLV-006-BA e 7-BLV-007-BA, em negrito estão os poços que

forneceram os dados necessários para a realização deste projeto. Informações

complementares podem ser melhor observadas na tabela 1 abaixo.

Hoje o campo se enquadra na categoria campo maduro, tendo sua reserva

passando a ser considerada inviável para as grandes companhias petrolíferas. A

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maior parte de sua produção corresponde as Formações Sergi, e Água Grande.

Apesar de o campo Belo Vista ser considerado um campo maduro e, portanto

inviável para grandes produtores, o conhecimento adquirido a partir dos estudos de

seus reservatórios pode perfeitamente ser aplicado na prospecção e produção em

outras áreas da bacia do Recôncavo.

Figura 1: Localização dos três poços do campo de Bela Vista. Em destaque o município de Esplanada, no canto superior direito a posição relativa entre os poços do campo.

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Tabela 1: Tabela demonstrativa das informações mais importantes do campo de Bela vista, FONTE (ARQUIVOS DA ANP)

Campo

BELA VISTA

Data de descoberta 24/06/1984

Período de Produção 1984-1996

Área ( ) 2.1

Numero de poços/ profundidade 7 poços/

Formação do reservatório Candeias, Água Grande, Itaparica e

Sergi

Volume in situ de óleo 9,7 milhões de bbl

Volume de óleo in situ de gás 63,4 milhões de

Fluido principal Óleo leve de 28,4º API

Produção acumulada de óleo/

Fator de Recuperação (FR)

170 mil bbl (FR=1,8%)

Produção acumulada de gás /

Fator de Recuperação (FR)

2,4 milhões de (FR=3,8%)

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15

2. OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo geral expandir os conhecimentos,

sedimentológicos e estratigráficos, acerca dos reservatórios pertencentes às

formações Sergi e Água Grande, inseridas na porção nordeste da bacia do

Recôncavo, campo de Bela Vista, utilizando – se de uma abordagem petrofísica,

com uso de perfis e amostras de calha.

- Objetivos Específicos:

Definir, a geometria dos reservatórios inclusos nas Fm. Sergi e Água Grande,

utilizando-se, para esse fim, principalmente de perfis geofísicos, fornecidos

pelos poços 1-BLV-001-BA, 7-BLV-004-BA, 7-BLV-005-BA, além das

descrições das amostras de calha e de testemunhos coleados nesses poços.

Analisar, através de perfis geofísicos, as características permo-porosas dos

reservatórios sob o aspecto qualitativo.

Caracterizar de maneira geral os ambientes deposicionais das formações

estudadas, com base nas informações fornecidas pelos perfis e as descrições

das amostras de calha, comprovando dessa forma ambientes deposicionais

caracterizados em trabalhos anteriores.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

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3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Como já foi dito anteriormente a bacia do recôncavo tem sido alvo, durante

décadas, de diversos trabalhos e estudos publicados, em todos eles nota-se que

houve um enfoque maior na determinação de características sedimentológicas e

estratigráficas obtidas em sua maior parte através de descrições de afloramentos.

Este fato gerou uma carência muito grande por trabalhos e artigos, acadêmicos ou

não, que abordassem não somente características litológicas, ambientais e

sedimentológicas, mas também se preocupasse com respostas geofísicas,

adquiridas por meio de perfilagens, que auxiliariam no estudo de formações pouco

aflorantes, caso da formação Água Grande na área de estudo. Estudos assim

produziriam informações mais completas, precisas e confiáveis, que seriam

importantes na elucidação de inúmeras questões principalmente em formações que

apresentam pouco ou nenhum afloramento na bacia do recôncavo.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

17

4. METODOLOGIA

No processo de construção do trabalho não houve a necessidade de se

realizar visitas de campo, tendo sido todos os dados coletados e fornecidos pela

ANP. A base dos dados utilizados nesse trabalho é composta por perfis geofísicos

dos poços BLV1, BLV4, BLV5 e de suas respectivas pastas de poço. A pesquisa

bibliográfica teve um papel bastante relevante no sentido de expandir o

conhecimento a cerca das formações alvo do estudo, fornecendo dessa forma

características geológicas regionais importantes dessas formações. O material

bibliográfico também foi importante, no sentido de guiar as interpretações feitas

através das correlações perfis X amostras de calha. Dividiu-se a metodologia deste

trabalho em três etapas, são elas: Estudo bibliográfico; Analise dos perfis e pasta de

poço; Interpretação estratigráfica com baseado nas amostras de calha e perfis.

4.1. Estudo bibliográfico

Para a confecção desse trabalho foi reunido um acervo bibliográfico que

contempla características, estruturais, estratigráficas, e sedimentológicas acerca da

bacia do Recôncavo. É importante frisar que a geologia estrutural foi empregada

nesse trabalho pela sua importância como definidora dos limites da bacia, e por sua

evidente influência no modo como os sedimentos foram depositados na bacia, para

esse fim foi feita uma pesquisa dirigida às feições estruturais mais marcantes da

região bacia do Recôncavo, e sua ligação com os aspectos tectono-sedimentares da

bacia. Os aspectos estratigráficos e sedimentológicos tiveram uma maior ênfase

nessa monografia e, portanto perfazem grande parte da pesquisa bibliográfica aqui

feita.

A reunião do acervo bibliográfico como um todo teve duas funções dentro

dessa monografia, a primeira consiste da inserção do leitor na geologia regional da

bacia do Recôncavo, com um enfoque maior na seqüência pré- rifte dessa bacia, em

especial as formações Água Grande e Sergi A segunda função da pesquisa dentro

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18

do trabalho, foi atuar como guia em parte das interpretações feitas no capitulo 8. É

importante destacar que foi levado em consideração o fato de que todos os

trabalhos pesquisados foram feitos em regiões diferentes da bacia Recôncavo, e

que apenas um deles foi feito nas proximidades do campo Bela Vista.

4.2. Análise dos perfis geofísicos e de dados das pastas de poço

Foram cedidos pela ANP, três perfis geofísicos, do tipo composto, contendo

seguintes curvas: GR (Gamma Ray); CALI (Cáliper); SP (potencial espontâneo); ILD,

SFLA, SFLU (Resistividades); NPHI (Neutrônico); RHOB (Densidade eletrônica). No

caso do BLV4 não se tem registro das curvas SP, SFLA e SFLU, isso ocorreu pelo

fato de nesse poço ter sido usado lamas a base de óleo, o que impossibilitou a

utilização desses métodos. O principio físico de cada um desses perfis será

discutido mais adiante, no capitulo 6.

Da pasta de poço fornecida pela ANP, foram utilizadas as descrições das

amostras de calha, que são feitas levando em consideração as seguintes categorias:

tipo de rocha, percentagem, cor, tonalidade, granulometria, arredondamento,

seleção, composição mineralógica (principal/acessória), matriz/cimento, estrutura,

porosidade, indícios de hidrocarbonetos, e observações.

Os perfis e as descrições da pasta de poço foram aqui empregados da

seguinte forma:

Destacaram-se trechos de interesse em cada um dos poços, nestes foram

feitas descrições detalhadas dos comportamentos nas curvas, GR, ILD, NPHI e

RHOB, por vezes se utilizando de abordagens quantitativas.

No mesmo intervalo foram transcritas as descrições de amostras de calha,

feitas pelos geólogos responsáveis pelos poços, na época em que estes foram

perfurados.

Fez-se então, quando possível, uma correlação entre as respostas obtidas

nos perfis e os dados das amostras de calha. Para que tal correspondência fosse

satisfatória foram feitas correções nas profundidades indicadas nas descrições das

amostras de calha, utilizando para tal fim as profundidades dos perfis, por serem

mais confiáveis.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

19

4.3. Interpretação ambiental e construção de modelo geométrico dos

reservatórios, com base em perfis.

A partir das analises feitas na etapa anterior, foram propostos diferentes

modelos de ambientes deposicionais. Esses modelos deveriam ser compatíveis,

com as respostas encontradas nos perfis, com as amostras de calha descritas, e

com estudos de afloramento realizados em trabalhos anteriores, para que dessa

maneira pudessem ser mais confiáveis.

Foram construídas também nessa etapa três seções geológicas dos

reservatórios Sergi e Água Grande, com base nos perfis Gama Ray e usando o

membro Taua como Datum. As seguintes seções forma feitas: BLV1 – BLV5, BLV5

– BLV4, BLV1 – BLV4. O programa CorelDraw foi utilizado na confecção das

seções.

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20

5. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

A bacia do Recôncavo faz parte do sistema Recôncavo-Tucano-Jatobá (figura

2), que é tradicionalmente interpretado como uma série de fossas estruturais,

geradas pelo processo de rifteamento, e sendo preenchidas por uma sedimentação

fluvio - deltáica que progadou axialmente de norte para sul, sobre sedimentos

lacustres das bacias Tucano Sul e Recôncavo (Ghignane,1979).

O Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá é constituído por uma série de semi-

grábens que mergulham para sudeste desde o Recôncavo até Tucano Central, e a

partir do Arco Vaza Barris, invertem o sentido do mergulho para noroeste, seguindo

assim até a bacia de Jatobá. Feições transversais do rifte Recôncavo - Tucano-

Jatobá são interpretadas como zonas de transferência ou de acomodação, que

geraram movimentos cisalhantes horizontais (Curpetino & Magnavita, 1987), tais

zonas de transferência propiciaram a compartimentação do rifte em sub-bacias com

evoluções tectono-sedimentar singulares, no entanto correlacionáveis.

Figura 2: Mapa geológico mostrando a distribuição de sedimentos pré, sin, e pós rifte. Em destaque a bacia do Recôncavo. Retirado de Magnavita, (1992)

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Análise Estratigráfica e

21

5.1. Bacia do Recôncavo

A bacia do Recôncavo esta localizada no nordeste brasileiro, mais

precisamente no estado da Bahia, ocupa uma área de aproximadamente 11.500km²

e é considerada por vários autores como sendo um rifte abortado (aulacogeno).O

seu embasamento forma um semi-graben assimétrico,cuja as camadas mergulham

para SE (figura 3) . Devido ao sistema de falhas encontrado na bacia, é comum que

formações estratigraficamente mais recentes estejam posicionadas abaixo de outras

mais antigas, essa relação pode ser observada, nos reservatórios Sergi e Água

Grande que apesar de serem mais velhas cronologicamente que seu reservatório

Candeias, estão posicionadas acima deste (figura 3).

Figura 3: Seção esquemática da bacia do Recôncavo, detalhe para a morfologia estrutural da bacia. Retirado de Milhomem et al. (2003).

A bacia do Recôncavo esta separada da bacia do Tucano a N e NO pelos

altos de Aporá e Dom João, respectivamente, ao sul separa-se da bacia de Camamu

pelo sistema de falhas da Barra, que corta a ilha de Itaparica na sua porção

mediana, a leste seu limite é marcado pelo sistema de falhas de Salvador (figura 4),

mais expressivo da bacia com rejeitos de até 6000m, e finalmente do lado ocidental

temos a falha de Maragujipe limitando a bacia, com rejeitos que não ultrapassam de

500m essa zona é considerada a de maior estabilidade tectônica dentro da bacia .

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Observa-se que a oeste, margem flexural falhada, os rejeitos das falhas da bacia do

Recôncavo são bem menores.

Um importante sistema de falhamento na bacia do Recôncavo apresenta

direção N40º W, e tem como principais representantes as falhas de Mata – Catu e

Itanagra – Araças (figura 4). Essas feições são hoje interpretadas como falhas de

transferência e subdividem a bacia em três compartimentos, nordeste, central e sul.

(Sampaio, 2005). Observa-se uma tendência à diminuição da profundidade do rifte,

e também do rejeito de suas falhas, em direção a porção nordeste da bacia (figura

4).

.

Figura 4: Mapa estrutural da bacia do Recôncavo, em destaque AA quatro seções feitas em diferentes porções da bacia. Retirado de Destro (2003).

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5.1.1. Evolução Tectôno-Sedimentar

A Bacia do Recôncavo foi originada, seguiu a mesma tendência das demais

bacias meso-cenozóicas da margem continental brasileira, ou seja, sofreu processo

de estiramento crustal que culminou com a fragmentação do Gondwana, e deu

origem aos continentes Sul-Americano e Africano. Ao final do Eocretáceo (Aptiano),

o ramo oeste do rifte foi abandonado, congelando esta fossa em uma fase anterior à

ruptura total da crosta, consequentemente, não havendo oceanização.

Podemos compartimenta-la em quatro estágios tectôno – sedimentares

distintos, são eles sineclise, pré-rifte, rifte, e pos-rifte (figura 5), de acordo com

Campinho (2002) apud Sampaio (2005). Não se encontra na bacia do Recôncavo a

fase marinha que se observa nas outras bacias marginais brasileiras, pois sua

historia tectono-sedimentar foi interrompida no andar Alagoas, fase rifte.

O estagio sineclise nesse sistema esta associado ao preenchimento de áreas

intracratônicas durante o Paleozóico. O registro sedimentar dessa fase nas bacias

marginais brasileiras representa uma extensão relicta de antigos depósitos durante o

Permiano e Triassico, sob condições regressivas e clima árido, em lagos e mares

epicontinentais restritos. Na bacia do Recôncavo temos como representante dessa

fase a formação Afligidos.

O estagio pré-rifte esta associado ao afinamento e estiramento crustal que

antecede o seu rompimento. Segundo Souza- Lima et al, 2003 apud Sampaio 2005,

um grande hiato, estimado em 100 milhões de anos, separa a esta seqüência dos

depósitos da fase anterior. O registro tectôno-estratigráfico, até então verificado para

o sistema em questão, sugere que a fase pré-rifte é representada por ciclos fluvio-

eólicos nos quais observamos intercalações de sistemas lacustres transgressivos.

Esta alternância de ciclos lacustre – Fluvio – Eólico está essencialmente

representado por pacotes oxidados e avermelhados, comuns a Fm. Aliança e na

base da Fm. Sergi. Nas bacias Recôncavo, Tucano, Jatobá, essa fase é

representada pelas Fm. Aliança, Sergi, e Itaparica (Caixeta et. al. 1994, apud

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Sampaio 2005). No Recôncavo e na sub-bacia Tucano sul esses depósitos pré-riftes

são limitados pela Fm. Água Grande.

O inicio do estagio rifte se deu com o rompimento crustal em resposta aos

esforços distensivos, e teve inicio no período que vai do Berriasiano e o

Valanginiano (144-131 Ma) ao longo da costa leste brasileira, ao passo que na

margem equatorial, apropagação ocorreu do Barremiano ao final do Albiano (125 -

113 Ma) segundo Souza -Lima e Hamsi Jr (2003), apud Sampaio ( 2005). Na bacia

do Recôncavo esse estagio foi implantado no Berriasiano, com o processo de

falhamento junto a borda leste, no sistema de falhas de Salvador. Fatores como a

elevada taxa de subsidência o clima mais úmido, permitiram a instalação de um lago

profundo e estreito (Fm. Candeias e Maracangalha), onde predominou a

sedimentação pelitica intercalada com pacotes arenosos gerados por fluxos

gravitacionais subaquosos.

Ao final do Valagiliano, com a redução da taxa de subsidência, os

depocentros foram gradativamente assoreados e a bacia adquiriu aspecto de rampa,

o que favoreceu progradações deltaicas de N/NW. Os sedimentos deltaicos estão

registrados nas formações Pojuca e Marfim, pertencentes ao Grupo Ilhas.

Durante toda a fase rifte (figura 5), tivemos a deposição de uma espessa

cunha conglomeratica, como resultado de leques aluviais sin tectônicos,

compreendidos na Formação Salvador e estão dispostos junto a borda da falha a

leste.

O estagio de pós – rifte (figura 5) foi marcado pelo fim de movimentos

tectonismo e o estabelecimento de uma subsidência térmica no interior do rifte,

durante o Eoaptiano (andar Alagoas). A área foi submetida a sucessivos

basculamentos, sofrendo destruição erosional que conferiu uma morfologia tabular

ao relevo. Essa subsidência termica abriu espaço para que sistemas de leques

aluviais progradassem em amplas áreas do nordeste brasileiro, que correspondem a

formação Marizal.

Após um período de 65 milhões de anos de hiato deposicional, se sucedeu

uma transgressão marinha, que esta testemunhada na porção sul do Recôncavo,

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por pelitos e calcáreos miocênicos pertencentes à Formação Sabiá (Ghignone, 1979

apud Sampaio 2005). O basculamento regional para leste, que ocorreu no Plioceno,

estimulou a formação de sistemas aluviais, registrados no Grupo Barreiras.

Figura 5: Carta estratigráfica da bacia do Recôncavo. Retirado de de Caixeta et al. (1994).

5.1.2. Super Sequência Pré-Rifte (Formações Sergi e Água Grande)

De acordo com Munne et. al. (1972), o grupo Brotas representaria o registro

de sistemas de leques aluviais relacionados a sistemas lacustrinos frontais

síncronos (Figura 6). Ainda segundo o mesmo autor os sedimentos clasticos da Fm

Sergi seria a ultima fase de progradação dos leques aluviais, que evoluiriam para

rios entrelaçados, e nas porções mais distais, para um sistema lacustre. Ainda no

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contexto do Grupo Brotas Fm. Água Grande, assim como a Sergi, também teria uma

forte relação entre os sistemas de leques aluviais, fluviais entrelaçados e lacustrinos

da Fm. Itaparica. Ë sabido que a Fm. Itaparica apresenta pelitos lacustres

intercalados com arenitos, seria fácil imaginar então uma facie distal dos fluviais da

Fm. Água Grande. Já entre o Água Grande e o membro Tauá (Fm.Candeias), a

dificuldade esta em encontra o agente erosivo, já que o membro Tauá representa

um sistema lacustre de baixa energia, que recobre os arenitos eólicos, sendo assim,

mesmo discordâncias relacionadas ao tectonismo da bacia ocasionariam uma

rotação dos blocos, com erosão restrita a margem flexural da bacia, o que não

referiria em toda sua extensão, (Wiederkehr 2008).

Figura 6: Reconstrução paleogeográfica do Grupo Brotas. Retirado de Medeiros e Pontes, (1981).

FM SERGI

A Formação Sergi, detém os reservatórios de maior extensão e importância

da Bacia do Recôncavo, abrangendo um volume original de óleo in place de 362

milhões de .A deposição do Sergi esta relacionada com a fase pré-rifte

(depressão Afro-Brasileira) da bacia do Recôncavo, essa depressão nada mais é do

que uma calha alongada na direção N-S.Ela foi interpretada por Estrella (1972)

apud Scherer et.al. (2005), como uma depressão periférica adjacente a uma área de

elevação crustal, que seria o embrião do futuro Rifte. Não se conhece, no entanto a

real extensão dos depósitos Jurássicos ou a sua situação tectônica. A formação

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Sergi tem maior espessura na porção SW da bacia, em direção a NE suas camadas

tornam-se progressivamente menos espessas, essa variação nas suas isopacas

atesta que a área fonte do Sergi estaria na porção S/SW. (Figura 7).

O Sergi é composto essencialmente por uma espessa sucessão de depósitos

fluviais, eólicos e lacustres. Litologicamente é composta por arenitos finos e

conglomeraticos com estratificação cruzada, característico de ambiente fluvial

entrelaçado com feições de retrabalhamento eólico, e intercalados com folhelhos

vermelhos e cinza esverdeados. Segundo Bruhn et. al. (1987) a formação Sergi

consiste de sedimentos submaduros depositados durante o Jurássico superior por

sistemas fluviais, eólicos , e lacustres em clima semi-árido e árido. Com base em

dados de afloramento, e amostras de testemunhos é possível subdividir a formação

Sergi em três seqüências deposicionais, da base para o topo:

Figura 7: Isópacas da formação Sergi. FONTE: Retirado de Figueiredo et. al. 1994 apud Sampaio et. al. (2005).

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SEQUÊNCIA I

Composta por associações de rochas de fácies flúvio-deltáica na base a

flúvio-eólica para o topo, esta possui espessura variando de 40 a 60m, segundo De

Bona (2004), sendo o contato entre os pacotes eólico e fluvial abrupto. A base do

pacote eólico é marcada por superfície plana de deflação, os estratos horizontais

são compostos por laminações transladantes/ cavalgantes de marcas onduladas

eólicas, e foram interpretados como lençóis de areia eólicos. Os sets de estratos

cruzados são formados pela alternância de lâminas de fluxo de grãos e queda livre

de grãos na porção mais íngreme dos foresets, intercalando-se em direção a base

com laminações de marcas onduladas eólicas, sendo interpretados como depósitos

residuais de dunas eólicas. Os estratos de dunas eólicas apresentam uma

paleocorrente média para SW. Os contatos entre os pacotes fluviais e eólicos são do

tipo abrupto, marcados por superfícies planas de deflação (base dos pacotes

eólicos) ou superfícies erosivas com relevo acentuado (base dos pacotes fluviais).

Os depósitos fluviais da seqüência I são caracterizados por corpos arenosos

de espessura media de 2m, podendo formar complexos amalgamados de ate 15m,

corpos estes compostos por arenitos finos a médios, maciços ou laminados, e

apresentam estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo,e são capeados por

conglomerados intraformacionais. Os estratos cruzado apresentam paleocorrente

média para direção NE. Na base e intermédio os pacotes os pacotes fluvio-eolicos

são intercalados por pelitos maciços ou finamente laminados com espessuras de 1 a

4m apresentando fosseis ostracodes (interpretados como sendo depósitos lacustre).

Particularmente no trabalho de Sampaio, (2005) há a divisão dessa seqüência

em duas partes, Ia e Ib. A parte da seqüência Ia caracterizou-se por uma fase de

progradação de sistemas fluviais terminais, com algumas recorrências de

sedimentos lacustres e o desenvolvimento de sutis pacotes eólicos em tempos mais

áridos. Como característica evidente desta unidade temos, o baixo grau de

amalgamação entre os sedimentos arenosos e peliticos. A parte Ib da seqüência

,segundo este autor, teve um importante controle climático, onde temos incursões

fluviais em pontuais períodos de umidade e extensos períodos de aridez marcados

por atividade eólica(dunas, inter-dunas, lençóis de areia). Processos fluviais

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interferiam na geometria dos depósitos preservados, como resultado temos corpos

fluviais amalgamados, pacotes eólicos descontínuos e níveis peliticos lenticulares. A

seqüência Ib apresenta desconformidade regional com a seqüência II, no entanto se

esta estiver ausente a seqüência Ib será seguida pela Fm. Itaparica.

SEQUÊNCIA II

Essa seqüência possui espessura variando de 200m a 350m de espessura, é

composta dominantemente por arenitos grossos a conglomeraticos, com

estratificações planas e acanaladas, dispostos em corpos arenosos com espessura

variando de 2 a 10m, e limitados por superfícies erosivas. Essa seqüência foi

interpretada como sendo de ambiente fluvial, do tipo entrelaçado, os estratos

cruzados indicam direção NE. Por vezes, ocorrem níveis centimétricos (< 50cm) de

pelitos separando os corpos arenosos. De acordo com (De Bona, 2004), a

granulométria mais grossa da seqüência II em relação a seqüência I indica um

aumento da capacidade e competência do sistema fluvial, que pode ter sido

resultado de condições climáticas cada vez mais úmidas e/ou um acréscimo da

declividade do perfil de equilíbrio fluvial, reflexo do soerguimento relativo das áreas

fontes. Scherer et. al. (2005), por sua vez, destaca que a deposição fluvial na

seqüência I está associada a sistemas efêmeros, enquanto a arquitetura de fácies

dos depósitos fluviais da seqüência II (presença de macro formas, domínio de

formas de leito de regime de fluxo inferior) indica um sistema fluvial entrelaçado

perene, embora com variações significativas na descarga.

Na Seqüência II ocasionalmente ocorrem níveis de paleoalteração, sendo o

limite superior dessa seqüência marcado pelo recobrimento desses depósitos

fluviais pelos depósitos eólicos da Seqüência III.

SEQUENCIA III

Na porção nordeste da bacia, mais especificamente no campo de Bela Vista,

a sequência III da Fm. Sergi encontra-se ausente. Nas porções da bacia aonde essa

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seqüência foi preservada ela se apresenta com cerca de 3 a 6m de espessura, e é

composta por arenitos finos a médios, que apresentam como estruturas laminações

de baixo ângulo de marcas onduladas eólicas e/ou estratos cruzados tangenciais.

Intercalados com os pacotes eólicos, ocorrem arenitos (fino-médios) com

estratificação plana paralela, e mais raramente com estratificações cruzadas

acanaladas, essas intercalações podem ser representadas como depósitos de

inundação fluvial.

A retomada da sedimentação eólica representaria, segundo Sampaio (2005),

o retorno a condições climáticas cada vez mais áridas na bacia.

FM. ÁGUA GRANDE

Também objeto de estudo deste trabalho, a formação Água Grande situa-se

acima do folhelho da formação Itaparica, (figura 5). As Formações Água Grande e

Itaparica teriam se depositado em uma grande depressão intracratonica, anterior ao

rifteamento (Medeiros&Pontes, 1981 apud Wierderkehr 2008).Observando as curvas

de isopacas da Fm. Água Grande nota-se um progressivo afinamento das camadas

,partindo da falha de borda em direção a NW da bacia, tal fato confirma a fonte

sedimentar dessa formação não estaria a S/SW ,como a Fm. Sergi,mas sim na

porção E seguindo a falha de borda. O lago Itaparica se instalou nessa depressão,

tendo sido posteriormente assoreado por um sistema fluvial, cuja planície ficou

exposta tempo suficiente para que houvesse retrabalhamento eólico. De acordo com

Figueiredo et. al. (1994) apud Wiederkehr (2008), logo após uma subsidência lenta e

gradual associado a um clima cada vez mais úmido, provocou o aparecimento de

um lago profundo (Fm. Candeias). Essa formação mostra as maiores espessuras

na porção nordeste da bacia, onde esta localizada a área de estudo. (figura 8)

Nessa época a depressão já possuía falhamentos tensionais incipientes que

conduziam, parcialmente, as deposições segundo o arcabouço estrutural da bacia.

As modestas progradações dentro do Itaparica seriam então motivadas por

soerguimento da área fonte, segundo Magnavitta et. al. (2005), a área fonte do Água

Grande estaria localizado a norte/noroeste da atual bacia do Recôncavo.. É possível

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que associado ao soerguimento das áreas fontes, um clima cada vez mais semi-

árido também tenha contribuído para a formação do pacote Água Grande.

Ainda não se tem abordado de maneira satisfatória, na bibliografia disponível,

a origem das discordâncias da base e do topo da Formação Água Grande. Modelos

tectônicos propostos tanto para a bacia do Recôncavo como para bacias riftes, no

geral, não descrevem nenhum soerguimento abrupto ou significativo rebaixamento

do nível de base que justifiquem tais discordâncias.

A Fm. Água Grande, mineralogicamente, é composta essencialmente por uma

serie de quartzos subarcóseos e arenitos, interpretados como sendo de ambiente

fluvial, e eólico. Scherer et. al. (2005), em seu estudo descreveu os arenitos Água

Grande como sendo de granulometria variável de fina a conglomeratica, sendo

comum na base a intercalação dos arenitos com laminas de pelitos, em direção ao

topo os arenitos ficam mais limpos e apresentam lentes amalgamadas, assim como

maior variação faciológica.

A Formação Água Grande possui geometria em lençol, com espessura

variando de 1 a 50m. De modo geral a fácie fluvial possui granulométria grossa,

pobremente selecionada, com estratificação de médio porte, e boa permo-

porosidade (Figueiredo et. al, 1994), e geometria alongada na direção N-S. Nas

porções basais é comum encontrar fragmentos de folhelhos cinza

esverdeados(Viana et. al., 1971). A fácie eólica tem ganulometria variando de fina a

media, com boa permo-porosidade e geometria alongada na direção E-W. Em

ambas as fácies nota-se baixo conteúdo de cimento, e a caolinita como principal

elemento diagenetico.

Barroso & Rivas,(1984) apud Cortez (1986), Duraes (1989) apud Cortez,

(1986), descrevem três associações faciologicas:

Fluvial meandrante: ocorre na base da formação e é constituída por ciclos de

granodecrescência ascendente, arenitos conglomeraticos gradando para arenitos

grossos e médios com estratificação cruzada. Culminam no topo com arenitos finos

e folhelhos argilo-siltosos.

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Fluvial entrelaçado: ocorre sobre a associação fluvial meandrante, é

composta de arenitos médios, moderadamente selecionados, e sem gradação

granulometrica.

Eólica: Ocorre no topo da formação e é formada por arenitos médios, bem

selecionados e arredondados, com estratificação planar e gradação inversa.

Apresenta laminações características de processos de fluxo de grãos, queda de

grãos e migração de ripples cavalgentes transladantes.

Figura 8: Isópacas da Fm. Água Grande na Bacia do Recôncavo (porção nordeste), detalhe para a porção nordeste da bacia. Fonte: Roteiro de campo (Cicero Paixão)

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6. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA DOS PERFIS GEOFISICOS USADOS

Este capítulo aborda de maneira superficial, os princípios físicos, as

vantagens de cada método e as limitações ferramentais inerentes aos perfis

utilizados nesse trabalho, de modo que, com os conceitos devidamente

apresentados o leitor possa entender com clareza os resultados aqui obtidos. É de

suma importância lembrar que não se deve utilizar apenas uma só curva para tirar

conclusões imediatas. Como já foi mencionado anteriormente cada método

apresenta certas limitações, de modo que devemos integrá-los afim de que as

limitações de uma curva sejam sanadas pela outra. Nem todas as curvas disponíveis

nos perfis fornecidos foram aqui utilizadas, sendo assim neste capitulo nós focamos

aquelas que foram indispensáveis ao trabalho. Ë importante lembrar também que o

bom senso, e experiência, do interprete é essencial para que se obtenha um bom

resultado, este deve estar apto para discernir entre respostas coerentes ou

inconsistentes com a realidade, e deve fazer isso com base nos seus conhecimentos

da geologia local e deve ter intimidade com os princípios físicos que regem as

ferramentas de perfilagem. As informações aqui contidas foram retiradas, e por

vezes modificadas, das apostilas fornecidas no site www.geraldogirao.com.br.

6.1. Curva Raios Gama – GR

A radioatividade faz parte de nosso meio ambiente, em função dos elementos

químicos presentes na Terra, desde o de menor massa (H) até o mais pesado (Pb e

Bi). Qualquer elemento de número atômico maior que o Bi, é instável, de modo que

a liberação da energia excedente o torna radioativo. A diferença entre os Raios

Gama e os Raios X está na origem. Este se origina de reações orbitais e aquele de

reações nucleares. Uma vez criados, tanto os Raios Gama como os Raios X são

bastante idênticos em suas propriedades.

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6.1.1. Interpretação do GR

Os raios gama, reagem com a matéria (rochas) de várias maneiras. A mais

importante delas, para a perfilagem geofísica, é a de espalhamento inelástico

denominada de Efeito Compton. Este efeito, se processa entre um fóton incidente de

energia entre 10 KeV e 1,02 MeV e um elétron orbital. O fóton incidente ejeta o

elétron de sua órbita, cede ao mesmo parte de sua energia cinética e desvia-se em

sua trajetória, permanecendo no meio, muito embora com menor energia que a

inicial.

Os fótons de menor energia (10 KeV) interagem elasticamente com os

elétrons orbitais e cedem toda a sua energia para os mesmos, principalmente se o

átomo tiver grande diâmetro. O fóton desaparece do meio, sendo, portanto

absorvido, enquanto que o elétron se transforma em um fotoelétron livre. É o Efeito

Fotoelétrico.

O terceiro tipo de interação é denominado de Efeito de Produção de Par.

Nessa reação, o fóton incidente com energia maior que 1,02MeV, interage

diretamente com o núcleo dos átomos e sua energia se converte em um par de

elétrons, um positivo (pósitron) e um negativo (négatron). O elétron negativo se torna

um elétron livre. O positivo tem urna vida bastante curta ao reagir facilmente com

qualquer outro elétron da vizinhança, quando então ambos se aniquilam com a

liberação de 511 KeV de energia, que é o fator de conversão de massa

correspondente.

O perfil GR analisa a radiação emitida por três isótopos. São eles, Urânio,

Tório, e Potássio. As argilas e/ou folhelhos são os elementos mais naturalmente

radioativos entre as rochas sedimentares, em parte pela presença do K40 (1,46 MeV)

e devido à habilidade em reter íons metálicos, entre eles Urânio e o Tório. A

radiação emitida pelo K40, geralmente é da ordem de 20% do total registrado.

Para se obter um perfil deste tipo basta um detector de radioatividade do tipo,

Cintilômetro, por exemplo, deslocando-se a uma velocidade uniforme dentro de um

poço. Esses detectores são afetados principalmente pelos raios gama (energia

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eletromagnética) após descarte, pelo corpo metálico da própria ferramenta que

transporta o detector (sonda), das radiações alfa e beta (partículas). A curva assim

registrada, em relação à profundidade, é denominada de Raios Gama ou,

simplesmente, RG ou GR.

Atualmente existem dois tipos de ferramentas de Gamma Ray: aquelas com

um só canal analisador da altura do pulso (que por essa razão não discrimina

individualmente cada um dos elementos detectados, mas sim o somatório deles:

U+Th+K) e aquelas com multicanais analisadores que conseguem identificar

isoladamente todo o espectro energético (U, Th e K, além da soma dos mesmos) e

aquelas com multicanais analisadores que conseguem identificar isoladamente todo

o espectro energético. São denominadas respectivamente, de perfil de Raios Gama

Convencional (RG ou GR), utilizado no presente trabalho, e Perfil Gama de

Espectrometria Natural ou Gama de Espectrometria.

Podemos dividir as rochas de acordo com sua radioatividade natural, em três

grupos distintos:

• Rochas altamente radioativas – folhelhos/argilas de águas profundas (formados por

lamas de radiolários e globigerinas), arenitos arcoseanos, folhelhos pretos

betuminosos, evaporitos potássicos (carnalita, silvinita, taquidrita etc) e algumas

rochas ígneo-metamórficas.

• Rochas medianamente radioativas – folhelhos e arenitos argilosos de águas rasas,

e carbonatos e dolomitos argilosos.

• Rochas de baixas radioatividades – grande maioria de carvões e evaporitos não

potássicos (halita, anidrita, gipsita etc), carbonatos e dolomitos.

Pelo fato de os folhelhos apresentarem alto teor de K40, esse perfil é usado na

discriminação entre os folhelhos e as rochas não argilosas, ressalvadas possíveis

condições de enriquecimento por outros minerais radioativos (Césio, Polônio, Irídio

etc.). Vários são os fatores, extra litológia ou radioatividade, que afetam os

resultados apresentados por um perfil de Raios Gama. O bom intérprete deve

conhecê-los para realizar análises realistas.

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6.1.2. Interpretação do método

Por convenção esta curva é sempre apresentada na primeira faixa, à

esquerda da estreita coluna das profundidades, sempre com a radioatividade

crescendo da esquerda para a direita. . A escala padrão é de 0 a 150 UAPI ou GAPI,

podendo ser modificada, a depender do background de radioatividade da área

estudada.

Desde que abrangendo uma mesma formação, ambiente deposicional etc,

inicia-se a interpretação quantitativa definindo-se uma linha de base defronte aos

folhelhos (LBF), no intervalo a analisar. Esta linha deve representar a média dos

valores máximos dos folhelhos, vez que a radioatividade é um evento estatístico.

Os seguintes passos devem ser adotados para se calcular o teor de argila em

uma determinada profundidade:

1. Calcular o IGR (Indice de radioatividade)

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37

2. Calcular o VSH de Stieber, 1970 (argilosidade não linear ou propriamente

dita)

6.1.3. Limites da Ferramenta

Relacionados as Litologias :

Mineralizações Eventuais (Urânio, Tório).

Arcósios (arenitos ricos em K feldspatos).

Conglomerados Policompostos, principalmente contendo clastos de folhelhos.

Relacionados à Operação:

Camadas Finas, pois sofrem maiores influências das camadas soto e

sobrepostas.

Diferentes tipos de detectores apresentam diferentes rendimentos, de todos o

cintilometro se sobre sai com seu rendimento de 50%-60%.

Excentralização da Ferramenta.

Presença de Revestimentos de Aço, que interfere na captação da

radioatividade.

6.2. Perfis de Resistividade

6.2.1. SP (Potencial Espontâneo)

O perfil do Potencial Espontâneo nada mais é do que o registro de pequenas

diferenças de potencial (milivolt) desenvolvidas em um poço, ao nível dos contatos

entre o filtrado e as águas das formações. Temos dois processos eletrocineticos e

eletroquímico, que tem grande influencia nesse perfil, são eles, potencial de junção

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38

de liquido, relacionado a difusão de íons que ocorre na interface entre duas soluções

distintas, e potencial de membrana, que se forma na interface arenito/folhelho .

6.2.2. Principio da curva SP

O SP = i.rm nada mais é do que uma fração do SSP = Em + Ej, o primeiro

mede o potencial que ocorre dentro do poço (Lama/ água da formação), enquanto

que o segundo incorpora em sua medição todo o sistema composto por Rm (lama),

Rxo (zona invadida), Ro (rocha + agua), e Rsh (folhelho) . O comportamento da

curva SP tem competência para caracterizar a água do reservatório em relação à

água da lama, quando a curva se desloca a direita da LBF (Linha base dos

folhelhos, considerada marco zero) significa que a água da formação é mais doce

que a água do poço, quando a mesma se desloca para a esquerda a água da

formação é mais salgada que a água do poço (figura 9).

Figura 9: Esquema das correntes geradas dentro da rocha e entre os fluidos, a esquerda o comportamento da curva SP quando a água da formação é mais doce que a lama. FONTE:

Notas de aula do Prof. Geraldo Girão Nery.

6.2.3. Limites da ferramenta SP

Camada com espessura < 5m; Poço com lama a base de óleo; Poço com

lama a base de água com alta salinidade (> 35.000 ppm); Camadas portadoras de

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39

hidrocarbonetos ; Camada altamente impermeável; Camada com Rmf = Rw Poço

desmoronado; Camada argilosa

6.2.4. Galvânicos ou de Contato

A condução da corrente elétrica de uma substância qualquer é definida pela

Lei experimental de Ohm, que estabelece o relacionamento linear entre os vetores

colineares da densidade da corrente (J), em um ponto qualquer do condutor, e o

campo elétrico (ε), naquele mesmo ponto. A constante de proporcionalidade (σ) é

denominada de condutividade dessa substância e a ela é específica.

6.2.5. Principio da Ferramenta SFL (Galvânico)

Neste trabalho iremos focar no principio do método SFL (Spherical Focused

Log) pelo fato de ter sido ela utilizado nas perfilagens do campo Bela Vista. O SFL

foi um arranjo desenvolvido com o objetivo principal de substituir a SN (normal curta)

dos antigos perfis elétricos, tendo como vantagem principal em relação ao seu

predecessor o fato de ser uma ferramenta focalizada, ou seja, seu campo elétrico

sofria pouca influência das camadas soto e sobrepostas, se comparado com a SN.

Trata-se de uma curva com baixa profundidade de investigação, ou seja, tinha

o objetivo de ler a zona invadida Rxo. Por razões de ineficiência nessas leituras, que

por diversas vezes se liam o Rxo + Rt, foram criados perfis micro esféricos

focalizados(MSFL), que apresentavam penetração bastante rasa, passando a

mapear o verdadeiro Rxo com pouca influência de Rt (zona virgem).

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40

6.2.6. Interpretação do perfil

Quando utilizado o SFL juntamente com uma curva de indução, ou outro

qualquer que tenha grande profundidade de investigação, serve para analise da

permeabilidade qualitativa das camadas.

A figura 10 mostra um comportamento típico de reservatório arenítico, como

esperado a curva SFL(tipo A) segue o mesmo comportamento da curva ILD. A

pequena diferença em seus valores é resultado dos diferentes tipos de fluidos lidos

por cada ferramenta. Nesse caso especifico os altos valores na base do pacote são

derivados de diferenças de densidade dentro do reservatório, a base é menos

porosa que o topo.

Figura 10: Em destaque a resposta de um pacote arenitico (dentro do campo amarelo) na curvas SFL (vermelho pontilhado) e ILD(azul continuo). Intervalo 1448 – 1458m, poço BLV-1.

6.2.7. Limitações do SFL

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41

Como já visto anteriormente esse curva apresentava falhas na sua leitura, por

vezes lia-se a zona de transição junto com a zona invadida o que era prejudicial para

uma boa analise quantitativa.

Alem disso por ser um perfil elétrico galvânico há a necessidade de se usar

uma lama condutiva para que se possa fazer uma leitura apropriada. Torna – se

impossível, portanto a utilização em poços que usam lama a base de óleo, caso do

poço BLV4.

6.2.8. Curva de Indução

As ferramentas que usam eletrodos galvânicos (SN, LN e RLAT), necessitam

de meio condutivo (lama a base de água) para facilitar o acoplamento elétrico entre

os eletrodos e as rochas. Sendo assim estes métodos não podem ser usadas em

poços perfurados com lama condutiva (salgada, situação em que os eletrodos

entram em curto circuito) ou isolante (base de óleo, gás, ar ou água muito doce,

situação na qual as correntes não penetram totalmente nas rochas). Além do mais, o

campo elétrico sofre distorções, na dependência do contraste de resistividade entre

a lama e as rochas. Para sanar tais problemas foram criadas as ferramentas

indutivas, que alem de não dependerem de meio condutivo, trabalham com campo

eletromagnético, que não sofre distorções.

6.2.9. Princípio de Funcionamento da Ferramenta de Indução

Para facilitar o entendimento do princípio desta ferramenta usa-se um único

par de bobinas, ambas coaxiais ao eixo do poço, uma transmissora e uma receptora

(Figura11). Uma corrente alternada (CA), ao circular por uma bobina, produz em sua

volta um campo eletromagnético variável e de mesma freqüência, capaz de induzir,

em outra bobina dentro de sua zona de influência, uma voltagem também alternada

e de características iguais, porém em sentido oposto (defasada de 180º). Esta CA

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propaga-se eletromagneticamente dentro do meio com a velocidade das ondas de

rádio.

Figura 11: Principio da ferramenta de indução. Uma bobina transmissora no qual corre uma corrente (It), gera uma campo magnético (H1), o que induz uma campo elétrico (E) neste meio. Este campo elétrico gera uma corrente (J) de intensidade crescente com a condutividade do

meio (σ). Esta corrente no meio ,gera por sua vez, um campo magnético (H2), cujo o componente (H2)z induz uma voltagem ΔVr na bobina receptora. Retirado de Carvalho, (1993).

A magnitude do sinal na segunda bobina (receptora) está diretamente relacionada

aos seguintes aspectos:

1. A permeabilidade magnética do meio, através do qual se realiza a indução;

2. A potência da energia aplicada;

3. A quantidade de voltas e a distância entre suas espiras;

4. À distância e a posição entre as bobinas;

5. A direção ou sentido relativo entre ambas às bobinas.

Assim, caso a bobina energizada (transmissora) esteja dentro de um poço, a

CA gera um campo eletromagnético que por sua vez, varre radialmente tanto a lama

como as camadas situadas ao nível da bobina transmissora. Como as rochas

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43

sedimentares têm permoporosidades e, portanto, condições de reter soluções

eletrolíticas, elas constituem-se em bons condutores da corrente elétrica. Com

efeito, as camadas condutivas circundantes comportam-se como um circuito

secundário formado pelo somatório de várias espiras acopladas indutivamente à

transmissora.

As leis fundamentais do eletromagnetismo servem para um bom

entendimento do principio físico do perfil de indução, são: Lei de Ampere; a Lei de

Biot-Savat, equivalente à de Ampère, definida para condutores circulares ou

bobinas; a Lei de Faraday e a Lei de Lenz.

- Lei de Ampere: Definida para condutores lineares estabelece a associação entre

um campo magnético B gerado por um fluxo de corrente perpendicular ao mesmo

- Lei de Biot- Savat: Lei equivalente à de Ampère, definida para condutores

circulares ou bobinas, diz que um elemento dx de uma espira circular, localizado a

uma distância R , percorrido por uma corrente i fornece uma contribuição dB no

ponto P (somente o elemento dB em paralelo contribui escalarmente para o campo

total em P, vez que os elementos perpendiculares, apontam em todas as direções,

anulando-se por simetria.(Equação abaixo)

- Lei de Faraday: diz que todo campo magnético que corta um condutor induz no

mesmo uma corrente diretamente proporcional à razão da mudança do fluxo. Devido

a essa mudança do fluxo, a corrente induzida está defasada de 90o e tem sentido

contrário à corrente geradora.

- Lei de Lenz: Profere que “a FEM induzida devido a essa mudança de fluxo,

estará defasada de 90o da geradora e de sentido contrário”.

Expressa-se, resumidamente, a teoria de Doll como: VR = K.g., sendo K uma

constante dependente das características das bobinas transmissora e receptora, g

sendo, μo = 4π.10-7 Wb/A.m.

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um parâmetro que define espacialmente cada anel condutor presente de

condutividade do meio.

Consequentemente: VR/K = g.=1/R

A teoria do FG de Doll, com base no zoneamento fluido radial das camadas

permoporosas, pode ser usada para definir uma primeira aproximação da Rt,

considerando-se que cada zona radial tem um g específico, cujo somatório seja igual

a 100% da resposta ferramental (gm + gxo + gt + gs = 1).

Finalmente,

ou

As letras m, xo, t e s, representam respectivamente a lama, zona

lavada/invadida, zona virgem e camada sobre e/ou sotoposta e g representa a

fração contribuída por cada uma das zonas respectivas, fator geométrico.

Ao se usar uma lama não condutiva (a base de água doce, petróleo, gás ou

ar) cuja condutividade tende a zero, os dois primeiros termos da equação (gm.σm +

gxo.σxo) também tenderão a zero. Sendo a espessura da camada maior que à

distância que separa as duas bobinas principais (40 pol.), o termo (gs.σs) também

se anula, ou seja, a condutividade registrada no perfil será igual à condutividade

verdadeira da zona virgem (σIL= gt.σt). A inversão da σIL resultará na RIL.

Sobre a resposta final do perfil σiL incidem diferentes efeitos:

a) Poço (tipo e volume da lama) – σm.gm

Eq. 1

Eq. 2

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45

b) Invasão (diâmetro e Rxo) – σxo.gxo

c) Espessura da camada – σs.gs

d) Eventualmente poderá ocorrer erro ferramental

6.2.10. Interpretação das Curvas Elétricos (SFLA e ILD)

As curvas elétricas, galvânicos e de indução estão normalmente localizados

na segunda pista. A curva SFL (Galvânico) e ILD (Indução) lêem respectivamente os

valores de Rxo (zona invadida) e Rt (zona virgem). A partir desses perfis é possível

fazer uma analise acerca de características permoporosas do litotipo, alem de

indicar a presença de hidrocarboneto ou água doce e água salgada. Abaixo a figura

12 mostra um exemplo em que a separação das curvas é visível, indicando fluidos

bem diferentes nas zonas lavada e virgem. A deflexão da curva SP indica que a

água da formação é mais salgada que a água do poço.

Figura 12:: Perfil mostrando a separação visível das curvas SFLA e ILD. A zona em amarelo representa o pacote arenítico, tambem evidente na curva GR. Intervalo 1580 – 1589m, poço

BLV-1.

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46

É importante ressaltar que apesar de os perfis lerem valores diferentes, as

curvas tendem a seguir o mesmo comportamento, isso advém do fato de ambas as

leituras serem feitas na mesma litologia, estando susceptíveis a outras propriedades

inerentes a ela.

6.2.11. Limites da Ferramenta

Uma das principais limitações do uso deste tipo de perfil é observada nos

poços perfurados com lamas muito salgadas ou que apresentem uma invasão muito

profunda, quando (a exemplo dos perfis elétricos) não será possível se obter a

resistividade verdadeira (Rt) da camada e sim da zona invadida pelo filtrado (Rxo).

Além do mais, este tipo de perfil se torna um tanto quanto impreciso nas rochas de

baixíssimas condutividades (ou altíssimas resistividades), por serem elas

eletricamente ineficientes (tão isolantes quanto o ar). Rochas com 50 Ω.m ou mais

de resistividade, não são satisfatoriamente quantificadas sendo, portanto,

recomendável o uso do Indução em camadas um pouco menos resistivas.

6.3. Curva de Densidade Compensada (ROHB)

Este perfil registra continuamente as variações das densidades das camadas

com a profundidade. Existe uma relação entre a participação volumétrica de cada

elemento constituinte e a densidade total da rocha ("bulk density" = ρB). A medida

da densidade é realizada pelo “bombardeio” das camadas por um feixe

monoenergético (0,667 MeV) de raios gama. Para que isso seja possível, a

ferramenta dispõe de um patim metálico com uso de uma fonte radioativa (Cs137),

direcionada e pressionada contra a parede do poço. Dois detectores, posicionados à

distância fixas registram a contagem de fótons influenciados pelo reboco (um perto)

e outro pela formação (o mais distante da fonte). Um braço articulado (“back up”)

registra o cáliper para fins de facilitar o entendimento da qualidade da leitura.

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6.3.1. Princípio da curva Densidade (ROHB)

Por definição, densidade eletrônica (ρe) é a quantidade de elétrons por

volume investigado. Partindo-se de noções da química, na qual entram a constante

de Avogadro (6,02x átomos/átomo-grama), o número atômico Z (no. de prótons

ou elétrons/átomo-grama), a massa atômica A (no. de grama/átomo-grama) e a

densidade ρB (g/ ). A tabela 4 mostra as densidades de laboratório e eletrônica

para as rochas sedimentares mais comuns.

A ferramenta trabalha da seguinte maneira. Um feixe monoenergético de raios

gama, de intensidade fixa, ao sair da fonte, choca-se sucessivamente com os

elétrons da formação, pelo o efeito Compton. À proporção que os raios gama vão se

dispersando, ou sendo absorvidos, a intensidade do feixe inicial diminui. Esta

diminuição de intensidade, em função da mudança na densidade eletrônica do meio,

a qual é medida pelo detector. Assim, quanto mais densa for a rocha menor a

intensidade da radiação no detector, e vice-versa.

Estudos indicam que o erro entre as medidas realizadas em laboratório e

aquelas obtidas pela ferramenta, para as litologias sedimentares mais comuns,

compostas por sílica, carbonato e dolomita, podem ser considerados como

inexpressíveis, de modo que a densidade em elétrons por volume de material (e)

seja proporcional a sua densidade verdadeira (B)::

ρe = C.ρB

sendo que

C = 2( )

Para a maioria dos elementos componentes das rochas sedimentares a quantidade

2( ), com alto grau de aproximação é igual a uma unidade.

O que faz com que: ρe = ρB

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Como o efeito Compton é diretamente proporcional ao número de elétrons por

unidade de volume de material (portanto densidade eletrônica) e como o número de

elétrons por unidade de volume é proporcional à densidade (massa/volume) das

formações, deduz-se que este perfil responde diretamente à densidade da formação

e inversamente à sua porosidade.

A tabela 2 mostra as densidades de laboratório (ρB) e eletrônica (ρe) para as

rochas sedimentares mais comuns. A coluna ρDensidade mostra os valores obtidos

pela ferramenta, por meio de um algorítimo de calibração.

Tabela 2: Valores comparativos entre as densidades de laboratório (ρB), eletrônica (ρe) e a registrada pelo perfil de densidade.Retirado de Schlunberguer

6.3.2. Interpretação da Curva Densidade (RHOB)

A curva ρB normalmente está localizada na terceira pista, quase

sempre acompanhada da curva de porosidade Neutrônica (NPHI) para fins de

comparação de valores calculados e identificação de fluidos, dado as

diferentes abordagens radioativas das duas ferramentas. A escala dessa

curva vai de 2 ate 3 g/ , sendo o valor de 2,65g/ considerado 0% de

porosidade, quando se trata de arenito. A partir desse ponto o valores de

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porosidade aumentam para a esquerda e diminuem para direita. Usa-se a

linha que passa a 2,5g , imputando-lhe porosidade igual a 9%, como cut

off, ou valor poroso limitante de comerciabilidade para a maioria dos

reservatórios. (Figura 13)

Figura 13: Perfil Densidade x Neutrônico. A linha marrom indica o cut off, nesse caso cada quadrado equivale a uma variação de 6% de porosidade. A seta azul indica valor de 15% de

porosidade. Intervalo 1663 – 1673m, poço BLV-5

A equação que rege o perfil pode ser obtida pela lei das misturas, onde

a densidade (ρB) é a soma do produto porosidade x densidade do fluido e a

diferença (1-porosidade) x densidade da matriz da rocha:

B = f + (1-)m

Donde, isolando-se a porosidade , obtém-se uma equação para a sua

quantificação:

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50

6.3.3. Limites da Ferramenta

O problema mais significativo a ser considerado nas leituras deste perfil é o

provocado pela presença da lama e/ou reboco, defronte às camadas permeáveis. Os

fótons, na saída da fonte, interagem com os elétrons da lama (e/ou reboco). Alguns

dispersam e não retornam ao poço onde estão os detectores, diminuindo a

intensidade do feixe inicial, mesmo antes de penetrar nas camadas. A idéia de

eliminar este problema está fundamentada nos mesmos princípios dos perfis

elétricos - uso de diferentes espaçamentos entre sensores para a obtenção de

diferentes profundidades de investigação. Quando o reboco for mais leve que a

formação (lamas normais), a curva ΔρB (na terceira faixa do perfil) deverá mostrará

valores positivos de leitura. Quando o reboco for mais pesado do que a formação,

ΔρB será negativa (antigamente lamas à base de baritina causavam um problema à

parte por causa da grande capacidade de absorção do Bário). Anomalias de tais

comportamentos devem ser analisadas, inclusive, falha ferramental ou intensos

desmoronamentos.

Os hidrocarbonetos, principalmente os mais leves, provocam uma diminuição

na densidade total da rocha por unidade de volume, causada pela presença de um

fluido mais leve que a água que se usou para cálculo da porosidade (ver equação

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51

acima). Esse efeito é particulamente melhor observado quando se tem gás no

reservatório.

Outro problema a ser considerado é o da argilosidade. A argila afeta as

leituras do perfil de Densidade, porquanto mais leve, ou menos densa, por unidade

de volume (dado o excesso de água), tenderá também a diminuir o valor de ρB.

Corrige-se as porosidades do RHOB pelo efeito VSH (ФDC) como:

ФDC = ФD - VSH. ФDSH

sendo, ФD determinada conforme a equação acima, VSH calculado com um

indicador não linear e ФDSH a porosidade aparente dos folhelhos adjacentes,

calculada como se tivesse igual matriz com as rochas estudadas.

Os efeitos da presença de argila e de hidrocarbonetos sobre as leituras do

RHOB são corrigidos na interpretação quantitativa final, com o uso de 2 ou 3 perfis

de porosidade (densidade, sônico e neutrônico).

6.4. Curva Neutrônica (NPHI)

Os nêutrons são partículas (Raios Gama são energia) destituídas de carga

elétrica. Sendo neutras elas podem penetrar profundamente na matéria, interagindo

elástica ou inelasticamente com os núcleos dos elementos que compõem as rochas.

O perfil de Raios Gama consiste no registro da radioatividade natural das rochas. Os

perfis neutrônicos medem uma radioatividade induzida artificialmente, por meio de

bombardeio das rochas com nêutrons de alta energia ou velocidade.

Os nêutrons interagem com os núcleos dos elementos componentes da

matéria de três modos: (a) absorção, captura ou ainda reação (acompanha de

emissão imediata de prótons ou partículas alfa); (b) espalhamento elástico (o

nêutron muda de direção e transfere parte de sua energia cinética para o núcleo

atingido) e, (c) espalhamento inelástico (a energia cinética não é conservada porque

o núcleo atingido é deixado em estado excitado).

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A probabilidade de ocorrência de cada uma destas interações depende do nível de

energia do nêutron incidente e da natureza do núcleo envolvido no choque. Por

outro lado, a velocidade com que uma reação nuclear se desenvolve, em um

determinado material, depende do número e da energia do nêutron incidente e do

número e tipo do núcleo envolvido.

6.4.1. Principios da Ferramenta Neutrônica (NPHI)

As ferramentas neutrônicas são constituídas por uma fonte de nêutrons e de

dois detectores. Os nêutrons rápidos, emitidos pela fonte, bombardeiam as camadas

adjacentes ao poço, onde sucessivas e múltiplas colisões elásticas com os átomos

do meio fazem com que os nêutrons percam parte da energia com que foram

lançados. Esta perda de energia depende da massa relativa (ou seção eficaz) do

núcleo colidido. Verifica-se que as maiores perdas ocorrem justamente quando os

nêutrons se chocam com núcleos de massa praticamente igual a sua, i.é., com

núcleos de hidrogênio, presentes livres na água e nos hidrocarbonetos, adsorvido às

argila e estruturalmente compondo alguns mineminerais.

A partir do momento em que os nêutrons atingem a velocidade e a energia

termal do meio (0,025 eV), eles difundem-se erraticamente, sem mais perda de

energia, até serem capturados por qualquer núcleo, não necessariamente

hidrogênio. O núcleo que o captura se torna excitado e emite raios gama de alta

energia, para retorno à estabilidade (E = mc2).

O nível energético (Figura 14) do fluxo de nêutron a ser detectado depende

também do tipo de ferramenta utilizada.

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Figura 14: Figura relaciona as ferramentas neutrônicas existentes com seus respectivos campos energéticos de atuação, em destaque. Modificado de www.geraldogirao.com.br.

6.4.2. Interpretação da Curva

De um modo geral, a curva da porosidade neutrônica (NPHI) está registrada

abrangendo as faixas 2 e/ou 3 crescendo da direita para a esquerda e acompanhada

da curva de densidade eletrônica (RHOB) em g/cm³. Sua escala varia, geralmente,

de -15 a 45, sendo expressa diretamente em valores de porosidade.

Desde que, geralmente, a ferramenta é calibrada em porosidades relativas a

calcário, há a necessidade de se realizar uma pequena correção (por meio de cartas

específicas), nos casos em que a litologia de estudo seja diferente da camada sob

análise.

Ao analisarmos arenitos e folhelhos com os perfis densidade e neutrônico,

nota-se um comportamento característico das curvas para cada uma desses

litotipos. Quando em presença de folhelhos a curva neutrônica se coloca a esquerda

da curva de densidade (figura 15). Pode ocorrer de o arenito ter conteúdo argiloso,

nesse caso quanto maior a quantidade de argila menor a separação das curvas se a

quantidade de argila for soberana dentro do pacote as curvas indicarão

comportamento de folhelho.

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Os perfis neutrônicos registram diretamente as porosidades das rochas, tanto

em poço aberto como em poço revestido, desde que as camadas estudadas sejam

portadoras de água.

Quando portadoras de gás ou hidrocarbonetos leves, ocorre uma diminuição

nas porosidades destes perfis, em relação ao Sônico e/ou Densidade. Isso ocorre

porque sob as mesmas condições de temperatura e pressão, e para um mesmo

volume investigado de rocha, a presença do gás, ou hidrocarboneto leve, por ser

expansivo, reduz a densidade de hidrogênio (concentração/volume), quando

comparada ao óleo ou água. Quanto mais leve o fluido, menor a quantidade de

hidrogênio na rocha. Assim, em uma zona com gás, a curva de Densidade ou o

Sônico, têm suas leituras de ρB e Δt aumentadas, enquanto que os Neutrônicos têm

seu índice ou densidade de hidrogênio diminuído. Este contraste entre as três

porosidades, obtidas por princípios físicos diferentes, é diagnóstico da presença de

hidrocarbonetos leves e/ou gás.

Em zonas de água e defronte a rochas limpas (VSH=0) as três porosidades

lêem aproximadamente iguais valores de porosidade, isto é, ΦS ≅ ΦD ≅ ΦN.

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Figura 15: Perfil Densidade x Neutrônico. Em destaque um pacote de arenito, em amarelo, balizado em cima e em baixo por pacotes de folhelho, em verde. Notam-se claramente as inversões sofridas pelas curvas Densidade e Neutrônica. No centro um pacote de arenito

saturado com água e porosidades ΦS ≅ ΦD ≅ ΦN. Intervalo de 1448 – 1458m, poço BLV-1.

No confronto Densidade x Neutrônico, uma zona argilosa (folhelho) terá ФN >

ФD, como visto na figura 16, efeito diametralmente oposto ao do gás.

6.4.3. Limites da Ferramenta

Diâmetro do poço; Lama/Reboco; Argilosidade; Hidrocarbonetos leves ou gás;

Altas porosidades e altas salinidades (presença de outros absorvedores).

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7. AVALIAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA DOS POÇOS 1-BLV-1-BA, 7-BLV-4-BA

E 7-BLV-5-BA

Este capitulo tem como finalidade descrever e comentar acerca dos intervalos

das formações Sergi e Água Grande, inclusos nos poços supracitados, focando

principalmente em suas características sedimentológicas. A descrição foi feita

cruzando dados obtidos na perfilagem com informações das amostras de calha, com

a intenção de fazê - la o mais completa possível.

Somente no poço 1-BLV-1-BA foram realizados os testes de formação,

sendo, por este motivo o único poço neste capitulo a apresentar tal descrição. Em

trechos em que o cáliper mostrou altas taxas de variação não se fizeram

ponderações quantitativas das curvas de resistividade, densidade, e neutrônico, pois

esses perfis não apresentariam valores confiáveis nesses intervalos. Quando se fez

necessário foram lidos e calculados, valores de porosidade, resistividade, e

radioatividade de alguns intervalos.

7.1. Poço 1-BLV-1-BA (Anexo I)

Neste poço a formação Água Grande apresentou topo na profundidade

1448m e base a 1458m de profundidade, no perfil, nas amostras de calha o topo foi

observado aos 1454m, portanto, 6m abaixo do identificado no perfil.

Esse pacote mostrou no perfil gama e SP, respostas típicas de litologias

limpas. O perfil de porosidade densidade (ROHB) mostra porosidade maior na

porção superior, com media de 15%, e menor na porção inferior do pacote, com

media de 9%,com o auxilio da curva de resistividade consegue - se bem definir

esses dois campos de porosidade.

Os arenitos, em calha, nesse intervalo são descritos como tendo

porcentagens em torno de 80%, composta de grãos grossos, sub-arredondados, mal

selecionados (fino/conglomeratico), matriz caolinitica, presença de cimento

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(calcitico). Foram obsevados indícios de hidrocarbonetos, fluorescência total, e corte

do tipo imediato/provocado, radial, com grau API variando de 25º a 30º.

O teste dessa formação indicou na circulação reversa lama cortada por óleo,

castanho escuro, e gás.

Possível topo da Fm. Sergi encontrado a 1495m (1506m na amostra de

calha), De 1495 – 1505m, os perfis de gama e SP indicam um pacote relativamente

limpo (suaves oscilações em ambas as curvas) sobrepondo-se a uma fina camada

de folhelho observada em todas as curvas, inclusive as de porosidade. Entre 1503 a

1505,4m enquanto o GR registra uma radioatividade um pouco menor do que o

intervalo superior, o SP sugere uma tendência a LBF, possivelmente devido a uma

quantidade maior de cimento carbonática ocasionando um maior valor de RHOB e

um efeito matricial na NPHI. O perfil de densidade mostra que dentro desse intervalo

há variações da ordem de 9%, calculando a porosidade média do reservatório

chegamos ao valor de 10,2%.

Nota-se, igualmente, uma visível discrepância no comportamento das curvas

de resistividade e densidade, entre o intervalo 1495 – 1502m e o intervalo de 1503 –

1505m. Percebe-se que no intervalo de menor espessura as resistividades têm

valores maiores e a curva densidade indicam valores menores em relação ao pacote

sobreposto, intervalo 1495 – 1502m. Como há uma leve diferença no GR entre

esses dois intervalos pode-se supor que tal comportamento resistivo e da densidade

advenha de uma cimentação mais marcante no pacote inferior, derivado da

diagênese. Outra hipótese para estas observações pode ser evidenciada nos dois

Cáliperes corridos onde a tendência à LBF da curva do SP mostra um maior

desmoronamento que o intervalo superior, o que poderia sinalizar um percentual

maior de argilomineral não caolinítico (Ilita: m = 2,76 e 0,5% de H; Clorita: m =

2,77 e 1,2% de H, enquanto a caulinita: m = 2,67 e 1,5% de H). A ausência de

perfis específicos para a definição de argilominerais leva a especulação.

Neste intervalo, como um todo, as amostras de calha indicam um pacote de

arenito cinza, sub - arredondado, mal selecionados, de matriz caolinitica, com

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cimento calcitico, e indícios de hidrocarbonetos, com corte do tipo

imediato/provocado, radial, e fluorescência.

De 1505 – 1581m (no perfil), percebemos no gama que este intervalo

apresenta radioatividade relativamente baixa,sendo cortado por corpos com altos

valores de radioatividade (alto UAPI). A porosidade média calculada do intervalo é

de 9,54%, valores máximos e mínimos de 16% e 3%, respectivamente.

As descrições das amostras de calha deste intervalo indicam litologias

bastante variáveis, com porcentagens de 90% de folhelho em alguns trechos e de

70% a 60% de arenito em outros intervalos, nos pontos onde há predominância de

arenito estes apresentam coloração cinza, são grossos, com grãos sub-

arredondados, mal selecionados (fino/conglomeratico), tem matriz caolinitica, e por

vezes cimentados. Todos apresentam indícios de hidrocarbonetos, com

fluorescência do tipo total, esparsa e pontual, com cortes do tipo imediato e

provocado. Os pontos em que folhelhos são dominantes eles apresentam cor cinza

esverdeado, são micáceos, de estrutura laminar, semiduro, sílticos. A partir da

profundidade de 1567m, aproximadamente, começou-se a encontrar folhelhos

variegados nas amostras de calha.

No intervalo de 1581 – 1592m (no perfil) observa-se um pacote com valores

relativamente baixos no GR, com uma mais alta radioatividade na base. As curvas

de resistividade mostram comportamento influenciado por variações de porosidade

dentro do trecho mais arenoso. O intervalo tem uma porosidade média calculada de

11%, valores máximos e mínimos de 13% e 7%, respectivamente.

As amostras de calha caracterizam este arenito de percentagem 80% como

sendo de cor avermelhada, granulometria grossa, sub-arredondado, mal selecionado

(fino/conglomeratico), quartzoso, tem matriz caolinitica, apresentam cimentação

(calcitica), estes arenitos mostram-se raramente manchados de HCs, sem

florescência, têm corte imediato/moderado, que ocorre de modo radial. O folhelho

acima citado se caracteriza por ser variegado, micaceo, de estrutura laminar,

calcitico, e semi-duro.

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De 1592 - até o fim do poço (no perfil) tanto o gama quanto o RHOB X NPHI

lêem um espesso pacote de folhelho. A partir de 1603m de profundidade na amostra

de calha os folhelhos são descritos como sendo avermelhada, tonalidade tijolo,

micaceos, e de estrutura laminar, semi-duro, a passagem de folhelhos variegados

para avermelhados se da na profundidade aproximada de 1600m, tal mudança deve

indicar a base da formação Sergi e o topo da formação Aliança.

O teste dessa formação indicou lama cortada por óleo, preto, viscoso.

Óleo=22%

7.2. Poço 7-BLV-4-BA (Anexo II)

No intervalo que compreende de 1574 a 1585m, notamos um comportamento

geral interessante na curva GR, picos negativos cada vez menores, da base para o

topo, exibindo padrão cíclico. As curvas ROHB x NPHI confirmam que somente duas

desses corpos de baixo GAPI são de fato arenitos. As descrições das amostras de

calha apontam a mesma tendência geral nesse intervalo, pacotes mais arenosos na

base gradualmente se tornando mais argilosos em direção ao topo, no entanto as

descrições se mostram incompletas, visto que nem todos os corpos que apresentam

baixa radioatividade, lidas nos perfis, foram confirmadas nas amostras de calha.

De 1583-1585m (topo 1578m na amostra de calha), temos a Formação Água

Grande, bem representada nos perfis. Na curva GR o pacote Água Grande é

expresso como uma valores de baixa radioatividade, com cerca de 2m de

espessura. Nesse intervalo são observados altos valores de resistividade, com ILD

acima de 10 ohm.m, as curvas densidade x neutrônico confirmam que se trata de

um pacote arenítico, esse pacote tem porosidade media calculada de 3% com

máxima estimada em 5% e mínima em 2%.

Nesse intervalo as descrições das amostras de calha mostram um arenito

80%, cinza, com granulometria grossa (fina/media), sub-arredondado, regulamente

selecionado, com matriz caolinitica, porosidade regular, não se tem informações a

respeito de indícios de hidrocarboneto.

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Nas descrições feitas em amostras de calha não foi encontrada a Fm. Sergi,

os perfis também não apresentaram resposta que indicasse essa Formação

observou-se tanto nos perfis quanto nas amostras de calha a Fm. Itaparica em

contato com Fm. Aliança. A presença de folhelhos vermelhos foi utilizada como

marcador do topo da Fm. Aliança (Mb. Capianga), visto que em nenhuma das curvas

foi possível a discriminação entre os folhelhos da Fm. Itaparica e do Membro

Capianga .O contato entre as Formações Itaparica e Aliança ocorre a cerca de

1590m de profundidade, inferido através de dados amostra de calha (não confiável).

A ausência da Fm. Sergi indica a existência de uma falha.

7.3. Poço 7-BLV-5-BA (Anexo III)

No intervalo de 1595-1599m (Fm. Água Grande), no perfil, e com topo a

1592m (amostra de calha). As respostas de baixa radioatividade no GR são

confirmadas como arenitos pouco espessos nas curvas RHOB x NPHI (LS), onde a

camada na base da formação tem teor de argila superior ao da camada sobreposta

a ela. De acordo com os valores de RHOB, calcularam-se porosidades máximas e

mínimas de 8% e 1%, e média de 4,5% para o corpo arenítico deste intervalo.

As descrições das amostras de calha, neste intervalo, temos um arenito

100%, esbranquiçado, de granulometria muito fina, grãos sub-arredondados, de

seleção regular, matriz argilosa, porosidade fechada.

Partindo da profundidade 1615m, base da Fm. Itaparica, indo até a

profundidade de 1640m, notam-se diversos pacotes de arenitos intercalados com

folhelhos, estes pacotes são bem identificados nos perfis, sendo também possível

seu reconhecimento nas amostras de calha. Apesar de serem encontrados diversos

corpos com valores negativos, no GR, a curva ROHB x NPHI confirma que apenas

dois destes caracterizam-se como camadas areníticas de fato.

Essas camadas arenosas têm de 1 a 3m de espessura, são compostas por

arenitos brancos, finos em sua maioria, sub-arredondados, seleção boa ou regular,

porosidade variando de regular a fechada.

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Com base nos dados perfil gama x amostra de calha o topo da Fm. Sergi,

neste poço, estaria na profundidade de 1641m no perfil, e a 1663 m nas amostras de

calha (marcação não confiável).

No intervalo 1641-1654,5m nota-se um comportamento interessante do GR:

da base para o topo, com a ocorrência de uma granocrescência ascendente,

indicando corpos menos argilosos no topo do que na base. Por outro lado, enquanto

na base a resistividade aumenta ocasionada pela baixa porosidade, no topo ocorre o

contrário. A diminuição da resistividade está relacionada com uma porosidade mais

alta e com a presença de água. Aparentemente este comportamento se inverte no

intervalo 1663-1673,5m. A porosidade media calculada para o primeiro intervalo é de

11,3%, com valores máximos e mínimos de 14% e 6%, respectivamente.

As descrições das amostras de calha referentes a este intervalo revelam que

os arenitos têm porcentagens variando de 80% a 100%, pontualmente foi

encontrado arenito 40% (lamitos), na parte superior do pacote temos arenitos

brancos, de granulometria fina, sub-arredondados, com porosidade regular/boa, de

matriz argilosa, de estrutura maciça, porosidade variando de regular a fechada por

vezes manchados de Hidrocarbonetos, no entanto não foi realizado teste de flúor ou

corte. Na parte inferior os arenitos se diferenciam apenas por serem mais grossos.

No intervalo que compreende de 1650 – 1662m observa-se valores altos

(folhelhos) no GR, as maiores com espessura de 2m enquanto que as menores tem

espessuras de aproximadamente 1m o único perfil de resistividade disponível nesse

poço exibe, nesse trecho, um comportamento em parábola, dentro da qual observa-

se pequenas variações. De 1650 – 1655m destacam-se dois corpos com altos

valores no GR, e que as curvas RHOB x NPHI confirmam se tratar de pacotes

areníticos, possivelmente muito argilosos. A porosidade media calculada nesse

intervalo é 6%, com valores máximos e mínimos de 9% e 3%, respectivamente.

Dentro desse intervalo identificam-se também arenitos avermelhados de

granulometria grossa, subarredondados, com seleção regular. No intervalo de 1650 -

1655m, as amostras de calha identificam arenito 40% e 100% , de granulometria

grossa, subarredondada, e seleção regular.

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De 1663 m até o fim do poço o GR baixo mostra-se típico de litologia limpa,

com um pequeno corpo argiloso na base, apenas uma pontual valor alto de GR. A

curva ILD até a profundidade de 1674m, apresenta valores baixos em torno de 1

ohm.m, indicativo de água. A curva RHOB calcula nesse intervalo porosidade média

15%, com valores máximos e mínimos de 16% e 6%, respectivamente.

As descrições das amostras de calha deste ultimo intervalo revelam um

intervalo principalmente arenítico, que muito se assemelham aos arenitos do

intervalo anteriormente descrito.

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8. INTERPRETAÇÃO DOS AMBIENTES DEPOSICIONAIS DAS FORMAÇÕES

AGUA GRANDE E SERGI.

Este capitulo visa analisar as formações Água Grande e Sergi para se tentar definir

seus ambientes deposicionais. As respostas obtidas nos perfis geofísicos e as

informações retiradas das amostras de calha, apresentadas no capitulo anterior,

foram de suma importância na realização deste capitulo. Toda a interpretação aqui

feita levou em conta não somente as dados adquiridos dos poços, mas também

trabalhos, anteriores a este, relacionados a essas formações, e também localizados

na porção nordeste da bacia do Recôncavo.

8.1. Analise do poço 1-BLV-1-BA

Neste poço a formação Água Grande apresenta uma espessura aproximada

de 10 m, e seu topo se encontra na profundidade de 1448m, lida no perfil. A curva

GR indica um pacote limpo, de baixa radioatividade, e homogêneo. Essa resposta foi

interpretada como sendo causada por um processo intempérico, posterior a

deposição, no qual o potássio do argilomineral original entrou em solução e foi

retirado, dando origem a um novo argilomineral caulinita, e por esse motivo no caso

especifico desse pacote a curva GR se mostrou ineficaz na distinção de fácies. As

curvas de resistividade e densidade detectam diferenças na porosidade dentro

dessa formação. A partir da profundidade de 1453m as curvas de resistividade

juntamente com a curva densidade apontam para um fechamento do pacote, ou

seja, diminuição da porosidade.

Essa variação na porosidade pode estar relacionada com um efeito maior de

processos diagenéticos, tal como cimentação, na base em relação ao topo. Uma

possibilidade seria a existência de dois ambientes nesse pacote, um ambiente fluvial

na base, e que passaria a um ambiente eólico em direção ao topo (figura 16), é

sabido que o sedimento fluvial favorece a um processo diagenético mais intenso, o

que resultaria numa maior cimentação e diminuição da porosidade total.

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O autor deste trabalho entende que este é o modelo mais provável para a

formação Água Grande neste poço.

Figura 16: Perfil do poço BLV1, em destaque a formação Água Grande subdividida em sua facie eólica (vermelho), e sua facie fluvial (amarelo). Intervalo 1448 – 1458m, poço BLV-1.

A formação Sergi (figura 17) aqui apresenta espessura de aproximadamente

97m e topo na profundidade 1495m, lida no perfil. Com base nas leituras das curvas

RHOBx NPHI é possível notar a presença de 5 pacotes areníticos dentro da

formação, intercalados com pacotes de folhelhos de espessuras variáveis, descarta-

se, nesse caso, a possibilidade de interação com um sistema lacustre tendo em vista

que as intercalações são aleatórias, não havendo portanto o reconhecimento de

padrões que indiquem a interface fluvio-lacustre. A curva GR por vezes mostrou

picos de alto valor, característicos de folhelho, e que são apontados como sendo,

arenitos argilosos ou lamitos arenosos, pelas curvas ROHB x NPHI.

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Um possível modelo deposicional para a Fm. Sergi nesse poço a definiria

como um sistema Fluvial entrelaçado, onde as intercalações de lamitos e folhelhos

seriam canais abandonados formados devido ao deslocamento lateral do rio. As

altas porosidades encontradas em alguns pacotes areníticos podem indicar um

retrabalhamento eólico dentro do sistema, o que estaria de acordo o modelo

proposto.

Figura 17: Perfil do poço BLV1, em destaque a formação Sergi, topo indicado.

8.2. Analise do poço 7-BLV-4-BA

Neste poço não se encontrou a formação Sergi, sendo assim, a formação

Itaparica encontra-se em contato direto com a formação Aliança (Mb. Capianga).

A formação Água Grande se resume a um pacote de apenas 3m de

espessura, com topo na profundidade de 1583m, lida no perfil. As respostas dos

perfis GR, RHOB e a descrição da calha nesse pacote, levaram-nos a propor um

modelo de ambiente fluvial. Percebe-se na curva GR deste poço uma evidente

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interação entre os ambientes lacustre da formação Candeias e o ambiente fluvial da

formação Água Grande, da base para o topo no perfil observa-se uma presença

cada vez mais dominante do ambiente lacustre sobre o fluvial, e que culmina na

extinção do ultimo.

É importante de se ressaltar o valor anormalmente baixo, para um litotipo

fluvial, na radioatividade do Água Grande. Tal fato pode ser explicado pela alta

quantidade de caolinita (argilomineral sem K na estrutura) nesse trecho, indicando

que houve alteração dos argilominerais ricos em K, e posterior remobilização desse

elemento.

Um possível modelo deposicional a ser estabelecido seria um sistema fluvio-

lacustre, onde especificamente nesse caso o sistema Lacustre (Fm. Candeias)

estaria ´´afogando``, ou seja, transgredindo sobre os depósitos fluviais da Fm. Água

Grande (figura 18).

Figura 18: O perfil mostra relação entre o folhelho Candeias e o arenito Água Grande (Retângulo amarelo). Poço BLV-4, intervalo 1570-1590m.

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8.3. Analise do poço 7-BLV-5-BA

A formação Água Grande neste poço possui uma espessura de

aproximadamente 3m e tem topo na profundidade 1595m, lida no perfil. Numa

analise mais completa das curvas GR e ROHB x NPHI percebe-se que dentro do

intervalo destacado entre 1595m e 1598m somente um dos valores de baixa

radioatividade se confirma como um pacote arenítico propriamente dito, sendo a

outro corpo identificado como um lamito arenoso.

Podemos estabelecer como possível interpretação ambiental, para este

trecho da Fm. Água Grande, um modelo fluvial, onde o mesmo apresenta contato

gradual com a formação sotoposta, havendo assoreamento progressivo da Fm.

Itaparica, e exibe contato abrupto com a formação sobreposta (Mb. Tauá), muito

provavelmente do tipo erosivo (figura 19).

Figura 19: Perfil indicando contatos erosivo no topo e gradacional na base da formação Agua Grande, em destaque. Poço BLV-5, intervalo 1550-1650m.

A formação Sergi (figura 20) aqui possui espessura superior a 35m, e topo na

profundidade de 1640m, lida no perfil. A variação faciológica dessa formação é

bastante perceptível nas curva de GR, ROHB x NPHI e Indução. Assim como no

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caso do poço BLV1 aqui essa formação é interpretada como sistema fluvial

meandrante / entrelaçado associado a um possível retrabalhamento eólico.

Figura 20: Perfil do poço BLV5, em destaque o topo da formação Sergi.

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9. CONCLUSÕES

Através do estudo dos perfis e da criação das seções geológicas, entre os

poços, foi possível extrair algumas conclusões, são elas:

As seções geológicas confirmaram geometria tabular dos reservatórios Sergi

e Água Grande, sendo que no ultimo caso observou-se intercalações de folhelhos

nas porções mais a leste, além de uma diminuição significativa de espessura da

mesma.

Com relação à formação Sergi, no poço BLV5 somente a parte superior do

mesmo esta representada, isso ocorreu devido a uma interrupção da perfilagem por

motivo desconhecido. No entanto o parte perfilada do Sergi neste poço é

perfeitamente correlacionável com o Sergi no poço BLV1, o qual se encontra

completo.

.

As variações das curvas de porosidades observadas nos perfis indicariam um

possível retrabalhamento eólico nos arenitos da formação Sergi, no poço BLV1 e

BLV5 e Água Grande no poço BLV1.

A análise das seções e informações adicionais das pastas de poço indicou

também a presença de duas falhas locais com caimento para S/SW (Anexos IV, V, e

VI), sendo uma delas a responsável por obliterar a formação Sergi no poço BLV4.

Numa analise qualitativa e qualitativa dos perfis nos reservatórios Sergi e

Água Grande, constatou-se o seguinte:

No poço BLV1 os perfis densidade e neutrônico, juntamente com leituras

de resistividade (valores altos) indicaram uma possível presença de óleo

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nos reservatórios Água Grande e Sergi (Porção superior), confirmada nos

testes de formação. O SP indicou a presença de água Salgada em todos

os reservatórios.

O poço BLV4 foi considerado ineficaz na acumulação de HC por ser muito

fechado, baixa porosidade.

No poço BLV5 a analise dos perfis densidade e neutrônico, juntamente

com leituras de resistividade, valores baixos na Fm. Sergi, confirmaram

que nessa formação não foi encontrado indícios de óleo na descrição. Na

formação Água Grande foi feito o calculo de saturação aproximada (não

levou em consideração o VSH), o Sw mostrou um valor aproximado de

90%. O alto valor de Sw juntamente com as baixas porosidades,

encontradas nesse intervalo, atestou a incapacidade do pacote como

reservatório, o que foi confirmado no relatório de acompanhamento do

poço.

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10. REFERÊNCIAS

BRUHN, C.H.L.; De ROS, L.F. Formação Sergi: evolução dos conceitos e tendências na geologia dos reservatórios. 1987. Boletim de Geociências da Petrobrás. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p. 25-40.

CORTEZ, M.M.M. Analise geoestatistica da geometria externa dos reservatórios fluvial e eólicos da Formação Água Grande área central da bacia do Recôncavo. 1996. f 104. Dissertação (mestrado) - Instituto de Geociências, Universidade Federal de Campinas, Campinas, SP, 1996. DE BONA, J. Caracterização dos argilominerais da formação Sergi, Bacia do Reconcavo, Brasil. 2004. 93 f. TFG (Graduação) - Instituto de Geociências, Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2004.

DESTRO, N.; SZATMARI, P.; ALKMIM, F. F.; MAGNAVI-TA, L. P. Release faults, associated structures, and their control on petroleum trends in the Recôncavo rift, Northeast Brazil. American Association of Petroleum Geologists. Bulletin, Tulsa, Okla., v. 87, n. 7, p. 1129, jul. 2003. MAGNAVITA, L.P.; SILVA, R.R. DA.; SANCHES, C.P. Roteiros geológicos, guia de campo da Bacia do Recôncavo, NE do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobrás,13, Rio de Janeiro, 2005 v.2, p.301-334. MILHOMEM, P. S. et. al. Bacias sedimentares brasileiras: Bacia do Recôncavo. 2003. Fundação Paleontológica Phoenix, ano 5, n 51. Revista Phoenix. MUNNE, A. L. et. al. Análise estratigráfica do andar Dom João Bacia do Recôncavo e do Tucano Sul. (Relatório Técnico Nº 8, Curso de projetos especiais em Geologia). Salvador, 1972. 74p. SAMPAIO, Flávio. Analise estratigráfica da Fm. Sergi, campo de Fazenda Balsamo, bacia do Recôncavo, Bahia. 2005. 192 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2005. SCHERER, C.M.S. et al. Evolução estratigráfica da sucessão Fluvio-eolico-lacustre da Formação Sergi, bacia do Recôncavo, Brazil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PETROLEO E GÁS, 3, 2005, Salvador. Anais... Salvador: Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP, 2005, v. 1, p. 2 – 4. WIEDERKHER, F. Arquitetura estratigráfica das formações Itaparica e Água Grande e seu posicionamento na evolução tectônica da bacia do Recôncavo. 2008. 84 f. TFG (Graduação) - Instituto de Geociências, Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2008.

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ggn
Typewriter
ANEXO I
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Mateus
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ANEXO II
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Mateus
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ANEXO III
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ANEXO IV

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ANEXO V

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ANEXO VI