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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA BÁRBARA ALEXANDRA COSTA GOMES RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E O ECOSSISTEMA MANGUEZAL DO RIO CEARÁ: SUBSÍDIOS PARA A ÁREA ENTORNO DO VILA VELHA - FORTALEZA, CEARÁ FORTALEZA CEARÁ 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

BÁRBARA ALEXANDRA COSTA GOMES

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E O ECOSSISTEMA MANGUEZAL DO RIO CEARÁ:

SUBSÍDIOS PARA A ÁREA ENTORNO DO VILA VELHA -

FORTALEZA, CEARÁ

FORTALEZA – CEARÁ

2016

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BÁRBARA ALEXANDRA COSTA GOMES

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E O ECOSSISTEMA MANGUEZAL DO RIO CEARÁ:

SUBSÍDIOS PARA A ÁREA ENTORNO DO VILA VELHA -

FORTALEZA, CEARÁ

Trabalho de Conclusão de Mestrado

apresentado ao Programa de Pós-Graduação

em Geografia do Centro de Ciências e

Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará,

como requisito parcial à obtenção da

certificação de Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Perdigão

Vasconcelos.

FORTALEZA – CEARÁ

2016

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Aos meus pais, irmãos, sobrinhos e cachorros.

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AGRADECIMENTOS

Primeiro agradecer imensamente a quem me deu a vida: Deus e meus pais que são meu

tudo;

Aos meus irmãos Alessandra Gomes e Nildo Gomes, que são indispensáveis na minha

vida, por me aceitarem do jeito que sou, e que, mesmo sem saber, me deram dois

grandes presentes, meus sobrinhos que amo mais que tudo;

Meus sobrinhos Nildo Neto e José Leonardo que são os caranguejinhos mais lindos do

manguezal do meu coração, e que são donos de todo o amor que tenho dentro de mim;

A minha Dona Raimunda por ser a melhor avó do mundo e por sempre me ajudar;

Meus tios e tias, primos e primas pelo apoio desde sempre;

Aos meus filhos de quatro patas, que são meus companheiros e amigos: Aruke, Apollo e

Rosa;

Ao melhor cunhado que eu poderia ter: Maurizio Arduca;

A toda família Arduca que me acolheu durante minha visita à Torino (Itália);

Aos meus amigos e irmãos de coração, que sempre me apoiaram e me ajudaram na

minha caminhada em todos os sentidos, por aturarem minhas chatices e, principalmente,

meu ciúme por eles, sou grata por estar na vida de vocês: Amanda Castro, Ana Lívia,

Danielle Leite, Débora Barros, Daniel Paraguay, Gabrielle Portela, Gabriel Madeira, Jonh

Trindade, Liana Pontes, Miriam Nascimento, Natália Portela, Otávio Augusto Barra,

Pryscila Martins, Rafael Sobral, Roberta Kelly, Rubens Zimmermman, Sandra Carneiro,

Taty Paiva e Wellington Romão;

Matias Santinelli, por ser a pessoa mais especial que entrou na minha vida nos últimos

tempos, e por agora fazer parte dela;

Edmar de Sousa pela disponibilidade em me ajudar todas as vezes que precisei durante o

mestrado;

Minha turma do Mestrado 2014.1: Darllan Nunes, Karla Maria, Suedio Meira, Elidiane,

Bárbara Maria, Cléo, Denise, Marília, Davi, Edgley, Diego Salvador, Esúlo, Yara Castro,

Bruna, Eveline, Santiago, Guilherme, Juliane Alves, Kelbia, Regiane, Rose e Clerijane;

Meus companheiros da AGB seção Fortaleza, Gestão 2016/2018, para que juntos

possamos contribuir positivamente no crescimento da Geografia;

Aos meus companheiros do LAGIZC pelos momentos de descontração e que, de alguma

forma, contribuíram para o desenvolvimento da minha pesquisa: Ana Célia, Jaqueline

Pinheiro, Carol Matos, Alan Robson, Maria Bonfim, Kilvia Maciel e Érika do Vale;

Ao meu orientador Fábio Perdigão Vasconcelos;

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Agradecimento especial à professora Cláudia Grangeiro, que além de ter contribuído para

a Geografia do Ceará, contribuiu imensamente para minha pesquisa, quando participou

da minha banca de qualificação dando sugestões bastante pertinentes para a minha

pesquisa;

Aparecida “Cida”, gratidão pelos momentos de desconcentração e conversas;

Aos professores da banca de defesa pelas contribuições acerca do meu trabalho de

pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – PropGeo;

A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio

financeiro.

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Etnia

(Chico Science & Nação Zumbi)

Somos todos juntos uma miscigenação

E não podemos fugir da nossa etnia.

Todos juntos uma miscigenação

E não podemos fugir da nossa etnia.

Índios, brancos, negros e mestiços

Nada de errado em seus princípios.

O seu e o meu são iguais

Corre nas veias sem parar.

Costumes, é folclore, é tradição.

Capoeira que rasga o chão

Samba que sai da favela acabada

É hip hop na minha embolada.

É o povo na arte, é arte no povo

E não o povo na arte, de quem faz arte com o povo.

É o povo na arte, é arte no povo

E não o povo na arte, de quem faz arte com o povo.

Por de trás de algo que se esconde

Há sempre uma grande mina de conhecimentos

e sentimentos

Não há mistérios em descobrir

O que você tem e o que gosta

Não há mistérios em descobrir

O que você é e o que você faz

Maracatu psicodélico.

Capoeira da pesada.

Bumba meu rádio.

Berimbau elétrico.

Frevo, samba e cores.

Cores unidas e alegria.

Nada de errado em nossa etnia!

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Beach rocks ou arenitos de praia em Sabiaguaba 39 Figura 2 Presença de barracas de praia próxima à desembocadura do Rio Ceará 40 Figura 3 Vegetação pioneira psamafólia, no campo de dunas em Sabiaguaba 41 Figura 4 Área de duna (Morro de Santiago) ocupada por moradias, com presença

de lixo e entulhos 42

Figura 5 Solo de manguezal do Rio Ceará 48 Figura 6 Ocupação da orla de Fortaleza 51 Figura 7 Arruamentos do Vila Vela IV 54 Figura 8 Pessoas sentadas nos montes de sal no inicio da década de 1990 55 Figura 9 Canal que cruza as ruas do Conjunto Habitacional do Vila Vilha 56

Figura 10 Parada durante o passeio “Conversas Flutuantes” no Rio Ceará, realizado pelo SESC, e com apoio da Associação de barqueiros da Barra do Ceará

57

Figura 11 Rhizophora mangle (mangue vermelho) as margens do Rio Ceará 62 Figura 12 Mangue vermelho e suas raízes escoras, adaptadas para sustentação 64 Figura 13 Um Aratu encontrado no substrato do manguezal do Rio Ceará, durante a

maré baixa, em Caucaia 65

Figura 14 Pesca artesanal realizada no Rio Ceará 67 Figura 15 Uma garça descansa na margem do Rio Ceará 68 Figura 16 A presença de cracas nas raízes da Rizophora mangle, no mangue do

Rio Ceará 68

Figura 17 Banco de areia localizado no meio do Rio Ceará, ocasionado pelo processo de assoreamento do rio

71

Figura 18 Vista panorâmica de parte da salina abandonada do Vila Velha 74 Figura 19 Equipe de alunas após o mutirão de limpeza no mangue do Acaraú 79 Figura 20 Estufa para proteção e germinação das sementes e mudas de plantas de

mangue, em Icapuí – Mangue Pequeno 80

Figura 21 Moradias em área de risco e irregular dentro do mangue do Rio Ceará 90 Figura 22 Vista panorâmica da área de salina do bairro Vila Velha, em processo de

ocupação irregular por moradias 91

Figura 23 A) Presença de entulhos; B) Esgoto a céu aberto; C) Presença de animais; D) Lançamentos de efluentes domésticos

92

Figura 24 Na sequência de cima para baixo: ferragens e equipamentos de embarcações; latas de tinta e óleo armazenados incorretamente

93

Figura 25 Aterramento de mangue do Rio Ceará 94 Figura 26 Presença de mangue jovem nas margens do Rio Ceará, e logo atrás

moradia em locais de risco 95

Figura 27 Áreas fictícias criadas para os possíveis usos da área salina. 102

Quadro 1 Roteiro das etapas para a elaboração do PRAPP 83 Quadro 2 Modelo genérico para a elaboração do plano de recuperação de áreas de

proteção permanente 83

Fluxograma 1 Relação do ecossistema manguezal com a ocupação e outros tipos de usos

96

Fluxograma 2 Relação dos tipos de recuperação em áreas degradadas 101 Mapa 1 Localização da área de pesquisa 20 Mapa 2 Pontos visitados durante trabalho de campo, Fortaleza e Caucaia e

algumas de suas representações ambientais 98

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental APP Área de Preservação Permanente BPM Batalhão de Polícia Militar

CA Compensação Ambiental CF Constituição Federal CH Conjunto Habitacional CIA Companhia

COHAB Companhia de Habitação do Ceará CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CUCA Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte

DAS Divisão Antisequestro

DP Distrito Policial

IFCE Instituto Federal do Ceará IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

KM Quilômetros LAGIZC Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira MMA Ministério do Meio Ambiente ºC Celsius PRAP Plano de Recuperação de Áreas de Preservação RC Rio Ceará REPS Reserva Ecológica Particular da Sapiranga SEINRA Secretária de Infraestrutura SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente SERI Society for Ecology Restoration Internacional SESC Serviço Social do Comércio SESI Serviço Social da Indústria

SEUMA Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente

SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TG Teoria Geossistêmica

UC Unidade de Conservação

UECE Universidade Estadual do Ceará

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

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RESUMO

A recuperação de manguezais degradados é uma realidade em muitos países, como

Malásia, Indonésia, Estados Unidos, Austrália e outros. No Brasil, essa prática ganhou

espaço, nos últimos anos, quando os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e

São Paulo tornaram-se pioneiros na recuperação de manguezais. No Ceará, a prática de

recuperação de manguezais ocorre, principalmente, no município de Icapuí, no mangue

da Barra Grande. Estudos relacionados acerca do uso e ocupação, dos impactos e da

degradação são bastante corriqueiros, mas estudos sobre recuperação ou restauração

são poucos discutidos. Com isso, esta pesquisa tem como objetivo principal a análise das

possibilidades de recuperação do ecossistema manguezal localizado nas proximidades do

Conjunto Habitacional Vila Velha, onde existe uma salina que foi desativada em meados

dos anos de 1990. Essa área foi usada para a construção do Conjunto Habitacional Vila

Velha. No entanto, atualmente os limites de ocupação designados pelo projeto de criação

do bairro não são respeitados, e as ocupações irregulares avançam para áreas impróprias

para moradia, causando, assim, os mais variados impactos socioambientais. O

manguezal do Vila Velha está localizado na margem direita do Rio Ceará, no município de

Fortaleza. São identificados os mais variados impactos nesse ecossistema, dentre eles os

mais consideráveis são: ocupação irregular, poluição dos recursos hídricos, lançamento

de efluentes domésticos e industriais, desmatamento e queimadas, o que ocasiona sérios

danos ambientais ao ecossistema manguezal. Tais impactos interferem direta e

indiretamente na recuperação do mangue, desse modo é possível observar na área de

estudo que em alguns locais o manguezal não se recupera e em outros a recuperação é

bastante lenta. A metodologia utilizada na pesquisa se deu tanto através de exame e

avaliação de trabalhos anteriores, como dissertações, teses e artigos científicos, quanto

de trabalho de campo para a coleta de dados e confecção do mapa de localização da

área de estudo e dos pontos coletados durante o trabalho de campo. O método escolhido

foi a Geoecologia da Paisagem atrelado à Ecologia da Restauração. Desse modo, foram

indicadas técnicas de plantio de mudas e sementes de mangue, além da conscientização

ambiental através da educação ambiental e de novos comportamentos. Com isso, o

estudo sobre a recuperação dessa área se faz de extrema importância para a

permanência desse ambiente atualmente e na garantia de sua sobrevivência para as

gerações futuras.

Palavras-Chave: Manguezal. Rio Ceará. Recuperação. Impactos Ambientais.

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ABSTRACT

The degraded mangrove recovery is a reality in many countries like Malaysia, Indonesia,

the USA, Australia, among others. In Brazil this practice has been getting well-known in

the last years, when the Brazilian states of Pernambuco, Rio Grande do Norte and São

Paulo became pioneers on mangrove recovery. In the state of Ceará, mangrove recovery

as a practice happens mainly in the city of Icapuí, at Barra Grande’s mangrove. Studies

about usage and occupation, impact, and degradation of mangroves are rather common,

but studies about their recovery or restoration are still not thoroughly discussed. That

being said, this research has as its main objective the analysis of possibilities for

mangrove ecosystem’s recovery located at the proximities of Vila Velha Housing area, in

Fortaleza city, where there is a saline that was deactivated in the mid-1990’s. The area

was used for the construction of Vila Velha Housing Complex. However, nowadays the

limits of occupation designed by the project created for the complex are not respected, and

irregular occupations advance to inappropriate areas for living, thus causing all sorts of

social-environmental impacts. Vila Velha’s mangrove is located on the right shore of Ceará

River, in Fortaleza. At this place, there are the most diverse impacts in the ecosystem,

among them the most considerable ones are: irregular occupation, water resources

pollution, domestic and industrial effluent disposal, deforestation and forest fires, which

bring on serious environmental damages to that mangrove ecosystem. These impacts

interfere directly and indirectly on the recovery of the mangrove, which is possible to

observe in the studied area, where in some places the mangrove doesn’t recover well and

in others its recovery is quite slow. The methodology used for this research was both the

examination and evaluation of previous studies, such as dissertations, thesis and scientific

articles, and field work for data collection and map making of the studied area at the

collection spots during the field work. The chosen method was the Landscape Geoecology,

coupled up with Ecology Restoration. Therefore, techniques for the plantation of

mangrove’s seedlings and seeds were indicated, alongside to both environmental

awareness through environmental education and new behaviors. Thereby, the study about

the recovery of this area becomes extremely important for the permanence of this

environment nowadays and its survival for the future generations.

Key words: Mangrove. Ceará River. Recovery. Environmental Impact.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14

1.1. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DA PESQUISA ................................................................. 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 21

3. ABORDAGEM DA GEOECOLOGIA DA PAISAGEM COMO MÉTODO DE ANÁLISE 30

3.1. INTERDISCIPLINARIDADE NOS ESTUDOS AMBIENTAIS E A ECOLOGIA DA

RESTAURAÇÃO COMO SUPORTE ................................................................................. 32

3.3. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS OPERACIONAIS ..................................................... 36

4. PANORAMA DOS CONDICIONANTES SOCIOAMBIENTAIS DA ÁREA DE ESTUDO

........................................................................................................................................... 38

4.1. GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA............................................................................. 38

4.2. CARACTERÍSTICAS HIDROCLIMÁTICOS ................................................................ 43

4.3. CARACTERÍSTICAS PEDOLÓGICAS E VEGETACIONAL ....................................... 47

4.4. HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DE FORTALEZA E ÁREA DE MANGUEZAL DO RIO

CEARÁ E ASPECTOS SOCIAIS ....................................................................................... 49

5. ECOFISIOLOGIA DE MANGUEZAIS ........................................................................... 59

5.1. DISTRIBUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS MANGUEZAIS NO BRASIL ............. 59

5.2 BIODIVERSIDADE DOS MANGUEZAIS: COMPONENTES FLORÍSTICOS E

FAUNÍSTICOS ................................................................................................................... 63

5.3. A IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DOS MANGUEZAIS .................................................. 69

5.4. DEGRADAÇÃO DOS MANGUEZAIS ......................................................................... 70

6. A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E SUA IMPORTÂNCIA PARA O

AMBIENTE ........................................................................................................................ 76

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 87

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 103

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 105

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1. INTRODUÇÃO

O litoral de Fortaleza, capital do Ceará, situado na região Nordeste do Brasil, tem

uma extensão de 32 km, que vai de leste, desde a foz do Rio Ceará (na divisa com o

município de Caucaia), até a foz do Rio Pacoti, na porção oeste (na divisa com o

município de Aquiraz).

Desde a colonização portuguesa no Brasil, o litoral, sobretudo o ecossistema

manguezal, vem tentando resistir à degradação, principalmente a relacionada com o

desmatamento, aterramentos e queimadas, uma vez que essas áreas eram ditas como

insalubres e inóspitas.

Para muitos leigos, é um local onde existem insetos nocivos para a saúde do

homem, além de ser usado como destino final do esgoto doméstico e industrial. Fazendo

que fosse cultivado o hábito de urbanizar, drenar e aterrar tais áreas, para que desse

lugar a moradias, portos e estradas.

Com o passar dos anos, e com os estudos realizados por pesquisadores essa

mentalidade começou a mudar, pois os manguezais passaram a ser vistos como

essenciais à dinâmica natural do meio ambiente e à sociedade, local propício para pesca

e lazer. . Tal afirmação não foi suficiente para que o ecossistema manguezal fosse

protegido com eficiência, pois ainda existem vários danos ambientais relacionados a esse

ambiente, tais como desmatamento e aterramento. Ele tornou-se mais valioso ainda com

a prática da carcinicultura e da atividade salineira.

O manguezal é uma área estuarina de extrema importância para o ambiente

costeiro, pois várias espécies marinhas vão se reproduzir, além de serem áreas que

atuam como regulador climático, zona de amortecimento de energia das ondas, filtro para

as impurezas e fonte de alimentação para as comunidades tradicionais.

A sociedade convive atualmente com vários problemas ambientais, no que diz

respeito principalmente ao uso, à ocupação e à falta de conservação dos recursos

naturais, sendo estes utilizados pelo homem. A sociedade contemporânea vem utilizando

a natureza de forma predatória, degradando-a, e como conseqüência ocorre uma

significativa redução da fauna e da flora, causada por variados impactos.

A pressão da sociedade sob os ambientes naturais em áreas urbanas vem

intensificando-se cada vez mais. Um dos problemas que assola os grandes centros

urbanos do Brasil é a falta de moradia apropriada, aumentando a ocupação irregular e

desordenada nas margens dos rios, encostas e manguezais, pois é a saída mais fácil,

pelo menos teoricamente, para as classes sociais menos favorecidas.

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Nas margens do Rio Ceará, pode-se observar ao longo de praticamente todo seu

médio e baixo curso as mais variadas ocupações irregulares, principalmente residências e

comerciais. Tais ocupações são as ações que mais favorecem a degradação e a

destruição do manguezal do Rio Ceará, pois são áreas que não são totalmente

contempladas com tratamento de esgoto, além do desmatamento e das queimadas da

vegetação nativa do manguezal.

As áreas mais ocupadas atualmente são os espaços onde antes funcionavam as

salinas, que estão inativas há de cerca de 20 a 25 anos. Após a salina ter sido totalmente

desativada, esta deu lugar ao Conjunto Habitacional Vila Velha, construído com apoio do

Governo do Estado do Ceará em regime de mutirão, no final da década de 1990 e início

dos anos 2000.

Nem toda área da salina foi usada para a construção do bairro Vila Velha. Os

limites estipulados para as construções de moradias dentro da salina são desrespeitados,

muitas casas foram e ainda estão sendo construídas em área imprópria, acarretando

fortes impactos para a área do manguezal que não consegue se recuperar naturalmente.

Além disso, essa é uma área em que os conflitos sociais estão aumentando a cada dia.

Para um ecossistema recuperar-se dos impactos sofridos por atividades

degradantes, precisa estar livre de tais agressões e manter-se em repouso para que o

ambiente impactado possa se regenerar naturalmente, caso contrário, a sua recuperação

pode ser lenta ou até nula.

Geralmente um ecossistema impactado pode levar, em média, cinco a dez anos

para recuperar-se, dependendo do tipo de agressão a qual ficou exposto. Já em um

ambiente recuperado artificialmente o resultado pode ser mais rápido, levando, em média,

três a sete anos, levando em conta também o tipo de impacto que o acometeu.

Para que esse quadro de exploração e degradação possa ser revertido ou

amenizado é preciso que se faça um melhor manejo e monitoramento dessas áreas, bem

como obtenção de métodos e técnicas de recuperação de áreas degradadas, projetos e

programas que possam auxiliar a sociedade a ter uma maior interação, podendo, assim,

usufruir de maneira mais responsável o ecossistema.

Com isso, vê-se a necessidade de um estudo aprofundado sobre a viabilidade de

recuperação desse manguezal, sendo esse o objetivo geral da pesquisa. Além de indicar

medidas que possam contribuir para a regeneração desse ecossistema e uma melhor

vivência dos moradores com o ambiente.

Os objetivos específicos da pesquisa:

Descrever de modo breve o processo histórico de ocupação às margens do baixo

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curso do Rio Ceará;

Caracterizar o ecossistema manguezal do estuário do Rio Ceará;

Identificar os impactos presentes no manguezal, sobretudo nas proximidades do

Conjunto Habitacional Vila Velha;

Indicar técnicas/medidas de recuperação mais adequadas para o ambiente de

mangue do Rio Ceará.

No Ceará, existem algumas localidades que já realizam recuperação de mangues

degradados, sendo importante citar a recuperação do manguezal do Acaraú e o

manguezal da Barra Grande, na Praia de Requenguela no município de Icapuí. Essas

duas áreas de recuperação são exemplos de recuperação de áreas impactadas de

manguezal.

Os primeiros relatos sistemáticos de recuperação se deram na década de 1930,

nos Estados Unidos, e na década de 1950 surgem as primeiras terminologias:

restauração, recuperação, reabilitação e regeneração. No Brasil, os primeiros trabalhos

de recuperação de manguezais foram dados no início da década de 1990.

Os estados brasileiros que já realizam recuperação de manguezais são: São Paulo,

Rio de Janeiro, Santa Catarina, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. No âmbito

internacional países como Estados Unidos, Japão, Indonésia, Tailândia, Porto Rico,

Panamá, Malásia e Austrália também são destaque.

Nesse sentido, as diversas formas de uso e ocupação do estuário do Rio Ceará

têm causado várias implicações e alterações ambientais no espaço geográfico. Sendo

assim, partiu-se da hipótese de que: os tipos de impactos presentes no ecossistema

manguezal do estuário do Rio Ceará alteram a dinâmica natural do ambiente, sendo

necessário um estudo de viabilidade de recuperação do mangue do Rio Ceará, este

caracterizado como um documento de grande importância para a

conservação/preservação.

No capítulo de fundamentação teórica, são abordados os autores e os principais

conceitos e estudos utilizados para a construção da pesquisa, quais sejam: definições de

mangue e manguezais, impacto ambiental, leis inerentes ao ecossistema manguezal,

criação da APA do Estuário do Rio Ceará e seus tipos de usos.

Nesse capítulo, buscou-se embasamento teórico que justificasse o uso desses

conceitos, bem como as abordagens metodológicas, além da contribuição para o

desenvolvimento do trabalho.

No terceiro capítulo, intitulado de Métodos e Metodologias, apresenta-se o método

de análise usado na pesquisa, a geoecologia das paisagens, além de trabalhar acerca da

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importância da interdisciplinaridade entre as ciências, pois foi usada como suporte para o

método escolhido a ecologia da restauração que tem a sua gênese dentro da biologia e

ecologia.

Ainda neste mesmo capítulo, são apresentados, também, a metodologia da

pesquisa, o desenvolvimento do estudo sobre as atividades de campo e os procedimentos

operacionais realizados.

No capítulo seguinte, Panorama dos Condicionantes Socioambientais da Área de

Estudo, são apresentados os aspectos climáticos, a vegetação, o solo, a geologia, a

geomorfologia, além de uma breve abordagem sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Ceará.

Na construção desses condicionantes usou-se principalmente Souza (2009), devido ao

seu intenso trabalho de caracterização do estado do Ceará, que é bastante utilizado nas

pesquisas.

Neste mesmo capítulo foi trabalhado resumidamente o processo histórico de

ocupação da zona costeira de Fortaleza, dando ênfase para área do Rio Ceará, sendo

esse o estudo e o processo basilar para o início do desenvolvimento do trabalho.

Já no quinto capítulo, Ecofisiologia de Manguezais, um dos mais importantes,

houve a caracterização do ecossistema manguezal em todas as suas peculiaridades,

como sua distribuição no Brasil, seus aspectos florísticos e faunísticos, sua importância

para o meio ambiente e os impactos ambientais existentes.

O capítulo sobre o histórico da recuperação ambiental no Brasil e sua importância

traz a teoria sobre a recuperação de ambientes degradados. Nesse capítulo, há um

resumo histórico de como o tema surgiu no Brasil, bem como apresenta alguns dos

eventos científicos que deram maior visibilidade à temática da recuperação e da

ambiental e da importância ambiental.

No sétimo capítulo, são apresentados os resultados obtidos na pesquisa e as

propostas que podem contribuir para a recuperação natural ou induzida do manguezal do

Rio Ceará, bem como as conclusões. Em seguida, vêm as referências usadas na

construção do trabalho.

1.1. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DA PESQUISA

O litoral do Ceará possui uma extensão de 573 km, uma área de 148.016km²

(cerca de 1.199 km² de águas interiores), fazendo limite com os estados do Rio Grande

do Norte e Paraíba, a leste, com Pernambuco, a sul, e a oeste com Piauí (XAVIER, 2001).

O manguezal do Rio Ceará está inserido entre os municípios de Caucaia (à

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esquerda - oeste) e Fortaleza (à direita - leste). Para este estudo, optou-se pela análise

do manguezal que está nas proximidades do conjunto habitacional Vila Velha, localizado

em Fortaleza.

O conjunto habitacional Vila Velha está localizado nas proximidades do Rio Ceará,

na margem direita, extremo oeste de Fortaleza. A construção do conjunto habitacional se

deu a partir de conflitos sociais, urbanos (busca por moradia) e ambientais, onde ocorriam

reivindicações por políticas públicas de habitação para tal área.

Diante da crise de moradia existente no estado, o bairro Vila Velha foi se

configurando como medida do poder público em amenizar ou tentar resolver tal problema

social, o que favoreceu o surgimento desse conjunto habitacional e de tantos outros no

Ceará, conduzindo, assim, uma ocupação irregular nas proximidades desses conjuntos,

principalmente em áreas impróprias para moradia.

Sabe-se que a moradia é um direito que deve ser garantido a todo cidadão, e essa

moradia tem que ser oferecida à sociedade de maneira mais digna possível, assegurando

o bem-estar de todos, além de infraestrutura básica, como rede elétrica e esgoto e ruas

pavimentadas.

De acordo com a Lei nº 11.124, de junho de 2005, o Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social (SNHIS) foi instituído com o objetivo de:

Art. 2o: I – viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada

e à habitação digna e sustentável;

II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo

e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda; e

III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e

órgãos que desempenham funções no setor da habitação. (SNHIS, 2005).

A lei citada anteriormente, institui o acesso à terra urbanizada e digna à população

mais carente, além de promover a articulação e o acompanhamento para uma melhor

ação das instituições e órgãos responsáveis pela esfera habitacional.

Sobre algumas características do bairro Vila Velha Barbosa (2009), diz:

O bairro possui uma extensão de 780 hectares, equivalendo 30,73% da área da

Região Administrativa Municipal I que reúne 15 bairros, ao todo. O bairro ainda

reúne seis grandes conjuntos habitacionais, onde cinco abrigam atualmente

residentes de renda média (Conjunto Polar, Conjunto Nova Assunção, Conjunto

dos Bancários, Conjunto Beira Rio e Conjunto Planalto Barra) e um, residentes de

baixa renda, o Conjunto Vila Velha (p.19).

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O processo de ocupação do Vila Velha ocorreu de maneira bastante rápida,

trazendo habitação para parte da população que não possuía moradia adequada, e, em

contrapartida, favoreceu o surgimento de instalações irregulares, além de contribuir para o

aparecimento de danos ambientais ao ecossistema manguezal e conflitos sociais,

caracterizando-se assim como uma área de riscos social e ambiental.

No mapa 01 a seguir, apresenta-se a localização do bairro Vila Velha, da área de

salina e manguezal do Rio Ceará. É possível perceber a intensa ocupação na margem

direita do rio, acelerada após a construção da ponte sobre o rio.

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Mapa 1: Localização da área de pesquisa.

Fonte: RABELO, 2015.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para entender a dinâmica natural do ecossistema manguezal, foi necessário, em

um primeiro momento, caracterizar a zona costeira cearense. Nesta etapa foi dada maior

importância ao processo de ocupação e aos tipos de usos, justamente pela razão de o

manguezal ser parte essencial inserida na zona costeira e de estabelecer uma

interdependência com as oscilações de maré.

De acordo com o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), zona

costeira se caracteriza como:

...uma área de abrangência dos efeitos naturais resultantes das interações terra-

mar-ar; leva em conta a paisagem físico-ambiental, em função dos acidentes

topográficos situados ao longo do litoral, como ilhas, estuários ou baías; comporta,

em sua integridade, os processos e interações características das unidades

ecossistêmicas litorâneas; e inclui as atividades socioeconômicas que aí se

estabelecem (p. 03).

A análise do ecossistema de manguezal é de grande destaque dentro do

desenvolvimento da pesquisa. Ao longo do trabalho é realizado um aparato geral sobre a

caracterização de mangues, além do aprofundamento acerca do manguezal do Rio

Ceará.

Desse modo, realizou-se essa análise desde a sua área de abrangência, dinâmica,

fragilidade, potencialidades e vulnerabilidades, aos aspectos de fauna e flora.

Buscou-se tais informações, principalmente nos autores Pannier e Pannier (1980),

Maciel (1991), Schaeffer-Novelli (1991), Vannucci (2002) Araújo e Freire (2007) e Alves

(2008), que trabalham, sobretudo, com a caracterização, as funções e a dinâmica de

ambientes costeiros, especificamente manguezais, além de abordar muito sobres os

impactos e tipos de usos.

Para Pannier e Pannier (1980), o ecossistema manguezal é um sistema costeiro

tropical, localizado na interface entre o continente e o mar, esse ambiente possui

diversidade vegetacional, em que prevalece a forma arbórea, com forte presença de

animais e vegetais altamente adaptados às condições especiais do meio, como os solos

periodicamente submersos pela ação das marés, o alto teor de salinidade e o clima

homogêneo.

De maneira geral, o mangue ou manguezal é definido como um sistema ecológico

costeiro tropical onde existe o domínio de espécies vegetais típicas desse ambiente, às

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quais se associam a outros componentes vegetais e a animais microscópicos e

macroscópicos adaptados ao substrato periodicamente inundado pelas marés com

grandes variações de salinidade. Os limites verticais existentes do mangue são

estabelecidos pelo nível médio das preamares de quadratura e pelo nível das preamares

de sizígia (MACIEL, 1991).

Para Schaeffer-Novelli (1991), manguezais são definidos enquanto ecossistemas

de transição que ocorrem entre os ambientes terrestres e marinhos, presentes nas

regiões tropicais e subtropicais, estando sujeitos ao regime das marés. Possui uma

cobertura vegetal constituída de espécies vegetais lenhosas típicas, presença de micro e

macro algas adaptadas à mudança de salinidade e caracterizadas por colonizarem

sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio.

Manguezal é defino por Vannucci (2002) como sendo:

O ecossistema manguezal é uma dadiva das marés. É uma formação entre-marés

com limites superiores e inferiores distintos, que atingem seu melhor

desenvolvimento em locais de marés moderadas, nem muito altas nem muito

baixas; em áreas onde a planície costeira tem um declive suave e é regularmente

inundada pelas marés; onde a temperatura da água não cai abaixo de 17-18º C no

inverno e onde existe abundante suprimento de nutrientes do escoamento

superficial e da água do mar costeira (p. 55).

Para Araújo e Freire (2007), manguezal é definido como:

...um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho

sendo característico de regiões tropicais e subtropicais. A vegetação de mangue

está sujeito ao regime das marés; dominado por espécies vegetais típicas, às

quais se associam a outros componentes vegetais e animais. O ecossistema

manguezal está associado às margens de baías, enseadas, barras,

desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de

águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa (p. 112).

Para Alves (2008), mangue é:

...uma comunidade integrante do manguezal, composta por associações vegetais,

anfíbias, lenhosas e perenifólias caracterizadas por uma biologia extremamente

especializada, capaz de desenvolver modificações morfológicas, anatômicas ou

fisiológicas que permitem colonizar terrenos alagados sujeitos aos fluxos de

marés. É ainda o componente principal na estrutura do manguezal, pois constitui-

se no primórdio da cadeia dentrítica de grande importância ao ecossistema e

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abriga as mais variadas formas jovens de espécies marinhas, sendo também

radicular que aprisiona sedimentos e reduz a velocidade das correntes de marés

(p. 10).

A lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, capítulo I, art.3º do novo Código Florestal

traz a definição de manguezal:

XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à

ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se

associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com

influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com

dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e

de Santa Catarina (Código Florestal, 2012).

De maneira geral, manguezais são ambientes costeiros, submetidos às influências

de processos marinhos e fluviais. Ambientes adaptados a altos teores de salinidade, com

uma rica fauna e flora e com grande potencial ecológico. Percebe-se que as definições de

manguezal dadas pelos autores anteriormente assemelham-se bastante, além de se

complementarem.

O ecossistema manguezal tolera, há bastante tempo, atividades impactantes.

Dessa forma, faz-se necessário e pertinente entender o significado de impacto, bem como

identificar e analisar os impactos presentes na área de estudo.

Usou-se, inicialmente, a definição de impacto ambiental estabelecida pelo

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), referente ao artigo 1º da Resolução n.º

001/86, que diz:

...qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das

atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: I - A saúde, a

segurança, e o bem estar da população; II - As atividades sociais e econômicas; III

- A biota; VI - As condições estéticas e sanitárias ambientais; V - A qualidade dos

recursos ambientais (CONAMA, 1986).

Para Sánchez (2008), em um sentido comum, a definição de impacto ambiental

está, na maioria das vezes, ligada a algum dano ao meio ambiente, como a mortandade

da fauna silvestre após o vazamento de petróleo no mar ou em um rio, de tal maneira que

as imagens das aves totalmente negras devido à camada de óleos que as recobrem

chocam ou “impactam” a sociedade de modo geral.

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O conceito de impacto, no sentido abordado por Sánchez, está ligado,

principalmente, ao modo como as pessoas ficam chocadas ou assustadas com as

notícias vinculadas nos meios de comunicação, voltadas, sobretudo aos desastres

naturais, em que a complexidade do assunto não é tratada com a atenção necessária.

A definição de impacto para Orea (1999):

El término impacto se aplica a la alteración que introduce una actividad humana

em su entorno; este último concepto identifica la parte del medio ambiente

afectada por la actividad, o más ampliamente, que interacciona com ella. Por tanto

el impacto ambiental se origina em uma acción humana y se manifesta según tres

facetas sucesivas: I. la modificación de alguno de los ambientales o del conjunto

de sistema ambiental; II. La modificacíon del valor del fator alterado o del conjunto

del sistema ambiental; III. La interpretación o significado ambiental de dichas

modificaciones, y em último término, para la salud e bienestar humano[...]. (p,

161).

O impacto ambiental pode ser classificado como negativo e positivo, no entanto,

em algumas análises, é levado em consideração apenas o impacto negativo, deixando,

pois, de abordar ou mesmo tentar conceituar o impacto positivo.

Impacto positivo está ligado basicamente aos tipos de intervenções humanas que

podem trazer benefícios para a sociedade, assim como a tentativa de intervenções em

preservar o meio ambiente, a exemplo: obras de revitalização, recuperação de matas,

replantio de árvores e limpeza de rios que, de um modo ou de outro, modificam o meio

ambiente causando impactos.

A expansão urbana desordenada é um ponto que também merece destaque dentro

da pesquisa, estando diretamente ligada aos impactos presentes na área de estudo.

Andrade e Almeida (2012), realizam um comentário sobre expansão urbana:

...a expansão urbana desordenada é devida ao ritmo acelerado do crescimento

populacional, pode ser fator determinante para o incremento de pressões

ambientais resultantes de atividades humanas em ecossistemas costeiros, fato

que pode contribuir para uma escalada ascendente nos níveis de degradação

ambiental, a qual impacta direta e/ou indiretamente vários sistemas naturais nas

vizinhanças de cidades litorâneas, como os ecossistemas manguezais dentre

outros (p. 61).

Ainda quanto à expansão do espaço urbano de Fortaleza, Fuck Júnior (2003)

afirma que, no início da década de 1930, a capital cearense sofreu com o crescimento

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desordenado e, de maneira natural, deu lugar para os aglomerados e edificações

precárias nas áreas periféricas de Fortaleza, com destaque para o processo de

favelização nos bairros Pirambu e Mucuripe.

A expansão urbana está diretamente atrelada à ocupação irregular e, no caso desta

pesquisa, ligada também ao ecossistema manguezal, uma vez que é alvo de constantes

intervenções humanas, principalmente as ligadas à moradia. Nesse sentido, sabe-se que

esse tipo de ocupação é ilegal, e para isso existem leis e decretos que tentam impedir os

tipos de usos inadequados.

As leis que protegem e defendem as áreas costeiras e, principalmente, o

ecossistema manguezal são de grande importância para a conservação e o equilíbrio da

dinâmica natural dos ambientes. Sendo assim, ajudam a determinar os tipos de

intervenções que podem ou não ser feitas em ambientes costeiros, de modo que

impeçam ou minimizem impactos nessas áreas.

Dentre as leis utilizadas na pesquisa está a Resolução do CONAMA n.º 001/86, a

Constituição Federal Artigo 225, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação

(SNUC), lei 9.985/2000, o decreto da APA do Estuário do Rio Ceará 25.413/1999, o Plano

de Manejo da APA do Estuário do Rio Ceará e o novo Código Florestal.

O cap.4, da Constituição Federal, em seu art. 225 diz que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder

público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações (Constituição Federal, 1988).

A Lei n° 9.985 de 18.07.2000, que regulamenta o artigo 225, § 1°, incisos I, II, III e

VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Pelo dito, para os fins previstos nesta lei, destaca-se o Art.2º:

II – conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza,

compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a

restauração e a recuperação do ambiente natural, para que se possa produzir o

maior beneficio, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu

potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e

garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral; XIII: recuperação: restituição

de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não

degradada, que pode ser diferente de sua condição original; XIV: restauração

restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais

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próximo possível da sua condição natural [..] (SNUC, 2000).

Quanto ao dever de realizar a recuperação de ambientes degradados, o art. 225,

parágrafos 1º e 2º da Constituição Federal de 1988, foram basilares:

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público: I –

preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas; § 2º-Aquele que explorar recursos

minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com

solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei” (CF,

1988).

As agressões ao meio ambiente que interferem nos componentes, como a flora, a

fauna, os recursos naturais e o patrimônio cultural estão dispostas na Lei de Crimes

Ambientais, nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Nessa lei, são levadas em consideração

as normas que possam vir de alguma maneira ignorar leis ambientais que foram

legalmente estabelecidas mesmo que causem danos ao meio ambiente.

Dentre as os artigos da referida lei destaca-se:

Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de

vegetação: Pena detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 50. Destruir ou

danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora

de mangues, objeto de especial preservação: Pena - detenção, de três meses a

um ano, e multa (Lei de crimes Ambientais, 1998).

O primeiro Código Florestal, datado de 1935, (Decreto nº 23.193/1934) criado no

período da expansão cafeeira, em 1965, sofreu mudanças (Lei nº 4.771/65), dentre essas

mudanças, foi criada a Área de Preservação Permanente (APP). Em 2012, foi criado o

novo Código Florestal (Lei nº 12.651), em meio às manifestações da sociedade científica

e acadêmica, ambas contrárias ao novo código.

O antigo Código Florestal (1965) teve como principal objetivo a criação de dois

tipos de áreas de preservação, a Reserva Legal e as Áreas de Preservação Permanente

(APP). A APP tem a principal função de preservar locais, como beira de rios, topos de

morros e encostas que não podem ser desmatados, justamente para evitar erosões e

deslizamentos, protegendo, também, as nascentes, a fauna, a flora e a biodiversidade.

(Disponível em: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28574-o-que-e-o-codigo-

florestal/. Acesso: 28/10/2015).

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É importante ressaltar que o ecossistema manguezal é uma Área de Preservação

Permanente (APP). O Código Florestal, no capítulo II, art. 4º, designa as delimitações das

APP’s em zonas rurais e urbanas:

I - as faixas marginais de qualquer curso d'água natural, desde a borda da calha

do leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para os cursos d'água

de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos

d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem)

metros, para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)

metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d'água que tenham

de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; e) 500 (quinhentos)

metros, para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos)

metros (Código Florestal, 2012).

O manguezal do Bairro Vila Velha está inserido dentro da área que pertence à Área

de Proteção Ambiental (APA) do Estuário do Rio Ceará. Com o aumento da urbanização

nesse local, as moradias do bairro vêm avançando cada vez mais em direção ao

manguezal.

A APA do Rio Ceará foi criada através do Decreto Estadual n° 25.413/1999,

abrangendo uma área de 2.744,89 ha. A área está localizada na divisa dos municípios de

Fortaleza (direita/leste) e Caucaia (esquerda/oeste) (ARAÚJO et al., 2007).

De acordo com o decreto, os limites da APA são:

Ao Norte, partindo-se do Ponto 1, localizado no entroncamento da Rua 15 de

Novembro com a estrada Barra do Ceará-Icaraí, de coordenadas geográficas de

latitude 03°4119 e longitude 38°3834 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E)

539657,00 e (N) 9592287,00, [...] Ponto 2, localizado no entroncamento da ponte

sobre o Rio Ceará com a Av. Rad. José Lima Verde, de coordenadas geográficas

de latitude 03°4204 e longitude 38°3519 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E)

545694,00 e (N) 9590734,00. [...] Ponto 3 de coordenadas geográficas de latitude

03°4212 e longitude 38°3533 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E) 545251,00 e

(N) 9590664,00. [...] Ponto 4, localizado no entroncamento desta estrada com a

Rua Baixa dos Milagres, de coordenadas geográficas de latitude 03°4309 e

longitude 38°3623 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E) 543714,00 e (N)

9588897,00. [...] Ponto 5, localizado a margem direita da BR - 222, de

coordenadas geográficas de latitude 03°4416 e longitude 38°3739 e/ou

coordenadas UTM (SAD69) (E) 541368,00 e (N) 9586847,00. [...] Ponto 6,

localizado a margem direita da BR - 020, de coordenadas geográficas de latitude

03°4448 e longitude 38°3751 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E) 541008,00 e

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(N) 9585871,00. [...] Ponto 7, de coordenadas geográficas de latitude 03°4510 e

longitude 38°3906 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E) 538668,00 e (N)

9585180,00. [...] Ponto 8 de coordenadas geográficas de latitude 03°4352 e

longitude 38°3852 e/ou coordenadas UTM (SAD69) (E) 539102,00 e (N)

9587589,00, localizado no entroncamento da BR - 222 com a CE - 090. [...] Ponto

9, de coordenadas geográficas de latitude 03°4310 e longitude 38°3842 e/ou

coordenadas UTM (SAD69) (E) 539429,00 e (N) 9588868,00. [...] Ponto 10 de

coordenadas geográficas de latitude 03°4254 e longitude 38°3915 e/ou

coordenadas UTM (SAD69) (E) 538415,00 e (N) 9589359,00. Do Ponto 10, segue-

se pela mesma rua até encontrar o Ponto 1, origem desta descrição (SEMACE,

1999, p.1).

O art. 2° do decreto supracitado disponibiliza informações sobre os objetivos de

criação da APA, que são: proteger e conservar a biodiversidade, os recursos hídricos e os

solos; Proporcionar à população métodos e técnicas apropriadas ao uso do solo,

assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais e respeito às peculiaridades histórico-

culturais, econômicas e paisagísticas locais, com ênfase na melhoria da qualidade de vida

dessa comunidade; Ordenar o turismo ecológico, científico e cultural e as demais

atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental, além de desenvolver

uma consciência ecológica e conservacionista (SEMACE, 1999).

Apesar de o decreto ter como base a proteção e a conservação do estuário,

aquele, infelizmente, se mostra ineficiente, pois existem muitos problemas que precisam

ser enfrentados na APA, a citar, a ocupação desordenada e irregular; o assoreamento do

rio; o desmatamento e as queimadas da vegetação nativa e o lançamento de efluentes

poluidores para dentro do rio.

O art. 3° do decreto estabelece a proibição de algumas atividades dentro da APA.

Dentre as nove restrições presentes no documento, destacamos: (SEMACE, 1999, p.1).

A implantação ou ampliação de atividades potencialmente poluidoras ou

degradadoras [...];

Realização de obras de terraplanagem e a abertura de estradas, bem como sua

manutenção, quando essas iniciativas importarem em sensíveis alterações das condições

ecológicas;

Derrubada de vegetação de preservação permanente e o exercício de atividades

que impliquem em matança, captura, extermínio ou molestamento de quaisquer espécies

de animais silvestres;

Projetos urbanísticos, parcelamento do solo e loteamentos, sem prévia autorização

da Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE [...];

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Uso de agrotóxicos;

Qualquer forma de utilização que possa poluir ou degradar os recursos hídricos

abrangidos pela APA, como também o despejo de efluentes, resíduos ou detritos, capazes

de provocar danos ao meio ambiente.

Muitos estudos demonstram que, apesar do estuário do Rio Ceará ser resguardado

através do decreto de criação da Área de Proteção Ambiental (APA), esse ambiente

apresenta sérios impactos ambientais que alteram a sua dinâmica e a sua paisagem

natural.

O ideal seria o respeito ao que é estabelecido no decreto de criação do ambiente e

que, de fato, existisse a implantação e a prática de manejo, pois teria como consequência

menores impactos ambientais, bem como uma melhor recuperação da área. Assim, é

importante o engajamento da comunidade local e do poder público de maneira que

possibilite a preservação dessa área.

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3. ABORDAGEM DA GEOECOLOGIA DA PAISAGEM COMO MÉTODO DE ANÁLISE

O método escolhido para ser utilizado nesta pesquisa foi o da Geoecologia da

Paisagem, tendo em vista que há a busca por um estudo e uma análise da paisagem

integrada, atrelando a dinâmica com as ações sociais que interagem no meio.

De acordo com Barros (2011), a geoecologia da paisagem tem seu início no século

XIX com os estudos de Humboldt, Lamonosov e Dokuchaev. Porém, foi com Troll, na

metade do século passado, que foi criada a ciência da Geografia da Paisagem, que tinha

como principal área de atuação os estudos voltados para os aspectos espaços-funcionais.

Por seus vastos conceitos e métodos de estudo, corresponde a uma proposta

metodológica que apresenta alta aplicabilidade para os estudos ambientais, contribuindo,

assim, para o avanço do conhecimento da base natural do meio ambiente.

Sabe-se que a geoecologia da paisagem tem como principal fundamento o estudo

da paisagem, sendo esse conceito de grande uso e de importância para o

desenvolvimento dos estudos da geoecologia.

A paisagem natural, dentro de uma concepção de estudo que a concebe como uma

realidade geográfica, dentro do enfoque geoecológico, é interpretada como uma conexão

harmônica de componentes e processos integrados. As paisagens são consideradas

formações complexas com estruturas próprias e heteregeneidade de feições, possuindo

múltiplas inter-relações e diversidade hierárquica tipológica e individual (SILVA e

RODRIGUEZ, 2011).

A definição de paisagem para Barros (2011) é:

A paisagem é um sistema formado pelo trinômio: paisagem natural, paisagem

social e paisagem cultural. A paisagem natural pode ser definida como espaço

terrestre de todas as dimensões, onde os componentes da natureza encontram-se

em relação sistêmica uns com os outros, e como uma integridade definida

interatuando com a esfera cósmica e a sociedade humana (p.05)

De acordo com Melo (2012), o conceito de paisagem remonta da Idade Média, em

que era usado para explicar as dimensões médias de território onde ocorriam algum tipo

de ocupação humana. Na contemporaneidade, a paisagem é definida de várias formas,

podendo ser entendida como produto visual final entre as relações dos componentes

naturais e sociais que interagem no espaço.

A paisagem é composta por várias outras paisagens, sendo elas do tipo paisagem

natural, paisagem social e paisagem cultural. A paisagem natural é definida como espaço

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terrestre em todas as dimensões, uma vez que os componentes da natureza estão

sempre em processo de interação, sendo a sociedade humana como o principal agente

(BARROS, 2011).

Desse modo, a geoecologia vem como uma nova proposta para a análise

integrada, com ideias multidisciplinares que valorizam as questões ambientais. Assim,

surge com o intuito de derrubar barreiras anteriormente estabelecidas e padronizadas,

bem como de associar os elementos naturais e sociais aos econômicos e culturais.

A geoecologia da paisagem é apoiada em um contexto metodológico constituído

entre geografia física, geografia humana, biogeografia, ecologia e cartografia. Com essa

diversidade de abordagens metodológicas, há uma maior integração e dinamicidade com

o objeto de estudo, principalmente no que diz respeito aos estudos do conjunto das

paisagens naturais, sociais e culturais.

Desse modo, pode-se perceber que a geoecologia das paisagens possui uma

abordagem interdisciplinar e multidisciplinar, fato que valoriza bastante o ponto de vista

enquanto análise social, cultural e natural, contribuindo, assim, para um diagnóstico mais

próximo da realidade.

De acordo com Silva (2012):

As questões e problemáticas socioambientais no contexto contemporâneo exigem

a assimilação de um paradigma ambiental, onde se insere a integração de

diferentes áreas de conhecimento científico e saberes tradicionais, no sentido de

se construir uma metodologia de caráter interdisciplinar e transdisciplinar. Busca-

se assim construir um novo modelo de planejamento e gestão do território, que

busque o estabelecimento de um desenvolvimento sustentável que integre

conservação ambiental e qualidade de vida, por meio da construção da cidadania

e de uma ética socioambiental (p. 01).

De acordo com Silva e Rodriguez (2011), para a possível realização de um

diagnóstico integrado, como idealiza a geoecologia da paisagem, é preciso que seja

composta por uma fundamentação científica coerente e que possua um sistema de

métodos e procedimentos técnicos de pesquisa eficazes para tal propósito, a integridade.

A geoecologia da paisagem, por possuir um acervo teórico-metodológico

abrangente e com uma base bem desenvolvida, é considerada uma ciência ambiental, em

que a geografia física se encaixa perfeitamente, pois aporta procedimentos técnicos e

metodologia essenciais para o processo de compreensão das bases naturais, além da

realização de análises e diagnósticos em diferentes escalas (SILVA, 2012).

O direcionamento do estudo da geoecologia não se limita apenas aos ambientes

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naturais, mas ao estudo da paisagem como um reflexo da área ou do território analisado,

além de interpretar as questões sociais, culturais e econômicas de um dado lugar.

Desse modo, a abordagem metodológica nos estudos da geoecologia da paisagem

permite um sistema ímpar para a caracterização, análise e mapeamento das paisagens,

bem como para o favorecimento da interpretação e do desenvolvimento de conceitos e

procedimentos normativos na avaliação paisagística, fato que contribui diretamente para a

ampliação de métodos específicos e de pesquisas ambientais (BARROS, 2011).

A geoecologia da paisagem é um método bastante apropriado para o

desenvolvimento da pesquisa, uma vez que este estudo busca uma análise integrada da

relação do ecossistema manguezal com a sociedade, justamente com o intuito de

entender e de analisar os impactos para, posteriormente, chegar aos possíveis processos

de recuperação atrelados ao ambiente de mangue, e, assim, buscar novos métodos de

planejamento e de gestão.

O método de análise da geoecologia, infelizmente, ainda é pouco usado e difundido

dentro da ciência geográfica, isso em comparação aos métodos já utilizados e

consolidados, como a Teoria Geossistêmica. A geoecologia das paisagens faz com que a

Geografia usufrua de conceitos de outras ciências através da interdisciplinaridade, uma

vez que contribui para uma análise mais precisa e coerente.

Sabe-se que a Geografia, ao longo dos anos, usou conceitos de outras ciências

(como a Antropologia e a Economia) às quais ajudaram bastante no amadurecimento e no

desenvolvimento da Geografia enquanto ciência, de tal maneira que trouxeram o

entendimento de maneira integrada e sistêmica do meio onde ocorrem as relações

homem versus natureza. Ciências como Ecologia e Biologia também contribuíram para

um maior desenvolvimento da ciência geográfica.

3.1. INTERDISCIPLINARIDADE NOS ESTUDOS AMBIENTAIS E A ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO COMO SUPORTE

A interdisciplinaridade nos estudos científicos é de extrema importância para a

pesquisa, pois proporciona um embasamento teórico metodológico rico e favorece uma

ampla discussão acerca do assunto. Com isso, usou-se a ecologia da restauração como

complemento para a abordagem da geoecologia da paisagem dentro da pesquisa.

A ciência geográfica, que trabalha com uma quantidade considerável de

informações nos diversos níveis de complexidade, está intrinsecamente apoiada na

interdisciplinaridade, tendo em vista que utiliza bases da sustentabilidade em suas

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análises, contribuindo, assim, nos resultados pretendidos.

De acordo com Diegues (1996), as questões ambientais, principalmente vinculadas

às ações humanas, são temas atuais que determinam uma abordagem interdisciplinar.

A interdisciplinaridade ajuda nas questões ambientais vigentes na

contemporaneidade, pois os questionamentos sobre o meio em que vivemos devem ser

feitos através de diversos olhares e reflexões, devido à complexidade do que é estudado

ou analisado. Com isso Vieira e Morais (2003) diz:

Para o enfrentamento da complexidade gerada pelas questões ambientais

impostos, nos seus aspectos físicos, sociais, culturais, econômicos e biológicos,

uma nova síntese epistemológica interdisciplinar deverá surgir, fruto da

reformulação do saber de uma visão holística e integradora do ambiente,

orientadas para os objetivos de um desenvolvimento com base na sustentabilidade

ambiental, equitativo e duradouro (p. 32).

Diegues (1996) define interdisciplinaridade como:

...implicação do encontro e cooperação de duas ou mais disciplinas, trazendo

cada uma delas (no plano da teoria e da pesquisa científica) seus próprios

esquemas conceituais, sua forma de definir os problemas e seus métodos de

investigação (p.03).

No livro “Por uma Geografia Nova”, Santos (1986) trata sobre interdisciplinaridade

no capítulo XI titulado: “Uma nova interdisciplinaridade”. O autor aborda a importância de

entrar em outros campos científicos além da própria Geografia. No primeiro parágrafo diz:

Desde que a geografia começou a busca de sua individualização como ciência, os

geógrafos tiveram a pretensão de que ela fosse, antes de tudo, uma ciência de

síntese, isto é, capaz de interpretar os fenômenos que ocorrem sobre a face da

terra, com a ajuda de um instrumental proveniente de uma multiplicidade de ramos

do saber científico tanto no âmbito das disciplinas naturais e exatas, quanto nos

das disciplinas sociais e humanas (p.125).

Para Coimbra (2000), a influência mútua da sociedade com os ecossistemas

terrestres (meio ambiente) é uma realidade histórica e social, que a caracteriza como uma

realidade interdisciplinar do meio ambiente.

É importante destacar a importância da interdisciplinaridade nos diversos campos

científicos. Na atualidade, esse processo surge com a necessidade de observar e analisar

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o mundo em diversas formas e peculiaridades do conhecimento, pois a sociedade e o

meio natural estão em constante modificação, e essa mudança é uma das expressões

mais usadas atualmente (SANTOMÉ, 1998, p.45).

Dentro da ciência geográfica, têm destaque os atributos de observação e de

análise do meio em que ocorre a interação entre sociedade e natureza. Assim, a

interdisciplinaridade é uma importante aliada para a análise complexa que a Geografia se

propõe.

Acerca do tema Mendonça (2001) diz que:

O fato de a geografia fundir os resultados e, por vezes, os métodos de um sem-

número de outras ciências, faz dela uma ciência de relações, não somente da já

celebrem relação entre o homem e o meio, a sociedade e a natureza, mas uma

ciência de estreita relação entre inúmeras outras ciências, de forma

particularmente muito mais acentuada. Esta é uma das características particulares

da geografia (p.15).

A Geografia, de modo geral, desde os primórdios, busca entender as ações do

meio físico e do meio social, e, como saída para encontrar esse entendimento, vai de

encontro com outras ciências que, de alguma maneira, dão suporte para uma análise

mais aprofundada.

Infelizmente, com o passar dos anos, a Geografia passou a “sentir-se” muito além

das outras ciências, levando a acreditar que poderia, por si só, dar conta de todo o

conhecimento, quando, na verdade, precisava e precisa colaborar e se apoiar em outras

ciências para evoluir cientificamente.

Dessa maneira, Santos (1986) alerta que:

A geografia padece, mais do que qualquer outra disciplina, de uma

interdisciplinaridade pobre e isso está ligado de um lado à natureza diversa e

múltipla dos fenômenos com que trabalha o geógrafo e de outro lado, a própria

formação universitária do geógrafo (p.100).

Deve, pois, haver uma maior interdisciplinaridade nos estudos ambientais,

especificamente dentro da ciência geográfica, justamente para que possa dar passos

mais concretos dentro dos vários campos do conhecimento.

O intuito da breve discussão foi de abordar acerca da importância da

interdisciplinaridade, principalmente para justificar o uso da Ecologia da Restauração, que

teve sua gênese dentro da Ecologia, e que ajudará imensamente no desenvolvimento

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desta pesquisa.

Para Society for Ecological Restoration International (SERI), a restauração

ecológica é um procedimento que tem como objetivo iniciar ou acelerar a recuperação de

um dado ecossistema em relação a sua saúde, integridade e sustentabilidade.

Comumente, o ecossistema que precisa de restauração foi degradado, impactado,

modificado ou inteiramente destruído como resultado direto ou indireto de ações humanas

(SERI, 2004).

Com o avanço de tecnologias, que contribuem para a degradação e que impactam

o meio ambiente, houve a necessidade de desenvolver outras tecnologias e métodos que

favorecessem a recuperação e a restauração dos ecossistemas degradados, como é

observado em ambientes de valor econômico voltado para áreas de mineração, por

exemplo.

Existe a necessidade e a importância de entender, de forma mais clara, como os

sistemas naturais interagem e quais métodos de restauração são mais adequados. A

ecologia da restauração deve levar ainda em consideração os aspectos relacionados à

velocidade da restauração, o custo, a confiabilidade dos resultados e a habilidade que o

ambiente tem para sobreviver com pouca ou nenhuma manutenção após o processo de

restauração (PRIMACK e RODRIGUES, 2001).

De modo geral, é necessário restaurar ecossistemas degradados para que esses

possam ser repassados para as gerações futuras, conforme preconiza a Constituição

Brasileira, e que proporcione um ambiente ecologicamente estável, equilibrado e saudável

para a sociedade.

Com isso, há a afirmação de Primack e Rodrigues (2001):

Genericamente falando, restauram-se ecossistemas para que eles voltem a

propiciar os mesmos serviços de antes de serem degradados, tais como melhoria

da qualidade de água, redução de erosão, alimento para fauna e refúgio de

biodiversidade. Deste modo, a reconstrução de ecossistemas degradados tem um

grande potencial para aumentar e intensificar o atual sistema de áreas protegidas

(p. 253).

Em síntese, o estudo interdisciplinar da ecologia da restauração, atrelado ao

método de análise da geoecologia das paisagens, favorece o entendimento mais

complexo da dinâmica da área de estudo, dando maior arcabouço para auxiliar no

desenvolvimento da pesquisa.

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3.2. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS OPERACIONAIS

A etapa inicial caracterizou-se, principalmente, pela coleta e compilação de dados.

Foi realizada pesquisa de caráter bibliográfica e cartográfica, elaboração de fichamentos e

análises das obras consultadas. Assim, buscou-se um estudo bibliográfico dentro das

perspectivas elencadas para o estudo.

Nos levantamentos bibliográficos e cartográficos realizado houve a busca de

informações relevantes através de artigos científicos, dissertações e teses, além da leitura

de livros pertinentes ao tema da pesquisa.

A segunda etapa foi o trabalho de campo, que no total foram realizadas quatro

atividades de campo, com um intervalo de seis meses entre eles. O primeiro ocorreu em

maio de 2014, com o principal objetivo de reconhecimento da área escolhida para o

estudo. Neste campo foram percorridos trechos de praia, ruas, avenidas, foz e margens

do Rio Ceará, além de acesso às barracas de praia.

Na ida a campo houve a visita à instituição Emaús, onde são vendidos produtos

usados, como roupas, sapatos e livros, em que o lucro, enquanto forma de doação, é

voltado para as comunidades carentes. A intenção de ir ao local foi de observar a salina

desativada partindo de um local alto, sobretudo para ter noção da dimensão da salina.

No segundo campo, feito em novembro de 2014, houve percursos nas ruas do

bairro Vila Velha, área do manguezal do Rio Ceará. Na área de manguezal foi percorrido

parte do local onde está localizado a salina, margens do rio e estaleiro, ambos na margem

direita do rio.

Infelizmente não foi possível visitar uma área maior do manguezal e da salina,

devido principalmente à falta de segurança, pois, segundo os próprios moradores, até

mesmo a polícia evita fazer rondas em alguns locais do bairro Vila Velha. Os dois

primeiros campos foram realizados durante o final de semana.

O terceiro campo foi feito durante a semana, em maio de 2015. Neste campo,

ocorreram visitas às instalações do estaleiro, faixa de praia e mangue. Foram marcados

quatro pontos de coordenadas no GPS, porém ocorreram marcações apenas em três

pontos na margem direita (Fortaleza) do rio e um na margem esquerda (Caucaia), com o

principal objetivo de tentar observar as diferenças do manguezal nas duas margens do rio

e os impactos presentes.

Ponto 01: S 03º42.182' / W 038º35.558' (Estaleiro);

Ponto 02: S 03º42.297' / W 038º35.707' (Área de Salina);

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Ponto 03: S 03º41.694' / W 038º35.201' (Estuário);

Ponto 04: S 03º41.731' / W 038º36.920' (Área de Mangue – Caucaia).

O quarto e último campo foi realizado no mês de novembro de 2015, em parceria

com Serviço Social do Comércio (SESC). O SESC realizada uma atividade aberta ao

público, chamada de “Conversas Flutuantes”, em que são disponibilizados barcos para os

inscritos, que são, em sua maioria, composto por estudantes de escolas públicas e de

universidades, além da participação da sociedade.

Geralmente são disponibilizadas três embarcações. Os donos das embarcações

são sócios da Associação de Barqueiros da Barra do Ceará. Os barcos percorrem trechos

do Rio Ceará e durante o passeio são realizados debates sobre a questão ambiental e

rodas de discussões.

A terceira etapa da pesquisa caracterizou-se pela avaliação das informações

obtidas a partir dos levantamentos bibliográficos e dos dados coletados em campo. Foram

selecionadas informações relevantes para a pesquisa, para que fosse possível chegar

aos objetivos da pesquisa.

Os mapas apresentados no trabalho, o de localização da área e o das coordenadas

coletados em campo, foram confeccionados a partir do software ArcGis 10, com licença

educacional. As imagens estão em escala 1:50.000, sistema de projeção transversal

UTM, e datum SIRGAS (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas) 2000.

As imagens foram adquiridas através do Google Earth Pro 7.1, do ano de 2015,

também com a disponibilidade da licença educacional. A base cartográfica utilizada foi do

Instituto de Pesquisas e Estratégias Econômicas do Ceará (IPECE) do ano de 2012.

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4. PANORAMA DOS CONDICIONANTES SOCIOAMBIENTAIS DA ÁREA DE ESTUDO

4.1. GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

Os aspectos geológicos do município de Fortaleza são caracterizados,

principalmente, por coberturas sedimentares cenozóicas, terrenos cristalinos e relevos de

exceção, provenientes de vulcanismo do terciário (SOUZA, 2009.).

O território cearense está inserido quase que em sua totalidade em terreno

cristalino. Souza (op.cit.), afirma quanto à caracterização dos terrenos cristalinos do

Ceará:

[...] os terrenos cristalinos são constituídos pelas rochas dos complexos gnáissico-

migmatítico e granítico-migmatítico do proterozóico inferior. Trata-se de uma

superfície de aplainamento onde o trabalho erosivo truncou variados litótipos,

formando uma superfície de plana a suavemente dissecada. Morfologicamente, é

constituída de rampas de pedimentação que se inclinam suavemente em direção

ao litoral e aos fundos de vales. Esses terremos ocupam pequenas parcelas ao sul

e sudoeste do município, imediatamente após os tabuleiros pré-litorâneos (p.37).

O município de Fortaleza está inserido na Formação Barreiras. De acordo com

Brandão (1995), essa formação data do plio-pleistocêno, difundindo-se continuamente em

faixa de largura variável na linha de costa, situando-se à retaguarda dos sedimentos

eólicos antigos e atuais.

Para Souza (2009), a Formação Barreiras apresenta uma litologia com sedimentos

areno-argilosos de coloração vermelho-amarelada, esbranquiçada e de aspectos

mosqueados, com granulação de fina a média e intercalações de níveis conglomeráticos.

São depósitos correlativos de procedência continental, formado em condições

climáticas antigas, predominantemente semiáridas, constituindo-se de leques aluviais

coalescentes, em um período em que o nível do mar era mais baixo do que o atual,

favorecendo a formação de vasta plataforma de deposição (SOUZA, op. cit).

Já a planície litorânea, compreende as seguintes geofácies: faixa praial, campos de

dunas móveis, fixas e paleodunas; espelhos d’água lacustres as planícies flúvio-marinhas

com manguezais e flúvio-lacustres (CAMPOS, 2003).

De forma geral, as praias se apresentam de modo alongado pela costa, desde o

estirâncio até a base das dunas móveis, sendo cessadas pelas planícies fluviomarinhas

dos principais rios de Fortaleza (Ceará, Cocó e Pacoti). Pode-se constatar a ocorrência de

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beach rocks (arenitos de praia). Essas ocorrências podem ser apreciadas nas praias do

Meireles e Sabiaguaba (SOUZA, 2009).

A definição de zona de praia também é tratada na Constituição do estado do Ceará,

sendo conceituada no art. 23 – parágrafo único:

Entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas

marítimas, fluviais e lacustres, acrescidas da faixa de material detrítico, tal como

areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação

natural ou outro ecossistema, ficando garantida uma faixa livre, com largura

mínima de trinta e três metros, entre a linha da maré máxima local e o primeiro

logradouro público ou imóvel particular decorrente de loteamento aprovado pelo

poder Executivo Municipal e registrado no Registro de Imóveis do respectivo

Município, nos termos da lei. (p.32).

Na figura 1, é possível observar a presença de beach rocks ou arenitos de praia ao

longo do litoral de Sabiaguaba. Em alguns locais, quando a maré está baixa, acabam

sendo formadas pequenas piscinas naturais, o que chama a atenção de turistas e

também dos nativos.

Figura 1: Beach rocks ou arenitos de praia em Sabiaguaba.

Fonte: GOMES 2011.

A faixa litorânea cearense é caracterizada por ter um importante transporte de

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sedimentos. Esses sedimentos possuem uma fonte primeira que provém principalmente

da erosão de praias, falésias e depósitos de afloramentos litorâneos, e tem como fonte

segunda os aportes de rios (SALES e PEULVAST, 2006).

A faixa de praia, presente nas proximidades da área da pesquisa, ou seja, a praia

da Barra do Ceará é bastante frequentada por moradores locais, mas infelizmente não

recebe incentivos públicos relevantes para que o turismo desse local possa se

desenvolver com qualidade. É bastante comum, durante finais de semanas e feriados,

principalmente, um grande contingente de pessoas usarem a faixa de praia como área de

lazer.

Na figura 2, pode-se observar a presença de barracas bem próximas à

desembocadura do Rio Ceará. Locais que são bastante procurados durante os finais de

semana e feriados.

Figura 2: Presença de barracas de praia próximas à desembocadura do Rio Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

As praias de Fortaleza são conhecidas nacionalmente e internacionalmente por

suas belezas paisagísticas naturais, apresentando-se como um forte atrativo turístico,

além de ser opção de lazer e de diversão.

As dunas de Fortaleza, geralmente seguem paralelamente à linha de costa,

formadas por cordões sucessivos, cessadas apenas por pequenas planícies fluviais e

planícies fluviomarinhas. Com a ocorrência de dunas móveis ou semi-fixas e com dunas

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fitoestabilizadas, ou seja, com presença de vegetação (SOUZA, 2009).

A figura 3 representa uma duna em processo de fixação, localizada no bairro de

Sabiaguaba. É possível observar a presença de vegetação característica de ambientes

dunares.

Figura 3: Vegetação pioneira psamófila, no campo de dunas em Sabiaguaba.

Fonte: GOMES 2012.

As dunas do Ceará são bastante conhecidas devido a sua beleza natural que atrai

muitos admiradores, mas essas dunas possuem outras características peculiares. Para

Portz (2008), elas são essenciais na preservação do ambiente costeiro servindo como um

anteparo para o desenvolvimento humano, atuando como um filtro natural e reservatório

de água doce devido à boa capacidade de retenção do lençol freático.

De acordo com a Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, art. 2º,

duna é caracterizada como:

X: duna: unidade geomorfológica de constituição predominantemente arenosa,

com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no

litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta ou não por vegetação;

(p.1).

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A maioria das dunas presentes no Ceará são do tipo fixas, semi-fixas ou móveis.

Elas ocorrem principalmente entre os principais rios do município de Fortaleza, Rio Ceará

e Cocó, que já estão fortemente ocupados e degradados, e o Rio Pacoti que, em relação

aos anteriores, encontra-se preservado.

A duna mais conhecida da área da pesquisa está, atualmente, sofrendo intenso

processo de ocupação irregular por parte, principalmente, de pessoas com baixo poder

aquisitivo. Essa duna é conhecida como Morro de Santiago, uma área bastante

conflituosa, segundo os moradores locais, até mesmo a polícia evita fazer rondas no local

(Figura 4).

Figura 4: Área de duna (Morro de Santiago) ocupada por moradias, com

presença de lixo e entulhos.

Fonte: GOMES 2014.

De acordo com Paula (2008), a área de dunas presentes nas proximidades do Rio

Ceará foi intensamente ocupada, o que levou a alteração na dinâmica natural de

movimentação das dunas móveis.

A ação do vento é um importante agente para a movimentação dos grãos de areia

dunar, exemplo da duna do Morro de Santiago, em que o vento a direciona para a

Avenida José Lima Verde. A saída encontrada pelo poder publico foi a construção de um

muro de contenção para evitar o acúmulo de sedimentos na avenida.

As planícies flúvio-marinhas são compostas pela disposição de sedimentos

argilosos e com grandes concentrações de matéria orgânica. Sua deposição é

proveniente da combinação de água doce e salgada, que resultam em um material escuro

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e lamacento, solo profundo, salino e sem diferenciação nítida de horizontes. São nesses

ambientes em que os manguezais se desenvolvem (SOUZA, 2009).

De acordo com Paula op cit:

Próximo ao estuário do Rio Ceará, a planície flúvio-marinha é composta por

depósitos síltico-argilosos ricos em matéria orgânica. É originada por processos

combinados de agentes fluviais e marinhos. Seus solos são continuamente

afetados pela preamar (p.56).

4.2. CARACTERÍSTICAS HIDROCLIMÁTICOS

O Ceará está inserido em sua maior porção no semiárido do Nordeste brasileiro,

caracterizado por aspectos físico-ambientais que limitam seu potencial produtivo: a)

evaporação elevada; b) variabilidade da pluviometria muito acentuada; c) ocorrência de

períodos de secas; d) predomínio de solos cristalinos e rasos, atrelado ainda em função

de contínua e intensiva agressão humana aos seus ecossistemas (XAVIER, 2001).

Sobre os sistemas atmosféricos que atuam em Fortaleza, Moura (2008) diz que:

...atuam principalmente nas áreas equatoriais de baixa latitude, provocando

habitualmente estabilidade atmosférica no período do inverno e primavera e

causando instabilidade no período sazonal do verão e outono com a ocorrência de

chuvas concentradas no quadrimestre de fevereiro-março-abril-maio – FMAM

(p.132).

De acordo com Souza (2009), o clima tem um papel determinante dentro das

condições ambientais, à proporção que influencia na distribuição e na disponibilidade dos

recursos hídricos e no controle dos processos exógenos.

Como mencionado anteriormente, as condições climáticas têm influências diretas

sobre o regime e disponibilidade de recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

Nesse sentido, Fortaleza beneficia-se por apresentar índices de precipitações

superiores a 1.200 mm/ano. O maior volume de chuvas proporciona maior

disponibilidade hídrica, justificando melhores condições de reservas hídricas, se

comparadas às regiões semiáridas do Ceará (p. 39).

Fortaleza possui uma circulação atmosférica regida, principalmente pela Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT), mas possui também outros sistemas de menor escala,

como o Sistema de Vorticidade Ciclônica, e as linhas de instabilidade formadas na costa e

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as brisas marítimas (BRANDÃO, 1995).

A capital cearense é conhecida internacionalmente como a "Terra do Sol", sendo

um dos atrativos turísticos que aquece cada vez mais a economia do Ceará. Geralmente,

durante todo o ano, a temperatura diária consegue manter-se entre 26º C e 28ºC, com

raros casos extremos, podendo chegar até 30ºC ou 31ºC.

De acordo com Souza (2009),

A intensa insolação associada à latitude proporciona temperaturas constantes no

decorrer do ano. Desta feita, as temperaturas médias anuais nas regiões próximas

ao equador estão entre 26º e 28º C (SOUZA, 2009, apud. NIMER, 1972). Segundo

o referido autor, as elevadas temperaturas se apresentam não somente na média

anual, mas sim nas médias mensais, o que justifica os elevados coeficientes

térmicos verificados no município. Assim como ocorre em todo o território brasileiro

situado no hemisfério austral, os meses de junho e julho são geralmente os que

apresentam as menores temperaturas. (p. 40)

Na maior parte do Nordeste setentrional, ocorre em seis meses do ano a

concentração das chuvas, o que representa mais de 90% de precipitação ao longo do

ano. O principal sistema responsável pela quadra chuvosa é proporcionado pela ZCIT,

evidenciando quando há aproximação do hemisfério sul, e retornando ao hemisfério norte

em maio, trazendo como resultado de seu desenvolvimento o declínio do período chuvoso

(BRANDÃO, 1995).

As menores médias de temperatura na capital cearense ocorrem nos meses de

junho e agosto, com uma média de 25ºC a 26ºC. Já as maiores são observadas entre

novembro e janeiro, chegando a 27ºC e 30ºC (SOUZA, 2009).

Sobre a evaporação Souza, op cit. diz:

A evaporação ocorre de forma inversamente proporcional à precipitação e em

consonância com a maior radiação solar. Durante a máxima atuação da ZCIT

(período mais chuvoso), nos meses de março, abril e maio, observam-se os

menores índices de evaporação. As máximas ocorrem durante o estio, nos meses

de setembro, outubro e novembro, o que contribui para o saldo negativo no

balanço hídrico anual (p.41).

A quadra chuvosa de Fortaleza acaba trazendo à tona muitos problemas de ordem

socioambientais, como desabamentos de casas, localizadas, geralmente, em áreas de

risco, bem como inundações, doenças e, em casos extremos, afogamentos. Além da falta

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de infraestrutura em ruas e avenidas que altera a rotina da mobilidade urbana.

As precipitações da capital cearense apresentam irregulares, ocorrendo não

apenas em meses específicos, mas ao longo do ano, tendo em vista que o índice

pluviométrico médio não é atingido e há aqueles em que precipitações e evaporações

excedem a média histórica (SOUZA, op cit.).

Vale ressaltar ainda que as chuvas no Nordeste, especificamente no Ceará, são

mal distribuídas durante o ano todo, sendo geralmente torrenciais e rápidas. Devido a

essa ação, em algumas regiões do Nordeste brasileiro, a chuva pode causar lixiviação do

solo, porém essas chuvas esporádicas trazem o rápido florescimento da vegetação.

De modo geral, bacia hidrográfica é definida como sendo um local que é alimentada

ou banhada por rios e lençóis subterrâneos e que, de modo direto ou indireto, pode

influenciar nos ambientes costeiros, a exemplo os manguezais. As bacias facilitam o

transporte dos sedimentos das bacias de drenagem para o litoral e, consequentemente,

para os manguezais (ALVES, 2001, et al.)

O sistema hidrológico do Rio Ceará é dependente das precipitações, estas dando

contribuição para a rede de drenagem, composta, sobretudo, por cursos d'água

temporários, além de o sistema geológico ajudar no adensamento da rede. A baixa

permeabilidade das rochas contribui para o escoamento superficial da água (CEARÁ,

2005).

Com isso Paula (2008), afirma que:

A bacia do Rio Ceará é caracterizada [...] por chuvas escassas e irregulares no

tempo e no espaço, como é característico de grande parte das pequenas bacias

do semiárido brasileiro, e ainda como característica, possui grande parte dos seus

terrenos no embasamento cristalino com baixa permeabilidade, limitando o

potencial de uso de águas subterrâneas nesta unidade às zonas de fraturas (p.

68).

De acordo com Ceará (2005), a área de manguezal do Rio Ceará tem 874,01 ha, e,

aproximadamente, 14km, com escoamento predominantemente meândrico, apresentando

pequenas gamboas. O seu principal afluente é o Rio Maranguapinho.

Para Paula op.cit, os tributários do Rio Ceará possuem um padrão dendrítico e por

serem intermitentes não possuem grande expressão hídrica.

Segundo dados de BRASIL (1981), as bacias conjugadas do Rio Ceará têm um

volume médio de 430.000m³/km²/ano de água, tanto para o escoamento como para a

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recarga de aquíferos, sendo que, durante a quadra chuvosa, esse volume pode duplicar

e, no período de estiagem, pode chegar em torno a 188.500m³/km²/ano

Ceará (2005) destaca a importância das precipitações dentro do regime fluvial como

vital para a dinâmica do rio:

Como em todas as bacias hidrográficas do Estado do Ceará, o rio Ceará também

apresenta uma variação de aporte de água doce significativa decorrente de seu

regime intermitente, em consonância com o regime pluvial, fato que resulta na

variação das suas características físico-químicas e bacteriológicas. Associado a

entrada de água salgada no sistema, decorrente das oscilações das marés, as

áreas estuarinas, encontram se sob intensa dinâmica hídrica (p. 153).

Ceará (2005) ressalta ainda que :

É importante destacar, que a influência da sazonalidade das precipitações no

regime fluvial são de vital importância na dinâmica da ciclagem da água no

sistema estuarino. Como em todas as bacias hidrográficas do Estado do Ceará, o

rio Ceará também apresenta uma variação de aporte de água doce significativa

decorrente de seu regime intermitente, em consonância com o regime pluvial, fato

que resulta na variação das suas características físico-químicas e bacteriológicas.

Associado a entrada de água salgada no sistema, decorrente das oscilações das

marés, as áreas estuarinas, encontram-se sob intensa dinâmica hídrica (p. 153).

Em partes do prolongamento da Bacia do Rio Ceará os recursos hídricos são

usados para atividades agrícolas, como irrigação e dessedentação de animais, sendo, até

mesmo, utilizados para o abastecimento em algumas comunidades proximidades aos

municípios de Maranguape, de Caucaia e de Fortaleza (PAULA, 2008).

Em alguns locais do trajeto, desde o local de nascimento, na Serra de Maranguape,

até a sua desembocadura, a Bacia Hidrográfica do Rio Ceará sofre com fontes poluentes

(lixo e efluentes domésticos e industriais) e ocupações irregulares, além do

desmatamento da mata ciliar. Assim, tais fatores contribuem fortemente para a

degradação, sendo necessário realizar constantemente a limpeza de suas margens, bem

como haver uma maior participação dos órgãos competentes na fiscalização.

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4.3. CARACTERÍSTICAS PEDOLÓGICAS E VEGETACIONAL

De acordo com Souza (2009), os tipos de solos presentes na capital cearense têm

variações espaciais, onde os dominantes são as seguintes classes: neossolos

quartzarênicos, argissolos vermelho-amarelo, neossolos flúvicos e gleissolos.

Os neossolos quartzarênicos, na planície litorânea, estão integrados às dunas e

faixa praial em que ocorreu processo de colonização vegetal. São recobertos pelo

complexo vegetacional litorâneo pioneiro. Já nos tabuleiros pré-litorâneos, estão os

argissolos vermelho-amarelos, comportando espécies do complexo vegetacional, como a

vegetação de dunas (SOUZA, 2009).

Os argisolos vermelho-amarelos distróficos se distribuem de forma variada, com

ocorrência nos tabuleiros pré-litorâneos, nos relevos planos a suavemente ondulados da

faixa de transição com a Depressão Sertaneja e na base de Morros Residuais. Os

neossolos flúvicos foram formados a partir da sedimentação fluvial e têm ocorrência,

principalmente, em rios de maior fluxo (SOUZA, op.cit.).

Quanto à ocorrência de solos gleissolos sálicos, Souza (op.cit.):

[...] ocorrem em áreas que apresentam altas taxas de salinidade, nas zonas

litorâneas e pré-litorâneas, principalmente nas planícies fluviomarinha dos

principais rios. Verifica-se também sua ocorrência nas margens de lagoas situadas

mais próximas ao litoral. É nesses solos que se desenvolvem os manguezais

(p.44).

A figura 5 mostra o solo de manguezal do Rio Ceará. Os solos desses

ecossistemas caracterizam-se principalmente por ser profundos, argilosos, com alto teor

de salinidade e presença de um horizonte Glei.

No solo de manguezal é possível observar a forte presença de galerias feitas por

crustáceos, que as utilizam como moradia. Essas galerias são importantes para a areação

do solo, pois este é pobre em oxigênio.

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Figura 5: Solo de manguezal presente no Rio Ceará.

Fonte: GOMES, 2014.

O tipo de vegetação presente na superfície de pós-praia é a vegetação pioneira

pasmófila, localizada após a zona de arrebentação das ondas, podendo ser observada,

também, em encostas e topos de dunas móveis ou semi-fixas (CEARÁ, 2005).

A vegetação de áreas de dunas de Fortaleza foi quase que totalmente retirada de

seu ambiente natural, sendo classificada como subperenifolia. Sua quase extinção foi

devida, principalmente, ao desmatamento e ao desmonte de dunas, perdendo, pois,

grande parte de seu potencial paisagístico, além de possuir grande importância para a

contribuição da estabilidade do relevo e para a biodiversidade (CEARÁ, op. cit.).

Quanto à vegetação de manguezais, pode-se afirmar que possuem características

peculiares necessárias para seu o desenvolvimento. Esse tipo de vegetação possui um

mecanismo de absorção de altos teores de salinidade, cujo tipo de espécies de mangue

podem variar de acordo com ambiente, estando dependente, principalmente, do fluxo de

maré e do aporte de nutrientes do rio.

No manguezal do Rio Ceará existem cinco espécies de mangue, de acordo com

Ceará (2005), são elas:

...Rhizophora mangle (mangue vermelho), Laguncularia racemosa (mangue

branco), Avicennia germinans (mangue preto), Avicennia schaueriana (mangue

preto) e Conocarpus erectus (mangue botão). Estas espécies de porte arbóreo

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podem estar distribuídas de forma consorciada ou concentrar-se de forma isolada

em alguns trechos da zona estuarina (p.161).

Infelizmente a vegetação de mangue e de dunas foi bastante suprimida, em

decorrência, principalmente, da intervenção humana. Assim, são áreas que demandam

tempo para recuperar-se naturalmente. A madeira retirada desses ambientes e, em

especial, do mangue do Rio Ceará é usada para construção de casas, pequenas

embarcações e cercas, além de ser utilizada como fonte de energia (queima).

4.4. HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DE FORTALEZA E ÁREA DE MANGUEZAL DO RIO CEARÁ E ASPECTOS SOCIAIS

É de extrema importância entender como se deu a ocupação da área de estudo,

além de entender a atual conjuntura social que está inserida. A princípio foi realizado um

resumo de como foi dada a ocupação da área litorânea de Fortaleza e, posteriormente, da

área de mangue do Vila Velha, nas proximidades do Rio Ceará.

A importância de entender a ocupação da área de estudo está voltada,

principalmente, por ter relação direta com os impactos ambientais presentes no local.

Uma vez que grande parte dessa ocupação é irregular e de risco, trazendo enormes

modificações que alteram significativamente a paisagem e a dinâmica natural do meio

ambiente, contribuindo também para a intensificação dos conflitos sociais.

O litoral de Fortaleza passou a ser ocupado de modo mais intenso a partir da

década de 1940, em decorrência das grandes obras que começaram a ser instaladas na

orla cearense.

Sobre a ocupação do Ceará SILVA (2005) diz que:

O processo de ocupação inicial do Ceará diferencia-se do modelo colonial. Se

estas cidades constituíram-se a partir de um sistema urbano centrado num porto e

que visava a exportação e importação de produtos para a Europa, a criação de

cidades no Ceará ligava-se à produção do charque (carne seca) para o mercado

interno (Salvador e Recife) (p.270).

Ainda quanto à ocupação da zona costeira do Ceará Oliveira (2010) completa:

Ao longo dos séculos XIX e XX as áreas costeiras tiveram uma dinamização das

atividades socioeconômicas, levando a uma redefinição do espaço geográfico e

maior fragmentação do território, observa-se a organização de inúmeros

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municípios e um aumento significativo no número de indivíduos que ocupam as

áreas costeiras. Não apenas os limites territoriais foram alterados, mas

substancialmente o modelo de uso e ocupação desses espaços, onde a

exploração da pesca, extrativismo vegetal e a agricultura de subsistência forma

rapidamente substituídos pelo intenso e desordenado uso urbano-industrial (p.

02).

Atualmente o processo de ocupação ocorre dentro de outra configuração política e

social divergente da ocorrida no passado. Pode-se afirmar que, com o passar dos anos,

os avanços tecnológicos e a instalação de indústrias proporcionou a construção de

moradias para pessoas que trabalhavam nas fábricas, facilitando o trajeto casa/emprego,

entretanto estruturou-se sem a infraestrutura adequada.

Gomes (2015) alia o processo de urbanização em Fortaleza com as alterações em

ambientes naturais, afirmando que:

O processo de expansão urbana associado com o crescimento populacional e o

desenvolvimento de Fortaleza e, posteriormente do município de Caucaia, fez com

que os ambientes naturais sofressem uma forte intervenção. Começando pela

implantação do Porto do Mucuripe a leste e com a construção de espigões ao

longo do litoral oeste de Fortaleza. Aliando-se a isso, o crescimento populacional

da Grande Barra do Ceará e a crescente ocupação das dunas e manguezais nas

proximidades do estuário do Rio Ceará (p. 37).

Inicialmente o litoral cearense era ocupado, principalmente, por casas de

pescadores que tiravam do mar seu próprio sustento, mas hoje isso mudou bastante. Os

prédios tomam conta da paisagem litorânea, além de casas de show, calçadão na orla,

feirinhas livres, restaurantes e mercantis, que ocupam grande parte do litoral (GOMES,

2012).

A figura 6 mostra a intensa ocupação da orla de Fortaleza, os prédios são

predominantes na paisagem costeira, alterando significativamente a paisagem natural

do lugar. A grande maioria das edificações são prédios residenciais e comerciais.

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Figura 6: Ocupação da orla de Fortaleza.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Na capital cearense a ocupação de áreas periféricas foi fruto inicialmente da forma

da expansão da malha urbana, principalmente no setor oeste da cidade, característico por

possuir os bairros mais populares de Fortaleza (BARBOSA, 2009).

Conforme Souza (2006), embora Fortaleza contasse com algumas diretrizes

urbanas através das primeiras plantas e de planos diretores, criados, principalmente, na

década de 1960, a capital cearense cresceu de forma desordenada, sem planejamento

urbano adequado.

Pode-se então entender que as ocupações irregulares e de risco se “apoiaram” na

falta de infraestrutura e de planejamento adequados para seu desenvolvimento, e hoje

está cada vez mais presente no dia a dia da cidade de Fortaleza. Esse tipo de ocupação

favorece o surgimento de moradias impróprias, principalmente em áreas periféricas de

Fortaleza (comunidades ou favelas).

Para Barbosa (2009), o surgimento de comunidades carentes se deu,

principalmente, a oeste, atrelado com o surgimento das indústrias. Na medida em que

ocorria, as classes mais abastadas se direcionavam para leste, fato observado no bairro

da Aldeota.

Durante os longos períodos de seca no estado do Ceará, ocorridos principalmente

no século passado, grande contingente de pessoas foram deslocadas (migrantes) para a

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capital, Fortaleza, em busca de água, alimentação, moradia e emprego. Com isso Costa

(2001) afirma:

No século passado, os migrantes, chegando a Fortaleza, alojavam-se sob árvores,

nas praças, no Passeio Público, nas ruas, em terrenos vagos. A administração

pública tentava impor ordem no espaço do migrante da seca, construindo

“abarracamentos”, distribuindo alimentos, oferecendo assistência médica e em

troca, exigia desta população o trabalho para realização de obras públicas (p.102).

Com isso percebe-se que a cidade de Fortaleza cresceu em função do grande fluxo

de migração que foi em busca de áreas ainda não incorporadas à cidade, espaços esses

localizados nas periferias e de baixo valor econômico. Tal ocorrência favoreceu a

mudança na paisagem de Fortaleza.

De acordo com Barbosa (2009), as primeiras comunidades da capital cearense

estruturam-se nas proximidades do centro da cidade ou próximo aos locais de trabalho

dos moradores dessas comunidades, que, nessa época, era geralmente nas indústrias.

De modo generalizado ocupavam espaços públicos ou privados, áreas inadequadas para

moradia. As moradias eram feitas sem obedecer aos códigos legais, com a utilização de

materiais distintos como alvenaria, taipa, papelão e madeiras.

Durante a década de 1970, iniciaram-se as construções dos primeiros conjuntos

habitacionais de Fortaleza, todos localizados nas áreas periféricas da capital. Alguns dos

mais conhecidos: Cidade 2000, José Walter, Conjunto Ceará, Beira Rio, Nova Assunção.

Esses conjuntos foram idealizados pela Companhia de Habitação do Ceará - COHAB

(BARBOSA, 2009, apud, SOUZA, 2006).

Esses conjuntos habitacionais foram projetados como maneira de “distanciar” as

classes menos favorecidas das classes em ascensão, que, à época, se instalavam no

centro da cidade e nas proximidades da orla de Fortaleza. O Conjunto Ceará e o Conjunto

Prefeito José Walter eram um dos mais distantes, muitos trabalhadores que lá moravam

tinham que acordar muito cedo para chegar ao seu local de trabalho, geralmente no

comércio e nas indústrias, localizados no centro da cidade.

A cidade de Fortaleza foi uma das capitais nordestinas que mais cresceu no último

século, devido, principalmente, ao seu grande potencial turístico. Porém, nem toda a

capital seguiu um plano de urbanização, em muitos locais a ocupação ocorreu

desordenadamente, sem o mínimo planejamento.

Conforme Barbosa op.cit. o conjunto habitacional do Vila Velha situa-se no oeste

de Fortaleza, com uma importância histórica que vem desde as origens da ocupação

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colonial. Ainda de acordo com a autora, nas margens do Rio Ceará está localizado o

primeiro forte cearense, o “Fortim de São Tiago”. O forte teria sido erguido durante a

chegada de Pero Coelho de Sousa ao Ceará.

A ocupação dos terrenos de salina, que hoje é o Vila Velha, ocorreu inicialmente

pelas comunidades indígenas. Salinas essas que após serem desativadas, na década de

1990, deu lugar a uma intensa ocupação por parte de pessoas sem moradia, derivadas de

outros bairros de Fortaleza (SEMACE, 2005).

A configuração espacial de como se desenhou a ocupação durante a colonização

nas margens do Rio Ceará mudou significativamente o lugar, configuração essa, que até

os dias de hoje ainda se modifica. Atualmente a ocupação se dá de maneira mais intensa

e desigual, acarretando sérios problemas sociais e ambientais.

O Vila Velha possui algumas peculiares que outros bairros da capital cearense não

possuem, como por exemplo, estar inserido dentro de uma APA e ter sido idealizado e

planejado. Mesquita (2010) ressalta:

O Bairro Vela Velha é o quinto mais populoso de Fortaleza, se destaca dos demais

bairros da cidade não apenas pela densidade populacional, mas também por

possuir parte de seus domínios inseridos em uma Área de Proteção Ambiental. É

nesta porção do bairro onde o uso e as ocupações indevidas ajudam a compor a

situação de vulnerabilidade socioambiental (p.40).

De acordo com SEMACE op.cit,, os primeiros conjuntos do Vila Velha (I e II) foram

edificados no início dos anos 1990, e em 1996 o Vila Velha III, feito por meio do Programa

Casa Melhor, e em 2000, surge o Vila Velha IV, totalizando mais de 1500 moradias.

O Vila Velha IV recebeu em 2003 algumas reformas, sendo construído calçamento

em algumas ruas e obras de drenagem. Dentre os demais conjuntos do Vila Velha esse

foi o que mais se beneficiou com melhoria de infraestrutura. Alguns moradores do Vila

Velha IV situa-se nas proximidades do Rio Ceará e se constituiu em uma área de

ocupação irregular para a moradia (SEMACE, op cit.).

A figura 7 mostra uma das ruas do Vila Velha VI, uma área de ocupação irregular.

As moradias são em sua grande maioria casas simples, não existe calçamento nem

saneamento básico, mas observa-se a presença de postes de energia elétrica.

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Figura 7: Parte da rua do Vila Velha IV.

Fonte: SEMACE, 2005.

O Vila Velha I, II e III foram construídas em regime de mutirão. Já a quarta etapa, a

participação da população foi restrita, a construção foi realizada por uma empresa privada

(Execução Engenharia), com acompanhamento da Secretaria de Infraestrutura do Estado

(SEINFRA) e lideranças comunitárias (BARBOSA, 2009).

Silva (2003) ressalta que o terreno em que foi erguido o Conjunto Habitacional Vila

Velha foi obtido através do pagamento de uma dívida de estado, o que viabilizou a

construção do conjunto naquele local para as pessoas que não tinham acesso à moradia.

A construção do conjunto habitacional em parte das antigas salinas (Figura 8),

contribuiu para o avanço das moradias e para o processo de favelização nessas áreas,

que estão em sua grande maioria localizadas em áreas de riscos. Porém a ocupação

ainda é vista como uma continuação das etapas do conjunto habitacional, tendo como

denominação Vila Velha II, III e IV (BARBOSA, 2009).

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Figura 8: Pessoas sentadas nos montes de sal no início da década de 1990.

Fonte: BARBOSA, 2009.

Na figura apresentada acima podemos observar os montes de sal da antiga salina

que também servia de lazer para a comunidade local. Na altura dos montes de sal dava

para ter uma visão panorâmica da vegetação de mangue, e do próprio Rio Ceará, além de

poder apreciar o lindo por do sol (BARBOSA, 2009).

Com a construção do conjunto habitacional ocorreu também a expansão das

ocupações irregulares, principalmente na área de manguezal e nas salinas já

desativadas. Desse modo, Mesquita (2010) afirma que:

Na medida em que os conjuntos foram construídos diversas construções

irregulares surgiram nas áreas de manguezal e salinas em um curto intervalo de

tempo, pouco mais de 10 anos, 1065 famílias, de acordo com a Defesa Civil, se

estabelecem na porção do bairro que está sujeita a inundações no período

chuvoso, configurando então uma ocupação de risco (p, 42).

Em ocupações em área de risco não é verificada a presença de infraestruturas

básicas de saneamento, assim o esgoto é geralmente despejado nas ruas, a céu aberto,

tendo como destino final o Rio Ceará. Os córregos canalizados (Figura 9) que existem em

algumas ruas do bairro apresentam uma enorme quantidade de lixo que são fonte de

doenças, além de contribuírem para a poluição e degradação da zona estuarina

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(MESQUITA, 2010).

Figura 9: Canal que cruza as ruas do Conjunto Habitacional Vila Velha.

Fonte: MESQUITA, 2009.

Segundo o Censo Demográfico de 2010, a população de Fortaleza alcançou 2,45

milhões de habitantes. Sabe-se que a capital do Ceará é a segunda maior do Nordeste

em contingente populacional, ficando atrás somente de Salvador. Nos últimos anos o

índice demográfico de Fortaleza cresceu mais que outras capitais nordestinas, a exemplo

de Recife e Salvador (BUARQUE et al, 2015, p 03).

A área do Conjunto Habitacional do Vila Velha é hoje um ambiente com fortes

conflitos sociais, principalmente no que diz respeito à criminalidade, com ocorrência de

roubos e furtos.

Na Regional I, existe a 3º Companhia do 5º Batalhão de Polícia Militar (3ª Cia do 5º

BPM), nessa área existem ainda seis distritos policiais (DP). O distrito que cobre o Vila

Velha é o 17º DP. Essa mesma SER conta ainda com a sede da Divisão Antisequestro

(DAS) (Disponível em: http://www.uece.br/covio/dmdocuments/regional_I.pdf. Acesso:

29/03/2016).

Apesar da existência de alguns equipamentos de segurança pública na, a

criminalidade, infelizmente, ainda é muito presente no cotidiano dos moradores. Fato que

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atribui ao bairro Vila Velha ser conhecido como um dos mais violentos, sobretudo por

conta dos altos índices de criminalidades registrados.

Com relação à cultura e ao lazer da área de estudo, é importante citar o Centro

Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte, conhecido como CUCA, situado na Barra do

Ceará desde o ano de 2009. No local existe o Serviço Social da Indústria (SESI) e uma

sede do Serviço Social do Comércio (SESC), além de polos e praças de lazer (Disponível

em: http://www.uece.br/covio/dmdocuments/regional_I.pdf. Acesso: 29/03/2016).

A figura 10 apresenta o momento de vivência das pessoas participantes do passeio

realizado pelo SESC, no Rio Ceará, tendo como parada um banco de areia dentro do rio.

Figura 10: Parada durante o passeio “Conversas Flutuantes”, no Rio Ceará, realizado pelo SESC, e com apoio da Associação de barqueiros da Barra do Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

Esses equipamentos de espaço de cultura e de lazer são altamente importantes para

a diminuição da criminalidade, além de inserir jovens no mercado de trabalho e educação,

oferecendo, ainda, capacitação profissional. O CUCA oferece diversos cursos, além de

dança, música e a prática de esportes.

Quanto à economia no bairro Vila Velha é possível destacar o centro comercial e

outros serviços. Os supermercados, como o Super Lagoa e Super do Povo, atuam na

absorção de mão-de-obra local, embora não seja a principal fonte de emprego. Outra

fonte que merece destaque no setor são as pequenas atividades e o trabalho anônimo, a

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citar: produção doméstica de calçados, oficinas, vigilantes particulares, bares e

restaurantes (SEMACE, 2005).

Vale ressaltar ainda que muitos dos moradores que vivem próximo ao Rio Ceará

buscam na pesca auxílio para o sustento família, outros usam as embarcações como

meio de transporte de pessoas de uma margem a outra do rio, principalmente aos finais

de semana.

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5. ECOFISIOLOGIA DE MANGUEZAIS

5.1. DISTRIBUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS MANGUEZAIS NO BRASIL

Conforme Lemos (2011), de acordo com algumas pesquisas, a distribuição das

espécies de mangue foi iniciada em regiões Indo-Pacífico, local onde há uma grande

variedade vegetacional. A migração dessas espécies para outras regiões ocorreu há

milhares de anos, principalmente pelas correntes marinhas atuantes, via transporte de

sementes germinadas, os propágulos. Esse fato ocorreu quando os continentes estavam

em uma formação diferente da atual.

Desse modo, Miranda e Nóbrega (1990) expressam sobre o desenvolvimento dos

manguezais:

...se desenvolvem em locais que apresentam temperaturas quentes e elevadas

taxas de umidade. Como ecossistema costeiro, os manguezais ocorrem em locais

onde existe água salobra, formada pela mistura de água doce dos rios com a água

salgada que penetra no continente através das marés. Os limites das marés altas

geralmente determinam os limites dos manguezais. A presença de solos aluviais

onde predominam os lodos finos e ricos em matéria orgânica é importante para o

melhor desenvolvimento da vegetação de mangue. Esse tipo de solo é formado

pela decomposição do material em suspensão proveniente da drenagem terrestre,

das descargas fluviais e das correntes de marés. A morfologia costeira também

pode determinar a ocorrência dos manguezais. As áreas litorâneas planas e

calmas, protegidas do impacto das ondas, oferecem boas condições para o

desenvolvimento dos mangues. (p. 9).

Para Fernandes (2012), os manguezais chegam a cobrir uma área de mais ou

menos 25.000 km² em toda linha de costa brasileira, sendo Rio Grande do Sul o único

estado que não apresenta esse ecossistema.

Ainda quanto à distribuição do ecossistema manguezal no território brasileiro, Alves

(2008) disserta que:

Em geral, as áreas mais extensas de manguezais se encontram no território do

Amapá e estados do Pará e Maranhão, associados à desembocadura do rio

Amazonas. Esta região contém todos os elementos necessários para permitir um

bom desenvolvimento do manguezal: temperaturas elevadas, substratos

aluvionais, ambientes protegidos das ondas do mar, presença de águas ricas em

nutrientes, água salgada do mar e ainda uma amplitude de maré na ordem de 4,4

m (p, 17).

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De acordo com Alves (2008), Cintrón & Shaeffer-Novelli (1981) apresentaram uma

nova distribuição da divisão de manguezais no território brasileiro, feita em sete trechos

que tinham como propósito realizar uma nova ordenação dos mangues no Brasil. Segue

abaixo:

Litoral Guianense;

Golfão Amazônico;

Litoral de Ponta Coruça à Ponta dos Mangues Secos;

Litoral de Ponta dos Mangues Secos ao Cabo Calcanhar;

Litoral do Cabo Calcanhar ao Recôncavo Baiano;

Litoral Oriental;

Costa Cristalina.

Quanto ao tipo de vegetação em mangues, Parente (2007) aponta que:

Os mangues correspondem a um tipo de vegetação arbóreo-arbustiva, que se

desenvolve principalmente nos solos lamosos dos rios tropicais e subtropicais ao

longo da zona de influência das marés, tanto para dentro do estuário, onde as

variações de marés impulsionam as águas salgadas do mar para dentro do

continente através do canal fluvial, como para as laterais dos rios em zonas

sujeitas a inundações ao longo dos estuários. Os manguezais são caracterizados

por uma baixa diversidade de espécies arbóreas resistentes às condições halófilas

das águas estuarinas ou regiões costeiras com influências de águas marinhas. É

um ambiente propício à produção de matéria orgânica, o que garante alimento e

proteção natural para a reprodução de diversas espécies marinhas e estuarinas

(p.7).

A diversidade dos tipos de manguezais está ligada a sua posição biogeográfica,

entretanto vale ressaltar que algumas espécies semelhantes podem ser encontradas em

locais diversos, como as espécies Rhizophora mangle e R. harrisonni, R. mucronata e R.

stylosa, encontradas nas Américas e no sudoeste da Ásia, respectivamente. Alguns dos

principais fatores que determinam a diversidade são: temperatura, regime e amplitude das

marés, fisiografia e topografia do terreno, aspectos físico-químicos dos sedimentos e das

águas, clima, precipitação total e umidade do ar (VANNUCCI, 2002, p. 42).

De acordo com Alves op cit., a influência da maré no ambiente de manguezal é uma

das forças mais importantes para a estrutura e o funcionamento desse eocossistema. As

características mais peculiares dos manguezais são:

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1) Intensidade e frequência da perturbação mecânica causada pela ação da maré;

2) Amplitude vertical da maré, que determina a profundidade de inundações e

extensão vertical da vegetação; 3) Tipo de ciclo de maré que controla frequência e

duração da submergência e emergência; 4) Qualidade da água (p. 26).

Elementos químicos também são essenciais para a formação do ecossistema,

sendo indispensáveis para o melhor funcionamento dentro e fora do sistema. Com isso,

Barbosa et al (2015) aponta que:

As características geoquímicas e mineralógicas dos sedimentos dos manguezais

são herdadas de áreas-fonte, continental e marinha, através do aporte de material

particulado ou iônico trazido pelas correntes. Nos manguezais, sob condições

redutoras, ricas em matéria orgânica e mediadas por reações de sulfato redução

bacterial, ocorre à reorganização química e mineralógica do material primário, com

a consequente geração de novas fases minerais (p. 1089).

Em termos estruturais, a vegetação dos manguezais possui características

peculiares, característica que torna esses ambientes singulares. Dentre as adaptações

estão as raízes aéreas, a dispersão de propágulos (sementes germinadas) pelas

correntes marítimas, o mecanismo de retenção de nutrientes, a resistência aos meios

salinos, a retenção de água e a característica de contribuir no balanço de carbono, bem

como outras atribuições (ALONGI, 2002).

O desenvolvimento da vegetação de mangue está diretamente ligado aos tipos de

solo do manguezal, a Rhizophora mangle, por exemplo, é encontrado em solos lodosos,

enquanto a Laguncularia racemosa em solos arenosos (ALVES, 2008). Os solos de

vegetação em ambientes de manguezais dos tipos gramíneas e arbustivas: “Spartina,

Hibiscus e Acrostichum, além de fanerógamas dos gêneros Salicornia, Chaenopodiaceae,

Sesuviam e criptógamas pertencentes aos grupos Chlorophyceae, Rhodophyceace e

Phaeophyceae” (p.09).

A espécie Rhizophora mangle (mangue vermelho ou verdadeiro) possui raízes

aéreas que partem do tronco em forma de arcos até atingir o solo, permitindo sustentação

em solos pouco consolidados. Pode chegar até 19 metros de altura e possui um diâmetro

médio de 30 centímetros. Sua ocorrência está nas porções de baixas e médias

salinidades dentro da zonação estuarina. (PARENTE, et al, 2005).

Na figura11, é possível observar um mangue vermelho bem desenvolvido às

margens do Rio Ceará, tendo as raízes aéreas bastante perceptíveis.

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Figura11: Rhizophora mangle (mangue vermelho) as margens do Rio Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

Já na espécie Avicennia, as sementes e as plantas não possuem um bom

desenvolvimento em ambientes com solo rochoso ou arenoso. As espécies do tipo

Conocarpus erectus e a Laguncularia racemosa têm um ótimo desenvolvimento em solos

argilosos. A Conocarpus não consegue se desenvolver em ambientes com altos índices

de salinidade. Em contrapartida, em locais com água doce facilmente pode ser visto,

sobretudo em terrenos da linha de preamar e em barrancos (ALVES, 2008).

Dessa maneira, é possível perceber os tipos de solos presente no ambiente de

manguezal, assim a presença de determinado solo pode favorecer ou limitar o

desenvolvimento de algumas espécies.

Dentro do ecossistema manguezal existe a presença de outros ambientes, que

também possuem fauna e flora, apesar de ser em menor proporção, é a zona de apicum.

Alves op cit. o caracteriza como:

Apicum, salgado, ecótono, zona de transição, areal, etc. são denominações

utilizadas para designar uma zona geralmente arenosa, ensolarada, desprovida de

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vegetação ou abrigando uma vegetação herbácea, aparentemente, também

desprovida de fauna, ou seja, praticamente um deserto, apesar de estar cercada

por um ecossistema pululante de vida – o manguezal (p. 37).

5.2. BIODIVERSIDADE DOS MANGUEZAIS: COMPONENTES FLORÍSTICOS E

FAUNÍSTICOS

O ecossistema manguezal é um ambiente bastante rico e possui uma quantidade

significativa de espécies faunísticas e florísticas, embora com pouca diversificação em

relação a outros ecossistemas, mas, ainda assim, possui uma dinâmica muito peculiar. É

considerado um ambiente bastante frágil e muito complexo.

Quanto aos limites verticais dos manguezais, Russo (2013) aponta que:

...são estabelecidos pelo nível médio das preamares de quadratura e pelo nível

médio das preamares de sizígia. Dentro de uma abordagem geral, o ecossistema

do mangue se comparado a outros Biomas tropicais do globo terrestre, apresenta

um número relativamente reduzindo de espécies fitogeográficas. Entre as

espécies dominantes de porte arbóreo, merece destaque: a Rhizophora mangle

(mangue vermelho); a Laguncularia racemosa (mangue branco) e a Avicennia

schaueriana (mangue siriúba) (p.58).

Com isso, os locais onde os manguezais se desenvolvem são áreas

constantemente submetidas a inundações, além de possuírem baixa quantidade de

oxigênio no solo e elevados índices de salinidade, circunstância que faz com que o

ambiente crie mecanismos de adaptações (morfologias e fisiologias específicas) para

sobrevivência no meio.

Sobre essas adaptações Alves (2008) aponta algumas como características

principais:

Raízes escoras ou rizóforos: são encontrados no mangue vermelho (Rhizophora

mangle). Originam-se no caule principal em até mais ou menos três metros de

altura do solo. Formam arcos até o chão, permitindo a sustentação ereta da planta

num sedimento lodoso, geralmente instável; Raízes respiratória e aéreas: esse

tipo de adaptação surgiu devido à própria natureza do solo, que propicia condições

de pouca aeração, por se constituir de lama frouxa, escura e rica em bactérias,

sendo sede de ativos processos de decomposição. A função principal dessas

raízes é a ventilação da árvore inteira e, especialmente, das raízes subterrâneas;

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Tolerância a altas concentrações salinas: o efeito principal a longo prazo da alta

salinidade é que ela promove uma acumulação excessiva de íons. Uma das

maneiras pela qual as halófitas (plantas que ocorrem em ambientes de alta

salinidade) se adaptam e conseguem um funcionamento metabólico normal é

através da expulsão dos íons (p. 48)

Figura 12: Mangue vermelho e suas raízes escoras, adaptadas para sua sustentação.

Fonte: Elaborada pela autora, 2015.

Mesmo o manguezal tendo uma elevada variação de salinidade, muitas espécies

animais e de vegetacionais conseguem se desenvolver em grande quantidade. Miranda e

Nóbrega (1990) diz:

O que caracteriza a fauna dos manguezais, são os crustáceos decápodes,

principalmente o caranguejo-uçá, o gaiamum, o aratu, os siris, etc..[...]. Esses

animais fragmentam as folhas que caem das árvores facilitando sua utilização por

parte de outros organismos menores. Servem ainda de alimento para o homem,

diversos peixes e aves. Dessa forma desempenham um importante papel na

manutenção da dinâmica do manguezal (p.12).

No entanto, não só os crustáceos integram as florestas de mangue. De acordo com

Russo (2013), existe uma grande variedade de moluscos, aves, répteis, anfíbios, insetos,

mamíferos, anelídeos, nematoides, platelmintos e peixes que habitam os sedimentos do

manguezal. Essas espécies são encontradas em buracos escavados na lama, nas

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árvores ou na água contribuindo para a reposição do ciclo de vida e para a dinâmica

natural desse ecossistema.

Parente et al (2005), afirma que a distribuição da fauna dos manguezais é originada,

principalmente, dos ambientes marinhos e terrestres adjacentes:

A distribuição é composta principalmente de elementos de origem terrestre como

os insetos, aves e mamíferos que ocorrem nas copas das árvores acima da linha

d'água e em áreas que não sofrem influências das marés. De maneira geral, estas

espécies não apresentam adaptações específicas a este ecossistema, porém,

muitas vezes, usufruem-no para alimentação e às vezes para reprodução. Em

troca, essa fauna contribui com o insumo de nutrientes através de suas fezes e

com a polinização (p. 15).

Na figura 13 é possível observar um Aratu encontrado no substrato lodoso do

manguezal do Rio Ceará, no município de Caucaia, durante a maré baixa.

Figura 13: Um Aratu encontrado no substrato do manguezal do Rio Ceará.

Fonte: Elaborada pela autora, 2015.

Os caranguejos possuem grande importância dentro do ecossistema manguezal,

pois, além de servirem como fonte de alimento para homens e animais, contribuem para a

distribuição de nutrientes e oxigênio dentro do mangue. Esse processo ocorre quando os

caranguejos reviram a lama do substrato, trazendo e levando para superfície os nutrientes

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e o oxigênio essenciais para o desenvolvimento do solo (ALVES, 2008).

Quanto à relação caranguejo x manguezal, Vannucci (2002), diz que:

O papel dos caranguejos na produção de partículas de detritos de menor tamanho

não pode ser superestimado. A maior parte do material por eles reduzido a

fragmentos menores na superfície do solo é transportada para dentro de suas

galerias, ficando exposto ao ataque de fungos e bactérias. As fezes dos animais

em geral são misturadas com a camada superior do solo e contribuem de modo

significativo para fazer do lodo um bom meio de cultura, naturalmente úmido,

facilitando assim a rápida degradação e reciclagem de nutrientes. Contudo, em

muitos locais os solos do manguezal são lavados fisicamente de modo

permanente pelas marés e pela correnteza dos rios; desta forma, o húmus e a

camada superficial do solo não se acumulam em todos os lugares por igual (p.

72).

Ainda sobre a importância da atividade exercida pelos caranguejos em áreas de

manguezais Alves op cit. complementa:

Ao revolver constantemente o lodo, durante a abertura das galerias que forma as

tocas, a Uça, bem como outros animais escavadores, está enriquecendo a

superfície com nutrientes retiradas das camadas mais inferiores da vasa,

desempenhando uma função vital na ecologia do manguezal. Os nutrientes são

carreados pela ação da água da chuva para dentro do manguezal, contribuindo na

manutenção do equilíbrio orgânico/mineral para que o sistema possa continuar

com suas funções, sem que haja prejuízo energético na produtividade do

ecossistema (p, 39).

O Ceará é um dos estados que mais consome caranguejo no Nordeste e em várias

barracas de praias é considerado o prato principal. A época do defeso do caranguejo

ocorre entre os meses de janeiro, fevereiro e março, período em que ocorre a reprodução

desses animais e que sua venda é proibida.

A carcinicultura é outra atividade realizada em áreas de mangues, concentrando-

se, principalmente, na região Nordeste do Brasil. Esta prática é bastante lucrativa, porém

causa muitos danos aos manguezais. Dentre as mais variadas intervenções para

implementação das fazendas de camarão, a retirada da vegetação nativa para a

construção os tanques é a mais latente, tendo em vista que é necessário, em média, uma

área entre 1 e 2 hectares. Esse processo, em contrapartida, modifica os fluxos

hidrodinâmicos e sedimentológicos do ecossistema manguezal.

A pesca no Rio Ceará é feita de modo artesanal, (figura 14) tendo como principal

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objetivo a subsistência familiar dos pescadores locais.

Figura 14: Pesca artesanal realizada no Rio Ceará.

Fonte: Elaborada pela autora, 2015.

Os peixes, os caranguejos e os camarões não são as únicas espécies que

habitam o manguezal, existem muitos insetos que também são encontrados no mangue,

como: marimbondos, borboletas, lagartas, libélulas e abelhas. Porém, são as mutucas e

os maruins que mais são sentidos (ALVES, 2008), principalmente pelos catadores de

caranguejo, quando precisam se embrenhar no manguezal.

As aves presentes no mangue também contribuem para a dinâmica natural do

ambiente costeiro, principalmente na transferência de matéria e energia do ecossistema

aquático para o terrestre, além de atuarem no controle biológico. Vale ainda ressaltar que

muitas aves migratórias percorrem vários países e encontram no manguezal o local

perfeito para descanso durante o percurso de viagem (FERNANDES, 2012).

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Figura 15: Uma garça descansa na margem do Rio Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

O ecossistema manguezal possui um vasto número de habitats que favorecem a

permanência de muitas espécies que buscam abrigo e moradia, como as observadas em

troncos e raízes das árvores, a exemplo das ostras, cracas (Figura 16) e mexilhões

(Alves, 2008).

Figura 16: A presença de cracas nas raízes da Rhizophora mangle, no mangue do

Rio Ceará.

Fonte: Elaborada pela autora, 2015.

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5.3. A IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DOS MANGUEZAIS

As áreas de mangue costumam ser vistas de três maneiras. Para alguns, é visto

como um local de proliferação de mosquitos, com mau cheiro; para outros, é local propício

para a especulação imobiliária, e há ainda os que consideram o mangue como um local

favorável para conhecimento científico, área de abrigo e reprodução para muitas

espécies, e de grande importância ecológica (ALVES, 2008).

Infelizmente, o pensamento de que é apenas local de foco de exploração ainda é

forte na sociedade moderna, tendo em vista que os mangues ainda não são reconhecidos

como ambientes importantes para todos. Em síntese, é um local onde a interação homem

x natureza precisa ser retomada.

Os manguezais possuem importância muito relevante para a sociedade e para o

equilíbrio ambiental costeiro. Lemos (2011) destaca outros tipos de usos dos recursos dos

mangues:

Além da pesca e da caça de espécies da variada fauna dos manguezais, são

vários os registros da utilização de sua mata na forma de carvão e lenha, na

construção civil (madeira, barro), nas indústrias: têxtil (fio de viscose e corante);

farmacológica (drogas e cosméticos); de papel (cigarros e jornais) e de couro

(tanino para curtume) (p.58).

No entanto, é necessário levar em consideração que os usos dos recursos naturais

disponíveis no manguezal devem ser realizados de modo responsável e sustentável, com

o objetivo de não impactar o meio ambiente e de respeitar a capacidade de recuperação

natural.

Grasso (1995) afirma que os manguezais são indispensáveis para a população

ribeirinha, pois desses ambientes é retirada boa parte das proteínas consumidas, sendo

essenciais para a subsistência, além de contribuir na renda familiar. Desse modo, Grasso

(1995) conclui dizendo que os recursos devem utilizados de modo racional e sustentável,

e que o ser humano deve procurar entender as funcionalidades desse ambiente.

Fernandes (2012) aponta outros tipos de importância para o ecossistema

manguezal e reforça os pontos abordados anteriormente, são eles:

1) Área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação para espécies

marinhas, estuarinas, límnicas e terrígenas, incluindo peixes, crustáceos,

moluscos, aves e mamíferos; 2) Área de proteção da zona costeira contra

enchentes e erosão; 3) Fonte de matéria orgânica dissolvida e particulada para as

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áreas costeiras adjacentes; 4) Manutenção da biodiversidade costeira; 5)

Absorção e neutralização de produtos químicos, incluindo metais pesados e outros

poluentes, prejudiciais aos organismos; 6) Fonte de alimento e renda para as

comunidades que subsistem ou trabalham em áreas próximas aos manguezais; 7)

Área de recreação e lazer de alto valor paisagístico; 8) Formação da base da

cadeia trófica dos ecossistemas costeiros (p. 12).

Desse modo, os manguezais são um grande aliado na proteção das regiões

costeiras, pois recebem sedimentos de rios e atuam na força das marés, além de serem

produtores e exportadores de biomassa para o estuário e ambiente marinho costeiro,

favorecendo o estoque pesqueiro (ALVES, 2008).

5.4. DEGRADAÇÃO DOS MANGUEZAIS

Infelizmente a degradação nessas áreas ocorre desde o início da ocupação da zona

costeira e tem como causa, principalmente, a falta de informação e conhecimento na

época, processo que contribuiu para o desaparecimento de parte de algumas áreas de

mangue. Vannucci (2002) diz que:

Era costume dizer (e escrever) que o ecossistema manguezal é formado por terras

inúteis, sítios improdutivos a serem “recuperados” e convertidos para outros usos.

Hoje tornou-se moda dizer que o ecossistema manguezal é altamente produtivo,

ou mesmo que é o mais produtivo de todos os ecossistemas. Obviamente, a

verdade está entre os dois extremos, e, enquanto existem manguezais muito

produtivos, gerenciados ou não pelo homem, há outros que sobrevivem

produzindo apenas a quantidade de matéria orgânica estrutural que possibilita seu

enraizamento e fixação em lodos móveis ou em cascalhos, resistindo ao vento e

às tempestades (p. 83).

Quanto ao assoreamento (Figura 17) o processo é natural, podendo ser alterado e

intensificado pelo homem. Alves op.cit., define como:

...um fenômeno natural que decorre dos processos atuantes de erosão e

deposição. É um processo lento que resulta em alterações imperceptíveis, a curto

prazo, na composição florística e faunística. Quando a velocidade desse processo

é aumentada, por exemplo, como desmatamento a montante, construção de

estradas, aterros e dragagens, o resultado pode ser a mortalidade maciça de

espécies e consequente invasão de outras melhores adaptadas às condições

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alteradas. Essa comunidade certamente não contribuirá para manutenção da vida

estuarina tanto quanto a que antes de fontes externas (p. 60).

Figura 17: Banco de areia localizado no meio do Rio Ceará, ocasionado pelo processo de assoreamento do rio.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

A reciclagem de nutrientes também pode ser alterada com o assoreamento. A

reciclagem possui grande importância dentro da dinâmica natural do ecossistema

manguezal, pois envolve compostos inorgânicos e com sua modificação através do

assoreamento pode causar obstrução das trocas de gases e nutrientes. Esse

assoreamento pode ser classificado como assoreamento acelerado, trazendo sérios

danos (ALVES, 2008).

Para Fernandes (2012), o desmatamento é uma realidade que, infelizmente, foi

muito presente no manguezal. Desde o Período Colonial, os manguezais vêm sendo

constantemente desmatados, principalmente para a obtenção do tanino, este usado para

tingir couros. No entanto, atualmente o manguezal vem sendo degradado para a

construção de obras de infraestrutura e pela especulação imobiliária.

A supressão da vegetação é outra ação bastante degradante para o ambiente de

mangue, uma vez que as folhas contribuem na sustentação da cadeia alimentar dentro do

sistema, sendo considerada a base indispensável para a produtividade. O solo fica muito

vulnerável à ação do sol, deixando-o muito ressacado e propício à ação de espécies

invasoras (ALVES, op.cit.).

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De acordo com Vannucci (2002), as áreas desmatadas de mangue sofrem com a

intensificação da incidência dos raios solares, além do crescimento de ervas daninhas

que rapidamente se desenvolvem. Elas geralmente são bastante tolerantes a inundações

das marés e conseguem impedir o enraizamento dos propágulos.

A retirada da vegetação de mangue contribui para a diminuição da capacidade de

retenção de sedimentos essenciais para o ambiente, perda de alimentos e diminuição de

abrigos para as mais variadas espécies, como peixes, moluscos e crustáceos (ALVES,

2008).

A poluição que chega ao ecossistema, de modo geral, são os efluentes domésticos e

os causados por dejetos industriais. Os esgotos levam consigo muitos sedimentos que

colaboram para assoreamento dos rios e mortandade da vegetação desse ambiente. Os

dejetos vindos das indústrias são mais pesados, pois podem ser químicos, como os óleos

pesados e derivados, além dos rejeitos animais e vegetais, causadores em potencial de

risco ao manguezal (ALVES, op citi).

Esse tipo de efluente é muito nocivo para o ambiente de mangue, uma vez alteram

consideravelmente a biota do local, pois são lançados no ambiente sem nenhum tipo de

tratamento, causando sérios riscos para fauna e flora.

Sobre o lançamento de efluentes in natura Fernandes (2012), aponta como:

...um problema recorrente em praticamente todo o mundo, e se dá de maneira

contínua, impactando incessantemente estes ecossistemas. Os efluentes

domésticos têm como um de seus constituintes os polifosfatos, presentes nos

detergentes e em outros produtos de limpeza utilizados rotineiramente. Estas

substâncias estimulam a multiplicação excessiva de microalgas, em um fenômeno

denominado Bloom de algas (p. 18).

Quanto à degradação causada pela aqüicultura, Alves op.cit. define os principais

impactos como:

1) As drenagens podem reduzir as trocas d'água com os sistemas hídricos

vizinhos; 2) Aumento da sedimentação local e das taxas de silte; 3) Represamento

das águas superficiais adjacentes e depleção do oxigênio dissolvido; 4)

Desenvolvimento de condições de sedimento sulfato-ácidas; 5) Desmatamento

local resultante da contínua demanda de madeira do mangue; 6) Sobrepesca

seletiva de juvenis para cativeiro; 7) Fluxo de águas tóxicas e hipertróficas

provenientes das operações nos viveiros; 8) Interferências ecológicas com a fauna

endêmica pela introdução de organismos exóticos dos cultivos que escapam dos

viveiros ou das gaiolas (p. 65).

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Já Fernandes (2012), destaca ainda outras atividades impactantes, como os

aterramentos, dragagens e represamentos. Geralmente o aterro de áreas de mangue vem

acompanhado de desmatamento. Esse tipo de intervenção altera a composição do solo,

estando, pois, relacionado à granulometria que, em consequência, empobrece e

compacta a camada superior do solo e eleva a cota do terreno.

A construção de represas ou barragens é uma das atividades mais antigas e

importantes da civilização humana. Estas constituem barreiras artificiais que

aumentam o volume de água acumulada a montante, que então será destinada a

agricultura, abastecimento, indústria, pecuária e outros. Contudo, em virtude de

seu porte e sua própria natureza, as barragens e as represas alteram

significativamente as características hidrológicas do ambiente, reduzindo o aporte

de água doce e nutrientes a jusante e impedindo a ação das marés a montante.

Esta alteração, e em muitos casos a descaracterização dos manguezais podem

resultar em impactos irreversíveis sobre a comunidade biológica, como

desaparecimento de espécies sensíveis, superpopulação de espécies

oportunistas, redução do pool genético, diminuição ou incapacitação da

reprodução (p.20).

A questão de aterramento de áreas de mangue é muito comum, geralmente é

realizada quando da implantação de algum tipo de empreendimento ou mesmo para a

construção de moradias. Sobre a problemática de aterros em áreas de mangue Alves et,

all (2001) diz que: “Quando se promove este aterro, esta área passa a ficar valorizada em

função da sua proximidade com o mar propiciando a construção de empreendimentos

imobiliários como condomínios, marinas, pousadas e hotéis” (p.23).

Outra atividade impactante que degrada bastante os ambientes de manguezais, mas

que, em contrapartida, contribui para a economia é a atividade salineira. A região

Nordeste do Brasil é a que mais produz sal em todo o território nacional.

De acordo com Dias (org. 2008), sal é definido como:

...composto cristalino sólido (NaCl), encontrado em estado natural em alguns

terrenos ou diluído na água do mar. É usado principalmente como condimento e

na conserva de carnes, embutidos e enlatados. No nordeste brasileiro, a produção

de sal está concentrada na exploração de salinas a partir da água do mar, cujo

processo é denominado de ''Processo de produção de sal por evaporação solar''

(p.197).

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Dentre os impactos ambientais negativos que podem ser gerados na produção do

sal, destacam-se: (p.197)

1) degradação de áreas de mangue: provocada pela remoção da cobertura vegetal

e alteração das camadas de solo, em face da abertura de canais, implantação dos

evaporadores e demais instalações da planta e também à deposição de material

em áreas adjacentes. A instalação de salinas nos manguezais causa a morte de

toda a flora e fauna da área utilizada. Mesmo depois de desativadas as áreas das

salinas não voltam a ser manguezal (não se regeneram), tornando-se secas,

arenosas e sem vegetação, com aparência típica de apicum; 2) impactos sobre a

fauna silvestre regional: decorrentes da retirada da vegetação e destruição do seu

habitat, a exemplo de crustáceos; 3) degradação do solo e águas: decorrentes da

disposição inadequada dos rejeitos da produção do sal, com destaque para a

''água-mãe'', […] salmoura de alta concentração, […] devido a sua alta

concentração não pode ser jogada em qualquer lugar, pois pode, por exemplo,

matar a microfauna existente no mangue (BEZERRA, 2012, p.197).

A Figura 18 mostra a salina do Conjunto Habitacional Vila Velha, que, apesar de

anos desativada, ainda é possível ver a forma dos antigos tanques. No entorno há ainda o

mangue e as casas.

Figura 18: Vista panorâmica de parte da salina abandonada do Vila Velha.

Fonte: GOMES, 2014.

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A área da antiga salina que compõe parte do Vila Velha é um espaço que precisa ser

avaliado e analisado de modo mais objetivo e específico. Sabe-se que o litoral do Ceará

possui condições naturais para a atividade salineira, principalmente nos rios Ceará e

Cocó. Essa atividade manteve seu apogeu entre as décadas de 1930 e 1990, e constitui

uma atividade bastante impactante (MESQUITA, 2010).

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6. A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E SUA IMPORTÂNCIA PARA O AMBIENTE

Diante dos problemas ambientais presenciados e vivenciados nos últimos tempos,

como as intervenções negativas da sociedade em ambientes costeiros, ocorridas,

principalmente, por ocupações irregulares, é imprescindível, de fato, criar soluções e

posicionamentos que possam auxiliar na melhoria da qualidade ambiental e na

recuperação desses ambientes.

É dentro desse contexto de alterações na dinâmica natural causadas por ações

que impactam negativamente os mais variados ambientes e, especificamente ambientes

costeiros, que a recuperação ambiental vem tentar contribuir para a permanência e a

conservação.

A recuperação de áreas degradadas está associada à ciência da restauração

ecológica, que é definida enquanto processo de auxílio no restabelecimento de

ecossistemas degradados. Um ecossistema é considerado recuperado e/ou restaurado

quando os fatores bióticos e abióticos são suficientes para favorecer o seu

desenvolvimento sem auxílio adicional (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014).

Sobre recuperação ambiental Sánchez (2008) diz que:

[...] Dentre as variantes da recuperação ambiental, a restauração é entendida

como o retorno de uma área degradada às condições existentes antes da

degradação, com o mesmo sentido do que se fala da restauração de bens

culturais, como edifícios históricos (p. 41).

Na década de 1950 foram colocados em prática os primeiros de tantos projetos

idealizados para a recuperação de ambientes degradados. Nessa época surge também o

uso das primeiras terminologias: restauração, recuperação, reabilitação, mitigação,

criação e regeneração (MENEZES, 1999).

Ainda de acordo com Menezes op.cit.:

Os primeiros trabalhos sobre recuperação de manguezais no Brasil começaram a

ser relatados no início dos anos 90. Atualmente, além de trabalhos técnicos

existem algumas iniciativas ligadas à educação ambiental e conservação de

manguezais que procuram através da participação popular, principalmente com

crianças, plantar espécies de mangue, contribuindo assim para a recuperação e

conservação deste ecossistema. Como exemplo destas atividades podemos citar

as experiências do SOS mangue em Maragogipe na Bahia, do Mundo da Lama no

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Rio de Janeiro e em Cubatão, sendo que todas foram relatadas na mesa redonda

“Recuperação de manguezais degradados”, durante o IV Encontro Nacional de

Educação Ambiental em Áreas de Manguezais, que ocorreu na cidade de Nova

Almeida, Espirito Santo em 1996 (p, 15).

Os principais estados brasileiros que realizam recuperação em áreas de

manguezais impactados são: São Paulo, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Santa

Catarina e Rio Grande do Norte. Já em âmbito internacional, são: Estados Unidos, Japão,

Indonésia, Tailândia, Porto Rico, Panamá, Malásia e Austrália.

Apesar da imensa necessidade de recuperar ambientes degradados ou

impactados, essa ação é vista como algo desnecessário, pois alguns afirmam que existe a

capacidade natural de recuperação do próprio, além de ser uma ação cara. No entanto,

existem ambientes que não conseguem essa recuperação do modo natural, devido aos

impactos e ao tempo em que ficou exposto.

Menezes (1999, p, 03) cita alguns dos principais eventos que ocorreram no Brasil,

nos anos de 1990, que ajudaram a melhorar o conhecimento acerca da recuperação

ambiental, são eles:

Workshop sobre Recuperação de Áreas Degradadas, ocorrido em 1990, em Itaguaí

(RJ);

Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas, 1992, Curitiba (PR);

Workshop Internacional sobre Recuperação de Recursos Naturais Degradados

pela Mineração, 1993, Poços de Caldas (MG);

I Simpósio Latino-Americano e II Simpósio Nacional, 1994, Foz do Iguaçu (PR);

III Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas, 1996, Ouro Preto

(MG).

A Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas (SOBRADE), criada

nos anos de 1990, cita outros eventos importantes sobre áreas degradadas realizados

nos anos 2000. Seguem abaixo: (Disponível em:

http://www.sobrade.com.br/index.php/publicacoes/publicacoes-sobrade. Acesso em:

08/02/2016).

Congresso Iberoamericano e do Caribe sobre Restauração Ecológica, 2009,

Curitiba (PR);

VII Simpósio Nacional sobre Recuperação de áreas degradadas, 2010, Guarapari

(ES);

Seminário Latinoamericano de práticas Socioambientais e de Segurança na

Mineração, 2012, Belo Horizonte (MG);

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IX Simpósio Nacional sobre recuperação de Áreas Degradadas, 2012, Rio de

Janeiro (RJ);

X Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas Degradadas, 2014, Foz do

Iguaçu (PR).

Esses eventos são de extrema importância na disseminação da temática de

recuperação de ambientes degradados, pois contribuem para elevar o nível de

conhecimento, no Brasil, bem como para a geração de novas possibilidades. No entanto,

esses eventos são realizados, em sua maioria, em estados do Sul e Sudeste. Assim, na

região Norte e Nordeste ainda são muitos escassos e incipientes, apesar de existirem

trabalhos e projetos de recuperação ambiental.

É de grande importância que as regiões Norte e Nordeste do Brasil ganhem espaço

nesses eventos e que criem seus próprios eventos e projetos de pesquisa dentro da sua

realidade, pois foram nessas regiões que ocorreram, sobretudo, ações impactantes em

ambientes naturais, quais sejam semiárido ou costeiro.

Apesar de a região Nordeste do Brasil não possuir grande representatividade em

relação a trabalhos de recuperação ambiental, existem projetos realizados com esse

intuito com resultados positivos, que dão subsídios necessários para que novos possam

ser pensados.

No estado do Ceará existem alguns desses projetos, como o realizado nos

municípios de Acaraú e Icapuí. Em todos esses locais a recuperação foi feita através de

plantios, e o resultado foi bastante positivo, além de contar com a participação de

universidades, estudantes de escolas públicas e da comunidade local. Acredita-se que

dentre esses lugares o mais representativo para recuperação de ambientes degradados

foi o feito em Icapuí.

Em Acaraú foi recuperado por alunos do Instituto Federal do Ceará – Campus

Acaraú (IFCE) parte do manguezal, através do projeto do Laboratório de Ecologia de

Manguezais (Ecomangue). Nesse trabalho foram coletados dados com a finalidade de

conhecer as espécies da fauna e flora local. Nas atividades de campo, ocorreram

delimitações das áreas, coleta de amostra de sedimentos, além de verificação da

temperatura, da umidade e da salinidade do ambiente de mangue.

O Ecomangue, além de realizar recuperação de áreas degradadas, promove

mutirões de limpeza, com a disseminação de informações pertinentes sobre a importância

da preservação do ecossistema manguezal. Abaixo é possível observar a equipe que

realizou a limpeza no mangue de Acaraú.

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Figura 19: Equipe de alunas após o mutirão de limpeza no mangue do Acaraú.

Fonte: http://www.oacarau.com/2012/01/alunos-do-campus-de-acarau-protagonizam.html,

Acesso em: 2012.

A recuperação no mangue Pequeno, realizada no município de Icapuí, na Praia de

Requenguela, teve um importante papel na recomposição da fauna e da flora do lugar. O

projeto teve e tem como principal objetivo a recuperação, com participação da

comunidade local, através de trabalhos de educação ambiental, permacultura e ensino de

técnicas e métodos de monitoramento de áreas de manguezais.

A Figura 20 mostra a estufa onde as mudas das plantas de mangue ficam

guardadas até estarem prontas para o plantio. Cada muda recebe monitoramento

adequado até estarem prontas para serem plantadas.

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Figura 20: Estufa para proteção e germinação das sementes e mudas de plantas de mangue. Icapuí, Mangue Pequeno.

Fonte: GOMES, 2012.

A área recuperada de mangue no entorno da estação está próximo de 5 hectares.

O plantio é realizado com a colaboração de voluntários vinculados ao projeto “De Olho na

Água – Fase II”, do Programa Petrobras Ambiental. (Projeto de Olho na Água. Disponível

em: http://www.deolhonaagua.org.br/site/ler_noticia_113).

As áreas de mangue recuperadas pelo projeto “De Olho na Água” são de regiões

que haviam sido bastante impactadas por intervenções humanas, a exemplo da atividade

salineira, que degradou muito os mangues daquele local. O resultado dessa ação de

plantio de mudas é bastante positivo, tendo em vista que o mangue consegue se

regenerar rápido.

Em síntese, ações como essa são essenciais na contribuição e na manutenção do

ecossistema vivo, harmônico e preservado. “O homem pode auxiliar no processo de

recuperação do sistema e na preparação de um futuro promissor para os ecossistemas

novos ou recuperados” (VANNUCCI, 2002, p. 94).

Para iniciar a recuperação de uma área degradada ou impactada é preciso que

haja, anteriormente, o reconhecimento do local e a identificação da composição faunística

e florística, os tipos de usos e ocupação do local. É importante saber sobre o processo

histórico de ocupação da área, além de analisar se a área recuperada está ou não

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propícia para regeneração natural, além de monitorar o processo.

Para uma recuperação mais eficaz é preciso, após a coleta de dados da área

impactada, realizar uma comparação e cruzar as informações da área saudável com a

área impactada, para ter um parâmetro de quão degradado está o ambiente. Isso auxilia

na avaliação dos parâmetros e se estes possuem algum tipo de erro que prejudique o

sucesso da recuperação da área (FERNANDES, 2012).

Essa comparação pode ser feita dentro da área do Rio Ceará. A impactada seria a

área de salina do Vila Velha, e menos impactada seria a salina que fica na margem

esquerda do rio, no município de Caucaia, conhecida como Salina Margarida.

A primeira vem desde muito tempo sofrendo com o avanço de ocupações em suas

margens, enquanto a segunda não sofreu tanto com as intervenções humanas em sua

área de mangue, tendo certo tempo para recuperar-se naturalmente.

A análise química, física e biológica de amostras de solos e água também são

imprescindível para o resultado positivo da regeneração de meios ambientes naturais

degradados (FERNANDES, op citi.,). A análise do solo é essencial para ter sucesso na

recuperação do ambiente, pois vai receber o plantio de sementes e/ou replantio de

mudas, uma vez que o sucesso desses plantios vai depender da saúde do solo.

O ambiente afetado pela ação humana pode, em certa medida, ser recuperado

mediante ações voltadas para essa finalidade. A recuperação de ambientes ou

ecossistemas degradados envolve medidas de melhoria do meio físico, por

exemplo, a condição do solo, a fim de que se possa restabelecer a vegetação ou a

qualidade da água, a fim de que as comunidades bióticas possam ser

restabelecidas, e medidas de manejo dos elementos bióticos do ecossistema,

como o plantio de mudas de espécies arbóreas ou reintrodução da fauna

(SÁNCHEZ, 2008 p. 40).

Existem outros métodos, além do plantio de mudas, que podem favorecer a

regeneração de ambientes degradados. Daí a importância de entender o ambiente como

um todo antes de indicar propostas de recuperação. Caso o ambiente não possa

recuperar-se naturalmente, e nem com a intervenção do homem, podem ser elaborados

outros meios de uso mais sustentáveis, que traga, de alguma maneira, um retorno

positivo para a sociedade de modo geral.

Sobre a importância de recuperar o manguezal impactado do Rio Ceará,

Magalhães (2002) afirma que, nas áreas onde a atividade salineira não existe mais, pode

acontecer a propagação de espécies nativas, devido à composição do solo (argila) que

impermeabiliza os taludes e contribui para a diluição e o arraste do excesso de cloretos

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pelas águas pluviais [...] como consequência disso há a recuperação natural do ambiente

de mangue. No entanto, em algumas áreas a regeneração natural da vegetação não é

suficiente para a completa revitalização dos manguezais degradados. Por isso, em muitos

casos, a recomposição induzida é a mais indicada, ou seja, deve haver um plantio das

espécies dominantes.

Desse modo, fica claro que em algumas situações em que o mangue não pode

recuperar-se sozinho, ou que tenha dificuldades em fazê-lo, o plantio de mudas pode ser

uma saída bastante eficaz em sua regeneração.

Com isso, para o plantio de mudas é imprescindível seguir o passo a passo básico

indicado por FERNANDES (2012):

1) Escolha das espécies: cada região a ser reflorestada possui espécies que têm mais

potencial para crescer e desenvolver;

2) Coleta de propágulos: as sementes da vegetação de mangue a serem plantadas

devem ser coletadas e após isso a seleção dos propágulos mais saudáveis;

3) Plantio direto: ação simples, rudimentar e com baixo custo, mas que tem menor nível

de controle e que pode ter perdas;

4) Produção de mudas: essa etapa consiste em escolher e preencher os recipientes,

fazer a produção de mudas por propágulos, etc.;

5) Implantação das mudas: após as mudas estarem prontas, deve-se escolher o modelo

de plantio que podem ser: plantio em núcleos conectados, plantio ao acaso, plantio em

módulos espaçados, plantio em módulos adensados e preparação da área;

6) Monitoramento da área (adaptado): após a realização de todas as etapas citadas

anteriormente, deve-se por algum tempo observar o andamento do crescimento e

desenvolvimento das áreas plantadas, analisar se está saindo como planejado ou não. Se

não, identificar os casos e tomar novas decisões para o sucesso do plantio.

De acordo com Fernandes op.cit. é com base na Resolução do CONAMA nº 369 de

2006, que são apoiados os trabalhos de recuperação de manguezais, em que o 1º passo

é a elaboração do Plano de Recuperação de Áreas de Preservação Permanente

(PRAPP).

Essa mesma resolução autoriza as intervenções humanas nas áreas de APP’s,

porém tais intervenções têm de ser caracterizadas como de utilidade pública e de

interesse social, e encaixar em atividades indispensáveis à proteção da vegetação nativa,

como a preservação, controle de espécies nocivas, controle de erosão, proteção e plantio

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de espécies nativas.

O PRAPP consiste, basicamente, em três etapas. A 1ª etapa é a avaliação e

análise da área, a 2ª etapa é a elaboração do plano de recuperação e a 3ª etapa consiste

na avaliação e monitoramento da área que foi recuperada (FERNANDES, 2012).

O Quadro 1 mostra o roteiro básico das três etapas para elaboração do Plano de

Recuperação de Áreas de Preservação Permanente. As etapas vão desde o trabalho de

campo até o monitoramento da área recuperada.

Quadro 1: Roteiro das etapas para a elaboração do PRAPP

ROTEIRO PRAPP

1ª ETAPA

Avaliação e análise da área

Análise do solo

Análise da água

Composição Florística

Composição Faunística

2 ª ETAPA

Plano de recuperação

Espécies utilizadas

Métodos de produção

Métodos de implantação

Espaçamento/densidade

3ª ETAPA

Avaliação e monitoramento

Indicadores escolhidos

Metodologia de avaliação

Fonte: FERNANDES, 2012.

O Quadro 2 é o modelo do plano feito através das etapas do roteiro do PRAPP. Esse

documento deve conter informações as fases do trabalho, bem como oficializar, diante

dos órgãos competentes, a atividade de recuperação. Além de favorecer o recebimento

de recursos de empresas privadas, ONGS e editais públicos (FERNANDES, op.cit.).

Quadro 2: Modelo genérico para a elaboração do Plano de Recuperação de Áreas de

Proteção Permanente (PRAPP).

I – DESCRIÇÃO GERAL DO PROPONENTE

* Identificação do proponente -Nome do proponente -Endereço completo - CPF/CPNJ - Área de atuação

II – DESCRIÇÃO DO PROJETO

* Justificativa

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* Objetivos - Objetivo Geral - Objetivos Específicos * Caracterização do local - Clima - Relevo - Solos - Recursos hídricos - Comunidade biológica * Plano de Recuperação - Preparação da área - Escolha das espécies - Sistema de produção - Modelo e espaçamento de implantações das mudas * Avaliação e monitoramento do projeto - Indicadores utilizados - Períodos de amostragem

III – CRONOGRAMA DE EXXECUÇÃO

Atividade Mês/Ano Mês/Ano Mês/Ano Mês/Ano Preparação da área Marcação e coveamento

Plantio de mudas Liberação de animais Monitoramento

Envio de relatórios

IV – EQUIPE TÉCNICA

* Nome completo * Formação * Número de registro no respectivo conselho * Currículo resumido

V- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (conforme ABNT)

* Artigos científicos * Livros * Sites

VI – ANEXOS

* Fotografias * Ilustrações * Layout do projeto

Fonte: FERNANDES, 2012.

A recuperação ambiental auxilia a compensação ambiental, que, resumidamente, é

um modo de diminuir os impactos gerados por empresas que possam causar enormes

prejuízos ao ambiente.

A compensação ambiental pode ser feita através de financiamento ou do apoio

para criação de Unidades de Conservação (UC), criação de áreas para recuperação

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ambiental e mitigação de impactos.

Podemos citar como exemplo a construção de um viaduto no cruzamento entre as

avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antônio Sales, em Fortaleza, onde infelizmente foi

necessário derrubar 98 árvores do Parque do Cocó, e como compensação ambiental

foram replantadas 600 árvores semi-adultas (Prefeitura de Fortaleza, 2014. Disponível

em: http://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/transito/construcao-de-viadutos-da-av-eng-

santana-junior-e-av-antonio-sales-segue-dentro-do).

A compensação ambiental está prevista no artigo nº 36 do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC), que segue abaixo na íntegra:

Art. 36: Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de

significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental

competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo

relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e

manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo

com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei. § 1ºO montante de

recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser

inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do

empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de

acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. § 2ºAo

órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a serem

beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o

empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades

de conservação. § 3º Quando o empreendimento afetar unidade de conservação

específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput

deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável

por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao

Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação

definida neste artigo (Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm).

Ano passado o Brasil vivenciou o rompimento de umas das barragens da

mineradora Samarco, no estado de Minas Gerais (MG), em Mariana, empresa essa

controlada pela Vale do Rio Doce e BHP Billiton (mineradora e petrolífera anglo-

australiana multinacional). Esse evento é caracterizado como o maior dano ambiental

ocorrido no país, além de ter sido percutido internacionalmente.

A lama do rejeito produzido pela mineração devastou o Rio Doce contaminou os

mananciais e exterminou a flora e a fauna local, além de destruído as pequenas cidades

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do entorno. Muitas pessoas morreram, algumas ficaram desaparecidas, e outras

perderam tudo que possuíam.

Esse mesmo rejeito comprometeu não somente Mariana (MG), mas também os

estados de Espírito Santo e Bahia, pois a lama percorreu quilômetros até chegar ao

oceano. Alguns especialistas acreditavam que a recuperação ambiental era impossível.

Como a quantidade de rejeito foi bastante alta e o poder nocivo muito elevado, a

recuperação dos ambientes atingidos é imprevisível, bem como o tempo que poderia

levar. O fato é que devem ser tomadas ações e decisões que possam, a priori, minimizar

os impactos, além da criação de um Projeto de Recuperação.

É importante que além de pessoas especializadas com questões ambientais, como

geógrafos, cientistas ambientais, biólogos e químicos, haja participação da comunidade

local (jovens, pescadores e líderes comunitários) na recuperação dessas áreas, para que

assim possam também entender e fazer parte do processo de preservação.

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7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de iniciar a discussão deste capítulo, é preciso deixar claro que para

qualquer tipo de intervenção na natureza, principalmente em ambientes protegidos, como

é o caso do ecossistema manguezal do Rio Ceará, uma Área de Proteção Ambiental

(APA), é preciso ter autorização das entidades responsáveis, ou seja, da SEMACE.

É necessário que os projetos idealizados para o fim de recuperação ambiental ou

até mesmo os voltados para revitalização dessa área seja fundamentado dentro das leis

que regem os tipos de usos. No caso do Rio Ceará, baseou-se principalmente no decreto

da APA e do Plano de Manejo.

Com isso, a proposta de recuperação para a área do manguezal do Rio Ceará,

idealizada pela pesquisa, teve como principal suporte o decreto da APA, em seus artigos

3º (V e VI) e 5º (§1º), conforme descrito no Plano de Manejo:

V: ordenar a atividade turística, científico e cultural, e as demais atividades

econômicas compatíveis com a conservação ambiental; VI. desenvolver na

população regional uma consciência ecológica e conservacionista; Parágrafo

único: considera-se turismo ecológico, ou ecoturismo, nos termos do inciso V, o

segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio

natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma

consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o

bem estar das populações envolvidas. […] Art 5º: V. elaboração de planos de

recuperação de áreas degradadas; §1º [..]permissão para atividade de pesquisa

ou visitação, desde que não haja comprometimento da integridade e da

funcionalidade do ecossistema estuarino; implementação de atividades de

educação ambiental, objetivando contribuir com a preservação do ecossistema

estuarino; permissão para as atividades de pesquisa ou de visitação, desde que

não haja comprometimento com a integridade e a funcionalidade dos ambientes

[…] (p.336).

Sabe-se que o manguezal tem um forte poder de resiliência, ou seja, a capacidade

de recuperar-se ou adaptar-se naturalmente a algum tipo de degradação. No entanto,

dependendo do tempo e do tipo de impacto ao qual o manguezal ficou exposto o

processo de regeneração pode levar o dobro do tempo que levaria normalmente para se

recuperar.

Para que um ambiente impactado volte a ter suas funções restabelecidas é preciso

que os tensores que causaram a degradação tenham sido totalmente removidos, além de

permanecer em repouso para que possa começar a recuperar-se naturalmente.

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Temos o exemplo da recuperação natural das salinas Soledade e Margarida, no

município de Caucaia, que diferenciam da salina do Vila Velha, pois conseguiram se

regenerar naturalmente, devido, principalmente, à baixa intervenção humana nessa área,

recuperação essa ocorrida mínimo nos últimos 20 anos.

Geralmente as áreas mais propícias para receber algum tipo de intervenção para

recuperação são áreas onde é ausente a regeneração natural do ambiente e áreas

fortemente impactadas. Essas áreas precisam passar por estudos para identificar os

motivos que levaram à degradação, bem como uma caracterização da fauna, flora, e tipos

de uso e ocupação.

A recuperação desses ambientes, na maioria das vezes, é realizada de duas

maneiras, principalmente: 1) através do plantio de sementes de espécies vegetacionais

nativas e 2) transplante de mudas. Existe todo um processo de triagem e seleção de

sementes, os tipos de ocorrência de mangue nas áreas degradadas e a técnica do

processo de plantio e monitoramento das áreas.

Estima-se que esse processo de recuperação através do plantio leve, em média, 3

a 4 anos para ter um resultado consistente, mas, em alguns casos, 2 anos já é suficiente

para a obtenção de resultados positivos. No entanto, deve-se salientar que o tempo

estimado depende também do quão degradado o ambiente se apresenta.

A proposta principal desta pesquisa não foi a realização de plantio de sementes ou

transplante de mudas, devido principalmente ao tempo para o término da pesquisa (dois

anos), mas sim de fazer uma análise dos impactos ocorridos na área, afirmar ou não se o

local está propício para recuperação (seja ela natural ou induzida), além de indicar

métodos ou técnicas mais viáveis para a regeneração desse ambiente de mangue.

Os impactos observados e analisados no manguezal do Rio Ceará estão ligados,

principalmente, à ocupação irregular em áreas de risco nas margens direita, pois esta

afeta tanto diretamente como indiretamente a dinâmica natural do mangue.

As principais ações impactantes seguem abaixo:

Ocupação irregular;

Emissão de efluentes domésticos e industriais;

Lançamento de lixo e entulhos;

Supressão da vegetação (Aterramento, desmatamento e queimadas);

Essas ações sobre os meios físico (solo, água e ar), biótico (fauna, flora e

ecossistemas) e antrópico (social, econômico e cultual) podem causar, entre outros, os

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seguintes impactos negativos sobre o meio ambiente:

Perda da biodiversidade;

Empobrecimento da água;

Diminuição do extrativismo;

Diminuição da pesca;

Diminuição da produtividade marinha;

Contaminação da fauna e flora pelos poluentes;

Degradação da paisagem pelo acúmulo de lixo;

Diminuição da renda da população local;

Aumento dos riscos de doenças veiculadas pela água;

Impermeabilização do solo;

Aumento do escoamento superficial;

Risco de processos erosivos nas margens;

Diminuição da infiltração de água;

Risco de aumento das enchentes;

Rebaixamento do lençol freático.

Esses impactos podem se manifestar instantaneamente, ou seja, logo após a

ação ou surgir ao longo do tempo. Eles podem também ser temporários ou permanentes,

sendo reversíveis, mitigáveis ou irreversíveis. Sobre a importância e magnitude dos

impactos negativos podem ser pequenos, médios ou grandes, dependendo do tipo das

ações e do tamanho da área afetada.

A ocupação irregular caracterizada fortemente na margem direita do Rio Ceará é

do tipo comercial (oficinas, depósitos de bebida, restaurantes, pequenos comércios,

salões de beleza e bares) e do tipo residencial que são a maioria.

Este tipo de ocupação irregular se deu, principalmente, por grande parte da

sociedade cearense pela falta de acesso à moradia digna, fazendo com que as classes

menos favorecidas ocupassem áreas de riscos, como as margens de rios e morros, que

são ambientes naturalmente instáveis.

Infelizmente nesses locais não existe infraestrutura básica, como água encanada,

rede elétrica e de esgoto, segurança pública, coleta de lixo, além da precariedade da

educação, assim o dito contribui enormemente para o crescimento dos conflitos sociais.

Dessa forma, essas áreas são caracterizadas por possuírem altos índices de

criminalidade.

Na Figura 21 é possível observar a intensa ocupação de moradias de riscos em

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local irregular, literalmente dentro da área de mangue. Essas moradias durante o período

chuvoso e maré alta são muitas vezes inundadas, além do lugar ser de fácil proliferação

de doenças e de insetos.

Figura 21: Moradias irregulares em área de risco e dentro do mangue do Rio Ceará.

Fonte: GOMES, 2015.

A ocupação irregular se dá ainda com maior incidência dentro da salina abandonada,

que fica próxima ao Conjunto Habitacional Vila Velha, embora a Figura 22 date do ano de

2008, atualmente essa ocupação está cada vez mais intensificada.

Como já foi citado em capítulos anteriores, a construção do bairro se deu em parte

da salina, mas com o passar dos anos, avançou cada vez mais para dentro do

manguezal.

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Figura 22: Vista panorâmica da área da salina do bairro Vila Velha em processo de ocupação irregular por moradia.

Fonte: Disponível em: http://br.worldmapz.com/photo/9471_es.htm, 2008.

A área do entorno da antiga salina é um local com bastantes conflitos sociais, e

sem a infraestrutura adequada para moradia. Sobre a utilização dessa área, no Rio Ceará

(Fortaleza), SEMACE (2005) afirma que:

,,,em razão da antiga área de salinas, muitas famílias sofrem com graves

problemas de saúde, tendo sido notificadas, pelas equipes de Saúde da Família,

incidências da dengue, pneumonia, além de casos de câncer de pele. Há, no

bairro, carência de escolas e postos de saúde e nas casas, além da ameaça de

inundação, há ausência de saneamento básico. (p. 224).

A emissão clandestina de efluentes domésticos e industriais é uma ação que causa

forte impacto sobre o manguezal do Rio Ceará, pois afeta diretamente a fauna e flora

características do local. Os esgotos são fonte de proliferação de doenças que acometem,

principalmente, crianças e idosos.

Como não existe em parte do bairro Vila Velha coleta de lixo a única opção dos

moradores é o lançamento dos resíduos domésticos a céu aberto, ou mesmo a queimada.

Existe grande ocorrência de descarte de entulhos de construções nas proximidades do

mangue.

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Na Figura 23 é possível podemos notar a forte presença de esgoto, bem como

acúmulo de entulhos na área de salina e animais não característicos do ecossistema

manguezal.

Figura 23: A) Presença de entulhos; B) Esgoto a céu aberto; C) Presença de animais; D) Lançamento de efluentes domésticos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Outro fator que polui potencialmente os manguezais é o lançamento de óleos

industriais, como graxas, tintas e solventes. Durante uma breve visita ao estaleiro, foi

possível observar a presença desses componentes, que, aparentemente, são

manuseados e armazenados sem os precisos cuidados.

Esses mesmos componentes, provavelmente, durante a aplicação nas

embarcações podem ser lançados ainda que acidentalmente no rio, comprometendo

negativamente a biota local.

Na Figura 24 exemplifica o exposto, pois há muitas latas de tintas, óleos e solventes

no estaleiro da Barra do Ceará. Essas mesmas latas podem levar ao acúmulo de água e

favorecer a proliferação do mosquito da dengue (Aedes aegypti).

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Figura 24: Na sequência de cima para baixo: ferragens e equipamentos de embarcações; latas de tinta e óleos encontrados armazenados incorretamente.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

A supressão da vegetação é outra interferência humana que degrada

significativamente o ecossistema manguezal, podendo estar atrelada a queimadas,

desmatamento e aterramento dessas áreas, que geralmente são feitas para dar lugar

algum tipo de empreendimento, sejam empresariais ou residenciais.

Na margem direita do manguezal do Rio Ceará existe um pequeno estaleiro onde

são feitos reparos em embarcações de médio e pequeno porte, principalmente. Durante o

primeiro trabalho de campo, foi observado o aterramento (Figura 25) em uma parte do

mangue. Ao indagar um vigilante sobre essa ocorrência, o funcionário informou que seria

para aumentar as instalações do estaleiro. Ele solicitou que sua identidade não fosse

divulgada.

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Figura 25: Aterramento de mangue do Rio Ceará.

Fonte: GOMES, 2014.

Outro fator protagonista dentro dos impactos no mangue do Rio Ceará é a atividade

salineira, que apesar de ter sido economicamente importante para o estado, hoje o

manguezal do rio colhe seus “frutos” desse processo, ou seja, os impactos.

O fato é que, dentro da atividade salineira, em seu último estágio de produção, a

salmoura ou água-mãe, geralmente é lançada diretamente no meio ambiente sem os

menores cuidados. Essa salmoura possui um elevado índice de sal, que acaba

comprometendo o equilíbrio físico, químico e biológico desses ambientes, prejudicando a

fauna e a flora local.

Sobre a importância da recuperação do manguezal do Rio Ceará, Mesquita (2010)

aponta que:

Recuperar a área onde a cobertura vegetal foi retirada significa contribuir para a

manutenção de todo o ecossistema, a vegetação serve de abrigo para moluscos e

crustáceos, contribui para a renovação contínua da matéria orgânica do solo,

fundamental para a alimentação e reprodução da fauna local. Protege as margens

do rio contra as intempéries da maré e do próprio rio no período chuvoso

prevenindo o assoreamento e a formação de bancos de areia na Barra do Ceará.

Além da própria valorização da paisagem natural, um bem que pode ser usufruído

por uma parcela maior da população que necessita de áreas verdes (p, 83).

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Após a identificação e a análise dos principais impactos encontrados no manguezal

do Rio Ceará é possível apontar algumas medidas que podem favorecer a recuperação

desse ambiente. Alguns dos possíveis métodos que podem ou não serem aplicados em

uma área a ser recuperada, ou ainda mostrar-se mais ou menos eficaz.

Acredita-se que o mangue do Rio Ceará possui uma boa capacidade de

recuperação, isso ficou bastante visível durante o trabalho de campo, principalmente por

conta do poder de resiliência bastante eficaz frente aos impactos a que está exposto.

A Figura 26 abaixo mostra o processo de resistência do mangue, pois mesmo sendo

um ambiente constante de degradação, ainda tenta sobreviver frente ao concreto das

construções, mostrando assim as possibilidades de recuperar-se naturalmente.

Figura 26: Presença de mangue jovem nas margens do Rio Ceará. Atrás moradias em locais de risco.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015

Dentre alguns fatores que podem ou não favorecer a recuperação natural ou

induzida de um ecossistema degradado é a saúde do solo, ele deve ter todos os

nutrientes necessários para que a vegetação possa se desenvolver bem. Desse modo, é

necessário fazer análises químicas e físicas para saber das deficiências nutricionais e,

posteriormente, fazer as correções necessárias.

Na elaboração do Fluxograma 1 optou-se por demonstrar as relações do

ecossistema manguezal com as ocupações irregulares e com outros tipos de usos

possíveis, apontando os principais impactos negativos e positivos e o resultado final

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dessas relações.

Fluxograma 1: Relação do ecossistema manguezal com a ocupação e outros tipos

de usos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Após a identificação e análise dos impactos da área da pesquisa e de avaliar como

está o processo de recuperação, chegou o momento de indicar propostas que possam

viabilizar ou melhorar a recuperação do ambiente degradado. A primeira opção é a

recuperação através do plantio que contribui para a regeneração natural, e a segunda

opção é a criação de outros meios de usos para o espaço e a mudança de atitudes.

O plantio é uma solução que possui muitas possibilidades de sucesso, embora, em

alguns casos, a garantia de sucesso possa ser baixa. Diante disso, a sua efetivação é um

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pouco mais complexa, sendo preciso ainda elaborar um plano de recuperação.

Seria bastante interessante e pertinente a criação de pequenas unidades

demonstrativas de recuperação, como por exemplo, escolher três pequenas áreas, duas

na margem direita do rio (mais degradado) e outra na margem esquerda (menos

degradado), respectivamente nos municípios de Fortaleza e Caucaia, para experiências

de recuperação.

No Mapa 2, é possível observar as diferenças entre as margens esquerda (Caucaia)

e a margem direita (Fortaleza). Ambas possuíam áreas de salinas, no entanto a de

Caucaia não sofreu o mesmo processo de ocupação e intervenções humanas como

ocorreu em Fortaleza, isso contribuiu para a quase total recuperação do manguezal da

margem esquerda.

O dito leva a concluir o quão é importante para um ambiente degradado permanecer

em repouso e livre de antigos e novos impactos, pois é um passo crucial na regeneração

de ambientes impactados.

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Mapa 2: Pontos visitados durante trabalho de campo. Fortaleza e Caucaia e algumas de suas representações ambientais

impactadas.

Fonte: Elaboração RABELO, 2016

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Atrelado a isso as ações de plantio de mudas e de sementes devem permanecer em

constante observação e monitoramento, análise de qual das três áreas se desenvolveu

melhor ou não, o que levou a evolução ou não das espécies, quanto tempo demorou para

os primeiros brotos se desenvolverem, a altura e se ocorreu alguma anormalidade.

Devido à grande complexidade dos elementos que compõem o ecossistema

manguezal, é indicado que para a criação de um projeto de recuperação do ambiente

através do plantio tenha a participação de uma equipe multidisciplinar, como geógrafos,

biólogos, químicos e outros profissionais que possam contribuir com o trabalho.

A segunda opção que pode favorecer a recuperação do manguezal do Rio Ceará

seria através de novos comportamentos ou mudanças de atitudes. Inicialmente é ideal

não permitir novas ocupações nessas áreas. Sabe-se da importância de ter um lugar

digno para morar, no entanto esses locais não são apropriados para o homem habitar.

Deve-se, então, exigir dos governantes a garantia de moradia digna para todos.

Esta pesquisa não tem como intuito a remoção dos moradores que lá vivem há

bastante tempo, mas sim evitar novas ocupações, evitando também a degradação

humana. No entanto, os locais já ocupados devem receber infraestrutura básica, como

saneamento básico, coleta de lixo, eletricidade, segurança e educação pública de

qualidade.

Quando se fala em recuperação de uma área degradada remete-se diretamente ao

plantio de mudas ou sementes, mas deve-se também levar em consideração a

possibilidade de criar outros meios que possam favorecer a recuperação ou regeneração

de uma área, como o aproveitamento de locais onde a regeneração pode ser dificultada

ou mesmo pela falta de investimento.

A educação ambiental é uma forte aliada na disseminação de novos conhecimentos

e informações sobre o ecossistema manguezal, pois, como foi dito, o mangue ainda é

visto com certo preconceito sendo muito importante tentar desconstruir essa visão já

ultrapassada. Atualmente um dos melhores meios para mudança ainda é o acesso à

informação.

O público-alvo seriam crianças e jovens locais, pois estes são os mais propensos a

mudanças, não que adultos e idosos também não sejam, mas os mais jovens podem dar

um retorno mais rápido e positivo, e contribuir ainda para a disseminação das

informações.

Podem ser realizadas oficinas, minicursos, passeios socioeducativos em barcos dos

próprios pescadores, trilhas ecológicas, participação das universidades na criação de

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projetos de extensão e participação efetiva dos governantes e dos órgãos responsáveis.

Outra opção que talvez possa mudar a realidade do manguezal do Rio Ceará, mas

que poderia ser implantada seria a criação de um Centro de Vivência e de um Ecomuseu,

pois seria um forte aliado na educação ambiental da comunidade, trazendo uma maior

interação entre a sociedade e a natureza.

A possibilidade de criar um Centro de Vivência poderia contar com a ajuda da

administração da APA do Rio Ceará, de entidades e instituições públicas e privadas, além

da participação da comunidade local. Como essa área de Fortaleza sofre com muitos

conflitos sociais talvez essa iniciativa possa dar contribuições para a mudança desta

realidade, para uma nova conscientização tanto ambiental como social.

O Rio Ceará possui um grande potencial que pode contribuir para usos

sustentáveis. De acordo com Mesquita (2010, p. 81), destacam-se as seguintes

potencialidades para a área de estudo:

Essa área apresenta um valor paisagístico e de grande importância histórico e

cultural, visto ser neste estuário que começou a colonização do Ceará no século XVII;

A beleza cênica favorece uma atividade turística, que pode ser intensificada na

área;

É um ambiente de lazer, a área é bastante frequentada aos fins de semana pelos

habitantes locais para atividades recreativas;

O manguezal desempenha um papel fundamental como fornecedor de matéria

orgânica para a planície flúvio-marinha;

Os domínios do manguezal também funcionam como refúgio da vida silvestre,

criadouro e abrigo de diversas espécies da fauna aquática e terrestre, de modo a possuir

alto valor ecológico, social e econômico;

A área do estuário serve como abrigo e ancoradouro para as embarcações de

pequeno porte;

Os passeios de barco e as trilhas ecológicas pelo manguezal favorecem o eco

turismo no local.

O Fluxograma 2 demonstra as formas como o ambiente pode se comportar

mediante os tipos de recuperação propostas pela pesquisa: a recuperação natural ou a

recuperação induzida.

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Fluxograma 2: Relação dos tipos de recuperação em áreas degradadas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Criou-se um possível cenário de como a área da antiga salina do Vila Velha poderia

ser reutilizada. Buscou-se apresentar idéias que devem ser desenvolvidas através de

projetos bem elaborados contemplando todas as etapas necessárias: planejamento,

cronograma de implantação, fontes de financiamento e resultados esperados, de modo

que venha a favorecer tanto o meio ambiente como a sociedade, principalmente a

comunidade local.

Na Figura abaixo (29) foram escolhidos seis tipos possíveis de usos para essa área,

em que cada cor possui uma representatividade e uma função diferenciada. Centro de

vivência, ecomuseu, estufa, mirante ou observatório, área de plantio e percusso de barco.

O centro de vivência (vermelho) seria um local onde poderiam ser realizados

encontros, palestras, pequenos eventos, oficinas e minicursos. O ecomuseu (amarelo)

consiste em um espaço com exposições que aborde um pouco a história da ocupação

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das margens do Rio Ceara, dos pescadores e indígenas e da própria comunidade local.

A estufa (azul) seria um local onde as mudas e as sementes pudessem ser

mantidas e monitoradas até o plantio na área de mangue designada. O mirante ou

observatório (preto) seria um ambiente onde seria possível observar a área de manguezal

e o próprio Rio Ceará.

O quinto ponto, área de plantio (laranja) caracterizaria um local onde seriam

realizados os primeiros plantios de vegetação do mangue, em que a comunidade do

entorno participaria da intervenção, uma área de experimento que com o passar do tempo

poderia ter uma extensão maior.

O último ponto, o percurso de barco (linha branca), seria uma possibilidade para o

trajeto da embarcação, podendo contribuir de modo bastante significativo para um maior

conhecimento sobre a área de manguezal do Rio Ceará.

Figura 27: Áreas fictícias criadas para os possíveis usos da área salina.

Centro de Vivência Ecomuseu Estufa

Mirante ou observatório Área de Plantio Percurso do Barco

Fonte: Imagem Google EarthPro, 2016.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante a discussão realizada durante o desenvolvimento desta pesquisa é

possível perceber a importância de recuperar áreas de manguezais degradados. Como foi

discutido nos capítulos anteriores, o mangue do Rio Ceará está bastante impactado, e os

impactos são provenientes, principalmente, de ocupações irregulares em áreas impróprias

para moradia.

Resumidamente, a pesquisa procurou primeiramente entender o processo histórico

de ocupação da área de estudo, sendo realizada uma caracterização do ecossistema

manguezal e identificados e analisados os impactos presentes na área, para que fosse

possível avaliar o atual estado de degradação ambiental em que o manguezal se

encontra.

Ficou claro que dentro do ecossistema manguezal do Rio Ceará a área que mais

sofre com impactos é a que está localizada dentro da antiga salina, abrangendo parte do

Conjunto Habitacional Vila Velha.

Durante o trabalho de campo foi verificado que dentro da antiga salina do Vila

Velha, mesmo com o intenso processo de ocupação irregular, o mangue tenta se

regenerar, mas, infelizmente, os mangues jovens não conseguem amadurecer, fato que

compromete a recuperação natural desse ambiente.

Acredita-se que a falta de vitalidade na recuperação de parte do manguezal está

diretamente ligada aos impactos causados pela ocupação irregular e com os impactos

deixados pela atividade salineira. Isso interfere bastante na recuperação do meio

ambiente em questão, que precisa de, no mínimo, de solo saudável e da ação diária da

maré.

A questão turística, principalmente a ligada ao ecoturismo, pode ser algo positivo

para ajudar na revitalização dessa área, pois muitos fortalezenses não sabem que, além

do Parque do Cocó existe o manguezal do Rio Ceará, ou desconhecem que dentro de

Fortaleza existiram áreas de salina, como a do Vila Velha. Em síntese, é interessante

divulgar para sociedade a existência desses ambientes poucos conhecidos e respeitados.

Desse modo, a criação de projetos para aproveitamento ecoturístico de certas

áreas deve ser pensada e implementada, além de criar atividades educativas para as

crianças, passeios e trilhas ecológicas, visitações guiadas e passeios de barco. Essas e

outras atividades favorecem bastante a interação da sociedade com a natureza.

Com isso, é preciso entender que a área da pesquisa possui muitos atributos que a

faz única em se tratando de aspectos naturais. É um local que pode ser “aproveitado” de

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várias maneiras, desde voltadas para o processo de recuperação como para outras

atividades como os projetos sociais que buscam um melhor desenvolvimento ambiental e

social.

Ficou claro durante o decorrer da pesquisa que em áreas onde se deseja recuperar

é necessário que o ambiente esteja em repouso e que os impactos apresentados na área

sejam removidos. Desse modo, o ambiente pode regenerar-se naturalmente, além de

poder contar com a participação do homem no auxílio desse processo.

Sabe-se que a recuperação não é a solução para todos os problemas ambientais

presenciados nos últimos tempos, mas pode ser uma nova alternativa no auxílio da

preservação ambiental. Acredita-se no potencial e no sucesso em recuperar áreas

degradadas.

Fica clara a importância em estudar e criar projetos e pesquisas voltadas para a

recuperação ambiental, tanto em manguezais, no sertão ou em áreas de extração de

minérios, pois, infelizmente, a cada dia a degradação ambiental aumenta, e com esta

surge a possibilidade da infertilidade ambiental.

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