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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE - Campus de Cascavel - Centro de Ciências Sociais Aplicadas ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ – Gerência Executiva da Escola de Governo CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO RURAL DO PARANÁ LUIZ HENRIQUE KLINGER Cascavel DEZEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE - Campus de Cascavel - Centro de Ciências Sociais Aplicadas

ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ – Gerência Executiva da Escola de Governo

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO RURAL DO PARANÁ

LUIZ HENRIQUE KLINGER

Cascavel

DEZEMBRO DE 2008

LUIZ HENRIQUE KLINGER

PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO RURAL DO PARANÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para obtenção do

título de Especialista em Formulação e

Gestão de Políticas Públicas.

Orientador: Geysler Rogis Flor Bertolini

UNIOESTE

Cascavel

DEZEMBRO DE 2008

II

LUIZ HENRIQUE KLINGER

PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO RURAL DO PARANÁ

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de

Especialista em Formulação e Gestão de Políticas Públicas, da UNIOESTE – Campus de

Cascavel/Escola de Governo do Paraná.

Data da aprovação:

___/____/_______

Banca Examinadora:

______________________

Prof. Msc. Geysler Rogis Flor Bertolini Orientador

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

_________________

Profª. Drª. Loreni T. Brandalise

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

_____________________

Profª. Msc. Elizandra da Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

III

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 01

1.1 PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO

RURAL DO PARANÁ..................................................................................................... 01

1.2 OBJETIVOS...................................................................................................................... 02

1.2.1 Objetivo geral.................................................................................................................. 02

1.2.2 Objetivos específicos...................................................................................................... 02

1.3 JUSTIFICATIVA.............................................................................................................. 02

1.4 METODOLOGIA.............................................................................................................. 03

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO...................................................................................... 05

2. REVISÃO TEÓRICA......................................................................................................... 06

2.1 AGRICULTURA FAMILIAR.......................................................................................... 06

2.2 AGRICULTURA FAMILIAR EM ASSENTAMENTOS RURAIS................................ 08

2.3 EVOLUÇÃO DA EXTENSÃO RURAL.......................................................................... 10

2.4 EXTENSÃO RURAL NO PARANÁ............................................................................... 14

2.4.1 Visão da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná................ 17

2.4.2 Visão estratégica dos funcionários do Emater................................................................ 18

2.5 EXTENSÃO RURAL NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ........................................... 19

2.6. REALIDADE DA EXTENSÃO RURAL........................................................................ 23

2.7 VISÃO DOS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DA AGRICULTURA.......................... 32

3. ANÁLISE DE DADOS................................................................................................. ..... 35

3.1 PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR REGIONAL....................................... 41

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 44

APÊNDICE............................................................................................................................. 46

IV

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACARPA – Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná

AFA – Associação dos Funcionários do Emater

AMOP – Associação dos Municípios do Oeste do Paraná

API - Área de Programação Integrado

ASBRAER – Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão

Rural

ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural

ATES – Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária

CEASA – Central de Abastecimento do Paraná

CERME Cooperativa de Eletrificação Rural de Medianeira

CLAFs. – Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOP. LAR – Cooperativa Agroindustrial LAR

COOPAVEL – Coopavel Cooperativa Agroindustrial

CRESOL – Cooperativa de Crédito com Interação Solidária

DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf

DATER – Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (da SAF/MDA)

EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência e Extensão Rural

EMATER – Instituto Paranaense de Assistência técnica e Extensão Rural

EMATER-Paraná – Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMATER-MG – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas

Gerais

ETA – Escritório Técnico de Agricultura

FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

FETAEP – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

LOA – Lei Orçamentária Anual

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras

V

OCEPAR – Organização das Cooperativas do Estado do Paraná

ONGs. – Organizações Não Governamentais

PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária

PRODESA – Projetos de Apoio ao Desenvolvimento do Setor Agropecuário

PPA – Plano Plurianual

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONAF-A – Pronaf de Investimento para Assentados Rurais da Reforma Agrária

SAF – Secretaria da Agricultura Familiar (do MDA)

SEAB – Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SISCLAF – Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar

STRs – Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

SUS – Serviço Único de Saúde

VBP – Valor Bruto da Produção

VI

RESUMO

A exemplo do que acontece no país, a estrutura de extensão rural do oeste do

Paraná é insuficiente e carece de ordenamento interinstitucional. Há falta de um plano

integrado de ação, envolvendo todos os atores do setor, para flexibilizar a atuação

extensionista. Há falta de extensionistas, decorrente do desinvestimento financeiro por parte

do poder público e da pouca representação política da agricultura familiar. Buscou-se

diagnosticar a realidade rural da região, através de revisão de bibliografias, relatórios, estudo

com conselheiros municipais e pesquisa de campo com aplicação de questionário. Propõe-se

a composição de uma equipe multidiciplinar de extensão rural composta por 12 especialistas

para coordenar e assessorar os planos municipais dos 30 municípios da região de Cascavel e

dar suporte técnico às ações extensionistas municipais. A presente proposta é aplicável às

demais região do estado do Paraná, contanto que se aplique o questionário de pesquisa para

definir quais especialistas devam compor as respectivas equipes.

Palavras-chave: Equipe multidiciplinar, agricultura familiar, extensão rural

VII

1 INTRODUÇÃO

1.1 PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR PARA SUPORTE À EXTENSÃO RURAL DO PARANÁ

A extensão rural do Paraná, com 52 anos de existência, vem se moldando

periodicamente às alterações da realidade e necessidades do cliente. No início seu objetivo

maior era executar um programa de cooperação agrícola, atuando nos campos de educação,

pesquisa, conservação de recursos naturais, produção agrícola e pecuária, economia doméstica

e extensão rural.

Ao longo de sua existência a extensão rural teve a responsabilidade ainda de

executar ações de interesse dos agricultores e suas famílias, dos pescadores, dos assentados,

dos trabalhadores, das mulheres e dos jovens rurais, sempre em atuação conjunta com as

lideranças, articulando e mobilizando instituições ligadas ao setor. São ações em projetos com

influência direta no aumento de produção, da produtividade e da renda das propriedades.

Os extensionistas desenvolvem trabalhos na área de Bem Estar Social, no campo

da nutrição, saúde, saneamento, educação, associativismo e cidadania. Projetos de impacto

como a racionalização no uso de agrotóxicos, a redução de perdas na colheita, a conservação

dos solos, além do manejo de pragas e doenças nas lavouras.

Atualmente o Instituto Emater, que passou a ser uma autarquia do governo do

Estado, denomina-se Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, possui

cerca de 850 extensionistas, dos quais apenas 57 da área social, os demais são profissionais

agropecuários. Esses profissionais atuam em todos os 399 municípios paranaenses.

A dificuldade em adequar a estrutura da extensão rural oficial e de oferecer o

serviço requerido pelos clientes na quantidade e qualidade necessárias, abriu espaço a outros

agentes de extensão. Estes com ação pontual e em geral sem continuidade, como

Organizações Não Governamentais - ONGs, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural -

SENAR, Universidades, prefeituras, cooperativas, firmas de planejamento e até Igrejas

buscam formas de atender esta demanda, porém cada qual com seus interesses.

Há de se querer uma extensão rural, integrada com a sociedade e instituições

geradoras de pesquisa, isenta de interesses comerciais, religiosos, partidários ou quaisquer

interesses que não sejam de livre escolha do cliente e que venha trazer orientações necessárias

ao desenvolvimento rural sustentável e qualidade de vida.

A proposta é dotar a extensão rural de equipes regionais multidiciplinares, com o

propósito de assessorar e treinar os extensionistas municipais e levar orientação especializada

1

às famílias rurais. Para o presente estudo delimitou-se a região administrativa de Cascavel,

com seus trinta municípios.

Propõe-se atender à crescente necessidade de alternativas de geração de empregos

e renda, qualidade de vida à família rural, a sustentabilidade técnica, ambiental, econômica e

social da propriedade rural, bem como levar informações e orientações de interesse da

população rural.

A presença de profissionais das ciências agrárias é necessária, porém deve-se

contemplar o desenvolvimento do cidadão em todos os campos, sob pena de continuar a

exclusão social no meio rural, e para tal estudou-se as competências necessárias à extensão

rural. A família rural precisa da atenção do poder público, o qual não pode priorizar o urbano,

sob pena de atrair a população rural para a marginalização na periferia das cidades.

As equipes regionais multidiciplinares, bem como os extensionistas municipais,

precisam estar comprometidas com a continuidade da proposta, devendo-se, por isso dar

preferência a profissional com estabilidade, independente da instituição a que pertença.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geralElaborar uma proposta de equipe multidiciplinar para dar suporte à extensão rural,

aplicável aos 30 municípios da região de Cascavel, oeste do Paraná.

1.2.2 Objetivos específicos a) identificar os gargalos do modelo de extensão rural;

b) levantar necessidades de conhecimento, orientação, informação e assessoria, do público

alvo da pesquisa, com intuito de identificar qual estrutura profissional deva ser envolvida na

proposta de extensão;

c) analisar a necessidade de recursos humanos para a viabilização de equipe multidiciplinar de

extensão rural para a região oeste do Paraná;

d) propor equipe multidiciplinar para dar suporte à extensão rural da região oeste do Paraná.

1.3 JUSTIFICATIVAA estrutura da extensão rural oficial sofreu uma estagnação a partir da

Constituinte de 1988, como empresa pública, sem repor as funções que vagavam. O

2

atendimento à família rural ficou comprometido pela redução do quadro funcional e o

limitado investimento do governo no setor.

Há uma grande parcela de agricultores familiares e trabalhadores do meio rural,

ainda sem atendimento da extensão rural, os quais merecem a consideração dos governantes e

da sociedade paranaense.

A extensão rural do oeste tem uma característica peculiar, em função da grande

diversidade de atividades economicamente viáveis e mercado promissor. Importa-se de outras

regiões grande parcela dos alimentos, em especial hortifrutigranjeiros. Há falta de

profissionais especializados em diversas áreas em função de as cooperativas e empresas

privadas direcionarem a ação de seus profissionais às atividades de maior lucro, geralmente

limitados a duas ou três commodities.

A forte pressão dos movimentos sociais em favor do assentamento de mais

famílias, seja pela desapropriação de áreas ou pela aquisição no Programa Nacional de

Crédito Fundiário, tem reconduzido muitas famílias à terra. Porém, estas áreas são pequenas,

bem abaixo do módulo rural da região. Estas famílias, muitas vezes, não conseguem nem

mesmo garantir a alimentação para os filhos, dependendo de programas sociais do governo ou

de ajuda da comunidade local.

Propõe-se um novo modelo de extensão rural, que contemple a inclusão social,

com visão holística, sem jamais esquecer de que o objetivo principal de qualquer intervenção

do Estado deve contemplar o ser humano. Além do Instituto Emater, há presença de outros

atores na extensão rural que carecem de uma proposta de ação conjunta e integrada com foco

no desenvolvimento rural sustentável. A flexibilização da extensão requer uma estrutura ágil,

preparada para as mudanças e uma equipe de especialistas que dê suporte a nível regional para

que as necessidades da agricultura familiar sejam contempladas.

1.4 METODOLOGIAA presente pesquisa exploratória tem como fonte primária a pesquisa de campo

com questionário de perguntas fechadas e como fontes secundárias, bibliografias, relatórios,

levantamentos estatísticos e estudo com conselheiros municipais.

Segundo Richardson (1989, p. 281), “a pesquisa exploratória procura conhecer as

características de um fenômeno para procurar explicações das causas e conseqüências de dito

fenômeno”, por isso é apropriada para a presente pesquisa.

3

Segundo Santos (1991) a pesquisa exploratória é o contato inicial com o tema a ser analisado, com os sujeitos a serem investigados e com as fontes secundárias disponíveis. Nesse caso, o pesquisador deve ter uma atitude de receptividade às informações e dados da realidade social, além de uma postura flexível e não formalizada. Tripodi et al. (1975) afirmam que os estudos exploratórios são baseados na pressuposição de que através do uso de procedimentos relativamente sistemáticos, pode-se desenvolver hipóteses relevantes a um determinado fenômeno (RÉVILLION, 2003, p. 3).

Para Révillion (2003, p. 3), os estudos exploratórios servem para aumentar o grau

de familiaridade com fenômenos relativamente desconhecidos, obter informações sobre a

possibilidade de levar adiante uma investigação mais completa sobre um contexto particular

da vida real e estabelecer prioridades para investigações posteriores, entre outras utilizações.

Segundo Sampieri et al. (1991), citado por Révillion (2003, p. 3) “os estudos

exploratórios são feitos, normalmente, quando o objetivo da pesquisa é examinar um tema ou

problema de investigação pouco estudado ou que não tenha sido abordado antes”.

Sobre estudos exploratórios, o autor menciona que “são freqüentemente usados

para gerar hipóteses e identificar variáveis que devem ser incluídas na pesquisa”

(RÉVILLION, 2003, p. 3).

“Dados secundários são aqueles que foram coletados para propósitos diferentes

de um problema de pesquisa específico. Na grande maioria dos casos são informações de

obtenção mais rápida, mais acessível e mais barata do que os dados primários” (RÉVILLION,

2003, p. 3).

A abrangência do estudo foi de 30 municípios da região do oeste do Paraná, para

uma população de 240 lideres locais, formadores de opinião, a saber, secretários municipais

de agricultura, diretores de sindicatos dos trabalhadores rurais, diretores de sindicatos rurais

patronais, conselheiros municipais da agricultura, conselheiros de cooperativas agrícolas,

conselheiros de cooperativas de crédito, políticos e extensionistas. Dos 240 formulários

encaminhados, retornaram 143, dos quais 18 foram descartados por falhas no preenchimento e

125 questionários respondidos corretamente puderam ser aproveitados. Os questionários

foram tabulados por município, obtendo-se média aritmética de resultados por município.

Depois foram tabulados no total dos 30 municípios, obtendo-se a amostra regional, por média

aritmética.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto por 6 perguntas

fechadas, conforme APÊNDICE. A análise dos dados se dá a partir da tabulação das respostas

e elaboração de gráficos e tabelas, descritivamente.

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1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho teve início com a revisão bibliográfica no capítulo 2,

buscando primeiro os antecedentes históricos, a caracterização e as perspectivas da agricultura

familiar. Em segundo lugar buscou-se saber que agricultura familiar é praticada nos

assentamentos rurais. Em terceiro foi estudada a evolução da extensão rural, de seus

primórdios até os dias atuais. Em quarto lugar é estudada a extensão rural no Paraná e a ação

do Instituto Emater, órgão oficial do serviço de extensão rural no Paraná e a sua importância

na agricultura paranaense. Em quinto é apresentado estudo da realidade da extensão rural

praticada na região oeste e nos 30 municípios que compõe a região, bem como das ações dos

diversos agentes de extensão rural presentes na região. Em sexto lugar é feita uma análise

crítica da realidade da agricultura familiar e da atuação da extensão rural, são apresentados

dados, quadros e mapas explicativos sobre a realidade do Paraná e em especial da região. Na

sétima parte é apresentada a visão dos conselheiros municipais da agricultura dos 30

municípios. Na terceira parte é apresentada a pesquisa de campo.

Lançou-se mão de bibliografias atinentes ao assunto, pesquisas de movimentos

migratórios da população da região, análises e projeções demográficas, entrevistas e aplicação

de questionários investigatórios com lideranças e formadores de opinião e diagnóstico sobre a

atuação dos diversos agentes de extensão rural na região, como se organizam e quem os

financia; os resultados alcançados e a opinião dos beneficiários sobre sua atuação.

No capítulo 3, os dados de campo são tabulados e é feita uma análise dos mesmos,

interpretação em gráficos e figuras. Em quarto lugar é apresentada uma proposta de equipe

multidiciplinar de especialistas, com base nas fontes citadas no trabalho.

5

2. REVISÃO TEÓRICAAs sete seções da revisão teórica compõem um quadro conceitual em que se

procura evidenciar as especificidades da agricultura familiar e a necessidade de a extensão

rural elaborar uma nova prática de atuação junto a esse público, eliminando antigos conceitos

que não são adaptados à realidade da agricultura familiar em particular.

2.1 AGRICULTURA FAMILIAR

A agricultura familiar praticada no Brasil teve origem na imigração de colonos

europeus que aqui desembarcaram em busca de melhores condições de vida e refere-se a uma

lógica produtiva que engloba significativa diversidade.

Para entender-se a evolução da agricultura familiar deve-se voltar ao velho

mundo, porque é no âmbito dos impactos do desenvolvimento do capitalismo sobre formas

tradicionais de sociedade que se desenvolvem os estudos referentes ao campesinato (sistema

de vida camponesa que deu origem ao termo agricultura familiar). Os primeiros teóricos que

consideraram o campesinato sob o capitalismo foram os marxistas.

“A teoria econômica de Marx não reconhecia o campesinato como classe social

por não extrair seu sustento nem de salários, nem de lucros. Lênin defendia a tese de que o

desenvolvimento do capitalismo levaria à concentração da propriedade fundiária, substituindo

as formas feudais da sociedade agrária russa por formas capitalistas” (TAVEIRA, 2005, p.6).

Segundo Taveira (2005, p.6), a economia camponesa está alicerçada na

composição familiar e a produtividade do trabalho é condicionada pelas necessidades de

consumo familiar.

Aqui no Brasil, segundo o mesmo autor, “estudava-se a grande produção

agropecuária e a pequena produção agropecuária”. Entretanto, tal categorização mascarava

realidades particulares e escondia a verdadeira dimensão do problema.

“A redemocratização do país, a partir de 1985, trouxe para a cena política, classes

sociais excluídas pelo regime militar e por sua política econômica. Essas classes tomaram

para si o termo agricultura familiar” (TAVEIRA, 2005, p.10).

Os agricultores familiares do Brasil multiplicaram aqui o modelo de produção,

que trouxeram da Europa, e muito antes que alguém pensasse em estudar sua caracterização

como classe social, já era maioria. Foi pelas mãos dos agricultores familiares que este país

alcançou fronteiras continentais. A imigração, com predominância de alemães e italianos, há

mais de cem anos, consolidou o sistema de produção familiar.

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Na década de 60, os sindicatos dos trabalhadores rurais se multiplicaram pelo país

e em 1963 fundaram a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. “Em

1964, no regime militar, a entidade sofreu intervenção do governo, sendo retomada pelos

sindicatos em 1968” (CONTAG, 2008, p.1).

Foi durante o regime militar que os trabalhadores rurais (e pequenos produtores)

fundaram a maioria dos seus sindicatos. No sul do país, estes sindicatos prosperaram graças à

filiação e participação dos agricultores familiares (pequenos produtores). Durante o regime

militar a principal atuação dos sindicatos era de caráter assistencialista, porém na década de

80 passam a ter caráter reivindicatório. O apoio da Igreja foi fundamental na mobilização dos

agricultores familiares em suas lutas por direitos sociais.

Com a criação do Serviço Único da Saúde – SUS, a partir de 1985, os sindicatos

perderam uma importante fonte de renda, que era o repasse para assistência à saúde do

trabalhador. Os agricultores demoraram a entender o que havia acontecido e até mesmo

diretores sindicais relutavam a aceitar a mudança.

“O primeiro Grito da Terra Brasil foi organizado em 1995 e teve como saldo

imediato a criação de uma linha de crédito no valor de R$ 1,5 milhão para a agricultura

familiar” (CONTAG, 2008, p.1).

O sucesso da primeira manifestação, liderada pela Contag, inflamou os ânimos

dos trabalhadores sem terras e os pequenos proprietários na luta pela terra.

Para Medeiros (1999, p.19) “o reconhecimento do agricultor familiar como ator

social relevante não pode ser entendido sem considerar, de um lado, as mobilizações dessa

categoria, em especial através dos Gritos e, de outro, as disputas em torno de quem deveria

ser o público preferencial para as ações governamentais”.

O movimento sindical dos trabalhadores rurais considera de fundamental

importância a mobilização da categoria e acredita na capacidade de influenciar as políticas do

governo com suas manifestações.Entre os benefícios alcançados em 12 anos de Grito da Terra Brasil os trabalhadores rurais, contam com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF; da desapropriação de cerca de mil áreas que já beneficiou mais de 80 mil famílias; da concessão de cerca de 500 mil benefícios previdenciários rurais represados no INSS; e da melhoria das condições de trabalho dos assalariados e das assalariadas rurais. O aumento sucessivo dos recursos do Pronaf também é resultado direto das negociações da Contag com o governo federal durante as mobilizações do Grito da Terra (CONTAG, 2008, p.1).

Quanto às políticas públicas, alcançadas pelos trabalhadores rurais, deve-se pensá-

las como uma articulação necessária e essencial para promoção do desenvolvimento integrado

7

das regiões rural e urbana. O desenvolvimento no campo trás também desenvolvimento na ci-

dade, através da industrialização.

Cresce no sul a jornada parcial no campo ou parte dos membros da família bus-

cam complemento de renda fora do agrícola, fato conhecido como pluriatividade, o que não

deve significar desruralização, e com toda a certeza terá papel fundamental como elo de liga-

ção e integração destes segmentos.

2.2 AGRICULTURA FAMILIAR EM ASSENTAMENTOS RURAISO êxodo rural se acentuou assustadoramente com o advento da mecanização

agrícola, a geração de postos de trabalho urbano e a infraestrutura nas cidades dotadas de

energia elétrica, água encanada, facilidade de acesso às escolas, mercados, hospitais, igrejas e

outros.

Segundo Taveira (2005, p.13), nos países capitalistas avançados, a crise do modelo

produtivista da agricultura desses países levou a um novo olhar da sociedade sobre os espaços

rurais.

Se nos países industrializados a população encontra melhor qualidade de vida no

espaço rural, no Brasil a realidade é diferente, pois este é um país em desenvolvimento e os

espaços rurais carecem de infraestrutura para que a população opte em morar aí.

A revitalização do rural, aqui, ocorre por meio dos agricultores familiares e da

construção de sua cidadania, com suas novas estratégias de reprodução social. Também cresce

a luta dos sem-terra contra a exclusão social, induzindo à criação de assentamentos rurais.

A modernização da agricultura, durante o século XX, levou à expulsão de

assalariados rurais e parceiros do interior dos latifúndios. Também os minifundiários

excluídos dessa modernização viram-se impelidos ao êxodo, contribuindo para despovoar

ainda mais o meio rural.

“O rural sempre foi tomado como local do atraso, da precariedade. Dessa maneira,

a vida social da população que resistiu ao êxodo rural incorporou a sede municipal às suas

relações sociais” (TAVEIRA, 2005, p.13).

Há um movimento de retorno de parte dos habitantes das cidades ao meio rural.

Os assentamentos rurais são a expressão desse retorno. Este retorno é penoso, porém permite

a reorganização da produção, a reconstrução da vida social dentro da comunidade.

Os assentamentos rurais implantados, a partir de 1986, levam a marca da

mobilidade espacial de seus integrantes e da precariedade de infra-estrutura.

8

..ao criar um assentamento, o Estado assume a responsabilidade de viabilizá-lo. Queira o Estado ou não, o desempenho de um assentamento é o desempenho do Estado. Desse modo, nos assentamentos, a presença ou a omissão do Estado na oferta de condições de produção é decisiva, muito mais do que no caso do amplo e difuso conjunto dos agricultores que são abarcados pela categoria de familiares (LEITE et al., 2004, p.65).

A instalação de um assentamento é penoso devido à precariedade técnica dos

cultivos, obstáculos estes que conduzem a uma significativa taxa de abandono de lotes. Isso

permite afirmar que o sucesso (ou insucesso) de uma experiência de assentamento rural

depende em parte da falta de estrutura, das condições de infra-estrutura local e regional, o que

é responsabilidade do Estado.

Como resultado dessa contínua mobilização, constata-se que a disseminação das

políticas de assentamentos rurais conduziu à criação de mecanismos de política agrícola

adaptados aos assentados e sua extensão a todos os agricultores familiares. Conduziu também

à ampliação paulatina da cobertura de serviços públicos e infra-estrutura nas áreas com maior

concentração de assentamentos, com benefícios igualmente generalizados para os demais

setores da sociedade.

Outra distinção fundamental reside no fato de que, enquanto os agricultores

familiares possuem uma herança social secular, os assentados perderam o contato com suas

tradições em algum momento da vida.

Observa-se a forte tendência de uso do cultivo orgânico ou livre de produtos

químicos. Há uma fuga aos insumos da agricultura comercial, busca-se uma proposta de

reorganização social e ambiental dos modos de relacionamento entre agricultores e meio

ambiente.

Segundo Caporal e Costabeber (2004, p.8), “a ênfase se desloca da maximização

da produção para a otimização dos agroecosistemas de maneira integrada”. Denominam essa

tendência de “ecossocial”, aquela que engloba os atores que buscam afirmar agriculturas de

base ecológica.

Ao lado daqueles que incorporam alternativas ao modelo excludente de

agricultura até hoje praticado no Brasil, os sem-terra e sua luta conferem novo dinamismo aos

espaços rurais do país.

Segundo Wanderley (2000), citado por Taveira, (2005, p.16), pode-se afirmar que

“os assentamentos rurais inserem-se no contexto de revalorização e repovoamento do meio

rural, que denominou reivindicação da ruralidade”.

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2.3 EVOLUÇÃO DA EXTENSÃO RURALA extensão rural é serviço público especializado, prestado por profissionais, em

geral das ciências agrárias, a agricultores, visando o desenvolvimento rural . Esta começou a

tomar forma nos Estados Unidos, a partir do fim da Guerra de Secessão (1861-1865).No último terço do século XIX, a economia norte-americana, em rápida

transformação para o modelo industrial-capitalista, submeteu os pequenos

fazendeiros à brutal concorrência com as grandes empresas. Por essa época,

estes fazendeiros começaram a se reunir em associações que promoviam en-

contros, palestras, reuniões técnicas, cursos, feiras, concursos, publicações,

contatos com centros de pesquisa e trabalhos educativos para mulheres e jo-

vens (TAVEIRA, 2005, p.16).

A extensão rural no Brasil nasceu sob o comando do capital, com forte influência

norte-americana e visava superar o atraso na agricultura. O objetivo era modernizar a

atividade agropecuária no Brasil. Esta modernização preconizava a produção de mercado,

com utilização de insumos industrializados.

“A extensão rural nasceu sob a égide de um acordo entre governo estadual

mineiro e Fundação Rockefeller, em 1948, após término da Segunda Guerra Mundial, com

forte influência do modelo norte americano” (EMATER-MG, 2008, p.1).

Nos anos seguintes, este trabalho se expandiu pelo país. No Paraná chegou em

1956, também, através de convênio com a Fundação Rockefeller.

A partir de meados dos anos 1950, o serviço de extensão rural, que desde o seu

surgimento era executado por meio de projetos de cooperação com agências internacionais, se

expandiu e foi se tornando um braço operacional do Estado brasileiro para executar políticas

públicas de promoção do desenvolvimento. Este desenvolvimento era do setor agrícola, foca-

do no incremento dos processos produtivos agropecuários.

Ainda segundo Taveira (2005, p.17-18), o agente de mudança seria um

profissional dedicado a influenciar decisões de inovar na direção do que a agência de

mudança julgasse conveniente. “Seria o elo entre dois sistemas sociais, a agência e a

comunidade, trazendo soluções e retornando impressões”.

Em sua obra “Extensão ou Comunicação”, Freire (1977, p.28) defende a dimensão

educativa do trabalho extensionista. A partir de seus estudos iniciou-se a construção do que

pode ser denominado “modelo educativo libertador”. Ele refuta a tese de que o saber do

técnico seja superior ao do agricultor. Para ele, “numa extensão rural de caráter libertador,

agricultores e extensionistas são ambos, sujeitos da ação de conhecer”.

10

Para Freire (1977, p.28), “o saber é um produto histórico-cultural”, e dessa forma,

agricultores e extensionistas precisam compreender, conjuntamente, o contexto que os

engloba, problematizando sua realidade para apreendê-la e transformá-la.

Segundo Freire (1977, p.16), há necessidade de “o extensionista mergulhar na

realidade dos agricultores para melhor dialogar com eles”. Sua atuação deve pautar-se por

aquilo que é apreendido como problema pelos agricultores. Não é papel de o extensionista

“dizer a esses agricultores o que são e quais são seus problemas”. Se estes não têm a

percepção clara de sua realidade, a problematização deve ser capaz de criar esta percepção.

Sua defesa do diálogo entre agricultores e extensionistas está baseada na

percepção de que cada vê o mesmo problema a partir de diferentes perspectivas. Se estas

perspectivas se comunicam, torna-se mais fácil apreender a realidade.

O modelo educativo libertador passou a ser mais intensamente discutido no Brasil

a partir do fim do período autoritário, em 1985, período este marcado por um processo de

autocrítica da atuação dos órgãos públicos de extensão rural.

Caporal e Costabeber (1994, p.8), propõem que a extensão rural no Brasil seja

redirecionada para “o atendimento preferencial e que colabore na articulação interinstitucional

em favor da agricultura familiar e de sua particular lógica produtiva, na perspectiva da

construção da cidadania”. Nessa perspectiva, a extensão rural deveria internalizar, em seu cotidiano, os pressupostos da agroecologia, incorporando a valorização sócio-cultural das diferentes comunidades rurais, a busca do equilíbrio energético dos sistemas de produção, as práticas agronômicas ecologicamente apropriadas e práticas de mercado voltadas à solidariedade (CAPORAL E COSTABEBER, 1994, P.8).

Uma cultura organizacional aberta à participação fomentará nos extensionistas a

propensão ao diálogo com as comunidades. A participação dos agricultores na discussão dos

trabalhos, a partir de seus anseios e problemas fará com que aceitem a ação dos

extensionistas.

O que se pode dizer da relação entre extensão rural e promoção do desenvolvi-

mento é que historicamente a extensão rural brasileira constitui-se como um serviço público

(mantido pelo Estado) para promover o benefício privado de um segmento da população rural,

incrementar um setor consumidor de bens e serviços no campo e possibilitar o desenvolvi-

mento urbano-industrial brasileiro. Ou seja, durante o regime militar, o serviço público de ex-

tensão rural esteve a serviço não do público, mas de um projeto político de desenvolvimento

urbano-industrial vinculado ao benefício de grupos políticos dominantes.

Segundo Dias (2007, p.3), “várias perspectivas relativizam e até negam o caráter

seletivo e excludente da extensão rural pública durante o período de modernização”. Este ca-

11

ráter seletivo e excludente baseou-se em escolhas políticas: um padrão tecnológico baseado

nos princípios da revolução verde, o trabalho preferencial com agricultores mais capitalizados

ou mais receptivos à adoção de pacotes tecnológicos, a difusão de tecnologias a partir de cen-

tros de geração, o trabalho em regiões com melhores condições agroambientais, o foco quase

que exclusivo nos processos produtivos, fortalecendo o viés econômico da promoção do de-

senvolvimento, dentre outras características.

Dias (2007, p.3), destaca que durante o regime militar, “o serviço público de ex-

tensão rural esteve a serviço não do público, mas de um projeto político de desenvolvimento

urbano-industrial vinculado ao benefício de grupos políticos dominantes”.

Pode-se dizer que, uma vez cumprida à missão da extensão rural pública no em-

preendimento da modernização de parte da agropecuária brasileira, ela deixa de ser útil à agri-

cultura patronal. “Chega um determinado momento que para o setor patronal, para o empresá-

rio agrícola, a extensão rural pública deixa de ter utilidade” (TAVEIRA, 2005, p.16).

Segundo Dias (2007, p.6), na década de noventa, veio a “onda neoliberal com seu

programa de Estado mínimo”, de diminuição das funções e do tamanho do Estado. Fernando

Collor extinguiu o sistema brasileiro de assistência técnica e extensão rural, “acabou com a

EMBRATER”. Começou um período de forte desestruturação da capacidade pública de agir por meio de um aparato de extensão rural. Os agricultores, sentindo falta de apoio e assistência técnica, de assessoria por parte do Estado, foram procurar nas prefeituras municipais um serviço que o governo federal não quis mais oferecer. Os anos noventa marcaram um período de extensa prefeiturização dos serviços de assistência técnica e extensão rural (DIAS, 2007, p.6).

Estas prefeituras também passaram a fazer parceria com a Emater para manter o

mínimo possível do serviço funcionando a partir de um escritório local. Obviamente, ao se

responsabilizar pela prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural, as prefeitu-

ras reforçavam o viés clientelista do serviço. Muitos extensionistas passaram a usar o serviço

para criar ou fortalecer redes clientelistas que favoreciam os poderes locais estabelecidos.

Segundo MDA (2008, p.1), em 1995 foi criado com o aval do Banco Mundial, “o

primeiro programa de política pública brasileira direcionada à agricultura de base familiar, o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF”. Isto ocorreu por

pressão dos movimentos sociais e foi de certa forma, um alívio para o que restou da extensão

rural pública porque o programa significou a possibilidade de acesso a recursos.

É importante ressaltar que a maioria dos estados brasileiros não tinha como man-

ter serviços públicos de extensão rural. Em alguns Estados a Emater passou a cobrar pelos

serviços para sobreviver institucionalmente.

12

Segundo Dias (2005, p.7) “na Paraíba os extensionistas foram às ruas pedir di-

nheiro à população para complementar salário e não passar fome”. Por isso o Pronaf significa-

va uma luz no fim do túnel para a extensão rural. Os contratos de concessão de crédito in-

cluíam um percentual para pagar os serviços de assistência técnica.

O extensionista priorizava em sua atividade a elaboração de projetos técnicos para

conseguir financiamentos do Pronaf. Outro documento-chave deste período era a Declaração de Aptidão (DAP). A comprovação de o agricultor ser apto a acessar o Pronaf. Com legitimida-de para emitir a DAP as Emater recuperavam um pouco da autoestima perdi-da e ganhavam o poder de decidir quem podia e quem não podia acessar os recursos do programa (DIAS, 2007, p.7).

Apesar desta diversidade e das dificuldades enfrentadas naquele momento, os apa-

ratos públicos de extensão rural sustentaram a atividade extensionista em um contexto de

crescente diversificação dos agentes prestadores de serviços de assistência técnica.

A metodologia extensionista preconiza o planejamento participativo e a

construção partilhada do conhecimento. Taveira (2005, p.29), em “extensão rural” recusa-se a

aceitar a “postura imediatista e burocrática dos extensionistas, desvinculada de objetivos

negociados com as comunidades”. A participação comunitária é entendida como condição

para o adequado desenvolvimento das comunidades, desde a fase de conhecimento da

realidade local até a discussão das prioridades e dos resultados e a avaliação de desempenho.

Mudanças profundas na prática extensionista se fazem necessárias, demandando

intenso esforço de qualificação dos quadros profissionais. Entretanto, embora previstas, estas

iniciativas ainda têm reduzido alcance.

Segundo documento do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, ..a nova Ater deverá organizar-se na forma de um Sistema Nacional Descen-tralizado de Ater Pública, do qual participem entidades estatais e não estatais que tenham interesse e protagonismo no campo da Assistência Técnica e Ex-tensão Rural e apresentem as condições mínimas estabelecidas nesta Políti-ca. Este Sistema se estabelecerá tendo como base o conjunto de princípios e diretrizes antes enunciados, devendo ser coordenado pelo Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural - DATER da SAF/MDA, instituído pelo Decreto Nº 5.033, de cinco de abril de 2004 (MDA, 2004, p.8).

A missão dos serviços públicos de Ater, segundo a mesma fonte é:Participar na promoção e animação de processos capazes de contribuir para a construção e execução de estratégias de desenvolvimento rural sustentável, centrado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar e das suas or-ganizações, por meio de metodologias educativas e participativas, integradas às dinâmicas locais, buscando viabilizar o exercício da cidadania e a melho-ria da qualidade de vida da sociedade (MDA, 2008, p.9).

Embora seja corriqueiro atualmente discutir a extensão rural em novas bases, a di-

mensão educativa libertadora que se deseja ainda encontra obstáculos para se efetivar, deman-

13

dando ações do poder público que criem um ambiente institucional favorável à sua adoção.

Ações que flexibilizem as estruturas burocráticas das organizações, que criem fontes de finan-

ciamento aos serviços extensionistas, políticas de qualificação profissional e mecanismos de

monitoramento e avaliação são fundamentais para construir uma nova prática.

Esta política tem como virtudes criar uma fonte permanente de financiamento

federal às organizações prestadoras de serviços de extensão rural e de definir critérios de

credenciamento e de avaliação das mesmas.

2.4 EXTENSÃO RURAL NO PARANÁ

Em razão de relevância dos termos, é necessário estabelecer uma diferença entre

dois conceitos: assistência técnica e extensão rural, para que não haja dúvidas sobre o assun-

to. O primeiro carrega a percepção de que a via de solução dos problemas dos agricultores é principalmente tecnológica, havendo a necessidade de um téc-nico que atue na transmissão do conhecimento. Está mais presente nas políti-cas públicas em execução. O segundo assume a primazia da dimensão edu-cativa no contato entre agricultores e extensionistas, pela qual a técnica é um meio válido, mas não o único e não um fim em si. É o que se busca implan-tar efetivamente (TAVEIRA, 2005, p.21).

“O Serviço de Extensão Rural, no Paraná, foi criado em 20 de maio de 1956, em

decorrência de convênio entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos. Era então

denominado Escritório Técnico de Agricultura - ETA Projeto15” (EMATER, 2008, p.1).

De acordo com a mesma fonte, em 4 de dezembro de 1959, foi criada a

Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná - ACARPA, que em 1977, passou a se

chamar Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER-Paraná.

Em 23 de dezembro de 2005, passou de empresa pública para autarquia, com o nome de

Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER.

No início com o ETA Projeto15 o histórico da página do Instituto Emater

descreve que,O objetivo era executar um programa de cooperação agrícola, atuando nos campos de educação, pesquisa, conservação de recursos naturais, produção agrícola e pecuária, economia doméstica e extensão rural. Três anos depois o projeto ganharia o corpo de uma instituição que consolidou o serviço de assistência técnica aos agricultores, a Acarpa. Atuando junto às famílias rurais, a então Acarpa foi um dos principais agentes de uma verdadeira revolução na agricultura paranaense, transformando-a em modelo para o país. A partir de 1977 a Acarpa muda sua razão social para EMATER-Paraná (EMATER, 2008, p.1).

14

Quanto à atuação da Acarpa e EMATER-Paraná, o autor destaca os relevantes

serviços prestados.Os extensionistas desenvolvem trabalhos na área de Bem Estar Social, no campo da nutrição, saúde, saneamento, educação e cidadania. Vale lembrar projetos de impacto como a racionalização no uso de agrotóxicos, a redução de perdas na colheita, a conservação dos solos, além do manejo de pragas e doenças nas lavouras (EMATER, 2008, p.1).

A Missão do Instituto Emater é “Contribuir, de forma educativa e participativa,

para o desenvolvimento da agricultura, para o desenvolvimento rural sustentável e para a

promoção da cidadania e da qualidade de vida da população rural” (EMATER, 2008, p.1).

Atualmente, segundo a mesma fonte, o Instituto Emater - possui 851

extensionistas. Esses profissionais tem atuação nos todos os 399 municípios paranaenses. A

estrutura técnica do Instituto Emater é composta por uma unidade estadual, 19 unidades

regionais, 393 unidades municipais e 14 unidades distritais. Para executar os trabalhos, a

instituição conta com 1.190 funcionários (Quadro 1).

Quadro 1 - Formação profissional do quadro próprio em 2005

FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO QUADRO PRÓPRIO EM 2005Categorias Formação profissional Número TotalTécnicos Engenheiros Agrônomos 365

Técnicos Agrícolas 344Técnicos em Bem Estar Social 57Médicos Veterinários 46Zootecnistas 33Engenheiros de Pesca 04Engenheiros Florestais 02 851

Auxiliares e Administrativos Nível Médio 234Nível Superior 36 270

Operacionais 69 69TOTAL 1.190FONTE: EMATER – 2008.

A política de ação do Governo do Estado define como “prioridade do serviço

oficial de extensão rural o atendimento ao agricultor familiar, ao trabalhador rural, ao

pescador artesanal, ao jovem e à mulher que moram no meio rural” (EMATER, 2008, p.1).

A mesma fonte descreve a forma de atuação,As ações são definidas em conjunto com os clientes, parceiros e organizadas em projetos, têm início a partir da observação da realidade vivida pelo público beneficiário. Esta realidade pode ser decodificada em dois componentes principais: os problemas ou desafios enfrentados por este público e as oportunidades que se apresentam. Ambos são mapeados, visando o desenvolvimento de estratégias que eliminem os problemas e maximizem as oportunidades (EMATER, 2008, p.1).

15

Segundo Emater (2008, p.1), “a parceria com Prefeituras Municipais têm

destacada importância pela construção dos planos de trabalho integrado e a negociação das

principais atividades a serem realizadas”. Além destas, várias são as instituições parceiras,

como os bancos, cooperativas, sindicatos, associações, órgãos de pesquisa e fomento

agropecuário, Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e suas vinculadas, Secretaria

de Estado da Agricultura e Abastecimento – SEAB e suas vinculadas, universidades e

Organizações Não Governamentais – ONGs.

Após a promulgação da Carta Magna, em 1988, que dava nova ótica ao serviço

público, a expectativa de a empresa Emater ser privatizada e depois de se tornar autarquia do

governo do estado, trouxe grande instabilidade à instituição. Os 16 anos sem novas

contratações sobrecarregaram os extensionistas restantes e deixou uma lacuna no atendimento

à agricultura familiar.

Enquanto isso as organizações populares de trabalhadores sem terra, de sindicatos

de trabalhadores rurais, partidos políticos de esquerda, a Igreja e ONGs estruturavam um

movimento de apoio à volta a terra dos excluídos, pregando a reforma agrária, via

desapropriação dos latifúndios improdutivos.

Segundo Taveira (2005, p.32), “as invasões de terras foram conseqüência da

morosidade do governo em implantar a política agrária” prometida em campanha. O

assentamento das famílias passou a acontecer, mas de forma muito lenta e sem dar condições

para as famílias viabilizarem o sustento de suas famílias. Com o passar dos anos, pressionado pelas freqüentes ocupações de fazendas improdutivas, o Estado se viu forçado a realizar inúmeras desapropriações de terras e a implantar assentamentos rurais. Hoje são visíveis inúmeras man-chas territoriais, espalhadas pelo país, onde se concentram assentamentos rurais e agricultores assentados. Antes fruto de conflitos fundiários intensos do que de ação planejada do Estado, este fenômeno já começa a chamar a atenção de pesquisadores (LEITE et al., 2004, p.65).

A extensão rural oficial assumia mais este público, com quadro técnico reduzido e

sem os devidos instrumentos de apoio técnico e financeiro. O Programa de Crédito Especial

para a Reforma Agrária - PROCERA, depois substituído pelo PRONAF-A, que financia as

atividades produtivas, é insuficiente para gerar renda à propriedade do assentado, gerando

troca de famílias assentadas, alem disso a presença do técnico no assentamento, não garantia a

qualificação do assentado que não se empenhasse em evoluir.

Segundo Taveira (2005, p.16), outro “fator deficitário foi o tipo de informação

levada pela extensão rural, que continuava preocupada apenas com a produção e

produtividade”. Continuava faltando às famílias, qualidade de vida, auto-estima,

representação política, reconhecimento pela comunidade local. O sentimento de abandono e

16

marginalização imprimia um rótulo de inferioridade, levando muitos a abandonar o lote ou

buscar refugio no alcoolismo. Há necessidade urgente de se trabalhar o psicológico e o social.

Várias foram as iniciativas de preencher a lacuna deixada pela extensão oficial.

Todas elas esbarravam na questão financeira. Houve serviços ligados a igrejas, a movimentos

sociais, a prefeituras, a universidades, sempre dependendo da aprovação de um projeto junto

aos órgãos financiadores nacionais e estrangeiros para buscar recursos.

2.4.1 Visão da federação dos trabalhadores na agricultura do estado do Paraná Consta do plano de ação da federação como prioridade de ação, “a reforma

agrária, agroecologia, questões trabalhistas, transporte de bóias frias, jornada de trabalho

compatível com a atividade, Pronaf, habitação, escola do campo, juventude rural, direitos

humanos, distribuição de renda, empoderamento da sociedade” (FETAEP, 2008, p.1).

“É contra a venda de carbono para grandes grupos transgênicos, ação da

Organização Mundial do Comercio - OMC sobre a população mundial” (FETAEP, 2008, p.1).

“Os meios de reivindicação de maior vulto são o Grito da Terra, a Marcha das

Margaridas e a Romaria da Terra” (FETAEP, 2008, p.1).

Há de se ter uma visão global e ação local. Vivemos novamente um momento de

ação do capital: o agronegócio da soja e carne bate recorde; o Brasil é o maior exportador de

carne do mundo; a indústria do Paraná tem 3º maior avanço do país: (máquina agrícola,

fertilizantes, abate de aves).

A Fetaep mantêm convênio de assessoria com o Instituto Emater com o intuito de

garantir a atuação preferencial pela agricultura familiar. A extensão rural deve estar afinada

com as bandeiras de luta da agricultura familiar. A Federação quer a extensão rural na consolidação dos territórios de desenvolvimento integrado, no atendimento aos grupos de interesse, como o grupo café, grupos de leite, buscando integração no processo de organização das Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar – CLAFs, trabalho integrado com a CRESOL na expansão do cooperativismo de crédito solidário, qualificação do crédito rural, crédito fundiário, inserção da agricultura familiar na produção de biocombustíveis, treinamento e assessoria de funcionários dos sindicatos, treinamento de lideranças, assessoria nos conselhos de desenvolvimento e na defesa do meio ambiente (FETAEP, 2008, p.1).

2.4.2 Visão estratégica dos funcionários do Instituto EmaterOs funcionários do Instituto Emater, reunidos em Curitiba nos dias 15, 16 e 17 de

novembro de 2006, por ocasião do X Encontro dos Funcionários do Instituto Emater,

17

aprovaram linhas sugestivas para a reestruturação de pontos considerados estratégicos para a

instituição e para os funcionários.

Com relação à nova realidade da ATER o documento apresenta a seguinte justifi-cativa:

A ATER vive uma nova realidade no país e no Estado. É preciso repensar sua forma de atuação. Hoje, além do Instituto Emater, outras entidades prestam serviços aos pequenos agricultores, recebendo recursos públicos. A extensão rural oficial não possui técnicos suficientes para atendem todos os agricultores familiares. É preciso estabelecer parcerias entre as entidades de assistência técnica para otimizar recursos e para ampliar o atendimento aos agricultores familiares. A qualidade dos serviços prestados pela extensão rural oficial às vezes tem sido questionada, pelas entidades representativas dos agricultores familiares, que exigem dedicação exclusiva aos pequenos produtores e trabalhadores rurais, bem como um trabalho mais ajustado às suas necessidades (AFA, 2006, p.1).

As proposições aprovadas pelos congressistas foram:

O Instituto deverá continuar sendo órgão oficial de ATER pública e gratuita, mantida com recursos públicos, sendo aplicador das políticas públicas à agricultura familiar, incluindo no quadro técnico, outras formações e conhecimentos além das ciências agrárias. É necessário desenvolver mecanismos para evitar o sucateamento e o desmonte da estrutura de trabalho. Garantir a participação das entidades representativas da agricultura familiar na discussão e elaboração do orçamento do Instituto, como forma de dar transparência e direcionar as ações aos interesses dos pequenos agricultores. Que a Instituição crie uma política clara que garanta o avanço no processo de negociação com as organizações não governamentais e com organizações governamentais em torno do desenvolvimento sustentável. Que as negociações com parceiros garantam por parte das entidades uma estrutura mínima para aplicação no trabalho contratado. Que o Instituto estude mecanismos de motivação e incentivo financeiro para reforçar a atuação em municípios de baixo IDH. Reforçar a parceria com a Fundação Terra, negociando como contrapartida a alocação de recursos na melhoria das condições de trabalho. Rever a cessão de funcionários para outros órgãos, evitando desta forma a redução da estrutura técnica do Instituto Emater (AFA, 2006, p.2).

O encontro analisou sistemática organizacional da instituição a partir das justifica-tivas abaixo:

Entre as questões que têm sido discutidas nos últimos tempos na instituição estão o papel das unidades, em especial da unidade regional e da unidade estadual, a continuidade ou não das Áreas de Programação Integradas e o trabalho por processos. É estratégico se ter uma posição dos funcionários sobre as questões acima para compor uma pauta de negociação com a diretoria e para disciplinar o posicionamento da associação dos funcionários e o comportamento dos funcionários (AFA 2006, p.2).

As proposições com relação à sistemática organizacional foram:

As atuais Áreas de Programação Integradas devem continuar, porém é necessário desenvolver um estudo de ajuste desta forma de organização interna aos territórios. É importante, para a qualidade do serviço, garantir a

18

mobilidade dos funcionários dentro da API (Área de Programação Integrada), de acordo com plano de trabalho negociado, bem como um repensar das unidades municipais, garantindo-se: a existência de unidade em todos os municípios do Estado; recomposição da área administrativa; o número de funções técnicas deve ser definido em função da concentração de agricultores familiares existente em cada município. As unidades regionais devem ter como funções básicas: gerenciar e avaliar os planos de ATER; zelar pela área administrativa. Para tanto, a estrutura de pessoal das unidades regionais, deve ser composta por: um gerente regional; um coordenador administrativo; auxiliares administrativos; dois a três coordenadores com função gerencial e técnica. A unidade estadual precisa ser reestruturada para se tornar mais ágil. Devem ser funções da unidade estadual: prestar maior apoio técnico, político e logístico às regiões; o relacionamento institucional em nível estadual e federal. Visando a execução das funções acima, se faz necessário: fortalecer a estrutura de marketing da unidade estadual; reestruturar a área metodológica; O planejamento estratégico do Emater deverá ser claro e eficaz para que haja contribuições de todos os funcionários, e focado nas realidades regionais (AFA, 2008, p.6).

2.5 EXTENSÃO RURAL NA REGIÃO OESTE DO PARANÁO serviço de extensão rural no oeste do Paraná teve início em 1956, de acordo

com os registros do Emater (2008, p.1), com a abertura de “escritório técnico de agricultura

em Foz do Iguaçu, através do convênio ETA Projeto 15”, firmado entre os governos do Brasil

e dos Estados Unidos.

As terras férteis atraíram grande número de colonos, descendentes de europeus,

vindos do sul e do norte para a região, tanto que em dez anos todas as suas terras estavam

ocupadas. A colonização rápida da região trouxe muitas dificuldades aos colonos, que sem

estradas, sem hospitais, sem escolas e sem local onde comercializar sua produção, recorreram

à solidariedade dos vizinhos para amenizar o sofrimento.

“A entidade de extensão rural no Paraná, que a partir de 59 passou a Associação

de Crédito e Extensão Rural do Paraná – ACARPA, estendeu seu trabalho a todos os

municípios, buscando acompanhar a expansão da demanda” (EMATER, 2008, p.1).

No oeste, a viabilização de crédito rural foi o carro chefe da ação dos

extensionistas. Desde a destoca das áreas, mecanização, abertura de estradas, construção de

silos e armazéns até conservação de solos e adequação de estradas rurais.

Segundo Emater (2008, p.1), sob orientação e assessoria dos extensionistas, “o

cooperativismo cresceu junto com a produção agropecuária”. Desde o início da sua atuação, a

extensão rural buscou a organização dos produtores. Na década de 60 foram criadas as

primeiras cooperativas agropecuárias do oeste, que deram segurança na comercialização. A

partir de 1970 estas se agigantaram, passando a requerer assessoria especializada em

19

comercialização e gerência. Estruturaram departamentos técnicos e passaram a contratar

profissionais para assistir seus cooperados.

De acordo com os registros de Emater (2008, p.1), na década de 70, “com

mecanização das lavouras, veio o financiamento agrícola e também o seguro chamado

Proagro, cujas vistorias eram realizadas exclusivamente pelos agrônomos da extensão rural”.

Foi um período em que sobravam recursos à extensão rural, em função da remuneração das

vistorias. Em época de frustração de safras era feito um esforço concentrado para atender a

demanda, mesmo que isto significasse a interrupção de outros projetos.

Consta nos registros do Instituto Agronômico do Paraná (2003, p.1) que “em 1975

e 1979, as geadas queimaram os cafezais do Paraná” que foram erradicados e tombados para

dar lugar ao cultivo mecanizado da cultura da soja, que provocou o maior êxodo rural da

história da região. A construção da barragem de Itaipu deu emprego a muitos dos colonos

expulsos da terra pela mecanização e pela formação do Lago de Itaipu.

Em março de 1981, um grupo de agricultores acampou-se em frente ao escritório

da Itaipu Binacional, em Santa Helena, reivindicando melhor preço pelas terras

desapropriadas. Foi nesta época, a partir do movimento dos desapropriados de Itaipu, sob

orientação da Igreja Luterana e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que a região conheceu o

Movimento dos Sem Terra – MST.

Segundo registros da Binacional Itaipu (2008, p.1), “o fechamento das comportas

se deu em 1983”, o que provocou grande número de desempregados, além dos desalojados

das terras alagados que não tinham trabalho.

De acordo com Emater (2008, p.1), por orientação do então Secretário de Estado

da Agricultura, “a extensão rural buscou aproximação com este público, cadastrou milhares

de colonos interessados em serem assentados, acompanhou e orientou os trabalhadores

volantes da agricultura, na busca de melhores condições de trabalho”, dentro de uma filosofia

pregada por Paulo Freire. No entanto, a pressão dos ruralistas conseguiu derrubar o Secretário

Klaus Ghermer e com ele sucumbiu, em seu início o tão promissor “Modelo 80” de extensão.

Iniciou na década de 80 e prolongou-se pela década seguinte, conforme Emater

(2008, p.1), a conservação de solos em microbacias hidrográficas, com o programa de Estado

chamado Paraná Rural. Os extensionistas passaram do modelo 80 para a aplicação de um

programa fomentista, de grande importância para os agricultores, mas perdia-se a

oportunidade de exercitar a participação dos agricultores na eleição das prioridades.

Em 1995, com o advento do Pronaf, a região voltou a ter credito rural

diferenciado para os pequenos produtores, reconhecidos como agricultores familiares. A falta

de garantias aos bancos, segundo Emater (2008, p.1), levou os prefeitos e conselhos

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municipais a constituir um fundo de aval, que na maioria dos casos era composto por 10% do

valor do financiamento, 5% dos produtores e 5% da prefeitura. Este fundo de aval foi mais

tarde dispensado pelos agentes financeiros por ser inconstitucional, não havendo possibilidade

das prefeituras porem recursos públicos para garantir empréstimos particulares. A elaboração

dos planos de crédito e cartas de aptidão ao Pronaf estreitou relações entre extensionistas e

sindicatos dos trabalhadores rurais.

A invasão de terras aumentou na década de 90 e os conflitos aconteceram também

na região. De acordo com informações do Instituto Emater (2008, p.1) o governo

desapropriou algumas fazendas e assentou os invasores, cabendo à extensão rural a assistência

técnica e a fiscalização da aplicação dos recursos de financiamento. O governo neoliberal de

Fernando Henrique assentou mais de cem famílias na região, pelo Programa Banco da Terra,

com financiamento da terra e da infraestrutura. Muitos destes projetos elaborados por

empresas de planejamento. Como o Pronaf-A, era exclusividade da extensão rural, estes

também passaram a ser clientes preferenciais.

Dias (2007, p.11), menciona que no “governo Lula a elaboração dos projetos de

Pronaf-A foi privatizada e os assentamentos puderam criar sua própria estrutura de

assistência”. Como esta assistência por 4 anos era custeada pelo financiamento, passado este

tempo, passam a ser clientes preferenciais da extensão oficial. Apesar dos esforços do

governo em assentar centenas de famílias na região, via desapropriação e Credito fundiário, a

tensão no campo cresce e a concentração de propriedades continua, mandando mais

agricultores para a periferia das grandes cidades.

“A região oeste teve, nos últimos três anos, 425 projetos do Crédito Fundiário

aprovados, abrangendo 11 municípios. Isto representa 32,1% dos projetos do Estado. Projetos

elaborados por técnicos da iniciativa privada em convênio com a Fetaep” (FETAEP, 2008,

p.14).

Conforme dados do Emater (2008, p.1), os 30 municípios da região, considerando

o período de 2000 a 2006, “a população urbana cresce na faixa de 11,4% e a população rural

decresce 10,36%.

O número de estabelecimentos rurais decresce 20,25%. São 7.591 propriedades

rurais a menos em 6 anos, o que representa um aumento na área média de 38,4 hectares para

48,2 hectares (IPARDES, 2008, p.7-8).

A mão de obra empregada nestes estabelecimentos é de 10.129 (12,4%) na

agricultura patronal e na agricultura familiar são 71.571 (87,6%) dos postos de trabalho na

agricultura do oeste (IPARDES, 2008, p.11).

21

Uma forte característica da região é a produção de grãos, sendo que as culturas do

milho e soja ocupam mais de 80% da área cultivada. Possui no total do Estado a maior

participação no valor da produção agrícola e também da pecuária (AMOP, 2008, p.1).

A região especializa-se na produção de aves e suínos, como também na produção

de leite com alto nível tecnológico e forte integração agroindustrial em regime cooperativo.

Industrialmente, apresenta elevado grau de concentração de atividades na agroindústria, com

foco na produção de alimentos (17,06%), posicionando-se no terceiro lugar do Estado

(AMOP, 2008, p.1).

A agricultura familiar não acompanha este crescimento, porque são necessários

investimentos cada vez maiores para adequar a estrutura de produção. Segundo Fetaep (2008,

p.1), os agricultores familiares que acessaram crédito rural, na década de 90, “através do

Programa Panela cheia para construir aviários ou chiqueiros tiveram grandes dificuldades em

honrar seus compromissos” no banco. Mesmo antes de liquidar o empréstimo, já foi

necessário trocar os equipamentos por outros mais modernos, sob pena de serem excluídos da

integração. Só se manteve na atividade aquele que tenha outras fontes de renda ou alta

eficiência produtiva.

A produção de leite à pasto manteve muitas famílias na agricultura em função do

investimento inicial ser menor e o mercado ser de livre concorrência. Embora a legislação

sanitária seja rígida, há como se produzir com qualidade em pequena escala. Por esta razão

chega a quase 40% dos estabelecimentos rurais do oeste. A organização das cooperativas de

leite da agricultura familiar, em três anos de presença na região, já está presente em 50% dos

municípios. Esta expansão deve-se ao alto risco de falência dos laticínios particulares e à

exploração no preço pago ao produto.

Conforme dados do Emater (2008, p.1), “crescem na região as organizações de

comercialização dos produtos da agricultura familiar”, sob orientação da extensão rural e

apoio dos sindicatos de trabalhadores rurais. A construção de centros de comercialização,

feiras livres locais, feiras regionais dos produtos da agricultura familiar contam com

orientação e assessoria especializada da extensão rural.

De acordo com o Emater (2008, p.1), “centenas de agricultores familiares foram

orientados para a transformação artesanal ou industrial dos produtos coloniais, agregando

valor à produção”. Dezenas de pequenos empreendimentos foram adequadas e legalizadas,

não mais ficando na ilegalidade e gerando emprego e renda. O universo de clientes é muito

maior, porém faltam profissionais qualificados, recursos financeiros e políticas de governo

para o desenvolvimento do setor.

22

2.6. REALIDADE DA EXTENSÃO RURALA extensão rural no Paraná tem destacada importância na agropecuária do Estado.

Segundo registros do Instituto Emater (2008, p.1), há 52 anos, quando iniciava o serviço de

extensão rural e assistência técnica, foi uma interferência gigantesca no modelo produtivo. Os

colonos estavam acostumados com as técnicas de plantio e criação apreendidas de seus pais.

Estes eram imigrantes europeus, que trouxeram do além mar o espírito de luta e a forte

determinação de tirar da terra o sustento para suas famílias.

De acordo com Emater (2008, p.1) “o modelo produtivo agropecuário que foi

adotado no Brasil a partir de 1960 foi implantado graças a uma ação conjunta e organizado do

tripé: ensino, pesquisa e extensão”. Isto é, universidades, órgãos de pesquisa e de extensão

rural foram os responsáveis pela introdução dos pacotes tecnológicos voltados para a

utilização intensiva de insumos e máquinas, com o objetivo do aumento da produtividade.

De acordo com Lisita (2005, p.1), “desde seu início a extensão rural estava sob o

comando do capital, com forte influência norte-americana e visava superar o atraso na

agricultura”. Para tanto, havia a necessidade de educar o povo rural, para que ele passasse a

adquirir equipamentos e insumos industrializados, necessários à modernização de sua

atividade agropecuária, com isso ele passaria do atraso para a modernidade. O modelo servia

para o homem rural entrar na dinâmica da sociedade de mercado, produzindo mais, com

melhor qualidade e maior rendimento.

Este modelo leva em conta apenas os aspectos técnicos da produção, sem observar

as questões culturais, sociais ou ambientais, visa apenas divulgar, impor ou estender um

conceito, sem levar em conta as experiências e os objetivos das pessoas atendidas.

“A extensão rural servia como instrumento para a introdução do homem do campo

na dinâmica da economia de mercado. A ATER visava o aumento da produtividade e a

mudança da mentalidade dos produtores, do tradicional para o moderno” (LISITA, 2005, p.1).

Os extensionistas tinham a missão de convencer os agricultores a adotarem as

novas tecnologias, onde seus conhecimentos empíricos não interessavam e suas reais

necessidades não eram levadas em conta. A extensão rural assumiu um caráter tutorial e

paternalista. Entretanto, como o papel dos extensionistas era condicionado pela existência do

crédito agrícola, os pequenos agricultores familiares que não tiveram acesso ao crédito

também ficaram à margem do serviço de extensão rural. Do início dos anos 1980 até os dias atuais, devido principalmente ao término do crédito agrícola subsidiado, iniciou-se no país uma nova proposta de extensão rural, que preconizava a construção de uma consciência crítica nos extensionistas. O planejamento participativo era um instrumento de ligação entre os assessores e os produtores, com bases na pedagogia da libertação

23

desenvolvida por Paulo Freire. Essa fase foi chamada de humanismo crítico (LISITA, 2005, p.1).

No Paraná, esta fase não logrou êxito, pois tão logo a diretoria da então

ACARPA, internalizasse a filosofia do humanismo crítico, houve troca do Secretário de

Estado da Agricultura, com total mudança de prioridades e conseqüentemente na ação da

extensão que é dependente dos recursos do Estado. Este priorizou a execução de programas

estruturados como o Provarzeas, Conservação de solos em microbacias, entre outros. Nesta

fase o Paraná perdeu um grande número de agricultores familiares e o oeste ficou acima da

média devido as geadas que dizimaram as plantações de café e a facilidade de mecanização

das terras.

Na política de desmonte do Estado, o serviço de extensão rural oficial no Paraná

passou por sérias ameaças de extinção. Ficou sem contratar pessoal por mais de 15 anos,

reduzindo seus quadros em aproximadamente 50%, segundo Emater (2008, p.1), chegando

em 2005 a 1190 funcionários, dos quais 851 são técnicos, com o compromisso de garantir a

orientação aos 321 mil agricultores familiares do Paraná.

“A Extensão rural continua com a mesma orientação básica: incluir o pequeno

agricultor familiar na lógica do mercado, torná-lo cada vez mais dependente dos insumos

industrializados, subordinando-o ao capital industrial” (DIAS, 2007, p.6).

Segundo Dias (2007, p.6) “a falta de profissionais por parte do Estado que

pudessem atender novas demandas abriu espaço para outras entidades, tais como ONGs, para

atender demandas específicas e regionalizadas”. “As prefeituras municipais, por pressão local,

passaram a estruturar equipes técnicas vinculadas às Secretarias Municipais de Agricultura e

Meio Ambiente”. As cooperativas e empresas agropecuárias contrataram profissionais da área

das ciências agrárias para atender a seus clientes. Muitos profissionais das ciências agrárias

passaram atuar em firmas de planejamento agrícola ou de forma autônoma, atendendo uma

demanda em planejamento e crédito rural para os agricultores empresariais e familiares.

A degradação dos solos e a legislação ambiental abriram novo campo de trabalho

para os profissionais das ciências agrárias. Os agricultores familiares, ou seja, os pequenos

produtores, face à descapitalização, têm grande dificuldade em atender estas necessidades e o

Estado não tem estrutura para atender a demanda.

A extinção da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural -

EMBRATER no governo Collor, de conseqüências desastrosas na agricultura familiar,

aumentou a concentração de terras, desalojando milhares de colonos (DIAS, 2007, p.6).

Segundo Nazzari et. al (2007, p.26), o Censo Agropecuário de 2005 mostrou que

o Paraná tinha369.875 propriedades rurais, destas 321.380 eram de agricultores familiares

24

(86,89%). De 15,9 milhões de hectares, 6,5 milhões eram ocupados por agricultores

familiares (40,88%). O Valor Bruto da Produção (VBP) referente ao período era de 5,5

bilhões de reais, dos quais 2,7 bilhões da agricultura familiar, representando 49,09%. A renda

por unidade de área é 84,08% maior na agricultura familiar do que na patronal (quadro 2).

Quadro 2 – Comparativo da Agricultura Familiar e Agricultura Patronal no Paraná

Categorias Agricultura Familiar Agricultura PatronalNo de propriedades rurais 321.380 44.273Área Total 6.541.583 9.275.501VBP (R$1.000) 2.683.996 2.860.118Renda total média por propriedade 4.658,00 26.043,00Renda monetária da propriedade 3.406,00 23.127,00Renda média anual por hectare 228,81 124,30

FONTE: Censo Agropecuário 1995-1996

Considerando os 30 municípios da região, tomando por base os dados do

IPARDES – 2008, a migração da população rural para os centros urbanos continua. A

população regional cresceu de 799.785 para 890.938 no período de 2000 a 2007 (11,4%),

enquanto a população rural decresceu de 104.830 para 93.967 habitantes, representando perda

populacional de 10,36%. A mesma fonte cita a existência de 37.487 estabelecimentos rurais

em 2000 e 29.896 em 2006, um decréscimo de 20,25%. São 7.591 propriedades rurais que

foram anexadas a outras, aumentando a área média de propriedade no oeste de 38,4 hectares

para 48,2 hectares em apenas 6 anos (Quadro 3).

Quadro 3 – Quadro resumo da área da região, população total, população rural (2000 – 2007)

e número de estabelecimentos rurais (2000 – 2006) MUNICÍPIO ÁREA POP.2000 POP.2007 POP.R.00 POP.R.07 EST.R.00 EST.R.06Anahy 10233 3011 2868 1371 899 419 460C. L. Marques 27489 14377 13616 4624 3724 1466 1204Diam. Sul 34598 3659 3665 2544 2285 700 437Iguatu 10746 2255 2286 1028 917 419 362Missal 32304 10433 10412 5461 5111 1573 1451Sta T. Itaipu 26749 18368 19552 2069 2329 760 417B. V. Aparecida 25616 8423 7818 3858 3277 1220 1278Cascavel 209140 245369 285784 5104 2591Diam. Oeste 30914 4878 4944 2398 2626 748 610Itaipulândia 33231 6836 8581 3079 4103 859 482Nova Aurora 47221 13641 11753 4580 3027 1339 1764São M. Iguaçu 84866 24432 25341 10172 10518 3005 2015Braganey 34275 6191 6044 3411 2888 1081 813Catanduvas 58960 10421 9578 5477 4508 1498 989Foz do Iguaçu 61020 258543 311336 669 348Lindoeste 36099 6224 5446 3842 3094 1101 933Ramilândia 24020 3868 4147 2114 2155 618 274

25

Serranópolis 48587 4740 4327 2812 2297 836 730Cafelândia 27152 11143 13065 2592 2354 813 623Céu Azul 118016 10445 10914 3248 2956 1002 891Guaraniaçu 124006 17201 15959 9075 8013 2870 2959Matelândia 64203 14344 15404 4193 4379 1246 950Santa Lucia 11750 4126 3725 1942 1560 612 567Três B. Paraná 50695 11822 11718 6891 6372 1994 1813Campo Bonito 42930 5128 4426 2868 2001 851 507Corbélia 52871 15803 15428 3261 2359 1028 941Ibema 15003 5872 5927 1434 1221 424 177Medianeira 32516 37827 38397 4581 4259 1406 1956Sta Tereza 32731 10754 9378 3220 2452 903 404Vera Cruz do O. 32629 9651 9099 2685 2283 923 950TOTAL 1440570 799785 890938 104830 93967 37487 29896FONTE: IPARDES – 2008

Tomando-se por base o crescimento demográfico do Paraná, no período 2000 a

2007, observa-se no mapa ilustrativo abaixo, a evolução da região de Curitiba e de Cascavel,

com mais de 10 %, Ponta Grossa com 8,1 % e as demais regiões com crescimento abaixo de 5

%. As regiões de Ivaiporã, Campo Mourão e Cornélio Procópio tiveram crescimento negativo

(Figura 1).

Figura 1 – Mapa demonstrativo da regiões do Paraná e evolução demográfica

26

8.1

3.2

1.6

14.211.4

0.7

-4.4

2.5

-5.2

4.6

0.5

1.5

4.7

8.3

8.5

4.2

-3.5

6.7

Curitiba

Ponta Grossa

IratiGuarapuava

Cascavel

Ivaiporã

Umuarama

Toledo

Paranavaí

MaringáLondrina

Campo Mourão

Pato Branco

Paranaguá

União da Vitória

Francisco Beltrão

Cornélio Procópio

Santo Antonio da PlatinaApucarana

4.2

CrescimentoNegativoPositivo

N

1:2500000

Evolução Populacional Regional no Estado do Paraná entre 2000 e 2007

FONTE: EMATER, 2008

A população total do oeste tende a crescer 18,43% em 20 anos (2000 a 2020),

migrando para as cidades pólo, Cascavel e Foz do Iguaçu e para as cidades vizinhas, enquanto

os municípios mais distantes perdem população. Na projeção do IPARDES, excluindo-se os 7

municípios de crescimento positivo, ter-se-a a projeção de perda populacional de 28,67% nos

demais 23 municípios da região, sendo que, 11 destes têm projeção de perder maior de 40 %.

O município de Diamante D’Oeste tende a perder 80% de sua população (Quadro - 4).

Quadro 4 – Projeção da população do oeste até 2020

MUNICÍPIO 2000 2010 2020 2000 2010 2020 %Anahy 3011 2437 1799 3011 2437 1799 -40,25C. L. Marques 14377 15199 14483 14377 15199 14483 0,74Diam. Sul 3659 2699 1769 3659 2699 1769 -51,65Iguatu 2255 1561 982 2255 1561 982 -56,45Missal 10433 9850 8358 10433 9850 8358 -19,89Sta T. Itaipu 18368 22247 23307B.VAparecida 8423 6379 4319 8423 6379 4319 -48,72Cascavel 245369 290873 306795Diam. Oeste 4878 2247 944 4878 2247 944 -80,65Itaipulândia 6836 11048 15758Nova Aurora 13641 10910 7950 13641 10910 7950 -41,72São M. Iguaçu 24432 27099 26854Braganey 6191 4286 2694 6191 4286 2694 -56,49Catanduvas 10421 10299 9080 10421 10299 9080 -12,87

27

Foz do Iguaçu 258543 328853 370106Lindoeste 6224 5178 3877 6224 5178 3877 -37,71Ramilândia 3868 3899 3525 3868 3899 3525 -8,87Serranópolis 4740 4145 3247 4740 4145 3247 -31,50Cafelândia 11143 14494 16794Céu Azul 10445 9574 7909 10445 9574 7909 -24,28Guaraniaçu 17201 12372 8038 17201 12372 8038 -53,27Matelândia 14344 14105 12399 14344 14105 12399 -13,56Santa Lucia 4126 3138 2174 4126 3138 2174 -47,31Três B. Paraná 11822 8405 5404 11822 8405 5404 -54,29Campo Bonito 5128 4690 3837 5128 4690 3837 -25,18Corbélia 15803 13976 11183 15803 13976 11183 -29,24Ibema 5872 5105 3995 5872 5105 3995 -31,97Medianeira 37827 39436 36748 37827 39436 36748 -2,85Sta Tereza 10754 18218 27621Vera Cruz O. 9651 7512 5297 9651 7512 5297 -45,11TOTAL 799785 910234 947246 224340 197402 160011 -28,67FONTE: IPARDES – 2008

Quanto à ocupação dos solos, observa-se que a cobertura florestal nas

propriedades é de 13,31%, no entanto 44% dos estabelecimentos não possuem reserva

florestal, descumprindo o código florestal brasileiro. A área ocupada com lavouras anuais

corresponde a 62,31%, estando presente em 78,62% dos estabelecimentos rurais e a área

ocupada com lavouras permanentes é de apenas 17.061 hectares (1,18%), estando presente em

14,49 % dos estabelecimentos. A área em pastagens corresponde a 25,76%, estando presente

em 62,39% dos estabelecimentos (Quadro 5).

Quadro 5 – Ocupação do solo rural no oeste

MunicípioEstab. 2006

área estb

Est LPer

Área LPer

EstLTemp

ÁreaL temp

Est Pasto

Área Pasto

Est Mata

Área Mata

Anahy 460 10233 24 71 314 5724 189 2430 197 1909CL.Marques 1204 27489 160 212 790 5943 854 9362 721 2823Diam. Sul 437 34598 223 534 437 3219 441 15380 361 7359Iguatu 362 10746 59 807 304 17617 188 3990 198 2300Missal 1451 32304 186 262 1292 12711 1239 7161 958 2826Sta T.Itaipu 417 26749 22 83 356 14887 273 12471 248 6910Cascavel 2591 209140 402 2399 3421 75524 1867 29452 1893 30547B.V.Aparec 1278 25616 312 551 375 4102 901 12948 723 3429Diam.Oeste 610 30914 77 356 515 4121 551 15675 248 3616Itaipulândia 482 33231 24 240 387 9568 331 2505 167 715N. Aurora 1764 47221 33 153 1148 27238 398 4612 766 5112S.M.Iguaçu 2015 84866 144 1370 1624 71057 1146 14120 768 4059Braganey 813 34275 79 422 655 14744 364 8262 438 4575Catanduvas 989 58960 200 1454 678 19956 716 20072 701 10346Foz Iguaçu 348 61020 426 359 923 17607 412 2750 350 2240Lindoeste 933 36099 163 441 695 6760 696 17354 483 5527Ramilândia 274 24020 119 899 398 3644 593 12987 266 3040Ser.Iguaçu 730 48587 91 955 585 27649 220 5629 263 3649Cafelândia 623 27152 278 754 460 14302 183 667 244 1790

28

Céu Azul 891 118016 73 299 565 15694 460 5074 458 5155Guaraniaçu 2959 124006 232 1593 1481 17546 1535 65898 1405 27352Matelândia 950 64203 97 638 740 10084 781 14204 632 4986Santa Lucia 567 11750 13 21 370 3869 379 4383 382 1816T.B.Paraná 1813 50695 64 151 1193 11438 1262 19444 1132 8136C. Bonito 507 42930 274 474 497 14683 416 10763 409 6724Corbélia 941 52871 24 102 588 417685 314 26756 402 15889Ibema 177 15003 30 81 249 4185 220 4787 231 4376Medianeira 1956 32516 198 275 976 13738 949 8710 934 4909Sta Tereza 404 32731 35 850 466 17485 274 4621 310 4661V. Cruz O. 950 32629 270 255 662 14888 501 8686 437 4919TOTAL 29896 1440570 4332 17061 23504 897668 18653 371153 16725 191695FONTE: IPARDES – 2008

Segundo Ipardes (2008, p.11), a mão de obra empregada na agropecuária dos 30

municípios é de 10.129 (12,4%) na agricultura patronal e de 71.571(87,6%) na agricultura

familiar, totalizando 81.700 postos de trabalho.

A produção agropecuária se limita a poucas atividades, apesar da grande

diversidade de atividades viáveis na região em função do clima e mercado. Dos 897.668

hectares de lavouras anuais, 52,11% foram plantadas com soja, 29,43% com milho, somando

81,54% do total da área (Quadro 6).

Quadro 6 – Produção agrícola da região.

MunicípioÁrea Ltemp Soja Milho Trigo Feijão

Man- di-oca Arroz Cana Fumo

Anahy 5724 4000 1360 1500 640 395 154 150 19C.L.Marques 5943 7500 14500 650 3600 490 100 1000 162Diam. Sul 3219 100 3400 800 1400 180 250 50 2Iguatu 17617 6000 2100 1000 340 600 80 50 617Missal 12711 13500 10800 50 60 500 20 100 492Sta T. Itaipu 14887 16000 7250 4458 10 200 10 70 13B.V.Aparecida 4102 2400 3000 400 700 350 150 200 41Cascavel 75524 87700 17700 5720 3500 1050 150 550 154Diam. Oeste 4121 4800 4000 1500 500 1150 150 180 32Itaipulândia 9568 7500 6250 1000 118 240 106 374Nova Aurora 27238 30350 17150 4600 250 1400 200 150S. M. Iguaçu 71057 43000 29962 2500 100 400 100 200 648Braganey 14744 18000 5000 5000 550 400 20 85 200Catanduvas 19956 15300 13300 1500 2600 1300 200 1300 123Foz do Iguaçu 17607 9000 4500 3000 12 525 50 5Lindoeste 6760 3400 705 900 340 330 250 200 37Ramilândia 3644 4250 6450 1000 250 320 108 63Serranópolis 27649 11500 6150 850 240 130 30 380Cafelândia 14302 21750 13820 4250 500 60 50 30 7Céu Azul 15694 24700 8500 14550 350 300 100 530 20Guaraniaçu 17546 6000 21200 500 1300 650 500 100 35Matelândia 10084 10300 4500 2420 275 130 5 320 182Santa Lucia 3869 4100 3100 2100 500 200 140 101T. B. Paraná 11438 6500 12900 240 2600 1200 400 120 963

29

Campo Bonito 14683 16000 11380 5000 2900 280 300 300 62Corbélia 417685 37500 12800 7700 6500 300 75 1000 51Ibema 4185 5600 2850 200 160 210 90 45 19Medianeira 13738 13000 5750 1700 45 150 10 100 405Sta Tereza 17485 19000 10350 1000 1800 220 40 350 16Vera Cruz O. 14888 19000 3500 5930 400 300 100 90 158TOTAL 897668 467750 264227 79918 34140 14260 3704 7704 5381FONTE: IPARDES – 2008

Estes produtos têm alto grau de mecanização e baixo retorno financeiro por

unidade de área, viável apenas para áreas extensivas. Para as demais culturas são destinados

menos de 20% da área em lavouras, e são justamente as alternativas de subsistência. A

agricultura familiar tem, no oeste, viabilidade de pelo menos 20 culturas de maior retorno

financeiro e melhor aproveitamento da mão de obra familiar e mais de 70 culturas adaptadas

ao clima (Quadro 7).

Quadro 7 – Opções de cultivo no OesteCULTURA HA CULTURA HA CULTURA HA CULTURA HA CULTURA HASOJA 467750TOMATE 139 LARANJA 171 GOIABA 11 MARACUJA 11MILHO 264227BETERRABA 07 MANGA 52 MAMÃO 05 CANOLA 18TRIGO 79.918 BERINJELA 02 CAQUI 22 AMEIXA 15 MORANGO 17FEIJÃO 34.140 ALHO 57 CAFÉ 567 ABACATE 41 JABUTICABA 05MANDIOCA 14.260 CEBOLA 15 ABACAXI 05 ALFACE 78 ABÓBORA 279CANA 7.704 BRÓCOLIS 04 UVA 181 F. VAGEM 02 CABUTIÁ 45ARROZ 3.704 REPOLHO 08 PÊSSEGO 69 MAMÃO 05 BUCHA 13AVEIA 8.310 C. FLOR 17 ACEROLA 03 MELÃO 13 NOZ PECAN 52FUMO 5.381 BAT. DOCE 126 CENOURA 25 MAÇÃ 18 ERVILHA 04ERVA 3.173 RABANETE 12 BANANA 345 PONCAN 55 MELANCIA 110AMENDOIM 785 PEPINO 140 RÚCULA 13 ABACAXI 03 S. VASSOURA 28ALGODÃO 368 QUIABO 02 SALSA 06 LIMÃO 69 TANGERINA 102SORGO 179 PIMENTÃO 03 AGRIÃO 14 CHUCHÚ 36 PL. MEDICINAIS 05GIRASSOL 175 PIMENTA 01 URUCUN 107 FIGO 11 PALMITO 08

A produção de alimentos de origem vegetal é deficitária na região e de acordo

com dados da CEASA (2008, p.1), “mais de 80% das frutas e hortaliças vem de outras

regiões”, apesar do clima e solo favorável à produção na região.

Os agricultores familiares da região estão carentes de apoio técnico, programas

governamentais que dêem segurança na comercialização, crédito e seguro da lavoura. Há de

se planejar a produção em função do consumo, mas para tal falta um órgão regulador para que

os agricultores familiares não fiquem à mercê dos especuladores ou atravessadores para

comercializar a produção.

A produção pecuária do oeste é muito significativa, porém esta sob controle das

empresas que industrializam a produção. A bovinocultura está presente em 60,34% dos

estabelecimentos rurais e a produção de leite em 39,95%, sendo a ocupação de 2,2 animais

30

por hectare de pastagem. A produção de leite ultrapassa os 97 milhões de litros por ano. A

suinocultura está presente em 35,74% dos estabelecimentos, a produção de aves em 47,71 e

de ovos em 21,19% (Quadro 8).

Quadro 8 – Produção pecuária do oeste.

MunicípioEst Bovin Cab

Est Suíno Cab

Est Aves

(1000) cab

Est Vacas

(1000) Lts/ano

Est Ovos

(1000) Dz/ano

Anahy 162 5119 99 1021 141 565,6 59 590 30 700CL.Marques 816 32099 332 5298 474 2930,9 532 8351 128 27Diam. Sul 416 27415 314 4305 497 50 272 1560 413 28Iguatu 119 28509 144 1841 181 461,9 54 337 27 2Missal 1241 29368 797 54512 1014 1359,9 901 14,5 726 2455Sta T.Itaipu 252 20809 147 1689 248 133,8 186 1436 190 170BVAparec 872 30174 491 6749 648 1105,6 546 6,8 306 17Cascavel 1969 94076 1198 73210 1331 6566,1 1489 42 521 12613D. Oeste 516 30411 338 3964 447 412,8 337 3,57 230 24Itaipulândia 347 9700 233 34736 258 1364,9 266 3,6 212 45N. Aurora 384 10472 234 22991 214 3463,5 112 2397 18 2904S.M.Iguaçu 1040 22513 556 63078 855 2247,5 762 15048 470 803Braganey 349 17952 280 4851 334 230,2 195 2332 175 29Catanduvas 704 37187 341 31703 499 1243,7 420 10019 156 18Foz Iguaçu 379 5176 307 3354 573 44 288 1130 434 0,3Lindoeste 660 39373 473 11354 621 1238 463 4925 358 40Ramilândia 523 26651 292 8179 397 343,5 352 5,4 37 5Ser.Iguaçu 144 9668 53 1198 78 1484,7 27 290 15 14Cafelândia 230 2702 206 305903 205 2467,8 116 1123 35 36184Céu Azul 463 18046 290 25647 400 1294,8 336 10,1 137 1652Guaraniaçu 1468 122405 963 89625 1258 2819,6 726 9761 323 47Matelândia 755 30086 254 55215 407 7494,8 471 13588 98 792Sta Lucia 358 10215 30 679 13 112,6 222 3118 2T.B.Paraná 1230 47603 646 61572 885 2228,5 838 13,3 275 36C. Bonito 407 23618 295 4671 409 431,4 310 3119 275 25Corbélia 367 10872 260 14578 337 2151,1 238 4171 67 846Ibema 200 8929 164 1465 210 708,7 147 1,2 34 42Medianeira 924 28478 455 41010 724 1328,4 758 15,2 389 1975Sta Tereza 299 11682 195 4723 259 288,2 201 3758 123 16V. Cruz O. 446 24045 297 10399 346 1720,2 318 6559 162 19TOTAL 18040 815353 10684 949520 14263 48292,7 11942 97282,1 6336 61528FONTE: IPARDES – 2008

A produção de subsistência é incapaz de evitar o êxodo rural, pois a família rural

precisa e merece qualidade de vida e para tal há necessidade de gerar recursos financeiros

com a venda da produção e/ou venda da mão de obra familiar. Para gerar renda à partir da

venda da produção é necessário saber o que o mercado quer comprar e a que preço, analisar

os recursos de produção disponíveis (terra, capital, mão de obra, conhecimento), avaliar o

custo de produção, analisar os riscos e possíveis garantias, antes de investir na atividade fim.

31

A Extensão rural tem papel fundamental na tomada de decisão, e não raras vezes

o produtor consulta um técnico e este repassa uma análise parcial do negócio, colocando em

risco o capital e a unidade produtiva do agricultor familiar. As commodities são lucrativas às

empresas de comercialização, porém o produtor fica com uma margem muito pequena,

necessitando de grande volume de produção para sua manutenção familiar.

A transformação da produção na propriedade, para agregar valor, geralmente

esbarra na falta de capital, conhecimento e assessoria desde a matéria prima, a elaboração e

comercialização.

O apoio do poder público ao desenvolvimento da agricultura familiar tem-se

intensificado, porém de forma tímida e pontual. As políticas de apoio formuladas em gabinete

não alcançam os objetivos, porque o principal interessado não é consultado.

O desafio dos órgãos de pesquisa, universidades e movimentos sociais é o de criar

estratégias para colocar em prática metodologias participativas de ATER, que incluam os

agricultores familiares desde a concepção até a aplicação das tecnologias, transformando-os

em agentes no processo, valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios.

A criação dos conselhos municipais de agricultura e meio ambiente, que mais

recentemente evoluíram para conselhos de desenvolvimento sustentável, passam a controlar e

fiscalizar as ações do poder público e aplicação de recursos públicos destinados ao meio rural.

O Pronaf, Paraná 12 meses, Vilas Rurais, Patrulhas mecanizadas, Programa de Inseminação

Artificial - PIA, Banco da Terra e Credito Fundiário são programas e projetos que demandam

parecer do conselho. A correta aplicação destes recursos depende diretamente da atuação dos

conselhos.

2.7 VISÃO DOS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DA AGRICULTURAPara obtenção do produto deste trabalho, realizada pelo Instituto Emater, foi

aplicado questionário a 240 conselheiros municipais da agricultura nos 30 municípios da

região, na seqüência discutido entre os conselheiros de cada município, depois consensado em

reuniões de conselheiros municipais nas respectivas microrregiões do oeste, no mês de agosto

de 2008 (ainda não publicada).

No dia 19 de agosto em reunião, na cidade de Cascavel, foi avaliado o produto das

reuniões microrregionais e condensado em um documento único para que sirva de subsídio

para o planejamento das ações dos conselhos, e como proposta da região no encontro estadual

de conselheiros programado para abril de 2009 em Curitiba.

32

Questionados sobre quais os grandes desafios da agricultura familiar, as respostas

remetem à necessidade de organização para alcançar o desenvolvimento sustentável;

valorização da agricultura familiar; redução do individualismo, priorização de projetos

coletivos; agregação de valor a produção agropecuária; produção ecologicamente correta;

fortalecimento das agroindústrias; investimento em qualificação da mão de obra; diminuição

da dependência externa; busca de novas alternativas de insumos; organização do setor;

produção com qualidade; diminuição do custo de produção; obtenção crédito fundiário de

acordo com a realidade regional; aumento da produtividade; apoio financeiro; viabilização da

produção de energia, sem afetar a produção de alimentos; apoio a comercialização;

infraestrutura do meio rural (estradas, escolas, centros comunitários, telefone, internet);

Perguntados sobre quais ações estratégicas devem ser realizadas para vencer os

desafios, as respostas foram de ordem educativa e organizativa: politizar o meio rural e cons-

cientizar a população sobre os desafios do meio rural; organizar o setor para o fortalecimento

do associativismo; promover a capacitação e organização dos conselheiros; garantir assistên-

cia técnica; pleitear recursos para desenvolvimento rural e exigir sua inclusão no PPA/LOA

municipal; buscar o fortalecimento dos conselhos municipais; estreitar parcerias com todas as

entidades ligadas ao setor; participar da elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável;

pleitear existência de uma Secretaria da Agricultura em todos os municípios; priorizar a com-

pra coletiva/grupal de insumos; praticar o uso de energia renovável; incentivar e praticar a

agroecologia; buscar a qualificação do produtor; viabilizar orientação em gerenciamento e

planejamento das propriedades; promover a valorização do ser humano; buscar novos mode-

los de produção e diversificação.

Sobre o que o conselho pode e deve fazer para vencer os desafios relacionados, as

respostas nos indicam mais uma vez a necessidade de informação e organização: fortalecer os

conselhos e aumentar a participação dos mesmos nas decisões governamentais; aumentar as

parcerias com os órgãos públicos e empresas privadas; informar o poder legislativo e executi-

vo do trabalho e decisões do conselho; buscar a organização dos agricultores através de asso-

ciações; buscar o comprometimento das pessoas; acompanhar e avaliar os planos de desenvol-

vimento; efetuar diagnóstico adequado da situação; elaborar propostas de solução; buscar a

execução do conjunto de propostas com a participação de todos; fortalecer as organizações lo-

cais; planejar as atividades; promover treinamentos; organizar associações e cooperativas;

buscar a organização para comercialização; fazer com que o executivo coloque em prática as

decisões do conselho; buscar maior relacionamento com a comunidade; fazer parceria com

entidades na captação de recursos; buscar saber dos problemas da comunidade; acompanhar a

33

elaboração e execução dos planos; fiscalizar a aplicação dos recursos no município; interagir

com os demais conselhos do município; participar da elaboração das políticas públicas.

Outra pergunta foi sobre a organização do setor da agricultura da região oeste em

nível regional para ter mais projeção a nível estadual e nacional, e as respostas foram: fazer

marketing rural municipal e regional; viabilizar o desenvolvimento de lideranças rurais;

viabilizar recursos para o setor rural; estruturar os conselhos municipais e organizar um

conselho regional; propor elaboração de um plano de desenvolvimento regional para o setor,

com comprometimento dos poderes públicos municipais e demais entidades de cada

município; organizar/criar um conselho regional da agricultura envolvendo todos os

segmentos afins tendo como base os conselhos municipais; elaborar um diagnóstico e manter

banco de dados que reflita a realidade da região; atribuir poder de definição ao conselho

regional.

Por último, questionados sobre qual o futuro desejado para a agricultura do

município e da região oeste do Paraná, as respostas deixam claro que é qualidade de vida e

reconhecimento que buscam: alcançar os sonhos que estão relatados nos planos municipais de

desenvolvimento rural; fazer com que o agricultor se sinta um profissional realizado no seu

ambiente de vida; alcançar a consolidação da agricultura familiar com sustentabilidade;

alcançar as políticas públicas de habitação, saúde, educação e infraestrutura no meio rural;

alcançar o desenvolvimento rural sustentável gerando renda e qualidade de vida.

As propostas apresentadas sugerem uma extensão rural comprometida com a

agricultura familiar, que seja ágil, qualificada, flexível e em condições de puxar a articulação,

elaboração, implantação e acompanhamento de um plano regional e de 30 planos municipais

de desenvolvimento rural sustentável e solidário. É notória a preocupação dos conselheiros

com a organização do setor, a qualificação do produtor, a importância dada à participação na

definição das políticas públicas, a busca de novas alternativas de renda e qualidade de vida.

3. ANÁLISE DE DADOSPara obter subsídios ao presente trabalho, encaminhou-se 240 formulários, em 30

municípios, para líderes e formadores de opinião, vinculados a entidades com atuação ou

representação na agricultura familiar, a saber: extensionistas, líderes sindicais, profissionais

34

da área, políticos e conselheiros. Dos 240 formulários, retornaram 143, dos quais 18 foram

descartados por falhas no preenchimento e 125 puderam ser aproveitados. Abaixo as questões

com avaliação dos resultados.

Em seu município quais e quantos são os profissionais que trabalham na as-

sistência técnica e extensão rural e a que instituição pertence?Todos os municípios têm de 05 a 20 profissionais de ciências agrárias atuando di-

retamente com os agricultores familiares.

O Instituto Emater tem técnicos das ciências agrárias em todos os municípios, 13

municípios têm técnico de nível superior também da área das ciências agrárias. Da área social

há três profissionais na sede da região, em Cascavel e um em Catanduvas. O número de pro-

fissionais na região é de 53, sendo 01 gerente regional, 05 coordenadores regionais e 04 técni-

cos com ação em toda região.

A vigilância sanitária animal da Secretaria de Estado do Paraná, tem atuação em

todos os municípios, porém cada unidade atende a dois ou três municípios, tendo um médico

veterinário em cada unidade.

Das 30 prefeituras municipais, 80% têm profissionais das ciências agrárias, vincu-

lados à Secretaria Municipal de Agricultura ou à vigilância sanitária.

Em todos os municípios há atuação de cooperativas agrícolas e 90% dos municípi-

os tem a presença permanente de técnicos das ciências agrárias, que se restringem ao atendi-

mento dos sócios.

As cooperativas de leite – CLAFs e de crédito solidário - CRESOL, já marcam

presença em 50% dos municípios da região com presença de técnicos das ciências agrárias

por microrregiões.

A Itaipu Binacional, com o projeto Cultivando Água Boa, marca presença em 11

municípios da região com a atuação regional dos técnicos da instituição e a colaboração dos

técnicos locais das prefeituras e Emater. Itaipu tem também um programa de incentivo à agri-

cultura orgânica nestes municípios, mantendo profissionais de ciências agrárias conveniados

com o Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA.

Os municípios que contam com agência do Banco do Brasil, têm também profissi-

onais das ciências agrárias, autônomos ou vinculados a firmas de planejamento agrícola, que

se restringem a atender seus clientes.

As empresas de insumos, na sua maioria, contam com profissionais de ciências

agrárias, atuando em função da venda destes.

35

Em 02 formulários foi citada a atuação de profissionais da Unioeste, um Enge-

nheiro Agrônomo em Vera Cruz do Oeste e um Administrador de Empresas em Campo Boni-

to.

Os técnicos que efetivamente atuam com extensão rural são 71, ligados ao Institu-

to Emater, ATES e ONGs. São profissionais que tem compromisso preferencial de levar de-

senvolvimento rural aos agricultores familiares, são remunerados pelo poder público ou rece-

bem recursos de convênios públicos. Os profissionais ligados às cooperativas, empresas parti-

culares de insumos ou laticínios, prestam assistência técnica pontual a seus clientes, sejam

eles da agricultura familiar ou comercial, não tendo compromisso com o programa de exten-

são rural e sim com a lucratividade das organizações a que pertencem. Os profissionais liga-

dos ao serviço público, com compromisso de coordenação, acompanhamento e/ou fiscaliza-

ção de programas e projetos públicos, não podem ser caracterizados como de extensão rural,

e sim com fomento (Quadro 9).

Quadro 9 – Estrutura técnica profissional de campo indicada nos questionários INSTITUIÇÕES Extensão rural e

Assistência técnica

Assistência Técnica e

vendas

Fomento e serviços

EMATER 53SEAB 16Prefeituras 56ATES 11Coplaf 06

Cresol 03CAPA / ONGs 05Itaipu 08Unioeste 02Coop. Agrícolas 72Empresas de insumos 53Planejamento Agric. 53Laticínios 14TOTAL 71 201 76

FONTE: Pesquisa de campo, 2008.

Em sua opinião, qual seria a estrutura profissional necessária para a exten-são rural em seu município? (indique o número de profissionais por profissão).

As respostas foram somadas por município e extraídas as médias aritméticas para

obter a estrutura necessária por município. Na seqüência foram somadas estas médias para se

obter a indicação de profissionais para a região. Os entrevistados priorizaram profissionais das

ciências agrárias e ambiental, sendo indicados; engenheiro agrônomo, veterinário, Zootecnis-

tas, técnico agropecuário, técnico ambiental e técnico florestal. Na área social priorizaram as-

36

sistente social, economista doméstica, nutricionista, pedagogo, psicólogo e enfermeiro. Na

área de apoio indicaram administrador de empresas, economistas e advogados.

A estrutura técnica da extensão rural dos 30 municípios da região oeste, de acordo

com os entrevistados deve ser de: 156 Agrônomos, 118 técnicos agropecuários, 58 veterinári-

os, 33 assistentes sociais, 32 técnicos ambientais, 15 zootecnistas, 8 economistas domésticas,

7 administradores de empresas, 6 nutricionistas, 5 técnicos florestais, 4 pedagogos, 2 psicólo-

gos, 2 advogados, 2 economistas e 2 enfermeiros. (FIGURA -2).

FIGURA 2– Estrutura técnica requerida para extensão rural nos 30 municípios.

020406080

100120140160180

AGRÔNOMOS

TÉC. A

GROPE

C.

VETERIN

ÁRIOS

ASSIS

T. S

OCIAL

TÉC A

MBIE

NTAIS

ZOOTE

CNISTA

S

ECON. DOM

ÉSTICO

S

ADMIN

ISTR

ADORES

NUTRIC

ICIO

NISTA

S

TÉC. F

LOREST

AIS

PEDAG

OGOS

PSICÓ

LOGOS

ADVOGADOS

ECONOMIS

TAS

ENFERM

EIROS

FONTE: Pesquisa de campo – 2008

Em sua opinião quais os especialistas necessários a nível regional para dar suporte à extensão rural de seu município? (numere de 01 a 10 pelo grau de importância,

sendo 01 o de maior importância).

As respostas se concentraram, sendo: proteção ambiental e biodiversidade – 90%;

agricultura orgânica, culturas e atividades alternativas e administração rural – 80%; cooperati-

vismo/associativismo, produção de leite, agroindústria, mercado e comercialização – 70%;

empreendedorismo, alimentação e sanidade animal – 50%; fruticultura, horticultura, alternati-

vas de renda – 40%; conservação de solos e água, transformação artesanal de alimentos, legis-

lação, e relações humanas – 30%; plantas medicinais, homeopatia animal, artesanato, produ-

ção florestal, produção de energia limpa– 10%.(FIGURA 3).

FIGURA 3 – Especialista necessária para equipe multidiciplinar regional de extensão

37

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Prot.

Amb.

E B

io.

Cult. Ativ

. Allt.

Coop./a

ssoc

.

Agroin

dustr

ia

Empr

eend

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ismo

Frutic

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Altern

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Trans

f. ar

t. Al

imen

ts

Relaç

ões h

uman

as

Homeopat

ia an

imal

Prod.

Flor

esta

l

FONTE: Pesquisa de campo – 2008

Quanto à atuação na assistência técnica e extensão rural, em seu município, que nota você daria à qualidade dos serviços prestados? (a nota 10 significa satisfação ple-

na e 01 significa insatisfação absoluta).

As notas atribuídas variaram de 5 a 10. A instituição melhor avaliada ficou com

média aritmética 9, e a de pior avaliação nota 6. A média aritmética por instituição é: EMA-

TER – 7,8; ATES/MDA – 6,0; prefeitura – 7,0; COPLAF – 6,8; CRESOL – 8,0; ONGs. – 7,6;

SENAR – 8,4; SEAB – 8,3; Cooperativas agrícolas – 6,5; Firmas de planejamento agrícola –

8,0; empresas de insumos – 6,0; Itaipu – 8,0 e Unioeste – 9,0 (Figura 4).

Figura 4 – Notas de mensuração do grau de satisfação pelos serviços prestados

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

EM

ATER

PREFEIT

URA

ATES

COPLAF

CRESOL

CAPA/O

NGs

SENAR

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.PLAN.A

GRIC

.

EM

P.INSUM

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COOP.A

GRÍC

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ITAIP

U

LATIC

ÍNIO

S

EMATER

PREFEITURA

ATES

COPLAF

CRESOL

CAPA/ONGs

SENAR

UNIOESTE

FIR.PLAN.AGRIC.

EMP.INSUMOS

COOP.AGRÍCOLAS

ITAIPU

LATICÍNIOS

FONTE: Pesquisa de campo, 2008

Quem deveria custear as despesas de extensão rural? (coloque o percentual de

01% a 100% da participação de cada entidade).

38

Das pessoas entrevistadas, algumas responderam em função da distribuição da ar-

recadação, mas se houvesse o repasse justo dos recursos, estes prefeririam municipalizar o

serviço. As respostas variaram desde zero a 100%, focando na média aritmética a seguinte

composição: município – 26,04%; Estado – 36,94%; União – 36,70% e os Produtores rurais –

0,32% (Figura 5).

Figura 5 – Qual deveria ser a fonte de recursos para a extensão rural

ESTADO UNIÃOMUNICÍPIOBENEFICIÁRIO

FONTE: Pesquisa de campo, 2008

Quem deveria “puxar” a articulação de um plano de extensão rural na região oeste?

Os entrevistados deram sua resposta, mas ressaltaram que o plano é compromisso

de todos. O resultado da pesquisa foi que o Instituto Emater, com 33,6% das indicações deva

puxar a articulação do plano. As demais instituições ficaram com a seguinte indicação: os

conselhos de desenvolvimento rural – 25,6%; AMOP – 16,8%; FETAEP, STRs e prefeituras

– 8,0% cada (Figura 6)

Figura 6 – Preferência dos entrevistados sobre quem deve “puxar” a articulação de um plano

de extensão rural na região.

39

EMATERCONSELHOSAMOPPREFEITURASFETAEPSTRs

FONTE: Pesquisa de campo, 2008

Desta pesquisa podem-se extrair dados interessantes: a estrutura de ação existente

nos municípios contempla profissionais da área das ciências agrárias, na maioria de

agrônomos, veterinários e técnicos agropecuários de nível médio. Os municípios mais

carentes são os que têm menor quadro técnico. A extensão rural oficial é insuficiente para

atender a demanda e surgem vários outros atores buscando preencher a lacuna. As

cooperativas e empresas privadas de comercialização de insumos e produção contam com

quadros profissionais próprios em número maior do que as instituições públicas.

Quanto à estrutura profissional necessária para a extensão rural nos municípios, as

respostas mostram que a preferência é por técnicos com formação universitária, em ciências

agrárias, em ciências sociais e em ciências humanas.

Buscando saber quais as especializações profissionais requeridas para uma equipe

regional de apoio à extensão rural, a proteção ambiental merece destaque maior. Pode-se

somar ainda a agricultura orgânica, conservação de solos e água e produção de energia limpa.

A viabilização econômica da agricultura familiar foi indicada através das respostas: Culturas e

atividades alternativas, administração rural, e várias das outras respostas mostram a

necessidade urgente de aumentar a renda das famílias. A organização dos produtores, o

empreendedorismo, a produção agropecuária, a transformação industrial ou artesanal e a

comercialização tiveram destaque. As especialidades na área das ciências sociais e humanas

tiveram poucas indicações.

Na ótica dos entrevistados, considerando as notas atribuídas, as instituições fazem

um bom trabalho, na entanto podem melhorar.

40

Com relação à origem dos recursos para custear as despesas de extensão rural, os

entrevistados tem respostas muito diversas em relação ao município e à União, porém, a

maioria debita ao Estado a maior parcela.

Para puxar o plano regional de extensão, a terça parte dos entrevistados acredita

no potencial do Instituto Emater, seguida de perto pelos conselhos de desenvolvimento rural.

3.1 PROPOSTA DE EQUIPE MULTIDICIPLINAR REGIONAL

A pesquisa apontou para uma estrutura de extensão pequena, insuficiente para atender

aos anseios da agricultura familiar. Dos 365 profissionais que atuam no meio rural, apontados

pela pesquisa, apenas 71 trabalham diretamente em extensão rural, ou seja, 2,37 técnicos por

município. Considerando os dados do IPARDES apresentados no QUADRO 4, tem-se um

coeficiente técnico de 421 agricultores familiares por técnico. A pesquisa sugere um quadro

de 450 extensionistas, o que daria em média 15 extensionistas por município e o coeficiente

de 66 agricultores familiares por extensionista. A Secretaria da agricultura familiar – SEAF,

do MDA recomenda um coeficiente entre 80 a 120 agricultores por técnico, portando para a

necessidade de aproximadamente, 300 técnicos, ou seja, 10 técnicos por município. Propõem-

se ampliar o número de técnicos gradativamente, à medida que sejam alocados recursos para

este fim. Quanto à formação profissional destes, a pesquisa identifica a preferência por

profissionais das ciências agrárias, devendo-se respeitar esta opção primeira. Atendendo na

seqüência as áreas social, econômicas e humanas.

Com relação ao objetivo do trabalho, que é a composição de equipe multidiciplinar

regional para dar suporte à extensão rural dos 30 municípios, a pesquisa sugere 22

especialidades diversas, num universo de 10 indicações por entrevistado. A maior indicação

foi à necessidade de um especialista em proteção ambiental e biodiversidade, a que se pode

juntar Conservação de solos. Em segundo lugar foi indicada a necessidade de um especialista

em agricultura orgânica. Em terceiro lugar, culturas e atividades alternativas, a que se podem

juntar alternativas de renda, produção florestal, plantas medicinais e artesanato. A quarta

indicação foi administração rural, onde se pode juntar mercado e comercialização. A quinta

foi Cooperativismo e associativismo. A sexta foi Produção de leite, a que se podem juntar

alimentação e sanidade animal e homeopatia animal. A sétima foi Agroindústria, onde se pode

juntar transformação artesanal de alimentos. A oitava foi mercado e comercialização, como já

foi juntada à quarta, a seguinte é empreendedorismo. A nona é Fruticultura. A décima é

horticultura. Ficando em décima primeira a legislação, e, décima segunda, relações humanas

(Quadro 10).

41

Quadro 10 – Equipe multidiciplinar regional de especialistas selecionadosOrdem de prioridade Especialistas Assuntos agregados.1º Proteção ambiental e Biodiversidade Conservação de solos2º Agricultura orgânica3º Culturas e atividades alternativas Alternativas de renda

Plantas medicinais

Produção florestal

Artesanato4º Administração rural Mercado e comercialização5º Cooperativismo e associativismo6º Produção de leite Alimentação e sanidade animal

Homeopatia animal7º Agroindústria Transformação artesanal de alimentos8º Empreendedorismo9º Fruticultura10º Horticultura11º Legislação12º Relações humanas

A equipe multidiciplinar regional de suporte técnico à extensão rural proposta é

composta por estes 12 especialistas, devendo ser preferencialmente, escolhidos entre os

profissionais de carreira das instituições parceiras.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Norteado por interesses do capital, a extensão rural oficial foi deficiente e

insuficiente para a agricultura familiar, haja vista que as diretrizes eram para aumentar a

produção e produtividade independente dos recursos humanos.

42

A agricultura familiar no oeste paranaense sofreu pressão para atender esses

interesses de mercado. Quanto menor a propriedade maior a propensão ao êxodo rural. Sem

apoio governamental e deficiente em recursos financeiros e técnicos, a falência desta unidade

foi iminente.

Com o desmonte do aparato estatal, a extinção da Embrater, a extensão rural

oficial reduziu sua estrutura técnica de campo, deixando lacunas no atendimento à agricultura

familiar, e não raras vezes, canalizando seus esforços para a produção comercial. Outras

entidades, buscando atender as necessidades, buscaram profissionais comprometidos com a

causa dos desafortunados para amenizar a falta de assistência à agricultura familiar. Hoje, o

Instituto Emater já não é sozinho e nem teria estrutura para tal, porém, falta integração entre o

trabalho dos diversos atores da extensão rural.

Uma nova proposta para a extensão vem se desenhando com o intuito de otimizar

os recursos humanos disponíveis e o melhor aproveitamento dos, já escassos, recursos

financeiros. É a Flexibilização do modelo atual, humanizando a extensão. A proposta busca

organizar as ações nos municípios, envolvendo os atores das instituições existentes, á partir de

planos integrados locais, sob orientação e assessoria de equipe regional multidiciplinar.

Ser razoável com um adequado modelo de extensão é promover o bem estar e,

acima disso, é manter a ordem social.

A presente proposta deve ser analisada para ser utilizada nas demais regiões do

Paraná. Para tal, sugere-se a realização de pesquisa de campo, com aplicação do questionário

do APÊNDICE, para definir as equipes multidiciplinares de especialistas de acordo com a

realidade de cada região.

REFERÊNCIAS

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43

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FETAEP. Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná. Institucional. 2008. p. 1. Disponível em www.fetaep.org.br. A p. 1-6. Acesso em 26 ago. 2008.

FETAEP. Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná. Cartilha do Pronaf. Curitiba. 2008. p. 14.

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação?1977. p.16-28. Tradução de Rosica Darcy de Oliveira. 1983. p. 44-50.

GRAZIANO, José. Velhos e novos mitos no rural brasileiro. 2001. 50 p. Disponível em http://www.eco.unicamp.br/projetos/rurbano/html Acesso em 25 nov. 2008.

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44

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LISITA, Frederico Olivieri. Considerações sobre a extensão rural no Brasil. 2005. p. 1. Disponível em www.agonline.com.br/artigos. Acesso em 20 ago. 2008.

MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência Técnicae Extensão Rural. 2004. p.8-9. Disponível em www.mda.gov.br/saf Acesso em 20 ago. 2008.

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TAVEIRA, Luís Renato Silva. A extensão rural na perspectiva de agricultores assentados do pontal do Paranapanema – SP. Campinas 2005. p. 06-16.

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO SOBRE EXTENSÃO RURAL

45

Em seu município quais e quantos são os profissionais que trabalham na assistência

técnica e extensão rural e a que instituição pertencem?

EMATER : Eng. Agrônomo ( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

. ......................... ( ) ..........................................( ) .........................( )

PREFEITURA:Eng. Agrônomo( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

. ......................... ( )...........................................( ) ............................( )

Coop. Agricola:Eng. Agrônomo( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

......................... ( ) ..........................................( )..............................( )

FIRMA PLAN.Eng. Agrônomo( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

....................... ( ) ..........................................( )...............................( )

BIOLABORE:Eng. Agrônomo( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

...................... ( )...........................................( ) ...............................( )

COPLAF: Eng. Agrônomo ( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

......................... ( ) ..........................................( ) ...............................( )

Universidades:Eng. Agrônomo( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

. ...................... ( )...........................................( ) ..............................( )

ATES/ MDA Eng. Agrônomo ( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

.................... ( ).........................................( ) ...............................( )

__________ Eng. Agrônomo ( ) Técnico Agropecuário ( ) Veterinário ( )

......................... ( ) .........................................( ) ...............................( )

Em sua opinião, qual seria a estrutura profissional necessária para a extensão rural em

seu município? (indique o número de profissionais por profissão).

Engenheiro Agrônomo ( ), Veterinário ( ), Zootecnistas ( ),

Técnico Agropecuário ( ), Nutricionista ( ), Pedagogo ( ),

46

Economista Doméstico ( ), Assistente Social ( ) Advogado ( ),

Técnico Florestal ( ), Economista ( ), Enfermeiro ( ),

Técnico Ambiental ( ),Administrador de Empresa ( ), Psicólogo ( ).

Em sua opinião quais os especialistas necessários a nível regional para dar suporte à extensão rural de seu município? (numere de 01 a 10 pelo grau de importância, sendo 01 o

de maior importância).

Produção de energia limpa (álcool e biodiesel) ( ); Cooperativismo/Associativismo ( );

Produção e utilização de plantas medicinais.... ( ); Entomologia (pragas de lavouras)( );

Transformação artesanal de alimentos .............( ); Fitopatologia (doenças de plantas)( );

Proteção ambiental e biodiversidade ( ); Criação de pequenos animais ........( );

Culturas e atividades alternativas ......( ); Fitotecnia (produção vegetal .......( );

Homeopatia humana ..................... ( ); Mercado e comercialização ........ ( );

Conservação de solos e água ...........( ); Agricultura orgânica . .................. ( );

Alimentação animal ....................... ( ); Agroindustrialização ................... ( );

Empreendedorismo .........................( ); Artesanato ......................................( );

Alternativas energéticas......................( ); Psicologia.......................................( );

Produção florestal..............................( ); Administração Rural......................( );

Nutrição humana................. .............( ); Relações humanas..........................( );

Produção de Leite............................. ( ) ; Sanidade animal........................... ( );

Homeopatia animal........................... ( ); Horticultura..................................( );

Legislação..........................................( ); Fruticultura....................................( );

Quanto a atuação da assistência técnica e extensão rural, em seu município,

que nota você daria à qualidade dos serviços prestados? (a nota 10 significa satisfação ple-

na e 01 significa insatisfação absoluta).

EMATER....( ) ; FIRMA PLANEJAMENTO ( ); ATES/MDA................. ( );

ONGs......... ( ); EMPRESAS DE INSUMOS( ) ; COPLAF.......................( );

CRESOL.....( ); COOP. AGRÍCOLA............ ( ); PREFEITURAS.............( );

SENAR ......( ); ITAIPU BINACIONAL ..... ( ); LATICÍNIOS.................( );

SEAB......... ( ); UNIVERSIDADES.............. ( ); Outros______________( ).

47

Quem deveria custear as despesas de extensão rural? (coloque o percentual de 01% a

100% da participação de cada entidade).

O MUNICÍPIO ___________%; O ESTADO _____________%;

A UNIÃO (MDA) _________%; Outras fontes _____________%.

Quem deveria “puxar” a articulação de um plano de extensão rural na região oeste?

FETAEP.......( ) Sindicatos dos Trabalhadores Rurais ( ); SEAB.............( );

EMATER ....( ); Sindicatos Rurais Patronais ............... ( ); AMOP ...........( );

Prefeituras....( ); Conselhos de Desenvolvimento Rural( ); FAEP.............( );

OCEPAR......( ); Universidades..................................... ( ); Cooperativas .( );

48