universidade estadual do ceara programa de pÓs ... · e discutimos uma proposta de ensino de...

206
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO ACADÊMICO INTERCAMPI EM EDUCAÇÃO E ENSINO FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL FRANCISCO ALVES BEZERRA NETO ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA: UMA ALTERNATIVA PARA O ENSINO DE GEOMETRIA NO SEXTO ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA UTILIZANDO MATERIAL DIDÁTICO MANIPULÁVEL LIMOEIRO DO NORTE CEARÁ 2016

Upload: vuthu

Post on 10-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO ACADÊMICO INTERCAMPI EM EDUCAÇÃO E ENSINO

FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO

CENTRAL

FRANCISCO ALVES BEZERRA NETO

ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA: UMA ALTERNATIVA PARA O

ENSINO DE GEOMETRIA NO SEXTO ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

UTILIZANDO MATERIAL DIDÁTICO MANIPULÁVEL

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ

2016

1

FRANCISCO ALVES BEZERRA NETO

ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA: UMA ALTERNATIVA PARA O

ENSINO DE GEOMETRIA NO SEXTO ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

UTILIZANDO MATERIAL DIDÁTICO MANIPULÁVEL

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ

2016

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado Acadêmico Intercampi em

Educação e Ensino do Curso de Pós-

Graduação em Educação da Faculdade de

Filosofia Dom Aureliano Matos e da

Faculdade de Educação, Ciências e Letras

do Sertão Central da Universidade

Estadual do Ceará, como requisito parcial

à obtenção do título de mestre em

Educação e Ensino. Área de

concentração: Educação, Escola e

Movimentos Sociais.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Gilvanise

de Oliveira Pontes

2

3

4

Às pessoas mais importantes da minha

vida: minha mãe, Tereza Maria Bezerra

(Dona Terezinha); meu pai, Raimundo

Alves Bezerra (Maestro Bezerra; in

memoriam); minha irmã, Francisca

Aldeiza Bezerra; minha esposa, Rita de

Cássia Silva Nunes Bezerra (Cassinha)

e meus filhos, Bruno Alacy Nunes

Bezerra e Bergson Henrique Nunes

Bezerra.

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida.

À família, pelo apoio incondicional nos campos pessoal e profissional.

À Prof.ª Dr.ª Maria Gilvanise de Oliveira Pontes, pela grandiosa orientação e extrema

disponibilidade.

Aos membros da banca, Prof. Dr. José Eudes Baima Bezerra, Prof.ª Dr.ª Cecília Rosa

Lacerda e Prof.ª Dr.ª Rogéria Gaudencio do Rêgo, pelas observações, questionamentos

e críticas.

Aos professores do curso de mestrado MAIE/UECE, pela ampliação dos conhecimentos

e do horizonte no campo educacional.

Ao grande amigo e colega Professor Célio de Lima Gonçalves, pela inestimável

parceria no decorrer desta pesquisa.

Aos professores, funcionários, diretor e coordenadores que integram o Colégio Estadual

Governador Flávio Marcílio, em Russas/CE, pelo apoio recebido ao longo desta pós-

graduação.

À Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE), pela garantia do

afastamento para cursar o mestrado.

À Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE 10), com sede

em Russas/CE, pelo apoio prestado ao nosso trabalho.

À Profª. Monalisa de Paula Chaves, membro do Núcleo de Tecnologia Educacional

(NET)–CREDE 10/Russas-CE, pela sua relevante participação como avaliadora

FIT/FUNCAP.

À Secretaria Municipal de Educação e do Desporto Escolar (SEMED) de Russas/CE,

pelo consentimento para a realização desta pesquisa em uma de suas instituições de

ensino.

A todos que compõem a Escola Municipal Ana Xavier Lopes de Educação Infantil e

Ensino Fundamental, em Russas/CE, pelo acolhimento e disponibilidade no transcurso

de nosso trabalho.

À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(FUNAP), com recursos provenientes do Fundo de Inovação Tecnológica (FIT), pelo

fornecimento de uma bolsa de estudo que contribuiu para os estudos realizados.

6

(Texto extraído do livro Tecnologias do

conhecimento: os desafios da educação,

de Ladislaw Dowbor – São Paulo,

outubro de 2013 (versão atualizada).

"Prezado Professor, sou sobrevivente de

um campo de concentração. Meus olhos

viram o que nenhum homem deveria

ver. Câmaras de gás construídas por

engenheiros formados. Crianças

envenenadas por médicos diplomados.

Recém-nascidos mortos por enfermeiras

treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e

queimados por graduados de colégios e

universidades. Assim, tenho minhas

suspeitas sobre a Educação.

Meu pedido é: ajude seus alunos

a tornarem-se humanos. Seus esforços

nunca deverão produzir monstros

treinados ou psicopatas hábeis. Ler,

escrever e aritmética só são

importantes para fazer nossas crianças

mais humanas."

7

RESUMO

A presente pesquisa destaca como a Educação Matemática contribui para os processos

de ensino e de aprendizagem no âmbito da Matemática escolar e, de modo particular,

dos conceitos das grandezas geométricas perímetro e área. Neste trabalho, apresentamos

e discutimos uma proposta de ensino de Geometria Euclidiana com o uso de materiais

didáticos manipuláveis com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do

pensamento geométrico de alunos de uma turma do 6º. ano do Ensino Fundamental de

uma escola da rede pública municipal de Russas-CE. Para sua efetivação, partimos de

uma fundamentação teórica que permita uma reflexão sobre a elaboração de aulas de

experimentação com figuras bidimensionais. Ressaltamos o papel do professor como

mediador das atividades, estabelecendo condições propícias a uma interação entre

professor–aluno–material didático. A metodologia tem como norteadora a teoria

sociointeracionista de Lev Vygotsky e a discussão teórica sobre níveis e fases propostos

por Van Hiele. Entre os resultados obtidos, pontuamos um melhor desempenho, por

ocasião da reaplicação do teste diagnóstico, de um quantitativo expressivo de sujeitos da

pesquisa. Ademais, vislumbramos avanços por parte dos alunos pesquisados tanto no

entendimento dos elementos pertinentes ao conceito e a medida de área quanto em

relação a conhecimentos acerca da conceituação e da obtenção da medida de perímetro.

Palavras-chave: Educação Matemática; Ensino de Geometria; Conceitos de Perímetro

e Área; Teoria Sociointeracionista e Modelo de van Hiele

8

ABSTRACT

The present study points out how Mathmatical Education contributes to the teaching

and learning processes in the ambit of school Mathmatics, particularly of the concepts

of Geometrical figures, perimeter and area. A teaching proposal about Euclid’s theory,

with the use of manipulatable pedagogical materials was depicted, with the aim of

contributing to the development of geometrical thought on sixth grades students of the

Fundamental level of a city public school in Russas, CE. The research process started

with a theoretical basis which would allow some reflection about the elaboration of

experimental classes with bidimensional pictures. The role of the teacher as mediator of

the activities was emphasized, establishing proper conditions to interaction on

pedagogical teacher-student-material. The methodology has as its guide Lev Vigotsky’s

socio-interacionist theory and Van Hiele’s theoretical discussion about levels and

phases. Among the outcomes, it was verified better achievement by an expressive

number of the subjects researched when the diagnostic test was reapplied. Besides, the

students researched showed progress regarding the understanding of the elements

related to the concept and the measure of area as well the knowledge of how to

conceptualize an get the measure of perimeter.

Key words: Mathmatical Education, Geometry Teaching, Concepts of perimeter and

area, Socio-interactionist Theory; Van Hiele’s Model.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Esquema Único – Correlações entre os aspectos do conhecimento geométrico e os

elementos fundamentais ao ensino de Geometria...........................104

Figura 1 – Localização de Russas no estado do Ceará...............................................35

Figura 2 – Resolução das questões 5 e 6 do Teste Diagnóstico por Rivaldo...........145

Figura 3 – Atividade: caracterização de um polígono..............................................147

Figura 4 – Atividade: comparação de áreas de polígonos........................................149

Figura 5 – Atividade: composição e ladrilhamento de retângulo.............................157

Figura 6 – Atividade: determinação da medida do perímetro de figuras

poligonais quadriculadas.........................................................................162

Figura 7 – Atividade: determinação da medida do perímetro e da área de

polígono quadriculado..........................................................................166

Figura 8 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento

(resolução grupal)....................................................................................171

Figura 9 – Atividade: determinação da medida de área (polígono quadriculado).....172

Figura 10 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal

quadriculada)...........................................................................................172

Figura 11 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal

quadriculada)...........................................................................................173

Figura 12 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal

quadriculada)...........................................................................................174

Figura 13 – Atividade: determinação da medida de área (polígono quadriculado).. 175

Figura 14 – Atividade: composição de figura plana com área de medida 3 u.a.

e perímetro de medida 12 u.c. (Grupo 2)..............................................177

Figura 15 – Atividade: composição de polígonos com medidas de área e de

perímetro estipuladas (Grupo 1: área = 4 u.a. e perímetro = 8 u.c.;

Grupo 4: área = 4 u.a. e perímetro = 10 u.c. e Grupo 5: área = 5

u.a. e perímetro = 10 u.c.).....................................................................180

Fotografia 1 – Atividade: determinação da medida da área por ladrilhamento

(Grupo E)..............................................................................................151

10

Fotografia 2 – Atividade: identificação de figuras poligonais......................................160

Fotografia 3 – Atividade: identificação de figuras poligonais......................................160

Fotografia 4 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento

(Grupo 1)...............................................................................................168

Fotografia 5 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento

(Grupo 4)...............................................................................................170

Fotografia 6 – Atividade: composição de figura plana composição de figura plana com

área de medida 4 u.a. e perímetro de medida 14 u.c. (Grupo 2)............178

Fotografia 7 – Atividade: composição de figura plana composição de figura plana com

área de medida 4 u.a. e perímetro de medida 12 u.c. (Grupo 3)...........179

Gráfico único – Números de acertos: alunos por pergunta no Teste Diagnóstico (TD) e

Reaplicação do Teste Diagnóstico (RTD)..........................................144

Quadro 1 – Níveis de alfabetismo definidos pelo INAF.................................................55

Quadro 2 – Relações entre objetos de pensamento e produtos de pensamento conforme

o modelo de van Hiele................................................................................120

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Percentual de alunos com desempenhoadequado em Língua Portuguesa e

Matemática na Prova Brasil 2013 e no Aneb 2013 ....................................20

Tabela 2 – IDEB da escola EMAXL entre os anos de 2007 e 2013.............................. 38

Tabela 3 – Distribuição da população brasileira (de 15 a 64 anos) na condição de

analfabetismo e nos 3 níveis de alfabetismo matemático em 2004.............52

Tabela 4 – Nível de alfabetismo versus anos de estudo da população brasileira entre 15

e 64 anos de idade.........................................................................................53

Tabela 5 – Comparativo do Indicador de alfabetismo da população brasileira de 15

a 64 anos (2004-2005 e 2011)......................................................................55

Tabela 6 – Distribuição percentual dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental por

Nível de Proficiência em Matemática da EMAXL na Prova Brasil

2013..............................................................................................................65

Tabela 7 – Resultados fornecidos pelos grupos (medida do perímetro).......................163

Tabela 8 – Resultados corretos fornecidos pelos grupos (medidas da área e do

perímetro)...................................................................................................164

12

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AERA Associação Americana de Pesquisa Educacional

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

Aneb Avaliação Nacional da Educação Básica

Anresc Avaliação Nacional do Rendimento Escolar

Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CENTEC Instituto Centro de Ensino Tecnológico

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

EMAXL Escola Municipal Ana Xavier Lopes de Educação Infantil e Ensino

Fundamental

ENEM Encontro Nacional de Educação Matemática

FAFIDAM Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

Fapesp Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FECLESC Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

ICMI/IMUK Comissão Internacional de Instrução Matemática

IMPA Instituto de Matemática Pura e Aplicada

INAF Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LEM Laboratório de ensino de Matemática

MAIE Mestrado Acadêmico em Educação e Ensino

MD Materiais didáticos

MEC Ministério da Educação e Cultura

MMM Movimento da Matemática Moderna

NAP Núcleo de Apoio Pedagógico à Criança Especial

NCTM Conselho Nacional de Professores de Matemática

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)

RAC Comitê Consultivo de Pesquisa

Saeb Sistema de Avaliação da Educação Básica

13

SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática

SIG/RME Grupo de Interesse Especial em Pesquisa em Educação Matemática

SMSG Grupo de Estudo da Matemática Escolar

TPE Movimento Todos Pela Educação

u.a. Unidade de área

u.c. Unidade de comprimento

UECE Universidade Estadual do Ceará

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

ZDP Zona de desenvolvimento proximal

14

SUMÁRIO

1 GEOMETRIA: UMA INTRODUÇÃO AO ENSINO DE UMA ÁREA

NOTÓRIA..........................................................................................................17

1.1 JUSTIFICATIVA.................................................................................................17

1.2 VINCULAÇÃO COM A TEMÁTICA................................................................26

1.3 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.............................................................28

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.................................................................32

2 MARCOS CARACTERÍSTICOS DA PESQUISA....................................35

2.1 TRAÇOS HISTÓRICOS E CONTEXTO DA ESCOLA ELEITA.....................35

2.2 UMA TURMA DE SEXTO ANO: SUJEITOS DA PESQUISA.........................43

2.3 CONCEPÇÃO METODOLÓGICA.....................................................................45

3 ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA E A GEOMETRIA.............................49

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA E

CONHECIMENTO ESCOLAR ...........................................................................49

3.2 A RESPEITO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA...............................................77

3.3 O ENSINO DE MATEMÁTICA: GEOMETRIA.................................................84

3.4 O CASO DA GEOMETRIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA NO BRASIL..90

3.5 GEOMETRIA: POR QUE ENSINÁ-LA?............................................................95

3.5.1 Geometria escolar: uma abordagem histórico-epistemológica.......................97

3.6 MATERIAIS DIDÁTICOS: UM DEBATE TEÓRICO.....................................104

3.7 ALGUNS OLHARES: ÁREA E PERÍMETRO.................................................112

4 MODELO DE VAN HIELE E O SOCIOINTERACIONISMO DE

VYGOTSKY.....................................................................................................115

4.1 A TEORIA DE VAN HIELE E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

GEOMÉTRICO..................................................................................................115

4.2 A PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY E A EDUCAÇÃO

FORMAL...........................................................................................................124

4.2.1 Abordagem interacionista de Lev Vygotsky..................................................124

4.2.2 Aprendizagem e desenvolvimento cognitivo: enfoque vygotskiano.............131

15

4.2.3 Educação escolar e a teoria sociointeracionista de Vygotsky.......................132

4.2.4 A visão histórico-cultural de Vygotsky e a Educação Matemática............138

5 NA ESFERA DAS ATIVIDADES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS

ATIVIDADES...................................................................................................142

5.1 ATIVIDADE 1 – DIA 01/out./2014 – ÁREA DE POLÍGONOS

QUADRICULADOS..........................................................................................147

5.2 ATIVIDADE 2 – DIA 08/out./2014 – ÁREA DE POLÍGONOS POR

LADRILHAMENTO..........................................................................................150

5.3 ATIVIDADE 3 – DIA 22/out./2014 – LOTAÇÃO DE UMA PRAÇA...........154

5.4 ATIVIDADE 4 – DIA 05/nov./2014 – PERÍMETRO DE FIGURAS

POLIGONAIS....................................................................................................159

5.5 ATIVIDADE 5 – DIA 19/nov./2014 – ÁREA E PERÍMETRO DE

FIGURAS BIDIMENSIONAIS ........................................................................165

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................182

REFERÊNCIAS................................................................................................187

APÊNDICES.....................................................................................................192

APÊNDICE A – Roteiro das questões da entrevista semiestrutura realizada

com o Professor Pedro............................................................192

APÊNDICE B – Fotos do ambiente da sala de aula do 6º. ano B......................193

APÊNDICE C – Teste diagnóstico...................................................................194

APÊNDICE D – Quadro de Resultados do Teste Diagnóstico (TD)................196

APÊNDICE E – Quadro de Resultados da Reaplicação do Teste Diagnóstico

(RTD)......................................................................................197

APÊNDICE F – Quadro comparativo de resultados (por aluno) no Teste

Diagnóstico (TD) e na Reaplicação do Teste Diagnóstico

(RTD).......................................................................................198

APÊNDICE G – Questionário socioeducacional aplicado aos alunos................199

APÊNDICE H – Atividade resolvida pela dupla Fabrícia e Jaqueline................200

APÊNDICE I – Representação do polígono ladrilhado pelos Grupos 1, 3 e 5..201

APÊNDICE J – Representação do polígono ladrilhado pelos Grupos 2 e 4....202

16

APÊNDICE K – Polígono com área de medida 4 u.a. e perímetro de medida

14 u.c. .....................................................................................203

APÊNDICE L – Polígono com área de medida 4 u.a. e perímetro de medida

12 u.c. ......................................................................................204

ANEXO ÚNICO – Prova aplicada pelo Professor Pedro (24/nov./2014)..........205

17

1 GEOMETRIA: UMA INTRODUÇÃO AO ENSINO DE UMA ÁREA

NOTÓRIA

A realidade brasileira constatada estatisticamente por órgãos oficiais e por

nós, professores, no cotidiano escolar: os alunos, via de regra, apresentam conhecimento

formal aquém do ano, série ou etapa concluída. Em Matemática como um todo e, em

especial, em Geometria, temos um quadro gerador de grandes inquietações. Diante

disso, realizamos um estudo cujo objetivo geral foi compreender como a manipulação

de materiais didáticos e a mediação do professor contribuem para a construção de

conceitos geométricos de alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola da

rede pública.

1.1 JUSTIFICATIVA

Entendemos que cursar um mestrado acadêmico em educação e ensino é

uma oportunidade ímpar para um professor que busca apreender novos conhecimentos e

assumiu um compromisso de compreender melhor a dinâmica de um processo

extremamente poliédrico como é o de ensino e aprendizagem. Assim, o MAIE,

oferecido pela UECE nos campi da FAFIDAM e da FECLESC, nos possibilitou uma

imersão nas teorias do conhecimento e da educação.

Com um misto de desejo de crescimento nos âmbitos pessoal e profissional

e uma inquietação oriunda da constatação de que uma parcela considerável de energia

utilizada por nós, professores, no decorrer das aulas é dissipada – seja pelo uso de

metodologias inadequadas e/ou condições concretas não favoráveis ou por outras razões

que fogem ao nosso entendimento –, nos lançamos em uma empreitada na esfera do

ensino da Matemática, mais especificamente, do ensino de Geometria¹. Para a

concretização desta tarefa, nossos esforços foram no sentido de nortear uma

aprendizagem significativa dos conceitos de área e de perímetro de figuras planas. Com

esse intento, os alunos do sexto ano da Educação Básica de uma escola pública da rede

municipal na cidade de Russas/CE desenvolveram atividades com a mediação tanto do

professor titular quanto do pesquisador, tendo este atuado como observador

participante, pois “ ‘observador participante’ é um papel em que a identidade do

___________________________

1 Ao citarmos Geometria neste trabalho estamos nos referindo exclusivamente à Geometria Euclidiana.

Este registro se deve ao fato da existência de Geometrias Não-Euclidianas (Geometria Esférica e

Geometria Hiperbólica, por exemplo).

18

pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o

início” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 29).

Por conta da referência à aprendizagem significativa, faremos um sobrevoo

acerca da teoria de David Ausubel (estadunidense, 1918-2008). Esse estudioso

apresenta uma explicação do processo de aprendizagem pautado na ótica da Psicologia

cognitivista – escola de pensamento em Psicologia que se preocupa com o processo da

compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvida na

cognição, que corresponde ao processo mental que dá origem ao mundo de significados

–, não obstante considerar a relevância da experiência afetiva, como nos diz Moreira e

Masini (2001).

Na teoria ausubeliana, aprendizagem significativa “é um processo pelo qual

uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de

conhecimento do indivíduo.” (MOREIRA e MASINI, 2001, p. 17). Nossa compreensão

é que para a efetivação da aprendizagem significativa se faz necessário que a nova

informação interaja com um conhecimento já apreendido pelo aluno. Em outras

palavras, ocorre a aprendizagem significativa quando a nova informação se relaciona

com os conceitos já existentes na estrutura cognitiva do indivíduo. Assim, uma

informação é aprendida de modo significativo, quando se relaciona com outras ideias ou

conceitos relevantes e inclusivos, que fazem o papel de âncoras por estarem claros e

disponíveis na mente do aprendiz. Fazendo contraponto, temos a aprendizagem

mecânica, que é a aprendizagem de novas informações de modo isolado, sem interação

com conceitos já apreendidos.

A princípio, cremos ser consensual a afirmativa que os alunos enfrentam

dificuldades para a aprendizagem de Matemática escolar. Essa percepção é ratificada,

quando tomamos ciência de dados oficiais recentes. Segundo o Ministério da Educação

Para Ausubel, aprendizagem significa organização e integração do material

na estrutura cognitiva. Como outros teóricos do cognitivismo, ele se baseia

na premissa de que existe uma estrutura na qual a organização e a

integração se processam. É a estrutura cognitiva, entendida como

“conteúdo total de idéias de um certo indivíduo e sua organização; ou

conteúdo e organização de suas idéias em uma área particular de

conhecimentos” (AUSUBEL, 1968, p. 37-39). É o complexo organizado

resultante dos processos cognitivos, ou seja, dos processos mediante os

quais se adquire e utiliza o conhecimento. (MOREIRA e MASINI, 2001,

p. 13-14)

19

e Cultura (MEC), os resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) de 2014

– a ANA é uma avaliação anual realizada com alunos de 3º. ano do Ensino Fundamental

(último ano do Ciclo de Alfabetização) de todo o país criada em 2013 como parte do

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) – mostram que 57,07% dos

estudantes do 3º. ano do Ensino Fundamental têm rendimento inadequado em

Matemática, 34,34% em escrita e 22,07% em leitura. O MEC reconhece que são dados

extremamente preocupantes e que requer medidas urgentes caso queiramos erradicar o

analfabetismo. Em Matemática, o Ceará ficou entre os 22 estados onde a maior parte

dos alunos obteve baixo desempenho (níveis 1 e 2 do total de 4). Em relação à escrita, o

Ceará ficou entre os dezoito estados em que mais da metade dos alunos atingiu os níveis

4 e 5 de um total de cinco.

Em relação ao 5º. e ao 9º. anos do Ensino Fundamental e à 3ª. série do

Ensino Médio temos os seguintes dados fornecidos pelo Movimento Todos Pela

Educação (TPE) a partir de levantamento feito com base na proficiência dos alunos nas

avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)², a saber: Avaliação

Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar

(Anresc), também conhecida como Prova Brasil3, realizadas em 2013. Essas avaliações

são bianuais, sendo que a Aneb tem caráter amostral e avalia alunos do 5º. e do 9º. anos

do Ensino Fundamental e da 3ª. série do Ensino Médio de escolas das redes públicas e

privadas, enquanto a Prova Brasil é censitária, envolvendo escolas das redes públicas

(área rural e urbana) e avalia alunos do 5º. e do 9º. anos do Ensino Fundamental que

possuem, no mínimo, 20 alunos matriculados nos anos avaliados.

A tabela 1 a seguir faz referência aos percentuais de alunos que aprenderam

o considerado adequado, sob os olhos do TPE, em Língua Portuguesa e Matemática,

para o ano escolar ou série escolar correspondentes.

______________________________

2 O Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) tem início em 1988, com aplicações-piloto, e teve

sua primeira aplicação oficial em 1990. A partir de 1993, foi aplicado sem interrupção a cada dois anos.

Em 2005, o Saeb foi reestruturado, passando a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional

da Educação Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os procedimentos da avaliação

da Educação Básica efetuada até aquele momento pelo Saeb, e a Avaliação Nacional do Rendimento

Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino

ministrado nas escolas públicas. Até 2003, o Saeb fornecia informações apenas por estados, regiões e para

o Brasil, e pelos três tipos de redes. Com a Prova Brasil, em 2005, foi possível obter informações sobre

cada município e cada uma das escolas públicas avaliadas. Em 2013, foi incorporada ao Saeb a Avaliação

Nacional da Alfabetização (ANA). 3

A Prova Brasil tem como foco aferir a qualidade do ensino oferecido nessas escolas, fornecendo

resultados por escola, município, unidade da federação e país.

20

Tabela 1 – Percentual de alunos com desempenho adequado em Língua Portuguesa

e Matemática na Prova Brasil 2013 e no Aneb 2013

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Relatório de Olho nas Metas 2013-14

(www.todospelaeducacao.org.br)

Concebida, grosso modo, por todos como uma disciplina de difícil

compreensão, isto representa um bloqueio natural ao ensino de Matemática. Tal

pressuposto dos alunos – creem na falta de capacidade de aprender Matemática – faz

com que eles se sintam desmotivados e com baixa autoestima, fatores que, muitas

vezes, refletem-se em um desempenho escolar, no que diz respeito à aquisição de

saberes, não satisfatórios nesta área do conhecimento.

Com o olhar de quase três décadas de atividade docente, trabalhando em

escolas das redes pública e particular, uma dúvida que não carregamos – tal certeza que

é compartilhada, acreditamos, por vários professores – é que dos três segmentos que

compõem a Matemática escolar ministrada na Educação Básica (Aritmética, Álgebra e

Geometria), aquele que os alunos apresentam maiores dificuldades é o da Geometria.

Dúvidas apresentadas até mesmo em conceitos basilares da Geometria, como os de

perímetro e de área, a título de exemplo. Este quadro nos leva a refletir sobre a

premência da ação professoral voltada para a construção de conceitos geométricos,

relacionando-os com o mundo vivencial do educando.

Entendemos que a construção de saberes geométricos deve ser iniciada

através de materiais didáticos manipuláveis. Neste processo de construção, cabe ao

professor um papel-chave: o de mediador. Em outras palavras, sem a mediação do

professor, ou seja, se o professor não lança questionamentos e não faz reflexões a partir

da atividade desenvolvida pelo aluno. Este manuseia, monta e constrói coisas, todavia

não toma consciência da ação que está praticando e, com isto, a construção do

conhecimento não se efetiva.

Compartilhando a ideia que conhecer, implica em construir significados e

concordando com “[...] O que se espera do educando é que seja capaz de construir as

Língua

Portuguesa

Matemática

2013 2013

Ensino Fundamental 5º. ano 45,1% 39,5%

Ensino Fundamental 9º. ano 28,7% 16,4%

Ensino Médio 3ª. série 27,2% 9,3%

21

representações mentais das relações que definem o objeto [de conhecimento]”

(VASCONCELLOS, 1999, p. 40), vamos buscar retratar, em uma visão panorâmica, a

concepção dialética da construção do conhecimento. De início, esse autor nos fala que a

construção do conhecimento, segundo a perspectiva dialética, pressupõe um ser humano

ativo e inserido em múltiplas relações.

Assim, contrapondo-se à concepção tradicional (o conhecimento que

qualquer pessoa adquire se deve à “transferência” ou ao “depósito” feito por alguém) e à

concepção espontaneísta (o conhecimento é “inventado” por cada indivíduo), na

perspectiva dialética o homem constrói o conhecimento por meio de uma participação

efetiva nas relações que são estabelecidas com os outros e com o mundo. Considerando

que essa assertiva também é válida para a educação formal, temos a seguinte

implicação: “[...] o conteúdo que o professor apresenta precisa ser trabalhado, refletido,

reelaborado, pelo aluno para se constituir em conhecimento dele [...].”

(VASCONCELLOS, 1999, p. 45). Além disso, acrescenta esse autor, na abordagem

dialética da educação, o conhecimento deve ter como intuito contribuir na formação do

aluno em sua integralidade. Assim, o sentido do conhecimento é possibilitar ao sujeito

compreender a realidade em que vive e, com isso, usufruir dos seus benefícios ou

transformá-la, visando o bem comum.

Norteados pelo método dialético do conhecimento, evidenciamos que,

fundamentalmente, há três grandes passos a serem dados para a aquisição do

conhecimento, quais sejam: a síncrese, a análise e a síntese. O caráter universal desse

método garante, tanto a busca pelo conhecimento científico, quanto pelo conhecimento

escolar.

Na educação escolar, de acordo com Vasconcellos (1999), cabe ao professor

orientar o processo de conhecimento a ser trilhado pelo aluno. Para o cumprimento

dessa tarefa pedagógica, nós, professores, em conformidade com a metodologia

dialética de construção do conhecimento em sala de aula (vertente pedagógica afinada

[...] o movimento que vai da síncrese (“a visão caótica do todo”) à síntese

(“uma rica totalidade de determinações e de relações numerosas”) pela

mediação da análise (“as abstrações e determinações mais simples”)

constitui uma orientação segura tanto para o processo de descobertas de

novos conhecimentos (o método científico) como para o processo de

transmissão-assimilação de conhecimentos (o método de ensino).

(SAVIANI, 2008, p. 59)

22

com a teoria dialética do conhecimento), devemos tanto despertar como seguir o

interesse do aluno pelo conhecimento. A primeira grande preocupação do professor

nesta empreitada é promover junto ao aluno a mobilização para o conhecimento. Essa

mobilização pode ser entendida como desencadear o interesse do aluno ao ponto que ele

torne seu o objeto de conhecimento proposto pelo professor. “[...] Aqui é necessário

todo um esforço a fim de dar significação inicial, para que o sujeito leve em conta o

objeto como um desafio [...]” (VASCOCELLOS, 1999, p.46).

Na verdade, a mobilização para o conhecimento é uma das três grandes

dimensões, eixos ou preocupações da ação professoral. Vejamos as demais: construção

do conhecimento e elaboração e expressão da síntese do conhecimento. Essas

dimensões, afirma Vasconcellos (1999), são imperativas na superação das metodologias

tradicional e escolanovistas.

O sujeito constrói seu conhecimento ao passo que estabelece múltiplas

relações com o objeto de estudo e, com ajuda do professor, formula a representação

mental desse objeto. Quanto à elaboração e expressão da síntese do conhecimento, trata-

se da “[...] dimensão relativa à sistematização dos conhecimentos que vêm sendo

adquiridos, bem como da sua expressão” (VASCONCELLOS, 1999, p. 47). É nesse

eixo, que ocorre a organização do pensamento e a inserção gradativa de novos

conceitos.

Em suma:

A orientação para o processo de construção do conhecimento em sala de

aula é dada por essas três dimensões que serão trabalhadas pelo professor. Vasconcelos

(1999) salienta que o mais importante é o movimento entre tais dimensões, ou seja, que

nenhum delas deixe de ser atingida, e não uma obediência inflexível da sequência dos

momentos.

O educando, em sala de aula, vai construir o seu conhecimento fazendo o

percurso da Síncrese para a Síntese pela mediação da Análise, uma vez que

este é o caminho geral de construção do conhecimento Para favorecer o

percurso do aluno, o professor pode dispor o seu segundo uma metodologia

pedagógica coerente com esta concepção dialética, qual seja, através da

Mobilização, Construção e Elaboração e Expressão do conhecimento

(VASCONCELLOS, 1999, p. 47)

Numa fórmula: “Do sincrético pelo analítico para o sintético”. A síncrese

corresponde à visão global, indeterminada, confusa, fragmentária da

realidade; a análise consiste no desdobramento da realidade em seus

elementos, a parte como parte do todo; a síntese é o resultado da integração

de todos os conhecimentos parciais num todo orgânico e lógico, resultando

em novas formas de ação (LIBÂNEO, 1989, p. 145).

23

No universo da Geometria escolar, não podemos passar ao largo do fato que

muitos dos professores em atuação não vivenciaram o estudo de Geometria

fundamentado em materiais didáticos manipuláveis, nem como alunos da escola básica

e nem – queremos crer, em casos mais raros –, durante sua formação inicial no decorrer

da licenciatura.

Com vistas a um melhor entendimento acerca da dificuldade nos processos

de ensino e de aprendizagem de Geometria ou mesmo do abandono da Geometria

escolar, vamos expor, de modo aligeirado, a análise feita por Pereira (2001) sobre

alguns trabalhos acadêmicos4 realizados no período de 1988 a 2000 e que se debruçaram

sobre essa temática. Essa autora elaborou um quadro avaliativo, elencando três

categorias que procuravam dar conta desse “vácuo” na Geometria escolar, quais sejam:

(a) Problemas com a formação do professor, (b) Omissão da Geometria em livros

didáticos e (c) Lacunas deixadas pelo Movimento da Matemática Moderna (MMM).

No que tange à formação do professor, a autora em tela destacou alguns

aspectos relacionados a professores que não adquiriram “[...] em sua formação

acadêmica, os conhecimentos necessários em Geometria para aplicá-la em suas

atividades pedagógicas” (PEREIRA, 2001, p. 57). O predomínio do raciocínio algébrico

nas questões geométricas trabalhadas em sala de aula é um desses fatores. Isso atesta,

em parte, a deficiência de alguns cursos de licenciatura em Matemática, pois “[...] O

raciocínio mais geométrico exige um maior preparo para desenvolver os conteúdos, pois

a geometria faz as ligações entre o raciocínio concreto e abstrato.” (BERTONHA, 1989,

p. 18 apud PEREIRA, 2001, p. 57). Tal despreparo do professor no campo dos

conteúdos geométricos “tem sido apontado como uma possível causa do

‘esvaziamento’ desses conteúdos nas aulas de Matemática.” (PASSOS, 2000, p. 59

apud PEREIRA, 2001, p. 58).

Quanto aos conteúdos e conceitos geométricos, “o ensino é fortemente

influenciado pelos livros didático.” (SANGIACOMO, 1996, p. 23 apud PEREIRA,

2001, p. 60). Pereira (2001) fala que todos os trabalhos analisados destacam que não é

dado nos livros didáticos a atenção devida ao processo demonstrativo. Segundo essa

autora, Vianna (1988) e Gouvêa (1998) enfatizam que comumente nesses livros só

______________________________

4 PEREIRA (2001) analisou seis dissertações e duas teses, a saber: Dissertações – BERTONHA, R. A.

(1989); GOUVÊA, F. A. T. de S. (1998); MELLO, E. G. S. de. (1999); PAVANELLO, R.M. (1989);

SANGIACOMO, L. (1996) e VIANNA, C. C. (1988) – Teses: PASSOS, C.L.B. (2000) e PEREZ, G.

(1991).

24

constam as demonstrações tradicionais (as dos teoremas de Pitágoras e de Tales, por

exemplo). Isso repercute em uma apresentação de conteúdos desconectados entre si,

dificultando, assim, o processos educativo desse segmento da Matemática, haja vista

que a familiaridade com as demonstrações é de grande valia no desenvolvimento do

raciocínio dedutivo e, por extensão, na aquisição de saberes geométricos. A implicação

disso ou é uma secundarização ou um total abandono do ensino da Geometria.

Dos trabalhos analisados por Pereira (2001), 62,50% abordam de modo

direto ou não a influência do MMM nos processos de ensino e de aprendizagem da

Geometria. Entre as razões apontadas como responsáveis pelo esvaziamento da

Geometria escolar, destaca-se, de acordo com Passos (2000 apud PEREIRA, 2001), a

implementação da reforma do ensino decorrente do MMM, cujo advento no Brasil

ocorreu na década de 1960. O MMM lança uma proposta de ensino de Geometria

ancorado nas transformações algébricas e na teoria dos conjuntos. Como tal abordagem

teórica não era dominada pela maioria dos professores de Matemática no Brasil, leva-

nos “[...] a perceber a existência de um movimento que não resolveu as questões no

polêmico universo do ensino da Geometria.” (PEREIRA, 2001, p.62). Em outras

palavras, o MMM não foi exitoso na sua tentativa de fomentar a Geometria escolar ao

substituir a Geometria Euclidiana por uma nova axiomatização.

Colocamos em relevo que o ensino da Geometria, de acordo com Pavanello

(1989), já enfrentava dificuldades de várias ordens antes MMM (estabelecimento de

uma “ponte” entre a Geometria prática, trabalhada na escola elementar, e a perspectiva

axiomática, vista no ensino secundário, por exemplo). Contudo, esses problemas se

avolumaram sob a influência desse movimento modernista. Na verdade, o “[...] o MMM

não conseguiu superar a crise em que se encontrava o ensino de Geometria, mas

contribuiu para o seu abandono.” (PEREIRA, 2001, p. 64).

Sob nossa ótica, este trabalho propicia uma análise, à luz da Educação

Matemática, de que forma a interação aluno-professor-artefato didático repercute nos

processos de ensino e de aprendizagem, considerando, a priori, que tais interações são

de grande valia para a aquisição de um conhecimento consistente e significativo.

Advogamos a ideia que através da manipulação de objetos matemáticos por parte do

educando, preferencialmente em atividades grupais, os conceitos e as propriedades das

figuras geométricas, assim como sua presença no cotidiano, serão entendidos e sentidos,

pois serão construídos por meio de experiências matemáticas. Assim, quando propomos

questões cujos resultados serão obtidos via manuseio de um dado material didático,

25

estamos criando as condições para que ele desenvolva sua capacidade de investigação e

incentivando, sobretudo, a construção do pensamento geométrico, do desenvolvimento

de seu raciocínio lógico-matemático.

É do nosso entendimento que a compreensão desse processo por parte do

professor de Matemática, em consonância com o pensamento de educadores

matemáticos do porte de D’Ambrosio (1996), leva-o a uma nova visão de

aprendizagem, substituindo aquela noção que o aluno é um recipiente passivo de fatos e

ideias. É de suma importância que o professor entenda que a Matemática estudada deve

ser, de algum modo, útil aos alunos, ajudando-os a compreender, explicar ou organizar

sua realidade.

Com relação ao citado trinômio aluno-professor-objeto didático presente no

processo educativo, um fator que é apontado por Vygotsky (1998), dentre outros

autores, como indispensável para a atividade de ensinar é a afetividade. O autor entende

que os avanços experimentados no âmbito afetivo repercutem positivamente no plano

cognitivo, que, por seu turno, são geradores de uma atmosfera favorável à prática

docente. Assim, a afetividade contribui enormemente à dinâmica da sala de aula pois,

quando entre alunos e professor reina uma relação amistosa, ambos são impulsionados

pelo desejo de aprender e de ensinar, implicando na construção do conhecimento de

forma prazerosa.

Quando mencionamos que as atividades devem ser realizadas

prioritariamente em grupo, estamos levando em conta as reflexões de Vygotsky (2007)

sobre a interação entre os alunos e o professor e o conceito de zona de desenvolvimento

proximal (ZDP). Nossa proposta está ancorada na ideia vygotskiana de que a

constituição do conhecimento individual, incluindo o de Geometria, é um processo

socioculturalmente situado e o resultado de interações sociais com outros sujeitos que

participam dos processos de ensino e de aprendizagem.

Acerca da Geometria escolar, a nossa abordagem tem como referência o

modelo de van Hiele. A partir dessa discussão teórica, buscamos refletir sobre o uso de

materiais didáticos manipuláveis com o objetivo de favorecer o ensino de Matemática e,

em particular, o de Geometria, procurando identificar os benefícios e as dificuldades

pertinentes ao processo em pauta. Crowley (1994) nos fala que tal modelo é fruto das

teses de doutorado apresentadas em 1957 pelo casal de professores holandeses do

ensino secundário Pierre Marie Van Hiele e Dina Van Hiele-Geldof.

26

Nesse intuito, realizamos uma pesquisa cujo objetivo geral foi compreender

como a manipulação de materiais didáticos e a mediação do professor contribuem para a

construção de conceitos geométricos de alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de

uma escola da rede pública. Para tanto, trabalhamos na perspectiva de:

analisar, à luz da Educação Matemática, a contribuição dos objetos

didáticos manipuláveis no desenvolvimento do pensamento geométrico

com foco na construção dos conceitos de perímetro e área.

averiguar aspectos pertinentes à interação professor-alunos-material

didático manipulável no processo de aquisição de saberes geométricos.

Assim, nosso trabalho tem a pretensão de oferecer subsídios que venham

colaborar para que as aulas de Geometria tenham um ganho de qualidade, deixando

registrado que aquilo que consideramos como um salto qualitativo no tocante à

Geometria escolar está relacionado fundamentalmente às seguintes implicações:

a) por meio da ação professoral, o aluno deve ser mobilizado à construção

do conhecimento e, com isto, apreender o conteúdo geométrico

ventilado, encorpando o seu cabedal de saberes;

b) que o educando perceba que os conteúdos ministrados têm ligação com o

mundo extraescolar. Em outras palavras, que o aluno tenha plena clareza

que o conteúdo trabalhado em sala de aula faz-se presente em seu mundo

vivencial;

c) o professor deve sempre buscar aperfeiçoar o seu conhecimento em

Geometria e, para isto, cremos ser primordial formar grupos de estudo,

pois assim novos patamares serão atingidos na atuação docente;

d) o professor deve tornar prioritário o uso de materiais didáticos

manipulativos para introduzir novos conceitos geométricos e ter a

convicção que a sua mediação é imprescindível no processo de aquisição

de conhecimento.

1.2 VINCULAÇÃO COM A TEMÁTICA

O que constatamos ao longo da vivência em sala de aula, seja como aluno

da Educação Básica ou como professor de Matemática desse nível de ensino ou, ainda,

estudante de licenciatura em Matemática, foi um processo de ensino de Matemática e,

em especial, o de Geometria, que se efetivou, preponderantemente, sem a preocupação

27

maior de estabelecer um vínculo mais estreito entre os conteúdos trabalhados em sala

de aula com o mundo vivencial dos alunos.

Assim, quando elegemos como objeto de estudo desta pesquisa, um

conjunto de atividades que foram desenvolvidas por alunos do sexto ano do Ensino

Fundamental, temos em mente fazer um Estudo de Caso que venha contribuir para o

enfrentamento dos desafios pertinentes ao ensino e à aprendizagem de Geometria e cujo

foco foi a apreensão de elementos relativos aos conceitos de área e de perímetro,

utilizando figuras planas em formas não usuais.

Dentre os desafios, elencamos o rompimento da tradição de uma abordagem

estritamente abstrata da Geometria, pois entendemos que o ritual de apresentação do

conceito, das propriedades, da fórmula e da lista de exercícios de aplicação com

modelos repetitivos é constatado como não eficaz no ensino de Geometria.

Outra barreira a ser vencida está relacionada aos professores perceberem

que as demonstrações são expostas, em linhas gerais, prematuramente. Assim, devemos

estar atentos ao fato de que as demonstrações somente serão significativas para o aluno,

quando ele atingir um certo nível de desenvolvimento do pensamento geométrico. De

acordo com Lorenzato (2010), os materiais didáticos manipulativos por si só não

causariam grandes efeitos no aprendizado dos alunos sem as interferências do professor

como mediador. Afinado com a concepção desse autor, vemos a necessidade de o

professor ter conhecimento do material didático a ser trabalho, bem como sua

abrangência de possibilidades no trabalho pedagógico nas aulas de Matemática.

Quando nos reportamos sobre o que fazer para qualificar o ensino de

Geometria, consideramos como ponto de grande relevância é a contribuição de peso que

pode ser dada pelas escolas de Ensino Superior por ocasião da formação inicial dos

potencialmente futuros professores. Entendemos que os licenciandos em Matemática

devem conviver rotineiramente com a experiência da manipulação de materiais

didáticos, pois muitas das questões e dúvidas que emergirão desta prática possibilitarão

uma atuação docente coadunada com os princípios que regem os processos de ensino e

de aprendizagem aqui defendidos.

Diante desse quadro, é do nosso entendimento que a pesquisa que

realizamos se mostra como uma contribuição para a melhoria do ensino de Geometria,

com a especificidade de uma abordagem sobre perímetro e área. Nós, professores, ao

exercermos a docência em escolas da rede pública, devemos nos sentir movidos pelo

compromisso de oportunizar aos alunos um ensino de qualidade, uma aprendizagem

28

significativa. Para que isto seja realizado, acreditamos que o ensino de Matemática e,

em especial, o de Geometria, deve ter como tônica, na etapa de construção dos

conceitos, a utilização de materiais didáticos manipuláveis com a substancial mediação

do professor.

1.3 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Com a intenção de deixar claro qual a nossa pretensão com este trabalho,

comentamos, na sequência, os marcos de sua efetivação, a saber: a definição do

problema, o objeto de estudo, a metodologia de pesquisa e os procedimentos para a

escolha dos sujeitos, geração e análise das informações.

A) Definição do problema

Como professor do Ensino Médio da rede pública, mas que já esteve à

frente de salas de aula do Ensino Fundamental, conhecemos, por meio do cotidiano

escolar, as dificuldades enfrentadas por todos os educadores comprometidos com uma

educação de qualidade e também por todos os educandos que vêm a Matemática como

uma disciplina que apresenta fortes empecilhos para sua apreensão. Tais empreitadas

envolvem fatores de diversas ordens e requerem que nós, professores, busquemos

fundamentações teóricas que nos levem a compreender e a agir nesses intrincados

processos que são o de ensino e de aprendizagem.

Sendo notórias as lacunas e deficiências verificadas em relação aos

conhecimentos matemáticos (em particular, aos geométricos) na Educação Básica,

desenvolvemos uma pesquisa em uma turma do sexto ano do Ensino Fundamental de

uma escola municipal de Russas/CE. As atividades propostas eram voltadas à

construção dos conceitos geométricos relativos à área e perímetro, utilizando materiais

didáticos manipuláveis.

A partir da análise da resolução dessas atividades, desejamos,

essencialmente, responder à seguinte pergunta: qual a contribuição da manipulação de

objetos didáticos e da ação mediadora do professor nos processos de ensino e de

aprendizagem de Geometria e, em especial, na construção dos conceitos de perímetro e

área de alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública?

Ademais, pretendemos obter respostas as seguintes indagações:

a) À luz da Educação Matemática, até que ponto a manipulação de objetos

didáticos pode favorecer a construção de conceitos geométricos?

29

b) Em que medida atividades desenvolvidas a partir de figuras planas

quadriculadas contribuem para a compreensão dos conceitos de área e

perímetro?

c) De que modo, lançando mão da composição e da decomposição de

figuras planas, o aluno pode adquirir um efetivo entendimento sobre

alteração do perímetro e/ou da área de figuras planas?

d) Partindo da construção dos conceitos de área e de perímetro, como

seguir para a discussão sobre a noção de medida dessas grandezas

geométricas?

Temos, assim, a apresentação da questão central e das indagações que

nortearam a investigação deste trabalho.

B) Objeto de estudo

No presente trabalho, investigamos como a manipulação de materiais

didáticos e a ação mediadora do professor favorecem a construção de conceitos

geométricos de alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede

pública.

C) Metodologia de pesquisa

Optamos por uma pesquisa qualitativa com abordagem de Estudo de Caso,

pois ao pesquisarmos em uma turma do sexto ano do Ensino Fundamental de uma dada

escola, acreditamos que essa situação se encaixa na ideia de “[...] O caso pode ser

similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio,

singular” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 17).

Percebemos que nossa escolha encontra sustentação, quando verificamos

quais os princípios basilares de um Estudo de Caso citados por Lüdke e André (1986).

Vejamos:

a) visa à descoberta: tendo como pressuposto que o conhecimento está em

constante construção, o pesquisador, invariavelmente, busca novas

respostas e novas indagações no desenrolar do trabalho;

b) enfatiza a “interpretação em contexto”: O melhor entendimento de um

problema somente acontece se o contexto (interações entre as pessoas,

30

atitudes comportamentais, condições existenciais etc.) não é relegado a

um segundo plano;

c) revela experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas:

portador de uma experiência de vida, o pesquisador, “naturalmente”, faz

intervenções comparativas com situações por ele vivenciadas, ancoradas

em um conhecimento experiencial.

d) busca retratar a realidade de forma complexa e profunda: ao tentar

expor as diversas nuances que interferem no problema estudado, o

pesquisador busca vê-lo como um todo, pondo em destaque que a

complexidade é inerente às interações humanas.

Elencadas essas características, cremos que elas refletiam sob qual

perspectiva queríamos ver o que pesquisamos.

D) Procedimentos para a escolha dos sujeitos, geração e análise das informações

Os eleitos para sujeitos da pesquisa eram da turma 6º. ano B da Escola

Municipal Ana Xavier Lopes de Educação Infantil e Ensino Fundamental, da rede

pública municipal de Russas/CE. Essa turma iniciou o ano letivo de 2014 com 39 alunos

e no término, contava com 32 alunos. Houve 2 transferências e 5 desistências. Desses

32 alunos, 27 foram considerados para efeito desta pesquisa que se estendeu de

17/setembro a 03/dezembro/2014. A razão de nos limitarmos a um grupo de 27 alunos é

porque foram somente eles que fizeram o Teste Diagnóstico e a sua reaplicação. Assim,

poderíamos comparar, por aluno, o desempenho nas duas edições do Teste Diagnóstico.

Nossa escolha recaiu sobre a Escola Municipal Ana Xavier Lopes pelas

seguintes razões: no início dos anos 1990, trabalhamos nessa instituição de ensino

ministrando aulas de Matemática e Ciências nas séries finais do 1º. grau (atual Ensino

Fundamental II). Assim, entendemos que ter novo contato com essa escola, na condição

de professor- pesquisador, iria proporcionar interessantes intercâmbios de experiências,

tanto entre os sujeitos da pesquisa, haja vista termos atuado exclusivamente como

professor do Ensino Médio nas últimas duas décadas, quanto com novos colegas

professores e com docentes que foram nossos contemporâneos no Colégio Municipal do

Planalto (primeira denominação do Ana Xavier Lopes). Outra razão é que mediante a

decisão de realizarmos esta pesquisa no último quadrimestre de 2014 – decisão tomada

em comum acordo com nossa orientadora – constatamos que era somente nessa escola

31

municipal e situada na sede do município que apresentava o horário das aulas de

Matemática do 6º. ano no turno da tarde compatível com as aulas das disciplinas do

curso de mestrado.

Achamos importante pontuar que nós – o professor-pesquisador e o Pedro,

professor de Matemática dessa turma – trabalhávamos em conjunto por ocasião das

aulas direcionadas à pesquisa e essas aulas sempre foram as duas últimas de quarta-

feira.

Para a geração das informações para esta pesquisa, destacamos os seguintes

instrumentais:

a) diário de bordo: nele o professor-pesquisador registra as observações no

calor dos fatos ocorridos em sala de aula e que serão refletidos

posteriormente. Por exemplo, constam nesses registros: gestos, posturas,

situações, acontecimentos das aulas, diálogos entre o professor e os

alunos e entre os próprios alunos;

b) gravação do áudio: esse importante instrumento de geração das

informações que por ventura não conseguiram ser capturadas pelo

professor-pesquisador. A favor do gravador tem a sua fácil

operacionalidade, tamanho pequeno e mobilidade. Nesta pesquisa, o

gravador foi utilizado na entrevista que realizamos com o Professor

Pedro;

c) fotografias: registramos através de uma câmara fotográfica alguns

momentos em que os alunos estavam envolvidos em atividades grupais e

ficamos alertas para não fotografar o rosto dos alunos em nenhuma das

ocasiões. Além disso, registramos o ambiente físico em que o 6º ano B

assistiu aulas durante todo o ano letivo de 2014. Tais imagens servem

também para os leitores desta pesquisa constatarem os alunos durante a

realização das atividades.

A partir da análise das informações obtidas durante a pesquisa, criou-se a

possibilidade de fazermos uma avaliação dos processos de ensino e de aprendizagem

impulsionado por materiais didáticos manipuláveis (com a devida mediação do

professor), verificarmos o nível de envolvimento, de participação dos alunos no

decorrer das atividades e como a interação entre professor-alunos-material didático

contribuiu nesse processo educativo.

32

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Esta dissertação foi organizada em cinco capítulos, além das considerações

finais, das referências bibliográficas, dos apêndices e do anexo. Neste primeiro capítulo,

que recebeu o nome de “Geometria: uma introdução ao ensino de uma área notória”,

destacamos o quadro nada exitoso da Matemática escolar e apresentamos nossa

proposta de pesquisa.

No capítulo dois, que denominamos “Marcos característicos da pesquisa”

expomos o contexto no qual está inserida a escola em realizamos a pesquisa e a possível

influência do entorno da escola na educação formal. Também há um esboço do perfil da

turma através de informações dadas pela escola, pelos próprios alunos e pelas

observações feitas pelo professor-pesquisador. Ademais, uma explanação acerca da

metodologia eleita com a mais adequada para a pesquisa em foco e as indagações e

inquietações que nos levaram a realizar uma pesquisa qualitativa, na abordagem de

Estudo de Caso, sobre o ensino de Geometria através de materiais didáticos

manipuláveis.

“Alfabetização matemática e a Geometria” é o título do terceiro capítulo.

Nele, discutimos o conceito de alfabetismo matemático, relatamos sobre o surgimento e

a importância da Educação Matemática no universo escolar, colocamos em destaque o

estudo da Geometria na Educação Básica, resgatando pontos relevantes do seu ensino

no Brasil, uma discussão teórica sobre a contribuição dos objetos didáticos

manipuláveis na aquisição de conhecimentos geométricos e a exposição de algumas

abordagens presentes em trabalhos que versaram sobre as grandezas perímetro e área.

No quarto capítulo, “Modelo de van Hiele e o sociointeracionismo de

Vygotsky”, colocamos em relevo a teoria sócio-histórica de Vygotsky na qual tratamos

da questão dos processos de ensino e de aprendizagem ser também um processo

sociocultural, enfatizando o conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).

Além disso, fazemos uma discussão teórica sobre os níveis de desenvolvimento do

pensamento geométrico conforme o modelo de van Hiele.

O derradeiro capítulo contém a pormenorização das atividades realizadas e

por meio de suas análises, tecer considerações sobre a repercussão da utilização do uso

de materiais didáticos manipuláveis na construção de conceitos geométricos. Também

nesse capítulo assinalamos que em 17/set./2014 tivemos a aplicação do Teste

Diagnóstico e o preenchimento do Questionário Socioeducacional. A reaplicação desse

teste, por seu turno, ocorreu em 03/dez./2014.

33

Na sequência, expomos as atividades propostas no decorrer dos cinco dias

de encontro e uma breve exposição acerca de cada atividade desenvolvida.

O dia inicial de atividades (01/out./2014) foi dedicado à apresentação das

características dos polígonos e também foram desenvolvidas tarefas relacionadas à

determinação da área de polígonos quadriculados. Consideramos que a ideia básica

sobre a identificação de uma figura poligonal foi apreendida, qual seja: uma figura

bidimensional limitada por segmentos de reta. Quanto aos polígonos quadriculados, o

objetivo era que os alunos estabelecessem a relação entre a sua área e o número de

quadrados unitários que o compõe.

Nosso segundo encontro, ocorrido em 08/out./2014, as atividades propostas

tinham como meta fazer os alunos obterem a área de figuras poligonais por meio de

ladrilhamento. Para efeito de pavimentação de um dado polígono, os alunos tinham a

disposição dois grupos de quadrados unitários não idênticos. Com isso tínhamos o

objetivo de trabalhar a diferença existente entre o conceito de área e a noção de medida

de área.

O objetivo da atividade desenvolvida em 22/out./2014 (terceiro dia de

encontro) era que os alunos fizessem uma estimativa de quantas pessoas seria necessário

para lotar uma praça retangular com as dimensões conhecidas. Na busca dessa resposta,

os alunos trabalharam com um quadrado de papel de 1 metro quadrado em tamanho real

e desenvolveram raciocínios que levaram ao modo rápido de calcular a medida da área

de um retângulo.

Propomos, a partir de 05/nov./2014, as atividades que versavam sobre

perímetro. De início, intencionando que os alunos construíssem o conceito de perímetro,

propomos uma atividade grupal. Com esse fim, foram distribuídos para os grupos

polígonos quadriculados recortado em cartolina e distintos entre si. A última atividade

por eles desenvolvida nesse dia estava relacionada às seguintes verificações: (i)

Polígonos equivalentes (com áreas iguais) possuem, necessariamente, perímetros iguais;

(ii) Polígonos com áreas diferentes têm, obrigatoriamente, perímetros distintos.

E, por fim, as atividades desenvolvidas no dia 19/nov./2014. Em nossa

derradeira aula destinada à atividades os alunos se debruçaram sobre questões que

envolviam área e perímetro de figuras planas. Trabalhando em grupo, os alunos

deveriam determinar a medida do perímetro de uma dada figura bidimensional por

ladrilhamento. Ressaltamos que a procura por essa medida gerou discussões bem

interessantes, pois a superfície de uma das figuras não aceitava ser ladrilhada com um

34

número inteiro de quadrados unitários disponibilizados para o grupo. A última atividade

proposta, também grupal, consistia na composição de uma figura plana com as medidas

de área e perímetro especificadas.

Pontuamos que as atividades propostas aos sujeitos da pesquisa foram, em

grande medida, realizadas em grupo e desenvolvidas basicamente, por meio da

utilização de figuras bidimensionais (poligonais ou não) recortadas em papel e a

manipulação de quadrados unitários de cartolina usados na composição ou

ladrilhamento dessas figuras.

Destinamos o espaço das considerações finais para a explicitação das

conclusões advindas da investigação realizada ao longo desta pesquisa, assim como do

nosso olhar e das nossas perspectivas acerca da Geometria escolar. OK

35

2 MARCOS CARACTERÍSTICOS DA PESQUISA

Para uma melhor compreensão de como se efetivam os processos de ensino

e de aprendizagem é imprescindível em uma pesquisa de natureza qualitativa

procurarmos esboçar o panorama socioeconômico, histórico e político do local em que

está inserida a escola escolhida como campo de pesquisa. Ademais, procuramos traçar o

perfil da turma de alunos que foi investigada, indagações que fizeram emergir nosso

interesse pelo tema e expor a visão do caminho a ser trilhado na abordagem do processo

educativo em estudo.

2.1 TRAÇOS HISTÓRICOS E CONTEXTO DA ESCOLA ELEITA

A presente pesquisa foi desenvolvida com alunos do 6º. ano B da Escola

Municipal Ana Xavier Lopes de Educação Infantil e Ensino Fundamental (que

denotaremos por EMAXL5), integrante da rede pública de ensino do município de

Russas-CE.

Russas, cidade sertaneja do nordeste brasileiro, dista 163 km de Fortaleza e

pertence à microrregião do Baixo Jaguaribe. No mapa do Ceará, mostrado a seguir,

destacamos o município de Russas, facilitando assim sua localização geográfica.

Figura 1 – Localização de Russas no estado do Ceará

Fonte: www.municipios.ce.com.br

O município de Russas apresenta uma área de 1.588,10 km²,

correspondendo a 1,07% do território cearense e sua população, de acordo com o Censo

Demográfico de 2010 (IBGE) é de 69.833 habitantes (0,83% da população estadual)

_____________________________

5 A EMAXL iniciou suas atividades em fevereiro de 1988 como o nome Colégio Municipal do Planalto.

A alteração na denominação ocorreu em 1999, prestando homenagem a uma professora.

36

assim distribuídos: 64,37% residentes na zona urbana e 35,63%, na rural.

A base da economia russana é a agricultura, pecuária, indústria e comércio.

O campo da pecuária é liderado pela produção de frango para abate, contando ainda

com a criação de caprinos, bovinos e porcos. No setor agrícola, além da produção ligada

à agricultura familiar, a contribuição de maior peso vem do agronegócio representado

pelo Projeto de Irrigação Tabuleiro de Russas, localizado nos municípios de Russas,

Limoeiro do Norte e Morada Nova. Com 4.600 hectares (46 km²) de terras cultivadas,

sua produção é voltada para o mercado exportador (Regiões Sudeste e Sul e Europa). O

valor bruto de produção desse perímetro irrigado, em 2014, foi de R$ 102 milhões. Com

a existência de cerca de 60 indústrias ceramistas, Russas apresenta uma grande

produção de telhas e tijolos de argila que é escoada, principalmente, para os estados das

Regiões Norte e Nordeste do país. Aquecendo sobremaneira a oferta empregatícia,

tivemos, em 1997, a instalação em Russas de uma filial da indústria Dakota Calçados,

gerando cerca de 4.000 empregos diretos e contemplando tanto pessoas da própria

cidade como das circunvizinhas. No âmbito do comércio, verificamos estabelecimentos

comerciais que oferecem serviços e produtos que satisfazem parcialmente as demandas

de consumo dos russanos.

Russas não passou incólume à crescente violência registrada em todo o

estado do Ceará (na verdade, no Brasil e no mundo) ao longo desses últimos anos. Não

obstante uma abordagem em brevíssimas palavras, achamos primordial mencionar esse

fenômeno social. Em Russas, ocorreram 55 assassinatos em 2013 (ano anterior ao da

nossa pesquisa). Tais homicídios, grosso modo, estão associados ao tráfico ou ao

consumo de drogas ilícitas (com grande destaque para o crack). Para efeitos

comparativos, esse município apresentou, em 2013, uma média de 74,90 óbitos/100.000

habitantes. Nesse mesmo ano, a média nacional correspondeu a 26,99 óbitos/100.000

habitantes. Diante de um quadro de tamanha violência, de tão grande problema na

esfera da segurança pública, a sociedade como um todo e, obviamente, a escola, sentem

fortemente os seus reflexos.

A EMAXL está a uma distância de 3 km do centro da cidade e foi

construída no bairro periférico Alto da Bela Vista (bairro conhecido popularmente como

Planalto). Situado na sede do município e na zona oeste da cidade, o Planalto é um dos

bairros mais populosos da cidade, no qual se encontram famílias que, em sua maioria,

têm uma renda média baixa. Segundo Pontes (2009), até o final da década de 1950, o

bairro em foco tinha uma população muito reduzida e era conhecido por Tabuleiro da

37

Abissínia6 ou Tabuleiro dos Negros ou, simplesmente, “Tabuleiro”. Essa denominação

era devido seus moradores serem muitos pobres e negros.

Por encontrar-se em um local de maior altitude que o restante da cidade, o

“Tabuleiro” foi onde quase toda a população da cidade ficou abrigada por ocasião

das enchentes que aconteceram a partir de 1960 decorrentes do transbordamento do

açude Orós. Essa experiência marcante levou pessoas da cidade a comprarem terrenos e

construírem casas no “Tabuleiro”, como medida preventiva a possíveis enchentes

futuras. Com o passar do tempo, muitas famílias se estabeleceram nessas casas, fixando

residência e/ou fazendo funcionar estabelecimentos comerciais. Tudo isso implicou em

crescimento do bairro e alterações nas suas características socioeconômicas. Até

meados do decênio 1980, as pessoas que moravam nesse bairro e queriam frequentar a

escola tinham que se deslocar até o centro da cidade. Achamos relevante observar que

ainda hoje o mesmo acontece para aqueles que cursam o Ensino Médio pelo sistema

regular de ensino.

Com relação ao espaço físico, a EMAXL tem área total igual a 7.660 m2

,

com cerca de 32% de área construída. Em nossa percepção, a área livre poderia

apresentar uma maior arborização. No tocante à quantidade e à confecção dos cartazes

afixados nas paredes, não comprometiam o bem-estar visual e neles constavam, em

linhas gerais, mensagens de incentivo ao aprendizado e citações de educadores e

escritores (Paulo Freire e Monteiro Lobato, a título de exemplo). Também alguns

faziam menção à importância da reciclagem.

Funcionaram, nesse ano, 18 salas de aula, das quais 6 delas eram destinadas

à Educação Infantil (crianças de 3 a 5 anos permaneciam na escola de 7 h às 17 h). As

doze restantes, com o Ensino Fundamental. Cinco turmas do Ensino Fundamental I (1º.

ao 5º. ano), uma de cada ano escolar, tinham aulas em tempo integral (7 h às 17 h) e

uma turma de 3º. ao 9º. ano, por turno, segundo o modelo convencional.

Um destaque especial para o funcionamento, desde de junho/2008, nesse

estabelecimento de ensino do Núcleo de Apoio Pedagógico à Criança Especial (NAP)

Prof.ª Maria Marcelina da Silva. Com o objetivo de apoiar crianças portadoras de

necessidades especiais (Síndrome de Down e autismo, por exemplo), o atendimento

acontece no contraturno ao que elas frequentam a escola. Seu raio de abrangência

abarca todas as escolas municipais e estaduais e, havendo vagas ociosas, também

______________________________

6 Abissínia (atual Etiópia) é um país do nordeste do continente africano.

38

crianças especiais de escolas particulares. É o único núcleo dessa natureza no município

e conta com os seguintes profissionais: psicopedagoga, terapeuta ocupacional,

psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e com o serviço de informática educacional.

Há salas específicas de direção, secretaria, coordenação, professores, quadra

de esportes coberta, duas áreas cobertas, uma descoberta. A escola também conta com

cantina, cozinha, almoxarifados e armazenamento da merenda escolar. Fomos

informados que o auditório e a sala de leitura foram “convertidas” em salas de aula para

abrigarem quatro turmas durante 2014 e entre elas o 6º. ano B (turma onde nossa

pesquisa foi desenvolvida). Vale observar que em 03/dez/2014, quando reaplicamos o

Teste Diagnóstico, acha-se parada a construção de 4 novas salas. Com a conclusão das

mesmas, em março/2015, auditório e sala de leitura deixavam de funcionar como salas

de aula.

A partir da ótica dos órgãos oficiais, um dos indicadores mais valorizados

para identificar o patamar em que se encontra uma dada escola municipal é o Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB7), divulgado a cada dois anos e que é

calculado com base no aprendizado dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática

(Prova Brasil) e no fluxo escolar (taxa de aprovação). Na sequência, expomos na tabela

2 o IDEB da escola em foco referente aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental

nas quatro edições ocorridas.

Tabela 2 – IDEB da escola EMAXL entre

os anos de 2007 e 2013

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de www.qedu.org.br

No contexto das 22 escolas municipais que tiveram divulgados o IDEB

2013 em relação aos anos iniciais a EMAXL atingiu o 17º. melhor resultado e 87,5% de

______________________________

7 O IDEB, criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em

2007, é calculado com base nos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e nas médias

de desempenho nas avaliações do SAEB, para as unidades da federação e para o País, e da Prova Brasil,

para os municípios. Com base no IDEB, o MEC estabeleceu metas para o País e para todas as unidades da

federação, a serem alcançadas até 2021.

Ano

IDEB (EMAXL)

Anos iniciais Anos finais

2007 2,2 3,6

2009 3,5 2,9

2011 4,3 3,9

2013 4,8 4,7

39

todos os resultados (anos iniciais e finais), superaram a meta estabelecida para essa

escola. O único resultado que ficou baixo da meta foi o IDEB 2009 dos anos finais.

Como nossa pesquisa trata de Educação Matemática com a especificidade

nos processos de ensino e de aprendizagem de Geometria, acreditamos ser bastante

relevante uma informação que corrobora com o Indicador de Adequação da Formação

Docente, integrante dos Indicadores Contextuais8 da Prova Brasil. A Matemática dos

anos finais do Ensino Fundamental (do sexto ao nono anos), ao longo do ano letivo de

2014, ficou a cargo de três professores. Um deles está cursando licenciatura em

Biologia (ensinava 6º. e 7º. anos e os demais são licenciados em Física (ministrou

aulas no 6º. e 8º. anos) e Química (era docente nos 7º., 8º. e 9º. anos). Ao consultarmos

o índice acima mencionado, constatamos que em relação à etapa final do Ensino

Fundamental (também conhecido por Fundamental II) corresponde a 30,20%.

Aplicando-se o mesmo critério para os professores da turma que participou da pesquisa

(6 º. ano B), somente dois são licenciados na disciplina que lecionou. Isso corresponde a

22,22%.

Como um dos instrumentais para a obtenção de informações que ajudaram a

compor o contexto escolar pertinente à nossa investigação, levamos a efeito uma

entrevista audiogravada, na modalidade semiestruturada, com o Professor Pedro,

professor de Matemática do 6º. ano B, turma onde foi desenvolvida esta pesquisa. A

escolha pela entrevista audiogravada levou em conta o que diz Ludke e André (1986):

enquanto a gravação registra as manifestações orais, o entrevistador volta toda a sua

atenção para o entrevistado, tendo a oportunidade de observar suas demais formas de

expressão (gestos, alterações de comportamento, expressões faciais etc.). Por seu lado,

em uma entrevista semiestruturada temos um roteiro de perguntas (ver Apêndice A),

mas é caracterizada pela flexibilização das questões na tentativa de esclarecer o tema.

Pedro atua como professor há 23 anos e trabalha nas redes públicas municipal e

estadual. Sua jornada de trabalho semanal é de 60 horas-aula, assim dividida: 20 horas-

aula no ensino público municipal e 40 horas-aula na rede estadual. Desde o início de

sua carreira docente trabalhou como professor efetivo no ensino público municipal.

______________________________

8 São eles: O Indicador de Nível Socioeconômico e o Indicador de Adequação da Formação Docente

Enquanto o Indicador de Nível Socioeconômico possibilita, de modo geral, situar o público atendido pela

escola em um estrato ou nível social, por seu lado, o Indicador de Adequação da Formação Docente

analisa a formação dos docentes que lecionam nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental na escola.

Com relação ao primeiro indicador, a EMAXL compõe o Grupo 3, onde no Grupo 1 estão as escolas de

nível socioeconômico mais baixo e no Grupo 7, as de nível mais alto.

40

No ensino público estadual, trabalhou 5 anos como professor temporário. É professor

efetivo a 18 anos. Ao falar sobre sua formação universitária, o Professor Pedro

informou que fez Licenciatura Curta em Ciências, concluída em 1992, Licenciatura

Plena em Física, cujo término foi em 2007, ambas na FAFIDAM/UECE, e graduou-se

como tecnólogo em Eletromecânica, curso concluído em 2000, no Instituto Centro de

Ensino Tecnológico (CENTEC).

Em termos de disciplinas que leciona no Ensino Fundamental II, disse que

atua como professor de Matemática em turmas de 7º., 8º. e 9º. anos. Em 2014, foi sua

primeira experiência em ensinar essa disciplina para alunos do 6º. ano. Também leciona

Ciências em turmas do 9º. ano. Na rede pública estadual, ministra aulas de Matemática

e Física em todas as séries do Ensino Médio.

Ao se reportar sobre sua entrada no magistério, Pedro diz:

Quando questionamos sobre o ensino de Geometria, ficou perceptível uma

afirmação bastante segura ao falar que é o ramo da Matemática que mais gosta de

lecionar. Acrescenta que ao trabalhar com assuntos geométricos, costumeiramente lança

mão do livro didático, dos sólidos geométricos e dos instrumentos de medição e

construção (régua, compasso, transferidor) e, às vezes, mídias digitais. Na sequência,

firmou que por conta da correria “da vida” não era comum planejar aulas pautadas em

artefatos didáticos, propiciando, desse modo, aulas em que os alunos manipulassem

materiais didáticos. Sobre a importância da aquisição de conhecimento sobre perímetro

e área, Pedro ressaltou a presença desses conceitos em nosso cotidiano e para que os

alunos desenvolvam tanto o senso de medida do comprimento do contorno de uma

superfície quanto a noção espacial da área de uma superfície.

Quando perguntado sobre qual área da Matemática (Aritmética, Álgebra e

Geometria) ele achava que os alunos tinham mais dificuldade de aprendizagem,

Pedro disse que era Álgebra. Sua justificativa é que os alunos, em sua maioria,

Antes da faculdade, não tinha planos de ser professor, mas com a faculdade

de Licenciatura em Ciências, fui me preparando para o ofício de professor.

Quando terminei a Licenciatura em Ciências fiz concurso para professor de

Matemática da rede pública municipal e fiquei como 2º. colocado e, de

imediato, somente o 1º. colocado foi nomeado. Três meses depois, surgiu

uma carência de Matemática e Física em uma escola da rede estadual. O

diretor dessa escola fez contato com a Secretaria de Educação municipal e

assim foi contratado pelo município e lotado em uma escola do estado.

41

ainda não conseguem traduzir em linguagem matemática (no caso, a linguagem

algébrica) os problemas em linguagem corrente. Outra grande barreira é compreender a

solução de um problema quando ela é dada por uma expressão algébrica e não é um

resultado numérico. Em linguagem extremamente simples: é fazer as contas e encontrar

um número. Nesse quesito, concordamos que um bom caminho a ser trilhado é

estabelecer conexões da Geometria com a Aritmética e a Álgebra.

Com relação à formação inicial, com vistas ao dia-a-dia no “chão da

escola”, Pedro transparece insatisfação, preocupação e, ao mesmo tempo, consciência

do quanto precisamos avançar, enquanto profissionais da educação, para fazer frente aos

processos de ensino e de aprendizagem que, como sabemos, são bastante complexos.

Cremos que a sua fala vai ao encontro do pensamento e do discurso de um número

considerável de professores. Vejamos como ele se expressou:

O que percebemos com essa fala é que o professor Pedro carrega a certeza

que as licenciaturas – dentre outros importantes e inúmeros elementos – ainda não

correspondem à real demanda da educação escolar

No que diz respeito às razões básicas que nos levaram a escolher a EMAXL,

citamos:

(I) através de contatos feitos com algumas escolas municipais, constatamos

que somente na EMAXL, o horário de pelo menos 2 das 4 aulas semanais de

Matemática não aconteciam simultaneamente com as aulas das disciplinas que

cursávamos no mestrado, registrando que a pesquisa foi realizada entre os meses de

setembro e dezembro/2014.

(II) De caráter mais afetivo e, com certeza, de peso maior na decisão,

achamos interessante “voltar” à escola EMAXL, que na época em que lecionamos

(primeira metade dos anos 1990) chama-se Colégio Municipal do Planalto.

Por ocasião de retornarmos à escola como professor-pesquisador, tivemos

[A Licenciatura foi] muito importante para minha formação nos

conhecimentos específicos do curso. [Porém] minha formação acadêmica

deixou muito a desejar na preparação de como enfrentar muitos problemas

que nos deparamos constantemente em sala de aula, tais como: falta de

interesse dos alunos, indisciplina, ausência da família na escola, famílias

que não contribuem na educação dos filhos etc. Outra lacuna na minha

formação é a preparação para o uso de metodologias diversificadas e

motivadoras para despertar o interesse dos alunos.

42

contato com alunos que em sua maioria estão em um intervalo etário com o qual não

convivíamos em sala de aula há cerca de vinte anos, haja vista que desde 1996

lecionamos somente em turmas do Ensino Médio. Assim, interagir com alunos do 6º.

ano B e, principalmente, tê-los como sujeito de pesquisa, foi interessante porque entre

tantos outros pontos observados nessa inter-relação, constatamos, in loco – fazendo,

simultaneamente, um paralelo –, que um número expressivo de alunos da turma

pesquisada e os das turmas das quais fomos professor titular, há uma permanência de

dúvidas sobre conteúdos básicos de Matemática (operações fundamentais com números

inteiros, por exemplo). Constatamos também que os alunos, tanto do 6º. ano B quanto

os do Ensino Médio, tendem muito facilmente dispersarem sua atenção daquilo que está

sendo trabalhado no momento da aula, ressalvando que em cada etapa escolar algumas

situações surgidas no decorrer das aulas sejam de ordens distintas.

Além disso, destacamos a troca de impressões e de experiências com

professores que atuam no magistério há menos tempo e com alguns colegas docentes,

nossos contemporâneos do Colégio Municipal do Planalto. Cremos ser inegável que

todas essas interações sempre nos ajudam na busca de melhor entender o universo

escolar e, por extensão, em nossa tentativa de leitura do contexto social no qual estamos

inseridos.

Sobre nossa passagem pela EMAXL acrescentamos que aconteceu no

período de 1992 a 1994, no qual ministrei aulas de Matemática nas 6ª., 7ª. e 8ª. séries

(atuais 7º., 8º. e 9º. anos) do Ensino Fundamental e também Ciências nas 7ª. e 8ª. séries.

Em termos de formação profissional, nesse período, tínhamos concluído a Licenciatura

Curta em Ciências pela UECE/FAFIDAM. Fazendo parte dessa ligação afetiva

destacamos que, em 1993, fomos – eu (“Paulo”) e a minha colega docente “Ana” –

sujeitos da pesquisa de doutorado da Professora Maria Gilvanise de Oliveira Pontes cuja

tese foi transformada em livro (vide na referência bibliográfica: PONTES, 2009).

Assim, pelos motivos expostos, acreditamos que a eleição da EMAXL para

a realização de nossa pesquisa é uma forma de estreitarmos vínculos e nos

aperfeiçoarmos nos campos profissional e pessoal. Ademais, propicia uma ampliação do

horizonte no que tange à utilização qualificada dos materiais didáticos nos processos de

ensino e de aprendizagem.

43

2.2 UMA TURMA DO SEXTO ANO: SUJEITOS DA PESQUISA

Os alunos que participaram da pesquisa em pauta – desenvolvida entre

setembro e dezembro/2014 – eram integrantes da turma do 6º. ano B do Ensino

Fundamental do turno da tarde da EMAXL (Russas/CE). No início do ano letivo de

2014, tínhamos 39 alunos matriculados nessa turma. Segundo a Ata das Atividades

Anuais emitida pela própria escola em 31/12/2014, ao longo do ano houve 2

transferências (5,13%) e 5 desistências (12,82%). Assim, no encerramento desse ano

letivo, o 6º. ano B era uma turma que contava com 82,05% do número inicial de alunos.

Também na Ata das Atividades Anuais, consta que quatro alunos dessa

turma não foram aprovados. Considerando os 32 alunos que permaneceram no 6º. ano B

até o término do ano letivo, temos uma taxa de 12,50% de reprovação. Em nossa visão,

é muito importante registrar que essas reprovações citadas todas foram, exclusivamente,

em Matemática. As médias anuais da turma em Língua Portuguesa e Matemática foram

6,34 e 6,27, nesta ordem, onde seis é o rendimento mínimo que leva à aprovação. Entre

os alunos não aprovados para cursarem o 7º. ano (Breno, Quênia, Rivaldo e Vitória),

somente a Quênia9

não permaneceu na EMAXL.

Os rendimentos escolares em Língua Portuguesa e Matemática,

respectivamente, de Breno foram 8,0 e 5,0; de Quênia, 6,0 e 3,0; de Rivaldo, 6,0 e 5,0 e

de Vitória, 6,0 e 1,0. Em Matemática, o maior rendimento foi alcançado por Laércio

com 9,0 e em Língua Portuguesa coube a Otacílio, 8,5. Considerando todas as nove

disciplinas estudadas no sexto ano, foi a aluna Wilma que obteve a média mais alta,

8,78. Tanto em Matemática como em Língua Portuguesa o rendimento escolar dela foi

igual a 8. Divulgamos tais resultados, exitosos ou não, com o intuito de traçarmos um

paralelo com os resultados que constatamos por ocasião da aplicação e da reaplicação

do Teste Diagnóstico. Isso será concretizado no segmento deste trabalho que versa

sobre a descrição e análise das atividades.

Nesse sentido, faz-se necessário deixarmos patente que, dos 32 alunos que

concluíram o sexto ano na turma em tela, uma parcela de 27 (84,38%) deles resolveram

tanto o Teste Diagnóstico quanto sua reaplicação. Isso posto, registramos que o número

de sujeitos da pesquisa correspondeu a 27 indivíduos. Em outras palavras, os sujeitos da

nossa pesquisa são os 27 partícipes das duas edições do Teste Diagnóstico e é a essa

quantidade de alunos que, a partir de então, vamos fazer referência. Ademais, todos os

______________________________

9 Os nomes dos alunos e do professor titular citados neste trabalho são fictícios.

44

alunos citados acima estavam no grupo desses 27 alunos.

Nesse universo de 27 alunos, tínhamos 12 homens (44,44%) e 15 (55,56%)

mulheres. O intervalo etário dos alunos variava de 11 a 17 anos, com predominância de

alunos na faixa de 11 anos, os quais representavam 44,44%. De acordo com as

informações fornecidas pelos próprios educandos, 74,07% deles moravam no bairro do

Planalto, onde está sediada a escola, o que, em tese, propicia um maior comparecimento

às aulas, contato mais fácil com os responsáveis pelos alunos e oportunidades maiores

da promoção da interação comunidade-escola. Quatorze, isto é, 51,85% desses alunos

sempre estudaram nessa escola, implicando, a princípio, do conhecimento, por uma

parcela significativa de alunos e responsáveis, das normas consideradas mais adequadas

para o bom andamento das atividades escolares e, além disso, terem maior contato com

as pessoas que atuam como professores, funcionários e no núcleo gestor.

O nível de escolaridade predominante dos pais dessa turma era o Ensino

Fundamental incompleto, a saber: mães, 55,56% e pais, 44,44%. Esse dado nos levanta

preocupações pois, entre outras razões, a falta de conhecimento formal compromete

uma possível ajuda que viria dos pais na realização de tarefas escolares no âmbito

familiar. Desses alunos, 22,22%, que correspondia a seis alunos, tinham os pais

separados.

Na formação do 6º. ano B havia três alunos repetentes do sexto ano e

também 3 foram taxativos em afirmar que não gostavam de estudar e, basicamente,

tinham a mesma explicação: o que era ensinado pelos professores não lhes interessava.

Das disciplinas estudadas, a maior preferência recaiu sobre Ciências, correspondendo a

1/3 da turma.

Os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental na modalidade regular,

tinham uma carga semanal de 20 aulas (4 aulas diárias). No caso de Matemática, eram

ministradas 4 aulas por semana. As aulas de Matemática do 6º. ano B aconteciam nas 3ª.

e 4ª. aulas das segundas e quartas-feiras. As aulas no turno da tarde de estendiam das 13

h às 17 h e tinham durações diferentes: as duas primeiras eram de 50 minutos e as duas

derradeiras, 60 minutos. Entre a 3ª. e 4ª. aulas de um intervalo de 20 minutos, ou seja,

das 15h40min às 16 h. Não obstante os professores administrarem a saída dos alunos

durante as aulas, entendemos que permanecer 2h40min (duração do trio das primeiras

aulas), sem nenhuma intervalo regulamentar, neste nível de ensino, não é adequado para

ação educativa pois, no mínimo, tende a gerar um desconforto (motivado, por exemplo,

pela temperatura em nosso município que à tarde é algo em torno de 30ºC) para alunos e

45

professores. Arriscaríamos inclusive a afirmar que seria um fator complicador nos

processos de ensino e de aprendizagem.

Esse nosso olhar está ancorado nas palavras do educador Mario Sergio

Cortella, quando em sua obra Educação, escola e docência: novos tempos, novos

rumos, publicada em 2014, onde ele lança a seguinte indagação: por que uma aula dura

50 minutos? Porque é a capacidade de concentração da criança – mas isso, de acordo

com estudos formulados no começo do século XX. A pesquisa foi refeita nesta década e

o tempo médio foi reduzido a seis minutos. Isso quer dizer que uma aula deva durar seis

minutos? Não, mas ilustra a necessidade de mudança de paradigma na prática

pedagógica.

Como já citamos, o espaço físico onde o 6º. ano B (turma em que

desenvolvemos a pesquisa) assistia às aulas era o auditório (essa também era a realidade

do 6º. ano A, pela manhã). Isso era decorrente, exclusivamente, da não existência de

salas de aulas suficiente para atender à demanda de alunos. O auditório não apresentava

as condições adequadas para a prática educativa. Entre os obstáculos enfrentados

estavam a dificuldade para comunicação oral, ou seja, os professores dessa turma foram

unânimes em afirmar da baixa qualidade acústica apresentada pelo auditório. Por conta

dessa sala de aula (auditório) apresentar um espaço físico cuja área é consideravelmente

superior à das outras salas, pontuamos que, apesar de não ser corriqueiro, alguns alunos

circulavam pela sala em pleno desenrolar das aulas. Entre os alunos que participavam de

“caminhada” pela sala, alguns mostravam-se mais resistentes em sua participação nas

atividades propostas para efeito desta pesquisa.

2.3 CONCEPÇÃO METODOLÓGICA

Através de uma abordagem qualitativa, desenvolvemos este trabalho como

um Estudo de Caso com foco no ensino/aprendizagem dos conceitos de área e de

perímetro. A nossa investigação teve como universo os alunos do 6º. ano B do Ensino

Fundamental da EMAXL (Russas/CE).

Toda pesquisa qualitativa tem como centro das atenções o indivíduo, visto

em “[...] toda a sua complexidade, e na sua inserção e interação com o ambiente

sociocultural e natural.” (D’AMBROSIO, 1996, p. 103). Assim, em uma pesquisa dessa

natureza, não há como prescindir à interação entre pesquisador-pesquisado. Isso foi

verificado ao longo da investigação pela ação mediadora do professor-pesquisador no

processo de aquisição de conhecimentos geométricos.

46

Ao fazerem referência sobre Estudo de Caso, Lüdke e André (1986)

consideram-no como o método ideal de investigação quando o objeto de investigação,

apesar da existência de semelhante a ele, apresenta-se como único, exclusivo por conta

das peculiaridades que lhe são conferidas pelo contexto no qual está inserido.

Entre os pressupostos a serem observados pelos pesquisadores que fazem

uso do método Estudo de Caso, na visão de Lüdke e André (1986), enfatizamos, a

seguir, os que são mais pertinentes à pesquisa em pauta. A atenção do pesquisador deve

estar sempre em alta em relação à emergência de novos elementos. Esses sendo

relevantes, podem lhe levar à descobertas. “ [...] o conhecimento não é algo acabado,

mas uma construção que se faz e refaz constantemente” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p.

18). A interpretação de um contexto sempre é um ponto fundamental dos Estudos de

Caso. Assim, em sua investigação, se faz necessário o pesquisador ter um olhar mais

abrangente da situação estudada.

É também característica do Estudo de Caso, a exposição, por parte do

pesquisador, de sua experiência vicária em situações evidenciadas no estudo que realiza.

Em outras palavras, alicerçado em saberes adquiridos no decorrer da vida, “O

pesquisador procura relatar as suas experiências durante o estudo de modo que o leitor

ou usuário possa fazer as suas ‘generalizações naturalísticas’.” (LÜDKE e ANDRÉ,

1986, p. 19). Essa “generalização naturalística” é dependente “[...] do conhecimento

experiencial do sujeito, no momento em que este tenta associar dados encontrados no

estudo com dados que são frutos das suas experiências pessoais.” (STAKE, 1983 apud

LÜCKE e ANDRÉ, 1986, p. 19). Desse modo, a questão a ser levantada pelo leitor não

[...] essa modalidade de pesquisa deve se desenvolver em situações

naturais, podendo ser uma importante fonte de dados descritivos além de

permitir a existência de um plano aberto e flexível ao focalizar a realidade

de forma complexa e contextualizada. (PASSOS, 2010, p. 120).

[...] Assim, para compreender melhor a manifestação geral de um

problema, as ações, as percepções, os comportamentos e as interações das

pessoas devem ser relacionadas à situação específica onde ocorrem ou à

problemática determinada a que estão ligadas. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986,

p. 18-19).

47

deve ser em termos de qual situação é representada por este caso e sim o que é ou não

aplicável deste caso na nossa situação.

Outro pressuposto dos Estudos de Caso está relacionado à tentativa de

retratar por completo à realidade. Na busca dessa visão de totalidade do objeto de

estudo, o pesquisador

Sob os olhos de Bogdan e Biklen (1982 apud LÜCKE e ANDRÉ, 1986) o

conceito de pesquisa qualitativa está pautado em cinco pontos fundamentais, a saber:

a) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de

dados e o pesquisador como seu principal instrumento;

b) os dados são coletados são predominantemente descritivos;

c) a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto;

d) o “significado” que as pessoas dão as coisas e à sua vida são focos de

atenção especial pelo pesquisador;

e) a análise de dados tende a seguir um processo indutivo.

Diante disso, é do nosso entendimento que a pesquisa qualitativa ou

naturalística10

preconiza que o pesquisador deve ter contato direto com a situação

estudada, obtendo, assim, dados descritivos. Fica claro o caráter qualitativo da pesquisa,

quando é priorizado, ao passo que o estudo se desenvolve, as constatações advindas do

modo que um certo problema estudado se manifesta nas interações cotidianas e nas

atividades, coexistindo com uma preocupação de retratar a percepção dos participantes.

Norteado por tais preceitos, procuramos fundamentar o estudo em tela em

uma investigação que foi desenvolvida em sala de aula (ambiente natural da pesquisa),

com o pesquisador inserido na mesma e em contato direto com a situação a ser

investigada.

______________________________ 10

Para Bogdan e Biklen, segundo Lüdke e André (1986), todo estudo qualitativo também é naturalístico

pois os problemas são estudados no ambiente em que eles ocorrem sem qualquer manipulação intencional

do pesquisador, ou seja, acontecem naturalmente.

[...] procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa

determinada situação ou problema, focalizando-o como um todo. Esse

tipo de abordagem enfatiza a complexidade natural das situações,

evidenciando a inter-relação dos seus componentes. (LÜDKE e ANDRÉ,

1986, p. 19).

48

Por ser um objeto de estudo que se caracterizou como uma pesquisa no

campo do ensino, foi necessária a presença efetiva do pesquisador na unidade escolar,

local onde se deu a concretização do processo educativo. Conscientes que os processos

de ensino e de aprendizagem não envolvem exclusivamente as figuras do professor e do

aluno, mas é uma relação aberta que sofre influências das “[...] ocorrências do dia-a-dia

da sala de aula, as relações interpessoais e os acontecimentos dentro e fora da sala de

aula [...]” (PASSOS, 2010, p. 122), o cerne desta pesquisa foi no que aconteceu nas

situações vivenciadas em sala de aula, não obstante ao longo do trabalho terem sido

trazidos à baila discussões acerca das relações entre essas situações e o quadro

sociocultural ao qual os alunos pertencem, procurando pontuar os aspectos que nele

foram evidenciados.

De acordo com Moura (1982 apud PASSOS, 2010) o pesquisador assume

ações participativas ao inserir-se no ambiente de ensino. Nesse caso, seu papel não se

restringe ao de observador dos processos de ensino e de aprendizagem. Atuando como

alguém que interfere na efetivação do processo educativo, o pesquisador, na concepção

dessa autora, pode planejá-lo e assumir uma atitude de pertencimento à situação que

está sendo estudada. Nessa perspectiva, o pesquisador deve buscar construir dados que

sejam relevantes para a pesquisa.

Sob a ótica de Lücke e André (1986), ao por em marcha esse tipo de

pesquisa a preocupação maior deve ser a apreensão da singularidade do caso em estudo.

Em outras palavras, em uma pesquisa qualitativa o objeto de estudo é considerado

como único, um quadro peculiar, incluso em uma realidade historicamente situada.

Sintonizada com essa visão, esta pesquisa procurou descrever e analisar

algumas atividades que, de algum modo, venham auxiliar no desenvolvimento do

pensamento geométrico.

[...] Nesse sentido, sabe-se que a limitação da pesquisa em pauta não

permite que seus resultados sejam generalizados mas permanece presente a

pressuposição de que, ao final do trabalho, seja possível apresentar

esclarecimentos sobre o ensino da Geometria que contribuam para a analise

da atividade na escola fundamental e, de alguma maneira, para melhoria da

qualidade do ensino (PASSOS, 2010, p. 123).

49

3 ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA E GEOMETRIA

Na tentativa de estabelecer relações entre a apreensão de saberes

matemáticos e a Matemática escolar, fizemos um estudo recorrendo a indicadores que,

direta ou indiretamente, tratam do alfabetismo nessa área do conhecimento. À luz da

Educação Matemática, discutimos o peso representado pelo ensino de Geometria e a

utilização de artefatos didáticos como uma possibilidade real para facilitar o processo

educativo, envolvendo a Geometria. Também temos algumas perspectivas expostas em

trabalhos que trataram do processo de ensino e de aprendizagem das grandezas

perímetro e área.

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA E

CONHECIMENTO ESCOLAR

O termo analfabetismo, criado pela Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no final da década de 1950, faz referência

às pessoas que não têm condições suficientes para ler ou escrever um enunciado

simples. Este órgão também criou o termo analfabetismo funcional, que diz respeito a

uma pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não apresenta as

habilidades necessárias para promover seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Pela emergência da necessidade de outras habilidades de leitura e escrita

para a realização de uma maior gama de atividades nos diversos segmentos da vida, a

UNESCO estabeleceu que: “É considerada alfabetizada funcional a pessoa capaz de

utilizar a leitura e a escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e de

usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida.”

(INAF 2004, p. 3).

A partir dos anos 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), por recomendação da UNESCO, iniciou a divulgação dos índices de

alfabetismo funcional. O critério adotado pelo IBGE corresponde ao número de séries

escolares concluídas. Com base neste critério, a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (Pnad), divulgada em 2014 pelo IBGE, aponta que a cerca de 13 milhões de

brasileiros analfabetos funcionais (pessoas com mais de 15 anos e menos de quatro anos

completos de escolaridade).

Por entenderem que o número de anos escolares cursados integralmente por

uma pessoa é um parâmetro muito relativo para ser balizador da condição de

alfabetismo funcional pois as sociedades têm demandas de leitura e de escrita de

50

naturezas e de níveis diferentes, registramos que as organizações Instituto Paulo

Montenegro11 e a Ação Educativa12 criaram o Indicador Nacional de Alfabetismo

Funcional (INAF), pesquisa anual cuja edição pioneira aconteceu em 2001. Os

resultados do INAF fornecem “à sociedade brasileira informações atualizadas sobre as

habilidades e as práticas de leitura e cálculo da nossa população jovem e adulta.” (INAF

2004, p. 3). Este indicador oportuniza sabermos que há indivíduos com uma vida

escolar superior a quatro anos que estão inseridos na situação de analfabetos funcionais,

enquanto pessoas que nunca viveram a experiência da educação escolar encontram-se

no nível de alfabetismo funcional.

Colocamos em relevo que as cinco primeiras edições do INAF (2001 a

2005) focalizaram alternadamente habilidades de leitura/escrita (2001, 2003 e 2005) e

habilidades matemáticas (2002 e 2004). Pelo fato de em 2006 a metodologia do INAF

ter sofrido alteração, nos reportaremos ao INAF 2004 por ter o que mais recentemente

centrou sua atenção nas habilidades matemáticas envolvidas na realização de tarefas

cotidianas por parte da população brasileira.

Achamos plausível que, em um primeiro momento, algumas pessoas

vejam com estranheza a inclusão da pesquisa de habilidades matemáticas na

composição de um indicador de alfabetismo funcional, contudo sua presença é

justificada mediante a dilatação, a diversidade e o crescente aprimoramento das

demandas de leitura e de escrita a que uma pessoa deve corresponder para atingir o

patamar de alfabetismo funcional. Diante do exposto, destacamos que tanto para

interpretar alguns textos, gráficos e outras diversas fontes de informações quanto para

outras situações de nosso mundo vivencial, faz-se necessário o desenvolvimento

de algumas habilidades matemáticas e efetuar simples operações até interpretar e

solucionar problemas com grau considerável de complexidade. A maioria das ações e

reflexões que realizamos tem associação com a Matemática, sendo necessária a sua

compreensão para o entendimento de situações que enfrentamos em nosso

cotidiano, assim como uma possível ação sobre elas. “Há um razoável consenso com

relação ao fato de que ninguém pode prescindir completamente da Matemática e, sem

______________________________

11 O Instituto Paulo Montenegro é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e dissemina

propostas educacionais inovadoras que contribuem para a melhoria da qualidade da educação. 12

A Ação Educativa é uma organização não governamental fundada em 1994, com a missão de promover

os direitos educativos e da juventude, tendo em vista a justiça social, a democracia participativa e o

desenvolvimento sustentável no Brasil.

51

ela, é como se a alfabetização não se tivesse completado.” (MACHADO, 1990, p. 15).

Assim, a alfabetização matemática pode ser definida como a ação inicial referente à

leitura e à escrita no universo matemático. Em outras palavras, corresponderia a

compreender e interpretar os conteúdos basilares dessa área do conhecimento, sabendo

expressar-se por meio de sua linguagem específica. “Ser alfabetizado em matemática,

então, é entender o que se lê e escrever o que se entende a respeito das primeiras noções

de aritmética, geometria e lógica.” (DANYLUK, 1988, p.58 apud SOUZA, 2010, p. 2-

3).

Na pesquisa realizada visando determinar o INAF, foi considerado como

habilidades matemáticas

Tal abordagem nos revela o grande raio de abrangência das capacidades de

leitura, superando em muito o simples ato de identificar letras. Ademais, destaca o papel

que cabe à Educação Matemática no campo social. Neste sentido, ela deve “[...]

promover o acesso e o desenvolvimento (cada vez mais democrático e consciente) de

estratégias de leitura do mundo para as quais os conhecimentos matemáticos são

fundamentais.” (INAF 2004, p. 5).

Sem descer aos detalhes, expomos o objeto, a metodologia e os

instrumentos considerados na construção do INAF 2004. Foram entrevistadas 2.000

pessoas de 15 a 64 anos, estudantes ou não, em seu próprio domicílio. Essa amostra foi

definida por especialistas do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

(IBOPE), fundamentados em um amplo conjunto de informações – por exemplo, os

níveis socioculturais, etnia e gênero – sobre a população alvo.

Os entrevistadores desse instituto de pesquisa aplicaram questionário e

testes. O teste apresentava 36 tarefas, com distintos graus de complexidade, que

contemplavam desde habilidades de leitura e escrita de números até medidas de área,

passando por interpretações de gráficos e tabelas. O entrevistado tinha permissão para

usar lápis, papel e calculadora na realização das tarefas. O ponto-chave dos

questionários era o levantamento das condições socioculturais e econômicas dos

A capacidade de mobilizar conhecimentos associados à quantificação, à

ordenação, à orientação, e também sobre suas relações, operações e

representações, aplicados à resolução de problemas similares àqueles com

os quais a maior parte da população brasileira se depara cotidianamente.

(INAF 2004, p. 5).

52

respondentes. Também continha questões que abordavam como o entrevistado se

percebia quanto a sua desenvoltura em relação à leitura de números e cálculo.

A partir dos resultados do INAF 2004 foram estabelecidos três níveis de

alfabetismo matemático e uma situação de analfabetismo matemático. Vejamos os

percentuais obtidos através dessa pesquisa:

Tabela 3 – Distribuição da população brasileira (15 a 64 anos) na condição de

analfabetismo e nos 3 níveis de alfabetismo matemático em 2004

Fonte: INAF 2004

De acordo com os resultados do teste aplicado na pesquisa INAF 2004, 98%

da população brasileira na faixa etária de 15 a 64 anos encontram-se em algum dos

níveis de alfabetismo matemático. Segundo tal pesquisa, uma pessoa ser considerada

analfabeta matemática significa estar em uma situação de não domínio das “habilidades

matemáticas mais simples, como ler o preço de um produto, um anúncio ou anotar um

número de telefone ditado por alguém.” (INAF 2004, p.8).

Em conformidade com a classificação adotada para o INAF 2004, no

extremo oposto ao analfabetismo matemático temos o alfabetismo – nível 3. Neste

patamar há somente 23% da população jovem e adulta brasileira. Em outras palavras,

um pouco menos de 1/4 dos brasileiros de 15 a 64 anos dominam, por completo, a

resolução de um problema em que uma sequência operacional se faz necessária, têm

total desenvoltura com proporcionalidade e mostraram-se à vontade com representações

gráficas como mapas, tabelas e gráficos.

Na Tabela 4 é mostrada a correlação entre os anos de estudo e o nível de

alfabetismo, de acordo com o INAF em sua edição de 2004.

Analfabetismo 2%

Alfabetismo – nível 1 29%

Alfabetismo – nível 2 46%

Alfabetismo – nível 3 23%

53

Tabela 4 – Nível de alfabetismo versus anos de estudo da população

brasileira entre 15 e 64 anos de idade

Até 3 anos Analfabeto 9%

Nível 1 68%

Nível 2 21%

Nível 3 2%

De 4 a 7 anos Analfabeto1% 1%

Nível 1 37%

Nível 2 54%

Nível 3 8%

De 8 a 10 anos Analfabeto 0%

Nível 1 12%

Nível 2 62%

Nível 3 26%

11 anos ou mais Analfabeto 0%

Nível 1 4%

Nível 2 39%

Nível 3 57%

Fonte: INAF 2004

A pesquisa INAF 2004 reafirmou da influência da escolaridade nos níveis

de alfabetismo matemático da população de nosso país no intervalo de idade de 15 a 64

anos. Foi constatado que aproximadamente 40% dos jovens e adultos brasileiros com 4

ou mais anos de educação formal, mas com o Ensino Fundamental incompleto, ou são

analfabetos matemáticos ou estão no nível básico de alfabetismo matemático. Partindo

do princípio que as questões que constituem o teste aplicado não tenham a perspectiva

de avaliação de rendimento escolar, mas propor tarefas que as pessoas têm que realizar

no dia a dia, constata-se que os brasileiros na faixa etária considerada e com o Ensino

Fundamental completo apresentam alfabetismo funcional em matemática. Destes, cerca

de 90% encontram-se nos níveis 2 e 3. Com relação aos brasileiros de 15 a 64 anos que

têm como escolaridade mínima o ensino médio completo, quase 60% alcançam o nível

máximo de alfabetismo matemático dentro dos critérios estabelecidos pelo INAF 2004.

Conforme a pesquisa do INAF 2004, entre os brasileiros jovens e adultos,

“o cálculo mental por estimativa e a utilização da calculadora revelaram-se como os

recursos mais utilizados na resolução da maioria dos problemas da vida diária que

envolvem operações aritméticas.” (INAF 2004, p. 16). A razão de ser desse destaque se

54

deve ao fato de a “opção” preferencial pelo lápis e papel na realização de tarefas

escolares ir de encontro à escolha feita pela maioria dos entrevistados nos questionários.

Os respondentes declararam – sendo confirmado pelos resultados dos testes – que

priorizavam ‘as contas de cabeça’ e o uso da calculadora em lugar do cálculo escrito.

Corroborando com o pensamento acima, temos a fala de D’Ambrosio sobre

a necessidade de os professores superarem certos mitos que perduram na educação.

Entre tais mitos figura o perigo representado pela tecnologia e, em particular, pela

calculadora. “Os aparatos tecnológicos, principalmente as calculadoras [...], preparam

melhor o aluno para o mundo moderno, onde ele encontrará, a todo instante,

tecnologia.” (D’AMBROSIO, 2004a, p. 44).

Desse modo, os resultados do INAF 2004 apontam para a educação escolar,

entre outros tópicos, uma abordagem mais efetiva e crítica a resolução de problemas;

fazer uso da calculadora, ensinando aos alunos a utilização de seus recursos, e trabalhar

de maneira frequente e diversificada com as várias representações matemáticas.

A partir de 2007, as duas dimensões do alfabetismo – letramento

(habilidades de leitura e escrita) e numeramento (habilidades de matemática) –

passaram a ser mensuradas pela pesquisa INAF de forma integrada e simultânea, de

modo a produzir um indicador mais sintético e abrangente. Em seu levantamento mais

recente, com pesquisa ocorrida no período de dezembro/2011 a abril/2012, foram

entrevistadas, igualmente às edições anteriores, 2.000 jovens e adultos brasileiros

(pessoas na faixa etária de 15 a 64 anos).

Os itens que compõem o teste de alfabetismo envolvem a leitura e

interpretação de textos do cotidiano (bilhetes, notícias, instruções, textos narrativos,

gráficos, tabelas, mapas, anúncios, dentre outros). Além do teste, aplica-se um

questionário que aborda as características sócio–demográficas e as práticas de leitura, de

escrita e de cálculo que os sujeitos realizam em sua vida diária.

A escola, e a comunidade escolar, ainda resistem ao uso da calculadora e

valorizam pouco o cálculo oral. Embora os Parâmetros Curriculares

Nacionais e os bons livros didáticos alertem os educadores sobre a

necessidade, a urgência e as vantagens de se incorporar a calculadora às

práticas escolares, ainda imperam os temores de que “assim os alunos não

vão aprender a fazer contas, não vão aprender a pensar.” (INAF 2004, p.

17)

55

Nesta perspectiva, o INAF, desde 2007, define quatro níveis de alfabetismo:

analfabetismo, nível rudimentar, nível básico e nível pleno, resumidos no Quadro 1.

Quadro 1 – Níveis de alfabetismo definidos pelo INAF

Fonte: INAF BRASIL 2011

No intuito de traçar um paralelo entre as duas últimas edições do INAF em

que as habilidades de leitura/escrita e habilidades matemáticas foram focadas em

separado, ou seja, em 2004 e 2005, respectivamente, e a pesquisa realizada entre 2011-

2012, recorremos à tabela 5, que vem seguida de uma observação com o seguinte teor

“os resultados até 2005 são apresentados por meio de médias móveis de dois em dois

anos de modo a possibilitar a comparabilidade com as edições realizadas nos anos

seguintes.” (INAF BRASIL 2011, p. 8).

Tabela 5 – Comparativo do Indicador de alfabetismo da população

brasileira de 15 a 64 anos (2004-2005 e 2011)

Fonte: INAF BRASIL 2011

Analfabetismo

Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que

envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler

números familiares (números de telefone, preços etc.).

Nível

rudimentar

Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos

e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta), ler e escrever

números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o

pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita

métrica.

Nível

básico

As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente

alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam

informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem

números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência

simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto,

limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de

elementos, etapas ou relações.

Nível

pleno

Classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem

restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos

mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam

informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto

à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle,

envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas

de dupla entrada, mapas e gráficos.

INAF 2004-2005

INAF 2011

Analfabetismo 11% 6%

Nível Rudimentar 26% 21%

Nível Básico 38% 47%

Nível Pleno 25% 26%

56

Pelo explicitado na tabela, podemos constatar que nestas “duas” edições o

analfabetismo entre jovens e adultos brasileiros sofreu um decréscimo de 5 pontos

percentuais, representando, obviamente, um resultado satisfatório, pois um maior

número de pessoas de 15 a 64 anos já realizam tarefas simples que envolvem a leitura

de palavras e frases e conseguem ler números familiares (números de telefone, preços,

dentre outros). Com igual queda percentual verificada no nível rudimentar. Os aumentos

percentuais verificados apresentam faces distintas: o acréscimo de 9% no nível básico

registra que uma maior parcela de brasileiros, no intervalo etário considerado, ocupa a

categoria de alfabetismo funcional, isto é, apresentam uma maior desenvoltura em

leitura e escrita e seus conhecimentos matemáticos, por exemplo, contemplando a noção

de proporcionalidade.

Por seu turno, nos 6 anos que separam as duas pesquisas, temos somente

um aumento de somente 1% correspondente ao nível pleno. Isto significa que, no campo

da Matemática, um pouco além de 1/4 dos jovens e adultos brasileiros resolvem

problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais,

proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e

gráficos. Em outras palavras, apenas cerca de 25% de brasileiros de 15 a 64 anos

dominam a ideia de proporcionalidade, estão familiarizados com a determinação de área

(conceito basilar da geometria) e mostram-se seguros com os diversos modos no

tratamento de informações.

O educador matemático Ubiratan D’Ambrosio, ao refletir sobre a relevância

da projeto do INAF como critério de avaliação da qualidade do ensino de Matemática,

expõe que, vê tal pesquisa com o seguinte objetivo: “[...] avaliar o impacto social da

escolaridade. O significado dos resultados da pesquisa só pode ser discutido à luz de

uma postura em relação à educação.” (D’AMBROSIO, 2004a, p. 31). Esse autor inicia

sua análise, enfatizando que ações como o fornecimento de novas metodologias e

aprimoramento dos professores no tocante a adquirir um maior domínio de conteúdo

específico e, também, aumentar a intensidade de cobrança junto aos alunos, como

submetendo-os a exames, testes e avaliações (internas e externas), são medidas

importantes que, no entanto, não têm gerado resultados positivos substanciais.

No âmbito do ensino da Matemática, vejamos o que diz Lorenzato, outro

expoente da Educação Matemática:

57

Para que sejam originadas reflexões de maior amplitude acerca da qualidade

do sistema educacional, segundo D’Ambrosio (2004a), faz-se necessário, a utilização de

instrumentos de avaliação que forneçam resultados que permitam tirar conclusões de

natureza sociocultural.

Em suas considerações, D’Ambrosio (2004a) ressalta que nas civilizações,

sem exceção, pode-se constatar o esforço empregado, o que chamamos de educação, no

sentido tornar o mais acessível possível à população a aquisição dos elementos

fundamentais do seu sistema de conhecimento e que este “sistema de conhecimento só

se justifica quando é validado pela sua incorporação às práticas sociais.”

(D’AMBROSIO, 2004, p. 33). Em suma, podemos concluir que é através da educação

formal ou informal, que uma dada civilização difunde o seu sistema de conhecimento.

Os atuais instrumentos de avaliação, que classifico como variantes do

tradicional, pretendem dizer algo sobre o rendimento escolar e utilizam

provas, exames, questionários e similares. Mas vêm sendo erroneamente

aplicados. Os resultados da aplicação de instrumentos tradicionais poderão

dar, na melhor das hipóteses e mediante elaborados modelos de

interpretação, informações parciais, focalizadas e pouco relevantes sobre a

qualidade do sistema educacional como um todo. Os resultados de um

sistema só podem ser aquilatados através da análise do comportamento,

individual e social, que resultou da passagem pelo sistema. Uma análise do

impacto social, assim como do comportamento dos indivíduos e da

sociedade como um todo, é o que deveria ser aplicado. (D’AMBROSIO,

2004a, p. 32).

Nestas duas últimas décadas aconteceram vários cursos de formação

continuada para professores, olimpíadas, congressos nacionais e

internacionais sobre Educação Matemática, e também foram implantadas

avaliações do rendimento escolar em âmbito nacional; surgiram

publicações direcionadas a professores, propostas curriculares para a

Educação Básica, livros didáticos, promoção continuada, reserva de vagas,

ensino a distância, computador, lousa digital, videoconferência; o perfil

dos alunos modificou-se; a profissão magistério e o salário do professor

foram desvalorizados; a produção de pesquisas e a implantação de cursos

de pós-graduação em Educação Matemática aumentaram fortemente; a

duração do Ensino Fundamental passou de oito para nove anos; os cursos

de Licenciatura em Matemática multiplicaram-se. No entanto, a

Matemática continua carregada de crendices, detendo elevados índices de

reprovação escolar e rejeitando a Geometria, a filha mais bonita que tem;

os resultados de pesquisas da Educação Matemática não chegam às salas

de aula; e os currículos dos cursos de formação inicial de professores para

o Ensino Fundamental e Ensino Médio estão desfocados da realidade

escolar [...]. (LORENZATO, 2012, p. 10).

58

Um sistema de conhecimentos é produto de um panorama natural, social e

cultural. Desse modo, culturas diferentes correspondem a sistemas de conhecimento

distintos. Contudo, as culturas – cada vez com mais frequência – se encontram e ao

interagirem sofrem modificações. Tal processo recebe o nome de dinâmica cultural dos

encontros. A título de exemplo, temos “[...] o processo de aprendizagem, que resulta do

encontro da cultura dos adultos, sintetizadas nos professores, com a cultura dos jovens,

que são os alunos.” (D’AMBROSIO, 2004a, p. 34). O encontro dessas culturas é

propiciado pelos sistemas educacionais. Nesse sentido, um passo importante a ser dado

por licenciandos e professores em exercício são debates sobre temas pertinentes a uma

educação multicultural e que os utilizem como balizadores para as inovações

pedagógicas. Porém, sobre a formação inicial dos potencialmente futuros professores

brasileiros, D’Ambrosio (2004a) faz a seguinte assertiva: nos cursos de licenciatura há

uma insistência no ensino de teorias arcaicas e que são mantidas nos currículos pelo

status acadêmico associados a elas e que, na verdade, têm pouco a ver com a

problemática educacional brasileira.

Trabalhar com números, desde efetuar operações elementares até resolver

situações de maior complexidade, requer da sociedade certos instrumentos que,

conforme a categorização feita por D’Ambrosio (2004a) receberam os nomes de

instrumentos comunicativos, analíticos e tecnológicos, também denominados de

literacia, materacia e tecnoracia, nesta ordem:

a) literacia (instrumentos comunicativos) é a capacidade de processar

informação escrita, o que inclui escrita, leitura e cálculo, na vida

cotidiana;

b) materacia (instrumentos analíticos) é a capacidade de interpretar e

manejar sinais e códigos e de propor e utilizar modelos na vida

cotidiana;

c) tecnoracia (instrumentos tecnológicos) é a capacidade de usar e

combinar instrumentos, simples ou complexos, avaliando suas

possibilidades, limitações e adequação a necessidades e situações.

Os resultados da pesquisa do INAF 2004 mostram que 98% dos brasileiros

entre 15 e 64 anos dominam a Matemática necessária para o cotidiano, lidam com

números como aparecem nos preços e medidas, nos horários e nos calendários e,

mesmo, efetuam algumas operações elementares, com variados graus de dificuldade.

59

Isto significa que, com exceção daqueles que encontram na situação de analfabetismo

matemático.

Arriscaríamos dizer, tendo caráter de unanimidade, que alfabetização e

contagem não são suficientes para o cidadão de uma sociedade moderna, ou seja, apesar

do “sucesso” do sistema informal, ele se mostra insuficiente para a cidadania plena.

Acreditar que uma pessoa no nível inferior de alfabetização exerça de forma completa

sua cidadania é um equívoco. Um indivíduo que simplesmente dispõe dos instrumentos

comunicativos apresenta uma lacuna quanto ao significado daquilo que faz e este espaço

deve ser ocupado pelos instrumentos analíticos e tecnológicos. Em outras palavras, “[...]

É enganador crer que a mera alfabetização conduza ao pleno exercício da cidadania.”

(D’AMBROSIO, 2004a, p.36).

Dando continuidade a sua análise, D’Ambrosio (2004a) explicita que nos

equivocamos por completo quando, não levando em conta o atual entendimento sobre

os processos cognitivos, persistimos em uma educação escolar fundamentada no ensino

teórico, aulas expositivas e no adestramento em técnicas e habilidades. Mesmo cada

pessoa tendo sua especificidade quanto à capacidade cognitiva, existem tanto no

contexto intercultural quanto no intracultural tipos cognitivos reconhecidos. A

implicação do que foi ventilado é que as habilidades cognitivas não podem ser

avaliadas, desconsiderando o contexto cultural. Contida também nesse universo da

educação formal é a percepção sobre aprendizagem. Sob a ótica desse educador

matemático, aprendizagem é muito mais abrangente que o simples domínio de técnicas,

habilidades e, claro, vai além da memorização de algumas explicações e teorias.

“Aprendizagem é aquisição de capacidade de explicar, de apreender e compreender, e

de lidar, criticamente, com situações novas.” (D’AMBROSIO, 2004a, p. 37).

Ao tratar de currículo, o autor em foco fala que “O que há de mais moderno

em educação trata o currículo como definido a partir da classe, isto é, combinado [...]

[...] os instrumentos comunicativos fornecidos pela quantificação são

atingidos. É o que chamo de literacia. Muito provavelmente esses

instrumentos foram apreendidos fora do contexto escolar. São resultados de

vivência cotidiana e recebidos de família, companheiros, colegas. A

complexidade da sociedade moderna exige que a escola se dedique, com

igual prioridade, a fornecer aos estudantes instrumentos analíticos e

instrumentos tecnológicos, que chamo materacia e tecnocracia,

respectivamente. (D’AMBROSIO, 2004a, p. 36).

60

entre os alunos mais os professores e mais a comunidade.” (D’AMBROSIO, 2004a, p.

39). Desse modo, o currículo vai ao encontro daquilo que é desejado, do que é

necessário e possível dentro das possibilidades locais. A tríade objetivos, conteúdos e

métodos são os componentes do currículo. Por estarem integrados no processo

curricular, qualquer alteração no currículo acarreta mudanças nos seus componentes.

D’Ambrosio (2004a) vê a avaliação em educação como necessária, porém,

deve ser feita de uma forma conveniente, servindo de orientação para o educador na

condução de sua ação professoral e “[...] jamais um instrumento para reprovar ou reter

alunos na construção de seus esquemas de conhecimentos, teóricos e práticos.”

(D’AMBROSIO, 2004a, p. 42). Na condução do processo educativo, o professor deve

fazer ajustes dos objetivos, dos métodos e dos conteúdos, ou seja, o currículo posto em

prática tem caráter flexível, adequando-se à orientação dada pelo professor mediante as

avaliações realizadas.

Na visão de D’Ambrosio (2004a), a avaliação se caracteriza como um fato

pedagógico. Com a sua realização, o professor deve verificar o progresso do aluno – um

aluno progride quando mostra capacidade de realizar tarefas com grau de dificuldade

crescente – e, caso necessário, lançar mão de outros métodos, visando atingir o

progresso. Conceber a avaliação como um fato pedagógico é reconhecer que ela não

está dissociada de todo um processo de desenvolve de forma contínua e que, portanto,

não deve ser feita, usando instrumentais externos (por exemplo, testes ou provas

padronizados), alheio àquilo que o professor adotou em sua ação educativa. O autor

também destaca que, nas avaliações por teste, inclusive a do projeto INAF, não

verificam se os respondentes fizeram a aquisição da materacia e da tecnoracia que,

como já foi enfatizado, são imprescindíveis para o exercício pleno da cidadania. Em

síntese, “[...] os resultados de testes ou provas padronizadas são falsos e não dizem

sobre o rendimento do aluno.” (D’AMBROSIO, 2004a, p. 43).

Neste capítulo, até então, lançamos um olhar macroscópico sobre o

alfabetismo entre os jovens e adultos brasileiros em conformidade com os critérios

rezados pela pesquisa do INAF, tendo como foco as habilidades matemáticas e fizemos

uma abordagem de natureza ampla sobre alguns tópicos pertinentes ao conhecimento e à

educação escolar.

É do nosso entendimento, que uma visão panorâmica sobre a contribuição

da educação formal e, particularmente, da Matemática escolar na vida cotidiana dos

brasileiros pertencentes ao intervalo etário em pauta, é interessante, pois, informa,

61

mesmo que de modo parcial, até que ponto ela, verdadeiramente, implicou em uma

apreensão de saberes nas esferas da leitura e da escrita e de Matemática.

Em um estudo que tem relação direta com Educação Matemática e cujo

desiderato é contribuir para os processos de ensino e de aprendizagem de Matemática e,

em particular, o de Geometria, acreditamos ser imprescindível fazermos referência ao

Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e mais especificamente à Avaliação

Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), denominada Prova Brasil. A razão disso é

que, como todo estabelecimento da rede pública municipal de Ensino Fundamental,

a EMAXL, em Russas/CE, também foi submetida à Prova Brasil em sua edição 2013.

Colocamos entre parênteses que, apesar de afinados com a percepção sobre

os resultados das provas ou testes padronizados com relação ao rendimento do aluno,

não achamos que fazer uma análise da Prova Brasil seja incoerente dentro da nossa

proposta de trabalho porque, segundo o discurso oficial, “Ao analisar os resultados da

escola, a equipe escolar poderá [...] refletir pedagogicamente sobre tais resultados.”

(BRASIL, 2013b, p. 1). Ou seja, é a partir desses resultados incipientes que a escola,

pelo menos em teoria, projetará as ações pedagógicas que levarão os alunos a obterem

resultados cada vez mais exitosos.

Em Brasil (2013a) temos a exposição do objetivo maior da Prova Brasil,

qual seja: avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas, de forma que

cada unidade escolar receba os resultados. A intenção é produzir informações que

subsidiem políticas e ações para a melhoria da qualidade do ensino, a redução das

desigualdades e a democratização da gestão da educação pública.

Decorrente de sua abrangência, o Saeb – composto por três avaliações

externas de larga escala: Aneb, Prova Brasil e ANA – abre a possibilidade de a

Educação Básica ser analisada e discutida sob diversos prismas. Diante de sua

importância no universo escolar brasileiro – primordialmente, o Saeb se propõe a

avaliar a qualidade do ensino e da aprendizagem nas escolas brasileiras – achamos

oportuno, por meio de uma visão macroscópica, trazer à luz algumas ideias acerca do

conceito de qualidade do ensino implícito no Saeb a partir da perspectiva das matrizes

curriculares que subsidiam e direcionam a avaliação.

Bauer e Da Silva (2005) pontuam que análises buscando compreender o

processo de elaboração e efetivação do Saeb com base no contexto político e econômico

têm sua relevância garantida, contudo, por tratar-se de uma perspectiva muito

recorrente, diversos conceitos mais ou menos especificados (“neoliberalismo” e

62

“globalização da economia”, por exemplo) acabam sendo incorporados maciçamente

nos discursos, implicando em frequentes exposições de igual teor. A titulo de exemplo:

Ou ainda,

Assim, desconsiderar a ligação entre órgãos internacionais e aspectos

verificados na gestão de políticas públicas em educação em nosso país é negar uma

relação evidente. Entretanto, mesmo considerando o quanto os empréstimos do Banco

Mundial e as diretrizes por ele traçadas influenciam a educação brasileira, tendemos a

pensar que há supervalorização dessa influência e com isso a sensação adquirida é que

“[...] os gestores não passam de meros executores de propostas absolutamente prontas e

acabadas, independentemente de seus interesses políticos ou do lugar onde tais

propostas deveriam ser implementadas.” (BAUER e DA SILVA, 2005, p. 136). Tal

visão, de acordo com esses autores, tem um quê de exagero. Tal “obediência” percebida

por alguns, eventualmente será melhor entendida ser for analisada como uma

interdependência fundamentada em projetos políticos comuns.

Não obstante, por assim dizer, a indissociabilidade dos aspectos

mencionados na citação acima, voltaremos nossa atenção para o tópico Saeb e a

Esta ênfase na capacitação em serviço (e o correspondente abandono da

formação inicial) está fortemente vinculada ao Banco Mundial, a suas

recomendações de política e o seu financiamento nos países em

desenvolvimento. (TORRES, 1998, p. 176 apud BAUER e DA SILVA,

2005, p. 136).

Aliás, não seria exagero identificar, a partir de 1995, certa movimentação

da equipe do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep)

na busca de um endosso político do Banco Mundial para a reformulação do

Saeb, que se traduziria em benefício, sobretudo financeiros, proporcionados

por este órgão. (BONAMINO, 2002, p. 101 apud BAUER e DA SILVA,

2005, p. 136).

Em que pese a conjuntura política que permeia a avaliação, o olhar

intrínseco ao sistema pode revelar aspectos importantes que escapam a uma

análise que localiza o Saeb apenas como um reflexo das reformas

educacionais que foram implementadas, notadamente a partir de 1995.

Nesse sentido, dois desses aspectos chamam especial atenção: as matrizes

curriculares que norteiam essa avaliação e induzem um determinado

parâmetro de qualidade e seus eventuais impactos nos sistemas escolares

brasileiros. (BAUER e DA SILVA, 2005, p. 137).

63

aferição da qualidade do ensino. Entendemos que a ideia dominante é que a qualidade

da educação nas escolas brasileiras torna-se conhecida mediante a divulgação dos dados

do Saeb. Em outras palavras, através do Saeb temos como obter a medida da qualidade

do ensino e da aprendizagem praticados em nosso país. Embora considerando tal

princípio, indagamos: se o Saeb contempla apenas a Matemática e a Língua Portuguesa,

não seria somente nestas disciplinas que incidiria a medição do nível de aprendizagem

por ele efetuado? A partir dos questionários respondidos por diretores, professores e

alunos é possível correlacionar condições extra e intraescolares com fatores que

contribuem ou não para o aprendizado dessas disciplinas? Se o Saeb realiza a aferição

(avaliação por comparação) da qualidade de ensino, quais parâmetros de qualidade

servem de referência para a classificação de um ensino de “má qualidade”, “boa

qualidade” ou qualquer outra tipificação?

Por não ser explicitado no documento oficial que versa sobre as pretensões

do Saeb a concepção de qualidade que dá suporte a sua análise (BRASIL, 2002 apud

BAUER e DA SILVA, 2005, p. 146), esses autores recorreram, por exemplo, a própria

lógica do sistema – Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e matrizes curriculares,

por exemplo – com o intuito de vislumbrarem a ideia de qualidade que seria marco de

referência para o Saeb.

Isso exposto, emerge a questão: em quais termos devemos mensurar

“qualidade em educação”? A abordagem a seguir mostra-se interessante porque suscita

pontos relacionados à qualidade de ensino dentro do multifacetado processo

educacional.

No universo das hipóteses de qual seria o parâmetro de qualidade adotado

pelo Saeb, Bauer e Da Silva (2005) aportaram no que é anunciado nas diretrizes

“[...] como conceituar qualidade em educação? Será possível uma definição

operacional de qualidade em educação a fim de mensurá-la com

adequação? O problema precisa ser analisado e discutido com a

participação da comunidade educacional e de elementos da sociedade. A

medida da qualidade em educação, entretanto, não pode ficar restrita

apenas ao desempenho escolar. Necessita, também, verificar outras

variáveis que se associam e condicionam o rendimento escolar. O que as

crianças fazem na escola, o que os professores procuram transmitir aos seus

alunos e o que os livros didáticos apresentam refletem expectativas

culturais e educacionais da sociedade, bem como seus valores e seus

objetivos sociais e econômicos. Assim, é impositivo verificar em que

medida a interação dessas variáveis contribui para a qualidade da educação.

(VIANNA, 2000, p. 189-190 apud BAUER e DA SILVA, 2005, p. 147).

64

curriculares nacionais, cuja formulação está alicerçada na perspectiva das competências

e habilidades a serem adquiridas pelos alunos. Nesse quadro, salientamos que os termos

competência e habilidades entram como agravantes haja vista serem usados sem que

suas definições estejam perfeitamente entendidas.

Com o intuito de fazer uma possível conclusão sobre esse tema e ao mesmo

tempo contemplando um aspecto diferente da mediação da qualidade ensino,

mencionamos que o próprio Saeb, conforme Brasil (2002 apud BAUER e DA SILVA,

2005), coloca em dúvida os dados coletados ao admitir que os resultados que dizem

respeito às relações entre as práticas pedagógicas dos professores e o desempenho dos

alunos advêm de respostas fornecidas pelos docentes, não sendo descabida a hipótese

que uma parte considerável dos professores respondem o questionário seguindo o

padrão mais adequado de resposta.

Mediante a divulgação dos resultados dessa avaliação, constatamos que a

média de proficiência da EMAXL em Matemática (5º. ano) foi igual a 208,40,

correspondendo ao Nível 413 da Escala SAEB, que varia com a disciplina e o ano

escolar. Também obtivemos dados sobre o desempenho dos 64 alunos do quinto

ano que dela participaram, ressaltando que nossa atenção está voltada para as questões

que abordam tópicos geométricos e, em particular, área e perímetro. Esta coleta de

dados tem como justificativa o fato de que algo em torno de 50% dos alunos avaliados

integraram a turma do sexto ano B da citada escola, turma onde foram realizadas as

atividades relacionadas à pesquisa que foi levada a efeito no período de setembro

____________________________

13 No Nível 4 da Escala de Proficiência de Matemática do 5º. ano do Ensino Fundamental (Brasil,

2013b), o estudante provavelmente é capaz de: Espaço e forma: Reconhecer retângulos em meio a outros

quadriláteros. Reconhecer a planificação de uma pirâmide dentre um conjunto de planificações.

Grandezas e medidas: Determinar o total de uma quantia a partir da quantidade de moedas de 25 e/ou 50

centavos que a compõe, ou vice-versa. Determinar a duração de um evento cujos horários inicial e final

acontecem em minutos diferentes de uma mesma hora dada. Converter uma hora em minutos. Converter

mais de uma semana inteira em dias. Interpretar horas em relógios de ponteiros. Números e operações;

álgebra e funções: Determinar o resultado da multiplicação de números naturais por valores do sistema

monetário nacional, expressos em números de até duas ordens e posterior adição. Determinar os termos

desconhecidos em uma sequência numérica de múltiplos de cinco. Determinar a adição, com reserva, de

até três números naturais com até quatro ordens. Determinar a subtração de números naturais usando a

noção de completar. Determinar a multiplicação de um número natural de até três ordens por cinco, com

reserva. Determinar a divisão exata por números de um algarismo. Reconhecer o princípio do valor

posicional do Sistema de Numeração Decimal. Reconhecer uma fração como representação da relação

parte-todo, com o apoio de um conjunto de até cinco figuras. Associar a metade de um total ao seu

equivalente em porcentagem. Associar um número natural à sua decomposição expressa por extenso.

Localizar um número em uma reta numérica graduada onde estão expressos números naturais

consecutivos e uma subdivisão equivalente à metade do intervalo entre eles. Tratamento de informações:

Reconhecer o maior valor em uma tabela cujos dados possuem até oito ordens. Localizar um dado em

tabelas de dupla entrada.

65

a dezembro/2014.

De acordo com Brasil (2013b), os itens (questões) que compõem os testes

de Matemática versam sobre as habilidades que devem ser desenvolvidas na fase de

ensino avaliada. A matriz de referência que norteia os testes de Matemática da Prova

Brasil está estruturada sobre o foco Resolução de Problemas. Para cada ano escolar são

definidos os descritores (correspondentes às habilidades que serão avaliadas) que sua

vez são agrupados por temas que relacionam um conjunto de objetivos educacionais. Os

temas referentes ao 5º. ano são: (I) Espaço e Forma; (II) Grandezas e Medidas; (III)

Números e Operações/Álgebra e Funções e (IV) Tratamento da Informação.

No âmbito da Geometria e dentro do nosso campo de interesses, os temas

mais pertinentes são Espaço e Forma e Grandezas e Medidas. Dentre os descritores

relacionados com esses temas, colocamos em relevo os que tratam das habilidades

associadas à determinação, por meio de contagem, do perímetro e da área de figuras

poligonais representadas em malhas quadriculadas.

Na sequência, temos a distribuição percentual dos alunos do 5º. ano do

Ensino Fundamental da EMAXL por nível de proficiência no teste de Matemática,

decorrente da realização da Prova Brasil – Edição 2013 (Tabela 6).

Tabela 6 – Distribuição percentual dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental por

Nível de Proficiência em Matemática da EMAXL na Prova Brasil 2013

Fonte: BRASIL (2013b)

Em conformidade com os critérios de análise da Prova Brasil, os alunos do

quinto ano que ocuparam os níveis 1 e 5, correspondente a cerca de 30% do total de

alunos que realizaram a prova, provavelmente desenvolveram as habilidades que os

Abaixo do

nível um

Nível

um

Nível

dois

Nível

três

Nível

quatro

Nível

cinco

Nível

seis

Nível

sete

Nível

oito

Nível

nove

Nível

dez

3,14% 9,22% 16,08% 15,49% 16,08% 18,63% 12,16% 9,22% zero zero zero

Os resultados de desempenho nas áreas avaliadas são expressas em escalas

de proficiência. As escalas de Língua Portuguesa (Leitura) e de Matemática

da Prova Brasil são compostas por níveis progressivos e cumulativos. Isso

significa uma organização da menor para a maior proficiência. Ainda,

quando um percentual de alunos foi posicionado em determinado nível da

escala, pode-se pressupor que, além de terem desenvolvido as habilidades

referentes a este nível, eles provavelmente também desenvolveram as

habilidades referentes aos níveis anteriores. (BRASIL, 2013b, p. 1).

66

capacitaram determinar a área de um retângulo representado em uma malha

quadriculada. Situados no nível 7, verificou-se que apenas 10%, aproximadamente,

desses alunos foram capazes de determinar a área e o perímetro de um retângulo

desenhado em malha quadriculada. Vale pontuar que os níveis 8, 9 e 10 apresentaram

percentual nulo, ou seja, nenhum dos alunos avaliados do 5º. ano desenvolveu

habilidades para determinar a área e o perímetro de uma figura poligonal representada

em uma malha quadriculada.

Assim, ancorados nas informações geradas a partir dos resultados da Prova

Brasil 2013, identificamos, de acordo com a escala de proficiência adotada por essa

prova, em que patamar de conhecimento geométrico, no que tange à área e perímetro, se

encontrava uma parcela considerável dos alunos que foram os sujeitos da pesquisa.

Sendo o intuito desta pesquisa colaborar para a melhoria do ensino de

Matemática, enfatizando o processo educativo em Geometria, e por conseguinte,

inserido na seara da Educação Matemática, assinalamos a percepção de D’Ambrosio

(1996) sobre Matemática e educação.

Para esse autor, a Matemática, de modo semelhante às artes, às religiões, às

técnicas e às ciências em geral, corresponde a uma estratégia posta em marcha pelos

seres humanos no decorrer da história, obviamente no interior de um quadro natural e

cultural, para explicar, compreender, controlar e conviver tanto com a realidade

sensível, palpável, quanto com o imaginário. É claro que esses corpos de conhecimento

não são idênticos para os diversos grupos sociais existentes (famílias, tribos, sociedades,

civilizações) e que a construção desses corpos é fortemente influenciada pelo contexto

temporal e espacial no qual o grupo está inserido. Todo esse conjunto de saberes tem

por finalidade precípua a vontade, na verdade, a necessidade, “desses grupos culturais

de sobreviver no seu ambiente e de transcender, espacial e temporalmente, esse

ambiente.” (D’AMBROSIO, 1996, p. 8).

Assim, acreditamos ser ponto pacífico o reconhecimento que, no transcurso

da história, os indivíduos e todas as sociedades não mediram esforços “para encontrar

explicações, formas de lidar e conviver com a realidade natural e sociocultural.”

(D’AMBROSIO, 1996, p. 18). Entre os frutos decorrentes desse empenho é o que

denominamos “conhecimento”, comumente também chamado de “saber”.

Em outras palavras, o binômio sobrevivência-transcendência é a essência

do ser humano. No tocante à sobrevivência, assim como nos demais seres vivos, é uma

força inerente ao nosso mecanismo genético, todavia a vontade de transcender é uma

67

peculiaridade da nossa espécie. Como já pontuamos, nossa necessidade de sobreviver e

transcender e a aquisição de conhecimentos estão intrinsicamente ligados. Movidos por

essa vontade, o conhecimento matemático, igualmente aos outros componentes do

espectro de saberes dos seres humanos, permanece sendo edificado com a finalidade de

auxiliar-nos nesta empreitada rumo a uma melhor compreensão do mundo natural e o

que está além dele.

O conhecimento em sua totalidade é produto de um processo cumulativo

que atravessa gerações, passando pelas organizações intelectual e social e com a devida

difusão. Percebemos, então, que a ação humana não tem determinação exclusivamente

biológica, porém acontece principalmente pela incorporação das experiências e

conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração; a transmissão dessas

experiências e conhecimentos – por meio da educação e da cultura – permite que a nova

geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu e dê prosseguimento ao seu

desenvolvimento, ou seja, o processo de aquisição individual e social de conhecimento

tem como marcas sua extrema dinamicidade, sua eterna construção, jamais com ponto

final.

Com relação à educação, ela é percebida: “Como uma estratégia de estímulo

ao desenvolvimento individual e coletivo gerada por esses mesmos grupos culturais,

com a finalidade de se manterem como tal e de avançarem na satisfação de necessidades

de sobrevivência e de transcendência.” (D’AMBROSIO, 1996, p. 8).

Dito isso, acreditamos não haver dúvida que na concepção desse grande

educador matemático, Matemática e educação são estratégias contextualizadas e que

guardam ente si uma total dependência. Ele aponta que devemos procura entender o

desenvolvimento de ambas e, levando em conta o panorama da civilização nos dias

atuais, analisar as tendências presentes. Sob os olhos de D’Ambrosio (1996), entre as

diversas variáveis que influenciam a educação, em seu sentido amplo, destaca:

a) no desenrolar do processo educativo, o aluno é o indivíduo buscando

concretizar suas aspirações e encontrar respostas para as suas

inquietações;

b) sua entrada na sociedade e as expectativas da sociedade com relação

a ele;

c) para efetivar essas expectativas do aluno, as estratégias desenvolvidas

pela própria sociedade;

d) na execução dessas estratégias, mobiliar agentes e instrumentos;

68

e) o conteúdo que é parte dessa estratégia.

Na tentativa de sintetizar seu pensamento acerca da educação em geral, o

autor em pauta – advogado de uma abordagem holística da Educação Matemática – ,

nos fala que

Alicerçado na concepção de educação “como uma estratégia da sociedade

para facilitar que cada indivíduo atinja o seu potencial e para estimular cada indivíduo a

colaborar com outros em ações comuns na busca do bem comum” (D’AMBROSIO,

1996, p. 68), é do nosso entendimento que uma educação apresenta objetivo intelectual

extremamente pobre quando é norteada exclusivamente para o treinamento de

indivíduos que, quando ocorre, saiam capacitados como mão-de-obra para executar

tarefas rotineiras. Uma educação que se enquadra nesse modelo não se mostra

merecedora de tal denominação.

Coadunando-se com as ideias expostas, Mario Sergio Cortella expõe em sua

tese de doutorado A Escola e o Conhecimento, de 1997, obra cujo objetivo central é

analisar a questão do conhecimento escolar de modo a fornecer elementos para os

professores refletirem sobre o sentido social efetivo do que realizam, a seguinte visão:

Assim, nos fala Vasconcellos (1999), há um saber acumulado, fruto das

empreitadas das gerações anteriores em seus embates pela existência e tentativa de

compreensão da realidade. Com a nossa geração, nosso aluno, não é diferente:

buscamos soluções para os diversos tipos de problemas que são impostos pela realidade

[...] só faz sentido insistirmos em educação se for possível conseguir por

meio dela um desenvolvimento pleno, e desenvolvimento pleno não

significa melhores índices de alfabetização, ou melhores índices

econômicos e controle da inflação, ou qualidade total na produção, ou

quaisquer dos vários índices propostos por filósofos, políticos, economistas

e governantes. Tudo se resume em atingirmos melhor qualidade de vida e

maior dignidade da humanidade como um todo e isso se manifesta no

encontro de cada indivíduo com os outros. (D’AMBROSIO, 1996, p. 9-10)

[...] o Conhecimento é uma construção cultural (portanto, social e

histórica) e a Escola (como veículo que o transporta) tem um

comprometimento político de caráter conservador e inovador que se

expressa também no modo como esse mesmo conhecimento é

compreendido, selecionado, transmitido e recriado. (CORTELLA, 2003, p.

17)

69

e também procuramos entender o que ocorre na prática social, ou seja, tentamos

compreender a dinâmica social.

Nós, seres humanos, dispomos de uma infinidade de informações acerca da

realidade. Segundo Vasconcellos (1999), há diversas relações entre essas informações

que buscam explicar a realidade que foram elaboradas ou sistematizadas por membros

da comunidade acadêmica e científica (professores, cientistas, pesquisadores e

intelectuais). Parte desse conhecimento, aquele considerado imprescindível, deve ser

apreendido pelas gerações ulteriores para ajudar na compreensão dos pontos basilares

da realidade. A nosso ver, surge uma pergunta fundamental: como esse legado será

passado, verdadeiramente, para as novas gerações? Em outras palavras: como realizar a

transferência da cultura de modo a garantir uma efetivação assimilação?

Do ponto de vista da prática pedagógica, o professor que pretende realizar

uma ação docente que contribua para o aluno adquirir esse conhecimento basilar,

necessita de uma teoria do conhecimento que norteie o seu trabalho em sala de aula.

Sendo nosso interesse tratar da situação pedagógica sob uma abordagem dialética,

recorremos ao que diz Vasconcellos (1999): essa orientação ao professor será dada pela

teoria dialética do conhecimento. Relembramos que nessa teoria os três grandes

momentos da construção do conhecimento são a síncrese, a análise e a síntese, cujas

noções foram tratadas anteriormente.

Focando o momento específico da construção do conhecimento escolar, ou

seja, a ação educativa em sala de aula envolvendo o professor, os alunos e o que é

proposto como trabalho pedagógico (metodologia e conteúdo) – contando também com

a influência do contexto (físico e social) –, temos que em uma prática educativa

consonante com a metodologia dialética, constatamos uma interação permanente entre

professor, aluno, objeto de conhecimento e realidade. Nesse modo de “fazer” aula, cada

nova ação por parte do aluno tem forte peso na ação seguinte do professor, ou seja, a

interação professor-aluno é regida pela ação-reflexão-ação. Isso se contrapõe à

metodologia expositiva, caracterizada pela justaposição, por assim dizer, um

“revezamento”, onde aluno e professor têm seus momentos separados.

Nesta perspectiva de trabalho, o professor é obrigado a sair da postura inerte,

até mesmo reativa nos dias de hoje, e assumir sua responsabilidade social, em

função do compromisso com as novas gerações. Não se pode ficar passivo

diante delas, como se soubessem o que querem, como se fossem adultas, de

tal forma que bastaria ao professor “fazer sua parte”, que haveria a

contrapartida necessária. Ser transmissor, “dador” de aula, repetidor, “piloto”

de livro didático é fácil. Entretanto, ser professor não é fácil, não!

(VASCONCELLOS, 1999, p. 70)

70

Achamos oportuno, mesmo que de modo panorâmico, abordarmos sobre

qual o sentido social da nossa atividade docente. A resposta de tal questão varia de

acordo com “a compreensão política que tivermos da finalidade do nosso trabalho

pedagógico, isto é, da concepção sobre a relação entre Sociedade e Escola que

adotarmos.” (CORTELLA, 2003, p. 130).

Seguindo uma linha de pensamento em sintonia com a que acabamos de

ventilar, Vasconcellos (1999) registra que, a seu ver, uma das mais singulares demandas

sociais requeridas à escola é que a mesma oportunize “às novas gerações uma

compreensão científica, filosófica, estética da realidade em que vivem. Trata-se da

construção do conhecimento.” (VASCONCELLOS, 1999, p. 33, grifo do autor) e

acrescenta: a prática pedagógica está intimamente ligada à concepção que o professor (e

a escola) tem do papel que lhe cabe no quadro social em que está inserido.

A partir da concordância que “[...] o conhecimento trabalhado em sala de

aula não deve ter um fim em si mesmo. [...]” (VASCONCELLOS, 1999, p. 34),

professor e escola não devem medir esforços para que o conhecimento nela adquirido

auxilie o aluno em sua formação global. Em outras palavras, o conhecimento escolar

deve ter como fito propiciar ao aluno uma formação integral, alicerçada no trinômio

consciência–caráter–cidadania. “[...] O conhecimento tem sentido quando possibilita o

compreender, o usufruir ou o transformar a realidade.” (VASCONCELLOS, 1999,

p. 34, grifo do autor).

Sabemos que a construção do conhecimento em sala de aula passa,

inevitavelmente, pela questão dos conteúdos escolares. Para superar o que

repetidamente acontece nas escolas no tocante aos conteúdos ministrados – haja vista

que, via de regra, são trabalhados com um fim em si mesmo –, Vasconcellos (1999) fala

que eles devem fazer a mediação entre o aluno e a realidade, abrindo, assim, a

possiblidade do aluno compreendê-la. Sob nosso olhar, indagação que emerge dessa

discussão: o ponto forte de atenção do professor e dos alunos deve ser o conteúdo

programático ou a prática social? Vejamos o diz Vasconcellos (1999) sob o ponto de

vista da concepção dialética da educação:

O trabalho principal do professor não é fazer os alunos se debruçarem sobre

os livros didáticos, mas sim debruçarem-se sobre a realidade, tentando

entendê-la. A colocação da prática social como perspectiva para o processo

do conhecimento é importante para o professor ter consciência que seu papel

primeiro não é cumprir um programa, não é dar determinado rol de

conteúdos: antes de mais nada, seu papel é ajudar os alunos a

entenderem a realidade em que se encontram, tendo como mediação para

71

Pela pertinência à educação formal, registramos que na obra Escola e

Democracia, lançada em 1983, Dermeval Saviani, ao levar em conta à questão da

marginalidade da maioria das crianças e jovens latino-americanos, assinala que as

teorias educacionais podem ser agrupadas em dois blocos: teorias não-críticas e teorias

crítico-reprodutivistas. “[...] ambos os grupos explicam a questão da marginalidade a

partir de determinada maneira de entender as relações entre educação e sociedade.”

(SAVIANI, 2008, p. 4).

Compondo o bloco das teorias não-críticas temos a pedagogia tradicional, a

pedagogia nova e a pedagogia tecnicista. Segundo Saviani (2008), a marginalidade é

vista de modos distintos pelas pedagogias tradicional, nova e tecnicista. De acordo com

a pedagogia tradicional, marginalizado é quem está à margem do conhecimento, quem

permanece na ignorância. Por seu turno, a pedagogia nova afirma que marginal é quem

carrega o sentimento de não pertencimento em relação ao grupo, quem não está se sente

aceito pelo grupo e, por extensão, sente-se rejeitado pela sociedade como um todo. Na

visão da pedagogia tecnicista “[...] Marginalizado será o incompetente (no sentido

técnico da palavra), isto é, o ineficiente e improdutivo [...].” (SAVIANI, 2008, p.11).

Percebemos, então, que nessas três vertentes pedagógicas, marginal, em

linhas gerais, é aquele que apresenta conhecimento, no mínimo, insatisfatório sob os

olhos da sociedade, mas com a seguinte diferenciação: na pedagogia tradicional, um

indivíduo é considerado socialmente desajustado porque conta de sua ignorância, ou

seja, marginal é todo indivíduo que não demonstra conhecimento (segundo critérios

sociais em voga), enquanto na pedagogia nova, se o indivíduo não apresenta domínio do

conhecimento e/ou seu desempenho cognitivo é abaixo do esperado (não sendo estas

razões exclusivas), isso implica na sua inadaptação a um grupo ou até sua rejeição pela

sociedade. Por seu turno, a pedagogia tecnicista vê como marginal o ser humano que

mostra-se com uma considerável deficiência em sua capacidade produtiva.

Sob a ótica de Saviani, as teorias não-críticas (denominação decorrente do

fato dessas teorias desconhecerem as repercussões das ações da sociedade no fenômeno

educativo), entendem a educação como instrumento de equalização social. Por

isto os conteúdos. Para ajudar o aluno a entender a realidade, a se posicionar,

o professor lança mão da cultura acumulada pela humanidade; diante dos

desafios da realidade, coloca o aluno em contato com este saber. [...] O papel

do professor, portanto, é ajudar a mediação aluno-conhecimento-realidade.

(VASCONCELLOS, 1999, p. 35, grifo do autor)

72

considerarem que a autonomia da educação em relação à sociedade é de tal monta que

tem a capacidade de interferir efetivamente nela ao ponto de transformá-la, corrigindo

suas injustiças e, enfim, tornando-a melhor.

O grupo das teorias crítico-reprodutivistas é formado pela teoria do sistema

de ensino como violência simbólica, pela teoria da escola como aparelho ideológico do

Estado e pela teoria da escola dualista. “[...] as teorias do segundo grupo são críticas,

uma vez que postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus

condicionantes sociais [...].” (SAVIANI, 2008, p. 13). E são crítico-reprodutivistas

porque, não obstante perceberem com total clareza a “dependência da educação em

relação à sociedade [...].” (SAVIANI, 2008, p. 13), suas análises sempre apontam a

seguinte conclusão: o papel específico da educação reside na reprodução da sociedade

na qual está inserida.

Partindo do conceito que a sociedade é notadamente dividida em grupos ou

classes antagônicas, essas teorias veem a marginalidade como algo inerente a estrutura

social vigente, qual seja: o grupo ou a classe que detém o domínio sobre as condições de

produção da vida material leva os demais à condição de marginalizados. À educação,

concebida como dependente dessa estrutura social, cabe a função de fortalecer a

dominação e validar a marginalização. “[...] Nesse sentido, a educação, longe de ser um

instrumento de superação da marginalidade, converte-se num fator de marginalização

[...].” (SAVIANI, 2008, p. 13-14).

Ao citarmos Saviani, não vemos como deixar de falar, mesmo em

brevíssimas palavras, sobre a teoria pedagógica que ele propõe, a saber: pedagogia

histórico-crítica. O cerne dessa teoria é buscar explicar a dinâmica de natureza

contraditória na qual funciona a educação e, em particular, a escola na sociedade

capitalista. O autor em destaque também salienta que, em conformidade com a

[...] a sociedade é concebida como essencialmente harmoniosa, tendendo à

integração de seus membros. A marginalidade é, pois, um fenômeno

acidental que afeta individualmente um número maior ou menor de seus

membros, o que, no entanto só constitui um desvio, uma distorção que não

só pode como deve ser corrigida. A educação emerge aí como instrumento

de correção dessas distorções. Constitui, pois, uma força homogeneizadora

que tem por função reforçar os laços sociais, promover a coesão e garantir a

integração de todos os indivíduos no corpo social. Sua função coincide, no

limite, com a superação do fenômeno da marginalidade. (SAVIANI, 2008,

p. 4)

73

pedagogia histórico-crítica, a importância política da educação (no sentido de ações que

visem o bem comum) está na sua função de socialização do conhecimento.

Para Cortella (2003), há três concepções que, em linhas gerais, abarcam

posicionamentos assumidos em momentos distintos na educação brasileira e que, de

certa maneira, estão presentes tanto nas escolas e, não raro, em nós professores. As

visões entre a relação sociedade-escola são elencadas por esse autor com as seguintes

denominações: otimismo ingênuo, pessimismo ingênuo e otimismo crítico.

Sob a perspectiva do otimismo ingênuo, a relação entre sociedade e

educação é estabelecida considerando que a educação é a alavanca para o

desenvolvimento e o progresso. É a ideia de educação redentora, “salvadora da pátria”.

Ressalvamos que essa concepção reinou quase absoluta até meados do decênio de

197014

. Nela, o educador é um vocacionado, algo semelhante a um sacerdote, e a

escola seria suprassocial, ou seja, o professor atuaria como um profissional à serviço do

bem comum. A ação docente teria como característica marcante a neutralidade no

sentido de não tomar partido nem de grupo social ou agremiação partidária, por

exemplo. O otimismo está no fato de valorizar a escola e o ingênuo é considerar que a

escola tem a capacidade de solucionar problemas de ordem social (pobreza e miséria)

que não tiveram nela seu nascedouro.

A partir da segunda metade do decênio de 1970 um novo entendimento

emerge no cenário da relação entre escola e sociedade: pessimismo ingênuo. Seu ponto

fulcral é que a escola deve atuar à serviço das classes dominantes. Neste contexto, a

escola tem caráter dominador, reproduzindo a desigualdade social e o papel que cabe ao

_______________________________

14 De acordo com Jorge Nagle, em sua obra Educação e Sociedade na Primeira República (1889-1930),

publicada em 1974, tivemos nas décadas de 1920-30 o que ele chamou de entusiasmo pela educação e o

otimismo pedagógico. Grosso modo, o entusiasmo pela educação correspondia ao pensamento que a

simples expansão da rede escolar resolveria o problema da educação, ou melhor, da instrução. Quanto ao

otimismo pedagógico, com início após 10 anos do entusiasmo pela educação, está relacionado à ideia da

necessidade de mudar a prática pedagógica para melhorar a qualidade do ensino e que teve como marco o

Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, publicado em 1932.

A positividade do otimismo ingênuo está exatamente na sua capacidade de

dar destaque à tarefa da Escola; no entanto, ao imaginá-la como

politicamente desinteressada (incorrendo na suposição de que em uma

sociedade de desiguais, com conflitos e confrontos internos, seja possível

estar neutramente situado) resulta simplória e pode configurar o que é

chamado de inocência útil. (CORTELLA, 2003, p. 133)

74

professor é atuar como “agente da ideologia dominante, ou seja, é um mero funcionário

das elites.” (CORTELLA, 2003, p. 134). Assim, a sociedade e a escola se articulam

ancorados na ideia que o sistema educativo institucionalizado é mero aparelho

ideológico do Estado15

, estando inclinado à perpetuar o “sistema”. Sob essa concepção,

a escola não apresenta nenhuma autonomia e o trabalho do educador é orientado no

sentido de incutir nas pessoas os ditames daqueles que têm o poder econômico e

político.

O lado ingênuo dessa percepção reside no fato dela, em sua análise, fazer de

conta que não há contradições internas nas instituições sociais. Em outras palavras, a

abordagem pessimismo ingênuo confere a tais instituições um desenho unicamente

conservador; “as instituições sociais, por não serem monolíticas, são permeáveis aos

conflitos sociais e às mudanças contínuas do tecido político em confronto nas

sociedades de classes” (CORTELLA, 2003, p. 135).

É do nosso entendimento que há uma relevante aproximação entre a

percepção de Cortella (2003), quando trata das posturas educativas otimismo ingênuo e

pessimismo ingênuo, e Saviani (2008), ao falar sobre as teorias não–críticas e as crítico–

reprodutivistas. Quando a escola (ou professor, sendo mais específico) tem sua linha de

atuação de pedagógica inclinada para o otimismo ingênuo está, em grande medida,

sintonizada com as ideias preconizadas pelas teorias não-críticas pois, grosso modo,

______________________________

15 Citar Aparelho Ideológico do Estado nos remete ao filósofo francês Louis Althusser (1918-1990).

Althusser, integrante do grupo de teóricos franceses identificados como o marxismo, propôs a teoria

crítico-reprodutivista no final da década de 1960. Os crítico-reprodutivistas denunciam o caráter perverso

da escola capitalista, onde a escola da maioria reduz-se totalmente à inculcação da ideologia dominante,

enquanto as elites se apropriam do saber universal nas escolas particulares de boa qualidade,

reproduzindo, assim, as contradições inerentes e necessárias ao capitalismo. A perspectiva crítico-

reprodutivista se revela capaz de fazer a crítica do existente, mas não tem proposta de intervenção na

realidade. Limita-se apenas a constatar que é assim e não pode ser de outra forma. O Período Crítico-

Reprodutivista brasileiro foi um período de avanço da consciência ingênua dos educadores para uma

concepção mais crítica da educação escolar.

O pessimismo dessa posição vem por conta de sua compreensão do papel

unicamente discriminatório da Escola, desvalorizando sua capacidade

como ferramenta para a conquista da justiça social; no entanto, dela surgiu

uma grande contribuição que foi a de chamar a atenção para o fato de a

Educação não ser uma atividade socialmente neutra, estando envolvida no

conjunto da atividade política de uma estrutura social e, assim, o educador

é um profissional politicamente comprometido (com consciência ou não

disso) (CORTELLA, 2003, p. 135)

75

advogam a ideia que a educação formal é dotada de grande poder de deliberação sobre a

ordem social, com a capacidade de alterá-la, promovendo um equilíbrio no panorama

social, independentemente de fatores sócio-políticos e econômicos vigentes.

Reparamos também que o pessimismo ingênuo alinha-se com as teorias

crítico-reprodutivistas haja vista que eles concebem, em largas linhas, que a escola e,

por extensão, o professor, desenvolvem suas ações educativas visando a manutenção do

modelo de socialização ditado pela classe dominante.

No limiar dos anos 1980 dá-se o surgimento de uma outra percepção da

relação entre sociedade e escola, nascida com a intenção de superar os pontos inocentes

e resgatar os positivos das concepções anteriores. Na nova perspectiva, o otimismo

crítico, a possibilidade de transformação decorreria da aceitação da ideia da natureza

contraditória das instituições sociais, a escola inclusive. No caso da escola, ela tem

função conservadora e função inovadora. A conservação se manifesta pelo controle

exercido pelas elites sobre o sistema educacional e os salários, a burocracia, as

condições de trabalho etc. Porém, há possibilidade das escolas se tornarem-se espaços

de inovação a partir das contradições sociais.

Ao fazer referência ao otimismo crítico constatamos uma convergência do

pensamento de Cortella com a visão de Saviani, quando este propõe a pedagogia

histórico-crítica. Reparemos que elas sinalizam uma prática pedagógica que propriciem

a superação da total e suposta impotência da escola em provocar, dentro dos limites

impostos pela realidade, mudanças na sociedade e o poder ilusório da equalização da

sociedade via educação. Para isso, é necessário colocar “[...] nas mãos dos educadores

uma arma de luta capaz de permitir-lhes o exercício de um poder real, ainda que

limitado.” (SAVIANI, 2008, p. 25).

Por conta de nós, professor, estarmos imersos nesses dois “universos”, nossa

autonomia é relativa. Isto permite “construir coletivamente os espaços efetivos de

Para um otimismo crítico, o educador é alguém que tem um papel

político/pedagógico, ou seja, nossa atividade não é neutra e nem

absolutamente circunscrita. A educação escolar e os educadores têm, assim,

uma autonomia relativa; podemos representá-la com a inserção da Escola

no interior da Sociedade, com uma via de mão dupla e não como na

primeira concepção, com a Escola totalmente independente e nem como na

segunda, com ela dominada inteiramente. (CORTELLA, 2003, p. 136).

76

inovação na prática educativa que cada um desenvolve na sua própria instituição.”

(CORTELLA, 2003, p. 137) a partir do momento que não concordamos com a realidade

social vigente. Achamos uma observação feita por esse autor com relação à ação

professoral bem interessante. Ele coloca que o professor gostar de ensinar é primordial

para o desempenho da atividade docente, todavia não é suficiente. É imprescindível

também “qualificar-se para um exercício socialmente competente da profissão

docente.” (CORTELLA, 2003, p. 35).

Em relação à esfera da educação formal, com destaque para a função da

escola como vetor do conhecimento e o seu compromisso político para com a sociedade,

esse educador percebe que “é necessário repensar fundamentos da articulação entre

Educação, Epistemologia e Política.” (CORTELLA, 2003, p. 13). Para o autor em foco,

a sociedade começa a edificar, em passos lentos, a educação como um direito social e

democrático com implicações no fortalecimento da cidadania.

Assim, na visão do educador em tela, há necessidade da emergência de uma

escola pública de qualidade e essa qualidade passa, obrigatoriamente, pela quantidade,

pois em uma democracia plena elas sempre estão atreladas. Para que essa qualidade na

educação seja atingida, contribuindo para a elevação da qualidade social, se exige que a

formação do educador contemple tanto a formação técnica pertinente à área do

conhecimento em que atua (e a capacitação ao longo da ação professoral) quanto a

dimensão pedagógica pertinente ao know-how para ensinar.

Dentre as questões envolvidas na formação docente no âmbito da dimensão

pedagógica temos a democratização do saber. Segundo Cortella (2003), a

democratização do saber deve mostrar-se “como objetivo último da Escola Pública da

classe trabalhadora [...] com uma sólida base científica, formação crítica da cidadania e

solidariedade de classe social.” (CORTELLA, 2003, p. 15).

Esses três pólos, a resultarem também do trabalho dos educadores,

precisam comportar a garantia de que as crianças, jovens e adultos tenham

acesso ao conhecimento universal acumulado e possam dele se apropriar

(tornarem-se proprietários), sem que esse acesso seja impositivo e nem

restritivo a uma formação erudita (sem relação com sua existência social e

individual); de outro lado, essa relação do conhecimento científico com o

universo vivencial dos alunos demanda evitar o pragmatismo imediatista

que entende deverem as classes trabalhadoras freqüentar escolas apenas

para aprender trabalhar (CORTELLA, 2003, p. 15-16)

77

É do nosso entendimento que em uma escola pública, cujo primado é a

elevação da qualidade da educação, é descabida a ideia que o trabalhador vivencie um

processo de ensino e aprendizagem pautado na dimensão utilitária e redutora, ou seja,

que ele aprenda somente aquilo que ele supostamente utilizaria dentro de um pequeno

ou médio intervalo de tempo. Na verdade, a escola pública deve propiciar aos alunos

uma apreensão da própria realidade e, com isso, acarretar seu revigoramento como

cidadãos. Acreditamos que uma ação educativa nesta perspectiva contribui

enormemente no sentido de capacitar os educandos para transformar a realidade com

vistas aos interesses da maioria social.

Por conta da total pertinência à reflexão sobre conhecimento e educação

escolar, registramos a seguinte percepção acerca do ensino no panorama atual:

Desse modo, em nossa prática pedagógica, devemos permanecer atentos

para ministrar conteúdos que oportunizem o avanço do campo de conhecimento do

aluno, afinado com as demandas presentes na sociedade.

3.2 A RESPEITO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Conforme D’Ambrósio (2004), desde a Antiguidade já eram notadas

preocupações com o ensino da Matemática, todavia é a partir da Modernidade, mais

precisamente do século XVIII, como repercussão das Revoluções Industrial, Americana

e Francesa, é que se avolumam as preocupações com o ensino e a aprendizagem de

matemática pela juventude.

A Educação Matemática é identificada como uma área prioritária na

educação por ocasião da passagem do século XIX para o século XX. Oposição ao

formalismo, defesa de uma relação mais cooperativa entre aluno e professor e uma

integração entre todas as disciplinas, são as propostas de John Dewey (estadunidense,

As novas demandas sociais educativas apontam para a necessidade de um

ensino voltado para a promoção do desenvolvimento da autonomia

intelectual, criatividade e capacidade de ação, reflexão e crítica pelo aluno.

Para tanto, faz-se necessário a introdução da aprendizagem de novos

conteúdos de conhecimentos e de metodologias que, baseadas na

concepção de que o aluno deve ser o centro do processor de ensino-

aprendizagem, reconheça, identifique e considere seus conhecimentos

prévios como ponto de partida e o prepare para realizar-se como cidadão

em uma sociedade submetida a constantes mudanças.” (REGO e REGO,

2010, p. 40-41).

78

1859-1952) em seu livro Psicologia do Número, publicado em 1895. De acordo com

D’Ambrosio (2004b), nesta obra são dados os passos de abertura dessa nova área de

pesquisa na esfera do ensino da Matemática.

Coube ao eminente matemático alemão Felix Klein (1849-1925) realizar o

passo decisivo para o estabelecimento da Educação Matemática como uma disciplina. A

enorme contribuição dada por este grande estudioso é através da publicação, em 1908,

do livro seminal Matemática elementar de um ponto de vista avançado.

D’Ambrósio (2004b) prossegue afirmando que a Educação Matemática se

consolida como um segmento da Matemática e da educação, com caráter

interdisciplinar, em 1908, tendo como marco a fundação da Comissão Internacional de

Instrução Matemática, conhecida pelas siglas IMUK/ICMI, sob a liderança de Felix

Klein. Essa fundação acontece no decorrer do Congresso Internacional de Matemáticos,

realizado em Roma.

Nas décadas de 1910 e 1920 foram criados diversos espaços para os

professores dos EUA refletirem sobre suas preocupações e interesses inerentes à

educação e, em particular, para discutir propostas ligadas ao ensino de Matemática.

Dentre eles, destacamos a Associação Americana de Pesquisa Educacional (AERA), em

1916, e o Conselho Nacional de Professores de Matemática (NCTM), em 1920.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) temos um período de muita

agitação no campo da Educação Matemática. Ressaltamos a criação, em 1958, do Grupo

de Estudo da Matemática Escolar (SMSG), cuja projeção foi grandiosa; a publicação de

uma revista especializada em pesquisa, proposta feita pelo Comitê Consultivo de

Pesquisa (RAC), pertencente ao NCTM, e o advento, no limiar dos anos 1960, do

movimento conhecido por Movimento da Matemática Moderna (MMM).

O número crescente de educadores matemáticos resultou na criação de um

Grupo de Interesse Especial em Pesquisa em Educação Matemática (SIG/RME), ligado

Klein defende uma apresentação nas escolas que se atenha mais a bases

psicológicas que sistemáticas. Diz que o professor deve, por assim dizer,

ser um diplomata, levando em conta o processo psíquico do aluno, para

poder agarrar seu interesse. Afirma que o professor só terá sucesso se

apresentar as coisas de uma forma intuitivamente compreensível.

(D’AMBROSIO, 2004b, p. 72)

79

ao AERA. Atualmente, as reuniões de pesquisadores do AERA e NCTM acontecem de

forma unificada. Nelas, todas as intervenções são a convite e abarcam as diversas áreas

de pesquisa em Educação Matemática.

Lorenzato (2012) informa que foi criada, em 1988, a Sociedade Brasileira

de Educação Matemática (SBEM), que se constitui, formalmente, a área de pesquisa em

Educação Matemática. Do ponto de vista legal está filiada à área de Educação e não à

área de Matemática. Outro registro importante desse ano é a realização do primeiro

Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM). Na sequência, surgem as

Diretorias Regionais da SBEM e acontecem várias edições dos Encontros Regionais de

Educação Matemática.

Em termos quantitativos, as pesquisas que tratam de Educação Matemática

– apoiadas por órgãos governamentais das esferas federal e estadual, como Capes,

CNPq e Fapesp –, cresceram consideravelmente. “[...] entre 1970 e 1990, foram

concluídos cerca de 200 mestrados ou doutorados, mas entre 1990 e 2010 foram cerca

de 3400 produções nesses níveis em Educação Matemática. Em 2012, estamos perto de

5000” (LORENZATO, 2012, p. 15).

Em conformidade com a assertiva feita por D’Ambrósio (1993), Educação

Matemática é uma das áreas da Educação. Considerá-la como uma especialização da

Matemática, ou como o estudo e o desenvolvimento de técnicas ou modos mais

eficientes de se ensinar Matemática, ou como estudos de ensino e aprendizagem da

Matemática, ou como metodologia de seu ensino no sentido mais amplo, não incide em

nenhum equívoco, todavia, além de contemplar todos esses e incontáveis outros

desafios da Educação, apresenta certas especificidades que a tornam merecedora de um

espaço próprio.

“A Matemática é a única disciplina escolar que é ensinada

aproximadamente da mesma maneira e com o mesmo conteúdo para todas as crianças

do mundo”. (D’AMBROSIO, 1993, p. 7). Assim, a despeito das acaloradas discussões

Nestas duas últimas décadas, registramos um significativo aumento na

formação de grupos ou de associações de educadores, os quais organizaram

e realizaram inúmeros encontros simpósios, seminários, reuniões,

conferências ou fóruns; também propuseram e ministraram cursos de

formação continuada, criaram revistas e boletins por meio dos quais

divulgaram propostas, experimentos, ideias e resultados de pesquisas.

(LORENZATO, 2012, p. 15)

80

em relação ao modo como se dá o processo de ensino e de aprendizagem nas diferentes

sociedades, a Matemática foi a única disciplina que chegou, nos sistemas educacionais,

a atingir um caráter de universalidade. Ademais, as suas implicações sociais, políticas e

econômicas e sobretudo suas relações com outras áreas de conhecimento, justificam a

complexidade da Matemática assim como as reflexões, teorias e estudos, desde a

Antiguidade, sobre seu ensino.

As pesquisas no campo da Educação Matemática procuram dar conta do

universo plural da Matemática, ou seja, uma investigação na esfera da Educação

Matemática procura contribuir para a compreensão das inúmeras ligações existentes

entre a Matemática e as ações humanas. Em outras palavras, a Educação Matemática

pode ser considerada como a norteadora da aprendizagem de Matemática numa

perspectiva multidimensional, onde se articulam as dimensões humana, técnica e

político-social.

Hoje, no Brasil, há em torno de quarenta instituições de ensino superior que

oferecem cursos de pós-graduação, em nível de Mestrado e Doutorado, em Educação

Matemática, conforme informa Lorenzato (2012). Para esse educador matemático, o

enorme crescimento de grupos e multiplicação de atividades, em um país-continente

como o nosso, foi primordial para alavancar o desenvolvimento dessa área educacional.

Infelizmente, há vozes discordantes. Lorenzato (2012) relata que Elon Lages

Lima16

(matemático brasileiro e ex-diretor do Instituto de Matemática Pura e

Aplicada/IMPA – Rio de Janeiro), ao conceder uma entrevista na Europa, expressa sua

opinião acerca da Educação Matemática no Brasil. A certa altura da entrevista lhe

perguntam “Como devem ser preparados os professores de matemática?”. A resposta

emitida “deixa claro que o entrevistado fala a respeito do que não conhece”

(LORENZATO, 2012, p. 16). O que Elon Lages Lima responde é merecedor de especial

atenção dos educadores matemáticos. Na verdade, de todos os educadores brasileiros.

_____________________________

16 Essa entrevista foi concedida em 2001, ao jornalista e matemático português Professor Nuno Crato e

publicada em novembro de 2001, na revista do semanário Expresso, de Lisboa. Sua reprodução está em

LIMA, Elon Lages. Matemática e ensino. Lisboa: Gradiva, 2004. p. 141.

Penso que a educação pedagógica para futuros professores de Matemática

poderia resumir-se a um certo número de preceitos básicos, e que não

merece toda a importância e a dimensão que lhe atribuem ... um certo

número de número de pensadores e intelectuais dedicados a está área da

educação querem, sobretudo em França, Inglaterra e Estados Unidos,

81

Também colocamos em relevo outro fato marcante ligado à Educação

Matemática que em nosso entendimento faz uma abordagem equivocada quanto à

pretensão de estabelecer “um novo paradigma para o ensino da Matemática no país e

‘melhorar o padrão da licenciatura’.”(LORENZATO, 2012, p. 16). Trata-se do Projeto

Klein.

Foi divulgado através de um artigo da revista Pesquisa, da Fapesp, em julho

de 2010, informações sobre o Projeto Klein/Brasil17. Conforme Lorenzato (2012), esse

projeto, que contará a participação de matemáticos brasileiros e portugueses, visa

produzir materiais didáticos que contribuam na incorporação ao ensino dos avanços

conseguidos na Matemática nos últimos cem anos. “A meta central é tornar familiar

para os professores dos ensinos fundamental e médio as conquistas da pesquisa em

Matemática.” (MARQUES, 2010, p. 29 apud LORENZATO, 2012, p. 16).

Dentre as perguntas que são totalmente pertinentes a proposta de incluir nos currículos

tópicos matemáticos que foram fruto das pesquisas realizadas ao longo do século XX,

uma não quer permanecer calada: para melhorar a formação do professor, é disso que a

licenciatura está precisando? Assim, nos vemos novamente – acreditando que nosso

pensamento alinha-se com o da maioria dos professores –, diante de uma tentativa

de melhorar a qualidade da aprendizagem da Matemática formal ancorados em uma

crença popular falsa e que atravessa gerações: quanto mais Matemática o professor

souber, melhor será seu ensino.

Sobre a pretensa “quantidade” de Matemática que o professor precisa

carregar em sua bagagem intelectual, Lorenzato (2012) traz à baila que, na verdade, a

questão nuclear com relação a formação inicial é: para ministrar aulas nos ensinos

______________________________

17 Este projeto é derivado do Projeto Klein para o século XXI, lançado em 2008 pela International

Mathematical Union (IMU) e pela International Comission on Mathematical Instruction (ICMI) e o

citado artigo intitulado “Matemática moderna”, de Fabrício Marques, foi publicado na revista Pesquisa –

Fapesp, n. 173, p. 29-31, julho/2010.

atribuir à educação matemática a posição e a qualidade da investigação

científica. Para isso, criam teorias, fazem propostas, oferecem

doutoramentos. Tudo isto é muito prejudicial. Oferece-se a pessoas de baixo

nível intelectual a oportunidade de fazer um doutoramento ... (e elas) só

podem dar aulas de pedagogia matemática para formar pessoas que, depois,

irão fazer a mesma coisa. Chegam ao ponto de, no Brasil, editarem revistas

onde está escrito e repetido que, em educação matemática, o importante não

é a Matemática, o importante é a educação. (LIMA, 2004, p. 141 apud

LORENZATO, 2012, p. 15)

82

fundamental e médio, qual matemática o licenciando deve conhecer?

Ele nos responde, falando que

Elencamos, a seguir, algumas indagações levantadas por Lorenzato (2012)

que guardam pertinência do que foi ventilado nos parágrafos mais recentes:

a) saber Matemática é diferente de saber ensinar Matemática?

b) os objetos de estudo da Matemática e da Educação Matemática são

iguais?

c) o objetivo dos cursos de licenciatura em Matemática é formar

matemáticos ou formar professores que ensinarão Matemática a crianças

e jovens?

d) quais conteúdos matemáticos devem ser estudados nos cursos de

formação de professores?

Acreditamos que as respostas, mesmo preliminares, dessas perguntas e

inquietações

Sintonizada com essa visão, destacamos que

Podem nos mostrar que entre o educador matemático e o matemático existe

uma grande diferença: para um, a matemático é meio; para outro, é fim;

suas linguagens, seus objetivos e seus métodos de pesquisa, bem como as

exigências profissionais que incidem sobre ambos são completamente

diferentes. (LORENZATO, 2012, p. 17).

[...] Qualquer que seja a definição dada à Educação Matemática, todos a

vêem como interface de outras áreas que se integram, complementam, para

tornar o ensino-aprendizagem da Matemática viável. Podemos inferir que

na concepção de parte dos educadores matemáticos, o ofício de ensinar

Matemática difere do ofício do matemático do mesmo modo que o do

linguista difere do professor de Língua Materna, [...]. (PONTES, 2009, p.

55).

No mínimo, aquela que o professor terá que ensinar. No entanto, aqueles

que cursaram a licenciatura em matemática sabem que nela estudaram

matemática superior, com seus laplacianos, jacobianos, divergentes,

gradientes, rotacionais, cortes de Dedekind, intervalos encaixantes de

Cauchy, topologia algébrica, geometria diferencial, entre outros

conteúdos, e sempre pelo método dedutivo, repleto de demonstrações; por

isso, receberam um diploma que lhes deu direito de lecionar o conteúdo

matemático que consta dos programas de Ensino Fundamental e Médio e

que deve ser ensinado de modo intuitivo, repleto de atividades

experimentais. (LORENZATO, 2010, p. 5).

83

No universo da Matemática escolar, inclusive da Educação Básica, Pontes

(2009) registra que alguns professores exercem sua atividade docente tendo uma visão

internalista da Matemática. Em grande medida, percebem a Matemática como um

campo do conhecimento fechado em si mesmo, ou seja, como fim. Por outro lado, há

educadores, que em sua ação professoral, trabalham na perspectiva externalista. Neste

caso, o conhecimento matemático adquirido é um dos instrumentos usados para a leitura

do mundo vivencial.

Na pretensão de elencar as “frentes de luta” da Educação Matemática,

vejamos o que nos diz a seguinte exposição:

A despeito das dificuldades e condições adversas do meio escolar, palco

onde nós, professores, atuamos profissionalmente,

A obra escrita por essa educadora argentina – cujo fragmento reproduzimos

acima – é apontada pelo professor Ernesto Rosa Neto como fundamental para os

professores em formação e também para os professores que desejam construir um novo

sentido para o ensino formal da Matemática.

Os desafios da Educação Matemática são inúmeros e abrangentes,

perpassando direta ou indiretamente por diferentes áreas ou temas, tais como:

matemática e educação, educação infantil, formação continuada, recurso

didático, programa, ensino, crendice, livro didático, proposta curricular,

aprendizagem, licenciatura, ensino fundamental, avaliação, ensino médio,

pesquisa, divulgação de pesquisa, história da matemática, metodologia de

ensino, laboratório de ensino, história do ensino da matemática, entre outros.

Este quadro indica que, para melhorar a qualidade da Educação Matemática,

faz-se necessária a soma de esforços dos profissionais com ela envolvidos,

cada um com sua parcela de responsabilidade e fazendo o melhor que pode

(LORENZATO, 2012, p. 31).

[...] há um conhecimento acumulado que nos permite definir algumas

condições que abrem a possibilidade de pensar em jogar outro jogo dentro

da escola. São experiências em pequena escala, criadas e sustentadas pelo

trabalho coletivo de grupos de docentes que têm de acreditar no que

fazem. Essas condições, geradas por algumas experiências, não são

externas aos sujeitos que as produzem, nem estão completamente

moldadas pela situação social e cultural dos seus protagonistas. Elas

resultam de uma intenção (que inclui uma vontade, mas a excede

amplamente). Falar dessas condições com quem está se preparando para

ser professor nos dá otimismo. Porque desse modo se estabelece uma

discussão sobre o sentido do conhecimento na escola, do conhecimento

matemático, no nosso caso (SADOVSKY, 2007, p.11-12).

84

Quando Sadovsky (2007) fala em discutir o sentido da Matemática escolar,

entendemos que ela parte de um paralelo que é feito com aquele que tinha a Educação

Básica (em particular, os últimos anos do ensino fundamental e o ensino médio),

fundamentado, em linhas gerais, na transmissão de mecanismos isolados (técnicas,

“macetes” etc.) que poderiam ser úteis no momento em que o aluno se deparasse com

“questões decisivas, sérias” (por exemplo, por ocasião de um concurso seletivo). Nos

dias que atravessamos isso não mais serve de norteamento para educandos e

professores. “[...] O que era antes – ao menos no caso da Matemática – já não mais

satisfaz, não gratifica e não seduz nem os docentes, nem os alunos.” (SADOVSKY,

2007, p. 12). Disso emerge a necessidade de todos que participam do processo

educativo refletirem sobre os pontos basilares do trabalho de ensinar Matemática na

atualidade.

Constatando que, via de regra, há uma distância considerável entre as

expectativas de muitas pessoas – em especial, de profissionais da educação – quanto à

valiosa função da escola de possibilitar o acesso do alunado ao conhecimento

sistematizado e as experiências educativas vivenciadas, essa autora registra que “[...]

Repensar a escola é, ainda, um projeto de docentes e, essencialmente didático.”

(SADOVSKY, 2007, p. 13). Tal assertiva, segundo ela, não implica em eximir o Estado

de tomar decisões políticas – em caráter de urgência – geradoras de melhorias na

educação formal e, muito menos, desconsiderar o contexto social e político no qual a

escola está inserida. Trata-se de perceber que instituir um sentido para o trabalho

docente, em qualquer disciplina, está ligado a fomentar uma prática escolar alicerçada

no trabalho intelectual de alunos e professores, visando instituir uma modalidade de

trabalho mais satisfatório e prazeroso de trabalho para todos os partícipes do processo

de ensino e aprendizagem.

3.3 O ENSINO DE MATEMÁTICA: GEOMETRIA

Não sendo nossa pretensão analisar com profundidade a contribuição que o

ensino de Geometria pode dar à formação do aluno – dependo, obviamente, do modo

que é trabalhada –, e sim fazer um estudo, em grandes linhas, do desenvolvimento do

ensino da Matemática e, em particular, o da Geometria, levando em conta as mudanças

que efetivaram na sociedade e na educação nos séculos XIX e XX.

Ao nos debruçarmos sobre a história da Matemática no derradeiro século

da Idade Moderna, evidenciamos que tanto para o desenvolvimento da Matemática

85

quanto para o seu ensino é de extrema importância a criação, na segunda metade do

século XVIII, das escolas e academias militares e a fundação da Escola Politécnica de

Paris. Nesta escola tanto a pesquisa quanto o ensino são enfatizados e a ela estão ligados

vários dos grandes matemáticos franceses. É o caso de Gaspard Monge e Jean-Victor

Poncelet.

Em decorrência da Revolução Industrial são estabelecidas excelentes

condições para o desenvolvimento da Matemática na parte continental europeia, sendo

de suma importância sabermos que esta revolução teve como valiosos antecedentes a

Revolução Francesa e o período napoleônico. É na França e na Alemanha – países onde

a ruptura com o Antigo Regime e a preparação para a nova estrutura capitalista foi mais

intensa – que são constatados os maiores progressos no âmbito da Matemática.

De acordo com Pavanello (1989), neste período de ebulição cresce o

interesse pelos conhecimentos científicos e tecnológicos. Isto acarreta críticas e

discussões acerca da reformulação e modernização das instituições de ensino superior,

com destaque nos planos de estudos das várias vertentes da Matemática. Contudo, nas

escolas preparatórias, frequentadas pela elite, o ensino de Matemática goza de

pouquíssimo prestígio, muitas vezes nem mesmo sendo oferecido, restando aos

interessados em estudos matemáticos recorrerem, via de regra, à aulas particulares.

O ensino de Matemática nessas escolas é introduzido somente no início do

século XIX. Segundo Pavanello (1989), igualmente as todas as disciplinas escolares, a

Geometria é trabalhada em uma perspectiva inteiramente abstrata, sendo ensinada com

base nos textos de Euclides.

No que concerne à classe proletária – gerada pela ascensão do modo de

produção capitalista que efetivou a substituição dos ofícios pela implantação do sistema

fabril –, até o final do século XIX somente tinha acesso, grosso modo, a escola

elementar. Nela, em termos de Matemática, eram ensinados somente os processos

aritméticos (aprendizado das quatro operações fundamentais).

A dualidade do ensino proposto às elites e à massa e esta dualidade

não consiste somente na implantação de tipos diferentes de escolas

para atender as diferentes classes sociais; ela se expressa também

no objetivo com que são ministradas as várias disciplinas em cada

tipo de escola – o que se revela bastante significativo do ponto de

vista do ensino de geometria (PAVANELLO, 1989, p. 87).

86

Em relação ao estudo de Geometria, o que é observado: nas escolas para a

elite é dado ênfase aos processos dedutivos, oportunizando o desenvolvimento do

raciocínio lógico. Já nas escolas para as classes mais desfavorecidas, os princípios

geométricos são vinculados às questões práticas ligadas ao trabalho. Como já

mencionamos, este quadro não sofre nenhuma alteração substancial durante todo o

século XIX. Mas, motivada pelo desenvolvimento da indústria, emerge uma demanda

por uma melhoria na educação técnico-científica “o que implica numa maior ênfase em

relação ao ensino de Matemática, dado que esta, sob a então crescente influência do

positivismo, é vista cada vez mais como uma ferramenta para as outras ciências.”

(PAVANELLO, 1989, p. 88).

Próximo ao final do século XIX, temos o surgimento de tendências

pedagógicas que lançam críticas à escola e à educação tradicionais. Tais tendências

recebem a denominação de Escola Nova. Os escolanovistas (ou renovadores) lançam a

proposta de uma educação que, por exemplo, considere a evolução natural da criança e

estimule o desenvolvimento do espírito dos alunos, dentre outros preceitos.

A pedagogia da Escola Nova tem como cerne “[...] o conhecimento da

psicologia infantil e da psicologia da idade evolutiva, tanto da criança individual como

da infância e da adolescência em geral, como idade que tem em si suas leis e sua razão

de ser” (MANACORDA, 2006, p. 305).

Apesar das ideias da “educação nova” tenha dado relevo a importância da

mudança nas metodologias aplicadas ao ensino, provocou pequena alteração no que

tange ao ensino de Matemática e, em particular, ao da Geometria.

O período de escolarização obrigatória tem sua duração aumentada, a partir

do século XX, nos países em que os avanços tecnológicos demandam uma melhor

preparação de crianças e jovens para sua futura inserção no mercado de trabalho.

Notadamente, posteriormente à Segunda Guerra Mundial em uma grande parcela de

países o ensino secundário gratuito já é uma realidade, emergindo daí a necessidade de

expansão do ensino superior.

Questionamentos acerca do ensino de Matemática são verificados ao longo

das últimas décadas, todavia no início dos anos 1950 às críticas ao ensino de

Matemática tornam-se mais contundentes.

87

Muitos grupos estadunidenses – cabendo o pioneirismo à Comissão de

Matemática Escolar da Universidade de Illinois, grupo formado em 1952 – dedicaram-

se no transcurso dos anos 1950 à criação de novos currículos de matemática (tanto para

escola secundária quanto para escola elementar).

Um ponto basilar da reforma curricular é a substituição de conteúdos

tradicionais (desenvolvidos antes do século XVIII) por tópicos pertencentes aos novos

campos da Matemática (Álgebra Abstrata e Topologia, por exemplo). “A ênfase no

novo (conteúdo e abordagem) faz com o movimento fique conhecido como ‘matemática

moderna’.” (PAVANELLO, 1989, p. 94).

O Movimento da Matemática Moderna (MMM) não se restringe aos EUA.

De acordo com um relato de Kline (1976), durante um encontro internacional na França,

em 1959, a recomendação foi que os tópicos tradicionais da escola secundária fossem

abandonados, inclusive a Geometria, e que os novos tópicos devem ser ensinados em

uma nova linguagem: a da teoria dos conjuntos.

Concordava-se geralmente no princípio da década de 1950 e mesmo antes

dessa data que o ensino de matemática malograra. As notas dos estudantes

em matemática eram muito mais baixas que em outras matérias. A aversão e

até mesmo o pavor do estudante pela matemática eram generalizadas.

Adultos instruídos quase nada retinham da matéria que lhes fora ensinada

(...). De fato, essas pessoas não hesitavam dizer que nada obtiveram de seus

cursos de matemática. (KLINE, 1976, p. 32).

No outono de 1957, os russos lançaram seu primeiro Sputnik. Este

acontecimento convenceu o governo norte-americano e o país de que

deviam estar atrás dos russos em matemática e ciências, e teve o efeito de

afrouxar os cordéis das bolsas das agências governamentais e funções.

Talvez seja coincidência, mas nessa ocasião muitos outros grupos decidiram

entrar no negócio de criar um novo currículo. (KLEIN, 1976, p. 33).

Quanto à geometria, seu estudo é reduzido justamente no momento em que

a escola secundária se democratiza [décadas de 1950-1960] e privilegia-se,

em seu lugar, a álgebra e a aritmética. Procura-se justificar essa nova

orientação do ensino, como o fazem os autores de um manual de ensino

(francês) “não somente pelo campo de aplicação sempre mais vasto da

aritmética à física, à química, à biologia, mas sobretudo pelo valor cultural

do estudo do número em si mesmo”. (NOT, 1981, p. 305-306 apud

PAVANELLO, 1989, p. 95).

88

Diante do tom enfático da expressão “estudo do número por si mesmo”,

achamos totalmente pertinente nos reportamos o registro feito por Pontes (2009) ao

destacar que ao longo da história da Matemática, ela tem sido, em linhas gerais,

classificada em Matemática Pura e Aplicada, porém ao revisitar as tendências de ensino

da Matemática, em congressos, conferências e comissões internacionais, no período de

1966 a 1984, D’Ambrosio (2009) promoveu uma reclassificação. Segundo esse autor,

há dois enfoques contemporâneos da Matemática: internalista e externalista.

A visão internalista assemelha-se à Matemática Pura. Nessa abordagem, o

âmbito considerado é o da própria Matemática, ou seja, não recorre à reflexão sobre

fatos do cotidiano, revelando-se “[...] desligada da vida, das coisas que nos rodeiam, das

coisas que os homens fazem.” (CARVALHO, 1988, p. 17 apud PONTES, 2003, p. 56).

Em posição oposta temos a visão externalista. Nela, a Matemática é usada como meio,

não visando um fim em si mesma, e sim oportunizando o estabelecimento de vínculos

com o mundo tangível. “[...] podendo-se dizer que é uma Matemática a serviço da

compreensão do mundo.” (PONTES, 2009, p. 59).

Retomando ao MMM, argumentava-se que pelo enfoque tradicional, os

problemas desse ensino estavam ligados “ao conhecimento do professor, aos métodos

utilizados, ou ainda às dificuldades de se estabelecer uma ponte entre a Geometria

prática preconizada para a escola elementar e a abordagem axiomática introduzida na

secundária.” (PAVANELLO, 1989, p. 95). Constata-se que os problemas como o ensino

de Geometria aumentavam quando ela era trabalhada segundo a abordagem sugerida

pelo MMM (transformações algébricas e teoria dos conjuntos). Reconhecidamente, até

pelos próprios defensores da Matemática Moderna, que os tópicos abordados não eram

dominados pela esmagadora maioria dos professores em ação docente. Tudo isto teve

uma implicação bastante nefasta: a Geometria, via de regra, não seria ensinada sob

nenhum enfoque nas décadas seguintes.

Sob o olhar de Pavanello (1989), enfatizar a Álgebra, tendência

predominante no MMM, em detrimento da Geometria fez emergir um questão de

caráter essencialmente político.

Se o trabalho, na álgebra, pode conduzir, de fato, à execução de operações

mecanicamente – dado que as transformações algébricas são determinadas

unicamente por um sistema de leis formais que dizem o que é ou não

autorizado –, enquanto o realizado na geometria pode conduzir à análise de

fatos e de relações, estabelecendo ligações entre eles e deduzindo, a partir

89

Para a indagação acima, com certeza, não é do interesse do aluno pela

seguinte razão: se o ensino de Geometria não lhe é ofertado, então não é dada a ele a

possibilidade de desenvolver outros processos de pensamento. Assim, a questão de

ensinar-se ou não Geometria não deve ser visto somente como de cunho pedagógico,

mas também como um ato político, pois “está relacionada com a possibilidade de

proporcionar, ou não, iguais oportunidades – e condições – de acesso a esse ramo do

conhecimento.” (PAVANELLO, 1989, p. 98).

Os por quês determinantes do direcionamento das pesquisas em um ramo

qualquer do conhecimento (incluindo, a Matemática e a educação) geralmente não estão

atrelados às demandas do próprio desenvolvimento deste campo de estudo. As

instituições científicas não dependem somente, como ressalta Carvalho (1989 apud

PAVANELLO, 1989), da “boa vontade” dos elementos que as integram e são

extremamente dependentes das forças econômicas, sociais e políticas que as controlam e

financiam. Assim, são as fontes de financiamento que na maioria dos casos norteiam as

pesquisas. Desse modo, o trinômio citado anteriormente, expansão da escola secundária

– ensino quase inexistente de Geometria – com grande destaque para a Álgebra, é

melhor compreendido. Uma constatação importante é que nas escolas ou cursos que

atendem as elites, a Geometria sempre foi ensinada, através de uma abordagem

tradicional ou não.

Contudo, é perceptível que o número de trabalhos acadêmicos ligados ao

ensino de Geometria está em alta. Uma resposta que consideramos plausível está

associada ao progressivo crescimento do ensino superior. Mediante esse contexto, o

Ensino Médio não corresponde mais a última etapa escolar na vida de muitas pessoas,

adquirindo o status de escola “preparatória”. Entendemos que o ensino de Geometria

pode contribuir fortemente nesta empreitada enfrentada por todos que militam na escola

pública.

Nosso próximo passo é analisar a evolução do ensino da Geometria em

nosso país tendo como pano de fundo o seu desenvolvimento nos âmbitos político,

social e econômico no fluxo do século XX.

daí, novos fatos e novas relações, a pergunta que se apresenta é: a quem

interessa um indivíduo acostumado a operar sem questionamento sobre

regras pré-estabelecidas, a quem basta saber que se pode fazer isto e não

aquilo, sem questionar o que faz? (NOT, 1981, p. 312 apud PAVANELLO,

1989, p. 97-98).

90

3.4 O CASO DA GEOMETRIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA NO BRASIL

Nossa análise incidirá sobre o ensino de Matemática e, particularmente, o de

Geometria nas escolas brasileiras e a relação dele com o processo de industrialização

desenvolvido no Brasil.

Brasil do início do século XX: na escola primária, que contemplava um

baixo percentual da população, o conteúdo trabalhado de Matemática estava voltado

para a aprendizagem das técnicas operatórias e o estudo de Geometria tinha um caráter

também pragmático. Quanto ao nível secundário, a escola de referência era o Colégio

Pedro II (Rio de Janeiro). Ele e alguns estabelecimentos mantidos pelos governos

estaduais (por exemplo, o Colégio Liceu do Ceará) eram gratuitos e suas poucas vagas

eram preenchidas mediante um rigoroso processo seletivo. Essas escolas eram à

exceção, pois quase a totalidade das instituições que ofereciam ensino secundário eram

estabelecimentos particulares, logo destinados às elites.

Com a duração de seis anos, tinha a função exclusiva de preparar os alunos

para o ensino superior, cuja preferência maior era os cursos jurídicos, visando cargos

importantes no governo. A Escola Militar e a Escola Politécnica de São Paulo, sob

influência positivista, contribuíram de algum modo para o desenvolvimento e o ensino

da Matemática. A Geometria, assim como os demais ramos da Matemática, recebia na

escola secundária, semelhantes às escolas da Europa, um tratamento puramente abstrato.

Pela não existência de instituições formadoras de professores secundários –

criadas somente na década de 1930 – os docentes de todas as disciplinas são “quase

todos autodidatas ou recrutados, como no Império, nos quadros das profissões liberais.”

(AZEVEDO, 1976, p. 135 apud PAVANELLO, 1989, p. 150). Engenheiros civis ou

militares, em número reduzido, atuavam como professores de Matemática. Logo, por

razões óbvias, eles não tinham formalmente nenhuma proximidade com a área

pedagógica.

Tendo como referência o modelo estabelecido no Estatuto das

Universidades Brasileiras (reforma Francisco Campos), temos, em 1934, a fundação da

Universidade de São Paulo. Nela é promovido, dentre outros cursos, o de Matemática

para o magistério secundário. Para o seu corpo docente são contratados os professores

italianos Luigi Fantappié e Giacomo Albanese.

Conforme Pavanello (1989), apesar de ao longo da década de 1930 terem

surgidas várias outras faculdades com este fim, a quantidade de professores

secundaristas formados, com base na realidade do estado de São Paulo, não satisfaz a

91

demanda por conta da grande expansão da rede pública que, em grande parte, é devida

ao crescimento do polo industrial paulista.

A reforma Francisco Campos (1931), ao tratar da organização do ensino

secundário, procura transformá-lo em um curso predominantemente educativo. Com

este desiderato, dividi-o em dois ciclos: curso fundamental (com duração de 5 anos) é o

primeiro ciclo. Seu objetivo é a formação do homem para todos os grandes setores da

atividade nacional. O segundo, visando a adaptação às futuras especializações

profissionais, temos o curso complementar (2 anos). Pavanello (1989) pontua que a

partir dessa reforma torna-se obrigatório que os vestibulandos, candidatos aos cursos

superiores, comprovem terem estudado em um colégio de ensino secundário.

Tal reforma estabelece os conteúdos e sugere instruções pedagógicas às

diversas disciplinas. Na tentativa de estabelecer conexões entre os três ramos da

Matemática, determina que esta disciplina seja assumida, na mesma série, por um único

professor. No texto das instruções pedagógicas é facilmente percebido, segundo Bicudo

(1942 apud PAVANELLO, 1989), a influência da Escola Nova, quando enfatiza que o

professor deve estar atento tanto ao grau de desenvolvimento mental do aluno quanto

aos seus interesses nos tópicos que apresenta maior inclinação e que o ensino se

processe através da atividade constante do aluno, fazendo-o descobridor e não receptor

passivo de conhecimentos.

Ainda inserido nessa reforma temos a orientação de um curso propedêutico

de Geometria. De acordo com Pavanello (1989), a proposta é que a aquisição de

conhecimentos geométricos seja iniciada pelas explorações intuitivas, por meio de

atividades experimentais, e que, de modo progressivo, evolua até atingir uma

sistematização. Em outras palavras, a ação professoral no ensino de Geometria deve ser

desenvolvida objetivando que os alunos efetuem a passagem do estudo intuitivo para o

sistemático (estudo dedutivo).

Gustavo Capanema, no comando do Ministério da Educação, promove, em

1942, uma reforma que reestrutura o ensino secundário. Esse nível de estudo permanece

com dois ciclos: o primeiro ciclo corresponde ao curso ginasial, com duração de quatro

anos, e o segundo ciclo, com três anos de duração, é fracionado em clássico e científico.

A Geometria é abordada em todo o curso ginasial e com bastante ênfase (sem nenhuma

surpresa) no curso científico.

Pavanello (1989) destaca que na Exposição de Motivos da Lei Orgânica do

Ensino Secundário, contida na reforma Capanema, nota-se que a concepção dos

92

processos de ensino e de aprendizagem na reforma Capanema (igualmente à Francisco

Campos) sofre influência do movimento escolanovista. Vejamos este fragmento:

Em nosso país, na fase inicial da década de 1960, temos a geração de uma

grande quantidade de empregos em decorrência do desenvolvimento econômico à

época. Isto vai repercutir na esfera educacional e, de forma especial, no ensino de

Matemática no ensino secundário. Em conformidade com a LDBEN de 1961, nas três

primeiras séries do curso ginasial o ensino de Matemática será fundamentalmente de

natureza instrumental (em Geometria: desenvolver a intuição) e na 4ª. série, Geometria

dedutiva. No ciclo dois, não desprezando seu caráter utilitarista, busca estabelecer

relações entre a Matemática e as demais disciplinas, prioritariamente com as Ciências

Naturais.

No transcurso dos anos 1960, perdurando pela década de 1970, o

Movimento da Matemática Moderna (MMM) vai ter grande penetração no Brasil. Sob

sua influência são lançados os primeiros livros didáticos (para o curso ginasial foram de

autoria de Osvaldo Sangiorgi) e formados grupos de estudo para o ensino de

Matemática.

Sobre as influências francesa e estadunidense no MMM em nosso país:

No ensino científico [...] falhará sempre irremediavelmente o

processo do erudito monologar docente, [...] os alunos terão que

discutir e verificar, terão que ver e fazer. Entre eles e o professor é

necessário estabelecer um regime de cooperação no trabalho,

trabalho que deverá estar cheio de vida e que seja sempre, segundo o

preceito deweyano, uma “reconstrução da experiência”.

(PAVANELO, 1989, p. 158).

A influência predominante na introdução da Matemática Moderna no

Brasil foi a francesa, como consequência dos cursos ministrados na

Universidade (na de São Paulo, especialmente) por matemáticos franceses,

nas décadas de 1940 e 1950. Dentre eles figurava Dieudonné e outros ex-

integrantes do grupo Bourbaki. Assim, quando Dieudonné se lança em

defesa da Matemática Moderna, é seguido pelos professores universitários

brasileiros, que disseminam estas idéias entre os professores secundários.

A influência americana começa a se fazer sentir a partir da tradução,

para o português, dos trabalhos do SMSG (School Mathematics Study

Group), predominando, então, por algum tempo.

A seguir, verifica-se nova influência francesa, quando são divulgados os

trabalhos de outros grupos de educadores franceses. (PAVANELLO, 1989,

p. 162).

93

Retomando uma informação já exposta nesse trabalho, a ideia central do

MMM é adaptar os conteúdos matemáticos às novas concepções oriundas da sua

própria evolução, implicando em trabalhar a Matemática sob uma abordagem de

estruturas. Isto direciona a utilização da linguagem simbólica da teoria dos conjuntos e

das transformações algébricas ao ensino da Matemática. No que tange à Aritmética e à

Álgebra essa orientação é concretizada facilmente. No campo da Geometria o caso é

bem diferente.

Na tentativa de manter a coerência do MMM, a proposta era ensinar

Geometria do ponto de vista das estruturas, ou seja, sob o enfoque das transformações

algébricas. Como a grande maioria dos professores secundários não dominava tal

assunto, essa orientação não foi seguida. Na verdade, um grande contingente de

professores do primeiro e segundo graus (nomenclatura decorrente da reformulação da

educação elementar e secundária pela LDB de 1971) deixou de ensinar Geometria sob

qualquer abordagem. Assim, os professores passaram a trabalhar quase que

exclusivamente a Álgebra e que de certo modo está alinhada com a ênfase dada pelo

MMM a esse segmento da Matemática.

Neste contexto, a maioria dos alunos conclui as quatro primeiras séries do

primeiro grau sem ter contato com a Geometria escolar. Também é fácil evidenciar que

nas quatro séries derradeiras desse nível de ensino o estudo de Geometria era bastante

comprometido pois como, via de regra, os capítulos dedicados à Geometria eram os

últimos do livro-didático, os professores alegavam que “nada dava tempo” atingi-los.

Assim, o estudo de Geometria passa a ser feito, quando o é, apenas no segundo grau.

Este é o panorama do nosso setor educacional quando a escola pública sofre

expansão no Brasil no sentido que o número de escolas mantidas pelo governo e de

alunos que nelas estudam dá um salto quantitativo. Aos professores se impõe a seguinte

realidade: lidar com uma população maior de alunos sob novas e, quase sempre, piores

condições de trabalho e de remuneração, além de ser pressionado pelo Estado ao

lembrar-lhes o custo aluno por ano em uma escola.

Começa, assim, um processo de deterioração – física e cognitiva – da

escola pública, que passa a ser frequentada, agora, pelas camadas menos

favorecidas da população, enquanto que as camadas mais privilegiadas vão

para as escolas particulares. Nestas ainda ocorre o ensino de geometria, em

que pesem as diferentes orientações e a influências dos livros didáticos –

nos quais a álgebra continua sendo realçada, pelo simples fato de se

apresentar a geometria sempre ao final das publicações. (PAVANELLO,

1989, p. 165).

94

Não esquecendo que estamos nos referindo aos anos 1970, com ditadura

militar em pleno vigor, Pavanello (1989) fala que nas academias militares, o estudo da

Geometria e das matérias que com ela tem afinidade (Desenho Geométrico, por

exemplo) permanece sendo enfatizado.

Partindo do princípio que a situação descrita é verdadeira, não são poucos os

obstáculos a serem superados por parte de todos aqueles que são comprometidos com o

processo de ensino e aprendizagem. Mediante um quadro onde o conhecimento de

Geometria dos alunos é praticamente nulo e cientes da contribuição dada pelo ensino de

Geometria no âmbito da educação formal, devemos colocá-lo no rol de prioridades para

uma educação de boa qualidade.

A bem da verdade, de alguns anos para cá, nas palavras de Lorenzato

(2012), em locais diferentes do Brasil, o ensino de Geometria está passando por uma

oxigenação, tendo uma (re)ativação em consequência de iniciativas pontuais de grupos

de professores. Todavia, a pauta de questões a serem discutidas engloba perguntas tais

como:

Assim, conforme esse autor, renovar ou ressurgir o ensino de Geometria é

uma questão que extrapola os aspectos epistemológicos ou didático-pedagógico. Por

envolver Universidades e Secretarias de Educação é questão também social. E mais,

também trata-se de uma questão de cunho político-administrativo, “pois o professor,

sendo aquele que deve exercer uma função de vital importância nos processos de

transformação educacional, com sua atual remuneração não terá muitas condições para

efetuar mudanças, a não ser de profissão.” (LORENZATO, 2012, p. 29).

O programa de geometria que consta de propostas curriculares e de livros

didáticos contém o mínimo necessário para nossa atualidade? Onde deve

ser colocado o ponto de equilíbrio dinâmico entre o intuitivo e o dedutivo,

o concreto e o abstrato, o experimental e o textual, tendo em vista uma

aprendizagem significativa da geometria? Como tornar presente o estudo

da geometria nos cursos de formação de professores? Como ampliar a produção de publicações para professores e para alunos sobre resolução de

problemas, história, recursos didáticos, curiosidades, quebra-cabeças,

sofismas, ilusões de ótica e jogos direcionados para o ensino de geometria?

Onde devem ser focalizadas as pesquisas sobre o ensino da geometria?

Como investir fortemente na formação geométrica do professor em

exercício? (LORENZATO, 2012, p. 28-29).

95

3.5 GEOMETRIA: POR QUE ENSINÁ-LA?

Sob nosso ponto de vista, não há espaço para dúvida quando afirmamos que

um dos grandes objetivos da Matemática escolar deve ser contribuir na tomada de

consciência por parte do aluno da relevância de adquirir conhecimentos geométricos,

levando-o a uma melhor compreensão da sociedade no qual está inserido. Ademais,

perceber a utilização da Geometria nos mais diversos contextos que vivencia e, com

isso, ter uma leitura de mundo construída a partir de um olhar mais reflexivo e crítico,

em conformidade com a sugestão presente em Brasil (1998).

De acordo com Mendes (2006 apud ALMEIDA, 2011), com a passagem do

homem da condição de nômade para a de fixar-se na terra, temos o advento da

Matemática como um todo e, em especial, da Geometria. Nesse novo modo de vida,

surgiu a necessidade de um melhor aproveitamento do solo ocupado, visando a

plantação, comercialização e armazenamento do excedente da produção. Com

“endereço” fixo, o homem construiu moradias estruturadas e passou a fazer observações

dos movimentos das estrelas com o intuito de planejar plantações, colheitas e festas

religiosas. Esses fatores elencados, dentre outros, favoreceram a evolução da Geometria.

No quadro dos atuais desafios da Educação Matemática consta que o ensino

de Matemática, inclusive o de Geometria, aconteça de modo contextualizado. Com a

mesma orientação, Brasil (1998) reforça a necessidade do aluno ter um olhar que

desvele o valor da Geometria em situações do seu mundo vivencial (nas artes, nas

formas da natureza e nas construções feitas pelo homem). Isso está explicitado quando

afirmam que o aluno desenvolve um “tipo especial de pensamento que lhe permite

compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive.”

(BRASIL, 1998, p. 75).

Tomando como referência o nosso país, o problema do ensino de Geometria

emerge e ganha corpo ao passo que um número cada vez maior de alunos das classes

sociais mais carentes passam a frequentar a escola de nível médio, ou seja, a partir dos

anos 1960. Nesse quadro, a Geometria é praticamente retirada do currículo escolar ou,

em casos específicos, seu ensino acontece a partir de uma abordagem extremamente

formal, reflexo da introdução da Matemática Moderna.

Somente esta constatação bastaria para suscitar questionamentos sobre a

contribuição da geometria para a formação dos indivíduos; no entanto,

outros fatores vieram reafirmar essa necessidade: verifica-se, por exemplo,

a pouca capacidade de percepção espacial de grande número de alunos (e

de pessoas, em geral), requerida no exercício ou compreensão de múltiplas

e variadas atividades profissionais. (PAVANELLO, 1989, p. 180-181).

96

Por outra vertente, enfocamos que o entendimento efetivo de Geometria

contribui de modo substancial no decorrer da trajetória acadêmica de quem trilha

caminhos ligados à Matemática Superior (sua desenvoltura na compreensão de

conteúdos ligados ao cálculo diferencial e integral, à guisa de exemplo) ou até mesmo

para solucionar questões de caráter estritamente pragmático (determinação da

capacidade de armazenamento de uma caixa-d’água, por exemplo).

Isso posto, cremos não haver discordância quanto ao fato que excluir do

currículo ou dar um tratamento inadequado à Geometria “podem causar sérios prejuízos

à formação dos indivíduos” (PAVANELLO, 1989, p. 181).

Não obstante a nossa atenção está voltada para o ensino de Geometria, não

corresponde à verdade que ressaltamos a Geometria em detrimento do papel da Álgebra.

Pavanello (1989) destaca que ambas são essenciais à Educação Matemática e, portanto,

devemos incentivar o desenvolvimento tanto do pensamento visual quanto do

sequencial, preponderantes na Geometria e na Álgebra, nesta ordem.

Em nossa experiência como professor em exercício da Educação Básica

constatamos que ainda hoje há priorização do ensino da Álgebra. Isso, “acabou por

desenvolver somente um tipo de pensamento. É necessário, portanto, restabelecer o

equilíbrio, retomando-se o ensino da Geometria” (PAVANELLO, 1989, p. 182).

É fundamental termos em mente que a possível grande contribuição a ser

dada pela Geometria escolar, desde que trabalhada de modo adequado, para a formação

do aluno, vai além do desenvolvimento da percepção espacial.

Assim, a importância da Geometria reside no fato do seu estudo desenvolver

habilidades específicas de raciocinar, contribuindo para a formação das pessoas. Em

outras palavras, “[...] ser bom conhecedor de Aritmética ou de Álgebra não é suficiente

para resolver problemas de geometria” (LORENZATO, 2012, p. 29).

Sob qualquer abordagem, a Geometria mostra-se um tema de extremamente

fecundo. “Nenhum assunto presta-se mais à explicitação da impregnação entre a

A geometria apresenta-se como um campo profícuo para o

desenvolvimento da “capacidade de abstrair, generalizar, projetar,

transcender o que é imediatamente sensível” – que é um dos objetivos da

matemática – oferecendo condições para que níveis sucessivos de

abstração possam ser alcançados. (PAVANELLO, 1989, p. 182).

97

Matemática e a Língua Materna bem como a uma estruturação compatível da ação

docente do que a Geometria.” (MACHADO, 1990, p. 137).

Ademais, é possível que o aluno ao participar do processo de ensino e

aprendizagem envolvendo Geometria, desenvolva um tipo peculiar de pensamento.

“Ela permite o desenvolvimento da ‘arte da especulação’ traduzida na questão ‘o que

aconteceria se ...’ , que expressa o estilo hipotético-dedutivo do pensamento

geométrico.” (WHEELER, 1981, p. 352 apud PAVANELLO, 1989, p. 183). A marca

desse tipo particular de pensamento é a busca por novas situações, formulação de

indagações decorrentes dos choques visuais provocados por figuras geométricas..

Sob outro prisma, temos a defesa do ensino de Geometria através do

seguinte argumento:

Pavanello (1989) destaca que tais argumentos expostos por educadores

matemáticos não dão conta de toda a discussão envolvendo o valor educacional do

ensino de Geometria, mas têm o mérito de apontarem para futuras pesquisas e para

caminhos a serem palmilhados no tocante à escolha dos conteúdos e ao trabalho mais

apropriados ao desenvolvimento de determinadas capacidades no aluno com vistas à sua

formação integral.

3.5.1 Geometria escolar: uma abordagem histórico-epistemológica

Alinhando-nos com o pensamento de Mendes (2006 apud ALMEIDA,

2011) e de outros autores, defendemos a ideia que os processos de ensino e de

aprendizagem de Geometria tendem a ser melhores quando o professor desenvolve sua

ação docente levando em conta tanto a visão histórico–epistemológica quanto as

conexões que a Geometria mantém com a Álgebra e a Aritmética e também procura

estabelecer ligações entre os conteúdos geométricos ministrados e o cotidiano do aluno.

Referente ao olhar histórico, Eves (1992) e Pavanello (1989) afirmam que é

fundamental o professor ter clareza da relação existente entre os problemas enfrentados

[...] a geometria é um intermediário natural e possivelmente insubstituível

entre a língua e o formalismo matemático, no qual cada objeto é reduzido a

um símbolo e o grupo de equivalências é reduzido à identidade do símbolo

escrito consigo mesmo. Deste ponto de vista, o estágio do pensamento

geométrico pode ser um estágio impossível de omitir no desenvolvimento

normal da atividade racional do homem. (THOM, 1971, p. 698 apud

PAVANELLO, 1989, p. 183).

98

pela humanidade e a origem da Geometria, assim como da sua progressão, destacando

que durante seu desenvolvimento este segmento da Matemática se mostrou dicotômico:

a Geometria deve ter um caráter prático ou teórico?

Nesta visão macroscópica, citamos que Eves (1992) denominou a

Geometria pré-histórica de Geometria subsconsciente pois, grosso modo, foi restrita à

noções de distância, forma, verticalidade e paralelismo. Considera-se que o homem

primitivo concebeu as ideias de curvas, superfícies e sólidos a partir de observações do

seu cotidiano, (por exemplo: contorno do Sol e da Lua, trajetória descrita por uma

pedra arremessada, troncos de árvores, frutas e muros de pedra). Na Antiguidade,

egípcios e babilônios e, provavelmente, hindus e chineses, usavam conhecimentos

geométricos de forma pragmática. A título de exemplo, Eves (1992) e Pavanello (1989)

pontuam que provavelmente o surgimento das noções de figuras geométricas e dos

conceitos de área e de perímetro estão relacionados a necessidade prática de demarcação

de terras após as inundações do rio Nilo, no Egito.

Por seu lado, os gregos criavam e desenvolviam a Geometria demonstrativa,

pois advogavam a ideia que a Geometria deveria estar a serviço do aprimoramento

intelectual. Com os gregos passamos a ter uma Geometria de caráter teórico, axiomático

e dedutivo. Pontuamos que

Em Os Elementos, Euclides de Alexandria (século III a.C.) estabeleceu um

sistema lógico-dedutivo fundamentado em axiomas (axioma é um fato matemático que

contém evidência em si próprio e por isso não precisa ser demonstrado) e postulados

(premissas básicas aceitas como verdadeiras), usados para a provar os teoremas

(afirmação matemática não óbvia mas passível de uma demonstração sustentada por

axiomas, postulados e definições). A influência do trabalho de Euclides foi tão forte que

o conjunto de conhecimentos geométricos por ele compilado recebeu o nome de

Geometria Euclidiana.

Com o advento da Idade Média, em meados do século XV, um problema é

posto na ordem do dia para pintores e arquitetos renascentistas: como melhor

representar e analisar objetos tridimensionais em perspectiva, ou seja, por meio de suas

Euclides produziu uma obra memorável, os Elementos, uma cadeia

dedutiva única de 465 proposições compreendendo de maneira clara e

harmoniosa geometria plana e espacial, a teoria dos números e a álgebra

geométrica grega. (EVES, 1992, p. 9).

99

projeções em uma tela (espaço bidimensional)? Na busca pela solução desse problema

temos o estabelecimento e o desenvolvimento da Geometria Projetiva. Paralelo à

progressão da Geometria Projetiva temos o surgimento das ideias da moderna

Geometria Analítica. Eves (1992) salienta que existe uma diferença fundamental entre

as Geometrias Projetiva e Analítica, enquanto a primeira é um ramo da Geometria, a

segunda é um método de solucionar problemas de Geometria usando a Álgebra.

Por conta do sistema axiomático da Geometria Euclidiana ser satisfatório

somente em superfícies planas, temos no século XIX a emersão de novas geometrias,

aplicáveis a espaços curvos. É o caso da Geometria Esférica (relevante em situações que

envolvem grandes deslocamentos na superfície da Terra, por exemplo) e da Geometria

Hiperbólica (usada no âmbito da Teoria Geral da Relatividade, teoria gravitacional

publicada por Albert Einstein em 1915).

No campo epistemológico, nós, professores, devemos buscar entender o

processo de construção do conhecimento geométrico. Conforme Pais (2000), a

construção de saberes geométricos ocorrerá com maior dificuldade ou até mesmo não se

efetivará se a prática educativa seguir, exclusivamente, ou a tendência epistemológica

racionalista ou a empirista.

A visão racionalista, na sua vertente mais radical, defende que a razão é a

fonte exclusiva de conhecimento. Em outras palavras, a aquisição de conhecimento é

decorrente da razão operando por si mesma, não havendo necessidade da realização de

qualquer tipo de experiência sensível, que é controlada pela razão. Na visão empirista,

em sua concepção fundamental, o conhecimento é oriundo das atividades experimentais

que estimulam nossos sentidos. Assim, para os empiristas, os conhecimentos são

adquiridos, exclusivamente, por meio de experiências sensíveis, que controlam a razão.

Levando isso consideração, esse autor enfatiza que

Nas atividades de ensino da geometria, envolvendo o uso de materiais, é

preciso estar duplamente vigilante para que toda informação proveniente

de uma manipulação esteja em sintonia com algum pressuposto racional e,

ao mesmo tempo, que todo argumento dedutivo esteja associado a alguma

dimensão experimental. Acreditamos que este é o primeiro passo para

valorizar uma interpretação dialética para o uso dos materiais didáticos.

Evitar uma racionalidade vazia desprovida de significado, assim como,

evitar toda espécie de atividade empírica desconexa de um objetivo

educacional previamente analisado [...] (PAIS, 2000, p. 13-14).

100

No âmbito das tendências epistemológicas, Hessen (1980 apud PAIS, 2000)

faz referência ao intelectualismo e ao apriorismo. Conforme esse autor, essas correntes

de pensamento são tentativas de harmonização entre as posições extremas do

racionalismo e do empirismo. Em linhas gerais, para o intelectualismo “[...] A atividade

experimental seria a fonte do conteúdo do conhecimento enquanto que a razão daria

apenas sua forma final.” (PAIS, 2000, p. 11). Em outras palavras, os conceitos

formulados pela razão representariam o sentido último do conhecimento, onde este tem

origem e é buscado na experiência. Pais (2000) acrescenta que os conceitos dependem

da intuição, que pode ser de dois tipos: uma motivada pela experiência (intuição

sensível) e a outra, animada pela razão (intuição racional). A síntese das intuições

sensível e racional é o que definimos como o conceito.

Com relação ao apriorismo, “[...] o conhecimento apresenta elementos a

priori independentes da experiência [...] que só se justifica [o conhecimento] quanto à

forma originada na razão mas o conteúdo receberia influência decisiva da experiência.”

(PAIS, 2000, p. 12). Esse autor destaca o seguinte princípio do apriorismo: conceitos

não embasados na intuição mostram-se vazios, do mesmo modo que a intuição sem

clareza conceitual perde sua força. Achamos não haver espaço para dúvidas que essa

postura epistemológica deixa patente a pertinência de um eterno diálogo entre a razão e

a experiência com a constante mediação da intuição.

Na esfera da epistemologia da Geometria, Pais (1996) anuncia que há quatro

elementos que têm uma presença efetiva nos processos de ensino e de aprendizagem da

Geometria, quais sejam: objeto, desenho, imagem mental e conceito. Nesse sentido, o

autor em pauta alerta quanto à importância do uso de desenhos, de objetos materiais –

isto é, de materiais didáticos manipuláveis –, e das imagens mentais como recursos

didáticos de grande valia, tanto no processo de construção quanto nas formas de

representação dos conceitos geométricos bi e tridimensionais.

Ao refletir sobre pesquisas realizadas com alunos dos anos finais do Ensino

Fundamental II (na época, séries finais do primeiro grau), Pais (1996) reconheceu uma

possível correlação dos elementos mencionados anteriormente com os aspectos (ou

formas) fundamentais de conhecimento geométrico, o intuitivo, o experimental e o

teórico, distinguidos por Gonseth (1945 apud PAIS, 1996), ao desenvolver uma análise

epistemológica da Geometria.

101

A construção teórica dos conceitos geométricos é percebida como um

processo que, em função de sua complexidade, se efetiva gradativamente. Neste sentido,

esse autor salienta que os modos de representação mais simples dos conceitos

geométricos são o objeto e o desenho. Didaticamente, o objeto é o primeiro modo de

representação do conceito e corresponde, por assim dizer, uma ideia geométrica

materializada. Pais (1996) salienta que o objeto desempenha o importante papel de

auxiliar na formação das ideias, porém não as substitui.

Por sua vez, o desenho é uma forma de representação amplamente usada no

ensino e na aprendizagem da Geometria e é mais complexa do que a primeira por

requerer do aluno uma interpretação de seu significado. Esse autor nos diz, ratificando o

que presenciamos como professor do Ensino Médio, que os desenhos de figuras

tridimensionais geram grandes dificuldades nos alunos na identificação de propriedade

geométricas haja vista que os objetos originais estão projetados em um plano (na lousa

e/ou no papel) pela técnica da perspectiva.

Entre os estudos no campo da Psicologia cognitiva que conduziram a

inclusão das imagens mentais no contexto de uma epistemologia da Geometria, constam

os realizados por Denis18

(1979, 1989 apud PAIS, 1996). Em Pais (1996) temos uma

análise da associação entre essas imagens e os conceitos geométricos. Esse autor nos diz

que enquanto o objeto e o desenho são recursos didáticos de natureza concreta e

particular, as imagens mentais têm a subjetividade e a abstração como características

fundamentais. Enquanto esta característica as relacionam com os conceitos, aquela a

distancia da natureza do conhecimento formal. Todavia, enfatiza Pais (1996), que é

imprescindível a passagem pela fase subjetiva da concepção individual do educando

para a construção da objetividade

______________________________

18 Obras referidas de Michel Denis: Les Imagens Mentales (1979) e Image et Cognition (1989)

A correlação levantada entre os elementos fundamentais à aprendizagem

geométrica e a teoria epistemológica de Gonseth aponta para a necessidade

de uma utilização racional dos materiais didáticos em determinados níveis

da aprendizagem como recursos auxiliares, mas não como substitutivos à

construção de conceitos. Ao mesmo tempo em que essa utilização é

justificada, fica evidente que a marginalização do aspecto conceitual negaria

a própria essência do conhecimento geométrico. (PAIS, 1996, p. 73).

102

Com base na análise de Pais (1996, 2000), inferimos que nos processos de

ensino e de aprendizagem de Geometria, os objetos e os desenhos, em grande medida,

incentivam a formação de boas imagens mentais. Neste quadro, elas fundam o

terceiro modo de representação das noções geométricas. Esse autor prossegue

afirmando que não obstante ser uma forma de representação mais complexa, em

comparação aos objetos e desenhos, as imagens mentais possibilitam uma rapidez e

eficiência em seu uso.

No ensino da Geometria, durante o processo de conceitualização – processo

de elaboração dos conceitos geométricos ou processo de construção do conhecimento

teórico da Geometria –, o aluno pode vir a enfrentar dificuldades de aprendizagem que

se assemelham aos obstáculos constatados na própria evolução histórica do conceito. A

nosso ver, isso está relacionado à natureza geral e abstrata dos conceitos geométricos.

No curso do processo de conceitualização, o aluno faz uso, inicialmente, de objetos e

desenhos como elementos recursivos à representação dos conceitos e, na sequência,

esses conceitos serão representados por imagens mentais. Em sua análise, Pais (1996)

supõe que a barreira mais forte a ser vencida pelo aluno no início do desenvolvimento

de sua aprendizagem é a “[...] A transposição desta dupla correlação dialética,

envolvendo o particular e o geral, o concreto e o abstrato.” (PAIS, 1996, p. 71).

Conforme Pais (1996 e 2000), um adepto da linha de pensamento que

defende uma adequada e permanente intermediação da intuição no constante diálogo

entre a razão e a experiência foi o filósofo e matemático suíço Ferdinand Gonseth

(1890-1975). A obra de Gonseth, de acordo com esse autor, é uma das referências

exponenciais no campo da epistemologia da Geometria no século XX. Como foi

anteriormente citado, Gonseth (1945 apud PAIS, 1996) fez a distinção de três aspectos

(ou formas) básicas de conhecimento geométrico, quais sejam: a intuição, a experiência

e a teoria (ou razão). No entendimento de Gonseth, segundo nossa percepção, é que

para a compreensão da utilização dos materiais didáticos nos processos de ensino e de

Embora não seja fácil definir formalmente o que seja uma imagem mental,

pode-se dizer que o indivíduo tem uma dessas imagens quando ele é capaz

de enunciar, de uma forma descritiva, propriedades de um objeto ou de um

desenho na ausência desses elementos. Assim, como as noções

geométricas são idéias abstratas e, portanto, estranhas à sensibilidade

exterior do homem, a formação de imagens mentais é uma consequência

quase exclusiva do trabalho com desenhos e objetos. (PAIS, 1996, p. 70).

103

aprendizagem da Geometria é imprescindível a visão dialetizada dos três aspectos

elencados.

Encontramos em Pais (1996) uma exposição acerca das três formas de

conhecimento geométrico e sua interpendência com os elementos considerados basilares

para o ensino de Geometria. A intuição corresponde a um tipo de conhecimento direto e

diz respeito à subjetividade (dependente do cabedal de conhecimento do indivíduo) , às

nossas percepções do mundo e à racionalidade humana. Sua explicitação não requer um

raciocínio (lógica) discursivo. “Os axiomas da Geometria Euclidiana podem ser aceitos

com base nesta forma de conhecimento intuitivo. [...] axioma se define como ‘um

propriedade evidente por ele mesma’[...]” (PAIS, 1996, p. 72). Já um teorema, por

exemplo, somente é evidenciado por meio de um raciocínio matemático chamado

demonstração, mas não esqueçamos que as demonstrações estão ancoradas na admissão

de algumas noções intuitivas, sequencia Pais (1996).

Assim, proposta uma situação envolvendo a Geometria Euclidiana, se o

aluno chegar à resposta, por assim dizer, subitamente e sem lançar mão de recursos

“externos” (objetos, por exemplo), o conhecimento por ele mostrado é na forma

intuitiva. Por outro lado, se a resposta é encontrada pelo aluno por meio de um

desenho, por exemplo, temos evidenciada a forma de conhecimento experimental. No

entanto, se o aluno para resolver essa questão utiliza a demonstração sem o recurso

direto da intuição ou do desenho, fica caracterizado o aspecto teórico do conhecimento

geométrico. Pais (1996) destaca que devemos procurar entender melhor este sincretismo

(profusão de elementos envolvidos na construção dos conceitos geométriocos) e suas

implicações nos processos de ensino e de aprendizagem da Geometria.

Nesse sentido, é extremamente importante não perdemos de vista as

correlações entre as formas de conhecimento (intuitiva, experimental e teórica ou

racional) e os recursos didáticos básicos usados no ensino da Geometria (objetos

Portanto, parece ser conveniente estabelecer uma permanente estabelecer

uma permanente interpretação dialética entre a materialidade do suporte

didático com as idéias para quais volta-se a intencionalidade educativa.

Assim, o conhecimento geométrico seria formado como o resultado de

uma síntese das atividades da experimental e intuitiva coordenada pela

razão. O conhecimento sensitivo seria a princípio caótico e à razão

competiria a tarefa de ordenar esse caos. (PAIS, 2000, p. 13).

104

materiais, desenhos e imagens mentais) no decorrer do processo de construção de

saberes geométricos. Reparemos que “da mesma forma que há uma base intuitiva no

método axiomático, o apelo à experiência acaba determinando uma forte influência na

gênese das noções teóricas da geometria.” (PAIS, 1996, p. 73). Vejamos também que a

intuição e as imagens mentais guardam entre si pontos de aproximação, pois elas

“apresentam não só uma certa disponibilidade de utilização como também a propriedade

de serem essencialmente subjetivas” (PAIS, 1996, p. 73).

Nesse contexto, o autor em tela salienta que, não obstante o objeto e o

desenho por si próprios não especificarem as noções geométricas, pelo fato de serem

elementos materiais que contribuem para a construção de um conhecimento de caráter

experimental, são eles, juntamente com os fundamentos intuitivos, que tornam possível

a elaboração dos conceitos, implicando na efetivação da construção do conhecimento

teórico da Geometria.

Com o intuito de ilustrar e mostrar condensadamente as correlações entre

os elementos enfatizados como fundamentais ao ensino da Geometria e as três formas

(ou aspectos) do conhecimento geométrico, Pais (1996) elaborou o seguinte esquema:

Esquema único: Correlações entre os aspectos do conhecimento geométrico

e os elementos fundamentais ao ensino de Geometria

Fonte: Pais (1996, p. 72)

3.6 MATERIAIS DIDÁTICOS: UM DEBATE TEÓRICO

Antecipando as diversas percepções acerca dos materiais didáticos

(doravante MD), destacamos que relacionado à aprendizagem no âmbito escolar, existia

uma crença, até um intervalo de tempo relativamente próximo, que

TEORIA CONCEITO

EXPERIÊNCIA OBJETO DESENHO

ETO

INTUIÇÃO

EXPERIÊN

CIA

IMAGEM MENTAL

MENTALEXPERIÊ

NCIA

105

Assim, através de experiências pessoais exitosas, o aluno vai desenvolvendo

conhecimentos, adquirindo saberes, direcionando-se para ações autônomas. Diante de

resultados animadores, o aluno caminha para novas descobertas e energiza-se para

enfrentar desafios e vencê-los. Nos idos de 1911, Ignátiev já afirmava que “a

independência mental, a reflexão e a criatividade não podem ser metidas em nenhuma

cabeça” (REGO e REGO, 2010, p. 43).

Havendo esse entendimento sobre aprendizagem, o material didático

manipulável apresenta-se como de suma importância. De acordo com Rego e Rego

(2010), fazendo uso adequado desses MD, os alunos alargam sua visão sobre o que é,

como e para que aprender Matemática, implicando em um aprendizado de Matemática

decorrente da formação de ideias e modelos.

Ainda sobre a importância dos MD, “em diferentes momentos históricos,

constatamos que o ensino de Matemática fora concebido para acontecer primeiro com

auxílio do material didático para, depois, apresentar os conteúdos na forma abstrata.”

(ALMEIDA, 2011, p. 18).

Olhando para a história do ensino da Educação Matemática, Lorenzato

(2010), destaca que alguns teóricos, incluindo da atualidade, apresentam definições para

MD. Dentre eles, há quem advogue a utilização de MD e os que apontam críticas e

preocupações durante a abordagem didática no uso de tais materiais. Os defensores

ressaltaram a importância do apoio visual ou do visual-tátil como facilitador para a

aprendizagem, pois acreditam que o ensino deve partir do concreto para o abstrato,

tendo como justificativa que o conhecimento tem início pelos sentidos e é somente pelo

fazer que se dá a efetivação da aprendizagem.

Comenius (século XVII) escreveu que o saber começa a partir dos sentidos,

isto é, do concreto ao abstrato, do manipulável para o abstrato. O manuseio e a análise

de objetos concretos seria o ponto de largada para o ensino. Alinhado com tal

pensamento, Locke (1632-1704) afirmava que para adquirir conhecimento era

os alunos aprendiam de igual maneira, acumulando informações e regras.

Sabemos, entretanto, que cada aluno tem um modo próprio de pensar e que

este varia em cada fase de sua vida, estando seu pensamento em constante

processo de mudança. A aprendizagem pela compreensão é um processo

pessoal e único que acontece no interior do indivíduo, embora relacionado a

fatores externos, exigindo do raciocínio o que quase sempre é deixado

apenas como tarefa para a memória. As interações do indivíduo com o

mundo possibilitam-lhe relacionar fatos, estruturar ideias e organizar

informações, internalizando-as. (REGO e REGO, 2010, p. 42-43)

106

necessário a experiência sensível, e Rousseau, no século XVIII, “recomendou a

experiência direta sobre os objetos, visando à aprendizagem” (LORENZATO, 2010, p.

3).

Nesse rol de pensadores e educadores podem ser incluídos, dentre tantos

outros, o nome de Montessori (1870-1952), cujo legado são inúmeros exemplos de

materiais didáticos e atividades de ensino que valorizam a aprendizagem através dos

sentidos, especialmente do tátil, o de Piaget, que deixou claro que o conhecimento se dá

pela ação refletida sobre o objeto, e o de Vygotsky, porque considerava que as

experiências no mundo real constituem o caminho para a criança construir seu

raciocínio. “No Brasil, Julio César de Mello e Souza – isto é, Malba Tahan – e Manoel

Jairo Bezerra, entre outros, muito contribuíram para a divulgação do uso de material

didático como apoio às aulas de Matemática” (LORENZATO, 2010, p. 4).

Encontramos em Rego e Rego (2010) o registro que os MD foram

colocados em relevo por Manoel Jairo Bezerra na obra O material didático no ensino da

matemática. Nela são citadas suas principais funções:

Nesse estudo, que se debruça sobre as potencialidades e a utilização de

materiais que venham contribuir para a aprendizagem, seja uma caixa de papelão, pedra,

tangran e outros, isto é, materiais que têm uma função didática, específica de facilitar o

processo de ensino e aprendizagem, indistintamente de sua origem – natural (uma

laranja, por exemplo) ou artificial (um objeto de acrílico, por exemplo) –, são

considerados MD. Em outras palavras, ao nos referirmos à MD não nos limitamos

àqueles objetos que costumeiramente encontramos em sala de aula. Na verdade, diz

respeito a todo e qualquer objeto que o professor lança mão com o intuito de estimular e

promover a aquisição de saberes matemáticos.

Segundo o critério adotado por Bezerra (1962 apud ALMEIDA, 2011) o

MD seria: todo e qualquer acessório usado pelo professor para realizar a aprendizagem,

i) auxiliar o professor a tornar o ensino da matemática mais atraente e

acessível;

ii) acabar com o medo da matemática que, criado por alguns professores e

alimentado pelos pais e pelos que não gostam de matemática, está

aumentando cada vez mais a dificuldade do ensino dessa matéria e

iii) interessar maior número de alunos no estudo dessa ciência.

(BEZERRA, 1962, p. 10-13 apud REGO e REGO, 2010, p. 42)

107

o quadro-negro, o giz, o apagador, os livros, instrumentos, os aparelhos e todo meio

audiovisual que o professor ou o aluno lança mão durante o processo educativo. Em

outras palavras, qualquer material usado com finalidades pedagógicas no ensino de

Matemática será chamado de MD.

Lorenzato (2010), não se distanciando do que acabamos de expor, ao se

referir sobre o MD diz que “[...] é qualquer instrumento útil ao processo de ensino-

aprendizagem. Portanto, MD pode ser um giz, uma calculadora, um filme, um livro, um

quebra-cabeça, um jogo, uma embalagem, uma transparência, entre outros.”

(LORENZATO, 2010, p. 18) e ressalta que “pode ser um excelente catalisador para o

aluno construir o seu saber matemático.” (LORENZATO, 2010, p. 21).

Quando Passos (2010) define os MD manipuláveis, também chamados de

materiais concretos – que são particularmente interessantes nesta pesquisa – os enuncia

como “[...] objetos ou coisas que o aluno é capaz de sentir, tocar, manipular e

movimentar. Podem ser objetos reais que têm aplicação no dia a dia ou podem ser

objetos que são usados para representar uma ideia.” (PASSOS, 2010, p. 78).

Na visão de Cerqueira e Ferreira (2007 apud ALMEIDA, 2011), os MD

englobariam quaisquer recursos físicos usados nas diversas disciplinas, frequentemente

ou não, independente dos métodos ou técnicas postos em prática, com vistas a contribuir

com o aluno à aquisição de conhecimento, isto é, os MD são objetos utilizados com a

finalidade de fomentar, incentivar ou oportunizar o processo de ensino e aprendizagem.

Outro teórico que parte em defesa do uso de MD manipuláveis é Piaget

(1976 apud ALMEIDA, 2011). Esse estudioso ressalta que, principalmente, na fase

operatório-concreto – faixa de idade em que se encontra quase a totalidade dos sujeitos

desta pesquisa –, os materiais manipuláveis são de grande valia na construção do

conhecimento em razão dos educandos estarem ainda em uma etapa em que existe a

demanda de material concreto para o aprendizado. Estão no intervalo etário que precede

o pensamento abstrato. “[...] suas habilidades são altamente dependentes da

manipulação e da interação com objetos concretos.” (LEFRANÇOIS, 2008, p. 258 apud

ALMEIDA, 2011, p. 21).

Em nossa ação professoral é notório – assim foi constatado nesta pesquisa –

como o uso dos MD manipuláveis refletem positivamente no aspecto motivacional

durante o processo de ensino e de aprendizagem. Quando são utilizados adequadamente,

fica patente sua capacidade de despertar/elevar o interesse e a atenção dos alunos.

Fazendo eco a essa percepção, temos a seguinte declaração: “[...] considero que esses

108

materiais devem servir como mediadores para facilitar a relação

professor/aluno/conhecimento no momento em que um saber está sendo construído.”

(PASSOS, 2010, p. 78). Achamos importante perceber que ao mediar a construção do

conhecimento, envolvido na interação entre professor e aluno, os materiais concretos

também mostram uma face de ferramenta social.

Conforme Cavalcanti et al. (2007 apud ALMEIDA, 2011), os MD são

classificados em: estruturados e não-estruturados. Aqueles dizem respeito aos MD que

foram criados para uma finalidade didática (por exemplo, um geoplano). Já os não-

estruturados correspondem aos objetos que não sendo originalmente produzidos para

uso didático, adquirem esse status por conta de sua utilização em sala de aula. É o caso,

à titulo de exemplo, de um professor de matemática, através do manuseio de uma

latinha de refrigerante, introduz a ideia de planificação um cilindro reto.

Achamos importante reforçar aquilo que já ficou patente ao longo desse

trabalho: autores e educadores de grande renome no campo da educação matemática no

Brasil, dentre eles Lorenzato (2010), Passos (2010), Rego e Rego (2010) e Turrioni

(2010),

Para Nasser (1994), tanto o estímulo visual quanto a manipulação de

materiais são meios que promovem avanços no processo de construção de imagens

mentais e na ação de reconhecer algumas propriedades basilares para o

desenvolvimento do pensamento geométrico. Segundo Lorenzato (2010), os materiais

didáticos são de grande valia para o desenvolvimento da capacidade de observação e

aproximam o aluno da realidade.

Em relação como é visto o emprego dos MD é feita a seguinte colocação:

Mitos e preconceitos acompanham os materiais didáticos, especialmente os

de matemática: custam caro, existem poucos, aumentam o rendimento

escolar, dificultam a abstração, facilitam a tarefa do professor, retardam o

processo de aprendizagem. São essas algumas das frequentes desculpas para

o não uso de materiais concretos em sala de aula. (LORENZATO, 1991

apud TURRIONI e PEREZ, 2010, p. 60).

[...] defendem a relevância da mediação dos MD, na medida em propõe

uma aprendizagem contextualizada, mediante a ação refletida nos materiais

pedagógicos, que auxiliam e facilitam o aprendizado de matemática no

Ensino Fundamental. (ALMEIDA, 2011, p. 22)

109

As barreiras impostas ao uso do MD, via de regra, não são inerentes a ele.

Prova disso é “que a própria política educacional emanada pelos governos federal,

estaduais ou municipais geralmente não preconiza ou orienta os educadores ao uso do

MD.” (LORENZATO, 2010, p. 34). Esse educador matemático prossegue afirmando

que outro fator que explica a ausência do MD nas salas de aula está relacionado ao fato

de não ser comum nas instituições onde há licenciaturas os professores, em sua

formação inicial, terem aulas sobre a utilização desses materiais. Contribui para que a

utilização do MD não vire algo frequente no processo educativo a não existência nas

escolas de ensino fundamental, com raras exceções, do laboratório de ensino de

Matemática (LEM). Como consequência,

É importante ainda tecermos considerações sobre a relação entre os MD e o

professor de Matemática. O professor, como sabemos, atua como mediador entre o

aluno e o conhecimento, ou seja, é aquele que estabelece a mediação no processo de

ensino e aprendizagem, desempenhando um papel de extrema relevância no cenário

educacional. Nesse caso específico – prática educativa com a utilização de MD – é

imprescindível que haja pelo lado do professor uma “estreita relação entre a

experimentação e a reflexão.” (PASSOS, 2001, s/p apud ALMEIDA, 2011, p. 23), de

modo a garantir que sua ação professoral seja exitosa, favorecendo o processo de

construção do conhecimento do aluno.

Ratificando essa visão, encontramos em Brasil (1997, p. 78) que os MD

“precisam estar integrados a situações que levem ao exercícios da análise e da reflexão,

em última instância, à base para a formalização matemática”, cabendo ao docente a

responsabilidade de conduzir esse processo, e a seguinte opinião: “mesmo o material

didático mais abundante, aperfeiçoado e bom, jamais suprirá as qualidades inatas de um

verdadeiro educador.” (BEZERRA, 1962, p. 9 apud ALMEIDA, 2011, p. 23).

Diante do exposto,

[...] muitos professores não sentem falta de MD em suas práticas

pedagógicas, ou não dispõem de MD, ou não acreditam nas influências

positivas do uso do MD na aprendizagem, ou não sabem utilizar

corretamente o MD. A esses todos se somam aqueles que, por diferentes

motivos, resistem às mudanças didáticas e, pior ainda, aqueles que opinam

contra o uso do MD sem o conhecerem ou sem o terem experimentado.

(LORENZATO, 2010, p. 34).

110

Como os materiais manipuláveis são objetos didáticos que causam forte

interferência no processo educativo, o que resulta da sua utilização, depende do

profissional que se propõe a empregá-los. Ademais, segundo Turrioni e Perez (2010),

como vai se dá o uso do MD varia em função dos objetivos almejados, do tipo de

aprendizagem que se deseja atingir e, também, da filosofia e política escolar, ou seja, o

MD deve está conectado ao contexto escolar. Essa é uma das razões pelas quais a

escolha dos artefatos didáticos requer uma reflexão do professor. Não desconsiderando

que a opção feita pelo professor por um dado MD é movida, em grande medida, pela

sua concepção de ensino e educação, ele deve estar atento se o MD eleito, dentro de sua

realidade, é o que melhor se adequa ao conteúdo a ser trabalhado com os alunos, qual

estratégia será posta em prática e como irá acontecer a avaliação.

Os autores destacados neste item do texto, acompanhados de Lorenzato, não

consideram verdadeira a afirmativa que o MD ajuda o professor a encobrir sua

incompetência. Na verdade, a má utilização ou o não emprego dos MD é quem revela

sua falta de competência.

Alguns professores creem que a pura e simples manipulação de materiais

didáticos é capaz de diminuir ou, até mesmo, dirimir as dificuldades do aluno no

aprendizado de Matemática. De acordo com Passos (2006) e Fiorentini e Miorim

(1990), essa visão empirista da aquisição de conhecimentos matemáticos leva o

professor a uma prática educativa ancorada em uma percepção equivocada. Alinhada

com essa percepção, Nacarato (2005) expõe que o uso dos MD tanto pode contribuir

para a aprendizagem dos alunos quanto estabelecer uma barreira, ou seja, ao invés de

favorecer o entendimento das ideias matemáticas seria um elemento que geraria

empecilhos para sua compreensão. Ademais, os alunos não têm uma aprendizagem

significativa garantida, assegurada pelo simples fato da utilização dos MD.

Se o MD pode ser para o aluno um facilitador, para o professor, às vezes,

ele pode ser um complicador. Em outras palavras, é muito mais fácil dar

aula sem MD, mas também é mais difícil aprender sem o MD. O uso do

MD planejado para atingir um determinado objetivo, frequentemente,

possibilita ao aluno a realização de observações, constatações, descobertas e

até mesmo o levantamento de hipóteses e a elaboração de estratégias que, às

vezes, não estavam previstas no planejamento nem eram do conhecimento

do professor. No entanto, é preciso reconhecer que essa dificuldade vem no

intuito de melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

(LORENZATO, 2010, p. 29).

111

Não passa ao largo de nossa percepção o relevante papel dos materiais

didáticos quanto à contribuírem enormemente para a ação do professor de Matemática

no processo de ensino e aprendizagem e, em especial, nas aulas ministradas sobre

Geometria. “Entretanto, existem ressalvas a serem colocadas que refletem a importância

das condições necessárias para o desenvolvimento das atividades trabalhadas de

maneira satisfatória com os materiais didáticos” (ALMEIDA, 2011, p. 18).

Na concepção de Lorenzato (2010), os materiais didáticos por si só não

causariam grandes efeitos no aprendizado dos alunos sem a mediação do professor. Esse

autor, ao discorrer sobre o professor e o material didático em aulas de Matemática,

alerta sobre a necessidade de o professor ter o conhecimento do material didático a ser

trabalhado, tendo clareza quanto à geração de possibilidades no decorrer da ação

pedagógica no campo da Matemática formal.

Partimos das recomendações desse autor, de que o professor, antes de optar

pelo uso de um determinado material didático, deve refletir sobre quais ideias e

conceitos ele deseja trabalhar nas atividades que pretende propor. A escolha deverá

basear-se, de um modo geral, no princípio de que os materiais mais adequados seriam

aqueles que permitam uma experiência completa ao aluno e que sejam compatíveis com

suas necessidades.

Levando tudo isso em conta, procuramos

Fazendo eco a essa citação, vislumbramos que através da utilização de MD

será constatada uma aprendizagem significativa dos conceitos geométricos. Em uma

prática educativa fundamentada no uso de MD, sob a batuta de um professor

qualificado, temos a real possibilidade da potencialização da capacidade de raciocínio,

de observação e de atenção às aulas, e nela as atividades desenvolvidas correspondem a

passos importantes na direção de um processo de ensino e aprendizagem no âmbito

escolar onde, verdadeiramente, a interação professor–alunos–objetos didáticos resulte

na construção de saberes matemáticos por parte dos educandos.

É do nosso entendimento que à apreensão da Matemática escolar,

particularmente da Geometria, deve ocorrer por meio de um processo cujo ponto de

[...] uma forma de proporcionar aos alunos o desenvolvimento dos

conhecimentos geométricos, a partir da mediação, por meio dos processos

interativos em sala de aula entre professor e aprendizes, bem como dos

materiais didáticos manipulativos. (ALMEIDA, 2011, p. 3).

112

partida seja o manuseio de artefatos didáticos. Contudo, essa empreitada somente será

exitosa se tivermos professores com a qualificação à altura de mediar uma prática

pedagógica dessa natureza. Todavia, para que este patamar de qualidade na ação

docente seja alcançado se faz necessário que os MD tornem-se íntimos dos professores

desde a sua formação inicial e que essa “amizade” perdure ao longo de sua trajetória

enquanto professor em exercício.

Em outras palavras, defendemos a ideia que o licenciando em Matemática

deve, por exemplo, conhecer o maior número possível de MD, discutir sobre a

aplicabilidade mais adequada de um dado MD e as questões decorrentes de sua

aplicação, (re)descobrir as possiblidades de uso dos MD em sala de aula e, por que não,

criar novos MD. Já em plena atividade professoral, a formação continuada,

oportunizada ou não por órgãos oficiais, além de possível atualização sobre o tema,

trata-se de uma excelente oportunidade para troca de experiências com os colegas

docentes. Com relação a esse compartilhamento de experiências, cremos que se ele for

estendido, incluindo os licenciandos, dará origem a momentos enriquecedores para

todos aqueles que atuam ou irão atuar em sala de aula buscando melhorar a qualidade da

educação escolar e, em especial, do aprendizado de Geometria.

3.7 ALGUNS OLHARES: ÁREA E PERÍMETRO

Pelo fato de o presente estudo debruçar-se sobre o processo de ensino e de

aprendizagem de Geometria em uma turma do 6º. ano do Ensino Fundamental,

enfocando as grandezas área e perímetro, expomos, de forma sucinta, olhares lançados

por alguns trabalhos realizados sobre essas grandezas geométricas e de que modo

abordamos essa temática.

O objetivo da pesquisa levada a efeito por Facco (2003) era o estudo dos

fenômenos que interferem nos processos de ensino e de aprendizagem do conceito de

área no Ensino Fundamental por meio da decomposição e da composição de figuras

planas. Essa investigação envolveu professores dos anos finais do Ensino Fundamental

e alunos da quinta série (atual sexto ano) e as diversas atividades propostas foram

direcionadas ao estudo da área como grandeza.

Lançar mão de recursos didáticos (tangran, malhas e poliminós) e do livro

didático nos processos de ensino e de aprendizagem com o objetivo de compreender o

conceito de área como grandeza foi investigado por Santana (2006). Os resultados

alcançados levaram-na à constatação que os recursos didáticos elencados são pouco

113

explorados nos livros, que compõem as seis coleções avaliadas, sendo estas eleitas entre

aquelas apontadas pelo Programa Nacional do Livro Didático e adotadas em escolas da

rede pública de ensino pernambucano.

Em Barros (2006), temos uma investigação sobre o tratamento dado às

grandezas geométricas área e perímetro em sete coleções de livros didáticos de 3º. e 4º.

ciclos (6º. ao 9º. anos) do Ensino Fundamental, incluídas nos guias do Programa

Nacional do Livro Didático 2002 e 2005. Esse autor constatou que as noções de área e

de perímetro são frequentemente usadas para dar suporte ao estudo de outros conteúdos,

a saber: multiplicação de números naturais, frações, números decimais, potências,

expressões algébricas etc., evidenciando, assim, o papel das grandezas geométricas em

tela como ponto de convergência entre a Aritmética e a Álgebra.

A pesquisa desenvolvida por Ferreira (2010), junto a alunos do 6º. ano do

Ensino Fundamental, teve como objetivo investigar sobre a construção do conceito de

área, salientando a dissociação entre área e perímetro. Não obstante serem identificados

avanços na decomposição e recomposição e no ladrilhamento de figuras bidimensionais,

verificou-se a permanência de obstáculos quanto à compreensão da dissociação

mencionada.

Ao realizar um estudo diagnóstico acerca dos procedimentos usados por

alunos do 6º. ano do Ensino Fundamental de cinco escolas diferentes para a

determinação da medida da área de figuras planas em malhas quadriculadas, Pessoa

(2010) verificou resultado exitoso quando o problema era resolvido somente pela

contagem de quadradinhos. Por seu turno, essa pesquisadora constatou que um

quantitativo significativo de sujeitos da pesquisa mostrou grande dificuldade em

determinar a área quando eram exigidos procedimentos que envolviam decomposição-

recomposição, frações ou complementação de partes de figuras ladrilháveis.

Problemas de ensino e de aprendizagem associados às grandezas

geométricas perímetro e área de figuras planas foram investigados por Santos (2011) em

um trabalho que envolveu alunos do 7º. ano do Ensino Fundamental e professores de

Matemática que lecionam neste nível de ensino e que são ou foram professores desses

alunos. Para essa autora, com base na narrativa dos alunos, há indícios de um sério

problema de ensino, haja vista que não há apreensão dos conceitos. No que tange aos

professores, buscou identificar as possíveis dificuldades por eles vivenciadas no ensino

desses conceitos e compreender como estes analisam as produções e os erros dos

114

alunos. Na visão de Santos (2011), os professores revelam uma formação docente com

fortes lacunas e práticas tradicionais de ensino.

Constatamos que na óptica desses autores há o predomínio da abordagem de

área e de perímetro como grandezas, com fundamentação nas teorias das situações

didáticas, de Guy Brousseau, e a teoria da dialética ferramenta-objeto, de Régine

Douady. De modo sintético, “[...] Essas teorias partem do princípio de que o

conhecimento ocorre em função da efetivação de propostas de ensino adequadas, em

que a intensa participação do aluno é vital” (ALMOULOUD, 2007, p. 188).

Nossa abordagem – pormenorizada no quarto segmento deste trabalho –

apresentou metodologia norteada pela teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky e a

discussão teórica sobre níveis e fases propostos pelo casal van Hiele.

O modelo de van Hiele trata dos níveis de compreensão das ideias

geométricas que seguem uma hierarquia por grau de complexidade (visualização,

análise, classificação, dedução e rigor). Segundo essa teoria, esses patamares de

conhecimento permitem caracterizar o progresso cognitivo do aluno no que tange a um

dado saber geométrico.

Quanto à abordagem vygotskiana do processo de ensino e de aprendizagem,

ela está ancorada na teoria sociocultural. Entre as ideias defendidas por essa teoria,

salientamos a contribuição valorosa da ação mediadora do professor no decorrer das

interações interpessoais e na interação dos alunos com os objetos de conhecimento. Sob

o olhar de Vygotsky, o amadurecimento orgânico e, em especial, as interações sociais

são fatores primordiais na formação do ser humano. Salientamos que nesse papel de

mediador, o professor deve ter como ponto de partida aquilo que já é do domínio do

aluno e, na sequência, propor atividades que propiciem o desenvolvimento cognitivo do

aluno por meio de intervenção “nas zonas de desenvolvimento proximal” dos alunos.

Na perspectiva histórico-cultural de Vygotsky, a aprendizagem (a aquisição

de saberes matemáticos, à guisa de exemplo) – motivadora dos processos de

desenvolvimento do ser humano –, resulta das interações sociais e ocorre na zona de

desenvolvimento proximal, que, a grosso modo, corresponde ao “local” onde o

conhecimento do aluno está em estado latente, potencial. Esse saber se efetiva por meio

de interações com pessoas mais experientes (por exemplo, o professor).

115

4 MODELO DE VAN HIELE E O SOCIOINTERACIONISMO DE

VYGOTSKY

Neste capítulo, vamos expor sobre o modelo de van Hiele, onde tratamos

dos níveis de desenvolvimento do raciocínio em Geometria, e a perspectiva histórico-

cultural de Vygotsky, com foco na Educação Matemática.

4.1 A TEORIA DE VAN HIELE E O DESENVOLVIMENTO DO

PENSAMENTO GEOMÉTRICO

Ao ensinarmos Geometria, devemos ter clareza que as pessoas não têm um

pensamento único, um mesmo modo de pensar acerca das ideias geométricas. Van de

Walle (2009) pontua que essa diferenciação não gera nenhum empecilho com relação à

nossa capacidade de promover o desenvolvimento do pensamento geométrico. As

pesquisas do casal de educadores holandeses, Pierre van Hiele e Dina van Hiele-Geldof,

têm contribuído para a identificação de “[...] diferenças no pensamento geométrico e

como essas diferenças são estabelecidas.” (VAN DE WALLE, 2009, p. 439). Isso posto,

consideramos, nesta pesquisa, a teoria de van Hiele para a compreensão dos processos

de aprendizagem da Geometria escolar com ênfase em perímetro e área.

Nasser (2014) relata que a maioria dos alunos do Ensino Médio, mesmo

aqueles que compreendem os conteúdos algébricos, têm dificuldades em Geometria.

“Destacam-se as dificuldades no processo dedutivo e em demonstrações.” (NASSER,

2014, p. 1). Ligada a esta constatação, a mesma autora nos diz que a explicação mais

plausível para a questão: “Por que será que tantos estudantes que dominam a maioria

dos assuntos escolares não chegam a lugar nenhum em Geometria?”, lançada por

Wirszup (1976 apud NASSER, 2014), foi dada pelo modelo de van Hiele para o

pensamento geométrico. Tal modelo propõe que o progresso dos alunos no aprendizado

de Geometria ocorre por meio de sequência de níveis de compreensão dos conceitos

geométricos.

Um ponto positivo dessa teoria é o fato de ter se originado em sala de aula,

quando os professores holandeses Pierre e Dina van Hiele observaram as

dificuldades de seus alunos ao resolver tarefas em Geometria. Dedicaram

seus estudos de doutorado a esse problema, concluídos em 1957 pela Universidade de Utrecht. Eles focaram seus trabalhos nos diversos níveis de

pensamento em Geometria, e no papel do insight ou compreensão na

aprendizagem de Geometria. (NASSER, 2014, p. 1).

116

Alinhado com essa assertiva, registramos que: “Sob a orientação do

eminente educador matemático Hans Freudenthal (holandês, 1905-1990), os van Hiele

pesquisaram o ensino da Geometria com alunos de 12 e 13 anos [...].” (LORENZATO,

1995, p. 10). De Villiers (2010) nos relata que a tese de Pierre procurava, basicamente,

explicar a razão pela qual os alunos tinham problemas de aprendizagem em Geometria,

ou seja, ela tinha um caráter explicativo e descritivo. Por seu turno, Dina desenvolveu

uma tese, segundo uma abordagem didática da Geometria e, sob tal forma, apresentava

um perfil prescritivo no que tange à organização do conteúdo de Geometria e atividades

a serem propostas com vistas ao aprendizado do alunado.

Lorenzato (1995) diz que o casal van Hiele enfatizava a manipulação de

artefatos didáticos e defendia a ideia que o procedimento didático adequado podia trazer

resultados positivos de aprendizagem e que esta somente se efetivava, quando o nível de

ensino não era superior ao nível de pensamento do aluno.

De acordo com Nasser (1992 apud ALMEIDA, 2011), o modelo de van

Hiele de desenvolvimento do pensamento geométrico alicerçou-se, principalmente, na

psicologia genética de Jean Piaget (suíço, 1896-1970) sobre a evolução de aquisição de

conhecimento pelo ser humano, sendo estabelecida uma relação entre as estruturas de

inteligência com base na progressão de estágios. Contudo, Nasser (1998 apud

ALMEIDA, 2011) está inserida no rol de autores – do qual o próprio Piaget faz parte –

que advogam a seguinte ideia: as atividades realizadas no campo da Geometria no

decorrer da vida e a vivência geométrica exercem uma influência maior na construção

do pensamento geométrico do que o simples fato de o indivíduo encontrar-se em uma

dada faixa etária. Tal defesa, segundo Almeida (2011), é feita por Piaget em sua obra O

Juízo na Criança, escrita em 1932, deixando patente a peculiaridade do processo de

apreensão de conhecimentos geométricos.

A aquisição de saberes geométricos, conforme o modelo de van Hiele,

acontece a partir dos seguintes pilares teóricos:

A partir desses estudos, a teoria passou por reformulações a atualizações

pelos autores e por outros colaboradores, e tem sido base de diversos

projetos de pesquisa e publicações especializadas referentes à Educação

Matemática em todo o mundo sobre o ensino-aprendizagem de geometria.

(ALMEIDA, 2011, p. 11-12)

117

(I) existem cinco níveis de pensamento geométrico que se encontram

ordenados por graus de complexidade. Esses níveis possibilitam

caracterizar a evolução cognitiva do aluno, relativa ao entendimento

de um dado conhecimento geométrico;

(II) há cinco fases de ensino rigorosamente demarcadas. Elas devem

orientar a produção e a efetivação de uma metodologia de ensino e

de aprendizagem de Geometria que oportunize o desenvolvimento

do raciocínio geométrico do aluno, com vistas a auxiliá-lo na

progressão entre os níveis de saber geométrico.

Tanto o aspecto metodológico quanto o pedagógico da teoria de van Hiele

são alvo de críticas. As questões levantadas dizem respeito a não consensualidade

quanto às diferenças individuais e à progressão de um nível para outro.

Partindo do princípio que, em uma sala de aula, há alunos em patamares

distintos de conhecimento, consideramos fundamental que o professor mantenha-se

atento quanto à escolha de um enfoque adequado a essa realidade, oportunizando,

assim, o aprendizado da Geometria. Ao serem apresentadas propostas de atividades

ligadas ao ensino de Geometria que apresentam um nível não possível de ser atingido

pelo aluno naquela ocasião e, por consequência, não se efetivando a compreensão por

parte dele, teremos a realização de um trabalho pedagógico desprovido de sua função

didática, como afirma Nasser (1992 apud ALMEIDA, 2011).

Assim, pertinente ao primeiro fundamento teórico do modelo de van Hiele,

registramos uma escala hierárquica composta por cinco níveis, onde em cada um temos

a descrição dos processos de pensamento utilizados em contextos geométricos, ou seja,

“ [...] como pensamos e quais os tipos de ideias geométricas sobre as quais pensamos

Entre as principais críticas, cabe destacar aquela em que van Hiele

considerava os alunos como um grupo homogêneo, sem que existissem

diferenças individuais, com estilos cognitivos diferenciados e preferências

distintas de aprendizagem. Outro problema enfrentado por pesquisadores

para a utilização dos níveis de van Hiele é referente aos supostos saltos

bruscos entre os níveis do pensamento geométrico. Os autores [Campos,

Silva, Candido (s/d); Mattos (1992); Nasser (1994)] acreditam que, como

instrumento de análise, os resultados das pesquisas seriam mais precisos ao

considerar a continuidade na aquisição de conhecimento geométrico,

passando por um período de transição, isto é, sem saltos bruscos, na

passagem de um nível a outro no aprendizado. (ALMEIDA, 2011, p. 13)

118

mais do que a quantidade de conhecimento ou de informação que temos em cada nível.”

(VAN DE WALLE, 2009, p. 440).

Nesse sentido, Almeida (2011) fala que, no modelo de van Hiele, os níveis

de aprendizagem se estendem da percepção intuitiva e mais simples das formas

geométricas até o nível de maior complexidade. Neste nível, os alunos apresentam

habilidades para demonstrações formais e abstratas. Em outras palavras, esse modelo

abarca a totalidade de um processo de aprendizagem gradual e contínua. “Assim, a

intuição, o raciocínio e a linguagem geométrica são valorizados no processo de

aprendizagem como forma de o aluno construir ele próprio suas noções e possíveis

conceitos de geometria a partir de contatos e experiências geométricas.” (ALMEIDA,

2011, p. 12).

Os cinco níveis de compreensão das ideias geométricas sugeridos por van

Hiele, em ordem crescente de complexidade, e retratados por Crowley (1994),

Lorenzato (1995), Almeida (2011), Van de Walle (2009) e Nasser (2014), dentre outros,

são denominados visualização, análise, dedução informal, dedução e rigor. A seguir,

expomos, de forma resumida, a nossa percepção a respeito desses níveis:

1º. nível (Visualização ou reconhecimento): neste nível básico, os alunos

reconhecem as figuras geométricas e usam a nomenclatura correspondente

com base na aparência global das mesmas, porém não identificam as suas

propriedades geométricas. Ao ser perguntado, por exemplo, por que ele

identifica um triângulo, o aluno responde algo próximo de “porque é

parecido com um triângulo”;

2º. nível (Análise): os alunos, por meio da experimentação e da

observação, dão passos no sentido de diferenciar as figuras geométricas

pelas propriedades geométricas que seus elementos apresentam, como

também fazer uso dessas propriedades para resolverem problemas. Ex.: Um

quadrado é descrito por meio das propriedades: lados opostos paralelos e

iguais, 4 ângulos retos e 4 lados iguais;

3º. nível (Dedução informal ou classificação ou ordenação): ao

alcançarem este estágio, os alunos estabelecem relações entre as figuras

geométricas a partir de suas propriedades, contudo não dominam o processo

dedutivo. Exemplo: os alunos reconhecem que os quadrados formam uma

subclasse da classe dos retângulos, pois constatam que aqueles têm todas as

propriedades destes;

119

4º. nível (Dedução): neste nível, há compreensão do processo dedutivo e

os alunos produzem hipóteses e analisam argumentos por ocasião da

construção de demonstrações. Mostram discernimento diante de uma

afirmação e sua recíproca. Como exemplo, podemos citar a demonstração

de propriedades dos quadriláteros através da congruência de triângulos;

5º. nível (Rigor): no nível de maior complexidade da teoria de van Hiele,

os alunos são capazes de realizar demonstrações no plano abstrato e

trabalhar com Geometrias regidas por sistemas axiomáticos distintos, o que

requer a compreensão das Geometrias Não-Euclidianas. Exemplo:

desenvolver estudos no campo da Geometria Esférica.

Ao entrarmos em contato com uma retrospectiva de pesquisas sobre a teoria

de van Hiele realizadas a partir dos anos 1980, deparamo-nos com a seguinte menção:

Consideramos como subestrutura conceitual adequada aquela “[...] na

qual a explicação lógica eventual (prova) está implicitamente embutida.” (DE

VILLIERS, 2010, p. 410). A título de exemplo, esse autor nos fala de uma atividade em

que é usada figura triangular de papel com objetivo de levar os alunos a “descobrirem”

que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo, no plano, é sempre igual

a 180 graus. Atividades que mostram semelhanças com essa, segundo De Villiers

(2010), oportunizam uma estrutura conceitual muito mais apropriada para uma possível

explicação (prova) do que, por exemplo, aquela propiciada a partir da proposta dos

alunos obterem as medidas dos ângulos de um triângulo com um transferidor, adicioná-

las e chegar à referida soma (isso desprezando os erros inerentes ao procedimento

experimental).

Van de Walle (2009) ao discorrer sobre as características dos níveis da

teoria de van Hiele conceitua objetos de pensamento e produtos de pensamento. Objetos

de pensamento correspondem àqueles entes geométricos sobre os quais pensamos

(operamos no campo das ideias), enquanto produtos de pensamento estão relacionados

Um aspecto muito importante da teoria de Van Hiele é que ela enfatiza que

atividades informais nos níveis 1 e 2 [que indicamos por 1º. e 2º. níveis,

respectivamente] deveriam fornecer as “subestruturas conceituais”

adequadas para as atividade formais do nível seguinte.” (DE VILLIERS,

2010, p. 409).

120

às relações que estabelecemos entre essas ideias geométricas (objetos). Vejamos o

quadro em anexo:

Quadro 2 – Relações entre objetos de pensamento e produtos de

pensamento conforme o modelo de van Hiele

Fonte: Elaboração própria a partir de Van de Walle (2009)

Reparemos que esse quadro mostra a relação objeto-produto entre os níveis

de desenvolvimento do raciocínio em Geometria da teoria de van Hiele. De acordo com

a hierarquização vigente nesse modelo teórico, os produtos de pensamento de um dado

nível tornam-se os objetos de pensamento no nível imediatamente superior. Desse

modo, uma atividade adequada a um determinado nível pode ser sofrer alterações de

forma a se tornar compatível ao nível que o sucede.

Ao abordar a teoria de van Hiele, Crowley (1994) e Nasser (2014) referem-

se ao que acabamos de ventilar como caráter intrínseco e extrínseco desse modelo, onde

E de um modo mais sucinto: “[...] o que está implícito num nível torna-se

explícito no próximo nível.” (NASSER, 2014, p. 2).

Ao trabalharmos com esse modelo teórico, nós, professores, contamos com

outros marcos característicos (propriedades) ligados aos níveis de pensamento e que

foram também detectados pelo casal van Hiele. “Essas propriedades são particularmente

Níveis de van Hiele Objetos de pensamento Produtos de pensamento

Nível 1 – visualização As formas e “o que elas

parecem”

Classes ou agrupamentos de

formas que “são parecidas”

Nível 2 – análise Classes de formas Propriedades das formas

Nível 3 – dedução informal Propriedades das formas Relações entre as propriedades de

objetos geométricos

Nível 4 – dedução Relações entre as

propriedades de objetos

geométricos

Sistemas axiomáticos dedutivos

para a Geometria

Nível 5 – rigor Sistemas axiomáticos

dedutivos para a

Geometria

Comparações e confrontos entre

os diferentes sistemas axiomáticos

da Geometria

os objetos inerentes a um nível tornam-se os objetos de ensino no nível

seguinte. Por exemplo, no nível 0 apenas a forma de uma figura é

percebida, a figura é, obviamente, determinada por suas propriedades, mas

só nível 1 a figura é analisada e seus componentes e propriedades são

descobertos.” (CROWLEY, 1994, p. 5)

121

significativas para educadores, pois podem orientar a tomada de decisões quanto ao

ensino.” (CROWLEY, 1994, p. 4). Vejamos tais características:

sequencial ou hierarquia: para o aluno atingir qualquer nível de

complexidade maior do que a do nível básico (nível 1), ele deve

necessariamente percorrer todos os níveis anteriores, sucessivamente. “Para

se sair bem num determinado nível, o aluno deve ter assimilado as

estratégias dos níveis precedentes.” (CROWLEY, 1994, p. 5);

avanço: alunos do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio podem estar

no mesmo patamar de pensamento geométrico, “a progressão (ou não) de

um nível para outro depende mais do conteúdo e dos métodos de instrução

recebidos do que da idade.” (CROWLEY, 1994, p. 4) ou “a experiência

geométrica é o fator mais simples de maior influência sobre o avanço ou

desenvolvimento através dos níveis.” (VAN DE WALLE, 2009, p. 444);

linguística: “Cada nível tem seus próprios símbolos linguísticos e seus

próprios sistemas de relações que ligam esses símbolos.” (CROWLEY,

1994, p. 5). A implicação dessa falta de adequação linguística é uma

possível aprendizagem mecânica, caracterizada pela repetição e

memorização sem compreensão. Em outras palavras, “Não há entendimento

entre duas pessoas que estão raciocinando em níveis diferentes ou se a

instrução é dada num nível mais avançado que o atingido pelo aluno.”

(NASSER, 2014, p.2);

desnível ou combinação inadequada: o professor deve estar sempre com

a sua atenção voltada “[...] para a escolha de uma abordagem de ensino

adequada aos diferentes níveis dos alunos durante o aprendizado da

geometria.” (ALMEIDA, 2011, p. 13). Propor atividades que apresentam

um nível inacessível pelo aluno em um dado momento do ensino de

Geometria não oportuniza um entendimento por parte do mesmo. Decorre

dessa situação a não observação do aprendizado e do progresso almejados,

ou seja, “[...] se o professor, material didático, conteúdo, vocabulário, [...]

estiverem num nível mais alto que o aluno, este não será capaz de

acompanhar os processos de pensamento que estarão sendo empregados.”

(CROWLEY, 1994, p. 5).

122

A partir das duas últimas propriedades, podemos inferir que não há

comunicação entre professor e aluno “Quando o ensino ou a linguagem está em um

nível superior ao estudante [...].” (VAN DE WALLE, 2009, p. 444). Em outras

palavras, “Não há entendimento entre duas pessoas que estão raciocinando em níveis

diferentes ou se a instrução é dada num nível mais avançado que o atingido pelo aluno.”

(NASSER, 2014, p.2). Assim, deve existir uma sintonia entre eles e “[...] um mesmo

estilo de linguagem e vocabulário geométrico, caso contrário, o aprendizado

dificilmente ocorreria.” (NASSER, 1992 apud ALMEIDA, 2011, p. 14).

Conforme já expomos, os van Hiele foram categóricos ao dizerem que o

avanço ao longo dos níveis guarda mais dependência com a instrução ofertada ao aluno

do que com a idade ou da maturidade. “Portanto, o método e a organização do curso,

assim como o conteúdo e o material usados, são importantes áreas de preocupação

pedagógica.” (CROWLEY, 1994, p. 6). Pertinente à ação professoral, temos inserida no

modelo de van Hiele a proposta de etapas sequenciais de ensino. “[...] a instrução

desenvolvida de acordo com essa sequência promove a aquisição de cada um dos

níveis.” (VAN HIELE-GELDOF, 1984b apud CROWLEY, 1994, p. 6).

Essas etapas foram definidas em cinco fases de aprendizagem, a saber:

interrogação, orientação dirigida, explicação, orientação livre e integração. Na

apresentação dessas fases, vamos nos reportar às descrições de autores como Almeida

(2011), Crowley (1994) e Nasser (2014):

fase 1(Interrogação/informação): através de conversas e desenvolvimento

de atividades, os alunos entram em contato com o tema a ser estudado e o

professor tem acesso tanto ao conhecimento prévio dos alunos acerca do

assunto como o vocabulário por eles usado. Diante disso, o vocabulário

específico do nível é introduzido e é direcionado o avanço dos estudos.

Achamos oportuno observar que “Essa fase pode ser suprimida caso os

alunos demonstrem conhecimentos suficientes para prosseguir no estudo do

tópico proposto.” (ALMEIDA, 2011, P. 16);

As denominadas fases da teoria de van Hiele sugerem orientações para a

elaboração e aplicação de uma metodologia didática dividida em etapas de

ensino, que servem como estratégias práticas a fim de auxiliar o

desenvolvimento do pensamento geométrico do aluno. (ALMEIDA, 2011,

p. 16)

123

fase 2 (Orientação dirigida): os alunos devem ser levados a descobrirem e

compreenderem as relações presentes no tópico de estudos. Isso ocorrerá

mediante um planejamento, uma organização de materiais didáticos

diferenciados que eles usarão sempre com a orientação do professor. Desse

modo, tais atividades “[...] serão pequenas tarefas com o objetivo de suscitar

respostas específicas.” (CROWLEY, 1994, p. 6) e, com isso, “[...] devem

revelar gradativamente aos alunos as estruturas características do nível.”

(NASSER, 2014, p. 4);

fase 3 (Explicitação): a interação é o ponto forte dessa fase. As atividades

propostas aos alunos devem apresentar um caráter mais desafiador,

motivando-os tanto para a troca de ideias como para expressar oralmente e

registrar suas descobertas por meio de uma linguagem precisa e compatível.

Assim, “Ao professor, cabe ficar atento à linguagem adequada a ser

utilizada nesta fase pois alunos e professor precisam ser compreendidos a

partir de um conjunto de termos mais apropriados à linguagem geométrica.”

(ALMEIDA, 2011, p.17);

fase 4 (Orientação livre): com tarefas de maior complexidade nas mãos e

com pequena participação do professor, os alunos buscam soluções

diferentes para questões propostas em um processo de sedimentação de seus

conhecimentos geométricos. “O professor fornece instruções e incentiva os

alunos a refletirem sobre as soluções encontradas, a fim de que o aluno

ganhe experiência e autonomia.” (ALMEIDA, 2011, p. 17);

fase 5 (Integração): nessa fase, o aluno encontra-se na condição de

mostrar uma visão global do conteúdo trabalhado. Cabe ao professor propor

atividades que se limitem a fazer um resgate dos conhecimentos adquiridos,

oportunizando, ao alunos fazerem “[...] uma síntese do que foi aprendido.”

(ALMEIDA, 2011, p. 17). Ao término da derradeira fase, “[...] os alunos

alcançaram um novo nível de pensamento. O novo domínio de raciocínio

substitui o antigo, e os alunos estão prontos para repetir as fases de

aprendizado no nível seguinte.” (CROWLEY, 1994, p. 8).

Concernente às fases, identificamos que alterações e a estabilidade de ideias

relacionadas ao entendimento do conteúdo geométrico estudado são atingidas,

124

particularmente na etapa de explicitação (terceira fase), como frutos das interações entre

os alunos no decorrer dos trabalhos grupais e com o professor. Nas fases posteriores,

fica notório que a ênfase está no campo da resolução de problemas e na produção de

relatórios. Isso nos faz acreditar que essas são ocasiões propícias para que “a abordagem

seja partilhada entre todos os membros do processo de ensino-aprendizagem e, portanto,

possam ser internalizadas a partir das interações sociais e da exploração da zona de

desenvolvimento proximal, segundo Vygotsky.” (ALMEIDA, 2011, p. 18). Vygotsky

afirma ser essencial a interação social para que o desenvolvimento do conhecimento

ocorra. É exatamente sobre essa visão que vamos nos debruçar a seguir.

4.2 A PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY E A EDUCAÇÃO

FORMAL

Na perspectiva de Vygotsky, as características humanas são frutos das

relações homem-sociedade. Em decorrência disso, buscando atender suas necessidades,

o homem transforma o meio (natural e cultural) e transforma-se a si mesmo. Entre as

relevantes contribuições das ideias vygotskianas no âmbito da educação escolar,

destacamos: análise da influência da prática pedagógica no processo de constituição das

funções psicológicas superiores e discussão sobre a zona de desenvolvimento proximal.

4.2.1 Abordagem interacionista de Lev Vygotsky

Lançarmos um olhar maiúsculo sobre a concepção construtivista (ou

interacionista) de Lev Vygotsky (bielo-russo, 1896-1934) é nos inserimos no campo das

teorias de aprendizagem, entendendo por teoria de aprendizagem uma elaboração

humana que: “[...] Representa o ponto de vista de um autor/pesquisador sobre como

interpretar o tema aprendizagem, quais as variáveis independentes, dependentes e

intervenientes. Tenta explicar o que é aprendizagem e porque funciona como funciona.”

(MOREIRA, 1999, p. 12).

De acordo com Moreira (1999), não há rigorosidade no uso do termo teoria

de aprendizagem, pois nem mesmo o próprio conceito de aprendizagem chega a ser

consensual – aquisição de informação (aumento do conhecimento), condicionamento e

construção de novos significados, de novas estruturas mentais são algumas das

“definições” dadas à aprendizagem. Esse autor ressalta que, via de regra, todas essas

“definições” fazem referência à aprendizagem cognitiva cujo foco é a cognição, o ato de

conhecer, ou seja, é “[...] àquela que resulta no armazenamento organizado de

125

informações, de conhecimentos, na memória do ser que aprende, e esse complexo

organizado é conhecido como estrutura cognitiva.” (MOREIRA, 1999, p. 13).

Comumente é estabelecida uma distinção entre a aprendizagem cognitiva e

as aprendizagens afetiva e psicomotora, diz Moreira (1999), acrescentando que tal

diferenciação está assentada na questão de foco. A aprendizagem afetiva focaliza mais

as experiências que implicam em prazer, dor, satisfação ou ansiedade, por exemplo,

enquanto a aprendizagem psicomotora está voltada fortemente às respostas musculares

em decorrência de prática e treino, não obstante em “algumas experiências afetivas

sempre acompanhem aprendizagem cognitivas e estas geralmente estejam envolvidas na

aquisição de habilidades motoras.” (MOREIRA, 1999, p. 13).

O autor em destaque afirma que toda teoria tem subjacente uma filosofia,

aqui expressa no sentido de visão de mundo. As filosofias denominadas

comportamentalista (behaviorismo), humanista e cognitivista (construtivista) são as

subjacentes às teorias de aprendizagem, entretanto é comum não incluir uma dada teoria

de aprendizagem em somente uma corrente filosófica. De forma sintética, o ponto forte

da visão behaviorista reside nos comportamentos observáveis e mensuráveis do sujeito.

Em outras palavras, as respostas dadas pelo sujeito aos estímulos externos. Nessa

perspectiva, considerava-se que as aprendizagens desejadas tinham ocorrido, quando os

objetivos comportamentais eram atingidos.

A tônica da filosofia humanista é tornar a aprendizagem algo além do

aumento de conhecimentos. É trabalhar com vistas à multidimensionalidade do aluno. A

aprendizagem sob esse enfoque integrador tem influência sobre os sentimentos,

pensamentos e ações dos alunos, para o bem ou para o mal. Essa linha de pensamento

originou o “ensino centrado no aluno”. Por seu lado, a corrente cognitivista coloca em

destaque aquilo que não é levado em consideração pelos comportamentalistas, a saber: a

cognição; como o ser humano conhece o mundo.

A filosofia cognitivista trata, então, principalmente dos processos mentais;

se ocupa da atribuição de significados, da compreensão, transformação,

armazenamento e uso da informação envolvida na cognição. Na medida em

que se admite, nessa perspectiva, que a cognição se dá por construção

chega-se ao construtivismo, tão apregoado nos anos noventa. (MOREIRA,

1999, p. 15).

126

Acreditamos ser relevante para nosso estudo a informação veiculada por

Moreira (1999) referente à teoria de desenvolvimento cognitivo formulada por

formulada por Lev Vygotsky – que teve os russos Alexander Luria (1902-1977) e

Alexei Leontiev (1903-1979) como seus colaboradores mais próximos. Pela razão

exposta no início do capítulo, ela é aceita, sem maiores objeções, como teoria de

aprendizagem. De acordo com Oliveira (1993), Vygotsky atrai educadores porque é um

autor que valoriza muito a escola, o professor, a intervenção pedagógica e o papel do

educador na formação do sujeito.

Autores como Moreira (1999), Oliveira (1993) e Rego (2011) afirmam

categoricamente: um dos pressupostos da teoria sociointeracionista formulada por Lev

Vygotsky é que o desenvolvimento intelectual do ser humano está intrinsecamente

ligado às interações de natureza social. “[...] Aliás, a asserção de que os processos

mentais superiores [pensamento, linguagem, comportamento volitivo] do indivíduo têm

origem em processos sociais é um dos pilares da teoria vygotskiana.” (MOREIRA,

1999, p. 109). Em outras palavras, o desenvolvimento cognitivo só pode ser

compreendido a partir do contexto social, histórico e cultural no qual acontece.

Conforme Oliveira (1993), Vygotsky percebeu que as ideias fundamentais

do materialismo histórico-dialético dos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich

Engels (1820-1895) poderiam contribuir de forma substancial para suas formulações

teóricas. Dentre as premissas do materialismo histórico-dialético ou postulados

marxistas que lhe foram caros, destacamos:

o homem é um ser histórico, que se constrói através de suas relações

com o mundo natural e social. O processo de trabalho (transformação da

natureza) é o processo privilegiado nessas relações homem/mundo;

a sociedade humana é uma totalidade em constante transformação.

É um sistema dinâmico e contraditório, que precisa ser compreendido

como processo em mudança, em desenvolvimento;

as transformações qualitativas ocorrem através da chamada “síntese

dialética” onde, a partir de elementos presentes em uma determinada

situação, fenômenos novos surgem. Essa é a concepção de síntese que

Vygotsky faz uso no decorrer de sua extensa produção científica.

Com a concepção interacionista vygotskiana, temos uma nova abordagem

sobre a origem e a evolução dos processos mentais humano e as relações entre a

127

sociedade e os indivíduos nela inseridos, implicando em um modo diferente de

compreender o processo educacional. “Vygotsky, inspirado nos princípios do

materialismo dialético, considera o desenvolvimento da complexidade da estrutura

humana como um processo de apropriação pelo homem da experiência histórica e

cultural.” (REGO, 2011, p. 93).

Lev Semenovich Vygotsky é chamado de interacionista porque ao procurar

explicar os processos mentais do homem considera fatores intraindividuais e influências

advindas do ambiente. Esses três estudiosos levantam teses pertinentes a uma

abordagem genética do se refere à transmissão dos caracteres hereditários e sim à

gênese, à origem e ao desenvolvimento psicológico do ser humano. “[...] Vygotsky

busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo

da história da espécie humana e da história individual.” (OLIVEIRA, 1993, p. 56).

No enfoque vygotskiano, há quatro planos genéticos, ou seja, existem

quatro entradas que, conjuntamente, caracterizariam o funcionamento psicológico do

ser humano, a saber: a filogênese, a ontogênese, a sociogênese e a microgênese. De

modo extremamente breve, temos que “a história da espécie (filogênese), a história do

grupo cultural [sociogênese], a história do organismo individual da espécie (ontogênese)

e a sequência singular de processos e experiências vividas por cada indivíduo

[microgênese].” (OLIVEIRA, 1993, p. 38).

De acordo com a teoria de Vygotsky é “a interação social, seja diretamente

com outros membros da cultura, seja através dos diversos elementos do ambiente

culturalmente estruturado, [que] fornece a matéria-prima para o desenvolvimento

psicológico do indivíduo.” (OLIVEIRA, 1993, p. 38). Enfatizamos que o processo de

internalização dessa matéria-prima não se configura como um processo em que há

passividade por parte do indivíduo. Na verdade, o processo é marcado por

transformação, por síntese. “[...] num processo em que as atividades externas e as

funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas.”

(OLIVEIRA. 1993, p. 38). Assim,

[...] o desenvolvimento cognitivo é a conversão de relações sociais em

funções mentais. Não é por meio do desenvolvimento cognitivo que o

indivíduo se torna capaz de socializar, é na socialização que se dá o

desenvolvimento dos processos mentais superiores [pensamento,

linguagem, comportamento volitivo]. (DRISCOLL, 1995, p. 229 apud

MOREIRA, 1999, p. 110).

128

Nosso entendimento é que o processo de desenvolvimento do ser humano,

do ponto de vista vygotskiano, é motivado pela aprendizagem que, por usa vez, resulta

das interações sociais.

Sob nosso olhar, não há como fugir da seguinte indagação: como as relações

sociais se transformam, no indivíduo, em funções psicológicas? “[...] É pela mediação

que se dá a internalização (reconstrução interna de uma operação externa) de atividades

e comportamentos sócio-históricos e culturais [...].” (GARTON, 1992, p. 89 apud

MOREIRA, 1999, p. 110). Esse autor também pontua que a mediação, ou seja, uma

atividade mediada de modo não direto, é peculiar da cognição humana. Em outras

palavras, mediação “[...] é um processo de intervenção de um elemento intermediário

numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse

elemento.” (OLIVEIRA, 1993, p. 26).

A título de exemplo, Oliveira (1993) fala uma criança ao aproximar a mão

da chama de uma vela e a afasta ao sentir dor, está caracterizada uma relação direta

entre o calor liberado pela chama e a retirada da mão. Se essa criança está diante de uma

vela acesa e não coloca a sua mão perto da chama ou porque se lembra da experiência

passada ou porque alguém alerta que ela pode sofrer uma queimadura são relações

mediadas pela experiência vivenciada e pela intervenção da pessoa que deu o aviso,

nesta ordem.

A mediação é um conceito central para o entendimento das abordagens

vygotskianas sobre as funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores.

Segundo Vygotsky, a relação de uma pessoa com o mundo é, essencialmente, uma

relação mediada. “[...] As funções psicológicas superiores apresentam uma estruturada

tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da

atividade humana.” (OLIVEIRA, 1993, p. 27).

Vygotsky classificou os elementos mediadores em instrumentos e signos.

Oliveira (1993) nos informa que apesar de existir uma certa semelhança entre esses dois

tipos de mediadores, os mesmos também apresentam diferenças bem acentuadas e, por

conta disso, devem ser analisados em separado.

[...] Um instrumento é algo que pode ser usado para fazer alguma coisa;

um signo é algo que significa alguma outra coisa. Existem três tipos de

signos: 1) indicadores, são aqueles que têm uma relação de causa e efeito

com aquilo que significam [...]; 2) icônicos, são imagens ou desenhos

129

O destaque dado por Vygotsky para os instrumentos na atividade humana se

deve, notadamente, a influência dos postulados marxistas.

No olhar de Vygotsky, a utilização de instrumentos como elemento

mediador entre o homem e o ambiente é um divisor de águas entre os seres humanos e

os demais animais, pois nós atuamos “[...] dominando a natureza ao invés de

simplesmente usá-la como estes [os outros animais] o fazem.” (MOREIRA, 1999, p.

111). Ele prolongou essa ideia para o uso de signos. Instrumentos e sistemas de signos

(por exemplo, a linguagem e a Matemática) são criados pelas sociedades humanas no

decorrer da história, provocam alterações e exercem influências no desenvolvimento

social e cultural das mesmas. Isto é, “[...] instrumentos e signos são construções sócio-

históricas e culturais; através da apropriação (internalização) destas construções, via

interação social, o sujeito se desenvolve cognitivamente.” (MOREIRA, 1999, p. 111).

Conforme enunciado, o signo é algo que significa alguma outra coisa e a

interação social, ponto fulcral na teoria de Vygotsky, está relacionada diretamente com

a aquisição de significados. Palavras e gestos, exemplos de signos, têm seus

significados construídos socialmente. Como exemplo, Moreira (1999) cita a palavra

pesquisa. No Brasil, ela nos remete à atividade científica, já em terras espanholas, está

comumente associada à investigação policial. Quando nós, brasileiros, fazemos o gesto

de apontar o dedo polegar esticado para baixo estamos comunicando que alguma coisa

não deu certo, o resultado não foi positivo. Na Roma antiga, com esse gesto, o

imperador determinava a execução de um lutador vencido em combate.

Segundo Oliveira (1993), a invenção e o uso de signos como meios

auxiliares para resolver um dado problema psicológico (lembrar, comparar, relatar e

De acordo com Marx, o desenvolvimento de habilidades e funções

específicas do homem, assim como a origem da sociedade humana, são

resultados do surgimento do trabalho. É através do trabalho que o homem,

ao mesmo tempo que transforma a natureza (objetivando satisfazer suas

necessidades), se transforma. Para realizar sua atividade, o homem se

relaciona com seus semelhantes e fabrica os meios, os instrumentos [...].

(REGO, 2011, p. 51).

daquilo que significam; 3) simbólicos, são os que têm uma relação abstrata

com o que significam. As palavras, por exemplo, são signos lingüísticos, os

números são signos matemáticos; a linguagem, falada e escrita, e a

matemática são sistemas de signos. (MOREIRA, 1999, p. 110).

130

escolher, por exemplo), é semelhante à criação e à utilização de ferramentas

intermediárias (instrumentos) que fazem uma mediação entre a ação concreta do homem

sobre o mundo e o mundo. Os signos são formas posteriores de mediação que recebe o

nome de mediação semiótica ou simbólica, efetivando uma interposição entre o sujeito e

o objeto de conhecimento. A reconstrução interna (internalização) de signos por uma

pessoa ocorre quando há compartilhamento dos “significados já aceitos no contexto

social em que se encontra ou já construídos social, histórica e culturalmente.”

(MOREIRA, 1999, p. 113).

Para Vygotsky, o sistema de signos que mais contribui para o crescimento

cognitivo da criança é a linguagem (falada e escrita) pois o uso da signos linguísticos

(palavras, no caso) oportuniza que a criança ganhe, progressivamente, distância do

contexto concreto. O desenvolvimento da linguagem em uma pessoa tem início como

fala social (linguagem como comunicação), passa a fala egocêntrica (linguagem como

mediadora de ações) e desta para a fala interna. “[...] A internalização da fala leva à

independência em relação à realidade concreta e permite o pensamento abstrato flexível,

independente do contexto externo.” (GARTON, 1992, p. 92-93 apud MOREIRA, 1999,

p. 115). Assim, a gradativa descontextualização é uma constatação da evolução dos

processos mentais superiores.

Oliveira (1993) destaca que Vygotsky trabalha com duas funções básicas da

linguagem: a comunicação e o pensamento generalizante. Concisamente, a

comunicação é um aspecto da linguagem verificada nos animais, pois eles se

comunicam por algum tipo de linguagem (gestual ou sonora) com os outros membros da

espécie. No caso do ser humano, o chorar está entre as primeiras expressões

comunicativas. Posteriormente, no decorrer do desenvolvimento, é estabelecida uma

forte relação entre pensamento e linguagem, correspondendo a um grande salto

qualitativo na forma de relação do homem com o mundo. Assim, o pensamento

generalizante nos capacita de abstrair, de generalizar, de classificar.

A seguir, vamos tratar da aprendizagem e da evolução intelectual humana

com base na teoria de Vygotsky. Ademais, em uma visão macroscópica, traçar um

paralelo entre as concepções inatistas e ambientalistas e as ideias de Vygotsky sobre

esses temas e a educação escolar.

131

4.2.2 Aprendizagem e desenvolvimento cognitivo: enfoque vygotskiano

Na perspectiva teórica de Vygotsky, a aprendizagem, produto da interação

social, mostra-se como condição necessária para o desenvolvimento cognitivo que, por

seu turno, requer a internalização dos elementos mediadores e, em particular, dos

signos, em quadros interativos. Tal interação social que suscita a aprendizagem deve

acontecer dentro da zona de desenvolvimento proximal do sujeito. Formalmente,

Vygotsky define zona de desenvolvimento proximal dizendo que

Conceituada como a diferença entre aquilo que uma pessoa mostra-se capaz

de realizar sozinha e o que pode fazer desde que com o auxílio de alguém, a zona de

desenvolvimento proximal

As funções mentais superiores em processo de maturação são definidas pela

zona de desenvolvimento proximal. “[...] É uma medida do potencial de aprendizagem;

[...] é dinâmica, está constantemente mudando” (MOREIRA, 1999, p. 116).

A interação social, além de promover a aprendizagem no interior da zona de

desenvolvimento proximal, demarca o “piso “ e o “teto” desta região.

[...] Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma

determinar através da solução independente de problemas, e o nível de

desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas

sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais

capazes (VYGOTSKY, 2007, p. 97)

[...] sintetiza, portanto, a concepção de desenvolvimento como apropriação

de instrumentos e, especialmente, signos proporcionados por agentes

culturais de interação, a idéia de que o sujeito humano não é só um

destilado da espécie, mas também – em um sentido menos metafórico do

que possa parecer – uma criação da cultura. (RIVIÈRE, 1987, p. 96 apud

MOREIRA, 1999, p. 116)

[...] o limite inferior é, por definição, fixado pelo nível real de

desenvolvimento do aprendiz. O superior é determinado por processos

instrucionais que podem ocorrer no brincar, no ensino formal ou informal,

no trabalho. Independentemente do contexto, o importante é a interação

social. (DRISCOLL, 1995, p. 233 apud MOREIRA, 1999, p. 117).

132

Levando em conta a premissa de Vygotsky – a constituição do homem se dá

por meio de interações sociais – fica explicito que o ser humano é “[...] alguém que

transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura [...].”

(REGO, 2011, p. 93). Daí, o seu pensamento receber o nome de sociointeracionista.

Segundo Rego (2011), ao passo que Vygotsky faz os desdobramentos do

conceito de zona de desenvolvimento proximal e de outras ideias do seu universo

teórico, temos a oportunidade de entrar em contato com elementos importantes que nos

auxiliam a compreender a inter-relação entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

Vimos que o pensamento sociointeracionista de Vygotsky, influenciado

pelos postulados do materialismo dialético, tem como premissa que o ser humano no

curso de suas interações com o meio (natural e social) sofre e provoca transformações.

Segundo Vygotsky, “[...] organismo e meio exercem influência recíproca, portanto o

biológico e o social não estão dissociados [...].” (REGO, 2011, p. 93).

Assim, ao levar em conta que a inter-relação entre o homem e o meio é um

aspecto definidor da constituição humana, a perspectiva vygotskiana vai de encontro às

abordagens comportamentalista e inatista quanto ao entendimento da origem e evolução

dos processos mentais humanos e as interações homem/sociedade. Isso, obviamente,

reflete em uma percepção sobre educação diferenciada daquela pensada à luz da teoria

de Vygotsky.

4.2.3 Educação escolar e a teoria sociointeracionista de Vygotsky

Mesmo não encontrando nas proposições teóricas de Vygotsky “soluções

práticas ou instrumentos metodológicos de imediata aplicação na prática educativa

cotidiana”. (REGO, 2011, p. 103), esta autora ressalta que a teoria vygotskiana pode

contribuir enormemente para a educação formal, pois ao expor valorosas reflexões

acerca do processo de constituição dos aspectos psicológicos exclusivamente humano,

estabelece um espaço de discussões e indagações, podendo, inclusive, nortear a

elaboração de ideias e diretrizes que façam vislumbrar alternativas no âmbito

pedagógico.

Assim, respeitadas as limitações de sua teoria, Vygotsky oportuniza uma

análise psicológica da problemática inerente ao ensino e propõem uma reavaliação de

tópicos sempre destacados no campo educacional. Ademais, verificamos no conceito de

zona de desenvolvimento proximal e também em outras teses de Vygotsky, a presença

133

de fatores que são fundamentais para um melhor entendimento da inter-relação entre

ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

A partir da explanação de Rego (2011), vamos refletir sobre as seguintes

implicações das ideias vygotskiana no âmbito da educação escolar: valorização do papel

da escola; o bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento; o papel do outro na

construção do conhecimento e o papel mediador do professor na dinâmica das

interações interpessoais e na interação das crianças com os objetos de conhecimento.

Quando aludimos à perspectiva vygotskiana voltada para a educação escolar

(na verdade, ele dedica uma atenção especial a ela), constatamos sua preocupação no

que tange “a análise das condições concretas para o desenvolvimento de um

determinado tipo de cognição” (REGO, 2011, p. 103).

Para Vygotsky, a escola tem uma função diferenciada e imprescindível. Isso

se deve ao fato dela disponibilizar conteúdos e desenvolver tipos específicos de

pensamento, aquele que favorece uma forma mais aperfeiçoada de análise e

generalização dos aspectos da realidade, o pensamento conceitual. Assim, nas

sociedades onde há educação formal, a escola é um fator indispensável à realização

integral da evolução dos indivíduos.

A escola deve propiciar a pessoa apoderar-se da experiência culturalmente

acumulada. Essa oportunidade é dada através de atividades educativas sistematizadas,

ou seja, atividades que “[...] têm uma intencionalidade deliberada e compromisso

explícito (legitimado historicamente) em tornar acessível o conhecimento formalmente

organizado.” (REGO, 2011, p. 104). Destacamos que as atividades realizadas, os

conceitos aprendidos na escola (chamados por Vygotsky de científicos) e a interação

com os conhecimentos adquiridos, levam o aprendiz a fazer uso de novas operações

mentais cuja implicação é a alteração nas formas de emprego da linguagem. Assim, ao

passo que o ser humano amplia seus conhecimentos, constatamos uma transformação

em sua relação cognitiva com o mundo.

Sabemos que a dinâmica da educação escolar é complexa. Parte dessa

complexidade é devido a fatores das esferas social, política e econômica que nela

repercutem, pois não devemos perder de vista que a escola é uma instituição que guarda

dependência com os demais integrantes do tecido social. Tendo como princípio que a

escolarização é algo fundamental para a formação do ser humano em nossa sociedade,

as ideias de Vygotsky suscitam indagações do tipo: em que medida os fatores citados

facilitam a escola cumprir sua relevante função?

134

Nossa vivência como docente não nos permite ter um olhar descolado da

realidade. Ter uma visão sem o respaldo no panorama concreto escolar seria, por

exemplo, considerar que a simples permanência do aluno na escola seja condição

suficiente para garantir que ele se aproprie do acervo do conhecimento sistematizado,

ou seja, do saber nas suas formas desenvolvidas. Na verdade, o acesso ao saber

sistematizado dependerá tanto dos fatores de natureza sociopolítica e econômica como

da qualidade de ensino ofertada. Alinhado com esse quadro, Vygotsky levam-nos a

pensar na necessidade de parâmetros mais rígidos por ocasião da avaliação do modo que

a escola vem realizando tão importante função.

É do nosso entendimento que a teoria sociocultural ao advogar que é o

aprendizado quem impulsiona os processos de desenvolvimento, toma uma posição

oposta à tendência predominante nas escolas, isto é, nos estabelecimentos de ensino a

ideia majoritária é que o desenvolvimento é pré-requisito para o aprendizado. Se a

primeira impressão é fizemos somente um jogo de palavras, na verdade, sinaliza uma

modificação na forma de compreender os processos de ensino e de aprendizagem.

Desse modo, na pré-escola, via de regra, as atividades que são propostas têm

a finalidade de desenvolver certas habilidades (noções de lateralidade e orientação

espacial, por exemplo), objetivando “preparar” as crianças para o futuro aprendizado da

língua escrita. Segundo Vygotsky, o bom ensino é aquele que precede o

desenvolvimento. Em outras palavras, o processo de ensino deve ser norteado aos

processos mentais que se encontram na iminência de efetivação. A relevância disso na

educação escolar é a melhor compreensão da zona de desenvolvimento proximal,

“lugar” onde ocorre a apreensão de saberes mediante a interação entre o indivíduo

potencialmente habilitado a aprender e pessoas mais experientes do mesmo grupo

cultural.

O ensino verbalista, baseado na transmissão oral de conhecimentos por

parte do professor, assim como as práticas espontaneísta, que abdicam de

seu papel de desafiar e intervir no processo de apropriação de

conhecimentos por parte das crianças e adolescentes, são, na perspectiva

vygotskiana, além de infrutíferos, extremamente inadequados. Seus

postulados apontam para a necessidade de criação de melhores condições

na escola, para que todos os alunos tenham acesso às informações e

experiências e possam efetivamente aprender (REGO, 2011, p. 106)

135

Em conformidade com a teoria sociointeracionista, a formação do ser

humano depende de processos de maturação orgânica e, principalmente, de interações

sociais nas quais ele se envolve. Ao realizar intercâmbios com parceiros com maior

experiência, processos mentais estreitamente relacionados ao aprendizado tornam

possível que o sujeito apodere-se do legado cultural (material e simbólico) do seu grupo

social.

Quando Vygotsky diz que a trajetória do desenvolvimento do ser humano é

no sentido do social para o individual, ele está afirmando que a apropriação requer a

internalização das atividades ocorridas no decurso das interações. Em outras palavras, a

apropriação do conhecimento sistematizado implica na conversão dos processos

externos em um processo intrapsicológico. Logo, sob a ótica vygotskiana, a construção

do conhecimento inclui uma ação compartilhada, haja vista que é por meio das pessoas

com quais interagimos que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são

consolidadas. É da incumbência do professor incentivar e promover as interações no

cotidiano das salas de aula.

A heterogeneidade, traço característico de todo grupo humano, é primordial

– na concepção sociocultural – para as interações em sala de aula. Os diversos aspectos

(contextos familiares, trajetória pessoal, valores, níveis de conhecimento etc.) dos

partícipes da interação (alunos e professor) criam as condições que possibilitam as

trocas de informações, de visão de mundo e de ajuda mútua. Esse conjunto de fatores

colabora para uma expansão das capacidades individuais.

A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que, partindo daquilo

que a criança sabe (o conhecimento que ela traz de seu conhecimento, suas

ideias a respeito dos objetos, fatos e fenômenos, suas “teorias” acerca do

que observa no mundo), ela for capaz de ampliar e desafiar a construção de

novos conhecimentos, na linguagem vygotskiana, incidir na zona de

desenvolvimento proximal dos educandos. Desta forma poderá estimular

processos internos que acabarão por se efetivar, passando a constituir a base

que possibilitará novas aprendizagens (REGO, 2011, p. 108)

Em síntese, uma prática escolar baseada nesses princípios deverá

necessariamente considerar o sujeito ativo (e interativo) no seu processo de

conhecimento, já que ele não é visto como aquele que recebe passivamente

as informações do exterior. Todavia, a atividade espontânea e individual da

criança, apesar de importante, não é suficiente para a apropriação dos

conhecimentos acumulados pela humanidade. Portanto, deverá considerar

também a importância da intervenção do professor (entendido como alguém

mais experiente da cultura) e, finalmente, as trocas efetivadas entre as

crianças (que também contribuem para os desenvolvimentos individuais).

(REGO, 2011, p. 110).

136

Vamos tecer alguns comentários, à luz das teses enunciadas por Vygotsky,

com relação do papel do professor. Com base no exposto, cremos ser óbvio que a

atuação do professor não deve se limitar a informar e formar os alunos. Se a interação

social, conforme ressaltamos inúmeras vezes, é primordial para alavancar progressos no

desenvolvimento individual, então o papel de grande destaque que cabe ao professor é o

de mediador. Em sua ação professoral, o docente é o agente que media (e oportuniza) as

interações entre os aprendizes e dos alunos com os objetos de conhecimento.

Assim, no cotidiano escolar, ao professor (não com exclusividade) é

atribuída a intervenção “nas zonas de desenvolvimento proximal” dos alunos. Ademais,

através do ensino, lançar desafios que promovam os processos de aprendizagem e

desenvolvimento cognitivo. Nessa perspectiva, a mediação qualificada, via “[...]

demonstrações, explicações, justificativas, abstrações e questionamentos [...].” (REGO,

2011, p. 115), por parte do professor é imprescindível no processo educativo. Contudo,

para que a intervenção resulte em progressões, reestruturação e aumento do saber, se faz

necessário que o professor planeje estratégias a partir do que já está sob o domínio dos

alunos, ele conheça qual o real patamar dos aprendizes. Assim, “[...] as suas

descobertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões, enfim suas ‘teorias’ acerca do

mundo circundante[...].” (REGO, 2011, p. 116) corresponderia ao ponto de largada.

Uma relação cotidiana de diálogo entre o professor e os educandos é o caminho de

acesso a esse nível efetivo dos alunos.

Para um efetivo desempenho do professor enquanto elemento mediador nos

processos de ensino e de aprendizagem no enfoque sócio-histórico, consideramos

fundamental que ele assuma o que Moysés (1997) denomina de uma atitude de

pesquisa.

Por atitude de pesquisa estou considerando uma constante preocupação do

professor em conhecer e interpretar a realidade sociocultural dos seus

alunos e da comunidade onde se insere a escola. Isso se revela por um

permanente estado de alerta em relação aos processos de apreensão do

conhecimento por parte dos alunos, tentando perceber os fatores que o

influenciam tanto positiva, quanto negativamente ou por meio da

adaptação do ensino às características do alunado, de forma a torná-lo

pleno de sentido. Mostra-se, também, quando ele procura acompanhar a

evolução dos desempenhos dos seus alunos, analisando seus resultados,

discutindo com seus pares, trocando experiências etc. (MOYSÉS, 1997, p.

64).

137

Considerando tão relevante quanto o que ventilamos, colocamos em

destaque o que é preciso para que o professor realize de modo competente seu papel

enquanto profissional da educação. Além de melhores condições salariais e de trabalho,

é essencial que o professor seja escutado, que suas ideias, hipóteses e conhecimentos

(frutos de experiência de vida laboral e particular) venham a público. Possivelmente,

isso fornecerá subsídios que o auxilie e a outros docentes na tentativa de trilhar novos

caminhos pedagógicos.

Não menos importante é o papel que cabe ao professor de professores, ou

seja, os docentes que atuam na área de formação de professores. Compartilhamos a

ideia que uma ação diferenciada dos professores em ambientes escolares se tornará

palpável junto aos alunos da educação básica – não unicamente, todavia em grande

medida –, se no decorrer da licenciatura os formadores de futuros professores incidem

na zona de desenvolvimento proximal destas pessoas. Isso se concretizando, partindo do

conhecimento já adquirido, os licenciandos serão auxiliados na construção de novos

conhecimentos e, desse modo, de posse de um embasamento teórico/prático mais

substancial, que deverá ser continuamente ampliado, reunirão melhores condições para

exercer a docência de modo mais satisfatório, isto é, os processos de ensino e de

aprendizagem darão o salto de qualidade tão propagado e até então não concretizado.

À guisa de sintetizar o olhar vygotskiano acerca da educação escolar,

registramos que

Assim, segundo Vygotsky, uma prática pedagógica alicerçada na interação

e no respeito entre seus partícipes, contribui sobremaneira para a aquisição de novos

saberes.

Os postulados de Vygotsky parecem apontar para a necessidade de criação

de uma escola bem diferente da que conhecemos. Uma escola em que as

pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar

saberes. Onde há espaço para transformações, para as diferenças, para o

erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para a criatividade.

Uma escola em que professores e alunos tenham autonomia, possam

pensar, refletir sobre o seu próprio processo de construção do

conhecimentos e ter acesso a novas informações. Uma escola em que o

conhecimento já sistematizado não é tratado de forma dogmática e

esvaziado de significado. (REGO, 2011, p. 118)

138

4.2.4 A visão histórico-cultural de Vygotsky e a Educação Matemática

Nesse segmento, buscamos pontos de aproximação entre a abordagem

sócio-histórica de Vygotsky e a aquisição de conhecimento matemático. Na composição

desse quadro, Moysés (1997) pontua que a proximidade entre a Educação Matemática e

as teses vygotskianas teve origem no Terceiro Congresso Internacional de Educação

Matemática, ocorrido na Alemanha, em meados da década de 1970.

O modo pelo qual os conteúdos escolares são trabalhados e, em particular,

os de Matemática, continua sendo alvo de críticas. A nosso juízo, ainda hoje prepondera

uma educação formal com um intenso distanciamento entre o processo de escolarização

e o mundo extramuros da escola. Concernente à Matemática, estamos alinhados com a

ideia que o processo educativo deve ser efetivado de maneira que o aluno perceba o

sentido, a razão de ser do conteúdo ministrado durante as aulas.

Moysés (1997) fala que em relação à Matemática – cuja universalização e o

entendimento sobre o propósito do seu estudo são marcos peculiares –, constata-se que

a postura de alunos de diversos países se assemelha como também as dificuldades

enfrentadas são comuns. Por conta disso, Stodolsky (1985 apud MOYSÉS, 1997),

dentre outros pesquisadores, defende que o ensino de Matemática deve acontecer,

preferencialmente, através de atividades grupais. Segundo esse autor, a interação tem

uma função de relevo na construção do saber matemático. Isso posto, fica notório a

influência da perspectiva de Vygotsky, “[...] para quem a aprendizagem dos conceitos

deveria ter suas origens nas práticas sociais, conforme já foi abordado.” (MOYSÉS,

1997, p. 61).

Em termos de Brasil, a influência do enfoque sócio-histórico no campo da

Educação Matemática tomou impulso na segunda metade do decênio 1980. A título de

exemplo, Moysés (1997) cita os nomes de Terezinha Nunes e Analúcia Schliemann,

pertencentes ao grupo de pesquisadores do mestrado em Psicologia Cognitiva da

Universidade de Pernambuco. Achamos interessante mencionar que nos primeiros anos

da década de 1980, as pesquisas no campo da Matemática escolar tinham um

embasamento teórico fortemente marcado pelo interacionismo cognitivista de Piaget.

Com o predomínio da abordagem sociocultural, surge uma nova área de

pesquisa ligada à Educação Matemática: a Etnomatemática. “[...] Ela é hoje o lugar de

convergência das preocupações sobre o papel dos fatores culturais como língua, hábitos,

costumes, modos de vida sobre o ensino e a aprendizagem da matemática [...].”

(JANVIER, 1991, p. 129 apud MOYSÉS, 1997, p. 63). Ubiratan D’Ambrosio,

139

pesquisador brasileiro e um dos expoentes da Etnomatemática, nos fala que ela “[...] É

um programa que visa explicar os processos de geração, organização e transmissão de

conhecimento em diversos sistemas culturais e as forças interativas que agem nos e

entre os três processos [...].” (D’AMBROSIO, 1990, p. 7 apud MOYSÉS, 1997, p. 63) e

deixa patente que as ideias de Vygotsky, ampliadas por seus colaboradores, exerceram

um papel decisivo no tocante a um novo modo de pensar a Educação Matemática.

Ao se debruçar, nos anos 1990, sobre algumas pesquisas realizadas no

âmbito da Educação Matemática, Moysés (1997) verificou que, apesar de algumas

vezes não explicitada, havia uma nítida inclinação para uma abordagem

sociointeracionista. “[...] Na verdade, são trabalhos que falam da contextualização,

abordam questões como o significado, a relação entre o conceito científico e conceito

espontâneo, trazendo uma nova forma de encarar o ensino da matemática.” (MOYSÉS,

1997, p. 65). Parece-nos conclusivo que desde então passamos a incluir em nossas

preocupações, fazendo parte inclusive do discurso oficial, a contextualização da

Matemática escolar.

Sem descer aos detalhes, recorremos a um exemplo citado na obra Na vida

dez, na escola zero – publicada em 1988 e cujos organizadores são Teresinha Nunes,

Analúcia Schliemann e David Carraher. Nesse exemplo, exigia-se a noção de

proporcionalidade e foi usado para ilustrar o que é contextualização e sua ligação com a

perspectiva sociocultural. Vejamos: plantas de interiores de casas, cada uma desenhada

em uma escala diferente, foram apresentadas para mestres-de-obras e alunos do 8º. ano

do Ensino Fundamental (na terminologia atual) e a partir delas, propostas duas tarefas.

A primeira questão pedia a determinação da escala usada sabendo a medida de uma

parede na planta e a medida real da parede correspondente. A segunda, medir uma

parede no desenho e sabendo a escala usada, determinar o comprimento real dessa

parede.

Em decorrência da atividade profissional, os mestres-de-obras mostraram

desenvoltura ao lidar com as escalas usuais (1/100 e 1/50), porém uma parcela

considerável teve dificuldade ao trabalhar com escalas desconhecidas (ex.: 1/33,3).

Mesmo assim apresentaram respostas plausíveis. Isso demonstra, conforme Moysés

(1997), que o exercício profissional ajuda na permanência do sentido no transcurso de

toda a operação mental e isso não é verificado com o aluno. Ao tecer esse comentário,

entendemos que essa autora não está desconsiderando o valor da aprendizagem

estruturada do algoritmo da proporção (a/b=c/x), já que tanto em situações

140

particularizadas quanto àquelas plenas de sentido, ele é satisfatório. O que ela enfatiza é

que “[...] a noção de proporcionalidade deverá servir para a vida e não simplesmente

para se resolver os problemas propostos pela escola.” (MOYSÉS, 1997, p. 67). Isso é

extensivo para as notações simbólicas e as convenções formais.

Diante do que acabamos de expor, consideramos pertinente discorrer sobre

o papel do sentido e do significado no processo de aquisição de conhecimento,

consoante ao arcabouço teórico de Vygotsky. Ao analisar as relações entre linguagem e

pensamento – que posteriormente foram expandidas por Luria nas obras Sensações e

percepções. Psicologia dos processos cognitivo e Pensamento e linguagem. As últimas

conferências de Luria, publicadas no Brasil, segundo Moysés (1997), em 1979 e 1987,

nesta ordem –, Vygotsky inseriu os conceitos de significado e sentido. Ao apropriar-se

do significado de uma palavra, o homem está dominando a experiência social. Se essa

experiência decorre da individualidade humana, então uma dada palavra apresenta um

significado, evoluído historicamente e compartilhado por distintas pessoas, e um

sentido, de caráter pessoal. Em outras palavras, o sentido de uma palavra assume um

aspecto diferente, conforme o contexto em que ela se faz presente. No entanto, o seu

significado tem uma relativa estabilidade, pois está vinculado a relações estabelecidas

no decorrer do tempo.

Conforme Vygotsky (1987 apud MOYSÉS, 1997), o significado de uma

palavra tem uma gradação (temos o significar mais e o significar menos) quando

olhamos para ela inserida em um determinado contexto em relação à mesma palavra

tomada de modo isolado: mais, em decorrência de adquirir uma nova acepção; menos,

pois o contexto estabelece delimitações em seu significado. Com isso, Vygotsky auxilia,

em muitos casos, no porquê da falta de compreensão por parte dos alunos de conteúdos

trabalhados em sala de aula.

Provavelmente, o não entendimento que acontece por questões associadas

ao conhecimento dos significados e dos sentidos das palavras estar muito mais presente

Se professor e alunos defrontam-se com sentenças, regras e símbolos

matemáticos sem que nenhum deles consiga dar sentido e significado a tal

simbologia, então a escola continua a negar ao aluno – especialmente

àquele que freqüenta a escola pública – uma das formas essenciais de ler,

interpretar e explicar o mundo. O importante é que o aluno, ao chegar a

utilizar tais notações simbólicas, compreenda a sua razão de ser [...]. ”

(MOYSÉS, 1997, p. 67)

141

nas práticas escolares do que podemos cogitar. Tanto professores que desconhecem o

alcance dos significados e sentidos que os alunos dão às suas palavras quanto livros

didáticos que não raramente se encarregam de originar confusão conceitual, são

exemplos de situações que tendem a não contribuir na criação de um ambiente de

compartilhamento de significados nas interações entre professor-aluno ou livro

didático-aluno. Assim,

Reparamos, então, que o compartilhamento de significados mostra-se

primordial para que as relações interpessoais sejam exitosas, isto é, ocorre entendimento

por ocasião das interações entre aluno-professor, por exemplo, quando eles

compartilham significados.

Assim, compreendemos que a contextualização nos processos de ensino e de

aprendizagem de Matemática está associada à relação que é estabelecida entre uma

determinada situação que envolve cálculo e uma representação, que se apresenta, por

exemplo, na forma de imagens mentais, diagramas ou simulações. “[...] o raciocínio

contextualizado favorece a articulação das variáveis em jogo e contribui para o sucesso

do processo de resolução do problema matemático envolvido.” (MOYSÉS, 1997, p. 76).

O pesquisador canadense Claude Janvier ao realizar investigações sobre

processos mentais superiores em pessoas que aplicavam a Matemática cotidianamente

na sua atividade laboral, constatou a forte influência do contexto tanto na

operacionalização quanto na organização da solução no tocante à sua demarcação e, em

numerosos casos, ao seu direcionamento. Assim, com o desiderato de diminuir a

complexidade da representação simbólica, esse estudioso sugere o uso do raciocínio

contextualizado no âmbito da escola. Janvier (1991 apud MOYSÉS, 1997) argumenta

que ao lançar mão da contextualização, temos abertura de ir diretamente às relações

fundamentais, deixando à margem ou simplificando, o emprego de fórmulas algébricas.

[...] O fato de o aluno não compartilhar do mesmo nível de profundidade e

amplitude de um conceito com um interlocutor – seja ele o professor ou o

autor de um texto que ele esteja lendo – pode gerar desentendimentos. Se o

significado que ele atribui a uma palavra é muito mais estreito e superficial

do que o que lhe atribui aquele com quem fala, a sua comunicação será,

provavelmente, prejudicada. Se além de haver diferentes níveis para o

significado, também o sentido que ambos atribuem a essa palavra for

diferente, estarão, provavelmente, estabelecendo um “diálogos de surdos”.

(MOYSÉS, 1997, p. 40)

142

5 NA ESFERA DAS ATIVIDADES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS

ATIVIDADES

No presente capítulo, temos a descrição das atividades realizadas ao longo

da pesquisa. Ademais, registramos nossa percepção referente aos procedimentos e as

interações no decorrer das mesmas, assim como a interpretação e análise dos processos

de ensino e de aprendizagem dos conceitos geométricos de área e de perímetro.

Conforme citamos no capítulo inicial, nossa pesquisa foi desenvolvida junto

à turma do 6º. ano B da EMAXL, escola da rede pública municipal situada em um

bairro periférico de Russas, município localizado no sertão cearense, pertencente à

região do Baixo Jaguaribe e a cerca de 160 km de Fortaleza.

Nosso primeiro contato com a turma – que ocorreu no dia 17/set./2014 –

teve início com o professor de Matemática da turma (Pedro), informando aos alunos que

a partir daquela data, nas duas aulas de quarta-feira – cuja duração era de 120 minutos

com um com um intervalo de 20 minutos entre a 3ª. e 4ª. aulas –, seriam realizadas

atividades envolvendo perímetro e área de figuras planas e que se tratava de uma

pesquisa de mestrado em Educação da FAFIDAM-FECLESC/UECE ou nas próprias

palavras deste professor, na tentativa de ser melhor entendido pelos alunos, de “um

trabalho de pesquisa sobre o ensino de Geometria feita pelo professor Alves, professor

do Colégio Estadual Gov. Flávio Marcílio e mestrando em Educação pela Universidade

Estadual do Ceará”.

Na sequência, além de fazermos eco às palavras do Professor Pedro,

acrescentamos o quanto era fundamental para a pesquisa que todas as atividades

propostas (seja de caráter individual ou grupal) fossem encaradas com muita seriedade,

que todos não poupassem esforços no sentido de efetivá-las sempre com a intenção de

chegar a resultados satisfatórios, pois o nosso estudo, a nossa análise seriam baseados

nos resultados obtidos através das atividades e da observação das posturas de todos os

participantes das interações que ocorreriam durante a realização das mesmas.

Houve uma boa receptividade da informação (o que é comum, segundo

nossa observação ao longo de mais de duas décadas de “chão de escola”, quando

alguém que não é do convívio da escola se dirige a uma turma). Nesse dia, estavam

presentes 32 alunos que ocupavam as cadeiras dispostas na sala conforme mostram as

fotografias no Apêndice B. Relembramos que, na verdade, o espaço físico onde

aconteciam as aulas do 6º. ano B era o auditório do colégio, improvisado como sala de

143

aula. Registramos que esse espaço voltou a ser usado exclusivamente como auditório

em março/2015, pois foram construídas 4 novas salas.

Também, em 17/set./2014, tivemos a aplicação do Teste Diagnóstico (TD)

com 7 questões e um total de 13 perguntas (ver Apêndice C). Todas as questões

versavam sobre Geometria Plana e 71,43% delas, no caso, as 5 últimas questões,

totalizando 11 perguntas, tratavam especificamente de perímetro ou área. Não foi

delimitado um intervalo de tempo para a sua resolução, mas teve uma duração

aproximada de 20 minutos.

Nos quadros de resultados mostrados nos Apêndices D e E constam somente

os nomes dos 27 alunos que resolveram o referido teste e sua reaplicação. A reaplicação

do Teste Diagnóstico (RTD) ocorreu em 03/dez./2014. Pontuamos que no dia 17/set

todos os 32 alunos presentes à aula fizeram o TD, porém temos a ausência dos nomes de

5 alunos no quadro de resultados porque estes não participaram da RTD. Deixando

exposto o critério que adotamos nessa situação, fizemos um comparativo de

desempenho por aluno (sujeito da pesquisa) no TD e na RTD, sendo isto mostrado no

Apêndice F.

Não obstante a importância das questões 1 e 2 do TD – o objetivo da

questão 1 era que o aluno identificasse o quadrado no grupo de quadriláteros expostos, e

o da 2, após seguir as instruções de ligações entre pontos, levar o aluno a desenvolver

sua percepção no espaço bidimensional –, elas não tratavam das grandezas perímetro e

área. Decorrente disso, prendemos nossa atenção no que os alunos apontaram como

respostas desde a terceira questão, segmentada em duas perguntas, até a sétima,

subdividida em seis perguntas.

O gráfico único revela a quantidade de alunos que acertou uma dada

pergunta tanto no Teste Diagnóstico (TD) quanto na sua reaplicação (RTD).

144

Fonte: próprio autor

De início, destacamos que a totalidade das 13 perguntas não foi respondida

corretamente, no TD, por nenhum dos 27 sujeitos da pesquisa, sendo o melhor

desempenho alcançado por Sávio (76,92%, equivalente a 10 perguntas). Já na RTD, o

aluno Horácio chegou a marca de 100% de acertos.

A leitura do gráfico acima nos leva a constatar que:

(1) em relação ao TD, a pergunta com maior percentual de acertos foi a 3.I,

com 88,89%, correspondente a 24 alunos. Inclusive, nesse quesito, o percentual ficou

mantido na RTD;

(2) na RTD, foi a pergunta 5 que apresentou o percentual mais elevado de

acertos (25 alunos, equivalente 92,59%);

(3) o número de alunos que acertaram uma dada pergunta na RTD foi maior

ou igual ao verificado no TD, em relação ao mesmo quesito, exceto o 7.I. Nesta

pergunta, 21 alunos acertaram por ocasião do TD, enquanto no RTD foram 20

acertadores. A nosso juízo, essa pequena queda se deu, basicamente, por falta de

atenção no momento da resolução. Tal percepção está embasada no fato que nas demais

indagações sobre área (3, 5, 7.III e 7.V) tivemos aumento no números de acertadores;

0

5

10

15

20

25

1 2 3.I 3.II 4 5 6 7.I 7.II 7.III 7.IV 7.V 7.VI

TD

RTD

Gráfico único – Números de acertos: alunos por pergunta no Teste Diagnóstico (TD)

e Reaplicação do Teste Diagnóstico (RTD)

145

(4) referente ao TD, as indagações 4 e 7.VI foram as que apresentaram o

número mais baixo de acertos (somente 1 aluno respondeu corretamente,

correspondente a 3,70%). Levando em conta o intervalo de perguntas 3.I à 7.VI, a

pergunta com menor percentual de acerto na RTD foi a 4, conseguido por 5 alunos

(18,52%).

Com base nos dados coletados a partir da correção das questões presentes

no teste, verificamos que as maiores incidências de erros, por ocasião da aplicação do

TD (ver Apêndice C), aconteceram nas seis perguntas, quais sejam: 3.II, 4, 6, 7.II, 7.IV

e 7.VI, que envolviam perímetro. A partir do quadro de resultados da RTD (ver

Apêndice D), vemos que essa constatação continua válida, contudo, também é verdade

que houve avanços significativos, sendo o maior deles o ocorrido na pergunta 7.VI, pois

enquanto no TD apenas 1 aluno a resolveu acertadamente, na RTD, foram 17.

Reparamos que, por ocasião do TD e na tentativa de determinação das áreas,

o caminho usado foi a contagem de quadradinhos, iguais entre si, que formavam a

figura plana (a marcação de pontos no interior dos quadradinhos levou-nos a essa

conclusão). Em relação à determinação do perímetro, não identificamos, por parte da

esmagadora maioria dos alunos, nenhum tipo de marcação nos lados dos quadradinhos

que delimitavam a figura, isto é, nos lados dos quadradinhos que formavam o contorno

de cada figura, para a obtenção do perímetro, conforme esperávamos.

A título de exemplo, vejamos como o aluno Rivaldo – que obteve 53,85%

de acertos, correspondendo a 7 respostas corretas – desenvolveu a resolução das

questões 5 e 6 no TD. Pelo que ele registrou, seu procedimento foi idêntico nas nessas

duas questões, levando-nos a inferir que ele apresentava pouco ou nenhum domínio

sobre o conceito de perímetro.

Figura 2 – Resolução das questões 5 e 6 do Teste Diagnóstico por Rivaldo

146

Fonte: próprio autor

Ligado ao que acabamos de comentar, achamos interessante pontuar que no

TD somente duas alunas (Irineuda e Zuleide) acertaram a 6ª. questão, que indagava

sobre perímetro. Nossa percepção é que a Irineuda apresenta indícios de uma maior

desenvoltura quanto ao conceito de perímetro, pois ela também respondeu corretamente

as perguntas 7.II e 7. IV, que tratavam do mesmo tema.

A média obtida pelo grupo de 27 alunos, sujeitos da pesquisa, no TD foi

40,19% e na RTD, correspondeu a 63,82% . Por conta das idades dos alunos do 6º. ano

B se estenderem dos 11 aos 17 anos, achamos interessante divulgar as médias por

intervalos etários dividido em dois blocos, a saber: bloco 1, composto por alunos de 11

e 12 anos (correspondendo a 18 educandos, ou seja, 66,67% dos alunos investigados) e

o bloco 2, constituído por educandos de 13 a 17 anos (equivalente a 33,33% dos alunos

investigados). Não obstante acreditarmos ser uma informação conhecida por todos,

pontuamos que os alunos do 2º. bloco encontravam-se fora da faixa de idade adequada,

sob ponto de vista formal, ao sexto ano do Ensino Fundamental. No que tange ao TD,

a média do 1º. bloco foi de 39,77% e a do segundo, 41,04%. Com relação aos resultados

da RTD, as médias alcançadas pelos blocos 1 e 2 foram 66,63% e 58,12%,

respectivamente.

Do exposto, no sentido do TD para a RTD, fica patente que para a

totalidade dos alunos investigados, houve um acréscimo de 23,63% na média. Também

em termos de média, o bloco 1 experimentou um aumento de 16,86% e o bloco 2, o

crescimento correspondeu a 17,08%. Diante desse quadro, achamos plausível o

pensamento que se ainda não houve uma apropriação de modo pleno dos conceitos de

perímetro e área, foram dados passos nesse sentido. Em outras palavras, esses

incrementos sinalizam que as atividades desenvolvidas pelos sujeitos da pesquisa, com

a mediação qualificada do professor, contribuíram para que uma maior parcela dos

147

alunos investigados iniciassem um processo que os levassem à compreensão dos

conceitos das grandezas geométricas perímetro e área.

Após o intervalo, no mesmo dia 17/set., solicitamos ao Professor Pedro que

liberasse um aluno por vez para que preenchêssemos o Questionário Socioeducacional

(ver Apêndice G). Nosso intuito era obtermos dados relativos a fatores extraescolares

que consideramos importante (morar próximo à escola, nível de escolaridade dos pais

etc.) no processo educativo formal. No capítulo 2 nos reportamos sobre alguns aspectos

do perfil da turma pesquisada com base nos dados coletados através desse questionário

e um breve comentário sobre como esses elementos influenciam na vida escolar dos

alunos pesquisados.

Sendo o foco desta pesquisa um estudo acerca de um processo de ensino que

pudesse contribuir para a apreensão por parte dos alunos da turma investigada dos

conceitos das grandezas geométricas perímetro e área, desejávamos, então, que o aluno

compreendesse que uma região demarcada no espaço bidimensional está associada ao

conceito de área e o seu contorno, ao de perímetro.

Com o resultado do TD em mãos e de pleno acordo como o Professor Pedro

elaboramos as atividades a serem desenvolvidas pelos sujeitos da investigação, ou seja,

pelos alunos do 6º. Ano B. O primeiro dia com atividades foi 01/out./2014 e nossa

pesquisa teve sequência nas aulas que aconteceram em 08/out., 22/out., 05/nov. e

19/nov./2014. Versaremos agora sobre as atividades elaboradas de comum acordo por

nós (o professor pesquisador e o Professor Pedro) e desenvolvidas pelos sujeitos da

pesquisa, descrevendo-as e analisando-as.

5.1 ATIVIDADE 1 – DIA 01/out./2014 – ÁREA DE POLÍGONOS

QUADRICULADOS

Assumindo que todo polígono é caracterizado como uma figura plana

fechada delimitada por segmentos de reta, chamados lados do polígono, onde cada par

de lados que se encontram (lados consecutivos) têm em comum o ponto extremo

(vértice do polígono) e não são colineares, iniciamos a aula desenhando no quadro-

branco uma figura poligonal com a seguinte forma.

Figura 3 – Atividade: caracterização de um polígono

Fonte: próprio autor

148

A partir da observação desse pentágono, discutimos com os alunos o que

caracteriza um polígono. Nossa percepção, a partir da fala dos alunos, é que houve o

seguinte entendimento por parte dos alunos: todo polígono é uma figura plana fechada

cujo contorno é constituído somente por segmentos de reta.

Não obstante nosso objetivo ser a compreensão dos conceitos de perímetro e

área, a importância dessa atividade – que consistia em conhecer os elementos

identificadores de uma figura poligonal –, a nosso juízo, se deve ao fato que,

comumente, os alunos não são colocados frente a questões que solicitam a determinação

do perímetro de figuras irregulares e/ou não poligonais (exemplo: perímetro de uma

figura composta por um retângulo e uma semicircunferência). Considerando tal quadro,

temos, de certo modo, o porquê de uma grande parcela dos professores de Matemática

enunciarem a seguinte definição: “perímetro é a soma das medidas dos lados”. Por

exemplo, se uma figura plana fechada tem um segmento (trecho) curvilíneo, ela não é

poligonal, porém tem um perímetro (apresenta um contorno). Como já citamos, a

construção do conceito de perímetro está associada à ideia de contorno da figura e, por

extensão, a medida do perímetro “é a medida do comprimento do contorno da figura.”

Com o intuito de trabalharmos com questões em que seriam determinadas

áreas de polígonos quadriculados (polígono quadriculado é aquele composto

exclusivamente por quadradinhos iguais entre si, ou seja, quadradinhos congruentes),

indaguei-os: um único quadradinho é um polígono de qual área? A resposta foi dada de

imediato por um percentual considerável da turma: é igual a 1. E se o polígono é

formado por 2 quadradinhos? Resposta fornecida: área igual a 2 . Aproveitamos esse

momento para combinar com os alunos que a área (a rigor, a medida da área) de um

polígono quadriculado corresponderia à quantidade de quadradinhos que são usados

para formá-lo, isto é, utilizados na sua composição. Em outras palavras, estávamos

estabelecendo o seguinte acordo com eles (de modo simultâneo, inserindo a noção de

medida de área) que a área de 1 quadradinho corresponderia a 1 unidade de área,

indicada por 1 u.a., e que ele seria denominado de quadrado unitário. Fazendo isso,

nosso intento era trabalhar a ideia de unidade de medida de área, apesar de não recorrer

às unidades usuais (cm² e m², por exemplo). E se, perguntei, para montar um polígono

quadriculado forem usados 7 desses quadradinhos, qual será a sua área? O retorno dado:

área igual a 7. Alguns poucos alunos (Sávio e Dilma afirmaram com maior convicção)

que era 7 unidades de área (7 u.a.).

149

Isso posto, fixamos no quadro-branco cartazes onde estavam desenhadas

figuras semelhantes às representadas na Figura 4. Indagamos: qual dos polígonos abaixo

tem área maior?

Figura 4 – Atividade: comparação de áreas de polígonos

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Fig. 4

Fonte: próprio autor

Quase por unanimidade os alunos – confirmando com nossa expectativa –,

não encontraram dificuldade em constatar que cada um dos quatro polígonos expostos

era formado por 5 quadradinhos congruentes, sendo conclusivo que todos tinham a

mesma área: 5 u.a.

Alinhando-se com o que dispõe Brasil (1998) e a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação (LDB), quando sugerem que as noções de área e perímetro devem estar

atreladas a questão do mundo vivencial do aluno e representadas pela composição e

decomposição de figuras, usando-se a malha quadriculada (sendo o polígono

quadriculado uma de suas variantes, sob nossa ótica) e o ladrilhamento, direcionamos a

atenção dos alunos para o fato de que apesar dos polígonos apresentarem áreas iguais,

eles tinham formas diferentes. Assim, ficamos com a percepção que uma fração

significativa de alunos compreendeu que ao usarmos a mesma quantidade de

quadradinhos na composição de um polígono, independente da forma que ele venha

apresentar, sua área não sofre nenhuma alteração.

Como podemos formar a figura 2 partindo da primeira? Diante dessa

pergunta, Keila, que obteve 46,15% de acertos no TD, disse: “Basta tirar o quadrado de

cima e botar em baixo”. Na sequência, formulando perguntas semelhantes, variando o

polígono de “partida” e o de “chegada”, notamos um crescente número de alunos

envolvidos na tarefa, emitindo sua visão de como deveria ser os movimentos dos

quadradinhos na transformação de um polígono em outro. Após diversas transformações

objetivando satisfazer as questões propostas, comentamos que esses procedimentos

implicam na composição e decomposição de figuras planas.

Para finalizar a aula, propomos uma atividade em dupla que consistia em

determinar a área de um polígono quadriculado. Para cada uma das 12 duplas formadas,

150

entregamos uma figura poligonal distinta das demais. O baixo grau de dificuldade

apresentado pela atividade, uma vez que envolvia apenas contagem, levou-nos a uma

expectativa positiva, que foi ratificada ao constatamos 100% de acertos por parte das

duplas. A título de exemplo, a questão resolvida pela dupla Fabrícia e Jaqueline é

mostrada no Apêndice H.

A nosso juízo, a resolução correta por parte da totalidade dos alunos na

atividade em dupla e as respostas externadas nas discussões sobre a

composição/decomposição de polígonos quadriculados mostra-se como indicativo que

os sujeitos da pesquisa possivelmente se encontravam no 1º. Nível de compreensão das

ideias geométricas do modelo de van Hiele no tema área de polígono, haja vista que ao

visualizarem um polígono quadriculado não manifestaram dúvidas quanto à medida de

sua área. Especificamente na atividade em dupla, percebemos, em alguns casos, um

aluno ajudando o outro, contribuindo, assim, para a compreensão da noção de área. Isso

sinaliza como a interação entre alunos ocorrida na zona de desenvolvimento proximal

(ZDP) do aluno que foi auxiliado tem um papel importante nos processos de ensino e de

aprendizagem, conforme enfatiza Vygotsky em sua teoria sociointeracionista.

5.2 ATIVIDADE 2 – DIA 08/out./2014 – ÁREA DE POLÍGONOS POR

LADRILHAMENTO

Ao iniciar a segunda aula, relembramos para os alunos que uma das

perguntas do TD, resolvido por eles em 17/set, era: Marcos quer colocar um piso de

cerâmica na sala. Ele precisa saber a área da sala ou o perímetro da sala? Antecipando a

manifestação de alguma resposta, comentamos que dos 27 alunos que fizeram o teste,

24 (88,89%) tinham acertado essa questão. Ao ouvir a resposta dada por eles, notamos

que o número de alunos que foram firmes ao dizer que era necessário saber a área da

sala não coincidiu com o número de acertadores da mesma questão no teste. A

explicação dada por um grupo bem pequeno de alunos, com pequenas variações, era “se

a cerâmica precisa cobrir o chão todinho, então tem que ser área”. Assim, a

compreensão que temos a partir dessa afirmativa é que como a cerâmica é usada para

preencher totalmente a região bidimensional corresponde ao chão da sala e essa região

eles relacionavam à área. Por que não serve, nesse caso, saber o perímetro? As raras

explicações que surgiram podem ser sintetizadas pela fala de Laércio, 61,54% de

acertos no TD, a saber: “Sabendo o perímetro da sala, a cerâmica só daria para arrodear

(contornar) na sala”.

151

Intencionando desenvolver a noção de que uma dada área não se modifica

quando o quadrado unitário tem suas dimensões alteradas, ou seja, quando adotamos

unidades de medida de área diferentes – haja vista que a região demarcada não sofre

nenhuma modificação, isto é, a superfície da porção considerada do espaço

bidimensional permanece a mesma –, lançamos a seguinte tarefa aos 22 alunos

presentes: eles trabalhariam em grupo – quatro grupos com 4 alunos (Grupos B,C, E e

F) e dois com 3 (Grupos A e D ) – e deveriam “colocar cerâmica no piso de uma sala”.

Para isso, repassei para cada grupo uma folha retangular de cartolina (“salas”) de

mesmas dimensões e também quadradinhos (“cerâmicas”), contudo é de extrema

importância dizermos que o comprimento do lado dos quadradinhos que seriam usados

pelos Grupos A e D (com 3 alunos) era o dobro dos utilizados pelos demais Grupos (B,

C, E e F). Assim, fazendo uso de “cerâmicas” com dimensões distintas propomos aos

grupos o ladrilhamento das “salas” iguais, no sentido de “salas” com mesma área.

Na Fotografia 1 temos como o grupo E – constituído por Eliete, Quênia,

Rivaldo e Sávio –, encaminhou a resolução da questão. Quando essa resolução estava

no passo que mostra a foto, perguntamos ao grupo: qual é área da “sala”? Obtivemos 48

como resposta. Após confirmamos a resposta, pedimos que explicassem como tinham

chegado a esse resultado, Eliete, com a concordância dos outros alunos do grupo, disse

que “se a linha de baixo tem 8 quadrados e a linha em pé tem 6 quadrados, então serão

seis linhas com 8 quadrados e 6 vezes 8 dá 48”. Diante desse esclarecimento,

chamamos atenção para o fato que, conforme tínhamos enfatizado, a indicação correta

da área da “sala” deveria ser 48 u.a. Os outros grupos com quatro alunos (B, C e F)

sentiram, de início, um pouco de dificuldade, mas com a ajuda dos colegas, chegaram à

mesma resposta.

Fotografia 1 – Atividade: determinação da medida da área por ladrilhamento (Grupo E)

Fotografia de minha autoria (08/out./2014)

152

Por seu turno, o Grupo A, cujos componentes eram Fabrícia, Laércio e

Maurilene, ao efetuar o ladrilhamento, obteve uma área correspondente a 12 e,

obviamente, afirmamos que a resposta estava correta, porém, não deixamos de fazer a

mesma ressalva com relação à resposta: ela deveria ser expressa por 12 u.a. Tal resposta

foi compartilha pelo Grupo D.

Conscientes que antes do início da atividade tínhamos deixado claro que

todas as folhas retangulares (“salas”) entregues aos grupos tinham as mesmas

dimensões – inclusive essas seis folhas foram sobrepostas diante dos alunos –, pedimos

que cada grupo divulgasse a área encontrada e questionamos: todas as seis “salas” têm

áreas iguais? De imediato, um número considerável de alunos, entre eles a Talia

(15,38% no TD), disse que não, “porque duas têm área 12 e as outras quatro têm área

48”. Além de novamente chamar atenção que as respostas deveriam, necessariamente,

mencionar unidades de área (u.a.), registramos que nosso entendimento sobre a assertiva

que as “salas” não têm as mesmas áreas, indica que, como os números associados à área

da “sala” (correspondentes à quantidade de quadradinhos utilizados), não são iguais,

significa que, para os alunos, elas possuem áreas diferentes.

Diante dessa resposta, perguntamos: se as folhas retangulares (“salas”) não

diminuíram nem aumentaram de tamanho (em outras palavras, elas não sofreram

modificações em suas dimensões), por que agora elas apresentam áreas diferentes? “É

que os quadradinhos (“cerâmicas”) não são iguais. Quando a gente usa o quadradinho

(“cerâmica”) pequeno é preciso mais dele do que do outro para cobrir a folha (“sala”)

toda”, falou Otacílio (53,85% no TD).

Mesmo não sendo nosso objetivo principal trabalhar com as medidas das

grandezas perímetro e área, achamos pertinente discutirmos as noções que envolvem

área e suas possíveis medidas. Relembramos para os alunos a nossa confirmação

quando os grupos disseram que as áreas das “salas” eram 12 (u.a.) e 48 (u.a.) e, com a

mesma convicção, afirmamos que elas têm áreas iguais. Isso faz sentido? Tem

sustentação? A justificativa, sob nosso olhar, que desfaz essa aparente contradição entre

as duas afirmações é que área (associada a uma região limitada em um espaço

dimensional) e a medida da área são conceitos distintos, apesar de relacionados. A

medida de uma área varia em função da unidade de medida de área (quadrado unitário)

adotada, ou seja, uma mesma área pode apresentar várias medidas, pois depende da

unidade de área escolhida para medi-la.

153

No caso da atividade desenvolvida pelos alunos do 6º. ano B, os

quadradinhos (unidades de medida de área adotados) utilizados tinham dimensões

diferentes (o lado do maior quadrado unitário era o dobro do lado do outro). Assim, as

medidas das áreas das “salas” eram diferentes, todavia essas “salas” apresentavam áreas

iguais.

Em nível de sobrevoo, recorremos ao que nos diz Caraça (1951): medir

baseia-se na comparação entre duas grandezas de mesma espécie. A seleção de uma

unidade adequada; a comparação da grandeza em relação a unidade adotada e o

resultado dessa comparação expresso por um número é o tripé de caracterização da

efetivação de uma medida. Entre esses três aspectos do ato de medir há uma

interdependência, “o primeiro e o terceiro aspectos do problema estão intimamente

ligados e cada um deles condiciona o outro.” (CARAÇA, 1951, p. 30).

Na esteira dessa atividade, falamos aos alunos que os ladrilhamentos que

eles realizaram corresponderam a composições geométricas, isto é, ao fazer o

ladrilhamento da “sala”, lançando mão de quadrados unitários – materialização, por

assim dizer, da unidade de medida de área (u.a.) adotada –, cada grupo estava formando

(compondo) uma figura retangular equivalente (com áreas iguais) a dos demais grupos.

Fizemos questão de enfatizar que o agrupamento de figuras geométricas, por

justaposição, sempre corresponde a um processo de composição no campo da

Geometria.

Referente a essa atividade, também gostaríamos de destacar o modo

utilizado pelo Grupo E por ocasião do ladrilhamento do polígono (“sala”) com o

objetivo de obter a medida de sua área. Tomamos a estratégia diferenciada usada por

esse grupo como um indício que ele se encontrava no 3º. Nível do modelo van Hiele. A

razão disso é que grupo em tela reparou que preenchidas uma fila horizontal (base do

retângulo) e uma fila vertical (altura do retângulo), as outras filas horizontais que

completariam o polígono seriam ordenadamente iguais a já concretizada, onde o número

de filas a ordenar corresponderia à quantidade de quadrados unitários (“cerâmicas”)

usada na formação da fila vertical. Assim, o produto do número de “cerâmicas” da base

pelo número de “cerâmicas” da altura seria igual a medida da área da “sala”. Ou seja,

ladrilhar toda a “sala” não se fazia necessário para saber o total de “cerâmicas”.

Por sua vez, o caminho trilhado pelos demais grupos (fizeram o

ladrilhamento da “sala” inteira) levou-nos a pensar que a escolha dessa estratégia

sinalizava que, possivelmente, esses grupos estavam no 1º. Nível do citado modelo. Tal

154

afirmação é fundamentada no entendimento que somente o ladrilhamento total da figura

retangular levou-os a perceber quantas “cerâmicas” seriam necessárias para pavimentar

por completo esse polígono, ou seja, compuseram, por assim dizer, um retângulo

idêntico à “sala”. Feito isso, o número de quadrados unitários (“cerâmicas”) lhes deu a

medida procurada. Ou seja, todos os grupos, exceto o Grupo E, não vislumbraram a

possibilidade de uma contagem indireta da quantidade de quadrados unitários.

Salientamos que durante a realização dessa atividade foi verificada

novamente a ideia vygotskiana do sociointeracionismo contribuindo para a

aprendizagem. Com a explicação dada pelo Grupo E para o restante da turma sobre o

raciocínio que lançaram mão para chegar à medida da área da “sala”, acreditamos que

uma considerável parcela de alunos procederá de forma idêntica aos alunos desse grupo

na resolução de questões semelhantes. Isso, a nosso ver, significa despertar o aluno para

uma forma menos trabalhosa de chegar à medida da área do retângulo, atingindo-o, por

assim dizer, em sua ZDP.

Quando propusemos uma atividade a ser desenvolvida com o manuseio de

cartões de cartolina (quadrados unitários), levamos em conta a assertiva de Lorenzato,

dentre outros educadores matemáticos, quanto à importância do uso do material didático

manipulável nos primeiros momentos de construção de um dado conceito geométrico.

Salientamos que esse mesmo autor deixa claro que o aprendizado de fato só ocorrerá

quando houver uma mediação qualificada por parte do professor. Acreditamos que as

perguntas formuladas no decorrer dessa atividade contribuíram para a apreensão da

distinção entre o conceito de área e a representação da sua medida.

5.3 ATIVIDADE 3 – DIA 22/out./2014 – LOTAÇÃO DE UMA PRAÇA

Com o intuito de mostrar uma aplicação do conceito de área em uma

situação vivenciada por todos nós, questionamos: uma praça retangular de 20 metros de

largura e 35 metros de comprimento ficou totalmente lotada por ocasião de um evento

comemorativo à emancipação do município. Como podemos determinar, de forma

aproximada, quantas pessoas estavam na praça? Passado certo tempo, um aluno falou –

conquistando a adesão de um número significativo de colegas para a sua ideia – que não

fazia sentido contar um por um já que a praça era grande e tinha muita gente.

Exposta a ideia “praça grande” – que carrega a noção de espaço, região

delimitada – indagamos se o que tínhamos trabalho em sala poderia ajudar a resolver o

problema proposto e, caso houvesse alguma ligação, como faríamos? Cerca de 30% dos

155

alunos achavam que tinha ligação com área já que as pessoas ocupavam o “espaço” da

praça. Essa fala nos levou a seguinte interpretação: na compreensão dos alunos, as

pessoas que ocuparam a praça eram as “cerâmicas” que foram usadas no ladrilhamento

da “sala”. Todavia, nenhum aluno expôs algum pensamento que nos levasse a estimar a

quantidade de pessoas que compareceram ao evento.

Na tentativa de auxiliá-los na construção da solução do problema proposto,

confirmamos que a lotação da praça tinha relação com a sua área. Achamos importante

chamar atenção dos alunos para a seguinte novidade: nessa atividade tínhamos

divulgadas as duas dimensões da figura trabalhada, ou seja, a largura e o comprimento

do retângulo. Em seguida, expomos um retângulo de cartolina semelhante à praça (de

20 cm por 35 cm, ou seja, na escala de 1/100), solicitamos que os alunos o

considerassem representando a praça em questão. É correto dizer que essa praça é

quadrada? Com esse questionamento queríamos saber qual o entendimento dos alunos

no tocante à diferenciação entre quadrados e retângulos. Em torno de 80% deles

disseram sim, porém Eliete (46,15% de acerto no TD) falou que a praça não era

quadrada, pois “para ser quadrada tinha que ter os lados iguais”. Reforçamos a

informação dada por Eliete, mas não entramos no mérito de definir o retângulo

(polígono de quatro lados, perpendiculares dois a dois). Contudo, trabalhamos a ideia da

recíproca de uma informação. Dissemos que todo quadrado é, na verdade, um retângulo,

porém, nem todo retângulo é um quadrado. Em outras palavras, o quadrado satisfaz a

definição de retângulo e tem a seguinte particularidade: os quatro lados têm medidas

iguais.

O próximo passo foi perguntar qual seria a medida da área de um quadrado

de lado 1 metro? Notamos que, praticamente, a totalidade dos alunos disse que era 1 e

justificaram dizendo que “se só tem um quadrado, então a área é um”, deixando claro o

reflexo daquilo que discutimos nas atividades anteriores, ou seja, o número de

quadrados que formavam a figura (quadriculada ou ladrilhada) correspondia à sua área.

Falamos que a resposta estaria totalmente correta se constasse a unidade de medida de

área (u.a.), metro quadrado. Dito isso, registramos na lousa: medida da área do quadrado

de lado 1 metro = 1 metro quadrado. Chamamos atenção dos alunos que poderíamos

escrever a medida dessa área de um modo mais resumido, usando a simbologia 1 m².

Como justificativa, dissemos que m era o símbolo de metro, unidade de comprimento, e

o 2 era para indicar que a unidade é quadrada, decorrente do produto das medidas de

dois comprimentos (largura e comprimento), expressas em metro.

156

Sem o intento de iniciar uma discussão acerca da proporcionalidade entre as

medidas do lado e da área do quadrado, porém com o desiderato de instigar os alunos,

lançamos a interrogação: se um quadrado tem lado 2 metros, então a medida de sua área

é igual a 2 m² ? Uma fração considerável de alunos respondeu que sim. Diante destas

respostas, mostrei-lhes um quadrado de lado 40 cm e alguns quadrados de lado 20 cm –

essas dimensões não foram divulgadas para os alunos, contudo, como era do nosso

interesse, destacamos o fato que o comprimento do lado do quadrado maior era o dobro

do lado do outro. Feita essa afirmativa, pedimos a Amália (23,08% no TD) e a

Maurilene (7,69% no TD) que fizessem o ladrilhamento do quadrado maior. Após

relutarem um pouco em aceitar o “convite”, dizendo que não sabiam fazer o que era

solicitado, terminaram por realizar a atividade, onde a turma concluiu que a área do

quadrado maior era igual a 4 u.a.

A partir dessa constatação, fixamos na lousa o quadrado menor e

levantamos a seguinte hipótese junto aos alunos: se considerarmos o comprimento do

lado desse quadrado tem medida igual a 1 metro – ou como nos dirigimos a eles,

literalmente, “fazendo de conta que o lado desse quadrado tem 1 metro”, qual seria a

medida de sua área? Giordano (46,15% no TD) disse que era 1. Só isso, perguntamos?

Acreditamos que esse aluno percebeu o comentário feito a pouco e complementou: 1

metro quadrado.

Fixamos, em seguida, o quadrado maior no quadro-branco e pedimos que a

Maurilene fizesse a sua composição (ladrilhamento) desse quadrado colando 4

quadrados menores, repetindo o que ela tinha realizado em parceria com Amália.

Deixando claro que a hipótese explicitada estava em voga, perguntamos: qual é a

medida do lado do quadrado maior? Responderam que era 2 metros, tendo como

justificativa eram necessários “dois dos quadrados pequenos para completar a parte de

baixo do quadrado grande”. E sua área? Giordano disse que era 4 pois tinham usados

“quatro quadrados dos pequenos para encher (ladrilhar) o quadrado”. Giordano, não está

faltando alguma coisa? Quando, então, ele completou: 4 metros quadrados. Por que?

Sávio (76,92% no TD) expressou a justificativa que representava as falas de alguns

alunos: “a gente usou quatro quadrados de 1 metro quadrado”. Assim, relembramos que

nossa pergunta de partida (quadrado de lado 2 m tem área igual a 2 m² ?) e enfatizamos

que mediante o ladrilhamento feito por Amália e Maurilene, comprovamos que a área

questionada, na verdade, era igual a 4 m².

157

Percebendo que os alunos estavam dando passos para a compreensão de

como determinar a área de um retângulo, fizemos a composição de um retângulo

colando no quadro-branco três quadrados de lado 2 metros, alinhando-os e justapondo-

os horizontalmente, e pedimos que o ladrilhassem com os quadrados menores, ficando

com a configuração representada na Figura 5.

Figura 5 – Atividade: composição e ladrilhamento de retângulo

Fonte: próprio autor

Com base na atividade anterior, perguntamos qual a medida da área do

retângulo que acabou de ser formado? Irineuda e Laércio (ambos com 61,54% no TD)

rapidamente afirmaram que era 12 (nota-se que, ao não citar, novamentea unidade, ou

seja, metros quadrados, era uma demonstração que a “resistência” em ver a importância

da unidade de medida persistia), porque “são três quadrados e cada um tem área 4 (m²)

e 3 vezes 4 (m²) dá 12 (m²)”. Após a confirmação da resposta e intencionando chegar à

expressão da área do retângulo, perguntamos: qual o comprimento da base (“parte de

baixo”) desse retângulo? A resposta dada por Nilberto (38,46% no TD) foi “são três

quadrados de 2 e 3 vezes 2 dá 6 ”. Ao falar que três quadrados de dois resulta seis, não

citando metros, consideramos que ele se referiu que a medida do comprimento da base

do retângulo é três vezes maior do que a medida do lado do quadrado, isto é, 2 metros.

E sua altura? A resposta obtida dada mesmo aluno foi 2 (metros). “A partir dessa figura

e com esses dois números, ou melhor, com essas duas medidas, 6 metros na parte de

baixo (base do retângulo) e 2 metros de altura, é possível calcular a área do retângulo?”,

perguntamos. Um pequeno grupo de alunos, recorrendo à figura, disse que “na fila de

baixo tem 6 quadrados e na de cima, a mesma coisa. Duas filas de 6 dá resultado 12”.

Após essa resposta, chamamos a atenção que multiplicando 6 metros por 2 metros

(medidas das dimensões do retângulo) o produto obtido é 12 m². Além disso,

registramos na lousa: 6 m . 2 m = 12 m² e com ajuda dos alunos, comentamos: 6 vezes 2

é igual a 12 e como nessa multiplicação a unidade de comprimento – metro (m) –

aparece duas vezes, justificamos à sua elevação ao quadrado, isto é, a presença do 2

como expoente de m, símbolo de metro, unidade de medida de comprimento.

158

Desejando voltar a questão primordial (lotação da praça retangular),

questionamos: qual a medida da área da praça retangular cujas dimensões são 20 metros

de largura e 35 metros de comprimento? Não obstante a maior parte dos alunos saber

que deveriam multiplicar as medidas da largura e do comprimento, também uma parcela

significativa mostrou encontrar dificuldades para determinar o produto 20 X 35. Após

algumas trocas de informações entre professor e colegas, chegamos ao produto 700 m².

Restava agora chegar à estimativa do número de pessoas que preenchiam totalmente a

praça.

Para isso, apresentamos um quadrado de papel de lado 1 metro, em tamanho

real, e convidamos alguns dos alunos maiores para irem gradualmente ocupando a

região limitada por esse quadrado unitário. Fundamentados nessa prática bastante

simples, houve concordância entre os alunos que a superfície desse quadrado de lado 1

metro, ou seja, uma região limitada por um quadrado de 1 metro quadrado (1 m²) fica

totalmente preenchida, passando a sensação de superlotação, com cinco pessoas.

Decorrente dessa constatação, a solução do problema estava em via de concretização, ou

seja, saber quantas pessoas, aproximadamente, tinha na praça? Um grupo pequeno da

turma (seis alunos) resolver tomar à frente e com a complementação dos colegas

vislumbraram a seguinte estratégia de resolução que pode ser apresentada fazendo uso

do pensamento da proporcionalidade direta: se uma região correspondente a 1 m² é cabe

5 pessoas, então em 700 m² é para caber 700 vezes 5 pessoas, ou seja, 700 m² x 5

pessoas/1m² = 3.500 pessoas.

Apesar do detalhamento com que foi conduzida tal empreitada, ficamos com

uma forte sensação que outras questões semelhantes deveriam ser desenvolvidas com

vistas a um percentual maior de alunos apreendessem as ideias contidas nessa

modalidade de problema, porém, respeitando o compromisso assumido por esta

pesquisa, direcionamos as atividades seguintes almejando o trabalho com conceito da

grandeza geométrica perímetro.

Semelhante às demais atividades, nosso intuito era estabelecer entre os

participantes da aula uma troca de ideias que levassem os alunos à solução do problema

proposto.

Apesar de não ser nosso foco abordar sobre as medidas de perímetro e área

através das unidades habituais (metro quadrado e centímetro quadrado, por exemplo),

porém a atividade proposta (lotação de uma praça) gerou a necessidade de sabermos

calcular a área de um retângulo. Para isso, trabalhamos com um quadrado unitário de

159

lado 1 metro, em escala real, e outros quadrados unitários, em escala reduzida, mas que

representavam um quadrado de lado 1 metro. No desenrolar das discussões,

constatamos significantes participações dos alunos que se refletiram no

(re)direcionamento das indagações feitas por nós, professor-pesquisador e o Professor

Pedro. Nós percebemos as dificuldades enfrentadas pelos alunos e as respostas por eles

apresentadas no decorrer dessa atividade como indícios de seus primeiros passos no

entendimento do saber geométrico associado à estimativa de lotação de um espaço

bidimensional.

5.4 ATIVIDADE 4 – DIA 05/nov./2014 – PERÍMETRO DE FIGURAS

POLIGONAIS

Nesta data, notamos uma inquietação mais acentuada dos alunos,

acarretando certo atraso no início das atividades. Antes delas, por volta de 14h50min,

ou seja, aproximadamente com 10 minutos já passados da terceira aula, o Professor

Pedro reforçou uma informação dada por ele em aulas anteriores e que dizia respeito aos

conteúdos discutidos durante as aulas desta pesquisa. Esses assuntos, afirmou Pedro,

estariam incluídos nas avaliações do 4º. Período. O professor destacou ainda que

haveria uma retomada das ideias apresentadas, onde novas questões seriam trabalhadas,

sendo que a colaboração da turma na tentativa da compreensão dos temas abordados no

decorrer das aulas dedicadas à pesquisa era fundamental para uma efetiva

aprendizagem.

A aula teve como atividade de abertura a exposição de seis figuras

bidimensionais, divididas em dois blocos de três figuras. Pedimos que, a partir da

observação de cada grupo de figuras, os alunos identificassem aquelas que satisfaziam

as características de um polígono, sendo esse um dos temas ventilados na aula do dia

01/10.

Apresentada a primeira série formada pelas figuras 1, 2 e 3 (Fotografia 2),

percebemos, a partir das falas e as expressões faciais dos alunos, que havia uma

considerável dificuldade por parte da turma em reconhecer entre as figuras dadas

aquelas que eram poligonais.

160

Fotografia 2 – Atividade: identificação de figuras poligonais

Fotografia de minha autoria (05/nov./2014)

Diante deste quadro, levantamos o seguinte questionamento: o que

caracteriza um polígono? Um dos alunos expressou que “um polígono só tem linha. Se

tem parte redonda, não é polígono”. Um reduzido grupo concordou com ele. Quanto

esses alunos foram indagados sobre o que eles queriam dizer quando afirmavam que

uma dada figura tinha linha ou parte redonda, afirmaram algo no sentido que as partes

redondas correspondem os segmentos em curva no contorno da figura, enquanto linhas

são os segmentos de reta que delimitam à figura.

Após os alunos relembrarem a principal característica da figura poligonal, a

resposta foi emitida pela turma – que somente a figura 2 era um polígono. Para

sedimentação do reconhecimento de figuras poligonais, colamos o segundo bloco de

figuras (Fotografia 3). Sem demora, um número bem maior de alunos foi firme em

apontar que somente a figura 6 tratava-se de um polígono, pois, como toda figura

poligonal, seu contorno é formado, exclusivamente, por segmentos de reta.

Fotografia 3 – Atividade: identificação de figuras poligonais

Fotografia de minha autoria (05/nov./2014)

Os próximos passos foram direcionados para o desenvolvimento de

atividades que colaborariam para a compreensão de ideia inicial de perímetro. Para isso,

adotamos um quadrado recortado em cartolina que de comum acordo com os alunos

denominamos quadrado unitário – quadrado cujo comprimento do lado é definido como

161

unidade de medida. Em outras palavras, a medida do comprimento do lado desse

quadrado correspondia a 1 unidade de comprimento (1 u.c.) e, obviamente, essa

informação foi enfaticamente divulgada para a turma. Buscando identificar,

pontualmente, em que nível de conhecimento sobre perímetro encontravam-se os alunos

investigados, perguntamos: qual o perímetro desse quadrado? De imediato, quase por

unanimidade, falaram que era 1. Decorrente de tal manifestação, nossa conclusão é que

foi mantida por eles a noção usada para a determinação de área. Solicitamos uma maior

atenção e reafirmamos a nossa interrogação, enfatizando o que estava em questão não

era a área do quadrado e sim a determinação do seu perímetro.

Sávio (que tinha acertado praticamente todas as perguntas sobre perímetro

no TD), afirmou que o perímetro era igual a 4 metros. Antes de tecermos algum tipo de

comentário, Irineuda fez a seguinte colocação de um modo taxativo: “a figura é muito

pequena para ser 4 metros”. Achamos bem interessante a observação feita por essa

aluna e com base em sua assertiva nos inclinamos a dizer que ela tanto deixava

subentendido que sabia do que se tratava o perímetro quanto, através da observação do

quadrado unitário, percebia que o comprimento de 4 metros era uma medida descabida,

incompatível com a figura exposta (o lado do quadrado unitário adotado apresentava 20

centímetros de comprimento, medida não divulgada para os alunos).

O Professor Pedro, afinado com as atividades sobre perímetro, flexibilizou o

nosso planejamento para trabalhar uma ideia que se encaixou perfeitamente no quadro

que se desenrolava em sala de aula: lançou mão do quadrado que tínhamos usado na

atividade que versava sobre a estimativa de público em uma praça retangular.

Relembramos que o lado desse quadrado tinha 1 metro de comprimento e perguntamos

à turma se o perímetro dele seria igual ao da resposta dada por Sávio, isto é, 4 metros.

Apesar dos alunos ainda não se manifestarem vivamente em grande número, Sávio,

agora com a concordância de Irineuda, reafirmou a resposta argumentando que

“arrodeando o quadrado a gente anda 4 metros”. Dito isso, resolvemos, na tentativa que

a noção de perímetro fosse compreendida por todos da turma, associar a determinação

do perímetro do quadrado em foco com a distância que caminharíamos caso

contornássemos uma praça idêntica a ele. Assim, a distância que seria percorrida ao ser

dada uma volta completa em torno dessa praça corresponderia à medida do perímetro do

quadrado que, neste caso, seria de 4 metros. Em última análise, nosso desejo era que a

apreensão do conceito de perímetro de uma figura bidimensional se estabelecesse como

o comprimento do seu contorno.

162

Voltando ao questionamento feito no início da aula (perímetro do quadrado

unitário), recorremos à fala de Irineuda (acerca do perímetro desse quadrado não

corresponder a 4 metros) e procuramos discutir o porquê da resposta 4 metros não estar

plenamente correta. Alguns alunos – Laércio, Fabrícia e Rivaldo, por exemplo –

expuseram seus argumentos que, consoantes com o de Irineuda, continham o seguinte

pensamento: dizer que o perímetro seja 4 (não houve citação de u.c., sendo acrescentado

mediante nossa observação) estava correto, porém incluir na resposta o metro como

unidade de comprimento não correspondia à verdade, visto que o lado desse quadrado

não media 1 metro.

Percebendo que o envolvimento dos alunos nessas atividades não atingiu

um patamar satisfatório – sendo determinante para esse panorama, sob nossa ótica, a

ideia de perímetro ser menos familiar aos sujeitos desta pesquisa e cujo indício foi o

fraco desempenho no TD em relação às perguntas sobre perímetro –, propomos à turma

novas questões que colaborassem para o avanço dos alunos na construção do conceito

de perímetro. Com isso em vista, dividimos aos 20 alunos que realizaram o TD em

cinco grupos que foram assim constituídos: Grupo I – Fabrícia, Laércio, Maurilene e

Horácio; Grupo II – Jacqueline, Talia, Vitória e Zuleide; Grupo III – Breno, Gilda,

Irineuda e Keila; Grupo IV – Eliete, Quênia, Rivaldo e Sávio e Grupo V – Uelton,

Xavier, Yuri e Giordano.

Entregamos a cada grupo uma figura recortada em cartolina. Pelo fato de

serem polígonos quadriculados, acertamos com os alunos que os quadradinhos usados

na composição dos polígonos eram iguais entre si e, seguindo as atividades já

realizadas, o quadrinho usado correspondia ao quadrado unitário, ou seja, a medida do

comprimento do seu lado seria a unidade de medida de comprimento (u.c.) adotada. As

figuras A, B, C, D e E da Figura 6 – cujos perímetros deveriam ser determinados e que

estão representadas a seguir –, foram recebidas pelos Grupos I, II, III, IV e V, nesta

ordem.

Figura 6 – Atividade: determinação da medida do perímetro de

figuras poligonais quadriculadas

Figura A Figura B Figura C Figura D Figura E

163

Ao percebermos que os grupos já tinham concluído a atividade, pedimos

que fossem divulgados somente os resultados encontrados. Vejamos, na Tabela 7, as

respostas obtidas.

Tabela 7 – Resultados fornecidos pelos grupos (medida do perímetro)

Fonte: próprio autor

Na sequência, todas as figuras foram fixadas na lousa. Intencionalmente,

pois pretendíamos envolver simultaneamente área e perímetro em questões futuras,

indagamos qual polígono apresentava menor área. A resposta, de súbito, dada por

alguns alunos foi o da figura 2. “Se tá querendo saber é a área, então é o 3”, disse

Horácio, recebendo o apoio de Irineuda. Olhando com maior atenção, os demais alunos

também concordaram com a resposta dada e complementaram dizendo que as outras

figuras tinham áreas iguais. Aproveitamos a ocasião para informar que figuras que têm

áreas iguais são chamadas de equivalentes. Era o caso das figuras A, B, C, D e E.

Esclarecida essa questão, partimos para ouvir os grupos.

O Grupo I justificou sua resposta (perímetro da Figura A igual a 12 u.c.)

argumentando que levou em consideração “uma caminhada ao redor de uma “praça” do

mesmo jeito da figura. Cada quadradinho que a gente andava, contava 1”. Assim,

concluíram que “de onde a gente saiu até voltar para o mesmo canto, a gente andou 12

quadradinhos”. Essa explicação, sob nossa óptica, apontava que o grupo já apresentava

um relativo domínio sobre o conceito de perímetro. Registramos que todos os grupos

não incluíram em suas respostas a indicação da unidade de comprimento escolhida. O

Grupo I, por exemplo, escreveu simplesmente 12 ao invés de 12 u.c.

O Grupo II ao explicar como determinou que o perímetro da Figura B igual

a 6 u.c, quando a resposta correta é 10 u.c., disse: “começamos a arrodear a figura

saindo do canto de baixo (apontaram na figura o vértice inferior esquerdo), subimos até

o final e viramos para esse lado (indicaram que dobraram para a direita), descemos,

dobramos para o outro lado (dobraram para a esquerda), descemos de novo e, para

chegar de onde a gente saiu, viramos de novo (dobraram outra vez à esquerda). Toda

Grupo Figura Perímetro

(em u.c.)

Respostas dos

grupos (em u.c.)

I A 12 12

II B 10 6

III C 10 10

IV D 10 10

V E 12 10

164

vida que a gente terminava uma linha (percorria um lado), a gente contava 1 para o

perímetro. A gente pensou do mesmo jeito que quando andamos arrodeando aquele

quadrado grande do começo da aula (quadrado de lado 1 metro)”.

Essa explanação nos leva ao seguinte entendimento: quando tratava-se de

um único quadrado unitário, a medida do perímetro era numericamente igual à

quantidade de lados que ele possui e tal percepção pode levar-nos a concluir que cada

lado percorrido do polígono corresponderia a 1 u.c. Como a Figura B é um polígono

hexagonal (polígono com 6 lados), consideramos que a resposta dada é coerente com

esse modo de pensar. Reforçamos a informação que o conceito de perímetro está

associado à medida do contorno de uma figura, seja ela poligonal ou não, enfatizando

que ao contornarmos um polígono quadriculado, a medida do comprimento do lado do

quadrado unitário situado corresponde a 1 u.c.

Com relação aos Grupos III e IV, eles apresentaram uma explicação que,

essencialmente, não difere da explicitada pelo Grupo I. Por seu turno, o Grupo V,

semelhante ao Grupo II, pensou o perímetro em termos de quantidade de lados do

polígono. Assim, pelo fato da Figura E ser um decágono (polígono com 10 lados), seu

perímetro seria 10 u.c., quando, na verdade, sua medida era igual a 12 u.c.

Acreditando que as dúvidas referentes à determinação de perímetro foram

substancialmente minimizadas, aproveitamos o conhecimento das medidas das áreas e

dos perímetros das figuras trabalhadas e pedimos que os alunos respondessem às

indagações:

1) polígonos com áreas iguais têm, obrigatoriamente, perímetros iguais?

2) polígonos com perímetros iguais, necessariamente, apresentam áreas

iguais?

3) polígonos com áreas diferentes possuem sempre perímetros diferentes?

Para facilitar a resolução dos pontos acima, preenchemos a Tabela 8 com as

respostas fornecidas pelos alunos.

Tabela 8 – Resultados corretos fornecidos pelos grupos (medidas da área e do perímetro)

Fonte: próprio autor

Figura Área

(em u.a.)

Perímetro

(em u.c.)

A 5 12

B 5 10

C 4 10

D 5 10

E 5 12

165

Além de destacarmos mais uma vez que todos os polígonos em questão são

equivalentes (áreas iguais), sendo o polígono C a única exceção, os alunos constataram

que a primeira indagação tem não como resposta. Os polígonos A e B comprovam isso.

Com relação à interrogação seguinte, também eles verificaram, através dos polígonos C

e D, que perímetros iguais não é garantia de áreas iguais. Contudo, segundo

observaram, é possível polígonos de formas diferentes apresentarem áreas e perímetros

iguais. É o caso dos polígonos A e E e também de B e D.

Fazendo um rápido comentário sobre o desenvolvimento das atividades

nessa aula, diríamos que a dificuldade mostrada pelos alunos na compreensão do

conceito de perímetro foi um pouco abaixo do que esperávamos. Essa impressão de que

teriam maior dificuldade para apreender a ideia de perímetro estava fundamentada,

principalmente, nos resultados constatados no TD (os acertos foram em maior número

nas questões sobre área). Porém, houve a seguinte expectativa confirmada: os alunos

que tiveram melhor desempenho no TD nas perguntas sobre perímetro demonstraram

segurança durante as discussões ocorridas em sala.

No encontro seguinte, além de retomarmos as ideias de perímetro e área,

foram realizadas atividades envolvendo ladrilhamento e composição de figuras planas.

Na atividade de estreia sobre perímetro e sua medida, expomos um

quadrado unitário e ao pedirmos a medida de seu perímetro, obtivemos como resposta

da maioria da turma que era igual a 1. Com a sugestão do Professor Pedro (trabalharmos

com o quadrado unitário de lado 1 metro em escala real) ficou claro que o entendimento

sobre perímetro tendeu a melhorar. Em nossa percepção, isso se harmoniza com o

pensamento de Lorenzato (2010), quando salienta que atividades de natureza mais

concreta nos primeiros passos de um dado assunto geométrico é de grande valia na

aquisição desse saber.

5.5 ATIVIDADE 5 – DIA 19/nov./2014 – ÁREA E PERÍMETRO DE FIGURAS

BIDIMENSIONAIS

Levando em conta que fazia duas semanas que não nos encontrávamos com

os alunos do 6º. ano B, nossa primeira atividade teve caráter de revisão. Para sua

efetivação, entregamos a cada aluno uma folha A4 e orientamos que nela fosse

reproduzido o polígono quadriculado desenhado no quadro-branco. A atividade

consistia na determinação da área e do perímetro desse polígono que tinha a estrutura

apresentada na Figura 7.

166

Figura 7 – Atividade: determinação da medida do perímetro e da área de polígono quadriculado

A medida da área do polígono é igual a 25 u.a.?

( ) Sim ( ) Não

O perímetro do polígono tem medida igual a 27 u.c.?

( ) Sim ( ) Não

Fonte: próprio autor

Mantivemo-nos atentos para garantir que durante a resolução cada aluno

não contasse com o auxílio de colegas, pois ensejávamos ter uma maior clareza com

relação ao entendimento, por aluno, sobre as noções de perímetro e área. Entre os

alunos que compareceram à aula, 25 deles eram sujeitos da pesquisa.

Recolhemos as folhas com as resoluções, verificamos quantos alunos

acertaram cada pergunta e as devolvemos para, em seguida, partir para as discussões.

No que tange aos percentuais de acertos: 23 alunos (92%) assinalaram que a área do

polígono não era 25 u.a. (de fato, sua área media 26 u.a.) e 19 alunos (76%) marcaram a

alternativa não, pois perceberam, a nosso juízo, que a medida do perímetro era diferente

de 27 u.c. (a medida correta era 26 u.c.).

Durante a discussão acerca dessa atividade, as alunas Cirlene e Maurilene,

que não resolveram corretamente a primeira pergunta, apresentaram explicações

semelhantes e que podem ser sintetizadas como sendo erro gerado por desatenção na

contagem dos quadrados unitários. Do exposto, inferimos que o conceito de área, pelo

menos no caso de polígonos quadriculados, elas compreenderam. Ouvimos, em seguida,

as razões que levaram os alunos Amália, Cirlene, Maurilene, Talia, Wilma e Nilberto, a

responderem erradamente a pergunta relativa a perímetro. Amália, Cirlene e Nilberto

foram taxativos: “a gente não sabe nem pra onde vai: a gente não sabe calcular

perímetro”. Constatamos, consultando os resultados do TD, que eles não apresentaram

nenhuma resposta correta sobre perímetro e, acreditamos, para agravar um pouco mais a

167

situação, que eles não compareceram a aula anterior (dia 05/11), dedicada

exclusivamente a esse assunto.

Maurilene, Talia e Wilma não acertaram nenhuma das perguntas

relacionadas a perímetro no TD, contudo, tinham assistido a aula anterior. Maurilene e

Wilma expressaram que consideravam como perímetro “a quantia de quadradinhos que

tem na figura”, ficando patente a não diferenciação dos conceitos das grandezas área e

perímetro. Por sua vez, Talia disse: “usei a ideia que vi na aula passada, que era contar

quantas linhas tem por fora da figura. Vi que tinha 14”. Em outras palavras, ela

contornou a figura e verificou que se trata de um tetradecágono (polígono com 14

lados).

Com a intenção de oportunizar aos alunos que ainda tinham dúvida acerca

da determinação da medida do perímetro de um polígono quadriculado – conceito ainda

não compreendido por, pelo menos, seis partícipes da pesquisa –, solicitamos se algum

aluno poderia dizer para os colegas qual o procedimento que ele usava para obter a

medida de um polígono quadriculado. Aceitando a proposta, Keila (46,15% no TD)

falou que “bastava andar a figura toda pelo lado de fora (contornar o polígono) e contar

os quadradinhos (quadrados unitários) que você andou. O número que você achou é o

perímetro (medida do perímetro em u.c.)”. Notamos que alguns alunos, entre os que

acertaram ou não a segunda pergunta, demonstraram, verbalmente ou por outras formas

de expressão, que, finalmente, tinham entendido o que o que é o perímetro. Restava-

nos, então, aguardar o desempenho deles nas próximas atividades e por ocasião da

Reaplicação do Teste Diagnóstico (RTD).

Nossa próxima atividade tratava-se da determinação da medida do perímetro

de um polígono por ladrilhamento. Ela foi desenvolvida por cinco grupos, cada um com

cinco componentes. Para que os grupos fizessem os ladrilhamentos foram

disponibilizados quadrados de dimensões diferentes, onde o comprimento do lado do

quadrado maior era o dobro do comprimento do lado do outro, ou seja, seriam utilizados

os mesmos quadrados usados na segunda aula (dia 08/out) desta pesquisa.

Pretendendo não deixar espaço para dúvidas, avisamos aos alunos que o

quadrado usado para o ladrilhamento faria às vezes de quadrado unitário, isto é, a

medida do comprimento do seu lado corresponderia a 1 u.c. Os polígonos, recortados

em cartolina, entregues aos Grupos 1, 3 e 5 eram idênticos, porém eram distintos dos

recebidos pelos Grupos 2 e 4, com a observação que as figuras poligonais destes grupos

eram iguais entre si. Nas fotografias 4 e 5, temos os Grupos 1 (Fabrícia, Laércio,

168

Maurilene, Breno e Talia) e 4 (Wilma, Zuleide, Amália, Jacqueline e Sávio) em ação,

respectivamente.

Quando questionados como tinham encaminhado a solução da atividade e

também o resultado encontrado, os alunos do Grupo 1 falaram que: “para saber o

perímetro só interessa o que tá ao redor da figura. A gente botou 25 quadrados

arrodeando a figura e o perímetro deu 25”. Em outras palavras, segundo esse grupo,

para saber a medida do perímetro bastava colocar quadrados unitários contornando o

polígono e a quantidade de quadrados usados implicou em uma medida igual a 25 u.c.

Salientamos que ladrilhar somente o contorno do polígono, de fato, evita

trabalho desnecessário, porém colocamos também em evidência que a conclusão ao qual

o grupo chegou não fornecia a resposta correta da medida do perímetro – acreditamos

que, de certo modo, influenciado pela forma simples e direta de determinar a medida da

área por ladrilhamento, onde o número de quadrados unitários usados para preencher

totalmente a região poligonal é numericamente igual a medida da área, também para a

medida do perímetro bastaria saber quantos quadrados periféricos tem a figura

poligonal. Assim, pedimos ao grupo que “andasse” contornando a figura e verificasse

quantos lados desses quadrados foram percorridos durante a “caminhada”.

Sequencialmente, as alunas Fabrícia e Talia contornaram a figura e obtivem o mesmo

resultado e, desta vez, correto: a medida do perímetro era 32 u.c.

Fotografia 4 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento (Grupo 1)

Fotografia de minha autoria (19/nov./2014)

Os demais grupos que receberam polígonos idênticos ao do Grupo 1,

escolheram ladrilhá-los com os quadrados maiores. Ambos preencheram por completo a

superfície da figura, que comportou 10 desses quadrados, contudo chegaram a

169

resultados diferentes: o Grupo 5 persistiu na ideia ligada à área (explicitada acima) e

apresentou 10 como resultado, ou seja, a medida do perímetro era 10 u.c., que não era a

resposta correta, Já o Grupo 3 divulgou a resposta certa: 16 u.c.

Analogamente a quando trabalhamos com área e suas possíveis medidas,

chamamos a atenção dos alunos para o fato de que, não obstante esses perímetros serem

iguais (por conta das figuras poligonais que os Grupos 1, 3 e 5 usaram serem idênticas),

as medidas dos perímetros eram distintas (32 u.c. e 16 u.c.), haja vista os padrões de

medida (comprimento do lado dos quadrados unitários) não serem iguais. Aproveitando

para aprofundar as reflexões sobre a atividade, enfatizamos que o Grupo 1, que

manipulou os quadrados menores, chegou a uma medida que é o dobro da outra, em

decorrência do comprimento do lado do quadrado unitário manuseado pelos alunos

deste grupo corresponder à metade do comprimento do lado do quadrado unitário

escolhido pelos Grupos 3 e 5.

Partiremos agora para ouvir e tecer comentários sobre o que foi realizado

pelos Grupos 2 e 4, ressalvando que no caso desses grupos, estipulamos que o Grupo 2

utilizaria os quadrados menores e o 4, os maiores. O Grupo 2 colocou em curso o

desenvolvimento da atividade fazendo o ladrilhamento completo do polígono e

“ ‘andamos’ arrodeando a figura e contando os lados. O resultado que a gente encontrou

foi 28”. Ou seja, os alunos, ao contornarem a figura, percorreram 28 lados de quadrados

periféricos, implicando que a medida do perímetro seria 28 u.c. Estando a resposta e a

forma de obter corretas, acrescentamos somente que o ladrilhamento poderia ter ser

somente no contorno da figura, conforme a ideia da Grupo 1.

Por seu lado, o Grupo 4 encontrou uma maior dificuldade para obter a

resposta correta. Na verdade, o resultado correto somente foi atingido com as

contribuições de colegas de outros grupos. Tal dificuldade é plenamente justificada

porque esse grupo se deparou com uma situação não vivenciada nem pelos outros

quatro grupos ou em qualquer outra questão proposta. Também é verdade que ao

propormos esse problema intencionávamos dar um passo à frente no ensino de

perímetro (com possíveis reflexos na apreensão do conceito de área). Considerando esse

ineditismo, a atividade em pauta foi solucionada/comentada por toda a turma. Para isso,

fixamos na lousa o polígono com quase totalmente ladrilhado pelos componentes do

Grupo 4 (os comentários e discussões das atividades dos outros grupos foram feitas na

própria bancada que eles trabalhavam).

170

Como dissemos, direcionamos o Grupo 4 a usar o quadrado maior como

quadrado unitário. Ao atingirem o estágio do ladrilhamento mostrado na Fotografia 5,

constataram que a superfície que estava sendo pavimentada não aceitava um número

inteiro de quadrados unitários (a pequena parte da região poligonal não ladrilhada está

indicada por uma seta na fotografia). Até esse ponto, a conclusão que o grupo chegou

foi que a medida do perímetro seria igual a “12 e mais alguma coisa.”

Fotografia 5 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento (Grupo 4)

Fotografia de minha autoria (19/nov./2014)

Colocada a situação para a turma, percebemos que somente um número

pequeno de alunos demonstrou interesse em buscar uma solução. Vitória sugeriu: “Por

que a gente não completa com quadrado pequeno?”. Outra sugestão veio de Giordano:

“É só cortar um pedaço do quadrado grande que dê certo e colocar”. A partir dessas

colocações, lembramos que o lado do quadrado maior era o dobro do lado do menor.

“Quer dizer”, Sávio falou, “que juntando dois pequenos, o tamanho do lado fica igual ao

do grande”. Nisso, Gilda, que tinha atuado no Grupo 2, disse: “Quando a gente encheu

(ladrilhou) a nossa figura (que era idêntica a do Grupo 4), botamos aí dois

quadradinhos”. Isso exposto, pedimos que Sávio fosse até a lousa e fixasse na figura os

quadrados pequenos de acordo com o que ele estava dizendo. Ao fazê-lo, vimos que o

ladrilhamento estava concluído, ficando como está representado na Figura 8.

171

Figura 8 – Atividade: determinação da medida do perímetro por ladrilhamento

(resolução grupal)

Metade do lado do

quadrado maior

Metade do lado

do quadrado maior

Fonte: próprio autor

Perguntamos se ele sabia qual era a medida do perímetro. Sávio foi

apontando na figura e dizendo: “essa metade com essa outra metade (indicações na

figura abaixo), dá um lado inteiro do quadrado grande. Esse lado também é inteiro

(correspondendo a justaposição, na horizontal, dos dois lados do quadrado menor). Já

tinha 12 e juntando mais 2 dá 14 ”. Ou seja, a medida do perímetro correspondia a 14

u.c. Os alunos que tinham, na melhor das hipóteses, acompanhado parte da discussão,

pediram ao Sávio que repetisse. Após nova explicação, não houve mais nenhuma

pergunta e percebemos que, de fato, o entendimento foi alcançado por um percentual

razoável da turma.

Pontuamos que nos Apêndices I e J representamos os ladrilhamentos dos

polígonos usados nessa atividade com os quadrados unitários adotados.

A atividade seguinte, semelhante à primeira desse dia, tinha caráter

individual e voltava a questionar área ou perímetro. Para não ser integralmente no

formato das atividades já desenvolvidas, solicitamos que o aluno apresentasse uma

justificativa, por escrito, para a resposta dada. De um universo de 25 alunos que

realizaram as questões propostas, elegemos 20% das resoluções apresentadas, que, sob

nossa ótica, correspondem a uma amostra significativa das ideias apresentadas nas

justificativas dos sujeitos da pesquisa.

Entregamos a cada aluno uma folha onde constava o polígono quadriculado

sobre o qual incidia as perguntas. Na elaboração das questões ficamos atentos para que

os polígonos não fossem idênticos. Isso não significando que dois ou mais deles não

pudessem ter suas medidas de área ou perímetro iguais. Vejamos as questões resolvidas

por Eliete, Fabrícia, Xavier, Uelton e Quênia.

172

Figura 9 – Atividade: determinação da medida de área (polígono quadriculado)

Aluna: Eliete

A figura abaixo representa um polígono:

a) a medida da área do polígono é igual a 12 u.a.?

( ) Sim ( ) Não

b) por que?

Fonte: próprio autor

Quando a questão abordava a medida da área de uma figura poligonal

quadriculada, a nossa expectativa era um alto índice de acerto, porque tanto a solução

poderia ser mais facilmente encontrada, em relação as que tratavam da medida de

perímetro, quanto aos resultados exitosos mostrados pelos alunos no TD e no decorrer

das atividades. Isso, de fato, foi constatado, sendo a resolução da Eliete um exemplo

(figura 9). Considerando o ano escolar e a realidade de uma não prática de apresentar

justificativa textual, principalmente envolvendo conhecimentos matemáticos, inferimos

que houve, por parte dessa aluna, uma efetiva compreensão das atividades envolvendo o

conceito de área associado a uma região demarcada no espaço bidimensional.

A próxima questão, cuja resolução é creditada à aluna Fabrícia, requeria a

determinação da medida do perímetro de um polígono cuja área media 9 u.a. (Figura

10).

Figura 10 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal quadriculada)

Aluno: Fabrícia

A figura abaixo representa um polígono:

a) a medida do perímetro do polígono é igual a 9 u.c.?

( ) Sim ( ) Não

b) por que ?

Fonte: próprio autor

Antecedendo o nosso olhar acerca da resolução da Fabrícia, registramos

que, propositadamente, colocamos o valor numérico da medida do perímetro igual ao da

173

medida da área desse polígono. Tínhamos o interesse de identificar se o aluno

diferenciava ou não os conceitos das grandezas geométricas perímetro e área.

A observação das marcações feitas na própria figura leva-nos a afirmar que

Fabrícia durante a contagem dos lados que contornam a figura parou ao fazer a 12ª.

indicação, pois essa quantidade ultrapassava a medida do perímetro que constava na

primeira indagação (9 u.c.). Em outras palavras, até onde Fabrícia assinalou na figura o

perímetro já teria medida igual a 12 u.c., ou seja, era maior do que era indicado na

primeira pergunta. Estendendo essa ideia, ela obteria a medida correta, isto é, 20 u.c. Do

mesmo modo que Eliete, achamos que Fabrícia também compreendeu as atividades

sobre perímetro de uma figura poligonal quadriculada, não obstante sua justificativa

trazer nas entrelinhas que cada lado de um quadrado periférico da figura seria um

perímetro, contudo, não podemos deixar de levar em conta a sua falta de intimidade

com questões que exigem um porquê da resposta apresentada.

Nesta altura de nossa exposição sobre nossa percepção em relação as

resoluções explicitadas pelos alunos no decorrer da presente atividade, revelamos que

pensamos em incluir uma terceira pergunta nas questões. Essa pretensa indagação

somente seria respondida caso o aluno assinalasse não na pergunta inicial. Não levamos

tal ideia em frente porque – podendo ser um pensamento totalmente equivocado de

nossa parte – a vivência em sala de aula sinaliza que a maioria dos alunos tenderia

marcar sim na primeira pergunta, fazendo valer a “lei do menor esforço”, no sentido de

concluir mais brevemente a tarefa.

Figura 11 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal quadriculada)

Aluno: Xavier

A figura abaixo representa um polígono:

a) a medida do perímetro do polígono é igual a 16 u.c.?

( ) Sim ( ) Não

b) por que ?

Fonte: próprio autor

Quando olhamos o modo como o aluno Xavier desenvolveu a questão que

lhe foi proposta, ficou muito claro que ele a respondeu corretamente, recorrendo ao

método utilizado no decorrer das atividades. Consideramos que ele apresentou uma

174

dificuldade maior do que a Eliete e a Fabrícia no momento de expressar a ideia que

lançou mão para atingir a conclusão. Pela forma que ele expressou sua “justificativa”

temos o típico caso do “é porque é”, ou seja, a nosso juízo, ele andou em círculo.

Semelhante ao que afirmamos em relação às alunas Eliete e Fabrícia – que

consideramos válido para todos os alunos da turma do 6º. ano B –, essa não

desenvoltura na exposição de ideias, principalmente por escrito, se deve, em grande

medida, não fazer parte do mundo escolar, via de regra, a vivência de situações em que

se faz necessário justificar aquilo que foi dado como resposta. Em nosso entendimento,

nós, professores, a não oportunizarmos essas experiências de forma mais frequente,

estamos reduzindo as oportunidades do aluno organizar suas ideias, sedimentar o seu

conhecimento e exercitar a textualização da justificativa, por exemplo. Tal prática

poderia desembocar em um espaço maior de interação com colegas e/ou professor por

ocasião da exposição de argumentos em defesa dos diversos pontos de vista.

Figura 12 – Atividade: determinação da medida de perímetro (figura poligonal quadriculada)

Aluno: Uelton

A figura abaixo representa um polígono:

a) a medida do perímetro do polígono é igual a 22 u.c.?

( ) Sim ( ) Não

b) por que ?

Fonte: próprio autor

Quando nos reportamos à resolução do Uelton, presente na Figura 11, e nos

detivemos à pergunta inicial e as marcações que ele registrou na figura poligonal, ficou

patente um procedimento sem falhas para a obtenção da medida do perímetro de um

polígono nas condições apresentadas (polígono quadriculado), todavia a sua justificativa

nos inclina a afirmar que a identificação e a nomenclatura usada para os diversos

objetos geométricos estudados durante as exposições e as discussões das atividades

ainda não foi por ele apreendida, assimilada.

Na tentativa de analisar o pensamento trilhado pelo Uelton, por ocasião de

sua justificativa, arriscaríamos dizer que cada lado de um determinado quadrado

unitário foi visto por ele como um polígono. Desse modo, nossa leitura, a partir do

expresso no porquê do polígono apresentar 22 u.c. como medida do perímetro, é que

175

ainda não ficou claro para esse aluno que o lado de um polígono é um segmento de reta,

logo um elemento geométrico unidimensional, e que o polígono tem natureza

bidimensional, haja vista que corresponde a uma porção de uma superfície plana.

Assim, por extensão do raciocínio em pauta, diríamos que caso fosse exposto um único

quadrado unitário, a resposta dada por Uelton, segundo nossa percepção, seria 4 u.c.

porque era formado por 4 polígonos.

Vejamos o tratamento dado pela aluna Quênia à questão que lhe foi

proposta na Figura 12.

Figura 13 – Atividade: determinação da medida de área (polígono quadriculado)

Aluna: Quênia

A figura abaixo representa um polígono:

a) a medida da área do polígono é igual a 30 u.a.?

( ) Sim ( ) Não

b) por que ?

Fonte: próprio autor

Conforme comentamos, as questões que abordavam a medida da área de

polígonos quadriculados apresentaram, desde o TD e no decorrer desta pesquisa, um

alto percentual de acertos. Assim, de forma análoga à Eliete, notamos claramente que

foi através da contagem de quadrados unitários presentes na composição do polígono

que a Quênia obteve a medida da área questionada, apesar de não registrá-la. No caso,

totalizou 15 quadrados unitários, implicando que a medida de sua área equivalia a 15

u.a. Sua justificativa se harmoniza com a conceituação de área, correspondendo a uma

região do espaço bidimensional delimitada, nessa questão, por quadrados unitários.

Em nosso entendimento, a assertiva feita por Quênia, mesmo de modo

subentendido, que o polígono é formado por 15 quadrados unitários traz embutida a

ideia que utilizando os mesmos 15 quadrados unitários para compor, por justaposição,

novos polígonos de formas diferentes do original, essas transformações não

provocariam nenhuma mudança na área e nem em sua medida. Em suma, os polígonos

(original e os formados por justaposição) seriam equivalentes entre si.

A título de visão geral dessa atividade, ressaltamos o desempenho exitoso

desse grupo de alunos no tocante à segurança do procedimento a ser usado na

176

determinação da medida de perímetro e de área de polígonos quadriculados, contudo no

que se refere a exposição das justificativas, não obstante os pontos falados

anteriormente, é notória a grande dificuldade enfrentada pelos alunos quando é preciso

traduzir em palavras as ideias que fizeram uso na resolução da questão.

Nossa derradeira atividade foi grupal e a tarefa a ser realizada consistia na

composição de uma figura plana, não necessariamente poligonal, com uma medida de

área e perímetro pré-determinadas.

Essa atividade foi desenvolvida por um grupo de cada vez. Para isso, os

alunos de um dado grupo foram conduzidos para um local extra-sala de aula. De início,

passamos as seguintes orientações para os alunos: o grupo deveria compor através da

manipulação de cartões quadrados de cartolina (quadrados unitários) uma figura plana

cujo perímetro teria uma medida que nós informaríamos. Também foi esclarecido para

os alunos que havia a seguinte restrição quanto a medida da área: a figura formada

deveria apresentar 4 u.a. como medida de área (no caso do Grupo 2, fizemos uma leve

variação), com exceção do Grupo 5 que foi definido 5 u.a. como medida da área. Em

outras palavras, os alunos dos Grupos de 1 a 4 usariam quatro quadrados unitários para

compor a figura (não esquecendo que o Grupo Dois trabalhou sob uma pequena

alteração nos critérios, detalhados adiante) e os dos Grupo 5, 5 quadrados unitários. Nas

fotografias seguintes, temos as figuras construídas pelos Grupos 2 e 3 dos cinco grupos

participantes da atividade.

O Grupo 2 – cujos componentes eram Gilda, Irineuda, Rivaldo, Vitória e

Giordano –, ficou com a incumbência de compor uma figura bidimensional que

apresentasse 14 u.c. como medida do perímetro. A razão da exposição sobre como foi

encaminhado o desenvolvimento da atividade por parte desse grupo decorre do fato dele

ter sido o que, conforme nossas percepção, encontrou maior dificuldade para atingir a

solução. Acreditamos que essa maior dificuldade foi, em parte, por conta da introdução

de uma pequena mudança nos critérios para a composição da figura: ela seria construída

de modo que sua área seria, no máximo, 4 u.a., isto é, os alunos poderiam montar

figuras com áreas de medidas 1 ou 2 ou 3 ou 4 u.a. na tentativa de obter uma figura

bidimensional de perímetro cuja medida fosse 14 u.c.

A primeira tentativa feita pelo grupo foi manuseando três quadrados

unitários. Ao constatarem que a máxima medida de perímetro que poderia ser obtida

com uma figura de área equivalente a 3 u.a. era 12 u.c. – que ocorria quando os 3

quadrados unitários eram dispostos, por exemplo, conforme a representação da Figura

177

13 –, partiram para o manuseio de quatro desses quadrados unitários com o objetivo de

montar a figura que contemplasse a medida desejada para o perímetro.

Figura 14 – Atividade: composição de figura plana com área de medida 3 u.a. e perímetro de

medida 12 u.c. (Grupo 2)

Fonte: próprio autor

Manipulando quatro quadrados unitários, esse grupo compôs algumas

figuras como, por exemplo, um retângulo de base e a altura que mediam,

respectivamente, 4 u.c. e 1 u.c. e um quadrado cujo comprimento do lado media 2 u.c.

Comprovaram, então, que as medidas dos perímetros do retângulo e do quadrado eram,

nesta ordem, 10 u.c. e 8 u.c.

Ao percebermos que o grupo estava encontrando grande dificuldade em

montar uma figura que correspondesse à solução buscada, indagamos: “se os quatros

quadrados estiverem isolados um dos outros, qual seria a soma das medidas de seus

perímetros?”. Rivaldo falou “quatro”. De imediato, Vitória rebateu essa resposta

dizendo que “ele não está perguntando a área” e prosseguiu argumentando: “um

quadrado tem 4 lados, quatro quadrados vai dar 16 porque é 4 vezes 4”. Notando que os

outros alunos do grupo concordavam com a ideia da Vitória, lancei uma próxima

pergunta no sentido de qual deveria ser o procedimento para que um perímetro de 16

u.c. fosse diminuído e ficasse igual a medida do perímetro desejada, isto é, 14 u.c? Em

outras palavras, produzir a redução de 2 u.c., considerando aquilo que tínhamos acabado

de discutir.

Aguardamos um certo tempo e como a resposta não emergiu, pedimos,

então, para que eles fizessem a composição de um retângulo usando somente dois

quadrados unitários e dissessem qual a medida do perímetro dessa figura? A resposta

dada foi “seis”, sendo correta e entendida pelo grupo. “Se esses dois quadrados

estivessem separados, qual seria a soma das medidas de seus perímetros?”, fizemos

nova pergunta. Sem nenhuma surpresa, Vitória respondeu de pronto: “oito”. Então,

dissemos, “não é uma situação parecida com a que queremos resolver? Vejamos: os dois

quadrados separados tem 8 u.c. de perímetro e juntos, 6 u.c., ou seja, duas unidades de

178

comprimento a menos”. Com isso, o grupo resolveu partir do retângulo de 10 u.c. de

perímetro, construído anteriormente, e fazendo manipulação dos quatro quadrados

unitários e por tentativa e erro compuseram a figura mostrada na fotografia 6, que

satisfazia às medidas de área (4 u.a.) e de perímetro (14 u.c.) que foram determinadas.

Fotografia 6 – Atividade: composição de figura plana composição de figura plana com área

de medida 4 u.a. e perímetro de medida 14 u.c. (Grupo 2)

Fotografia de minha autoria (19/nov./2014)

Sob nossa ótica, uma indagação totalmente pertinente ao contexto das

atividades desenvolvidas no curso desta pesquisa é por qual razão entre as

características que a figura plana a ser formada deveria apresentar não constou ser um

polígono? Esclarecemos que tal critério não foi definido porque, não obstante esse

polígono existir (Apêndice K), sua composição dependeria de frações do lado do

quadrado unitário, tema que não foi contemplado no decorrer das aulas destinadas à

pesquisa.

Por outro lado, mesmo não definindo esse fator limitante (compor uma

figura poligonal) tivemos uma atividade que propiciou a abertura de discussões no

campo da formação de figuras planas (poligonais ou não) por composição visto que os

alunos do Grupo Dois evidenciaram novamente que figuras equivalentes (com áreas

iguais) podem apresentar diferentes medidas de perímetro.

Seguindo a ordem numérica dos grupos, pedimos ao Grupo Três

(integrantes: Dilma, Keila, Otacílio, Yuri e Xavier) a composição de uma figura

bidimensional com área de medida 4 u.a., porém com perímetro de medida igual a 12

u.c. Esse grupo apresentou maior desenvoltura do que o grupo anterior, mas também

tentou inicialmente obter figuras poligonais (retangular e quadrada, por exemplo) de

179

acordo com as orientações recebidas. Como sabíamos que a composição de um

polígono com a medida de perímetro requerida era “impossível” de ser construído (ver

Apêndice L), pela mesma razão exposta acima, estabelecemos com os alunos desse

grupo uma discussão semelhante à conduzida com o Grupo Dois.

Na sequência, temos retratada a figura obtida por esse grupo (Fotografia 7),

que apresentava área de medida 4 u.a. e medida do perímetro igual a 12 u.c., conforme o

desejado.

Fotografia 7 – Atividade: composição de figura plana com área de medida

4 u.a. e perímetro de medida 12 u.c. (Grupo 3)

Fotografia de minha autoria (19/nov./2014)

Com relação aos Grupos 1, 4, e 5, as figuras que eles compuseram foram

poligonais. As áreas das figuras construídas pelos Grupos 1 e 4 estavam de acordo com

o que tínhamos definido em termos de medidas, apresentavam medidas iguais a 4 u.a.,

sendo que a medida do perímetro da composta pelo 1 era igual a 8 u.c. e a do 4, 10 u.c.

Por seu turno, o polígono composto pelo Grupo 5, satisfazendo as características da

figura requisitada, tinha área medindo 5 u.a. e perímetro com medida igual ao do Grupo

4, isto é, 10 u.c.

Vejamos, na Figura 15, a representação das figuras obtidas.

180

Figura 15 – Atividade: composição de polígonos com medidas de área e de perímetro

estipuladas (Grupo 1: área = 4 u.a. e perímetro = 8 u.c.; Grupo 4: área = 4 u.a. e perímetro = 10 u.c.

e Grupo 5: área = 5 u.a. e perímetro = 10 u.c.)

Grupo 1 Grupo 4 Grupo 5

Similarmente ao ocorrido com os Grupos 2 e 3, esses três grupos

participaram de discussões cujo teor que não se distancia daquele que já explicitamos.

Em uma visão sucinta acerca desta última atividade levada a cabo pelos 25

alunos, sujeitos da pesquisa, observamos que a manipulação de quadrados unitários para

obtenção de figuras planas, nem sempre poligonais, onde 80% delas eram equivalentes e

com medidas de perímetro diferentes, oportunizou uma solidificação, uma maior

compreensão dos conceitos das grandezas geométricas perímetro e área.

Ainda no campo das atividades, em termos de frequência dos componentes

do 6º ano B, pontuamos que em face de um levantamento feito entre os alunos dessa

turma que eram sujeitos da pesquisa, somente Petrônio (46,15% no TD e 30,77% no

RTD) não aparecia entre os nomes dos participantes dos grupos formados para efeito do

desenvolvimento das atividades. A ausência do seu nome estava vinculada ao caso mais

agudo de não comparecimento às aulas. Por ocasião da RTD, quando indagado sobre o

motivo de tanta falta às aulas, ele colocou como razão maior o seu desinteresse em

relação aos estudos escolares. Quando fomos verificar os três alunos que declararam

que não gostavam de estudar (conforme citamos no Capítulo 2), constatamos que estava

inserção do nome de Petrônio.

No tocante à determinação da medida do perímetro por ladrilhamento,

percebemos que a interatividade entre professores e alunos foi notadamente mais

intensa, haja vista ser um conteúdo cujo percentual considerável de alunos ainda

apresentava dificuldades de assimilação. Nesse sentido, a situação de maior relevo

recaiu sobre a atividade desenvolvida pelo Grupo 4, considerando que a solução

somente foi encontrada com vários passos, marcados pelo um forte intercâmbio de

ideias e reformulações de posicionamento frente ao problema. Ficou assim constatado

que a solução foi encontrada mediante um trabalho em conjunto. Enfim, foi produto da

interação entre os indivíduos vivenciando uma situação didática. Achamos interessante

181

destacar que ao resolverem problemas por ladrilhamento, alguns alunos ainda

mostraram certa dificuldade na distinção entre as noções de área e perímetro,

caracterizando-os como ainda inclusos no Nivel 1. A título de exemplo, o Grupo 1

ladrilhou a periferia do polígono é concluiu que a medida do perímetro correspondia ao

número de quadrados unitários usados, o que não é verdade. Mediante algumas

indagações e discussões, esse grupo refez a atividade, chegando ao resultado correto, ou

seja, evidenciou que a quantidade de lados unitários percorridos ao contornarem a

figura poligonal era equivalente a medida do perímetro.

Ademais, a manipulação de quadrados unitários distintos (pequenos e

grandes) nas diversas atividades propostas nesse dia, possibilitou um maior número de

intervenções por parte dos professores no decorrer das ações, sendo assim novamente

verificado o papel relevante do docente no desenvolvimento do pensamento geométrico,

conforme afirma Lorenzato.

Nas composições de figuras com a medida do perímetro especificada,

notamos que um bom número de alunos encontrava-se no 2º. Nível, segundo o modelo

van Hiele, pois formaram as figuras planas sem maiores dificuldades.

182

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da realização desta pesquisa, buscamos um melhor entendimento

dos processos de ensino e de aprendizagem no âmbito da Geometria Euclidiana, com

foco no ensino das grandezas geométricas perímetro e área de figuras bidimensionais.

Nesse sentido, descrevemos e analisamos atividades que foram realizadas, tendo em

conta que os professores (pesquisador e titular) atuaram como agentes mediadores

qualificados, por meio do manuseio de objetos didáticos. O objetivo de nossa

investigação era analisar a contribuição do uso de materiais didáticos manipuláveis no

desenvolvimento do pensamento geométrico de alunos da rede de ensino público

municipal que cursavam sexto ano do Ensino Fundamental, com implicações na

apreensão de saberes, envolvendo área e perímetro.

Arriscaríamos dizer que não se configura como nenhuma novidade

ouvirmos de professores (independentemente do tempo de atividade docente, onde não

nos excluímos desse rol) que os alunos se mostram cada vez mais desinteressados. Essa

afirmativa, a nosso ver, mesmo retratando, a grosso modo, o que constatamos em sala

de aula, requer um complemento. Na verdade, os alunos têm interesses sim, todavia

aquilo que os atrai, que despertam sua curiosidade, que eles procuram conhecer com

mais detalhes, via de regra, não coincide com os interesses que nós, professores,

gostaríamos que eles tivessem.

Deixamos claro que tal realidade esboçada, corresponde, em linhas gerais,

àquela que estamos inseridos ao longo de 28 anos de magistério. Contudo, queremos

crer, ela é semelhante à vivenciada em um sem-número de escolas. Refletir acerca desse

quadro nos faz lembrar a seguinte assertiva: somos docentes, em geral, licenciados no

século XX, trabalhando com alunos do século XXI, mas com uma prática pedagógica,

por assim dizer, que apresenta algumas características, sob nossa ótica, que não se

distancia muito daquela do século XIX. Porém, mesmo não estando diretamente dentro

do círculo de interesse desta pesquisa, pontuamos que os fatores implicadores do

panorama descrito são inúmeros (licenciaturas que, em grande medida, não oferecem

uma formação adequada; professores com carga laboral excessiva; salas de aula com

grande número de alunos; políticas educacionais equivocadas, dentre outros).

Temos a convicção que a ação professoral de quem busca, dentro das

condições reinantes, fazer um trabalho voltado à promoção efetiva da aprendizagem dos

alunos, nunca será uma tarefa fácil. Nessa empreitada de auxiliar o aluno à aquisição de

novos conhecimentos, nos defrontamos com vários empecilhos, quais sejam: o não

183

incentivo e, muitas vezes, até mesmo o oposto, de outros professores; um percentual

bem representativo de alunos e de pais que, partindo do princípio, que não lecionar

segundo o único modelo que eles conhecem é não corresponder ao papel que nos cabe

como professor; dentro do turbilhão do cotidiano, o professor não dispor de um

aprimoramento teórico sobre o processo educativo, que, cremos, teria repercussão

positiva em sala em sala, levando-o a um salto qualitativo no campo profissional, dentre

outros.

Cremos que é nesse quesito, nessa busca de promover a construção do

conhecimento, que estabelecemos uma ligação com o que ventilamos anteriormente.

Desse modo, no que tange ao ensino e à aprendizagem de Geometria, percebemos que

as ações desenvolvidas, as atividades propostas e solucionadas, majoritariamente em

grupo, pelos alunos do 6º. ano B (sujeitos da pesquisa) da Escola Municipal Ana Xavier

Lopes, em Russas/CE, no período de 17/set. a 03/dez./2014, evidenciaram uma nova

perspectiva, uma nova abordagem quanto ao ensino de conceitos geométricos.

Como passo de largada desta pesquisa, procuramos identificar o patamar de

compreensão em que o aluno se encontrava em relação à noção de perímetro e de área,

assim como a determinação das medidas dessas grandezas, informação esta obtida

através do Teste Diagnóstico. No último dia da pesquisa, fizemos a reaplicação desse

teste com o intuito de evidenciar o pretendido progresso, individual e grupal, na

compreensão desses tópicos geométricos. Notamos que, por ocasião da Reaplicação do

Teste Diagnóstico, em relação à sua 1ª. edição, 77,78%, ou seja, 21 dos 27 alunos

partícipes da pesquisa, apresentaram melhoria no desempenho, onde o caso de maior

crescimento é de Horácio (69,23%).

Na semana que antecedeu a reaplicação do Teste Diagnóstico, tivemos a

realização da prova do Professor Pedro (ver anexo único), onde constavam questões que

versavam sobre a determinação da medida de perímetro e de área de figuras poligonais.

Evidenciamos que nessa prova, as médias de acertos obtidas pelo grupo de alunos

pesquisados foram 79,92% e 62,10% nas perguntas sobre área e perímetro,

respectivamente. Nesse desempenho, a nosso ver, ficou notório: (a) avanços um

domínio maior, por parte dos sujeitos da pesquisa, sobre a compreensão de elementos

relativos ao conceito e a medida de área, salientando que isso foi evidenciado desde os

resultados do Teste Diagnóstico; (b) avanços em relação a conhecimentos sobre

perímetro, tanto da conceituação como da obtenção da medida desta grandeza

geométrica.

184

Ainda na esfera dos desempenhos dos 27 alunos (sujeitos da pesquisa) do

6º. ano B, salientamos que quatro deles (Breno, Quênia, Rivaldo e Vitória), que

apresentaram elevação no percentual de acertos da 1ª. para a 2ª. aplicação do Teste

Diagnóstico, não foram aprovados para o 7º. ano e, ressalvamos, que as reprovações

ocorridas nessa turma foram exclusivamente em Matemática. Mesmo não se alongando

sobre o tema aprovação/reprovação, pensamos que situações dessa natureza fazem

emergir indagações do tipo: será que, de fato, alunos que não obtêm aprovação no final

do ano letivo, apresentam conhecimentos abaixo do considerado adequado para o ano

escolar cursado? Todos os alunos aprovados adquiriram, verdadeiramente, saberes,

pelo menos em grande parte, dos conteúdos trabalhados no ano/série que concluíram?

Bem, esta indagação fica em parte respondida quando, segundo dados oficiais, em 2013,

somente 16,40% alunos que concluíram o Ensino Fundamental no Brasil tiveram um

desempenho adequado em Matemática. O percentual ainda é menor quando se refere ao

Ensino Médio (9,30%).

Registramos que, antes de iniciarmos as atividades, invariavelmente, era

gasto um certo tempo para que fosse estabelecido um ambiente propício à ações que

envolvem uma prática educativa. Em nosso entendimento, essa conturbação verificada

nos primeiros minutos de tempo de aula (em média, 10 minutos) era decorrente, não

exclusivamente, de um lado, de uma inquietação própria à faixa etária da maioria dos

alunos (11-12 anos) e, por outro, de uma sensação térmica no interior da sala de aula

que em nada contribuía para um melhor andamento do processo educativo. Isso também

não implica que no desenrolar das atividades, em dados momentos, não houvesse

desconcentração e fosse premente redirecionar a atenção dos alunos para a tarefa a ser

realizada. Mas, também era notório que, quando a interação, principalmente entre os

indivíduos do grupo, ficava mais energizada, o desvio de atenção, por assim dizer, era

nula. Isso, em nosso entendimento, é uma validação do pensamento vygotskiano acerca

de aprendizagem gerada a partir de relações interpessoais.

Permanecendo no campo das interações, advogamos a ideia que nós,

professores de Matemática, devemos exercer a função de mediadores do processo de

construção do conhecimento matemático. Isso somente se concretizará caso nossa

prática tenha como referência a criação de oportunidades para os alunos exercitarem sua

capacidade de buscar soluções mediante o enfrentamento de problemas propostos.

Quando assumimos essa posição, considerando que esse é o caminho que leva,

efetivamente, a aquisição de conhecimentos, estamos ancorados, mas não somente, nos

185

anos de “chão de escola”, haja vista termos reiteradas provas que a sequência clássica,

qual seja: conceituar, apresentar propriedades e fórmulas, mostrar exemplos e listar

exercícios de aplicação que recaem nos exemplos dados, não propicia nem a ampliação

nem a aquisição de saberes. À guisa de exemplo, podemos contribuir para a construção

dos conceitos de perímetro e de área, colocando o aluno para realizar atividades que

envolvam a comparação das medidas dessas grandezas geométricas sem recorrer a

unidades usuais e sim com medidas que tenham como referência o quadrado unitário

adotado.

Queremos deixar registrado em nível de explicação – quem sabe, até de

justificativa –, que termos disponibilizado para os alunos desenvolverem as ações de

aprendizagem apenas figuras planas (quadriculadas ou não) e quadrados unitários

recortados em cartolina e não outros artefatos didáticos manipuláveis (tangran,

geoplano, poliminós ou outros) se deve à nossa opção de tentar mostrar uma alternativa

para o ensino de Geometria, enfocando perímetro e área, com o manuseio de um

exclusivo material didático. Todavia, conscientes estamos que tantos outros materiais

didáticos de caráter manipulativo poderiam ser utilizados para a construção, a ampliação

e a sedimentação dos conceitos das grandezas geométricas em tela.

Por ocasião da realização da atividade do dia 19/nov., desenvolvida

individualmente, em que os alunos expressaram por escrito sua justificativa,

constatamos uma dificuldade em expor textualmente o raciocínio usado na resolução,

que é plausível, se levarmos em consideração que essa era, nas palavras dos próprios

alunos, uma grande novidade, quando se tratava de Matemática. Tem um outro aspecto

que saltou aos olhos: erros na grafia das palavras que já apareciam no próprio

enunciado. Isso nos leva a pensar que nós, professores, independente da disciplina que

lecionamos, deveríamos intensificar as atividades que conduzam o aluno ao ato da

leitura e da escrita. Não obstante ser lugar-comum, compartilhamos da visão que,

quanto maior desenvoltura no binômio ler-escrever maior tende a ser o aprendizado em

qualquer área do conhecimento formal.

Em decorrência de análises e observações feitas no decorrer desta pesquisa,

da constatação de um melhor desempenho da maioria dos alunos na reaplicação do teste

diagnóstico, de um resultado, que consideramos satisfatório, obtido pelo grupo

pesquisado na prova do Professor Pedro e, com certeza, de relevância muito maior, de

termos acompanhado de perto a crescente participação e interação entre os alunos do 6º.

Ano B, partícipes da pesquisa, no desenrolar das atividades propostas, ficamos com a

186

percepção que temos uma resposta positiva para a nossa indagação maior. Diante dessas

evidências, somos encaminhados a afirmar que, de fato, a prática pedagógica que

desenvolvemos no campo da Geometria, com vistas à construção de conceitos

geométricos (em particular, perímetro e área), pautada na manipulação de materiais

didáticos, com a devida mediação qualificada do professor, mostrou-se exitosa.

Essa visão fica fortalecida ao passo que temos ciência que objetos

manipuláveis, juntamente com desenhos, repercutindo na formação de imagens mentais,

são recursos fundamentais para a construção dos conceitos geométricos, ou seja, na

manifestação do aspecto teórico dos conhecimentos geométricos. Em outras palavras e

também com certo caráter de generalização: o aluno ao manusear um dado artefato

didático (sob a mediação qualificada do professor) terá a oportunidade aumentada de

apreender conceitos geométricos, haja vista que em Geometria, o saber teórico

(elaboração dos conceitos) advém dos aspectos experimental (objetos e desenhos) e

intuitivo (imagens mentais) do conhecimento geométrico.

Ao longo desta pesquisa, foi dito que atuamos como professor na rede

pública estadual, lecionando Matemática e Física no Ensino Médio. Em nosso retorno à

escola, intencionamos levar à frente, conjuntamente com outros professores, um projeto

de implantação do laboratório de ensino de Geometria. Sendo um pouco mais detalhista:

nossa intenção é estabelecer conexões entre a Geometria e os outros ramos da

Matemática estudada na Educação Básica (a Aritmética e a Álgebra) e, com esse intuito,

desenvolver junto aos alunos atividades que, invariavelmente, passarão pela

construção/manuseio de objetos didáticos. Para que essa ideia dê frutos, sabemos que é

imprescindível buscarmos, cada vez mais, fundamentação teórica e para isso,

preferencialmente, serem formados grupos de estudo. Essa afirmativa está ancorada em

algo que foi citado diversas vezes no corpo deste trabalho, a saber: o uso de materiais

didáticos sem a devida mediação qualificada do professor há uma grande probabilidade

de a aprendizagem não ocorrer.

Por fim, ficamos com a certeza que esse passo largo que demos em nossa

trajetória acadêmica sinaliza que ainda resta um longo caminho a ser trilhado.

187

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. F. de. Repercussões do uso de materiais didáticos manipuláveis em

aulas de geometria. Dissertação (Mestrado) – FE/UNICAMP, Campinas, 2011. 174 p.

Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/AlmeidaAndreFerreirade_M%

20(1).pdf>. Acesso em: 12 fev. 2014.

ALMOULOUD, S. A. Fundamentos da didática da matemática. Curitiba: Ed. UFPR,

2007. 218 p.

BARROS, A. L. de S. Uma análise das relações entre área e perímetro em livros

didáticos de 3º. e 4º. ciclos do Ensino Fundamental. Dissertação (Mestrado) –

CE/UFPE, Recife, 2006. 190 p. Disponível em: <http://repositorio.ufpe. br/ xmlui /bits

tream/handle/123456789/4478/arquivo5348_1.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso

em: 03 mar 2016.

BAUER, A.; DA SILVA, V. G. Saeb e qualidade de ensino: algumas questões. Revista

Estudos em Avaliação Educacional, v. 16, n. 31, p. 133-152, jan/jun 2005. Disponível

em: <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1225/1225.pdf >. Acesso

em: 07 nov. 2015

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares

nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1998. 174 p.

______. Ministério da Educação e Cultura. Prova Brasil 2013a: avaliação do

rendimento escolar. Disponível em:<http://download.inep.gov.br/educacao_b

asica/prova_brasil_saeb/resultados/2013/caderno_prova_brasil_2013.pdf >. Acesso em:

18 out 2014.

______. Ministério da Educação e Cultura. Boletins eletrônicos: resultados Prova

Brasil 2013b. Disponível em: <http://provabrasil.inep.gov.br/web/saeb/resultados-2013

>. Acesso em: 11 mai 2015.

CARAÇA. B. J. Conceitos fundamentais da Matemática. Lisboa, 1951. 318 p.

CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e

políticos. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003. 166 p.

CROWLEY, M. L. O modelo Van Hiele de desenvolvimento do pensamento

geométrico. In: LINDQUIST, M. M. e SHULTE, P. (orgs.). Aprendendo e ensinando

geometria. Trad. Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1994, pp. 1-20

D’AMBROSIO, U. Educação matemática: uma visão do estado da arte. Revista Pró-

Posições. v. 4, n. 1, p. 7-17, março 1993. Disponível em <http://www.proposicoes.

fe.unicamp.br/proposicoes/textos/10-artigos-d%5C%27ambrosiou.pdf >.Acesso em: 15

mai 2014.

______ . Educação matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996. 121 p.

188

______ . A relevância do projeto Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF

como critério de avaliação da qualidade do ensino de matemática. In: FONSECA, M. C.

F. R. (org.). Letramento no Brasil: habilidades matemáticas. São Paulo: Global,

2004a. p. 31-46.

______ . A educação matemática: breve histórico, ações implementadas e questões

sobre sua disciplinarização. Revista Brasileira de Educação, n. 27, p. 70-93,

set/out/nov/dez 2004b. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n27/n27a05 >.

Acesso em: 18 ago 2014.

______ . Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 3. ed. Belo

Horizonte: Autêntica, 2009. 112 p.

DE VILLIERS, M. Algumas reflexões sobre a Teoria de Van Hiele. Trad. Celina A. A.

Abar. Revista Educação Matemática Pesquisa, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 400-431,

2010. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/5167-12265-1-PB%20(6).

pdf>. Acesso em: 12 set 2015.

EVES, H. Tópicos de história da matemática para uso em sala de aula: geometria.

Trad. Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1992. 77 p.

FACCO, S. R. Conceito de área: uma proposta de ensino-aprendizagem. Dissertação

(Mestrado) – PUC/SP, São Paulo, 2003. 150 p. Disponível em: <http://www.pucsp.br/

pensamentomatematico/dissertacao_sonia_facco.pdf. Acesso em: 04 mar 2016.

FERREIRA, L. de F. D. A construção do conceito de e da relação entre área e

perímetro no 3º. ciclo do Ensino Fundamental: estudos sob a ótica da teoria dos

campos conceituais. Dissertação (Mestrado) – CE/UFPE, Recife, 2010. Disponível em:

<http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/3972/arquivo206_1.

pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 04 mar 2016.

FIORENTINI, D.; MIORIM, M. A. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e

jogos no ensino da matemática. Boletim da SBEM-SP, São Paulo, SBM/SP, 1990, ano

4, n.7. Disponível em: < http://drb-assessoria.com.br/1Umareflexãosobreousodemateria

isconcretosejogosnoEnsinodaMatematica.pdf >. Acesso em: 03 fev 2015.

INAF 2004. 4º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional: avaliação de

habilidades matemáticas. Disponível em:<http://www.ipm.org.br/download/inaf04.pdf>

Acesso em: 12 mar 2015.

INAF BRASIL 2011. Principais resultados. Disponível em: < file:///C:/Users/Usuario/

Downloads/inaf2011-2012%20(1).pdf >. Acesso em: 13 abr 2015.

KLINE, M. O fracasso da Matemática Moderna. Trad. Leonidas Gontijo de

Carvalho. São Paulo: IBRASA, 1976. 211 p.

LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos

conteúdos. 8. ed. São Paulo: Loyola, 1989. 149 p.

189

LORENZATO, S. Laboratório de ensino de matemática e materiais didáticos

manipuláveis. In: ______ (org.). O Laboratório de ensino de matemática na

formação de professores. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2010. 178 p.

_____ . Desafios do contemporâneo que não é novo. Rev. Educação Matemática em

Foco, Campina Grande, v. 1, n. 2, ago/dez 2012, p. 9–32. Disponível em:

<file:///C:/Users/Usuario/Downloads/RevistaEducacaoMatematica24-04-2014%20(4).

pdf >. Acesso em: 02 mai 2015.

______ . Para aprender matemática. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

126 p.

_______.Por que não ensinar geometria? A educação matemática em revista. Revista

SBEM, Blumenau, n. 4, 1995, p. 3-13. Disponível em:< file:///C:/Users/

Usuario/Downloads/RevistaEducacaoMatematica 24-04-2014%20(4).pdf >. Acesso em:

20 abr 2014.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.

São Paulo: EPU, 1986. 99 p.

MACHADO, N. J. Matemática e língua materna: análise de uma impregnação mútua.

São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1990. 169 p.

MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Trad.

Gaetano Lo Monaco. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 382 p.

MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. 195 p.

______ ; MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel.

São Paulo: Centauro, 2001. 111 p.

MOYSÉS, L. Aplicações de Vygotsky à Educação Matemática. Campinas, SP:

Papirus, 1997. 176 p.

NACARATO, A. M. Eu trabalho primeiro no concreto. Revista de Educação

Matemática, São Paulo, v.9, n. 9/10, p. 1-6, 2005. Disponível em: < https://pactuando.

files.wordpress.com/2014/08/eu-trabalho-primeiro-no-concreto.pdf>.Acesso em: 01 dez

2014.

NASSER, L. O desenvolvimento do raciocínio em Geometria. Projeto APOEMA.

Editora do Brasil, 2014. Disponível em: < http://www.editoradobrasil. com.br/ portal_

educacional/fundamental2/projeto_apoema/pdf/textos_complementares /matemática/6_

ano/pam6_texto_complementar09_desenvolvimento_raciocinio_geometria.pdf.>. Aces-

so em: 28 jul 2015.

______. Usando a teoria de van Hiele para melhorar o ensino secundário de geometria

no Brasil. Seminário sobre novas perspectivas da Educação Matemática no Brasil.

Série documental: eventos, INEP, n. 4, 2ª. parte, abr/1994. Disponível em: < http://

www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001861.pdf>. Acesso em:03 ago 2015.

190

OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-

histórico. São Paulo: Scipione, 1993. 111 p.

PÁDUA, G. L. de. A Epistemologia Genética de Jean Piaget. Revista FACEVV.

Espírito Santo, n. 2, jan/jun 2009, p. 22-35. Disponível em: < http://www.facevv.

edu.br/Revista/ 02/a%20epistemologia%20genetica.pdf >. Acesso em: 10 mai 2015.

PAIS, L.C. Intuição, experiência e teoria geométrica. Revista Zetetiké, v. 4, n. 6, p. 65-

74, jul/dez 1996.

______. Uma análise do significado da utilização de recursos didáticos no ensino da

geometria. 2000. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/emanped/paginas/conteudo_

producoes/docs_23/analise_significado.pdf>. Acesso em: 02 nov 2015

PASSOS. C. L. B. Materiais manipuláveis como recursos didáticos na formação de

professores de matemática. In: LORENZATO, S. (org.). O Laboratório de ensino de

matemática na formação de professores. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2010.

178 p.

PAVANELLO. M. R. O abandono do ensino de geometria: uma visão histórica.

Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação/Universidade Estadual de Campinas,

Campinas, 1989. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls00004

5423 >. Acesso em: 03 abr 2014.

PEREIRA, M. R. de O. A geometria escolar: uma análise dos estudos sobre o

abandono de seu ensino. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia da Universidade Católica

de São Paulo, 2001. Disponível em:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos

/File/2010/artigos_teses/MATEMATICA/Dissertacao_Pereira.pdf >. Acesso em: 22 ago

2015.

PESSOA, G. da S. Um estudo diagnóstico sobre o cálculo da área de figuras planas

na malha quadriculada: influência de algumas variáveis. Dissertação (Mestrado) –

CE/UFPE, Recife, 2010. 145 p. Disponível em:<http://repositorio.ufpe.br/bitstream

/handle/123456789/3944/arquivo61_1.pdf?sequence=1>. Acesso em: 05 mar 2016.

PONTES, M. G. de O. Medidas e proporcionalidade na escola e no mundo do

trabalho. João Pessoa: Ideia, 2009. 182 p.

REGO, R. M. do; REGO, R. G. do. Desenvolvimento e uso de materiais didáticos no

ensino de matemática. In: LORENZATO, S. (org.). O Laboratório de ensino de

matemática na formação de professores. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2010.

178 p.

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 22. ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 139 p.

SADOVSKY, P. O ensino de matemática hoje: enfoques, sentidos e desafios. Trad.

Antonio de Padua Danesi. São Paulo: Ática, 2007. 112 p.

191

SANTANA, W. M. G. de. O uso de recursos didáticos no ensino do conceito de

área: uma análise de livros didáticos para as séries finais do Ensino Fundamental.

Dissertação (Mestrado) – CE/UFPE, Recife, 2006. 190 p. Disponível em: < http://repos

itorio.ufpe.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/4478/arquivo5348_1.pdf?sequence=1

&isAllowed=y >. Acesso em: 06 mar 2016.

SANTOS, J. A. S. dos. Problemas de ensino e de aprendizagem em perímetro e

área: um estudo de caso com professores de Matemática e alunos de 7ª. série do Ensino

Fundamental. Dissertação (Mestrado) – FCH/UNIMEP, Piracicaba, 2011. 107 p.

Disponível em: <https://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/docs/26092011_144051_j a

mile.pdf>. Acesso em 05 mar 2016.

SAVIANI, D. Escola e democracia. 40. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

112 p.

SOUZA, K. N. V. de. Alfabetização matemática: considerações sobre a teoria e a

prática. Revista de Iniciação Científica da FFC, UNESP/Marília (SP), v. 10, n. 1,

2010. Disponível em: < http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ric/article/view

/273 /259 >. Acesso em: 14 mar 2015.

TURRIONI, A. M. S.; PEREZ, G. Implementando um laboratório de educação

matemática para apoio na formação de professores. In: LORENZATO, S. (org.). O

Laboratório de ensino de matemática na formação de professores. 3. ed. Campinas,

SP: Autores Associados, 2010. 178 p.

VAN DE WALLE, J. A. Matemática no ensino fundamental: formação de

professores e aplicação em sala de aula. Trad. Paulo Henrique Colonese. 6. ed. Porto

Alegre, RS: Artmed, 2009. 584 p.

VASCONCELLOS, C. dos S. Construção do conhecimento em sala de aula. 8. ed.

São Paulo: Libertad, 1999. 108 p.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2. ed.

São Paulo: Martins Fontes, 1998. 194 p.

______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos

superiores. Trad. José C. Neto, Luís S. M. Barreto, Solange C. Afeche. 7. ed. São Paulo:

Martins Fontes, 2007. 182 p.

192

APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro das questões da entrevista semiestruturada realizada com

o Professor Pedro

1) Há quanto tempo você leciona? Sempre trabalhou em redes de ensino

público? Qual a sua jornada de trabalho semanal? Você é professor

efetivo?

2) Qual a sua formação universitária?

3) Sua entrada no magistério foi algo planejado? Como ela ocorreu?

4) Você gosta de ensinar Geometria?

5) Você acha importante os alunos aprenderem perímetro e área? Por que?

6) Na sua visão, os alunos têm maior dificuldade em compreender Aritmética,

Álgebra ou Geometria?

193

APÊNDICE B – Fotos do ambiente da sala de aula do 6º. ano B

Fotografia de minha autoria (17/set./2014)

Fotografia de minha autoria (17/set./2014)

Fotografia de minha autoria (17/set./2014)

194

APÊNDICE C – Teste diagnóstico

PPGE UECE/FAFIDAM – FECLESC

MAIE (Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino)

Pesquisador: Prof. Francisco Alves Bezerra Neto

Orientadora: Profª. Drª. Maria Gilvanise de Oliveira Pontes

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL

ANA XAVIER LOPES - RUSSAS/CE

Aluno(a) _______________________________Turma: 6º Ano B - Data: ___ /__ /2014

Professor: Célio de Lima Gonçalves

TESTE DIAGNÓSTICO

1) Escreva o nome do seu professor de Matemática dentro da figura que tem a forma de

quadrado.

2) Na figura abaixo, primeiramente ligue do ponto A para o ponto B. Em seguida, ligue

do ponto B para o ponto C e, por último, ligue do ponto C para o ponto A. Depois de

fazer as três ligações, responda: quantos triângulos você vê na figura

A •

• B Resposta: _______

C •

3) Marcos quer colocar um piso de cerâmica na sala:

(I) Ele precisa saber qual é a área da sala ?

( ) sim ( ) não

(II) Ele precisa saber qual o perímetro da sala?

( ) sim ( ) não

195

4) Antônio pretende cercar todo o seu lote de terra com arame. A quantidade de arame

que ele vai precisar depende do perímetro ou da área desse terreno?

Resposta: __________________

5) Observe as figuras abaixo, compare suas áreas e marque a alternativa correta:

Figura 1 Figura 2

a) A figura 1 tem área maior.

b) A figura 2 tem área maior.

c) As figuras têm áreas iguais.

6) Veja as figuras 1 e 2. Compare seus perímetros e marque a alternativa correta:

Figura 1 Figura 2

a) A figura 1 tem perímetro maior.

b) A figura 2 tem perímetro maior.

c) As figuras têm perímetros iguais.

7) Dadas as figuras, responda:

Figura 1 Figura 2

(I) As duas figuras têm áreas iguais ?

( ) Sim ( ) Não

(II) As duas figuras têm perímetros iguais ?

( ) Sim ( ) Não

(III) Qual a área da figura 1 ?

Resposta _____

(IV) Qual o perímetro da figura 1 ?

Resposta _____

(V) Qual a área da figura 2 ?

Resposta _____

(VI) Qual o perímetro da figura 2 ?

Resposta _____

196

APÊNDICE D – Quadro de Resultados do Teste Diagnóstico (TD)

OBS.: Questões acertadas por aluno, indicadas por X, e seu percentual de acerto

1 2 3 4 5 6 7

Aluno

Idade

(anos)

I

II

I

II

III

IV

V

VI

%

01 Amália 12 X X X 23,08

02 Breno 14 X X X X X X 46,15

03 Cirlene 14 X X X 23,08

04 Dilma 17 X X X X X X 46,15

05 Eliete 11 X X X X X X 46,15

06 Fabrícia 13 X X X X X 38,46

07 Gilda 12 X X X X X 38,46

08 Horácio 11 X X X X 30,77

09 Irineuda 14 X X X X X X X X 61,54

10 Jacqueline 12 X X X 23,08

11 Keila 12 X X X X X X 46,15

12 Laércio 12 X X X X X X X X 61,54

13 Maurilene 11 X 7,69

14 Nilberto 11 X X X X X 38,46

15 Otacílio 11 X X X X X X X 53,85

16 Petrônio 11 X X X X X X 46,15

17 Quênia 11 X X X X X X 46,15

18 Rivaldo 14 X X X X X X X 53,85

19 Sávio 12 X X X X X X X X X X 76,92

20 Talia 11 X X 15,38

21 Uelton 13 X X X X 30,77

22 Vitória 13 X X X X 30,77

23 Wilma 11 X X X X X X 46,15

24 Xavier 11 X X X X 30,77

25 Yuri 13 X X X X X 38,46

26 Zuleide 11 X X X X X 38,46

27 Giordano 11 X X X X X X 46,15

197

APÊNDICE E – Quadro de Resultados da Reaplicação do Teste Diagnóstico (RTD)

OBS.: Questões acertadas por aluno, indicadas por X, e seu percentual de acerto

1 2 3 4 5 6 7

Aluno

Idade

(anos)

I

II

I

II

III

IV

V

VI

%

01 Amália 12 X X X X X X X X X X X 84,62

02 Breno 14 X X X X X X X 53,85

03 Cirlene 14 X X 15,38

04 Dilma 17 X X X X 30,77

05 Eliete 11 X X X X X X X X X 69,23

06 Fabrícia 13 X X X X X X X X X X 76,92

07 Gilda 12 X X X X X X X X X X 76,92

08 Horácio 11 X X X X X X X X X X X X X 100,0

09 Irineuda 14 X X X X X X X X X X X X 92,31

10 Jacqueline 12 X X X X X X X X X 69,23

11 Keila 12 X X X X X X X X X X X X 92,31

12 Laércio 12 X X X X X X X X X 69,23

13 Maurilene 11 X 7,69

14 Nilberto 11 X X X X X X X X X 69,23

15 Otacílio 11 X X X X X X X X 61,54

16 Petrônio 11 X X X X 30,77

17 Quênia 11 X X X X X X X X 61,54

18 Rivaldo 14 X X X X X X X X X X 76,92

19 Sávio 12 X X X X X X X X X X X 84,62

20 Talia 11 X X X X X X X X X X 76,92

21 Uelton 13 X X X X 30,77

22 Vitória 13 X X X X X X X X X X 76,92

23 Wilma 11 X X X X X 38,46

24 Xavier 11 X X X X X X X X 61,54

25 Yuri 13 X X X X X X X X X 69,23

26 Zuleide 11 X X X X X X X X X 69,23

27 Giordano 11 X X X X X X X X X X 76,92

198

APÊNDICE F – Quadro comparativo de resultados, por aluno, no Teste

Diagnóstico (TD) e na Reaplicação do Teste Diagnóstico (RTD)

Aluno % (TD) % (RTD) % (RTD – TD)

01 Amália 23,08 84,62 61,54

02 Breno 46,15 53,85 7,70

03 Cirlene 23,08 15,38 – 7,70

04 Dilma 46,15 30,77 – 15,38

05 Eliete 46,15 69,23 23,08

06 Fabrícia 38,46 76,92 38,46

07 Gilda 38,46 76,92 38,46

08 Horácio 30,77 100,0 69,23

09 Irineuda 61,54 92,31 30,77

10 Jacqueline 23,08 69,23 46,15

11 Keila 46,15 92,31 46,16

12 Laércio 61,54 69,23 7,69

13 Maurilene 7,69 7,69 0,00

14 Nilberto 38,46 69,23 30,77

15 Otacílio 53,85 61,54 7,69

16 Petrônio 46,15 30,77 – 15,38

17 Quênia 46,15 61,54 15,39

18 Rivaldo 53,85 76,92 23,07

19 Sávio 76,92 84,62 7,70

20 Talia 15,38 76,92 61,54

21 Uelton 30,77 30,77 0,00

22 Vitória 30,77 76,92 46,15

23 Wilma 46,15 38,46 – 7,69

24 Xavier 30,77 61,54 30,77

25 Yuri 38,46 69,23 30,77

26 Zuleide 38,46 69,23 30,77

27 Giordano 46,15 76,92 30,77

199

APÊNDICE G – Questionário socioeducacional aplicado aos alunos

PPGE UECE/FAFIDAM-FECLESC

MAIE (Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino)

Pesquisador: Francisco Alves Bezerra Neto

Orientadora: Profª. Drª. Maria Gilvanise de Oliveira Pontes

Questionário Socioeducacional

1) Nome:

_______________________________________________

2) Idade:

_____ anos

3) Você sempre estudou nesta escola ?

( ) Sim ( ) Não

4) Você já repetiu alguma série escolar ?

( ) Sim ( ) Não

5) Você mora no Planalto (bairro onde está localizada a escola)?

( ) Sim ( ) Não

6) Qual a escolaridade da mãe ?

________________________________________________

7) Qual a escolaridade do pai ?

________________________________________________

8) Qual a disciplina você mais gosta de estudar ?

________________________________________________

9) Qual a profissão da sua mãe?

________________________________________________

10) Qual a profissão do seu pai ?

________________________________________________

200

APÊNDICE H – Atividade resolvida pela dupla Fabrícia e Jaqueline

201

APÊNDICE I – Representação do polígono ladrilhado pelos Grupos 1, 3 e 5

202

APÊNDICE J – Representação do polígono ladrilhado pelos Grupos 2 e 4

203

APÊNDICE K – Polígono com área de medida 4 u.a. e perímetro de medida 14 u.c.

1 u.c. 1 u.c.

0,8u.c

.

0,8 u.c.

0,8u.c

.

1 u.c. 1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

0,8 u.c. 1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

0,4 u.c.

0,4 u.c.

204

APÊNDICE L – Polígono com área de medida 4 u.a. e perímetro de medida 12 u.c.

1 u.c. 1 u.c.

1 u.c.

1 u.c. 1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

1 u.c.

0,5 u.c.

0,5 u.c.

0,5 u.c.

0,5 u.c.

205

ANEXO ÚNICO

Prova aplicada pelo Professor Pedro (24/nov./2014)