universidade estadual de goiÁs unidade … que palavras seriam incapazes de expressar todo o...

38
1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – PORTUGUÊS/INGLÊS E SUAS RESPECTIVAS LITERATURAS ADILSON ANTONIO SERVINO ASPECTOS DO HEROÍSMO EXPRESSO EM THE LAST OF THE MOHICANS JUSSARA – GO 2012

Upload: vanliem

Post on 14-May-2018

221 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – PORTUGUÊS/INGLÊS

E SUAS RESPECTIVAS LITERATURAS

ADILSON ANTONIO SERVINO

ASPECTOS DO HEROÍSMO EXPRESSO EM THE LAST OF THE MOHICANS

JUSSARA – GO

2012

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

2

Adilson Antonio Servino

ASPECTOS DO HEROÍSMO EXPRESSO EM THE LAST OF THE MOHICANS

Monografia apresentada ao Departamento de Letras da Universidade Estadual de Goiás – UEG, Unidade Universitária de Jussara – GO, em cumprimento à exigência para obtenção do título de Graduado em Letras Português/Inglês e respectivas literaturas, sob orientação do professor Evandro Rosa de Araújo.

JUSSARA – GO

2012

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

3

É com muita satisfação que dedico mais este laborioso trabalho acadêmico à minha

querida e digníssima esposa, bem como às minhas filhas que sempre estiveram ao meu lado

apoiando e me compreendendo nas horas em que às privava de minha companhia quando este

ofício se fazia necessário para que eu me ausentasse. E ainda, à minha querida mãezinha que

durante toda vida tem me incentivado a continuar os meus estudos.

Homenageio ainda, o meu caríssimo irmão, que mesmo morando longe tem

contribuído para minha formação acadêmica. E não poderia de forma alguma deixar de

dedicar o meu sucesso nesse curso de graduação a toda direção e coordenação bem como aos

meus examinadores e ao ilustríssimo orientador que me auxiliaram de maneira significativa.

Quero também atribuir a Deus todo louvor, pois a Ele toda honra e glória. Em todo o

percurso de meu curso universitário pude perceber sua maravilhosa e misericordiosa mão não

só me ajudando, mas abençoando-me em tudo. Assim sendo, atribuo a Ele todos os méritos na

pessoa bendita de seu filho amado, Jesus Cristo.

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

4

AGRADECIMENTOS

Acredito que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e

gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem pelo trabalho desenvolvido

junto a nós acadêmicos do Curso de Letras. Desejo também prestar os meus sinceros

agradecimentos às minhas colegas de curso em que desfrutamos de uma perfeita interação

durante as atividades desenvolvidas.

Quero prestar meus sinceros agradecimentos à minha família que tanto me apoiou

reconhecendo e suportando a minha ausência. Em especial a você mui digna esposa, que

sempre acreditou em meu potencial, demonstrando interesse nos meus estudos. Agradeço o

seu incentivo sem o qual com certeza eu teria desistido deste laborioso curso acadêmico.

Quantos momentos fomos privados de estarmos juntos quando o dever, os trabalhos

universitários me chamaram, mas finalmente a vitória é nossa.

Louvo ao grande Deus, em nome do seu filho amado, em que Ele se compraz: Jesus

Cristo. Tenho a plena convicção que sem sua benção e sabedoria com certeza eu não teria

chegado até aqui. Presto a ti Senhor Jesus todos os méritos de todas as conquistas e continuo

rogando a Ti que continue comigo não só enquanto durar o Curso acadêmico, mas por toda a

minha vida profissional.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

5

A verdadeira demonstração de bravura e coragem é o reflexo da identidade moral do indivíduo face aos ideais que moldam a sua conduta.

Adilson Antonio Servino

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

6

RESUMO

Foi realizado um estudo da obra de Cooper com intuito de visualizar sua criação e exaltação do herói nacional. O autor se situa na colonização do território americano pelos europeus, época em que culminou com a “Guerra Civil dos Sete Anos”, para então, retratá-la com as façanhas dos indígenas em defesa dos ideais nacionalistas nas fronteiras dos Estados Unidos da América. Segundo Moisés (2007), esse ser ficcional é um ser dotado de uma personalidade e características indiscutíveis, mas que não pode ser confundido com a pessoa propriamente dita. Nesse sentido, a ideia de realizar este trabalho nasceu ao analisar o heroísmo e a honra de uma personagem da ficção romanesca em detrimento de seu código de conduta inviolável, os quais chegavam a morrer por seus ideais. Em The Last of the Mohicans personificado no personagem protagonista Uncas, o autor norte-americano, James Fenimore Cooper, partilha com os estudiosos da literatura e da historiografia algumas experiências perímetricas dos E.U.A. Em sua obra, o referido artista transmite aos seus leitores marcantes traços de nobreza intrínseca dos índios americanos. Trata-se de uma narrativa de cunho romântico, com informações históricas em face da harmonia existente entre o natural e o choque cultural de civilizações, com suas crenças e costumes. Com isso surgiu a ideia de analisar a obra de Cooper sob a visão do autor a inerente honra do herói idealizado no personagem Uncas em The Last of the Mohicans.

PALAVRAS-CHAVE: Romance. Literatura. Historiografia. Heroísmo. O Último dos Moicanos

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 CONTEXTO HISTÓRICO E FORTUNA CRÍTICA DE JAMES FENIMORE COOPER

10

1.1 Um passeio pela fortuna crítica, literária e histórica de Cooper 11

CAPÍTULO 2 THE LAST OF THE MOHICANS E ASPECTOS DA TEORIA DA PERSONAGEM

20

2.1 Processo de Criação da Personagem em “The Last of The Mohicans”

21

2.2 Protagonismo X Antagonismo

26

2.3 A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista

28

CAPÍTULO 3 HONRA E HEROÍSMO EM THE LAST OF THE MOHICANS

31

3.1 A Formação Artística do Herói Expresso em Uncas

32

3.2 Honra e Coragem em The Last of The Mohicans

33

CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

8

INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa a existência de determinadas personagens e, sim está focado na

análise criteriosa sob a ótica do autor norte-americano Cooper (1994) os ideais de honra,

fidelidade e nobreza inerente personificado em seu protagonista e herói idealizado – Uncas.

Para a consolidação deste trabalho serão utilizadas “Teoria do Romance” de Schüler

(1989), o qual procura promover aos seus leitores uma fascinante reflexão sobre o romance

em tempos modernos em consonância ao romance das epopéias medievais. Bem como da

“Teoria da literatura” de Souza (2007), onde o autor busca demonstrar o vasto campo da

irrealidade por meio de histórias ficcionais as quais empregam a composição e os enigmas

conceituais favoráveis ao seu entendimento. E ainda “Como analisar narrativas” de Gancho

(2004) como sendo uma importante obra auxiliadora na pesquisa e análise de textos literários

empolgantes da ficção. Citelli (1990) em sua obra “Romantismo” procurou abranger com

obras exemplificadoras sob expressão romanesca.

Em The Last of The Mohicans, Cooper faz referência ao heroísmo e honra de

personagens dentro de um romance ou mesmo em criações de cinemas “como mito do herói

individual dirigido por um código de honra ao qual não faltam os princípios de lealdade,

fidelidade e respeito”, (CITELLI, 1990. p.8). Reforça assim, a ideia de que o autor de um

romance transfere para sua criação a ascendência ficcional. Tanto esta obra como as já citadas

estão sendo objetos de estudo e análise para a fundamentação teórica deste trabalho

acadêmico.

A monografia é dividida em três capítulos: no primeiro cujo título é “Contexto

Histórico e Fortuna Crítica de James Fenemore Cooper”, foram observados alguns pontos da

biografia e bibliografia assim como a fortuna crítica do referido autor, suas principais obras,

em que período literário foi escrita e, se situa a obra em estudo ‘The Last of the Mohicans’ e

os marcantes acontecimentos da época dos U.S.A. O segundo capítulo está intitulado “The

Last of The Mohicans e Aspectos da Teoria da Personagem”, por meio do qual procurou-se

demonstrar o processo de criação da personagem.

Ainda que os termos “papéis” e “figuras dramáticas” indiquem possíveis diferenças existentes entre pessoas e personagens, a frase “Cada uma das pessoas que figuram em uma narração, poema ou acontecimento” obriga o leitor a encarar a narração, o poema e o acontecimento como sendo fenômenos de uma mesma espécie, de uma mesma natureza. E, textualmente, a identificar pessoas e personagens (BRAIT, 2002, p.10).

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

9

De acordo com Moisés (1994), o ficcionista cria suas personagens de acordo com sua

necessidade dentro de determinados papéis como protagonismo x antagonismo. E Cooper

(2006) procurou extrair de si o “herói” demonstrando a superioridade do protagonista na obra

indianista.

No terceiro capítulo “Honra e Heroísmo em The Last of the Mohicans” foram

analisados a formação artística do herói, expresso em Uncas e os traços marcantes de honra e

coragem dentro do romance. Dessa forma surgiu a ideia de se fazer uma pesquisa para

analisar os traços românticos e literários presentes na obra focando a honra e lealdade do herói

indígena.

Para isso, foi utilizado o personagem protagonista “Uncas”, visando estudar as

características marcantes de bravura e heroísmo. Este trabalho é importante, pois apresenta

aos estudantes do curso de Letras um pouco da literatura norte-americana e o processo de

formação do herói presente no livro The Last of the Mohicans escrito pelo autor James

Fenimore Cooper. Espera-se que ao findar este trabalho acadêmico os alunos possam ter mãos

mais um produto que discuta o heroísmo e a formação de personagens na narrativa literária.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

10

CAPÍTULO I CONTEXTO HISTÓRICO E FORTUNA CRÍTICA DE JAMES

FENIMORE COOPER

O capítulo tem por objetivo fazer um levantamento de dados sobre a biografia e

fortuna crítica, literária e histórica do autor norte-americano James Fenimore Cooper a fim de

delinear as razões pelas quais levaram o autor a escrever a obra The Last of the Mohicans,

bem como suas influências no campo literário.

Esta obra é mundialmente reconhecida como sendo um romance de caráter histórico,

ambientada no nordeste dos Estados Unidos da América. Ao escrever “O Último dos

Moicanos” Cooper demonstra um pouco de como transcorreu o processo pela colonização

européia, a formação do povo americano utilizando a “Guerra dos Sete anos”, que perdurou

de 1756 a 1763, como panorama para seu enredo ficcional romanesco. Época em que os

ingleses recrutavam os nativos, devido a sua agilidade para a guerra como soldados tirando

proveito da visível rivalidade existente entre as tribos indígenas. Cooper (1994) retrata ainda o

interesse dos colonizadores europeus por conquistarem as terras americanas, se fazendo valer

de seus exércitos e da força dos indígenas num fogo cruzado entre as demais tribos nativas

das fronteiras dos U.S.A.

Na obra, James Fenimore Cooper cria um protagonista, o jovem moicano com ideais

de honra e lealdade ao seu código de conduta. Narrando a ascendência de Uncas sobre seu pai

como chefe da tribo dos Moicanos dentro de um aspecto de caráter prático a nobreza e a

lealdade desse “herói” indígena que defendia seus interesses até mesmo com a própria vida,

refletindo com isso as crenças e a honra por meio de sua conduta em que acreditava.

Em The Last of the Mohicans, James Fenimore Cooper compartilha com seu leitor os

aspectos humanos desprezíveis e brutais inerentes de suas personagens, bem como o

sentimento amável e sensível em termos de fidelidade, honra e esperança. É perceptível o

conceito de companheirismo para a sobrevivência em meio ao individualismo durante aos

conflitos. Cooper (1994) partilha ainda que, por mais sagaz e inteligente que o homem possa

ser, independente de qualquer circunstância, ele precisa ser leal e amoroso. E isso é notório na

obra “O Último dos Moicanos”, salientado por seu autor a inerente sabedoria e agilidade

indígena compartilhada com os da sua tribo habituados à região.

Existe na obra de Cooper (1994) The Last of the Mohicans, sentimentos de amizade e

cumplicidade mútuos em homens de origens e culturas diferentes. Mesmo em tempos de

guerra e hostilidade dos homens brancos com suas artimanhas para adaptarem à América,

surge do intimo do autor o sentimento patriótico no herói idealizado em defesa de seu

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

11

território. Cooper delega a Uncas, o protagonista principal de seu romance, características e

personalidades próprias de um ser leal, honrado e destemido.

De acordo com essa premissa James Fenemore Cooper narra em seu romance “The

Last of the Mohicans” com riqueza de detalhes, em estilo romântico todas as campinas e

relvas americanas, personagens marcantes de suas obras em meio à guerra entre os europeus

(franceses e ingleses) colonizadores daquele país, denominada “Guerra dos Sete Anos”. A

obra de Cooper (1994) foi escrita de forma linear retratando o conflito interno das tribos

Delawares, os Máguas e os Iroqueses.

1.1 Um passeio pela fortuna crítica, literária e histórica de Cooper

James Fenimore Cooper nasceu em Burlington no estado de New Jersey no dia 15 de

setembro no ano de 1789, ano em que a Constituição Americana entrou em vigor. Sua família

era meio Quakers e meio cristã, “sendo de origem inglesa e sueca, mas criou-se em

Cooperstown ao sul do Lago Otsego na alta New York” (EDWARD, 1960, p.29). Cooper era

o décimo segundo dos treze filhos do Juiz Willian Cooper, um político (congressista)

influente conhecido de George Washington. Estudou na escola primária de Albany em Nova

York e mais tarde frequentou o Yale College de 1803 a 1805. Desde muito cedo, ainda

criança Cooper observava os vários modos de vida e os aspectos dos homens que habitavam

nas fronteiras vivendo em colônias pioneiras.

O artista tornou-se o principal romancista dentre os escritores americanos cujas obras

literárias configuraram a literatura americana, em especial “Leatherstocking Tales”. A maioria

de suas obras foram criadas em lugares mais reservados, demonstrando o homem solitário que

foi característica marcante na personificação de seus heróis (COOPER, 1994).

No ano 1810, Cooper estava servindo na Marinha Americana quando seu pai morreu,

pediu baixa da corporação e voltou para as terras da família no ano seguinte já casado com

Susan DeLancey. Trabalhou por uma década como agricultor, investiu em lojas na fronteira,

comprou um navio baleeiro, ajudou a fundar a sociedade agrícola, serviu na milícia do estado,

criou desenhos de New York para um clube literário (COOPER, 1994).

Sua carreira como escritor começou após um desafio que sua esposa fez enquanto liam

alguns livros de romance, pois a família de Cooper tinha o costume de fazer várias leituras

durante a noite e Cooper dizia que poderia criar melhores histórias – Susan De Lancey achou

graça. Mesmo sem o crédito da esposa, o autor se tornou conhecido no panorama literário

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

12

norte-americano com as obras The Pioneers (1823) (o primeiro dos Leatherstocking Tales),

The Last of the Mohicans (1826), The Prairie (1827), The Pathfinder (1840), e The

Deerslayer (1841) dentre outras – (COOPER, 1994).

De origem ortodoxia, Cooper desenvolveu doutrinas teológicas e políticas

pertencentes à democracia antiga com ideologias de classe (preconceitos sociais) que haviam

realizado a Revolução (DOREN, 1960). Mesmo com ideais de separação de castas, Cooper

usava em suas ficções personagens mais humildes, originados das variedades típicas de

determinadas regiões.

Até mesmo as suas grandes figuras de origem popular, Harvey Birch, Natty Bumppo e Long Tom Coffin, contêm em si um pouco do fiel criado pessoal, embora sejam redivididos por um elemento maior de lealdade a uma causa – Birch à Revolução, Bumppo à vida da natureza em sua simplicidade, e Coffin ao mar profundo (DOREN, 1960, p.31).

O modo como compunha suas obras literárias ficcionais, sob a forma de romances,

Cooper tinha influências do escritor europeu Walter Scott com características romanescas, as

quais remetem o seu leitor aos sentimentos que permeiam toda a narrativa composta pelo

autor. Depreende-se das emoções e experiências do romancista em certo momento de seu

contexto histórico: “É preciso ponderar, portanto, que ao se falar hoje em romantismo

considera-se um conjunto de experiências humanas decorrentes de uma situação histórica

precisa [...]” (CITELLI, 1990, p.9). Cooper tinha o costume ou o hábito da leitura por

clássicos modernos de onde tirava suas informações para produzir suas próprias histórias. As

suas viagens marítimas também o ajudaram nessa coleta de informações ao observar a

formação dos povos no período colonial, em especial da sua própria nação. Boa parte de suas

ficções literárias foram criadas no contexto das fronteiras americanas, “a história americana,

[...] e em particular a de Nova York, inclusive as suas antiguidades e a topografia – Cooper

costumava onhecê-la bem” (DOREM, 1960, p.31). Mesmo sendo marinheiro de profissão,

nunca usou o mar em seus romances.

Nesse sentido, compreende-se o período em que os U.S.A experimentava ou se

firmava como nação, construindo com originalidade sua própria identidade consolidada pela

democracia. A sociedade americana sob a presidência de Jackson (1829-1837) evoluía

democraticamente rumo a um novo estado de crescimento, mais precisamente para o Oeste,

“deflagrou-se uma verdadeira revolução nas instituições que, de liberais, tornaram-se

efetivamente democráticas” (RÉMOND, 1989, p.53). Basicamente são os fatores dessa

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

13

expansão colonial formadora da personalidade americana que caracterizam as obras de

Cooper nitidamente reconhecida em seus heróis.

A formação do território americano está intrinsecamente relacionada às questões

religiosas, econômicas e sociais (CRUNDEN, 1990). Nesse cenário de expansão territorial e

firmação como nação, Cooper (1994) utiliza o choque cultural como pano de fundo para a

idealização do herói nacional personificado em “Uncas”. Firmou-se nesse contexto mesmo

tendo iniciado sua carreira como escritor com uma novela (Precaution, 1820), onde

posteriormente atraído pela arte da escrita, compôs em 1821 “The Spy”, ficção americana

sobre a recente Revolução, tendo como principal tema o amor a pátria, (DOREN, 1960).

Nota-se nesse romance a rivalidade entre ingleses e franceses travada nas guerras por espaços,

tal como em The Last of The Mohicans. Como Scott tinha grande conhecimento de sua

fronteira, essa também é uma característica herdada dele por Cooper ao traçar com riqueza de

detalhes a topografia de “O Espião”.

Sua forma peculiar de escrever remete o leitor de suas obras para o desbravamento do

território americano. Boa parte de suas criações literárias tinham como eixo norteador a moral

e o direito que todo o homem tem de viver livre que na maioria das vezes é conquistado com

bravura. Percebe-se em suas obras, essas características de criação do autor norte-americano

James Fenimore Cooper em abordar questões relacionadas ao caráter inato dos indígenas nas

fronteiras americanas.

O heroísmo e a honra são traços marcantes dos personagens protagonistas da ficção

romanesca de Cooper. Seus heróis indígenas possuem um código de conduta inviolável, os

quais chegavam a morrer por seus ideais. Em The Last of the Mohicans Cooper (1994),

compartilha com os estudiosos da literatura e da historiografia algumas dessas peculiaridades

indígenas. Esta obra transmite aos seus leitores marcantes traços de distinção próprio dos

índios norte-americanos, como se pode vê na citação abaixo.

Diferentemente dos demais guerreiros índios da trama, que se mostram ávidos por sangue e escalpos, Uncas, em sua essência, apresenta as características cavalheirescas do herói que, embora vivendo em bravias florestas, tem um destino épico a cumprir (CONSOLI, 2009, p.2).

Nesse sentido, a obra O Último dos Moicanos é uma narrativa romanesca, com a

historicidade do povoamento americano pelos europeus: choque cultural de civilizações, com

suas crenças e costumes, bem como os “protagonistas” e os “antagonistas” “[...] há

personagens principais (protagonistas) e personagens secundárias (deuteragonístas) ou/e

antagônicas (antagonistas), de acordo com a importância do drama vivido particularmente por

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

14

elas e com a perspectiva adotada pelo ficcionista (MOISÉS, 2006, p.140). Cooper (1994)

transmite aos seus leitores a inerente honra do herói idealizado no personagem Uncas em The

Last of the Mohicans.

James Fenemore Cooper narra em seu romance situando a obra no ano 1757, com

riqueza de detalhes em estilo romântico todas as campinas e relvas americanas, personagens

marcantes de suas obras em meio à guerra entre os europeus (franceses e ingleses)

colonizadores daquele país, denominada “Guerra dos Sete Anos”, período em que os exércitos

da Grã-Bretanha e França batalhavam para expandirem seus domínios nas colônias

americanas. Procurando adquirir maiores vantagens sobre os ingleses, as tropas francesas

constantemente recrutavam os índios para esta guerra, o que resultou em vários

acontecimentos trágicos.

Cooper (1994) também retrata o conflito interno das tribos Delawares, os Maguas e os

Iroqueses tendo como cenário essa natureza selvagem, tanto dos índios como das próprias

matas – terras com suas variadas cachoeiras, grutas e imensos despenhadeiros. Os princípios

das tradições indígenas pelos quais seriam capazes de sacrificarem seus próprios sonhos ou

desejos impelidos pela honra, lealdade ao seu código de conduta. No entanto, Cooper deixa

transparecer a contaminação desses deais dos povos nativos pelo contato com os povos

“civilizados” da Europa. Incorrendo ainda do “equívoco geográfico inicial dos primeiros

descobridores,” (RÉMOND, 1989, p.10) os nativos foram chamados pelos colonizadores de

“índios” e, segundo o referido autor, a coexistência dessas duas castas era demasiada

impossível em virtude de seus costumes e hábitos.

A coabitação das duas raças era virtualmente impossível: seus modos de vida eram dessemelhantes demais: os índios, habituados a uma existência livre e aventureira, seminômades, vivendo, sobretudo da caça, procuravam o abrigo da floresta e tinham necessidade de grandes espaços. Os colonos, agricultores, sedentários, desmatavam e cultivavam. À medida que cresciam em número, iam penetrando cada vez mais no interior e repelindo para mais longe as tribos (RÉMOND, 1989, p.10).

Como se percebe pela citação, os conflitos eram inevitáveis e, nesse entrave, várias

batalhas se formavam com pequenos intervalos de tréguas nessa relação entre os ocupantes

nativos das terras americanas e os que queriam tomar a força, formando assim, os “novos”

americanos “civilizados”.

As divergências entre as duas raças duraram até o século IX, surgindo desse modo a

epopéia consolizadora da história nacional: as Cruzadas. “As peripécias dessa luta de dois

séculos e meio forneceram o enredo para a maioria dos romances de Fenimore Cooper, ou

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

15

seja, da literatura americana nascente, antes de inspirar incontáveis westerns” (RÉMOND,

1989 p.10). De acordo com a citação, entende-se que Cooper se inspirava nas lutas

desbravadoras por espaço físico – demarcação de terras – para criar suas obras literárias de

cunho romântico demonstrando a superioridade do protagonista na obra indianista.

A narração do romance de Cooper (1994) tem como espaço físico o Fort Willian

Henry e seus arredores. Era o refúgio de muitas famílias, mulheres e filhos de combatentes

durante a guerra inclusive dos índios moicanos. Lugar para onde Chingachgook, o pai de

Uncas, o chefe da tribo dos moicanos e seu irmão adotivo Hawkeye, levaram Cora e Alice

filhas do comandante britânico.

Suas ficções eram dotadas dos ideais de Scott e Byron com concepções tradicionalistas

da mulher, “fundia as suas heroínas dentro do molde mais restrito do desamparo e do decôro

(DOREN, 1960, p.32). Tendo em vista que boa parte de suas obras romanescas têm como

tema as fronteiras americanas alvo de muitas batalhas e, nesse sentido eram os homens donos

de todas as honrosas conquistas. Entende-se que seu interesse pelos limites do país está nos

desbravamentos feitos pelos colonizadores, demonstrado também em (The Pioneers, 1826),

embora não sendo tão heróico quanto “The Spy”.

Publicou em 1823 “The Pilot”, um romance que tinha como cenário as fronteiras

marítimas, inspirado no “Pirate” de Scott. Sua obra superou a do europeu em função de ter

criado um novo gênero literário fazendo crônicas do lugar onde passou sua juventude. Mais

uma vez lança mão da Revolução descrevendo uma história americana de heroísmo

parafraseada com experiências próprias (DOREN, 1960). Sua forma peculiar de como

escreveu esses três romances de maneira linear, as quais tornaram Cooper reconhecido no

campo da literatura nacionalmente, com a tendência a retratar o caráter de seus personagens

em detrimento da função que exercem.

Ainda que pudesse ter sido aristocrático em seus preconceitos, ele compreendia as ricas diversidades que podem ser introduzidas na ficção, pela representação de homens retirados de diferentes ofícios, os quais, pelo menos tanto quanto as épocas ou os ambientes diversos produzem diferenças entre os homens (DOREN, 1960, p. 35).

Segundo a citação, Cooper era um homem observador ao ponto de transferir para suas

obras literárias as experiências pessoais e a topografia do lugar observado com riqueza de

detalhes para os personagens e cenários envolvidos no enredo. Os protagonistas de suas

ficções sempre são personificação de uma figura típica de sua nação, idealizando dessa forma

o herói nacional. Cooper não obtivera muito sucesso em algumas de suas obras como teve em

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

16

“The Spy”, mas o que o consagrou mesmo foram as aventuras de fronteira tendo seu início em

“The Pioneers”(DOREN, 1960).

O auge da carreia de Cooper veio em 1826 com a publicação de The Last of the

Mohicans (DOREN, 1960), retomando as narrativas aventurescas nos limites dos U.S.A em

fase da colonização européia. Percebe-se que Cooper trabalhou na composição dessa ficção

com a intencionalidade de exaltar as “virtudes de corpo e de alma” do seu herói indígena que

se movimenta em meio às densas matas com uma nobreza de espírito. E com uma “mente

jamais corrompida pelo contato com a injustiça humana” (DOREN, 1960, p.36).

O romantismo mais puro da história está em Uncas, o filho mais novo da floresta, bravo, habilidoso, cortês, um amante para o qual não há esperança, o último da orgulhosa raça dos moicanos. Que Uncas era um ideal, o próprio Cooper o admitia então e sempre; Homero, sugeriu êle, tinha também os seus heróis. E está clarão que os ombros de Uncas forma lançadas as virtudes-padrão que os filósofos da época haviam ensinado o mundo a encontrar em estado de natureza (DOREN, 1960, p.36).

Com as influências de escritores europeus em suas criações literárias, em especial de

Walter Scott, as inspirações do autor são parecidas com as gregas, tal como se refere à

citação. Essa necessidade de transferir para seu protagonista “dentro dos limites próprios da

ficção, aquilo que, em nosso “eu profundo”, gostaríamos de empreender, mas que não

levamos adiante por causa de injunções sociais (MOISÉS, 2006, p.143).

Ao longo de sua carreira como escritor, Cooper procurou compartilhar suas

experiências de fronteiras transferindo para suas personagens protagonistas em diferentes

momentos da história americana. Para isso, o artista usava figuras dramáticas com

características parecidas. Seus romances de aventura e ação tinham uma peculiaridade ao

utilizar personagens com personificações típicas de sua época, sendo que os mais estimados

do autor “eram aqueles em que êle se dedicava francamente à crítica social” (EDWARD,

1960, p.35). A partir desse pressuposto dar-se-à linearidade do personagem Natty:

Nêle, Natty volta a aparecer, vinte anos mais velho que em “The Pioneers”, bem distanciado das planícies do Mississippi, onde a imaginação popular sabia que Daniel Boone havia pouco que falecera. Natty reconhece a sua derrota e ainda lamenta a floresta assassinada, mas abriu mão da ira, pela paz da velhice. Parece-lhe que tôdas as virtudes se acabaram. Tendo sido um valente, tem agora de ser engenhoso; os seus braços estão fracos; os seus olhos o traíram a tal ponto que, não sendo mais o perfeito atirador, rebaixou-se à condição de armador de laços (DOREN, 1960, p.37).

Depreende-se que todos os contextos de suas obras são ornamentadas pelos conflitos

entre povos nas fronteiras americanas, uns em defesa de seu território e, outros para

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

17

conquistá-los. Diferentes experiências são vivenciadas pelas personagens de Cooper (1994)

em épocas distintas. A principal característica de seus romances era a personificação de um

herói com natureza nobre. Boa parte desses heróis serviu a causa da revolução americana

(DOREN, 1960). Isso é perceptível em “The Red Rover” (1828), “a sua trama segue a moda

romântica: um heroi, alma imperial, ferido na sua sensibilidade, [...] a ponto de poder

converter-se num momento dramático, [...] prestando serviços à Revolução” (DOREN,

1960p.38).

O que se percebe ao percorrer a fortuna crítica de James Fenemore Cooper é a figura

do herói que o consagrou como um romancista de ação. É possível observar a evolução dessa

personagem ilustre do artista ao longo de suas renomadas obras, mas em especial em “The

Spy” (1821), “The Pioneers” (1823) e “The Pilot” as quais “abriu para si (e para a literatura

norte-americana) os três grandes mundos da ficção que iria possuir: a história, a floresta e o

mar.” (EDWARD, 1960, p.29). Nota-se então, que ao descrever as experiências de fronteira

com a promessa de uma “terra virgem”, Cooper mais uma vez se concentra em um herói de

característica linear:

O mundo colocou os romances, dos quais Natty Bumppo (Deerslayer, Hawkeye, Leatherstocking, Long Rifle) é herói à frente da obra de Cooper; foi através dêles que conquistou o mundo. Na ordem em que os eventos narrados acompanham a cronologia da vida do herói, encontramos “The Deerslayer” (1841), “The Last of the Mohicans” (1826), “The Pathfinder” (1840), “The Pioneers” (1823) e “The Praire” (1827). O primeiro nos apresenta Natty em sua juventude e os dois seguintes em seu esplêndido apogeu; nos dois últimos, vêmo-lo idoso e finalmente, em “The Prairie”, assistimos à sua morte (EDWARD, 1960, p. 30).

De acordo com a citação, as escolhas do artista por fatos historicamente lineares para a

criação de seus romances ficcionais se caracterizam como fuga da realidade de uma

irrealidade criada por ele: “o ideal puritano” (EDWARD, 1960, p.33). Nesse sentido, o seu

herói idealizado segue uma trajetória histórica em meio às sucessivas lutas dos europeus pelas

posses das terras que culminaram com a expansão territorial dos Estados Unidos e do Canadá.

O que se percebe ainda, nesse retorno de Cooper ao passado, da colonização das terras

americanas pelos europeus utilizando o personagem Natty Bummppo, a visão que o autor tem

dos valores morais. Apegos estes aprendidos desde criança quando fora adotado pelo pai de

Uncas, Chingachgook. Os adventos das guerras e dos conflitos entre as tribos indígenas são

na verdade não só como pano de fundo para criação de The Last of the Mohicans, como se

constitui também sua base para a narração de todo o enredo romanesco.

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

18

De posse de muitos relatos e conhecimentos dos acontecimentos do passado, os quais

deram início à expansão territorial nas fronteiras americanas, Cooper transforma tudo isso em

um romance de ação e aventura. Sua trama ficcional é protagonizada pelo herói principal e a

única esperança de sobrevivência ou subsistência da tribo dos moicanos, em que os seus

maiores traços de nobreza se revelam em características honradas de bravura e coragem. O

artista também idealizou esse herói com peculiaridades épicas: ele tinha uma missão para

cumprir, salvar a integridade e a vida de uma bela donzela. Traços estes que o tornaram muito

diferente dos demais índios, pois a maioria deles eram sanguinários.

O diferencial de James Fenimore Cooper estava exatamente no seu conhecimento de

fatos anteriores ao seu nascimento e, em transformá-los em um romance. O enredo é dotado

de muita ação e perseguição, na qual a força e destreza do seu herói idealizado “Uncas” O

Último dos Moicanos, se revelam importantes faces à dependência das moças filhas do oficial

Munro, tão frágeis e incapazes de se defenderem sozinhas.

É verdade que Cooper não tinha conhecimentos de primeira mão sôbre os índios, mas consultou as fontes mais fidedignas; ao glorificar os Delawares contra os Iroqueses êle seguia a opinião do missionário morávio, John Heckewelder (1743-1825), cuja caridade cristã e julgamento cavalheiresco o atraíram poderosamente. Presume-se, levianamente, com freqüência, que todos os índios de Cooper eram tão nobres como Uncas e Chingachgook [...] (EDWARD, 1960, p.40).

De acordo com a citação, percebe-se que Cooper se fundamentava em fatos reais de

ordem lineares de acontecimentos na produção de seu romance ficcional, sempre retratando

de forma cavalhesca o herói indígena, símbolo de bravura e lealdade. Caracterizando-se de

fato com os traços de estilo românticos, pois nessa época utilizava-se desses recursos como

forma de escapismo do mundo real, ou seja, havia sempre um herói em defesa dos mais fracos

em uma aventura romântica, em que uma bela donzela dotada de traços nobres era alvo da

proteção do protagonista.

O estilo romântico familiarizado pelos artistas, tal como o fez James Fenimore

Cooper, é de um espírito permanente que transcendeu a história. Teve seu início em meados

dos séculos XVIII e XIX, durante as mudanças tanto no âmbito social como no cultural, tendo

aflorado com as ideologias da Revolução Francesa.

O romantismo foi um estilo de época da literatura ocidental que aflorou a partir dos ideais da Revolução Francesa e da ascensão econômica e política da burguesia. Ou seja, a partir da segunda metade do século XVIII, tomando força nas primeiras décadas do século XIX. Surgiu em um momento histórico de intensas transformações sociais, de certa forma, enquanto estilo

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

19

estético-literário, representou o desejo implícito de, ou colocar ordem no caos em que se haviam transformado as sociedades européias – desejo esse que pode ser constatado na literatura de cunho panfletário, engajada na defesa de causas nobres – ou de evadir-se desse caos a partir da fuga da realidade, que se expressa na ambientação das histórias no passado histórico e na idealização de ambiente, de figuras humanas, de sentimentos e de relações sociais (CONSOLI, 2009, p.1).

Nesse sentido se observa, de acordo com a citação, a peculiaridade do artista em

recrear os variados tipos de ambientes e situações dentro do romance ficcional. E no caso de

COOPER (1994), a ficção se projeta em um romance de ação e aventura mesclada de

perseguição, guerras e por alguns momentos de tréguas. São esses acontecimentos históricos

que eclodiram na formação do território americano em fase das muitas lutas por tomadas das

terras indígenas pelos europeus.

Boa parte dessas guerras foi financiada pelos franceses, sendo que a parte sul do

estado americano se encontrava menos industrializada em detrimento da parte norte. Os

ingleses possuíam o monopólio do norte firmado pelo poder da metrópole. Nesse entrave,

britânicos e franceses lutaram entre si, valendo-se da força e destreza dos nativos nesse “fogo

cruzado” como pode ser analisado na citação logo a seguir.

[...] os colonos ingleses recebiam da metrópole uma ajuda mais substancial do que eles: a Marinha britânica assegurava as comunicações e interceptava os reforços franceses. As colônias inglesas tiravam proveito de cada guerra franco-britânica para melhorar suas posições: de conflito em conflito, o equilíbrio de forças invertia-se em benefício delas. [...] Nessa luta contra os franceses e seus aliados indígenas, os colonos afirmaram sua força, suas milícias adquiriram experiência de guerra, seus oficiais distinguiram-se: um deles, sobretudo, gozou daí em diante de uma reputação de bravura e sangue-frio: George Washington (RÉMOND, 1989, p.12,13).

James Fenimore Cooper se baseia então, nos fatos históricos formadores da

nacionalidade americana na criação do romance ficcional “The Last of the Mohicans”. De

posse desses fatos do passado dos U.S.A, COOPER (1994), tem na personagem indígena, a

idealização do herói nacional.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

20

CAPÍTULO II THE LAST OF THE MOHICANS E ASPECTOS DA TEORIA DA

PERSONAGEM

O presente capítulo tem como objetivo refletir sobre o processo de criação da

personagem na obra The Last of the Mohicans, foi analisado alguns pontos relacionados à

concepção de personagem e sua importância para a narrativa romanesca. Com a finalidade de

mostrar as diferentes tipologias das personagens e a formação delas dentro do contexto

histórico em que elas se situam e também, olhando pela ótica dos autores que fundamentam

este trabalho é necessário que remeta ao processo de criação da personagem.

Entendamos, inicialmente, o que vêm a ser personagens de romance: “pessoas” que vivem dramas e situações dentro da narrativa, à imagem e semelhança do ser humano, “representações”, “ilusões”, “sugestões”, “ficções”, “máscaras”, de onde “personagens” (derivado da forma latina persona (m), máscara). Via de regra, só “gente” pode ser personagem de romance (MOISÉS, 2004, p.138).

As criações dos autores são personagens que vivem dentro dos romances em

conformidade com suas leis próprias no transcorrer do enredo, como salienta o autor da teoria

citada. Todo bom escritor tem em mente o seu herói (personagem) antes mesmo de levar

adiante o seu intento, ou seja, a criação de um enredo ficcional – no caso da pesquisa em

questão, no romance – o artista procura dar “vida” a sua criação fazendo se valer de

mecanismos linguísticos próprios. Delimitando o campo de atuação do personagem fictício e,

de acordo com (BRAIT, 2002, p.11), flagra-se esses seres fictícios residentes no texto que é o

espaço para sua existência.

Nesse sentido, o artista de posse dos conhecimentos feitos sobre seu trabalho dentro do

processo da criação literária, se encontra refletindo sobre as especificidades da narrativa

romanesca. O qual procura dar ênfases relevantes sobre “o caráter histórico do romance

evidencia-se desde o fato de focalizar personagens [...] nos seguidos indícios de reconstituição

temporal [...]” (MOISÉS, 2007, p.148). E isso pode ser observado na citação abaixo.

The facilities which nature had there offered to the lected. The lengthened sheet of the Champlain stretched from the frontiers of Canada, deep within the borders of the neighboring province of New York, forming a natural passage across half the distance that the French were compelle to master in order to strike their enemies (COOPER, 1994, p.12).

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

21

Ou seja, o artista é um pesquisador e observador ao mesmo tempo ligado “ao desejo de

autodeterminação” (CITELLI, 1990, p.9) com o herói idealizado na tentativa de “reconstruir”

com as várias facetas de suas personagens os eventos de seu contexto.

O flanco regionalista, menos saliente, mostra-se na circunstância de a fabulação [...] o aspecto costumbrista patenteia-se no cuidado que o escritor põe na transcrição dos pormenores sociais. A tais ingredientes, por si só caracterizadores de romance romântico, somam-se outros que ajudam a situar a obra nos quadros estéticos da época: a descrição da natureza, pintada com o idealismo de quem mais imaginava a beleza paisagística que a observava, segue um a linha melódica que se diria poética, configurando algo como prosa lírica (MOISÉS, 2007, p.148).

Dentro dessa perspectiva, ele sonda a variação de seu personagem no decorrer de seu

enredo com ideais e leis próprias de sua criação. Assim, será possível analisar a superioridade

da protagonista ante aos algozes na obra indianista, em que se observa as influências do autor

britânico Walter Scott1 nas criações literárias de James Fenimore Cooper. Para tornar isso

possível, o capítulo divide-se em três tópicos, no primeiro com o título “Processo de Criação

da Personagem em The Last of The Mohicans”. O segundo tópico, “Protagonismo X

Antagonismo e o terceiro “A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista”.

2.1 Processo de Criação da Personagem em “The Last of The Mohicans”

Este tópico é fundamentado por teóricos que conceituaram alguns pontos sobre a

criação da personagem, no sentido de orientar o leitor na busca de conjeturar a respeito das

várias concepções deste ser de papel. São teorias com enfoque em seres fictícios “habitando”

a narrativa do enredo com características próprias e, semelhantes às de “pessoas”

materializadas em ficção “enquanto representação de uma realidade exterior ao texto”

(BRAIT, 2002, p.11).

De acordo com teóricos da literatura, a criação parte da idealização de um sujeito

abstrato, ele surge do íntimo do criador com características e normas convenientes para a sua

existência dentro de um romance. Reconhece-se que essas criações, são indivíduos que vivem

dentro dos romances em conformidade com leis próprias no transcorrer do enredo, mas que

não deixam de ser criações inspiradas do contexto histórico do autor.

1 Consagrado criador do romance histórico, o escritor britânico Sir. Walter Scott deixou obra de influência decisiva para o desenvolvimento do gênero (BARSA, 2001, p.181).

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

22

[...] “o romance é uma obra de arte com suas próprias leis, que não são as da vida diária, e a personagem no romance é real quando vive de acordo com tais leis”, “real não porque igual a nós outros (embora possa ser parecida conosco) mas porque convincente”, e convincente porque realiza, dentro dos limites próprios da ficção, aquilo que, em nosso “eu profundo”, gostaríamos de empreender, mas que não levamos adiante por causa de injunções sociais (MOISÉS, 2007, p.143).

Por meio da teoria supracitada, entende-se que a criação de uma personagem para ficar

eternizada em papel, parte do interesse ou desejo do autor em transferir para o romance

ficcional, na tentativa de sobrevivência ou mesmo de existência. Anseios estes que uma vez

dentro da narrativa romanesca, não tem compromisso com as leis reais, da vida diária e, sim

com a conveniência que bem lhe convier.

Deste modo, quando se analisa um romance norte-americano com os ideais de

influências morais, percebe-se uma contradição de determinados aspectos ligados a fatores da

comunidade que muitas vezes são irreais (EDWARD, 1960, p 40.), ou seja, mesmo que o

autor esteja condicionado a determinados valores éticos impostos pela sociedade, e “aos

ombros de Uncas foram lançadas as virtudes-padrão que os filósofos da época haviam

ensinado o mundo a encontrar em estado de natureza” (DOREN, 1960, p. 36), na obra The

Last of The Mohicans, seu personagem eclode, ganha vida.

The person of this individual was to the last degree ungainly without being in any particular manner deformed. He had all the bones and joints of other men, without any of their proportions. Erect, his stature surpassed that of his fellows; though, seated, he appeared reduced within the ordinary limits of the race (COOPER, 1994, p.18).

O que se percebe é que Cooper (1994) criou as personagens com características

próprias e ideais de conduta, sempre focado no “herói” nacional como tentativa de

autoafirmação de nação independente.

Em conformidade com Brait (2002), a definição focada na terminologia de “pessoa”,

exemplificando como sendo um ser real, vivo, e sujeito às leis morais pelas quais esse “ser” é

regido e, “personagem” como um ser ficcional, idealizado pelo autor de um romance. A

autora enfatiza os “papeis” das personagens em que o autor de uma determinada obra situa-os

para então desenvolver seu enredo e no caso deste estudo é a narração romanesca.

Ainda que os termos “papéis” e “figuras dramáticas” indiquem possíveis diferenças existentes entre pessoas e personagens, a frase “Cada uma das pessoas que figuram em uma narração, poema ou acontecimento” obriga o leitor a encarar a narração, o poema e o acontecimento como sendo fenômenos de uma mesma espécie, de uma mesma natureza. E, textualmente, a identificar pessoas e personagens (BRAIT, 2002. p.10).

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

23

Segundo a citação há uma “simplicidade metalinguística” em fase da subversão

terminológica, isso existe na tentativa de relacionar as diferenças entre pessoas e personagens.

De acordo com a citação, um artista tem toda liberdade de expressão e de criação dentro do

romance, ele pode criar situações que muitas vezes retratam os desejos. Depreende-se que seja

nesse sentido a forma como Cooper manipula e constrói os personagens. Segundo Moisés

(2007), esse ser ficcional é um ser dotado de uma personalidade e características indiscutíveis,

mas que não pode ser confundido com a pessoa propriamente dita trata-se somente de uma

metáfora do real.

Se quisermos saber alguma coisa a respeito de personagens, teremos de encarar frente a frente a construção do texto, a maneira que o autor encontrou para dar forma às suas criaturas, e aí pinçar a independência, a autonomia e a “vida” desses seres de ficção. É somente sob essa perspectiva, tentativa de deslindamento do espaço habitado pelas personagens, que poderemos, se útil e necessário, vasculhar a existência da personagem enquanto representação de uma realidade exterior ao texto (BRAIT, 2002, p. 11).

Ao analisar a citação, entende-se que é necessário conhecer não só a obra do autor,

mas também as concepções literárias do artista, estudar a construção do enredo e a criação

tanto das personagens como o espaço por elas habitado. A obra do artista é o resultado de um

árduo trabalho de pesquisa na tentativa de “representar” uma realidade vivida ou não por ele

e, cabe ao estudioso de literatura ou de historiografia “vasculhar” o trabalho do artista. Assim,

ler The Last of The Mohicans é perceber todos estes aspectos em sua interioridade.

“Even your traditions make the case in my favor, Chingachgook,” he said, speaking in the tongue which was known to all the natives who formerly inhabited the country between the Hudson and the Potomack, and of which we shall give a free translation for the benefit of the reader; endeavoring, at the same time, to preserve some of the peculiarities, both of the individual and of the language (COOPER, 1994, p.34).

Partindo desta perspectiva, o artista cria as personagens na tentativa de recriar

situações reais ou próximas com elementos que determinam essas criações bem parecidas

com indivíduos “reais”, ou seja, são baseados em pessoas que podem ser ou não do cotidiano

do artista. Como pode ser confirmado na citação abaixo que mostra um cenário ou ambiente

de guerras e guerreiros próprios do tempo vivido por Cooper.

Few men exhibit greater diversity, or, if we may so express it, greater antithesis of character, than the native warrior of North America. In war, he is daring, boastful, cunning, ruthless, slef-denying, and self-devoted; in

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

24

peace, just, generous, hospitable, revengeful, superstitious, modest, and commonly chaste. There are qualities, it is true, which do not distinguish all alike; but they are so far predominating traits of these remarkable people, as to be characteristic (COOPER, 1994, p.5).

Ao analisar a citação, percebe-se que Cooper possuía conhecimento dos fatos

históricos da colonização do solo americano e, de posse dos mesmos o artista cria a ficção

romanesca utilizando como pano de fundo a “Guerra dos Sete Anos”.2

Segundo (BRAIT, 2002, p.35) idealiza-se “a personagem não apenas como reprodução

dos seres vivos, mas como modelos a serem imitados, identificando personagem-homem e

virtude e advogando para esses seres o estatuto de moralidade humana que supõe imitação”.

Nesse sentido, o artista influenciado por outros escritores europeus procurou desenvolver

estilos característicos do romance histórico, relacionando-o com o mundo externo à narrativa.

Mesmo sendo um ser fictício, a personagem é quem desenvolve toda a ação e, em The Last of

the Mohicans as ações do enredo são permeadas e somente têm condições de sobreviver em

função do personagem “Uncas”.

A personagem é um ser fictício responsável pelo desempenho do enredo; em outras palavras, é quem faz a ação. Por mais real que pareça, a personagem é sempre invenção, mesmo quando se constata que determinadas personagens são baseadas em pessoas reais ou em elementos da personalidade de determinado indivíduo (GANCHO, 2004, p.17).

Percebe-se que a personagem como sendo pertencente a uma narrativa de cunho

romântico é identificada por suas falas e ações. Precisa participar de todo desenrolar do

enredo, ou seja, são “as figuras dramáticas de um romance: “pessoas” que vivem episódios e

circunstâncias dentro da narrativa, semelhantes a do ser humano (MOISÉS, 2004, p.138). Na

maioria das vezes, são representações históricas de acontecimentos vividos por “pessoas” da

sociedade ou ainda, são baseadas em fatos reais. Podendo haver certas semelhança ou

coincidência na narrativa ficcional.

[...] é chamada de ficção, isto é, imaginação de algo que não existe particularizado na realidade, mas no espírito de seu criador. [...] cria o seu próprio universo, semanticamente autônomo em relação ao mundo me que vive o autor, com seus seres ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código ideológico, sua própria verdade: [...] é fruto de imaginação, pois o caráter ficcional é uma prerrogativa indeclinável da obra literária. Se o fato narrado pudesse ser documentado, se houvesse perfeita correspondência entre os elementos do texto e do extratexto, teríamos então não arte, mas história, crônica, biografia (D’ONOFRIO, 1995, p.19).

2 A competição pelas riquezas do continente levou à deflagração de hostilidades entre a Grã-Bretanha e a França, em 1754, que prosseguiram com a guerra na Europa, de 1756 a 1763 (HEALE, 1991, p.12).

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

25

Depreende-se pela citação, que a obra literária não tem nenhum compromisso em

retratar com fidelidade os fatos reais ou históricos. O que se percebe em The Last of The

Mohicans, é que Cooper utiliza como pano de fundo, eventos relacionados à colonização das

terras americanas pelos europeus durante a “Guerra dos Sete Anos” nas fronteiras dos E.U.A.

No entanto, há uma “equivalência da verdade, a verossimilhança, que é a característica

indicadora do poder ser do poder acontecer” (D’ONOFRIO, 1995, p.20), justamente por se

utilizar acontecimentos históricos.

Distinguimos uma verossimilhança interna à própria obra, conferida pela conformidade com seus postulados hipotéticos e pala coerência de seus elementos estruturais: a motivação e a causalidade das seqüencias narrativas, a equivalência dos atributos e das ações das personagens, a isotopia, a homorritmia, o paralelismo, etc.; e uma verossimilhança externa, que confere ao imaginário a caução formal do real pelo respeito às regras do bom senso e da opinião comum (D’ONOFRIO, 1995, p.20).

Pode ser analisado que na obra The Last of The Mohicans de acordo com a citação, os

elementos tanto estruturais típicos dos romances de aventura, os quais narram as ações das

personagens quanto os fatores externos da narrativa. Depreende-se de aspectos artísticos de

Cooper (1994) em sua composição ficcional valendo-se de mecanismos da mímese e a da

verossimilhança a fim de aproximar ao máximo possível o seu leitor dos fatos narrados ao

processo de colonização das terras americanas na tentativa de exaltação do “herói” nacional.

E essa aproximação da realidade criada por Cooper (1994) é comprovada pela citação abaixo.

[...] considerando que o critério do verossímil subordina o que seriam as duas faces da mímese: “externa”, ligada à relação de seu objeto temático com as referências exteriores de tempo e espaço; e “interna”, referente à seleção e disposição estrutural do material verbal do mito; - torna-se didático e oportuno o desdobramento dicotômico da verossimilhança, em externa e interna;3 (COSTA, 1992, p.54).

O que se percebe é que o artista ao compor a obra de aventura, transferiu para The Last

of The Mohicans, eventos tanto relacionados a fatos externos – colonização pelos europeus;

guerras – quanto a episódios internos da narrativa: o romance. E no próximo tópico será

analisada sob essa perspectiva, a oposição de características de valores, culturas e caráter

permeadas pelas vertentes protagonistas e antagonistas.

3O desdobramento do critério da verossimilhança, em externa e interna, não faz parte do texto explícito da Poética, sendo, entretanto, uma forma operatória adequada para avaliar a teoria minético-estrutural, que Aristóteles propõe para a arte literária. Luiz Costa Lima, em ensaio que escreveu sobre a Poética, aborda a referida distinção entre os dois níveis da verossimilhança (A estética aristotélica da suspensão do juízo. In: Estruturalismo e teoria da literatura. Petrópolis, Vozes, 1973).

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

26

2.2 Protagonismo X Antagonismo

Mine ear is open, and my heart prepared: The worst is worldly loss thou canst unfold:-

Say, is my kingdom lost? SHAKESPEARE

O livro trata-se de uma narrativa de cunho romântico, com informações históricas em

fase da harmonia existente entre o natural e o choque cultural de civilizações, com suas

crenças e costumes, bem como os “protagonistas” e os “antagonistas” “[...] há personagens

principais (protagonistas) e personagens secundárias (deuteragonístas) ou/e antagônicas

(antagonistas), de acordo com a importância do drama vivido particularmente por elas e com a

perspectiva adotada pelo ficcionista” (MOISÉS, 2004, p.140).

O que se entende pela citação é que o artista não somente cria um mundo imaginário

emanado dele, como também ações do enredo para a ficção romanesca. Ao passar pelo

processo de criação das personagens, sejam elas protagonistas ou antagonistas, está dentro do

“ponto de vista” do artista e, fatos relacionados ao caráter delas.

Não há conveniência em substituir o termo tradicional personagem por ator[...]. Personagem (palavra derivada de persona, a máscara do teatro romano) é tão teatral quanto ator. Máscaras a esconder o caráter esquivo das personagens definem bem os entes que povoam o mundo romanesco (SCHULER, 1989, p.40).

Dessa forma, busca-se fazer uma reflexão sobre o heroísmo na obra “O Último dos

Moicanos” de James Fenimore Cooper. Enfatizando a teoria do romance em confronto com os

aspectos pertinentes à análise de textos literários, por meio do qual procurará demonstrar o

processo de criação do herói. Onde é possível perceber “os mecanismos utilizados pelos

ficcionistas na composição do romance, seja na sua estrutura, no desenvolvimento da ação, na

descrição da natureza, seja na criação das personagens” (MOISÉS, 2004, p.144). E Cooper

desenvolveu isso com riqueza de detalhes nas campinas norte-americanas dizendo que “The

facilities which nature had there offered [...] forming a natural passage across half the distance

[...] whose waters were so limpid as to have been exclusively selected by the Jesuit

missionaries to perform the typical purification[…]” (COOPER, 1994, p.12), bem como se

projetando na suas personagens.

Ora, a origem da criação da personagem obedece a tais mecanismos, o primeiro e o segundo fundidos praticamente num só, e o outro, formado da projeção do “eu” do ficcionista. [...] e a personagem do romance é real [...] não porque igual a nós outros (embora possa ser parecida conosco) [...]. Entretanto, “por mais imaginativo que possa ser, um escritor forma suas

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

27

personagens partindo da vida e largamente de si próprio”. Com efeito, em certa medida, sempre o ficcionista extrai as personagens de dentro de si, pois mesmo quando emprega a observação ou a memória, transforma tudo em matéria própria, identificando os dados lembrados ou observados com suas mais profundas vivências (MOISÉS, 2006, p. 145).

Nas palavras de Moisés (2004), o ficcionista cria suas personagens de acordo com sua

necessidade dentro de determinados papéis como protagonismo x antagonismo. E Cooper

(1994) procurou desenvolver o “herói” demonstrando a superioridade do protagonista na obra.

“Uncas is right! It would not be the act of men to leave such harmless things to their fate, [...]

These Mohicans [...] will do what man’s thoughts can invent, to keep such flowers, which,

though so sweet, were never made for the wilderness” (COOPER, 1994, p. 52-53.). Nesse

sentido, o protagonista da narrativa romântica de caráter linear, “é a personagem principal –

herói: é o protagonista com características superiores às de seu grupo;” (GANCHO, 2004,

p.18). O enredo da história só existe em razão desse “herói” com as narrativas das ações mais

importantes sob a ótica do artista.

Aos olhos da mente de Cooper, [...] o romantismo mais puro da história está em Uncas [...] o apêlo perene da juventude cortada na flor. A ação e o cenário do romance estão no mesmo plano imaginário das personagens. A floresta, em que todos os seus acontecimentos têm lugar, rodeia-os com uma majestade imutável, uma calma venerável, uma profundeza de significação que torna mais agudo, por contraste, o senso de perigo que jamais se reduz (DOREN, 1960, p.36 e 37).

Observa-se a parte intrínseca da historiografia a qual o romance tradicional está

intimamente ligado e, por sua vez, está associado às façanhas heróicas fortemente empregadas

nas narrativas romanescas: a idealidade bélica. Assim, depreende-se que “a personagem

conserva na Idade Média o caráter de força representativa, de modelo humano moralizante

“[...] que conduzem a uma ação virtuosa, e que a personagem deve ser a reprodução do

melhor do ser humano” (BRAIT, 2002, p.36). São qualidades identificadas nas personagens

de Cooper em sua obra. O artista procurou reproduzir no “herói” todo o ideal puritano “The

man is, most manifestly, a disciple of Apollo,”[...]. “It cannot be!” Said the young Indian,

springing to his feet withe youthful eagerness. “All but the tips of his horns are hid!”

(COOPER, 1994, p.27, p.39).

Na narrativa de The Last of The Mohicans é percebido o processo de composição

artística do autor que lança mão da criatividade relacionando ao processo de composição tanto

do cenário quanto do enredo com ações repletas de bravuras. Assim, retomando fatos

históricos entrelaçados à imaginação do artista “ou projeção do “eu” do romancista”

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

28

(MOISÉS, 2004, p.144), Cooper descreve-os ao seu estilo – como pode ser observado na

citação abaixo.

“These Indians know the nature of the Woods, as it might be by instinct!” returned the scout, dropping his rifle, and turning away like a man who was convinced of his error. “I must leave the buck to your arrow, Uncas, or we may kill a deer for them thieves, the Iroquois, to eat” (COOPER, 1994, p.39).

De acordo com a citação, Cooper utiliza fatos relacionados “a memória, a observação

e a imaginação” (MOISÉS, 2004, p.145) na idealização do herói nacional e a oposição das

personagens em função de seu caráter facilmente identificados pelas vertentes de

protagonismo x antagonismo. Nesse sentido, Cooper (1994) procura com seu estilo,

demonstrar a nobreza de espírito do protagonista “Uncas” demandada por sua superioridade

aos demais personagens em especial aos antagonistas. É basicamente o que será disposto no

tópico seguinte.

2.3 A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista

Before these fields were shorn and till’d, Full to the brim our rivers flow’d;

The melody of waters fill’d The fresh and boundless wood;

And torrents dash’d, and rivulets play’d, And fountains spouted in the shade.

BRYANT

Em The Last of The Mohicans, Cooper (1994) cria um protagonista, o jovem moicano

Uncas com ideais de honra e lealdade ao seu código de conduta. O autor narra a possível

ascendência de Uncas “cortado na flor da juventude” (DOREN, 1960, p.36) sobre seu pai

Chingachgook, como chefe da tribo dos Moicanos, refletindo com isso as crenças e a honra

por meio de sua conduta em que acreditava. Sendo “Uncas” a esperança do pai, para

perpetuação ou continuação da tribo, como pode ser comprovada na citação abaixo.

“[…]As for me, the son and the father of Uncas, I am a blazed pine, in a clearing of the palefaces. My race has gone from the shores of the salt lake, and the hills of the Delawares. But who can say that the serpent of his tribe has forgotten his wisdom? I am alone –” (COOPER, 1994, p. 414).

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

29

De acordo com a citação, o “extrair” personagens de dentro do artista é um resultado

das observações feitas por ele e, são frutos da memória – imaginação. A origem da criação

desta personagem obedece a tais mecanismos, o primeiro e o segundo fundidos praticamente

num só, e o outro, formado quando o ficcionista “emprega a observação ou a memória,

transforma tudo em matéria própria, identificando os dados lembrados ou observados com

suas mais profundas vivências” (MOISÉS, 2004, p.145). Desse modo, Cooper se baseou em

aspectos históricos ligados à formação da nacionalidade americana no período da colonização

pelos europeus antes de seu nascimento.

The Mohicans were the possessors of the country first occupied by the Europeans in this portion of the continent. They were, consequently, the first dispossessed; and the seemingly inevitable fate of all these people, who disappear before the advances, or it might be termed the inroads of civilization, as the verdure of their native forests falls before the nipping frost, is represented as having already befallen them. There is sufficient historical truth in the picture to justify the use that has been made of it (COOPER, 1994, p. 7).

Percebe-se pela citação, os fatos históricos da ocupação do estado americano pelos

europeus desencadearam várias lutas pelas conquistas das terras. Guerras entre os franceses e

ingleses e as tribos Delawares, os Maguas e os Iroqueses. “É verdade que Cooper não tinha

conhecimentos de primeira mão sôbre os índios, mas consultou as fontes mais fidedignas ao

glorificar os Delawares contra os Iroqueses [...] (EDWARD, 1960, p.40), porém, percebe-se

com riqueza de detalhes uma narrativa linear de cunho romântico e dramático onde as ações

se desencadeiam em períodos de confrontos e tréguas.

Embora Cooper tenha vivido num tempo posterior ao período da colonização européia,

o artista pode retratar em sua composição literária, The Last of The Mohicans, partindo

largamente de sua imaginação e de recursos históricos, detalhes das guerras entre franceses e

ingleses em que os nativos ficaram “num foco cruzado”. Tendo em vista que algumas tribos

foram sujeitadas à “briga” que não era suas. Assim, os Moicanos lutavam apenas por seus

ideais a fim de manter seu código de conduta.

No desenrolar da narrativa romanesca de Cooper é reforçado pela citação, o impasse

entre essas tribos nativas e os colonizadores europeus. Assim, ao analisar este romance de

aventura desse artista percebe-se a superioridade de seus personagens indígenas em sua

ficção. Obra que fez de Cooper um escritor reconhecido nacionalmente, ao criar romances

ligados à vida nas fronteiras americanas. Suas narrativas são delineadas em torno dos

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

30

personagens indígenas permeadas pelas ações de muita aventura dotadas de bravura e

coragem.

“Listen,” repeated the Indian, resuming his earnest attitude. “When his English and French fathers dug up the hatchet, Le Renard struck the warpost of the Mohawks and went out against his own nation. The palefaces have driven the redskins from their hunting grounds, and now, when they fight, a white man leads the way (COOPER, 1994, p.120).

Depreende então, pela citação que o “herói” nacional criado por Cooper é responsável

pelas ações no romance – The Last of The Mohicans. Com isso, percebe-se que a formação do

antagonismo e protagonismo na obra se consolidam “enquanto processo geradores de

personagens” (MOISÉS, 2004, p.145), parte amplamente da projeção do artista em transferir

para sua criação como resultado de suas observações e memória sua concepção de

personagem imaginário ou real, ganhando “vida” e “características” peculiares dentro da

narrativa – o texto.

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

31

CAPÍTULO III HONRA E HEROÍSMO EM THE LAST OF THE MOHICANS

O capítulo apresenta aos estudantes do curso de Letras um pouco da literatura norte-

americana e o processo de formação do herói presentes no livro The Last of the Mohicans

escrito pelo autor James Fenimore Cooper. O texto discute o sujeito herói na narrativa

literária. Tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o heroísmo na obra “O Último dos

Moicanos” de Cooper. Enfatizando a teoria do romance em confronto com os aspectos

pertinentes à análise de textos literários mediante o pressuposto construtivo da análise do

gênero narrativo.

Assim, fala-se em romance de ação quando predomina o nível fabular: o autor dá mais importância à intriga, o que acontece no romance de aventura, de capa e espada, reconstrução histórica. É chamado romance de personagem a narrativa em que se dá preferência à caracterização do protagonista e de outros atores [...] (D’ONOFRIO, 1995, p.117, 118).

O capítulo faz uma pesquisa para analisar os traços românticos e literários presentes na

obra focando a honra e lealdade do herói indígena. Para isso foi utilizado o personagem

protagonista em The Last of the Mohicans “Uncas”, visando estudar as características

marcantes de bravura e heroísmo. Analisa sob a ótica de James Fenimore Coopre, a temática

de seu trabalho que o consagrou como escritor americano. Tendo em vista “a imaginação de

Cooper, [...] havendo logrado sucesso num romance histórico [...] volta-se agora, [...] para o

tema da Fronteira” (DOREN, 1960) dedicando-se a temas relacionados aos limites dos E.U.A.

em seus romances históricos e de aventura.

O que está em foco é levantar uma discussão sobre o trabalho do autor na formação

artística e heróica do protagonista “Uncas”, e fazer uma análise sob a égide do artista em sua

composição literária na idealização do ‘herói’ nacional e sua superioridade dentro da obra

indianista. Onde se observa o deslumbre de Cooper sobre as florestas que incutiram em seus

personagens características próprias e “virtudes de corpo e de alma, combina êle uma nobreza

de espírito [...] Que Uncas era o ideal [...]” (DOREN, 1960).

É pertinente ressaltar os traços marcantes do romantismo presentes na obra, bem como

as características que o configuram e, a formação artística tanto do herói quanto de seu caráter

consolidado por sua bravura e coragem dentro desta narrativa linear.

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

32

3.1 – A Formação Artística do Herói Expresso em Uncas

Para a consolidação da formação artística do ‘herói’ na aventura romântica, Cooper

constrói sua personagem-protagonista sob a égide de um caráter bravo, de sentimentos

movidos pela harmonia com a natureza e valores tanto morais quanto de honra e proteção às

ideologias representadas pela tribo dos Moicanos. Nesse sentido, Cooper (1994) compõe o

enredo da obra em função das ações desenvolvidas pelo protagonista e “herói” personificado

em “Uncas”.

O narrador mostra com riqueza de detalhes os elementos conflitantes entre as tribos

rivais dos moicanos, as campinas, as grutas quase inexploráveis, os rios caudalosos com

cachoeiras e animais selvagens. O artista transfere para a obra The Last of The Mohicans, toda

essa relva e os habitantes nativos como forma de exaltação tanto do território nacional como

do “herói” propriamente dito.

But the rifle of Uncas was deliberately raised toward the heavens, directing the eyes of his companions to a point where the mystery was immediately explained. A ragged oak grew on the right bank of the river, nearly opposite to their position, which, seeking the freedom of the open space, had inclined so far forward that its upper branches overhung that arm of the stream which flowed nearest to its own shore. Among the topmost leaves, which scantily concealed the gnarled and stunted limbs, a savage was nestled, partly concealed by the trunk of the tree […] (COOPER, 1994, p.86).

O que se observa na obra, tal como o da citação, são ações que se desenvolvem ao

longo da narrativa, as quais são desencadeadas por uma série de eventos aventurescos em que

o personagem “Uncas” é o protagonista dessas ações. Mesmo sendo uma obra de ficção, não

se pode negar o cunho de verdade no romance, Cooper utiliza fatos relacionados ao passado

da colonização nas fronteiras americanas. No entanto, sua imaginação artística transcende o

seu tempo criando um ser imaginário, uma personagem lendária que muito se assemelha a um

Hércules, ou um Odisseu das grandes epopeias.

[...] a coerência estrutural da obra, [...] a fuga para o mundo da imaginação, [...] mas nunca idênticas às do mundo real. A literatura de ficção supera a antítese do ser e do não se, do real e do imaginário: a personagem artística é, porque foi criada por seu autor, e, ao mesmo tempo, não é, porque nunca existiu no plano histórico (D’ONOFRIO, 1995, p.20,21).

De acordo com a citação, a formação artística do protagonista é externa ao mundo real,

sendo apenas uma imitação da realidade ou da imaginação do “eu” do ficcionista, ou seja, é

fruto da sua imaginação. Seu trabalho é fruto de muita reflexão, consolidando-o ao eclodir de

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

33

sua figura dramática, ou seja, “A personagem é um ser que pertence à história e que, portanto,

só existe como tal se participa efetivamente do enredo, isto é, se age ou fala” (GANCHO,

2004). Desse modo, a narrativa na obra The Last of The Mohicans se configura como aventura

romântica e de ação onde o enredo dá ‘vida’ às personagens.

O que se pode perceber nesse tópico é que os reflexos do autor de romance histórico

são analisados sob o contexto das ações e características dos personagens envolvidos na

narrativa. E sobre tudo, na formação artística do ‘herói’ nacional.

3.2 – Honra e Coragem em The Last of The Mohicans

A narrativa romântica é permeada por ações que desenvolvem com atos de bravura e

coragem. Consolida-se então, como uma obra romanesca por si tratar de uma ficção linear

onde a presença do ‘herói’ é fundamental para que se ocorra todo o desenrolar da narrativa em

função da frágil donzela que é salva pelo protagonista.

Existem em O Último dos Moicanos são ações engajadas de muito heroísmo de um

bravo em favor de uma frágil donzela, desenvolvendo com isso um dos aspectos importantes

da tendência romântica do período. Cooper (1994) personifica em “Uncas” um selvagem de

caráter nobre não corrompido pelo contato com os europeus. Os ideais do jovem moicano,

representante indígena dos legados de seu pai “Chingachgook” eram honra e lealdade

configurando “o mito do herói individual dirigido por um código de honra ao qual não faltam

os princípios de lealdade, fidelidade e respeito (CITELLI, 1990, p.8).

Em sua composição, Cooper (1994), narra a nobreza de espírito de “Uncas”,

possuindo uma mente jamais corrompida, vivendo em perfeita harmonia com a exuberante

natureza que o cercava. Um jovem descendente da tribo dos Moicanos, que se tornava cada

vez mais nobre à medida que ia crescendo. E, mesmo com esse contato com os homens de

culturas diferentes das tribos indígenas, eles não influenciaram o caráter do herói idealizado

por Cooper, onde o qual vivia em plena harmonia com a natureza em seu estado expressivo de

contemplação e respeito as suas origens que se configura como retorno a identidade, mais um

aspecto que a obra romântica tinha que focar.

“There is a principle in that,” He Said, “different from law of the woods; and yet it is fair and noble to reflect upon.” Then, heaving a heavy sigh, probably among long abandoned, he added, “It is what I would wish to practice myself, as one without a cross of blood, though it is not always easy to deal with an Indian as you do believe your scent is not greatly wrong, when the

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

34

matter is duly considered, and keeping eternity before the eyes, though much depends on the natural gifts, and the force of temptation” (COOPER, 1994, p.325).

Observa-se desta forma, segundo a citação é que mesmo em meio às guerras tanto dos

europeus pela conquistas das terras americanas e do Forte William Henry, o caráter de

“Uncas” permaneceu intacto. Ao analisar a obra, percebe-se a intencionalidade de James

Fenimore Cooper em conduzir o enredo focando “o último da orgulhosa raça dos moicanos”

(DOREN, 1960) para sua grandeza de espírito e mente nunca contaminada, diferentemente de

seu pai Chingachgook que sofreu mudanças com o passar dos anos ao se entristecer.

Paralelo ao protagonista “Uncas”, existem outras personagens que alteram de alguma

seu comportamento e sentimento ao longo da narrativa. Isso ocorre devido a vários fatores ou

situações pelas quais são submetidas às personagens no enredo. Como é uma narrativa

romântica e de aventura, não seria de se estranhar que boa parte desses acontecimentos

fossem em virtude dos confrontos e guerras. Muitas das ações emocionantes se

desenvolveram em meio às fugas, como pode ser comprovado pela citação abaixo.

A perseguição compõe quase todo o enrêdo. O grupo perseguido, mudando de Forte Edward para Fort William Henry, conta com duas môças para dificultar a sua fuga e para aumentar a tragédia da captura. Mais tarde, uma vez capturadas as môças, a simpatia se transfere – coisa desusada em Cooper – para os perseguidores que vão em seu socorro (DOREN, 1960, p.37).

Percebe-se desse modo, que a narrativa de Cooper (1994) compreende as ações de

bravura, honra e cavalherismo por parte das tribos Hawkeye e dos Moicanos. São os

protetores das filhas inglesas Cora e Alice do Coronel Munro, os quais são incumbidos da

tarefa de conduzi-las até ao Fort William Henry para se encontrarem com seu pai. No entanto,

são perseguidos e impedidos no meio do caminho, passando de perseguidos a perseguidores a

fim de salvá-las dos seus algozes.

Para a consolidação do “herói” nacional personificado em “Uncas” como “[...] um

símbolo “vivo” de nosso “eu profundo” (MOISÉS, 2006), Cooper (1994) confere ao

protagonista Uncas “as virtudes-padrão que os filósofos da época haviam ensinado o mundo a

encontrar em estado de natureza” (DOREN, 1960). Em contrapartida, transfere para os

antagonistas as implicações relativas ao contato com os homens da “civilização moderna”. E,

nesse entrave com o intuito de proteger as donzelas, os “mocinhos” percorrem “Nessa tarefa,

Hawkeye e os moicanos vêem-se diante da capacidade feroz do hurão Magua, que faz o vilão,

contra o herói Uncas, tem qualidades físicas iguais às de Uncas, e é o seu oposto pelas

qualidades morais” (DOREN, 1960).

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

35

Durante toda a narrativa ocorrem várias passagens de muito suspense seguidas de lutas

e fugas. Como é de características do romance de aventura, o “herói” se desdobra para salvar

a donzela em perigo.

The singers were dwelling on one of those low, dying chords, which teh ear devours with such greedy rapture, as if conscious that it is about to lose them, when a cry that seemed neither human nor earthy rose in the outward air, penetrating not only the recesses of the cavern, but to the inmost hearts of all who heard it. It was followed by a stillness apparently as deep as if the waters had been checked in their furious progress at such a horrid and unusual interruption. “What is it?” murmured Alice, after a few moments of terrible suspense (COOPER, 1994, p.69).

Na obra são citadas várias cavernas que muitas vezes funcionavam como esconderijo

para os protagonistas em meio às guerras, servindo de rota de fuga. Consolidando assim,

como uma obra romântica e de aventura. Características essas facilmente identificadas nos

personagem, pois Uncas possuía traços do romantismo em seu perfil, uma vez que era de

poucas palavras, porém era objetivo sendo muito leal, mantendo um caráter elevado, honrado

e corajoso.

Essas ações de bravura e coragem são um marco forte da obra, tendo em vista a

missão épica de Uncas, salvar uma mocinha branca de origem europeia, a qual depende da

força e instintos selvagens do “herói”. Características estas típicas das narrativas de aventuras

próprias do contexto dos romances históricos e, do período de James Fenimore Cooper.

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A finalidade de se fazer esta monografia foi mostrar em um trabalho acadêmico as

diferentes tipologias das personagens em sua formação dentro do contexto histórico em que

elas se situam e também, olhando pela ótica dos autores que fundamentam este trabalho

acadêmico, o processo de criação da personagem. Bem como as conformidades de existências

dessas personagens no tempo e espaço do enredo ficcional com suas próprias leis.

É importante destacar que este trabalho tem como eixo norteador a honra e o heroísmo

expressos nos personagens da obra do autor norte-americano James Fenemoure Cooper “The

Last of the Mohicans”, a qual foi o objeto de análise e estudo. Procurou-se apresentar neste

trabalho as formas peculiares do artista em compor a narrativa de cunho romântico-histórico

e, as razões que o levaram a contextualizar os adventos durante as guerras entre os europeus

que se desencadearam na formação da civilização americana.

De acordo com essa premissa o autor narra em seu romance ficcional com riqueza de

detalhes em estilo romântico todas as campinas e relvas americanas, personagens marcantes

de suas obras em meio a “A Guerra dos Sete Anos” entre os europeus (franceses e ingleses)

colonizadores daquele país, e também retrata o conflito interno das tribos Delawares, os

Máguas e os Iroqueses.

Considerando o tema e os objetivos da pesquisa, este tornou-se instigante numa

perspectiva relevante em função de contribuir para a valorização da literatura americana,

pouco difundida no território brasileiro com foco no assunto pesquisado e para os estudantes

de Letras e pesquisadores da historiografia. Tendo em vista os resultados da análise de textos

literários de cunho romântico e histórico como “A opção pelo passado histórico enquanto

tempo da narrativa caracteriza uma das mais marcantes facetas da ficção romântica: a evasão,

ou fuga da realidade” (CONSOLI, 2009).

É pertinente ressaltar que dentre os objetivos previstos para este trabalho, foi possível

analisar a imaginação artística de Cooper em que na obra analisada, o enredo muito se

assemelha às grandes epopéias. Na verdade, o artista não possuía recursos da historiografia

que os pudessem ajudar em sua composição literária, mas isso não o impediu de produzir uma

ficção a seu estilo, tal como é exemplificada pela citação abaixo.

Cooper não tinha, como Scott, o recurso dos conhecimentos históricos, a que recorrer quando a inventiva o abandonava, assim como também não possuía o temperamento brando de Scott, quando se via envolvido numa discussão; mas, quando a sua inventiva fugia do mundo dos costumes estabelecidos, sôbre o qual estava construída a arte de Scott, Cooper fazia apenas com a

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

37

imaginação o que Scott, com as suas qualidades subsidiárias, não era capaz de superar (DOREN, 1960, p.48).

Segundo a citação, Cooper superou com a obra The Last of The Mohicans as

influências que sofrera das literaturas produzidas pelo escritor britânico Walter Scott mesmo

reconhecendo, segundo DOREN (1960) “sua própria inferioridade, com relação a Scott”.

Entende-se que o trabalho de Cooper foi fundamental para a formação da cultura literária dos

norte-americanos para sua autoafirmação no campo do gênero da narração ficcional.

Com relação à natureza do caráter das personagens na obra indianista, bem como seus

atos de bravura e coragem aliados aos ideais de conduta, estes se desenvolveram na narrativa

do artista sob a égide da conotação do romance histórico levando o leitor a considerar que:

[...]a existência de uma paixão de Uncas por Alice, o extremo sacrifício do jovem índio permite avaliar esse amor como desmesurado. [...] Uncas arrisca a vida e, consequentemente, a continuidade genealógica da tribo moicana em nome de uma paixão que sequer sabe se é correspondida (CONSOLI, 2009, p.9).

Entende-se pela citação que os atos típicos dos heróis épicos, em que este vive e morre

em função da proteção da bela e indefesa donzela a fim de ter a atenção, amor e respeito dela.

Ações essas que se desenvolveram na trama ficcional sem, contudo se ver a influência do

homem branco refletindo nos ideais da cultura moicana.

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE … que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem

38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

BRAIT Beth. A Personagem: Série Princípios, 7ª edição. Editora Ática – São Paulo; 2002.

CITELLI, Adilson. Romantismo: Série Princípios. Editora Ática – São Paulo; 1990.

COOPER, James Fenimore. The Last of The Mohicans: Penguin Popular Classics, 1994.

COSTA, Lígia Militz da. A Poética de Aristóteles – Mímese e verossimilhança. Editora

Ática, 2006

CRUNDEN, Robert M. Uma Breve História da Cultura Americana: (tradução, Álvaro Sá),

Rio de Janeiro; Nordica, 1990.

D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto: prolegômenos e teoria da narrativa. Editora Ática

S.A. São Paulo (SP); 1995.

DOREN, Carl Van. O Romance Americano: (tradução de Neil R. da Silva), Belo Horizonte;

Editora Itatiaia Limitada, 1960.

EDWARD Wagenknecht. Panorama do Romance Americano: (tradução, Esther de

Carvalho), Belo Horizonte; Editora Itatiaia Limitada,1960.

GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas: 8. Ed – São Paulo; Ática, 2004.

MOISÉS, Massaud. A Criação Literária – prosa: São Paulo; Cultrix, 2006

MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos: São Paulo; Cultrix, 2007.

RÉMOND, René. História dos Estados Unidos: (tradução Álvaro Cabral), São Paulo;

Martins Fontes, 1989.

SCHÜLER Donaldo. Teoria do Romance: Série Princípios, São Paulo; Ática, 1989.

SOLETRAS, Ano IX, Nº17. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2009 Má[email protected]

– acessado em 26/03/2012.

SOUZA, Roberto Acízelo Quelha de. Teoria da Literatura: 10. Ed. – São Paulo; Ática,

2007.