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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CCT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA PROPGEO MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA JEAN FILIPPE GOMES RIBEIRO A ESTRATÉGIA DE CRIAÇÃO E GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E A INTERFACE SOCIEDADE-NATUREZA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA INTEGRADA SOBRE A APA DA SERRA DE MARANGUAPE FORTALEZA CEARÁ 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – CCT

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PROPGEO

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

JEAN FILIPPE GOMES RIBEIRO

A ESTRATÉGIA DE CRIAÇÃO E GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E

A INTERFACE SOCIEDADE-NATUREZA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA

INTEGRADA SOBRE A APA DA SERRA DE MARANGUAPE

FORTALEZA – CEARÁ

2014

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JEAN FILIPPE GOMES RIBEIRO

A ESTRATÉGIA DE CRIAÇÃO E GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E A

INTERFACE SOCIEDADE-NATUREZA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA

INTEGRADA SOBRE A APA DA SERRA DE MARANGUAPE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia do Centro de Ciências

e Tecnologia da Universidade Estadual do

Ceará como requisito parcial para a obtenção do

grau de mestre em Geografia. Área de

Concentração: Análise Geoambiental e

Ordenação do Território nas Regiões

Semiáridas e Litorâneas.

Orientadora: Profa. Dra. Isorlanda Caracristi

FORTALEZA – CEARÁ

2014

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Para Maria e Antônio, por terem me concebido

a maior dom de todos, origem de todas as

paixões, fonte de todos os desejos, significado

para cada luta e motivo para a busca de todas as

aventuras.

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“A prática geográfica não é suficientemente

sustentada sem uma reflexão organizada e

continua sobre a teoria, o método e a

epistemologia. ”

(George Bertrand)

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AGRADECIMENTOS

A execução deste trabalho foi uma tarefa dura e de descoberta, não apenas em meu

amadurecimento acadêmico, mas também no conhecimento dos meus limites e minhas

possibilidades. A sua finalização só se tornou possível graças ao apoio que recebi de todos que

de alguma forma colaboraram para que eu tivesse chegado até aqui e me deram força para seguir

em diante.

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais pelo apoio que me deram durante minha

formação e pela confiança que me conceberam em minhas escolhas profissionais, este trabalho

é fruto da trajetória que trilhei e não poderia ter sido realizado sem tudo que vocês fizeram por

minha educação.

À Profa. Isorlanda Caracristi, minha orientadora, pela compreensão que teve por mim, pela

dedicação que me concedeu e os ricos debates que me proporcionou. Devo muito a você em

minha formação, para mim, você é a referência do que é ser geógrafo(a), pois sua postura

acadêmica, profissional, política e ética é uma inspiração num mundo que nos cobra sempre ser

individualistas e pragmáticos.

À Profa. Claudia Grangeiro, eterna tutora. Minha trajetória na universidade não teria se dado da

mesma forma se não tivesse sido enriquecida por sua genialidade, dedicação e carinho. Contar

com suas contribuições é um privilégio, porque nos inspira não só a se esforçar em produzir um

bom trabalho acadêmico, mas nos leva a discutir o papel transformador que a Geografia tem.

Aos professores do PROPGEO, em especial aqueles que tive a oportunidade de ser aluno, Prof.

Edilson; Prof. Otavio; Prof. Marcos; Profa. Lucia Brito, Prof. Manoel, por compartilharem de

seus conhecimentos e esforços na formação de pesquisa em Geografia.

Ao João Vitor, amigo de grandes e ousados projetos, sempre disposto a um bom debate.

Aos colegas de turma de mestrado Jorge, Ianone, Rejane, Erica, Naiana pelas trocas de

experiências e os momentos de descontração.

À Lizabeth, grande geógrafa, agradeço as atenciosas e pacientes conversas que em muito me

ajudaram.

Ao Alex pela amizade incondicional.

Ao Diego pela ajuda com os mapas.

Ao Roberto pelos momentos de descontração e pela companhia nas horas mais difíceis.

A todos os colegas do PET GEO UECE, aqueles que foram meus contemporâneos e os que tive

o prazer de conhecer já no mestrado, vocês são parte fundamental do meu crescimento na

Geografia.

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À Fundação Mata Atlântica Cearense, na pessoa do Ednaldo Vieira e ao seu esforço diário na

luta pela defesa do meio ambiente.

À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo subsídio a

pesquisa.

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RESUMO

A criação de Unidades de Conservação representa uma das estratégias de proteção da natureza

presente na política ambiental brasileira, tendo-se por base a Lei Federal 9.985 de 18/7/2000

que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Trata-se de uma

tipologia de área protegida, delimitada para controlar a ocupação através da regulação sobre as

formas de uso dos recursos e na proteção dos processos ecológicos. Depois de criadas, essas

áreas enfrentam problemas relacionados à sua gestão, frequentemente causados por embates

relacionados a conflitos fundiários sobre o manejo dos recursos naturais ou pela relação entre

comunidades tradicionais e sua gerência, o que requer relacionar elementos sociais e naturais

na compreensão do processo de efetivação dessa estratégia. As abordagens de análise integrada

da Geografia constituem importante arsenal na compressão desses processos ao considerarem

a interface sociedade-natureza dos objetos, dentre elas destaca-se o Sistema Geossistema-

Território-Paisagem (GTP), proposto pelo geógrafo francês Georges Bertrand. Partindo dessa

problemática, a presente pesquisa objetivou avaliar a estratégia de criação e gestão de unidades

de conservação de uso sustentável a partir dos pressupostos da análise geográfica integrada do

Sistema GTP. Ao se ater a tal temática, a presente pesquisa pretende ampliar as discussões sobre

a criação de áreas protegidas, orientando reformulações e/ou críticas às formas de gestão e

planejamento ambiental existentes. Dessa forma, tomou-se como área de estudo a Área de

proteção Ambiental (APA) da Serra de Maranguape no município de Maranguape, Ceará. Essa

área abrange um refúgio de Mata Atlântica no semiárido nordestino que abriga condições

naturais e de ocupação diferenciadas do seu entorno. Através da análise integrada dos

componentes da paisagem, pôde-se identificar a relação entre os elementos físico-naturais,

econômicos e culturais na APA, permitindo entender como os instrumentos que ela dispõe em

sua criação e gestão repercutem neles. Assim, foi possível realizar diagnósticos e prognósticos

sobre a APA e sua gestão com o suporte do Sistema GTP, levantando aspectos que podem

contribuir para a eficácia da unidade.

Palavras-Chave: Análise Geográfica Integrada. Sistema GTP. Unidades de Conservação. APA

da Serra de Maranguape.

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ABSTRACT

The establishment of Conservation Units is one of the nature protection strategies in Brazilian

environmental policy; it is based on the Federal Law 9985 of 18.7.2000, which provides for the

National System of Conservation Units (SNUC). It is a typology of protected area bounded to

control the occupation through regulation on the form of resource use and protection of

ecological processes. Once created, these areas face problems with their management often

clashes related to land conflicts and the management of natural resources, the relationship

between traditional communities and their management, which requires to relate social and

natural elements in understanding the process of effecting this strategy. Approaches to

integrated analysis of geography is an important arsenal in the compression of these processes

by considering the nature-society interface objects, among which stands out the Geosystem-

Territory-Landscape System (GTP) proposed by the French geographer Georges Bertrand. On

this issue, the present study aimed to evaluate the strategy of establishing and managing of

sustainable use conservation units from the assumptions of integrated geographic analysis of

the GTP system. By sticking to this theme, the present research aims to expand the discussions

on the creation of protected areas targeting reformulations and/or criticism of forms of

environmental management and planning existing. Thus, it was taken as study area the

Environmental Protection Area (APA) of Serra de Maranguape in the municipality of

Maranguape, Ceará. This area covers a haven of Atlantic Forest in northeastern semiarid

harboring natural and differentiated occupation of their surroundings conditions. Through

integrated analysis of landscape components, we could identify the relationship between the

physical-natural, economic and cultural elements in the APA, being possible to understand how

the instruments it has in its creation and management impacting them. Therefore, it was possible

to perform diagnostics and prognostics on the APA and its management with the support of the

GTP system raising aspects that can contribute to the efficiency of the unit.

Keywords: Integrated Geographic Analysis. GTP System. Conservation Units. APA of Serra

de Maranguape.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Atividades da Pesquisa .................................................................................... 24

Gráfico 02 – Construção do Objeto de Estudo ................................................................... 40

Gráfico 03 – Porcentagem do Bioma Protegido por Unidades de Conservação .............. 56

Gráfico 04 – Representatividade dos Compartimentos Geoambientais Cearenses no

Montante de Áreas Protegidas do Estado do Ceará .................................... 61

Gráfico 05 – Média Mensal Pluviométrica no Município de Maranguape (1978-2013)

........................................................................................................................... 85

Gráfico 06 – Evolução do Produto Interno Bruto Municipal de Maranguape (1999-

2011) ................................................................................................................. 99

Gráfico 07 – Quantidade de Banana Comercializada na Ceasa Proveniente de Maran-

guape (2002-2013) ......................................................................................... 100

Gráfico 08 – Movimentação Financeira da Comercialização de Banana Proveniente

de Maranguape na CEASA (2002-2013) ..................................................... 100

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Guia Metodológico na Análise da Paisagem a Partir da Criação de Uni-

dades de Conservação ..................................................................................... 26

Quadro 02 – Materiais Utilizados ........................................................................................ 27

Quadro 03 – Tipologia das Unidades de Conservação ....................................................... 47

Quadro 04 – Unidades de Conservação do Estado do Ceará ............................................ 58

Quadro 05 – Compartimentação dos Maciços Residuais no Estado do Ceará ................ 78

Quadro 06 – Quadro de Tempo: Fatos Marcantes e Suas Implicações na Paisagem ... 106

Quadro 07 – Classificação das Paisagens por Bertrand .................................................. 108

Quadro 08 – Estimativa da Abrangência Absoluta e Percentual das Classes de Uso e

Cobertura na APA da Serra de Maranguape ............................................ 123

Quadro 09 – Principais Enfoques das Fases de Planejamento de APA .......................... 129

Quadro 10 – Avaliação da Efetividade da Apa da Serra de Maranguape ..................... 142

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – O Sistema GTP .................................................................................................. 37

Figura 02 – Domínios Morfoestruturais e Morfoclimáticos do Brasil .............................. 63

Figura 04 – Áreas Prioritárias para a Preservação da Mata Atlântica no Brasil ........... 71

Figura 05 – Expressão Litológica e Uso no Maciço de Maranguape ................................ 79

Figura 06 – Aproveitamento Mineral na Serra de Maranguape ...................................... 80

Figura 07 – Visualização 3D do Maciço Residual de Maranguape com Visada NE-SW

............................................................................................................................. 81

Figura 08 – Fluxos de Umidade e Brejos de Altitude no Nordeste ................................... 84

Figura 09 – Aproveitamento Hídrico na APA .................................................................... 86

Figura 10 – Perfis Representativos das Classes de Solos da APA da Serra de Maran-

guape ................................................................................................................... 88

Figura 11 – Mangue de Altitude. .......................................................................................... 90

Figura 12 – Exemplares da Fauna na APA. ........................................................................ 91

Figura 13 – Cultivo de Café, Traços da Modificação na Paisagem. ................................. 95

Figura 14 – Diferentes Padrões de Ocupação na APA ....................................................... 97

Figura 15 – Mapa da Compartimentação Ambiental da APA da Serra de Marangua-

pe ....................................................................................................................... 116

Figura 16 – Uso Agrícola na Paisagem .............................................................................. 118

Figura 17 – Repercussões na Paisagem da Moradia e Veraneio ..................................... 120

Figura 18 – Criação de Animais na APA .......................................................................... 121

Figura 19 – Perfil Esquemático em 3D do Uso e Cobertura na Vertente Oriental da

Serra ................................................................................................................. 123

Figura 20 – Ocupação em Área de APP ............................................................................ 127

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 – Mapa de Localização da APA da Serra de Maranguape ................................ 21

Mapa 02 – Mapa Básico da APA da Serra de Maranguape .............................................. 76

Mapa 03 – Mapa Hipsométrico da APA da Serra de Maranguape .................................. 82

Mapa 04 – Uso e Cobertura na APA da Serra de Maranguape ...................................... 124

Mapa 05 – Áreas de Preservação Permanente da APA da Serra de Maranguape ....... 128

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Número e Extensão das Unidades de Conservação Federais Pré e Pós Snuc

............................................................................................................................. 55

Tabela 02 – Setorização da Serra de Maranguape-CE ...................................................... 81

Tabela 02 – População Residente em Maranguape – 1991/2000/2010 .............................. 99

Tabela 03 – Renda Nominal Mensal em Salários Mínimos das Pessoas de 10 Anos ou

mais de Idade Moradoras em Domicílios Particulares Permanentes na

APA da Serra de Maranguape ....................................................................... 102

Tabela 04 – Energia Elétrica nos Domicílios Particulares Permanentes na APA da

Serra de Maranguape ..................................................................................... 102

Tabela 05 – Abastecimento de Água nos Domicílios Particulares Permanentes na APA

da Serra de Maranguape ................................................................................ 103

Tabela 06 – Domicílios Particulares Permanentes com Banheiro ou Sanitário na APA

da Serra de Maranguape ................................................................................ 104

Tabela 07 – Destino do Lixo nos Domicílios Particulares Permanentes na APA da Ser-

ra de Maranguape ........................................................................................... 105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17

1.2 QUESTÕES NORTEADORAS ................................................................................. 22

1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................... 23

2. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS ..................................................................... 23

3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ............................................... 30

3.1 A ANÁLISE INTEGRADA EM GEOGRAFIA E A PROBLEMÁTICA EM TOR-

NO DA CRIAÇÃO E GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS ................................... 30

3.1.1 Das Abordagens Integradas à Proposição do Sistema GTP ................................. 32

3.1.2 O Reencontro com a Paisagem e uma Proposição Metodológica para o Estudo

Geográfico Integrado Sobre as Áreas Protegidas. ................................................ 37

3.1 A POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E AS ÁREAS PROTEGIDAS: O

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES CONSERVAÇÃO – SNUC ..................... 41

3.1.1 Instrumentos do SNUC ............................................................................................ 51

3.2.1.1 Criação de unidades de conservação .......................................................................... 51

3.2.1.2 Obrigação do empreendedor de apoiar unidades de conservação .............................. 51

3.2.1.3 Corredores Ecológicos e Zonas de Amortecimento ................................................... 51

3.2.1.4 Mosaico de unidades de conservação ......................................................................... 52

3.2.1.5 Conselho Gestor ......................................................................................................... 53

3.2.1.6 Plano de manejo ......................................................................................................... 54

3.2.1.7 Zoneamento ................................................................................................................ 55

3.2.1 Conflitos em unidades de conservação e o contexto cearense .............................. 55

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 62

4.1 A APA DA SERRA DE MARANGUAPE NO CONTEXTO DA ANÁLISE IN-

TEGRADA DA PAISAGEM ..................................................................................... 62

4.1.1 Paisagens de Exceção: Os Brejos de Altitude no Cenário dos Domínios das

Caatingas. .................................................................................................................. 62

4.1.2 A Área de Proteção Ambiental da Serra de Maranguape .................................... 72

4.1.3 Análise Integrada dos Componentes na Configuração da Paisagem da APA da

Serra de Maranguape .............................................................................................. 77

4.1.4 Configuração territorial: atividades socioeconômicas e aspectos demográficos

da APA....................................................................................................................... 93

4.1.5 Compartimentação da Paisagem ........................................................................... 108

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4.2 A INTERFACE SOCIEDADE-NATUREZA E A CRIAÇÃO E GESTÃO DA APA

DA SERRA DE MARANGUAPE ........................................................................... 117

4.2.1 Tipos de uso e implicações na paisagem ............................................................... 117

4.2.1.1 Uso Agrícola ............................................................................................................. 117

4.2.1.2 Moradia e veraneio ................................................................................................... 119

4.2.1.3 Extrativismo e criação de animais ............................................................................ 120

4.2.2 Instrumentos de regulamentação e gestão sobre a APA ..................................... 125

4.2.2.1 Áreas de Preservação Permanente ............................................................................ 125

4.2.2.2 Planejamento e gestão .............................................................................................. 129

4.2.3 A APA na percepção dos grupos sociais ............................................................... 137

4.2.4 Análise geográfica integrada na avaliação de indicadores de efetividade. ........ 139

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 144

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 147

ANEXOS ................................................................................................................. 155

ANEXO A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIDIRIGIDA ....................... 1556

ANEXO B – PLANO DE GESTÃO DA APA DA SERRA DE MARANGUAPE 157

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1 INTRODUÇÃO

A segunda metade do século XX é marcada pela emergência das questões

ambientais oriundas do agravamento da problemática da fome, dos acidentes relacionados à

energia nuclear, das elevadas taxas de extinção de espécies, da dilapidação dos recursos naturais

etc. São temas que ganham destaque no seio da sociedade, mobilizando, assim, a produção

técnico-científica, bem como a sua institucionalização através da criação de políticas,

instrumentos jurídicos e organismos estatais de controle e fiscalização.

Surge a preocupação com a potencialidade destrutiva da racionalidade técnico-

científica para com a natureza. A revolução industrial é um marco histórico desse processo em

que uma nova forma de produção se impõe sobre o trato e a obtenção de recursos naturais. O

desenvolvimento da sociedade urbano-industrial e suas práticas produtivas exercem cada vez

mais pressões sobre o meio ambiente, causando a fragmentação, a perda e alteração de habitats.

O desenvolvimento das cidades e a alteração de rios para a produção de energia, a

superexploração de populações de espécies selvagens, a poluição e a introdução de espécies

exóticas são debates que entram nas pautas de movimentos sociais e da comunidade acadêmica.

Com o desenvolvimento da Ecologia surgem as primeiras interpretações científicas

sobre as implicações desses processos, tais como: a fragmentação dos ambientes, o impacto dos

poluentes químicos nos ecossistemas e as interferências nos ciclos de nutrientes. Dentre elas,

destaca-se a preocupação com a perda da diversidade biológica e o desaparecimento de

ecossistemas.

O relatório bianual do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Planeta Vivo 2012,

com base em 9.014 populações de 2.688 mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e peixes de

diferentes biomas e regiões, indica uma queda do Índice Planeta Vivo Global de 30% de 1970

a 2008 (WWF, 2012). Ainda para a região biogeográfica Neotropical, onde se incluem os

biomas brasileiros, o Índice Planeta Vivo apresentou uma queda de 55% com a estimativa de

perca de floresta tropical de 0,5% ao ano entre 2000 e 2005.

A variabilidade genética de populações diversas no interior dos ecossistemas

assegura a persistência de uma espécie diante das mudanças ambientais que ocorrem

naturalmente. Assim, a perda de biodiversidade pode provocar o estresse ou degradação de

ecossistemas, diminuindo sua estabilidade e capacidade de resiliência (EHRLICH, 2007) e

comprometendo uma série de processos naturais, tais como a ciclagem de nutrientes, a

formação do solo, os fluxos hidrológicos e a regulação do clima (DAILY, 1997 apud ARAUJO,

2007).

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18

Além da importância da biodiversidade como elemento da exploração biológica

atuando na troca de matéria e energia na paisagem, grande parte das atividades econômicas,

como a indústria e a agricultura, são impactadas diretamente pelos serviços ambientais

prestados pela biodiversidade. Segundo o Ministério do Meio Ambiente do Brasil, cerca de

40% do Produto Interno Bruto do país é gerado pelo setor primário que depende diretamente

do patrimônio genético provido da diversidade biológica (ARAUJO, 2007).

Ainda sobre a biodiversidade, é traço comum no pensamento de vários autores a

existência de uma estreita relação entre a diversidade cultural e a diversidade biológica. Diegues

(2001) coloca que certas comunidades tradicionais desenvolveram modos de vida particulares

que envolvem grande dependência dos ciclos naturais, conhecimento profundo dos ciclos

biológicos e dos recursos naturais, e que as formas de manejo por elas criadas contribuíram

para a diversidade biológica e ecológica em regiões específicas.

Paulatinamente, foram incorporadas medidas e estratégias no intuito de oferecer

respostas às problemáticas da crise ambiental, entre elas a demarcação de áreas protegidas como

medidas de proteção da biodiversidade. Tal interesse se dá, principalmente, após os avanços

científicos e tecnológicos que conferiram novos usos e aplicações para a diversidade biológica.

Dessa maneira, surge o interesse pelo controle e exploração da biodiversidade. Paralelamente,

são desenvolvidas em âmbito institucional estratégias e programas para a conservação da

biodiversidade para a criação de áreas protegidas com base nas experiências da criação do

Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos em 1872 e na política de proteção à

natureza desenvolvida na Europa pela legislação de uso e ocupação do solo.

A institucionalização dessas áreas no Brasil, que acompanha o debate internacional

em torno da questão, acontece, inicialmente, com a criação dos Códigos Florestal e de Água,

em 1934, mas é com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

(SNUC), em 2000, que uma política de gestão territorial é criada no intuito de preservar a

biodiversidade através da proteção dos biomas brasileiros, instituindo o conceito de unidade de

conservação (UC):

[...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,

com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com

objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,

ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

A política de criação de áreas protegidas através da institucionalização de Unidades

de Conservação ainda gera grandes embates técnico-científicos e políticos. Depois de criadas,

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as UC ainda enfrentam problemas relacionados à sua gestão, quase sempre embates

relacionados a conflitos fundiários e sobre o manejo dos recursos naturais, a relação entre

comunidades tradicionais e a gerência das unidades demonstram os limites dos processos

participativos na gestão dessas unidades.

A ciência geográfica não é negligente a essas questões. Várias são as pesquisas

realizadas abordando os diferenciados aspectos da criação de UC, tais como: as territorialidades

envolvidas na delimitação de UC; as questões geopolíticas das estratégias de proteção da

diversidade genética e dos conhecimentos tradicionais e as contribuições parcelares nos estudos

de processos naturais e das metodologias de estudos integrados da paisagem, notadamente

influenciadas pelos trabalhos de G. Bertrand e J. Tricart, dão grandes contribuições aos

instrumentos de planejamento e gestão, somente para citar alguns exemplos.

No entanto, a complexidade da questão ambiental vem colocando uma série de

desafios para a ciência e, em particular, para a Geografia. A abordagem dessa problemática no

âmbito das relações sociedade-natureza por vezes reduz o debate a uma perspectiva naturalista

a partir de uma visão compartimentada e setorizada de natureza ou excluem das dinâmicas

sociais processos naturais enquanto condicionantes e parte de sua (re)produção. Tal

reducionismo implica em conceitos e metodologias que não conseguem avaliar a complexidade

do debate ambiental, oferecendo, assim, uma análise limitada e de proposições pouco efetivas

no trato da questão ambiental.

A crise ambiental é, neste sentindo, uma crise da racionalidade econômica imposta

ao conhecimento, os problemas ambientais são fundamentalmente problemas de conhecimento

(LEFF, 2002). Para Leff (2002), a crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida

pelo desconhecimento do conhecimento, da concepção do mundo e do domínio da natureza.

Podem-se destacar três pontos de fratura que representam as renovações imposta por essa crise:

1) Os limites do crescimento e a construção de um paradigma de produção sustentável; 2) A

fragmentação do conhecimento, o surgimento da teoria dos sistemas e do pensamento da

complexidade e 3) O questionamento da concentração de poder pelo Estado e do mercado

(LEFF, 2008).

Nesse viés contra o projeto epistemológico positivista, sua visão mecanicista,

especializada e objetivista, emergem novas formas de compreensão sobre os fundamentos do

saber e do sentido da vida que orientam um desenvolvimento sustentável da humanidade. Novos

paradigmas que inovam nas formas de compreensão e trato da questão ambiental dentro daquilo

que Leff (2008) chama de saber ambiental e do pensamento complexo de Morin (2002).

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É dentro desse cenário de renovações epistemológicas, de construção de leituras

interdisciplinares e complexas que o geógrafo francês George Bertrand propõe, no final da

década de 1990, o sistema Geossistema-Território-Paisagem (GTP) como ferramenta teórico-

metodológica. Na década de 1960, George Bertrand é um dos primeiros geógrafos a introduzir

o enfoque integral nos estudos do meio ambiente, centralizando suas reflexões sobre o conceito

geográfico de paisagem. Bertrand introduz à análise da Geografia Física o antropismo, que

passa a compor uma tríade dialética no estudo do meio, elaborando, assim, um procedimento

metodológico que dá operacionalidade às análises geossistêmicas.

A proposta inovadora da década de 60 de Bertrand possui bastante aceitação na

comunidade geográfica, notadamente no Brasil onde são variadas suas aplicações. Apesar do

avanço da proposta de Bertrand para a Geografia Física, a abordagem reduz a atividade humana

a um elemento consumidor de matéria e catalisador de ciclos energéticos, explorando a

elasticidade do meio, na medida em que desencadeava retroalimentações locais. Revendo o

papel dos agentes na paisagem, o geógrafo francês busca, em trabalhos posteriores, resituar o

elemento humano em um polo especial dentro do modelo sistêmico onde as representações

simbólicas passam a ser expressão da relação sociedade-natureza na paisagem (REIS JUNIOR,

2012).

Surge, assim, o Sistema GTP, avançando em seus pressupostos ao apontar

caminhos para uma leitura integrada de conceitos, possibilitando, dessa forma, elencar

múltiplos aspectos a análise geográfica da realidade socioambiental emergindo como uma

ferramenta importante para o entendimento da problemática da conservação dos recursos

naturais através das UC.

Nessa perspectiva, como base de estudo elegeu-se as unidades de conservação do

estado do Ceará, tendo como recorte empírico a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra

de Maranguape (Mapa 01), localizada na Região Metropolitana de Fortaleza e compreendida

entre os Municípios de Maranguape e Caucaia, com uma área de 5.521,52 ha. A APA abriga

um maciço residual cristalino em meio à depressão sertaneja, tratando-se de superfícies

topograficamente elevadas submetidas à influência de mesoclimas de altitude que contrasta

com a paisagem semiárida do interior cearense pelo desenvolvimento de uma mata úmida com

presença de espécies endêmicas (SOUZA, 2000).

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Mapa 01 – Mapa de Localização da APA da Serra de Maranguape

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Segundo Aguiar-Silva et al. (2011), as unidades de conservação do estado do Ceará,

em sua maioria (81%), não tiveram na sua criação a adoção de critérios técnico-científicos e,

em muitas, o plano de manejo, instrumento básico de gestão, não havia sido elaborado. Ainda

segundo a autora, no entorno das unidades havia grandes conflitos fundiários e a fiscalização

ineficiente favorecia a especulação imobiliária e o tráfico de animais.

Ao apontar o sistema GTP como ferramenta importante em promover uma análise

integrada no debate da gestão territorial associada à preservação dos recursos naturais e suas

formas de apropriação, a presente pesquisa pretende ampliar as discussões sobre a criação de

áreas protegidas, orientando, dessa maneira, reformulações e/ou críticas às formas de gestão e

planejamento ambiental existentes quanto a sua capacidade de efetivação prática na proteção

dos recursos naturais.

Pretende-se, assim, contribuir para uma leitura da realidade socioambiental do

semiárido cearense através da institucionalização da APA da Serra de Maranguape frente à

singularidade desse ambiente no domínio morfoclimático semiárido e sua apropriação enquanto

recurso nas atividades econômicas da região.

1.2 QUESTÕES NORTEADORAS

Dentro deste cenário a presente pesquisa partiu das seguintes questões norteadoras:

1) Como entender a estratégia de preservação dos recursos naturais por meio da

criação de áreas protegidas utilizando uma análise geográfica integrada?

2) Quais os fundamentos teóricos e técnico-científicos utilizados na criação e

avaliação de unidades de conservação?

3) Qual a efetividade prática da criação de unidades de conservação para

preservação da biodiversidade e demais recursos naturais e como avaliá-la

através de uma leitura geográfica?

4) Como os estudos geográficos integrados podem orientar a criação de políticas e

instrumentos de gestão e planejamentos socioambientais mais adequadas?

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1.3 OBJETIVOS

Elencou-se como objetivo geral para a pesquisa: avaliar a estratégia de criação e

gestão de unidades de conservação de uso sustentável a partir dos pressupostos da análise

geográfica integrada do Sistema GTP (Geossistema-Território-Paisagem), tendo como

objetivos específicos:

Analisar a proposta metodológica do Sistema GTP buscando fundamentos

teórico-metodológicos voltados à relação entre estudo geográfico integrado,

políticas de preservação ambiental e gestão de recursos naturais como elementos

de interface da relação sociedade-natureza;

Discutir as bases teóricas e técnicas sobre Unidades de Conservação;

Aplicar o sistema GTP como pressuposto metodológico na avaliação da

estratégia de criação/institucionalização da Área de Proteção Ambiental (APA)

da Serra de Maranguape;

Identificar os parâmetros técnico-científicos, jurídicos e ambientais utilizados na

criação e gestão da APA da Serra da Maranguape bem como em seu plano de

gestão e programas de manejo;

Diagnosticar a efetividade prática da implantação e gestão da referida APA na

regulamentação e monitoramento do uso sustentável dos recursos naturais.

2. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS

Para sua execução, as atividades da pesquisa (Gráfico 01) foram divididas em

atividades de laboratório, atividades de campo e organização dos dados. As atividades de

laboratório contaram inicialmente com uma revisão de literatura sobre análise integrada da

paisagem, tendo como principais referências Rodriguez et al. (2004), Bertrand (2007) e Tricart

(1978), e sobre áreas protegidas com foco para política ambiental brasileira de conservação

utilizando os trabalhos de Brasil (2000), Diegues (2001), Araújo (2007), Medeiros (2005) e

Bensusan (2006). Para construir uma abordagem integrada da paisagem da APA da Serra de

Maranguape foram essenciais as referências de Souza (2000), Arruda (2001) e Ceará (2002).

Os trabalhos de Maia (2001), Cordeiro (2013), Lima (2005) e Mendes (2006) são estudos já

realizados na área que auxiliaram na construção de um cenário de modificações na paisagem e

a compreender as transformações socioespaciais quem implicam na efetividade da UC,

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somando aos dados de IBGE (2000) e do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE) sobre o meio socioeconômico.

Gráfico 01 – Atividades da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor

A construção do referencial teórico teve como principal base a trajetória de Bertrand

(2007) no estudo da paisagem. Conjuntamente com as reflexões feitas por Passos (2006) e a

revisão sobre as Unidades de Conservação foi proposto um roteiro metodológico na análise da

paisagem (Quadro 01). Primeiramente, definiram-se três etapas que buscaram concentrar e

sistematizar procedimentos específicos capazes de agrupar o levantamento de dados e análises

parciais em torno de temas chaves, favorecendo a organização dos dados obtidos e a geração

de produtos essências à análise da paisagem. Cada procedimento, por sua vez, exigiu fontes de

consulta variadas e instrumentos diversos para obtenção e coleta dos dados. O agrupamento por

etapas facilitou a construção de um cronograma de atividades que foram organizadas de forma

hierárquica, facilitando sua execução e a consulta das fontes de obtenção para cada dado. Por

fim, ao final de cada etapa, foram gerados produtos que serviram de objetos de reflexão e análise

para a realização do objetivo geral da pesquisa.

A primeira etapa, a Análise Pré-paisagística, tem por função reunir e classificar as

informações sobre a paisagem e foi organizada sobre duas coordenadas que são interativas.

Uma coordenada material que objetiva reunir a configuração de conjuntos dos corpos materiais

que entram na composição do espaço geográfico, trata-se da análise geossistêmica que nos

permite obter de forma global, interativa e integrativa a relação entre os elementos constituintes

da paisagem. A outra se trata de uma coordenada ideal que busca investigar os atores da

•Levantamento Bibliográfico;

•Construção do Referencial Teórico;

•Levantamento cartográfico e aeroespacial;

Atividades de laboratório

•Reconhecimento de campo;

•Visita a instituições;

•Aplicação de entrevista semidirigidas;

•Registros fotográficos e coleta de coordenadas;

Atividades de campo

•Produção cartográfica;

•Confecção de gráficos e tabelas;

• Integração e interpretação de dados;

•Redação final;

Organização dos dados

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paisagem em função dos projetos e atividades que realizam. Os atores foram delimitados em

quatro grupos sociais buscando uma representatividade daqueles que estão mais diretamente

ligados a criação e gestão de UC, são eles: moradores, administradores (ligados ao Estado) e

participativos (sociedade civil organizada) e empreendedores. Integrando as duas coordenadas

à elaboração de um quadro de tempo, buscou-se situar a paisagem em um tempo mais logo da

história, seja em seu ritmo bioecológico, seja aos ritmos socioculturais relacionando os

elementos do espaço geográfico aos sistemas de representação dos atores sociais, delimitando

a investigação ao período de criação da UC.

A segunda etapa buscou levantar e caracterizar as implicações da política de criação

e gestão de Unidades de Conservação sobre a paisagem a fim de apreender as modificações

sobre a materialidade da paisagem bem como em seu sistema de representação. Para tanto, se

caracterizou a política do SNUC e os seus instrumentos buscando visualizá-los através da

criação e gestão da APA da Serra de Maranguape e tendo como fonte de consulta a literatura

sobre Unidades de Conservação e sobre avaliação de sua efetividade, a legislação ambiental

pertinente e os documentos de órgãos de apoio à gestão.

A terceira e última etapa constituiu na utilização do sistema GTP na análise entre a

interface sociedade-natureza a partir da interação e hibridação dos elementos sociais e naturais

com base nos produtos obtidos nas etapas anteriores. Procurou-se entender o papel que a UC

(com sua criação e gestão) possuiu na constituição da paisagem e levantou-se elementos que

pudessem subsidiar a avaliação de sua efetividade enquanto política voltada para a utilização

sustentável dos recursos naturais.

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Quadro 01 – Guia Metodológico na Análise da Paisagem a Partir da Criação de Unidades de Conservação

ETAPA PROCEDIMENTO FONTES DE DADOS E INFORMAÇÕES PRODUTOS

Análise Pré-

Paisagística

Coordenada

Material

▪ Análise geossistêmica;

▪ Imagens de Satélite e produtos geoprocessa-

dos;

▪ Acervo cartográfico temático;

▪ Relatórios Técnicos e Acervo bibliográfico de

pesquisas ambientais sobre a área;

▪ Registros de observações e medições de

campo.

▪ Banco de dados de órgãos/instituições

governamentais;

▪ Delimitação dos geocomplexos e seus

estados;

▪ Mapas temáticos;

▪ Mapas de uso e ocupação;

Coordenada

Ideal

▪ Identificação e delimitação dos atores da

paisagem e suas formas de intervenção;

▪ Elaboração de um quadro de tempo.

▪ Entrevistas junto aos atores;

▪ Planos de gestão e manejo;

▪ Documentos históricos;

▪ Indicadores demográficos, sociais e econômi-

cos.

▪ Composição de um sistema de represen-

tação paisagística;

▪ Recomposição do processo de ocupação e

das formas de intervenção na paisagem ao

logo do tempo.

▪ Diagnóstico socioeconômico;

Implicações a paisagem

das políticas de criação de

Unidades de Conservação

▪ Revisão bibliográfica sobre a construção

do conceito de unidade de conservação e sua

inserção na política ambiental brasileira bem

como sobre métodos e técnicas de avaliação

de unidades de conservação;

▪ Levantamento das medidas e instrumentos

utilizados na criação e gestão da UC;

▪ Literatura científica sobre unidades de conser-

vação e sobre avaliação de sua efetividade;

▪ Legislação ambiental pertinente;

▪ Planos de gestão e manejo;

▪ Conselho Gestor;

▪ Procedimentos técnicos e metodológicos usa-

dos na criação e gestão da UC;

▪ Entrevistas junto aos atores.

▪ Diagnostico sobre a UC e os instrumentos

de gestão na regulamentação do uso dos

recursos naturais;

▪ Mapas de regulamentações sobre o

território;

▪ Relação entre as implicações da política e o

sistema de representação da paisagem.

Análise GTP

▪ Analisar a interface sociedade-natureza a

partir da interação e hibridação dos

elementos sociais e naturais.

▪ Produtos das etapas anteriores

▪ Evidências sobre conflitos entre as pro-

postas de regulamentação de uso dos recursos

naturais e as práticas desenvolvidas pelos

atores sociais;

▪ Análise sobre a efetividade e manejo da UC;

Fonte: Elaborado pelo autor

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Quadro 02 – Materiais utilizados

MATERIAIS UTILIZADOS DESCRIÇÃO FONTE

Material cartográfico

Imagens

Landsat 5 TM ano de 1990 orbita/ponto

217:63 Resolução 30m INPE

Resouscesat LIS3 de 2012 orbita/ponto

334:78 Resolução 30m INPE

Google Earth™ ano de 2009 e 2012 Google

SRTM resolução 30m TOPODATA/INPE

Dados

vetoriais

Base cartográfica no formato .shp com a

delimitação da rede de drenagem hidro-

gráficas na escala 1:100.000

CPRM

Base cartográfica no formato .shp dos li-

mites municipais, distritos e localidades

na escala de 1:100.000

IPECE

Base cartográfica no formato .shp das

Unidades de Conservação do estado do

Ceará

IPECE

Dados socioeconômicos

Censo Demográfico 2010 IBGE

Perfil Básico Municipal 2012-2013 IPECE

Programas computacionais

Microsoft Office 2007 -

Spring 5.2 -

gvSIG 1.12 -

Registros de áudio, imagem e vídeo Câmera Sony cyber-shot dsc-w320 14mp -

Coleta de coordenadas geográfica GPS Garmin modelo eTrex H -

Fonte: Elaborado pelo autor

As atividades em campo aconteceram nos períodos de 29 a 31 de abril de 2013 e de

03 a 08 de fevereiro de 2014, em ambas houve coleta de coordenadas geográficas e o registro

da paisagem através do uso da fotografia. A primeira atividade teve como objetivo reconhecer

os principais tipos de uso e ocupação na configuração da paisagem, percorrendo a extensão da

Serra dentro do município de Maranguape. No segundo trabalho de campo foram realizadas

visitas técnicas a órgãos públicos e empreendimentos privados para a aplicação de entrevistas

semidirigidas (Anexo A) junto aos atores da paisagem delimitados. A utilização da entrevista

buscou coletar elementos que servissem para análise da paisagem a partir das percepções dos

atores sobre a mesma e sobre as estratégias de conservação e de gestão. Foram realizadas ao

todo 20 entrevistas junto a funcionários do núcleo de meio ambiente da Secretaria de Meio

Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente (SEMADE) de Maranguape,

integrantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maranguape, donos de empreendimentos

privados, participantes da ONG Fundação Mata Atlântica Cearense, além de moradores

serranos.

Durante a fase da organização dos dados, as coordenadas coletadas foram utilizadas

como pontos de controle e na identificação de área de interesse da pesquisa, auxiliando, assim,

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na produção cartográfica que tinha como principal foco construir uma análise espaço-temporal

do uso e cobertura da APA e a produzir mapas temáticos sobre a mesma. Na tentativa de

produzir um mapa sobre a evolução do uso e cobertura da APA, foram utilizadas imagens

LANDSAT e RESOUCESAT no recorte de tempo que levou em consideração a criação da

APA, através do recurso de classificação de imagens em softwares de geoprocessamento. Pela

baixa resolução das imagens e em função da escala adotada (1:50.0000), não foram obtidos

resultados satisfatórios sendo assim descartadas. Desse ponto, decidiu-se usar as imagens

disponíveis pelo Google Earth™ que apresentavam boas resoluções e permitiram, através da

fotointerpretação com o auxílio de dados vetoriais produzidos por instituições governamentais

e das observações nos trabalhos de campo, produzir um mapa e um perfil em 3D sobre o uso e

cobertura da APA.

Para a produção de mapas temáticos foram utilizadas as bases vetoriais do IPECE,

pela qual foi possível obter a delimitação oficial da APA. A produção de gráficos e tabelas são

produtos de fichamentos realizados durante a revisão de literatura e ilustram o texto no sentido

de orientar a compreensão, as análises e expor os resultados obtidos.

A proposta de roteiro metodológico orientou também a redação e organização dos

capítulos. O terceiro capítulo - Referencial teórico-metodológico - apresenta o percurso

teórico construído na execução da pesquisa, encontrando-se dividido em duas partes: a primeira

discute as análises integradas em geografia e apresenta o GTP como instrumento teórico-

metodológico na análise do objeto de estudo, qual seja a apreensão da estratégia de criação e

gestão de UC a partir da análise da paisagem. A segunda apresenta o debate sobre áreas

protegidas e a elaboração da política brasileira do SNUC, centralizando a análise sobre seus

instrumentos e descrevendo o seu contexto na realidade cearense.

O quarto capítulo - Resultados e discussões - divide-se em dois. Em A APA da

Serra de Maranguape no Contexto da Análise Integrada da Paisagem, busca-se apresentar

uma investigação sobre a leitura integrada dos elementos na paisagem da APA. Primeiramente,

contextualizam-se os enclaves úmidos como paisagens de exceção em seu cenário regional e o

despertar de suas iniciativas de proteção. A partir de então, apresenta-se a APA da Serra de

Maranguape com base na exposição integrativa de seus elementos físico-naturais,

socioeconômicos e culturais como suporte para a análise da paisagem. Em A Interface

Sociedade-Natureza e a Criação e Gestão de Unidades de Conservação estão concentrados

os resultados da pesquisa, a qual a partir dos instrumentos de proteção e gestão da APA e da

leitura dos pressupostos do sistema GTP levantam-se elementos que demonstram adequação ou

conflito nas estratégias adotadas pela APA, discutindo-se, assim, a sua efetividade.

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Por fim, no capítulo Considerações Finais procura-se avaliar a trajetória da

pesquisa, demonstrando a viabilidade da leitura geográfica integrada, através do sistema GTP,

na avaliação da gestão e criação de unidades de conservação, fornecendo subsídios que

enriqueçam as referências e debates sobre o tema.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

3.1 A ANÁLISE INTEGRADA EM GEOGRAFIA E A PROBLEMÁTICA EM TORNO DA

CRIAÇÃO E GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS

A preocupação crescente com a preservação ambiental tem colocado como desafio,

por parte da pesquisa científica, o desenvolvimento de tecnologias e estratégias que promovam

a utilização racional dos recursos naturais, bem como sua capacidade em contribuir para a

compreensão da questão ambiental enquanto desafio para a sociedade. Nesse sentido, diversos

esforços são travados visando dar conta de tais questões, incluindo a revisão dos próprios

paradigmas vigentes, que são colocados em xeque, surgindo, assim, novas epistemes e novas

proposições metodológicas.

A especialização positivista pela qual a Geografia Física passou desde o século XX

culminou no aparecimento de diversas subcompartimentações cada vez mais autônomas. Tal

especialização exacerbada entrou em choque com os novos paradigmas que adentravam as

ciências naturais, que buscavam dar respostas às problemáticas que surgiam em torno da

questão ambiental e à necessidade pragmática de organização do território. O reconhecimento

da realidade ambiental que esses setores especializados promovem se dá de maneira

fragmentada e incompleta, não permitindo apreender o ambiente e avaliar os recursos naturais

de um território em sua integralidade (SOUZA, 2002).

Surgem, assim, proposições de estudo integrado dentro da Geografia Física com a

possibilidade de oferecer novas abordagens sobre a natureza. Para Tricart (1978), a noção de

estudos integrados percorre a evolução do pensamento da Geografia moderna, estando presente

nos estudos de Humboldt, Ritter, La Blache e dos grandes naturalistas e viajantes do século

XIX, como Darwin, Richthoffen, Dokoutchaev e Passarge. Ele define três componentes que

norteiam a perspectiva dos estudos integrados: a dimensão escalar do fenômeno, seu papel

relativo dentro do todo e sua posição na inserção espacial.

Para a realização desses estudos, ocorre por parte da Geografia a incorporação do

paradigma sistêmico associado ao conjunto de seu arcabouço conceitual. “O princípio filosófico

sistêmico constitui um importante aspecto da metodologia filosófica que organicamente

pertence à dialética materialista” (RODRIGUEZ et al., 2004, p.41). Um sistema consiste num

conjunto de elementos, qualificados através de atributos, que se relacionam entre si por cadeias

de relações com um certo grau de organização e com uma finalidade (CLAUDINO-SALES,

2004; CHRISTOFOLETTI, 1979):

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O conjunto dos elementos que compõem os sistemas implica conhecer suas

qualidades, observando sua dinâmica, que podem gerar auto-organizações caóticas ou

não a partir da dissipação interna de suas estruturas provocadas por pequenas ou

grandes flutuações. (CAMARGO, 2008, p.55)

A incorporação da abordagem sistêmica à Geografia ocorre inicialmente de 1935 a

1971, sendo adotada sucessivamente pela Biogeografia, Geografia dos Solos, Climatologia e

Geomorfologia. O lançamento, em 1971, do livro Physical Geography: A Sytems Approach, de

R. Choley e B. Kennedy, vem mostrar como as ideias da teoria dos sistemas1 são compatíveis

com o conhecimento do mundo físico e seus processos. Um dos principais avanços

incorporados pelo advento da visão sistêmica foi à aproximação dos diversos ramos da

Geografia Física retardando ou mesmo revertendo a sua especialização e de certa forma o seu

distanciamento da Geografia Humana (GREGORY, 1992).

O conceito de paisagem acompanha o desenvolvimento do pensamento geográfico,

assumindo significados e graus de relevância distintos em variados contextos históricos e

teórico-metodológicos, tornando-o bastante complexo:

A paisagem emerge na análise geográfica carregada de simbolismo, sendo

responsável pela constituição do imaginário social que atua na condução da ação dos

atores sociais, ao mesmo tempo em que mediatiza a representação do território por

estes mesmos atores. Neste sentido, a paisagem como categoria social é construída

pelo imaginário coletivo, historicamente determinado, que lhe atribui uma

determinada função social. (VITTE, 2007, p.71)

Segundo Rodriguez et al. (2004), a Geografia, ao estudar as paisagens naturais,

evolui sobre duas perspectivas: uma predominantemente biofísica (com influência estudos de

Humboldt e Dokoutchaev) fundamentada nas escolas alemã e russo-soviética e que concebe a

paisagem como um complexo natural integral e outra, essencialmente sociocultural, que analisa

a paisagem como um espaço social ou uma entidade perceptiva.

Em ambos os casos, a visão de paisagem enfatiza a análise do todo, em uma

dimensão basicamente espacial. Na verdade, já existia no século XIX a busca de uma

perspectiva metodológica que possibilitasse uma visão sistêmica e de conjunto da natureza em

sua interação com a sociedade a exemplo da utilização do termo alemão Landschaft e do francês

1A Teoria Geral dos Sistemas proposta pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy em 1968 é um importante campo

metodológico que se propõe, entre outras coisas, suplantar a fragmentação e perceber os fenômenos a partir de sua

interconectividade holística’ (CAMARGO, 2008 p.51).

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Paysage. Porém, é no século XX, sobre a necessidade de demonstrar o caráter único de

determinadas parcelas da superfície terrestre, que o conceito de paisagem ganha uma nova

essência. Sobre uma ampla integração de variáveis seria possível individualizar unidades de

área com base na identificação da interação entre a apropriação de um território pelo homem e

sua base física (FERREIRA, 2010). Assim,

A geração da paisagem é o resultado imediato da intencionalidade humana na

superfície terrestre. Seja ontem ou hoje, por meio dos mais variados meios técnicos e

científicos, a sociedade imprime sua marca no espaço que fica registrada na paisagem.

Assim, a paisagem é uma representação do espaço. Na Ciência Geográfica e

particularmente na geografia física, a paisagem passa a ser o sinônimo de natureza.

(VITTE, 2007, p. 77)

Nesse direcionamento, a abordagem sistêmica passa a ser o arcabouço teórico mais significativo

para tratar a complexidade da funcionalidade das paisagens em diferentes graus de humanização

pela Geografia. É sobre a Teoria Geral dos Sistemas que fecundas técnicas e metodologias se

desenvolvem no âmbito do estudo geográfico da paisagem, afinal “estudar uma paisagem é

antes de tudo apresentar um problema de método” (BERTRAND, 1971, p.2).

Surgem, portanto, as abordagens integradas dentro dos estudos da Geografia, cada

uma a sua especificidade, mas sempre na tentativa de integrar as questões naturais e sociais,

como serão exemplificadas a seguir.

3.1.1 Das Abordagens Integradas à Proposição do Sistema GTP

A escola russo-soviética, em sua aplicação da Geografia na organização do Estado

soviético, dará importante contribuição aos estudos integrados, colocando a Geografia Física

como um campo particular das ciências naturais a partir do estudo não dos componentes da

natureza, mas da conexão entre esses, abandonando a análise morfológica da paisagem e

dedicando-se ao estudo da sua dinâmica, estrutura funcional, conexões etc. (SOTCHAVA,

1978).

O objetivo de sua análise seria o estudo do geossistema, um tipo de sistema físico

aberto e hierarquicamente organizado, uma expressão da troca de matéria e energia na paisagem

delimitados através de unidades a partir da funcionalidade sistêmica de seus atributos. O

principal nome associado a essa escola é o de V. Sotchava, em que, para ele, a abordagem

geossistêmica é um modelo teórico e conceitual destinado a identificar, interpretar e classificar

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a paisagem terrestre levando em conta sua homogeneidade e dinâmica interna, possíveis de

zoneamento e espacializada no território.

A construção teórica do geossistema avança metodologicamente com G. Bertand.

Sua abordagem propõe uma conceituação para a paisagem conferindo igual peso aos aspectos

bióticos e abióticos na organização dos sistemas naturais, a escala passa ser uma noção central,

o que exige a adoção de um sistema taxonômico de classificação numa perspectiva espaço-

temporal, e a influência das dinâmicas sociais passa a ser considerada na dinâmica dos sistemas

naturais a partir da noção de ação antrópica.

Outra abordagem integrada da Geografia Física é a Ecodinâmica de J. Tricart.

Considerando a importância da metodologia sistêmica, o autor vê nesta abordagem a

possibilidade de superar as leituras unilaterais da Geografia Física e o excessivo enfoque

biocêntrico da Ecologia. Desta maneira, passa a analisar o fluxo de matéria e energia entre

atmosfera, biosfera e litosfera, concluindo que a morfodinâmica é o elemento central na

estabilidade das unidades ecodinâmicas, sua unidade espacial de referência, classificando-as

em estáveis, intergrades e instáveis de acordo com as repercussões da dinâmica do meio

ambiente sobre a biocenose. Identificadas as unidades é possível determinar como determinado

tipo de uso poderia intervir na dinâmica natural e assim corrigir aspectos desfavoráveis e

facilitar a utilização dos recursos ecológicos.

Fica evidente, pela sua abordagem espacial e classificação tipológica, a vocação de

tais enfoques para a gestão e ordenamento do território, a análise integrada surge como

ferramenta para uma leitura da relação homem-natureza, constituindo relevante meio para a

preservação e conservação ambiental.

Bertand (2007) vê, a partir do contexto francês, no desenvolvimento dos estudos

integrados uma ruptura metodológica e epistemológica na Geografia Física e que a tentativa de

contato entre as ciências da natureza em recomposição com as problemáticas do meio ambiente,

a partir de uma reflexão generalizada para a ciência geográfica em sua globalidade, o futuro

para o desenvolvimento desta ciência. É sobre as reflexões advindas da trajetória acadêmica

desse autor que se construirá o referencial teórico-metodológico para a presente pesquisa.

Para George Bertand, a complexidade da questão ambiental revela os limites dos

esforços científicos até então empregados nos estudos da natureza e em sua relação com a

sociedade, desde as incoerências praticadas até a necessidade de novos avanços. Logo, sua

posição recai sobre a realização de importantes reflexões epistemológicas que se desdobram

em abordagens teórico-metodológicas de bases práticas. A relação sociedade-natureza se

modificara ao logo do tempo, e a geografia não conseguiu acompanhar está evolução, ficando

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a margem de outras abordagens, tal como a da ecologia. Na verdade, é pela ecologia que toda

uma nova forma de entender e se relacionar com a natureza ganha relevância dentro da questão

ambiental2.

Este caráter excessivamente ecológico tomou para si a capacidade de globalizar,

conceituar, sistematizar e modelar as diversas pesquisas naturalistas. Aqui, o conceito de

ecossistema tornou-se ferramenta fundamental. Ele surgiu sem a pretensão de substituir as

abordagens setoriais clássicas, trata-se de uma evolução no âmbito das ciências naturais em que

a análise das partes é levada em consideração na medida em que é posicionada em uma estrutura

de inter-relações.

O ecossistema resolveu a análise integrada da biosfera ao mesmo tempo nos planos

teórico e prático. Na entrada do sistema, estão as plantas verdes e a fotossíntese que,

pela assimilação clorofiliana, determinam o funcionamento complexo e hierarquizado

do encadeamento trófico. O circuito da matéria é estabelecido e cientificamente

dominado. (BERTRAND, 2007, p.72)

Apesar dos avanços incorporados pela abordagem ecossistêmica, a ecologia é, na

visão de Bertrand, uma “ciência unívoca”, uma visão de finalidade biológica que marginaliza

os aspectos abióticos e possui escala espaço-tempo bastante variável, além do que, no campo

social, por certo empobrecimento conceitual, favorece o desenvolvimento de visões

mecanicistas e deterministas na análise social.

Ao tentar realocar o papel da Geografia Física nas análises naturalistas, Bertand

quer situar às sociedades em sua prática no espaço geográfico em novas bases. O

desenvolvimento de uma ciência fragmentada e dicotomizada levou ao aparecimento de uma

Geografia Física desnaturalizada, sustentada por uma reflexão insuficientemente sistemática e

contínua sobre a teoria, o método e a epistemologia. Para tal, Bertrand visualiza no postulado

materialista de que a sociedade está na natureza e não separada dela, uma visão renovada sobre

o papel dessa disciplina. É precisamente sobre a perspectiva da análise integrada que a

Geografia Física “reencontraria” a natureza, a partir da conceituação do geossistema, não se

tratando, porém, de uma conceituação da natureza, mas de um conceito naturalista do espaço

geográfico.

2Sobre este ponto de vista Bertrand afirma ‘a ecologia acaba de reinventar a natureza e de redesenhar uma

economia política do planeta’ (BERTRAND, 2007 p. 83) e corroborando com ela Koppes (1988 apud Diegues,

2001) afirma que a ecologia foi a base científica para uma sociedade pragmática que buscava objetividade e

utilidade.

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No entanto, o conceito de geossistema, assim como o de ecossistema, não pode ser

transportado para a análise social, pois esse representa uma leitura não hierarquizada do

“complexo geográfico natural”, além do que a pretensão de abarcar a totalidade da interface

entre natureza e sociedade por um conceito único trata-se de uma abordagem reducionista para

a problemática ambiental. Aqui, o postulado ganha um desdobramento epistemológico,

precisando-se adotar uma estratégia de interface entre as ciências sociais e da natureza a fim de

dar conta da complexidade e diversidade dos objetos analisados, reconhecer as sociedades em

seus meios e ressignificar os meios nas sociedades. Ao mesmo tempo, é necessário, dentro dos

novos paradigmas da ciência, levar em consideração o ressurgimento do sensível e das

sensibilidades, ou seja, abrir espaço nos estudos ambientais para a dialética sujeito e objeto.

Nesse cenário, os geógrafos, intercessores de um conhecimento naturalista e, de

certas formas de análise social, estão, sem dúvida, em situação privilegiada no tratamento dos

problemas do meio ambiente. Todavia, trata-se mais de uma contribuição frente às novas

formas de interdisciplinaridade e de disciplinaridade impostas pela generalização da questão

ambiental do que da reafirmação dessa ciência. A problemática da natureza é ao mesmo tempo

social e espacial e é reafirmando essa questão que os geógrafos poderão dar sua contribuição

efetiva.

A natureza na Geografia é primeiramente espaço, um espaço cada vez menos

natural e cada vez mais antropizado. O antrópico3, aqui, qualifica a ação direta ou indireta das

sociedades sobre seus territórios, os objetos e os processos, não são nem sociais nem naturais

se não híbridos. Sobre essa teoria é que Bertrand (2007) entende ser necessário territorializar o

meio ambiente na busca de uma compreensão geográfica do mesmo, uma vez que é a finalidade

social que serve de base para o sistema de interpretação geográfica da natureza.

Contudo, para a exploração geográfica da interface natureza-sociedade torna-se

necessário uma abordagem metodológica que consiga aprendê-la em sua complexidade e

diversidade, evitando uma conceituação unívoca frente ao cruzamento das dinâmicas sociais e

naturais. Nesse sentido, G. Bertrand propõe o sistema GTP (Geossistema-Território-Paisagem),

na qual “sua função essencial é de relançar a pesquisa ambiental sobre bases multidimensionais,

no tempo e no espaço, quer seja no quadro de disciplinas ou mesmo em formas de construção

da interdisciplinaridade” (BERTRAND, 2007, p. 272).

3Enfim, para levantar qualquer equívoco, é preciso insistir sobre o fato de que este conceito antrópico não é em

nada um conceito social. Ele não tem por função explicar a sociedade na sua relação com o território, mas de

entender a fisionomia e o funcionamento do território sob o impacto da sociedade (PASSOS, 2011 p.14).

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Tal proposição teórico-metodológica se utiliza de um sistema conceitual

tridimensional no intuito de definir três campos semânticos (Figura 01), cada um à sua própria

finalidade, sobre uma perspectiva totalizante da relação entre o natural e o social na constituição

da paisagem. Eles promovem a consideração das diversas dimensões espaço-temporais de

maneira que possam ser complementares e correlacionáveis na leitura do objeto de estudo

(VIEIRA, 2011).

O geossistema é considerado como uma fonte (source), permitindo a compreensão

da estrutura e funcionamento biofísico de um espaço geográfico, inclusive seus níveis de

antropização. Trata-se de uma dimensão geográfica dos estudos da natureza levando em

consideração uma perspectiva temporal e histórica considerando a sua evolução e fenologia

(estados do geossistema) e uma perspectiva espacial definida a partir de uma leitura escalar com

duas entradas uma horizontal (geótopo, geofácies, geocomplexo4 etc.) e outra vertical

(geohorizontes).

O território funciona como uma entrada socioeconômica (ressource) a partir do qual

se tem a possibilidade de compreender as repercussões da sociedade na organização e

funcionamento do espaço considerado, tratando-se de uma interpretação socioeconômica do

geossistema. A dialética fonte-recurso fundamenta esta análise do território. Nas análises

ambientais, o conceito de território revela as diferentes maneiras pelas quais a sociedade se

apropria e modifica a natureza por meio das relações de poder, o tempo do território e aquele

no qual a fonte se torna recurso.

A paisagem, uma entrada sociocultural, de tempo longo e identitário

(ressurcement), que se presta para avaliar como as ações das sucessivas sociedades se

materializam no território para construir as sucessivas paisagens. É, ao mesmo tempo, uma

ponte entre a análise natural e social, assumindo assim um caráter polissêmico, ou seja, é

natural, social, econômica e cultural.

4O geocomplexo engloba as geofácies e geótopos bem como as relações estabelecidas entre elementos bióticos,

abióticos e antrópicos. O geocomplexo é a escala de análise geográfica; o geossistema se trata de uma construção

a nível teórico que baliza esta abordagem escalar.

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3.1.2 O Reencontro com a Paisagem e uma Proposição Metodológica para o Estudo

Geográfico Integrado Sobre as Áreas Protegidas.

Quando da publicação de Paisagem e Geografia Física Global: Esboço

Metodológico, em 1967, um dos seus artigos de maior repercussão, e sem dúvida de grande

difusão na Geografia brasileira, George Bertrand relata a imprecisão do uso comum do conceito

de paisagem, colocando o problema dentro de uma perspectiva epistemológica para a Geografia

Física. Este trabalho é influenciado pelos avanços nos estudos integrado do meio à época, são

eles: o desenvolvimento da ecologia americana a partir do conceito de ecossistema, a

Ecogeografia de Carl Troll (1966), a ciência da paisagem e o conceito de geossistema da escola

russa de Geografia, a teoria da biorresistasia de Erhart (1956) e as tentativas de Jean Tricart

(1978) em unir os estudos de relevo-solo-clima-vegetação.

Nesse texto, o estudo da paisagem não se realiza senão dentro de uma geografia

física global, afinal:

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É numa

determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto

instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagindo dialeticamente,

uns sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em

perpetua evolução. (BERTRAND, 1971, p.2)

A abordagem da paisagem pela Geografia Tradicional fugia a essa visão global e

mais ainda de uma análise metodológica consequente. O desenvolvimento das grandes

monografias regionais e uma ausência de reflexão conceitual são os principais fatores dessa

Fonte: BERTRAND, 2007

Figura 01 - O Sistema GTP

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abordagem, “o meio natural é então tratado em uma descrição compartimentada que se

desenvolve de forma deficitária em relação à problemática social” (BERTRAND, 2007, p. 216).

É o conceito de geossistema, que confere ao método sugerido por Bertrand, um

suporte operacional. Tal construção se coloca numa tentativa de ir contra a uma perspectiva de

ciência fragmentaria, uma adequação a um objeto de combinação natural e social e, ao mesmo

tempo, quer integrar os elementos na apreensão de suas inter-relações e não em busca de uma

síntese.

Não obstante, ao se situar a análise da paisagem entre a natureza e sociedade, a

utilização de abordagens naturalistas torna-se deficitária porque peca ao impor a realidade

social uma interpretação global sob um ponto de vista reducionista, tal como acontece na análise

ecossistêmica. Dentre outras complicações advindas desse tipo de análise, os problemas

relativos à questão ambiental incorrem em abordagens imprecisas e ineficientes quanto a sua

mitigação:

A pesquisa sobre meio ambiente5 não progredirá significativamente enquanto a gente

continuar a argumentar em termos de separação, mesmo de contradição e de conflito

entre fatos naturais e fatos sociais. Se o meio ambiente é, por definição, o domínio da

interação e da mescla, este deve ser traduzido por conceitos e noções híbridas:

paisagem, território, recurso etc. (BERTRAND, 2007, p. X).

Para avançar nessa direção é necessário levantar os problemas nos procedimentos

clássicos e setoriais da análise paisagística6 e, aqui, a abordagem sistêmica consiste no ponto

de partida. As concepções de paisagem maniqueístas que se opõem por fenômeno natural e

fenômeno cultural são um demonstrativo desse problema que é bem exemplificado pela noção

da paisagem enquanto espaço percebido, que ao identificar a paisagem enquanto mera

representação negligencia sua existência material e objetiva.

Bertrand (2007) pretende então, sobre uma inter-relação entre objeto-sujeito,

recolocar a paisagem enquanto sistema, que seja ao mesmo tempo social e natural, subjetiva e

objetiva, espacial e temporal, produção material e cultural, real e simbólica. Esse sistema

paisagístico circunscrito a um espaço real e associado a uma dinâmica ecológica específica é

antes de tudo uma interpretação social da natureza, só se qualifica em termos sociais, a partir

5O meio ambiente consiste num conjunto dos elementos externos que rodeiam a sociedade e interagem com ela

(BERTRAND, 2007 p. 232). 6Quanto à análise paisagística, ao custo de certo peso, deve ser um aprofundamento sem fim dos conhecimentos,

e especialmente desta interação entre elementos considerados diferentes, até disparates e contraditórios: biofísicos

e sociais, econômicos e culturais, patrimoniais e prospectivos, que combinados sobre um mesmo território, fazem

nascer a paisagem na sua aparente banalidade quotidiana (BERTRAND, 2007 p.291).

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de um grupo social7 definido, de identificação e de utilização. Ao englobar uma série complexa

de relações, a paisagem pode ser considerada um “polissistema” que reagrupa outros sistemas

de forma quase autônoma (sistema natural, sistema social, sistema de produção econômica e

sistema de representação cultural etc.) e que não obedecem a uma continuidade no tempo e no

espaço em seus processos.

Combinando a diversidade biofísica dos meios e a pluralidade sociocultural do

vivido:

A paisagem se individualiza ao mesmo tempo em relação com o espaço propriamente

dito e com o mecanismo da percepção. Ela aparece cada vez mais como um produto

social historizado que permite interpretar o espaço geográfico nos limites de um

sistema de produção econômico e cultural. (BERTRAND, 2007, p. 232)

Ressignificada entre a natureza e sociedade, a paisagem pode ser analisada como

indicador dos processos de antropização, na medida em que ela representa o resultado material

do jogo de interações entre processos físicos, processos ecológicos, processos sociais e

processos culturais (PASSOS, 2006):

Consideramos aqui que a paisagem é parte de um todo; este todo sendo o território em

amplo sentido. Assim concebida, a paisagem não é apenas a aparência das coisas,

cenário ou vitrine. É também um espelho que as sociedades erguem para si mesmas e

que as reflete. Construção cultural e construção econômica misturada. E sob a

paisagem, há o território, sua organização espacial e funcionamento. (Bertrand, 2007,

p. 290)

Assim, toma-se a análise paisagística como ferramenta operacional na compreensão

dos processos de criação e gestão de áreas protegidas, uma vez que se parte do princípio de que

as políticas de desenvolvimento (sustentável) implicam modificações na materialidade

paisagística (PASSOS, 2011) tornando-a uma ferramenta de análise pertinente quanto às

dinâmicas espaciais na interface natureza-sociedade.

A principal política ambiental que rege a de institucionalização dessas áreas no

Brasil é o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), criado no ano

de 2000 no intuito de preservar a biodiversidade através da proteção dos biomas brasileiros.

As políticas ambientais, tais como a da criação de áreas protegidas, colocam, cada

vez mais, a paisagem no centro de seus projetos e a análise paisagística no ponto de partida de

7Por grupo social entendemos um conjunto de indivíduos organizados dentro de um mesmo sistema de produção,

unidos entre eles por uma mesma prática da natureza e que produzem em conjunto coerente de bens materiais e

culturais (BERTRAND, 2007 p. 224-225).

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sua metodologia (BERTRAND, 2007). Dessa forma, desenha-se como objeto de estudo para a

presente pesquisa (Gráfico 02) a apreensão da estratégia de criação e gestão de unidades de

conservação a partir da análise da paisagem. Uma vez que as políticas de ordenamento

territorial da criação e gestão dessas áreas impõem a adoção de medidas de proteção e de manejo

sobre os meios, os recursos e biodiversidade impõem sobre a paisagem uma mudança em seu

sistema de referência socioecológico, cultural e econômico, e por sua vez possível de apreensão

e de análise pelo estudo da paisagem.

Gráfico 02 – Construção do objeto de estudo

A paisagem, entendida enquanto resultado material dos processos físico-naturais, processos sociais e processos

culturais, serve como ferramenta para análise das políticas de desenvolvimento sustentável, tais como a criação de

unidades de conservação da política ambiental brasileira. Uma vez que estas políticas impõem modificações sobre

seu sistema de referência socioecológica (como também são influenciadas por ele) e, por conseguinte, em sua

materialidade, a análise da paisagem se coloca como instrumento válido na apreensão e avaliação de tais políticas.

Fonte: Elaborado pelo Autor

Unidades de

Conservação

Criação e gestão PAISAGEM

Processos

físico-naturais

Processos

Socioeconômicos

Processos Culturais

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3.1 A POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E AS ÁREAS PROTEGIDAS: O SISTEMA

NACIONAL DE UNIDADES CONSERVAÇÃO – SNUC

A delimitação de espaços sobre regimes diferenciados de uso que visam o controle

sobre os recursos é uma prática de longa data na história da humanidade. O controle sobre a

extração de madeira e sobre a caça através de normas de controle sobre bosques, florestas e

áreas úmidas já era utilizado por culturas pré-agrárias na Ásia e Oriente Próximo a mais de 400

anos antes de Cristo (CASTRO JR. et al., 2009).

Modernamente, é a experiência da criação do Parque Nacional de Yellowstone, em

1872, nos Estados Unidos, que será a base e marco conceitual para a criação de áreas protegidas

em todo o mundo. A expansão para o oeste americano e a devastação produzida na criação de

novas colônias aliada a recente urbanização acabam por criar nos habitantes americanos o

sentimento de que parte da “riqueza natural” deveria ser preservada.

Dessa forma, com base em grande apelo estético e religioso sobre as áreas sem

ocupação humana, nasce nos Estados Unidos uma concepção de proteção da natureza baseada

na criação de espaços reservados, cujo uso seria controlado pelo poder público (DIEGUES,

1994; ARAÚJO, 2007). Inspirados nesse modelo diversos países aderem à criação de Parques

Nacionais: Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), Austrália e a África do Sul (1898), México

(1894), Argentina (1903), Chile (1926) e Brasil (1937) (BENSUSAN, 2006).

Estão presentes nesse período os embates entre “preservacionismo” e

“concervacionismo”, os quais também influenciarão o debate em torno da criação de áreas

protegidas. A experiência americana está calcada numa ideia de que a natureza selvagem,

aquela intocada, era o verdadeiro refúgio do natural (wilderness), assim era as grandes áreas

não habitadas, principalmente após o extermínio dos índios, que seriam reservadas a recreação

da população urbana em crescimento (DIEGUES, 1994). Em contraponto a essa ideia, está a

percepção de que o uso racional e o manejo correto dos recursos, evitando o desperdício, são

práticas que legitimam a conservação da natureza para seus atuais e futuros usuários. Nesse

embate é que surgem as mais diferentes tipologias de áreas protegidas ao redor do mundo.

Para Castro Jr. et al. (2009), os modelos de proteção desenvolvidos são

condicionados pelos diferentes significados que as sociedades atribuem a natureza. Na Europa,

por exemplo, as áreas protegidas têm características de utilização sustentável devido a uma

cultura ligada a terra, enquanto os colonizadores europeus nas Américas desenvolveram uma

ideia de incompatibilidade entre homem e natureza.

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Apesar da proliferação de Parques Nacionais pelo globo, uma definição mundial

sobre seus objetivos só aconteceria em 1933 durante a realização da Convenção para a

Preservação da Fauna e Flora em Londres. Nesse evento, foram elencadas três características

para os Parques Nacionais: “áreas controladas pelo poder público; áreas para a preservação da

fauna e flora, objetos de interesse estético, geológico e arqueológico, onde a caça é proibida; e

áreas de visitação pública” (BENSUSAN, 2006, p. 15). Na esteira de debates internacionais

acerca do tema, em 1948, foi criada a União Internacional para a Conservação da Natureza

(IUCN) que define áreas protegidas como:

Uma área terrestre e/ou marinha especialmente dedicada à proteção e manutenção da

diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados, manejados

através de instrumentos legais ou outros instrumentos efetivos (UICN, 1994, p.12).

Outro destaque no debate mundial sobre as áreas protegidas trata-se da Convenção

da Diversidade Biológica (CDB) estabelecida durante a ECO-92 na cidade do Rio de Janeiro.

Esse tratado visa assegurar entre os Estados signatários a conservação da biodiversidade, o seu

uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos

genéticos, para isso ele define em seu artigo oitavo a:

Art. 8º Conservação in situ8

Cada parte contratante deve, na medida do possível e conforme o caso:

a) Estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais

precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica;

b) Desenvolver, se necessário, diretrizes para a seleção, estabelecimento e

administração de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser

tomadas para conservar a diversidade biológica;

c) Regulamentar ou administrar recursos biológicos importantes para a conservação

da diversidade biológica, dentro ou fora de áreas protegidas, a fim de assegurar sua

conservação e utilização sustentável;

d) Promover a proteção de ecossistemas, habitats naturais e manutenção de

populações viáveis de espécies em seu meio natural;

e) Promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio em áreas

adjacentes às áreas protegidas a fim de reforçar a proteção dessas áreas. (BRASIL,

2000, p.02)

Todo esse contexto influencia na criação de áreas protegidas no Brasil e será

responsável pela formulação de políticas de proteção ambiental, fato que exerce profunda

8Significa a conservação de ecossistemas e hábitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis

de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham

desenvolvido suas propriedades características.

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consequência sobre os ritmos de transformação da paisagem e que se passará a analisar mais

detalhadamente.

Apesar de durante o período colonial e imperial alguns esforços terem sido

tomados no intuito de resguardar os recursos naturais brasileiros, é somente no período da

república que instrumentos mais concisos ganham corpo. Na constituição republicana, a

proteção da natureza passava a ser agenda governamental, constituindo tarefa a ser cumprida e

fiscalizada pelo poder público. É nesse momento histórico que são criados: o Código Florestal

(Decreto 23793/1934), o Código de Águas (Decreto 24643/1934), o Código de Caça e Pesca

(Decreto 23672/1934) e o decreto de proteção aos animais (Decreto 24645/1934) (MEDEIROS,

2006).

Dentre eles, o Código Florestal merece maior destaque no tocante as áreas

protegidas, pois em seu escopo é definido as bases para a proteção territorial dos principais

ecossistemas florestais e demais formas de vegetação naturais do país, além de ser o primeiro

instrumento a definir tipologias de áreas a serem protegidas. Nesse período, a preservação da

natureza estava intimamente relacionada com um sentimento de identidade nacional, no qual

grande parte dos intelectuais ajudava a construir e que seria responsável por influenciar as

políticas e instituições da época (DRUMOND e FRANCO, 2009). É nesse contexto que será

criado o primeiro Parque Nacional brasileiro, o Parque Nacional de Itatiaia em 1934.

Até meados da década de 1970, a política ambiental brasileira de proteção à

natureza vai sendo incrementada com a criação de novas tipologias de áreas protegidas

(reservas biológicas, estações e reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental) com o

aperfeiçoamento de normas jurídicas na proteção da fauna e flora (Código Florestal de 1965,

Lei de Proteção à Fauna, 1967). No entanto, o destaque para esse período é a criação de um

aparato de gestão na elaboração e execução de uma política ambiental. Em 1967 é criado o

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e em 1973 a Secretaria Especial de

Meio Ambiente (SEMA).

Dessa forma, na esteira da evolução dos instrumentos brasileiros de criação de áreas

protegidas, um importante passo é dado na nova constituição do país em 1988. Na mais recente

carta magna, o meio ambiente ganha um capítulo específico no qual se garante que:

Art. 255 todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à qualidade de vida impondo-se ao poder público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

(BRASIL, 1988)

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Definidos os deveres do poder público, o texto estabelece que:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incube ao poder público:

[...]

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (BRASIL, 1988)

Ratificando o compromisso constitucional, a Política Nacional do Meio

Ambiente (Lei nº 6939 de 31 de agosto de 1991), que visa estabelecer padrões que tornem

possível o desenvolvimento sustentável através de mecanismos e instrumentos capazes de

conferir ao meio ambiente uma maior proteção, enumera como um de seus instrumentos:

VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público

federal, estadual e municipal tais como áreas de proteção ambiental, de relevante

interesse ecológico e reservas extrativistas. (BRASIL, 1981)

Apesar de criadas, algumas dessas áreas protegidas encontravam dificuldades em

sua gestão uma vez que inexistia um sistema9 que as interligasse a uma política de Estado.

Ainda, segundo Araújo (2005), até a década de 1970 a criação de áreas protegidas obedecia a

critérios estéticos ou ao favorecimento de grupos políticos, o que evidenciava a falta de um

planejamento e adoção de critérios técnico-científicos. A ausência de tal sistema impedia, por

exemplo, que fossem estabelecidas metas para a preservação de parcelas representativas dos

biomas brasileiros.

Uma proposta de lei para a criação de um sistema seria feita em 1988 e tramitaria

pelo congresso por oito anos devido aos embates entre ambientalistas, setores produtivos e

proprietário de terras (MERCADANTE, 2001). Até que seria criado um sistema nacional de

proteção à natureza a partir de determinadas práticas de gestão territorial, com a Lei n°9.605 de

2000, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

O SNUC define Unidade de Conservação (UC) como:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com

características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com

objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,

ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

9 Conjunto organizado de áreas naturais protegidas que planejado, manejado e gerenciado como um todo é capaz

de viabilizar os objetivos nacionais de conservação (Milano,1988 apud Araújo,2005).

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e tem como objetivos:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no

território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas

naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no

processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII- proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,

espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e

monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações

tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-

as social e economicamente. (BRASIL, 2000)

Como aparato administrativo, a Lei n°9.605/00 define o Ministério do Meio

Ambiente (MMA) como coordenador do sistema. O órgão consultivo e deliberativo responsável

por acompanhar a implantação do sistema é o Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA), com o objetivo de criar e administrar as UC o Instituto Chico Mendes (ICMbio)

e o IBAMA.

As unidades de conservação são divididas em duas categorias: 1) Áreas de proteção

integral, na qual são limitadas as atividades e os usos, bem como a retirada da população e a

regularização fundiária. 2) Unidades de Desenvolvimento Sustentável que visam compatibilizar

a conservação dos recursos naturais através da ordenação e da limitação de atividades

econômicas e sociais de caráter não sustentável que modificam os sistemas ambientais. O

SNUC passa a incorporar grande parte das áreas protegidas existentes e abre espaço para que

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46

novas tipologias sejam incorporadas. A seguir, um quadro-resumo apresenta as tipologias do

SNUC e suas principais características:

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47

Quadro 03 – Tipologia das Unidades de Conservação

(continua)

GRUPO CATEGORIA ORIGEM OBJETIVOS/DEFINIÇÃO QUEM PODE RESIDIR TIPO DE

CONSELHO

ATIVIDADES PERMITIDAS

CRIAÇÃO

DE

ANIMAIS

AGRICULTURA EXTRATIVISMO VISITAÇÃO PESQUISA

Pro

teçã

o I

nte

gra

l

Estação

Ecológica

SEMA

(1981)

Preservação da natureza e a realização

de pesquisas científicas

Proibida a permanência

de população tradicional

e proprietários, os quais

devem ser reassentados

e desapropriados

Consultivo Não Não Não Sim Sim

Reserva

Biológica

Lei de

Proteção

à Fauna

(1967)

Preservação integral da biota e demais

atributos naturais existentes em seus

limites, sem interferência humana di-

reta ou modificações ambientais, exce-

tuando-se as medidas de recuperação

de seus ecossistemas alterados e as

ações de manejo necessárias para

recuperar e preservar o equilíbrio

natural, a diversidade biológica e os

processos ecológicos naturais.

Proibida a permanência

de população tradicional

e proprietários, os quais

devem ser reassentados

e desapropriados

Consultivo Não Não Não Sim Sim

Parque

Nacional

Código

Florestal

(1934)

Preservação de ecossistemas naturais

de grande relevância ecológica e beleza

cênica, possibilitando a realização de

pesquisas científicas e o

desenvolvimento de atividades de

educação e interpretação ambiental, de

recreação em contato com a natureza e

de turismo ecológico.

Proibida a permanência

de população tradicional

e proprietários, os quais

devem ser reassentados

e desapropriados

Consultivo Não Não Não Sim Sim

Monumento

Natural

SNUC

(2000)

Preservar sítios naturais raros, singu-

lares ou de grande beleza cênica. Proprietário de Terra Consultivo Sim* Sim* Não Sim Sim

Refúgio de

Vida

Silvestre

SNUC

(2000)

Proteger ambientes naturais onde se

asseguram condições para a existência

ou reprodução de espécies ou comuni-

dades da flora local e da fauna residente

ou migratória

Proprietário de Terra Consultivo Sim* Sim*

Não Sim Sim

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48

Quadro 03 – Tipologia das Unidades de Conservação

(continua)

GRUPO CATEGORIA ORIGEM OBJETIVOS/DEFINIÇÃO QUEM PODE RESIDIR TIPO DE

CONSELHO

ATIVIDADES PERMITIDAS

CRIAÇÃO

DE

ANIMAIS

AGRICULTURA EXTRATIVISMO VISITAÇÃO PESQUISA

Uso

Su

sten

táv

el

Área de

Proteção

Ambiental

(APA)

SEMA

(1981)

Área em geral extensa, com um

certo grau de ocupação humana, dotada

de atributos abióticos, bióticos,

estéticos ou culturais especialmente

importantes para a qualidade de vida e

o bem-estar das populações humanas, e

tem como objetivos básicos proteger a

diversidade biológica, disciplinar o

processo de ocupação e assegurar a

sustentabilidade do uso dos recursos

naturais.

Proprietário de Terra

População Tradicional Consultivo Sim Sim Sim Sim Sim

Área de

Relevante

Interesse

Ecológico

(AIRE)

SEMA

(1984)

Área em geral de pequena extensão,

com pouca ou nenhuma ocupação

humana, com características naturais

extraordinárias ou que abriga

exemplares raros da biota regional, e

tem como objetivo manter os

ecossistemas naturais de importância

regional ou local e regular o uso

admissível dessas áreas, de modo a

compatibilizá-lo com os objetivos de

conservação da natureza.

Proprietário de Terra

População Tradicional Consultivo

Animais

nativos

Plantas

nativas Sim Sim Sim

Floresta

Nacional

(FLONA)

Código

Florestal

(1934)

Área com cobertura florestal de

espécies predominantemente nativas e

tem como objetivo básico o uso

múltiplo sustentável dos recursos

florestais e a pesquisa científica, com

ênfase em métodos para exploração

sustentável de florestas nativas.

População Tradicional Consultivo Sim** Sim** Sim Sim Sim

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49

Quadro 03 – Tipologia das Unidades de Conservação

(conclusão)

GRUPO CATEGORIA ORIGEM OBJETIVOS/DEFINIÇÃO QUEM PODE RESIDIR TIPO DE

CONSELHO

ATIVIDADES PERMITIDAS

CRIAÇÃO

DE

ANIMAIS

AGRICULTURA EXTRATIVISMO VISITAÇÃO PESQUISA

Uso

Su

sten

táv

el

Reserva

Extrativista

(RESEX)

SNUC

(2000)

Área utilizada por populações

extrativistas tradicionais, cuja subsis-

tência baseia-se no extrativismo e,

complementarmente, na agricultura de

subsistência e na criação de animais de

pequeno porte e tem como objetivos

básicos proteger os meios de vida e a

cultura dessas populações e assegurar o

uso sustentável dos recursos naturais

da unidade.

População

Tradicional Deliberativo Sim Sim Sim*** Sim Sim

Reserva de

Fauna

Lei de

Proteção

à Fauna

(1967)

Área natural com populações animais

de espécies nativas, terrestres ou

aquáticas, residentes ou migratórias,

adequadas para estudos técnico-cien-

tíficos sobre o manejo econômico

sustentável de recursos faunísticos.

Proibida a perma-

nência de população

tradicional e pro-

prietários, os quais

devem ser reassen-

tados e desapropria-

dos

Consultivo Não Não Não Sim Sim

Reserva de

Desenvolvi

mento

Sustentável

(RDS)

SNUC

(2000)

Área natural que abriga populações

tradicionais, cuja existência baseia-se

em sistemas sustentáveis de exploração

dos recursos naturais, desenvolvidos ao

longo de gerações e adaptados às

condições ecológicas locais e que

desempenham um papel fundamental

na proteção da natureza e na

manutenção da diversidade biológica.

População

Tradicional Deliberativo Sim Sim Sim Sim Sim

Reserva

Particular do

Patrimônio

Natural

(RPPN)

MMA

(1996)

Área privada, gravada com perpetui-

dade, com o objetivo de conservar a

diversidade biológica.

Proprietário de Terra Não

possui Não Não Não Sim Sim

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50

*Desde que compatível com as finalidades da unidade.

** Apenas para as populações tradicionais que são residentes.

*** Admitido somente em casos especiais e complementares as demais atividades da RESEX.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de BRASIL (2000) e MEDEIROS (2005).

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51

Fica evidente que a criação e gestão de unidades de conservação têm influência na

composição da paisagem. Portanto, a fim de entender como o SNUC modifica o seu sistema de

referência socioecológica, serão listados os principais instrumentos e conceitos por ele

definidos.

3.1.1 Instrumentos do SNUC

3.2.1.1 Criação de unidades de conservação

As unidades de conservação são instituídas pelo poder público e sua criação deve

ser precedida por estudos técnicos que devem especificar sua localização, dimensão e limites.

Em sua criação, as UC devem passar por consulta pública (exceto as Reservas Biológicas e as

Estações Ecológicas), o que, para Bensusan (2006), consiste num dos grandes avanços do

SNUC, na medida em que permite a inclusão das comunidades locais gerando a democratização

das áreas protegidas, evitando muitos conflitos.

Em seu Art.5, inciso VIII, a lei do SNUC determina ainda que a criação e gestão

das unidades de conservação ocorram de forma integrada com as políticas de terras e águas

circundantes, considerando as necessidades sociais e econômicas. Nesse sentido, a legislação

busca minimizar os conflitos compatibilizando os objetivos de diferentes instrumentos na

conservação dos recursos naturais.

3.2.1.2 Obrigação do empreendedor de apoiar unidades de conservação

O art. 36 do SNUC define que empreendimentos de significativo impacto ambiental

devam apoiar a implantação e manutenção de unidades de conservação do Grupo de Proteção

Integral. O Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório devem servir de base para

que o órgão ambiental competente defina o grau do dano causado pelo empreendimento. As

unidades a serem criadas e/ou beneficiadas devem estar na área de influência do

empreendimento.

3.2.1.3 Corredores Ecológicos e Zonas de Amortecimento

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52

Visando restringir os usos no entorno das UC, o SNUC estabelece normas que

garantam, por exemplo, a transferência genética e diminuam os impactos em suas

circunvizinhanças. Uma delas, a zona de amortecimento, é definida como:

O entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas

a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos

sobre a unidade (BRASIL, 2000)

A delimitação dessas zonas deve ser definida caso a caso (exceto para as RPPN e

APA em que não há instituição dessa área) e os limites devem ser estabelecidos pelo órgão

responsável pela administração da unidade. Na Estação Ecológica, Reserva Biológica e Refúgio

da Vida Silvestre uma vez definida formalmente, a zona de amortecimento, não pode ser

transformada em zona urbana. Os usos agrícolas ou pecuários já anteriormente existentes na

área de entorno da unidade de conservação, que se tornará zona de amortecimento não podem

ser impedidos por constituir uma desapropriação indireta (MACHADO, 2001).

Outro instrumento previsto é o corredor ecológico que se caracteriza por:

Porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação,

que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a

dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção

de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do

que aquela das unidades individuais (BRASIL, 2000)

Tanto a zona de amortecimento quanto o corredor ecológico, geralmente, fazem

parte do domínio privado e dependem de regulamentação do plano de manejo ou mesmo do seu

ato de criação da unidade.

3.2.1.4 Mosaico de unidades de conservação

Unidades de conservação que estejam próximas ou sobrepostas, mesmo que de

categorias distintas, devem ser geridas de forma integrada e participativa. Os mosaicos devem

ser reconhecidos através de ato pelo MMA e passam a compatibilizar os diferentes objetivos de

conservação da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento

sustentável no contexto regional. Para sua gestão, são criados conselhos de caráter consultivo

compostos por membros dos conselhos das respectivas unidades que os compõem.

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53

3.2.1.5 Conselho Gestor

Apesar da criação e manejo de UC serem papéis do Estado, a sua gestão deve ser

compartilhada, devendo haver a participação da sociedade civil. Dessa forma, para cada

unidade deve ser definido um conselho gestor com a participação de diversas esferas do poder

público, além de representantes da sociedade civil. Os conselhos possuem as seguintes

atribuições:

I - elaborar o seu regimento interno, no prazo de noventa dias, contados da sua

instalação;

II - acompanhar a elaboração, implementação e revisão do Plano de Manejo da

unidade de conservação, quando couber, garantindo o seu caráter participativo;

III - buscar a integração da unidade de conservação com as demais unidades e espaços

territoriais especialmente protegidos e com o seu entorno;

IV - esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos segmentos sociais

relacionados com a unidade;

V - avaliar o orçamento da unidade e o relatório financeiro anual elaborado pelo órgão

executor em relação aos objetivos da unidade de conservação;

VI - opinar, no caso de conselho consultivo, ou ratificar, no caso de conselho

deliberativo, a contratação e os dispositivos do termo de parceria com OSCIP10, na

hipótese de gestão compartilhada da unidade;

VII - acompanhar a gestão por OSCIP e recomendar a rescisão do termo de parceria,

quando constatada irregularidade;

VIII - manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto na

unidade de conservação, em sua zona de amortecimento, mosaicos ou corredores

ecológicos; e

IX - propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e otimizar a relação com a

população do entorno ou do interior da unidade, conforme o caso. (BRASIL, 2000)

Os conselheiros têm mandato de dois anos, podendo ser renovado por igual período,

as reuniões devem ser públicas, com pauta preestabelecida no ato da convocação e realizada de

local de fácil acesso.

A gestão descentralizada da UC é uma das formas de garantir que conflitos em torno

das propostas de conservação/preservação ambiental sejam negociados pelos próprios atores

envolvidos, além de garantir espaço para que os próprios possam tomar decisões sobre os rumos

da unidade. Para Shenini et al. (2004 apud Castro Jr. et al., 2009), o papel do Estado não se

fragiliza, mas, ao contrário, se fortalece uma vez que permite a participação do controle social

da administração estatal sem enfraquecer sua função na formulação e implantação das diretrizes

políticas para a conservação.

10 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

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54

3.2.1.6 Plano de manejo

A simples delimitação da UC não é o suficiente na garantia da proteção dos seus

recursos. Para tal, é necessário que sejam estabelecidas medidas de manejos11 capazes de

assegurar a efetividade da unidade. Para tanto, os conhecimentos científicos provindos de

diagnósticos sobre a UC devem ser complementados com um planejamento que defina um

conjunto de ações que devam ser tomadas no controle da unidade. Para essa finalidade, o SNUC

designa o plano de manejo12 que possui como objetivos:

• Levar a unidade de conservação (UC) a cumprir com os objetivos estabelecidos na

sua criação.

• Definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da UC.

• Dotar a UC de diretrizes para seu desenvolvimento.

• Definir ações específicas para o manejo da UC.

• Promover o manejo da Unidade, orientado pelo conhecimento disponível e/ ou

gerado.

• Estabelecer a diferenciação e intensidade de uso mediante zoneamento, visando a

proteção de seus recursos naturais e culturais.

• Destacar a representatividade da UC no SNUC frente aos atributos de valorização

dos seus recursos como: biomas, convenções e certificações internacionais.

• Estabelecer, quando couber, normas e ações específicas visando compatibilizar a

presença das populações residentes com os objetivos da Unidade, até que seja possível

sua indenização ou compensação e sua realocação.

• Estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da

zona de amortecimento (ZA) e dos corredores ecológicos (CE), visando a proteção da

UC.

• Promover a integração socioeconômica das comunidades do entorno com a UC.

• Orientar a aplicação dos recursos financeiros destinados à UC. (IBAMA, 2002 p.16)

O Plano de Manejo deve ser elaborado em até cinco anos após a criação da unidade

de conservação e sua construção deve realizar-se sob um enfoque multidisciplinar, refletindo

um processo de diagnóstico e planejamento. Em seu escopo devem ser analisadas informações

de diferentes naturezas, tais como dados bióticos e abióticos, socioeconômicos, históricos e

culturais sobre a Unidade de Conservação. Nas RESEX, RDS e APA, a participação pública é

obrigatória na elaboração de tal documento.

11Conjunto de ações e atividades necessárias ao alcance dos objetivos de conservação de áreas, incluindo as

atividades fins, tais como proteção, recreação, educação, pesquisa e manejo dos recursos, bem como as atividades

de administração e planejamento. (IBAMA & GTZ, 1996 apud ARAUJO, 2005 p. 117) 12Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se

estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais,

inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. (BRASIL, 2000)

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55

3.2.1.7 Zoneamento

O SNUC apresenta o zoneamento como a: “definição de setores ou zonas em uma

unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de

proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser

alcançados de forma harmônica e eficaz” (BRASIL, 2000).

O zoneamento constitui, portanto, um instrumento de ordenamento territorial usado

para se atingir melhores resultados no manejo da unidade. Para cada zona são estabelecidos

usos diferenciados, segundo objetivos pré-estabelecidos, dessa forma, cada zona será manejada

seguindo normas distintas baseadas em suas características ambientais. A adoção de critérios

no zoneamento está intimamente ligada à categoria da unidade em questão

3.2.1 Conflitos em unidades de conservação e o contexto cearense

Apesar de relativamente recente, o SNUC promoveu recente modificações no

cenário das áreas protegidas, tornando-se o mais importante instrumento em sua implantação.

Atualmente, cerca de 1.528.781km² (CNUC/MMA, 2013) encontram-se protegidos, conforme

podemos perceber no quadro a seguir a área total das unidades de conservação estadual e federal

duplicou após a criação do SNUC.

Tabela 01 - Número e extensão das unidades de conservação federais pré e pós SNUC

Fonte: Medeiros & Young (2011)

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56

Em relação à proteção dos biomas, a CDB possui como meta estabelecer áreas

protegidas sob 10% de sua área total. Na realidade dos biomas brasileiros, as unidades de

conservação são responsáveis por contribuir por parcelas significativas na sua conservação

conforme se pode visualizar:

Gráfico 03 – Porcentagem do bioma protegido por unidades de conservação

Fonte: CNUC/MMA, 2013.

Elaborado pelo autor

Embora os dados revelem o aumento de áreas delimitas em regime especial de

proteção, é preciso ter ciência que em muitos casos a implantação e gestão dessas áreas

enfrentam inúmeras dificuldades, o que compromete o cumprimento dos objetivos previstos em

sua criação. Muitas áreas, apesar de constarem em registros oficiais, nunca tiveram, de fato, a

implementação das prerrogativas de regulamentação sobre seus recursos, os quais são

chamados de “parques de papel”.

Machlis & Tichnell (1985 apud Morsello, 2001) relatam a existência de diferenças

entre as ameaças que atingem parques em países desenvolvidos e em menos desenvolvidos.

Nos primeiros, as mais comuns são as ameaças externas como poluição química, mineração e

invasão de espécies exóticas, já nos segundos estão associadas ameaças de invasão, queimadas,

remoção de vegetação e animais e conflitos com população residente.

Em pesquisa realizada nas unidades de conservação de uso direto com mais de seis

anos de criação (totalizando 86 unidades a época) no Brasil, realizada pela ONG WWF, foi

constatado que 55% dessas unidades estão em situação precária, não oferecendo condições de

cumprir com o papel para as quais foram criadas; 37% foram consideradas minimamente

implementadas e somente 8,4% foram consideradas razoavelmente implementadas (WWF,

2000). O estudo aponta ainda que entre os principais problemas constatados em termos de

implementação estão a ausência de plano de manejo e o número inadequado de funcionários.

26,10%

8,90% 8,20% 7,40%4,60%

2,70%1,50%

Amazônia Mata Atlântica Cerrado Caatinga Pantanal Pampa Área Marinha

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57

Para Medeiros & Young (2011), as dificuldades na implementação e manutenção

das UC estão relacionadas à quantidade insuficiente de recursos que não acompanharam as suas

expansões. Aliado a isso, a pesquisa científica limitada, a deficiente formação de pessoal, a falta

de programas de monitoramento e o déficit no conhecimento do comportamento dos

ecossistemas prejudicam na efetividade das unidades.

Em alguns casos, o SNUC é fragilizado em virtude dos vários interesses

econômicos. Pádua (2012) denuncia as intenções do Decreto Federal 7.154 de 9 de abril de

2010 que autoriza estudos de aproveitamento de potenciais de energia hidráulica e sistemas de

transmissão e distribuição de energia elétrica no interior de qualquer unidade de conservação

federal. Para a autora, a possibilidade de que estudos dessa natureza possam ser realizados

evidencia o descaso do governo com a preservação da biodiversidade na medida em que abre

precedente inconstitucional para tal aproveitamento no interior das UC.

Diegues (2001) acrescenta que a criação de áreas protegidas levanta inúmeros

problemas de caráter político, social e econômico, o que demonstra a complexidade da questão

para além de um enfoque naturalista. Primeiramente, a priorização de categorias de unidades

de conservação que excluem a presença de populações humanas, segundo a delimitação dessas

áreas gera significativo impacto fundiário e político-territorial. Por fim, a expulsão de

populações tradicionais de seus locais habituais de moradia gera conflitos sociais e étnicos.

Grande parte dos conflitos em UC ocorre na escala local, uma vez que é nessa escala

que se materializam as relações socioespaciais e o exercício do poder, a partir do fluxo de

material e informação e das ações de coerção do ordenamento territorial (CASTRO JR, 2009).

Assim, em algumas situações, os governos municipais, muitas vezes pressionados por

interesses locais, acabam por negligenciar e ferir a legislação ambiental federal em suas

propostas de ordenamento territorial gerando longas batalhas judiciais.

No contexto cearense da criação e gestão de UC, cerca de 3.254.775 ha do estado

encontram-se inseridos em áreas protegidas (Quadro 04). A nível jurídico foi instituído o

Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC) através da Lei nº14.390, de 07 de julho

de 2009, que visa agregar as unidades de conservação a nível estadual, federal e municipal na

proteção à diversidade de ecossistemas existentes no território estadual (Gráfico 04) dando

prioridade àqueles que se encontrarem mais ameaçados de degradação ou eliminação.

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58

Quadro 04 – Unidades de Conservação do estado do Ceará

(continua)

Unidade de conservação Área (ha) Região Ecossistema

Total (1) 3.254.775

- -

Federal

APA da Chapada do

Araripe 1063000,0

Municípios do Ceará, Pernambuco e

Piauí Caatinga

APA da Serra da Ibiapaba 1625019,0 Municípios do Ceará e Piauí Cerrado

APA Delta do Parnaíba 313800,0 Municípios do Ceará, Piauí e Maranhão Cerrado

APA da Serra da Meruoca 608,0 Meruoca, Massapê, Alcântaras e Sobral Caatinga

Estação Ecológia de Aiuaba 11525,0 Aiuaba Caatinga

Estação Ecológica do

Castanhão 12579,0 Jaguaribe, Jaguaribara e Alto Santo Caatinga

Floresta Nacional de Sobral 598,0 Sobral Caatinga

Floresta Nacional do

Araripe-Apodi 38331,0

Barbalha, Crato, Jardim, Missão Velha,

Nova Olinda e Santana do Cariri Caatinga

Parque Nacional de Ubajara 6299,0 Ubajara, Tianguá e Frecheirinha Caatinga

Parque Nacional de

Jericoacoara 8416,0 Cruz e Jijoca de Jericoacoara Marinho

Reserva Extrativista do

Batoque 601,1 Aquiraz Marinho

Reserva Extrativista

Prainha do Canto Verde 29794,0 Beberibe Marinho

Estadual

Parque Ecológico do Rio

Cocó 1155,2 Fortaleza Manguezal

APA da Serra de Baturité 32690,0

Aratuba, Baturité, Capistrano, Caridade,

Guaramiranga, Mulungu, Pacoti e

Redenção

Serra Úmida

Parque Botânico do Ceará 190,0 Caucaia Vegetacional

Litorâneo

Parque Estadual Marinho

da Pedra da Risca do Meio 3320,0 Fortaleza Marinho

APA do Lagamar do

Cauípe 1884,5 Caucaia

Lacustre

Vegetacional

Litorâneo

APA da Serra da Aratanha 6448,3 Guaiúba/Maranguape/Pacatuba Serra Úmida

Estação Ecológica do

Pecém 973,09 São Gonçalo do Amarante/Caucaia Dunas

APA da Bica do Ipu 3485,7 Ipu Serra Úmida

APA da Lagoa do Uruaú 2672,6 Beberibe

Lacustre/Complexo

Vegetacional

Litorâneo

APA do Estuário de Rio

Ceará 2744,9 Fortaleza/Caucaia Manguezal/urbano

APA do Estuário do Rio

Mundaú 1596,4 Itapipoca/Trairi Manguezal

APA do Estuário do Rio

Curu 881,9 Paracuru/Paraipaba Manguezal

APA das Dunas da

Lagoinha 3909,6 Paraipaba Dunas

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59

Quadro 04 – Unidades de Conservação do estado do Ceará (continua)

Unidade de conservação Área (ha) Região Ecossistema

APA das Dunas do

Paracuru 3909,6 Paracuru Dunas

APA do Pecém 122,8 São Gonçalo do Amarante

Lacustre

Vegetacional

Litorâneo

APA do Rio Pacoti 2914,9 Fortaleza/Euzébio/Aquiraz Costeiro

Corredor Ecológico do Rio

Pacoti 19405,0

Aquiraz/Itaitinga/Pacatuba/Horizonte/

Pacajus/ Acarape/Redenção

Costeiro/

Vegetacional

Litorâneo/

Caatinga

APA da Lagoa de Jijoca 3995,6 Jijoca de Jericoacoara/Cruz Lacustre

Mon. Natural Monólitos de

Quixadá 16635,6 Quixadá Caatinga

Mon. Natural das Falésias

de Beberibe 31,3 Beberibe Dunas /Falésias

Parque Estadual das

Carnaúbas 10005,0 Granja/Viçosa do Ceará Cerrado/Caatinga

ARIE do Sítio Curió 57,4 Fortaleza Enclave da Mata

Atlântica

Parque Estadual Sítio

Fundão 93,5 Crato Cerrado/Caatinga

Municipal

APA da Lagoa da Bastiana - Iguatu Lacustre

APA da Praia de Maceió 1374,1 Camocim

Costeiro/Complexo

Vegetacional

Litorâneo

APA de Balbino 250,0 Cascavel Costeiro

APA da Praia de Ponta

Grossa 558,7 Icapuí Costeiro

APA de Canoa Quebrada 4000,0 Aracati Costeiro

APA de Maranguape 5521,5 Maranguape Serra Úmida

APA de Tatajuba 3775,0 Camocim Costeiro

APA do Manguezal de

Barra Grande 1260,3 Icapuí Manguezal

APA de Sabiaguaba 1009,7 Fortaleza -

Parque Ecológico das

Timbaúbas 634,5 Juazeiro do Norte -

Parque Ecológico de

Acaraú - Acaraú

Complexo vegetal

litorâneo / Costeiro

Parque Natural das Dunas

de Sabiaguaba 467,6 Fortaleza -

Reserva Particular

RPPN Serra das Almas 4750,0 Crateús Caatinga

RPPN Fazenda Olho

D'Água do Urucu 2610,0 Parambu Caatinga

RPPN Serra das Almas II 495,0 Crateús Caatinga

RPPN Sítio Ameixas –

Poço Velho 464,0 Amontada Caatinga

RPPN Rio Bonito 441,0 Quixeramobim Caatinga

RPPN Fazenda Não Me

Deixes 300,0 Quixadá Caatinga

RPPN Monte Alegre 260,0 Pacatuba Mata Atlântica

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60

Quadro 04 – Unidades de Conservação do estado do Ceará (conclusão)

Unidade de conservação Área

(ha) Região Ecossistema Unidade de conservação

RPPN Francy Nunes 200,0 General

Sampaio Caatinga

RPPN Sabiaguaba e

Nazário 50,0 Amontada Caatinga

RPPN Arajara Park 28,0 Barbalha Caatinga

RPPN Chanceler Edson

Queiroz 130,0 Guaiúba Mata Atlântica

RPPN Elias Andrade 208,0 General

Sampaio Caatinga

RPPN Mãe da Lua 764,0 Itapagé Caatinga

RPPN Serra da Pacavira 34,0 Pacoti Mata Atlântica

RPPN Paulino Veloso

Camelo 120,0 Tianguá Mata Atlântica

RPPN Sítio Palmeiras 75,0 Baturité Mata Atlântica

RPPN Reserva Cultura

Permanente 7,6 Aratuba Mata Atlântica

RPPN Belo Monte 15,7 Mulungu Mata Atlântica

RPPN Almirante Renato de

Miranda Monteiro 219,9

Novo

Oriente Caatinga

RPPN Passaredo 3,6 Pacoti Mata Atlântica

RPPN Neném Barros 63,2 Crateús Caatinga

Reserva Ecológica

Particular da Fazenda

Cacimba Nova

670,0 Santa

Quitéria Caatinga

Reserva Ecológica

Particular da Fazenda Santa

Rosa

280,0 Santa

Quitéria Caatinga

Reserva Ecológica

Particular de Sapiranga 58,8 Fortaleza

Complexo veg.

Litorâneo e

costeiro

Reserva Ecológica

Particular do Sítio do Olho

D'água

383,3 Baturité Serra úmida

Reserva Ecológica

Particular Jandaíra 54,5 Trairí

Complexo

vegetal

litorâneo

Reserva Ecológica

Particular Lagoa Encantada 40,0 Aquiraz -

Administradas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) / Geopark Araripe

Monumento Natural

Ponta da Santa Cruz - Santana do Cariri -

Monumento Natural

Sítio Cana Brava - Santana do Cariri -

Monumento Natural

Riacho do Meio - Barbalha -

Monumento Natural

Cachoeira do Rio Batateira - Missão Velha -

(1) Exclusive a área da APA da Serra de Maranguape

Elaborado com base nos dados do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente - CONPAM, Associação

Caatinga, Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE.

Fonte: IPECE (2013)

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61

De forma geral o SEUC mantém as tipologias e instrumentos previstos pelo SNUC

e adota como órgão consultivo e deliberativo o Conselho Estadual do Meio Ambiente

(COEMA). A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) torna-se o órgão

executor e, portanto, como Órgão Central, responsável de coordenar e avaliar a implantação do

SEUC e propor a criação de UC estaduais, o Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente

(CONPAM).

Sobre a situação da implementação dos sistemas de unidade de conservação no

estado, Menezes et al. (2010) constataram que a média do tamanho das UC cearenses é de

13.974, 60 ha, considerando-a pequena. A criação de muitas unidades com tamanhos reduzidos

acaba por encarecer a manutenção do sistema, uma vez que serão demandados mais recursos

para estrutura e pessoal, o que pode comprometer sua viabilidade.

A SEMACE, em estudo sobre a avaliação das unidades de conservação, constatou

que havia baixa representatividade de unidades de proteção integral no estado e que das

unidades existentes poucas recobriam o bioma Caatinga. Em relação à gestão foi constatado

que havia perda da capacidade operativa dos conselhos gestores criados e/ou formados e

informações técnicas dispersas (SEMACE, 2010).

Ainda que em minoria, as unidades de uso direto foram avaliadas por Aguiar-Silva

et al. (2011) que averiguaram a inexistência de critérios técnico-científicos em 81% das

unidades criadas e que em muitas o plano de manejo não havia sido elaborado devido à

Gráfico 04 – Representatividade dos compartimentos geoambientais cearenses no

montante de áreas protegidas do Estado do Ceará

Fonte: Menezes et al. (2010)

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dificuldade em efetuar a regularização fundiária das áreas. Ainda segundo os autores, no

entorno das UC havia grandes conflitos fundiários e a fiscalização ineficiente favorecia a

especulação imobiliária e o tráfico de animais.

O presente cenário demonstra a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre

as formas de criação e avaliação das unidades de conservação criadas a fim de enriquecer

teórico-metodologicamente e empiricamente os conhecimentos sobre áreas protegidas,

contribuindo para a melhoria em sua efetividade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 A APA DA SERRA DE MARANGUAPE NO CONTEXTO DA ANÁLISE INTEGRADA

DA PAISAGEM

4.1.1 Paisagens de Exceção: Os Brejos de Altitude no Cenário dos Domínios das

Caatingas.

No desenvolvimento dos estudos integrados do meio, merecem destaque os

trabalhos de Jean Trincat e André Cailleux a partir de suas pesquisas em geomorfologia. Na

década de 1950, os geógrafos franceses redigiram vários fascículos preliminares, que

constituem os volumes do Traité de Géomorphologie, que apresenta 12 volumes, 9 deles

relacionados à Geomorfologia Climática, além de Introduction à la Géomorphologie

Climatique (1965). Esses pesquisadores passaram a perceber a existência de vários sistemas

morfoclimáticos. Tais sistemas representam um complexo formado pela associação e interação

entre os elementos da paisagem, dessa maneira, as formas de relevo passam a ser entendidas a

partir da relação entre suas litologias, estruturas e com os meios orgânicos, como os vegetais,

animais e grupos humanos (GUERRA, 1975).

Influenciado pelos trabalhos de Jean Tricart e de Andre Cholley com a sua noção

de sistemas de erosão, acrescidas das reflexões de Kullmann, Monbeig e Aroldo de Azevedo,

o geógrafo brasileiro Aziz Ab’Sáber desenvolve a noção de domínios morfoclimáticos (VITTE,

2009). Seus estudos geomorfológicos tinham como elementos fundamentais, os quais eram

considerados chaves explicativas: a compartimentação topográfica, a estrutura superficial da

paisagem e a fisiologia da paisagem. Elaborando um painel descritivo e analítico dos domínios

da paisagem, com base nos ciclos de tempo e de espaço, Aziz Ab’Saber identificou seis

domínios paisagísticos e macroecológicos no Brasil (AURELIO NETO e SOARES, 2013). A

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delimitação e caracterização da área de estudo da presente pesquisa tem como base a proposta

de Ab’Saber dos domínios morfoclimáticos (Figura 02), partindo do Domínio das Depressões

Interplanálticas Semiáridas do Nordeste e seus enclaves.

Figura 02 – Domínios morfoestruturais e morfoclimáticos do Brasil

Fonte: IBGE (2013)

O Domínio das Depressões Interplanálticas Semiáridas do Nordeste abrange cerca

de 800 mil km², o que corresponde a 11% do território nacional. Compreende os sertões que se

estendem do noroeste do estado de Minas Gerais, o vale médio inferior do São Francisco até o

Ceará e o Rio Grande do Norte. As temperaturas nessa região são quase sempre altas e

constantes variando entre 25 e 29º C durante o ano que é marcado por duas estações bem

definidas, uma seca e outra chuvosa. A estação seca dura de seis a sete meses, o que contribui

para que o balanço hídrico da região seja negativo e a evaporação de 2.000 mm ano-1 com a

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umidade relativa do ar média em torno de 50%. As precipitações nos altos sertões ficam em

torno de 268 a 800 mm e são mal distribuídas espacialmente.

A variabilidade interanual das chuvas nessa região está associada à variações nos

padrões de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos tropicais, os quais

afetam a posição e a intensidade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Oceano

Atlântico, que se caracteriza como o principal sistema climático na região. A baixa capacidade

de penetração dos alísios de sudeste também contribui para a variação de chuvas que acabam

por se concentrar no litoral e zona da mata onde as precipitações ultrapassam os 1000 mm.

Em relação aos aspectos litológicos, destaca-se a presença de feições

predominantemente erosivas (depressões sertanejas), deposicionais (terraços fluviais e glacis)

ou residuais (inselbergs e maciços). Nos terrenos cristalinos, a baixa porosidade limita o

potencial hidrogeológico e condiciona um padrão dendrítico de drenagem. Já nas áreas

sedimentares, como depósitos cenozóicos ou bacias sedimentares, a facilidade de infiltração

favorece uma pequena rede hídrica de rios e riachos, com padrões paralelos de drenagem e uma

fraca dissecação do relevo. Em sua grande parte, os terrenos da região são compostos por rochas

resistentes, tais como: os quartzitos, os granitóides e os arenitos. A presença de rochas

carbonáticas ao longo do semiárido nordestino ocorre nas bacias sedimentares fanerozóicas ou

em rochas do embasamento Pré-Cambriano, tais como o mármore ou a dolomita. (BASTOS &

CORDEIRO, 2012).

A combinação da escassez de umidade e a pouca permanência, ao longo do ano,

das águas no subsolo, produzem um baixo nível de decomposição química das rochas, o que

contribui para gerar solos descontínuos, afloramentos rochosos e eventuais manchas de terrenos

pedregosos (solos litólicos). A irregularidade nas chuvas também tornam sazonal o regime dos

rios que caracterizam-se como intermitentes e possuem como caracateristica própria a

drenagem aberta para o mar (AB’SÁBER, 2003).

A predominância dos processos de intemperismo físico, em relação aos processos

morfogênicos, é o principal fator na evolução geomorfológica do semiárido brasileiro. As

formas de relevo existentes são oriundas de um processo de pediplanação, o que forma extensas

superfícies de erosão. Essas são trabalhadas pelos rios do semiárido que em sua fraca

competência em entalhar vales faz com que as superfícies cristalinas apresentem suaves

ondulações com pequenas diferenciações altimétricas entre os fundos de vales e os interflúvios

(AB’SÁBER, 2003). Dessa maneira, há o predomínio das depressões sertanejas enquanto

unidade geomorfológica, porém ainda podem ser observadas feições residuais, como campos

de inselbergs e maciços cristalinos, relevos formados em bacias sedimentares, como cuestas,

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planaltos, morros testemunhos e depressões periféricas, além de planícies de deposição

sedimentar cenozóica como os terraços fluviais e os tabuleiros pré-litorâneos (glacis) (BASTOS

& CORDEIRO, 2012).

A vegetação que se desenvolve nesse cenário é profundamente adaptada as

condições de clima e solo. A caatinga, nome que no tupi-guarani significa “mata branca”,

corresponde a um diversificado padrão florístico e fisionômico que possue como principal

característica o xeromorfismo e a caducifolia. Onde as condições climáticas são mais

moderadas, a caatinga assumem padrão arbóreo, enquanto que nas áreas core, ela se apresenta

com padrão arbustivo desno ou aberto (SOUZA, 2000). São representantes desse quadro

fitogeográfico espécies arbóreas como o angico (Piptadenia macrocarpa), o pereiro

(Aspidosperma pirifolium Mart.), a aroreira (Astronium urundeuva Engl.), o marmeleiro

(Croton sonderianus M. Arg.) e a Maria Preta (Cordia salzmanni DC), entre eles, também, as

cactáceas como o xique-xique (Cereus gounelli) e o mandacaru (Cerus jamacaru) e as espécies

arbustivas, jurema (Mimosa hostile), catingueira (Caesalpina bracteosa) e sabiá (Mimosa

caesalpinifolia).

Quadro 05 - Principais aspectos do Domínio Morfoclimático das Caatingas

▪ Influências diretas e indiretas exercidas pelas condições climáticas atuais e pretéritas; conjugação da

vegetação, termo-pluviometria, relevo e formações superficiais;

▪ Clima semiárido do tipo megatérmico e uma vegetação predominantemente xerófila (caatinga);

▪ As depressões semiáridas dão o tom desse domínio, enquanto baixadas de clima seco, extensas e onduladas,

com inselbergs e cristas residuais, sendo que, de quando em quando, se pronunciam vales e canais fluviais.

▪ A unidade de paisagem que se destaca, em termos de região natural, é a depressão sertaneja, enquanto área

interplanáltica semiárida no bojo da sub-compartimentação geomorfológica, com precipitações médias mensais

em 30 anos de 1029,5 mm. Trata-se de área deprimida e arrasada por erosão diferencial, correspondendo a

superfícies de erosão que se desenvolveu principalmente sobre rochas cristalinas, cristalofilianas e,

eventualmente,sedimentares;

▪ Evidências de pediplanos neogênicos, como também de intemperismo mecânico pronunciado desde os

períodos de afeiçoamento dos pediplanos. Há resquícios de pavimentos detríticos;

▪ A presença de inselbergs e a drenagem é intermitente sazonal.

Síntese dos processos morfogênéticos ou Sistema de Erosão

Processos areolares/trabalhamento

dos interflúvios Processos lineares/Esculturação de vales

Intemperismo físico predominante sobre o químico,

consequente das severidades climáticas e derivações

termo-pluviométricas, sendo comprovado pelas for-

mas erosivas, como nos afloramentos consequentes da

erosão diferencial (efeitos exógenos) que atuou sobre

rochas quartzíticas.

Exiguidade dos recursos hídricos, com efemeridade

dos rios e riachos, logo, pouca competência para

incisão; drenagem com padrão dentrítico preferen-

cialmente nas áreas do embasamento cristalino.

Pedogênese semiárida com formação de solos rasos ou

esqueléticos

Sedimentos fluviais mal trabalhados, por isso

grosseiros, que mantém os níveis de terraços fluviais.

Apresenta afloramentos rochosos e chãos pedregosos Vales usualmente bem encaixados em forma de “V”,

embora, geralmente, rasos.

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Agressividade no escoamento superficial, quer seja

difuso, quer seja em lençol, provocando o surgimento

de caneluras, sulcos de erosão, ravinamentos,

voçoroca e torrentes.

Espraiamento de extensas planícies fluviais nos baixos

cursos d’água, sobretudo, nas regiões potamares.

Predominância de morfogênese mecânica na

elaboração de superfícies de erosão, provocando

pedimentos que coalescem para formarem pediplanos.

Os efeitos morfodinâmicos por meio de ações

hidráulicas propiciam a corrosão, atrição, transporte e

Acumulação em setores agradacionais.

Resultantes morfoclimáticos com destaque a geomorfologia

Superfícies aplainadas, apresentando feições de cristas e lombadas, relevo dissecado e suavemente ondulado.

A colonização dessa área seca começa no século XVII com a expansão da pecuária,

que visava abastecer as colônias no litoral e na defesa do território pelos portugueses contra as

invasões francesas. Segundo Andrade (2005), é a pecuária que dá origem as primeiras vilas e

aldeamentos no nordeste seco, seja nos locais de criação de gado, seja naqueles que serviam

como passagem para o transporte desses animais. Associada a essa atividade desenvolve-se

uma agricultura de subsistência em pequenas áreas cujos principais produtos eram mandioca,

milho, feijão e algodão e às vezes melancia e melão. Em algumas áreas próximas ao agreste

desenvolve-se o plantio da cana-de-açúcar e a associada a ela uma pequena indústria de

alimentos (ANDRADE, 1981).

Já no século XVIII, a demanda internacional por algodão vai transformar as formas

de ocupação na área. O algodão passa a ser produzido em larga escala e a ser exportado pelas

cidades litorâneas, como Recife e Fortaleza, e boa parte da produção é consumida

regionalmente, a qual após ser beneficiada em uma incipiente indústria local servia ao vestuário.

As feiras que se desenvolvem na comercialização de produtos regionais conferem importante

papel na formação e crescimento de algumas cidades, como Caruaru, Mossoró, Juazeiro do

Norte, Patos etc. (AB’SABER, 2009).

O clima de temperaturas predominantemente quentes constitui, desde sempre, fator

importante na ocupação e dinamização econômica da área. Os eventos de seca extrema

associados a uma estrutura fundiária rígida são responsáveis por fazer do nordeste seco um

centro de emigração para as restantes áreas do país. Tal fato explica uma série de medidas

tomadas para propiciar uma melhor convivência com o semiárido, dentre elas a açudagem.

Uma política de desenvolvimento regional proveu significativas mudanças a partir

da década de 1950, quando há a nível institucional a criação de organismos, como a

Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Banco de Desenvolvimento

do Nordeste (BNB) e Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

Fonte: Nascimento (2006)

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(CODEVASF), há ainda a ampliação de infraestruturas como portos e o aumento da geração de

energia elétrica que subsidiaram o desenvolvimento de importantes polos industriais. Com um

aparato institucional presente, algumas atividades tomam corpo renovando o quadro de atuação

na paisagem. Assim, alguns polos de irrigação são desenvolvidos, como o de Petrolina-Juazeiro

e o de Jaguaribe-Apodi, possibilitando a plantação e o mercado da fruticultura.

Para Nascimento (2006):

[...] o ambiente no Nordeste foi constituído ao longo da história, conforme a

quantidade e qualidade dos recursos naturais nos sistemas ecológicos; nos sistemas

socioeconômicos, pela estrutura de relação homem-homem ao lume da produção; e

nos meios tecnológicos, pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas usadas e

suas modalidades, de sorte que a interação destes elementos complexos marca várias

fases de desenvolvimento, desde os modos de uso dos recursos naturais, passando

pelos modos de uso do espaço (rural e urbano), respectivamente, ligados à

racionalidade econômica e a política no uso dos recursos e, como reflexo das relações

produtivas, que, inter-relacionados, no tempo e no espaço, forjaram as diversas formas

de modificações ambientais e condições de qualidade de vida nos diversos

geoambientes nordestinos, conforme sua complexidade ambiental. (NASCIMENTO,

2006, p.118)

Nesse sentido, o papel e os interesses das elites locais são estruturantes na relação

sociedade-natureza no semiárido, de forma que as origens dos principais problemas

socioambientais nas diferentes fases de desenvolvimento da região não podem ser deles

desvinculados. Destarte, a rígida estrutura fundiária, a política de favorecimentos e trocas, o

papel que determinadas áreas assumem na divisão internacional do trabalho possuem correlação

direta, por exemplo, com a miséria dos campesinos, os problemas socioespaciais dos centros

urbanos, o mau uso e poluição dos recursos hídricos e as formas de conservação dos recursos

naturais.

Dentro desse cenário ambiental é que se pretende destacar uma paisagem de

exceção do interior dos domínios das caatingas. Ab’Sáber (2003) chama de enclave

“fitogeográficos” as manchas de ecossistemas típicos de outras províncias, porém, presentes no

interior de um domínio de natureza totalmente diferente. O autor destaca a ocorrência desses

enclaves a partir de sua experiência científica no território brasileiro e relata a presença de

manchas de caatinga rodeadas por mata atlântica em Macaé - Cabo Frio e a ocorrência de áreas

de cerrado encravadas no interior da Floresta Amazônica.

No interior do domínio morfoclimático das caatingas aparecem redutos de áreas

úmidas e subúmidas chamadas popularmente por “brejos”. Essas áreas constituem superfícies

topograficamente elevadas de relevos serranos com dimensões variadas e que são submetidas

às influências de mesoclimas de altitude (AB’SÁBER, 1970 apud SOUZA E OLIVEIRA,

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2006). Também chamados de Brejos de Altitude são definidos por Sobrinho (1970 apud

Tabarelli & Santos, 2004) como um acidente orográfico que por sua elevação acentuada,

incidência de correntes atmosféricas úmidas e natureza do solo, condicionam uma vegetação

predominantemente mais higrófila que as áreas circunvizinhas. Em comparação com a

totalidade da região semiárida, os brejos possuem aspectos distintos quanto à umidade do solo

e do ar, temperatura e cobertura vegetal e dessa forma reguardam condições ambientais

exepccionais em relação o restante das drepressões sertanejas.

Souza e Oliveira (2006) destacam como enclaves úmidos e subúmidos do semiárido

conforme o estado da federeção em que se localizam (Figura 03) :

Figura 03 – Brejos de altitude do Nordeste

1. CEARÁ - Enclave da Serra de Uruburetama, Enclaves das Serras Baturité, Maranguape e

Pacatuba, Enclave da Serra da Meruoca, Enclave do Planalto da Ibiapaba, Enclave da Chapada

do Araripe/Cariri;

Fonte: Souza e Oliveira (2006)

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2. PARAÍBA - Enclave do Brejo da Borborema;

3. PERNAMBUCO - Enclave do Brejo da Borborema;

4. ALAGOAS - Enclave do Brejo da Borborema;

5. BAHIA - Enclaves da Chapada Diamantina e das Serras da Cadeia do Espinhaço;

6. MINAS GERAIS – Enclave da Serra do Espinhaço.

Para Ab’Sáber (1999), a ocorrência dessas áreas se dá em função de razões

climática e hidrológicas diferenciadas, que com base em modelos geohidrogeológicos são

tipificadas em: brejos de serra, cimeiras ou cumiadas (Baturité, Triunfo, Garanhuns, Serra

Negra); brejos de encostas ou vertentes úmidas (borda oriental da Borborema, borda leste da

Serra do Baturité), brejos de piemonte ou pé de serra, com múltiplos olhos d'água (base do

Araripe, na região de Grato e Missão Velha; Pedro II no Piauí), brejos de sopés de bancadas

calcárias (vale do Apodi — Mossoró), brejos de piemonte dotados de velhos leques aluviais

(noroeste do Ceará) e "baixios" abrejados em planícies alveolares de pé de serra (sudeste do

Ceará).

Os brejos são enclaves na forma de microrregiões úmidas e florestadas, com solos

férteis e de certa instabilidade em relação à disposição topográfica. Ocorrem sobre superfícies

elevadas de litologia sedimentar como no Planalto da Ibiapaba e do Araripe (Ceará) e na

Chapada Diamantina (Bahia) ou, mais comumente, em feições cristalinas (Ex. Maciço de

Baturité). Embora sejam climatologicamente semelhantes em função da altitude, a litologia

condiciona diferentes padrões pedológicos e hirogeológicos. Nas áreas cristalinas, as feições

são mais declivosas (em alguns setores as classes variam de 30 a 45%) chegando a formar

superfícies escarpadas com afloramento de rochas e solos poucos desenvolvidos, cuja reduzida

capacidade de absorção favorece o escoamento de água e a dissecação do relevo. Nos substratos

sedimentares, as camadas estratificadas tendem a condicionar um relevo menos acidentado,

com declives suaves e abertos, enquanto os interflúvios têm aspecto tabuliforme ou ondulado.

(SOUZA e OLIVEIRA, 2006).

Suas altitudes variam entre 600 e 1.200 m, o que influencia no regime térmico, uma

vez que a cada 100 m as temperaturas caem em 0,6ºC (AYOADE, 1986). As altitudes

diferenciadas favorecem a formação de chuvas orográficas que em média ficam entre 900 e

1.300 mm, o que contribui para que o balanço hídrico seja positivo, pois além do aumento das

precipitações, a altitude contribui no aumento da nebulosidade e na diminuição na

evapotranspiração, uma vez que há redução das temperaturas médias.

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Esse quadro climático favorece o desenvolvimento de uma floresta úmida com

características da mata atlântica brasileira, no entanto a floresta atlântica ao norte do rio São

Francisco, ou floresta atlântica nordestina, recebe influência da biota Amazônica e dos trechos

de floresta atlântica do Sul e Sudeste do Brasil o que a torna bastante distinta do restante da

floresta Atlântica brasileira (TABARELLI & SANTOS, 2004).

Sobre a origem dessa formação vegetal nos brejos de altitude, a hipótese mais aceita

está associada às variações climáticas ocorridas durante o Pleistoceno (últimos 2 milhões -

10.000 anos), as quais permitiram que a Floresta Atlântica penetrasse nos domínios da caatinga.

Ao retornar a sua distribuição original, após períodos interglaciais, ilhas de floresta atlântica

permaneceram em locais de microclima favorável (ANDRADE-LIMA 1982).

Ao longo do processo de ocupação do Nordeste, os brejos receberam importante

destaque, uma vez que as suas condições diferenciadas favoreciam além dos cultivos comuns

ao agreste e sertões a produção de frutas. A produção servia basicamente à subsistência de seus

habitantes e o pequeno excedente abastecia as feiras nordestinas. Acompanhando os ciclos

econômicos da região, as áreas úmidas foram também utilizadas na produção de cana-de-

açúcar, e a partir de 1840 a produção de café é introduzida nessas áreas que passa a ser cultivada

sob sombra da vegetação de maior porte, o maciço de Baturité, a serra da Meruoca, da Baixa

Verde e o próprio Cariri cearense são áreas que se tornam rapidamente grandes produtoras até

que entrasse em declínio em meados do século XX (ANDRADE, 2005).

Hoje, os brejos recebem impactos principalmente com o avanço da bananicultura,

que chega a ser praticada, em alguns casos, em toda extensão dessas áreas úmidas

comprometendo o potencial hídrico e a estabilidade dos solos (AB’SÁBER, 1999). O turismo

também vem despontando como uma atividade que se consolida nessas áreas, além dos

impactos sociais que causa, influencia diretamente na especulação imobiliária e modifica os

padrões de ocupação.

Dada à singularidade dessa paisagem no domínio das caatingas e a forte pressão

que sofre esse ambiente desde o processo de ocupação, diversas têm sido as estratégias para

preservar e garantir o uso racional dos recursos, principalmente a biodiversidade. Por esse

motico, é que o relatório Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade

da Mata Atlântica e Campos Sulinos do MMA inclui os brejos dentre as áreas de extrema

importância biológica na preservação da Mata Atlântica (Figura 04).

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Figura 04 – Áreas prioritárias para a preservação da Mata Atlântica no Brasil

Fonte: MMA (2000)

No estado do Ceará, a Política Florestal Estadual, Decreto nº 24.221, de 12 de

Setembro de 1996, define como Florestas Produtivas com Restrição de Uso, as Serra Úmidas e

Chapadas (encraves da Mata Atlântica) considerando-as como:

Áreas das serras cristalinas que suportam a Floresta Tropical Subperenifólia Plúvio-

Nebular ou Matas Serranas13 ocorrentes nas serras de Uruburetama, Maranguape,

Aratanha, Baturité, Meruoca e nas Chapadas do Araripe e Ibiapaba do Norte, em

disjunção das Florestas Atlânticas do Brasil leste (CEARÁ, 1996).

13 Classificação de Andrade-Lima (1966) para designar disjunções da floresta tropical perenifólia dentro da zona

da caatinga localizadas, via de regra, nos níveis superiores das serras, quer graníticas, quer cretáceas, acima de

cotas nunca inferiores aos 500 m e progressivamente maiores, num sentido geral SE–NW, até os 1.100 m.

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72

O decreto assegura que essas áreas somente poderão ser utilizadas através da

exploração seletiva, segundo um Plano de Manejo Florestal ou Agroflorestal, sendo proibido o

corte raso da área total das propriedades ou da área florestal susceptível de exploração. Para

estabelecer a relação entre o estudo integrado da paisagem e os instrumentos de preservação

ambiental, através da criação de áreas protegidas, nessas áreas elegeu-se como base de estudo

a Serra de Maranguape e sua Área de Proteção Ambiental que será trabalhada no tópico

seguinte.

4.1.2 A Área de Proteção Ambiental da Serra de Maranguape

A Área de Proteção Ambiental constitui uma tipologia de área protegida criada

anteriormente ao SNUC pela Lei Federal nº 6.902 de 27 de abril 1981 por iniciativa do

ambientalista Paulo Nogueira-Neto tendo como referência as ações conservacionistas existentes

em Portugal (NOGUEIRA-NETO, 2001). De acordo com a classificação atual de categorias de

áreas protegidas, adotada pela IUCN, as APA estariam incluídas no grupo da categoria: V -

Conservação de Paisagens Terrestres e Marinhas, de Lazer e Recreação, guardadas as suas

especificidades.

Com a Lei Federal nº 9.985/00, a APA passa a integrar o SNUC na categoria de

unidades de conservação de uso sustentável sendo definida como:

É uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de

atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a

qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. As condições para a

realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão

estabelecidas pelo órgão gestor da unidade (BRASIL, 2000).

As APA podem ser estabelecidas em áreas de domínio público e/ou privado, pela

União, estados ou municípios, sem que haja desapropriação de terras. No entanto, as atividades

e usos desenvolvidos estão sujeitos a um ordenamento por parte do poder executivo, cabendo-

lhe estabelecer normas, limitar ou proibir:

a) a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras, capazes

de afetar mananciais de água;

b) a realização de obras de terraplenagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas

importarem em sensível alteração das condições ecológicas locais;

c) o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou

um acentuado assoreamento das coleções hídricas;

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73

d) o exercício de atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies raras

da biota regional. (BRASIL, 1981).

Cada APA é regida por seu decreto de criação e, posteriormente, pelo decreto de

regulamentação no qual é criado o Conselho Gestor da unidade, em que são estabelecidas

normas administrativas importantes para a sua gestão ambiental. Como instrumento de gestão,

a APA não possui zona de amortecimento, somente conta com um plano de manejo que objetiva

disciplinar as atividades que acontecem em seu interior, sem que isso possa implicar violações

ao direito de propriedade. As APA são, na verdade, e legalmente, um instrumento de

ordenamento territorial na conservação de atributos ou fatores ambientais em uma dada

localidade (PADUA, 2001).

Atualmente, 442.771 km² do território brasileiro fazem parte de áreas delimitadas

por APA, representando 29% do total de áreas protegidas pelo SNUC (CNUC/MMA, 2014). A

facilidade institucional na criação de uma APA e a não garantia plena de que as medidas

propostas pelo Conselho Gestor sejam implementadas pelos proprietários presentes na área

torna esse instrumento desacreditado por alguns ambientalistas e acadêmicos. Em alguns

contextos, as áreas são bastante extensas e chegam a ultrapassar as fronteiras municipais, o que

pode tornar o processo de gestão mais complexo pela diversidade dos atores envolvidos.

Sobre outro ponto de vista, alguns autores consideram as APA instrumentos

importantes que podem ser usados na consolidação de Corredores Ecológicos e Zonas de

Amortecimento (PADUA, 2001), aumentando a eficiência da gestão em mosaico de áreas

protegidas. A existência de um Conselho Gestor também pode ser apontada como uma

importante ferramenta de gestão, uma vez que sua composição pode contribuir na negociação

entre os atores na resolução de conflitos na construção de práticas sustentáveis (CABRAL &

SOUZA, 2005).

Segundo o IPECE (2012), existem 26 APA no estado do Ceará, em sua grande

maioria, presentes em ambientes da zona costeira, como campos de dunas, lagoas interdunares

e estuários, outra parte contempla todas as serras úmidas do estado. A área a qual o presente

estudo se debruça localiza-se na RMF entre os municípios de Caucaia e Maranguape, tratando-

se de um maciço residual situado a 25 km de distância da capital cearense. Denominada

popularmente de Serra de Maranguape, o maciço de embasamento cristalino apresenta feições

dissecadas com altitudes que chegam a alcançar 920 m (Pedra da Rajada). Por sua proximidade

ao litoral e pela altitude, a Serra de Maranguape reúne condições que dão abrigo a um

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remanescente de mata atlântica, tornando-o um ambiente peculiar em relação ao seu entorno

semiárido.

Atento as transformações pelas quais a Serra passou nas últimas décadas, o poder

público municipal instituiu a APA da Serra de Maranguape através da Lei Municipal nº 1.168

de 08 de julho de 1993, tendo com abrangência as áreas superiores à cota de 100 m até a linha

da serra e o limite com o município de Caucaia. Seus objetivos são:

I – Proteger as comunidades bióticas nativas, as nascentes fluviais, as vertentes e os

solos;

II – Propiciar à população da área métodos e técnicas apropriadas ao uso do solo de

maneira a não interferir no funcionamento dos refúgios ecológicos;

III – Desenvolver na população uma consciência ecológica e preservacionista (CEARÁ,

2002, p. 05).

Na intenção de promover o disciplinamento no uso e ocupação da Serra, a APA

possui como atribuição restringir ou proibir as seguintes atividades:

a) Implantação ou ampliação de atividades potencialmente poluidoras, capazes de afetar

mananciais de água, as formas de relevo, o solo e o ar;

b) A realização de obras de terraplanagem e abertura de estradas, quando essas

iniciativas importarem em sensíveis alterações das condições ecológicas regionais;

c) A derrubada de florestas e a captura ou extermínio de animal silvestre de qualquer

espécie;

d) Os projetos urbanísticos, inclusive loteamentos, sem a prévia autorização as

SEMACE e da Prefeitura Municipal de Maranguape;

e) O uso de agrotóxicos, em desacordo com as normas ou recomendações técnicas

oficiais. (CEARÁ, 2002, p.05).

Pode-se inferir dessa leitura que a Lei de criação da APA, enquanto instrumento de

conservação ambiental, está calcada em duas propostas de ação para a conservação na Serra de

Maranguape: 1) Proteger os atributos ecológicos da Serra e 2) Controlar a intensidade e os

níveis de ocupação. Alinham-se nessa perspectiva a preocupação com a preservação dos

processos ecológicos essenciais à vida que se manifesta na intenção de proteger as comunidades

bióticas, os recursos hídricos e os solos de um lado. Por outro lado, há a intenção de regular as

formas de uso que se desenvolvem na Serra como foco principal no alcance dessa medida.

Destaca-se a ainda a preocupação em difundir técnicas de manejo compatíveis com o ambiente

serrano, medida mais que essencial na promoção de uma relação sustentável entre os processos

ecológicos e as formas de uso e ocupação.

Por se tratar de uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Maranguape, os limites

da APA da Serra de Maranguape estão restritos ao dito Município (questão que será retomada

adiante). Dessa forma, somente parte de uma das vertentes da Serra encontra-se inscrita dentro

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75

da unidade. Apesar de apresentar uma discussão geral sobre a Serra, a presente pesquisa teve

como foco de análise, principalmente, a área pertencente a APA, referida como vertente

oriental, uma vez que somente ela é alvo de medidas de proteção, não se poderia estabelecer

uma relação entre o estudo da paisagem e a criação de áreas protegidas ao restante do maciço,

o que não implicou na abstenção de tecer considerações sobre o maciço como um todo evitando

construir uma visão fragmentaria do processo.

Enumerado os instrumentos de criação da APA da Serra de Maranguape, será

apresentada a seguir a caracterização integrada dos componentes da paisagem.

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Mapa 02 – Mapa Básico da APA da Serra de Maranguape

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4.1.3 Análise Integrada dos Componentes na Configuração da Paisagem da APA da Serra

de Maranguape

A APA da Serra de Maranguape está situada na Região Metropolitana de Fortaleza

compreendendo um maciço residual nos limites dos municípios de Maranguape, Maracanaú e

Caucaia, que se diferencia do contexto regional por uma ruptura topográfica em relação às

depressões sertanejas. Esse maciço pode ser entendido como uma forma de relevo residual por

ser oriundo de resquícios de uma superfície de maior resistência que se originou em função de

um processo de erosão diferencial, resultando na formação de superfícies mais elevadas que,

sobre um processo de pediplanação, sofreram um recuo de vertentes dando origem a blocos

rochosos isolados e de tamanhos variados.

Segundo Souza (2000), os maciços residuais do Ceará são constituídos de rochas

cristalinas, com primazias de litologias metamórficas que se apresentam dissecadas em feições

convexo-aguçadas onde se desenvolvem solos das classes dos argissolos vermelhos-amarelos

e litólicos. Tais formas possuem drenagem com padrão dendrítico e subdendrítico e com certa

instabilidade nas encostas de declividade acentuada.

Os maciços encontram-se distribuídas pela depressão sertaneja, com disposição em

geral de NE-SW, predominando na porção central do estado e no centro-norte. As serras de

maior altitude e mais próximas aos oceanos são recobertas por mata úmida em seu topo,

formando o brejo de cimeira, enquanto as serras de menor altitude e mais ao interior do

continente apresentam uma mata seca (semi-caducifólia) nos topos e em suas vertentes. Os

maciços são compartimentados por Souza (2000) conforme o Quadro 05:

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A Serra de Maranguape, similar aos demais maciços do estado, é formada por três

grupos litológicos: rochas graníticas e migmatíticas pré-cambrianas, encaixadas em xistos e

gnaisse; rochas mesozoico-terciárias e depósitos detríticos cenozoicos. O conjunto dessas

rochas encontra-se estruturalmente definido como um sinclinório, onde o complexo granitóide-

migmatítico pré-cambriano encontra-se nas partes inferiores formando a base que é recoberta

por rochas mesozoico-terciárias e pelos depósitos detríticos-cenozoicos. (CEARÁ, 2002).

Segundo relatório realizado pelo IPT (1975), as rochas pré-cambrianas são

formadas por gnaisses (biotita-gnaisses e quartzo-biotita-gnaisses) e granitos (granito-gnaisses

Quadro 05 - Compartimentação dos maciços residuais no estado do Ceará

COMPARTIMENTAÇÃO SUBDIVISÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS

DOMINANTES

Ser

ra

s Ú

mid

as

e S

ub

um

ida

s

Serra de Baturité

Platô, Vertentes

(ocidental; orien-

tal, meridional, se-

tentrional) e ser-

tões de entorno.

Centro norte do Estado.

É ocupada pelos muni-

cípios de Baturité, Gua-

ramiranga, Mulungú,

Pacoti, Aratuba e Re-

denção.

Distribui-se no sentido NNE-SSW;

com altitudes de 700 a 850 m;

dissecada em forma de topos

convexos, lombadas e cristas.

Maciços Pré-litorâneos

Serras de

Uruburetama,

Maranguape,

Aratanha e Juá-

Conceição.

Compartimentos de re-

levos elevados próxi-

mos ao Litoral. São

grandes blocos rochosos

dispersos entre os muni-

cípios de Pacatuba e

Irauçuba.

Distribuem-se no sentido NE-SW

com exceção de Uruburetama (NW

-SE). Formados de rochas do

Complexo Migmatitico apresentan-

do seqüência de cristas com platôs

úmidos e sub-úmidos, com solos

podzólicos revestidos pela mata

plúvio-nebular.

Serra da Meruoca-

Rosário Platô e vertentes

Noroeste, entre os um-

nicípios de Sobral, Me-

ruoca, Alcântara e Mas-

sapé.

"Stock" granítico de forma

retangular dispondo-se na direção

NE-SW. Atinge o nível médio de

750m, com um pequeno brejo de

cimeira, recoberto originalmente

por floresta, com solos argissolos e

litólicos.

Ser

ra

Sec

as

Maciços Centrais e

Ocidentais

Serras do

Machado,

Bastiões, Aimoré.

Maia, São Vicente

e São José.

Área central e ocidental,

entre os municípios de

Canindé e Itatira.

Distribuem-se principalmente no

sentido NNE-SSW; níveis em torno

de 600 m; dissecados em cristas,

"hog-backs" e colinas rasas.

Serra das Matas Platô e vertentes Área central. Entre os

municípios de Monse-

nhor Tabosa e Tamboril

Bloco elevado com altitudes médias

de 650-700 m, pertencente ao

Complexo Migmatítico-granítico

dispondo-se no sentido L-O. Os

solos são litólicos com grande

sequência de afloramentos

rochosos.

Pequenos maciços

sertanejos

Serras do

Carnutim,

Quincocá da

Baixa,

Branca etc.

Encontram-se dispersas

por toda a depressão

sertaneja.

Pequenos maciços rochosos infe-

riores a 600 m dispostos em sentidos

variados, com solos litólicos e

algumas manchas de argissolos

revestidos por caatingas.

Fonte: Adaptado de Arruda (2001)

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porfiroblásicos, granito-gnaisses com orientação incipientes e granitos equigranulares

grosseiros) (Figura 05). Essas rochas se dispõem em faixas paralelas, cuja homogeneidade

evidencia-se a partir das bordas em direção ao centro dos maciços.

Arruda (2001) setoriza a composição litológica da Serra de Maranguape:

Na porção Maranguape/Gereraú/Pelada predominam rochas granitoídes-

migmatíticas de cor, variando entre cinza e rosa e texturas das mais variadas, foliadas

nas bordas dos corpos. Estão presentes tipos petrográficos como granitos, migmatitos

e gnaisses diversos.

A porção do Serrote do Japarara é formado por fonólitos, possui uma seção horizontal

elipsoidal com eixo maior de 2 km alongado segundo a direção NNE-SSW e com

feição topográfica cônica, alcançando 470 m de altitude. A rocha é bastante dura,

localmente fraturada e de cor cinza-claro a escuro. Tem granulometria

predominantemente fina e localmente grosseira, com presença de fenocristais de

feldspato.

O aproveitamento mineral na Serra de Maranguape (Figura 06) ocorre

principalmente na porção da Serra da Taquara/Mucunã, onde se encontram três locais de

extração de rochas utilizadas na produção de britas para uso na construção civil. Nessa porção

do maciço, o desenvolvimento de tal atividade promove descaraterização na paisagem e

significativo impacto de vizinha na comunidade local.

Figura 05 – Expressão litológica e uso no Maciço de Maranguape

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Pedra do Urubu - Afloramento de rocha na vertente oriental da

Serra de Maranguape próximo a localidade de São Benedito.

Rocha granítica pertencente ao complexo granítico-

migmatitico que compõem os setores morfologicamente mais

elevados resultantes ao processo de erosão diferencial. Fonte: Próprio autor (2013)

Figura 06 – Aproveitamento mineral na Serra de Maranguape

Extração de rochas na Serra da Taquara, jan/2014

Fonte: Próprio autor (2014)

Segundo Souza (2000), a interação do quadro litológicos com os demais

componentes da paisagem condiciona a diversidade de solos, a disponibilidade de recursos

hídricos de superfície e subsuperfície, o quadro fitoecológico local, as potencialidades dos

recursos naturais disponíveis e a partir da interação com o clima as formas de relevo.

A origem geomorfológica do maciço de Maranguape (Figura 07) está associada ao

soerguimento no período Necomiano que daria origem ao maciço de Baturité que seria

dissociado em relevos isolados (Baturité, Maranguape, Pacatuba, Aratanha, Juá/Conceição)

através de erosão (CLAUDINO-SALES & PEULVAST, 2007). Souza (1988), em sua proposta

de compartimentação morfoestrutural do Ceará, inclui essa área no domínio dos escudos e

maciços antigos, classificando-a como maciço pré-litorâneo, dado a sua proximidade com o

mar. Para o autor, a Serra possui disposição SW-NE e tem morfologia exibindo marcas de

oscilações climáticas entre climas úmidos e secos. Na primeira ocasião as dissecações são

responsáveis pela acidentação do relevo em feições variadas como colinas, cristas e lombas

alongadas. Durante as fases secas, predominaram processos de morfogênese mecânica e o

desenvolvimento de superfícies pedimentadas que estão presentes na cimeira e nos flancos da

serra sendo posteriormente trabalhadas nas fases úmidas.

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A disposição do relevo encontra-se divido em porções (Tabela 02) de altitudes

diferenciadas onde a porção central alcança altitudes maiores que 600 m, constituindo a parte

mais representativa e área de 207,35 km², correspondente a 65,06% do total.

Figura 07 – Visualização 3D do Maciço Residual de Maranguape com visada NE-SW

Tabela 02 – Setorização da Serra de Maranguape-CE

PORÇÃO LOCALIZAÇÃO ALTITUDE

(m)

ÁREA

(km²)

REPRESENTATIVIDADE

(%)

Serra da Taquara Nordeste 511 43,98 13,8

Serra de Maranguape Porção Central 920 207,35 65,06

Serra da Pelada/Gereraú Sudoeste 410 47,81 15,06

Serrote do Japarara Extremo Sudoeste 400 19,54 6,1

TOTAL 318,69 100

Fonte: Arruda (2011)

Fonte: Elaborado pelo autor com auxílio do software Spring 5.2

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Mapa 03 – Mapa Hipsométrico da APA da Serra de Maranguape

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As altitudes elevadas interferem no clima, condicionando suas características

termopluviométricas, o que favorece uma maior disponibilidade hídrica, impondo, dessa

maneira, uma maior permanência ao escoamento fluvial intensificando a capacidade de

escavamento do relevo pelos rios que originam feições morfológicas aguçadas (cristas),

convexas (colinas) e de topos planos (interflúvios tabulares). Essas feições são intercaladas por

vales estreitos (em forma de V) ou ligeiramente alargados nos setores de topografia mais

suaves.

Na APA, os declives estão concentrados nas classes superiores a 10-15%, em

alguns setores eles se tornam mais acentuados, variando de 30-40% ou superior, exibindo

feições escarpadas por vezes expondo as rochas nas vertentes (CEARÁ, 2002). Nos setores de

maior altitude acima da cota de 500 m e onde a declividade é mais acentuada, a ocupação acaba

por ser mais restrita exibindo uma vegetação mais conservada.

Para todos os grupos sociais, a paisagem serrana se apresenta como a imagem de

identificação com o local, a ruptura topográfica em relação às depressões circunvizinhas

destaca-se no cenário local e a sua imagem os grupos lhe atribuem um sentimento de identidade

com o lugar, tornando-se referência ao município. A imagem da serra está associada a um

sentimento bucólico que se diferencia da atribulada vida urbana e juntamente com o rico

patrimônio histórico da cidade são considerados pelos grupos como um elemento de sua

identidade e um sentimento de pertencimento que representam uma forma singular de viver que

ultimamente vem se modificando.

As altitudes diferenciadas associadas às correntes perturbadas e a situação

geográficas vão interferir nas precipitações, ventos, umidade relativa, insolação e radiação

solar, evaporação e temperatura na APA.

As temperaturas ao longo do ano variam em torno de 23ºC a 26ºC, não relevando

significativas amplitudes térmicas tanto anuais quanto diárias. No entanto, nas altitudes maiores

que 600 m as variações alcançam temperaturas entre 18ºC e 25ºC para a noite e para o dia

respectivamente (CEARÁ, 2002).

A posição geográfica do maciço contribui para a influência dominante dos ventos

alísios durante quase todo o ano e para os sistemas de brisas, esses últimos atuando diariamente

e influenciando nas temperaturas locais. Os primeiros predominam na área até a entrada da

ZCIT, ocasionando uma mudança em direção, passando a fluir para o sudoeste. Originada da

convergência de ventos alísios de nordeste e sudeste ao longo do ano, a ZCIT se mantém acima

da faixa equatorial por grande parte do ano até que a partir de fevereiro esse sistema desloca-se

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para o sul, criando condições adequadas para a quadra chuvosa, constituindo-se como o

principal sistema formador de chuvas no Ceará (Figura 08).

Figura 08 – Fluxos de umidade e brejos de altitude no Nordeste

Essa sazonalidade na área de atuação da ZCIT interfere na distribuição anual das

chuvas na APA. O trimestre mais chuvoso é o de março-abril-maio, enquanto o trimestre de

setembro-outubro-novembro corresponde ao menos chuvoso, apresentando assim uma estação

seca e outra chuvosa no qual as precipitações se concentram no primeiro semestre do ano,

enquanto em média 06 meses são de seca (julho-dezembro) (Gráfico 05). A média anual chega

a ultrapassar os 1300 mm.

Fonte: Adaptado de Bétard et al. (2007)

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Gráfico 05 – Média mensal pluviométrica no município de Maranguape (1978-2013)

Fonte: FUNCEME

Elaborado pelo autor

Na vertente ocidental, área a sotavento, as precipitações tendem a ser menores e de

maior irregularidade, ficando abaixo dos 900 mm, se diferenciando da vertente oriental e das

áreas de platô, uma vez que são nessas áreas que a altitude, a disposição do maciço (NE-SW) e

seu comprimento (22,5 km) favorecem a formação de chuvas orográficas. (ARRUDA, 2001)

Para Ceará (2002), o balanço hídrico na APA é influenciado pela combinação dos

parâmetros termopluviométricos com os demais. Dessa maneira, o estudo aponta que na área

as médias térmicas mensais são relativamente baixas sendo beneficiadas por uma maior duração

do tempo chuvoso, o que lhe garante consideráveis teores de umidade durante maior parte do

ano. O excedente hídrico anual é superior a 390 mm enquanto a deficiência hídrica anual atinge

650 mm. As diferenças entre os totais de precipitações (P) e a evapotranspiração potencial (EP)

são negativas de junho a janeiro, nos demais meses os resultados são sempre positivos.

Por essas características, o clima na APA pode ser classificado, segundo sistema de

Köppen-Geiger, como AW’- tropical chuvoso quente-úmido com chuvas de verão-outono,

assemelhando-se a todo o litoral cearense, em contraste com os restantes 80% do território do

estado que se apresenta como BSwh’ – semiárido bastante quente, com estação chuvosa

deverão/outono.

Os recursos hídricos de superfície e de subsuperfície são reflexos das condições

morfoestruturais e climáticas, na APA as características do embasamento cristalino, que se

caracterizam por rochas duras e pouco fraturadas, favorecem a formação de uma rede de

drenagem de elevada densidade. A Serra de Maranguape funciona como um divisor de águas

na bacia hidrográfica do rio Ceará, que se insere no conjunto das Bacias Metropolitanas. A

configuração topográfica da Serra associada à distribuição dos depósitos detríticos de encosta

0

50

100

150

200

250

300

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

PR

EC

IPIT

ÃO

ME

NS

AL

(mm

)

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e de piemonte são fatores determinantes nas características da drenagem. Nas partes mais altas,

a estrutura é determinante no seu controle formando padrões subparalelos, os riachos são muito

entalhados com paredes abrutas. Os vales são bastante entalhados (em forma de “V”), com

pequeno acúmulo de material em seus fundos (IPT, 1975).

Na vertente ocidental, a drenagem se apresenta bastante ramificada, de classificação

dendrítica e de comprimento inferior a oito quilômetros, desaguando no rio Ceará. Já na vertente

oriental, os rios se desenvolvem perpendiculares a Serra formando três principais riachos:

Pirapora, Gavião e Tangueira que ao se encontrarem em altitudes menores dão origem ao rio

Maranguapinho, tributário do rio Ceará.

Embora o regime dessa rede de drenagem seja influenciado pela irregularidade nas

chuvas assumindo caráter intermitente, nas cotas mais altas os rios assumem um regime semi-

perene em função das condições climáticas mais úmidas, são eles: do Meio, Romcy, Gavião e

Pirapora. Esse potencial hídrico é aproveitado com a construção de barramentos e açudes onde

a água acumulada serve a agricultura, ao abastecimento humano e ao lazer (Figura 09).

Figura 09 – Aproveitamento hídrico na APA.

Açude do Sítio Boa Vista - O escoamento superficial de água é

barrado neste fundo de vale para utilização desse recurso nas

plantações de banana que bordejam o açude e para o

abastecimento humano, existe um conflito sobre esse recurso em

relação ao seu represamento por moradores nas partes de maior

altitude que acabam restringindo o acesso à água para aqueles

localizados a jusante em altitudes menores além do impacto

sobre os processos físico-naturais.

Fonte: Próprio autor (2013)

As classes dos solos na APA da Serra de Maranguape podem ser divididas com

base em sua evolução pedogenética, diferenciando os solos em profundos (Argissolos

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87

vermelho-amarelos com profundidades entre 1,00 e 2,00 m) e em solos rasos, que não

ultrapassam os 50 cm de espessura, caracterizados aqui pelos solos litólico eutróficos (Figura

10).

Argissolos vermelho-amarelos – São provenientes da translocação de

constituintes coloidais e solúveis dentro do perfil argila-sesquióxidos e originados a partir da

alteração de gnaisses, migmatitos e granitos. As características químicas permitem, em função

do grau de saturação por bases, distinguir duas categorias desses solos: argissolos vermelho-

amarelos distróficos e argissolos vermelho-amarelos eutróficos, esses últimos são resultantes

da adição de material orgânico a montante possuindo acidez moderada e argila de atividade

baixa.

Os Argissolos possuem sequências de horizontes A, B, C, às vezes com horizonte

Oo, são profundos e mais raramente rasos, fortemente a moderadamente drenados, com

horizonte textural B de coloração comumente vermelha amarelada, tornando-se mais amarelada

nos níveis mais altos das serras. Estão geralmente localizados em relevos de formas

convexizadas e, dessa forma, evidenciam a presença de óxido de ferro hidratado. Por

predominarem nos platôs, possuem tendência ao diastrofismo devido à maior possibilidade de

perdas de elementos trocáveis e o favorecimento da acidificação.

A fertilidade natural de média a alta e a profundidade, entre outras boas

propriedades físicas, são indicadores de um bom potencial de uso do solo para os argissolos.

Por tais características, esses tipos solo são bastante utilizados, todavia, na maioria dos casos,

isso ocorre de maneira inadequada, uma vez que o relevo montanhoso (45 a 74% de

declividade) e o alto gradiente textura induzem os processos erosivos que são acionados pelo

desmatamento.

Neossolos litólico eutróficos e afloramento de rochas – São oriundos da remoção

ou transporte de materiais e particulares minerais por efeito da gravidade e agente erosivos ao

longo das encostas. São solos com perfis pouco desenvolvidos possuindo apenas o horizonte

A.

Os Neossolos litólico predominam nas porções mais baixas e desgastadas pela

erosão, ocupando áreas de declive mais acentuado, principalmente a sotavento. Esses tipos de

solo ocorrem bordejando as cotas acima de 300 m, permanecendo principalmente entre 100 e

300 m de altitude. Em algumas situações, associam-se a afloramentos de rochas e ficam mais

vulneráveis aos processos erosivos, enquanto que nas áreas de menor declividade associam-se

aos argissolos eutróficos.

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88

Figura 10 – Perfis representativos das classes de solos da APA da Serra de Maranguape.

10.1- Argissolos vermelho-amarelos.

10.2 - Neossolos litólico.

Fonte: Próprio autor (2013)

As condições de solo e clima, influenciadas pelas variações altimétricas, implicam

diretamente na fisionomia e na composição florística da vegetação, como também nas formas

de uso e ocupação. A partir da classificação de Fernandes (1998) são identificadas as seguintes

unidades vegetacionais na APA da Serra de Maranguape:

Arbóreo climático estacional caducifólio (caatinga) - Formação vegetal

predominante no semiárido brasileiro, na APA ela ocupa os sertões de entorno e a base das

vertentes da serra alcançando o nível das cotas de 300 m. Nas proximidades dos riachos, ela dá

lugar a uma pequena mata ciliar. Há predomínio de espécies arbustivas e algumas árvores

esparsas, são exemplos: Angico (Anadenanthera colubrina), Aroeira (Myracrodruon

2

1

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urundeuva), Marmeleiro-branco (Croton argyrophylloides), Trapiá (Crataeva trapia), Feijão

Bravo (Caparis flexuosa), Jurema-preta (Mimosa hostilis Benth.), mandacaru (Cereus

jamacaru).

Nos períodos chuvosos, essa vegetação se confunde com a mata seca e também

ocupa os espaços desta quando desmatada. Na porção meridional e setentrional da Serra, a

caatinga apresenta níveis intermediários de conservação tendo a sua subtração realizada para a

exploração mineral, a produção de carvão e cultivo de lavouras de subsistência.

Arboreto Climático Estacional Semicaducifólio (mata seca) – Abrange as áreas

entre os 300 e 600 m de altitude, possui caráter perene e verdejante predominante no período

chuvoso e quando chega à época da estiagem, uma parte das espécies assume um caráter

caducifólio. Coloniza setores de declividade média à alta, em solos rasos do tipo litólico, onde

os afloramentos rochosos são frequentes e a temperatura é mais elevada do que no ambiente da

mata úmida. São espécies representativas: Espinheiro-preto (Acacia glomerosa), Gonçalo-alves

(Astronium fraxinifolium), Mulungú (Erythrina velutina), Cajá (Spondias mombim), Pau-darco-

amarelo (Tabebuia serratifolia), Catolé (Syagrus cearenses), Barriguda (Bombax cearense).

Pelo caráter eutrófico dos solos em que se desenvolvem, as áreas de mata seca são

de intensa exploração agrícola, desse modo são intensamente desmatadas e acabam dando lugar

a vegetação de caatinga em alguns setores das vertentes.

Arboreto Climático Perenifólio (mata úmida) – Recobre os platôs da Serra e as

encostas mais altas sempre acima da cota de 600 m. Predominam espécies arbóreas de grande

porte, encorpadas e adensadas, acompanhadas de alguns arbustos e elevado número de epífitas

e herbáceas de caráter ombrófilo (Figura 11).

A mata original é uma floresta composta por vários andares de vegetação, com

diversas espécies frutíferas introduzidas, tais como Cajazeira (Spondias lutea), Jaqueira

(Artocarpus integrifólia), Mangueira (Mangifera indica), que se comportam atualmente como

nativas em meio as espécies características: Murici (Byrsonima crispa Adr. Juss.), Pau Marfim

(Agonandra brasiliensis Miers), Pau d’alho (Gallesia gorazema), Sabiá (Mimosa

caesalpinifolia Benth), Cedro (Cedrela fissilis), Utricularia jamesoniana.

A mata úmida é a unidade de vegetação em melhor estado de conservação. Segundo

Arruda (2001), os fatores físicos no acesso áreas de topo, os solos encharcados desfavoráveis a

agricultura e a forte declividade do terreno contribuem para que esse nível de interferência seja

menor.

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90

Figura 11 – Mangue de altitude.

Geótopo que se forma nas áreas alagadas dos platôs, com

características pantanosas e vegetação apresentando-se semelhante

às espécies de mangue (típicas das áreas fluivo-marinhas). Destaque

para a espécie Mangue-de-serra (Clusia sp.)

Fonte: Próprio autor (2013)

A peculiaridade da paisagem da Serra de Maranguape, comparando-a ao seu

entorno, se reflete nas características de sua biodiversidade faunística. O clima diferenciado

possibilita a formação de habitats singulares, os quais abrigam espécies que não ocorrem na

depressão sertaneja. Evidências paleobioclimáticas demostram que o isolamento e a formação

de enclaves da conexão entre a mata atlântica e a floresta amazônica na região, hoje

correspondente ao domínio das caatingas (AB’SABER, 1999), propiciou a ocorrência de

processos evolutivos e o surgimento de novas espécies (FERNADES, 1998), o que explicaria

o quadro biogeográfico da Serra de Maranguape (Figura 12) e demais enclaves úmidos do

Nordeste.

Sobre a herpetonofauna da Serra de Maranguape, Lima (2001) aponta a existência de 41

espécies de lepidosauros, distribuídos em 12 famílias e 17 espécies pertencentes a quatro

famílias. São exemplares as espécies citadas por Borges-Nojosa & Caramaschi (2003):

Amphisbaena vermicularis (cobra-cega), Coleodactylus meridionalis (Lagartinho),

Hemidactylus mabouia (Lagartixa-comum), Iguana iguana (camaleão), Leposternon

polystegum (Cobra-de-duas-cabeças), Polychrus acutirostris (Calango-cego), Tropidurus

hispidus, Colobosauroides cearenses e Leposoma baturitensis (genericamente chamados de

calango). Ambos os autores destacam a semelhança de composição entre as espécies nas Serras

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA …uece.br/mag/dmdocuments/jeanfilippe_gomes_ribeiro.pdf · Tabela 01 – Número e Extensão das Unidades de Conservação Federais

91

de Maranguape e Baturité, o que indicaria uma ligação pretérita entre os dois maciços, o

destaque é para o pequeno anfíbio Adelophryne maranguapensis endêmico a primeira.

Figura 12 – Exemplares da Fauna na APA.

12.1 - Adelophryne maranguapensis – Pequena espécie de

anfíbio, medindo cerca de 2 cm, endêmica a Serra de

Maranguape.

12.2 - Leposoma baturitensis – Lagarto característico dos

brejos de altitude do Ceará. Ambas as espécies são adaptadas

as condições ombrófilas e úmidas, sendo bastante sensíveis a

alterações no ambiente.

Fonte: Próprio autor (2013).

Sobre a avifauna da Serra de Maranguape, Albano & Girão (2008) estimam que

existam por volta de 161 espécies na área que também apresentam correspondência com

espécies das Serras de Aratanha e Baturité, são elas Picumnus limae (Pica-pau-anão-da-

caatinga), Sclerurus scansor cearensis (Cisca-folha), Brotogeris chiriri (Periquito-de-encontro-

2

1

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92

amarelo) Tangara cyanocephala cearenses (Saíra-milita) Xiphorhynchus guttatus gracilirostri

(Araçapu-de-garganta-amarela) e Zimmerius gracilipes acer (Poiaeiro-de-pata-fina).

Em relação aos mamíferos presentes na Serra, Ceará (2002) afirma serem comuns

em grande parte das formações vegetais da América do Sul, são elementos representativos:

Didelphis albiventris (cassaco), Dasypus novemcinctus (tatu), Coendou prehensilis (porco-

espinho), Epphractuas sexcinctus (peba), Callithrix jacchus (soim), Procyon cancrivous

(guaxinim) e Cerdocyon thous (raposa). O documento ainda relata que é provável que animais

de maior porte, como a anta (Tapirus terrestres), compusessem a fauna local, no entanto em

função do processo de ocupação esses animais teriam desaparecido.

As condições de umidade características da paisagem propiciaram a formação de

habitats para diversos invertebrados, tais como: os gêneros Austoma, Megabulinus e Tomigerus

(caracóis), Molusca e Pulmonata (lesmas), Playhelminthes e Tubellaria (planárias), Annelida e

Oligocheta (minhocas) e Onchophora (onicóforos). Tais espécies são bastante vulneráveis às

alterações no ambiente, desta forma o desmatamento e as queimadas colocam em risco os

processos ecológicos nos quais essas espécies se inserem.

Em pesquisa paleobiogeográfica, a partir da análise de bioindicadores, Montade et

al. (2014) demonstraram que as modificações climáticas nos últimos 5.000 anos foram

responsáveis por mudanças na composição florestal na Serra de Maranguape. As alterações,

principalmente quanto aos níveis de precipitações, provocaram mudanças na composição das

espécies, mas mantiveram as características do micro refúgio por meio da seleção de espécies

chaves, mantendo estável a biodiversidade. Para os autores, enquanto a biodiversidade

permanecer estável, há uma reorganização das comunidades vegetais que permite a

sobrevivência da maioria das espécies. Esse ponto é muito importante para a preservação dos

ecossistemas dessa floresta, que são reservatórios de biodiversidade e de recursos hídricos

importantes, em uma área de clima semiárido e que têm sido afetados pelas intervenções

antrópicas e merecem atenção por parte de políticas de proteção.

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93

4.1.4 Configuração territorial: atividades socioeconômicas e aspectos demográficos da

APA.

Uma das dimensões da proposta metodológica de Bertrand (2007) consiste na

análise da repercussão, da organização e dos funcionamentos sociais e econômicos sobre o

espaço considerado, trata-se da leitura do território. O autor, na pretensão de abordar a

totalidade da interface natureza-sociedade, se utiliza do conceito de antropização. Para ele, esse

processo pode ser “especificado, de uma parte, analisando os mecanismos da artificilização, de

outro, restituindo o artefato aos sistemas de valores correspondentes” (BERTRAND, 2007, p.

207).

Por antrópico se considera o conjunto dos processos materiais e imateriais de

origem social, econômica ou cultural, que transformam o espaço-natureza em um meio

ambiente mais ou menos artificializado, sendo, portanto, a origem da artificilização do

geossistema a partir de sua evolução demográfica e econômica, constituindo um dos processos

de produção territorial, ou seja, do espaço geográfico produzido e vivido pelas sucessivas

sociedades.

No entanto, é preciso evitar tratar os problemas do meio ambiente sem uma

profundidade histórica. Somente se pode socializar e antropizar o meio ambiente se ele for

inscrito na perspectiva do tempo e da duração, que é o tempo da natureza, das estações etc.,

mas também é o tempo das sociedades que fizeram e desfizeram seu meio ambiente, trata-se da

memória do território (BERTAND, 2007).

Apresenta-se um breve retrospecto, e o cenário atual, das transformações sociais,

econômica e políticas na APA e entorno buscando construir um quadro nas modificações da

configuração da paisagem (a partir de seus subsistemas) estabelecendo uma relação entre os

seus componentes, as práticas a eles associadas e os seus sistemas de representações.

A historiografia oficial considera que as origens do município datam do século

XVII, quando a frota de Matias Beck chegou ao Ceará conduzindo cerca de 300 homens, entre

soldados, índios e negros escravos. O capitão holandês construiu o forte Schoenenborch, na foz

do Rio Pajeú, em cujo entorno se desenvolveu o povoado que mais tarde se tornaria a vila de

Fortaleza de Nova Bragança. Os holandeses desconfiavam da existência de minas de prata no

Monte Itarema (Serra da Aratanha), próximo ao lugar onde acampavam e não muito distante da

Serra de Maranguape, conseguiram dos chefes indígenas algumas indicações sobre o local onde

se encontravam as jazidas.

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A expedição ao Monte Itarema constitui a primeira penetração do homem branco

nas terras do atual município de Maranguape, àquela época habitadas por índios potiguaras que

ocupavam a faixa litorânea, desde o Rio Grande do Norte até a Barra do Ceará e depois ao

Piauí.

As primeiras sesmarias concedidas no início do século XVIII tiveram como

donatários o tenente Pedro da Silva e Amaro Morais, em 12 de julho de 1707; Jorge Silva, em

29 de dezembro de 1711; capitão Soares de Oliveira, em 17 de julho de 1717; José Gonçalves

Ferreira Ramos e Felipe Loureço, em 1790. O povoamento, entretanto, veio a tornar-se efetivo

nos primórdios do século XIX com o surgimento, à margem do Riacho Pirapora, do arruado

com uma pequena capela que servia aos moradores ocupados nas atividades agrícolas,

especialmente na cultura do café.

A Serra de Maranguape na construção simbólica dos colonizadores estava

intimamente ligada às formas de ocupação e uso que se desenvolveram no período colonial e

imperial:

A serra proporcionava uma visão grandiosa e acabou criando uma série de mitos e

anseios entre os colonizadores, tanto os flamengos que passaram por lá rapidamente

como os lusitanos que creiam haver nela fontes de prata [...] foi realmente na serra que

encontrou sua fonte de riquezas: os cafezais e as frutas; e nos vales que a circundavam:

os canaviais. [...] aludimos a esse acontecimento para que tenhamos em vista a

construção simbólica que era vinculada às serras: a idéia de riqueza era quase

automática para o colonizador; fosse ele “aventureiro” ou “ladrilhador” - como diria

Sérgio Buarque de Holanda. (MACIEL, 2011, p. 28)

Sobre esta ideia de produção de riquezas é que entre 1851-1852 a Serra de

Maranguape se tornou a principal área produtora de café da província. Os luxuosos casarões e

palacetes que podem ser vistos hoje na sede do município são a memória e o testemunho das

riquezas que foram geradas nesse período.

As mudanças na paisagem durante o auge a produção cafeeira na Serra de

Maranguape (Figura 13) são apontadas por Duarte (2012) que relaciona as formas de ocupação,

as técnicas empregadas na produção agrícola e as implicações ambientais dela advindas. Para

o autor, os produtores agrícolas exerciam sua atividade de forma bastante rudimentar,

possuindo, em sua grande maioria, como instrumentos técnicos, machados, foices e enxadas

Esses sujeitos aturam na paisagem local, seja com a introdução de novas plantas como o café,

seja na derrubada de árvores para limpeza do terreno e outro plantio:

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95

A transformação da paisagem a partir da derrubada de árvores e plantio de outras

espécies fez-se sentir não apenas na lavoura, mas em todo o cotidiano das unidades

produtivas. A madeira que não serviria para transforma-se em utensílios era utilizada

como lenha para uso doméstico. Nesse sentido, trabalho, produção, moradia e

utensílios domésticos estavam intimamente ligados aos recursos naturais disponíveis

aos produtores agrícolas (p. 133).

A produção cearense de café era destinada ao mercado interno e, em pequena

escala, era vendido para outras regiões. A partir de 1860 as exportações começaram a crescer,

ocasionando a necessidade de mais áreas voltadas ao cultivo do produto, o que provocou

maiores alterações na paisagem, em especial, nas zonas de serra. A produção concentrada nas

serras (Maranguape, Aratanha, Meruoca, Serra Grande, Chapada do Araripe, Serra do Machado

e a de Baturité) se justifica pela existência de condições ambientais favoráveis ao cultivo, quais

sejam a temperatura amena, a pluviosidade e os solos férteis. O uso do solo de forma predatória

sem a preocupação com sua estagnação associado às técnicas empregadas é um dos motivos

apontados pela baixa produtividade ocasionada com o passar do tempo do plantio (DUARTE,

2012; LIMA, 2000).

Figura 13 – Cultivo de café, traços da modificação na paisagem.

1

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13.1 – Ingazeira (Inga ssp.) espécie do bioma caatinga

introduzida na Serra e plantada em consórcio com o café que

se desenvolvia a sua sombra, aumentando assim a qualidade

do produto. Além de servir de proteção contra inimigos

naturais e proteger os cafezais do sol, as folhas dessas

árvores ao se decomporem no solo, produzem humos que

enriquece o solo com nitrogênio.

13.2 – Pequeno canal de escoamento de água. Essa técnica

era bastante comum durante o apogeu da produção de café

na Serra abastecendo o consumo humano e a produção

(informação verbal).

Fonte: Próprio autor (2013)

Além da cultura do café, o algodão e a cana-de-açúcar foram culturas de destaque

nos sertões periféricos à Serra. O primeiro foi amplamente produzido no município e sua

produção era escoada para Fortaleza, que aquela época já centralizava as atividades terciárias

no estado. A produção de algodão foi a impulsora para o surgimento das primeiras unidades

fabris e para a instalação de infraestrutura, principalmente corredores e estradas que

possibilitaram o escoamento e a comercialização da produção no município (MENDES, 2006).

Com o declínio dessas atividades econômicas, duas outras atividades ganham

destaque na Serra: o veraneio e a bananicultura. As infraestruturas criadas no município dão

suporte para que se inicie, na primeira metade do século XX, a instalação de sítios e casas de

veraneio. A Serra se tornava assim, um atrativo para fortalezenses e famílias locais que

associam a essa paisagem um refúgio de tranquilidade e bucolismo. A partir desse tipo de

ocupação, baseado na instalação de segundas residências, implantaram-se equipamentos de

hotelaria e recreação, explorando o ambiente da Serra e seus recursos hídricos.

A bananicultura é introduzida na Serra durante a colonização portuguesa e passa a

ganhar destaque com o declínio do café, ocupando inicialmente as áreas deste. Os solos férteis

2

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e a disponibilidade hídrica na Serra propiciaram a sua ampla difusão, tornando o município de

Maranguape um grande produtor da fruta. A forma de plantio envolve a separação de glebas de

aproximadamente 1 ha que são desmatadas, por vezes preservando as plantas frutíferas e as de

maior porte e intercaladas por faixas de matas de larguras variáveis que objetivam proteger os

bananais do vendo e da erosão. (IPT, 1975)

Em contraste com as bem equipadas casas de veraneio que ocupam a Serra, estão

pequenas comunidade, sempre localizadas a abaixo do nível de 700 m, elas se concentram na

vertente oriental e nos sertões de entorno. Arruda (2001) contabilizou 28 comunidades que têm

como base econômica, em sua maioria, a agricultura de subsistência e o extrativismo vegetal.

A agricultura é praticada com a plantação de pequenos roçados de milho, feijão e mandioca em

terras próprias ou sob sistema de meia junto aos sítios.

Figura 14 – Diferentes padrões de ocupação na APA.

2

1

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As pequenas comunidades (14.1) em sua maioria são formadas

por ruas desalinhas e casas sem acabamento, contando com

infraestrutura precária em relação à água tratada, esgoto e coleta

de lixo. Em contraste, as casas de veraneios (14.2) dos sítios que

possuem uma infraestrutura boa, em sua parte construídas

próximas aos riachos, privatizando os recursos hídricos

utilizando-os para produção agrícola e lazer. Fonte: Próprio autor (2013)

Nas últimas duas décadas, o município de Maranguape passou por transformações

socioeconômicas significativas que merecem destaque para uma compreensão da relação

sociedade-natureza no município e, por conseguinte, na APA e suas estratégias de proteção.

O crescimento da população urbana em Maranguape se consolidou e apresentou

taxas de crescimento superiores a população rural (Tabela 02). Juntamente com o perfil

econômico do município, apesar de ter no setor de serviços o principal gerador do PIB

municipal, nos últimos anos a contribuição da indústria deu saltos significativos na produção

de riquezas em Maranguape (Gráfico 06). Isso está atrelado à instalação de várias indústrias

durante a década de 1990 no município a partir de incentivos fiscais. Esse fenômeno se insere

no processo de reestruturação produtiva pelo qual passa a RMF onde:

O estabelecimento de distritos industriais e de conjuntos habitacionais tem propiciado

uma complexa estrutura urbana, com alterações no arranjo socioespacial metropolitano,

novas dinâmicas intra-urbanas e nas relações entre as cidade [...] ocorre uma mudança

não somente na forma (organização espacial) e função dos municípios da RMF, mas

também, mudanças qualitativas que se referem à subjetividade e modo de vida como

conseqüência das novas práticas sociais e aceleração do tempo (MUNIZ et al., 2011, p.

10-11)

Nesse cenário, Maranguape que era conhecida como cidade-dormitório, pois a

maioria de seus residentes eram empregados em Fortaleza, passa a dispor de uma oferta maior

de empregos que não só redesenham a economia do município, mas as práticas sociais e a

percepção dos atores. Os ritmos da vida urbana consolidam a visão da Serra com um local de

lazer, que agora passa a ser atrelada a sensação de refúgio e tranquilidade, conferindo um

sentimento de identidade com o lugar:

Antes todo mundo conhecia todo mundo, aumentou o número de pessoas daí o transito

ficou maior [...] mudou também a estrutura urbana da cidade, mas Maranguape tem uma

coisa diferente, uma identidade, uma referência, diferente de Maracanaú, por exemplo.

Tem um aspecto bucólico que é da cidade mesmo. (Entrevistado IV, Grupo dos

Administradores)

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99

Tabela 02 - População residente em Maranguape – 1991/2000/2010

Descrição 1991 2000 2010

Nº % Nº % Nº %

Urbana 51.954 72,46 65.268 74,05 86.309 76,00

Rural 19.751 27,54 22.867 25,95 27.252 24,00

Total 71.705 100 88.135 100 113.561 100

Taxa geométrica de

crescimento anual (%) 1991 2000 2010

Urbana 6,1 2,57 2,83

Rural -2,55 1,64 1,77

Total 2,74 2,32 2,57

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

Gráfico 06 – Evolução do Produto Interno Bruto Municipal de Maranguape (1999-2011)

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

Essa nova dinâmica é acompanhada por uma mudança nos usos na APA, a atividade

do veraneio e o turismo endógeno entram em estagnação na década de 1990 com a diminuição

do fluxo de visitação e relativo abandono dos sítios. A bananicultura, importante atividade de

impacto na paisagem, é praticada em 90,9% dos sítios da Serra (EMATECE, 1990 apud LIMA,

2005) havendo, portanto, íntima relação nesses dois tipos de uso. A banana prata é o tipo mais

produzido em Maranguape, na última década a produção sofreu significativa instabilidade, a

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

450.000

500.000

1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011

R$

MIL

Agropecuária Indústria Serviços

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100

diferença entre a maior produção e a menor é de 77,84 % e os números caíram: em 2002 se

produzia 1.640,94 toneladas enquanto que 2012 foram produzidos 749,78 (Gráfico 07)

Gráfico 07 – Quantidade de banana comercializada na CEASA proveniente de

Maranguape (2002-2013)

Fonte: CEASA

Elaborado pelo autor

Os preços da comercialização dessa produção foram em média de R$ 847.612,74,

dos 11 anos em análise, 9 ficaram abaixo dessa média (Gráfico 08). A relação entre a produção

e a movimentação financeira passou de 309,00 R$/t para 1.035,29 R$/t, uma variação de

235,05%, ou seja, os rendimentos da comercialização da produção subiram embora a

quantidade produzida tenha sido menor.

Gráfico 08 – Movimentação financeira da comercialização de banana proveniente de

Maranguape na CEASA (2002-2013)

Fonte: CEASA

Elaborado pelo autor

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

2002 2004 2006 2008 2010 2012

TO

NE

LA

DA

S

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

2002 2004 2006 2008 2010 2012

R$

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101

Essa diminuição na produção pode ser explicada por dois motivos: o primeiro está

relacionado com a mudança no perfil econômico do município e o outro seria a estiagem dos

últimos três anos pelo qual o estado vem passado:

Tá muito difícil trabalhar com agricultura aqui, porque você ganha muito pouco, tem

que investir pra produzir e muitas vezes não compensa. A seca também atrapalha, o

povo passa é sede. A gente num recebe muito incentivo do governo, ai o agricultor

fica sem assistência [...] Assim o povo vai é trabalhar com outras coisas mesmo, da

menos trabalho e ganha mais, principalmente os mais jovens. (Entrevistado XI, Grupo

dos participativos).

O aumento dos rendimentos comerciais em relação à quantidade produzida pode

indicar que os produtores tenham se sentido menos pressionados em aumentar a área de

produção, buscando compensar uma eventual perda de lucro. Segundo o IBGE, em 2004, a área

de da lavoura de banana em Maranguape era de 1600 ha e passou para 504 ha em 2012, assim

a expressão e a intensidade desse tipo de uso na paisagem vem se modificando. Esse cenário

indica uma mudança no perfil das principais atividades exercidas na APA e dá subsídio ao

planejamento e gestão para a área.

Em relação a indicadores sociais e demográficos, na área da APA residem 8.848

pessoas, 51,4% do sexo masculino. Com base na renda (Tabela 03) e usando a classificação de

classes sociais do IBGE, o perfil socioeconômico se distribui em 53,75% dos moradores

pertencentes à classe E14, 2,16% nas classes C e D e 0,13% nas classes A e B. São ao todo 2.233

domicílios, 14 estabelecimentos agropecuários, 2 estabelecimentos de saúde e 12 de ensino, a

maior parte ocupa áreas de Zona Rural enquanto que as Áreas Urbanizada de Cidade ou Vila15

são menores e de maior densidade.

Em geral, os domicílios que apresentam melhor condição de infraestrutura estão

localizados nas áreas próximas as zonas urbanas que correspondem às áreas da vertente oriental,

em oposição às áreas de platô e os sertões periféricos, um levantamento sobre a situação dos

domicílios nos permite entender a qualidade de habitação na APA.

14 Não foi considerada a população sem renda. 15 Nomenclatura do IBGE.

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102

Tabela 03 – Renda nominal mensal em salários mínimos das pessoas de 10 anos ou mais

de idade moradoras em domicílios particulares permanentes na APA da Serra de

Maranguape

Descrição APA Maranguape

Total % Total

Menos de 1 3337 46,10 9021

Mais de 1 a 2 554 7,65 9719

Mais de 2 a 5 130 1,80 7237

Mais de 5 a 10 26 0,36 1083

Mais de 10 a 20 9 0,12 251

Mais de 20 1 0,01 62

Sem renda 3182 43,96 x*

*Dado não localizado no âmbito de município.

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

O abastecimento de rede elétrica (Tabela 04) atinge 98,6% dos domicílios, apresentando

uma boa cobertura. Somente 0,3% deles não possuem a companhia distribuidora como fonte

principal. Embora o Atlas de Potencial Eólico do Brasil de 2001 do Ministério de Minas Energia

aponte a área com velocidade média anual de ventos entre 7,0 e 7,5 m/s, o que representa uma

potência instalável de 48,77 GW de energia elétrica e poderia significar uma medida sustentável

de aproveitamento dos recursos naturais compatível com as finalidades da APA.

Tabela 04 – Energia elétrica nos domicílios particulares permanentes na APA da Serra

de Maranguape

Descrição

Com energia

elétrica

Com energia elétrica

de companhia

distribuidora

Com energia

elétrica de outras

fontes

Sem energia elétrica

Total % Total % Total % Total %

APA 2.201 98,6 2.195 98,3 6 0,3 32 1,4

Maranguape 28.709 99,1 28.606 98,7 103 0,4 275 0,9

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

A maior parte do abastecimento de água dos domicílios na APA (Tabela 05) é feita pelo

acesso a rede geral, o acesso por poços e nascente apresenta relativa expressão (10,9%) se

comparado ao restante do município (3,3%), assim como outras formas de abastecimento que

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103

incluem carros-pipa, fontes públicas, poço e bicas localizados fora das propriedades. Em estudo

sobre as águas subterrâneas nos limites da APA, Cavalcante et al (2001) relatam que a grande

maioria dos poços existentes na área de estudo foram perfurados entre 1960 e 1980 (período

que corresponde ao início e consolidação da área como espaço de lazer e veraneio). A maior

abrangência de domínio desses poços é particular (54,4%) com perfuração nos aluviões ao logo

das drenagens principais, sendo a água destinada ao uso doméstico (58%), agrícola (18%),

dessedentação de animais (2%), doméstico e agrícola (3%), doméstico e industrial (1%),

industrial (10%), múltiplo (1%) e recreação (7%).

Uma vez que na APA o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos assume

expressividade no território, as alterações na paisagem merecem ser observadas mais

atentamente em relação à repercussão sanitária-ambiental desse uso. Em 88,7% dos domicílios

existem pelo menos um banheiro (Tabela 06), porcentagem menor se comparada ao município

como um todo (95,3%). A incidência de domicílios sem banheiros encontra-se, principalmente,

nas porções da Serra do Japarara e Gereraú e nos sertões periféricos. O cenário se agrava quando

se constata que, segundo o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) do Ministério da

Saúde, no ano de 2011, somente 4,3% dos domicílios em Maranguape possuíam ligação com a

rede de esgoto.

Tabela 05 – Abastecimento de água nos domicílios particulares permanentes na

APA da Serra de Maranguape

Descrição Rede geral Poço ou nascente

na propriedade

Chuva armazenada

em cisterna

Outra forma de

abastecimento

Total % Total % Total % Total %

APA 1.257 56,3 243 10,9 0 0,0 732 32,8

Maranguape 24.027 82,9 969 3,3 63 0,2 3.925 13,5

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

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104

Tabela 06 – Domicílios particulares permanentes com banheiro ou sanitário na APA da

Serra de Maranguape

Descrição

Com banheiro de uso

exclusivo dos moradores

ou sanitário

Sem banheiro de uso

exclusivo dos moradores

e nem sanitário

Total % Total %

APA 1.981 88,7 252 11,3

Maranguape 27.618 95,3 1.366 4,7

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

Em complemento as informações sobre saneamento, acrescentam-se os dados sobre

o destino do lixo na APA (Tabela 07). O maior percentual dos resíduos gerados na área de

proteção é coletado pelo serviço público (67,49%), mas é considerável a quantidade de lixo

com destino inadequado ao ser queimado (28,08%) e jogado em terreno baldio (3,94%). A

prática de queimar o lixo é geralmente realizada em domicílios da área rural e/ou área com

deficiência de coleta. Com a vantagem de reduzir o volume dos resíduos, a queima pode ter

como consequências negativas a liberação de gases tóxicos na atmosfera e a contaminação do

solo e lençol freático por metais pesados. O lixo descartado a céu aberto é potencial poluidor

do solo e água que pelo tempo de decomposição interfere nos processos ecológicos, além de

ser veículo de transmissão de doenças.

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105

Tabela 07 – Destino do lixo nos domicílios particulares permanentes na APA da Serra de

Maranguape

Descrição APA Maranguape

Total % Total %

Coletado 1.507 67,49 24.370 84,08

Coletado por serviço de limpeza 1.148 51,41 17.342 59,83

Coleta em caçamba por serviço de

limpeza 359 16,08 7.028 24,25

Queimado (na propriedade) 627 28,08 3.682 12,70

Enterrado (na propriedade) 10 0,45 130 0,45

Jogado em terreno baldio ou logradouro 88 3,94 678 2,34

Jogado em rio, lago ou mar 1 0,04 13 0,04

Outro destino 0 0,00 111 0,38

Fonte: IBGE (2010)

Elaborado pelo autor

A elaboração desse quadro socioeconômico traz elementos da dinâmica social e sua

relação com os aspectos físico-naturais no território, inserindo-os numa perspectiva de tempo e

relacionando-os com as percepções dos atores. Pretende-se, assim, demonstrar essa implicação

na fisionomia e configuração da paisagem e que relações podem ser traçadas com os objetivos

e finalidades da Área de Proteção Ambiental. O Quadro 06 apresenta um quando-resumo desse

esforço, demonstrando os principais acontecimentos na área relacionando-os com as

implicações na configuração da paisagem.

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106

Quadro 06 – Quadro de tempo: fatos marcantes e suas implicações na paisagem

(continua)

ANO CRONOLOGIA DE FATOS MARCANTES

IMPLICAÇÕES NA

CONFIGURAÇÃO DA

PAISAGEM

1630

1649/1654

1650

▪ Segunda expedição holandesa chefiada por Matias Beck;

▪ Exploração de minas de prata no Monte Itarema (Aratanha);

▪ Os portugueses expulsam os holandeses do Ceará.

Nenhuma intervenção, mata nativa

ocupa toda a área;

1707

1754

1760

▪ A Coroa portuguesa faz as primeiras concessões de sesmarias para o capitão-mor do Ceará Luís Quaresma e família;

▪ Reiniciam-se as explorações de prata no Monte ltarema;

▪ Acelera-se o povoamento; Maranguape torna-se distrito de Fortaleza;

Instalação das primeiras edificações;

desmatamento e descaracterização da

relação indígena com a paisagem.

1800

1849

1851

1862

1869

1876

▪ Efetiva-se real povoamento através do português Joaquim Lopes de Abreu, originando-se a cidade de Maranguape; Inicia-se cultura

cafeeira (vertentes), canavieira (planície) paralela à criação de gado e agricultura de subsistência;

▪ A freguesia de Messejana é transferida para Maranguape;

▪ Maranguape é elevada a vila e o café toma-se principal economia;

▪ Surto de "Cólera morbus" vitimou mais de 2.000 pessoas; construção da Igreja Matriz e praças;

▪ Inauguração da estrada de ferro Fortaleza-Maranguape- Baturité;

▪ Chegada de imigrantes portugueses que iniciam a cultura da banana;

As vegetações originais são

afetadas pela proliferação de

cafezais; Pequenas residências são

construídas como suporte a

produção cafeeira com

infraestrutura habitacional mínima.

1910 -1917

1915 -1920

1920

1930

1938

1947

1960

1969

1960-1970

1970

1973

1974 29/04

1983

▪ Arborização das ruas, iluminação pública (acetileno), reforma no mercado público, limpeza de ruas e terrenos baldios e iluminação

elétrica contribuem para o desenvolvimento da cidade;

▪ Grande surto migratório contribui para a expansão da zona urbana;

▪ Decadência dos cafezais. Cultura é substituída por algodão, cana-de-açúcar, agricultura de subsistência na planície e fruteiras na serra,

especialmente a banana prata (imigrantes portugueses);

▪ Inserção de equipamentos urbanos e instalação de indústria de transformação em Maranguape atrai famílias à serra. Inicia-se a

construção de segundas residências (para lazer em fins de semana) na vertente oriental;

▪ O município de Caucaia (vertente ocidental) eleva-se à cidade;

▪ Inauguração da rodovia Fortaleza-Maranguape-Canindé. Acelera-se o plantio da banana nas vertentes, vertentes, nos alvéolos e fundos

de vales;

▪ Acentuam-se as roças de banana nas vertentes em direção aos platôs, fazendo desta cultura a principal economia do município;

▪ Maranguape desmembra-se de Pacatuba;

▪ Os atrativos naturais da serra incentivam a construção de clubes tais como: Cascatinha Clube de Serra, Balneário Pirapora Palace,

Guarani e vários restaurantes todos na vertente oriental;

▪ Instalação do distrito Industrial de Fortaleza em Maranguape no distrito de Maracanaú acompanhando de um crescimento populacional

que demandam a construção de conjuntos habitacionais na vertente oriental;

▪ A população de Maracanaú ultrapassa a sede (Maranguape), marcando a decadência na economia primária e o desenvolvimento

industrial de Maracanaú. É criada a RMF e Maranguape passa a ser conhecida como cidade-dormitório por ter grande parte de sua

população trabalhando em Fortaleza ou em Maracanaú. Período crítico no desenvolvimento econômico da sede maranguapense;

▪ Expressivo deslizamento de terras mata 14 pessoas no setor turístico (vertente oriental) desencadeando sucessivos novos deslizamentos

por toda essa vertente;

▪ Maracanaú desmembra-se de Maranguape e este entra numa grave crise econômica, à medida que suas empresas abrem falência ou são

transferidas para o Distrito Industrial. O município perde vários incentivos, inclusive aqueles ligados ao setor agrícola;

Os padrões de ocupação se

diversificam e se intensificam. O

veraneio e a bananicultura

despontam como os principais usos

na Serra que passa a ser associada

ao lazer e a recreação. A

disponibilidade hídrica e o clima

ameno passam a constituir os

principais recursos na organização

do território que implica em

modificações na qualidade da água,

cobertura vegetal e estabilidade dos

solos.

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107

Quadro 06 – Quadro de tempo: fatos marcantes e suas implicações na paisagem (conclusão)

ANO CRONOLOGIA DE FATOS MARCANTES

IMPLICAÇÕES NA

CONFIGURAÇÃO DA

PAISAGEM

1990

1993

1998

1999

2012

2013

▪ Maranguape retoma o crescimento, desta vez adotando o processo de globalização da economia com atividades totalmente desligadas

do potencial natural local quando recebe grandes indústrias tais como: DAKOTA, MALLOR Y. BONEBRAZ, ITAJAÍ, MICREL

BENFIO e várias agroindústrias tais como: YPIOCA, GRANJAS JORAGRE, GRANJAS CIALNE, AGUARDENTE DANDIZ e outras;

▪ Atividades de veraneio diminuem e entram em estagnação;

▪ Criação da APA da Serra de Maranguape pelo poder municipal;

▪ Criação do Projeto Serra Viva;

▪ Publicado o Zoneamento Ambiental e o Plano de Gestão da APA da Serra de Maranguape

▪ Execução de projetos ligados ao meio ambiente e à reorientação da produção agrícola sustentável, a preservação do patrimônio cultural

e o incentivo ao ecoturismo;

▪ Início da construção da barragem do rio Maranguapinho;

▪ Reformulação do Conselho Municipal de Meio Ambiente

A atividade industrial redesenha o

perfil socioeconômico do

município. O veraneio entra em

estagnação e são criadas e

implementadas atividades de

proteção ambiental pelo Estado e

por grupos civis organizados que

buscam regulamentar o uso

sustentável dos recursos naturais.

Fonte: Adaptado de Arruda (2001)

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108

4.1.5 Compartimentação da Paisagem

Ao propor o estudo da paisagem através da análise geossistêmica, Bertrand (1968)

entende a paisagem enquanto síntese das inter-relações de seus elementos e propõe um sistema

taxonômico em sua delimitação, no qual a escala é o elemento central de análise. Cada unidade

visa estabelecer uma homogeneidade aos aspectos da paisagem através de elementos sintéticos

e, ao mesmo tempo, situá-los em uma perspectiva espaço-temporal (Quadro 07).

Quadro 07 – Classificação das Paisagens por Bertrand

Unidade da

paisagem

Escala

espaço-

temporal (CAILLEUX;

TRICART)

Exemplo tomado

numa mesma série

de paisagens

Relevo (1) Clima (2) Biogeografia

Zona G. I (*) Intertropical - Zonal Bioma

Domínio G.II

das Depressões

Interplanálticas

Semiáridas

Domínio

estrutural Regional Domínio região

Região

natural G.III-IV Depressão sertaneja

Região

estrutural -

Geocomplexo G. IV-V

Maciço Residual

(Serra de

Maranguape)

Unidade

estrutural Local

Zona

equipotencial

Geofácies G. VI Vertente úmida - - -

Geótopo G.VII Mangue

de Altitude - Microclima

Biótopo

biocenose

Nota: (*) G = Grandeza. As grandezas entre as unidades são muito aproximativas e dadas somente a título de exemplo. 1 Conforme - A. Cailleux e J. Tricart; 2 Conforme - M. Sorre;

Fonte: Adaptado de Bertrand (2007)

Na escala de análise do geocomplexo se encontram a maior parte dos fenômenos

entre os elementos da paisagem de interesse ao geógrafo, permitindo uma análise compatível

com a escala humana. Três são os aspectos a serem levados em consideração: morfológico

(expressão física do arranjo dos elementos com sua estrutura espacial e dinâmica), o fluxo de

matéria e energia (alimenta a dinâmica dos elementos) e a papel dos seres vivos, incluindo as

sociedades e suas atividades.

Por se tratar de um modelo dinâmico, o geossistema não possui necessariamente

uma homogeneidade funcional ou fisionômica. Isso explica o fato de haver no interior das

escalas uma diferenciação entre as paisagens, assim o mosaico de unidades fisionomicamente

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109

homogêneas dentro de um geocomplexo pode ser individualizado através das geofácies que

traduzem um tipo individualizado de exploração do espaço.

A pesquisa considerou a Serra de Maranguape como uma unidade de paisagem na

escala do geocomplexo, agrupando os dados sobre os elementos discutidos no presente capítulo,

organizando as dinâmicas percebidas na paisagem, especializando-as em suas geofácies,

objetivando construir um referencial para discussão entre os elementos da paisagem e a APA.

Foi levado em consideração o trabalho já elaborado por Ceará (2002) que utiliza a proposta de

Souza (2000) na utilização de critérios geomorfológicos como expressão de síntese na

delimitação dessas unidades.

São delimitadas seis unidades que se encontram descritas no Quadro 08

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110

Quadro 08 – Compartimentação da paisagem da APA da Serra de Maranguape

(continua)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

1) Superfície do

Platô Dissecado:

Área central do

maciço resi-

dual em níveis

de 400 a 760

m.

Complexo granítico-

migmatítico Pré-

Cambriano encaixado

em rochas xistosas e

gnaisses; diabásios

Mesozóicos–terciários

dispostos em diques;

colúvios Tércio-Quar-

tenários de piemonte e

depósitos aluviais

quaternários.

Superfície pediplanada de

cimeira retrabalhada sob

condições úmidas e

dissecada em cristas

colinas e lombas alonga-

das, cujas vertentes pre-

dominantes têm classes

de declives variáveis

entre 15 e 45% a mais,

configurando topografias

fortes onduladas a monta-

nhosas, intercaladas por

vales em forma de V;

problemas ambientais

podem decorrer da peque-

na dimensão dos interflú-

vios e da forte inclinação

das vertentes e com riscos

de erosão variando de

moderado a severo em

dependência do estado de

conservação da vegetação

primária.

Densa rede fluvial

exibindo padrões

dendríticos e subden-

dríticos; pluviometria

média anual de 1.000 a

1.400 mm com período

chuvoso de janeiro a

junho; baixo potencial de

águas subterrâneas.

Topos dos relevos e

altas vertentes

Arboreto climático

perenifólio.

(mata úmida pere-

nifólia e subpereni-

fólia) em estado de

conservação ou de

degradação

moderada; Baixa

taxa de ocupação e

uso agrícola.

Argissolos

vermelho-

Amarelos

solos profundos

bem drenados e

fertilidade natural

média;

Baixas vertentes

Neossolos Litólicos

Solos rasos, are-

nosos, pedrego-

sos e fertilidade

natural média a

alta;

Fundos de vales:

Neossolos Flúvicos

solos profundos

mal drenados e

fertilidade natural

média a alta

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111

Quadro 08 – Compartimentação da paisagem da APA da Serra de Maranguape

(continua)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

2) Superfície de

Platô Conser-

vado ou com

Relevo pouco

Movimentado:

Área centro-

norte do topo

da Serra em

níveis de 420

a 720 m.

Complexo granítico

migmatítico Pré-Cam-

briano encaixado em

rochas xistosas e

gnaisses; colúvios Tér-

cio-Quartenários de pie-

monte e depósitos

aluviais quaternários.

Superfície pediplanada de

cimeira submetida a

entalhes pouco profundos

da drenagem superficial.

Declives das vertentes

variando de 5 a 15%,

configurando feições

topográficas de onduladas

a muito onduladas,

intercaladas por vales

mais abertos; a morfo-

dinâmica atual pode

apresentar riscos de

erosão em função de

desma-tamentos

desordenados.

Rede fluvial modera-

damente densa; pluvio-

metria média anual de

1.l00 a 1.400 mm com

período chuvoso de

janeiro a junho; baixo

potencial de águas

subterrâneas

Topos dos relevos e

médias a baixas

vertentes suaves

Arboreto climático

perenifólio.

(mata úmida pere-

nifólia e subpereni-

fólia) em estado de

conservação ou de

degradação mode-

rada; Área de fruticu-

ltura e baixa ocupação

Argissolos

vermelho-

Amarelos

solos profundos

bem drenados e

fertilidade natural

média;

Fundos de vales:

Neossolos Flúvicos

Solos profundos

mal drenados e

fertilidade natu-

ral média a alta

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112

Quadro 08 – Compartimentação da paisagem da APA da Serra de Maranguape

(continua)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

3)Vertente

Oriental:

Encosta úmida

(barlavento) do

maciço resi-

dual, estenden-

do-se para nor-

deste em níveis

de 200 a 400 m

.

Complexo granítico

migmatítico Pré-cam-

briano encaixado em

rochas xistosas e

gnaisses; depósitos

detríticos cenozóicos

com elásticos grosseiros

(talus).

Vertente íngreme exibin-

do evidências de super-

fície pediplanada de

climas secos retraba-

lhadas sob condições

úmidas; classes de decli-

ves variáveis entre 15 e

45% a mais configurando

topografias fortemente

onduladas a montanhosas

e ocorrências de corre-

deiras que entalham a

superfície da vertente;

riscos de erosão variando

de moderado a severo em

dependência do estado de

conservação da vegetação

primária e do tipo de uso

e ocupação da terra

associados às técnicas

agrícolas empregadas.

Sistema de drenagem

radial e dendrítico e

convergindo para o rio

Maranguapinho: pluvio-

metria média anual de

1.100 a 400 mm com

período chuvoso de

janeiro a junho; baixo

potencial de águas

subterrâneas.

Médias e baixas

vertentes íngremes

Arboreto climático

estacional semi-

caducifólio (mata

Seca)

e

Arboreto climático

estacional caducifólio

(vegetação

caducifólia de

Caatinga);

Área de fruticultura e

lavouras de subsis-

tência. Maior adensa-

mento com destinação

ao lazer e veraneio;

Neossolos

Litólicos

Solos rasos,

arenosos, pedre-

gosos e

fertilidade natural

média a alta;

afloramentos

rochosos; Vertentes suaves

Argissolos

vermelho-

Amarelos

solos profundos

bem drenados e

fertilidade natu-

ral média;

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113

Quadro 08 – Compartimentação da paisagem da APA da Serra de Maranguape

(continua)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

4) Vertente

Ocidental

Encosta seca

(sotavento) do

maciço residual

estendendo-se de

sudeste para

Nor-deste em

níveis de 200 –

520 m

Complexo granítico-

migmatítico Pré-Cam-

briano encaixado em

rochas xistosas e

gnaisses; depósitos

detríticos

Cenozóicos com elásti-

cos grosseiros (talus).

Vertente íngreme exibin-

do evidências de superfí-

cies pediplanadas de

climas secos; classes de

declives variáveis entre

15 e 45% a mais, configu-

rando topografias forte-

mente onduladas a

montanhosas e escarpa-

das; riscos de erosão

severa em dependência do

estado de conservação da

vegetação primária.

Sistema de drenagem

convergindo para o rio

Ceará; pluviometria

média anual abaixo de

900 mm com período

chuvoso entre fevereiro e

maio; baixo potencial de

águas subterrâneas.

Altas vertentes

Arboreto climático

estacional caducifólio

(Vegetação Caducifólia

de Caatinga)

e

Arboreto climático

estacional semi-

caducifólio (Mata Seca);

Lavouras de sub-

sistência, fruticultura,

pastagem e extrati-

vismo vegetal

Afloramentos

rochosos e

neossolos

litólicos

solos rasos, are-

nosos e

fertilidade natural

média; Médias e baixas

vertentes

Solos litólicos e

argissolos

vermelho-

amarelos

rasos, textura

média e fertili-

dade natural mé-

dia a alta

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114

Quadro 08 – Compartimentação da paisagem na APA da Serra de Maranguape

(continua)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

5) Vertente

Meridional e

rebordos

Área sudoeste

do maciço resi-

dual em níveis

de 200 a 420 m.

Complexo granítico-

migmatítico Pré-Cam-

briano encaixado em

rochas xistosas e

gnaisses; depósitos

detríticos Cenozóicos

com elásticos grosseiros

(talus) e colúvios

Tércio-quartenários de

piemontes.

Vertente íngreme e com

patamares suaves com

caimento topográfico

para a depressão sertane-

ja, exibindo evidências de

superfícies pediplanadas

de climas secos; classes

de declives variáveis

entre 5 a 15% (topogra-

fias ondula-das e muito

onduladas) e eventual-

mente entre 15 e 45%

(topografias forte ondula-

das tendendo à montanho-

sa); riscos de erosão

severa em dependência do

estado de conservação da

vegetação primária e do

tipo de ocupação da terra

associados às técnicas

agrícolas empregadas.

Sistema de drenagem

convergindo para o rio

Ceará; pluviometria

média anual abaixo de

900 mm com período

chuvoso entre fevereiro e

maio; baixo potencial de

águas subterrâneas.

Altas vertentes

Arboreto climático

estacional caducifólio

(Vegetação Caducifólia

de Caatinga)

e

Arboreto climático

estacional semi-

caducifólio (Mata Seca);

Lavouras de sub-

sistência, fruticultura,

pastagem e extrati-

vismo mineral e ve-

getal

Neossolos litólicos

solos rasos, are-

nosos e

fertilidade natural

média;

Médias e baixas

vertentes

Solos litólicos e

argissolos

vermelho-

amarelos

rasos, textura

média e fertili-

dade natural mé-

dia a alta

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA …uece.br/mag/dmdocuments/jeanfilippe_gomes_ribeiro.pdf · Tabela 01 – Número e Extensão das Unidades de Conservação Federais

115

Quadro 08 - Compartimentação da paisagem da APA da Serra de Maranguape

(conclusão)

GEOFÁCIE

COMPONENTES DA PAISAGEM

CRONO-LITO-

ESTRATIGRAFIA GEOMORFOLOGIA HIDROCLIMATOLOGIA SOLOS

COBERTURA

VEGETAL

USO/OCUPAÇÃO

6) Sertões

Periféricos

Áreas da de-

pressão serta-

neja circunja-

cente ao ma-

ciço residual

abaixo do nível

altimetríco de

100m.

Complexo granítico-

migmatítico Pré-Cam-

briano com rochas

xistosas e gnaisses; de-

pósitos aluviais qua-

ternários nos fundos de

vales

Superfície de aplaina-

mento sertaneja fraca a

moderadamente disseca-

da em colinas rasas ou em

interflúvios de topos pla-

nos.

Densa rede fluvial dotada

de cursos d'água inter-

mitentes sazonais e com

padrões Sub-dendríticos,

convergindo para o rio

Maranguapinho a leste e

para o rio Ceará a oeste;

pluviometria média anual

de 900 mm com período

chuvoso entre fevereiro e

maio.

Médias e baixas

vertentes:

Arboreto climático

estacional caducifólio

(Vegetação Caducifólia

de Caatinga)

Parcialmente degra-

dada; área de uso

agropecuário e de

extrativismo vegetal e

mineral

Planossolos

solos rasos, mal

drenados, textura

arenosa e fertili-dade

natural mé-dia;

Bordas de vales

Planossolos Háplicos

solos rasos mal

drenados textura are-

nosa com problemas

de sais. Níveis residuais

Neossolos litólicos

e afloramentos

rochosos

Fundos de vales:

Neossolos Flúvicos

espessos modera-

damente drenados,

fertilidade natura

média com proble-

mas de sais

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116

Figura 15 - Mapa da Compartimentação Ambiental da APA da Serra de Maranguape

Fonte: Ceará (2002)

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117

4.2 A INTERFACE SOCIEDADE-NATUREZA E A CRIAÇÃO E GESTÃO DA APA DA

SERRA DE MARANGUAPE

4.2.1 Tipos de uso e implicações na paisagem

Enquanto Unidade de Conservação de Uso Sustentável, a APA permite a

permanência de atividades sociais em seu interior, buscando compatibilizá-las com a

conservação dos recursos existentes. No capítulo anterior, foram abordados os principais tipos

de uso na Serra de Maranguape em sua relação com os componentes físico-naturais e ao sistema

de representação dos atores, colocando-os numa perspectiva dinâmica de tempo que

apontassem para um cenário atual de sua repercussão na paisagem. Levantados esses usos,

discute-se nesse tópico as suas implicações na paisagem procurando espacializá-los para

construir um referencial de discussão sobre a análise integrada da paisagem e a estratégia da

criação e da gestão da APA da Serra de Maranguape.

4.2.1.1 Uso Agrícola

É sem dúvida o uso mais comum na APA e está diretamente ligado a alta

disponibilidade hídrica, aos solos férteis e ao clima ameno. São dois os principais tipos de

cultivos: temporários, que incluem culturas como milho, feijão, mandioca e cana-de-açúcar e

permanente, que inclui a cultura da banana.

Os cultivos temporários ocorrem com maior expressão nos sertões periféricos, na

vertente ocidental, na vertente meridional e rebordos e na vertente oriental. São cultivos que

geralmente são realizados durante a quadra chuvosa e dependem dela para o seu

desenvolvimento. O preparo do terreno acontece inicialmente com o desmatamento da área,

seguido por queimadas para eliminar as gramíneas e herbáceas, sendo concluído com o destoco

das raízes do solo.

A retirada da vegetação contribui para acelerar processos erosivos que culminam

na perda das qualidades físico-químicas (e consequente empobrecimento) dos solos e no

assoreamento dos mananciais hídricos, reduzindo a disponibilidade hídrica, fato que pode ser

potencializado pela declividade do terreno como os encontrados na APA. As queimadas afetam

os solos e a diversidade biótica quando reduzem o percentual de matéria orgânica disponível

do solo e interferem na fauna edáfica.

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118

O cultivo permanente é representado pela cultura da banana, outras árvores

frutíferas também aparecem dispersas, como jaqueiras, mangueiras e laranjeiras. Ele ocupa

mais fortemente a vertente oriental e os platôs, seu plantio acontece na maioria das situações

ocupando áreas de mata úmida, onde melhor se adapta. A substituição da vegetação nativa pela

bananeira reduz a proteção do solo ao escoamento superficial e ao impacto das águas da chuva,

as raízes pouco profundas corroboram para a pouca fixação do solo (LIMA, 2005) podendo

ocasionar movimento de massa como os já registrados pela literatura (IPT (1985) e Cordeiro

(2011)). O plantio acontece muitas vezes de forma indiscriminada pela serra ocupando áreas de

declividade alta, olhos d’água e matas ciliares comprometendo os recursos hídricos.

Figura 16 – Uso agrícola na paisagem

1

2

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119

16.1 – Terreno preparado para o plantio de milho e feijão.

16.2 – Nascente de água com mata ciliar substituída pelo plantio

de banana.

16.3 – Bananal ocupando áreas de declives acentuados.

Fonte: Próprio autor (2013)

4.2.1.2 Moradia e veraneio

A área de maior densidade demográfica da APA corresponde a vertente oriental,

enquanto que a mais populosa corresponde aos sertões periféricos. Como discutido no capítulo

anterior, as condições de moradia, principalmente no que diz respeito aos aspectos sanitários,

implicam sobre a qualidade dos recursos hídricos. Associado a esse fato está a

impermeabilização do solo pelas edificações e vias de acesso, que por um lado aumenta o

escoamento superficial, podendo causar a intensificação de processos morfodinâmicos e, por

outro, reduz o aporte de água ao lençol freático.

O veraneio e o lazer são atividades que se desenvolvem no aproveitamento das

condições naturais da Serra ligados a um sistema de representação que os associam a um refúgio

de tranquilidade e descanso. Em muitas situações, há o represamento dos cursos d’água que é

utilizada para o abastecimento e recreação dessas residências, privatizando e interferindo na

dinâmica fluvial e no habitat de espécies da fauna e flora que a ela se associa.

3

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120

Figura 17 – Repercussões na paisagem da moradia e veraneio

17.1 – Reservatório de água formado pelo represamento do

riacho Pirapora destinado a residências de veraneio adjacentes.

17.2 – Desmatamento da mata úmida para criar uma via de

acesso à residência localizada no platô conservado.

Fonte: Próprio autor (2013)

4.2.1.3 Extrativismo e criação de animais

A retirada da vegetação para ser utilizada como lenha e na produção de carvão

vegetal acontece em todo o maciço e área da APA, tratando-se de uma prática comum em todo

o Nordeste e de grande impacto na paisagem repercutindo diretamente sobre a biodiversidade

e os processos ecológicos.

O desequilíbrio causado pelo desmatamento repercute na proliferação de doenças,

como a leishmaniose, que afeta os moradores serranos (ARRUDA, 2001). Rufino Amaro

2

1

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121

(2001) analisando a relação entre a cobertura vegetal em um reduto de Mata Atlântica e a

incidência de leishmaniose na população, constatou que a retirada da vegetação contribui para

que mamíferos silvestres morram ou migrem, deixando os mosquitos flebotomíneos, vetores da

doença, sem suas fontes alimentares naturais, recorrendo ao ser humano e transmitindo o agente

infeccioso da doença.

A extração mineral no maciço de Maranguape ocorre com a exploração de granitos

na parte setentrional do maciço, fora dos limites da APA, e com a extração de areia nos sertões

de entrono, ambas destinadas à construção civil. Como nem toda a extensão do maciço pertence

a APA, essa atividade altamente impactante não é regulada por ela, o que significa um

mecanismo a menos de fiscalização e controle sobre os seus impactos que afetam os recursos

hídricos, a biodiversidade e as comunidades vizinhas.

A produção de animal é característica da economia de Maranguape onde se

desenvolvem a avicultura, suinocultura e a criação de gado leiteiro. Na APA essas atividades

acontecem nos sertões de entorno, se por um lado dinamizam a economia local, do ponto de

vista ambiental são potencialmente comprometedoras dos sistemas. A produção extensiva cria

a necessidade de desmatamento de áreas para o pasto e em excesso compromete os solos e a

renovação da vegetação. A produção confinada, embora reduza o impacto sobre a vegetação,

gera grande quantidade de resíduos que não podem ser diretamente descartados sob o risco de

poluição dos solos, recursos hídricos e contribuir na proliferação de vetores de doenças (BNB,

2008).

Figura 18 – Criação de animais na APA

1

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122

18.1 – Granja de aves nos sertões de entrono.

18.2 – Acúmulo de efluente de suinocultura lançado sem

tratamento em riacho na APA da Serra de Maranguape.

Fonte: Próprio autor (2013)

Para compreender as transformações que esses usos e formas de ocupação implicam

na paisagem, foi produzido o Mapa de Uso e Cobertura na APA da Serra de Maranguape (Mapa

03). A partir dele, foi possível estimar a expressão16, em termos de áreas, das classes de usos

consideradas (Quadro 08). Embora a presença de um ambiente de exceção tenha sido um dos

fatores motivadores da criação da APA, a maior parte dela (59,66%) é coberta pelo tipo de

vegetação predominante em seu contexto regional (fato discutido mais profundamente a

diante). As áreas edificadas apresentam pouca expressividade no interior da APA (1,27 %) e

localizam-se, em geral, próximas a superfícies com água (2,29 %). A presença de áreas urbana

é mais forte fora da unidade, concentrando-se em seu entorno, o que provoca maior pressão

sobre os recursos em seus limites. Dos usos agrícolas, o temporário tem maior destaque (16,95

%), o permanente (2,39 %) é espacialmente mais concentrado e se intensifica nas áreas com

altitude superior a 350 m, ocupando, principalmente, áreas em meio à vegetação perenifólia.

A Figura 20 detalha os tipos de uso e cobertura na APA vistos sobre a área do

maciço a partir de sua vertente oriental permitindo observar sua ocorrência em relação às

diferenças de altitude.

16 Existe certa imprecisão nas coordenadas obtidas para cálculo das áreas, o que torna os valores destoantes do

real, todavia, são aceitáveis para demostrar as diferentes magnitudes em que as classes se apresentam na APA.

2

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123

Quadro 08 – Estimativa da abrangência absoluta e percentual das classes de uso e

cobertura na APA da Serra de Maranguape

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 19 – Perfil esquemático em 3D do uso e cobertura na vertente oriental

da Serra de Maranguape

Classes de uso e cobertura Área (ha) Percentual (%)

Superfície com água 161,30 2,29

Área Urbana 89,58 1,27

Vegetação caducifólia 4.201,88 59,66

Vegetação perenifólia 1.228,98 17,45

Uso agrícola temporário 1.193,65 16,95

Uso agrícola permanente 168,18 2,39

Total 7.043,57 100,00

Fonte: Elaborado pelo autor

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124

Mapa 04 - Uso e cobertura na APA da Serra de Maranguape

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125

4.2.2 Instrumentos de regulamentação e gestão sobre a APA

A estratégia de criação e gestão de Unidades de Conservação de uso sustentável

implica na adoção de uma série de medidas e posturas no cumprimento de objetivos para

alcançar a proteção da biodiversidade e a conservação dos recursos. Na configuração da

paisagem, novos elementos passam a atuar sobre seus subsistemas promovendo modificações

que são passiveis de ser aprendidas pela análise paisagística em dupla perspectiva,

reconhecendo a forma como atuam e a efetividade que promovem.

Para tanto, é preciso determinar quais os instrumentos disponíveis e como estão

sendo utilizados, relacionado sua concepção e materialização na paisagem e em que

circunstâncias podem ser aperfeiçoados, tendo como enfoque a interface sociedade-natureza.

Enumeram-se, então, os instrumentos previstos e existentes para a APA da Serra de

Maranguape buscando diagnosticar sua aplicação e efetividade.

4.2.2.1 Áreas de Preservação Permanente

As Áreas de Preservação Permanentes (APP) são uma categoria de área protegidas

presentes na legislação instituída pelo Código Florestal Brasileiro, Lei nº 12.651/12. As APP

são áreas “cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os

recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de

fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (BRASIL,

2012). São exemplos: as áreas marginais dos corpos d’água (rios, córregos, lagos, reservatórios)

e nascentes; áreas de topo de morros e montanhas, áreas em encostas acentuadas, restingas e

mangues, entre outras.

As APP cumprem importante papel no desenvolvimento sustentável do meio rural

em duas perspectivas, uma física, sobre os componentes da paisagem, e outra sobre os serviços

ecológicos prestados:

· IMPORTÂNCIA FÍSICA: - Em encostas acentuadas, a vegetação promovendo a estabilidade do solo pelo

emaranhado de raízes das plantas, evitando sua perda por erosão e protegendo as partes

mais baixas do terreno, como as estradas e os cursos d’água;

- Na área agrícola, evitando ou estabilizando os processos erosivos;

- Como quebra-ventos nas áreas de cultivo;

- Nas áreas de nascentes, a vegetação atuando como um amortecedor das chuvas,

evitando o seu impacto direto sobre o solo e a sua paulatina compactação. Permite, pois,

juntamente com toda a massa de raízes das plantas, que o solo permaneça poroso e capaz

de absorver a água das chuvas, alimentando os lençóis freáticos; por sua vez, evita que

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126

o escoamento superficial excessivo de água carregue partículas de solo e resíduos

tóxicos provenientes das atividades agrícolas para o leito dos cursos d’água, poluindo-

os e assoreando-os;

- Nas margens de cursos d’água ou reservatórios, garantindo a estabilização de suas

margens evitando que o seu solo seja levado diretamente para o leito dos cursos;

atuando como um filtro ou como um “sistema tampão”. Esta interface entre as áreas

agrícolas e de pastagens com o ambiente aquático possibilita sua participação no

controle da erosão do solo e da qualidade da água, evitando o carreamento direto para

o ambiente aquático de sedimentos, nutrientes e produtos químicos provenientes das

partes mais altas do terreno, os quais afetam a qualidade da água, diminuem a vida útil

dos reservatórios, das instalações hidroelétricas e dos sistemas de irrigação;

- No controle hidrológico de uma bacia hidrográfica, regulando o fluxo de água

superficial e sub-superficial, e assim do lençol freático.

· SERVIÇOS ECOLÓGICOS

- Geração de sítios para os inimigos naturais de pragas para alimentação, reprodução;

- Fornecimento de refúgio e alimento (pólen e néctar) para os insetos polinizadores de

culturas;

- Refúgio e alimento para a fauna terrestre e aquática;

- Corredores de fluxo gênico para os elementos da flora e da fauna pela possível

interconexão de APP adjacentes ou com áreas de Reserva Legal;

- Detoxificação de substâncias tóxicas provenientes das atividades agrícolas por

organismos da meso e microfauna associada às raízes das plantas;

- Controle de pragas do solo;

- Reciclagem de nutrientes;

- Fixação de carbono, entre outros. (SKORUPA, 2003, p.02)

Tendo como base a legislação e as características dos componentes físico-naturais

na APA da Serra de Maranguape, as seguintes áreas foram identificadas como Áreas de

Preservação Permanente:

i) As faixas de 30 m dos cursos d’água natural com menos de 10 m de largura;

ii) Áreas com raio de 50 m no entorno das nascentes e dos olhos d’água;

iii) Terrenos com declividade superior a 45°;

iv) Os terrenos com declividade superior a 25° encontrados acima de 2/3 da altura

do maciço em relação à base (topos de morro);

v) Faixas de 50m no entorno de lagoas naturais e reservatórios menores que 20 ha.

Essas áreas podem ser visualizadas no Mapa 04. Ao comparar o mapa de uso e

cobertura com o mapa das APP, percebe-se a existência de conflitos entre os usos e essa forma

de regulamentação do território na APA. Nos sertões de entorno, o conflito mais evidente é a

prática agrícola no entorno de lagoas, reservatório e cursos d’água. A busca por terrenos com

disponibilidade hídrica e solos férteis é fator impulsionador desta prática que pode comprometer

a qualidade da água e promover o assoreamento dos corpos hídricos e canais fluviais. Na área

de serra, vertente oriental e platôs, a prática agrícola em terrenos de declividade acentuada e a

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127

margem de riachos são práticas que favorecem a movimentação de massa, o comprometimento

dos corpos hídricos e da biodiversidade (LIMA, 2005).

Figura 20 - Ocupação em área de APP

Vegetação natural substituída por bananal nas margens do riacho

Pirapora.

Fonte: Próprio autor (2013)

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128

Mapa 05 – Áreas de Preservação Permanente da APA da Serra de Maranguape

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129

4.2.2.2 Planejamento e gestão

O planejamento é uma etapa do processo administrativo que consiste em examinar

o futuro e traçar um plano de ação de médio e longo prazo (Maximiano, 1995). O Planejamento

ambiental corresponde à atividade de conhecimento, formulação e atualização de um plano de

aproveitamento, com vistas ao desenvolvimento sustentado de uma área (BEZERRA, 1996,

p.25 in CÔRTE, 1997, p. 47). É um processo que consiste em estabelecer e programar um

conjunto de ações necessárias para alcançar uma situação desejada, definida por objetivos, a

partir de uma situação atual e do conhecimento que se tem desta situação no momento da

tomada de decisão.

O planejamento de uma APA, dessa forma, consiste na formulação de um plano de

atividades que visem alcançar os objetivos definidos em sua criação. O Roteiro Metodológico

para a Gestão de Área de Proteção Ambiental do IBAMA define três fases para o planejamento

de uma APA (Quadro 09), as ações tomadas nesse processo levam a obtenção de Planos de

Gestão que contém as diretrizes propostas para a consolidação da APA.

Quadro 09 – Principais Enfoques das Fases de Planejamento de APA

Fonte: IBAMA (2001)

A gestão ambiental envolve o conjunto de decisões tomadas na mediação de

conflitos de uso dos recursos naturais em relação a demandas sociais e ambientais (BEZERRA,

1996, p.27 in CÔRTE, 1997, p. 65). É um processo complementar ao planejamento ambiental

que foca na ação e mediação para concretização dos objetivos estabelecidos.

FASE 1 FASE 2 FASE 3

▪ Sistematizar conhecimento exis-

tente sobre a APA;

▪Definir áreas estratégicas e homo-

genias no território e estabelecer as

normas;

▪ Implementar o Sistema de Gestão:

i) Iniciar as ações prioritárias

de gestão da APA;

ii) Priorizar as ações em

caráter pibto nas áreas

estratégicas;

iii) Estruturar o sistema de

Gestão.

▪ Aumentar o conhecimento sobre a

biodiversidade na APA;

▪ Ampliar as ações prioritárias para

todo a APA;

▪ Definir o Zoneamento da APA e as

normas ambientais;

▪ Estabelecer programas de Ação

para a Gestão;

▪ Aperfeiçoar o Sistema de Gestão;

▪ Promover a capacitação de Agente.

▪ Aprofundar o conhecimento,

pesquisa e as ações de proteção à

biodiversidade;

▪ Promover o aperfeiçoamento do

Zoneamento e das normas am-

bientais;

▪ Plano de Gestão se consolida para

a proteção da biodiversidade e o

desenvolvimento sustentável com

alcance regional;

▪ Ampliar a descentralização e au-

tonomia do processo de gestão;

▪ Promover avanço institucional e

criar mecanismo de geração de

recurso.

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130

Nessa concepção, gerir uma APA “significa exercer sobre ela um conjunto de ações

políticas, legislativas e administrativas, para que, partindo de uma realidade atual se atingir um

novo cenário, previamente planejado, segundo objetivos preestabelecidos” (CORTÊ, 1997,

p.66). Os instrumentos, diretrizes, ações e os recursos (humanos, administrativos, financeiros e

legais) utilizados nesse processo são definidos no Plano de Gestão da unidade que segundo

IBAMA (2001) deve conter:

i) Quadro Socioambiental/Diagnóstico – Expõe dados, análises e interpretações da

dinâmica socioambiental. Abrange análises do meio biótico, abiótico,

socioeconômico e dos aspectos políticos e institucionais, no âmbito do território

interno e macrorregional da APA;

ii) Matriz de Planejamento ou Quadro Lógico do Plano - Apresenta os principais

elementos do Plano realçando as ligações lógicas entre os recursos previstos, as

ações planificadas e os resultados propostos;

iii) Zoneamento Ambiental - Instrumento que estabelece a ordenação do território

da APA, e as normas de ocupação e uso do solo e dos recursos naturais.

iv) Programas de Ação - Organizam o conjunto de atividades na realização para

alcançar os objetivos específicos da APA dentro das estratégias estabelecidas.

v) Sistema de Gestão - Apresenta a composição do Comitê Gestor, instância de

direção colegiada e dos instrumentos legais que o estabelecem;

vi) Procedimentos de Monitoria e Avaliação - Avalia a interação entre o

planejamento e a execução, possibilitando corrigir desvios e retroalimentar

permanentemente todo o processo de planejamento.

Um primeiro olhar sobre o planejamento da APA da Serra de Maranguape passa

pela discussão sobre sua criação e limites. Como já tratado anteriormente, a Serra de

Maranguape abriga refúgios florestais de Mata Atlântica dentro do bioma Caatinga, tratando-

se de uma área de relevância ecológica regional, ao mesmo tempo em que suas características

físico-naturais singulares condicionam o desenvolvimento de atividades e formas de uso e

ocupação distintas ao seu entorno.

A demarcação da Serra como uma área de protegida vem nesse sentido proteger

esse refúgio através da regulamentação sobre as formas de uso que nela se dão. Por se tratar de

uma iniciativa do governo municipal, somente a parte do maciço em Maranguape pertence à

APA. Sobre o ponto de vista integrado e sistêmico, essa restrição não é capaz de oferecer

efetividade na conservação dessa área, isso porque, partindo de uma perspectiva biológica, por

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exemplo, tal recorte promove a fragmentação de habitats e elimina a conectividade entre eles,

comprometendo a flutuações demográficas das espécies, as cadeias alimentares e seus

processos reprodutivos (BENSUSAN, 2001). Da mesma forma, torna pouco eficiente as

medidas administrativas que se encontram limitadas ao município de Maranguape e não alcança

a totalidade dos grupos sociais envolvidos. Na iniciativa de corrigir esse fato, já se encontra

tramitando no CONPAM (órgão responsável pela gestão das Unidades de Conservação no

estado) a proposta de estadualizar a APA da Serra de Maranguape (informação verbal)17, o que

traria novos cenários à unidade e sua gestão.

A delimitação e o desenho de áreas protegidas são temas bastante complexos

abordados na literatura científica. Para Santos & Tabarelli (2003), as proposições nessas

questões, em princípio, podem partir de abordagens biológicas em três níveis básicos: nível de

espécie, nível de comunidade e nível ecossistêmico (ou combinados). Cada uma dessas

abordagens, combinadas com interesses políticos, sociais e econômicos, pode levar à seleção

de diferentes áreas com diferentes desenhos. A União Internacional para a Conservação da

Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), na publicação sobre as Diretrizes para o

Planejamento e Gestão de Áreas Montanhosas Protegidas, salienta que na escolha dessas áreas,

alguns fatores devem ser considerados:

1. Nas áreas de serra, montanha, cordilheira etc. é de responsabilidade dos governos,

em cujo território elas se encontram, assegurar que as áreas protegidas criadas

promovam de forma adequada a valoração biológica, física e cultural em seus limites;

embora os governos não têm necessariamente de controlá-las.

2. As áreas protegidas devem ser delimitadas utilizando os critérios de design oriundos

da ciência da biologia da conservação, como por exemplo:

- Maior é melhor do que menor;

- Uma área não fragmentada de qualquer tamanho é melhor do que muitas

pequenas áreas descontínuas;

- Com área de amortecimento é melhor do que nenhuma;

- Borda mínima ou perímetro (arredondado ou em blocos, em vez de linear);

- Conectada é melhor do que desconectada.

3. Para proteger a biodiversidade das mudanças climáticas, áreas protegidas

montanhosas devem ser estendidas das encostas para as planícies e, em alguns lugares

para o mar.

4. Tendo em vista escassez de água de alta qualidade, cabeceiras de montanha são locais

particularmente desejáveis para a proteção da terra/água.

5. Áreas protegidas devem ser planejadas e delineadas em uma escala biorregional,

vinculado à paisagem circundante.

6. Antecipar a proteção a áreas pouco habitadas que estão se tornando valorizadas em

um mundo cada vez mais urbanizado, comercial e frenético.

7. Possibilitar a proteção para terras, privadas ou comunitárias, que já se encontram em

sistema de manejo sustentável na agricultura, pecuária e silvicultura.

17 Informação obtida junto a SEMADE em fevereiro de 2014.

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8. Selecionar e delimitar com ênfase na unidade hidrológica da bacia, a montante e a

jusante, tanto quanto possível. (HAMILTON & MCMILLAN, 2004, p. 21-22, tradução

nossa)

A APA da Serra de Maranguape é delimitada a partir da cota de 100 m do maciço18,

esse limite coloca sobre proteção não somente áreas de mata úmida, mas também porções

recobertas por mata seca e caatinga. Esse design acarreta duas implicações na gestão da

unidade, em primeiro lugar garante a integração do refúgio florestal da Mata Atlântica com a

paisagem circundante que acaba por funcionar como uma espécie de zona de amortecimento19

para esta, reduzindo o efeito de borda20 na mesma. Por outro lado, trata-se de uma área de

ocupação mais intensa, com uma diversidade de usos maiores, o que implica em garantir

recursos (humanos, financeiros, administrativos) adequados com as necessidades que se

apresentam à gestão. Além disso, diversificam-se os grupos sociais e suas atividades dentro do

processo de gestão participativa, incluído percepções diferenciadas sobre a paisagem e sobre as

atividades econômicas tornando mais complexa a mediação de conflitos.

4.2.2.2.1 Zoneamento e plano de gestão

Além das análises sobre a criação e desenho da unidade, a discussão sobre o

planejamento de uma APA recai sobre os instrumentos a ela previstos, quais sejam: o

Zoneamento, o Plano de Gestão, o Monitoramento e Avaliação e o Plano Operativo Anual

(CORTÊ, 1997). O Zoneamento e o Plano de Gestão existentes para a APA da Serra de

Maranguape foram produzidos pela SEMACE no ano de 2002. O documento elaborado por

uma equipe multidisciplinar apresenta de forma bastante sucinta o quadro geral dos dispositivos

legais da APA, um relato sobre seu processo de ocupação, uma caracterização ambiental com

uma proposta de zoneamento e por fim um conjunto de ações propostas à gestão da unidade.

O zoneamento, apresentado para a APA, foi elaborado com base na metodologia

proposta por Bertand (1971) na delimitação de unidades espaciais e na avaliação de sua

18 A proposta inicial seria estabelecer o limite a partir da conta de 200 m, no entanto, para que o Serrote do Japarara

também fosse incluído na APA esse limite foi revisto. Informação verbal obtida em entrevista em fevereiro de

2014. 19 Ressalta-se que a Zona de Amortecimento enquanto instrumento de gestão prevista no SNUC não contempla a

categoria das APA. 20 Efeito decorrente do processo de fragmentação florestal que implica em alterações físicas e biológicas sobre as

áreas limítrofes desses fragmentos em relação ao seu interior. Pode desencadear a perturbação física da vegetação

e do solo, mudanças do meio abiótico e nas trocas de energia do ecossistema eventualmente influenciando na

dinâmica ecológica do fragmento como um todo (RODRIGUES & NASCIMENTO, 2006).

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capacidade de suporte, a partir do balanço entre os processos morfoclimáticos e os processos

pedogenéticos, com base em Tricart (1977). São assim propostas quatro zonas:

(1) Zona de conservação da mata primitiva de cimeira – Compreende as áreas do

platô dissecado e conservado, agrupando ambientes estáveis nas vertentes, quando

em estado de equilíbrio, com instabilidade tendendo a intermediária e instável,

sendo priorizada a conservação da vegetação;

(2) Zona de conservação e recuperação ambiental da mata primitiva de encosta –

Engloba a vertente oriental e vertente ocidental. São ambientes instáveis em função

do uso e ocupação e da excessiva degradação da cobertura vegetal e dos solos, em

condições de dinâmica regressiva. As altas vertentes são tidas como de uso restrito

para a conservação da vegetação, já as baixas vertentes são tolerados usos de forma

controlada;

(3) Zona de conservação e recuperação ambiental da mata seca e da caatinga –

Engloba a vertente meridional e setentrional. Reuni ambientes de transição onde o

uso intenso proporciona uma evolução com dinâmica regressiva;

(4) Zona de uso extensivo dos sertões periféricos da serra – Ambientes de transição

tendendo a instabilidade em face da expansão de desmatamentos e pecuária

extensiva. Em áreas de equilíbrio natural, o ambiente é estável favorecendo a

pedogênese.

A proposição dessas Zonas atende a necessidade de ordenamento da APA no nível

de planejamento, entretanto, no nível de gestão se tornam bastantes genéricas ao oferecer

suporte à tomada de decisões, isso porque, apesar de bem delimitadas, são concebidas

priorizando critérios físico-naturais, homogeneizando os padrões de uso e a intensidade de

como se apresentam em seu interior. Esse impasse decorre para aquilo que Bertrand (2007)

chama atenção sobre impor a uma realidade social uma interpretação global sob um ponto de

vista reducionista, típica da análise ecossistêmica. A importação desatenta do conceito de

capacidade de suporte21 da Ecologia para a Geografia conduz a esse tipo de análise, em que as

21Em ecologia trata-se do “limite que determinado ecossistema é capaz de suportar (ou manter) uma população ou

populações em nível de equilíbrio, isto é, no ponto em que não há modificações significativas no número de

indivíduos dessa população” (ART, 1998, p. 65). Em Geografia, a “capacidade de suporte inclui condições de

potencialidades e limitações. As potencialidades são tratadas como atividades ou condições exeqüíveis de praticar

em cada sistema ambiental, sendo propícias à implantação de atividades ou de infra-estruturas. As limitações ao

uso produtivo [...] são identificadas com base na vulnerabilidade e nas deficiências do potencial produtivo dos

recursos naturais e no estado de conservação da natureza, em função dos impactos produzidos pela ocupação”

(SOUZA, 2009 p.32 grifo nosso).

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134

atividades sociais repercutem sobre um sistema ambiental da mesma forma que uma população

de uma determinada espécie, desconsiderando, assim, o aspecto histórico no desenvolvimento

das sociedades e seus sistemas técnicos.

Esse tipo de visão é bastante recorrente na análise de sistemas naturais de ordem

geográfica e ecológica, como exemplifica Caracristi (2006):

Os ecossistemas semi-áridos, de modo geral, são considerados “frágeis”, e por isso

potencialmente “vulneráveis” diante do uso e ocupação atuais. E essa adjetivação

comum aos diagnósticos ambientais faz-nos indagar: qual o ecossistema que e “pouco

vulnerável” a ações continuas de usos e ocupações degradadoras? Ou, qual o

ecossistema que pode ser considerado “forte” ou “não frágil”? Os critérios de

classificação são baseados na dinâmica de organização inerentes aos ecossistemas ou a

partir do viés econômico de sua capacidade produtiva? Será que um ecossistema terá a

mesma “capacidade produtiva” diante de modos de produção e de usos e ocupações

diferentes? Ele poderá deixar de ser “frágil” em outro contexto explicativo? (p. 33-34)

Dessa forma, as noções de potencialidade e vulnerabilidade representam uma visão

reducionista sobre as atividades sociais na paisagem. Concretamente, dentro desse tipo de

processo de ordenamento territorial, as formas de uso e ocupação, em sua complexidade, são

secundarizadas, gerando um produto pouco eficiente à gestão, porque as visualizam de forma

estática. Uma vez que se objetiva não somente inibi-las, mas compatibilizá-las aos processos

físico-naturais, é importante que as proposições de ordenamento reconheçam os usos e

ocupações em sua diversidade de intensidade e o papel e características dos atores como sendo

partes de um elemento dinâmico na organização de uma configuração específica da paisagem22.

Reconhece-se assim, o caráter integrado dos elementos na produção de um arsenal de

informações mais coerente, sob uma visão de interface entre sociedade-natureza, tornando

eficiente o levantamento e recrutamento de alternativas disponíveis (e a serem criadas) no

controle dos usos na busca por sustentabilidade.

Essa leitura trata-se de uma contribuição geográfica, a partir dos pressupostos

teórico-metodológicos do Sistema GTP, ao processo multidisciplinar de planejamento de uma

Unidade de Conservação de uso sustentável, levantando novos enfoques no trato das regulações

sobre o uso e ocupação para uma gestão ambiental efetiva.

22Para Caracristi (2006): “numa análise sistêmica, quando as relações são compreendidas pelas suas

funcionalidades, entramos fatalmente numa perspectiva mecanicista/determinista de dinâmica enquanto

movimento espacial, pois as funções estabelecem relações de causa e efeito entre os componentes e o todo do

sistema” (p.35), assim: “a dinâmica sistêmica [não mecanicista] deve ser recursiva e dialógica, o que implicara a

concepção de uma dinâmica não-linear recursiva (complexa), interativa e auto-organizadora dos sistemas naturais”

(p.34). A paisagem, sob uma análise sistêmica, não apresenta, pois uma funcionalidade na relação entre seus

componentes e os usos, na verdade é necessário entender como eles se inserem em um padrão de organização no

qual ela emerge, o que subsidia avaliar seu papel/sua repercussão no todo.

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O último instrumento de planejamento em análise trata-se do Plano de Gestão, o

qual foi concebido através de uma oficina que buscou reunir representantes do governo

(municipal, estadual e federal) e da sociedade (sindicatos, ONG, empreendedores e moradores).

Nesse processo, foram levantados os problemas ambientais na APA e definidos objetivos a

serem alcançados para solucioná-los, sendo atribuída a cada um deles um conjunto de ações e

colaboradores para realizá-las (CEARÁ, 2002).

As ações propostas no Plano de Gestão (Anexo B) contemplam os objetivos da APA

e incidem sobre todas problemáticas diagnosticada pela pesquisa na relação entre o uso

sustentável dos recursos e sua conservação. A proposição de ações que passam pela regulação,

inibição, fiscalização e construção de alternativas aos usos na APA torna o Plano um rico

instrumento capaz de conduzir a efetividade da unidade. Em partes, o plano atende o que é

recomendado pelo Roteiro Metodológico para a Gestão de Área de Proteção Ambiental do

IBAMA, mas é falho ao apresentar um diagnóstico socioeconômico com detalhamento somente

sobre o município, sem especificar nada sobre a APA e em não possuir uma Matriz de

Planejamento23 com uma proposta de alocação de recursos, fatores que podem auxiliar na

tomada de decisões pelos gestores na execução de atividades.

A capacidade administrativa de executar todas as atividades elencadas no

planejamento de uma APA depende da estruturação de seu Sistema de Gestão que representa o

componente gerencial da unidade, sendo composto pela instituição de um Comitê Gestor, de

caráter consultivo, e os instrumentos legais que estabelece. O Comitê Gestor se caracteriza

como órgão colegiado superior responsável pela coordenação do Sistema de Gestão e formado

por instituições responsáveis pela APA e entidades co-gestoras. Tal comitê, deve se constituir

de uma Secretaria Executiva, órgão coordenado pelo poder executivo, através do administrador

da APA (IBAMA, 2011).

O caráter participativo que o Comitê assume é de suma importância, pois cria um

espaço para que os atores envolvidos possam dialogar. Como ressalta Limonad (2008), a

decisão quanto à ocupação de uma APA é uma decisão eminentemente política. Qualquer

intervenção nesse processo, portanto, é permeada por interesses privados, por relações de poder

e pelo grau de articulação política dos diversos grupos sociais envolvidos e atingidos.

23 A Matriz de Planejamento é uma forma de estruturar e apresentar os principais elementos do Plano [de gestão].

Realça as ligações lógicas entre os recursos previstos, as ações planificadas e os resultados propostos. Proporciona

uma visualização do plano de forma sintética, a partir da missão da APA e da estratégia adotada para atingi-la.

Apresenta, ainda, os diferentes resultados/atividades que o compõem, os indicadores e meios de verificação dos

mesmos, bem como os pressupostos dentro dos quais foi estabelecido (IBAMA, 2001 p. 57)

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136

O Comitê se torna assim uma instância em que os conflitos podem ser mediados no

cumprimento dos objetivos da unidade. O Sistema GTP, ao considerar na configuração da

paisagem, a percepção dos grupos sociais, permite que na análise paisagística se perceba o

comportamento dos atores e os conflitos existentes, produzindo de forma integrada uma leitura

sobre suas atividades, projetos e percepções e a relação que estabelecem com a dinâmica do

meio. Nesse sentido, a leitura oferecida pelo sistema GTP oferece subsídios aos gestores de

Unidades de Conservação de uso sustentável no entendimento das relações de conflito na

conservação dos recursos e é totalmente compatível com o formato do Comitê Gestor, quando

ao oferecer essas leituras para o gestor lhe orienta na mediação de conflitos junto aos atores.

Na APA da Serra de Maranguape, a criação do Comitê Gestor foi regulamentada

pelo poder público de Maranguape através do Decreto Municipal 1.097, de junho de 1999,

sendo formado por representantes da própria Prefeitura, IBAMA, SEMACE, da União das

Entidades Comunitárias de Maranguape (UNECOM) e moradores da Serra. No entanto, ele se

encontra desativado, deixando a APA sem um órgão centralizado em sua gestão. As medidas

de intervenção na APA são executadas pela prefeitura, através da SEMADE, que não conta com

um responsável designado para tanto e se ocupa também de todas as outras atividades de gestão

ambiental no município, dispondo de recursos reduzidos.

Dessa forma, a APA não possui um instrumento ativo na execução de atividades de

planejamento, no controle dos usos e formas de ocupações, de normatização e fiscalização. As

ações acontecem de maneira não sistemática pela intervenção esporádica da secretaria

municipal, ou pela iniciativa individual de moradores e ONG, sem uma coesão ou com objetivos

que se complementem. A ausência de um Comitê Gestor torna a APA um “parque de papel”,

que existe em termos legais, mas não se efetiva concretamente. Por esse motivo, é impossível

avaliar o papel que a APA desempenha enquanto política de desenvolvimento sustentável,

todavia, a análise da paisagem desenvolvida pelo presente trabalho demonstra de que maneira

a ausência de um organismo de gestão contribui para a ocorrência de problemas ambientais na

Serra, ao mesmo tempo, oferece subsídios na operação de um sistema de gestão de UC.

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137

4.2.3 A APA na percepção dos grupos sociais

O desenvolvimento das atividades no território, através de suas formas de

apropriação e intervenção, está associado às formas de representação ou representações sociais

que conferem identidade a esse território. As percepções acerca da paisagem e as identidades

dos grupos sociais correspondem a uma dinâmica no espaço geográfico, uma expressão

imaterial da relação entre os sujeitos e a materialidade da paisagem. Essas expressões imateriais

traduzem referências das características dinâmicas que se manifestam na paisagem em sua

complexidade de inter-relações entre as atividades econômicas, os elementos geoecológicos e

as manifestações culturais (BERTRAND, 2007).

Tomando como referência as formas como os grupos sociais se apercebem do local

e da paisagem é que se torna possível estabelecer uma interface sociedade-natureza. Para este

estudo, as percepções dos sujeitos sobre as estratégias de criação e gestão de Unidades de

Conservação de uso sustentável fornecem uma base de análise para uma compreensão integrada

sobre a efetividade dessa política ambiental, tornando possível elaborar diagnósticos e

prognósticos.

Os grupos sociais se caracterizam pela reunião de indivíduos em torno de uma

mesma prática na natureza, e que produzem um conjunto coerente de bens materiais e culturais,

compartilhando percepções e projetos do papel que desempenham na paisagem (BERTRAND,

2007). Levando em consideração os usos que desenvolvem e a forma que se inserem no

processo de criação e gestão da UC, foram delimitados quatro grupos sociais na APA da Serra

de Maranguape: moradores, administradores (ligados ao Estado), participativos (sociedade civil

organizada) e empreendedores.

Todos os grupos reconhecem a singularidade do refúgio de Mata Atlântica no

maciço de Maranguape, por isso avaliam como positivo a criação da unidade, nenhum dos

entrevistados afirmou desconhecer a sua existência. No entanto, eles percebem que houve

intensas transformações ao logo do tempo e que a adoção de medidas conservacionistas é

necessária:

É sim pra ter uma forma de proteger isso aqui, é uma riqueza que tem que ter uma

atenção pra que as pessoas tomem consciência e cuidem da natureza (Entrevistado V,

Grupo dos Moradores).

Proteger a Serra é uma forma de garantir a sustentabilidade, manter o que existe pras

futuras gerações e é um dever de todos contribuir, já pensou como pode ficar se ninguém

não se preocupar e não tomar uma atitude? (Entrevistado XV Grupo dos

Administradores)

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Essas transformações apontadas comprometem os aspectos singulares do cotidiano

e aqueles que lhes conferem identidade com o local como: bucolismo, vida comunitária,

decadência econômica e perca de referências morais.

Sobre como os grupos percebem a apropriação dos elementos geoecológicos da

Serra em seu cotidiano, as respostas foram variadas. O grupo dos administradores tendia a se

referir de forma bastante técnica e abstrata, tais como: “o clima” ou “os recursos hídricos”. No

grupo dos moradores havia certa dificuldade em estabelecer uma relação direta do cotidiano

com os elementos naturais. No entanto, as repostas elegeram a disponibilidade hídrica e o

aproveitamento dos solos na produção de frutas como as mais relevantes. Os atores ligados a

ONG ressaltaram os processos ecológicos e a biodiversidade no desempenho de serviços

ambientais. Para os empreendedores havia um potencial pouco explorado pela deficiência de

infraestrutura para realização de atividades econômicas.

Em relação ao estado de conservação dos ecossistemas, os administradores

classificaram como regular ou bom o estado atual, todos os outros demonstraram perceber

descaso na conservação e que muitas ações se fazem necessárias. Quando questionados sobre

ter conhecimento de alguma medida adotada nesse sentido, todos citaram o combate às

queimadas. Os moradores disseram ser comuns intervenções do IBAMA no combate às

queimadas, já em relação ao combate à caça houve informações contraditórias sobre a atuação

dessa instituição. A ausência dessas medidas era percebida na paisagem, principalmente pelo

desmatamento e ao histórico de eventos de movimentos de massa na Serra.

Quando perguntados sobre as perspectivas de mudanças que os grupos enxergam

para o futuro, os administradores se demonstram pessimistas porque não sentiam por parte dos

outros atores mudanças em suas posturas. No entanto, eles acreditavam no papel da ciência e

do planejamento em poder rever o atual quadro e possibilitar uma melhor qualidade de vida

para os moradores da Serra. Os participativos vislumbram que a não adoção de medidas

imediatas levaria a uma piora do quadro atual e veem no governo o agente responsável nesse

processo. Os moradores almejavam melhores condições de vida por meio do aumento da

escolaridade e melhores condições de emprego e moradia.

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139

4.2.4 Análise geográfica integrada na avaliação de indicadores de efetividade.

Frente às ameaças e dificuldades que permeiam a criação e a gestão de áreas

protegidas, despontou no meio científico a necessidade de se avaliar a efetividade dessas áreas.

Mesmo após o planejamento e a execução de um plano de gestão para uma área protegida, uma

série de questões de ordem técnicas, políticas, econômicas, culturais, financeiras etc. põem em

xeque a viabilidade dessas áreas. Avaliar a efetividade de uma área protegida seria, assim sendo,

considerar como o conjunto de ações que, com base em habilidades, capacidades e

competências especiais, permitem satisfatoriamente cumprir a função para a qual foi criada a

área protegida (CIFUENTES, IZURIETA e FARIA, 2000)

Mackinnon et al. (1986 apud Morsello, 2001) elencam como benefícios que podem

ser alcançados com a avaliação do manejo:

Verificar se os objetivos de manejo e o plano em si são realistas;

Julgar se os recursos financeiros e humanos são suficientes para alcançar esses

objetivos;

Preparação de programas de manejo no futuro;

Ajudar no entendimento do valor que as UC têm para a comunidade nacional e

internacional;

Auxiliar na melhoria das técnicas de manejo.

A avaliação de efetividade é, portanto, uma ferramenta de importância fundamental

na concretização das estratégias de conservação, colocando-se como instrumento que oferece a

possibilidade de conhecer a situação das ações de gestão e dá subsídio à tomada de decisão.

A partir das leituras feitas na análise da paisagem e dos produtos por elas gerados,

buscou-se avaliar a efetividade da criação e gestão da APA da Serra de Maranguape. O processo

de gestão ambiental envolve diferentes variáveis, o que o torna transdisciplinar. A posição aqui

adotada almejou oferecer-lhe contribuições a partir da leitura geográfica integrada por meio da

adoção do sistema GTP.

Como referencial nesse processo de análise, foi construído um quadro de

indicadores com base nos trabalhos de Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) e de Faria (2004) que

propuseram em seus trabalhos variáveis chaves na avaliação de manejo de áreas protegidas. Os

indicadores são agrupados em âmbitos que permitem visualizar aspectos globais de gestão,

correspondendo ao nível de maior hierarquia. Esses, por sua vez, englobam variáveis que são

indicadores mais sensíveis para descrever uma ação, atividade ou situação relativa a um

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determinado âmbito. Conforme Quadro 10, foram considerados os seguintes âmbitos e suas

respectivas variáveis:

Âmbito Administração – Contempla aspectos que permitem medir a capacidade

de manejo institucional, incluindo condições de boa organização interna, gestão

de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura; todas voltadas a cumprir as

metas e objetivos propostos pela administração a médio e longo prazo.

Âmbito Planejamento – Entendido como o processo contínuo de elaborar,

revisar e aprovar os objetivos estabelecidos, o planejamento é avaliado através

da análise dos seus instrumentos (plano de manejo/gestão, zoneamento etc.) e

medidas de controle existentes.

Âmbito Político-Legal – A legislação é a ferramenta que fornece diretrizes para

a jurisprudência institucional sobre as áreas protegidas. Contempla-se nesse

âmbito avaliar a existência de leis ou políticas que auxiliem a gestão e garantam

a permanência a longo prazo da área.

Âmbito Qualidade dos Recursos Protegidos – São avaliados fatores que podem

ser determinantes para o cumprimento dos objetivos de manejo. São

considerados aspectos biogeográficos como também a avaliação do estado dos

recursos interiores e as formas predominantes do entorno, além das ameaças

externas e internas, fatores naturais ou antrópicos que comungam para o

descumprimento dos objetivos de manejo. As variáveis destacadas aqui

compreenderam:

Desenho: refere-se à figura da área fragmentação da totalidade da área,

que poderá sofrer maiores ou menores impactos oriundos do efeito de

borda em consonância do uso dado ao entorno.

Forma predominante de uso do entorno: procura verificar a

adequabilidade dos usos efetuados no entorno a seus objetivos de gestão,

cuja matriz pode promover a conservação dos recursos como a sua

gradual degradação.

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Impactos sobre as bacias hidrográficas: dada a importância desse recurso

na APA e no contexto regional, cabe avaliar as implicações dos usos

sobre as mesmas.

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142

Quadro 10 – Avaliação da efetividade da APA da Serra de Maranguape

(continua)

INDICADORES AVALIAÇÃO

Ad

min

istr

açã

o

Comitê Gestor

O Comitê Gestor se encontra desativado deixando a unidade sem um órgão centralizador na gestão e sem um gerente com

responsabilidade exclusiva sobre a unidade. A ausência desse organismo inviabiliza a mediação de conflitos no uso dos recursos, a

articulação dos atores na construção de propostas alternativas, a cooptação de recuso e o estabelecimento de parceiras.

Recursos Humanos 5 pessoas compõem o quando de funcionários responsáveis pela gestão ambiental em todo do município.

Recursos Financeiros

Não existe uma política de captação de recursos, sendo eles disputados dentro do montante destinado pela prefeitura para as ações

na área do meio ambiente, agricultura e defesa civil, tão pouco há alguma estratégia que contribua para geração de recursos próprios

que viabilizem a execução de programas e atividades na unidade.

Infraestrutura Inexiste uma estrutura de apoio à administração ou ao desenvolvimento de atividade e programas na unidade, não se cria assim um

vínculo que possa servir de referências entre os grupos sociais.

Demarcação e limites

Não se encontram marcos físicos que indiquem os limites da APA. Na estrada que leva a pousada Encanto da Serra existem placas

em avançado estado deterioração que informavam a existência de uma APA.

Pla

nej

am

ento

Plano Gestor

Plano gestor foi elaborado há 12 anos. Contudo, ainda apresenta medidas que seriam eficazes no gerenciamento da APA. Pode ser

melhor desenvolvido se promover estratégias que consigam envolver os atores em sua proposição/execução

Zoneamento

Existe um zoneamento proposto para unidade, a eficácia desse instrumento pode ser maximizada se conseguir alinhar a proposta de

regulação de atividade e adequação através da identificação das características dos atores e os níveis de intensidade das formas de

uso e ocupação.

Compatibilidade dos usos com os

objetivos da unidade

Historicamente, os usos desenvolvidos na Serra foram de grande impacto na paisagem, podendo ser apercebidos no impacto sobre

a biodiversidade e nos trágicos episódios de movimento de massas. Os aspectos singulares desse ambiente de exceção favorecem o

desenvolvimento de atividades que comprometem a perpetuidade dos processos ecológicos como a ocupação de áreas de APP.

Percebe-se uma tendência de estagnação de alguns tipos de uso, o que cria um cenário especifico na tentativa de regulá-los

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143

Quadro 10 – Avaliação da efetividade da APA da Serra de Maranguape

(conclusão)

Fonte: Elaborado pelo autor

INDICADORES AVALIAÇÃO

Po

líti

co-l

ega

l Instrumentos

Lei Municipal nº 1.168 de 08 de julho de 1993

Decreto Municipal 1.097, de junho de 1999.

Decreto Estadual nº 24.221, de 12 de Setembro de 1996.

Políticas

Os instrumentos previstos para APA podem ter sua capacidade de gestão potencializados se integrados a demais políticas de

Estado tais como Políticas de desenvolvimento regional, gestão de recursos hídricos, extensão rural e desenvolvimento social.

Não foram encontradas referências a essa proposta.

Qu

ali

da

de

do

s R

ecu

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rote

gid

os

Desenho

O desenho da unidade favorece na redução do impacto do efeito de borda sobre o fragmento de Mata Atlântica, o

desenvolvimento de estudos que busquem entender esse fenômeno na Serra de Maranguape será de grande valia à gestão da

APA. A restrição da unidade ao município de Maranguape favorece a fragmentação de habitats e na sobrevivência das

populações de espécies protegidas.

Forma predominante

de uso do entorno

Por se tratar de uma APA, não se prevê regulamentações sobre as formas de uso do entorno, todavia, esses devem ser

considerados para um entendimento global dos aspectos que influenciam no manejo da unidade. Na vertente oriental, acelera-

se o processo de urbanização que é um vetor de ocupação para a APA e suas regiões periféricas gerador de especulação

imobiliária. Na vertente ocidental e sertões de entorno é intenso o uso agrícola e, em menor expressão, a produção animal,

ambos potencias comprometedores dos recursos hídricos e da fauna e flora.

Impactos sobre as bacias

hidrográficas

Os usos e formas de ocupação na unidade são de grande impacto sobre os recursos hídricos, principalmente pelo represamento

indevido, ocupação de áreas de APP e poluição sanitária. Por serem áreas de nascente, e Maranguape ser um dos municípios

onde os morados sofrem com os períodos de estiagem, maior atenção deve ser dada sobre estes impactos a fim de um melhor

aproveitamento dos recursos hídrico.

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144

A avaliação desses itens teve por base as observações em campo e as entrevistas junto

aos atores e foram sintetizadas de forma qualitativa, produzindo diagnósticos e prognósticos

sobre a situação da APA.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A emergência da problemática ambiental, a partir da segunda metade do século

XIX, impôs a toda a sociedade repensar as relações com a natureza, seus modelos de

desenvolvimento e as desigualdades e injustiças por eles gerados. A preocupação com a

biodiversidade, com a perturbação nos processos ecológicos e a degradação dos recursos foram

impulsionadores na adoção de estudos científicos e na formulação de políticas ambientais. A

criação de área protegidas desponta como uma estratégia válida na busca por resposta a esse

processo.

Repensar a relação Sociedade-Natureza pressupõe também rever os paradigmas

científicos e os referenciais teórico-metodológicos a eles associados. Na Geografia, a

perspectiva dos estudos integrados desponta com uma iniciativa inovadora na leitura da

realidade ambiental convergindo com a necessidade de gerar produtos que subsidiem políticas

ambientais mais eficazes. Contudo, é escasso o campo da discussão epistemológica e teórico-

metodológica na Geografia brasileira, sobretudo na Geografia Física, o que leva ao

engessamento de referenciais, reduzindo sua capacidade de acompanhar as dinâmicas da

sociedade.

Propor o Sistema GTP para a análise da política de criação de Unidades de

Conservação é, portanto, uma iniciativa ousada, mas que se justifica pela necessidade em

atender as demandas urgentes que aparecem no cotidiano. A elaboração de um guia

metodológico para esse intuito representa a proposta desta pesquisa em fornecer um referencial

dos estudos geográficos integrados na compreensão da interface sociedade-natureza sobre a

estratégia de preservação ambiental e gestão dos recursos naturais.

Utilizando tal guia e reconhecendo como se processam as Unidades de

Conservação, seus pressupostos teóricos e instrumentos, foi possível levantar elementos para

avaliar a APA da Serra de Maranguape, diagnosticando a repercussão do papel que ela cumpre

(ou da ausência dele) sobre o monitoramento e regulação do uso sustentável dos recursos

naturais. A utilização do referencial proposto não somente tornou possível realizar o

diagnóstico como possibilitou sugerir formas de gestão e levantar prognósticos sobre os

processos que atuam sobre a unidade.

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145

Apesar da relevância em termos de biodiversidade, recursos naturais e de identidade

para os moradores, a Serra de Maranguape não recebe a atenção devida quanto à efetivação de

sua APA. As intensas formas de uso que esse ambiente passou ao logo de seu processo de

ocupação foram responsáveis por grandes modificações na paisagem e as atividades em curso

podem comprometer irreversivelmente danos aos sistemas ambientais. Os instrumentos que

dispõem e que criaram a unidade são concisos e estabelecem objetivos e ações palpáveis. A

restrição da APA ao município de Maranguape é um impeditivo na realização de ações

consequentes na conservação dos ecossistemas que formam o brejo de altitude. É urgente que

medidas de proteção sejam concretizadas, e elas só tomaram corpo caso haja a efetivação de

um núcleo gestor na área o que inclui a reativação do Comitê Gestor que possibilita a existência

de um organismo participativo para planejar, gerir e fiscalizar propostas para a conservação na

Serra.

A utilização dos pressupostos do Sistema GTP levantados por este trabalho, através

da análise da paisagem, possuem elementos que possibilitaram avaliar a criação e gestão de

unidades de conservação de uso sustentável e que o caráter integrado de seus diagnósticos sobre

a relação sociedade-natureza traz elementos que podem tornam mais eficaz o planejamento e

gestão dessas áreas.

É preciso salientar que frente à complexidade da questão ambiental muitos são os

recursos possíveis na busca de respostas. Portanto, tratou-se aqui não de produzir uma resposta

única e acabada, mas de oferecer uma contribuição disciplinar a uma questão transdisciplinar.

É exatamente por isso que se deve reconhecer que utilizar e integrar uma multiplicidade de

dados de forma sistêmica é uma tarefa que exige grande esforço na coleta e análise, por esse

motivo, é preciso reconhecer que uma limitação do presente trabalho tenha sido conseguir

integrar de forma mais eficiente as informações apreendidas nas percepções dos sujeitos aos

demais dados, o “P” ao sistema GTP. A adoção de uma metodologia que facilite o tratamento

desses dados pode contribuir na integração e, consequentemente, em um melhor entendimento

dos processos imateriais na configuração da paisagem.

Outras contribuições, com vista à conservação da Serra de Maranguape, que

podem vir a ser estudadas, suscitadas por esta pesquisa, consistem em diagnosticar possíveis

áreas de risco identificando áreas vulneráveis, como também apreender a relação entre a ação

antrópica e o efeito de borda no maciço, construindo novos conhecimentos que podem

contribuir para a gestão da APA. Sobre a relação entre o sistema GTP e a avaliação da

efetividade de áreas protegidas, a adaptação da metodologia utilizada pode ser ampliada,

produzindo indicadores quantitativos e mais próximos dos estudos geográficos.

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146

Acredita-se que o presente trabalho tenha trazido elementos que enriqueçam o

arsenal geográfico dos estudos ambientais e contribua para o debate acerca das áreas protegidas.

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ANEXOS

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ANEXO A – Roteiro para Entrevista Semidirigida

QUESTÕES INTENÇÕES

1 - Nome, idade, estado civil, com quem mora. Conhecer o perfil dos entrevistados

2- O Sr.(a) gosta de viver neste lugar? Por quê? Analisar a ligação com o lugar, o sentimento de

identidade, de pertencimento.

3-Sempre morou aqui?

3.1- Sim: já teve oportunidade para viver em outro

lugar? Quais os motivos que lhe fizeram ficar aqui?

3.2- Não: onde é que também já morou? Durante

quanto tempo? Quais os motivos que lhe fizeram sair

daqui? O que fez com que o senhor(a) voltasse para

cá? Quando esteve fora, do que sentia mais falta

(coisas, lugares, pessoas...)?

Objetiva-se perceber que elementos os entrevistados

consideram como singulares no local onde vivem em

relação à oportunidade de já terem morado em outro

local ou ainda que elementos justifiquem nunca terem

saído de lá.

4- Como era este lugar no passado (10, 20, 30 anos

atrás)? O local mudou muito deste tempo até os dias

de hoje? Em sua opinião quais foram as principais

mudanças?

Pretende-se comparar como era a paisagem em

questão no passado e como é na atualidade, se os

entrevistados perceberam as mudanças, o que eles

acharam dessas mudanças, se melhorou, se foram

significativas.

5- Quando o senhor(a) pensa neste lugar em que vive,

qual é a primeira imagem que lhe vem na cabeça?

A intenção é que os entrevistados digam qual a

paisagem que mais os marcou, a de maior importância

na vida deles.

6- Qual é a importância do(s) recursos naturais aqui

presente(s) na sua vida, no seu dia-a-dia, como o

senhor percebe esses elementos no seu cotidiano?

Verificar como os entrevistados percebem a

incorporação dos elementos geoecológicos nas

atividades que realizam e se estabelecem e que

vínculos estabelecem com elas.

7- Como o senhor(a) avalia a preservação do

ecossistema aqui presente, visto que mora em uma

Área de Proteção Ambiental?

Apreender como os entrevistados avaliam o estado de

conservação dos recursos naturais e que relações

estabelecem com a existência da UC

8- Para o senhor, qual o significado (importância) da

Serra de Maranguape ser uma Unidade de

Conservação?

Constatar como o entrevistado atenta para o fato de

viver numa área de proteção ambiental e como se da

conta da Unidade de Conservação. O quanto de fato se

sente responsável também pela conservação dessa área

protegida.

9-Você conhece alguma medida tomada na

conservação da Serra de Maranguape? Consegue

observar na paisagem algo que comprove a sua

efetividade ou a falta dela?

Verificar se os entrevistados têm conhecimentos das

medidas tomadas na conservação dos recursos naturais

e com as percebem (ou sua falta) na paisagem.

10- De que forma o senhor(a) pensa o futuro deste

lugar?

Verificar se os moradores possuem visões diferen-

ciadas e opiniões quanto ao futuro e preservação da

APA.

11- Quais paisagens você pensa que deveriam ser

fotografadas porque são de extrema beleza cênica e

patrimônio natural e afetivo? Em sua opinião, por

quais motivos esta(s) paisagem(ens) deixará(ão) de

existir em outros locais que não são áreas protegidas e

por quê?

Verificar se os entrevistados percebem mudanças

drásticas na paisagem e o que poderia vir a desaparecer

caso a Serra de Maranguape não tivesse se tornado

UC.

12- A sua vida neste local está melhor agora do que no

passado? Por quê?

A intenção é perceber se os moradores preferiam a

vida do passado ou a atual. A ideia é apreender como

as transformações e dinâmicas socioambientais ocor-

reram lá antes e depois da transformação da Serra em

APA.

Fonte: Adaptado de Silva (2013)

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ANEXO B – Plano de Gestão da APA da Serra de Maranguape

(continua)

OBJETIVOS ESTRATÉGIAS

Combater o desmatamento;

▪ Reflorestar as áreas desmatadas com espécies nativas;

▪ Criar programa para formação de agentes ambientais;

▪ Apoiar o projeto Serra Viva

▪ Capacitar o produtor rural;

▪ Fiscalizar e controlar o desmatamento

Resgatar a ética preser-

vacionista da população. ▪ Implementar programas de educação ambiental.

Divulgar o significado e a

existência da APA para a

população local e

flutuante.

▪ Melhorar a sinalização da APA;

▪ Implantar cancelas de acesso à APA;

▪ Promover seminários e palestras;

▪ Elaborar material didático e promocional;

▪ Propagar a APA nos meios de comunicação.

Monitorar e controlar o

uso e ocupação do solo na

região da APA

▪ Capacitar agentes fiscalizadores e multiplicadores;

▪ Instituir a Guarda Florestal;

▪ Implementar a exigência de licença para a intervenção na APA.

Eliminar práticas agrícolas

inadequadas

.

▪ Capacitar os produtores rurais;

▪ Implantar áreas experimentais;

▪ Criar uma associação para desenvolver produtos orgânicos;

Combater a poluição dos

recursos hídricos.

▪ Construir estações de tratamento de esgotos;

▪ Implementar programa da educação ambiental;

▪ Fazer a coleta e a correta disposição do lixo;

▪ Fazer mutirão para a limpeza dos recursos hídricos;

▪ Implantar pontos de apoio para a população de baixa renda.

Ter segurança pública

eficaz na região da APA

.

▪ Criar um fundo de segurança;

▪ Proibir o uso de armas de fogo no perímetro da APA;

▪ Construir guaritas nas entradas da serra;

▪ Melhorar a iluminação pública.

Erradicar as pragas de

mosquitos e cupins cau-

sadas pelo desequilíbrio

ecológico.

▪ Reintroduzir as espécies nativas;

▪ Fomentar pesquisa visando o controle biológico das pragas.

Coletar e dispor do lixo de

forma adequada.

▪ Fazer a coleta com a utilização de contentores;

▪ Ampliar a área da coleta sistemática do lixo.

Ter uma fiscalização

ambiental eficaz na região

da APA.

▪ Criar a Guarda Florestal Municipal;

▪ Definir a legislação municipal.

Coibir os represamentos e

desvios inadequados dos

cursos d’água.

▪ Criar o comitê de bacias;

▪ Estabelecer uma política de utilização dos recursos hídricos;

▪ Identificar os pontos críticos em caráter emergencial.

Estimular o comprome-

timento dos proprietários

com a proteção ambiental.

▪ Cadastrar os proprietários;

▪ Mobilizar os proprietários para o envolvimento na gestão da APA;

▪ Estimular a implantação de pousadas e equipamentos turísticos nos sítios;

▪ Envolver os proprietários na criação de espaços educativos.

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ANEXO B – Plano de Gestão da APA da Serra de Maranguape

(continuação)

OBJETIVOS ESTRATÉGIAS

Desestimular a prática da

monocultura da banana na

região da APA.

▪ Incentivar a diversificação das culturas agrícolas, substituindo gradativamente a

da banana;

▪ Introduzir técnicas de manejo sustentável;

▪ Criar uma central para comercialização de produtos agrícolas;

▪ Obter incentivos fiscais para a produção agrícola sustentável.

Proteger o patrimônio

histórico, cultural, natural e

arquitetônico na região da

APA.

▪ Levantar e divulgar o patrimônio histórico, cultural, natural e arquitetônico;

▪ Selecionar imóveis para fins culturais e turísticos;

▪ Ampliar os projetos de educação patrimonial.

Incentivar as atividades

agrícolas alternativas.

▪ Incentivar a criação da associação e cooperativas para agricultura

▪ Obter incentivos financeiros para o desenvolvimento de culturas alternativas.

Combater a violência e o uso

de álcool e drogas na região

da APA

▪ Realizar campanhas educativas contra o uso de álcool e drogas;

▪ Estimular atividades esportivas, culturais e de lazer;

▪ Intensificar o policiamento nas áreas frequentadas pelos turistas;

▪ Capacitar guias ecológicos para orientar os visitantes.

Aumentar o volume das

águas superficiais.

▪ Fazer o reflorestamento da APA com mudas nativas, segundo o calendário

ecológico;

▪ Recuperar as matas ciliares;

▪ Recuperar as áreas das nascentes dos cursos d'água;

▪ Implantar um banco de sementes.

Gerar trabalho e renda na

região da APA.

▪ Estimular a criação de cooperativas para produtos artesanais, plantas ornamentais

e agricultura orgânica;

▪ Estimular a criação de apiários;

▪ Estimular a criação de pousadas e equipamentos de apoio ao ecoturismo; -

Estimular a criação de agronegócios em pequenas propriedades;

▪ Formar guias ecológicos;

Coibir o turismo predatório

na região da APA.

▪ Implantar programas para desenvolver o ecoturismo;

▪ Estabelecer normas para disciplinar o ecoturismo;

▪ Sinalizar as trilhas ecológicas e os pontos turísticos;

▪ Implantar o sistema de telefone na serra.

Coibir queimadas ▪ Intensificar a fiscalização na Arca da APA;

▪ Implantar programas de orientação e conscientização.

Coibir a caça predatória.

▪ Intensificar a fiscalização na área da APA;

▪ Realizar campanhas educativas;

▪ Proibir o uso de armas de fogo na área da APA;

▪ Reintroduzir espécies da fauna na área da APA;

▪ Criar símbolo ecológico, valorizando a fauna local;

Divulgar a legislação

ambiental ▪ Realizar campanhas de divulgação.

Implantar o saneamento

básico.

▪ Construir estações de tratamento de esgotos;

▪ Construir sanitários em residências de baixa renda.

Erradicar as doenças

endêmicas tropicais ▪ Identificar e controlar as causas das doenças.

Melhorar as atuais vias de

acesso e as trilhas na serra.

▪ Recapear ou calçamentar as vias de acesso, assim como drenar, sinalizar e

implantar o paisagismo nas suas laterais;

▪ Controlar e sinalizar as trilhas ecológicas.

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ANEXO B – Plano de Gestão da APA da Serra de Maranguape

(conclusão)

Fonte: Ceará (2002)

OBJETIVOS ESTRATÉGIAS

Coibir a construção de

moradias nas áreas de risco.

▪ Fazer o levantamento das áreas de risco;

▪ Fazer contenção onde é possível;

▪ Implantar programa habitacional para remoção da população das áreas de risco;

▪ Controlar e fiscalizar as construções.

Combater a erosão e

assoreamento.

▪ Recuperar as áreas através de reflorestamento;

▪ Fazer a contenção nas áreas erodidas.

Aumentar a flora e a fauna.

▪ Fazer o levantamento das espécies e do estágio de diminuição;

▪ Fazer o reflorestamento com espécies nativas;

▪ Fazer a reintrodução de espécies da fauna.

Coibir o cultivo em

vertentes íngremes

▪ Selecionar áreas adequadas para as culturas permitidas;

▪ Aplicar Código Florestal

Combater a poluição

sonora.

▪ Equipar os locais públicos com decibelimetros e cumprir a Lei Orgânica do

Município.

Combater a poluição do ar. ▪ Fazer o controle das emissões das indústrias e dos ônibus nas áreas da serra;

▪ Proibir e controlar as queimadas.

Implantar o transporte

coletivo na serra. ▪Estimular a criação de linhas alternativas para diversas localidades na serra.

Coibir a construção

indiscriminada de muros na

serra.

▪ Criar legislação adequada;

▪ Estimular o uso de cercas vivas.

Complementar a legislação

ambiental municipal. ▪ Implementar o Sistema Municipal de Meio Ambiente.