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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

ESCOLA DE GOVERNO

O CUSTO SOCIAL DOS ACIDENTES COM MOTOS, UMA AVALIAÇ ÃO PARA O

MUNICÍPIO DE PARANAVAÍ

MARINGÁ

2008

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O CUSTO SOCIAL DOS ACIDENTES COM MOTOS, UMA AVALIAÇ ÃO PARA O

MUNICÍPIO DE PARANAVAÍ

Josoel Martins Universidade Estadual de Maringá

[email protected] Orientador: professor Dr Neio Lucio Peres Gualda

RESUMO Este artigo discorre sobre os acidentes de trânsito envolvendo motocicletas, suas causas e o custo social que isto representa. É com uma postura enérgica e persistente por parte da sociedade em geral, em conjunto com a Administração Pública, que poderemos melhorar o bem-estar, a segurança, a integridade de todos, alcançando seu objetivo maior que é “a proteção da vida”. Com o propósito de reverter essa situação, produzindo ações que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos no trânsito, que hoje se encontra tão caótico, necessitando de uma maior atenção por parte dos Governos Federal, Estadual e Municipal, para tentar reverter esse quadro. Assim, estes acidentes tornaram-se uma preocupação econômica e social, pois o aumento da frota de motocicletas motivado pelo crédito facilitado associado à economia de combustível e tempo, facilidade de locomoção e estacionamento, tem levado mauitas pessoas a adquirirem este tipo de veículo, esquecendo-se do risco que os mesmos correm no seu dia-a-dia. O cenário torna-se ainda mais impressionante na medida em que são analisados os impactos que cada acidente de trânsito envolvendo motocicletas causa à sociedade e à economia brasileira. Palavras-chave:acidentes de trânsito, custo social, motocicletas

1. INTRODUÇÃO

Das invenções que o homem já produziu, a roda pode ser considerada um dos feitos

mais fascinantes e também um dos mais devastadores. Ela permitiu um grande avanço no

desenvolvimento tecnológico, mas vem tirando milhares de vidas a cada ano em todo o

mundo, além do altíssimo custo social, como resultado de acidentes e violências,

principalmente no trânsito.

Na cidade de Paranavaí, como em outros municípios, outros estados, os acidentes de

trânsito envolvendo motocicletas são um ponto crítico e preocupante, como mostra os dados

fornecidos pelo 8º Batalhão da Polícia Militar do Estado do Paraná e do Corpo de Bombeiros

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através do SIATE (Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergências).

Constituindo um grave problema de saúde pública, pois geram mortes, incapacidades e

sequelas, principalmente no público jovem.

Os números apresentados demonstram que o custo econômico e social vem elevando

para a sociedade como um todo em dois aspectos: demanda de serviços públicos e perdas

potenciais de capital humano para a sociedade decorrentes desses acidentes.

Desta forma, devido à preocupaço existente a respeito do assunto, procurar-se-á

oferecer uma avaliação mais aproximada destas perdas para que estudos futuros sejam

realizados com intuito de melhor precisar os custos econômicos e sociais existentes com estes

acidentes na cidade de Paranavaí.

Garantir segurança nas vias públicas é um dever do Estado, mas, respeitar as leis de

trânsito é um dever de todo cidadão. Essa conjunção de esforços entre o poder público e a

população, é um exercício de cidadania e democracia, que contempla o princípio universal de

igualdade.

É com uma postura enérgica, ou seja, rigor na fiscalização e cobrança de resultados

por parte da sociedade em geral, em conjunto com a Administração Pública, que poderemos

realizar o bem-estar, a segurança, a integridade de todos, alcançando seu objetivo maior: “a

proteção da vida”.

O principal objetivo deste trabalho é realizar um levantamento minucioso sobre o

custo social em acidentes envolvendo motocicletas no município de Paranavaí.

Os procedimentos metodológicos foram: a revisão da literatura referente a bibliografia

conceitual versado sobre o assunto, levantamentos de dados estatísticos juntos aos órgãoes e

entidades que atuam nos eventos que envolvem acidentes com motocicletas na cidade de

Paranavaí, além de pesquisa de campo por meio de entrevistas com motociclistas envolvidos

em acidentes.

2. ACIDENTES DE TRÂNSITO ENVOLVENDO MOTOCICLETAS

2.1 NORMAS GERAIS DE CIRCULAÇÃO E CONDUTA

As normas gerais de circulação e conduta, segundo Pinheiro (2003, p.78), estão

contidas no capítulo três da Lei nº 9503/97 que institui o Código de Trânsito Brasileiro, tendo

incluído em seu texto os artigos 26 até o de número 67, os quais, se forem sempre seguidos

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pelos condutores de veículos, haveria uma grande redução na quantidade de acidentes de

trânsito.

Araújo (2000, p.56) ressalta que:

(...) o trânsito é uma disputa pelo espaço físico, é uma negociação permanente de espaço, coletiva e conflituosa. E essa negociação, dadas as características de nossa sociedade, não se dá entre pessoas iguais, a disputa pelo espaço tem uma base ideológica e política, depende de como as pessoas se vêem na sociedade e de seu acesso real ao poder.

Os acidentes de trânsito trazem grande ônus para a economia do país, os usuários das

vias públicas causam problemas, mas também sofrem suas conseqüências. Um fator

importante nos acidentes de trânsito é a inexperiência do condutor, sendo que um grande

número deles não foi treinado a reagir em situações de emergência, quando esta situação

acontece, o motorista nunca sabe o que fazer, por isso, antes de ser autorizado a dirigir ou

pilotar um veículo, deveria este ser mais treinado, passar por exames mais rigorosos, ter

realmente condições para tal.

A Resolução 285/2008 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que, no

caso dos motociclistas, a partir de 1º de janeiro de 2009, haverá uma importante mudança na

legislação, para a obtenção da carteira nacional de habilitação para motos, ao contrário de

antes, quando a pessoa interessada em tirar a carteira para motos só realizava o teste prático

em pista fechada e conseguia habilitar-se para conduzir motos, sem mesmo ter enfrentado o

trânsito em vias reais.

A partir desta data, não será mais permitido realizar somente aulas internas na auto-

escola, terá que fazer aulas externas, pois a prova prática passará a ser em vias abertas à

circulação (ruas, avenidas etc); o que de certa forma trará alguma experiência de condução

aos motociclistas, o que a legislação anterior não oferecia.

2.2 CONCEITOS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO

De acordo com Aragão (2003, p.14) “É o incidente involuntário do qual participam,

pelo menos, um veículo em movimento; pedestres e elementos fixos, isolado ou

conjuntamente, ocorrido numa via terrestre, resultando danos ao patrimônio, lesões físicas

ou morte”.

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Para LUZ (2005, p.110), “é todo acontecimento ou o evento ocorrido em uma via

terrestre do qual participe pelo menos um veículo de via terrestre e resulte em danos pessoais

ou materiais”.

"É todo o fato ocorrido entre veículos e pessoas ou animais, e entre veículos e

obstáculos, em vias terrestres abertas à circulação pública e que resultem em danos materiais

ou pessoais às partes envolvidas ou a terceiros” (PB-32-ABNT).

De acordo com o entendimento de vários autores, trânsito ou tráfego é o movimento

de pedestres, veículos ou animais sobre vias terrestres, isto é, a dinâmica do deslocamento

físico de pessoas, animais e veículos no seu aspecto individual.

2.3 AS CAUSAS DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO

Pode-se afirmar que causa é o evento primeiro na corrente dos acontecimentos, sem o

qual o acidente não teria ocorrido. Como causas de acidentes, de acordo com MARIN &

QUEIROZ (2000, p. 89) podemos considerar as três fundamentais, que são: veículo – via –

homem.

Veículo: a causa do acidente está diretamente relacionada ao veículo, devido ao seu

estado de conservação (pneus, freios, direção, rodas e iluminação) ou ao acondicionamento

de carga.

Via: em alguns casos a causa do acidente pode ser a própria via, tais como pista

derrapante, esburacada, curvas com sub-elevação (sem compensação), falta ou insuficiência

de sinalização, etc.

Homem – na grande maioria dos casos, a causa do acidente está no próprio homem,

seja como condutor, pedestre ou até como passageiro de um veículo, pela sua negligência,

imprudência ou imperícia.

Segundo Luz (2005, p.104) “o erro humano em todo o mundo , é responsável por

mais de 90% dos acidentes registrados , tendo como principais imprudências determinantes

de acidentes com vítimas no Brasil. Vejamos a seguir, por ordem de incidência:

• velocidade excessiva;

• dirigir sob efeito de álcool ;

• distância insuficiente em relação ao veiculo dianteiro;

• desrespeito a sinalização de trânsito;

• dirigir sob efeito de drogas.

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Vejamos a seguir, os fatores determinantes das imprudências:

• Impunidade/ Legislação deficiente;

• Fiscalização repressiva e sem caráter educativo;

• Baixo nível cultural e social;

• Baixa valorização da vida;

• Ausência de espírito comunitário e exacerbação do caráter individualista;

• Uso do veículo como demonstração de poder e virilidade.

Estas imprudências tem levado muitas pessoas até a morte, e também têm deixado

sequelas que às vezes são irreversíveis.

3. EVOLUÇÃO DA FROTA DE MOTOS EM PARANAVAÍ E NÚMERO DE

ACIDENTES COM VÍTIMAS

Conforme relatório estatístico do DETRAN Paraná (2008), a frota de automóveis e

motocicletas no município de Paranavaí-Pr, vem crescendo anualmente.

No ano de 2005, o número total de automóveis registrados em Paranavaí era de

19.507, em 2006 o número era de 20.113 automóveis, em 2007 eram 21.241 automóveis, e em

2008 chegou a 22.691 automóveis, isto significa que do ano 2005 para o ano 2008 aconteceu

um aumento de 16.32% no número de automóveis na cidade de Paranavaí.

Já em relação a motocicletas, no ano de 2005 o número total de motocicletas

registradas em Paranavaí era de 8.723, em 2006 era de 10.054 motocicletas, em 2007 era

11.439 motocicletas e em 2008 chegou ao número de 13.063 motocicletas cadastradas em

Paranavaí, isto significa que do ano de 2005 para o ano de 2008 aconteceu um aumento de

49,75% no número de motocicletas na cidade de Paranavaí, o que comprova que a evolução

da frota de motocicletas se dá de forma muito mais rápida, do que a de automóveis.

Veja a seguir o gráfico que demonstra o crescimento do número de motocicletas na

cidade de Paranavaí.

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Figura 01 – Crescimento dos número de motocicletas em Paranavaí

Fonte: 8º BPM / PEL/TRÂNSITO

E, conforme relatórios estatísticos de acidentes com vitimas, do Pelotão de Trânsito da

Policia Militar de Paranavaí, dos anos de 2007 e 2008, mostram que em 2007 ocorreram um

total de 445 acidentes com vítimas, sendo que destes acidentes resultaram em 447 feridos e

que deste total de feridos, 342 eram condutores de motocicletas excluindo-se os passageiros,

ou seja 76,5% dos feridos nos acidentes no ano de 2007 eram condutores de motocicletas, e

do total de 447 feridos, 247 eram jovens na faixa etária entre 18 a 28 anos, isto é 55,25% dos

feridos eram jovens.

E no ano de 2008, ocorreram um total de 381 acidentes com vítimas, sendo que destes

acidentes resultaram em 502 feridos, observa-se que comparado com o ano de 2007, houve

uma redução no número de acidentes de 16,50%, por outro lado houve um aumento no

número de vítimas na ordem de 12,30%, e ainda, do número total de feridos 298 eram

condutores de motocicletas, excluindo-se também os passageiros,ou seja 59,60% dos feridos

eram motociclistas, e dos 502 feridos , 269 eram jovens na faixa etária de 18 a 28 anos ,o que

representa um porcentagem de 53,58%, número parecido com o de 2007, como será

demonstrado no gráfico a seguir:

0

5000

10000

15000

20000

25000

2005 2006 2007 2008

Motos

Automóveis

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Figura nº 02 – Número de feridos em relação ao número de acidentes

Fonte: DETRAN/PR

Nesta estatística são levados em conta os acidentes com vítimas, ou seja, naqueles

acidentes em que houve a necessidade de se levar alguma pessoa ao Pronto Socorro ou órgão

similar em decorrência de lesões sofridas no acidente de trânsito.

Nos acidentes com vítimas fatais, no ano de 2007, foram 4 mortos no local do acidente

e no ano de 2008 foram um total de seis mortes.

Conforme números do Corpo de Bombeiros do município de Paranavaí (2008), sobre

ocorrências atendidas pelos SIATE a acidentes com motos e com vítimas, mostram que em

2006, ocorreram um total de 370 acidentes, 458 em 2007 e 500 no ano de 2008.

Figura 03 – Número de acidentes com vítimas

Fonte: Corpo de Bombeiros / SIATE

0

100

200

300

400

500

2006 2007 2008

Acidentes comVítimas

0

100

200

300

400

500

600

2007 2008

Feridos

Acidentes

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Desta forma, através do gráfico apresentado, pode-se observar que houve um aumento

nesse tipo de atendimento em três anos, da ordem de 35,13% , aumentando também o custo

social.

3.1 METODOLOGIA

A metodologia adotada, foi através da realização de uma pesquisa de campo com

motociclistas envolvidos em acidentes de trânsito ocorridos com motos no município de

Paranavaí, no ano de 2008. Destes, foram selecionadas de forma aleatória 40 pessoas, entre

homens e mulheres, quantidade definida, considerando erro amostral de 0,1 e confiança de

80%.

Em seguida, foi elaborado um questionário com perguntas diretas, procurando saber

do envolvido, quais os custos que teve em decorrência do acidente, como custos com

atendimento médico, danos nos veículos, com seguro DPVAT, dias parados etc. Para tanto,

utilizou-se os policiais militares para realizar o questionário junto aos envolvidos tanto em

suas residências, como também em seu local de trabalho.

3.2 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO COM MOTOCICLISTAS ENVOLVIDOS

EM ACIDENTES

Para auxiliar e enriquecer o trabalho e ter uma melhor dimensão do custo social, em

acidentes com vítimas envolvendo motos, foi realizada pesquisa de campo, através de

entrevistas com motociclistas vítimas destes acidentes sendo que foi adotado uma amostra

finita, com erro amostral de 0,1 e com confiança de 80%, o que deu um total de 40

entrevistados, através deste procedimentos e análise dos dados, foram obtidas as seguintes

informações:

• 30 % já sofreram mais de um acidente com motos, em que ficaram feridos e que

precisaram de atendimento médico;

• 75% receberam atendimento do SIATE e da Policia Militar ;

• 100% dos entrevistados precisaram de atendimento médico, e com a média de

internação de 5 dias;

• 75% dos entrevistados tiveram suas despesas médicas cobertas pelo SUS;

• A média de afastamento do serviço, por conta destes acidentes, foi de 21 dias;

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• 35 % ficaram com algum tipo de seqüela decorrentes dos acidentes;

• Apenas 40% dos acidentados acionaram o DPVAT;

• Em 70% dos acidentes além dos danos causados na motocicleta, houve danos em

outro veículo;

• A principal sugestão dos motociclistas foi o pedido de uma melhor fiscalização no

trânsito e a principal dúvida foi com relação ao DPVAT.

Os dados acima mostram as várias consequências, tanto econômicas como sociais,

além daqueles que interferem diretamente no bem-estar do accidentado e de toda a sua família,

decorrentes dos acidentes de trânsito envolvendo motocicletas no município de Paranavaí.

Observou-se que a maioria dos entrevistados disse que já sofreram acidentes de

motocicleta necessitaram de atendimento médico de emergência, às vezes, tendo que ficar

internado para se recuperar.

Outro dado preocupante é que, 75% das pessoas entrevistadas tiveram suas despesas

hospitalares cobertas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que é mantido pelo governo.

Os motociclistas deram como sugestões para mudar este quadro que hoje é lastimante,

aumentar a fiscalização e haver mais rigor no cumprimento das leis, para que esse quadro

regrida o mais rápido possível.

4. CUSTO SOCIAL DECORRENTE DE ACIDENTES COM MOTOCI CLETAS

Alguns aspectos importantes com relação aos acidentes de trânsito urbano do

município de Paranavaí no ano de 2008, envolvendo motocicletas, serão abordados neste

capítulo. Como vimos, pelo levantamento realizado junto aos acidentados, os acidentes de

trânsito constituem-se num grave problema social e principalmente econômico, provocando

desperdícios materiais e humanos. Além disso, ceifa milhares de vidas anualmente em todo o

país. E, segundo Aragão (2003, p.23), “o Brasil é um dos recordistas mundiais de acidentes

de trânsito, constituindo um alto custo social”. Em qualquer circunstância que ocorra, são

experiências ruins e representam um drama familiar e pessoal para os que neles se envolvem.

Os acidentes envolvendo motocicletas nas vias públicas e rodovias contribuem nesse

sentido, uma vez que a motocicleta está simbolicamente associada à juventude, à aventura e à

força. O acidente de trânsito tornou-se, por isso, uma questão de saúde pública que exige

respostas rápidas e cuidados indispensáveis à preservação da vida das pessoas que circulam

pelas vias públicas.

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As conseqüências desses acidentes de trânsito atingem proporções cada vez maiores e

das mais diversas naturezas. Pelos levantamentos realizados pode-se constatar, que os

acidentes envolvendo motocicletas provocam mortos e feridos. Atrapalham o trânsito,

ocasionando longos congestionamentos. Raramente ocorre um acidente de trânsito com

motocicleta em que alguém não seja vitimado. A mobilização dos agentes para atender essas

ocorrências é significativa. Além disso, os leitos hospitalares ficam com a oferta

comprometida em razão da elevada demanda dos acidentados.

Após a revisão da literatura que aborda a questão e o levantamentos dos dados, foi

possível elencar uma série de custos associados aos acidentes de trânsito com motocicletas,

dentre os quais destacam:

a) O custo do emprego do efetivo e da estrutura da Polícia Militar, soma dos custos do tempo

dos policiais e/ou agentes de trânsito e da utilização de veículos para atendimento no local do

acidente e deslocamento para o hospital ou delegacia, iniciando-se a partir do acionamento da

equipe, com gastos com combustível e manutenção da viatura, o gasto com as horas

trabalhadas dos policiais, uma vez que estes chegando ao local deverão tomar todas as

medidas necessárias que convém ao caso, posteriormente confeccionar o devido boletim de

acidente de trânsito, além do custo de manutenção de toda a estrutura do pelotão de trânsito

de Paranavaí, que é composto por mais ou menos quinze policiais, com sua sede no 8º

Batalhão e também o pátio para armazenar os veículos envolvidos no acidente.

b) O custo do emprego do efetivo do Corpo de Bombeiros e de sua estrutura, custo do

transporte das vítimas de acidentes de trânsito do local da ocorrência até o hospital ou Pronto-

socorro. Inclui o custo da utilização de equipamentos especiais e do deslocamento das

equipes de resgate, com veículos e profissionais especializados. Uma vez constatado que a

vítima, no caso de motos, na maioria dos casos há necessidade do deslocamento geralmente

do SIATE, com ambulância e uma equipe de socorrista e paramédicos), os quais deverão

estabilizar a vítima e conduzi-la para atendimento médico, além do custo de manutenção de

toda a estrutura do SIATE de Paranavaí, e de seu efetivo durante 24 horas ao dia.

c) Custo do atendimento médico-hospitalar, soma dos custos dos recursos humanos e

materiais do atendimento e do tratamento das vítimas de acidentes de trânsito com motos,

desde a chegada ao hospital até o momento da alta ou do óbito, ou seja, depois de

encaminhado a vítima para atendimento médico, deve se computar o gasto com o

atendimento de emergência, gastos com profissionais, tratamentos cirúrgicos, internamentos,

em alguns casos de acidentes mais graves com motociclistas, esse tratamento chega a custar

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200 mil reais ao poder público, conforme levantamento do Hospital de Clinicas de São Paulo

no ano de 2005.

d) Custo com a reabilitação, pois as lesões mais comuns em acidentes com motos, são de

natureza músculo – esqueléticas nos braços e pernas, o que na maioria das vezes essas lesões

não expõe os motociclistas a risco de morte, mas por outro lado podem ficar tetraplégicas,

paraplégicas,sofrer amputações de membros, lesões vasculares e nervosas, o que as

incapacitam parra uma série de atividades, ficando com seqüelas temporárias ou até mesmo

permanentes, necessitando de sessões de fisioterapia.

e) Custo da perda de capacidade produtiva, corresponde às perdas econômicas sofridas pelas

pessoas, pela interrupção temporária ou permanente de suas atividades produtivas, em

decorrência de envolvimento em accidentes de trânsito com motocicletas. Aplica-se às

pessoas inseridas ao mercado formal e informal. No caso de um assalariado, a perda equivale

ao custo necessário para a sua substituição durante o tempo não trabalhado.

f) Custo de um eventual remanejamento/readaptação que a empresa terá que fazer com o

funcionário, para outras atividades, uma vez que em muitos casos, a pessoa vítima de

acidente com motos, voltará ao trabalho ainda com sequelas temporárias ou permanentes,

incapacitando-o para uma série de atividades e obrigando-o uma outra função dentro da

empresa.

g) Custos com aposentadoria precoce, forçadas por seqüelas permanentes decorrentes do

acidente, com lesões encefálicas, de coluna, de medula e amputação de membros, com o

agravante dessas vitimas de acidentes com motos serem na maioria dos casos jovens, os

quais teriam ainda uma longa vida de trabalho e contribuição econômica. Custo esse que

recai sobre a Previdência Social em função da impossibilidade permanente de trabalhar. Este

custo inclui despesas com pensões e benefícios.

h) Custos com o seguro DPVAT, podendo ir de R$ 2.695,90 reais, em caso de reembolso de

despesas médicas e suplementares a R$ 13.479,48 em casos de morte ou invalidez

permanente.

i) Custo com congestinamento, soma dos custos relativos ao tempo perdido pelos ocupantes

de veículos retidos no tráfego e ao aumento do custo de operação desses veículos, em função

de congestionamentos gerados por acidente de trânsito, muitas vezes envolvendo

motocicletas.

j) Custo dos danos ao equipamento urbano: custo de reposição/recuperação de mobiliário

urbano danificado ou destruído em função de acidentes de trânsito. Os equipamentos urbanos

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compreendem abrigos de ônibus, postes, orelhões, bancas de revistas, caixas de correio e

grades.

k) Custo dos danos à propriedade de terceiros, custo de recuperação de propriedades

particulares danificadas em função de acidentes de trânsito, tais como muros e portões de

acesso.

l) Custo dos danos à sinalização de trânsito, custo de reposição/recuperação de sinalização

danificada ou destruída em função de acidentes de trânsito. Consiste em elementos tais como

postes de sustentação de sinalização, placas de sinalização, equipamento semafórico.

m) Custo dos danos aos veículos, custo de recuperação ou reposição dos veículos danificados

em acidentes de trânsito.

n) Custo do impacto familiar, custo que representa o impacto do acidente no círculo familiar

da(s) vítimas(s). É representado, principalmente, pelo tempo gasto por familiares para sua

eventual produção cessante e por adaptações na estrutura familiar (moradia, transporte) por

conta do acidente.

o) Custo de outro meio de transporte: soma das despesas do acidentado com passagens de

ônibus, táxi e aluguel de veículo decorrentes da necessidade de locomoção, no período em

que o veículo ficar sem condições de uso.

p) Custo previdenciário, custo que recai sobre a Previdência Social em função da

impossibilidade, temporária ou permanente, de trabalhar das vítimas de acidentes de trânsito,

sustentadas parcialmente pela Previdência. Esse custo inclui despesas com pensões e

benefícios.

q) Custo de processos judiciais, custo do funcionamento da estrutura judicial em função do

atendimento às questões referentes aos acidentes de trânsito.�

r) Custo de remoção de veículos, custo de utilização de guinchos ou outros meios para

remover os veículos avariados do local do acidente até uma oficina, pátio ou delegacia. Inclui

o aluguel do veículo e o tempo de serviço do técnico responsável.

De acordo com IPEA (2003), o maior custo social dos acidentes de trânsito é o longo

processo de reabilitação que, em muitos casos, prolonga-se por toda a vida da pessoa. Outro

custo poucas vezes percebido, é a inserção dos incapacitados físicos no ambiente social e de

trabalho. E, a perda de produção, ou seja, as perdas econômicas sofridas pelas vítimas e pela

interrupção temporária ou permanente da atividade produtiva é representativa.

Para que os acidentados sejam atendidos pelo SUS, o município de Paranavaí, arca

com uma porcentagem em dinheiro para a manutenção da Santa Casa, onde eles são

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atendidos, onerando muitas vezes os cofres do mesmo. E, quando isso não acontece, o

atendimento é suspenso, só atendendo emergência.

CONCLUSÃO

Os prejuízos causados pelos acidentes em termos econômicos e sociais são

incalculáveis. O custo social de maior relevância dos acidentes de trânsito é o longo processo

de reabilitação que, em muitos casos, prolonga-se por toda a vida da pessoa. Outros custos,

poucas vezes percebido, é a reinserção dos incapcitados físicos no ambiente social e de

trabalho, sendo novas responsabilidades individuais e coletivas que têm um custo de longa

duração, que poucas vezes é quantificado.

Ao se analisar os dados obtidos na pesquisa de campo, verificou-se que o custo com

tratamento de um paciente politraumatizado é considerável, existindo além das despesas com

atendimento médico, um custo social enorme, representados por perda da capacidade

produtiva, de salários das vítimas, funerais, reabilitação dos feridos, despesas com órgãos

públicos, com advogados, com a recuperação de veículos, além de outros gastos materiais.

Após a tabulação das entrevistas, chegou-se à conclusão que os motociclistas devem ter

um pouco mais de atenção à lesgislação vigente, mais cuidado ao pilotar suas máquinas, pois,

muitas vezes os acidentes causados ou sofridos por eles deixam sequelas, e às vezes leva à

morte, transtornando toda a família.

Os dados levantados e as análises realizadas neste artigo evidenciam a importância da

realização de novos estudos relacionando acidente de trânsito com motos, suas consequências

e os gastos financeiros, que poderão subsidiar a formulação de políticas públicas que

privilegiem maior fiscalização associada à medidas de prevenção para que possa haver uma

redução significativa nos custos sociais relacionados a acidentes com motocicletas.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Marcelo José. Trânsito: questões controvertidas. Curitiba-Pr: Juruá, 2.000. ARAGÃO, Ranvier Feitosa. Acidentes de trânsito: aspectos técnicos e jurídicos. 3 ed. Campinas, SP: Millenium, 2.003. BEUX, Armindo. Acidentes de trânsito na justiça. 3 ed. Poro Alegre-RS: Globo, 2.000.

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