universidade estadual do cearÁ – uece … · pet - programa de educação tutorial em serviço...

131
Uly090489 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE JULIANY SIQUEIRA RHEIN A CENTRALIDADE DA PESQUISA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: análise crítica da compreensão dos (as) graduandos (as) do curso de Serviço Social. FORTALEZA - CEARÁ 2011

Upload: lamkhuong

Post on 26-Aug-2018

221 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Uly090489

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

JULIANY SIQUEIRA RHEIN

A CENTRALIDADE DA PESQUISA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: análise crítica da compreensão dos (as)

graduandos (as) do curso de Serviço Social.

FORTALEZA - CEARÁ

2011

JULIANY SIQUEIRA RHEIN

A CENTRALIDADE DA PESQUISA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: análise crítica da compreensão dos (as)

graduandos (as) do curso de Serviço Social

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Serviço Social do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Aprovada em 15/09/2011

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________Profa. Doutora Aurineida Maria Cunha (orientadora)

Universidade Estadual do Ceará - UECE

___________________________________________________Profa. Doutora Maria Zelma de Araújo Madeira

Universidade Estadual do Ceará - UECE

_________________________________________________Profa. Mestre Leiriane de Araújo SilvaUniversidade Federal do Ceará - UECE

Dedico esse trabalho aos meus avós

Nina e Zezé (in memorian) por todo amor

devotado durante nossa convivência na

Terra.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.

À minha orientadora, Professora Aurineida Cunha, pelo incentivo e

dedicação, pois suas orientações foram essenciais para minha formação profissional.

Às companheiras do LAPESS, Ana Caroline Fróes e Pâmela Santos que

através das discussões enriquecedoras e dos laços de amizade me fortaleceram enquanto

pessoa e engrandeceram minhas experiências na graduação.

Às professoras da banca examinadora, Zelma Madeira e Leiriane Araújo,

por se disponibilizarem em contribuir com esse momento ímpar na minha formação

profissional.

Aos Meus pais Gerson Rhein e Joana D’arc pelo amor dedicado e o apoio

dado em todas as fases de minha vida, em especial a esta conquista. Seus exemplos de

honestidade e bondade me animam dia a dia.

À Caroline Rhein, Paulo Henrique Portela e Anmile Rhein Portela pelas

palavras de incentivo e paciência. À toda Família Siqueira pela grande torcida.

Às amigas assistentes sociais Gilda Aquino, Ana Paula Pereira e Germanne

Patrícia e a funcionária da coordenação do curso de Serviço Social Magnólia Alves pela

imensa ajuda na construção deste trabalho.

À Turma de 2007.1 do curso de Serviço Social que me proporcionou

conhecimentos inestimáveis através da convivência de quatro anos. Tivemos momentos

riquíssimos que serão lembrados durante toda minha trajetória profissional (Adriana

Nunes, Joyce Maciel, Juliana Hilário, Muriel Braz, Rafaela de Aguiar, Erivânia Freitas,

Patrícia Abreu, Ailton Lima, Iara Fraga, Thais da Costa, Valdênia de Souza, Elisangela

Bento, Juliana Karrazoni, Gracyane Gomes, Kátia Borges, André Veider, Ceane Pessoa,

Mariana Araújo, Larisse Martins, Valeska Fernandes, Janielle Pontes, Thaiana

Simplício, Mara Severo, Juliana Vieira, Marília Gondim e Stephanie Oliveira).

À equipe do Plano Diretor Participativo de Maracanaú pelas boas

experiências de estágio (Meryelen Silva, Mônica Pinheiro, César Sipelli, Paula de

Arruda, Sara Guerra, Lana Mara, Luana Cândida, Lissa Motta, Paula Libório, Nira

Brito, Andrerson Rafael, David Harisson, Zuila Lima, Ada Mourão e Camila Vale).

Agradeço em especial ao Anderson Bastos por todos os momentos que se

fez presente, estes inúmeros e inestimáveis, com alegria e otimismo. A gratidão e amor

que sinto são imensuráveis.

Por fim, agradeço a todos (as) alunos (as) do curso de Serviço Social da

Universidade Estadual do Ceará que se disponibilizaram em participar desta pesquisa.

Obrigada!

Tempo de recolhimento intelectual

Tempo de inventar/descobrir habilidades

Tempo de despertar interesses até então latentes

Tempo passado, tempo presente; tempo futuro

Tempo finito, tempo infinito..., o tempo

Tempo da busca, da procura do conhecer

Tempo de perscrutar a realidade

Tempo de construir, desconstruindo o todo de forma organizada

Tempo de não escamotear as contradições e enfatizar as convergências

Tempo que é o tempo do Serviço Social no seu historicizar-se

Tempo em que constrói o seu ser e vir a ser

Tempo de enfrentamento aos desafios da pesquisa

Tempo de repensar a formação e prática profissional

(Aglair Setubal)

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a centralidade da pesquisa na formação profissional em Serviço Social a partir da compreensão dos alunos da Universidade Estadual do Ceará, tendo como principais categorias analíticas a inserção da dimensão investigativa no currículo mínimo de 1982 e nas diretrizes curriculares aprovadas em 1996, bem como as novas transformações societárias que rebatem no ensino superior brasileiro. O público-alvo delimitado foi alunos do curso de Serviço Social, em construção da monografia e que tivessem participado do questionário de avaliação do currículo implantado em 2006.1 aplicado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Serviço Social. No percurso metodológico, que perdurou de maio a setembro de 2011, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, documental e grupo focal visando à obtenção de informações qualitativamente aprofundadas, bem como coleta de dados quantitativos em pesquisa direta. A sistematização desse processo resultou na construção de três capítulos que abordam as categorias supracitadas. No primeiro capítulo se realiza um resgate histórico da pesquisa na formação profissional com ênfase no currículo de 1982, no qual esta conquista tem relevância devido ao embasamento crítico oriundo do contato com a teoria social e crítica. No segundo capítulo se apresenta os rebatimentos da contra-reforma do ensino superior na formação profissional do assistente social e na construção das Diretrizes Curriculares de 1996, tendo em vista os aspectos influenciadores provindos das transformações societárias da contemporaneidade. E no terceiro capítulo se analisa a compreensão dos alunos acerca da centralidade da dimensão investigativa na formação profissional. A partir dessas reflexões considera-se que a Pesquisa é compreendida como elemento central da formação profissional, mas seu pleno desenvolvimento na graduação é impossibilitado devido às limitações estruturais e conjunturais da universidade contemporânea, bem como devido às particularidades curso de Serviço Social da UECE.

Palavras-chave: Serviço Social, Formação Profissional e Pesquisa.

ABSTRACT

This study aims to examine the centrality of research in vocational training in Social Work from the students' understanding of the State University of Ceará, with the main analytical categories the inclusion of investigative dimension in the curriculum in 1982 and minimum curriculum guidelines approved in 1996, and the societal transformations that new bounce in Brazilian higher education. The target audience was defined students of social work in the construction of the monograph that had participated in the evaluation questionnaire of the curriculum implemented in 2006.1 applied by the Laboratory of Studies and Research in Social Work. In the course methodology, which lasted from May to September 2011 was used for library research, documentation and focus group aimed at obtaining in-depth qualitative information and quantitative data collection forward lookup. The systematization of this process resulted in the construction of three chapters that address the above categories. In the first chapter takes place a historical survey of vocational training with emphasis in the curriculum of 1982, in which this achievement is relevant because of the foundation come from contact with critical social theory and criticism. The second chapter presents the reverberations of the counter-reform of higher education in vocational training and the social construction of the Curriculum Guidelines of 1996, in view of the officers from influencing aspects of contemporary societal transformations. The third chapter examines the students' understanding about the centrality of the investigative dimension in vocational training. From these considerations it is considered that the research is understood as a central element of vocational training, but their full development at the graduate is unable due to structural and economic limitations of the contemporary university, as well as due to the particular course of Social UECE.

Keywords: Social Work, Training and Research.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social.

ABESS - Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

ANDES - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior

BIRD – Banco Mundial

CALSS – Centro Acadêmico Livre de Serviço Social

CAPES - Fundação Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CCQ - Círculo de Controle de Qualidade

CCS – Centro de Ciências da Saúde;

CCT – Centro de Ciências e Tecnologias

CECITEC – Centro de Educação Ciência Tecnologia Região Inhamuns.

CED- Centro de Educação.

CEDEPSS - Centro de Documentação em Pesquisa e Políticas Sociais e Serviço Social

CEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

CESA – Centro de Estudos Sociais Aplicados

CESA- Centro de Estudos Sociais Aplicados e

CETROS - Centro de Estudos em Trabalho e Ontologia do Ser Social

CF – Constituição Federal

CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CH- Centro de Humanidades;

CNE/CES – Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação Superior

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONAES - Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior

CRAS – Conselho Regional de Assistentes Sociais

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

EaD - Ensino à Distância

ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENESS – Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social

ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social

ERESS – Encontro Regional de Estudantes em Serviço Social

FACEDI – Faculdade de Educação de Itapipoca

FAEC – Faculdade de Educação de Crateús

FAFIDAM – Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

FAVET- Faculdade de Veterinária

FECLESC - Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central

FECLI - Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIES - Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior

FUNECE – Fundação Educacional do Estado do Ceará

GEPPES - Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Exclusão Social

GRAOS – Grupo de Resistência Ambiental por Outra (s) Sociabilidade (s)

HABITAFOR – Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza

IC/UECE - Programa de Iniciação Científica

ICT/FUNCAP - Programa de Iniciação Científica e Tecnológica

IES – Instituição de Ensino Superior

IFES - Instituição Federal de Ensino Superior

LABVIDA - Laboratório de Estudos sobre a Violência e Direitos Humanos

LAPESS – Laboratório de Estudos e Pesquisa em Serviço Social

LASSOS - Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

MAPPS - Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade

MARE – Ministério de Administração Federal e Reforma do Estado

MEC – Ministério da Educação e Desporto

MP – Medida Provisória

NUPEDESS - Núcleo de Pesquisa e Documentação em Serviço Social

NUPES - Núcleo de Pesquisas Sociais

ONG – Organização não Governamental

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo

OS – Organização Social

PET - Programa de Educação Tutorial em Serviço Social

PIBIC/CNPq – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PIBIC-AF/CNPq – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Ações

Afirmativas

PIBITI/CNPq - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento

Tecnológico e Inovação

PNE – Plano Nacional de Educação

PRAE - Pró-reitoria de Políticas Estudantis

ProUni - Programa Universidade para Todos

PROVIC/UECE – Programa Voluntário de Iniciação Científica

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

REUNI - Programa de Apoio à Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais

SESSUNE - Subsecretaria de Serviço Social na União Nacional de Estudantes

SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SINDUECE - Sindicato dos docentes da UECE – Seção sindical ANDES S/N

SRFPMESS – Seminário Regional de Formação Profissional e Movimento Estudantil

em Serviço Social

SUS – Sistema Único de Saúde

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TEC - Trabalhos de Experiência de Campo

UECE - Universidade Estadual do Ceará

UFC – Universidade Federal do Ceará

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................14

2. A INSERÇÃO DA DIMENSÃO INVESTIGATIVA NA FORMAÇÃO

PROFISSIONAL: centralidade da pesquisa no currículo de

1982................................................................................................................................ 22

2.1 Gênese da Pesquisa no Serviço Social......................................................................22

2.2 Reforma Curricular de 1982: novas perspectivas para a formação profissional.......25

2.3 As discussões do curso de Serviço Social da UECE para a revisão curricular:

formatação do currículo de 1982 com base nas orientações da ABESS.........................31

3. TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: mudanças no

mundo do trabalho e seus rebatimentos da formação profissional do (a) Assistente

Social...............................................................................................................................38

3.1 Reestruturação Produtiva: novo padrão de produção e acumulação capitalista........38

3.2 Estado Neoliberal: organização e direcionamento do estado aos interesses do capital

.........................................................................................................................................44

3.3 Política Educacional de Ensino Superior e o desmonte do direito à educação.........48

3.4 As Diretrizes Curriculares de 1996...........................................................................58

3.5 Os reflexos da investida neoliberal na Universidade Estadual do Ceará..................66

4. A PESQUISA SOCIAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO (A)

ASSISTENTE SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE: particularidades do

curso de Serviço Social da UECE.................................................................................67

4.1 A centralidade da Pesquisa para o Serviço Social: a dimensão investigativa nas

Diretrizes Curriculares.................................................................................................... 67

4.1.1Conquistas e desafios da Pesquisa na Pós-graduação.............................................73

4.2 O curso de Serviço Social na Universidade Estadual do Ceará: os impactos da

contra-reforma universitária............................................................................................76

4.3 A centralidade da Pesquisa na formação profissional para os (as) alunos (as) de

Serviço Social da UECE..................................................................................................83

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................103

APÊNDICES................................................................................................................109

APÊNDICE 1 – Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido – TCLE ....................110

APÊNDICE 2 – Roteiro de Debate do Grupo Focal.....................................................111

ANEXOS.......................................................................................................................112

ANEXO 1 - Questionário de Avaliação do Currículo do Curso de Serviço Social implantando em 2006.1.................................................................................................113

ANEXO 2 – Ementários das Disciplinas de Pesquisa...................................................129

1. INTRODUÇÃO

O processo de investigação, materializado na prática da Pesquisa, abre

possibilidades de se conhecer a realidade, bem como faz a mediação entre a teoria e a

prática, propiciando base para as elaborações teóricas. Quando utilizada para fins

coletivos, a Pesquisa se torna instrumento de transformação social, tendo em vista que a

partir da construção do conhecimento tem-se condição de propor estratégias que visem

o bem comum.

Tendo essa compreensão, o Serviço Social insere a Pesquisa na formação

profissional, especificamente a partir do currículo mínimo do ano 1982, no qual é

tratada como disciplina obrigatória e específica da área profissional. Nas Diretrizes

Curriculares de 1996, com base no projeto ético-político, a Pesquisa é concebida como

eixo indissolúvel do currículo que embasa a prática profissional que por sua vez deverá

possuir caráter investigativo e interventivo.

Essa noção de Pesquisa traz conquistas para profissão, pois respalda os (as)

profissionais enquanto produtores (as) de conhecimento, aptos (as) a propor e intervir

qualitativamente na realidade social, com produção reconhecida e apreciada em âmbito

nacional e internacionalmente.

Ainda na graduação, o (a) estudante deve definir um objeto de pesquisa com

intuito de fomentar um processo investigativo, a partir de inquietações teóricas

vivenciadas por ele (a), preferencialmente no campo de estágio, no qual deve se

experienciar o fazer profissional em suas dimensões teórico-metodológico, ético-

político e técnico-operativo.

Minha inquietação teórica se deu, diferentemente do comum, não no espaço

de estágio, mas sim na própria academia e principalmente, quando na iniciação

científica, através do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Serviço Social, fui bolsista

da pesquisa História dos 60 anos do curso Serviço Social no Ceará: particularidades da

formação profissional na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

Sob a coordenação da professora Dra. Aurineida Cunha e com a

participação de duas bolsistas de iniciação científica e uma pesquisadora voluntária

(Juliany Rhein), esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o processo histórico

da formação profissional em Serviço Social na UECE no período compreendido entre

1970 a 2009, tendo em vista a essencialidade de sistematização e divulgação dos

documentos oficiais do curso (fotos, atas de reunião, monografias, programas de

disciplinas, etc.) e de depoimentos de atores de cada época (através de entrevistas e

questionário censitário), de modo a subsidiar uma reflexão profícua do desenvolvimento

histórico dessa profissão no estado do Ceará. Através dessa Pesquisa, entrei em contato

com textos, documentos e elaborações acadêmicas sobre a formação profissional, que

me instigou a pensar sobre a centralidade da Pesquisa no Serviço Social.

Outro fator influenciável para a delimitação do objeto de estudo, foram as

conversas rotineiras com colegas da graduação que se queixavam, e por vezes se

desesperavam, com a exigência do currículo para a prática da Pesquisa. Muitos se

sentiam imaturos para a escolha e delimitação da área de estudo e angustiados em

elaborar individualmente um trabalho monográfico.

A partir dessas circunstâncias, objetivei estudar e analisar criticamente a

compreensão sobre a centralidade da Pesquisa na formação profissional a partir da visão

dos alunos do Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará. Tendo como objetivos

específicos: compreender as discussões da categoria para inserir a dimensão

investigativa nos currículos de Serviço Social dos anos de 1982 e de 1996; analisar a

universidade enquanto espaço do desenvolvimento da Pesquisa na graduação e conhecer

as possibilidades e desafios para o desenvolvimento da Pesquisa como atividade

curricular no curso de Serviço Social da UECE.

Dessa forma, o estudo desse objeto visa fortalecer a idéia da essencialidade da

dimensão investigativa, pois a profissão fora marcada pela subalternidade teórica, fruto

de longo período caracterizado pelo pragmatismo, com o manejo de teorias de outras

ciências.

O campo delimitado para o desenvolvimento da investigação foi a

Universidade Estadual do Ceará por ser o local da minha vivência enquanto estudante

de graduação, na qual propiciou o contato com a temática e com as inquietações de

cunho teórico, além de ser um local histórico para o Serviço Social, tendo em vista que

durante muitos anos foi o único espaço para a formação de assistentes sociais no estado

do Ceará, já que desde 1975 o curso de Serviço Social integra o Centro de Estudos

Sociais Aplicados – CESA.

Outro fator de relevância para a seleção do espaço foi a busca pela

compreensão do processo de contra-reforma da educação superior no qual as

universidades públicas, e especificamente a UECE, estão passando, observado no

sucateamento das mesmas, na escassez de ofertas de bolsas de iniciação científica, na

precarização do espaço físico, na privatização de alguns setores/serviços, entre outros

aspectos que serão trabalhados posteriormente.

Este trabalho tem caráter predominantemente qualitativo, entretanto serão

apresentados alguns dados quantitativos para subsidiar a investigação, pois as pesquisas

quantitativas e qualitativas não se excluem, mas se complementam proporcionando uma

visão de totalidade do fenômeno estudado. Isso pelo fato de que os dados quantitativos,

parafraseando Martineli (1999), instrumentalizam a pesquisa social, mas não aprofunda,

tendo-se a necessidade de buscar na abordagem qualitativa os meios para se chegar à

essência do objeto em foco.

Na metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, de forma a

fundamentar teoricamente as concepções e idéias expostas, no qual tentamos vivenciar o

pluralismo, a partir do diálogo com vários autores. Assim, utilizou-se livros, artigos

científicos, monografias e textos jornalísticos.

As principais categorias analíticas são a formação profissional em Serviço

Social, especificamente nas décadas de 1980 e 1990 e nos anos 2000, a transformações

societárias ocorridas no final do século XX, ou seja, a reestruturação produtiva, o

Estado neoliberal, a contra-reforma universitária, e a concepção de Pesquisa para o

Serviço Social a partir da teoria social crítica.

Os dados quantitativos foram coletados, alguns através de pesquisa direta na

coordenação do curso e outros através do Questionário de Avaliação do Currículo do

Curso de Serviço Social implantando em 2006.1 aplicado, tabulado e analisado pelo

grupo de pesquisadores da Pesquisa supracitada1 (ver anexo 1). Com os dados

disponibilizados pelo LAPESS se traçou o perfil geral dos (as) discentes em Serviço

Social, analisando as principais tendências e dificuldades vivenciadas por eles (as)

porquanto da contra-reforma universitária.

Outras informações foram angariadas no site da própria universidade e nos

sites das entidades organizativas da categoria: Conselho Federal de Serviço Social -

CFESS, Conselho Regional de Serviço Social – CRESS - Ceará, Associação Brasileira

de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABPESS e Executiva Nacional dos

Estudantes de Serviço Social – ENESSO.

A técnica utilizada para a coleta de dados foi o grupo focal que consiste em

obter informações qualitativamente aprofundadas, no qual visa trabalhar a fala dos

participantes através de debates, para que apresentem seus conceitos, impressões e

concepções sobre o tema abordado.

Para a aplicação da técnica do grupo focal são necessárias 06 funções: o

mediador, o relator, observador, o operador de gravação, e após o momento de encontro

o transcritor e digitador. Entretanto, pela dificuldade da pesquisa no campo social de

dispor de recursos que viabilize uma equipe extensa, o número de facilitadores pode se

reduzir para 2 e agregar as seis funções. Na pesquisa social o próprio pesquisador deve

realizar o grupo focal, pela proximidade, estudo e conhecimento com o objeto de

pesquisa (NETO et al, 2010).

Em relação ao número de participantes, o grupo focal deve ter no mínimo 4

e no máximo 12 participantes, levando em consideração que o número menor que o

mínimo não proporcionará uma variação de idéias e o número maior que o máximo

acarreta a dispersão do grupo (idem).

Os sujeitos pesquisados foram os discentes do curso de Serviço Social em

processo de construção de TCC que tivessem respondido o questionário de avaliação do

currículo implantado em 2006.1 no curso de Serviço Social aplicado pelo LAPESS.

Esse perfil foi estabelecido tendo em vista que o TCC é a fase individual de

construção da pesquisa, ou seja, é quando o (a) discente assume o papel de investigador

1 História dos 60 anos do curso Serviço Social no Ceará: particularidades da formação profissional na Universidade Estadual do Ceará.

e formula, através de experiências próprias, seus conceitos e compreensão acerca da

centralidade da Pesquisa na formação profissional. E o requisito de ter participado do

questionário de avaliação aplicado pelo LAPESS fora porquanto da utilização dos dados

quantitativos sobre o perfil do alunado.

Após a definição do perfil pretendido para o público-alvo, foram

mobilizados vários alunos através de contato pessoal e virtual2, com intuito de

sensibilizar 6 alunos do turno da manhã e 5 do período da noite, totalizando 11 alunos.

Esse número foi fixado tendo em vista que no semestre 2010.2 foram

registradas3, na coordenação do curso de Serviço Social, 55 matrículas em TCC no

turno da manhã e 47 matrículas no período noturno, o que resulta no total de 102 alunos

em processo de construção de monografia, assim, se objetivou coletar informações de

pelo menos 10% desse total. Ademais, a previsão de público para o grupo focal, como já

apresentado, é de 4 a 12 participantes.

Entretanto, se constatou grande dificuldade para o envolvimento do público-

alvo em participar do grupo focal, pois no momento de sua realização estiveram

presentes 4 alunas, o mínimo necessário para essa técnica, 3 do turno da noite e 1do

turno da manhã, e dentre elas uma sensibilizada horas antes.

Este comportamento de pouca participação nas pesquisas científicas no qual

os (as) alunos (as) são postos como objeto de análise, já foi vivenciado na aplicação do

questionário do LAPESS, no qual muitos dos (as) estudantes não tinham interesse em

responder, ou não devolviam o questionário para o pesquisador, ou em muitos casos,

quando participavam, deixavam várias das questões em branco.

Esse fato também foi exposto como dificuldade pela pesquisadora Oliveira

(1991) em sua pesquisa intitulada “Perfil dos estudantes de serviço social concludentes

em 1991.2 – aspectos quantitativos e qualitativos”, no qual apresenta os obstáculos de

acesso aos dados dos (as) graduandos (as) pelo pouco envolvimento e interesses do (as)

mesmos (as).

2 Através da lista de email dos alunos de Serviço Social da UECE.3 Pesquisa direta realizada na coordenação do curso de Serviço Social da UECE no dia 28 de abril de 2011.

As discussões do grupo focal foram direcionadas por um roteiro de debate

(ver apêndice 2), tendo como mediadora a própria pesquisadora e relatores do processo

dois pesquisadores voluntários também vinculados ao LAPESS.

No que tange as concepções éticas, durante todo o percurso metodológico os

sujeitos pesquisados foram comunicados sobre a proposta e a finalidade da pesquisa,

sendo-lhes entregue um Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE (ver

apêndice 1) para coletar suas devidas autorizações, bem como utilizado nomes fictícios

para garantir o sigilo das falas.

Para subsidiar a pesquisa também fora realizada pesquisa direta nos anais do

XII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social ocorrido no Rio de Janeiro

em 2010 e no VI Seminário Regional de Formação Profissional e Movimento Estudantil

em Serviço Social realizado em João Pessoa - PB também em 2010. No qual se obteve o

número de 17 e 02 trabalhos apresentados sobre a temática Pesquisa na formação

profissional, respectivamente, que respaldou teoricamente este ensaio monográfico.

Ademais, se realizou pesquisa documental para coletar informações precisas

sobre os fatos estudados, pois houve o acesso a documentos antigos, relatórios e

pareceres do curso de Serviço Social da UECE, bem como documentos, textos legais e

publicações oficiais do Serviço Social e áreas afins que contribuíram para produção.

Também se realizou, juntamente ao LAPESS, pesquisa documental na

Biblioteca Central da UECE visando buscar monografias que se referissem à formação

profissional, especificamente a temática Pesquisa, desde a década de 50, gênese do

Serviço Social no Ceará, até os anos 2010.

A sistematização de todo esse percurso metodológico se deu na elaboração de

três capítulos no qual, no primeiro intitulado “Inserção da dimensão investigativa na

formação profissional: centralidade da Pesquisa no currículo de 1982” se trabalhou a

inserção da Pesquisa na formação profissional, desde as primeiras escolas de Serviço

Social, apresentando que sua concepção se altera ao se modificar as bases de

fundamentação teórico-metodológicas do Serviço Social, tendo em vista que para

compreender a inserção da Pesquisa numa perspectiva crítica, faz-se necessário analisar

a inserção do Serviço Social numa universidade laica.

Após essas elucidações, se analisou a configuração do currículo de 1982,

devido à inserção da Pesquisa como matéria obrigatória. Focalizou-se na inserção do

Serviço Social na Universidade Estadual do Ceará e nas discussões em torno da

implementação do currículo mínimo formulado pela ABESS em 1982 nesta unidade de

ensino.

Com intento de realizar a mesma análise na década de 1990, o estudo se

deparou com a necessidade de compreender outros processos de cunho macroestrutural,

pois sendo o Serviço Social uma profissão de caráter sócio-histórico, as transformações

societárias rebatem fortemente na sua configuração ao nível de exercício e formação

profissional.

A partir dessa imprescindibilidade, no segundo capítulo denominado

“Transformações na sociedade contemporânea: mudanças no mundo do trabalho e

seus rebatimentos na formação profissional do (a) Assistente Social” se analisou

criticamente as transformações sociais do final do século XX, materializadas na

configuração de uma nova forma de produção e acumulação capitalista, a reestruturação

produtiva/acumulação flexível, que desencadeou modernas formas do capital agir de

modo a desconjuntar ganhos sociais obtidos através da luta dos trabalhadores.

Essas investidas do capital retornaram as teorias liberais de Adam Smith e

David Ricardo, com nova força e novas tecnologias de ação, resultando no ideário

neoliberal que atingiu fortemente o Estado de bem estar social e as políticas sociais.

Apresentou-se essa conjuntura no contexto brasileiro, por meio de uma simples e rápida

análise dos governos pós Constituição Federal de 1988, com ênfase no governo Cardoso

que investiu significativamente nessas propostas.

Estudou-se os impactos na política educacional, com ênfase na política de

educação superior, que altera sua função social em prol dos ditames neoliberais.

Retornou-se ao debate sobre a formação profissional em Serviço Social, ressaltando a

condição contemporânea a partir da legislação educacional em favor de práticas

privatistas.

Fora apresentada a discussão em torno da elaboração e implementação das

Diretrizes Curriculares encabeçada pela então ABESS, e por fim, foram analisados os

rebatimentos na Universidade Estadual do Ceará.

No terceiro capítulo intitulado “A pesquisa social na formação profissional

do (a) Assistente Social na contemporaneidade: particularidades do curso de Serviço

Social da UECE” apresentam-se informações e dados da UECE que ratificam a situação

de precariedade nos aspectos ensino/pesquisa/extensão, infraestruturais, culturais e

políticos e seus impactos no curso de Serviço Social, bem como a concepção de

Pesquisa a partir da teoria social crítica, no qual foram destacados os desafios postos

para a dimensão investigativa na contemporaneidade e as principais linhas de pesquisa

em Serviço Social. No aspecto particular foram realizadas elucidações acerca da

formulação e implantação do Projeto Político Pedagógico do curso de Serviço Social da

UECE, para então chegar ao objetivo principal desse estudo: a compreensão dos (as)

alunos (as) acerca da centralidade da pesquisa na formação profissional.

As falas e opiniões, sistematizadas e analisadas no terceiro tópico, foram

expressas no âmbito grupal e individual, haja vista que além de discussões acerca de

conceitos e concepções, o roteiro de debates também previu o relato de experiências e

sugestões.

Nas considerações finais, foi explicitado que as discussões levantadas

suscitam novas pesquisas e que o estudo não se esgota neste ensaio monográfico, devido

à temporalidade dos fatos e novas apreensões conquistadas pelo pesquisador. Bem como

se inferiu que os (as) discentes compreendem a centralidade da dimensão investigativa

na formação profissional, apesar da pouca participação nas mesmas, e que existem

vários percalços oriundos das limitações estruturais e conjunturais da universidade

contemporânea, e das particularidades do curso de Serviço Social da UECE.

2. A INSERÇÃO DA DIMENSÃO INVESTIGATIVA NA FORMAÇÃO

PROFISSIONAL: centralidade da Pesquisa no currículo de 1982.

Para descobrir a essência desse objeto, se propositou desvendar

compassadamente os caminhos, tendo em vista a complexidade do estudo. Assim, este

primeiro capítulo foi dividido em três tópicos objetivando apresentar sinteticamente a

gênese da pesquisa no Serviço Social, ou seja, seus primeiros desdobramentos desde a

criação dos cursos de graduação; a atuação do Serviço Social na década de 1980,

especificamente no currículo mínimo de 1982, quando a dimensão investigativa passa a

ter grande relevância para a formação profissional do (a) Assistente Social; e a

discussão particular, retratando a inserção do curso de Serviço Social na Universidade

Estadual do Ceará e a formulação do currículo mínimo de 1982 nesta unidade de ensino

a partir das orientações da então ABESS4.

2.1 Gênese da Pesquisa no Serviço Social

O desenvolvimento da pesquisa no Serviço Social é o meio de construção

do conhecimento para, de forma comprometida, implementar ações que respondam as

demandas específicas da profissão, ao mesmo tempo que representa um desafio para os

profissionais que pretendem ser críticos e propositivos (BOURGUIGNON, 2007).

Surge como uma preocupação formativa, já que a mesma é uma exigência das

vicissitudes do mundo contemporâneo colocado para a profissão (idem).

Entretanto, a dimensão investigativa, como instrumento de conhecimento e

transformação da sociedade, nem sempre esteve presente no Serviço Social. Tendo em

mente que a profissão é determinada pelas condições sócio-históricas, sua gênese,

vinculada ao legado católico e a elite brasileira com práticas assistemáticas, não

produzia conhecimentos e não tinha a pesquisa enquanto instrumento essencial para a

realização de intervenções qualitativas.

O conjunto das produções do Serviço Social brasileiro, dos anos 1930 aos dias atuais, consideradas as particularidades de cada período histórico, indica assim, o modo como a profissão ou um grupo de pessoas interpreta o mundo,

4 Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social.

influem politicamente e fazem avançar o conhecimento, construindo um corpus teórico que lhe confere legitimidade (SIMIONATTO, 1998, p.54).

A profissão enquanto especialização do trabalho coletivo inserida na divisão

social e técnica do trabalho salienta seu caráter de historicidade, caracterizando-se como

um processo que se modifica ao transformarem-se as condições e as relações nas quais

ela se inscreve.

Assim, a formação profissional na gênese era ofertada por escolas

vinculadas à Igreja Católica que tinham fundamentação no Positivismo, Tomismo e

Neotomismo. Dessa forma, a questão social era vista como um problema moral e

religioso, no qual se solucionava com a boa formação da família e do ser individual,

visando o atendimento das necessidades morais, materiais e sociais a partir de

intervenção valorativa e moralista, no qual se pretendia viabilizar a integração dos

indivíduos na sociedade (YAZBEK, 2009).

No primeiro currículo em 1953, Lei nº 1.889, tem-se a matéria pesquisa que

fora reafirmada no segundo currículo em 1962, Parecer nº 286. Entretanto, a pesquisa

não consta no terceiro currículo de 1970, segundo Setubal, “por estar implícita no

espírito integrador ensino-pesquisa da Reforma Universitária” do período ditatorial

(2007, p.5).

Nessas configurações curriculares, o ensino da pesquisa era tratado como

ensino de metodologia, elaboração de questionários, formulários, tabulações, etc., sendo

os objetos analisados a partir de uma visão imediata e descritos sem mediações (SILVA,

1987). Não se detinha a essência do objeto, mas sua visão aparente e descontextualizada

da totalidade. Logo, não havia produção de conhecimento e nem um retorno a

sociedade, ou seja, a função social da pesquisa.

Para Kameyama (1998, p.34), “a formação dos assistentes sociais como

profissionais, dado o seu caráter interventivo, privilegiou fundamentalmente o aspecto

técnico-operativo, em detrimento a produção do conhecimento”, havendo a iniciação da

produção do conhecimento apenas na década de 1970, ou seja, 40 anos após o

surgimento da profissão no Brasil.

Essas primeiras produções mencionadas por Kameyama estiveram

vinculadas aos cursos de pós-graduação na área de Ciências Sociais e Serviço Social, e

que, segundo Simionatto (1998, p.54), possibilitou “forjar, a partir da universidade, uma

produção de conhecimentos que daria sustentação a um novo projeto profissional”, já

que através do contato com pensadores clássicos foi possível recriar “capacidade de

análise, interpretação e intervenção no real” (Idem, p. 54).

Os cursos de Mestrados em Serviço Social surgem a partir da iniciativa da

PUC-SP5 em meados da década de 1970, enquanto os cursos de Doutorado surgem na

metade da década de 1980, segundo Sposati (2007), titulando vários profissionais

docentes das universidades públicas. Mas, no que tange a produção de conhecimento

nesses espaços, Kameyama (1998) afirma:

De fato, os cursos de pós-graduação, constituem-se em espaços privilegiados para a produção de conhecimentos, mas não são suficientes, na medida em grande parte dos projetos de pesquisa é realizada individualmente, e também na medida em que o ensino de pós-graduação (nível mestrado) é concebido antes de tudo para formar recursos humanos para docência (ensino) e, subsidiariamente, para a pesquisa. No entanto, as atividades de pós-graduação estão intrinsecamente ligadas à produção e reprodução da comunidade científica e técnica, que têm nas universidades o seu espaço privilegiado, uma vez que no Brasil as instituições são ainda reduzidas (KAMEYAMA, 1998, p. 34).

A partir dos anos 1970 em diante, o (a) Assistente Social torna-se

reconhecido como “interlocutor qualificado para dialogar com diferentes áreas do

conhecimento e como profissional competente para investigar e produzir conhecimentos

sobre suas áreas de trabalho” (BARROCO, 1998, p. 108).

Nos anos 1980, a teoria social marxista surge como referencial teórico,

explicando que as relações sociais não são apreendidas de maneira imediata, aceitando

fatos e dados como indicadores, não como o fim último e o movimento contraditório da

realidade como um processo dialético. Ocorre, a partir dessa influência, a ampliação da

centralidade da pesquisa na formação profissional com a reforma curricular de 1982.

2.2 Reforma curricular de 1982: novas perspectivas para a formação profissional.

5 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Para adentrar na discussão da inserção da pesquisa crítica na formação

profissional se deve antecipadamente analisar a entrada do curso Serviço Social na

universidade laica, seus avanços e limitações a partir de um contexto sócio-histórico

marcado pela repressão civil, política, ideológica e cultural da ditadura militar.

Para Netto (1991), o período da ditadura militar possibilitou alterações nas

demandas práticas da profissão, a inserção nas estruturas organizacionais, o

redimensionamento da formação do quadro técnico, os padrões de organização do

mesmo e giros sensíveis nos seus referenciais teórico-culturais.

Assim, mesmo objetivando apenas a validação do serviço social tradicional,

o período repressivo possibilitou mudanças significativas para a renovação do Serviço

Social brasileiro.

Tais mudanças se referem à prática profissional e a formação profissional.

No que tange a prática, houve um aumento e consequentemente uma consolidação dos

espaços sócio-ocupacionais dos (as) Assistentes Sociais, tanto em instituições ligadas

ao Estado, quanto em empresas privadas, devido ao crescimento das refrações da

questão social na sociedade brasileira.

O tradicional empregador dos assistentes sociais reformula substantivamente, a partir de 1966-1967, as estruturas onde se inseriam aqueles profissionais (...). Esta reformulação foi tanto organizacional quanto funcional: não implicou só uma complexificação dos aparatos em que se inseriam os profissionais; acarretou, igualmente, uma diferenciação e uma especialização das próprias atividades dos assistentes sociais, decorrentes quer do elenco mais amplo das políticas sociais, quer das próprias seqüelas do “modelo econômico” (NETTO, 1991, p. 120-121).

O novo mercado passou a exigir práticas formais, burocratizadas e

sistematizadas do (a) Assistente Social, além da interseção com profissionais de outras

áreas (NETTO, 1991). Vale ressaltar que no período ditatorial as políticas sociais

aumentaram e se centralizaram na figura da União, ou seja, as respostas eram em âmbito

nacional, desse modo “a reformulação organizacional e funcional supôs também uma

extensão quantitativa da demanda dos quadros técnicos de Serviço Social” (Idem, p.

121).

Houve, a partir de então, a necessidade de reformulação da formação

profissional para capacitar um Assistente Social moderno e apto às exigências postas. A

partir da política educacional da Ditadura Militar, as escolas de Serviço Social foram

agregadas as Universidades públicas e houve aumento quantitativo das unidades de

ensino.

Não é difícil imaginar o impacto que esta inserção no âmbito acadêmico causou sobre o ensino de Serviço Social: em um breve lapso de tempo, a formação profissional viu-se penetrada pelas exigências e condicionalismos decorrentes quer da refuncionalização global da universidade pelo regime autocrático burguês, quer da sua própria virgindade acadêmica; se se conectam umas e outros, compreende-se por que esta formação mostrou-se tão vulnerável aos constrangimentos gerais do ciclo ditatorial (NETTO, 1991, p. 125).

Nessas circunstâncias, o Serviço Social estreitou laços com a antropologia,

sociologia e psicologia que mesmo contaminadas com as alterações exigidas pela

censura ditatorial contribuíram para o amadurecimento teórico da profissão.

Alguns (as) docentes desses novos espaços de ensino eram jovens

profissionais com a formação sob o regime ditatorial ou com formação em momentos

pouco antes. Entretanto, mesmo com essas limitações, o contato com a universidade e

outras fontes de saber os tornou profissionais críticos, pois a inserção no meio

acadêmico possibilitou, mesmo que numa universidade domesticada, reflexões críticas e

desenvolvimento de elaborações teóricas sobre a profissão e debates teórico-

metodológico. Desse modo:

...pela primeira vez, institucionalmente, criavam-se condições para o surgimento de um padrão acadêmico (ainda que possível na universidade da ditadura) para exercitar a elaboração profissional, constituindo-se vanguardas sem o compromisso imediato com tarefas pragmáticas (NETTO, 1991, p.129).

A profissão marcada pela subalternidade profissional6 dá um salto no

aspecto teórico-metodológico e ético-político, quando, através da inserção na

universidade laica estabelece o diálogo com outras áreas de saber e, por ocasião da

Vertente de Intenção de Ruptura, estreita laços com a teoria marxista que lhe oferece

uma visão crítica da configuração da sociedade capitalista além da apreensão do método

6Aspecto motivado pela herança conservadora de uma atuação pragmática, pautada no simples manejo dos conhecimentos de outras áreas, ou seja, profissão consumidora de “insumos teóricos” (NETTO, 1991, p. 132) de outras áreas.

histórico dialético que prevê a busca da essencialidade dos fatos, ou seja, o concreto

pensado, através de mediações do fenômeno posto7.

Entretanto, o primeiro contato com a teoria social crítica será por via

Althusseriana, ou seja, não haverá a leitura direta dos trabalhos do pensador Karl Marx

e sim haverá apropriação dos intérpretes8. Nesse momento, se fortaleceu o aspecto

ético-político devido à aproximação com os movimentos sociais, mas houve uma

pobreza no viés teórico-metodológico.

Mediante essas transformações ocorridas no seio da profissão (perda do

caráter religioso, entrada na universidade laica e contato com teorias críticas) houve na

década de 1980 uma real necessidade de reconfiguração da formação profissional, já

que o currículo vigente no período, influenciado pelo militarismo, não contemplava as

novas aspirações de segmentos da categoria.

Dessa forma, no início de 1977, as unidades de ensino e a ABESS

questionaram o currículo vigente e analisaram a necessidade de inserir a dimensão da

pesquisa para reforçar a sua importância na formação profissional. Assim, com essa

perspectiva sobre a pesquisa, é aprovado o quarto currículo em 1982, Parecer n°

412/1982 do Conselho Federal de Educação (SETUBAL, 2007).

A reforma curricular de 1982 foi pensada a partir de vários ângulos: “na

produção teórica do Serviço Social, na organização política da categoria, nas reflexões

éticas, na ampliação das pesquisas e nas mudanças operadas no próprio exercício

profissional” (ABESS, 1996a, p. 145). A pesquisa nesse currículo aparecerá enquanto

disciplina obrigatória ofertada na área profissional9.

A configuração desse currículo terá como base a compreensão do Serviço

Social enquanto uma atividade inscrita na divisão social do trabalho determinada pelas

relações sociais e pela atuação e respostas da ação profissional, ou seja, determinado

pelo contexto sócio-histórico e dos posicionamentos profissionais (Idem).

7A produção do Serviço Social, desde a sua gênese no Brasil na década de 1930 até os anos 1970 era baseada em apreensões imediatas do real, pois se via o objeto como algo estático sem uma devida articulação com o contexto macro-societário no qual o objeto se insere, resultando assim em apreensões superficiais fundamentadas na teoria positivista/funcionalista.8A compreensão será por uma visão estruturalista o que afastará os (as) profissionais das instituições sob o discurso que o Estado é o aparelho ideológico da burguesia, defendendo que os novos campos de atuação dos (as) Assistentes Sociais deveriam ser apenas os movimentos sociais.9 Neste currículo as matérias foram subdivididas em dois momentos: a área básica de caráter essencial para todos os cursos de graduação e a área profissional com disciplinas específicas do Serviço Social.

Sua fundamentação será pautada na “realidade social compreendida

criticamente em seu movimento contraditório” (Idem, p. 146) e a direção social

vislumbrada pelo currículo visava uma articulação com o projeto societário das classes

subalternas objetivando a luta por uma nova sociabilidade.

Outra questão presente no projeto de formação profissional foi a centralidade dada à profissão no projeto de 1982. Foi a partir da análise histórica do significado da profissão, no processo de reprodução das relações sociais capitalistas, que se desvelaram as implicações sociais da prática profissional em suas contradições fundantes. Foi esse vetor que possibilitou a construção de propostas e a vertente teórica privilegiada pela formação profissional. (ABESS, 1996a, p. 148)

A partir da análise da própria ABESS (1996a), fora constatado que neste

currículo, apesar da explicitação sobre a necessidade de análise da sociedade brasileira,

a centralidade dada à profissão teve maior relevância, proporcionando uma

secundarização da análise da realidade social. Destarte, a produção teórica vigente

exaltou:

... rigor no tratamento das principais matrizes teórico-metodológicas, o domínio do debate no pensamento social contemporâneo, a sistematização do saber acumulado pela profissão e a investigação sobre o próprio Serviço Social (ABESS, 1996a, p. 150).

Desse modo, compreende-se que a produção do Serviço Social no período

em foco não se centrava no estudo sobre os processos sociais o que fez com que a ação

profissional se sentisse sem suporte para respostar as demandas consideradas novas.

Podemos detalhar que a atuação do Serviço Social na década de 1980, com

base nesse currículo, construiu um quadro de ações que foram agrupadas pela ABESS

(1996a) da seguinte forma:

a) a primeira delas supunha que a apropriação do conhecimento teórico-metodológico permitiria a descoberta de novos caminhos para a ação profissional; b) uma outra tendência se amparou na suposição de que o engajamento político nos movimentos organizados da sociedade e nas instâncias representativas da categoria garantiria uma intervenção profissional articulada com os interesses das classes subalternas; c) pode-se, ainda, observar um outro encaminhamento respaldado na crença de que o aperfeiçoamento técnico-operativo, desvinculado da fundamentação teórica e do engajamento político, poderia responder às exigências do mercado de trabalho do assistente social”. (Idem, p. 150)

As ações pautadas no formalismo, no politicismo e no pragmatismo

(ABESS, 1996a) foram desvinculadas de pesquisas sobre a questão social, resultando

num “afastamento da reflexão profissional sobre o movimento da sociedade” (Idem, p.

150). Assim:

(...) o privilégio do conhecimento teórico-metodológico realizou-se sem as mediações históricas necessárias à apreensão das problemáticas cotidianas com as quais trabalha o Serviço Social, tematizando-as como expressões particulares de um movimento mais geral. De outra forma, o privilégio da inserção político-profissional – a despeito da sua imprescindibilidade – careceu das mediações teóricas capazes de explicar as determinações dos processos sociais. Esse fato parece ter contribuído para dificultar a distinção entre a ação político-profissional e a ação militante. Por outro lado, a tendência que privilegiou a busca pela eficiência técnica da ação profissional, em função das exigências do mercado de trabalho, vulnerabilizou o esforço de imprimir à prática uma dimensão teórico-metodológica e ético-política, contribuindo para a formação de um perfil profissional forjado pelas exigências de modernização, pelo pragmatismo, pelo tecnicismo e pelo voluntarismo ético-político. (Idem, p. 151)

Também na década de 1980, o Serviço Social conquistou espaço junto ao

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – como área

do conhecimento associada às ciências sociais aplicadas e no mesmo período fora criado

o Centro de Documentação em Pesquisa e Políticas Sociais e Serviço Social,

CEDEPSS, em 1987, que impulsionou, juntamente com as demais organizações da

categoria, o desenvolvimento da pesquisa.

Mesmo dado a relevância a Pesquisa na formação profissional e

consequentemente o desenvolvimentos da mesma, Faleiros (1986) afirma que nos anos

1980 os (as) Assistentes Sociais eram acomodados (as) no que tange a realização de

pesquisas, concluindo que essas atitudes são resultantes de ações pragmáticas, de

respostas fragmentadas a questão social e da origem da profissão imbricada de valores

morais.

Os assistentes sociais brasileiros não estudam pesquisa, não utilizam estudos baseados em pesquisa para a melhoria profissional, não realizam pesquisa depois de sua formação e principalmente rejeitam as pesquisas que trazem críticas ou resultados negativos para sua prática. Esse conjunto de características resulta da acomodação. (FALEIROS, 1986, p. 6)

Aponta também como causador dessa deficiência a formação profissional no

período, pois afirma que antes da introdução da disciplina Pesquisa no currículo de

1982, o ensino nas escolas era de domínio das ciências sociais que repassavam técnicas

“desvinculadas da prática do assistente social.” (FALEIROS, 1986, p.7)

Como resultado disso, Faleiros (1986) relata que em 1985, mesmo com a

conquista de uma consultoria permanente para Serviço Social no CNPq, havia apenas

duas solicitações de auxílio para desenvolvimento de projetos dessa área contrastando

com mais de vinte das outras áreas. Vale ressaltar que os pedidos não tinham uma

conceituação considerada ótima, no que tange a fundamentação e metodologia. Aponta

que também no ano de 1985 a ABESS toma para si a responsabilidade pela Pesquisa de

forma a apoiar as unidades de ensino na formação de pesquisadores:

Tomou-se consciência de que a ABESS deveria assumir a questão da pesquisa de forma explícita e conseqüente. Nossa proposta foi de que, se realmente as unidades de ensino estivessem interessadas em desenvolver a pesquisa, deveríamos apoiar a iniciativa de formar pesquisadores. Se não há projetos de pesquisa, isso também se dá à falta de gente capacitada para fazê-los (FALEIROS, 1986, p.8).

Trazendo a reflexão a nível particular, nos reportamos à realidade do

Serviço Social no Ceará, especificamente sua entrada na Universidade Estadual do

Ceará e sua adaptação ao currículo mínimo de 1982.

2.2 As discussões do curso de Serviço Social da UECE para a revisão curricular:

formatação do currículo de 1982 com base nas orientações da ABESS.

O ensino do Serviço Social no estado cearense, não fugindo a regra das

outras unidades de ensino do país, fora inicialmente vinculado a congregações católicas,

tendo a escola caráter privado e confessional10.

10 No Ceará os fundadores da Escola de Serviço Social eram ligados a Juventude Feminina Católica e Ação Católica, sendo a entidade mantenedora a Associação de Educação Familiar e Social e administração sob responsabilidade da Congregação da Sociedade das Filhas do Coração de Maria, também administradora da Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro que influenciou fortemente a Escola do Ceará. A Escola funcionava na Av. Barão de Studart, 1865, no bairro Aldeota, em Fortaleza. Sua inauguração se dera em 25 de março de 1950, devido o dia comemorativo da Abolição dos escravos no Ceará e em homenagem a festa da Anunciação (SILVA, 1987).

A Escola de Serviço Social foi incorporada, em 1975, a nascente

Universidade Estadual do Ceará – UECE que se originou da Fundação Educacional do

Estado do Ceará – FUNECE criada em 1973, pela Lei 9.753 de 18 de outubro de 1973,

no período de repressão militar11. Assim, de um prédio independente da universidade no

qual era agregada localizado num bairro nobre de Fortaleza, a Escola de Serviço Social,

agora denominada Curso de Serviço Social, passa a integrar, com outros cursos de

graduação a Universidade Estadual do Ceará, marcando então a laicização do ensino.

Entretanto, essa laicização se deu num momento crítico para todo o país:

período ditatorial. A repressão tolhia os direitos civis, sociais e principalmente políticos

e ideológicos, influenciando consideravelmente na formação profissional de todas as

profissões, inclusive de Serviço Social.

Segundo relatos de atores dessa época, muitas alunas de Serviço Social

foram presas ao aderirem à causa estudantil, bem como houve a proibição de muitos

autores críticos utilizados como referenciais teóricos, como Paulo Freire e o próprio

Karl Marx. Professores foram perseguidos e processados, centros acadêmicos

desarticulados e havia a infiltração de espiões da ditadura nas salas de aula (FRANCO,

2010).

Dessa forma percebemos que a entrada no Serviço Social na UECE, não foi

diferente na realidade a nível nacional, ou seja, num primeiro momento, o Serviço

Social deparou-se com uma universidade coibida no que tange a liberdade de

pensamento, a liberdade de produção crítica e de ressalvas ao sistema vigente.

O curso de Serviço Social da UECE, desde 1977, assim como os demais

cursos filiados a ABESS, travou um processo de discussão, acompanhamento e

avaliação curricular, tendo em vista à necessidade de adaptação da formação

profissional as novas demandas sociais e as novas influências teóricas, metodológicas e

políticas adquiridas pela categoria (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE

SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1989).

Em 1980, a UECE em recente estruturação, solicita que todos os cursos

encaminhem para o CEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - seus currículos

11 Entretanto, antes disso, em 1956, foi vinculada a Universidade Federal do Ceará – UFC com o reconhecimento do MEC - Decreto nº 39.511 - no qual permaneceu agregada durante 18 anos (PEREIRA, 2009).

para estudo e aprovação. O curso de Serviço Social, motivado por tal solicitação e pela

discussão da categoria em torno da nova proposta de currículo mínimo apresentada na

XXI Convenção Nacional da ABESS em Natal, organiza, através de uma articulação

interna, uma comissão de professores (as) destinados a execução dessa tarefa.12

Em um mês, a comissão elaborou uma proposta que consistia na alteração

da grade curricular, sugerindo, na ocasião, a criação de mais dois departamentos, além

do Departamento de Métodos e Técnicas em Serviço Social, que já existia, o de

Fundamentos e o de Prática em Serviço Social. No entanto, após discussão no próprio

departamento sobre o documento foi recusado seu encaminhamento, a partir do seguinte

argumento:

... a Comissão propôs uma discussão do documento, tendo sido recusado este encaminhamento sob a alegativa de que tendo sido tal proposta elaborada a partir da proposta da ABESS – que ainda não havia sido aprovada pelo MEC – não haveria condições de ser discutida e nem analisada. Ficou decidido que a discussão seria realizada posteriormente (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1988, p. 9).

A comissão ficou paralisada por um ano e nesse período ressurge o

movimento estudantil dos alunos do Serviço Social com participação do Centro

Acadêmico Livre de Serviço Social, CALSS. Motivados por inquietações acerca da

elaboração e defesa dos Trabalhos de Experiência de Campo – TEC, os (as) alunos (as)

encaminharam um documento ao Departamento que tinha como ponto básico a

formação profissional.

A partir dessa demanda articulou-se uma reunião no departamento com

alunos (as) e professores (as), no qual fora proposto por parte dos (as) discentes a

suspensão das bancas de avaliação dos TEC’s e uma profunda reflexão sobre a

formação profissional no que tange o “discurso acadêmico e as práticas efetivadas nas

instituições” (Idem, p. 10).

A partir de então, visto a necessidade posta pelos (as) alunos (as), fora

organizada uma manhã de estudos com participação de docentes e discentes. Os

resultados desse encontro fora socializado em uma assembléia geral no Centro de

12 “O Curso de Serviço Social sempre teve como objeto e preocupação a questão do estudo e acompanhamento da revisão curricular. No entanto, somente em 1980 foi dado à revisão de currículo um tratamento sistemático” (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1988, p.9).

Estudos Sociais Aplicados - CESA, em março de 1982. Nessa assembléia foi deliberada

a criação de uma segunda comissão de currículo, agora formada paritariamente entre

alunos (as) e professores (as).

Esta comissão teve como finalidade elaborar, a partir das discussões realizadas na Assembléia, uma proposta de currículo para o Curso, além de coordenar os estudos sobre a realidade brasileira, a partir da formação de grupos, constituídos por professores, alunos e Assistentes Sociais dos Campos de Estágio (Idem, p.11).

Em 1982, quando o Conselho Federal de Educação, através do Parecer

412/1982, fixa um currículo mínimo para os cursos de Serviço Social, o Curso de

Serviço Social da UECE cria uma comissão pedagógica, com participação de docentes e

discentes, tendo como objetivo:

a) compatibilizar e articular horizontalmente e verticalmente as disciplinas e programas b) redimensionar conteúdos programáticos e respectivas bibliografias c) estabelecer priorização de temas para pesquisas que viessem a subsidiar às exigências da formação profissional d) coordenar e desenvolver ações relativas, a elaboração de um novo Currículo Pleno (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1989, p.3).

Em 28 de abril de 1982, estava pronta a segunda proposta curricular.

Entretanto, apesar de existir uma preocupação mais global, foram feitas apenas algumas

reformulações parciais como “mudança dos nomes das disciplinas, a partir dos

conteúdos propostos nas ementas; inclusão ou retirada de outros; aumento ou

diminuição de créditos e horas de aula” (Idem, p.11). Esta proposta foi aprovada pelo

Departamento em maio de 1982 e implantado preliminarmente em agosto do mesmo

ano.

Em 1983, a comissão volta a se reunir para discutir sobre as disciplinas

optativas e é nomeada pela ABESS com a responsável, ao nível local, pela pesquisa

“Formação Profissional do Assistente Social no Brasil – Determinantes Históricos e

Perspectivas”. Sob essa responsabilidade, a comissão elabora um projeto de

investigação sobre a formação do (a) Assistente Social no Ceará encontrando, sem

desistir, obstáculos de cunho financeiro e material. Contudo, no mesmo ano, o currículo

passa por processo de implantação. Assim:

O que caracterizou esse momento, de transição, foi um corte – discurso x prática docente, onde percebeu-se apenas mudança de nome nas disciplinas, permanecendo no entanto o conteúdo anterior. Os problemas se avolumaram, e a fragilidade da formação profissional do corpo docente, para a nova perspectiva que se afirmava, criou a necessidade de uma assessoria ao processo de revisão curricular (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1988, p. 14).

Neste momento a comissão contou com a assessoria da Professora Josefa

Batista Lopes, que veio orientar professores (as) na elaboração do conteúdo da matéria

Metodologia e as discussões sobre a formação profissional. A assessoria continuou em

1984 com a professora Alba Maria Pinho de Carvalho.

As discussões desenvolvidas pela comissão pedagógica resultaram em dois

documentos: “Documento Básico do Seminário de Revisão Curricular” de agosto de

1984 e “Documento Síntese – Discussões e Indicações do Seminário de Revisão

Curricular no Curso de Serviço Social da UECE” de dezembro de 1984 (Idem).

Porém no final de 1984 as discussões foram interrompidas, sendo retomadas

apenas no final de 1985. Também em 1985 as discussões não avançaram, sendo

novamente quebradas, retornando um ano após a partir das reivindicações dos (as)

alunos (as).

Em 1987, a comissão pedagógica agilizou a aprovação do currículo que se

encontrava no CEPE desde 1984, apresentando alterações na proposta curricular inicial,

sendo esta aprovada pelo CEPE por meio da Resolução nº 219/87 e implantado no

semestre 1987.2.

Também em 1987 foi realizado o I Seminário de Avaliação do Curso

Serviço Social que se determinou “as diretrizes da formação profissional do Assistente

Social na Unidade de Ensino da UECE e os objetivos do Curso”, bem como “os eixos

de conhecimento e os conteúdos temáticos da estrutura curricular” (Idem, p.4). O

resultado desse evento foi a elaboração de outro documento intitulado de “Projeto de

Formação Profissional do Curso de Serviço Social da UECE” de março de 1988.

O documento de 1988 apresenta as considerações fundamentais acerca da

formação profissional, traz o resgate histórico dessa construção do currículo na década

de 1980, apresenta a estrutura do curso de Serviço Social e traça os objetivos geral e

específicos pretendidos a partir dessa formação profissional.13 O Objetivo Geral:

Formar profissionais capacitados teórica e metodologicamente a compreender a dinâmica da sociedade capitalista e a intervir nessa sociedade, numa perspectiva de transformação social procurando reforçar e apoiar as lutas das classes populares (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1988, p.17).

Já em 1989, tendo em vista a necessidade de reavaliar a proposta do

currículo do Curso de Serviço Social, foi elaborado o documento “Proposta de

Alteração Curricular do Curso de Serviço Social” aprovado pelo Departamento de

Métodos e Técnicas do Serviço Social em reunião realizada em setembro de 1989,

homologada pelo Conselho Departamental do Centro de Estudos Sociais Aplicados –

CESA também em setembro de 1989 e posteriormente encaminhado ao CEPE para a

devida aprovação.

A proposta de alteração curricular de 1989 solicitou o aumento de créditos

da matéria Pesquisa em Serviço Social, de modo que os 6 créditos exigidos dobrassem

para 12 créditos dividido em três disciplinas: Pesquisa I, Pesquisa II e Pesquisa III,

tendo em vista, segundo a justificativa da época, “a necessidade da introdução da prática

investigativa como forma de articular a reflexão e ação sobre a realidade e como

sistematização do conhecimento advindo da prática social” (COMISSÃO

CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1989, p.5).

Também se propôs a mudança da disciplina “Projeto de Orientação do

Trabalho de Conclusão do Curso” pela disciplina “Fundamentos Metodológicos para o

Trabalho de Conclusão de Curso no Serviço Social”. Deliberou-se que a monografia

deveria ser elaborada pelo (a) aluno (a) sob orientação de um professor, após

cumprimento de todos os créditos exigidos e apresentou-se a necessidade da criação do

Comitê de Monografias, que seria constituído por professores (as) do curso, com

13 Vale ressaltar que todo esse apanhado histórico do curso Serviço Social da UECE da década de 80 apresentado nesse tópico está presente nos dois documentos: COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE. “Proposta de alteração curricular do curso de serviço social.” Fortaleza: UECE, 1989. E, COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE. “Projeto de formação profissional do curso de serviço social da UECE”. Fortaleza: UECE, 1988.

objetivo de analisar, julgar a atribuir conceito aos trabalhos que teriam como nota

mínima 7,0 (sete) para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

A partir dessas mudanças, o ementário do curso de Serviço Social, no que

tange a matéria Pesquisa, desdobrou-se da seguinte forma:

Orientação para o aprendizado da investigação social como base para a intervenção profissional do serviço social. Análise dos pressupostos epistemológicos, políticos e ideológicos presentes na pesquisa social. Métodos quantitativos e qualitativos e instrumentalização em pesquisa. Fundamentos metodológicos da investigação. Definição de área de interesse e levantamento bibliográfico, observação e entrevista. Espaço de articulação entre ensino-pesquisa e prática a nível das instituições de política social e movimentos sociais (COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 1989, p. 41).

Sobre a discussão da Pesquisa no currículo da década de 1980, é de suma

relevância ressaltar a criação do NUPEDESS - Núcleo de Pesquisa e Documentação em

Serviço Social idealizado pelos (as) professores (as) de Serviço Social e coordenado

pela professora Elizabeth Fiúza, sendo inaugurado em novembro de 1984. Era formado

por discentes e docentes, sem intenção político-partidária ou religiosa, mantendo sede

no Campus do Itapery.

Tinha como finalidades a constituição de acervo documental que

possibilitasse o acesso por alunos e professores, fomentar a pesquisa como base para o

ensino e extensão, bem como contribuir para a produção de conhecimento do Serviço

Social. (COSTA et al, 2011) Seus objetivos eram:

- Centralizar a produção acadêmica do Curso de Serviço Social a nível de graduação e pós-graduação.- Formar um acervo bibliográfico e áreas afins.- Manter intercâmbio com outras instituições que realizam trabalho na área do conhecimento científico.- Capacitar os alunos para a atividade de pesquisa em Serviço Social e áreas afins.- Prestar assessoria, consultoria e serviços técnicos em pesquisa de Serviço Social.- Apoiar iniciativas do interesse dos associados junto às agências de coordenação e financiamento a pesquisa.- Promover reuniões científicas e outras formas de intercâmbio e cooperação entre seus participantes e associações similares.- Promover a divulgação da produção científica de interesse do Serviço Social (Idem, p.39-40).

Todo debate sobre a formação profissional e reformulação curricular

travado em torno da década de 1980 pela Comissão Pedagógica do curso de Serviço

Social resultou na aprovação pela CEPE do Currículo Pleno de Serviço Social

materializado na Resolução nº 498/1991, que passou a vigorar a partir do semestre

1990.2.

Nos anos 1990 teve-se o movimento em torno da consolidação do projeto

ético-político configurado a partir do Código de Ética Profissional de 1993, Lei de

Regulamentação da Profissão de 1993 e Diretrizes Curriculares de 1996. Também nessa

década se vivenciou as novas configurações do Estado Neoliberal, com a privatização

das políticas sociais, a flexibilização das relações trabalhistas, o enfraquecimento dos

movimentos dos (as) trabalhadores (as) e a exacerbação do individualismo e da

competitividade, entre outros.

Consequentemente surgiu à necessidade de debates e proposições sobre a

formação profissional de forma a concebê-la a partir de uma direção social e política

condizente com as novas configurações da sociedade brasileira. O currículo de 1982

requereu atualização e nesse período a categoria se reorganizou para então formular

novas diretrizes curriculares que atendesse as nuances do exercício profissional.

3. TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: mudanças

no mundo do trabalho e seus rebatimentos na formação profissional do (a)

Assistente Social

Teceram-se nesse capítulo elucidações sucintas14 sobre os principais

determinantes da formação profissional do (a) trabalhador (a) brasileiro (a),

especificamente na formação profissional do (a) Assistente Social, tendo o objetivo de

analisar que a estrutura da sociedade, a nível nacional e internacional, em seus vários

aspectos - sociais, econômicos, políticos e culturais - rebatem claramente na educação

formal do (a) trabalhador (a). Destarte, se analisou a reestruturação produtiva, o Estado

neoliberal e a contra-reforma universitária no Brasil.

14 Afirmamos sucinta, pois explicações profícuas desse tema requereriam um trabalho completo, e não apenas um tópico de um capítulo.

Para a devida compreensão, o capítulo se inicia pelo novo padrão de

produção e acumulação capitalista, apresentando sua inserção na sociedade

contemporânea, suas principais características, bem como seus rebatimentos no mundo

do trabalho e organização dos (as) trabalhadores (as). Em seguida relata a formatação do

Estado e das políticas sociais públicas a partir da ótica neoliberal.

Posteriormente, trabalha o rebatimento dessa reestruturação nas políticas

educacionais do ensino superior, traçando um paralelo da realidade nacional com as

particularidades apresentadas pela Universidade Estadual do Ceará.

3.1 Reestruturação Produtiva: novo padrão de produção e acumulação capitalista

A “Acumulação Flexível”, assim denominada por Harvey, (1993, p.140) é o

padrão hegemônico de produção no sistema capitalista, que teve seu surgimento na

década de 1970 do século XX, porquanto da crise do padrão hegemônico antecessor, o

Fordismo. Este se caracterizou pela otimização do tempo de produção, no qual o

produto é conduzido até operário, via esteira, num processo repetitivo e rotineiro, que

exigia disciplina e ordem por parte dos trabalhadores. Foi considerado um processo

inovador, no período de seu apogeu, pela fabricação em grande escala de produtos

industrializados no qual demandava um alto consumo pela sociedade massificando

gostos e tendências.

Os princípios fordistas foram incorporados ao Taylorismo15, adicionando a

este o reconhecimento que para a eficácia da produção em massa era necessário um

consumo em massa e para que o último acontecesse haveria de ter “um novo sistema de

reprodução de força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho,

uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade

democrática, racionalizada, modernista e populista” (Idem, p.121).

Para a efetiva implantação do Fordismo/Taylorismo, os capitalistas

deveriam superar dois grandes problemas: o primeiro, fruto de resistências tanto dos

15 Taylor escreveu Os Princípios da Administração Científica, “um influente tratado que descrevia como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento” (HARVEY, 1993, p. 121).

(as) trabalhadores (as) quanto do próprio mercado e o segundo, a intervenção estatal. Os

(as) trabalhadores (as) organizados (as) em sindicatos não aderiram facilmente à idéia

de uma rotina de oito horas com tarefas repetitivas devido a uma cultura de

“organização do trabalho e as tradições artesanais” (Idem, p. 123).

No que tange a intervenção estatal, existia uma dificuldade de conciliação

entre o sistema Fordista com os instrumentos coercitivos do primeiro. Logo, para a

instalação do sistema de produção Fordista era necessária a união com um modo de

intervenção estatal que atendesse as demandas postas.

A intervenção elaborada foi baseada no pensamento de Keynes, que

difundiu a idéia do Estado prover políticas sociais públicas para suprir as necessidades

no âmbito social aos (às) trabalhadores (as) e intervir no mercado, diferentemente de

como se preconizava o Liberalismo Clássico e a lógica da mão invisível do Estado. Para

Harvey (1993), a legitimação do Estado perante as classes trabalhadoras dependia de

sua capacidade de transmitir os benefícios do Fordismo, bem como oferecer serviços

nas áreas de saúde, habitação, educação, etc., de forma qualitativa e humanitária.

A partir da união Fordismo/Keynesianismo, o capitalismo viveu, no período

do segundo pós-guerra, seu apogeu no chamado “anos dourados”, no qual houve o

consumo em massa pela classe trabalhadora estimulado pelo crescimento econômico, a

internacionalização do mercado e aliado a isso a viabilização de políticas distributivas

provindas do Estado.

A decadência desse modo de produção se deu no início dos anos 1970

motivada por várias críticas e movimentos contrários, como o descontentamento

provocado pela pouca qualidade de vida a partir de um consumo de massa padronizado,

as críticas culturais sobre a padronização, reações a racionalidade burocrática estatal, a

luta das minorias excluídas16 e a insatisfação do Terceiro Mundo com as promessas de

maior qualidade de vida promovida pelo Fordismo/Keynesianismo, que mais oprimia e

destruía as culturas locais, do que garantia um crescimento econômico articulado à

prestações de serviços públicos de qualidade (HARVEY, 1993).

16 Para Harvey (1993), havia uma divisão da força de trabalho, no qual se tinha os homens brancos e sindicalizados e o “resto”. Este resto eram as mulheres e os desprivilegiados que pressionavam os sindicatos para lutas socialistas mais radicais.

Outro fator influenciador da decadência foi à crise inflacionária iniciada no

pós-guerra, como crise no mercado imobiliário mundial e nas instituições financeiras.

Somada a isso a OPEP17 decide, durante a Guerra entre árabes e israelenses de 1973,

não exportar petróleo para o Ocidente prejudicando o acesso a energia. Assim, “a forte

deflação de 1973-1975 indicou que as finanças do Estado estavam muito além dos

recursos, criando uma profunda crise fiscal e de legitimação” (Idem, p. 137).

Tendo em vista a crise do mundo capitalista foi projetada uma

reestruturação do padrão de acumulação18 que se caracterizou pela flexibilidade nos

processos de trabalho, nos mercados, na criação dos produtos e nos padrões de

consumo. Investiu nas novidades de setores de produção e de mercados, nas inovações

tecnológicas e comerciais. Aumentou o setor de serviço e expandiu geograficamente a

produção e o consumo, bem como globalizou as informações. Ou seja, rebateu

fortemente na rigidez e padronização proposto pelo Fordismo (HARVEY, 1993).

Esse novo padrão requereu uma produção baseada na demanda, tendo uma

diversificação na produção de mercadorias, ou seja, objetivava-se a inovação do

produto, a diminuição do tempo de giro na produção, com a inserção de tecnologias

produtivas e técnicas de organização, aliada a diminuição do tempo de vida do produto.

Estimulou-se a criação de necessidades humanas, enfatizando a questão da moda

instável, da mercadificação dos desejos e da cultura, atrelando a felicidade ao poder de

consumo.

A produção continuou em larga escala, entretanto eram feitos lotes

pequenos com mais variedades e destinados a mercados específicos. O modelo de

produção era influenciado pelo modelo japonês Toyota que se caracterizava pelas

práticas gerenciais do kanban, Just in time, que prima pelos estoques mínimos e os

Círculos de Controle de Qualidade (CCQ’s) e Controle de Qualidade Total, realizados

pelos próprios trabalhadores (MENEZES, 2009).

No que tange o mercado de trabalho, a característica central dessa

reestruturação, a flexibilidade, tomou proporções consideráveis transformando

profundamente a estrutura anterior fortalecida pelos movimentos sindicais. Teve-se o

17 Organização dos Países Exportadores de Petróleo.18 Vale ressaltar que a lógica fordista não foi extinta, coexistindo, mesmo sem posse da hegemonia, com a acumulação flexível.

aumento do desemprego estrutural19 e consequentemente a esta condição social, a

diminuição de salários e o enfraquecimento do poder dos sindicatos, oriundo da mão de

obra excedente.

Estabelece-se um processo de horizontalização das grandes empresas, cujo modelo é a “indústria enxuta”, que cria, em torno de si, uma rede de pequenas e médias empresas fornecedoras de peças, insumos e serviços. Transformam-se grandes empresas em simples “montadoras”, dando origem ao fenômeno da terceirização. Este vem implicando na expulsão da mão-de-obra, especialmente a não qualificada, com a conseqüente precarização das relações de trabalho: a crescente perda dos direitos sociais, o aumento do trabalho temporário, os altos índices de desemprego estrutural... (IAMAMOTO, 1998, p.177).

Ocorreu, a partir da acumulação flexível, uma reformulação no mercado de

trabalho, que rebateu diretamente no modo de vida dos (as) trabalhadores (as). Harvey

(1993) analisou a nova configuração da força produtiva, classificando os (as)

trabalhadores (as) em três principais grupos: grupo central, primeiro grupo periférico e

segundo grupo periférico.

No grupo central, que se reduz cada vez mais, existe uma maior segurança

no emprego, perspectivas de promoção e reciclagem, porém o indivíduo deve ser

adaptável, flexível e geograficamente móvel (Idem, p.144). Já no primeiro grupo

periférico observa-se empregados (as) com habilidades disponíveis no mercado, com

menor acesso a promoção, trabalhos rotinizados e manuais e com menor especialização.

Enquanto no segundo grupo periférico encontraremos:

...empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato com tempo determinado, temporários, subcontratação e treinados com subsídios públicos, tendo ainda menos segurança no emprego do que o primeiro grupo periférico (HARVEY, 1993, p.144).

Com todas essas fragilidades observadas no mundo do trabalho, as classes

trabalhadoras tornaram-se enfraquecidas para mobilizações e articulações que

objetivavam a garantia de direitos e lutas mais radicais. Além disso, ficaram vulneráveis

19 O desemprego no sistema de produção capitalista é considerado estrutural, haja vista o caráter contraditório desse sistema, que tem o desemprego como arma de superação dos momentos de crise que são inerentes a ele. No ciclo econômico do modo de produção capitalista visualizam-se quatro fases essenciais e sequenciais: crise, depressão, retomada e auge, no qual no momento da crise “as operações comerciais se reduzem de forma dramática, as mercadorias não se vendem, a produção é enormemente diminuída ou até paralisada, preços e salários caem, empresas entram em quebra, o desemprego se generaliza e as camadas trabalhadoras padecem a pauperização absoluta” (NETTO e BRAZ, 2006, p. 159).

e influenciáveis ao novo discurso de participação e cooperação utilizado pelo capital.

Assim o indivíduo antes denominado empregado da empresa, passa a ser colaborador

que deve possuir características de pró-atividade e empreendedorismo devendo acima

de tudo “vestir a camisa da empresa” 20.

Sobre o setor de serviços, pode-se considerar que houve um aumento, a

partir dos anos 1970, em segmentos como finanças, produção de eventos, seguros,

aumento nas áreas de saúde e educação, etc. Bem como houve uma valorização no

acesso a todo tipo de informação, desde a monetária a informações sobre gostos e

tendências da moda, já que, diferentemente do sistema Fordista, esse acesso é mais

crucial para a sobrevivência das corporações. Também se valorizou o acesso ao

conhecimento científico e técnico, pois o saber virou uma mercadoria nesse novo

padrão de acumulação. Assim:

O próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a ser produzida e vendida a quem paga mais, sob condições que são elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas. Universidades e institutos de pesquisa competem ferozmente por pessoal, bem como pela honra de patentear primeiro novas descobertas científicas (HARVEY, 1993, p. 151).

Fortaleceu-se a financeirização do capital, ou seja, partindo da premissa que

a produção capitalista resulta na obtenção de lucros, ocorre essa obtenção de lucros para

além da esfera da produção (NETTO e BRAZ, 2006).

Sinteticamente, a financeirização do capital ocorre quando ao invés de

reinvestir os lucros da produção em outro circuito produtivo, o capitalista utiliza o

montante de capital para valorizar-se enquanto capital fictício, ou seja, aplica em

“ações, cotas de fundos de investimentos, títulos de dívidas públicas” (Idem, p. 232):

A financeirização do capitalismo contemporâneo deve-se a que as transações financeiras (isto é: as operações situadas na esfera da circulação) tornaram-se sob todos os sentidos hipertrofiadas e desproporcionais em relação a produção real de valores – tornaram-se dominantemente especulativas. Os rentistas e os possuidores de capital fictício (ações, cotas de fundos de investimentos, títulos de dívidas públicas) extraem ganhos sobre valores freqüentemente imaginários... (Idem, p. 232).

20 Essa metáfora muito utilizada na contemporaneidade significa dizer que todos os (as) empregados (as) devem trabalhar em prol do crescimento e da lucratividade da empresa no qual fora contratado (a), pois o crescimento desta será benéfico para todos (as), havendo nesta situação um discurso de partilha e união. Entretanto os lucros, os ganhos e consequentemente a riqueza e boa qualidade de vida não será dividida igualitariamente, apenas o capitalista e sua família se beneficiará do esforço empreendido por todos. Mas a falácia é disseminada e absorvida entre os (as) trabalhadores (as) através de prêmios e incentivos financeiros que é ínfimo comparado aos ganhos tido pelo (a) proprietário (a) através do esforço conjunto.

Atrelado a financeirização, ocorreu o endividamento e subordinação de

países periféricos a países de capitalismo central, que através da aquisição dos títulos da

dívida pública dos primeiros, vieram a cobrar taxas de juros exorbitantes aumentando

significativamente o valor inicial da dívida.

Esse processo, apesar de antigo, tomou grandes proporções nos anos 1970 e

a lógica é que quando os devedores não conseguem cumprir pontualmente com os

custos dos juros estabelecidos pelos credores, os últimos pressionam os primeiros a

realizarem reformas e ajustes de acordo com os ditames do capital.

No Brasil, o ideário neoliberal atrelado ao padrão de acumulação flexível

ganhou espaço devido às várias condicionalidades impostas pelos credores

internacionais para a concessão de empréstimos. Assim, a idéia de que o atraso

econômico da década de 198021 deveria ser solucionado por via de várias reformas

econômicas foi difundida, resultando numa simbiose do processo de reestruturação

produtiva com o padrão Fordista ainda incompleto que gerou e gera “a permanência de

formas arcaicas de relações de trabalho, que passam a conviver com novos e modernos

padrões de produção" (ABESS, 1996a, p. 157).

A partir dessa compreensão, o tópico seguinte tece análises acerca da

penetração da lógica neoliberal na formatação do Estado brasileiro e seus rebatimentos

nas políticas sociais e públicas.

3.2 Estado Neoliberal: organização e direcionamento do estado aos interesses do

capital.

A partir dessa ótica Neoliberal, também se propagou, além das reformas

econômicas, a necessidade de reformar o Estado. Entretanto, pensou-se numa reforma,

diferentemente do sentido semântico da palavra22, que favoreceu as classes dominantes

em detrimento da maioria a população.

21 A década de 1980 no Brasil foi considerada a década perdida, pois o pais, assim como outros da América Latina, contraiu dívidas altíssimas devido a crise internacional que se alastrou em 1982.22 O Projeto neoliberal em curso no Brasil se utiliza indevidamente da idéia de reforma na qual é “destituída de seu conteúdo redistributivo e de viés social-democrata, sendo submetida ao uso pragmático, como se qualquer mudança significasse uma reforma, não importando seu sentido, suas conseqüências sociais e sua direção sócio-histórica” (BEHRING E BOSCHETTI, 2008, p. 149).

Houve, a partir de então, uma extensa disseminação da proposta de Estado

mínimo, numa retomada aos princípios do Liberalismo Clássico. Porém, este Estado se

mascara como reduzido para a elaboração, financiamento e implementação de políticas

sociais públicas que visem a garantia de direitos aos (as) cidadãos (as) brasileiros (as),

possuindo a capacidade de se transverter em “Estado Máximo” quando a pauta é a

política econômica em favor do grande capital.

Assim, essa reforma foi materializada na redução do Estado através da

privatização das empresas, institutos e órgãos, com a difusão da imagem do

funcionalismo público como algo atrasado, dispendioso e ineficaz. Sendo utilizados os

argumentos de redução da dívida externa e interna, atração de capitais, melhoria da

qualidade dos serviços e redução dos preços para efetuar tais negociações.

Sobre a imagem do funcionário público, Biondi (apud BEHRING E

BOSCHETTI, 2006) relata que foi criado um verdadeiro sentimento antipúblico, através

de campanhas na mídia de forma que facilitasse a entrada dos propósitos já citados.

No Brasil, as principais medidas de redução do Estado foram tomadas pelos

governos de Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso, porquanto da

influência do Consenso de Washington, que em linhas gerais consiste em dez medidas

econômicas que visavam controlar a inflação através da redução dos gastos do Estado,

minimizando sua intervenção na área social e facilitando a entrada de capital estrangeiro

no país.

Na denominada “era Collor” o Brasil assistiu a um achatamento salarial,

fragmentação das instituições, focalização das políticas sociais públicas, reforma

administrativa com a demissão de 360 mil funcionários e oposição aos novos direitos

constitucionais. Ademais, a retomada do trinômio assistencialismo, clientelismo e

populismo, além da rejeição ao padrão de seguridade social com intenções de

desvincular os “benefícios” previdenciários da assistência social ao salário mínimo.

(PEREIRA, 2002).

Nos primeiros anos da década já se delineavam também alterações na política de educação superior, a qual deveria se voltar para a formação de recursos humanos demandados por um mercado competitivo. O presidente não cumpria o valor mínimo destinado à educação no orçamento da União estabelecido pela Constituição, e chegou a propor a extinção da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) e do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), instituições voltadas para a pesquisa do país (MENEZES, 2009, p. 44).

Vale ressaltar que Fernando Collor de Mello também propôs

antecipadamente a revisão da Constituição que afirmava ele ser inflacionária23. Collor

foi o precursor da internacionalização da economia brasileira criando uma verdadeira

crise social e política no país.

Enquanto na gestão de Itamar Franco houve a aprovação da Lei nº

8.958/1994 que desresponsabilizou o Estado no financiamento das universidades

promovendo a abertura para a captação de financiamentos particulares, bem como

houve os debates para a criação da modalidade do ensino a distância. Ressalta-se que

houve nesse governo:

(...) retorno do clientelismo e fisiologismo; corrupção; esvaziamento do projeto do SUS; represamento da concessão de benefícios previdenciários; veto ao projeto de criação da Lei Orgânica de Assistência Social; falta de apoio governamental à descentralização das políticas públicas; ausência de acompanhamento e controles oficiais de execução física e financeira de políticas sociais, etc.; centralização das decisões na esfera federal (PEREIRA, 2002, p.164).

No mandato de Fernando Henrique Cardoso se defendia as ações que

culminassem na estabilidade econômica, apoiava a revisão da Carta Magna de 1988 e

abria as portas para o capital estrangeiro. Assim, a real preocupação desse governo foi

na esfera econômica, enquanto o social, bem como nas administrações anteriores, não

foi privilegiado.

Houve na era FHC uma investida no desmonte do Estado com uma onda de

privatizações das estatais sob a justificativa de que a crise brasileira era originária dos

desequilíbrios fiscais e deveria ser sanada com a diminuição dos gastos públicos, sendo

prometida à população que o valor arrecadado com as vendas seria utilizado para

atenuar as dívidas externas e investir nas áreas de saúde e educação.

No que tange as políticas sociais, foi criado o Programa Comunidade

Solidária para se combater a pobreza, de cunho assistencialista e o Programa de Renda

Mínima, denominado Bolsa Escola, que exigia a obrigatoriedade e assiduidade a escola

23 A previsão de revisão era de cinco anos.

com o discurso de retirar as crianças da rua e do trabalho infantil. Mas, possuía caráter

seletivo, tanto em relação aos gastos previstos quanto nos critérios de escolha dos

beneficiados.

No período do governo Cardoso intensificou-se o estímulo ao chamado

Terceiro Setor, com a parceria entre o poder público e as instituições privadas, que se

caracterizam por não estar na estrutura formal do Estado, bem como não serem

lucrativas, produzindo bens e serviços de interesse e utilização coletiva e constituídas

por grupos de pessoas de direito privado.

O Estado se responsabilizaria, nessa relação, pela formulação das políticas

sociais, enquanto o terceiro setor a prestação direta dos serviços. Entretanto, já que nem

todos os serviços poderiam ser executados pelo terceiro setor, o Ministério de

Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), elencou várias atividades que

poderiam ser transferidas e implementadas pelas instituições do terceiro setor, a partir

da nomeação dessas instituições enquanto Organizações Sociais. Segundo MP

1.591/1997 apud Mesquita (1999):

(...) poderá qualificar como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde (MESQUITA, 1999, p. 29).

Destarte, a criação das Organizações Sociais beneficiou a questão da

desresponsabilização do Estado, ao mesmo tempo em que criou condições para burlar a

burocracia estatal, já que nessas instituições não se tem a obrigatoriedade de concursos

públicos para contratação de recursos humanos ou licitações para a compra de recursos

materiais, bem como poderia ocorrer cobranças de pequenas taxas no serviço prestado.

O salário mínimo nesse período não acompanhou o valor dos salários dos

países vizinhos integrantes do MERCOSUL; houve um agravamento do desemprego e

da pobreza e para baixar o custo da contratação de mão-de-obra, ousou-se apresentar um

projeto de flexibilização dos direitos trabalhistas.

Assim infere-se que os focos principais de reformulação no governo FHC

foram o patrimônio público, materializado nas privatizações, as políticas sociais, com a

desresponsabilização do Estado e a criação das OS e os direitos do trabalho, com a

flexibilização dos mesmos.

Na administração finda do presidente Lula e hoje sob o comando de Dilma

Rousseff, se presenciou a continuação das ações vistas nos governos anteriores, ou seja,

ações amarradas aos ajustes neoliberais, às pressões e mandos dos países de capitalismo

central, com redução de financiamento para as políticas sociais e abertura ao capital

estrangeiro. Entretanto, houve o discurso de um capitalismo mais humanitário,

buscando um consenso da burguesia com a massa trabalhadora.

No contexto dos governos citados não se pode afirmar a ausência de

políticas sociais, mas uma adaptação a ideologia imposta. Tais políticas tornaram-se

focalistas/seletivas, descentralizadas e privatizadas (BEHRING e BOSCHETTI, 2006),

no qual os direitos alcançados arduamente através da Constituição de 1988 foram

reduzidos. Não houve prevenção ou redistribuição e se impôs a transferência de

responsabilidade do Estado para setores privados.

Observa-se essa transferência das funções públicas para a sociedade civil

com o discurso da solidariedade social que foi estimulada concomitantemente à

competitividade do mercado. Entretanto, essa refilantropização foi baseada na ação do

grande capital. As empresas “preocupadas com a situação social do país” financiavam

projetos e ações voltadas para essa área com intenção de minimizar as mazelas sociais,

enquanto por outro lado, flexibilizava os direitos trabalhistas, promovendo a

concorrência interna, desarticulando a cooperação mútua entre os trabalhadores.

Destarte, vivenciou-se a fragilização dos movimentos dos trabalhadores que

ficaram acuados devido à ofensiva neoliberal dificultando a articulação em massa para

lutar contra as injustiças sociais.

3.3 Política Educacional de Ensino Superior e o desmonte do direito à educação.

O contexto universitário contemporâneo, caracterizado pela adaptação da

política educacional aos interesses capitalistas, bem como a precariedade e

secundarização do ensino superior por parte do Estado, é fruto das reformas neoliberais

impostas ao Brasil.

Contudo, para entender a atual configuração do ensino superior se perpassou

por uma conceituação de universidade e sua função social para em seguida conhecer os

desafios postos na contemporaneidade e consequentemente o desmonte que atinge essas

instituições e a formação dos (as) trabalhadores (as) brasileiros (as). Posteriormente,

sintetizou-se os rebatimentos desse desmonte na atual configuração da formação

profissional em Serviço Social a partir da elaboração das Diretrizes Curriculares, sendo

feito uma análise do particular com o reporte à realidade da Universidade Estadual do

Ceará.

A instituição universidade possui caráter sócio-histórico adaptando-se a

realidade vivenciada pela sociedade num determinado contexto social, econômico,

político e cultural. Dessa forma, se teve inicialmente no Brasil do século XX uma

universidade de perfil bacharelesco que objetivava a formação do quadro político

brasileiro. Segundo Cislaghi (2011), “a universidade era, portanto, um instrumento de

educação e meio para a coesão ideológica da classe dominante” (Idem, p. 243).

No período ditatorial, esse perfil se transformou segundo as “novas

necessidades” do país, passando a formar a mão-de-obra da nascente industrialização.

Assim, o ensino profissionalizante que era secundário, tornou-se prioridade, pois o

capital requeria profissionais aptos a atuarem na esfera na produção e circulação de

mercadoria, bem como na reprodução das relações sociais (CISLAGHI, 2011).

Portanto, o histórico do ensino superior brasileiro, que segundo Cislaghi

(2011) assemelha-se ao caso da América Latina, compreende duas fases no qual na

primeira vivenciou-se a massificação do ensino público entre os anos de 1960 a 1980 e

na segunda a privatização do ensino a partir de 1970, com intensificação na década de

1990.

Na década de 1990 a proposta de modernização da universidade aliou-se aos

interesses do capital, sendo pensada para realização de pesquisas de ponta objetivando

impulsionar o setor produtivo com inovações técnicas e tecnológicas.

Atrelada a proposta de modernização, teve-se a concepção de universidade

enquanto “ilhas de prosperidade ou centros de excelência” (MESQUITA, 1999, p. 12),

sendo preconizado o “atendimento às demandas de consumo de produtos com alto

padrão tecnológico, impulsionados pela economia de mercado” (WANDERLEY, 1998,

p. 8). A partir dessa “moderna” concepção se questiona qual a verdadeira função social

dessa instituição?

Esse questionamento foi feito por Frigotto (apud MENEZES, 2009) no qual

se distinguiu duas visões. De um lado a que defende a aquisição do conhecimento

enquanto instrumento de aprimoramento intelectual, tendo em vista a utilização do saber

para prover habilidades dos indivíduos e respostas as suas necessidades, e do lado

oposto, tendo parceria com a ideologia privatizante, a perspectiva de educação enquanto

preparo técnico para a inserção no mercado de trabalho, em suma, uma educação

lucrativa para a elite nacional.

Vale ressaltar nosso posicionamento a favor da educação emancipatória, que

gera autonomia e criticidade, uma educação que seja acessível a todos, sem elitização

do ensino. Desse modo, entra-se em consonância com o conceito do Andes apud

(MESQUITA, 1999) sobre universidade:

A universidade deverá ser capaz de formar profissionais compatíveis com as necessidades de desenvolvimento regionais ou do país e com as aspirações técnico-artístico-culturais da sociedade. Deverá através da pesquisa produzir conhecimento novo. Através de programa de extensão a universidade deverá se relacionar com todos os segmentos da sociedade, transformando-se também assim, em instrumento capaz de contribuir para o desenvolvimento econômico e social, regional ou nacional, cumprindo dessa forma, a sua função social (ANDES apud MESQUITA, 1999, p. 35-36).

Mas, o que se teve hegemonicamente no Brasil é a oferta de uma educação

que está atrelada a interesses particulares, sob influência das determinações do Banco

Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Essas determinações mexeram

significativamente na configuração do ensino superior brasileiro, pois houve, por parte

da agenda governamental, uma valorização do ensino básico seguindo os preceitos de

que, sendo o Brasil um país em desenvolvimento, o maior investimento deveria ser feito

na educação primária, segundo a lógica da divisão internacional do trabalho, em que

países periféricos exerceriam a função de abastecimento agrícola e atividades com

pouco desenvolvimento tecnológico.

O discurso preconizado era que as universidades, sendo mantidas por verbas

públicas, ocasionavam as crises fiscais devendo ter seus recursos racionalizados e até

suprimidos. Além de que, havia uma injustiça social em manter universidades onerosas,

já que grande parte dos alunos era proveniente de classes sociais altas que poderiam

financiar cursos de graduação pagos.

Outra determinação do Banco Mundial, materializada no Plano Nacional de

Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, previa que até o final de 2010, no mínimo 30%

dos jovens de idade entre 18 a 24 anos deveriam atingir o ensino superior. Este preceito

que se mostra de certo modo contraditório, haja vista o argumento anterior, demonstrava

a destreza do segmento empresarial e seus lobbystas em manejar as leis em causa

própria. Ou seja, o Estado deveria se responsabilizar com o ensino primário e garantir o

acesso ao ensino superior, sendo que a educação superior deveria permanecer em mãos

empresariais tornando-se assim mercadoria.

Entretanto, deve-se explicitar a existência de correlações de forças internas,

pois a agenda neoliberal influenciou a educação brasileira, mas não agiu diretamente, já

que existe atuação de vários atores sociais vinculados ao meio acadêmico (professores,

estudantes, pesquisadores, funcionários, etc.) que também exerceram pressão política e

que induziram a formatação dessa política pública em favor de um ensino qualitativo e

crítico.

Assim, a contra-reforma da política educacional, iniciada na década de

1990, se configurou a partir de ações governamentais, elaboração de leis e de vários

outros documentos, textos legais, programas e projetos do governo, sintonizados com as

propostas do Banco Mundial, elaborados com maior ênfase dos governos FHC com

continuidade nos dois mandatos do petista Lula da Silva e com a recente administração

de Dilma Rousseff.

No primeiro mandato de Cardoso (1995-1998) a principal ação que se

direcionou as universidades públicas federais foi o projeto que visava transformar todas

as universidades em organizações sociais. Desse modo, a articulação entre Estado e

universidade, esta última com status de OS, se daria através de um contrato de gestão no

qual se estabeleceria quais serviços seriam prestados, bem como as metas que deveriam

ser atingidas havendo um consenso dos recursos que deveriam ser transferidos

anualmente. Essa proposta elaborada pelo MARE foi questionada e refutada pela

comunidade acadêmica através de lutas e pressões passando a ser opcional a adesão.

Nesse período, surgiram as discussões em torno da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação24 que marcaram o governo de FHC devido à disputa de dois projetos

antagônicos: o Projeto de Lei elaborado pelo Fórum Nacional em defesa da Escola

Pública, em consonância com a proposta da sociedade brasileira, e o Projeto de Lei

elaborado pelo senador Darcy Ribeiro que foi aprovado em 1996, com apoio do poder

executivo. Assim, devido às pressões políticas, em seu texto há a combinação de

instituições públicas e privadas, bem como a manutenção do ensino público em

instituições oficiais.

Para Carvalho (2006), das reformas que visavam à racionalidade e eficiência

do sistema educacional, a LDB foi a principal iniciativa legislativa implementada sendo

introduzidos novos conceitos na política educacional brasileira, a saber: “avaliação,

autonomia universitária, diversificação, diferenciação, flexibilização, privatização.”

(Idem, p. 2) Para Menezes (2009), a LDB:

(...) é clara ao propor a redução da participação financeira do Estado na manutenção da universidade pública, instituição do Exame Nacional de Curso, substituição dos currículos mínimos por diretrizes, flexibilização das modalidades de ensino e carga horária, incentivo aos cursos sequenciais e a distância (Idem, p.51).

Com a promulgação dessa lei ocorreu a drástica redução do financiamento

do governo, a perda significativa de docentes e funcionários da área técnica-

administrativa e em contrapartida o aumento das vagas no horário noturno e turmas

mais numerosas. O que gerou a privatização no interior das instituições públicas, através

das parcerias de universidades com fundações privadas, resultando na cobrança de taxas

e mensalidades (CARVALHO, 2006).

Pereira (2009) analisou a LDB como magnânima na introdução da lógica

capitalista na educação e sobre a pretensa outorga de autonomia universitária afirma:

A autonomia universitária se reduz à autonomia gerencial e financeira. A autonomia significa, portanto, gerenciamento empresarial da instituição e prevê que, para cumprir as metas e alcançar os indicadores impostos pelo contrato de gestão, a universidade tem “autonomia” para “captar recursos” de outras fontes, fazendo parcerias com empresas privadas (Idem, p. 42).

24 LDB - Lei nº 9.394 de 20/12/1996

Questiona-se o tipo de autonomia preconizado pela LDB, pois no seu

sentido semântico a palavra autonomia refere-se à liberdade para usar leis próprias e

total independência. Entretanto, que tipo de autonomia é essa se a instituição é cobrada

a responder as exigência e metas estabelecidas pelo governo, sem ao menos ter o

respaldo financeiro necessário a simples manutenção?

As IES estão abandonadas quando o assunto diz respeito aos

financiamentos, tendo que buscar parcerias com grupos privados, mesmo que na

Constituição Brasileira esteja explícita a responsabilidade do Estado para com a

educação e paralelamente são responsabilizadas em cumprir as metas estabelecidas pelo

MEC sendo penalizadas quando não cumprem.

Ainda na discussão da LDB, os cursos sequenciais, referidos no Art. 44 da

supracitada Lei, que não podem ser considerados cursos de graduação, responderiam as

demandas crescentes do ensino médio facilitando o acesso por serem mais baratos e

com menor duração. São facilitados por instituições não-universitárias seguindo os

preceitos do Banco Mundial.

Os cursos de graduação com Ensino à Distância – EaD, também previstos

na LDB, tiveram um aumento agressivo a partir desta promulgação ocasionando a

massificação desqualificada no ensino superior, tomando por base a concepção de que

essa modalidade transmite informação, mas não forma profissionais (CFESS/CRESS,

ABEPSS e ENESSO, 2010).

A modalidade de ensino a distância foi pensada inicialmente para cursos

profissionalizantes e de atividades de complementação aos estudos. Contudo, em 1993,

o Ministério da Educação elabora o Consórcio interuniversitário de Educação

continuada e à Distância objetivando atender a demanda de jovens pré-universitários a

partir da ampliação do acesso a internet.

A Ead foi regulamentada pelo Decreto 2.494/1998, que a caracterizava

como um processo de auto-aprendizagem, que se utilizava de material didático

divulgado em meios de comunicação, tendo seu credenciamento formalizado pelo

Decreto 2.561/1998 e por outros textos legais do MEC. Em 2001 foi publicada a

Portaria nº 2.253 que autorizava o cumprimento de 20% das cargas horárias de curso

presencial em instituições de ensino superior por meio de ensino à distância.

O foco do EaD previsto no governo Cardoso e seqüenciado pelo governo

Lula era ofertar cursos de graduação para alunos pobres e professores do ensino básico,

conforme consta no Plano Nacional de Educação, ou seja, “uma política de ensino

superior pobre para pobres” (Idem, p. 8), havendo a precarização do trabalho de

professores que são remunerados através de bolsas ou contratos precarizados.

A maior perversidade desse projeto é essa: estamos produzindo um exército de reserva de trabalhadores de formação superior limitada e que mal tem condições de competir no mercado de trabalho, como demonstram os processos de seleção pública e concursos, mas que caem no canto da sereia do acesso, que na verdade é a forma do governo brasileiro corresponder aos parâmetros internacionais de competitividade e atratividade, no contexto da mundialização, no mesmo passo em que reproduz seu projeto político (CFESS/CRESS, ABEPSS e ENESSO, 2010, p. 15).

No governo FHC, também houve o aumento significativo de instituições

privadas de ensino superior, bem como um significativo número de matrículas.

Enfatiza-se que para o Banco Mundial as Universidades privadas eram tidas como

modelos por estarem sob um sistema organizacional de cunho empresarial tido como

mais eficiente, ágil, racional.

Mas a lógica do ensino privado encontrou diversas dificuldades devido ao

baixo poder aquisitivo dos alunos que demandavam essas instituições, gerando

inadimplência e desistência. O resultado foi um alto percentual de vagas ociosas. Até o

Programa Crédito Educativo, o FIES25, deixou de ser uma alternativa viável, pois há “à

defasagem entre o aumento da taxa de juros do empréstimo e a taxa de crescimento da

renda do recém-formado combinada à elevada taxa de desemprego na população com

diploma de terceiro grau” (CARVALHO, 2006, p.5).

Nas gestões de Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010) a problemática das

vagas ociosas nas instituições privadas foi solucionada através do financiamento dessas

com recursos públicos, mediante o discurso de democratização do ensino superior, com

expansão do acesso das camadas mais pobres à educação. A partir dessa demanda, bem

como das pressões feitas pelos representantes do segmento particular, surgiu o

Programa Universidade para Todos – ProUni.

25 Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior

Este programa tinha o objetivo de conceder bolsas integrais em faculdades

particulares para estudantes considerados pobres que cursaram o ensino médio em

escolas públicas ou como bolsistas nas escolas privadas, além de professores do ensino

básico da rede pública e às ações afirmativas.

Apesar do discurso de “justiça social” (CARVALHO, 2006, p.7), o custeio

do ProUni se dava mediante isenção fiscal que na realidade supera o valor das vagas

ociosas triplicando os gastos do Estado e consequentemente ascendendo os lucros dos

empresários do sistema educacional (MENEZES, 2009).

Além desses gastos do governo federal em favor da iniciativa privada, teve-

se a facilidade de inserção das instituições nesse programa, pois segundo a MP nº

213/2004, até a Lei do ProUni, Lei nº 11.096/2005, existiu flexibilidade de requisitos,

bem como nas sanções, diminuindo a contrapartida dos estabelecimentos. Assim:

Do projeto à Lei do ProUni houve acomodação de interesses em torno do afrouxamento do aparato de regulação estatal, traduzido na inexistência de sanções mais severas pelo descumprimento das regras estabelecidas e ao lapso temporal para avaliação dos cursos, o que estimula comportamentos oportunistas de instituições de qualidade duvidosa (CARVALHO, 2006, p. 13).

Diferentemente do governo anterior, o governo Lula manteve uma postura

de receptividade para com a sociedade civil e a comunidade acadêmica. Houve a

abertura de espaços para diálogos sobre a educação superior, e a sociedade civil se

mostrou a favor do programa, bem como os alunos concludentes do ensino médio

provindos de escolas públicas, com o argumento de não se sentirem preparados para

enfrentar o processo seletivo das universidades.

Outro programa desenvolvido pelo Ministério da Educação nos mandatos de

Lula foi o Reuni – Programa de Apoio a Plano de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais – que visava ampliar o número de vagas nas Universidades e

elevar a qualidade do ensino sob o argumento que o setor privado está em crise

motivado pela inadimplência e sufocamento do mercado para várias profissões e que

para remediar se deveria investir na ampliação de vagas no ensino púbico das

instituições federais (MENEZES, 2009).

Sinteticamente, o Reuni se caracterizou por ser um contrato de gestão que

fixava rígidas metas de desempenhos para o recebimento de contrapartidas financeiras,

com perspectiva de racionalização com a visão de que as Universidades federais são

subaproveitadas (CISLAGHI, 2011).

Os principais objetivos do Reuni foram a utilização das estruturas físicas das

IFES26 com melhor aproveitamento, preocupação com a qualidade do ensino com a

intenção de reformulação das grades curriculares dos cursos, ênfase na flexibilização e

interdisciplinaridade com a diversificação das modalidades de graduação. Teceu críticas

sobre o atual modelo de ensino que dificultava propostas inovadoras nos currículos,

valorizou a utilização de recursos tecnológicos e previu o aumento do número de alunos

por turma.

Consequentemente propôs o aumento de número de estudantes por

professores e a flexibilidade nos contratos dos docentes, sugerindo substituir

profissionais com dedicação exclusiva por vários professores com contratos temporários

que se dedicassem prioritariamente as salas de aula, em detrimento as atividades de

pesquisa (idem).

Infere-se, a partir da apresentação sobre o ProUni e o Reuni, a

contraditoriedade do governo supracitado, pois os dois programas divergem em suas

justificativas, diretrizes e objetivos. Analisa-se como uma tentativa, por parte do

governo, de conciliar interesses, ou seja, aderir às recomendações internacionais ao

mesmo tempo em que responde algumas das demandas da comunidade acadêmica.

Seguindo a análise de Carvalho (2006), o discurso desse governo se

diferenciou da prática, pois se afirmava que a educação superior é um bem público

imbuído de função social, ao mesmo tempo em que se justificava que os gastos com a

educação traz um retorno ao futuro econômico do país, utilizando a idéia de educação

enquanto investimento. Concomitantemente, aumentou a relação público-privada, com

o as ações do ProUni, revertendo parcialmente o sucateamento das instituições federais.

Outra ação do governo petista foi a criação do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior, o Sinaes, que objetivava avaliar as IES, os cursos de

graduação e o desempenho dos graduandos conferindo o caráter de autonomia para as

26 Instituições Federais de Ensino Superior.

instituições com melhor avaliação, sendo o planejamento e operacionalização das ações

organizados pela Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior – CONAES.

Os requisitos para as avaliações das instituições eram variáveis como

responsabilidade social e sustentabilidade financeira. E as IES que não atingissem a

conceituação satisfatória assinariam um documento se comprometendo a reverter o

quadro num determinado período de tempo sob a implicação de descredenciamento,

desautorização e não reconhecimento de cursos de graduação, ou até mesmo suspensão

do processo seletivo (MENEZES, 2009).

Sobre a avaliação de desempenho dos alunos era realizado o Exame

Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) que:

...também expressa o caráter de premiação/punição a medida que é obrigatório aos convocados e consta no histórico escolar do aluno. Os resultados são publicizados no site do MEC e podem ser facilmente consultados caso o aluno se submeta a alguma seleção de emprego, pós-graduação, bolsa de estudos, etc. Também estão previstas distinções e estímulos acadêmicos aos alunos que obtêm melhor desempenho (Idem, p.63).

Existiu a partir dessa obrigatoriedade uma mobilização nacional do

movimento estudantil em refutar esse exame através do boicote. Havia a orientação para

os estudantes selecionados não responderem a prova, ou seja, entregá-la em branco com

o adesivo do boicote, manifestando a insatisfação e discordância com esse processo

avaliativo imposto pelo Sinaes.

No atual governo Dilma Rousseff, com início em janeiro deste ano27,

observou-se continuidade das ações do governo Lula no que tange a política

educacional de ensino superior com permanência dos programas como ProUni e Reuni,

bem como do próprio ministro da educação Fernando Haddad28.

A partir do exposto infere-se que a formação profissional do (a) trabalhador

(a) brasileiro (a) está comprometida, pois a educação está voltada a interesses

privatistas, o que gera uma educação sem qualidade, propiciando apenas o repasse de

informação e não formação profissional, dando continuidade ao processo de alienação,

27 O governo Dilma Rousseff tem pouco mais de nove meses de gestão, não possibilitando uma análise mais aprofundada de suas ações.28 Fernando Haddad foi ministro do Governo Lula a partir de julho de 2005 até o fim da gestão.

mas com moldes de intelectualidade, haja vista a massificação desqualificada do ensino

superior.

Assim, a formação profissional do (a) Assistente Social também ressentiu

esses impactos neoliberais, culminado na reformulação do currículo mínimo de 1982.

Desse modo, a década de 1990 torna-se palco de inúmeras construções e reconstruções

para o Serviço Social.

3.4 As diretrizes curriculares de 1996.

Em meados dos anos 1990, profissionais e alunos (as) de Serviço Social

constataram a necessidade de reformular a fundamentação de cunho teórico,

metodológico, prático e ético, devido às transformações societárias ocorridas durante o

século XX, tendo em vista a condição de historicidade peculiar da profissão. Assim,

houve a promulgação de uma legislação profissional que respaldou a categoria perante o

Estado e a sociedade brasileira e deu base para a formatação do projeto profissional de

cunho ético e político.

Em 1993, foram aprovados a Lei de Regulamentação Profissional – Lei

8.662/ 1993 – e o Código de Ética Profissional que articuladas as Diretrizes

Curriculares elaboradas em 1996 e a direção social em prol das classes subalternas dão

materialidade ao Projeto Ético Político do Serviço Social, denominado assim a partir

dos anos 1990, mas projetado há mais de 30 anos pela categoria, tendo seu marco no

Congresso da Virada de 197929. Contudo, vale ressaltar que o projeto ético-político não

se resume simplesmente a uma tríade de documentos que permitem traçar um perfil

profissional pretendido, mas a “todo um conjunto de elaborações teóricas e de

concepções que subsidiam as defesas presentes nesses textos” (MENEZES, 2009, p.

68).

Em sua essência, a Lei de Regulamentação, datada em 7 de junho de 1993,

apresenta as competências dos Conselhos Profissionais de Serviço Social ao nível

29 O III Congresso Brasileiro de Assistentes Social ocorrido em São Paulo no ano de 1979 foi um marco para o processo de politização da categoria, devido a articulação com os movimentos populares e de trabalhadores motivada pelos questionamentos ao sistema ditatorial e aos posicionamentos conservadores no seio do Serviço Social.

regional e nacional – Conjunto CFESS/CRESS30 – bem como as competências e

atribuições privativas do (a) Assistente Social, representando a “defesa da profissão na

sociedade” (ABEPSS, 2010).

Enquanto o Código de Ética, aprovado em 13 de março de 199331, sendo

uma reformulação do Código de Ética de 1986, reflete os avanços da categoria perante

as discussões em torno da ética e dos novos valores mais abrangentes, expressando o

compromisso com os usuários. Este documento institui a liberdade como valor ético

central e outros princípios éticos, refletidos, descritos e percebidos pela categoria

enquanto horizonte da atuação profissional32.

As Diretrizes Curriculares, fruto das demandas sociais e do próprio

amadurecimento da profissão, sofreram alterações significativas. Inicialmente foram

projetadas enquanto “Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social”, entretanto,

com aprovação da LDB no ano de1996, tiveram que se adequar as exigências do MEC

como diretrizes gerais.

Enquanto currículo mínimo foi projetado de forma democrática pela então

ABESS, a partir de vários encontros da categoria profissional e de estudantes. Na

Convenção Nacional da ABESS realizada em Londrina, em outubro de 1993, deliberou-

se sobre a necessidade de reformulação do currículo de 1982. Assim, entre 1994 a 1996

30 O CFESS – Conselho Federal de Serviço Social e os CRESS – Conselhos Regionais de Serviço Social têm as atribuições de fiscalizar, normatizar, defender e disciplinar o exercício profissional, em observância a legislação profissional. Passaram a ter essa nomenclatura a partir da promulgação da Lei de Regulamentação da profissão, pois, anteriormente eram denominados de CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais e de CRAS Conselhos Regionais de Assistentes Sociais.31 Este em constante atualização devido às intensas discussões, aos novos valores e às recentes conquistas da categoria profissional.32 São eles: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas a ela inerentes: autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero; Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física. (Código de Ética profissional do Assistente Social, 1993)

foram realizadas aproximadamente 200 oficinas locais nas 67 Unidades Acadêmicas

filiadas à ABESS, 25 oficinas regionais e duas nacionais (ABESS, 1996a).

Através do diagnóstico das oficinas regionais organizou-se o documento

intitulado de Proposta Básica para o Projeto de Formação Profissional aprovado na

XXIX Convenção Nacional da ABESS em Recife no ano de 1995. Em 1996, com ajuda

de consultores, este documento foi reformulado, sendo sua alteração denominada

Proposta Básica para o Projeto de Formação Profissional: Novos Subsídios para o

Debate (idem).

A proposta final, elaborado pela então diretoria da ABESS, representantes

do CFESS e da ENESSO33, consultores de Serviço Social e consultoria pedagógica, foi

apresentada na II Oficina Nacional de Formação Profissional e aprovada em Assembléia

Geral realizada no Rio de Janeiro também em 1996 (ABESS, 1996b).

O resultado desse trabalho prevê a nova lógica curricular formulada a partir

de três núcleos de fundamentação que perpassam todos os conhecimentos essenciais da

formação e se especificam em matérias, que por sua vez se desdobram em disciplinas,

seminários temáticos, oficinas/laboratórios, atividades complementares e outros. São

eles: Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; Núcleo de

fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira.

Núcleo de fundamentos do trabalho profissional (ABESS, 1996b).

O primeiro núcleo refere-se aos conhecimentos teórico-metodológicos e

ético-políticos que o (a) Assistente Social necessita apropriar-se para ter a devida

compreensão do ser social e sua vida em sociedade. Dá subsídios para compreensão do

trabalho, do desenvolvimento capitalista, dos grupos sociais, ou seja, a dinâmica social

na sociedade burguesa (IAMAMOTO, 1998).

O segundo núcleo se remete a análise da formação da sociedade brasileira,

suas particularidades regionais, o desenvolvimento rural e urbano e as expressões da

questão social presentes nesses processos históricos. Enquanto o terceiro núcleo refere-

se a todos os elementos do Serviço Social, tomando-o enquanto especialização do

33 A ENESSO – Executiva Nacional de Estudante de Serviço Social foi criada desde o período da Ditadura Militar brasileira, no qual era denominado de SESSUNE (Subsecretaria de Serviço Social na União Nacional de Estudantes), tendo o objetivo de articular e organizar o movimento estudantil de Serviço Social – MESS - em âmbito nacional. Motivado pelas discussões do movimento estudantil que requereria uma maior autonomia perante a UNE, em 1993 passou-se a se chamar ENESSO. Disponível em http:/enesso.xpg.com.br

trabalho coletivo, ou seja, apresenta os conteúdos fundamentais para o exercício

profissional, resguardando as competências específicas: determinações sócio-históricas,

pesquisa, estágio supervisionado, instrumentalidade, ética profissional, planejamento e

administração.

Os pressupostos norteadores da formação profissional, a partir do currículo

mínimo são, sinteticamente, que o Serviço Social é uma profissão interventiva no

âmbito da questão social, que por sua vez se expressa pelas contradições do

desenvolvimento do capitalismo monopolista, tendo a fundamentação dessa relação

mediatizada por processos sócio-históricos e teórico-metodológicos; considerando que o

agravamento da questão social em face ao neoliberalismo gera uma inflexão no campo

de atuação e que o processo de trabalho é determinado pelas configurações da questão

social e pelas formas de enfrentamento (ABESS, 1996b).

Preconiza como tópicos de estudo os conteúdos referentes à sociologia,

teoria política, economia política, filosofia, antropologia, psicologia, formação sócio-

histórica do Brasil, direito e legislação social, política social, desenvolvimento

capitalista e questão social, classes e movimento sociais, fundamentos históricos e

teórico-metodológicos do serviço social, trabalho e sociabilidade, serviço social e

processos de trabalho, administração e planejamento em serviço social, ética

profissional e pesquisa em serviço social.

Prevê a realização de atividades complementares pelo aluno como

monitorias, iniciação científica, projetos de extensão, visitas monitoradas que devem

corresponder a 5% da carga horária total do curso.

Mas o currículo mínimo, de implantação obrigatória em todas as unidades

de ensino superior de Serviço Social, não teve total êxito, porquanto da promulgação da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que extinguiu os currículos mínimos e

estabeleceu a obrigatoriedade das diretrizes. Logo, em 1999, o documento estabelecido

como currículo mínimo é adaptado as exigências da LDB por uma comissão de

especialistas da ABEPSS34 e enviado a comissão do Conselho Nacional de Educação

(Menezes, 2009).

34Em meados da década de 1990 o CEDEPSS é incorporado a então ABESS que agrega em sua nomenclatura a Pesquisa passando a se chamar de Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. A partir do exposto e levando em consideração a temporalidade do texto, utilizaremos a sigla ABEPSS.

A proposta original foi substantivamente alterada, sendo homologada pelo

MEC em 2001 uma reformulação no qual se descaracteriza a direção social e os

conhecimentos tidos necessários para a formação de um profissional com competências

teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Assim, o documento oficial

passa a ser o Parecer do CNE/CES nº 492/2001 respaldado pela Resolução nº 15, de 13

de março de 2002, que se adequou as necessidades dos pressupostos neoliberais,

reduzindo os postulados teóricos e metodológicos e desviando os de cunho ético e

político:

... o texto oficial é condizente com os princípios neoliberais, pois há uma clara flexibilização da formação acadêmico-profissional objetivando a adequação aos parâmetros do mercado. Por isso é imprescindível a luta e a organização política de toda a categoria profissional (PEREIRA, 2009, p.62).

Em 2006, a ABEPSS inicia um processo de avaliação intitulado

“Implementação das Diretrizes Curriculares do Serviço Social, no Brasil” que teve

como propósito a identificação das tendências e atuais condições da implementação e

adaptação das diretrizes nas escolas de Serviço Social em todo o país.

Os resultados da pesquisa35, sistematizados por Amaral (2007) mostraram

que o curso de Serviço Social é predominantemente ofertado em Universidades

(60,8%), sendo estas de natureza jurídica privada (89,1%), com maior número de cursos

noturnos. Ressalta-se que houve um crescimento significativo de cursos em instituições

privadas a partir da década de 1990, em consonância com a política de privatização do

Estado. Em síntese:

Totalizando esses valores tem-se que nas últimas três décadas (1976-2006), foram criados no Brasil 5 (cinco) IES públicas e 51 (cinquenta e uma privadas), perfazendo uma razão de quase dez IES privadas para cada IES pública criada (AMARAL, 2007, p. 18).

No que diz respeito alguns pontos dos projetos pedagógicos, a pesquisa

revelou que das 95 IES que responderam a questão referente às disciplinas eletivas, 42

unidades (44,2%) afirmaram não ofertá-las, destas, a sua maioria, ou seja, 90,5% (38

unidades) são de caráter privado (AMARAL, 2007).

35 Os resultados foram divulgados no periódico da ABEPSS – Revista Temporalis Ano VII, nº14 – julho a dezembro de 2007.

Em relação aos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC, das 97 IES que

responderam 78,3% afirmaram que as elaborações de TCCs estão interligadas

preferencialmente as experiências vivenciadas pelos alunos no estágio, 7,2% estão

interligadas exclusivamente com o estágio, 61,1% com a iniciação científica, 58,8% aos

projetos de extensão, 48,5% aos núcleos de pesquisa, 25,8% aos projetos de pesquisa do

docente orientador e 37,1% referem-se a outras possibilidades (AMARAL, 2007).

No que tange as orientações aos TCCs nas unidades públicas, 50%

responderam que as orientações são realizadas exclusivamente por docentes efetivos,

enquanto 28,6% das IES o trabalho é feito por docentes efetivos e substitutos. Já nas

Unidades de Ensino privado o quadro se diferencia, pois o número de orientações

realizadas por docentes efetivos e docentes horista é o mesmo, ou seja, 38,5%

(AMARAL, 2007).

O estudo da ABEPSS também levantou dados sobre a duração do processo

de orientação, que na sua maioria perpassa dois semestres (69,8% dos casos, no qual

58,6% são nas IES públicas e 74,6% nas IES privadas) e sobre a média de aluno por

orientador, que em 52,7% dos casos (77,8% nas IES públicas e 42,2% nas IES privadas)

se contabiliza de 1 a 5 discentes por orientador, enquanto que em 38,5% dos casos

(22,2% nas IES públicas e 45,3% nas IES) são contabilizados de 6 a 10 discentes por

orientador. Segundo Amaral (2007):

Estes dados indicam que, particularmente em relação à média de alunos por orientador, essa é considerada alta se considerarmos o acúmulo de atividades docentes, as condições de ensino e a reconfiguração dos processos de trabalho dos docentes nas Instituições de Ensino Superior mediados pelas exigências de produtividade e avaliações produtivistas (Idem, p. 23).

A partir dos dados apresentados, observou-se que a formação profissional,

principalmente as ofertadas em unidades de ensino de cunho privado, sofre complexos

impactos da investida neoliberal. A problemática da contratação de professor rebate nas

disponibilidades de disciplinas optativas que complementam o aprendizado do aluno e

nos momentos da orientação do TCC’s, pois, de acordo com os dados, nessas unidades

privadas os professores horista estão em igual número aos de caráter efetivo, o que gera

um aligeiramento no processo de ensino, tendo em vista a “redução de gastos”, já que as

horas são contadas e pagas.

Assim, a graduação em Serviço Social deve ser discutida e analisada

constantemente, pois com a extinção dos currículos mínimos se possibilita a criação de

cursos que não condizem com a direção social construída por anos pela categoria e suas

entidades representativas, através de lutas, debates, construções e reconstruções.

Infere-se que formação profissional em Serviço Social está posta à prova na

contemporaneidade, pois se vivencia o aumento significativo de cursos em IES

privadas, a penetração da modalidade de Ensino à Distância, o sucateamento das

universidades públicas com a desarticulação do tripé ensino/pesquisa/extensão,

flexibilização dos contratos trabalhistas de docentes, entre outros problemas estruturais,

que condicionam, na maioria das vezes, a formação do profissional de Serviço Social

enquanto mero executor das políticas sociais que na atualidade caracterizam como

focalistas e seletivas, voltando-se ao público extremamente pobre, com ações

descentralizadas e fragmentadas, não concebendo a questão social para além de sua

expressão, bem como não promovendo a intersetorialidade necessária para respostar as

demandas dos usuários de forma completa e satisfatória.

Entretanto, profissionais e estudantes com intuito de resistir aos impactos

sentidos no Serviço Social pelo desmonte da política educacional, organizaram uma

frente de luta pela defesa da formação profissional denominada “Educação não é fast-

food” 36. E a exemplo dessas articulações, menciona-se a existência de documentos e

publicações que subsidiam o enfretamento dessa investida neoliberal.

Em 2008, foi elaborado o parecer nº 533/2008 do Conselho Federal de

Serviço Social que regulamenta a supervisão direta de estágio em Serviço Social,

assegurando a realização de uma atividade enriquecedora em consonância com a

legislação da profissão, pautada no processo teoria-prática do (a) aluno (a) a partir da

inserção do (a) mesmo (a) nos espaços sócio institucional.

Este documento torna-se instrumento de fiscalização do conjunto

CFESS/CRESS para fazer cumprir as determinações sobre a prática do estágio,

dispondo sobre as atribuições e competências das instituições de ensino, instituições

empregadoras, professores (as) supervisores (as) e supervisores (as) de campo, visando

36 Disponível em http://www.cfess.org.br, acesso em 28 de agosto de 2011.

garantir a prática de estágio de forma qualitativa para a formação profissional do

estudante.

Outra ação em defesa da formação profissional foi a elaboração e

divulgação da publicação intitulada “Sobre a incompatibilidade entre graduação à

distância e Serviço Social” fruto do trabalho realizado entre CFESS/CRESS, ABEPSS e

ENESSO e sistematizado no ano de 2010.

Nesse material, têm-se os resultados da pesquisa sobre os cursos de

graduação a distância em Serviço Social coletados e analisados pelo grupo de trabalho

formado a partir do 37º Encontro Nacional CFESS/CRESS em setembro de 2008, no

qual se reforça a precarização dessa modalidade e a incompatibilidade com uma

formação profissional de qualidade. Destarte:

A descoberta do curso de serviço social como nicho de valorização relaciona-se a uma demanda do mercado de trabalho (...). Nesse contexto, não se requisita o perfil das diretrizes curriculares, crítico, articulador político-profissional dos sujeitos... Ao contrário, o que se requisita é um profissional a imagem e semelhança da política social focalizada e minimalista de gestão da pobreza e não de seu combate (...). A reposta vem na forma de conteúdos fragmentados, parciais e medíocres. Nada de livros, mas apostilas! Nada de discussão e riqueza de sala de aula, mas a relação individual e virtual com um tutor distante (...). Empobrecimento e mediocridade em quantidade, com a ilusão de que está se promovendo e democratizando o acesso ao ensino superior (CFESS/CRESS, ABPESS e ENESSO, 2010, p. 14-15).

Além desse material de cunho jurídico e informativo, respectivamente,

existem manifestos e espaços de discussões e deliberações, realizados pela organização

de alunos e profissionais, desde muito tempo no Serviço Social, no qual constantemente

a temática formação profissional é pautada com centralidade. Ao nível estudantil são os

ERESS, ENESS, SRFPMESS e SNFPMESS e ao nível profissional os CBAS, ENPESS

e Encontros anuais do Conjunto CFESS/CRESS37, entre outros congressos, encontros e

seminários.

Na dimensão micro, observam-se os rebatimentos dessa contra-reforma

universitária na Universidade Estadual do Ceará que se adequou, com as devidas

peculiaridades, aos ditames do neoliberalismo, resultando numa condição de

37 ERESS – Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social; ENESS – Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social; SRFPMESS – Seminário Regional de Formação Profissional e Movimento Estudantil de Serviço Social; SNFPMESS – Seminário Nacional de Formação Profissional e Movimento Estudantil de Serviço Social; CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais; ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social.

sucateamento em vários aspectos: infraestrutura, recursos humanos, autonomia

universitária e o tripé: ensino, pesquisa e extensão.

3.5 Os reflexos da investida neoliberal na Universidade Estadual do Ceará.

O adequamento da UECE as influências internacionais teve início no final

da década de 1980, quando em âmbito nacional vivenciou-se a privatização em massa

do ensino superior. No primeiro mandato de Tasso Jereissati foi instituído o Sistema de

educação superior, ciência e tecnologia que aliava a política educacional do Ceará aos

ditames do BIRD, haja vista a postura neoliberal tomada pelo o então governador que

provinha de um grupo de empresários.38

A reforma voltada para a UECE aconteceu entre 1992 e 1993, porquanto da

suposta necessidade de aliar o ensino universitário as políticas econômicas e

tecnológicas estaduais, materializada na proposta de “universidade de resultados”

preconizada no governo de Ciro Gomes39.

Mas anterior a esse fato, em 1991, foi criado um Grupo de Trabalho que

tinha como foco as adaptações do ensino superior. Esse grupo era conhecido como a

“Comissão de Notáveis” que elaborou o relatório intitulado “Universidade, Ciência e

Tecnologia: um projeto para o Ceará”, segundo MORAES (apud PEREIRA, 2009).

O GT compreende que as universidades estaduais devem ser utilizadas pelo governo para possibilitar o avanço do sistema capitalista no Ceará. Atendendo, assim, as exigências de modernização da nova geração de empresários presentes na política de estado. Para o aumento da produtividade nas universidades estaduais, o GT propõe a revisão dos currículos adaptando-se as demandas do mercado, além da sugestão de reexaminar as licenciaturas visando orientá-las para elevação da qualidade profissional dos docentes de 1º e 2º grau (PEREIRA, 2009, p. 51-52).

38 Tasso Jereissati esteve à frente do Centro Industrial do Ceará – CIC, com um grupo de jovens empresários e representou a ascensão do empresariado ao poder, contrapondo-se a tradição coronelista do estado. Seus mandatos como governador foi de 1987 a 1990, 1995 a 1998 e 1999 a 2002, sendo eleito senador pelo estado do Ceará entre 2003 a 2006 e 2007 a 2011. Concorreu a eleição ao senado de 2010, no qual perdeu para os aliados do governo petista, mas continua a ter influência empresarial no Partido Social da Democracia Brasileira – PSDB.39 Ciro Gomes foi eleito governador do estado do Ceará, tendo seu mandato ocorrido entre 1991 a 1994. Anteriormente foi deputado estadual (1986-1988) e prefeito de Fortaleza (1989-1990). Foi deputado federal pelo Ceará (2006-2011) e esteve à frente de dois ministérios: Ministério da Fazenda (1994-1995) e Ministério da Integração Nacional (2003 -2006).

A proposta de modernização da UECE foi formalizada através do projeto

“Nova UECE” que teve impulso a partir da eleição de Paulo de Melo Jorge Filho, que

elaborou o documento “Diretrizes para a transformação da UECE numa universidade

tecnológica”. Em 1996, o Centro Industrial do Ceará lança a “Proposta para o sistema

universitário estadual” que visava superar o projeto “Nova UECE” e continuar a

estratégia de submissão do ensino universitário aos ditames do capital.

4. A PESQUISA SOCIAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO (A)

ASSISTENTE SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE: particularidades

do curso de Serviço Social da UECE.

Este capítulo refletiu sobre a centralidade da Pesquisa nas Diretrizes

Curriculares de 1996, bem como analisou a atual situação do curso de Serviço Social da

UECE e respectiva estrutura curricular, aprofundando-se na dimensão investigativa

decorrente das considerações apresentadas pelos (as) alunos (as).

4.1 A centralidade da Pesquisa Social para o Serviço Social: a dimensão

investigativa nas diretrizes curriculares.

Tendo em vista que desde a gênese da profissão nos utilizamos da prática da

Pesquisa, salientamos que ao longo desses 75 anos de Serviço Social40 a compreensão

de Pesquisa foi sendo alterada gradativamente e seu conceito reformulado de acordo

com as fundamentações teóricas e metodológicas hegemônicas na profissão, de modo a

conquistar, na atualidade, centralidade na formação profissional.

A Pesquisa nesse novo projeto de currículo é vista como a principal forma

de superação da dicotomia teoria e prática, sendo o recurso para apreender a

objetividade e subjetividade dos sujeitos de modo a transcender as receitas prontas que

perpassaram a profissão ao longo dos anos (ABESS, 1996a). Ou seja, a Pesquisa é

concebida como um eixo indissolúvel que direciona todas as atividades acadêmicas,

40 Tomando como base o ano de fundação da primeira Escola de Serviço Social no Brasil, no ano de 1936 em São Paulo.

tendo a exigência da produção do conhecimento e o exercício do pluralismo (ABREU,

2007).

Dessa forma, é essencial formar profissionais com capacidade de entender

as expressões da questão social através da Pesquisa para reconstruir criticamente as

demandas sociais a fim identificá-las e propor estratégias para uma ação qualificada.

Assim, a dimensão investigativa é mais do que uma postura profissional, é um elemento

constitutivo do exercício profissional, pois está presente em grande parte de suas

competências preconizadas na Lei de Regulamentação da Profissão.

... a investigação é inerente à natureza de grande parte das competências profissionais: compreender o significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, identificar as demandas presentes na sociedade, realizar pesquisas que subsidiem a formulação de políticas e ações profissionais, realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social, identificar recursos. Essas competências referem-se diretamente ao ato de investigar, de modo que, de postura a ser construída pela via da formação e capacitação profissional permanente (cuja importância é inquestionável), a investigação para o Serviço Social ganha o estatuto de elemento constitutivo da própria intervenção profissional (GUERRA, 2008, p. 712).

A Pesquisa, dentro dessa proposta de interseção curricular, emerge em

várias disciplinas e atividades complementares, bem como se apresenta como matéria

obrigatória. Enquanto matéria, nas Diretrizes Curriculares aprovadas pela ABEPSS, é

concebida como elemento constitutivo do trabalho profissional, subsídio para a

produção do conhecimento referente ao objeto de intervenção do Serviço Social, tendo

por base o debate teórico metodológico:

Natureza, método e processo de construção de conhecimento: o debate teórico metodológico. A elaboração e análise de indicadores sócio-econômicos. A investigação como dimensão constitutiva do trabalho do assistente social e como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos sociais e reconstrução do objeto da ação profissional (ABESS, 1996b. p. 19).

Entretanto, no documento aprovado pelo MEC sua essência é reduzida,

resultando na compreensão fragmentada dessa atividade que se apresenta complexa e

fundamental para o Serviço Social:

concepção, elaboração e realização de projetos de pesquisa. A pesquisa quantitativa e qualitativa e seus procedimentos. Leitura e interpretação de

indicadores sócio-econômicos. Estatística aplicada à pesquisa em Serviço Social (MEC, 2002, p.7).

Hegemonicamente, a Pesquisa é concebida enquanto mediação entre o

conhecimento e a realidade, que tende a resultar num conhecimento provisório e

imparcial, dado a fugacidade das relações sociais e as concepções e particularidades do

sujeito pesquisador.

O conhecimento, por sua vez, é concebido como processo de elucidação da

realidade que pode ser classificado em três níveis: conhecimento fruto da intuição,

conhecimento oriundo do entendimento e conhecimento provindo da razão crítico-

dialética (GUERRA, 2008).

Segundo Guerra (2008), o primeiro nível de conhecimento, a intuição, tem

base na percepção através dos órgãos dos sentidos, sendo caracterizado como

empirismo restrito. Já o segundo, o entendimento, é adquirido através da aparência do

real que possibilita realizar comparações e distinções, entretanto não critica os

conteúdos, executando a reprodução e manutenção da aparência.

Enquanto no terceiro nível, o conhecimento vai para além da

imediaticidade, captando as contraditoriedades, num movimento de reconfiguração do

objeto, ou seja, do fenômeno, através do pensamento. Nesse nível, o conhecimento

organiza categorias analíticas, que são sínteses mentais em compreender o movimento

do real.

Intuitivamente, estamos sempre investigando. Toda investigação se coloca na relação teoria/realidade ou teoria/empiria. A pesquisa parte sempre de um conhecimento superficial da realidade, de uma abstração. Mas nem toda investigação pode ser considerada uma pesquisa científica e nem todo conhecimento é teórico (idem, p.707).

Com essas elucidações, queremos fortalecer a idéia de que a realidade pode

ser compreendida por várias formas de conhecimento, entretanto não podemos validar

como pesquisa científica, toda e qualquer investigação e expressão de conhecimento,

pois a pesquisa científica exige rigor, métodos e técnicas, devendo o pesquisador saber

diferenciar a sistematização de dados e as elaborações teóricas. E no Serviço Social,

devido à herança do empirismo, é dificultosa a diferenciação desses dois elementos, mas

se faz necessário essa identificação em virtude do rigor teórico-metodológico

(GUERRA, 2008).

Assim, devemos considerar que a sistematização de dados é de suma

importância para a denominada elaboração teórica, ou seja, a reconstrução do objeto

através de categorias por via do pensamento do sujeito. É uma pré-condição para a

produção do conhecimento científico, mas não se caracteriza como conhecimento

científico.

Para o Serviço Social tanto a elaboração teórica, quanto a sistematização de

dados fazem parte do exercício profissional do (a) Assistente Social, pois a pesquisa

gera uma intervenção mais qualificada e “amplia o patrimônio intelectual e

bibliográfico” do Serviço Social, garantindo um “estatuto de maioridade intelectual para

a profissão” (Idem, p. 702).

Devido às transformações societárias já mencionadas, vivencia-se no meio

acadêmico a denominada “crise dos paradigmas” 41 que na contemporaneidade assume

novas roupagens motivadas pela complexidade do social.

Carvalho (1992) menciona, a partir da análise de Carlos Benedito Martins,

que as duas grandes teorias, marxismo e funcionalismo, estão em crise, no qual a

primeira é mais afetada devido à crise do marxismo real. Sendo então, alvo de críticas

de alguns segmentos, como o dos pós-modernos que a acusam de ser globalizante e

generalista.

Assim, os designados pós-modernos42 criticam a Razão na modernidade,

caracterizando-a por repressora e dominadora, bem como as grandes teorias e a utopias,

como o Marxismo, reforçando a omissão dos antagonismos entre as classes sociais e

defendo a substituição da Razão, pelo Irracionalismo, que se expressa em diversas áreas

(cultura, políticas, arte, etc.) evocando o empirismo e a intuição.

41 Vale ressaltar que para Carvalho (1992), a crise é inerente as ciências sociais, datada de tempos anteriores e fruto das mudanças histórico-sociais42 São denominados pós-modernos devido às críticas a um dos aspectos da Razão na modernidade, tendo em vista a repressão vivenciada pela humanidade em prol do desenvolvimento da ciência e devido à realização de críticas às grandes teorias explicativas como o marxismo e o positivismo concebidas como verdades absolutas, que amarram o pensamento do sujeito. No entanto, Alba Pinho de Carvalho (1992), com base no pensamento de Habermans, argumenta que a Razão não se restringe a esse viés preconizado pelos pós-modernos, havendo uma redução da sua expressão, e que as teorias não devem ser concebidas por dogmas, mas a negação total traz o retorno ao empirismo de outrora, que restringia a pesquisa aos dados coletados.

No que tange a pesquisa, o Irracionalismo proposto pela vertente pós-

moderna retorna a concepção simplista de técnicas de coletas de dados a partir de um

trabalho intuitivo, no qual o fenômeno social é compreendido como um objeto, sem a

necessidade de utilizar-se de reflexões a priori para concebê-lo enquanto tal. Ou seja, o

fenômeno é o objeto, “cabendo ao pesquisador procurar resgatar a dinâmica do real”

(CARVALHO, 1992, p. 52). Desse modo:

...o entendimento da pesquisa como um trabalho de imersão na realidade, como uma fotografia do real, a partir da convicção de que a realidade, na sua dinâmica própria e peculiar, fala, revela-se ao pesquisador que precisaria, apenas, ter uma forma de chegar à realidade, definir o melhor jeito de ter acesso ao real (Idem, p.57).

Com essas elucidações objetiva-se esclarecer que a legitimação dessa

cultura pós-moderna no Serviço Social acarretará uma negação do próprio projeto ético-

político que se fundamenta na teoria social crítica, estimulando a idealização por uma

nova sociabilidade, tendo em vista que o sistema vigente é o fomentador da questão

social. Assim aderir as idéias pós-modernas é negar o projeto hegemônico da profissão.

E em tempos de capital ofensivo, negar o projeto ético-político é conceder espaço para a

desregulamentação da profissão e sua submissão aos ditames neoliberal (ABESS,

1992).

Sobre o aspecto otimista que a “crise dos paradigmas” proporcionou é o

reconhecimento de que diferentes modelos explicativos, não estão dando conta,

isolados, de responder a realidade, sendo impossível fechar-se numa única teoria.

Assim, Carvalho (1992) reforça a necessidade de diálogo com as demais teorias e a

recusa à assunção de paradigmas auto-suficientes.

O importante, o saudável é que, atualmente, o debate vem apontando, de fato, para a possibilidade do diálogo do marxismo com os outros paradigmas contemporâneos. E, nesse sentido, uma questão está posta na discussão e a possibilidade do diálogo do marxismo com abordagens culturalistas, em termos de uma interconexão entre macro e micro abordagens, entre estruturais e abordagens intersubjetivas que enfocam os comportamentos concretos e banais, a cotidianeidade, a questão do sentido, buscando-se assim, dar conta da relação entre estruturas e sujeito na explicação da realidade social de nossos dias (Idem, p.50).

Cabe mencionar que o diálogo com as demais teorias não se refere à prática

eclética da pesquisa e da produção do conhecimento. E sim, um pluralismo,

entendendo-o como elemento da natureza acadêmica no qual se convive com as

diferenças de correntes e pensamentos, de forma com que não haja o ecletismo, ou seja,

de forma que não haja a conciliação do inconciliável (ABESS, 1996a).

Na formação e no exercício profissional do Serviço Social está previsto este

elemento por meio do Código de Ética dos Assistentes Sociais (1993) que preconiza a

“Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas

existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento

intelectual.”

4.1.1 Conquistas e desafios da Pesquisa na Pós-graduação.

A partir da aprovação das Diretrizes Curriculares em 1996, intensificou-se,

no âmbito acadêmico, a formação de grupos e núcleos de pesquisa que voltaram suas

atenções a grandes eixos temáticos, a saber: “reestruturação produtiva e as

transformações do mundo do trabalho, as novas configurações do Estado e da sociedade

civil, processo de trabalho e Serviço Social” (SIMIONATTO, 2005, p.56) bem como:

...aprofundamento de investigações sobre a ‘questão social’, avaliações sobre as políticas sociais no eixo da Seguridade, especialmente as de saúde e assistência, a retomada das pesquisas sobre a previdência social e o retrocesso dos direitos sociais, com destaque para produções relativas às formas participativas de controle social, à questão agrária e à questão urbana, ao crescimento da pobreza, à crise dos padrões de proteção social, aos novos eixos das políticas sociais públicas e privadas (idem, p.56)

O espaço da Pós-graduação, mesmo com a visibilidade dos grupos de

pesquisa da graduação, ainda é a base para a produção do conhecimento em Serviço

Social. Segundo Iamamoto (2008), no ano de 2007 foram contabilizados pela CAPES43

9 cursos de Doutorado em Serviço Social44 e 24 cursos de mestrados acadêmicos45

43 Fundação Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.44 Nas seguintes instituições: PUC/RS, PUC/SP, PUC/RJ, UFMA, UFRJ, UFPE, UNB, UNESP e UERJ.45 Nas seguintes áreas: Serviço Social, Política Social, Política Social e Serviço Social, Políticas Sociais e Cidadania, e Políticas Públicas.

sendo grande parte ofertada em instituições públicas, com o corpo docente em sua

maioria formado por doutores e pós-doutores com qualificação do Brasil e no exterior.

Sobre os eixos temáticos, Iamamoto (2008) afirma que o de maior

representatividade nas produções está relacionado a Políticas Sociais: Estado e

Sociedade Civil, com 19 linhas de pesquisa e 238 projetos em andamento. E a área

temática de menor investimento refere-se aos Movimentos Sociais, processos

organizativos e mobilização popular, com 7 linhas de pesquisa e 34 projetos

(IAMAMOTO, 2008).

No que tange e prevalência das discussões em torno das políticas públicas,

Iamamoto (2008) refere-se que a ênfase recai na implementação, gestão, avaliação de

programas e projetos sociais, campo de atuação profissional em respostas as refrações

da questão social. Porém, esses estudos se focalizam em sujeitos sociais (idoso, criança

e adolescente, jovem, etc.) no qual se enfatiza o alerta para a fragmentação das análises,

pois nem sempre é atribuída visibilidade ao coletivo, correndo o risco de focalizar o

objeto de modo a isolá-lo das relações macroestruturais.

Outro aspecto verificável enquanto alerta é a diluição das práticas do

Serviço Social nas políticas públicas ao ponto de se perder a identidade profissional,

dada a relação próxima existente. Ou seja, “a existência de uma relação mimética entre

políticas sociais e Serviço Social, diluindo e obscurecendo a visibilidade das

particularidades das ações profissionais no âmbito dessas políticas” (IAMAMOTO,

2008, p.460).

Mas, um dos motivos de preocupação é a pouca produção voltada para os

movimentos sociais, aos processos organizativos e mobilização popular, pois o que se

tem privilegiado ultimamente são pesquisas relacionadas à representação indireta

através de Conselhos de Políticas e de Direitos, o que para Iamamoto (2008) indica

prevalência da ênfase na democracia representativa sobre a direta:

O primeiro caminho, e mais fundamental -, e que aparece com pouco investimento nas pesquisas -, é fortalecer a democracia direta, que dê sustentação as instâncias de representação, ao processo de alteração da correlação de forças e à formação de novas formas de poder e de convivência. Esse caminho impõe o estímulo a organização política de interesses de classes e segmentos sociais, a mobilização maciça dos trabalhadores e das forças do campo democrático-popular na defesa dos direitos (IAMAMOTO, 2008, p.462).

Ademais, constatou-se a existência de uma lacuna entre as produções frutos

de pesquisa e as exigências e necessidades do próprio campo e do exercício profissional,

pois segundo Simionatto (2005) ainda existem dificuldades de mediação dos processos

macros sociais e as particularidades da profissão.

Essa idéia também é defendida por Nogueira (2010), que afirma que no que

concebe a pesquisa existem raríssimos casos de “articulação orgânica entre as

dimensões investigativa e interventiva na formação e prática profissional” (idem, p.3).

Concluindo esse ponto de análise, Simionatto (2005) tece reflexões objetivando o alerta

para o Serviço Social:

Esse cenário pode tornar-se um campo aberto para a retomada de perspectivas fundadas no pragmatismo, no empirismo, no voluntarismo e no teoricismo. Por isso mesmo, a importância de olhar a realidade não de forma prosaica e mistificadora, mas, através de um rigoroso exercício pautado pela razão crítica, de modo a captar as suas diversas dimensões, sejam elas particulares ou universais. (Idem, p.58)

Vale ressaltar que a sistematização das produções em Serviço Social em

suas diversas subáreas são socializadas em espaços de divulgação conquistados pela

categoria ao longo dos anos, como exemplo a Revista Serviço Social e Sociedade,

Revista Temporalis, Revista Inscrita e outras publicações que segue o mesmo perfil

crítico pretendido pelo Serviço Social, como InformANDES, a Revista Praia Vermelha

e a Katálysis, entre outros, refletindo o avanço nas produções em Serviço Social.46

A produção brasileira está ganhando visibilidade internacional através da

expansão de convênios com instituições nacionais e internacionais materializado na

retomada de articulação do Serviço Social brasileiro com o latino-americano, através da

recriação do ALAEITS, Asociación Latinoamericana de Enseñanza y Investigación en

trabajo Social. Mas, ainda não se pode afirmar que existe uma articulação do Serviço

Social brasileiro com o norte-americano e o europeu, o que dificulta as comparações de

46 A Revista Temporalis, divulgada pela ABEPSS, é publicada desde 1998, com a extinção dos Cadernos ABESS e Cadernos de Publicação do CEDEPSS; A revista Serviço Social e Sociedade é a publicação de maior visibilidade perante a categoria com veiculação desde setembro de 1979; A Revista Inscrita tem periodicidade semestral e é veiculada pelo CFESS desde 1997; Revista Katálysis é produzida pelo programa de Pós-Graduação e Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina com periodicidade semestral tendo sua divulgação desde 2007; A Revista Praia Vermelha: estudos de política e teoria social é resultado do programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; e o InformANDES é uma publicação do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANDES-SN que encontra-se atualmente em seu 182º número.

pesquisas, não propiciando uma análise própria em relação à internacionalização da

profissão (IAMAMOTO, 2008).

Na Universidade Estadual do Ceará, especificamente, se tem o curso de pós-

graduação multidisciplinar que agrega no seu corpo docente e discente profissionais de

Serviço Social. Assim, o Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade –

MAPPS, conta atualmente com 18 profissionais no corpo docente, 12 grupos de

pesquisa vinculados ao CNPq47 e 19 projetos de pesquisa em andamento48, tendo como

linhas de Pesquisa: Estado, Democracia e Participação Social; Planejamento e Gestão

em Políticas Públicas; Avaliação de Políticas Públicas, Programas e Projetos

Institucionais.

Pode-se informar também que além do MAPSS será fundado49 o Mestrado

Acadêmico em Serviço Social, Trabalho, Questão Social e Direitos Humanos que

consiste num programa multidisciplinar composto por pesquisadores e profissionais das

áreas de Serviço Social e afins, como Direito, Ciências Sociais, Educação, tendo como

público-alvo alunos egressos dos cursos de graduação em Serviço Social, Ciências

Sociais, Educação, Direito entre outros.

4.2 O curso Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará: os impactos da

contra-reforma universitária.

Atualmente, a UECE50 conta com seis centros/faculdades51 nos campus de

Fortaleza e outros seis espalhados pelo interior do estado52, totalizando 42 cursos de

47 Os grupos são: Políticas de Cultura e de Comunicação (Líder: Alexandre Almeida Barbalho); Políticas Públicas e Indústrias Criativas (Líderes: Cláudia Sousa Leitão e Kadma Marques Rodrigues); Políticas sociais, Trabalho e Cidadania (Líder: Francisco Horácio da Silva Frota); Políticas Públicas e Exclusão Social (Líder: Francisca Rejane Bezerra Andrade); Democracia e Globalização (Líder: Francisco Josênio Camelo Parente); Observatório de Recursos Humanos em Saúde Ceará (Líder: João Bosco Feitosa dos Santos); Grupo de Estudos e Pesquisas em Etnicidade (Líderes: João Tadeu de Andrade e Jouberth Max Maranhão Piorsky Aires); Gênero, Família e Geração nas Políticas Sociais (Líderes: Maria do Socorro Ferreira Osterne e Maria Helena de Paula Frota); Direitos Humanos e Políticas de Segurança Pública (Líderes: Maria Glaucíria Mota Brasil e Rosemary de Oliveira Almeida); Grupo de Estudos e Pesquisas das Nacionalidades-GEN (Líder: Mônica Dias Martins); Grupo de Estudos e Pesquisas em Cultura (líder: Kadma Marques Rodrigues); Conflitualidade e Violência (Líderes: Rosemary de Oliveira Almeida e Geovani Jacó de Freitas).48 Disponível em http://www.uece.com/politicasuece, acesso em 31 de agosto de 2011.

49O Mestrado já foi aprovado em todas as instâncias da UECE e aguarda aprovação da CAPES.50 UECE em números 2010, disponível em: http://www.uece.br51 A saber: CCT – Centro de Ciências e Tecnologias; FAVET- Faculdade de Veterinária; CCS – Centro de Ciências da Saúde; CH- Centro de Humanidades; CESA- Centro de Estudos Sociais Aplicados e CED- Centro de Educação.52 No interior: FECLI - Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu; FAFIDAM – Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos; FACEDI – Faculdade de Educação de Itapipoca; FAEC – Faculdade de Educação de Crateús;

graduação em Fortaleza e 36 cursos de graduação no interior. No ano de 2010,

especificamente no semestre 2010.2, a UECE teve o total de 16.306 matrículas, das

quais 11.485 são dos alunos da capital e 4.821 do interior.

No mesmo período foi contabilizado que apenas 743 alunos foram

cadastrados nos programas de iniciação científica53, num percentual de 4,5 de todos os

alunos matriculados em 2010.2. Destes, 231 bolsistas são da área ciências humanas, ou

seja, 31% do total, enquanto que a menor percentagem refere-se aos alunos da área de

ciências sociais aplicadas, com 22 bolsas, ou seja, 3% do total. Logo, constata-se que

não há bolsas suficientes para que todos tenham acesso à experiência da pesquisa.

Na UECE observou-se o contrário da realidade do país, pois o maior

número de bolsas é destinado para a grande área de ciências humanas, contrapondo-se a

realidade nacional no qual, segundo dados do CNPq, apesar do aumento significativo

nos últimos anos de concessões aos pesquisadores das ciências humanas, grande parte

dos investimentos em bolsas e no fomento a pesquisa são nas grandes

áreas de ciências da vida e ciências da natureza54. Assim, compreende-se que esse dado

específico da UECE existe pelo fato de que essa área do conhecimento, só na capital,

compreende 19 cursos de graduação e 3.069 matrículas realizadas em 2010.2.

Ao comparar esses dados com a pesquisa realizada por Mesquita (1999), se

observou que o quadro não se reverteu, pois a autora apresenta que dos 15 mil alunos

matriculados à época, apenas 1% tinha acesso a bolsas de pesquisa. Entretanto, se

ressaltou o esforço de discentes e docentes no desenvolvimento de investigações

científicas:

Apesar de 158 pesquisas financiadas, o número ainda é inexpressivo para uma universidade que tem aproximadamente 15.000 estudantes matriculados na graduação, o que chega a representar em média, 1% do total de estudantes. Os dados revelam que mesmo sem financiamento e em precária situação, os estudantes e professores realizam pesquisas, buscam produzir conhecimento e superar os limites da formação profissional (MESQUITA, 1999, p. 39-40).

FECLESC - Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central; e CECITEC – Centro de Educação Ciência Tecnologia Região Inhamuns.53 Os programas de Iniciação Científica na UECE são: PIBIC/CNPq – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica; PIBIC-AF/CNPq – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Ações Afirmativas; PIBITI/CNPq - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação; ICT/FUNCAP - Programa de Iniciação Científica e Tecnológica; IC/UECE - Programa de Iniciação Científica; PROVIC/UECE – Programa Voluntário de Iniciação Científica. 54 Informações disponíveis em: http://www.cnpq.br/estatística

Outro dado analisado é a concessão de bolsas da Assistência Estudantil pelo

Programa de Bolsas da Pró-reitoria de Políticas Estudantis - PRAE, revelando que no

ano de 2010 apenas 260 alunos foram contemplados, ou seja, 1,6% do total de

graduandos, dos quais 149 estão em Fortaleza e 111 no interior do estado.55

Sobre a extensão, a UECE desenvolve atualmente 14 projetos e programas,

dentre eles: estágio não-curricular, programa educação à distância, bolsas de extensão,

núcleo de línguas, programa de inclusão a informática, projeto melhoramento genético

de aves nativas, etc. Após doze anos da pesquisa de Mesquita (1999) o aumento foi

pequeno, já que o número apresentado pela pesquisadora foi de 11 atividades.

Desse modo, constata-se as dificuldades de execução da extensão

universitária, sendo necessária a parceria com outras instâncias privadas de

financiamento, o que gera a descaracterização da função da educação, bem como a

tendência a submissão da extensão às linhas assistencialistas desenvolvidas pelo Estado

para não se perder os repasses financeiros (MESQUITA, 1999).

A partir desses dados, infere-se que o número de alunos matriculados na

UECE não acompanha o número de bolsas disponíveis pela política estudantil, bem

como os programas de iniciação científica e de extensão, impossibilitando a

indissociabilidade ensino/pesquisa/extensão preconizado no Art. 207 da CF/1988.

No que tange o quantitativo do magistério, em 2010 a UECE contou com

881 docentes efetivos e 242 docentes com contratação temporária, estes divididos em

professores substitutos (238) e visitantes (04).

Também no ano de 2010, a administração da UECE registrou o quantitativo

de 5.941 volumes de livros disponíveis nas Bibliotecas, nos modos impresso e

multimídia, bem como informou que os estudantes tem acesso a 290 periódicos

nacionais e 5 estrangeiros, totalizando 295. Entretanto, para o quantitativo de estudantes

o número ainda não é satisfatório, além de que muitos dos livros estão desatualizados,

pois não se têm títulos novos e alguns se encontram em precárias condições de uso.

55 Essas 111 bolsas no interior são divididas do seguinte modo: FECLESC – 24; FAFIDAM – 32; FACEDI – 12; FAEC – 11; CECITEC – 14; FECLI – 18.

Essa situação da Biblioteca Central foi registrada por Souza (2001), quando

em sua pesquisa foi relatado por alunos que a precariedade do acervo era uma das

principais dificuldades no aspecto estrutural da UECE.

No que concerne ao aspecto físico da Universidade, 90,6% dos alunos apontam a defasagem da biblioteca como um dos principais problemas da UECE. A estrutura precária desta e a péssima qualidade do seu acervo, que se encontra insuficiente e desatualizado, traz dificuldade ao aluno que precisa de textos complementares e principalmente para aqueles que dependem exclusivamente dela como fonte de pesquisa (SOUZA, 2001, p. 65).

As particularidades do curso de Serviço Social não são diferentes das

condições gerais da Universidade Estadual do Ceará. No ano de 2010 foram

contabilizadas 1.535 matrículas, das quais 758 foram no primeiro semestre do ano e 777

no segundo.

Sobre o perfil do alunado do curso de Serviço Social56 podemos inferir que a

maioria pertence ao sexo feminino (94%), com idade entre 20 a 25 anos (81%), naturais

e moradoras (os) de Fortaleza (79% e 92%, respectivamente). Declaram-se, em sua

maioria, solteiras (os) (89%), no qual afirmam compartilhar a moradia com familiares

(89%), que em 75% dos casos são imóveis próprios.

Sobre aspectos econômicos os resultados foram que a renda familiar gira em

torno de 4 a 6 salários mínimos e 56% das (os) alunas (os) afirmaram não trabalhar.

Contudo, as (os) demais tidas (os) como trabalhadoras (res) (31%) informaram que, em

28% dos casos, as atividades laborais têm relação com o Serviço Social. Outro dado

apresentado é que grande parte das (os) alunas (os) concluem o ensino médio em

escolas privadas (77%).

Os dados que se relacionam com o sexo das (os) discentes não são

surpreendentes tendo em vista o perfil histórico do Serviço Social, pois a profissão

possui uma predominância feminina o que resulta num estigma de profissão secundária.

Entretanto, os dados econômicos vêm se modificando, pois na gênese da profissão, as

alunas que buscavam o curso eram oriundas de classes abastadas da sociedade,

56 Os dados foram disponibilizados pelo Laboratório de Pesquisas e Estudos em Serviço Social – LAPESS, que desenvolve a pesquisa intitulada História dos 60 anos do Curso Serviço Social no Ceará: particularidades da formação profissional na Universidade Estadual do Ceará, no qual fiz parte enquanto bolsista de iniciação científica. As informações foram obtidas através de aplicação de questionário com 80 alunos dos turnos manhã e noite, que objetivava avaliar o currículo do curso de Serviço Social implantado em 2006.1.

entretanto, contemporaneamente, os segmentos sociais que mais formam profissionais

de Serviço Social são as camadas média e baixa.

O quadro de estudantes de Serviço Social geralmente leva em torno de 50 a

75 minutos para se deslocar de casa para a universidade, tem hábito de leitura, no qual

faz uso de jornais (69%) e revistas (44%). As principais atividades culturais realizadas

são idas ao cinema (71%), aos centros culturais (15%) e musicais (15%). As (os) alunas

(os) afirmam comprar livros acadêmicos (72%), numa média de 1 a 2 livros por

semestre. Os principais campos de estágio, segundo a pesquisa, são ligados as políticas

de assistência social, saúde, habitação e previdência social.

No que tange o quadro docente do curso de Serviço Social, até o semestre

de 2011.1, haviam 35 profissionais, dos quais 24 possuem vínculo efetivo e 11 com

contratos temporários, ou seja, substitutos57.

Observa-se a fragilidade nos vínculos contratuais dos (as) docentes, no qual

a quantidade de professores (as) com contratos temporários tem valor significativo e

foge ao foco, pois a contratação de docentes temporários deve ocorrer para substituir

professores (as) que estão afastados para qualificação profissional ou em caso de

problemas de saúde reversível, mas o que acontece é que além dos casos citados os

contratados estão substituindo professores que perderam o vínculo com a universidade

(aposentados, exonerados e falecidos).

Dessa situação resulta um déficit na criação de laboratórios, programas de

extensão, grupos de estudos pois, devido a fragilidades dos vínculos, o (a) professor (a)

não tem condições de projetar suas atividades em longo prazo, desarticulando o tripé

ensino/pesquisa/extensão.

Outro fator negativo é a sobrecarga que os substitutos têm, pois esses

docentes assumem, devido à carência de profissionais, várias disciplinas que na maioria

das vezes não se relacionam com suas temáticas de estudo, resultando num pouco

aproveitamento do profissional segundo suas capacidades, como na pouca qualidade do

ensino.

57 Dados fornecidos pela coordenação do curso de Serviço Social, em pesquisa direta realizada em 23/08/2011.

Outra crítica a se fazer é que os salários não acompanham o excesso de

atividades desenvolvidas e que essa condição propicia a desarticulação política dos

docentes, visto que para suprir suas necessidades básicas o (a) profissional procura

outras atividades remuneradas, o que consome seu tempo e sua saúde, deixando as lutas

e reivindicações da categoria para um segundo plano.

Para superar essas dificuldades, mesmo com condições propícias à

desarticulação política, o quadro de professores (as) da UECE através do SINDUECE58

e com apoio de estudantes realizou greves gerais nos anos de 2005, 2006 e 2007/2008

reivindicando melhorias ao governo do estado para a Universidade Estadual do Ceará59,

o que acarretou o aligeiramento dos semestres para repor a carga horária de aulas,

afetando significativamente a formação profissional dos (as) alunos (as).

As (os) estudantes, na pesquisa de avaliação do currículo aplicada pelo

LAPESS, responderam realizar atividades complementares (89%) que são direcionadas:

37% aos grupos de estudo, 12% aos grupos de pesquisa, 9% à iniciação científica, 6%

monitoria, 6% movimento estudantil, 2% PET, 15% outras atividades60, Entretanto,

dessas atividades apenas 18% responderam ser remuneradas comprovando a dificuldade

de financiamento e de políticas de assistência estudantil.

No Serviço Social existem formalizados apenas 5 grupos de pesquisa61 que

estão relacionados aos seguintes laboratórios: Laboratório de Estudos e Pesquisa em

Serviço Social – LAPESS; Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social –

LASSOS; Laboratório de Estudos sobre a Violência e Direitos Humanos – LABVIDA;

Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Exclusão Social – GEPPES; Centro de Estudos

em Trabalho e Ontologia do Ser Social - CETROS; Núcleo de Pesquisas Sociais –

NUPES. Além desses, existe o Programa de Educação Tutorial em Serviço Social –

PET e o GRAOS – Grupo de Resistência Ambiental por Outra (s) Sociabilidade (s),

58 Sindicato dos docentes da UECE – Seção sindical ANDES S/N59 As reivindicações pautadas foram: realização do concurso público para professores efetivos, abertura de um novo restaurante universitário, construção do hospital veterinário e do ginásio poliesportivo, renovação do acervo da Biblioteca Central, equiparação salarial dos professores substitutos e regulamentação do Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos.60 Dentre elas: seminários, congressos, programas e projetos de extensão, estágio, apresentação de trabalhos, movimentos sociais, etc.61 A saber: Estado, Questão Social e Serviço Social (Líder Profª Doutora Aurineida Cunha); Políticas Públicas e Exclusão Social (Líder Profª Pós-Doutora Rejane Bezerra); Políticas de Seguridade Social, Movimentos Sociais e Trabalho do Serviço Social (Líder Profª Doutora Lucia Conde); Direitos Humanos e Políticas de Segurança Pública (Líder Profª Doutora Glaucíria Mota) e Gênero, Família e Geração nas Políticas Sociais (Líder Profª Doutora Helena Frota). Disponível em http://www.uece.com.br

grupo não formalizado criado pela iniciativa e articulação de alunos (as) interessados no

tema.

Sobre as atividades de pesquisa, mesmo com esforços de professores em

criar, muitas vezes com parcos recursos, laboratórios, grupos de pesquisa, entre outros,

a área de ciências sociais aplicadas é que tem menor investimento em bolsas de

iniciação científica, o que explica apenas 9% dos (as) alunos (as) de Serviço Social

estarem envolvidos nessa atividade.

Quanto à participação das (os) estudantes, os dados da pesquisa do LAPESS

apontam que 70% participaram de eventos culturais promovidos pelo Serviço Social,

76% participaram de encontros estudantis, 82% da semana da cultura, 56% da semana

do (a) Assistente Social, 13% do centro acadêmico, 2% de partidos políticos, 1% de

conselhos de política sociais. Esse dado mostra que a maioria das (os) alunas (os)

participa das atividades do curso e da categoria profissional, entretanto não está

envolvida em movimentos sociais, mostrando uma fragilidade na articulação política

das mesmas (os).

No que tange o acesso aos livros, as (os) discentes de Serviço Social

também ressentem a precariedade da Biblioteca Central da UECE, pois segundo as

informações do questionário do LAPESS, grande parte das (os) alunas (os) compra

livros acadêmicos motivado pela defasagem do acervo. Entretanto, quando analisada a

quantidade de livros adquiridos por semestre, a média entre 1 a 2 livros, é insuficiente

em consideração a quantidade de disciplinas cursadas, em média 6, e os assuntos e

temáticas desenvolvidos ao longo do semestre.

Desse modo, o refúgio das (os) alunas (os) é a obtenção de cópias dos

livros, artigos e textos trabalhados, bem como a utilização das bibliotecas dos

laboratórios mencionados que são geradas a partir de doações dos acervos pessoais de

professores. Mas, vale ressaltar, que são poucos os alunos que acessam esses recursos,

haja vista a reduzida quantidade de alunos que são vinculados a esses espaços.

Assim, a estrutura precária da UECE rebate fortemente na formação do (a)

Assistente Social, visto que, rememorando a reflexão feita em linhas atrás, o Serviço

Social por ser uma profissão com caráter de historicidade ressente as transformações

estruturais e conjunturais da sociedade.

Realizadas tais considerações, serão delineados os resultados do trabalho de

campo realizado com os (as) alunos (as) de Serviço Social em fase de elaboração da

monografia.

4.3 A Centralidade da Pesquisa Social na Formação Profissional para os (as)

alunos (as) de Serviço Social da UECE.

O eixo da dimensão investigativa também foi objeto de análise da Pesquisa

supracitada encabeçada pela ABEPSS em 2006. Sobre o desenvolvimento da dimensão

investigativa nas unidades de ensino, a pesquisa apontou que das 93 unidades

participantes, foram identificadas 156 disciplinas vinculadas à matéria Pesquisa e 87

disciplinas com títulos e conteúdos, considerados pela avaliação da ABEPSS, como

relacionadas de forma direta a essa matéria62.

Segundo Abreu (2007), a partir das análises sobre essas disciplinas constata-

se que existe uma redução do caráter teórico metodológico da Pesquisa ante o técnico-

operativo, pois, houve a supressão da discussão sobre a natureza dos processos de

conhecimento, da questão do método e o debate teórico.

Com a flexibilização da organização da grade curricular houve a redução de

conteúdos de todas as matérias, o que afetou fortemente o conteúdo político e crítico da

Pesquisa. Assim, apesar de haver a relevância da pesquisa nos projetos pedagógicos,

poucas unidades atentam para a articulação orgânica do caráter interventivo e

investigativo da profissão, resultando nas concepções expressas por Simionatto (2005) e

Nogueira (2010).

Exato dez anos da elaboração e aprovação das Diretrizes Curriculares pela

ABEPSS e no mesmo ano do desenvolvimento da pesquisa avaliativa sobre a

implementação dessas diretrizes nas unidades de ensino, o curso de Serviço Social da

Universidade Estadual do Ceará aprova e incorpora, com base no primeiro documento,

seu Projeto Político Pedagógico.

62 São algumas delas: Construção do Conhecimento, Contextualização da Pesquisa em Serviço Social, Fundamentos da Metodologia da Pesquisa Social, Iniciação à Investigação Científica, Métodos e Técnicas de Pesquisa, Monografia em Serviço Social, Oficina de Pesquisa, entre outras. (ABREU, 2007)

Contudo, anterior a esse fato houve várias discussões e construções

iniciadas desde 1997, pelo então Departamento de Métodos e Técnicas de Serviço

Social e Comissão Pedagógica, formada pela representação de docentes e discentes com

o objetivo de elaborar uma proposta de currículo a ser submetida ao crivo das instâncias

superiores da universidade.

A fundamentação para esse currículo foi o material elaborado e difundido

pela então ABESS, hoje ABEPSS, e os projetos pedagógicos de outras unidades.

Também fora analisado a Lei de Diretrizes e Bases da Educação com a assessoria da

especialista na área de legislação da Educação, Meiriceli Calíope Leitinho, além da

contribuição significativa da Professora Dra. Marilda Iamamoto que desempenhava o

papel de consultora da ABEPSS para elaboração de projetos pedagógicos.

Em muitos momentos desse processo de construção coletiva do currículo foram realizadas oficinas com a participação ampliada de professores, estudantes e Assistentes Sociais na função de técnicos de apoio, sendo discutidos todos os elementos constitutivos da proposta curricular e apresentadas sugestões consensuais, incorporadas no presente documento que contempla: objetivos do curso e do currículo, perfil dos formandos, princípios da formação profissional, identificação da direção social do curso e estruturação dos componentes curriculares. Este documento alimentou o debate e a construção coletiva da proposta pedagógica do Curso de Serviço Social (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE, 2005, p.2).

Assim, o Projeto Político Pedagógico do curso de Serviço Social foi

aprovado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa e Extensão da UECE em 24 de outubro

de 2005 e o novo currículo implantado no semestre 2006.1, assegurando como objetivo

do curso:

Produzir conhecimentos acerca da realidade social; formular, planejar, implementar e gerenciar políticas sociais públicas e privadas; assessorar e prestar consultoria as organizações públicas, privadas, ONGs, movimentos e grupos sociais populares em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia dos direitos humanos, civis, políticos e sociais; trabalhar em parcerias interinstitucionais e em equipes multidisciplinares, tanto no setor público como privado, prestando serviços profissionais na captação, gestão, capacitação de Recursos Humanos (Idem, p. 9).

Também foram assegurados os objetivos do currículo que estiveram em

perfeita sintonia com o projeto ético-político do Serviço Social, com ênfase nas

diretrizes de 1996, mesmo com todos os rebatimentos da política neoliberal na

Universidade. A saber:

Imprimir uma direção à formação profissional, pautando-se pela ética como princípio formativo; oferecer rigor teórico, metodológico e histórico no trato da realidade social e do Serviço Social que possibilite o entendimento dos desafios com os quais o profissional se depara no mundo da produção e reprodução da vida social; superar a fragmentação dos conteúdos na organização curricular, de modo a propiciar uma visão de totalidade e de indissociabilidade no ensino, na pesquisa e na extensão (idem, p.9).

Sobre a grade curricular são ofertadas 33 disciplinas obrigatórias, 4

disciplinas eletivas, 4 seminários temáticos e 5 oficinas, além das atividades acadêmicas

complementares. O currículo contempla ainda duas atividades essenciais: o estágio

supervisionado e a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso.

A experiência monográfica é de grande relevância para a formação do (a)

Assistente Social com perfil pretendido e exposto na legislação profissional. Com a

orientação de um docente experiente na temática escolhida, o (a) graduando (a) expõe

sua capacidade crítica, criativa e propositiva, bem como amadurece, através de leituras

profícuas, o entendimento do determinado assunto no qual tem afinidade, de modo a

transformá-lo em conhecimento científico. Em suma, a construção da monografia

representa a síntese de conhecimento e amadurecimento nos âmbitos teórico-

metodológico, ético-político e técnico-operativo adquirido pelo (a) aluno (a) ao longo da

graduação.

Tendo em vista a essencialidade dessa atividade para a formação, nos

interessamos em analisar criticamente a compreensão do alunado de Serviço Social da

UECE sobre a centralidade da dimensão investigativa na graduação.

A coleta de informações foi realizada através de pesquisa qualitativa com a

técnica do grupo focal, no qual se contou com a participação de quatro alunas, em fase

de construção da monografia, das quais três pertencem ao turno da noite e uma do

período da manhã, todas do sexo feminino, que responderam ao questionário de

avaliação do currículo realizado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Serviço

Social.63

63 Este foi o perfil traçado para o público alvo, detalhado na introdução do trabalho.

A discussão do grupo focal perdurou por 1h:14m e foi direcionado por um

roteiro de debates, tendo como mediadora a própria pesquisadora e relatores do

processo dois pesquisadores voluntários, também vinculados ao LAPESS.

Com intuito de manter o sigilo exigido pela condução ética da pesquisa,

foram utilizados nomes fictícios nas participantes utilizando nomenclatura de flores.

Essa escolha foi motivada devido à admiração da pesquisadora por essa decorrência

característica das plantas e pela usual denominação de pessoas com esses nomes.

Para adentrar na discussão foi realizado um questionamento que visava

obter a conceituação do grupo sobre Pesquisa. Vale ressaltar que com essa técnica não

se pretendia gerar consensos e mudanças de opiniões, deixando as participantes

totalmente à vontade a se manifestarem. Mas se observou que as falas, em alguns

aspectos, além de concordarem, se complementavam, sendo sintetizadas nas seguintes

palavras:

Pesquisa é... se aprofundar em determinado assunto, que se sabe o que é, mas não tem tanta propriedade, coletar, investigar e angariar informações para tentar concluir e respostar o que se buscou, o que se teve interesse em pesquisar, de forma a contribuir para o conhecimento da realidade e intervir na mesma (Grupo).

Constou-se que a compreensão das alunas sobre pesquisa está em

consonância com a concepção expressa nas diretrizes curriculares pois, se visualizou na

fala a descrição sucinta do caminho metodológico e a importância da Pesquisa enquanto

elemento constitutivo do trabalho do (a) Assistente Social.

No segundo momento, o grupo foi estimulado a falar sobre a contribuição

da pesquisa para a formação profissional. Os comentários revelaram que existe a

compreensão de sua relevância para o processo ensino-aprendizagem, para uma

intervenção mais qualificada e superação do pragmatismo, bem como foi lhe atribuído o

papel de mediação teoria/prática:

Na atuação e na formação profissional é imprescindível a dimensão investigativa, pois não é nos livros que se encontrarão as respostas que se quer, pois a teoria não é suficiente para a compreensão da realidade e a pesquisa dará elementos para se compreender o fenômeno. A atuação do assistente social se perde na intervenção, no tarefismo e no pragmatismo, os estudantes acabam a formação e chegam ao campo de trabalho sem investigar no que está atuando e a pesquisa contribui muito para uma intervenção mais qualificada (Grupo).

Ainda sobre a contribuição da Pesquisa, foi comentado que apesar da

relevância para a formação profissional não se vivencia a Pesquisa integralmente no

Serviço Social da UECE, pois o currículo não abre espaço para o desenvolvimento de

pesquisas que não sejam relacionadas à monografia do concludente.

É importante que todos os alunos da graduação tenham acesso a atuação da área da pesquisa, no que tange o contato com os instrumentais (elaboração de questionários, participação em grupos focais, transcrição), a ida em campo, pois no currículo não existe. É um diferencial que tem a possibilidade de ter contato com o desenvolvimento de pesquisa anterior a monografia (Grupo).

Observou-se uma contraditoriedade na compreensão das alunas, pois na

questão seguinte o grupo expressa que existem disciplinas de iniciação a pesquisa,

contrapondo-se ao mencionado anteriormente de que não existe no currículo contato

com instrumentais de pesquisa e a ida a campo. Ou seja, ao mesmo tempo em que

afirmam que é importante a pesquisa na formação e que não existe sua vivência no

currículo, afirmam que cursam disciplinas que prevêem como atividades avaliativas a

realização de pesquisa de campo. Esse fato se expressa principalmente na fala de uma

das participantes do grupo focal:

Relacionado à nossa formação acadêmica, existem as cadeiras de iniciação a pesquisa. E no meu caso, o interesse pelo meu tema, se deu no segundo semestre quando tive que fazer um trabalho, e tive que ir a campo. Hoje eu vejo que aquilo já foi uma pesquisa, porque a gente teve que ler, realizar visitas e entrevistar os profissionais da área... (Orquídea)

O curso de Serviço Social oferta 06 disciplinas de caráter obrigatório

relacionadas à matéria Pesquisa, a saber: Metodologia do Trabalho Científico, Pesquisa

em Serviço Social I, Pesquisa em Serviço Social II, Fundamentos de Trabalho de

Conclusão de Curso, Pesquisa Aplicada e Trabalho de Conclusão de Curso (ver anexo

2). Ao suscitar a discussão no grupo sobre as experiências e concepções nessas

disciplinas, as falas foram as seguintes:

Pesquisa I: Disciplina com discussões teóricas e filosóficas sobre a pesquisa, em algumas turmas com apresentação de técnicas e instrumentos sobre como pesquisar. Entretanto, por ser superficial não desperta o aluno como pesquisador, sendo necessário nessa disciplina instigar o aluno para a descoberta de seu objeto de pesquisa, para que em Pesquisa II o aluno já tenha em mente o que pesquisar, para fazer seu projeto de pesquisa (Grupo).

O Projeto Político Pedagógico do Serviço Social (2007) prevê como ementa

para a disciplina de Pesquisa I o debate sobre essa atividade científica, os conceitos que

a fundamenta, as diversas formas de conhecimento, destacando a Pesquisa enquanto

atividade basilar para a produção do conhecimento, bem como apresenta as pesquisas

qualitativa e quantitativa e seus procedimentos.

De acordo com a compreensão do grupo, a proposta da ementa é entendida,

sendo sintetizada enquanto discussões teóricas e filosóficas. Mas ocorre a denuncia de

que apenas em algumas turmas se fez a apresentação de técnicas e instrumentos, ou seja,

apresentação dos procedimentos das pesquisas qualitativas e quantitativas previsto na

ementa.

A ementa de Pesquisa em Serviço Social II prevê a discussão sobre o

processo da pesquisa e elaboração de projeto de pesquisa para o TCC (escolha do tema;

construção do objeto de estudo, metodologia e instrumentais da coleta de dados).

Porém, de acordo com a fala do grupo, em Pesquisa II existe uma grande dificuldade no

momento da escolha do objeto de estudo que inquieta e angustia os (as) dicentes. Para

elas, essa dificuldade se relaciona diretamente com a questão estrutural da falta de

professores, de semestre reduzido por conta de greves, pois não há o esclarecimento de

dúvidas ou orientações sistemáticas.

Há também, segundo o grupo, a falta de compromisso dos (as) professores

que se eximem da responsabilidade de estar na sala de aula e outros que não apresentam

postura ética, criticando de forma sarcástica os objetos das (os) alunas (os). Tais

situações são relatadas nas seguintes falas:

Primeiro dia de aula a professora colocou um aluno do mestrado dela pra dar aula, e aí depois foi descoberto pela coordenação que quem ia dar aula era o aluno, então ela foi colocada pra ter que dar aula, só que ela só deu uma aula, depois disso, ela ficou irritada, e nessa uma aula, passou 10, 30 slides, explicou tudo e marcou orientações individuais, muitas vezes ela não ia, então pra mim, Pesquisa II e nada foi quase a mesma coisa (Orquídea).

O professor é aquela pessoa que vai te orientar, te apoiar, pela experiência e também te mostrar algum caminho, e nisso, eu tive muita dificuldade com uma professora, porque, eu queria estudar uma coisa, e ela veio criticando o que eu queria estudar com piadas: “ah! Tu quer estudar os índios?” “num existe índio aqui não”. Isso é complicado, porque ela está, manifestando algo pessoal dela. Ela está ali como professora e tem que entender os diversos fenômenos que acontecem na nossa sociedade (Violeta).

Fatos como esse indicam que ainda existe incompreensão de alguns

docentes sobre a essencialidade da dimensão investigativa, pois o sarcasmo direcionado

ao objeto de estudo da aluna através de comentários sobre a inexistência de casos reais,

como o caso da questão indígena no Ceará, demonstra que não se concebe a Pesquisa

enquanto mediação da teoria e empiria, ou seja, como fator que possibilita a apreensão

da realidade e a capacidade de intervir de modo qualitativo e eficaz.

A questão da falta de qualidade no ensino da Pesquisa, apontado pela aluna

no primeiro caso, terá repercussões em todo aprendizado do (a) estudante, tendo em

vista que as disciplinas acompanham uma lógica curricular, e o não aproveitamento

dessas, devido a vários fatores, compromete a elaboração individual do (a) aluno (a)

exigida no final do curso e a compreensão da necessidade da dimensão investigativa

para o exercício profissional.

Em Fundamentos de TCC a principal problemática expressa pelo grupo é o

fato de um único professor orientar várias temáticas de estudo, no qual muitas vezes não

tem domínio. Essa situação traz inúmeros prejuízos para o incentivo do espírito

investigador do (a) discente, pois sem uma orientação qualificada e um

acompanhamento sistemático na construção do projeto, que é a base da Pesquisa, o (a)

estudante encontrará dificuldades na elaboração de sua monografia.

Esse fato também se interliga ao processo estrutural da universidade, pois a

falta de professores e o pouco investimento em pesquisas na área de ciências sociais

aplicadas dificultam a expansão de pesquisa em Serviço Social.

Nas elucidações sobre a disciplina de Pesquisa Aplicada, disciplina que

antecede a monografia, o grupo se posicionou enquanto responsável pela sua formação

profissional, afirmando que o bom aproveitamento da disciplina depende principalmente

do esforço próprio. Assim, se percebeu um amadurecimento e uma compreensão de que

apesar da necessidade da orientação, a pesquisa do TCC é individual e expressará

esforço e capacidade de análise do pesquisador. Outro comentário foi que os professores

devem seguir fielmente a ementa para que haja o bom rendimento no processo de

aprendizagem:

O bom desenvolvimento da pesquisa dependerá do esforço do aluno para não acumular atividades de uma disciplina para outra, não deixando toda uma discussão para a pesquisa aplicada, que é a disciplina que antecede a monografia, além da postura do professor de cumprir a ementa. O fator problemático é ter um único professor orientando diversos objetos de estudos, de diversas áreas, não garantindo uma devida condução do processo de pesquisa (Grupo).

Sobre Metodologia do trabalho científico, o grupo não manifestou nenhum

posicionamento até ser incentivado com outra pergunta específica sobre essa disciplina,

fazendo compreender que para o alunado seu conteúdo não faz referência à dimensão

investigativa. A partir desse estímulo, se obteve a seguinte resposta:

Disciplina apenas como orientação acerca da elaboração dos trabalhos científicos (fichamento, resenha e artigo) e apresentação das normas e regras da ABNT. Não houve o aprendizado suficiente sobre tais temáticas, sendo necessárias buscas individuais para a devida compreensão, isso ocasionado também pelo fato dos demais professores do curso que não fizeram orientações e cobranças sobre os moldes formais dos trabalhos científicos, dificultando a assimilação das regras, que devem ser praticadas. A disciplina apresentou problemas estruturais relacionados à falta de professores e ao semestre corrido (Grupo).

Uma crítica feita pelo grupo é que muitos professores não orientam e não

cobram nas atividades avaliativas o padrão formal exigido pelas normas da ABNT, o

que dificulta a assimilação do alunado que não desenvolve a prática. Outra informação

fornecida é que essa disciplina também sofreu problemas como falta de professores e a

compactação do semestre64.

Após a análise sobre a pesquisa na grade curricular do curso de Serviço

Social, adentrou-se na discussão específica sobre a monografia, enfatizando objeto de

pesquisa, a construção teórica, o processo de orientação e o retorno da pesquisa a

sociedade.

A motivação principal para escolha do objeto de estudo se dá na vivência do

estágio mas, outros fatores se correlacionam e influenciam como a inserção em grupos

de estudos ou núcleos de pesquisas, a vivência pessoal e a experiência de pesquisa em

atividades de complementação à sala de aula, de acordo com as falas que se seguem:

De Pesquisa I até fundamentos não tinha nada a ver com estágio, foi em pesquisa aplicada que eu mudei e coloquei o que realmente tinha a ver com o estágio (Margarida).

Quando eu comecei a cadeira de Pesquisa II, eu não estava fazendo ainda a minha disciplina de estágio, não estava inserida em nenhum campo de estágio e eu vi que geralmente as pessoas tentavam pesquisar alguma coisa relacionada ao seu estágio, mas eu não tinha esse norte pra tomar. Então decidi pesquisar sobre a questão da terceirização como forma de precarização do trabalho, mas precisamente a terceirização do trabalho dos bancários, que é a atividade que eu desenvolvo e o objeto de pesquisa não surgiu do campo de estágio, surgiu da minha vivência profissional (Tulipa).

O objeto de estudo tem tudo a ver com o campo de estágio, porque quase todos os meus estágios foram nessa área da socioeducação (Orquídea).

O objeto de estudo tem a ver com meu campo de estágio, mas inicialmente não ia ter esse vínculo, pois eu queria estudar como assistente social atua com a questão ambiental e eu queria ver isso em alguma instituição. Assim, depois que eu me

64 Devido às necessárias greves dos professores da UECE, os semestres foram aligeirados e o calendário acadêmico reformulado para tentar recuperar as aulas.

inseri no projeto da HabitaFor é que eu percebi que daria para articular com o campo de estágio. E a motivação foi por parte do GRAOS que faz 3 anos que estou inserida. Esse grupo iniciou questionando a formação e a atuação de professores que não colocavam e não falavam nessa questão ambiental. Na disciplina de trabalho e sociabilidade, eu achava que tinha tudo a ver discutir essa relação também da natureza, do ambiente, da questão ambiental (Violeta).

Para o grupo, a busca pelas referências teóricas de um modo geral foi

considerada fácil, entretanto assuntos “novos” como questão ambiental e terceirização

dos contratos trabalhistas, ligados as atuais transformações societárias do período

neoliberal, possuem pouca produção dentro da categoria dificultando as elaborações das

estudantes.

Num primeiro momento eu senti muita dificuldade, porque não tinha nada, não achava nada, só que três anos de procura, de pesquisas, não sinto mais dificuldades, mas é uma situação difícil. Existe uma pesquisadora do Rio de Janeiro que diz que, até os anos 2000, existia 1% da produção das assistentes sociais nessa área, então eu tive de ir atrás desse um por cento, mas, pesquisa é isso mesmo (Violeta).

... já quanto a terceirização achei um pouco mais complicado, porque eu sempre achava mais livro da área da administração com um tom mais de defesa da terceirização... (Tulipa)

O contato com o orientador em suma não foi dificultoso, já que metade do

grupo, por estar inserido em laboratórios, tinha ligação com professores de suas áreas de

estudo. Entretanto, é posto em discussão a escassez de orientadores e a dificuldade de

professores que estudem e consequentemente orientem temáticas consideradas “novas”

no Serviço Social.

A questão da falta de professores é uma tristeza, o meu professor está orientando sete pessoas. Duas vão se formar só no próximo semestre, mas já estão nesse processo de produção, então por um lado é rico, porque muitas discussões podem ser feitas em grupo, e ele traz pessoas para realizar palestras para nós. As orientações individuais também acontecem, mas, quase que nos sete dias da semana ele tem que orientar, as vezes sábado de manhã ele realiza orientações, e a gente tem que vir nesse dia, chegar cedo e ficar esperando a nossa vez (Orquídea).

Nós temos dificuldade de achar um orientador e de ter tempo com ele. E isso já é reflexo da falta de professor que a UECE está vivendo. Então, eu acho que a falta de professores é um problema direto para nossa pesquisa, para a nossa monografia (Violeta).

Nesse aspecto também se observou a sobrecarga dos (as) professores (as),

pois nesse semestre de 2010.2 foram contabilizados 102 estudantes matriculados em

TCC para uma proporção de 35 docentes, entretanto essa média não será exata, já que as

orientações devem ser realizadas por temática de estudo afim, o que resulta numa

sobrecarga de orientandos por orientador (a).

Para as alunas a orientação acontece de forma satisfatória mas, considera-se

que são poucos os momentos de orientação porquanto da existência de muitas dúvidas e

inquietações.

Sobre a orientação eu sempre acho que é pouco. As orientações deveriam ser mais, pois é pouco o email, é pouca orientação, é pouco encontro. Eu não tenho a clareza de quanto é essa carga horária de orientação, mas eu acho pouco, pois eu queria perguntar mais, saber mais, escrever e a orientadora olhar, mas pode ser insegurança (Violeta).

Segundo as informações fornecidas pelo grupo focal, os orientadores são na

maioria professores universitários, com formação em Serviço Social e vinculados ao

próprio curso de Serviço Social da UECE, bem como ligados a Grupos de Pesquisas

formalizados na universidade. Entretanto, há também a presença de professores do

curso de ciências sociais, que abordam temáticas estudadas pela profissão e que

contribuem para o aprendizado dos (as) alunos (as) pesquisadores (as).

Sobre o retorno da pesquisa aos campos estudados, a compreensão das

alunas é que a pesquisa é uma troca de conhecimentos e não uma coleta de informações,

cabendo ao pesquisador retornar suas conclusões ao objeto investigado como forma de

comprometimento ético. O grupo também manifestou a publicação e a apresentação em

eventos acadêmicos como forma de retorno do estudo a sociedade:

A pesquisa é uma troca de conhecimentos, de saber, no qual não se deve apenas retirar informações do objeto de pesquisa, invadindo a realidade dele, mas se deve levar um retorno, um feedback, mostrar a importância do estudo, da importância e significação do objeto. Pensa-se em retornar o estudo para as instituições, para os sujeitos envolvidos e realizar apresentações em eventos acadêmicas e publicações periódicas (Grupo).

O grupo compreende a essencialidade da função social da pesquisa, ou seja,

a contribuição que esta deve dar à sociedade, às instituições pesquisadas, aos grupos

envolvidos, principalmente os das classes subalternas. Esse pensamento se relaciona ao

de Bourguignon (2007) que afirma que sujeito pesquisado deve ser visto como

protagonista da pesquisa e não como mero recurso metodológico.

Tal preocupação, segundo a autora, não é ocasional pois, a profissão tem

suas ações pautadas nas demandas dos usuários que se expressam através das histórias

de vida, devendo a pesquisa valorizar o povo, suas histórias e experiências coletivas,

reconhecendo que os usuários são sujeitos políticos que devem agir autonomamente.

Assim a pesquisa é muito enriquecedora. Ela tem um duplo processo de contribuição: para o quê e onde se está pesquisando e para o indivíduo pesquisador (Grupo).

Das quatro participantes do grupo focal, duas relataram o incentivo por

parte das instituições pesquisadas e a expectativa do retorno da pesquisa para contribuir

com a ação profissional; uma participante, entusiasmada, apresentou a idéia de trazer os

sujeitos de sua pesquisa para a defesa da monografia com intuito de estimá-los,

mostrando a importância da pesquisa sobre suas histórias de vida.

Entretanto, o outro membro relatou que seu estudo não poderá voltar à

instituição pesquisada devido ao caráter de denúncia do seu trabalho, surgindo a idéia,

durante as discussões do grupo focal, de encaminhar o resultado de sua pesquisa ao

sindicato para gerar subsídios às lutas da categoria analisada.

Ouvindo vocês falarem, me veio na mente a questão do sindicato que rege a nossa categoria de bancários. Talvez mandar uma cópia dessa monografia pra lá fosse suscitar um pouco mais de empenho da parte dele de lutar pela efetivação do direito do trabalhador terceirizado (Tulipa).

Tendo em vista que a pesquisa perpassa todas as atividades acadêmicas não

se restringindo apenas ao ensino, se perguntou ao grupo quais os espaços de

desenvolvimento de pesquisa no qual participou. A resposta, apesar do caráter

qualitativo, apresentou a mesma realidade da pesquisa quantitativa, pois das quatro

participantes do grupo focal, apenas duas componentes participaram de espaços para o

desenvolvimento da pesquisa na UECE.

Entretanto, essa participação se deu de forma efetiva em grupos de pesquisa

institucionais da UECE (LAPESS, LASSOS e NUPES) e num grupo formado pela

iniciativa de alunos em estudar a questão ambiental e o Serviço Social, o GRAOS.

Observou-se, a partir dos relatos, que a vivência em tais grupos estimulou a

escolha do objeto de estudo da monografia, sendo mencionada a dificuldade de

financiamento de pesquisas e de bolsas para iniciação científica, bem como de

assistência estudantil, no qual apenas um membro do grupo teve acesso à bolsa do

CNPq. O outro membro envolveu-se nos espaços de forma voluntária e expressou a

grande dificuldade de permanecer enquanto tal.

No que tange a iniciativa dos alunos de formarem o grupo de estudo e

pesquisa GRAOS foi relatado que este surgiu de uma necessidade de denúncia de

violação de direitos de uma comunidade indígena da região do São Gonçalo do

Amarante-CE, segundo a fala da participante Violeta:

O GRAOS é algo extra, pois não é algo institucionalizado aqui na faculdade, mas foi a partir da universidade que a gente se organizou. E a pesquisa faz parte também do que a gente faz. Tivemos com o Manassés, população indígena em São Gonçalo do Amarante e a pesquisa, nesse caso, veio de uma necessidade de denúncia, do que tava acontecendo lá, casos de violação dos direitos, e a pesquisa vem nesse sentido da denuncia... (Violeta).

Quando indagado sobre as dificuldades para o desdobramento da pesquisa

na UECE, o grupo afirmou que a principal dificuldade é a defasagem do acervo da

Biblioteca Central. Os (as) alunos (as) não contam com esse recurso, tendo acesso a

livros através de empréstimos por parte dos próprios professores ou por bibliotecas de

outras universidades.

Outro aspecto enfatizado com veemência é a falta de professores para

orientação individual. Em seguida a problemática para o desenvolvimento da pesquisa

no qual se relaciona a questão da falta de bolsas de pesquisas, a pouca ajuda de custo

para participação em eventos, bem como a falta de transportes. Tal situação é retratada

na fala que se segue:

Toda vida que eu pedia ajuda de custo pra apresentar trabalho, sempre me deram, mas uma miséria, que se não tivessem dado, talvez não tivesse feito diferença. Então, mesmo levando o nome da universidade para outro canto, para poder apresentar trabalho, não é valorizado, ou seja, não se valoriza a pesquisa como deveria (Violeta).

Finalizando as discussões foi solicitado ao grupo sugerir melhorias para o

desenvolvimento da pesquisa na graduação. Surgindo daí algumas sugestões que vemos

a seguir: Que a disciplina de Pesquisa I, além das discussões teóricas, deve instigar

algumas atividades práticas para que em Pesquisa II o (a) aluno (a) tenha noção da

escolha de seu objeto.

Que a Pesquisa II deve ser realocada na grade curricular de modo que seja

cursada concomitante à disciplina de estágio, para que com a experiência da prática

suscite no (a) estudante a maturidade de elaborar qualitativamente um objeto de

pesquisa.

A coordenação, bem como os professores do curso, devem facilitar a entrada

dos (as) discentes em laboratórios e grupos de pesquisa, proporcionando novas

experiências para a formação profissional e combatendo a atual dificuldade de inserção

nesses espaços. Como também tentar a disponibilidade de bolsas de estudos para a

realização dessa atividade.

Devem-se estimular a pesquisa coletiva, a formação de grupos de estudos e

grupos de pesquisa, pois as disciplinas de pesquisa no currículo são voltadas para a

produção da monografia, ou seja, uma produção individual que poderia ser feita em

dupla ou em trio tornando-se uma construção coletiva. Outro ponto é apresentar,

independente do link que se deve fazer com a monografia, a importância da pesquisa

para o exercício profissional.

Eu acho que inicialmente era para ter mostrado o que é a pesquisa, independente de monografia e a importância que a pesquisa tem para construção do próprio profissional, pois, todo dia no nosso campo de serviço a gente tá pesquisando, está fazendo pesquisa. Cada atendimento, se a gente for olhar por esse viés, é uma pesquisa. Eu sei que não tem professor, sei que tem uma série de coisas que dificultam, mas acho que se a importância da pesquisa fosse colocada, os próprios alunos poderiam está formando grupos de pesquisa... (Orquídea).

A última sugestão feita se direcionou aos próprios alunos que devem levar

em consideração que são sujeitos e independente das limitações como falta de professor

e incentivo através de bolsa, ter empenho para desenvolver pesquisa, buscar formar

grupos independentes, além de lutar por melhorias para a iniciação científica:

Os próprios alunos poderiam formar grupos de pesquisa, pois tem uns amigos meus, que estão formando um grupo de mídia e política. Eles se reuniram, pediram um professor e foram pegando textos e estão estudando. Assim, devemos deixar essa questão de sempre colocar a culpa na falta de professor, na falta disso, na falta daquilo, realmente falta, mas eu acho que também, parte da pessoa ter um pouco de empenho. Eu vejo que existem pessoas que tentam, mas também tem gente que entra na faculdade, sai e não vê o quanto a pesquisa é importante. Por outro lado é culpa da formação que não mostra o real sentido da pesquisa (Orquídea).

A partir dessas análises conclui-se que a compreensão das (os) estudantes de

Serviço Social sobre a centralidade da Pesquisa na formação profissional condiz com a

proposta das Diretrizes Curriculares e do Projeto Político Pedagógico do curso de

Serviço Social da UECE, mas questionam o ementário da matéria pesquisa e a grade

curricular do curso de Serviço Social, pois tecem críticas acerca da organização das

disciplinas e sugerem complementações para algumas ementas.

Entretanto, o desenvolvimento desse elemento imprescindível na graduação

não é plenamente satisfatório, haja vista os percalços devido às limitações estruturais e

conjunturais da universidade contemporânea, pois não existem bolsas de iniciação

científica suficiente para o número de alunos matriculados, bem como pouco

investimento por parte da universidade em ajuda de custo para os pesquisadores. O

acervo bibliotecário encontra-se defasado, há vacância de professores, infraestrutura

inadequada para o conforto de docentes e discentes, além do aligeiramento dos

semestres ocorrido devido às greves necessárias dos (as) professores (as), o que afeta

substancialmente o processo de aprendizagem.

Mas, apesar dessas inúmeras dificuldades, observa-se que os protagonistas

dessa história (docentes e discentes) lutam por melhorias e especificamente as (os)

discentes se vêem como sujeitos que devem ser críticos e criar estratégias para superar

as limitações vivenciadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Traçando um percurso de volta a partir das mediações realizadas, se conclui

que as discussões levantadas suscitam novas pesquisas e buscas, pois este estudo não se

esgota com essas considerações, haja vista a temporalidade dos fatos, a fugacidade das

relações sociais e as novas apreensões e amadurecimento do sujeito pesquisador.

Contudo, se delineiam algumas respostas às inquietações teóricas que instigavam a

caminhada.

A Pesquisa, apesar de sua presença desde a gênese da profissão, ganhou

relevância na formação profissional a partir de sua compreensão enquanto instrumento

essencial para a produção de conhecimento e consequentemente para uma prática

profissional qualificada, fruto da introdução hegemônica da teoria social e crítica na

categoria sucedida porquanto da inserção do Serviço Social da universidade laica e das

reconceituações de cunho teórico e metodológico, através da vertente Intenção de

Ruptura.

A partir desse novo viés crítico a formação profissional foi repensada e

adaptada aos novos valores e aspirações da categoria, sendo necessária toda uma

movimentação para a reformulação do currículo vigente. Após várias discussões, o

currículo de 1982 fora projetado trazendo em sua configuração a pesquisa enquanto

matéria obrigatória e especifica do Serviço Social.

Entretanto, neste currículo foram encontradas várias limitações, haja vista

que os estudos permaneceram com viés endógeno, já que o foco era

teoria/história/método, não se atentando aos processos e realidades sociais,

consequentemente não respostando qualitativamente as demandas da profissão. Logo, as

tendências da profissão foram pautadas no militantismo, no pragmatismo e no

teoricismo, não havendo a interseção desses vieses, bem como não acontecendo

enfaticamente uma produção crítica e propositiva.

Desse modo, registra-se que houve uma limitação na compreensão da

dimensão investigativa, já que ao enfatizar apenas um dos vieses apontados, a prática da

pesquisa não se completa, pois se requer o contato com o campo através de

instrumentais de coleta de dados, uma revisão de literatura a partir do diálogo entre

autores e suas teorias e o retorno da pesquisa a sociedade, ou seja, sua função social.

O curso de Serviço Social no Ceará teve suas particularidades em relação às

demais escolas de Serviço Social do Brasil. Inseriu-se na universidade laica no período

ditatorial, reformulou o currículo mínino de acordo com as novas exigências modernas

do tecnicismo da época e posteriormente, quando realizadas ressalvas ao sistema,

adotou a teoria social e crítica como principal embasamento teórico. No que tange a

formulação do currículo de 1982 e a nova perspectiva da pesquisa na formação, inseriu

três disciplinas relacionadas à dimensão investigativa na grade curricular, criou o

Comitê de Monografias e fundou o núcleo específico para o desenvolvimento de

pesquisa, o NUPEDESS.

Na década posterior, anos 1990, ocorreram transformações societárias nos

aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais que afetou fortemente a educação

formal do (a) trabalhador (a) brasileiro (a) e especificamente a formação profissional do

(a) Assistente Social. A forma de produção no sistema capitalista foi alterada, visando

uma maior lucratividade, haja vista que o modelo anterior, apesar de ainda perdurar, não

deu conta das pretensões capitalistas.

A acumulação flexível trouxe inovações que desempregou vários (as)

trabalhadores (as) e flexibilizou os contratos de outros, consequentemente os (as)

desarticulou enquanto coletivo, reduziu a oferta de políticas sociais públicas e alterou a

forma de organização do Estado, que se adaptou aos princípios neoliberais. Essa

reestruturação produtiva e acumulativa fortaleceu a financeirização do capital, no qual

gerou, através do capital fictício, uma maior dependência dos países de capitalismo

periférico aos países centrais.

Essa dependência tomou graves proporções na medida em que os países

centrais impuseram reformas e ajustes que os favoreceram. Assim, a política

educacional brasileira, em especial a política de ensino superior, foi adaptada aos

interesses capitalistas, no qual se comprometeu a formação do (a) trabalhador (a) com

ensino desqualificados, do ponto de vista da educação enquanto instrumento de

libertação social, haja vista que se tem uma continuidade do processo de alienação

através da oferta de cursos rápidos, na modalidade à distância, em instituições que não

vivenciam o tripé ensino, pesquisa e extensão.

A Universidade Estadual do Ceará sentiu esses rebatimentos através das

ações que aliavam o ensino universitário às políticas econômicas do estado. Assim, tem-

se uma universidade que, devido aos poucos recursos, não tem em seu quadro o número

necessário de docentes e funcionários, um acervo bibliotecário de qualidade, a

quantidade de bolsas de iniciação científica, de extensão e de política estudantil

suficientes para o número de matrículas. Essa situação está em vigor desde o início da

década de 1990, sendo utilizado como objeto de estudos por vários alunos do Serviço

Social, já que este curso não fica imune a todas as fragilidades mencionadas.

A formação profissional do (a) Assistente Social na contemporaneidade,

embasada no projeto ético-político do Serviço Social, ressente o peso das

transformações societárias, pois a partir da LBD o currículo mínimo projetado em 1996

teve que se adequar em diretrizes curriculares, o que flexibilizou os projetos

pedagógicos das unidades de ensino, que em sua maioria são universidades privadas,

bem como possibilitou a criação de cursos na modalidade à distância comprovadamente

incompatíveis com a proposta da profissão.

A Pesquisa nas diretrizes aprovada pela CNE/CES teve seu conteúdo

teórico-metodológico suprimido e exaltado o viés técnico-operativo, possibilitando o

ensino da pesquisa enquanto técnicas e práticas sem uma discussão de cunho filosófico

e epistemológico acerca da produção do conhecimento.

Porém, mesmo com esses entraves desafiadores, algumas unidades de

ensino, como no caso do curso de Serviço Social da UECE, formularam seus projetos

pedagógicos fundamentados nas diretrizes elaboradas pela ABEPSS que apresenta em

seu conteúdo a proposta de formação de profissionais dotados de competências teórico-

metodológica, ético-política e técnico-operativa e a dimensão investigativa concebida

enquanto eixo indissolúvel de todas as atividades.

Detalhadamente, a Pesquisa é vista enquanto elemento constitutivo do

trabalho profissional e mediação entre a realidade e o conhecimento, sendo necessária a

diferenciação de sistematização de dados e elaborações teóricas, apesar de uma ser

requisito para outra e as duas fundamentais para o Serviço Social, pois são constitutivas

do exercício profissional.

Na grade curricular do curso de Serviço Social da UECE a Pesquisa aparece

em seis disciplinas obrigatórias que perpassam do primeiro ao oitavo semestre, numa

sequencia de complexidade que visa a priori o primeiro contato com a temática através

de discussões de cunho filosófico até chegar ao desenvolvimento individual da pesquisa

monográfica, que se caracteriza como requisito básico para obtenção do título de

bacharel em Serviço Social.

A partir da fala das (os) alunas (os) se concluiu que existe uma compreensão

sobre a centralidade da Pesquisa na graduação para que se tenha uma formação

profissional que alie a intervenção e investigação no exercício profissional, como forma

de superação do pragmatismo, apesar da pouca participação dos discentes quando são

postos a análises. Mas, no curso de Serviço Social da UECE ainda existem limitações

para o pleno desenvolvimento da Pesquisa ligadas a questões estruturais da universidade

e particulares do próprio curso.

As questões estruturais são à falta de professor (a), falta de livros para o uso

dos (as) discentes, pouco investimento na iniciação científica e aligeiramento do

semestre. Enquanto as dimensões particulares são vinculadas a necessidade de

reformulações na grade curricular de modo que o projeto político pedagógico seja

entendido e vivenciado com mais facilidade.

Para finalizar, enfatiza-se que o estudo realizado alcançou seu objetivo

principal ao responder a inquietação teórica da pesquisadora, bem como contribuiu para

a formação profissional na contemporaneidade e estudos futuros, haja vista que o ensaio

produzido traz considerações importantes de uma época marcada por protagonismos de

docentes e discentes e material histórico acerca da particularidade do curso de Serviço

Social da Universidade Estadual do Ceará

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEPSS. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO

SOCIAL. Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (texto na íntegra

aprovado em assembléia em novembro de1996). Rio de Janeiro: 1996b.

________. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Diretrizes

Gerais para o curso de Serviço Social. Rio de Janeiro: 1999.

______. Formação do Assistente Social no Brasil e a consolidação do projeto ético-

político. In: Serviço Social e Sociedade, ano XXV, n.79. Serviço Social: formação e

projeto político. São Paulo: Cortez, 2010.

ABESS/CEDEPSS. Proposta Básica para o Projeto de Formação Profissional. In:

Serviço Social e Sociedade, Ano XVII, n. 50. O Serviço Social no século XXI. São

Paulo: Cortez, 1996a.

ABREU, Marina Maciel. Pesquisa em Serviço Social. In: Temporalis, Ano VII, n.14.

Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social: sobre o processo de implementação.

Brasília: ABEPSS, 2007.

AMARAL, Ângela Santana do. Implementação das Diretrizes Curriculares nos

Cursos de Serviço Social: os rumos e desafios da formação profissional. In:

Temporalis, Ano VII, n.14. Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social: sobre o

processo de implementação. Brasília: ABPESS, 2007.

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Reflexões sobre ética, pesquisa e Serviço Social. In:

Temporalis Ano V, n.9. Pesquisa e Conhecimento em Serviço Social. Recife: ABEPSS,

2005.

BEHRING, Elaine; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 5.

ed. São Paulo: Cortez, 2008.

BOURGUIGNON, Jussara Ayres. A particularidade histórica da pesquisa no

Serviço Social. Disponível em <http:// www.scielo.br/scielo. Acesso em 23 de julho de

2010.

BRASIL. Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

CFESS. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética

Profissional. Brasília, 13 de março de 1993.

CFESS/CRESS, ABEPSS e ENESSO. Sobre a incompatibilidade entre graduação à

distância e Serviço Social. Brasília: CFESS, 2010.

CARDOSO, Franci Gomes. A pesquisa na Formação Profissional do Assistente

Social: algumas exigências e desafios. In: Cadernos ABESS nº 8. São Paulo: Cortez,

1998.

CARVALHO, Alba M. Pinho de. A Pesquisa no Debate Contemporâneo e o Serviço

Social. In: Cadernos ABESS n. 5. A produção do conhecimento e o Serviço Social. São

Paulo: Cortez, 1992.

CARVALHO, Cristina Helena Almeida de. Política para o ensino superior no Brasil

(1995-2006): ruptura e continuidade nas relações entre público e privado.

Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT11-2337--

Int.pdf. Acesso em 25 de julho de 2011.

CISLAGHI, Juliana Fiúza. A formação dos Assistentes Sociais em tempos de

contrarreformas do ensino superior: o impacto das mais recentes propostas do

governo Lula. In: Serviço Social e Sociedade, n.106. São Paulo: Cortez, 2011.

Disponível em http://www.scielo.br/scielo. Acesso em 29 de julho de 2011.

COMISSÃO CURRICULAR DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UECE.

Documento Básico do Seminário de Revisão Curricular. Fortaleza: Curso de

Serviço Social UECE, 1984. (digitado)

______. Projeto de Formação Profissional do Curso de Serviço Social da UECE.

Fortaleza: Curso de Serviço Social UECE, 1988. (digitado)

______. Proposta de Alteração Curricular do Curso de Serviço Social. Fortaleza:

Curso de Serviço Social, 1989. (digitado)

COSTA, Liduína F. Almeida; BEZERRA, Leila M. P. de Souza; PIO, Maria da

Conceição. Fragmentos do Passado e do Presente: 60 anos de Serviço Social no

Ceará. Fortaleza: Ed UECE, 2011.

COUTINHO, Carlos Nelson. Pluralismo: dimensões teóricas e políticas. In: Cadernos

ABESS. n° 4. s/l: Cortez, s/d.

FALEIROS, Vicente de Paula. Alternativas Metodológicas da Pesquisa em Serviço

Social. In: Serviço Social e Sociedade, Ano VII, n. 21. São Paulo: Cortez, 1986.

FRANCO, Carine de Oliveira. Serviço Social no Ceará: uma breve análise do

movimento de reconceituação e sua intenção de ruptura. Monografia de conclusão

de curso de Serviço Social. Fortaleza, 2010. (Digitado)

GUERRA, Yolanda. A dimensão investigativa no exercício profissional. In: Serviço

Social: direitos sociais e competências profissionais. Programa de capacitação

continuada para assistentes sociais. II curso de especialização à distância. Brasília: UnB,

2008.

HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

IAMAMOTO, Marilda. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e

formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998.

______. Serviço Social em tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e

questão social. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

KAMEYAMA, Nobuco. A trajetória da produção do conhecimento em Serviço

Social: avanços e tendências (1975-1997). In: Cadernos ABESS nº 8. Diretrizes

curriculares e pesquisa em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1998.

MARTINELI, Maria Lúcia. Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo:

Veras Editora, 1999.

______. Serviço social: identidade e alienação. 4. ed. São Paulo: Cortez.1995.

______. Reflexões sobre Ética, Pesquisa e Serviço Social. In: Temporalis 9. ABEPSS:

“Pesquisa e conhecimento em Serviço Social”. Recife: Ed universitária da UFPE, 2005.

MENEZES, R. G. de. Transformações contemporâneas e seus rebatimentos sobre a

formação profissional de serviço social: uma análise crítica da compreensão dos

estudantes da Universidade Estadual do Ceará sobre o projeto ético-político.

Monografia de conclusão de curso de Serviço Social. Fortaleza, 2009. (Digitado)

MESQUITA, Andréa Pacheco. A Formação Profissional do Assistente Social no

Contexto Universitário: discutindo os limites e as possibilidades de implementação

do novo currículo da UECE. Monografia de conclusão de curso de Serviço Social.

Fortaleza, 1999. (Digitado)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996.

______. Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social. Resolução nº 15 de

13 de março de 2002.

NETO, O. C. MOREIRA, M. R. SUCENA, L. F. M. Grupos focais e pesquisa social

qualitativa: o debate orientado como técnica de investigação. Disponível em

http://www.abep.nepo.unicamp.br. Acesso em 24 de agosto de 2010.

NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São

Paulo: Cortez, 2006.

NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 3 ed. São Paulo:

Cortez, 2001.

______, Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós 64.

São Paulo: Cortez, 1991.

NOGUERIA, Vera Maria Ribeiro. Elementos para pensar a pesquisa como princípio

formativo em Serviço Social. In: Anais do XII Encontro Nacional de Pesquisadores

em Serviço Social. Rio de Janeiro: ABEPSS, 2010.

PEREIRA, A. da S. Formação Profissional dos alunos do Curso de Serviço Social

da Universidade Estadual do Ceará: uma análise crítica do estágio curricular.

Monografia de conclusão de curso de Serviço Social. Fortaleza, 2009. (Digitado)

PEREIRA, Potyara A. Necessidades Humanas: subsídios à crítica dos mínimos

sociais. São Paulo: Cortez, 2002.

SETUBAL. Aglair Alencar. Pesquisa no Serviço Social: utopias e realidades. 2. ed. São

Paulo: Cortez, 1995.

______. Desafios à pesquisa no Serviço Social: da formação acadêmica à prática

profissional. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em 23 de agosto de

2010.

SILVA, Ana Célia Bahia. Das diretrizes curriculares à construção dos projetos

pedagógicos em cada instituição. In: Cadernos ABESS nº 8. Diretrizes curriculares e

pesquisa em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1998.

SILVA, Neíze Távora de F e. As relações sociais e o serviço social no Ceará

1950/1960. Fortaleza, 1987. (digitado)

SIMIONATTO, Ivete. Os Desafios na Pesquisa e na Produção do Conhecimento em

Serviço Social. In: Temporalis Ano V, n.9. Pesquisa e conhecimento em Serviço

Social. Recife: ABEPSS, 2005.

SOUSA, Adrianyce Angélica Silva de. Transformações Contemporâneas e seus

Rebatimentos sobre a Formação Profissional de Serviço Social: uma análise crítica

da dimensão investigativa. Monografia de conclusão de curso de Serviço Social.

Fortaleza, 2001. (Digitado)

SPOSATI. Aldaíza. Pesquisa e produção de conhecimento no campo do Serviço

Social. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. Acesso dia 05 de agosto de 2010.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Projeto Político Pedagógico do Curso

de Serviço Social. Fortaleza, março de 2007. (digitado)

______. UECE em números. Pró-reitoria de planejamento. Fortaleza, 2010. Disponível

em:www.uece.br. Acesso em 09 de agosto de 2011.

WANDERLEY, Mariângela Belfore. Formação Profissional no Contexto da

Reforma do Sistema Educacional. In: Cadernos ABESS n.8. Diretrizes curriculares e

pesquisa em Serviço Social. São Paulo, 1998.

YASBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos do Serviço Social na

contemporaneidade. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais.

Programa de capacitação continuada para assistentes sociais. II curso de especialização

à distância. Brasília: UnB, 2009.

APÊNDICES

APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECECENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Estamos desenvolvendo uma pesquisa intitulada de: “A CENTRALIDADE DA PESQUISA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: análise crítica da compreensão dos (as) graduandos (as) do curso de Serviço Social”.

Esta investigação tem como objetivo geral analisar a compreensão dos alunos do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará sobre a dimensão investigativa no processo de formação profissional e objetivos específicos conhecer a atual configuração do curso de Serviço Social da UECE para o desenvolvimento da pesquisa, enquanto atividade curricular; analisar a Universidade enquanto espaço de desenvolvimento da pesquisa na graduação e conhecer a movimentação da categoria para inserir a dimensão investigativa nos currículos de Serviço Social dos anos de 1982 e 1996.

Gostaríamos de contar com a sua participação na construção do Grupo Focal sobre o tema da pesquisa. Salientamos que sua participação é voluntária e o (a) Sr. (a) poderá a qualquer momento deixar de participar do estudo sem qualquer prejuízo.

Esclarecemos que todas as informações obtidas neste estudo serão mantidas em sigilo, que a sua identidade não será revelada e que sua participação não terá nenhum prejuízo na sua qualidade de vida.

Assumimos o compromisso de utilizar os dados coletados somente para a pesquisa e os resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou encontros científicos e congressos, sem tornar possível sua identificação.

Os dados devem retornar para o local da pesquisa e poderá contribuir para a melhoria dos serviços prestados.

Se necessário, poderá entrar em contato com a pesquisadora responsável pela pesquisa JULIANY SIQUEIRA RHEIN, pelo telefone (085) 9915.8788 ou por email: [email protected].

Tendo sido informado (a) sobre a pesquisa “A CENTRALIDADE DA PESQUISA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: análise crítica da compreensão dos (as) graduandos (as) do curso de Serviço Social”, concordo em participar da mesma, de forma livre e esclarecida.

Nome:_______________________________________________________________

Assinatura:___________________________________________________________

Telefone para contato:_________________________________________________

Assinatura da Pesquisadora:_____________________________________________

Fortaleza,_____/______/______.

APÊNDICE 2 – ROTEIRO DE DEBATE DO GRUPO FOCAL

1. O que se entende por pesquisa?

2. Qual a contribuição da pesquisa para a formação profissional?

3. Participam de espaços de desenvolvimento de pesquisa na UECE? Caso sim, em

quais espaços se participou?

4. Relate as experiências com as disciplinas: Metodologia do Trabalho Científico,

Pesquisa I, Pesquisa II, Fundamentos de TCC e Pesquisa Aplicada.

5. Apresentam trabalhos em eventos acadêmicos? Estava concorrendo premiação?

6. O que lhe motivou a escolha de seu objeto de estudo? Está relacionado com o

campo de estágio?

7. Sente dificuldades na busca dos referenciais teóricos sobre seus objetos?

8. Relate como se dá o processo de orientação da monografia. (Busca por

orientador, perfil do orientador – é Assistente Social? Professor do curso de Serviço

Social? Professor Universitário de outro curso?)

9. Quais as principais dificuldades para o desdobramento da pesquisa na UECE?

10. Quais as estratégias pensadas para divulgar os resultados da monografia?

11. Quais suas sugestões para a Pesquisa na Formação Profissional?

ANEXOS

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO CURRICULO

IMPLANTADO EM 2006.1. NO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

COORDENAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

LABORATÓRIO DE PESQUISAS E ESTUDOS EM SERVIÇO SOCIAL –

LAPESS

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO CURRICULO

IMPLANTADO EM 2006.1. NO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

O Laboratório de Pesquisas e Estudos em Serviço Social – LAPESS vem desenvolvendo atividades para pesquisar a formação, a história e o exercício profissional do Assistente Social. Neste sentido estamos realizando uma pesquisa sobre a formação profissional com a centralidade da analise do currículo implantado em 2006. A segunda turma vai concluir sua graduação em 2010.1, portanto achamos de fundamental importância a participação dos (a) alunos (as) do 8º semestre como parte dos sujeitos do processo de formação nesta avaliação. Gostaríamos que cada aluno (a) respondesse as questões com o intuito de contribuir para que a formação acadêmica dos alunos de Serviço Social da UECE seja construída de forma coletiva.

Agradecemos a participação de todo (as) neste processo.

PARTE I - ASPECTOS SÓCIO- ECONÔMICOS E PARTICIPAÇÃO DO ALUNO (A)

1. Sexo 1.Masculino 2. Feminino

2. Idade _________

4. Naturalidade

1. Interior do Estado do Ceara 2. Outro Estado____ 3. Fortaleza

5.Estado Civil:

1. Solteiro 2.Casado 3.Separado 4.Divorciado . 5.União livre 6.Viúvo

6. Local de moradia

1. Fortaleza 2. Região metropolitana ______________

8. Tipo de moradia

1. Própria 2. Alugada 3. Cedida 4. Outros 9.NR

9. Tempo gasto para o deslocamento casa/universidade:________min

10.Mora com

1. Familiares 2.companheiro(a) 3. Sozinho (a) 4.Amigos(as)

11. Renda Familiar (média) R$___________,____

12. Trabalha

1. Não 2. Sim. Quantos horas _________________________

13. Caso sim O trabalho tem alguma relação com o Serviço Social? 1. Sim 2. Não

14. Fez o ensino médio

1. Escola particular 2. Escolar Pública 3. Escola Comunitária 4. Outras __________________

15. Vestibular

1. Ano de entrada na UECE ____________ 2. Turno ____________ 3. Previsão de conclusão do Curso _______

16. Faz outra faculdade além do curso Serviço Social.

1. Não 2. Sim. Qual curso? ____________________________________

17.Quais as atividades culturais que participa mensalmente ?

1. teatro 2. cinema 3.musicais 4. saraus de poesia 5. centros culturais 6. outros

18. Leitura que semanalmente faz:

1. literatura 2. poesia 3. policial 4. jornais 5. revistas

19. Compra livros acadêmicos? 1. Sim. 2. Não Quantos livros comprou por semestre? _______

20. Dos que você comprou quantos você leu ? _________________

21. Quantas disciplinas em média cursava por semestre ? __________ disciplinas

22. Quais as atividades complementares que realiza/realizou/semestre ?

1. Monitoria 2. PET 3. Iniciação Cientifica 4. Grupos de Pesquisas 5. Grupos de Estudos 6. Movimento Estudantil ( )outro____________

23. (Caso sim) Era uma atividade remunerada? 1. Sim 2. Não

24. Você participou de:

a) Eventos culturais?

b) Encontros de estudantes?

c) Semana da cultura?

d) Semana do Assistente Social?

1. Sim 2. Não

1. Sim 2. Não

1. Sim 2. Não

1. Sim 2. Não

1. Sim 2. Não

e) Centro Acadêmico?

f) Partido político?

g) Conselho de políticas sociais?

1. Sim 2. Não

1. Sim 2. Não

25.(Caso Não nenhum das atividades da questão 22) Por que?

____________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

26. Existe alguma diferença entre o turno da manhã e da noite? 1. Sim 2. Não

1. (Caso sim) Qual(is) diferenças ? ________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

2. (Caso Não) Por que não tem diferença?________________________ __________________________________

_____________________________________________________________________________________________

27. Tempo diário de estudo para consolidar os conteúdos? _______h/dia

28. Considera a assiduidade/pontualidade dos alunos às aulas importantes? 1. Sim 2. Não

Por que?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

29.E a assiduidade/pontualidade do professor? 1. Sim 2. Não

Por que?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

30. Como avalia seu desempenho geral na formação profissional? Por que ? O que poderia ter sido melhor?

____________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

PARTE II. CURRÍCULO DE 2006.1 DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL/UECE

1.Qual sua avaliação de cada semestre cursado?

A) 1º Semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

B) 2º Semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

C) 3º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

D) 4º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

E) 5º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

F) 6º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

G) 7º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

H) 8º semestre

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

2. DISCIPLINA - FUNDAMENTOS HISTORICOS E TEORICO-METODOLOGICOS I

Como você avalia?

2.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.5. Relação Professor/aluno (a)

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. DISCIPLINA - FUNDAMENTOS HISTORICOS E TEORICO-METODOLOGICOS II

Como você avalia?

3.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.DISCIPLINA - FUNDAMENTOS HISTORICOS E TEORICO-METODOLOGICOS III

Como você avalia?

4.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. DISCIPLINA - TRABALHO E PROCESSO DE TRABALHO

Como você avalia?

5.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5.5. Relação Professor/aluno (a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5.6.Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. DISCIPLINA – ESTÁGIO I e II

1. Áreas do estágio atual ____________________

.2.Outras áreas que já estagiou_________________

3.Áreas que gostaria de ter estagiado___________________________

4.Fez estágio remunerado 1. Sim. Valor ______________ 2. Não 3. Voluntário

5 .Acha importante o estágio para a formação profissional?

1.SIM. Por que?

_______________________________________________________________________________

2. NÃO. Por que?

_________________________________________________________________________________

Como você avalia as disciplinas de Estágio I e II?

6.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.6.Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. DISCIPLINA - ÉTICA

Como você avalia?

7.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________

7.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.6.Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.DISCIPLINA - ÉTICA E DIREITO HUMANOS

Como você avalia?

8.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. DISCIPLINA - PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL I

Como você avalia?

9.1.Conteúdo abordado__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9.2.Bibliografia___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. DISCIPLINA - PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL II

Como você avalia?

10.1.Conteúdo abordado_______________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10.2.Bibliografia__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10.6.Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. DISCIPLINA - FUNDAMENTOS DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO

Como você avalia?

11.1.Conteúdo abordado________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11.2.Bibliografia__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. DISCIPLINA - PESQUISA APLICADA

Como você avalia?

12.1.Conteúdo abordado_________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12.2.Bibliografia_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________

12.3. Processo de Avaliação da aprendizagem pelo professor (a)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12.4. Didática utilizada pelo(a) professor(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12.5. Relação Professor/aluno(a)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12.6. Sugestões para disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13. DISCIPLINA - ORIENTAÇÃO DE MONOGRAFIA

Como você avalia?

13.1 .Processo de escolha do(a) Orientador(a)

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13.2. Processo de orientação

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

13.3. Relação orientador(a) /aluno(a)

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13.4. Avaliação da disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13.5. Sugestões para melhor a disciplina

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14. O perfil, as competências e as habilidades profissionais foram asseguradas na sua formação profissional na UECE ?

14.1.Sim, Como?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14.2.Não. Por quê?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14.3. Parcialmente. Por quê?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

15. ESPAÇO PARA SUGESTÕES GERAIS SOBRE O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Professoras responsáveis pela pesquisa e pela elaboração do questionário

Aurineida Maria Cunha, Liana Brito, Adinari Moreira, Maria Cristina Nobre.

Data da Aplicação do questionário _________________________Horário ______________________

Turno __________________ Disciplina ______________________________

Responsável pela aplicação _____________________________________________________________

ANEXO 2 – EMENTÁRIOS DAS DISCIPLINAS DE PESQUISA

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

O contexto histórico do desenvolvimento da ciência. O conhecimento

cientifico e suas características fundamentais. O método cientifico. Técnicas

de leitura e fichamento. Estrutura do trabalho cientifico e exigências

técnico-normativas.

PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL I

O debate acerca da atividade científica e os conceitos que fundamentam a

pesquisa nas Ciências Sociais. os elementos fundamentais e as diversos

forma de conhecimento. Destacar a pesquisa como atividade básica na

produção de conhecimento. A pesquisa quantitativa e qualitativa e seus

procedimentos.

PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL II

A pesquisa social sua natureza e importância na relação teoria e prática.

Leitura e interpretação de indicadores sócio-econômicos. O processo da

pesquisa e a discussão do projeto de pesquisa ( escolha do tema;

construção do objeto de estudo; metodologia e instrumentais de coleta de

dados). Elaboração do projeto de pesquisa para o TCC.

PESQUISA APLICADA

Iniciação à pesquisa, a partir da inserção em núcleos, grupos e/ou

laboratório de pesquisa. Envolvimento na execução do projeto de pesquisa

elaborado na disciplina Pesquisa em Serviço Social II tendo em vista o

elaboração do TCC.

FUNDAMENTOS DE TCC

Os passos teórico-metodológicos na construção do TCC envolvendo : tipos

de Estudo; levantamento do problema; marco teórico; métodos de pesquisa;

análise qualitativa e quantitativa; interpretação; conclusão. Orientação

sobre referências bibliográficas.

ORIENTAÇÃO DE TCC

Acompanhamento e orientação do aluno no decorrer de todo o processo

elaborativo do TCC, que abrange desde a pesquisa exploratória, em torno

dos aspectos gerais da temática estudada, estendendo-se ao

enquadramento do trabalho nos itens normativamente pré-determinados a

fim de que na monografia se façam presentes de forma clara

questionamentos do objeto em análise, referenciais teóricos e conceptuais

inerentes ao assunto abordado, objetivações lógica , exeqüíveis e descrição

dos procedimentos metodológicos adotados, naturalmente circunscritos nos

códigos lingüísticos – redacionais.