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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO NÍVEL DE MESTRADO/PPGEFB ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO ANÁLISE HISTÓRICA DO FECHAMENTO DAS ESCOLAS LOCALIZADAS NO CAMPO NOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE DOIS VIZINHOS: O CASO DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE CANOAS MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO IGUAÇU 1980 2014 Micheli Tassiana Schmitz Francisco Beltrão PR 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO NÍVEL DE

MESTRADO/PPGEFB

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO

ANÁLISE HISTÓRICA DO FECHAMENTO DAS ESCOLAS LOCALIZADAS NO

CAMPO NOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O NÚCLEO REGIONAL DE

EDUCAÇÃO DE DOIS VIZINHOS: O CASO DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE

CANOAS – MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO IGUAÇU – 1980 – 2014

Micheli Tassiana Schmitz

Francisco Beltrão – PR

2015

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MICHELI TASSIANA SCHMITZ

ANÁLISE HISTÓRICA DO FECHAMENTO DAS ESCOLAS LOCALIZADAS NO

CAMPO NOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O NÚCLEO REGIONAL DE

EDUCAÇÃO DE DOIS VIZINHOS: O CASO DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE

CANOAS – MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO IGUAÇU – 1980 – 2014

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação – nível de Mestrado – Área de concentração: Educação, Linha de Pesquisa Sociedade, Conhecimento e Educação, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: André Paulo Castanha

Francisco Beltrão

2015

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DEDICATÓRIA

Aos alunos com quem trabalhei nestes anos que me mostraram que estudar é

ir muito além dos livros, é compreender a teoria para modificar a prática.

Aos alunos com quem trabalho que carregam a vivacidade da vida jovem e

clamam por mudanças no sistema educacional para que atendam às necessidades

atuais.

Aos alunos com quem ainda trabalharei que possam ser críticos e

conhecedores de seus direitos e deveres e que lutem por uma sociedade justa e

igual.

Sim, aos alunos de escolas públicas, porque são eles que me movem e me

motivam a pesquisar.

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Anilda Schmitz Tosetto, professora, que me direcionou à

docência, assim como meus familiares, em especial as educadoras Nilsa, Julita,

Laurentina, Ilma, Danila, Lorena, Simone, Elisiane, Silvana, Neli e Irene (in

memorian) que, conhecedoras dos desafios da educação, me incentivaram a seguir

essa profissão fascinante, a qual me realiza.

Ao meu companheiro Ricardo, meu porto seguro, que com paciência e

carinho esteve ao meu lado nos momentos difíceis, me incentivando e apoiando. A

sua família, que hoje é minha também, por todo auxílio e compreensão pelas

ausências, em especial à Patricia que nunca mediu esforços para atender minhas

solicitações.

Aos professores que tive desde a educação básica que mesmo com as

limitações da escola pública foram dedicados e comprometidos com a educação.

Também agradeço aos professores da graduação que me indicaram caminhos e me

fizeram acreditar que era possível.

Agradeço de forma especial ao professor André que me deu a oportunidade

de ingressar no programa de mestrado, me orientou incansavelmente para que

conseguisse estudar, pesquisar, compreender e sistematizar os conhecimentos

adquiridos, e com paciência e rigor contribuiu para meu amadurecimento teórico.

Aos professores do programa, Suely, José Luiz, Mafalda, Clésio, que propiciaram

momentos de discussão e ampliação do conhecimento e também foram nossos

amigos, ouviram nossas angústias, nos compreenderam e nos acalmaram.

Aos amigos de longa data, que compreenderam as ausências e foram

solidários, especialmente Ana Paula, Ana Maria e Débora. Às amizades que foram

sendo construídas, em especial nesses dois anos, que sejam duradoras: Ivanea,

Nara, Tassia, Marineiva, Mariane, Marcia, Juliane, Fernanda, Keissiane, Andreia,

Andreia Regina, Elisangela, Eritânia, Manoel, Marilce; como foi bom ter vocês por

perto.

Aos novos colegas de trabalho da Escola Estadual Jorge de Lima, onde boas

amizades têm surgido, obrigada pelo acolhimento e incentivo aos estudos.

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A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de

algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como

sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não

haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente

impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que

fazemos.

Paulo Freire,1996, p.35

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SCHMITZ, Micheli Tassiana. Análise Histórica do Fechamento das Escolas

Localizadas no Campo nos Municípios que Compõem o Núcleo Regional de

Educação de Dois Vizinhos: O Caso das Escolas da Comunidade Canoas –

Município de Cruzeiro do Iguaçu – 1980 – 2014. 2015. 192 f. Dissertação (Mestrado)

– Programa de Mestrado em Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

Francisco Beltrão, 2015.

RESUMO O presente estudo investigou o processo de fechamento de escolas localizadas na zona rural dos municípios que compõem o Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, na região Sudoeste do Paraná. A partir dos dados apresentados no parecer 1011/10, DUDE/SEED/PR, que indicou que entre os anos de 1990 a 1999 houve o fechamento de 3.948 escolas do campo no Paraná, sentiu-se a necessidade de uma investigação para compreender os fatores que contribuíram para que se chegasse a esse montante. Para tanto, foi realizado levantamento de dados junto ao Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, Secretarias de Educação dos Municípios e Escolas, sobre quantidade de escolas e alunos, diferenciando-os de urbanos e rurais, partindo do ano de 1980 até 2014. Foi tomado como estudo de caso o fechamento das escolas da comunidade Canoas, no município de Cruzeiro do Iguaçu: a Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental e a Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Educação Infantil e Ensino Fundamental. Para compreender o fechamento dessas escolas realizou-se entrevistas com membros da comunidade Canoas, funcionários, alunos e autoridades que ocupavam cargos públicos no período do fechamento da escola, buscou-se documentos, atas e fotos, que pudessem ilustrar a construção histórica e o processo de fechamentos dessas escolas. A construção histórica naturalizou a ideia de zona rural como um local de atraso, onde não se fazia/faz necessária a instrução escolar. As legislações legitimaram um ensino dual, onde os filhos da elite teriam formação integral e os filhos da classe trabalhadora eram formados para o trabalho. A modernização da agricultura, aliada ao agronegócio, fez com que os pequenos produtores fossem expropriados do campo e suas terras ficassem com grandes proprietários. Desse modo aconteceu o esvaziamento do campo e, em consequência a isso, escolas diminuíram a quantidade de alunos e foram e estão sendo fechadas, sem se levar em conta o contexto sociocultural que estas escolas representam, os impactos nas comunidades e nas famílias. Atualmente há leis que garantem que escolas só sejam fechadas mediante consulta à comunidade, ou que as escolas sejam organizadas de modos alternativos, que atendam aos alunos com qualidade, porém essas leis nem sempre são implementadas e muitas escolas localizadas no campo se veem ameaçadas, com medo do fechamento, ou acabam sendo fechadas. Palavras-chave: Fechamento de escola; escola rural; escola do campo, sudoeste do Paraná, Cruzeiro do Iguaçu-PR.

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SCHMITZ, Micheli Tassiana. Historical Analysis About Closing of Schools Located in the Field on the Municipalities That Composes the Regional Education Center of Dois Vizinhos: The Case of Comunnity Schools of Canoas – Cruzeiro do Iguaçu Municipality – 1980 – 2014. 2015. 192 f. Thesis (MS) Master's Program in Education, State University of Western Paraná. Francisco Beltrao, 2015.

ABSTRACT This study investigated the process of closing schools located in rural areas of the municipalities that make up the Regional Center of Education of DoisVizinhos in the Southwest region of Paraná. From the data presented in the opinion 1011/10, DUDE / SEED / PR, which indicated that between the years 1990-1999 there was the closure of 3,948 schools in the field in Parana, the need for an investigation felt to understand the factors who contributed in reaching that amount. To this end it was held data collection by the Regional Center of Dois Vizinhos Education, Education Departments of Municipalities and Schools, about the number of schools and students, differentiating them from urban and rural, starting from the year 1980 until 2014. It was taken as a case study the closure of schools in Canoas community in the city of Cruzeiro do Iguaçu, the State School Field Canoas - Elementary School and the Municipal Rural School Santa Terezinha - Kindergarten and Elementary School. To understand the closure of these schools held interviews with members of Canoas community, staff, students and officials who held public office in the school closure period, it sought to documents, protocols and photos that could illustrate the historical construction and the process closings of these schools. The historic building naturalized the idea of the countryside as a delay of place where not made / make school education is required. The laws legitimized a dual education, where the children of the elite have comprehensive training and the children of the working class were formed to work. The modernization of agriculture allied with agribusiness has meant that small producers were expropriated the match, and their land stay with great owners. Thus it happened the emptying of the countryside and consequently the schools it decreased the number of students and have been and are being closed, without taking into account the socio-cultural context that these schools represent the impacts on communities and families. There are currently laws that ensure that schools be closed only after consultation with the community, or that schools be organized in alternative ways that meet students with quality, but these laws are not always implemented and many schools located in field find themselves threatened with fear of closing, or end up being closed. Keywords: school closure; rural school; field school, southwest of Paraná, Cruzeiro do Iguaçu - PR

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APEART Associação Projeto Educação do Assalariado Rural Temporário

APP Associação de Professores do Paraná

ASSESOAR Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural

CEB Câmara de Educação Básica

CEE Conselho Estadual de Educação

CFR Casa Familiar Rural

CNE Conselho Nacional de Educação

CPT Comissão Pastoral da Terra

CUT Central Única dos Trabalhadores

ENERA Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma

Agrária

IESAE Instituto de Estudos Avançados em Educação

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

LDBEN Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

MASTER Movimento dos Agricultores Sem Terra

MASTES Movimento dos Agricultores Sem Terra do Sudoeste do

Paraná

MEC Ministério da Educação e Cultura

MÊS Ministério da Educação e Saúde

MMA Movimento de Mulheres Agricultoras

MPA Movimento dos Pequenos Agricultores

MSP Movimentos Sociais Populares

MSPdoC Movimentos Sociais Populares do Campo

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE – DV Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos

PPP Projeto Político Pedagógico

QPM Quadro Próprio do Magistério

SEED Secretaria de Estado da Educação

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia I – Funcionários da Escola Rural Municipal Santa Terezinha (1998) ..... 96

Fotografia II – Apresentações para comunidade escolar: Escola Rural Municipal

Santa Terezinha ..................................................................................................... 103

Fotografia III – Confraternização após reunião de pais: Escola Rural Municipal Santa

Terezinha ................................................................................................................ 104

Fotografia IV – Visita de estudos à propriedade da família Rech .......................... 106

Fotografia V – Escola Estadual do Campo Canoas ............................................... 149

Fotografia VI – Escola Estadual do Campo Canoas (Espaço que interliga parte

superior da inferior) ................................................................................................ 150

Fotografia VII – Lavatório da Escola Estadual do Campo Canoas ....................... 150

Fotografia VIII – Fachada da Escola Estadual do Campo Canoas ........................ 154

Fotografia IX – Escola Rural Municipal Santa Terezinha........................................ 154

Fotografia X – Quadra Esportiva das Escolas ........................................................ 155

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LISTA DE QUADROS

Quadro I – Distribuição do Produto Interno Bruto do Sudoeste, segundo

os setores da economia – 2004 (em porcentagem) ...................................

48

Quadro II – Número de escolas municipais e alunos de Cruzeiro do

Iguaçu (1993/2014) ... .................................................................................

52

Quadro III – Dados populacionais do município de Cruzeiro do Iguaçu

(2000/2010) .................................................................................................

54

Quadro IV – Número de escolas municipais e alunos de Boa Esperança

do Iguaçu (1993/2014) ................................................................................

55

Quadro V – Dados populacionais do município de Boa Esperança do

Iguaçu (2000/2010) .....................................................................................

55

Quadro VI – Número de escolas municipais e alunos de Dois Vizinhos

(1982/1992) .................................................................................................

56

Quadro VII – Dados populacionais do município de Dois Vizinhos

(1980/1991) .................................................................................................

56

Quadro VIII – Dados populacionais do município de Dois Vizinhos

(2000/2010) .................................................................................................

58

Quadro IX – Número de escolas municipais e alunos de Salto do Lontra

(1985/2014) .................................................................................................

58

Quadro X – Dados populacionais do município de Salto do Lontra

(1980/1991) .................................................................................................

59

Quadro XI – Dados populacionais do município de Salto do Lontra –

2010.............................................................................................................

59

Quadro XII – Número de escolas municipais e alunos de Nova

Esperança do Sudoeste (1993/2014) .........................................................

60

Quadro XIII – Dados populacionais do município de Nova Esperança do

Sudoeste – (2000/2010) .............................................................................

61

Quadro XIV – Número de escolas municipais e alunos de Nova Prata do

Iguaçu (1982/2014) .....................................................................................

61

Quadro XV – Dados populacionais do município de Nova Prata do

Iguaçu – (1991/2000/2010) .........................................................................

62

Quadro XVI – Dados populacionais do município de São Jorge d’Oeste

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(1980/1991) ................................................................................................. 62

Quadro XVII – Número de escolas municipais e alunos de São Jorge

d’Oeste (1985/2014) ................................................................................

63

Quadro XVIII – Dados populacionais do município de São Jorge d’Oeste

(2000/2010) ................................................................................................

63

Quadro XIX – Colégio Estadual do Campo Germano Stédile – nº de

alunos (1985/2014) .....................................................................................

67

Quadro XX – Colégio Estadual do Campo São Francisco do Bandeira –

nº de alunos (1997/2014) ............................................................................

70

Quadro XXI – Escola Estadual do Campo Linha Conrado Ensino

Fundamental – nº de alunos (1994/2014) ...................................................

71

Quadro XXII – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Dois

Vizinhos (1985/2014) ...............................................................................

72

Quadro XXIII – Escola Estadual do Campo de Barra do Lontra – nº de

alunos (1991/2014) .....................................................................................

73

Quadro XXIV – Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bom Fim –

nº de alunos (1990/2014) ............................................................................

74

Quadro XXV – Escola Estadual do Campo Professor José Luis Pedroso

– nº de alunos (1993/2014) .........................................................................

76

Quadro XXVI – Escola Estadual do Campo Linha Boeira – nº de alunos

(2002/2014) .................................................................................................

77

Quadro XXVII – Escola Estadual do Campo Pinhal da Várzea – nº de

alunos (1990/2014) .....................................................................................

78

Quadro XXVIII – Escola Estadual do Campo Sede da Luz – nº de alunos

(1982/2014) .................................................................................................

79

Quadro XXIX – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Salto

do Lontra (1982/2014) .............................................................................

80

Quadro XXX – Alunos da Escola Estadual do Campo de Barra Bonita

(1993/2014)...............................................................................................

81

Quadro XXXI – Escola Estadual do Campo de Rio Gavião – nº de alunos

(1980/2014)..................................................................................................

82

Quadro XXXII – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Nova

Esperança do Sudoeste (1980/2014) ......................................................

83

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Quadro XXXIII – Escola Estadual do Campo Pio X – nº de alunos

(1985/2014) .................................................................................................

84

Quadro XXXIV – Escola Estadual do Campo Nova Santana – nº de

alunos (1985/2014) .....................................................................................

85

Quadro XXXV – A Escola Estadual de Iolópolis – nº de alunos

(1982/2014)..................................................................................................

86

Quadro XXXVI – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de São

Jorge d’Oeste (1982/2014). .....................................................................

87

Quadro XXXVII – Alunos da Escola Estadual do Campo Cecília Meireles

(1995/2014) ..............................................................................................

87

Quadro XXXVIII – Alunos e escolas estaduais localizadas da zona rural

dos municípios que compõem o NRE Dois Vizinhos ..................................

88

Quadro XXXIX – Escolas e Alunos, municipais e estaduais, da zona rural

dos municípios do NRE – DV .....................................................................

89

Quadro XL– Atendimento de alunos pela Escola Rural Municipal Santa

Terezinha (1980/1992) .............................................................................

93

Quadro XLI – Alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha

(1993/2003) .................................................................................................

95

Quadro XLII – Alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha

(2004/2009)..................................................................................................

99

Quadro XLIII – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo

Canoas (1981/1985) ..................................................................................

115

Quadro XLIV – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo

Canoas (1986/1992) ...................................................................................

117

Quadro XLV – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo

Canoas (1993/1997) ...................................................................................

118

Quadro XLVI – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo

Canoas (1998/2010) ...................................................................................

121

Quadro XLVII – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo

Canoas (2011/2012) ...................................................................................

131

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15

CAPÍTULO I – CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO RURAL/DO

CAMPO NO BRASIL E NO PARANÁ ..................................................................

20

1.1 O agronegócio e a educação rural ................................................................. 20

1.2 Educação Rural/do Campo: a dinâmica social e a legislação educacional... 24

1.3 Da educação rural à educação do campo ..................................................... 41

CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO RURAL/DO CAMPO NO NÚCLEO REGIONAL

DE EDUCAÇÃO DE DOIS VIZINHOS – PARANÁ .............................................

46

2.1 Contextualização histórica da região pesquisada ......................................... 46

2.1.1 Os números da educação rural no NRE de Dois Vizinhos ......................... 49

2.2 Análise de dados das escolas Municipais do NRE – Dois Vizinhos ............ 51

2.2.1 Análise Geral das Escolas Municipais ....................................................... 64

2.3 Análise de dados das escolas Estaduais do NRE – Dois Vizinhos .............. 65

2.3.1 Análise Geral das Escolas Estaduais ......................................................... 88

CAPÍTULO III – O PROCESSO DE FECHAMENTO DE ESCOLAS: ESCOLA

RURAL MUNICIPAL SANTA TEREZINHA – ENSINO FUNDAMENTAL E DA

ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO CANOAS – ENSINO FUNDAMENTAL .......

91

3.1 Histórico e contextualização da Escola Rural Municipal Santa Terezinha .... 91

3.1.1 Processo de fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha....... 99

3.2 Histórico e contextualização da Escola Estadual do Campo Canoas –

Ensino Fundamental ...........................................................................................

114

3.2.1 Processo de fechamento da Escola Estadual do Campo Canoas –

Ensino Fundamental ...........................................................................................

133

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 156

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 161

ANEXOS............................................................................................................... 168

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15

INTRODUÇÃO

As escolas do campo são instituições que buscam atender às necessidades

das pessoas que vivem e trabalham na roça e pretendem garantir que todos tenham

acesso à educação de qualidade. Para tanto, a proposta educativa deve ser

entendida como uma estratégia de desenvolvimento para o campo, buscando formar

sujeitos que continuem vivendo na área rural, mas com maior qualidade de vida,

sendo sujeitos críticos e autônomos em suas decisões, tendo em vista que o campo

não é apenas um lugar de produção, mas lugar de vida, cultura e conhecimento.

Porém, o que percebemos atualmente é o fechamento de escolas do campo, sem

entendermos bem o porquê, já que existe a preocupação em estimular a agricultura

familiar e incentivar que os jovens continuem a viver no campo. De acordo com os

dados do parecer 1011/10/DUDE/SEED/PR, entre os anos de 1990 a 1999 houve o

fechamento de 3.948 escolas rurais no Paraná. Os dados são alarmantes e

demonstram o desajuste nas políticas públicas em relação à Educação/escola do

campo.

Frente a isso, cabe a pergunta: baseado em que situação/circunstâncias as

escolas do campo foram/são fechadas? Será que apenas os custos financeiros

foram/são levados em consideração? O governo deixa sobressair os aspectos

financeiros sobre os de identidade cultural, qualidade de vida e optando por fechar

escolas acaba estimulando a saída dos alunos de suas casas para estudar o que

mais tarde faz com que os sujeitos abandonem sua cultura de vida camponesa.

Quais são as políticas públicas aplicadas para reverter esse caso? Será que elas

realmente funcionam? Quais os motivos que levam a fechar uma escola? Se é o

número de alunos, o que fez com que ele diminuísse tanto? Será que as pessoas da

comunidade concordam com esse fechamento? Isso é discutido no âmbito da

comunidade ou é algo imposto? Como algumas escolas conseguem resistir com

condições semelhantes àquelas que são fechadas?

Quando vamos de uma cidade a outra em nossa região é comum

identificarmos, no decorrer do caminho, prédios que um dia foram escolas e hoje

estão abandonados, ocupados por famílias ou que ganharam outra utilidade após o

fechamento dessas escolas. Compreender o que fez com que tantas escolas

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16

tivessem esse destino e entender o que aconteceu com as pessoas que um dia ali

estiveram foi o que me instigou a realizar esse estudo.

Mesmo que em meu histórico escolar não seja possível identificar, iniciei

minha vida escolar em 1995, em uma escola rural (não é possível identificar porque

a pré-escola estava vinculada à sede e não havia autorização legal para o

funcionamento de educação infantil na escola rural). Nessa escola haviam muitos

alunos, uma boa infraestrutura e um ensino de qualidade, porém hoje ela não existe

mais, era a Escola Rural Municipal Santa Terezinha. Também cursei minha terceira

série, no ano de 1998, na Escola Rural Municipal São Domingos Sávia, que também

fechou. É preciso investigar o que aconteceu nesses vinte anos que fez com que

essas escolas fossem fechadas e, o que aconteceu com os sujeitos dessas

comunidades que deixaram de ter uma escola próxima de suas residências para

mandarem seus filhos.

A Escola Rural Municipal Santa Terezinha, bem como seu processo de

fechamento, será apresentada no terceiro capítulo desse trabalho. Sobre a Escola

Rural Municipal São Domingos Sávia, o último ano de funcionamento foi 1998,

sendo que o prédio da escola foi transformado em posto de saúde da comunidade

Paineira/Cruzeiro do Iguaçu, o que fez com que a comunidade aceitasse o

fechamento da escola.

Com a investigação do processo progressivo de fechamento das escolas

localizadas no campo, do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos (NRE –

DV) procuramos compreender o panorama educacional atual relacionando ao

processo dialético que levou ao fechamento de várias escolas. Para isso nos

concentramos entre os anos de 1980 e 2014, fazendo um levantamento junto às

Secretarias Municipais de Educação, NRE – DV e escolas para obtermos dados

sobre o número de escolas que havia/há em cada município do NRE – DV,

diferenciando-as em escolas urbanas e escolas rurais/do campo, bem como o

número de alunos atendidos.

A partir do levantamento de dados construímos uma análise fundamentados

no Materialismo Histórico-dialético, levando em consideração os determinantes

históricos e buscando evidenciar as contradições presentes no mundo rural. Para

tanto, primeiramente organizamos quadros com os dados das escolas municipais

por município e fizemos a análise individual de cada quadro, observando os anos

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mais relevantes para compreender a dinâmica de fechamento das escolas. Em

seguida organizamos uma análise geral das escolas municipais e desse modo foi

possível estabelecer relações entre os dados dos municípios que compõem o NRE –

DV. Para que fosse possível a compreensão mais ampla do contexto, buscamos

trabalhar com os dados populacionais de cada município e estabelecer relação entre

os dados populacionais e a quantidade de alunos nas escolas. Deste modo,

pretendemos explicitar as dimensões das mudanças que aconteceram no contexto

educacional considerando o número de alunos e de escolas da região.

No estudo das escolas estaduais, o enfoque foi dado somente nas escolas

localizadas na zona rural. Com os dados levantados por escola, organizamos

quadros por ano e por número de alunos, porém os dados não se explicavam por si

só, por isso realizamos uma pesquisa sobre o histórico da escola, baseando-se

majoritariamente nos PPPs das escolas. Aliando as duas fontes foi possível

estabelecer relações e desse modo algumas questões puderam ser explicadas.

Pretendemos também compreender a dinâmica do meio rural no período e

identificar as razões que fundamentaram/fundamentam o fechamento da Escola

Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental e da Escola Rural Municipal

Santa Terezinha – Ensino Fundamental, buscando entender os impactos causados

na comunidade. Para tanto, realizou-se o levantamento de dados quantitativos que

apontam a quantidade de alunos atendidos em cada ano pela escola e organizou-se

quadros com ano, série e número de alunos. Realizamos consulta a partir dos

documentos arquivados na prefeitura, como atas, relatórios, histórico, PPP e fotos

da escola municipal. No Colégio Estadual Doutor Arnaldo Busato, que possui a

guarda dos documentos da escola estadual, o mesmo trabalho foi realizado. Para

compreender como era o funcionamento das escolas, qual a visão dos funcionários,

professores, alunos e pais e como aconteceu fechamento da escola, foram

realizadas entrevistas com as pessoas de a comunidade escolar, alunos e pais das

duas escolas, membros da APMF, membros da comunidade Canoas, professores

que residem na comunidade e na sede do município, diretores, secretária de

educação e prefeito; os nomes desses sujeitos foram retirados das atas de reuniões

das próprias escolas e os que tiveram disponibilidade foram entrevistados.

O texto está organizado em três capítulos. No primeiro dividimos a análise em

três momentos: primeiramente analisamos o processo de modernização da

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agricultura, fatores que influenciaram diretamente a educação rural, exigindo dos

agricultores um novo perfil. A política de desenvolvimento da agricultura sob o

discurso da modernização impôs impactos severos na educação do meio rural,

alguns desses fatores foram abordados no decorrer do texto. Em seguida

procuramos contextualizar a construção histórica da educação rural no Brasil e no

Paraná. Para tanto, fizemos uma breve análise da Legislação Educacional Brasileira

e Paranaense, para que pudéssemos compreender a organização do ensino rural e

a influência dos movimentos sociais no processo de passagem da educação rural

para a educação do campo. Por fim, apresentamos a passagem do conceito de

educação rural para educação do campo, o que amplia a discussão de escola e

educação e, algumas contradições que permeiam a temática.

No segundo capítulo apresentamos a região estudada e a situação das

escolas do NRE – DV, localizadas na zona rural. Os dados levantados e

expressados em números revelam como era e como está a quantidade de escolas e

de alunos atendidos na zona rural dos municípios de Dois Vizinhos, Cruzeiro do

Iguaçu, Boa Esperança do Iguaçu, Nova Prata do Iguaçu, Salto do Lontra, Nova

Esperança do Sudoeste e São Jorge d’Oeste. Primeiramente exploramos as escolas

municipais que ofereciam/oferecem as séries iniciais do ensino fundamental,

mostrando os dados das escolas e alunos diferenciando-os em zona urbana e zona

rural. Em seguida expusemos os dados das escolas estaduais que

ofereciam/oferecem as séries finais do ensino fundamental e médio localizadas nas

zonas rurais dos municípios.

No terceiro, voltamo-nos para o estudo de caso das escolas da comunidade

Canoas, município de Cruzeiro do Iguaçu, a Escola Rural Municipal Santa Terezinha

– Ensino Fundamental, e a Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino

Fundamental. Apresentamos o histórico das escolas a partir de documentos como

PPP, atas, decretos e, do depoimento dos sujeitos que a construíram e faziam parte

da comunidade escolar. A utilização da história oral vem como metodologia

enriquecedora do trabalho, onde se dá voz aos sujeitos que participaram do

processo histórico e, que muitas vezes não teriam chance de expressar suas ideias

e percepções. De acordo com WENCZENOVICZ “Por meio da história oral, podem-

se observar aspectos ocultos das manifestações coletivas; elite e minorias têm

encontrado espaço para abrigar suas palavras, dando sentido social às experiências

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vividas sob diferentes circunstâncias” (2007, p. 41). E esse é o objetivo de contar a

história dessas escolas que foram fechadas, usando também as palavras de quem

participou de todo o processo.

O trabalho procura contextualizar as relações entre escolas e comunidades

rurais da região estudada, através de pesquisa com levantamento de dados

quantitativos, associado à análise qualitativa e de estudo de caso que possam

explicar o movimento que aconteceu/acontece na zona rural que levou/leva as

escolas a serem fechadas. Aliado a referenciais teóricos que sustentam a pesquisa

empírica, pretendemos expor as fragilidades e os desafios em torno da temática

buscando estimular a reflexão e a análise e, quem sabe, contribuir para promover a

superação dessa difícil realidade das pessoas que vivem no campo.

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CAPÍTULO I

CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO RURAL/DO CAMPO NO BRASIL E NO

PARANÁ

A educação do campo vem se construindo ao logo da história através da luta

dos trabalhadores e dos movimentos sociais que buscaram/buscam uma educação

feita pelo povo do campo e para o povo do campo. Atualmente, para se ter esse tipo

de educação construída pelos sujeitos do campo se exige luta, mas há algum tempo

ela nem era pensada. Isso pode ser percebido através do olhar sobre a trajetória

histórica da educação que era entendida no meio rural como instrução mínima ou

formação técnica para mão de obra.

A modernização da agricultura e a inserção do agronegócio, assim como os

acordos internacionais influenciaram diretamente os objetivos da educação rural,

assim como será discutido a seguir. Com isso as legislações vieram a garantir que

os objetivos hegemônicos da época fossem legitimados e conquistassem espaços.

Por isso apresentamos uma análise sobre as legislações educacionais que

contemplavam de algum modo a educação rural da época. Com as lutas dos

trabalhadores e movimentos sociais, vários avanços foram conquistados e uma nova

visão do campo foi sendo inserida nos documentos oficiais, porém o que se percebe

é que muitas vezes se ignora os pareceres, indicações e até algumas leis que

favorecem os sujeitos do campo e, com isso, muitas escolas foram/são fechadas.

A conceituação dos termos rural e do campo também se fez necessário para

que a discussão fosse mais clara, sendo possível observar principalmente as

diferenças intrincadas em cada conceito.

A partir dessas discussões pretendemos compreender a atual conjuntura do

campo como resultado da síntese de múltiplas determinações.

1.1 O agronegócio e a educação rural

Um marco considerável que muito influenciou a organização agrícola do Brasil

e, consequentemente a educação, foi o movimento denominado de “Revolução

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Verde”, que foi intensificado a partir de 1964, influenciado pelas políticas de

cooperação norte-americanas que já vinham se desenvolvendo. Em termos gerais, a

“Revolução Verde” consistiu na modernização da agricultura, que a partir de

modelos norte-americanos e europeus passou a ofertar crédito agrícola, incentivo à

utilização de tecnologia de ponta, como máquinas, fertilizantes e agrotóxicos,

estimulando o agronegócio e criando um circuito de comercialização dos produtos.

Mas, o processo não foi tão simples assim, por isso tais bases precisam ser

discutidas com mais atenção, levando em conta a dialética presente nas relações

que se estabeleceram.

Ainda antes dos anos de 1960, vários acordos de cooperação foram firmados

entre o Brasil e os Estados Unidos por intermédio do Ministério da Agricultura e

visavam a formação técnica dos agricultores. Para tanto, vieram especialistas

estrangeiros para ensinar técnicas modernas de agricultura aos agricultores

brasileiros. Contudo, o uso das técnicas mostrava a necessidade de investimento

em tecnologia, utilização de tratores, fertilizantes, agrotóxicos e o que mais fosse

necessário para aumentar a produtividade.

Com todo o incentivo à modernização técnica e a utilização de equipamentos,

insumos e tecnologias em geral, criou-se um panorama comercial de importação

dessas tecnologias de ponta. Agricultores sentiam a necessidade de atualizar suas

práticas. Para isso foi necessário adquirir o maquinário e os produtos indicados,

levando os agricultores a buscar financiamentos junto aos bancos públicos e

privados.

[...] inicia-se na década de 1980 e consolida-se na década de 1990 o processo de financeirização da economia, em que o mercado financeiro rege o setor econômico, e o Estado é subordinado ao mercado. Como consequência dessa política econômica, os recursos arrecadados voltam-se para o âmbito financeiro e o atendimento de serviços básicos à população é cada vez mais precarizado. No campo, o incentivo é para a mecanização e a monocultura, em detrimento da agricultura familiar, expulsando-se pequenos proprietários e trabalhadores rurais do campo (SEGANFREDO, 2014, p. 49).

O crédito facilitado seduzia os agricultores que faziam financiamentos para

comprar o que desejavam. Porém, constantemente eram apresentadas inovações

tecnológicas, as quais, os agricultores também desejavam ter. Assim, acompanhar

essas inovações não era possível para os pequenos agricultores que muitas vezes

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colocavam-se em dívidas insustentáveis, não tendo condições de honrá-las. Desse

modo, viam-se obrigados a vender suas terras para pagar as dívidas com os

bancos. Sem terras obrigavam-se a abandonar o campo e ir para as cidades, ou

passavam a vender sua mão de obra no próprio campo para sobreviverem. Segundo

Ghedini:

Na “modernização” do país, esta “imposição” à vida dos sujeitos se repete, seja na implantação das grandes hidrelétricas desenraizando as famílias e empurrando-as para espaços alheios ao seu modo de vida, seja pela entrada das tecnologias e do maquinário agrícola no campo, que também expulsou milhares de trabalhadores obrigando-os a reproduzirem-se em outros espaços [...] (2015, p. 36).

Muitos dos que conseguiram se manter no campo acabaram abandonando a

produção de alimentos, priorizando produtos mais lucrativos voltados aos circuitos

comerciais, principalmente para exportação, surgindo assim um novo perfil de

agricultor. Conforme indicado no II Caderno Temático da Educação do Campo:

Neste processo as grandes propriedades, foram tidas como as mais capazes de responder ao “progresso” esperado, porém, apesar do crescimento em termos de produtividade, grande parte da população mundial não teve e não tem acesso a esses alimentos produzidos. Esta situação confirma que não basta ampliar a produção, mas é preciso criar as condições para que as pessoas tenham acesso aos alimentos e as condições para produzi-los. Estas condições envolvem o acesso a renda, incentivos a agricultura familiar/ camponesa produtora de alimentos, reforma agrária entre outras (PARANÁ, 2010, p. 28).

A produção de alimentos no Brasil aumentou consideravelmente, mas como

as atenções estavam e ainda estão voltadas para o mercado internacional, a

distribuição desses alimentos acabava/acaba não chegando aos brasileiros que

necessitavam/necessitam e, de nada adianta uma produção que não beneficie o

povo, é preciso articular a produção com a distribuição (PARANÁ, 2010).

O Estado foi um dos agentes que influenciou a mudança no panorama

agrícola. Com o incentivo à prática de modernização da agricultura, a facilidade de

conseguir crédito subsidiado, intocabilidade da estrutura fundiária, incentivos fiscais

às atividades agrícolas ou que tivessem relações com essa, foram beneficiados os

grandes latifundiários e também investidores de outras áreas, que estimulados pelas

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facilidades oferecidas, passaram a ver a terra como meio de investimento, “terra

como reserva de valor” (MENDONÇA, 2010).

Segundo Mendonça:

O desenvolvimento do capitalismo no campo, sem qualquer alteração na estrutura fundiária, resultou em efeitos socioeconômicos perversos, dentre eles o aumento da concentração da propriedade, o êxodo rural, a ampliação da taxa de exploração da força de trabalho empregada em atividades agrícolas e o declínio da qualidade de vida da população rural, bem como das condições ambientais no campo (2010 b, p. 25).

Todas as situações acima descritas contribuíram para que grande parte dos

indivíduos que viviam e sobreviviam do campo deixassem sua cultura e

abandonassem aquele local. Oliveira apontou alguns fatos que levaram os sujeitos a

abandonarem a zona rural a partir da década de 1960. Segundo ele as:

[...] décadas de 1960 a 1980 são aquelas da consolidação do capitalismo no campo brasileiro, mas, “sui generis”, “sem arranhar o poder do dono de grandes extensões de terra”. Incrementa-Se no país aquilo que autores como Silva (1998) ou Delgado (2001 e 2004), entre outros, denominam de “modernização conservadora” do campo brasileiro. O país atrela-se aos circuitos do capitalismo mundial a partir da cópia de modelo de produção importados do primeiro mundo, aumentando os níveis de produtividade da agropecuária brasileira a partir daquilo que se conhece como "revolução verde", reduzindo suas exigências de mão de obra via adoção de maquinário agrícola, mas sem democratizar a posse da terra. Isto produz um dos maiores êxodos de população do planeta. De 80% brasileiros vivendo no meio rural até a década de 1960, chega-se à década de 1990 com o campo tendo menos de 20% da população total, como demonstram as diversas contagens populacionais do IBGE (Oliveira, 2011, p. 63).

Ghedini ao se reportar ao Golpe Militar explana sobre a modernização da

agricultura e, alerta que essa modernização se deu de forma extremamente

conservadora, já que estava diretamente ligada ao latifúndio, o que fez com que o

camponês fosse arrasado.

Nesse processo, a modernização conservadora trará consigo a intensidade e a rapidez da indústria imprimindo fortes mudanças na agricultura, que por sua vez terão um efeito arrasador para os camponeses pobres. Será um período em que a expropriação aumenta significativamente pela rapidez e intensidade da

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modernização tecnológica. A modernização conservadora, também chamada de Revolução Verde, centrou-se nas mudanças tecnológicas articuladas à indústria, mantendo o modelo de desenvolvimento do país relacionado a uma estrutura agrária com concentração de terra e crescimento do latifúndio. Tinha como grande discurso e justificativa erradicar a fome pelo aumento da produtividade sem necessidade de expandir as áreas de produção, “ancorando-se” para isto na mecanização, na produção pela monocultura, nas sementes híbridas e no uso intensivo de produtos químicos como adubos solúveis e agrotóxicos. As características desta mudança de base técnica, por outro lado, irão integrar a produção primária de alimentos e matérias-primas em vários ramos industriais. “Esses blocos de capital irão constituir mais adiante a chamada estratégia do agronegócio, que vem crescentemente dominando a política agrícola do Estado” (GHEDINI, 2015, p. 66 Grifos do autor).

As ideias incutidas no processo de modernização da agricultura, bem como

na expansão do agronegócio, são reafirmadas e garantidas pela legislação da

época, o que garantiu a naturalização da ideologia dominante.

1.2 Educação Rural/ do Campo: a dinâmica social e a legislação educacional

Para que compreendamos a razão que nos faz estarmos organizados de uma

maneira e não de outra, precisamos conhecer o que nos trouxe até aqui e para isso

é preciso revisitar o passado e procurar entender o que aconteceu e as influências

que produziram a organização atual. As leis de uma época dizem muito a respeito

de como uma sociedade pensava e era organizada, por isso, elas tornam-se

relevantes para conhecer o processo que resultou na legislação vigente.

Segundo Castanha é válido lembrar que a legislação é uma fonte histórica,

pois expressa um momento de luta política. Não basta a promulgação para que ela

seja executada, sua aplicação prática é resultado dos embates políticos entre as

forças/interesses envolvidos. Para analisá-las e interpretá-las, é preciso levar em

conta o período em que elas foram escritas, quem as escreveu, em que

circunstâncias e, com quais influências, pois as leis são sempre a síntese de

múltiplas determinações (2011, p.319). E ainda é preciso lembrar que as leis

geralmente são feitas pelas classes dominantes, que encontram nela um meio de

legitimar seu domínio e, portanto, precisa ser analisada com diligência.

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Castanha alertou a respeito da função contra hegemônica que a lei pode/deve

ter:

De fato, a lei cumpre uma função ideológica na sociedade, mas isso não significa que tal função seja usada exclusivamente em benefício da classe social privilegiada. Em muitos momentos da história, a lei serviu (e deve continuar servindo) como elemento de luta contra privilégios. A lei constituiu-se, portanto, num componente central na luta pela hegemonia, principalmente numa sociedade democrática (2011, p. 319).

O sentido da lei é garantir igualdade e atender às necessidades de todos os

sujeitos sem distinções de qualquer ordem. Mas essa garantia vai depender da força

de cada segmento envolvido na disputa.

A partir desses princípios recorremos à legislação que trata da educação com

ênfase na educação rural/do campo para entender o processo de constituição dessa

modalidade de escola ainda em construção. Tomando como ponto de partida o

Decreto-Lei nº 8.529, de 2 de janeiro de 1946 que instituiu a Lei Orgânica do Ensino

Primário e, na época, regulamentava e regia o ensino rural e do Decreto-Lei nº

9.613, de 20 de agosto do mesmo ano, que instituiu a Lei Orgânica do Ensino

Agrícola fizemos algumas analises sobre esse período.

A Lei Orgânica do Ensino Primário fez poucas referências explícitas ao ensino

rural já que na época não havia uma oposição clara entre rural e urbano e o Brasil

era majoritariamente rural; além disso, o responsável pela educação agrícola era o

Ministério da Agricultura. A Lei Orgânica do Ensino Primário, em seu artigo 15, tratou

dos períodos letivos ou calendários, previu a possibilidade de adequação de acordo

com as “conveniências regionais, indicadas pelo clima e, zonas rurais, atendidos,

quando possível, os períodos de fainas agrícolas” (BRASIL, Decreto nº 8.529, 1946).

Pelo artigo 29 restringiu as Escolas Isoladas e as Escolas Reunidas1, cuja

predominância maior era na zona rural, a oferecerem somente o curso elementar.

Esse fato já evidenciava certo menosprezo com o grau de instrução das pessoas

que viviam na zona rural.

O Decreto-Lei nº 9.613/46, Lei Orgânica do Ensino Agrícola, foi o que

regulamentou o ensino direcionado para o campo, voltado para o preparo do

1 Escolas Isoladas eram aquelas com apenas uma turma e um professor e as Escolas Reunidas eram

aquelas com duas, três ou quatro turmas, e com respectivo número de professores.

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profissional/técnico de mão de obra para o trabalho agrícola. Porém, para ingressar

no curso de iniciação agrícola era preciso ter 12 anos completos, boa saúde, ter

iniciação primária, possuir capacidade mental e física para os trabalhos e, ser

aprovado em exame vestibular. A instrução exigida não era a realidade da maioria

dos adolescentes que viviam na zona rural.

A organização dos cursos, conforme previsto nos artigos 8º e 9º, compunham-

se de três categorias: Cursos de formação, Cursos de Continuação, Cursos de

aperfeiçoamento. O curso de formação tinha duração de quatro anos, dividido os

dois primeiros em iniciação agrícola, destinado a “dar preparação profissional

necessária ao exercício do trabalho do mestre agrícola” e, os dois anos subsequente

em curso de maestria agrícola, que tinha por finalidade “dar preparação profissional

necessária ao exercício do trabalho do mestre agrícola” (BRASIL, Decreto-lei nº

9.613/1946). Tais cursos deveriam ser adaptados às especificidades de cada região.

O segundo ciclo do ensino agrícola apresentava-se em duas modalidades, a

de cursos agrícolas técnicos e a de cursos agrícolas pedagógicos. Os cursos

técnicos duravam três anos e formavam técnicos em uma área específica da

agricultura. Os cursos oferecidos eram de agricultura, horticultura, zootecnia,

práticas veterinárias, indústrias agrícolas, laticínios, mecânica agrícola. Já os cursos

pedagógicos eram destinados à formação docente e/ou administrativas, podendo ser

curso de magistério de economia rural doméstica (duração de dois anos), didática de

ensino agrícola (um ano de duração), administração de ensino agrícola (um ano de

duração).

Os cursos de continuação/práticos de agricultura, pertencentes ao primeiro

ciclo, eram destinados a sujeitos não diplomados e tinham um caráter prático. Os

cursos de aperfeiçoamento objetivavam elevar o conhecimento e, eram destinados

aos diplomados, bem como aos docentes e administradores.

Para tanto, havia três tipos de estabelecimentos que atendiam o ensino

agrícola. As escolas de iniciação agrícola, como o próprio nome já dizia,

responsáveis por ministrarem o curso de iniciação, as escolas agrícolas, que

ministravam o curso de maestria agrícola e o curso de iniciação, e as escolas

agrotécnicas, que ofereciam os cursos técnicos e poderiam oferecer os cursos de

maestria ou de iniciação agrícola e era lugar exclusivo para os cursos destinados

aos professores e administradores.

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A divisão do ano escolar era bem definida. O início do ano letivo acontecia em

20 de fevereiro e, finalizava em 20 de dezembro, sem possibilidade para possíveis

ajustes. Para ingressar nos cursos de formação era necessário passar por exames

vestibulares, que aconteciam na primeira quinzena de janeiro. E ainda se fossem

meninas, preferencialmente deveriam buscar estabelecimentos exclusivamente

femininos e, teriam um ensino mais voltado para vida doméstica rural.

É importante dizer que na época (1946) quem organizava a educação

agrícola não era o Ministério de Educação e Saúde e sim, o Ministério da

Agricultura, isso pode ser percebido pelo Decreto-Lei nº 9.613/46, Lei Orgânica do

Ensino Agrícola, o qual foi assinado pelo presidente da época, Eurico Dutra e o

então ministro da agricultura Netto Campelo Junior (sendo publicada pelo Ministério

de Educação e Saúde).

Sônia Regina Mendonça, em seu livro Estado, Educação Rural e Influência

Norte-Americana no Brasil (1930-1961) destacou o equívoco de parte de alguns

pesquisadores que ao pesquisarem a educação agrícola partiram somente do

Ministério da Educação e Saúde, sendo que no período quem cuidava dos assuntos

referentes à educação agrícola e acordos internacionais de incentivo à

modernização da agricultura era o Ministério da Agricultura.

A meu juízo, nada mais equivocado do que tomar 1930 enquanto marco "canônico" inaugural das Políticas Públicas Educacionais Agrícolas e, mais ainda, atribuí-las, nesse período, apenas ao Ministério da Educação varguista. Conforme mencionado anteriormente, o Ministério da Agricultura já contemplava, dentre suas práticas, desde 1910, uma política destinada ao chamado ensino elementar rural, tendo implantado uma rede de instituições a ele destinadas que incluía Patronatos e Aprendizados Agrícolas [...] (MENDONÇA, 2010 a, p. 20).

Havia uma grande disputa entre o Ministério da Agricultura e o Ministério de

Educação pelo monopólio do ensino rural, ambos mediam forças constantemente e

essa disputa muito influenciou os moldes adotados para a educação agrícola da

época. A respeito da Lei Orgânica do Ensino Agrícola Mendonça afirmou:

Em síntese, no bojo das discussões sobre as tentativas de organizar e homogeneizar o intrincado contexto do ensino rural no país, a documentação pesquisada deixa clara a disputa dos dirigentes do MES com os do Ministério da Agricultura, sobre tudo no caso das

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disposições para a execução da Lei Orgânica do Ensino Agrícola (LOEA) que, promulgada pela pasta da Educação, em 1946, imprimiria diretrizes para todo ensino agrícola, mesmo aqueles sobre jurisdição do Ministério da Agricultura. Dessa forma, o Ministério da Educação, mesmo sem ter conseguido deslocar para sua alçada todas as instituições do ensino rural, forçava o Ministério da Agriculta a adaptar seus estabelecimentos às normas por ele determinadas [...] (MENDONÇA, 2010 a, p. 67).

Em 1955 foi criada a Fundação de Serviço Social Rural, através da Lei nº

2.613, de 23 de setembro, sendo que esta fundação tinha o intuito de buscar

melhorias na condição de vida das pessoas que moravam na zona rural. O Serviço

Social Rural ficou incumbido de questões como alimentação, vestuário, habitação,

saúde, educação, assistência sanitária e ainda incentivar as atividades produtoras

para valorizar e fixar o povo no campo. Para tanto, seriam promovidos cursos de

aperfeiçoamento, incentivo à criação de cooperativas e associações para melhorar a

economia local. A lei também tratava das definições orçamentárias, verbas e

impostos, mas não da educação de modo específico (BRASIL, Lei nº 2.613/55).

No ano seguinte foi regulamentada a Campanha Nacional de Educação Rural

criada em 1952. Através do Decreto nº 38.956, de 27 de março de 1956, foram

expedidas as disposições sobre a campanha que buscava difundir a educação no

meio rural. Conforme estabeleceu o artigo 2º:

Destina-se essa Campanha a levar aos indivíduos e às comunidades os conhecimentos teóricos e técnicos indispensáveis a um nível de vida compatível com a dignidade humana e com os ideais democráticos, conduzindo as crianças, os adolescentes e os adultos a compreenderem os problemas peculiares ao meio em que vivem, a formarem uma ideia exata de seus deveres e direitos individuais e cívicos e a participarem, eficazmente do progresso econômico e social da comunidade a que pertencem (BRASIL, Decreto nº 38.956/56, 1956).

A realização da campanha desenvolver-se-ia em Missões, em Centros

Sociais de Treinamento de Líderes Rurais, Professores e Auxiliares Rurais e, outras

campanhas educacionais, inclusive com bolsas de especialização. Ficaram a cargo

do Ministério da Educação instruções complementares para a campanha. Em 1959,

pelo Decreto nº 47.251, de 17 de novembro, a Campanha foi subordinada ao

Ministério da Educação e Cultura, sendo que dentro do ministério foi designado um

Diretor-Geral específico.

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A LDBEN (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional), Lei nº 4.024, de

20 de dezembro de 1961, mencionou a educação rural em 4 de seus 120 artigos e

abriu algumas brechas em outros, mesmo sem citar diretamente a educação rural,

mas as determinações feitas foram genéricas e amplas. O artigo 20, alínea (a)

garantia que o ensino primário e ensino médio deveriam atender “à variedade de

métodos de ensino e formas de atividade escolar, tendo-se em vista as

peculiaridades da região e de grupos sociais”. Sobre a frequência dos alunos à

escola, o artigo 32 determinou que os proprietários rurais deveriam facilitar a

frequência dos alunos às escolas mais próximas ou instalarem escolas públicas em

suas propriedades. Sobre a formação dos professores, o artigo 57 estabeleceu que

“poderá ser feita em estabelecimentos que lhes prescrevem a integração no meio”.

As indicações eram subjetivas, indicavam possibilidades, mas não faziam exigências

nem davam garantias. Pelo artigo 79, foi disposto o pré-requisito para ter uma

universidade “As universidades constituem-se pela reunião, sob administração

comum, de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior”. O artigo foi vetado,

porém, abriu uma brecha para criação de universidades rurais, dispensando o pré-

requisito. A possibilidade de criar uma universidade rural foi bastante inovadora para

a época, tendo em vista que quase sempre na zona rural era oferecida apenas o

ensino primário e algumas modalidades de cursos técnicos em instituições isoladas.

Pelo artigo 104 se permite uma organização diferenciada em cursos e escolas, o

que poderia ser aplicado na educação da zona rural.

Será permitida a organização de cursos ou escolas experimentais, com currículos, métodos e períodos escolares próprios, dependendo o seu funcionamento para fins de validade legal da autorização do Conselho Estadual de Educação, quando se tratar de cursos primários e médios, e do Conselho Federal de Educação, quando de cursos superiores ou de estabelecimentos de ensino primário e médio sob a jurisdição do Governo Federal (BRASIL, Lei 4.024, 1961).

E por fim, o artigo 105 expressou o objetivo da educação rural “adaptação do

homem ao meio e o estímulo de vocações e atividades profissionais” (BRASIL, Lei

4.024, 1961).

Segundo Seganfredo “a educação destinada à população do campo serviu de

suporte para a estruturação de uma sociedade desigual e de preparo mínimo de

mão de obra vinculada a benefícios político-econômicos” (2014, p. 58). Porém,

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[...] como a história se faz a partir da correlação de forças, nesse contexto, como tentativa de superação das ações educativas estatais em descompasso com as relações culturais e sociais do povo do campo, emergem experiências educativas a partir de movimentos populares, como por exemplo, os Movimentos da Ação Católica, os Centros Populares de Cultura, o Movimento Educacional de Base (2014, p. 58).

No Paraná, a partir da Lei nº 4.978, de dezembro de 1964, foi estabelecido o

Sistema Estadual de Ensino, porém, o ensino rural poucas vezes foi mencionado. O

artigo 15 incumbiu os poderes públicos estadual e municipais de ampararem as

instituições das zonas rurais, sendo que essas deveriam “favorecer a adaptação do

homem ao meio e o estímulo de vocações e atividades profissionais” (PARANÁ, Lei

nº 4.978, 1964). A Lei determinou que os proprietários de terras que não pudessem

manter uma escola deveriam favorecer a frequência dos alunos em outra escola

próxima e ainda previa que os períodos letivos das escolas rurais poderiam ser

organizados de acordo com as necessidades da população que se dedicava à

agricultura. Pela lei do sistema de 1964, as escolas isoladas2, que era o caso da

maioria das escolas rurais, só poderiam oferecer as quatro séries do ensino primário,

enquanto que nos grupos escolares3 poderiam ser até a sexta série e, nas casas

escolares4 até a quinta série, podendo ter a sexta série quando houvesse

instalações adequadas. Já pela Lei 5.875, de 19 de novembro de 1968, as escolas

isoladas poderiam estender-se até a quinta série do ensino, desde que fossem

autorizadas pela Secretaria de Educação e Cultura, se situadas em municípios sem

ensino primário e houvesse docentes disponíveis.

Tal situação evidencia a falta de atenção e preocupação com a educação

para os sujeitos que residiam na zona rural, no estado do Paraná, bem como de

outros estados brasileiros. O pensamento dos governantes era de que para quem

2 Nas escolas isoladas era oferecida apenas uma sala de aula e um professor que atendia todas as

séries ali existentes. Para saber mais ver: BERTONHA, MACHADO, SCHELBAUER, Da escola isolada ao grupo escolar: o processo de escolarização primaria em Sarandi - PR (1953 – 1981). Disponível em: http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2011/pdf/1/010.pdf 3Os grupos escolares representavam uma medida econômica, pois reuniam duas ou mais escolas

reunidas ou isoladas que funcionavam numa mesma localidade. Para saber mais ver: VIEIRA, Das Escolas Isoladas ao Grupo Escolar: a instrução pública primária em Mariana – MG (1889 – 1915) 4 As casas escolares se organizavam de acordo com o número de alunos, de professores e espaço

disponível, algumas vezes se atendiam duas, três ou mais turmas pelo mesmo professor, enquanto que outra série era atendida individualmente por um professor. Para saber mais ver: SOUZA, Seriação do ensino nas escolas públicas primarias do Paraná: os grupos e semi-grupos escolares. Disponível em: http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/354GizeledeSouza.pdf

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morava na zona rural bastava as séries iniciais do ensino primário e não era

necessária uma ampliação nos conhecimentos. A legislação paranaense não fez

menção a um ensino que fosse técnico voltado para a agricultura ou para as

necessidades do povo do campo.

A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional de 1º e 2º Graus, Lei nº

5.692, de 11 de agosto de 1971, não apresentou direcionamentos claros para a

educação rural. Pelo contrário, o artigo 3º estimulou que houvesse “a reunião de

pequenos estabelecimentos em unidades mais amplas” (BRASIL, Lei nº 5.692,

1971). A única menção a respeito da educação oferecida na zona rural foi feita no

artigo 11, parágrafo 2º, a respeito do calendário letivo, pelo qual possibilitava-se a

adequação do calendário de acordo com as épocas de plantio e colheitas.

Baptista Gariglio, Ex-Subsecretário de Educação de Minas Gerais, publicou

um estudo em 1976 sobre o contexto de Minas Gerais no qual expôs que em 1972

75% dos estabelecimentos de ensino de 1º grau localizavam-se na zona rural,

porém apenas 1% dos estabelecimentos de ensino de 2º grau estavam na zona

rural. Tamanha disparidade mostrou que apenas as séries iniciais eram ofertadas

para a população do campo. Conforme os dados indicados por Gariglio a situação

era ainda pior:

Em tais escolas, 70% dos alunos se concentram só na primeira série, e nenhum deles chega a terminar o curso primário por inexistência da 4ª série. Isto significa a eliminação de toda a possibilidade, para os alunos das escolas rurais singulares, de se formarem na escola elementar (1976, p. 37).

Essa era a realidade de Minas Gerais e de boa parte do Brasil. Para reverter

esse quadro o autor destacou que era preciso pensar em propostas para difundir a

educação nas áreas rurais e foi isso que fez no seu livro ao tratar da expansão da

rede, preparo dos profissionais, convênios e parcerias, investimento na parte física e

ênfase no ensino profissionalizante.

No ano de 1979 o MEC publicou um documento intitulado de Subsídios para o

planejamento da educação no meio rural, fruto de estudos realizados a partir de

1976. O documento apontou programas e projetos dentro do quadro da política

social do Plano Nacional de Desenvolvimento 1980/1985 voltados para a expansão

e melhoria da educação rural, em meio às populações pobres, a fim de reduzir as

desigualdades sociais. Em um primeiro momento conceituou o meio rural e as

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questões em torno do tema. A educação no meio rural de acordo com o documento

devia ser ampla, ligada sempre à comunidade procurando “a promoção coletiva,

enraizada no próprio meio e voltada para a sua história, seu contexto econômico-

geográfico, seus valores culturais, seus comportamentos e aspirações psicossociais”

(BRASIL, 1979, p. 13). Segundo o estabelecido pelo documento, a educação rural

deveria:

- contribuir para a autopromoção do homem do campo a partir de seu contexto cultural; - desenvolver a compreensão do meio e a busca de soluções para seus problemas, desenvolvendo capacidades para uma interpretação do próprio meio; - estimular a população rural para participação consciente no desenvolvimento e na transformação estrutural prevista na legislação e nos planos vigentes. - estimular a organização da população rural em relação àqueles aspectos que são de interesse comum para se obter uma melhor solução de distribuição de oportunidades entre todos os seus membros; - capacitar a população rural para uma melhor utilização dos recursos disponíveis, a fim de que possa usufruir plenamente dos bens que produz (BRASIL, 1979, p.13-14).

A questão do conhecimento científico socialmente acumulado não foi

mencionada no documento já que a preocupação da época era com uma escola que

ensinasse os sujeitos do campo a trabalhar otimizando seus recursos para terem

uma melhor renda e deixassem a pobreza extrema. Vale lembrar que as escolas

rurais ofereciam apenas as primeiras séries, do que hoje é o ensino fundamental,

onde o objetivo era o ensino da leitura, da escrita e do cálculo; o conhecimento

científico socialmente construído e acumulado historicamente praticamente não tinha

espaço nessa escola.

Nesse cenário, o sistema de produção desenvolvido no campo e a política educacional direcionada a sua população fundamentou-se na dicotomia entre campo e cidade, com a justificativa de que o trabalho com a terra não demandaria conhecimento, portanto a escolarização não seria necessária para os camponeses (SEGANFREDO, 2014, p. 57).

O documento expôs os princípios básicos para o planejamento da educação e

elencou oito recomendações que deveriam ser a base para o planejamento da

educação rural. A primeira recomendação sugeriu que a educação deveria ter como

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alicerce a realidade socioeconômica e cultural da comunidade a que o sujeito

pertencia, promovendo a formação geral, capacitação para o trabalho e para a vida

comunitária. A segunda enfatizava que os programas educacionais deveriam

acontecer de forma conjunta com os outros setores. A terceira recomendava a

flexibilidade no planejamento dos recursos, a fim de atender às várias situações

ambientais e demográficas existentes. A quarta recomendação advertia para a

qualidade da instrução que a população deveria receber, ajustando-se às

características e oportunidades socioeconômicas das diferentes áreas. A quinta

recomendava a constante inovação no planejamento do sistema, que deveria

garantir uma renovação nos conteúdos curriculares e uma expansão coerente e

progressiva do serviço educacional no meio rural. “Isto é, a elaboração dos

programas deve basear-se nas experiências e inovações vivenciadas pelos agentes

educacionais locais e nos avanços tecnológicos, estar relacionada às mudanças

produzidas nos outros setores”. A sexta indicava que o ponto de partida do

planejamento educacional deveria ser o nível educativo e cultural da própria

comunidade. A sétima sugeria que os docentes, orientadores e supervisores

deveriam ser os agentes de mudança na implementação de novas abordagens. E a

oitava recomendava que os recursos financeiros oriundos de diferentes órgãos

deveriam ser concentrados em programas que assegurassem a presença dos

componentes vinculados ao processo educacional (BRASIL, 1979, p.19 – 20).

Para que as recomendações fossem postas em prática foram apontadas

sugestões de ações de caráter geral e específico para educandos, currículos,

docentes e técnicos, material de ensino, planejamento, organização e administração

da educação e rede física, em estilo de manual com indicações sobre o que fazer

em cada aspecto.

Por fim, o documento trouxe a programação a ser desenvolvida,

apresentando estratégias, instrumentos e mecanismos necessários para

desenvolvê-las. Os itens a serem trabalhados seriam: concentração de serviços

educacionais, ação comunitária, promoção dos agentes educacionais no meio rural,

adequação dos conteúdos educacionais, preparação para o trabalho,

descentralização da administração educacional, vinculação de recursos para

educação no meio rural. Depois de cada meta, havia quais estratégias deverão ser

desenvolvidas.

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Em outubro de 1981 foi realizado o 1º Seminário sobre Meio Rural promovido

pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação (IESAE) na Fundação Getúlio

Vargas, no qual foi sistematizado um documento que apresentou as concepções

sobre a população e a escola rural. Apresento a seguir algumas das proposições do

documento.

De acordo com o documento todas as instituições escolares, indiferentemente

de sua localização, tinham um caráter urbano. Essa característica fazia das escolas,

locais onde as crianças realizavam seus aprendizados e socialização, porém no

meio rural a socialização acontecia, essencialmente na família, desse modo a escola

com caráter urbano, não fazia relação do trabalho com o ensino, já que a criança da

cidade não tinha essa relação presente no seu cotidiano, diferentemente da criança

da zona rural que tinha o trabalho incutido em sua vida e através dele se socializava

e também aprendia. A visão a respeito das instituições educativas revela que:

Nela, a criança adquire os conhecimentos, habilidades, destrezas, e também aqueles valores e normas de conduta necessários ou indispensáveis para integrar-se à sociedade em que vai viver. O mundo do trabalho é alheio à criança e vice-versa. Daí a importância que escolas têm nesse mundo urbano, pois ela incorpora as funções que na sociedade camponesa pertence a unidade de trabalho-produção-consumo que é a família (PINTO, 1981, p. 13).

Essa concepção de escola urbana aplicada na escola rural não servia aos

interesses dos camponeses, gerando conflitos entre os educadores. Estes

percebiam que as famílias não se interessavam pela escola, não auxiliavam nas

questões escolares. De acordo com documento esse desentendimento estava ligado

ao valor atribuído pelos dois lados (educadores e famílias) ao trabalho. Se na escola

nos moldes urbanos havia uma preocupação em preparar a criança para uma

carreira profissional, onde não era necessário a força braçal e várias vezes o

trabalho braçal era até menosprezado, no campo essa concepção gerava conflito e

até certo desprezo pela escola.

A escola no campo acabava por assumir a função de alfabetizar, já que a

cultura urbana e principalmente a economia atrelada à indústria fazia com que fosse

necessário que os camponeses soubessem apenas ler e escrever.

Tudo isto faz com que o camponês passe a ver a escola como o meio para a aprendizagem da leitura. Esta é a visão predominante no

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meio rural. Em primeiro lugar para assinar o seu nome (engarranchar o nome), para não passar pela "vergonha de ter que pôr o dedo". É possível para poder escrever uma carta para um filho, esposo já distante, ou outro parente, sem passar pela vergonha de ter que pedir a outro que a escreva, ou o que é pior, que a leia. As contas vêm por último. Somar e diminuir sem números escritos todos sabem e bem. Até mesmo multiplicar. Tudo isto se sintetiza numa só palavra, prenhe de significado: a leitura. O homem que sabe ler, o homem que "é de letras", é o que pode circular livremente, ir à cidade, mover-se neste mundo moderno, sem dores de cabeça, sem humilhações, sem recorrer sempre a terceiros, a outros que eles sirvam de procurador (PINTO, 1981, p. 15).

Na escola urbana a leitura era vista como um meio para que adquirissem

outros conhecimentos, enquanto no meio rural a escola era um meio para aprender

a leitura. A questão principal era que a escola nos moldes urbanos não atendia nem

agradava aos anseios dos sujeitos que viviam no campo, já que lhes eram impostos

valores que não eram seus e o modo de produção dominante. “[...] parece que para

ambos a frustração: o camponês não consegue de modo significativo aprender a ler

e interpretar a cultura urbana, pois não aprendeu a ler. E quando consegue o faz a

partir da ótica do urbano e perde-se para o campesinato [...]” (PINTO, 1981, p. 16).

No mesmo ano foi publicado o livro “Educação Rural no Terceiro Mundo:

experiências e novas alternativas”, que evidenciou a preocupação com a pobreza no

meio rural, fazendo uma ligação dos desafios enfrentados pelas escolas com a

pobreza dos alunos que as frequentavam. A zona rural era percebida como lugar de

pobreza, onde os alunos apresentavam diversas carências (alimentares, vestuário,

moradia). Os alunos precisavam auxiliar nas atividades desde muito novos,

realizavam o trabalho essencialmente manual, suas famílias tinham poucas terras e,

a dificuldade de acesso a serviços públicos era grande. Tais fatores implicaram na

dificuldade de aprendizagem escolar e muitas vezes na evasão. A escola veio como

um meio para instruir os sujeitos para que fossem capazes de melhorar a produção

agrícola e, desse modo, sair da pobreza.

A escola integrada com a comunidade aparecia como saída para o problema

da pobreza, bem como a indissociabilidade da aprendizagem com o trabalho. Para

tanto se elencou experiências que não separavam o trabalho do estudo:

1. Paralelismo entre aprendizagem e trabalho: são as escolas que permitem ou incentivam a realização de um trabalho produtivo como

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meio para que os alunos contribuam para o seu financiamento, ou que simplesmente valorizando o trabalho produtivo do alunado. 2. Funcionalidade da aprendizagem no que respeita ao trabalho produtivo: o que supõe uma subordinação da aprendizagem ao trabalho. 3. Funcionalidade do trabalho produtivo para a aprendizagem: significa a dependência do trabalho produtivo face aos objetivos da aprendizagem. 4. Interfuncionalidade entre aprendizagem e trabalho produtivo: mediante a qual a aprendizagem capacita para o trabalho produtivo, e o trabalho produtivo fornece a temática e a motivação para a aprendizagem (PETTY, TOMBIM, VERA, 1981, p. 44 Grifos do original).

Para que o trabalho fosse uma prática na escola era preciso estruturas

especializadas e, apenas o Estado como financiador, nem sempre dava conta dessa

amplitude. Por isso sugeria as parcerias com a própria comunidade ou com outras

entidades.

Nessa ideia de educação e trabalho os alunos aprenderiam e treinariam as

técnicas para serem aplicadas no cotidiano otimizando seus trabalhos, buscando

maior produção e consequentemente a ampliação da renda.

As ideias apresentadas até aqui nos revelam como era a organização do

ensino agrícola e quais as reais preocupações e finalidades que havia na época. A

escola localizada na zona rural era uma cópia da escola urbana, mas é importante

considerar que as propostas já evidenciavam a necessidade de a escola se

aproximar mais da realidade das pessoas que viviam no campo. Quando havia algo

diferenciado era ligado ao ensino técnico voltado ao preparo da mão de obra. Esse

preparo para o trabalho visava a melhor utilização das terras e das novidades

tecnológicas (formas de plantio, uso de herbicidas e fertilizantes, manejo da terra,

entre outros) para que desse modo se aumentasse a renda fazendo com que a

população pudesse sair da pobreza.

Nem mesmo a LDBEN nº 9394, publicada em 1996, foi objetiva sobre a

educação oferecida nas zonas rurais ou a educação do campo. A Lei apenas abriu

brechas para que, a partir de outros documentos, regulassem a educação rural.

Conforme o artigo 28 as instituições que atendem a população rural podem/devem

adaptar o ensino (conteúdos, metodologia, calendário) às peculiaridades da região

atendida. Tal indicação é bastante ampla e, por isso, depende de outros documentos

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mais específicos para ser efetivada, além é claro, da efetiva luta de uma

comunidade ou movimentos sociais para efetivá-las.

Assim, as conquistas em torno da legislação só aconteceram quando houve a

articulação entre comunidade e movimentos sociais, o que contribuiu para a

unificação dos projetos sociais/educacionais com a realidade. O que se observa é

que movimentos como o MST5 (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

assim como outros movimentos como MASTER (Movimento dos Agricultores Sem

Terra), MASTES (Movimento dos Agricultores Sem Terra do Sudoeste do Paraná),

MMA (Movimento de Mulheres Agricultoras) MSPdoC (Movimentos Sociais

Populares do Campo), entre outros que muito contribuíram e fortaleceram/fortalecem

a organização da comunidade para lutar pelos seus direitos.

A partir de 1997, após o I Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da

Reforma Agrária (I ENERA), começou-se a organizar conferências e encontros para

se discutir a temática em nível federal e estadual. No Paraná ocorreu o I Encontro

Estadual Por uma Educação Básica do Campo (1998 – Curitiba), II Conferência

Estadual por uma Educação do Campo (2000 – Porto Barreiro) sendo que a partir da

II Conferência criou-se a Articulação Paranaense de Educação do Campo. Esta,

com suas ações, fez com que em 2003 fosse criada a Coordenação Estadual da

Educação do Campo junto à SEED. Em 2004 foi realizado o I Seminário Estadual da

Educação do Campo – construindo políticas púbicas que resultou na publicação do

Caderno Temático: Educação do campo. Em 2005 aconteceu o II Seminário

Estadual da Educação do Campo onde se elaborou a Carta do Paraná para

Educação do Campo; nesse mesmo ano também aconteceu o I Simpósio Estadual

5 O MST surge a partir das ocupações de terras que acontecem em 1979 no Rio Grande do Sul, onde

famílias ocuparam as fazendas Macali e Brilhante e outras ocupações que se seguiram. E se consolida no 1º Encontro Nacional de Sem Terra em janeiro de 1984 em Cascavel – Pr. (FERNANDES, 2000). O MST é percursor no que diz respeito em pensar educação/escola considerando as especificidades dos trabalhadores do campo. Foi na década de 1980, que as famílias que participam do movimento, juntamente com seus líderes, a fim de garantir uma educação que atendesse as necessidades de formação do indivíduo buscam organizar-se para pensar a instituição escola. “O MST, como organização social e massas, decidiu, pressionado pela mobilização das famílias e das professoras, tomar pra si ou assumir uma proposta pedagógica específicas para as escolas conquistadas, e formar educadoras e educadores capazes e trabalhar nesta perspectiva. A criação de um Setor de Educação dentro do MST formaliza o momento em que esta tarefa foi intencionalmente assumida. Isto aconteceu em 1987 e a partir de sua atuação o próprio conceito de escola aos poucos foi sendo ampliado, tanto em abrangência como em significados. Começamos lutando pelas escolas de 1ª a 4ª série. Hoje a luta e a reflexão pedagógica do MST se estendem da educação infantil à Universidade, passando pelo desafio fundamental da alfabetização de jovens e adultos de acampamentos e assentamentos, e combinando processos de escolarização e de formação da militância e a base social Sem Terra” (BENJAMIN E CALDART, 2000, p.28)

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de Educação do Campo. Em 2006 aconteceu o II Simpósio Estadual de Educação

do Campo, no qual foram elaboradas as Diretrizes Operacionais para uma Educação

do Campo. De 2007 a 2010 aconteceram os III, IV, V e VI Simpósios Estaduais de

Educação do Campo, sendo que no IV Simpósio foi elaborado o manifesto de 10

anos da carta de Porto Barreiro. Em 2013 aconteceu a III Conferência Estadual da

Educação do Campo. A partir/e com esses debates e estudos que aconteceram

nesses encontros é que a luta pela educação do campo foi se fortalecendo

(SEGANFREDO, 2014, p. 102 - 106).

Em 2001 foram instituídas as Diretrizes Operacionais para a Educação do

Campo (Parecer nº 36/2001) em âmbito nacional, visando a garantia da

universalização da educação básica e educação profissional em nível técnico à

população rural (Artigo 3º). Pelo artigo 2 ficou demonstrada a preocupação com o

respeito à identidade da escola:

Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, Parecer nº 36/2011).

As Diretrizes também tratam dos projetos institucionais das escolas do

campo, das propostas pedagógicas e das responsabilidades dos poderes públicos,

formação complementar para professores do campo e financiamento. O artigo 15

ainda determina que se leve em conta a diferenciação no cálculo do custo-aluno em

relação ao aluno urbano. Esse artigo parece não ser conhecido dos gestores que se

calcam no princípio dos custos/economicismo para justificar o fechamento das

escolas.

No Paraná a partir do Seminário Estadual da Educação do Campo

“Construindo Políticas Públicas” que aconteceu entre os dias 09 a 11 de março de

2004, em Curitiba, foram publicados os Cadernos Temáticos para Educação do

Campo (2005) construídos com a participação de representantes da ASSESOAR,

APEART, CFR, CPT, CUT, MST, MPA, APP – Sindicato e Universidades.

Em 2006 foram publicadas as Diretrizes Estaduais para a Educação do

Campo, as quais contextualizaram as concepções e trajetórias do campo e da

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educação do campo e propuseram eixos temáticos e alternativas metodológicas

para a educação do campo, o que é considerada uma grande conquista dos

movimentos sociais que lutam pelo direito à educação do/no campo.

Em âmbito nacional em 2008 foram publicadas as Diretrizes

Complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas

de atendimento da Educação Básica do Campo, através da Resolução nº 2, de 28

de abril. Essa medida representa grande avanço, já que determina no artigo 3 que

“A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental serão sempre

oferecidos nas próprias comunidades rurais, evitando-se os processos de

nuclearização de escolas e deslocamento das crianças” (MEC, Resolução nº

2/2008). Quando não for possível oferecer o ensino na comunidade, para que

aconteça o processo de nuclearização as comunidades envolvidas deverão ser

consultadas. O transporte, quando for necessário, deve acontecer intracampo e

deve-se evitar ao máximo o descolamento do campo para a cidade. De acordo com

o artigo 7, as escolas deverão dispor de condições infraestruturais, materiais e livros

didáticos, equipamentos, laboratórios e áreas de lazer e desporto, para apoio

pedagógico, levando em consideração a realidade e a diversidade local. A

Resolução nº 2, ainda tratou sobre organização e funcionamento das escolas e

formação de professores, no artigo 7:

§ 1º A organização e o funcionamento das escolas do campo respeitarão as diferenças entre as populações atendidas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua cultura e suas tradições. § 2º A admissão e a formação inicial e continuada dos professores e do pessoal de magistério de apoio ao trabalho docente deverão considerar sempre a formação pedagógica apropriada à Educação do Campo e às oportunidades de atualização e aperfeiçoamento com os profissionais comprometidos com suas especificidades (BRASIL, Resolução nº 2/2008).

No ano de 2010 várias resoluções e instruções foram publicadas, em âmbito

nacional a Resolução nº 4 de 13 de julho e em âmbito estadual o Parecer 1011/10,

de 06 de outubro; a Resolução 4783 de 28 de outubro e a Instrução Conjunta nº

001/2010. Também foi publicado o II Caderno Temático da Educação do Campo que

trouxe experiências que aconteceram em algumas escolas do campo do Paraná.

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Pela Resolução nº 4, de 13 de julho, que Define Diretrizes Curriculares

Nacionais Gerais para a Educação Básica, a Educação do Campo passou a ser

defendida como uma modalidade. De acordo com Ghedini:

Em 2010, pela Resolução nº 4/2010, a Educação do Campo passa ser modalidade. Porém, os limites e impasses observados em sua recente implementação permitem entender que não há materialidade e nem cultura institucional com força para que, de modo ágil, por ser modalidade adquira o significado que a Educação do Campo em seu desenvolvimento histórico. Assim, formalmente, a modalidade é um fato: ela foi criada, está prevista juridicamente. Contudo, não significa que, uma vez formalizada, conserve o projeto político que fez com que chegasse à formalização (2015, p. 306).

No Paraná, o Parecer do CEE/CEB nº1011/10, de 06 de outubro, tratou das

Normas e princípios para a implementação da Educação Básica do Campo no

Sistema Estadual de Ensino do Paraná, bem como do processo de definição da

identidade das Escolas do Campo da seguinte forma:

Embasado no tripé: Escola – Sujeitos – Localização, ficou decidido que a Escola do Campo é aquela que se localiza no perímetro rural e nos distritos dos municípios e recebem sujeitos oriundos do campo, tais como: pequenos agricultores, assentados, acampados, meeiros, posseiros, arrendatários, quilombolas, faxinalenses, boias-frias, entre

outros (PARANÁ, o Parecer nº1011/10).

Foi esse parecer que promoveu o movimento nas escolas localizadas na

zona rural, resultando na mudança na nomenclatura e a adoção do termo “do

Campo” em várias escolas como modo de caracterização e resistência.

Pela Resolução nº 4783, de 28 de outubro de 2010, a Educação do Campo foi

instituída como política pública educacional com vistas à garantia e a qualificação do

atendimento escolar aos diferentes sujeitos do campo, nos diferentes níveis e

modalidades de ensino da educação básica.

A Instrução Conjunta nº 001/2010, de 29 de novembro de 2010, da

Superintendência da Educação e da Superintendência de Desenvolvimento

Educacional do Paraná, instrui sobre as responsabilidades da Secretaria de Estado

e Educação, Superintendência de Educação, Superintendência de Desenvolvimento

Educacional, Departamento da Diversidade/Coordenação da Educação do Campo,

Direção e Equipe Pedagógica da Escola, Núcleo Regional de Educação e Comitê

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Estadual de Educação do Campo no que diz respeito ao funcionamento e

organização das escolas do campo, assim como subsidiar financeiramente,

pedagogicamente e tecnicamente essas escolas, de modo a criar estratégias que

contribuíssem para o fortalecimento e consolidação das políticas públicas voltadas à

educação do campo.

Em 27 de março de 2014, a partir da mobilização dos movimentos sociais

articulados com a sociedade, foi feita uma emenda no artigo 28 da LDB nº 9394/96,

promulgado através da Lei nº 12.960/2014, que reforçou a luta contra o fechamento

das escolas do campo ao estabelecer o parágrafo único com a seguinte redação:

O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar (BRASIL, Lei nº 12.960/2014).

Desse modo pretende-se garantir que escolas do campo, indígenas e

quilombolas só sejam fechadas após manifestação favorável da comunidade e não

apenas pelo desejo do poder público.

Vários são os documentos que normatizam a educação rural/do campo,

diretrizes, pareceres, resoluções. Cada qual regula uma área específica, não

existindo um único documento que contenha todas as instruções necessárias.

A conquista de uma educação do campo não é algo natural, precisa ser

construída através de um movimento da realidade que deve ser protagonizado pelos

sujeitos do campo, esse avanço se deu e se dá através de um processo histórico de

lutas sociais, que pretendeu e pretende superar o conceito de uma educação rural

para se construir uma educação do campo.

1.3 Da educação rural à educação do campo

Devido à amplitude da temática, parece-nos importante conceituar o que se

entende por educação rural e educação do campo, pois as diferenças intrincadas

nos termos dizem muito sobre a proposta que se tem para a educação oferecida aos

camponeses.

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De acordo com o Dicionário da Educação do Campo a educação rural é

aquela oferecida à população agrícola, porém, “na mesma modalidade da que é

oferecida às populações que residem e trabalham nas áreas urbanas” (CALDART,

2012, p. 295) sem que haja uma preocupação de se adequar a escola rural às

particularidades dos camponeses. Ainda sobre o que se ensina e se aprende, nesse

modelo de escola o objetivo é “oferecer conhecimentos elementares de leitura,

escrita e operações matemáticas simples” (CALDART, 2012, p. 295).

De acordo com Ghedini, a escola rural desenvolvia uma educação baseada

nos moldes urbanos, que:

[...] apresentava conteúdo e forma que normalmente tinham uma intencionalidade que desenraizava os sujeitos das sínteses sociais que os constituiu em tempos e lugares determinados pela experiência e cultura. Prestava-se também a produzi-los artificialmente, apenas como mão de obra preparada para projetos de interesse dos grupos que controlam a perspectiva dos negócios e da produção nas diferentes fases do capital (2015. p. 98).

Esses conteúdos abordados não incorporavam as questões relacionadas ao

trabalho agrícola, até porque nessa concepção que desvalorizava a agricultura, não

se fazia necessário mais do que conhecimentos elementares para o trabalhador do

campo. Um ensino direcionado ao agricultor aparece em nível técnico como modo

de treinar o sujeito para manejar instrumentos, usar técnicas e insumos.

Tendo em vista as constantes mudanças introduzidas nos processos produtivos e acompanhando-as, alguns cursos, ou até mesmo toda a escola rural, ficavam encarregados de “capacitar” estudantes, tornando-os mais produtivos para o trabalho que iriam desempenhar; assim, ficava a escola responsável por treinar, em vez de educar. Os programas de extensão rural e de capacitação para o trabalho se enquadram nesta proposta, embora não valorizem o trabalho agrícola (CALDART, 2012, p. 298).

Essas concepções ainda presentes atualmente são resquícios de um

processo histórico, resquícios esses enfrentados pela educação do campo que

procura ampliar as discussões e luta pela transformação/superação dessa

concepção. Os Movimentos Sociais Populares do Campo (MSPdoC) se articulam

com escola e sociedade para se pensar em um projeto educativo que permita que a

escola seja um local de apropriação de saberes articulados com a formação e

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emancipação dos sujeitos. Para tanto, os saberes formais devem estar vinculados à

realidade do sujeito, sua cultura, trabalho e necessidades.

A expressão “Educação do Campo” surge na preparação da I Conferência

Nacional por uma Educação Básica do Campo que aconteceu em Luziânia, Goiás,

em julho de 1998. Passou a ser chamada Educação do Campo a partir do Seminário

Nacional realizado em Brasília em novembro de 2002 e legitimado a partir das

discussões que aconteceram em torno do tema, como na II Conferência Nacional

por uma Educação do Campo e no Fórum Nacional de Educação do Campo

(CALDART, 2012, p. 260).

Algumas características da Educação do Campo foram expostas no

Dicionário da Educação do Campo escrita por diversos especialistas sobre a

temática. Coube à Roseli Salete Caldart a escrita do verbete específico sobre

educação do campo. Segundo ela, o movimento de educação do campo luta pelo

acesso à educação que deve ser dos camponeses, pensada por eles, a partir de sua

realidade específica buscando a totalidade, contra a tutela política e pedagógica do

Estado. E nesse âmbito os educadores ocupam uma posição importante de

formulação pedagógica e agentes transformadores da escola. “Na lógica de seus

sujeitos e suas relações, uma política de Educação do Campo nunca será somente

de educação em si mesma e nem de educação escolar, embora se organize em

torno dela” (p.263) porque as lutas e reflexões pedagógicas são um desafio para a

apropriação e produção do conhecimento, itens indispensáveis na formação dos

trabalhadores que perpassa os muros da escola.

A Educação do Campo não nasceu como teoria educacional. Suas primeiras questões foram práticas. Seus desafios atuais continuam sendo práticos, não se resolvendo no plano apenas da disputa teórica. Contudo, exatamente porque trata de práticas e de lutas contra-hegemônicas, ela exige teoria, e exige cada vez maior rigor de análise da realidade concreta, perspectiva de práxis. Nos combates que lhe têm constituído, a Educação do Campo reafirma e revigora uma concepção de educação de perspectiva emancipatória, vinculada a um projeto histórico, às lutas e à construção social e humana de longo prazo. Faz isso ao se mover pelas necessidades formativas de uma classe portadora de futuro (CALDART, 2012, p. 264).

Luta também por políticas públicas abrangentes usando como estratégia a

pressão coletiva política. Combina a luta pela educação com a luta pela terra, direito

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ao trabalho, à cultura, alimentação. Enfrenta as questões das contradições a partir

de um debate coletivo, se contrapondo à lógica de produção. Busca reconhecer e

valorizar a riqueza social e humana da diversidade de seus sujeitos em todas as

dimensões, reafirmando a identidades desses sujeitos, buscando superar as

relações capitalistas.

De acordo com Seganfredo:

Fundamentalmente a Educação do Campo questiona a educação rural, valoriza a identidade dos povos do campo, é pensada a partir da dimensão formativa da relação entre trabalho, cultura e educação, ou seja, o trabalho enquanto prática social, geradora de conhecimento e cultura. Contesta e discute a prática pedagógica, a metodologia, o material didático, a avaliação e o currículo da educação rural (2014, p. 80).

A organização de uma escola que atenda aos princípios da educação do

campo perpassa várias esferas. Além da organização da própria escola,

professores, alunos, comunidade, é preciso que o Estado assuma essa concepção e

dê condições para que seja posta em prática. Porém, o que podemos perceber nos

relatos feitos por Seganfredo é que há uma grande dificuldade em relação à

organização da educação do campo, já que o governo impõe barreiras para que as

secretarias e departamentos se articulem. Vários são os relatos que comprovam as

situações de dificuldade em diferentes projetos:

As principais dificuldades nessa atividade, de acordo com a avaliação da Coordenação, estão relatadas como sendo a dicotomia existente entre as políticas pedagógicas e de infraestrutura, a desarticulação entre as secretarias, uma vez que algumas ações deveriam ser pensadas, elaboradas e implementadas por diferentes Secretarias de Estado, e a falta de um orçamento específico e ou de infraestrutura para garantir o pagamento de despesas dos sujeitos oriundos dos Povos e Comunidades Tradicionais, tendo em vista que a maioria destes sujeitos residem em comunidades de difícil acesso ou se encontram em situação de risco social. [...] As principais dificuldades que o grupo da Coordenação relata no documento é quanto à desconexão entre os departamentos pedagógicos e administrativos da Secretaria de Estado da Educação, que provocou uma morosidade nos encaminhamentos dos processos, a acumulação de funções dos técnicos pedagógicos dos Núcleos Regionais de Educação responsáveis em contribuir na implementação do programa, entrave nas relações entre SEED/PR e Secretarias Municipais de Educação, no que diz respeito à oferta do transporte escolar (SEGANFREDO, 2014, p. 110).

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Sobre o Comitê Estadual da Educação do Campo, criado em 2010, formado

por representantes de várias esferas, este ganhou um caráter consultivo, o que

reduziu seu poder. De Acordo com Seganfredo “O governo não aprovou sua

constituição deliberativa porque implicaria em pautar orçamento” (2014, p. 114). E

ainda, como mais um modo de limitar o Comitê, usou o argumento “de que o único

órgão deliberativo na estrutura da SEED é o Conselho Estadual de Educação”

(2014, p.114).

Nas reuniões técnicas de trabalho do Comitê, as quais acompanhamos no ano de 2011 e de 2012, não houve consulta alguma aos membros do Comitê por parte da instância governamental acerca de projetos ou ações voltadas à Educação do Campo. E um ponto fundamental nesse vínculo com a SEED diz respeito ao financiamento do Comitê, em que o governo estadual financiava diárias para os integrantes participarem. No ano de 2012, aconteceram apenas duas reuniões porque o valor da diária foi suspenso pela SEED e, com isso, as reuniões canceladas (SEGANFREDO, 2014, p. 115).

É desse modo que são boicotadas as ações em prol dos interesses das

classes populares e, nesse caso, da educação do campo. Não se pode achar que o

Estado trabalha a favor dos interesses da classe trabalhadora e ficar esperando que

as políticas sejam organizadas por si só. É necessário que a classe trabalhadora se

una, se organize e lute. E, para isso, é preciso que se crie consciência crítica,

formação intelectual e política nesses sujeitos, a fim de se fazer a luta contra-

hegemônica e se rompa a concepção legitimadora da classe dominante.

No capítulo a seguir apresentamos a contextualização e os dados das escolas

rurais e do campo do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, a fim de que

conhecendo a realidade possamos agir e mudá-la, para que sejam superadas as

desigualdades presentes na estrutura da sociedade.

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CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO RURAL/DO CAMPO NO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE

DOIS VIZINHOS – PARANÁ

Neste capítulo, primeiramente contextualizamos os municípios que foram

pesquisados, apresentando sua constituição histórica e organização econômica. Em

seguida são apresentados e discutidos os dados colhidos durante a pesquisa que

revelam a quantidade de alunos e escolas municipais localizadas na zona rural e na

zona urbana. Através de análise é possível observar o decréscimo na quantidade de

alunos e um movimento de fechamento de escolas rurais. Concomitante com os

dados dos alunos, são apresentados os dados populacionais dos municípios, a fim

de estabelecer relação entre eles. No terceiro momento são apresentados os dados

das escolas e colégios localizados na zona rural dos municípios e a quantidade de

alunos atendidos ano a ano. Nesse caso é possível observar o esvaziamento do

campo e, em consequência, a diminuição de alunos na escola.

2.1 Contextualização histórica da região pesquisada

Os sete municípios que compõem o NRE – DV localizam-se na região

Sudoeste do Estado do Paraná e compartilham de várias características. Nessas

terras paranaenses, primeiramente viviam os indígenas (xetas, kaingang e guaranis)

e colonizadores luso-brasileiros. Posteriormente as terras passaram a ser

colonizadas por famílias camponesas vindas do sul (Rio Grande do Sul e Santa

Catarina) que buscavam terras para desenvolverem a agricultura e a criação de

animais. Baseadas na agricultura familiar com a posse de pequenas propriedades

desbravaram a mata e cultivaram a terra para tirar o sustento da família.

Por volta da década de 1940, o esgotamento dos solos nas zonas rurais dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina contribuiu para a expansão da fronteira agrícola em direção ao Paraná. Isso gerou um forte ciclo migratório de colonos gaúchos e catarinenses, principalmente de origem italiana e alemã, tendo por base três movimentos simultâneos: a ocupação de terras devolutas, a compra de posses dos caboclos e a colonização oficial, realizada por

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empresas colonizadoras que distribuíram lotes de terras aos colonos, tal como a CANGO – Colônia Agrícola Nacional General Osório, criada em 1943 (TORRENS, 2007, p.39).

Um fato relevante foi a luta pela terra que gerou muitos conflitos e marcou a

história da região sendo a principal conhecida como Revolta dos Posseiros de 1957,

que foi o confronto entre posseiros e companhias colonizadoras6.

Mesmo com a modernização da agricultura que imprimiu no campo novos

modos de se produzir, quando o objetivo deixou de ser o sustento da família e

passou a ser a produção para a comercialização, as características da região

sudoeste como a pequena propriedade e agricultura familiar, ainda estavam

presentes no censo agropecuário 1995/96.

[...] dentre as Mesorregiões classificadas pelo IBGE, o Sudoeste é a que apresenta o menor índice de concentração de terras do Paraná, levando-se em conta o índice de Gini7, ou seja, 0,582 contra 0,752, do estado. Nesse sentido, em função de suas características históricas, a região Sudoeste do Paraná apresenta uma distribuição de terras bem mais favorável à agricultura familiar, quando comparada a outras regiões do estado e do País (TORRENS, 2007, p.33).

Diferentemente da região Oeste e Norte do Paraná que viu quase que

desaparecer a pequena propriedade, o Sudoeste ainda preserva a pequena

propriedade e a agricultura familiar. De acordo com Torrens “[...] o Sudoeste

caracteriza-se por ser uma região marcada pela predominância do trabalho familiar e

onde 91,5% dos estabelecimentos situam-se no estrato de área com menos de 50

ha” (2007, p.33).

Quando observamos o PIB (Produto Interno Bruto8) dos sete municípios

estudados, é possível percebermos que nos sete municípios a maior participação do

6 Para saber mais ver PEGORARO, Éverli. Dizeres em confronto (A Revolta dos Posseiros de 1957

na imprensa paranaense). Niterói-RJ. 2007. Disponível em: http://tede.unicentro.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=13 7 O índice de Gini varia de 0 a 1. Quando é igual a zero, tem-se uma perfeita distribuição da terra e,

quando igual a 1 tem-se o máximo de desigualdade, como se a totalidade da terra pertencesse a um único proprietário. (MELO E SILVA, 2004, p.272) 8 O Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma daquilo que foi produzido em um país durante um

determinado período de tempo. A pesquisa Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, por sua vez, calcula a variação de todos os componentes utilizados na mensuração do PIB como o consumo das famílias e do governo, os investimentos e a produção da indústria, entre outros. A pesquisa possibilita o cálculo das taxas de variação do PIB em relação ao trimestre e ao ano anterior, bem como as

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PIB é fruto da agropecuária, o que significa dizer que o meio rural é o que sustenta

os municípios.

Quadro I – Distribuição do Produto Interno Bruto do Sudoeste, segundo os setores

da economia – 2004 (em porcentagem)

Município Agropecuária Indústria Serviços

Boa Esperança do Iguaçu 76,94 1,49 21,57

Cruzeiro do Iguaçu 71,79 6,42 21,79

Dois Vizinhos 39,90 32,82 27,27

Nova Esperança do Sudoeste 75,29 3,51 21,20

Nova Prata do Iguaçu 65,65 5,72 28,63

Salto do Lontra 66,27 4,96 28,77

São Jorge d´Oeste 62,23 5,43 32,34

Fonte: IPARDES. Base de Dados do Estado. Disponível em: http://www.ipardes.gov.br Dados organizados pela autora.

São pequenos municípios que até a década de 1990 tinham grande parte de

sua população vivendo na zona rural, mas com a industrialização das cidades e os

problemas enfrentados pelos camponeses, muitas famílias começaram a deixar o

campo e foram para a cidade em busca de condições melhores de vida, trabalho

assalariado, acesso à saúde, educação e outros serviços de modo a alterar as

relações na zona rural. De acordo com Santos:

O processo de modernização tecnológica imposto à agropecuária tem alterado a identidade deste território e configurado territorialidades que alteram não apenas a apropriação das terras, mas a própria forma de realizar o trabalho e a vida cotidiana das famílias, como por exemplo, com a extinção das escolas do campo. o que se observa é que a modernização da agricultura permite a diminuição do tempo destinado às atividades agropecuárias, fomenta a redução da quantidade de pessoas necessárias à produção a partir da mecanização e mudanças nas relações produtivas que ampliam o acesso as redes globais através de cooperativas ao mesmo tempo em que diminui o convívio comunitário, expresso pela extinção dos espaços de socialização como campo de futebol, clube de mães que desaparecem pela diminuição da população no campo, por exemplo. As relações para produção, comercialização ocorrem muitas vezes em lugares distantes do espaço da produção, por vezes diminuindo

variações acumuladas em 12 meses. Fonte: IBGE e Ministério da Fazenda (disponível em: http://www.fazenda.gov.br/economia/pib, acesso em 03/10/15)

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os fluxos e as pressões locais por condições mais adequadas de estradas, escolas, espaços de lazer etc. (2011, p.116)

As alterações sociais de hábitos e culturas perpassam a escola; contudo tais

escolas estão sendo fechadas reforçando ainda mais a lógica do capital e

estimulando o abandono do campo.

Esta breve contextualização teve por finalidade expor sinteticamente a

conjuntura dos municípios estudados, a fim de que possamos entender o contexto

histórico e social em que as escolas estavam/estão inseridas como resultante do

processo de múltiplas determinações que perpassam as relações sociais e de

produção no meio rural.

2.1.1 Os números da educação rural no NRE de Dois Vizinhos

Muito se fala a respeito da educação do campo, mas o que podemos

perceber é que há uma diminuição na quantidade de escolas que resistem. Isso

acontece devido à evasão das famílias que residem na zona rural. Com a diminuição

de famílias, consequentemente, cai o número de alunos das escolas o que leva as

escolas rurais a fecharem. Mas, quais os números concretos que temos em nossa

região que demonstram esse fato? Realmente essa saída do povo do campo para a

cidade afetou e reconfigurou o panorama educacional do campo?

Como recorte geográfico escolheu-se os sete municípios que compõem o

NRE – DV9, sendo eles: Boa Esperança do Iguaçu, Cruzeiro do Iguaçu, Dois

Vizinhos, Nova Prata do Iguaçu, Nova Esperança do Sudoeste, Salto do Lontra e

São Jorge D’Oeste.

A coleta de dados se deu através de contatos com as prefeituras e secretarias

de educação para se obter dados a respeito das escolas municipais que

realizavam/realizam o atendimento de alunos nas áreas rurais. Também foi feita a

9 O NRE de Dois Vizinhos foi criado no ano de 1993, devido ao grande número de municípios

atendidos pelo Núcleo Regional de Educação de Francisco Beltrão, inclusive Dois Vizinhos, com o objetivo de ser uma extensão da Secretaria de Estado da Educação. Inicialmente, Marinez Romancini foi designada para chefiar o NRE. Ela era professora de Dois Vizinhos e prestava serviço no NRE de Francisco Beltrão. No decorrer dos anos vários professores ocuparam esse cargo, como professora Janilce Jeane Dagostin Topanotti (1995 a 2000), o professor Nilson José Silvestro (2001 e 2002), novamente a professora Marinez Romancini, (2003 a 2010) e a partir de 2011 o professor Nivaldo José Florentino assumiu a chefia do NRE e permanece até a presente data.

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análise de documentos disponibilizados pelas secretarias de educação que

continham número de matrículas de alunos de 1º ao 5º ano do ensino fundamental10

e dados referentes às escolas a partir do ano de 1982. Os dados das escolas

mantidas pelo governo do Estado, localizadas na zona rural que atendiam/atendem

as séries finais do ensino fundamental e, algumas o ensino médio foram levantados

in loco. Algumas escolas disponibilizaram os dados organizados por número de

alunos/ano, outras disponibilizaram documentos para que fosse realizada a coleta

de dados.

A documentação das escolas fechadas foi encontrada no Núcleo Regional de

Educação de Dois Vizinhos NRE – DV, ou em escolas que mantém a guarda de

documentos de outras escolas. A coleta de dados procurou apurar com o máximo de

pontualidade possível os dados, a fim de se obter respostas a respeito da

quantidade de escolas que fecharam e o quanto o número de alunos diminuiu

realmente. Porém, foi possível constatar que em boa parte dos locais visitados para

consultar, tanto nas escolas, quanto nos municípios e no próprio NRE – DV não

houve uma preocupação com a organização dos arquivos e documentos, por isso

muitos dados acabaram se perdendo, o que pode acarretar limitações nesta

pesquisa.

A partir dos dados recolhidos esperamos poder perceber as dimensões das

mudanças que aconteceram no contexto educacional, como referência quantitativa

sobre o número de alunos e de escolas.

Num primeiro momento entramos em contato com as prefeituras, com a

finalidade de obter os dados das escolas municipais (anos iniciais do ensino

fundamental), no que diz respeito ao número de escolas e quantidade de alunos,

ano a ano, diferenciando-as de acordo com sua localização. Não levamos em conta

a nomenclatura utilizada no nome da instituição, “rural ou do campo”, apenas a

localização da escola. Para o levantamento de dados utilizamos documentos

fornecidos pelas próprias prefeituras, tais como históricos e relatórios finais. Cada

município apresentou suas peculiaridades, bem como suas dificuldades em

encontrar os dados. Quando possível eu mesma fiz a análise de documentos e o

10

Anterior à LEI Nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, Lei dos Nove anos do Ensino Fundamental, as séries iniciais eram 1ªsérie, 2ª série, 3ª série, e 4ª série, as quais foram as levadas em conta na pesquisa.

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levantamento de dados, realizando visitas a escolas e secretarias de educação,

outras vezes, as prefeituras me enviaram os dados prontos.

Após a coleta, os dados foram computados e tabelados, município a

município, posteriormente juntados para ter a dimensão de quantidade referente ao

NRE – DV, tanto de escolas, quanto de alunos ano a ano; com isso obtivemos o

levantamento total dos dados. Durante a coleta de dados foi possível perceber

dados contraditórios entre as informações fornecidas pelas secretarias e

documentos como registros de classe, históricos escolares e anotações arquivadas

que se contrapunham à realidade. Alguns documentos importantes não foram

encontrados, deixando lacunas na pesquisa. Identificamos também limitações

quanto à exatidão nos números levantados, que como dito anteriormente, algumas

vezes eram diferentes dependendo do documento consultado, com isso foi preciso

buscar outros documentos para comparar, mas isso nem sempre foi possível.

Mesmo com essas limitações, a coleta e análise dos dados ilustra claramente o

processo de diminuição de alunos nas escolas da zona rural e, em consequência, o

fechamento dessas escolas.

No primeiro momento, apresentamos e discutimos os dados coletados que se

referem ao ensino fundamental séries iniciais, que tem como principal mantenedora

as prefeituras dos municípios, diferenciando-os conforme a localização das escolas,

em zona rural e zona urbana e o número de alunos atendidos.

2.2 Análise de dados das escolas Municipais do NRE – Dois Vizinhos

Para facilitar a análise optamos por apresentar inicialmente os dados por

município, para posteriormente fazer a interpretação referente ao NRE – DV. Os

municípios de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu têm em comum sua

emancipação política, que aconteceu em 26 de abril de 1990 e, a partir de 1º de

janeiro de 1993, tiveram seu desmembramento de Dois Vizinhos. Devido a isso, as

escolas que se localizavam em Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu

antes de 1993 pertenciam ao município de Dois Vizinhos. Apenas após 1993 é que

as escolas em atividade passaram a constar nos registos dos respectivos

municípios.

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Os dados coletados do município de Cruzeiro do Iguaçu foram organizados

no quadro a seguir.

Quadro II – Número de escolas municipais e alunos de Cruzeiro do Iguaçu

(1993/2014)

Ano Escolas

urbanas

Nº de

alunos

Escolas

rurais

Nº de

alunos

1993 2 540 8 205

1994 2 517 5 256

1995 2 524 4 218

1996 2 507 2 135

1997 2 486 2 142

1998 2 598 2 114

1999 2 641 2 72

2000 2 590 2 70

2001 2 583 1 60

2002 2 546 1 62

2003 2 531 1 60

2004 2 516 1 50

2005 2 541 1 48

2006 2 553 1 46

2007 2 536 1 39

2008 2 572 1 43

2009 2 540 1 37

2010 2 569 0 0

2011 2 544 0 0

2012 2 549 0 0

2013 2 530 0 0

2014 2 502 0 0

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

O município de Cruzeiro do Iguaçu teve seu início como município em 1993,

contemplando 10 escolas, sendo 8 localizadas na zona rural e 2 na zona urbana.

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Estas atendiam juntas 745 alunos, sendo 540 nas urbanas e 205 nas rurais. Durante

o ano de sua emancipação, foram fechadas três escolas rurais, iniciando o ano de

1994 com 5 escolas rurais. Mesmo assim houve um aumento no atendimento de

alunos passando para 256. Em 1994 foi fechada mais uma escola rural. As 4

escolas rurais que funcionavam em 1995 atenderam 218 alunos. No ano de 1995

foram fechadas mais duas escolas, com isso houve queda expressiva na quantidade

de alunos atendidos em escolas da zona rural. As duas escolas rurais em atividade

em 1996 atendiam 135 alunos.

Nos anos que se seguiram percebemos uma queda na quantidade de alunos

ano a ano. Em 2000 foi fechada mais uma escola, sendo atendidos apenas 55

alunos na zona rural. O número de alunos continuou a diminuir gradativamente e no

ano de 2010 a Escola Rural Municipal Santa Terezinha, a última a resistir ao

fechamento, se funcionasse atenderia apenas 19 alunos.

Durante entrevista com a última diretora da escola, senhora Tereza Fortunato

Ghedin11, esta relatou um fato que aconteceu em 2009 e pode ter sido determinante

para o fechamento da escola. A diretora contou que todos os anos visitava

pessoalmente as casas dos alunos e os convidava para frequentarem a escola e

incentivava as crianças a estudarem ali. Mas no ano de 2009, após

desentendimento com a Escola Estadual Canoas que atendia as séries finais do

ensino fundamental e dividia o prédio municipal, ela abriu mão do cargo de direção e

não se dispôs a tal campanha, com isso havia apenas 19 matrículas para o ano

letivo de 2010, o que fez com que a escola não funcionasse a partir de então.

A senhora Tereza contou que entregou o cargo de diretora (que era

nomeação feita pelo prefeito), porque desentendeu-se com a equipe da escola

estadual e do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, pelo motivo que

negaram o uso da sala de informática que era de uso compartilhado até então. O

laboratório de informática pertencia à escola estadual e a partir daquele ano foi

proibido de ser usado pelos alunos da escola municipal. De acordo com a diretora o

acesso a computadores e à sala de informática, naquele momento era um diferencial

para a escola e ela utilizava-se desse argumento para convencer as famílias e

alunos a estudar na escola da zona rural, já que nem mesmo a escola urbana, na

11 Moradora da comunidade Canoas, mãe de ex-alunos e coordenadora pedagógica da Escola Rural

Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental nos anos de 2005 a 2009.

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qual os alunos estavam preferindo estudar possuía laboratório de informática.

(GHEDIN, 2014).

Mesmo com o fechamento das escolas rurais, não é possível perceber um

grande aumento da quantidade de alunos atendidos pelas escolas urbanas, o que

pode demonstrar que os alunos que estudavam nas escolas rurais tiveram destinos

diferentes e a maioria deles, não migrou para escolas dentro do próprio município.

No caso da Escola Rural Municipal Canoas – Ensino Fundamental, a última a fechar

no município de Cruzeiro do Iguaçu, o fato pode ser explicado devido à localização

geográfica da escola que estava em uma tríplice fronteira. Boa parte dos alunos que

a escola recebia vinham dos municípios vizinhos de Dois Vizinhos e Boa Esperança

do Iguaçu e assim que a escola fechou, os alunos foram estudar em seus municípios

de origem.

Comparando os dados populacionais do município entre os anos de 2000 e

2010, é possível perceber uma diminuição da população que reside na área rural e

um aumento nas pessoas que passaram a residir na área urbana, o que comprova o

esvaziamento do campo e a concentração das terras nas mãos de alguns poucos

produtores.

Quadro III – Dados populacionais do município de Cruzeiro do Iguaçu (2000/2010)

Cruzeiro do Iguaçu

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

2180 2214 4394 1.655 2623 4278

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def12 Dados organizados pela autora.

A diminuição da quantidade de pessoas que reside no campo é o resultado de

uma série de fatores e, foi usado como um dos argumentos que levou o município a

extinguir as escolas localizadas na zona rural.

12

O site DataSus – Tecnologia da Informação a Serviço do SUS, tem como fonte a combinação de dados do IBGE - Censos Demográficos: 1980, 1991, 2000 e 2010; IBGE - Contagem Populacional – 1996; IBGE - Estimativas preliminares para os anos intercensitários dos totais populacionais, estratificadas por idade e sexo pelo MS/SGEP/Datasus. 1981-1990, 1992-1999, 2001-2006; IBGE - Estimativas elaboradas no âmbito do Projeto UNFPA/IBGE (BRA/4/P31A) - População e Desenvolvimento. Coordenação de População e Indicadores Sociais: 2007-2009; IBGE - Estimativas populacionais enviadas para o TCU, estratificadas por idade e sexo pelo MS/SGEP/Datasus: 2011-2012

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55

O município de Boa Esperança do Iguaçu, como anteriormente dito, teve

início em 1993, com 15 escolas rurais que atendiam 314 alunos e uma escola na

sede, a qual não foi possível identificar o número de alunos.

Para expressar de forma mais clara a realidade educacional do município

sistematizamos os dados e os apresentamos em forma de quadro. Optamos por

apresentar os anos com dados mais expressivos, os quais julgamos relevantes para

a compreensão do contexto, porém não deixamos de comentar outros dados que

mesmo não compondo o quadro auxiliam na elucidação dos fatos.

Quadro IV – Número de escolas municipais e alunos de Boa Esperança do Iguaçu

(1993/2014)

Anos Escolas rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1993 15 314 1 0

1999 9 143 1 230

2004 1 19 1 236

2010 0 0 1 298

2014 0 0 1 233

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A partir de sua emancipação política várias escolas rurais foram fechadas,

sendo que no ano de 1998 fecharam 6 escolas rurais. Em 2004 o município contava

com somente uma escola na zona rural que atendia apenas 19 alunos. Em onze

anos houve uma queda de aproximadamente 93% na quantidade dos alunos que

frequentavam escolas rurais no município.

O fechamento de escolas localizadas na zona rural não se justifica, já que a

população do município está mais no interior do que na sede, como mostram os

dados demográficos:

Quadro V – Dados populacionais do município de Boa Esperança do Iguaçu

(2000/2010)

Boa Esperança do Iguaçu

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

2543 554 3107 953 1.811 2764

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora.

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A Escola Rural Municipal Getúlio Vargas resistiu até o ano de 2009 e foi

cessada por ter apenas 14 alunos. A partir dessa data a única escola do município

localiza-se na zona urbana e em 2014 atendeu 233 alunos.

O município de Dois Vizinhos que até 1992 compreendia também os

municípios de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu, tinha em 1982, 83

escolas localizadas na zona rural que atendiam 3523 alunos das séries iniciais do

ensino fundamental. Na zona urbana havia 4 escolas municipais que atendiam 1448

alunos. Fica evidente no quadro a seguir que ano após ano houve um declínio no

número de alunos da zona rural e com isso a diminuição de escolas que os

atendiam.

Quadro VI – Número de escolas municipais e alunos de Dois Vizinhos (1982/1992)

Anos Escolas rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1982 83 3523 04 1448

1992 54 1513 13 3869

1993 30 745 10 3160

2000 6 485 9 2722

2010 4 346 9 2348

2014 4 341 9 2739

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Um fato contraditório acontece entre a década de 1980 e 1990. Entre os anos

de 1982 e 1992 há uma queda de 2010 alunos atendidos na zona rural do município

de Dois Vizinhos, o que ocasionou o fechamento de 29 escolas rurais, porém

quando comparamos esse dado com o dado demográfico desse período não há uma

coerência entre os dados, como podemos observar no quadro a seguir.

Quadro VII – Dados populacionais do município de Dois Vizinhos (1980/1991)

Dois Vizinhos

1980 1991

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

30.218 12.250 42.468 18.065 22.202 40.267

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora.

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Quanto à população, há um aumento de pessoas no campo, mesmo assim 29

escolas são fechadas nesse período. Não foi possível estabelecer relação entre os

dados a fim de explicá-los.

No ano seguinte, 1993, com desmembramento dos municípios de Cruzeiro do

Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu, Dois Vizinhos ficou com 30 escolas na zona

rural que atendiam 745 alunos. No que diz respeito às escolas na zona urbana,

houve um aumento na quantidade de instituições e também de alunos atendidos, o

que comprova a saída do camponês da zona rural e também o fluxo migratório de

outras regiões do país para essa cidade. E no ano de 1993 houve diminuição no

número de escolas urbanas devido ao desmembramento dos municípios

anteriormente citados.

Vale lembrar que aqui estão sendo analisados majoritariamente dados das

escolas de ensino fundamental, uma vez que a partir de 1993 escolas de educação

infantil foram criadas e o número de alunos no município foi alargado

consideravelmente. Além disso, é importante lembrar que no início da década de

1990 houve o processo de municipalização de escolas urbanas que correspondiam

ao 1º e 2º ciclos do 1º grau. Nesse processo algumas escolas podem ter passado

para a esfera do estado e passado a atender somente a partir do 2º ciclo do 1º grau.

Já as escolas localizadas na zona rural sofreram uma diminuição gradativa de

alunos, o que reflete no fechamento de escolas. Se no ano de 1993 eram 30 escolas

rurais, depois de sete anos já eram só 6.

A partir da década de 1990, podemos perceber o modelo de agricultura

capitalista se introduzindo mais fortemente. A modernização da agricultura, fez com

que cada vez mais houvesse a dependência de recursos financeiros, o que fez com

que as terras se concentrassem nas mãos de alguns poucos obrigando os

camponeses pobres a deixarem a terra e migrarem para as cidades.

Alguns dos fatores da crise desse modelo são, por exemplo: a não realização da reforma agrária; a concentração do poder político nas mãos da bancada ruralista; a política de privilégios à agricultura capitalista e a consequente destruição da agricultura camponesa; a rápida e violenta transformação do campo brasileiro com a expulsão e a expropriação de milhões de famílias, que migraram para as cidades por e para diferentes regiões brasileiras; o surgimento de milhões de famílias sem-terra; a extrema violência com que são tratados os conflitos fundiários; a persistência de empresários rurais na utilização do trabalho escravo; a concepção tecnicista e

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58

economicista de desenvolvimento da agricultura; o crescimento contínuo da violência no campo e os diferentes problemas ambientais causados pela intensa exploração agrícola etc. (FERNANDES, p. 2)

Nesse caso, isto se expressa na demografia do município, que teve nesse

período seu campo esvaziado, como mostra o quadro:

Quadro VIII – Dados populacionais do município de Dois Vizinhos (2000/2010)

Dois Vizinhos

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

9604 22382 31986 8.084 28.095 36179

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora.

No ano de 2004 restavam 4 escolas rurais, as quais se mantêm até hoje.

Podemos observar o declínio na quantidade de matrículas. Mais uma vez é possível

observar a queda na procura da escola localizada na zona rural.

O quadro abaixo expressa os dados colhidos no município de Salto do Lontra.

Optamos pela apresentação dos dados dos anos de 1985, 1995, 2005 e 2014, que

demonstram a transformação no contexto educacional deste município.

Quadro IX – Número de escolas municipais e alunos de Salto do Lontra

(1985/2014)

Anos Escolas Rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1985 51 2498 1 66

1995 25 1856 3 851

1999 10 1064 3 921

2005 10 550 3 1142

2014 10 468 3 885

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Vale lembrar que até o ano de 1983 o município de Nova Prata do Iguaçu

pertencia a Salto do Lontra e Nova Esperança do Sudoeste pertenceu a Salto do

Lontra até 1993 e, por isso a queda no número de escolas não significa fechamentos

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propriamente ditos, já que quando os municípios foram emancipados as escolas

passaram a pertencer aos novos municípios. Esse fato também precisa ser levado

em consideração quando pensamos a quantidade de moradores que residia nesse

município.

Uma característica desse município é ter mais pessoas morando na zona

rural do que na cidade o que pode ser percebido nos dados demográficos. Todavia é

possível observar que a população urbana vai aumentando gradativamente,

enquanto que a rural diminui.

Quadro X – Dados populacionais do município de Salto do Lontra (1980/1991)

Salto do Lontra

1980 1991

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

27161 7090 34251 9673 4624 14297

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora

Até o ano de 2000 havia mais pessoas morando na zona rural, mas a partir

dos dados do censo de 2010 já se observa que há mais pessoas morando na

cidade, tais dados demonstram o esvaziamento do campo.

Quadro XI – Dados populacionais do município Salto do Lontra (2000/2010)

Salto do Lontra

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

7155 5602 12757 6258 7431 13689

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora

O aumento da população urbana exige mais oferta de vagas nas escolas da

cidade. Se no ano de 1985 Salto do Lontra tinha apenas uma escola que atendia 66

alunos, no ano de 1989, apesar de não ter sido contemplado no quadro, o município

abriu mais uma escola na cidade e passou a atender 13 vezes mais o número de

alunos do que em 1985, totalizando 889 alunos. Ainda em 1991 mais uma escola foi

aberta na cidade.

Ano a ano as escolas rurais foram sendo cessadas e o número de alunos

diminuindo. Em 1999 Salto do Lontra contava com 10 escolas municipais localizadas

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na zona rural, as quais resistem até hoje13. Podemos observar no quadro que apesar

do número de alunos atualmente ter diminuído consideravelmente, em comparação

com 1999 as escolas rurais se mantêm. Este é o município do NRE – DV, que

mesmo não sendo o maior em população, possui o maior número de escolas na

zona rural e mais atende alunos nessas escolas.

O município de Nova Esperança do Sudoeste teve sua emancipação em 1993

e, a partir daí, começou a gerir seu sistema educacional. O quadro a seguir mostra

os dados colhidos no município:

Quadro XII – Número de escolas municipais e alunos de Nova Esperança do

Sudoeste (1993/2014)

Anos Escolas rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1993 24 553 01 211

2003 03 189 01 285

2014 02 163 01 382

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

No ano da emancipação Nova Esperança do Sudoeste contava com 24

escolas rurais que atendiam 553 alunos e 1 escola na zona urbana com 211 alunos.

No ano de 1995 o município passou a contar com apenas 8 escolas. Esse número

de escolas foi diminuindo no decorrer dos anos e em 2003 o município contava com

apenas 3 escolas na zona rural. Em 2005 diminuiu para duas, número este que

perdura até hoje. Nos últimos anos a quantidade de alunos na zona rural vem se

mantendo.

Os dados dos censos de 2000 e 2010 nos mostram uma população maior na

zona rural deste município, sendo que em 2000, 76,73% da população vivia na zona

rural e em 2010 mesmo havendo mais pessoas no campo, são 65,79% no campo e

34,21% na cidade.

13

A pesquisa realizou-se no início de 2014, porém na conclusão da presente dissertação, apurou-se a cessação da Escola Rural Municipal Cláudio Manuel da Costa – Educação Infantil e Ensino Fundamental, que tinha dualidade administrativa com a Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bonfim. Portanto em 2015, Salto do Lontra contava com 9 escolas municipais na zona rural.

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61

Quadro XIII – Dados populacionais do município de Nova Esperança do Sudoeste

(2000/2010)

Nova Esperança do

Sudoeste

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

4034 1224 5258 3354 1744 5098

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora

O município de Nova Prata do Iguaçu, assim como outros municípios, até os

anos 1990 tinha a maior parte da população vivendo na zona rural. Assim em 1982,

havia 42 escolas municipais localizadas na zona rural que atendiam 1674 alunos,

enquanto na cidade havia apenas uma escola de ensino fundamental – séries

iniciais que atendia 141, ou seja, o número de alunos atendidos em escolas rurais

era quase 12 vezes maior do que os atendidos na escola urbana. Até o ano de

1988, a quantidade de alunos e de escolas municipais na zona rural quase que se

manteve inalterado devido à população que estava mais no campo, como podemos

perceber nos dados do censo de 1991. Mas a partir de 1989 foi iniciado o

fechamento de escolas estabilizando-se em 1999, quando permaneceu apenas uma

escola municipal na zona rural. Há na zona urbana um aumento de demanda e por

isso novas escolas foram criadas.

Quadro XIV – Número de escolas municipais e alunos de Nova Prata do Iguaçu

(1982/2014)

Anos Escolas rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1982 42 1674 01 141

1988 42 1313 01 153

1999 01 123 03 735

2012 01 79 04 660

2014 01 71 04 862

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Observando os dados da população verificamos que a partir de 2000 os

números se inverteram e, a concentração da população passou a ser na cidade, isso

explica parte da queda de matrículas e de escolas na zona rural.

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Quadro XV – Dados populacionais do município de Nova Prata do Iguaçu

(1991/2000/2010)

Nova Prata

do Iguaçu

1991 2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total Rural Urbana Total

7444 4171 11615 5086 5311 10397 4310 6067 10377

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def

Dados organizados pela autora.

Em 2009 mais uma escola urbana foi aberta. Atualmente o município tem 933

alunos, sendo 71 estudantes em uma escola na zona rural e 862 estudantes em 4

escolas urbanas. Em 30 anos houve o fechamento de 41 escolas rurais no município

e a diminuição de 1603 alunos matriculados em escolas na zona rural.

São Jorge d’Oeste tinha a maior parte de sua população morando no campo,

como mostra os dados do censo de 1980 e 1991. Em consequência disso, em 1985

contava com 3 escolas urbanas e 41 escolas na zona rural que atendiam 1238

alunos.

Quadro XVI – Dados populacionais do município de São Jorge d’Oeste

(1980/1991)

São Jorge d’Oeste

1980 1991

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

9774 3774 13717 6474 3847 10321

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def

Dados organizados pela autora.

A quantidade de escolas se manteve até 1991 quando o número de pessoas

que residiam no campo passou a diminuir com mais intensidade e, com isso, a

quantidade de alunos sofreu decréscimo ano após ano, o que levou ao início do

fechamento das escolas localizadas na zona rural, como pode ser observado no

quadro a seguir:

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Quadro XVII – Número de escolas municipais e alunos de São Jorge d’Oeste

(1985/2014)

Anos Escolas rurais Nº de alunos Escolas urbanas Nº de alunos

1985 41 1238 3 617

1991 41 788 3 420

1995 12 288 5 1100

2005 1 44 5 811

2014 1 35 5 728

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A partir de 1992 as escolas rurais começaram a ser fechadas, isso fez com

que o número de alunos estudando na zona rural também diminuísse. De 39 escolas

rurais em 1992, passou para 1 em 2002, isso fez com que a quantidade de alunos

diminuísse drasticamente. Assim como se viu diminuir a população do campo e

aumentar a população na cidade, conforme os dados dos censos de 2000 e 2010

sistematizados no quadro a seguir:

Quadro XVIII – Dados populacionais do município de São Jorge d’Oeste (2000/2010)

São Jorge d’Oeste

2000 2010

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

4796 4511 9307 3871 5214 9085

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/poppr.def Dados organizados pela autora.

Explicar esse fato não é simples, mas tal realidade pode evidenciar a pouca

preocupação com os sujeitos que viveram e vivem na zona rural. A falta de

comprometimento dos gestores públicos, a falta de políticas que atendessem esses

sujeitos, sobretudo na área educacional, permite perceber o descaso com a

identidade cultural de um povo.

Em contrapartida, no meio urbano o número de escolas cresceu de 3 para 5 e

o número de alunos também se elevou. No ano de 2014 o município tinha 35 alunos

estudando na zona rural e 728 na zona urbana.

No caso do município de São Jorge d’Oeste existe um fato relevante para a

pesquisa que se refere à classificação da escola por parte da Secretaria de

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64

Educação do Estado. Segundo a SEED, o município de São Jorge d’Oeste possui

três escolas localizadas em distritos do município que são classificadas como

urbanas, apesar de localizarem-se em pequenas vilas e atenderem, na maioria,

filhos de agricultores.

2.2.1 Análise Geral das Escolas Municipais

A partir dos dados levantados é possível perceber a acentuada queda no

número de alunos e de escolas rurais. Em 1985 os sete municípios que hoje

compõem o NRE – DV, que na época eram quatro, contavam com 208 escolas

municipais localizadas na zona rural. Em 2014 eram apenas 18, uma diminuição de

190 escolas em 30 anos. Isso significou fechamento de 91,34% das escolas rurais.

Tão alarmante quanto este dado é a quantidade de alunos que diminuiu de 8778

para 1078, queda de 87,71% no número de matrículas.

Em contrapartida, as escolas urbanas que eram apenas 11 que atendiam

2808 estudantes em 1985, em 2014 passaram para 25, significando aumento de

44% e atenderam 6331 alunos, acumulando crescimento no número de matrículas

de 125,46%.

Os números obtidos são alarmantes. A expropriação do camponês, a evasão

da zona rural e o pouco incentivo à agricultura familiar são questões que apesar de

exploradas não demonstram o quão forte foi/é a consequência disso para o campo.

É fato que de 30 anos para cá a estrutura familiar também se modificou, os casais

passaram a ter menos filhos e essa também foi/é um motivo para a diminuição dos

alunos. Porém, com a ampliação do ensino fundamental para cinco anos e a

obrigatoriedade da pré-escola, aumenta-se a quantidade de turmas e isso deveria

fazer com que a quantidade de alunos atendidos aumentasse, ou pelo menos se

mantivesse estável, mas não foi isso que percebemos. O déficit de mais de seis mil

alunos em 30 anos (8778 para 1078) mostra que os discursos de incentivo à fixação

do homem no campo não condizem com a realidade. Dos sete municípios

analisados, dois não possuem mais escolas na zona rural. É urgente repensar o que

se está fazendo para que tantas famílias deixem o campo e como a educação tem

reforçado essa situação.

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65

O que conseguimos perceber é que mesmo o ensino mais básico que

corresponde aos anos iniciais do ensino fundamental, está sendo cursado nas zonas

urbanas. Decorrente desse estímulo, nos anos seguintes os estudantes continuem a

estudar na zona urbana, consequentemente, se torna um incentivo para que deixem

a zona rural e passem a viver nas cidades.

É urgente repensar essa visão que se tem do campo como lugar de atraso,

em que o melhor é mover os alunos das “escolinhas” e dar a eles “oportunidade” de

uma escola melhor na cidade. Parece que não foi/é percebida a influência que a

escola exerce sobre a comunidade. Ela é um espaço de articulação da comunidade

que a cerca, de fortalecimento cultural, que reforça o pertencimento do educando

àquele local. Não se pode tratar somente de questões técnicas financeiras,

pensando apenas no custo por aluno, é o caso de pensar no futuro de uma

comunidade com suas peculiaridades culturais. Segundo Seganfredo:

A Educação do Campo é projeto de uma outra concepção de campo, de sociedade, de relação campo cidade, de educação, de escola. É perspectiva de transformação social e emancipação humana, porque pensa o processo educativo a partir da dimensão formativa do trabalho e do vínculo da educação com processos produtivos, e compreende outro projeto de desenvolvimento social (2014, p. 134).

As políticas direcionadas para o campo ainda são falhas. Existe uma grande

distância entre as determinações oficiais e a realidade. A legislação é tardia e

permite várias interpretações, aumentando as barreiras para realização de melhorias

e avanços nessa modalidade de ensino. As escolas estudadas não eram/são

engajadas com movimentos sociais e a falta dessa articulação contribuiu/contribui

para que essas escolas fossem mais frágeis, suscetíveis às consequências das

mudanças políticas de governo, o que resultou no fechamento de muitas, como foi

apontado.

2.3 Análise de dados das escolas Estaduais do NRE – Dois Vizinhos

Neste segundo momento entendemos não ser pertinente a pesquisa

comparativa entre escolas localizadas na zona rural e na zona urbana para o

seguimento anos finais do ensino fundamental e ensino médio; por isso fizemos a

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pesquisa apenas nas instituições localizadas na zona rural. Isso se deu em virtude

do objetivo da pesquisa que é o estudo sobre as escolas localizadas na zona rural e

não o comparativo campo X cidade, que apesar de interessante, não será objeto de

análise nesse momento.

A pesquisa agora apresentada foi iniciada na sede do NRE de Dois Vizinhos,

porém os dados disponíveis não eram suficientes para desenvolver uma análise

mais coesa, então entramos em contato com cada escola em separado. Ainda

realizamos consulta a diversos documentos, consulta ao educacenso14 e pedido de

relatórios finais às escolas, visitas e análises de documentos que continham número

de matrículas. A partir do que coletamos, computamos os dados das escolas e dos

alunos dos sete municípios que compõem o NRE – DV.

No município de Boa Esperança do Iguaçu, não houve e não há Escolas

Estaduais na zona rural que atendessem/atendam as séries finais do ensino

fundamental ou ensino médio. A única escola estadual é o Colégio Estadual Boa

Esperança do Iguaçu que funciona desde 1982 na sede e atende alunos das séries

finais do ensino fundamental e do ensino médio. Já nesse primeiro momento é

evidente que a instrução dada aos moradores das áreas rurais era apenas a

primária, já que em 1993, ano da emancipação do município existiam 15 escolas

municipais (1ª a 4ª série) na zona rural; em contrapartida, não havia escolas

estaduais (5ª a 8ª e ensino médio). Quem desejasse/deseja continuar os estudos

precisava/precisa deslocar-se para a sede do município ou até outro município.

Atualmente o município de Cruzeiro do Iguaçu não conta com escolas

estaduais (5ª a 8ª e ensino médio) na zona rural. A única escola que houve foi

cessada em 2012. Trata-se da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino

Fundamental, a qual será objeto de análise detalhada no decorrer do texto.

Dois Vizinhos tem atualmente três colégios/escola estaduais localizadas na

zona rural, das quais duas oferecem as séries finais do ensino fundamental e o

ensino médio e, uma apenas as séries finais do ensino fundamental, são eles o

Colégio Estadual do Campo Germano Stédile – Ensino Fundamental e Médio,

Colégio Estadual do Campo São Francisco do Bandeira – Ensino Fundamental e

Médio e a Escola Estadual do Campo Linha Conrado – Ensino Fundamental. 14

O Educacenso é uma ferramenta de pesquisa com dados estatísticos, onde se pode consultar o número de matrículas por Estado e Municípios, disponível em http://matrícula.educacenso.inep.gov.br/. Os dados disponíveis no site estão compreendidos do ano de 1997 a 2014.

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O Colégio Estadual do Campo Germano Stédile – Ensino Fundamental e

Médio localizado na comunidade Linha Santa Lúcia, que teve sua fundação em 1984

sendo que até 2008 atendia alunos das séries finais do ensino fundamental e, a

partir de 2008 passou gradativamente a atender alunos do ensino médio. Neste

colégio, como é comum nas escolas rurais, há dualidade administrativa. Neste caso,

no período da tarde funciona na mesma estrutura a Escola Municipal do Campo

Presidente Juscelino Kubitschek – Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Em pesquisa in loco obtivemos informações a respeito do número de alunos

atendidos pela instituição ao longo dos anos e organizamos o quadro a seguir:

Quadro XIX – Colégio Estadual do Campo Germano Stédile – nº de alunos

(1985/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1985 58 2000 320

1986 68 2001 273

1987 73 2002 223

1988 95 2003 226

1989 82 2004 194

1990 82 2005 173

1991 261 2006 178

1992 165 2007 183

1993 218 2008 229

1994 234 2009 227

1995 268 2010 263

1996 292 2011 285

1997 342 2012 225

1998 319 2013 247

1999 317 2014 239

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Durante a visita a escola, foi possível observar que esta é bem organizada e,

de acordo com a diretora, busca oferecer um ensino que leve em conta o meio em

que os educandos vivem.

Em consulta ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola observamos

uma pesquisa que foi realizada com as famílias e alunos da escola para caracterizar

os educandos atendidos e suas famílias. Dentre as perguntas algumas nos

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chamaram muita atenção, pois apesar de serem características daquela

comunidade, refletem a realidade de boa parte do campo brasileiro. Devido à

relevância dos dados organizamos e reproduzimos parte deles a seguir:

Se for proprietário, quantos alqueires de terra possui?

Quantidade de terra

1 a 2 alqueires

3 até 10 alqueires

10 alqueires acima

%

42

44,5

13,5

Fonte: PPP do Colégio Estadual do Campo Germano Stedile (2010, p.9). Dados organizados pela autora.

Observando os dados é notável que a maior parte das famílias dos alunos

possuem pequenas propriedades, sendo que 86,5% das propriedades tem até 10

alqueires, o que é característico da agricultura familiar. É provável que daqui a

alguns anos, a pequena propriedade não seja suficiente para sustentar a família,

principalmente quando os jovens se tornarem adultos e tiverem suas próprias

famílias. Está aí um dos motivos que faz com que os jovens deixem a família e

partam para trabalhar na cidade, fazendo com que o campo se constitua de uma

população com pessoas mais velhas. Outra pergunta que me chamou a atenção foi

“A família faz uso de agrotóxicos na produção ou trabalha com agrotóxico?” A

resposta foi de que 65,5% das famílias usam agrotóxicos e 34,5% não. Ou seja,

mesmo tendo a característica de agricultura familiar, as técnicas utilizadas incluem

os agrotóxicos.

Os dados indicam o cultivo de soja, milho e trigo, feito em terras

mecanizadas, o que segue a produção nos moldes do capitalismo, cujos modelos de

produção objetivam aumentar a produtividade, principalmente para a exportação e

não a produção de alimentos para consumo imediato. Esse tipo de produção é

realizado com maquinário agrícola fazendo com que não haja a necessidade de

muita mão de obra para produzir (principalmente grãos) em grande quantidade. Isso

é refletido no abandono do camponês do meio rural e na migração para a cidade,

em busca de oportunidades para conseguir sobreviver.

Outras perguntas e suas respectivas respostas que auxiliam essa ideia são:

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A família possui horta?

(87,5%) SIM

(12,5%) NÃO

A família vende o excedente (sobra) da

produção de verduras?

A família possui pomar?

A família produz doces, melado, açúcar

mascavo, compotas, conservas, queijo,

salame, mel...?

(1,5%) SIM

(98,5%) NÃO

(81,5%) SIM

(18,5%) NÃO

(2,5%) SIM PARA VENDER

(56%) SIM PARA CONSUMO

(41,5%) NÃO PRODUZ

Fonte: PPP do Colégio Estadual do Campo Germano Stedile (2010, p. 11). Dados organizados pela autora.

Essas respostas mostram que apesar de ter terra disponível nem todas as

famílias têm hortas ou pomares e ainda as que têm, boa parte, não vendem o

excedente. O hábito de preparar alimentos para o próprio consumo, que até pouco

tempo era algo comum, já não é mais e isso reforça a ideia do padrão do capitalismo

moderno de consumo e cultivo de alimentos. Conforme indica Oliveira:

Neste período, consolida-se no país a produção agrícola com vistas ao atendimento do padrão capitalista moderno de consumo de alimentos: o consumo de proteína animal no lugar da proteína vegetal. Ainda persiste a produção de trigo, de lácteos e de carnes (bovina, suína e de frango), mas ao lado disso, instala-se definitivamente a produção de grãos para transformação da mesma proteína vegetal em animal (soja e milho), necessário à indústria de carnes. Pode-se então afirmar que, na essência, a produção agrícola no Brasil obedece ainda aos mesmos ditames pela modernização conservadora: a produção e produtos da terra para o abastecimento do mercado mundial. De acordo com a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção de grãos no território brasileiro foi, em 2006-2007, de 130, 51 milhões e toneladas, volume 124,8% acima do colhido na safra de 1990-91. Entretanto, as culturas que mais tiveram crescimento de produção foram milho e soja que, respectivamente, aumentaram 85,7% e 227% no período considerado. Juntas, estas culturas respondiam por 73,4% da produção total de grãos no Brasil em 1989-90 e, em 2006/07, respondiam por 83,2% desta (2011, p.63 – 64).

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As questões expõem a ausência de políticas que proporcionem o aumento de

renda no campo. Não há uma organização aliada com cooperativas que estimulem

os produtores a produzirem alimentos ou que agreguem valor aos seus produtos.

Apesar dos desafios enfrentados cotidianamente, de acordo com a pesquisa,

as famílias acham que têm uma boa vida na zona rural. “Como a família percebe a

vida no campo? (34%) ÓTIMA (62%) BOA (4%) RUIM”. Apesar de não se levantar

fatores específicos na pergunta, a resposta expressa um certo conformismo, já que

“BOA” não pode ser entendido como completamente satisfatória, mas o índice na

resposta “RUIM” também é pequeno (DOIS VIZINHOS, 2010, p. 11).

Outra escola estadual de Dois Vizinhos localizada na zona rural, é o Colégio

Estadual do Campo São Francisco do Bandeira15 e também compartilha sua

estrutura com uma escola municipal, a Escola Rural Municipal Nossa Senhora da

Salete – Educação Infantil e Ensino Fundamental. O Colégio Estadual São Francisco

do Bandeira, iniciou suas atividades educacionais no ano de 1997, atendendo

alunos das séries finais do ensino fundamental e em 1998 foi instalado o ensino

médio de forma gradativa. O quadro a seguir mostra o número de matrículas por ano

que o colégio teve, na qual é perceptível um declínio na quantidade de alunos nos

últimos três anos.

Quadro XX – Colégio Estadual do Campo São Francisco do Bandeira – nº de alunos

(1997/2014)

Ano Número de alunos Ano Número de alunos

1997 165 2005 199

1998 179 2006 196

1999 220 2007 194

2000 213 2008 163

2001 184 2009 155

2002 184 2010 154

2003 189 2011 153

2004 166 2012 131

2005 199 2013 122

2006 196 2014 114

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

15

Esse colégio foi referência para a educação do campo no Paraná e no Brasil no período de 2007 a 2012, com o desenvolvimento do Projeto Vida na Roça.

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É possível perceber a partir da análise do PPP da escola, que a proposta

pedagógica está organizada em volta de uma proposta de educação do campo, que

visa atender às especificidades dos educandos com uma educação diferenciada

voltada à construção de sujeitos do campo que sejam críticos e conscientes.

A Escola Estadual do Campo Linha Conrado – Ensino Fundamental também

está localizada na zona rural do município de Dois Vizinhos, compartilha a estrutura

física com a Escola Municipal do Campo Plínio Salgado – Educação Infantil e Ensino

Fundamental. A Escola Estadual iniciou seus trabalhos educacionais no ano de 1994

atendendo os alunos de 5ª série dos anos finais do ensino fundamental e,

gradativamente ampliou-se até atender a 8ª série. Após ter as quatro séries em

1997, a quantidade de alunos se manteve entre 90 e 100 alunos até o ano de 2006,

porém nos anos subsequentes começou a diminuir e atualmente a escola atende 56

alunos em quatro turmas do ensino fundamental – séries finais. Como a escola não

oferece ensino médio, os alunos concluintes do ensino fundamental precisam ir para

os colégios da cidade para terem acesso ao ensino médio.

Quadro XXI – Escola Estadual do Campo Linha Conrado Ensino Fundamental – nº

de alunos (1994/2014)

Ano Quantidade de alunos Ano Quantidade de alunos

1994 26 2005 95

1995 48 2006 92

1996 67 2007 80

1997 93 2008 89

1998 100 2009 81

1999 97 2010 59

2000 95 2011 59

2001 95 2012 60

2002 90 2013 61

2003 93 2014 56

2004 90

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

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As instituições estaduais do município de Dois Vizinhos que atendem

educandos das séries finais do ensino fundamental e o ensino médio localizadas na

zona rural existem há vários anos. O Colégio Germano Stédile tem 30 anos de

funcionamento; o Colégio Estadual São Francisco do Bandeira tem 18 anos; a

Escola Estadual Linha Conrado Ensino Fundamental tem 20 anos. O quadro a

seguir sistematiza os dados das três escolas estaduais de Dois Vizinhos:

Quadro XXII – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Dois Vizinhos

(1985/2014)

198516 1994 1997 2014

C.E.C. Germano Stédile E.F.M. 58 234 342 239

E. E. C. Linha Conrado E.F. --- 26 93 56

C.E.C. São Francisco do Bandeira E.F.M. --- --- 165 114

TOTAL 58 260 942 409

Fonte: Relatórios finais das escolas. Dados organizados pela autora.

O município de Salto do Lontra tem 6 escolas estaduais localizadas na zona

rural. É o município do NRE – DV que mais possui escolas estaduais e também

municipais na zona rural.

A Escola Estadual do Campo Barra do Lontra – Ensino Fundamental atende

alunos de 6º ao 9º ano e divide a estrutura física com a Escola Rural Municipal

Presidente Carlos L. Cavalcanti – Educação Infantil e Ensino Fundamental. A Escola

Estadual teve seu início em 1981 quando era denominada Escola Municipal

Presidente Carlos de Lima Cavalcante – Ensino de 1ºGrau e iniciou com a 5ª série.

Nos anos subsequentes foram se instalando a 6ª, 7ª e 8ª séries. Nesse período a

escola era mantida pelo poder municipal. No início eram salas improvisadas no

pavilhão da comunidade e nos primeiros anos apenas dois professores lecionavam

todas as matérias. Foi somente em 27 de fevereiro de 1991 que a escola foi

estadualizada e passou a denominar-se Escola Estadual de Barra do Lontra –

Ensino de 1º Grau. O número de matrículas a partir dessa data está organizado no

quadro a seguir:

16

Adotou-se como marco inicial, o ano de criação de cada escola e como marco final o ano final da pesquisa.

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Quadro XXIII – Escola Estadual do Campo de Barra do Lontra – nº de alunos

(1991/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1991 71 2003 87

1992 81 2004 74

1993 83 2005 66

1994 89 2006 58

1995 90 2007 51

1996 84 2008 52

1997 82 2009 55

1998 89 2010 62

1999 102 2011 50

2000 112 2012 45

2001 109 2013 37

2002 87 2014 30

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Nos dez primeiros anos da escola estadualizada o número de alunos

frequentes era constante e apresentava leve crescimento, porém a partir de 2001, os

alunos que frequentavam a escola começaram a diminuir, caindo significativamente

a partir de 2012, atendendo em 2014 apenas 30 alunos. Essa escola atende em

média 7 ou 8 alunos por turma e, assim como muitas escolas rurais, enfrenta o

medo que os alunos continuem a diminuir e que a escola venha a fechar.

A Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bom Fim – Ensino

Fundamental, assim como a escola anteriormente apresentada, iniciou suas

atividades como escola municipal, em 1962, com nome Escola Municipal Cláudio

Manoel da Costa – Ensino de 1º Grau e atendia as séries iniciais do Ensino

Fundamental. Com o surgimento de demanda a escola passou a oferecer o ensino

de 5ª a 8ª séries tendo como mantenedora a prefeitura. A escola passou a ser

mantida pelo estado em 1990 com o nome de Escola Estadual Nosso Senhor do

Bonfim – Ensino de 1º grau e continuou atendendo alunos de 5ª a 8ª série.

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74

Após sua abertura como escola estadual manteve o número de alunos

matriculados estável, mas a partir de 2006 o número de alunos começou a diminuir

drasticamente e hoje a escola atende apenas 25 alunos organizados em quatro

séries.

A ameaça do fechamento da escola é constante, tanto é que determinadas

turmas são fechadas durante um ano e após muita luta são reabertas no ano

seguinte. O quadro a seguir mostra o número de matrículas da escola e o

decréscimo de alunos atendidos:

Quadro XXIV – Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bom Fim – nº de

alunos (1990/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1990 69 2003 79

1991 87 2004 64

1992 75 2005 71

1993 82 2006 68

1994 91 2007 56

1995 93 2008 50

1996 80 2009 35

1997 93 2010 37

1998 79 2011 36

1999 86 2012 25

2000 81 2013 26

2001 79 2014 25

2002 74

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Rural Municipal Claudio Manoel da Costa, depois da estadualização,

atendia as séries iniciais do ensino fundamental e era mantida pelo poder municipal.

No ano de 2014 funcionava em regime multisseriado e teve suas atividades

cessadas temporariamente. De acordo com membros da comunidade, os oito alunos

que deveriam ser atendidos nessa escola, frequentam uma escola na sede do

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município. O transporte intracampo como prevê a Resolução nº 2/2008, já

apresentada, não acontece nesse caso.

No ano de 2014 essa escola tinha apenas duas matrículas para o 6º ano, o

que fez com que o estado fechasse a turma. Após a comunidade e a escola se

organizarem e, recorrerem à Promotoria Pública, a turma foi reaberta e funcionou

com os dois alunos a partir de medida liminar (anexo I).

A Escola Estadual Professor José Luis Pedroso segue a mesma instabilidade

que assombra as escolas citadas anteriormente e tem seu histórico semelhante.

Também funciona no sistema de dualidade administrativa: no período da manhã

funciona no prédio a Escola Rural Municipal Cristóvão Colombo – Educação Infantil

e Ensino Fundamental e no período da tarde, a escola estadual.

A escola foi criada em 18 de abril de 1990, por iniciativa dos membros da

comunidade que ao verem a dificuldade de acesso (dificuldade de

locomoção/transporte, distâncias, chuvas/precariedade de pontes) a escola que

oferecia as séries finais do ensino fundamental organizaram-se e solicitaram as

autoridades educacionais a criação de uma escola na própria comunidade para que

seus filhos pudesses prosseguir os estudos, essa escola recebeu o nome de Escola

Estadual de São Sebastião Ensino de 1º Grau (Nome da comunidade onde se

localiza a escola), mas já no ano seguinte passou a chamar Escola Estadual

Professor José Luis Pedroso – Ensino de 1º Grau, em homenagem ao primeiro

professor da comunidade.

Os dados fornecidos pela escola sobre o número de alunos atendidos iniciam

a partir de 1993 e até o ano de 2000 é possível perceber uma instabilidade no

número de matrículas que oscila consideravelmente, a diretora da escola explicou

que o fluxo de alunos varia bastante, tendo em vista que os pais desses alunos não

possuem propriedades na comunidade, são apenas funcionários que cuidam de

fazendas ou aviários e dependendo das circunstâncias trocam de emprego e

mudam-se. A partir de 2000 a quantidade de alunos começou a diminuir bastante e

hoje a escola atende apenas 21 alunos.

Assim como em outras escolas com a diminuição de matrículas a escola se

vê intimidada com a possibilidade do fechamento. Algumas turmas chegam a ser

fechadas durante um ano e, no ano seguinte, os professores fazem espécie de

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campanhas para buscarem alunos para que essa turma seja reaberta. O quadro que

segue mostra em números as informações descritas anteriormente.

Quadro XXV – Escola Estadual do Campo Professor José Luis Pedroso – nº de

alunos (1993/2014)

Ano nº de alunos Ano nº de alunos

1993 61 2004 55

1994 127 2005 45

1995 91 2006 39

1996 98 2007 32

1997 103 2008 37

1998 90 2009 36

1999 104 2010 22

2000 96 2011 28

2001 73 2012 28

2002 71 2013 21

2003 65 2014 21

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual do Campo Linha Boeira – Ensino Fundamental iniciou sua

história em 1969, após a construção de uma sala de aula, onde passou a funcionar a

Escola Municipal Padre José de Anchieta - Ensino de 1º Grau, que atendia de forma

multisseriada de 1ª à 4ª séries, uma turma de 5ª série e uma de 6ª série. Em 30 de

março de 1990, com a Resolução nº 831/90 desmembrou-se da escola municipal e

foi estadualizada e passou a denominar-se Escola Estadual de Linha Boeira –

Ensino de 1º Grau, atendendo quatro turmas de 5ª a 8ª séries. A escola municipal

continua funcionando em regime de dualidade administrativa.

Em pesquisa realizada junto à escola em agosto de 2014, foi repassada a

informação de que apenas os dados sobre matrículas a partir de 2002 estão

disponíveis e os anos anteriores não poderiam ser consultados.

Atualmente a escola tem em média 10 alunos por turma, mas nem sempre foi

assim. A Escola Estadual Linha Boeira atendia muitos alunos, mas com o

envelhecimento da população e muitas pessoas que tiveram que deixar o campo e ir

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em busca de oportunidade nas cidades, esse número foi bastante afetado. Os dados

dispostos no quadro se referem às matrículas a partir de 2002 e já é possível

observar o decréscimo no número de alunos.

Quadro XXVI – Escola Estadual do Campo Linha Boeira – nº de alunos

(2002/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

2002 121 2009 66

2003 111 2010 57

2004 111 2011 64

2005 104 2012 48

2005 101 2013 44

2007 97 2014 40

2008 70

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual do Campo Pinhal da Várzea – Ensino Fundamental, em

1981 era uma escola municipal que recebeu o nome de Escola Municipal Cassiano

de Abreu – Ensino de 1º Grau e iniciava sua história com o atendimento a 33 alunos

da 5ª série. Gradativamente nos anos seguintes as outras séries foram implantadas.

A partir de 1990 a escola foi estadualizada e recebeu o nome de Escola

Estadual de Pinhal da Várzea – Ensino de 1º Grau. A escola também compartilha o

prédio da Escola Rural Municipal Professora Irma Meurer – Educação Infantil e

Ensino Fundamental que funciona no período da tarde.

Em visita à escola, a diretora informou que apesar de a escola ser de 1981,

os documentos que lá estão arquivados são de 1990, ano da estadualização da

escola.

Quando a Escola Estadual Pinhal da Várzea foi estadualizada em 1990 ela

atendia 73 alunos. Esse número foi crescendo até 1998, depois manteve-se com

pequenas alterações até o ano de 2005, onde iniciou-se um declínio no número de

matrículas na escola. A diretora da escola explicou que a diminuição na quantidade

de alunos se deu devido à queda na taxa de natalidade que diminuiu nos últimos

anos. Mas que nos próximos anos a tendência é que aumente o número de alunos

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novamente, já que as séries iniciais do ensino fundamental (escola municipal que

funciona no mesmo prédio, mas em período contrário) tem mais alunos, os quais

nos próximos anos frequentarão a escola estadual.

O quadro a seguir expressa a trajetória da escola a partir do atendimento aos

alunos:

Quadro XXVII – Escola Estadual do Campo Pinhal da Várzea – nº de alunos

(1990/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1990 73 2003 85

1991 69 2004 77

1992 71 2005 62

1993 68 2006 58

1994 83 2007 50

1995 85 2008 60

1996 75 2009 51

1997 90 2010 53

1998 98 2011 54

1999 90 2012 51

2000 82 2013 35

2001 89 2014 31

2002 90

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual do Campo Sede da Luz iniciou sua história em 1963,

quando os membros da comunidade uniram-se com o poder público para construir

uma escola que atendesse as séries iniciais do ensino fundamental denominando-a

de Escola Isolada Padre Diogo Feijó. Em 1982 devido à demanda, ampliou o

oferecimento do ensino para 5ª a 8ª séries, sendo mantida pela prefeitura. Por um

longo período, quase 20 anos, o número de matrículas se manteve praticamente

inalterado.

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79

Foi somente em 1990 que a escola foi desmembrada das séries iniciais do

ensino fundamental e passou a denominar-se Escola Estadual Sede da Luz,

passando a ser mantida pelo governo do estado.

A partir do ano de 2003 a matrícula dos alunos começou a diminuir sutilmente

e no ano de 2014 a escola atendeu 53 alunos, distribuídos nas quatro séries finais

do ensino fundamental e foi a escola estadual, localizada na zona rural do município

de Salto do Lontra, que mais atendeu alunos no ano de 2014.

Quadro XXVIII – Escola Estadual do Campo Sede da Luz – nº de alunos

(1982/2014)

Anos nº de alunos Anos nº de alunos

1982 84 1999 74

1983 89 2000 72

1984 86 2001 68

1985 81 2002 59

1986 87 2003 68

1987 85 2004 66

1988 79 2005 65

1989 76 2006 62

1990 84 2007 51

1991 82 2008 59

1992 79 2009 49

1993 85 2010 57

1994 82 2011 53

1995 78 2012 54

1996 76 2013 48

1997 79 2014 53

1998 80

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

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80

Para expressar o panorama geral das escolas estaduais e dos alunos

atendidos na zona rural do município de Salto do Lontra, elaboramos um quadro

apresentando as escolas e número de alunos.

Quadro XXIX – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Salto do Lontra

(1982/2014)

198217 1990 1991 1993 2002 2014

E.E.C. Sede da Luz E.F. 84 84 82 85 59 53

E.E.C. Nosso Senhor do Bonfim --- 69 87 82 74 25

E.E.C. Pinhal da Várzea E.F. --- 73 69 68 90 31

E.E.C. Barra do Lontra E. F. --- --- 71 83 87 30

E.E.C. Professor José L. Pedroso E.F. --- --- --- 61 71 21

E.E.C. Linha Boeira E.F. --- --- --- --- 121 40

TOTAL 84 226 309 379 502 200

Fonte: Relatórios finais das escolas. Dados organizados pela autora.

O município de Nova Esperança do Sudoeste tem duas escolas estaduais

localizadas na zona rural: a Escola Estadual Barra Bonita e a Escola Estadual Rio

Gavião.

A Escola Estadual Barra Bonita teve sua origem em 09/01/87 com o

atendimento a alunos de 5ª série; gradativamente as séries seguintes foram

instaladas. A escola foi estadualizada a partir de 1991 quando o município ainda

pertencia a Salto do Lontra, devido a isso os dados disponíveis pela escola são a

partir de 1993. No ano de 1993 a escola tinha 185 alunos, porém esse número de

matrículas não se manteve, nos anos subsequentes diminuíram absurdamente,

tanto é que em 1997 havia diminuído 104 alunos em relação a 5 anos antes e a

escola atendeu naquele ano apenas 81 alunos. A partir dessa queda a escola

começou a receber novos alunos e o número de matrículas voltou a aumentar

chegando em 2001 a seu novo máximo de 115 e, a partir de então, novamente a

taxa de matrículas diminuiu.

Como podemos perceber no quadro abaixo essa escola teve bastante

instabilidade no número de alunos que atendeu ao longo dos anos, mas nos últimos

17

Adotou-se como marco inicial, o ano de criação de cada escola e como marco final o ano final da pesquisa.

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81

dez anos houve um decréscimo o qual não apresenta indícios de aumentar

novamente.

Quadro XXX – Alunos da Escola Estadual do Campo Barra Bonita

(1993/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1993 185 2004 96

1994 165 2005 86

1995 153 2006 82

1996 146 2007 76

1997 81 2008 67

1998 86 2009 55

1999 84 2010 52

2000 98 2011 45

2001 115 2012 41

2002 109 2013 41

2003 101 2014 38

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual Rio Gavião iniciou em 1975 sua história. Nessa época o

atual município de Nova Esperança do Sudoeste pertencia a Salto do Lontra e os

próprios moradores organizaram-se e exigiram uma escola naquele local. Essa

escola começou a funcionar no mesmo ano com duas turmas de 5ª série, mas como

não havia salas de aula para essas turmas, a comunidade do Rio Gavião cedeu o

salão social da capela, o qual foi dividido em duas salas. Nesse período a escola

funcionava como extensão do Ginásio Estadual de Salto do Lontra.

De acordo com o PPP da escola, o Sr. Pedro Piran, na época diretor da

Escola Estadual de Salto de Lontra e Extensão do Rio Gavião relatou que no início

havia muitas dificuldades em manter a extensão, porque a Inspetora Regional de

Educação de Francisco Beltrão, que era contra a criação de extensões de escolas

de 5ª a 8ª séries e 2° grau, exigia que todas as documentações fossem entregues

diretamente na Secretaria de Educação em Curitiba, para que fosse dado o visto.

Mesmo com as dificuldades encontradas, essa escola funcionou como extensão até

o ano de 1981. A partir deste ano foi aprovado o plano de Implantação da Escola

Estadual do Rio Gavião – Ensino de 1º Grau. As salas para as turmas de 5ª a 8ª

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82

séries foram construídas pela prefeitura municipal de Salto do Lontra e pelo governo

do Estado do Paraná em 1982.

De acordo com o secretário da escola, existem poucos documentos

arquivados já que no início ela era apenas uma extensão. Os dados sobre a

quantidade de alunos foram coletados em consulta a relatórios finais e livros de

chamada. No quadro a seguir apresentamos os dados levantados:

Quadro XXXI – Escola Estadual do Campo Rio Gavião – nº de alunos (1980/2014)

Anos Nº de alunos Anos Nº de alunos

1980 73 1998 106

1981 99 1999 136

1982 111 2000 117

1983 107 2001 119

1984 101 2002 115

1985 88 2003 120

1986 88 2004 113

1987 81 2005 115

1988 81 2006 89

1989 90 2007 73

1990 84 2008 73

1991 83 2009 66

1992 71 2010 61

1993 98 2011 60

1994 94 2012 63

1995 115 2013 48

1996 112 2014 46

1997 94

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

O número de matrículas desta escola oscilou bastante, porém ficou próximo

dos 100 alunos por muito tempo, mas a partir de 2006 se percebe uma gradual

diminuição dos alunos que frequentavam a escola. De acordo com o secretário, nos

últimos anos os alunos têm preferido ir para a escola na cidade, devido à

proximidade da sede do município. Destacou ainda que qualquer desentendimento

que havia entre professores/diretor e alunos, as famílias solicitavam a transferência

do aluno. Tal situação é uma das explicações para a queda na quantidade de alunos

nos últimos anos.

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83

No quadro a seguir apresentamos os dados das escolas estaduais localizadas

na zona rural do município de Nova Esperança do Sudoeste:

Quadro XXXII – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de Nova Esperança

do Sudoeste (1980/2014)

198018 1993 2014

E.E.C.Barra Bonita E.F. --- 185 38

E.E.C.Rio Gavião E.F. 73 98 46

TOTAL 73 283 84

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

O município de São Jorge d’Oeste conta com 1 escola estadual localizada na

sede e 4 localizadas em distritos ou comunidades. Em consulta aos sites Data

Escola Brasil19 e Consulta Escolas20 apenas uma delas é localizada na zona rural já

que as outras 3 estão localizadas em distritos e são consideradas urbanas.

Averiguando o nome das escolas, o próprio PPP e a realidade educacional

optamos por estudar a Escola Estadual do Campo Pio X – Ensino Fundamental,

classificada como localizada na zona rural, a Escola Estadual do Campo Nova

Santana – Ensino Fundamental, classificada pelos sites como urbana e a Escola

Estadual de Iolópolis, que mesmo não tendo a nomenclatura do campo, aborda em

seu PPP as ideias de educação do campo e atende alunos filhos de agricultores que

moram próximo. O Colégio Estadual Dr. Paranhos – Ensino Fundamental e Médio

localizado no distrito de Sede Paranhos não apresenta nomenclatura do campo,

nem em seu PPP faz menção a uma educação do campo e é classificado pelos sites

consultados como localizado na zona urbana, por isso não será estudado.

A Escola Estadual do Campo Pio X dos anos de 1957 a 1976 atendia alunos

de 1ª a 4ª série, em um sistema multisseriado financiado a partir de 1963 (ano de

emancipação de São Jorge d’Oeste) pela prefeitura. A primeira turma de 5ª série

iniciou em 1977 e era vinculada à Escola do Distrito Dr. Antônio Paranhos. No ano

de 1976 o Estado assumiu as responsabilidades econômicas e administrativas da

escola. Nos anos de 1978 e 1979 funcionaram 5ª e 6ª séries vinculadas à escola do

18

Adotou-se como marco inicial o ano de criação de cada escola e como marco final o ano final da

pesquisa. 19

http://www.dataescolabrasil.inep.gov.br/dataEscolaBrasil/, 20

http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas/f/fcls/nre/visao

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84

distrito de Iolópolis. Somente em 1980 foi dada a autorização de funcionamento para

5ª e 6ª séries; nos anos subsequentes gradativamente foi implantada a 7ª e 8ª

séries. Em 1991, com a municipalização da Educação Infantil e das Séries Iniciais

do Ensino Fundamental, a prefeitura assumiu a responsabilidade destas

modalidades ofertadas pela Escola Municipal Ciranda da Vida – Educação Infantil e

Ensino Fundamental que funciona no mesmo prédio da escola estadual.

Os dados fornecidos pela escola e tabelados abaixo mostram um número

elevado nas matrículas, mas é preciso levar em consideração que de 1985 a 1991

os alunos eram de 1ª a 8ª séries. Com a municipalização do ensino fundamental em

1992 as matrículas passaram a ser separadas e o número expressa somente os

alunos atendidos de 5ª a 8ª séries. De 1992 a 2003 a quantidade de alunos

atendidos na escola oscilou entre 98 e 53. Mas a partir de 2004 é possível perceber

uma diminuição lenta no número de alunos. No ano de 2014 a escola atendeu

apenas 38 alunos.

Quadro XXXIII – Escola Estadual do Campo Pio X – nº de alunos (1985/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1985 190 2000 66

1986 166 2001 76

1987 143 2002 98

1988 139 2003 73

1989 136 2004 59

1990 168 2005 52

1991 147 2006 53

1992 71 2007 53

1993 64 2008 54

1994 61 2009 49

1995 57 2010 49

1996 66 2011 48

1997 48 2012 44

1998 63 2013 38

1999 53 2014 38

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual do Campo Nova Santana – Ensino fundamental tem sua

história iniciada no ano de 1965 atendendo alunos em um espaço que aos finais de

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85

semana servia como igreja da comunidade. Oficialmente a escola iniciou suas

atividades em 1º de março de 1967 atendendo alunos de 1ª a 4ª série em uma sala

multisseriada. Apenas em 1971 foi construído um prédio de alvenaria. Em 1984 fez-

se necessário a construção de mais quatro salas e a escola passou a funcionar em

regime seriado, sendo chamada de Escola Municipal Rural Sant’ Ana. A partir de 12

de março de 1984 começou a atender alunos de 5ª e 6ª séries sendo estadualizada.

Em 1986 foi autorizado o funcionamento de 7ª e 8ª séries.

Os dados enviados pela escola e organizados no quadro a seguir

demonstram bastante oscilação na quantidade de alunos atendidos até o ano de

2000, mas a partir daí é evidente o decréscimo na quantidade de alunos.

Quadro XXXIV – Escola Estadual do Campo Nova Santana – nº de alunos

(1985/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1985 88 2000 94

1986 40 2001 82

1987 47 2002 65

1988 48 2003 57

1989 49 2004 54

1990 26 2005 66

1991 34 2006 57

1992 27 2007 54

1993 75 2008 50

1994 90 2009 43

1995 83 2010 35

1996 110 2011 43

1997 120 2012 51

1998 97 2013 38

1999 91 2014 34

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A Escola Estadual de Iolópolis – Ensino Fundamental iniciou suas atividades

como uma extensão do Ginásio Dr. Paranhos em 1973 e funcionou assim até 1982.

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86

A partir de então se tornou escola e era mantida pela prefeitura. Em 1998 foi

estadualizada. De 1985 até o ano de 2001 o número de alunos oscilava entre 66 a

93. Em 2002 houve um pico de 97 alunos atendidos, mas a partir daí houve uma

tendência de diminuição do número de alunos que frequentavam a escola. O quadro

a seguir demonstra a quantidade de alunos ao longo dos anos e aponta para a

diminuição desse número a partir de 2001:

Quadro XXXV – A Escola Estadual do Campo de Iolópolis – nº de alunos

(1982/2014)

Ano Nº de alunos Ano Nº de alunos

1982 94 1999 83

1983 81 2000 75

1984 96 2001 65

1985 86 2002 95

1986 74 2003 74

1987 66 2004 67

1988 78 2005 77

1989 74 2006 56

1990 68 2007 53

1991 70 2008 42

1992 68 2009 35

1993 82 2010 47

1994 89 2011 27

1995 93 2012 28

1996 82 2013 31

1997 82 2014 23

1998 85

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

O quadro a seguir apresenta os dados das escolas estaduais localizadas na

zona rural do município de São Jorge d’Oeste:

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87

Quadro XXXVI – Escola/Colégios Estaduais e alunos do Campo de São Jorge

d’Oeste (1982/2014)

198221 1985 1995 2014

E.E.C. Iolópolis E.F. 94 86 93 23

E.E.C. Pio X E.F. --- 190 57 38

E.E.C. Nova Santana E.F. --- 88 83 34

TOTAL 94 364 233 95

Fonte: Relatórios finais das escolas. Dados organizados pela autora.

O município de Nova Prata do Iguaçu tem na zona rural apenas uma escola

estadual, a Escola Estadual Cecília Meireles – Ensino Fundamental, localizada na

Linha Nova Vitória, que funciona em dualidade administrativa com a Escola

Municipal Paulo Pimentel – Educação Infantil e Ensino Fundamental. Primeiramente

o ensino até a 8ª série era feito na Escola Municipal Paulo Pimentel, somente a partir

de 1995 é que os alunos de 5ª a 8ª séries passaram a ser atendidos pelo estado e

então foi fundada a Escola Estadual Cecília Meireles – Ensino de 1º Grau. No ano de

criação da escola 102 alunos a frequentavam e o número de matrículas aumentou

chegando a 136 no ano de 2001. Depois iniciou uma queda constante que pode ser

percebida no quadro a seguir:

Quadro XXXVII – Alunos da Escola Estadual do Campo Cecília Meireles

(1995/2014)

Anos Nº de alunos Anos Nº de alunos

1995 102 2005 98

1996 122 2006 92

1997 120 2007 85

1998 118 2008 78

1999 111 2009 86

2000 120 2010 82

2001 136 2011 71

2002 117 2012 73

2003 111 2013 70

2004 105 2014 66

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora. 21

Adotou-se como marco inicial o ano de criação de cada escola e como marco final o ano final da

pesquisa.

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Mesmo com a queda, no ano de 2014, a escola atendeu 66 alunos divididos

em 4 séries, uma média de mais de 16 alunos por turma. Considerando que muitas

escolas localizadas na zona rural possuem números bem menores de alunos por

turma pode-se dizer que esta escola se mantém bastante resistente, apesar de

todas as dificuldades enfrentadas pelas escolas localizadas no campo.

2.3.1 Análise Geral das Escolas Estaduais

Mesmo antes da criação do NRE de Dois Vizinhos, várias escolas estaduais

localizadas na zona rural dos municípios que atualmente compõem esse NRE já

atendiam aos alunos, porém pertenciam ao NRE de Francisco Beltrão. A fim de unir

os dados optamos por analisá-los a partir do ano de criação do NRE – DV e

organizamos um quadro com a quantidade de alunos e escolas estaduais da zona

rural.

Quadro XXXVIII – Alunos e Escolas Estaduais localizadas da zona rural dos

municípios que compõem o NRE Dois Vizinhos

Ano Escolas Rurais Nº de alunos Rurais

1985 07 688

1995 15 1404

2005 16 1429

2014 15 854

Fonte: Relatórios finais das escolas. Dados organizados pela autora.

Em 1993, após a criação do NRE – DV, houve uma difusão e/ou a

estadualização das escolas estaduais na zona rural. Anteriormente não havia uma

grande quantidade de alunos que frequentavam as escolas estaduais que ofereciam

as séries finais do ensino fundamental ou ensino médio, o que pode ter ocorrido

devido à cultura difundida de que no campo não era necessário estudo e, por isso,

nem todos os sujeitos procuravam a escola. Outra hipótese é o pré-requisito de se

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89

ter concluído as séries iniciais; como nem todos os sujeitos tinham até a 4ª série,

não cursavam as séries finais.

Algumas escolas foram criadas pouco antes ou a partir dessa data e

objetivavam a difusão das séries finais do ensino fundamental no meio rural. Isso

pode ter sido consequência da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei

8069 de 13 de julho de 1990) que, dentre outros direitos, garante à criança e ao

adolescente acesso à escola, coisa que na zona rural até então não tinha como ser

executada.

Nos anos que se seguiram, o número de matrículas foi aumentando,

evidenciando a difusão das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio

para o povo da zona rural, chegando ao ápice de matrículas no ano de 2005. Após

2005 as matrículas começaram a diminuir gradualmente, fato que expressa famílias

com número menor de membros, esvaziamento do campo, dentre outros fatores.

A única escola estadual que fechou localizada na zona rural dos municípios

do NRE – DV foi a Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental, que é

objeto de análise deste trabalho enquanto estudo de caso e aconteceu no ano de

2012.

O quadro a seguir expressa a diminuição de escolas e matrículas de alunos

municipais na zona rural, nas quais se oferecia/oferece as séries inicias do ensino

fundamental. Quando se realiza um comparativo entre os anos de 1985 e 2014 se

percebe que houve uma difusão das escolas estatuais e um aumento de matrículas

nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio oferecido no campo.

Quadro XXXIX – Escolas e Alunos municipais e estaduais da zona rural dos

municípios do NRE – DV

Escolas

municipais

Escolas

estaduais

Alunos

municipais

Alunos

estaduais

1985 208 07 8778 688

2014 18 15 1078 854

Fonte: Relatórios finais das escolas. Dados organizados pela autora.

Mesmo com a difusão de escolas estaduais os dados levantados não são

positivos em nenhuma das esferas, mas atualmente existem mais alunos e escolas

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90

municipais na zona rural do que estaduais. Tal fato revela que diminuiu

consideravelmente a quantidade de crianças na zona rural e o jovem não está mais

ficando no campo e, sim, partindo para a cidade em busca de estudo e, na maioria

das vezes, não retorna mais, provocando o esvaziamento do campo. Essa é a

realidade do meio rural que reflete nos números de fechamento de escolas

municipais e na tendência de fechamento de escolas estaduais que tem aparecido

nos últimos tempos.

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91

CAPÍTULO III

O PROCESSO DE FECHAMENTO DAS ESCOLAS: ESCOLA RURAL MUNICIPAL

SANTA TEREZINHA – ENSINO FUNDAMENTAL E DA ESCOLA ESTADUAL DO

CAMPO CANOAS – ENSINO FUNDAMENTAL

A fim de entender esse fenômeno que é o fechamento de escolas do campo,

apresentaremos duas escolas, uma municipal e outra estadual de uma mesma

comunidade, que também compõem a lista de escolas rurais que foram fechadas no

Paraná. Trata-se da Escola Municipal Santa Terezinha – Educação Infantil e Ensino

Fundamental, na qual iniciei minha vida escolar e que apesar do pouco tempo que

estudei lá, cerca de dois meses na pré-escola, nutro um sentimento de muito

carinho; e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental, que

funcionava anexa à escola municipal. Apesar de serem duas escolas distintas, suas

histórias se fundem e uma influenciou a outra, já que mais do que a dualidade

administrativa, algo bem comum nas escolas do campo, elas atenderam muitas

vezes os mesmos indivíduos em fases diferentes da vida. Essas escolas foram

durante anos a base de uma comunidade do município de Cruzeiro do Iguaçu, a

comunidade Canoas.

A fim de compreender a história das escolas, o funcionamento, o ensino

oferecido por elas e o processo que levou ao fechamento, foi coletado um amplo

material como atas, Projetos Político Pedagógicos, regimentos, fotos, entrevista com

funcionários, alunos e membros da comunidade que relatam como as escolas

funcionavam e como aconteceu seu fechamento.

3.1 Histórico e contextualização da Escola Rural Municipal Santa Terezinha

A Escola Rural Municipal Santa Terezinha, conforme documentos oficiais

citados pelo Projeto Político Pedagógico da escola foi criada pelo Decreto Municipal

nº 485 de 24 de novembro de 1981 pelo município de Dois Vizinhos. Todavia,

durante a pesquisa, encontramos um documento datado de 09 de janeiro de 1980

que trata do Plano de Implantação da escola (anexo II), o qual indica que a escola

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entrou em funcionamento no ano de 1971, porém ela não tinha tido até então

qualquer ato oficial de autorização e funcionamento, mas já existia e atendia aos

alunos.

Em conversa com moradores antigos da comunidade e ex-alunos, relataram a

situação da época confirmando a existência da escola, mas ela não era localizada

onde está hoje. Dona Carmelita22 começou a estudar na escola por volta de 1961,

bem antes de 1971. Mais tarde teve seus filhos que estudaram na Escola Rural

Municipal Santa Terezinha e na Escola Estadual Canoas; foi também funcionária

nos serviços gerais da Escola Estadual Canoas por mais de 14 anos, tendo que

deixar a escola para trabalhar em outra, na sede do município de Boa Esperança do

Iguaçu, quando a mesma fechou. Ela indicou a localização “Aqui embaixo, ali perto

da minha tia, ali que eu estudei” e, citou o nome da professora “Foi Verônica Pissaia

Rigo”. Dona Carmelita conta sobre a organização escolar quando ela estudava:

Ela era assim uma escola de uma sala só, as carteiras eram uns bancos compridos, que nem da igreja, só que onde nós colocamos o braço, era onde escrevia. Nós estudávamos a cartilha e os 4 anos, as 4 séries do primário, tudo junto, era uma sala só, era é uma professora só. [...] tinha bastante aluno. Era uma sala bem grande, nós sentávamos em 5 cada banco daqueles, 5 ou 6, quantos coubesse, ali era o banco que nós estudava. (Carmelita Pissaia Rigo, 2014)

Na época, o então município de Cruzeiro do Iguaçu, bem como o município

de Boa Esperança do Iguaçu, eram distritos de Dois Vizinhos e, no Plano de

Implantação da escola citado anteriormente, a Escola Santa Terezinha pertencia ao

distrito de Boa Esperança do Iguaçu e não ao de Cruzeiro do Iguaçu como nos

documentos recentes. Esta é outra contradição detectada nos documentos. Isso

pode ter ocorrido devido à localização geográfica da escola que está no limite de

fronteiras entre Cruzeiro do Iguaçu, Boa Esperança e Dois Vizinhos.

Até 1992, a escola foi mantida pela prefeitura de Dois Vizinhos, mas a partir

de 1993, com a emancipação de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu, a

escola passou a ser reponsabilidade da prefeitura de Cruzeiro do Iguaçu. Essa

condição geográfica de fronteira entre os três municípios foi determinante na história

22 Moradora da comunidade Canoas desde 1959, foi mãe de aluno da Escola Rural Municipal Santa

Terezinha – Ensino fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental e também funcionária da escola estadual durante 17 anos.

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da escola e até mesmo um dos motivos do fechamento da mesma, como veremos

mais à frente.

No ano de 1994, após o fechamento da Escola Rural Rui Barbosa da linha

Alto Erveira e da Escola Rural Rocha Pombo da linha Nova Canoas, a Escola Santa

Terezinha tornou-se uma escola nuclearizada e passou a receber os alunos de uma

área geográfica maior.

De acordo com o levantamento de número de matrículas, podemos também

entender como era feito o atendimento desses alunos, porém os dados disponíveis

datam a partir de 1980, já que antes disso o funcionamento da escola não era oficial.

O quadro a seguir foi construído a partir de dados fornecidos pela Secretaria de

Educação de Dois Vizinhos e mostra quantos alunos eram atendidos na escola

antes da emancipação de Cruzeiro do Iguaçu.

Quadro XL– Atendimento de alunos pela Escola Rural Municipal Santa Terezinha

(1980/1992)

Anos Pré-scola 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série Total

1980 - 35 16(Mult23.) 28(Mult.) 19 98

1981 - 34 13(Mult.) 17(Mult.) 9(Mult.) 73

1982 - 34 28 15(Mult.) 11(Mult.) 88

1983 - 36 27 33(Mult.) 8(Mult.) 104

1984 - 27 25 25 20 97

1985 - 13(Mult.) 25 23 20(Mult.) 81

1986 - 18 21 20 20 79

1987 - 17 23 22 19 81

1988 - 19 16 14 17 66

1989 - 9 17 11 17 54

1990 - 17 10 15 11 53

1991 - 14 13 11 10 48

1992 - 20

6(Mult.)

6 (Mult.)

2(Mult.)

12(Mult.)

9(Mult.)

5(Mult.)

7(Mult.)

67

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

23

Mult indica que as ditas séries funcionavam de modo compartilhado, ou seja, as duas turmas marcadas com o termo eram atendidas ao mesmo tempo, no mesmo espaço, pela mesma professora.

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É possível observar que neste período a escola não oferecia pré-escola, isso

era uma realidade da época. A educação infantil ainda era pouco difundida no

período e escolas localizadas na zona rural dificilmente ofereciam esse nível de

ensino.

A escola adequava-se de acordo com o número de matrículas que variava

bastante, principalmente devido à evasão. As séries com menor número de alunos

eram agrupadas, mas não se levava em conta o nível de aprendizagem, apenas a

quantidade de alunos, formando assim turmas multisseriadas. Algumas dessas

turmas chegavam a atender mais de 40 alunos no mesmo período, como no ano de

1983 que juntas a terceira e quarta séries, eram atendidos ao mesmo tempo 41

alunos.

Após o ano de 1983 a escola teve a quantidade de alunos diminuída e de

1986 a 1991 passou a ser seriada. Em 1992 foi oferecido o ensino em dois turnos e

voltou a existir as turmas que atendiam mais de uma série no mesmo momento com

apenas um professor.

No ano de 1993 o município de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do

Iguaçu foram emancipados e a partir de então a escola passou a ter como

mantenedora a prefeitura de Cruzeiro do Iguaçu. Neste momento ficou perceptível

uma diminuição do número de matrículas na escola que em 1992 era de 67 e em

1993 passou a 55. Isso provavelmente aconteceu porque alguns alunos que

estudavam na Escola Municipal Santa Terezinha e moravam em terras localizadas

nos municípios de Dois Vizinhos ou de Boa Esperança do Iguaçu passaram a

estudar nas escolas que pertenciam ao município que residiam.

A partir de 1993 iniciou a oferta da educação infantil na escola, porém os

alunos eram matriculados na escola da sede e frequentavam a escola na zona rural.

Nos dez anos que seguiram, depois da emancipação do município

(1993/2003), a quantidade de alunos variou entre 50 e 60, dependendo da demanda.

Podemos perceber um movimento natural no número de matrículas neste período

conforme os dados do quadro a seguir:

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Quadro XLI – Alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha

(1993/2003)

Anos Pré-escola 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série Total

1993 12 10 13 11 9 55

1994 10 12 09 12 10 53

1995 09 10 11 09 11 50

1996 12 09 11 11 10 53

1997 15 10 09 11 10 55

1998 12 15 10 09 11 57

1999 11 12 13 09 08 53

2000 13 11 12 12 09 57

2001 13 13 11 12 11 60

2002 12 13 13 12 12 62

2003 09 12 13 13 13 60

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

A professora Anilda Schmitz Tosetto24 que trabalhou na escola de 1995 a

1998 na função de coordenadora pedagógica relatou a realidade da época tecendo

muitos elogios à educação das crianças, à participação das famílias na escola e ao

bom relacionamento entre os funcionários.

As crianças não tinham indisciplina, então eram coisas assim, era uma diferença muito grande entre a cultura que eles tinham, eles já tinham uma bagagem enorme, do meio rural, então era muito bom. [...] os pais participavam em tudo, em tudo, eram empenhados com tudo, qualquer coisa, qualquer ideia que surgia eles acatavam, eles se dedicavam. Porque eles trabalhavam na roça então, eles tinham mais tempo para ir até a escola, enquanto que na cidade é diferente, os pais, todo mundo tem a sua função, trabalham fora e, o agricultor não se importava de tirar meio dia do trabalho dele para ir até a escola. Porque na verdade, se ele fosse assalariado ele teria perdas financeiras por perder meio dia ou um dia na escola, eles não, eles não se importavam de ir até na escola, fosse uma vez por semana, duas vezes, o empenho era muito grande (Anilda Schmitz Tosetto, 2014).

24 Professora da rede municipal, atuou como coordenadora pedagógica da Escola Rural Municipal

Santa Terezinha – Ensino Fundamental durante 4 anos, resida na sede do município.

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Na foto a seguir está a equipe da escola do ano de 1998, a coordenadora

Anilda (sentada), as serventes Cleosnei e Nerci (à direita), e as professoras Luciane,

Marilene, Neiva, Sandra, Ida, Mariza e a servente Noeli.

Fotografia I – Funcionários da Escola Rural Municipal Santa Terezinha (1998)

Fonte: Acervo da escola

A professora apontou os desafios que a escola já enfrentava indicando a

origem do maior problema da escola, o qual acabou servindo de argumento para

que a escola fechasse: as despesas para manter a escola funcionando.

Os desafios eram as distâncias, o transporte escolar. Na minha época inicialmente foi a divisão política dos 3 municípios, que na época haviam sido emancipados dois municípios novos, o desafio maior era manter a escola, porque na verdade a escola ficou para ser mantida por um município só. O que se reclamava era que os custos eram muito altos e que dois municípios não tinham obrigação em manter a escola. Então ali já começou aquele negócio, questão mais política, dos municípios, na divisão política territorial. Então cada prefeito preferia levar o seu aluno para o seu município. Os municípios eram Boa Esperança do Iguaçu e Dois Vizinhos. Boa Esperança do Iguaçu até era mais próximo, mas Dois Vizinhos ficava longe, não sei exatamente quantos quilômetros, mas era bem mais longe. Então foi onde o Cruzeiro do Iguaçu teve que manter essa escola sozinha, arcar. Então é claro, os pais que moravam, pertenciam ao município de Boa Esperança do Iguaçu, automaticamente, politicamente também, levavam as crianças para o outro município. E Dois Vizinhos também, eles preferiam porque era

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um centro maior, eles achavam que havia diferença de conhecimento, mas quanto que no geral era a mesma, os planejamentos eram feitos juntos, tudo era feito juntos (Anilda Schmitz Tosetto, 2014).

Antes da emancipação política de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do

Iguaçu, a escola não enfrentava problemas quanto ao seu funcionamento, porém,

depois das emancipações, o mantenedor ficou sendo apenas um dos municípios, o

que onerou Cruzeiro do Iguaçu. Por outro lado, como dito pela professora, as

famílias preferiam mandar as crianças para os centros maiores, até porque se

dispunha do transporte escolar. A pseudo ideia de que na cidade o avanço

educacional era maior também contaminou o pensamento das famílias, que quando

possível, optavam em mandar seus filhos para estudar na sede do município ao qual

sua propriedade/residência pertencia.

A professora ainda enfatizou que não havia diferença entre os conteúdos

trabalhados na escola da cidade e os da escola localizada na zona rural, já que os

planejamentos eram feitos juntos. A ideia de um ensino direcionado para o campo

não era discutido na época.

Não, era simplesmente ela era uma escola normal, uma escola como se fosse no urbano, do urbano para o rural não havia diferença e, nem sequer se cogitava em dizer algo diferente por ser uma escola do campo. Então projeto nada disso, não existia escola do campo, preparando as crianças, ou incentivando a família a manter as crianças no campo, isso não existia (Anilda Schmitz Tosetto, 2014).

É possível que essa falta de direcionamento também tenha sido um motivo

dos alunos e suas famílias diminuírem seu interesse pela escola e acabarem

optando pelas escolas das sedes dos municípios.

Nos anos que seguiram cada vez mais foi acentuando a queda no número de

matrículas e a explicação para isso, segundo a professora Leidiane25, foi a saída das

famílias do campo e a concentração de terras nas mãos de poucos e grandes

proprietários:

Também é por causa da evasão do campo, muitas famílias a gente viu lá que tinha, família lá que tinha por exemplo 11 filhos, mas que

25 Professora na Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental, onde trabalhou por 4

anos; reside na sede do município.

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estava em casa era 4 ou 5 o resto saíram trabalhar fora por não ter, não tinham terra e só tinham uma casa e um sitiozinho, então saíram estudar, procurar emprego fora, porque não tinha mais, fosse hoje, pensar na agricultura familiar, quem sabe eles tinham partido para outro ramo. Mas também muito pouco morador e a terra que envolve aquela comunidade ficou na mão de poucos, de granjeiro, grandes. E os filhos deles também cresceram, foram estudar fora e assim foi terminando, ficou escasso os alunos (Leidiane Bertholdo Portela, 2014).

A professora Tereza, moradora da comunidade e última coordenadora

pedagógica da escola, foi além e explanou as dificuldades enfrentadas pelos sujeitos

que decidem viver no campo atualmente. Segundo a professora, as dificuldades

enfrentadas no campo foram motivadoras para que as famílias deixassem o campo

e, em consequência disso, a escola diminuísse a quantidade de alunos que atendia.

Porque foi sentindo com o tempo a diminuição dos alunos e, a que se dava essa diminuição dos alunos? Então como nós moramos na própria comunidade, nós íamos entendendo o processo da diminuição pelo fato do sistema. O sistema levou ao meio rural o pessoal ir saindo. Talvez a questão lá de trás, a questão da industrialização onde foi retirando o povo do campo e levando para cidade, nós que ainda permanecemos aqui, nós sentíamos essa dificuldade em permanecer, [...] para você ter os recursos e ter o acesso, tem custo muito alto. Então isso faz com que o povo do interior vá para cidade, vá atrás de emprego, arrumar lá sua moradia, prepara e vai trabalhar o dia todo, como funcionário assalariado. Porque no sítio vai ficando bem difícil de permanecer (Tereza Fortunato Ghedin, 2014).

Os gastos muitas vezes são incompatíveis com a realidade da família com

baixa renda. Uma família de pequenos agricultores que sobrevive da produção de

alimentos, dificilmente teria condições de ter telefone e/ou internet na sua residência.

Sem citar outras situações como dificuldade com o transporte, que quase sempre, o

único disponível era/é transporte escolar, acesso ao sistema de saúde que nem

sempre era/é próximo da residência, entre outros.

Conforme expressado no quadro a seguir, a quantidade de alunos foi

realmente diminuindo, assim como as famílias que residiam na comunidade. A partir

de 2007 houve a implantação do ensino dos nove anos, o que aconteceu de modo

gradativo e por isso existe no mesmo ano a 1ª série e o 1º ano, no ano subsequente,

a 2ª série e o 2º ano e em 2009, a 3ª série e o 3º ano. Os alunos que haviam iniciado

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no ensino fundamental de oito anos continuaram no sistema de série; os que

iniciaram em 2007 com 5 anos de idade, ingressaram no novo sistema.

Quadro XLII – Alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha (2004/2009)

Anos Pré-

escola

série

ano

série

ano

série

ano

série

ano

Total

2004 05 09 12 12 12 50

2005 09 05 09 13 12 48

2006 10 09 05 09 13 46

2007 08 07 04 06 05 09 39

2008 10 08 09 04 07 05 43

2009 10 07 09 04 07 37

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Essa escola funcionou até o ano de 2009 e pelo Decreto municipal nº

2320/2010 de 01/02/10 foram cessadas as atividades da escola. Após pedido

realizado pela Secretária de Educação Municipal ao Secretário de Educação

Estadual em 08 de junho de 2010 designou-se uma comissão do Núcleo Regional

de Educação de Dois Vizinhos para realizar uma visita na escola e averiguar a

situação da mesma. A visita aconteceu no dia 11 de julho de 2010 e a comissão

julgou favorável o pedido de cessação da escola. Através da Resolução nº 3095/10,

de 16 de julho de 2010 foi cessada definitivamente a Escola Rural Municipal Santa

Terezinha. Ao analisar a documentação de cessação encontramos apenas uma

razão para o fechamento da escola: baixo número de alunos.

3.1.1 Processo de fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha

Com base nas entrevistas concedidas, procuramos compreender como

aconteceu o fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino

Fundamental. Cada um dos sujeitos envolvidos no processo de fechamento e

ouvidos por nós expressou seu ponto de vista e sentimentos de modos diferentes;

algumas vezes as ideias se contrapõem e cada um usou seu melhor argumento para

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defendê-las. Em outros momentos as ideias convergem e explicam o que aconteceu

na época.

De modo unânime todos os entrevistados destacaram a boa relação pessoal

que havia na escola, chegando a propor a ideia de família e não de local de trabalho.

A relação com as famílias e alunos sempre foi elogiada, os alunos bem-educados e

disciplinados eram espelhos de suas famílias, sempre empenhados em auxiliar seus

filhos e participativos dentro do ambiente escolar.

O prefeito da época falou da escola e da sua relação pessoal com a

comunidade, se referindo sempre com carinho.

É na verdade a comunidade eu comecei a conhecer em 1987. Eu comecei frequentar por causa da Sandra26 e, esta escola, ela é uma das primeiras, mais antigas, por que é uma das comunidades mais antigas e nesta comunidade são pessoas que moram sempre foram batalhadoras, lutadoras, com raízes ali, famílias que sempre quiseram que fosse para frente as coisas. Então conhecia família por família lá da comunidade, conhecia toda a comunidade, conhecia toda a realidade da escola e da comunidade (Dilmar Turmina27, 2014).

A secretária de educação do município também falou de sua relação com a

escola e o quão era bem tratada nos momentos em que participou das atividades.

Ah, era uma relação excelente. Uma escola que eu adorava participar, sempre estava presente em todos os momentos, todas as atividades realizadas em qualquer escola eram realizadas lá também. Então era um sentimento de muito carinho pela escola, pela comunidade, pelos alunos também. [...] Era uma escola especial porque os pais participavam mais, os alunos eram mais educados, mais carinhosos, mais atenciosos, então era uma sensação de um aconchego. Você chegava lá você era muito bem recebida. Os alunos tinham um carinho diferenciado pela gente (Vânia Pereira de Lima Savighago28, 2014).

As famílias fazem relatos semelhantes de como se sentiam bem em participar

das atividades da escola, motivo pelo qual não deixavam de ir às reuniões e sempre

26

Sandra é o nome de sua esposa, a qual residia com sua família na época na comunidade de Canoas e também foi professora da Escola Rural Municipal Santa Terezinha. 27

Prefeito do município de Cruzeiro do Iguaçu de 2005 a 2012 acompanhou o fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino Fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental. 28 Secretária de Educação do Município de Cruzeiro do Iguaçu durante o período de fechamento da

Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental.

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que solicitado auxiliavam nas atividades extraescolares. A senhora Ivanete Felippi

Boing29 (2014), agricultora e mãe de aluna da escola, afirmou “Nossa, lá no Canoas,

tá louco, (risos) acho que não teve escola nenhuma que tratasse bem os pais como

no Canoas tratavam”. Quando questionada o que havia de diferente na Escola Rural

Municipal Santa Terezinha, responde “Tudo, a gente se sentia mais à vontade, sei

lá”.

A funcionária Marinês Vachin Boing30 que cuidava da limpeza da escola e

fazia o lanche relata que “era interessante porque todo mundo se conhecia na

comunidade, eu acho que era mais tipo uma família, não era nem uma coisa de

escola mesmo. Cada um fazia sua função direitinho, mas era mais tipo uma família”.

O sentimento de pertencimento à escola foi evidenciado quando a funcionária

comparou a Escola Rural Municipal Santa Terezinha com outra escola do município,

ao qual precisou ir trabalhar após o fechamento da escola de sua comunidade.

Eu não sei, eu trabalhei aqui, parece que até eu fazendo lanche aqui e lá, o meu lanche aqui ficava melhor, não sei se era por causa da quantidade, lá parece, não sei se o entusiasmo não era o mesmo, mas eu pra mim que eu estava fazendo igual, mas parece que não ficava bom que nem aqui. Apesar que alguém ainda dizia que era bom, melhor, assim. Mas eu mesma achava que era diferente, não era a mesma coisa (Marinês Vachin Boing, 2014).

Ainda comparando as escolas, a funcionária afirmou que outra grande

diferença estava na quantidade de pessoas que havia em uma escola e em outra:

Que lá eram pessoas diferentes, mais pessoas, um número bem maior de pessoas e assim, o ponto de vista das pessoas, quanto mais é diferente quanto mais pessoas mais pontos de vista diferente. Então cada um tem uma opinião, então era mais difícil de juntar, todos na mesma opinião. (Marinês Vachin Boing, 2014)

A relação de proximidade entre as pessoas foi um ponto quase sempre

lembrado e elogiado por todos que estavam ligados à escola. A secretária de

educação, Vânia Pereira de Lima Savighago (2014) enfatizou “Como eram poucos

alunos, a gente conhecia cada pai e cada aluno, sabia onde morava e tudo”. Como

29 Moradora da comunidade Linha Vai Já e mãe de ex-aluno da Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental e da na Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental. 30 Moradora da comunidade Canoas, mãe de ex-aluno e funcionária da Escola Rural Municipal Santa

Terezinha – Ensino fundamental.

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todos eram conhecidos, as relações se estreitavam e a ideia de cooperação estava

presente na escola; isso refletia na participação das famílias nas atividades

escolares, fossem elas reuniões ou atividades promovidas pela escola, como as

festas juninas, por exemplo.

Todos os entrevistados elogiaram essa interação entre família e escola

demonstrada na presença e interesse das famílias nos assuntos referentes à

educação. A professora Tereza, que ocupou a função de coordenadora pedagógica

já que a escola não tinha diretora, nos contou como eram organizados os encontros

na escola:

Se você marcasse a reunião com as mães, com os pais, ou uma data, ou uma reunião, até uma questão de formação, vinham. Então nós elaborávamos o convite, mandava o convitinho e falava da importância, até porque nós não trazíamos os pais na escola somente para entregar um boletim, ou dar os recados, ou falar dos problemas. Nós fazíamos um dia com os pais, um momento de formação, um momento de reflexão, de discussão sobre a escola. Então já no início do ano, nós tínhamos um calendário pré-determinado, em que tal dia, o que mais ou menos naquela semana, teríamos a presença dos pais na escola. Eles já se preparavam e reservavam essa data para virem para a escola. E se vinham, nós tínhamos um horário que era da uma hora às cinco horas, nós preparávamos atividades com as crianças, pelo número menor que tínhamos, preparávamos atividades com os pais e filhos (Tereza Fortunato Ghedin, 2014).

Esse cuidado com a preparação das atividades por parte da escola também

foi um ponto de elogio pelos familiares que os motivava a voltarem sempre que

convidados para ajudarem a escola na organização dos eventos e festividades. A

senhora Ivanete Fellipi Bong (2014) relatou um desses momentos com entusiasmo

dizendo: “A Tereza fazia gincana com os pais, queria que visse as brincadeiras que

ela fazia, até deixava os pais meio envergonhados, porque até muitas coisas a gente

nem sabia (risos). Era bem divertido”.

Uma hipótese interessante levantada pela funcionária Marinês sobre a

presença das famílias na escola é bastante relevante. Ela comenta que, como eram

poucos pais/mães e/ou responsáveis, a presença de cada um deles podia ser

percebida mais facilmente e é possível que, por causa disso, eles sempre

compareciam.

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Quando era chamado, tinha promoção, nas reuniões, nas festividades, eles participavam, vinham com vontade, não sei se era porque era menos gente, até não sei se a presença era notada mais fácil, a gente não sabe o que é que eles pensavam bem no fundo, mas assim quando chamava era tudo pronto (Marinês Vachin Boing, 2014).

A foto a seguir mostra apresentações referentes à Páscoa, sendo que nesse

dia os alunos também receberam cestinhas com doces, conforme o hábito da

comunidade.

Fotografia II – Apresentações para comunidade escolar: Escola Rural

Municipal Santa Terezinha

Fonte: Acervo da escola

Esse interesse e empenho das famílias nas atividades da escola eram

reconhecidos e, muitas vezes, recompensados. A coordenadora pedagógica da

contou que a escola cumpria um ritual sempre que as famílias vinham à escola “[...]

eles não iam para casa sem alguma coisa na cabeça, no estômago e na mão”, ou

seja, sempre eram preparados encontros para que fosse refletido sobre algo que se

guardava na memória “algo para as mãos”, para o “estômago” se pensava em um

lanche especial e, nas mãos:

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Quem sabe nesse dia era de entrega do boletim, seria o boletim, [...] ou então, por exemplo, era dia das mães, nós preparávamos sim uma lembrancinha para as mães, dia dos pais também, ou então uma mensagem escrita, um bombom ou alguma coisa que eles pudessem estar levando, recordando esse dia na escola, ou para pôr na geladeira um recadinho, ou alguma coisa nesse sentido (Tereza Fortunato Ghedin, 2014).

A foto a seguir mostra os pais participando de atividades na escola. Nessa

oportunidade houve reunião, entrega de boletins e homenagem para os pais pelo

seu dia.

Fotografia III – Confraternização após reunião de pais: Escola Rural Municipal

Santa Terezinha

Fonte: Acervo da escola

Ainda foi recordado pela professora Leidiane que como as famílias eram

bastante participativas e as promoções feitas pela escola davam bons lucros, assim

era possível comprar brindes e distribuí-los para as famílias em datas oportunas.

[...] Reunião de pais sempre, as reuniões de pais no final do ano sempre ganhava um kit da escola. A APMF era muito companheira junto com pessoal da escola, eu me lembro de um ano em que eles montaram uma sacola com um kit, que tinha caixa de chocolate, champanhe, tinha... eu nem me lembro mais. [...] para todas as

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famílias da escola. Deram uma sacola assim de natal. E a gente fazia promoção e dava boa, a festa junina, a melhor festa junina era de lá, das escolas do município. E a gente, arrecadava o dinheiro e, como a prefeitura mantinha a escola, a gente já sabia que tinha essa possibilidade de fechar então, a diretora dizia “vamos fazer alguma coisa diferente para os pais” e era feito. Dia dos pais faziam gincana, os pais com seus filhos para gincana, dia das mães era feita a mesma coisa as mães, com os filhos na escola, ganhavam brindes. No dia das mães era mandado fazer especialmente para elas, para os pais, para as crianças. Então sempre tinha alguma coisa e os pais se animavam em participar (Leidiane Bertholdo Portela, 2014).

A respeito de um projeto educativo diferenciado voltado para a educação do

campo, as respostas obtidas foram diferentes. Isso provavelmente aconteceu porque

nem todos percebiam as práticas educativas do mesmo modo e ainda porque a

escola, apesar de ser localizada na zona rural, não tinha a nomenclatura “do campo”

e essa ideia também era pouco discutida.

A ideia de uma educação voltada para o campo não foi difundida durante a

história da escola. Não era debatida a concepção de escola do campo, como

expressou a professora Anilda Schmitz Tosetto, que foi coordenadora pedagógica

nos anos de 1994 a 1998: “Os planejamentos eram feitos junto com o pessoal da

cidade; então não era realmente direcionado à agricultura, ou digamos ao campo,

não havia diferença entre uma e outra” (Anilda Schmitz Tosetto, 2014).

Os planejamentos curriculares aconteciam junto com as demais escolas do

município que eram localizadas na área urbana, mas a abordagem desses

conteúdos, bem como o seu direcionamento, dependia do professor que trabalhava

em sala.

O depoimento da professora Leidiane contemplou os aspectos discutidos pela

maioria dos entrevistados e sobre como era realizado o trabalho na escola: “O

planejamento era feito em todas as escolas do município, [...] então o planejamento

era o mesmo, agora a condução de cada trabalho era diferenciada conforme a

realidade de cada escola” (Leidiane Bertholdo Portela, 2014).

Mesmo não tendo registrado nos documentos, como no PPP, um projeto

educativo do campo, de acordo com a coordenadora Tereza era comum sair com os

alunos do espaço escolar para fazer passeio em propriedades próximas ou para

realizar alguma atividade diferenciada. Mesmo sabendo que educação do campo é

muito mais do que apenas esses passeios e/ou visitas, tais atividades eram

importantes para o conhecimento e a formação dos alunos, tendo em vista que,

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dentre outros aspectos, valorizavam o meio em que os alunos estavam inseridos e,

algumas vezes, apontavam perspectivas para a vida no campo quando esses

sujeitos se tornassem adultos. Na foto os alunos fazem visita à propriedade da

família Rech que trabalha com agricultura orgânica.

Fotografia IV – Visita de estudos à propriedade da família Rech

Fonte: Acervo da escola

Outra questão a ser pontuada é a localização da escola, bem como o espaço

físico que ela dispunha, sempre elogiado pela tranquilidade e segurança, tendo em

vista que não havia movimento de trânsito ou locais que as crianças corressem

algum risco. “A escola não tinha pátio fechado, era toda aberta e nenhum aluno saía,

não fugia do cercado que era toda cercada de grama na verdade, mas ninguém

pisava fora do gramado” (Leidiane Bertholdo Portela, 2014). Os espaços da escola

também agradavam aos alunos, de acordo com a aluna Tacila Aparecida Boing31

(2014): “Tinha bastante lugar para a gente ficar, lá fora na grama, não era só

fechada dentro da escola”. A fala da aluna sugere um ambiente agradável que

possibilitava a integração entre eles e a natureza, deixando-os à vontade.

31 Ex-aluna da Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental, reside na comunidade

de Linha Vai Já, e precisa se deslocar até a sede do município para estudar.

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A segurança também era sentida pelas famílias que após a mudança dos

filhos para a sede do município passaram a se preocupar com os riscos que os filhos

poderiam correr. De acordo com a senhora Ivanete, depois da mudança, ela passou

a orientar sua filha para quando precisasse deslocar-se para a cidade para ir a

cursos do seguinte modo: “Eu sempre falava pra ela: nunca vai pelas ruas que tem

pouco movimento de gente, sempre procura ir onde tem bastante gente que anda a

pé, tem conhecido no caso, não pelas ruas que têm menos” (Ivanete Fellipi Bong,

2014). Durante a fala a mãe demonstrou insegurança e citou alguns casos que

aconteceram na cidade que a deixaram preocupada. Todas as situações descritas

acima ilustram como era a realidade da escola e o grau de importância que tinha na

vida de todos os sujeitos envolvidos.

Ao responder ao questionamento “Por que a escola fechou?” As respostas

dos depoentes se assemelham e serão apresentadas de modo que possamos

entender as posições e sentimentos de cada sujeito.

A aluna Tacila Aparecida Boing, que estudou da pré-escola até a terceira

série na Escola Rural Municipal Santa Terezinha e precisou mudar de escola com o

fechamento, é objetiva ao responder “Por pouco aluno, porque tinha pouquinho”. E

essa foi a resposta obtida na maioria dos casos. O que se diferenciou foram as

explicações dadas para a diminuição no número de alunos.

De acordo com o gestor municipal da época, senhor Dilmar Turmina, apesar

da diminuição dos alunos, procurou-se manter a escola delegando a

responsabilidade aos professores de buscarem mais alunos para estudarem lá. Essa

busca foi feita e durante alguns anos e conseguiu-se resistir, porém, os alunos

atendidos pela escola não eram exclusivamente moradores daquela comunidade,

mas vinham dos municípios e comunidades vizinhas e até mesmo da sede do

próprio município, como lembra a secretária de educação:

Porque nós tínhamos na época, não sei assim um número exato, mas nós tínhamos, se não me falha a memória, 18 alunos, desse total de alunos, tinha 8 que eram da cidade da Boa Esperança do Iguaçu. Porque em virtude da qualidade da educação, do ensino, os pais saíram lá da sede do município de Boa Esperança do Iguaçu e traziam as crianças na escola ali. E também, alguns alunos, por ser uma escola que ficava na fronteira ali dos três municípios, outros alunos eram de Dois Vizinhos, pertence ao município de Dois Vizinhos (Vânia Pereira de Lima Savighago, 2014).

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Mesmo assim, a quantidade de alunos não era suficiente, o gestor municipal

atribuiu a diminuição dos alunos ao êxodo rural, onde muitas famílias deixaram a

roça para tentar uma vida mais cômoda na cidade e ainda citou casos da própria

comunidade.

Porque o êxodo rural é muito grande. As pessoas vão indo para a cidade, a juventude não quer mais ficar no interior e, quem está no interior? São os pais da Sandra, que moram lá, mas não tem nenhum filho que mora lá mais com eles. São os Meurer que estão ali. E assim vai indo. Então não vai mais ficando quase, jovens no interior, se ficar é um lá outro. Até porque hoje são mecanizadas as áreas, é com máquina para você fazer, então não precisa mais de tanta gente para trabalhar na agricultura como precisava antes. E aí as pessoas vão indo para cidade, arrumar seu emprego, para não ficar no sol a sol todos os dias, facilita mais, para todo final de mês ter a sua renda, estar com seus filhos mais próximos para estarem estudando e, assim por diante (Dilmar Turmina, 2014).

Outro fator relevante levantado foi a mudança na configuração familiar atual,

onde as famílias têm menos filhos. Esse fator, aliado com o novo perfil do morador

do campo, contribuiu para a diminuição das crianças. O novo perfil evidencia que

quem reside no campo são pessoas com mais idade ou idosos que não possuem no

núcleo familiar crianças e adolescentes, fazendo com que o campo se torne um local

de população idosa. Tal questão foi sentida na comunidade e utilizada como

explicação que também se expressou na fala da secretária de educação:

Uma das razões é que as famílias não são tão grandes como antigamente, foi diminuindo o número de filhos por família e, como eu já falei anteriormente, a mudança dos mais jovens para cidade; então foram ficando só as pessoas mais idosas no interior. Na comunidade mesmo diminuiu muito o número de alunos (Vânia Pereira de Lima Savighago, 2014).

A questão da reconfiguração das famílias também foi citada pela professora

Leidiane que ainda complementou lembrando que na comunidade, assim como na

maior parte do Brasil, as terras estão concentradas nas mãos de poucos que são

proprietários de grandes áreas. No caso da comunidade estudada, isso refletiu na

diminuição das famílias que compunham a comunidade e logo foi sentida pela

diminuição de crianças em idade escolar.

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A agricultora e mãe de aluna da escola, senhora Ivanete, nos contou um fato

bastante interessante que demonstra o preconceito que havia com as escolas do

campo, já que certas famílias percebiam as escolas localizadas no campo como

inferiores às da cidade, como se nelas não houvesse um ensino de qualidade. Essa

ideia era/é reflexo da concepção de que o campo é um local atrasado, sem recursos

tecnológicos e, consequentemente, com baixa qualidade de ensino.

É muita gente ignorante, que nem ali do laticínio, em vez de mandar pra cá as crianças, mandavam pro Cruzeiro do Iguaçu, porque era cidade, porque não sei o quê, sabe como é que é, tem gente que não... [...] Que poderia mandar, era até melhor, tudo ali no Canoas, pra aprender, era menos do aluno. Mas não, preferiam o Cruzeiro do Iguaçu (Ivanete Fellipi Boing, 2014).

Esse preconceito com a escola também foi sentido pela professora Leidiane

que contou que, durante as visitas realizadas nas casas para convidar os alunos a

estudarem na Escola Rural Santa Terezinha, a resposta algumas vezes era “[...] no

Canoas eu não mando. Era tipo um preconceito, não sei” (Leidiane Bertholdo

Portela, 2014).

Uma situação que provavelmente contribuiu para que a escola fechasse foi

um desentendimento entre a direção da escola estadual e a coordenação

pedagógica da escola municipal quanto ao uso compartilhado de uma sala de

computadores. A sala foi cedida pela escola municipal e os computadores fornecidos

pelo estado. Essa sala dispunha de computadores com acesso à internet e era de

uso exclusivo dos alunos e professores da escola estadual. Mediante um acordo

inicial realizado entre as gestoras das escolas, ficou combinado que os alunos e

professores da escola municipal poderiam fazer uso da sala durante um período

determinado, já que as escolas funcionavam em turnos contrários. Uma funcionária

da escola estadual ficou incumbida de abrir a sala e fechá-la nos horários

combinados, porém esses horários não satisfaziam a necessidade total da escola

municipal que reivindicou uso em todos os dias da semana, durante todo o período

de aula. Para tanto, a coordenadora pedagógica solicitou a chave da sala, o que lhe

foi negado e gerou grande discussão.

A funcionária que abria e fechava a sala contou como foram os combinados e

o que aconteceu sob seu ponto de vista:

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Esses computadores eram do ginásio, então o núcleo falou que era do ginásio e não podia emprestar para o primário, mas as responsáveis pelas escolas32 fizeram um acordo de uma hora o primário ocupar a sala dos computadores, que eu ficava lá e depois eu fechava escola, porque tinha um alarme na escola, eu fechava a secretaria onde tinha que ligar o alarme dos computadores. Mas não dava certo aquele horário elas não queriam aquele horário, era muito ruim aquele horário, trocaram meu horário de novo, ficava mais tempo lá para trocar o horário deles, que favorecia a eles, eu ficava até na hora do recreio lá. Também não deu certo, não queriam mais assim. Então abria dá uma e meia, quando começava a aula uma e quinze até às 3 horas, então não, não queriam, assim também não, queria que desse a chave da secretaria do estado para eles para desligar e ligar o alarme. Mas como a diretora da escola estadual gostava de fazer as coisas certinhas, não quis desobedecer às ordens, ela não aceitou, a chave da secretaria ela não entregava. As diretoras não se combinavam nisso. A diretora da escola estadual chamou o Núcleo Regional de Educação, então eles vieram ali e conversaram com a diretora da escola municipal, porque ela queria a tarde inteira (Carmelita Pissaia, 2014).

Com isso houve a proibição total de uso dos computadores pelos alunos da

Escola Rural Municipal Santa Terezinha e, para tanto, representantes do Núcleo

Regional de Educação estiveram na escola explicando que o uso era restrito aos

alunos matriculados na escola estadual. A partir de então os alunos que estavam

matriculados na escola municipal não poderiam mais utilizar os computadores. No

episódio não foi considerado que os alunos da Escola Rural Municipal Santa

Terezinha seriam os futuros alunos da escola estadual e ao receberem essa

oportunidade teriam uma base quando mudassem de escola. O fato deixou os

alunos e professores da escola municipal descontentes.

Então, o estado ocupava espaço, o prédio do município foi cedido uma sala para o estado para o laboratório de informática. Aquilo para nós foi o diferencial da escola rural, nós tínhamos acesso, nós, eu digo a escola municipal, tínhamos acesso a esse laboratório de informática até uma direção da escola estadual, na mudança de outro diretor, houve o fechamento do laboratório de informática para os alunos do municipal. A questão de início era assim fechamento de que não teríamos acesso, por questão de desordem, que era alegado. Questão de normas do estado, foi dito a nós da escola municipal, que eram normas da escola estadual que a municipal não teria acesso ao laboratório de informática, sendo que é a mesma escola, o mesmo espaço, que aquela sala ficou fechada para o laboratório para o estado. Então nós tínhamos acesso 1 ano ali, 2, nós tivemos acesso ao laboratório e, nas mudanças, não sei se de

32

Optamos por retirar os nomes das pessoas envolvidas para não expô-las, ou expor a depoente que

as citam, já que se trata de uma comunidade onde todos os envolvidos se conhecem.

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governo ou de núcleo, ou de direção, assim exatamente qual foi a mudança que influenciou, foi fechado para o município (Tereza Fortunato Ghedin, 2014).

A coordenadora da Escola Rural Santa Terezinha argumentou sobre a

necessidade do acesso a esses computadores, até porque naquela comunidade a

internet não funcionava, nem mesmo os professores que residiam na comunidade

tinham acesso, bem como os alunos também não. Nem mesmo as outras escolas do

município na época possuíam computadores com acesso à internet. De acordo com

a coordenadora, esse era um diferencial apresentado para as famílias dos alunos e

usado de argumento para que se mantivessem os filhos naquela escola.

Eu conhecia do que estava falando, porque eu moro no interior, eu sentia na pele, eu não tinha acesso, a não ser na escola, porque eu não tinha na minha casa, não funcionava, aqui toda a comunidade, é testemunha que não funcionava na nossa região, depois vieram novos sistemas que funcionaram. Então essa foi uma questão que me intrigou bastante e que me levou assim a ver que não havia uma parceria de municipal e estadual (Tereza Fortunato Ghedin, 2014).

Devido a essa situação, a coordenadora contou que foi até a secretaria de

educação e disse que se fechasse o laboratório de informática para uso da escola

municipal, ela não seria mais a coordenadora da escola. “Eu joguei a

responsabilidade também para o nosso prefeito, para nossa secretária de educação,

eu falei se fechar o laboratório de informática eu não serei mais a coordenadora da

escola” (Tereza Fortunato Ghedin, 2014). E foi o que aconteceu: a coordenadora

entregou o cargo e no ano seguinte não buscou novos alunos como era de costume

fazer; com isso diminuiu o número de alunos matriculados.

Devido à pequena quantidade de alunos que a escola atendia, os gestores

entendiam que se tornava caro manter a escola, já que o gasto médio por aluno na

escola era muito superior ao gasto por aluno nas outras escolas do município e esse

foi o fator determinante e apresentado como justificativa à comunidade para que a

escola fechasse. Outro agravante era que nem todos os alunos que a escola atendia

residiam no munícipio, como já foi citado anteriormente. Isso fazia com que o

município de Cruzeiro do Iguaçu mantivesse sozinho uma escola que atendia alunos

de três municípios.

Claramente a secretária de educação expôs a situação de como os gastos

com a escola foram determinantes para que ela fosse fechada.

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E a despesa com escola era muito grande, então por exemplo, era média na época 130 mil reais por ano e, nas outras escolas, como a escola da sede do município, é uma quantidade de alunos grande, dificuldade com funcionários e, lá os professores estavam atuando como um aluno por turma e, essa despesa era inviável. Então não olhando pelo lado pedagógico, foi pelo lado financeiro mesmo e de gestor, porque por exemplo eu tenho que dar uma explicação como esse dinheiro está sendo gasto, sendo que na época os alunos da Escola Municipal Cruzeiro do Iguaçu eles não tinham quadra coberta, tinha bastante dificuldades, esse dinheiro, essa despesa vinha atribuir benefícios para uma maior quantidade de alunos. E também porque dos nossos alunos que estudavam na escola Canoas o ônibus passava primeiro pela Escola Municipal Cruzeiro do Iguaçu para ir até lá. De qualquer forma esse transporte passava em frente escola municipal, então na realidade foi por isso, foi mais pela questão financeira mesmo (Vânia Pereira de Lima Savighago, 2014).

Tal argumento foi exposto aos membros da comunidade que relembrando o

que foi lhes apresentado durante uma reunião confirmam a justificativa dada pela

secretária:

Eu lembro que aquela vez eles alegaram os gastos. Que tinha trinta e poucos alunos para 4 séries e tinha muito gasto, o que tinha de aluno ali era uma sala no Cruzeiro do Iguaçu. Então era uma quantidade de energia, por exemplo, que tinha que pagar, que eles podiam pôr essa quantidade de alunos na mesma sala no Cruzeiro do Iguaçu pra não ter esse gasto, foi diminuição de gasto na verdade. (Alana Boing, 2014)

Não houve um processo de discussão com a comunidade sobre o

fechamento. A partir da justificativa do pouco número de alunos e da inviabilidade

financeira em manter a escola houve a comunicação de que a escola fecharia e os

alunos seriam levados à escola da sede. A funcionária da escola relatou como foi a

reunião:

Na verdade, foi assim. A reunião foi tranquila, porque chega ali o prefeito, mais a secretária, o advogado, pra umas pessoas simples, não tem muito que as pessoas simples fazer. [...] E ainda as que eram de voz mais ativa no caso, falaram que por elas tudo bem ir pra lá, porque aconteceu assim, foi uma coisa meio morta, porque foi antes de começar a aula, ali nas férias, foi uma coisa assim meio, pegou de surpresa todo mundo. Eu até estava lavando a escola, já tinha lavado pra começar as aulas (Marinês Vachin Boing, 2014).

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Não se esperava que houvesse o fechamento da escola devido a uma

promessa política, “Ele sempre falava alguma coisa que tinha pouco aluno, que ia

fechar. Mas alguém falou que enquanto mandasse, não fechava; e foi fechou”

(Marinês Vachin Boing, 2014). Devido a isso não se discutia a ideia. Por isso,

quando a comunidade escolar foi comunicada ficou sem reação. De acordo com os

relatos poucas pessoas questionaram ou argumentaram e mesmo as que fizeram,

foi em vão.

O prefeito da época definiu a reunião como tranquila e enfatizou que foram

utilizados argumentos que convenceram a comunidade. É possível perceber na fala

do prefeito que a comunidade se comportou como se esperava, sem muitos

questionamentos ou embates.

A reunião foi tranquila, porque é um povo bem civilizado. O pessoal do Canoas é um pessoal maravilhoso. Claro eles gostariam, que nem eles falaram, nós gostaríamos que mantivesse aberta, eles falaram, mas nós também entendemos. Eu acho também que quando o processo é feito gradativamente, você vai explicando, vai colocando os pontos positivos e negativos das coisas, as pessoas compreendem (Dilmar Turmina, 2014).

Durante a entrevista a secretária de educação foi questionada a respeito da

organização da escola, se havia um modo diferente já que o problema era o baixo

número de alunos, sugerindo que a escola fosse organizada de modo multisseriado,

mas ela se justificou baseada novamente na parte de contenção de gastos dizendo

que:

Nós ficaríamos com a mesma despesa de água, luz, professor, e a estrutura física para um aluno, para dez ou para 100, é praticamente a mesma e, pelo fato que nós tínhamos apenas na comunidade, ali na comunidade nós tínhamos apenas quatro alunos os outros vinham das outras comunidades, como Alto Erveira, Vai Já, de outras regiões próximas (Vânia Pereira de Lima Savighago, 2014).

Vale lembrar que a Escola Rural Municipal Santa Terezinha era nuclearizada,

ou seja, que recebeu alunos de outras escolas da redondeza que foram fechadas,

então é natural que seus alunos viessem de outras comunidades próximas. A

secretária se justifica dizendo que esses alunos moradores de outras comunidades

“[...] estavam mais próximos da Escola Municipal Cruzeiro do Iguaçu do que de lá. O

percurso que eles faziam de ônibus para chegar lá era maior do que para chegar na

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escola municipal da sede” (Vânia Pereira de Lima Savighago, 2014). Tal fato é real,

porém as famílias preferiam mandar seus filhos lá porque conheciam a escola e a

qualidade do ensino oferecido nela.

A respeito das consequências que a comunidade sofreu com o fechamento da

Escola Rural Municipal Santa Terezinha parece que foram brandas, tendo em vista

que a escola estadual continuou funcionando no mesmo local; então o impacto não

foi tão duro naquele momento.

3.2 Histórico e contextualização da Escola Estadual do Campo Canoas –

Ensino Fundamental

Como afirmado anteriormente, a Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino

Fundamental funde sua história com a escola municipal Santa Terezinha porque,

além de compartilharem o mesmo espaço físico, a comunidade Canoas era a base

das duas instituições. A Escola do Campo Estadual Canoas deu início às suas

atividades em 1981 e funcionava como extensão do Colégio Estadual Dois Vizinhos,

sendo que no primeiro ano atendia alunos da 5ª e 6ª séries, totalizando 77 alunos.

Nos anos seguintes foi se ampliando a oferta gradativa de 7ª série em 1983 e em

1984 se ofertou 8ª série. Em 1983 foi criada a Escola Estadual Canoas – Ensino de

1º Grau a partir da Resolução 119/83, de 20 de janeiro (Anexo III), com as turmas de

5ª e 6ª séries; porém a 7ª e a 8ª continuaram como extensão do Colégio Estadual

Dois Vizinhos.

No ano subsequente a 7ª série foi incorporada à escola, mas a 8ª série

continuou como extensão do Colégio Estadual Dois Vizinhos. Foi em 27 de março

de 1985, com base na Resolução 1316 que se homologou a Autorização de

Funcionamento para a 7ª e 8ª séries. Em 1985 a Escola teve o reconhecimento de

Curso de 1º Grau Regular através da Resolução 4135 de 27 de agosto de 1985

(Anexo IV) e passou a ser independente, contando com um diretor, o senhor Luiz

Bartnisk33.

Após consulta aos arquivos da escola sob a guarda do Colégio Estadual

Doutor Arnaldo Busato – Ensino Fundamental e Médio recolhemos dados e

33 Professor e primeiro diretor (1985) da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental

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organizamos o quadro a seguir que sistematiza o número de alunos por série e por

ano atendidos no início da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino

Fundamental. O número de alunos leva em consideração os aprovados, reprovados

e desistentes.

Quadro XLIII – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo Canoas

(1981/1985)

Ano Total de alunos Série Nº de alunos

1981 77 5ª R 51 (ext)34

6ª H 26 (ext)

1982 83 5ª O 50 (ext)

6ª H 19 (ext)

7ª H 14 (ext)

1983 100 5ªA 37

6ª A 29

7ª G 17 (ext)

8ª F 17(ext)

1984 90 5ªA 42

6ª A 19

7ª A 14

8ª E 15 (ext)

1985 97 5ªA 40

6ª A 22

7ª A 20

8ª A 15

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Em entrevista com o primeiro diretor da escola, o senhor Luiz Bartninsk

(1985/1986) nos contou que trabalhava na escola desde 1981 como professor de

matemática e em 1985 foi designado diretor por decreto do Prefeito de Dois

Vizinhos, na época o senhor Dedi Barichelo Montagner. “Se não me falha a memória

34

O termo ext foi utilizado para indicar as turmas que eram extensão do Colégio Estadual Dois Vizinhos.

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de 1984 a 1986 atuei como professor, diretor e secretário”. Quando questionado a

respeito dos desafios da escola, o senhor Luiz afirmou:

Um dos maiores desafios da escola era quanto ao deslocamento dos professores e dos alunos até a escola. Não havia transporte público nem para os alunos nem para os professores. Cada um teria que se virar da melhor forma possível e as estradas na época eram péssimas. Na época residia com minha família na comunidade de Santa Cruz (Toca da Onça) no período de 1979 a 1981. A partir de 1982 mudei-me para a cidade de Dois Vizinhos para que pudesse transportar os professores até a Escola do Canoas (Luiz Bartninsk, 2014).

A partir dessas palavras podemos perceber os desafios que a escola

enfrentava, sem funcionários específicos para cada função, uma só pessoa, ao

mesmo tempo era diretor, secretário e professor. E ainda sem o transporte, o próprio

diretor organizava o deslocamento dos professores.

Nesta época não havia as Diretrizes Curriculares do Campo, nem Cadernos

Temáticos que pudessem subsidiar a prática docente. Seguia-se o currículo básico,

independentemente de onde a escola estava localizada e a metodologia não

considerava o ambiente onde a escola estava inserida. O senhor Luiz também nos

disse que “Nesse período não havia ênfase aos projetos, pois o próprio sistema não

propiciava”. Contextualizando o ambiente e a organização escolar da época

destacou:

No período em que atuei na escola o ambiente era cordial, não havia tanta problemática como é nos dias de hoje. Havia responsabilidade por parte dos alunos e de seus familiares. As regras familiares e escolares eram mais rígidas. Havia mais respeito entre alunos e professores. Os professores eram respeitados como autoridade na escola. Infelizmente a escola dispunha de uma arma chamada reprovação, caso o aluno não cumprisse com suas obrigações escolares simplesmente era reprovado (Luiz Bartninsk, 2014).

Nos anos que se seguiram antes da emancipação do município de Cruzeiro

do Iguaçu, a quantidade de alunos praticamente se manteve. O que merece ser

destacado era a quantidade de alunos matriculados na quinta série que em todos os

anos era bastante grande, mas que não se mantinha para a série seguinte,

demonstrando a evasão e repetência da época. Para os dias atuais os dados são

alarmantes, porém para a época eles estavam dentro da normalidade e das médias

do país.

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117

Quadro XLIV – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo Canoas

(1986/1992)

Ano Total de alunos Série Nº de alunos

1986 90 5ª A 38

6ª A 22

7ª A 16

8ª A 14

1987 93 5ª Única 39

6ª Única 27

7ª Única 17

8ª Única 10

1988 117 5ª Única 49

6ª Única 27

7ª Única 28

8ª Única 13

1989 132 5ª Única 48

6ª Única 34

7ª Única 27

8ª Única 23

1990 129 5ª Única 48

6ª Única 28

7ª Única 31

8ª Única 22

1991 114 5ª Única 45

6ª Única 36

7ª Única 15

8ª Única 18

1992 106 5ª A 31

6ª A 36

7ª A 27

8ª A 12

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

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Após a emancipação do município de Cruzeiro do Iguaçu houve um pequeno

decréscimo no número de alunos atendidos pela escola. A maior alteração de

matrículas se dava pela entrada de alunos na quinta série que variava bastante.

Quadro XLV – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo Canoas

(1993/1997)

Ano Total de alunos Série Nº de alunos

1993 97 5ª A 44

6ª A 23

7ª A 15

8ª A 15

1994 90 5ª A 39

6ª A 25

7ª A 18

8ª A 8

1995 60 5ª A 16

6ª A 15

7ª A 15

8ª A 14

1996 96 5ª A 42

6ª A 25

7ª A 17

8ª A 12

1997 93 5ª A 37

6ª A 25

7ª A 15

8ª A 16

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Após o ano de 1998 a quantidade de matrículas na quinta série foi

diminuindo, o que pode ser reflexo da diminuição de filhos por família e do número

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de famílias no campo. Esse fenômeno veio se acentuando ao longo dos anos e isso

fez com que os alunos atendidos pela escola começassem a diminuir.

Em relatos de funcionários da escola, muitos elogios foram tecidos sobre a

receptividade e participação da comunidade, a boa educação dos alunos e as

características diferenciadas de sua cultura. A professora Nilva35 relatou como foi

sua chegada e suas impressões sobre a escola neste período:

A escola do Canoas era tudo de bom. Eu considerava que não era trabalho, era um descanso você trabalhar naquela escola. Os alunos, principalmente no começo. Bom para começar, eu comecei trabalhar lá numa imposição. Eu tive que optar por ser diretora, eu não conhecia a escola, eu comecei como diretora, fui substituir a professora Terezinha Meurer que estava de licença prêmio e, como não tinha nenhum QPM eles tiveram que levar alguém aqui do Cruzeiro do Iguaçu, esse alguém teria que ser eu, porque na época era a única que tinha. Tive que ir livremente forçada, eu na verdade tinha muito medo de ir para lá. Imagina você ser diretora de uma escola que você não sabia nem onde ficava. Eu cheguei lá como diretora e foi bem legal, porque a comunidade me recebeu muito bem, os alunos, os professores, todo mundo, eu tive uma receptividade muito boa, tanto é que depois no final do ano teve eleição, eu fiz 98% dos votos, um voto foi nulo porque ele escrever o meu nome em vez de marcar x. Então foi uma experiência muito boa começar no Canoas. Os alunos são muito especiais, você não tinha problema com indisciplina, essas coisas não existiam. O que mais me chamava atenção, quando eu cheguei na escola, era o jeito que eles jogavam na quadra, não sei se você lembra. Gente era incrível, eles jogavam futsal que era única coisa que dava para jogar, porque não tinha rede, não tinha nada para jogar outra coisa, só da escola de vez em quando. Eles jogavam piá e menina tudo misturado, mas, os piás tinham respeito, mas ao mesmo tempo eles não davam folga para as meninas, eles jogaram de igual para igual, que piá e menina dentro do campo não tinham diferença, mas assim não que eles se provaleciam. Era muito legal o ambiente lá. Os alunos quando a gente chegava e estacionava o carro, eles já vinham. Aquele bolo receber a gente, levavam material, conversavam e, queriam saber as notícias do Cruzeiro do Iguaçu, isso e aquilo. Era muito especial o ambiente lá da escola. E os professores também tinham vários e vinham de Dois Vizinhos, mas era um grupo muito bom. Deu desavenças também algumas, mas, era muito especial mesmo, para você trabalhar (Nilva Sotoriva Witeck).

Ao consultar as atas da época, como a ata nº 04/99 de 14 de outubro de

1999, pudemos perceber que já evidenciavam a preocupação com o fechamento da

escola devido ao baixo número de alunos, como no trecho abaixo:

35

Professora da disciplina de matemática, foi diretora da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental; reside na sede do município de Cruzeiro do Iguaçu.

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Aos quatorze dias do mês de outubro de um mil novecentos e noventa e nove, reuniram-se nas dependências da Escola Estadual Canoas, alguns professores, a diretora Nilva Witeck, a secretária de educação Maria de Lourdes, o administrador Roverson Piva e o vice-prefeito Paulo Capellesso, para deliberarem sobre o transporte do ônibus para o ano 2000 para trazerem alunos para a Escola do Canoas, para a mesma não fechar, porque com esse número de alunos a mesma poderá ser fechada. Ficou decidido que irão se reunir a diretora dessa escola, a secretária de educação de Cruzeiro do Iguaçu, juntamente com a secretária de educação de Boa Esperança do Iguaçu para conversarem que decidirem em uma reunião como ficaria [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 04/ 99, livro 1, p.6).

Em 2000 durante reunião na escola com a presença do Núcleo Regional de

Educação foi tratado novamente sobre o problema do baixo número de alunos e

enfatizado que se a escola não atingisse um mínimo de 50 alunos o cargo de

direção seria dispensado. Isso pode ser entendido como uma forma de pressionar

os membros da escola para buscarem mais alunos. Tal fato ficou registrado em um

trecho da Ata 04/2000 descrita a seguir:

Aos vinte e sete dias do mês de junho ano de dois mil reuniram-se nas dependências da Escola Estadual Canoas membros da APM, pais de alunos, o quadro de professores, funcionários, secretaria municipal de educação, juntamente com representantes do Núcleo Regional de Educação. Representante do Núcleo Regional iniciou a reunião dando as boas-vindas a todos e leu uma mensagem sobre amizade. Em seguida professora Janilse pediu para seus professores juntamente com os funcionários e membros da APM e conselho escolar se apresentassem. Foi falado da preocupação da escola como baixo número de alunos, foi lido o relatório que se não houver um total de 50 alunos seria dispensado o cargo da direção, onde é a mesma volta a atuar em sala de aula. Onde a professora Janilse leu o oficio que nomeou o professor Leonir como coordenador atuando apenas com cinco horas de trabalho [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 04/ 2000, livro 1, p.8).

Mesmo com a “pressão” para que se conseguisse um número maior de

alunos, este apenas se manteve. Como podemos observar no quadro que segue,

não houve um aumento considerável e o número quase sempre ficou entre 50 e 60

alunos.

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Quadro XLVI – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo Canoas

(1998/2010)

Ano Total de alunos Série Nº de alunos

1998 68 5ª A 22

6ª A 15

7ª A 19

8ª A 12

1999 64 5ª A 17

6ª A 15

7ª A 15

8ª A 17

2000 62 5ª A 24

6ª A 15

7ª A 12

8ª A 11

2001 59 5ª A 22

6ª A 19

7ª A 9

8ª A 9

2002 57 5ª A 20

6ª A 20

7ª A 11

8ª A 6

2003 67 5ª A 14

6ª A 20

7ª A 21

8ª A 12

2004 62 5ª A 17

6ª A 14

7ª A 15

8ª A 16

2005 55 5ªA 10

6ªA 15

7ª 14

8ª 16

2006 54 5ª 15

6ª 11

7ª 17

8ª 11

2007 58 5ª 15

6ª 13

7ª 16

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8ª 14

2008 51 5ª 13

6ª 14

7ª 15

8ª 9

2009 46 5ª 6

6ª 15

7ª 15

8ª 10

2010 39 5ª 8

6ª 8

7ª 11

8ª 12

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

Com o fechamento da escola municipal que aconteceu no início de 2010 que

compartilhava o mesmo prédio, se percebeu a maior queda de matrículas,

principalmente devido à baixa quantidade de alunos que ingressavam na quinta

série. A professora Nilva explicou e justificou esse fato da seguinte forma:

O principal baque que deu, que amarrou os pés e as mãos, foi quando fechou de 1ª à 4ª série. Então quando eles trouxeram todos para cá, já começou os maiores ir junto com os pequenos, porque tinha que cuidar os pequenos. Daí começou vim mais. Então em vez de nós tentarmos levar mais alunos para lá para segurar na nossa escola, foi trazendo mais alunos para cá (Nilva Sotoriva Witeck, 2014).

O baixo número de matrícula na quinta série e as transferências contribuíram

para a diminuição dos alunos. A preocupação com o fechamento da escola ficou

evidente nas atas de reuniões realizadas na escola, como é o caso da primeira

reunião realizada no ano de 2010 que foi registrada na Ata nº 01:

Aos vinte dias do mês de fevereiro de dois mil e dez, reuniram-se na dependência da Escola Estadual Canoas - Ensino Fundamental, diretora Nilva Fátima Sotoriva Witeck, a pedagoga Jaqueline Luiza Freitas, a secretária Elizangela M. P. Ruschel e professores de todas as disciplinas para uma reunião pedagógica para tratar de vários assuntos, Como: aprendizagem dos alunos, organização da escola, a pontualidade dos professores, sugestões de materiais para comprar com o PDDE, o resgate do histórico da escola, registro de classe, utilização dos computadores, entre outros. Iniciou-se com a diretora

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ressaltando a importância de se trabalhar com o histórico da escola, já que a mesma está em situação de fechar. Os professores se propuseram a não medirem esforços para trabalhar para que a escola não venha a fechar [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 01/ 2010, livro 1, p. 7- 8).

Tal comprometimento também foi comentado pela professora Neiva36:

A gente até que foi atrás buscar alunos, foi várias vezes e isso aconteceu vários anos. Todo ano tinha que ir buscar alunos de outras comunidades para vir aqui estudar, mas chegou um ponto que o pessoal que vai terminando vai embora, então houve bastante empenho, eu acho que todos os professores que trabalharam lá, tinham bastante empenho de ir atrás de buscar alunos, conversar com as famílias que sabia que tinha alunos (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

Em várias reuniões de 2010 registradas em Ata, o assunto do fechamento da

escola entrava em pauta, mesmo não sendo o assunto principal da reunião ele

aparecia e tomava importância.

No ano de 2011, na ata de 25 de fevereiro, pela primeira vez foi explicitada

em reunião coletiva a ideia de tornar a escola uma escola do campo. Pareceu uma

fala isolada inicialmente, mas se apontou a intenção. E mais uma vez se retomou a

ideia de quantidade de alunos, sendo que foi dito e registrado em ata que a

educação do campo priorizaria a qualidade e não a quantidade.

Aos vinte e cinco dias do mês de fevereiro de dois mil e onze reuniram-se nas dependências da Escola Estadual Canoas - Ensino Fundamental, o diretor Valdenir Iotti, pedagoga Jaqueline Freitas, os professores do dia e pais, para realizar a primeira reunião de pais deste ano. A reunião deu início com o diretor falando dos uniformes para os alunos [...] outra questão de transformar a escola em escola do campo, onde esta prioriza a qualidade e não a quantidade [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 01/ 2011, livro 1, p.1).

Um mês depois, no dia 24 de março, com um pensamento mais amadurecido

sobre a escola tonar-se “do campo”, em reunião com a comunidade escolar e o

Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, com a participação de

representante da ASSESOAR (Associação de Estudos, Orientação e Assistência

36

Foi professora municipal na Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino fundamental, professora estadual de ciências e diretora da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental durante o processo de fechamento da escola; reside na comunidade Canoas.

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Rural) de Francisco Beltrão, foi abordado o tema “Escola do Campo” apresentando à

comunidade o que significava a educação do campo e seu histórico. De acordo com

a Ata 02/2011, o então diretor da escola professor Valdenir considerou a reunião

como “o primeiro passo para a implementação da escola do campo para a

comunidade”. Em consulta às famílias, essas acharam que a oportunidade não

podia ser desperdiçada. E ainda foi lembrado que havia medo por parte de toda a

comunidade escolar de que a escola fechasse, mas “os representantes explicaram

que não tem preocupação com o número de alunos” e ainda a assinatura da ata

ficava como forma de pedido para que fosse implantada a escola do campo.

A Ata citada acima foi reproduzida a seguir, apesar de um pouco extensa

torna-se relevante para que possamos compreender exatamente o que aconteceu

naquele dia:

Aos vinte e quatro dias do mês de março de dois mil e onze, reuniram-se nas dependências da Escola Estadual Canoas, o corpo docente escolar, equipe do núcleo de educação do campo, professora Honorata, Amarildo e chefe do núcleo professor Nivaldo, Solange representante da ASSESOAR de Francisco Beltrão e, pais e pessoas da comunidade Canoas. Iniciou se com a fala do professor Nivaldo dando as boas-vindas a todos, colocando a importância de todos estarem aqui e qual é o seu papel no núcleo e a preocupação para que a educação no campo, logo passou a palavra para professora Honorata representante da educação do campo do núcleo de educação, que falou da importância que se deve ter sobre educação do campo, em seguida, Solange representante da ASSESOAR iniciou sua fala cumprimentando os alunos e, pais, Vânia representante do município Cruzeiro do Iguaçu, representante do núcleo de educação, em seguida e falou o que significava educação do campo, citando exemplo do girassol e a relação educação do campo, colocando o processo histórico da educação do campo, como surgiu, porque surgiu e como é agora. Articulou com os pais presentes sobre a situação do campo desde as décadas de 60 e 70 e como veio andando ou evoluindo, onde um representante da comunidade colocou as consequências que veio sofrendo a educação do campo, citou para os alunos presentes estudarem temas de origem da educação do campo. Logo após colocou a mensagem: a caneta e a enxada, explicando a grande produção de alimentos e à má distribuição e acesso a esse alimento que ainda pessoas passam fome. Em seguida teceram um comentário sobre a mensagem, que por muito tempo se via que a educação era para a cidade e no campo era lugar de enxada, trabalho e não de estudo, mas foi mudando essa visão, organizações lutando para uma educação, uma diretriz para educação do campo que se tornou lei como diretrizes, política pública a partir de dois mil (2000). Solange explicou as concepções de educação do campo, colocando também os cursos de aprofundar o trabalho, sendo o curso de educação do campo onde tem alunos da comunidade estudando na UTFPR. Citou

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também a complementação da lei em 2008, que fala que nenhum aluno deve ficar mais de 45 minutos dentro de um transporte escolar, aí explica a importância das escolas do campo e a política da educação do campo com a lei assinada pelo presidente Lula, em 2010 que coloca escola do campo como uma política diferenciada como diretrizes voltadas às necessidades da população do campo, quebrando a visão empregada que o interior é mais atrasado e, colocando que é importante ter orgulho e lutar por qualidade de vida, e a prática que se tem os conteúdos escolares que se tem como a educação do campo, citou exemplos que foi feito como alunos de uma escola do campo aqui perto na comunidade de São Francisco do Bandeira onde o professor presente Amarildo pode confirmar a prática desenvolvida com os alunos para a compreensão dos conteúdos. Terminou colocando a recuperação de pisar firme nesse chão. Em seguida, o diretor da escola Valdenir buscou a importância desta revisão que é o primeiro passo para implementação da escola do campo para comunidade, citando a presença da secretária da educação do município a professora Vânia que colocou sua posição e da parceria na reforma da escola e do orgulho de morar aqui e, o gosto de que isto aconteça e, também foi pedido a opinião para os pais presentes para a implantação da educação do campo para a escola estadual Canoas, onde a maioria dos pais colocaram que não podem perder esta oportunidade, também um pai colocou, o que mais os pais podem fazer para que esta implantação aconteça, o professor Amarildo colocou que a escola do campo trabalha com parceria com a família que vai além da escola, desenvolvendo atividades nas comunidades, também a professora Honorata colocou o que é importante que todos os pais assinem a ata desta reunião, mas também que estejam de acordo com a proposta desenvolvida na escola, abrindo espaço para o trabalho e participando no desenvolvimento das atividades. Solange colocou que também não é só os pais ajudar a escola, mas também que a escola do campo pode ajudar na relação das famílias, na questão da renda onde o trabalho na escola pode voltar à prática, ao trabalho das famílias a preocupação dos pais na questão da Escola Canoas fechar devido o número de alunos, tem um número de alunos para manter essa escola do campo, onde os representantes explicaram que não tem preocupação como o número de alunos, onde a Honorata colocou a importância de todos estarem aqui para sanar estas ansiedades esclarecimento sobre a educação do campo. O diretor terminou a reunião colocando a importância da presença de cada um para assinar a ata pelo pedido da implantação da educação do campo para nossa Escola Estadual Canoas [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 02/ 2011, livro 1, p. 2-3.).

Outra reunião que aconteceu sobre o possível fechamento da escola Estadual

Canoas foi no dia 21 de outubro de 2011 e foi registrada na ata 03/2011. Esta

aconteceu nas dependências da escola onde se reuniram alunos, professores,

famílias dos alunos, equipe pedagógica, representantes do Núcleo regional de

Educação de Dois Vizinhos, representantes da ASSESOAR e da UTFPR

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(Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Na reunião foi destacado o baixo

número de matrículas daquele ano e que para que a escola permanecesse aberta

seria necessário que a escola municipal fosse reaberta a fim de se garantir alunos

para os próximos anos. Como tal decisão dependia do prefeito marcou-se reunião

na prefeitura para discutir a possibilidade de reabertura da escola municipal e a

consequente continuação da escola estadual.

Aos vinte e um dias do mês de outubro de dois mil e onze, reuniram se nas dependências da Escola Estadual Canoas - Ensino Fundamental, município de Cruzeiro do Iguaçu a diretora Nilva Fátima Sotoriva Witech, equipe pedagógica Jaqueline Luiza Freitas, secretária Elizangela Pickler, alunos, professores do dia, representantes do Núcleo Regional de Educação Dircio Ferreira da Silva, Janice Parcianello, representantes da ASSESOAR, Valéria Korb e Ari Silvestro, representantes da UTFPR, Solange Todero Von Onçay, pais de alunos e representantes da comunidade. Para tratar da permanência da Escola Estadual Canoas - Ensino Fundamental. A reunião deu início com a diretora dando boas-vindas a todos e apresentando os convidados do NRE, UTFPR e ASSESOAR a comunidade escolar a qual passou a palavra para o Dircio Ferreira da Silva representante do NRE, o qual se apresentou e deu início à sua fala explicando que o Ministério Público, que, quer que, Escola Estadual Canoas - Ensino Fundamental feche, pois esta conta apenas com 26 matrículas no total. Sendo que para esta permanecer aberta, o prefeito municipal tem que reabrir a escola municipal para que a estadual tenha continuidade. Passou a palavra para Valéria Korb que explicou que houve várias reuniões com representantes de Curitiba e que lutam para que a mesma permaneça aberta, sendo que será possível continuar se o prefeito reabrir a escola municipal, se não será inviável reabrir. A representante da UTFPR explicou o porquê é a favor de continuar a escola, devido às raízes e que esteve em reuniões anteriores na Escola Canoas, enfatizando para comunidade escolar a importância de se ter escola do campo. O representante da ASSESOAR Ari Silvestro diz para valorizar o patrimônio e estrutura bem como os cidadãos, tendo esses as partes interessadas que seja valorizado pelo estado e que permita que esses possam permanecer em sua comunidade que o estado faça sua parte. O Dircio e a Valéria falaram que marcaram uma reunião com representantes da prefeitura, onde irão conversar se vão abrir a escola municipal ou não. A professora Cláudia Cara deu a sugestão dos três municípios, Dois Vizinhos, Boa Esperança e Cruzeiro do Iguaçu com seus representantes entrassem num consenso de auxiliares no transporte escolar para readequar em trajetos para os alunos possam vir para a Escola Canoas mais próxima de sua residência. Representante da comunidade seu Virgílio Melo de Souza falou estar indignado da Escola fechar sendo que neste estudo aqui, seus filhos também e que toda essa estrutura fique abandonada. O Dircio Ferreira da Silva reforçou que se o prefeito municipal quer abrir a Escola Municipal ele abre ele tem o poder para tal. O Dircio aproveitou para convidar representantes da comunidade, da ASSESOR, da UTFPR funcionários da escola para participar da

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reunião com o prefeito e secretária da educação do município de Cruzeiro do Iguaçu, sendo que esses que irão na reunião, Nilva Witeck, Cláudia Cara, Jaqueline Freitas, Dione Medina, José Soares da Conceição, Ari Silvestro, Paula Schmitz, Antonio Braga, Eugénio Alenan, Gilmar Marcelo de Paula, Solange Todero Von Onçay e Tereza Ghedin, sendo que a reunião será na prefeitura municipal de Cruzeiro do Iguaçu às 13: 30 horas [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 03/ 2011, livro 1, p. 2-3).

Conforme o acordo, aconteceu a reunião na prefeitura de Cruzeiro do Iguaçu,

porém na oportunidade o prefeito não pôde se fazer presente e a secretária de

educação que o representava elencou vários motivos para que não fosse reaberta a

escola municipal, como baixo número de alunos, custo com transporte, falta de

professores concursados, atendimento de alunos que não eram do município de

Cruzeiro do Iguaçu, mas que a decisão final era do prefeito. Ao ler a ata da reunião e

as entrevistas feitas mostram que os ânimos estavam exaltados e não foi possível

negociar nem chegar ao objetivo da comunidade.

Aos vinte e um dias do mês de outubro foi marcado uma reunião com o prefeito do município de Cruzeiro do Iguaçu pelo Núcleo Regional de Educação para discutir a situação da Escola Estadual Canoas que está para fechar devido ao fechamento ou paralisação da escola municipal que funcionava no mesmo prédio. A reunião iniciou-se com a Secretária de Educação do município Vânia que justificou a ausência do prefeito, por estar doente e não pode estar presente. Em seguida o assessor do Núcleo Regional de Educação Dircio colocou da reunião que aconteceu na parte da manhã na comunidade Canoas com toda a comunidade escolar, as quais vieram representantes para essa reunião. Janice do núcleo de educação explicou a questão de que antes o sistema era por geo-referencial e agora o decreto mudou para fluxo e que a Escola Canoas não tem fluxo de alunos para os anos seguintes, o sexto ano. Também Solange representando a Educação do Campo colocou que já foi preparada para a educação do campo, a comunidade escolar e a comunidade já está informada e aceitou a mudança da escola estadual normal para a educação do campo. Teve a participação da mãe que falou que seus filhos vão na escola no município de Boa Esperança ficam três horas a mais dentro do ônibus, junto com alunos adultos, correndo risco de se machucar por questão de segurança e que se tivesse a escola municipal logicamente seus filhos estudariam lá e não na escola da cidade. Seu Ari representante da ASSESOAR colocou a questão da evasão do campo, a favelização das cidades, que este descolamento dos educandos para a cidade desvaloriza o campo, as concepções dos educandos vão mudando e logo abandonam o campo, por isso precisamos resgatar o gosto o valor de morar no campo, justificado com a estrutura da Escola Estadual Canoas e o vínculo que os educandos têm com o lugar onde vivem. A mãe da aluna Paula colocou que se o problema da escola manter-se aberta é o fluxo de alunos, mas se mudasse o

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transporte escolar para a comunidade escola Canoas, os três municípios Cruzeiro do Iguaçu, Boa Esperança e Dois Vizinhos fazer novo roteiro de transporte para que os alunos que moram nas redondezas da escola que fosse levado até lá na escola. Solange colocou o direito que o aluno tem de estudar na escola mais porque que nenhum aluno deve ficar mais de 50 minutos dentro de um ônibus. Janice deixou claro para Vânia que se não reabrir a escola municipal de pré a quarta série ou de 1º ano ao 5º ano a escola Estadual Canoas de 6º ano ao 9º ano não terá também, isto poderá ocorrer o fechamento da escola estadual. Vania ressaltou pedindo para os pais darem a opinião sobre o assunto que logo os membros da prefeitura colocarem o ponto de vista e a situação por que a escola municipal fechou e como vai ficar esta situação. Tereza membro da comunidade foi diretora da escola municipal que fechou na comunidade e colocou seu ponto de vista que foi negado o uso do Paraná Digital para a escola municipal que foi um dos motivos que levou o fechamento, assim como Vânia falou que dez alunos eram do município de Boa Esperança. Gilmar Marcelo que também foi diretor da Escola Estadual Canoas colocou a luta que foi cada coisa construída na escola, uma vez que não teve verba alguma para manter a estrutura da escola e que os pais membros da comunidade ajudaram a manter a escola. Neiva professora que reside na comunidade colocou a importância que a escola (tem) para comunidade e que usa o transporte escolar vê que alunos muito pequenos dormem por ficar muito tempo no ônibus, é cansativo para as crianças que vem fazer pré a quarta série na Escola Municipal Cruzeiro do Iguaçu. O chefe no Núcleo de educação, Nivaldo colocou que esteve com o governador, o secretário de Educação Flávio Arns que deixou bem claro que escola nenhuma é fechada se a comunidade o prefeito não quiser. E que bom que todos aqui estamos cientes que queremos que a Escola Estadual Canoas permaneça aberta e o Núcleo Regional de Educação vai lutar da melhor forma para que esta escola permaneça, através de diálogo coma prefeitura e o resultado dessa reunião vai ser levado para Curitiba a Flávio Arns secretário de Educação do Paraná. Em seguida Edson da prefeitura colocou que em 2009 quando houve o fechamento da escola municipal, o transporte não influenciou, mas o gasto era grande cerca de 15 a 20 mil por ano o gasto para a escola, a parte financeira influenciou muito no fechamento da mesma, o baixo número de alunos também. Vânia colocou um terceiro (motivo) que era a falta de profissionais concursados na escola municipal. E também colocou que não foi informada da reunião sobre o fechamento da Escola Estadual Canoas que aconteceu no dia da matrícula, reunião feita pelo Núcleo Regional de Educação e na reunião sobre o ensino dos nove anos não foi por não estar bem emocionalmente, que sua opinião não esta no ensino dos nove anos e que ainda é a favor do ensino por série e, que entende a situação da escola e da comunidade Canoas, mas não tem professores concursados para a escola que tem 16 alunos que poderiam estudar na escola da comunidade Canoas, a administração do município está fazendo o que pode, mas nem tudo vai depender da vontade do prefeito, o porte financeiro do município caiu. Vânia colocou que já foi discutido o aproveitamento do espaço, mas a prefeitura ainda mantém a limpeza do pátio, o telefone, muitos equipamentos lá na

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escola, que foi atendido o pedido de retirada do parquinho para a construção da horta para educação do campo, a qual foi em todas as reuniões para transformar a escola em Educação do Campo. A promotoria deixou claro que não se deve contratar estagiário e por isso não tem professor para dar aula, para mandar lá. Nunca foi abandonada a Escola Canoas. Então deu sua sugestão não fechar a escola mesmo que não tem aluno para o 6º ano, que permaneça as outras séries 7º em diante. Não é que a prefeitura não quer, mas não pode ajudar abrindo a escola municipal, por questões financeiras e por não ter professores concursados e nem dinheiro que vem do Estado, não dá para pagar a metade da despesa do transporte junto no município. Janice colocou para Vânia que não estava na pauta da reunião sobre o fechamento da Escola Estadual Canoas e, quando ele colocou que depende do prefeito, continua dependendo dele, ela alega que não tem professor e se o município não tiver interesse que a escola abra ou manter, o estado não poderá manter a escola da comunidade Canoas aberta. Vânia falou também que está é a resposta agora, mas nada impede que no próximo ano a escola municipal reabra. Não tem tempo hábil até o fim do ano para ter uma resposta positiva para a abertura da mesma. Outra possibilidade é com os três prefeitos sentar e ver o transporte direcionado para a Escola Estadual Canoas. Edson sugeriu que fosse convocado os prefeitos dos três municípios para reunião para conversar sobre o assunto, ou se os outros municípios cedem os professores concursados para trabalhar na escola municipal na comunidade Canoas. Nivaldo disse que os prefeitos de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança podem sentar e discutir esta proposta. Vânia vai levar esse assunto para o prefeito [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 04/ 2011, livro 1, p.3;4;5).

Assim como dito anteriormente, a reunião foi bastante difícil, como relata a

professora Neiva:

Quando foi também para a gente vir na prefeitura fazer uma reunião para ver no que eles poderiam ajudar, a manter, afinal era uma escola do município do Cruzeiro do Iguaçu, mas a gente não foi bem aceito. A secretária de educação falou para nós assim, juntamente com o secretário hoje lá do Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos, o Nivaldo, ela disse assim: “Eu deveria ter feito veterinária, - ela recebeu a gente dessa maneira, - porque lidar com animais é melhor do que lidar com pessoas!” (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

No dia 25 de outubro houve nova reunião no Núcleo Regional de Dois

Vizinhos, onde também participaram os vereadores do município. Mais uma vez

ficou evidente a dificuldade de diálogo na reunião que aconteceu na prefeitura,

conforme evidenciou o professor Nivaldo, chefe do NRE “fomos mal recebidos, não

tivemos acordos e nem pontos positivos”. Mais uma vez a secretária de educação

enfatizou os pontos para o fechamento e a não reabertura da escola municipal.

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Diante disso, retomou-se a ideia de educação do campo como estratégia para o não

fechamento da escola.

No dia vinte e cinco de outubro aconteceu no Núcleo de Educação de Dois Vizinhos, uma reunião com a direção, equipe pedagógica da Escola Estadual Canoas com os vereadores do município de Cruzeiro do Iguaçu, os quais foram todos convidados, mas compareceram o Sr. Sadi Fransiskini e Lidio Bertoldo que reforçaram que convidariam, os demais vereadores. Nivaldo chefe do Núcleo de Educação começou explicando da reunião que tivemos na última sexta-feira na prefeitura de Cruzeiro do Iguaçu a qual fomos mau recebidos e não tivemos acordo e nem pontos positivos. A secretaria Vânia colocou os pontos que levou o fechamento da escola municipal da comunidade Canoas. 1º foi o financeiro, a falta de alunos, a falta de professores concursados, não possuía pré-escola, o ensino de 9 anos era feito ano e série, se tornava muito gasto. Segundo os vereadores a única questão foi financeira e até sugeriram uma nova reunião marcando com os outros vereadores. Sr. Lidio e Sadi se mostraram bastante interessados em fazer o possível para que a Escola Estadual Canoas não feche e que haja um interesse pela prefeitura para que a volte abertura da escola municipal no mesmo prédio. Dircio explicou que depende dessa abertura para que a escola permaneça e que temos que justificar o porquê esta escola deve permanecer. Nivaldo colocou a questão da educação d campo que ainda não tem uma lei que garanta a permanência, mas a escola já está adequando e se trabalha com as metodologias da educação do campo. Os vereadores pediram esclarecimento sobre o transporte escolar que está sendo usado para outros fins. E Dircio ficou de verificar e passar para os vereadores [...] (Escola Estadual Canoas – Ensino Fundamental. Ata 05/ 2011, livro 1, p. 5-6).

Os vereadores Sadi Fransichini e Lidio Bertholdo se envolveram na causa da

reabertura da escola municipal e protocolaram na câmara de vereadores o

Requerimento Nº 010/2011 (anexo V) solicitando a reabertura da escola municipal a

fim de que houvesse alunos para continuarem estudando na escola estadual, mas

os vereadores não foram atendidos e também não foi encontrado na câmara algum

documento em resposta ao requerimento.

Com isso, a escola, que até então não tinha em seu nome o termo “do

Campo” como forma de resistência perante a iminente ameaça de fechamento e

partindo do Parecer CEE/CEB nº1011/10, entrou com o processo de adoção da

nomenclatura “do Campo” e a partir da Resolução nº 6010 de 21/12/2011 tornou-se

escola no campo e então passou a organizar suas atividades também de forma

diferenciada, como podemos perceber pelo relato da professora de arte:

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Até quando eu entrei lá eu até lembro que foram mudadas algumas leis, eu tive que fazer alguns trabalhos de arte também, para escrever alguns projetos de arte para entrar como escola do campo, que desde o planejamento. Eu vi que alguns pais se interessavam mas, às vezes a escola pensava muito em projetos e não colocava em prática os projetos, como horta e outros projetos, era muito feito no papel e não colocado em prática. Tinha muita coisa boa escrita, mas não era colocado em prática (Ana Maria Stavisk Reffatti Aponinário, 2014).

Como dito pela professora Ana37, os projetos eram escritos para que se

cumprisse a parte burocrática e a escola fosse reconhecida como uma escola do

campo, porém na prática nem sempre eles eram realizados, até porque é possível

que alguns projetos demandassem tempo e não foram executados porque a escola

foi fechada antes mesmo de que tivesse a oportunidade de executá-los.

Quadro XLVII – Nº de Alunos Ano/série Escola Estadual do Campo Canoas

(2011/2012)

Ano Total de alunos Série Nº de alunos

2011 31 5ª 7

6ª 7

7ª 7

8ª 10

2012 22 7º ano 10

8º ano 7

9º ano 5

Fonte: Relatórios finais da escola. Dados organizados pela autora.

No ano de 2012 houve uma mudança na nomenclatura das séries devido à

Lei dos Nove anos (Lei nº 11.274/06) que alterou a 5ª série para 6º ano e assim

sucessivamente. Para o ano de 2013 na Escola Estadual do Campo Canoas não foi

aberto o 6º ano devido ao baixo número de matrículas. E este ficou sendo o último

ano de funcionamento da escola. Com isso os alunos que seriam matriculados no

ano seguinte no 8º ano e no 9º ano foram remanejados de escola, já que o

fechamento foi total e não puderam concluir o ensino fundamental na Escola

Estadual do Campo Canoas.

37 Professora da disciplina de arte no período de 2010 na Escola Estadual do Campo Canoas –

Ensino Fundamental, ano de fechamento da escola.

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Em 31 de dezembro de 2012 a então diretora da escola, a senhora Neiva

Felissetti Zanolla, requereu a cessação definitiva ao secretário de educação do

Paraná, o senhor Flavio Arns, alegando falta de demanda. (Anexo VI). Com isso no

ano de 2013 não houve aulas naquela escola.

Em 08 de janeiro de 2013 a diretora escreveu uma justificativa ao secretário

de educação Flávio Arns sobre a cessação da Escola Estadual do Campo Canoas

(anexo VII) que de acordo com o documento encerrou suas atividades “por falta de

demanda, impulsionada pela baixa adesão às matrículas” e essa foi uma

consequência do fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha. Os alunos

que estudavam na escola municipal e passaram a estudar na sede do município

foram direcionados para continuar seus estudos na escola estadual da cidade e a

não retornarem para a escola estadual da comunidade.

Para que houvesse a cessação foi designado pelo Ato Administrativo nº

007/2013 de 04 de março de 2013 (anexo VIII) uma comissão para realizar uma

verificação nas dependências da escola. De acordo com o Relatório Circunstanciado

da Comissão Verificadora, os documentos da Escola Estadual ficaram no Colégio

Estadual Dr. Arnaldo Busato, situado na sede do município. Os bens adquiridos com

recursos da APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários) permaneceram nas

dependências da escola a fim de atender a comunidade (clube de mães, reuniões,

catequese). O mobiliário foi enviado para o Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato, o

qual recebeu os alunos, conforme já havia sido registrado na Ata 01/2013 de 04 de

fevereiro de 2013 (anexo IX).

Após o Laudo técnico e todos os trâmites legais que ocorreram durante o ano

de 2013, foi somente em 06/02/2014 que saiu o Parecer 99/14 – CEF/SEED sobre a

Cessação Definitiva e Extinção da Instituição (anexo X). Com este documento foi

encerrado o funcionamento de uma escola localizada na zona rural de Cruzeiro do

Iguaçu, a Escola Estadual do Campo Canoas. Os documentos, Resoluções, Atas e,

Atos, não se explicam por si. O fechamento foi consequência de uma decisão

política, justificada a partir de vários acontecimentos ao longo da história da escola.

Para que esse processo fique mais claro, procuramos explicar/analisar a seguir

alguns fatores do processo que levaram a escola ser fechada, bem como os

impactos provocados na comunidade. Para tanto faremos uso de relatos orais dos

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sujeitos que participaram do processo e que a partir de seus pontos de vista

explicam como ele aconteceu, além de documentos legais, atas, etc.

3.2.1 Processo de fechamento da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino

Fundamental

Um dos instrumentos usados para compreender a história da escola, bem

como o processo de fechamento da mesma, foram as entrevistas realizadas com

vários sujeitos que estiveram presentes em diferentes momentos da escola. Os

entrevistados contam como era a escola, qual seu envolvimento e que tipo de

relações mantinha com os demais. Foram entrevistados alunos, familiares de

alunos, professores, funcionários, diretores, secretária da educação e gestor

municipal.

Ao questionar sobre o ambiente de trabalho as respostas se convergem. A

maioria retrata um ambiente harmonioso, com boa relação pessoal entre os colegas,

sem problemas de indisciplina interna e nos arredores da escola, local tranquilo, boa

participação e envolvimento das famílias dos alunos. Segundo o professor Éberson

Luiz Fadanelli38:

Era super agradável, uma escola pequena, com poucos alunos, mas que todo mundo se conhecia, todo mundo se dava super bem, uma escola onde se tinha acesso total em qualquer ambiente, tanto cozinha, secretaria, direção, o acesso, logicamente, todo mundo respeitando o seu espaço. Mas podia entrar, eles convidaram nós para entrar, por exemplo na cozinha, geralmente, dependendo da escola é um lugar mais restrito, mas lá a gente entrava, podia bater papo, podia tomar nosso chimarrão. E o ambiente era bem tranquilo, enfim, era um lugar, um paraíso, dá para dizer assim. Via os animais passando na frente da escola, animais que a gente diz, dos vizinhos, o seu Paulo e, o, não lembro o nome dele, o pai da Neiva, Felicetti como é que é o nome dele? Enfim, passavam todo o dia, eu estava lá fora, como minha área é educação física, então geralmente ele passava e a gente viva as vacas passando lá na frente. Então era tudo normal (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

38 Professor da disciplina de educação física, trabalhou na Escola Estadual do Campo Canoas –

Ensino Fundamental nos três últimos anos de funcionamento da escola.

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A professora Neiva relatou que foi primeiramente aluna na Escola Estadual

Canoas, depois professora municipal nas séries iniciais, professora de matemática

na escola estadual nas séries finais e então diretora. A professora, ainda moradora

na comunidade, apontou uma vantagem da escola sobre as demais:

Lá eram alunos que a gente conhecia todas as famílias, quando que numa cidade maior você não conhece, você sabia ali do teu aluno, ele ali na sala de aula, mas assim um histórico dele não. Lá a gente conhecia a família de onde que ele vinha, o que o pai fazia, o aluno fazia também. Então a gente tinha contato maior com a família, com o aluno (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

A participação das famílias dos alunos também foi um ponto ressaltado pelos

professores da escola e confirmado pelos próprios pais. A professora Nilva, que

também foi diretora da escola, falou sobre as famílias sempre presentes na escola,

mas apontou falta de iniciativa, já que eles não propunham o que fazer, apenas

executavam o que era proposto pelos professores.

Reunião de pais, se algum pai não viesse era porque tinha um motivo muito sério. Então no Canoas principalmente a reunião dos pais, sempre os pais compareciam, sempre, era incrível. Uma vez chegou o caso de lá no Canoas nós com aquela miséria de alunos e, aqui fizeram reunião de manhã, deu mais ou menos quase o mesmo número de pais. Porque os pais para faltarem, claro que tinha ônibus para vir, mas era muito difícil, eles participavam. Tudo que você precisasse, eu achava que eles não tinham muitas ideias para gente fazer alguma novidade, alguma coisa assim, eles dizem amém, mas se fossem solicitados eles vinham para escola (Nilva Sotoriva Witeck, 2014).

Ao ser questionado sobre a participação da comunidade nas atividades

escolares, o professor de educação física mencionou alguns fatos em que a escola e

as famílias uniram-se e organizaram eventos, conforme a transcrição de trechos da

entrevista reproduzidos a seguir:

Eu lembro que no primeiro ano lá a gente fez uma formatura final do ano, inclusive que eu era o regente da turma do oitavo ano, todos os alunos foram convidados para formatura, a gente fez no valor de 5 reais a janta, pense um valor simbólico. Eu acho que tínhamos 8 ou 10 formandos e, a comunidade participou também, tivemos 100 pessoas ali participando. [...] quem fez o risoto no tacho, foi a filha da dona Carmelita, que foi convidada. Eu simplesmente convidei e, no primeiro convite ela já aceitou, falou

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para o Canoas eu vou. E todos os pais vieram, se envolveram. A limpeza do pavilhão antes ou depois foi tudo a comunidade que ajudou. Lógico que com os alunos, sempre tem alguém na frente, mas sempre a comunidade ajudou, com certeza. [...] A comunidade era muito presente e, eu digo à comunidade, os pais eram envolvidos na escola, não 100%, 100% não. Mas eram pais muito presentes sim. Quando você pedia ajuda de alguma coisa, eu lembro que no ano que era a direção do Valdenir, para a festa junina, ele pediu ajuda para os pais, vieram praticamente todos. Foi feito barracas tudo com taquara. E a gente foi em um horário, o meu horário de hora atividade, a gente foi lá na casa dos pais, que nem tinham mais filhos na escola, eles cederam as taquaras. Outros pais emprestaram trator, a gente trouxe com tratores e, todo mundo, toda aquela parte de fazer, de meter a mão na massa, abrir buraco, colocar taquara, teve um envolvimento dos pais total. Também durante a festa, aquela rotina de quem trabalha na sala de aula, que sempre tem que ajudar, que precisa organizar, fritar, fazer, sempre quando foi chamado pais eles estavam presentes (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

Tais relatos evidenciam práticas cotidianas da escola e tudo o que foi perdido

com o fechamento da mesma. Marinês, mãe de aluno, participou de diversas

atividades da escola durante 8 anos, sendo membro da APMF e ocupando o cargo

de presidente da associação, contou que mesmo sendo mais perto mandar seus

filhos estudarem na sede do município, preferia mandá-los para a escola que ficava

na zona rural.

Nós já tínhamos as crianças lá pelo fato de ser mais interior era menos crianças, parece que quando é mais crianças da cidade, se sente mais rebelde, as crianças ficam mais soltas. Um fato acho que é esse, a gente já preferia por ficar lá como as piazadas da escola (Marinês Candido da Silva Grassi39, 2014).

A preferência em mandar seus filhos para a escola Canoas foi enfatizada por

outras mães. Segundo Rosangela Eduardo Grassi40 “O sossego das crianças era

mesma coisa como a gente ter professores particulares para eles lá, eles cuidavam

bem das crianças”. Seu esposo Jamir Grassi41 complementou dizendo “Era pouco

39 Moradora na Linha Alto Erveira, mãe de ex-alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha –

Ensino fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental, também integrou por vários anos a APMF inclusive no ano de fechamento da escola estadual. 40 Moradora na Linha Alto Erveira, mãe de ex-alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha –

Ensino fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental, também integrou por vários anos a APMF e diversos cargos. 41 Morador na Linha Alto Erveira, pai de ex-alunos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha –

Ensino fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental, também integrou por vários anos a APMF e diversos cargos.

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aluno, não tinha muita gente ao redor do colégio por ser do interior até

marginalidade essas coisas eram bem menor. O respeito dos alunos lá era bem

diferente do que do Cruzeiro do Iguaçu” (Rosângela Eduardo Grassi e Jamir Grassi,

2014).

A respeito da visão das famílias sobre a escola, estas tecem vários elogios e

contam como se sentiam bem lá:

ENTREVISTADORA: Em quais momentos vocês iam até a escola? DEPOENTE 2: Sempre que tinha reunião, entrega de boletins, promoção na escola, a gente sempre estava participando. ENTREVISTADORA: E como se sentia lá? DEPOENTE 2: Bem. Era uma escola bem tranquila, no interior, era bem sossegado. ENTREVISTADORA: Rosângela você acompanhava a reuniões também? DEPOENTE 1: Sim, sempre eu ia lá também. Fazia as visitas para os filhos, a gente acompanhava as reuniões, as entrega de boletins, sempre tinha homenagem aos pais também, sempre nós estávamos lá junto com as crianças. ENTREVISTADORA: E as promoções como é que eram? DEPOENTE 1: Eram boas, sempre eram feitas as festas juninas também sempre davam boas as festas, as promoções que eles faziam sempre davam promoção boa. ENTREVISTADORA: E no que vocês podiam contribuir com a escola? DEPOENTE 2: A gente ajudava a trabalhar, organizar. DEPOENTE 1: A gente sempre ajudou a trabalhar, a gente sempre ajudou a organizar, o Jamir também era presidente, uma época ficou tesoureiro. A gente sempre estava participando da escola (Rosângela Eduardo Grassi e Jamir Grassi, 2014).

Sobre o ensino que a escola oferecia, mesmo estando localizada na zona

rural, não havia um projeto educativo diferenciado que tratasse da realidade do

campo. Porém, segundo os professores, o que acontecia com frequência eram as

visitas a aviários, granjas de suínos, hortas, nascentes de água protegidas, palestras

em parceria com universidades. Havia também a adaptação dos conteúdos à

realidade dos educandos, mas isso não era um projeto da escola, era da postura de

cada professor. “Eles iam ver que eu lembro horta, a construção de uma horta, como

fazer os canteiros, eles foram visitar aviários, lá tem muitos, a parte de arborização,

plantar árvores, essas coisas, tudo isso voltado mais para o campo” (Neia Felissetti

Zanolla, 2014).

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A professora Nilva destacou que os conteúdos eram os mesmos, indiferente

de onde a escola estava localizada, porém como ela fazia a abordagem desses

conteúdos era diferente:

Olha, em questão de matemática eu pensava assim em vez de usar os prédios de São Paulo eu usava mais linhas de salada, fileiras de milho, remetia mais os aspectos que eles conheciam, mas também falava de São Paulo que tinha os andares e que um prédio tem vários andares e que tinha, cada andar tem vários apartamentos, cada apartamento tem várias pessoas e daí digamos se tivesse tantos andares, tantas pessoas, dava problema assim também, mas sempre focalizando primeiro a realidade deles, sei lá se é isso (Nilva Sotoriva Witeck, 2014).

O mesmo pôde ser percebido nos relatos do professor Éberson de educação

física, que precisava adaptar suas aulas, principalmente devido ao número reduzido

de alunos. Isso se tornava um desafio e ao mesmo tempo havia algumas vantagens

em relação ao melhor desenvolvimento das atividades com o menor número de

alunos:

Na minha área no caso de educação física, a diferença era, por exemplo, nos esportes coletivos, então tinham alguns esportes que eu não conseguia fazer, vamos supor, um voleibol. O voleibol teoricamente é um 6 atletas contra 6 atletas, mas eu tinha que fazer adaptações. Nós jogávamos 2 contra 2, o que é um mini voleibol, que trabalha da mesma forma, você vai tá trabalhando os fundamentos da mesma forma, a tática da mesma forma, a técnica da mesma forma. Só alguma coisa mudava já que às vezes eles não iam ter um contato com voleibol formal pode se dizer dessa forma. Mas fora isso era muito mais tranquilo por ser uma escola pequena, os alunos conseguiram absorver as técnicas de uma forma muito mais apurada, a gente conseguia trabalhar outras coisas. Pelo próprio ambiente, por exemplo o atletismo, no colégio Arnaldo Busato que eu trabalho também, você não consegue trabalhar atletismo, a corrida. Você não tem espaço adequado. Lá tinha um espaço superamplo, podia utilizar aquele gramado que eu trabalhava com eles. O arremesso de dardo eu trabalhava com eles também, por que tinha lugar, em outros colégios a gente não pode fazer de maneira alguma, lá tem um bom espaço. Então pela questão pedagógica eu digo assim eles não podiam jogar um contra o outro de uma forma, formal, mas de outra forma e, os conteúdos a gente conseguia explorar de uma maneira melhor ainda, por ser uma escola pequena, por ter um espaço amplo (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

Sobre um projeto educativo voltado ao campo, não existia antes da

Resolução nº 6010 de 21/12/2011 que empregou o termo “do Campo” ao nome da

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escola. Antes disso ficava a critério de cada professor adaptar suas aulas para

atender as especificidades dos alunos. Até 2011 tratava-se de uma escola localizada

na zona rural sem preocupação com a temática relacionada ao campo. A partir de

2012 iniciou um projeto educativo diferenciado, feito às pressas na ânsia de tornar a

escola do campo e assegurar que ela não fosse fechada; tais projetos não foram

concluídos já que a escola encerrou suas atividades no final de 2012.

O baixo número de alunos por sala também preocupava os professores que

sentiam principalmente no último ano em que a escola funcionou, uma desmotivação

por parte dos alunos. Como os alunos sabiam que a escola fecharia naquele ano

não demonstravam interesse nas atividades que eram propostas pelos professores.

As palavras da professora Ana demonstram esse sentimento:

Era bom o ambiente de trabalho. Mas todos os funcionários, os professores que trabalhavam lá diziam que foi muito melhor. Porque eu peguei bem no final, quando a escola estava para fechar, os alunos já sabiam que ia fechar. Eu trabalhei os dois últimos bimestres, o terceiro e o quarto bimestre, então os alunos já sabiam que ia fechar, que vinham para outra escola e eles estavam desmotivados com o que estava acontecendo com a escola. Então para mim, era bom porque a quantidade de alunos era pouca. Às vezes você preparava alguma coisa e eles não queriam fazer, já estavam bem desmotivados nas atividades da escola. Mas os professores comentavam que era muito melhor escola, quando tinha mais alunos e era maior escola (Ana Maria Stavisk Reffatti Apolinário, 2014).

O professor Éberson, quando perguntado sobre os pontos negativos da

escola, referiu-se também aos alunos desmotivados e atribuiu isso à pequena

quantidade de alunos por turma.

Eu acredito que o ponto negativo da escola, não sei se é por falha nossa, como professor eu estou dizendo, que os alunos acabaram se desmotivando por ter poucos alunos na sala. Eu penso que o ponto negativo era isso. Da mesma forma que era bom estar se envolvendo com os alunos, na minha opinião, os alunos, se desmotivavam muito. Porque parece que, não sei o porquê. [...] não tinha graça, porque que nem eu te falei, vamos supor, tinha uma atividade em grupo que iria desenvolver lá na matéria de matemática, português, de repente, a não, é em grupo, então vocês fazem individual, então perdia aquele sentido, para eles. Não deveria perder, mas perdia o encanto de por exemplo produzir em grupo, de cada um dar sua contribuição. Ou no lugar de ter que fazer três grupos eles vão ter que fazer 3 atividades, mas com aquelas mesmas 3, 4, 5 pessoas. O ponto negativo acredito que foi isso (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

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A professora Nilva também falou em forma de queixa sobre os últimos anos

que a escola funcionou, relatando o desinteresse dos alunos, a indisciplina em sala,

problemas que em anos anteriores não existiam segundo relatos da mesma

professora. Tais problemas, de acordo com a fala da professora, se relacionaram

com a falta de “medo” da reprovação por parte dos alunos, já que não se

reprovariam alunos por se tratar de uma escola com poucos alunos, dando a ideia

de preocupação com os índices educacionais que muito são influenciados pela

quantidade de reprovação, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica). E ainda o interesse em estudar na escola da cidade, o que expressa a

ideologia de que a cidade dispõe de vantagens como a modernidade, relações

pessoais com mais sujeitos, organização social diferente, etc.

Sabe que no final das contas nós tivemos uma turma assim muito rebelde, vamos dizer. Eu tinha dias, que eu pensei, meu Deus é mais difícil dar aula para vocês 6 alunos, do que pros meus 28 que eu tenho lá no Colégio Arnaldo Busato. Porque eles não queriam mais nada com nada, porque eles sabiam que não ia reprovar porque não podiam, para não perder os alunos. E também porque numa escola com quarenta e poucos alunos como é que você ia reprovar dois ou três alunos. Por conta disso eles mudaram, nos últimos anos eu já não tinha aquela vontade de ir como eu tinha nos outros anos. Parece que a comunidade escolar, que seriam os alunos, eles não tinham mais interesse que é escola continuasse aberta. Eles achavam se vindo para cidade eles iam ser os tais. E você sabe que até uns vieram para cá e foi chamado, até que deu problema nos primeiros dias, foi dado uma cortada e depois viraram bons alunos (Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014).

Os alunos que muito estavam empolgados em ir estudar na cidade

encontraram uma realidade diferente do que esperavam, o que fez com que

tomassem atitudes diferentes. Como a professora relatou que alguns deram

problema, referindo-se à indisciplina: “Alunos de lá que deram problema de

comportamento depois aqui por causa disso porque não paravam de conversar”

(Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014). Mas que quando conversado com os alunos

esses retomaram ao seu comportamento normal e, “viraram bons alunos”.

A professora Nilva, em tom de consolo pela escola que fechou, desabafou:

“Nossos últimos alunos ali que a gente teve, a turma que depois eles vieram no 9º

ano, eram 6 piás, mas pensa que “terrorzinhos” que eles eram. Eu acho que isso

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ajudou para gente não ficar muito com dor e tal” (Nilva Fatima Sotoriva Witeck,

2014).

Em conversa com um desses alunos do nono ano, ao qual a professora Nilva

se referiu, ele relatou que estudou na Escola Estadual Canoas, desde a pré-escola,

até o nono ano e que mesmo estudando no colégio da cidade há dois anos não

conhece muitas pessoas “É que aqui é mais gente, bastante aluno e coisa assim. A

gente não se conhece muito aqui, lá a gente conhecia todo mundo” (Leonardo

Grassi42, 2014). Em tom de saudade ele afirmou “O lanche era bom lá, o estudo

também, era fácil lá, nunca reprovei lá, sempre fui bem”. Quando questionado se

havia diferença por parte dos professores afirmou “É um pouco, talvez por causa

que, se a gente tinha dificuldade, eles vinham assim na carteira e explicavam de um

por um. Aqui já tem que aprender [...]. É, tem que se virar (Leonardo Grassi, 2014).

As palavras do aluno expressam sua dificuldade em adaptar-se ao ambiente

de ensino na nova escola, já que na Escola Estadual Canoas, devido ao número de

alunos, o ensino era mais individualizado, respeitando o tempo de aprendizagem de

cada sujeito. O aluno Leonardo, mesmo tímido, contou como foram os primeiros dias

de aula na escola urbana, os sentimentos de insegurança e exclusão permearam

sua fala. Sobre as diferenças das escolas ele diz: “Lá a gente usava uniforme,

assim, mas vinha quando podia, aqui é tudo exigência. Tem que comprar o uniforme

e tudo certinho” (Leonardo Grassi, 2014). Sobre como se sentiu na primeira semana

de aula ele relata que:

Foi ruim porque não conhecia quase ninguém aqui. Os professores todos de outros lugares. [...]. Ficava mesmo sozinho, só ficava com um piá que estudava junto comigo lá, que era meu amigo lá, veio para cá, nós ficávamos juntos, só tinha ele de conhecido, não conhecia ninguém aqui (Leonardo Grassi, 2014).

Ele ainda contou que os novos colegas o tratavam com indiferença e disse:

“Eu acho que era melhor ter ficado lá, mas já que não deu...” e completou dizendo

sobre o sentimento da escola ter fechado: “Chateia um pouco saber que fechou a

escola lá. Todo esse tempo estudei lá, podia me formar lá” (Leonardo Grassi, 2014).

42 Morador na Linha Alto Erveira, ex-aluno da Escola Rural Municipal Santa Terezinha – Ensino

fundamental e da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental.

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A professora Ana que trabalhava na Escola Estadual do Campo Canoas e

depois trabalhou com os alunos que eram de lá e agora estudam na escola da

cidade, confirmou a exclusão dos alunos:

Até assim, quando eles saíram, nos últimos meses, eles estavam felizes porque vinham estudar para cidade. Nos últimos dias, nós conversamos com eles, eles queriam vir. Só que quando eles chegaram aqui, eles foram, não barrados, pelos alunos da cidade, eles ficaram assim meio excluídos ali nos primeiros. Até tinha dois alunos de lá, que vieram pro nono ano, que era a turma que eu trabalhava, eles se isolaram num canto, ficavam lá e, o povo da cidade que já tinha o grupinho deles, né, ficaram meio separado em grupos. [...]. Não deram abertura para eles. Até foi conversado, o diretor da escola daqui, foi conversou com eles, para acolher eles. Aí depois de um tempo, que eles começaram a conversar. Mas eles foram excluídos dos nossos alunos daqui (Ana Maria Stavisk Reffatti Apolinário, 2014).

Alguns laços de amizade foram desfeitos, o sentimento de pertencimento

àquele local também mudou em alguns casos, já que nem todos os alunos da

Escola Estadual Canoas residiam na mesma comunidade e os encontros com os

amigos tornaram-se mais escassos. Em alguns casos os alunos não se adaptaram à

nova escola e houve um aluno que acabou desistindo, conforme relatado pela

professora Nilva:

Eu tinha alunos que vieram de classe especial ali também, que eram juntos com os outros alunos. Então a gente atendia de maneira diferente. Que depois vieram para cá acabaram nem estudando mais, porque não se localizavam, um pelo menos não quis mais saber de estudar, não se achou mais na escola (Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014).

Quando perguntado sobre o porquê de a escola ter fechado, Leonardo

respondeu: “Eu acho que foi pouco aluno, todo mundo começou a vir para cá e vejo

pouco aluno, ficou pouco aluno. A nossa escola já era em pouco e todo mundo

começou a vir para cá” (Leonardo Grassi, 2014). Porém ele não soube dizer o que

ocasionou a saída das pessoas da comunidade para a cidade, apenas lamentou.

Realmente como se evidenciou nos quadros houve uma queda na quantidade de

alunos, mas o motivo da queda é que precisa ser explicado. Uma hipótese relevante

que foi bastante mencionada foi abordada pela professora Ana:

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Quando eu entrei, eles já falavam, até antes de eu entrar, já havia um comentário que ia ser fechado. Então quando eu entrei, o que me passaram, o que a gente escutava nos corredores, por parte dos professores, é que era pela falta de aluno, que lá não tinha mais aluno e a escola não tinha como ficar aberta só pela aquela quantidade de alunos. É o que nos passavam, que ia fechar por esses motivos. Eles sempre comentavam que foi decaindo a quantidade de alunos depois que fechou a escola municipal que também funcionava lá. Então o que os professores comentaram que depois que teve o fechamento da escola municipal foi cada vez mais os alunos vindo para estudar para cidade. E tinha um roteiro realmente que passava lá e muitas vezes os pais traziam os alunos para cá, mesmo quem morava pertinho da escola (Ana Maria Stavisk Reffatti Apolinário, 2014).

O fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha, que compartilhava

o mesmo espaço da Escola Estadual Canoas, indiscutivelmente contribuiu para a

diminuição de alunos, porém esse não foi a única hipótese abordada. O abandono

do campo é uma questão pertinente para que entendamos tal fato. A professora

Nilva, ao ser questionada sobre o motivo que levou ao fechamento da escola,

afirmou que foi a falta de alunos e explicou:

Porque muitos saíram dali e foram para cidade, foram vendendo as terras ele foram saindo, foram vendendo e saindo. Porque tinha gente que não conseguiu mais sobreviver num pedacinho de terra lá, então o que fez? Vendeu aquele pedacinho e foi trabalhar na Sadia, trabalhar em outros locais. Então o principal foi o êxodo mesmo. Mas teve outros motivos também que talvez tivesse feito montado alguma coisa lá para segurar mais o povo lá, não sei te dizer o quê (Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014).

A modernização da agricultura fez com que não fosse mais necessária tanta

mão de obra e, ainda, a agricultura deixou de ser para subsistência e passou a ser

extremamente comercial. Para tanto, o agricultor precisou se modernizar, comprar

máquinas e investir em tecnologia para torna-se competitivo e entrar nos moldes do

mercado. Isso não era/é tarefa fácil, tendo em vista as dificuldades, principalmente

financeiras, que enfrentavam/enfrentam os pequenos agricultores. Quando eles têm

acesso a linhas de crédito, muitas vezes adquirem implementos, investem em

sementes e técnicas de plantio, mas nem sempre conseguem pagar esses

financiamentos, por problemas nas colheitas ou mesmo com planejamento

financeiro. Deste modo se obrigam a vender suas terras para quitar as dívidas. Com

isso, deixam o campo e vão para a cidade. Além disso, a dificuldade ao acesso a

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serviços públicos básicos como saúde, transporte, educação impulsionam os

agricultores a deixarem a zona rural. Oliveira demonstrou com dados do Censo

Agropecuário no Brasil a redução da ocupação com atividades agropecuárias nos

últimos anos:

Verificam-se também problemas em relação às condições de vida no campo, uma vez que há no Brasil atual um processo de redução das ocupações agrícolas. Segundo o Censo Agropecuário 2005/06, havia, naquela safra, 16,4 milhões de pessoas ocupadas na agropecuária, número menor que existia em 1995/96, que era de 17,9 milhões de pessoas. Entre os Censos Agropecuários 1995/96 e 2005/06 houve, por tanto, uma redução na ocupação na agropecuária de 8,3%. Assim, a redução no número de ocupações, resultado das dificuldades de trabalho e vida no rural brasileiro, continua alimentando a corrente de população que sai do campo e migra para os médios e grandes centros urbanos (2011, p. 66).

A professora Neiva, além de ter sido professora e diretora, é moradora da

comunidade e revelou o que aconteceu naquela comunidade, levantando mais

situações que explicam a diminuição dos alunos:

Olha quando eu iniciei lá, que eu fui professora, nós sempre tínhamos de 1º ano, 2º e 3º, 4º ano era sala individuais com o número de 20, 25, 30 alunos, depois o que, os colonos foram vendendo as terras, foram se deslocando para outros lugares do Brasil, não, assim saindo diretamente para a cidade, mas indo para outras terras, lugares maiores, com quantidade de terras maiores e, foi a família toda, então quer dizer que os moradores da comunidade foram saindo e, as terras eles foram vendendo para quem? Para pessoas que não residem lá, que só tem a terra e vão lá plantam e não tem morada na comunidade (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

O fato relatado pela professora revela uma situação que foi bastante comum

em nossa região. Muitas famílias venderam suas terras e mudaram-se para outros

lugares atrás de porções maiores de terras, principalmente para os estados de Mato

Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará e Rondônia. As terras produtivas e mais baratas

atraíam famílias inteiras que possuíam aqui na região quantidade de terras que

consideravam insuficiente para sustentar toda a família, que geralmente era

numerosa. Com a venda das terras daqui compraram porções maiores em outros

estados, ou seja, nem sempre se deixou o campo para morar na cidade; nestes

casos trocaram o campo do Paraná para ir para outros estados. Atualmente a maior

parte das famílias que deixa o campo vai para as cidades.

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A venda da terra foi/é feita para alguém com boas condições financeiras que

quase sempre acabou/acaba comprando também as pequenas porções de terras,

próximas das outras, unindo-as sempre que possível, tornando-se proprietário de

grandes áreas. Essa configuração de latifúndio está se tornando casa vez mais

comum em nossa região. Por vezes, os pequenos agricultores veem suas

propriedades ilhadas por latifúndios e sentem-se pressionados a vendê-las.

Na maioria dos casos, as famílias desses grandes proprietários residem na

cidade e apenas quando necessário, época de plantio, colheita, por exemplo, é que

vão às propriedades com mais frequência, como é o caso da comunidade Canoas.

Quando esses proprietários têm empregados que cuidam dessas terras, devido à

mecanização do trabalho, poucos empregados dão conta de cuidar de grandes

áreas, às vezes apenas uma família, ou duas, fazendo com que a zona rural tenha

uma baixa (e cada vez mais diminuída) densidade demográfica. Isso refletiu e reflete

na escola, diminuindo a quantidade de alunos. As ideias acima relatadas expressam

a realidade da comunidade estudada, mas também a realidade de boa parte do

campo brasileiro.

Ao questionar a secretária da escola na época do fechamento, sobre os

motivos por que a escola foi fechada, ela apontou mais uma questão importante que

precisa ser discutida, o econimicismo:

Devido à pequena quantidade de alunos que tinham. O que eles falavam para a gente que era pouco aluno para manter uma estrutura, porque a escola era grande, uma estrutura grande. Então para manter tudo aquilo lá, daí eles fecharam porque o gasto era demais, era água, luz, telefone e, ter todo o pessoal para limpar, manter uma secretária, diretor, professor, o custo era muito (Elizangela Mara Picker Ruschel43, 2014).

As justificativas apresentadas pela então secretária da escola expressam as

ideias incutidas nos sujeitos que participaram do processo do fechamento da escola

e que até hoje reproduzem, ou seja, os gastos eram excessivos para atender poucos

alunos. Tal ideia foi aceita e naturalizada como se não houvesse o que fazer a

respeito, apenas aceitar aquela condição. Em outras palavras sobressaiu-se o fator

financeiro, ignorando as questões vinculadas a valores simbólicos, culturais e

43 Secretária da Escola Estadual do Campo Canoas – Ensino Fundamental durante dois anos e meio,

foi que redigiu grande parte das atas que indicavam o fechamento da escola, reside em Foz do Chopim (distrito de Cruzeiro do Iguaçu).

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sociais, sentimento de pertencimento presentes nos sujeitos que compunham aquela

comunidade e que foi afetada com o fechamento dessa escola.

A professora Nilva Fátima Sotoriva Witeck também relatou a estratégia de

convencimento utilizada: “Porque foi levado o custo de cada aluno, então o pessoal

achou que era muito caro manter lá”. A justificativa “custo/benefício” foi o que fez

com que até mesmo a própria comunidade aceitasse mais facilmente o fechamento

da escola, já que os custos eram tão altos, justificava-se o fechamento da escola.

Rosangela Eduardo Grassi e Jamir Grassi, pais de alunos, quando

perguntados sobre o motivo por que a escola fechou responderam: “A gente acha

que por ter poucos alunos, aí a despesa com os professores e... funcionários...

bastante funcionários para poucos alunos, então custo alto para poucos alunos”. O

elevado custo por si só já servia de justificativa tendo em vista que para um

trabalhador, ou no caso, pequeno agricultor, situação da maior parte das famílias,

mil reais ao mês (número dado em conversas informais sobre o custo/mês por

aluno) era uma quantia bastante alta para que se mantivessem os alunos naquela

escola, até porque as próprias condições econômicas das famílias não as

permitiriam um custeio semelhante, se fosse o caso.

A professora Nilva contrapôs a ideia do custo elevado para se manter a

escola, justificando que:

Só que também tem que ver que era uma situação diferente, seu custo ficava caro porque tinha poucos alunos. [...] Mas que na verdade se for ver, tem gente que rouba tanto, pelo menos a gente estava dando uma formação pro aluno, uma formação total, a gente tinha outro tipo de atendimento (Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014).

O professor Éberson em tom de indignação e ao mesmo tempo desabafo,

explicou que sob seu ponto de vista a escola foi fechada porque faltou dedicação da

gestora da época em organizar as famílias, procurar auxílio junto a órgãos

competentes, sendo que a diretora adotou uma postura acomodada e ficou

esperando instruções, sem ter iniciativa para buscar alternativas.

Na minha opinião foi um desinteresse total da diretora na época que eu não vou citar nomes, essa é a minha opinião. Em consonância com uma, não sei se foi uma necessidade ou o quê, do estado no caso, que queriam fechar aquela escola, mas em anos anteriores quando eram outras direções, que foi trabalhado essa escola nunca fechou, foi diminuído turmas, turmas sim se diminuiu, mas não foi

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fechada, por causa que a diretora colocou, o diretor na época e, a diretora, colocaram o cargo deles a disposição e, saiam batendo de porta em porta, dessas mesmas pessoas que ajudavam nas festas juninas, ajudavam, colaboravam com tudo que era pedido, que você mesma me ajudou a lembrar, iam lá e a comunidade vinha lá e batia na frente, se precisasse vir ali na prefeitura, onde até houveram várias reuniões, eles iam, se precisasse ir no núcleo eles iam também. Eu acredito que faltou isso, faltou o gestor no caso, que é o que tem que tomar a frente das coisas, correr atrás para essa escola não fechar. Essa é a minha opinião (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

Assumindo uma parcela de culpa, o professor relatou como se deu o

processo de articulação para o fechamento da escola que já vinha de anos

anteriores:

No último ano, me deixa lembrar como é que foi, porque todo ano tinha história que escola estava fechando, inclusive a Carmelita que era servente, fala que não lembrava, ela até comentou quantos anos que todo ano falavam que ia fechar aquela escola, daí todo ano a comunidade, o gestor, o diretor, se mobilizavam, corriam atrás e, a escola não era fechada. Então veio essa história que a escola Canoas iria fechar, nós professores comentamos está bem e o que nós vamos fazer para não fechar essa escola? Então a gestora da época que não vamos citar nomes, falava não, eu estou vendo, se eu precisar de vocês e chamarei, chamarei para reunião, mas nunca tinha reunião, não aconteciam as coisas, as coisas não foram andando e, se tem um prazo para escola estar aberta ou fechada e, chegou nas vésperas do prazo e ela simplesmente comunicou que a escola acabaria sendo fechada. Infelizmente foi dessa forma, que foi. Avisou os pais, no caso chamou, não me recordo bem, chamou os pais que a escola estava fechando. E daí os pais pediram, mas o que nós podemos fazer? Isso eu lembro muito bem, eu estava nesse dia nessa reunião. O que nós podemos fazer? Não tem mais o que fazer. [...]. De articulação eu lembro que teve uma reunião, vieram na prefeitura, que na época eu acho que o prefeito que era o Dilmar, até eu não lembro, ele tentou articular ali, mas alguma coisa bastante fraca e que não deu resultado. Mas acredito que se tivesse ido, não sei se posso estar enganado, mas se eu não estou, se tivesse um pai entrado com um processo que quisesse manter a escola aberta, um pai, que quisesse que o filho permanecesse lá no local onde ele residia, a escola permaneceria aberta, se eu não estou enganado é isso que ocorre. [...]. Mas, enfim ninguém falou isso. Eu com os pais que eu conversava eu falava, se vocês quiserem manter a escola aberta vocês podem, mas a questão do envolvimento. Por isso que eu digo que se houvesse um trabalho intenso, eu acredito que essa escola ainda estava lá (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

A diretora da época se justificou dizendo que tudo que era possível fazer foi

feito, mas que a diminuição de alunos ocasionou o fechamento da escola. “Tivemos,

várias reuniões. É assim, como que não vai aceitar? Se não tem aluno, como que

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vai funcionar a escola? A base de uma escola são os alunos, não adianta ter

professor se não tem aluno” (Neiva Felissetti Zanolla). E ainda contou que procurou

alunos de outros municípios que quisessem estudar na escola, mas não obteve

êxito:

A gente até que foi atrás buscar alunos, foi várias vezes e, isso aconteceu vários anos. Todo ano tinha que ir buscar alunos de outras comunidades para vir aqui estudar, mas chegou um ponto que o pessoal que vai terminando vai embora, então houve bastante empenho, eu acho que todos os professores que trabalharam lá, tinham bastante empenho de ir atrás de buscar alunos, conversar com as famílias que sabia que tinha alunos, mas eles... [...] Não se interessavam, porque os alunos já estavam na cidade, alunos nossos que estavam em Boa Esperança do Iguaçu, eles estão lá, eles não querem voltar ali no campo, no interior, vão continuar lá. [...]. Para cá nós não tínhamos, para o Cruzeiro do Iguaçu na verdade, nós não tínhamos muitos alunos não, nós tínhamos mais os do Cruzeiro do Iguaçu lá, mas os outros que eram da comunidade que pertenciam ao município da Boa Esperança do Iguaçu, iam para Boa Esperança do Iguaçu, quem pertencia a Dois Vizinhos, Dois Vizinhos vinha buscar os alunos iam para Dois Vizinhos, porque não se caminhava em 2000 metros e nem um metro que podia. [...]. Tudo é mais cômodo se você pode ir de ônibus, não importa se você vai andar 20 quilômetros, que é o que acontecia com alunos lá (Neiva Felisseti Zanolla, 2014).

Em tom de justificativa a professora afirmou: “A culpa não se dá nem a mim

que era diretora nem aos professores” e explicou que as regras vêm dos poderes

superiores que levam em conta apenas o número de alunos: “Porque isso tudo vem

de cima, tu sabe? Hoje a escola funciona em um número de alunos, tanto é que

aqui44 também fechou uma turma porque não tem aluno e aí vai se fechar, vai ser

fechado, vai chegar ao ponto de que fechou não abre mais” (Neiva Felisseti Zanolla,

2014).

Analisando os depoimentos fica evidente que o fator determinante para o

fechamento da escola foi o baixo número de alunos, porém vários fatores

contribuíram para que acontecesse esse fenômeno. As transformações no campo,

como já foi discutido, fizeram com que muitos agricultores por diferentes situações

deixassem o campo e fossem para a cidade, ou ainda, fossem para outros lugares

onde tinham maiores porções de terras; migraram, mas continuaram no campo.

44

Se referindo ao Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato, onde aconteceu a entrevista.

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O custo/aluno também foi bastante citado o que evidencia o capitalismo, onde

tudo precisa dar lucro financeiro. As questões culturais e sociais ficam em segundo

plano e não é admissível que se gaste mais do que o mínimo com a educação.

Um fator extremamente relevante e peculiar da escola que dificultou a

manutenção dos alunos, foi/é sua localização geográfica. Enquanto a escola

pertencia ao município de Dois Vizinhos e atendia a comunidade de Canoas, zona

rural, o que abrangia os então distritos Boa Esperança do Iguaçu e Cruzeiro do

Iguaçu, a escola mantinha uma quantidade constante de alunos, isso até 1992. Mas

a partir de 1993, com a emancipação de Boa Esperança do Iguaçu e Cruzeiro do

Iguaçu, a escola passou a pertencer ao município de Cruzeiro do Iguaçu. Com o

passar do tempo e a utilização do transporte escolar, os municípios vizinhos

começaram a buscar os alunos para estudarem em escolas que pertenciam ao seu

município e isso ocasionou uma diminuição dos alunos. A professora Neiva Felicetti

Zanolla (2014) expressou sua indignação dizendo que “cada município puxava pro

seu lado e isso aí foi assim um ato político que foi, levou anos para acontecer, mas

que chegou ao fim de uma escola”. Para melhor visualizar a situação trazemos o

mapa da região com a localização da escola.

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Cada um dos sujeitos sentiu o fechamento da escola de um modo diferente,

mas todos se expressaram em tom de lamento. A última diretora da escola, quando

perguntada como avaliava o processo de fechamento da escola, respondeu:

Como uma coisa assim péssima, tanto pro nosso município, é uma coisa que não deveria, que eu acho que o empenho era de todas as secretaria não só nós do estado. Tanto município podia ter se empenhado mais montar alguma outra, outro ramo de aprendizagem lá, mas simplesmente fechou tudo. Para mim, que sou de lá eu acho uma grande perda porque imagina o que acontece com uma construção abandonada. É visível, é quebrado tudo. Parece que não há aquele respeito, mais ainda se é uma repartição pública (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

As imagens a seguir retratam uma escola praticamente abandonada, com

vidros quebrados, sem manutenção e a ação de vândalos. A fotografia a seguir

mostra uma sala que não é utilizada pela comunidade. A degradação é perceptível,

vidros quebrados, problemas no telhado e mato na frente da sala.

Fotografia V – Escola Estadual do Campo Canoas

Acervo pessoal (01/11/2015)

Os sinais do tempo e a falta de manutenção ficam explícitos na pintura da

escola, assim como a falta de cuidado com o pátio, como podemos ver nas

fotografias a seguir:

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Fotografia VI – Escola Estadual do Campo Canoas (Espaço que interliga parte

superior da inferior)

Acervo pessoal (01/11/2015)

Fotografia VII – Lavatório da Escola Estadual do Campo Canoas

Acervo pessoal (01/11/2015)

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A falta do entrosamento entre poder estadual e poder municipal é evidenciada

na fala da professora, isso mostra que cada um só estava preocupado com o que

lhe cabia, a preocupação com os alunos e com aquela escola não foi levada em

conta.

O professor Éberson manifestou suas impressões a respeito do processo de

fechamento da escola e contou as promessas que foram feitas quando a escola

estava para fechar:

É eu acredito, que seja um processo de interesse do estado que quer diminuir custos, que não imaginam o... querem que os alunos saiam do campo e venham simplesmente para cidade, porque se fosse de outra forma eles tinham mantido aquilo lá, tinham feito projetos, ou algumas coisas diferentes para manter aquela escola, tentar trazer ou levar outros alunos para aquele ambiente, inclusive foram feitas algumas promessas que ia ser feito isso, de ser como se fosse utilizado... agora não lembro bem certo, não me recordo bem o que eles falaram, mas era, um turno suplementar que ia ser feito lá, não ocorreu. Simplesmente fecharam, fecharam a escola e pronto (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

Sobre essas promessas que nunca foram cumpridas, há um relato curioso,

que a professora Ana revela onde foi dito em uma reunião que a escola fecharia

temporariamente, o que me parece uma estratégia para acalmar a comunidade:

Então agora eu lembrando que teve uma reunião com o diretor do núcleo aonde ele foi, estavam todos os pais dos alunos e os professores. Eu lembro que alguns pais levantaram a mão e perguntaram como irá ser o roteiro, mas ele foi já com uma pauta que ia ser o fechamento da escola, não fechar a escola, mas sim que ela ia fechar temporariamente, que ela poderia ser reaberta um dia novamente. [...]. Única coisa que ele levou em pauta era que a escola iria fechar temporariamente, que um dia os filhos deles iam poder estudar novamente, às vezes os netos iam estudar novamente naquela escola e aquela escola poderia ser reaberta um dia ainda. Ia ser temporariamente por causa de custos e por causa da quantidade de alunos (Ana Maria Stavisk Reffatti Apolinário, 2014).

Outra situação curiosa é que durante as reuniões do NRE – DV com a

comunidade escolar usava-se o termo cessação, palavra essa que não é comum do

vocabulário dessas famílias. Tanto é que durante uma entrevista quando eu falava

utilizando o termo fechamento da escola, uma mãe pontuou que não era esse o

“nome” utilizado:

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Na época não foi assim, um nome fechar a escola, eu agora não posso te explicar, é outra palavra não é fechar a escola o termo, porque tinha poucos alunos, o transporte era longe e tinha poucos alunos e como já não existiam mais a quinta série, não tinha mais primário, no outro ano já não tinha mais a quinta série, no outro ano já não teria a sexta, porque cada vez se torna menos alunos (Marinês Candido da Silva Grassi, 2014).

Então indaguei se o termo seria cessação, Marinês respondeu: “É isso

mesmo, esse nome. [...]. Mas eles puseram esse outro nome, eles não puseram

vamos fechar a escola, esse outro nome” (Marines Candido da Silva Grassi, 2014).

As famílias dos alunos não tinham clareza sobre o que significava essa

palavra “cessação”. É possível que o termo tenha sido empregado sem que se

percebesse que não havia o entendimento, mas é mais provável que os

representantes do NRE – DV se utilizaram do termo para que parecesse mais

ameno, a escola não seria fechada (termo que seria entendido facilmente) e, sim, a

escola seria cessada, o que as famílias não tinham muita clareza do que

aconteceria, ainda mais aliado com promessas de que a escola fecharia

temporariamente, ou que seria organizado atividades diferenciadas naquele espaço.

Essa mesma mãe contou que a responsabilidade da escola fechar foi

atribuída à comunidade que tinha ficado incumbida de conseguir mais alunos para

estudar lá. “O Núcleo Regional de Educação de Dois Vizinhos veio ali, fez uma

reunião e disse que se nós conseguíssemos mais alunos pra trazer ali até podia

continuar, mas como não foi conseguido teve que acabar fechando” (Marines

Candido da Silva Grassi). Desse modo, como os membros da comunidade não

haviam conseguido cumprir a tarefa imposta que daria condições para o

funcionamento, acabaram aceitando o fechamento sem resistência.

A perda com o fechamento da escola foi imensurável para os alunos que lá

estudavam e para toda a comunidade, mas os professores também sofreram

impactos com a diminuição de aulas, relata a professora Neiva:

A gente sempre lutou para que a escola funcionasse, era assim a luta de todos, porque pensa quantas aulas diminuíram. Quando que os professores perderam com isso, porque tiveram que se deslocar também, nem todos eram de lá, eram aqui do Cruzeiro do Iguaçu, da Boa Esperança do Iguaçu, mas ficaram sem as aulas. Acabou tirando aulas daqui, porque lá eram professores já dentro do quadro próprio do magistério (Neiva Felissetti Zanolla, 2014).

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A professora Nilva relatou que depois que a escola foi fechada não voltou

mais lá: “Eu não quis nem voltar lá, não tenho nem coragem de olhar aquilo lá”

(Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014) e expressou seu sentimento a respeito do

fechamento da escola:

O meu sonho era ter feito outra coisa daquela escola, não fechar, mas a gente não conseguiu, tentou, batalhou pela prefeitura também, tentamos através do núcleo, tentamos várias formas para ter outros cursos técnicos alguma coisa. Não foi fácil, chavear para não mais voltar. Foi assim, uma fase bem difícil. Depois de muitos anos tudo o que você perde, perde. Então é uma dor para mim, talvez foi uma das pessoas, eu e a Carmelita eu acho, as pessoas que mais sofremos com o fechamento da escola. Para mim ficou até mais cômodo ir ali no Colégio Arnaldo Busato porque é perto, mas assim aquela dor de não sei o que dizer, mas, como quando você perder alguma coisa que você gosta, um brinquedo, ou por exemplo você vai perder esse teu computador, você vai ficar sentida, é mais ou menos assim, é o sentimento de perda (Nilva Fatima Sotoriva Witeck, 2014).

Esse sentimento, expresso pela professora, pareceu ser comum à maior parte

dos sujeitos que compunham aquela escola, um sentimento que pode ser resumido

na palavra perda, todos perderam algo. O professor Éberson em sua fala final

também expressou a sua perda em tom de lamento e de apelo para que o mesmo

não aconteça com outras escolas:

Eu sinto muito que aquela escola tenha fechado, tinham excelentes professores lá, a escola era bem organizada, os professores que iam lá, eles se apaixonavam pela causa da escola do Canoas e, infelizmente isso é algo que não vai ter retorno e quem perdeu muito foi a comunidade do Canoas, com certeza. Uma comunidade que aparentemente é muito unida e, enfim, que é uma perca imensa para educação do Cruzeiro do Iguaçu o fechamento dessa escola. E que espero que não venha a ser feito o fechamento de outras escolas, pelo menos, vamos colocar aqui na nossa região sudoeste, que não ocorra o fechamento de outras escolas. Eu sei que tem São Jorge que tem várias escolas pequenas, rurais, Salto do Lontra tem um interior muito grande, Nova Prata se eu não estou enganado também, mas principalmente Salto do Lontra que tem muitas escolas. E que, eu posso dizer assim, com menos alunos do que a nossa, menos alunos que a nossa e que ainda continua aberta, porque teve alguém lá que teve vontade e, que está tendo vontade todo ano para essas escolas permanecerem aberta, o que não ocorreu, infelizmente aqui na nossa escola. De repente, eu como professor tenha uma parcela de culpa, mas na época o que a gente pediu, o que foi pedido para nós, a gente ajudou (Éberson Luiz Fadanelli, 2014).

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O desejo de que outras escolas do campo não tenham o mesmo destino da

Escola Estadual do Campo Canoas é comum entre os entrevistados e a todos os

sujeitos que estudam e compreendem a dinâmica do campo, bem como a

importância que a escola ocupa nessas comunidades.

Atualmente parte do prédio que era ocupado pelas escolas está sendo

utilizado pelo clube de mães que aos finais de semana se reúne e utiliza a cozinha e

o saguão e pela catequese que utiliza duas salas. A quadra da escola é utilizada

para recreação pela comunidade.

Fotografia VIII – Fachada da Escola Estadual do Campo Canoas

Foto de 01/11/2015 Acervo pessoal.

Fotografia IX – Escola Rural Municipal Santa Terezinha

Foto de 01/11/2015 Acervo pessoal.

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Fotografia X – Quadra Esportiva das Escolas

Foto de 01/11/2015 Acervo pessoal.

A presente pesquisa procurou compreender o processo que levou ao

fechamento da Escola Rural Municipal Santa Terezinha e da Escola Estadual do

Campo Canoas para apontar caminhos diferentes, de modo que outras escolas

consigam atender o povo do campo e não tenham o mesmo destino dessas escolas

estudadas. Os documentos, depoimentos e análises aqui reunidos expressam a

realidade de duas escolas que eram o centro de uma comunidade e funcionavam

como mecanismos de manutenção de cultura. Local onde os sujeitos se

reconheciam como agentes de uma comunidade, que devido a alguns determinantes

internos e externos levaram ao fechamento dessas escolas, fazendo com que a

comunidade perdesse alguns traços de sua identidade. Os sujeitos que

compunham/compõem essa comunidade perderam/perdem seus vínculos culturais e

afetivos com aquele espaço, tendo em vista que precisam/precisarão deslocar-se

constantemente para o meio urbano. Tais consequências estimularam/estimulam,

sem dúvidas, o abandono do campo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação do campo no cenário regional estudado encontra-se banalizada e

isso é resultado de um processo histórico que pode ser percebido claramente se nos

reportarmos à educação, em especial àquela oferecida para os sujeitos que viviam

no campo a partir de 1930, que já vinha com uma dualidade no ensino “[...] rede

primária profissional, na qual estavam incluídos o ensino primário, o ensino técnico e

a formação de professores para o ensino básico; e a rede secundária, preparadora

das "elites" nacionais” (MENDONÇA, 2010 a, p.47). Logo, a educação oferecida no

campo tinha moldes da formação técnica, que “adestrava” para o trabalho. Na nossa

região o que existia até os anos de 1980 era basicamente o ensino primário (até a 4ª

série) como demonstram os dados levantados por esta pesquisa e que foram

apresentados no decorrer do texto. Podemos perceber que a educação oferecida na

zona rural e/ou para a classe trabalhadora em geral, era a mais elementar, não se

tinha preocupação com a formação total do sujeito, mas sim, se preocupava com o

preparo da mão de obra.

Aliado à baixa escolarização oferecida no campo, encontramos a

modernização da agricultura, onde se sobressaiu a lógica do capital, do acúmulo de

riquezas e da exploração dos sujeitos com poucas condições socioeconômicas. O

agronegócio modificou o campo que deixou de ser local onde famílias trabalhavam

para produzir alimentos e passou a ser percebido como meio de gerar riqueza. Para

isso, os sujeitos com mais recursos financeiros compravam/compram as

propriedades das famílias com menos recursos. Desse modo, essas famílias são

expropriadas do campo e vão para as cidades ou tornam-se empregados dos novos

proprietários. É assim que se reconfigura o cenário rural no Paraná e no Brasil. Há

um esvaziamento do campo no que diz respeito à densidade demográfica, tendo em

vista que onde várias famílias residiam e trabalhavam, com essa mudança e com o

apoio tecnológico pode ser administrado/cultivado por um ou dois sujeitos.

Atualmente o foco não é mais a produção de alimentos de consumo imediato, como

frutas, verduras, mas a produção de grãos, visando principalmente à exportação. O

mesmo acontece com a criação de gado ou aves, que é feita em larga escala, visa à

exploração e raramente tem preocupação com o meio ambiente.

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A análise sobre a legislação feita no texto também mostrou que o povo do

campo poucas vezes pode expressar suas ideias e anseios, para que se tornem leis

que atendam suas necessidades. Isso aconteceu porque as elites sempre

controlaram o que seria legislado e desse modo buscaram se beneficiar e não

garantir direitos para a classe trabalhadora ou o povo do campo. Desse modo, tanto

a educação quanto outros direitos no campo não foram percebidos com relevância,

fazendo com que ficassem de certo modo esquecidos.

Historicamente se naturalizou que a zona rural é um local de atraso, onde a

escolarização não é importante; atualmente isso é percebido pela quantidade de

escolas que estão sendo fechadas. Fechar uma escola localizada na zona rural é

como fechar a porta de um quarto, parece algo tão simples. Os estudos realizados

na região sudoeste do Paraná mostram o descaso para com as escolas de pequeno

porte, sejam elas mantidas pelos municípios ou pelo estado. As que se mantém

operam mediante resistência, não funcionam como uma escola regular. Enfrentam

além dos desafios cotidianos, o medo do fechamento. A incerteza e a insegurança

são sentimentos presentes em boa parte das escolas que resistem.

Esse descaso com a educação/escolas que se localizam na zona rural foi

comprovado quando tratamos da Escola Rural Municipal Santa Terezinha e da

Escola Estadual do Campo Canoas, escolas tradicionais, bases de uma comunidade

que foram fechadas sem o aval da comunidade, sem pensar no impacto que seria

para os estudantes e suas famílias.

Apenas dizer que as escolas são frágeis mediante as políticas públicas é

óbvio demais. É preciso compreender no que consiste as falhas dessas políticas e

por que elas são insuficientes para garantir a estabilidade no funcionamento destas

instituições. Existem várias escolas que se mantêm através de processos na justiça,

para que não sejam fechadas turmas ou até mesmo a própria instituição. Essa

realidade assombra seu dia a dia e coloca em risco o direito de crianças e

adolescentes em estudar em uma escola próxima de sua residência.

Os argumentos para que fechem as escolas localizadas na zona rural são

quase sempre os mesmos: são poucos alunos que a escola atende e isso torna o

custo por aluno alto demais, fica inviável manter a escola; é preciso remover esses

alunos e colocá-los em uma escola maior. E ainda se justifica dizendo que tudo isso

será melhor para os educandos, já que terão acesso a tecnologias mais avançadas,

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como computadores, internet, laboratórios de física, química, biologia e ainda

bibliotecas com grande acervo, programas de treinamento esportivo ou aulas de

língua estrangeira.

Realmente eles podem até ter acesso a tudo isso mesmo, coisa que eles não

tinham na escolinha, já que as escolas da zona rural se encontram sucateadas. As

que possuem computadores nem sempre tem internet para acesso dos alunos e as

que têm, a qualidade não é boa, ou são equipamentos obsoletos ou com problemas

de manutenção. Laboratórios completos e equipados sejam eles quais forem são

raríssimos em escolas públicas, ainda mais em pequenas escolas, quase sempre o

que se tem são alguns materiais como tubos de ensaio, pipeta, uma lupa e um

microscópio que não funciona. As bibliotecas das escolas do campo, na maioria das

vezes, demonstram o empenho da comunidade escolar que realiza promoções como

jantares, rifas, bailes, para poder comprar alguns exemplares, quase sempre são

bibliotecas limitadas, que possuem livros clássicos e quase nunca tem em seu

acervo lançamentos de livros e revistas infanto-juvenis. Quanto aos programas e

projetos, isso varia bastante, algumas escolas oferecem os mesmos programas e

projetos oferecidos nas escolas da cidade, mas isso não é regra. A partir dessa

ótica, o ideal mesmo seria que os alunos do campo fossem para as escolas da

cidade, pois teoricamente teriam uma escola de mais qualidade.

Mas é preciso analisar o outro lado da moeda. Quando uma criança,

adolescente, ou jovem, vive e estuda no campo, constrói uma identidade que é

reforçada a todo o momento, gerando um sentimento de pertencimento àquele local

e àquela cultura. Quando o educando passa a frequentar uma escola da zona

urbana, ele tem como primeiro desafio, o transporte. Muitas vezes ele sai da frente

da escola ou de locais muito próximos e precisa se deslocar dez, vinte, trinta

quilômetros, sabe-se lá quantos mais, para chegar até essa escola. Isso é muito

tempo dentro de um ônibus, que bem se sabe quase nunca é bem conservado, nem

oferece a segurança necessária. Os usuários desse meio de transporte precário são

desde crianças a partir dos cinco anos de idade até jovens de dezessete, dezoito

anos. A distância é algo que maltrata as crianças que muitas vezes dormem nos

bancos dos ônibus, sentem fome por saírem cedo de casa e retornarem tarde; os

jovens muitas vezes ficam desmotivados e chegam a desistir de estudar.

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Quando esses educandos chegam na escola da cidade se deparam com uma

realidade completamente diferente da deles. Quase sempre são grandes ambientes

com muitos alunos, que falam, agem e se vestem de um modo diferente do deles. É

então que o sujeito que mora na zona rural se isola porque aquele contexto não

condiz com sua realidade e, às vezes, faz isso por sua vontade; em outras, ele é

excluído pelos demais que não o aceitam, tiram sarro de suas características e

costumes com piadas, chacotas e apelidos. Ou então ele se insere naquele

ambiente, copiando a cultura que está a sua volta, o que quase sempre acontece. É

nesse momento que a identidade de sujeito do campo se perde, sua cultura,

costumes, raízes precisam ser deixadas de lado para se adequar àquela situação.

Essa nova atitude exigida, refletirá, sem dúvidas, em seu modo de pensar e em seu

futuro, nas escolhas que ele fará e é provável que isso influencie na falta de

interesse pelo campo e, em consequência, esse será um jovem que assim que for

possível abandonará o campo e irá para a cidade.

É claro que os desafios do educando que vem do campo não são apenas

esses, já que encontrará nas escolas maiores salas com muitos alunos e

professores que já não atendem individualmente como era possível no campo.

Apesar de terem computadores e internet, nem sempre são em número suficiente. O

mesmo acontece com os laboratórios, que apesar de existirem faltam materiais e

produtos. Os programas e projetos quase sempre acontecem em contraturno e,

devido ao transporte, geralmente o educando que vem do campo não consegue

participar. Além disso, muitas vezes esse educando tem tarefas a cumprir em casa

para auxiliar a família nos trabalhos, o que o impede de participar dos projetos.

Outro problema é que as atividades duram por volta de uma hora ou pouco mais,

dificilmente é um período todo, o que possibilita ao jovem um tempo ocioso, no qual

abre mil possibilidades. Algumas escolas organizam para que o aluno participe de

projetos diferentes no mesmo dia, não deixando tempo vago, mas nem sempre isso

é possível. E quando sobra um tempo os alunos saem da escola e vão para praças,

lan house, bares e o que acontece lá, não são ações pedagógicas. Muitas vezes, até

por sua inocência, se envolvem com drogas, álcool e a criminalidade cerca

principalmente o adolescente e o jovem, desvirtuando-os do caminho esperado.

Essas situações acima citadas podem parecer exageradas e, quem sabe até

sejam, mas são possibilidades e acontecem sim com sujeitos que deixam o campo

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para estudar na cidade. É um risco que se corre, mas que poderia ser evitado

mantendo os alunos nas escolas localizadas no campo, equipando-as com os

materiais necessários e desenvolvendo projetos educativos consistentes que visam

à educação do campo em sua essência, de modo que os educandos se sintam

incentivados a permanecer no campo, mesmo sabendo os desafios que enfrentarão.

É por essas questões abordadas que se justifica a necessidade da articulação

das comunidades que vivem no campo com os movimentos sociais, a fim de que se

garanta o direito à terra e condições de trabalho digno nela. Muitos avanços foram

conquistados, leis que garantem o acesso à educação perto de casa, a consulta à

comunidade antes do fechamento da escola, mas isso não tem assegurado de fato

que isso aconteça. É preciso que se faça cumprir a lei, seja através de denúncias ou

pressão pública e política, o que não pode mais se repetir é o fechamento de

escolas, como as 190 escolas municipais que foram fechadas entre 1985 e 2014. Ou

deixar que essa tendência que assombra as escolas estaduais, como aconteceu

com a Escola Estadual do Campo Canoas, venha a fechar mais escolas no Paraná e

no Brasil.

É preciso perceber a educação do campo com suas especificidades e

procurar alternativas para que elas continuem funcionando. Se até mesmo a

legislação permite entender a educação do campo como uma modalidade de ensino,

é hora de organizar o funcionamento dessas escolas para que se garanta seu

funcionamento. Seja trabalhando com ciclos, turmas multisseriadas, aplicando a

pedagogia da alternância, ou outra estratégia, o que precisamos é de escolas no

campo que garantam ao educando educação de qualidade respeitando sua cultura e

formação integral.

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DOIS VIZINHOS, Colégio Estadual do Campo Germano Stédile – Ensino Fundamental e Médio. Projeto Político Pedagógico, 2010. Disponível em: http://www.dvzgermano.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015.

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___________, Escola Estadual do Campo Linha Conrado – Ensino Fundamental. Proposta Pedagógica Curricular. Disponível em: http:// http://www.dvzlinhaconrado.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015.

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___________. Ata nº 03/2011, 21 de outubro de 2011. Livro Assuntos Gerais, p. 2–3

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NOVA ESPERANÇA DO SUDOESTE, Escola Estadual Barra Bonita – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, março de 2010. Disponível em: http://www.nedbarrabonita.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

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NOVA PRATA DO IGUAÇU, Escola Estadual do Campo Cecilia Meireles – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, 2012. Disponível em: http://www.sjdiolopolis.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação. Plano de Implantação da Lei 5692/71 – Ensino de 1º Grau. Secretaria de Estado de Educação Departamento de Ensino de Primeiro Grau. 09 de janeiro de 1980.

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___________, Secretaria de Estado da Educação. Resolução 4135, de 27 de agosto de 1985, Reconhecimento de Curso de 1º Grau Regular

___________, Secretaria de Estado da Educação. Ato Administrativo nº 007/2013, de 04 de março de 2013. Núcleo Regional de Dois Vizinhos

___________, Secretaria de Estado da Educação. Parecer 99/14 – CEF/SEED Cessação de Instituição de Ensino. 06 de fevereiro de 2014.

SALTO DO LONTRA, Escola Estadual do Campo Pinhal da Várzea – Ensino Fundamental. Regimento Escolar, 2007. Disponível em: http://www.stlpinhaldavarzea.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015.

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___________, Escola Estadual do Campo Barra do Lontra – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, novembro de 2010. Disponível em: http://www.stlbarra.seed.pr.gov.br/Acesso em 15/02/2015.

___________, Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bom Fim – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, 03 de novembro de 2012. Disponível em: http://www.stlnossosenhor.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015.

SÃO JORGE D’OESTE, Escola Estadual do Campo Pio X – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, de 2010. Disponível em: http://www.sjdpiox.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

___________, Escola Estadual do Campo Nova Santana – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, dezembro de 2011. Disponível em: http://www.sjdnovasantana.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

___________, Escola Estadual de Iolópolis – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, 2012. Disponível em: http://www.sjdiolopolis.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

___________, Escola Estadual de Iolópolis – Ensino Fundamental. Projeto Político Pedagógico, 2012. Disponível em: http://www.sjdiolopolis.seed.pr.gov.br/. Acesso em 15/02/2015

RELATOS ORAIS E ESCRITOS

APOLINÁRIO, Ana Maria Stavisk Reffatti. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 28 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

BARTNISK, Luis, Dois Vizinhos, manuscrito do dia 18 de janeiro de 2015.

BOING, Ivanete Felippi. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 21 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

BOING, Marines Vachin. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 26 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

BOING, Tacila Aparecida. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 21 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

FADANELLI, Eberson Luiz Fadanelli Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 09 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

GHEDIN, Tereza Ghedin. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 28 de fevereiro de 2015 à Micheli Tassiana Schmitz.

GRASSI, Jamir. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

GRASSI, Leonardo. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

GRASSI, Marinês Cândido da Silva. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

GRASSI, Rosângela Eduardo. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

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PORTELA, Leidiane Bertholdo. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 18 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

RUSCHEL, Elizangela Mara Picker. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

SAVIGHAGO, Vânia Pereira de Lima. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 18 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

SOUZA, Carmelita Pissaia. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 22 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

TOSETTO, Anilda Schmitz. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 24 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

TURMINA, Dilmar. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 09 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

WITECK, Nilva Fátima Sottoriva. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 09 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

ZANOLLA, Neiva Felicetti. Cruzeiro do Iguaçu, entrevista concedida no dia 10 de dezembro de 2014 à Micheli Tassiana Schmitz.

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ANEXO I

Medida liminar – Escola Estadual do Campo Nosso Senhor do Bonfim – E. F.

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ANEXO II

Plano de implantação – 09 de janeiro de 1980

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ANEXO III

Resolução 119/83, que criou a Escola Estadual Canoas

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ANEXO IV

Resolução 4135, de 27 de agosto de 1985, Reconhecimento de Curso de 1º Grau

Regular

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ANEXO V

Requerimento nº 010/2011 Requerimento de reabertura da Escola Municipal

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ANEXO VI

Requerimento de Cessação para Funcionamento

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ANEXO VII

Justificativa de Cessação

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ANEXO VIII

Ato Administrativo nº 007/2013, de 04 de março de 2013

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ANEXO IX

Ata 01/2013, de 04 de fevereiro de 2013

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ANEXO X

Parecer 99/14 – CEF/SEED Cessação de Instituição de Ensino