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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE ADILIA MARIA MACHADO FEITOSA A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA HANSENÍASE NO CEARÁ: do leprosário de Canafístula ao Centro de Convivência Antônio Diogo Fortaleza – Ceará 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE ADILIA MARIA MACHADO FEITOSA

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA HANSENÍASE NO CEARÁ: do leprosário de Canafístula ao Centro de Convivência Antônio Diogo

Fortaleza – Ceará 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

ADILIA MARIA MACHADO FEITOSA

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA HANSENÍASE NO CEARÁ: do leprosário de Canafístula ao Centro de Convivência Antônio Diogo

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado Profissional do Centro de Estudos

da Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial para a obtenção do grau de

mestre em Planejamento e Políticas Públicas.

Orientadora: Dra. Vera Lúcia Almeida

Fortaleza 2008

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Adília Maria Machado Feitosa

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA HANSENÍASE NO CEARÁ: do leprosário de

Canafístula ao Centro de Convivência Antônio Diogo

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas

Públicas da Universidade Estadual do Ceará - UECE, como requisito para obtenção

do título de Mestre em Políticas Públicas. Fortaleza, 20 de novembro de 2008.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________ __________________________________

Prof. Dr. Alexandre Almeida Barbalho Prof. Dr Francisco Carlos Jacinto Barbosa

Universidade Estadual do Ceará. Universidade Estadual do Ceará

____________________________

Prof. Dra. Vera Lúcia de Almeida

Universidade Federal do Ceará

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À minha mãe Adilia, pelo exemplo de

determinação, amor e luta pela vida.

Aos meus filhos: Janine, Vincent, e

Aline e aos Netos; George e

Julianna, razões da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força e proteção.

À minha mãe que se encontra no entardecer da vida.

Aos meus filhos Janine, Vincent e Aline, os netos George e Juliana, que

sempre me deram forças para superar os problemas e dificuldades.

Ao meu marido e companheiro Nery pela compreensão em minhas

ausências.

À Dra. Célia Rolim de Castro, minha grande mestra.

À minha orientadora Dra. Vera Lúcia Almeida, pelo apoio e inspiração na

elaboração desta dissertação.

Aos Colaboradores / Entrevistadores: Célia Rolim de Castro / SESA;

Francisca Leonete Borges / SESA; Antônio Guilherme de Matos vice coordenador

Estadual do MORHAN; Irmã Maria Célia Resende, Técnica de laboratório do Centro

de Convivência Antônio Diogo (CCAD), pacientes do Centro de Convivência Antônio

Diogo; e meu filho Vincent Feitosa, que me incentivaram e colaboraram para que

este trabalho pudesse ser realizado.

À Coordenadora de Política de Saúde Vera Maria Câmara Coelho e a

Supervisora do Núcleo de Atenção Especializada Maria Cleide Chaves Sampaio, por

entenderem minhas ausências.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização desta

pesquisa.

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Pedaço de mim

Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim

Leva o teu olhar, que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento é pior do que se entrevar.

Ó pedaço de mim, ó metade exilada de mim

Leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais.

Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim

Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

Ó pedaço de mim, ó metade amputada de mim

Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada no membro que já perdi.

Ó pedaço de mim, ó metade adorada de mim

Lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.

(1977-1978)

Chico Buarque

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RESUMO

O presente estudo analisa as políticas de saúde de combate a hanseníase no Brasil, tendo como foco principal a evolução histórica da trajetória do Leprosário de Canafístula (1928), à Centro de Convivência Antônio Diogo (2000) em Redenção-Ceará. A incorporação do referencial foucaultiano nos permitiu analisar as relações existentes entre o saber médico e o poder de controle sobre as doenças carregadas de estigmas sociais como a “lepra”. A transformação do saber-poder em um agente de mudança da vida humana passa a ser identificada como a ‘biopolítica’ a qual trata, neste estudo das formas de controle das pessoas acometidas pela hanseníase através do isolamento, da vigilância e da punição dos corpos e ainda procura explicitar as mudanças na forma de controle da doença, quando o Estado revoga o isolamento compulsório dos hansenianos e quais as mudanças operadas no cotidiano dos ex-asilados da Colônia Antônio Diogo. Trata-se de um estudo qualitativo do tipo descritivo onde a entrevista foi o método utilizado para abordagem aos ex-asilados da Colônia Antônio Diogo. As falas expressam pensamentos diversos frente a reconstrução mental do processo de vida aos quais foram submetidos: as angústias, os sentimentos de vida perdida, entretanto, embora o isolamento compulsório tenha sido abolido desde 1962 os mesmos se sentem despreparados para gerenciar suas próprias vidas e permanecem vivendo no mesmo espaço que no passado exercia o poder de controle dos seus corpos. Para reverter a atual situação da hanseníase, faz-se necessário uma ação política, expressa através de um planejamento global, visando a que o plano de controle dê prioridade ao agravo e permita alocação de recursos que possibilitem a implantação e implementação das ações que hoje fazem parte do Programa Nacional de Controle e Eliminação da hanseníase. Palavras-chave: hanseníase, métodos de controle, isolamento, estigma.

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ABSTRACT

This study analyzes the health policies for combating Hansen’s Disease in Brazil, having as its primary focus the historical transformation of the Canafistula Leprosarium (1928) into the Antonio Diogo Community Living Center in Redenção, Ceará. The incorporation of Foucaultian concerns have enabled us to analyze the existing relationships between medical knowledge and the exercise of authority to control illnesses which carry a social stigma, such as “leprosy.” The conversion of knowledge-power into an agent of change in human life is indentified as “biopolitical”, which, in this study we address through the means used to control persons afflicted with Hansen’s through isolation, surveillance, and corporal restraint. We will also examine the changes in the methods of control of the illness when the State abolished compulsory isolation of Hansen’s patients, and how the changes affected the daily lives of the ex-patients of this Antonio Diogo Colony. This is a qualitative, descriptive study which uses interviews as the method of interacting with the ex-inmates of the Antonio Diogo Colony. The conversations express diverse opinions concerning the psychological effects of the life-style modifications to which they were subjected: their anguish, their sense of lost lives. Even so, although compulsory isolation had been abolished since 1962, they felt ill-prepared to manage their own lives, and they remained living in the same place that in the past had exercised total control over their bodies. To revert the current situation of hanseníase, an action becomes necessary politics, express through a global planning, aiming at the one that the control plan gives priority aggravates to and allows it allocation of resources that make possible the implantation and implementation of the actions that today are part of the National Program of Control and Elimination of hanseníase. Word-key: hansen’s disease, methods of control, isolation, stigma.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

Mb – Multibacilar

MORHAN – Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial de Saúde

Pb – Paucibacilar

PNEH – Programa Nacional de Erradicação da Hanseníase

PQT – Poliquimioterapia

ROM – Rifampicina Ofloxacina e Minociclina

SESA – Secretaria de Saúde do Estado do Ceará

SUS – Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

1 CONTEXTUALIZANDO A HANSENÍASE .................................................................. 14

1.1 Histórico da Hanseníase no Mundo ........................................................................ 14

1.2 Histórico da Hanseníase no Brasil .......................................................................... 17

1.3Histórico da Hanseníase no Ceará ........................................................................... 21

2 DO LEPROSÁRIO CANAFÍSTULA AO CENTRO DE CONVIVÊNCIA ANTÔNIO

DIOGO .......................................................................................................................... 26

3 A HANSENÍASE E OS MODOS DE VIDA DOS EX-ASILADOS ................................ 43

3.1 Caracterização dos Moradores Ex-Asilados do Centro de Convivência

Antônio Diogo ......................................................................................................... 44

3.2 Significado e sentimentos sobre a doença .............................................................. 47

3.2.1 A Colônia Antônio Diogo: Espaço de tratamento ou de confinamento ................. 51

3.2.2 A Doença: expectativa de cura e de liberdade ..................................................... 52

3.2.3 A Doença: A cura, o estigma e sequelas .............................................................. 54

3.2.4 A lei que liberta o corpo do doente ....................................................................... 57

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO ...................................................................... 65

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 67

APÊNDICES .................................................................................................................. 72

ANEXOS ....................................................................................................................... 79

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INTRODUÇÃO

A hanseníase é conhecida também pelos nomes de Leontíase, Mal de

Hansen, Mal de Lázaro, Morféia ou Lepra. É desenvolvida apenas no homem;

embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados como o tatu, o

macaco mangabei e o chipanzé, a transmissão ocorre por contágio interpessoal.

Hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, de evolução lenta. Esta

doença se manifesta através de lesões de pele apresentadas com diminuição ou

ausência de sensibilidade, sendo que as mais comuns são: manchas pigmentares,

placas, infiltrações, tubérculos e nódulos. Outra forma de manifestação da

hanseníase se dá através de é por lesões nos nervos periféricos decorrentes de

processos inflamatórios destes (neurites), que podem podendo ser causadas tanto

pela ação do bacilo nos nervos como pela reação do organismo ao bacilo, ou por

ambas, e que se manifestam manifestando-se como: dor e espessamento dos

nervos periféricos; perda de sensibilidade nas áreas inervadas por esses nervos, em

especial principalmente nos olhos, mãos e pés além de e perda de força nos

músculos que recebem inervação inervados por esses, através dos nervos

comprometidos principalmente nas pálpebras, membros superiores e inferiores

(BRASIL, 2002).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima em 1,8 milhões o número de

pacientes em todo o mundo para o ano de 2010, com grandes variações de

incidência e prevalência para as diversas regiões geográficas.

Segundo Amador (2004), no mundo, os casos concentram-se principalmente

nas áreas tropicais e equatoriais: 62% no Continente Asiático, 35% na África e 3%

na América do Sul. Nos países subdesenvolvidos, o quadro epidemiológico da

hanseníase é grave. As péssimas condições de vida da população, sem garantia

das necessidades básicas mínimas de sobrevivência como: moradia, educação,

alimentação, trabalho, lazer, a baixa qualidade da prestação de serviços de saúde, o

difícil acesso a estes serviços, sem nenhuma perspectiva de mudanças de

paradigma, a permanência da endemia assume caráter secular.

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Ainda que a prevalência global tenha diminuído drasticamente com a

introdução do tratamento poliquimioterápico, a detecção de casos permanece

estável, com aproximadamente 700.000 novos casos por ano. (GELUK et al., 2005).

O diagnóstico e a classificação dos casos de hanseníase no campo ou na

rede básica dos serviços de saúde são feitos, basicamente, por meio de dados

clínicos, bacteriológicos (pesquisa de BAAR na linfa) e, às vezes, histopatológicos,

quando estes métodos se encontram disponíveis. A realidade é que o diagnóstico da

doença, na maioria das vezes, é somente baseado em dados clínicos. Não há no

campo ou nos serviços de saúde um teste laboratorial sensível e específico que

possa detectar infecção assintomática com Mycobacterium leprae ou ainda que

possa predizer e monitorar a evolução da infecção para doença em atividade clínica.

(BAKKER, 2005; BLACKWELL, 1998; BUHRER, 1998; GELUK et al., 2005).

A implementação de instrumentos diagnósticos capazes de detectar infecção

com Mycobacterium leprae antes das manifestações clínicas é uma meta importante

para os países endêmicos em hanseníase, objetivando o diagnóstico precoce e

prevenção das incapacidades físicas. (GELUK et al., 2005).

O Estado do Ceará ainda não atingiu a meta de eliminação da hanseníase

enquanto problema de Saúde Pública, ocupando o 9º lugar em coeficiente de

detecção geral no Brasil e o 4º na região Nordeste em 2007. (INFORME

EPIDEMIOLÓGICO SESA, Agosto 2008). 6,4% dos casos novos do Brasil estão no

Ceará. Destes, 6,7% estão na faixa etária inferior a 15 anos e 58% dos casos novos

são multibacilares (Mb). No ano de 2007, foram diagnosticados 2.513 casos novos,

alcançando um coeficiente de detecção em todas as idades de 3,0/10.000

habitantes no Ceará. (INFORME EPIDEMIOLÓGICO SESA, Agosto, 2008).

A evolução das políticas de saúde em hanseníase desenvolvidas no Brasil

desde os primórdios tempos, em sua grande maioria são traumáticas, carregadas de

sofrimentos e estigma que repercutem por toda a vida do doente, definindo a

evolução de curável ou incurável, maldição ou de caráter infecto-contagiosa. De

acordo com Gomide (1991, p. 56): “O poder público: acionou seus mecanismos de

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controle e utilizou-se de todas as formas possíveis para identificar, no seio da

sociedade, aqueles que eram considerados prejudiciais, a fim de isolá-los”.

A presente dissertação tem como objetivo principal identificar as relações

entre o contexto histórico, político e social e as práticas de assistência aplicadas aos

portadores de hanseníase no Ceará, com enfoque na a evolução histórica do

Leprosário de Canafístula ao Centro de Convivência Antônio Diogo, situado no

município de Redenção – Ceará e as repercussões destas mudanças no cotidiano

de seus moradores. (Figura 1).

Figura 1. Entrada de Redenção-Ceará

Fonte: Da própria autora

Foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica, qualitativa, classificando-se

como descritiva, exploratória, O estudo é composto por duas etapas: A primeira

consiste na procura de referências teóricas publicadas em livros, artigos,

documentos, entre outros. A segunda fase é a pesquisa de campo, desenvolvida no

“Hospital de Dermatologia Sanitária Antônio Diogo”, Município de Redenção, Ceará,

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Brasil. Através de entrevista semi-estruturada, aplicada a 12 ex-pacientes de

hanseníase que residem a mais tempo no referido Hospital.

No caso especifico desta pesquisa resgata-se a evolução histórica da

trajetória do Leprosário de Canafístula a Centro de Convivência Antônio Diogo; as

formas de controle dos portadores de hanseníase no Ceará e ainda, como a doença

interveio nos modos de vida dos ex-asilados.

Foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica, qualitativa, classificando-se

como descritiva, exploratória, O estudo é composto por duas etapas: A primeira

consiste na procura de referências teóricas publicadas em livros, artigos,

documentos, entre outros. A segunda fase é a pesquisa de campo, desenvolvida no

“Hospital de Dermatologia Sanitária Antônio Diogo”, Município de Redenção, Ceará,

Brasil. Através de entrevista semi-estruturada, aplicada a 13 ex-pacientes de

hanseníase que residem a mais tempo no referido Hospital.

O trabalho foi estruturado em três capítulos:

I - Descreve a evolução histórica da compreensão da doença, formas de

tratamento no mundo e ainda a evolução das políticas de saúde no Brasil e no

Ceará;

II - Resgata a evolução histórica da trajetória do Leprosário de Canafístula a

Centro de Convivência Antônio Diogo; as formas de controle dos portadores de

hanseníase no Ceará;

III - Apresenta os depoimentos dos ex-exilados os quais expressam como a

doença interveio nos modos de vida de cada um.

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1 CONTEXTUALIZANDO A HANSENÍASE

A hanseníase é um problema de saúde pública nos países em

desenvolvimento. Durante séculos, a inexistência de terapêutica eficaz contribui para

a permanência da endemia, conforme relata no presente capítulo, desde o histórico

da hanseníase no mundo ao Ceará.

1.1 Histórico da Hanseníase no Mundo

A hanseníase, secularmente conhecida pela denominação de “lepra”, é uma

doença muito antiga que acomete o homem, citada por Hipócrates, suas descrições

indicam tratar-se de doença de pele com lesões escamosas, entre as quais

certamente podem se destacar a psoríase e os eczemas crônicos sem haver,

porém, menção de manifestações neurológicas (PACHA, 1914). Mas é na Bíblia,

nos capítulos 13 e 14 do Levítico, que encontramos o termo hebreu tzaraath para

designar afecções impuras, assumindo sua conotação repugnante e terrível. A

associação da hanseníase com o termo lepra, que por sua vez, está associado a

deformidades, reforçadas por conceitos populares e religiosos de impureza, castigo

divino, trouxe uma carga de preconceitos, juntamente com outras abominações

mencionadas no livro do Levítico, conforme Longo (2006). Foi Moisés segundo os

cristãos daquela época, que recebeu de Deus as instruções de como reconhecer e

tratar a lepra. Outras referências aparecem em manuscritos mesopotâmicos. É

nesse contexto que encontramos as primeiras notícias que a lepra foi introduzida na

Europa pelos Hebreus após a diáspora. (QUEIROZ; PUNTEL, 1997).

Em 1874, o médico e botânico norueguês, Gerhard Henrik Armauer Hansen,

demonstrou pelo exame a fresco as chamadas células leprosas de Virchow

encontradas nos nódulos cutâneos da doença, a presença dos bastonetes agentes

da infecção, o bacilo transmissor, podendo isolá-lo e dar margem para que fosse

conhecido e combatido. Este fato deu início a um novo conceito sobre a doença e

seu modo de transmissão e os doentes passaram a ser decisivamente visto como

ameaça social, desencadeando o processo de higienização da sociedade, através

do confinamento compulsório dos doentes em leprosários. A primeira tese derrubada

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após este evento foi a de que a doença era hereditária e não contagiosa. Sob o

ponto de vista de que o doente passou a ser considerado como a única fonte de

propagação da moléstia. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

Fica nitidamente claro que grande parte do estigma gerado por essa doença

deve-se muito mais ao preconceito do que a condição biológica da doença, já que a

grande maioria dos indivíduos oferece resistência imunológica ao Mycobacterium

leprae, o agente causador da doença.

Na Idade Média, a hanseníase manteve alta prevalência na Europa e no

Oriente Médio. O Concílio de Lyon (Século VI) realizado pela Igreja Católica, no ano

de 585, estabeleceu o isolamento do doente da população sadia como regra de

profilaxia da doença. Em alguns locais, essa medida foi bastante rigorosa e incluía a

realização de um ofício religioso em intenção do doente, semelhante ao ofício dos

mortos, após o qual ele era excluído da comunidade, passando a residir em locais

especialmente reservados para este fim, foram os primeiros asilos para acolher os

acometidos por esta doença. O doente era ainda obrigado a usar roupas

características que o identificavam como tal e fazer soar uma sineta ou matraca para

avisar os sadios de sua aproximação. (QUEIROZ; PUNTEL, 1997)

Auvray (2005), no seu estudo sobre “a vida dos hansenianos num antigo

leprosário do Brasil” refere que na França medieval a identificação do leproso era

feita através de denúncias e que após a comprovação da doença, por um tribunal,

os doentes eram submetidos a uma cerimônia de exclusão da comunidade:

Na França, cerimônias solenes marcavam o dia da separação do leproso da sociedade. O doente era acompanhado em procissão até a igreja, ao canto do ‘Liberta-me, como para um morto. Durante a celebração da missa, ficava escondido sob um cadafalso e depois retornava a sua casa. O ritual de exclusão social realizava-se ao longo do ofício ou à saída da igreja. Com uma pele na mão o padre pegava três punhados de terra do cemitério, que colocava na testa do leproso, dizendo: ‘meu amigo, é sinal de que estás morto para o mundo e por isso tem paciência e louva em tudo a Deus’. (AUVRAY, 2005, p.13).

Segundo Queiroz e Puntel (1997), a partir do século XII, surgiram as

primeiras ordens religiosas dedicadas a prestar cuidados ao doente de hanseníase,

com a criação de asilos que chegaram acerca de dezenove mil no continente

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europeu. O declínio dessa doença, na Europa, foi gradual tendo se iniciado a partir

do século XVII. Por volta de 1870, a doença já havia praticamente desaparecido em

quase todos os países da Europa e a causa mais provável desse desaparecimento

foi a melhoria das condições socioeconômicas.

Conforme Souza Araújo (1956), enquanto desaparecia na Europa, a endemia

persistia na Ásia e África, tendo sido introduzida no Novo Mundo a partir das

conquistas espanholas e portuguesas e da importação de escravos africanos.

Portanto, durante o período da colonização, a América Latina foi gradativamente se

tornando uma nova área endêmica no mundo.

Na Primeira Conferência Internacional de Lepra, em Berlim, no ano de 1897,

foi proposto o isolamento compulsório como o melhor meio de impedir a propagação

da doença, e recomendou-se a notificação obrigatória e a vigilância dos suspeitos,

tais como se praticam na Noruega.

As praticas que se seguiam na Noruega desde 1825, indicava como profilaxia da lepra, o isolamento tanto em domicílio quanto em leprosários. Aos leprosos que tivessem recursos para se manter, as autoridades podiam permitir que vivessem em seus domicílios, apenas afastados de seus familiares e de suas relações, tendo ao menos um leito ou um quarto separados. Essas orientações foram mantidas na Segunda Conferência Internacional de Lepra, realizada em Bergen, na Noruega, sendo ainda recomendado o afastamento dos doentes de profissões que lidassem com o público e a separação dos seus filhos logo após o nascimento, sendo recolhidos em preventórios especiais. A Terceira Conferência de lepra, foi realizada em 1923. Estas conferências tiveram um impacto significante sobre a política de saúde pública no Brasil. (CUNHA, 2005, p. 47)

Como a meta de eliminação da hanseníase em 2005, em nível mundial, não

foi alcançada por nove países (Angola, Brasil, República Central Africana, República

Democrática do Congo, Índia, Madagascar, Moçambique, Nepal e República Unida

da Tanzânia), a Organização Mundial da Saúde elaborou novas estratégias, visando

atingir essa meta até 2010.

A Estratégia Global da OMS é alcançar uma maior redução da carga de

hanseníase e prover acesso a serviços de controle da hanseníase de qualidade para

todas as comunidades afetadas, seguindo os princípios de equidade e justiça social.

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1.2 Histórico da Hanseníase no Brasil

Souza-Araújo (1956) identificou em estudo realizado por Juliano Moreira em

1908 o qual aponta várias publicações de autores estrangeiros que visitaram o Brasil

na época da Colonização nas quais é evidenciado que não havia Lepra entre os

aborígines:

Os Jesuítas, missionários ou cientistas que conviveram por muito tempo com os nossos indígenas nos deixaram algumas cartas nas quais não descreviam nada que se assemelhasse à lepra. Como referência única, encontramos na biografia do Padre Anchieta, escrita por Padre Pero Roiz, a existência de um “índio gentio e leproso”, curado por ele na ocasião do batismo, como aconteceu com o Imperador Constantino Magno depois de ser catequizado e de receber o santo batismo dado pelo Papa São Silvestre. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

Souza-Araújo (1956) em seus estudos historiográfico identifica que as fontes

infectantes no Brasil tiveram a sua trajetória iniciada pelos portugueses em 1500 e

pelas expedições espanholas ente os anos de 1580 a 1640, especificamente para a

Região Sudeste. Já para o Nordeste os holandeses foram os responsáveis pela

propagação da doença, entre os anos de 1624 a 1654 e os franceses em meados de

1757 para a Região Sul.

Já Madel (1982), refere que no século XVII, a enfermidade chega ao Brasil

trazido pelos colonos portugueses, italianos, alemães e escravos africanos. No

entanto o controle da doença só vem acontecer no decorrer do século XVIII, desde

que as autoridades priorizaram as práticas de higienização do meio urbano das

principais cidades do Brasil, com o recrudescimento da epidemia da febre amarela,

fato que interferiam diretamente na base da economia agroexportadora. Cidades

portuárias como São Paulo, Santos e Rio de Janeiro foram as primeiras a iniciarem

às obras de saneamento com organização das redes de água e esgoto, afastar

cemitérios dos centros da cidade e criar normas para enterrar os mortos, controle de

alimentos e outros produtos de consumo humano passaram a ser fiscalizados

através de medidas das autoridades coloniais e filantrópicas.

Segundo Auvray (2005), com a chegada da família Real ao Brasil em 1808,

foi criada a Polícia Médica para vigiar as condições de vida da população a fim de

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evitar novas epidemias. A preocupação com a saúde, especialmente a da Corte,

decidiu o saneamento dos portos com fiscalizações severas nas embarcações; este

fluxo de entradas de pessoas e mercadorias era considerado agentes causadores

da lepra. Eram exigidos os conhecimentos dos tipos de doenças e o número de

óbitos ocorridos durante as viagens para que a embarcação fosse liberada. A

tripulação sadia ou não, teria que cumprir um período de quarentena nos lazaretos,

até que as autoridades sanitárias as liberassem para que pudessem circular na

cidade.

As primeiras iniciativas de controle da lepra foram tomadas com a

regulamentação do combate à doença, por ordem de D. João VI. Estas providências

limitavam-se à construção de leprosários e a uma assistência precária aos doentes.

Em 1713, foi fundado o Hospital Colônia no Recife. Em 1740, a Fundação do

Hospital Colônia no Rio de Janeiro. Em 1755, Fundação do Hospital Colônia na

Bahia. O Hospital Colônia de São Paulo foi fundado em 1789. Em 1862, foram

registrados os primeiros casos, os quais até o fim da monarquia atingiram a 12

(doze) na Capital do Estado do Rio de Janeiro. Em 1899, foram notificados 20

casos, sendo crescente a endemia nos anos seguintes e entre 1915 a 1920 já

contávamos com 120 casos diagnosticados. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

No Brasil, os principais nomes que denunciaram o descaso no combate à

endemia foram Oswaldo Cruz e Alfredo da Matta, que trouxeram, com isso, medidas

legais para implementar o isolamento compulsório dos doentes. As ações de

controle de então priorizavam a construção de leprosários em todos os estados

endêmicos, o censo e o tratamento pelo óleo de Chaulmoogra. Após 15 anos desse

tipo de tentativa de controle da doença, viu-se que a frequência da hanseníase não

se reduzia nos países que as implantaram. (SOUZA-ARAÚJO, 1956).

Conforme Costa (1985), com a revolução industrial a medicina passa a ter

interesse sobre os corpos dos trabalhadores, fase da medicina social - doenças

como lepra, tuberculose passam a ter controle pelo Estado capitalista que tinha

interesse na força de trabalho, assim sendo necessário investir em medidas de

prevenção e controle de doenças através de decretos federais classificando as

doenças de notificação compulsória e o conceito de comunicantes e contatos.

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Medidas mais brandas passaram a vigorar a partir da proposta do sanitarista

Eduardo Rabello, já que o mesmo tinha experiências negativas com confinamento

compulsório passou-se a adotar os confinamentos domiciliares que, por sua vez, só

não se revelou capaz de controlar a endemia e contribuiu muito para aumentar o

medo e o estigma associados à doença. O desconhecimento sobre a sua

transmissibilidade ainda hoje promove rejeição pela sociedade e até mesmo por

profissionais de saúde. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

Segundo Auvray (2005), algumas formas de tratamento alternativo também

foram testadas como no caso o uso do óleo de chaulmoogra o qual foi conhecido por

muito tempo no Oriente como remédio para a lepra e introduzido na Europa em

meados do século XIX. O tratamento consistia em uso interno e externo, provocando

reações fortes nos pacientes. Outra forma de tratamento era a eletrocauterização

das lesões cutâneas. De um modo geral, os tratamentos disponíveis, naquela época,

eram verdadeiras torturas para o paciente. O imaginário popular acreditava que

urina de burro, picadas de vespas ou de cascavel, infusões feitas a partir de

inúmeras plantas, raízes e azeite de chaulmoogra poderiam aliviar ou curar a lepra.

A partir de 1947 passou a ser utilizado o medicamento específico chamado

Sulfona, que trouxe esperanças de melhora para o portador do mal de Hansen.

Embora esse medicamento tenha dado bons resultados em alguns pacientes, foram

notadas também pessoas resistentes ao tratamento. (SOUZA-ARAÚJO, 1946).

A Clofazimina foi introduzida no tratamento da hanseníase em 1960, e a

Rifampicina, na década de 70. No início dos anos 80, foi empregado a

poliquimioterapia, que era uma combinação de drogas bactericida e bacteriostáticas

e o esquema ROM (Rifampicina Ofloxacina e Minociclina) o que ajudou muito na

cura evitando resistências e diminuindo o tempo de tratamento.

A partir da década de 70 do século XX, com o advento da medicina

preventiva e da medicina comunitária, importada por John Hopkins University, e com

a figura do sanitarista moderno teve início a política de tratamento ambulatorial da

hanseníase.

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Segundo Bechelli et al. (1956), o Brasil teve a iniciativa pioneira de substituir

oficialmente o termo lepra por hanseníase no ano de 1976, cujo propósito foi o de

minimizar o preconceito e o estigma ligado ao termo. Essa medida, entretanto, não

tem se mostrado satisfatória, porque não foi universal, assim o termo continua sendo

utilizado como sinônimo de lepra. Em segundo lugar, porque essa adoção não foi

acompanhada de uma ação educativa no sentido de mudar a atitude das pessoas

diante da doença.

A partir da década de 80, no Brasil, foi implementada uma profunda reforma

do sistema público de saúde, culminando com o surgimento do Sistema Único de

Saúde (SUS) na Constituição Federal de 1988, emerge após um intenso processo

de sucessivas mudanças na política de saúde, iniciado ainda na década de 70 e

acelerando a partir da década seguinte, mais especificamente a partir do ano de

1983.

Nessa época, a política de saúde teve como propósito a desativação de asilos

e promover a integração do paciente à sua família. Este esforço, no entanto,

surpreendeu os técnicos que trabalhavam nesse processo - a resistência dos

doentes em deixar os asilos, pois, após muitos anos de segregação social e familiar,

a maioria deles demonstrava total despreparo para gerir suas próprias vidas e

optaram por continuar morando nos asilos, em processo de reestruturação

gradativa.

Com a poliquimioterapia (PQT), a classificação das formas clínicas e o

tratamento mudaram completamente. O que passou a ser realmente importante é

saber classificar o paciente em paucibacilar (Pb) ou multibacilar (Mb) para decidir o

tipo de tratamento a ser empregado.

As unidades especializadas em hanseníase transformaram-se em

sobrevivências anacrônicas, tendo em vista que qualquer unidade e qualquer

médico deveriam ter condições de diagnosticar e tratar a hanseníase. A falta de

treinamento e preparo dos profissionais de saúde em lidar com essa moléstia é o

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principal obstáculo que impede a descentralização do tratamento da hanseníase

pela rede pública.

Segundo o Portal da Saúde (2008), o Programa Nacional de Erradicação da

Hanseníase (PNEH) estabeleceu, em 2004, o redirecionamento da política de

eliminação da doença enquanto problema de Saúde Pública e da atenção à

hanseníase no Brasil, em um novo contexto que permite aferir a real magnitude da

endemia do País. O coeficiente de prevalência a partir de 2004 passou a ser de

ponto (casos em curso de tratamento) e não em registro ativo, como era calculado

em 2003. O princípio básico, fundamentado na correção do cálculo do Coeficiente

de prevalência, proporcionou nova visibilidade da distribuição e da concentração de

endemia no território nacional, permitindo estudos comparativos, análises

circunstanciais e identificação de tendências nos diferentes grupos populacionais

das regiões geográficas do País.

1.3 Histórico da Hanseníase no Ceará

As políticas de controle da hanseníase no Ceará estão muito ligadas às

políticas de controle da hanseníase no Brasil. No primeiro momento, de acordo com

o modelo vigente no País, as ações eram voltadas para o âmbito bacteriológico,

movidas pelo objetivo de proteger a sociedade do contágio. O Estado desenvolvia

uma ação saneadora através do isolamento compulsório nos Hospitais Colônia,

como forma de controlar a hanseníase. Nesta fase, surgiram os leprosários e

preventórios.

O Serviço de Profilaxia Rural foi implantado em agosto de 1919, sendo

responsável pelo mesmo o Dr. Antônio Gavião Gonzaga, que encarregou como

fichadores dos hansenianos, os doutores Nelson Catunda e Atualpa Barbosa Lima,

que realizou o primeiro fichamento de um escravo vindo do sul do País para a

cidade de Sobral. O caso número um fala mais de uma questão operacional que

propriamente epidemiológica, analisa a Dra. Célia Rolim, em seu livro Hanseníase

em versos, gráficos e sensibilidade. (CASTRO, 2005).

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Historicamente, a doença foi notificada, primeira vez, no Estado do Ceará em

1867. Após trinta e oito anos, Barão de Studart ao realizar um censo já registrou 32

casos (Jornal Correio do Ceará de 22 de Janeiro de 1925). Em 1918, foram

registrados 82 casos de lepra em todo o Estado (Jornal do Comércio, 29 de Outubro

de 1926). Dr. Atualpa Barbosa Lima, no ano de 1921 fez um censo e publicou um

trabalho intitulado “A lepra no Ceará”, onde relata:

Tenho o prazer de afirmar, sem medo de contestação, que o censo dos leprosos feito por mim é o mais completo que já se fez no Ceará, não sei mesmo se há, no Brasil, um outro Estado que tenha este serviço organizado com tão apaixonado e meticuloso trabalho. Assim, apurei a existência de 428 morféticos, sendo 239 homens e 150 mulheres e 30 crianças. Esses doentes foram fichados em 59 municípios, figurando como principais focos Fortaleza, com 151; Jaguaribe-mirim, com 36; Sobral, com 27; Iguatú, com 22; Acaraú, com 16; Granja, com 10. Além desses foram fichados também 25 casos suspeitos. Diz ainda [...] que os doentes assistidos vinham muitas vezes da Amazônia e estimou para o ano de 1927, a existência de, no mínimo, 1.000 hansenianos no Ceará. (LIMA, 1988).

Dr. Atualpa Barbosa Lima escreveu ainda “Memórias de um Leprosário” em

meados de 1925 a 1926.

Na década de 20 do século passado, mas especificamente por volta de 1926,

vários doentes esmolavam pelas ruas de Fortaleza em situação degradante e

perigosa. Em 1927, o jornal Brasil Médico publica a construção de um leprosário no

Ceará. O projeto advindo do movimento da Sociedade Civil. Esta iniciativa contou

com a participação de benfeitores como do português Luis Ribeiro da Cunha o qual

anteriormente havia doado ao Governo do Estado um terreno as margens da

estrada de ferro de Baturité, distante 80km de Fortaleza para a construção de um

colégio orfanológico. Com o surgimento de um projeto de construção do leprosário, o

Governo determina a construção da Leprosaria de Canafístula. A construção contou

com o patrocínio do Coronel Antônio Diogo, que propões construir com seus

próprios recursos disponibilizando a quantia de cem contos de Reis para este

empreendimento e mais três contos de reis mensais para sua manutenção enquanto

a administração do Estado do Ceará ficasse a cargo do presidente Desembargador

José Moreira da Rocha.

Segundo Lima (1988, p.11), “os dados estatísticos nos anos seguintes

apresentaram oscilação, acreditou-se até numa possível erradicação da doença, no

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entanto os estudos epidemiológicos surpreenderam os leprólogos daquela época,

com a indicação de uma incidência maior no meio jovem”.

Outra iniciativa de controle da lepra se deu quando em 26 de janeiro de 1934,

o Dr. Menescal e o Dr. Antônio Justa foram designados para dirigirem o Dispensário

de Lepra Oswaldo Cruz, em Fortaleza. As instalações do Dispensário Oswaldo Cruz

foram fortemente impugnadas pela imprensa em geral e principais autoridades do

Departamento de Instrução Pública, que determinavam a sua remoção, por ser um

mero ponto de passagem de lázaros que vinham para exame ou para fazer

tratamento. Além destas instituições em Fortaleza, havia um outro Dispensário,

localizado em Sobral e denominava-se de Eduardo Rabello.

Segundo Lima (1988), antes da Colônia, os Lázaros viviam aldeados no

Arraial Moura Brasil, localizado na leste-oeste, em Fortaleza, na residência do

lázaro, João Augusto de Souza (Loló), o qual possuía três compartimentos e uma

cozinha. Não tinha banheiro, nem água e nem energia. Ao lado foram construídos

barracos de palha, sendo posteriormente incinerados, já que havia sido criada a

Colônia deixando apenas a casinha de taipa do Loló, que faleceu logo, em quatro de

setembro de 1928. Com sua morte, a casa foi alugada pelo Serviço de Saneamento

Rural, que não dispunha de recursos, para receber provisoriamente os lázaros em

trânsito para Antônio Diogo. Abusivamente, tornou-se uma residência permanente

de uma hanseniana vinda de Sobral com três filhos, dos quais um faleceu em

Fortaleza, pois se recusou a internar-se. Depois, passou a receber doente expulso

da Colônia, por medidas disciplinares e, com o passar do tempo, superlotou de

pacientes aguardando vagas para internamento. Em dezembro de 1934, dez

pacientes, ali se comprimiam, esperando vagas para serem recolhidos, à míngua,

sem amparo, recebendo irregularmente uma cota de carne, feijão e farinha, e às

vezes, café e açúcar, que mal lhes mitigavam a fome, levando-os a esmolarem pelas

vizinhanças. Com a Colônia superlotada, foi determinada então, a construção de três

barracões no morro, com o material destinado ao abrigo dos flagelados pela seca de

1932, para agasalhá-los temporariamente, enquanto não se preparavam habitações

definitivas.

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Conforme Souza-Araújo (1956), em 31 de dezembro de 1934, o número de

casos registrados no Ceará chega a 423. O período compreendido entre 1935 a

1940 registrava 1.280 casos no Ceará. Em 1940, o leprosário Antônio Diogo,

naquela época, estava superlotado, contando com 330 pacientes internos.

O Serviço de Profilaxia da Lepra foi estruturado nos anos de 1940 a 1943,

pelo Decreto-Lei 686, de 23 de março de 1940, processo 595/39, assumindo Dr.

Walter de Moura Cantídio, durante a Interventoria de Menezes Pimentel, o que deu

novo impulso ao tratamento e profilaxia da hanseníase, e teve início o processo de

controle da hanseníase no Estado do Ceará (BARBOSA, 1994).

Com a superlotação do leprosário Antônio Diogo e a constatação feita pelo Serviço de Profilaxia da Lepra do aumento de doentes no Estado, foi evidenciada a necessidade de ampliação da assistência aos doentes através de instituições de confinamento. Assim sendo surge em 1942 um novo leprosário, não mais por iniciativa da sociedade civil, mas, subsidiado com recursos da União em parceria com o Estado. Esta instituição foi inicialmente denominada de Colônia São Bento, recebendo posteriormente o nome de Colônia de Antônio Justa, situada n Município de Maracanaú e atualmente integrada a região metropolitana de Fortaleza. (SOUZA-ARAÚJO, 1956, p.556).

De acordo com Souza-Araújo (1956), ainda em 1942, foi construído o

preventório Eunice Weaver em Maranguape, com a finalidade de abrigar filhos de

portadores de hanseníase, cujos lares haviam sido desfeitos, ou crianças nascidas

em leprosários.

Com o advento da medicação da Sulfona, em 1947, e os novos

conhecimentos acerca das formas não contagiosas da doença, decidiu-se pelo

tratamento ambulatorial, através de dispensários de lepra criados em todo o País. É

importante registrar que somente em 1947 o medicamento passou a ser utilizado no

Estado do Ceará.

Em 7 de maio de 1962, através do Decreto do Ministério da Saúde nº 968, foi abolido o “internamento compulsório”, medida esta que mudava radicalmente a vida das pessoas atingidas pela hanseníase que viviam ainda em regime de exílio, como também para os novos casos diagnosticados. Importante tomada de decisão política também aconteceu em 14 de maio de 1976, através da Portaria do Ministério da Saúde nº 165, frisando o tratamento ambulatorial, entretanto o processo de reestruturação dos hospitais colônias do Brasil somente teve início em 1986. (LIMA, 1988, p.96)

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Segundo o Ministério da Saúde (2008), o Estado do Ceara ainda apresenta

regiões de importância Epidemiológica: Brejo Santo, Canindé, Caucaia, Crato,

Fortaleza, Iguatú, Itaitinga, Jaguaribe, Juazeiro do Norte, Lavras da Mangabeira,

Maracanaú, Maranguape, Missão Velha, Pacatuba, Paracuru, Pentecoste,

Quixeramobim, Santana do Acaraú, São Gonçalo do Amarante, Sobral e Várzea

Alegre. (INFORME EPIDEMIOLÓGICO, SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO

CEARÁ. AGOSTO 2008). Os níveis de magnitude da doença demonstram a

necessidade do uso de estratégias para o desenvolvimento de atividades que

impactem a transmissão da doença, de modo a atingir taxas inferiores a um caso por

10.000 habitantes em cada município. Com a implantação em 2006 pelo Ministério

da Saúde do Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão, o Ceará vem

desenvolvendo um processo de descentralização e reorganização dos níveis de

saúde, como forma de melhorar a assistência contínua e integral. O Pacto pela Vida

estabelece um conjunto de compromissos sanitários considerados prioritários,

pactuados de forma tripartite, a ser implementado por cada ente federado. Esses

compromissos deverão ser efetivados pela rede do SUS, de forma a garantir o

alcance das metas pactuadas. (Portaria GM; de 399, de 22 de Fevereiro de 2006).

As ações preventivas, promocionais e curativas que vêm sendo realizadas com

sucesso pelas equipes de Saúde da Família, já evidenciam um forte

comprometimento com os profissionais de toda a equipe, com destaque nas ações

dos agentes comunitários de saúde, que vivem e vivenciam em nível domiciliar, as

questões complexas que envolvem a hanseníase.

As ex-colônias de Antônio Diogo em Redenção e em Maracanaú a de Antônio

Justa quando, por ocasião de sua reestruturação, foram abertas as ruas em seus

interiores e as casas que já eram ocupadas por pacientes e ex-pacientes, puderam

receber seus familiares, que devido às dificuldades financeiras, passaram a residir

naquelas casas, trazendo seus filhos, esposas e até netos.

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2 DO LEPROSÁRIO CANAFÍSTULA AO CENTRO DE CONVIVÊNCIA ANTÔNIO DIOGO

Vale a pena relembrar a origem de Canafístula, hoje Antônio Diogo, que em

14 de março de 1880 foi contemplada com a inauguração da Estação da RFFSA (ex

RVC) e em abril de 1880, o comendador Luís Ribeiro da Cunha doou ao estado,

terras para a instalação de uma colônia agrícola para servir de asilo aos órfãos da

grande seca de 1877/1879, resultando na instalação da Colônia Agrícola Cristina.

Figura 2. Estação Ferroviária – Abandonada

Fonte: Da própria autora

Ao longo dos anos, a finalidade da Colônia Agrícola foi experimentando

grandes mudanças e ajustamentos segundo os problemas sociais que surgiam. Num

primeiro momento, transformou-se em uma Colônia Correcional para menores

infratores de difícil convivência na sociedade, com a denominação popular de

“Buraco de Santo António”. Posteriormente, tornou-se campo de atividades agrícolas

do Estado, além do desmembramento de parte desta área em 1928, para a

construção do Leprosário Antônio Diogo, hoje Colônia dos Hansenianos.

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O Distrito de Antônio Diogo, a exemplo da cidade de Redenção, tem

características urbanas. Sua área mais antiga está implantada às margens da

estrada CE-060 e também à estrada de ferro Fortaleza/Baturité, em terreno estreito,

de topografia plana, limitado ao Norte e Sul por pequenos riachos tributários do

Riacho do Susto. O terreno favoreceu o traçado urbano predominante, uma pequena

malha ortogonal com vias pavimentadas destinadas ao tráfico em geral.

O interesse das autoridades sanitárias pelo problema da lepra passa a ser

evidenciado quando dirigia os serviços de Higiene do Estado o Dr. Antônio Gavião

Gonzaga (1921). Entretanto, somente na administração do Serviço de Saneamento

Rural pelo Dr. Francisco Amaral Machado é que se concretiza a idéia da fundação

da leprosaria de Canafístula, na fazenda Cristina no Distrito de Antônio Diogo, em

1927.

É importante destacar que a decisão da construção da colônia, embora sendo

um desejo dos fortalezenses de livrar-se da presença dos lazarentos nas suas ruas,

dividiu opiniões da população de Redenção, a respeito da localização da mesma na

comunidade de Canafístula. Embora fosse explicita a necessidade da criação de um

sistema de isolamento de um grupo de pessoas contaminadas com uma doença

carregada de estigmas e preconceitos devido à aparência repugnante, a

contaminação e a certeza da incurabilidade. Fato destacado por Souza-Araújo

(1956, p.229) em relatos, através de noticias veiculadas à época:

[...] a imperiosa necessidade de um lugar onde sejam recolhidos, tratados ou isolados os leprosos é indiscutível; pois, ainda que tais medidas fossem inteiramente destituídas de valor higiênicas, esses miseráveis precisam de assistência que não podem ter em nenhum dos estabelecimentos existentes no Estado. Os mendigos leprosos devem ser retirados da via pública, quando mais não fosse, por uma consideração de ordem estética, e não podem ir para o asilo de mendicidade; uns carecem de um retiro onde não vejam e não sofram a repulsa que seu aspecto provoca aos mais felizes, todos necessitam de tratamento, que, alguns parecem poder aproveitar, contanto que feito a tempo e convenientemente; nada disto se faz entre nós.

O desejo da sociedade fortalezense expressava a emergência do

disciplinamento do espaço e dos corpos dos doentes, já que os mesmos circulavam

expondo as suas “estéticas deformadas”, e ainda mais o risco de contágio que a

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doença da lepra expunha a população. O leprosário significava, conforme Foucault

(1999, p.123) a disciplina através da clausura, do isolamento e ao mesmo tempo do

quadriculamento do espaço, onde “[...] lugares determinados se definem para

satisfazer não só a necessidade de vigiar, de romper as comunicações perigosas,

mas também de criar um espaço útil [...] a vigilância médica das doenças e dos

contágios é aí solidária de toda uma série de outros controles”. Daí o grande

engajamento da sociedade civil na campanha para construção do leprosário,

conforme podemos observar nos parágrafos seguintes.

Segundo Lima (1988), o terreno onde foi construída a colônia foi doado pelo

português Comendador Luiz Ribeiro da Cunha à Província do Ceará, tendo como

intenção do doador a construção de uma colônia para órfãos. Posteriormente o

presidente da Província, Moreira da Rocha, autorizou a construção do leprosário, o

qual manteve o nome original da fazenda Canafístula. (Figura 3)

Figura 3. Entrada da Colônia Antônio Diogo

Fonte: Da própria autora

A assistência aos pacientes hansenianos, mesmo sendo idealizada pelo

Serviço de Saneamento Rural se concretiza com a doação de terrenos, material de

construção e até de utensílios domésticos e de manutenção dos pacientes como

podemos observar nas citações abaixo:

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[...] leprosário de Canafístula, teve sua pedra fundamental lançada em 1924, mas somente em 1927 teve início a sua construção com recursos doados pelo industrial Coronel Antônio Diogo conforme dados publicados no Brasil Médico: o Coronel propôs construir por sua própria conta, com até 100 (cem) contos de réis, e dando mais 3 (três) contos mensais para sua manutenção, enquanto administrasse o Ceará, o governador Desembargador, José Moreira da Rocha (SOUZA-ARAÚJO, 1956, p.559)

Assim, de acordo com publicação do jornal O Povo, em quatro de junho de

1928, sabe-se que:

Ao povo do Ceará, dentro de 40 dias, precisamos inaugurar o nosso leprosário de Canafístula e temos a necessidade dos socorros urgentes dos cearenses de boa vontade para as instalações do mesmo. É impossível continuarmos a manutenção dos leprosos em Fortaleza, tamanhas são as despesas semanais. Em Canafístula, a cozinha será coletiva, diminuindo assim, de forma considerável, as despesas de cada mês. Estamos gastando mais de três contos de réis mensais e os doentes não cessam de fazer reclamações, é certo que não lhes falta o necessário, mas não se acham agasalhados como se faz preciso. Sabemos que o comércio e o povo de nossa terra acham-se em sérias dificuldades. O caso, porém, urge, e as necessidades são prementes. Custa-nos demais pedir alguma coisa a quem tanto já nos tem vindo em auxílio. Mas, por uma causa como esta, de caridade altamente social, repetimos confiante: precisamos do auxílio dos cearenses de boa vontade para as instalações da diretoria e das casas dos pobres morféticos. Duas mesas de jantar [...] arroz, farinha, feijão [...]. Informamos autorizadamente o público de que os morféticos, em geral, se acham muito bem dispostos para o isolamento.

Figura 4. Pátio interno da área do Convento onde funciona a administração.

Fonte: Da própria autora.

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A Colônia teve duas inaugurações: a primeira, em uma solenidade, dia 1º de

agosto de 1928, somente com a presença das autoridades, evitando o contato com

os doentes, fato que gerou comentários relacionados ao medo e ao preconceito em

relação à doença. Os doentes só se dirigiram ao leprosário no dia 9 de agosto,

merecendo destaque na imprensa local, o jornal O Nordeste, de sete de agosto de

1928, o qual dava a seguinte notícia:

Na próxima quinta-feira, às 7 horas em ponto, partirá da Central o trem que deverá levar os pobres lázaros à Colônia de Canafístula. Os doentes tomarão o comboio nas proximidades da capela dos Navegantes. A composição do trem referido está assim disposta: um carro aberto para o transporte da bagagem de doentes; uma prancha que levará o caminhão que fará o transporte dos doentes da estação de Canafístula ao Leprosário; um carro para passageiros, pintado de novo, reservado exclusivamente aos leprosos e um carro especial para o Médico e o Sacerdote que devem acompanhar os doentes até a Colônia. (Figura 3)

Conforme Lima (1988, p.25), “o trem parará nas estações intermediárias, a

fim de receber os leprosos que, porventura, existam nas localidades. Os vendedores

ambulantes não deverão vender cousa alguma aos passageiros do mencionado

trem, uma vez que no mesmo vai o necessário para os doentes”.

Efetivamente, os doentes chegaram ao Leprosário no dia 9 de agosto de

1928, em número de quarenta e quatro. Sendo ainda destaque em nota no mesmo

jornal, no dia seguinte, a transferência dos pacientes para a colônia a celebração de

missas em todas as Capelas da Arquidiocese de Fortaleza em intenção do Coronel

Antônio Diogo, “á quem muito devem os nossos inditosos patrícios doentes” (LIMA,

1988, p.26). Destes quarenta e quatro doentes, trinta e cinco eram de origem da

capital do Estado, Fortaleza e os demais oriundos de outras localidades.

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Figura 5. Enfermaria feminina

Fonte: Da própria autora

Os doentes passaram a abrigar-se nas dependências do leprosário em

condições de precariedade: sem nenhuma mobília, equipamentos, água potável,

saneamento básico, lavanderia ou energia elétrica. Os pacientes aglomeravam-se

em redes estendidas e separadas apenas em ala feminina e masculina. Portanto,

não proporcionando o mínimo de dignidade humana. Quanto à alimentação, eram

fornecidas três vezes ao dia: café da manhã, almoço e jantar. Algumas vezes

serviam lanches. Conforme relata Lima, a manutenção financeira era feita através de

doações para a inauguração e do Estado em “vinte e quatro contos de réis anuais,

que deram para suprir suas necessidades até 31 de Dezembro de 1928”. (LIMA,

1988, p. 69).

De acordo com Lima (1988), em 4 de abril de 1929, foi realizado um apelo na

imprensa para obtenção de recursos para os lázaros. O Governo comoveu-se com a

situação e o Presidente Matos Peixoto, após receber uma comissão do Centro

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Médico Cearense, e ouvir as reivindicações, aumentou em doze contos de reis

anuais a manutenção da leprosaria.

Ao assumir a direção do Serviço de Saneamento Rural, em agosto de 1929, o

Dr. Samuel Uchôa focalizou a atenção pública para a Leprosaria. Com os

melhoramentos lá introduzidos, iniciou os primeiros movimentos em favor dos filhos

sadios dos lázaros, criando a Creche Silva Araújo e inaugurando as suas

instalações, a 29 de maio de 1930. Era um casarão, estilo antigo, com uma área

livre no centro. A Creche contava com dois dormitórios, de 15 lugares cada um, para

meninos e meninas. Ficava defronte do convento das Irmãs Capuchinhas, em

Antônio Diogo. Hoje o prédio encontra-se à disposição da prefeitura de Redenção,

que, segundo informações de funcionários a mesma, não possui recursos

financeiros para reformá-lo, servindo apenas para abrigar duas famílias que lá se

instalaram como invasoras.

No dia de sua inauguração foram também abertos, no Leprosário, o

dispensário médico, a cozinha, o refeitório e o cassino. A bênção das instalações

esteve a cargo do Monsenhor José Quinderé, na presença do Dr. Matos Peixoto,

Presidente do Estado.

Figura 6. Serviço de Arquivo Médico.

Fonte: Arquivos da Colônia Antônio Diogo.

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Figura 7. Enfermaria Masculina

Fonte: Arquivos da Colônia Antônio Diogo.

Relatando este acontecimento o jornal O Povo (apud LIMA, 1988, p.72)

publica trechos da fala de Dr. Antônio Justa, onde é ressaltado a importância de um

abrigo para os filhos dos lazarentos como forma de vigilância e controle da doença:

[...] “Creche Silva Araújo - Complemento essencial e indispensável da Leprosaria, é um abrigo para os filhos dos Lázaros, não só para as crianças na segunda infância, todas comunicantes e demandando estreita vigilância médica, para que surta o máximo de eficiência o tratamento chaulimoogrico, de proclamada eficácia no período incipiente da lepra, e que só assim pode ser surpreendida como para os rescenatos da Leprosaria, que, retirados imediatamente do meio infectante, ficam geralmente ao abrigo da contaminação.

A situação de penúria do Leprosário também repercutia na Creche, onde

estavam os filhos dos hansenianos. O jornal O Povo, em sua edição de 9 de maio de

1931, faz a seguinte denuncia e apelo:

Na creche de Canafístula, onde são recolhidas as criancinhas nascidas no Leprosário Antônio Diogo, está reinando extrema pobreza. Filhas de pais doentes, essas crianças não herdam a lepra, é verdade, mas nascem fracas. Herdam a tristeza do casal martirizado. Vem ao mundo e, logo ao nascer, são retiradas dos carinhos maternais que as podem contagiar da terrível doença, e vão para a Creche, fundada por Samuel Uchôa, um pouco afastada do Leprosário, onde são criadas pelas bondosas Irmãs da

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Caridade. O número de leprosos cresceu no leprosário. Há ali mais de duzentos. O número de crianças aumentou na Creche. E os recursos financeiros para manter os dois estabelecimentos não foram elevados. Há privações. E as crianças da Creche, nutrindo-se com alimentos impróprios, estão sofrendo as conseqüências da pobreza que ali reina, conforme descreveu, neste jornal, o Dr. Antônio Justa. A Imprensa está agindo perante o Governo e as municipalidades a fim de obter-se a indispensável elevação da verba para custeio daqueles dois estabelecimentos. Antes, porém, de alcançarmos o aumento das subvenções, O POVO lança um apelo a toda a família de Fortaleza, a fim de repartir, com as criancinhas da Creche, as migalhas dos seus filhinhos sadios e venturosos.

Devido à superlotação da Colônia, o Dr. Uchôa, que em vésperas de deixar o

Serviço de Saneamento Rural lançou a pedra fundamental de um Pavilhão-

enfermaria, com a capacidade de vinte leitos.

Conforme Souza-Araújo (1956) é importante destacar que com o término de

mandato do Governador Desembargador Moreira, o Coronel Antônio Diogo se

desobrigou da mensalidade dos três contos. Neste período de 1928, o leprosário de

Canafístula continuou graças, sobretudo, aos esforços e patriotismo de Dr. Antônio

Justa e com muita boa vontade da sociedade de Fortaleza com as campanhas e

donativos durante doze anos pela sociedade de Fortaleza.

A luz que clareava as noites de Canafístula era de lamparinas, a iluminação

elétrica somente foi inaugurada nove anos depois, a primeiro de Agosto de 1937, às

18 horas, segundo notícias divulgadas pelo Jornal O Estado, edição de 4 de Agosto

de 1937.

A administração do leprosário ficou sob a responsabilidade das irmãs

capuchinhas durante 70 anos (1928 a 1998), tendo a Irmã Maria Assunção como

primeira Superiora; a Irmã Egídia Maria como a enfermeira que administrava as

medicações orais e injetáveis; a Irmã Iluminata, responsável pela cozinha e Irmã

Joaquina, pelo refeitório. (LIMA, 1988)

Conforme Lima (1988), os primeiros médicos que fizeram parte da equipe de

leprologistas em Canafístula foram: Dr. Antônio Alfredo da Justa, Valter Frota de

Magalhães Porto, Antônio Francisco Rodrigues de Albuquerque, Francisco de

Menezes Pimentel, Walter de Moura Cantídio, José Maria de Andrade, Carlos

Pereira Viana (30 anos de Direção da Colônia Antônio Diogo), Luiz Costa, Lauro

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Marcionilo Solheiro, Francisco Vitorino Luna, Manoel Odorico de Moraes, Carlos

Alberto Odorico de Moraes.

Ainda para Lima (1988), a visita médica era realizada semanalmente, junto

com o Guarda Sanitário, João Luiz de Almeida Filho, que aplicava as injeções de

Ésteres de Chaulmoogra em alguns pacientes. A viagem era facilitada por Troles –

Motores da Estrada, cedidos por Abraão Leite diretor da Rede de Viação Cearense.

Os primeiros quarenta e quatro pacientes foram transportados até a

localidade de Antônio Diogo em um vagão de trem o qual era exclusivo para estes

pacientes. É importante destacar que o mesmo foi incinerado como medida de

controle da doença. Depois continuaram utilizando outros vagões reservados só

para este serviço. (LIMA, 1988)

Figura 8. Pátio interno da Colônia Antônio Diogo – Coluna da hora

Fonte: Da própria autora

A partir de 1929, a situação era precária e agonizante no Leprosário, os

abrigados eram verdadeiras deformações humanas e os benfeitores recuavam

diante do alto custo dos fretes (Publicação do jornal A Nação, 1/07/1931). Situação

denunciada através de publicação de periódicos, fato que podemos observar:

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Os leprosos estão fugindo da sede e da fome! E vêm perambular pela Capital, pedindo esmolas – conseqüência da dissidia oficial. A população de Porangaba assistiu ante-ontem, cheia de horror e mágoa, um espetáculo que de há muito estava esquecido. Alguns leprosos apareceram nas ruas da vizinha povoação, pedindo esmolas. Eram em número de seis. O povo não fugiu ao seu dever de caridade, pois forneceu-lhes água e comida. Interrogados, os infelizes lázaros explicaram que haviam fugido da Colônia de Canafístula. Não puderam mais suportar a fome e a sede que os vão matando ali, lentamente. E, burlando a vigilância dos empregados, desapareceram, vindo para a Capital em busca de esmolas para o seu sustento e de água para a sua sede. Adiantaram também que não são somente eles os que se fatigaram da dolorosa situação em que se vêem. Muitos outros deliberaram também deixar a Colônia. E como a Administração da mesma não pode manter os internos, não opõe embargos aos que se dispuserem a abandoná-la, visto que estão a morrer à míngua. É de se esperar, portanto, dentro de breves dias, um medonho êxodo dos desgraçados, que a terrível moléstia de Lázaro segregara do convívio social. A situação que nos depara é na verdade penosa. Vamos ter a cidade, dentro em pouco, cheia dos infelizes contaminados de lepra, a espalharem o horror e o pânico entre a população. Tudo por via da desídia do Governo, que não se dispôs até agora a atender os instantes apelos do Sr. Dr. Antônio Justa, digno Chefe do Serviço Sanitário do Estado, refletida em toda imprensa, e os desta mesma, que repetida vezes e com a maior veemência, tem clamado por uma providência pronta e completa das autoridades, no sentido de melhorar as condições da Colônia Leprosaria de Canafístula. O que se reclamava não era uma coisa impossível”. (Publicação do jornal A Nação, 1/07/1931) AGONIA DOS LÁZAROS: Diante da notícia ontem veiculada por um matutino de que os leprosos começavam a fugir da Leprosaria de Canafístula, em face da fome e da sede que ali se verifica, resolvemos ouvir sobre a grave ocorrência, o Dr. Antônio Justa, digno Chefe do Serviço Sanitário neste Estado. Fomos encontrá-lo em seu gabinete, na repartição da Profilaxia Rural, onde nos recebeu gentilmente, concedendo-nos as informações que desejávamos e que agora veiculamos, no sentido, principalmente, de acalmar o ânimo público naturalmente agitado e temeroso de uma invasão a esta Capital dos infelizes lázaros que vivem nos seus penosos dias naquele Instituto de proteção social. Ainda mais, o que nos informou o ilustre clínico virá por à luz meridiana a verdadeira situação do Leprosário, tal e qual, sem exageros, como também a alguns problemas respectivos da máxima importância, em parte ainda insolúveis. Dr. Antônio Justa afirmou: “..Sempre aparecem fugitivos.” embora provoquem trabalhos de sua parte quando se acham em Fortaleza e gastos da parte da repartição, procura convencê-los que viver ao léu, esperando a esmola de mãos estendidas, perambulando pelas ruas, é muito pior que estadiar na Leprosaria, apesar de ali não gozar todo o conforto necessário e desejado. E, para isso é preciso deixá-los, algumas vezes, permanecer como desejam, nos centros populosos, até que se convençam do contrário... Obedece, portanto a outras causas a fuga de leprosos do pouso comum em Canafístula. Em primeiro lugar a falta de conforto necessário de algum trabalho, finalmente de qualquer cousa que prenda os infelizes à vida no remoto abrigo com pouca comodidade, com a solidão, com a vida em comum, caracterizada pela promiscuidade como um dos seus máximos problemas, a falta d’água, escassa alimentação, homens e mulheres se misturam, não havendo lugares distintos para uns e outros,etc. Por último nos fez notar o digno entrevistado, o desamparo que sofrem os lázaros por parte de suas famílias, que os esquecem como se os tivessem sepultado. Lá uma ou outra lembra possuir um dos seus membros em Canafístula, enviando-lhe dádivas confortadoras. É simplesmente doloroso semelhante fato” (Gazeta de Notícias, 02/07/1931).

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Os pacientes faziam pequenos trabalhos de carpintaria e construção dos

móveis para uso interno. Seus familiares viviam dos recursos angariados pela

mendicância, pois padeciam do natural horror oriundo da moléstia e, mesmo depois

da separação, continuavam vítimas do preconceito e da rejeição da sociedade. As

crianças se viam desamparadas do socorro materno, pois ao nascer eram retiradas

das mães que, às vezes, nem sequer tinham chance de conhecê-las, sendo as

mesmas entregues no Educandário Eunice Weaver ou na Creche Silva Araújo,

defronte à Colônia, para abrigar os filhos sadios dos doentes. A mortalidade infantil e

as teratogênicidades eram frequentes, devido ao uso da talidomida. (LIMA, 1988)

Em Agosto de 1931 foi inaugurada a enfermaria Samuel Uchôa, com duas

grandes divisões: sala Dr. Amaral Machado e sala Monsenhor Tabosa; as mesmas

foram equipadas com móveis fabricados pelos próprios doentes. Dr. Antônio Justa,

no seu discurso alusivo ao ato, afirma que aquela homenagem ao Dr. Samuel Uchôa

era um dever de gratidão contraído para com o ilustre ex-diretor do Saneamento

Rural, pelos dirigentes do Leprosário, diante de sua ação brilhantíssima, em bem da

Saúde Pública, em nossa terra. Frisou o seu grande desvelo pela sorte dos leprosos,

trabalhando abnegadamente para minorar-lhes os sofrimentos. Apontou os

melhoramentos introduzidos na Leprosaria, pelo homenageado, como sejam, os 4

(quatro) pavilhões inaugurados em maio do ano passado (1930), bem assim a

inauguração da Creche Silva Araújo. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

Segundo Lima (1988), é importante observar que a situação dos pacientes da

colônia a partir do chamamento da imprensa repercutiu na esfera política do Estado,

quando da inauguração desta enfermaria contou com a presença de autoridades,

das quais se destacaram: Dr. Luiz Moraes Correia – Secretário do Interior e Justiça,

Major Montenegro – Ajudante de Ordens da Interventoria, Dr. João Leal, Dr. Urbano

de Almeida – Prefeito Municipal, Dr. Plínio Pompeu – Diretor das Obras Públicas, Dr.

Alencar Matos – Procurador Geral da República, Dr. Moreira de Souza, Sr. Edgard

Falcão – Presidente da Phenix Caixeiral, Dr. Virgilio de Aguiar – Representando o

“Ceará Médico”, Eduardo Uchoa – Representante do Dr. Samuel Uchoa, ex-diretor

do Saneamento Rural do Estado do Ceará, na época diretor da Saúde Pública no

Rio de Janeiro, Tertuliano Vieira, Dr. Antônio Justa – Diretor do Saneamento Rural

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do Estado e médico da Leprosaria, Isaías Cavalcante – Representante da “Gazeta

de Notícias”, Dr. Luiz Gonzaga Gomes – Representante de “A Razão”, Cardoso

Nunes – Representante do “Correio do Ceará”, João Luiz de Almeida.

Mas também é importante destacar a situação de exclusão dos pacientes na

nota redigida pelo o Jornal A Razão: Os doentes, em número de 188 conservaram-

se a certa distância, notando-se na fila dos menores, verdadeiras deformações

humanas (A Razão, 9 de Agosto de 1931).

Embora as autoridades tenham voltado o olhar para a colônia a crise se

aprofundava, é o que se observa nas publicações dos periódicos da época:

A lepra no Ceará assume proporções fantásticas. Em Canafístula jazem mais de 200 (duzentos) mortos vivos e outros tantos vegetam por fora, muitos deles nesta Capital, que não se recolhem ao Leprosário por falta de acomodações. O contágio vem sendo assustador. De vez em quando adoece uma pessoa conhecida no nosso meio e quem vive aqui nenhum espanto deve ter, se, quando menos esperar, a morféia se lhe manifestar. O Sr. Interventor precisa tomar conhecimento, sem demora, do problema da lepra, que é um dos problemas mais sérios do Ceará. Os lázaros passam sede, porque no lugar onde construíram a Leprosaria há absoluta falta d’água. Há necessidade premente de novas verbas para a Leprosaria de Canafístula. Se o Ilustre Sr. Carneiro de Mendonça nos permite a liberdade de uma sugestão, como s.s. declarou estimar ouvir, nós lhe diremos que mande chamar o Sr. Antônio Justa e com ele vá fazer uma visita ao Leprosário. São três horas de automóvel. E chegando lá, vista o seu avental branco e protetor e acompanhe o médico numa visita às casas dos morféticos, dentro do recinto condenado, ouça as reclamações dos doentes, veja-lhes as carnes apodrecidas largando os pedaços e, pelo que tiver visto e ouvido, deduza o valor do imenso cabedal de sacrifícios que possui acumulado esse notável médico Cearense, autoridade em leprologia, cujos trabalhos, as revistas norte-americanas espontaneamente traduzem e reproduzem. Dessa visita, temos certeza que s.s. chegará à conclusão de que se a Diretoria de Higiene deve ser exercida pelo Sr. Décio Parreiras, o Serviço de Lepra deve ficar a cargo do Sr. Antônio Justa, concedendo-se-lhe ainda duas vantagens que ele nunca pediu, mas que merece como ninguém mais: um aumento no mesquinho ordenado que recebe e uma pensão para sua família, caso venha a sucumbir, vítima do dever e da abnegação” (Correio do Ceará, 24/09/1931). A Colônia já tinha capacidade para abrigar 178 pessoas, e estava super-lotada, abrigando, 214 pacientes Destes, 17 eram menores e 1 (um) de dezoito anos. Todos habitavam a enfermaria Samuel Uchôa. Ficavam mal agasalhados, reunidos aos pares, em espaço restrito a um só. A água mal dava para o asseio corporal e limpeza, e por ser precária, as latrinas ficavam sujas e fétidas. A água potável era transportada de Acarape (14 Km), com vultuosas despesas. Foi um momento muito difícil e precário. A alimentação, medicamentos, gasolina, transporte, iluminação e abastecimento de água, cobria apenas a metade das necessidades. Dr. Antônio Justa fez uma carta para Dr. Amílcar Barca Pellon, Diretor de Saúde Pública, falando da carência de mais um pavilhão, pois a enfermaria havia sido destinada a outro fim apesar de ter sido construída para este

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intuito. Para amenizar, isto é, solucionar parcialmente a situação, foi determinado pelo Dr. Palhano de Jesus, através da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca, a escavação de 2 (dois) Poços Artesianos, mesmo a água não sendo potável. O Coronel doou três bombas-motor acionadas, uma por vapor e outras duas por cataventos, recolhendo água em um grande depósito de alvenaria (construção recente).

Figura 9. O caminhão e o automóvel do Serviço Sanitário Rural

Fonte: Arquivos do Hospital Colônia.

O caminhão – automóvel do Serviço Sanitário Rural, já velho, há seis anos

transportando os pacientes da estação de Canafístula até a Colônia, estava

arquejante. A doença era considerada uma das mais estigmatizantes e cruel das

enfermidades, conforme escritos:

Lepra: desgraçados aqueles que tem o organismo invadido por ela, que por si tornam o indivíduo um condenado ao exílio, ao afastamento, ao confinamento nos Hospitais, nos Sanatórios, nos Leprosários. É mais do que uma doença; vale uma condenação; fere o ser humano desde os tempos bíblicos, marcando o dedo com o ferro do pavor por parte dos outros; faz dele um réprobo, um banido; uma doença-terror que horripila e segrega, porque desconhecida a natureza do agente provocador. E então, o remédio é isolar o doente do convívio social. O morfético é de fato um renegado, obrigado a usar um chocalho ao pescoço a fim de avisar de sua presença ou aproximação (JUSTA apud SOUZA-ARAÚJO, 1956).

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A exclusão social dos doentes era uma prática comum na sociedade

cearense. A literatura sobre a hanseníase sugeria cinco aspectos de origem do

estigma de hanseníase: o medo do contágio; as deformidades que desfiguram e

marcam os doentes; o mau cheiro que pode resultar das úlceras infectadas e do

abandono; a auto-estigmatização dos doentes; e a suposta sentença de morte que

surge dos tempos quando não existia cura da doença.

Conforme Lima (1988), essa exclusão se configurava até mesmo no espaço

reservado à fé, como no caso da capela, onde antigamente, na colônia Antônio

Diogo existia uma balaustrada de um metro de altura, servindo para separar sadios

dos doentes. As roupas eram lavadas por uma só pessoa no Morro do Croatá, as

quais eram borrifadas com soluções diluídas de creolina para retirar o excesso de

sangue e pus. A lavadeira sofria por isso, o desprezo dos moradores da região,

tendo como abrigo único e enganoso a copa pouco vivente de um juazeiro isolado.

No prédio da antiga cadeia desativada a partir de 1983 passou a funcionar a

sede do Movimento de Ressocialização das Pessoas Acometidas pela Hanseníase

de Redenção (MORHAN-Redenção). A área externa da colônia possui cento e vinte

e sete casas que foram construídas no processo de ressocialização e entregues a

ex-pacientes. A única fonte de renda desses ex-hansenianos é a aposentadoria

dada pelo Estado e o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). A alimentação

dos que moram em pavilhões e enfermarias é fornecida com recursos estaduais

e/ou doações, os que moram nos chalés custeiam e fazem seus próprios alimentos,

já que constituíram família.

O serviço básico de recenseamento dos Lázaros e sua assistência foram

sempre tratados com o maior carinho pelos vários gestores do Serviço de Higiene,

os quais sempre procuravam produzir mais, dentro de suas minguadas

possibilidades orçamentárias. Isto até o ano de 1931, o que não sucedeu, porém,

desde o ano de 1932, quando os nossos serviços de saúde pública passaram a se

reger por “orientação novíssima”, pretendendo copiar o modelo norte americano,

sendo anuladas ou rebaixadas a planos secundários as diversas atividades até

então exercidas pelo Departamento de Saúde, segundo Justa (1936).

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O Serviço de Profilaxia da Lepra foi instituído através do Decreto Lei Nº 686,

de 13 de março de 1940, quando o Interventor Federal do Estado, Dr. Francisco de

Menezes Pimentel, encampou o Leprosário Antônio Diogo. Em 25 de maio de 1940,

tornou-se Instituição Estadual subordinada ao Departamento Estadual de Saúde e

passou a ser chamada Colônia Antônio Diogo. (SOUZA-ARAÚJO, 1956)

Em 12 de agosto de 1977, tornou-se Hospital de Dermatologia Sanitária

Antônio Diogo, através do Decreto Estadual nº 12.435. (LIMA, 1988).

Com a ida do Dr. Samuel Uchôa para o Rio de Janeiro, o Dr. Antônio Justa

assume a Chefia Interina do Serviço de Saneamento Rural, até quando foi instinto

pelo Ministro da Educação e Saúde, Dr. Francisco Campos, obrigando o Governo do

Estado a assumir todos os serviços sanitários em 1931. Ainda hoje os recursos

estaduais não suprem sequer as necessidades básicas e as doações de voluntários

são de muita valia para amenizar essas carências. (LIMA, 1988)

Em sete de maio de 1962, através do Decreto do Ministério da Saúde Nº 968,

foi abolido o “internamento compulsório”, ficando proibida a internação de pacientes

nos antigos hospitais colônia de hansenianos em todo o Brasil, Mesmo assim é

freqüente a chegada de alguns egressos pedindo para voltar para suas

dependências.

Atualmente, suas atividades se limitam a abrigar e prestar assistência de

saúde e social aos antigos pacientes que, excluídos de seu meio social, perderam o

vínculo com seus familiares. Embora os portões estejam abertos, os mesmos, em

sua maioria, não sabem sequer da existência de seus familiares ou não se sentem

capazes de gerenciar suas próprias vidas. A faixa etária avançada dos ex-pacientes

exige um atendimento especializado devido às doenças próprias da terceira idade,

em contrapartida, encontramos uma infra-estrutura sucateada, incapaz de atender

as suas necessidades.

De acordo com seu Regulamento Interno do Centro de Convivência Antônio

Diogo (Dezembro, 2006), tem como missão: “Promover a reintegração social e

ofertar ações de saúde e outros serviços sociais, pactuados entre o Estado e o

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Município, com participação dos moradores, gerando um ambiente propício de boa

convivência, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida”.

A relevância de se conhecer ou ao menos aproximar-se do universo das

representações sobre as doenças é reconhecida não somente por pesquisadores da

área das ciências sociais e comportamentais, mas também, e cada vez mais, por

estudos ligados à saúde pública e às ciências médicas.

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3 A HANSENÍASE E OS MODOS DE VIDA DOS EX-ASILADOS

No capítulo seguinte abordamos como a mudança do sistema de

confinamento no controle da doença e dos doentes hansenianos interveio nos

modos de vida dos ex-asilados do Centro de Convivência de Antônio Diogo.

Assim sendo, o estudo parte da seguinte questão: como a mudança do

sistema de confinamento no controle da doença e dos doentes hansenianos para o

modelo de assistência ambulatorial, vem intervindo nos modos de vida dos ex-

asilados do Centro de Convivência de Antônio Diogo.

Figura 10. Capela de Antônio Diogo (2008)

Fonte: Da própria autora

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Variável Nº %1 Sexo

Masculino 6 46,2Feminino 7 53,8

2 Idade50-60 5 38,561-80 8 61,5

3 EscolaridadeAnalfabeto 6 46,2

Alfabetizado 7 53,8

4 Renda (Sm)1 a2 7 53,8

3 ou + 6 46,2

5 Filhos 10 76,9Sim 3 23,1Não

6 Estado CivilCasado (Relacionamento Estável) 6 46,2

Solteiro / Divorciado 3 23,1Viúvo 4 30,7

7 Nº de Residentes1 6 46,2

2 a 5 5 38,56 ou + 2 15,3

8 Local de Residência

3.1 Caracterização dos Moradores Ex-Asilados do Centro de Convivência Antônio Diogo Tabela 1. Características dos Moradores Ex-Asilados do Centro de Convivência

Antônio Diogo /Junho de 2008

Fonte: Centro de Convivência Antônio Diogo

Período: Junho de 2008

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Pode-se observar, conforme tabela 1 que a distribuição de moradores ex-

asilados no Centro de Convivência Antônio Diogo segundo sexo, tendo as mulheres

alcançado o percentual de (53,8%), enquanto os homens 46,2%, fato que nos

chamou a atenção, uma vez que Lombardi (1990) informa que a endemia Hansênica

no Continente Americano e no Brasil apresenta uma distribuição maior e extremante

constante de uma maioria para o sexo masculino em relação ao feminino.

Pode-se analisar essa distribuição diferenciada dos dados do Ceará em

relação às Américas e ao País, ao fato da população masculina no Estado manter-

se baixa ao longo dos anos, em especial na faixa etária mais acometida pela

Hanseníase, fato este que poderá ser decorrente das características do fenômeno

de migração do cearense para todas as regiões do país, principalmente Sudeste e

Sul. (TAVARES, 1997).

Entretanto, este fato não se superpõe a estudos diversos. Bechelli (1956) e

Beiquelhan (1968) referem em seus trabalhos algumas explicações para este

fenômeno como variações de sustentabilidade ligada à genética e fatores

hormonais, passando por influências socioculturais, que diminuem o risco de

exposição das pessoas de sexo feminino, tanto para a transmissão levando a

infecção, como para a confirmação do diagnostico.

Quanto a variável idade, a população estudada encontra-se na faixa acima de

50 anos (38,5%), em sua maioria acima de 60 anos (61,5%), fato este justificado

pela escolha da amostra estudada ser composta por pacientes admitidos no período

da internação compulsória.

Levando em consideração os pacientes ex-asilados que ainda residem no

Centro de Convivência Antônio Diogo, temos a predominância de um baixo nível de

escolaridade com 46,2 % de analfabetos e 53,8% alfabetizados, conforme mostra a

tabela. Este dado chama atenção ao sistema de isolamento ao qual ficavam

submetidos os asilados, pois todos os recursos sociais como assistência à saúde,

aprendizagem de ofícios, trabalho estava circunscrito ao espaço da colônia. Assim

sendo pode-se aferir que a preocupação com a escolarização dos pacientes não foi

privilegiada durante alguns anos, daí termos um número tão elevado de analfabetos.

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Os grupos amostrais de ex-asilados são constituídos principalmente de

indivíduos pobres, que partilham condições de vida precárias no interior de um

contexto mais amplo de instabilidade econômica, política e social, em sintonia com o

destino das camadas trabalhadoras não especializadas no Brasil, além da própria

situação da doença com suas sequelas irreversíveis. A única fonte de renda limita-

se ao recebimento de pensões dadas pelo Governo Federal através do Instituto

Nacional de Previdência Social (INPS), importando no montante de um a dois

salários mínimos para 53,8% e acima de dois salários para 46,2% desta população.

A maior ansiedade atualmente refere-se ao recebimento da indenização

concedida pelo Governo Federal através de Medida Provisória nº 373, de 24 de maio

de 2007, que dispõe sobre a concessão de pensão especial às pessoas atingidas

pela hanseníase que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios (Em

anexo) conforme é possível constatar nas falas seguintes:

É de fundamental importância, porque a vida vai ser mais tranqüila, mesmo que não apague a mancha, o trauma da doença. Ela vai trazer um beneficio tão grande. Vai complementar a minha alimentação, porque não recebo alimentação aqui. E é um dever do Estado não abandonar isto aqui, a verdade é essa... Quem é que tem culpa de ter contraído uma maldita doença dessas? Quem tem culpa de ser trazido todo enrolado dentro de um caçoar pra vir morrer numa desgraça dessas? É triste por isso que ninguém gosta de relatar. (José Arimatéia da Costa, 66 anos) Acho que o Presidente teve pena da gente, Pretendo aumentar a minha casa e voltar a morar com a minha família, quero viver muito. (Francisco Luiz de Souza, 74 anos) Lamento não ter chegado para muitos que já se foram. (Terezinha, 77 anos) O Presidente deu ajuda, mas nada vai fazer o tempo voltar. (José Ari, 65 anos)

A amostra aponta que 76,9% constituíram famílias, tendo filhos, destes

atualmente 46,2% estão casados ou possuem relacionamento estável, 30,7% são

viúvos e 23,1% são solteiros ou divorciados. No que diz respeito à situação geral de

vida, família e convívio social algumas falas destacam as dificuldades encontradas

em relação à sobrevivência fora dos muros da ex colônia. Fato que os levou a

permanecer residindo no espaço o qual, durante mais da metade de suas vidas era

concebido como lugar de confinamento, de normas, de vigilância e de controle dos

seus corpos e porque não dizer de suas mentes:

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Por que aqui me casei, tive seis filhos, o marido foi embora, então eu tive que ficar aqui mesmo. Não tinha como comprar uma casa nem pagar aluguel. Se eu saísse, eu ia penar muito mais. (Sonia Maria do Nascimento Santos, 46 anos) Fui criada aqui e esta é minha família. Aqui eu sou rainha. Eu só saía se fosse com meu marido. Morar com parente eu não quero. Os visitantes me abraçam, me Beijam. (Terezinha do Menino Jesus, 77 anos) Aqui na colônia é meu lugar, é o lugar que eu posso viver e sobreviver. Porque todo doente é rejeitado lá fora. Aqui dentro da colônia a gente tem toda a liberdade, privacidade dentro da sua casa. Eu gosto muito da minha família, os meus filhos e todos, mas, eu digo (batendo a mão na mesa), o meu lugar é na colônia. Eu vou terminar meus dias aqui. (José Ari Almeida dos Santos, 65 anos)

3.2 Significado e sentimentos sobre a doença

Ao ser indagado sobre em que momento os ex-asilados tomaram

conhecimento sobre a sua doença, alguns destacaram a fase cronológica, mas

também fizeram referência a denominação da doença e o significado da mesma

para o imaginário social. Encontramos pessoas que já possuíam pais e irmãos

internos, o que demonstra que a busca ativa através de exame dos comunicantes

era bastante falha, pois os mesmos quando se apresentavam ao Serviço de Saúde

já estavam doentes com a forma mais grave, é o que podemos observar nas falas

abaixo:

Meu pai era doente. Tinha o mau da orelhona. Já criança, fui afastada por ser leprosa. A minha mãe tinha muito desgosto. Ela era verdureira, vendia coentro para sobreviver, tinha um rapaz que dizia para não comprarem nossas verduras, pois eu era leprosa. As pessoas foram se afastando da gente e já ninguém queria comprar verdura dela. (Francisca Varela Feitosa, 67 anos) Na verdade eu não entendi porque só tinha nove anos de idade. Chamavam lepra, não era? A gente tinha pavor a essa doença. Agora está tudo mudado. (Maria Auxiliadora Meireles dos Santos, 75 anos)

“Tuberculose da Lepra” Porque ela tem de diversas qualidades, Agora chamam hanseníase, mas é tudo a mesma coisa. (José Hipólito da Silva, 58 anos) Não sabia o que era isso! Lepra ou morféia? Eu era garoto, não tinha nem tamanho! Adoeci com seis anos. (Pireli, 66 anos) Eu era menino quando vim para Canafístula, em Antônio Diogo, eu corria em cavalo, era jóquei, acontece que eu passei muito tempo andando por aqui nas redondezas, aqui pelos currais. Eu era sadio, nesta época chamavam o doente de “morfético”. (José Ari dos Santos, 65 anos)

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Fui levado para a Colônia Antônio Justa por volta de 1 a 2 horas da madrugada, todo enrolado empacotado como uma múmia, escondido de tudo e de todos, por problemas sociais, pânico, pavor. Eu vivia escondido dentro da casa dos meus pais dentro de um quarto. Cheguei à Colônia Antônio Justa às cinco horas da manhã (...) ao chegar eu soube que ali a gente chegava só pra morrer. Que era um curral, era um depósito. (Pireli, 66 anos)

Segundo Cunha (205), o termo lepra era entendido como símbolo de

impureza moral, a qual era demonstrada fisicamente através de manchas que

brotavam na pele dos pecadores. Essas manchas eram consideradas sinais divinos.

Mais do que isso: revelavam ações e pecados morais e representavam o castigo

divino. A lepra era, então, o resultado dessa impureza, que poderia aparecer

inclusive em roupas e paredes. Assim, a representação da lepra não era a da

doença em si, mas tinha um significado muito mais conotativo, ou seja, passou a

agregar ao seu sentido biológico um conjunto de novos significados e significantes.

As imagens e representações sociais da lepra atravessaram os séculos e

continuaram a exercer forte influência sobre os contemporâneos – e verdadeiros –

doentes, mas, em algumas fases desta dissertação, uso as palavras “lepra” e

“leproso” quando me refiro às décadas de 1920 a 1970, quando a doença e os

indivíduos acometidos por ela eram assim chamados.

Conforme Cunha (2005), a propagação da doença era apontada pelos

estudiosos por diversas formas. Alguns defendiam a hereditariedade como causa

única, outros acreditavam no contato indireto, ou seja, aquele que se dava por

intermédio de vetores; ou, ainda, por contato direto, por intermédio dos germes

eliminados pelo doente, em suas múltiplas formas. Em todos esses modos de

explicação, as pesquisas realizadas levavam em consideração o sucesso de

determinada profilaxia em relação à outra doença. Pode-se citar como exemplo, que

os cientistas tomavam por base as experiências com a febre amarela para supor a

veiculação da lepra pelos mosquitos e definir os métodos para evitar o contágio

desta doença. Seu principal representante foi Adolpho Lutz, que defendeu a

transmissão da lepra por mosquitos desde a última década do século XIX até a

década de 1940. Nota-se que neste período a investigação epidemiológica dos

contatos de todos os casos novos de hanseníase com o objetivo de romper a cadeia

de transmissão da doença era praticamente inexistente, o que fortalecia a idéia do

fator hereditário ser responsável pela transmissão se indagar como o entrevistado

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tomou conhecimento da existência da Colônia, alguns citaram já ter pai, irmão ou

algum outro parente nas Colônias do Ceará, em Antônio Diogo ou em Maracanaú.

Veio primeiro meu irmão que já chegou doente, depois foi eu. (Expedita Maria da Conceição, 83 anos) Através de um amigo que era interno aqui e ele visitou Várzea Alegre e aconselhou que me internasse. Nesse tempo eu já tinha 19 anos. Também tinha o Tio João que veio e morreu em Maracanaú. Meu pai trabalhava com ele e pegou dele a doença. Ele morreu de uma vacina, assim diziam. (Francisca Varela Feitosa, 67 anos) Em função da minha irmã já ser paciente da colônia de Antonio Justa, meu pai solicitou o doutor Carlos Pereira Viana, onde já tinha minha irmã internada, para ir ate a residência dos meus pais, de lá ele comprovou que era hanseníase. (Pireli, 66 anos) Quando eu estava em Icó, ouvi falar em Canafístula. O meu pai já se tratava aqui na colônia depois eu vim para me tratar e em seguida, minha mãe que também adoeceu. (Severino de Lima, 59 anos) Tinha o pai e um irmão internados aqui. Eu nunca tinha vindo visitar o meu pai Nos éramos muito pobres. Minha mãe já tinha sofrido muito com meu pai e meu irmão. Por isso resolveu me internar para eu não sofrer muito. (José Ari, 65 anos)

De acordo com Cunha (2005), a doença causada pelo Mycobacterium leprae

é atualmente conhecida no Brasil por hanseníase e os seus doentes, por

hansenianos. O termo “hanseníase” passou a ser utilizado oficialmente em todo o

país somente em meados da década de 1970. A hanseníase sempre foi identificada

como uma doença estigmatizante. A discussão das representações sociais da

doença encontra-se em um vasto conjunto de estudos que trabalham com essa

temática, tanto em nível internacional, como no âmbito nacional. No entanto

ressaltam-se abordagens das representações da doença: conhecida como lepra,

palavra que dá medo, a imagem é a da deformação de mãos e pés sem dedos,

corpos mutilados e inchados, rosto cadavérico, nariz e órbitas oculares vazias. Esta

é a compreensão do senso comum da doença. Minayo denomina doenças

carregadas de estigmas sociais como doenças “metáfora” (MINAYO, 1992). As falas

dos entrevistados revelam o medo, a angustia, o desconhecimento sobre a doença e

sua cura, o preconceito, o sentimento da morte social. Sentimentos identificados

quando referem o conhecimento do diagnóstico:

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Não tive consciência de nada, era muita criança. Só quando fui deixada aqui... Quando me deixaram aqui e foram embora... Foi aquela história de choro. (ela chora muito) (Maria de Fátima da Silva Alves, 54 anos) Não me disseram que doença eu tinha, mandaram separar as minhas coisas. A família toda ficou isolada. Chorava e não saia de casa, pois o pessoal da cidade tinha medo. Minha mãe lavava roupa no poço, mas foi proibida. (Francisca Varela Feitosa, 67 anos) Bem, quando o medico me disse eu fiquei meio triste e abalada, ele disse que o meu não era o primeiro caso que apareceu, ai disse: se conforme que você vai ficar boa logo. Você vai sentir um abalo, porque é a primeira vez que você vai tomar esse medicamento ele é meio forte, me deu uma reação maluca. (Maria Auxiliadora Meireles, 75 anos) Não sabia o que era isso, apesar de ter uma irmã com hanseníase que já vivia internada no hospital Antônio Justa, hoje falecida. (Pirele, 66 anos)

Conforme Queiroz e Puntel (1997), o reconhecimento dos sintomas da

hanseníase depende de dois fatores. Primeiro, da percepção de algo anormal no

corpo e, segundo, de um conhecimento que remeta esta percepção a uma situação

de doença. O período de incubação pode durar até dez anos, o aparecimento dos

sintomas no inicio da doença não são muito notáveis e nem prejudicam o

desempenho no trabalho, não existia nem existe ainda hoje, uma busca ativa

planejada e efetiva pelos serviços de saúde pública.

Em torno de 90% dos depoimentos relativos a historia pessoal do

desenvolvimento dos sintomas, do recurso a médicos e do diagnóstico da

hanseníase, foi frequente ouvirmos relatos de que antes mesmo dos pacientes

serem diagnosticados com hanseníase, os mesmos passaram no mínimo por um

médico que emitiu um diagnóstico errado:

Eu me tratava em Teresina, um médico comendo o dinheiro do meu pai que me criou, dizendo que a minha doença era uma doença chamada “bolba”, mas não era, meu pai gastou muito dinheiro com este negocio. Viemos para Fortaleza, aqui foi descoberto, num Posto, no Centro da Cidade, onde fui diagnosticado e de lá me transferiram para esta colônia. (José Hipólito da Silva, 58 anos)

Este fato é lamentável, pois revela que estes profissionais de um modo geral,

estão despreparados para lidar com este tipo de doença, podendo trazer

consequências irreversíveis com o diagnóstico tardio, pois se sabe que a doença

tende a evoluir para formas mais graves e incapacitantes.

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Pode-se identificar ainda que a maioria das pessoas entrevistadas foram

diagnosticadas muito criança, o que epidemiologicamente se explica como uma

endemia em ascensão.

3.2.1 A Colônia Antônio Diogo: espaço de tratamento ou de confinamento

Ao indagarmos se a Colônia significou um lugar para tratamento ou um lugar

de isolamento, os entrevistados ainda demonstraram certo pesar ao recordar de tal

momento de suas vidas, a maioria tinha na memória a hora, a data, o mês e o ano

de seu ingresso, conforme as seguintes falas:

Era para tratamento, mas também lá fora não queriam ninguém doente. (Expedita Maria da Conceição, 83 anos) Local de isolamento. Uma família daqui me recebeu e cuidou de mim até os 17 anos. Recebi a primeira visita da família, um ano e seis meses depois de minha entrada na colônia. Depois foi com mais freqüência. (Maria de Fátima da Silva Alves, 54 anos) Aqui significou um lugar de viver e de curar. Eu passei pela vida e não vivi. (Francisca Varela, 67 anos) Para se tratar. Eu pensava que ia sair, mas a família não veio mais me buscar nem mandava carta, nunca mais tive noticias. (Maria Auxiliadora, 75 anos) Eu já tava sabendo que eu vinha ser isolado, até pensava que não saia mais. Eu pensei que eu já estava vindo era pra morrer. Porque o povo tinha medo demais. Se agente trouxesse dinheiro vivo, ficava lá no convento, ninguém podia pegar nele, porque não era pra ter contato com coisas de gente sadia. Não era para comprar nada, era tudo daqui. Naquela época o governo dava de tudo que era pra gente não ter contato com ninguém e o povo era assombrado. Para falar com essas pessoas que me criaram tinham que falar comigo por trás de uma vidraça, Ele não aceitou (José Hipólito da Silva, 58 anos) Especificamente era um isolamento, tirado do meio da família, da sociedade, para um curral, onde a pessoa ficava proibida de tocar nos seus familiares, impedido de sair, era uma verdadeira barreira de muralhas, a pessoa só vivia ali, se morresse ou se escapasse, bem. (Pireli, 66 anos) Sabia que era pra me isolar, pois eu já era isolado lá fora. (Severino de Lima, 59 anos) Ah quando eu me internei pensei que aqui era lugar de doido, quando eu cheguei naquela enfermaria estava cheia de velhinhos todos deficientes, quando eu olhei pra eles, fiquei com medo. Deus do céu pra onde que me trouxeram? (Sonia Maria do Nascimento Santos, 46 anos) Essa doença é tão cruel que o próprio doente tem medo um do outro. Quando eu cheguei aqui, eu trazia uma mala de couro, com 2 queijos, uma farinha d’água, umas rapaduras e minhas roupas, ai eu fui pró refeitório

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para o almoço, quando cheguei lá eu tinha medo dos meus irmãos, com medo de doença, eu não comia, passei francamente assim, mais de uns 8 dias sem comer no refeitório, com cisma uns dos outros, eu vinha pro quarto, comia queijo com rapadura, ai fui passando até que aquela comida que eu trouxe foi acabando, ai foi que eu passei a ir beliscando na comida do refeitório, fui me acostumando, porque não tinha outra saída mas, a minha carreira já tinha se acabado. (José Ari Almeida dos Santos, 65 anos)

As falas dos ex-asilados expressam a consciência de que a Colônia era um

espaço destinado para isolá-los dos demais seres humanos sadios. Era para

tratamento, mas também lá fora não queriam ninguém doente, a doença trazia em si

o determinismo do ser diferente, do ser excluído, restava só adaptar-se ao real que

significava a partir da sua entrada naquele espaço o medo da identificação com o

outro igual: doente, deformado, excluído:

[...] tirado do meio da família, da sociedade, para um curral, onde a pessoa ficava proibida de tocar nos seus familiares [...] quando cheguei lá eu tinha medo dos meus irmãos, com medo de doença, eu não comia, passei francamente assim, mais de uns 8 dias sem comer no refeitório, com cisma uns dos outros, eu vinha pro quarto [...] Aqui não teve diferença de Antônio Justa, segui aos mesmos requisitos, as mesmas barreiras, os mesmos deuses: o deus sadio e o deus doente. (Pireli, 66 anos)

O espaço hospitalar como instrumento de controle e de categorização dos

indivíduos como seres sadios e ou doentes foi estudado de forma muito particular

por Foucault, o hospital definia regras classificatórias das patologias sociais e

apontava quais indivíduos poderiam conviver em “liberdade” e quais precisariam ser

excluídos. O hospital passa ser uma instituição disciplinar, como várias outras

organizações na Europa do século XVIII e, como conseqüência, da elaboração de

novos edifícios para abrigá-las adequadamente. A disciplina se caracterizava a partir

da organização do espaço em forma de quadros: as celas, as enfermarias [...]

marcam lugares e indicam valores garantem a obediência dos indivíduos [...] é ao

mesmo tempo uma técnica de poder e de saber. (FOUCAULT, 1999, p. 128-129). A

partir de Foucault a transformação do saber-poder em um agente de transformação

da vida humana passa-se a falar de uma ‘biopolítica’.

3.2.2 A Doença: expectativas de cura e de liberdade

Ao ser indagado aos ex-asilados se haviam chegado a projetar um tempo

determinado para a sua cura e consequentemente quanto à permanência no

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isolamento as respostas revelam a falta de esperança, o sentimento de que foram

abandonados pelos familiares:

Figura 11. Enfermaria Feminina na hora do banho de sol.

Fonte: Da própria autora

Eu achava que não ia sair era nunca. (Expedita Maria da Conceição, 83 anos) Era um tormento. Tinha ansiedade para sair, ficar curada, mas não tinha um tempo determinado. (Maria de Fátima da Silva, 54 anos) O meu tio me disse que era só seis meses que depois vinha me buscar. Nunca mais apareceu. Nem ele nem ninguém da minha família. (Maria Auxiliadora Meireles, 75 anos) Não tinha esperança de sair. Comecei a pensar nisso no tempo que o Dr. Virgílio foi Governador, quando ele arranjou o direito da gente receber um beneficio do Estado, eu já vivia com meus exames bons, aproveitei pedi minha alta, na época a gente recebia alta, mas tinha que sair. Eu não tinha pra onde sair, eu nunca tinha saído. Eu recebi alta e fiquei aqui Aguardando, sabe com quantos anos meu dinheiro veio sair? Com quatro anos. Quatro anos de graça aqui. Mas não me arrependi porque não tinha pra onde ir. Ficava pensando em ir embora, até que quando eu peguei minha alta eu fui. Passei dez anos lá forai, então voltei pra cá, aqui é mais fácil. (José Hipólito, 58 anos) Eu não cheguei a projetar, porque 1955 começaram as altas, eu saí de alta. O meu maior sonho era servir o exército, e ao me apresentar a vigésima quinta Comissão de Recrutamento em Fortaleza, sem uma seqüela. Sem um defeito físico. Um dos médicos que tinha feito parte da comissão, que era composta pelo doutor Odorico de Morais, Dr. Carlos Pereira Viana, Dr Juracir Magalhães e outros, chegou pra mim após eu ter passado por dois exames, disse: “isso aqui não é lugar pra ti” e me botou para fora, ele sabia

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que eu tinha saído da colônia, era um que tinha aprovado a minha alta, (...).Quando me deram alta, pensei que estava curado por completo. e não sentia necessidade de ingerir qualquer tipo de medicamento contra a lepra. E era o contrario, teria que dar seqüência mais dois ou três anos, ai minha revolta foi tão grande que eu chutei o pau da barraca e fui viver a minha vida lá fora. Não consegui fazer uma carreira, não consegui realizar meu sonho do exército. (Pirele, 66 anos) Eu sabia que era para sempre. (Severino de Lima, 59 anos) Bem quando eu cheguei, eles mentiram pra mim. A senhora que me trouxe pra cá me disse que eu ia ficar apenas por seis meses. Que viriam me visitar, e depois me levariam de volta pra casa. E eu achava que era assim mesmo. Mas, passaram anos e anos, e ela nunca apareceu. (Sônia Maria do Nascimento Santos, 46 anos) Quando cheguei aqui pra mim estava bom demais. Pensei comigo mesmo... Vou terminar meus dias aqui dentro, porque foi onde eu encontrei apoio, com os outros doentes agente podia andar sem ser rejeitado. (José Ari, 65 anos) Os médicos me diziam que com seis meses eu ficava boa, mas ainda hoje sofro com as feridas nos pés. (Regina Fátima Caracas de Sousa, 44 anos)

De acordo com Nogueira (2008), uma vez confirmado o diagnóstico, os

doentes eram levados para o interior dessas instituições, onde eram confinados e

“condenados” a passar o resto dos seus dias afastados do convívio familiar e sem

qualquer tratamento específico.

3.2.3 A Doença: a cura, o estigma e sequelas

Hoje, a hanseníase é uma doença curável, mesmo assim, é a principal causa

de incapacidade física permanente dentre os processos infecciosos. Por isso, as

pessoas atingidas pela hanseníase, já rotuladas como “curadas”, ainda necessitam

de assistência e compreensão, sob diferentes aspectos. Após a alta, as pessoas

atingidas começam a sofrer problemas de insegurança, medo, solidão, não mais

porque possuem a doença ativa, mas porque, agora, não sabendo para onde ir,

continuam apresentando os problemas relativos às sequelas da doença, dentre elas,

as neurites e os estados reacionais. Assim, o portador, mesmo curado, acaba por

sentir-se sem rumo, pois não foi reintegrado à sociedade. Este fato pode ser

observado nas falas dos ex-pacientes quando afirmam:

Da lepra estou curada. Não tenho sequelas. Já saí da Colônia e voltei, mas não por doença. Só ando de sapato fechado. Tenho medo de me machucar, embora não tenha nada nos pés, não sinto dores, não tenho reações. Tem

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pessoas que não acreditam na cura, mas eu acredito. Irmãos nossos acham que não tem cura, eu acredito que se fizer um tratamento bem feito tem cura, mas, traz outras conseqüências. (Maria de Fátima da Silva, 54 anos) Eu não sei dizer se eu estou curado mesmo da Hanseníase, porque a Hanseníase dá liberdade pra pessoa e depois ela mesma tira. A gente está se considerando bom, com exame negativo, depois vêm as deficiências, as seqüelas, os problemas de ferimentos e as amputações. (José Arí Santos, 65 anos) Curado da hanseníase. O doutor me disse que quando a gente recebe alta pode se considerar um sadio. Senti-me curando quando o doutor fez exame em mim e pela primeira vez foi negativo, ali eu criei alma nova. (José .Hipólito, 58 anos) Curado com certeza. Não importam as seqüelas. (Pireli, 66 anos) Estou curada. Faço exame e dá sempre negativo. Peço a Ir. Célia (técnica do laboratório) para fazer o exame. (Terezinha do Menino Jesus, 77 anos)

Segundo Claro et al. (1995), a observação anterior reforça o fato de que, sob

o ponto de vista médico, a hanseníase é uma doença que conta com tratamento e

cura; sob o ponto de vista cultural, ela remete a símbolos negativamente carregados

num número considerável de sociedades, inclusive o Brasil. Por esse motivo, ela é

uma doença-chave para compreensão da inevitável associação entre as dimensões

física, psicológica e sócio-cultural da doença.

Problemas como a perda da auto-estima, as discriminações sofridas pelo

paciente com hanseníase e as dificuldades encontradas em realizar tarefas

domésticas e profissionais com as sequelas físicas instaladas, ficaram evidentes no

estudo de Edit (2004), sentir-se “menos do que lixo”, “como um trapo” e “como uma

coisa que não serve mais à sociedade”, são sentimentos marcantes fortes, que

levam a perda da auto-estima e fazem com que o paciente de hanseníase se auto-

segregue, como se quisesse ficar escondido de tudo e de todos. Para Nunes (1993,

p.4) a hanseníase cria uma identidade para o indivíduo que a contrai:

Contrair a hanseníase, por exemplo, não é apenas, mesmo que afirmemos o contrário, contrair uma doença que agride os nossos nervos periféricos; mas “contrairmos” também uma nova identidade que, não raro, é muito pior do que a doença em si; até porque essa alteração de identidade não tem cura.

O diagnóstico tardio é apontado como uma das principais causas das

incapacidades físicas, já que a maioria dos pacientes chega aos serviços de saúde

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com a queixa principal de dormências ou algumas vezes com algum tipo de

incapacidade física já instalada. Conforme parâmetro do Ministério da saúde, que

tem como indicador epidemiológico “Percentagem de casos” (multibacilares ou

paucibacilares) curados com sequelas, avaliado por coorte, considera como alto,

20%, médio 10-20% e baixo menos de 10% (ARAÚJO, 2003). Portanto, neste

estudo podemos concluir como alto o número de pacientes curados e com algum

tipo de incapacidade instalada, conforme indicadores epidemiológicos da amostra

estudada, apenas um paciente (7,7%) não apresentou deformidade, contra 12

(92,3%) que apresentam algum tipo de incapacidade, causada pela hanseníase.

Os pacientes ao serem abordados sobre o conhecimento das sequelas da

doença identificam que as mesmas representam perdas físicas e que são as

principais responsáveis pelo o estigma da doença. Isto se deve pela preferência do

bacilo em alojar-se nas extremidades do corpo, como: pés, mãos, orelhas, nariz,

partes fáceis de serem visualizadas. É o que pode ser observado nas falas abaixo:

Sim, perdi todos os dedos das duas mãos, e alguns dedos dos pés. (Expedita Maria, 83 anos) Tenho cicatrizes nas pernas que não saem de jeito nenhum, também dormências, nas mãos e nos pés. (Francisca Varela, 67 anos) Olhe isso aqui. (mostrando os dedos) quando eu era menor, eu engomava muito e queimava muito os dedos e nas juntas. Ai pronto, quando eu vim cuidar foi tarde demais, ai foram dois dedos. O pé eu não forço porque dói, eu forro bem forradinho é mesmo que estar pisando num buraco de espinhos. (Maria Auxiliadora, 75 anos) Sequelas nas mãos, só tenho um pé, e falta a visão, mas enxergo mais do que muita gente que tem os dois olhos e não ver um palmo a frente do nariz. Ai de quem não me aceitar do jeito que sou. (Pireli, 66 anos) Perdi os dedos das mãos, perdi uma perna e tenho um ferimento no pé, esse ferimento já tinha fechado, estava com 15 anos de sarado e ai abriu demovo porque a doença e como disse a doutora Fátima Felizardo( que vem por aqui) essa doença é igual a fogo de monturo, vem queimando por baixo e quando da fé estoura. (Preá, 74 anos) Sim, nas mãos e pés com dormências, a gente trabalhando se cortava, se furava fazendo uma cerca, o ferimento inflamava e logo mais era preciso fazer uma amputação de um pedaço de um dedo e outras coisas, mas era preciso. (José Arí, 65 anos) Não tenho sinais de hanseníase, sou aceita. Se tivesse seqüela, certamente alguém olharia diferente, de rabo de olho, com o olhar torto. Só saio bem arrumada. Estou sempre com as unhas feitas. Entro em todo canto muito bem. O próprio preconceito é com a gente. (Maria de Fátima, 54 anos)

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Sim, eu graças a Deus, posso entrar e sair em qualquer parte em repartição não tenho nem um medo mais. Hoje não tenho mais complexo. (Sônia Maria, 46 anos)

O controle da hanseníase foi possível nos países desenvolvidos, mesmo

antes da descoberta de uma droga bactericida, em virtude das garantas de bens

sociais que influíram significativamente para o decréscimo da endemia naqueles

países.

3.2.4 A lei que liberta o corpo do doente

Há cerca de três mil pessoas, hoje, todas idosas, que viveram em colônias no

País. O Brasil levou 19 anos para cumprir totalmente uma recomendação

internacional, que abolia a necessidade de isolamento de pacientes com

hanseníase. Somente em 7 de maio de 1962, através do Decreto do Ministério da

Saúde nº 968, foi abolido o “internamento compulsório”, medida esta que mudava

radicalmente a vida das pessoas atingidas pela hanseníase que viviam ainda em

regime de exílio, como também para os novos casos diagnosticados. Importante

tomada de decisão política também aconteceu em 14 de maio de 1976, através da

Portaria do Ministério da Saúde nº 165, frisando o tratamento ambulatorial, mas, o

processo de reestruturação dos hospitais colônias do Brasil somente teve início em

1986. Merece destaque ainda a Medida Provisória nº 373, de 24 de maio de 2007

que dispõe sobre a concessão de pensão especial às pessoas atingidas pela

hanseníase que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios. Esta

medida é fruto de um movimento social de grane expressão nacional: Movimento de

Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN).

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Figura 12. Reunião com membros de associações: LRA, MORHAN e funcionários do

Centro de Convivência Antônio Diogo, 12 de julho de 2005.

Fonte: Arquivos do Centro de Convivência.

Figura 13. Grupo do MORHAN – Redenção durante treinamento na Colônia.

Fonte: Da própria autora

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Segundo Castro (2005), o Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas

pela Hanseníase é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 06 de junho de

1981, que pretende alcançar, através de trabalho voluntário, os seguintes objetivos:

colaborar para a eliminação da hanseníase; acabar com os preconceitos seculares

que acompanham a doença; ajudar a curar, reabilitar e reintegrar socialmente

pessoas que contraíram hanseníase; impedir que portadores de hanseníase sofram

restrições em seu convívio social (emprego, família, igreja, escola, entre outros);

contribuir para que portadores de hanseníase conquistem o pleno exercício da

cidadania; lutar para que os antigos hospitais-colônias sejam transformados em

equipamentos de interesse coletivo (hospitais gerais, hospitais especializados,

centros culturais e de lazer, entre outros). Deve-se garantir moradia, sustento e

atendimento às pessoas atingidas pela hanseníase na época do isolamento

compulsório (entre as décadas de 30 e 60) que estando nos antigos hospitais-

colônias lá desejam ficar.

Ainda, de acordo com Castro (2005), a pensão especial às pessoas atingidas

pela hanseníase e submetidas a isolamento e internação compulsórias é uma

medida de reparação do Estado desde que estas internações se processaram na

maioria das vezes sem o conhecimento e ou consentimento dos pacientes. Neste

sentido podemos observar a relação entre o conhecimento médico e o poder do

Estado sobre o controle dos corpos quando é constatado que tanto na Colônia de

Antônio Diogo, quanto em outras colônias do País, muitos dos pacientes ficaram

isolados mais tempo do que o necessário. O ex paciente Leite expressa com clareza

este sentimento quando afirma: ”sofremos outro tipo de exílio: o sanitário. E é

chegada a hora de o governo nos reparar por isso”. Esta expressão é reiterada pelas

falas no nosso estudo:

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Figura 14. Maria do Espírito Santo, readmitida em 14/10/1995 interna por problemas

sociais

Fonte: Da própria autora

Que venha o que vier, não vai resgatar as perdas. Os anos de isolamento. Perdi um tempo. Mas é justo. (Maria de Fátima da Silva, 54 anos) Fui contemplada, mas, não recebi ainda. (Expedita Maria da Conceição, 83 anos) Sim, fui contemplada, acho bom, pois preciso. Hoje se vive por conta própria, não é como antigamente que se tinha de tudo. (Francisca Varela Feitosa, 67 anos) Doutora, eu ainda não to acreditando, eu sou uma pessoa como São Tome, só acredito quando tiver a carta na mão. (...) Se ficar por toda a vida tudo bem. (Maria Auxiliadora Meireles, 75 anos) É de fundamental importância, porque a vida vai ser mais tranqüila, mesmo que não apague a mancha, o trauma da doença. Ela vai trazer um beneficio tão grande. Vai complementar a minha alimentação, porque não recebo alimentação aqui, e é um dever do estado não abandonar isto aqui, a verdade e essa. Quem é que tem culpa de ter contraído uma maldita doença dessas? Quem tem culpa de ser trazido todo enrolado dentro de um caçoar pra vir morrer numa desgraça dessas? é triste por isso que ninguém gosta de relatar. (Pireli, 66 anos) Muito boa. Pretendo aumentar a minha casa e voltar a morar com a minha família, quero viver muito. (Preá, 74 anos).

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Figura 15. Pavilhão Feminino.

Fonte: Da própria autora

A lei que liberta os corpos hansenianos do exílio atende não somente a

questões sanitárias, mas principalmente a uma nova abordagem dada as doenças, o

direito, sanitário, a cidadania. Foucault (1999), no capítulo que trata sobre o

Panotismo ao estabelecer a diferença do controle do poder público sobre a peste e a

lepra refere que a última suscitou modelos de exclusão, do grande fechamento, de

uma prática de rejeição, do exílio-cerca. Esta forma de tratar doenças que mereciam

vigilância para a limpeza e organização dos espaços urbanos e a melhoria das

condições de vida foi objeto de medidas e de regulamentos decididos pelo poder

político solicitado e esclarecido pelos higienistas, entretanto as mudanças operadas

nas leis de vigiar, punir e controlar são advindas na sua grande maioria de

movimentos sociais formatados por segmentos diversos da sociedade civil, como

por exemplo, o MORHAN.

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Figura 16. A interna mais antiga da Colônia Antônio Diogo, Isabel, 96 anos, natural

de Redenção, admitida em 06 de Abril de 1930 nascida em 15 de Agosto de 1914

ajudava na lavagem de roupas da Colônia.

Fonte: Da própria autora

Figura 17. Regina Fátima Caracas, 44 anos, natural de Fortaleza, internou-se aos

14 anos e esta Autora.

Fonte: Arquivos da Colônia.

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Figura 18. Maria de Fátima da Silva e José Ari Almeida dos Santos, casal de

moradores ex-asilados da Colônia Antônio Diogo (2008)

Fonte: Da própria autora

Figura 19. Francisco Luiz de Sousa (Preá), Amazonense admitido desde 14/07/1961

e Francisco Felinto Ferreira Filho,77anos admitido em 16/10/1986.

Fonte: Da própria autora

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Embora nesta época o internamento compulsório já tenha sido abolido, os

doentes sentiam-se rejeitados pela sociedade e pelos seus familiares, sendo o

hospital Colônia o único lugar que lhes acolhia.

Figura 20. Maria Auxiliadora Meireles, 75 anos, natural de Jaguaribe reside no

pavilhão feminino, chegou aos sete anos de idade na Colônia de Canafístula.

Fonte: Da própria autora

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO

O estudo sobre uma instituição de tratamento e controle de pacientes com

hanseníase evidencia alguns aspectos importantes a serem destacados, tais como:

A revisão sobre a evolução histórica da Hanseníase ratifica a idéia de que a doença

continua carregada de estigma sobre a transmissibilidade e a necessidade de

controle da presença dos corpos dos doentes desde a antiguidade até os dias

contemporâneos;

A associação entre o Estado e o saber médico constitui-se em uma

ferramenta de poder de controle dos doentes de hanseníase através do

confinamento dos corpos;

A instituição de isolamento dos doentes hansenianos implantou como nos

demais espaços de confinamento, conjunto de técnicas que passaram a controlar o

cotidiano dos mesmos, centralizado na noção de “docilidade” e de adestramento dos

corpos de modo a modelá-los, treiná-los para uma vida que não a mais a pertence;

No Brasil e no Ceará, o controle da hanseníase foi historicamente embasado

no controle, na higiene coletiva, na noção de periculosidade, que passa a estar

necessariamente relacionada com a prevenção de contágio. Assim sendo o

isolamento dos doentes passou a ser compulsório, onde o Estado juntamente com a

sociedade civil cria os espaços de isolamentos - leprosários;

A transformação do leprosário Canafístula em centro de Convivência Antônio

Diogo demonstra uma luta por liberdade que se explicita na noção da saúde como

um direito e da noção de cidadania;

O Movimento Sanitário Brasileiro imbuído da dimensão da subjetividade

presente no exercício do poder médico sobre os doentes incita transformações

institucionais de manicômios, e de leprosários em modelos assistenciais abertos,

este movimento ratifica a noção de que o poder é uma ação de um indivíduo ou

grupo sobre a ação de outro grupo ou indivíduo e de que a ação está presente nos

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dois lados da relação. Nas relações de poder assim pensadas o indivíduo é,

sobretudo, um sujeito ativo, daí é que surge de grupos de ex-asilados dos

leprosários, inclusive de Antonio Diogo Organizações e associações não

governamentais tais como o MORHAN e outras;

O MORHAN é a expressão deste sujeito ativo que luta para que o ex-asilados

se instituam de sentido de uma nova vida, de novos valores, novos sentimentos, o

direito de viver a liberdade dos seus corpos e de suas mentes sem preconceitos e

totalmente inseridos na sociedade.

Para reverter a atual situação dos antigos hospitais colônias, faz-se

necessário uma ação política, expressa através de um planejamento global,

readequando-os às suas necessidades com prioridade na reabilitação dos

sequelados e cuidados específicos aos idosos, alocação de recursos que

possibilitem a implantação e implementação destas ações. É imperativo que se faça

presente um esforço conjunto do governo e comunidade e que os profissionais de

saúde estejam sensibilizados e capacitados técnica, administrativa e politicamente,

para atuarem junto aos ex pacientes que por motivos psicosociais ainda residem

nestes espaços.

De acordo com as literaturas estudadas no decorrer da presente dissertação,

sabe-se que o momento atual é importante na história da hanseníase, pois, existe

hoje tratamento ambulatorial adequado que, uma vez mantido suficiente cobertura,

pode levar a eliminação desta patologia como problema de saúde pública no mundo,

no início do próximo século.

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APÊNDICES

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO NO ESTUDO

Identificação do Estudo: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO LEPROSÁRIO DE

CANAFÍSTULA AO CENTRO DE CONVIVÊNCIA ANTÔNIO DIOGO EM

REDENÇÃO - CEARÁ

Orientadora Responsável:Vera Lúcia de Almeida.

Mestranda: Adília Maria Machado Feitosa.

Colaboradores / Entrevistadores: Célia Rolim de Castro / SESA; Francisca Leonete

Borges Almeida/ SESA; Antônio Guilherme de Matos; representante do MORHAN:

Irmã Maria Célia Resende Técnica de Laboratório do Centro de Convivência Antônio

Diogo (CCAD), pacientes do Centro de Convivência Antônio Diogo; e Vincent

Feitosa U.S.A. Navy.

Antes de decidir a respeito de sua participação, é importante que você saiba o

motivo da realização desse estudo e o que ele envolverá. Por favor, dispense um

tempo para ler as seguintes informações cuidadosamente. Pergunte-nos caso haja

algo que não esteja claro ou caso necessite de maiores informações. Dispense um

tempo para decidir se você desejará participar ou não do estudo.

Os profissionais envolvidos nesse estudo não estarão sendo remunerados para a

realização da pesquisa por nenhuma agência fomentadora de pesquisas. O estudo

foi revisado por um Comitê de Ética em Pesquisa independente da Instituição

Responsável.

Descrição do Estudo: Objetivo: Identificar as relações entre o contexto histórico, político e social e as práticas de

assistência aplicadas aos portadores de hanseníase no Ceará, com enfoque na a

evolução histórica do Leprosário de Canafístula ao Centro de Convivência Antônio

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Diogo, situado no município de Redenção-Ceará e as repercussões destas

mudanças no cotidiano de seus moradores.

Metodologia: Foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica, qualitativa, classificando-se como

descritiva, exploratória, O estudo é composto por duas etapas: A primeira, consiste

na procura de referências teóricas publicadas em livros, artigos, documentos etc. A

segunda fase, é a pesquisa de campo, desenvolvida no “Hospital de Dermatologia

Sanitária Antônio Diogo”, Município de Redenção, Ceará, Brasil. Através de

entrevista semi estruturada, aplicada a 12 ex-pacientes de hanseníase que residem

a mais tempo no referido Hospital.

Riscos e Benefícios: A pessoa que concordar em participar da pesquisa não está sujeito a nenhum risco.

Nesse estudo, não haverá procedimentos para a coleta de amostras biológicas ou

outros procedimentos que gerem riscos diretos aos participantes. Ninguém receberá

pagamento por participar desse estudo.

Direitos: A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a qualquer

dúvida a cerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a

pesquisa.

A liberdade de retirar o meu consentimento a qualquer momento e deixar de

participar do estudo sem que isso traga prejuízo a minha pessoa.

A segurança de que os nomes dos participantes só serão publicados com a referida

autorização e que será mantido o caráter confidencial da informação relacionada

com minha privacidade.

O compromisso de proporcionar-me informação atualizada durante o estudo, ainda

que este possa afetar a minha vontade de continuar participando.

Eu confirmo que li as informações contidas no termo de consentimento informado

que descrevem o presente estudo.

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75

Eu tive tempo e oportunidade de ler as informações cuidadosamente, para discuti-

las com outras pessoas e decidir se participo ou não do presente estudo. Confirmo

que as informações e os procedimentos do estudo foram explicados a mim por

____________________________________ na Colônia Antônio Diogo durante o

processo de consentimento para o presente estudo.

Eu confirmo que tive oportunidade de fazer perguntas a respeito do presente estudo

e estou satisfeito com as respostas e explicações que foram fornecidas.

Eu concordo em participar do presente estudo, e ( ) Permito que minha identidade

seja revelada e meus dados sejam divulgados

( ) Não permito que seja revelada minha identidade e que seja mantido a minha

privacidade.

Assinatura do Participante:

___________________________________________________________________

Nome do Participante (letra de fôrma):

___________________________________________________________________

Assinatura da Pessoa que Explicou o Termo

___________________________________________________________________

Nome da Pessoa que Explicou o Termo (letra de fôrma):

___________________________________________________________________

Fortaleza, ____ de _________________ de 2008

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Roteiro da Entrevista Semi-Estruturada com os ex-asilados do Centro de Convivência Antônio Diogo. Caro ex-Paciente,

A natureza dessa pesquisa é acadêmica, construindo um trabalho da Dissertação do

Mestrado Profissional de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará.

O presente instrumento destina-se a colher informações junto aos ex-portadores de

hanseníase que foram internados compulsoriamente no antigo Hospital Colônia de

Canafístula, em Antônio Diogo, Distrito de Redenção.

Solicito a gentileza de sua participação em fornecer as informações abaixo citadas.

Vale ressaltar que não será necessário se identificar, e que seu nome só será citado

com a devida permissão.

Desde já agradeço a colaboração!

Entrevistador: ________________________________________________________

Local da entrevista: Centro de Referência Antônio Diogo, Data 13/08/2008

Parte 1-Identificação.

1.1. Nome___________________________________________________________

1.2.Cognome_________________________________________________________

1.3. Sexo________ 1.4.Idade _______1.5. local de Nascimento ________________.

1.6. Escolaridade: ( ) analfabeto ( ) alfabetizado ( ) Primeiro Grau

( ) Segundo grau incompleto ( ) Segundo grau completo ( ) Superior ( )

1.7. Renda: ( ) Sem Renda ( ) <1 salário Mínimo ( ) 1 a 2 salários Mínimo

( ) > 2 salários Mínimos

1.8. Residência: ( ) Enfermaria ( ) Casa dentro do quadrilátero interno do CCAD

( ) Casa fora do CCAD

1.9. Número de residentes na mesma casa ( ) um ( ) dois ( ) de três a cinco

( ) mais de cinco.

1.10. Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Relação estável

( ) Divorciado ( ) outro

1.11. Teve filhos ( ) Sim ( ) Não

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Parte 2- Roteiro para entrevista.

2.1. Quando você ouviu falar em Hanseníase, Lepra, morféia (ou outra

denominação) pela primeira vez?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.2. Como que idade foi diagnosticada sua doença?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.3. Por quem e como você foi levado(a) e fale de seus sentimentos ao saber que

iria ser isolado de seu meio familiar e social.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.4. Como você resumiria estes anos que vivei na Colônia de Canafístula?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.5.Quais os tipos de tratamento a que você se submeteu? Colônia espaço de

tratamento ou de confinamento?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.6. Você chegou a projetar um tempo determinado para a sua permanência no

isolamento?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.7. Você Se acha curado?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.8. Você possui alguma sequela?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.9. Por que você continuou morando nesta Colônia apesar de não ser mais

obrigatório o isolamento?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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2.10. Atualmente você foi contemplado com a medida provisória do Nº 373, que

indeniza os ex pacientes exilados compulsoriamente (Presidente Lula)? Que você

achou dessa medida?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.11. Considerações pessoais

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Agradecer a colaboração.

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ANEXOS

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SECRETARIA DA SAÚDE – SESA

REGULAMENTO INTERNO DO NÚCLEO ANTÔNIO DIOGO – NANDI /

HOSPITAL DE DERMATOLOGIA SANITÁRIA ANTÔNIO DIOGO – HDS

TÍTULO I

DO HOSPITAL DE DERMATOLOGIA SANITÁRIA ANTONIO DIOGO (HDS) -

NÚCLEO ANTÔNIO DIOGO – (NANDI)

CAPÍTULO I DA CARACTERIZAÇÃO

Art. 1ª O Hospital de Dermatologia Sanitária Antônio Diogo (HDS), integra a

Estrutura Organizacional da Secretaria da Saúde do Estado, essa denominação tem

como base o Decreto nº 12.435 de 12 de agosto de 1977. De acordo com Decreto nº

19.474, de 09 de agosto de 1988, passou a funcionar como Núcleo Antônio Diogo

(NANDI). O Decreto nº 25.787, de 18 de fevereiro de 2000, denominou de Hospital

de Dermatologia Sanitária Antônio Diogo (HDS), passando a integrar a 3ª Célula

Regional de Saúde – Maracanaú, subordinada diretamente à Coordenadoria das

Células Regionais de Saúde (CORES), órgão de execução local e regional.

CAPÍTULO II DA MISSÃO, INSTITUCIONAL E VISÃO DE FUTURO

Art. 2º O Núcleo Antônio Diogo (NANDI) tem como missão promover a reintegração

e ofertar ações de saúde e outros serviços sociais, pactuados entre o Estado e o

município, com participação dos moradores, gerando um ambiente propício de boa

convivência, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida.

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DA VISÃO DE FUTURO Art. 3º Moradores convivendo em um ambiente humanizado, com assistência à

saúde integral, de qualidade e resolutiva no seu nível de complexidade, amparados

por uma rede de proteção social, centrada no acesso à terra, à educação, à

ocupação e renda, ao esporte, ao lazer, participando da gestão e da definição das

políticas públicas para o fortalecimento da inclusão social.

TITULO II DA ORGANIZAÇÃO

CAPÍTULO ÚNICO DA ESTRUTURA FÍSICA

Art. 4º O Núcleo Antônio Diogo – NANDI, situado no distrito de Antônio Diogo, no

Município de Redenção, se constitui em área administrativo-assistencial; área

comunitária e área rural.

SEÇÃO I DA ÁREA ADMINISTRATIVO-ASSISTENCIAL

Art.5º Integra a área administrativo-assistencial: três abrigos (antigos pavilhões),

sendo dois masculinos e um feminino; um ambulatório com sala de espera e posto

de coleta para pesquisa de Baar; dois consultórios médicos, um consultório

odontológico, um consultório de enfermagem, uma sala de esterilização, uma sala

de expurgo, uma sala de preparo de material e uma sala de curativo; uma

lavanderia; um serviço de fisioterapia; um serviço terapia ocupacional; uma oficina

do pé e um prédio da administração (antigo convento).

SEÇÃO II DA ÁREA COMUNITÁRIA

Art.6º Constitui a área comunitária: duas praças; um cine-teatro; uma capela; uma

biblioteca com sala de informática; conjunto Cassino, com cinco compartimentos; um

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prédio (Coreia) com seis compartimentos (proposta para funcionar o PSF); um

prédio com três salas (duas ocupadas por famílias e outra ocupada por uma

marcenaria); um prédio desativado, onde funcionava uma escola de ensino

fundamental, um prédio sede do Movimento de Reintegração do Hanseniano –

MORHAN; sessenta e duas casas para moradia; um cemitério e um açude.

SEÇÃO III DA ÁREA RURAL

Art.7º A área rural compreende 300 hectares.

TÍTULO III

DA COMPOSIÇÃO

CAPÍTULO IV DA OPERACIONALIZAÇÃO E GESTÃO

Art 8º O Núcleo Antônio Diogo é constituído por um Colegiado de Gestão e um

Comitê Interinstitucional da Reforma Social

§1º O Colegiado de Gestão é uma instância de discussão, negociação e deliberação

sobre o funcionamento e apoio à gestão do Núcleo Antônio Diogo – NANDI.

§2º O Comitê Interinstitucional da Reforma Social é uma instância consultiva, de

negociação e pactuação intergestores, com participação comunitária, visando a

implantação de ações e serviços para a inclusão social.

CAPÍTULO V DA COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DO COLEGIADO DE GESTÃO

Art. 9º O Colegiado de Gestão é composto de forma paritária e integrado por oito

membros:

I - Diretor Geral

II - Chefe da Seção Técnica

III - Chefe da Seção Administrativo-Financeira

IV - 1 (um) Representante dos Funcionários

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V - 1 (um) representante do Movimento de Reintegração do Hanseniano -

MORHAN/Redenção

VI - 1 (um) representante dos Moradores.

VII - 1 (um) representante do Grupo de Integração Tiradentes

VIII - 1 (um) representante da Associação Comunitária de Ressocialização dos

Hansenianos de Antônio Diogo - ACRHAD

§1º O Presidente do Colegiado de Gestão é o Diretor do Núcleo Antônio Diogo –

NANDI.

§2º O representante dos moradores será eleito de maneira democrática pela

comunidade, com ampla divulgação.

§3º O representante dos funcionários será eleito pelo conjunto de funcionários do

Núcleo Antônio Diogo – NANDI com ampla divulgação.

§4º O representante dos moradores e representante dos funcionários terão mandato

de dois anos.

§5º O diretor, o chefe da seção técnica e o chefe da seção administrativo-financeira

são membros natos do Colegiado de Gestão.

§6º As reuniões do Colegiado de Gestão ocorrerão ordinariamente a cada mês e

extraordinariamente quando necessário.

§7º Cada membro eleito do Colegiado de Gestão que apresentar três faltas

consecutivas ou seis alternadas, durante o ano, será substituído por outro, quando o

suplente não houver comparecido.

§8º O quorum mínimo para realização das reuniões do Colegiado de Gestão é

metade mais um representante, cumprindo a agenda de reuniões conforme data e

hora marcada, antecipadamente.

§9º As decisões do Colegiado deverão preservar os princípios democráticos, bom

senso e visando sempre o cumprimento do seu objetivo, das boas relações

humanas e da co-responsabilidade.

§10 Cada membro do Colegiado de Gestão assume o compromisso ético e social

sobre os pontos discutidos e deliberados nas reuniões.

§11 O Colegiado de Gestão é alimentado por um Plano de Gestão, participativo,

dinâmico e flexível.

§12 Os membros não serão remunerados para desenvolverem as atividades do

Colegiado de Gestão.

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CAPÍTULO VI DA COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DO COMITÊ

INTERINSTITUCIONAL DA REFORMA SOCIAL Art. 10 O Comitê Interinstitucional da Reforma Social será integrado pelos seguintes

membros:

I - Diretor Geral

II - Chefe da Seção Técnica

III - 1 (um) representante do Movimento de Reintegração do Hanseniano -

MORHAN/Ceará

IV - 1 (um) representante do Movimento de Reintegração do Hanseniano

MORHAN/Redenção

V - 1 (um) representante dos moradores

VI - 1 (um) representante do Grupo de Integração Tiradentes

VII - 1 (um) representante da Associação Comunitária de Ressocialização dos

Hansenianos de Antônio Diogo – ACRHAD

VIII - Sete representantes do Governo do Estado

- Secretaria da Saúde

- Secretaria da Ação Social

- Secretaria da Educação

- Secretaria do Trabalho e Empreendedorismo

- Secretaria de Inclusão Social

- Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária

- Secretaria de Recursos Hídricos

- Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social

IX - Cinco representantes da Prefeitura Municipal de Redenção

- Secretaria da Saúde

- Secretaria da Educação

- Secretaria da Ação Social

- Secretaria de Obras

- Secretaria de Finanças

X - 1 (um) representante da Promotoria Pública

Art. 11 O Comitê Interinstitucional da Reforma Social terá a seguinte composição.

I -Plenária;

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II -Câmaras Técnicas;

III -Secretaria Executiva.

I – A Plenária constitui em espaço de discussão e deliberação de questões de

competência do Comitê Interinstitucional da Reforma Social com reuniões mensais

ordinárias estabelecidas em cronograma e extraordinárias quando solicitadas e

definidas pelos participantes.

II – As Câmaras Técnicas serão constituídas para analisar situações que requerem

estudos especiais de interesse do Comitê Interinstitucional da Reforma Social.

III – A Secretaria Executiva é a instância de apoio administrativo do Comitê, sendo o

seu funcionamento de responsabilidade do Núcleo Antônio Diogo.

IV – O Diretor do Núcleo Antônio Diogo é o Presidente do Comitê Interinstitucional

da Reforma Social.

V – O representante dos Moradores será eleito de maneira democrática pela

comunidade com ampla divulgação.

VI – O representante dos moradores, será eleito para mandato de dois anos, os

demais serão indicados pelos Titulares das respectivas Secretarias do Estado, da

Prefeitura de Redenção, do Movimento de Reintegração do Hanseniano –

MORHAN, da Associação Comunitária de Ressocialização dos Hansenianos de

Antônio Diogo – ACRHAD e Grupo de Integração Tiradentes, para o correspondente

período administrativo.

VII – Nas reuniões do Comitê será observada a seguinte ordem de funcionamento:

1º - Verificação de presenças;

2º - Abertura da plenária pelo Presidente;

3º - Divulgação da ata anterior;

4º - Apresentação da pauta, discussão e pactuação.

TÍTULO IV DAS COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS

CAPÍTULO I DO ÓRGÃO COLEGIADO

Art. 12 Compete ao Colegiado de Gestão a discussão, negociação e apoio às

decisões gerenciais, garantindo um processo de co-gestão, tendo como fim a

missão, a visão de futuro do Núcleo Antônio Diogo – NANDI.

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CAPÍTULO II DO COMITÊ INTERINSTITUCIONAL DA REFORMA SOCIAL

Art. 13 Terá a competência de promover a modernização institucional e social do

Núcleo Antônio Diogo, adotando ações e serviços que viabilizam a reestruturação,

para o alcance da sua missão.

CAPÍTULO III DO DIRETOR E CHEFE DE SEÇÃO

Art. 14 Compete ao Diretor do Núcleo Antônio Diogo:

I -definir, acompanhar e avaliar metas de gestão, em conjunto com os demais

membros do Colegiado de Gestão;

II -estimular a participação dos moradores e servidores por meio do Colegiado de

Gestão, para o bom convívio e operacionalização das ações e serviços;

III -estimular o engajamento dos moradores e servidores no processo de

planejamento, no desenvolvimento das ações, nas correções necessárias e nas

avaliações;

IV -promover o desenvolvimento institucional, por meio da articulação com gestores

estadual e municipal, para o bom desempenho das ações e serviços prestados;

V -promover e articular com a prefeitura e outras instituições governamentais e não

governamentais, a formação de redes de integração social, visando a resolução de

problemas e a otimização das ações intersetoriais.

Art. 15 Compete ao Chefe da Seção Técnica:

I - mobilizar e articular as equipes de trabalho técnico, visando o planejamento

participativo e as ações integradas;

II - articular a equipe técnica, administrativa e representantes dos moradores para a

elaboração do Plano de Gestão e do Relatório de Gestão, em consonância com a

direção geral;

III - estimular, apoiar e secretariar o Colegiado de Gestão e Comitê Interinstitucional

da Reforma, para o desenvolvimento da dinâmica institucional;

IV - coordenar e apoiar as ações de mobilização e participação social;

V - identificar necessidades de capacitação e aprimoramento profissional;

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VI - consolidar, analisar, retroalimentar e divulgar dados e situação de saúde no

âmbito da instituição;

VII - enviar dados gerados pelos sistemas de informação ao nível central da SESA,

em articulação com o município de Redenção;

VIII - implementar os procedimentos básicos para assegurar a observância das

normas técnicas e necessidades de apoio e assessoria, no desempenho das ações

e serviços prestados;

IX - articular junto a prefeitura e demais entidades governamentais e não

governamentais, o desenvolvimento de ações intersetoriais e a criação de redes de

integração social, em consonância com a direção geral.

Art. 16 Compete ao Chefe da Seção Administrativo-Financeira:

I - coordenar o registro e controle de pessoal (frequência, férias, licença, escala de

serviço, etc);

II - coordenar a avaliação de desempenho dos servidores;

III - planejar e executar métodos de racionalização do trabalho;

IV - planejar e adquirir material de consumo, serviços e insumos;

V - administrar e controlar o almoxarifado;

VI - coordenar a manutenção de equipamentos, instalações e veículos;

VII - elaborar o orçamento, em consonância com a direção geral e seção técnica;

VIII - acompanhar o desempenho orçamentário e financeiro;

IX - realizar prestação de contas;

X - manter e supervisionar a limpeza e a organização do ambiente de trabalho;

XI - manter e supervisionar a vigilância;

XII - controlar a emissão de fax, contas telefônicas, energia elétrica e água;

XIII - controlar a documentação administrativa interna e externa (protocolo, fluxo,

arquivamento e digitação);

XIV - acompanhar contratos e convênios do interesse da instituição.

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CAPÍTULO IV DO REPRESENTANTE DOS MORADORES, DO GRUPO DE INTEGRAÇÃO TIRADENTES E DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DE RESSOCIALIZAÇÃO DOS HANSENIANOS DE ANTÔNIO DIOGO - ACRHAD, REPRESENTANTE DO MOVIMENTO DE REINTEGRAÇÃO DO HANSENIANO (MORHAN) E REPRESENTANTE DOS FUNCIONÁRIOS Art. 17 Compete ao representante dos moradores, do Grupo de Integração

Tiradentes e da Associação Comunitária de Ressocialização dos Hansenianos de

Antônio Diogo – ACRHAD:

I - representar os moradores do Núcleo Antônio Diogo, trazendo reivindicações e

necessidades ao Colegiado de Gestão;

II - fixar calendário mensal de reunião com os moradores, para favorecer a

participação comunitária, discutir e propor sugestões para melhoria das condições

de vida e da convivência;

III - analisar em primeira instância, a necessidade dos moradores de acrescer sua

moradia e repassar essas informações ao Colegiado de Gestão para decisão.

IV - incentivar a manutenção da unidade familiar e o vínculo social;

V - identificar valores pessoais;

VI - incentivar a integração laboral dos moradores conforme habilidades compatíveis

a cada caso;

VII - manter contato com os moradores especialmente os que têm dificuldade de

locomoção, para tomar conhecimento de suas necessidades;

VIII - reivindicar junto às autoridades competentes a melhoria dos serviços prestados

para resolver questões referentes ao meio ambiente, à assistência e ao bom

convívio;

IX - levar sugestões ao Colegiado de Gestão sobre a ocupação das moradias;

X - colaborar para a não invasão do Núcleo Antônio Diogo e promover a

preservação do patrimônio institucional;

XI - tomar conhecimento junto a administração, das visitas, quando agendadas e,

organizar com a comunidade uma boa acolhida para os visitantes;

XII - organizar junto aos moradores e comunidade mutirões de limpeza no

quadrilátero do Núcleo inclusive no Cemitério São Miguel quando necessário;

XIII - resolver problemas emergenciais e comunicar a direção logo que possível;

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XIV - informar sobre Leis que regem o bem estar social e comunitário e cobrar o seu

cumprimento como a Lei do Silêncio, criação de animais etc.

XV - incentivar o respeito aos horários de repouso nas enfermarias e área

comunitária de 12h às 14h e de 21h às 6h da manhã.

Art.18 – Compete ao representante do Movimento de Reintegração do Hanseniano

–MORHAN:

reivindicar, bem como contribuir para a elaboração de programas adequados de

prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, informação, conscientização e

educação, bem assim, estabelecimento de políticas, eficientes de saúde pública e

atendimento digno e humanizado para as pessoas atingidas pela hanseníase;

empreender medidas, administrativas e/ou legais, junto aos órgãos competentes, em

todas as esferas, contra qualquer tipo de discriminação, preconceito e/ou

comportamentos lesivos aos Direitos Humanos da pessoa atingida pela hanseníase,

assim como de seus amigos, parentes ou familiares;

firmar parcerias e intercâmbio com órgãos e entidades especializadas e congêneres,

nacionais e internacionais, sem prejuízo de outros meios que possam garantir e

ampliar recursos;

avaliar e colaborar com as políticas públicas visando a qualidade dos serviços

oferecidos em instituições e conscientização do doente, família e comunidade,

através de todos os veículos de comunicação;

desenvolver trabalhos educativos visando defender, esclarecer, divulgar direitos,

deveres, educação e conscientização do doente, família e comunidade, através de

todos os veículos de comunicação;

integrar o Movimento a outros movimentos locais e regionais, em prol dos

portadores de deficiência e patologias em geral;

divulgar materiais didáticos, informativos aos profissionais de saúde em geral e a

população, versando sobre a hanseníase e seu controle;

pleitear junto aos órgãos governamentais de educação, a inclusão no currículo

escolar desde o ensino fundamental, de noções básicas sobre a hanseníase e sua

problemática em geral;

motivar a visitação pública do Núcleo Antônio Diogo, fazendo sentir a importância

psicológica e humana desta medida;

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providenciar junto aos órgãos competentes a criação de leis que amparem

efetivamente o paciente de hanseníase, proporcionando-lhe bem estar social e

econômico;

estimular a plena reintegração social dos ex-pacientes de hanseníase;

Pleitear junto aos órgãos competentes a transformação do Núcleo Antônio Diogo,

em outros equipamentos, visando a melhoria da qualidade de vida da comunidade;

estimular a prevenção de incapacidades para atender as pessoas atingidas pela

hanseníase, a fim de ampliar esse atendimento também às pessoas portadoras de

outras necessidades especiais;

acompanhar e estimular as atividades de atenção primária à saúde, a fim de prestar

atendimento aos moradores do Núcleo Antônio Diogo;

estimular o voluntariado para atenção dos moradores e melhoria institucional do

Núcleo Antônio Diogo;

combater, por ferir elementares Direitos Humanos, os pedidos de donativos feitos

pelo moradores ou instituição, que não promova a conscientização da comunidade e

o pleno exercício da cidadania;

promover a reintegração ao trabalho ou prestação de serviço militar das pessoas

atingidas pela hanseníase;

estimular a participação efetiva do paciente de hanseníase em atividades,

movimentos ou entidades em prol de pessoas com deficiências, com o objetivo de

reivindicar direitos comuns;

identificar meios de solucionar o problema da utilização das terras e prédios do

Núcleo Antônio Diogo com a participação da comunidade e do Colegiado de Gestão,

objetivando sua plena promoção social.

Art. 19 – Compete ao representante dos funcionários:

I- promover a integração e o desenvolvimento técnico-científico.

II- propor critérios para a definição de padrões e parâmetros assistenciais;

III- elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de

problemas de segurança e saúde no trabalho;

IV- colaborar no desenvolvimento e implementação de programas relacionados à

segurança e saúde no trabalho;

V- informar á direção, situações de riscos e apresentar sugestões para melhoria das

condições de trabalho;

VI- manter o empregador informado sobre os trabalhos realizados;

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VII- cuidar para que os profissionais disponham de condições necessárias para o

desenvolvimento de seus trabalhos;

VIII- promover o bom relacionamento da categoria com o corpo diretório da

Instituição;

IX- divulgar as decisões do Colegiado de Gestão a todos os trabalhadores do

estabelecimento;

X- encaminhar os pedidos da categoria ;

XI- contribuir para a organização do ambiente de trabalho;

XII- recomendar a adoção de critérios que garantam qualidade na prestação de

serviços de saúde.

XIII- definir estratégias e mecanismos de coordenação do SUS em conjunto com os

órgãos colegiados.

XIV- traçar diretrizes para elaboração de normas e rotinas da Unidade;

XV- examinar e encaminhar propostas, denúncias e queixas dos funcionários ao

Colegiado de Gestão.

XVI- emitir pareceres técnicos.

XVII- acompanhar e monitorar o desenvolvimento de ações e serviços de saúde.

XVIII- propor critérios para definição de padrões e parâmetros de atenção à saúde.

XIX- assessorar ao Colegiado de Gestão nos assuntos referentes às normas e

rotinas do Núcleo Antônio Diogo;

XX- participar da elaboração do manual de normas e rotinas do Núcleo Antônio

Diogo;

XXI- discutir, implantar e monitorar os protocolos e/ou normas e rotinas do Núcleo

Antônio Diogo;

XXII- assessorar o Colegiado de Gestão na implantação, implementação e avaliação

do Plano de Gestão.

XXIII- zelar pelo bom funcionamento do Núcleo Antônio Diogo, observando o

respeito às normas da instituição, a qualidade do atendimento e respeito entre as

categorias profissionais.

XXIV- evitar distorções, no que se refere a aplicação das normas institucionais,

respeitando os princípios de igualdade, justiça, imparcialidade e impessoalidade nas

decisões.

XXV- contribuir para fortalecer o desempenho profissional dos servidores;

XXVI- promover o acolhimento e integração dos servidores;

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TÍTULO V DOS DIREITOS E DEVERES DOS MORADORES

CAPÍTULO V DOS DIREITOS DOS MORADORES

Art.20 Conforme a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) são direitos do cidadão:

I - ter atendimento integral, com prioridade para ações preventivas, sem prejuízo dos

serviços assistenciais no tratamento de doenças e na recuperação de sua saúde;

II - participar na gestão, no controle e fiscalização dos serviços e ações do SUS,

mediante os Conselhos de Saúde, Fóruns, Conferências;

III - ter garantia do acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de atenção;

IV - ter assegurada a integralidade do atendimento, caracterizada por um conjunto

articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e

coletivos, exigidos para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema;

V - ter igualdade no atendimento, sem distinção entre pessoas, sem preconceitos ou

privilégios;

VI - ter assegurada a integralidade física e moral, que corresponde ao compromisso

do absoluto e irrestrito respeito ao ser humano;

VII - ter direito a informação sobre à sua saúde e a da coletividade, mantendo a

confidencialidade de seus dados pessoais;

VIII - ter direito de saber a quem recorrer no caso de necessidade e de como se

utilizar dos serviços de saúde do SUS.

CAPÍTULO VI

DOS DEVERES DOS MORADORES

Art 21 – São deveres dos cidadãos:

I - cadastrar-se nos serviços de saúde, para acompanhamento da sua situação de

saúde;

II - participar de ações de vigilância à saúde, tais como pré-natal, crescimento e

desenvolvimento, vacinação, entre outras;

III - manter o seu domicilio sem vetores de doenças;

IV - contribuir com a limpeza urbana;

V - preservar o meio ambiente (rios, matas, florestas etc);

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VI - preservar o bem público (unidade de saúde etc);

VII - fazer denuncias quando o interesse individual e coletivo está ameaçado;

VIII - exercer o controle social, participando de fóruns, conferências de saúde

monitorando a prestação dos serviços de saúde;

IX - exigir seus direitos constitucionais.

TÍTULO VI DAS NORMAS GERAIS E ESPECÍFICAS

CAPÍTULO I DAS NORMAS DE CONVIVÊNCIA

Art. 22 Será garantida a moradia e assistência aos ex-pacientes de hanseníase,

moradores do Núcleo Antônio Diogo.

Art. 23 Manter o patrimônio em bom estado de conservação e higiene.

Art. 24 Manter a estrutura arquitetônica dos imóveis.

§1º Qualquer alteração da área física dos imóveis, deverá ser consultado o

Colegiado de Gestão. Art. 25 Zelar pelo meio ambiente, área comunitária e demais áreas do Núcleo

Antônio Diogo.

Art. 26 Participar da manutenção da segurança e da ordem da área, coibindo a

prostituição, roubos e furtos; uso de drogas ilícitas e exploração dos moradores.

Art. 27 Evitar o uso de bebidas alcoólicas em situações que perturbem a ordem

pública.

Art. 28 Manter a política da boa vizinhança.

Art. 29 Observar e cumprir a Lei do Silêncio.

Art. 30 É vedada a criação de animais domésticos soltos no ambiente comunitário.

Parágrafo Único Manter os animais devidamente vacinados e cumprir as normas da

vigilância sanitária.

Art. 31 É proibido o uso e tráfico de drogas ilícitas em qualquer área do Núcleo

Antônio Diogo – NANDI.

Art. 32 Não é permitido o desvio de materiais e equipamentos do patrimônio do

Núcleo Antônio Diogo – NANDI.

Art. 33 O acesso à área interna do Núcleo Antônio Diogo será devidamente

controlado pela administração.

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CAPÍTULO II DAS NORMAS DOS ABRIGOS

Art. 34 Ter direito de ausentar-se do Núcleo Antônio Diogo -NANDI retornando às

20h.

Art. 35 O portão do abrigo será fechado às 20h.

Art. 36 Será observado o horário de repouso, ou seja, das 12h até às 14h e das 20h

às 06h da manhã.

Parágrafo Único Pode-se assistir televisão na sala de visita, no volume que não

incomode os demais moradores, sendo permitido até as 22h.

Art. 37 Zelar pela limpeza e conservação do abrigo.

Art. 38 Usar roupas compostas e devidamente higienizadas.

Parágrafo Único As roupas de cama e banho serão trocadas semanalmente ou

quando necessário e fornecidas pela administração.

Art. 39 Usar adequadamente as instalações sanitárias mantendo-as limpas.

Art. 40 Conservar os alimentos adquiridos pelo morador, livres de insetos e

roedores;

Art. 41 É proibido o uso de armas no interior da unidade e consumo de bebida

alcoólica.

CAPÍTULO III

DAS NORMAS DE OCUPAÇÃO DAS MORADIAS Art. 42 Cumprir os seguintes critérios de inclusão para moradias desocupadas:

a) Submeter ao levantamento sócio-econômico e familiar;

b) Não dispor de moradia própria;

c) Ter um ex-paciente de hanseníase, com necessidade de ser assistido, no

grupo familiar;

d) Ter condições financeiras para manter a moradia e pagar os serviços públicos

de água, luz e telefone;

e) Conhecer as normas e regimento do Núcleo Antônio Diogo;

f) Submeter-se à apreciação e aprovação do Colegiado de Gestão.

g) Assinar termo de compromisso com direitos e deveres.

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TÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 43 Será proibida a internação de novos pacientes nos hospitais-colônia, de

acordo com a recomendação nº 37/98 do Conselho Nacional de Saúde.

Parágrafo Único Em situações transitórias, eventuais e de curta duração, por um

período máximo de 90 (noventa) dias, será permitida a internação por reações

hansênicas, incapacitantes.

Art. 44 Outras situações não previstas neste Regulamento, serão resolvidas pelo

Colegiado de Gestão e Secretário da Saúde do Estado.

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MEDIDA PROVISÓRIA Nº 373, DE 24 DE MAIO DE 2007

Dispõe sobre a concessão de pensão especial às pessoas atingidas pela

hanseníase que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da

Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Art. 1o Fica o Poder Executivo autorizado a conceder pensão especial, mensal,

vitalícia e intransferível, às pessoas atingidas pela hanseníase e que foram

submetidas a isolamento e internação compulsórios em hospitais-colônia, até 31 de

dezembro de 1986, que a requererem, a título de indenização especial,

correspondente a R$ 750,00 (setecentos e cinqüenta reais).

§ 1o A pensão especial de que trata o caput é personalíssima, não sendo

transmissível a dependentes e herdeiros, e será devida a partir da entrada em vigor

desta Medida Provisória.

§ 2o O valor da pensão especial será reajustado anualmente, conforme os índices

concedidos aos benefícios de valor superior ao piso do Regime Geral de Previdência

Social.

§ 3o O requerimento referido no caput será endereçado ao Secretário Especial dos

Direitos Humanos da Presidência da República, nos termos do regulamento.

§ 4o Caberá ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS o processamento, a

manutenção e o pagamento da pensão, observado o art. 6o.

Art. 2o A pensão de que trata o art. 1o será concedida por meio de ato do Secretário

Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, após parecer da

Comissão referida no § 1o.

§ 1o Fica criada a Comissão Interministerial de Avaliação, com a atribuição de emitir

parecer prévio sobre os requerimentos formulados com base no art. 1o, cuja

composição, organização e funcionamento serão definidos em regulamento.

§ 2o Para a comprovação da situação do requerente, será admitida a ampla

produção de prova documental e testemunhal, e, caso necessário, prova pericial.

§ 3o Na realização de suas atividades, a Comissão poderá promover as diligências

que julgar convenientes, inclusive solicitar apoio técnico, documentos, pareceres e

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informações de órgãos da administração pública, assim como colher depoimentos

de terceiros.

§ 4o As despesas referentes a diárias e passagens dos membros da Comissão

correrão à conta das dotações orçamentárias dos órgãos a que pertencerem.

Art. 3o A pensão especial de que trata esta Medida Provisória, ressalvado o direito à

opção, não é acumulável com indenizações que a União venha a pagar decorrentes

de responsabilização civil sobre os mesmos fatos.

Parágrafo único. O recebimento da pensão especial não impede a fruição de

qualquer benefício previdenciário.

Art. 4o O Ministério da Saúde, em articulação com os sistemas de saúde dos

Estados e Municípios, implementará ações específicas em favor dos beneficiários da

pensão especial de que trata esta Medida Provisória, voltadas à garantia de

fornecimento de órteses, próteses e demais ajudas técnicas, bem como na

realização de intervenções cirúrgicas e assistência à saúde por meio do Sistema

Único de Saúde - SUS.

Art. 5o O Ministério da Saúde, o INSS e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos

da Presidência da República poderão celebrar convênios, acordos, ajustes ou outros

instrumentos que objetivem a cooperação com órgãos da administração pública e

entidades privadas sem fins lucrativos, a fim de dar cumprimento ao disposto nesta

Medida Provisória.

Art. 6o As despesas decorrentes desta Medida Provisória correrão à conta do

Tesouro Nacional e constarão de programação orçamentária específica no

orçamento do Ministério da Previdência Social.

Art. 7o Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de maio de 2007; 186º da Independência e 119º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Guido Mantega

José Gomes Temporão

Paulo Bernardo Silva

Luiz Marinho

Patrus Ananias

Dilma Rousseff

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F311i Feitosa, Adília Maria Machado A institucionalização da hanseníase no Ceará: do

leprosário de Canafísula ao Centro de Convivência Antônio Diogo / Adília Maria Machado Feitosa. ___ Fortaleza, 2008.

98p.; il. Orientadora: Dra. Vera Lúcia de Almeida Dissertação (Mestrado Profissional em

Planejamento e Políticas Públicas) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia.

1. Hanseníase. 2. Métodos de controle. 3. Isolamento. 4. Estigma. I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde.

CDD:616.998

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