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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO UNESP FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SILVIA REGINA FERREIRA IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK: UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER BAURU 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

JULIO DE MESQUITA FILHO – UNESP

FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

SILVIA REGINA FERREIRA

IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:

UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER

BAURU

2013

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SILVIA REGINA FERREIRA

IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:

UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Comunicação Midiática da

Universidade Estadual Paulista – UNESP,

como requisito para a obtenção do Título de

Mestre em Comunicação Midiática, sob

orientação do Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho.

BAURU

2013

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Ferreira, Silvia Regina.

Identidade, Comunicação e Cidadania no Facebook:

Uma análise do Diário de Classe de Isadora Faber /

Silvia Regina Ferreira, 2013

149 f. il.

Orientador: Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho

Dissertação (Mestrado)– Universidade Estadual

Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e

Comunicação, Bauru, 2013

1. Diário de Classe. 2. Ciberativismo. 3. Facebook. 4. Identidade 5. Isadora Faber. I.

Universidade Estadual Paulista. Faculdade de

Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título.

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SILVIA REGINA FERREIRA

IDENTIDADE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA NO FACEBOOK:

UMA ANÁLISE DO DIÁRIO DE CLASSE DE ISADORA FABER

Área de Concentração: Comunicação Midiática

Linha de Pesquisa: Processos midiáticos e práticas socioculturais

Banca examinadora em 28 de agosto de 2013:

Presidente: Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho (orientador)

Instituição: FAAC, UNESP – Bauru

________________________________________

Titular: Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi

Instituição: FAAC, UNESP – Bauru

________________________________________

Titular: Prof. Dr. Mirna Tonus

Instituição: UFU - Uberlândia

________________________________________

Bauru, 28 de agosto de 2013

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Ao poder da fé, da amizade e da música.

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Agradecimentos

A Deus, pela fé que me trouxe até aqui e que me levará adiante, sempre provando em todos os

rumos tortuosos a orientação para o caminho certo.

À minha primeira família: pai, mãe e irmãos, que sempre me apoiaram, me incentivaram e me

ensinaram os valores humanos sobre os quais se apoiam qualquer título acadêmico ou escolha

de vida. Especialmente à minha mãe, pelo abraço mais gostoso do mundo.

À minha grande segunda família, amigos e mães adotivas de Bauru que sempre estiveram ao

meu lado oferecendo apoio incondicional: Fernanda Miguel, amiga, irmã, ponto de equilíbrio,

sem a qual eu não seria boa parte do que sou hoje, e toda a família que veio no pacote,

especialmente a mãe preta, tia Cida, pelo carinho e cuidado de sempre; Dairinha, mais que

uma companheira de república, minha irmã, orgulho e inspiração para toda a minha vida e

trajetória acadêmica; Julia, por mostrar tudo o que a simplicidade pode alcançar; Julian, pela

parceria e amizade incondicional, na vida e no trabalho, na música que nos une; Também o

Léo, o Thauan e o Thiago, da banda 12 Cordas, pelas alegrias de sempre; Dri, outra mãe

adotiva, pelos abraços, carinhos, conversas, risadas, conselhos e oportunidades; Mila, mais

uma mãe adotiva, pela confiança, incentivo e pelo dom das palavras certeiras; Norba Motta,

meu maior mestre sem nível universitário; Carla e Vê, pela pureza, sincronia e gratuidade de

sentimento em qualquer distância.

Ao orientador Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho e à Prof. Dra. Maria Cristina Gobbi, tia Cris,

eterna madrinha, por todo conhecimento compartilhado, compreensão, paciência, olhar e

gesto acolhedores que me fortaleceram para que eu concluísse este trabalho. Ao Silvio

Decimone, pela ajuda fundamental na reta final, ao Prof. Dr. Maximiliano Martin Vicente

pelas contribuições na banca de qualificação e à Profa. Dra. Mirna Tonus pelos brilhantes

apontamentos e por ter aceitado tão prontamente o convite para a banca de defesa.

À Erica Franzon, pela troca de experiências e conhecimentos que proporcionaram tanta

serenidade na redação deste trabalho. Aos amigos da Maisque Comunicação Digital, Ivaldo,

Rodrigo, Júnior, Ivan e Kage, pelo apoio, compreensão, paciência e amizade inesquecíveis.

Ao amigo de São José dos Campos, Dudu Marino, que garantiu a leveza do retorno às origens

para que este trabalho pudesse ser concluído com mais alegria.

Ao Instituto Embraer de Educação e Pesquisa e a todos os educadores que plantaram em mim

as sementes da sede do saber, especialmente Daniel Leite, pelo incentivo de sempre, e Aline

Néto, que despertou meus primeiros olhares para a educomunicação.

À Faac/Unesp e seu corpo docente, pelo ensino de tantos anos, e à Capes, pelo financiamento

desta pesquisa.

Aos poetas, compositores e humanos admiráveis que inspiram sensibilidade mesmo nas

tarefas mais técnicas.

E a todos que me provam todos os dias que é impossível ser feliz sozinha!

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O que prevalece agora é essa maneira nova de sentir a vida.

Essa perspectiva que me faz admirar, incansáveis vezes, antigas preciosidades.

Essa vontade de bendizer tantas maravilhas.

Esse sentimento de gratidão pelas coisas mais simples que existem.

Esse jeito mais amigo de ouvir meu coração.

O que prevalece agora é essa apreciação mais desperta,

que me permite reinaugurar flores e céus e pessoas no meu olhar.

Essa graça que encontro, de graça, nos detalhes mais singelos.

O que prevalece agora é a confortável suposição de que,

por trás de tantas e habituais nuvens,

esse contentamento faz parte da nossa natureza.

Os problemas, os desafios, as limitações, não deixaram de existir.

Deixaram apenas de ocupar o espaço todo.

Ana Jácomo

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Resumo

No dia 11 de julho de 2012 a jovem estudante Isadora Faber, de 13 anos, criou uma página no

Facebook chamada ―Diário de Classe‖. O objetivo era utilizar o espaço para denunciar

deficiências da educação pública no Brasil a partir sua realidade particular, vivida na escola

Ebm Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC). Depois de despertar a atenção da

imprensa e ganhar repercussão nacional, o caso ilustrou diversas perspectivas sobre as novas

formas de expressão e conversação trazidas por tecnologias da informação, especialmente

sites de redes sociais como o Facebook. Ao analisar o conteúdo presente no Diário de Classe,

no contexto das reações sociais e midiáticas à página, o presente trabalho permite observar de

que maneira os atores sociais constroem identidades e reforçam cidadanias em ambiente

social. Para isso, investiga, sob a perspectiva intercultural de Néstor García Canclini, como as

apropriações do Facebook em diálogo com a mídia tradicional possibilitam a participação

social e favorecem o ciberativismo em um contexto de modernidade reflexiva.

Palavras-chave: Diário de Classe; Ciberativismo; Facebook; Identidade; Isadora Faber.

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Abstract

On July 11th 2012, a young student called Isadora Faber, 13 years old, created a page on

Facebook called "Diário de Classe" - gradebook. The target was use the tool to report

deficiences of public education in Brazil from her particular reality, experienced in school

Maria Damázio Coelho, in Florianópolis (SC). After getting press attention and gaining

national visibility, the case illustrated several perspectives on new forms of expression and

conversation brought by information technology, especially from social networking sites such

as the Facebook. By analyzing the content present in "Diário de Classe", in the context of

social and media reactions to the page, this work allow us to observe how social actors

construct identities and reinforce citizenship in social environment. To reach this, investigates

with intercultural perspective of Néstor Garcia Canclini, how Facebook's appropriation in

dialogue with the traditional media allow social participation and favor cyberactivism in a

context of reflexive modernity.

Keywords: Diário de Classe; Cyberactivism; Facebook; Identity; Isadora Faber.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura1: Explicando as mídias sociais.....................................................................................27

Figura 2: Tela inicial do TheFacebook em Fevereiro de 2004................................................51

Figura 3: Crescimento do Facebook no Brasil, segundo a revista Veja..................................53

Figura 4: Facebook em primeiro lugar entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking

Alexa em 14/05/2013................................................................................................................54

Figura 5: Orkut na posição 53 entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa

em 14/05/2013.......................................................................................................................... 54

Figura 6: Tempo gasto por brasileiros no Facebook...............................................................60

Figura 7: Tempo gasto pelos brasileiros nas redes sociais......................................................60

Figura 8: Página inicial do Facebook......................................................................................61

Figura 9: Parte de um perfil no Facebook...............................................................................62

Figura 10: Linha do tempo no Facebook.................................................................................63

Figura 11: Atualização de status no Facebook...................................................................66

Figura 12: Home do Facebook para usuário cadastrado..........................................................66

Figura 13: Visão da lista de contatos integrado ao feed de notícias do Facebook..................69

Figura 14: Caixa de mensagens e lista de contatos do Facebook............................................69

Figura 15: Página do grupo ―Mestrado em Comunicação – FAAC – Unesp‖ no

Facebook...................................................................................................................................70

Figura 16: Calendário de eventos no Facebook.......................................................................71

Figura 17: Página de eventos no Facebook.............................................................................72

Figura 18: Página de cadastro de fanpages..............................................................................73

Figura 19: Exemplo de fanpage – visualização para usuário...................................................74

Figura 20: Página de estatísticas de uma fanpage...................................................................75

Figura 21: Exemplo de aplicativo ativo em fanpage...............................................................76

Figura 22: Anúncios sociais no Facebook...............................................................................77

Figura 23: Promoção de publicações em fanpages..................................................................78

Figura 24: Promoção de publicações pessoais no Facebook...................................................79

Figura 25: Marcação de fotos no Facebook.............................................................................80

Figura 26: Visualização de imagem + texto no Facebook.......................................................82

Figura 27: Postagem de imagem + texto no feed de notícias..................................................82

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Figura 28: Feed de Notícias. Destaque da imagem no fluxo de informação...........................83

Figura 29: Resultado da pesquisa de Dan Zarella...................................................................84

Figura 30: Visualizações de vídeo na internet brasileira.........................................................86

Figura 31: Publicidade associada a contexto emocional na fanpage do Guaraná Antártica no

Facebook...................................................................................................................................88

Figura 32: Página do Diário de Classe em 29/08/2012...........................................................92

Figura 33: Exemplos de denúncias no Diário de Classe..........................................................93

Figura 34: Nota sobre o Diário de Classe na p. 2 do Diário Catarinense em 14/08/2012.......94

Figura 35: Página do Diário de Classe Mário Quintana..........................................................94

Figura 36: Isadora Faber anuncia que é a única administradora do Diário de Classe.............95

Figura 37: Origens geográficas dos usuários alcançados pela fanpage Diário de Classe em

25/08/2012................................................................................................................................95

Figura 38: Comentários sobre vandalismo............................................................................111

Figura 39: Comentários sobre cultura japonesa 1..................................................................112

Figura 40: Comentários sobre cultura japonesa 2.................................................................112

Figura 41: Comentários sobre representações.......................................................................113

Figura 42: Comentário no blog do Nassif..............................................................................115

Figura 43: Postagem na página ―Ebm Maria Tomázia Coelho‖............................................117

Figura 44: Postagem na página ―Nossa Verdade‖.................................................................118

Figura 45: Manchete do Diário Catarinense em 30/08/2012................................................ 120

Figura 46: Postagem de um Diário de Classe da oposição................................................... 124

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Análise temática quantitativa ............................................................................... 106

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12

CAPÍTULO 1

A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE CONVERSAÇÃO..................13

1.1. Internet e TICs: Novas possibilidades de interação social..............................................15

1.2. As expressões no cotidiano das redes sociais .................................................................. 21

1.3 . O afloramento de novas identidades .............................................................................. 32

1.3.1. Ciberjornalismo, Blogs e Jornalismo Cidadão ............................................................. 37

1.3.2. O interesse público na dinâmica do mercado ............................................................... 42

CAPÍTULO 2

O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL ............................................................... 47

2.1 Histórico ........................................................................................................................... 49

2.2. Características e apropriações ..........................................................................................59

2.2.1. Perfil pessoal e linha do tempo .................................................................................... 61

2.2.2. Atualização de status, feed de notícias e recursos de interatividade ............................65

2.2.3. Bate-papo, eventos e grupos .........................................................................................68

2.2.4. Fanpages e publicidade .................................................................................................73

2.2.5. O fenômeno dos objetos estéticos: foto e vídeo .......................................................... 79

CAPÍTULO 3

ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE ......................................................................90

3.1. Uma proposta de ciberativismo no Facebook ..................................................................92

3.2. Eixo teórico-metodológico................................................................................................99

3.3. Técnicas ..........................................................................................................................102

3.4. Aplicações e Resultados .................................................................................................105

3.4.1. Perfil geral das postagens.............................................................................................105

3.4.2. Análise Temática e Representações .............................................................................107

3.4.2.1. Entre denúncias e resoluções.................................................................................... 108

3.4.2.2 Identidade e reflexividade ........................................................................................122

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................127

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................129

ANEXOS ...............................................................................................................................135

Anexo I: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 1 .........................................................136

Anexo II: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 2 ........................................................140

Anexo III: Nota da Secretaria da Educação de Florianópolis ............................................... 144

Anexo IV: Representações Sociais no Diário de Classe ........................................................146

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INTRODUÇÃO

A lucidez com que muitos autores falaram sobre o nosso presente há anos e até

décadas atrás nos diz muito sobre a importância de nos voltarmos ao passado analógico com

mais atenção. É inquietante absorver obras como as de Marshall McLuhan, Manuel Castells,

Nestor García Canclini, entre outros, sabendo que as visões de futuro que desenvolveram

foram gestadas sem a presença da internet na vida cotidiana. Eles nos alertavam que a cultura

digital traria uma transição de momentos históricos repleta de incertezas. Mas também

mostravam que a nova e instável dinâmica social seria uma certeza. Uma transição, por

definição, concilia aspectos do passado com percepções do presente e tendências do futuro.

Com tal entendimento, esta pesquisa se alia à necessidade de compreender como a autonomia

comunicativa dos sujeitos e a apropriação das tecnologias da informação definem e redefinem

reflexivamente a dinâmica deste momento histórico, favorecendo o desenvolvimento social.

Nesse sentido, o primeiro capítulo discute o desenvolvimento das formas midiáticas de

expressão e conversação social, o papel da internet e das redes sociais na realidade

contemporânea da comunicação e sua participação no afloramento de novas identidades,

atores e papeis sociais. Na articulação dessa discussão, destaca o papel da imprensa na difusão

e organização de informações da vida social para o debate sobre a política vigente.

Depois, o segundo capítulo ressalta fundamento, características e alcance do

Facebook, um site de rede social que se articula de uma maneira muito estratégica nesse

processo, tanto pela massiva adesão de usuários quanto pela sua influência no cotidiano das

relações sociais. Por fim, no terceiro capítulo, parte para o estudo de um caso específico de

ciberativismo, o fenômeno ―Diário de Classe‖, que torna observável o modo como as

apropriações dessa ferramenta possibilitam a participação sociopolítica. Trata-se de uma

página do Facebook criada por Isadora Faber, uma jovem de apenas 13 anos, para denunciar

deficiências da educação pública no Brasil a partir de uma realidade particular, vivida na

escola Ebm Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC), onde ela estuda. Com uma

análise de conteúdo da página, no contexto de reações sociais e midiáticas a ela, sob a

perspectiva intercultural de Néstor García Canclini, busca-se compreender de que maneira os

atores sociais se envolveram nos processos de elaboração de significados das relações

intergrupais e intersubjetivas, identificando possibilidades de transformação cultural pelo

exercício reflexivo da cidadania.

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Capítulo 1

A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE CONVERSAÇÃO

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“Mas é sempre o que acontece na vida: imaginamos representar um papel numa determinada

peça e não percebemos que os cenários foram discretamente mudados, de modo que, sem

saber, devemos atuar num outro espetáculo.”

Milan Kundera

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1. A COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DE

CONVERSAÇÃO

1.1 Internet e TICs: Novas possibilidades de interação social

A partir de quando se começou a falar tanto de comunicação em nossa sociedade? As

técnicas que permitiram as mais variadas expressões na história humana sempre existiram e

foram utilizadas. Mas, diante dessa pergunta, Breton e Proulx (2006) concluíram que, na

história recente, existe uma recorrência sistemática à comunicação não apenas como técnica,

mas como valor central para explicar todo tipo de problema social e econômico. Mesmo

organizando suas pesquisas com o recorte voltado à comunicação social (ou comunicação

mediatizada), eles também reconheceram a importância de destacar os contextos culturais no

aparecimento e no uso das técnicas de comunicação. Não à toa, a constituição do campo no

século XX foi profundamente marcada pela interdisciplinaridade, sob o signo de um contexto

social totalmente novo: a Revolução Industrial. Nesse momento, o crescimento da população

e uma nova ordem econômica criaram os consumidores potenciais, reunidos nas cidades em

expansão rápida (RIOUX, 1975).

Esse panorama, proporcionado pela efervescência dos estudos inspirados na sociedade

tecnológica, nos permite olhar com os mesmos olhos para a antiguidade, em perspectiva

histórica mais segura. A consolidação do alfabeto grego parece ter sido animada, ao mesmo

tempo, ―por uma estimulação social e por um princípio de economia interna que aproximava

cada vez mais a língua escrita e a língua falada‖ (BRETON; PROULX, 2006, p.19), com a

finalidade de guardar informações, auxiliando a circulação de bens e ideias e viabilizando

uma legítima manifestação dos usos sociais da escrita como meio de dominação pela

mentalidade letrada. Em uma análise mais atual, para tratar sobre rumos da exclusão digital

Lévy (1999) destaca que cada novo sistema de comunicação fabrica seus excluídos,

oferecendo a percepção de que alguns fenômenos da mídia são mais antigos do que em geral

se imagina.

Em sequência, a invenção da tipografia aliada à revolução da prensa gráfica deu

origem ao primeiro bem de comércio uniformemente reproduzível, à primeira linha de

montagem e à primeira produção em série. Até meados do século XX, os vastos setores

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excluídos da esfera pública burguesa poderiam incorporar-se às deliberações de interesse

comum à medida que fossem assimilando a cultura letrada, enquanto a esfera plebeia informal

se organizava em torno do oral e do visual. Pouco a pouco, foram sendo estabelecidas outras

maneiras de se informar, de entender as comunidades a que se pertenciam, de conceber e

exercer os direitos, favorecendo a racionalidade burocrática das organizações e manifestações

de massa da sociedade moderna. Mais uma vez, os meios eletrônicos mostraram a capacidade

de deslocar o desempenho da cidadania em relação às práticas de consumo. Como eles não se

diferenciam apenas em termos tecnológicos, mas incorporam um conjunto de relações sociais

que interagem com as características da nova tecnologia (MCQUAIL, 2002), a influência

desses meios aliada à dinâmica da sociedade de consumo constitui a principal razão da crise

da noção histórica e da crise das meta-narrativas modernas. Estas, criadas em plataformas

múltiplas, por diferentes atores em velocidades inadmissíveis à percepção humana,

atualmente se opõem às clássicas ideologias consolidadas, se fundem e se anulam em

processos que desafiam os tradicionais pilares da ciência e da construção do conhecimento.

Apesar de todos os alertas de mudanças paradigmáticas a favor do caos, a eficácia da

comunicação sempre se relacionou às interações de colaboração e transação entre uns e

outros, de modo que a presente investigação privilegia abordagens sobre a obtenção e a

difusão da informação até o crescimento das redes. Entende-se que, ao percorrer esse

caminho, é possível identificar possibilidades da realidade atual para o exercício da cidadania

e fortalecimento da democracia. Na articulação desse processo, vale destacar o papel da

imprensa, que surgiu como uma extensão especializada e devidamente institucionalizada na

difusão e organização de informações da vida social, adicionando ao fluxo de mensagens o

estímulo ao pensamento, ao senso crítico e ao debate sobre a política vigente.

O jornalismo surgiu, aliás, sem saltos, decorrendo lentamente de práticas que pouco

a pouco se aperfeiçoavam. Já no século XV se notava o uso de avisos, sob condição

de reciprocidade e por meio dos quais alguns centros populosos se comunicavam

com outros, dizendo e recebendo informações. As lutas religiosas vulgarizaram

essas praxes, e a intensificação das permutas foi melhorando regularmente o serviço,

criando profissionais que dele se encarregavam. O emprego da imprensa, nesse

processo de divulgação de novidades, veio criar os primeiros ensaios de jornalismo

com as publicações, a princípio anuais e pouco depois semestrais. Daí se chegou aos

hebdomadários e um pouco mais tarde aos diários. (SOBRINHO, 1997, p. 18)

Tal consolidação também acendeu os primeiros impulsos de censura e limitação da

liberdade de expressão. A combinação de gazetas, pasquins e folhetos era vista por

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autoridades como prejudicial aos seus governos, e esses passaram a intervir severamente. Na

Inglaterra, por exemplo, novidades políticas só podiam ser publicadas com autorização da

Coroa. Sobrinho (1997) lembra que, ―quem tinha a sua ideia arriscada, a sua crítica política

menos oficiosa, temia o jornal e se açoitava nas gazetas manuscritas, que facilitavam a

clandestinidade, única segurança para seus autores‖ (p. 19). Dessa forma, as novidades

manuscritas conseguiram levar adiante o conhecimento dos eventos contemporâneos. Ainda

que o trabalho braçal e repetitivo do ―manuscrito em série‖ mantenha de certa forma a lógica

da prensa móvel gutenberguiana, é como se a velha e a nova mídia coexistissem, mostrando

que diferentes meios de comunicação podem competir entre si ou imitar um ao outro, bem

como se complementar.

No início da Europa moderna, assim como em outros lugares e períodos, muitas

vezes a mudança cultural foi mais aditiva do que substitutiva, especialmente nos

primeiros estágios de inovação. Como foi mostrado, a velha mídia de comunicação

oral e por manuscritos coexistiram e interagiram com a nova mídia impressa, assim

como esta, hoje uma mídia antiga, convive com a televisão e a Internet desde o

princípio do século XX. (BURKE; BRIGGS, 2006, p.74)

Genericamente, os jornais contribuíram para o conceito de esfera pública proposto por

Jürgen Habermas (2003). Isso aconteceu quando eles deixaram de ser meros veículos de

notícias para assumirem o compromisso de porta-vozes da opinião pública e meios de luta da

política partidária. E nessa negociação foi incluída uma base comercial, configurando a

imprensa como um jornalismo de pessoas privadas que prestam serviços públicos mediante

meios de comunicação de massa. Nesse novo contexto, entretanto, a esfera pública perde sua

exclusividade social, agregando conflitos que antes só eclodiam na esfera privada.

Na transformação pelo modelo liberal, em que o mercado regulava a si próprio, os

grupos não contemplados por essa dinâmica tendiam a buscar uma regulação mediante o

Estado. Assim, se antes as instâncias privadas defendiam o público, naquele momento elas

passam a debater interesses privados conflitantes entre si. Direitos sindicais e trabalhistas já

não podiam mais continuar sendo entendidos como um consenso racionalmente alcançado por

pessoas privadas na discussão pública.

Como consequência desse entrelaçamento dos domínios público e privado,

corporações, partidos e sindicatos passaram a operar em torno de compromissos políticos com

o Estado e entre eles mesmos e ao mesmo tempo buscavam garantir ao menos um

assentimento da massa, criando uma espécie de esfera pública ―publicitária‖.

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Consequentemente, enfraquecia-a por afasta-la do princípio originário da racionalidade

discursiva com vistas ao consenso. Como pontua Canclini, o mercado desacreditou do olhar

político como alternativa, exibindo-se de modo mais eficaz para organizar as sociedades,

submetendo a política às regras do comércio e da publicidade, do espetáculo e da corrupção.

Junto com a degradação da política e a descrença em suas instituições, outros modos

de participação se fortalecem. Homens e mulheres percebem que muitas das

perguntas próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me dá,

como posso me informar, quem representa meus interesses – recebem sua resposta

mais através do consumo privado de bens e dos meios de comunicação de massa do

que pelas regras abstratas da democracia ou pela participação coletiva em espaços

públicos. (CANCLINI, 2008, p.29)

Os meios de comunicação de massa (MCM) foram determinados como dispositivos

tecnológicos que possibilitavam o compartilhamento de informações para grandes audiências.

Sob esse ponto de vista, não caberiam interações dialógicas no nível microssocial, exercendo

influência social unilateral de alguns grupos sobre o conjunto da sociedade. A delimitação

teórica não anula, contudo, a existência de tais interações dialógicas. Elas sempre se

garantiram no nível da oralidade e de outras formas de expressão cultural e hoje se apoderam

das ferramentas tecnológicas para serem dialeticamente sintetizadas e tecnicamente

amplificadas. Como afirmou Lévy, da invenção da escrita decorrem as exigências muito

especiais da descontextualização dos discursos:

No regime clássico da escrita, o leitor encontrava-se condenado a reatualizar o

contexto a um alto custo, ou então restabelecê-lo a serviço das igrejas, instituições

ou escolas, empenhadas em ressuscitar e fechar o sentido. Ora, hoje, tecnicamente,

devido ao fato da iminente colocação em rede de todas as máquinas do planeta,

quase não há mais mensagens ―fora de contexto‖, separadas de uma comunidade

ativa. Virtualmente, todas as mensagens encontram-se mergulhadas em um banho

comunicacional fervilhante de vida, incluindo as próprias pessoas, do qual o

ciberespaço surge, progressivamente, como um coração. (LÉVY, 1999, p.118)

Nesse ―banho comunicacional fervilhante de vida‖, ao qual se refere Lévy, diluem-se

conceitos que Habermas utilizou para explicar a diferenciação de estruturas da sociedade

moderna no texto ―Mudança Estrutural da Esfera Pública‖, de 1962. Ao diluírem-se, tais

conceitos reagem e fervem catalisando múltiplas reações. Assim, o sistema definido por

Habermas como ―mundo da vida‖, esfera de reprodução simbólica, da linguagem e das redes

de significados que compõem as visões de mundo da sociedade a partir de fatos, normas e

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intersubjetividades, torna-se cada vez mais complexo, sobretudo pelo desenvolvimento

tecnológico.

Quando o reflexo das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) se

manifestava nos modos de gestão da empresa jornalística e da produção de notícias, o impacto

materialmente visível vinha de dentro das redações para o público externo. Mas, no atual

momento histórico, marcado pela popularização da internet e pela cultura do

compartilhamento nas mídias sociais, a facilidade de divulgação e legitimação do conteúdo

produzido pelo público influencia cada vez mais os modos de produção e seleção das notícias,

de modo que o sentido da mudança se inverte: o impacto se manifesta de fora para dentro a tal

velocidade que o percurso se torna invisível, intangível e quase impossível de ser rastreado.

Eventos multimídia não são, portanto, os únicos exemplos da interação entre diferentes meios

de comunicação. Conforme Ciro Marcondes Filho (2000), não há ‗responsáveis‘ por toda essa

virada na forma de se fazer jornalismo. É a civilização humana como um todo que se

transforma a partir de uma variável independente: a informatização.

Nesse contexto a esfera pública ganha diferentes configurações no campo da interação

social, incorporando novas atribuições conceituais, em consonância com sua evolução

histórica que sempre operou com uma concepção normativa ideal e com uma noção

historicamente localizada.

Nem subordinada ao Estado, nem dissolvida na sociedade civil, a esfera pública

reconstituiu-se simultaneamente na tensão entre ambos. Tendo em vista a reflexão

hermenêutica que se valeu igualmente das contribuições de Habermas e Bakhtin, a

esfera pública é ―um campo de tradições em concorrência‖, ―um espaço de

heteroglossia‖, em que ―certos significados e tradições são fortalecidos‖ (o papel do

Estado), ―mas, neste processo, novas forças podem atribuir diferentes significados

ou ênfases aos mesmos conceitos‖ (o papel da sociedade civil), evitando-se deste

modo os riscos de unilateralidade e autoritarismo. (CANCLINI, 2008, p.218)

Após analisar diversas linhas de pensamento reunidas na obra ―Teorias da

Cibercultura‖, Francisco Rüdiger definiu a cibercultura ―como uma formação prática e

simbólica, que expressa e, às vezes, articula para o homem comum as circunstâncias e

antagonismos humanos e sociais‖ (RÜDIGER, 2011, p. 285). Um contexto provocativo tanto

para as cadeiras acadêmicas metodologicamente fundamentadas quanto para os protagonistas

do movimento caótico do cotidiano.

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Nesse panorama, considerando também deficiências e lentidões no processo de

inclusão digital, não cabe investir exclusivamente na internet a expectativa de uma esfera

pública renovada. Trata-se apenas de tomá-la como um espaço catalisador de processos

interativos e viabilizador de uma ampla ―esfera conversacional‖, que surge com as chamadas

mídias de função pós-massiva, reconfigurando a paisagem comunicacional, conforme aponta

Lemos (2003). Ele explica que a reconfiguração se dá pela instituição de um novo sistema

(aberto, ―todos-todos‖, independente), a que chama de pós-massivo, em tensão com o sistema

clássico caracterizado pelo fluxo ―um-todos‖ da informação para as massas. Assim, desponta

no século XXI um sistema infocomunicacional mais complexo: o poder e a força dos

formatos massivos não são aniquilados, mas sim convivem com os formatos pós-massivos,

nos quais a emissão não é controlada, a conexão reconfigura a indústria cultural, as formas

sociais, a produção e a circulação de informações, levando a uma nova lógica para a

constituição da esfera pública.

Nos novos formatos comunicacionais pós-massivos, a conversação (consumo,

produção e distribuição de informação) é inerente ao sistema. Aqui a lógica

comunicacional, cada vez mais banal e planetária, não se baseia apenas no consumo

massivo para posterior conversação em uma esfera pública, como na estrutura

massiva clássica. (LEMOS, 2009, pp. 9-30)

Em outros termos, a conversação que outrora foi mediada e estimulada nos cafés e

praças pelo desenvolvimento do jornalismo, hoje também assume o papel de mediadora tendo

como pólos emissores e receptores cidadãos interconectados. É por isso que em nosso

percurso de pesquisa será recorrente o inevitável resgate de questões sobre o fazer

jornalístico, princípios fundadores e norteadores, atualizando-os e também tomando-os como

argumento e inspiração na qualificação dessa nova esfera conversacional, a fim de pensarmos

os desafios da política hoje. Como destaca Lemos, os efeitos dessa nova realidade não têm

solução fácil e merecem ser estudados amiúde.

A conversação nesse ―mundo da vida‖ não resolve, per si, os problemas do

engajamento político. No entanto, não podemos negar a força rejuvenescedora da

esfera pública e mesmo do jornalismo (a crise atual nada mais é do que uma

excelente oportunidade de renovação e fortalecimento). Há uma forte conotação de

resgate do ―mundo da vida‖ e do capital social na nova esfera pública

conversacional. O desafio é transformá-los em dimensão política eficaz. (...) Essa é a

aposta: que a conversação no ―mundo da vida‖ possa agir e tencionar politicamente

o ―sistema‖. (LEMOS, 2009, pp. 9-30)

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Com esse princípio, valem as ideias de Canclini, para quem os meios eletrônicos

deslocaram o desempenho de cidadania em relação às práticas de consumo. Segundo ele,

foram estabelecidas outras maneiras de se informar, de entender as comunidades a que se

pertence, de conceber e exercer os direitos, de modo que as pessoas não precisam se ater a

burocracias que adiam ou transferem suas necessidades. Dessa forma, Canclini estabelece o

próprio público como marco midiático, pois é esse público que apresenta múltiplos aspectos

da vida social por meio da tecnologia, reorganizando as funções dos atores políticos

tradicionais. ―Se alguma vez esta questão foi território de decisões mais ou menos unilaterais,

hoje é um espaço de interação no qual os produtores e emissores não só devem seduzir os

destinatários, mas também justificar-se racionalmente‖ (p. 62), argumenta, lembrando que a

racionalidade das relações sociais na sociedade contemporânea se revela na disputa em

relação à apropriação dos meios de distinção simbólica, e não mais dos meios de produção.

1.2. As expressões no cotidiano das redes sociais

Em 1996, o lingüista e filósofo estadunidense Noam Chomski esteve no Brasil e

concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva (2011), da TV Cultura. Na ocasião,

perguntaram-lhe o que ele achava da internet. A questão, que hoje parece generalista, era

plausível ao contexto da época, uma vez que as TICs apenas começavam a se manifestar no

cotidiano da população e os reflexos desse movimento na dinâmica da sociedade ainda eram

tímidos.

Embora pesquisadores de todo o mundo já estivessem trabalhando na tentativa de

identificar, avaliar e refletir sobre os impactos das TICs na comunicação midiática, o

ambiente online tal como se apresenta hoje, multimidiático e interativo, ainda não havia sido

incorporado aos hábitos dos cidadãos. Com essa perspectiva, Chomski respondeu: ―A

tecnologia em si é totalmente neutra. A internet será o que as pessoas fizerem dela‖. A

declaração, simples e direta, resume uma série de conceitos e expectativas sobre as influências

da participação social no ecossistema midiático. Os meios de comunicação de massa (MCM),

até então considerados dispositivos tecnológicos que permitiam o compartilhamento de

informações para grandes audiências, foram sendo absorvidos pela comunicação mediada por

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computadores (CMC), que assumia o usuário como receptor interativo. Esse panorama

condicionou cada vez mais o crescimento do ciberespaço, ―que, por sua vez, corresponderia

antes a um desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva‖ (LÉVY, 1999). Aqui

consideramos o ciberespaço como um espaço relacional, uma vez que nossa noção de espaço

é construída pela nossa percepção e por ela delimitada. Nesse caso, percebemos que o

ciberespaço é construído enquanto ambiente social e apropriado enquanto ambiente técnico.

No mesmo ano da entrevista de Chomski, Manuel Castells lançava o livro Sociedade

em Rede, afirmando que, conforme uma tendência histórica, as funções e os processos

dominantes na era da informação seriam cada vez mais organizados em torno de redes sociais.

A inclusão da maioria das expressões culturais no sistema de comunicação integrado

baseado na produção, distribuição e intercâmbio de sinais eletrônicos digitalizados

tem conseqüências importantes para as formas e processos sociais. Por um lado,

enfraquece de maneira considerável o poder simbólico dos emissores tradicionais

fora do sistema, transmitindo por meio de hábitos sociais historicamente

codificados: religião, moralidade, autoridade, valores tradicionais, ideologia política.

Não que desapareçam, mas são enfraquecidos a menos que se recodifiquem no novo

sistema. (CASTELLS, 1996, p. 461)

Ainda que a formação de redes sociais seja um fenômeno antigo1, a tecnologia da

informação incorporada ao cotidiano das pessoas viabilizou essa redecodificação de poderes

simbólicos de forma nunca antes vista, já que o surgimento da internet impôs uma

reorganização na distribuição das notícias comunitárias (NICOLA, 2003). Ao apresentar um

panorama dos contornos das complexas redes que compõem ambientes sociais importantes,

como governo, trabalho, comunicação, espaço, tempo, fronteiras, territórios, entre outros,

Castells mostra que as transformações da sociedade foram ocasionadas pelo avanço da

economia da informação e do conhecimento e subsidiadas por inovações tecnológicas nos

campos da comunicação. Recuero (2009) pontua que as ferramentas geradas por essas

inovações deixam rastros na rede de computadores, ―rastros que permitem o reconhecimento

dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros‖

(p.24).

1 Ao tratar a rede social como fenômeno antigo, tomam-se como referência as primeiras abordagens sobre o

assunto, que se distanciaram significativamente da noção utilizada no presente trabalho. Segundo Sílvia Portugal

(2007), as bases teóricas, metodológicas e empíricas dos estudos pioneiros sobre redes sociais resultaram da

procura de soluções para problemas teóricos e empíricos que os investigadores não conseguiam resolver à luz

dos quadros conceituais dominantes nas disciplinas interessadas – a sociologia, a psicologia social e a

antropologia. No decorrer das últimas décadas, a sociologia das redes sociais constituiu-se como um domínio

específico do conhecimento e institucionalizou-se progressivamente.

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Por esses pressupostos, seria conceitualmente equivocado aderir aos termos populares

que atribuem o status de redes sociais a ferramentas como Facebook, Twitter, Orkut,

Foursquare, Instagram, Youtube e Linkedin, por exemplo. No entanto, se considerarmos uma

rede social como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos: os

nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994;

Degenne e Forse, 1999 apud Recuero 2009), tais ferramentas se apresentam como relevantes

espaços amostrais da dinâmica da rede, delimitados por uma lógica de interação que favorece

o processo metodológico. Como defendeu a pesquisadora, esses sites ―não são exatamente um

elemento novo, mas uma consequência da apropriação das ferramentas de comunicação

mediadas por computador pelos atores sociais‖ (Recuero, 2009, p. 102).

Sites de redes sociais foram definidos por Boyd & Ellison (2007) como aqueles

sistemas que permitem i) a construção de uma persona através de um perfil ou

página pessoal; ii) a interação através de comentários; e iii) a exposição pública da

rede social de cada ator. Os sites de redes sociais seriam uma categoria do grupo de

softwares sociais, que seriam softwares com aplicação direta para a comunicação

mediada pelo computador. Embora esses elementos sejam mais focados na estrutura

do sistema utilizado pelos atores é, entretanto, na apropriação que reside a principal

diferença apontada pelas autoras. (RECUERO, 2009, p. 102)

A conversação nesses ambientes permite uma melhor visualização dos desafios que

passam pela caracterização de seus efeitos sociais: compreensão da estrutura, organização e

contexto na qual está inserida.

(...) a abordagem de rede fornece ferramentas únicas para o estudo dos aspectos

sociais do ciberespaço: permite estudar, por exemplo, a criação das estruturas

sociais; suas dinâmicas, tais como a criação de capital social e sua manutenção, a

emergência da cooperação e da competição; as funções das estruturas e, mesmo, as

diferenças entre os variados grupos e seu impacto nos indivíduos. (RECUERO,

2009, p.21)

Em outra obra, Recuero (2012) lembra que esse fenômeno da conversação das redes

sociais na internet não é oposto à conversação mediada, mas uma amplificação dela,

estabelecida de acordo com as características de cada rede, conforme veremos adiante de

maneira mais aprofundada. Segundo Kunczik (2002), muitos autores consideram que o

controle dos meios de comunicação é a mais importante fonte de poder da sociedade moderna,

pois eles seriam bases de poder de persuasão capaz de oferecer leituras e interpretações sobre

esses processos sociais cada vez mais complexos e difíceis de se compreender. Para ele, ―o

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resultado foi que tornou-se necessário depender cada vez mais das experiências dos outros e

das interpretações dos acontecimentos‖ (p.89).

Considerando que ―a comunicação não é eficaz se não inclui também interações de

colaboração e transação entre uns e outros‖ (Canclini, 2008, p. 60), aquele que fala, mais do

que um agente social, é uma diferença, uma fenda, uma busca do outro e da alteridade. Nesse

sentido, a reflexão de Kunczik hoje é mais objetivamente associada à realidade das redes

sociais do que à realidade que o inspirou para tal afirmação - a dos meios de comunicação de

massa. Assim como nos escritos de Canclini, seus ―hojes‖ podem ser contextualizados em

outro momento histórico sem prejuízo interpretativo.

No entanto, enquanto as redes sociais oferecem múltiplas possibilidades de conexão e

interpretação, assumindo a complexidade social ao invés de ignorá-la, a comunicação de

massa apresenta discursos totalizantes, uma vez que considera um denominador comum

mental das grandes audiências, que seria o mínimo da capacidade interpretativa de cada

destinatário. Apesar da essência dominadora desse paradigma, Pierre Lévy aponta seu aspecto

favorável à mobilização social: Ao negligenciar as singularidades do destinatário, a cultura de

massa ―totaliza‖, insere o indivíduo em um contexto amplo, ao passo que a cibercultura

desenvolve uma teia caótica descontextualizada que ―instaura, paradoxalmente, um outro

contexto holístico, quase tribal, mas em maior escala do que as sociedades orais‖ (LÉVY,

1999, P.116).

Nesse sentido, os efeitos mobilizadores dos sites de redes sociais precisam ser

observados a partir do modo como permitem a visibilidade, articulação e manutenção dos

laços sociais estabelecidos no espaço offline. A apropriação da ferramenta pelos atores é

influenciada também por uma estrutura com duplo aspecto. Como salientou Recuero (2009),

―por um lado temos a rede social expressa pelos atores em sua ―lista de amigos‖, ou

―conhecidos‖, ou ―seguidores‖. Por outro, há a rede social que está realmente viva através das

trocas conversacionais dos atores, aquela que a ferramenta vai manter‖ (p. 103). A maioria

das conexões é mantida apenas pelo sistema, não necessariamente por interações efetivas.

A partir dessas considerações, voltamos a visitar a questão da redecodificação de

poderes simbólicos preconizados por Castells.

Essa lógica de redes gera uma determinação social em nível mais alto que a dos

interesses sociais específicos expressos por meio das redes: o poder dos fluxos é

mais importante que os fluxos do poder. A presença na rede ou a ausência dela e a

dinâmica de cada rede em relação às outras são fontes cruciais de dominação e

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transformação de nossa sociedade: uma sociedade que, portanto, podemos

apropriadamente chamar de sociedade em rede, caracterizada pela primazia da

morfologia social sobre a ação social (CASTELLS, 2007, p.565)

Se os meios de comunicação de massa foram originalmente enraizados fora do sistema

político, mas acabaram ocupando um lugar dentro dele, as redes sociais buscam reassumir o

poder pela resistência, não necessariamente por gestos políticos, mas também pela livre

capacidade de expressão e significação pessoal. Segundo Bobbio (1983), a palavra ―poder‖

designa, em seu significado mais geral, a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir

efeitos. Ele especifica o sentido do poder no seu significado social:

Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja, na sua relação com a

vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu espaço

conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir, até à capacidade do homem em

determinar o comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O

homem é não só o sujeito mas também o objeto do Poder social. E poder social é a

capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um

Governo de dar ordens aos cidadãos. (BOBBIO, 1983, p.343-344)

Assim, redes sociais deixam de ser ferramentas para serem espaços conversacionais,

nos quais os contextos alimentam os rumos da interação e as formas de ser social produzem

impactos diversos na sociedade contemporânea. Ainda segundo Bobbio, ―o poder não deriva

simplesmente da posse ou do uso de certos recursos, mas também da existência de

determinadas atitudes dos sujeitos implicados na relação‖. Com esse esclarecimento, podemos

aplicá-lo à realidade social e ver quando existe, de fato, uma relação de poder.

Bobbio ressalta que um modo de medir o poder é determinar as diversas dimensões

que pode ter o comportamento em causa, o que explica mais uma vez a dificuldade de

sistematização dos efeitos das redes para sua compreensão: elas são, por definição,

multidimensionais e empoderam seus membros na medida do seu grau de distribuição e

conectividade. Augusto de Franco (2009) destaca, nesse caso, a diferença entre ―empoderar-

se‖ e ―apoderar-se‖:

Mas empoderar-se (no sentido de empowerment) é, de certo modo, o contrário de

apoderar-se (no sentido de se apossar de um recurso tangível ou intangível

estabelecendo um diferencial de acesso em relação a um conjunto qualquer de

sujeitos e, a partir daí, estabelecer um poder sobre esses sujeitos com base na

escassez desse recurso). (FRANCO, 2009, s/p)

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Em um movimento de desconstituição de hierarquia, os novos usos convergem da

coletividade em um processo não só de apropriação das redes, mas do poder oferecido por

elas. Vale ressaltar que nem sempre esse poder é utilizado em benefício da coletividade, já

que a autonomia na legitimação de conteúdos muitas vezes faz com que público e subjetivo se

confundam. Conforme apontaram Berger e Luckman (1966, p. 67), ―embora seja possível

dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo dizer que o homem constrói sua

própria natureza, ou, mais simplesmente, que o homem produz a si mesmo‖2. Neste sentido, a

realidade é uma construção social coletiva e ao mesmo tempo individual.

Para a construção do valor social nesse contexto, deve-se considerar dois aspectos

essenciais: o individual, que vem de interesses pessoais, e o coletivo, no qual o capital social

individual reflete-se na esfera coletiva do grupo. Seria assim, elemento fundamental para a

constituição e o desenvolvimento das comunidades o chamado capital social, que segundo

Putnam (2000 apud Recuero 2009, p.45) ―refere-se à conexão entre indivíduos – redes sociais

e normas de reciprocidade e confiança que emergem dela‖. Conforme resumiu Recuero:

Para Putnam, o conceito de capital social é intimamente associado à ideia de virtude

cívica, de moralidade e de seu fortalecimento através das relações recíprocas. Essa

ideia engloba dois aspectos essenciais para a construção do valor social: o individual

e o coletivo. O aspecto individual vem dos interesses dos indivíduos em fazer parte

de uma rede social para seu próprio beneficio. O aspecto coletivo vem do fato de

que o capital social individual reflete-se amplamente na esfera coletiva do grupo,

sejam eles como custos ou benefícios. É daí que vem a dupla natureza do conceito,

que pode englobar tanto bens privados como coletivos. (RECUERO, 2009, p. 45)

A percepção do capital social construído nos sites de redes sociais permite verificar o

tipo de valor construído em cada um deles. Segundo Bertolini e Bravo (2001), os valores mais

comumente relacionados aos sites de rede social são 1) A visibilidade entre conexões

(aumentar a visibilidade social tem efeitos na complexificação da rede e no capital social

obtido pelo ator); 2) A reputação (percepção construída de alguém pelos demais atores); 3) A

popularidade (valor relativo à posição de um ator dentro de sua rede social); e 4) A autoridade

(refere-se ao poder de influência de um nó na rede social). Esses valores correspondem ao

chamado primeiro nível de capital social, aquele que mantém uma rede social, mas não é

capaz de aprofundar os laços dessa rede. O segundo nível, segundo os autores, favorece a

2 Tradução nossa. Do original: ―while it is possible to say that man has a nature, it is more significant to say that

man constructs his own nature, or more simply, that man produces himself‖.

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institucionalização de um grupo social e seus valores não são facilmente obtidos nos sites de

redes sociais.

Tomamos a definição de Coleman (1990) - "A função identificada pelo conceito de

"capital social" é o valor dos aspectos da estrutura social para os atores, como recursos que

podem ser usados pelos atores para perceber seus interesses3" – e consideramos que cada site

de rede social é apropriado de maneira particular pelos atores. A partir disso, visualizamos

diferentes capitais sociais ao tratar sobre um mesmo assunto em diferentes sites de redes

sociais. Para exemplificar melhor esses valores, tomamos como exemplo uma explicação

irônica e bem humorada que circulou na internet com a intenção de diferenciar alguns dos

mais populares sites de rede social utilizados no Brasil (Figura 1).

Figura1: Explicando as mídias sociais4

3 Tradução nossa. Do original: ―the function identified by the concept of 'social capital' is the value of those

aspects of the social structure to actors, as resources that can be used by the actors to realize their interests". 4 Fonte original:

<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151586573226565&set=a.351844326564.189635.21030217656

4&type=1&theater>. Acesso em: 29/04/2013 às 15:52.

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Ainda que o exemplo seja simplório – tomar sorvete parece não dizer muito sobre

mobilização e cidadania – a simplificação é figurativa e pode ser mais amplamente

compreendida a partir da leitura ―EU CONSUMO‖. Afinal, trata-se do impulso primário que

move a utilização de cada ferramenta já na adesão (ao me inscrever em um site de rede social,

eu passo a consumi-lo) e na apropriação (consumo a ferramenta para compartilhar outras

experiências de consumo). Na reconceitualização do consumo proposta por Canclini (2008),

ele deixa de ser simples cenário de gastos inúteis e impulsos irracionais para representar um

espaço que serve para pensar, e no qual se organiza grande parte da racionalidade econômica,

sociopolítica e psicológica das sociedades.

Quando selecionamos os bens e nos apropriamos deles, definimos o que

consideramos publicamente valioso, bem como os modos de nos integrarmos e nos

distinguirmos na sociedade, de combinarmos o pragmático e o aprazível. Em

seguida, exploramos como as visões de consumo e cidadania poderiam mudar se as

estudássemos conjuntamente, com instrumentos da economia e da sociologia

política, mas tomando-as também como processos culturais, recorrendo, portanto, à

antropologia para tratar da diversidade e do multiculturalismo. (CANCLINI, 2008,

p.35)

Percebe-se que um mesmo ato – tomar sorvete – é comunicado de diferentes maneiras

de acordo com o site de rede social escolhido, para não soar como voz destoante entre o

conjunto de atores conectados. Quem utiliza todos os sites citados, ao ler o texto da figura,

com certeza identifica imediatamente o porquê das relações em um código implícito que não é

explicado, mas assimilado em processo dinâmico a partir da observação do comportamento

das conexões. E o processo é dinâmico porque não necessariamente um site de rede social

pode nascer e permanecer com o mesmo propósito. O MySpace, por exemplo, nasceu como

site de relacionamentos e tornou-se vitrine musical de bandas independentes, redirecionando

seus objetivos continuamente.

(...) o MySpace, em geral, tinha uma postura frouxa a respeito de quase

tudo. Para os usuários, isso era conveniente. Em primeiro lugar, o site era menos

rígido que as outras redes sociais quanto a quem podia aderir. Não era necessário

receber um convite de um usuário ativo e era possível usar o nome real ou um

pseudônimo. Uma das características mais apreciadas pelos usuários não era nem

mesmo intencional: um erro de programação inicial permitia que os membros

baixassem códigos da internet – chamados HTML – e os agregassem a seus perfis.

As pessoas logo começaram a usar essa possibilidade para enfeitar suas páginas.

Sempre adaptáveis, os fundadores do MySpace notaram o entusiasmo dos usuários e

agregaram o erro como trunfo.

(...) Incialmente, o MySpace se espalhou entre os amigos relativamente

moderninhos de Anderson e DeWolfe em Los Angeles. Os fundadores

comercializam seus serviços nos clubes, tanto para as bandas quanto para o público.

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Pouco tempo depois, tornou-se um instrumento essencial de promoção de bandas de

Los Angeles. Não demorou muito para que músicos empreendedores em todo o país

começassem a adotar o MySpace. Junto com as bandas, veio o público das bandas –

os adolescentes.

O MySpace era descolado e um ótimo site para descobrir informações sobre bandas,

mas também se inclinou em direção ao sexual. Fazer festas do MySpace em boates

de todo o país tornou-se mais uma das ferramentas de promoção do site. A

mensagem implícita era: o MySpace é um clube digital no qual comportamentos

ousados são bem vindos. (KIRKPATRICK, 2011, P. 86-87)

Nessa perspectiva, o tantas vezes controverso aforismo de McLuhan - ―o meio é a

mensagem‖ - ganha uma aplicação muito coerente. Afinal, ele adotou como eixo de

orientação para seus estudos a análise do meio como um todo, entendendo-o como uma nova

linguagem que reforma toda a cultura. Em uma de suas proposições, ele amplia o sentido da

ideia de conteúdo afirmando que o conteúdo de um meio é o próprio usuário desse meio. A

reflexão é corroborada pelo fato de que os sites de redes sociais são apenas sistemas, e por

isso ―a internet será o que as pessoas fizerem dela‖ – como afirmou Chomsky no início deste

tópico (p.21).

Em um segundo momento, produzir ou analisar uma mensagem com vistas ao

entendimento dos atores envolvidos requer o reconhecimento das tais mensagens implícitas

nos sites de redes sociais. Se estou em um site como o Twitter que busca responder a pergunta

―O que você está fazendo?‖, digo que estou tomando um sorvete. Se estou no Foursquare, que

pressupõe indicações de consumo por geolocalização, só faz sentido utilizá-lo se, ao dizer que

estou tomando um sorvete, estou disposto a incluir na frase um advérbio de lugar na forma de

check-in digital. Já o Facebook pede adjetivos qualificadores do ato de tomar sorvete, pois

reúne informações identitárias sobre hábitos e costumes. E assim o meio se torna também a

mensagem que desejamos transmitir, enquanto a produção de significado se orienta por

processos peculiares, em uma função emergente de um modelo de ordem típica de sistemas

complexos.

Segundo Pereira (2011), a aproximação tão comum entre mensagem e significado

―não deve ser gratuita e imediata, pois a recepção de uma mesma mensagem por diferentes

sistemas não é garantia de mesmos significados‖ (p. 136):

O significado, portanto, seria a propriedade de um sistema agregar sentido a

uma dada mensagem – aquilo que é percebido ou imaginado por esse mesmo

sistema – rebatendo-a contra um conjunto de mensagens outras, disponibilizadas

pela memória do referido sistema.

(...) Se o significado não está amarrado diretamente à mensagem, mas exige a

participação da estrutura mnêmica do sistema que processa a imagem recebida, a

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própria mensagem, da mesma maneira, não é garantia de univocidade para diferentes

sistemas. (PEREIRA, 2011, p. 136-137)

Com esse panorama, é interessante observar como a perspectiva histórica do sociólogo

polonês Zygmunt Bauman relativizou a firmeza dos laços que são essenciais para a formação

de um capital social intimamente associado à ideia de virtude cívica em sites de redes sociais,

esclarecendo a diferença entre os capitais sociais de primeiro e segundo nível levantados

anteriormente por Bertolini e Bravo. Em rápido vídeo produzido para o site Fronteiras do

Pensamento5, Bauman compara a noção de rede social com a noção de comunidade e ressalta

a fragilidade das motivações que estimulam a adesão às redes.

Um viciado em Facebook me segredou, não segredou, mas de fato gabou-

se, de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu tenho 86

anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso. Então, quando ele diz

"amigo" e eu digo "amigo", não queremos dizer a mesma coisa. São coisas

diferentes.

Quando eu era jovem, eu nunca tive o conceito de "redes". Eu tinha o

conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não redes. Qual

é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce em

uma comunidade. Por outro lado, temos a rede. O que é a rede? Ao contrário da

comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: Uma é

conectar e a outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de

amizade, o tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que

é tão fácil desconectar. É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo é a

facilidade de se desconectar.

Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online,

compartilhamento online, mas conexões offline, conexões de verdade, frente a

frente, corpo a corpo, olho no olho. Então, romper relações é sempre um evento

muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que explicar, você

tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro porque

seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco, etc. É difícil. Na

internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto. Em vez de 500 amigos, você

terá 499, mas isso será temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina

os laços humanos. (BAUMAN, 2013)

Ao fazer essa comparação, Bauman instiga a perguntar: Qual comunidade nos

precede? A resposta fatalmente passa pela busca de referências de tempo e espaço – quando e

onde nascemos, ou, em que momento histórico e em qual espaço geográfico nos identificamos

a ponto de nos reconhecermos individual e socialmente. No entanto, com a

desterritorialização dos laços sociais, como suplantar a comunidade sobre a rede social e

5 Endereço eletrônico http://www.fronteirasdopensamento.com.br. Segundo a descrição do site: ―O Fronteiras do

Pensamento é um projeto cultural múltiplo que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de

qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. Através de uma série anual de conferências, o Fronteiras

abre espaço para o debate sobre a identidade do século XXI, apresentando pensadores, cientistas e líderes que

estão, cada um a seu modo, na vanguarda nas mais diversas áreas de pesquisa e pensamento.‖

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assim garantir capitais sociais de níveis mais elevados? Castells (2001) classificaria tal

pergunta como simplista e enganosa, pois a mesma considera uma suposta ―oposición

ideológica entre la comunidad local armoniosa de un pasado idealizado y la alienada

existencia del solitario internauta‖ (p.137). Isso porque a mudança do sentido de lugar

geográfico é amplificada pela internet, mas não definida por ela, uma vez que a transição das

formas de sociabilidade não é um fenômeno recente.

Frente a las afirmaciones de que Internet es una fuente de comunidad renovada o, al

contrario, de que constituye una causa de alienación y escape del mundo real, parece

ser que la interacción social en la red, em general, no tiene un efecto directo sobre la

configuración de la vida cotidiana más allá de añadir la interacción on line a las

relaciones sociales previamente existentes. (CASTELLS, 2001, p.140)

Putnam, citado por Matos (2009), lembra que ―(...) quando a internet alcançou 10% dos

americanos, em 1996, o declínio da vinculação social e do engajamento cívico na América já

tinha, pelo menos, 25 anos de existência‖. Ainda, ―a internet poderia fazer parte da solução do

problema cívico ou ainda exacerbá-lo, mas a revolução cibernética não o provocou‖ (p.135). Com

essa premissa, tomamos a liberdade de mudar o lugar das perguntas: Primeiro, considerando o

capital social associado à ideia de virtude cívica em uma realidade globalizada mediada pela

internet (não necessariamente modificada por ela de modo unilateral). Segundo, admitindo que

esse contexto pode relativizar o conceito de comunidade elevando-o a outro patamar ou

dando-lhe uma nova função.

É o que propõe McLuhan ao apresentar a ideia de aldeia global: a tecnologia estaria

aproximando o mundo de tal forma que o mundo estaria se tornando uma aldeia, os

acontecimentos gerais afetam as particularidades dos indivíduos da mesma forma que ocorre

numa pequena aldeia. Atualizando o conceito através do formato de comunicação em rede

que faz emergir a teia global, vemos que a evolução das tecnologias comunicacionais impõe

um aprimoramento das capacidades de produzir, partilhar e acumular informações,

promovendo uma transformação profunda das referências nas quais as culturas costumavam

se orientar.

Circuitos elétricos aboliram o regime de ―tempo‖ e ―espaço‖ e derramam sobre nós,

instantânea e continuamente, as preocupações de todos os outros homens. Eles

reconstituíram o diálogo em uma escala global. Sua mensagem é ―mudança total‖,

acabando com o paroquialismo psíquico, social, econômico e político. Os velhos

agrupamentos cívicos, estatais e nacionais têm se tornado impraticáveis. Nada pode

estar mais afastado do espírito das novas tecnologias do que ―um lugar pra tudo e

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tudo em seu lugar‖. Você não pode voltar para casa de novo. (MCLUHAN e

FIORE, 1967, p.16, apud PEREIRA, 2011, p. 151)

A necessidade de caracterizar a comunidade dentro dessa nova realidade (―A

comunidade precede você, mas você não pode voltar pra casa de novo‖) leva Bauman (2003)

a refletir sobre seus paradoxos quando consideramos o dilema entre o público e o privado, a

resistência à utópica e almejada segurança coletiva em prol da liberdade individual. Nesse

dilema, encontram-se duas tendências que acompanharam o capitalismo moderno: 1) o

esforço de substituir o entendimento natural da comunidade de outrora por outra rotina

artificialmente projetada, e 2) a tendência de criar um novo sentido de comunidade dentro de

uma nova estrutura de poder.

Não à toa, quando Canclini (2008) busca entender a transição das identidades clássicas

às novas estruturas globais, ele ressalta que as transformações têm origens em processos

derivados do desenvolvimento desigual e contradições. Para ele, ―a afirmação da diferença

deve estar unida a uma luta pela reforma do Estado, não apenas para que aceite o

desenvolvimento autônomo de comunidades diversas mas também para assegurar as

possibilidades de acesso aos bens da globalização‖ (p.36). Assim, analisar o afloramento de

novas identidades no espaço comunicacional da cibercultura torna-se fundamental ao

entendimento de como as formas de expressão nos sites de redes sociais podem contribuir a

um efetivo exercício da cidadania.

1.3 O afloramento de novas identidades

Di Felice (2008) afirma que a distinção identitária entre emissor e receptor, entre empresa

e consumidor, entre instituições e cidadãos, entre público e privado, entre outras, ―não

conseguem mais explicar a complexidade das interações sociais nem as formas do habitar

metageográficas contemporâneas‖ (p. 17). Contemporizamos um cenário de modernidade

tardia, conceito utilizado por Giddens (2002) para definir um tempo no qual temos que

escolher entre certezas do passado e novas realidades que estão em constante mutação.

Estamos reinventando a vida em sociedade e, nesse processo, as velhas identidades que

estabilizavam o mundo cultural entraram em declínio, fazendo surgir novas identidades que

fragmentaram o homem moderno. Theodore Roszak, citado por Giddens (2002, p. 193),

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afirmou que "vivemos numa época em que a experiência muito privada de ter uma identidade

pessoal a descobrir, um destino pessoal a realizar, tornou-se uma força subversiva da maior

importância".

Não é o projeto reflexivo do eu enquanto tal que é subversivo; antes, o etos do

autocrescimento assinala importantes transições sociais na modernidade tardia como

um todo. Essas transições são aquelas que foram acentuadas neste estudo — a

reflexividade institucional em expansão, o desencaixe das relações sociais pelos

sistemas abstratos e a conseqüente interpenetração do local e do global. (Giddens,

2002, p. 193)

Essa interpenetração do global e do local opera modos de vida desconectados de todos

os tipos tradicionais de ordem que estabilizavam o mundo social – entre elas a cidade, que

perdeu importância como núcleo da vida cívica. Para Canclini (2008), ―o que antes era um

nível avançado de organização social se tornou cenário caótico de mercados informais nos

quais multidões procuram sobreviver sob formas arcaicas de exploração, ou nas redes de

solidariedade ou da violência‖ (p.11). Por isso, ele sugere que a clássica definição

socioespacial da identidade referida a um território particular precisa ser complementada com

uma definição sociocomunicacional, o que requer análises relativas aos cenários

informacionais e comunicacionais nas quais também se configuram e renovam as identidades.

Nesse sentido, os meios eletrônicos viabilizam uma reestruturação geral das articulações entre

o público e o privado que pode ser percebida também no reordenamento da vida urbana.

Canclini sintetiza essas mudanças socioculturais em cinco processos. Primeiramente, o

redimensionamento da importância das instituições, de modo que o local e o nacional

perde peso diante do transnacional. Em seguida, temos a reformulação dos padrões de

assentamento e convivência urbanos. Em outros termos, é como se as pessoas passassem

tanto tempo se locomovendo entre compromissos e lugares que mal encontram tempo para

entender melhor a dinâmica de sua própria comunidade. Com isso, ocorre o terceiro e o quarto

processos, a reelaboração do “próprio” e a redefinição do senso de pertencimento e

identidade, organizado cada vez menos por lealdades locais ou nacionais. Por fim, temos

também a revisão da ideia de cidadão, que passa de um representante da opinião pública

para um consumidor interessado em qualidade de vida.

Uma colocação de Canclini nos ajuda a entender a teoria de Bauman, citada

anteriormente, de que a comunidade é anterior a nós e, por isso, pressupõe laços mais fortes

do que os estabelecidos nas redes sociais pelas quais nos orientamos atualmente. Canclini

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afirma que os estudos sobre consumo cultural mostram que quanto mais jovens são os

habitantes de uma cidade, mais seus comportamentos dependem de circuitos socioculturais de

comunicação de massa e de sistemas restritos de informação e comunicação do que os

circuitos socioculturais histórico-territorial e os de cultura das elites, constituído pela

produção simbólica escrita e visual. Assim, a cultura não é narrada pelas obras de arte ou

pelos relatos históricos, mas ―abarca o conjunto dos processos sociais de significação ou, de

um modo mais complexo, a cultura abarca o conjunto dos processos sociais de produção,

circulação e consumo da significação na vida social‖ (Canclini, 2009, p.41).

Se no fim do século XIX as crônicas jornalísticas configuravam o sentido da vida

urbana inventariando o orgulho monumental dos signos de desenvolvimento comercial

moderno, hoje estamos diante de uma era de emaranhados dispersos, cada qual singular. A

unidade e a identidade existentes terão que ser negociadas, produzidas a partir da diferença,

conforme destacou Geertz:

O que precisamos, ao que parece, não é de ideias grandiosas nem do abandono

completo das ideias sintetizadoras. Precisamos é de modos de pensamento que sejam

receptivos às particularidades, às individualidades, às estranhezas, descontinuidades,

contrastes e singularidades, receptivos ao que Charles Taylor chamou de

"diversidade profunda", uma pluralidade de maneiras de fazer parte e de ser, e que

possam extrair deles – dela - um sentimento de vinculação, de uma vinculação que

não é abrangente nem uniforme, primordial nem imutável, mas que, apesar disso, e

real. (GEERTZ, 2001, P. 196)

Assim, as narrativas que ―organizam‖ o cotidiano saem das crônicas jornalísticas e

ganham novas formas de expressão em múltiplos relatos que precisam, de alguma forma, se

conectarem para fazer sentido. Canclini compara esse processo à um videoclipe: montagem

efervescente de imagens descontínuas. ―Como nos vídeos, a cidade se fez de imagens

saqueadas de todas as partes, em qualquer ordem. Para ser um bom leitor da vida urbana, há

que se dobrar ao ritmo e gozar as visões efêmeras‖ (CANCLINI, 2000, p. 123).

Considerando que os efeitos da tecnologia comunicativa ―se manifestam nas relações

entre os sentidos e nas estruturas de percepção‖ (MCLUHAN, 1996), no cenário midiático da

era digital tais estruturas se tornam cada vez mais complexas e o estabelecimento de relações

entre os sentidos evoluem para um processo cada vez mais participativo. A esse fenômeno,

que não é apenas tecnológico, mas também social e cultural, aplica-se o conceito de

convergência.

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Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas

de mídia, à cooperação entre múltiplas indústrias midiáticas e o comportamento

migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão quase a qualquer parte

em busca das experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2009, p. 29).

O processo de convergência permite integrar qualquer pessoa aos fluxos de

informação de maneira ativa. Ao mesmo tempo, o comportamento migratório dos públicos é

estimulado pela inesgotável oferta de informação que esse novo ecossistema midiático

oferece, liderado pela internet. É o internauta que procura, seleciona e compõe a informação,

enquanto os grupos e comunidades aos quais ele pertence promovem uma filtragem para dar

sentido a cada informação compartilhada. Já não se trata de selecionar, resumir e transmitir,

mas indicar pistas que ajudem a construir uma narrativa transmídia. Nesse processo de

transmediação, o conteúdo se desdobra em múltiplas plataformas, nas quais cada fragmento

novo faz uma contribuição para o todo, de modo que a convergência ocorre primeiro no

cérebro e nas relações sociais. Da mesma forma, a mesma plataforma de mídia e o mesmo

conteúdo podem ter diferentes repercussões em diferentes países do mundo, ou mesmo em

diferentes regiões de um mesmo país ou Estado marcado pelo multiculturalismo. Como é

possível, então, um processo global de homogeneização cultural ser, ao mesmo tempo, um

processo de democratização da informação?

Jenkins elucida um pouco dessa questão tomando como exemplo a proposta do vice-

presidente americano Al Gore, que em 2005 lançou o canal de TV a cabo Current aberto à

participação popular via web como incentivo ao jornalismo cidadão. Para ele, o que move o

incentivo à cultura participativa própria da convergência midiática não é uma suposta missão

de delegar poderes ao público, mas uma ação movida por interesses econômicos:

A indústria midiática está adotando a cultura da convergência por várias razões:

estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados; a

convergência cria múltiplas formas de vender conteúdo aos consumidores; a

convergência consolida a fidelidade do consumidor, numa época em que a

fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos

antigos de fazer negócios. (JENKINS, 2009, p. 325)

O panorama não deve instigar, entretanto, a compreensão dessa convergência apenas

como manipuladora de processos, tal como acreditava-se na era dos mass media. Como a

convergência não existe sem a lógica da rede, que ―modifica de forma substancial a operação

e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura‖ (CASTELLS,

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1996, p. 565), compreendemos que o poder dos fluxos é mais importante que os fluxos de

poder.

A inserção da tecnologia na vida cotidiana agrega diferentes significados culturais em

diferentes contextos de uso. Os âmbitos online e offline são, portanto, indissociáveis. Nem

mesmo um agente facilitador como uma rede social digital poderia confrontar-se com a

possível apatia cívica de um determinado momento histórico. Tal apatia também pode ser

chamada de transição identitária, uma vez que nada tem a ver com passividade, mas sim com

a reinvenção das formas de significação e expressão no ciberespaço. Estas estão diretamente

relacionadas aos impulsos de pertencimento e engajamento. Como exemplo, Di Felice (2008)

retoma um estudo de Jean-Pierre Vernant que situa a origem da política nas competições que

aconteciam nas pólis gregas, afirmando que

(...) o sentimento público e as práticas das decisões coletivas estariam nas

representações simbólico-comunicativas das tragédias. Nestas, além do elemento

competitivo, que requeria a participação e o voto do público, comunicavam-se os

denominadores éticos comuns da vida social. (DI FELICE, 2008, p.20)

Trazendo essa analogia para o contexto da internet, o teatro grego se converte para a

narrativa transmídia, para a qual o sentido das informações está na forma de contar uma

história. A narração não é apenas expressiva, mas também constitutiva do que somos

individual e coletivamente, sendo fundamental para instaurar a relação de reconhecimento e

participação social.

Nesse contexto, quando não há a possibilidade de influenciar decisões, os atores

tendem a se afastar, impulsionados pela dualidade entre participação (convergência) e

opressão (divergência). Tal relação é explicada por Giddens ao caracterizar uma ideia de

política-vida na qual, paradoxalmente, o princípio mobilizador seria o princípio da autonomia.

(...) a auto-identidade é hoje uma realização reflexiva. A narrativa da auto-identidade

deve ser formada, alterada e reflexivamente sustentada em relação a circunstâncias

da vida social que mudam rapidamente, numa escala local e global. (...) Uma

narrativa reflexivamente ordenada da auto-identidade fornece os meios de dar

coerência à vida finita, dadas as circunstâncias exteriores em mudança. (GIDDENS,

2002, p.206)

Assim, para a construção de um valor comunitário, deve-se considerar dois aspectos

essenciais: o individual, que vem de interesses pessoais, e o coletivo, no qual o capital social

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individual reflete-se na esfera coletiva do grupo. O conflito entre os interesses individuais e

coletivos se manifesta, muitas vezes, na indiferenciação entre direitos e privilégios. Nesse

sentido, retoma-se a eficiência da narrativa transmídia para a expressão de realidades

coletivas, tendo múltiplas vozes como meios fornecedoras e estruturadoras de fragmentos.

Para Jenkins (2009), a atual diversificação de canais é politicamente importante

―porque expande o conjunto de vozes que podem ser ouvidas: embora algumas vozes tenham

mais proeminência que outras, nenhuma voz fala sozinha com autoridade inquestionável‖

(p.288).

1.3.1. Ciberjornalismo, Blogs e Jornalismo Cidadão

Nesse contexto cibercultural o jornalismo ganhou um novo gênero: o ciberjornalismo,

que reúne todas as capacidades dos gêneros jornalísticos até então conhecidos e oferece novas

possibilidades, como interatividade, acesso on-demand, controle por parte da audiência e

personalização (PAVLIK, 2001). Assim, revela seu potencial para ultrapassar os limites do

jornalismo tradicional no que diz respeito à formação de opinião pública para o exercício da

cidadania, bem como a participação direta do cidadão na produção informativa. Temos aí o

Jornalismo Cidadão, que tem sido definido como ―a convergência entre um centro de

competências, as funções de jornalistas e o potencial cívico da comunicação interativa

online‖6 (BARDOEL; DEUZE, 2001, p.23).

Nesse processo de participação hipermídia, é viabilizada a resistência a argumentos

jornalísticos inconsistentes com relação a posicionamentos políticos e crenças estabelecidas.

Pela interação, estendem-se as informações contextuais para novas percepções e construção

de sentidos a partir de novidades e registros antigos. Temos, assim, um aumento desenfreado

do fluxo informacional que faz emergir novas modalidades de consciência em função de

como as informações acumuladas podem ser acessadas, conforme alertou McLuhan (1996).

Como o simultâneo agrega acontecimentos pessoais, locais e globais de diferentes culturas e

motivações, as alterações perceptivas e cognitivas promovidas pelas novas tecnologias da

comunicação transcendem a linearidade da escrita e do modelo gutenberguiano. Ainda, o

direito à voz – seja em um perfil na rede social, em um blog ou na colaboração jornalística –

6 Tradução nossa. Do original: ―the convergence between the core competences and functions of journalists and

the civic potential of online journalism‖.

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mostra que o trânsito de mensagens segue até a externalização de uma opinião no debate

público.

Mas, se o campo da política é um campo de disputas de diferentes grupos sociais para

impor uma definição de mundo social de acordo com seus interesses, ela ocorre no terreno do

simbólico, como aponta Bourdieu (1989). Para ele, o que está em jogo é uma disputa de

conteúdos (representações do mundo) e do lugar de fala, sem qualquer atenção à relação aí

produzida ou à dimensão das formas criadas. Assim, com a facilidade de legitimação das

opiniões – que já não se orientam por consensos de classes sociais ou comunidades – o poder

acaba se dissolvendo no ciberespaço. O que pode explicar a ocorrência de massivas

sensibilizações nesse ambiente é a Teoria das Brechas de Jesus Martin-Barbero. Pela

metáfora, um muro, por mais maciço que seja, sempre deixa brechas que as pessoas podem

aumentar para derrubá-lo. Se o conceito surgiu nos anos 80 para estimular a insurgência

contra regimes totalitários, hoje é atualizado por Barbero para mostrar o papel da internet

diante das mídias tradicionais pela possibilidade de contrafluxo no sistema de comunicação de

massa, partindo da emissão inicial do público para os meios.

Em uma entrevista à Assessoria de Comunicação da UNILA (BLOG DE PEDRO

GRANADOS, 2012), Barbero afirmou que a pesquisa em blogs é essencial para sabermos o

que realmente está acontecendo em um país. ―E lá você verá pessoas com perfis diferentes

discutindo em igualdade. Estudantes de ensino médio argumentando com professores

universitários. Hoje, o maior intercâmbio de conhecimento está nas diversas formas de

discussão que há na internet‖, afirmou. Quando surgiram, os blogs eram ferramentas de

publicação de diários virtuais, mais do que um gênero de informação específico. A

apropriação da ferramenta conduziu seu uso aos mais diversos propósitos, mas tal pluralidade

não anula suas peculiaridades: em geral, refletem uma auto-expressão em algum nível,

traçando pistas de quem é aquele blogueiro para seus leitores (RECUERO, 2010).

Existem os chamados blogueiros profissionais, que trabalham para grandes audiências

e buscam fontes de remuneração financeira por isso, e também os blogueiros sociais que são

focados em audiências menores. Em ambos, há uma natureza conversacional, indicando que a

percepção da audiência (embutida nos comentários e referências) pode influenciar parte

daquilo que é publicado.

O que distingue weblogging de web mídias anteriores é seu caráter social, o meio

dos blogs veio a existir quando estes autores reconheceram-se como uma

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comunidade. Todo sistema social informal tem o seu próprio fim, constituída pela

atribuição de amizade, confiança e admiração entre os membros. Estas várias formas

de organização social dão origem a organização de nível superior, em que os

indivíduos assumem papeis informais, como líder de opinião, gatekeeper ou

especialista. Entre os weblogs, grande parte desta ordem social é observável através

dos links de hipertexto que os autores fazem entre si. (...) Juntas, essas referências

formam uma rede de leitores que abrange todo o conteúdo produzido pela

comunidade. (MARLOW, 2006)7

No jornalismo cidadão, a legitimação do conteúdo ainda depende da mediação do

jornalista, caracterizando uma interação mútua, na qual há negociação entre os interagentes

(PRIMO, 2000). Por outro lado, as mídias sociais surgem como outra forma de livre

expressão. Constituindo uma ―comunidade do conhecimento‖, blogs e perfis em rede se

tornaram fontes de informação para a imprensa, questionando a hipótese do gatekeeper e

influenciando padrões de agendamento da imprensa (TRAQUINA, 2005). Como a publicação

e a legitimação do conteúdo na web independem de sucessivas mediações subjetivas, o

jornalista tornou-se melhor reconhecido no papel de gatewatcher (BRUNS, 2005), aquele que

filtra e organiza o grande volume de informação produzido por terceiros.

O valor de divulgação desses elementos está no fato de que a informação ainda não

apareceu rede interativa do ator. Por isso, ele repassa as informações obtidas através

da rede associativa para sua rede interativa, acumulando o capital social obtido junto

ao grupo. (RECUERO, 2007)

Para que o exercício da cidadania seja presente de fato na atividade colaborativa, é

preciso vencer a necessidade de informação rápida e atualizada que tomou conta da realidade.

Os critérios de noticiabilidade incorporados ao fazer jornalístico ganham novos conceitos e

adaptações à ética e aos valores próprios das mídias sociais. O reconhecimento delas como

fontes de informação associadas à velocidade de atualização dos portais ciberjornalísticos

acentua a elevação de fatos pessoais ao status de fatos sociais. Ainda, a automática

legitimação do conteúdo publicado nas mídias sociais provoca uma crise na credibilidade da

7 Tradução nossa, do original: ―What distinguishes weblogging from previous web media is the extent to which

it is social; the medium of blogging came into existence when these authors recognized themselves as a

community. Every informal social system has its own order, constituted by the attribution of friendship, trust,

and admiration between members. These various forms of social association give rise to higher-level

organization, wherein individuals take on informal roles, such as opinion leader, gatekeeper or maven. Among

weblogs, much of this social order is observable through the hypertext links that authors make to each other‘s

sites. (…) Together these references form a readership network that spans the content produced by the

community.

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informação, que muitas vezes não é suprimida após a divulgação em um veículo midiático

institucionalizado.

A compulsão pela atualidade significa cair no superficial e preferir a rapidez à

precisão. A publicação regular de jornais ou a transmissão de programas noticiosos

sempre resulta em pressa. Por isso, a seleção jornalística tende para a atualidade,

para as preferências do público, para o facilmente digerível – noutras palavras, para

o sensacionalismo. A fim de justificar a compulsão pela atualidade, recorre-se ao

argumento antropológico segundo o qual as pessoas são seres curiosos que se

interessam pelo novo. Mas a novidade pela novidade produz um ―jornalismo de

retalhos‖. (...) A realidade social é representada como um mosaico colorido de

eventos que não guardam relação alguma entre si. O jornalismo de desenvolvimento

deve ser mais reflexivo, deve explicar os contextos. (KUNCZIK, 2002, p. 365)

Ao entrelaçar essas três atividades – o ato de produzir conteúdo para um blog,

comentar, influenciar e/ou disseminar uma notícia jornalística por uma rede social e

colaborar com a produção da notícia, estamos descrevendo um ecossistema midiático cujas

variáveis já não podem mais ser isoladas para identificar seus efeitos.

Vejamos um caso ilustrativo: Em 2010, um grande incêndio no Morro dos Cabritos, na

Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro, mobilizou imediatamente os sites de redes sociais. Com a

dificuldade que a mídia tradicional encontrou para obter informações, – nem mesmo o

helicóptero dos bombeiros conseguia se aproximar do morro – logo postagens de moradores

próximos ao local passaram a registrar a evolução do incêndio no Twitter, inclusive por

imagens e vídeos. O movimento começou a pautar os portais de notícias que, sem acesso a

informações oficiais do Corpo de Bombeiros, legitimaram as informações dos internautas sem

checagem prévia para acompanhar a velocidade do fluxo. No blog ―Diário do Rio de

Janeiro8‖, imediatamente um post buscava reunir as informações sem compromisso com o

modelo da narrativa jornalística: ―Vou tentar incluir neste posts as fotos e notícias que vou

pegando até quando for dormir. Como os portais não fazem o trabalho deles vou catando [sic]

as informações pelo Twitter mesmo‖, foi assim que o autor do blog justificou o valor social

de seu trabalho. Nos dias subsequentes, os blogs sobre comunicação digital se uniam na

exposição de argumentos para justificar a importância das redes sociais. Alguns deles

atribuíam essa importância à inoperância do jornalismo tradicional diante do fato analisado.

Foi o caso do blog NOESQUEMA, de Bruno Natal9:

8 <http://www.diariodorio.com/notcias-do-incndio-no-morro-dos-cabritos/>. Acesso em 13/02/2013. 9 <http://www.oesquema.com.br/urbe/2010/06/20/incendio-no-morro-dos-cabritos.htm>. Acesso em 13/02/2013.

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Um dos pontos mais abordados entre os usuários era justamente a demora

dos portais de notícia em falar do fogo. O cheiro de queimado já havia se espalhado

por diversos bairros até o triste assunto finalmente surgir nos canais de notícia na

TV e na rede, com um atraso de mais de hora — e sem imagens.

Da mesma janela de onde fez o registro mais comentado do Rio saindo do

apagão ano passado (e também de uma tempestade se formando), Tiago

Lins novamente foi rápido. As imagens aceleradas do fogo, ainda no início, se

alastrando pelo morro foram divulgadas pelo Twitter no início da madrugada. Está

se espalhando tão rápido quanto o fogo, transformando-se, outra vez, no principal

flagrante da desgraça.

O ―Rio saindo do apagão‖ e a ―tempestade se formando‖ ganharam hiperlinks para as

matérias correspondente. O perfil de Thiago Lins no Twitter também – a essa altura, o usuário

já tinha estabelecido sua autoridade como fonte de informação. O que não foi percebido pelo

blog ―Diário do Rio de Janeiro‖, nem por Bruno Natal e nem mesmo por portais que se

apropriaram no material instantaneamente, é que o vídeo apresentado por Thiago para mostrar

o alarmante alastramento do fogo por todo o morro tinha duração de 1 minuto e 17 segundos.

A manipulação da velocidade das imagens foi indicada por comentários no próprio Youtube,

mas os canais que o replicaram não consideraram essa informação, dando a impressão de que

o fogo tinha tomado conta de todo o morro na mesma velocidade expressa pelo vídeo.

Mais tarde, com a situação controlada e acesso aos posicionamentos oficiais, o Portal

R710

noticiou:

O fogo começou por volta das 22h, chegando ao momento mais crítico por volta da

meia-noite, quando as chamas alcançaram o capim colonial seco, vegetação

característica do local. Por volta das 3h, as chamas já estavam bastante reduzidas.

De acordo com os bombeiros, o fogo diminuiu naturalmente. Isso se deu porque as

chamas encontram obstáculos naturais à medida que se alastram, como pedras

presentes no meio da mata.

A suposta inabilidade de bombeiros para conter o fogo, levantada por alguns

comentários, bem como a ineficiência dos jornalistas tradicionais para obter informações

precisas de maneira rápida, pôde ser relativizada por outro aspecto da cobertura do R7:

Formou-se um verdadeiro rodamoinho de fogo no alto do morro. Teremos

bastante trabalho durante o dia e ainda não sabemos as proporções. O tenente-

coronel do Corpo de Bombeiros de Copacabana, Gustavo Belchior, acrescenta que o

trabalho no momento é para proteger as edificações e a comunidade instalada

naqueles arredores.

10 <http://noticias.r7.com/cidades/noticias/bombeiros-esperam-amanhecer-para-avaliar-extensao-do-incendio-

em-morro-do-rio-20100620.html>. Acesso em 13/02/2013.

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Não houve combate direto às chamas, porque o local é de difícil acesso.

Esse trabalho só poderá ser feito ao longo do dia, após o reconhecimento da área.

Precisaremos sobrevoar o morro, até para não expor os bombeiros ao risco.

Diante do fato, qualquer discurso que relativize a importância do modelo tradicional

de jornalismo deve considerar que as apropriações de blogs e redes sociais precisam de

processos de aperfeiçoamento que atenuem as disparidades entre velocidade e qualidade da

informação, bem como valores associados ao reconhecimento da credibilidade de uma fonte.

Enquanto isso, o jornalismo tradicional passa por uma revisão de papeis e funções para se

integrar a esse ecossistema:

Jornais e revistas – só para examinar o caso da imprensa – são submetidos a

condicionamentos os mais diversos. (...) A liberdade de imprensa, ―como de resto

qualquer outra concepção – escreveria um ensaísta – requer uma adaptação contínua

às necessidades sociais emergentes, sob pena de se transformar na negação de si

mesma e numa simples ideologia de dominação 11. (SODRÉ, 1998)

Sobre a suposta dispersão dos signos e a dificuldade de estabelecer códigos estáveis e

compartilhados, Canclini (2008) argumenta favoravelmente à evolução das apropriações dos

novos meios em consonância com os meios tradicionais. Para ele, ―nenhuma sociedade e

nenhum grupo suportam por muito tempo a irrupção errática dos desejos, nem a consequente

incerteza de significados. Em outras palavras, precisamos pensar, ordenar aquilo que

desejamos‖ (p.64).

1.3.2. O interesse público na dinâmica do mercado

Ao ser influenciada pela força do mercado e sua dinâmica, na qual dialogam interesses

individuais, coletivos e corporativos, a comunicação tem se estruturado em torno de nichos

cada vez mais especializados para promover o chamado conteúdo relevante, um termo

recorrente nos estudos sobre a publicidade e marketing na internet.

O conteúdo relevante caracteriza a comunicação dirigida a um público exposto a

múltiplos estímulos e dotado de grande autonomia de expressão, graças às redes sociais como

Facebook, Twitter, Youtube, Blogs, entre outras. O ambiente online oferece a possibilidade de

conversação, aprendizado e colaboração em rede, como uma janela para ampliação das visões

11 Luciano Martins: ―O problema da liberdade de imprensa‖, in O Semanário, Rio, 16 de novembro de 1963.

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de mundo do consumidor e consequente amadurecimento do processo consumo. Dessa forma,

a comunicação de uma marca ou de uma ideia não pode mais ser focada na autopromoção

carente de argumentos. Marcar presença nessa rede transmitindo uma avalanche de

informações institucionais e incoerentes é criar um bloqueio indesejável ao fluxo de

comunicação, destoante do interesse público e prejudicial aos interesses privados.

É nessa busca pelo interesse público que a comunicação digital se apoiou em

pressupostos jornalísticos. Os critérios de noticiabilidade do cotidiano de reportagem, ainda

que passem por mediações subjetivas, dão as pistas das informações que as pessoas buscam.

Por isso, acabaram-se tornando pilares das escolhas do marketing digital, cada vez mais

baseado em conteúdos que expressem construção do conhecimento, engajamento,

entretenimento e prestação de serviço. Em termos práticos, um banner sobre os benefícios de

um novo carro, por exemplo, é substituído por um blog corporativo da marca com dicas de

segurança nas estradas, enquanto um blogueiro referência do setor publica uma resenha do

test drive. Não é a marca que vai dizer se o carro é bom, mas sim os membros da rede;

enquanto isso, a empresa busca formas de fidelização e simpatia, expondo o novo produto de

modo transversal em uma narrativa transmídia que se desenvolve espontaneamente.

Essa noção de grupo, onde as opiniões são formadas com base nos diferentes tipos de

conexões, coloca a interação em posição de destaque na experiência de consumo. O caráter

fragmentado do sujeito contemporâneo torna o comportamento de compra suscetível a várias

influências, sendo que ele pode ou não se expor à mensagem midiática, de acordo com

tendências pessoais. Nessa perspectiva, o consumo redefine a sociedade e constrói identidades

através da apropriação e da renovação de bens materiais e simbólicos, uma vez que a

individualidade e a integração social são buscas concomitantes.

A ação de um depende da reação do outro, e há orientação com relação às

expectativas. Essas ações podem ser coordenadas através, por exemplo, da

conversação, onde a ação de um ator social depende da percepção daquilo que o

outro está dizendo. Para os autores, ainda, a interação, como tipo ideal, implicaria

sempre uma reciprocidade de satisfação entre os envolvidos e compreende também

as intenções e atuações de cada um. (PARSONS; SHILL, 1975 apud Recuero, 2009,

p. 32).

Nesse sentido, Dominique Wolton (2007) afirma que as novas tecnologias satisfazem

uma crescente necessidade de agir, o que ele classifica como uma postura do it yourself, que

se manifesta em todas as esferas da vida prática e pode ser viabilizada pela internet, suporte

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de uma nova solidariedade mundial. Para Jenkins (2009), ainda que essa postura não traga

motivações políticas, sinaliza ―a mudança de grau com que as pessoas comuns se tornam

aptas a inserir suas imagens e ideias no processo político‖ (p.222).

Um exemplo clássico que justifica pela prática esse pensamento de Jenkins é o

processo eleitoral americano de 2010, que elegeu Barack Obama presidente. O candidato

utilizou a internet para conversar com a população por quase 20 meses até ser eleito, e

continuou aproveitando a rede não só para fazer campanha, mas para governar. Ao avaliar o

sucesso da estratégia na internet logo após a eleição, o New York Times afirmou que os

grupos de interesses especiais e os lobistas foram confrontados com um ambiente de

transparência e, daquele momento em diante, teriam um presidente que nada lhes devia.

―Barack Obama compreendeu que poderia usar a internet para baixar os custos de construção

de uma marca política, criar um senso de conexão e de acoplamento, e dispensar o método de

controle e comando do governo para permitir que as pessoas pudessem se auto-organizar para

fazer o trabalho‖, afirmou ao NYT12

o advogado Ranjit Mathoda, investidor e tecnólogo que

mantém o famoso blog Mathoda.com. A matéria foi veiculada no dia 9 dezembro de 2010.

Quem encerrou a reflexão sobre a estratégia de Barack Obama na reportagem do NYT

foi Andrew Rasiej, fundador do Personal Democracy Forum, uma conferência anual sobre a

interseção entre política e tecnologia: ‖Sim, nós nos encontramos com o Big Brother, aquele

que está sempre observando. E Big Brother somos nós‖, afirmou. A referência de Rasiej traz a

idéia da cultura participativa proposta por Jenkins ao utilizar reality shows americanos

como Survivor para explicar que o tipo de conhecimento adquirido pela audiência desses

programas é impossível de ser reunido em uma só pessoa. Para ele, a idéia se contrapõe

ao paradigma do expert: Na era da convergência midiática, a inteligência coletiva é

predominante. Trazendo para a perspectiva política, o velho álibi do ―candidato mais

experiente e mais preparado‖ perde a força.

Mais uma vez, pode parecer inadequada a comparação de reality shows com processos

de decisão e debate político, exceto se compreendermos o consumo como um processo de

exercício da cidadania que constrói parte da racionalidade integrativa e comunicativa de uma

sociedade, como teorizou Castells (1996), mostrando que as mudanças são essencialmente

socioculturais e não apenas tecnológicas.

12 <http://www.nytimes.com/2008/11/10/business/media/10carr.html?_r=0>. Acesso em 17/02/2013.

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Com essa discussão sobre o comportamento dos públicos frente aos estímulos

midiáticos, é possível entender melhor a realidade explicada por Jenkins, quando ele diz que a

convergência consolida a fidelidade do consumidor, permitindo um processo de construção

identitária. No entanto, em nível macro, a fidelização do consumidor pela estratégia do

conglomerado estimula uma homogeneização cultural e reserva de mercado em nível global.

Ao marcar presença no cinema, TV aberta e a cabo, jornais, revistas, mercado editorial e

mídias digitais, uma mesma empresa de comunicação oferece diversos pontos de contato com

os públicos. O autor incita a luta contra a concentração de poder na mídia, de modo que todos

os esforços de reforma dos meios de comunicação devem focar no combate aos

conglomerados.

O desenvolvimento da cibercultura também manifesta, por si, um risco real de

transformar-se em fator suplementar de desigualdade e de exclusão. O acesso ao ciberespaço

ainda é limitado e, segundo Lévy, seu crescimento deve ser observado a partir da tendência de

conexão e não de seus números absolutos. Ele ressalta ainda que será cada vez mais fácil e

barato conectar-se, mas alerta que cada novo sistema de comunicação fabrica seus excluídos,

exemplificando que não havia iletrados antes da invenção da escrita.

Para Martin-Barbero (2001), a convergência entre sociedade de mercado e

racionalidade tecnológica dissocia a sociedade em sociedades paralelas: a dos conectados, a

dos inforricos e a dos excluídos. De fato, se o processo de convergência não incluísse

plataformas de mídia mais populares, como a TV, boa parte dos espectadores tradicionais

ficariam à margem do processo de comunicação. Em um mercado no qual apenas os

conectados fossem incorporados às decisões de produção e distribuição, a significação pelo

consumo e pela expressão ativa seria suprimida.

Pela transmediação, as práticas individuais e coletivas interagem com a tecnologia em

todo momento e por várias formas. Mas, mesmo fragmentando identidades, a tecnologia

contribui para a manifestação de necessidades e discursos tão antigos quanto a linguagem. A

rede social é suporte para o conteúdo que as pessoas vão produzir, não é o próprio conteúdo.

Algumas pessoas se reúnem em torno do entretenimento, outras da observação da vida alheia.

Mas há quem se aproveite para cometer crimes. E há também que aproveite para promover

manifestações e debates sociopolíticos importantes. Mais uma vez, permanecem as

motivações, mudam-se as formas de manifestá-las.

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Mergulhados no ecossistema midiático em mutação, sem uma perspectiva histórica

segura para equaliza-lo, os aspectos favoráveis e desfavoráveis do fenômeno precisam

manter-se em diálogo, pois

As projeções sobre os usos sociais do virtual devem integrar o movimento

permanente de crescimento de potência, de redução nos custos e de

descompartimentalização. Tudo nos leva a crer que estas três tendências irão

continuar no futuro. Em contrapartida, é impossível prever as mutações qualitativas

que se aproveitarão dessa onda, bem como a maneira pela qual a sociedade irá

apropriar-se delas e alterá-las. É nesse ponto que projetos divergentes podem

confrontar-se, projetos indissoluvelmente técnicos, econômicos e sociais (LÉVY,

1999, p. 33).

As identidades nacionais não reconhecem competidores, muito menos opositores.

Assim, a expectativa de que sua valorização possa estimular posturas reacionárias e suprimir

os prejuízos da desfragmentação não considera o caráter monopolista do próprio Estado. Tal

zona de conforto identitária não combina com a busca de identidades inexploradas e

desafiantes oferecidas pela transmediação. O determinismo tecnológico não faz sentido se

pensarmos que, se é o próprio ser humano que constrói esses recursos, ele faz isso baseado em

uma necessidade. A tecnologia é condicionante na satisfação dessas necessidades, e não

determinante de uma necessidade.

Na interação com outros usuários, temos o desenvolvimento da inteligência coletiva

que impulsiona o desenvolvimento da técnica. E como a comunicação em rede é exponencial,

a técnica muda cada vez mais rapidamente, e temos a impressão de que ela tem vida própria,

que vem do exterior e nos impacta como um projétil. Mas o atual momento histórico foi

estimulado por uma dinâmica social natural. Assim, a insegurança e a angústia geradas por

essa imensa gama de possibilidades identitárias não poderia, de forma alguma, justificar

apego a tradições e valores passados que insistem em se manifestar como modernos. Como

afirma Bauman (2005), ―identificar-se com...‖ significa dar abrigo a um destino desconhecido

que não se pode influenciar, muito menos controlar‖ (p.36).

No próximo capítulo, analisaremos um site de rede social que possui aspectos

especiais de interação, tanto pelos recursos técnicos quanto pelo alcance: o Facebook.

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Capítulo 2

O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL

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Quando uma imagem e seu contexto é a melhor epígrafe.

Por Gus Morais

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2. O FACEBOOK E SUA PRESENÇA NO BRASIL

Considerado a maior rede social do mundo, com mais de 1 bilhão de usuários13

, o

Facebook se destaca tanto pela massiva adesão quanto pela influência da ferramenta no

cotidiano das relações sociais. Segundo dado divulgado pela empresa à Revista Veja14

, em

maio de 2013 o Facebook alcançou 73 milhões de usuários no Brasil, enquanto a última

pesquisa publicada pelo IBOPE15

em dezembro de 2012 revelou que o país possui 94 milhões

de pessoas com acesso à internet (considerando uma população de 193,9 milhões de pessoas,

segundo estimativa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – em 201216

).

Ao revisitar a história do site, suas características e apropriações, é possível

compreender os fatores que determinam sua popularidade. O registro a seguir é também uma

forma de justificar a escolha do Facebook como recorte para a presente pesquisa, já que o

potencial mobilizador inerente ao seu crescimento oferece diversas questões ao estudo do

ativismo digital. Dessa forma, dada a grande diversidade de recursos disponíveis no site,

discutiremos apenas aqueles pertinentes à posterior análise do objeto de pesquisa, sem

prioridade à descrição estrita dos mecanismos de uso, mas sim à interação entre suas funções

originais, apropriações e contexto social.

2.1 Histórico

O Facebook foi lançado em 4 de fevereiro de 2004 e originalmente se chamava

―TheFacebook‖. Idealizado por Mark Zuckerberg, estudante de Ciência da Computação na

Universidade de Harvard (EUA), tinha como proposta inicial o consumo popular dentro da

própria universidade. Segundo Kirkpatrick (2010), para criar a ferramenta Zuckerberg uniu

uma aspiração da instituição – ter um diretório on-line com informações de todos os alunos –

a exemplos de sucesso e limitações de outros sites de redes sociais. Entre eles, estava o

Friendster, pelo qual as pessoas podiam criar perfis de si mesmas com informações diversas e

13 <http://www.wired.com/business/2012/10/facebook-case-for-optimism/>. Acesso em: 13/05/2013. 14 <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/facebook-alcanca-73-milhoes-de-usuarios-no-brasil>. Acesso em:

13/05/2013. 15 <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Acesso-a-internet-no-Brasil-atinge-94-milhoes-de-

pessoas.aspx>. Acesso em: 13/05/2013. 16 <ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_Projecoes_Populacao/Estimativas_2012/metodologia_2012.pdf>. Acesso

em: 13/05/2013.

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identificar suas próprias redes sociais ao relacionar perfis de amigos. Apesar do sucesso

imediato, acabou caindo em desuso por problemas técnicos.

O Friendster, como a maioria das redes de relacionamento até então, destinava-se

basicamente a facilitar o contato entre as pessoas que queriam namorar. A ideia era

fazer com que as pessoas encontrassem interesses românticos entre os amigos de

seus amigos. O Friendster havia tomado Harvard de assalto no ano anterior, mas

caíra em desgraça depois que seu sucesso, alcançado quase da noite para o dia, levou

milhões de usuários ao site. Isso criou dificuldades técnicas que tornaram a

navegação lenta e difícil. (KIRKPATRICK, 2010, p. 36)

O novo serviço de Mark não era um site de encontros como o Friendster, mas ―uma

ferramenta de comunicação muito básica, destinada a resolver o problema simples de

acompanhar seus colegas da faculdade e o que acontecia com eles‖ (p.37), uma espécie de

emulação da experiência social universitária que explorava como as pessoas se conectam a

partir de referências mútuas. Como não havia nenhum conteúdo próprio, tratava-se

meramente de um software para o conteúdo criado por seus usuários, o que o eximia de

problemas por acesso a dados confidenciais. O TheFacebook ganhou milhares de adeptos

rapidamente, mas observar a experiência do Friendster foi fundamental para que o erro do

crescimento sem planejamento não fosse cometido novamente, segundo Kirkpatrick. Apesar

do acesso restrito a estudantes de Harvard, a tela inicial do TheFacebook deixava implícita

suas intenções de expansão para outras universidades: ―O The Facebook é um diretório online

que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades. Abrimos o The Facebook para

uso popular na Universidade de Harvard‖ (Figura 2).

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Figura 2: Tela inicial do TheFacebook em Fevereiro de 2004.17

E assim aconteceu. O serviço foi estendido inicialmente para as Universidades de

Columbia, Stanford e Yale, mas a escolha não foi aleatória. Nessas faculdades havia redes

sociais concorrentes com as quais o TheFacebook poderia medir forças e guiar-se por um

potencial de expansão mais bem definido. Em Stanford, por exemplo, a rede social mais

utilizada, chamada ―Clube Nexus‖ já estava caindo em desuso. Em Columbia, havia o

CUCommunity e em Yale um site chamado YaleStation, ambos em plena ascensão quando o

TheFacebook chegou e repetiu o sucesso de Harvard. Até que outras universidades

começaram a solicitar inclusão no sistema. No final de maio de 2004, o site já operava em 34

faculdades e tinha quase 100 mil usuários. Daí em diante, o crescimento trouxe olhares e

capital de investidores, consolidando o TheFacebook como negócio.

Em dezembro de 2005, trocou o nome ―TheFacebook‖ apenas para ―Facebook‖. No

outono de 2006, foi aberto o registro para usuários não estudantes. No início de 2008, o

Facebook inaugurou um novo projeto de tradução e fechou o ano com acesso em 35 línguas,

de modo que 70% dos 145 milhões de usuários ativos já estavam fora dos Estados Unidos. No

final de 2009, havia 350 milhões de usuários em 180 países, com uma média de 1 milhão de

17 <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT292702-16382,00.html>. Acesso em: 13/05/2013.

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novos associados chegando a cada dia. Atualmente, o Facebook tem mais de 1 bilhão de

usuários, com inserção em 213 países18

.

Mesmo para David Kirkpatrick, que realizou um minucioso registro histórico com

pressupostos do jornalismo investigativo19

, ―a escala de crescimento global do Facebook nos

últimos anos é difícil de entender‖ (p.14). Ele estudou a trajetória de várias redes sociais e

concluiu que ―muitos dos componentes dos primórdios do Facebook foram originalmente

lançados por outros‖, e que ―o serviço é herdeiro de ideias que vêm evoluindo há quarenta

anos‖ (p.77). O documentário ―A Internet: Facebook‖, produzido e divulgado pela Discovery

Channel (2013), avalia que a diferença entre o Facebook e outras redes sociais é a ambição de

seu criador, que lembra o jovem Bill Gates, que começou com a meta de colocar um PC em

cada escrivaninha em todos os lares e escritórios no mundo e todos rodando com softwares da

Microsoft.

No caso de Zuckerberg, segundo o documentário, ―sua maior ambição é criar um

serviço que capture a totalidade da conectividade humana para criar, o que se pode dizer, a

máquina definitiva de relacionamentos‖. Como também alertou Kirkpatrick:

Há anos se brinca nos escritórios do Facebook que o objetivo da empresa é a

―dominação total‖. Mas a razão de isso ser engraçado é que evoca uma verdade

surpreendente. Zuckerberg percebeu há muito tempo que a maioria dos usuários não

se empenharia em criar vários perfis em diversas redes de relacionamento. Também

sabia, a partir de infindáveis papos com os amigos em Harvard e em Palo Alto sobre

os ―efeitos da rede‖, que, uma vez iniciada a consolidação de uma plataforma de

comunicações, isso pode se acelerar e fazer com que ela se torne quase um

monopólio: as pessoas vão aderir às ferramentas de comunicação que já estejam

sendo usadas pelo maior número de outras pessoas. Assim, sua meta passou a ser

criar uma ferramenta não para os Estados Unidos, mas para o mundo. O objetivo era

superar todas as outras redes sociais, onde quer que estivessem, conquistar seus

usuários e tornar-se, na prática, a rede padrão. Na opinião de Zuckerberg, era isso ou

desaparecer. (KIRKPATRICK, 2010, p.294)

Na lógica de Zuckerberg, reduzir gradualmente a dominância de redes sociais

contrárias a esse projeto era um imperativo estratégico. Quando Kirkpatrick escreveu O Efeito

Facebook, em 2010, o Facebook ainda apresentava no Brasil um adversário local: o Orkut,

líder em número de usuários. Curiosamente, tratava-se da evolução do Clube Nexus, antigo

18 <http://tecnologia.uol.com.br/album/2012/08/03/maior-rede-social-do-mundo-facebook-tem-numeros-

estratosfericos-conheca.htm#fotoNav=2>. Acesso em: 13/05/2013. 19 Outro registro da história do Facebook (e mais conhecido por ter inspirado o filme ―A Rede Social‖) é o livro

―Bilionários por acaso – A criação do Facebook‖, de Ben Mezrich. A obra não nos serve como parâmetro

científico por ser declarada como um romance baseado em fatos reais, e não um registro histórico documental.

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adversário na Universidade de Stanford, que foi adquirido pelo Google e lançado para uso

popular em janeiro de 2004, duas semanas antes do TheFacebook.

De início, prosperou nos Estados Unidos e manteve-se firme diante da enorme onda

do MySpace, mas por volta do final de 2004, e de maneira um tanto extraordinária,

foi inteiramente tomado pelos brasileiros. Uma grande campanha popular para

conseguir mais usuários no Brasil do que nos Estados Unidos despertou o

entusiasmo dos jovens do país. Uma vez alcançada a meta, o serviço adquiriu um

elenco nitidamente brasileiro e de língua portuguesa, e os americanos gradualmente

começaram a abandoná-lo. (KIRKPATRICK, 2010, p.89)

Segundo o site TechNet20

, em Janeiro de 2011, o Orkut era a rede social de 70% da

população brasileira online e o Facebook tinha apenas 17%. Apenas quatro meses depois a

tendência começou a inverter-se e hoje o Brasil é o segundo país do mundo com mais

usuários na rede social (Figura 3). Ainda que a quantidade de novos perfis não represente

necessariamente a quantidade de usuários únicos, – uma pessoa pode ter mais de um perfil –

esses números sinalizam alterações de padrão significativas. Afinal, a mudança também

colocou o Facebook como o site mais acessado do país segundo o ranking Alexa21

, superando

até mesmo o Google, enquanto o Orkut figura na posição 53 (Figuras 4 e 5). Essa queda na

quantidade de acessos nos permite inferir que mesmo os perfis existentes no Orkut estão

sendo gradualmente abandonados.

Figura 3: Crescimento do Facebook no Brasil, segundo a revista Veja22.

20 http://www.techenet.com/2013/04/penetracao-facebook-brasil/. Acesso em: 14/05/2013. 21 http://www.alexa.com/topsites/countries/BR. Acesso em: 14/04/2013 às 0:26h. 22 http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/facebook-alcanca-73-milhoes-de-usuarios-no-brasil. Acesso em:

13/05/2013.

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Figura 4: Facebook em primeiro lugar entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa em

14/05/2013.

Figura 5: Orkut na posição 53 entre os Top Sites no Brasil - Print Screen do ranking Alexa em 14/05/2013.

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O Orkut funcionava por meio de perfis criados pelas pessoas ao se cadastrar, em um

mecanismo muito semelhante ao do Facebook. Após o cadastro, os usuários indicavam quem

eram seus amigos e podiam criar comunidades, apropriadas como fóruns de mensagens.

Inicialmente, os usuários eram atraídos pela possibilidade de interagir nos perfis dos

amigos e nas comunidades. Depois, com o crescimento da quantidade de perfis e

comunidades, o propósito da interação foi ficando estruturalmente limitado. Se a intenção era

saber das novidades sobre os amigos, quanto mais a rede crescia, mais difícil era acompanhar

a vida de cada um, já que para isso era preciso acessar os perfis individualmente. Além disso,

a adesão expressiva às comunidades acabou tornando-as ambientes fantasmas, já que a

impossibilidade de participação ativa em todas elas transformava-as em meros selos

identitários. Com essa mudança de finalidade, a criação de fóruns sem propósito específico

multiplicou-se.

Observar essa trajetória do Orkut é fundamental para compreender a lógica de

abandono de seus usuários, bem como compreender o diferencial apresentado pelo ―Feed de

Notícias‖ adicionado ao Facebook em 2006. Segundo Zuckerberg, não era apenas um novo

recurso, mas uma mudança radical que representava a grande evolução do produto.

A nova ferramenta que eles desenvolveram ajudaria os usuários a encontrar a

qualquer momento as informações que mais lhe interessavam. Isso poderia incluir

tudo, desde a festa que um amigo pretendia ir na sexta-feira até atualizações sobre a

situação política do Tadjiquistão que alguém tivesse postado como link. A questão

era garantir aquilo que lhe interessava, o que quer que fosse. A ordem de

apresentação das informações dependeria daquilo que – com o seu comportamento –

você tivesse demonstrado que gostava de ver. (...) Então, cada vez que você entrasse

no serviço, ele classificaria as atividades de todos os seus amigos com base na

probabilidade de que você as considerasse interessantes. Esse cálculo tomaria como

base, entre outras coisas, seu comportamento anterior. (KIRKPATRICK, 2010,

p.196)

Apesar da expectativa, as primeiras reações dos usuários ao feed de notícias não foram

amigáveis e assim começou a maior crise enfrentada pelo Facebook até então. Segundo

Kirkpatrick, apenas uma em cada 100 mensagens que chegava sobre o assunto era positiva.

Grupos de protesto se multiplicavam dentro e fora do site e a principal objeção era que o feed

de notícias enviava informações demais pra gente demais.

Mas apesar do burburinho, Zuckerberg e todos no Facebook viam uma ironia básica

no episódio: os grupos de protesto tinham crescido com muita rapidez. O fato em si,

eles acreditavam, era uma prova da eficácia do Feed. As pessoas estavam entrando

nos grupos para protestar contra o Feed porque tinham ficado sabendo deles em seus

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feeds de notícias. Para ele, era a prova definitiva de que o feed de notícias tinha

funcionado conforme o planejado. (KIRKPATRICK, 2010, p.206)

Para aplacar a revolta, o Facebook promoveu ajustes nas configurações de

privacidade, enquanto via florescer outros grupos de finalidades diversas ao lado dos grupos

de protesto. E a aprovação à mudança foi comprovada por números, já que as pessoas estavam

passando mais tempo no site do que antes: as visualizações de página saltaram de 12 bilhões

para 22 bilhões de agosto para outubro daquele ano.

[Zuckerberg] Disse que não havia previsto o alvoroço porque tinha achado que os

usuários perceberiam que o feed só mostravam coisas que já eram visíveis no

Facebook antes; as coisas só estavam mais organizadas e bem apresentadas. (...)

Para o Facebook, o Feed de Notícias foi mais do que uma mudança. Foi o prenúncio

de uma transformação importante na forma como as informações são trocadas entre

as pessoas. (...) a nova forma de comunicação automatizada permitia que estivessem

em contato com muitas pessoas ao mesmo tempo com um mínimo de esforço. Isso

transformava o mundo em um lugar menor. (KIRKPATRICK, 2010, p.208)

Para Boyd (2006), esse argumento, embora compreensível, não consegue captar como

o recurso altera a dinâmica social do Facebook. Para ela, a discussão mais adequada não se

refere à privacidade da forma como é vista pelo mundo da tecnologia: o conceito de "privado"

como um único bit de 0 ou 1, traduzido em dados que são expostos ou não. A questão está no

sentimento de vulnerabilidade que as pessoas experimentam na negociação de dados e o

desconforto gerado a partir dos ângulos da exposição e da invasão, já que offline as pessoas

estão acostumadas a ter limites definidos arquitetonicamente.

A privacidade é um senso de controle sobre informação, o contexto onde a partilha

acontece, e o público que pode ganhar acesso. A informação não é privada porque

ninguém sabe dela, ela é privada porque o saber é limitado e controlado. Na maioria

dos cenários, as limitações são muitas vezes mais sociais do que estruturais.

(BOYD, 2006)23

Com essa visão, o Facebook se coloca como uma espécie de materialização estrutural

da aldeia global de McLuhan. E além da contradição entre exposição e invasão alertada por

Boyd, também traz a contradição entre outros dois conceitos: transparência e identidade.

Kirkpatrick conta que um dos ideais de Zuckerberg para o Facebook é contribuir para um

23 Tradução nossa. Do original ―Privacy is a sense of control over information, the context where sharing takes

place, and the audience who can gain access.Information is not private because no one knows it; it is private

because the knowing is limited and controlled. In most scenarios, the limitations are often more social than

structural.‖

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mundo mais transparente e aberto, pois mais visibilidade nos transformaria em pessoas

melhores: ―Em um mundo mais aberto e transparente, as pessoas terão de responder pelas

consequências de seus atos e estarão mais propensas a se comportar de forma responsável‖ (p.

216). Em outros termos, quando disponibilizamos dados no Facebook, estamos nos

comprometendo em honrá-los também fora do ambiente online.

Ao mesmo tempo em que fica mais fácil orquestrar a forma como as pessoas nos

veem, também fica mais difícil. Para o bem ou para o mal, o site está levando a uma completa

redefinição dos limites da identidade pessoal. Quando ambiciona que o Facebook seja a

máquina definitiva de relacionamentos, e discursa a favor da identidade única, Zuckerberg

também mostra que pretende suprimir outras redes sociais.

A época de ter uma imagem para seus colegas de trabalho e outra para as demais

pessoas que você conhece provavelmente logo vai chegar ao fim‖, diz ele. E

apresenta vários argumentos. ―Ter duas identidades para si mesmo é um exemplo de

falta de integridade, afirma, em tom moralista. Mas ele também tem uma

justificativa pragmática: O nível de transparência do mundo de hoje não suporta

mais que haja duas identidades para uma pessoa.‖ Em outras palavras: mesmo que

você queira separar informações pessoais das profissionais, já não conseguirá fazê-

lo, pois as informações sobre você proliferam na internet e em outros lugares.

(KIRKPATRICK, 2010, p. 215)

Ao mesmo tempo em que defende seu ponto de vista e seu ideal, Zuckerberg reafirma

como diferenciais positivos as questões sobre privacidade confrontadas por Boyd. Tratar essa

questão na trajetória do Facebook implica também posicioná-lo historicamente, uma vez que

os nativos digitais crescem diante de novos sentidos para velhos conceitos. Da mesma forma

que o significado da palavra ―amigo‖ não era o mesmo para Bauman e para seu interlocutor

no diálogo anteriormente descrito (p.30), a palavra privacidade não é vista com o cuidado de

seu sentido original pelos jovens que já nasceram na era da internet – para eles, as novas

tecnologias são as principais mediadoras das conexões entre humanos.

Segundo Palfrey e Gasser (2011), essa geração não se dá conta das possíveis

consequências dos dados deixados no espaço cibernético. Os autores comparam esses dados a

uma tatuagem - ―algo conectado a eles do qual não conseguirão se livrar mais tarde, mesmo

que queiram, sem uma enorme dificuldade‖:

Enquanto conduzem suas vidas sociais mediadas por serviços online, muito poucos

jovens estão prevendo as consequências da quantidade de dados que estão deixando

pra trás. Eles não estão em posição de fazer boas escolhas sobre o que querem que

esteja contido em seu dossiê digital – ou o que quer que venha a parecer sua

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identidade – daqui a alguns anos. (...) Muitos jovens pensam incorretamente que

suas conversas online são muito mais privadas do que realmente são. Há novos

incentivos para colocar informações sobre si (as normas sociais sugerem que mais

informações sobre si vão atrair mais informações), mas pouca checagem sobre seu

próprio comportamento (um senso de privacidade inato, ou alguém dizendo ―não

ouse se vestir desse jeito‖). O resultado é que em nenhum momento na história

humana as informações sobre um jovem – sobre ninguém, aliás – estiveram mais

livre e publicamente acessíveis a tantos outros. (PALFREY; GASSER, 2008, p.68-

69)

Um caso publicado em uma matéria sobre o poder das redes na revista Veja24

ilustra

bem essa realidade:

O preço da superexposição

A produtora cultural Liliane Ferrari, de 34 anos, é uma fanática confessa

pelas redes sociais on-line. Seu perfil está em nada menos que 21 comunidades

virtuais. Há dois anos, Liliane precisava contratar, em menos de uma semana,

quarenta educadores para duas exposições no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Atrás de indicações, enviou um e-mail para os amigos. A mensagem se alastrou e

sua vida passou a ser vasculhada em seu blog, no Facebook, no Orkut e no Twitter

por candidatos às vagas. No Orkut, Liliane começou a receber 300 recados por hora.

Descobriram até o número do seu celular. "A operadora de telefonia ligou

perguntando o porquê de tantas ligações – tive de trocar o número", conta. O pior foi

fazer as entrevistas: como sabiam tudo sobre ela, os candidatos se achavam íntimos.

"Eles perguntavam da minha filha e do meu passeio de fim de semana na praia. Foi

horrível", diz Liliane, que agora toma mais cuidado com suas informações na

internet.

Contatos virtuais: 2 800

Conhece pessoalmente: 150

Apesar desses problemas, no Brasil o site mantém a expansão: Em março de 2013, a

rede alcançou 70 milhões de usuários no país, um crescimento de 6%25

em relação a fevereiro

do mesmo ano. No entanto, mesmo mantendo a liderança com relação a outras redes sociais e

avançando sobre diferentes territórios, o Facebook vem apresentando sinais de desaceleração,

principalmente nos Estados Unidos. No mesmo período (março), seis milhões de usuários

abandonaram o site nos Estados Unidos e dois milhões na Inglaterra. Canadá, França,

Espanha e Japão também registraram redução. Segundo a revista Veja26

, a hipótese mais

provável para esse movimento, conforme declarações do próprio Facebook, é a migração dos

usuários para outros serviços.

24 Disponível em <http://veja.abril.com.br/080709/nos-lacos-fracos-internet-p-94.shtml>. Acesso em:

21/05/2013. 25 Disponível em <http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2013/05/facebook-perde-milhoes-de-usuarios-nos-

eua-e-na-inglaterra-em-marco.html>. Acesso em: 21/05/2013. 26 Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/eles-nao-curtem-mais-o-facebook>. Acesso em:

21/05/2013.

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Uma das hipóteses apontadas para esse movimento é da pesquisadora Raquel Recuero:

"Ser diferente dos outros é uma necessidade comum e antiga do jovem. Ao perceber que todos

estão no Facebook, ele busca por novos espaços digitais", afirmou à revista. Nesse sentido, a

universalidade do Facebook também é um estímulo à diferenciação, fenômeno já conhecido

quando os usuários deixaram de usar o Orkut para aderir ao Facebook. Outra hipótese

levantada pela revista foi a lentidão do Facebook em dispositivos móveis. A exemplo do

Friendster, esse tipo de falha técnica costuma ser fatal - considerando que a maioria dos

usuários acessa o site pelo aplicativo do smartphone, segundo dados divulgados pelo Portal

Exame27

:

Em média, no mundo, os usuários do Facebook passam mais tempo acessando a

rede social pelo celular do que pelo desktop. Segundo a empresa, a média de uso

mensal pelo celular é de 8 horas e 4 minutos. No desktop, 6 horas e 53 minutos. Ao

todo, o Facebook tem atualmente 1,11 bilhão de usuários únicos no mundo por mês,

dos quais 751 milhões acessam por meio de dispositivos móveis. No Brasil, são 73

milhões de usuários ativos por mês. Os números foram apresentados pelo diretor de

parcerias e mobilidade do Facebook na América Latina, Ricardo Sangion, que

participou do Tela Viva Móvel, nesta quinta-feira, 16, em São Paulo. Ele comentou

sobre a complexa fragmentação de interfaces, redes e plataformas que a empresa

precisa lidar para oferecer seu serviço. "São dezenas de combinações", disse. O

Facebook trata a questão com duas abordagens paralelas: em alguns casos tenta

oferecer a mesma experiência e, em outras, uma experiência complementar.

Ao traçar algumas características do Facebook, bem como seus usos e apropriações, a

seguir mostraremos um pouco mais sobre a maneira como a empresa vem disponibilizando

tais combinações e recursos, visando que todas as dimensões da ―experiência do sorvete‖

(cap.1) possam se reunir em uma única rede social.

2.2. Características e apropriações

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa ComScore, divulgados pela revista

Época28

, a média de uso nacional do Facebook foi de 756,4 minutos, ou 12,5 horas em

fevereiro de 2013 (Figuras 6 e 7). O crescimento em relação ao mesmo período do ano

anterior é de 98%. Como comparou a revista, ―é como se, ao somar todos os curtos momentos

27 Disponível em <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/facebook-e-mais-usado-pelo-celular-que-pelo-

desktop>. Acesso em: 21/05/2013. 28 Disponível em <http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-tecnologia/noticia/2013/04/tempo-gasto-por-

brasileiros-com-o-facebook-dobra-em-um-ano.html>. Acesso em: 21/05/2013.

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em que se usa o site, o brasileiro passasse a metade de um dia lendo e postando mensagens no

site‖.

Figura 6: Tempo gasto por brasileiros no Facebook. Fonte: Revista Época

Figura 7: Tempo gasto pelos brasileiros nas redes sociais. Fonte: ComScore29

29 Documento Brazil Future in Focus 2013. Comunicação por e-mail com Gesine Schulze, estagiária da

ComScore.

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A seguir, detalharemos quais são os principais recursos disponibilizados pelo

Facebook e de que forma os usuários se apropriam deles para justificar tanto tempo de

dedicação.

2.2.1. Perfil pessoal e linha do tempo

A figura 8 mostra a página inicial do Facebook. Para criar o novo perfil pessoal, o

processo é simples: basta informar nome e sobrenome, e-mail de identificação e senha, data

de nascimento e sexo. Esses dois últimos são os primeiros direcionadores das experiências

dentro do site. Os demais itens da página inicial serão tratados com mais detalhes adiante.

Figura 8: Página inicial do Facebook. Acesso em 21/05/2013.

Depois de realizar o cadastro, o usuário é convidado a identificar o perfil com uma

foto, preencher as principais informações pessoais, bem como efetuar as devidas

configurações da conta e de privacidade.

A aba ―Sobre‖ reúne informações gerais como histórico de trabalho e estudos, cidade

natal e cidade atual, orientação sexual, religião, preferência política, status de relacionamento,

idioma(s), informações de contato (e-mail, telefone, comunicadores, endereço) citação

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favorita e uma breve descrição biográfica. À medida que são realizadas conexões com novos

amigos, também é possível identificar nesse perfil os membros da família presentes na rede.

Com base nessas informações, o Facebook monta um histórico de sua vida por ano (Figura 9).

Cada dado fornecido é submetido a um filtro de privacidade, no qual você escolhe para quem

ele pode ser visível: ―somente amigos‖, ―somente amigos de amigos‖, ―somente eu‖ e

―público‖, além de listas que podem ser previamente configuradas: ―melhores amigos‖,

―família‖, entre outras. Por fim, o usuário pode escolher uma imagem de capa, de tema livre,

que geralmente expressa algum aspecto identitário: uma foto pessoal, uma mensagem ou uma

imagem conceitual.

Depois dessa primeira etapa, os itens que vão compor o perfil do usuário são

determinados conforme as experiências de navegação. Páginas preferidas, livros, filmes,

programas de TV, música, jogos, lugares onde se esteve (identificados por geolocalização,

mediante ação de compartilhamento do próprio usuário ou de um amigo), grupos abertos aos

quais pertence (os fechados não são exibidos), notas publicadas, entre outros.

Figura 9: Parte de um perfil no Facebook. Acesso em 21/05/2013.

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Toda atividade realizada dentro do site acaba deixando um ―rastro‖. Alguns rastros são

adicionados a esse perfil, outros passam a figurar junto com as postagens voluntárias na linha

do tempo, uma espécie de mural organizado em ordem cronológica (Figura 10). Amigos

também podem fazer postagens na linha do tempo, tanto de maneira direta como indireta

(quando ele marca o usuário em uma publicação na linha do tempo dele). Todas essas ações

estão associadas a configurações de privacidade que determinam se podem ser divulgadas e

para quem.

Figura 10: Linha do tempo no Facebook. Acesso em 21/05/2013.

Ao construir um perfil em uma rede social, constrói-se uma representação de um

interagente, uma vez que no ciberespaço o processo de conhecimento e reconhecimento não

se dá de forma imediata. Segundo Recuero,

(...) é preciso que essa presença seja construída através de atos performáticos e

identitários tais como a construção de representações do eu. (...) Assim, as

conversações estudadas pelos atores seriam, também, formas de construir

performances que constroem para a audiência impressões a respeito de quem são os

interagentes. (RECUERO, 2012, p. 59)

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Em uma análise sobre o impacto da quantidade, da velocidade e da instantaneidade

com que novas informações recaem sobre os usuários, à luz dos estudos de McLuhan, Pereira

(2011) avalia que essas condições trazem um problema de identidade para as pessoas e

instituições: Ao mesmo tempo em que as tornam cúmplices entre si, produzem um efeito de

confusão identitária generalizada. É como se todos os muros caíssem e os indivíduos

tivessem que se ajustar a essa nova proximidade compartilhando muito para manterem-se

estranhos, em uma demanda permanente de significações para identidades movediças.

Em entrevista a Casalegno (1999), Sherry Turkle é otimista nesse sentido: para ela, o

que ocorre no ambiente online não são distúrbios de personalidade, mas a exposição de

diferentes aspectos de si mesmo, em uma multiplicidade não patológica. Entretanto, se

voltarmos a um dos fatores impulsionadores do Facebook – a latente competição social de

Harvard – entendemos uma tendência em expor múltiplos aspectos de si mesmo apenas se

eles forem positivos, o que em si já provoca distorções de percepção. Conforme alertou

Lester,

Não admira que particularmente os estudantes de Harvard achem tão tentadora a

oportunidade de criar uma persona on-line. A maioria de nós passa os anos do ensino

médio construindo currículos tão recheados que conseguiriam se defender sozinhos

em uma luta de sumô, e essa experiência culmina com o pedido de admissão à

faculdade. (...) Acima de tudo, [TheFacebook] é sobre desempenho (...) e sobre deixar

que o mundo saiba porque somos importantes. Em suma, é o que os estudantes de

Harvard sabem fazer melhor. (LESTER, 2004)30

Na entrevista, Turkle afirmou que a expressão da multiplicidade fornecia inúmeras e

interessantíssimas maneiras de fazer um trabalho psicológico. Nesse ponto, a distorção em

favor da positividade também fala mais alto. Uma pesquisa realizada pela universidade

britânica de Portsmouth, por exemplo, concluiu que navegar pelo próprio perfil no Facebook

pode ajudar a melhorar o humor das pessoas. Segundo o UOL Tecnologia31

:

O levantamento chega até a dizer que a sensação de verificar o que já foi postado

pode ser tão calmante quanto à de caminhar em um parque. O departamento de

computação da instituição, responsável pela pesquisa, descobriu que as pessoas

tendem a fazer publicações (atualizações de status ou de fotos) que tenham algum

significado positivo para elas. Ao verificar as postagens do perfil quando se está

depressivo ou nervoso, faz com que os usuários se lembrem de momentos felizes.

30 Tradução de David Kirkpatrick. 31 Disponível em <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/18/olhar-o-proprio-perfil-no-facebook-

pode-ajudar-a-reduzir-mau-humor-diz-pesquisa.htm>. Acesso em: 22/05/2013.

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"Nós ficamos surpresos com as conclusões da pesquisa, que contradizem

alguns levantamentos feitos recentemente. Os resultados indicam que nós

poderíamos usar este tipo de artifício [olhar o perfil no Facebook] como uma forma

de tratar o mau humor", disse Dra. Alice Good, do departamento de computação da

Universidade de Portsmouth.

(...) "Essas descobertas são fascinantes. As fotos postadas são uma lembrança

positiva de eventos passados. Quando estamos chateados ou com mau humor, é

comum que a gente esqueça o quanto nós já nos sentimos bem, e nossos posts

positivos nos ajudam a lembrar disso", disse o psicólogo Clare Wilson, que

participou da condução da pesquisa.

Outra reportagem, publicada na revista TRIP32

, realiza um manifesto anti-perfeição,

alertando que as redes sociais mudaram a relação que temos com a nossa própria imagem e

com o resto do mundo. Nesse sentido, o que é mostrado no Facebook não representaria a vida

como ela é, mas a vida como nós gostaríamos que ela fosse.

Não é de hoje que se espelhar nos outros para avaliar a sua própria vida é um

comportamento comum. Mas é fato que as redes sociais costumam deixar a

felicidade alheia mais sedutora, transformando pessoas e situações em ideais.

Imagens de ―vida perfeita‖ sempre estiveram aí, carregando a mensagem

inquietadora: ―Você poderia ser melhor‖.

Essa concepção em mutação da identidade associada ao princípio de transparência

proposto por Zuckerberg oferece tanto riscos como oportunidades. A administração e

resolução dos paradoxos talvez passem por um esforço comunitário na disseminação dessas

ideias, utilizando-se da própria rede para combatê-las, tal como aconteceu no lançamento do

feed de notícias.

2.2.2. Atualização de status, feed de notícias e recursos de interatividade

A figura a seguir (Figura 11) exibe as opções disponibilizadas pelo Facebook para

uma publicação pessoal, chamada ―atualização de status‖.

32 Disponível em <http://revistatpm.uol.com.br/revista/127/reportagens/vida-perfeita-so-existe-no-

facebook.html>. Acesso em: 22/05/2013.

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Figura 11: Atualização de status no Facebook. Acesso em 21/05/2013.

A frase ―no que você está pensando?‖ é apenas uma mensagem aleatória que aparece

para instigar o compartilhamento. Outras frases como ―O que você está fazendo?‖ e ―Como

você está se sentindo?‖ são alternadas durante a navegação. Na caixa de diálogo, o usuário

pode escrever uma mensagem, adicionar uma foto ou um vídeo a ela, ―marcar‖ amigos

relacionados ao conteúdo, apontar o local de onde se posta (identificado por geolocalização) e

selecionar os amigos que poderão ver a postagem. Essa atividade, arquivada na linha do

tempo, também é disponibilizada no feed de notícias (Figura 12) dos amigos e assinantes

(aqueles que não são aceitos como amigos, mas desejam seguir o conteúdo público de

alguém).

Figura 12: Home do Facebook para usuário cadastrado. Acesso em 21/05/2013.

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O Feed de notícias é uma lista em constante atualização de históricos de pessoas e

páginas que você segue no Facebook. Como se pode perceber, além dele, na página inicial do

cadastrado há diversos outros elementos que exibem informações de usuários (os rastros

involuntários anteriormente citados), bem como notificações de atividades de grupos e

páginas aos quais os usuários estão vinculados. É importante ressaltar que toda atividade no

Facebook possibilita algum tipo de interação e conexão. Por exemplo: Quando se lista

membros da família, permite-se que outras pessoas se conectem com eles; Quando se lista um

emprego ou escola a partir de páginas institucionais, permite-se que usuários com atividades

semelhantes se reúnam; Quando se realiza alguma publicação, os amigos podem ―curtir‖,

comentar e compartilhar, e como essa ação também gera uma atividade no feed de notícias

dos amigos dos amigos, o alcance viral de uma simples ação se amplia de conexão em

conexão. A exemplo de Recuero, chamamos esses elementos que guiam a conversação

mediada por computador como ―marcadores conversacionais‖:

(...) constituem-se em elementos que são apropriados, modificados e utilizados de

acordo com as normatizações estabelecidas pelos grupos. Eles vão constituir o

contexto da conversação e guiar o andamento e a negociação da mesma. De certa

forma, eles são responsáveis por reproduzir o ambiente da conversação, guiando os

atores com relação à cultura estabelecida e as normas. (RECUERO, 2012, p. 78)

Uma particularidade interessante do Feed de notícias é que todas elas estão incluídas

no mesmo fluxo de informação, sem nenhuma hierarquia de prestígio – exceto pelos

marcadores de conversação que exibem a interatividade presente em cada mensagem:

quantidade de comentários, compartilhamentos e likes33

. O usuário pode determinar se as

postagens do feed são exibidas por ordem cronológica (postagens mais recentes) ou por

popularidade (principais histórias). De acordo com a Central de Ajuda do Facebook34

, essa

popularidade é medida por um algoritmo que usa diversos fatores para determinar as

principais histórias, incluindo o número de comentários, quem as publicou e o tipo de

publicação (ex: foto, vídeo, atualizações de status etc). Dessa forma, durante a apropriação da

ferramenta, os aspectos técnicos direcionam a interação junto com os aspectos sociais e

culturais.

33 ―Like‖ (―curtir‖, na versão brasileira) é um botão presente em cada postagem do Facebook, pela qual o leitor

identifica se gostou ou não do conteúdo da publicação. 34 Disponível em https://www.facebook.com/help/327131014036297/. Acesso em 22/05/2013.

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Como a percepção de valor está na percepção dos comentários, likes e

compartilhamentos, a negociação da relevância da conversação acaba sendo determinada pela

audiência, e não pelo seu autor, ratificando o conceito de Coleman (1988), para quem o

capital social não está nos atores em si, mas em sua estrutura de relações.

2.2.3. Bate-papo, eventos e grupos

A construção de relacionamentos no Facebook ocorre não apenas a partir de

exposições públicas, mas também na articulação de pessoas em atividades reservadas e de

abrangência limitada. Com recursos de bate-papo, organização de eventos e formação de

grupos, com o tempo o site também passou a promover a viabilidade de vínculos mais

íntimos, induzindo a substituição serviços específicos pela comodidade da convergência: se

todos os amigos estão no Facebook, não é preciso realizar múltiplos logins em sites diversos

para estabelecer e manter diferentes tipos de contato. Essa comodidade é traduzida na

integração a um diagrama social que outros serviços já não possuem diante da ascensão da

empresa. Segundo Recuero (2012), a relevância desses recursos está na possibilidade de gerar

um espaço seguro onde seja possível ―desenvolver conversações em que os atores envolvidos

não pretendem dividir informações com a rede social inteira‖ (p. 151).

Essas conversações privadas também parecem ter importância para a manutenção e

o aprofundamento dos laços sociais, uma vez que permitem ao ator focar em um

grupo menor dentro de sua rede, estreitando ali componentes como confiança e

intimidade. (RECUERO, 2012, p. 151)

No caso do bate-papo do Facebook, todos os amigos conectados à rede tornam-se

potenciais contatos, cuja lista é organizada automaticamente pelo próprio sistema na

identificação dos contatos mais frequentes (Figura 13). Todas as conversas do bate-papo

ficam armazenadas em uma caixa de mensagens, que funciona também como uma espécie de

serviço de e-mail: reúne mensagens trocadas quando um dos usuários está off-line e permite o

alcance de vários destinatários criando um diálogo entre diferentes pessoas (Figura 14). A

troca de mensagens é possível entre todos os usuários da rede e o bate-papo é disponível

apenas para amigos, mas pode-se optar por ―aparecer off-line‖. Todos esses mecanismos estão

vinculados a configurações de privacidade.

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Figura 13: Visão da lista de contatos integrado ao feed de notícias do Facebook. Acesso em 27/05/2013.

Figura 14: Caixa de mensagens e lista de contatos do Facebook. Acesso em 27/05/2013.

Outro recurso que viabiliza a interação restrita é a ferramenta de grupos (Figura 15).

Ao definir as configurações de privacidade de um grupo, pode-se definir se ele será aberto

(qualquer interessado pode entrar) ou fechado (apenas usuários convidados/aprovados podem

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entrar). Nos dois casos, qualquer usuário pode visualizar seu conteúdo, mas não é autorizado a

interagir. Quando o grupo é definido como secreto, apenas seus membros podem visualizar e

interagir. A página do grupo funciona como um feed de notícias particular, seguindo uma

segmentação de interesses.

Figura 15: Página do grupo ―Mestrado em Comunicação – FAAC – Unesp‖ no Facebook. Acesso em

27/05/2013.

Por fim, a ferramenta Eventos (Figura 16) favorece o aprofundamento de vínculos fora

do Facebook. O organizador cria a notificação de um evento, determina se sua visualização

será pública ou privada e convida contatos potencialmente interessados. O organizador

também pode determinar se os amigos convidados podem convidar outros contatos.

Os eventos para as quais um usuário é convidado aparecem em seu calendário virtual

junto com as notificações de aniversário dos amigos conectados. Então, ele responde ao

convite a partir de três opções: ―participar‖, ―talvez‖ e ―recusar‖.

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Figura 16: Calendário de eventos no Facebook. Acesso em 26/05/2013.

A página de um evento contém os dados sobre ele, as listas de usuários que foram

convidados, os que confirmaram presença, os que não irão e os que ainda não sabem se irão.

Também traz um feed de notícias particular sobre o evento, no qual todos os convidados que

responderam ao convite de alguma forma podem se manifestar com atualizações de status.

Mesmo depois de um evento, a página pode ser mantida, unificando o fluxo de informações

sobre ele antes, durante e depois de sua realização (Figura 17).

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Figura 17: Página de eventos no Facebook. Acesso em 26/05/2013.

A praticidade e o alcance do recurso ―Eventos‖ permite que ele seja apropriado

tanto como organizador da vida social quanto mobilizador. Um caso interessante

particularmente chamou atenção para esse potencial: Na Alemanha, a justiça de vários estados

tentou proibir a realização de festas convocadas pelo Facebook para conter possíveis ameaças

à ordem pública. A possibilidade surgiu depois que uma jovem criou um convite na rede

social para comemorar o aniversário e deixou o evento aberto. Conforme noticiou o portal

Terra35

, mais de 1,6 mil pessoas compareceram e pelo menos 100 policiais tiveram que ser

convocados para controlar a situação. O ―saldo‖ foi de 11 participantes detidos por agressão

física, danos materiais e resistência à autoridade.

Conforme alertou Recuero (2012), apesar do caráter privado desses recursos, há

possibilidade de que as conversações se tornem públicas, seja por um erro dos participantes

com relação à ferramenta ou pela própria possibilidade de arquivamento (permanência) que é

característica dessa mediação.

35 Disponível em http://tecnologia.terra.com.br/internet/justica-alema-exige-proibicao-de-festas-marcadas-pelo-

facebook,3e19dceae77ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 27/05/2013.

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2.2.4. Fanpages e publicidade

Voltando à Figura 8, que mostra a página inicial do Facebook, logo abaixo ao botão de

cadastro está a seguinte mensagem: ―Crie uma página se você for uma celebridade, uma

banda ou uma empresa‖ (Figura 18). Chamadas de FanPages (Figura 19), essas páginas são

destinadas a instituições e figuras públicas e possuem um modo de atualização e diagramação

semelhantes aos perfis pessoais, mas com diferentes mecanismos de cadastro, interação e

adesão.

Figura 18: Página de cadastro de fanpages. Acesso em 23/05/2013.

Quando instituições começaram a criar perfis no Facebook, elas podiam atingir seus

públicos-alvo de maneira ativa por meio de solicitações de amizade, marcação de usuários em

postagens, convites para eventos e grupos, entre outros recursos. Essas práticas são bem

vindas entre pessoas, mas soam invasivas quando envolvem uma intencionalidade publicitária

ou o engajamento a uma causa. Nessa nova realidade, as conexões do site deixaram de ser

exclusivamente baseadas no relacionamento pessoas < > pessoas e o Facebook entendeu que

o relacionamento pessoas < > marcas tinha outras particularidades e deveria ser orientado de

maneira diferenciada. Com a alternativa de criar fanpages, manter uma instituição como perfil

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pessoal passou a ir contra a política do site, embora muitos ainda insistam nessa prática sob

risco de serem banidos.

Figura 19: Exemplo de fanpage – visualização para usuário. Acesso em 23/05/2013

Não há limite quanto ao número de pessoas que podem se conectar a uma fanpage,

diferente dos perfis pessoais que podem reunir no máximo 5 mil amigos. Ao invés de solicitar

amizade, o usuário interessado pode ―Curtir‖ uma fanpage, então, ele se conecta como fã a

essa figura ou organização pública sem necessidade de aprovação prévia e começa a

acompanhar as atualizações de status, fotos, vídeos e outras mensagens. A denominação de

―fãs‖ trouxe um novo caráter às relações entre clientes e marcas. O ato de curtir uma página é

voluntário e expressa admiração pública, indo além do mero consumo anônimo. A fanpage

segue a mesma filosofia do perfil pessoal e da linha do tempo, nos quais os usuários contam

histórias que criam suas identidades, tal como na construção de uma marca. Ao construir a

própria identidade, a marca também contribui com a construção da identidade do usuário:

Uma vez que ele é fã de uma página, ela é listada em seu perfil e fica visível para "todos", a

menos que as configurações de privacidade tenham sido alteradas.

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Para fins de monitoramento, o Facebook também oferece aos administradores das

páginas informações estatísticas anônimas sobre a atividade dos fãs (Figura 20). Por meio

delas, é possível avaliar o desempenho da página, saber que conteúdo combina com o

público-alvo e otimizar a forma de publicação para obter mais interações e,

consequentemente, melhorar o alcance viral das postagens.

Figura 20: Página de estatísticas de uma fanpage. Acesso em 23/05/2013.

Outra característica importante das fanpages é a ampliação da possibilidade de

customização por meio de aplicativos personalizados (Figura 21) – algo possível diante da

transformação do Facebook em uma plataforma de software livre que não favorece seus

próprios aplicativos. Conforme explica Kirkpatrick,

A empresa concedeu um extraordinário grau de liberdade aos novos

parceiros. De forma surpreendente, pretendia permitir que os desenvolvedores

ganhassem dinheiro com seus aplicativos, mas não cobraria absolutamente nada

deles pelo direito de operar dentro do Facebook. ―Aqui, as pessoas podem

desenvolver aplicativos de graça‖, disse Zuckerberg mais ou menos na época em que

a plataforma estreou, ―e podem fazer o que quiserem. Podem publicar anúncios.

Podem ter patrocínios. Podem vender coisas, fazer links com outro site. Somos

simplesmente agnósticos. Haverá empresas cujo único produto será um aplicativo

que vive dentro do Facebook.‖

(...) Alguns de seus colegas, porém, em particular os que vendiam

publicidade para o site, tiveram um ataque apoplético. (...) Entretanto, apesar de

todos os protestos, Zuckerberg se manteve irredutível. A atividade nos aplicativos,

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argumentou, poderia gerar mais atividade no Facebook. Isso resultaria em mais

visitas às páginas, e o Facebook reservaria um espaço nas próprias páginas dos

aplicativos para vender seus anúncios. (KIRKPATRICK, 2010, p. 239)

Figura 21: Exemplo de aplicativo ativo em fanpage. Acesso em 24/05/2013.

Com essa visão, Zuckerberg mostrava que a prioridade do negócio continuava sendo o

fortalecimento do Facebook no mercado. Como o bom posicionamento do site sempre foi

associado à qualidade da experiência do usuário, esse movimento era estratégico: permitiu

que, com o tempo, a publicidade fosse extremamente direcionada a contextos favoráveis.

Já que precisava ter anúncios, Zuckerberg esperava desenvolver modelos que não

interferissem na experiência do usuário. Segundo Kirkpatrick (2010), ―a última coisa que ele

queria é que as pessoas se sentissem como se estivessem assistindo à televisão, em que o

programa é periodicamente interrompido por publicidade irrelevante e fútil‖ (p. 253).

Em 7 de novembro de 2007, esse compromisso foi reafirmado na divulgação da nova

plataforma de publicidade pelo blog do Facebook36

. O texto afirmava que o sistema

conectaria o usuário ao que ele estaria realmente interessado com base nos hábitos de

navegação dentro e fora do Facebook, assegurando que as informações pessoais não seriam

36 Tradução nossa. Disponível em <https://blog.facebook.com/blog.php?post=6972252130>. Acesso em:

24/05/2013.

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vendidas e que o site continuaria ―limpo e livre da bagunça‖. Em outro post37

que explica o

papel da publicidade no Facebook, em 2010, Sheryl Sandberg, diretora de operações da

empresa, afirma que

Em um mundo mais conectado, os anunciantes também são sociais. Isso lhe dá a

chance de se conectar com as empresas e marcas que você gosta e aprender mais

sobre seus produtos e serviços. Acreditamos que a publicidade social mais

personalizada complementa as maneiras que as pessoas usam o Facebook todos os

dias, para descobrir, compartilhar e se conectar com as pessoas e o mundo ao seu

redor. (...) Assim como a publicidade mudou a experiência de pesquisa na web,

achamos que os anunciantes são uma parte significativa do grafo social e da

experiência on-line como um todo.

Figura 22: Anúncios sociais no Facebook. Acesso em 24/05/2013.

A figura 22 mostra que, para ratificar a relevância dos anúncios, o Facebook os

vincula às atividades de amigos, presumindo que a melhor referência é a indicação deles.

Muitas mudanças nos padrões de anúncios foram sendo feitas ao longo do tempo, mas sempre

seguindo esse princípio do vínculo social. Algumas foram mais significativas, como o botão

37 Tradução nossa. Disponível em <https://blog.facebook.com/blog.php?post=403570307130>. Acesso em:

24/05/2013.

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―Promover‖ (Figura 23) adicionado em 2012 aos posts das páginas, sugerindo aos

administradores a promoção do conteúdo na rede social. Com o recurso, as mensagens

passavam a aparecer como ―publicação sugerida‖ (Figura 22) nos feeds de notícias das

pessoas que ainda não curtiam a página.

Figura 23: Promoção de publicações em fanpages. Acesso, em 24/05/2013.

Em 2012, o Facebook passou a oferecer gradualmente a opção de promover postagens

dos próprios usuários com uma posição de destaque no feed de notícias (Figura 24). Em artigo

na Folha Online38

, Ronaldo Lemos avaliou que pagar para ser ouvido faz todo o sentido

quando há muita informação sendo produzida e ―escassez de olhos e ouvidos para prestar

atenção em tudo‖. ―O Facebook está usando a carência universal por atenção para ganhar

dinheiro. Na sua visão, viramos todos publicitários de nós mesmos‖, escreveu.

38 Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/1243917-entenda-melhor-o-misterioso-

caso-dos-posts-do-facebook.shtml>. Acesso em: 24/05/2013.

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Figura 24: Promoção de publicações pessoais no Facebook. Acesso em 24/05/2013.

2.2.5. O fenômeno dos objetos estéticos: foto e vídeo

Considerando a interface gráfica da internet, a conversação mediada pelo computador

vai além do texto escrito, amparando-se também na linguagem sonora, visual e digital,

mesclando diferentes habilidades e sentidos na produção de significados. Particularmente, a

imagem permite recortar, apreender e organizar o real e o imaginário de maneira privilegiada,

ocupando papel central na cultura do consumo. Não à toa, sua centralidade também se

manifesta de maneira especial na apropriação do Facebook.

Logo após atingir 5 milhões de usuários, o Facebook se inspirou na tendência de

diversos serviços de hospedagem de fotos que começavam a ganhar espaço na internet. Um

novo recurso, segundo Kirkpatrick (p. 180), transformou o serviço prestado pelo site. Ele

permitia que os usuários carregassem fotos, distribuíssem em álbuns e submetessem o

material aos comentários dos amigos. O grande diferencial, que caracterizava o espírito do

site, era permitir que os amigos representados tivessem seus perfis marcados nessas fotos

(Figura 25). Eles recebem uma notificação de alerta da atividade e podem aprovar ou não,

mediante configurações de privacidade. Dessa forma, o diagrama social fornece mais

informações, contexto e um senso de companheirismo.

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Figura 25: Marcação de fotos no Facebook. Acesso em 25/05/2013.

Kirkpatrick conta que o recurso Fotos tornou-se o hóspede de fotografias mais popular

da internet e a característica mais popular do Facebook em pouco tempo, sendo, inclusive,

determinante para a compreensão do ―efeito Facebook‖: o relacionamento entre as pessoas

utilizado como sistema de distribuição.

Um mês após seu lançamento, 85% dos usuários do serviço haviam sido marcados

em pelo menos uma foto. Após o lançamento do recurso de fotos, as pessoas

passaram a entrar no Facebook mais frequentemente, já que, com mais frequência,

havia algo de novo para se ver. Isso deixou Zuckerberg muito entusiasmado, pois

sua principal medida do sucesso era o número de vezes que os usuários retornavam.

Um total de 70% dos estudantes voltavam a cada dia, e 85% voltavam pelo menos

uma vez por semana. É uma espantosa taxa de lealdade do usuário para qualquer site

da internet – e para qualquer tipo de empresa, na verdade. (...) No final de 2010, o

Facebook estava hospedando 40 bilhões de fotografias e tinha se tornado, de longe,

o maior site de fotos do mundo. (KIRKPATRICK, 2010, p. 180)

A este mecanismo estratégico do Facebook, soma-se a popularização e

aperfeiçoamento das tecnologias portáteis de imagem digital presentes em câmeras, celulares

e smartphones, que tornaram cada vez mais simples e acessíveis a captura, o armazenamento,

a edição, a visualização e a distribuição das fotografias. Souza (2008) destaca a necessidade

da fotografia como instrumento para a memória de uma sociedade de perdas contínuas, que

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precisa ser recriada todos os dias. Para tal, a fotografia é guardada para ser esquecida

temporariamente - ―Esquecer sabendo que está lá, que pode ser ressuscitada‖ (p. 45). No

contexto da internet e suas ―identidades movediças‖, tal necessidade se amplia.

Para funcionar como memória de rupturas e distanciamentos, a fotografia precisa ser

vista como um conjunto narrativo de histórias e não como um mero fragmento imagético. Se

observarmos a exposição dessas imagens na linha do tempo do Facebook, em um contexto de

construção da identidade, é possível compreendê-las dentro de uma perspectiva minimamente

temporal. Entretanto, no momento que a foto é exibida no feed de notícias, assume outra

função: chamar atenção para estabelecer vínculos – identificados por meio dos marcadores de

conversação curtir-comentar-compartilhar. Com essa democratização da auto representação

somada ao deslocamento dela para um único fluxo de informação (o feed de notícias) com

múltiplos atores, talvez o que presenciamos não seja a promoção da igualdade, mas o

fortalecimento da disputa por visibilidade e pelo poder simbólico de imagens pessoais no

espaço público.

Para Baudrillard (1991), a sociedade nesse cenário pós-moderno é organizada em

torno da simulação e dos jogos de imagens e signos que determinam como os indivíduos se

percebem e relacionam, de modo que a economia, a vida social e a cultura são todas

governadas pela simulação. E aqui cabe mais uma vez a máxima de McLuhan:

―compartilhamos para sermos estranhos‖. Conforme descreveu Lévy (1993), passamos nosso

tempo modificando e organizando os espaços em que vivemos, ―conectando, separando,

articulando, robustecendo-os, introduzindo novos objetos a eles, movendo correntes e

deslocando as intensidades que as estruturam, de um espaço a outro‖.

No Facebook, toda essa lógica de produção e distribuição de imagens não se restringe

aos álbuns de fotografias digitais. Na busca pelo despertar da atenção e do apreço do outro, as

atualizações de status baseadas apenas em mensagens de texto foram perdendo espaço ao

mesmo tempo que recursos multimídia foram sendo disponibilizados. Para chamar a atenção

da rede de amigos, é costumaz a amplificação das mensagens de texto por meio de sua

adaptação em forma de imagem, com adição ou não de outros elementos (Figuras 26, 27 e

28).

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Figura 26: Visualização de imagem + texto no Facebook. Acesso em 26/05/2013.

Figura 27: Postagem de imagem + texto no feed de notícias. Acesso em 26/05/2013.

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Baitello (2007) avalia que ―um ambiente comunicacional constitui uma atmosfera

saturada de possibilidades de vínculos de sentido e vínculos afetivos em distintos graus. Será,

pois, integrada em seu ambiente, a imagem que permitirá entrever sua função‖. Para ele, esse

processo sinaliza não apenas o domínio da imagem, mas ―uma visível perda progressiva da

escrita em favor de ícones‖.

Um ambiente comunicacional portanto não é apenas o pano de fundo para uma troca

de informações, mas uma atmosfera gerada pela disponibilidade dos seres (pessoas

ou coisas), por sua intencionalidade de estabelecer vínculos. Assim, uma cultura da

palavra escrita constrói ambientes adequados às temporalidades da leitura. E uma

cultura da imagem visual operará igualmente a construção de ambientes voltados

para a hegemonia da visão, com todas as consequências que dela decorrem.

(BAITELLO, 2007, p.3)

Figura 28: Feed de Notícias. Destaque da imagem no fluxo de informação. Acesso em 26/05/2013.

Embora a lógica do efeito viral seja imprevisível, um estudo realizado por Dan

Varella39

identificou algumas características correlacionadas que faziam as mensagens terem

um desempenho positivo ou negativo quanto ao número de likes, comentários e

39 www.danvarella.com

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compartilhamentos. Identificou, estatisticamente, a prevalência de imagens sobre mensagens

de texto, vídeo e links no padrão de interações, após analisar 1 milhão e 300 mil publicações

nas 10 mil fanpages mais curtidas do Facebook (Figura 29).

Figura 29: Resultado da pesquisa de Dan Zarella40. Acesso em 26/05/2013.

40

Disponível em <http://danzarrella.com/infographic-how-to-get-more-likes-comments-and-shares-on-

facebook.html>. Acesso em: 26/05/2013.

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Baitello (2007) recorre a Günther Anders para identificar esse movimento de

dependência imagética como uma ―iconomania‖, fenômeno decorrente da possibilidade de

criar, por meio da imagem, peças sobressalentes de si mesmo. No entanto, como a fala e o

gesto não acompanham mais o fluxo dos estímulos visuais, Miranda (2007) afirma que o

processo não permite ―um salto qualitativo em relação às imagens, mas uma espécie de

dislexia visual‖. Assim, em nossa memória, ―se depositam, por traços sucessivos, mil

estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável

que uma delas adquira relevo‖ (Calvino, 1990, p. 107 apud Miranda, 2007).

No caso dos vídeos, eles ampliam as linguagens através das quais é possível projetar

identidades e representações. Explorando recursos sensoriais, seduz o público disperso ao

solicitar um espectador com corpo mais disponível e atento. Os ―estilhaços de imagem‖, nesse

sentido, são organizados em sucessões que produzem micronarrativas do cotidiano. Embora

ainda tenha um consumo menor do que imagens estáticas, a visualização de vídeos também

vem ganhando destaque no Facebook: Segundo dados do Instituto de pesquisas ComScore41

(Figura 30), em março de 2013 foram mais de 153 milhões de visualizações únicas em todo o

mundo, perdendo apenas para o site de vídeos YouTube. No Brasil, o Facebook ainda ocupa o

terceiro lugar no ranking, com cerca de 17,5 milhões de visualizações únicas.

41 Disponível em

http://www.comscore.com/Insights/Press_Releases/2013/4/comScore_Releases_March_2013_U.S._Online_Vide

o_Rankings. Acesso em 26/05/2013.

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Figura 30: Visualizações de vídeo na internet brasileira. Comunicação por e-mail.

Consideramos que imagens utilizadas para fortalecer mensagens no Facebook se

apresentam como objetos ou eventos estéticos, uma vez que possuem função estética

secundária42

. Trevisan e Ludwig (2006) apontam que a arte e a realidade trocaram de lugar

numa "alucinação estética do real". Assim, ―tudo, do mais banal ao mais marginal, estetizou-

se, e desta maneira transforma-se a insignificância do mundo atual‖. Com a estetização da

vida cotidiana, segundo Debord, prevalece o espetáculo.

O espetáculo é o herdeiro de toda a fraqueza do projeto filosófico ocidental, que foi

uma compreensão da atividade dominada pelas categorias do ver. Ele não realiza a

filosofia, ele filosofa a realidade. É a vida concreta de todos que se degradou em

universo especulativo. (DEBORD, 2003, par.19)

Ainda, segundo Baudrillard, citado por Medeiros (2007)

O universo pós-moderno é da hiper-realidade, em que o entretenimento, a arte, a

informação e as tecnologias da comunicação fornecem experiências mais intensas e

envolventes do que as cenas da vida banal. O reino do hiper-real é mais real do que

42Aqui, compreendemos o conceito proposto por Jan Mukarovsky, citado por RAMALHO E OLIVEIRA (2001):

―Segundo ele, todo o texto que, entre suas funções, apresenta a função estética como a mais importante, pode ser

considerado como arte. Por outro lado, toda imagem que tem a função estética como secundária é um objeto ou

um evento estético.‖ (p. 4).

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o real. Nesse mundo pós-moderno, os indivíduos fogem do ―deserto do real‖ para a

hiper-realidade do computador, das mídias e das experiências tecnológicas.

Baudrillard reivindica a ideia de que a modernidade opera com modalidade da

representação em que as ideias representam a realidade, e a verdade e os conceitos

são postulados-chave. A sociedade pós-moderna implode essa epistemologia,

criando situação em que os assuntos perdem contato com o real e o fragmenta e

dissolve. (MEDEIROS, 2007, p. 146)

Se considerarmos os propósitos e mecanismos publicitários do Facebook, que vê o

diagrama social como um mero sistema de distribuição fortalecido pelo vínculo social, os

usuários são bombardeados por objetos estéticos que evocam sonhos e desejos para o

consumo desenfreado. Uma pesquisa realizada por Adam D.I. Kramer e divulgada pelo

Facebook Data Science43

identificou as diferentes formas que as pessoas usam as atualizações

de status, após análise de 1 milhão de falantes de inglês e seus cerca de 150 milhões de

amigos em vários países.

As referências são do dicionário LIWC (Linguistic Inquiry and Word Count)44

, que

oferece 68 tipos diferentes de categorias de palavra45

correspondentes a construções

psicológicas e linguísticas significativas, juntamente com uma lista de palavras pertencentes a

cada categoria. Com esse trabalho, comprovou que as pessoas, sobretudo os jovens,

costumam expressar estados emocionais e ―contaminar‖ a rede com sentimentos semelhantes

(Figura 31).

"Até três dias depois, para pessoas que usam mais palavras negativas, seus amigos vão

também usar palavras mais negativas", disse Kramer em entrevista ao portal

MercuryNews.com46

. A matéria da MercuryNews confirma o propósito mercantil da

pesquisa, ao dizer que ―a análise de Kramer não é apenas um estudo acadêmico das vastas

quantidades de dados que fundamentam o Facebook e que sua obra está relacionada com

produtos sociais de rápido crescimento do Facebook e com a publicidade que os alimenta‖.

43 Disponível em <https://www.facebook.com/notes/facebook-data-science/whats-on-your-

mind/477517358858>. Acesso em: 26/05/2013. 44 ―Linguistic Inquiry e Contagem de palavra (LIWC) é um programa de software de análise de texto desenhado

por James W. Pennebaker, Roger J. Booth, e Martha E. Francis. LIWC calcula o grau em que as pessoas usam diferentes categorias de palavras através de uma ampla variedade de textos, incluindo e-mails, discursos,

poemas, ou fala diariamente transcritas. Com um clique de um botão, você pode determinar o grau qualquer texto usa as emoções positivas ou negativas, auto-referências, palavras causais e 70 outras dimensões de

linguagem.‖ Definição disponível em <http://www.liwc.net/>. Acesso em: 26/05/2013. 45 As palavras são classificadas com base em sua parte do discurso (pronomes, artigos, verbos passado, tensos,

etc.), seu conteúdo emocional (emoções positivas, emoções negativas, tristeza, raiva, etc.) ou o tema aos quais

estão relacionadas (escola , trabalho, religião, etc.). 46 Disponível em <http://www.mercurynews.com/business/ci_18183052?nclick_check=1

http://www.mercurynews.com/business/ci_18183052?nclick_check=1>. Acesso em 26/05/2013.

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Figura 31: Publicidade associada a contexto emocional na fanpage do Guaraná Antártica no Facebook. Acesso

em 26/05/2013.

Se tratarmos o mesmo propósito verificado nos textos aplicados às imagens estáticas e

vídeos online que amplificam as emoções, verificamos que ―a pluralidade de consumidores é

considerada através de um processo governado pelo jogo da imagem, do estilo, do desejo e

dos signos, distribuídos de acordo com os critérios de mercado‖, conforme apontam Ludwig e

Trevisan (2006). Os autores se orientam pela ideia de experiência mercantilizada da vida

gerada pela mercantilização do produto, que força as pessoas a lidarem com a novidade e o

descartável.

Nessa lógica capitalista, tudo é feito no sentido de atrair o consumidor. As imagens

desempenham um papel estratégico, sendo constantemente veiculadas pela mídia.

Os códigos são misturados ecleticamente e os significantes não possuem sentido,

pois não apresentam relação alguma. (LUDWIG; TREVISAN, 2006)

Longe de observar tal fenômeno apenas sob uma perspectiva pessimista, tomamos a

ideia de Canclini (2008), para quem existe um conflito entre duas tendências culturais: ―a

negociação racional e crítica, de um lado, e o simulacro de um consenso induzido por mera

devoção aos simulacros, do outro.‖ Assim, não há opção absoluta quando sabemos que os

simulacros fazem parte das relações de significado em toda cultura.

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Quando se perde a distinção entre o real e o imaginário, quando a pergunta sobre a

legitimidade das representações se extravia e tudo é simulacro, não sobra lugar para

a confrontação racional de posições, nem para a troca, nem, é óbvio, para a

negociação. (...) Porém, estabelecer de que maneira iremos negociar o compromisso

entre ambas as tendências é decisivo para que na sociedade futura predomine ou a

participação democrática ou a mediatização autoritária. (CANCLINI, 2008, p.210)

Para Canclini (2008), ―a identidade é teatro e é política, é representação e ação‖, e

ambas as dimensões coexistem no processo de globalização e consequente democratização da

informação. Com as práticas publicitárias transversais ao diagrama social, os cenários de

consumo caminhariam para uma dimensão estética da cidadania, pois a ideia de ―público‖ não

abrange somente atividades diretamente ligadas a atores políticos, ―mas também o conjunto

dos atores – nacionais e internacionais – capazes de influir na organização do sentido coletivo

e nas bases culturais e políticas da ação dos cidadãos‖ (p. 222). Assim, consideramos a

condição atual como favorável ao processo cívico se tomarmos como referência o modelo

monopolista dos meios de massa e sua apropriação por empresas de comunicação e

propaganda.

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Capítulo 3

ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE

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Se você não conhece a resposta, discuta a pergunta.

Clifford Geertz

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92

3. ESTUDO DO CASO: DIÁRIO DE CLASSE

3.1. Uma proposta de ciberativismo no Facebook

Até aqui, discutimos o desenvolvimento das formas midiáticas de expressão e

conversação social, o papel da internet e das redes sociais na realidade contemporânea da

comunicação e sua participação no afloramento de novas identidades, atores e papeis sociais.

De maneira especial, ressaltamos as influências do Facebook nesse processo, devido ao seu

fundamento, características e alcance. Agora, partimos para o estudo de um caso específico,

que torna observável o modo como as apropriações dessa ferramenta possibilitam a

participação social e o fortalecimento da cidadania.

No dia 11 de julho de 2012, a jovem estudante de 13 anos Isadora Faber criou, em

parceria com uma colega da escola, uma fanpage no Facebook chamada ―Diário de Classe‖. O

objetivo era denunciar deficiências da educação pública no Brasil a partir de uma realidade

particular, vivida na escola Maria Damázio Coelho, em Florianópolis (SC), onde ela estuda.

―Estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas públicas. Quero

melhor não só pra mim, mas pra todos‖, diz ela no pequeno texto de apresentação (Figura 32).

Figura 32: Página do Diário de Classe em 29/08/2012.

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As primeiras postagens na página expuseram fotos tiradas com o celular da estudante

que denunciavam problemas estruturais: ventiladores quebrados, portas sem fechadura,

pichações, fiações elétricas inseguras, entre outros (Figura 33). A página foi ganhando

repercussão, chamou atenção da imprensa local (Figura 34) e inspirou iniciativas semelhantes

de outros estudantes (Figura 35).

Figura 33: Exemplos de denúncias no Diário de Classe. Acesso em: 31/05/2013.

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Figura 34: Nota sobre o Diário de Classe na p. 2 do Diário Catarinense em 14/08/201247.

Figura 35: Página do Diário de Classe Mário Quintana. Acesso em: 31/05/2013.

No dia 17 de agosto, Isadora anunciou que passaria a ser a única administradora da

página (Figura 36), deixando subentendido, sem mais explicações, o desligamento da colega

47 Digitalização disponível em

<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=271809292925584&set=a.261968860576294.48181.26196498057

6682&type=1&theater>. Acesso em 31/05/2013.

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com a qual fundou o projeto. Desde então, o texto de apresentação da página traz a seguinte

declaração: ―Estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas

públicas. Quero melhor não só pra mim, mas pra todos‖.

Figura 36: Isadora Faber anuncia que é a única administradora do Diário de Classe. Acesso em: 31/05/2013.

No dia 25 de agosto, Isadora publicou estatísticas do Facebook que mostravam que a

página tinha expandido sua atuação para além da cidade de Florianópolis (Figura 37).

Figura 37: Origens geográficas dos usuários alcançados pela fanpage Diário de Classe em 25/08/2012.

A repercussão também chamou a atenção da imprensa nacional. No dia 27 de agosto, o

Portal G1 publicou a primeira reportagem sobre o assunto, seguido pelos portais do jornal

Estadão, Revista Veja, Terra, iG, Correio Braziliense, O Globo, entre outros. A

disponibilização da informação em agências de notícias viralizou o assunto na imprensa e

impulsionou ainda mais a página. Em 3 dias, o número de fãs saltou de cerca de 10 mil para

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96

mais de 160 mil e não parou mais48

. Com a explosão crescente de compartilhamentos, a

Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis finalmente manifestou um posicionamento

institucional favorável à atitude de Isadora. A comunidade escolar de professores e alunos, no

entanto, teria se mostrado contrária, segundo relatos de Isadora na fanpage que analisaremos

adiante.

Isadora Faber, de 13 anos, criou o Diário em julho e até o começo de agosto

tinha pouco mais de 400 fãs. Nas últimas semanas, os conteúdos da página correram

pela rede como um viral: somente nesta segunda-feira, a página foi "curtida" mais de

4.000 vezes. "Não esperava que a página fizesse esse sucesso todo. Acho que as

pessoas querem realmente saber como as escolas públicas funcionam e elas têm

achado interessante o que eu mostro", diz a estudante em entrevista a VEJA.com.

Na página, Isadora registra todo tipo de reclamação. "Olha, temos um orelhão

na escola, mas quem disse que funciona??", indaga ela em um dos posts. "Esses fios

pra fora será que não é perigoso??" (sic), questiona em outro, acompanhado pela

fotos de fios desencapados que, segundo a autora, estariam provocando choque nos

colegas de escola. "De 5 aulas de hoje, só tivemos 2 com os professores titulares, as

outras 3 foram com professoras substitutas. Quando temos aulas com auxiliares elas

dão um texto e uma pergunta e é sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor

aproveitado", conclui.

Segundo ela, as reclamações virtuais têm incomodado os docentes. "Eles me

pedem sempre para eu tirar a página do ar, mas não vou tirar. Acho que não estou

incomodando ninguém. Só quero ter uma educação de qualidade. É isso que me

motiva a fazer esse diário", conta. A reportagem tentou contato com a direção da

Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, mas a diretora não foi encontrada para

comentar o assunto.

Algumas reclamações já teriam surtido efeito. Ventiladores quebrados teriam

sido substituídos depois que Isadora postou fotos dos aparelhos estragados no

Facebook. As maçanetas dos banheiros também teriam sido reparadas e os fios,

trocados para evitar acidentes.

Também não tem sido fácil convencer os amigos, segundo Isadora. "Eles

acham que eu estou publicando essas coisas para prejudicar a escola. Fora da escola,

eles até me apoiam. Lá, porém, dizem que são contra." Isadora diz que mantém a

página sozinha: todos os textos e fotos são postados por ela mesma. Uma irmã ajuda

na gravação dos vídeos.

A mãe de Isadora, Mel Faber, tem conhecimento da iniciativa da filha e se

diz feliz pela repercussão que a página vem ganhando. "Quando ela me disse que

queria colocar tudo isso na internet, eu a alertei: disse que ela poderia receber

represálias na escola e que deveria estar pronta para encarar críticas de frente", conta

Mel. "Mas ela disse que estava ciente da sua responsabilidade."

Isadora diz que sua inspiração veio da Grã-Bretanha. Na Escócia, a pequena

Martha Payne, de 9 anos, criou um blog para criticar a qualidade da merenda de sua

escola. Todos os dias, ela fotografava a refeição e postava na página intitulada

"Never Seconds". Depois de o blog receber mais de 1 milhão de acessos, a secretaria

de educação da cidade de Argyll se pronunciou sobre a qualidade da merenda

escolar e pressionou por mudanças. Até o famoso chef Jamie Oliver se manifestou

nas redes sociais em apoio à estudante. "Vi que lá tinha dado certo. Pensei que aqui

também poderia ter algum efeito", diz Isadora. (Veja, 27/08/2012)49

48 O último acesso à página, às 21h25 do dia 15de agosto de 2013, revelava a marca de 626 mil fãs. 49Disponível em < http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/no-facebook-estudante-de-13-anos-narra-rotina-de-

problemas-de-escola-publica>. Acessoem 31/05/2013.

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Em uma visão preliminar sobre o caso, podemos considerar Isadora Faber uma

ciberativista se tomarmos a definição de Araújo (2011), para quem ―o conceito de

ciberativismo é tratado como a forma de utilização radical das ferramentas da rede, onde

indivíduos e grupos têm suas ações políticas potencializadas pelos ambientes midiáticos e

descentralizados da internet‖. De fato, por meio da estratégia várias reclamações de Isadora foram

ouvidas e resolvidas, beneficiando toda a comunidade escolar. No entanto, diante das críticas e

oposições às questões levantadas por ela, será que o Diário de Classe mostra de fato a comunidade

que a estudante busca representar, expressando o âmbito coletivo a partir do individual? Pelo

alcance da ação, para oferecer essa resposta seria preciso avaliar o conteúdo da página em

diversos contextos: o da classe de Isadora, o da escola, o do bairro, o da cidade, o do Estado e o

do país. A partir do momento em que todos esses contextos se confundem, as contradições

internas das novas formas de expressão se acentuam e requerem uma análise com rigor científico

do suposto discurso democrático que parece ser heroicizado sem oportunidade de reflexão.

E não apenas essas contradições resumem a necessidade da análise: Em nova

entrevista ao portal G1 em 12 de novembro de 2012, Isadora fez uma declaração sintomática

quanto às fragilidades identitárias que envolvem o caso: "Quero ser jornalista. Acho que

posso ajudar as pessoas dando informação". A estudante tem sua identidade fragmentada em

um mundo onde ―as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social,

estão em declínio‖ (HALL, 2006, s/p). Ela quer ser jornalista para ajudar as pessoas por meio

da informação, embora seu trabalho informal já atinja esse objetivo de um modo que o

jornalismo tradicional não poderia atingir. A iniciativa é viabilizada pelo Facebook, que

garante a liberdade de expressão autônoma para quem não se vê representado nos tradicionais

discursos midiáticos. No entanto, despertou interesse e apoio da imprensa. Esta, com a missão

de defender o interesse público, até então não havia tido acesso aos problemas relatados pela

estudante, encontrando no gesto político da intimidade o que não seria revelado por fontes

oficiais. Eis as fontes oficiais, segundo as normas do fazer jornalístico: uma escola e sua

estrutura política, fundada com a missão social de promover cidadania, mas que não havia se

manifestado publicamente sobre os problemas que vivia (apesar de também manter uma

fanpage no Facebook) e se surpreendeu com a percepção e com a reação de uma aluna frente

aos seus direitos. Afinal, a inspiração de Isadora não veio da sala de aula, mas de uma jovem

blogueira que realizou um trabalho semelhante na Escócia para questionar a qualidade da

merenda escolar.

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Em um estudo sobre ação e características dos movimentos sociais contemporâneos,

Machado (2007) mostra que a apropriação estratégica das tecnologias da informação apontam

para transformações nas formas de ação coletiva e, consequentemente, novas formas de

ativismo que vão além das concepções clássicas sobre o comportamento dos coletivos sociais.

Essa realidade vai ao encontro do objetivo da democracia de ―permitir que indivíduos, grupos

e coletividades se tornem sujeitos livres, produtores de sua história, capazes de reunir em sua

ação o universalismo da razão e as particularidades da identidade pessoal e coletiva‖

(Touraine, 1995: 263 apud MACHADO, 2007). Nesse sentido, ele ressalta que a

mudança formal da relação entre os governos e a sociedade civil, marcada pela cooperação

em prol dos direitos civis e sociais, segue uma lógica frequentemente desafiada por conflitos

gerados pela interdependência entre os atores políticos e sociais, o descontrole e o

empoderamento dos agentes sociais e econômicos. Assim, com a dificuldade de mobilização

coerente em torno de causas complexas, os indivíduos e coletivos sociais que outrora se

encontravam dispersos ou isolados podem ―concentrar suas ações em prol de uma causa

comum, com base nas extensas redes de solidariedade de natureza identitária‖. Goulart (1993)

ressalta que

as representações sociais constituem um sistema de valores, noções e práticas ligado

a um conjunto de relações sociais e processos simbólicos que instaura a

possibilidade de orientação dos indivíduos no mundo social e material, além de

possibilitar a tomada de posição e a comunicação intergrupal, bem como a

decodificação deste mundo e da história individual e coletiva do grupo. Sua

apreensão, através de estudos específicos, deve levar em conta um contexto sempre

em mudança, marcado pelo caráter contraditório das relações sociais, dentro do qual

a representação não deve ser buscada como única explicação correta de um

fenômeno, mas sim como fator facilitador da comunicação. (GOULART, 1993,

p.478)

Como recorte representativo do diagrama das relações sociais e dos fluxos de

informação em constante transformação, o contexto em mudança citado por Goulart pode ser

traduzido no próprio Facebook. Tem Isadora Faber como representação social que facilita a

comunicação na medida em que possibilita o encontro e conexão de pessoas com interesses

comuns, momento em que se realizaria a ação política.

Gasser e Palfrey (2011) destacam que nenhuma tecnologia nova vai fazer alguém ter

experiência de conversão. O que a rede proporciona ―é uma plataforma cada vez mais útil e

atrativa para aqueles que estão predispostos a serem ativos na vida cívica‖ (p.288), embora a

internet seja, em si, uma força motivadora essencial: ―Eles não se envolveram na política por

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causa da tecnologia, mas a tecnologia tornou-se o meio que os juntou‖ (p.291). Para Goulart,

―os ―novos‖ movimentos sociais reúnem atores políticos heterodoxos, cuja ação sobre a

prática política tradicional é, acima de tudo, de negação e renovação‖. Não seria, assim, o

caso de fortalecer democracias existentes, mas orientar-se para criar novas democracias. De

fato, a antropologia parte da premissa de que a democracia é um modelo teórico e não existe

de forma pura.

Castells (1999), no entanto, vê a fragilidade da democracia na crise de legitimidade e

falta de credibilidade do sistema político, mas alerta que ―a construção de significado político

com base em identidades específicas contesta o próprio conceito de cidadania‖ (p.402).

Diante da descrença da sociedade civil na capacidade do Estado de solucionar problemas, ele

toma como exemplo os chamados votos de protesto, que elegem candidatos de bases locais

com alternativa às grandes coalizões. Ele classifica esses atos como manifestações de

alienação política, já que a política da mídia é capaz de lançar e destruir novos ídolos em

questão de horas. Seria Isadora Faber, então, uma nova ídola que enfraquece a democracia ao

invés de ajudar a fortalecê-la ou recriá-la? Apesar de reconhecer as oportunidades de

aprimoramento das formas de participação política e comunicação horizontal entre os

cidadãos, Castells apresenta-se temeroso sobre duas possibilidades: dos ―excluídos digitais‖

ficarem à margem de uma suposta ordem democrática fundamentada nos meios eletrônicos e

da intensificação da ―política showbiz‖, que ―poderia exaltar a individualização da política e

da sociedade a tal ponto que a integração, o consenso e a criação de instituições tornar-se-iam

metas perigosamente difíceis de serem atingidas‖ (p. 410).

3.2. Eixo teórico-metodológico

O eixo teórico-metodológico dessa pesquisa se apoia nos Estudos Culturais latino-

americanos, sob a perspectiva de pressupostos teóricos traçados por Néstor García Canclini na

corrente de pensamento sobre Consumo Cultural. Em ―Consumidores e Cidadãos‖ (primeira

edição em 1995), ao definir o consumo como ―um conjunto de processos socioculturais em

que se realizam a apropriação e os usos dos produtos‖ (CANCLINI, 2008, p. 60), Canclini

considera que a complexidade das formas de consumo não pode admitir apenas uma

racionalidade econômica, mas também uma racionalidade sociopolítica interativa que inclui

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processos de comunicação e recepção de bens simbólicos. Ainda nessa obra, ele alertou que o

especialista em cultura deveria falar a partir de interseções, de modo que ―o objetivo final não

é representar a voz dos silenciados, mas entender e nomear os lugares em que suas questões

ou sua vida cotidiana entram em conflito com os outros‖ (p. 23).

Nessa justificação epistemológica, ele já adiantava o que mais tarde seria aprofundado

em ―Diferentes, Desiguais e Desconectados‖ (primeira edição em 2004) com a definição de

interculturalidade: ―remete à confrontação e ao entrelaçamento, àquilo que sucede quando os

grupos entram em relações e trocas‖ (CANCLINI, 2009, p.17). Assim, a anterior narração do

multiculturalismo deu lugar às relações de negociação, conflito e empréstimos recíprocos, em

discussões filosóficas atualizadas pelas ―atuais condições sociais e midiáticas nas quais se

verificam os desacertos políticos‖ (p. 18).

Com o panorama da internet e das redes sociais incorporadas ao cotidiano,

intensamente ligadas ao consumo e às relações sociopolíticas, as reflexões antes debruçadas

sobre a televisão se despertam em uma nova plataforma. O consumo cultural é tomado como

espaço para o debate social e para a participação dos cidadãos consumidores em uma esfera

pública interconectada – termo proposto por Benkler (2006) que busca novos entendimentos

sobre a definição habermasiana de esfera pública em um contexto cibercultural.

Nas democracias liberais, a capacidade individual onipresente de produzir

informação cria o potencial para o consumo quase universal. É, portanto, prenúncio

significativo, embora não inevitável, de mudanças na estrutura da esfera pública

desde o ambiente de mídia de massa comercial. (...) Esta mudança afeta o poder

relativo dos meios de comunicação. Ela afeta a estrutura do consumo de observações

e pontos de vista. Ela afeta a apresentação de questões e observações para discurso.

Ela afeta a forma como as questões são filtradas, para quem e por quem. Finalmente,

ela afeta as maneiras pelas quais as posições são cristalizadas e sintetizadas: algumas

vezes por serem amplificadas pelos meios de comunicação de massa ao ponto de

absorvê-las e convertê-las em posições políticas; ocasionalmente, pela organização

direta de opinião e ação, a ponto de chegar a uma saliência que conduz o processo

político diretamente. (Benkler, 2006, p.213)50

50 Tradução nossa. Do original: ―In liberal democracies, ubiquitous individual ability to produce information

creates the potential for near-universal intake. It therefore portends significant, though not inevitable, changes in

the structure of the public sphere from the commercial mass-media environment. (…)This change affects the

relative power of the media. It affects the structure of intake of observations and views. It affects the presentation

of issues and observations for discourse. It affects the way issues are filtered, for whom and by whom. Finally, it

affects the ways in which positions are crystallized and synthesized, sometimes still by being amplified to the

point that the mass media take them as inputs and convert them into political positions, but occasionally by direct

organization of opinion and action to the point of reaching a salience that drives the political process directly.‖

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Para Canclini (2008), essas mudanças refletem a densidade sociocultural do cotidiano

e a incapacidade das cúpulas burocráticas em assumi-las conferiu um caráter abstrato às lutas

políticas. Agora, os conflitos sociais e a gestão de suas interações se deslocaram de espaços

públicos para lugares herméticos, ―onde atuam forças às quais os cidadãos não podem

confrontar‖ (p.208), dissolvendo a esfera pública como âmbito de participação popular.

Afinal, quem fala quando um sujeito interpreta sua experiência? Se não se sabe quem fala,

como determinar contra o que e contra quem se resiste? A Psicologia Social questiona se

somos autores ou personagens de um discurso na construção da nossa identidade; Ciampa

(1985) afirma que há uma autoria coletiva nessa história, formada por ocultações e revelações,

de modo que, embora uma identidade seja uma totalidade, manifesta-se como desdobramento

das múltiplas determinações a que se está sujeito. Assim, ―é lícito dizer-se que as identidades,

em seu conjunto, refletem a estrutura social ao mesmo tempo em que reagem sobre ela

conservando-a ou a transformando‖ (p. 67).

Ao propor uma perspectiva intercultural de análise, Canclini (2009) alerta sobre

―vantagens epistemológicas e de equilíbrio descritivo e interpretativo‖, que levam a ―conceber

as políticas da diferença não só como necessidade de resistir‖ (p.25). Afinal, ―quando se perde

a distinção entre o real e o imaginário, quando a pergunta sobre a legitimidade das

representações se extravia e tudo é simulacro, não sobra lugar para a confrontação racional de

posições‖ (CANCLINI, 2008, p.210). Torna-se necessário, portanto, ―livrar-nos de afirmações

ingênuas da subjetividade até o trabalho reconstrutivo indispensável para dar solidez a

cidadanias possíveis‖ (CANCLINI, 2009, p. 186).

Repensar a cidadania como estratégia política serve para abranger as práticas

emergentes não consagradas pela ordem jurídica, o papel das subjetividades na

renovação da sociedade, e, ao mesmo tempo, para entender o lugar relativo destas

práticas dentro da ordem democrática e procurar novas formas de legitimidade

estruturadas de maneira duradoura em outro tipo de Estado. (CANCLINI, 2008, p.

36)

Compreendendo a constituição de sujeitos individuais e coletivos a partir da conexão e

da desconexão, Canclini apresenta uma visão ponderada sobre a possibilidade de mobilização

de recursos interculturais para construir alternativas aos fracassos políticos. Assim, redefine o

conceito de cultura afirmando que ela ―abarca o conjunto dos processos sociais de

significação ou, de um modo mais complexo, a cultura abarca o conjunto de processos sociais

de produção, circulação e consumo da significação na vida social‖ (CANCLINI, 2009, p. 41).

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Essa compreensão de cultura permite a investigação do posicionamento do Diário de

Classe no exercício da cidadania em contexto cibercultural. Viabiliza a desconstrução e

controle dos condicionamentos de cada enunciação e a construção da argumentação das

polêmicas nas relações com instituições, redes sociais, meios de comunicação e outros fatores

socioculturais de interferência. Para tal, recorremos à Análise do Conteúdo Clássica,

buscando descrever como cada ator social se apropria dos produtos materiais e simbólicos

alheios e os reinterpreta. Para Bardin (1977), apelar para esse instrumento de investigação é

situar-se ao lado daqueles que ―querem dizer não à ilusão da transparência dos fatos sociais,

recusando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea‖ (p.28). Nessa

perspectiva, contribui-se, a exemplo de Canclini, com a reformulação da agenda clássica dos

estudos culturais na busca de sentidos para as inscrições deixadas por fragmentos

sobreviventes (Canclini, 2009, p. 159), de modo que ―o interesse não reside na descrição dos

conteúdos, mas sim no que nestes poderão nos ensinar após serem tratados (por classificação,

por exemplo) relativamente a outras coisas‖ (BARDIN, 1977, p. 38).

No caso do Diário de Classe, recorreremos a dados qualitativos e quantitativos para

identificar subjetividades na condução de enunciados e sua relação com as consequências

provocadas conforme a representação dos objetivos estabelecida ao longo do processo pelo

sujeito da enunciação. A intenção é contrastar discursos com fatos sociais e experiências

subjetivas, atentando-se ao alerta de que ―a verdade não emerge, como numa operação

detetivesca, pela submissão dos discursos à demonstração dos dados‖ (Canclini, 2008, p. 90)

– lembrando que essa premissa serve não apenas à pesquisa, mas também à avaliação da

protagonista da história, Isadora Faber, que se diz portadora da verdade dos fatos. Ao se

questionar sobre a possível correlação do discurso com os fatos, busca-se averiguar não

apenas em que medida o discurso é uma fantasia ou um delírio, mas também o processo pelo

qual os sujeitos constituem, sofrem, transformam e experimentam a existência do real no

significado dos fatos.

3.3. Técnicas

Considerando a epígrafe do presente capítulo – ―Se você não conhece a resposta,

discuta a pergunta‖, de Clifford Geertz, e a complexidade do sistema no qual está inserido o

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103

presente objeto (Diário de Classe), optamos por trabalhar com questões de pesquisa ao invés

de hipóteses antes de determinar os indicadores de análise e a delimitação do corpus. Como

pontuou Fragoso, Recuero e Amaral (2011), tal complexidade torna o sistema inerentemente

imprevisível e ―requer uma abordagem flexível do empiricismo e, particularmente, da questão

da generalização‖. Em outros termos, ―nós podemos ser capazes de dizer como a chuva cai,

mas isso não significa que somos capazes de prever o tempo no final de semana‖ (p.14).

Assim, organizamos as questões de pesquisa em tornos de dois eixos de análise:

a) Identidades e Representações: Como são representados os atores sociais

envolvidos no contexto? Os posicionamentos e formas de abordagem temática no

Diário de Classe mudam conforme o aumento nas interações, sinalizando um

sujeito com identidade em construção? Se sim, essa mudança indica síntese

dialética, sintoma de reforço positivo ou mudança de opinião/objetivo? Para quem

se destinam as mensagens?

b) Considerações sobre ciberativismo e cidadania: Como o global e o local se

articulam no Diário de Classe? A associação e a interação exclusivamente online

garantem a coesão mobilizadora de um grupo de pressão? Como se complementam

ou se contradizem as avaliações do público e da imprensa sobre a página na

resolução de problemas sociais?

O eixo (a) foi determinante na delimitação do corpus da pesquisa. Considerando o

significativo aumento das interações a que foi submetido o Diário de Classe após sua

divulgação na imprensa, acredita-se que o período posterior sofreu uma maior influência de

intersubjetividades. Como nos cabe avaliar a construção da identidade nesse sentido,

delimitamos o conteúdo presente nos 48 primeiros dias de existência da página e mais o dos

48 dias subsequentes à primeira aparição em mídia nacional (27/08/2012). Assim, as

postagens serão analisadas considerando dois períodos: de 11 de julho de 2012 a 27 de agosto

de 2012 (AMOSTRA 1); e de 28 de agosto de 2012 a 14 de outubro de 2012 (AMOSTRA 2).

Como material contextualizador das unidades temáticas a serem identificadas, também serão

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avaliados blogs, matérias jornalísticas online, perfis e fanpages do Facebook pertinentes à

compreensão das repercussões.

Com esse corpus, vinculamos a análise à compreensão da recepção no nível da

audiência online. A dificuldade em avaliar o conteúdo e situar cada fato nos contextos

históricos e sociopolíticos adequados quando se carece de uma experiência mais direta de

vivência também é uma limitação dos usuários que se conectaram ao Diário de Classe na

tentativa de integrar um grupo de pressão. Entrevistas e observações locais, bem como análise

de documentos e materiais jornalísticos off-line seriam pertinentes ao aprofundamento da

compreensão do processo social. No entanto, vale ressaltar que, diante do amplo espectro da

cultura e campos possíveis de investigação, focamos no aspecto comunicacional apoiados no

pressuposto de que ―a versatilidade das identificações e das formas de tomar posições requer

metodologias híbridas‖ e que ―a hibridização não é indeterminação total e, sim, combinação

de conhecimentos específicos‖ (CANCLINI, 2009, p. 189).

Uma limitação da pesquisa é promover análise qualitativa rígida sobre os comentários

de postagens e suas influências no sistema, por dois motivos: 1) O corpus da pesquisa -

postagens em um período específico - é fechado, mas as interações permanecem abertas e

muitas ocorreram após o período delimitado para análise; 2) A grande quantidade de

comentários – variam de 50 a 2 mil em um único post – inviabilizam uma amostragem ampla

de pesquisa. Degenne e Forsé (1992), citados por Fragoso, Recuero e Amaral (2011),

consideram que ―nenhuma rede tem fronteiras ‗naturais‘, é o pesquisador que as impõe‖. Para

as autoras, ―a pesquisa em internet contribui para destacar a artificialidade e a relevância de

todos os procedimentos de amostragem e chama a atenção para as possibilidades e limites

impostos por cada escolha‖ (AMARAL, FRAGOSO E RECUERO, 2011, p. 57). Nesse

sentido, tomou-se a liberdade de agregar à análise de conteúdo uma metodologia

complementar, oferecendo um caráter intencional51

à amostragem de comentários a partir da

observação e análise de similaridades e dissimilaridades de ―casos informacionalmente ricos‖

(p.68).

Como se pretende tomar o ponto de vista da audiência, a grande quantidade de

comentários também sinaliza obstáculos à apreensão e interpretação por parte dos usuários,

que acabam sendo influenciados apenas por representações numéricas de quantidade e/ou

51 Amaral, Fragoso e Recuero (2011) determinam amostras intencionais como ―amostras qualitativas, cujos

elementos são selecionados conforme critérios que derivam dos problemas de pesquisa, das características do

universo observado e das condições e métodos de observação e análise‖ (p. 78).

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pelas poucas mensagens que ganham maior visibilidade por critério temporal (comentários

mais recentes são carregados primeiro e exibidos em destaque). O que será visualizado a

ponto de gerar influência depende, também, do momento de acesso. Da mesma forma, as

matérias e blogs a serem analisados foram relacionados a partir do buscador Google e tiveram

sua relevância social ordenada por algoritmos (além de resultados, eles também ordenam

palavras-chave de pesquisa). O panorama vale também para considerar que nem sempre as

ideias às quais temos acesso são construídas subjetivamente, mas também são orientadas por

uma predeterminação lógica e objetiva das tecnologias de programação.

Com essa caracterização do corpus, passamos à determinação de indicadores, unidades

de registro e categorizações gerais para uma representação simplificada dos dados brutos

conforme as particularidades do tema, do meio e do referencial teórico. A análise qualitativa

também se apoia em dados quantitativos, de modo que a codificação utiliza cruzamento de

referências variadas interpretadas a partir de inferências. Isso sem perder de vista o fato de

que ―na melhor das hipóteses, a análise de conteúdo mapeia o espaço das leituras e das

intenções através da exclusão ou da tendência, mas nunca a situação concreta da coisa‖

(BAUER, 2002, p.208).

3.4. Aplicações e Resultados

3.4.1. Perfil geral das postagens

Antes de investigar especificidades temáticas e de representação no conteúdo do

Diário de Classe, recorremos a uma análise quantitativa para identificar o perfil geral da

página, considerando apenas números relativos a amostras delimitadas: no caso, as amostras

de postagens, sem considerar os compartilhamentos, comentários e likes que variam durante a

coleta de dados. Sobre as linhas temáticas identificadas, consideramos a seguinte

caracterização:

a) Denúncias, alertas e reclamações: Diz respeito a todas as denúncias pontuais feitas

por Isadora, que reúnem problemas infraestruturais e questões específicas de gestão.

b) Resoluções: Anúncios de que problemas denunciados foram resolvidos.

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c) Reflexões: Alertas e reflexões de ordem mais abstrata, sem propósito específico;

refletem sobre o sistema educacional em nível macro, mas não visa promover pressão

direta.

d) Clipping e promoção: Postagens que replicam relatos favoráveis da imprensa e da

comunidade, fazem apelos de adesão e agradecem apoiadores, buscando alimentar e

reforçar a credibilidade da página.

e) Identidade: Postagens que apresentam propósitos e características da página.

f) Elogios: Postagens que ressaltam pontos positivos da escola.

g) Relatos de coerção: Relatam as manifestações contrárias à atuação do Diário de

Classe.

h) Neutro: Falam sobre o cotidiano da escola sem conotação positiva ou negativa.

Com esses princípios, chegamos à seguinte tabela (Tabela 1). Vale destacar que os

números não se referem a uma postagem, mas à presença da linha temática em uma postagem.

Isso porque alguns posts trazem mais de uma linha temática.

ANÁLISE TEMÁTICA QUANTITATIVA

Unidade de registro AMOSTRA 1

Sem imprensa AMOSTRA 2

Com imprensa

Linhas temáticas Frequência em postagem Frequência em postagem

A Denúncias, alertas,

reclamações 32 38

B Resoluções 3 14

C Reflexões 4 19

D Clipping e Promoção 19 33

E Identidade 15 11

F Elogios 4 11

G Relatos de coerção 11 5

H Neutro 0 16 Tabela 1: Análise temática quantitativa

A intenção dessa tabela é identificar propósitos temáticos e possíveis mudanças a

partir da influência da imprensa na divulgação do Diário de Classe. Em princípio, nota-se que

a estratégia de denunciar problemas pontuais permanece e se fortalece mesmo após a

divulgação na imprensa, sendo que o aumento significativo de postagens sobre resoluções na

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AMOSTRA 2 reforça a complementaridade da imprensa no empreendimento de uma frente

de pressão. Os resultados positivos, aliados a uma ampla interação pelos comentários,

permitiram que as questões para reflexão também ganhassem destaque com posicionamentos

menos impessoais. As postagens de reforço de identidade diminuem ao mesmo tempo em que

as postagens de clipping e promoção aumentam, estimulando a participação de terceiros e

utilizando essa participação como reforço de credibilidade e veracidade.

Embora já permita tais inferências, os dados levantados são mais bem compreendidos

e localizados após análise qualitativa, mais detalhada e com melhor contexto de interpretação.

Como ressalta Recuero (2012), a construção do contexto na conversação mediada pelo

computador apropria limitações e possibilidades da ferramenta, sendo que ―a conversação em

sua forma assíncrona só é possível através de construções de contexto que possibilitem sua

recuperação tanto em seus microaspectos quanto em seus macroaspesctos‖ (p. 105).

3.4.2. Análise Temática e Representações

Como já vimos, a imprensa que conhecemos hoje nas sociedades democráticas teve

sua origem no século XIX, quando, segundo Traquina (2005), nasceram os valores que ainda

hoje são identificados com o jornalismo: ―as notícias, a procura da verdade, a independência

dos jornalistas, a exatidão e a noção do jornalismo como um serviço público‖ (p. 34). Para

atualizar esse modelo na nova dinâmica das redes sociais, dos blogs e do jornalismo cidadão,

a presente análise temática posiciona o trabalho de Isadora Faber tendo como referência uma

evolução especializada e devidamente institucionalizada na difusão e organização de

informações da vida social: o papel do lead na construção do fato jornalístico. Como afirma

Genro Filho (1987), ―o jornalismo tem uma maneira própria de perceber e produzir ―seus

fatos‖.

Os fatos jornalísticos são um recorte no fluxo contínuo, uma parte que, em certa

medida, é separada arbitrariamente do todo. Nessa medida, é inevitável que os fatos

sejam, em si mesmos, uma escolha. Mas, para evitar o subjetivismo e o relativismo,

é importante agregar que essa escolha está delimitada pela matéria objetiva, ou seja,

por uma substância histórica e socialmente constituída, independentemente dos

enfoques subjetivos e ideológicos em jogo. A verdade, assim, é um processo de

revelação e constituição dessa substância. (GENRO FILHO, 1987, p. 196)

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Com essa premissa, a análise temática das postagens de Isadora identificadas como

fatos jornalísticos (alertas, denúncias, reclamações e relatos de coerção) será aqui inspirada

pelo lead clássico, tomando as perguntas ―O que?‖, ―Quem?‖, ―Como?‖, ―Onde?‖,

―Quando?‖ e ―Por que?‖ como unidades de registro. Quando for o caso, de acordo com

notícias veiculadas pela imprensa, bem como comentários em geral, postagens de outras

páginas e blogs alternativos, os argumentos conflitantes ou complementares serão comparados

para compreensão de possíveis limitações ao debate e desenvolvimento do capital social, já

que ―conversações tendem a ocorrer com maior frequência em ambientes nos quais as pessoas

se sentem protegidas em expressarem seus argumentos‖ (MATOS, 2009, P.82).

Paralelamente, serão analisadas também as representações sociais dos atores em cada caso,

situando-as nos desdobramentos dos fatos divulgados. Ainda, a análise dessas temáticas no

espectro das AMOSTRAS A e B fornecem subsídios para identificar o papel e as influências

da imprensa nesse ecossistema comunicacional multifacetado.

3.4.2.1. Entre denúncias e resoluções

Os anexos 1 e 2 trazem, respectivamente, a codificação das amostras A e B para a

linha temática (a): ―Denúncias, alertas e reclamações‖ e ―relatos de coerção‖. Essa foi

praticamente a linha de estreia do Diário de Classe, que teve como ponto de partida postagens

sobre problemas infraestruturais da escola, passando por reclamações sobre a categoria

docente e falhas de gestão. Imediatamente após as divulgações na imprensa, houve

manifestação de posicionamento oficial da Secretaria da Educação (Anexo 3) e as postagens

sobre resoluções se intensificaram, comprovando a forte influência da mídia tradicional para a

formalização de questões tratadas no ciberespaço.

Apesar de as unidades de registro terem sido definidas com base no lead clássico, as

tabelas mostram que muitas células não puderam ser preenchidas apenas com as informações

fornecidas por Isadora, o que não está de acordo com as notícias construídas segundo as

normas do fazer jornalístico. Por outro lado, essas mesmas normas não considerariam

isoladamente os valores-notícia dos problemas divulgados. Grosso modo, para a imprensa,

fechaduras quebradas, lâmpadas queimadas e ventiladores inutilizados, por exemplo, não são

notícia. Segundo Traquina

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As definições do que é notícia estão inseridas historicamente e a definição da

noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica esboço da

compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do

comportamento humano e institucional. (TRAQUINA, 2005, p. 95)

Dessa forma, a partir do momento em que o Diário de Classe traduziu pequenos

problemas estruturais como sintomas de um problema maior, - a deficiência de gestão - tornou

possível o olhar jornalístico sobre o caso. No entanto, a percepção inicial da estudante,

independente de profissionalização, foi fundamental para essa conclusão e complementar ao

trabalho jornalístico. Podemos dizer que a perspectiva de Isadora é particular e nem por isso a

ausência de elementos de um lead clássico diminui a credibilidade das denúncias, quase todas

amparadas por fotos e vídeos amadores.

(...) gostaria de saber quem eu acusei diretamente? que provas vcs querem? fotos e

vídeos não bastam? eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das

conversas... do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por

isso falo... falo pq sei o que acontece e a escola é pública, "do povo", logo não vejo

problemas discutirmos publicamente pois nada tenho a esconder. (Diário de Classe,

14 de agosto de 2012)

Uma publicação no site do jornal O Globo traz a opinião de um especialista que

corrobora a importância dessa consciência de porta-voz:

Para o economista Gustavo Ioschpe, especializado em economia da educação, a

atitude desses jovens tem grande relevância ao trazer à tona informações pouco

conhecidas. Como ele compara, a educação pública brasileira ainda é uma caixa

preta, em que todos sabem quanto dinheiro entra, mas não há clareza sobre a

aplicação dessa verba: ―A única maneira de descobrirmos a realidade dessas escolas

é por meio desses alunos. E isso vai ter um impacto tremendo, já que a sociedade

ainda tem uma visão muito opaca e equivocada sobre o que acontece no interior

desses locais.52

A teoria interacionista apresentada por Traquina (2005, p.180) questiona o monopólio

dos jornalistas sobre o poder de decidir a noticiabilidade dos acontecimentos e das

problemáticas, considerando, entre outros fatores, o estabelecimento de uma rede noticiosa

como uma ordem no tempo e uma ordem no espaço. Estas ordens impedem que algumas

ocorrências sejam noticiadas e, assim, a rede noticiosa é dotada de ―grandes buracos‖ na

―captura‖ dos acontecimentos. Recorrendo a Schudson, ele descreve o processo de produção

52 http://oglobo.globo.com/educacao/inspiradas-em-diario-de-classe-paginas-no-facebook-denunciam-

problemas-em-escolas-6986146. Acesso em 15/07/2013.

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de notícias como ―normalmente uma questão de representantes de uma burocracia apanhando

notícias pré-fabricadas de representantes de outras burocracias‖ (Schudson 1986:31 apud

Traquina, 2005:197). Assim, o acesso à mídia seria uma forma de poder, de modo que ―a

cobertura do movimento social depende em parte da capacidade de criar um aparelho de

publicação e demonstrar sua vontade de participar da teia de faticidade que sustenta o trabalho

jornalístico‖ (p. 198).

Na análise das denúncias do Diário de Classe, as unidades de registro ausentes se

repercutiram de alguma forma nos comentários e possibilitaram reflexões interessantes sobre

potencialidades da ferramenta e revisão de valores na construção intercultural das notícias. O

empoderamento de Isadora na rede noticiosa da imprensa, por meio de uma ferramenta

totalmente interativa e multimidiática como o Facebook, fez com que os posicionamentos por

comentários oferecessem visões complementares sobre o ―quem‖, também a partir de visões

particulares, em uma caracterização coletiva dos sujeitos das ações. Ponderações também

enriqueceram a construção do ―como‖ e do ―por que‖, fornecendo subsídios para

interpretação dos casos sob diversos pontos de vista.

A discussão complementar mais levantada nos comentários diz respeito à ―culpa‖

pelos problemas infraestruturais que, na visão de Isadora, apresentava-se como um indicador

de descaso da administração. Com a participação da audiência, o assunto ganhou outros

contornos, com argumentos sobre vandalismo, responsabilidade de pais e professores na

educação dos alunos e má administração dos recursos da educação em instâncias superiores à

da direção da escola. Alguns recortes da primeira amostra ajudam a ilustrar esse panorama

(Figura 38).

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Figura 38: Comentários sobre vandalismo. Acesso em 15/07/2013.

Em outra postagem, os comentários (Figuras 39 e 40) trazem uma discussão sobre a

compreensão do vandalismo no Brasil e no Japão, sinalizando a emersão de pontos de vista

interculturais para alimentar o debate.

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Figura 39: Comentários sobre cultura japonesa 1. Acesso em 15/07/2013.

Figura 40: Comentários sobre cultura japonesa 2. Acesso em 15/07/2013.

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A discussão sobre a responsabilidade dos atos de vandalismo repercutiu com outro

viés nos comentários quando as denúncias de Isadora passaram a ser diretamente direcionadas

para professores e funcionários, questionando métodos de ensino e irregularidades

administrativas. Até então, as representações do Diário e as caracterizações coletivas em torno

do ―quem‖ envolviam grupos (pais, alunos, professores) e não membros específicos de cada

grupo.

Figura 41: Comentários sobre representações. Acesso em 15/07/2013.

Embora os comentários (Figura 41) sejam pertinentes, não é possível afirmar, pela

análise do conteúdo, que os autores dos atos de vandalismo eram identificados e omitidos por

Isadora, assim como não é possível concluir que a infraestrutura é propositalmente danificada.

Uma ponderação feita por diversos comentários apontava a má gestão dos recursos públicos

como fator condicionante para objetos quebrados, já que a qualidade dos materiais e do

serviço de manutenção costuma ser incompatível com as formas de manuseio necessárias.

Com essa perspectiva, a análise das representações dos alunos e dos professores (anexo 4)

atribuídas por Isadora realmente não indicam uma suposta ―proteção‖ ao seu grupo. Como ela

afirma no trecho de uma postagem: ―alguns alunos ficam brabos com a gente porque

aparecem no vídeo ou na foto nos xingam e tudo, agora me responde porque tem tanto medo

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da câmera ?? É obvio que ja fez algo errado, é não quer que mostrem mais se tem medo, para

de errar‖ (sic).

Outro ponto que vale ressaltar: em geral, as perspectivas dos assuntos manifestados

nos comentários não foram incorporadas ao conteúdo da página, assim como manifestações

da comunidade escolar. Os clippings de imprensa e de amigos favoráveis, pelo contrário,

foram compartilhados como estratégia de reiteração. Embora a própria condução da pesquisa

não permita caracterizar essa omissão como intencional (a grande quantidade de comentários

não permite análise estrita), a repercussão do assunto por meios independentes fora da página

sinaliza alguma resistência de Isadora a opiniões divergentes e consequente ameaça ao debate

democrático. Ao analisar as denúncias da AMOSTRA 2 (Anexo II), é possível confirmar que

a influência da mídia e a popularidade conquistada elevou Isadora ao status de formadora de

opinião, imprimindo visões e posturas cada vez menos impessoais dos assuntos abordados.

Em um texto publicado no blog de Luís Nassif, chamado ―A versão dos professores da escola

de Isadora‖, os professores da escola Maria Tomázia Coelho se manifestam oficialmente

sobre o assunto:

Peço que pesquisem mais a respeito e se possível ajudem a divulgar a visão

da comunidade escolar, não é possível que internautas, telespectadores e intelectuais

conheçam e compartilhem apenas uma versão desta história.

Somos professores da Escola Maria Tomázia Coelho, escola onde estuda a

menina responsável pela "famosa" página do Facebook, intitulada Diário de Classe,

e estamos trazendo um outro olhar sobre este, que no início era positivo e estimulou

o rápido reparo na estrutura (não reforma, que seria muito maior, pois a escola tem

apenas 7 anos), e passou a focar-se em ataques pessoais a professores e

trabalhadores da escola.

Quando a diretora chamou-a para alertar sobre o uso indevido das imagens de

pessoas e sobre a referência a trabalhadores citando nomes, a aluna e sua mãe

distorceram os fatos e espalharam a idéia de que a menina havia sido pressionada a

acabar com a página. Depois disso as distorções tornaram-se corriqueiras e qualquer

pessoa que se posicionasse contrária era, e é até hoje xingada, achincalhada e por

fim bloqueada da tal página, não há nenhum elogio aos profissionais ou atividades

da escola assim como inexiste a defesa ou comentário ponderando posicionamentos

contra os trabalhadores por parte dos moderadores da página, como haviam dito

outrora. Ou seja, de democrática ela não tem nada.

Quando nós, trabalhadores da escola, demos entrevistas à mídia, as falas

foram "editadas" e novamente sofremos as conseqüências do sensacionalismo e da

visão unilateral difundida pelas mídias. As pessoas lêem e vêem as notícias como

verdades, e não procuram conhecer a realidade ou ouvir outras versões dos fatos,

criando assim uma legião de defensores da menina, e ao mesmo tempo

"inquisidores" da escola. As ferramentas sociais hoje permitem que qualquer um se

manifeste e o que poderia ser positivo acaba se tornando instrumento de acusações e

injúrias, onde o acusado é culpado antes do exercício da defesa.

Então resolvemos nos calar e continuar com nosso trabalho, que é e sempre

foi realizado com competência e responsabilidade, mesmo sofrendo as pressões da

mídia, dos internautas, de pessoas que anonimamente ligam para a escola e nos

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ameaçam, segurando a "onda" e a saúde emocional e física para seguirmos no

propósito de transformar as crianças em cidadãos críticos, e prepará-los para o

mundo do trabalho.

(...) Sobre os textos da página, que no início eram sim da menina e sua

colega, hoje não condizem com sua escrita e discurso em sala de aula, qualquer

pessoa pode ver a diferença.

A página tornou-se fonte de ataques à classe dos professores, e aos

funcionários públicos, em uma postagem desta semana ela escreve que nós só

começamos a trabalhar depois da criação da referida página, ora veja só, a menina

estuda desde a 1ª série na escola, que por sinal tem uma das melhores notas no IDEB

(o que não aconteceria se não realizássemos nosso trabalho com seriedade), e tece

comentários ofensivos como este? Onde será que estava essa mãe, que pouco

aparecia na escola até esta página surgir, já com a filha na 7ª série? Como surge tão

rapidamente esta vontade em ―ajudar‖ e ―fazer a diferença‖, ―lutar por uma

educação de qualidade‖? Todos nós da Escola Maria Tomázia queremos saber?

Afinal é isso que todos nós queremos, alunos críticos e pais presentes, mas com

respeito e diálogo amoroso.53

Embora seja possível reconhecer nas reclamações dos professores as deficiências da

página para o debate plural, um comentário presente no blog de Luís Nassif (Figura 42)

sinaliza mais uma vez a necessidade da busca intercultural de conclusões: se Isadora diz que

fala a verdade na perspectiva de estudantes, a verdade na perspectiva do professor pode ser

diferente e não menos válida. Ambos, nesse caso, correm o risco de apoiarem-se apenas em

seus próprios campos de visão.

Figura 42: Comentário no blog do Nassif. Acesso em 16/07/2013.

53 http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-versao-dos-professores-da-escola-de-isadora-faber#. Acesso em

16/07/2013.

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Mesmo buscando avaliar com rigor as especificidades de cada grupo, a presente

investigação não visa determinar vítimas ou culpados, certos ou errados, mas compreender os

processos de elaboração de significados nas relações intergrupais e intersubjetivas,

fornecendo pistas de possibilidades de transformação cultural. Conforme alerta Fleuri,

Em determinados momentos históricos e contextos sociais específicos, as relações

entre sujeitos (individuais ou coletivos) podem se configurar (ou serem

interpretadas) de modo polarizado ou contraditório, buscando-se estabelecer a

finalidade de uma ação por contraposição ao seu oposto. Mas a perspectivada

complexidade torna possível entender que as relações transversais, que se

desenvolvem entre diferentes contextos sociais e dimensões culturais, configuram

padrões de significação plurivalentes, híbridos, em relação aos quais as ações e

manifestações dos agentes adquirem simultaneamente múltiplos significados, no

mais das vezes paradoxais. As relações interculturais se constituem não apenas entre

grupos e sujeitos de identidades culturais diferentes, mas na própria formação de

cada sujeito e de cada grupo na medida em que suas ações e manifestações adquirem

significados ambivalentes ao se referirem simultaneamente a padrões culturais

diferentes. (FLEURI, 2002, p.409)

No ambiente online, Recuero afirma que essa complexidade tem caráter interacional e

está relacionada a um movimento de negociação do contexto. Segundo ela, os elementos

contextuais que formam os macro e microcontextos ―podem ser negociados em diversas

instâncias e são os responsáveis pelo andamento e pelas mudanças da conversação‖

(RECUERO, 2012, p.117). Essa negociação é alcançada pela conversação em rede e sua

construção é coletiva, estabelecendo regras e elementos que serão utilizados pelos atores para

trocar as informações.

Com o crescimento da página e divulgação na imprensa nacional, no entanto, esse

contexto passou a ser negociado a partir de perspectivas muito dispersas, em um universo de

significações e percepções de mundo sem referência local. Embora existam outras duas

páginas específicas sobre a escola de Isadora – ―Nossa Verdade‖54

(Figura 44) e ―Ebm Maria

Tomázia Coelho‖55

(Figura 43), com conteúdo focado em aspectos positivos da instituição, as

representações não dialogam entre si, desfavorecendo o desenvolvimento do capital social56

que poderia politizar a conversação e, assim, proporcionar efeitos democráticos ligados à

54 https://www.facebook.com/NossaVdd. Criada no dia 31 de agosto de 2012 por alunos da escola Maria

Tomázia Coelho. Conforme consta no blog do Luís Nassif, a página foi criada por pessoas excluídas do Diário

de Classe. 55 https://www.facebook.com/E.B.M.MariaTomaziaCoelho. Página oficial da escola, criada em 21 de março de

2012, antes do Diário de Classe. 56 Considerando ideias de Coleman (1990) e Putnam (1993), para quem a noção de capital social seria a

coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações entre as

pessoas e as instituições com as quais elas estão envolvidas.

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formação do cidadão. Como ressalta Matos (2009), ―a opinião pública não pode ser tratada

como um simples atributo do indivíduo ou do grupo, mas como um processo dinâmico da

organização social‖ (p. 77).

Figura 43: Postagem na página ―Ebm Maria Tomázia Coelho‖. Acesso em 17/07/2013.

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Figura 44: Postagem na página ―Nossa Verdade‖. Acesso em 17/07/2013.

Como todas as matérias compartilhadas pelo Diário de Classe indicavam o apoio da

imprensa à iniciativa, ao passo que nos meios alternativos surgiam denúncias de pessoas que

foram excluídas do debate, nota-se também a ausência de estímulo a processos discursivos e

cooperativos na construção do conhecimento. Como ressalta Matos (2009), recorrendo a

Lasch, ―só quando submetemos nossas preferências ao debate podemos chegar a uma

conclusão sobre o que sabemos e o que ainda há a aprender‖ (p. 79) – um argumento para

questionar a ideia de ―verdade‖ tão promovida pelo Diário de Classe. Logo, ―o conhecimento

horizontal relacionado à prática comunicativa do cotidiano é fundamental para a consolidação

das certezas que compõem o pano de fundo das relações intersubjetivas‖ (MATOS, 2009, p.

81). Ao discorrer sobre as vantagens da internet para o ativismo, Moraes (2001) lembra que as

potencialidades que se entreabrem no âmbito virtual precisam ser ―fundadas em práticas

interativas e não submetidas aos mecanismos de seleção e hierarquização da mídia‖ e alerta

que o quadro de expectativas não deve alimentar ilusões:

Em primeiro lugar, porque a cibermilitância necessita aprofundar propostas de

comunicação eletrônica e conciliá-las com demandas do público-alvo. Em segundo,

porque nos deparamos com um fenômeno ao mesmo tempo hiperveloz (devido à

expansão tecnológica) e lento (por conta de hábitos culturais e políticos nem sempre

fáceis de atualizar). Em terceiro, porque os movimentos sociais não formam um todo

coeso e harmônico. A heterogeneidade de ideários, identidades, práticas e naturezas

constitutivas se reflete em usos e apropriações distintos das engrenagens

comunicacionais, aí incluída as da Internet. Por mais que redes e coletivos virtuais

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aproximem e combinem linhas de intervenção, não caracterizam, naturalmente,

totalidades ou unicidades válidas em qualquer situação. (MORAES, 2001, s/p).57

Pela análise do conteúdo do Diário de Classe, também é possível identificar alguns

assuntos recorrentes em mais de uma postagem. Estes acabaram ganhando mais atenção da

mídia pela busca de informações complementares de caráter investigativo, provavelmente

pelo reconhecimento, por parte da imprensa, do valor-notícia de consonância. Segundo

Traquina (2005), ―quanto mais a notícia insere o acontecimento em uma ―narrativa‖ já

estabelecida, mais possibilidades a notícia tem de ser notada‖ (p. 93).

Isso quer dizer que a notícia deve ser interpretada num contexto conhecido, pois

corresponde às expectativas do receptor. Implica a inserção da novidade num

contexto já conhecido, com a mobilização de ‗estórias‘ que os leitores já conhecem.

(...) ―Assim, o novo acontecimento é inserido em uma velha história.‖

(TRAQUINA, 2005, p. 93)

Os casos mais emblemáticos analisados se referiam a personagens específicos: um

conflito com um professor de matemática, que teve sua didática questionada por Isadora e

acabou sendo demitido; outro conflito com uma professora de português, que acusou Isadora

de calúnia e difamação, judicialmente; e uma denúncia administrativa sobre a pintura da

quadra de esportes da escola, que acusava a diretora da escola de má gestão dos recursos. A

resolução dos três casos envolveu processos burocráticos e, consequentemente, demorados,

causando ansiedade quanto aos resultados e estimulando o interesse da imprensa. Assim, o

valor-notícia da consonância se une também, entre outros, ao valor-notícia do conflito, que

coloca o jornalista na ―situação mítica de cão de guarda das instituições democráticas‖

(Traquina, 2005).

Em artigo publicado no Observatório de Ética Jornalística58

, o Professor Samuel Lima

afirmou que, nesses casos, não houve ―qualquer preocupação com o princípio do

contraditório, amplo direito de defesa, presunção de inocência ou quaisquer outros direitos

balizadores das relações humanas nas modernas sociedades democráticas‖, nem no Diário de

Classe e nem na imprensa. Esta, por sua vez, teria se valido dos ―princípios do espetáculo e do

publicismo‖. À luz de Debord (2003), compreende-se que, no espetáculo, o mais importante

57 http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-ativismo-digital.html 58 http://objethos.wordpress.com/2012/10/24/comentario-objethos-o-facebook-e-a-espetacular-construcao-

unilateral-da-verdade/

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não é o fato em si, mas sua publicidade. Vale agregar também nesse caso o valor-notícia da

notoriedade dos atores principais – Isadora Faber, reconhecida como uma espécie de

―heroína‖ do ensino público; seus professores e a diretora da escola, que por status social têm

posturas questionadas com mais veemência em relação aos alunos da escola que também

cometem irregularidades. Em tese, a impulsão que o Diário de Classe ganhou com a imprensa

lhe conferiu legitimidade política. No entanto, Matos (2009) recorre a Putnam para lembrar

que a cooperação pode promover ações sociais boas e ruins, já que grupos exercem maior

poder de coerção. Assim, ―as formas de confiança constituídas sem o respeito às normas de

reciprocidade e da orientação coletiva para a busca do entendimento podem ser prejudiciais à

democracia e ao capital social‖ (p.100).

Figura 45: Manchete do Diário Catarinense em 30/08/2012. Acesso em 17/07/2013.

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Além da manchete do Diário Catarinense (Figura 45), outra matéria, do Jornal Zero

Hora, traz um contraponto do caso ouvindo profissionais que julgam precipitado o

afastamento do professor. No entanto, com o afastamento concluído, a reflexão mostrou-se

tardia e elucidou as falhas do processo:

A demissão do professor de matemática da estudante Isadora Faber, que

ganhou destaque no Facebook e na mídia por criticar os problemas de infraestrutura

e pedagógica da Escola Maria Tomázia Coelho, é considerada uma atitude

precipitada por pedagogos e representantes dos servidores municipais de

Florianópolis. A página da estudante no Facebook recebeu mais de 183 mil

curtidores até às 19h desta quinta-feira.

A Secretaria de Educação informou que a comissão formada para avaliar o

docente decidiu pelo afastamento. Ainda não foi definido qual será o novo professor

de matemática da unidade de ensino. Mas, segundo a assessoria de imprensa da

pasta, o substituto estará à disposição do estabelecimento a partir de segunda-feira.

Questionada sobre quais seriam os problemas de ensino nas aulas de

matemática e o porquê de só agora terem sido percebidos, a secretária de Educação

de Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, disse que no ano passado o docente —

contratado em regime temporário — tinha lecionado na rede e já havia reclamações,

mas a avaliação pedagógica que a escola tinha feito era positiva. Dessa vez, o

colégio entendeu que o profissional não atendia às necessidades dos estudantes.

— Não foi por questão de conteúdo, pois ele é formado. O problema foi a

dificuldade de manejo com a turma — afirma a secretária.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal

de Florianópolis(Sintrasem), Rosangela Soldatelli, considerou a atitude da prefeitura

precipitada. O funcionários teria apresentado a defesa na segunda-feira e a

sindicalista acredita que não houve tempo para se fazer uma avaliação mais

aprofundada do contexto, como as condições de trabalho, número de alunos,

orientações da equipe pedagógica da unidade.

Sobre os problemas no colégio, a líder sindical afirma que a secretaria

responsabilizou a escola por um problema que é da rede.

— Isso faz parte da campanha para desqualificar nosso trabalho e poupar o

do poder público. Jogar a responsabilidade na escola. A prefeitura tem que estar

atenta ás escolas, fiscalizar —, critica Rosangela referente à coletiva de imprensa

concedida na terça-feira em que a diretora assumiu toda a responsabilidade pelos

problemas na presença da secretária.

Ontem, Sidneya retrucou afirmando que é uma responsabilidade de todos,

desde a rede, até os professores e a comunidade, e que não estaria se eximindo da

culpa.

Para o coordenador do Curso de Pedagogia da Unisul, Jorge Alexandre

Cardoso, ao decidir por demitir o professor de matemática, a secretaria optou por

simplificar a solução de um problema que ele acredita se repetir em outras unidades

de ensino. O melhor, para ele, seria dar apoio pedagógico para um melhor

desenvolvimento do docente e melhorar as condições de trabalho.

Segundo Cardoso, seria impossível a situação do professor _ que pelas

críticas de Isadora e vídeos postados em seu Facebook, não tinha autoridade em sala

_ estava desapercebida por todo esse tempo pela secretaria e direção.

— Muitas outras escolas estão em situação semelhante. Essa agora foi

filmada e veio à tona na internet e imprensa. A solução nunca vai ser a demissão, da

mesma forma que a reprovação não é a solução para os problemas de ensino.

Medidas extremadas só vão tornar os outros professores medrosos, não significa

que vai aumentar o comprometimento — analisa.

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Por meio do Sintrasem, o professor afastado disse que preferia não conversar

com a imprensa. Mas já solicitou apoio dos advogados do sindicato para se

manifestar na Justiça contra a prefeitura. (Zero Hora, 30 de agosto de 2012)59

Para Rawls (2000), a superação das dificuldades da razão no debate político pressupõe

o que ele chama de acordos razoáveis. Os preceitos apontados para atingir esse objetivo

devem ser observados tanto pelos movimentos sociais quanto pela imprensa que fortalece as

iniciativas autônomas.

Não devíamos acusar-nos precipitadamente uns aos outros por fazer intervir o

interesse pessoal, ou o interesse do grupo, ou os preconceitos, nem de cometer erros

tão graves quanto a cegueira ou a ilusão ideológica. Tais acusações suscitam o

ressentimento e a hostilidade e impedem qualquer acordo razoável. Predispor-se a

formular tais acusações sem base sólida é totalmente não razoável, e frequentemente

equivale a uma declaração de guerra intelectual. (Rawls, 2000, p. 343)

Rawls destaca, ainda, que as posturas razoáveis já esperam desacordos fundamentais e

uma certa dose de boa-fé nos outros, aceitando essa diversidade como sendo ―o estado normal

da cultura pública de uma sociedade democrática‖. Para ele, ―odiar esse fato equivale a odiar

a natureza humana‖ (Rawls. 2000, p. 343). Ao considerar o dinamismo da modernidade e das

próprias ferramentas da internet, identificamos a necessidade de ―ordenação e reordenação

reflexiva das relações sociais à luz das contínuas entradas (inputs) de conhecimento afetando

as ações de indivíduos e grupos‖ (GIDDENS, 1991, P. 21).

3.4.2.2. Identidade e reflexividade

Lash (1997), ao discutir a modernização reflexiva - ―uma teoria dos poderes sempre

crescentes dos atores sociais – ou ―atividade social‖ – em relação à estrutura‖ (p.136) -,

acredita que as estruturas sociais que regridem nesse contexto estão sendo substituídas por

estruturas de informação e comunicação. Tomando como exemplo dessa tendência o Diário

de Classe e sua teia de repercussão, percebemos que as dificuldades de Isadora para conciliar

intersubjetividades em âmbito local promoveu um progressivo aumento dos apelos para

adesões e compartilhamentos em uma rede virtual global de solidariedade. Ao mapear os

relacionamentos e utilizar esse mapa como rede de distribuição, o Facebook facilita a conexão

com pessoas que pensam da mesma maneira ou compartilham informações e se organizam.

59 Disponível em http://m.zerohora.com.br/noticias/todas/a3870246. Acesso em: 17/07/2013.

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Como pontua Kirkpatrick (2010), o site é o maior de uma série de sites que estão redefinindo

o que é notícia: ―algo produzido por pessoas comuns e consumido por seus amigos‖ (p.315),

caracterizando um filtro de relevância descentralizado, de modo que ―a fronteira entre o

Facebook e a velha mídia está perdendo seus contornos‖ (p.317). Embora essa

homogeneização do pensamento traga consequências ao desenvolvimento do capital social,

como já foi dito, também oferece aspectos positivos que não podem ser negligenciados, pois,

―se modernização simples significa subjugação, então modernização reflexiva envolve a

capacitação dos indivíduos‖ (LASH, 1997, p. 139). Essa capacitação aliada à possibilidade de

se expressar com a certeza do encontro entre vozes consonantes ajuda a romper um oculto

deformador da opinião pública, que Noelle-Neumann chamou de ―espiral do silêncio‖:

As pessoas não desejam isolar-se, estão sempre observando o que acontece em

derredor, são capazes de perceber o menor aumento ou diminuição nas comunidades

de opinião. Todos os que observam que sua opinião ganha terreno sentem-se

fortalecidos, falam abertamente, esquecem a cautela. Todos os que vêem sua opinião

perder terreno se calam. Os que falam com voz forte e são publicamente visíveis

parecem ser mais fortes do que na realidade são; os outros, mais fracos do que na

verdade são. Surge uma ilusão óptica e acústica das verdadeiras maiorias e forças, e

se alguns fazem com que outros alcancem sua voz, outros contagiam os demais com

seu silêncio, até que no final uma opinião pode ser completamente sufocada. O

conceito de espiral do silêncio contém o movimento, aquilo que se vai difundindo,

aquilo que alguém não consegue superar. (NOELLE-NEUMANN, 1983, apud

KUNCZIK, 2002, p. 333).

Se o silêncio e a opinião são distorcidos conforme o grau de apoio que as ideias

recebem e o que rege esse comportamento é a constante antropológica do medo do

isolamento, as ideias em rede redefinem – ou eliminam – as fronteiras desse isolamento.

Mesmo sem o apoio absoluto da comunidade local, o apoio virtual empoderou Isadora para se

manifestar e questionar práticas cotidianas de sua escola a ponto de mobilizar toda a estrutura

burocrática. Esse movimento não é uma consequência inesperada do Facebook. Kirkpatrick

(2010) relata que a ideia de Zuckerberg é criar a transparência necessária para que a chamada

―economia da dádiva‖ opere em larga escala. ―A ‗dádiva‘, por assim dizer, é o que fazemos

para os outros quando expomos ali nossas ideias e nos tornamos vulneráveis a críticas – que

no Facebook podem nos ser dirigidas com facilidade‖ (p. 308). Toda essa transparência

obrigaria empresas e organizações a serem melhores e mais confiáveis e influenciariam

profundamente a sociedade, já que ―um mundo mais transparente cria um mundo mais bem

governado e mais justo‖. Essa premissa também atinge o ativista, já que no Facebook se

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assume um compromisso público mais amplo e mais visível, diferente de segurar um cartaz

durante uma manifestação de multidões. Em vários momentos, Isadora foi ―vítima‖ de suas

contradições. Por exemplo: Nesta postagem (Figura 46), de um ativista que criou um Diário

de Classe para desmistificar algumas postagens da página original, há um questionamento

sobre as razões para as supostas notas baixas do boletim escolar divulgado por Isadora. Nos

comentários, manifestam-se como reforço alguns relatos de pais de alunos.

Figura 46: Postagem de um Diário de Classe da oposição. Acesso em 20/07/2013.

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Essa liberdade de expressão aliada à dinâmica do Facebook também traz uma nova

―modalidade‖ de distorção. À luz de Giddens, Lash (1995, p. 139) adverte que ―até a

modernização reflexiva é uma ―devoção cega‖, pois as consequências da reflexividade podem

desavisadamente resultar em novas inseguranças, em novas formas de subjugação‖.

Kirkpatrick destaca que a facilidade de adesão a um grupo político e a velocidade com que as

informações são produzidas e transmitidas na rede são favoráveis à formação de convicções

fracas, ―e muitas vezes não está claro se o número de pessoas que se juntam a um grupo ou

uma causa significa muita coisa‖ (p. 312). Se pensarmos na capacidade que o Facebook

dispõe para associar conteúdos emocionais a publicidades dirigidas, e lembrarmos que os

mecanismos de publicidade no site são consequências de seu aperfeiçoamento e consolidação

como rede social, essa teia de relações merece ainda mais atenção. Como explicou Rudiger,

Ocorre, contudo, que, por meio desse processo abrangente e contraditório, o sujeito

social está se inserindo em uma teia de relações aberta ao infinito, em contínuo

estado de alteração cujo vetor, agora e em última instância, é função de fatores quase

que exclusivamente mercantis. Os benefícios trazidos pelo progresso tecnológico – e

que não se pode negar – estão sendo sempre, mais e mais, subordinados a uma

tendência que, de bom ou mau grado, nos impõe várias alienações e prejuízos nos

diversos planos da existência, do ambiental ao subjetivo e individual, ao também

serem prisioneiros do fetichismo da mercadoria. (RUDIGER, 2011, p. 128)

Mais uma vez, tomamos como via de compreensão dessas contradições os

pressupostos de Canclini, para quem ―o consumo é um processo em que os desejos se

transformam em demandas e em atos socialmente regulados‖ (CANCLINI, 2008, p. 65). Um

fenômeno relevante de reação às denúncias do Diário de Classe, sobretudo nos comentários

das postagens, foi de jovens que relativizaram a importância dos problemas relatados tendo

como referência suas realidades particulares. É como se Isadora não tivesse direito de

reclamar dos problemas de sua escola só porque havia escolas em condições piores,

confirmando que a democratização das oportunidades de expressão e participação não gera

por si só a apropriação dos bens. O acesso ao consumo do Facebook e dos conteúdos

oferecidos por ele reduz porcentagens de desigualdade pela inclusão digital, ao mesmo tempo

em que amplia a percepção sobre as porcentagens que resistem. Logo, quem consome mais

tende a pensar mais e refletir sobre a própria condição para poder interferir nela ou não, pois

conta com mais referências para isso. Como destacou Jenkins, o poder da participação vem

não de destruir a cultura comercial, ―mas de reescrevê-la, modifica-la, corrigi-la, expandi-la,

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adicionando maior diversidade de pontos de vista, e então circulando-a novamente, de volta às

mídias comerciais‖ (JENKINS, 2008, p. 341).

Diante da complexidade das perguntas culturais, que não têm respostas políticas -

―porque agora são outros que formulam as perguntas e os que davam as respostas também

foram substituídos‖ (CANCLINI, 2009, p. 214) -, cabe aos nativos digitais a fundamentação

do sentido social com consensos interculturais. Não apenas porque nasceram automaticamente

inseridos na rede, mas por serem jovens e direcionadores do futuro. Mesmo com

―comportamentos não razoáveis‖, iniciativas como a de Isadora Faber ajudam a perceber,

compreender e pensar nos desafios que se desenham para as próximas gerações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão sobre a sociedade em rede trouxe ao mundo acadêmico a necessidade de

repensar paradigmas comunicacionais contemporâneos, estimulando novos caminhos para

compreender as motivações dos sujeitos e a emergência de suas autonomias comunicativas

sobre velhas e novas mídias. A complexidade desses desdobramentos avança em

descompasso com a disponibilidade de teorias e métodos de interpretação unívocos, de modo

que um grande desafio da pesquisa é delimitar objetos de estudo nessa dinâmica social.

O que deveria promover certa angústia epistemológica, no entanto, pode favorecer um

estímulo filosófico na busca por respostas que agregam não somente o relato das semelhanças

ou das diferenças, mas um olhar transformador sobre as contradições. Ao adotar a perspectiva

intercultural de Néstor García Canclini para analisar o conteúdo do Diário de Classe sob tal

premissa, foi necessário vestir-se com uma autocrítica de resistência ao apelo das

relativizações inconclusivas. Elas parecem emergir com facilidade e são sedutoras, mas não se

anulam se as visualizarmos dentro de um avanço quase metalinguístico no contexto da

produção científica, aos moldes da inteligência coletiva que se dispõe a explorar.

Nesse sentido, a escolha do Diário de Classe como objeto de estudo teve uma

intencionalidade de longo prazo, visando a constituição de algumas bases reflexivas no campo

da comunicação já em diálogo e flerte com o campo da educação. Se é a ampla autonomia

comunicativa que fortalece e impulsiona a cultura participativa e a inteligência coletiva, não

só as cadeiras acadêmicas estão desafiadas à compreensão das apropriações, mas também os

sujeitos desse movimento complexo. Se considerarmos a geração dos jovens nativos digitais,

por mais que tenham acesso irrestrito a múltiplas visões de mundo interconectadas, carecem

de um conhecimento que também é essencial ao exercício da interculturalidade: o passado

analógico.

Não se trata de uma perspectiva saudosista de manutenção das tradições, da aura do

livro impresso sobre a virtualidade do ebook. O que ressaltamos aqui é a necessidade de

transmitir diferentes referências identitárias para que o jovem disponha do instrumental

necessário à percepção de si mesmo e de seu papel social. Afinal, um mundo com tamanha

velocidade no ritmo de mudanças pressupõe em cada novo habitante uma inata missão

criativa, de transformação e reinvenção. Mas, da mesma forma que os nativos digitais

desconhecem a experiência da privacidade e apropriam-se dos sites de rede social sem a

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noção das futuras consequências, muitos atos ciberativistas tendem a perder a oportunidade de

ação consciente sob o princípio de pluralidade que precisa pautar o desenvolvimento

democrático. Corre-se o risco deste novo mundo ser construído sob a égide da exclusão, já

que toda a estrutura social é pensada por conectados. As mudanças na maneira de consumir

sustentam, nutrem e constituem uma nova forma de exercício da cidadania, mas um estado

permanente de transições não pode olhar apenas para o futuro. Como afirma Lévy (1999), O

acesso ao ciberespaço ainda é limitado e seu crescimento deve ser observado a partir da

tendência de conexão e não de seus números absolutos. Ele ressalta ainda que será cada vez

mais fácil e barato conectar-se, mas alerta: ―Cada novo sistema de comunicação fabrica seus

excluídos‖, exemplificando que não havia letrados antes da invenção da escrita.

A iminência dessa discussão passa pela necessidade de construção de laços sociais e

relações de pertencimento com horizontes filosóficos e tecnológicos que reflitam sobre

conexões entre o sujeito social e uma estrutura cada vez mais complexa que cobra seu preço

político. Nesse sentido, a educação tende a ocupar um papel fundamental ao desenvolvimento

de habilidades de leitura crítica e ação social. Não é possível prever se esses conhecimentos se

vincularão de maneira efetiva aos processos de ensino formal ou encontrarão vias transversais

de presença na vida cotidiana. Até porque, como destaca Brant (2008), o entendimento da

educação formal como um campo estratégico de batalha pode fazer dela tanto ―um

instrumento que propicia condições para a conquista da autonomia política‖ ou ―ser

simplesmente o aparelho ideológico do Estado em que se reproduz a ideologia dominante‖

(p.70). Portanto, apenas o diálogo permanente entre pesquisadores da comunicação e da

educação, entre outras abordagens interdisciplinares aliados a atividades de extensão, poderá

manter ambos os campos em um fluxo de interpretações com garantia de sentido existencial

científico.

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132

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135

ANEXOS

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136

ANEXO I: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 1

Unidade de registro 1 Unidade de registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto

TEMAS

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações Porta pichada

banheiro

feminino sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

porta sem

fechadura

banheiro

feminino da

escola do

santinho. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

ventilador

quebrado colegas

precisam encostar os fios

para fazer funcionar.

Quando sentem calor

botam papel e começa a

sair fumaça os professores

ficam loucos falando que

vai pegar fogo e é a pura

verdade pega fogo sim sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando o

espaço físico da

escola corredores sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

orelhão não

funciona

serve aos alunos e

comunidade

próxima à escola

dentro da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

mesa dos

professores

instável

cai às vezes quando alguns

se apoiam e tudo cai no

chão, trabalhos provas etc sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vasos sanitários da

escola não têm

tampa banheiros

presença ou ausência de

tampa é questão de sorte sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

portão da escola

com fechadura

quebrada

porta de

entrada da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

lâmpada caiu do

teto sim

Denúncias,

alertas,

reclamações lâmpada sim

Denúncias,

alertas,

reclamações bancos quebrados refeitório sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

indicador de

goteiras

lixos da escola que usam

como balde para as

goteiras sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

câmara de

disjuntores exposta

alunos conseguem

"brincar" com os

professores desligando e

ligando a luz sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

janela com vidro

quebrado

as vezes os alunos

quebram e não da

para descobrir

quem foi

janela na frente

da escola

dá pra arrumar, nada é

impossível as vezes eles

pedem dois reais de cada

aluno pra arrumar a

escola, e compram um

radio, acho que é melhor

um vidro. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações fios desencapados sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

fechadura

quebrada

crianças mais novas

da terceira e

segunda serie

acabaram

quebrando

banheiro

feminino brincando de pega-pega sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

falta atenção aos

casos de

vandalismo

 isso só está sendo como

uma iniciação para que

eles se tornem marginais não

Resoluções

troca da porta

quebrada por uma

porta nova sim

Resoluções

conserto de

fechaduras sim

Resoluções

conserto de

ventilador

quebrado

 retiraram os fios que

davam choque, e o

ventilador, mas falta repor

o ventilador sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

uma garota de 14

anos que levou

uma arma pra

escola

uma garota de 14

anos

foi mostrado

no Jornal do

almoço ontem não

Relatos de

coerção contradições

Se nós publicamos fotos e

videos somos criminosas,

se só comentamos

estamos acusando sem

provas não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

professor de

matemática sala de aula

hoje 31 de

julho

é a aula mais bagunçada

de todas, foi muito ruim 

o professor não consegue

manter a turma em

silêncio. Tenta mas não

consegue, porque a turma

começa a gritar na aula.

Pediu consideração com

ele, mas pontuou que não

pode fazer mais nada se

ele não consegue manter a

turma em silêncio.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

O professor bateu na

mesa para ficarem em

silencio, e todos

começaram a imitar ele

então Isadora gravou um

vídeo da bagunça e os

alunos que estavam no

meio perceberam e

avisaram o professor.

Isadora e Melina foram

parar na diretoria, ligaram

para os pais dela e

mandaram bilhete pedindo

a presença deles na

escola.

Eles conversaram a

diretora pediu apenas

para retirar o vídeo, disse

que tinha visto a página e

―deixou‖ porque não era

contra a escola. Como a

página já deu resultado,

ela seguiu as orientações e

retirou o vídeo, alegando

ser melhor para todos.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações

 o Anderson Abreu

da Prefeitura, foi

na escola e falou

que tinha visto o

Diário de Classe,

ele sabia dos

problemas do

professor de

matemática

Anderson Abreu da

Prefeitura

na turma de

Isadora

Na terça feira

14 de agosto 

então ele perguntou se

queríamos que eles

fizessem uma troca, e toda

a turma concordou, o

professor iria embora, mas

na quinta 16 de agosto o

professor foi dar aula

novamente. não

Relatos de

coerção

Isadora afirma que

foi pressionada "de

todas as formas

para eu retirar os

videos das aulas de

matemática."

Ela diz: "Se

arrependimento matasse

já estava morta, mas se

continuarem sem dar

explicações vou publicar

todos de novo e mais

alguns, ou vai passar o

ano todo sem aula de

matemática decente??" não

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando a

bagunça na aula de

matemática

na turma de

Isadora

porque me fizeram tirar

quando o Anderson

Abreu da prefeitura foi na

escola, e falou que o

professor não nos daria

mais aula, mas no dia

seguinte o professor

voltou, e a diretora falou

que ele sairia, então não

coloquei, ai tivemos

algumas aulas com as

auxiliares e ontem ele

estava de volta, e a

diretora hoje falou que ele

vai embora, mais até eu

ter certeza disso, decidi

postar de novo, e não vou

tirar até que ele realmente

vá embora da nossa

escola. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

A diretora disse

que a demissão do

professor Aloísio,

de matemática,

está pronta e ele

não quer assinar

diretora, prof.

Aloisio

pouco depois

da postagem

do vídeo no

dia 24 de

agosto

a nossa turma já fez

abaixo assinado, e ela não

sai. Alguém pode me

explicar como isso

funciona??? Pensei que

quando era demitido tinha

que sair. não

Identidade

vídeo de

esclarecimento

―Quero reforçar que todos

os outros professores

conseguem dar aula, os

alunos ficam quietos e nós

aprendemos, não é normal

não aprender nada‖, ela

disse. Disse também que

ela tem autoria total sobre

as postagens.sim

Relatos de

coerção

Hoje a professora

de português

Queila, preparou

uma aula pra me

''humilhar'' na

frente dos meus

colegas professora Queila sala de aula

hoje 24 de

agosto

a aula falava sobre politica

e internet, ela falava que

ninguém podia falar da

vida dos professores,

porque nós podíamos ter

feito muitas coisas erradas

pra eles odiarem e etc. 

Eu e acho que a maioria

dos meus colegas

entenderam o recado ''pra

mim''. Além disso quando

vou até o refeitório as

cozinheiras, começam a

falar de mim, na minha não

Relatos de

coerção

celular na sala de

aula

professora auxiliar

(não identificada) sala de aula

hoje 17 de

agosto

faltando 3 minutos para

acabar a aula todos

estávamos conversando, a

professora auxiliar deixou,

então eu e no minimo 3

colegas estávamos com

celular na mão e os 3 já

estavam escutando

musica, e o meu estava ate

com fone enrolado porque

eu estava esperando bater

o sinal, para não dar

confusão, e a professora

se dirigiu a mim, e falou

que iria recolher meu

celular se eu não

guardasse. Já não é a

primeira vez que acontece

isso.

Mas e os outros, que

estão também ?? Eu falei,

ou pega o celular de

todos ou de ninguém.

Qual é o problema

comigo? Acho até que sei

represália, mais comigo

pressão não funciona,

tudo que acontecer eu

vou postar aqui. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

preocupação com

aulas de história

A nossa professora

de história

teve uma aneurisma e

passou por cirurgia, eu

espero que ela se

recupere totalmente, e

também estou preocupada

porque ouvi falar que

pode demorar para ela

voltar, será que vamos

ficar só com auxiliares?? não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares

hoje 20 de

agosto

De 5 aulas de hoje, só

tivemos 2 com os

professores titulares, as

outras 3 foram com

professoras substitutas.

Quando temos aulas com

auxiliares elas dão um

texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o

tempo poderia ser melhor

aproveitado. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares auxiliares, diretora

hoje 21 de

agosto

 tivemos 2 aulas com

professores titulares, e as

outras três não, mas

tivemos aula de

matemática com a diretora

que nos deu exercícios, e

viu o que sabíamos e o

que não tínhamos

conseguido assimilar, foi

muito boa a aula hoje

acho que teve um

rendimento que com

auxiliar não tem, espero

que siga assim. não

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 1

Page 139: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP FACULDADE DE ...€¦ · O objetivo era utilizar o espaço para denunciar ... Blogs e Jornalismo Cidadão ..... 37 1.3.2. O interesse público

137

Unidade de registro 1 Unidade de registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto

TEMAS

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações Porta pichada

banheiro

feminino sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

porta sem

fechadura

banheiro

feminino da

escola do

santinho. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

ventilador

quebrado colegas

precisam encostar os fios

para fazer funcionar.

Quando sentem calor

botam papel e começa a

sair fumaça os professores

ficam loucos falando que

vai pegar fogo e é a pura

verdade pega fogo sim sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando o

espaço físico da

escola corredores sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

orelhão não

funciona

serve aos alunos e

comunidade

próxima à escola

dentro da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

mesa dos

professores

instável

cai às vezes quando alguns

se apoiam e tudo cai no

chão, trabalhos provas etc sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vasos sanitários da

escola não têm

tampa banheiros

presença ou ausência de

tampa é questão de sorte sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

portão da escola

com fechadura

quebrada

porta de

entrada da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

lâmpada caiu do

teto sim

Denúncias,

alertas,

reclamações lâmpada sim

Denúncias,

alertas,

reclamações bancos quebrados refeitório sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

indicador de

goteiras

lixos da escola que usam

como balde para as

goteiras sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

câmara de

disjuntores exposta

alunos conseguem

"brincar" com os

professores desligando e

ligando a luz sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

janela com vidro

quebrado

as vezes os alunos

quebram e não da

para descobrir

quem foi

janela na frente

da escola

dá pra arrumar, nada é

impossível as vezes eles

pedem dois reais de cada

aluno pra arrumar a

escola, e compram um

radio, acho que é melhor

um vidro. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações fios desencapados sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

fechadura

quebrada

crianças mais novas

da terceira e

segunda serie

acabaram

quebrando

banheiro

feminino brincando de pega-pega sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

falta atenção aos

casos de

vandalismo

 isso só está sendo como

uma iniciação para que

eles se tornem marginais não

Resoluções

troca da porta

quebrada por uma

porta nova sim

Resoluções

conserto de

fechaduras sim

Resoluções

conserto de

ventilador

quebrado

 retiraram os fios que

davam choque, e o

ventilador, mas falta repor

o ventilador sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

uma garota de 14

anos que levou

uma arma pra

escola

uma garota de 14

anos

foi mostrado

no Jornal do

almoço ontem não

Relatos de

coerção contradições

Se nós publicamos fotos e

videos somos criminosas,

se só comentamos

estamos acusando sem

provas não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

professor de

matemática sala de aula

hoje 31 de

julho

é a aula mais bagunçada

de todas, foi muito ruim 

o professor não consegue

manter a turma em

silêncio. Tenta mas não

consegue, porque a turma

começa a gritar na aula.

Pediu consideração com

ele, mas pontuou que não

pode fazer mais nada se

ele não consegue manter a

turma em silêncio.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

O professor bateu na

mesa para ficarem em

silencio, e todos

começaram a imitar ele

então Isadora gravou um

vídeo da bagunça e os

alunos que estavam no

meio perceberam e

avisaram o professor.

Isadora e Melina foram

parar na diretoria, ligaram

para os pais dela e

mandaram bilhete pedindo

a presença deles na

escola.

Eles conversaram a

diretora pediu apenas

para retirar o vídeo, disse

que tinha visto a página e

―deixou‖ porque não era

contra a escola. Como a

página já deu resultado,

ela seguiu as orientações e

retirou o vídeo, alegando

ser melhor para todos.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações

 o Anderson Abreu

da Prefeitura, foi

na escola e falou

que tinha visto o

Diário de Classe,

ele sabia dos

problemas do

professor de

matemática

Anderson Abreu da

Prefeitura

na turma de

Isadora

Na terça feira

14 de agosto 

então ele perguntou se

queríamos que eles

fizessem uma troca, e toda

a turma concordou, o

professor iria embora, mas

na quinta 16 de agosto o

professor foi dar aula

novamente. não

Relatos de

coerção

Isadora afirma que

foi pressionada "de

todas as formas

para eu retirar os

videos das aulas de

matemática."

Ela diz: "Se

arrependimento matasse

já estava morta, mas se

continuarem sem dar

explicações vou publicar

todos de novo e mais

alguns, ou vai passar o

ano todo sem aula de

matemática decente??" não

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando a

bagunça na aula de

matemática

na turma de

Isadora

porque me fizeram tirar

quando o Anderson

Abreu da prefeitura foi na

escola, e falou que o

professor não nos daria

mais aula, mas no dia

seguinte o professor

voltou, e a diretora falou

que ele sairia, então não

coloquei, ai tivemos

algumas aulas com as

auxiliares e ontem ele

estava de volta, e a

diretora hoje falou que ele

vai embora, mais até eu

ter certeza disso, decidi

postar de novo, e não vou

tirar até que ele realmente

vá embora da nossa

escola. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

A diretora disse

que a demissão do

professor Aloísio,

de matemática,

está pronta e ele

não quer assinar

diretora, prof.

Aloisio

pouco depois

da postagem

do vídeo no

dia 24 de

agosto

a nossa turma já fez

abaixo assinado, e ela não

sai. Alguém pode me

explicar como isso

funciona??? Pensei que

quando era demitido tinha

que sair. não

Identidade

vídeo de

esclarecimento

―Quero reforçar que todos

os outros professores

conseguem dar aula, os

alunos ficam quietos e nós

aprendemos, não é normal

não aprender nada‖, ela

disse. Disse também que

ela tem autoria total sobre

as postagens.sim

Relatos de

coerção

Hoje a professora

de português

Queila, preparou

uma aula pra me

''humilhar'' na

frente dos meus

colegas professora Queila sala de aula

hoje 24 de

agosto

a aula falava sobre politica

e internet, ela falava que

ninguém podia falar da

vida dos professores,

porque nós podíamos ter

feito muitas coisas erradas

pra eles odiarem e etc. 

Eu e acho que a maioria

dos meus colegas

entenderam o recado ''pra

mim''. Além disso quando

vou até o refeitório as

cozinheiras, começam a

falar de mim, na minha não

Relatos de

coerção

celular na sala de

aula

professora auxiliar

(não identificada) sala de aula

hoje 17 de

agosto

faltando 3 minutos para

acabar a aula todos

estávamos conversando, a

professora auxiliar deixou,

então eu e no minimo 3

colegas estávamos com

celular na mão e os 3 já

estavam escutando

musica, e o meu estava ate

com fone enrolado porque

eu estava esperando bater

o sinal, para não dar

confusão, e a professora

se dirigiu a mim, e falou

que iria recolher meu

celular se eu não

guardasse. Já não é a

primeira vez que acontece

isso.

Mas e os outros, que

estão também ?? Eu falei,

ou pega o celular de

todos ou de ninguém.

Qual é o problema

comigo? Acho até que sei

represália, mais comigo

pressão não funciona,

tudo que acontecer eu

vou postar aqui. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

preocupação com

aulas de história

A nossa professora

de história

teve uma aneurisma e

passou por cirurgia, eu

espero que ela se

recupere totalmente, e

também estou preocupada

porque ouvi falar que

pode demorar para ela

voltar, será que vamos

ficar só com auxiliares?? não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares

hoje 20 de

agosto

De 5 aulas de hoje, só

tivemos 2 com os

professores titulares, as

outras 3 foram com

professoras substitutas.

Quando temos aulas com

auxiliares elas dão um

texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o

tempo poderia ser melhor

aproveitado. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares auxiliares, diretora

hoje 21 de

agosto

 tivemos 2 aulas com

professores titulares, e as

outras três não, mas

tivemos aula de

matemática com a diretora

que nos deu exercícios, e

viu o que sabíamos e o

que não tínhamos

conseguido assimilar, foi

muito boa a aula hoje

acho que teve um

rendimento que com

auxiliar não tem, espero

que siga assim. não

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 1

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138

Unidade de registro 1 Unidade de registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto

TEMAS

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações Porta pichada

banheiro

feminino sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

porta sem

fechadura

banheiro

feminino da

escola do

santinho. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

ventilador

quebrado colegas

precisam encostar os fios

para fazer funcionar.

Quando sentem calor

botam papel e começa a

sair fumaça os professores

ficam loucos falando que

vai pegar fogo e é a pura

verdade pega fogo sim sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando o

espaço físico da

escola corredores sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

orelhão não

funciona

serve aos alunos e

comunidade

próxima à escola

dentro da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

mesa dos

professores

instável

cai às vezes quando alguns

se apoiam e tudo cai no

chão, trabalhos provas etc sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vasos sanitários da

escola não têm

tampa banheiros

presença ou ausência de

tampa é questão de sorte sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

portão da escola

com fechadura

quebrada

porta de

entrada da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

lâmpada caiu do

teto sim

Denúncias,

alertas,

reclamações lâmpada sim

Denúncias,

alertas,

reclamações bancos quebrados refeitório sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

indicador de

goteiras

lixos da escola que usam

como balde para as

goteiras sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

câmara de

disjuntores exposta

alunos conseguem

"brincar" com os

professores desligando e

ligando a luz sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

janela com vidro

quebrado

as vezes os alunos

quebram e não da

para descobrir

quem foi

janela na frente

da escola

dá pra arrumar, nada é

impossível as vezes eles

pedem dois reais de cada

aluno pra arrumar a

escola, e compram um

radio, acho que é melhor

um vidro. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações fios desencapados sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

fechadura

quebrada

crianças mais novas

da terceira e

segunda serie

acabaram

quebrando

banheiro

feminino brincando de pega-pega sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

falta atenção aos

casos de

vandalismo

 isso só está sendo como

uma iniciação para que

eles se tornem marginais não

Resoluções

troca da porta

quebrada por uma

porta nova sim

Resoluções

conserto de

fechaduras sim

Resoluções

conserto de

ventilador

quebrado

 retiraram os fios que

davam choque, e o

ventilador, mas falta repor

o ventilador sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

uma garota de 14

anos que levou

uma arma pra

escola

uma garota de 14

anos

foi mostrado

no Jornal do

almoço ontem não

Relatos de

coerção contradições

Se nós publicamos fotos e

videos somos criminosas,

se só comentamos

estamos acusando sem

provas não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

professor de

matemática sala de aula

hoje 31 de

julho

é a aula mais bagunçada

de todas, foi muito ruim 

o professor não consegue

manter a turma em

silêncio. Tenta mas não

consegue, porque a turma

começa a gritar na aula.

Pediu consideração com

ele, mas pontuou que não

pode fazer mais nada se

ele não consegue manter a

turma em silêncio.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

O professor bateu na

mesa para ficarem em

silencio, e todos

começaram a imitar ele

então Isadora gravou um

vídeo da bagunça e os

alunos que estavam no

meio perceberam e

avisaram o professor.

Isadora e Melina foram

parar na diretoria, ligaram

para os pais dela e

mandaram bilhete pedindo

a presença deles na

escola.

Eles conversaram a

diretora pediu apenas

para retirar o vídeo, disse

que tinha visto a página e

―deixou‖ porque não era

contra a escola. Como a

página já deu resultado,

ela seguiu as orientações e

retirou o vídeo, alegando

ser melhor para todos.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações

 o Anderson Abreu

da Prefeitura, foi

na escola e falou

que tinha visto o

Diário de Classe,

ele sabia dos

problemas do

professor de

matemática

Anderson Abreu da

Prefeitura

na turma de

Isadora

Na terça feira

14 de agosto 

então ele perguntou se

queríamos que eles

fizessem uma troca, e toda

a turma concordou, o

professor iria embora, mas

na quinta 16 de agosto o

professor foi dar aula

novamente. não

Relatos de

coerção

Isadora afirma que

foi pressionada "de

todas as formas

para eu retirar os

videos das aulas de

matemática."

Ela diz: "Se

arrependimento matasse

já estava morta, mas se

continuarem sem dar

explicações vou publicar

todos de novo e mais

alguns, ou vai passar o

ano todo sem aula de

matemática decente??" não

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando a

bagunça na aula de

matemática

na turma de

Isadora

porque me fizeram tirar

quando o Anderson

Abreu da prefeitura foi na

escola, e falou que o

professor não nos daria

mais aula, mas no dia

seguinte o professor

voltou, e a diretora falou

que ele sairia, então não

coloquei, ai tivemos

algumas aulas com as

auxiliares e ontem ele

estava de volta, e a

diretora hoje falou que ele

vai embora, mais até eu

ter certeza disso, decidi

postar de novo, e não vou

tirar até que ele realmente

vá embora da nossa

escola. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

A diretora disse

que a demissão do

professor Aloísio,

de matemática,

está pronta e ele

não quer assinar

diretora, prof.

Aloisio

pouco depois

da postagem

do vídeo no

dia 24 de

agosto

a nossa turma já fez

abaixo assinado, e ela não

sai. Alguém pode me

explicar como isso

funciona??? Pensei que

quando era demitido tinha

que sair. não

Identidade

vídeo de

esclarecimento

―Quero reforçar que todos

os outros professores

conseguem dar aula, os

alunos ficam quietos e nós

aprendemos, não é normal

não aprender nada‖, ela

disse. Disse também que

ela tem autoria total sobre

as postagens.sim

Relatos de

coerção

Hoje a professora

de português

Queila, preparou

uma aula pra me

''humilhar'' na

frente dos meus

colegas professora Queila sala de aula

hoje 24 de

agosto

a aula falava sobre politica

e internet, ela falava que

ninguém podia falar da

vida dos professores,

porque nós podíamos ter

feito muitas coisas erradas

pra eles odiarem e etc. 

Eu e acho que a maioria

dos meus colegas

entenderam o recado ''pra

mim''. Além disso quando

vou até o refeitório as

cozinheiras, começam a

falar de mim, na minha não

Relatos de

coerção

celular na sala de

aula

professora auxiliar

(não identificada) sala de aula

hoje 17 de

agosto

faltando 3 minutos para

acabar a aula todos

estávamos conversando, a

professora auxiliar deixou,

então eu e no minimo 3

colegas estávamos com

celular na mão e os 3 já

estavam escutando

musica, e o meu estava ate

com fone enrolado porque

eu estava esperando bater

o sinal, para não dar

confusão, e a professora

se dirigiu a mim, e falou

que iria recolher meu

celular se eu não

guardasse. Já não é a

primeira vez que acontece

isso.

Mas e os outros, que

estão também ?? Eu falei,

ou pega o celular de

todos ou de ninguém.

Qual é o problema

comigo? Acho até que sei

represália, mais comigo

pressão não funciona,

tudo que acontecer eu

vou postar aqui. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

preocupação com

aulas de história

A nossa professora

de história

teve uma aneurisma e

passou por cirurgia, eu

espero que ela se

recupere totalmente, e

também estou preocupada

porque ouvi falar que

pode demorar para ela

voltar, será que vamos

ficar só com auxiliares?? não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares

hoje 20 de

agosto

De 5 aulas de hoje, só

tivemos 2 com os

professores titulares, as

outras 3 foram com

professoras substitutas.

Quando temos aulas com

auxiliares elas dão um

texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o

tempo poderia ser melhor

aproveitado. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares auxiliares, diretora

hoje 21 de

agosto

 tivemos 2 aulas com

professores titulares, e as

outras três não, mas

tivemos aula de

matemática com a diretora

que nos deu exercícios, e

viu o que sabíamos e o

que não tínhamos

conseguido assimilar, foi

muito boa a aula hoje

acho que teve um

rendimento que com

auxiliar não tem, espero

que siga assim. não

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 1

Page 141: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP FACULDADE DE ...€¦ · O objetivo era utilizar o espaço para denunciar ... Blogs e Jornalismo Cidadão ..... 37 1.3.2. O interesse público

139

Unidade de registro 1 Unidade de registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto

TEMAS

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações Porta pichada

banheiro

feminino sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

porta sem

fechadura

banheiro

feminino da

escola do

santinho. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

ventilador

quebrado colegas

precisam encostar os fios

para fazer funcionar.

Quando sentem calor

botam papel e começa a

sair fumaça os professores

ficam loucos falando que

vai pegar fogo e é a pura

verdade pega fogo sim sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando o

espaço físico da

escola corredores sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

orelhão não

funciona

serve aos alunos e

comunidade

próxima à escola

dentro da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

mesa dos

professores

instável

cai às vezes quando alguns

se apoiam e tudo cai no

chão, trabalhos provas etc sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vasos sanitários da

escola não têm

tampa banheiros

presença ou ausência de

tampa é questão de sorte sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

portão da escola

com fechadura

quebrada

porta de

entrada da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

lâmpada caiu do

teto sim

Denúncias,

alertas,

reclamações lâmpada sim

Denúncias,

alertas,

reclamações bancos quebrados refeitório sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

indicador de

goteiras

lixos da escola que usam

como balde para as

goteiras sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

câmara de

disjuntores exposta

alunos conseguem

"brincar" com os

professores desligando e

ligando a luz sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

janela com vidro

quebrado

as vezes os alunos

quebram e não da

para descobrir

quem foi

janela na frente

da escola

dá pra arrumar, nada é

impossível as vezes eles

pedem dois reais de cada

aluno pra arrumar a

escola, e compram um

radio, acho que é melhor

um vidro. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações fios desencapados sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

fechadura

quebrada

crianças mais novas

da terceira e

segunda serie

acabaram

quebrando

banheiro

feminino brincando de pega-pega sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

falta atenção aos

casos de

vandalismo

 isso só está sendo como

uma iniciação para que

eles se tornem marginais não

Resoluções

troca da porta

quebrada por uma

porta nova sim

Resoluções

conserto de

fechaduras sim

Resoluções

conserto de

ventilador

quebrado

 retiraram os fios que

davam choque, e o

ventilador, mas falta repor

o ventilador sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

uma garota de 14

anos que levou

uma arma pra

escola

uma garota de 14

anos

foi mostrado

no Jornal do

almoço ontem não

Relatos de

coerção contradições

Se nós publicamos fotos e

videos somos criminosas,

se só comentamos

estamos acusando sem

provas não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

professor de

matemática sala de aula

hoje 31 de

julho

é a aula mais bagunçada

de todas, foi muito ruim 

o professor não consegue

manter a turma em

silêncio. Tenta mas não

consegue, porque a turma

começa a gritar na aula.

Pediu consideração com

ele, mas pontuou que não

pode fazer mais nada se

ele não consegue manter a

turma em silêncio.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

O professor bateu na

mesa para ficarem em

silencio, e todos

começaram a imitar ele

então Isadora gravou um

vídeo da bagunça e os

alunos que estavam no

meio perceberam e

avisaram o professor.

Isadora e Melina foram

parar na diretoria, ligaram

para os pais dela e

mandaram bilhete pedindo

a presença deles na

escola.

Eles conversaram a

diretora pediu apenas

para retirar o vídeo, disse

que tinha visto a página e

―deixou‖ porque não era

contra a escola. Como a

página já deu resultado,

ela seguiu as orientações e

retirou o vídeo, alegando

ser melhor para todos.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações

 o Anderson Abreu

da Prefeitura, foi

na escola e falou

que tinha visto o

Diário de Classe,

ele sabia dos

problemas do

professor de

matemática

Anderson Abreu da

Prefeitura

na turma de

Isadora

Na terça feira

14 de agosto 

então ele perguntou se

queríamos que eles

fizessem uma troca, e toda

a turma concordou, o

professor iria embora, mas

na quinta 16 de agosto o

professor foi dar aula

novamente. não

Relatos de

coerção

Isadora afirma que

foi pressionada "de

todas as formas

para eu retirar os

videos das aulas de

matemática."

Ela diz: "Se

arrependimento matasse

já estava morta, mas se

continuarem sem dar

explicações vou publicar

todos de novo e mais

alguns, ou vai passar o

ano todo sem aula de

matemática decente??" não

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando a

bagunça na aula de

matemática

na turma de

Isadora

porque me fizeram tirar

quando o Anderson

Abreu da prefeitura foi na

escola, e falou que o

professor não nos daria

mais aula, mas no dia

seguinte o professor

voltou, e a diretora falou

que ele sairia, então não

coloquei, ai tivemos

algumas aulas com as

auxiliares e ontem ele

estava de volta, e a

diretora hoje falou que ele

vai embora, mais até eu

ter certeza disso, decidi

postar de novo, e não vou

tirar até que ele realmente

vá embora da nossa

escola. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

A diretora disse

que a demissão do

professor Aloísio,

de matemática,

está pronta e ele

não quer assinar

diretora, prof.

Aloisio

pouco depois

da postagem

do vídeo no

dia 24 de

agosto

a nossa turma já fez

abaixo assinado, e ela não

sai. Alguém pode me

explicar como isso

funciona??? Pensei que

quando era demitido tinha

que sair. não

Identidade

vídeo de

esclarecimento

―Quero reforçar que todos

os outros professores

conseguem dar aula, os

alunos ficam quietos e nós

aprendemos, não é normal

não aprender nada‖, ela

disse. Disse também que

ela tem autoria total sobre

as postagens.sim

Relatos de

coerção

Hoje a professora

de português

Queila, preparou

uma aula pra me

''humilhar'' na

frente dos meus

colegas professora Queila sala de aula

hoje 24 de

agosto

a aula falava sobre politica

e internet, ela falava que

ninguém podia falar da

vida dos professores,

porque nós podíamos ter

feito muitas coisas erradas

pra eles odiarem e etc. 

Eu e acho que a maioria

dos meus colegas

entenderam o recado ''pra

mim''. Além disso quando

vou até o refeitório as

cozinheiras, começam a

falar de mim, na minha não

Relatos de

coerção

celular na sala de

aula

professora auxiliar

(não identificada) sala de aula

hoje 17 de

agosto

faltando 3 minutos para

acabar a aula todos

estávamos conversando, a

professora auxiliar deixou,

então eu e no minimo 3

colegas estávamos com

celular na mão e os 3 já

estavam escutando

musica, e o meu estava ate

com fone enrolado porque

eu estava esperando bater

o sinal, para não dar

confusão, e a professora

se dirigiu a mim, e falou

que iria recolher meu

celular se eu não

guardasse. Já não é a

primeira vez que acontece

isso.

Mas e os outros, que

estão também ?? Eu falei,

ou pega o celular de

todos ou de ninguém.

Qual é o problema

comigo? Acho até que sei

represália, mais comigo

pressão não funciona,

tudo que acontecer eu

vou postar aqui. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

preocupação com

aulas de história

A nossa professora

de história

teve uma aneurisma e

passou por cirurgia, eu

espero que ela se

recupere totalmente, e

também estou preocupada

porque ouvi falar que

pode demorar para ela

voltar, será que vamos

ficar só com auxiliares?? não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares

hoje 20 de

agosto

De 5 aulas de hoje, só

tivemos 2 com os

professores titulares, as

outras 3 foram com

professoras substitutas.

Quando temos aulas com

auxiliares elas dão um

texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o

tempo poderia ser melhor

aproveitado. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares auxiliares, diretora

hoje 21 de

agosto

 tivemos 2 aulas com

professores titulares, e as

outras três não, mas

tivemos aula de

matemática com a diretora

que nos deu exercícios, e

viu o que sabíamos e o

que não tínhamos

conseguido assimilar, foi

muito boa a aula hoje

acho que teve um

rendimento que com

auxiliar não tem, espero

que siga assim. não

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 1

Unidade de registro 1 Unidade de registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6 Unidade de contexto

TEMAS

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações Porta pichada

banheiro

feminino sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

porta sem

fechadura

banheiro

feminino da

escola do

santinho. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

ventilador

quebrado colegas

precisam encostar os fios

para fazer funcionar.

Quando sentem calor

botam papel e começa a

sair fumaça os professores

ficam loucos falando que

vai pegar fogo e é a pura

verdade pega fogo sim sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando o

espaço físico da

escola corredores sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

orelhão não

funciona

serve aos alunos e

comunidade

próxima à escola

dentro da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

mesa dos

professores

instável

cai às vezes quando alguns

se apoiam e tudo cai no

chão, trabalhos provas etc sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

vasos sanitários da

escola não têm

tampa banheiros

presença ou ausência de

tampa é questão de sorte sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

portão da escola

com fechadura

quebrada

porta de

entrada da

escola sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

lâmpada caiu do

teto sim

Denúncias,

alertas,

reclamações lâmpada sim

Denúncias,

alertas,

reclamações bancos quebrados refeitório sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

indicador de

goteiras

lixos da escola que usam

como balde para as

goteiras sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

câmara de

disjuntores exposta

alunos conseguem

"brincar" com os

professores desligando e

ligando a luz sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

janela com vidro

quebrado

as vezes os alunos

quebram e não da

para descobrir

quem foi

janela na frente

da escola

dá pra arrumar, nada é

impossível as vezes eles

pedem dois reais de cada

aluno pra arrumar a

escola, e compram um

radio, acho que é melhor

um vidro. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações fios desencapados sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

fechadura

quebrada

crianças mais novas

da terceira e

segunda serie

acabaram

quebrando

banheiro

feminino brincando de pega-pega sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

falta atenção aos

casos de

vandalismo

 isso só está sendo como

uma iniciação para que

eles se tornem marginais não

Resoluções

troca da porta

quebrada por uma

porta nova sim

Resoluções

conserto de

fechaduras sim

Resoluções

conserto de

ventilador

quebrado

 retiraram os fios que

davam choque, e o

ventilador, mas falta repor

o ventilador sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

uma garota de 14

anos que levou

uma arma pra

escola

uma garota de 14

anos

foi mostrado

no Jornal do

almoço ontem não

Relatos de

coerção contradições

Se nós publicamos fotos e

videos somos criminosas,

se só comentamos

estamos acusando sem

provas não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

professor de

matemática sala de aula

hoje 31 de

julho

é a aula mais bagunçada

de todas, foi muito ruim 

o professor não consegue

manter a turma em

silêncio. Tenta mas não

consegue, porque a turma

começa a gritar na aula.

Pediu consideração com

ele, mas pontuou que não

pode fazer mais nada se

ele não consegue manter a

turma em silêncio.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula de matemática

O professor bateu na

mesa para ficarem em

silencio, e todos

começaram a imitar ele

então Isadora gravou um

vídeo da bagunça e os

alunos que estavam no

meio perceberam e

avisaram o professor.

Isadora e Melina foram

parar na diretoria, ligaram

para os pais dela e

mandaram bilhete pedindo

a presença deles na

escola.

Eles conversaram a

diretora pediu apenas

para retirar o vídeo, disse

que tinha visto a página e

―deixou‖ porque não era

contra a escola. Como a

página já deu resultado,

ela seguiu as orientações e

retirou o vídeo, alegando

ser melhor para todos.

não

Denúncias,

alertas,

reclamações

 o Anderson Abreu

da Prefeitura, foi

na escola e falou

que tinha visto o

Diário de Classe,

ele sabia dos

problemas do

professor de

matemática

Anderson Abreu da

Prefeitura

na turma de

Isadora

Na terça feira

14 de agosto 

então ele perguntou se

queríamos que eles

fizessem uma troca, e toda

a turma concordou, o

professor iria embora, mas

na quinta 16 de agosto o

professor foi dar aula

novamente. não

Relatos de

coerção

Isadora afirma que

foi pressionada "de

todas as formas

para eu retirar os

videos das aulas de

matemática."

Ela diz: "Se

arrependimento matasse

já estava morta, mas se

continuarem sem dar

explicações vou publicar

todos de novo e mais

alguns, ou vai passar o

ano todo sem aula de

matemática decente??" não

Denúncias,

alertas,

reclamações

vídeo mostrando a

bagunça na aula de

matemática

na turma de

Isadora

porque me fizeram tirar

quando o Anderson

Abreu da prefeitura foi na

escola, e falou que o

professor não nos daria

mais aula, mas no dia

seguinte o professor

voltou, e a diretora falou

que ele sairia, então não

coloquei, ai tivemos

algumas aulas com as

auxiliares e ontem ele

estava de volta, e a

diretora hoje falou que ele

vai embora, mais até eu

ter certeza disso, decidi

postar de novo, e não vou

tirar até que ele realmente

vá embora da nossa

escola. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

A diretora disse

que a demissão do

professor Aloísio,

de matemática,

está pronta e ele

não quer assinar

diretora, prof.

Aloisio

pouco depois

da postagem

do vídeo no

dia 24 de

agosto

a nossa turma já fez

abaixo assinado, e ela não

sai. Alguém pode me

explicar como isso

funciona??? Pensei que

quando era demitido tinha

que sair. não

Identidade

vídeo de

esclarecimento

―Quero reforçar que todos

os outros professores

conseguem dar aula, os

alunos ficam quietos e nós

aprendemos, não é normal

não aprender nada‖, ela

disse. Disse também que

ela tem autoria total sobre

as postagens.sim

Relatos de

coerção

Hoje a professora

de português

Queila, preparou

uma aula pra me

''humilhar'' na

frente dos meus

colegas professora Queila sala de aula

hoje 24 de

agosto

a aula falava sobre politica

e internet, ela falava que

ninguém podia falar da

vida dos professores,

porque nós podíamos ter

feito muitas coisas erradas

pra eles odiarem e etc. 

Eu e acho que a maioria

dos meus colegas

entenderam o recado ''pra

mim''. Além disso quando

vou até o refeitório as

cozinheiras, começam a

falar de mim, na minha não

Relatos de

coerção

celular na sala de

aula

professora auxiliar

(não identificada) sala de aula

hoje 17 de

agosto

faltando 3 minutos para

acabar a aula todos

estávamos conversando, a

professora auxiliar deixou,

então eu e no minimo 3

colegas estávamos com

celular na mão e os 3 já

estavam escutando

musica, e o meu estava ate

com fone enrolado porque

eu estava esperando bater

o sinal, para não dar

confusão, e a professora

se dirigiu a mim, e falou

que iria recolher meu

celular se eu não

guardasse. Já não é a

primeira vez que acontece

isso.

Mas e os outros, que

estão também ?? Eu falei,

ou pega o celular de

todos ou de ninguém.

Qual é o problema

comigo? Acho até que sei

represália, mais comigo

pressão não funciona,

tudo que acontecer eu

vou postar aqui. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

preocupação com

aulas de história

A nossa professora

de história

teve uma aneurisma e

passou por cirurgia, eu

espero que ela se

recupere totalmente, e

também estou preocupada

porque ouvi falar que

pode demorar para ela

voltar, será que vamos

ficar só com auxiliares?? não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares

hoje 20 de

agosto

De 5 aulas de hoje, só

tivemos 2 com os

professores titulares, as

outras 3 foram com

professoras substitutas.

Quando temos aulas com

auxiliares elas dão um

texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o

tempo poderia ser melhor

aproveitado. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aulas com

auxiliares auxiliares, diretora

hoje 21 de

agosto

 tivemos 2 aulas com

professores titulares, e as

outras três não, mas

tivemos aula de

matemática com a diretora

que nos deu exercícios, e

viu o que sabíamos e o

que não tínhamos

conseguido assimilar, foi

muito boa a aula hoje

acho que teve um

rendimento que com

auxiliar não tem, espero

que siga assim. não

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 1

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140

ANEXO II: Análise temática qualitativa – AMOSTRA 2

TEMAS Unidade de

registro 1

Unidade de

registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6

Unidade

de

contexto

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações

professor de

matemática

afastado informações "nos sites" (nao identificado) não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Hoje na aula de

educação física

tivemos que limpar

a quadra alunos quadra

hoje 13 de

setembro de rodo

porque tinha chovido e estava

com barro e poças de água, a

quadra ainda não foi pintada

e nem coberta, se ainda

estivesse chovendo não

iriamos ter aula prática. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

brinquedo

quebrado

Isadora e seus

amigos (não

identificados)

Na hora do

recreio

 estávamos pelo parquinho e sentamos

na gangorra quando o lugar onde nós nos

seguramos desengatou, já estava

quebrado mas eles haviam tirado, ficou

só o banco, depois de um tempo

colocaram e eu pensei que já estava

arrumado, mas hoje que fomos lá que eu

vi que ainda estava quebrado. Meus

colegas pediram para que eu publicasse

e ai está. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

faixa de pedestre

não tem nenhuma

placa de área

escolar, nem

guarda de trânsito

na rua da

escola

Tem tantas placas, acho que

e muito importante ter uma na

frente de todas as escolas ou

pelo menos um guarda na

hora da saída. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

reformas que não

foram feitas

Meu pai vem

falando com a

Diretora da

escola a 2

semanas,

desde que eu

falei com ele

que estranhei

que as

reformas foram

feitas e a

quadra da

escola

continuava

igual. 

Ela informou que contratou uma empresa

local para fazer o serviço a mais de 2

meses, desde antes das férias, PAGOU

pelo serviço adiantado mas até agora

nada. Questionada qualnome da

empresa, ela simplesmente nega

informar, dizendo que está tudo resolvido

e que possivelmente dentro desse mes o

trabalho será realizado. Importante

salientar que o material já foi comprado e

esta a disposição na sala dela. Agora, ser

conivente com essa situação, preservar

uma empresa que não tem o menor

respeito com a escola e com os alunos

que nela estudam, que já recebeu a + de

2 meses e ainda não fez o serviço é

realmente muito estranho. 

Por que isso? Por que não diz

quem é essa empresa que

cobrou e não prestou o

serviço? Vale lembrar ainda

que no final de agosto a

Secretaria da Educação

disse:"Segundo um

levantamento, a escola tem

uma pendência junto à

prefeitura, o que impede que

ela faça o saque de 16.000

reais a quem tem direito para

a manutenção. Isso ocorre

porque a direção não prestou

contas de seus gastos em

2011." Esta na hora da

prestação de contas,

transparência, onde esta indo

o dinheiro e, mais importante

ainda, que foi feito com esse

dinheiro que não foi prestado

contas? sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

a diretora disse

que essa semana a

quadra será

pintada a diretora

a prefeitura vai mandar arrumar a

drenagem e sexta feira será pintada pelo

Sr. FRANCISCO, com as tintas que

estão a 2 anos na sala da diretoria com

vencimento para novembro 2012. 

Ela disse que ele estava na

perícia e por isso não fez o

serviço. Não disse por que

pagou adiantado e nem

quanto pagou. Ficamos sem

essa resposta. nao

Denúncias,

alertas,

reclamações

quadra ainda não

foi pintada

Eu quero relembrar que até agora a

quadra não foi pintada, porque ??? Eu

me lembro da diretora falando que a

quadra seria pintada mas antes iriam

lavar, ok lavaram, eu postei mas não

pintaram. Semana passada o tempo tava

ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito

bom, com sol. Seu Francisco segue sem

aparecer.  sim

Resoluções

bebedouro

consertado eles (???)

Eles estão mudando tudo que estava

quebrado sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma pintando sim

Resoluções reforma

 porta nova com fechadura, e pintura

nova, já trocaram todas as quebradas. sim

Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim

Resoluções reforma

Os fios que estavam para fora, dando

choque, já foram cobertos. Acho que sim

Resoluções reforma

nova fechadura, do banheiro para

deficientes físicos, a escola sempre foi sim

Resoluções reforma

Esse e o orelhão que estava estragado,

também foi arrumado, agora está muito sim

Resoluções reforma

Trocaram tudo o que estava quebrado

no banheiro, agora tem sabão para lavar

as mãos, papel e fechadura.  sim

Resoluções reforma eles (???)

hoje a tarde

28 de

setembro

estavam lavando (acho que preparando)

a quadra. Acredito que vão começar a

pinta-la. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

as coisas que estão sendo arrumadas na

escola, não pode ser quebradas de novo.

Os alunos que quebram ter que ter

punição.

Aqui em casa se eu ou a

minha irmã quebramos

alguma coisa, isso é

descontado da nossa mesada,

na escola também tem que

ser assim sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Meus colegas, me apoiando, na

conservação da escola, que está novinha. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Agora na minha escola está tudo novinho

e os professores fazendo campanha de

preservação. Vejo outros professores

falando que são alunos que quebram,

eles nos chamam de pirralhos,

depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.

é certo o professor ver e não

fazer nada?? Existem alunos e

alunos assim como

professores e professores,

concordo que estragar é

errado, mas mais errado

ainda é ver e não fazer nada. não

Relatos de

coerção

reconciliação com

professora de

português

professora de

português

Acho importante dizer que a Prof. de

português disse que eu não entendi

direito a aula de sexta, pediu desculpas e

eu aceitei.  não

Relatos de

coerção

acusação da

professora de

português

Professora de

português,

Isadora e seu

pai delegacia

hoje 18 de

setembro

Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.

Eu fui, nunca tinha entrado numa

delegacia antes, mas lá dentro todos me

trataram muito bem mesmo.

porque minha professora de

português fez um BO de

calunia e difamação. Estranhei

pois para mim o assunto já

estava encerrado desdo início

do mês quando ela me pediu

desculpas, eu aceitei e

publiquei, está aqui até agora. sim

Relatos de

coerção

leitura do

regimento da

escola

professora de

português

Na última aula, minha professora de

português sugeriu que todos os alunos

lessem o regimento interno questões 8 e

9 (me parece censura). eu estava

olhando em casa e lendo inteiro, então

bem abaixo do que ela falou estava uma

parte para professores ''Sócia Educativa''

dizendo que quando algo acontece algo

com aluno, tem que encaminhar o caso

para MPSC, não sofri nenhuma medida

sócia educativa, fui parar direto na

delegacia mesmo. Acho que ela deveria

ler o regimento também. sim

Relatos de

coerção

Mãe de aluno

Joice da Rosa fala

sobre episódio na

porta da escola

o marido

Ricardo, o Sr.

Pedro da

secretaria de

Educação

na porta da

escola

hoje 21 de

setembro

 'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de

Educação (vejo que ele nao conhece os

pais que estao presentes todos os dias)

pois o que estava acontecendo, ja era

demais,porque a mae da Isadora Faber

tinha levado a imprensa na escola de

novo, causando tudo de novo,a Diretora

estava passando mal em funçao de tudo,

os professores estão chateados, e a

Escola, "era muito boa", a quadra não

poderia ser coberta pois teria problemas

ambientais. Ai, então, falo com uma

menina da 8 série, e ela comentou que

esta mesma pessoa, passou em sua

turma hje e pediu entre aspas, que nao se

apoiasse o blog Diario de classe, nem

olhasse, pois isto estaria dando ibope pra

Isa. 

Por que os alunos nao devem

ver o blog? Porque nao

devem saber o que ta

acontecebdo?Devem

continuar a serem

alienados?Pergunto, pq nao

foram na sala do Pedro, que

é da 7 série..Bah. Mel, isto é

cerceamento de idéias, é

colocar mordaças em

pessoas, não deixar as

pessoas pensarem, pq?Até

quando o patrulhamento

ideológico vai perdurar?Não

quero sorrisos pros meu

filhos, quero profissionais

qualificados para ensinarem.

Educação digo e repito, vem

de casa. e todos na escola

sabem, que lá em casa,

respeito é bom, e só tem

direito que tem deveres. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Escola não tem

APP diretora

Gostaria que a direção da escola me

explicasse por que não tem APP

(associação de pais e professores) a

mais de 1 ano? Para escola receber a

verba descentralizada da Prefeitura a

cada 2 meses, precisa de uma APP...

será que a diretora não sabe disso? Esta

no site da Prefeitura, facil de achar...

assim fica fácil entender por que a escola

estava naquele estado. A verba vem via

APP e não tem uma APP na escola?

como explicar? tem recursos a

disposição mas não tem competência

para administrar... só entendo assim. E

as verbas do PDDE (programa dinheiro

direto na escola)? É uma verba federal

que a escola tem direito. Onde está esse não

Denúncias,

alertas,

reclamações Reunião de pais

pais / mãe de

Isadora / uma

professora /

presidente da

APP

os pais se queixaram da segurança da

escola, que esta entrando pessoas

estranhas que não tem nada com a

escola. Foi sugerido câmeras de

segurança para o problema. Minha mãe

foi perguntar a uma professora pq ela

estava cantando o hino do RS e a musica

" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão

se ferrar" na hora da prova, ela ficou

nervosa, começou a gritar e colocou o

dedo na minha cara e disse que eu era

mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela

se ofereceu para fazer outra prova mas

minha mãe disse que não quer privilégios.

Ela disse que não dá aula mais pra mim,

que vai entrar com atestado. finalmente a

APP se formou, o presidente é o

Marcelo.

Foi discutido a respeito do Diário de

Classe a reunião pegou fogo mais no final

houve um entendimento entre alguns

pais... não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Qualidade das

reuniões

professores,

pais

Vejo muitas reclamações por parte dos

professores da pouca participação dos

pais na escola. Quantos as câmeras na

escola, li bastantes comentários, como

sempre tem diferentes opiniões, eu acho

legal. Vcs sabem minha opinião, seria

uma forma moderna de acompanhar os

filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas

Será que não esta na hora de

repensar essas reuniões?

Minha mãe por exemplo,

acha que tinha que ser a

noite, depois das 8, os

professores dizem que fica

ruim pra eles, dizem que não

adianta fazer reunião sábado não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula com auxiliar

professora

auxiliar

hoje 28 de

agosto

ela falou para terminarmos uma redação,

que já tínhamos começado, e a maioria

tinha terminado, então não rendeu não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aula de inglês com

auxiliar

professora

auxiliar

de novo, como eu já havia dito, ela fez

um trabalho sobre alimentação e hoje

apresentamos. 

Que eu me lembre o

professor chegou no inicio de

agosto, ai a mãe dele morreu

e ele ganhou a licença, depois

ele foi buscar o irmão dele

que morava com a mãe e não

Relatos de

coerção

mãe,

professora

hoje 10 de

outubro

minha mãe teve que ir ao fórum para uma

audiência conciliatória que uma

professora auxiliar fez um BO contra ela

por injúria. a audiência, não demorou 15

minutos uma vez que ela não quis

nenhuma conciliação, nenhuma

retratação, apenas quis seguir em frente

com processo crime.

Ficou brava com os

comentários do post do dia

20-08 que nas aulas dela não

rendiam nada. É verdade, ela

dá um texto qualquer e pede

pra gente responder duas

perguntas, depois a gente fica

jogando. não

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 21 de

setembro

 nosso lanche foi sopa de galinha com

macarrão, não é das comidas favoritas

entre os alunos. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 18 de

setembro

Hoje comemos pão com frango e café

com leite, eu só acho que deviam dar

suco porque era recheio de frango.  sim

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 2

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141

TEMAS Unidade de

registro 1

Unidade de

registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6

Unidade

de

contexto

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações

professor de

matemática

afastado informações "nos sites" (nao identificado) não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Hoje na aula de

educação física

tivemos que limpar

a quadra alunos quadra

hoje 13 de

setembro de rodo

porque tinha chovido e estava

com barro e poças de água, a

quadra ainda não foi pintada

e nem coberta, se ainda

estivesse chovendo não

iriamos ter aula prática. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

brinquedo

quebrado

Isadora e seus

amigos (não

identificados)

Na hora do

recreio

 estávamos pelo parquinho e sentamos

na gangorra quando o lugar onde nós nos

seguramos desengatou, já estava

quebrado mas eles haviam tirado, ficou

só o banco, depois de um tempo

colocaram e eu pensei que já estava

arrumado, mas hoje que fomos lá que eu

vi que ainda estava quebrado. Meus

colegas pediram para que eu publicasse

e ai está. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

faixa de pedestre

não tem nenhuma

placa de área

escolar, nem

guarda de trânsito

na rua da

escola

Tem tantas placas, acho que

e muito importante ter uma na

frente de todas as escolas ou

pelo menos um guarda na

hora da saída. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

reformas que não

foram feitas

Meu pai vem

falando com a

Diretora da

escola a 2

semanas,

desde que eu

falei com ele

que estranhei

que as

reformas foram

feitas e a

quadra da

escola

continuava

igual. 

Ela informou que contratou uma empresa

local para fazer o serviço a mais de 2

meses, desde antes das férias, PAGOU

pelo serviço adiantado mas até agora

nada. Questionada qualnome da

empresa, ela simplesmente nega

informar, dizendo que está tudo resolvido

e que possivelmente dentro desse mes o

trabalho será realizado. Importante

salientar que o material já foi comprado e

esta a disposição na sala dela. Agora, ser

conivente com essa situação, preservar

uma empresa que não tem o menor

respeito com a escola e com os alunos

que nela estudam, que já recebeu a + de

2 meses e ainda não fez o serviço é

realmente muito estranho. 

Por que isso? Por que não diz

quem é essa empresa que

cobrou e não prestou o

serviço? Vale lembrar ainda

que no final de agosto a

Secretaria da Educação

disse:"Segundo um

levantamento, a escola tem

uma pendência junto à

prefeitura, o que impede que

ela faça o saque de 16.000

reais a quem tem direito para

a manutenção. Isso ocorre

porque a direção não prestou

contas de seus gastos em

2011." Esta na hora da

prestação de contas,

transparência, onde esta indo

o dinheiro e, mais importante

ainda, que foi feito com esse

dinheiro que não foi prestado

contas? sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

a diretora disse

que essa semana a

quadra será

pintada a diretora

a prefeitura vai mandar arrumar a

drenagem e sexta feira será pintada pelo

Sr. FRANCISCO, com as tintas que

estão a 2 anos na sala da diretoria com

vencimento para novembro 2012. 

Ela disse que ele estava na

perícia e por isso não fez o

serviço. Não disse por que

pagou adiantado e nem

quanto pagou. Ficamos sem

essa resposta. nao

Denúncias,

alertas,

reclamações

quadra ainda não

foi pintada

Eu quero relembrar que até agora a

quadra não foi pintada, porque ??? Eu

me lembro da diretora falando que a

quadra seria pintada mas antes iriam

lavar, ok lavaram, eu postei mas não

pintaram. Semana passada o tempo tava

ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito

bom, com sol. Seu Francisco segue sem

aparecer.  sim

Resoluções

bebedouro

consertado eles (???)

Eles estão mudando tudo que estava

quebrado sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma pintando sim

Resoluções reforma

 porta nova com fechadura, e pintura

nova, já trocaram todas as quebradas. sim

Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim

Resoluções reforma

Os fios que estavam para fora, dando

choque, já foram cobertos. Acho que sim

Resoluções reforma

nova fechadura, do banheiro para

deficientes físicos, a escola sempre foi sim

Resoluções reforma

Esse e o orelhão que estava estragado,

também foi arrumado, agora está muito sim

Resoluções reforma

Trocaram tudo o que estava quebrado

no banheiro, agora tem sabão para lavar

as mãos, papel e fechadura.  sim

Resoluções reforma eles (???)

hoje a tarde

28 de

setembro

estavam lavando (acho que preparando)

a quadra. Acredito que vão começar a

pinta-la. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

as coisas que estão sendo arrumadas na

escola, não pode ser quebradas de novo.

Os alunos que quebram ter que ter

punição.

Aqui em casa se eu ou a

minha irmã quebramos

alguma coisa, isso é

descontado da nossa mesada,

na escola também tem que

ser assim sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Meus colegas, me apoiando, na

conservação da escola, que está novinha. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Agora na minha escola está tudo novinho

e os professores fazendo campanha de

preservação. Vejo outros professores

falando que são alunos que quebram,

eles nos chamam de pirralhos,

depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.

é certo o professor ver e não

fazer nada?? Existem alunos e

alunos assim como

professores e professores,

concordo que estragar é

errado, mas mais errado

ainda é ver e não fazer nada. não

Relatos de

coerção

reconciliação com

professora de

português

professora de

português

Acho importante dizer que a Prof. de

português disse que eu não entendi

direito a aula de sexta, pediu desculpas e

eu aceitei.  não

Relatos de

coerção

acusação da

professora de

português

Professora de

português,

Isadora e seu

pai delegacia

hoje 18 de

setembro

Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.

Eu fui, nunca tinha entrado numa

delegacia antes, mas lá dentro todos me

trataram muito bem mesmo.

porque minha professora de

português fez um BO de

calunia e difamação. Estranhei

pois para mim o assunto já

estava encerrado desdo início

do mês quando ela me pediu

desculpas, eu aceitei e

publiquei, está aqui até agora. sim

Relatos de

coerção

leitura do

regimento da

escola

professora de

português

Na última aula, minha professora de

português sugeriu que todos os alunos

lessem o regimento interno questões 8 e

9 (me parece censura). eu estava

olhando em casa e lendo inteiro, então

bem abaixo do que ela falou estava uma

parte para professores ''Sócia Educativa''

dizendo que quando algo acontece algo

com aluno, tem que encaminhar o caso

para MPSC, não sofri nenhuma medida

sócia educativa, fui parar direto na

delegacia mesmo. Acho que ela deveria

ler o regimento também. sim

Relatos de

coerção

Mãe de aluno

Joice da Rosa fala

sobre episódio na

porta da escola

o marido

Ricardo, o Sr.

Pedro da

secretaria de

Educação

na porta da

escola

hoje 21 de

setembro

 'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de

Educação (vejo que ele nao conhece os

pais que estao presentes todos os dias)

pois o que estava acontecendo, ja era

demais,porque a mae da Isadora Faber

tinha levado a imprensa na escola de

novo, causando tudo de novo,a Diretora

estava passando mal em funçao de tudo,

os professores estão chateados, e a

Escola, "era muito boa", a quadra não

poderia ser coberta pois teria problemas

ambientais. Ai, então, falo com uma

menina da 8 série, e ela comentou que

esta mesma pessoa, passou em sua

turma hje e pediu entre aspas, que nao se

apoiasse o blog Diario de classe, nem

olhasse, pois isto estaria dando ibope pra

Isa. 

Por que os alunos nao devem

ver o blog? Porque nao

devem saber o que ta

acontecebdo?Devem

continuar a serem

alienados?Pergunto, pq nao

foram na sala do Pedro, que

é da 7 série..Bah. Mel, isto é

cerceamento de idéias, é

colocar mordaças em

pessoas, não deixar as

pessoas pensarem, pq?Até

quando o patrulhamento

ideológico vai perdurar?Não

quero sorrisos pros meu

filhos, quero profissionais

qualificados para ensinarem.

Educação digo e repito, vem

de casa. e todos na escola

sabem, que lá em casa,

respeito é bom, e só tem

direito que tem deveres. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Escola não tem

APP diretora

Gostaria que a direção da escola me

explicasse por que não tem APP

(associação de pais e professores) a

mais de 1 ano? Para escola receber a

verba descentralizada da Prefeitura a

cada 2 meses, precisa de uma APP...

será que a diretora não sabe disso? Esta

no site da Prefeitura, facil de achar...

assim fica fácil entender por que a escola

estava naquele estado. A verba vem via

APP e não tem uma APP na escola?

como explicar? tem recursos a

disposição mas não tem competência

para administrar... só entendo assim. E

as verbas do PDDE (programa dinheiro

direto na escola)? É uma verba federal

que a escola tem direito. Onde está esse não

Denúncias,

alertas,

reclamações Reunião de pais

pais / mãe de

Isadora / uma

professora /

presidente da

APP

os pais se queixaram da segurança da

escola, que esta entrando pessoas

estranhas que não tem nada com a

escola. Foi sugerido câmeras de

segurança para o problema. Minha mãe

foi perguntar a uma professora pq ela

estava cantando o hino do RS e a musica

" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão

se ferrar" na hora da prova, ela ficou

nervosa, começou a gritar e colocou o

dedo na minha cara e disse que eu era

mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela

se ofereceu para fazer outra prova mas

minha mãe disse que não quer privilégios.

Ela disse que não dá aula mais pra mim,

que vai entrar com atestado. finalmente a

APP se formou, o presidente é o

Marcelo.

Foi discutido a respeito do Diário de

Classe a reunião pegou fogo mais no final

houve um entendimento entre alguns

pais... não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Qualidade das

reuniões

professores,

pais

Vejo muitas reclamações por parte dos

professores da pouca participação dos

pais na escola. Quantos as câmeras na

escola, li bastantes comentários, como

sempre tem diferentes opiniões, eu acho

legal. Vcs sabem minha opinião, seria

uma forma moderna de acompanhar os

filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas

Será que não esta na hora de

repensar essas reuniões?

Minha mãe por exemplo,

acha que tinha que ser a

noite, depois das 8, os

professores dizem que fica

ruim pra eles, dizem que não

adianta fazer reunião sábado não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula com auxiliar

professora

auxiliar

hoje 28 de

agosto

ela falou para terminarmos uma redação,

que já tínhamos começado, e a maioria

tinha terminado, então não rendeu não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aula de inglês com

auxiliar

professora

auxiliar

de novo, como eu já havia dito, ela fez

um trabalho sobre alimentação e hoje

apresentamos. 

Que eu me lembre o

professor chegou no inicio de

agosto, ai a mãe dele morreu

e ele ganhou a licença, depois

ele foi buscar o irmão dele

que morava com a mãe e não

Relatos de

coerção

mãe,

professora

hoje 10 de

outubro

minha mãe teve que ir ao fórum para uma

audiência conciliatória que uma

professora auxiliar fez um BO contra ela

por injúria. a audiência, não demorou 15

minutos uma vez que ela não quis

nenhuma conciliação, nenhuma

retratação, apenas quis seguir em frente

com processo crime.

Ficou brava com os

comentários do post do dia

20-08 que nas aulas dela não

rendiam nada. É verdade, ela

dá um texto qualquer e pede

pra gente responder duas

perguntas, depois a gente fica

jogando. não

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 21 de

setembro

 nosso lanche foi sopa de galinha com

macarrão, não é das comidas favoritas

entre os alunos. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 18 de

setembro

Hoje comemos pão com frango e café

com leite, eu só acho que deviam dar

suco porque era recheio de frango.  sim

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 2

Page 144: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP FACULDADE DE ...€¦ · O objetivo era utilizar o espaço para denunciar ... Blogs e Jornalismo Cidadão ..... 37 1.3.2. O interesse público

142

TEMAS Unidade de

registro 1

Unidade de

registro 2

Unidade de

registro 3

Unidade de

registro 4 Unidade de registro 5 Unidade de registro 6

Unidade

de

contexto

O que? Quem? Onde? Quando? Como? Por que? Imagem

Denúncias,

alertas,

reclamações

professor de

matemática

afastado informações "nos sites" (nao identificado) não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Hoje na aula de

educação física

tivemos que limpar

a quadra alunos quadra

hoje 13 de

setembro de rodo

porque tinha chovido e estava

com barro e poças de água, a

quadra ainda não foi pintada

e nem coberta, se ainda

estivesse chovendo não

iriamos ter aula prática. sim

Denúncias,

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reclamações

brinquedo

quebrado

Isadora e seus

amigos (não

identificados)

Na hora do

recreio

 estávamos pelo parquinho e sentamos

na gangorra quando o lugar onde nós nos

seguramos desengatou, já estava

quebrado mas eles haviam tirado, ficou

só o banco, depois de um tempo

colocaram e eu pensei que já estava

arrumado, mas hoje que fomos lá que eu

vi que ainda estava quebrado. Meus

colegas pediram para que eu publicasse

e ai está. sim

Denúncias,

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reclamações

faixa de pedestre

não tem nenhuma

placa de área

escolar, nem

guarda de trânsito

na rua da

escola

Tem tantas placas, acho que

e muito importante ter uma na

frente de todas as escolas ou

pelo menos um guarda na

hora da saída. sim

Denúncias,

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reclamações

reformas que não

foram feitas

Meu pai vem

falando com a

Diretora da

escola a 2

semanas,

desde que eu

falei com ele

que estranhei

que as

reformas foram

feitas e a

quadra da

escola

continuava

igual. 

Ela informou que contratou uma empresa

local para fazer o serviço a mais de 2

meses, desde antes das férias, PAGOU

pelo serviço adiantado mas até agora

nada. Questionada qualnome da

empresa, ela simplesmente nega

informar, dizendo que está tudo resolvido

e que possivelmente dentro desse mes o

trabalho será realizado. Importante

salientar que o material já foi comprado e

esta a disposição na sala dela. Agora, ser

conivente com essa situação, preservar

uma empresa que não tem o menor

respeito com a escola e com os alunos

que nela estudam, que já recebeu a + de

2 meses e ainda não fez o serviço é

realmente muito estranho. 

Por que isso? Por que não diz

quem é essa empresa que

cobrou e não prestou o

serviço? Vale lembrar ainda

que no final de agosto a

Secretaria da Educação

disse:"Segundo um

levantamento, a escola tem

uma pendência junto à

prefeitura, o que impede que

ela faça o saque de 16.000

reais a quem tem direito para

a manutenção. Isso ocorre

porque a direção não prestou

contas de seus gastos em

2011." Esta na hora da

prestação de contas,

transparência, onde esta indo

o dinheiro e, mais importante

ainda, que foi feito com esse

dinheiro que não foi prestado

contas? sim

Denúncias,

alertas,

reclamações

a diretora disse

que essa semana a

quadra será

pintada a diretora

a prefeitura vai mandar arrumar a

drenagem e sexta feira será pintada pelo

Sr. FRANCISCO, com as tintas que

estão a 2 anos na sala da diretoria com

vencimento para novembro 2012. 

Ela disse que ele estava na

perícia e por isso não fez o

serviço. Não disse por que

pagou adiantado e nem

quanto pagou. Ficamos sem

essa resposta. nao

Denúncias,

alertas,

reclamações

quadra ainda não

foi pintada

Eu quero relembrar que até agora a

quadra não foi pintada, porque ??? Eu

me lembro da diretora falando que a

quadra seria pintada mas antes iriam

lavar, ok lavaram, eu postei mas não

pintaram. Semana passada o tempo tava

ruim, mas ontem e hoje o dia tava muito

bom, com sol. Seu Francisco segue sem

aparecer.  sim

Resoluções

bebedouro

consertado eles (???)

Eles estão mudando tudo que estava

quebrado sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma sim

Resoluções reforma pintando sim

Resoluções reforma

 porta nova com fechadura, e pintura

nova, já trocaram todas as quebradas. sim

Resoluções reforma Está tudo novinho, tomara que se sim

Resoluções reforma

Os fios que estavam para fora, dando

choque, já foram cobertos. Acho que sim

Resoluções reforma

nova fechadura, do banheiro para

deficientes físicos, a escola sempre foi sim

Resoluções reforma

Esse e o orelhão que estava estragado,

também foi arrumado, agora está muito sim

Resoluções reforma

Trocaram tudo o que estava quebrado

no banheiro, agora tem sabão para lavar

as mãos, papel e fechadura.  sim

Resoluções reforma eles (???)

hoje a tarde

28 de

setembro

estavam lavando (acho que preparando)

a quadra. Acredito que vão começar a

pinta-la. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

as coisas que estão sendo arrumadas na

escola, não pode ser quebradas de novo.

Os alunos que quebram ter que ter

punição.

Aqui em casa se eu ou a

minha irmã quebramos

alguma coisa, isso é

descontado da nossa mesada,

na escola também tem que

ser assim sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Meus colegas, me apoiando, na

conservação da escola, que está novinha. sim

Resoluções

campanha anti-

depredação

Agora na minha escola está tudo novinho

e os professores fazendo campanha de

preservação. Vejo outros professores

falando que são alunos que quebram,

eles nos chamam de pirralhos,

depredadores, pestinhas, diabinhos e etc.

é certo o professor ver e não

fazer nada?? Existem alunos e

alunos assim como

professores e professores,

concordo que estragar é

errado, mas mais errado

ainda é ver e não fazer nada. não

Relatos de

coerção

reconciliação com

professora de

português

professora de

português

Acho importante dizer que a Prof. de

português disse que eu não entendi

direito a aula de sexta, pediu desculpas e

eu aceitei.  não

Relatos de

coerção

acusação da

professora de

português

Professora de

português,

Isadora e seu

pai delegacia

hoje 18 de

setembro

Hoje eu e meu pai fomos na delegacia.

Eu fui, nunca tinha entrado numa

delegacia antes, mas lá dentro todos me

trataram muito bem mesmo.

porque minha professora de

português fez um BO de

calunia e difamação. Estranhei

pois para mim o assunto já

estava encerrado desdo início

do mês quando ela me pediu

desculpas, eu aceitei e

publiquei, está aqui até agora. sim

Relatos de

coerção

leitura do

regimento da

escola

professora de

português

Na última aula, minha professora de

português sugeriu que todos os alunos

lessem o regimento interno questões 8 e

9 (me parece censura). eu estava

olhando em casa e lendo inteiro, então

bem abaixo do que ela falou estava uma

parte para professores ''Sócia Educativa''

dizendo que quando algo acontece algo

com aluno, tem que encaminhar o caso

para MPSC, não sofri nenhuma medida

sócia educativa, fui parar direto na

delegacia mesmo. Acho que ela deveria

ler o regimento também. sim

Relatos de

coerção

Mãe de aluno

Joice da Rosa fala

sobre episódio na

porta da escola

o marido

Ricardo, o Sr.

Pedro da

secretaria de

Educação

na porta da

escola

hoje 21 de

setembro

 'Sr. Pedro", se dizendo da Secretaria de

Educação (vejo que ele nao conhece os

pais que estao presentes todos os dias)

pois o que estava acontecendo, ja era

demais,porque a mae da Isadora Faber

tinha levado a imprensa na escola de

novo, causando tudo de novo,a Diretora

estava passando mal em funçao de tudo,

os professores estão chateados, e a

Escola, "era muito boa", a quadra não

poderia ser coberta pois teria problemas

ambientais. Ai, então, falo com uma

menina da 8 série, e ela comentou que

esta mesma pessoa, passou em sua

turma hje e pediu entre aspas, que nao se

apoiasse o blog Diario de classe, nem

olhasse, pois isto estaria dando ibope pra

Isa. 

Por que os alunos nao devem

ver o blog? Porque nao

devem saber o que ta

acontecebdo?Devem

continuar a serem

alienados?Pergunto, pq nao

foram na sala do Pedro, que

é da 7 série..Bah. Mel, isto é

cerceamento de idéias, é

colocar mordaças em

pessoas, não deixar as

pessoas pensarem, pq?Até

quando o patrulhamento

ideológico vai perdurar?Não

quero sorrisos pros meu

filhos, quero profissionais

qualificados para ensinarem.

Educação digo e repito, vem

de casa. e todos na escola

sabem, que lá em casa,

respeito é bom, e só tem

direito que tem deveres. não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Escola não tem

APP diretora

Gostaria que a direção da escola me

explicasse por que não tem APP

(associação de pais e professores) a

mais de 1 ano? Para escola receber a

verba descentralizada da Prefeitura a

cada 2 meses, precisa de uma APP...

será que a diretora não sabe disso? Esta

no site da Prefeitura, facil de achar...

assim fica fácil entender por que a escola

estava naquele estado. A verba vem via

APP e não tem uma APP na escola?

como explicar? tem recursos a

disposição mas não tem competência

para administrar... só entendo assim. E

as verbas do PDDE (programa dinheiro

direto na escola)? É uma verba federal

que a escola tem direito. Onde está esse não

Denúncias,

alertas,

reclamações Reunião de pais

pais / mãe de

Isadora / uma

professora /

presidente da

APP

os pais se queixaram da segurança da

escola, que esta entrando pessoas

estranhas que não tem nada com a

escola. Foi sugerido câmeras de

segurança para o problema. Minha mãe

foi perguntar a uma professora pq ela

estava cantando o hino do RS e a musica

" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão

se ferrar" na hora da prova, ela ficou

nervosa, começou a gritar e colocou o

dedo na minha cara e disse que eu era

mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela

se ofereceu para fazer outra prova mas

minha mãe disse que não quer privilégios.

Ela disse que não dá aula mais pra mim,

que vai entrar com atestado. finalmente a

APP se formou, o presidente é o

Marcelo.

Foi discutido a respeito do Diário de

Classe a reunião pegou fogo mais no final

houve um entendimento entre alguns

pais... não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Qualidade das

reuniões

professores,

pais

Vejo muitas reclamações por parte dos

professores da pouca participação dos

pais na escola. Quantos as câmeras na

escola, li bastantes comentários, como

sempre tem diferentes opiniões, eu acho

legal. Vcs sabem minha opinião, seria

uma forma moderna de acompanhar os

filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas

Será que não esta na hora de

repensar essas reuniões?

Minha mãe por exemplo,

acha que tinha que ser a

noite, depois das 8, os

professores dizem que fica

ruim pra eles, dizem que não

adianta fazer reunião sábado não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula com auxiliar

professora

auxiliar

hoje 28 de

agosto

ela falou para terminarmos uma redação,

que já tínhamos começado, e a maioria

tinha terminado, então não rendeu não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aula de inglês com

auxiliar

professora

auxiliar

de novo, como eu já havia dito, ela fez

um trabalho sobre alimentação e hoje

apresentamos. 

Que eu me lembre o

professor chegou no inicio de

agosto, ai a mãe dele morreu

e ele ganhou a licença, depois

ele foi buscar o irmão dele

que morava com a mãe e não

Relatos de

coerção

mãe,

professora

hoje 10 de

outubro

minha mãe teve que ir ao fórum para uma

audiência conciliatória que uma

professora auxiliar fez um BO contra ela

por injúria. a audiência, não demorou 15

minutos uma vez que ela não quis

nenhuma conciliação, nenhuma

retratação, apenas quis seguir em frente

com processo crime.

Ficou brava com os

comentários do post do dia

20-08 que nas aulas dela não

rendiam nada. É verdade, ela

dá um texto qualquer e pede

pra gente responder duas

perguntas, depois a gente fica

jogando. não

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 21 de

setembro

 nosso lanche foi sopa de galinha com

macarrão, não é das comidas favoritas

entre os alunos. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 18 de

setembro

Hoje comemos pão com frango e café

com leite, eu só acho que deviam dar

suco porque era recheio de frango.  sim

ANÁLISE TEMÁTICA QUALITATIVA

AMOSTRA 2

Denúncias,

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reclamações

Escola não tem

APP diretora

Gostaria que a direção da escola me

explicasse por que não tem APP

(associação de pais e professores) a

mais de 1 ano? Para escola receber a

verba descentralizada da Prefeitura a

cada 2 meses, precisa de uma APP...

será que a diretora não sabe disso? Esta

no site da Prefeitura, facil de achar...

assim fica fácil entender por que a escola

estava naquele estado. A verba vem via

APP e não tem uma APP na escola?

como explicar? tem recursos a

disposição mas não tem competência

para administrar... só entendo assim. E

as verbas do PDDE (programa dinheiro

direto na escola)? É uma verba federal

que a escola tem direito. Onde está esse

dinheiro? Quero saber... depois sou eu

que vou parar na delegacia... é justo?

(texto com apoio e supervisão do meu

pai) não

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reclamações Reunião de pais

pais / mãe de

Isadora / uma

professora /

presidente da

APP

os pais se queixaram da segurança da

escola, que esta entrando pessoas

estranhas que não tem nada com a

escola. Foi sugerido câmeras de

segurança para o problema. Minha mãe

foi perguntar a uma professora pq ela

estava cantando o hino do RS e a musica

" eu quero tchu, eu quero tcha, vcs vão

se ferrar" na hora da prova, ela ficou

nervosa, começou a gritar e colocou o

dedo na minha cara e disse que eu era

mentirosa, minha mãe me defendeu. Ela

se ofereceu para fazer outra prova mas

minha mãe disse que não quer privilégios.

Ela disse que não dá aula mais pra mim,

que vai entrar com atestado. finalmente a

APP se formou, o presidente é o

Marcelo.

Foi discutido a respeito do Diário de

Classe a reunião pegou fogo mais no final

houve um entendimento entre alguns

pais... não

Denúncias,

alertas,

reclamações

Qualidade das

reuniões

professores,

pais

Vejo muitas reclamações por parte dos

professores da pouca participação dos

pais na escola. Quantos as câmeras na

escola, li bastantes comentários, como

sempre tem diferentes opiniões, eu acho

legal. Vcs sabem minha opinião, seria

uma forma moderna de acompanhar os

filhos na escola. Eu mesma vejo isso nas

reuniões da minha escola. Será que não

esta na hora de repensar essas reuniões? 

Será que não esta na hora de

repensar essas reuniões?

Minha mãe por exemplo,

acha que tinha que ser a

noite, depois das 8, os

professores dizem que fica

ruim pra eles, dizem que não

adianta fazer reunião sábado

também, que não aumenta a

presença. Uma coisa é certa,

tem que mudar.  não

Denúncias,

alertas,

reclamações aula com auxiliar

professora

auxiliar

hoje 28 de

agosto

ela falou para terminarmos uma redação,

que já tínhamos começado, e a maioria

tinha terminado, então não rendeu não

Denúncias,

alertas,

reclamações

aula de inglês com

auxiliar

professora

auxiliar

de novo, como eu já havia dito, ela fez

um trabalho sobre alimentação e hoje

apresentamos. 

Que eu me lembre o

professor chegou no inicio de

agosto, ai a mãe dele morreu

e ele ganhou a licença, depois

ele foi buscar o irmão dele

que morava com a mãe e não

Relatos de

coerção

mãe,

professora

hoje 10 de

outubro

minha mãe teve que ir ao fórum para uma

audiência conciliatória que uma

professora auxiliar fez um BO contra ela

por injúria. a audiência, não demorou 15

minutos uma vez que ela não quis

nenhuma conciliação, nenhuma

retratação, apenas quis seguir em frente

com processo crime.

Ficou brava com os

comentários do post do dia

20-08 que nas aulas dela não

rendiam nada. É verdade, ela

dá um texto qualquer e pede

pra gente responder duas

perguntas, depois a gente fica

jogando. não

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 21 de

setembro

 nosso lanche foi sopa de galinha com

macarrão, não é das comidas favoritas

entre os alunos. sim

Denúncias,

alertas,

reclamações merenda

hoje 18 de

setembro

Hoje comemos pão com frango e café

com leite, eu só acho que deviam dar

suco porque era recheio de frango.  sim

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Anexo III: Nota da Secretaria da Educação de Florianópolis

ASSESSORIA DE IMPRENSA

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS

28/08/2012

Prefeitura toma providências na Escola Básica Maria Tomázia

A Secretária de Educação, Sidneya Gaspar de Oliveira, determinou uma nova reforma no

estabelecimento. Defende a liberdade de expressão da aluna que criou Facebook para falar

sobre as condições da unidade.

A iniciativa é brilhante, é saudável. A manifestação é da Secretária de Educação de

Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, em relação à página na internet da aluna Isadora

Faber, 13 anos, matriculada na Escola Básica Maria Tomázia Coelho, no Santinho, Norte da

Ilha de Santa Catarina. O Facebook, intitulado Diário de Classe, reivindica melhorias no

estabelecimento de ensino. ―Essa página veio inclusive nos auxiliar no monitoramento da

escola. É uma espécie de ouvidoria‖, frisa.

A Secretária lembra que a prefeitura vem fazendo a manutenção física da unidade desde o

início do ano e já começou outros serviços. Quanto à parte pedagógica, Sidneya destaca que

houve incompatibilidade entre duas turmas da sétima série, numa das quais Isadora frequenta,

e um professor temporário de matemática. ―Após a análise da comissão avaliadora, formada

por membros da escola e da Secretaria, o parecer final sobre o professor está previsto para a

próxima segunda-feira‖. Se assim a comissão decidir, o docente poderá ser substituído.

A Secretária reforça que a linha pedagógica da rede municipal de ensino de Florianópolis

defenderá sempre a liberdade de expressão. Conforme Sidneya, ―além de ter como missão

promover educação de qualidade que contribua para o exercício pleno da cidadania, o

município proporciona o estabelecimento de relações democráticas e participativas. Diante

desse desafio, os programas e projetos educacionais estão dirigidos para o fortalecimento de

uma política educacional que reconheça as diferenças, fortaleça as identidades e a pluralidade

de ideias, que cuide, eduque e acolha os estudantes e suas famílias, bem como promovam a

socialização e a produção do conhecimento numa visão cidadã‖.

Gestão da escola

A Diretora da Maria Tomázia Coelho, Liziane Diaz Farias, assumiu a responsabilidade por

haver em sua escola uma gestão deficitária. ―Eu assumo publicamente que ocorreu fragilidade

na administração do estabelecimento. Vamos a partir de agora trabalhar de forma diferente a

parte administrativa e a preservação do patrimônio público‖.

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Liziane fará um apelo à Associação de Pais e Professores para que ajudem principalmente no

cuidado com a estrutura física. Haverá também campanhas para que os alunos se

conscientizem da necessidade de se engajarem no zelo de todo o ambiente escolar. ―Os alunos

tem que saber que a participação deles é fundamental para preservar um bem público‖. Além

disso, coloca, que vem participando de formação para criar o Conselho Escolar, que auxiliará

na manutenção do estabelecimento e na gestão administrativa, pedagógica e financeira.

A diretora destaca que a Maria Tomázia possui no Índice de Desenvolvimento da Educação

(IDEB) nota de primeiro mundo nos anos iniciais: 6,1. ―Isto prova que estamos no caminho

certo para manter a qualidade na educação‖. A unidade possui 25 professores, sendo a sua

maioria com pós-graduação.

Sobre a Isadora Faber, Liziane faz questão de dizer que ela é uma boa aluna. ―A Isadora

sempre manteve as suas notas acima da média e é uma adolescente disciplinada‖.

Complementa que em nenhum momento houve represália da direção para que a aluna tirasse a

página dela na internet. O que ocorreu, esclarece Liziane, foi uma conversa com a mãe da

adolescente, Mel Faber, sobre a existência do Facebook e aconselhou a não utilização de

imagens de alunos, funcionários e professores da escola na página. ―Cada indivíduo tem o

direito de ter a sua imagem preservada‖, finaliza.

Providências

Nesta terça-feira, a Secretaria de Educação reiniciou a manutenção na escola. Em julho, foram trocadas 13 luminárias, que no momento já foram danificadas. Haverá também reparos nos banheiros e em outros setores da unidade. “Fizemos uma série de melhorias, mas infelizmente não houve a colaboração da comunidade escolar para evitar vandalismos, com a depredação do espaço”, salienta o Diretor de Infraestrutura, Maurício Amorim Efe.

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ANEXO IV: Representações Sociais no Diário de Classe

AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro

Atribuições Atribuições

muito feliz (pelo alcance da página) estou muito feliz

 não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou mostrando o

que de fato é a pura realidade

não autorizamos a participaçao da Isadora em nenhuma campanha eleitoral, ela

não tem vínculo com nenhum partido e não vai participar de nenhum programa

eleitoral. (PAIS DE ISADORA)

tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade

sobre as escolas públicas. cada vez que eu desanimo eu leio as mensagens eU volto a me sentir forte

sou a unica administradora dessa página

Agradeço a todos que gostam e elogiam meus posts. Depois de tudo que

aconteceu, é claro que meu pai ou minha mãe tão olhando tudo antes que eu

faça a postagem, fazendo a revisão geral do meu texto (pontuação e

acentuação principalmente, MAS estou aprendendo). Agora, quanto ao

conteúdo, são opiniões minhas. Claro que escuto muito meus pais, minhas

irmãs, não só sobre a página mas sobre tudo, nem sempre concordamos mas

sabemos nos respeitar. Eu não tinha muito conhecimento das coisas, mas eu

tenho lido o que vcs comentam, vários colocam vídeos, links, textos, cada um

dando seus palpites... e eu vou lendo, me informando, concordo ali, discordo

aqui, pergunto as coisas e vou formando minha opinião, apenas isso. Tem um

monte de coisas que não sei nada então prefiro não comentar. Fico

comparando minha escola com da minha irmã do meio porque é a única que eu

conheço além da minha e vejo a rotina dela. Minha irmã mais velha é

Engenheira de Computação, se formou em uma Universidade Federal com 22

anos, hoje tem 24, trabalha e já tem a casa dela, tá sempre conectada com tudo,

o namorado dela também é Engenheiro de Computação, outro louco, sempre

conectado. Na minha casa todos dias tem jornal, meu pai sempre foi assinante,

tv cabo, internet e cada um tem seu note. Meus pais trabalham com produção

e edição de vídeos, eu e minha irmã do meio ajudamos às vezes, puxando

cabos, segurando microfones, iluminando, segurando rebatedor, essas coisas.

Minha vó mora conosco, ela tem uma doença degenerativa e HÁ algum tempo

esta na cadeira de rodas, sempre que chego da escola ajudo a mãe dando

almoço pra ela. Tem 2 cachorros aqui em casa também, o Ziggy e o Difé (tem

esse nome pq ele é de fé mesmo... quem conhece sabe). Como vcs podem ver,

estudo em escola pública mas tenho acesso a muita informação e tento tirar

proveito disso. Estou fazendo este post agora porque me dei conta que nunca

tinha me apresentado, pra vocês saberem um pouco mais de mim. Ahh... meu

aniversário é 16 junho, nasci às 8:04 h em 1999 na Maternidade Carmela Dutra

em Florianópolis.

eu estou aberta

Fazem pouco mais de dois meses de Diário. Muita coisa mudou, nunca pensei

na repercussão que ia dar. Olhando tudo que aconteceu, fico feliz em ver que

as coisas que mostrei foram consertadas, a quadra parece que vai ser pintada,

a APP foi formada e outras coisas. Me perguntam muito o que vai ser agora

que a escola foi reformada, se vou seguir com Diário. Hoje penso diferente,

penso maior. Penso que se minha escola pode melhorar, por que não as

outras? Não só de Florianópolis, mas de todo Brasil. Por que vemos escolas

tão ruins como as que são mostradas aqui? Quem ganha com isso? Pra mim

isso é motivo de vergonha e acho que isso envergonha todo Brasil. Será que

pensam que enganam alguém com índices, cotas? Será que os outros países

acreditam nisso? Você acredita nisso? Eu acho que o Brasil finge que a

educação tá boa para impressionar os outros como se todos fossem bobos.

Recebi fotos que parece qualquer coisa, menos escolas, por que isso? Se a

gente é o país do futebol, do samba, por que não ser o país da educação? Não

seria legal ser conhecido por ser o país de melhor educação do mundo?

Sermos respeitados em qualquer lugar como um povo culto, inteligente e

educado? Acho que sendo assim, o resto vem junto, pois nenhum povo

educado e inteligente não vai deixar a saúde de lado por exemplo. Vontade de

mudar já vi que muitos tem, então o que falta? Eu tenho vontade, gostaria que

minha escola fosse uma escola modelo e vou fazer o possível pra isso, espero

que um dia algumas pessoas entendam e me ajudem também. E vcs, sabem

como vai a escola dos seus filhos? Sabe se esta faltando professor? Sabe o

que ele comeu hj? Sabe o que ele aprendeu hj? O que ele faz quando não tá na

escola, você sabe? Podemos começar assim, não é tão difícil... os estudantes

tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar quietos. Muitos

me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é bem

assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de curtidores

inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar, mas agora

não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.

preciso do apoio de vocês (colegas)

estou chegando agora do curso Kumon que é tipo aulas ''particulares''. Eu

recebi uma bolsa para estudar inglês e começo amanhã, vai me ajudar muito e

eu fiquei bem feliz pela oportunidade.

faço pra nós, não entendo porque vocês não gostam

Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,

manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,

estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não

deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo

minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.

Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para

isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido

nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da

educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar

é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando

tem.

Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.

a partir de agora iremos (eu e meus pais) começar a deletar post de pessoas

desinformadas que fazem perfis fakes que não se identificam para publicar

ofensas e mentiras e verdadeiros perseguidores que estão fazendo páginas

igual a minha só para promover intrigas com fofocas( páginas sem

identificação do responsável). Criticar tudo bem, mas com responsabilidade e

com perfil verdadeiro, por favor. Não tenho medo de críticas, mas tenho medo

de pessoas maldosas e covardes que não tem sequer coragem de se

identificar. Espero que entendam.

estudo na escola desde a primeira série e agora estou na sétima

Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,

manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,

estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não

deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo

minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.

Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para

isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido

nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da

educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar

é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando

tem. 

―Se te disseram que prá não virar a mesa, Se te disseram que o ataque é a

pior defesa, Se te disseram prá esperar a sobremesa, Ouça o que eu digo

não ouça ninguém‖ - Esse refrão diz muito por eu ter criado essa página,

mas eu não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou

mostrando o que de fato é a pura realidade.

Não tenho medo de críticas, mas tenho medo de pessoas maldosas e covardes

que não tem sequer coragem de se identificar. 

eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das conversas...

do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por

isso falo... falo pq sei o que acontece 

Me perguntam muito o que vai ser agora que a escola foi reformada, se vou

seguir com Diário. Hoje penso diferente, penso maior. Penso que se minha

escola pode melhorar, por que não as outras? Não só de Florianópolis, mas de

todo Brasil. Por que vemos escolas tão ruins como as que são mostradas aqui?

Quem ganha com isso? Pra mim isso é motivo de vergonha e acho que isso

envergonha todo Brasil.

Não ofendi nem insultei ninguém, mas se alguém se sentiu tão ofendido ou

agredido, peço desculpa pois não era essa a intenção.

Eu tenho vontade, gostaria que minha escola fosse uma escola modelo e vou

fazer o possível pra isso

eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos

aula (de matemática)

Muitos me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é

bem assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de

curtidores inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar,

mas agora não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.

Eu estou aprendendo muito com tudo isso, até mesmo como funciona as

coisas públicas e se de alguma forma e a minha intenção sempre ajudar a

melhorar a escola para todos.

Acho até que sei represália, mais comigo pressão não funciona, tudo que

acontecer eu vou postar aqui.

Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar

de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não

nós não temos medo de ninguémnós fazemos isso para tentar ajudar, mais também estudamos, e muito

media 5 ?? Nunca vai ser nota . Pelo menos pra mim a media é 7, e eu nunca

baixo disso.

eu estou aberta para qualquer foto de qualquer escola que alguém queira

colocar aqui, se alguém quiser é só entrar em contato por aqui 

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE

Categoria: EU (Isadora Faber)

Page 149: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP FACULDADE DE ...€¦ · O objetivo era utilizar o espaço para denunciar ... Blogs e Jornalismo Cidadão ..... 37 1.3.2. O interesse público

147

AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro

Atribuições Atribuições

muito feliz (pelo alcance da página) estou muito feliz

 não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou mostrando o

que de fato é a pura realidade

não autorizamos a participaçao da Isadora em nenhuma campanha eleitoral, ela

não tem vínculo com nenhum partido e não vai participar de nenhum programa

eleitoral. (PAIS DE ISADORA)

tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade

sobre as escolas públicas. cada vez que eu desanimo eu leio as mensagens eU volto a me sentir forte

sou a unica administradora dessa página

Agradeço a todos que gostam e elogiam meus posts. Depois de tudo que

aconteceu, é claro que meu pai ou minha mãe tão olhando tudo antes que eu

faça a postagem, fazendo a revisão geral do meu texto (pontuação e

acentuação principalmente, MAS estou aprendendo). Agora, quanto ao

conteúdo, são opiniões minhas. Claro que escuto muito meus pais, minhas

irmãs, não só sobre a página mas sobre tudo, nem sempre concordamos mas

sabemos nos respeitar. Eu não tinha muito conhecimento das coisas, mas eu

tenho lido o que vcs comentam, vários colocam vídeos, links, textos, cada um

dando seus palpites... e eu vou lendo, me informando, concordo ali, discordo

aqui, pergunto as coisas e vou formando minha opinião, apenas isso. Tem um

monte de coisas que não sei nada então prefiro não comentar. Fico

comparando minha escola com da minha irmã do meio porque é a única que eu

conheço além da minha e vejo a rotina dela. Minha irmã mais velha é

Engenheira de Computação, se formou em uma Universidade Federal com 22

anos, hoje tem 24, trabalha e já tem a casa dela, tá sempre conectada com tudo,

o namorado dela também é Engenheiro de Computação, outro louco, sempre

conectado. Na minha casa todos dias tem jornal, meu pai sempre foi assinante,

tv cabo, internet e cada um tem seu note. Meus pais trabalham com produção

e edição de vídeos, eu e minha irmã do meio ajudamos às vezes, puxando

cabos, segurando microfones, iluminando, segurando rebatedor, essas coisas.

Minha vó mora conosco, ela tem uma doença degenerativa e HÁ algum tempo

esta na cadeira de rodas, sempre que chego da escola ajudo a mãe dando

almoço pra ela. Tem 2 cachorros aqui em casa também, o Ziggy e o Difé (tem

esse nome pq ele é de fé mesmo... quem conhece sabe). Como vcs podem ver,

estudo em escola pública mas tenho acesso a muita informação e tento tirar

proveito disso. Estou fazendo este post agora porque me dei conta que nunca

tinha me apresentado, pra vocês saberem um pouco mais de mim. Ahh... meu

aniversário é 16 junho, nasci às 8:04 h em 1999 na Maternidade Carmela Dutra

em Florianópolis.

eu estou aberta

Fazem pouco mais de dois meses de Diário. Muita coisa mudou, nunca pensei

na repercussão que ia dar. Olhando tudo que aconteceu, fico feliz em ver que

as coisas que mostrei foram consertadas, a quadra parece que vai ser pintada,

a APP foi formada e outras coisas. Me perguntam muito o que vai ser agora

que a escola foi reformada, se vou seguir com Diário. Hoje penso diferente,

penso maior. Penso que se minha escola pode melhorar, por que não as

outras? Não só de Florianópolis, mas de todo Brasil. Por que vemos escolas

tão ruins como as que são mostradas aqui? Quem ganha com isso? Pra mim

isso é motivo de vergonha e acho que isso envergonha todo Brasil. Será que

pensam que enganam alguém com índices, cotas? Será que os outros países

acreditam nisso? Você acredita nisso? Eu acho que o Brasil finge que a

educação tá boa para impressionar os outros como se todos fossem bobos.

Recebi fotos que parece qualquer coisa, menos escolas, por que isso? Se a

gente é o país do futebol, do samba, por que não ser o país da educação? Não

seria legal ser conhecido por ser o país de melhor educação do mundo?

Sermos respeitados em qualquer lugar como um povo culto, inteligente e

educado? Acho que sendo assim, o resto vem junto, pois nenhum povo

educado e inteligente não vai deixar a saúde de lado por exemplo. Vontade de

mudar já vi que muitos tem, então o que falta? Eu tenho vontade, gostaria que

minha escola fosse uma escola modelo e vou fazer o possível pra isso, espero

que um dia algumas pessoas entendam e me ajudem também. E vcs, sabem

como vai a escola dos seus filhos? Sabe se esta faltando professor? Sabe o

que ele comeu hj? Sabe o que ele aprendeu hj? O que ele faz quando não tá na

escola, você sabe? Podemos começar assim, não é tão difícil... os estudantes

tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar quietos. Muitos

me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é bem

assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de curtidores

inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar, mas agora

não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.

preciso do apoio de vocês (colegas)

estou chegando agora do curso Kumon que é tipo aulas ''particulares''. Eu

recebi uma bolsa para estudar inglês e começo amanhã, vai me ajudar muito e

eu fiquei bem feliz pela oportunidade.

faço pra nós, não entendo porque vocês não gostam

Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,

manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,

estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não

deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo

minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.

Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para

isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido

nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da

educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar

é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando

tem.

Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.

a partir de agora iremos (eu e meus pais) começar a deletar post de pessoas

desinformadas que fazem perfis fakes que não se identificam para publicar

ofensas e mentiras e verdadeiros perseguidores que estão fazendo páginas

igual a minha só para promover intrigas com fofocas( páginas sem

identificação do responsável). Criticar tudo bem, mas com responsabilidade e

com perfil verdadeiro, por favor. Não tenho medo de críticas, mas tenho medo

de pessoas maldosas e covardes que não tem sequer coragem de se

identificar. Espero que entendam.

estudo na escola desde a primeira série e agora estou na sétima

Tem pessoas que querem que eu organize passeatas, atos públicos,

manifestações nas ruas e em frente às instituições governamentais. Pessoal,

estou fazendo o que posso, não quero fazer essas coisas e meus pais não

deixam, eles dizem que tenho apenas 13 anos e sou uma só e já estou fazendo

minha parte. Quero deixar claro que nunca quis fazer passeatas e essas coisas.

Se alguém acha que deve fazer isso, tudo bem, faça, não precisam de mim para

isso, é tão fácil falar para eu fazer, por que não faz então? Não tenho partido

nem idade para votar e não estou contra ninguém, estou contra o descaso da

educação e quero que melhore para todos, apenas isso. Meu jeito de protestar

é assim, escrevendo, denunciando, discutindo e postando resultados quando

tem. 

―Se te disseram que prá não virar a mesa, Se te disseram que o ataque é a

pior defesa, Se te disseram prá esperar a sobremesa, Ouça o que eu digo

não ouça ninguém‖ - Esse refrão diz muito por eu ter criado essa página,

mas eu não vou desistir, não estou cometendo nenhum crime, estou

mostrando o que de fato é a pura realidade.

Não tenho medo de críticas, mas tenho medo de pessoas maldosas e covardes

que não tem sequer coragem de se identificar. 

eu participo da escola diariamente, das aulas, do recreio, das conversas...

do mundo dos alunos, onde nem tudo os professores ficam sabendo, por

isso falo... falo pq sei o que acontece 

Me perguntam muito o que vai ser agora que a escola foi reformada, se vou

seguir com Diário. Hoje penso diferente, penso maior. Penso que se minha

escola pode melhorar, por que não as outras? Não só de Florianópolis, mas de

todo Brasil. Por que vemos escolas tão ruins como as que são mostradas aqui?

Quem ganha com isso? Pra mim isso é motivo de vergonha e acho que isso

envergonha todo Brasil.

Não ofendi nem insultei ninguém, mas se alguém se sentiu tão ofendido ou

agredido, peço desculpa pois não era essa a intenção.

Eu tenho vontade, gostaria que minha escola fosse uma escola modelo e vou

fazer o possível pra isso

eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos

aula (de matemática)

Muitos me dizem que é sonho, que sou criança e não sei das coisas, que não é

bem assim... não me importo, gosto de sonhar. Saber que tem milhares de

curtidores inconformados com a educação no Brasil me motiva a continuar,

mas agora não só pela minha escola, mas por todas escolas do Brasil.

Eu estou aprendendo muito com tudo isso, até mesmo como funciona as

coisas públicas e se de alguma forma e a minha intenção sempre ajudar a

melhorar a escola para todos.

Acho até que sei represália, mais comigo pressão não funciona, tudo que

acontecer eu vou postar aqui.

Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar

de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não

nós não temos medo de ninguémnós fazemos isso para tentar ajudar, mais também estudamos, e muito

media 5 ?? Nunca vai ser nota . Pelo menos pra mim a media é 7, e eu nunca

baixo disso.

eu estou aberta para qualquer foto de qualquer escola que alguém queira

colocar aqui, se alguém quiser é só entrar em contato por aqui 

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE

Categoria: EU (Isadora Faber)

Page 150: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP FACULDADE DE ...€¦ · O objetivo era utilizar o espaço para denunciar ... Blogs e Jornalismo Cidadão ..... 37 1.3.2. O interesse público

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AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro

Atribuições Atribuições

viram a cara pra mim tomara que venha um um prof. bem legal com bastante vontade de ensinar

esse dai não ensina nada  nenhum professor e funcionário da escola não curtiu minha página

ele tenta mais não consegue manter a turma em silencio

Vejo outros professores falando que são alunos que quebram, eles nos

chamam de pirralhos, depredadores, pestinhas, diabinhos e etc. Mas é certo o

professor ver e não fazer nada?? Existem alunos e alunos assim como

professores e professores, concordo que estragar é errado, mas mais errado

ainda é ver e não fazer nada.

até agora nenhum professor da escola tinha visitado a minha página,

porque tanta visibilidade?

Eu vejo aqui na minha página alguns professores que falando que eles não

estão lá para educar que educação vem de casa, que eles estão lá para ensinar.

Mas eles também falam que a escola é a segunda casa então acho que eles

pelo menos tem que por limites ''educar'' se não não seriam educadores e sim

ensinadores.

Alguns professores falam que é a pior profissão do mundo, mais se eles

ficarem parados da no mesmo porque estão recebendo de qualquer jeito.

Parabéns Professores pelo seu dia! Ser Professor não é apenas lecionar.

Ensinar não é só transmitir conhecimentos. Ser Professor é ser instrutor e

amigo, guia e companheiro, é caminhar com o aluno, passo a passo, é

transmitir a esses os segredos da caminhada. Ser Professor é ser exemplo.

Exemplo de dedicação, de doação, de dignidade pessoal e sobretudo de amar.

Meu carinho e gratidão aos Professores que sabem, além de transmitir seus

conhecimentos, transmitir-nos sua experiência e apoiar-nos em nossas

dificuldades. Parabenizo também àqueles que limitam-se apenas a transmitir

conhecimento. (AUTOR DESCONHECIDO)

Por favor se não gosta da profissão muda, mais agora ficar parado

encostado na porta só faz com que a nossa vida piore e atrase. 

vejo muitas reclamações por parte dos professores da pouca participação dos

pais na escola. 

Quando temos aulas com auxiliares elas dão um texto e uma pergunta e é

sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor aproveitado.

aula com a diretora teve um rendimento que com auxiliar não tem

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE

Categoria: Professores

AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro

Atribuições Atribuições

alguns colegas que não pensam na gravidade da coisa acham tudo

engraçado e não enxergam o perigo a situação.

 alguns alunos ficam zoando da minha cara e os funcionários não fazem nada

além de rir

alunos que estão depredando nossa escola e isso só está sendo como uma

iniciação para que eles se tornem marginais

os estudantes tb tem que falar, são os maiores interessados, não podem ficar

quietos.

os maus, que roubam, que quebram, que estragam a escola, que agridem os

outros, esses sim deveriam sofrer puniçãoi!

Os alunos não estão acostumados a estudar, fazer deveres, trabalhos como os

outros alunos de escolas particulares. Se for aplicar uma prova de uma boa

escola particular na minha sala, todo mundo sai mal, inclusive eu, não temos

chance alguma.

alunas da escola estão exigindo a punição

não gostam (da página)

não precisam estudar por causa da aprovação automática e aí viram

marginais

eu e alguns colegas queremos REALMENTE APRENDER e nunca temos

aula (de matemática)

Isso sim é ruim ver o tempo passar e saber não vou aprender e vou passar

de ano, pra alguns é muito bom mais comigo não é por ai não

alguns alunos ficam brabos com a gente porque aparecem no vídeo ou na

foto nos xingam e tudo, agora me responde porque tem tanto medo da

câmera ?? É obvio que ja fez algo errado, é não quer que mostrem mais se

tem medo, para de errar.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE

Categoria: Alunos da escola

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AMOSTRA 1 AMOSTRA 2Unidade de registro Unidade de registro

Atribuições Atribuições

viram a cara pra mim funcionários ficarem fazendo cara feia

 Além disso quando vou até o refeitório as cozinheiras, começam a falar de

mim, na minha frente e ri nenhum professor e funcionário da escola não curtiu minha página

 alguns alunos ficam zoando da minha cara e os funcionários não fazem nada

além de rir

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEÚDO DA PÁGINA DIÁRIO DE CLASSE

Categoria: Funcionários