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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA (UESB) PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS (ProfLetras) SOLEANE RODRIGUES LUSTOSA LIMA A DINÂMICA DA TRANSITIVIDADE VERBAL NO FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO VITÓRIA DA CONQUISTA BA 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA (UESB)

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS (ProfLetras)

SOLEANE RODRIGUES LUSTOSA LIMA

A DINÂMICA DA TRANSITIVIDADE VERBAL NO FUNCIONALISMO

LINGUÍSTICO

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

2019

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA …Transitividade verbal. 2.Funcionalismo linguístico 3. Ensino. I. Sousa, Valéria Viana. II. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Mestrado

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SOLEANE RODRIGUES LUSTOSA LIMA

A DINÂMICA DA TRANSITIVIDADE VERBAL NO FUNCIONALISMO

LINGUÍSTICO

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Letras

(ProfLetras), da Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia (UESB), como

requisito parcial e obrigatório para

obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Valéria Viana

Sousa

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

2019

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L711d

Lima, Soleane Rodrigues Lustosa.

A dinâmica da transitividade verbal no funcionalismo linguístico. /

Soleane Rodrigues Lustosa Lima, 2019.

105f.

Orientador (a): Drª. Valéria Viana Sousa.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

Mestrado

Profissional em Letras – PROFLETRAS, Vitória da Conquista, 2019.

Inclui referência F. 96 a 98.

1. Transitividade verbal. 2.Funcionalismo linguístico 3. Ensino. I. Sousa,

Valéria Viana. II. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Mestrado

Profissional em Letras – PROFLETRAS. III. T.

CDD 469.3

Catalogação na fonte: Juliana Teixeira de Assunção – CRB 5/1890

UESB – Campus Vitória da Conquista – BA

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SOLEANE RODRIGUES LUSTOSA LIMA

A DINÂNICA DA TRANSITIVIDADE VERBAL NO FUNCIONALISMO

LINGUÍSTICO

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Letras

(ProfLetras), da Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia (UESB), como

requisito parcial e obrigatório para

obtenção do título de Mestre em Letras.

Vitória da Conquista, 27 de março de 2019.

Banca Examinadora

_________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Valéria Viana Sousa – Orientadora

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

__________________________________________________________

Prof. Dr. Jorge Augusto Alves da Silva – Membro interno

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

__________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Denise Porto Cardoso – Membro externo

Universidade Federal de Sergipe (UFS)

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iv

Aos meus pais, Francisco e Soberana, aos meus irmãos, Francinaldo e Fábio,

ao meu esposo, Ismael e aos meus filhos, Ana Luísa e Gabriel,

que, com muito carinho e apoio, me ajudaram a chegar até aqui.

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v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS, pela minha vida, pela minha saúde e por ter me

proporcionado a oportunidade de cursar o mestrado.

Aos meus pais e irmãos, que, mesmo distantes fisicamente, sempre estiveram ao

meu lado me dando apoio.

Ao meu esposo, Ismael, pelo incentivo, amor, companheirismo, compreensão e

por acreditar nos meus sonhos. Agradeço imensamente por estar ao meu lado

compartilhando comigo as vitórias e as derrotas.

Aos meus filhos, Ana Luísa e Gabriel, razão da minha vida! Pelo carinho,

compreensão e amor. Por fazer existir em mim o amor mais sublime.

À Joana, pela dedicação nos cuidados com a minha família.

À professora Valéria Viana, pela orientação cuidadosa e pelo acolhimento,

carinho e dedicação. Obrigada por compartilhar comigo de seu vasto conhecimento

linguístico, por me ensinar muito tanto na vida acadêmica quanto na pessoal. Obrigada

pelo carinho e confiança.

Aos professores, Jorge Augusto e Lucas Campos, pelas valiosas contribuições

durante o exame de qualificação.

Aos professores do Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), pelas aulas

ministradas com muita dedicação, contribuindo, assim, com a minha formação

acadêmica.

À quarta turma do Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), pelo

companheirismo e amizade sincera.

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À Banca Examinadora, por disponibilizar tempo para leitura criteriosa desta

dissertação e pelas valiosas sugestões. Meus sinceros agradecimentos aos professores

Valéria Viana Sousa, Jorge Augusto Alves da Silva e Denise Porto Cardoso.

À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) por ofertar o Mestrado

Profissional em Rede (ProfLetras) e à CAPES, pelo apoio financeiro.

À equipe gestora do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira pelo apoio, incentivo

e compreensão.

Aos alunos informantes que, com prestatividade, contribuíram para a realização

desta pesquisa.

Agradeço, imensamente, a todas as pessoas que caminharam juntas comigo

durante esses dois anos de percurso acadêmico.

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“[...] tudo é motivado nas estruturas das línguas naturais.”

(CASTILHO, 2016, p. 329)

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RESUMO

Esta Dissertação é um estudo sobre a Transitividade Verbal que objetiva investigar

como o fenômeno da transitividade tem sido abordado nas escolas e, assim, como tem

sido apresentado nos compêndios de Língua Portuguesa, especificamente, nos livros

didáticos do Ensino Fundamental II para, a partir dessas considerações, propormos uma

Sequência Didática sobre Transitividade Verbal. Para tanto, este trabalho constitui-se de

uma pesquisa bibliográfica sobre a Transitividade Verbal a partir das concepções das

Tradições Gramatical e Linguística, bem como uma análise do livro didático em

capítulos cujo tema é abordado. Para fundamentar o estudo da transitividade na

concepção tradicional, apontamos as contribuições das gramáticas prescritivas dos

autores: Cunha e Cintra (2001), Cegalla (2005), Bechara (2007) e Rocha Lima (2008).

Essa abordagem foi ampliada com a análise de algumas gramáticas descritivas, a saber,

Azeredo (2002), Perini (2002) e Castilho (2016). Para o estudo desse fenômeno, sob a

ótica da Tradição Linguística, partimos do enfoque funcionalista apresentado na

Linguística Funcional Norte-Americana com fundamentação teórica nos estudos de

Hopper; Thompson (1980), Cunha; Souza (2011), Abraçado; Kenedy (2014) e Furtado

da Cunha; Oliveira; Martelotta (2015) entre outros. Diante da análise feita sobre o tema

em questão abordado na Tradição Gramatical e na Linguística, verificamos como o

nosso objeto de estudo é apresentado na escola através do Livro Didático adotado,

buscando entender a prevalência da contribuição teórica preconizada pelo livro e sua

relevância no processo de ensino-aprendizagem. Com base nesse estudo bibliográfico,

elaboramos uma proposta de intervenção que consiste no ensino da Transitividade

Verbal ancorada na Linguística Funcionalista Norte-Americana, visando, além de

colaborar com a prática docente, a uma aprendizagem efetiva do tema, por parte dos

alunos. Nesse estudo, desenvolvemos a metodologia da análise quali-quantitativa e

diante dos resultados da pesquisa, foi possível confirmar a hipótese de que a forma de

abordagem dos conteúdos gramaticais apoiada no livro didático, preconizado pelo

modelo normativo, dificulta a aprendizagem, enquanto que o ensino de gramática

considerando as especificidades da língua em uso facilita a compreensão do conteúdo

gramatical, neste caso, a Transitividade Verbal.

Palavras-chave: Transitividade Verbal, Funcionalismo, Ensino

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ABSTRACT

This essay is a study on Verbal Transitivity, which aims to investigate how the

phenomenon of transitivity has been addressed in schools and how it has been presented

in the compendiums of Portuguese Language, specifically, in middle school textbooks.

From these considerations, we proposed a didactic sequence about Verbal Transitivity.

This work is formed by a bibliographical research about Verbal Transitivity from the

conceptions of both Grammatical and Linguistic Traditions and an analysis of textbook

in chapters where the theme is addressed. To theoretically support the study of

transitivity from a traditional perspective, we based on the prescriptive grammars, such

as: Cunha e Cintra (2001), Cegalla (2005), Bechara (2007) and Rocha Lima (2008).

This approach was broadened with the analysis of some descriptive grammars, such as:

Azeredo (2002), Perini ((2002) and Castilho (2016). For the study of this phenomenon,

from the perspective of the Linguistic Tradition, we start from the functionalist

approach presented in the North American Functional Linguistics with theoretical basis

in the studies of Hopper; Thompson (1980), Cunha; Souza (2011), Abraçado; Kenedy

(2014) and Furtado da Cunha; Oliveira; Martellota (2015). With the analysis on the

subject in question completed, it was addressed in Grammatical and Linguistic

Traditions, we verified how our object of study is presented in schools through

textbooks, seeking to understand the prevalence of the theoretical contribution

advocated by the book and its relevance in the teaching-learning process. Based on this

bibliographic study, we elaborate a proposal of intervention that consists in the teaching

of Verbal Transitivity based in North American Functional Linguistics, aiming both to

collaborate with the teaching practice, and to a more effective process of learning the

subject by the students. In this study, we developed the methodology of qualitative-

quantitative analysis and in the face of research findings, we confirm the hypothesis that

the grammatical content approach supported by the textbooks, as advocated by the

normative model, makes learning difficult, while grammar teaching considered the

specificities of the language in it‟suse, which facilitates the process of understanding the

grammatical content, in this case, the Verbal Transitivity.

Keywords: Verbal Transitivity, Functionalism, Teaching

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Vista aérea da localização do colégio (2017).................................................. 52

Figura 2. Vista frontal do colégio (2017)....................................................................... 53

Figura 3. Atividades realizadas no projeto de leitura do colégio .................................. 53

Figura 4. Feira de ciências e campeonato de futsal realizados no colégio .....................54

Figura 5. Esquema de sequência didática .......................................................................58

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Síntese da pesquisa bibliográfica sobre Transitividade Verbal na

perspectiva da Tradição Gramatical ..............................................................27

Quadro 2. Comparando terminologias sobre a transitividade ........................................31

Quadro 3. Concepção da Transitividade Verbal na perspectivada

Tradição Linguística.......................................................................................32

Quadro 4. Parâmetros da transitividade segundo a proposta de Hopper e Thompson....35

Quadro 5. Relação dos parâmetros da transitividade com os termos da oração .............41

Quadro 6. Informantes do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira ................................. 56

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Percentual encontrado nas respostas dadas à primeira pergunta

da avaliação de sondagem ..............................................................................80

Gráfico 2. Percentual encontrado nas respostas dadas à segunda pergunta da

avaliação de sondagem ...................................................................................81

Gráfico 3. Percentual encontrado nas respostas dadas à quarta questão

da avaliação de sondagem ...............................................................................81

Gráfico 4. Resultado das respostas dadas pelos alunos à décima primeira

questão da avaliação final ................................................................................90

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

TG Tradição Gramatical

TL Tradição Linguística

GT Gramática Tradicional

PNLD Programa Nacional do Livro Didático

LD Livro Didático

MP Manual do Professor

CLD Coleção do Livro Didático

LP Língua Portuguesa

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

2 A TRANSITIVIDADE VERBAL ............................................................................. 18

2.1 O que transitividade .................................................................................................. 18

2.2 Um breve percurso pela gramática histórica sobre a Transitividade Verbal ........ 19

2.3 A Transitividade Verbal na perspectiva da Tradição Gramatical ......................... 21

2.4 A Transitividade Verbal na perspectiva da Tradição Linguística .......................... 28

2.4.1 A Transitividade Verbal na perspectiva do Funcionalismo Linguístico .................. 33

2.4.1.1 A Transitividade Verbal em discussão – abordagens contemporâneas ................. 41

2.5 A abordagem da Transitividade Verbal no livro didático ....................................... 44

3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 51

3.1 Local da pesquisa: a escola ....................................................................................... 51

3.2 O corpus ...................................................................................................................... 54

3.3 Os participantes ......................................................................................................... 55

3.4 Atividades ................................................................................................................... 57

4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO .......................................................................... 58

4.1 Justificativa ................................................................................................................ 58

4.2 Objetivo geral ............................................................................................................. 59

4.3 Sequêcia Didática ....................................................................................................... 59

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................. 79

5.1 Resultados apresentados na avaliação diagnóstica................................................. 79

5.2 Resultados apresentados na proposta de intervenção ............................................ 84

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 93

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 96

APÊNDICES ............................................................................................................... 99

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1 INTRODUÇÃO

A Língua Portuguesa, assim como todas as línguas, apresenta fenômenos

linguísticos que surgem diariamente e que compõem a prática vivenciada pelos falantes

no momento de interação discursiva. Partindo desse pressuposto e compreendendo a

necessidade de um estudo que tenha como foco a língua em uso e em consonância à

Teoria Funcionalista, que concebe a língua como um fenômeno de interação social e

que, portanto, precisa ser estudada como prática de comunicação e interação dos seus

falantes, propomo-nos, nesta Dissertação, a investigar o fenômeno linguístico

Transitividade Verbal e propor uma sequência didática desse fenômeno direcionada aos

alunos do Ensino Fundamental II.

É essa “vivacidade” da língua que a coloca como objeto de estudo para muitos

pesquisadores que percebem nela motivos para investigar seu funcionamento, tendo em

vista que os fenômenos linguísticos, observados em situação de comunicação, estão

cada dia mais se afastando da modalidade prescrita, a conhecida Tradição Gramatical,

para assumir uma modalidade pautada no uso, que, aqui, denominamos como Tradição

Linguística. Com essa afirmação, não queremos dizer que, definitivamente, uma

modalidade substituirá a outra, mas que é evidente a necessidade de reconhecer que a

língua é um instrumento de comunicação e, para tanto, não pode ser analisada como um

objeto autônomo, pois as manifestações linguísticas sofrem influências das diversas

situações que constituem a língua em funcionamento, dando origem, dessa forma, a

novas estruturas gramaticais. Contar, para a análise de um fenômeno linguístico, com as

duas Tradições só encaminha o pesquisador a entender melhor a complexidade do

objeto em estudo.

A partir dessa compreensão, ao observarmos a sintaxe, percebemos que as

estruturas sintáticas assumem, para além do prescrito na Tradição Gramatical, uma

estrutura mutável em decorrência da variação discursiva, como descrito na Tradição

Linguística. Em razão disso, muitas vezes, os parâmetros da gramática prescritiva são

desconstruídos quando se reconhece, na língua, sua função comunicativa. O que não

constitui o nosso propósito nem no lugar de pesquisadora, nem no lugar de professora

de Língua Portuguesa. Reconhecemos o valor e importância da Tradição Gramatical, no

entanto, para o estudo que nos propomos a realizar, investigamos além do posto nessa

tradição, a Tradição Linguística.

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As estruturas sintáticas se organizam a partir da necessidade advinda da situação

de comunicação, como afirmam Martelotta e Kenedy (2015)

A sintaxe tem a forma que tem em razão das estratégias de organização da

informação empregadas pelos falantes no momento da interação discursiva.

Dessa maneira, para compreender o fenômeno sintático, seria preciso estudar

a língua em uso, em seus contextos discursivos específicos, pois é nesse

espaço que a gramática é constituída.

(MARTELOTTA; KENEDY, 2015, p. 17)

Partindo dessa compreensão, entendemos que a língua, analisada a partir das

concepções funcionalistas, é composta por estruturas gramaticais que agem como

variáveis dependentes das circunstâncias discursivas que a envolvem em situação de

uso, diante disso, paradigmas estabelecidos pela Gramática Normativa para a análise

sintática demonstram a necessidade de expandir essa análise, flexibilizando, assim, as

normas a partir do que se vê em uma língua em funcionamento.

Nessa perspectiva, nortearemos nosso estudo pelo paradigma funcionalista que

tem como objeto de estudo a língua em uso em dado tempo, local e registro.

Especificamente, trataremos da Transitividade Verbal, tendo em vista a necessidade de

analisar sintaticamente o fenômeno linguístico à luz do Funcionalismo, ultrapassando,

dessa forma, os conceitos normativos estabelecidos pela gramática prescritiva.

Nosso estudo foi motivado pela observação, enquanto docente, da dificuldade

demonstrada pelos discentes na aprendizagem de alguns conteúdos gramaticais,

sobretudo a Transitividade Verbal, até então apresentada seguindo os padrões prescritos

na Gramática Normativa. Indagando-nos, portanto, se a dificuldade apresentada é

motivada pelo direcionamento dado no material didático, neste caso, o livro, para a

abordagem do tema em questão. Diante disso, hipotetizamos que a abordagem teórica

adotada na prática docente, apoiada no livro didático escolhido, pode ser um dos fatores

que contribua para a baixa compreensão da Transitividade Verbal. Assim, para validar

essa hipótese, objetivamos, neste trabalho, compreender o fenômeno gramatical em

questão na Tradição Gramatical e na linguística para discuti-lo a partir da perspectiva

funcionalista, assim como propor a aplicação de uma sequência didática pautada em

padrões que privilegiem a função linguística. Dessa forma, chegaremos a resultados que

comprovarão ou não a hipótese mencionada.

Para tanto, nossa Dissertação está dividida em seis seções. Na segunda seção, A

Transitividade Verbal, faremos um estudo bibliográfico acerca do que diz a Tradição

Gramatical e a Tradição Linguística sobre a Transitividade Verbal até chegarmos ao

corpus da nossa pesquisa que é analisar a proposta do Livro Didático para o ensino da

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Transitividade Verbal a fim de entendermos por que os aprendizes apresentam tantas

dificuldades para compreender o assunto em questão e propormos uma sequência

didática que contribua para esse aprendizado.

O aporte teórico da segunda seção ancora-se nos trabalhos de Cunha e Cintra

(2001), Cegalla (2005), Bechara (2007) e Rocha Lima (2008), no que se refere à

Tradição Gramatical. E, na Tradição Linguística, estabelecemos um diálogo com

Azeredo (2002), Perini (2002) e Castilho (2016). Nessa seção, trazemos, ainda, estudos

contemporâneos pautados na ótica funcionalista, mais precisamente da Linguística

Funcional Norte-Americana, a saber, Hopper e Thompson (1980), Cunha e Souza

(2011), Abraçado e Kenedy (2014) e Furtado da Cunha, Oliveira e Martelotta (2015).

Tendo em vista que, nesta Dissertação, tentamos responder a indagação surgida

a partir da dificuldade apresentada pelos alunos, em aprender o assunto Transitividade

Verbal ministrado em aulas de Língua Portuguesa com o apoio do livro didático,

analisaremos, ainda na segunda seção, alguns livros didáticos do Ensino Fundamental II

que abordam o assunto em pauta, a saber, coleção Português: Dialogando com textos

dos autores Beatriz Marcondes, Lenira Buscato e Paula Parisi, 6ª e 7ª série (2006);

Português: projeto Radix cujos autores são Ernani Terra e Floriana Toscano Cavallete,

8º e 9º anos (2009); Coleção Português e Linguagens dos autores Willian Cereja e

Thereza Cochar Magalhães, 7º ano (2015).

O principal objetivo da segunda seção, cujo conteúdo é um estudo bibliográfico,

é perceber como a transitividade tem sido tratada nos compêndios pesquisados, assim

como é proposto para ser ensinado nas turmas de Ensino Fundamental II através dos

livros didáticos.

Na terceira seção, Metodologia, detalhamos os procedimentos metodológicos

propostos para a coleta de dados, além de apresentarmos os participantes do projeto e a

Instituição onde o projeto foi desenvolvido. Reiteramos, portanto, que trabalhamos com

uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental II do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira

na cidade de Vitória da Conquista.

Para esse propósito apresentaremos, na quarta seção, Proposta de Intervenção,

uma sequência didática que contempla o estudo da Transitividade Verbal a partir da

perspectiva funcionalista norte-americana pautada, especificamente, nos estudos

linguísticos de Hopper e Thompsom (1980) que propõem parâmetros para o estudo da

transitividade. Esses parâmetros são a maneira de aferir a gradiência da transitividade,

identificando-a em alta/maior ou baixa/menor transitividade da oração. Vemos, nessa

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proposta, portanto, a possibilidade de transferência da ação a partir de vários ângulos e

não apenas da relação verbo-objeto, como sugere a Gramática Normativa.

Desse modo, objetivamos, nessa quarta seção, informar detalhadamente a

proposta de intervenção consolidada através da sequência didática apresentada,

proporcionando, assim, aos discentes a compreensão do assunto em questão como sendo

um evento que diz respeito à oração e não apenas ao verbo. Esperamos, com isso, que

os aprendizes compreendam a Transitividade Verbal a partir dessa nova perspectiva.

Diante da pesquisa bibliográfica, pressupostos metodológicos e descrição da

proposta de intervenção, discutimos na quinta seção, intitulada Análise e discussão dos

dados, os resultados encontrados em nossa pesquisa de campo. Nessa etapa,

encontramos as respostas necessárias para a confirmação das hipóteses, anteriormente

mencionadas, estabelecendo, assim, uma discussão acerca da funcionalidade dos

parâmetros da transitividade aplicados em sala de aula com os alunos do 8º ano do

Ensino Fundamental.

Pretendemos, com esta Dissertação, apresentar uma proposta de ensino relevante

para a prática pedagógica, capaz de minimizar as dificuldades apresentadas pelos alunos

no que se refere à compreensão de alguns conteúdos ministrados nas aulas de Língua

Portuguesa. Por isso, a pesquisa empenhada nesta Dissertação se estende à sala de aula

através das atividades práticas para que seja possível tratar do assunto com propriedade

e apontar uma proposta de intervenção. Assim, fazemos um convite, em especial, aos

professores de Língua Portuguesa, para apreciação do conteúdo desta Dissertação que

tenta lançar um olhar diferenciado para o ensino de gramática.

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2 A TRANSITIVIDADE VERBAL

O fenômeno da transitividade é um evento gramatical e, por estar ligado ao

verbo, apresenta a nomenclatura Transitividade Verbal. Assim, para compreender esse

evento gramatical, abordaremos, nesta seção, a Transitividade Verbal na perspectiva da

Tradição Gramatical ancorando-se no que defendem os gramáticos Cunha e Cintra

(2001), Cegalla (2005), Bechara (2007) e Rocha Lima (2008); na perspectiva da

Tradição Linguística, com fundamentação teórica nos estudos de Azeredo (2002), Perini

(2002) e Castilho (2016); no Funcionalismo Linguístico, valemo-nos das contribuições

de Cunha e Souza (2011), Abraçado e Kenedy (2014) e Furtado da Cunha, Oliveira e

Martelotta (2015). Seguindo as concepções funcionalistas norte-americanas,

discutiremos os parâmetros propostos por Hopper e Thompson (1980) e, para

complementar nossa pesquisa bibliográfica, buscamos alguns estudos recentes sobre o

tema em Silva (2011) e Sampaio (2015). Partindo desse aparato teórico, faremos uma

análise crítica do livro didático do 7º ano, pertencente à coleção de Cereja e Magalhães

(2015) a fim de identificar a fundamentação teórica preconizada por esse instrumento

tão necessário no espaço escolar e, assim, analisar se a abordagem feita pelo livro

didático contribui com a aprendizagem da Transitividade Verbal e de que forma isso é

realizado.

2.1 O QUE É TRANSITIVIDADE?

A Transitividade Verbal é, a rigor, muito discutida nos estudos linguísticos,

dentre outros, nos estudos de Hopper e Thompson (1980), Azeredo (2002), Perini

(2002), Cunha e Souza (2011), Kenedy e Abraçado (2014), Castilho (2016), por se

tratar de um fenômeno complexo e que propõe várias reflexões sobre seu uso. Por isso,

estudar esse tema requer uma análise minuciosa de verbos e dos termos que os cercam.

O nosso estudo sobre Transitividade Verbal partiu da investigação do verbo

transitar, que tem sua origem etimológica no latim transire e, segundo o Dicionário

Houaiss (2001) significa “passar de um lugar a outro; passar”. Essa definição leva-nos a

compreensão de que há uma relação muito próxima do sentido do verbo e o que sugere

ser a transitividade como afirma Tavares e Bezerra (2011)

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O termo transitividade, do latim transitivus (que vai além, que se transmite),

refere-se, no âmbito dos estudos gramaticais, ao grau de completude

sintático-semântica de itens lexicais empregados na codificação linguística de

eventos, de acordo com diversas possibilidades de transferência de uma

atividade de um agente para um paciente.

(TAVARES; BEZERRA, 2011 apud CUNHA; SOUZA, 2011, p. 9)

Com base nessa noção etimológica do termo transitividade, fica evidente que se

refere à possibilidade de o verbo poder transitar, transferindo, dessa forma, a ação de

um agente para um paciente.

Assim, buscando identificar conceitos de transitividade que facilitem sua

compreensão, faremos, na próxima subseção, um breve percurso histórico partindo da

análise do assunto em gramáticas históricas.

2.2 UM BREVE PERCURSO PELA GRAMÁTICA HISTÓRICA SOBRE A

TRANSITIVIDADE VERBAL

A visão de língua heterogênea perpassa a história da Língua Portuguesa e com

ela a divisão nas modalidades formal e informal. Assim, desde o século II d.C com a

preocupação em sistematizar a língua, foram apresentados os primeiros conceitos

gramaticais (MARQUES, 2008).

“Do ponto de vista histórico, coube aos gramáticos alexandrinos a organização

das bases de Tradição Gramatical do ocidente.” (MARQUES, 2008, p. 29) Para eles, a

gramática deveria ser pura e protegida das influências das línguas bárbaras que

poderiam corrompê-la com seus dialetos. A partir dessa primeira preocupação, surge o

estudo da sintaxe e as primeiras reflexões sobre Transitividade Verbal, como afirma

Marques (2008)

A preocupação com a sintaxe só apareceria no século II d.C com Apolônio

Díscolo, que foi o primeiro alexandrino a preocupar-se com o estudo que as

palavras estabelecem entre si. É com ele que nasce o estudo da sintaxe e das

primeiras noções de Transitividade Verbal no ocidente, já que se preocupou

com o estudo das relações de passividade e atividade.

(MARQUES, 2008, p. 29)

Dessa forma, a transitividade foi, previamente, definida como uma característica

dos verbos que permitem transitar da voz ativa para a voz passiva.

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20

Para compor nossa discussão, escolhemos três autores tradicionais que analisam,

historicamente, os fenômenos linguísticos, a saber, Pereira (1958) e os gramáticos

históricos Said Ali (1964) e Coutinho (2004).

Pereira (1958) parte do pressuposto de que o complemento é o fator relevante

para classificar os verbos quanto à transitividade. Assim, ele os classifica em transitivo,

intransitivo, relativo, transitivo-relativo e de ligação. Pereira (1958) entende como

transitivo ou objetivo “[...] o verbo ativo de predicação incompleta” (PEREIRA, 1958,

p. 163). Nessa perspectiva, o autor atribui mais duas classificações aos verbos de

predicação incompleta, identificados como relativo e transitivo-relativo. Ele classifica

como relativos os transitivos indiretos por entender que exigem um termo de relação,

chamado de “complemento terminativo ou objeto indireto” (PEREIRA, 1958, p. 164).

Em uma associação com as definições apresentadas pela gramática normativa, teríamos,

nesse caso, um verbo transitivo indireto. A próxima classificação para os verbos de

predicação incompleta é a de transitivo-relativo, atribuída aos verbos de “predicação

duplamente incompleta”, isto é, aqueles que, na compreensão do autor, exigem dois

complementos, um objeto direto e outro indireto, chamados pela gramática normativa

de bitransitivos. Já o verbo intransitivo ou subjetivo caracteriza-se como um “verbo de

sentido ativo ou neutro de predicação completa”. (PEREIRA, 1958, p. 164)

Said Ali (1964) identifica os verbos como nocionais e relacionais1, atribuindo a

transitividade aos verbos nocionais, entendidos, por ele, como transitivos e intransitivos.

Sendo, portanto, denominados intransitivos os verbos que não necessitam de outro

termo para complementar seu sentido. Enquanto que os transitivos são aqueles cujo

sentido se completa com outro termo, nesse caso, um substantivo chamado de objeto

direto ou indireto. O objeto direto é assim denominado porque se refere à pessoa ou a

coisa que recebe a ação. Diante dessa definição, ele estabelece uma relação sintático-

semântica entre o termo agente e o paciente na mesma oração. Mas reconhece a

complexidade do fenômeno gramatical em questão ao afirmar que

Não é possível, contudo, definir com tal critério todos os verbos transitivos.

Em ouvir um ruído, pedir dinheiro, inventar o pára-raios, escrever uma

carta, os objetos diretos certamente não denotam os pacientes ou recipientes

dos atos ouvir, pedir, inventar, escrever.

(SAID ALI, 1964, p.95, grifos do autor)

1Said Ali (1964) identifica como verbos nocionais aqueles que se empregam com função predicativa. Na

compreensão da gramática normativa são aqueles que estão acompanhados de objeto direto e/ou objeto

indireto ou nem necessitam de complemento. Já os verbos relacionais são, para ele, os verbos de ligação

ou os verbos auxiliares.

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Diferentemente das concepções apresentadas anteriormente, Coutinho (2004)

cita Transitividade Verbal apenas como fenômeno relevante para explicar casos de

analogia sintática que ocorrem na regência, afirmando que “[...] os verbos transitivos

diretos são em quantidade muito maior que os indiretos. Isso justifica a tendência que

manifesta o povo para considerar transitivos diretos muitos verbos que não o são. Neste

rol, estão: presidir, assistir, perdoar, responder, mirar” (COUTINHO, 2004, p. 161) A

partir dessa afirmação, é possível identificarmos que Coutinho (2004), ao registrar o uso

da língua observa que muitos falantes eliminam a preposição em situações em que seria

necessária. Dessa forma, o gramático compartilha a concepção de transitividade

abordada pela Tradição Gramatical, que será apresentada na subseção a seguir.

Diante das contribuições dadas pelos gramáticos estudados na primeira parte

desta seção, em linhas gerais, podemos afirmar que, na abordagem histórica focada na

mudança da língua, a transitividade é abordada como um fenômeno que surge a partir

do verbo que permite transitar da voz ativa para a voz passiva sem, contudo,

comprometer a relação sintático-semântica entre agente e paciente.

2.3 A TRANSITIVIDADE VERBAL NA PERSPECTIVA DA TRADIÇÃO

GRAMATICAL

Nesta subseção abordaremos a transitividade sob a perspectiva da Tradição

Gramatical, doravante (TG), apresentada nos compêndios de Língua Portuguesa,

doravante (LP), com o propósito de compreendermos como o sujeito se relaciona com

seus objetos.

Embora os estudos linguísticos ganhem mais espaço a cada dia com formas

inovadoras de se entender as línguas ditas naturais, o ensino de LP ainda está bem

direcionado pela TG, visto que há uma cobrança, principalmente através de avaliações

externas, daquilo que prescreve essa tradição.

Com essa visão, a TG, em uma abordagem prescritiva, define que a língua

encontra-se estruturada em conceitos e normas que elencam “[...] os fatos recomendados

como modelares da exemplaridade idiomática para serem utilizados em circunstâncias

especiais do convívio social.” (BECHARA, 2007, p.52).

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Falaremos, aqui, dos conceitos gramaticais que dizem respeito à transitividade.

Para tanto, verificaremos esse evento nas seguintes gramáticas normativas: Cunha e

Cintra (2001), Cegalla (2005), Bechara (2007) e Rocha Lima (2008).

Cegalla (2005), em uma breve conceituação a respeito da Transitividade Verbal,

identifica os verbos como aqueles que têm predicação completa e predicação

incompleta, associando, portanto, a transitividade à noção de complementaridade de

sentido. Dessa forma, são entendidos como verbos intransitivos os que “[...] têm sentido

completo, podendo por si mesmos, construir o predicado: são os verbos de predicação

completa” (CEGALLA, 2005, p. 335), enquanto que os verbos transitivos são

classificados como aqueles “[...] que para integrar o predicado necessitam de outros

termos: são os verbos de predicação incompleta” (CEGALLA, 2005, p. 335)

Em suas observações sobre o tema, o autor acrescenta que “[...] as orações

formadas por verbos intransitivos não podem „transitar‟ (=passar) para a voz passiva.

[...] passando, ocasionalmente, a transitivos quando construídos com objeto direto ou

indireto.” (CEGALLA, 2005, p. 336) Essa afirmação suscita questionamentos. Basta

observarmos o exemplo dado por Cegalla (2005, p. 336): „Depois me deitei e dormi um

sono pesado.‟ Se observarmos a parte destacada e a colocarmos na voz passiva,

conforme sugere Cegalla (2005), teremos a frase: [...] um sono pesado foi dormido por

mim. Diante disso, o autor afirma que essa situação contraria a teoria da possibilidade

de voz passiva diante do objeto direto, pois, embora pareça uma construção possível de,

em determinado contexto (informal), ser realizada, é uma construção agramatical.

Rocha Lima (2008), por sua vez, chama o verbo de “palavra regente por

excelência”, pois, é por exigência dele que surgem os complementos. Mas é, segundo

ele, o tipo de complemento que define a classificação do verbo quanto à transitividade.

Dessa forma, os verbos são classificados como:

a) Intransitivos, que encerrando em si a noção predicativa, dispensam

quaisquer complementos.

b) Transitivos diretos, que exigem a presença de um objeto direto.

c) Transitivos indiretos, que pedem a presença de um objeto indireto -,

complemento este, aliás, que o mais das vezes independe da regência

verbal.

d) Transitivos relativos, que apresentam um complemento preposicional,

chamado relativo.

e) Transitivos circunstanciais, que requerem um complemento,

preposicional ou não, chamado circunstancial.

f) Bitransitivos, que têm concomitantemente um objeto direto e um objeto

indireto, ou um objeto direto e um complemento relativo.

(ROCHA LIMA, 2008, p. 340)

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Para o autor citado, o verbo, em sua maioria, não é capaz de apresentar

sequência coerente sem seu complemento. Para ele, verbo e objeto formam uma

expressão semântica. Portanto, em frases do tipo “O sofrimento torna os homens

humanos”- o termo humanos é exigido pela expressão torna os homens, chamada de

“expressão semântica”. Sendo assim, Rocha Lima (2008) classifica o verbo tornar

como transobjetivo, “[...] porque a compreensão do fato verbal vai além do objeto

direto” (p. 342). Com isso, o autor acrescenta que para os verbos transitivos não há

apenas objeto direto (OD), subdividindo-os em Transitivo Direto (TD), Transitivo

Indireto (TI), Transitivo Relativo (TR) e Transitivo Circunstancial (TC).

É pertinente, portanto, uma abordagem das definições de TR e TC por se

diferenciarem dos TD e TI que são bastante conhecidas na gramática tradicional.

Segundo Rocha Lima (2008), os verbos classificados como transitivos relativos são

aqueles que “se pronominalizam” e cujo “objeto direto se faz reger de preposição”

(p.342). Por exemplo, “aproveitar as circunstâncias / aproveitar-se das circunstâncias".2

No caso do verbo transitivo circunstancial, o complemento pode ser

preposicional ou não sem que o verbo sofra mudança em seu significado, como

exemplifica Rocha Lima (2008, p. 343), “usar meios legais ou de meios legais; esperar

alguém ou por alguém”.

Diante dessa concepção, percebemos que, mesmo preso ao paradigma

tradicional, Rocha Lima (2008) entende que a transitividade não é única do verbo, mas

da relação sintático-semântica entre o verbo e o objeto.

Cunha e Cintra (2001) tomam como ponto de partida a extensão da ação verbal

para classificar os verbos de acordo com a transitividade. Dessa forma, os gramáticos

identificam os verbos em relação à transitividade como, intransitivo: quando a ação está

integralmente contida no verbo; transitivo: quando o processo verbal não está apenas no

verbo, mas também em outros elementos da frase. Ainda, segundo eles, a Transitividade

Verbal é um evento que só pode ser analisado a partir do contexto, pois não é o verbo

que definirá a transitividade, mas, sim, os complementos.

Pautando-se na abordagem apresentada por Cunha e Cintra (2001) a respeito da

transitividade, identificamos a variabilidade na classificação quando analisamos verbos

como ensinar que pode ser entendido como TD, TI, intransitivo ou bitransitivo,

dependendo do contexto em que esteja inserido.

2 Exemplos de Rocha Lima (ROCHA LIMA, 2008, p. 343)

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Vejamos os exemplos:

Perdoai sempre. [= INTRANSITIVO]

Perdoai as ofensas. [ = TRANSITIVO DIRETO]

Perdoai aos inimigos. [ = TRANSITIVO INDIRETO]

Perdoai as ofensas aos inimigos.[ = TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO]

Por que sonhas, ó jovem poeta? [ = INTRANSITIVO]

Sonhei um sonho guinholesco. [ = TRANSITIVO DIRETO]

(CUNHA; CINTRA, 2001, p. 138)

A rigor, os autores Cunha e Cintra (2001), Cegalla (2005) e Rocha Lima (2008)

comungam da mesma definição de transitividade. Sendo, portanto, transitivos aqueles

que transitam nas vozes do verbo (ativa / passiva) e que, na voz ativa, necessita de um

complemento que, em alguns casos, está ligado ao verbo por uma preposição; e por

verbo intransitivo aquele que apresenta sentido completo, ou seja, a ação encerra-se no

verbo.

Para Bechara (2007), a transitividade está ligada à função predicativa da oração

numa relação sintático-semântica entre o verbo e o que ele chama de “termos

nucleares”. Para chegar à compreensão dos termos integrantes da oração, Bechara

(2007) sistematiza seu estudo apresentando “[...] noções que dizem respeito a termos

nucleares e marginais e termos argumentais e não-argumentais, termos opcionais e

não-opcionais, e, finalmente, termos integrais e não-integrais” (BECHARA, 2007, p.

411).

Termos nucleares, segundo Bechara (2007), não é o núcleo do predicado,

entendido como o verbo, mas os termos que se referem “[...] sintático e semanticamente

às funções predicativas da oração”. Já os termos da oração que não estão diretamente

ligados às funções predicativas são entendidos como marginais. Para entendermos tais

definições, tomemos o exemplo dado pelo próprio autor

Certamente, Graciliano viveu experiências amargas durante sua vida.

Graciliano, certamente, viveu experiências amargas durante sua vida.

Graciliano viveu, certamente, experiências amargas durante sua vida.

Graciliano viveu experiências amargas, certamente, durante sua vida.

Graciliano viveu experiências amargas durante sua vida, certamente.

(BECHARA, 2007, p. 412)

O termo certamente se desloca na frase sem comprometer a semântica da oração.

Sendo, portanto, entendido como termo marginal, enquanto que experiências amargas e

durante sua vida são termos nucleares, pois estão ligados ao verbo viveu em qualquer

que seja a posição, independente da presença de elementos intermitentes. (Bechara,

2007).

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Além dos termos discutidos anteriormente, Bechara (2007) apresenta os termos

argumentais e não-argumentais, entendidos a partir do grau de dependência ou

independência, respectivamente, sintático-semântico em relação ao predicado. São

chamados de termos argumentais ou argumentos os complementos verbais, sendo,

portanto, “[...] solicitado ou regido pelo significado lexical referido pelo verbo”

(BECHARA, 2007, p. 412). Já os termos não-argumentais são os adjuntos adverbiais

que são solicitados ou regidos pelo verbo, mas que, por ser um termo nuclear, refere-se

ao predicado da oração. O fato de estabelecer uma relação sintático-semântica com o

verbo é o que diferencia o termo não-argumental do marginal, entendido como um

“comentário à parte do narrador”. Bechara (2007), assim, esclarece os termos

mencionados,

É oportuno lembrar que o termo argumental o é por motivação das

características sintáticas e semânticas da relação predicativa, e não apenas

pelo conteúdo designado. Assim, uma noção de lugar como no Brasil pode

funcionar como argumental ou complemento da oração (1), e como não-

argumental na oração (2):

(1) Ele mora no Brasil.

(2) Ele trabalha no Brasil.

(BECHARA, 2007, p.413)

Segundo a definição do autor, a omissão do termo no Brasil na oração (2) não

suscita um complemento (Ele trabalha). Com isso, o autor não justifica essa situação

classificando o verbo trabalha como intransitivo, mas como um verbo que, em sua

relação sintático-semântica com os outros termos do predicado, permite a omissão do

termo no Brasil sem comprometer a semântica da frase. No caso da oração (1) o mesmo

não é possível, pois “não se pode prescindir de no Brasil”. Ou seja, o verbo morar

suscita um complemento para compreensão da oração.

Quanto aos termos opcionais e não-opcionais, refere-se à ausência ou não de

termos que acompanham o verbo e que, muitas vezes, não precisa ser repetida dada a

situação do contexto. Isso porque “o saber sobre as coisas do mundo extralinguístico”,

permite-nos, segundo Bechara (2007), fazer o uso do “emprego absoluto” de verbos que

não estão acompanhados de seus argumentos ou complementos, pois seu léxico traz,

implicitamente, o que designa o verbo.

Por fim, os termos integráveis são os objetos direto e indireto, porque permitem

ser substituídos por pronomes oblíquos. Isso não ocorre nos termos não-integráveis,

pois o verbo do predicado é preposicionado.

Alguns verbos são dotados de conteúdo léxico de “grande extensão semântica”

e, portanto, precisam ser delimitados semanticamente. Essa função de “delimitadores

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semânticos verbais” é cumprida pelos argumentos ou complementos verbais. Assim,

Bechara (2007) afirma que os verbos que necessitam dessa delimitação semântica

recebem o nome de transitivos.

Vemos, aqui, que o conteúdo léxico é o que determina a transitividade, pois, ao

contrário dos verbos transitivos, os verbos intransitivos são entendidos como aqueles

que não têm grande extensão semântica, não necessitando, dessa forma, de outros

signos lexicais.

Há casos em que o mesmo verbo pode ser entendido como transitivo ou

intransitivo. Vejamos o exemplo dado por Bechara (2007, p. 415)

Eles comeram maçãs. (transitivo)

Eles não comeram. (intransitivo)

Assim, o autor conclui que “[...] a oposição entre transitivo e intransitivo não é

absoluta, e mais pertence ao léxico do que à gramática.” (2007, p. 415)

Dessa forma, Bechara (2007) corrobora com Cunha e Cintra (2001) ao indicar a

variabilidade da predicação verbal como um fenômeno motivado pelo contexto e não

pela estrutura gramatical.

Verificamos, nas gramáticas normativas analisadas, que a transitividade é um

processo verbal da predicação. Portanto, para identificar a transitividade de um verbo, é

necessário analisar a relação sintático-semântica entre verbo e complemento, pois é o

conteúdo léxico que vai definir se o verbo é transitivo ou intransitivo.

Para melhor compreensão do que foi abordado a respeito da Transitividade

Verbal sob a perspectiva da Tradição Gramatical, elaboramos um quadro síntese que

reúne os principais conceitos sobre o tema.

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Quadro 1 – síntese da pesquisa bibliográfica sobre a Transitividade Verbal na

perspectiva da Tradição Gramatical Classificação

dos verbos

quanto à

Transitividade

Verbal

Referência

Cunha e Cintra

(2001)

Cegalla (2005)

Bechara (2007)

Rocha Lima (2008)

Intransitivo Quando a “ação

está integralmente

contida na forma

verbal.”

Verbos com

predicação

completa.

Verbos que não

têm grande

extensão

semântica, por isso

não necessitam de

outros signos

léxicos.

Os verbos que

dispensam

quaisquer

complementos.

Transitivo

direto/indireto

Quando o

processo verbal

não está apenas

no verbo, mas

também em

outros elementos

da frase.

Verbos com

predicação

incompleta, por isso

necessitam de

outros termos para

integrar o

predicado.

São os verbos que,

a partir de seu

significado lexical,

solicitam

complementos

verbais, chamados

pelo gramático de

argumento ou

termo argumental.

Verbos que exigem a

presença de objetos

diretos e/ou

indiretos.

Bitransitivos Verbos que

“requerem

simultaneamente

objeto direto e

indireto para

completar-lhes o

sentido.”

Quando o verbo

necessita de um

objeto direto e um

objeto indireto

simultaneamente.

O gramático não

usa a nomenclatura

bitransitivo, apenas

reconhece que, em

predicados

complexos, mais

de um signo léxico

podem compor a

estrutura (verbo +

argumento).

Aqueles que

apresentam,

concomitantemente,

um objeto direto e

um objeto indireto.

Transitivos

circunstanciais

Verbos que

requerem um

complemento,

preposicional ou

não, chamado

circunstancial.

Transitivos

relativos

Aqueles que

apresentam um

complemento

preposicional,

chamado relativo.

O que define a

transitividade

A transitividade é

analisada a partir

da extensão da

ação verbal,

portanto quem a

define não é o

verbo, mas, sim,

os complementos.

Transitividade é

definida a partir da

noção de

complementaridade

de sentido.

O conteúdo léxico

é o que define a

transitividade.

A transitividade não

é única do verbo,

mas da relação

sintático-semântica

entre o verbo e o

objeto.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Diante desse panorama apresentado no Quadro 1, observamos que a visão

tradicional direciona a transitividade ao verbo, embora gramáticos como, Cunha e

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Cintra (2001) e Bechara (2007) atribuam essa classificação aos complementos e seu

conteúdo lexical.

Realizado esse percurso, continuaremos, na próxima subseção, a abordagem

sobre Transitividade Verbal, pautando-se, contudo, nos eventos que constituem a língua

em uso e, assim, a discussão será norteada pela Tradição Linguística.

2.4 A TRANSITIVIDADE VERBAL NA PERSPECTIVA DA TRADIÇÃO

LINGUÍSTICA

É nas gramáticas, sobretudo nas descritivas, que encontramos os registros de

estudos gramaticais pautados na descrição de uma língua em uso, diferenciando-se,

portanto, da gramática prescritiva que se preocupa com a variedade culta, sobretudo na

modalidade escrita. Não queremos, com esse estudo, desprestigiar ou priorizar uma ou

outra, o que nos motiva, aqui, é o trato que é dado nas gramáticas prescritivas e

descritivas às variedades priorizadas em cada uma delas.

Assim, entendemos que as regras e convenções da gramática normativa não são

ignoradas na abordagem descritiva, mas pretende-se desfazer o equívoco criado pela

Tradição Gramatical em propagar que a variedade padrão é indispensável em variadas

situações de comunicação (AZEREDO, 2002).

Nesta subseção, analisaremos a Transitividade Verbal na perspectiva da

Tradição Linguística, doravante TL. Para tanto, estudaremos as gramáticas descritivas

de Azeredo (2002), Perini (2002) e Castilho (2016).

Azeredo (2002) faz uma abordagem sucinta acerca da Transitividade Verbal

identificando diferentes “classes sintáticas de verbo”, assim:

verbos que recusam sintagmas nominais (chover, amanhecer,

trovejar) – impessoais intransitivos;

verbos que se constroem com apenas um sintagma na função de

sujeito (morrer, nascer, chegar, surgir, correr, brilhar) – pessoais

intransitivos;

verbos que se constroem com dois sintagmas, um na função de

sujeito e outro na função de complemento, este algumas vezes

facultativo (acompanhar, resumir, gostar, escrever, concordar) –

transitivos diretos e transitivos relativos;

verbos que se constroem com três sintagmas, um no papel de sujeito

e dois no papel de complemento (dar, entregar, oferecer, chamar,

nomear, transformar) – bitransitivos.

(AZEREDO, 2002, p. 171, §346)

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Ainda segundo Azeredo (2002), “o verbo ocupa o centro da construção da

oração” determinando os sintagmas que o cercam. Podendo, portanto, vir acompanhado

de 1 ou mais SN. Assim, a essas “posições estruturais” que partem do verbo para

compor a frase, ele chama de valências.

Perini (2002), por seu turno, classifica a Transitividade Verbal como um caso

particular de regência. Ele faz uma crítica ao conceito tradicional de transitividade que

está diretamente ligado à presença ou ausência de um objeto. E, ainda tece comentários

a respeito dos posicionamentos de alguns autores que atribuem ao contexto a noção de

transitividade. Segundo ele, para fazer uma análise precisa da transitividade nos

parâmetros descritivos, é necessário analisar observando as relações sintagmática e

paradigmática. Embora o problema apontado por Perini (2002) na Tradição Gramatical

não esteja em todos os verbos, mas naqueles que mesmo identificados como transitivos,

podem, numa análise que parta do contexto, se comportarem como intransitivos. Esse

fato se explica com o verbo comer, por exemplo. “Meu gato já comeu todo o mingau. /

Meu gato já comeu.” (PERINI, 2002, p. 162) No primeiro caso, o verbo comeu é

identificado como transitivo e, no segundo, como intransitivo. Na concepção do autor,

fatos como esse não são satisfatoriamente explicados pelo “sistema tradicional”.

Para sanar problemas desse tipo, Perini (2002) propõe que além das noções de

“exigência” e “recusa” do objeto direto, acrescenta-se a de “aceitação livre”. Assim, em

frases do tipo

(1) “Meu irmãozinho nasceu no sábado.”

(2) “Evaristo faz várias cortinas.”

(3) “Meu gato já comeu todo o mingau.”

(4) “Meu gato já comeu.”3

Na frase (1), o verbo nascer recusa objeto direto; em (2), fazer exige objeto direto;

em (3) e (4), comer aceita livremente objeto direto. Com esse entendimento, Perini

(2002) afirma que “[...] a descrição das transitividades deve ser feita em termos de

exigência, recusa e aceitação livre de cada uma das funções relevantes.” (p. 164)

Um segundo problema identificado por Perini (2002) na Tradição Gramatical em

relação à transitividade diz respeito à classificação dos transitivos e dos verbos de

ligação. Para chegar a um melhor entendimento desse aspecto, ele elenca “algumas

3Exemplos de Perini (2002)

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funções como relevantes”, entendidas como “aquelas que são exigidas ou então

recusadas por algum verbo” (2002, p. 166)

São relevantes o objeto direto, o adjunto circunstancial (que inclui os casos

tradicionais de “objeto direto”, mais muitos outros casos), o complemento do

predicado (correspondente aproximado do “predicativo do sujeito”) e o

predicativo (que corresponde, aproximadamente, ao “predicativo do objeto”

tradicional).

(PERINI, 2002, p. 166)

A partir dessa definição, Perini (2002) define matrizes de Transitividade Verbal,

“baseadas em funções cujas definições são puramente sintáticas”, para descrever a

transitividade dos verbos. As matrizes4 se referem às inúmeras formas de exprimir a

Transitividade Verbal a partir das quatro funções relevantes: objeto direto (OD),

adjunto circunstancial (AC), complemento do predicativo (CP) e predicativo (Pv) e,

para cada uma delas, três possibilidades para descrever a transitividade dos verbos que

são entendidas a partir das concepções de exigência (Ex), recusa (Rec) ou aceitação

livre (L). Portanto, Perini (2002) define que

A transitividade completa de um verbo é representada por um grupo de

traços, uma para cada função relevante. Assim, a transitividade de comer é

[L-OD, Rec-CP, L-AC, Rec-Pv]: esse verbo aceita livremente o OD e o AC,

e recusa o complemento do predicado e o predicativo.

(PERINI, 2002, p.165)

Segundo ele, isso não é possível na gramática tradicional que identifica apenas

cinco subclasses de verbos, a saber, transitivos diretos, transitivos indiretos, transitivos

diretos e indiretos ou bitransitivos, intransitivos e verbos de ligação, além do fato de que

essas definições são frutos de exigência e recusa, apenas.

Castilho (2016), por sua vez, vê a transitividade como um evento discursivo e,

assim, classifica-a:

A transitividade gramatical é uma propriedade da sentença, e não do verbo

que a constrói. Não há verbos exclusivamente transitivos, nem verbos

exclusivamente intransitivos. É o uso na sentença que explicita a decisão

tomada pelo falante.

(CASTILHO, 2016, p. 263)

4 Matrizes de transitividade verbal elaboradas por Perini (2002) para os respectivos verbos:

I. [L-OD, L-AC, Rec-Pv, Rec-CP]: comer / II. [Ex-OD, L-AC, Rec-Pv, Rec-CP]: encontrar

III. [Rec-OD, L-AC, Rec-Pv, Rec-CP]: acontecer / IV. [Rec-OD, Ex-AC, Rec-Pv, Rec-CP]:

morar

V. [Ex-OD, Ex-AC, Rec-Pv, Rec-CP]: acostumar / VI. [Ex-OD, L-AC, L-Pv, Rec-CP]:

considerar

VII. [L-OD, L-AC, L-Pv, L-CP]: julgar / VIII. [L-OD, L-AC, Rec-Pv, L-CP]: permanecer

IX. [Ex-(OD v AC), Rec-Pv, Rec-CP]: lembrar / X. [Ex-(CP v AC), Rec-OD, Rec-Pv]: estar

XI. [Ex-(CP v Pv), Ex-OD, L-AC]: sentir

As matrizes IX, X e XI se referem a verbos que apresentam peculiaridades de exigir OD ou AC, ou

então CP ou AC, ou ainda CP ou Pv. (PERINI, 2002, p. 166)

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Partindo da concepção de que a transitividade é propriedade da sentença, o verbo

é entendido como objeto predicador, predicando o sujeito (argumento externo) e os

argumentos internos (os complementos) (CASTILHO, 2016). Esse esquema leva a

compreensão de que as sentenças podem ser argumentais e não argumentais. Mesmo

sendo o verbo um articulador do sintagma verbal porque é ele que seleciona os

argumentos, a transitividade é atribuída à sentença, por isso elas são classificadas por

sentenças: monoargumentais, biargumentais e triargumentais.

Para compreender as novas nomenclaturas sobre a transitividade, Castilho

(2016) assim nos apresenta o quadro a seguir

Quadro 2 – Comparando terminologias sobre transitividade

GRAMÁTICA TRADICIONAL NOVA NOMENCLATURA

GRAMATICAL BRASILEIRA

ESTA GRAMÁTICA

Verbo intransitivo de ligação Predicado nominal Verbo monoargumental

Outros verbos intransitivos Predicado verbal Verbo monoargumental

Verbo transitivo direto Verbo biargumental

Verbo transitivo indireto

Verbo bitransitivo Verbo triargumental

Verbo transobjetivo Predicado verbo-nominal Sentença plena + minissentença

Fonte: CASTILHO, 2016, p. 263

Nessa análise, vimos que os verbos não argumentais são aqueles que não

apresentam sujeito nem argumento interno, acontece na maioria das vezes com os

impessoais e intransitivos simultaneamente, constituindo sentenças simples. Já os

verbos argumentais são aqueles que, na estrutura argumental da sentença, apresentam,

quase sempre, sujeito e complementos. Dessa forma, é o número de argumentos

apresentados nas sentenças que as classificarão em: monoargumentais, biargumentais e

triargumentais.

Para Castilho (2016), as sentenças são organizadas a partir de uma motivação

cognitiva, isso mostra que a funcionalidade da língua é o que impulsiona o novo modelo

sintático, pois, conforme o autor “[...] tudo é motivado nas estruturas das línguas

naturais” (p.329, grifo nosso).

Em suma, na tradição linguística, a transitividade é entendida como um

fenômeno que ultrapassa os limites do verbo, por isso não é possível determiná-la,

apenas, a partir das funções deste.

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Finalizando esta etapa da pesquisa sobre a transitividade a partir da ótica da TL,

apresentando o quadro a seguir para melhor entendermos o fenômeno linguístico em

questão.

Quadro 3 – Concepção de Transitividade Verbal na perspectiva da Tradição

Linguística Referência A transitividade na TL Classificação dos verbos

Azeredo (2002)

Entende que é o verbo que

determina a transitividade, por

ocupar “o centro da construção

da oração”.

- verbos que recusam sintagmas

nominais (chover, amanhecer,

trovejar) – impessoais

intransitivos;

- verbos que se constroem com

apenas um sintagma na função

de sujeito (morrer, nascer,

chegar, surgir, correr, brilhar) –

pessoais intransitivos;

- verbos que se constroem com

dois sintagmas, um na função de

sujeito e outro na função de

complemento, este algumas

vezes facultativo (acompanhar,

resumir, gostar, escrever,

concordar) – transitivos diretos e

transitivos relativos;

- verbos que se constroem com

três sintagmas, um no papel de

sujeito e dois no papel de

complemento (dar, entregar,

oferecer, chamar, nomear,

transformar) – bitransitivos.

Perini (2002)

Classifica a Transitividade

Verbal como um caso particular

de regência. Por isso, para uma

análise precisa da transitividade,

é necessário observar as relações

sintagmática e paradigmática.

Para Perini (2002) “a descrição

das transitividades deve ser feita

em termos de exigência, recusa

e aceitação livre [...]” (p.164)

- verbos que exigem termos

relevantes.

- verbos que recusam.

- verbos de aceitação livre

Nessa compreensão, a gramática

descritiva considera relevantes

objeto direto, adjunto

circunstancial (que inclui os

casos tradicionais de objeto

indireto), o complemento do

predicado (correspondente

aproximado do predicativo do

sujeito) e o predicativo (que

corresponde, aproximadamente,

ao predicativo do objeto).

Castilho (2016)

A transitividade é um evento

discursivo, por isso é atribuída à

sentença e não ao verbo.

- verbo monoargumental

(tradicionalmente conhecido

como intransitivo)

- verbo biargumental

(tradicionalmente conhecido

como transitivo direto e verbo

transitivo indireto)

- verbo triargumental

(tradicionalmente conhecido

como bitransitivo)

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

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Em linhas gerais, na Tradição Linguística, são reconhecidas a relevância e a

presença e/ou ausência dos objetos direto e indireto nas orações, assim como são vistas

outras possibilidades para classificar a transitividade, sem que seja atribuída

especificamente ao verbo.

Diante do que foi abordado nesta subseção, observamos que as formas

linguísticas são analisadas a partir dos fenômenos apresentados na língua em uso, por

isso somos instigadas e nos propomos, na próxima subseção, entender a transitividade

na perspectiva do Funcionalismo Linguístico.

2.4.1 A TRANSITIVIDADE VERBAL NA PERSPECTIVA DO FUNCIONALISMO

LINGUÍSTICO

Em oposição às correntes estruturalista e gerativista, surge o Funcionalismo com

a proposta de estudar os fenômenos linguísticos identificados em situações de

comunicação da língua. Dessa forma,

O pólo funcionalista caracteriza-se por conceber a língua como um

instrumento de comunicação que não pode ser analisado como um objeto

autônomo, mas como uma estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das

diferentes situações comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura

gramatical.

(MARTELOTTA; KENEDY, 2015, p. 14)

Essa nova concepção diferencia-se das correntes formalistas – Estruturalismo e

Gerativismo – especificamente porque, no Funcionalismo, a língua é vista como um

fenômeno de interação social e é estudada a partir das situações de uso, integrando o

componente pragmático ao sintático e ao semântico.

Nesse campo de estudo, prevalecem as condições discursivas do uso interativo

da língua. Isso não quer dizer que as convenções gramaticais deram lugar ao que surge

da oralidade, mas que há um novo olhar para a funcionalidade da linguagem. Assim, o

estudo da língua não se limita à estrutura gramatical, pois envolve também os

interlocutores imbuídos do processo de comunicação.

Um dos pressupostos centrais do funcionalismo é que o contexto de uso

motiva as diferentes construções sintáticas. Sendo assim, a estrutura da língua

só pode ser explicada levando-se em conta a comunicação na situação social.

O papel ou função comunicativa das formas linguísticas é o critério que

permite descobrir as regularidades que caracterizam a gramática da língua.

(CUNHA; SOUZA, 2011, p. 17)

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Diferentemente da gramática tradicional que vê a transitividade como uma

propriedade do verbo, as vertentes funcionalistas entendem esse fenômeno como algo

que se manifesta na totalidade da oração, considerando o verbo e os demais elementos

que a compõem (CUNHA; SOUZA, 2011). Desse modo, a compreensão funcionalista

sobre estudos gramaticais se opõe à Tradição Gramatical, especificamente, no que se

refere ao fato de, nesta, estudar a língua a partir da teoria sem observação dos eventos

do uso, enquanto que, para aquela, as situações reais de comunicação explicam as

convenções linguísticas.

Para esclarecer o estudo gramatical na perspectiva funcionalista, Cunha e Souza

(2011) afirmam que

A gramática das línguas naturais molda-se a partir das regularidades

observadas no uso interativo da língua, as quais são explicadas, por sua vez,

com base nas condições discursivas em que se verifica a interação

sociocomunicativa. A gramática é, pois, vista como um sistema flexível,

fortemente suscetível à mudança e intensamente afetado pelo uso que lhe é

dado no dia a dia. Esse modelo funcionalista representa uma maneira de

explicar a forma da língua a partir das funções mais frequentes que ela

desempenha na interação.

(CUNHA; SOUZA, 2011, p. 22)

Portanto, a gramática à luz do Funcionalismo, diferentemente da abordagem

realizada sobre mudança linguística na gramática histórica e da gramática prescritiva,

em função de suas propostas específicas de discussão, objetiva explicar os eventos

comunicativos das situações de uso sem, contudo, ignorar as convenções da gramática

normativa, mas agregar a ela o conhecimento adquirido através da observação real das

situações de comunicação. Como afirma Perini (2002), não é o ensino da gramática

normativa que deva ser extinto, mas “colocá-lo em termos mais realistas.” (p. 33)

Essa nova proposta de estudo da linguagem foi disseminada em vários lugares

do mundo servindo de base para constituir escolas funcionalistas como: a escola

funcionalista norte-americana, cuja teoria parte dos estudos dos linguistas Sandra

Thompson, Paul Hopper, Talmy Givón e Wallace Chafe. E, a escola sistêmico-

funcional que apresenta a teoria do linguista Michael A. K. Halliday. Ambas partem do

princípio de que a língua deve ser estudada a partir da função que exerce como forma de

interação entre os falantes. (CUNHA; SOUZA, 2011)

Dessa forma, ampliaremos nosso estudo sobre Transitividade Verbal partindo da

proposta de Hopper e Thompson (1980) que aborda a transitividade como uma noção

contínua e escalar. É um ponto de vista diferenciado daquele apontado pela gramática

tradicional sobre uma oração transitiva que se efetiva a partir da ocorrência de três

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elementos básicos, a saber, sujeito, verbo e objeto. Ao contrário do que prescreve a

gramática tradicional, a proposta de Hopper e Thompson (1980) concebe a

transitividade a partir de “um complexo de dez parâmetros sintático-semânticos

independentes, que focalizam diferentes ângulos da transferência da ação em uma

porção diferente da sentença.” (FURTADO DA CUNHA; COSTA; CEZÁRIO, 2015, p.

29) Trata-se de parâmetros independentes, mas que “[...] funcionam juntos e articulados

na língua, o que significa que nenhum deles sozinho é suficiente para determinar a

transitividade de uma oração.” (CUNHA; SOUZA, 2011, p. 46)

Os dez parâmetros da transitividade são identificados assim:

Quadro 4 – Parâmetros da transitividade segundo a proposta de Hopper e

Thompson Parâmetros Transitividade Alta Transitividade Baixa

1. Participantes Dois ou mais Um

2. Cinese Ação Não ação

3. Aspecto do verbo Perfectivo Não perfectivo

4. Pontualidade do verbo Pontual Não pontual

5. Intencionalidade do sujeito Intencional Não intencional

6. Polaridade da oração Afirmativa Negativa

7. Modalidade da oração Modo realis Modo irrealis

8. Agentividade do sujeito Agentivo Não agentivo

9. Afetamento do objeto Afetado Não afetado

10. Individuação do objeto Individuado Não individuado

Fonte: CUNHA; SOUZA, 2011, p. 46

Cada parâmetro representa uma característica na transferência da ação, entre um

participante e outro, para compor a transitividade numa perspectiva discursiva. Assim,

entende-se transitividade alta quando os traços, em sua maioria, são marcados

positivamente, enquanto que a transitividade baixa quando são marcados

negativamente.

Para compreendermos melhor cada traço abordaremos as especificidades de cada

um, buscando entender, na concepção de Hopper e Thompson, quando uma oração é

mais transitiva ou menos transitiva. Comecemos pelo primeiro traço, Participantes.

Aqui, diz respeito ao número de participantes necessários para a transferência da ação.

Como afirma Saboya (2014)

Sendo a transitividade a transferência de ação de um agente para um paciente

ou recipiente, é natural a conclusão de que tal transferência não ocorrerá

efetivamente, a menos que haja, no mínimo, dois participantes envolvidos.

(SABOYA, 2014, p. 40)

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Nesse caso, os participantes também são entendidos como argumentos do verbo

sob a ótica da gramática descritiva, sendo, portanto, mais transitiva a oração com dois

argumentos, como sujeito e objeto. Tomemos os exemplos: “Maria Gadu fuma um

cigarro x A mãe de Maria Gadu também fuma.” (SABOYA, 2014, p. 47) A frase

“Maria Gadu fuma um cigarro” é mais transitiva porque conta com dois participantes,

Maria Gadu e um cigarro. Enquanto que a oração “A mãe de Maria Gadu também

fuma” é menos transitiva porque conta com apenas um participante, a mãe de Maria

Gadu.

O segundo traço, a ser comentado, é a Cinese que consiste no fato de que a ação

pode ser transferida de um participante para outro. Para a compreensão desse

componente sob a perspectiva de Hopper e Thompson (1980), é necessário entender a

divisão dos verbos estabelecida por eles. A partir dessa concepção, os verbos são

divididos “[...] de acordo com seu valor semântico, considerando o propósito

comunicativo, o contexto pragmático e as necessidades discursivas do falante/escritor e

de seu interlocutor.” (TEIXEIRA, 2014, p. 60) Sendo, portanto, separados da seguinte

forma: verbos de ação e verbos de estado.

Para ampliar o conhecimento do traço em questão, Teixeira (2014), citando

Borba (1996), apresentam uma separação verbal no nível sintático-semântico,

classificando, assim, os verbos em ação, processo, ação-processo e estado, cuja

definição parte do valor sintático-semântico do verbo em questão. Conforme Teixeira

(2014), os verbos de ação indicam atividades realizadas pelo sujeito agentivo em um

enunciado ativo. Dessa forma, a atividade é realizada pelo sujeito em uma estreita

relação entre o agente e o verbo. Esse fato exemplifica-se na frase: “Rogério foi à

Paris”, observamos que, nesse exemplo dado pela autora, Teixeira (2014), o sujeito

(Rogério) realizou a ação verbal sem afetar o complemento adverbial Paris, pois, nesse

caso, como já foi dito, a relação sintático-semântica é estabelecida entre sujeito agente e

verbo.

Diferente da classificação dada anteriormente, os verbos de processo

influenciam diretamente na condição do sujeito que, de agente, passa a ser paciente. No

exemplo: “A cachorrinha adoeceu.”5 O sujeito (cachorrinha) foi afetado pela ação do

verbo adoeceu, classificando-o, portanto, como sujeito paciente.

5Exemplos de Teixeira (2014).

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Em se tratando dos verbos de ação-processo, duas realizações são identificadas,

pois eles realizam tanto um processo, quanto uma ação. Dessa forma, é possível

identificar uma ação expressa por um sujeito agente e uma mudança na condição de um

nome que se caracteriza por ser paciente. Assim, em frases do tipo “A mulher estragou a

cafeteira”, o verbo estragou é classificado como de ação-processo, pois nesse exemplo

dado pela mesma autora, Teixeira (2014), há um agente que pratica a ação (mulher), e

também um acontecimento e uma mudança de condição do objeto (cafeteira). Nisso

consiste a ação-processo.

Portanto, o fato de a ação verbal afetar ou não o complemento é o que diferencia

os verbos de ação dos verbos de ação-processo. No terceiro exemplo, a ação do verbo

estragou no exemplo: “A mulher estragou a cafeteira”, o estado da cafeteira foi mudado

– quebrada. Enquanto que, no primeiro caso, a ação do verbo ir não modificou o

complemento Paris.

Os verbos classificados como de estado integram a divisão verbal no nível

sintático-semântico, sendo, desse modo, compreendidos como aqueles que expressam

uma propriedade localizada no sujeito. Nesse caso, o sujeito não é agente, nem

causativo ou paciente, é apenas um suporte das propriedades (estado, condição, posse,

situação) encontradas nele. Por isso, ele se apresenta como “experimentador ou

beneficiário.” (Teixeira, 2014) Nessa condição, o processo verbal não indica qualquer

alteração, como se vê na seguinte frase:

(1) Carlos gosta de carne.6

Aqui, o verbo gostar não expressa uma ação, como classificaria a Tradição

Gramatical, mas uma sensação experimentada pelo sujeito, por isso o classificamos

como experienciador.

Vale ressaltar que o parâmetro Cinese trata da transferência da ação de um

participante para o outro, então para a identificação do mesmo de forma escalar,

partimos da classificação sintático-semântica dos verbos. Dessa forma, os verbos de

ação e ação-processo apontam um grau mais alto do parâmetro em questão, enquanto

que os verbos de processo e estado indicam um grau mais baixo.

Quanto ao Aspecto, outro traço componente da transitividade, trata-se da

eficácia da transferência da ação para um participante. Sendo que a ação perfectiva é

mais eficazmente transferida do que uma ação cujo término não é apresentado.

6Exemplo nosso

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(FURTADO DA CUNHA; OLIVEIRA; MARTELOTTA, 2015) Souza e Dib (2014)

reforçam essa informação afirmando que “[...] são considerados verbos de aspecto

perfectivo aqueles que representam ações concluídas, acabadas. Já os verbos

imperfectivos são os que indicam ações durativas.” (p. 165)

Tendo em vista esses conceitos, a transitividade da oração será considerada alta

mediante a presença de verbos cujas ações sejam concluídas. Assim, em frases como:

“Bruno bebeu a cerveja”7 O aspecto do verbo representa a conclusão da ação e, por isso,

a transferência é efetiva. Já em “Bruno está bebendo a cerveja” a ação expressa pelo

verbo está em andamento, implicando uma transferência parcial, e, portanto, uma

transitividade baixa.

Outro traço componente da transitividade é a Pontualidade. Ele está ligado à

durabilidade da ação, especificamente, das ações instantâneas. Furtado da Cunha, Costa

e Cezário (2015) confirmam essa informação dizendo que a Pontualidade se refere a

“[...] ações realizadas sem nenhuma fase de transição entre seu início e seu fim, têm

maior efeito sobre seus pacientes do que ações inerentemente contínuas.” (p. 29) Dessa

forma, em frases como: (2) Paulo comeu um pastel8, observamos que a ação de comer é

instantânea e incide sobre o paciente um pastel. Além disso, envolve uma mudança de

estado. De modo que, a pontualidade do evento é o que está evidenciado e não a

durabilidade.

Apesar da individualidade que cada traço apresenta, a inter-relação entre os

traços cinese, aspecto e pontualidade, no que concerne à gradiência, conferem maior ou

menor transitividade à oração, desde que a escolha seja por verbos que expressem ação

ou ação-processo.

Dando continuidade ao estudo dos componentes da transitividade, abordaremos

o traço Intencionalidade do sujeito ou volitividade, caracterizado quando “[...] o

efeito sobre o paciente é mais aparente quando a ação do agente é apresentada como

proposital.” (FURTADO DA CUNHA; COSTA; CEZÁRIO, 2015, p.29) Na oração “Eu

escrevi seu nome”, a ação foi proposital, caracterizando uma transitividade alta. Por

outro lado, na frase “Eu não sei escrever seu nome”, a ação não é proposital,

caracterizando, dessa forma, uma transitividade baixa.9

7Ver Souza; Dib in Abraçado; Kenedy (2014)

8 Exemplo nosso

9Os exemplos apresentados são de Furtado da Cunha; Costa; Cezário (2015)

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Polaridade da oração é mais um traço apresentado e “[...] corresponde,

essencialmente, à relação semântica entre significados opostos, de mesma natureza,

suscetíveis a comparação.” (COELHO, 2014, p. 132) São observadas, dessa forma, as

ações que aconteceram e as que não aconteceram. Assim, no exemplo dado por Cunha e

Souza (2011) “O menino não comeu o sanduíche.” A ação é negativa, indicando que a

transferência da ação não ocorreu. Se a frase fosse O menino comeu o sanduíche

teríamos uma polaridade afirmativa, indicando a possibilidade de transferência da ação.

No que se refere à ação negativa, deve-se observar que expressões negativas que não

apresentam, explicitamente, a negação, não caracterizam uma polaridade negativa, pois

para tal, é necessário que a negação esteja explicita na frase, como veremos nos

exemplos a seguir:

(3) Ninguém comprou o bolo. (oração negativa)

(4) João não comprou o bolo. (polaridade negativa)10

Assim, em ambas a ação não foi efetivada, não ocorrendo, portanto, a

transferência da ação, mas apenas em (4) identificamos a polaridade negativa que é

caracterizada pela presença do advérbio não.

O traço Modalidade da oração refere-se à realização de ações como um evento

real ou não, codificadas em realis e irrealis. O modo irrealis favorece o modo

subjuntivo, com um teor de menos certeza, geralmente apresentando ação que não

ocorreu, ou ocorreu em um mundo não real, sendo, portanto, menos eficaz no que se

refere à transferência da ação. Já o modo realis favorece o indicativo por apresentar

fatos e informações explicitadas, correspondendo a um evento real. Em Maria vai

comprar um vestido novo, o verbo indica um futuro, não aconteceu ainda, por isso a

ação é marcada como irrealis, apresentando grau de transitividade baixa, que seria

diferente, por exemplo, de Maria comprou um vestido, na qual há um evento real - o

vestido foi comprado - caracterizando, portanto, o modo realis.

Seguindo a discussão, a Agentividade do sujeito está diretamente relacionada à

atitude do participante enquanto agente da ação verbal. Segundo FURTADO DA

CUNHA; COSTA; CEZÁRIO (2015), “[...] participantes com alta agentividade podem

efetuar a transferência de uma ação de um modo que participantes com baixa

agentividade não podem.” (p.29). Dessa forma, em frases como: O motorista derrubou

10

Exemplos nossos

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o muro, o sujeito tem controle da ação verbal, por isso é chamado de agentivo. Em

contraste com a situação anterior, na oração Essa foto me surpreendeu, não é possível

classificar o termo essa foto como sujeito agentivo, já que se tem um ser que não é

humano, não é animado, nem volitivo.

Ao analisar a agentividade do sujeito, vale ressaltar a sua correspondência com a

volitividade, tendo em vista que, a relação agente e paciente efetiva-se no fato de estar

volitivamente envolvido com a ação verbal ou não.

O traço Afetamento do objeto diz respeito ao grau de transferência da ação para

um paciente, verificando em que grau ele foi completamente afetado. Assim, nos

exemplos dados por Cunha e Souza (2011) “Eu bebi o leite todo. / Eu bebi um pouco de

leite”, verificamos que, no primeiro caso, o leite foi bebido em sua totalidade, logo, o

objeto foi completamente afetado. Enquanto que no segundo caso, o leite foi bebido

parcialmente, indicando que o objeto não foi afetado totalmente.

O último componente da transitividade a ser abordado é o traço da Individuação

do objeto que, além de fazer a distinção do paciente em relação ao agente, ele também

faz entre o paciente e a sua própria classe. Segundo Abraçado e Kenedy (2014),

Um objeto (O) maximamente individuado é aquele em que o Sintagma

Nominal (SN) que exerce a função de objeto tem como núcleo um nome

próprio cujo referente é humano, animado / concreto / singular / contável /

referencial / definido. Em contrapartida, um O minimamente individuado é

aquele em que o SN que exerce função de objeto tem como núcleo um nome

comum cujo referente é inanimado/abstrato/plural/não contável/não

referencial.

(ABRAÇADO; KENEDY, 2014, p. 172)

Dessa forma, a individuação do objeto é determinada pelo núcleo do

paciente/objeto que, se for classificado como um nome próprio será considerado mais

individuado do que se for classificado comum.

Todos esses parâmetros são relevantes para a classificação das orações na escala

da Transitividade Verbal, tendo em vista que a transitividade é uma classificação

também da oração e não apenas do verbo. (CUNHA; SOUZA, 2011)

Para uma discussão prática, tomemos o exemplo “Batman derrubou o Pinguim

com um soco.”11

Aqui, segundo “a formulação de Hopper e Thompson, é a oração que

ocupa o ponto mais alto na escala da transitividade.” (CUNHA; SOUZA, 2011, p.54)

Vejamos, no quadro, a escala da transitividade no exemplo citado.

11

Exemplo de Cunha e Souza (2011).

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Quadro 5 – Relação dos parâmetros da transitividade com os termos da oração

Batman derrubou o Pinguim com um soco.

Dois participantes(Participantes) Batman e Pinguim

Verbo de ação(Cinese) Derrubou

Aspecto perfectivo(Aspecto) ação concluída

Verbo pontual(Pontualidade do verbo) ação não durativa

Sujeito intencional(Intencionalidade do sujeito) Batman

Ação afirmativa, oração realis(Polaridade da

oração / Modalidade da oração)

modo indicativo

Sujeito agente(Agentividade do sujeito) Batman

Objeto afetado e individuado(Afetamento do

objeto / Individuação do objeto)

O Pinguim – substantivo referencial, humano,

próprio, singular

Fonte: Elaboração da pesquisadora a partir do exemplo de CUNHA; SOUZA (2011)12

O quadro apresenta detalhadamente como são vistos todos os termos da oração

em relação à aplicabilidade dos componentes da transitividade, aqui, entendida como

sendo da oração e não, apenas, do verbo.

Na próxima subseção, a abordagem será direcionada para as discussões atuais

em torno da Transitividade Verbal, especificamente, para a prática usada nas escolas no

que se refere ao modo como esse assunto está sendo ministrado nas salas de aula.

2.4.1.1 A TRANSITIVIDADE VERBAL EM DISCUSSÃO - ABORDAGENS

CONTEMPORÂNEAS

Algumas pesquisas têm sido desenvolvidas sobre o tema Transitividade Verbal

visando a entendê-lo a partir de uma perspectiva funcionalista, tendo em vista que o

discurso construído em situações de comunicação da língua evidencia a prática

comunicativa e está diretamente ligado ao contexto escolar. Sendo assim, surge o

interesse comum a muitos pesquisadores em entender as dificuldades identificadas nos

alunos em compreender determinados mecanismos da língua que seguem a orientação

da gramática normativa, especificamente, a Transitividade Verbal que apresenta

divergência entre a classificação apresentada pela gramática prescritiva e pela gramática

descritiva, como exemplifica a seguinte frase:

(5) O aluno agrediu o professor.13

12

A ideia de mostrar a frase exemplo em um quadro foi da pesquisadora com o objetivo de facilitar a

compreensão. 13

Exemplo nosso

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42

Segundo a gramática normativa, em (5), o verbo agrediu é classificado como

transitivo porque está acompanhado do objeto direto o professor, para a tradição

linguística, partindo da visão descritiva, o que temos é um verbo acompanhado de dois

argumentos (o aluno / o professor) compondo, portanto, uma oração transitiva.

Pautando-se nesses conceitos, buscamos, nesta subseção, apresentar o que tem

sido discutido por alguns pesquisadores sobre a Transitividade Verbal em uma

perspectiva funcionalista. Corroboram, dessa forma, com nossa pesquisa Silva (2011) e

Sampaio (2015). Na visão desses pesquisadores, a transitividade é analisada nos campos

sintático, semântico e pragmático, baseando-se, teoricamente, no Funcionalismo

Linguístico Norte-Americano e no Sistêmico-Funcional, embora essa última seja mais

amplamente discutida. Ambos os pesquisadores discutem a Transitividade Verbal a

partir de uma perspectiva funcionalista e investigam como esse assunto tem sido

trabalhado na sala de aula, identificando as divergências entre o que é aplicado e o que

os alunos necessitam aprender. Especificamente, Sampaio (2015), além de fazer todo

esse percurso, também apresenta uma proposta de intervenção.

Para compreender melhor a abordagem das pesquisas, apresentaremos cada uma

delas separadamente, dessa forma, começaremos por Silva (2011) que apresenta um

estudo funcional tipológico da Transitividade Verbal do Português brasileiro, buscando

entender como isso se aplica ao ensino e as motivações para aprender o referido

assunto. A autora começa apresentando alguns pontos questionáveis na gramática

tradicional no que se refere à transitividade, dentre eles, o tratamento homogêneo de

verbos classificados com transitividade diferente sem apresentar uma explicação

plausível no que eles diferem, além de restringir o fenômeno ao campo sintático. Fatos

como esses, fazem-na entender que a GT não contempla fatores relevantes para a

explicação do fenômeno da transitividade, por isso ela propõe um estudo que busque

descrever, analisar e entender o objeto em questão.

Em sua pesquisa, Silva (2011), com o objetivo de “refletir sobre o ensino da

transitividade nas escolas brasileiras, identificando os possíveis desacertos da antiga

abordagem com a realidade da língua” (SILVA, 2011, p.4), busca respostas que

justifiquem o ensino da Transitividade Verbal nos parâmetros oferecidos pela GT e se

há motivação, por parte dos alunos, em aprendê-lo. Partindo do aporte teórico do

Funcionalismo que embasou seu trabalho de pesquisa, Silva (2011) optou por seguir os

ensinamentos estabelecidos por Hopper e Thompson, entendidos nos dez parâmetros

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43

estabelecidos para aferir o grau de transitividade das sentenças. Buscou-se, portanto,

com o corpus o português falado no Brasil, identificar se a abordagem feita na escola

sobre Transitividade Verbal privilegia a forma ou a função da língua. Após o trabalho

de pesquisa realizado no Ensino Fundamental, especificamente com uma turma do 8º

ano, a pesquisadora confirmou sua hipótese de que a GT, ao trabalhar a transitividade,

não faz uma associação com a pragmática e nem justifica o porquê de ensinar o assunto,

privilegiando, desse modo, a forma em detrimento da função.

Seguindo a mesma linha de pesquisa, mas partindo de um corpus diferente,

Sampaio (2015) discute a Transitividade Verbal ensinada na escola durante o Ensino

Fundamental II. Assim, ele objetiva investigar o conceito e o modo como a

Transitividade Verbal tem sido ensinada no âmbito escolar, avaliando a contribuição do

Funcionalismo linguístico nessa prática pedagógica. Com esse propósito, ele busca, na

escola, resposta para questionamentos a respeito da práxis que envolve o ensinamento

de Língua Portuguesa, sobretudo no que se refere à construção da predicação como

processo de produção de sentido. Para Sampaio (2015), essa relação só se efetiva

quando a transitividade, assim como todos os processos gramaticais, é trabalhada

focando o uso e a reflexão da língua, assim, diante de uma perspectiva funcionalista, ele

afirma que

A transitividade é tratada na função Experiencial, já diz respeito à

interpretação e à expressão de nossa experiência. Trata-se de um importante

subsistema de escolhas relacionadas ao uso da língua para representação de

nossa experiência não apenas com o mundo externo, mas também com o

mundo interno, pensamentos, crenças, sentimentos. Essa representação se faz

pelo acionamento do sistema de transitividade, pelas escolhas entre tipos de

processos (representados por elementos verbais), participantes (em geral,

grupos nominais). E circunstâncias, (geralmente, grupos adverbiais com

caráter opcional).

(SAMPAIO, 2015, p. 65)

Segundo Sampaio (2015) essa base teórica, fundamentada na Linguística

Sistêmico-Funcional de Halliday, dá conta de orientar a elaboração de atividades que

direcionam o estudo de gramática com produção de sentido. Fato que, segundo ele, tem

sido negligenciado. Portanto, a elaboração de atividades que privilegiem a produção de

sentido pode culminar com a ampliação da competência discursiva dos estudantes.

Nesse trabalho desenvolvido por Sampaio (2015) identificamos uma abordagem

da transitividade pautada na Linguística Funcionalista, focando as contribuições da

Linguística Funcional Norte-Americana, Linguística Sistêmico-Funcional e a Gramática

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44

Funcional holandesa. Dessa maneira, o aporte teórico, aqui empreendido, compreende a

transitividade como uma propriedade da oração e não apenas do verbo.

A motivação para essa pesquisa consiste em investigar se o ensino da

Transitividade Verbal, como tem sido abordada na escola, contribui para uma

aprendizagem mais produtiva do assunto no que se refere à sua relevância para a

melhoria das produções textuais e a ampliação da competência discursiva,

especificamente em turmas de 8º ano do Ensino Fundamental II. A partir dessas

inquietações, Sampaio (2015) chamando sua pesquisa de “pesquisa-ação”, começa por

propor aos alunos uma avaliação diagnóstica que consiste em uma produção de texto,

tendo em vista que o estudo da Transitividade Verbal, partindo da perspectiva

funcionalista, contribuirá com a melhoria dessa produção. Além disso, a pesquisa

contou também com uma sequência de atividades para o ensino da transitividade e uma

atividade que serviu de proposta de intervenção para a aplicação do assunto em questão.

Após realizadas as atividades que compuseram a parte metodológica da pesquisa,

Sampaio (2015) confirmou a hipótese de que a aplicação de atividades envolvendo a

transitividade na perspectiva funcionalista contribui para a melhoria do desempenho da

competência linguística.

Em linhas gerais, as pesquisas apresentadas preconizam um ensino de

Transitividade Verbal diferente daquele que orienta a gramática normativa. Para isso,

seguem a vertente funcionalista que prioriza o funcionamento da língua. E, diante dos

resultados trazidos por essas pesquisas, podemos perceber que ensinar transitividade,

segundo a orientação funcionalista contribui significativamente para a ampliação da

competência discursiva dos alunos de Ensino Fundamental II.

Na próxima subseção, a abordagem será direcionada para o livro didático.

Especificamente, faremos uma análise de algumas coleções, selecionadas por nós, com

o propósito de investigar como a Transitividade Verbal tem sido apresentada através

desse recurso didático.

2.5 A ABORDAGEM DA TRANSITIVIDADE VERBAL NO LIVRO DIDÁTICO

O livro didático é o recurso mais usado para auxiliar a prática pedagógica e por

isso é muito importante nessa práxis. Embora, a cada quatro anos os livros sejam

avaliados pelos professores na escolha de novos exemplares sugeridos pelo Programa

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Nacional do Livro Didático – PNLD, os livros de Língua Portuguesa ainda apresentam,

em sua maioria, atividades metalinguísticas que não condizem com as novas

perspectivas de ensino de língua que enfatizem as competências linguísticas.

Para averiguarmos essa afirmação, analisaremos alguns livros didáticos,

doravante LD14

, de coleções diferentes, a saber, Português: projeto Radix, cujos autores

são Ernani Terra e Floriana Toscano Cavallete, 8º e 9º anos (2009); Coleção Português

e Linguagens dos autores Willian Cereja e Thereza Cochar Magalhães, 7º ano (2015);

coleção Português: Dialogando com textos dos autores Beatriz Marcondes, Lenira

Buscato e Paula Parisi, 6ª e 7ª série (2006).

Faremos, nesta análise, um estudo dos eventos gramaticais sobre a

Transitividade Verbal. Para melhor identificação do nosso objeto de estudo, usaremos

LD de anos diferentes.

O primeiro passo da análise diz respeito à leitura dos Manuais do Professor, que

são apresentados no final de cada LD com uma série de instruções, orientações e

observações teóricas que, segundo os autores, são necessárias para auxiliar a prática

docente. É um recurso que passa despercebido pela maioria dos professores que não têm

o hábito de lê-lo. Esse fato faz com que as atividades propostas pelo livro sejam

aplicadas sem nenhuma ligação com o que propõem os autores.

Começaremos nossa análise pela coleção Português: Dialogando com textos dos

autores Beatriz Marcondes, Lenira Buscato e Paula Parisi, 6ª e 7ª séries (2006),

doravante CLD1. No manual do professor, os autores deixam claro que o livro está

vinculado exclusivamente à gramática normativa, mas não desconsideram as

“sequências linguísticas internalizadas”, considerando o fato de o aluno chegar à escola

com conhecimentos de uma gramática internalizada, cabendo à escola, segundo os

autores, aprimorar a competência gramatical dos alunos.

Cada livro dessa coleção é dividido em unidades temáticas, cada uma

estruturada em subdivisões que abordam leitura e interpretação, gramática e produção

de texto, por isso, direcionamos nossa análise apenas para a subdivisão gramática.

Constatamos, portanto, nessa análise, que a compreensão de transitividade

refere-se ao verbo e a sua necessidade de complemento para chegar às definições de

verbo transitivo, bitransitivo e intransitivo. Confirmando a afirmação dos autores de que

a gramática abordada é puramente normativa.

14

Com o propósito de evitar repetições, optamos por usar algumas siglas.

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46

As informações que levam à compreensão da transitividade do verbo aparecem

intercaladas em atividades metalinguísticas.

2. Observe, agora, a segunda frase do segundo parágrafo:

“E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava

em mãos um cartão-postal da loja do pai.”

a) Relendo a frase, identifique o sujeito do verbo “entregar”.

b) A ideia expressa pelo verbo “entregar” determina que um sujeito entrega alguma coisa a

alguém. Relendo a oração, descubra o que é entregue e a quem.

Em alguns casos, o sentido do verbo se completa com informações necessárias, como ocorre no texto

com o verbo “entregar”: entregar alguma coisa. Sempre que o sentido se completa dessa maneira, o

verbo recebe o nome de verbo transitivo. E as expressões que completam o verbo recebem o nome de

complemento verbal. (MARCONDES; BUSCATO; PARISI, 2006, p. 147)

De acordo com as questões propostas, fica perceptível que o estudo da

transitividade é exclusivamente prescritivo, suscitando ao aluno apenas a necessidade de

saber se o verbo precisa ou não de um complemento.

A transitividade é abordada em dois volumes da coleção, na 6ª e 7ª séries15

(2009). No livro da 6ª, são apresentados os verbos transitivos e o complemento verbal

(objetos direto e indireto). Usando o mesmo procedimento, a noção de verbo

intransitivo é apresentada no livro da 7ª série.

Concluímos, portanto, que, nessa coleção, o estudo sobre Transitividade Verbal

não contempla uma abordagem linguística da Língua Portuguesa, preocupando-se,

apenas, com a variedade prescrita, a dita “padrão”.

A segunda coleção analisada é Português: projeto Radix dos autores Ernani

Terra e Floriana Toscano Cavallete, doravante CLD2, 8º e 9º anos, já que o assunto em

questão é trabalhado nessas séries. Cada livro da coleção é dividido em capítulos, sendo

que em cada um deles, subseções identificadas como: Hora do texto, Gramática no

texto, A linguagem dos textos. Nossa análise restringe-se aos estudos gramaticais,

embora seja de apenas um evento. Em relação a isso, os autores, no manual do

professor, afirmam que o ensino de gramática, proposto por eles, deve ser de “modo

reflexivo, expondo os alunos a variados tipos de textos e levando-os a refletir sobre os

fatos da língua”. E, têm como objetivo “ampliar os recursos linguísticos dos alunos”. Na

seção Gramática no texto, os autores começam com uma atividade metalinguística para

15

A nomenclatura séries é usada pelos autores da obra.

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direcionar o estudo. E, na sequência, abordam, sucintamente, o fenômeno gramatical em

questão. Não foi possível encontrar o assunto Transitividade Verbal em um único livro

da coleção, assim, no LD do 8º ano, a transitividade é apenas citada para classificar o

verbo. A ênfase, nessa série, é dada ao objeto, pois com essa concepção, é que se

classifica o verbo. Vejamos breve definição trazida pelos autores:

Os verbos cujo sentido é completado por um objeto são classificados como

transitivos. Eles podem ser diretos ou indiretos. São transitivos diretos

aqueles que têm seu sentido completado por um objeto direto (complemento

verbal não introduzido por preposição). São transitivos indiretos aqueles cujo

sentido é completado por um objeto indireto (complemento verbal

introduzido por preposição).

(TERRA; CAVALLETE, 2009, p. 86)

Na citação apresentada, verificamos uma estreita relação na análise que é feita

no LD com a Tradição Gramatical no que se refere à Transitividade Verbal.

Para exercitar o conhecimento a respeito do assunto verbo, as atividades

propostas são puramente metalinguísticas de caráter normativo. Vejamos uma questão:

1. Copie no caderno estas orações, indicando, a que palavra está relacionado o termo em destaque.

Em seguida, indique se ele é um objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal.

a) “Terminado o serviço, ela fazia o pagamento[...].”

b) “- Engraçado, eu tinha pensado nisso também, mas fiquei com vergonha de falar.”

c) “Sofia agitava o braço gordo no passeio [...]”

d) “Sofia no meio deles, contando casos [...], dando gargalhadas, sacudindo-se toda, esquecida

das brigas.”

e) – Não gosto de morcegos.

- que pena, aqui em casa somos todos loucos por morcegos.

(TERRA; CAVALLETE, 2009, p. 87)

A questão, aqui, explicitada sugere uma análise, dos complementos, pautada na

Tradição Gramatical que identifica e reconhece a presença desses complementos, mas

não propõe uma reflexão sobre a transitividade observando o funcionamento da língua.

Seguindo a orientação da TG, a abordagem feita sobre verbo intransitivo passa

quase que despercebida na mesma seção do livro do 9º ano quando é abordada a análise

sintática do período simples. Assim, expomos, aqui, a única observação a respeito do

verbo intransitivo no LD mencionado.

a) intransitivos: aqueles que, por terem sentido completo, não pedem complemento.

“O leite das mães acaba.”

sujeito v.i.

(TERRA; CAVALLETE,2009, p. 59)

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Identificamos na CLD2 a normatização gramatical imperando. O que vemos é a

Transitividade Verbal sendo analisada a partir de uma relação de regência entre termo

regente (verbo) e termo regido (complemento), sendo, portanto, esses termos os

responsáveis por determinar a Transitividade Verbal.

A terceira coleção analisada constitui, especificamente, o corpus desta

Dissertação, as demais coleções analisadas foram usadas para estabelecer um

comparativo quanto à apresentação do conteúdo em pauta. Trata-se da coleção

Português: Linguagens dos autores Willian Roberto Cereja e Thereza Cochar

Magalhães, doravante CLD3, 7º ano (2015). Cada livro da coleção é dividido em quatro

unidades, subdivididas em três capítulos que contemplam leitura e interpretação,

produção de texto e estudo da língua. Cada capítulo é dividido em seções denominadas:

Estudo do texto, Produção de texto, A língua em foco, De olho na escrita e Divirta-se

(textos cômicos). Partiremos, portanto, da seção A língua em foco na qual são abordados

os estudos gramaticais, embora nos restringiremos, apenas, à Transitividade Verbal. A

CLD3 propõe um ensino de gramática contextualizada. Em relação a isso, os autores, no

manual do professor, afirmam que

O conceito de gramática no texto vigente nas escolas hoje é diferente daquilo

que a linguística textual toma por objeto. Essa expressão geralmente é

sinônima de ensino contextualizado de gramática, compreendendo-se

contexto como um texto em que se verificam determinados usos da língua.

(CEREJA; MAGALHÃES, 2015, p. 287)

Especificamente, na seção A língua em foco, são trabalhadas as questões

gramaticais tradicionalmente conhecidas, mas com um redirecionamento que evidencia

“[...] enunciado, intencionalidade discursiva, a construção de sentido dos enunciados,

variedades linguísticas e semântica”. Segundo os autores Cereja e Magalhães (2005),

“A língua, nesta obra, não é tomada como um sistema fechado e imutável de unidades e

leis combinatórias, mas como um processo dinâmico de interação, isto é, como um meio

de realizar ações, de agir e atuar sobre o outro”. (CEREJA; MAGALHÃES, 2015,

p.302)

Em se tratando do nosso objeto de estudo, analisado nesta coleção, ora

comentada, identificamos um conceito de Transitividade Verbal enraigado aos padrões

normativos da língua. Sendo assim, os autores Cereja e Magalhães (2005) afirmam que,

“Transitividade Verbal é a necessidade de ter complemento apresentada por alguns

verbos. A esses verbos que exigem complemento chamamos de transitivos e aos que

não exigem complemento chamamos de intransitivos.” (CEREJA; MAGALHÃES,

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2005, p.166) Embora esse conceito direcione a compreensão do assunto de acordo com

o que propõem a Tradição Gramatical, os autores reconhecem a possibilidade de se

compreender a transitividade a partir da transferência da ação quando afirmam que “A

palavra transitivo vem da forma latina transitare, que significa „movimentar, andar‟. É

como se, em orações como „Escrevi a carta‟, „Enviei a carta‟, as ações de escrever e

enviar se „movimentassem‟ e recaíssem sobre a carta.” (CEREJA; MAGALHÃES,

2015, p. 166)

Nesse sentido, observamos que, mesmo priorizando posicionamentos da TG, os

autores reconhecem a existência de outras possibilidades que também viabilizam a

compreensão da Transitividade Verbal, por isso, através da proposta de uma gramática

contextualizada, os autores conseguiram sistematizar melhor o assunto.

Da página 166 a 171 do livro do 7º ano (2015) é possível observar, que, mesmo

seguindo conceitos normativos da língua, os autores instigam a reflexão e apontam

possibilidades para a transitividade diante do contexto.

A transitividade ou intransitividade de um verbo sempre depende do contexto em que ele está empregado

e do sentido que apresenta naquele contexto.

Por exemplo:

Carol dançou. (verbo intransitivo)

Carol dançou um balé moderno. (verbo transitivo)

O verbo dançar, que é intransitivo na 1ª oração, torna-se transitivo na 2ª oração, pois a ação

expressa por ele recai sobre um balé moderno.

(CEREJA; MAGALHÃES, 2015, p. 166)

Vimos que, na análise das CLD1 e CLD2, para chegarmos às definições de

transitivo e intransitivo bastou entender a necessidade que cada verbo apresenta ou não

de ter um complemento, diferente da CLD3 que apresenta possibilidades que podem

levar o verbo a ser transitivo ou intransitivo.

Em linhas gerais, o que temos nas escolas são livros didáticos que contemplam

um ensino de Língua Portuguesa pautada na gramática normativa, apresentando uma

proposta pouco reflexiva para a compreensão da Transitividade Verbal, embora na

CLD2 e na CLD3, os autores fundamentem suas obras em pesquisas que apontam novos

caminhos para o ensino de Língua Portuguesa valorizando aspectos linguísticos

norteadores para a compreensão de língua como meio de interação social.

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Diante do aporte teórico sobre o conteúdo em questão e das contribuições dadas

por ele, nós, professores de LP, podemos/devemos direcionar as nossas aulas para um

ensino de língua, cujos preceitos sejam o resultado da soma do conhecimento gramatical

oferecido pela TG e dos eventos que emergem da língua em uso. Assim, não teríamos

um conhecimento anulando o outro, apenas uma nova perspectiva de ensino de LP que

considere relevante o seu funcionamento.

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3 METODOLOGIA

Nesta seção, abordaremos, detalhadamente, os procedimentos metodológicos

que serão utilizados em nossa investigação, incluindo informações relevantes sobre o

lugar da pesquisa, os participantes envolvidos (informantes), as atividades que

propomos desenvolver para a coleta de dados, bem como um sucinto comentário sobre

o que pretendemos nessa pesquisa e o que propomos como atividade de intervenção.

A partir do resultado da descrição apresentada na seção anterior, A

Transitividade Verbal, na subseção 2.5, A abordagem da Transitividade Verbal no livro

didático, chegamos à conclusão de que o assunto Transitividade Verbal ainda divide

opiniões entre os autores de livros didáticos que, em sua maioria, escolhem a orientação

da Gramática Normativa para apresentar os conteúdos gramaticais abordados nos livros

utilizados por alunos e professores durante as aulas de Língua Portuguesa. Diante dessa

análise e associando à prática em sala de aula de nós professores da disciplina

mencionada, é possível observar que, em relação à aprendizagem de alguns conteúdos

programáticos, a dificuldade permeia as aulas.

Dessa forma, com o propósito de sanar as dificuldades apresentadas pelos

alunos, especificamente sobre a Transitividade Verbal, apresentamos uma proposta de

intervenção para o ensino desse conteúdo na perspectiva do Funcionalismo Linguístico,

considerando, portanto, sobretudo, aspectos da língua em uso.

3.1 LOCAL DA PESQUISA: A ESCOLA

Fundado em 199016

, o Colégio Estadual Vilas Boas Moreira tem como

mantenedora o Estado da Bahia. Ele fica localizado em um dos bairros mais populosos

de Vitória da Conquista - BA, o bairro Brasil, cuja localização está na zona Oeste da

cidade. No censo demográfico de 2010, promovido pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE, tinha uma população de 20.922 habitantes e 6.844

domicílios17

. Apesar da demanda do bairro ser imensa, como afirmam os dados, o

16

Essa informação consta no Projeto Político Pedagógico da escola. 17

As informações referentes ao bairro Brasil foram encontradas no site:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bairro_Brasil_(Vitória_da_Conquista). Acessado em: 31 de julho de 2018.

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colégio atende a 554 (quinhentos e cinquenta e quatro) alunos oriundos dos mais

diversos bairros da cidade.

Desde a sua fundação, oferece a modalidade de Ensino Fundamental. Hoje,

exclusivamente, Ensino Fundamental II, do 6º ao 9º ano. O colégio conta com 16

(dezesseis) turmas, sendo 8 (oito) no turno matutino e 8 (oito) no turno vespertino com

uma média de 35 (trinta e cinco) alunos por turma. Tendo em vista o número de alunos

matriculados e frequentes, é considerada pela instituição mantenedora como uma escola

de médio porte, embora seu espaço físico não seja grande.

O colégio, construído em uma área relativamente pequena, consta, apenas, de

oito (8) salas de aulas, uma (1) secretaria, uma (1) sala de professores, uma (1) cantina,

banheiros e outra sala usada para atender à direção e guardar o pequeno acervo

bibliográfico da escola. Apesar de um espaço físico precário, pois não possui espaços

importantes como biblioteca, laboratórios e quadra poliesportiva, a escola já ultrapassou

a meta projetada pelo IDEB18

para 2021 de 3.7, atingindo, portanto, 4,0 em 201519

.

Figura 1: vista aérea da localização do Colégio – Junho de 2017

Disponível em: www.google.com.br/maps

18

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. 19

O resultado apresentado pode ser visualizado no site:

http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado. Acessado em 01 de agosto de 2018. O resultado

apresentado é de 2015, pois o resultado de 2017 ainda não foi disponibilizado.

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Figura 2: vista frontal do Colégio – Junho de 2017

Disponível em: www.google.com.br/maps

É válido ressaltar que a ausência de espaços físicos desejados não é

impedimento para a realização de projetos essenciais para o processo de ensino-

aprendizagem. Então, atividades como: projeto de leitura, campeonatos esportivos e

feira de ciências são desenvolvidas todos os anos ao longo do período letivo.

Figura 3: atividades realizadas no projeto de leitura

Fonte: Acervo pessoal

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Figura 4: Feira de Ciências e campeonato de futsal

Fonte: Acervo pessoal

A escolha desse espaço para a pesquisa se deu a partir da observação, durante as

aulas de Português, da grande dificuldade dos alunos em compreender o conteúdo

programático oferecido pelo Livro Didático adotado pela Instituição. Diante dessa

inquietação, surgiu o desejo de averiguar a contribuição do Funcionalismo Linguístico

para a compreensão e assimilação do conteúdo, neste caso, a Transitividade Verbal,

para a construção do conhecimento.

A pesquisa teve início com uma conversa com a direção da escola expondo o

projeto, incluindo objetivos e processos metodológicos e, na oportunidade, enfatizamos

o relevante apoio do gestor da unidade na realização do mesmo, assim como os motivos

que nos levaram à escolha do referido Colégio.

3.2 O CORPUS

A presente pesquisa foi realizada a partir da uma análise da coleção de livro

didático adotado pelo Colégio Estadual Vilas Boas Moreira, a saber, Português:

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Linguagens dos autores Willian Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, 2015,

observando especificamente o exemplar do 7º ano, cujo conteúdo abordado –

Transitividade Verbal – se faz presente. Embora o conteúdo em questão não conste no

exemplar do 8º ano, propomos o trabalho à turma do 8º ano A matutino, composta por

34 (trinta e quatro) alunos, uma sequência didática formada por três etapas, produção

inicial, módulo de atividades e produção final. Essas informações serão detalhadas

cuidadosamente na próxima seção.

O corpus dessa pesquisa se justifica pelas seguintes hipóteses: a forma de

abordagem dos conteúdos gramaticais nos livros didáticos pode dificultar a

aprendizagem, tendo em vista o modelo normativo; o ensino de gramática pautado na

língua em uso pode facilitar a compreensão do conteúdo, principalmente porque as

questões serão abordadas a partir da vivência dos educandos.

3.3 OS PARTICIPANTES

Os participantes foram os alunos regularmente matriculados no 8º ano A, turno

matutino do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira. A opção por trabalhar com essa

turma foi influenciada pelo fato de termos contato diário com ela durante as aulas de

Língua Portuguesa desde o início do ano letivo, além de termos identificado que a turma

desconhece o conteúdo que será objeto de nossa pesquisa, a Transitividade Verbal. Pois,

embora o conteúdo programático conste no livro didático do 7º ano, a turma escolhida

não viu o conteúdo por falta de professor durante um longo período na série anterior20

.

Por ser uma turma que está na mesma escola desde o 6º ano21

, é possível traçar

um perfil dos discentes, afirmando que temos uma turma comprometida com as

atividades que lhe são propostas, além de um bom número de leitores assíduos. É uma

turma formada por 34 (trinta e quatro) adolescentes na faixa etária que varia entre 12 e

14 anos, conforme mostra a tabela a seguir:

20

Informação dada pela gestão da escola em conversa informal. 21

A referência é atribuída à maioria dos escolares da turma.

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Quadro 6 – Informantes do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira

PARTICIPANTES IDADE SEXO

ACBS 13 F

ACDS 13 F

AMBF 14 M

APSM 14 M

ASS 13 M

ABVGSS 14 F

CTOP 13 M

DLSM 12 M

ELSS 13 F

GBP 13 M

GOST 13 F

GSS 14 M

GHFD 13 M

JOS 13 F

JMOS 13 M

JPPO 13 M

JVBM 13 M

JVOM 14 M

JPFS 13 M

JRO 13 F

LTSS 13 F

LEPSN 14 M

MCSF 13 F

MFLO 14 F

MFS 14 F

NCAOS 14 F

NTBS 13 F

NGAD 13 F

NPS 13 F

PRPS 13 M

QST 14 F

RCR 14 F

TAQS 14 F

TSS 13 F Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Ressaltamos que a turma apresentada no quadro demonstrou muito interesse em

participar da pesquisa de cunho qualitativo/comparativo. Sendo assim, propomo-nos,

com nosso estudo, através de uma sequência de atividades, colaborar com a

aprendizagem da Transitividade Verbal a partir de uma perspectiva funcionalista.

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57

3.4 ATIVIDADES

A nossa pesquisa de campo se desenvolveu em três etapas. Na primeira delas,

aplicamos uma avaliação diagnóstica que objetivou investigar o conhecimento de

aspectos semântico-discursivos envolvendo a Transitividade Verbal; na segunda etapa,

foi aplicada uma Sequência Didática com atividades que buscam facilitar a

aprendizagem do assunto Transitividade Verbal; por fim, na terceira etapa, analisamos

os dados apresentados nas atividades propostas com o objetivo de identificar a

comprovação ou não das hipóteses desta Dissertação, a saber: (i) a abordagem teórica

adotada na prática docente e apoiada no livro didático usado na sala de aula é um dos

fatores que contribui para a baixa compreensão do assunto em questão e (ii) o ensino de

gramática pautado na língua em uso pode configurar-se como um facilitador para a

compreensão do conteúdo.

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58

4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Nesta seção, com o propósito de contextualizar a Sequência Didátida (SD)

empreendida em nossa pesquisa, apresentamos, inicialmente, a justificativa e os

objetivos da SD e, em seguida, descreveremos como foi realizada a Sequência.

4.1 Justificativa

A nossa proposta de intervenção para o ensino do fenômeno linguístico

pesquisado, a Transitividade Verbal, justifica-se pela necessidade de ampliação do

conhecimento de língua materna através de atividades que privilegiem os aspectos

funcionais da língua, aliviando, assim, o “peso” do estudo gramatical que se apresenta,

muitas vezes, negativamente, tanto para os docentes quanto para os discentes (NEVES,

2017).

A escolha do modelo Sequência Didática22

deu-se pela dinamicidade do método

que é composto por “[...] um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira

sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito.” (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHNEUWLY, 2004, p. 97). O objetivo da SD é ajudar aos alunos a melhor

compreenderem o conteúdo a partir de gêneros textuais. Nesse sentido, “[...] as

Sequências Didáticas servem para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem novas

ou dificilmente domináveis” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 98).

A sequência didática, conforme propõe os autores Dolz, Noverraz e Schneuwly

(2004), apresenta um conjunto de etapas que vão desde a apresentação da situação

(momento em que o aplicador expõe ao aluno uma situação concreta de uso da

linguagem e a necessidade de execução da proposta) até a produção final. Para melhor

compreensão do que sugerem os autores, vejamos o esquema por eles proposto.

Figura 5: Esquema de sequência didática

DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 98

22

O modelo de sequência didática que adotamos segue os padrões estabelecidos por um grupo de

pesquisadores genebrianos, Dolz, Noverraz, e Schneuwly (2004), adaptada para os anos iniciais do ensino

brasileiro. Ver a obra Experiências com sequências didáticas de gêneros textuais.

Apresentação

da situação

PRODUÇÃO

INICIAL

PRODUÇÃO

FINAL Módulo

1

Módulo

2

Módulo

n

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A apresentação da situação, como já foi citado, é o momento de apresentar a

proposta a ser trabalhada. Na produção inicial, os alunos fazem uma atividade que serve

como avaliação diagnóstica para alunos e professores, pois ela norteará as demais

atividades da SD. Os módulos são atividades pedagógicas para trabalhar os problemas

identificados na produção inicial, incluindo explicações a cerca do conteúdo trabalhado.

Nessa etapa, que pode ser constituída por vários módulos, a depender da necessidade, o

professor tem a oportunidade de trabalhar detalhadamente o conteúdo através do/dos

gênero(s) textual(is) escolhido(s). Por fim, a SD será concluída com a produção final do

aluno, neste momento, ele colocará em prática tudo que aprendeu nos módulos de

atividades.

Com esse breve comentário, explicamos, sucintamente,como se desenvolve uma

SD conforme propõe Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), servindo-nos para

compreender a aplicabilidade da nossa proposta de ensino a partir desse modelo didático

que proporcionará aos escolares a oportunidade de assimilar o conteúdo de maneira

lúdica e agradável, pois compõem a proposta: músicas, jogos, atividades em grupos,

além de aula expositiva dialogada.

4.2 Objetivo geral

Compreender a Transitividade Verbal a partir do funcionamento da língua,

identificando-a como um processo escalar e gradiente de toda a oração.

4.3 Sequência Didática

Apresentação da situação

Duração: 01 h/a

Nesta primeira etapa, o encontro com a turma foi norteado pela apresentação da

proposta de trabalho e o acolhimento das sugestões sinalizadas pelos alunos. Na

oportunidade, foram expostos, oralmente, os motivos que direcionaram a escolha desse

método de trabalho, os objetivos e o que se pretende na produção final. Feito isso,

passamos para a próxima etapa que definiu as atividades seguintes.

Produção inicial

Duração: 01 h/a

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A produção inicial da sequência didática direcionou as atividades que foram

desenvolvidas ao longo do trabalho. Por isso, no nosso caso específico, escolhemos

aplicar uma avaliação de sondagem, tendo em vista que nosso objeto é a Transitividade

Verbal. Para análise desse fenômeno gramatical, usamos, no desenvolvimento da SD,

diversos gêneros textuais como: música, propaganda, charge, diálogos, dentre outros.

Tais gêneros foram explorados, exclusivamente, a fim de constatar o processo da

transitividade em situação de uso.

Especificamente, nessa produção inicial, a intenção foi verificar como os alunos

reconhecem a atuação do verbo na oração no que se refere à relação sujeito-verbo-

objeto a partir de questões que exploram o funcionamento da língua. Além disso,

buscou-se averiguar o que, para eles, é relevante no estudo de Língua Portuguesa.

Elaboramos, então, uma atividade que aborda questões semântico-pragmáticas e

questões discursivas sobre o estudo de Língua Portuguesa.

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

1. Por que você acha que deve ter Língua Portuguesa como disciplina obrigatória

no seu currículo escolar?

2. Qual a importância de se estudar gramática?

3. No seu ponto de vista, que eventos do estudo gramatical são relevantes para o

uso diário da Língua Portuguesa?

4. O que você entende por transitividade?

5. Ao analisar cada frase a seguir, assinale com um X para responder o que se

pede.

(1) “Cada lance de uma Copa

Faz o torcedor vibrar.”

Cada lance é responsável pela vibração do torcedor? S ( ) N ( )

O torcedor foi afetado pelos lances da Copa? S ( ) N ( )

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(2) “Cada um fez um resumo

No trabalho de gigante”.

Cada um fez seu próprio resumo? S ( ) N ( )

O resumo é parte de outro trabalho? S ( ) N ( )

(3) Os eleitores fizeram Pedro Paulo diretor.

Os eleitores foram responsáveis pelo novo cargo de Pedro Paulo? S ( ) N ( )

Pedro Paulo passou a ter um novo cargo de diretor? S ( ) N ( )

(4) Carla nos visitará amanhã.

Carla planejou a visita? S ( ) N ( )

A ação já se realizou? S ( ) N ( )

(5) João encheu a garrafa.

João proporcionou a mudança na garrafa, de vazia para cheia? S ( ) N ( )

A garrafa teve sua condição modificada pelo verbo encher? S ( ) N ( )

(6) O torcedor levou pancada.

O torcedor executou alguma coisa? S ( ) N ( )

A pancada afetou o torcedor. S ( ) N ( )

(7) O menino não tomou o leite.

O menino realizou a ação verbal? S ( ) N ( )

(8) Maria brincou com a boneca.

Houve interação na brincadeira entre Maria e sua boneca? S ( ) N ( )

Nas questões 1, 2 e 3, objetivamos identificar a relevância e as motivações que

cercam o estudo de Língua Portuguesa a partir da concepção dos estudantes. Assim

como verificar o que eles julgam importantes no estudo de gramática tendo em vista sua

funcionalidade.

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Dando continuidade à atividade, as questões 4 e 5 estão bem direcionadas para o

nosso objeto de estudo. Especificamente, na questão 4, averiguamos se há algum

conhecimento prévio do aluno, no que se refere à Transitividade Verbal. E, na 5ª e

última questão, elencamos oito frases que exploram os conhecimentos sintático-

semânticos dos alunos.

Após a aplicação dessa primeira etapa, a sequência didática continuou com os

módulos de atividades.

Módulo de atividades

Duração: 10 h/a

Nesta etapa, abordamos a Transitividade Verbal fundamentada no que propõe

Hopper e Thompson (1980), que partem da teoria de que a transitividade contempla dez

parâmetros sintático-semânticos independentes, capazes de possibilitar a transferência

da ação a partir de vários ângulos, tornando-a, assim, mais compreensiva. Dessa forma,

objetivamos que os alunos compreendam o assunto abordado como um processo escalar

que confere a oração maior ou menor transitividade.

Para alcançarmos o objetivo exposto, elaboramos uma sequência de atividades

que foram aplicadas após a explanação de cada dois ou três parâmetros apresentados por

Hopper e Thompsom (1980), de maneira que os dez parâmetros, a saber: Participantes,

Agentividade do sujeito, Afetamento do Objeto, Intencionalidade do sujeito, Cinese,

Aspecto do verbo, Pontualidade do verbo, Polaridade da oração, Modalidade da

oração e Individuação do Objeto sejam contemplados.

1ª e 2ª aulas

Começamos as atividades desta etapa abordando, através de aula expositiva, os

parâmetros Participantes e Cinese.

Inicialmente, apresentamos o poema Gangorra de Flora Figueiredo23

, a fim de

exemplificar melhor o conteúdo.

23

O poema citado consta no livro didático do 7º ano da coleção Português e Linguagens de Willian

Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2015, p.169-170) compondo a primeira atividade sobre

transitividade verbal.

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Gangorra

Eu namoro a noite,

você apaga a lua;

eu perfumo o lençol,

você dorme na rua;

eu aprumo a estrela,

você a entorta;

eu colho a maçã,

você traz a lagarta;

eu rego o ipê,

você parte o galho;

eu tempero com sal,

você talha o molho;

eu lavo o cristal,

você trinca a ponta;

eu adoço com mel,

você passa do ponto;

eu beijo na boca,

você faz de conta. Flora Figueiredo

Após leitura e interpretação do poema apresentado no projetor de imagem,

apontamos, no referido poema, as ocorrências dos parâmetros participantes e cinese

presentes no texto. Feito isso, os alunos foram submetidos a uma atividade xerografada

com questões que contemplem os parâmetros apresentados.

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Exercício 1

Leia a tirinha a seguir e responda o que se pede.

https:/:www.google.com.br/search?biw=1280&bih=694&tbm=isch&sa=1&ei=4Kx9W- meOYijwATGo6SAAg&q=Charges (acessado em: 22/08/2018)

1º Magali aconselha Mônica a ter um comportamento mais feminino, e conclui sua fala,

no primeiro quadrinho com a frase: “Afinal, nós usamos saias!”. O que ela quis dizer

com isso?

2º quantos participantes podemos identificar na última fala do primeiro quadrinho,

“Afinal, nós usamos saias!”?

3º Assinale a frase na qual é possível identificar cinese.

( ) “Você precisa ser mais feminina, Mônica!”

( ) “Afinal, nós usamos saias!”

3ª e 4ª aulas

Nesse segundo momento do módulo de atividade, abordamos os

parâmetros Aspecto do verbo e Pontualidade do verbo. A escolha em agrupá-los

justifica-se por tratarem da ação expressa pelo verbo, identificando, assim, a duração da

ação.

Amor mal resolvido

Simone &Simaria

O que foi?

Tá batendo na minha porta essas horas será por quê?

Qual foi a parte que você não entendeu?

Não quero mais te ver

Queria eu que fosse mesmo assim

Mas o amor falou mais alto outra vez

E olha a besteira que a gente fez

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O meu lençol tá todo bagunçado

Você deixou marcas pra todo lado

Depois do amor adormeci

E só acordei com o barulho do seu carro

E Foi embora outra vez, como da última vez

Matou sua vontade abusando da sua ex

Que sempre te atende nessas horas de carência

E depois paga o preço, sofrendo as consequências

Foi embora outra vez

Matou sua vontade abusando da sua ex

Que sempre te atende nessas horas de carência

E depois paga o preço, sofrendo as consequências

De um amor mal resolvido

Gostar de você é meu pior castigo

O que foi?

Tá batendo…

Após apresentar um videoclipe da música no projetor de imagem e explorar

alguns aspectos presentes na música e pertinentes ao estudo de Língua Portuguesa como

a variedade linguística e a ambiguidade de alguns termos, seguimos o trabalho

identificando, nas formas verbais presentes na música, os parâmetros Aspecto do verbo

e Pontualidade do verbo.

O próximo passo nesse encontro foi a aplicação da atividade xerografada que

sistematizou o conteúdo trabalhado.

Atividade 2

Rodaviva (Chico Buarque)

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante

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Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata

Não quer mais rodar, não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou

A gente toma a iniciativa

Viola na rua, a cantar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira

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Um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou

No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

1ª Chico Buarque termina algumas estrofes com os versos “Mas eis que chega a roda-

viva / E carrega o destino pra lá”, “Mas eis que chega a roda-viva / E carrega a roseira

pra lá”, “Mas eis que chega a roda-viva / E carrega a viola pra lá”, “Mas eis que chega

a roda-viva / E carrega a saudade pra lá”. A que ele se refere ao usar o termo “roda-

viva”?

2ª No verso “O quanto deixou de cumprir”, a forma verbal destacada apresenta uma

ação concluída ou em andamento?

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3º Assinale a frase que apresenta aspecto télico, ou seja, uma ação concluída.

( ) “Um dia a fogueira queimou”

( ) Eu estou ouvindo um clássico de Chico Buarque.

4º Assinale o verso cuja ação é pontual.

( ) “E carrega a saudade pra lá”

( ) “O tempo rodou num instante”

5ª e 6ª aulas

Seguindo o mesmo critério das aulas anteriores, no que se refere à escolha dos

parâmetros que foram trabalhados em cada encontro, optamos por abordar, nesse

momento, os parâmetros Agentividade do sujeito, Intencionalidade do sujeito /

Volitividade e Afetamento do objeto. A abordagem desses parâmetros foi feita a partir

de manchetes de jornais, revistas e sites, todas apresentadas em slides.

Seguem as manchetes que trabalhamos com os alunos.

Cover de Cazuza faz show em Aracaju.

Disponível em: http://g1.globo.com/ultimas-noticias.html (acessado em: 22/08/2018)

Juiz de MT manda bloquear R$ 99,8 mil do estado para custear cirurgia no crânio

de recém-nascido

Disponível em:http://g1.globo.com/ultimas-noticias.html (acessado em: 22/08/2018)

Como um verso de Drummond definiu o Facebook já em 1945

Fonte: Revista Veja .São Paulo, n. 2594, p. 103, ago. 2018.

TSE aprova registro de 5 candidaturas à Presidência

Disponível em: https://www.msn.com/pt-br/?ocid=mailsignout(acessado em: 23/08/2018)

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Concluída a abordagem sobre os parâmetros Agentividade do sujeito,

Intencionalidade do sujeito / Volitividade e Afetamento do objeto, foi aplicada uma

atividade dinâmica para assimilar melhor a compreensão do conteúdo.

Atividade 3

Descrição da atividade: ACHANDO MINHA DUPLA

A turma será dividida em dois grupos;

Os grupos se subdividirão em duplas;

As duplas do grupo 1, receberão frases escritas em cartolinas;

As duplas do grupo 2, receberão placas com a palavras AGENTIVIDADE DO

SUJEITO, INTENCIONALIDADE DO SUJEITO / VOLIÇÃO e

AFETAMENTO DO OBJETO.

Depois de separados os grupos, um em cada lado da sala, o grupo 2 deverá

encontrar, no grupo 1, a frase que receba a classificação indicada na placa que

está de posse.

Feito isso, as duplas formarão um quarteto com as frases e a classificação de

acordo com os parâmetros estudados.

As frases trabalhadas na dinâmica serão as seguintes:

1. João quebrou a garrafa.

2. Supremo afasta Cunha da Câmara.

3. Minha irmã escreveu seu nome.

4. Meu irmão vai agora ao aeroporto.

5. O professor já corrigiu as provas.

6. Magda abriu o pacote, surpresa.

7. As doenças e as guerras ceifam milhares de vida.

8. João me assustou.

7ª e 8ª aulas

Neste encontro, trabalhamos os parâmetros Polaridade da oração e

Modalidade da oração. Para esta abordagem, escolhemos algumas tirinhas que foram

apresentadas em slides a fim de exemplificar melhor as ocorrências dos parâmetros

citados.

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Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas

A atividade escrita desse encontro foi composta de algumas tirinhas com

questões referentes aos parâmetros estudados.

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Atividade 4

Leia a tirinha e responda o que se pede.

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas

1º Comente o cenário político retratado na tirinha.

2º Os verbos pagou, votou e ganhou presentes nos quadrinhos, expressam ações que

aconteceram. Apresentando, portanto o parâmetro Polaridade. A presença dessa

Polaridade torna as frases mais transitivas ou menos transitivas?

Texto para a questão 3.

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas

3º No segundo quadrinho, Sally diz a Charlie que viu uma folha caindo. Podemos

codificar sua afirmação como modo realis ou irrealis?

4º No terceiro quadrinho, Charlie diz que logo vai chegar o inverno. Sua afirmação

deixa claro que o inverno virá em breve. Essa afirmação pode ser classificada como

modo realis ou irrealis? Justifique.

5º Assinale a oração mais transitiva de acordo com o parâmetro modalidade.

( ) “O chão vai ficar coberto de neve.”

( ) “O verão terminou”

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9ª aula

Nesse último momento de aula expositiva, abordamos o parâmetro Individuação

do objeto. Como se trata de identificar o objeto como o argumento que definirá a

transitividade da frase, trabalhamos, portanto, os traços que permitem identificar esse

parâmetro. A saber, próprio, humano, animado, concreto, singular, contável, referencial

definido. Para compor a nossa exposição, trabalhamos com frases do poema Gangorra

(Flora Figueiredo), apresentado aos alunos no primeiro encontro, 1ª e 2ª aulas.

Após a exposição oral do conteúdo, os alunos fizeram, como em todos os

encontros, uma atividade que proporcionou melhor assimilação do assunto abordado.

Atividade 5

1º Considerando o fato de o objeto ser individuado quando for um nome próprio,

humano/animado, concreto, singular, contável, definido, identifique as orações cujos

objetos podem ser considerados maximamente individuados.

a. ( ) “Eu lavo o cristal.”

b. ( ) Marcos beijou Joana.

c. ( ) “Eu colho a maçã.”

d. ( ) Marta comprou um carro novo.

e. ( ) Ele namora minha amiga.

2º Quanto mais individuado o objeto, mais afetado ele é. Sendo assim, identifique no

trecho abaixo o objeto maximamente afetado.

Hoje, decidi ir à feira com minha mãe. Ela gosta de comprar legumes e verduras

fresquinhas, por isso precisa ir bem cedo. Ir à feira, para ela, é seguir um ritual. Ao

chegar lá, ela chama Pedrinho, um menino que a ajuda com as compras

costumeiramente. Na companhia do menino, percorre toda a feira pesquisando o preço

de tudo, depois disso, começa fazer as compras. Compra a batata na barraca de dona

Maria, a cenoura na de João, a alface na de celeste e, assim, vai demonstrando seu

conhecimento sobre economia, além de ensinar ao menino e a mim, enquanto a

acompanhávamos, que a feira é um divertido lugar de aprendizagens múltiplas.

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10ª aula

Após as aulas expositivas que abordaram os parâmetros detalhadamente,

fizemos uma atividade lúdica contemplando todos os componentes da transitividade.

Trata-se de um jogo, Na Trilha da Transitividade, que envolve toda a turma.

NA TRILHA DA TRANSITIVIDADE

A trilha deverá ser desenhada no piso para que o aluno possa percorrê-la

tranquilamente;

A sala será dividida em 5 equipes, 1 participante percorrerá a trilha e os demais

ajudarão com as respostas;

Com a ajuda de um dado, sortearemos a ordem de largada para cada equipe;

Vencerá o jogo a equipe que concluir o percurso primeiro.

1. Em: Meu vizinho morreu, temos uma oração transitiva ou intransitiva?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

2. Dizemos que o traço pontualidade torna a oração mais transitiva se a ação

expressa pelo verbo for instantânea ou contínua?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

3. Na oração, A família Alves partiu, identificamos a presença de mais de um

participante?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

4. Escolha a oração cuja ação pode ser transferida de um participante para outro.

a. Eu abracei meu filho.

b. Carlos gosta de leite.

5. Para que a oração seja mais transitiva é necessário que, dentre outros

parâmetros, a polaridade seja negativa e a modalidade seja irrealis.

Essa afirmação é verdadeira ou falsa?

Acertou! Adiante duas casas

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Errou! Recue uma casa

6. Segundo os parâmetros agentividade do sujeito e intencionalidade do sujeito /

volitividade, qual das orações abaixo é mais transitiva?

a. João brigou com Carlos.

b. Ele perdeu o show.

7. Na oração, Pedro comeu o bolo, temos um aspecto verbal télico porque a ação

foi concluída e um objeto afetado. Essa afirmação é verdadeira ou falsa?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

8. Considerando o fato de o objeto ser individuado quando for um nome próprio,

humano/animado, concreto, singular, contável, definido, identifique as orações

cujos objetos podem ser considerados maximamente individuados.

a. ( ) “Eu namoro a noite.”

b. ( ) Marcos namora Joana.

Legenda

P1- pergunta número 1

P2- pergunta número 2

P3- pergunta número 3

P4- pergunta número 4

P5- pergunta número 5

P6- pergunta número 6

P7- pergunta número 7

P8- pergunta número 8

Adiante 1 casa

P1 P2

P3

P4 P5

P6

P7 P8

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Adiante 3 casas

Volte para a casa número 5

Volte 1 casa

Produção Final

Duração: 01 h/a

Nesta última etapa da sequência didática, os alunos responderam a uma

atividade xerografada, para verificação da aprendizagem e posterior coletas de dados.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS - PROFLETRAS

ESCOLA PESQUISADA: Colégio Estadual Vilas Boas Moreira

ENDEREÇO: Avenida Nena Santos, nº 427, Bairro Brasil – Vitória da Conquista BA

DOCENTE PESQUISADOR: Soleane Rodrigues Lustosa Lima

DISCENTE PESQUISADO: ______________________________________________

TURMA: 8º ANO____ TURNO: matutino DATA ______ /_____ / 2018

Leia o texto com atenção para responder as perguntas que seguem.

A feira: um lugar de diversão

Hoje, decidi ir à feira com minha mãe. Ela gosta de comprar legumes e verduras

fresquinhas, por isso precisa ir bem cedo, embora não seja esse o único motivo que a

faça sair de casa nesse horário. Segundo ela, o ar puro matinal é rejuvenescedor, por

isso não o dispensa.

Ir à feira, para ela, é seguir um ritual. Ao chegar lá, ela chama Pedrinho, um

menino que a ajuda com as compras costumeiramente. Na companhia do menino,

percorre toda a feira pesquisando o preço de tudo, depois disso, começa fazer as

compras, interrompendo-as vez ou outra para conversar com os feirantes. Compra a

batata na barraca de Dona Maria, a cenoura na de Pedro, a alface na de Celeste, até

comprar todos os itens necessários para o consumo semanal e alguns mimos para os

netos. Ela comprou biscoitos deliciosos para eles e um lindo buquê de rosas para mim,

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das quais pôs uma em meu cabelo para relembrar minha infância.

Assim, ao executar uma tarefa simples e prazerosa semanalmente, ela se diverte

cumprindo uma “tarefa doméstica”, além de ensinar ao menino e a mim, enquanto a

acompanhávamos, que a feira é um divertido lugar de múltiplas aprendizagens.

Quando nós concluímos as compras, fomos à barraca de Seu João, velho

conhecido da minha mãe. Lá, nós tomamos caldo de cana. Eu só consegui beber

metade do caldo que estava no copo, pois já havia experimentado tantos biscoitos que,

possivelmente, dispensaria até o almoço. Mas Pedrinho tomou todo o caldo de cana de

seu copo. Segundo ele, precisava repor todas as energias consumidas pelas voltas dadas

na feira. Naquele momento, a barraca era a nossa praça de alimentação, onde batemos

papo, sorrimos, fizemos novas amizades e nos divertimos.

Alimentados e bastante cansados, voltamos para casa com a certeza de que a

diversão foi garantida e que, na próxima semana, voltaríamos àquela feira para mais

uma oportunidade de desfrutarmos de muito lazer e aprendizagem.

Soleane Rodrigues Lustosa Lima

1. Leia atentamente as frases e identifique aquela que contém dois participantes:

um que pratica a ação e outro que sofre a ação.

( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Ao chegar lá, ela chama Pedrinho.

2. Das frases abaixo, identifique aquela na qual o sujeito transfere uma ação para

um paciente.

( ) Ela pôs uma rosa em meu cabelo.

( ) Segundo ele, precisava repor as energias consumidas pelas voltas dadas na

feira.

3. Identifique nas sentenças abaixo aquela cujo verbo dá idéia de ação concluída.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

( ) Na companhia do menino, percorre toda a feira pesquisando o preço de

tudo.

4. Assinale a sentença cuja ação verbal acontece instantaneamente, sendo assim,

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mais pontual.

( ) Voltamos para casa com a certeza de que a diversão foi garantida.

( ) Nós tomamos caldo de cana.

5. O objeto é melhor caracterizado quando apresenta o maior número das

seguintes características: próprio, humano/animado, concreto, singular, contável

e é definido. Sendo assim, observe as sentenças abaixo e assinale aquela cujo

objeto apresenta o maior número das características citadas.

( ) Ela chama Pedrinho.

( ) Nós tomamos caldo de cana.

6. Assinale a sentença cujo objeto foi mais afetado pela ação do sujeito.

( ) Pedrinho tomou todo o caldo de cana.

( ) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

7. Os verbos das orações abaixo expressam ações hipotéticas ou não. Assinale a

opção na qual a ação não é hipotética, sendo, portanto, certa e real.

( ) Na próxima semana, nós voltaríamos àquela feira.

( ) Compra a batata na barraca de Dona Maria, a cenoura na de Pedro, a alface

na de Celeste.

8. Percebe-se, nas frases abaixo, que algumas ações ocorreram e outras não.

Identifique aquela cuja ação é positiva, ou seja, uma ação ocorrida.

( ) Quando nós concluímos as compras, fomos à barraca de Seu João.

( ) Ela nunca conseguiu percorrer toda a feira.

9. Observe a sentença cujo verbo transfere uma a ação e assinale-a.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles e um lindo buquê de rosas para

mim.

( ) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

10. Assinale a sentença na qual o sujeito executa a ação de maneira proposital.

Assinale-a.

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( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

11. Tendo em vista a escala de transitividade estudada, identifique a senteça que

julgamos ser mais transitiva.

( ) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

OBRIGADA PELA PARTICIPAÇÃO!

Assim, concluímos nossa proposta de intervenção através dessa SD que

apresenta como produto final, além das atividades realizadas pelos alunos do 8º ano A

do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira durante essa prática, um caderno pedagógico

com atividades e orientações para os professores acerca do conteúdo trabalhado nesta

sequência e um caderno de atividades direcionado ao aluno, propondo, dessa forma, que

esse material auxilie na prática pedagógica dos professores de Língua Portuguesa que

desejem colocar em prática esta proposta.

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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nesta seção, discutimos as atividades da nossa proposta de intervenção para o

ensino da Transitividade Verbal na perspectiva do Funcionalismo Linguístico.

Inicialmente, aplicamos uma avaliação diagnóstica com o objetivo de sondar se os

alunos tinham algum conhecimento do conteúdo Transitividade Verbal e a motivação

para o estudo de Língua Portuguesa, além de sondarmos a percepção dos aprendizes em

relação à proposta funcionalista a ser aplicada. Essa avaliação diagnóstica permitiu-nos

traçar um perfil dos participantes da pesquisa, os alunos do 8º ano, formada por 34

(trinta e quatro) estudantes do Colégio Estadual Vilas Boas Moreira na cidade de

Vitória da Conquista – BA.

Diante dos dados observados na primeira avaliação, desenvolvemos nossa

proposta de intervenção organizada em uma Sequência Didática desenvolvida em 10h/a

(dez aulas), nas quais discutimos detalhadamente os parâmetros da transitividade

propostos por Hopper e Thompson (1980) cujo objetivo é identificar, na oração, a

transitividade como um processo escalar. Para tanto, foram desenvolvidas atividades

específicas para cada parâmetro estudado individualmente. Por fim, para concluir a

Sequência Didática aplicada e aferir a aprendizagem dos alunos em relação ao que foi

trabalhado, elaboramos e aplicamos uma atividade final que contemplou os parâmetros

da transitividade. Servindo-nos, portanto, de instrumento para coleta de dados

Para análise dos dados obtidos na avaliação final, priorizamos identificar a

percepção dos parâmetros da transitividade presentes em sentenças discursivas,

proporcionando o reconhecimento de orações mais transitivas e menos transitivas. A

partir desses critérios de avaliação, chegaremos a resultados que apontarão a eficácia ou

não da proposta funcionalista para os estudos gramaticais, especificamente da

Transitividade Verbal.

5.1 RESULTADOS APRESENTADOS NA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

Ao elaborarmos uma avaliação diagnóstica, preocupamo-nos em saber, dentre

outros aspectos, a importância atribuída, pelos alunos, aos estudos gramaticais; se eles

apresentam algum conhecimento sobre Transitividade Verbal; e, se é possível

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identificar a percepção, sobretudo intuitiva, dos discentes em relação à proposta

funcionalista aplicada. Assim, as perguntas desta etapa foram as seguintes:

1. Por que você acha que deve ter Língua Portuguesa como disciplina obrigatória

no seu currículo escolar?

2. Qual a importância de se estudar gramática?

3. No seu ponto de vista, que eventos gramaticais são relevantes para o uso diário

da Língua Portuguesa?

4. O que você entende por transitividade?

Não discutiremos todas as respostas da atividade, mas apenas aquelas que forem

pertinentes à obtenção de dados que permitam traçar o perfil dos participantes da

pesquisa aqui empenhada. Esclarecemos ainda que, após uma sucinta discussão a

respeito da questão, apresentamos o gráfico com os resultados para uma melhor

visualização.

Em resposta à primeira pergunta, a maioria disse ser de fundamental importância

para saber ler e escrever corretamente. Reconhecem, também, a importância da

disciplina supracitada no processo educativo, além de atribuir a ela a responsabilidade

em ensinar o conteúdo gramatical. Podemos constatar essas respostas no Gráfico 1:

Gráfico 1 – Respostas dadas à Pergunta 1

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

55

27

126

0

10

20

30

40

50

60

Afirmam que ensina a falar e a

escrever corretamente

Afirmam ser importante no

processo educativo

Afirmam ser responsável por

ensinar o conteúdo gramatical

Outras respostas

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Nas respostas referentes à segunda pergunta da atividade, os alunos, em sua

maioria, atribuíram à gramática a aprendizagem da escrita correta. Reconhecem,

também, que os estudos gramaticais contribuem para uma melhor compreensão de

texto, além de identificarem a aplicabilidade das regras gramaticais em situações de

comunicação. O exercício do bem escrever e o bem falar, nesse sentido, para eles estaria

condicionado ao conhecimento das regras gramaticais.

Gráfico 2 - Respostas dadas à Pergunta 2

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Quando questionados sobre o conhecimento do assunto Transitividade Verbal, a

maioria afirmou que não sabe nada a respeito e outros tentaram definir a partir da

nomenclatura usada no título do conteúdo gramatical em pauta. Observemos:

Gráfico 3 – Respostas dadas à Pergunta 4

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

49

18 15 12 60

10

20

30

40

50

60

Afirmam que os estudos

gramaticais proporcionam

melhor aprendizagem na

escrita.

Afirmam que os estudos

gramaticais proporcionam

melhor compreensão dos

textos.

Reconhecem a necessidade dos

estudos gramaticais para

falar corretamente.

Afirmam que os estudos

gramaticais proporcionam o

domínio da Língua Portuguesa.

Outras respostas

40

18 156

12 905

1015202530354045

Não sabem o que é

transitividade

Afirmam ser uma transição

Identificam como uma

transferência de palavras

Identificam como uma

transferência de ação

Entendem como uma

classificação para um verbo

Não responderam

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Nessa primeira parte do questionário, constatamos que os alunos não

reconhecem a funcionalidade da língua e veem os estudos gramaticais como essenciais

para falar e escrever corretamente como prescreve a gramática normativa. Além disso,

detectamos que a maior parte dos alunos desconhece a transitividade verbal.

Na segunda parte, foram propostas questões que possibilitassem identificar a

percepção dos informantes no que se refere à relação sintático-semântica dos verbos e

os termos que os acompanham. Assim, sugerimos uma análise simples de 8 (oito)

orações, apresentadas na sequência com seus respectivos resultados.

(1) “Cada lance de uma Copa

Faz o torcedor vibrar.”

Cada lance é responsável pela vibração do torcedor?

S ( 76% ) N ( 24% )

O torcedor foi afetado pelos lances da Copa?

S ( 61% ) N ( 39% )

(2) “Cada um fez um resumo

No trabalho de gigante”.

Cada um fez seu próprio resumo?

S ( 90% ) N ( 10% )

O resumo é parte de outro trabalho?

S ( 39% ) N ( 58% ) Não responderam ( 3% )

(3) Os eleitores fizeram Pedro Paulo diretor.

Os eleitores foram responsáveis pelo novo cargo de Pedro Paulo?

S ( 88% ) N ( 12% )

Pedro Paulo passou a ter um novo cargo de diretor?

S ( 73% ) N ( 27% )

(4) Carla nos visitará amanhã.

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Carla já planejou a visita?

S ( 94% ) N ( 6% )

A ação já se realizou?

S ( 3% ) N ( 94% ) Não responderam (3%)

(5) João encheu a garrafa.

João proporcionou a mudança na garrafa, de vazia para cheia?

S ( 82% ) N ( 18% )

A garrafa teve sua condição modificada pelo verbo encher?

S ( 73% ) N ( 27% )

(6) O torcedor levou pancada.

O torcedor executou alguma coisa?

S ( 6% ) N ( 94% )

A pancada afetou o torcedor.

S ( 100% ) N ( 0% )

(7) O menino não tomou o leite.

O menino realizou a ação verbal?

S ( 49% ) N ( 51% )

(8) Maria brincou com a boneca.

Houve interação na brincadeira entre Maria e sua boneca?

S ( 90% ) N ( 10% )

Em linhas gerais, constatamos, de acordo com os resultados obtidos, que os

informantes percebem e distinguem claramente agentividade, passividade, afetamento

do objeto, aspecto verbal, modalidade do verbo. Constatamos, também, maior

dificuldade no que se refere à polaridade do verbo, explicitada na resposta da oração (7).

Assim, as respostas assinalam, previamente, que os participantes da pesquisa não terão

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maiores dificuldades em entender a Transitividade Verbal na perspectiva funcionalista,

embora, quando perguntados diretamente sobre o assunto, demonstrem não conhecer.

5.2 RESULTADOS APRESENTADOS NA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Os resultados apresentados na avaliação diagnóstica direcionaram a elaboração

da proposta de intervenção que consistiu em uma Sequência Didática desenvolvida em

10 h/a (dez aulas) cujo conteúdo foi trabalhado a partir dos preceitos da Linguística

Funcional norte-americana para o estudo da Transitividade Verbal que aborda o

fenômeno transitividade “[...] como uma propriedade contínua, escalar (gradiente), da

oração como um todo” (CUNHA; SOUZA, 2011, p. 37).

Tendo em vista que é na oração, considerada transitiva, que conseguimos aferir

o grau de transitividade a depender dos traços (parâmetros) identificados nela,

propomos um estudo detalhado a cerca dos parâmetros da transitividade de acordo com

os estudos de Hopper e Thompson (1980). Apesar de os traços serem independentes,

atuam articulados na oração para determinar o grau de transitividade dela, pois,

isoladamente, não são capazes de aferir se uma oração é mais transitiva ou menos

transitiva. No entanto, para facilitar a compreensão dos alunos a cerca disso, optamos

por trabalhar, inicialmente, com os parâmetros separadamente para que os estudantes

possam, ao final, identificar o conjunto de traços presentes na oração e aferir

adequadamente o grau de transitividade.

Sendo assim, nosso trabalho contou com aulas expositivas e atividades lúdicas

na ministração do conteúdo, além de atividades orais e escritas sobre cada parâmetro.

Essas atividades não nos serviram de coleta de dados, tendo em vista que nosso objetivo

é a compreensão, por parte do aluno, do conjunto de traços presentes na oração. Dessa

forma, serviu-nos, para coleta de dados, uma atividade final envolvendo todos os

parâmetros propostos com o objetivo de identificar se a aprendizagem foi efetiva.

Vale ressaltar que nossa proposta de trabalho está embasada, teoricamente, na

Linguística Funcional prevalecendo as condições discursivas do uso interativo da

língua. Portanto, a atividade aborda uma perspectiva diferenciada daquela que,

habitualmente, encontramos em livros didáticos no que se refere ao ensino de gramática.

Desse modo, interessa-nos identificar se os alunos identificam a funcionalidade da

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língua através dos parâmetros da Transitividade Verbal apresentados em cada questão

da avaliação final.

A seguir, elencamos as questões24

elaboradas e a análise das respectivas

respostas. Em cada questão, foram sugeridas duas alternativas, sendo que em apenas

uma está apresentado o traço sinalizado na questão, o que deve ser percebido através da

análise da situação sugerida, sem que, contudo, seja cobrada a identificação a partir da

nomenclatura que define cada parâmetro.

Na primeira questão, buscamos identificar se os discentes reconhecem o

parâmetro Participantes. Vejamos a questão:

(1) Leia atentamente as frases e identifique aquela que contém dois

participantes: um que pratica a ação e outro que sofre a ação.

a) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

b) Ao chegar lá, ela chama Pedrinho.

A alternativa B foi escolhida por 56% dos discentes. Esse resultado demonstrou

aprendizagem no que se refere a esse parâmetro, embora a expectativa fosse de um

percentual maior, tendo em vista a efetiva participação nas aulas, nas quais os discentes

demonstravam que tinham conseguido assimilar de forma satisfatória o conteúdo. Os

alunos, contudo, perceberam que há um participante oculto na alternativa A e um

explicito na alternativa B. Entendemos, portanto, que a escolha da maioria pela

alternativa B se justifica pela presença explícita do participante (sujeito), tornando-o

mais presente ainda.

A segunda questão enfatiza o parâmetro Cinese que aponta a transferência da

ação de um participante para outro, efetivada a partir de verbos que expressão ação.

Colocamos, para esse parâmetro, a seguinte questão:

(2) Das frases abaixo, identifique aquela na qual o sujeito transfere a ação para o

outro participante.

a) Ela pôs uma rosa em meu cabelo.

b) Segundo ele, precisava repor as energias consumidas pelas voltas dadas

na feira.

24

A atividade conta com um texto e 11 (onze) questões, apresentados integralmente na subseção 4.3,

intitulado Sequência Didática, desta Dissertação.

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A alternativa A foi escolhida por 89% dos alunos, demonstrando, dessa forma,

efetiva aprendizagem em relação ao parâmetro Cinese por uma considerável parte da

turma. Foi possível, ainda, verificar, nesse resultado, que 11% não identificaram a

forma verbal pôs como um verbo de ação, demonstrando não compreender que esses

verbos possibilitam a transferência da ação de um participante para outro.

Na terceira questão, foi verificada a aprendizagem do parâmetro Aspecto da

oração identificado em orações cuja transferência da ação se efetiva quando o verbo

apresenta aspecto perfectivo. Para verificarmos a percepção a respeito desse parâmetro,

elaboramos esta questão:

(3) Identifique nas sentenças abaixo aquela cujo verbo dá ideia de ação

concluída.

a) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

b) Na companhia do menino, percorre toda a feira pesquisando o preço de

tudo.

A maioria dos estudantes, 81%, respondeu a alternativa A, demonstrando, dessa

forma, plena compreensão no que se refere ao aspecto télico do verbo, responsável pela

efetiva transferência da ação de um participante para outro. Curiosamente, 19%

consideraram o verbo “percorre”, na alternativa B, como uma ação concluída,

possivelmente por não considerarem o tempo verbal presente na oração.

Na quarta questão, buscamos identificar o sentido pontual e não pontual das

formas verbais para se chegar à compreensão do parâmetro Pontualidade. Para tanto,

formulamos a seguinte questão:

(4) Assinale a sentença cuja ação verbal acontece instantaneamente, sendo

assim, mais pontual.

a) Voltamos para casa com a certeza de que a diversão foi garantida.

b) Nós tomamos caldo de cana.

Ao verificar as respostas, constatamos que 83% dos alunos, ao optarem pela

alternativa B, compreenderam que o parâmetro Pontualidade está presente em orações

com ação verbal não durativa em contraposição a 17% que não reconhecem esse traço

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no “tomamos”, mas que o identificam no “voltamos para casa”, sem perceber que o

verbo “voltamos” sugere uma continuidade.

Na quinta questão, ao buscar o reconhecimento, por parte dos alunos, do

parâmetro componente Individuação do objeto, enfatizamos, no enunciado, a

importância desse traço que diz respeito à distinção do paciente em relação ao agente e

a distinção deste em relação à sua própria classe. Diante dessa proposta, apresentamos

esta questão:

(5) O objeto é melhor caracterizado quando apresenta o maior número das

seguintes características: próprio, humano/animado, concreto, singular,

contável, referencial/definido. Sendo assim, observe as sentenças abaixo e

assinale aquela cujo objeto apresenta o maior número das características

citadas.

a) Ela chama Pedrinho.

b) Nós tomamos caldo de cana.

Constatamos, com a escolha de 86% dos alunos pela alternativa A, que houve

uma aprendizagem no que se refere ao traço em questão. No entanto, havia uma

expectativa que, diante do esclarecimento apresentado na questão, todos os alunos

localizassem os traços em Pedrinho e não em caldo de cana. Com esse resultado, somos

levados a refletir se as características do objeto não foram compreendidas ou se o objeto

“caldo de cana” traz, para esse grupo de alunos, características semelhantes ao objeto

“Pedrinho”.

A sexta questão aborda o parâmetro Afetamento do objeto através da simples

verificação se o objeto foi afetado plenamente pela ação verbal do agente. Para a

percepção desse aspecto, elaboramos a questão abaixo:

(6) Assinale a sentença cujo objeto foi mais afetado pela ação do sujeito.

a) Pedrinho tomou todo o caldo de cana.

b) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

A percepção, por parte dos alunos, em relação ao Afetamento do objeto

demonstrada através da escolha da alternativa A por 89% dos alunos, evidencia a

aprendizagem. No entanto, ainda constatamos que 11% dos aprendizes não perceberam

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a diferença entre o ato de tomar todo e de tomar a metade como responsável pelo maior

ou menor afetamento ao objeto. Podemos inferir que a minoria que optou pela

alternativa B considerou apenas o fato do objeto ser afetado e não o grau do afetamento.

Na sétima questão, buscamos identificar se os aprendizes conseguem distinguir

se a ação ocorreu ou não, se expressa um evento hipotético ou não. Contemplando,

assim, o parâmetro Modalidade. Nesse parâmetro, elaboramos a questão a seguir:

(7) Os verbos das orações abaixo expressam ações hipotéticas ou não. Assinale a

opção na qual a ação não é hipotética, sendo, portanto, certa e real.

a) Na próxima semana, nós voltaríamos àquela feira.

b) Compra a batata na barraca de Dona Maria, a cenoura na de Pedro, a

alface na de Celeste.

A partir da escolha da alternativa B por 81% dos alunos, percebemos que eles

identificaram na forma verbal compra uma ação real, caracterizando, dessa forma, o

traço Modalidade e reconhecendo a distinção dos códigos “reallis” e “irrealis”, mesmo

não tendo sido cobrado na questão. Em contrapartida, 19% não identificaram na forma

verbal voltaríamos uma ação hipotética, possivelmente por o verbo estar no futuro do

pretérito do indicativo.

A oitava questão sugere a observação de ações que ocorreram ou não,

permitindo, dessa forma, identificar a transferência da ação em orações cuja ação

ocorreu, caracterizando, portanto, polaridade positiva. A esse respeito, propomos uma

questão na qual os alunos percebessem a realização ou não da ação. Vejamos:

(8) Percebe-se, nas frases abaixo, que algumas ações ocorreram e outras não.

Identifique aquela cuja ação é positiva, ou seja, uma ação ocorrida.

a) Quando nós concluímos as compras, fomos à barraca de Seu João.

b) Ela nunca conseguiu percorrer toda a feira.

92% dos estudantes optaram pela alternativa A, demonstrando plena convicção

de que a polaridade afirmativa, responsável pela transferência da ação, ocorreu a partir

da realização da ação, expressa no verbo “concluímos”, independente do tempo verbal

no pretérito. No entanto, 8% não responderam com proficiência a esse parâmetro, não

identificando, por exemplo, a presença do advérbio nunca como elemento que indica a

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polaridade negativa. Possivelmente, os alunos estejam associando a polaridade negativa

ao advérbio protótipo da negação, o não.

Na nona questão, verificamos a Agentividade dos participantes, que é

considerada alta quando a ação do agente apresentar consequências perceptíveis.

Permitindo, então, a transferência da ação. Vamos conferir a questão e o resultado.

(9) Observe a sentença cujo verbo transfere uma ação e assinale-a.

a) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles e um lindo buquê de rosas

para mim.

b) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

Uma boa parte dos alunos, 78%, escolheram a alternativa A por entenderem que,

neste caso, a ação é transferida tendo em vista que a ação de comprar biscoitos é um

evento mais perceptível do que aquele sugerido pelo verbo divertir-se que, por sua vez,

pode implicar apenas um estado interno no agente. Sendo assim, 22% dos aprendizes

não perceberam a implicação dos verbos comprou e diverte(-se) sobre seus respectivos

agentes, considerando os dois verbos com valor semelhante para a análise do parâmetro

em questão.

Na décima questão, verificamos se os alunos conseguiram identificar uma ação

proposital por parte do agente, caracterizando, assim, o parâmetro Intencionalidade do

sujeito. Observemos:

(10) Assinale a sentença na qual o sujeito executa a ação de maneira

proposital

a) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

b) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

A resposta da maioria, 92%, aponta a letra A como aquela que apresenta uma

ação proposital. Diante disso, identificamos significativa aprendizagem, também, do

parâmetro Intencionalidade, especificamente quando os alunos demonstram reconhecer

o desejo do agente em ir à feira, expresso pelo verbo decidir. Curiosamente, 8% não

chegaram a essa percepção ao identificarem, no verbo conseguir uma ação proposital.

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90

Objetivamos, com essas dez questões, certificarmo-nos se houve efetiva

aprendizagem no que se refere aos dez parâmetros apresentados por Hopper e

Thompson (1980) para aferir o grau de transitividade da oração.

Conforme já mencionamos, os parâmetros são traços independentes, mas que

funcionam juntos, em sintonia. Nesse momento, primando por uma questão de natureza

metodológica, optamos por analisá-los individualmente antes de apresentarmos questões

que busquem a identificação do maior número deles em cada oração. Ação que

permitirá aferir o grau de transitividade da oração segundo a formulação de Hopper e

Thompson (1980).

Diante disso, na décima primeira questão da atividade final, buscamos conferir

se os estudantes conseguiriam identificar, dentre três orações, aquela que é mais

transitiva.

(11) Tendo em vista a escala de transitividade estudada, identifique a sentença

que julga ser mais transitiva.

a) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

b) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

c) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

Para identificar o grau de transitividade de cada oração os alunos precisam,

inicialmente, saber que não é necessária a presença de todos os parâmetros na oração,

mas o maior número deles. Para tanto, esperamos que identifiquem, na alternativa A, os

traços componentes Modalidade e Afetamento do objeto; na B, os parâmetros Aspecto,

Pontualidade, Polaridade, Modalidade, Agentividade e Afetamento do objeto; na C,

Participantes, Cinese, Aspecto, Pontualidade, Intencionalidade, Polaridade,

Modalidade, Agentividade e Afetamento do objeto. E, assim, percebam que a alternativa

C apresenta uma oração com alta transitividade, por apresentar nove traços marcados

positivamente. Isso se justifica porque ela conta com dois participantes (sujeito e

objeto), o verbo (comprar) expressa ação, o aspecto do verbo é télico (ação concluída),

apresenta uma ação pontual (não houve nenhuma fase de transição entre o início e o fim

da ação), há intencionalidade do sujeito (não havendo intenção se a oração fosse: Ela

esqueceu de comprar biscoitos), a ação ocorreu (polaridade afirmativa), modalidade

“realis” (há certeza no evento verbal), a ação do agente (comprar biscoitos) é um evento

perceptível, o objeto é afetado (os biscoitos passam a ser de outra pessoa) havendo uma

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mudança de condição. Assim, a alternativa C, diante das outras alternativas, será a que

apresenta maior transitividade.

Vamos verificar os resultados dos alunos em relação à décima primeira questão

no Gráfico 4:

Gráfico 4 – Resultado da resposta dada pelos alunos à questão 11

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Constatamos, portanto, com esse resultado, que os estudantes conseguem

perceber a relevância e atuação de cada parâmetro nas sentenças, além de distinguir o

grau de transitividade que cada uma delas traz. A escolha da maioria (81%) pela

alternativa C, em detrimento a 11% na alternativa A e a 8% na alternativa B, confirma

uma efetiva aprendizagem do assunto Transitividade Verbal a partir da perspectiva

funcionalista e, com isso, traz-nos a certeza de que é possível trabalhar, também, com

esse modelo para que os alunos percebam a transitividade para além do prescrito na

Tradição Gramatical.

Reconhecemos a importância da Tradição Gramatical e do uso do Livro Didático

na sala de aula, mas acreditamos e defendemos que podemos, para além da TG, buscar

estudos e pesquisas que nos guiem a orientar os nossos alunos para pesquisas voltadas à

língua em uso. Ao lado disso, reconhecemos a importância do Livro Didático como um

importante instrumento a ser utilizado em sala de aula, mas consideramos ser

importante acrescentarmos outras compreensões sobre os assuntos ali presentes, bem

Responderam a alternativa A

11%Responderam a alternativa B

8%

Responderam a alternativa C

81%

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como utilizar o que está apresentado no livro didático para mostrar outros olhares sobre

os fenômenos linguísticos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta Dissertação foi realizada com o objetivo de investigar como a

Transitividade Verbal tem sido apresentada aos alunos do Ensino Fundamental II

através do suporte pedagógico oferecido pelo livro didático. A partir desse estudo,

propomos uma nova possibilidade de estudar a Transitividade Verbal, embasada,

teoricamente, na Linguística Funcional norte-americana, especificamente, nos estudos

de Hopper e Thompson (1980).

Para tanto, iniciamos nosso trabalho, na seção denominada “Transitividade

Verbal”, com uma pesquisa bibliográfica acerca da Transitividade Verbal, abordando o

que prescreve a Tradição Gramatical, o que descreve a Tradição Linguística e, em

especial, o Funcionalismo Linguístico Norte-Americano. Além dessas abordagens,

realizamos uma incursão nos estudos contemporâneos e em livros didáticos. Esta

pesquisa, permitiu-nos identificar pontos divergentes no que tange à compreensão do

fenômeno gramatical em pauta e, assim, constatarmos que a maior divergência está em

como o evento gramatical é visto pela Tradição Gramatical (TG) e pela Tradição

Linguística (TL). A TG identifica o verbo como responsável por definir a transitividade,

por isso a análise é feita a partir da necessidade ou não de complemento sugerida pelo

vocábulo verbal, classificando-o, essencialmente, como transitivo ou intransitivo. Em

contra partida, a TL amplia a classificação da transitividade verbal, tendo em vista o

reconhecimento de várias possibilidades para analisar o fenômeno gramatical, isso

permite identificar o evento como um caso particular de regência (PERINI, 2002), como

um evento discursivo (CASTILHO, 2016), dentre outros conceitos que ressaltam a

importância, também, dos demais termos que compõem a oração.

Diferentemente das definições dadas pela Tradição Gramatical, e,

assemelhando-se, discretamente, com aquilo que reza a Tradição Linguística, o

Funcionalismo Linguístico parte do pressuposto que a oração é resultado de uma

motivação discursiva, portanto, não cabe, exclusivamente, ao verbo defini-la.

De acordo com a abordagem da Linguística Funcional a respeito do conteúdo em

questão, a transitividade é um fenômeno contínuo e escalar, de propriedade da oração.

Diante desse conceito, Hopper e Thompson (1980) apresentam dez parâmetros

sintático-semânticos que identificam a transitividade da oração – participantes, cinese,

aspecto do verbo, pontualidade do verbo, intencionalidade do sujeito, polaridade da

oração, modalidade da oração, agentividade do sujeito, afetamento do objeto,

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individuação do objeto – Apesar de serem independentes, são analisados em conjunto

na oração para que seja possível aferir o grau de transitividade em cada uma delas.

Portanto, a quantidade de traços identificados em cada sentença permitirá definir se a

oração apresenta transitividade alta ou baixa. Vale salientar que a proposta empreendida

por Hopper e Thompson, não toma o fenômeno da transitividade como algo restrito ao

verbo, mas como uma propriedade da oração, considerando, dessa forma, que as

construções linguísticas surgem motivadas por intenções discursivas e apresentam graus

diferenciados de transitividade.

Diante do que aborda o Funcionalismo Linguístico em relação à Transitividade

Verbal, motivou-nos investigar como o livro didático trata esse assunto e se o que

propõe esse recurso pedagógico favorece a aprendizagem do conteúdo considerando a

funcionalidade da língua.

Concluímos a seção “Transitividade Verbal”, identificando, na análise feita no

livro didático, nesse caso, o exemplar do 7º ano da coleção Português e Linguagens

(CEREJA; MAGALHÃES, 2015), que a teoria preconizada por essa obra contempla os

conceitos abordados pela Tradição Gramatical para o ensino da Transitividade Verbal,

apesar de os autores reconhecerem e explicitarem, no Manual do Professor presente na

mesma obra, que o mesmo verbo pode ser transitivo ou intransitivo a depender do

contexto que esteja inserido. A abordagem, presente nesse importante instrumento

didático, está restrita ao verbo sem considerar as alterações sofridas por essa classe

morfológica na língua em uso.

Em relação à Metodologia, apoiamo-nos na pesquisa quali-quantitativa, que

contou, para a coleta de dados, com duas atividades. A primeira, uma avaliação

diagnóstica que antecedeu à proposta de intervenção, objetivou conhecer melhor os

alunos e sondar se eles apresentavam algum conhecimento em relação ao conteúdo

gramatical proposto para estudo, além de averiguar a importância dada por eles aos

estudos gramaticais. A segunda, uma atividade que objetivou identificar o nível de

aprendizagem do conteúdo, neste caso, a Transitividade Verbal, trabalhado durante a

execução da proposta de intervenção, efetivada através de uma sequência didática.

A primeira atividade, a avaliação diagnóstica, possibilitou conhecer melhor os

participantes da pesquisa, alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II. Os resultados

encontrados mostraram uma turma formada por alunos que acham muito importante o

estudo da disciplina Língua Portuguesa e de todos os conteúdos gramaticais, pois

atribuem a isso o falar e o escrever corretamente. Embora os discentes tenham

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demonstrado não reconhecerem a funcionalidade da língua, ao se depararem com

questões semântico-discursivas conseguiram responder sem se prenderem a regras

gramaticais.

Tendo em vista os resultados apresentados pela primeira atividade, direcionamos

a proposta de intervenção, desenvolvida em uma Sequência Didática cujo conteúdo é

nosso objeto de estudo, a Transitividade Verbal, composta por atividades que

evidenciam o ensino de gramática ancorado na teoria da Linguística Funcional,

sobretudo no que propõe Hopper e Thompson (1980). Após realização de todas as

atividades propostas, inclusive a última atividade que nos serviu para coleta de dados,

constatamos êxito na aprendizagem no que tange ao ensino da Transitividade Verbal

embasado no que sugere o Funcionalismo Linguístico.

Nesse sentido, observamos que aplicar um conteúdo gramatical evidenciando a

língua em funcionamento pode acabar com alguns estereótipos que permeiam o ensino

de gramática nas escolas. Dessa forma, as colocações dos alunos acerca da dificuldade

em aprender Língua Portuguesa, constatadas ao longo dos anos no exercício do

magistério, foram sanadas pela maioria a partir de uma nova experiência de ensino.

Sendo assim, diante desses resultados, confirmamos as hipóteses de que a forma de

abordagem dos conteúdos gramaticais nos livros didáticos dificultam a aprendizagem,

tendo em vista o modelo normativo, enquanto que o ensino de gramática pautado no uso

facilita a compreensão, considerando o fato de que as questões abordadas partem da

vivência dos educandos.

Levando-se em consideração o que foi pesquisado, observamos que há muito

que avançar em se tratando da Transitividade Verbal sob a perspectiva funcionalista.

Intentamos, portanto, neste trabalho, motivar outros pesquisadores a investigar esse

fenômeno gramatical, tendo em vista sua relevante contribuição no que se refere aos

aspectos semântico-discursivos que envolvem o estudo de Língua Portuguesa.

Como contribuição, foram elaborados dois (2) produtos: um caderno,

direcionado ao professor de Língua Portuguesa, com orientações pedagógicas acerca do

conteúdo Transitividade Verbal na perspectiva do Funcionalismo Linguístico,

contemplando, especificamente, a proposta de Hopper e Thompson e um caderno de

atividades, direcionado ao aluno, contendo questões que abordam os dez parâmetros

sintático-semânticos apresentados na proposta mencionada. O objetivo desses cadernos

é direcionar o estudo de maneira que possa facilitar o diálogo entre professores e alunos

ao trabalharem a Transitividade Verbal a partir dessa nova perspectiva de ensino.

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REFERÊNCIAS

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Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2015.

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Transitividade traço a traço. Niterói: Editora da UFF, 2014.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Atividade lúdica para fixação da aprendizagem

NA TRILHA DA TRANSITIVIDADE

A trilha deverá ser desenhada no piso para que o aluno possa percorrê-la

tranquilamente;

A sala será dividida em 5 equipes, 1 participante percorrerá a trilha e os demais

ajudarão com as respostas;

Com a ajuda de um dado, sortearemos a ordem de largada para cada equipe;

Vencerá o jogo a equipe que concluir o percurso primeiro.

9. Em: Meu vizinho morreu, temos uma oração transitiva ou intransitiva?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

10. Dizemos que o traço pontualidade torna a oração mais transitiva se a ação

expressa pelo verbo for instantânea ou contínua?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

11. Na oração, A família Alves partiu, identificamos a presença de mais de um

participante?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

12. Escolha a oração cuja ação pode ser transferida de um participante para outro.

c. Eu abracei meu filho.

d. Carlos gosta de leite.

13. Para que a oração seja mais transitiva é necessário que, dentre outros

parâmetros, a polaridade seja negativa e a modalidade seja irrealis.

Essa afirmação é verdadeira ou falsa?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

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14. Segundo os parâmetros agentividade do sujeito e intencionalidade do sujeito /

volitividade, qual das orações abaixo é mais transitiva?

c. João brigou com Carlos.

d. Ele perdeu o show.

15. Na oração, Pedro comeu o bolo, temos um aspecto verbal télico porque a ação

foi concluída e um objeto afetado. Essa afirmação é verdadeira ou falsa?

Acertou! Adiante duas casas

Errou! Recue uma casa

16. Considerando o fato de o objeto ser individuado quando for um nome próprio,

humano/animado, concreto, singular, contável, definido, identifique as orações

cujos objetos podem ser considerados maximamente individuados.

c. ( ) “Eu namoro a noite.”

d. ( ) Marcos namora Joana.

Legenda

P1- pergunta número 1

P2- pergunta número 2

P3- pergunta número 3

P4- pergunta número 4

P5- pergunta número 5

P6- pergunta número 6

P7- pergunta número 7

P8- pergunta número 8

P1 P2

P3

P4 P5

P6

P7 P8

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Adiante 1 casa

Adiante 3 casas

Volte para a casa número 5

Volte 1 casa

Fonte: Acervo pessoal

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APÊNDICE B – Avaliação final da sequência didática

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS - PROFLETRAS

ESCOLA PESQUISADA: Colégio Estadual Vilas Boas Moreira

ENDEREÇO: Avenida Nena Santos, nº 427, Bairro Brasil – Vitória da Conquista BA

DOCENTE PESQUISADOR: Soleane Rodrigues Lustosa Lima

DISCENTE PESQUISADO: ______________________________________________

TURMA: 8º ANO____ TURNO: matutino DATA ______ /_____ / 2018

Leia o texto com atenção para responder as perguntas que seguem.

A feira: um lugar de diversão

Hoje, decidi ir à feira com minha mãe. Ela gosta de comprar legumes e verduras

fresquinhas, por isso precisa ir bem cedo, embora não seja esse o único motivo que a

faça sair de casa nesse horário. Segundo ela, o ar puro matinal é rejuvenescedor, por

isso não o dispensa.

Ir à feira, para ela, é seguir um ritual. Ao chegar lá, ela chama Pedrinho, um

menino que a ajuda com as compras costumeiramente. Na companhia do menino,

percorre toda a feira pesquisando o preço de tudo, depois disso, começa fazer as

compras, interrompendo-as vez ou outra para conversar com os feirantes. Compra a

batata na barraca de Dona Maria, a cenoura na de Pedro, a alface na de Celeste, até

comprar todos os itens necessários para o consumo semanal e alguns mimos para os

netos. Ela comprou biscoitos deliciosos para eles e um lindo buquê de rosas para mim,

das quais pôs uma em meu cabelo para relembrar minha infância.

Assim, ao executar uma tarefa simples e prazerosa semanalmente, ela se diverte

cumprindo uma “tarefa doméstica”, além de ensinar ao menino e a mim, enquanto a

acompanhávamos, que a feira é um divertido lugar de múltiplas aprendizagens.

Quando nós concluímos as compras, fomos à barraca de Seu João, velho

conhecido da minha mãe. Lá, nós tomamos caldo de cana. Eu só consegui beber

metade do caldo que estava no copo, pois já havia experimentado tantos biscoitos que,

possivelmente, dispensaria até o almoço. Mas Pedrinho tomou todo o caldo de cana de

seu copo. Segundo ele, precisava repor todas as energias consumidas pelas voltas dadas

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na feira. Naquele momento, a barraca era a nossa praça de alimentação, onde batemos

papo, sorrimos, fizemos novas amizades e nos divertimos.

Alimentados e bastante cansados, voltamos para casa com a certeza de que a

diversão foi garantida e que, na próxima semana, voltaríamos àquela feira para mais

uma oportunidade de desfrutarmos de muito lazer e aprendizagem.

Soleane Rodrigues Lustosa Lima

1. Leia atentamente as frases e identifique aquela que contém dois participantes:

um que pratica a ação e outro que sofre a ação.

( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Ao chegar lá, ela chama Pedrinho.

2. Das frases abaixo, identifique aquela na qual o sujeito transfere uma ação para

um paciente.

( ) Ela pôs uma rosa em meu cabelo.

( ) Segundo ele, precisava repor as energias consumidas pelas voltas dadas na

feira.

3. Identifique nas sentenças abaixo aquela cujo verbo dá idéia de ação concluída.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

( ) Na companhia do menino, percorre toda a feira pesquisando o preço de

tudo.

4. Assinale a sentença cuja ação verbal acontece instantaneamente, sendo assim,

mais pontual.

( ) Voltamos para casa com a certeza de que a diversão foi garantida.

( ) Nós tomamos caldo de cana.

5. O objeto é melhor caracterizado quando apresenta o maior número das

seguintes características: próprio, humano/animado, concreto, singular, contável

e é definido. Sendo assim, observe as sentenças abaixo e assinale aquela cujo

objeto apresenta o maior número das características citadas.

( ) Ela chama Pedrinho.

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( ) Nós tomamos caldo de cana.

6. Assinale a sentença cujo objeto foi mais afetado pela ação do sujeito.

( ) Pedrinho tomou todo o caldo de cana.

( ) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

7. Os verbos das orações abaixo expressam ações hipotéticas ou não. Assinale a

opção na qual a ação não é hipotética, sendo, portanto, certa e real.

( ) Na próxima semana, nós voltaríamos àquela feira.

( ) Compra a batata na barraca de Dona Maria, a cenoura na de Pedro, a alface

na de Celeste.

8. Percebe-se, nas frases abaixo, que algumas ações ocorreram e outras não.

Identifique aquela cuja ação é positiva, ou seja, uma ação ocorrida.

( ) Quando nós concluímos as compras, fomos à barraca de Seu João.

( ) Ela nunca conseguiu percorrer toda a feira.

9. Observe a sentença cujo verbo transfere uma a ação e assinale-a.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles e um lindo buquê de rosas para

mim.

( ) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

10. Assinale a sentença na qual o sujeito executa a ação de maneira proposital.

Assinale-a.

( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Eu só consegui tomar metade do caldo de cana.

11. Tendo em vista a escala de transitividade estudada, identifique a senteça que

julgamos ser mais transitiva.

( ) Ela se diverte cumprindo uma “tarefa doméstica”.

( ) Hoje, decidi ir à feira com minha mãe.

( ) Ela comprou biscoitos deliciosos para eles.

OBRIGADA PELA PARTICIPAÇÃO!

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Fonte: acervo pessoal