universidade estadual de santa cruzpara os parâmetros fitossociológicos e...
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Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
COMPARAÇÃO DA COMUNIDADE ARBÓREA E FENOLOGIA REPRODUTIVA DE DUAS FISIONOMIAS EM FLORESTA
ATLÂNTICA NO SUL DA BAHIA, BRASIL
MICHAELE DE SOUZA PESSOA
ILHÉUS, BAHIA
2008
MICHAELE DE SOUZA PESSOA
COMPARAÇÃO DA COMUNIDADE ARBÓREA E FENOLOGIA
REPRODUTIVA DE DUAS FISIONOMIAS EM FLORESTA
ATLÂNTICA NO SUL DA BAHIA, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Sub-programa Universidade Estadual de Santa Cruz, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Orientador: Professor Dr. André Márcio Amorim
Co-Orientadora: Professora Dra. Regina Sambuichi
ii
MICHAELE DE SOUZA PESSOA
COMPARAÇÃO DA COMUNIDADE ARBÓREA E FENOLOGIA
REPRODUTIVA DE DUAS FISIONOMIAS EM FLORESTA
ATLÂNTICA NO SUL DA BAHIA, BRASIL
Ilhéus, Bahia, 08 de abril de 2008
________________________________________
Dr. André Márcio Amorim UESC (Orientador)
________________________________________
Dra. Maria Regina Vasconcelos Barbosa Dep. de Sistemática e Ecologia/ UFP
________________________________________
Dra. Daniela Custódio Talora Dep. Ciências Biológicas/ UESC
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha “Força” por sempre me manter firme, nunca desistir, me fazer
acreditar que a vida é um desafio maravilhoso, iluminar meu caminho sempre me
orientando e por colocar pessoas essenciais num apredizado mútuo de grandes
descobertas. Uma coisa é certa: os obstáculos existem, mas vencer todos eles é uma
tarefa diária.
A minha família por tudo que fizeram, tem feito e farão com certeza por mim,
SEMPRE!!!!
As minhas amigas, tão presentes na minha vida pessoal e responsáveis muitas vezes
pelo meu desempenho profissional sejam no incentivo, nos desafios, nas discussões e
inúmeras vezes por acreditar em mim. Obrigada Nayara, Julia, Érica, Naty e Adriana!!!!
A Muzio, meu querido companheiro, por acreditar em mim e me incentivar sempre a
ser melhor e dar tudo de mim. Pra sempre!!!
Agradeço em especial a Kristel, uma das principais personagens dessa história, pela
oportunidade de realizar o trabalho, confiança, apoio e incentivo, e a equipe do Projeto
BioBrasil, Lili, Toninho, Josinei, Zé Reis, Zé e Vanúsia.
A professora Adriana Martini, pela amizade e por me fazer pensar... ela consegue!!!!
Sempre tão presente na minha vida acadêmica e profissional, obrigada Adriana e um dia
eu chego lá!!!
Obrigada André Amorim, você fez parte do meu crescimento, e espero sempre te ver
nos corredores do herbário. Na reta final você foi essencial e só assim pude entender
melhor dessa relação maravilhosa de orientador-orientanda.
iv
Aos meninos do herbário pela ajuda valiosa nas identificações das espécies e
amizade: Zé Lima, Márdel, Jomar e Carlinhos. Valeu meninos, vocês foram ótimos!!!
As professoras Ana Shiling e Regina Sambuichi pela disposição em ajudar a
simplificar a pesquisa, além dos toques valiosos.
A Daniela Talora, pessoa valiosa que atravessou o meu caminho, pelo incentivo e por
ampliar meus conhecimentos com sua simpatia e luz tão características. Obrigada
mesmo Daniela, sem você estava mais difícil!!!!!
A Bequinha, grande vizinha, por estar sempre presente nas horas boas, aquelas que
são fundamentais!!!
Aos amigos Carlos, Priscila, Gustavo e Larissa pela ajuda sempre que solicitados e
pelo interesse no trabalho.
A Universidade Estadual de Santa Cruz, ao Instituto de Estudos Socioambientais do
Sul da Bahia, ao Centro de Pesquisa e Conservação da Sociedade Zoológica de
Antuérpia (Bélgica), Fundo dos Micos-leões, Zoological Society of London, Loteria
Nacional da Bélgica, Ministério de Ciência do Governo Flamengo (Bélgica), ao Serviço
Alemão de Intercâmbio Acadêmico e ao Herbário CEPEC/ CEPLAC pelo
financiamento e apoio na pesquisa, sem eles nada disso seria possível. Obrigada!!!
v
LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Fonte: Base de dados IESB.
Pg. 30
Figura 2. Localização da área de pesquisa (Piedade) e cobertura
vegetal da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Fonte: Base de
dados IESB e Projeto BioBrasil.
Pg. 31
Figura 3. Distribuição da precipitação e temperaturas (máxima e
mínima) entre os anos 2004 a 2007 da Reserva Biológica de Una,
Bahia, Brasil. Fonte: Projeto BioBrasil.
Pg. 32
Figura 4. Localização dos transectos (Piedade) na cobertura vegetal
da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Floresta Madura (FM) e
Floresta Secundária (SM). Os transectos estudados estão delimitados
por circunferências azuis. Fonte: Base de dados IESB e Projeto
BioBrasil.
Pg. 33
Figura 5. Comparação no número de famílias e espécies na floresta
madura e secundária da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Pg. 36
Figura 6. Distribuição em número de espécies e indivíduos nas
famílias da floresta madura da Reserva Biológica de Una, Bahia,
Brasil. Os acrônimos correspondem às quatro letras iniciais das
famílias, exceção para indet (família não determinada) da Tabela 1.
Pg. 39
vi
Figura 7. Distribuição em número de espécies e indivíduos nas
famílias da floresta secundária da Reserva Biológica de Una, Bahia,
Brasil. Os acrônimos correspondem às quatro letras iniciais das
famílias, exceção para indet (família não determinada) da Tabela 2.
Pg. 42
Figura 8. Box-Plots das médias e desvios padrão do diâmetro (A) e
altura (B) entre as duas fisionomias (floresta madura e floresta
secundária) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Pg. 43
Figura 9. Comparação entre botões e antese em A. floresta madura e
B. floresta secundária da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Pg. 51
Figura 10. Comparação entre o número de espécies nas fisionomias
em A. botões e B. antese da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Pg. 52
Figura 11. Comparação entre frutos imaturos e frutos maduros em A.
floresta madura e B. floresta secundária da Reserva Biológica de Una,
Bahia, Brasil.
Pg. 54
Figura 12. Comparação entre o número de espécies nas fisionomias
em A. frutos imaturos e B. frutos maduros da Reserva Biológica de
Una, Bahia, Brasil.
Pg. 55
Figura 13. Comparação das médias na porcentagem em A. floração e
B. frutificação entre as fisionomias da Reserva Biológica de Una,
Bahia, Brasil.
Pg. 56
Figura 14. Porcentagem das espécies quanto ao mecanismo de
dispersão nas duas fisionomias da Reserva Biológica de Una, Bahia,
Brasil.
Pg. 58
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Espécies arbóreas amostradas na floresta madura da
Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil e parâmetros
fitossociológicos: número de indivíduos (nº ind), densidade absoluta
(DA), freqüência relativa (F%), densidade relativa (D%) e dominância
relativa (Do%).
Pg. 37
Tabela 2. Espécies arbóreas amostradas na floresta secundária da
Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil e parâmetros
fitossociológicos: número de indivíduos (nº ind), densidade absoluta
(DA), freqüência relativa (F%), densidade relativa (D%) e dominância
relativa (Do%).
Pg. 40
Tabela 3. Índice de similaridade (qualitativo e quantitativo) entre as
fisionomias (floresta madura e floresta secundária) da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Pg. 42
Tabela 4. Comportamento fenológico (□ Floração ■ Frutificação ▲
sicônio – receptáculo fechado com flores inseridas, os frutos
amadurecem dentro do próprio sicônio) da comunidade arbórea da
floresta madura no período do estudo (fevereiro de 2005 a janeiro de
2007) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Local em branco
fenofase não observada e n: número de indivíduos.
Pg. 45
viii
Tabela 5. Comportamento fenológico (□ Floração ■ Frutificação) da
comunidade arbórea da floresta secundária no período do estudo
(fevereiro de 2005 a janeiro de 2007) da Reserva Biológica de Una,
Bahia, Brasil. Local em branco fenofase não observada e n: número
de indivíduos.
Pg. 47
Tabela 6. Consulta a coleção botânica do herbário CEPEC/CEPLAC
das espécies identificadas em que não foram registradas as fenofases
reprodutivas.
Pg. 49
Tabela 7. Coeficientes de correlação de Spearman entre as fenofases
em cada fisionomia (madura e secundária) e as variáveis climáticas,
temperatura mínima, temperatura máxima e precipitação, onde BT:
botões, AT: antese, FI: frutos imaturos e FM: frutos maduros da
Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. p<0,01
Pg. 57
Tabela 8. Mecanismos de dispersão das espécies arbóreas amostradas
na floresta madura da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. * não
identificado o mecanismo de dispersão.
Pg. 59
Tabela 9. Mecanismos de dispersão das espécies arbóreas amostradas
na floresta secundária da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. *
não identificado o mecanismo de dispersão.
Pg. 61
ix
LISTA DE ANEXO Anexo 1. Tabela com a numeração da coleção das espécies arbóreas
identificadas desse estudo depositada no acervo do herbário
CEPEC/CEPLAC. A numeração coleção corresponde às iniciais da
pesquisadora que realizou o estudo (M: Michaele), a área da pesquisa
(P: Piedade) e o tema da pesquisa (F: Fenologia).
Pg. 79
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
CEPEC – Centro de Pesquisas do Cacau
MMA – Ministério do Meio Ambiente
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IESB – Instituto de Estudos Socioambientais do sul da Bahia
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
xi
RESUMO
O contínuo desmatamento, exploração e abandono provocam alterações na paisagem
natural da Floresta Atlântica que compromete seu funcionamento, sua regeneração,
modifica a composição e a estrutura da floresta, além de afetar o crescimento e
reprodução dos animais que dependem direta ou indiretamente dos recursos vegetais.
Considera-se, portanto, que esses aspectos apresentam implicações para a conservação
das espécies e para a regeneração natural da floresta. Diante disso, o objetivo da
pesquisa foi comparar o comportamento fenológico reprodutivo e disponibilidade de
flores e frutos da comunidade arbórea nativa em floresta secundária e floresta madura.
O estudo foi realizado na área oeste da Reserva Biológica de Una, sul da Bahia, Brasil,
onde foram amostrados seis transectos (três para cada fisionomia), pelo método do
ponto-quadrante. Foram realizados levantamento florístico e fitossociológico e
acompanhadas as fenofases reprodutivas (floração e frutificação) durante dois anos
(fevereiro de 2005 a janeiro de 2007), através da observação semi-quantitativa proposta
por Fournier. Nos seis transectos foram amostrados 292 indivíduos, sendo 144 na
floresta madura e 148 na floresta secundária. Na floresta madura registrou-se 103
espécies distribuídas em 31 famílias, sendo Eriotheca globosa, Manilkara maxima,
Pogonophora schomburgkiana e Diplöon cuspidatum espécies com maiores valores
para os parâmetros fitossociológicos e famílias mais representativas Myrtaceae e
Sapotaceae. Na floresta secundária foram registradas 44 espécies distribuídas em 25
famílias, sendo Miconia mirabilis, Schefflera morototoni, Balizia pedicellaris e Pera
glabrata espécies com maiores valores dos parâmetros fitossociológicos e
Melastomataceae a família mais representativa. Miconia mirabilis foi a espécie mais
abundante em todo levantamento. A densidade absoluta total e o número de espécies na
floresta madura foram maiores do que na secundária, porém, a maioria das espécies na
fisionomia madura foi representada por poucos indivíduos. Os resultados apontam para
diferenças marcantes na composição florística entre as duas fisionomias, com apenas
oito espécies comuns entre elas. Na floresta madura foram registradas árvores mais altas
e com maiores diâmetros em relação à secundária. Os padrões de floração e frutificação
foram fracamente sazonais, não havendo correlação significativa com a precipitação.
Esses padrões estão mais próximos aos encontrados para a vegetação costeira do
xii
Pernambuco, do que padrões observados em ambientes pouco sazonais na planície
litorânea do sudeste do Brasil, devido às variações latitudinais. A floração e a
frutificação ocorreram na maior parte do período estudado, representando
disponibilidade de recursos aos polinizadores e dispersores ao longo do período
estudado. A porcentagem das espécies nas duas fisionomias foi agrupada em frutos
zoocóricos. Miconia mirabilis com significativa abundância de recursos (flores e frutos)
na floresta secundária foi considerada como recurso chave em formações secundárias e
áreas degradadas. A intensidade das fenofases reprodutivas na floresta secundária foi
maior que na floresta madura, o que pode ser atribuído a um maior número de espécies
pioneiras e oportunistas, com ciclo de vida curto e intenso na floresta secundária. A
maior ocorrência de espécies endêmicas e raras na floresta madura indica que essas
podem ser responsáveis pelos principais recursos disponíveis à fauna. Em paisagens
inseridas num mosaico florestal de considerável diversidade de habitat, como é o caso
da região de Una, dados fenológicos podem identificar diferentes situações para cada
fisionomia estudada, quer seja através da disponibilidade de recursos alimentares, que
podem ajudar na interpretação da variação do comportamento da vida silvestre, ou na
conservação das espécies arbóreas. As informações geradas nessa pesquisa podem
subsidiar projetos de reflorestamento de áreas degradadas no sul da Bahia.
Palavras-chave: Fenologia reprodutiva, espécies arbóreas, diferentes fisionomias
florestais, conservação e regeneração das florestas, sul da Bahia.
xiii
ABSTRACT The natural landscape of the Atlantic Rainforest has been modified by continuous
deforestation, exploration and abandonment, damaging its functioning and regeneration,
and modifying its species composition and forest structure. In addition, these anthropic
influences affect population growth and reproduction of animals that depend directly or
indirectly on plant resources. Thus, it should be considered that these aspects highly
implicate on species conservation and on forest natural regeneration. Therefore, the aim
of this study is to compare reproductive phenological behavior and availability of
flowers and fruits of native tree community in secondary and mature forest. The study
was conducted in the eastern portion of Una Biological Reserve, southern Bahia -
Brazil, through the monitoring of six transects (three in each physiognomy), using point
– center quadrant method. A floristic and phytosociological survey was conducted, and
reproductive phenophases (flowering and fruiting) were recorded during two years
(february 2005 to january 2007), using semi-quantitative observation methods
suggested by Fournier. Two hundred ninety two individual trees were monitored along
six transects, 144 in mature forest and 148 individuals in secondary forest. We recorded
103 species distributed over 31 families in mature forest; being, Eriotheca globosa,
Manilkara maxima, Pogonophora schomburgkiana and Diplöon cuspidatum the species
with highest phytosociological values; and the most frequently recorded families were
Myrtaceae and Sapotaceae. In secondary forest, we recorded 44 species distributed over
25 families; being, Miconia mirabilis, Schefflera morototoni, Balizia pedicellaris and
Pera glabrata the species with the highest phytosociological values and
Melastomataceae the family most frequently recorded. Miconia mirabilis was the most
abundant species for the entire survey. Absolute density and total number of species
were higher in mature forest than in secondary forest. However, the majority of species
in mature forest were represented by few individuals. These results point to distinct
differences in the floristic composition of the two physiognomies, with only 8 species in
common between them. In mature forest, higher trees with higher diameters were
recorded when compared with secondary forest. The flowering and fruiting patterns
showed weak seasonality, and there was no significant correlation with precipitation.
These patterns are much closer to the coastal vegetation of Pernambuco than to patterns
observed in the low seasonal habitats of the Atlantic Rainforest of southeastern Brazil
xiv
due to the latitudinal variations. Flowering and fruiting could be observed most of the
time, showing resource disponibility to pollinators and dispersers over two years. Most
species in the two physiognomies were classified as zoochoric. Miconia mirabilis with
significant abundance of resources (flowers and fruits) in the secondary forest, was
considered a key resource in secondary forests and disturbed areas. The intensity of
reproductive phenophases was higher in secondary forest than in mature forest, due to
the higher number of oportunistic and pioneer species, which have an intense and short
life-cicle. The higher occurrence of rare and endemic species in mature forest indicates
that these species could be responsible for the main resources available for the local
fauna. In landscapes inserted in a forest mosaic of considerable habitat diversity, as in
Una region, phenological data can identify different situations for each studied
physiognomy. Disponibility of food resource can help on the interpretation of behavior
variations of local wildlife and on the conservation of arboreal species. The
informations provided by this study might be used on reforestation projects of disturbed
areas in southern Bahia.
Key-words: Reproductive phenology, Trees species, different forest physiognomies,
conservation and regeneration of forests, Southern-Bahia
xv
SUMÁRIO
Agradecimentos iv
Lista de figuras vi
Lista de tabelas vii
Lista de anexo x
Lista de abrevaturas e símbolos xi
Resumo xii
Abstract xiv
1. INTRODUÇÃO 19
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22
2.1. A importância dos estudos fenológicos e aplicações
22
2.2. Floração
23
2.3. Frutificação
25
3. OBJETIVOS
28
3.1. Objetivo Geral 28
3.2. Objetivos Específicos
28
4. MATERIAIS E MÉTODOS 29
4.1. Área de estudo
29
4.2. Amostragem da vegetação 32
4.3. Acompanhamento fenológico 34
4.4. Mecanismos de dispersão
34
4.5. Análise dos dados 34
16
5. RESULTADOS 36
5.1. Vegetação: comparação da composição, estrutura e relações florísticas da comunidade arbórea entre as duas fisionomias amostradas
36
5.2. Diferenças estruturais entre a floresta madura e floresta secundária
43
5.3. Fenologia reprodutiva na floresta madura e floresta secundária
44
5.3.1. Floração
50
5.3.2. Frutificação
53
5.3.3. Comparação entre floração e frutificação na floresta madura e floresta secundária
56
5.4. Relação das fenofases reprodutivas aos fatores abióticos na floresta madura e floresta secundária
57
5.5. Mecanismos de dispersão 58
6. DISCUSSÃO 62
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 69
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70
9. ANEXO 79
17
“... biólogos trabalhando em habitats tropicais devem assumir um
papel cada vez mais importante, no esforço da ciência em desvendar a
intricada teia de relações que existe por trás de eventos aparentemente
tão triviais, como uma singela árvore florindo.”
Felipe A. P. L. Costa (2003)
18
1. INTRODUÇÃO
Os remanescentes de Floresta Atlântica no sul da Bahia são compostos de uma série
de fisionomias florestais em diferentes estágios de regeneração e entremeados por
diferentes usos antrópicos como pastagens e plantações (INSTITUTO DE ESTUDOS
SOCIOAMBIENTAIS DO SUL DA BAHIA, dados não publicados). Apesar da
devastação acentuada, esse bioma ainda contém uma parcela significativa da
diversidade biológica do Brasil, com altos níveis de endemismos e ocorrência de
espécies raras (AMORIM et al., 2008), na maioria das vezes localizados nas florestas
mais conservadas, conhecidas também como florestas primárias ou maduras.
A Reserva Biológica de Una abriga um grande remanescente de Floresta Atlântica
no sul da Bahia, e significativa representatividade de espécies de flora e fauna
endêmicas (THOMAS et al., 1998; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000).
Apesar de muitos levantamentos florísticos terem sido realizados nessa Unidade de
Conservação, nenhum estudo sobre fenologia em comunidades florestais foi feito.
Os padrões fenológicos reprodutivos em comunidades vegetais fornecem
importantes informações sobre o ciclo de vida das espécies e sobre a disponibilidade
dos recursos para os animais, além de possibilitar o entendimento de interações
essenciais, tais como polinização, dispersão e predação com valor ecológico e evolutivo
(CORLETT, 1990; MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1990, 1992; MIKICH e SILVA,
2001; BOULTER et al., 2006; ELZINGA et al., 2007; SELWYN e
PATHASARATHY, 2007).
A ação de polinizadores, dispersores e predadores são fatores seletivos importantes
na determinação dos padrões de floração e frutificação das plantas (CORLETT, 1990;
MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992; ELZINGA et al., 2007; ARÉVALO et al.,
2007). Plantas dependem de animais como vetores na transferência de pólen de uma flor
para outra e na dispersão de sementes. Em contrapartida, as plantas possuem flores que
oferecem recursos como pólen, néctar e óleo e frutos com polpas suculentas ou
sementes nutritivas. Existe, portanto, uma “recompensa” para os animais que promovem
o sucesso reprodutivo das plantas (MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992).
As fenofases reprodutivas são também correlacionadas aos fatores abióticos, como
pluviosidade e temperatura, para um maior entendimento dos eventos fenológicos em
19
ambientes pouco sazonais, como na Floresta Atlântica (TALORA e MORELLATO,
2000; MORELLATO et al., 2000; BENCKE e MORELLATO et al., 2002 a; SAN
MARTIN-GAJARDO e MORELLATO, 2003).
Assim, os eventos fenológicos são regulados pelas características endógenas das
espécies vegetais e por fatores abióticos e bióticos que são fatores de pressão seletiva
para o desenvolvimento das fenofases (RATHCKE e LACEY, 1985).
Alguns trabalhos sobre a dieta e comportamento alimentar de primatas
(Leontopithecus chrysomelas e Cebus xanthosternos) vem sendo realizados pelo
Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia na REBIO Una. Diante disso,
informações sobre os padrões fenólogicos reprodutivos de espécies e disponibilidade de
recursos em diferentes fisionomias florestais são imprescindíveis na elucidação do
comportamento da fauna frente às modificações da paisagem natural.
As florestas maduras e secundárias apresentam um conjunto de diferenças, tanto em
termos estruturais, como na composição das espécies e graus de perturbação
(TABARELLI e MANTOVANI, 1999; KAGEYAMA e GANDARA, 2003;
MANTOVANI et al., 2005). Estudos com enfoque em diferentes fisionomias,
principalmente comparando com a disponibilidade de recursos como flores e frutos são
escassos (FERRAZ et al., 1999; MANTOVANI et al., 2003; ANDREIS et al., 2005;
HAUGAASEN e PERES, 2005), mesmo sendo fundamentais no entendimento do
comportamento da fauna e renovação das florestas.
Em comunidades arbóreas na Floresta Atlântica sul baiana houve apenas um estudo
fenológico datado de mais de 20 anos (MORI et al., 1982) e não houve avanço desde
sua publicação. Estudos sobre a comparação dos padrões de floração e frutificação em
diferentes fisionomias florestais e a associação com informações sobre os mecanismos
de dispersão das espécies não foram ainda verificados para essa região. Em outras
regiões do Brasil esses estudos estão mais avançados e melhor conhecidos quando
comparados com o sul da Bahia.
Considera-se, portanto, que o conhecimento do ciclo reprodutivo de espécies
vegetais pode contribuir para a conservação das espécies e o entendimento da
regeneração natural da floresta, além da sua aplicabilidade agronômica e silvicultural,
sendo imprescindíveis em projetos de recuperação de áreas florestais e manejo em bases
suntentáveis (KAGEYAMA e GANDARA, 2003). A consideração das condições
naturais de comunidades florestais pode orientar na coleta eficiente de sementes das
espécies e o incentivo a produção de mudas nativas
20
O presente estudo é um subprojeto de um projeto maior intitulado “Fenologia de
comunidades arbóreas em cinco fisionomias de Floresta Atlântica no sul da Bahia”, e
teve como objetivo ampliar o conhecimento fenológico da região. Conhecer também, os
padrões de disponibilidade de recursos alimentares considerados fundamentais para o
Leontopithecus chrysomelas (Kuhl, 1820) (Primates, Callitrichidae) (mico-leão-da-cara-
dourada) dentro da sua área de vida, e de contribuir na elucidação de recursos
alimentares para outros primatas e aves. Esse projeto foi desenvolvido na Reserva
Biológica de Una durante o período de janeiro de 2005 até janeiro de 2007 como parte
do Projeto BioBrasil coordenado pelo Centro de Pesquisa e Conservação da Sociedade
Zoológica de Antuérpia (Bélgica) em parceria com o Instituto de Estudos
Socioambientais do Sul da Bahia – IESB, Núcleo de Biodiversidade.
21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. A importância dos estudos fenológicos e aplicações
A fenologia é uma ciência que identifica a ocorrência dos fenômenos de floração,
frutificação, brotamento e queda foliar com o objetivo de conhecer o ciclo anual das
espécies em estudo, o qual está diretamente relacionado às condições climáticas e ao
caráter adaptativo de cada espécie em sua área de dispersão (ANDREIS et al., 2005).
Nas florestas tropicais ocorre grande variedade de padrões reprodutivos relacionados
em sua maioria, com a composição de espécies e com a sazonalidade climática
(FRANKIE et al., 1983). A variação sazonal da irradiação é considerada como
importante fator na fenologia de floração e frutificação das comunidades vegetais em
florestas sazonais e pouco sazonais. As mudanças climáticas têm forte impacto em
florestas secas, onde a estação seca pode ser prolongada e mais severa (ZIMMERMAN
et al., 2007). Em ambientes pouco sazonais a grande diversidade de padrões
fenológicos, podem apresentar muitas variações de curto prazo, ligadas às alterações
nos ciclos de chuvas ou a períodos de seca (FUNCH et al., 2002).
No Brasil, os estudos fenológicos em comunidades florestais ainda são restritos,
sendo que alguns tipos de vegetação nunca foram considerados sob nenhum aspecto.
Assim, a relação entre clima e fenologia continua ambígua para as espécies vegetais, e
os dados sobre disponibilidade de recursos como flores e frutos das espécies são muito
escassos para as florestas neotropicais (MORELLATO et al., 2000).
A fenologia fornece dados importantes para o entendimento da variação espaço-
temporal de recursos alimentares e para as interações competitivas e evolutivas de fauna
e flora nos trópicos (BOULTER et al., 2006; ARÉVALO et al., 2007). Os animais que
habitam as florestas tropicais experimentam períodos de fartura e escassez de recursos
alimentares. Mudanças na densidade de flores e frutos e na composição florística,
causadas pela degradação de habitats, pode levar à redução de importantes recursos
necessários aos animais e comprometer a regeneração da floresta (FOSTER, 1980;
TERBORG, 1983). Em relação às plantas, consideradas organismos sésseis, variações
ambientais e períodos desfavoráveis podem comprometer sua reprodução, pois não
possuem a capacidade de migração dos animais que evitam situações desfavoráveis
deslocando-se para outros locais (SILVERTOWN, 1987).
22
Portanto, os dispersores de sementes estabelecem uma ligação dinâmica entre as
plantas nas comunidades naturais e podem atuar na regeneração de ambientes
perturbados, levando sementes de florestas mais conservadas para formações
secundárias (DUNCAN e CHAPMAN, 1999), contribuindo dessa forma para os locais
de sobrevivência das sementes e consequentemente das plântulas (WENNY, 2001).
O papel da fauna na floração e frutificação das espécies vegetais também tem
recebido especial importância em estudos de restauração florestal. Algumas
considerações relevantes para o sucesso nos modelos de reflorestamento relacionados à
fauna são: a existência de fontes próximas de propágulos entre diferentes fragmentos
florestais e paisagens antropizadas e o conhecimento da disponibilidade de flores e
frutos que favoreçam a movimentação dos animais polinizadores e dispersores nesses
ambientes (OLIVEIRA et al., 2001).
Atualmente, para o sucesso da recomposição florestal, tem sido utilizados
frequentemente conceitos de diversidade de espécies, estudos fenológicos para o
entendimento dos ciclos reprodutivos das espécies que deseja manejar, mecanismos de
dispersão, interação entre espécies e sucessão ecológica para a adaptação de tecnologias
já conhecidas de silvicultura tradicional às espécies nativas (KAGEYAMA e
GANDARA, 2003).
Essas considerações, das características naturais das espécies, principalmente aquelas
que são adaptativas, são fundamentais para que a restauração siga a estrutura e dinâmica
das florestas tropicais, além de permitir a coleta de sementes orientada e a produção de
mudas nativas como benefício tanto para conservação, quanto para a economia
(KAGEYAMA e GANDARA, 2003).
Dessa forma, a fenologia permite conhecer os ciclos de crescimento e de reprodução
de uma floresta (FERRAZ et al., 1999). Segundo Costa (2003) estudos quantitativos ou
experimentais são raros, mas deveriam ser adotados com maior freqüência, pois geram
dados mais refinados e permitem confrontar hipóteses alternativas na busca de respostas
para as questões que envolvem a fenologia das espécies vegetais.
2.2. Floração
Picos de floração têm sido registrados em diferentes formações vegetais, na transição
da estação seca para úmida (MORELLATO et al., 1989; MORELLATO e LEITÃO-
FILHO, 1990; CORLETT, 1990; FERRAZ et al., 1999; MIKICH e SILVA, 2001;
23
FUNCH et al., 2002; MANTOVANI et al., 2003; BOLLEN e DONATI, 2005;
ANDREIS et al., 2005; HAUGAASEN e PERES, 2005; BOULTER et al., 2006),
floração intensa em períodos mais úmidos (MORELLATO et al., 2000; TALORA e
MORELLATO, 2000), pico de floração na estação seca, associada com a pluviosidade
(OPLER et al., 1980; KRISHNAN, 2004) e floração independente da precipitação
(MORI et al., 1982; MEDEIROS et al. 2006).
Os padrões de floração podem ser baseados em três hipóteses, através de explicações
climáticas, bióticas e filogenéticas. A periodicidade da floração em árvores tropicais,
através de explicações climáticas, pode ser determinada por mudanças sazonais na
precipitação (BORCHERT, 1983) onde, a reidratação das árvores que previamente
apresentaram estresse hídrico, serve como estímulo para quebrar a dormência dos
botões florais (BORCHERT, 1983; REICH e BORCHERT, 1984) e esses padrões são
comumente registrados em ambientes fortemente sazonais. Em localidades com regime
constante ou irregular de chuvas, a temperatura e o fotoperíodo são frequentemente
correlacionados à floração, demonstrando assim a importância da luz nesses ambientes
(MORELLATO et al., 2000).
A floração também pode estar relacionada ao período ótimo do agente polinizador
(BORCHERT, 1983), assim o sucesso na polinização vai depender do sistema de
reprodução da planta e da disponibilidade e eficiência do polinizador ao longo da
floração (FENNER, 1985). Segundo Faegri e Van Der Pijl (1979) o conjunto de
atributos florais caracteriza as diferentes síndromes de polinização as quais constituem
um importante guia para subsidiar estudos de ecologia da polinização. A forma, o
tamanho e o odor são parâmetros florais que têm sido utilizados nos estudos em nível de
comunidade, por revelarem importantes implicações, não apenas na relação planta-
polinizador, mas também por influenciar no sucesso reprodutivo da planta (BARBOSA,
1997).
Para espécies que são polinizadas pelo vento há uma tendência em apresentar
floração no mesmo período, por mais tempo e geralmente ocorrem em períodos mais
secos que facilitariam a transferência do pólen. Assim, o nicho é mais constrito para
espécies polinizadas pelo vento e o nicho compartilhado é menos importante entre estas
plantas, do que por aquelas que são polinizadas por animais (BOLMGREN et al., 2003).
As espécies que são polininizadas por animais a tendência é no sentido de favorecer
mudanças na direção dos picos ou antecipar a floração, os predadores podem favorecer
a floração tardia e há pouco suporte para relacionar a sincronia da floração a fim de
24
saciar herbívoros (ELZINGA et al., 2007) essas informações são frequentemente
relacionadas às pressões seletivas bióticas (AIDE, 1988).
A polinização biótica pode estar correlacionada com o aumento da competição
interespecífica por polinizadores entre plantas e o maior grau de especiação (BOULTER
et al., 2006). A interação de plantas e polinizadores garante benefícios para ambos,
estabelecendo uma relação de troca entre recursos oferecidos pelas plantas para os
animais e o fluxo gênico devido à atividade dos polinizadores. A morfologia floral tanto
pode excluir visitantes quanto atrair polinizadores potenciais, seja pela relação
interdependente entre o tamanho das flores e o dos polinizadores ou pela ocorrência de
diferentes tipos de recompensas florais (FRANKIE et al., 1983; MACHADO e LOPES,
2002).
Estudos filogenéticos revelam que a floração entre taxa ou grupos morfológicos
tende a estar junta, senão é aleatória, mesmo que ocorra um tempo de floração
semelhante entre espécies do mesmo gênero ou família, do que para níveis taxonômicos
mais distintos (BOULTER et al., 2006). Portanto, para uma clara separação das
hipóteses bióticas e filogenéticas, deve-se ampliar o conhecimento do ciclo de vida das
espécies, estudos sobre a ecologia de polinização e filogênia, principalmente nos
trópicos com elevada biodiversidade e padrões de floração registrados. Por muito tempo
a floração das plantas tem sido controversa na busca de sobrepor explicações para um
maior entendimento desses processos.
2.3. Frutificação
Para a frutificação, podem ocorrer picos na estação menos chuvosa (MIKICH e
SILVA, 2001), na estação úmida (MORELLATO et al., 1989; HAUGAASEN e
PERES, 2005), padrões de frutificação podem ser bimodais com maior número de
espécies zoocóricas na estação úmida (FUNCH et al., 2002; SELWYN e
PATHASARATHY, 2007) e sem pico evidente ocorrendo ao longo do ano
independente da precipitação (TALORA e MORELLATO, 2000; MORELLATO et al.,
2000; SAN MARTIN-GAJARDO e MORELLATO, 2003; MEDEIROS et al., 2006).
A variação no tempo de desenvolvimento dos frutos, juntamente com o período da
dispersão, dormência e tamanho das sementes e o desenvolvimento de plântulas, deve
ser combinada para permitir a germinação e estabelecimento em um tempo ótimo,
minimizando o impacto coletivo de predadores e patógenos que atacam frutos em
25
desenvolvimento e plântulas (ZIMMERMAN et al., 2007). Segundo os mesmos
autores, em florestas secas a frutificação ajustada para períodos mais úmidos garante a
disponibilidade de umidade do solo, principal responsável pela germinação de
sementes. Diante disso, a frutificação durante o final da estação seca, seguida pela
germinação das sementes e o rápido estabelecimento de plântulas na estação chuvosa,
pode ser a estratégia mais vantajosa nesses ambientes (SELWYN e PATHASARATHY,
2007).
A frutificação durante o ano todo oferece condições pouco restritivas para o
desenvolvimento e amadurecimento dos frutos em ambientes com baixa sazonalidade
climática. Como o clima parece ser pouco limitante nesses ambientes, talvez a seleção
atue no sentido de diminuir a predação de sementes, favorecendo espécies que
frutifiquem no período mais frio e seco do ano, momento de menor atividade de
patógenos e predadores (TALORA e MORELLATO, 2000).
Os padrões de ajustes na frutificação no final do período seco ou início da estação
úmida também podem estar relacionados ao mecanismo de dispersão das espécies
vegetais (VAN SCHAIK et al., 1993). A morfologia dos frutos pode estar diretamente
relacionada com seus possíveis agentes dispersores. Frutos maduros apresentam
diferentes características como cor, presença de alas, deiscência de cápsula e
apresentação de semente com arilo, que indicam adaptação para a dispersão por
diferentes vetores ou síndromes (MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992). Em
florestas tropicais têm sido registrados altos percentuais de zoocoria e baixos
percentuais de anemocoria (MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1996; TALORA e
MORELLATO, 2000; MIKICH e SILVA, 2001; FUNCH et al., 2002). Frutos
zoocóricos apresentam produção com menor sazonalidade, garantindo sua
disponibilidade durante o ano todo, com relação direta com frugívoros e predadores,
enquanto frutos anemocóricos com pico nos meses mais secos têm maior relação com a
dispersão pelo vento (MORELLATO et al., 1989; FUNCH et al., 2002; HAUGAASEN
e PERES, 2005; SELWYN e PATHASARATHY, 2007). Ao longo de diferentes
formações de florestas tropicais, incluindo as úmidas, mesófilas e secas, os frutos
anemocóricos tendem a ser quase que exclusivamente na estação seca (FUNCH et al.,
2002).
A dispersão de sementes por frugívoros corresponde à forma mais comum de
dispersão em florestas tropicais, sendo um importante processo para a manutenção das
populações de muitas espécies vegetais e para conservar a heterogeneidade da
26
composição florística nestes ambientes (HOWE, 1984; GARBER e LAMBERT, 1998).
Estudos sobre tais aspectos são importantes à medida que possibilitam um melhor
entendimento dos diversos tipos de interações entre plantas e animais e nos permitem
compreender as diferentes estratégias encontradas entre as plantas que irão garantir o
seu sucesso reprodutivo. Existe uma relação mutualista entre plantas e seus dispersores
de semente. Os dispersores recebem nutrientes das sementes e as plantas obtêm
“mobilidade” para suas sementes. Do ponto de vista da relação planta-animal, a
frugivoria é um mecanismo que mantém a grande diversidade de plantas em florestas
tropicais (LOPEZ e VAUGHAN, 2004).
Variações na disponibilidade de frutos afetam consumidores primários, que
respondem através de alterações na dieta, reprodução sazonal e mudanças de habitat,
áreas de vida ou migração (VAN SHAIK et al., 1993). Diferenças estruturais na floresta
podem ser importantes, associadas com a variabilidade do clima ao longo do ano,
principalmente na consideração da variação espaço-temporal dos frutos (ARÉVALO et
al., 2007).
Portanto, a distribuição temporal e espacial de recursos alimentares em diferentes
formações vegetais pode influenciar na distribuição de animais, sendo importantes para
a investigação das interações entre plantas e seus potenciais polinizadores e dispersores
em áreas de florestas (PAISE e VIEIRA, 2005). Avaliações em longo prazo na
produção de flores e frutos são extremamente necessárias na consideração das
flutuações interanuais, pois provavelmente podem levar a variação na produção de
recursos e influenciar os polinizadores e frugívoros (ARÉVALO et al., 2007).
27
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
O objetivo geral da pesquisa foi comparar a composição florística, o comportamento
fenológico reprodutivo e a disponibilidade de flores e frutos da comunidade arbórea em
floresta madura e floresta secundária.
3.2. Objetivos Específicos
Especificamente a pesquisa visa responder às seguintes questões:
• Existem espécies comuns entre a floresta madura e secundária?
• Quais as espécies dominantes em cada fisionomia? Essas espécies são
zoocóricas?
• Qual a proporção de espécies zoocóricas em cada fisionomia?
• A comunidade arbórea nas fisionomias apresenta padrão sazonal na oferta de
recursos alimentares à fauna?
• Considerando os dois anos de observação, existem períodos de pico de floração
e frutificação similares entre anos em cada e entre as fisionomias?
• Existe relação do comportamento fenológico das comunidades e as variáveis
climáticas de precipitação e temperatura?
• Quais possíveis implicações podem ser levantadas em relação à conservação e
renovação das florestas secundárias?
28
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. Área de estudo
A Reserva Biológica de Una (REBIO-Una) situa-se no sul da Bahia, cerca de 50 km
do município de Ilhéus (Figura 1). Criada por Decreto Federal n° 85.463 em 1980 com
11.400 ha. Atualmente foi ampliada em 7.100 ha passando a contar com uma área total
de 18.500 ha (CRUZ, comunicação pessoal).
A formação florestal é composta predominantemente por Floresta Ombrófila Densa,
tendo sido classificada por Gouvêa et al. (1976), como Mata Higrófila Sul-Baiana.
Essas florestas usualmente exibem a estrutura clássica de florestas pluviais com mais de
25 m de altura, com árvores emergentes e com os estratos herbáceos, de dossel e de sub-
dossel. As assembléias de plantas geralmente estão correlacionadas com os tipos de
solo, elevação e unidades geomorfológicas presentes na região, ocorrendo dessa forma
com uma ampla variedade de tipos de solos e diferentes elevações (THOMAS, 2003).
Num levantamento florístico feito ao longo de 10 anos na REBIO de Una (AMORIM
et al., 2008), foram identificadas 1.038 espécies de plantas, destas 91 são samambaias
(Pteridófitas) e 947 são plantas que produzem flores (Angiospermas). Nesse estudo 13
espécies novas foram descritas e outras 10 foram detectadas. Analisando 887 plantas
nesse levantamento, 39,5% são endêmicas da Floresta Atlântica e 18,9% restritas ao sul
da Bahia e norte do Espírito Santo. Esses percentuais são um pouco menores que o
encontrado por Thomas et al. (1998), em que um pouco menos da metade das espécies
da flora da REBIO/ Una, 45,2% tem distribuição ampla e 7,4% são disjuntas entre a
Floresta Atlântica e a Amazônia. Em relação ao endemismo, 44,1% da flora são restritas
a Floresta Atlântica e 28,1% endêmicas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo.
Em relação à fauna é reconhecida como uma importante área de endemismo para
vários grupos de organismos, incluindo vertebrados terrestres (MULLER, 1973),
borboletas florestais (TAYLOR et al., 1994), grande número de espécies de aves e
mamíferos, incluindo primatas como o macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus
xanthosternos) e o mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) (SILVA e
CASTELETI, 2005).
29
Figura 1. Localização da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Fonte: Base de dados IESB.
O estudo foi realizado na porção oeste da Unidade, conhecida como Piedade, entre as
coordenadas 15°10’ e 39°03’ W, onde a paisagem se apresenta parcialmente degradada
(Figura 2). Nesta região encontram-se solos com horizonte B latossólico a espódico, que
acompanham as variações geomorfológicas e possuem aptidão para agricultura na
variação de boa a restrita. No geral, são solos pouco profundos (de 40 a 50 cm), o que
influencia diretamente nos tipos de fisionomias vegetais presentes na região (THOMAS,
2003).
30
Figura 2. Localização da área de pesquisa (Piedade) e cobertura vegetal da Reserva Biológica de Una,
Bahia, Brasil. Fonte: Base de dados IESB e Projeto BioBrasil.
O clima regional, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Af, quente e úmido,
sem estação seca definida (GOUVÊA et al., 1976). A temperatura média anual é de
24°C e a precipitação está em torno de 2.000 mm/ ano, sendo identificado como pouco
sazonal (MORI et al., 1983; THOMAS et al., 1998) (Figura 3).
31
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
J2004
F M A M J J A S O N D J2005
F M A M J J A S O N D J2006
F M A M J J A S O N D J2007
F M A M J J A S O N D
Prec
ipita
ção(
mm
)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Tem
pera
tura
(°C)
Rainfall MinT° MaxT°
Figura 3. Distribuição da precipitação e temperaturas (máxima e mínima) entre os anos 2004 a 2007 da
Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Fonte: Projeto BioBrasil.
4.2. Amostragem da vegetação
Para a análise fitossociológica da vegetação foi utilizado o método ponto-quadrante
(MÜLLER-DOMBOIS e ELLENBERG, 1974) em áreas representativas de floresta
madura e da floresta secundária.
Foram estabelecidos seis transectos de aproximadamente 200 m (três para cada
fisionomia), sendo feito um ponto a cada 15 m (as quatro árvores mais próximas),
totalizando 30 pontos para floresta madura e 37 pontos para floresta secundária. Todos
os indivíduos com DAP acima de 7,5 cm foram amostrados (Figura 4).
32
Figura 4. Localização dos transectos (Piedade) na cobertura vegetal da Reserva Biológica de Una, Bahia,
Brasil. Floresta Madura (FM) e Floresta Secundária (SM). Os transectos estudados estão delimitados por
circunferências azuis. Fonte: Base de dados IESB e Projeto BioBrasil.
Para obter a densidade absoluta dos indivíduos foi tomada a distância da árvore até o
ponto central. Os indivíduos amostrados tiveram o DAP mensurado com o auxílio de
uma fita diamétrica e a altura estimada com podão telescópico.
A identificação do material botânico foi feita através de comparações de exsicatas e
por especialistas da região. O sistema adotado para a classificação das famílias foi o de
Cronquist (1982). Exsicatas representativas de cada espécie observada nas duas
fisionomias encontram-se depositadas no acervo CEPEC, localizado na Ceplac (rodovia
Ilhéus-Itabuna).
33
4.3. Acompanhamento fenológico
As observações fenológicas foram realizadas no período de dois anos, mensalmente
de fevereiro de 2005 a janeiro de 2007, procurando-se determinar a época de ocorrência
das seguintes fenofases reprodutivas: i) floração: dividida em período com produção de
botões e ocorrência de antese e ii) frutificação: dividida em período com produção de
frutos imaturos e frutos maduros.
Foi adotada a metodologia semi-quantitativa proposta por Fournier (1974) para
quantificar as fenofases, as quais são avaliadas individualmente, utilizando uma escala
de zero a quatro (0 = ausência da fenofase; 1 = presença da fenofase com magnitude
entre 1% e 25%; 2 = presença da fenofase entre 26% e 50%; 3 = presença da fenofase
entre 51% e 75% e 4 = presença da fenofase entre 76% e 100%), conforme sugerido por
Bencke e Morellato (2002 b).
4.4. Mecanismos de dispersão
As informações sobre os mecanismos de dispersão foram verificadas através da
coleta dos frutos, análise do material disponível e das informações nas exsicatas no
acervo CEPEC. Essas informações foram complementadas através de consultas à
literatura científica disponível. Os frutos foram agrupados em três categorias: (1)
anemocóricos: quando os diásporos apresentaram formas aladas, plumosas, balão ou
poeira; (2) zoocóricos: porção carnosa comestível com atrativos de cores e odores e (3)
autocóricos: quando a dispersão ocorreu por gravidade ou com dispersão explosiva.
4.5. Análise dos dados
Composição e estrutura da comunidade arbórea: Foram calculadas a densidade
absoluta, densidade, freqüência e dominância relativa das espécies. A densidade
absoluta foi calculada a partir da distância-ponto de cada indivíduo, através das
seguintes fórmulas: d= Σ dj/ N, onde dj distância-ponto planta para o indivíduo j e N=
número de plantas mensuradas. Através da medida da distância-ponto foi calculada a
área, onde A= d 2 e em seguida a densidade total de cada espécie, Dt= u/ A, onde u
número de áreas unidade, 1 ha e finalmente DA= (Dri) x (Dt), onde Dri é a densidade
relativa da espécie i.
34
A densidade relativa (DR %) foi obtida a partir da seguinte fórmula: DR = ni x 100/
N, onde, ni: número de indivíduos amostrados de cada espécie e N: número de pontos x
4. A freqüência relativa (FR %) obtida pela fórmula: FR = (nº de ocorrências da sp /
ocorrência total) x 100, e a dominância relativa (DoR) obtida pela relação entre DAP da
espécie i e o DAP de todas as espécies, tal que: DoR = DAP i / DAP t x 100 (FELFILI e
REZENDE, 2003).
Para verificar diferenças de diâmetro e altura entre as duas fisionomias estudadas foi
utilizado o método Box-Plots entre as médias e desvios padrão e o teste t foi aplicado
(Bioestat 4). Os índices de similaridade utilizados para comparar as diferentes
fisionomias florestais foram o de Jaccard e Sorensen (qualitativo) e Czekanowski
(quantitativo), indicando a probabilidade das espécies ocorrerem em apenas uma
fisionomia ou em ambas (KENT e COKER, 1992).
Dados Fenológicos: Foi calculada mensalmente a intensidade de cada fenofase
através da porcentagem de Fournier com a seguinte fórmula: % de Fournier = Σ
Fournier x 100/ 4 x N; onde, Σ Fournier é a somatória dos indivíduos dividida pelo
máximo de Fournier que pode ser alcançado por todos os indivíduos (N) na amostra
(FOURNIER, 1974).
A normalidade da distribuição dos dados foi testada utilizando-se o teste de Shapiro
e Wilk (ZAR, 1996). Uma vez que os dados não apresentaram distribuição normal, foi
utilizada a análise de correlação de Spearman (rs) entre o número de indivíduos e a
porcentagem de Fournier de cada fenofase e as variáveis climáticas: temperaturas
(mínima e máxima) e pluviosidade (ZAR, 1996).
35
5. RESULTADOS
5.1. Vegetação: comparação da composição, estrutura e relações florísticas da
comunidade arbórea entre as duas fisionomias amostradas
Nos seis transectos foram amostrados 292 indivíduos, 144 indivíduos em floresta
madura e 148 em floresta secundária. Na floresta madura foram registradas 103 espécies
distribuídas em 31 famílias e na secundária 44 espécies distribuídas em 25 famílias
(Figura 5).
0
20
40
60
80
100
120
Madura Secundária
famílias espécies
Figura 5. Comparação no número de famílias e espécies na floresta madura e secundária da Reserva Biológica de
Una, Bahia, Brasil.
Na Tabela 1 encontra-se listadas informações sobre as famílias, espécies, número de
indivíduos e parâmetros fitossociológicos na floresta madura. As famílias mais
representativas dessa comunidade foram Myrtaceae (24 espécies), Sapotaceae (12),
Euphorbiaceae (6), Chrysobalanaceae e Lauraceae (5), Lecythidaceae, Leguminosae e
Meliaceae (4) e Annonaceae (3).
As dez espécies com maiores números de indivíduos foram: Eriotheca globosa (5),
Manilkara maxima (4) Pogonophora schomburgkiana (4), Diplöon cuspidatum (3),
Schistostemon retusum (3), Pouteria bangii (3), Licania hypoleuca (3), Brosimum
rubescens (3), Macrolobium latifolium (3) e Myrtaceae sp 6 (3). Dezessete espécies
apresentaram dois indivíduos e 76 espécies apresentaram apenas um indivíduo.
Eriotheca globosa, Manilkara maxima e Pogonophora schomburgkiana
apresentaram os maiores valores de densidade absoluta. Os valores de freqüência,
36
densidade e dominância relativa das espécies nessa fisionomia foram baixos, sendo que
75% das espécies na comunidade foram representadas por apenas um indivíduo.
Eriotheca globosa apresentou os maiores valores de freqüência e densidade relativa e
Manilkara maxima e Diplöon cuspidatum com os maiores valores de dominância
relativa (Tabela 1).
Tabela 1. Espécies arbóreas amostradas na floresta madura da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil e parâmetros
fitossociológicos: número de indivíduos (nº ind), densidade absoluta (DA), freqüência relativa (F%), densidade relativa (D%) e
dominância relativa (Do%).
Famílias Espécies n° ind DA
F %
D%
Do%
SAPOTACEAE Manilkara maxima T.D. Penn. 4 107.2 2.84 2.78 4.95
SAPOTACEAE Diplöon cuspidatum (Hoehne) Cronq. 3 80.4 2.13 2.08 3.85
BOMBACACEAE Eriotheca globosa (Aubl.) A. Robins 5 134.0 3.55 3.47 3.40
LEGUMINOSAE Andira sp 1 26.8 0.71 0.69 2.97
HUMIRIACEAE Schistostemon retusum (Ducke) Cuatrec. 3 80.4 2.13 2.08 2.88
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Miers ex. Benth. 4 107.2 2.84 2.78 2.50
INDETERMINADA indet 4 1 26.8 0.71 0.69 2.25
SAPOTACEAE Pouteria bangii (Rusby) T.D. Penn. 3 80.4 2.13 2.08 2.15
CHRYSOBALANACEAE Licania hypoleuca Benth. 3 80.4 2.13 2.08 2.07
MORACEAE Ficus sp 1 26.8 0.71 0.69 2.03
INDETERMINADA indet 2 2 53.6 1.42 1.39 1.94
ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.)Benth 1 26.8 0.71 0.69 1.92
LEGUMINOSAE Pterocarpus rohrii Vahl 1 26.8 0.71 0.69 1.86
BURSERACEAE Protium aracouchini (Aubl.) Marchand 2 53.6 1.42 1.39 1.80
LECYTHIDACEAE Lecythis lanceolata Poir. 1 26.8 0.71 0.69 1.76
MORACEAE Brosimum rubescens Taub. 3 80.4 2.13 2.08 1.64
SAPOTACEAE Pouteria sp 2 2 53.6 1.42 1.39 1.52
LEGUMINOSAE Macrolobium latifolium Vogel 3 80.4 2.13 2.08 1.44
LECYTHIDACEAE Eschweilera alvimii S.A. Mori 2 53.6 1.42 1.39 1.41
MYRTACEAE Eugenia adenantha O. Berg 1 26.8 0.71 0.69 1.39
BURSERACEAE Protium heptaphyllum Marchand. 1 26.8 0.71 0.69 1.39
MYRTACEAE Myrtaceae sp 6 3 80.4 1.42 2.08 1.38
SAPINDACEAE Sapindaceae sp 1 1 26.8 0.71 0.69 1.38
LECYTHIDACEAE Lecythis pisonis Cambess. 2 53.6 1.42 1.39 1.32
MELIACEAE Trichilia richardiana A. Juss 1 26.8 0.71 0.69 1.29
MYRTACEAE Myrtaceae sp 11 1 26.8 1.42 0.69 1.22
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 2 2 53.6 1.42 1.39 1.17
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 1 2 53.6 0.71 1.39 1.17
MYRTACEAE Eugenia itapemirimensis Cambess. 2 53.6 1.42 1.39 1.16
LAURACEAE Nectandra membranacea (Sw.) Griseb. 2 53.6 1.42 1.39 1.13
SAPOTACEAE Ecclinusa ramiflora Mart. 2 53.6 1.42 1.39 1.13
MYRTACEAE Myrciaria floribunda (West. ex. Wild) O. Berg. 2 53.6 1.42 1.39 1.03
MONIMIACEAE Siparuna guianesis Aubl. 2 53.6 0.71 1.39 1.02
MYRTACEAE Eugenia aff acutata Miq. 1 26.8 0.71 0.69 1.01
INDETERMINADA indet 3 2 53.6 1.42 1.39 0.96
SAPOTACEAE Manilkara salzmanii T.D. Penn. 1 26.8 0.71 0.69 0.95
NYCTAGINACEAE Guapira obtusata (Jacq.) Lundell. 2 53.6 1.42 1.39 0.95
OLACACEAE Heisteria raddiana Benth. 1 26.8 0.71 0.69 0.93
37
LAURACEAE Ocotea costulata (Nees) Mez. vel aff. ex. Link. 1 26.8 0.71 0.69 0.85
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 1 1 26.8 0.71 0.69 0.84
ANNONACEAE Annona salzmannii A. DC. 1 26.8 0.71 0.69 0.79
SAPOTACEAE Pouteria hispida Eyma 1 26.8 0.71 0.69 0.78
LAURACEAE Cryptocarya sp 2 53.6 1.42 1.39 0.77
SAPOTACEAE Pouteria microstrigosa T.D. Penn. 2 53.6 1.42 1.39 0.77
INDETERMINADA indet 7 1 26.8 0.71 0.69 0.76
MYRTACEAE Myrcia acuminatissima O. Berg 1 26.8 0.71 0.69 0.76
RUBIACEAE Amaioua pilosa K. Schum. 1 26.8 0.71 0.69 0.75
CLUSIACEAE Tovomita mangle G. Mariz 1 26.8 0.71 0.69 0.74
LECYTHIDACEAE Lecythis lurida (Miers.) S.A. Mori 1 26.8 0.71 0.69 0.70
MYRTACEAE Myrtaceae sp 3 1 26.8 0.71 0.69 0.69
ELAEOCARPACEAE Sloanea garckeana K. Schum. 1 26.8 0.71 0.69 0.69
MYRTACEAE Marlierea racemosa (Vell.) Kiaersk. 1 26.8 0.71 0.69 0.68
CHRYSOBALANACEAE Couepia rufa Ducke 1 26.8 0.71 0.69 0.68
INDETERMINADA indet 8 1 26.8 0.71 0.69 0.67
LAURACEAE Nectandra sp 1 26.8 0.71 0.69 0.67
CECROPIACEAE Pouroma velutina Mart. ex. Miq. 1 26.8 0.71 0.69 0.64
CLUSIACEAE Symphonia globulifera L.f. 1 26.8 0.71 0.69 0.61
RUBIACEAE Rudgea sp 2 1 26.8 0.71 0.69 0.61
MYRTACEAE Myrtaceae sp 5 1 26.8 0.71 0.69 0.60
MYRTACEAE Myrtaceae sp 1 1 26.8 0.71 0.69 0.58
CHRYSOBALANACEAE Licania hoehnei Pilg. 1 26.8 0.71 0.69 0.58
MYRTACEAE Myrtaceae sp 4 1 26.8 0.71 0.69 0.57
MYRTACEAE Myrtaceae sp 12 1 26.8 0.71 0.69 0.55
MYRTACEAE Myrtaceae sp 9 1 26.8 0.71 0.69 0.55
MELIACEAE Trichilia sp 1 26.8 0.71 0.69 0.51
MYRTACEAE Myrtaceae sp 7 1 26.8 0.71 0.69 0.50
MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans (Gardner) Cogn. 1 26.8 0.71 0.69 0.50
MYRTACEAE Plinia rivularis (Camb.) Rotman 1 26.8 0.71 0.69 0.47
MYRTACEAE Myrcia oocarpa Cambess. 1 26.8 0.71 0.69 0.47
ANACARDIACEAE Thyrsodium spruceanum Benth. 1 26.8 0.71 0.69 0.47
ANNONACEAE Xylopia involucrata M.C.Dias & Kin. Gou. 1 26.8 0.71 0.69 0.46
CHRYSOBALANACEAE Licania belemii Prance 1 26.8 0.71 0.69 0.46
INDETERMINADA indet 1 1 26.8 0.71 0.69 0.45
CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco L. 1 26.8 0.71 0.69 0.43
INDETERMINADA indet 5 1 26.8 0.71 0.69 0.43
SAPOTACEAE Pouteria aerana Baehri 1 26.8 0.71 0.69 0.42
MELIACEAE Trichilia quadrijuga (H.B. K.) B. K.subsp. quadrijuga 1 26.8 0.71 0.69 0.41
LEGUMINOSAE Inga unica J. W. Grimes & Barneby 1 26.8 0.71 0.69 0.39
OLACACEAE Schoepfia obliquifolia Turcz. 1 26.8 0.71 0.69 0.39
MYRTACEAE Eugenia sp1 1 26.8 0.71 0.69 0.38
MALPIGHIACEAE Byrsonima laevigata (Poir.) DC. 1 26.8 0.71 0.69 0.38
MYRTACEAE Marlierea silvatica (O. Berg.) D. Legrand 1 26.8 0.71 0.69 0.38
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 2 1 26.8 0.71 0.69 0.37
INDETERMINADA indet 6 1 26.8 0.71 0.69 0.37
EUPHORBIACEAE Gymnanthes multiramea Mull. Arg. 1 26.8 0.71 0.69 0.36
MELASTOMATACEAE Mouriri bahiensis T. Morley 1 26.8 0.71 0.69 0.36
MYRTACEAE Myrtaceae sp 8 1 26.8 0.71 0.69 0.36
CARYOCARACEAE Anthodiscus amazonicus Gleason & A.C. Sm. 1 26.8 0.71 0.69 0.36
SAPOTACEAE Pouteria reticulata (Engl.) Eyma 1 26.8 0.71 0.69 0.35
APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii A.DC. 1 26.8 0.71 0.69 0.35
38
ANNONACEAE Rollinia sp 1 26.8 0.71 0.69 0.33
VIOLACEAE Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze 2 53.6 0.71 1.39 0.32
MELIACEAE Trichilia lepidota Mart. subsp. lepidota 1 26.8 0.71 0.69 0.32
MYRTACEAE Marlierea sp 1 26.8 0.71 0.69 0.32
THYMELIACEAE Daphnopis santae-terezae Nevi. 1 26.8 0.71 0.69 0.31
MYRTACEAE Myrtaceae sp 10 1 26.8 0.71 0.69 0.31
MYRTACEAE Myrtaceae sp 2 1 26.8 0.71 0.69 0.31
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 4 1 26.8 0.71 0.69 0.31
BOMBACACEAE Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns 1 26.8 0.71 0.69 0.31
LAURACEAE Licaria bahiana Kurz. 1 26.8 0.71 0.69 0.30
MYRTACEAE Plinia callosa Sobral 1 26.8 0.71 0.69 0.30
CECROPIACEAE Cecropia hololeuca Miq. 1 26.8 0.71 0.69 0.29
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 3 1 26.8 0.71 0.69 0.29
TOTAL 103 144 3859.1 100.00 100.00 100.00
A família Myrtaceae foi caracterizada pela riqueza de espécies e pelo elevado
número de indivíduos, enquanto a família Sapotaceae, com a metade do número de
espécies em relação à Myrtaceae, apresentou também grande número de indivíduos (24)
nessa comunidade (Figura 6).
0 5 10 15 20 25 30
M YRTSAPOINDETEUPHCHRYLAURLECYLEGUM ELI
ANNOBOM BBURSCECRCLUSELAE
M ELAM ORAOLACRUBI
ANACAPOCCARYHUM I
M ALPM ONINYCTSAPI
THYMVIOL
n° espécies n° indivíduos
Figura 6. Distribuição em número de espécies e indivíduos nas famílias da floresta madura da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil. Os acrônimos correspondem às quatro letras iniciais das famílias,
exceção para indet (família não determinada) da Tabela 1.
39
Na tabela 2 encontra-se listadas informações sobre as famílias, espécies, número de
indivíduos e parâmetros fitossociológicos na floresta secundária. As famílias mais
representativas foram: Melastomataceae (6 espécies), Euphorbiaceae (5), Leguminosae
(4) e Sapotaceae (3). Cinco famílias foram representadas por duas espécies e dezesseis
famílias apresentaram apenas uma espécie (Tabela 2).
Miconia mirabilis foi a mais representativa na comunidade arbórea dessa fisionomia,
apresentando 61 indivíduos no levantamento realizado. As outras espécies com maior
número de indivíduos foram: Schefflera morototoni (9), Balizia pedicellaris (6), Pera
glabrata (5), Casearia commersoniana (5), Himatanthus bracteatus (4), Henriettea
succosa (4), Miconia prasina (4), Guatteria nigrescens (3), Eriotheca globosa (3),
Cordia toqueve (3), Eschweilera alvimii (3) e Tibouchina francavillana (3). Quatro
espécies foram representadas por dois indivíduos e 27 espécies com apenas um
indivíduo.
Miconia mirabilis, Schefflera morototoni e Balizia pedicelaris apresentaram os
maiores valores de densidade absoluta. Miconia mirabilis apresentou na soma dos
parâmetros fitossociológicos 101,38% do índice de importância da comunidade (Tabela
2).
Tabela 2. Espécies arbóreas amostradas na floresta secundária da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil e parâmetros
fitossociológicos: número de indivíduos (nº ind), densidade absoluta (DA), freqüência relativa (F%), densidade relativa (D%) e
dominância relativa (Do%).
Famílias Espécies nº ind DA
F %
D%
Do%
MELASTOMATACEAE Miconia mirabilis (Aubl.) L.O.Willians 61 439.1 23,85 41,22 36,31
ARALIACEAE Schefflera morototoni (Aubl.) Mag., Steyerm. & Frod. 9 64.8
7,34 6,08 6,95
LEGUMINOSAE Balizia pedicellaris (DC.) Barneby & J. W. Grimes 6 43.2 2,75 4,05 6,15
EUPHORBIACEAE Pera glabrata (Schott) Baill. 5 36.0 4,59 3,38 4,16
FLACOURTIACEAE Casearia commersoniana Cambess. 5 36.0 4,59 3,38 3,29
MELASTOMATACEAE Tibouchina francavillana Cogn. 3 21.6 2,75 2,03 2,79
MELASTOMATACEAE Miconia prasina (Sw.) DC. 4 28.8 3,67 2,70 2,51
BOMBACACEAE Eriotheca globosa (Aubl.) A. Robyns 3 21.6 2,75 2,03 2,36
BORAGINACEAE Cordia toqueve Aubl. 3 21.6 2,75 2,03 2,26
APOCYNACEAE Himatanthus bracteatus (A. DC.) Woodson 4 28.8 3,67 2,70 2,23
MELASTOMATACEAE Henriettea succosa (Aubl.) DC. 4 28.8 3,67 2,70 2,20
ANNONACEAE Guatteria nigrescens Mart. 3 21.6 2,75 2,03 1,86
LEGUMINOSAE Inga subnuda Salzm. ex. Benth 2 14.4 1,83 1,35 1,86
LECYTHIDACEAE Eschweilera alvimii S.A. Mori 3 21.6 2,75 2,03 1,65
MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans (Gardner) Cogn. 2 14.4 1,83 1,35 1,44
MORACEAE Sorocea sp 1 7.2 0,92 0,68 1,40
LEGUMINOSAE Parkia pendula (Willd.) Benth. ex. Walp. 1 7.2 0,92 0,68 1,39
ANNONACEAE Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth. ex. Baill. 1 7.2 0,92 0,68 1,37
BORAGINACEAE Cordia bicolor A. DC. 2 14.4 1,83 1,35 1,29
40
NYCTAGINACEAE Guapira obtusata (Jacq.) Lundell 1 7.2 0,92 0,68 1,10
ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Aubl. 1 7.2 0,92 0,68 1,04
MELASTOMATACEAE Miconia hypoleuca (Benth.) Triana. 2 14.4 1,83 1,35 1,03
SAPOTACEAE Pouteria grandiflora (A. DC.) Baehni 1 7.2 0,92 0,68 0,99
EUPHORBIACEAE Croton macrobothrys Baill. 1 7.2 0,92 0,68 0,96
MYRTACEAE Eugenia adenantha O. Berg 1 7.2 0,92 0,68 0,84
CLUSIACEAE Vismia latifolia Choisy. 1 7.2 0,92 0,68 0,81
EUPHORBIACEAE Margaritaria nobilis L. f. 1 7.2 0,92 0,68 0,69
MYRSINACEAE indet 1 1 7.2 0,92 0,68 0,68
LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata (Cambess.) Miers 1 7.2 0,92 0,68 0,65 APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii A. DC. 1 7.2 0,92 0,68 0,62
SAPOTACEAE indet 2 1 7.2 0,92 0,68 0,60
EUPHORBIACEAE indet 3 1 7.2 0,92 0,68 0,59
LEGUMINOSAE Andira nitida Mart. ex. Benth. 1 7.2 0,92 0,68 0,59
MONIMIACEAE Siparuna guianensis Aubl. 1 7.2 0,92 0,68 0,55
SAPOTACEAE Micropholis gardneriana (A. DC.) Warb. 1 7.2 0,92 0,68 0,55
RUTACEAE Zanthoxylum acuminatum (Sw.) Sw. 1 7.2 0,92 0,68 0,52
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Miers ex. Benth. 1 7.2 0,92 0,68 0,51
SAPINDACEAE Cupania oblongifolia Mart. 1 7.2 0,92 0,68 0,48
SOLANACEAE Solanum swartzianum Roem. & Schult. 1 7.2 0,92 0,68 0,48
FLACOURTIACEAE Carpotroche brasiliensis (Raddi) A. Gray 1 7.2 0,92 0,68 0,46
MYRISTICACEAE Virola oficinallis Warb. 1 7.2 0,92 0,68 0,46
VERBENACEAE Aegiphila sellowiana Cham. 1 7.2 0,92 0,68 0,45
EBENACEAE Diospyros miltonii Cavalcante 1 7.2
0,92 0,68 0,44
INDETERMINADA indet 4 1 7.2
0,92 0,68 0,44
TOTAL 44 148 1065.4 100.00 100.00 100.00
A família Melastomataceae contribuiu com seis espécies e 76 indivíduos na
comunidade arbórea da floresta secundária. As outras famílias somadas apresentaram
um maior número de espécies (38) e um menor número de indivíduos (72), quando
comparadas com Melastomataceae. Porém, o número de espécies foi baixo para todas as
famílias amostradas (Figura 7).
41
0 10 20 30 40 50 60 70 80
MELALEGUEUPHARALFLAC
BORAAPOCLECY
ANNOSAPO
BOMBVERBSOLASAPI
RUTANYCTMYRTMYRSMYRI
MORAMONI
INDETEBENCLUS
ANAC
n° espécies n° indivíduos
Figura 7. Distribuição em número de espécies e indivíduos nas famílias da floresta secundária da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil. Os acrônimos correspondem às quatro letras iniciais das famílias,
exceção para indet (família não determinada) da Tabela 2.
Apenas oito espécies foram registradas em ambas as fisionomias: Eriotheca globosa,
Eschweilera alvimii, Eugenia adenantha, Guapira obtusata, Pogonophora
schomburgkiana, Siparuna guianensis, Tabernaemontana salzmanii e Tibouchina
elegans (Tabelas 1 e 2).
Os resultados do índice de similaridade, tanto qualitativo quanto quatitativo apontam
para diferenças marcantes na composição florística entre a floresta madura e a floresta
secundária (Tabela 3).
Tabela 3. Índice de similaridade (qualitativo e quantitativo) entre as fisionomias (floresta madura e
floresta secundária) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Índices Jaccard Sorensen Czekanowski
Similaridade 5,12% 9,75% 10,81%
42
5.2. Diferenças estruturais entre a floresta madura e floresta secundária
Houve diferença significativa nos valores de diâmetro e altura entre as duas
fisionomias (p< 0.0001). Na floresta madura a média para diâmetro foi 16,750 ± 9,375 e
altura 18,313 ± 5,625 e na floresta secundária a média para diâmetro foi 11,125 ± 3,00 e
altura 12,688 ± 3,75. Esses resultados indicam que na floresta madura foram registradas
arvóres mais altas e com diâmetros maiores em relação à floresta secundária (Figuras 8
A e B).
A
B Figura 8. Box-Plots das médias e desvios padrão do diâmetro (A) e altura (B) entre as duas fisionomias
(floresta madura e floresta secundária) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
43
5.3. Fenologia reprodutiva na floresta madura e na floresta secundária
Na floresta madura em 53 espécies não foram observadas fenofases reprodutivas
(flor e fruto). Nas 50 espécies restantes foi observada a floração em 25 espécies e a
frutificação em 42. Para Ficus sp o período de floração e frutificação não foram
registrados separadamente, sendo considerado apenas a presença do sicônio. Annona
salzmanii, Sloanea guianensis e Ocotea costulata, com apenas um indivíduo cada,
apresentaram frutificação contínua e não foi observada floração para essas espécies,
durante o período do estudo. Manilkara maxima apresentou floração e frutificação anual
(Tabela 4).
Na floresta secundária em 14 espécies não foram observadas as fenofases
reprodutivas. Nas outras 30 espécies foram, sendo que em 27 espécies ocorreu a
floração e em 28 a frutificação. Miconia mirabilis (61 indivíduos), Henriettea succosa
(4), Miconia prasina (4) e Miconia hypoleuca (2) apresentram floração e frutificação
contínuas. As espécies Tibouchina francavillana (3) e Pera glabrata (5) apresentaram
floração sub-anual e frutificação contínua (Tabelas 5).
44
Tabela 4. Comportamento fenológico (□ Floração ■ Frutificação ▲ sicônio – receptáculo fechado com flores inseridas, os frutos amadurecem dentro do próprio sicônio) da
comunidade arbórea da floresta madura no período do estudo (fevereiro de 2005 a janeiro de 2007) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Local em branco fenofase não
observada e n: número de indivíduos.
2005 2006 2007
Família Espécies n fev mar
Abr
mai jun jul ago set out nov dez jan fev
mar
abr
mai jun jul ago set out nov dez jan
Annona salzmanii 1 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ANNONACEAE Xylopia involucrata 1 ■ APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii 1 ■
Eriotheca globosa 5 ■ ■ □■ BOMBACACEAE Eriotheca macrophylla 1 ■
Protium aracouchini 2 ■ ■ ■ BURSERACEAE Protium heptaphyllum 1 ■ □■ □ CECROPIACEAE Pouroma velutina 1 ■ □■ ■ ■
Licania hypoleuca 3 ■ ■ ■ ■ ■ □ ■ ■ ■ ■ Licania belemii 1 □ Licania hoehnei 1 □■ ■ ■ ■ ■
CHRYSOBALANACEAE Couepia rufa 1 ■ Tovomita mangle 1 ■
CLUSIACEAE Symphonia globulifera 1 ■ ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis 1 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana 4 ■ □ □ □ □ HUMIRIACEAE Schistostemon retusum 3 □■ ■
Cryptocarya sp 2 □■ Nectandra membranacea 2 ■ ■ ■ ■ Ocotea costulata 1 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■
LAURACEAE Nectandra sp 1 ■ Lecythis pisonis 2 ■
LECYTHIDACEAE Lecythis lanceolata 1 ■ ■ ■
Pterocarpus rohrii 1 □ □ Andira sp 1 □ □ ■
LEGUMINOSAE Inga unica 1 □ MALPIGHIACEAE Byrsonima laevigata 1 ■ MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans 1 □
Trichilia richardiana 1 □ □■ MELIACEAE Trichilia lepidota 1 ■ MONIMIACEAE Siparuna guianesis 2 ■ ■ ■ □ □ □ □ □ □ ■
Brosimum rubescens 3 □ ■ ■ ■ ■ ■ MORACEAE Ficus sp 1 ▲ ▲ ▲
Marlierea racemosa 1 □ Eugenia adenantha 1 □ ■ ■ □ Marlierea silvatica 1 □ Eugenia sp 1 1 □■ □ ■ ■ ■ ■ Marlierea sp 1 ■ ■
MYRTACEAE Plinia callosa 1 ■ NYCTAGINACEAE Guapira obtusata 2 □ ■ □ ■
Heisteria raddiana 1 □ □■ OLACACEAE Schoepfia obliquifolia 1 ■ □ □
Manilkara maxima 4 ■ ■ ■ □■ □■ □■ □ ■ □■ □■ □■ □■ □■ ■ ■ Pouteria bangii 3 ■ ■ ■ ■ Diplöon cuspidatum 3 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Pouteria microstrigosa 2 □ ■ Pouteria aerana 1 □ □ □ □ □■ ■ □ Pouteria hispida 1 □
SAPOTACEAE Manilkara salzmanii 1 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ VIOLACEAE Rinorea bahiensis 2 ■ ■
46
Tabela 5. Comportamento fenológico (□ Floração ■ Frutificação) da comunidade arbórea da floresta secundária no período do estudo (fevereiro de 2005 a janeiro de 2007) da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. Local em branco fenofase não observada e n: número de indivíduos.
2005 2006 2007
Família Espécie n fev mar
abr
mai jun jul ago set out nov Dez jan fev
mar
abr
mai jun jul ago set out nov dez jan
Guatteria nigrescens 3 □ ■ □ ANNONACEAE Cymbopetalum brasiliense 1 ■ ■
Himatanthus bracteatus 4 □ □ □ □ □ ■ □ □■ □ □ ■ ■ ■ ■ ■ APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii 1 □ □ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ □■ ■ ■ ■ ARALIACEAE Schefflera morototoni 9 ■ □ ■ ■ □ □ BOMBACACEAE Eriotheca globosa 3 □ □■ BORAGINACEAE Cordia bicolor 2 □ □ □ □■ □■ □■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ □ □ CLUSIACEAE Vismia latifolia 1 □ ■ ■ ■ ■
Pera glabrata 5 □■ □■ □■ ■ ■ ■ □■ ■ ■ ■ ■ □■ □■ □■ □■ □■ ■ ■ □■ □■ □■ □■ □■ ■ EUPHORBIACEAE Croton macrobothrys 1 ■ □■ □■
Casearia commersoniana 5 ■ ■ ■ ■ □ ■ □ FLACOURTIACEAE Carpotroche brasiliensis 1 □■ □■
Eschweilera alvimii 3 □ □ □ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ □ □■ □■ ■ ■ ■ ■ □ □ LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata 1 □
Balizia pedicellaris 6 ■ □■ □■ □■ □ ■ ■ ■ ■ □■ Inga subnuda 2 □ □■ □■ □■ □■
LEGUMINOSAE Parkia pendula 1 □ □■ ■ □ Miconia mirabilis 61 □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ Henriettea succosa 4 □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ Miconia prasina 4 □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ Tibouchina francavillana 3 ■ □■ □■ □■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ □■ □■ □■ □■ □■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■
MELASTOMATACEAE Miconia hypoleuca 2 □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ □■ MONIMIACEAE Siparuna guianensis 1 □■ □ ■ MORACEAE Sorocea sp 1 ■ ■ NYCTAGINACEAE Guapira obtusata 1 □ □ □ ■
47
RUTACEAE Zanthoxylum acuminatum 1 ■ SAPINDACEAE Cupania oblongifolia 1 □
Pouteria grandiflora 1 ■ □ ■ □ SAPOTACEAE Micropholis gardneriana 1 ■ □ ■ □■ □ □■ ■ ■ ■ ■ VERBENACEAE Aegiphila sellowiana 1 □■ □
48
Em 33 espécies identificadas e que não foi observada a fenofase reprodutiva no
campo, foi realizada consulta ao material botânico (excicatas). Os meses de ocorrência
em que foi coletado com flor foram registrados em 18 espécies e excicatas coletadas
com fruto em 22 espécies e em cinco espécies a coleta estava estéril (Tabela 6).
Tabela 6. Consulta a coleção botânica do CEPEC/ CEPLAC das espécies identificadas em que não foram registradas
as fenofases reprodutivas.
Espécie Flor Fruto Tapirira guianensis * abr. Thryrsodium spruceanum mar. * Rollinia sp * fev. Himatanthus bracteatus jan./ mar./ nov. ago. Cordia toqueve dez. dez. Anthodiscus amazonicus jan. jan./ abr./ jun. Cecropia hololeuca * abr./ set. Chrysobalanus icaco nov. Diospyros miltonii nov. mar./ abr./ out. Sloanea garckeana jul. mar./ out./ nov. Gymnanthes multiramea mar. jan./mar. Margaritaria nobilis abr./out./dez. jan./fev./ mar./dez. Andira nitida E E Macrolobium latifolium set. * Schistostemom retusum nov. abr. Licaria bahiana * jan./fev/mar./jul. /nov./dez. Lecythis lurida E E Mouriri bahiensis E E Trichillia quadrijuga E E Trichilia sp 1 mai. * Virola officinalis * mar. Eugenia itapemirimensis jan./ fev. mai./set./nov./dez Myrciaria floribunda * out. Myrcia acuminatissima * jul./ set. Myrcia oocarpa jun. * Plinia rivularis E E Amaioua pilosa fev./abr./dez jan./abr. Rudgea sp 2 * nov. Ecclinusa ramiflora jan./mar./ag * Pouteria sp 2 * jun./jul. Pouteria reticulata * jul. Solanum swartzianum mar./jun./jul./ nov. mar. Daphnopsis sanctae-terezae abr. jul.
5.3.1. Floração
A intensidade na produção de botões foi menor na floresta madura do que na floresta
secundária (Figura 9). Na floresta madura, houve baixa intensidade de indivíduos em
botão, sendo o pico (2,6%) em novembro de 2005 e 2006. Em 2005, durante cinco
meses nenhum botão foi registrado, porém em 2006 a produção de botões ocorreu em
todos os meses (Figura 9 A).
Na floresta secundária a intensidade na produção de botões foi maior com picos em
junho (22,6%) de 2005, março (28,7%) e junho (22,6%) de 2006 com queda
significativa nos mesmos meses entre o período do estudo (setembro a janeiro) (Figura
9 B).
A intensidade na ocorrência de antese também foi menor na floresta madura em
relação à floresta secundária (Figura 9). Na fisionomia madura ocorreram dois picos
similares entre os anos, em março (1,2%) de 2005 e 2006 e novembro (1,7%) de 2005 e
(2,3%) em 2006. Durante quatro meses, de abril a julho de 2005, não foi registrada essa
fenofase na floresta madura (Figura 9 A).
Na floresta secundária ocorreu um pico em junho (21,1%) de 2005 e dois picos em
2006, abril (26,5%) e agosto (22,6%), com queda significativa nos mesmos meses
(setembro a janeiro), semelhante ao observado para botões (Figura 9 B). Não houve
picos semelhantes na produção de botões e ocorrência de antese entre a floresta madura
e secundária (Figura 9).
50
0.0
2.0
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Botões AnteseB
Figura 9. Comparação entre botões e antese em A. floresta madura e B. floresta secundária da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil.
O número de espécies que apresentaram botões e antese na floresta madura também
foi menor do que na floresta secundária (Figura 10). O máximo observado na floresta
madura foram seis espécies em botão nos meses de novembro e janeiro de 2005 e para a
floresta secundária dez espécies no mês de março em 2005 e 2006 (Figura 10 A). Para a
ocorrência de antese sete espécies no mês de março na floresta madura e dez espécies
em fevereiro de 2005 na floresta secundária (Figura 10 B).
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Figura 10. Comparação entre o número de espécies nas fisionomias em A. botões e B. antese na Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil.
52
5.3.2. Frutificação
A intensidade na produção de frutos imaturos foi menor na floresta madura quando
comparada com a floresta secundária (Figura 11). Na floresta madura, a intensidade de
indivíduos com frutos imaturos foi baixa. Em 2005 foram registrados picos em fevereiro
(2,7%), agosto (1,7%) e novembro (1,5%), em 2006 entre março, outubro (1,9%) e
janeiro (1,9%) de 2007 (Figura 11 A).
Na floresta secundária três picos foram registrados em 2005, maio (6,9%), julho
(21,6%) e um maior em outubro (30,7%) e em 2006 nos meses de julho e setembro
(26,2%) (Figura 11 B).
Foram registrados frutos imaturos em todos os meses do período de estudo, nas duas
fisionomias e em outubro de 2006 houve pico semelhante (Figura 11).
A intensidade na produção de frutos maduros também foi menor na floresta madura,
porém a produção de frutos maduros foi maior quando comparada com as outras
fenofases dessa fisionomia (Figura 9 A, Figura 10 A e Figura 11 A). Na floresta
madura, três picos foram registrados em 2005, fevereiro (2,9%), março e setembro
(2,0%) e dois picos em 2006, agosto e outubro (3,8%) (Figura 11 A).
Na floresta secundária, apenas um pico foi registrado em cada ano, outubro (27,7%)
em 2005 e agosto (23,1%) em 2006 (Figura 11 B).
Nas duas fisionomias foram registrados frutos maduros em todos os meses com picos
similares em agosto e outubro de 2006 (Figura 11).
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Frutos imaturos Frutos madurosB
Figura 11. Comparação entre frutos imaturos e maduros em A. floresta madura e B. floresta secundária
da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
Em 2005, os meses com maior número de espécies com frutos imaturos na floresta
madura foram fevereiro (10 indivíduos) e novembro (8) e em 2006 nos meses fevereiro
(7), julho (6) e outubro (6). Na floresta secundária em 2005 nos meses agosto (11) e
novembro (10) e em 2006 em outubro (10) (Figura 12 A). Os meses com maior número
de espécies com frutos maduros na floresta madura em 2005 foram fevereiro (10) e
maio (9) e 2006 em agosto (15) e outubro (10). Na floresta secundária em 2005 em
agosto (10) e 2006 em fevereiro (12) e outubro (12) (Figura 12 B).
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Madura SecundáriaB
Figura 12. Comparação entre o número de espécies nas fisionomias em A. frutos imaturos e B. frutos
maduros na Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
55
5.3.3. Comparação entre floração e frutificação na floresta madura e floresta
secundária
As médias nas porcentagens da intensidade na floração e frutificação apontam para
valores maiores na floresta secundária em relação a floresta madura (Figura 13 A e B).
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Madura SecundáriaB
Figura 13. Comparação das médias na porcentagem em A. floração e B. frutificação entre as fisionomias.
na Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil.
56
5.4. Relação das fenofases reprodutivas aos fatores abióticos na floresta madura e
floresta secundária
A floração e frutificação na floresta madura não estiveram correlacionadas com a
temperatura e pluviosidade. Na floresta secundária não houve correlação para a floração
com variáveis climáticas e a frutificação esteve correlacionada negativamente com a
temperatura média para frutos imaturos=rs: -0,6670 e frutos maduros=rs: -0,5091
(Tabela 7).
Tabela 7. Coeficientes de correlação de Spearman entre as fenofases em cada fisionomia (madura e secundária) e as
variáveis climáticas, temperatura média e precipitação, onde BT: botões, AT: antese, FI: frutos imaturos e FM: frutos
maduros da Reserva Biológica de Una, Bahia, Brasil. p<0,01* valor significativo.
Madura Secundária
Variáveis climáticas BT AT FI FM BT AT FI FM
Temperatura Média 0,2224 0,1437 0,1952 -0,3050 0,1101 0,0946 -0,6670 * -0,5091 *
Precipitação -0.2247 -0.2240 -0.4420 -0.3029 0.2268 0.2383 -0.3050 -0.3076
57
5.5. Mecanismos de dispersão
Para floresta madura das 103 espécies arbóreas amostradas 83 espécies apresentaram
zoocoria (79,8%), 6 autocoria (5,8%) e 1 anemocoria (1,0%). Para floresta secundária
das 44 espécies estudadas, 32 espécies apresentaram zoocoria (72,7%), 5 autocoria
(11,4%) e 3 anemocoria (6,8%) (Tabelas 8 e 9). A maior porcentagem das espécies
entre as fisionomias apresenta frutos zoocóricos (Figura 14).
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Autocoria Anemocoria Zoocoria
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Floresta Madura Floresta Secundária
Figura 14. Porcentagem das espécies quanto ao mecanismo de dispersão nas duas fisionomias da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil.
58
Tabela 8. Mecanismos de dispersão das espécies arbóreas amostradas na floresta madura da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil. * não identificado o mecanismo de dispersão.
Famílias Espécies Mecanismo de dispersão
BOMBACACEAE Eriotheca globosa Autocoria
SAPOTACEAE Manilkara maxima Zoocoria
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Zoocoria
MORACEAE Brosimum rubescens Zoocoria
SAPOTACEAE Diplöon cuspidatum Zoocoria
CHRYSOBALANACEAE Licania hypoleuca Zoocoria
LEGUMINOSAE Macrolobium latifolium Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 6 Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria bangii Zoocoria
HUMIRIACEAE Schistostemon retusum Zoocoria
LAURACEAE Cryptocarya sp Zoocoria
SAPOTACEAE Ecclinusa ramiflora Zoocoria
LECYTHIDACEAE Eschweilera alvimii Zoocoria
MYRTACEAE Eugenia itapemirimensis Zoocoria
NYCTAGINACEAE Guapira obtusata Zoocoria
INDETERMINADA indet 2 *
INDETERMINADA indet 3 *
LECYTHIDACEAE Lecythis pisonis Zoocoria
MYRTACEAE Myrciaria floribunda Zoocoria
LAURACEAE Nectandra membranacea Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria microstrigosa Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria sp 2 Zoocoria
BURSERACEAE Protium aracouchini Zoocoria
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 1 Zoocoria
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 2 Zoocoria
MONIMIACEAE Siparuna guianesis Zoocoria
RUBIACEAE Amaioua pilosa Zoocoria
LEGUMINOSAE Andira sp Zoocoria
ANNONACEAE Annona salzmannii Zoocoria
CARYOCARACEAE Anthodiscus amazonicus Zoocoria
MALPIGHIACEAE Byrsonima laevigata Zoocoria
CECROPIACEAE Cecropia hololeuca Zoocoria
CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco Zoocoria
CHRYSOBALANACEAE Couepia rufa Zoocoria
THYMELIACEAE Daphnopis sanctae-terezae *
BOMBACACEAE Eriotheca macrophylla Autocoria
MYRTACEAE Eugenia adenantha Zoocoria
MYRTACEAE Eugenia aff acutata Zoocoria
MYRTACEAE Eugenia sp1 Zoocoria
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 1 *
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 2 *
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 3 *
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 4 *
MORACEAE Ficus sp Zoocoria
EUPHORBIACEAE Gymnanthes multiramea Zoocoria
OLACACEAE Heisteria raddiana Zoocoria
INDETERMINADA indet 1 *
INDETERMINADA indet 4 *
INDETERMINADA indet 5 *
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INDETERMINADA indet 6 *
INDETERMINADA indet 7 *
LEGUMINOSAE Inga unica Autocoria
LECYTHIDACEAE Lecythis lanceolata Zoocoria
LECYTHIDACEAE Lecythis lurida Zoocoria
CHRYSOBALANACEAE Licania belemii Zoocoria
CHRYSOBALANACEAE Licania hoehnei Zoocoria
LAURACEAE Licaria bahiana Zoocoria
SAPOTACEAE Manilkara salzmanii Zoocoria
MYRTACEAE Marlierea racemosa Zoocoria
MYRTACEAE Marlierea silvatica Zoocoria
MYRTACEAE Marlierea sp Zoocoria
MELASTOMATACEAE Mouriri bahiensis Zoocoria
MYRTACEAE Myrcia acuminatissima Zoocoria
MYRTACEAE Myrcia oocarpa Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 1 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 10 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 11 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 12 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 2 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 3 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 4 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 5 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 7 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 8 Zoocoria
MYRTACEAE Myrtaceae sp 9 Zoocoria
LAURACEAE Nectandra sp Zoocoria
LAURACEAE Ocotea costulata Zoocoria
INDETERMINADA indet 8 Zoocoria
MYRTACEAE Plinia callosa Zoocoria
MYRTACEAE Plinia rivularis Zoocoria
CECROPIACEAE Pouroma velutina Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria reticulata Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria hispida Zoocoria
BURSERACEAE Protium heptaphyllum Zoocoria
LEGUMINOSAE Pterocarpus rohrii Anemocoria
VIOLACEAE Rinorea bahiensis Zoocoria
ANNONACEAE Rollinia sp Zoocoria
RUBIACEAE Rudgea sp 2 Zoocoria
SAPINDACEAE Sapindaceae sp 1 *
OLACACEAE Schoepfia obliquifolia Zoocoria
ELAEOCARPACEAE Sloanea garckeana Autocoria
ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis Autocoria
SAPOTACEAE Pouteria aerana Zoocoria
CLUSIACEAE Symphonia globulifera Zoocoria
APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii Zoocoria
MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans Autocoria
CLUSIACEAE Tovomita mangle Zoocoria
MELIACEAE Trichilia lepidota Zoocoria
MELIACEAE Trichilia quadrijuga Zoocoria
MELIACEAE Trichilia richardiana Zoocoria
MELIACEAE Trichilia sp Zoocoria
60
ANACARDIACEAE Thyrsodium spruceanum Zoocoria
ANNONACEAE Xylopia involucrata Zoocoria
Tabela 9. Mecanismos de dispersão das espécies arbóreas amostradas na floresta secundária da Reserva
Biológica de Una, Bahia, Brasil. * não identificado o mecanismo de dispersão.
Famílias Espécies Mecanismo de Dispersão
MELASTOMATACEAE Miconia mirabilis Auto / Zoocoria
ARALIACEAE Schefflera morototoni Autocoria
LEGUMINOSAE Balizia pedicellaris Anemocoria
EUPHORBIACEAE Pera glabrata Zoocoria
FLACOURTIACEAE Casearia commersoniana Zoocoria
MELASTOMATACEAE Miconia prasina Zoocoria
APOCYNACEAE Himatanthus bracteatus Anemocoria
MELASTOMATACEAE Henriettea succosa Zoocoria
MELASTOMATACEAE Tibouchina francavillana Autocoria
BOMBACACEAE Eriotheca globosa (Aubl.) Autocoria
BORAGINACEAE Cordia toqueve Zoocoria
ANNONACEAE Guatteria nigrescens Zoocoria
LECYTHIDACEAE Eschweilera alvimii Zoocoria
LEGUMINOSAE Inga subnuda Zoocoria
MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans Zoocoria
BORAGINACEAE Cordia bicolor Zoocoria
MELASTOMATACEAE Miconia hypoleuca Zoocoria
MORACEAE Sorocea sp Zoocoria
LEGUMINOSAE Parkia pendula Autocoria
ANNONACEAE Cymbopetalum brasiliense Zoocoria
NYCTAGINACEAE Guapira obtusata Zoocoria
ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Zoocoria
SAPOTACEAE Pouteria grandiflora Zoocoria
EUPHORBIACEAE Croton macrobothrys Anemocoria
MYRTACEAE Eugenia adenantha Zoocoria
CLUSIACEAE Vismia latifolia Zoocoria
EUPHORBIACEAE Margaritaria nobilis Zoocoria
MYRSINACEAE indet 1 *
LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata Zoocoria APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii Zoocoria
SAPOTACEAE indet 2 *
EUPHORBIACEAE indet 3 *
LEGUMINOSAE Andira nitida Zoocoria
MONIMIACEAE Siparuna guianensis Zoocoria
SAPOTACEAE Micropholis gardneriana Zoocoria
RUTACEAE Zanthoxylum acuminatum Zoocoria
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Zoocoria
SAPINDACEAE Cupania oblongifolia Zoocoria
SOLANACEAE Solanum swartzianum Zoocoria
FLACOURTIACEAE Carpotroche brasiliensis Zoocoria MYRISTICACEAE Virola oficinallis Zoocoria
VERBENACEAE Aegiphila sellowiana Autocoria EBENACEAE Diospyros miltonii Zoocoria
INDETERMINADA indet 4
*
61
6. DISCUSSÃO
6.1. Composição florística e espécies comuns entre a floresta madura e secundária
Na composição florística da floresta madura desse estudo, Myrtaceae e Sapotaceae
foram as mais representativas da comunidade arbórea e segundo Mori et al. (1983),
essas famílias são importantes em termos de diversidade, densidade e dominância, além
de assumirem importância ecológica nas florestas mais conservadas no sul da Bahia e
norte do Espírito Santo. Várias espécies são endêmicas na região e são comumente
encontradas em sub-bosque de florestas mais conservadas (MARTINI et al., 2007 a).
Nesse estudo, a floresta madura apresentou espécies como Eugenia itapemirimensis,
Plinia callosa, Manilkara maxima e Manilkara salzmanii que são representantes
endêmicos dessas famílias.
Na floresta secundária a família dominante é Melastomataceae e Miconia foi o
gênero mais representativo, sendo Miconia mirabilis dominante, com o maior número
de indivíduos em todo levantamento florístico realizado. Martini et al. (2007 a)
observaram que essa espécie de crescimento rápido é colonizadora de ambientes
perturbados na região.
Durante a regeneração da floresta ocorre um aumento de Myrtaceae e redução de
Melastomataceae, um aumento no percentual de espécies de sub-bosque, tolerantes a
sombra e consequentemente a diminuição de espécies intolerantes à sombra
(TABARELLI e MANTOVANI, 1999), o mesmo foi registrado nesse estudo onde a
maioria das espécies na floresta madura pode ser considerada tolerante ao
sombreamento.
Para ambientes naturais alterados a entrada de espécies que possuem grande
resistência a condições mais extremas, principalmente a intensidade de luz, são mais
favorecidas (ROY, 1990). No presente estudo a maioria das espécies na floresta
secundária foi pioneira e oportunista, que são colonizadoras desses ambientes.
A densidade absoluta total e o número de espécies na floresta madura foram maiores
do que na secundária, mesmo sendo representada por poucos indivíduos. Mantovani et
al. (2005) observaram que existe uma mudança em diferentes estágios de regeneração,
onde os mais avançados apresentam um maior número de espécies, ao contrário do que
acontece em estágios iniciais e intermediários, que apresentam um menor número de
62
espécies. Em florestas tropicais, quanto maior a riqueza, complexidade do habitat, e
estrutura vertical, mas os ecossistemas podem suportar diferentes grupos de espécies,
tanto de flora quanto de fauna (MACARTHUR e WILSON, 2001).
A similaridade florística entre as fisionomias madura e secundária foi marcadamente
baixa, com apenas oito espécies comuns entre elas (Eriotheca globosa, Eschweilera
alvimii, Eugenia adenantha, Guapira obtusata, Pogonophora schomburgkiana,
Siparuna guianensis, Tabernaemontana salzmanii e Tibouchina elegans) e houve
diferenças estruturais onde na fisionomia madura foram registradas árvores mais altas e
com maiores diâmetros em relação à secundária. Os valores de diâmetro encontrados
nas áreas de floresta secundária, podem se relacionar com a maior penetração de luz até
o estrato do sub-bosque e diferenças em altura arbórea registradas sejam conseqüência
da estrutura de cada floresta (MARIANO, 2004).
Entretanto, para uma melhor caracterização estrutural da vegetação seria necessária
ampliação das amostras, de forma a cobrir um maior número de indivíduos das espécies
registradas. O fato de muitas espécies, que não são raras terem apresentado apenas um
indivíduo, pode significar insuficiência amostral. A montagem dos transectos seguiu
parâmetros de características das fisionomias, por exemplo, se o transecto começasse
numa fisionomia madura e depois de determinados pontos a fisionomia mudava para
secundária o transecto era fechado e buscava-se um novo transecto.
A área do estudo se encontra parcialmente degradada e manchas de florestas mais
conservadas são raras e pequenas. Sugere-se que para estudos florísticos que utilize o
método de transectos, para comparar diferenças florísticas e estruturais entre diferentes
fisionomias, sejam selecionados um maior número de pontos amostrais. Necessário
também, acrescentar linhas paralelas com determinada distância entre as transecções
para aumentar o número de indivíduos das espécies das comunidades.
Ocorreu um conjunto de diferenças entre as duas fisionomias, relacionadas à
dominância, similaridade e composição das espécies. Em termos de composição
florística a floresta madura e secundária foram relativamente bem caracterizadas, com
famílias e espécies típicas dessas florestas.
63
6.2. Espécies arbóreas dominantes e proporção de espécies zoocóricas em cada
fisionomia
Na floresta madura das dez espécies dominantes oito foram zoocóricas (Manilkara
maxima, Diplöon cuspidatum, Andira sp, Schistostemon retusum, Pogonophora
schomburgkiana, Pouteria bangii, Licania hypoleuca e Ficus sp) com apenas uma
autocórica (Eriotheca globosa) e uma o mecanismo de dispersão não foi determinado.
Na floresta secundária analisando as dez espécies dominantes cinco foram zoocóricas
(Miconia mirabilis, Pera glabrata, Casearia commersoniana, Miconia prasina e Cordia
toqueve), três espécies são autocóricas (Schefflera morototoni, Tibouchina francavillana
e Eriotheca globosa) e duas anemocóricas (Balizia pedicellaris e Himatanthus
bracteatus).
Segundo Mikichi e Silva (2001) a zoocoria pode ter um importante papel no
incremento em riqueza específica e complexidade estrutural em floresta secundária,
uma vez que a presença de espécies zoocóricas pode atrair potenciais dispersores de
espécies características desses ambientes, ou até mesmo de etapas subseqüentes da
sucessão, e que eventualmente não ocorram nesses locais.
Considera-se, normalmente, que as florestas ombrófilas densas têm maior proporção
de zoocoria, cerca de 80%, enquanto as semideciduais têm maior proporção de
anemocoria (MORELLATO e LEITÃO FILHO, 1992), sendo um fator diferencial das
florestas ombrófilas densas e estacionais semideciduais. Nesse estudo, houve uma maior
concentração de espécies zoocóricas, tanto na floresta madura (79,8%) quanto na
floresta secundária (72,7%) confirmando padrões já esperados para Florestas Tropicais
em que 50 a 75% das espécies apresentam este mecanismo (HOWE e SMALLWOOD,
1982).
6.3. Fenologia reprodutiva, oferta de recursos alimentares à fauna e variações
interanuais e climáticas
A intensidade das fenofases reprodutivas (floração e frutificação) da floresta
secundária foi maior do que na floresta madura. A maior atividade reprodutiva da
floresta secundária e o maior número de espécies pioneiras com ciclos reprodutivos
curtos e intensos, típicos de ambientes secundários, podem ter influenciado na maior
intensidade das fenofases reprodutivas nessa fisionomia. Segundo Rees et al. (2001),
64
plantas iniciais possuem uma série de características correlacionadas, incluindo alta
fecundidade, boa capacidade de dispersão e crescimento rápido, quando os recursos são
abundantes. Espécies iniciais persistem por duas razões: pelo balanço competição-
colonização, pois sua capacidade de dispersão e alta fecundidade permitem colonização
e estabelecimento em locais recentemente perturbados antes da chegada de espécies
tardias; ou pelo nicho sucessional, pois crescimento rápido em condições com alta
disponibilidade de recursos possibilita, temporariamente, a exclusão competitiva de
espécies tardias mesmo que ambas cheguem ao mesmo tempo.
Para a floresta madura espécies tardias em geral possuem características opostas,
incluindo capacidade de crescer, sobreviver e competir quando os recursos são escassos.
Na ausência de perturbação, espécies tardias reduzem os recursos para níveis abaixo do
que aqueles requeridos por espécies iniciais, excluindo-as por meio de competição
(REES et al., 2001).
A presença marcante de espécies pioneiras, que tendem a produzir frutos durante
longos períodos, ou mesmo durante todo o ano (RATHCKE e LACEY, 1985), seria
esperada uma produção homogênea de sementes ao longo do ano. Alta luminosidade,
em função da ausência de um dossel fechado, e a alta pluviosidade, comum em
ambientes tropicais pouco sazonais, poderia induzir a uma maior produtividade de flores
e frutos em ambientes perturbados (MARTINI et al., 2007 b).
A maior ocorrência de espécies endêmicas e raras na floresta madura desse estudo
indica que essas podem ser responsáveis pelos principais recursos disponíveis para
animais frugívoros nessas formações. Manilkara maxima, por exemplo, espécie
dominante na floresta madura foi bastante visitada por aves e primatas quando
apresentou flores e frutos. Segundo Krishnan (2004), para espécies endêmicas as
habilidades competitivas são mais críticas para a sobrevivência do que a regulação de
abundância, pois possuem a capacidade de persistir sob condições desafiadoras de sub-
bosque com diferentes mecanismos que mantem essa diversidade.
Assim, esse estudo diferiu dos padrões de floração e frutificação encontrados em três
fases sucessionais (capoeirão, floresta secundária e floresta madura) no sul do Brasil
que, independente do estágio de regeneração, apresentou atividade reprodutiva baixa
(ANDREIS et al., 2005).
Em relação à disponibilidade de recursos alimentares à fauna os padrões de floração
e frutificação da floresta secundária apresentaram forte influência de Miconia mirabilis,
espécie dominante nessa fisionomia com recursos abundantes. A floração foi contínua
65
apresentando picos em junho de 2005 (52,04%) e abril de 2006 (59,83%) e valores
mínimos em períodos semelhantes entre os anos, nos meses de outubro a janeiro. A
frutificação também foi contínua com picos em outubro de 2005 (68,84%) e agosto de
2006 (53,27%) e menor produção de dezembro a maio nos dois anos observados. A
frutificação parece ser favorecida pela diminuição na temperatura e fatores ambientais
podem não estar influenciando a floração da espécie. No período de floração a espécie
foi visitada frequentemente por pequenas abelhas e outros insetos e em estudos recentes
realizados na região registraram alto consumo dos frutos dessa espécie por primatas e
germinação das sementes encontradas nas fezes destes animais, sugerindo mecanismo
de dispersão zoocórico (CATENACCI, 2008; CARDOSO, 2008).
Os resultados indicam que M. mirabilis pode ser considerada recurso chave para a
fauna em formações secundárias e em áreas degradadas no Sul da Bahia. Paise e Vieira
(2005) observaram que espécies dominantes geralmente apresentam picos diferentes da
maioria das espécies na comunidade. Os autores sugerem, que a não sobreposição entre
as fenofases pode favorecer a ocorrência de animais frugívoros, possibilitando uma
oferta maior de recursos durante todo o ano evitando a competição.
Comparando as fisionomias, e as variações interanuais, observa-se que na floresta
madura, os padrões fenológicos reprodutivos foram muito variáveis entre os dois anos,
mas na floresta secundária, o padrão foi bem mais parecido entre os anos. Assim, a
dominância de Miconia mirabilis parece ser o determinante nos padrões reprodutivos da
floresta secundária desse estudo.
Para as duas fisionomias, algumas espécies florescem ou frutificam em períodos
diferentes do da maioria das espécies da comunidade, isso pode ser interpretado como
uma estratégia de escape, para evitar a competição por polinizadores ou dispersores.
Alguns períodos têm poucas espécies reproduzindo, e deve-se levar em consideração
que espécies com diferentes mecanismos de polinização e dispersão podem ter períodos
preferenciais diferentes para os períodos de floração e de liberação dos propágulos.
Segundo Haugaasen e Peres (2005) em paisagens heterogêneas, duas ou mais
formações florestais fornecem um mosaico espaço-temporal de recursos para a fauna, o
que gera implicações importantes para a manutenção de populações de vertebrados
frugívoros que requerem grandes áreas de vida. A semelhança entre as fisionomias na
produção de frutos ao longo de diferentes estações sugere um importante e potencial
papel dos frugívoros nas duas florestas, mesmo com diferenças na abundância de
recursos.
66
Os padrões de floração e frutificação das comunidades arbóreas no presente estudo
foram pouco sazonais e não houve correlação significativa com a precipitação entre as
fenofases. Essas informações corroboram com estudos realizados por Mori et al. (1982)
e Medeiros et al. (2006) no nordeste do Brasil.
A floração ocorreu durante a maior parte do período do estudo (exceção apenas para
quatro meses em 2005 na floresta madura em que não foi registrada a fenofase) com
picos variados nos meses com maiores temperaturas. Assim, os padrões de floração na
região sul da Bahia estão mais próximos da vegetação costeira de Pernambuco, do que
os padrões observados na planície costeira no sudeste do Brasil.
Estudos realizados na Floresta Atlântica no sudeste do país, considerados ambientes
pouco sazonais, a floração tem sido registrada em períodos mais úmidos e quentes
(MORELLATO et al., 2000; TALORA e MORELLATO, 2000). O padrão fracamente
sazonal esperado nesse tipo de vegetação não tem sido observado (MORELLATO et
al., 2000) indicando que mesmo os fatores ambientais sendo pouco sazonais exercem
influência, embora de maneira menos evidente, do que em florestas cujo clima apresenta
sazonalidade maior (TALORA e MORELLATO, 2000).
Segundo Medeiros et al. (2006) isso pode ser atribuído às variações no comprimento
do dia e temperatura menores no nordeste ao longo das estações, quando comparado
com ambientes pouco sazonais no sudeste, sendo mais intensas em latitudes mais altas.
A frutificação foi fracamente sazonal ocorrendo durante todo o período observado,
com variações entre os anos e em diferentes picos, o mesmo tendo sido registrado em
estudos em ambientes pouco sazonais (MORI et al., 1982; MORELLATO et al., 2000;
TALORA e MORELLATO, 2000; MEDEIROS et al, 2006). Talora e Morellato (2000)
sugerem que fatores climáticos não influenciam os padrões de frutificação nas florestas
pouco sazonais.
A floração e a frutificação ocorreram na maior parte do período estudado. Segundo
Bollen e Donati (2005) floração e frutificação em ambientes com baixa sazonalidade
geralmente são anuais e contínuos, sem uma periodicidade óbvia, com produção de
flores e frutos extendida ao longo da maior parte do ano. A falta de sazonalidade pode
acarretar em números altos e constantes de espécies em flor e fruto durante todo o ano,
que podem ser o resultado de seleção para deslocamento temporal de nicho ou da
combinação de processos estocásticos (PUTZ, 1979). Esses padrões têm sido
frequentemente associados à estratégia para a manutenção de recursos aos animais
67
polinizadores e dispersores (HILTY, 1980) e a evolução dos padrões fenológicos parece
estar frequentemente relacionados a fatores bióticos (JANZEN, 1967).
A maioria dos estudos fenológicos realizados em diferentes formações florestais
(CORLETT, 1990; TALORA e MORELLATO, 2000; MIKICHI e SILVA, 2001;
MEDEIROS et al., 2006; ZIMMERMAN et al., 2007; SELWY e PARTHASARATHY,
2007) demonstram a importância e a necessidade de estudos sobre interações ecológicas
em ambientes sazonais e pouco sazonais para compreender os processos bióticos e
relações co-evolutivas entre as espécies.
Em mais da metade das espécies na floresta madura (53 espécies) não foram
registradas fenofases reprodutivas e em apenas 14 espécies na floresta secundária, o que
pode ser atribuído a alguns fatores. Isso pode ter ocorrido devido a algumas espécies
não terem atingido a fase reprodutiva, além do maior número de indivíduos por espécie
para confirmar os padrões de floração e frutificação das mesmas. A floração é um
evento esporádico no ciclo de vida das plantas, quase sempre restrito a um ou outro
episódio bem-definido ao longo do tempo, podendo ser de curta ou longa duração
(COSTA, 2003). Em ambas as fisionomias foram registradas maior ocorrência da
frutificação do que de floração, e isso pode ser atribuído pela frutificação ser mais
longa, sendo possível detectá-la na observação mensal.
Portanto, é necessário investir em estudos fenológicos em longo prazo na região sul
da Bahia, envolvendo também espécies de diferentes grupos ecológicos e hábitos (lianas
e trepadeiras), além de estudos mais aprofundados sobre a fenologia e a ecologia das
espécies arbóreas na região.
68
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível identificar que em ambientes pouco sazonais, há maior proximidade dos
padrões reprodutivos na região sul da Bahia com a vegetação costeira em Pernambuco,
do que padrões observados em ambientes pouco sazonais na planície costeira no sudeste
do Brasil, devido às variações latitudinais. Essa informação não havia ainda sido
registrada em estudos fenológicos no Brasil.
Em paisagens inseridas num mosaico florestal de considerável diversidade de habitat
local, como é o caso da região de Una, dados fenológicos podem identificar diferentes
situações para cada fisionomia estudada. Isso pode ser observado na disponibilidade de
recursos alimentares, que podem ajudar na interpretação da variação do comportamento
da vida silvestre, bem como na conservação das espécies arbóreas.
O conhecimento do ciclo de vida de espécies arbóreas da região deve ser ampliado
para o entendimento dos padrões reprodutivos de um maior número de espécies e em
diferentes fisionomias florestais. Destaca-se a importância fundamental da fauna, como
principal agente de dispersão das espécies arbóreas da região. Interações bióticas entre
espécies endêmicas de fauna e flora precisam ser estudadas, pois não são conhecidas, o
que pode ter fortes implicações para a conservação das espécies na região.
A velocidade com que as florestas recuperam as características ecológicas é muito
variada entre diferentes fisionomias que são relativamente próximas. Assim, a dispersão
por animais e a presença de espécies de sub-bosque e endêmicas, parece ser função da
velocidade de recomposição das características da floresta madura.
Deve-se, portanto, promover a manutenção e conservação das florestas, através do
planejamento de Unidades de Conservação desse modo, garantindo a biodiversidade e a
conectividade entre as florestas, que são fundamentais ao seu funcionamento e a
movimentação dos agentes polinizadores e dispersores.
Esse estudo contribuiu para ampliar o conhecimento da composição das espécies,
suas relações florísticas e do comportamento fenológico de comunidades florestais entre
diferentes fisionomias na região sul da Bahia. Essas informações podem subsidiar
projetos de reflorestamento de áreas degradadas.
69
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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78
9. ANEXO
Anexo 1. Tabela com a numeração da coleção das espécies arbóreas identificadas desse
estudo depositada no acervo do herbário CEPEC/CEPLAC. A numeração coleção
corresponde às iniciais da pesquisadora que realizou o estudo (M: Michaele), a área da
pesquisa (P: Piedade) e o tema da pesquisa (F: Fenologia).
Famílias Espécies Numeração coleção
ANACARDIACEAE Tapirira guianensis MPF 01
ANACARDIACEAE Thyrsodium spruceanum MPF 02
ANNONACEAE Guatteria nigrescens MPF 03
ANNONACEAE Cymbopetalum brasiliense MPF 04
ANNONACEAE Annona salzmannii MPF 05
ANNONACEAE Rollinia sp MPF 06
ANNONACEAE Xylopia involucrata MPF 07
APOCYNACEAE Himatanthus bracteatus MPF 08
APOCYNACEAE Tabernaemontana salzmanii MPF 09
ARALIACEAE Schefflera morototoni MPF 10
BOMBACACEAE Eriotheca globosa MPF 11
BOMBACACEAE Eriotheca macrophylla MPF 12
BORAGINACEAE Cordia toqueve MPF 13
BORAGINACEAE Cordia bicolor MPF 14
BURSERACEAE Protium aracouchini MPF 15
BURSERACEAE Protium heptaphyllum MPF 16
CARYOCARACEAE Anthodiscus amazonicus MPF 17
CECROPIACEAE Cecropia hololeuca MPF 18
CECROPIACEAE Pouroma velutina MPF 19
CHRYSOBALANACEAE Licania hypoleuca MPF 20
CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco MPF 21
CHRYSOBALANACEAE Couepia rufa MPF 22
CHRYSOBALANACEAE Licania belemii MPF 23
CHRYSOBALANACEAE Licania hoehnei MPF 24
CLUSIACEAE Vismia latifolia MPF 25
CLUSIACEAE Symphonia globulifera MPF 26
CLUSIACEAE Tovomita mangle MPF 27
EBENACEAE Diospyros miltonii MPF 28
ELAEOCARPACEAE Sloanea garckeana MPF 29
ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis MPF 30
EUPHORBIACEAE Pera glabrata MPF 31
EUPHORBIACEAE Croton macrobothrys MPF 32
EUPHORBIACEAE Margaritaria nobilis MPF 33
EUPHORBIACEAE indet 3 FS MPF 34
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana MPF 35
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 1 MPF 36
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 2 MPF 37
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 3 MPF 38
79
EUPHORBIACEAE Euphorbiaceae sp 4 MPF 39
EUPHORBIACEAE Gymnanthes multiramea MPF 40
FLACOURTIACEAE Casearia commersoniana MPF 41
FLACOURTIACEAE Carpotroche brasiliensis MPF 42
HUMIRIACEAE Schistostemon retusum MPF 43
INDETERMINADA indet 4 FS MPF 44
INDETERMINADA indet 2 FM MPF 45
INDETERMINADA indet 3 FM MPF 46
INDETERMINADA indet 1 FM MPF 47
INDETERMINADA indet 4 FM MPF 48
INDETERMINADA indet 5 FM MPF 49
INDETERMINADA indet 6 FM MPF 50
INDETERMINADA indet 7 FM MPF 51
INDETERMINADA indet 8 FM MPF 52
LAURACEAE Cryptocarya sp MPF 53
LAURACEAE Nectandra membranacea MPF 54
LAURACEAE Licaria bahiana MPF 55
LAURACEAE Nectandra sp MPF 56
LAURACEAE Ocotea costulata MPF 57
LECYTHIDACEAE Eschweilera alvimii MPF 58
LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata MPF 59
LECYTHIDACEAE Lecythis pisonis MPF 60
LECYTHIDACEAE Lecythis lanceolata MPF 61
LECYTHIDACEAE Lecythis lurida MPF 62
LEGUMINOSAE Balizia pedicellaris MPF 63
LEGUMINOSAE Inga subnuda MPF 64
LEGUMINOSAE Parkia pendula MPF 65
LEGUMINOSAE Andira nitida MPF 66
LEGUMINOSAE Macrolobium latifolium MPF 67
LEGUMINOSAE Andira sp MPF 68
LEGUMINOSAE Inga unica MPF 69
LEGUMINOSAE Pterocarpus rohrii MPF 70
MALPIGHIACEAE Byrsonima laevigata MPF 71
MELASTOMATACEAE Miconia mirabilis MPF 72
MELASTOMATACEAE Miconia prasina MPF 73
MELASTOMATACEAE Henriettea succosa MPF 74
MELASTOMATACEAE Tibouchina francavillana MPF 75
MELASTOMATACEAE Tibouchina elegans MPF 76
MELASTOMATACEAE Miconia hypoleuca MPF 77
MELASTOMATACEAE Mouriri bahiensis MPF 78
MELIACEAE Trichilia lepidota MPF 79
MELIACEAE Trichilia quadrijuga MPF 80
MELIACEAE Trichilia richardiana MPF 81
MELIACEAE Trichilia sp MPF 82
MONIMIACEAE Siparuna guianesis MPF 83
MORACEAE Sorocea sp MPF 84
MORACEAE Brosimum rubescens MPF 85
MORACEAE Ficus sp MPF 86
MYRISTICACEAE Virola oficinallis MPF 87
MYRSINACEAE indet 1 FS MPF 88
MYRTACEAE Myrtaceae sp 6 MPF 89
MYRTACEAE Eugenia itapemirimensis MPF 90
80
MYRTACEAE Myrciaria floribunda MPF 91
MYRTACEAE Eugenia adenantha MPF 92
MYRTACEAE Eugenia aff acutata MPF 93
MYRTACEAE Eugenia sp1 MPF 94
MYRTACEAE Marlierea racemosa MPF 95
MYRTACEAE Marlierea silvatica MPF 96
MYRTACEAE Marlierea sp MPF 97
MYRTACEAE Myrcia acuminatissima MPF 98
MYRTACEAE Myrcia oocarpa MPF 99
MYRTACEAE Myrtaceae sp 1 MPF 100
MYRTACEAE Myrtaceae sp 10 MPF 101
MYRTACEAE Myrtaceae sp 11 MPF 102
MYRTACEAE Myrtaceae sp 12 MPF 103
MYRTACEAE Myrtaceae sp 2 MPF 104
MYRTACEAE Myrtaceae sp 3 MPF 105
MYRTACEAE Myrtaceae sp 4 MPF 106
MYRTACEAE Myrtaceae sp 5 MPF 107
MYRTACEAE Myrtaceae sp 7 MPF 108
MYRTACEAE Myrtaceae sp 8 MPF 109
MYRTACEAE Myrtaceae sp 9 MPF 110
MYRTACEAE Plinia callosa MPF 111
MYRTACEAE Plinia rivularis MPF 112
NYCTAGINACEAE Guapira obtusata MPF 113
OLACACEAE Heisteria raddiana MPF 114
OLACACEAE Schoepfia obliquifolia MPF 115
RUBIACEAE Amaioua pilosa MPF 116
RUBIACEAE Rudgea sp 2 MPF 117
RUTACEAE Zanthoxylum acuminatum MPF 118
SAPINDACEAE Cupania oblongifolia MPF 119
SAPINDACEAE Sapindaceae sp 1 MPF 120
SAPOTACEAE Pouteria grandiflora MPF 121
SAPOTACEAE indet 2 FS MPF 122
SAPOTACEAE Micropholis gardneriana MPF 123
SAPOTACEAE Manilkara maxima MPF 124
SAPOTACEAE Diplöon cuspidatum MPF 125
SAPOTACEAE Pouteria bangii MPF 126
SAPOTACEAE Ecclinusa ramiflora MPF 127
SAPOTACEAE Pouteria microstrigosa MPF 128
SAPOTACEAE Pouteria sp 2 MPF 129
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 1 MPF 130
SAPOTACEAE Sapotaceae sp 2 MPF 131
SAPOTACEAE Manilkara salzmanii MPF 132
SAPOTACEAE Pouteria reticulata MPF 133
SAPOTACEAE Pouteria hispida MPF 134
SAPOTACEAE Pouteria aerana MPF 135
SOLANACEAE Solanum swartzianum MPF 136
THYMELIACEAE Daphnopis sanctae-terezae MPF 137
VERBENACEAE Aegiphila sellowiana MPF 138
VIOLACEAE Rinorea bahiensis MPF 139
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P495 Pessoa, Michaele de Souza.
Comparação da comunidade arbórea e fenologia repro-dutiva de duas fisionomias em floresta atlântica no sul da Bahia, Brasil / Michaele de Souza Pessoa. – Ilhéus, BA : UESC, 2008.
xv,81f. : il. ; anexo. Orientador: André Márcio Amorim. Co-orientadora: Regina Sambuichi. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de
Santa Cruz. Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Inclui bibliografia
1. Ecologia vegetal. 2. Fenologia. 3. Diversidade biológica. 4. Florestas – Conservação – Bahia. I. Título. CDD 581.5