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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
JULIO DE MESQUITA FILHO – UNESP
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
SILVIA REGINA FERREIRA
IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:
UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER
BAURU
2013
SILVIA REGINA FERREIRA
IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:
UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Midiática da
Universidade Estadual Paulista – UNESP,
como requisito para a obtenção do Título de
Mestre em Comunicação Midiática, sob
orientação do Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho.
BAURU
2013
Ferreira, Silvia Regina.
Identidade, Comunicação e Cidadania no Facebook:
Uma análise do Diário de Classe de Isadora Faber /
Silvia Regina Ferreira, 2013
149 f. il.
Orientador: Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho
Dissertação (Mestrado)– Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Bauru, 2013
1. Diário de Classe. 2. Ciberativismo. 3. Facebook. 4. Identidade 5. Isadora Faber. I.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título.
SILVIA REGINA FERREIRA
IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:
UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER
Área de Concentração: Comunicação Midiática
Linha de Pesquisa: Processos midiáticos e práticas socioculturais
Banca examinadora em 28 de agosto de 2013:
Presidente: Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho (orientador)
Instituição: FAAC, UNESP – Bauru
________________________________________
Titular: Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi
Instituição: FAAC, UNESP – Bauru
________________________________________
Titular: Prof. Dr. Mirna Tonus
Instituição: UFU - Uberlândia
________________________________________
Bauru, 28 de agosto de 2013
Ao poder da fé, da amizade e da música.
Agradecimentos
A Deus, pela fé que me trouxe até aqui e que me levará adiante, sempre provando em todos os
rumos tortuosos a orientação para o caminho certo.
À minha primeira família: pai, mãe e irmãos, que sempre me apoiaram, me incentivaram e me
ensinaram os valores humanos sobre os quais se apoiam qualquer título acadêmico ou escolha
de vida. Especialmente à minha mãe, pelo abraço mais gostoso do mundo.
À minha grande segunda família, amigos e mães adotivas de Bauru que sempre estiveram ao
meu lado oferecendo apoio incondicional: Fernanda Miguel, amiga, irmã, ponto de equilíbrio,
sem a qual eu não seria boa parte do que sou hoje, e toda a família que veio no pacote,
especialmente a mãe preta, tia Cida, pelo carinho e cuidado de sempre; Dairinha, mais que
uma companheira de república, minha irmã, orgulho e inspiração para toda a minha vida e
trajetória acadêmica; Julia, por mostrar tudo o que a simplicidade pode alcançar; Julian, pela
parceria e amizade incondicional, na vida e no trabalho, na música que nos une; Também o
Léo, o Thauan e o Thiago, da banda 12 Cordas, pelas alegrias de sempre; Dri, outra mãe
adotiva, pelos abraços, carinhos, conversas, risadas, conselhos e oportunidades; Mila, mais
uma mãe adotiva, pela confiança, incentivo e pelo dom das palavras certeiras; Norba Motta,
meu maior mestre sem nível universitário; Carla e Vê, pela pureza, sincronia e gratuidade de
sentimento em qualquer distância.
Ao orientador Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho e à Prof. Dra. Maria Cristina Gobbi, tia Cris,
eterna madrinha, por todo conhecimento compartilhado, compreensão, paciência, olhar e
gesto acolhedores que me fortaleceram para que eu concluísse este trabalho. Ao Silvio
Decimone, pela ajuda fundamental na reta final, ao Prof. Dr. Maximiliano Martin Vicente
pelas contribuições na banca de qualificação e à Profa. Dra. Mirna Tonus pelos brilhantes
apontamentos e por ter aceitado tão prontamente o convite para a banca de defesa.
À Erica Franzon, pela troca de experiências e conhecimentos que proporcionaram tanta
serenidade na redação deste trabalho. Aos amigos da Maisque Comunicação Digital, Ivaldo,
Rodrigo, Júnior, Ivan e Kage, pelo apoio, compreensão, paciência e amizade inesquecíveis.
Ao amigo de São José dos Campos, Dudu Marino, que garantiu a leveza do retorno às origens
para que este trabalho pudesse ser concluído com mais alegria.
Ao Instituto Embraer de Educação e Pesquisa e a todos os educadores que plantaram em mim
as sementes da sede do saber, especialmente Daniel Leite, pelo incentivo de sempre, e Aline
Néto, que despertou meus primeiros olhares para a educomunicação.
À Faac/Unesp e seu corpo docente, pelo ensino de tantos anos, e à Capes, pelo financiamento
desta pesquisa.
Aos poetas, compositores e humanos admiráveis que inspiram sensibilidade mesmo nas
tarefas mais técnicas.
E a todos que me provam todos os dias que é impossível ser feliz sozinha!
O que prevalece agora é essa maneira nova de sentir a vida.
Essa perspectiva que me faz admirar, incansáveis vezes, antigas preciosidades.
Essa vontade de bendizer tantas maravilhas.
Esse sentimento de gratidão pelas coisas mais simples que existem.
Esse jeito mais amigo de ouvir meu coração.
O que prevalece agora é essa apreciação mais desperta,
que me permite reinaugurar flores e céus e pessoas no meu olhar.
Essa graça que encontro, de graça, nos detalhes mais singelos.
O que prevalece agora é a confortável suposição de que,
por trás de tantas e habituais nuvens,
esse contentamento faz parte da nossa natureza.
Os problemas, os desafios, as limitações, não deixaram de existir.
Deixaram apenas de ocupar o espaço todo.
Ana Jácomo
Resumo
No dia 11 de julho de 2012 a jovem estudante Isadora Faber, de 13 anos, criou uma página no
Facebook chamada ―Diário de Classe‖. O objetivo era utilizar o espaço para denunciar
deficiências da educação pública no Brasil a partir sua realidade particular, vivida na escola
Ebm Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC). Depois de despertar a atenção da
imprensa e ganhar repercussão nacional, o caso ilustrou diversas perspectivas sobre as novas
formas de expressão e conversação trazidas por tecnologias da informação, especialmente
sites de redes sociais como o Facebook. Ao analisar o conteúdo presente no Diário de Classe,
no contexto das reações sociais e midiáticas à página, o presente trabalho permite observar de
que maneira os atores sociais constroem identidades e reforçam cidadanias em ambiente
social. Para isso, investiga, sob a perspectiva intercultural de Néstor García Canclini, como as
apropriações do Facebook em diálogo com a mídia tradicional possibilitam a participação
social e favorecem o ciberativismo em um contexto de modernidade reflexiva.
Palavras-chave: Diário de Classe; Ciberativismo; Facebook; Identidade; Isadora Faber.
Abstract
On July 11th 2012, a young student called Isadora Faber, 13 years old, created a page on
Facebook called "Diário de Classe" - gradebook. The target was use the tool to report
deficiences of public education in Brazil from her particular reality, experienced in school
Maria Damázio Coelho, in Florianópolis (SC). After getting press attention and gaining
national visibility, the case illustrated several perspectives on new forms of expression and
conversation brought by information technology, especially from social networking sites such
as the Facebook. By analyzing the content present in "Diário de Classe", in the context of
social and media reactions to the page, this work allow us to observe how social actors
construct identities and reinforce citizenship in social environment. To reach this, investigates
with intercultural perspective of Néstor Garcia Canclini, how Facebook's appropriation in
dialogue with the traditional media allow social participation and favor cyberactivism in a
context of reflexive modernity.
Keywords: Diário de Classe; Cyberactivism; Facebook; Identity; Isadora Faber.
9
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura1: Explicando as mídias sociais.....................................................................................27
Figura 2: Tela inicial do TheFacebook em Fevereiro de 2004................................................51
Figura 3: Crescimento do Facebook no Brasil, segundo a revista Veja..................................53
Figura 4: Facebook em primeiro lugar entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking
Alexa em 14/05/2013................................................................................................................54
Figura 5: Orkut na posição 53 entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa
em 14/05/2013.......................................................................................................................... 54
Figura 6: Tempo gasto por brasileiros no Facebook...............................................................60
Figura 7: Tempo gasto pelos brasileiros nas redes sociais......................................................60
Figura 8: Página inicial do Facebook......................................................................................61
Figura 9: Parte de um perfil no Facebook...............................................................................62
Figura 10: Linha do tempo no Facebook.................................................................................63
Figura 11: Atualização de status no Facebook...................................................................66
Figura 12: Home do Facebook para usuário cadastrado..........................................................66
Figura 13: Visão da lista de contatos integrado ao feed de notícias do Facebook..................69
Figura 14: Caixa de mensagens e lista de contatos do Facebook............................................69
Figura 15: Página do grupo ―Mestrado em Comunicação – FAAC – Unesp‖ no
Facebook...................................................................................................................................70
Figura 16: Calendário de eventos no Facebook.......................................................................71
Figura 17: Página de eventos no Facebook.............................................................................72
Figura 18: Página de cadastro de fanpages..............................................................................73
Figura 19: Exemplo de fanpage – visualização para usuário...................................................74
Figura 20: Página de estatísticas de uma fanpage...................................................................75
Figura 21: Exemplo de aplicativo ativo em fanpage...............................................................76
Figura 22: Anúncios sociais no Facebook...............................................................................77
Figura 23: Promoção de publicações em fanpages..................................................................78
Figura 24: Promoção de publicações pessoais no Facebook...................................................79
Figura 25: Marcação de fotos no Facebook.............................................................................80
Figura 26: Visualização de imagem + texto no Facebook.......................................................82
Figura 27: Postagem de imagem + texto no feed de notícias..................................................82
10
Figura 28: Feed de Notícias. Destaque da imagem no fluxo de informação...........................83
Figura 29: Resultado da pesquisa de Dan Zarella...................................................................84
Figura 30: Visualizações de vídeo na internet brasileira.........................................................86
Figura 31: Publicidade associada a contexto emocional na fanpage do Guaraná Antártica no
Facebook...................................................................................................................................88
Figura 32: Página do Diário de Classe em 29/08/2012...........................................................92
Figura 33: Exemplos de denúncias no Diário de Classe..........................................................93
Figura 34: Nota sobre o Diário de Classe na p. 2 do Diário Catarinense em 14/08/2012.......94
Figura 35: Página do Diário de Classe Mário Quintana..........................................................94
Figura 36: Isadora Faber anuncia que é a única administradora do Diário de Classe.............95
Figura 37: Origens geográficas dos usuários alcançados pela fanpage Diário de Classe em
25/08/2012................................................................................................................................95
Figura 38: Comentários sobre vandalismo............................................................................111
Figura 39: Comentários sobre cultura japonesa 1..................................................................112
Figura 40: Comentários sobre cultura japonesa 2.................................................................112
Figura 41: Comentários sobre representações.......................................................................113
Figura 42: Comentário no blog do Nassif..............................................................................115
Figura 43: Postagem na página ―Ebm Maria Tomázia Coelho‖............................................117
Figura 44: Postagem na página ―Nossa Verdade‖.................................................................118
Figura 45: Manchete do Diário Catarinense em 30/08/2012................................................ 120
Figura 46: Postagem de um Diário de Classe da oposição................................................... 124
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Análise temática quantitativa ............................................................................... 106
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12
CAPÍTULO 1
A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE CONVERSAÇÃO..................13
1.1. Internet e TICs: Novas possibilidades de interação social..............................................15
1.2. As expressões no cotidiano das redes sociais .................................................................. 21
1.3 . O afloramento de novas identidades .............................................................................. 32
1.3.1. Ciberjornalismo, Blogs e Jornalismo Cidadão ............................................................. 37
1.3.2. O interesse público na dinâmica do mercado ............................................................... 42
CAPÍTULO 2
O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL ............................................................... 47
2.1 Histórico ........................................................................................................................... 49
2.2. Características e apropriações ..........................................................................................59
2.2.1. Perfil pessoal e linha do tempo .................................................................................... 61
2.2.2. Atualização de status, feed de notícias e recursos de interatividade ............................65
2.2.3. Bate-papo, eventos e grupos .........................................................................................68
2.2.4. Fanpages e publicidade .................................................................................................73
2.2.5. O fenômeno dos objetos estéticos: foto e vídeo .......................................................... 79
CAPÍTULO 3
ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE ......................................................................90
3.1. Uma proposta de ciberativismo no Facebook ..................................................................92
3.2. Eixo teórico-metodológico................................................................................................99
3.3. Técnicas ..........................................................................................................................102
3.4. Aplicações e Resultados .................................................................................................105
3.4.1. Perfil geral das postagens.............................................................................................105
3.4.2. Análise Temática e Representações .............................................................................107
3.4.2.1. Entre denúncias e resoluções.................................................................................... 108
3.4.2.2 Identidade e reflexividade ........................................................................................122
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................129
ANEXOS ...............................................................................................................................135
Anexo I: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 1 .........................................................136
Anexo II: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 2 ........................................................140
Anexo III: Nota da Secretaria da Educação de Florianópolis ............................................... 144
Anexo IV: Representações Sociais no Diário de Classe ........................................................146
12
INTRODUÇÃO
A lucidez com que muitos autores falaram sobre o nosso presente há anos e até
décadas atrás nos diz muito sobre a importância de nos voltarmos ao passado analógico com
mais atenção. É inquietante absorver obras como as de Marshall McLuhan, Manuel Castells,
Nestor García Canclini, entre outros, sabendo que as visões de futuro que desenvolveram
foram gestadas sem a presença da internet na vida cotidiana. Eles nos alertavam que a cultura
digital traria uma transição de momentos históricos repleta de incertezas. Mas também
mostravam que a nova e instável dinâmica social seria uma certeza. Uma transição, por
definição, concilia aspectos do passado com percepções do presente e tendências do futuro.
Com tal entendimento, esta pesquisa se alia à necessidade de compreender como a autonomia
comunicativa dos sujeitos e a apropriação das tecnologias da informação definem e redefinem
reflexivamente a dinâmica deste momento histórico, favorecendo o desenvolvimento social.
Nesse sentido, o primeiro capítulo discute o desenvolvimento das formas midiáticas de
expressão e conversação social, o papel da internet e das redes sociais na realidade
contemporânea da comunicação e sua participação no afloramento de novas identidades,
atores e papeis sociais. Na articulação dessa discussão, destaca o papel da imprensa na difusão
e organização de informações da vida social para o debate sobre a política vigente.
Depois, o segundo capítulo ressalta fundamento, características e alcance do
Facebook, um site de rede social que se articula de uma maneira muito estratégica nesse
processo, tanto pela massiva adesão de usuários quanto pela sua influência no cotidiano das
relações sociais. Por fim, no terceiro capítulo, parte para o estudo de um caso específico de
ciberativismo, o fenômeno ―Diário de Classe‖, que torna observável o modo como as
apropriações dessa ferramenta possibilitam a participação sociopolítica. Trata-se de uma
página do Facebook criada por Isadora Faber, uma jovem de apenas 13 anos, para denunciar
deficiências da educação pública no Brasil a partir de uma realidade particular, vivida na
escola Ebm Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC), onde ela estuda. Com uma
análise de conteúdo da página, no contexto de reações sociais e midiáticas a ela, sob a
perspectiva intercultural de Néstor García Canclini, busca-se compreender de que maneira os
atores sociais se envolveram nos processos de elaboração de significados das relações
intergrupais e intersubjetivas, identificando possibilidades de transformação cultural pelo
exercício reflexivo da cidadania.
13
Capítulo 1
A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE CONVERSAÇÃO
14
“Mas é sempre o que acontece na vida: imaginamos representar um papel numa determinada
peça e não percebemos que os cenários foram discretamente mudados, de modo que, sem
saber, devemos atuar num outro espetáculo.”
Milan Kundera
15
1. A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE
CONVERSAÇÃO
1.1 Internet e TICs: Novas possibilidades de interação social
A partir de quando se começou a falar tanto de comunicação em nossa sociedade? As
técnicas que permitiram as mais variadas expressões na história humana sempre existiram e
foram utilizadas. Mas, diante dessa pergunta, Breton e Proulx (2006) concluíram que, na
história recente, existe uma recorrência sistemática à comunicação não apenas como técnica,
mas como valor central para explicar todo tipo de problema social e econômico. Mesmo
organizando suas pesquisas com o recorte voltado à comunicação social (ou comunicação
mediatizada), eles também reconheceram a importância de destacar os contextos culturais no
aparecimento e no uso das técnicas de comunicação. Não à toa, a constituição do campo no
século XX foi profundamente marcada pela interdisciplinaridade, sob o signo de um contexto
social totalmente novo: a Revolução Industrial. Nesse momento, o crescimento da população
e uma nova ordem econômica criaram os consumidores potenciais, reunidos nas cidades em
expansão rápida (RIOUX, 1975).
Esse panorama, proporcionado pela efervescência dos estudos inspirados na sociedade
tecnológica, nos permite olhar com os mesmos olhos para a antiguidade, em perspectiva
histórica mais segura. A consolidação do alfabeto grego parece ter sido animada, ao mesmo
tempo, ―por uma estimulação social e por um princípio de economia interna que aproximava
cada vez mais a língua escrita e a língua falada‖ (BRETON; PROULX, 2006, p.19), com a
finalidade de guardar informações, auxiliando a circulação de bens e ideias e viabilizando
uma legítima manifestação dos usos sociais da escrita como meio de dominação pela
mentalidade letrada. Em uma análise mais atual, para tratar sobre rumos da exclusão digital
Lévy (1999) destaca que cada novo sistema de comunicação fabrica seus excluídos,
oferecendo a percepção de que alguns fenômenos da mídia são mais antigos do que em geral
se imagina.
Em sequência, a invenção da tipografia aliada à revolução da prensa gráfica deu
origem ao primeiro bem de comércio uniformemente reproduzível, à primeira linha de
montagem e à primeira produção em série. Até meados do século XX, os vastos setores
16
excluídos da esfera pública burguesa poderiam incorporar-se às deliberações de interesse
comum à medida que fossem assimilando a cultura letrada, enquanto a esfera plebeia informal
se organizava em torno do oral e do visual. Pouco a pouco, foram sendo estabelecidas outras
maneiras de se informar, de entender as comunidades a que se pertenciam, de conceber e
exercer os direitos, favorecendo a racionalidade burocrática das organizações e manifestações
de massa da sociedade moderna. Mais uma vez, os meios eletrônicos mostraram a capacidade
de deslocar o desempenho da cidadania em relação às práticas de consumo. Como eles não se
diferenciam apenas em termos tecnológicos, mas incorporam um conjunto de relações sociais
que interagem com as características da nova tecnologia (MCQUAIL, 2002), a influência
desses meios aliada à dinâmica da sociedade de consumo constitui a principal razão da crise
da noção histórica e da crise das meta-narrativas modernas. Estas, criadas em plataformas
múltiplas, por diferentes atores em velocidades inadmissíveis à percepção humana,
atualmente se opõem às clássicas ideologias consolidadas, se fundem e se anulam em
processos que desafiam os tradicionais pilares da ciência e da construção do conhecimento.
Apesar de todos os alertas de mudanças paradigmáticas a favor do caos, a eficácia da
comunicação sempre se relacionou às interações de colaboração e transação entre uns e
outros, de modo que a presente investigação privilegia abordagens sobre a obtenção e a
difusão da informação até o crescimento das redes. Entende-se que, ao percorrer esse
caminho, é possível identificar possibilidades da realidade atual para o exercício da cidadania
e fortalecimento da democracia. Na articulação desse processo, vale destacar o papel da
imprensa, que surgiu como uma extensão especializada e devidamente institucionalizada na
difusão e organização de informações da vida social, adicionando ao fluxo de mensagens o
estímulo ao pensamento, ao senso crítico e ao debate sobre a política vigente.
O jornalismo surgiu, aliás, sem saltos, decorrendo lentamente de práticas que pouco
a pouco se aperfeiçoavam. Já no século XV se notava o uso de avisos, sob condição
de reciprocidade e por meio dos quais alguns centros populosos se comunicavam
com outros, dizendo e recebendo informações. As lutas religiosas vulgarizaram
essas praxes, e a intensificação das permutas foi melhorando regularmente o serviço,
criando profissionais que dele se encarregavam. O emprego da imprensa, nesse
processo de divulgação de novidades, veio criar os primeiros ensaios de jornalismo
com as publicações, a princípio anuais e pouco depois semestrais. Daí se chegou aos
hebdomadários e um pouco mais tarde aos diários. (SOBRINHO, 1997, p. 18)
Tal consolidação também acendeu os primeiros impulsos de censura e limitação da
liberdade de expressão. A combinação de gazetas, pasquins e folhetos era vista por
17
autoridades como prejudicial aos seus governos, e esses passaram a intervir severamente. Na
Inglaterra, por exemplo, novidades políticas só podiam ser publicadas com autorização da
Coroa. Sobrinho (1997) lembra que, ―quem tinha a sua ideia arriscada, a sua crítica política
menos oficiosa, temia o jornal e se açoitava nas gazetas manuscritas, que facilitavam a
clandestinidade, única segurança para seus autores‖ (p. 19). Dessa forma, as novidades
manuscritas conseguiram levar adiante o conhecimento dos eventos contemporâneos. Ainda
que o trabalho braçal e repetitivo do ―manuscrito em série‖ mantenha de certa forma a lógica
da prensa móvel gutenberguiana, é como se a velha e a nova mídia coexistissem, mostrando
que diferentes meios de comunicação podem competir entre si ou imitar um ao outro, bem
como se complementar.
No início da Europa moderna, assim como em outros lugares e períodos, muitas
vezes a mudança cultural foi mais aditiva do que substitutiva, especialmente nos
primeiros estágios de inovação. Como foi mostrado, a velha mídia de comunicação
oral e por manuscritos coexistiram e interagiram com a nova mídia impressa, assim
como esta, hoje uma mídia antiga, convive com a televisão e a Internet desde o
princípio do século XX. (BURKE; BRIGGS, 2006, p.74)
Genericamente, os jornais contribuíram para o conceito de esfera pública proposto por
Jürgen Habermas (2003). Isso aconteceu quando eles deixaram de ser meros veículos de
notícias para assumirem o compromisso de porta-vozes da opinião pública e meios de luta da
política partidária. E nessa negociação foi incluída uma base comercial, configurando a
imprensa como um jornalismo de pessoas privadas que prestam serviços públicos mediante
meios de comunicação de massa. Nesse novo contexto, entretanto, a esfera pública perde sua
exclusividade social, agregando conflitos que antes só eclodiam na esfera privada.
Na transformação pelo modelo liberal, em que o mercado regulava a si próprio, os
grupos não contemplados por essa dinâmica tendiam a buscar uma regulação mediante o
Estado. Assim, se antes as instâncias privadas defendiam o público, naquele momento elas
passam a debater interesses privados conflitantes entre si. Direitos sindicais e trabalhistas já
não podiam mais continuar sendo entendidos como um consenso racionalmente alcançado por
pessoas privadas na discussão pública.
Como consequência desse entrelaçamento dos domínios público e privado,
corporações, partidos e sindicatos passaram a operar em torno de compromissos políticos com
o Estado e entre eles mesmos e ao mesmo tempo buscavam garantir ao menos um
assentimento da massa, criando uma espécie de esfera pública ―publicitária‖.
18
Consequentemente, enfraquecia-a por afasta-la do princípio originário da racionalidade
discursiva com vistas ao consenso. Como pontua Canclini, o mercado desacreditou do olhar
político como alternativa, exibindo-se de modo mais eficaz para organizar as sociedades,
submetendo a política às regras do comércio e da publicidade, do espetáculo e da corrupção.
Junto com a degradação da política e a descrença em suas instituições, outros modos
de participação se fortalecem. Homens e mulheres percebem que muitas das
perguntas próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me dá,
como posso me informar, quem representa meus interesses – recebem sua resposta
mais através do consumo privado de bens e dos meios de comunicação de massa do
que pelas regras abstratas da democracia ou pela participação coletiva em espaços
públicos. (CANCLINI, 2008, p.29)
Os meios de comunicação de massa (MCM) foram determinados como dispositivos
tecnológicos que possibilitavam o compartilhamento de informações para grandes audiências.
Sob esse ponto de vista, não caberiam interações dialógicas no nível microssocial, exercendo
influência social unilateral de alguns grupos sobre o conjunto da sociedade. A delimitação
teórica não anula, contudo, a existência de tais interações dialógicas. Elas sempre se
garantiram no nível da oralidade e de outras formas de expressão cultural e hoje se apoderam
das ferramentas tecnológicas para serem dialeticamente sintetizadas e tecnicamente
amplificadas. Como afirmou Lévy, da invenção da escrita decorrem as exigências muito
especiais da descontextualização dos discursos:
No regime clássico da escrita, o leitor encontrava-se condenado a reatualizar o
contexto a um alto custo, ou então restabelecê-lo a serviço das igrejas, instituições
ou escolas, empenhadas em ressuscitar e fechar o sentido. Ora, hoje, tecnicamente,
devido ao fato da iminente colocação em rede de todas as máquinas do planeta,
quase não há mais mensagens ―fora de contexto‖, separadas de uma comunidade
ativa. Virtualmente, todas as mensagens encontram-se mergulhadas em um banho
comunicacional fervilhante de vida, incluindo as próprias pessoas, do qual o
ciberespaço surge, progressivamente, como um coração. (LÉVY, 1999, p.118)
Nesse ―banho comunicacional fervilhante de vida‖, ao qual se refere Lévy, diluem-se
conceitos que Habermas utilizou para explicar a diferenciação de estruturas da sociedade
moderna no texto ―Mudança Estrutural da Esfera Pública‖, de 1962. Ao diluírem-se, tais
conceitos reagem e fervem catalisando múltiplas reações. Assim, o sistema definido por
Habermas como ―mundo da vida‖, esfera de reprodução simbólica, da linguagem e das redes
de significados que compõem as visões de mundo da sociedade a partir de fatos, normas e
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intersubjetividades, torna-se cada vez mais complexo, sobretudo pelo desenvolvimento
tecnológico.
Quando o reflexo das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) se
manifestava nos modos de gestão da empresa jornalística e da produção de notícias, o impacto
materialmente visível vinha de dentro das redações para o público externo. Mas, no atual
momento histórico, marcado pela popularização da internet e pela cultura do
compartilhamento nas mídias sociais, a facilidade de divulgação e legitimação do conteúdo
produzido pelo público influencia cada vez mais os modos de produção e seleção das notícias,
de modo que o sentido da mudança se inverte: o impacto se manifesta de fora para dentro a tal
velocidade que o percurso se torna invisível, intangível e quase impossível de ser rastreado.
Eventos multimídia não são, portanto, os únicos exemplos da interação entre diferentes meios
de comunicação. Conforme Ciro Marcondes Filho (2000), não há ‗responsáveis‘ por toda essa
virada na forma de se fazer jornalismo. É a civilização humana como um todo que se
transforma a partir de uma variável independente: a informatização.
Nesse contexto a esfera pública ganha diferentes configurações no campo da interação
social, incorporando novas atribuições conceituais, em consonância com sua evolução
histórica que sempre operou com uma concepção normativa ideal e com uma noção
historicamente localizada.
Nem subordinada ao Estado, nem dissolvida na sociedade civil, a esfera pública
reconstituiu-se simultaneamente na tensão entre ambos. Tendo em vista a reflexão
hermenêutica que se valeu igualmente das contribuições de Habermas e Bakhtin, a
esfera pública é ―um campo de tradições em concorrência‖, ―um espaço de
heteroglossia‖, em que ―certos significados e tradições são fortalecidos‖ (o papel do
Estado), ―mas, neste processo, novas forças podem atribuir diferentes significados
ou ênfases aos mesmos conceitos‖ (o papel da sociedade civil), evitando-se deste
modo os riscos de unilateralidade e autoritarismo. (CANCLINI, 2008, p.218)
Após analisar diversas linhas de pensamento reunidas na obra ―Teorias da
Cibercultura‖, Francisco Rüdiger definiu a cibercultura ―como uma formação prática e
simbólica, que expressa e, às vezes, articula para o homem comum as circunstâncias e
antagonismos humanos e sociais‖ (RÜDIGER, 2011, p. 285). Um contexto provocativo tanto
para as cadeiras acadêmicas metodologicamente fundamentadas quanto para os protagonistas
do movimento caótico do cotidiano.
20
Nesse panorama, considerando também deficiências e lentidões no processo de
inclusão digital, não cabe investir exclusivamente na internet a expectativa de uma esfera
pública renovada. Trata-se apenas de tomá-la como um espaço catalisador de processos
interativos e viabilizador de uma ampla ―esfera conversacional‖, que surge com as chamadas
mídias de função pós-massiva, reconfigurando a paisagem comunicacional, conforme aponta
Lemos (2003). Ele explica que a reconfiguração se dá pela instituição de um novo sistema
(aberto, ―todos-todos‖, independente), a que chama de pós-massivo, em tensão com o sistema
clássico caracterizado pelo fluxo ―um-todos‖ da informação para as massas. Assim, desponta
no século XXI um sistema infocomunicacional mais complexo: o poder e a força dos
formatos massivos não são aniquilados, mas sim convivem com os formatos pós-massivos,
nos quais a emissão não é controlada, a conexão reconfigura a indústria cultural, as formas
sociais, a produção e a circulação de informações, levando a uma nova lógica para a
constituição da esfera pública.
Nos novos formatos comunicacionais pós-massivos, a conversação (consumo,
produção e distribuição de informação) é inerente ao sistema. Aqui a lógica
comunicacional, cada vez mais banal e planetária, não se baseia apenas no consumo
massivo para posterior conversação em uma esfera pública, como na estrutura
massiva clássica. (LEMOS, 2009, pp. 9-30)
Em outros termos, a conversação que outrora foi mediada e estimulada nos cafés e
praças pelo desenvolvimento do jornalismo, hoje também assume o papel de mediadora tendo
como pólos emissores e receptores cidadãos interconectados. É por isso que em nosso
percurso de pesquisa será recorrente o inevitável resgate de questões sobre o fazer
jornalístico, princípios fundadores e norteadores, atualizando-os e também tomando-os como
argumento e inspiração na qualificação dessa nova esfera conversacional, a fim de pensarmos
os desafios da política hoje. Como destaca Lemos, os efeitos dessa nova realidade não têm
solução fácil e merecem ser estudados amiúde.
A conversação nesse ―mundo da vida‖ não resolve, per si, os problemas do
engajamento político. No entanto, não podemos negar a força rejuvenescedora da
esfera pública e mesmo do jornalismo (a crise atual nada mais é do que uma
excelente oportunidade de renovação e fortalecimento). Há uma forte conotação de
resgate do ―mundo da vida‖ e do capital social na nova esfera pública
conversacional. O desafio é transformá-los em dimensão política eficaz. (...) Essa é a
aposta: que a conversação no ―mundo da vida‖ possa agir e tencionar politicamente
o ―sistema‖. (LEMOS, 2009, pp. 9-30)
21
Com esse princípio, valem as ideias de Canclini, para quem os meios eletrônicos
deslocaram o desempenho de cidadania em relação às práticas de consumo. Segundo ele,
foram estabelecidas outras maneiras de se informar, de entender as comunidades a que se
pertence, de conceber e exercer os direitos, de modo que as pessoas não precisam se ater a
burocracias que adiam ou transferem suas necessidades. Dessa forma, Canclini estabelece o
próprio público como marco midiático, pois é esse público que apresenta múltiplos aspectos
da vida social por meio da tecnologia, reorganizando as funções dos atores políticos
tradicionais. ―Se alguma vez esta questão foi território de decisões mais ou menos unilaterais,
hoje é um espaço de interação no qual os produtores e emissores não só devem seduzir os
destinatários, mas também justificar-se racionalmente‖ (p. 62), argumenta, lembrando que a
racionalidade das relações sociais na sociedade contemporânea se revela na disputa em
relação à apropriação dos meios de distinção simbólica, e não mais dos meios de produção.
1.2. As expressões no cotidiano das redes sociais
Em 1996, o lingüista e filósofo estadunidense Noam Chomski esteve no Brasil e
concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva (2011), da TV Cultura. Na ocasião,
perguntaram-lhe o que ele achava da internet. A questão, que hoje parece generalista, era
plausível ao contexto da época, uma vez que as TICs apenas começavam a se manifestar no
cotidiano da população e os reflexos desse movimento na dinâmica da sociedade ainda eram
tímidos.
Embora pesquisadores de todo o mundo já estivessem trabalhando na tentativa de
identificar, avaliar e refletir sobre os impactos das TICs na comunicação midiática, o
ambiente online tal como se apresenta hoje, multimidiático e interativo, ainda não havia sido
incorporado aos hábitos dos cidadãos. Com essa perspectiva, Chomski respondeu: ―A
tecnologia em si é totalmente neutra. A internet será o que as pessoas fizerem dela‖. A
declaração, simples e direta, resume uma série de conceitos e expectativas sobre as influências
da participação social no ecossistema midiático. Os meios de comunicação de massa (MCM),
até então considerados dispositivos tecnológicos que permitiam o compartilhamento de
informações para grandes audiências, foram sendo absorvidos pela comunicação mediada por
22
computadores (CMC), que assumia o usuário como receptor interativo. Esse panorama
condicionou cada vez mais o crescimento do ciberespaço, ―que, por sua vez, corresponderia
antes a um desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva‖ (LÉVY, 1999). Aqui
consideramos o ciberespaço como um espaço relacional, uma vez que nossa noção de espaço
é construída pela nossa percepção e por ela delimitada. Nesse caso, percebemos que o
ciberespaço é construído enquanto ambiente social e apropriado enquanto ambiente técnico.
No mesmo ano da entrevista de Chomski, Manuel Castells lançava o livro Sociedade
em Rede, afirmando que, conforme uma tendência histórica, as funções e os processos
dominantes na era da informação seriam cada vez mais organizados em torno de redes sociais.
A inclusão da maioria das expressões culturais no sistema de comunicação integrado
baseado na produção, distribuição e intercâmbio de sinais eletrônicos digitalizados
tem conseqüências importantes para as formas e processos sociais. Por um lado,
enfraquece de maneira considerável o poder simbólico dos emissores tradicionais
fora do sistema, transmitindo por meio de hábitos sociais historicamente
codificados: religião, moralidade, autoridade, valores tradicionais, ideologia política.
Não que desapareçam, mas são enfraquecidos a menos que se recodifiquem no novo
sistema. (CASTELLS, 1996, p. 461)
Ainda que a formação de redes sociais seja um fenômeno antigo1, a tecnologia da
informação incorporada ao cotidiano das pessoas viabilizou essa redecodificação de poderes
simbólicos de forma nunca antes vista, já que o surgimento da internet impôs uma
reorganização na distribuição das notícias comunitárias (NICOLA, 2003). Ao apresentar um
panorama dos contornos das complexas redes que compõem ambientes sociais importantes,
como governo, trabalho, comunicação, espaço, tempo, fronteiras, territórios, entre outros,
Castells mostra que as transformações da sociedade foram ocasionadas pelo avanço da
economia da informação e do conhecimento e subsidiadas por inovações tecnológicas nos
campos da comunicação. Recuero (2009) pontua que as ferramentas geradas por essas
inovações deixam rastros na rede de computadores, ―rastros que permitem o reconhecimento
dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros‖
(p.24).
1 Ao tratar a rede social como fenômeno antigo, tomam-se como referência as primeiras abordagens sobre o
assunto, que se distanciaram significativamente da noção utilizada no presente trabalho. Segundo Sílvia Portugal
(2007), as bases teóricas, metodológicas e empíricas dos estudos pioneiros sobre redes sociais resultaram da
procura de soluções para problemas teóricos e empíricos que os investigadores não conseguiam resolver à luz
dos quadros conceituais dominantes nas disciplinas interessadas – a sociologia, a psicologia social e a
antropologia. No decorrer das últimas décadas, a sociologia das redes sociais constituiu-se como um domínio
específico do conhecimento e institucionalizou-se progressivamente.
23
Por esses pressupostos, seria conceitualmente equivocado aderir aos termos populares
que atribuem o status de redes sociais a ferramentas como Facebook, Twitter, Orkut,
Foursquare, Instagram, Youtube e Linkedin, por exemplo. No entanto, se considerarmos uma
rede social como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos: os
nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994;
Degenne e Forse, 1999 apud Recuero 2009), tais ferramentas se apresentam como relevantes
espaços amostrais da dinâmica da rede, delimitados por uma lógica de interação que favorece
o processo metodológico. Como defendeu a pesquisadora, esses sites ―não são exatamente um
elemento novo, mas uma consequência da apropriação das ferramentas de comunicação
mediadas por computador pelos atores sociais‖ (Recuero, 2009, p. 102).
Sites de redes sociais foram definidos por Boyd & Ellison (2007) como aqueles
sistemas que permitem i) a construção de uma persona através de um perfil ou
página pessoal; ii) a interação através de comentários; e iii) a exposição pública da
rede social de cada ator. Os sites de redes sociais seriam uma categoria do grupo de
softwares sociais, que seriam softwares com aplicação direta para a comunicação
mediada pelo computador. Embora esses elementos sejam mais focados na estrutura
do sistema utilizado pelos atores é, entretanto, na apropriação que reside a principal
diferença apontada pelas autoras. (RECUERO, 2009, p. 102)
A conversação nesses ambientes permite uma melhor visualização dos desafios que
passam pela caracterização de seus efeitos sociais: compreensão da estrutura, organização e
contexto na qual está inserida.
(...) a abordagem de rede fornece ferramentas únicas para o estudo dos aspectos
sociais do ciberespaço: permite estudar, por exemplo, a criação das estruturas
sociais; suas dinâmicas, tais como a criação de capital social e sua manutenção, a
emergência da cooperação e da competição; as funções das estruturas e, mesmo, as
diferenças entre os variados grupos e seu impacto nos indivíduos. (RECUERO,
2009, p.21)
Em outra obra, Recuero (2012) lembra que esse fenômeno da conversação das redes
sociais na internet não é oposto à conversação mediada, mas uma amplificação dela,
estabelecida de acordo com as características de cada rede, conforme veremos adiante de
maneira mais aprofundada. Segundo Kunczik (2002), muitos autores consideram que o
controle dos meios de comunicação é a mais importante fonte de poder da sociedade moderna,
pois eles seriam bases de poder de persuasão capaz de oferecer leituras e interpretações sobre
esses processos sociais cada vez mais complexos e difíceis de se compreender. Para ele, ―o
24
resultado foi que tornou-se necessário depender cada vez mais das experiências dos outros e
das interpretações dos acontecimentos‖ (p.89).
Considerando que ―a comunicação não é eficaz se não inclui também interações de
colaboração e transação entre uns e outros‖ (Canclini, 2008, p. 60), aquele que fala, mais do
que um agente social, é uma diferença, uma fenda, uma busca do outro e da alteridade. Nesse
sentido, a reflexão de Kunczik hoje é mais objetivamente associada à realidade das redes
sociais do que à realidade que o inspirou para tal afirmação - a dos meios de comunicação de
massa. Assim como nos escritos de Canclini, seus ―hojes‖ podem ser contextualizados em
outro momento histórico sem prejuízo interpretativo.
No entanto, enquanto as redes sociais oferecem múltiplas possibilidades de conexão e
interpretação, assumindo a complexidade social ao invés de ignorá-la, a comunicação de
massa apresenta discursos totalizantes, uma vez que considera um denominador comum
mental das grandes audiências, que seria o mínimo da capacidade interpretativa de cada
destinatário. Apesar da essência dominadora desse paradigma, Pierre Lévy aponta seu aspecto
favorável à mobilização social: Ao negligenciar as singularidades do destinatário, a cultura de
massa ―totaliza‖, insere o indivíduo em um contexto amplo, ao passo que a cibercultura
desenvolve uma teia caótica descontextualizada que ―instaura, paradoxalmente, um outro
contexto holístico, quase tribal, mas em maior escala do que as sociedades orais‖ (LÉVY,
1999, P.116).
Nesse sentido, os efeitos mobilizadores dos sites de redes sociais precisam ser
observados a partir do modo como permitem a visibilidade, articulação e manutenção dos
laços sociais estabelecidos no espaço offline. A apropriação da ferramenta pelos atores é
influenciada também por uma estrutura com duplo aspecto. Como salientou Recuero (2009),
―por um lado temos a rede social expressa pelos atores em sua ―lista de amigos‖, ou
―conhecidos‖, ou ―seguidores‖. Por outro, há a rede social que está realmente viva através das
trocas conversacionais dos atores, aquela que a ferramenta vai manter‖ (p. 103). A maioria
das conexões é mantida apenas pelo sistema, não necessariamente por interações efetivas.
A partir dessas considerações, voltamos a visitar a questão da redecodificação de
poderes simbólicos preconizados por Castells.
Essa lógica de redes gera uma determinação social em nível mais alto que a dos
interesses sociais específicos expressos por meio das redes: o poder dos fluxos é
mais importante que os fluxos do poder. A presença na rede ou a ausência dela e a
dinâmica de cada rede em relação às outras são fontes cruciais de dominação e
25
transformação de nossa sociedade: uma sociedade que, portanto, podemos
apropriadamente chamar de sociedade em rede, caracterizada pela primazia da
morfologia social sobre a ação social (CASTELLS, 2007, p.565)
Se os meios de comunicação de massa foram originalmente enraizados fora do sistema
político, mas acabaram ocupando um lugar dentro dele, as redes sociais buscam reassumir o
poder pela resistência, não necessariamente por gestos políticos, mas também pela livre
capacidade de expressão e significação pessoal. Segundo Bobbio (1983), a palavra ―poder‖
designa, em seu significado mais geral, a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir
efeitos. Ele especifica o sentido do poder no seu significado social:
Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja, na sua relação com a
vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu espaço
conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir, até à capacidade do homem em
determinar o comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O
homem é não só o sujeito mas também o objeto do Poder social. E poder social é a
capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um
Governo de dar ordens aos cidadãos. (BOBBIO, 1983, p.343-344)
Assim, redes sociais deixam de ser ferramentas para serem espaços conversacionais,
nos quais os contextos alimentam os rumos da interação e as formas de ser social produzem
impactos diversos na sociedade contemporânea. Ainda segundo Bobbio, ―o poder não deriva
simplesmente da posse ou do uso de certos recursos, mas também da existência de
determinadas atitudes dos sujeitos implicados na relação‖. Com esse esclarecimento, podemos
aplicá-lo à realidade social e ver quando existe, de fato, uma relação de poder.
Bobbio ressalta que um modo de medir o poder é determinar as diversas dimensões
que pode ter o comportamento em causa, o que explica mais uma vez a dificuldade de
sistematização dos efeitos das redes para sua compreensão: elas são, por definição,
multidimensionais e empoderam seus membros na medida do seu grau de distribuição e
conectividade. Augusto de Franco (2009) destaca, nesse caso, a diferença entre ―empoderar-
se‖ e ―apoderar-se‖:
Mas empoderar-se (no sentido de empowerment) é, de certo modo, o contrário de
apoderar-se (no sentido de se apossar de um recurso tangível ou intangível
estabelecendo um diferencial de acesso em relação a um conjunto qualquer de
sujeitos e, a partir daí, estabelecer um poder sobre esses sujeitos com base na
escassez desse recurso). (FRANCO, 2009, s/p)
26
Em um movimento de desconstituição de hierarquia, os novos usos convergem da
coletividade em um processo não só de apropriação das redes, mas do poder oferecido por
elas. Vale ressaltar que nem sempre esse poder é utilizado em benefício da coletividade, já
que a autonomia na legitimação de conteúdos muitas vezes faz com que público e subjetivo se
confundam. Conforme apontaram Berger e Luckman (1966, p. 67), ―embora seja possível
dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo dizer que o homem constrói sua
própria natureza, ou, mais simplesmente, que o homem produz a si mesmo‖2. Neste sentido, a
realidade é uma construção social coletiva e ao mesmo tempo individual.
Para a construção do valor social nesse contexto, deve-se considerar dois aspectos
essenciais: o individual, que vem de interesses pessoais, e o coletivo, no qual o capital social
individual reflete-se na esfera coletiva do grupo. Seria assim, elemento fundamental para a
constituição e o desenvolvimento das comunidades o chamado capital social, que segundo
Putnam (2000 apud Recuero 2009, p.45) ―refere-se à conexão entre indivíduos – redes sociais
e normas de reciprocidade e confiança que emergem dela‖. Conforme resumiu Recuero:
Para Putnam, o conceito de capital social é intimamente associado à ideia de virtude
cívica, de moralidade e de seu fortalecimento através das relações recíprocas. Essa
ideia engloba dois aspectos essenciais para a construção do valor social: o individual
e o coletivo. O aspecto individual vem dos interesses dos indivíduos em fazer parte
de uma rede social para seu próprio beneficio. O aspecto coletivo vem do fato de
que o capital social individual reflete-se amplamente na esfera coletiva do grupo,
sejam eles como custos ou benefícios. É daí que vem a dupla natureza do conceito,
que pode englobar tanto bens privados como coletivos. (RECUERO, 2009, p. 45)
A percepção do capital social construído nos sites de redes sociais permite verificar o
tipo de valor construído em cada um deles. Segundo Bertolini e Bravo (2001), os valores mais
comumente relacionados aos sites de rede social são 1) A visibilidade entre conexões
(aumentar a visibilidade social tem efeitos na complexificação da rede e no capital social
obtido pelo ator); 2) A reputação (percepção construída de alguém pelos demais atores); 3) A
popularidade (valor relativo à posição de um ator dentro de sua rede social); e 4) A autoridade
(refere-se ao poder de influência de um nó na rede social). Esses valores correspondem ao
chamado primeiro nível de capital social, aquele que mantém uma rede social, mas não é
capaz de aprofundar os laços dessa rede. O segundo nível, segundo os autores, favorece a
2 Tradução nossa. Do original: ―while it is possible to say that man has a nature, it is more significant to say that
man constructs his own nature, or more simply, that man produces himself‖.
27
institucionalização de um grupo social e seus valores não são facilmente obtidos nos sites de
redes sociais.
Tomamos a definição de Coleman (1990) - "A função identificada pelo conceito de
"capital social" é o valor dos aspectos da estrutura social para os atores, como recursos que
podem ser usados pelos atores para perceber seus interesses3" – e consideramos que cada site
de rede social é apropriado de maneira particular pelos atores. A partir disso, visualizamos
diferentes capitais sociais ao tratar sobre um mesmo assunto em diferentes sites de redes
sociais. Para exemplificar melhor esses valores, tomamos como exemplo uma explicação
irônica e bem humorada que circulou na internet com a intenção de diferenciar alguns dos
mais populares sites de rede social utilizados no Brasil (Figura 1).
Figura1: Explicando as mídias sociais4
3 Tradução nossa. Do original: ―the function identified by the concept of 'social capital' is the value of those
aspects of the social structure to actors, as resources that can be used by the actors to realize their interests". 4 Fonte original:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151586573226565&set=a.351844326564.189635.21030217656
4&type=1&theater>. Acesso em: 29/04/2013 às 15:52.
28
Ainda que o exemplo seja simplório – tomar sorvete parece não dizer muito sobre
mobilização e cidadania – a simplificação é figurativa e pode ser mais amplamente
compreendida a partir da leitura ―EU CONSUMO‖. Afinal, trata-se do impulso primário que
move a utilização de cada ferramenta já na adesão (ao me inscrever em um site de rede social,
eu passo a consumi-lo) e na apropriação (consumo a ferramenta para compartilhar outras
experiências de consumo). Na reconceitualização do consumo proposta por Canclini (2008),
ele deixa de ser simples cenário de gastos inúteis e impulsos irracionais para representar um
espaço que serve para pensar, e no qual se organiza grande parte da racionalidade econômica,
sociopolítica e psicológica das sociedades.
Quando selecionamos os bens e nos apropriamos deles, definimos o que
consideramos publicamente valioso, bem como os modos de nos integrarmos e nos
distinguirmos na sociedade, de combinarmos o pragmático e o aprazível. Em
seguida, exploramos como as visões de consumo e cidadania poderiam mudar se as
estudássemos conjuntamente, com instrumentos da economia e da sociologia
política, mas tomando-as também como processos culturais, recorrendo, portanto, à
antropologia para tratar da diversidade e do multiculturalismo. (CANCLINI, 2008,
p.35)
Percebe-se que um mesmo ato – tomar sorvete – é comunicado de diferentes maneiras
de acordo com o site de rede social escolhido, para não soar como voz destoante entre o
conjunto de atores conectados. Quem utiliza todos os sites citados, ao ler o texto da figura,
com certeza identifica imediatamente o porquê das relações em um código implícito que não é
explicado, mas assimilado em processo dinâmico a partir da observação do comportamento
das conexões. E o processo é dinâmico porque não necessariamente um site de rede social
pode nascer e permanecer com o mesmo propósito. O MySpace, por exemplo, nasceu como
site de relacionamentos e tornou-se vitrine musical de bandas independentes, redirecionando
seus objetivos continuamente.
(...) o MySpace, em geral, tinha uma postura frouxa a respeito de quase
tudo. Para os usuários, isso era conveniente. Em primeiro lugar, o site era menos
rígido que as outras redes sociais quanto a quem podia aderir. Não era necessário
receber um convite de um usuário ativo e era possível usar o nome real ou um
pseudônimo. Uma das características mais apreciadas pelos usuários não era nem
mesmo intencional: um erro de programação inicial permitia que os membros
baixassem códigos da internet – chamados HTML – e os agregassem a seus perfis.
As pessoas logo começaram a usar essa possibilidade para enfeitar suas páginas.
Sempre adaptáveis, os fundadores do MySpace notaram o entusiasmo dos usuários e
agregaram o erro como trunfo.
(...) Incialmente, o MySpace se espalhou entre os amigos relativamente
moderninhos de Anderson e DeWolfe em Los Angeles. Os fundadores
comercializam seus serviços nos clubes, tanto para as bandas quanto para o público.
29
Pouco tempo depois, tornou-se um instrumento essencial de promoção de bandas de
Los Angeles. Não demorou muito para que músicos empreendedores em todo o país
começassem a adotar o MySpace. Junto com as bandas, veio o público das bandas –
os adolescentes.
O MySpace era descolado e um ótimo site para descobrir informações sobre bandas,
mas também se inclinou em direção ao sexual. Fazer festas do MySpace em boates
de todo o país tornou-se mais uma das ferramentas de promoção do site. A
mensagem implícita era: o MySpace é um clube digital no qual comportamentos
ousados são bem vindos. (KIRKPATRICK, 2011, P. 86-87)
Nessa perspectiva, o tantas vezes controverso aforismo de McLuhan - ―o meio é a
mensagem‖ - ganha uma aplicação muito coerente. Afinal, ele adotou como eixo de
orientação para seus estudos a análise do meio como um todo, entendendo-o como uma nova
linguagem que reforma toda a cultura. Em uma de suas proposições, ele amplia o sentido da
ideia de conteúdo afirmando que o conteúdo de um meio é o próprio usuário desse meio. A
reflexão é corroborada pelo fato de que os sites de redes sociais são apenas sistemas, e por
isso ―a internet será o que as pessoas fizerem dela‖ – como afirmou Chomsky no início deste
tópico (p.21).
Em um segundo momento, produzir ou analisar uma mensagem com vistas ao
entendimento dos atores envolvidos requer o reconhecimento das tais mensagens implícitas
nos sites de redes sociais. Se estou em um site como o Twitter que busca responder a pergunta
―O que você está fazendo?‖, digo que estou tomando um sorvete. Se estou no Foursquare, que
pressupõe indicações de consumo por geolocalização, só faz sentido utilizá-lo se, ao dizer que
estou tomando um sorvete, estou disposto a incluir na frase um advérbio de lugar na forma de
check-in digital. Já o Facebook pede adjetivos qualificadores do ato de tomar sorvete, pois
reúne informações identitárias sobre hábitos e costumes. E assim o meio se torna também a
mensagem que desejamos transmitir, enquanto a produção de significado se orienta por
processos peculiares, em uma função emergente de um modelo de ordem típica de sistemas
complexos.
Segundo Pereira (2011), a aproximação tão comum entre mensagem e significado
―não deve ser gratuita e imediata, pois a recepção de uma mesma mensagem por diferentes
sistemas não é garantia de mesmos significados‖ (p. 136):
O significado, portanto, seria a propriedade de um sistema agregar sentido a
uma dada mensagem – aquilo que é percebido ou imaginado por esse mesmo
sistema – rebatendo-a contra um conjunto de mensagens outras, disponibilizadas
pela memória do referido sistema.
(...) Se o significado não está amarrado diretamente à mensagem, mas exige a
participação da estrutura mnêmica do sistema que processa a imagem recebida, a
30
própria mensagem, da mesma maneira, não é garantia de univocidade para diferentes
sistemas. (PEREIRA, 2011, p. 136-137)
Com esse panorama, é interessante observar como a perspectiva histórica do sociólogo
polonês Zygmunt Bauman relativizou a firmeza dos laços que são essenciais para a formação
de um capital social intimamente associado à ideia de virtude cívica em sites de redes sociais,
esclarecendo a diferença entre os capitais sociais de primeiro e segundo nível levantados
anteriormente por Bertolini e Bravo. Em rápido vídeo produzido para o site Fronteiras do
Pensamento5, Bauman compara a noção de rede social com a noção de comunidade e ressalta
a fragilidade das motivações que estimulam a adesão às redes.
Um viciado em Facebook me segredou, não segredou, mas de fato gabou-
se, de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu tenho 86
anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso. Então, quando ele diz
"amigo" e eu digo "amigo", não queremos dizer a mesma coisa. São coisas
diferentes.
Quando eu era jovem, eu nunca tive o conceito de "redes". Eu tinha o
conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não redes. Qual
é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce em
uma comunidade. Por outro lado, temos a rede. O que é a rede? Ao contrário da
comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: Uma é
conectar e a outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de
amizade, o tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que
é tão fácil desconectar. É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo é a
facilidade de se desconectar.
Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online,
compartilhamento online, mas conexões offline, conexões de verdade, frente a
frente, corpo a corpo, olho no olho. Então, romper relações é sempre um evento
muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que explicar, você
tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro porque
seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco, etc. É difícil. Na
internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto. Em vez de 500 amigos, você
terá 499, mas isso será temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina
os laços humanos. (BAUMAN, 2013)
Ao fazer essa comparação, Bauman instiga a perguntar: Qual comunidade nos
precede? A resposta fatalmente passa pela busca de referências de tempo e espaço – quando e
onde nascemos, ou, em que momento histórico e em qual espaço geográfico nos identificamos
a ponto de nos reconhecermos individual e socialmente. No entanto, com a
desterritorialização dos laços sociais, como suplantar a comunidade sobre a rede social e
5 Endereço eletrônico http://www.fronteirasdopensamento.com.br. Segundo a descrição do site: ―O Fronteiras do
Pensamento é um projeto cultural múltiplo que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de
qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. Através de uma série anual de conferências, o Fronteiras
abre espaço para o debate sobre a identidade do século XXI, apresentando pensadores, cientistas e líderes que
estão, cada um a seu modo, na vanguarda nas mais diversas áreas de pesquisa e pensamento.‖
31
assim garantir capitais sociais de níveis mais elevados? Castells (2001) classificaria tal
pergunta como simplista e enganosa, pois a mesma considera uma suposta ―oposición
ideológica entre la comunidad local armoniosa de un pasado idealizado y la alienada
existencia del solitario internauta‖ (p.137). Isso porque a mudança do sentido de lugar
geográfico é amplificada pela internet, mas não definida por ela, uma vez que a transição das
formas de sociabilidade não é um fenômeno recente.
Frente a las afirmaciones de que Internet es una fuente de comunidad renovada o, al
contrario, de que constituye una causa de alienación y escape del mundo real, parece
ser que la interacción social en la red, em general, no tiene un efecto directo sobre la
configuración de la vida cotidiana más allá de añadir la interacción on line a las
relaciones sociales previamente existentes. (CASTELLS, 2001, p.140)
Putnam, citado por Matos (2009), lembra que ―(...) quando a internet alcançou 10% dos
americanos, em 1996, o declínio da vinculação social e do engajamento cívico na América já
tinha, pelo menos, 25 anos de existência‖. Ainda, ―a internet poderia fazer parte da solução do
problema cívico ou ainda exacerbá-lo, mas a revolução cibernética não o provocou‖ (p.135). Com
essa premissa, tomamos a liberdade de mudar o lugar das perguntas: Primeiro, considerando o
capital social associado à ideia de virtude cívica em uma realidade globalizada mediada pela
internet (não necessariamente modificada por ela de modo unilateral). Segundo, admitindo que
esse contexto pode relativizar o conceito de comunidade elevando-o a outro patamar ou
dando-lhe uma nova função.
É o que propõe McLuhan ao apresentar a ideia de aldeia global: a tecnologia estaria
aproximando o mundo de tal forma que o mundo estaria se tornando uma aldeia, os
acontecimentos gerais afetam as particularidades dos indivíduos da mesma forma que ocorre
numa pequena aldeia. Atualizando o conceito através do formato de comunicação em rede
que faz emergir a teia global, vemos que a evolução das tecnologias comunicacionais impõe
um aprimoramento das capacidades de produzir, partilhar e acumular informações,
promovendo uma transformação profunda das referências nas quais as culturas costumavam
se orientar.
Circuitos elétricos aboliram o regime de ―tempo‖ e ―espaço‖ e derramam sobre nós,
instantânea e continuamente, as preocupações de todos os outros homens. Eles
reconstituíram o diálogo em uma escala global. Sua mensagem é ―mudança total‖,
acabando com o paroquialismo psíquico, social, econômico e político. Os velhos
agrupamentos cívicos, estatais e nacionais têm se tornado impraticáveis. Nada pode
estar mais afastado do espírito das novas tecnologias do que ―um lugar pra tudo e
32
tudo em seu lugar‖. Você não pode voltar para casa de novo. (MCLUHAN e
FIORE, 1967, p.16, apud PEREIRA, 2011, p. 151)
A necessidade de caracterizar a comunidade dentro dessa nova realidade (―A
comunidade precede você, mas você não pode voltar pra casa de novo‖) leva Bauman (2003)
a refletir sobre seus paradoxos quando consideramos o dilema entre o público e o privado, a
resistência à utópica e almejada segurança coletiva em prol da liberdade individual. Nesse
dilema, encontram-se duas tendências que acompanharam o capitalismo moderno: 1) o
esforço de substituir o entendimento natural da comunidade de outrora por outra rotina
artificialmente projetada, e 2) a tendência de criar um novo sentido de comunidade dentro de
uma nova estrutura de poder.
Não à toa, quando Canclini (2008) busca entender a transição das identidades clássicas
às novas estruturas globais, ele ressalta que as transformações têm origens em processos
derivados do desenvolvimento desigual e contradições. Para ele, ―a afirmação da diferença
deve estar unida a uma luta pela reforma do Estado, não apenas para que aceite o
desenvolvimento autônomo de comunidades diversas mas também para assegurar as
possibilidades de acesso aos bens da globalização‖ (p.36). Assim, analisar o afloramento de
novas identidades no espaço comunicacional da cibercultura torna-se fundamental ao
entendimento de como as formas de expressão nos sites de redes sociais podem contribuir a
um efetivo exercício da cidadania.
1.3 O afloramento de novas identidades
Di Felice (2008) afirma que a distinção identitária entre emissor e receptor, entre empresa
e consumidor, entre instituições e cidadãos, entre público e privado, entre outras, ―não
conseguem mais explicar a complexidade das interações sociais nem as formas do habitar
metageográficas contemporâneas‖ (p. 17). Contemporizamos um cenário de modernidade
tardia, conceito utilizado por Giddens (2002) para definir um tempo no qual temos que
escolher entre certezas do passado e novas realidades que estão em constante mutação.
Estamos reinventando a vida em sociedade e, nesse processo, as velhas identidades que
estabilizavam o mundo cultural entraram em declínio, fazendo surgir novas identidades que
fragmentaram o homem moderno. Theodore Roszak, citado por Giddens (2002, p. 193),
33
afirmou que "vivemos numa época em que a experiência muito privada de ter uma identidade
pessoal a descobrir, um destino pessoal a realizar, tornou-se uma força subversiva da maior
importância".
Não é o projeto reflexivo do eu enquanto tal que é subversivo; antes, o etos do
autocrescimento assinala importantes transições sociais na modernidade tardia como
um todo. Essas transições são aquelas que foram acentuadas neste estudo — a
reflexividade institucional em expansão, o desencaixe das relações sociais pelos
sistemas abstratos e a conseqüente interpenetração do local e do global. (Giddens,
2002, p. 193)
Essa interpenetração do global e do local opera modos de vida desconectados de todos
os tipos tradicionais de ordem que estabilizavam o mundo social – entre elas a cidade, que
perdeu importância como núcleo da vida cívica. Para Canclini (2008), ―o que antes era um
nível avançado de organização social se tornou cenário caótico de mercados informais nos
quais multidões procuram sobreviver sob formas arcaicas de exploração, ou nas redes de
solidariedade ou da violência‖ (p.11). Por isso, ele sugere que a clássica definição
socioespacial da identidade referida a um território particular precisa ser complementada com
uma definição sociocomunicacional, o que requer análises relativas aos cenários
informacionais e comunicacionais nas quais também se configuram e renovam as identidades.
Nesse sentido, os meios eletrônicos viabilizam uma reestruturação geral das articulações entre
o público e o privado que pode ser percebida também no reordenamento da vida urbana.
Canclini sintetiza essas mudanças socioculturais em cinco processos. Primeiramente, o
redimensionamento da importância das instituições, de modo que o local e o nacional
perde peso diante do transnacional. Em seguida, temos a reformulação dos padrões de
assentamento e convivência urbanos. Em outros termos, é como se as pessoas passassem
tanto tempo se locomovendo entre compromissos e lugares que mal encontram tempo para
entender melhor a dinâmica de sua própria comunidade. Com isso, ocorre o terceiro e o quarto
processos, a reelaboração do “próprio” e a redefinição do senso de pertencimento e
identidade, organizado cada vez menos por lealdades locais ou nacionais. Por fim, temos
também a revisão da ideia de cidadão, que passa de um representante da opinião pública
para um consumidor interessado em qualidade de vida.
Uma colocação de Canclini nos ajuda a entender a teoria de Bauman, citada
anteriormente, de que a comunidade é anterior a nós e, por isso, pressupõe laços mais fortes
do que os estabelecidos nas redes sociais pelas quais nos orientamos atualmente. Canclini
34
afirma que os estudos sobre consumo cultural mostram que quanto mais jovens são os
habitantes de uma cidade, mais seus comportamentos dependem de circuitos socioculturais de
comunicação de massa e de sistemas restritos de informação e comunicação do que os
circuitos socioculturais histórico-territorial e os de cultura das elites, constituído pela
produção simbólica escrita e visual. Assim, a cultura não é narrada pelas obras de arte ou
pelos relatos históricos, mas ―abarca o conjunto dos processos sociais de significação ou, de
um modo mais complexo, a cultura abarca o conjunto dos processos sociais de produção,
circulação e consumo da significação na vida social‖ (Canclini, 2009, p.41).
Se no fim do século XIX as crônicas jornalísticas configuravam o sentido da vida
urbana inventariando o orgulho monumental dos signos de desenvolvimento comercial
moderno, hoje estamos diante de uma era de emaranhados dispersos, cada qual singular. A
unidade e a identidade existentes terão que ser negociadas, produzidas a partir da diferença,
conforme destacou Geertz:
O que precisamos, ao que parece, não é de ideias grandiosas nem do abandono
completo das ideias sintetizadoras. Precisamos é de modos de pensamento que sejam
receptivos às particularidades, às individualidades, às estranhezas, descontinuidades,
contrastes e singularidades, receptivos ao que Charles Taylor chamou de
"diversidade profunda", uma pluralidade de maneiras de fazer parte e de ser, e que
possam extrair deles – dela - um sentimento de vinculação, de uma vinculação que
não é abrangente nem uniforme, primordial nem imutável, mas que, apesar disso, e
real. (GEERTZ, 2001, P. 196)
Assim, as narrativas que ―organizam‖ o cotidiano saem das crônicas jornalísticas e
ganham novas formas de expressão em múltiplos relatos que precisam, de alguma forma, se
conectarem para fazer sentido. Canclini compara esse processo à um videoclipe: montagem
efervescente de imagens descontínuas. ―Como nos vídeos, a cidade se fez de imagens
saqueadas de todas as partes, em qualquer ordem. Para ser um bom leitor da vida urbana, há
que se dobrar ao ritmo e gozar as visões efêmeras‖ (CANCLINI, 2000, p. 123).
Considerando que os efeitos da tecnologia comunicativa ―se manifestam nas relações
entre os sentidos e nas estruturas de percepção‖ (MCLUHAN, 1996), no cenário midiático da
era digital tais estruturas se tornam cada vez mais complexas e o estabelecimento de relações
entre os sentidos evoluem para um processo cada vez mais participativo. A esse fenômeno,
que não é apenas tecnológico, mas também social e cultural, aplica-se o conceito de
convergência.
35
Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas
de mídia, à cooperação entre múltiplas indústrias midiáticas e o comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão quase a qualquer parte
em busca das experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2009, p. 29).
O processo de convergência permite integrar qualquer pessoa aos fluxos de
informação de maneira ativa. Ao mesmo tempo, o comportamento migratório dos públicos é
estimulado pela inesgotável oferta de informação que esse novo ecossistema midiático
oferece, liderado pela internet. É o internauta que procura, seleciona e compõe a informação,
enquanto os grupos e comunidades aos quais ele pertence promovem uma filtragem para dar
sentido a cada informação compartilhada. Já não se trata de selecionar, resumir e transmitir,
mas indicar pistas que ajudem a construir uma narrativa transmídia. Nesse processo de
transmediação, o conteúdo se desdobra em múltiplas plataformas, nas quais cada fragmento
novo faz uma contribuição para o todo, de modo que a convergência ocorre primeiro no
cérebro e nas relações sociais. Da mesma forma, a mesma plataforma de mídia e o mesmo
conteúdo podem ter diferentes repercussões em diferentes países do mundo, ou mesmo em
diferentes regiões de um mesmo país ou Estado marcado pelo multiculturalismo. Como é
possível, então, um processo global de homogeneização cultural ser, ao mesmo tempo, um
processo de democratização da informação?
Jenkins elucida um pouco dessa questão tomando como exemplo a proposta do vice-
presidente americano Al Gore, que em 2005 lançou o canal de TV a cabo Current aberto à
participação popular via web como incentivo ao jornalismo cidadão. Para ele, o que move o
incentivo à cultura participativa própria da convergência midiática não é uma suposta missão
de delegar poderes ao público, mas uma ação movida por interesses econômicos:
A indústria midiática está adotando a cultura da convergência por várias razões:
estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados; a
convergência cria múltiplas formas de vender conteúdo aos consumidores; a
convergência consolida a fidelidade do consumidor, numa época em que a
fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos
antigos de fazer negócios. (JENKINS, 2009, p. 325)
O panorama não deve instigar, entretanto, a compreensão dessa convergência apenas
como manipuladora de processos, tal como acreditava-se na era dos mass media. Como a
convergência não existe sem a lógica da rede, que ―modifica de forma substancial a operação
e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura‖ (CASTELLS,
36
1996, p. 565), compreendemos que o poder dos fluxos é mais importante que os fluxos de
poder.
A inserção da tecnologia na vida cotidiana agrega diferentes significados culturais em
diferentes contextos de uso. Os âmbitos online e offline são, portanto, indissociáveis. Nem
mesmo um agente facilitador como uma rede social digital poderia confrontar-se com a
possível apatia cívica de um determinado momento histórico. Tal apatia também pode ser
chamada de transição identitária, uma vez que nada tem a ver com passividade, mas sim com
a reinvenção das formas de significação e expressão no ciberespaço. Estas estão diretamente
relacionadas aos impulsos de pertencimento e engajamento. Como exemplo, Di Felice (2008)
retoma um estudo de Jean-Pierre Vernant que situa a origem da política nas competições que
aconteciam nas pólis gregas, afirmando que
(...) o sentimento público e as práticas das decisões coletivas estariam nas
representações simbólico-comunicativas das tragédias. Nestas, além do elemento
competitivo, que requeria a participação e o voto do público, comunicavam-se os
denominadores éticos comuns da vida social. (DI FELICE, 2008, p.20)
Trazendo essa analogia para o contexto da internet, o teatro grego se converte para a
narrativa transmídia, para a qual o sentido das informações está na forma de contar uma
história. A narração não é apenas expressiva, mas também constitutiva do que somos
individual e coletivamente, sendo fundamental para instaurar a relação de reconhecimento e
participação social.
Nesse contexto, quando não há a possibilidade de influenciar decisões, os atores
tendem a se afastar, impulsionados pela dualidade entre participação (convergência) e
opressão (divergência). Tal relação é explicada por Giddens ao caracterizar uma ideia de
política-vida na qual, paradoxalmente, o princípio mobilizador seria o princípio da autonomia.
(...) a auto-identidade é hoje uma realização reflexiva. A narrativa da auto-identidade
deve ser formada, alterada e reflexivamente sustentada em relação a circunstâncias
da vida social que mudam rapidamente, numa escala local e global. (...) Uma
narrativa reflexivamente ordenada da auto-identidade fornece os meios de dar
coerência à vida finita, dadas as circunstâncias exteriores em mudança. (GIDDENS,
2002, p.206)
Assim, para a construção de um valor comunitário, deve-se considerar dois aspectos
essenciais: o individual, que vem de interesses pessoais, e o coletivo, no qual o capital social
37
individual reflete-se na esfera coletiva do grupo. O conflito entre os interesses individuais e
coletivos se manifesta, muitas vezes, na indiferenciação entre direitos e privilégios. Nesse
sentido, retoma-se a eficiência da narrativa transmídia para a expressão de realidades
coletivas, tendo múltiplas vozes como meios fornecedoras e estruturadoras de fragmentos.
Para Jenkins (2009), a atual diversificação de canais é politicamente importante
―porque expande o conjunto de vozes que podem ser ouvidas: embora algumas vozes tenham
mais proeminência que outras, nenhuma voz fala sozinha com autoridade inquestionável‖
(p.288).
1.3.1. Ciberjornalismo, Blogs e Jornalismo Cidadão
Nesse contexto cibercultural o jornalismo ganhou um novo gênero: o ciberjornalismo,
que reúne todas as capacidades dos gêneros jornalísticos até então conhecidos e oferece novas
possibilidades, como interatividade, acesso on-demand, controle por parte da audiência e
personalização (PAVLIK, 2001). Assim, revela seu potencial para ultrapassar os limites do
jornalismo tradicional no que diz respeito à formação de opinião pública para o exercício da
cidadania, bem como a participação direta do cidadão na produção informativa. Temos aí o
Jornalismo Cidadão, que tem sido definido como ―a convergência entre um centro de
competências, as funções de jornalistas e o potencial cívico da comunicação interativa
online‖6 (BARDOEL; DEUZE, 2001, p.23).
Nesse processo de participação hipermídia, é viabilizada a resistência a argumentos
jornalísticos inconsistentes com relação a posicionamentos políticos e crenças estabelecidas.
Pela interação, estendem-se as informações contextuais para novas percepções e construção
de sentidos a partir de novidades e registros antigos. Temos, assim, um aumento desenfreado
do fluxo informacional que faz emergir novas modalidades de consciência em função de
como as informações acumuladas podem ser acessadas, conforme alertou McLuhan (1996).
Como o simultâneo agrega acontecimentos pessoais, locais e globais de diferentes culturas e
motivações, as alterações perceptivas e cognitivas promovidas pelas novas tecnologias da
comunicação transcendem a linearidade da escrita e do modelo gutenberguiano. Ainda, o
direito à voz – seja em um perfil na rede social, em um blog ou na colaboração jornalística –
6 Tradução nossa. Do original: ―the convergence between the core competences and functions of journalists and
the civic potential of online journalism‖.
38
mostra que o trânsito de mensagens segue até a externalização de uma opinião no debate
público.
Mas, se o campo da política é um campo de disputas de diferentes grupos sociais para
impor uma definição de mundo social de acordo com seus interesses, ela ocorre no terreno do
simbólico, como aponta Bourdieu (1989). Para ele, o que está em jogo é uma disputa de
conteúdos (representações do mundo) e do lugar de fala, sem qualquer atenção à relação aí
produzida ou à dimensão das formas criadas. Assim, com a facilidade de legitimação das
opiniões – que já não se orientam por consensos de classes sociais ou comunidades – o poder
acaba se dissolvendo no ciberespaço. O que pode explicar a ocorrência de massivas
sensibilizações nesse ambiente é a Teoria das Brechas de Jesus Martin-Barbero. Pela
metáfora, um muro, por mais maciço que seja, sempre deixa brechas que as pessoas podem
aumentar para derrubá-lo. Se o conceito surgiu nos anos 80 para estimular a insurgência
contra regimes totalitários, hoje é atualizado por Barbero para mostrar o papel da internet
diante das mídias tradicionais pela possibilidade de contrafluxo no sistema de comunicação de
massa, partindo da emissão inicial do público para os meios.
Em uma entrevista à Assessoria de Comunicação da UNILA (BLOG DE PEDRO
GRANADOS, 2012), Barbero afirmou que a pesquisa em blogs é essencial para sabermos o
que realmente está acontecendo em um país. ―E lá você verá pessoas com perfis diferentes
discutindo em igualdade. Estudantes de ensino médio argumentando com professores
universitários. Hoje, o maior intercâmbio de conhecimento está nas diversas formas de
discussão que há na internet‖, afirmou. Quando surgiram, os blogs eram ferramentas de
publicação de diários virtuais, mais do que um gênero de informação específico. A
apropriação da ferramenta conduziu seu uso aos mais diversos propósitos, mas tal pluralidade
não anula suas peculiaridades: em geral, refletem uma auto-expressão em algum nível,
traçando pistas de quem é aquele blogueiro para seus leitores (RECUERO, 2010).
Existem os chamados blogueiros profissionais, que trabalham para grandes audiências
e buscam fontes de remuneração financeira por isso, e também os blogueiros sociais que são
focados em audiências menores. Em ambos, há uma natureza conversacional, indicando que a
percepção da audiência (embutida nos comentários e referências) pode influenciar parte
daquilo que é publicado.
O que distingue weblogging de web mídias anteriores é seu caráter social, o meio
dos blogs veio a existir quando estes autores reconheceram-se como uma
39
comunidade. Todo sistema social informal tem o seu próprio fim, constituída pela
atribuição de amizade, confiança e admiração entre os membros. Estas várias formas
de organização social dão origem a organização de nível superior, em que os
indivíduos assumem papeis informais, como líder de opinião, gatekeeper ou
especialista. Entre os weblogs, grande parte desta ordem social é observável através
dos links de hipertexto que os autores fazem entre si. (...) Juntas, essas referências
formam uma rede de leitores que abrange todo o conteúdo produzido pela
comunidade. (MARLOW, 2006)7
No jornalismo cidadão, a legitimação do conteúdo ainda depende da mediação do
jornalista, caracterizando uma interação mútua, na qual há negociação entre os interagentes
(PRIMO, 2000). Por outro lado, as mídias sociais surgem como outra forma de livre
expressão. Constituindo uma ―comunidade do conhecimento‖, blogs e perfis em rede se
tornaram fontes de informação para a imprensa, questionando a hipótese do gatekeeper e
influenciando padrões de agendamento da imprensa (TRAQUINA, 2005). Como a publicação
e a legitimação do conteúdo na web independem de sucessivas mediações subjetivas, o
jornalista tornou-se melhor reconhecido no papel de gatewatcher (BRUNS, 2005), aquele que
filtra e organiza o grande volume de informação produzido por terceiros.
O valor de divulgação desses elementos está no fato de que a informação ainda não
apareceu rede interativa do ator. Por isso, ele repassa as informações obtidas através
da rede associativa para sua rede interativa, acumulando o capital social obtido junto
ao grupo. (RECUERO, 2007)
Para que o exercício da cidadania seja presente de fato na atividade colaborativa, é
preciso vencer a necessidade de informação rápida e atualizada que tomou conta da realidade.
Os critérios de noticiabilidade incorporados ao fazer jornalístico ganham novos conceitos e
adaptações à ética e aos valores próprios das mídias sociais. O reconhecimento delas como
fontes de informação associadas à velocidade de atualização dos portais ciberjornalísticos
acentua a elevação de fatos pessoais ao status de fatos sociais. Ainda, a automática
legitimação do conteúdo publicado nas mídias sociais provoca uma crise na credibilidade da
7 Tradução nossa, do original: ―What distinguishes weblogging from previous web media is the extent to which
it is social; the medium of blogging came into existence when these authors recognized themselves as a
community. Every informal social system has its own order, constituted by the attribution of friendship, trust,
and admiration between members. These various forms of social association give rise to higher-level
organization, wherein individuals take on informal roles, such as opinion leader, gatekeeper or maven. Among
weblogs, much of this social order is observable through the hypertext links that authors make to each other‘s
sites. (…) Together these references form a readership network that spans the content produced by the
community.
40
informação, que muitas vezes não é suprimida após a divulgação em um veículo midiático
institucionalizado.
A compulsão pela atualidade significa cair no superficial e preferir a rapidez à
precisão. A publicação regular de jornais ou a transmissão de programas noticiosos
sempre resulta em pressa. Por isso, a seleção jornalística tende para a atualidade,
para as preferências do público, para o facilmente digerível – noutras palavras, para
o sensacionalismo. A fim de justificar a compulsão pela atualidade, recorre-se ao
argumento antropológico segundo o qual as pessoas são seres curiosos que se
interessam pelo novo. Mas a novidade pela novidade produz um ―jornalismo de
retalhos‖. (...) A realidade social é representada como um mosaico colorido de
eventos que não guardam relação alguma entre si. O jornalismo de desenvolvimento
deve ser mais reflexivo, deve explicar os contextos. (KUNCZIK, 2002, p. 365)
Ao entrelaçar essas três atividades – o ato de produzir conteúdo para um blog,
comentar, influenciar e/ou disseminar uma notícia jornalística por uma rede social e
colaborar com a produção da notícia, estamos descrevendo um ecossistema midiático cujas
variáveis já não podem mais ser isoladas para identificar seus efeitos.
Vejamos um caso ilustrativo: Em 2010, um grande incêndio no Morro dos Cabritos, na
Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro, mobilizou imediatamente os sites de redes sociais. Com a
dificuldade que a mídia tradicional encontrou para obter informações, – nem mesmo o
helicóptero dos bombeiros conseguia se aproximar do morro – logo postagens de moradores
próximos ao local passaram a registrar a evolução do incêndio no Twitter, inclusive por
imagens e vídeos. O movimento começou a pautar os portais de notícias que, sem acesso a
informações oficiais do Corpo de Bombeiros, legitimaram as informações dos internautas sem
checagem prévia para acompanhar a velocidade do fluxo. No blog ―Diário do Rio de
Janeiro8‖, imediatamente um post buscava reunir as informações sem compromisso com o
modelo da narrativa jornalística: ―Vou tentar incluir neste posts as fotos e notícias que vou
pegando até quando for dormir. Como os portais não fazem o trabalho deles vou catando [sic]
as informações pelo Twitter mesmo‖, foi assim que o autor do blog justificou o valor social
de seu trabalho. Nos dias subsequentes, os blogs sobre comunicação digital se uniam na
exposição de argumentos para justificar a importância das redes sociais. Alguns deles
atribuíam essa importância à inoperância do jornalismo tradicional diante do fato analisado.
Foi o caso do blog NOESQUEMA, de Bruno Natal9:
8 <http://www.diariodorio.com/notcias-do-incndio-no-morro-dos-cabritos/>. Acesso em 13/02/2013. 9 <http://www.oesquema.com.br/urbe/2010/06/20/incendio-no-morro-dos-cabritos.htm>. Acesso em 13/02/2013.
41
Um dos pontos mais abordados entre os usuários era justamente a demora
dos portais de notícia em falar do fogo. O cheiro de queimado já havia se espalhado
por diversos bairros até o triste assunto finalmente surgir nos canais de notícia na
TV e na rede, com um atraso de mais de hora — e sem imagens.
Da mesma janela de onde fez o registro mais comentado do Rio saindo do
apagão ano passado (e também de uma tempestade se formando), Tiago
Lins novamente foi rápido. As imagens aceleradas do fogo, ainda no início, se
alastrando pelo morro foram divulgadas pelo Twitter no início da madrugada. Está
se espalhando tão rápido quanto o fogo, transformando-se, outra vez, no principal
flagrante da desgraça.
O ―Rio saindo do apagão‖ e a ―tempestade se formando‖ ganharam hiperlinks para as
matérias correspondente. O perfil de Thiago Lins no Twitter também – a essa altura, o usuário
já tinha estabelecido sua autoridade como fonte de informação. O que não foi percebido pelo
blog ―Diário do Rio de Janeiro‖, nem por Bruno Natal e nem mesmo por portais que se
apropriaram no material instantaneamente, é que o vídeo apresentado por Thiago para mostrar
o alarmante alastramento do fogo por todo o morro tinha duração de 1 minuto e 17 segundos.
A manipulação da velocidade das imagens foi indicada por comentários no próprio Youtube,
mas os canais que o replicaram não consideraram essa informação, dando a impressão de que
o fogo tinha tomado conta de todo o morro na mesma velocidade expressa pelo vídeo.
Mais tarde, com a situação controlada e acesso aos posicionamentos oficiais, o Portal
R710
noticiou:
O fogo começou por volta das 22h, chegando ao momento mais crítico por volta da
meia-noite, quando as chamas alcançaram o capim colonial seco, vegetação
característica do local. Por volta das 3h, as chamas já estavam bastante reduzidas.
De acordo com os bombeiros, o fogo diminuiu naturalmente. Isso se deu porque as
chamas encontram obstáculos naturais à medida que se alastram, como pedras
presentes no meio da mata.
A suposta inabilidade de bombeiros para conter o fogo, levantada por alguns
comentários, bem como a ineficiência dos jornalistas tradicionais para obter informações
precisas de maneira rápida, pôde ser relativizada por outro aspecto da cobertura do R7:
Formou-se um verdadeiro rodamoinho de fogo no alto do morro. Teremos
bastante trabalho durante o dia e ainda não sabemos as proporções. O tenente-
coronel do Corpo de Bombeiros de Copacabana, Gustavo Belchior, acrescenta que o
trabalho no momento é para proteger as edificações e a comunidade instalada
naqueles arredores.
10 <http://noticias.r7.com/cidades/noticias/bombeiros-esperam-amanhecer-para-avaliar-extensao-do-incendio-
em-morro-do-rio-20100620.html>. Acesso em 13/02/2013.
42
Não houve combate direto às chamas, porque o local é de difícil acesso.
Esse trabalho só poderá ser feito ao longo do dia, após o reconhecimento da área.
Precisaremos sobrevoar o morro, até para não expor os bombeiros ao risco.
Diante do fato, qualquer discurso que relativize a importância do modelo tradicional
de jornalismo deve considerar que as apropriações de blogs e redes sociais precisam de
processos de aperfeiçoamento que atenuem as disparidades entre velocidade e qualidade da
informação, bem como valores associados ao reconhecimento da credibilidade de uma fonte.
Enquanto isso, o jornalismo tradicional passa por uma revisão de papeis e funções para se
integrar a esse ecossistema:
Jornais e revistas – só para examinar o caso da imprensa – são submetidos a
condicionamentos os mais diversos. (...) A liberdade de imprensa, ―como de resto
qualquer outra concepção – escreveria um ensaísta – requer uma adaptação contínua
às necessidades sociais emergentes, sob pena de se transformar na negação de si
mesma e numa simples ideologia de dominação 11. (SODRÉ, 1998)
Sobre a suposta dispersão dos signos e a dificuldade de estabelecer códigos estáveis e
compartilhados, Canclini (2008) argumenta favoravelmente à evolução das apropriações dos
novos meios em consonância com os meios tradicionais. Para ele, ―nenhuma sociedade e
nenhum grupo suportam por muito tempo a irrupção errática dos desejos, nem a consequente
incerteza de significados. Em outras palavras, precisamos pensar, ordenar aquilo que
desejamos‖ (p.64).
1.3.2. O interesse público na dinâmica do mercado
Ao ser influenciada pela força do mercado e sua dinâmica, na qual dialogam interesses
individuais, coletivos e corporativos, a comunicação tem se estruturado em torno de nichos
cada vez mais especializados para promover o chamado conteúdo relevante, um termo
recorrente nos estudos sobre a publicidade e marketing na internet.
O conteúdo relevante caracteriza a comunicação dirigida a um público exposto a
múltiplos estímulos e dotado de grande autonomia de expressão, graças às redes sociais como
Facebook, Twitter, Youtube, Blogs, entre outras. O ambiente online oferece a possibilidade de
conversação, aprendizado e colaboração em rede, como uma janela para ampliação das visões
11 Luciano Martins: ―O problema da liberdade de imprensa‖, in O Semanário, Rio, 16 de novembro de 1963.
43
de mundo do consumidor e consequente amadurecimento do processo consumo. Dessa forma,
a comunicação de uma marca ou de uma ideia não pode mais ser focada na autopromoção
carente de argumentos. Marcar presença nessa rede transmitindo uma avalanche de
informações institucionais e incoerentes é criar um bloqueio indesejável ao fluxo de
comunicação, destoante do interesse público e prejudicial aos interesses privados.
É nessa busca pelo interesse público que a comunicação digital se apoiou em
pressupostos jornalísticos. Os critérios de noticiabilidade do cotidiano de reportagem, ainda
que passem por mediações subjetivas, dão as pistas das informações que as pessoas buscam.
Por isso, acabaram-se tornando pilares das escolhas do marketing digital, cada vez mais
baseado em conteúdos que expressem construção do conhecimento, engajamento,
entretenimento e prestação de serviço. Em termos práticos, um banner sobre os benefícios de
um novo carro, por exemplo, é substituído por um blog corporativo da marca com dicas de
segurança nas estradas, enquanto um blogueiro referência do setor publica uma resenha do
test drive. Não é a marca que vai dizer se o carro é bom, mas sim os membros da rede;
enquanto isso, a empresa busca formas de fidelização e simpatia, expondo o novo produto de
modo transversal em uma narrativa transmídia que se desenvolve espontaneamente.
Essa noção de grupo, onde as opiniões são formadas com base nos diferentes tipos de
conexões, coloca a interação em posição de destaque na experiência de consumo. O caráter
fragmentado do sujeito contemporâneo torna o comportamento de compra suscetível a várias
influências, sendo que ele pode ou não se expor à mensagem midiática, de acordo com
tendências pessoais. Nessa perspectiva, o consumo redefine a sociedade e constrói identidades
através da apropriação e da renovação de bens materiais e simbólicos, uma vez que a
individualidade e a integração social são buscas concomitantes.
A ação de um depende da reação do outro, e há orientação com relação às
expectativas. Essas ações podem ser coordenadas através, por exemplo, da
conversação, onde a ação de um ator social depende da percepção daquilo que o
outro está dizendo. Para os autores, ainda, a interação, como tipo ideal, implicaria
sempre uma reciprocidade de satisfação entre os envolvidos e compreende também
as intenções e atuações de cada um. (PARSONS; SHILL, 1975 apud Recuero, 2009,
p. 32).
Nesse sentido, Dominique Wolton (2007) afirma que as novas tecnologias satisfazem
uma crescente necessidade de agir, o que ele classifica como uma postura do it yourself, que
se manifesta em todas as esferas da vida prática e pode ser viabilizada pela internet, suporte
44
de uma nova solidariedade mundial. Para Jenkins (2009), ainda que essa postura não traga
motivações políticas, sinaliza ―a mudança de grau com que as pessoas comuns se tornam
aptas a inserir suas imagens e ideias no processo político‖ (p.222).
Um exemplo clássico que justifica pela prática esse pensamento de Jenkins é o
processo eleitoral americano de 2010, que elegeu Barack Obama presidente. O candidato
utilizou a internet para conversar com a população por quase 20 meses até ser eleito, e
continuou aproveitando a rede não só para fazer campanha, mas para governar. Ao avaliar o
sucesso da estratégia na internet logo após a eleição, o New York Times afirmou que os
grupos de interesses especiais e os lobistas foram confrontados com um ambiente de
transparência e, daquele momento em diante, teriam um presidente que nada lhes devia.
―Barack Obama compreendeu que poderia usar a internet para baixar os custos de construção
de uma marca política, criar um senso de conexão e de acoplamento, e dispensar o método de
controle e comando do governo para permitir que as pessoas pudessem se auto-organizar para
fazer o trabalho‖, afirmou ao NYT12
o advogado Ranjit Mathoda, investidor e tecnólogo que
mantém o famoso blog Mathoda.com. A matéria foi veiculada no dia 9 dezembro de 2010.
Quem encerrou a reflexão sobre a estratégia de Barack Obama na reportagem do NYT
foi Andrew Rasiej, fundador do Personal Democracy Forum, uma conferência anual sobre a
interseção entre política e tecnologia: ‖Sim, nós nos encontramos com o Big Brother, aquele
que está sempre observando. E Big Brother somos nós‖, afirmou. A referência de Rasiej traz a
idéia da cultura participativa proposta por Jenkins ao utilizar reality shows americanos
como Survivor para explicar que o tipo de conhecimento adquirido pela audiência desses
programas é impossível de ser reunido em uma só pessoa. Para ele, a idéia se contrapõe
ao paradigma do expert: Na era da convergência midiática, a inteligência coletiva é
predominante. Trazendo para a perspectiva política, o velho álibi do ―candidato mais
experiente e mais preparado‖ perde a força.
Mais uma vez, pode parecer inadequada a comparação de reality shows com processos
de decisão e debate político, exceto se compreendermos o consumo como um processo de
exercício da cidadania que constrói parte da racionalidade integrativa e comunicativa de uma
sociedade, como teorizou Castells (1996), mostrando que as mudanças são essencialmente
socioculturais e não apenas tecnológicas.
12 <http://www.nytimes.com/2008/11/10/business/media/10carr.html?_r=0>. Acesso em 17/02/2013.
45
Com essa discussão sobre o comportamento dos públicos frente aos estímulos
midiáticos, é possível entender melhor a realidade explicada por Jenkins, quando ele diz que a
convergência consolida a fidelidade do consumidor, permitindo um processo de construção
identitária. No entanto, em nível macro, a fidelização do consumidor pela estratégia do
conglomerado estimula uma homogeneização cultural e reserva de mercado em nível global.
Ao marcar presença no cinema, TV aberta e a cabo, jornais, revistas, mercado editorial e
mídias digitais, uma mesma empresa de comunicação oferece diversos pontos de contato com
os públicos. O autor incita a luta contra a concentração de poder na mídia, de modo que todos
os esforços de reforma dos meios de comunicação devem focar no combate aos
conglomerados.
O desenvolvimento da cibercultura também manifesta, por si, um risco real de
transformar-se em fator suplementar de desigualdade e de exclusão. O acesso ao ciberespaço
ainda é limitado e, segundo Lévy, seu crescimento deve ser observado a partir da tendência de
conexão e não de seus números absolutos. Ele ressalta ainda que será cada vez mais fácil e
barato conectar-se, mas alerta que cada novo sistema de comunicação fabrica seus excluídos,
exemplificando que não havia iletrados antes da invenção da escrita.
Para Martin-Barbero (2001), a convergência entre sociedade de mercado e
racionalidade tecnológica dissocia a sociedade em sociedades paralelas: a dos conectados, a
dos inforricos e a dos excluídos. De fato, se o processo de convergência não incluísse
plataformas de mídia mais populares, como a TV, boa parte dos espectadores tradicionais
ficariam à margem do processo de comunicação. Em um mercado no qual apenas os
conectados fossem incorporados às decisões de produção e distribuição, a significação pelo
consumo e pela expressão ativa seria suprimida.
Pela transmediação, as práticas individuais e coletivas interagem com a tecnologia em
todo momento e por várias formas. Mas, mesmo fragmentando identidades, a tecnologia
contribui para a manifestação de necessidades e discursos tão antigos quanto a linguagem. A
rede social é suporte para o conteúdo que as pessoas vão produzir, não é o próprio conteúdo.
Algumas pessoas se reúnem em torno do entretenimento, outras da observação da vida alheia.
Mas há quem se aproveite para cometer crimes. E há também que aproveite para promover
manifestações e debates sociopolíticos importantes. Mais uma vez, permanecem as
motivações, mudam-se as formas de manifestá-las.
46
Mergulhados no ecossistema midiático em mutação, sem uma perspectiva histórica
segura para equaliza-lo, os aspectos favoráveis e desfavoráveis do fenômeno precisam
manter-se em diálogo, pois
As projeções sobre os usos sociais do virtual devem integrar o movimento
permanente de crescimento de potência, de redução nos custos e de
descompartimentalização. Tudo nos leva a crer que estas três tendências irão
continuar no futuro. Em contrapartida, é impossível prever as mutações qualitativas
que se aproveitarão dessa onda, bem como a maneira pela qual a sociedade irá
apropriar-se delas e alterá-las. É nesse ponto que projetos divergentes podem
confrontar-se, projetos indissoluvelmente técnicos, econômicos e sociais (LÉVY,
1999, p. 33).
As identidades nacionais não reconhecem competidores, muito menos opositores.
Assim, a expectativa de que sua valorização possa estimular posturas reacionárias e suprimir
os prejuízos da desfragmentação não considera o caráter monopolista do próprio Estado. Tal
zona de conforto identitária não combina com a busca de identidades inexploradas e
desafiantes oferecidas pela transmediação. O determinismo tecnológico não faz sentido se
pensarmos que, se é o próprio ser humano que constrói esses recursos, ele faz isso baseado em
uma necessidade. A tecnologia é condicionante na satisfação dessas necessidades, e não
determinante de uma necessidade.
Na interação com outros usuários, temos o desenvolvimento da inteligência coletiva
que impulsiona o desenvolvimento da técnica. E como a comunicação em rede é exponencial,
a técnica muda cada vez mais rapidamente, e temos a impressão de que ela tem vida própria,
que vem do exterior e nos impacta como um projétil. Mas o atual momento histórico foi
estimulado por uma dinâmica social natural. Assim, a insegurança e a angústia geradas por
essa imensa gama de possibilidades identitárias não poderia, de forma alguma, justificar
apego a tradições e valores passados que insistem em se manifestar como modernos. Como
afirma Bauman (2005), ―identificar-se com...‖ significa dar abrigo a um destino desconhecido
que não se pode influenciar, muito menos controlar‖ (p.36).
No próximo capítulo, analisaremos um site de rede social que possui aspectos
especiais de interação, tanto pelos recursos técnicos quanto pelo alcance: o Facebook.
47
Capítulo 2
O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL
48
Quando uma imagem e seu contexto é a melhor epígrafe.
Por Gus Morais
49
2. O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL
Considerado a maior rede social do mundo, com mais de 1 bilhão de usuários13
, o
Facebook se destaca tanto pela massiva adesão quanto pela influência da ferramenta no
cotidiano das relações sociais. Segundo dado divulgado pela empresa à Revista Veja14
, em
maio de 2013 o Facebook alcançou 73 milhões de usuários no Brasil, enquanto a última
pesquisa publicada pelo IBOPE15
em dezembro de 2012 revelou que o país possui 94 milhões
de pessoas com acesso à internet (considerando uma população de 193,9 milhões de pessoas,
segundo estimativa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – em 201216
).
Ao revisitar a história do site, suas características e apropriações, é possível
compreender os fatores que determinam sua popularidade. O registro a seguir é também uma
forma de justificar a escolha do Facebook como recorte para a presente pesquisa, já que o
potencial mobilizador inerente ao seu crescimento oferece diversas questões ao estudo do
ativismo digital. Dessa forma, dada a grande diversidade de recursos disponíveis no site,
discutiremos apenas aqueles pertinentes à posterior análise do objeto de pesquisa, sem
prioridade à descrição estrita dos mecanismos de uso, mas sim à interação entre suas funções
originais, apropriações e contexto social.
2.1 Histórico
O Facebook foi lançado em 4 de fevereiro de 2004 e originalmente se chamava
―TheFacebook‖. Idealizado por Mark Zuckerberg, estudante de Ciência da Computação na
Universidade de Harvard (EUA), tinha como proposta inicial o consumo popular dentro da
própria universidade. Segundo Kirkpatrick (2010), para criar a ferramenta Zuckerberg uniu
uma aspiração da instituição – ter um diretório on-line com informações de todos os alunos –
a exemplos de sucesso e limitações de outros sites de redes sociais. Entre eles, estava o
Friendster, pelo qual as pessoas podiam criar perfis de si mesmas com informações diversas e
13 <http://www.wired.com/business/2012/10/facebook-case-for-optimism/>. Acesso em: 13/05/2013. 14 <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/facebook-alcanca-73-milhoes-de-usuarios-no-brasil>. Acesso em:
13/05/2013. 15 <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Acesso-a-internet-no-Brasil-atinge-94-milhoes-de-
pessoas.aspx>. Acesso em: 13/05/2013. 16 <ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_Projecoes_Populacao/Estimativas_2012/metodologia_2012.pdf>. Acesso
em: 13/05/2013.
50
identificar suas próprias redes sociais ao relacionar perfis de amigos. Apesar do sucesso
imediato, acabou caindo em desuso por problemas técnicos.
O Friendster, como a maioria das redes de relacionamento até então, destinava-se
basicamente a facilitar o contato entre as pessoas que queriam namorar. A ideia era
fazer com que as pessoas encontrassem interesses românticos entre os amigos de
seus amigos. O Friendster havia tomado Harvard de assalto no ano anterior, mas
caíra em desgraça depois que seu sucesso, alcançado quase da noite para o dia, levou
milhões de usuários ao site. Isso criou dificuldades técnicas que tornaram a
navegação lenta e difícil. (KIRKPATRICK, 2010, p. 36)
O novo serviço de Mark não era um site de encontros como o Friendster, mas ―uma
ferramenta de comunicação muito básica, destinada a resolver o problema simples de
acompanhar seus colegas da faculdade e o que acontecia com eles‖ (p.37), uma espécie de
emulação da experiência social universitária que explorava como as pessoas se conectam a
partir de referências mútuas. Como não havia nenhum conteúdo próprio, tratava-se
meramente de um software para o conteúdo criado por seus usuários, o que o eximia de
problemas por acesso a dados confidenciais. O TheFacebook ganhou milhares de adeptos
rapidamente, mas observar a experiência do Friendster foi fundamental para que o erro do
crescimento sem planejamento não fosse cometido novamente, segundo Kirkpatrick. Apesar
do acesso restrito a estudantes de Harvard, a tela inicial do TheFacebook deixava implícita
suas intenções de expansão para outras universidades: ―O The Facebook é um diretório online
que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades. Abrimos o The Facebook para
uso popular na Universidade de Harvard‖ (Figura 2).
51
Figura 2: Tela inicial do TheFacebook em Fevereiro de 2004.17
E assim aconteceu. O serviço foi estendido inicialmente para as Universidades de
Columbia, Stanford e Yale, mas a escolha não foi aleatória. Nessas faculdades havia redes
sociais concorrentes com as quais o TheFacebook poderia medir forças e guiar-se por um
potencial de expansão mais bem definido. Em Stanford, por exemplo, a rede social mais
utilizada, chamada ―Clube Nexus‖ já estava caindo em desuso. Em Columbia, havia o
CUCommunity e em Yale um site chamado YaleStation, ambos em plena ascensão quando o
TheFacebook chegou e repetiu o sucesso de Harvard. Até que outras universidades
começaram a solicitar inclusão no sistema. No final de maio de 2004, o site já operava em 34
faculdades e tinha quase 100 mil usuários. Daí em diante, o crescimento trouxe olhares e
capital de investidores, consolidando o TheFacebook como negócio.
Em dezembro de 2005, trocou o nome ―TheFacebook‖ apenas para ―Facebook‖. No
outono de 2006, foi aberto o registro para usuários não estudantes. No início de 2008, o
Facebook inaugurou um novo projeto de tradução e fechou o ano com acesso em 35 línguas,
de modo que 70% dos 145 milhões de usuários ativos já estavam fora dos Estados Unidos. No
final de 2009, havia 350 milhões de usuários em 180 países, com uma média de 1 milhão de
17 <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT292702-16382,00.html>. Acesso em: 13/05/2013.
52
novos associados chegando a cada dia. Atualmente, o Facebook tem mais de 1 bilhão de
usuários, com inserção em 213 países18
.
Mesmo para David Kirkpatrick, que realizou um minucioso registro histórico com
pressupostos do jornalismo investigativo19
, ―a escala de crescimento global do Facebook nos
últimos anos é difícil de entender‖ (p.14). Ele estudou a trajetória de várias redes sociais e
concluiu que ―muitos dos componentes dos primórdios do Facebook foram originalmente
lançados por outros‖, e que ―o serviço é herdeiro de ideias que vêm evoluindo há quarenta
anos‖ (p.77). O documentário ―A Internet: Facebook‖, produzido e divulgado pela Discovery
Channel (2013), avalia que a diferença entre o Facebook e outras redes sociais é a ambição de
seu criador, que lembra o jovem Bill Gates, que começou com a meta de colocar um PC em
cada escrivaninha em todos os lares e escritórios no mundo e todos rodando com softwares da
Microsoft.
No caso de Zuckerberg, segundo o documentário, ―sua maior ambição é criar um
serviço que capture a totalidade da conectividade humana para criar, o que se pode dizer, a
máquina definitiva de relacionamentos‖. Como também alertou Kirkpatrick:
Há anos se brinca nos escritórios do Facebook que o objetivo da empresa é a
―dominação total‖. Mas a razão de isso ser engraçado é que evoca uma verdade
surpreendente. Zuckerberg percebeu há muito tempo que a maioria dos usuários não
se empenharia em criar vários perfis em diversas redes de relacionamento. Também
sabia, a partir de infindáveis papos com os amigos em Harvard e em Palo Alto sobre
os ―efeitos da rede‖, que, uma vez iniciada a consolidação de uma plataforma de
comunicações, isso pode se acelerar e fazer com que ela se torne quase um
monopólio: as pessoas vão aderir às ferramentas de comunicação que já estejam
sendo usadas pelo maior número de outras pessoas. Assim, sua meta passou a ser
criar uma ferramenta não para os Estados Unidos, mas para o mundo. O objetivo era
superar todas as outras redes sociais, onde quer que estivessem, conquistar seus
usuários e tornar-se, na prática, a rede padrão. Na opinião de Zuckerberg, era isso ou
desaparecer. (KIRKPATRICK, 2010, p.294)
Na lógica de Zuckerberg, reduzir gradualmente a dominância de redes sociais
contrárias a esse projeto era um imperativo estratégico. Quando Kirkpatrick escreveu O Efeito
Facebook, em 2010, o Facebook ainda apresentava no Brasil um adversário local: o Orkut,
líder em número de usuários. Curiosamente, tratava-se da evolução do Clube Nexus, antigo
18 <http://tecnologia.uol.com.br/album/2012/08/03/maior-rede-social-do-mundo-facebook-tem-numeros-
estratosfericos-conheca.htm#fotoNav=2>. Acesso em: 13/05/2013. 19 Outro registro da história do Facebook (e mais conhecido por ter inspirado o filme ―A Rede Social‖) é o livro
―Bilionários por acaso – A criação do Facebook‖, de Ben Mezrich. A obra não nos serve como parâmetro
científico por ser declarada como um romance baseado em fatos reais, e não um registro histórico documental.
53
adversário na Universidade de Stanford, que foi adquirido pelo Google e lançado para uso
popular em janeiro de 2004, duas semanas antes do TheFacebook.
De início, prosperou nos Estados Unidos e manteve-se firme diante da enorme onda
do MySpace, mas por volta do final de 2004, e de maneira um tanto extraordinária,
foi inteiramente tomado pelos brasileiros. Uma grande campanha popular para
conseguir mais usuários no Brasil do que nos Estados Unidos despertou o
entusiasmo dos jovens do país. Uma vez alcançada a meta, o serviço adquiriu um
elenco nitidamente brasileiro e de língua portuguesa, e os americanos gradualmente
começaram a abandoná-lo. (KIRKPATRICK, 2010, p.89)
Segundo o site TechNet20
, em Janeiro de 2011, o Orkut era a rede social de 70% da
população brasileira online e o Facebook tinha apenas 17%. Apenas quatro meses depois a
tendência começou a inverter-se e hoje o Brasil é o segundo país do mundo com mais
usuários na rede social (Figura 3). Ainda que a quantidade de novos perfis não represente
necessariamente a quantidade de usuários únicos, – uma pessoa pode ter mais de um perfil –
esses números sinalizam alterações de padrão significativas. Afinal, a mudança também
colocou o Facebook como o site mais acessado do país segundo o ranking Alexa21
, superando
até mesmo o Google, enquanto o Orkut figura na posição 53 (Figuras 4 e 5). Essa queda na
quantidade de acessos nos permite inferir que mesmo os perfis existentes no Orkut estão
sendo gradualmente abandonados.
Figura 3: Crescimento do Facebook no Brasil, segundo a revista Veja22.
20 http://www.techenet.com/2013/04/penetracao-facebook-brasil/. Acesso em: 14/05/2013. 21 http://www.alexa.com/topsites/countries/BR. Acesso em: 14/04/2013 às 0:26h. 22 http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/facebook-alcanca-73-milhoes-de-usuarios-no-brasil. Acesso em:
13/05/2013.
54
Figura 4: Facebook em primeiro lugar entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa em
14/05/2013.
Figura 5: Orkut na posição 53 entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa em 14/05/2013.
55
O Orkut funcionava por meio de perfis criados pelas pessoas ao se cadastrar, em um
mecanismo muito semelhante ao do Facebook. Após o cadastro, os usuários indicavam quem
eram seus amigos e podiam criar comunidades, apropriadas como fóruns de mensagens.
Inicialmente, os usuários eram atraídos pela possibilidade de interagir nos perfis dos
amigos e nas comunidades. Depois, com o crescimento da quantidade de perfis e
comunidades, o propósito da interação foi ficando estruturalmente limitado. Se a intenção era
saber das novidades sobre os amigos, quanto mais a rede crescia, mais difícil era acompanhar
a vida de cada um, já que para isso era preciso acessar os perfis individualmente. Além disso,
a adesão expressiva às comunidades acabou tornando-as ambientes fantasmas, já que a
impossibilidade de participação ativa em todas elas transformava-as em meros selos
identitários. Com essa mudança de finalidade, a criação de fóruns sem propósito específico
multiplicou-se.
Observar essa trajetória do Orkut é fundamental para compreender a lógica de
abandono de seus usuários, bem como compreender o diferencial apresentado pelo ―Feed de
Notícias‖ adicionado ao Facebook em 2006. Segundo Zuckerberg, não era apenas um novo
recurso, mas uma mudança radical que representava a grande evolução do produto.
A nova ferramenta que eles desenvolveram ajudaria os usuários a encontrar a
qualquer momento as informações que mais lhe interessavam. Isso poderia incluir
tudo, desde a festa que um amigo pretendia ir na sexta-feira até atualizações sobre a
situação política do Tadjiquistão que alguém tivesse postado como link. A questão
era garantir aquilo que lhe interessava, o que quer que fosse. A ordem de
apresentação das informações dependeria daquilo que – com o seu comportamento –
você tivesse demonstrado que gostava de ver. (...) Então, cada vez que você entrasse
no serviço, ele classificaria as atividades de todos os seus amigos com base na
probabilidade de que você as considerasse interessantes. Esse cálculo tomaria como
base, entre outras coisas, seu comportamento anterior. (KIRKPATRICK, 2010,
p.196)
Apesar da expectativa, as primeiras reações dos usuários ao feed de notícias não foram
amigáveis e assim começou a maior crise enfrentada pelo Facebook até então. Segundo
Kirkpatrick, apenas uma em cada 100 mensagens que chegava sobre o assunto era positiva.
Grupos de protesto se multiplicavam dentro e fora do site e a principal objeção era que o feed
de notícias enviava informações demais pra gente demais.
Mas apesar do burburinho, Zuckerberg e todos no Facebook viam uma ironia básica
no episódio: os grupos de protesto tinham crescido com muita rapidez. O fato em si,
eles acreditavam, era uma prova da eficácia do Feed. As pessoas estavam entrando
nos grupos para protestar contra o Feed porque tinham ficado sabendo deles em seus
56
feeds de notícias. Para ele, era a prova definitiva de que o feed de notícias tinha
funcionado conforme o planejado. (KIRKPATRICK, 2010, p.206)
Para aplacar a revolta, o Facebook promoveu ajustes nas configurações de
privacidade, enquanto via florescer outros grupos de finalidades diversas ao lado dos grupos
de protesto. E a aprovação à mudança foi comprovada por números, já que as pessoas estavam
passando mais tempo no site do que antes: as visualizações de página saltaram de 12 bilhões
para 22 bilhões de agosto para outubro daquele ano.
[Zuckerberg] Disse que não havia previsto o alvoroço porque tinha achado que os
usuários perceberiam que o feed só mostravam coisas que já eram visíveis no
Facebook antes; as coisas só estavam mais organizadas e bem apresentadas. (...)
Para o Facebook, o Feed de Notícias foi mais do que uma mudança. Foi o prenúncio
de uma transformação importante na forma como as informações são trocadas entre
as pessoas. (...) a nova forma de comunicação automatizada permitia que estivessem
em contato com muitas pessoas ao mesmo tempo com um mínimo de esforço. Isso
transformava o mundo em um lugar menor. (KIRKPATRICK, 2010, p.208)
Para Boyd (2006), esse argumento, embora compreensível, não consegue captar como
o recurso altera a dinâmica social do Facebook. Para ela, a discussão mais adequada não se
refere à privacidade da forma como é vista pelo mundo da tecnologia: o conceito de "privado"
como um único bit de 0 ou 1, traduzido em dados que são expostos ou não. A questão está no
sentimento de vulnerabilidade que as pessoas experimentam na negociação de dados e o
desconforto gerado a partir dos ângulos da exposição e da invasão, já que offline as pessoas
estão acostumadas a ter limites definidos arquitetonicamente.
A privacidade é um senso de controle sobre informação, o contexto onde a partilha
acontece, e o público que pode ganhar acesso. A informação não é privada porque
ninguém sabe dela, ela é privada porque o saber é limitado e controlado. Na maioria
dos cenários, as limitações são muitas vezes mais sociais do que estruturais.
(BOYD, 2006)23
Com essa visão, o Facebook se coloca como uma espécie de materialização estrutural
da aldeia global de McLuhan. E além da contradição entre exposição e invasão alertada por
Boyd, também traz a contradição entre outros dois conceitos: transparência e identidade.
Kirkpatrick conta que um dos ideais de Zuckerberg para o Facebook é contribuir para um
23 Tradução nossa. Do original ―Privacy is a sense of control over information, the context where sharing takes
place, and the audience who can gain access.Information is not private because no one knows it; it is private
because the knowing is limited and controlled. In most scenarios, the limitations are often more social than
structural.‖
57
mundo mais transparente e aberto, pois mais visibilidade nos transformaria em pessoas
melhores: ―Em um mundo mais aberto e transparente, as pessoas terão de responder pelas
consequências de seus atos e estarão mais propensas a se comportar de forma responsável‖ (p.
216). Em outros termos, quando disponibilizamos dados no Facebook, estamos nos
comprometendo em honrá-los também fora do ambiente online.
Ao mesmo tempo em que fica mais fácil orquestrar a forma como as pessoas nos
veem, também fica mais difícil. Para o bem ou para o mal, o site está levando a uma completa
redefinição dos limites da identidade pessoal. Quando ambiciona que o Facebook seja a
máquina definitiva de relacionamentos, e discursa a favor da identidade única, Zuckerberg
também mostra que pretende suprimir outras redes sociais.
A época de ter uma imagem para seus colegas de trabalho e outra para as demais
pessoas que você conhece provavelmente logo vai chegar ao fim‖, diz ele. E
apresenta vários argumentos. ―Ter duas identidades para si mesmo é um exemplo de
falta de integridade, afirma, em tom moralista. Mas ele também tem uma
justificativa pragmática: O nível de transparência do mundo de hoje não suporta
mais que haja duas identidades para uma pessoa.‖ Em outras palavras: mesmo que
você queira separar informações pessoais das profissionais, já não conseguirá fazê-
lo, pois as informações sobre você proliferam na internet e em outros lugares.
(KIRKPATRICK, 2010, p. 215)
Ao mesmo tempo em que defende seu ponto de vista e seu ideal, Zuckerberg reafirma
como diferenciais positivos as questões sobre privacidade confrontadas por Boyd. Tratar essa
questão na trajetória do Facebook implica também posicioná-lo historicamente, uma vez que
os nativos digitais crescem diante de novos sentidos para velhos conceitos. Da mesma forma
que o significado da palavra ―amigo‖ não era o mesmo para Bauman e para seu interlocutor
no diálogo anteriormente descrito (p.30), a palavra privacidade não é vista com o cuidado de
seu sentido original pelos jovens que já nasceram na era da internet – para eles, as novas
tecnologias são as principais mediadoras das conexões entre humanos.
Segundo Palfrey e Gasser (2011), essa geração não se dá conta das possíveis
consequências dos dados deixados no espaço cibernético. Os autores comparam esses dados a
uma tatuagem - ―algo conectado a eles do qual não conseguirão se livrar mais tarde, mesmo
que queiram, sem uma enorme dificuldade‖:
Enquanto conduzem suas vidas sociais mediadas por serviços online, muito poucos
jovens estão prevendo as consequências da quantidade de dados que estão deixando
pra trás. Eles não estão em posição de fazer boas escolhas sobre o que querem que
esteja contido em seu dossiê digital – ou o que quer que venha a parecer sua
58
identidade – daqui a alguns anos. (...) Muitos jovens pensam incorretamente que
suas conversas online são muito mais privadas do que realmente são. Há novos
incentivos para colocar informações sobre si (as normas sociais sugerem que mais
informações sobre si vão atrair mais informações), mas pouca checagem sobre seu
próprio comportamento (um senso de privacidade inato, ou alguém dizendo ―não
ouse se vestir desse jeito‖). O resultado é que em nenhum momento na história
humana as informações sobre um jovem – sobre ninguém, aliás – estiveram mais
livre e publicamente acessíveis a tantos outros. (PALFREY; GASSER, 2008, p.68-
69)
Um caso publicado em uma matéria sobre o poder das redes na revista Veja24
ilustra
bem essa realidade:
O preço da superexposição
A produtora cultural Liliane Ferrari, de 34 anos, é uma fanática confessa
pelas redes sociais on-line. Seu perfil está em nada menos que 21 comunidades
virtuais. Há dois anos, Liliane precisava contratar, em menos de uma semana,
quarenta educadores para duas exposições no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Atrás de indicações, enviou um e-mail para os amigos. A mensagem se alastrou e
sua vida passou a ser vasculhada em seu blog, no Facebook, no Orkut e no Twitter
por candidatos às vagas. No Orkut, Liliane começou a receber 300 recados por hora.
Descobriram até o número do seu celular. "A operadora de telefonia ligou
perguntando o porquê de tantas ligações – tive de trocar o número", conta. O pior foi
fazer as entrevistas: como sabiam tudo sobre ela, os candidatos se achavam íntimos.
"Eles perguntavam da minha filha e do meu passeio de fim de semana na praia. Foi
horrível", diz Liliane, que agora toma mais cuidado com suas informações na
internet.
Contatos virtuais: 2 800
Conhece pessoalmente: 150
Apesar desses problemas, no Brasil o site mantém a expansão: Em março de 2013, a
rede alcançou 70 milhões de usuários no país, um crescimento de 6%25
em relação a fevereiro
do mesmo ano. No entanto, mesmo mantendo a liderança com relação a outras redes sociais e
avançando sobre diferentes territórios, o Facebook vem apresentando sinais de desaceleração,
principalmente nos Estados Unidos. No mesmo período (março), seis milhões de usuários
abandonaram o site nos Estados Unidos e dois milhões na Inglaterra. Canadá, França,
Espanha e Japão também registraram redução. Segundo a revista Veja26
, a hipótese mais
provável para esse movimento, conforme declarações do próprio Facebook, é a migração dos
usuários para outros serviços.
24 Disponível em <http://veja.abril.com.br/080709/nos-lacos-fracos-internet-p-94.shtml>. Acesso em:
21/05/2013. 25 Disponível em <http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2013/05/facebook-perde-milhoes-de-usuarios-nos-
eua-e-na-inglaterra-em-marco.html>. Acesso em: 21/05/2013. 26 Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/eles-nao-curtem-mais-o-facebook>. Acesso em:
21/05/2013.
59
Uma das hipóteses apontadas para esse movimento é da pesquisadora Raquel Recuero:
"Ser diferente dos outros é uma necessidade comum e antiga do jovem. Ao perceber que todos
estão no Facebook, ele busca por novos espaços digitais", afirmou à revista. Nesse sentido, a
universalidade do Facebook também é um estímulo à diferenciação, fenômeno já conhecido
quando os usuários deixaram de usar o Orkut para aderir ao Facebook. Outra hipótese
levantada pela revista foi a lentidão do Facebook em dispositivos móveis. A exemplo do
Friendster, esse tipo de falha técnica costuma ser fatal - considerando que a maioria dos
usuários acessa o site pelo aplicativo do smartphone, segundo dados divulgados pelo Portal
Exame27
:
Em média, no mundo, os usuários do Facebook passam mais tempo acessando a
rede social pelo celular do que pelo desktop. Segundo a empresa, a média de uso
mensal pelo celular é de 8 horas e 4 minutos. No desktop, 6 horas e 53 minutos. Ao
todo, o Facebook tem atualmente 1,11 bilhão de usuários únicos no mundo por mês,
dos quais 751 milhões acessam por meio de dispositivos móveis. No Brasil, são 73
milhões de usuários ativos por mês. Os números foram apresentados pelo diretor de
parcerias e mobilidade do Facebook na América Latina, Ricardo Sangion, que
participou do Tela Viva Móvel, nesta quinta-feira, 16, em São Paulo. Ele comentou
sobre a complexa fragmentação de interfaces, redes e plataformas que a empresa
precisa lidar para oferecer seu serviço. "São dezenas de combinações", disse. O
Facebook trata a questão com duas abordagens paralelas: em alguns casos tenta
oferecer a mesma experiência e, em outras, uma experiência complementar.
Ao traçar algumas características do Facebook, bem como seus usos e apropriações, a
seguir mostraremos um pouco mais sobre a maneira como a empresa vem disponibilizando
tais combinações e recursos, visando que todas as dimensões da ―experiência do sorvete‖
(cap.1) possam se reunir em uma única rede social.
2.2. Características e apropriações
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa ComScore, divulgados pela revista
Época28
, a média de uso nacional do Facebook foi de 756,4 minutos, ou 12,5 horas em
fevereiro de 2013 (Figuras 6 e 7). O crescimento em relação ao mesmo período do ano
anterior é de 98%. Como comparou a revista, ―é como se, ao somar todos os curtos momentos
27 Disponível em <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/facebook-e-mais-usado-pelo-celular-que-pelo-
desktop>. Acesso em: 21/05/2013. 28 Disponível em <http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-tecnologia/noticia/2013/04/tempo-gasto-por-
brasileiros-com-o-facebook-dobra-em-um-ano.html>. Acesso em: 21/05/2013.
60
em que se usa o site, o brasileiro passasse a metade de um dia lendo e postando mensagens no
site‖.
Figura 6: Tempo gasto por brasileiros no Facebook. Fonte: Revista Época
Figura 7: Tempo gasto pelos brasileiros nas redes sociais. Fonte: ComScore29
29 Documento Brazil Future in Focus 2013. Comunicação por e-mail com Gesine Schulze, estagiária da
ComScore.
61
A seguir, detalharemos quais são os principais recursos disponibilizados pelo
Facebook e de que forma os usuários se apropriam deles para justificar tanto tempo de
dedicação.
2.2.1. Perfil pessoal e linha do tempo
A figura 8 mostra a página inicial do Facebook. Para criar o novo perfil pessoal, o
processo é simples: basta informar nome e sobrenome, e-mail de identificação e senha, data
de nascimento e sexo. Esses dois últimos são os primeiros direcionadores das experiências
dentro do site. Os demais itens da página inicial serão tratados com mais detalhes adiante.
Figura 8: Página inicial do Facebook. Acesso em 21/05/2013.
Depois de realizar o cadastro, o usuário é convidado a identificar o perfil com uma
foto, preencher as principais informações pessoais, bem como efetuar as devidas
configurações da conta e de privacidade.
A aba ―Sobre‖ reúne informações gerais como histórico de trabalho e estudos, cidade
natal e cidade atual, orientação sexual, religião, preferência política, status de relacionamento,
idioma(s), informações de contato (e-mail, telefone, comunicadores, endereço) citação
62
favorita e uma breve descrição biográfica. À medida que são realizadas conexões com novos
amigos, também é possível identificar nesse perfil os membros da família presentes na rede.
Com base nessas informações, o Facebook monta um histórico de sua vida por ano (Figura 9).
Cada dado fornecido é submetido a um filtro de privacidade, no qual você escolhe para quem
ele pode ser visível: ―somente amigos‖, ―somente amigos de amigos‖, ―somente eu‖ e
―público‖, além de listas que podem ser previamente configuradas: ―melhores amigos‖,
―família‖, entre outras. Por fim, o usuário pode escolher uma imagem de capa, de tema livre,
que geralmente expressa algum aspecto identitário: uma foto pessoal, uma mensagem ou uma
imagem conceitual.
Depois dessa primeira etapa, os itens que vão compor o perfil do usuário são
determinados conforme as experiências de navegação. Páginas preferidas, livros, filmes,
programas de TV, música, jogos, lugares onde se esteve (identificados por geolocalização,
mediante ação de compartilhamento do próprio usuário ou de um amigo), grupos abertos aos
quais pertence (os fechados não são exibidos), notas publicadas, entre outros.
Figura 9: Parte de um perfil no Facebook. Acesso em 21/05/2013.
63
Toda atividade realizada dentro do site acaba deixando um ―rastro‖. Alguns rastros são
adicionados a esse perfil, outros passam a figurar junto com as postagens voluntárias na linha
do tempo, uma espécie de mural organizado em ordem cronológica (Figura 10). Amigos
também podem fazer postagens na linha do tempo, tanto de maneira direta como indireta
(quando ele marca o usuário em uma publicação na linha do tempo dele). Todas essas ações
estão associadas a configurações de privacidade que determinam se podem ser divulgadas e
para quem.
Figura 10: Linha do tempo no Facebook. Acesso em 21/05/2013.
Ao construir um perfil em uma rede social, constrói-se uma representação de um
interagente, uma vez que no ciberespaço o processo de conhecimento e reconhecimento não
se dá de forma imediata. Segundo Recuero,
(...) é preciso que essa presença seja construída através de atos performáticos e
identitários tais como a construção de representações do eu. (...) Assim, as
conversações estudadas pelos atores seriam, também, formas de construir
performances que constroem para a audiência impressões a respeito de quem são os
interagentes. (RECUERO, 2012, p. 59)
64
Em uma análise sobre o impacto da quantidade, da velocidade e da instantaneidade
com que novas informações recaem sobre os usuários, à luz dos estudos de McLuhan, Pereira
(2011) avalia que essas condições trazem um problema de identidade para as pessoas e
instituições: Ao mesmo tempo em que as tornam cúmplices entre si, produzem um efeito de
confusão identitária generalizada. É como se todos os muros caíssem e os indivíduos
tivessem que se ajustar a essa nova proximidade compartilhando muito para manterem-se
estranhos, em uma demanda permanente de significações para identidades movediças.
Em entrevista a Casalegno (1999), Sherry Turkle é otimista nesse sentido: para ela, o
que ocorre no ambiente online não são distúrbios de personalidade, mas a exposição de
diferentes aspectos de si mesmo, em uma multiplicidade não patológica. Entretanto, se
voltarmos a um dos fatores impulsionadores do Facebook – a latente competição social de
Harvard – entendemos uma tendência em expor múltiplos aspectos de si mesmo apenas se
eles forem positivos, o que em si já provoca distorções de percepção. Conforme alertou
Lester,
Não admira que particularmente os estudantes de Harvard achem tão tentadora a
oportunidade de criar uma persona on-line. A maioria de nós passa os anos do ensino
médio construindo currículos tão recheados que conseguiriam se defender sozinhos
em uma luta de sumô, e essa experiência culmina com o pedido de admissão à
faculdade. (...) Acima de tudo, [TheFacebook] é sobre desempenho (...) e sobre deixar
que o mundo saiba porque somos importantes. Em suma, é o que os estudantes de
Harvard sabem fazer melhor. (LESTER, 2004)30
Na entrevista, Turkle afirmou que a expressão da multiplicidade fornecia inúmeras e
interessantíssimas maneiras de fazer um trabalho psicológico. Nesse ponto, a distorção em
favor da positividade também fala mais alto. Uma pesquisa realizada pela universidade
britânica de Portsmouth, por exemplo, concluiu que navegar pelo próprio perfil no Facebook
pode ajudar a melhorar o humor das pessoas. Segundo o UOL Tecnologia31
:
O levantamento chega até a dizer que a sensação de verificar o que já foi postado
pode ser tão calmante quanto à de caminhar em um parque. O departamento de
computação da instituição, responsável pela pesquisa, descobriu que as pessoas
tendem a fazer publicações (atualizações de status ou de fotos) que tenham algum
significado positivo para elas. Ao verificar as postagens do perfil quando se está
depressivo ou nervoso, faz com que os usuários se lembrem de momentos felizes.
30 Tradução de David Kirkpatrick. 31 Disponível em <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/18/olhar-o-proprio-perfil-no-facebook-
pode-ajudar-a-reduzir-mau-humor-diz-pesquisa.htm>. Acesso em: 22/05/2013.
65
"Nós ficamos surpresos com as conclusões da pesquisa, que contradizem
alguns levantamentos feitos recentemente. Os resultados indicam que nós
poderíamos usar este tipo de artifício [olhar o perfil no Facebook] como uma forma
de tratar o mau humor", disse Dra. Alice Good, do departamento de computação da
Universidade de Portsmouth.
(...) "Essas descobertas são fascinantes. As fotos postadas são uma lembrança
positiva de eventos passados. Quando estamos chateados ou com mau humor, é
comum que a gente esqueça o quanto nós já nos sentimos bem, e nossos posts
positivos nos ajudam a lembrar disso", disse o psicólogo Clare Wilson, que
participou da condução da pesquisa.
Outra reportagem, publicada na revista TRIP32
, realiza um manifesto anti-perfeição,
alertando que as redes sociais mudaram a relação que temos com a nossa própria imagem e
com o resto do mundo. Nesse sentido, o que é mostrado no Facebook não representaria a vida
como ela é, mas a vida como nós gostaríamos que ela fosse.
Não é de hoje que se espelhar nos outros para avaliar a sua própria vida é um
comportamento comum. Mas é fato que as redes sociais costumam deixar a
felicidade alheia mais sedutora, transformando pessoas e situações em ideais.
Imagens de ―vida perfeita‖ sempre estiveram aí, carregando a mensagem
inquietadora: ―Você poderia ser melhor‖.
Essa concepção em mutação da identidade associada ao princípio de transparência
proposto por Zuckerberg oferece tanto riscos como oportunidades. A administração e
resolução dos paradoxos talvez passem por um esforço comunitário na disseminação dessas
ideias, utilizando-se da própria rede para combatê-las, tal como aconteceu no lançamento do
feed de notícias.
2.2.2. Atualização de status, feed de notícias e recursos de interatividade
A figura a seguir (Figura 11) exibe as opções disponibilizadas pelo Facebook para
uma publicação pessoal, chamada ―atualização de status‖.
32 Disponível em <http://revistatpm.uol.com.br/revista/127/reportagens/vida-perfeita-so-existe-no-
facebook.html>. Acesso em: 22/05/2013.
66
Figura 11: Atualização de status no Facebook. Acesso em 21/05/2013.
A frase ―no que você está pensando?‖ é apenas uma mensagem aleatória que aparece
para instigar o compartilhamento. Outras frases como ―O que você está fazendo?‖ e ―Como
você está se sentindo?‖ são alternadas durante a navegação. Na caixa de diálogo, o usuário
pode escrever uma mensagem, adicionar uma foto ou um vídeo a ela, ―marcar‖ amigos
relacionados ao conteúdo, apontar o local de onde se posta (identificado por geolocalização) e
selecionar os amigos que poderão ver a postagem. Essa atividade, arquivada na linha do
tempo, também é disponibilizada no feed de notícias (Figura 12) dos amigos e assinantes
(aqueles que não são aceitos como amigos, mas desejam seguir o conteúdo público de
alguém).
Figura 12: Home do Facebook para usuário cadastrado. Acesso em 21/05/2013.
67
O Feed de notícias é uma lista em constante atualização de históricos de pessoas e
páginas que você segue no Facebook. Como se pode perceber, além dele, na página inicial do
cadastrado há diversos outros elementos que exibem informações de usuários (os rastros
involuntários anteriormente citados), bem como notificações de atividades de grupos e
páginas aos quais os usuários estão vinculados. É importante ressaltar que toda atividade no
Facebook possibilita algum tipo de interação e conexão. Por exemplo: Quando se lista
membros da família, permite-se que outras pessoas se conectem com eles; Quando se lista um
emprego ou escola a partir de páginas institucionais, permite-se que usuários com atividades
semelhantes se reúnam; Quando se realiza alguma publicação, os amigos podem ―curtir‖,
comentar e compartilhar, e como essa ação também gera uma atividade no feed de notícias
dos amigos dos amigos, o alcance viral de uma simples ação se amplia de conexão em
conexão. A exemplo de Recuero, chamamos esses elementos que guiam a conversação
mediada por computador como ―marcadores conversacionais‖:
(...) constituem-se em elementos que são apropriados, modificados e utilizados de
acordo com as normatizações estabelecidas pelos grupos. Eles vão constituir o
contexto da conversação e guiar o andamento e a negociação da mesma. De certa
forma, eles são responsáveis por reproduzir o ambiente da conversação, guiando os
atores com relação à cultura estabelecida e as normas. (RECUERO, 2012, p. 78)
Uma particularidade interessante do Feed de notícias é que todas elas estão incluídas
no mesmo fluxo de informação, sem nenhuma hierarquia de prestígio – exceto pelos
marcadores de conversação que exibem a interatividade presente em cada mensagem:
quantidade de comentários, compartilhamentos e likes33
. O usuário pode determinar se as
postagens do feed são exibidas por ordem cronológica (postagens mais recentes) ou por
popularidade (principais histórias). De acordo com a Central de Ajuda do Facebook34
, essa
popularidade é medida por um algoritmo que usa diversos fatores para determinar as
principais histórias, incluindo o número de comentários, quem as publicou e o tipo de
publicação (ex: foto, vídeo, atualizações de status etc). Dessa forma, durante a apropriação da
ferramenta, os aspectos técnicos direcionam a interação junto com os aspectos sociais e
culturais.
33 ―Like‖ (―curtir‖, na versão brasileira) é um botão presente em cada postagem do Facebook, pela qual o leitor
identifica se gostou ou não do conteúdo da publicação. 34 Disponível em https://www.facebook.com/help/327131014036297/. Acesso em 22/05/2013.
68
Como a percepção de valor está na percepção dos comentários, likes e
compartilhamentos, a negociação da relevância da conversação acaba sendo determinada pela
audiência, e não pelo seu autor, ratificando o conceito de Coleman (1988), para quem o
capital social não está nos atores em si, mas em sua estrutura de relações.
2.2.3. Bate-papo, eventos e grupos
A construção de relacionamentos no Facebook ocorre não apenas a partir de
exposições públicas, mas também na articulação de pessoas em atividades reservadas e de
abrangência limitada. Com recursos de bate-papo, organização de eventos e formação de
grupos, com o tempo o site também passou a promover a viabilidade de vínculos mais
íntimos, induzindo a substituição serviços específicos pela comodidade da convergência: se
todos os amigos estão no Facebook, não é preciso realizar múltiplos logins em sites diversos
para estabelecer e manter diferentes tipos de contato. Essa comodidade é traduzida na
integração a um diagrama social que outros serviços já não possuem diante da ascensão da
empresa. Segundo Recuero (2012), a relevância desses recursos está na possibilidade de gerar
um espaço seguro onde seja possível ―desenvolver conversações em que os atores envolvidos
não pretendem dividir informações com a rede social inteira‖ (p. 151).
Essas conversações privadas também parecem ter importância para a manutenção e
o aprofundamento dos laços sociais, uma vez que permitem ao ator focar em um
grupo menor dentro de sua rede, estreitando ali componentes como confiança e
intimidade. (RECUERO, 2012, p. 151)
No caso do bate-papo do Facebook, todos os amigos conectados à rede tornam-se
potenciais contatos, cuja lista é organizada automaticamente pelo próprio sistema na
identificação dos contatos mais frequentes (Figura 13). Todas as conversas do bate-papo
ficam armazenadas em uma caixa de mensagens, que funciona também como uma espécie de
serviço de e-mail: reúne mensagens trocadas quando um dos usuários está off-line e permite o
alcance de vários destinatários criando um diálogo entre diferentes pessoas (Figura 14). A
troca de mensagens é possível entre todos os usuários da rede e o bate-papo é disponível
apenas para amigos, mas pode-se optar por ―aparecer off-line‖. Todos esses mecanismos estão
vinculados a configurações de privacidade.
69
Figura 13: Visão da lista de contatos integrado ao feed de notícias do Facebook. Acesso em 27/05/2013.
Figura 14: Caixa de mensagens e lista de contatos do Facebook. Acesso em 27/05/2013.
Outro recurso que viabiliza a interação restrita é a ferramenta de grupos (Figura 15).
Ao definir as configurações de privacidade de um grupo, pode-se definir se ele será aberto
(qualquer interessado pode entrar) ou fechado (apenas usuários convidados/aprovados podem
70
entrar). Nos dois casos, qualquer usuário pode visualizar seu conteúdo, mas não é autorizado a
interagir. Quando o grupo é definido como secreto, apenas seus membros podem visualizar e
interagir. A página do grupo funciona como um feed de notícias particular, seguindo uma
segmentação de interesses.
Figura 15: Página do grupo ―Mestrado em Comunicação – FAAC – Unesp‖ no Facebook. Acesso em
27/05/2013.
Por fim, a ferramenta Eventos (Figura 16) favorece o aprofundamento de vínculos fora
do Facebook. O organizador cria a notificação de um evento, determina se sua visualização
será pública ou privada e convida contatos potencialmente interessados. O organizador
também pode determinar se os amigos convidados podem convidar outros contatos.
Os eventos para as quais um usuário é convidado aparecem em seu calendário virtual
junto com as notificações de aniversário dos amigos conectados. Então, ele responde ao
convite a partir de três opções: ―participar‖, ―talvez‖ e ―recusar‖.
71
Figura 16: Calendário de eventos no Facebook. Acesso em 26/05/2013.
A página de um evento contém os dados sobre ele, as listas de usuários que foram
convidados, os que confirmaram presença, os que não irão e os que ainda não sabem se irão.
Também traz um feed de notícias particular sobre o evento, no qual todos os convidados que
responderam ao convite de alguma forma podem se manifestar com atualizações de status.
Mesmo depois de um evento, a página pode ser mantida, unificando o fluxo de informações
sobre ele antes, durante e depois de sua realização (Figura 17).
72
Figura 17: Página de eventos no Facebook. Acesso em 26/05/2013.
A praticidade e o alcance do recurso ―Eventos‖ permite que ele seja apropriado
tanto como organizador da vida social quanto mobilizador. Um caso interessante
particularmente chamou atenção para esse potencial: Na Alemanha, a justiça de vários estados
tentou proibir a realização de festas convocadas pelo Facebook para conter possíveis ameaças
à ordem pública. A possibilidade surgiu depois que uma jovem criou um convite na rede
social para comemorar o aniversário e deixou o evento aberto. Conforme noticiou o portal
Terra35
, mais de 1,6 mil pessoas compareceram e pelo menos 100 policiais tiveram que ser
convocados para controlar a situação. O ―saldo‖ foi de 11 participantes detidos por agressão
física, danos materiais e resistência à autoridade.
Conforme alertou Recuero (2012), apesar do caráter privado desses recursos, há
possibilidade de que as conversações se tornem públicas, seja por um erro dos participantes
com relação à ferramenta ou pela própria possibilidade de arquivamento (permanência) que é
característica dessa mediação.
35 Disponível em http://tecnologia.terra.com.br/internet/justica-alema-exige-proibicao-de-festas-marcadas-pelo-
facebook,3e19dceae77ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 27/05/2013.
73
2.2.4. Fanpages e publicidade
Voltando à Figura 8, que mostra a página inicial do Facebook, logo abaixo ao botão de
cadastro está a seguinte mensagem: ―Crie uma página se você for uma celebridade, uma
banda ou uma empresa‖ (Figura 18). Chamadas de FanPages (Figura 19), essas páginas são
destinadas a instituições e figuras públicas e possuem um modo de atualização e diagramação
semelhantes aos perfis pessoais, mas com diferentes mecanismos de cadastro, interação e
adesão.
Figura 18: Página de cadastro de fanpages. Acesso em 23/05/2013.
Quando instituições começaram a criar perfis no Facebook, elas podiam atingir seus
públicos-alvo de maneira ativa por meio de solicitações de amizade, marcação de usuários em
postagens, convites para eventos e grupos, entre outros recursos. Essas práticas são bem
vindas entre pessoas, mas soam invasivas quando envolvem uma intencionalidade publicitária
ou o engajamento a uma causa. Nessa nova realidade, as conexões do site deixaram de ser
exclusivamente baseadas no relacionamento pessoas < > pessoas e o Facebook entendeu que
o relacionamento pessoas < > marcas tinha outras particularidades e deveria ser orientado de
maneira diferenciada. Com a alternativa de criar fanpages, manter uma instituição como perfil
74
pessoal passou a ir contra a política do site, embora muitos ainda insistam nessa prática sob
risco de serem banidos.
Figura 19: Exemplo de fanpage – visualização para usuário. Acesso em 23/05/2013
Não há limite quanto ao número de pessoas que podem se conectar a uma fanpage,
diferente dos perfis pessoais que podem reunir no máximo 5 mil amigos. Ao invés de solicitar
amizade, o usuário interessado pode ―Curtir‖ uma fanpage, então, ele se conecta como fã a
essa figura ou organização pública sem necessidade de aprovação prévia e começa a
acompanhar as atualizações de status, fotos, vídeos e outras mensagens. A denominação de
―fãs‖ trouxe um novo caráter às relações entre clientes e marcas. O ato de curtir uma página é
voluntário e expressa admiração pública, indo além do mero consumo anônimo. A fanpage
segue a mesma filosofia do perfil pessoal e da linha do tempo, nos quais os usuários contam
histórias que criam suas identidades, tal como na construção de uma marca. Ao construir a
própria identidade, a marca também contribui com a construção da identidade do usuário:
Uma vez que ele é fã de uma página, ela é listada em seu perfil e fica visível para "todos", a
menos que as configurações de privacidade tenham sido alteradas.
75
Para fins de monitoramento, o Facebook também oferece aos administradores das
páginas informações estatísticas anônimas sobre a atividade dos fãs (Figura 20). Por meio
delas, é possível avaliar o desempenho da página, saber que conteúdo combina com o
público-alvo e otimizar a forma de publicação para obter mais interações e,
consequentemente, melhorar o alcance viral das postagens.
Figura 20: Página de estatísticas de uma fanpage. Acesso em 23/05/2013.
Outra característica importante das fanpages é a ampliação da possibilidade de
customização por meio de aplicativos personalizados (Figura 21) – algo possível diante da
transformação do Facebook em uma plataforma de software livre que não favorece seus
próprios aplicativos. Conforme explica Kirkpatrick,
A empresa concedeu um extraordinário grau de liberdade aos novos
parceiros. De forma surpreendente, pretendia permitir que os desenvolvedores
ganhassem dinheiro com seus aplicativos, mas não cobraria absolutamente nada
deles pelo direito de operar dentro do Facebook. ―Aqui, as pessoas podem
desenvolver aplicativos de graça‖, disse Zuckerberg mais ou menos na época em que
a plataforma estreou, ―e podem fazer o que quiserem. Podem publicar anúncios.
Podem ter patrocínios. Podem vender coisas, fazer links com outro site. Somos
simplesmente agnósticos. Haverá empresas cujo único produto será um aplicativo
que vive dentro do Facebook.‖
(...) Alguns de seus colegas, porém, em particular os que vendiam
publicidade para o site, tiveram um ataque apoplético. (...) Entretanto, apesar de
todos os protestos, Zuckerberg se manteve irredutível. A atividade nos aplicativos,
76
argumentou, poderia gerar mais atividade no Facebook. Isso resultaria em mais
visitas às páginas, e o Facebook reservaria um espaço nas próprias páginas dos
aplicativos para vender seus anúncios. (KIRKPATRICK, 2010, p. 239)
Figura 21: Exemplo de aplicativo ativo em fanpage. Acesso em 24/05/2013.
Com essa visão, Zuckerberg mostrava que a prioridade do negócio continuava sendo o
fortalecimento do Facebook no mercado. Como o bom posicionamento do site sempre foi
associado à qualidade da experiência do usuário, esse movimento era estratégico: permitiu
que, com o tempo, a publicidade fosse extremamente direcionada a contextos favoráveis.
Já que precisava ter anúncios, Zuckerberg esperava desenvolver modelos que não
interferissem na experiência do usuário. Segundo Kirkpatrick (2010), ―a última coisa que ele
queria é que as pessoas se sentissem como se estivessem assistindo à televisão, em que o
programa é periodicamente interrompido por publicidade irrelevante e fútil‖ (p. 253).
Em 7 de novembro de 2007, esse compromisso foi reafirmado na divulgação da nova
plataforma de publicidade pelo blog do Facebook36
. O texto afirmava que o sistema
conectaria o usuário ao que ele estaria realmente interessado com base nos hábitos de
navegação dentro e fora do Facebook, assegurando que as informações pessoais não seriam
36 Tradução nossa. Disponível em <https://blog.facebook.com/blog.php?post=6972252130>. Acesso em:
24/05/2013.
77
vendidas e que o site continuaria ―limpo e livre da bagunça‖. Em outro post37
que explica o
papel da publicidade no Facebook, em 2010, Sheryl Sandberg, diretora de operações da
empresa, afirma que
Em um mundo mais conectado, os anunciantes também são sociais. Isso lhe dá a
chance de se conectar com as empresas e marcas que você gosta e aprender mais
sobre seus produtos e serviços. Acreditamos que a publicidade social mais
personalizada complementa as maneiras que as pessoas usam o Facebook todos os
dias, para descobrir, compartilhar e se conectar com as pessoas e o mundo ao seu
redor. (...) Assim como a publicidade mudou a experiência de pesquisa na web,
achamos que os anunciantes são uma parte significativa do grafo social e da
experiência on-line como um todo.
Figura 22: Anúncios sociais no Facebook. Acesso em 24/05/2013.
A figura 22 mostra que, para ratificar a relevância dos anúncios, o Facebook os
vincula às atividades de amigos, presumindo que a melhor referência é a indicação deles.
Muitas mudanças nos padrões de anúncios foram sendo feitas ao longo do tempo, mas sempre
seguindo esse princípio do vínculo social. Algumas foram mais significativas, como o botão
37 Tradução nossa. Disponível em <https://blog.facebook.com/blog.php?post=403570307130>. Acesso em:
24/05/2013.
78
―Promover‖ (Figura 23) adicionado em 2012 aos posts das páginas, sugerindo aos
administradores a promoção do conteúdo na rede social. Com o recurso, as mensagens
passavam a aparecer como ―publicação sugerida‖ (Figura 22) nos feeds de notícias das
pessoas que ainda não curtiam a página.
Figura 23: Promoção de publicações em fanpages. Acesso, em 24/05/2013.
Em 2012, o Facebook passou a oferecer gradualmente a opção de promover postagens
dos próprios usuários com uma posição de destaque no feed de notícias (Figura 24). Em artigo
na Folha Online38
, Ronaldo Lemos avaliou que pagar para ser ouvido faz todo o sentido
quando há muita informação sendo produzida e ―escassez de olhos e ouvidos para prestar
atenção em tudo‖. ―O Facebook está usando a carência universal por atenção para ganhar
dinheiro. Na sua visão, viramos todos publicitários de nós mesmos‖, escreveu.
38 Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/1243917-entenda-melhor-o-misterioso-
caso-dos-posts-do-facebook.shtml>. Acesso em: 24/05/2013.
79
Figura 24: Promoção de publicações pessoais no Facebook. Acesso em 24/05/2013.
2.2.5. O fenômeno dos objetos estéticos: foto e vídeo
Considerando a interface gráfica da internet, a conversação mediada pelo computador
vai além do texto escrito, amparando-se também na linguagem sonora, visual e digital,
mesclando diferentes habilidades e sentidos na produção de significados. Particularmente, a
imagem permite recortar, apreender e organizar o real e o imaginário de maneira privilegiada,
ocupando papel central na cultura do consumo. Não à toa, sua centralidade também se
manifesta de maneira especial na apropriação do Facebook.
Logo após atingir 5 milhões de usuários, o Facebook se inspirou na tendência de
diversos serviços de hospedagem de fotos que começavam a ganhar espaço na internet. Um
novo recurso, segundo Kirkpatrick (p. 180), transformou o serviço prestado pelo site. Ele
permitia que os usuários carregassem fotos, distribuíssem em álbuns e submetessem o
material aos comentários dos amigos. O grande diferencial, que caracterizava o espírito do
site, era permitir que os amigos representados tivessem seus perfis marcados nessas fotos
(Figura 25). Eles recebem uma notificação de alerta da atividade e podem aprovar ou não,
mediante configurações de privacidade. Dessa forma, o diagrama social fornece mais
informações, contexto e um senso de companheirismo.
80
Figura 25: Marcação de fotos no Facebook. Acesso em 25/05/2013.
Kirkpatrick conta que o recurso Fotos tornou-se o hóspede de fotografias mais popular
da internet e a característica mais popular do Facebook em pouco tempo, sendo, inclusive,
determinante para a compreensão do ―efeito Facebook‖: o relacionamento entre as pessoas
utilizado como sistema de distribuição.
Um mês após seu lançamento, 85% dos usuários do serviço haviam sido marcados
em pelo menos uma foto. Após o lançamento do recurso de fotos, as pessoas
passaram a entrar no Facebook mais frequentemente, já que, com mais frequência,
havia algo de novo para se ver. Isso deixou Zuckerberg muito entusiasmado, pois
sua principal medida do sucesso era o número de vezes que os usuários retornavam.
Um total de 70% dos estudantes voltavam a cada dia, e 85% voltavam pelo menos
uma vez por semana. É uma espantosa taxa de lealdade do usuário para qualquer site
da internet – e para qualquer tipo de empresa, na verdade. (...) No final de 2010, o
Facebook estava hospedando 40 bilhões de fotografias e tinha se tornado, de longe,
o maior site de fotos do mundo. (KIRKPATRICK, 2010, p. 180)
A este mecanismo estratégico do Facebook, soma-se a popularização e
aperfeiçoamento das tecnologias portáteis de imagem digital presentes em câmeras, celulares
e smartphones, que tornaram cada vez mais simples e acessíveis a captura, o armazenamento,
a edição, a visualização e a distribuição das fotografias. Souza (2008) destaca a necessidade
da fotografia como instrumento para a memória de uma sociedade de perdas contínuas, que
81
precisa ser recriada todos os dias. Para tal, a fotografia é guardada para ser esquecida
temporariamente - ―Esquecer sabendo que está lá, que pode ser ressuscitada‖ (p. 45). No
contexto da internet e suas ―identidades movediças‖, tal necessidade se amplia.
Para funcionar como memória de rupturas e distanciamentos, a fotografia precisa ser
vista como um conjunto narrativo de histórias e não como um mero fragmento imagético. Se
observarmos a exposição dessas imagens na linha do tempo do Facebook, em um contexto de
construção da identidade, é possível compreendê-las dentro de uma perspectiva minimamente
temporal. Entretanto, no momento que a foto é exibida no feed de notícias, assume outra
função: chamar atenção para estabelecer vínculos – identificados por meio dos marcadores de
conversação curtir-comentar-compartilhar. Com essa democratização da auto representação
somada ao deslocamento dela para um único fluxo de informação (o feed de notícias) com
múltiplos atores, talvez o que presenciamos não seja a promoção da igualdade, mas o
fortalecimento da disputa por visibilidade e pelo poder simbólico de imagens pessoais no
espaço público.
Para Baudrillard (1991), a sociedade nesse cenário pós-moderno é organizada em
torno da simulação e dos jogos de imagens e signos que determinam como os indivíduos se
percebem e relacionam, de modo que a economia, a vida social e a cultura são todas
governadas pela simulação. E aqui cabe mais uma vez a máxima de McLuhan:
―compartilhamos para sermos estranhos‖. Conforme descreveu Lévy (1993), passamos nosso
tempo modificando e organizando os espaços em que vivemos, ―conectando, separando,
articulando, robustecendo-os, introduzindo novos objetos a eles, movendo correntes e
deslocando as intensidades que as estruturam, de um espaço a outro‖.
No Facebook, toda essa lógica de produção e distribuição de imagens não se restringe
aos álbuns de fotografias digitais. Na busca pelo despertar da atenção e do apreço do outro, as
atualizações de status baseadas apenas em mensagens de texto foram perdendo espaço ao
mesmo tempo que recursos multimídia foram sendo disponibilizados. Para chamar a atenção
da rede de amigos, é costumaz a amplificação das mensagens de texto por meio de sua
adaptação em forma de imagem, com adição ou não de outros elementos (Figuras 26, 27 e
28).
82
Figura 26: Visualização de imagem + texto no Facebook. Acesso em 26/05/2013.
Figura 27: Postagem de imagem + texto no feed de notícias. Acesso em 26/05/2013.
83
Baitello (2007) avalia que ―um ambiente comunicacional constitui uma atmosfera
saturada de possibilidades de vínculos de sentido e vínculos afetivos em distintos graus. Será,
pois, integrada em seu ambiente, a imagem que permitirá entrever sua função‖. Para ele, esse
processo sinaliza não apenas o domínio da imagem, mas ―uma visível perda progressiva da
escrita em favor de ícones‖.
Um ambiente comunicacional portanto não é apenas o pano de fundo para uma troca
de informações, mas uma atmosfera gerada pela disponibilidade dos seres (pessoas
ou coisas), por sua intencionalidade de estabelecer vínculos. Assim, uma cultura da
palavra escrita constrói ambientes adequados às temporalidades da leitura. E uma
cultura da imagem visual operará igualmente a construção de ambientes voltados
para a hegemonia da visão, com todas as consequências que dela decorrem.
(BAITELLO, 2007, p.3)
Figura 28: Feed de Notícias. Destaque da imagem no fluxo de informação. Acesso em 26/05/2013.
Embora a lógica do efeito viral seja imprevisível, um estudo realizado por Dan
Varella39
identificou algumas características correlacionadas que faziam as mensagens terem
um desempenho positivo ou negativo quanto ao número de likes, comentários e
39 www.danvarella.com
84
compartilhamentos. Identificou, estatisticamente, a prevalência de imagens sobre mensagens
de texto, vídeo e links no padrão de interações, após analisar 1 milhão e 300 mil publicações
nas 10 mil fanpages mais curtidas do Facebook (Figura 29).
Figura 29: Resultado da pesquisa de Dan Zarella40. Acesso em 26/05/2013.
40
Disponível em <http://danzarrella.com/infographic-how-to-get-more-likes-comments-and-shares-on-
facebook.html>. Acesso em: 26/05/2013.
85
Baitello (2007) recorre a Günther Anders para identificar esse movimento de
dependência imagética como uma ―iconomania‖, fenômeno decorrente da possibilidade de
criar, por meio da imagem, peças sobressalentes de si mesmo. No entanto, como a fala e o
gesto não acompanham mais o fluxo dos estímulos visuais, Miranda (2007) afirma que o
processo não permite ―um salto qualitativo em relação às imagens, mas uma espécie de
dislexia visual‖. Assim, em nossa memória, ―se depositam, por traços sucessivos, mil
estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável
que uma delas adquira relevo‖ (Calvino, 1990, p. 107 apud Miranda, 2007).
No caso dos vídeos, eles ampliam as linguagens através das quais é possível projetar
identidades e representações. Explorando recursos sensoriais, seduz o público disperso ao
solicitar um espectador com corpo mais disponível e atento. Os ―estilhaços de imagem‖, nesse
sentido, são organizados em sucessões que produzem micronarrativas do cotidiano. Embora
ainda tenha um consumo menor do que imagens estáticas, a visualização de vídeos também
vem ganhando destaque no Facebook: Segundo dados do Instituto de pesquisas ComScore41
(Figura 30), em março de 2013 foram mais de 153 milhões de visualizações únicas em todo o
mundo, perdendo apenas para o site de vídeos YouTube. No Brasil, o Facebook ainda ocupa o
terceiro lugar no ranking, com cerca de 17,5 milhões de visualizações únicas.
41 Disponível em
http://www.comscore.com/Insights/Press_Releases/2013/4/comScore_Releases_March_2013_U.S._Online_Vide
o_Rankings. Acesso em 26/05/2013.
86
Figura 30: Visualizações de vídeo na internet brasileira. Comunicação por e-mail.
Consideramos que imagens utilizadas para fortalecer mensagens no Facebook se
apresentam como objetos ou eventos estéticos, uma vez que possuem função estética
secundária42
. Trevisan e Ludwig (2006) apontam que a arte e a realidade trocaram de lugar
numa "alucinação estética do real". Assim, ―tudo, do mais banal ao mais marginal, estetizou-
se, e desta maneira transforma-se a insignificância do mundo atual‖. Com a estetização da
vida cotidiana, segundo Debord, prevalece o espetáculo.
O espetáculo é o herdeiro de toda a fraqueza do projeto filosófico ocidental, que foi
uma compreensão da atividade dominada pelas categorias do ver. Ele não realiza a
filosofia, ele filosofa a realidade. É a vida concreta de todos que se degradou em
universo especulativo. (DEBORD, 2003, par.19)
Ainda, segundo Baudrillard, citado por Medeiros (2007)
O universo pós-moderno é da hiper-realidade, em que o entretenimento, a arte, a
informação e as tecnologias da comunicação fornecem experiências mais intensas e
envolventes do que as cenas da vida banal. O reino do hiper-real é mais real do que
42Aqui, compreendemos o conceito proposto por Jan Mukarovsky, citado por RAMALHO E OLIVEIRA (2001):
―Segundo ele, todo o texto que, entre suas funções, apresenta a função estética como a mais importante, pode ser
considerado como arte. Por outro lado, toda imagem que tem a função estética como secundária é um objeto ou
um evento estético.‖ (p. 4).
87
o real. Nesse mundo pós-moderno, os indivíduos fogem do ―deserto do real‖ para a
hiper-realidade do computador, das mídias e das experiências tecnológicas.
Baudrillard reivindica a ideia de que a modernidade opera com modalidade da
representação em que as ideias representam a realidade, e a verdade e os conceitos
são postulados-chave. A sociedade pós-moderna implode essa epistemologia,
criando situação em que os assuntos perdem contato com o real e o fragmenta e
dissolve. (MEDEIROS, 2007, p. 146)
Se considerarmos os propósitos e mecanismos publicitários do Facebook, que vê o
diagrama social como um mero sistema de distribuição fortalecido pelo vínculo social, os
usuários são bombardeados por objetos estéticos que evocam sonhos e desejos para o
consumo desenfreado. Uma pesquisa realizada por Adam D.I. Kramer e divulgada pelo
Facebook Data Science43
identificou as diferentes formas que as pessoas usam as atualizações
de status, após análise de 1 milhão de falantes de inglês e seus cerca de 150 milhões de
amigos em vários países.
As referências são do dicionário LIWC (Linguistic Inquiry and Word Count)44
, que
oferece 68 tipos diferentes de categorias de palavra45
correspondentes a construções
psicológicas e linguísticas significativas, juntamente com uma lista de palavras pertencentes a
cada categoria. Com esse trabalho, comprovou que as pessoas, sobretudo os jovens,
costumam expressar estados emocionais e ―contaminar‖ a rede com sentimentos semelhantes
(Figura 31).
"Até três dias depois, para pessoas que usam mais palavras negativas, seus amigos vão
também usar palavras mais negativas", disse Kramer em entrevista ao portal
MercuryNews.com46
. A matéria da MercuryNews confirma o propósito mercantil da
pesquisa, ao dizer que ―a análise de Kramer não é apenas um estudo acadêmico das vastas
quantidades de dados que fundamentam o Facebook e que sua obra está relacionada com
produtos sociais de rápido crescimento do Facebook e com a publicidade que os alimenta‖.
43 Disponível em <https://www.facebook.com/notes/facebook-data-science/whats-on-your-
mind/477517358858>. Acesso em: 26/05/2013. 44 ―Linguistic Inquiry e Contagem de palavra (LIWC) é um programa de software de análise de texto desenhado
por James W. Pennebaker, Roger J. Booth, e Martha E. Francis. LIWC calcula o grau em que as pessoas usam diferentes categorias de palavras através de uma ampla variedade de textos, incluindo e-mails, discursos,
poemas, ou fala diariamente transcritas. Com um clique de um botão, você pode determinar o grau qualquer texto usa as emoções positivas ou negativas, auto-referências, palavras causais e 70 outras dimensões de
linguagem.‖ Definição disponível em <http://www.liwc.net/>. Acesso em: 26/05/2013. 45 As palavras são classificadas com base em sua parte do discurso (pronomes, artigos, verbos passado, tensos,
etc.), seu conteúdo emocional (emoções positivas, emoções negativas, tristeza, raiva, etc.) ou o tema aos quais
estão relacionadas (escola , trabalho, religião, etc.). 46 Disponível em <http://www.mercurynews.com/business/ci_18183052?nclick_check=1
http://www.mercurynews.com/business/ci_18183052?nclick_check=1>. Acesso em 26/05/2013.
88
Figura 31: Publicidade associada a contexto emocional na fanpage do Guaraná Antártica no Facebook. Acesso
em 26/05/2013.
Se tratarmos o mesmo propósito verificado nos textos aplicados às imagens estáticas e
vídeos online que amplificam as emoções, verificamos que ―a pluralidade de consumidores é
considerada através de um processo governado pelo jogo da imagem, do estilo, do desejo e
dos signos, distribuídos de acordo com os critérios de mercado‖, conforme apontam Ludwig e
Trevisan (2006). Os autores se orientam pela ideia de experiência mercantilizada da vida
gerada pela mercantilização do produto, que força as pessoas a lidarem com a novidade e o
descartável.
Nessa lógica capitalista, tudo é feito no sentido de atrair o consumidor. As imagens
desempenham um papel estratégico, sendo constantemente veiculadas pela mídia.
Os códigos são misturados ecleticamente e os significantes não possuem sentido,
pois não apresentam relação alguma. (LUDWIG; TREVISAN, 2006)
Longe de observar tal fenômeno apenas sob uma perspectiva pessimista, tomamos a
ideia de Canclini (2008), para quem existe um conflito entre duas tendências culturais: ―a
negociação racional e crítica, de um lado, e o simulacro de um consenso induzido por mera
devoção aos simulacros, do outro.‖ Assim, não há opção absoluta quando sabemos que os
simulacros fazem parte das relações de significado em toda cultura.
89
Quando se perde a distinção entre o real e o imaginário, quando a pergunta sobre a
legitimidade das representações se extravia e tudo é simulacro, não sobra lugar para
a confrontação racional de posições, nem para a troca, nem, é óbvio, para a
negociação. (...) Porém, estabelecer de que maneira iremos negociar o compromisso
entre ambas as tendências é decisivo para que na sociedade futura predomine ou a
participação democrática ou a mediatização autoritária. (CANCLINI, 2008, p.210)
Para Canclini (2008), ―a identidade é teatro e é política, é representação e ação‖, e
ambas as dimensões coexistem no processo de globalização e consequente democratização da
informação. Com as práticas publicitárias transversais ao diagrama social, os cenários de
consumo caminhariam para uma dimensão estética da cidadania, pois a ideia de ―público‖ não
abrange somente atividades diretamente ligadas a atores políticos, ―mas também o conjunto
dos atores – nacionais e internacionais – capazes de influir na organização do sentido coletivo
e nas bases culturais e políticas da ação dos cidadãos‖ (p. 222). Assim, consideramos a
condição atual como favorável ao processo cívico se tomarmos como referência o modelo
monopolista dos meios de massa e sua apropriação por empresas de comunicação e
propaganda.
90
Capítulo 3
ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE
91
Se você não conhece a resposta, discuta a pergunta.
Clifford Geertz
92
3. ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE
3.1. Uma proposta de ciberativismo no Facebook
Até aqui, discutimos o desenvolvimento das formas midiáticas de expressão e
conversação social, o papel da internet e das redes sociais na realidade contemporânea da
comunicação e sua participação no afloramento de novas identidades, atores e papeis sociais.
De maneira especial, ressaltamos as influências do Facebook nesse processo, devido ao seu
fundamento, características e alcance. Agora, partimos para o estudo de um caso específico,
que torna observável o modo como as apropriações dessa ferramenta possibilitam a
participação social e o fortalecimento da cidadania.
No dia 11 de julho de 2012, a jovem estudante de 13 anos Isadora Faber criou, em
parceria com uma colega da escola, uma fanpage no Facebook chamada ―Diário de Classe‖. O
objetivo era denunciar deficiências da educação pública no Brasil a partir de uma realidade
particular, vivida na escola Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC), onde ela estuda.
―Estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas públicas. Quero
melhor não só pra mim, mas pra todos‖, diz ela no pequeno texto de apresentação (Figura 32).
Figura 32: Página do Diário de Classe em 29/08/2012.
93
As primeiras postagens na página expuseram fotos tiradas com o celular da estudante
que denunciavam problemas estruturais: ventiladores quebrados, portas sem fechadura,
pichações, fiações elétricas inseguras, entre outros (Figura 33). A página foi ganhando
repercussão, chamou atenção da imprensa local (Figura 34) e inspirou iniciativas semelhantes
de outros estudantes (Figura 35).
Figura 33: Exemplos de denúncias no Diário de Classe. Acesso em: 31/05/2013.
94
Figura 34: Nota sobre o Diário de Classe na p. 2 do Diário Catarinense em 14/08/201247.
Figura 35: Página do Diário de Classe Mário Quintana. Acesso em: 31/05/2013.
No dia 17 de agosto, Isadora anunciou que passaria a ser a única administradora da
página (Figura 36), deixando subentendido, sem mais explicações, o desligamento da colega
47 Digitalização disponível em
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=271809292925584&set=a.261968860576294.48181.26196498057
6682&type=1&theater>. Acesso em 31/05/2013.
95
com a qual fundou o projeto. Desde então, o texto de apresentação da página traz a seguinte
declaração: ―Estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas
públicas. Quero melhor não só pra mim, mas pra todos‖.
Figura 36: Isadora Faber anuncia que é a única administradora do Diário de Classe. Acesso em: 31/05/2013.
No dia 25 de agosto, Isadora publicou estatísticas do Facebook que mostravam que a
página tinha expandido sua atuação para além da cidade de Florianópolis (Figura 37).
Figura 37: Origens geográficas dos usuários alcançados pela fanpage Diário de Classe em 25/08/2012.
A repercussão também chamou a atenção da imprensa nacional. No dia 27 de agosto, o
Portal G1 publicou a primeira reportagem sobre o assunto, seguido pelos portais do jornal
Estadão, Revista Veja, Terra, iG, Correio Braziliense, O Globo, entre outros. A
disponibilização da informação em agências de notícias viralizou o assunto na imprensa e
impulsionou ainda mais a página. Em 3 dias, o número de fãs saltou de cerca de 10 mil para
96
mais de 160 mil e não parou mais48
. Com a explosão crescente de compartilhamentos, a
Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis finalmente manifestou um posicionamento
institucional favorável à atitude de Isadora. A comunidade escolar de professores e alunos, no
entanto, teria se mostrado contrária, segundo relatos de Isadora na fanpage que analisaremos
adiante.
Isadora Faber, de 13 anos, criou o Diário em julho e até o começo de agosto
tinha pouco mais de 400 fãs. Nas últimas semanas, os conteúdos da página correram
pela rede como um viral: somente nesta segunda-feira, a página foi "curtida" mais de
4.000 vezes. "Não esperava que a página fizesse esse sucesso todo. Acho que as
pessoas querem realmente saber como as escolas públicas funcionam e elas têm
achado interessante o que eu mostro", diz a estudante em entrevista a VEJA.com.
Na página, Isadora registra todo tipo de reclamação. "Olha, temos um orelhão
na escola, mas quem disse que funciona??", indaga ela em um dos posts. "Esses fios
pra fora será que não é perigoso??" (sic), questiona em outro, acompanhado pela
fotos de fios desencapados que, segundo a autora, estariam provocando choque nos
colegas de escola. "De 5 aulas de hoje, só tivemos 2 com os professores titulares, as
outras 3 foram com professoras substitutas. Quando temos aulas com auxiliares elas
dão um texto e uma pergunta e é sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor
aproveitado", conclui.
Segundo ela, as reclamações virtuais têm incomodado os docentes. "Eles me
pedem sempre para eu tirar a página do ar, mas não vou tirar. Acho que não estou
incomodando ninguém. Só quero ter uma educação de qualidade. É isso que me
motiva a fazer esse diário", conta. A reportagem tentou contato com a direção da
Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, mas a diretora não foi encontrada para
comentar o assunto.
Algumas reclamações já teriam surtido efeito. Ventiladores quebrados teriam
sido substituídos depois que Isadora postou fotos dos aparelhos estragados no
Facebook. As maçanetas dos banheiros também teriam sido reparadas e os fios,
trocados para evitar acidentes.
Também não tem sido fácil convencer os amigos, segundo Isadora. "Eles
acham que eu estou publicando essas coisas para prejudicar a escola. Fora da escola,
eles até me apoiam. Lá, porém, dizem que são contra." Isadora diz que mantém a
página sozinha: todos os textos e fotos são postados por ela mesma. Uma irmã ajuda
na gravação dos vídeos.
A mãe de Isadora, Mel Faber, tem conhecimento da iniciativa da filha e se
diz feliz pela repercussão que a página vem ganhando. "Quando ela me disse que
queria colocar tudo isso na internet, eu a alertei: disse que ela poderia receber
represálias na escola e que deveria estar pronta para encarar críticas de frente", conta
Mel. "Mas ela disse que estava ciente da sua responsabilidade."
Isadora diz que sua inspiração veio da Grã-Bretanha. Na Escócia, a pequena
Martha Payne, de 9 anos, criou um blog para criticar a qualidade da merenda de sua
escola. Todos os dias, ela fotografava a refeição e postava na página intitulada
"Never Seconds". Depois de o blog receber mais de 1 milhão de acessos, a secretaria
de educação da cidade de Argyll se pronunciou sobre a qualidade da merenda
escolar e pressionou por mudanças. Até o famoso chef Jamie Oliver se manifestou
nas redes sociais em apoio à estudante. "Vi que lá tinha dado certo. Pensei que aqui
também poderia ter algum efeito", diz Isadora. (Veja, 27/08/2012)49
48 O último acesso à página, às 21h25 do dia 15de agosto de 2013, revelava a marca de 626 mil fãs. 49Disponível em < http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/no-facebook-estudante-de-13-anos-narra-rotina-de-
problemas-de-escola-publica>. Acessoem 31/05/2013.
97
Em uma visão preliminar sobre o caso, podemos considerar Isadora Faber uma
ciberativista se tomarmos a definição de Araújo (2011), para quem ―o conceito de
ciberativismo é tratado como a forma de utilização radical das ferramentas da rede, onde
indivíduos e grupos têm suas ações políticas potencializadas pelos ambientes midiáticos e
descentralizados da internet‖. De fato, por meio da estratégia várias reclamações de Isadora foram
ouvidas e resolvidas, beneficiando toda a comunidade escolar. No entanto, diante das críticas e
oposições às questões levantadas por ela, será que o Diário de Classe mostra de fato a comunidade
que a estudante busca representar, expressando o âmbito coletivo a partir do individual? Pelo
alcance da ação, para oferecer essa resposta seria preciso avaliar o conteúdo da página em
diversos contextos: o da classe de Isadora, o da escola, o do bairro, o da cidade, o do Estado e o
do país. A partir do momento em que todos esses contextos se confundem, as contradições
internas das novas formas de expressão se acentuam e requerem uma análise com rigor científico
do suposto discurso democrático que parece ser heroicizado sem oportunidade de reflexão.
E não apenas essas contradições resumem a necessidade da análise: Em nova
entrevista ao portal G1 em 12 de novembro de 2012, Isadora fez uma declaração sintomática
quanto às fragilidades identitárias que envolvem o caso: "Quero ser jornalista. Acho que
posso ajudar as pessoas dando informação". A estudante tem sua identidade fragmentada em
um mundo onde ―as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social,
estão em declínio‖ (HALL, 2006, s/p). Ela quer ser jornalista para ajudar as pessoas por meio
da informação, embora seu trabalho informal já atinja esse objetivo de um modo que o
jornalismo tradicional não poderia atingir. A iniciativa é viabilizada pelo Facebook, que
garante a liberdade de expressão autônoma para quem não se vê representado nos tradicionais
discursos midiáticos. No entanto, despertou interesse e apoio da imprensa. Esta, com a missão
de defender o interesse público, até então não havia tido acesso aos problemas relatados pela
estudante, encontrando no gesto político da intimidade o que não seria revelado por fontes
oficiais. Eis as fontes oficiais, segundo as normas do fazer jornalístico: uma escola e sua
estrutura política, fundada com a missão social de promover cidadania, mas que não havia se
manifestado publicamente sobre os problemas que vivia (apesar de também manter uma
fanpage no Facebook) e se surpreendeu com a percepção e com a reação de uma aluna frente
aos seus direitos. Afinal, a inspiração de Isadora não veio da sala de aula, mas de uma jovem
blogueira que realizou um trabalho semelhante na Escócia para questionar a qualidade da
merenda escolar.
98
Em um estudo sobre ação e características dos movimentos sociais contemporâneos,
Machado (2007) mostra que a apropriação estratégica das tecnologias da informação apontam
para transformações nas formas de ação coletiva e, consequentemente, novas formas de
ativismo que vão além das concepções clássicas sobre o comportamento dos coletivos sociais.
Essa realidade vai ao encontro do objetivo da democracia de ―permitir que indivíduos, grupos
e coletividades se tornem sujeitos livres, produtores de sua história, capazes de reunir em sua
ação o universalismo da razão e as particularidades da identidade pessoal e coletiva‖
(Touraine, 1995: 263 apud MACHADO, 2007). Nesse sentido, ele ressalta que a
mudança formal da relação entre os governos e a sociedade civil, marcada pela cooperação
em prol dos direitos civis e sociais, segue uma lógica frequentemente desafiada por conflitos
gerados pela interdependência entre os atores políticos e sociais, o descontrole e o
empoderamento dos agentes sociais e econômicos. Assim, com a dificuldade de mobilização
coerente em torno de causas complexas, os indivíduos e coletivos sociais que outrora se
encontravam dispersos ou isolados podem ―concentrar suas ações em prol de uma causa
comum, com base nas extensas redes de solidariedade de natureza identitária‖. Goulart (1993)
ressalta que
as representações sociais constituem um sistema de valores, noções e práticas ligado
a um conjunto de relações sociais e processos simbólicos que instaura a
possibilidade de orientação dos indivíduos no mundo social e material, além de
possibilitar a tomada de posição e a comunicação intergrupal, bem como a
decodificação deste mundo e da história individual e coletiva do grupo. Sua
apreensão, através de estudos específicos, deve levar em conta um contexto sempre
em mudança, marcado pelo caráter contraditório das relações sociais, dentro do qual
a representação não deve ser buscada como única explicação correta de um
fenômeno, mas sim como fator facilitador da comunicação. (GOULART, 1993,
p.478)
Como recorte representativo do diagrama das relações sociais e dos fluxos de
informação em constante transformação, o contexto em mudança citado por Goulart pode ser
traduzido no próprio Facebook. Tem Isadora Faber como representação social que facilita a
comunicação na medida em que possibilita o encontro e conexão de pessoas com interesses
comuns, momento em que se realizaria a ação política.
Gasser e Palfrey (2011) destacam que nenhuma tecnologia nova vai fazer alguém ter
experiência de conversão. O que a rede proporciona ―é uma plataforma cada vez mais útil e
atrativa para aqueles que estão predispostos a serem ativos na vida cívica‖ (p.288), embora a
internet seja, em si, uma força motivadora essencial: ―Eles não se envolveram na política por
99
causa da tecnologia, mas a tecnologia tornou-se o meio que os juntou‖ (p.291). Para Goulart,
―os ―novos‖ movimentos sociais reúnem atores políticos heterodoxos, cuja ação sobre a
prática política tradicional é, acima de tudo, de negação e renovação‖. Não seria, assim, o
caso de fortalecer democracias existentes, mas orientar-se para criar novas democracias. De
fato, a antropologia parte da premissa de que a democracia é um modelo teórico e não existe
de forma pura.
Castells (1999), no entanto, vê a fragilidade da democracia na crise de legitimidade e
falta de credibilidade do sistema político, mas alerta que ―a construção de significado político
com base em identidades específicas contesta o próprio conceito de cidadania‖ (p.402).
Diante da descrença da sociedade civil na capacidade do Estado de solucionar problemas, ele
toma como exemplo os chamados votos de protesto, que elegem candidatos de bases locais
com alternativa às grandes coalizões. Ele classifica esses atos como manifestações de
alienação política, já que a política da mídia é capaz de lançar e destruir novos ídolos em
questão de horas. Seria Isadora Faber, então, uma nova ídola que enfraquece a democracia ao
invés de ajudar a fortalecê-la ou recriá-la? Apesar de reconhecer as oportunidades de
aprimoramento das formas de participação política e comunicação horizontal entre os
cidadãos, Castells apresenta-se temeroso sobre duas possibilidades: dos ―excluídos digitais‖
ficarem à margem de uma suposta ordem democrática fundamentada nos meios eletrônicos e
da intensificação da ―política showbiz‖, que ―poderia exaltar a individualização da política e
da sociedade a tal ponto que a integração, o consenso e a criação de instituições tornar-se-iam
metas perigosamente difíceis de serem atingidas‖ (p. 410).
3.2. Eixo teórico-metodológico
O eixo teórico-metodológico dessa pesquisa se apoia nos Estudos Culturais latino-
americanos, sob a perspectiva de pressupostos teóricos traçados por Néstor García Canclini na
corrente de pensamento sobre Consumo Cultural. Em ―Consumidores e Cidadãos‖ (primeira
edição em 1995), ao definir o consumo como ―um conjunto de processos socioculturais em
que se realizam a apropriação e os usos dos produtos‖ (CANCLINI, 2008, p. 60), Canclini
considera que a complexidade das formas de consumo não pode admitir apenas uma
racionalidade econômica, mas também uma racionalidade sociopolítica interativa que inclui
100
processos de comunicação e recepção de bens simbólicos. Ainda nessa obra, ele alertou que o
especialista em cultura deveria falar a partir de interseções, de modo que ―o objetivo final não
é representar a voz dos silenciados, mas entender e nomear os lugares em que suas questões
ou sua vida cotidiana entram em conflito com os outros‖ (p. 23).
Nessa justificação epistemológica, ele já adiantava o que mais tarde seria aprofundado
em ―Diferentes, Desiguais e Desconectados‖ (primeira edição em 2004) com a definição de
interculturalidade: ―remete à confrontação e ao entrelaçamento, àquilo que sucede quando os
grupos entram em relações e trocas‖ (CANCLINI, 2009, p.17). Assim, a anterior narração do
multiculturalismo deu lugar às relações de negociação, conflito e empréstimos recíprocos, em
discussões filosóficas atualizadas pelas ―atuais condições sociais e midiáticas nas quais se
verificam os desacertos políticos‖ (p. 18).
Com o panorama da internet e das redes sociais incorporadas ao cotidiano,
intensamente ligadas ao consumo e às relações sociopolíticas, as reflexões antes debruçadas
sobre a televisão se despertam em uma nova plataforma. O consumo cultural é tomado como
espaço para o debate social e para a participação dos cidadãos consumidores em uma esfera
pública interconectada – termo proposto por Benkler (2006) que busca novos entendimentos
sobre a definição habermasiana de esfera pública em um contexto cibercultural.
Nas democracias liberais, a capacidade individual onipresente de produzir
informação cria o potencial para o consumo quase universal. É, portanto, prenúncio
significativo, embora não inevitável, de mudanças na estrutura da esfera pública
desde o ambiente de mídia de massa comercial. (...) Esta mudança afeta o poder
relativo dos meios de comunicação. Ela afeta a estrutura do consumo de observações
e pontos de vista. Ela afeta a apresentação de questões e observações para discurso.
Ela afeta a forma como as questões são filtradas, para quem e por quem. Finalmente,
ela afeta as maneiras pelas quais as posições são cristalizadas e sintetizadas: algumas
vezes por serem amplificadas pelos meios de comunicação de massa ao ponto de
absorvê-las e convertê-las em posições políticas; ocasionalmente, pela organização
direta de opinião e ação, a ponto de chegar a uma saliência que conduz o processo
político diretamente. (Benkler, 2006, p.213)50
50 Tradução nossa. Do original: ―In liberal democracies, ubiquitous individual ability to produce information
creates the potential for near-universal intake. It therefore portends significant, though not inevitable, changes in
the structure of the public sphere from the commercial mass-media environment. (…)This change affects the
relative power of the media. It affects the structure of intake of observations and views. It affects the presentation
of issues and observations for discourse. It affects the way issues are filtered, for whom and by whom. Finally, it
affects the ways in which positions are crystallized and synthesized, sometimes still by being amplified to the
point that the mass media take them as inputs and convert them into political positions, but occasionally by direct
organization of opinion and action to the point of reaching a salience that drives the political process directly.‖
101
Para Canclini (2008), essas mudanças refletem a densidade sociocultural do cotidiano
e a incapacidade das cúpulas burocráticas em assumi-las conferiu um caráter abstrato às lutas
políticas. Agora, os conflitos sociais e a gestão de suas interações se deslocaram de espaços
públicos para lugares herméticos, ―onde atuam forças às quais os cidadãos não podem
confrontar‖ (p.208), dissolvendo a esfera pública como âmbito de participação popular.
Afinal, quem fala quando um sujeito interpreta sua experiência? Se não se sabe quem fala,
como determinar contra o que e contra quem se resiste? A Psicologia Social questiona se
somos autores ou personagens de um discurso na construção da nossa identidade; Ciampa
(1985) afirma que há uma autoria coletiva nessa história, formada por ocultações e revelações,
de modo que, embora uma identidade seja uma totalidade, manifesta-se como desdobramento
das múltiplas determinações a que se está sujeito. Assim, ―é lícito dizer-se que as identidades,
em seu conjunto, refletem a estrutura social ao mesmo tempo em que reagem sobre ela
conservando-a ou a transformando‖ (p. 67).
Ao propor uma perspectiva intercultural de análise, Canclini (2009) alerta sobre
―vantagens epistemológicas e de equilíbrio descritivo e interpretativo‖, que levam a ―conceber
as políticas da diferença não só como necessidade de resistir‖ (p.25). Afinal, ―quando se perde
a distinção entre o real e o imaginário, quando a pergunta sobre a legitimidade das
representações se extravia e tudo é simulacro, não sobra lugar para a confrontação racional de
posições‖ (CANCLINI, 2008, p.210). Torna-se necessário, portanto, ―livrar-nos de afirmações
ingênuas da subjetividade até o trabalho reconstrutivo indispensável para dar solidez a
cidadanias possíveis‖ (CANCLINI, 2009, p. 186).
Repensar a cidadania como estratégia política serve para abranger as práticas
emergentes não consagradas pela ordem jurídica, o papel das subjetividades na
renovação da sociedade, e, ao mesmo tempo, para entender o lugar relativo destas
práticas dentro da ordem democrática e procurar novas formas de legitimidade
estruturadas de maneira duradoura em outro tipo de Estado. (CANCLINI, 2008, p.
36)
Compreendendo a constituição de sujeitos individuais e coletivos a partir da conexão e
da desconexão, Canclini apresenta uma visão ponderada sobre a possibilidade de mobilização
de recursos interculturais para construir alternativas aos fracassos políticos. Assim, redefine o
conceito de cultura afirmando que ela ―abarca o conjunto dos processos sociais de
significação ou, de um modo mais complexo, a cultura abarca o conjunto de processos sociais
de produção, circulação e consumo da significação na vida social‖ (CANCLINI, 2009, p. 41).
102
Essa compreensão de cultura permite a investigação do posicionamento do Diário de
Classe no exercício da cidadania em contexto cibercultural. Viabiliza a desconstrução e
controle dos condicionamentos de cada enunciação e a construção da argumentação das
polêmicas nas relações com instituições, redes sociais, meios de comunicação e outros fatores
socioculturais de interferência. Para tal, recorremos à Análise do Conteúdo Clássica,
buscando descrever como cada ator social se apropria dos produtos materiais e simbólicos
alheios e os reinterpreta. Para Bardin (1977), apelar para esse instrumento de investigação é
situar-se ao lado daqueles que ―querem dizer não à ilusão da transparência dos fatos sociais,
recusando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea‖ (p.28). Nessa
perspectiva, contribui-se, a exemplo de Canclini, com a reformulação da agenda clássica dos
estudos culturais na busca de sentidos para as inscrições deixadas por fragmentos
sobreviventes (Canclini, 2009, p. 159), de modo que ―o interesse não reside na descrição dos
conteúdos, mas sim no que nestes poderão nos ensinar após serem tratados (por classificação,
por exemplo) relativamente a outras coisas‖ (BARDIN, 1977, p. 38).
No caso do Diário de Classe, recorreremos a dados qualitativos e quantitativos para
identificar subjetividades na condução de enunciados e sua relação com as consequências
provocadas conforme a representação dos objetivos estabelecida ao longo do processo pelo
sujeito da enunciação. A intenção é contrastar discursos com fatos sociais e experiências
subjetivas, atentando-se ao alerta de que ―a verdade não emerge, como numa operação
detetivesca, pela submissão dos discursos à demonstração dos dados‖ (Canclini, 2008, p. 90)
– lembrando que essa premissa serve não apenas à pesquisa, mas também à avaliação da
protagonista da história, Isadora Faber, que se diz portadora da verdade dos fatos. Ao se
questionar sobre a possível correlação do discurso com os fatos, busca-se averiguar não
apenas em que medida o discurso é uma fantasia ou um delírio, mas também o processo pelo
qual os sujeitos constituem, sofrem, transformam e experimentam a existência do real no
significado dos fatos.
3.3. Técnicas
Considerando a epígrafe do presente capítulo – ―Se você não conhece a resposta,
discuta a pergunta‖, de Clifford Geertz, e a complexidade do sistema no qual está inserido o
103
presente objeto (Diário de Classe), optamos por trabalhar com questões de pesquisa ao invés
de hipóteses antes de determinar os indicadores de análise e a delimitação do corpus. Como
pontuou Fragoso, Recuero e Amaral (2011), tal complexidade torna o sistema inerentemente
imprevisível e ―requer uma abordagem flexível do empiricismo e, particularmente, da questão
da generalização‖. Em outros termos, ―nós podemos ser capazes de dizer como a chuva cai,
mas isso não significa que somos capazes de prever o tempo no final de semana‖ (p.14).
Assim, organizamos as questões de pesquisa em tornos de dois eixos de análise:
a) Identidades e Representações: Como são representados os atores sociais
envolvidos no contexto? Os posicionamentos e formas de abordagem temática no
Diário de Classe mudam conforme o aumento nas interações, sinalizando um
sujeito com identidade em construção? Se sim, essa mudança indica síntese
dialética, sintoma de reforço positivo ou mudança de opinião/objetivo? Para quem
se destinam as mensagens?
b) Considerações sobre ciberativismo e cidadania: Como o global e o local se
articulam no Diário de Classe? A associação e a interação exclusivamente online
garantem a coesão mobilizadora de um grupo de pressão? Como se complementam
ou se contradizem as avaliações do público e da imprensa sobre a página na
resolução de problemas sociais?
O eixo (a) foi determinante na delimitação do corpus da pesquisa. Considerando o
significativo aumento das interações a que foi submetido o Diário de Classe após sua
divulgação na imprensa, acredita-se que o período posterior sofreu uma maior influência de
intersubjetividades. Como nos cabe avaliar a construção da identidade nesse sentido,
delimitamos o conteúdo presente nos 48 primeiros dias de existência da página e mais o dos
48 dias subsequentes à primeira aparição em mídia nacional (27/08/2012). Assim, as
postagens serão analisadas considerando dois períodos: de 11 de julho de 2012 a 27 de agosto
de 2012 (AMOSTRA 1); e de 28 de agosto de 2012 a 14 de outubro de 2012 (AMOSTRA 2).
Como material contextualizador das unidades temáticas a serem identificadas, também serão
104
avaliados blogs, matérias jornalísticas online, perfis e fanpages do Facebook pertinentes à
compreensão das repercussões.
Com esse corpus, vinculamos a análise à compreensão da recepção no nível da
audiência online. A dificuldade em avaliar o conteúdo e situar cada fato nos contextos
históricos e sociopolíticos adequados quando se carece de uma experiência mais direta de
vivência também é uma limitação dos usuários que se conectaram ao Diário de Classe na
tentativa de integrar um grupo de pressão. Entrevistas e observações locais, bem como análise
de documentos e materiais jornalísticos off-line seriam pertinentes ao aprofundamento da
compreensão do processo social. No entanto, vale ressaltar que, diante do amplo espectro da
cultura e campos possíveis de investigação, focamos no aspecto comunicacional apoiados no
pressuposto de que ―a versatilidade das identificações e das formas de tomar posições requer
metodologias híbridas‖ e que ―a hibridização não é indeterminação total e, sim, combinação
de conhecimentos específicos‖ (CANCLINI, 2009, p. 189).
Uma limitação da pesquisa é promover análise qualitativa rígida sobre os comentários
de postagens e suas influências no sistema, por dois motivos: 1) O corpus da pesquisa -
postagens em um período específico - é fechado, mas as interações permanecem abertas e
muitas ocorreram após o período delimitado para análise; 2) A grande quantidade de
comentários – variam de 50 a 2 mil em um único post – inviabilizam uma amostragem ampla
de pesquisa. Degenne e Forsé (1992), citados por Fragoso, Recuero e Amaral (2011),
consideram que ―nenhuma rede tem fronteiras ‗naturais‘, é o pesquisador que as impõe‖. Para
as autoras, ―a pesquisa em internet contribui para destacar a artificialidade e a relevância de
todos os procedimentos de amostragem e chama a atenção para as possibilidades e limites
impostos por cada escolha‖ (AMARAL, FRAGOSO E RECUERO, 2011, p. 57). Nesse
sentido, tomou-se a liberdade de agregar à análise de conteúdo uma metodologia
complementar, oferecendo um caráter intencional51
à amostragem de comentários a partir da
observação e análise de similaridades e dissimilaridades de ―casos informacionalmente ricos‖
(p.68).
Como se pretende tomar o ponto de vista da audiência, a grande quantidade de
comentários também sinaliza obstáculos à apreensão e interpretação por parte dos usuários,
que acabam sendo influenciados apenas por representações numéricas de quantidade e/ou
51 Amaral, Fragoso e Recuero (2011) determinam amostras intencionais como ―amostras qualitativas, cujos
elementos são selecionados conforme critérios que derivam dos problemas de pesquisa, das características do
universo observado e das condições e métodos de observação e análise‖ (p. 78).
105
pelas poucas mensagens que ganham maior visibilidade por critério temporal (comentários
mais recentes são carregados primeiro e exibidos em destaque). O que será visualizado a
ponto de gerar influência depende, também, do momento de acesso. Da mesma forma, as
matérias e blogs a serem analisados foram relacionados a partir do buscador Google e tiveram
sua relevância social ordenada por algoritmos (além de resultados, eles também ordenam
palavras-chave de pesquisa). O panorama vale também para considerar que nem sempre as
ideias às quais temos acesso são construídas subjetivamente, mas também são orientadas por
uma predeterminação lógica e objetiva das tecnologias de programação.
Com essa caracterização do corpus, passamos à determinação de indicadores, unidades
de registro e categorizações gerais para uma representação simplificada dos dados brutos
conforme as particularidades do tema, do meio e do referencial teórico. A análise qualitativa
também se apoia em dados quantitativos, de modo que a codificação utiliza cruzamento de
referências variadas interpretadas a partir de inferências. Isso sem perder de vista o fato de
que ―na melhor das hipóteses, a análise de conteúdo mapeia o espaço das leituras e das
intenções através da exclusão ou da tendência, mas nunca a situação concreta da coisa‖
(BAUER, 2002, p.208).
3.4. Aplicações e Resultados
3.4.1. Perfil geral das postagens
Antes de investigar especificidades temáticas e de representação no conteúdo do
Diário de Classe, recorremos a uma análise quantitativa para identificar o perfil geral da
página, considerando apenas números relativos a amostras delimitadas: no caso, as amostras
de postagens, sem considerar os compartilhamentos, comentários e likes que variam durante a
coleta de dados. Sobre as linhas temáticas identificadas, consideramos a seguinte
caracterização:
a) Denúncias, alertas e reclamações: Diz respeito a todas as denúncias pontuais feitas
por Isadora, que reúnem problemas infraestruturais e questões específicas de gestão.
b) Resoluções: Anúncios de que problemas denunciados foram resolvidos.
106
c) Reflexões: Alertas e reflexões de ordem mais abstrata, sem propósito específico;
refletem sobre o sistema educacional em nível macro, mas não visa promover pressão
direta.
d) Clipping e promoção: Postagens que replicam relatos favoráveis da imprensa e da
comunidade, fazem apelos de adesão e agradecem apoiadores, buscando alimentar e
reforçar a credibilidade da página.
e) Identidade: Postagens que apresentam propósitos e características da página.
f) Elogios: Postagens que ressaltam pontos positivos da escola.
g) Relatos de coerção: Relatam as manifestações contrárias à atuação do Diário de
Classe.
h) Neutro: Falam sobre o cotidiano da escola sem conotação positiva ou negativa.
Com esses princípios, chegamos à seguinte tabela (Tabela 1). Vale destacar que os
números não se referem a uma postagem, mas à presença da linha temática em uma postagem.
Isso porque alguns posts trazem mais de uma linha temática.
ANÁLISE TEMÁTICA QUANTITATIVA
Unidade de registro AMOSTRA 1
Sem imprensa AMOSTRA 2
Com imprensa
Linhas temáticas Frequência em postagem Frequência em postagem
A Denúncias, alertas,
reclamações 32 38
B Resoluções 3 14
C Reflexões 4 19
D Clipping e Promoção 19 33
E Identidade 15 11
F Elogios 4 11
G Relatos de coerção 11 5
H Neutro 0 16 Tabela 1: Análise temática quantitativa
A intenção dessa tabela é identificar propósitos temáticos e possíveis mudanças a
partir da influência da imprensa na divulgação do Diário de Classe. Em princípio, nota-se que
a estratégia de denunciar problemas pontuais permanece e se fortalece mesmo após a
divulgação na imprensa, sendo que o aumento significativo de postagens sobre resoluções na
107
AMOSTRA 2 reforça a complementaridade da imprensa no empreendimento de uma frente
de pressão. Os resultados positivos, aliados a uma ampla interação pelos comentários,
permitiram que as questões para reflexão também ganhassem destaque com posicionamentos
menos impessoais. As postagens de reforço de identidade diminuem ao mesmo tempo em que
as postagens de clipping e promoção aumentam, estimulando a participação de terceiros e
utilizando essa participação como reforço de credibilidade e veracidade.
Embora já permita tais inferências, os dados levantados são mais bem compreendidos
e localizados após análise qualitativa, mais detalhada e com melhor contexto de interpretação.
Como ressalta Recuero (2012), a construção do contexto na conversação mediada pelo
computador apropria limitações e possibilidades da ferramenta, sendo que ―a conversação em
sua forma assíncrona só é possível através de construções de contexto que possibilitem sua
recuperação tanto em seus microaspectos quanto em seus macroaspesctos‖ (p. 105).
3.4.2. Análise Temática e Representações
Como já vimos, a imprensa que conhecemos hoje nas sociedades democráticas teve
sua origem no século XIX, quando, segundo Traquina (2005), nasceram os valores que ainda
hoje são identificados com o jornalismo: ―as notícias, a procura da verdade, a independência
dos jornalistas, a exatidão e a noção do jornalismo como um serviço público‖ (p. 34). Para
atualizar esse modelo na nova dinâmica das redes sociais, dos blogs e do jornalismo cidadão,
a presente análise temática posiciona o trabalho de Isadora Faber tendo como referência uma
evolução especializada e devidamente institucionalizada na difusão e organização de
informações da vida social: o papel do lead na construção do fato jornalístico. Como afirma
Genro Filho (1987), ―o jornalismo tem uma maneira própria de perceber e produzir ―seus
fatos‖.
Os fatos jornalísticos são um recorte no fluxo contínuo, uma parte que, em certa
medida, é separada arbitrariamente do todo. Nessa medida, é inevitável que os fatos
sejam, em si mesmos, uma escolha. Mas, para evitar o subjetivismo e o relativismo,
é importante agregar que essa escolha está delimitada pela matéria objetiva, ou seja,
por uma substância histórica e socialmente constituída, independentemente dos
enfoques subjetivos e ideológicos em jogo. A verdade, assim, é um processo de
revelação e constituição dessa substância. (GENRO FILHO, 1987, p. 196)
108
Com essa premissa, a análise temática das postagens de Isadora identificadas como
fatos jornalísticos (alertas, denúncias, reclamações e relatos de coerção) será aqui inspirada
pelo lead clássico, tomando as perguntas ―O que?‖, ―Quem?‖, ―Como?‖, ―Onde?‖,
―Quando?‖ e ―Por que?‖ como unidades de registro. Quando for o caso, de acordo com
notícias veiculadas pela imprensa, bem como comentários em geral, postagens de outras
páginas e blogs alternativos, os argumentos conflitantes ou complementares serão comparados
para compreensão de possíveis limitações ao debate e desenvolvimento do capital social, já
que ―conversações tendem a ocorrer com maior frequência em ambientes nos quais as pessoas
se sentem protegidas em expressarem seus argumentos‖ (MATOS, 2009, P.82).
Paralelamente, serão analisadas também as representações sociais dos atores em cada caso,
situando-as nos desdobramentos dos fatos divulgados. Ainda, a análise dessas temáticas no
espectro das AMOSTRAS A e B fornecem subsídios para identificar o papel e as influências
da imprensa nesse ecossistema comunicacional multifacetado.
3.4.2.1. Entre denúncias e resoluções
Os anexos 1 e 2 trazem, respectivamente, a codificação das amostras A e B para a
linha temática (a): ―Denúncias, alertas e reclamações‖ e ―relatos de coerção‖. Essa foi
praticamente a linha de estreia do Diário de Classe, que teve como ponto de partida postagens
sobre problemas infraestruturais da escola, passando por reclamações sobre a categoria
docente e falhas de gestão. Imediatamente após as divulgações na imprensa, houve
manifestação de posicionamento oficial da Secretaria da Educação (Anexo 3) e as postagens
sobre resoluções se intensificaram, comprovando a forte influência da mídia tradicional para a
formalização de questões tratadas no ciberespaço.
Apesar de as unidades de registro terem sido definidas com base no lead clássico, as
tabelas mostram que muitas células não puderam ser preenchidas apenas com as informações
fornecidas por Isadora, o que não está de acordo com as notícias construídas segundo as
normas do fazer jornalístico. Por outro lado, essas mesmas normas não considerariam
isoladamente os valores-notícia dos problemas divulgados. Grosso modo, para a imprensa,
fechaduras quebradas, lâmpadas queimadas e ventiladores inutilizados, por exemplo, não são
notícia. Segundo Traquina
109
As definições do que é notícia estão inseridas historicamente e a definição da
noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica esboço da
compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do
comportamento humano e institucional. (TRAQUINA, 2005, p. 95)
Dessa forma, a partir do momento em que o Diário de Classe traduziu pequenos
problemas estruturais como sintomas de um problema maior, - a deficiência de gestão - tornou
possível o olhar jornalístico sobre o caso. No entanto, a percepção inicial da estudante,
independente de profissionalização, foi fundamental para essa conclusão e complementar ao
trabalho jornalístico. Podemos dizer que a perspectiva de Isadora é particular e nem por isso a
ausência de elementos de um lead clássico diminui a credibilidade das denúncias, quase todas
amparadas por fotos e vídeos amadores.
(...) gostaria de saber quem eu acusei diretamente? que provas vcs querem? fotos e
vídeos não bastam? eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das
conversas... do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por
isso falo... falo pq sei o que acontece e a escola é pública, "do povo", logo não vejo
problemas discutirmos publicamente pois nada tenho a esconder. (Diário de Classe,
14 de agosto de 2012)
Uma publicação no site do jornal O Globo traz a opinião de um especialista que
corrobora a importância dessa consciência de porta-voz:
Para o economista Gustavo Ioschpe, especializado em economia da educação, a
atitude desses jovens tem grande relevância ao trazer à tona informações pouco
conhecidas. Como ele compara, a educação pública brasileira ainda é uma caixa
preta, em que todos sabem quanto dinheiro entra, mas não há clareza sobre a
aplicação dessa verba: ―A única maneira de descobrirmos a realidade dessas escolas
é por meio desses alunos. E isso vai ter um impacto tremendo, já que a sociedade
ainda tem uma visão muito opaca e equivocada sobre o que acontece no interior
desses locais.52
A teoria interacionista apresentada por Traquina (2005, p.180) questiona o monopólio
dos jornalistas sobre o poder de decidir a noticiabilidade dos acontecimentos e das
problemáticas, considerando, entre outros fatores, o estabelecimento de uma rede noticiosa
como uma ordem no tempo e uma ordem no espaço. Estas ordens impedem que algumas
ocorrências sejam noticiadas e, assim, a rede noticiosa é dotada de ―grandes buracos‖ na
―captura‖ dos acontecimentos. Recorrendo a Schudson, ele descreve o processo de produção
52 http://oglobo.globo.com/educacao/inspiradas-em-diario-de-classe-paginas-no-facebook-denunciam-
problemas-em-escolas-6986146. Acesso em 15/07/2013.
110
de notícias como ―normalmente uma questão de representantes de uma burocracia apanhando
notícias pré-fabricadas de representantes de outras burocracias‖ (Schudson 1986:31 apud
Traquina, 2005:197). Assim, o acesso à mídia seria uma forma de poder, de modo que ―a
cobertura do movimento social depende em parte da capacidade de criar um aparelho de
publicação e demonstrar sua vontade de participar da teia de faticidade que sustenta o trabalho
jornalístico‖ (p. 198).
Na análise das denúncias do Diário de Classe, as unidades de registro ausentes se
repercutiram de alguma forma nos comentários e possibilitaram reflexões interessantes sobre
potencialidades da ferramenta e revisão de valores na construção intercultural das notícias. O
empoderamento de Isadora na rede noticiosa da imprensa, por meio de uma ferramenta
totalmente interativa e multimidiática como o Facebook, fez com que os posicionamentos por
comentários oferecessem visões complementares sobre o ―quem‖, também a partir de visões
particulares, em uma caracterização coletiva dos sujeitos das ações. Ponderações também
enriqueceram a construção do ―como‖ e do ―por que‖, fornecendo subsídios para
interpretação dos casos sob diversos pontos de vista.
A discussão complementar mais levantada nos comentários diz respeito à ―culpa‖
pelos problemas infraestruturais que, na visão de Isadora, apresentava-se como um indicador
de descaso da administração. Com a participação da audiência, o assunto ganhou outros
contornos, com argumentos sobre vandalismo, responsabilidade de pais e professores na
educação dos alunos e má administração dos recursos da educação em instâncias superiores à
da direção da escola. Alguns recortes da primeira amostra ajudam a ilustrar esse panorama
(Figura 38).
111
Figura 38: Comentários sobre vandalismo. Acesso em 15/07/2013.
Em outra postagem, os comentários (Figuras 39 e 40) trazem uma discussão sobre a
compreensão do vandalismo no Brasil e no Japão, sinalizando a emersão de pontos de vista
interculturais para alimentar o debate.
112
Figura 39: Comentários sobre cultura japonesa 1. Acesso em 15/07/2013.
Figura 40: Comentários sobre cultura japonesa 2. Acesso em 15/07/2013.
113
A discussão sobre a responsabilidade dos atos de vandalismo repercutiu com outro
viés nos comentários quando as denúncias de Isadora passaram a ser diretamente direcionadas
para professores e funcionários, questionando métodos de ensino e irregularidades
administrativas. Até então, as representações do Diário e as caracterizações coletivas em torno
do ―quem‖ envolviam grupos (pais, alunos, professores) e não membros específicos de cada
grupo.
Figura 41: Comentários sobre representações. Acesso em 15/07/2013.
Embora os comentários (Figura 41) sejam pertinentes, não é possível afirmar, pela
análise do conteúdo, que os autores dos atos de vandalismo eram identificados e omitidos por
Isadora, assim como não é possível concluir que a infraestrutura é propositalmente danificada.
Uma ponderação feita por diversos comentários apontava a má gestão dos recursos públicos
como fator condicionante para objetos quebrados, já que a qualidade dos materiais e do
serviço de manutenção costuma ser incompatível com as formas de manuseio necessárias.
Com essa perspectiva, a análise das representações dos alunos e dos professores (anexo 4)
atribuídas por Isadora realmente não indicam uma suposta ―proteção‖ ao seu grupo. Como ela
afirma no trecho de uma postagem: ―alguns alunos ficam brabos com a gente porque
aparecem no vídeo ou na foto nos xingam e tudo, agora me responde porque tem tanto medo
114
da câmera ?? É obvio que ja fez algo errado, é não quer que mostrem mais se tem medo, para
de errar‖ (sic).
Outro ponto que vale ressaltar: em geral, as perspectivas dos assuntos manifestados
nos comentários não foram incorporadas ao conteúdo da página, assim como manifestações
da comunidade escolar. Os clippings de imprensa e de amigos favoráveis, pelo contrário,
foram compartilhados como estratégia de reiteração. Embora a própria condução da pesquisa
não permita caracterizar essa omissão como intencional (a grande quantidade de comentários
não permite análise estrita), a repercussão do assunto por meios independentes fora da página
sinaliza alguma resistência de Isadora a opiniões divergentes e consequente ameaça ao debate
democrático. Ao analisar as denúncias da AMOSTRA 2 (Anexo II), é possível confirmar que
a influência da mídia e a popularidade conquistada elevou Isadora ao status de formadora de
opinião, imprimindo visões e posturas cada vez menos impessoais dos assuntos abordados.
Em um texto publicado no blog de Luís Nassif, chamado ―A versão dos professores da escola
de Isadora‖, os professores da escola Maria Tomázia Coelho se manifestam oficialmente
sobre o assunto:
Peço que pesquisem mais a respeito e se possível ajudem a divulgar a visão
da comunidade escolar, não é possível que internautas, telespectadores e intelectuais
conheçam e compartilhem apenas uma versão desta história.
Somos professores da Escola Maria Tomázia Coelho, escola onde estuda a
menina responsável pela "famosa" página do Facebook, intitulada Diário de Classe,
e estamos trazendo um outro olhar sobre este, que no início era positivo e estimulou
o rápido reparo na estrutura (não reforma, que seria muito maior, pois a escola tem
apenas 7 anos), e passou a focar-se em ataques pessoais a professores e
trabalhadores da escola.
Quando a diretora chamou-a para alertar sobre o uso indevido das imagens de
pessoas e sobre a referência a trabalhadores citando nomes, a aluna e sua mãe
distorceram os fatos e espalharam a idéia de que a menina havia sido pressionada a
acabar com a página. Depois disso as distorções tornaram-se corriqueiras e qualquer
pessoa que se posicionasse contrária era, e é até hoje xingada, achincalhada e por
fim bloqueada da tal página, não há nenhum elogio aos profissionais ou atividades
da escola assim como inexiste a defesa ou comentário ponderando posicionamentos
contra os trabalhadores por parte dos moderadores da página, como haviam dito
outrora. Ou seja, de democrática ela não tem nada.
Quando nós, trabalhadores da escola, demos entrevistas à mídia, as falas
foram "editadas" e novamente sofremos as conseqüências do sensacionalismo e da
visão unilateral difundida pelas mídias. As pessoas lêem e vêem as notícias como
verdades, e não procuram conhecer a realidade ou ouvir outras versões dos fatos,
criando assim uma legião de defensores da menina, e ao mesmo tempo
"inquisidores" da escola. As ferramentas sociais hoje permitem que qualquer um se
manifeste e o que poderia ser positivo acaba se tornando instrumento de acusações e
injúrias, onde o acusado é culpado antes do exercício da defesa.
Então resolvemos nos calar e continuar com nosso trabalho, que é e sempre
foi realizado com competência e responsabilidade, mesmo sofrendo as pressões da
mídia, dos internautas, de pessoas que anonimamente ligam para a escola e nos
115
ameaçam, segurando a "onda" e a saúde emocional e física para seguirmos no
propósito de transformar as crianças em cidadãos críticos, e prepará-los para o
mundo do trabalho.
(...) Sobre os textos da página, que no início eram sim da menina e sua
colega, hoje não condizem com sua escrita e discurso em sala de aula, qualquer
pessoa pode ver a diferença.
A página tornou-se fonte de ataques à classe dos professores, e aos
funcionários públicos, em uma postagem desta semana ela escreve que nós só
começamos a trabalhar depois da criação da referida página, ora veja só, a menina
estuda desde a 1ª série na escola, que por sinal tem uma das melhores notas no IDEB
(o que não aconteceria se não realizássemos nosso trabalho com seriedade), e tece
comentários ofensivos como este? Onde será que estava essa mãe, que pouco
aparecia na escola até esta página surgir, já com a filha na 7ª série? Como surge tão
rapidamente esta vontade em ―ajudar‖ e ―fazer a diferença‖, ―lutar por uma
educação de qualidade‖? Todos nós da Escola Maria Tomázia queremos saber?
Afinal é isso que todos nós queremos, alunos críticos e pais presentes, mas com
respeito e diálogo amoroso.53
Embora seja possível reconhecer nas reclamações dos professores as deficiências da
página para o debate plural, um comentário presente no blog de Luís Nassif (Figura 42)
sinaliza mais uma vez a necessidade da busca intercultural de conclusões: se Isadora diz que
fala a verdade na perspectiva de estudantes, a verdade na perspectiva do professor pode ser
diferente e não menos válida. Ambos, nesse caso, correm o risco de apoiarem-se apenas em
seus próprios campos de visão.
Figura 42: Comentário no blog do Nassif. Acesso em 16/07/2013.
53 http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-versao-dos-professores-da-escola-de-isadora-faber#. Acesso em
16/07/2013.
116
Mesmo buscando avaliar com rigor as especificidades de cada grupo, a presente
investigação não visa determinar vítimas ou culpados, certos ou errados, mas compreender os
processos de elaboração de significados nas relações intergrupais e intersubjetivas,
fornecendo pistas de possibilidades de transformação cultural. Conforme alerta Fleuri,
Em determinados momentos históricos e contextos sociais específicos, as relações
entre sujeitos (individuais ou coletivos) podem se configurar (ou serem
interpretadas) de modo polarizado ou contraditório, buscando-se estabelecer a
finalidade de uma ação por contraposição ao seu oposto. Mas a perspectivada
complexidade torna possível entender que as relações transversais, que se
desenvolvem entre diferentes contextos sociais e dimensões culturais, configuram
padrões de significação plurivalentes, híbridos, em relação aos quais as ações e
manifestações dos agentes adquirem simultaneamente múltiplos significados, no
mais das vezes paradoxais. As relações interculturais se constituem não apenas entre
grupos e sujeitos de identidades culturais diferentes, mas na própria formação de
cada sujeito e de cada grupo na medida em que suas ações e manifestações adquirem
significados ambivalentes ao se referirem simultaneamente a padrões culturais
diferentes. (FLEURI, 2002, p.409)
No ambiente online, Recuero afirma que essa complexidade tem caráter interacional e
está relacionada a um movimento de negociação do contexto. Segundo ela, os elementos
contextuais que formam os macro e microcontextos ―podem ser negociados em diversas
instâncias e são os responsáveis pelo andamento e pelas mudanças da conversação‖
(RECUERO, 2012, p.117). Essa negociação é alcançada pela conversação em rede e sua
construção é coletiva, estabelecendo regras e elementos que serão utilizados pelos atores para
trocar as informações.
Com o crescimento da página e divulgação na imprensa nacional, no entanto, esse
contexto passou a ser negociado a partir de perspectivas muito dispersas, em um universo de
significações e percepções de mundo sem referência local. Embora existam outras duas
páginas específicas sobre a escola de Isadora – ―Nossa Verdade‖54
(Figura 44) e ―Ebm Maria
Tomázia Coelho‖55
(Figura 43), com conteúdo focado em aspectos positivos da instituição, as
representações não dialogam entre si, desfavorecendo o desenvolvimento do capital social56
que poderia politizar a conversação e, assim, proporcionar efeitos democráticos ligados à
54 https://www.facebook.com/NossaVdd. Criada no dia 31 de agosto de 2012 por alunos da escola Maria
Tomázia Coelho. Conforme consta no blog do Luís Nassif, a página foi criada por pessoas excluídas do Diário
de Classe. 55 https://www.facebook.com/E.B.M.MariaTomaziaCoelho. Página oficial da escola, criada em 21 de março de
2012, antes do Diário de Classe. 56 Considerando ideias de Coleman (1990) e Putnam (1993), para quem a noção de capital social seria a
coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações entre as
pessoas e as instituições com as quais elas estão envolvidas.
117
formação do cidadão. Como ressalta Matos (2009), ―a opinião pública não pode ser tratada
como um simples atributo do indivíduo ou do grupo, mas como um processo dinâmico da
organização social‖ (p. 77).
Figura 43: Postagem na página ―Ebm Maria Tomázia Coelho‖. Acesso em 17/07/2013.
118
Figura 44: Postagem na página ―Nossa Verdade‖. Acesso em 17/07/2013.
Como todas as matérias compartilhadas pelo Diário de Classe indicavam o apoio da
imprensa à iniciativa, ao passo que nos meios alternativos surgiam denúncias de pessoas que
foram excluídas do debate, nota-se também a ausência de estímulo a processos discursivos e
cooperativos na construção do conhecimento. Como ressalta Matos (2009), recorrendo a
Lasch, ―só quando submetemos nossas preferências ao debate podemos chegar a uma
conclusão sobre o que sabemos e o que ainda há a aprender‖ (p. 79) – um argumento para
questionar a ideia de ―verdade‖ tão promovida pelo Diário de Classe. Logo, ―o conhecimento
horizontal relacionado à prática comunicativa do cotidiano é fundamental para a consolidação
das certezas que compõem o pano de fundo das relações intersubjetivas‖ (MATOS, 2009, p.
81). Ao discorrer sobre as vantagens da internet para o ativismo, Moraes (2001) lembra que as
potencialidades que se entreabrem no âmbito virtual precisam ser ―fundadas em práticas
interativas e não submetidas aos mecanismos de seleção e hierarquização da mídia‖ e alerta
que o quadro de expectativas não deve alimentar ilusões:
Em primeiro lugar, porque a cibermilitância necessita aprofundar propostas de
comunicação eletrônica e conciliá-las com demandas do público-alvo. Em segundo,
porque nos deparamos com um fenômeno ao mesmo tempo hiperveloz (devido à
expansão tecnológica) e lento (por conta de hábitos culturais e políticos nem sempre
fáceis de atualizar). Em terceiro, porque os movimentos sociais não formam um todo
coeso e harmônico. A heterogeneidade de ideários, identidades, práticas e naturezas
constitutivas se reflete em usos e apropriações distintos das engrenagens
comunicacionais, aí incluída as da Internet. Por mais que redes e coletivos virtuais
119
aproximem e combinem linhas de intervenção, não caracterizam, naturalmente,
totalidades ou unicidades válidas em qualquer situação. (MORAES, 2001, s/p).57
Pela análise do conteúdo do Diário de Classe, também é possível identificar alguns
assuntos recorrentes em mais de uma postagem. Estes acabaram ganhando mais atenção da
mídia pela busca de informações complementares de caráter investigativo, provavelmente
pelo reconhecimento, por parte da imprensa, do valor-notícia de consonância. Segundo
Traquina (2005), ―quanto mais a notícia insere o acontecimento em uma ―narrativa‖ já
estabelecida, mais possibilidades a notícia tem de ser notada‖ (p. 93).
Isso quer dizer que a notícia deve ser interpretada num contexto conhecido, pois
corresponde às expectativas do receptor. Implica a inserção da novidade num
contexto já conhecido, com a mobilização de ‗estórias‘ que os leitores já conhecem.
(...) ―Assim, o novo acontecimento é inserido em uma velha história.‖
(TRAQUINA, 2005, p. 93)
Os casos mais emblemáticos analisados se referiam a personagens específicos: um
conflito com um professor de matemática, que teve sua didática questionada por Isadora e
acabou sendo demitido; outro conflito com uma professora de português, que acusou Isadora
de calúnia e difamação, judicialmente; e uma denúncia administrativa sobre a pintura da
quadra de esportes da escola, que acusava a diretora da escola de má gestão dos recursos. A
resolução dos três casos envolveu processos burocráticos e, consequentemente, demorados,
causando ansiedade quanto aos resultados e estimulando o interesse da imprensa. Assim, o
valor-notícia da consonância se une também, entre outros, ao valor-notícia do conflito, que
coloca o jornalista na ―situação mítica de cão de guarda das instituições democráticas‖
(Traquina, 2005).
Em artigo publicado no Observatório de Ética Jornalística58
, o Professor Samuel Lima
afirmou que, nesses casos, não houve ―qualquer preocupação com o princípio do
contraditório, amplo direito de defesa, presunção de inocência ou quaisquer outros direitos
balizadores das relações humanas nas modernas sociedades democráticas‖, nem no Diário de
Classe e nem na imprensa. Esta, por sua vez, teria se valido dos ―princípios do espetáculo e do
publicismo‖. À luz de Debord (2003), compreende-se que, no espetáculo, o mais importante
57 http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-ativismo-digital.html 58 http://objethos.wordpress.com/2012/10/24/comentario-objethos-o-facebook-e-a-espetacular-construcao-
unilateral-da-verdade/
120
não é o fato em si, mas sua publicidade. Vale agregar também nesse caso o valor-notícia da
notoriedade dos atores principais – Isadora Faber, reconhecida como uma espécie de
―heroína‖ do ensino público; seus professores e a diretora da escola, que por status social têm
posturas questionadas com mais veemência em relação aos alunos da escola que também
cometem irregularidades. Em tese, a impulsão que o Diário de Classe ganhou com a imprensa
lhe conferiu legitimidade política. No entanto, Matos (2009) recorre a Putnam para lembrar
que a cooperação pode promover ações sociais boas e ruins, já que grupos exercem maior
poder de coerção. Assim, ―as formas de confiança constituídas sem o respeito às normas de
reciprocidade e da orientação coletiva para a busca do entendimento podem ser prejudiciais à
democracia e ao capital social‖ (p.100).
Figura 45: Manchete do Diário Catarinense em 30/08/2012. Acesso em 17/07/2013.
121
Além da manchete do Diário Catarinense (Figura 45), outra matéria, do Jornal Zero
Hora, traz um contraponto do caso ouvindo profissionais que julgam precipitado o
afastamento do professor. No entanto, com o afastamento concluído, a reflexão mostrou-se
tardia e elucidou as falhas do processo:
A demissão do professor de matemática da estudante Isadora Faber, que
ganhou destaque no Facebook e na mídia por criticar os problemas de infraestrutura
e pedagógica da Escola Maria Tomázia Coelho, é considerada uma atitude
precipitada por pedagogos e representantes dos servidores municipais de
Florianópolis. A página da estudante no Facebook recebeu mais de 183 mil
curtidores até às 19h desta quinta-feira.
A Secretaria de Educação informou que a comissão formada para avaliar o
docente decidiu pelo afastamento. Ainda não foi definido qual será o novo professor
de matemática da unidade de ensino. Mas, segundo a assessoria de imprensa da
pasta, o substituto estará à disposição do estabelecimento a partir de segunda-feira.
Questionada sobre quais seriam os problemas de ensino nas aulas de
matemática e o porquê de só agora terem sido percebidos, a secretária de Educação
de Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, disse que no ano passado o docente —
contratado em regime temporário — tinha lecionado na rede e já havia reclamações,
mas a avaliação pedagógica que a escola tinha feito era positiva. Dessa vez, o
colégio entendeu que o profissional não atendia às necessidades dos estudantes.
— Não foi por questão de conteúdo, pois ele é formado. O problema foi a
dificuldade de manejo com a turma — afirma a secretária.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal
de Florianópolis(Sintrasem), Rosangela Soldatelli, considerou a atitude da prefeitura
precipitada. O funcionários teria apresentado a defesa na segunda-feira e a
sindicalista acredita que não houve tempo para se fazer uma avaliação mais
aprofundada do contexto, como as condições de trabalho, número de alunos,
orientações da equipe pedagógica da unidade.
Sobre os problemas no colégio, a líder sindical afirma que a secretaria
responsabilizou a escola por um problema que é da rede.
— Isso faz parte da campanha para desqualificar nosso trabalho e poupar o
do poder público. Jogar a responsabilidade na escola. A prefeitura tem que estar
atenta ás escolas, fiscalizar —, critica Rosangela referente à coletiva de imprensa
concedida na terça-feira em que a diretora assumiu toda a responsabilidade pelos
problemas na presença da secretária.
Ontem, Sidneya retrucou afirmando que é uma responsabilidade de todos,
desde a rede, até os professores e a comunidade, e que não estaria se eximindo da
culpa.
Para o coordenador do Curso de Pedagogia da Unisul, Jorge Alexandre
Cardoso, ao decidir por demitir o professor de matemática, a secretaria optou por
simplificar a solução de um problema que ele acredita se repetir em outras unidades
de ensino. O melhor, para ele, seria dar apoio pedagógico para um melhor
desenvolvimento do docente e melhorar as condições de trabalho.
Segundo Cardoso, seria impossível a situação do professor _ que pelas
críticas de Isadora e vídeos postados em seu Facebook, não tinha autoridade em sala
_ estava desapercebida por todo esse tempo pela secretaria e direção.
— Muitas outras escolas estão em situação semelhante. Essa agora foi
filmada e veio à tona na internet e imprensa. A solução nunca vai ser a demissão, da
mesma forma que a reprovação não é a solução para os problemas de ensino.
Medidas extremadas só vão tornar os outros professores medrosos, não significa
que vai aumentar o comprometimento — analisa.
122
Por meio do Sintrasem, o professor afastado disse que preferia não conversar
com a imprensa. Mas já solicitou apoio dos advogados do sindicato para se
manifestar na Justiça contra a prefeitura. (Zero Hora, 30 de agosto de 2012)59
Para Rawls (2000), a superação das dificuldades da razão no debate político pressupõe
o que ele chama de acordos razoáveis. Os preceitos apontados para atingir esse objetivo
devem ser observados tanto pelos movimentos sociais quanto pela imprensa que fortalece as
iniciativas autônomas.
Não devíamos acusar-nos precipitadamente uns aos outros por fazer intervir o
interesse pessoal, ou o interesse do grupo, ou os preconceitos, nem de cometer erros
tão graves quanto a cegueira ou a ilusão ideológica. Tais acusações suscitam o
ressentimento e a hostilidade e impedem qualquer acordo razoável. Predispor-se a
formular tais acusações sem base sólida é totalmente não razoável, e frequentemente
equivale a uma declaração de guerra intelectual. (Rawls, 2000, p. 343)
Rawls destaca, ainda, que as posturas razoáveis já esperam desacordos fundamentais e
uma certa dose de boa-fé nos outros, aceitando essa diversidade como sendo ―o estado normal
da cultura pública de uma sociedade democrática‖. Para ele, ―odiar esse fato equivale a odiar
a natureza humana‖ (Rawls. 2000, p. 343). Ao considerar o dinamismo da modernidade e das
próprias ferramentas da internet, identificamos a necessidade de ―ordenação e reordenação
reflexiva das relações sociais à luz das contínuas entradas (inputs) de conhecimento afetando
as ações de indivíduos e grupos‖ (GIDDENS, 1991, P. 21).
3.4.2.2. Identidade e reflexividade
Lash (1997), ao discutir a modernização reflexiva - ―uma teoria dos poderes sempre
crescentes dos atores sociais – ou ―atividade social‖ – em relação à estrutura‖ (p.136) -,
acredita que as estruturas sociais que regridem nesse contexto estão sendo substituídas por
estruturas de informação e comunicação. Tomando como exemplo dessa tendência o Diário
de Classe e sua teia de repercussão, percebemos que as dificuldades de Isadora para conciliar
intersubjetividades em âmbito local promoveu um progressivo aumento dos apelos para
adesões e compartilhamentos em uma rede virtual global de solidariedade. Ao mapear os
relacionamentos e utilizar esse mapa como rede de distribuição, o Facebook facilita a conexão
com pessoas que pensam da mesma maneira ou compartilham informações e se organizam.
59 Disponível em http://m.zerohora.com.br/noticias/todas/a3870246. Acesso em: 17/07/2013.
123
Como pontua Kirkpatrick (2010), o site é o maior de uma série de sites que estão redefinindo
o que é notícia: ―algo produzido por pessoas comuns e consumido por seus amigos‖ (p.315),
caracterizando um filtro de relevância descentralizado, de modo que ―a fronteira entre o
Facebook e a velha mídia está perdendo seus contornos‖ (p.317). Embora essa
homogeneização do pensamento traga consequências ao desenvolvimento do capital social,
como já foi dito, também oferece aspectos positivos que não podem ser negligenciados, pois,
―se modernização simples significa subjugação, então modernização reflexiva envolve a
capacitação dos indivíduos‖ (LASH, 1997, p. 139). Essa capacitação aliada à possibilidade de
se expressar com a certeza do encontro entre vozes consonantes ajuda a romper um oculto
deformador da opinião pública, que Noelle-Neumann chamou de ―espiral do silêncio‖:
As pessoas não desejam isolar-se, estão sempre observando o que acontece em
derredor, são capazes de perceber o menor aumento ou diminuição nas comunidades
de opinião. Todos os que observam que sua opinião ganha terreno sentem-se
fortalecidos, falam abertamente, esquecem a cautela. Todos os que vêem sua opinião
perder terreno se calam. Os que falam com voz forte e são publicamente visíveis
parecem ser mais fortes do que na realidade são; os outros, mais fracos do que na
verdade são. Surge uma ilusão óptica e acústica das verdadeiras maiorias e forças, e
se alguns fazem com que outros alcancem sua voz, outros contagiam os demais com
seu silêncio, até que no final uma opinião pode ser completamente sufocada. O
conceito de espiral do silêncio contém o movimento, aquilo que se vai difundindo,
aquilo que alguém não consegue superar. (NOELLE-NEUMANN, 1983, apud
KUNCZIK, 2002, p. 333).
Se o silêncio e a opinião são distorcidos conforme o grau de apoio que as ideias
recebem e o que rege esse comportamento é a constante antropológica do medo do
isolamento, as ideias em rede redefinem – ou eliminam – as fronteiras desse isolamento.
Mesmo sem o apoio absoluto da comunidade local, o apoio virtual empoderou Isadora para se
manifestar e questionar práticas cotidianas de sua escola a ponto de mobilizar toda a estrutura
burocrática. Esse movimento não é uma consequência inesperada do Facebook. Kirkpatrick
(2010) relata que a ideia de Zuckerberg é criar a transparência necessária para que a chamada
―economia da dádiva‖ opere em larga escala. ―A ‗dádiva‘, por assim dizer, é o que fazemos
para os outros quando expomos ali nossas ideias e nos tornamos vulneráveis a críticas – que
no Facebook podem nos ser dirigidas com facilidade‖ (p. 308). Toda essa transparência
obrigaria empresas e organizações a serem melhores e mais confiáveis e influenciariam
profundamente a sociedade, já que ―um mundo mais transparente cria um mundo mais bem
governado e mais justo‖. Essa premissa também atinge o ativista, já que no Facebook se
124
assume um compromisso público mais amplo e mais visível, diferente de segurar um cartaz
durante uma manifestação de multidões. Em vários momentos, Isadora foi ―vítima‖ de suas
contradições. Por exemplo: Nesta postagem (Figura 46), de um ativista que criou um Diário
de Classe para desmistificar algumas postagens da página original, há um questionamento
sobre as razões para as supostas notas baixas do boletim escolar divulgado por Isadora. Nos
comentários, manifestam-se como reforço alguns relatos de pais de alunos.
Figura 46: Postagem de um Diário de Classe da oposição. Acesso em 20/07/2013.
125
Essa liberdade de expressão aliada à dinâmica do Facebook também traz uma nova
―modalidade‖ de distorção. À luz de Giddens, Lash (1995, p. 139) adverte que ―até a
modernização reflexiva é uma ―devoção cega‖, pois as consequências da reflexividade podem
desavisadamente resultar em novas inseguranças, em novas formas de subjugação‖.
Kirkpatrick destaca que a facilidade de adesão a um grupo político e a velocidade com que as
informações são produzidas e transmitidas na rede são favoráveis à formação de convicções
fracas, ―e muitas vezes não está claro se o número de pessoas que se juntam a um grupo ou
uma causa significa muita coisa‖ (p. 312). Se pensarmos na capacidade que o Facebook
dispõe para associar conteúdos emocionais a publicidades dirigidas, e lembrarmos que os
mecanismos de publicidade no site são consequências de seu aperfeiçoamento e consolidação
como rede social, essa teia de relações merece ainda mais atenção. Como explicou Rudiger,
Ocorre, contudo, que, por meio desse processo abrangente e contraditório, o sujeito
social está se inserindo em uma teia de relações aberta ao infinito, em contínuo
estado de alteração cujo vetor, agora e em última instância, é função de fatores quase
que exclusivamente mercantis. Os benefícios trazidos pelo progresso tecnológico – e
que não se pode negar – estão sendo sempre, mais e mais, subordinados a uma
tendência que, de bom ou mau grado, nos impõe várias alienações e prejuízos nos
diversos planos da existência, do ambiental ao subjetivo e individual, ao também
serem prisioneiros do fetichismo da mercadoria. (RUDIGER, 2011, p. 128)
Mais uma vez, tomamos como via de compreensão dessas contradições os
pressupostos de Canclini, para quem ―o consumo é um processo em que os desejos se
transformam em demandas e em atos socialmente regulados‖ (CANCLINI, 2008, p. 65). Um
fenômeno relevante de reação às denúncias do Diário de Classe, sobretudo nos comentários
das postagens, foi de jovens que relativizaram a importância dos problemas relatados tendo
como referência suas realidades particulares. É como se Isadora não tivesse direito de
reclamar dos problemas de sua escola só porque havia escolas em condições piores,
confirmando que a democratização das oportunidades de expressão e participação não gera
por si só a apropriação dos bens. O acesso ao consumo do Facebook e dos conteúdos
oferecidos por ele reduz porcentagens de desigualdade pela inclusão digital, ao mesmo tempo
em que amplia a percepção sobre as porcentagens que resistem. Logo, quem consome mais
tende a pensar mais e refletir sobre a própria condição para poder interferir nela ou não, pois
conta com mais referências para isso. Como destacou Jenkins, o poder da participação vem
não de destruir a cultura comercial, ―mas de reescrevê-la, modifica-la, corrigi-la, expandi-la,
126
adicionando maior diversidade de pontos de vista, e então circulando-a novamente, de volta às
mídias comerciais‖ (JENKINS, 2008, p. 341).
Diante da complexidade das perguntas culturais, que não têm respostas políticas -
―porque agora são outros que formulam as perguntas e os que davam as respostas também
foram substituídos‖ (CANCLINI, 2009, p. 214) -, cabe aos nativos digitais a fundamentação
do sentido social com consensos interculturais. Não apenas porque nasceram automaticamente
inseridos na rede, mas por serem jovens e direcionadores do futuro. Mesmo com
―comportamentos não razoáveis‖, iniciativas como a de Isadora Faber ajudam a perceber,
compreender e pensar nos desafios que se desenham para as próximas gerações.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão sobre a sociedade em rede trouxe ao mundo acadêmico a necessidade de
repensar paradigmas comunicacionais contemporâneos, estimulando novos caminhos para
compreender as motivações dos sujeitos e a emergência de suas autonomias comunicativas
sobre velhas e novas mídias. A complexidade desses desdobramentos avança em
descompasso com a disponibilidade de teorias e métodos de interpretação unívocos, de modo
que um grande desafio da pesquisa é delimitar objetos de estudo nessa dinâmica social.
O que deveria promover certa angústia epistemológica, no entanto, pode favorecer um
estímulo filosófico na busca por respostas que agregam não somente o relato das semelhanças
ou das diferenças, mas um olhar transformador sobre as contradições. Ao adotar a perspectiva
intercultural de Néstor García Canclini para analisar o conteúdo do Diário de Classe sob tal
premissa, foi necessário vestir-se com uma autocrítica de resistência ao apelo das
relativizações inconclusivas. Elas parecem emergir com facilidade e são sedutoras, mas não se
anulam se as visualizarmos dentro de um avanço quase metalinguístico no contexto da
produção científica, aos moldes da inteligência coletiva que se dispõe a explorar.
Nesse sentido, a escolha do Diário de Classe como objeto de estudo teve uma
intencionalidade de longo prazo, visando a constituição de algumas bases reflexivas no campo
da comunicação já em diálogo e flerte com o campo da educação. Se é a ampla autonomia
comunicativa que fortalece e impulsiona a cultura participativa e a inteligência coletiva, não
só as cadeiras acadêmicas estão desafiadas à compreensão das apropriações, mas também os
sujeitos desse movimento complexo. Se considerarmos a geração dos jovens nativos digitais,
por mais que tenham acesso irrestrito a múltiplas visões de mundo interconectadas, carecem
de um conhecimento que também é essencial ao exercício da interculturalidade: o passado
analógico.
Não se trata de uma perspectiva saudosista de manutenção das tradições, da aura do
livro impresso sobre a virtualidade do ebook. O que ressaltamos aqui é a necessidade de
transmitir diferentes referências identitárias para que o jovem disponha do instrumental
necessário à percepção de si mesmo e de seu papel social. Afinal, um mundo com tamanha
velocidade no ritmo de mudanças pressupõe em cada novo habitante uma inata missão
criativa, de transformação e reinvenção. Mas, da mesma forma que os nativos digitais
desconhecem a experiência da privacidade e apropriam-se dos sites de rede social sem a
128
noção das futuras consequências, muitos atos ciberativistas tendem a perder a oportunidade de
ação consciente sob o princípio de pluralidade que precisa pautar o desenvolvimento
democrático. Corre-se o risco deste novo mundo ser construído sob a égide da exclusão, já
que toda a estrutura social é pensada por conectados. As mudanças na maneira de consumir
sustentam, nutrem e constituem uma nova forma de exercício da cidadania, mas um estado
permanente de transições não pode olhar apenas para o futuro. Como afirma Lévy (1999), O
acesso ao ciberespaço ainda é limitado e seu crescimento deve ser observado a partir da
tendência de conexão e não de seus números absolutos. Ele ressalta ainda que será cada vez
mais fácil e barato conectar-se, mas alerta: ―Cada novo sistema de comunicação fabrica seus
excluídos‖, exemplificando que não havia letrados antes da invenção da escrita.
A iminência dessa discussão passa pela necessidade de construção de laços sociais e
relações de pertencimento com horizontes filosóficos e tecnológicos que reflitam sobre
conexões entre o sujeito social e uma estrutura cada vez mais complexa que cobra seu preço
político. Nesse sentido, a educação tende a ocupar um papel fundamental ao desenvolvimento
de habilidades de leitura crítica e ação social. Não é possível prever se esses conhecimentos se
vincularão de maneira efetiva aos processos de ensino formal ou encontrarão vias transversais
de presença na vida cotidiana. Até porque, como destaca Brant (2008), o entendimento da
educação formal como um campo estratégico de batalha pode fazer dela tanto ―um
instrumento que propicia condições para a conquista da autonomia política‖ ou ―ser
simplesmente o aparelho ideológico do Estado em que se reproduz a ideologia dominante‖
(p.70). Portanto, apenas o diálogo permanente entre pesquisadores da comunicação e da
educação, entre outras abordagens interdisciplinares aliados a atividades de extensão, poderá
manter ambos os campos em um fluxo de interpretações com garantia de sentido existencial
científico.
129
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WOLTON, Dominique. Internet, e depois: uma teoria crítica das novas mídias.
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135
ANEXOS
136
ANEXO I: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 1
Unidade de registro 1 Unidade de registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto
TEMAS
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações Porta pichada
banheiro
feminino sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
porta sem
fechadura
banheiro
feminino da
escola do
santinho. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
ventilador
quebrado colegas
precisam encostar os fios
para fazer funcionar.
Quando sentem calor
botam papel e começa a
sair fumaça os professores
ficam loucos falando que
vai pegar fogo e é a pura
verdade pega fogo sim sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando o
espaço físico da
escola corredores sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
orelhão não
funciona
serve aos alunos e
comunidade
próxima à escola
dentro da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
mesa dos
professores
instável
cai às vezes quando alguns
se apoiam e tudo cai no
chão, trabalhos provas etc sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vasos sanitários da
escola não têm
tampa banheiros
presença ou ausência de
tampa é questão de sorte sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
portão da escola
com fechadura
quebrada
porta de
entrada da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
lâmpada caiu do
teto sim
Denúncias,
alertas,
reclamações lâmpada sim
Denúncias,
alertas,
reclamações bancos quebrados refeitório sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
indicador de
goteiras
lixos da escola que usam
como balde para as
goteiras sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
câmara de
disjuntores exposta
alunos conseguem
"brincar" com os
professores desligando e
ligando a luz sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
janela com vidro
quebrado
as vezes os alunos
quebram e não da
para descobrir
quem foi
janela na frente
da escola
dá pra arrumar, nada é
impossível as vezes eles
pedem dois reais de cada
aluno pra arrumar a
escola, e compram um
radio, acho que é melhor
um vidro. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações fios desencapados sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
fechadura
quebrada
crianças mais novas
da terceira e
segunda serie
acabaram
quebrando
banheiro
feminino brincando de pega-pega sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
falta atenção aos
casos de
vandalismo
isso só está sendo como
uma iniciação para que
eles se tornem marginais não
Resoluções
troca da porta
quebrada por uma
porta nova sim
Resoluções
conserto de
fechaduras sim
Resoluções
conserto de
ventilador
quebrado
retiraram os fios que
davam choque, e o
ventilador, mas falta repor
o ventilador sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
uma garota de 14
anos que levou
uma arma pra
escola
uma garota de 14
anos
foi mostrado
no Jornal do
almoço ontem não
Relatos de
coerção contradições
Se nós publicamos fotos e
videos somos criminosas,
se só comentamos
estamos acusando sem
provas não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
professor de
matemática sala de aula
hoje 31 de
julho
é a aula mais bagunçada
de todas, foi muito ruim
o professor não consegue
manter a turma em
silêncio. Tenta mas não
consegue, porque a turma
começa a gritar na aula.
Pediu consideração com
ele, mas pontuou que não
pode fazer mais nada se
ele não consegue manter a
turma em silêncio.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
O professor bateu na
mesa para ficarem em
silencio, e todos
começaram a imitar ele
então Isadora gravou um
vídeo da bagunça e os
alunos que estavam no
meio perceberam e
avisaram o professor.
Isadora e Melina foram
parar na diretoria, ligaram
para os pais dela e
mandaram bilhete pedindo
a presença deles na
escola.
Eles conversaram a
diretora pediu apenas
para retirar o vídeo, disse
que tinha visto a página e
―deixou‖ porque não era
contra a escola. Como a
página já deu resultado,
ela seguiu as orientações e
retirou o vídeo, alegando
ser melhor para todos.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações
o Anderson Abreu
da Prefeitura, foi
na escola e falou
que tinha visto o
Diário de Classe,
ele sabia dos
problemas do
professor de
matemática
Anderson Abreu da
Prefeitura
na turma de
Isadora
Na terça feira
14 de agosto
então ele perguntou se
queríamos que eles
fizessem uma troca, e toda
a turma concordou, o
professor iria embora, mas
na quinta 16 de agosto o
professor foi dar aula
novamente. não
Relatos de
coerção
Isadora afirma que
foi pressionada "de
todas as formas
para eu retirar os
videos das aulas de
matemática."
Ela diz: "Se
arrependimento matasse
já estava morta, mas se
continuarem sem dar
explicações vou publicar
todos de novo e mais
alguns, ou vai passar o
ano todo sem aula de
matemática decente??" não
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando a
bagunça na aula de
matemática
na turma de
Isadora
porque me fizeram tirar
quando o Anderson
Abreu da prefeitura foi na
escola, e falou que o
professor não nos daria
mais aula, mas no dia
seguinte o professor
voltou, e a diretora falou
que ele sairia, então não
coloquei, ai tivemos
algumas aulas com as
auxiliares e ontem ele
estava de volta, e a
diretora hoje falou que ele
vai embora, mais até eu
ter certeza disso, decidi
postar de novo, e não vou
tirar até que ele realmente
vá embora da nossa
escola. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
A diretora disse
que a demissão do
professor Aloísio,
de matemática,
está pronta e ele
não quer assinar
diretora, prof.
Aloisio
pouco depois
da postagem
do vídeo no
dia 24 de
agosto
a nossa turma já fez
abaixo assinado, e ela não
sai. Alguém pode me
explicar como isso
funciona??? Pensei que
quando era demitido tinha
que sair. não
Identidade
vídeo de
esclarecimento
―Quero reforçar que todos
os outros professores
conseguem dar aula, os
alunos ficam quietos e nós
aprendemos, não é normal
não aprender nada‖, ela
disse. Disse também que
ela tem autoria total sobre
as postagens.sim
Relatos de
coerção
Hoje a professora
de português
Queila, preparou
uma aula pra me
''humilhar'' na
frente dos meus
colegas professora Queila sala de aula
hoje 24 de
agosto
a aula falava sobre politica
e internet, ela falava que
ninguém podia falar da
vida dos professores,
porque nós podíamos ter
feito muitas coisas erradas
pra eles odiarem e etc.
Eu e acho que a maioria
dos meus colegas
entenderam o recado ''pra
mim''. Além disso quando
vou até o refeitório as
cozinheiras, começam a
falar de mim, na minha não
Relatos de
coerção
celular na sala de
aula
professora auxiliar
(não identificada) sala de aula
hoje 17 de
agosto
faltando 3 minutos para
acabar a aula todos
estávamos conversando, a
professora auxiliar deixou,
então eu e no minimo 3
colegas estávamos com
celular na mão e os 3 já
estavam escutando
musica, e o meu estava ate
com fone enrolado porque
eu estava esperando bater
o sinal, para não dar
confusão, e a professora
se dirigiu a mim, e falou
que iria recolher meu
celular se eu não
guardasse. Já não é a
primeira vez que acontece
isso.
Mas e os outros, que
estão também ?? Eu falei,
ou pega o celular de
todos ou de ninguém.
Qual é o problema
comigo? Acho até que sei
represália, mais comigo
pressão não funciona,
tudo que acontecer eu
vou postar aqui. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
preocupação com
aulas de história
A nossa professora
de história
teve uma aneurisma e
passou por cirurgia, eu
espero que ela se
recupere totalmente, e
também estou preocupada
porque ouvi falar que
pode demorar para ela
voltar, será que vamos
ficar só com auxiliares?? não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares
hoje 20 de
agosto
De 5 aulas de hoje, só
tivemos 2 com os
professores titulares, as
outras 3 foram com
professoras substitutas.
Quando temos aulas com
auxiliares elas dão um
texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o
tempo poderia ser melhor
aproveitado. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares auxiliares, diretora
hoje 21 de
agosto
tivemos 2 aulas com
professores titulares, e as
outras três não, mas
tivemos aula de
matemática com a diretora
que nos deu exercícios, e
viu o que sabíamos e o
que não tínhamos
conseguido assimilar, foi
muito boa a aula hoje
acho que teve um
rendimento que com
auxiliar não tem, espero
que siga assim. não
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 1
137
Unidade de registro 1 Unidade de registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto
TEMAS
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações Porta pichada
banheiro
feminino sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
porta sem
fechadura
banheiro
feminino da
escola do
santinho. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
ventilador
quebrado colegas
precisam encostar os fios
para fazer funcionar.
Quando sentem calor
botam papel e começa a
sair fumaça os professores
ficam loucos falando que
vai pegar fogo e é a pura
verdade pega fogo sim sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando o
espaço físico da
escola corredores sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
orelhão não
funciona
serve aos alunos e
comunidade
próxima à escola
dentro da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
mesa dos
professores
instável
cai às vezes quando alguns
se apoiam e tudo cai no
chão, trabalhos provas etc sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vasos sanitários da
escola não têm
tampa banheiros
presença ou ausência de
tampa é questão de sorte sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
portão da escola
com fechadura
quebrada
porta de
entrada da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
lâmpada caiu do
teto sim
Denúncias,
alertas,
reclamações lâmpada sim
Denúncias,
alertas,
reclamações bancos quebrados refeitório sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
indicador de
goteiras
lixos da escola que usam
como balde para as
goteiras sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
câmara de
disjuntores exposta
alunos conseguem
"brincar" com os
professores desligando e
ligando a luz sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
janela com vidro
quebrado
as vezes os alunos
quebram e não da
para descobrir
quem foi
janela na frente
da escola
dá pra arrumar, nada é
impossível as vezes eles
pedem dois reais de cada
aluno pra arrumar a
escola, e compram um
radio, acho que é melhor
um vidro. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações fios desencapados sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
fechadura
quebrada
crianças mais novas
da terceira e
segunda serie
acabaram
quebrando
banheiro
feminino brincando de pega-pega sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
falta atenção aos
casos de
vandalismo
isso só está sendo como
uma iniciação para que
eles se tornem marginais não
Resoluções
troca da porta
quebrada por uma
porta nova sim
Resoluções
conserto de
fechaduras sim
Resoluções
conserto de
ventilador
quebrado
retiraram os fios que
davam choque, e o
ventilador, mas falta repor
o ventilador sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
uma garota de 14
anos que levou
uma arma pra
escola
uma garota de 14
anos
foi mostrado
no Jornal do
almoço ontem não
Relatos de
coerção contradições
Se nós publicamos fotos e
videos somos criminosas,
se só comentamos
estamos acusando sem
provas não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
professor de
matemática sala de aula
hoje 31 de
julho
é a aula mais bagunçada
de todas, foi muito ruim
o professor não consegue
manter a turma em
silêncio. Tenta mas não
consegue, porque a turma
começa a gritar na aula.
Pediu consideração com
ele, mas pontuou que não
pode fazer mais nada se
ele não consegue manter a
turma em silêncio.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
O professor bateu na
mesa para ficarem em
silencio, e todos
começaram a imitar ele
então Isadora gravou um
vídeo da bagunça e os
alunos que estavam no
meio perceberam e
avisaram o professor.
Isadora e Melina foram
parar na diretoria, ligaram
para os pais dela e
mandaram bilhete pedindo
a presença deles na
escola.
Eles conversaram a
diretora pediu apenas
para retirar o vídeo, disse
que tinha visto a página e
―deixou‖ porque não era
contra a escola. Como a
página já deu resultado,
ela seguiu as orientações e
retirou o vídeo, alegando
ser melhor para todos.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações
o Anderson Abreu
da Prefeitura, foi
na escola e falou
que tinha visto o
Diário de Classe,
ele sabia dos
problemas do
professor de
matemática
Anderson Abreu da
Prefeitura
na turma de
Isadora
Na terça feira
14 de agosto
então ele perguntou se
queríamos que eles
fizessem uma troca, e toda
a turma concordou, o
professor iria embora, mas
na quinta 16 de agosto o
professor foi dar aula
novamente. não
Relatos de
coerção
Isadora afirma que
foi pressionada "de
todas as formas
para eu retirar os
videos das aulas de
matemática."
Ela diz: "Se
arrependimento matasse
já estava morta, mas se
continuarem sem dar
explicações vou publicar
todos de novo e mais
alguns, ou vai passar o
ano todo sem aula de
matemática decente??" não
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando a
bagunça na aula de
matemática
na turma de
Isadora
porque me fizeram tirar
quando o Anderson
Abreu da prefeitura foi na
escola, e falou que o
professor não nos daria
mais aula, mas no dia
seguinte o professor
voltou, e a diretora falou
que ele sairia, então não
coloquei, ai tivemos
algumas aulas com as
auxiliares e ontem ele
estava de volta, e a
diretora hoje falou que ele
vai embora, mais até eu
ter certeza disso, decidi
postar de novo, e não vou
tirar até que ele realmente
vá embora da nossa
escola. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
A diretora disse
que a demissão do
professor Aloísio,
de matemática,
está pronta e ele
não quer assinar
diretora, prof.
Aloisio
pouco depois
da postagem
do vídeo no
dia 24 de
agosto
a nossa turma já fez
abaixo assinado, e ela não
sai. Alguém pode me
explicar como isso
funciona??? Pensei que
quando era demitido tinha
que sair. não
Identidade
vídeo de
esclarecimento
―Quero reforçar que todos
os outros professores
conseguem dar aula, os
alunos ficam quietos e nós
aprendemos, não é normal
não aprender nada‖, ela
disse. Disse também que
ela tem autoria total sobre
as postagens.sim
Relatos de
coerção
Hoje a professora
de português
Queila, preparou
uma aula pra me
''humilhar'' na
frente dos meus
colegas professora Queila sala de aula
hoje 24 de
agosto
a aula falava sobre politica
e internet, ela falava que
ninguém podia falar da
vida dos professores,
porque nós podíamos ter
feito muitas coisas erradas
pra eles odiarem e etc.
Eu e acho que a maioria
dos meus colegas
entenderam o recado ''pra
mim''. Além disso quando
vou até o refeitório as
cozinheiras, começam a
falar de mim, na minha não
Relatos de
coerção
celular na sala de
aula
professora auxiliar
(não identificada) sala de aula
hoje 17 de
agosto
faltando 3 minutos para
acabar a aula todos
estávamos conversando, a
professora auxiliar deixou,
então eu e no minimo 3
colegas estávamos com
celular na mão e os 3 já
estavam escutando
musica, e o meu estava ate
com fone enrolado porque
eu estava esperando bater
o sinal, para não dar
confusão, e a professora
se dirigiu a mim, e falou
que iria recolher meu
celular se eu não
guardasse. Já não é a
primeira vez que acontece
isso.
Mas e os outros, que
estão também ?? Eu falei,
ou pega o celular de
todos ou de ninguém.
Qual é o problema
comigo? Acho até que sei
represália, mais comigo
pressão não funciona,
tudo que acontecer eu
vou postar aqui. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
preocupação com
aulas de história
A nossa professora
de história
teve uma aneurisma e
passou por cirurgia, eu
espero que ela se
recupere totalmente, e
também estou preocupada
porque ouvi falar que
pode demorar para ela
voltar, será que vamos
ficar só com auxiliares?? não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares
hoje 20 de
agosto
De 5 aulas de hoje, só
tivemos 2 com os
professores titulares, as
outras 3 foram com
professoras substitutas.
Quando temos aulas com
auxiliares elas dão um
texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o
tempo poderia ser melhor
aproveitado. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares auxiliares, diretora
hoje 21 de
agosto
tivemos 2 aulas com
professores titulares, e as
outras três não, mas
tivemos aula de
matemática com a diretora
que nos deu exercícios, e
viu o que sabíamos e o
que não tínhamos
conseguido assimilar, foi
muito boa a aula hoje
acho que teve um
rendimento que com
auxiliar não tem, espero
que siga assim. não
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 1
138
Unidade de registro 1 Unidade de registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto
TEMAS
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações Porta pichada
banheiro
feminino sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
porta sem
fechadura
banheiro
feminino da
escola do
santinho. sim
Denúncias,
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reclamações
ventilador
quebrado colegas
precisam encostar os fios
para fazer funcionar.
Quando sentem calor
botam papel e começa a
sair fumaça os professores
ficam loucos falando que
vai pegar fogo e é a pura
verdade pega fogo sim sim
Denúncias,
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reclamações
vídeo mostrando o
espaço físico da
escola corredores sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
orelhão não
funciona
serve aos alunos e
comunidade
próxima à escola
dentro da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
mesa dos
professores
instável
cai às vezes quando alguns
se apoiam e tudo cai no
chão, trabalhos provas etc sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vasos sanitários da
escola não têm
tampa banheiros
presença ou ausência de
tampa é questão de sorte sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
portão da escola
com fechadura
quebrada
porta de
entrada da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
lâmpada caiu do
teto sim
Denúncias,
alertas,
reclamações lâmpada sim
Denúncias,
alertas,
reclamações bancos quebrados refeitório sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
indicador de
goteiras
lixos da escola que usam
como balde para as
goteiras sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
câmara de
disjuntores exposta
alunos conseguem
"brincar" com os
professores desligando e
ligando a luz sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
janela com vidro
quebrado
as vezes os alunos
quebram e não da
para descobrir
quem foi
janela na frente
da escola
dá pra arrumar, nada é
impossível as vezes eles
pedem dois reais de cada
aluno pra arrumar a
escola, e compram um
radio, acho que é melhor
um vidro. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações fios desencapados sim
Denúncias,
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reclamações
fechadura
quebrada
crianças mais novas
da terceira e
segunda serie
acabaram
quebrando
banheiro
feminino brincando de pega-pega sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
falta atenção aos
casos de
vandalismo
isso só está sendo como
uma iniciação para que
eles se tornem marginais não
Resoluções
troca da porta
quebrada por uma
porta nova sim
Resoluções
conserto de
fechaduras sim
Resoluções
conserto de
ventilador
quebrado
retiraram os fios que
davam choque, e o
ventilador, mas falta repor
o ventilador sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
uma garota de 14
anos que levou
uma arma pra
escola
uma garota de 14
anos
foi mostrado
no Jornal do
almoço ontem não
Relatos de
coerção contradições
Se nós publicamos fotos e
videos somos criminosas,
se só comentamos
estamos acusando sem
provas não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
professor de
matemática sala de aula
hoje 31 de
julho
é a aula mais bagunçada
de todas, foi muito ruim
o professor não consegue
manter a turma em
silêncio. Tenta mas não
consegue, porque a turma
começa a gritar na aula.
Pediu consideração com
ele, mas pontuou que não
pode fazer mais nada se
ele não consegue manter a
turma em silêncio.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
O professor bateu na
mesa para ficarem em
silencio, e todos
começaram a imitar ele
então Isadora gravou um
vídeo da bagunça e os
alunos que estavam no
meio perceberam e
avisaram o professor.
Isadora e Melina foram
parar na diretoria, ligaram
para os pais dela e
mandaram bilhete pedindo
a presença deles na
escola.
Eles conversaram a
diretora pediu apenas
para retirar o vídeo, disse
que tinha visto a página e
―deixou‖ porque não era
contra a escola. Como a
página já deu resultado,
ela seguiu as orientações e
retirou o vídeo, alegando
ser melhor para todos.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações
o Anderson Abreu
da Prefeitura, foi
na escola e falou
que tinha visto o
Diário de Classe,
ele sabia dos
problemas do
professor de
matemática
Anderson Abreu da
Prefeitura
na turma de
Isadora
Na terça feira
14 de agosto
então ele perguntou se
queríamos que eles
fizessem uma troca, e toda
a turma concordou, o
professor iria embora, mas
na quinta 16 de agosto o
professor foi dar aula
novamente. não
Relatos de
coerção
Isadora afirma que
foi pressionada "de
todas as formas
para eu retirar os
videos das aulas de
matemática."
Ela diz: "Se
arrependimento matasse
já estava morta, mas se
continuarem sem dar
explicações vou publicar
todos de novo e mais
alguns, ou vai passar o
ano todo sem aula de
matemática decente??" não
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando a
bagunça na aula de
matemática
na turma de
Isadora
porque me fizeram tirar
quando o Anderson
Abreu da prefeitura foi na
escola, e falou que o
professor não nos daria
mais aula, mas no dia
seguinte o professor
voltou, e a diretora falou
que ele sairia, então não
coloquei, ai tivemos
algumas aulas com as
auxiliares e ontem ele
estava de volta, e a
diretora hoje falou que ele
vai embora, mais até eu
ter certeza disso, decidi
postar de novo, e não vou
tirar até que ele realmente
vá embora da nossa
escola. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
A diretora disse
que a demissão do
professor Aloísio,
de matemática,
está pronta e ele
não quer assinar
diretora, prof.
Aloisio
pouco depois
da postagem
do vídeo no
dia 24 de
agosto
a nossa turma já fez
abaixo assinado, e ela não
sai. Alguém pode me
explicar como isso
funciona??? Pensei que
quando era demitido tinha
que sair. não
Identidade
vídeo de
esclarecimento
―Quero reforçar que todos
os outros professores
conseguem dar aula, os
alunos ficam quietos e nós
aprendemos, não é normal
não aprender nada‖, ela
disse. Disse também que
ela tem autoria total sobre
as postagens.sim
Relatos de
coerção
Hoje a professora
de português
Queila, preparou
uma aula pra me
''humilhar'' na
frente dos meus
colegas professora Queila sala de aula
hoje 24 de
agosto
a aula falava sobre politica
e internet, ela falava que
ninguém podia falar da
vida dos professores,
porque nós podíamos ter
feito muitas coisas erradas
pra eles odiarem e etc.
Eu e acho que a maioria
dos meus colegas
entenderam o recado ''pra
mim''. Além disso quando
vou até o refeitório as
cozinheiras, começam a
falar de mim, na minha não
Relatos de
coerção
celular na sala de
aula
professora auxiliar
(não identificada) sala de aula
hoje 17 de
agosto
faltando 3 minutos para
acabar a aula todos
estávamos conversando, a
professora auxiliar deixou,
então eu e no minimo 3
colegas estávamos com
celular na mão e os 3 já
estavam escutando
musica, e o meu estava ate
com fone enrolado porque
eu estava esperando bater
o sinal, para não dar
confusão, e a professora
se dirigiu a mim, e falou
que iria recolher meu
celular se eu não
guardasse. Já não é a
primeira vez que acontece
isso.
Mas e os outros, que
estão também ?? Eu falei,
ou pega o celular de
todos ou de ninguém.
Qual é o problema
comigo? Acho até que sei
represália, mais comigo
pressão não funciona,
tudo que acontecer eu
vou postar aqui. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
preocupação com
aulas de história
A nossa professora
de história
teve uma aneurisma e
passou por cirurgia, eu
espero que ela se
recupere totalmente, e
também estou preocupada
porque ouvi falar que
pode demorar para ela
voltar, será que vamos
ficar só com auxiliares?? não
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aulas com
auxiliares
hoje 20 de
agosto
De 5 aulas de hoje, só
tivemos 2 com os
professores titulares, as
outras 3 foram com
professoras substitutas.
Quando temos aulas com
auxiliares elas dão um
texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o
tempo poderia ser melhor
aproveitado. não
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aulas com
auxiliares auxiliares, diretora
hoje 21 de
agosto
tivemos 2 aulas com
professores titulares, e as
outras três não, mas
tivemos aula de
matemática com a diretora
que nos deu exercícios, e
viu o que sabíamos e o
que não tínhamos
conseguido assimilar, foi
muito boa a aula hoje
acho que teve um
rendimento que com
auxiliar não tem, espero
que siga assim. não
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 1
139
Unidade de registro 1 Unidade de registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto
TEMAS
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
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reclamações Porta pichada
banheiro
feminino sim
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porta sem
fechadura
banheiro
feminino da
escola do
santinho. sim
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ventilador
quebrado colegas
precisam encostar os fios
para fazer funcionar.
Quando sentem calor
botam papel e começa a
sair fumaça os professores
ficam loucos falando que
vai pegar fogo e é a pura
verdade pega fogo sim sim
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vídeo mostrando o
espaço físico da
escola corredores sim
Denúncias,
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reclamações
orelhão não
funciona
serve aos alunos e
comunidade
próxima à escola
dentro da
escola sim
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mesa dos
professores
instável
cai às vezes quando alguns
se apoiam e tudo cai no
chão, trabalhos provas etc sim
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vasos sanitários da
escola não têm
tampa banheiros
presença ou ausência de
tampa é questão de sorte sim
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portão da escola
com fechadura
quebrada
porta de
entrada da
escola sim
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lâmpada caiu do
teto sim
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reclamações lâmpada sim
Denúncias,
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reclamações bancos quebrados refeitório sim
Denúncias,
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reclamações
indicador de
goteiras
lixos da escola que usam
como balde para as
goteiras sim
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reclamações
câmara de
disjuntores exposta
alunos conseguem
"brincar" com os
professores desligando e
ligando a luz sim
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reclamações
janela com vidro
quebrado
as vezes os alunos
quebram e não da
para descobrir
quem foi
janela na frente
da escola
dá pra arrumar, nada é
impossível as vezes eles
pedem dois reais de cada
aluno pra arrumar a
escola, e compram um
radio, acho que é melhor
um vidro. sim
Denúncias,
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reclamações fios desencapados sim
Denúncias,
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fechadura
quebrada
crianças mais novas
da terceira e
segunda serie
acabaram
quebrando
banheiro
feminino brincando de pega-pega sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
falta atenção aos
casos de
vandalismo
isso só está sendo como
uma iniciação para que
eles se tornem marginais não
Resoluções
troca da porta
quebrada por uma
porta nova sim
Resoluções
conserto de
fechaduras sim
Resoluções
conserto de
ventilador
quebrado
retiraram os fios que
davam choque, e o
ventilador, mas falta repor
o ventilador sim
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uma garota de 14
anos que levou
uma arma pra
escola
uma garota de 14
anos
foi mostrado
no Jornal do
almoço ontem não
Relatos de
coerção contradições
Se nós publicamos fotos e
videos somos criminosas,
se só comentamos
estamos acusando sem
provas não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
professor de
matemática sala de aula
hoje 31 de
julho
é a aula mais bagunçada
de todas, foi muito ruim
o professor não consegue
manter a turma em
silêncio. Tenta mas não
consegue, porque a turma
começa a gritar na aula.
Pediu consideração com
ele, mas pontuou que não
pode fazer mais nada se
ele não consegue manter a
turma em silêncio.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
O professor bateu na
mesa para ficarem em
silencio, e todos
começaram a imitar ele
então Isadora gravou um
vídeo da bagunça e os
alunos que estavam no
meio perceberam e
avisaram o professor.
Isadora e Melina foram
parar na diretoria, ligaram
para os pais dela e
mandaram bilhete pedindo
a presença deles na
escola.
Eles conversaram a
diretora pediu apenas
para retirar o vídeo, disse
que tinha visto a página e
―deixou‖ porque não era
contra a escola. Como a
página já deu resultado,
ela seguiu as orientações e
retirou o vídeo, alegando
ser melhor para todos.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações
o Anderson Abreu
da Prefeitura, foi
na escola e falou
que tinha visto o
Diário de Classe,
ele sabia dos
problemas do
professor de
matemática
Anderson Abreu da
Prefeitura
na turma de
Isadora
Na terça feira
14 de agosto
então ele perguntou se
queríamos que eles
fizessem uma troca, e toda
a turma concordou, o
professor iria embora, mas
na quinta 16 de agosto o
professor foi dar aula
novamente. não
Relatos de
coerção
Isadora afirma que
foi pressionada "de
todas as formas
para eu retirar os
videos das aulas de
matemática."
Ela diz: "Se
arrependimento matasse
já estava morta, mas se
continuarem sem dar
explicações vou publicar
todos de novo e mais
alguns, ou vai passar o
ano todo sem aula de
matemática decente??" não
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando a
bagunça na aula de
matemática
na turma de
Isadora
porque me fizeram tirar
quando o Anderson
Abreu da prefeitura foi na
escola, e falou que o
professor não nos daria
mais aula, mas no dia
seguinte o professor
voltou, e a diretora falou
que ele sairia, então não
coloquei, ai tivemos
algumas aulas com as
auxiliares e ontem ele
estava de volta, e a
diretora hoje falou que ele
vai embora, mais até eu
ter certeza disso, decidi
postar de novo, e não vou
tirar até que ele realmente
vá embora da nossa
escola. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
A diretora disse
que a demissão do
professor Aloísio,
de matemática,
está pronta e ele
não quer assinar
diretora, prof.
Aloisio
pouco depois
da postagem
do vídeo no
dia 24 de
agosto
a nossa turma já fez
abaixo assinado, e ela não
sai. Alguém pode me
explicar como isso
funciona??? Pensei que
quando era demitido tinha
que sair. não
Identidade
vídeo de
esclarecimento
―Quero reforçar que todos
os outros professores
conseguem dar aula, os
alunos ficam quietos e nós
aprendemos, não é normal
não aprender nada‖, ela
disse. Disse também que
ela tem autoria total sobre
as postagens.sim
Relatos de
coerção
Hoje a professora
de português
Queila, preparou
uma aula pra me
''humilhar'' na
frente dos meus
colegas professora Queila sala de aula
hoje 24 de
agosto
a aula falava sobre politica
e internet, ela falava que
ninguém podia falar da
vida dos professores,
porque nós podíamos ter
feito muitas coisas erradas
pra eles odiarem e etc.
Eu e acho que a maioria
dos meus colegas
entenderam o recado ''pra
mim''. Além disso quando
vou até o refeitório as
cozinheiras, começam a
falar de mim, na minha não
Relatos de
coerção
celular na sala de
aula
professora auxiliar
(não identificada) sala de aula
hoje 17 de
agosto
faltando 3 minutos para
acabar a aula todos
estávamos conversando, a
professora auxiliar deixou,
então eu e no minimo 3
colegas estávamos com
celular na mão e os 3 já
estavam escutando
musica, e o meu estava ate
com fone enrolado porque
eu estava esperando bater
o sinal, para não dar
confusão, e a professora
se dirigiu a mim, e falou
que iria recolher meu
celular se eu não
guardasse. Já não é a
primeira vez que acontece
isso.
Mas e os outros, que
estão também ?? Eu falei,
ou pega o celular de
todos ou de ninguém.
Qual é o problema
comigo? Acho até que sei
represália, mais comigo
pressão não funciona,
tudo que acontecer eu
vou postar aqui. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
preocupação com
aulas de história
A nossa professora
de história
teve uma aneurisma e
passou por cirurgia, eu
espero que ela se
recupere totalmente, e
também estou preocupada
porque ouvi falar que
pode demorar para ela
voltar, será que vamos
ficar só com auxiliares?? não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares
hoje 20 de
agosto
De 5 aulas de hoje, só
tivemos 2 com os
professores titulares, as
outras 3 foram com
professoras substitutas.
Quando temos aulas com
auxiliares elas dão um
texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o
tempo poderia ser melhor
aproveitado. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares auxiliares, diretora
hoje 21 de
agosto
tivemos 2 aulas com
professores titulares, e as
outras três não, mas
tivemos aula de
matemática com a diretora
que nos deu exercícios, e
viu o que sabíamos e o
que não tínhamos
conseguido assimilar, foi
muito boa a aula hoje
acho que teve um
rendimento que com
auxiliar não tem, espero
que siga assim. não
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 1
Unidade de registro 1 Unidade de registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto
TEMAS
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
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alertas,
reclamações Porta pichada
banheiro
feminino sim
Denúncias,
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reclamações
porta sem
fechadura
banheiro
feminino da
escola do
santinho. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
ventilador
quebrado colegas
precisam encostar os fios
para fazer funcionar.
Quando sentem calor
botam papel e começa a
sair fumaça os professores
ficam loucos falando que
vai pegar fogo e é a pura
verdade pega fogo sim sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando o
espaço físico da
escola corredores sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
orelhão não
funciona
serve aos alunos e
comunidade
próxima à escola
dentro da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
mesa dos
professores
instável
cai às vezes quando alguns
se apoiam e tudo cai no
chão, trabalhos provas etc sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
vasos sanitários da
escola não têm
tampa banheiros
presença ou ausência de
tampa é questão de sorte sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
portão da escola
com fechadura
quebrada
porta de
entrada da
escola sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
lâmpada caiu do
teto sim
Denúncias,
alertas,
reclamações lâmpada sim
Denúncias,
alertas,
reclamações bancos quebrados refeitório sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
indicador de
goteiras
lixos da escola que usam
como balde para as
goteiras sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
câmara de
disjuntores exposta
alunos conseguem
"brincar" com os
professores desligando e
ligando a luz sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
janela com vidro
quebrado
as vezes os alunos
quebram e não da
para descobrir
quem foi
janela na frente
da escola
dá pra arrumar, nada é
impossível as vezes eles
pedem dois reais de cada
aluno pra arrumar a
escola, e compram um
radio, acho que é melhor
um vidro. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações fios desencapados sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
fechadura
quebrada
crianças mais novas
da terceira e
segunda serie
acabaram
quebrando
banheiro
feminino brincando de pega-pega sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
falta atenção aos
casos de
vandalismo
isso só está sendo como
uma iniciação para que
eles se tornem marginais não
Resoluções
troca da porta
quebrada por uma
porta nova sim
Resoluções
conserto de
fechaduras sim
Resoluções
conserto de
ventilador
quebrado
retiraram os fios que
davam choque, e o
ventilador, mas falta repor
o ventilador sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
uma garota de 14
anos que levou
uma arma pra
escola
uma garota de 14
anos
foi mostrado
no Jornal do
almoço ontem não
Relatos de
coerção contradições
Se nós publicamos fotos e
videos somos criminosas,
se só comentamos
estamos acusando sem
provas não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
professor de
matemática sala de aula
hoje 31 de
julho
é a aula mais bagunçada
de todas, foi muito ruim
o professor não consegue
manter a turma em
silêncio. Tenta mas não
consegue, porque a turma
começa a gritar na aula.
Pediu consideração com
ele, mas pontuou que não
pode fazer mais nada se
ele não consegue manter a
turma em silêncio.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula de matemática
O professor bateu na
mesa para ficarem em
silencio, e todos
começaram a imitar ele
então Isadora gravou um
vídeo da bagunça e os
alunos que estavam no
meio perceberam e
avisaram o professor.
Isadora e Melina foram
parar na diretoria, ligaram
para os pais dela e
mandaram bilhete pedindo
a presença deles na
escola.
Eles conversaram a
diretora pediu apenas
para retirar o vídeo, disse
que tinha visto a página e
―deixou‖ porque não era
contra a escola. Como a
página já deu resultado,
ela seguiu as orientações e
retirou o vídeo, alegando
ser melhor para todos.
não
Denúncias,
alertas,
reclamações
o Anderson Abreu
da Prefeitura, foi
na escola e falou
que tinha visto o
Diário de Classe,
ele sabia dos
problemas do
professor de
matemática
Anderson Abreu da
Prefeitura
na turma de
Isadora
Na terça feira
14 de agosto
então ele perguntou se
queríamos que eles
fizessem uma troca, e toda
a turma concordou, o
professor iria embora, mas
na quinta 16 de agosto o
professor foi dar aula
novamente. não
Relatos de
coerção
Isadora afirma que
foi pressionada "de
todas as formas
para eu retirar os
videos das aulas de
matemática."
Ela diz: "Se
arrependimento matasse
já estava morta, mas se
continuarem sem dar
explicações vou publicar
todos de novo e mais
alguns, ou vai passar o
ano todo sem aula de
matemática decente??" não
Denúncias,
alertas,
reclamações
vídeo mostrando a
bagunça na aula de
matemática
na turma de
Isadora
porque me fizeram tirar
quando o Anderson
Abreu da prefeitura foi na
escola, e falou que o
professor não nos daria
mais aula, mas no dia
seguinte o professor
voltou, e a diretora falou
que ele sairia, então não
coloquei, ai tivemos
algumas aulas com as
auxiliares e ontem ele
estava de volta, e a
diretora hoje falou que ele
vai embora, mais até eu
ter certeza disso, decidi
postar de novo, e não vou
tirar até que ele realmente
vá embora da nossa
escola. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
A diretora disse
que a demissão do
professor Aloísio,
de matemática,
está pronta e ele
não quer assinar
diretora, prof.
Aloisio
pouco depois
da postagem
do vídeo no
dia 24 de
agosto
a nossa turma já fez
abaixo assinado, e ela não
sai. Alguém pode me
explicar como isso
funciona??? Pensei que
quando era demitido tinha
que sair. não
Identidade
vídeo de
esclarecimento
―Quero reforçar que todos
os outros professores
conseguem dar aula, os
alunos ficam quietos e nós
aprendemos, não é normal
não aprender nada‖, ela
disse. Disse também que
ela tem autoria total sobre
as postagens.sim
Relatos de
coerção
Hoje a professora
de português
Queila, preparou
uma aula pra me
''humilhar'' na
frente dos meus
colegas professora Queila sala de aula
hoje 24 de
agosto
a aula falava sobre politica
e internet, ela falava que
ninguém podia falar da
vida dos professores,
porque nós podíamos ter
feito muitas coisas erradas
pra eles odiarem e etc.
Eu e acho que a maioria
dos meus colegas
entenderam o recado ''pra
mim''. Além disso quando
vou até o refeitório as
cozinheiras, começam a
falar de mim, na minha não
Relatos de
coerção
celular na sala de
aula
professora auxiliar
(não identificada) sala de aula
hoje 17 de
agosto
faltando 3 minutos para
acabar a aula todos
estávamos conversando, a
professora auxiliar deixou,
então eu e no minimo 3
colegas estávamos com
celular na mão e os 3 já
estavam escutando
musica, e o meu estava ate
com fone enrolado porque
eu estava esperando bater
o sinal, para não dar
confusão, e a professora
se dirigiu a mim, e falou
que iria recolher meu
celular se eu não
guardasse. Já não é a
primeira vez que acontece
isso.
Mas e os outros, que
estão também ?? Eu falei,
ou pega o celular de
todos ou de ninguém.
Qual é o problema
comigo? Acho até que sei
represália, mais comigo
pressão não funciona,
tudo que acontecer eu
vou postar aqui. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
preocupação com
aulas de história
A nossa professora
de história
teve uma aneurisma e
passou por cirurgia, eu
espero que ela se
recupere totalmente, e
também estou preocupada
porque ouvi falar que
pode demorar para ela
voltar, será que vamos
ficar só com auxiliares?? não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares
hoje 20 de
agosto
De 5 aulas de hoje, só
tivemos 2 com os
professores titulares, as
outras 3 foram com
professoras substitutas.
Quando temos aulas com
auxiliares elas dão um
texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o
tempo poderia ser melhor
aproveitado. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aulas com
auxiliares auxiliares, diretora
hoje 21 de
agosto
tivemos 2 aulas com
professores titulares, e as
outras três não, mas
tivemos aula de
matemática com a diretora
que nos deu exercícios, e
viu o que sabíamos e o
que não tínhamos
conseguido assimilar, foi
muito boa a aula hoje
acho que teve um
rendimento que com
auxiliar não tem, espero
que siga assim. não
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 1
140
ANEXO II: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 2
TEMAS Unidade de
registro 1
Unidade de
registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6
Unidade
de
contexto
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações
professor de
matemática
afastado informações "nos sites" (nao identificado) não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Hoje na aula de
educação física
tivemos que limpar
a quadra alunos quadra
hoje 13 de
setembro de rodo
porque tinha chovido e estava
com barro e poças de água, a
quadra ainda não foi pintada
e nem coberta, se ainda
estivesse chovendo não
iriamos ter aula prática. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
brinquedo
quebrado
Isadora e seus
amigos (não
identificados)
Na hora do
recreio
estávamos pelo parquinho e sentamos
na gangorra quando o lugar onde nós nos
seguramos desengatou, já estava
quebrado mas eles haviam tirado, ficou
só o banco, depois de um tempo
colocaram e eu pensei que já estava
arrumado, mas hoje que fomos lá que eu
vi que ainda estava quebrado. Meus
colegas pediram para que eu publicasse
e ai está. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
faixa de pedestre
não tem nenhuma
placa de área
escolar, nem
guarda de trânsito
na rua da
escola
Tem tantas placas, acho que
e muito importante ter uma na
frente de todas as escolas ou
pelo menos um guarda na
hora da saída. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
reformas que não
foram feitas
Meu pai vem
falando com a
Diretora da
escola a 2
semanas,
desde que eu
falei com ele
que estranhei
que as
reformas foram
feitas e a
quadra da
escola
continuava
igual.
Ela informou que contratou uma empresa
local para fazer o serviço a mais de 2
meses, desde antes das férias, PAGOU
pelo serviço adiantado mas até agora
nada. Questionada qualnome da
empresa, ela simplesmente nega
informar, dizendo que está tudo resolvido
e que possivelmente dentro desse mes o
trabalho será realizado. Importante
salientar que o material já foi comprado e
esta a disposição na sala dela. Agora, ser
conivente com essa situação, preservar
uma empresa que não tem o menor
respeito com a escola e com os alunos
que nela estudam, que já recebeu a + de
2 meses e ainda não fez o serviço é
realmente muito estranho.
Por que isso? Por que não diz
quem é essa empresa que
cobrou e não prestou o
serviço? Vale lembrar ainda
que no final de agosto a
Secretaria da Educação
disse:"Segundo um
levantamento, a escola tem
uma pendência junto à
prefeitura, o que impede que
ela faça o saque de 16.000
reais a quem tem direito para
a manutenção. Isso ocorre
porque a direção não prestou
contas de seus gastos em
2011." Esta na hora da
prestação de contas,
transparência, onde esta indo
o dinheiro e, mais importante
ainda, que foi feito com esse
dinheiro que não foi prestado
contas? sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
a diretora disse
que essa semana a
quadra será
pintada a diretora
a prefeitura vai mandar arrumar a
drenagem e sexta feira será pintada pelo
Sr. FRANCISCO, com as tintas que
estão a 2 anos na sala da diretoria com
vencimento para novembro 2012.
Ela disse que ele estava na
perícia e por isso não fez o
serviço. Não disse por que
pagou adiantado e nem
quanto pagou. Ficamos sem
essa resposta. nao
Denúncias,
alertas,
reclamações
quadra ainda não
foi pintada
Eu quero relembrar que até agora a
quadra não foi pintada, porque ??? Eu
me lembro da diretora falando que a
quadra seria pintada mas antes iriam
lavar, ok lavaram, eu postei mas não
pintaram. Semana passada o tempo tava
ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito
bom, com sol. Seu Francisco segue sem
aparecer. sim
Resoluções
bebedouro
consertado eles (???)
Eles estão mudando tudo que estava
quebrado sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma pintando sim
Resoluções reforma
porta nova com fechadura, e pintura
nova, já trocaram todas as quebradas. sim
Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim
Resoluções reforma
Os fios que estavam para fora, dando
choque, já foram cobertos. Acho que sim
Resoluções reforma
nova fechadura, do banheiro para
deficientes físicos, a escola sempre foi sim
Resoluções reforma
Esse e o orelhão que estava estragado,
também foi arrumado, agora está muito sim
Resoluções reforma
Trocaram tudo o que estava quebrado
no banheiro, agora tem sabão para lavar
as mãos, papel e fechadura. sim
Resoluções reforma eles (???)
hoje a tarde
28 de
setembro
estavam lavando (acho que preparando)
a quadra. Acredito que vão começar a
pinta-la. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
as coisas que estão sendo arrumadas na
escola, não pode ser quebradas de novo.
Os alunos que quebram ter que ter
punição.
Aqui em casa se eu ou a
minha irmã quebramos
alguma coisa, isso é
descontado da nossa mesada,
na escola também tem que
ser assim sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Meus colegas, me apoiando, na
conservação da escola, que está novinha. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Agora na minha escola está tudo novinho
e os professores fazendo campanha de
preservação. Vejo outros professores
falando que são alunos que quebram,
eles nos chamam de pirralhos,
depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.
é certo o professor ver e não
fazer nada?? Existem alunos e
alunos assim como
professores e professores,
concordo que estragar é
errado, mas mais errado
ainda é ver e não fazer nada. não
Relatos de
coerção
reconciliação com
professora de
português
professora de
português
Acho importante dizer que a Prof. de
português disse que eu não entendi
direito a aula de sexta, pediu desculpas e
eu aceitei. não
Relatos de
coerção
acusação da
professora de
português
Professora de
português,
Isadora e seu
pai delegacia
hoje 18 de
setembro
Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.
Eu fui, nunca tinha entrado numa
delegacia antes, mas lá dentro todos me
trataram muito bem mesmo.
porque minha professora de
português fez um BO de
calunia e difamação. Estranhei
pois para mim o assunto já
estava encerrado desdo início
do mês quando ela me pediu
desculpas, eu aceitei e
publiquei, está aqui até agora. sim
Relatos de
coerção
leitura do
regimento da
escola
professora de
português
Na última aula, minha professora de
português sugeriu que todos os alunos
lessem o regimento interno questões 8 e
9 (me parece censura). eu estava
olhando em casa e lendo inteiro, então
bem abaixo do que ela falou estava uma
parte para professores ''Sócia Educativa''
dizendo que quando algo acontece algo
com aluno, tem que encaminhar o caso
para MPSC, não sofri nenhuma medida
sócia educativa, fui parar direto na
delegacia mesmo. Acho que ela deveria
ler o regimento também. sim
Relatos de
coerção
Mãe de aluno
Joice da Rosa fala
sobre episódio na
porta da escola
o marido
Ricardo, o Sr.
Pedro da
secretaria de
Educação
na porta da
escola
hoje 21 de
setembro
'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de
Educação (vejo que ele nao conhece os
pais que estao presentes todos os dias)
pois o que estava acontecendo, ja era
demais,porque a mae da Isadora Faber
tinha levado a imprensa na escola de
novo, causando tudo de novo,a Diretora
estava passando mal em funçao de tudo,
os professores estão chateados, e a
Escola, "era muito boa", a quadra não
poderia ser coberta pois teria problemas
ambientais. Ai, então, falo com uma
menina da 8 série, e ela comentou que
esta mesma pessoa, passou em sua
turma hje e pediu entre aspas, que nao se
apoiasse o blog Diario de classe, nem
olhasse, pois isto estaria dando ibope pra
Isa.
Por que os alunos nao devem
ver o blog? Porque nao
devem saber o que ta
acontecebdo?Devem
continuar a serem
alienados?Pergunto, pq nao
foram na sala do Pedro, que
é da 7 série..Bah. Mel, isto é
cerceamento de idéias, é
colocar mordaças em
pessoas, não deixar as
pessoas pensarem, pq?Até
quando o patrulhamento
ideológico vai perdurar?Não
quero sorrisos pros meu
filhos, quero profissionais
qualificados para ensinarem.
Educação digo e repito, vem
de casa. e todos na escola
sabem, que lá em casa,
respeito é bom, e só tem
direito que tem deveres. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Escola não tem
APP diretora
Gostaria que a direção da escola me
explicasse por que não tem APP
(associação de pais e professores) a
mais de 1 ano? Para escola receber a
verba descentralizada da Prefeitura a
cada 2 meses, precisa de uma APP...
será que a diretora não sabe disso? Esta
no site da Prefeitura, facil de achar...
assim fica fácil entender por que a escola
estava naquele estado. A verba vem via
APP e não tem uma APP na escola?
como explicar? tem recursos a
disposição mas não tem competência
para administrar... só entendo assim. E
as verbas do PDDE (programa dinheiro
direto na escola)? É uma verba federal
que a escola tem direito. Onde está esse não
Denúncias,
alertas,
reclamações Reunião de pais
pais / mãe de
Isadora / uma
professora /
presidente da
APP
os pais se queixaram da segurança da
escola, que esta entrando pessoas
estranhas que não tem nada com a
escola. Foi sugerido câmeras de
segurança para o problema. Minha mãe
foi perguntar a uma professora pq ela
estava cantando o hino do RS e a musica
" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão
se ferrar" na hora da prova, ela ficou
nervosa, começou a gritar e colocou o
dedo na minha cara e disse que eu era
mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela
se ofereceu para fazer outra prova mas
minha mãe disse que não quer privilégios.
Ela disse que não dá aula mais pra mim,
que vai entrar com atestado. finalmente a
APP se formou, o presidente é o
Marcelo.
Foi discutido a respeito do Diário de
Classe a reunião pegou fogo mais no final
houve um entendimento entre alguns
pais... não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Qualidade das
reuniões
professores,
pais
Vejo muitas reclamações por parte dos
professores da pouca participação dos
pais na escola. Quantos as câmeras na
escola, li bastantes comentários, como
sempre tem diferentes opiniões, eu acho
legal. Vcs sabem minha opinião, seria
uma forma moderna de acompanhar os
filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas
Será que não esta na hora de
repensar essas reuniões?
Minha mãe por exemplo,
acha que tinha que ser a
noite, depois das 8, os
professores dizem que fica
ruim pra eles, dizem que não
adianta fazer reunião sábado não
Denúncias,
alertas,
reclamações aula com auxiliar
professora
auxiliar
hoje 28 de
agosto
ela falou para terminarmos uma redação,
que já tínhamos começado, e a maioria
tinha terminado, então não rendeu não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aula de inglês com
auxiliar
professora
auxiliar
de novo, como eu já havia dito, ela fez
um trabalho sobre alimentação e hoje
apresentamos.
Que eu me lembre o
professor chegou no inicio de
agosto, ai a mãe dele morreu
e ele ganhou a licença, depois
ele foi buscar o irmão dele
que morava com a mãe e não
Relatos de
coerção
mãe,
professora
hoje 10 de
outubro
minha mãe teve que ir ao fórum para uma
audiência conciliatória que uma
professora auxiliar fez um BO contra ela
por injúria. a audiência, não demorou 15
minutos uma vez que ela não quis
nenhuma conciliação, nenhuma
retratação, apenas quis seguir em frente
com processo crime.
Ficou brava com os
comentários do post do dia
20-08 que nas aulas dela não
rendiam nada. É verdade, ela
dá um texto qualquer e pede
pra gente responder duas
perguntas, depois a gente fica
jogando. não
Denúncias,
alertas,
reclamações merenda
hoje 21 de
setembro
nosso lanche foi sopa de galinha com
macarrão, não é das comidas favoritas
entre os alunos. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações merenda
hoje 18 de
setembro
Hoje comemos pão com frango e café
com leite, eu só acho que deviam dar
suco porque era recheio de frango. sim
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 2
141
TEMAS Unidade de
registro 1
Unidade de
registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6
Unidade
de
contexto
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações
professor de
matemática
afastado informações "nos sites" (nao identificado) não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Hoje na aula de
educação física
tivemos que limpar
a quadra alunos quadra
hoje 13 de
setembro de rodo
porque tinha chovido e estava
com barro e poças de água, a
quadra ainda não foi pintada
e nem coberta, se ainda
estivesse chovendo não
iriamos ter aula prática. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
brinquedo
quebrado
Isadora e seus
amigos (não
identificados)
Na hora do
recreio
estávamos pelo parquinho e sentamos
na gangorra quando o lugar onde nós nos
seguramos desengatou, já estava
quebrado mas eles haviam tirado, ficou
só o banco, depois de um tempo
colocaram e eu pensei que já estava
arrumado, mas hoje que fomos lá que eu
vi que ainda estava quebrado. Meus
colegas pediram para que eu publicasse
e ai está. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
faixa de pedestre
não tem nenhuma
placa de área
escolar, nem
guarda de trânsito
na rua da
escola
Tem tantas placas, acho que
e muito importante ter uma na
frente de todas as escolas ou
pelo menos um guarda na
hora da saída. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
reformas que não
foram feitas
Meu pai vem
falando com a
Diretora da
escola a 2
semanas,
desde que eu
falei com ele
que estranhei
que as
reformas foram
feitas e a
quadra da
escola
continuava
igual.
Ela informou que contratou uma empresa
local para fazer o serviço a mais de 2
meses, desde antes das férias, PAGOU
pelo serviço adiantado mas até agora
nada. Questionada qualnome da
empresa, ela simplesmente nega
informar, dizendo que está tudo resolvido
e que possivelmente dentro desse mes o
trabalho será realizado. Importante
salientar que o material já foi comprado e
esta a disposição na sala dela. Agora, ser
conivente com essa situação, preservar
uma empresa que não tem o menor
respeito com a escola e com os alunos
que nela estudam, que já recebeu a + de
2 meses e ainda não fez o serviço é
realmente muito estranho.
Por que isso? Por que não diz
quem é essa empresa que
cobrou e não prestou o
serviço? Vale lembrar ainda
que no final de agosto a
Secretaria da Educação
disse:"Segundo um
levantamento, a escola tem
uma pendência junto à
prefeitura, o que impede que
ela faça o saque de 16.000
reais a quem tem direito para
a manutenção. Isso ocorre
porque a direção não prestou
contas de seus gastos em
2011." Esta na hora da
prestação de contas,
transparência, onde esta indo
o dinheiro e, mais importante
ainda, que foi feito com esse
dinheiro que não foi prestado
contas? sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
a diretora disse
que essa semana a
quadra será
pintada a diretora
a prefeitura vai mandar arrumar a
drenagem e sexta feira será pintada pelo
Sr. FRANCISCO, com as tintas que
estão a 2 anos na sala da diretoria com
vencimento para novembro 2012.
Ela disse que ele estava na
perícia e por isso não fez o
serviço. Não disse por que
pagou adiantado e nem
quanto pagou. Ficamos sem
essa resposta. nao
Denúncias,
alertas,
reclamações
quadra ainda não
foi pintada
Eu quero relembrar que até agora a
quadra não foi pintada, porque ??? Eu
me lembro da diretora falando que a
quadra seria pintada mas antes iriam
lavar, ok lavaram, eu postei mas não
pintaram. Semana passada o tempo tava
ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito
bom, com sol. Seu Francisco segue sem
aparecer. sim
Resoluções
bebedouro
consertado eles (???)
Eles estão mudando tudo que estava
quebrado sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma pintando sim
Resoluções reforma
porta nova com fechadura, e pintura
nova, já trocaram todas as quebradas. sim
Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim
Resoluções reforma
Os fios que estavam para fora, dando
choque, já foram cobertos. Acho que sim
Resoluções reforma
nova fechadura, do banheiro para
deficientes físicos, a escola sempre foi sim
Resoluções reforma
Esse e o orelhão que estava estragado,
também foi arrumado, agora está muito sim
Resoluções reforma
Trocaram tudo o que estava quebrado
no banheiro, agora tem sabão para lavar
as mãos, papel e fechadura. sim
Resoluções reforma eles (???)
hoje a tarde
28 de
setembro
estavam lavando (acho que preparando)
a quadra. Acredito que vão começar a
pinta-la. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
as coisas que estão sendo arrumadas na
escola, não pode ser quebradas de novo.
Os alunos que quebram ter que ter
punição.
Aqui em casa se eu ou a
minha irmã quebramos
alguma coisa, isso é
descontado da nossa mesada,
na escola também tem que
ser assim sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Meus colegas, me apoiando, na
conservação da escola, que está novinha. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Agora na minha escola está tudo novinho
e os professores fazendo campanha de
preservação. Vejo outros professores
falando que são alunos que quebram,
eles nos chamam de pirralhos,
depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.
é certo o professor ver e não
fazer nada?? Existem alunos e
alunos assim como
professores e professores,
concordo que estragar é
errado, mas mais errado
ainda é ver e não fazer nada. não
Relatos de
coerção
reconciliação com
professora de
português
professora de
português
Acho importante dizer que a Prof. de
português disse que eu não entendi
direito a aula de sexta, pediu desculpas e
eu aceitei. não
Relatos de
coerção
acusação da
professora de
português
Professora de
português,
Isadora e seu
pai delegacia
hoje 18 de
setembro
Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.
Eu fui, nunca tinha entrado numa
delegacia antes, mas lá dentro todos me
trataram muito bem mesmo.
porque minha professora de
português fez um BO de
calunia e difamação. Estranhei
pois para mim o assunto já
estava encerrado desdo início
do mês quando ela me pediu
desculpas, eu aceitei e
publiquei, está aqui até agora. sim
Relatos de
coerção
leitura do
regimento da
escola
professora de
português
Na última aula, minha professora de
português sugeriu que todos os alunos
lessem o regimento interno questões 8 e
9 (me parece censura). eu estava
olhando em casa e lendo inteiro, então
bem abaixo do que ela falou estava uma
parte para professores ''Sócia Educativa''
dizendo que quando algo acontece algo
com aluno, tem que encaminhar o caso
para MPSC, não sofri nenhuma medida
sócia educativa, fui parar direto na
delegacia mesmo. Acho que ela deveria
ler o regimento também. sim
Relatos de
coerção
Mãe de aluno
Joice da Rosa fala
sobre episódio na
porta da escola
o marido
Ricardo, o Sr.
Pedro da
secretaria de
Educação
na porta da
escola
hoje 21 de
setembro
'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de
Educação (vejo que ele nao conhece os
pais que estao presentes todos os dias)
pois o que estava acontecendo, ja era
demais,porque a mae da Isadora Faber
tinha levado a imprensa na escola de
novo, causando tudo de novo,a Diretora
estava passando mal em funçao de tudo,
os professores estão chateados, e a
Escola, "era muito boa", a quadra não
poderia ser coberta pois teria problemas
ambientais. Ai, então, falo com uma
menina da 8 série, e ela comentou que
esta mesma pessoa, passou em sua
turma hje e pediu entre aspas, que nao se
apoiasse o blog Diario de classe, nem
olhasse, pois isto estaria dando ibope pra
Isa.
Por que os alunos nao devem
ver o blog? Porque nao
devem saber o que ta
acontecebdo?Devem
continuar a serem
alienados?Pergunto, pq nao
foram na sala do Pedro, que
é da 7 série..Bah. Mel, isto é
cerceamento de idéias, é
colocar mordaças em
pessoas, não deixar as
pessoas pensarem, pq?Até
quando o patrulhamento
ideológico vai perdurar?Não
quero sorrisos pros meu
filhos, quero profissionais
qualificados para ensinarem.
Educação digo e repito, vem
de casa. e todos na escola
sabem, que lá em casa,
respeito é bom, e só tem
direito que tem deveres. não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Escola não tem
APP diretora
Gostaria que a direção da escola me
explicasse por que não tem APP
(associação de pais e professores) a
mais de 1 ano? Para escola receber a
verba descentralizada da Prefeitura a
cada 2 meses, precisa de uma APP...
será que a diretora não sabe disso? Esta
no site da Prefeitura, facil de achar...
assim fica fácil entender por que a escola
estava naquele estado. A verba vem via
APP e não tem uma APP na escola?
como explicar? tem recursos a
disposição mas não tem competência
para administrar... só entendo assim. E
as verbas do PDDE (programa dinheiro
direto na escola)? É uma verba federal
que a escola tem direito. Onde está esse não
Denúncias,
alertas,
reclamações Reunião de pais
pais / mãe de
Isadora / uma
professora /
presidente da
APP
os pais se queixaram da segurança da
escola, que esta entrando pessoas
estranhas que não tem nada com a
escola. Foi sugerido câmeras de
segurança para o problema. Minha mãe
foi perguntar a uma professora pq ela
estava cantando o hino do RS e a musica
" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão
se ferrar" na hora da prova, ela ficou
nervosa, começou a gritar e colocou o
dedo na minha cara e disse que eu era
mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela
se ofereceu para fazer outra prova mas
minha mãe disse que não quer privilégios.
Ela disse que não dá aula mais pra mim,
que vai entrar com atestado. finalmente a
APP se formou, o presidente é o
Marcelo.
Foi discutido a respeito do Diário de
Classe a reunião pegou fogo mais no final
houve um entendimento entre alguns
pais... não
Denúncias,
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reclamações
Qualidade das
reuniões
professores,
pais
Vejo muitas reclamações por parte dos
professores da pouca participação dos
pais na escola. Quantos as câmeras na
escola, li bastantes comentários, como
sempre tem diferentes opiniões, eu acho
legal. Vcs sabem minha opinião, seria
uma forma moderna de acompanhar os
filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas
Será que não esta na hora de
repensar essas reuniões?
Minha mãe por exemplo,
acha que tinha que ser a
noite, depois das 8, os
professores dizem que fica
ruim pra eles, dizem que não
adianta fazer reunião sábado não
Denúncias,
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reclamações aula com auxiliar
professora
auxiliar
hoje 28 de
agosto
ela falou para terminarmos uma redação,
que já tínhamos começado, e a maioria
tinha terminado, então não rendeu não
Denúncias,
alertas,
reclamações
aula de inglês com
auxiliar
professora
auxiliar
de novo, como eu já havia dito, ela fez
um trabalho sobre alimentação e hoje
apresentamos.
Que eu me lembre o
professor chegou no inicio de
agosto, ai a mãe dele morreu
e ele ganhou a licença, depois
ele foi buscar o irmão dele
que morava com a mãe e não
Relatos de
coerção
mãe,
professora
hoje 10 de
outubro
minha mãe teve que ir ao fórum para uma
audiência conciliatória que uma
professora auxiliar fez um BO contra ela
por injúria. a audiência, não demorou 15
minutos uma vez que ela não quis
nenhuma conciliação, nenhuma
retratação, apenas quis seguir em frente
com processo crime.
Ficou brava com os
comentários do post do dia
20-08 que nas aulas dela não
rendiam nada. É verdade, ela
dá um texto qualquer e pede
pra gente responder duas
perguntas, depois a gente fica
jogando. não
Denúncias,
alertas,
reclamações merenda
hoje 21 de
setembro
nosso lanche foi sopa de galinha com
macarrão, não é das comidas favoritas
entre os alunos. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações merenda
hoje 18 de
setembro
Hoje comemos pão com frango e café
com leite, eu só acho que deviam dar
suco porque era recheio de frango. sim
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 2
142
TEMAS Unidade de
registro 1
Unidade de
registro 2
Unidade de
registro 3
Unidade de
registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6
Unidade
de
contexto
O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem
Denúncias,
alertas,
reclamações
professor de
matemática
afastado informações "nos sites" (nao identificado) não
Denúncias,
alertas,
reclamações
Hoje na aula de
educação física
tivemos que limpar
a quadra alunos quadra
hoje 13 de
setembro de rodo
porque tinha chovido e estava
com barro e poças de água, a
quadra ainda não foi pintada
e nem coberta, se ainda
estivesse chovendo não
iriamos ter aula prática. sim
Denúncias,
alertas,
reclamações
brinquedo
quebrado
Isadora e seus
amigos (não
identificados)
Na hora do
recreio
estávamos pelo parquinho e sentamos
na gangorra quando o lugar onde nós nos
seguramos desengatou, já estava
quebrado mas eles haviam tirado, ficou
só o banco, depois de um tempo
colocaram e eu pensei que já estava
arrumado, mas hoje que fomos lá que eu
vi que ainda estava quebrado. Meus
colegas pediram para que eu publicasse
e ai está. sim
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faixa de pedestre
não tem nenhuma
placa de área
escolar, nem
guarda de trânsito
na rua da
escola
Tem tantas placas, acho que
e muito importante ter uma na
frente de todas as escolas ou
pelo menos um guarda na
hora da saída. sim
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reformas que não
foram feitas
Meu pai vem
falando com a
Diretora da
escola a 2
semanas,
desde que eu
falei com ele
que estranhei
que as
reformas foram
feitas e a
quadra da
escola
continuava
igual.
Ela informou que contratou uma empresa
local para fazer o serviço a mais de 2
meses, desde antes das férias, PAGOU
pelo serviço adiantado mas até agora
nada. Questionada qualnome da
empresa, ela simplesmente nega
informar, dizendo que está tudo resolvido
e que possivelmente dentro desse mes o
trabalho será realizado. Importante
salientar que o material já foi comprado e
esta a disposição na sala dela. Agora, ser
conivente com essa situação, preservar
uma empresa que não tem o menor
respeito com a escola e com os alunos
que nela estudam, que já recebeu a + de
2 meses e ainda não fez o serviço é
realmente muito estranho.
Por que isso? Por que não diz
quem é essa empresa que
cobrou e não prestou o
serviço? Vale lembrar ainda
que no final de agosto a
Secretaria da Educação
disse:"Segundo um
levantamento, a escola tem
uma pendência junto à
prefeitura, o que impede que
ela faça o saque de 16.000
reais a quem tem direito para
a manutenção. Isso ocorre
porque a direção não prestou
contas de seus gastos em
2011." Esta na hora da
prestação de contas,
transparência, onde esta indo
o dinheiro e, mais importante
ainda, que foi feito com esse
dinheiro que não foi prestado
contas? sim
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a diretora disse
que essa semana a
quadra será
pintada a diretora
a prefeitura vai mandar arrumar a
drenagem e sexta feira será pintada pelo
Sr. FRANCISCO, com as tintas que
estão a 2 anos na sala da diretoria com
vencimento para novembro 2012.
Ela disse que ele estava na
perícia e por isso não fez o
serviço. Não disse por que
pagou adiantado e nem
quanto pagou. Ficamos sem
essa resposta. nao
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quadra ainda não
foi pintada
Eu quero relembrar que até agora a
quadra não foi pintada, porque ??? Eu
me lembro da diretora falando que a
quadra seria pintada mas antes iriam
lavar, ok lavaram, eu postei mas não
pintaram. Semana passada o tempo tava
ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito
bom, com sol. Seu Francisco segue sem
aparecer. sim
Resoluções
bebedouro
consertado eles (???)
Eles estão mudando tudo que estava
quebrado sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma sim
Resoluções reforma pintando sim
Resoluções reforma
porta nova com fechadura, e pintura
nova, já trocaram todas as quebradas. sim
Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim
Resoluções reforma
Os fios que estavam para fora, dando
choque, já foram cobertos. Acho que sim
Resoluções reforma
nova fechadura, do banheiro para
deficientes físicos, a escola sempre foi sim
Resoluções reforma
Esse e o orelhão que estava estragado,
também foi arrumado, agora está muito sim
Resoluções reforma
Trocaram tudo o que estava quebrado
no banheiro, agora tem sabão para lavar
as mãos, papel e fechadura. sim
Resoluções reforma eles (???)
hoje a tarde
28 de
setembro
estavam lavando (acho que preparando)
a quadra. Acredito que vão começar a
pinta-la. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
as coisas que estão sendo arrumadas na
escola, não pode ser quebradas de novo.
Os alunos que quebram ter que ter
punição.
Aqui em casa se eu ou a
minha irmã quebramos
alguma coisa, isso é
descontado da nossa mesada,
na escola também tem que
ser assim sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Meus colegas, me apoiando, na
conservação da escola, que está novinha. sim
Resoluções
campanha anti-
depredação
Agora na minha escola está tudo novinho
e os professores fazendo campanha de
preservação. Vejo outros professores
falando que são alunos que quebram,
eles nos chamam de pirralhos,
depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.
é certo o professor ver e não
fazer nada?? Existem alunos e
alunos assim como
professores e professores,
concordo que estragar é
errado, mas mais errado
ainda é ver e não fazer nada. não
Relatos de
coerção
reconciliação com
professora de
português
professora de
português
Acho importante dizer que a Prof. de
português disse que eu não entendi
direito a aula de sexta, pediu desculpas e
eu aceitei. não
Relatos de
coerção
acusação da
professora de
português
Professora de
português,
Isadora e seu
pai delegacia
hoje 18 de
setembro
Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.
Eu fui, nunca tinha entrado numa
delegacia antes, mas lá dentro todos me
trataram muito bem mesmo.
porque minha professora de
português fez um BO de
calunia e difamação. Estranhei
pois para mim o assunto já
estava encerrado desdo início
do mês quando ela me pediu
desculpas, eu aceitei e
publiquei, está aqui até agora. sim
Relatos de
coerção
leitura do
regimento da
escola
professora de
português
Na última aula, minha professora de
português sugeriu que todos os alunos
lessem o regimento interno questões 8 e
9 (me parece censura). eu estava
olhando em casa e lendo inteiro, então
bem abaixo do que ela falou estava uma
parte para professores ''Sócia Educativa''
dizendo que quando algo acontece algo
com aluno, tem que encaminhar o caso
para MPSC, não sofri nenhuma medida
sócia educativa, fui parar direto na
delegacia mesmo. Acho que ela deveria
ler o regimento também. sim
Relatos de
coerção
Mãe de aluno
Joice da Rosa fala
sobre episódio na
porta da escola
o marido
Ricardo, o Sr.
Pedro da
secretaria de
Educação
na porta da
escola
hoje 21 de
setembro
'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de
Educação (vejo que ele nao conhece os
pais que estao presentes todos os dias)
pois o que estava acontecendo, ja era
demais,porque a mae da Isadora Faber
tinha levado a imprensa na escola de
novo, causando tudo de novo,a Diretora
estava passando mal em funçao de tudo,
os professores estão chateados, e a
Escola, "era muito boa", a quadra não
poderia ser coberta pois teria problemas
ambientais. Ai, então, falo com uma
menina da 8 série, e ela comentou que
esta mesma pessoa, passou em sua
turma hje e pediu entre aspas, que nao se
apoiasse o blog Diario de classe, nem
olhasse, pois isto estaria dando ibope pra
Isa.
Por que os alunos nao devem
ver o blog? Porque nao
devem saber o que ta
acontecebdo?Devem
continuar a serem
alienados?Pergunto, pq nao
foram na sala do Pedro, que
é da 7 série..Bah. Mel, isto é
cerceamento de idéias, é
colocar mordaças em
pessoas, não deixar as
pessoas pensarem, pq?Até
quando o patrulhamento
ideológico vai perdurar?Não
quero sorrisos pros meu
filhos, quero profissionais
qualificados para ensinarem.
Educação digo e repito, vem
de casa. e todos na escola
sabem, que lá em casa,
respeito é bom, e só tem
direito que tem deveres. não
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Escola não tem
APP diretora
Gostaria que a direção da escola me
explicasse por que não tem APP
(associação de pais e professores) a
mais de 1 ano? Para escola receber a
verba descentralizada da Prefeitura a
cada 2 meses, precisa de uma APP...
será que a diretora não sabe disso? Esta
no site da Prefeitura, facil de achar...
assim fica fácil entender por que a escola
estava naquele estado. A verba vem via
APP e não tem uma APP na escola?
como explicar? tem recursos a
disposição mas não tem competência
para administrar... só entendo assim. E
as verbas do PDDE (programa dinheiro
direto na escola)? É uma verba federal
que a escola tem direito. Onde está esse não
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reclamações Reunião de pais
pais / mãe de
Isadora / uma
professora /
presidente da
APP
os pais se queixaram da segurança da
escola, que esta entrando pessoas
estranhas que não tem nada com a
escola. Foi sugerido câmeras de
segurança para o problema. Minha mãe
foi perguntar a uma professora pq ela
estava cantando o hino do RS e a musica
" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão
se ferrar" na hora da prova, ela ficou
nervosa, começou a gritar e colocou o
dedo na minha cara e disse que eu era
mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela
se ofereceu para fazer outra prova mas
minha mãe disse que não quer privilégios.
Ela disse que não dá aula mais pra mim,
que vai entrar com atestado. finalmente a
APP se formou, o presidente é o
Marcelo.
Foi discutido a respeito do Diário de
Classe a reunião pegou fogo mais no final
houve um entendimento entre alguns
pais... não
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reclamações
Qualidade das
reuniões
professores,
pais
Vejo muitas reclamações por parte dos
professores da pouca participação dos
pais na escola. Quantos as câmeras na
escola, li bastantes comentários, como
sempre tem diferentes opiniões, eu acho
legal. Vcs sabem minha opinião, seria
uma forma moderna de acompanhar os
filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas
Será que não esta na hora de
repensar essas reuniões?
Minha mãe por exemplo,
acha que tinha que ser a
noite, depois das 8, os
professores dizem que fica
ruim pra eles, dizem que não
adianta fazer reunião sábado não
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reclamações aula com auxiliar
professora
auxiliar
hoje 28 de
agosto
ela falou para terminarmos uma redação,
que já tínhamos começado, e a maioria
tinha terminado, então não rendeu não
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reclamações
aula de inglês com
auxiliar
professora
auxiliar
de novo, como eu já havia dito, ela fez
um trabalho sobre alimentação e hoje
apresentamos.
Que eu me lembre o
professor chegou no inicio de
agosto, ai a mãe dele morreu
e ele ganhou a licença, depois
ele foi buscar o irmão dele
que morava com a mãe e não
Relatos de
coerção
mãe,
professora
hoje 10 de
outubro
minha mãe teve que ir ao fórum para uma
audiência conciliatória que uma
professora auxiliar fez um BO contra ela
por injúria. a audiência, não demorou 15
minutos uma vez que ela não quis
nenhuma conciliação, nenhuma
retratação, apenas quis seguir em frente
com processo crime.
Ficou brava com os
comentários do post do dia
20-08 que nas aulas dela não
rendiam nada. É verdade, ela
dá um texto qualquer e pede
pra gente responder duas
perguntas, depois a gente fica
jogando. não
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reclamações merenda
hoje 21 de
setembro
nosso lanche foi sopa de galinha com
macarrão, não é das comidas favoritas
entre os alunos. sim
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reclamações merenda
hoje 18 de
setembro
Hoje comemos pão com frango e café
com leite, eu só acho que deviam dar
suco porque era recheio de frango. sim
ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA
AMOSTRA 2
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Escola não tem
APP diretora
Gostaria que a direção da escola me
explicasse por que não tem APP
(associação de pais e professores) a
mais de 1 ano? Para escola receber a
verba descentralizada da Prefeitura a
cada 2 meses, precisa de uma APP...
será que a diretora não sabe disso? Esta
no site da Prefeitura, facil de achar...
assim fica fácil entender por que a escola
estava naquele estado. A verba vem via
APP e não tem uma APP na escola?
como explicar? tem recursos a
disposição mas não tem competência
para administrar... só entendo assim. E
as verbas do PDDE (programa dinheiro
direto na escola)? É uma verba federal
que a escola tem direito. Onde está esse
dinheiro? Quero saber... depois sou eu
que vou parar na delegacia... é justo?
(texto com apoio e supervisão do meu
pai) não
143
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reclamações Reunião de pais
pais / mãe de
Isadora / uma
professora /
presidente da
APP
os pais se queixaram da segurança da
escola, que esta entrando pessoas
estranhas que não tem nada com a
escola. Foi sugerido câmeras de
segurança para o problema. Minha mãe
foi perguntar a uma professora pq ela
estava cantando o hino do RS e a musica
" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão
se ferrar" na hora da prova, ela ficou
nervosa, começou a gritar e colocou o
dedo na minha cara e disse que eu era
mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela
se ofereceu para fazer outra prova mas
minha mãe disse que não quer privilégios.
Ela disse que não dá aula mais pra mim,
que vai entrar com atestado. finalmente a
APP se formou, o presidente é o
Marcelo.
Foi discutido a respeito do Diário de
Classe a reunião pegou fogo mais no final
houve um entendimento entre alguns
pais... não
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reclamações
Qualidade das
reuniões
professores,
pais
Vejo muitas reclamações por parte dos
professores da pouca participação dos
pais na escola. Quantos as câmeras na
escola, li bastantes comentários, como
sempre tem diferentes opiniões, eu acho
legal. Vcs sabem minha opinião, seria
uma forma moderna de acompanhar os
filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas
reuniões da minha escola. Será que não
esta na hora de repensar essas reuniões?
Será que não esta na hora de
repensar essas reuniões?
Minha mãe por exemplo,
acha que tinha que ser a
noite, depois das 8, os
professores dizem que fica
ruim pra eles, dizem que não
adianta fazer reunião sábado
também, que não aumenta a
presença. Uma coisa é certa,
tem que mudar. não
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reclamações aula com auxiliar
professora
auxiliar
hoje 28 de
agosto
ela falou para terminarmos uma redação,
que já tínhamos começado, e a maioria
tinha terminado, então não rendeu não
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reclamações
aula de inglês com
auxiliar
professora
auxiliar
de novo, como eu já havia dito, ela fez
um trabalho sobre alimentação e hoje
apresentamos.
Que eu me lembre o
professor chegou no inicio de
agosto, ai a mãe dele morreu
e ele ganhou a licença, depois
ele foi buscar o irmão dele
que morava com a mãe e não
Relatos de
coerção
mãe,
professora
hoje 10 de
outubro
minha mãe teve que ir ao fórum para uma
audiência conciliatória que uma
professora auxiliar fez um BO contra ela
por injúria. a audiência, não demorou 15
minutos uma vez que ela não quis
nenhuma conciliação, nenhuma
retratação, apenas quis seguir em frente
com processo crime.
Ficou brava com os
comentários do post do dia
20-08 que nas aulas dela não
rendiam nada. É verdade, ela
dá um texto qualquer e pede
pra gente responder duas
perguntas, depois a gente fica
jogando. não
Denúncias,
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reclamações merenda
hoje 21 de
setembro
nosso lanche foi sopa de galinha com
macarrão, não é das comidas favoritas
entre os alunos. sim
Denúncias,
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reclamações merenda
hoje 18 de
setembro
Hoje comemos pão com frango e café
com leite, eu só acho que deviam dar
suco porque era recheio de frango. sim
144
Anexo III: Nota da Secretaria da Educação de Florianópolis
ASSESSORIA DE IMPRENSA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS
28/08/2012
Prefeitura toma providências na Escola Básica Maria Tomázia
A Secretária de Educação, Sidneya Gaspar de Oliveira, determinou uma nova reforma no
estabelecimento. Defende a liberdade de expressão da aluna que criou Facebook para falar
sobre as condições da unidade.
A iniciativa é brilhante, é saudável. A manifestação é da Secretária de Educação de
Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, em relação à página na internet da aluna Isadora
Faber, 13 anos, matriculada na Escola Básica Maria Tomázia Coelho, no Santinho, Norte da
Ilha de Santa Catarina. O Facebook, intitulado Diário de Classe, reivindica melhorias no
estabelecimento de ensino. ―Essa página veio inclusive nos auxiliar no monitoramento da
escola. É uma espécie de ouvidoria‖, frisa.
A Secretária lembra que a prefeitura vem fazendo a manutenção física da unidade desde o
início do ano e já começou outros serviços. Quanto à parte pedagógica, Sidneya destaca que
houve incompatibilidade entre duas turmas da sétima série, numa das quais Isadora frequenta,
e um professor temporário de matemática. ―Após a análise da comissão avaliadora, formada
por membros da escola e da Secretaria, o parecer final sobre o professor está previsto para a
próxima segunda-feira‖. Se assim a comissão decidir, o docente poderá ser substituído.
A Secretária reforça que a linha pedagógica da rede municipal de ensino de Florianópolis
defenderá sempre a liberdade de expressão. Conforme Sidneya, ―além de ter como missão
promover educação de qualidade que contribua para o exercício pleno da cidadania, o
município proporciona o estabelecimento de relações democráticas e participativas. Diante
desse desafio, os programas e projetos educacionais estão dirigidos para o fortalecimento de
uma política educacional que reconheça as diferenças, fortaleça as identidades e a pluralidade
de ideias, que cuide, eduque e acolha os estudantes e suas famílias, bem como promovam a
socialização e a produção do conhecimento numa visão cidadã‖.
Gestão da escola
A Diretora da Maria Tomázia Coelho, Liziane Diaz Farias, assumiu a responsabilidade por
haver em sua escola uma gestão deficitária. ―Eu assumo publicamente que ocorreu fragilidade
na administração do estabelecimento. Vamos a partir de agora trabalhar de forma diferente a
parte administrativa e a preservação do patrimônio público‖.
145
Liziane fará um apelo à Associação de Pais e Professores para que ajudem principalmente no
cuidado com a estrutura física. Haverá também campanhas para que os alunos se
conscientizem da necessidade de se engajarem no zelo de todo o ambiente escolar. ―Os alunos
tem que saber que a participação deles é fundamental para preservar um bem público‖. Além
disso, coloca, que vem participando de formação para criar o Conselho Escolar, que auxiliará
na manutenção do estabelecimento e na gestão administrativa, pedagógica e financeira.
A diretora destaca que a Maria Tomázia possui no Índice de Desenvolvimento da Educação
(IDEB) nota de primeiro mundo nos anos iniciais: 6,1. ―Isto prova que estamos no caminho
certo para manter a qualidade na educação‖. A unidade possui 25 professores, sendo a sua
maioria com pós-graduação.
Sobre a Isadora Faber, Liziane faz questão de dizer que ela é uma boa aluna. ―A Isadora
sempre manteve as suas notas acima da média e é uma adolescente disciplinada‖.
Complementa que em nenhum momento houve represália da direção para que a aluna tirasse a
página dela na internet. O que ocorreu, esclarece Liziane, foi uma conversa com a mãe da
adolescente, Mel Faber, sobre a existência do Facebook e aconselhou a não utilização de
imagens de alunos, funcionários e professores da escola na página. ―Cada indivíduo tem o
direito de ter a sua imagem preservada‖, finaliza.
Providências
Nesta terça-feira, a Secretaria de Educação reiniciou a manutenção na escola. Em julho, foram trocadas 13 luminárias, que no momento já foram danificadas. Haverá também reparos nos banheiros e em outros setores da unidade. “Fizemos uma série de melhorias, mas infelizmente não houve a colaboração da comunidade escolar para evitar vandalismos, com a depredação do espaço”, salienta o Diretor de Infraestrutura, Maurício Amorim Efe.
146
ANEXO IV: Representações Sociais no Diário de Classe
AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro
Atribuições Atribuições
muito feliz (pelo alcance da página) estou muito feliz
não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou mostrando o
que de fato é a pura realidade
não autorizamos a participaçao da Isadora em nenhuma campanha eleitoral, ela
não tem vínculo com nenhum partido e não vai participar de nenhum programa
eleitoral. (PAIS DE ISADORA)
tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade
sobre as escolas públicas. cada vez que eu desanimo eu leio as mensagens eU volto a me sentir forte
sou a unica administradora dessa página
Agradeço a todos que gostam e elogiam meus posts. Depois de tudo que
aconteceu, é claro que meu pai ou minha mãe tão olhando tudo antes que eu
faça a postagem, fazendo a revisão geral do meu texto (pontuação e
acentuação principalmente, MAS estou aprendendo). Agora, quanto ao
conteúdo, são opiniões minhas. Claro que escuto muito meus pais, minhas
irmãs, não só sobre a página mas sobre tudo, nem sempre concordamos mas
sabemos nos respeitar. Eu não tinha muito conhecimento das coisas, mas eu
tenho lido o que vcs comentam, vários colocam vídeos, links, textos, cada um
dando seus palpites... e eu vou lendo, me informando, concordo ali, discordo
aqui, pergunto as coisas e vou formando minha opinião, apenas isso. Tem um
monte de coisas que não sei nada então prefiro não comentar. Fico
comparando minha escola com da minha irmã do meio porque é a única que eu
conheço além da minha e vejo a rotina dela. Minha irmã mais velha é
Engenheira de Computação, se formou em uma Universidade Federal com 22
anos, hoje tem 24, trabalha e já tem a casa dela, tá sempre conectada com tudo,
o namorado dela também é Engenheiro de Computação, outro louco, sempre
conectado. Na minha casa todos dias tem jornal, meu pai sempre foi assinante,
tv cabo, internet e cada um tem seu note. Meus pais trabalham com produção
e edição de vídeos, eu e minha irmã do meio ajudamos às vezes, puxando
cabos, segurando microfones, iluminando, segurando rebatedor, essas coisas.
Minha vó mora conosco, ela tem uma doença degenerativa e HÁ algum tempo
esta na cadeira de rodas, sempre que chego da escola ajudo a mãe dando
almoço pra ela. Tem 2 cachorros aqui em casa também, o Ziggy e o Difé (tem
esse nome pq ele é de fé mesmo... quem conhece sabe). Como vcs podem ver,
estudo em escola pública mas tenho acesso a muita informação e tento tirar
proveito disso. Estou fazendo este post agora porque me dei conta que nunca
tinha me apresentado, pra vocês saberem um pouco mais de mim. Ahh... meu
aniversário é 16 junho, nasci às 8:04 h em 1999 na Maternidade Carmela Dutra
em Florianópolis.
eu estou aberta
Fazem pouco mais de dois meses de Diário. Muita coisa mudou, nunca pensei
na repercussão que ia dar. Olhando tudo que aconteceu, fico feliz em ver que
as coisas que mostrei foram consertadas, a quadra parece que vai ser pintada,
a APP foi formada e outras coisas. Me perguntam muito o que vai ser agora
que a escola foi reformada, se vou seguir com Diário. Hoje penso diferente,
penso maior. Penso que se minha escola pode melhorar, por que não as
outras? Não só de Florianópolis, mas de todo Brasil. Por que vemos escolas
tão ruins como as que são mostradas aqui? Quem ganha com isso? Pra mim
isso é motivo de vergonha e acho que isso envergonha todo Brasil. Será que
pensam que enganam alguém com índices, cotas? Será que os outros países
acreditam nisso? Você acredita nisso? Eu acho que o Brasil finge que a
educação tá boa para impressionar os outros como se todos fossem bobos.
Recebi fotos que parece qualquer coisa, menos escolas, por que isso? Se a
gente é o país do futebol, do samba, por que não ser o país da educação? Não
seria legal ser conhecido por ser o país de melhor educação do mundo?
Sermos respeitados em qualquer lugar como um povo culto, inteligente e
educado? Acho que sendo assim, o resto vem junto, pois nenhum povo
educado e inteligente não vai deixar a saúde de lado por exemplo. Vontade de
mudar já vi que muitos tem, então o que falta? Eu tenho vontade, gostaria que
minha escola fosse uma escola modelo e vou fazer o possível pra isso, espero
que um dia algumas pessoas entendam e me ajudem também. E vcs, sabem
como vai a escola dos seus filhos? Sabe se esta faltando professor? Sabe o
que ele comeu hj? Sabe o que ele aprendeu hj? O que ele faz quando não tá na
escola, você sabe? Podemos começar assim, não é tão difícil... os estudantes
tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar quietos. Muitos
me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é bem
assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de curtidores
inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar, mas agora
não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.
preciso do apoio de vocês (colegas)
estou chegando agora do curso Kumon que é tipo aulas ''particulares''. Eu
recebi uma bolsa para estudar inglês e começo amanhã, vai me ajudar muito e
eu fiquei bem feliz pela oportunidade.
faço pra nós, não entendo porque vocês não gostam
Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,
manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,
estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não
deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo
minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.
Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para
isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido
nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da
educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar
é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando
tem.
Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.
a partir de agora iremos (eu e meus pais) começar a deletar post de pessoas
desinformadas que fazem perfis fakes que não se identificam para publicar
ofensas e mentiras e verdadeiros perseguidores que estão fazendo páginas
igual a minha só para promover intrigas com fofocas( páginas sem
identificação do responsável). Criticar tudo bem, mas com responsabilidade e
com perfil verdadeiro, por favor. Não tenho medo de críticas, mas tenho medo
de pessoas maldosas e covardes que não tem sequer coragem de se
identificar. Espero que entendam.
estudo na escola desde a primeira série e agora estou na sétima
Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,
manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,
estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não
deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo
minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.
Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para
isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido
nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da
educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar
é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando
tem.
―Se te disseram que prá não virar a mesa, Se te disseram que o ataque é a
pior defesa, Se te disseram prá esperar a sobremesa, Ouça o que eu digo
não ouça ninguém‖ - Esse refrão diz muito por eu ter criado essa página,
mas eu não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou
mostrando o que de fato é a pura realidade.
Não tenho medo de críticas, mas tenho medo de pessoas maldosas e covardes
que não tem sequer coragem de se identificar.
eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das conversas...
do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por
isso falo... falo pq sei o que acontece
Me perguntam muito o que vai ser agora que a escola foi reformada, se vou
seguir com Diário. Hoje penso diferente, penso maior. Penso que se minha
escola pode melhorar, por que não as outras? Não só de Florianópolis, mas de
todo Brasil. Por que vemos escolas tão ruins como as que são mostradas aqui?
Quem ganha com isso? Pra mim isso é motivo de vergonha e acho que isso
envergonha todo Brasil.
Não ofendi nem insultei ninguém, mas se alguém se sentiu tão ofendido ou
agredido, peço desculpa pois não era essa a intenção.
Eu tenho vontade, gostaria que minha escola fosse uma escola modelo e vou
fazer o possível pra isso
eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos
aula (de matemática)
Muitos me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é
bem assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de
curtidores inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar,
mas agora não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.
Eu estou aprendendo muito com tudo isso, até mesmo como funciona as
coisas públicas e se de alguma forma e a minha intenção sempre ajudar a
melhorar a escola para todos.
Acho até que sei represália, mais comigo pressão não funciona, tudo que
acontecer eu vou postar aqui.
Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar
de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não
nós não temos medo de ninguémnós fazemos isso para tentar ajudar, mais também estudamos, e muito
media 5 ?? Nunca vai ser nota . Pelo menos pra mim a media é 7, e eu nunca
baixo disso.
eu estou aberta para qualquer foto de qualquer escola que alguém queira
colocar aqui, se alguém quiser é só entrar em contato por aqui
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE
Categoria: EU (Isadora Faber)
147
AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro
Atribuições Atribuições
muito feliz (pelo alcance da página) estou muito feliz
não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou mostrando o
que de fato é a pura realidade
não autorizamos a participaçao da Isadora em nenhuma campanha eleitoral, ela
não tem vínculo com nenhum partido e não vai participar de nenhum programa
eleitoral. (PAIS DE ISADORA)
tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade
sobre as escolas públicas. cada vez que eu desanimo eu leio as mensagens eU volto a me sentir forte
sou a unica administradora dessa página
Agradeço a todos que gostam e elogiam meus posts. Depois de tudo que
aconteceu, é claro que meu pai ou minha mãe tão olhando tudo antes que eu
faça a postagem, fazendo a revisão geral do meu texto (pontuação e
acentuação principalmente, MAS estou aprendendo). Agora, quanto ao
conteúdo, são opiniões minhas. Claro que escuto muito meus pais, minhas
irmãs, não só sobre a página mas sobre tudo, nem sempre concordamos mas
sabemos nos respeitar. Eu não tinha muito conhecimento das coisas, mas eu
tenho lido o que vcs comentam, vários colocam vídeos, links, textos, cada um
dando seus palpites... e eu vou lendo, me informando, concordo ali, discordo
aqui, pergunto as coisas e vou formando minha opinião, apenas isso. Tem um
monte de coisas que não sei nada então prefiro não comentar. Fico
comparando minha escola com da minha irmã do meio porque é a única que eu
conheço além da minha e vejo a rotina dela. Minha irmã mais velha é
Engenheira de Computação, se formou em uma Universidade Federal com 22
anos, hoje tem 24, trabalha e já tem a casa dela, tá sempre conectada com tudo,
o namorado dela também é Engenheiro de Computação, outro louco, sempre
conectado. Na minha casa todos dias tem jornal, meu pai sempre foi assinante,
tv cabo, internet e cada um tem seu note. Meus pais trabalham com produção
e edição de vídeos, eu e minha irmã do meio ajudamos às vezes, puxando
cabos, segurando microfones, iluminando, segurando rebatedor, essas coisas.
Minha vó mora conosco, ela tem uma doença degenerativa e HÁ algum tempo
esta na cadeira de rodas, sempre que chego da escola ajudo a mãe dando
almoço pra ela. Tem 2 cachorros aqui em casa também, o Ziggy e o Difé (tem
esse nome pq ele é de fé mesmo... quem conhece sabe). Como vcs podem ver,
estudo em escola pública mas tenho acesso a muita informação e tento tirar
proveito disso. Estou fazendo este post agora porque me dei conta que nunca
tinha me apresentado, pra vocês saberem um pouco mais de mim. Ahh... meu
aniversário é 16 junho, nasci às 8:04 h em 1999 na Maternidade Carmela Dutra
em Florianópolis.
eu estou aberta
Fazem pouco mais de dois meses de Diário. Muita coisa mudou, nunca pensei
na repercussão que ia dar. Olhando tudo que aconteceu, fico feliz em ver que
as coisas que mostrei foram consertadas, a quadra parece que vai ser pintada,
a APP foi formada e outras coisas. Me perguntam muito o que vai ser agora
que a escola foi reformada, se vou seguir com Diário. Hoje penso diferente,
penso maior. Penso que se minha escola pode melhorar, por que não as
outras? Não só de Florianópolis, mas de todo Brasil. Por que vemos escolas
tão ruins como as que são mostradas aqui? Quem ganha com isso? Pra mim
isso é motivo de vergonha e acho que isso envergonha todo Brasil. Será que
pensam que enganam alguém com índices, cotas? Será que os outros países
acreditam nisso? Você acredita nisso? Eu acho que o Brasil finge que a
educação tá boa para impressionar os outros como se todos fossem bobos.
Recebi fotos que parece qualquer coisa, menos escolas, por que isso? Se a
gente é o país do futebol, do samba, por que não ser o país da educação? Não
seria legal ser conhecido por ser o país de melhor educação do mundo?
Sermos respeitados em qualquer lugar como um povo culto, inteligente e
educado? Acho que sendo assim, o resto vem junto, pois nenhum povo
educado e inteligente não vai deixar a saúde de lado por exemplo. Vontade de
mudar já vi que muitos tem, então o que falta? Eu tenho vontade, gostaria que
minha escola fosse uma escola modelo e vou fazer o possível pra isso, espero
que um dia algumas pessoas entendam e me ajudem também. E vcs, sabem
como vai a escola dos seus filhos? Sabe se esta faltando professor? Sabe o
que ele comeu hj? Sabe o que ele aprendeu hj? O que ele faz quando não tá na
escola, você sabe? Podemos começar assim, não é tão difícil... os estudantes
tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar quietos. Muitos
me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é bem
assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de curtidores
inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar, mas agora
não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.
preciso do apoio de vocês (colegas)
estou chegando agora do curso Kumon que é tipo aulas ''particulares''. Eu
recebi uma bolsa para estudar inglês e começo amanhã, vai me ajudar muito e
eu fiquei bem feliz pela oportunidade.
faço pra nós, não entendo porque vocês não gostam
Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,
manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,
estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não
deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo
minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.
Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para
isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido
nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da
educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar
é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando
tem.
Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.
a partir de agora iremos (eu e meus pais) começar a deletar post de pessoas
desinformadas que fazem perfis fakes que não se identificam para publicar
ofensas e mentiras e verdadeiros perseguidores que estão fazendo páginas
igual a minha só para promover intrigas com fofocas( páginas sem
identificação do responsável). Criticar tudo bem, mas com responsabilidade e
com perfil verdadeiro, por favor. Não tenho medo de críticas, mas tenho medo
de pessoas maldosas e covardes que não tem sequer coragem de se
identificar. Espero que entendam.
estudo na escola desde a primeira série e agora estou na sétima
Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,
manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,
estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não
deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo
minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.
Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para
isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido
nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da
educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar
é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando
tem.
―Se te disseram que prá não virar a mesa, Se te disseram que o ataque é a
pior defesa, Se te disseram prá esperar a sobremesa, Ouça o que eu digo
não ouça ninguém‖ - Esse refrão diz muito por eu ter criado essa página,
mas eu não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou
mostrando o que de fato é a pura realidade.
Não tenho medo de críticas, mas tenho medo de pessoas maldosas e covardes
que não tem sequer coragem de se identificar.
eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das conversas...
do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por
isso falo... falo pq sei o que acontece
Me perguntam muito o que vai ser agora que a escola foi reformada, se vou
seguir com Diário. Hoje penso diferente, penso maior. Penso que se minha
escola pode melhorar, por que não as outras? Não só de Florianópolis, mas de
todo Brasil. Por que vemos escolas tão ruins como as que são mostradas aqui?
Quem ganha com isso? Pra mim isso é motivo de vergonha e acho que isso
envergonha todo Brasil.
Não ofendi nem insultei ninguém, mas se alguém se sentiu tão ofendido ou
agredido, peço desculpa pois não era essa a intenção.
Eu tenho vontade, gostaria que minha escola fosse uma escola modelo e vou
fazer o possível pra isso
eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos
aula (de matemática)
Muitos me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é
bem assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de
curtidores inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar,
mas agora não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.
Eu estou aprendendo muito com tudo isso, até mesmo como funciona as
coisas públicas e se de alguma forma e a minha intenção sempre ajudar a
melhorar a escola para todos.
Acho até que sei represália, mais comigo pressão não funciona, tudo que
acontecer eu vou postar aqui.
Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar
de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não
nós não temos medo de ninguémnós fazemos isso para tentar ajudar, mais também estudamos, e muito
media 5 ?? Nunca vai ser nota . Pelo menos pra mim a media é 7, e eu nunca
baixo disso.
eu estou aberta para qualquer foto de qualquer escola que alguém queira
colocar aqui, se alguém quiser é só entrar em contato por aqui
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE
Categoria: EU (Isadora Faber)
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AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro
Atribuições Atribuições
viram a cara pra mim tomara que venha um um prof. bem legal com bastante vontade de ensinar
esse dai não ensina nada nenhum professor e funcionário da escola não curtiu minha página
ele tenta mais não consegue manter a turma em silencio
Vejo outros professores falando que são alunos que quebram, eles nos
chamam de pirralhos, depredadores, pestinhas, diabinhos e etc. Mas é certo o
professor ver e não fazer nada?? Existem alunos e alunos assim como
professores e professores, concordo que estragar é errado, mas mais errado
ainda é ver e não fazer nada.
até agora nenhum professor da escola tinha visitado a minha página,
porque tanta visibilidade?
Eu vejo aqui na minha página alguns professores que falando que eles não
estão lá para educar que educação vem de casa, que eles estão lá para ensinar.
Mas eles também falam que a escola é a segunda casa então acho que eles
pelo menos tem que por limites ''educar'' se não não seriam educadores e sim
ensinadores.
Alguns professores falam que é a pior profissão do mundo, mais se eles
ficarem parados da no mesmo porque estão recebendo de qualquer jeito.
Parabéns Professores pelo seu dia! Ser Professor não é apenas lecionar.
Ensinar não é só transmitir conhecimentos. Ser Professor é ser instrutor e
amigo, guia e companheiro, é caminhar com o aluno, passo a passo, é
transmitir a esses os segredos da caminhada. Ser Professor é ser exemplo.
Exemplo de dedicação, de doação, de dignidade pessoal e sobretudo de amar.
Meu carinho e gratidão aos Professores que sabem, além de transmitir seus
conhecimentos, transmitir-nos sua experiência e apoiar-nos em nossas
dificuldades. Parabenizo também àqueles que limitam-se apenas a transmitir
conhecimento. (AUTOR DESCONHECIDO)
Por favor se não gosta da profissão muda, mais agora ficar parado
encostado na porta só faz com que a nossa vida piore e atrase.
vejo muitas reclamações por parte dos professores da pouca participação dos
pais na escola.
Quando temos aulas com auxiliares elas dão um texto e uma pergunta e é
sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor aproveitado.
aula com a diretora teve um rendimento que com auxiliar não tem
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Categoria: Professores
AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro
Atribuições Atribuições
alguns colegas que não pensam na gravidade da coisa acham tudo
engraçado e não enxergam o perigo a situação.
alguns alunos ficam zoando da minha cara e os funcionários não fazem nada
além de rir
alunos que estão depredando nossa escola e isso só está sendo como uma
iniciação para que eles se tornem marginais
os estudantes tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar
quietos.
os maus, que roubam, que quebram, que estragam a escola, que agridem os
outros, esses sim deveriam sofrer puniçãoi!
Os alunos não estão acostumados a estudar, fazer deveres, trabalhos como os
outros alunos de escolas particulares. Se for aplicar uma prova de uma boa
escola particular na minha sala, todo mundo sai mal, inclusive eu, não temos
chance alguma.
alunas da escola estão exigindo a punição
não gostam (da página)
não precisam estudar por causa da aprovação automática e aí viram
marginais
eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos
aula (de matemática)
Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar
de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não
alguns alunos ficam brabos com a gente porque aparecem no vídeo ou na
foto nos xingam e tudo, agora me responde porque tem tanto medo da
câmera ?? É obvio que ja fez algo errado, é não quer que mostrem mais se
tem medo, para de errar.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE
Categoria: Alunos da escola
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Atribuições Atribuições
viram a cara pra mim funcionários ficarem fazendo cara feia
Além disso quando vou até o refeitório as cozinheiras, começam a falar de
mim, na minha frente e ri nenhum professor e funcionário da escola não curtiu minha página
alguns alunos ficam zoando da minha cara e os funcionários não fazem nada
além de rir
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Categoria: Funcionários