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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE ESTUDOS DE CIENCIAS EXATAS E NATURAIS CECEN CURSO DE HISTORIA LÚCIO FLÁVIO FERREIRA TORRES A ATUAÇÃO DA COMPANHIA DE COLONIZAÇÃO DO NODESTE “COLONE”, NO MUNICIPIO DE ZÉ DOCA MA São Luís 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE ESTUDOS DE CIENCIAS EXATAS E NATURAIS – CECEN

CURSO DE HISTORIA

LÚCIO FLÁVIO FERREIRA TORRES

A ATUAÇÃO DA COMPANHIA DE COLONIZAÇÃO DO NODESTE – “COLONE”, NO MUNICIPIO DE ZÉ DOCA – MA

São Luís 2011

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LÚCIO FLÁVIO FERREIRA TORRES

A ATUAÇÃO DA COMPANHIA DE COLONIZAÇÃO DO NODESTE – “COLONE”, NO MUNICIPIO DE ZÉ DOCA – MA

São Luís 2011

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciamento Plena em História.

Orientador: Prof. Paulo Roberto Rios Ribeiro

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LÚCIO FLÁVIO FERREIRA TORRES

A ATUAÇÃO DA COMPANHIA DE COLONIZAÇÃO DO NODESTE – “COLONE”, NO MUNICIPIO DE ZÉ DOCA – MA

Aprovada em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Prof. Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador)

_______________________________________ 1º Examinador

_______________________________________ 2º Examinador

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciamento Plena em História.

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Á minha mãe e meu pai, com respeito.

A minha irmã, Sandra, companheira de

todas as horas.

Aos meus irmãos, Henrique, Lucas, Silvia,

Shirley, Suely, esperança para o dia de

amanhã.

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Maria das Dores Ferreira Torres e meu pai, Luzinaldo

Ferreira Torres, pelo amor, confiança e dedicação que sempre demonstraram

durante a minha vida;

A minha irmã Sandra Ferreira Torres, pela dedicação, amor e contribuição

na minha formação acadêmica;

Aos meus irmãos, amigos e namorada por terem sempre apostado no meu

potencial;

A todos os meus professores que de uma forma ou de outra acabaram

contribuindo e me ajudando nessa caminhada do curso de Historia, em especial ao

Prof. Paulo Rios pela competência e carinho, que sempre dedicou a mim, me

proporcionando oportunidades, contribuindo assim, para meu crescimento pessoal

que sustentará minha formação acadêmica.

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Ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar, é ação pela qual o sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado.

Paulo Freire

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RESUMO

Abordagem histórica sobre atuação da SUDENE e da COLONE na cidade de Zé

Doca-MA, enfocando as principais informações históricas sobre esses organismos

governamentais, apresentando dados gerais sobre o Município.

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ABSTRACT

Historical approach about the performance of SUDENE ando f COLONE in Zé Doca -

MA´s city, focusing data the principal data reports on those two government

organisms, still presenting general data on the Municipal district.

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LISTA DE SIGLAS

BEC – Batalha de Engenharia e Construção

BEM – Banco do Estado do Maranhão

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BNB – Banco do Nordeste do Brasil

CAEMA – Companhia de Água e Esgoto do Maranhão

COLONE – Companhia de Colonização do Nordeste

COMALTA – Cooperativa Agrícola Mista do Alto Turi

CONESP – Companhia Nordestina de Sondagens e Perfurações

GIPM – Grupo Interdepartamental de Povoamento do Maranhão

INGRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPEAN – Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte

MP – Medida Provisória

NOB – Norma Operacional Básica

PCAT – Projeto de Colonização do Alto Turi

PPM – Projeto de Povoamento do Maranhão

PROSPEC – Geologia, Prospecções e Aerofotogrametria S.A.

SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SUS – Sistema Único de Saúde

STF – Supremo Tribunal Federal

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SUMARIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 1

2 PANORAMA GERAL SOBRE A COLONIZAÇÃO E EXPANSÃO

DA FRONTEIRA AGRICOLA DO BRASIL ....................................

3

3 POLITICA DE COLONIZAÇÃO DO ALTO TURI: ATUAÇÃO DA

SUDENE E COLONE EM ZÉ DOCA .............................................

8

3.1 A COLONE .................................................................................... 13

4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICIPIO .............................. 25

4.1 Histórico......................................................................................... 25

4.2 Situação Atual .............................................................................. 27

4.2.1 Espaço Geográfico ......................................................................... 27

4.2.2 Sistema Demográfico ...................................................................... 28

4.2.3 Aspectos Sócio Econômicos ........................................................... 28

4.2.4 Sistema de Saúde, Saneamento e Habitação ................................ 29

4.2.4.1 Saúde .............................................................................................. 29

4.2.4.2 Saneamento .................................................................................... 30

4.2.4.3 Outros serviços existentes em Zé Doca ......................................... 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 32

REFERENCIAS .............................................................................. 34

ANEXOS .........................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

São muitas as disparidades regionais de renda no Brasil, o que é

facilmente comprovável nas estatísticas oficiais. No caso do nordeste em

comparação com as regiões mais ricas, são visíveis essas suas fragilidades: a

vulnerabilidade da economia rural ao fenômeno climático; a precariedade da infra-

estrutura de transportes e energia; o grande atraso da área de ciências e tecnologia;

as reduzidas qualificações da mão-de-obra; a descapitalização das empresas locais;

a debilidades e pouca expressão econômica do setor produtivo; a falta de

competitividade internacional e as precárias condições sociais compreendendo

saúde, educação, habilitação, renda e emprego. São muitas, pois a razões para a

gravidade atual do quadro social nordestino, também claramente retratada nas

estatísticas oficiais, que identifica a região como o maior bolsão de pobreza e

miséria do Brasil. (A EXTINÇÃO...,2004)

Levantamento recente, elaborado por equipe de assessores da

Presidência da Republica, relativo aos indicadores sociais do Brasil, demonstra que,

em 1999, havia no Brasil 54,4 milhões de pobres, desse total, 22,9 milhões (42%)

localizados na Região Nordeste. Depreende-se assim, que 48% da população

nordestina vivem inseridas na linha de pobreza. (A EXTINÇÃO...2004)

A determinação de fazer um trabalho monográfico sobre a atuação da

Companhia de Colonização do Nordeste – COLONE no Município de Zé Doca- MA

tem como objetivo principal, em primeiro lugar, a defesa da monografia como

requisito parcial para conclusão do curso de Historia; em segundo, o desejo de

resgatar a origem do Município, o processo de formação histórica, que esta descrito

de forma generalizada nos seus aspectos físicos, econômicos, político e social,

abordando o período compreendido pela década de 60 do século passado ate a

atualidade, contribuindo assim para o conhecimento da historia das cidades

Maranhenses e de projetos governamentais voltados para seus desenvolvimentos.

Buscou se subsidiar este trabalho através de pesquisa bibliográfica,

documental, observações in loco e entrevistas com pessoas que de alguma forma

tem sua historia de vida ligada à historia de Zé Doca.

O trabalho consta de 3 capítulos, a ser: primeiro – caracterização do

Município para nos situamos temporal e geograficamente; segundo, abordam sobre

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a atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, por

ela estar ligada a COLONE, objeto de estudo; terceiro, explanação sobre a COLONE

e sua atuação em Zé Doca; bem como os depoimentos colhidos sobre o assunto

nas entrevistas realizadas.

A pretensão deste trabalho é de também, despertar o interesse em novas

pesquisas, pois muito há a ser explorado, uma vez que é difícil esgotar-se esse

assunto em uma monografia de conclusão de curso.

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2 PANORAMA GERAL SOBRE A COLONIZAÇÃO E EXPANSAO DA

FRONTEIRA AGRICOLA DO BRASIL

A colonização que antecede a 1970 no Brasil tem seu fato mais

expressivo na ocupação agrícola, em sua maioria espontânea, nas margens da

rodovia Belém-Brasilia, que foi concebida inicialmente em 1947, como resposta as

pressões expansionistas dos grandes centros industriais do eixo Rio - São Paulo,

em particular da recém criada industria automobilística, mais do que de uma

tentativa de colonizar o interior. Na década de 40 alguns trechos da estrada foram

concluídas e suas margens colonizadas mas, somente em 1956 o seu traçado

definitivo foi estabelecido, com sua conclusão em 1960, embora precariamente,

tendo sido empreendidos estudos sobre a viabilidade econômica da região, os quais

foram finalizadas em 1968. (MARTINE, [s.d.]).

De acordo com Martine ([s.d] p.59), “as tentativas de colonização nas

margens da Belém-Brasilia abrangem experiências antigas e recentes, dirigidas e

espontâneas. No contexto geral, porem, predominam tentativas de ocupação

espontânea”.

Ao sul, a rodovia liga as três maiores cidades da região: Goiânia, Anápolis

e Brasília, cuja data de colonização dessa área se dá na década 40. Nos outros

trechos, as experiências de colonização variam, alternando alguns casos de

assentamento bem sucedidos com outros os quais predominam o fracasso, a

miséria e a migração repetida. (MARTINE, [s.d]).

Como exemplo de colonização na região servida pela Belém-Brasilia,

pode-se citar Tomé-Açu no Estado do Pará, colonizado por imigrantes japoneses

que começaram a chegar à área em 1929, em 1935, foi introduzida a cultura de

pimenta-do-reino, proporcionando a sobrevivência e prosperidade da colônia

(MARTINE, [s.d]).

_____________________

¹ Compreenda-se por “espontânea” o empreendimento onde as decisões iniciais sobre o lugar e modo de

assentamento não recebem orientação positiva do governo.

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Outro exemplo que merece ser citado, embora com resultados negativos,

é empreendido pela SUDENE no Estado do Maranhão. A seca de 1958 e as tensões

sociais resultantes no Nordeste levaram o Governo a projetar a colonização massiva

do Maranhão por camponeses nordestinos. Foram reservados dois milhões de

hectares para que a SUDENE efetuasse uma colonização de até 1 milhão de

pessoas.

Entre estas iniciativas de maior idade destaca-se indubitavelmente o Projeto de Colonização do Alto Turi (PCAT), localizado no Estado do Maranhão, e implantado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) em 1962, em área pré-amozonica. (ARCANGELLI, 1987, p. 19).

Katzman apud Martine,([s.d], p. 60) ressalta que “[...] a área reservada

para esse fim, conforme doação feita pelo Estado do Maranhão, já havia sido

ocupada por uns 60.000 posseiros que praticavam uma agricultura itinerante”. Esse

projeto da SUDEDE, abandonado em 1964, assentou cerca de 1.000 famílias em

dezessete projetos, com um custo de US$18.000 por família; em seguida, não

havendo infra-estrutura básica, as colônias regrediram a uma cultura de

subsistência.

Dados do Governo, apontam que no Projeto do Alto Turi foram assentadas

850 famílias ate 1972.

No geral, a colonização da Belém-Brasilia deu-se de forma espontânea e

com conseqüências pouco promissoras em termos de fixação produtiva da mão-de-

obra. Por não haver um planejamento integrado ou de qualquer preocupação com a

maximização dos benefícios sociais que poderiam advir da estrada, de 80% da

ocupação de áreas marginais à estrada foram feitas espontaneamente através de

uma agricultura de subsistência itinerante.

No final da década de 60, a densidade populacional da área era de 2

habitantes/km2. A ocupação realizou-se em espaços muito reduzidos, posto que

apenas 4% da área á margem da rodovia foi utilizada: apenas no trecho situado do

Maranhão e no trecho próximo a Brasília ocorreu um aproveitamento mais intenso

da terra disponível.

Sobre a colonização da região Belém-Brasilia, é possível destacar dois

fenômenos paralelos: a construção da rodovia proporcionou um afluxo muito grande

de migrantes para uma área semi-abandonada e favoreceu o comercio e a

integração entre Belém e o sul do país; por outro lado, somente uma minoria dos

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colonos que apontaram à região, fixaram-se definitivamente num determinado

pedaço de terra. O fluxo espontâneo de migrantes expulsos de outras áreas e a

aparente disponibilidade ilimitada de terras foram propicias a implantação de

práticas agrícolas tradicionais, fundamentadas no acesso à terra virgem. Decorreu

daí, a remigração sucessiva de posseiros à medida que a terra e os recursos do lote

anterior esgotaram-se e a terra passa a ser ocupada por latifúndios.

Segundo Hebette e Marin apud Martine ([s.d], p. 62) “[...] as tentativas de

colonização dirigida estão levando ao minifúndio: em ambos os casos, o resultado é

o êxodo rural e não a fixação produtiva”.

No período de 1950-1960, houve um grande contingente de migrantes que

ocuparam, grandes áreas devolutas, principalmente área de florestas. Tal fato

ocasionou um crescimento populacional vertiginosos nas microrregiões de

Imperatriz, Baixo Araguaia Goiano, Extremo Norte Goiano e Médio-Tocantins-

Araguaia. Aos colonos, inicialmente, foi facilitado o acesso às terras, sendo que os

mesmos implantaram uma agricultura de subsistência. No entanto, a falta de

garantias, a ausência de qualquer apoio governamental e o próprio modelo de

exploração de terra levaram à expulsão violenta ou pacifica dos posseiros e à

concentração legal e ilegal das terras em grandes propriedades, na sua maioria,

improdutivas.

A concentração das terras em latifúndios obriga o colono expulso a escolher uma entre três alternativas de sobrevivência: migração para uma área novo, a qual gera uma forma de agricultura itinerante, trabalho assalariado nas fazendas, que é precário ou sazonal e se realiza nas piores condições, a marginalização na periferia das cidades próximas ou distantes, tentando aproveitar as escassas oportunidades de emprego que surgem. (MARTINE, [s.d.], p. 63).

O programa de Integração Nacional (PIN), na década de 70, reeditava o

papel atribuído historicamente no Brasil às áreas de expansão agrícola como

absorvedores de mão-de-obra e como qualquer iniciativa de transformação

estrutural. Porem, esse novo período distingue-se das experiências anteriores em

termos de ritmo acelerado em que se desenvolve e de papel fundamental que iria

ser preenchido pelo Estado na iniciativa e na implementação das atividades de

colonização, contrastando com a atitude de “laissez-faire” assumida pelo Governo

nos grandes impulsos, que, em outras épocas, resultaram na colonização dos

Estados de São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso. (MARTINE. [s.d]).

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O PIN originalmente foi concebido como instrumento para aliviar tensões

sociais em regiões densamente povoadas no Nordeste, visando o pequeno produtor.

Tal programa embasava-se na instalação de colonos em lotes de 100 hectares a

cada lado das duas estradas a serem construídas (Transamazônica e Cuibá-

Santarém);paralelamente, seriam iniciados projetos de irrigação do Nordeste.

(MARTINE. [s.d.])

O INCRA ficou encarregado de conduzir o processo de colonização.

Assim, houve a elaboração de estudos abrangente, relatando e analisando diversas

experiências de colonização dirigida no Brasil e avaliando as possibilidades de

colonização na Amazônia. (MARTINE. [s.d.])

O programa fixou critérios de seleção geográfica e sócio-econômica no

recrutamento dos colonos: 70% dos colonos seriam recrutados nas áreas do

Nordeste e os 25% restantes em regiões de pressão populacional no Centro Sul. O

objetivo era conseguir um efeito de demonstração na introdução de tecnologia

trazida das regiões mais desenvolvidas. Por outro lado, aos colonos caberiam um

mínimo de experiência empresarial na utilização de financiamentos, requisito esse

que excluiria naturalmente as camadas mais carentes da população. (MARTINE.

[s.d.])

A propaganda em torno do PIN, promovida pelo Governo, atraiu

contingentes de nordestinos e outros migrantes espontâneos em numero superiores

a capacidade de absorção dos programas governamentais. Houve então uma

instalação precária destes em terras até então desocupadas, entrando

posteriormente em conflito com as agencias governamentais e com as empresas

que se instalaram eventualmente na área, atraídos por incentivos fiscais. De acordo

com SUDAM, para cada família assentada pelo INCRA, quatro outras se

estabeleceram espontaneamente na região.

Em parte, pode-se afirmar que as razões desse insucesso devem-se ao

próprio modelo super estruturado e paternalista de assentamento adotado.

Além dos exemplos de colonização massiva efetuada ao longo da Belém-

Brasilia e da Transamazônica, podemos citar ainda a colonização na BR-364 em

Rondônia. É a partir de com a construção dessa BR, com trafego relativamente

permanente, que foram iniciados projetos oficiais de colonização através do INCRA.

Em 1976, a população do território já estava estimada em torno de 450 mil

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habitantes, o que significou um aumento de 400% em relação ao total populacional

em 1970.

O primeiro projeto de colonização dirigida do INCRA em Rondônia foi o

projeto Integrado de Colonização de Ouro Preto (PIC- Ouro Preto), o qual objetivava

solucionar um problema social envolvendo trezentas famílias que haviam sido

atraídas ao território por uma empresa de colonização. Houve uma invasão liderada

por grileiros e empresas extemporâneas de colonização, municiada pela onda

crescente de migrantes espontâneos em busca de terra, daí decorrendo uma

situação fundiária insustentável. Muitos grileiros tiveram suas terras regularizadas

por uso capitão, o que implicou no comprometimento do total de área prevista para

os projetos de colonização do INCRA (2.619.000 hectares). Neste contexto, o

INCRA foi criando projetos e tentando acelerar o ritmo de assentamento. No entanto,

diversas circunstancias impediram uma adequação melhor da atuação

governamental em relação à demanda dos colonos. As deficiências de estrutura

administrativa e judiciária no território, também impediram uma atuação eficiente.

(MARTINE. [s.d.])

A partir de 1974 houve um aumento intensivo do fluxo de migrantes,

coincidindo com a mudança de política governamental na transamazônica, o que

favoreceu as empresas agropecuárias em detrimento do pequeno produtor.

Impossibilitado de acompanhar o ritmo de imigração e de enfrentar os

grileiros e invasores, o INCRA passou a atuar em termos de regularização de

situações fáticas.

A partir de 1977, o numero de famílias não-assentadas era estimada em

30.000. Ate essa época 28 mil famílias haviam sido assentadas nos sete projetos

existentes ao longo da BR 364 em Rondônia.

Devido à impossibilidade de absorver excedentes rurais que se dirigiam

em numero crescente à Rondônia, o Governo adotou medidas enérgicas de

desestimulacão de fluxo na região.

Embora houvesse vantagens reais em termos de riquezas de solo, da

relativa disponibilidade de terras devolutas, da qualidade e experiência dos colonos

e do apoio governamental reforçado, o processo de colonização de Rondônia, não

pode ser considerado um sucesso.

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3 POLITICAS DE COLONIZACAO DO ALTO TURI: ATUACAO DA SUDENE E

COLONE EM ZÉ DOCA

O processo de colonização dirigida, no qual ocorreria a transferência de

colonos agrícolas para as terras do Alto Turi, foi previsto e disciplinado no Estatuto

da Terra.

Por “colonização dirigida” compreenda-se:

“[...] povoamento precedido de planejamento governamental ou privado [...]” que, para as atividades agropecuárias, originaria “um conjunto de pequenas propriedades, desde que a área de cada unidade familiar seja limitada” ou então ensejaria o “aparecimento de um conjunto de „plantation‟, se não houver limite prefixado para a ocupação da terra” (TAVARES, 1972 apud ARCANGELL, 1987, p. 9).

Nos art. 55 e 59 do Estatuto é abordada a Colonização Oficial promovida

pelo poder publico objetivando tomar:

[...] a iniciativa de recrutar e selecionar pessoas ou famílias, dentro ou fora do território nacional, reunindo-as em núcleos agrícolas ou agro industriais, podendo encarregar-se de seu transporte, recepção, hospedagem e encaminhamento, ate a sua colocação e integração nos respectivos núcleos”.(LIMA JUNIOR, 1987, p. 46).

Ressalte-se que o Estatuto, em seu art. 36 incisos I a V aponta as áreas

preferencialmente a sofrerem colonização dirigida. Assim, no tocante às terras do

Alto Turi, há que se observar os incisos I e V: “[...] ociosas ou de aproveitamento

inadequado [...] de desbravamento ao longo dos eixos viários para ampliar a

fronteira econômica do país”.

Lima Junior (1987) lembra que as terras do Alto Turi houve uma

penetração pioneira espontânea anterior, que foi dinamizada com a abertura de linha

de telegrafo e uma picada da Petrobrás. Esses acontecimentos históricos enfatizam

uma primeira ocupação anterior á ocupação dirigida, acarreando à esta diversos

problemas, principalmente de acesso à terra.

A partir da criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE) em 15.12.1959, dá-se inicio a uma fase de interferência do Estado no

processo de povoamento, prevista nos objetivos gerais, no qual estava inserido o

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Projeto de Povoamento do Maranhão (PPM), que objetivava basicamente solucionar

problemas estruturais agrários do Nordeste brasileiro. Neste contexto esta inserido o

Projeto de Colonização do Alto Turi (PCAT), que, a partir de 1972 passou a ser

executado pela Companhia de Colonização do Nordeste – COLONE, subsidiária da

SUDENE, em substituição ao antigo PPM, tendo como sede a cidade de São Luis.

Observa-se assim, dois períodos distintos de desenvolvimento do Projeto de

Povoamento do Maranhão PCAT: inicio do projeto (1962) ate 1972 e período

COLONE, de 1972 em diante.

O PPM, uma das diretrizes básicas do I Plano Diretor da SUDENE, trouxe

a criação do Grupo Interdepartamental de Povoamento do Maranhão (GIPM),

encarregado de executar o Projeto. Tal execução baseava-se nas seguintes metas

(ANDRADE, 1973, p.154 apud LIMA JUNIOR, 1987, p.58-59):

a)expandir a produção de alimentos na forma sugerida pela demanda potencial das áreas urbano-industrial nordestinos; b)incrementar e melhorar qualitativamente a produção de alimentos e matérias primas para o mercado interno; c) ocupar em níveis mais altos de produtividade os excedentes de força de trabalho das zonas semi-áridas; d)criar condições nas áreas de povoamento novo, para uma atividade econômica estável, de base agroindustrial.

Surgiu, assim, a base do PCAT, que a partir da década de 70 tomou maior

impulso, o que se deu devido à fatores exógenos às condições internas da

SUDENE.

O Projeto de Povoamento do Maranhão integrado aos objetivos nacionais de integração e de melhor equilíbrio das disparidades inter e intra-regionais, passou então a funcionar como uma espécie de pioneiro numa área inóspita e sem estudo de base cartográfica que pudesse melhor orientar e assegurar a sua implantação. A área escolhida foi doada pelo Estado do Maranhão, no seu extremo noroeste, dentro da pré-amazônica. Era uma área de 3.095.000 hectares, ao norte do Município de Pindaré-Mirim, compreendendo terras devolutas e sem nenhuma infra estrutura de apoio, salvo as picadas abertas pela Petrobras e para a construção da linha telegráfica rumo ao Pará. De resto, nem sequer a BR – 316 estava aberta na área, apesar dos esforços voltados neste sentido. (LIMA JUNIOR, 1989, p. 59).

De acordo com Andrade (1973, p.154b apud LIMA JUNIOR, 1987, p. 59)

cada lote estaria dimensionado em “[...] 50 hectares destinados aos colonizadores

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nucleados [...] distribuídos a 25.000 famílias em 5 anos, de modo que logo nos 3

primeiros anos 6.500 estivessem assentados”.

O volume de trabalho a ser utilizado determinar-se-á pelas

disponibilidades da própria família, não havendo trabalho assalariado, pois este

levaria a desajuste no equilíbrio social da comunidade (contradição arrendatário-

assalariado). O trabalho assalariado poderia, ainda, levar à formação de grupos de

mão-de-obra flutuante, com ocupação sazonal. (DORNAS, 1974, p.19 apud LIMA

JUNIOR, 1987, p. 59).

Alem da área recebida (50 hectares), cada família, alem da ajuda

financeira e assistência técnica permanente, a comercialização da produção e o

custeio e manutenção dos serviços comunitários seriam medializados através de

uma Cooperativa que serviria também, como centro de integração sócio-cultural dos

membros da comunidade. Alem da atividade agro-florestal (base da colonização)

seriam estabelecidas pequenas comunidades industriais para o aproveitamento das

matérias primas produzidas localmente, realizando-se assim a integração vertical do

sistema.

Foram montados esquemas de nucleação circulares como forma de

ocupação do espaço. Isso originou o arcabouço do planejamento geral para

implantação do PPM, a se desenvolver mediante fatores econômicos e forças

sociais.

Foi no 2º semestre de 1962, que a SUDENE instalou-se através do GIMP,

utilizando a cidade de Pindaré-Mirim como base para sua instalação definitiva. Em

1963, foi instalado em escritório em Zé Doca. Daí então. O GIPM passou por

obstáculos que entravaram a implantação do PPM. Como exemplo tem-se a falta de

um levantamento das condições ambientais das áreas. Alem da falta de recursos

financeiros para cobrir os investimentos em custos de implantação.

Após serem feitas pesquisas sócio-econômicas (recenseamentos da

população da área, cadastramento dos núcleos de colonização espontânea e das

atividades artesanais), instalação de campo agrícolas experimentais, de escolas

primárias e postos médios, houve um melhor preparo da população para a aceitação

dos programas. No ano seguinte,1964 iniciou-se a instalação dos primeiros núcleos

circulares. A esquerda da BR-316, nas proximidades de Zé Doca e nas suas

mediações, ao norte da área.

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Nesta época, existiam programas de orientação e organização da

população (educação e extensão rural), alem de obras de infra-estrutura e serviços

de abastecimentos e comercialização do arroz. A criação da Cooperativa Agrícola

Mista do Ato Turi (COMALTA) em 1962 teve como finalidade a comercialização do

arroz.

Nº período de vigência do II Plano Diretor da SUDENE (1963-1965):

[...] assimilaram-se por uma procura de estratégia adequada à escassez de recursos orçamentários da SUDENE aplicáveis ao Projeto e ao mesmo tempo, por esforços para conhecimento de maior profundidade do quadro natural e de suas implicações sócio econômicas e para criação duma estrutura de apoio logístico próprio do PCAT. (ANDRADE 1973, p. 155 apud LIMA JUNIOR, 1987, p. 61).

Após o período acima citado e ate 1967, houve um maior registro de

complexidade dos programas da SUDENE, os quais levaram a um aumento das

instalações na área.

No inicio do III Plano Diretor (1966 – 1968), houve a nucleação de

aproximadamente 900 famílias de colonos, aumento de infra-estrutura social de

educação, ampliação dos serviços de extensão e ação comunitária, instalação de

infra-estrutura de apoio a comunicação (rádio) e circulação (veículos e campos de

aviação) e instalação de uma unidade mista hospitalar de emergência em Zé Doca.

No mesmo período houve, ainda incremento da agricultura e a extração (através de

mais dois postos da COMALTA), serraria, almoxarifado, aquisição de maquinas

agrícolas pescadas e leves.

A abertura de estradas vicinais perpendiculares à BR 316 e a celebração

de convenio com o 3º batalhão de Engenharia e Construção (BEC) deu continuidade

aos trabalhos da COMALTA.

Zé Doca ganhou nova estrutura devido à construção do núcleo

habitacional para a equipe técnico-administrativo do Projeto. Tal núcleo foi

construído objetivando dar a equipe condições para a permanência na área,

evitando assim, sua evasão.

A falta de conhecimento dos recurso naturais e meio ambiente, demandou

levantamentos aerofotogramétricos, os quais cobriam uma área de

aproximadamente 3.000 km² em escalas de 1:40.000 e 1:25.000. “A nível

exploratório foram objetos de estudo 30.000 km² para levantamento das condições

ambientais.

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No tocante ao setor agrícola, ocorreram experimentações e a melhoria de

plantas cultivadas concorreram com a aquisição e multiplicação de mudas,

sementes e estudos de mercado para o arroz, amendoim, mamona, pimenta do

reino, banana, borracha e rani.

No período posterior a 1967, época de política deflacionaria do Governo,

o Projeto teve dificuldades financeiras, ocorrendo então, acordos internacionais para

solucionar a crise e levar a cabo o seu bom andamento, posto que as bases tinham

sido lançadas com resultados positivos em muitos dos seus objetivos.

No final de 1968, o Programa Cooperativo FAO – Banco Mundial decidiu

financiar um projeto de colonização de uma área, com 200 a 300 mil hectares.

Assim, o relatório elaborado pela missão FAO-BIRD² escolheu a área do PCAT. Em

1969, o governo britânico decidiu fornecer recursos técnicos e financeiros, o que

demandou um acordo com o Governo brasileiro, no qual os trabalhos estipulados

fossem executados por uma consultoria inglesa, a Hunting Techinical Services

Limited. Essa consultoria permaneceu na área no período compreendido entre 1970-

1971. Em contrapartida, o governo brasileiro, através da SUDENE firmou convênios

com entidades especiais como a Geologia, Proporções e Aerofotogrametria S.A.

(PROSPEC), para que a mesma elaborasse carta planinetrica, na escala de

1:40.000; o centro de Pesquisas Florestais da Escola Nacional de Florestas, fez o

inventario florestal; a Companhia Nordestina de Sondagem e Perfurações

(CONESP) fez os estudos de abastecimentos d‟água à população; o Instituto de

Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte (IPEAN) ficou responsável pelo

levantamento pedológico e a Organização Mundial de Meteorologia encarregou-se

dos levantamentos de dados climáticos.

Os estudos da Missão Inglesa, proporcionaram financiamentos do Banco

Mundial às sub-áreas I e II (Anexo A e B).

As ultimas negociações com o Banco Mundial, encerraram essa etapa

PPM do desenvolvimento do PCAT, devido à criação de uma empresa de economia

mista subsidiária da SUDENE, a qual passou a executar o projeto.

_____________________

² Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

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Nesse contexto, a partir de 1972 começa o período COLONE, operando

com financiamento do BIRD, tendo a SUDENE como maior acionista, seguida do

Banco do Nordeste do Brasil (BNB), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INGRA) e do Estado do Maranhão.

3.1 A COLONE

A criação da COLONE enfatizou os objetivos gerais do PCAT que vinham

sendo incrementados desde o inicio da implantação do PPM. Isso de deveu

principalmente, ao apoio que o Projeto recebeu de organismo nacionais e

estrangeiros (recursos financeiros e humanos).

Na elaboração dos objetivos gerais do PCAT, a COLONE buscou focalizar

suas vinculações com as políticas oficiais. Desse modo, em relação ao I Plano de

Desenvolvimento Econômico e Social (1972-1974), o projeto ajustou-se à Política de

Integração Nacional e transformação da Agricultura Tradicional.

Baseando-se no IV Plano Diretor da SUDENE (1969/73) há uma

vinculação ao objeto geral da ampliação da fronteira agrícola ,do Nordeste, através

da elaboração de um projeto-piloto da colonização, da continuação das pesquisas

tecnológicas de agropecuária e do levantamento dos recursos minerais da área.Há

vinculo também com o Plano de Desenvolvimento Regional da SUNDENE(1972/74),

através de objetivos:

1) Alargamento da fronteira agrícola, visando a absorção do excedente

de mão-de-obra da zona semi-árida do Nordeste e o conseqüente

aumento da produção de alimentos de matérias-primas.

2) Racionalizar os trabalhos desenvolvidos nos grandes núcleos de

colonização já implantados e prover o aproveitamento das áreas

ociosas ali existentes,com a finalidade de ampliar a oferta de emprego

no meio rural.

3) Racionalizar a produção de pequenos núcleos já instalados através do

melhor aproveitamento dos recursos disponíveis.

Conforme visto, os objetivos gerais do PCAT se integravam aos da política

oficial, o que veio facilitar a sua incrementação por parte dos organismos referidos,

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uma vez que é empreendimento e uma experiência no que tange aos objetivos de

integração nacional.

Com relação aos objetivos específicos, estes passaram a integrar o

Contrato de empréstimos firmado com o BIRD, cujas são as seguintes

(COLONE,1975.p.26 apud LIMA JUNIOR,1987,p.64):

I - a execução de um plano para fixa cerca de 5.200 famílias na área do

Alto Turi,Estado do Maranhão, compreenderia:

a) Levantamentos topográficos e demarcação de lotes individuais com

cerca de 50 hectares cada;

b) Desenvolvimentos dessas terras em estabelecimentos agrícolas e

fazendas;

c) Providencias de pesquisa, extensão e outros benefícios para o colono.

II – Planejamento e construção de cerca de 306 quilômetros de estradas

de acesso e trilhas, bem como melhoramento de cerca de 80 kilometros de estradas

de acesso.

III – Expansão da estação de pesquisa de pastagem sediada em Zé Doca

e instalação de uma sub-estação em Nova Olinda, com vistas à produção de

sementes de capim, à realização de pesquisas sobre o melhoramento de pastagens,

ao treinamento de especialistas em trabalhos com pastagens tropicais e à sua

utilização como terras para criação de gado.

IV – Construção e equipamento de cerca de 60 escolas, um hospital e

cerca de 10 centros de saúde (dispensários ou mini-postos);

V – Melhoramento e ampliação de uma serraria existente em Cocalino;

VI – Conclusão de estudos sobre a comercialização de arroz, carne e

madeira, de um levantamento sobre recursos hídricos na área do Projeto e

preparação de outros projetos de colonização;

VII – Estabelecimento de duas cooperativas, em Zé Doca e Nova Olinda,

para fornecer serviços de comercialização e credito a prazo médio para compra de

gado, arame farpado e outros artigos, e a curto prazo, para a comercialização”.

Verifica-se que os objetivos específicos estabelecidos no contrato com o

BIRD, pouco diferem dos objetivos e/ou aspirações do artigo PPM. Além do mais, os

modelos físico e econômico já implantados ou com planos de implantação

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permanecem como parte integrante do conjunto de objetivos específicos de projeto,

muito embora de forma implícita.

Ressalta-se ainda, que as 5.200 famílias de que deveriam ser fixadas,

como meta/objetivo principal, 3.000 deveriam ser assentadas em conformidade com

o planejamento físico e econômico, enquanto que 2.000 restantes eram famílias que

haviam ocupado espontaneamente área e cuja fixação deveria se dar através da

legislação de posse e de estímulos para alcançarem melhores posições no acesso

ao crédito e nos níveis de produtividade.

A implantação das atividades agropecuárias no modelo econômico ficou

prevista através de créditos assumidos no contrato com o BIRD. O credito para

inversões, em cada lote, ficou a cargo do BNB, através de recursos a ele

repassados, com intermediação da COMALDA.

A COLONE ficou com a responsabilidade de acompanhar o

desenvolvimento dos lotes, através de assistência técnica articulada com os

programas de educação, saúde, desenvolvimento comunitário e de apoio às

cooperativas, objetivando promover impactos de mudança técnico cultural e à

melhoria da qualidade de vida dos colonos. Acrescenta-se os recursos para a

implantação de toda uma infra-estrutura de apoio básico, como a rodoviária,

facilitando a circulação de pessoas e escoamento das mercadorias comercializáveis.

Dentro desse quadro e dos demais descritos esta o PCAT, cujas

características serão diagnosticadas a seguir, visando a uma certa avaliação do

andamento do Projeto.

Localização, Base Naturais e Humanas da Área do PCAT

Karp (1976) apud Lima Junior (1987) afirma que uma estratégia de

desenvolvimento rural precisa considerar, simultaneamente, os objetivos a serem

alcançados, os meios (políticos e programas específicos) através dos quais esses

objetivos serão atingidos e o reconhecimento das variadas restrições colocadas pela

condição econômicas e demográficas (e também naturais) típicas.

Esse ultimo ponto permite supor que a avaliação adequada das restrições

ecológicas e sócio-culturais de uma área possibilitaria adequação eventual da

estratégia de planejamento às condições peculiares da área na qual deveriam ser

implementados os planos de desenvolvimento rural, segundo seus objetivos.

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Com a criação do PCAT sentiu-se a necessidade de um reconhecimento

mais completo das condições naturais da área do Projeto, até então de difícil

acesso, ocupada pela floresta equatorial.

Diversas condições do meio físico de áreas amostrais contidas no Projeto

foram levadas para estudo das condições naturais, em geral por órgãos oficiais, por

pesquisadores individuais e por companhias especializadas. Os resultados desses

levantamentos publicados pela COLONE faça freqüentes referencias e sínteses

sobre os mesmos.

A área de colonização distribuiu-se ao longo de ambas as margens da rodovias BR-316, em seu trecho Teresina-Belém; [...] A área, está, pois mais ou menos eqüidistante de Belém e São Luís e não muito distante de Teresina, as maiores cidades da região, às quais se liga pelo rodovia totalmente asfaltadas (COLONE, 1984, p. 12).

O projeto de Colonização do Alto Turi corresponde a uma área de 939.000

hectares, situada a noroeste do Estado do Maranhão, o limite sul da área tem como

marco o povoado de Rosilândia na BR-316, por onde passa uma reta perpendicular

a essa rodovia, 20 quilômetros para cada lado da mesma. A sudoeste, essa reta se

encontra com as terras da FUNAI, seguindo por esse limite, rumo a noroeste, ate o

Guripi, ao norte da área. Daí segue ate pelo Gurupi, a jusante, ate o povoado de Boa

Vista do Gurupi, na mesma rodovia e por essa direção do Maranhão, ate o povoado

Encruzo. Desse ponto, toma rumo nordeste através de outra reta ate alcançar cerca

de 20 kilometros da referida rodovia, de onde segue paralelamente à mesma ate

encontrar a reta sul, que passa por Rosilândia. O eixo mais longo da área, mais ou

menos semelhante a um retângula, tem cerca de 207 quilômetros ao longo da BR-

316, desde Rosilândia ate Boa Vista do Gurupi.

Dentro desse espaço o PCAT foi implantado, através de etapas, o que

condicionou a sua subdivisão em três sub-áreas (Anexo A), obedecendo o perímetro

da área total e separadas entre si por elementos naturais.

a) a Sub-Área I (anexo B) – também conhecida como “Área Zé Doca” ou

“Área Velha”, tem aproximadamente 240.000 hectares, correspondendo a cerca de

25% d área do PCAT. Se estende desde o limite sul do projeto, ou seja, da linha

perpendicular à BR-316 que passa pelo povoado Rosilândia ate o rio Turiaçu,

Penalva e Pinheiro (Microrregião Baixada Ocidental do Maranhense).

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b) a Sub-Área II (anexo C) – que também é chamada “Área de Nova

Olinda” ou “Área Novo”, com 250.000 hectares aproximadamente, representa 27%

da área do Projeto. O seu espaço é composto por porções de áreas dos municípios

de Santa Helena (MICRORREGIÃO Baixada Ocidental do Maranhense), Turiaçu,

Candido Mendes (Microrregião do Gurupi), se estendendo do Rio Turiaçu ate ao rio

Paraná.

c) Sub-Área III - “Área de expansão” tem cerca de 449.000 hectares e

participa com aproximadamente 48% do espaço do PCAT, estende-se rio Parauá ao

rio Gurupi por porções dos municípios de Candido Mendes, Godofredo Viana, Luiz

Domingues e Carutapera, todos pertencentes a Microrregião do Gurupi, no extremo

oeste do Estado.

Resumido, a área do Projeto é constituída por formas de relevo ondulado,

cujas cotas altimetricas giram em torno do 100 metros, talhadas em sedimentos do

Meio Norte brasileiro, onde ocorrem, supostamente, formações cretáceas e

depósitos terciários e quaternários, os quais segundo Andrade (1973, p. 132 apud

LIMA JUNIOR, 1987, p. 72), “são de pequena utilidade econômica, salvo quando

couraças de lateritas, aliais freqüentes, ocorrem a pequenas profundidades”.

Na publicação Colonização do Alto Turi, de autoria da COLONE (1984) é

dito que:

Os colonos do PCAT conseguiram notável incremento de renda, acima mesmo do projetado inicialmente. Técnicos do Banco Mundial, que financia parte dos custos do empreendimento concluíram, em avaliação que realizaram em 1982, que dois anos antes a renda familiar anual dos colonos já situava-se entre 900 e 1.200 dólares, enquanto as previsões iniciais contentavam-se com cerca de 450 dólares, o que é altamente significativo numa área em que os ganhos dos lavradores pobres não costuma sequer atingir um salário mínimo.

De acordo com os dados da COLONE, em setembro/84 estavam

assentadas regulamente 10.400 famílias. Além destas, muitas outras ocuparam

espontaneamente lotes dentro da área, num processo de imigração que data do final

dos anos 50 e intensificou-se com o inicio das obras da BR-316. Nessa época, os

colonos contavam com o apoio da Cooperativa Mista Alto Turi (COMALTA) e da

Cooperativa Agroindustrial do Oeste Maranhense (COAGRIM).

Na COMALTA estavam congregados os lavradores da área de Zé Doca e

Nova Olinda. Todos os núcleos possuíam atuantes conselhos de representantes dos

quais emergiam lideranças autenticas encarregadas, entre outras missões, de

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defender os interesses do grupo ante o poder público (COLONE), prefeituras dos

municípios ou governo estadual).

Através das Cooperativas os colonos tinham acesso ao crédito para

investimento e custeio de safras, a exemplo de seringueiras e pimenta-do-reino –

Figura 1.

Figura 1 – Plantio de pimenta-do-reino no PCAT

Sobre a COMALTA em Zé Doca é interessante observar o depoimento

dado por Manoel da Costa Luz, ex funcionário do órgão:

A COLONE preparava as mudas de pimenta, colocava o técnico a disposição do preparo da área e incentivava o colono a plantar em torno de 800 pés de pimenta do reino, com isso receberia outro financiamento de 5 matrizes (gado) este selecionado pelos veterinários da empresa, provenientes da cidade de Araguaiana, com isso Zé Doca ate hoje colhe os frutos com gado de boa qualidade. O projeto da seringa ate hoje surte efeito na economia de algumas pessoas no município, já que a Pirelle compra diretamente o Látex (borracha) extraído.

A COMALTA movimentava um volume de financiamentos para

agropecuária que supera o de muitas grandes agencias bancarias da capital do

Estado. Além disso, o Banco do Nordeste mantinha nos povoados da área postos de

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serviços, destinados a emprestar dinheiro aos lavradores com o mínimo de

exigências burocráticas.

Sobre a COMALTA, Luzinaldo Ferreira Torres, que ocupou o cargo de

torneiro mecânico na COLONE tem uma declaração que merece ser destacada:

A COMALTA era responsável pela compra e o fornecimento das mudas para os colonos. Possuía uma oficina no povoado de Cocalino a 8 km de Zé Doca, para dar assistência ao maquinário da empresa. Existia ainda uma cerâmica que produzia tijolos para os funcionários a baixo custo de vendia também parte da produção à população local a preços também acessíveis, com uma diferença para os funcionários a venda poderia ser parcelada e para a comunidade o pagamento era feito na hora, teve como chefe durante muito tempo o Sr. Hidelberto Bernardo Lopes.

Além do atendimento escolar (Figura 2) o trabalho da COLONE avançou,

também, no estimulo à participação dos colonos, não só a nível de comunidade

como no mutirão visto na Figura 3, mas na sua própria ação de governo,

procurando transformar o lavrador em agente do seu desenvolvimento.

Figura 2 – Escola na área do PCAT

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Figura 3 – Mutirão na área do PCAT

Nenhuma das sedes municipais encontravam-se no interior da área

administrada pela COLONE, mas as vilas e povoados situados às margens da BR-

316, que corta toda a área em seu sentido longitudinal, eram, em muitos casos, os

mais populosos e dinâmicos dos respectivos municípios. Cite-se como exemplo Zé

Doca (Figura 4), onde a COLONE tinha sua sede principal na região.

Figura 4 – Vila de Zé Doca

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A COLONE incorporou o acervo físico e técnico montado pela SUDENE

em 10 anos de trabalho e as 875 famílias assentadas nos núcleos circulares. Os

principais acionistas da Companhia, além da própria SUDENE, que detinha a

maioria da ações, eram o Banco do Nordeste e o Governo do Estado do Maranhão.

Este ultimo teve a sua participação acionária concretizada pela incorporação ao

patrimônio da COLONE das terras de projeto, perfazem um total de 939.000

hectares, ou 9.390 km². Estas terras representavam um terço da área originalmente

constante nos documentos do PPM, cuja sobra dividiu-se em áreas de reserva

indígena, áreas ocupadas por pequenos produtores posseiros e áreas ocupadas por

grandes latifúndios.

Após cerca de um ano da criação da COLONE, a população da área,

então reduzida a 939.000 hectares, já se elevava para 57.918 pessoas

(aproximadamente 11.584 famílias); existiam ai, portanto, 12.717 habitantes a mais

do que na área original do PPM em 1962 (45.181 habitantes em 3 milhões de

hectares). Em 1973, a densidade demográfica havia alcançado os 6,17

habitantes/Km². A colonização espontânea continuava, portanto, a avançar

aceleradamente em área destinada à colonização dirigida.

Em 1977, o PCAT contava com 2.300 famílias assentadas em lotes de 50

hectares (nos núcleos circulares da subárea 1 e nos núcleos retangulares da

subárea II), em 300 dos quais havia sido implantado o “modelo econômico” da

missão inglesa.

Em seu depoimento sobre a atuação da COLONE em Zé Doca , Manoel

da Costa Luz, já citado, comenta sobre o “modelo econômico”.

Dando continuidade no projeto de colonização, a COLONE criou um projeto chamado “modelo econômico”, com implantação do projeto de pimenta do reino, pecuária e a seringa. O Banco do Nordeste veio para Zé Doca em função da COLONE, haja visto ser um dos acionistas da empresa e através dele e da Cooperativa Mista do Alto Turi Ltda (COMALTA) e que eram elaborados e aprovados pelo BNB os financiamentos aos colonos.

Além da 2.300 famílias citadas, mais 100 podiam ser consideradas

assentadas, em formula denominada pela COLONE de regularização fundiária, que

se definia como ato incorporador de colonos espontâneos à colonização dirigida,

pelo reconhecimento de sua posse fundiária. Estas ultimas famílias, porem, só

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excepcionalmente contava com a assistência normalmente proporcionada pela

COLONE aos núcleos planificados.

Mais uma vez, verifica-se o atraso no cronograma de assentamento

definitivo na colonização dirigida do Alto Turi; a formula de regularização fundiária

representou, distante disto, um meio para aumentar o numero de colonos dirigidos

nas estatísticas relativas à meta que deveria ter sido alcançada em 1976,, de 5.200

famílias definitivamente assentadas. Em 1977, a COLONE redefiniu os prazos de

assentamento. Nesta redefinição, as 5.200 famílias de colonos estariam finalmente

incorporadas ao projeto de colonização dirigida no fim de 1979, sendo 3.000

nucleados e 2.000 com posse regularizada.

Em documento de 1979, porem, encontrava-se a informação de que, no

fim de 1978, o total de colonos dirigidos havia alcançado o numero de 3.898, com

2.588 famílias nos núcleos do planejamento físico e 1.310 famílias no modelo e

regularização fundiária, também chamado na COLONE de disciplinamento de

posses.

O “modelo econômico” de exploração encontrava-se implantado num total

de 312 lotes, nesta mesmo data.

Há algumas relações interessantes que podem ser estabelecidas com

base nestes dados. Ao aceitar-se a estimativa populacional de 1977 (130.000

habitantes na área do projeto) e o numero médio de membros da unidade familiar

(cinco indivíduos), verifica-se que aproximadamente 26.000 famílias ocupavam a

área naquela data. Relacionando-se os colonos assentados em 1979 (3.898) com

este dado (desatualizado), infere-se que, possivelmente, menos de 15% da

população do Alto Turi integra a colonização dirigida (admitindo-se que a formula

regularização fundiária possa assim ser chamada). O restante, de no mínimo 85%,

refere-se à colonização espontânea, em área de colonização dirigida. Em relação à

ocupação territorial, sempre que se encare a regularização fundiária com

características semelhantes aos núcleos do planejamento físico no que diz respeito

á área de cultivo familiar, aproximadamente 194.900 há. Cultivados, dos 939.000

possíveis, são ocupadas pela colonização dirigida, o que percentualmente,

representa cerca de 21% da área total. Este resultado mostra que tipo de

colonização adotado não mais poderia absorver a totalidade da população do

projeto, em função da limitação das terras incorporadas ao cultivo, face a densidade

demográfica existente; nas áreas de ocupação mais antigas, ao lado dos núcleos

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planificados, especialmente por causa da existência de posses abusivas com caráter

de latifúndio, proliferava o minifúndio antieconômico, em que subsiste a maior prte

dos colonos espontâneos.

O problema fundiário apresenta-se, portanto, como um dos mais graves

que PCAT enfrentara há vários anos. Dados do Censo/Pesquisa realizado em 19744

pela COLONE revelam paradoxal grau de concentração fundiária para área

destinada a proliferação da pequena unidade de produção familiar. Excluindo-se os

núcleos de planejamento físico, isto é, analisando-se somente áreas de posse, o

coeficiente de GINI, que mede a concentração fundiária, era em 1970, igual a 0,8,

indicando, portanto, uma estrutura agrária inconsistente como objetivos da

colonização dirigida deu margem a ocupação da área por pequeno posseiros e

aspirantes a latifundiários; estes últimos, de presença mais recente, foram atraídos

especialmente pela riqueza madeireira da região, pelas perspectivas especulativas

que a terra oferece, ou para implantação de médios e grandes fazendas de gado,

para criatório extensivo.

Os atrasos nos assentamentos dirigidos, em termos quantitativos e

qualitativos, são justificados pela COLONE a partir de um dado básico: de 1973 a

agosto de 1977, apenas 29% dos recursos totais constante nos planos de aplicação

anuais foram realmente repassados pelo governo federal, de forma que a

inexistência de recursos nacionais na época oportuna e na qualidade certa impediu

também a utilização dos recursos do BIRD no sistema de contrapartida, conforme as

etapas previstas nos contratos de financiamento. Como decorrência disto, a

manutenção da estrutura técnico-administrativa ao longo do período sem a

correspondente consecução de metas se assentamento e desenvolvimento

econômico na área consumiu improdutivamente recursos oriundo da SUDENE.

Ademias, os custos do projeto teriam sido sensivelmente subestimado pelo BIRD,

notadamente no que diz respeito a rede de estradas vicinais que a COLONE

construiu e ao conjunto de prédios escolares edificados nos núcleos.

Em conseqüência, o BIRD diminuiu sua participação relativa no

financiamento do projeto e esta circunstância ocasionou um aumento considerável

das exigências de recursos locais. Para COLONE, se “identifica uma espécie de

circulo vicioso: insuficiência de recursos fizeram com que não fosse atingido os

resultados esperados; em função desta circunstância o projeto sofreu criticas

relativas ao seu desempenho, que por sua vez motivaram novos corte radicais de

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recurso solicitados nos planos de operacionais; disto resultando novas metas não

alcançadas, que deram margem a novas criticas e cortes.

Por trás daqueles que são os dois problemas básicos apontados pela

COLONE (o problema dos recursos), percebe-se a ausência do apoio políticos

institucional ao projeto tantas vezes invocado pelos promotores dos PCAT. Estas

circunstância é merecedora de toda a atenção na instância avaliativa do

desenvolvimento da colonização no Alto Turi, uma vez que envolve a verificação das

verdadeiras intenções e do papel do Estado na ocupação dirigida da fronteira

agrícola.

A extinção da empresa se deu ate Fevereiro de 1979, sendo que os bens imóveis e alguns moveis foram doados as prefeituras compreendidas dentro da área da COLONE, e o patrimônio fundiário foi repassado a o INCRA, que ate o momento não assumiu o domínio das terras da áreas dificultado assim os pequenos e médios produtores a contraírem qualquer tipo de empréstimo ou financiamento bancário em função de não possuir qualquer tipo de documentação definitiva da terra. (Manoel da Costa Luz, Assistente Administrativo da COLONE)

A fim de melhor ilustrar esse período histórico de Zé Doca foram colhidos

depoimento de moradores e antigos funcionários da COLONE, os quais se

encontram no Apêndice A.

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4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICIPIO

4.1 Histórico

A origem do Município de Zé Doca - MA, data do final da década de 50,

época da chegada dos primeiros moradores do local, advindos de outras regiões do

Estado, que buscavam desbravar novas áreas de fronteiras agrícolas. O nome da

cidade deve-se a um desses moradores que iniciaram a formação do povoado - Sr.

José Timóteo Ferreira, vulgo “Zé Doca”.

Com a implantação, na década de 60, do projeto de colonização do

Governo Federal, através da SUDENE que objetivava desenvolver e povoar a região

houve o loteamento em núcleos e quadras racionalizando as distribuições das terras

de significativa área da localidade. A SUDENE, também, promoveu um trabalho de

extensão rural junto às comunidades com informações técnicas e inovação na

implantação de novas culturas.

No ano de 1972 a SUDENE delega suas ações à COLONE, responsável

pela construção de significativa estrutura física e pela prestação de serviços técnicos

de extensão rural junto aos agricultores da região.

A construção da BR-316 que corta a cidade ao meio, também é um fator

de desenvolvimento local, permitindo melhor acesso a outros centros urbanos.

A emancipação do Município ocorreu em 4 de outubro de 1987, pelo

Decreto nº 4.865 de março de 1988, Por esse decreto, Zé Doca foi desmembrado de

Monção³:

Art.1º - Fica criado o Município de Zé Doca a ser desmembrado do Município de Monção, constituído de um único distrito, e com sede no povoado denominado Zé Doca. O referido Município possui uma superfície de 2.044.4 Km² (quatro mil quinhentos e quarenta e nove quilômetros quadrado) e fica situado na região Noroeste do Estado do Maranhão. (LEI nº 4.865, 1988, p.)

_____________________

³ Monção pertence a micro-região 34 – Pindaré. Tem latitude sul 3º 29` e longitude WGr 45º 16´

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No mesmo dispositivo legal já citado fica ainda determinado que:

Art. 2º - O Município ora criado fica subordinado à Comarca de Santa Inês e tem os seguintes limites: ao Norte, limita-se com o MUNICÍPIO de Turiaçu, guardando os atuais limites de Monção com o citado Município; ao Sul limita-se com o Município de Bom Jardim, guardando os atuais limites do referido Município com o de Monção: A Oeste, limita-se com o Município de Carutapera, resguardando os atuais limites do referido Município com o de Monção; a Leste, limita-se com o Município de Pinheiro, sendo preservados os atuais limites do referido Município com o de Monção e com o Município de Monção pela nova linha divisória entre esses Municípios. (LEI nº 4.865, 1988, p. 1).

Na lei 4.865, supra citada estão dispostas as confrontação limítrofes em

relação aos Municípios de Pinheiro, Monção, Bom Jardim, Carutapera e Turiaçu,

conforme exposto a seguir:

Pinheiro

o Começa no ponto de intersecção da antiga linha de telegrafo

com o Rio Turiaçu, no povoado denominado Alto Turi,

seguindo-se por esta linha de telegrafo ate encontrar o

povoado denominado Alto Alegre, que serve de ponto de

limite dos Municípios de Pinheiro, Penalva e Monção.

Monção

o Começa no povoado denominado Alto Alegre, que serve de

ponto de convergência dos limites municipais de Pinheiro,

Penalva e Monção. Seguindo-se do citado povoado pela

antiga linha de telegrafo ate encontrar o Igarapé denominado

Jeju. Deste ponto de intersecção, seguindo-se com um

azimute verdadeiro de 225º 00´ (duzentos e vinte cinco

graus), encontra-se o povoado denominado Girafa que inclui

para Bom Jardim.

Bom Jardim

o Começa no povoado denominado Girafa, pertencente ao

citado Município. Seguindo-se do povoado com um azimute

verdadeiro de 270º 00´ (duzentos e setenta graus) através de

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uma picada da PETROBRAS ate encontrar o divisor da Serra

do Tiracambu.

Carutapera

o Começa no ponto de limite do Município de Bom Jardim com

o citado Município. Seguindo-se deste ponto pelo divisor

d‟água da Serra do Tiracambu ate a nascente do rio Turiaçu.

Turiaçu

o Começa na nascente do Rio Turiaçu, seguindo-se por este

rio ate o povoado denominado Alto Turi, ponto de intersecção

da antiga linha de telegrafo com o Rio Turiaçu.

4.2 Situação Atual

A região de Zé Doca representa o mais recente sentido da fronteira de

produção rural e conseqüente movimentos migratórios dentro do Maranhão. Trata-

se, igualmente, da região integrada por maior numero de municípios, dezoito ao

todo, dos quais somente 6 não foram implantados em 1997, ratificando o processo

de deslocamento populacional para essa área regional, onde a abertura da BR-316

(Maranhão-Pará) exerceu papel fundamental para a formação dos núcleos rurais e

urbanos que deram origem a vários dos atuais municípios, que em sua maioria

situam-se à margem da mencionada rodovia. (Zé Doca, 2004b, p.1).

4.2.1 Espaço Geográfico

O Município de Zé Doca, fica situado na região noroeste do Estado do

Maranhão, que tem limites com os Estados do Pará, Tocantins, Piauí, e Oceano

Atlântico. (Zé Doca, 2004b, p.1).

O Município de Zé Doca tem como limites:

Ao Norte: Municípios de Araguanã e Turiaçu;

Ao Sul: Municípios de Gov. Newton Bello e Bom Jardim;

Ao Leste: Municípios de Pinheiro, Pedro do Rosário e Monção;

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Ao Oeste: Município de Carutapera.

O município divide-se em 02 distritos, 03 Bairros, 13 vilas e 198 povoados.

Sua extensão territorial é de 2.044 km², estando localizado na região

noroeste do Estado, distante a 310 km da capital do Estado – São Luís. O Centro

Comercial mais próximo do Município fica em Santa Inês, a 68 km.

O município é banhado em grande parte pelo Rio Turiaçu e pequenos

igarapés perenes e temporários, com destaque para Igarapé Grande, Barraca Nova,

Igarapé AD, dentre outros.

De clima tropical, Zé Doca registra temperatura em torno de 27º C, com

índice pluviométrico variando de 1.700 a 2.000 mm, com umidade relativa do ar em

80%. No tocante à sua vegetação, Zé Doca esta localizado na região pré-

amazônica, composto de capoeira e pastagens naturais/artificiais.

4.2.2 Sistema Demográfico

A população do Município é de 46.034 habitantes, sendo que deste total

27.608 estão localizados na zona urbana e 18.426 na zona rural.

4.2.3 Aspectos Sócios- Econômicos

Na economia do Município predomina a agricultura temporária dos

produtos de subsistência (arroz, milho, feijão e mandioca) e as culturas permanentes

de citros, caju, seringa, pimenta do reino, dentre outras. A horticultura apresenta-se

como uma alternativa de sobrevivência para as famílias que cultivam as “hortas de

fundo de quintal” produzindo hortaliças (maxixe, quiabo, abóbora, e outros). O

babaçu é o produto extrativista de maior valor econômico.

Para o escoamento da produção são utilizados caminhões e animais de

carga.

O numero de produtores rurais do Município é de 9.000 aproximadamente,

sendo que a área agricultável é de 4.625 hectares.

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Na pecuária local destaca-se a criação de gado bovino de corte, havendo

a exploração de leite e seus derivados. Existem também, no Município, atividades

econômicas voltadas para avicultura e piscicultura em menor escala.

No tocante à atividade industrial no Município, existem serrarias para

beneficiamento da madeira de lei, usinas de beneficiamento de arroz e, cerâmicas,

que também contribuem, para esse setor.

No comercio, destaca-se a atividade varejista, com supermercados,

materiais de construção, alem de outras.

4.2.4 Sistema de Saúde, Saneamento e Habitação

4.2.4.1 Saúde

As ações de saúde local desenvolvidas no Município, pautam-se na norma

operacional básica (NOB) do Sistema Único de Saúde (SUS) de janeiro de 1996, a

qual estabelece a existência do Plano Municipal de Saúde, discutido e aprovado

pelo Conselho Municipal da Saúde.

Dentre os serviços de saúde existentes no Município destacam-se:

Na rede Publica Municipal

Existem 14 Postos de Saúde, sendo 06 na Sede do Município e os demais

distribuídos no povoado de Vila Gusmão, Vila Amorim, Vila Barroso, Vila Major,

Corinto, Bairro São Francisco, Boa Esperança, Ebenézia, Josias, Igarapé Grande,

Núcleo A1, Núcleo BB, Paraíso Sobral e Três Satubas.

Na rede de Saúde Federal

Conta com 01 Unidade Mista Municipal de Zé Doca

Na rede de Saúde Privada

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Formada pelo Hospital São Francisco, Policlínica São Lucas, Casa de

Saúde e Maternidade “Dr. Afonso Barros”.

4.2.4.2 Saneamento

Água

Apenas 25% de população possuem rede de abastecimento de água, que

é administrada pela Companhia de Água e Esgoto do Maranhão (CAEMA). Nos

povoados, o abastecimento é feito por poços artesianos ou chafarizes administrados

pela Prefeitura e/ou comunidades.

Esgoto

O município não dispõe de rede de esgoto, o que leva os dejetos a terem

como destino, privadas do tipo fossa seca e vasos sanitários.

Lixo

Não existe no Município uma coleta de lixo sistemática. Somente 7,7% dos

domicílios conta com o sistema de coleta alternado, o que leva a maioria da

população a recorrer a formas alternativas de acondicionamento e destino do lixo,

como por exemplo queimá-lo.

Habitação

A maioria dos domicílios está na área rural (9.600). Na área urbana

existem 4.400 habitações.

A maior parte dos domicílios da sede do município é de alvenaria, com

cobertura de telhas. Na zona rural as residências são de taipa.

4.2.4.3 Outros serviços existentes em Zé Doca

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Energia Elétrica

No município existem 10.108 estabelecimentos com rede de energia

elétrica, sendo que existem 8 com rede de energia elétrica própria.

Segurança Pública

A segurança publica no município é garantida por uma delegacia de

Policia, com um contingente policial formada por um Delegado de Policia, dois

agentes de Policia Civil .

Está sediada no município, a 3º Companhia do 7º Batalhão de Policia

Militar do Maranhão, que conta com o efetivo de 26 policiais e 01 oficial.

Meios de Comunicação

Existem no município uma Estação de Radio (Rádio Alvorada) e nove

Postos telefônicos.

Instituições Financeiras

Banco do Brasil S/A, Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Banco do

Estado do Maranhão (BEM) e uma Casa Lotérica.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos numa época de globalização incontrolada, o que leva a uma

crescente internacionalização da agenda nacional e a marginalização da questão

regional ou o esfacelamento das regiões.

A nova tecnoburocracia mostra-se incompetente e politicamente

descomprometida face ao problema da desigualdade regionais de renda. Existe

também, uma forte omissão, impotência e ate despreparo das forças (políticas,

econômicas e sociais) regionais no trato da matéria.

Esse quadro deve ser revertido sob pena de a situação ficar

irremedialmente agravada.

Há uma necessidade imperiosa de intervenção governamental no sentido

de reduzir as disparidades sociais e regionais e de inserir, tanto quanto possível, as

áreas mais pobres do país no contexto da globalização. Cabe incluir a questão

regional na agenda nacional. Mesmo em época de abertura e globalização,a

intervenção governamental se faz imprescindível para que se venha a ter uma

sociedade mais justa e harmônica.

O combate à pobreza e a redução de eliminação das desigualdades

regionais são questões indissociáveis. Perseguir a segunda significa trabalhar em

busca dos objetivos colimados na primeira. Resultados significativos nesta área,

portando, somente serão obtidos se houver concentração maciça de investimentos

nas regiões menos desenvolvidas, com especial destaque para o Nordeste, onde se

registra os mais adversos indicadores sociais.

Nessa ótica, somente através de planos e programas regionais

compatíveis com a nova ordem econômica nacional e internacional, incentivos

fiscais regionais atualizados e em volume adequado, financiamento em condições

compatíveis com a natureza e rentabilidade dos investimentos regionais e expansão

de infra-estrutura econômica e social, que enfeixam uma ampla demanda de ações

governamentais em parceria com o setor privado, poder-se-á, com alguma margem

de êxito combater as disparidades existentes.

Assim, é que se observou no processo de pesquisa que o projeto de

colonização assistida implementado pelo Governo na área em estudo, embora tenha

procurado minimizar a problemática da distribuição de terras no país, na teve o

resultado esperado. No entanto, não é possível negar que ocorreram vantagens

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para o município, a exemplo de assentamentos de um numero considerável de

famílias, as quais receberam apoio técnico-administrativo-financeiro dos órgãos

atuantes na área (principalmente SUDENE e COLONE). Advindo também outros

benefícios complementares como a construção de locais que beneficiassem toda a

coletividade, a melhoria da infra-estrutura do município, atraindo investidores dos

mais diversos setores, promovendo assim um aumento de empregos ofertados e a

melhoria da qualidade de vida da população.

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REFERENCIAS

ARCANGELI, Albert. O mito da terra:uma análise da colonização da Pré-Amazonia Maranhense. São Luís:UFMA/PPPG-EDUFMA,1987.(Coleção Ciências Sociais, Serie Questão Agrária, 3). BRASIL. Câmera dos Deputados. Departamento de Taquigrafia, Revisão e Redação. Núcleo de Redação Final em Comissão Especial. PLP 76/03 – SUDENE. 2003. COMPANHIA DE COLONIZAÇÃO DO NORDESTE. Colonização do Alto Turi: relato de experiência. São Luís, 1984. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurelio Século XXI escolar: o minidicionário da língua portuguesa. 4 ed. rev. Amp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. LIMA JUNIOR, Heitor Moreira. Colonização de fronteira agrícola: um modelo de desenvolvimento rural. São Luís: UFMA/PPPG/EDUFMA, 1987. (Coleção Ciências Sociais, Serie Questão Agrária 2. MARANHÃO da pobreza. Jornal Pequeno. Editorial. Disponível em [...]Acesso em Jan.2004. A EXTINÇÃO da SUDENE e uma nova política de desenvolvimento do Nordeste. Disponível em [...].Acesso em 15 de jan. 2004. MARTINE. George. Migrações Internas e Alternativas de Fixação Produtiva: experiências recentes de colonizações no Brasil. (arquivo em PDF). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA DE ZÉ DOCA. Perfil de Zé Doca.[2003]. Zé Doca: Perfil Municipal. In Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. [2003]

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Apêndice A- Roteiro de entrevista com os moradores

Benedito Serra:

Chefe de setor em Maranhãozinho

“A COLONE foi fundamental para o processo de desenvolvimento de Zé

Doca,haja vista que ela deu continuidade ao trabalho de que vinha sendo realizado

pela SUDENE.

A cidade cresceu,surgiram novos municípios na área de atuação da

COLONE,enfim foram os melhores dias do nosso município.

Os projetos realizados pela COLONE como a extração de seringa, a criação de gado

e a pimenta do reino, foram fundamentais para a comunidade prosperar. Esse

projeto de assentamento era modelo de reforma agrária na America Latina.

Tinha os pólos bases que eram localizados em Zé Doca, no povoado de

Cacolinho e Maranhãozinho, sempre com a COLONE dando assistência aos

colonos.Por exemplo cada núcleo possuía um técnico da empresa para qualquer

necessidade do mesmo.

“A COLONE para Zé Doca está com um pai para um filho, pois ajudou

muito a nossa cidade”.

Manoel da Costa Luz

Assistente Administrativo da Colônia

“A COLONE era uma subsidiaria da SUDENE em 1992, uma área

compreendida em 900.039hectares de terra, no trecho de Rosilandia a Gurupí. Já

existiam os núcleos circulares, criados pela SUDENE.

A COLONE subdividiu sua área de atuação em três áreas:

Área 1:compreendida de Rosilandia a Aragonã;

Área 2:compreendida de Aragonã ao Rio Paruá;

Área 3:compreendida do Rio Paruá ao Gurupi;

Dando continuidade aos assentamentos mudando o sistema de núcleos para

quadras, em cada núcleo a COLONE possuía um técnico agrícola que prestava

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assistência técnica a todos os assentados.

A SUDENE e a COLONE chegaram ao termino do projeto de

assentamento com 16 mil famílias assentadas das quais 4 mil receberam títulos

definitivos.

Dando continuidade no projeto de colonização, a COLONE criou um

projeto chamado “Modelo econômica”, com implantação do projeto de pimenta do

reino, pecuária e a seringa. O Banco do Nordeste veio a Zé Doca em função da

COLONE, haja vista ser um dos acionistas da empresa e através dele e da

Cooperativa Mista do Alto Turi Ltda (COMALTA) e que eram elaborados e

aprovados pelo BNB os financiamentos aos colonos. Qualidade. O projeto de

seringa ate hoje surte efeito na economia de algumas pessoas no município, já que

a Pirelle compra diretamente o Látex (borracha) extraído.

A criação dos municípios que faziam parte da área de Colone:

Araguanã, nova Olinda, Santa Luzia do Paruá, Governador Nunes Freire,

Maracaçumé... Foram emaciados graças ao projeto de colonização do Alto Turi

desenvolvido pela COLONE na região. A extinção da empresa se deu ate fevereiro

de 1979, sendo que os bens imóveis e alguns moveis foram doados às prefeituras

compreendidas dentro da área da COLONE, e o patrimônio fundiário foi repassado a

o INCRA, que ate o momento não assumiu o domínio das terras da área dificultando

assim os pequenos e médios produtores a contraírem qualquer tipo de empréstimos

ou financiamento bancário em função de não possuir qualquer tipo de

documentação definitiva da terra.

Cláudio Borges

Topógrafo da COLONE

“eu trabalhava na COLONE, na medição dos lotes que era distribuído aos

colonos, e também recebiam mudas de pimenta e me alguns casos cabeças de

gados fornecidos pela própria COLONE, que poderiam ser pagas ate 10 anos, era

inspecionado por técnicos da empresa.

Não trabalhei na época da SUDENE, mas que eu me lembre, aqui em ZÈ Doca o

dinheiro corria solto, quem soube se fizer muito que bem, já que muitos perderam a

oportunidade de ficarem ricos.

A COLONE para ser ter uma idéia fornecia ao município escola, hospital e

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ate o clube da cidade (Colonião)”.

Luzinaldo Ferreira Torres

Torneiro mecânico

“trabalhei na SUDENE em Pindaré Mirim em 1963 e foi transferido para Zé

Doca em 1965, onde trabalhei até 1972 pela mesma. Em seguida foi contratado pela

recém-criada COLONE.

Famílias eram levadas para a região para colonização, vindas de toda

parte do estado e de outros estados como: Ceará, Piauí, por exemplo, 50 hectares

de terra eram doados para cada família dando se ainda de 5 a 10 cabeças de gados

com financiamento de ate 10 anos para pagamento.

A construção de estradas para dar acesso a alguns núcleos também foi

contribuição da COLONE iniciado pela SUDENE, que também construiu o hospital

da cidade chamado Noel Nuteles, quadra esportiva clube, escola e até o campo de

futebol. Fornecia as sementes e comprava a produção de arroz dos colonos,

possuía também campo agrícola no povoado de Zé Doca onde plantava Iaranja,

Limão tangerina, abacaxi, onde a produção era distribuída aos funcionários e a

comunidade.

Já COLONE deu continuidade ao projeto da SUDENE da região, que veria

a ser um projeto modelo de reforma agrária levando a região a ser a segunda

produtora nacional de pimenta do reino onde a Colone comprava sua produção.

A COMALTA era responsável pela compra e o fornecimento das mudas

para os colonos, Possuía uma oficina no povoado de Cocalinho a 88 km de Zé

Doca, para dar assistência ao maquinário da empresa. Existia a inda uma cerâmica

que produzia tijolos para os funcionários a baixo custo e vendia também para da

produção à população local a preços também acessíveis, com uma diferença para

os funcionários a venda poderia ser parcelada e para comunidade o pagamento era

feito na hora, teve como chefe durante muito tempo o Sr. Hidelberto Bernado

Lopes”.

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ANEXO A – Área de atuação da COLONE

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ANEXO B – SUB-AREA 1

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ANEXO C – SUB-ÁREA II

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41

ANEXO D – Site da Prefeitura de Zé Doca na Internet