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Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências Exatas Departamento de Geociências Frederico Muller Bisogni MANEJO E GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS, CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS. UM ESTUDO DE CASO SOBRE ATIVIDADE FLORESTAL DE CULTIVO DE PINUS. Londrina – Pr 2008

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Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências Exatas Departamento de Geociências

Frederico Muller Bisogni

MANEJO E GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS,

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E IMPACTOS AMBIENTAIS

ASSOCIADOS. UM ESTUDO DE CASO SOBRE ATIVIDADE

FLORESTAL DE CULTIVO DE PINUS.

Londrina – Pr 2008

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FREDERICO MULLER BISOGNI

Manejo e Gestão de Recursos Naturais, Certificação Ambiental e

Impactos Ambientais Associados. Um estudo de caso sobre atividade florestal de cultivo de pinus.

Monografia apresentada no Curso de Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel. Orientador: Prof. Dr.Ângelo Spoladore

Londrina 2008

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FREDERICO MULLER BISOGNI

Manejo e Gestão de Recursos Naturais, Certificação Ambiental e Impactos

Ambientais Associados. Um estudo de caso sobre atividade florestal de cultivo

de pinus.

Monografia apresentada no Curso de Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel, submetida à aprovação da comissão examinadora compostas pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Ângelo Spoladore

Universidade Estadual de Londrina

Prof. Dra.Nilza Aparecida Freres Stipp Universidade Estadual de Londrina Prof. Ms.Rosely Maria de Lima Universidade Estadual de Londrina Londrina, de fevereiro de 2008.

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Agradecimentos Em especial a minha avó Xixa por todo o apoio dado em todos os anos de

minha vida, sem ela esse trabalho não seria realizado.

A minha família e amigos que contribuíram para meu aprimoramento moral e

profissional e que são responsáveis pela minha formação.

Ao Professor e Orientador Dr. Ângelo Spoladore pelo encorajamento e

constante aprendizado.

À Empresa Valor Florestal pelo estágio e por propiciar todas as condições

necessárias para que este trabalho fosse executado.

A todos os funcionários da empresa que direta ou indiretamente

compartilharam seu conhecimento comigo.

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BISOGNI, Frederico Muller. Manejo e Gestão de Recursos Naturais, Certificação Ambiental e Impactos Ambientais Associados. Um estudo de caso sobre atividade florestal de cultivo de pinus. 2008. Monografia de Bacharelado do Curso de Geografia. Universidade Estadual de Londrina. Resumo O objetivo geral deste trabalho consiste na abordagem, de modo integrado, dos conceitos

referentes à gestão ambiental e seus diferentes atores, cada um com suas atribuições e

funções, a gestão dos recursos naturais, os padrões de certificação florestal, mais

especificamente pela adoção do selo FSC em áreas de cultivo de Pinus, e por fim o plano de

manejo com seus elementos constitutivos. Serão apresentadas algumas considerações sobre

como tal selo acaba por orientar os planos gestores, da mesma forma que os últimos têm

poder de influência nos primeiros, e quais seus desdobramentos no meio ambiente natural,

tanto os positivos quanto os negativos. Para tanto as discussões serão pautadas por estudo de

caso realizado na empresa Valor Florestal – Gestão de ativos Florestais Ltda, a qual

administra ativos florestais de várias empresas, do Paraná e Santa Catarina. Entretanto as

análises e o campo interpretativo se restringirão as áreas da Vale do Corisco, mais

especificamente nos municípios de Sengés e Jaguariaíva. A discussão se insere num momento

em que as questões de ordem ambiental ganham peso no debate em nível nacional e

internacional, com mais intensidade a partir dos anos 70.

Palavras-chave: recursos naturais; certificação ambiental; impacto ambiental.

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BISOGNI, Frederico Muller. Manejo e Gestão de Recursos Naturais, Certificação Ambiental e Impactos Ambientais Associados. Um estudo de caso sobre atividade florestal de cultivo de pinus. 2008. Monografia de Bacharelado do Curso de Geografia. Universidade Estadual de Londrina. ABSTRACT The general objective of this work is to approach in an integrated manner, the concepts relating to environmental management and its different actors, each with its duties and functions, management of natural resources, patterns of forest certification, more specifically by the adoption of the FSC stamp in areas of cultivation of Pinus, and finally the plan of management with its constituent elements. It will be presented some considerations about how this stamp guides the plans managers, the same way as those plans has power to influence the stamp, and which are its developments in the natural environment, both positive and negative. Therefore the discussions will be guided in a case study conducted in the company Value Forest - Managing assets Forestry Ltd., which manages forest assets of several companies, of Parana and Santa Catarina. Meanwhile the analyses and interpretive field will be restricted in the areas of the Corisco Valley, specifically in the municipalities of Sengés and Jaguariaíva. The discussion falls at a time when the issues of environmental order gain weight in the debate on national and international level, with more intensity from the seventies. Key-words: Natural resources; environmental certification; environmental impact

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SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................................iv

ABSTRACT.............................................................................................................................v

Introdução................................................................................................................................1

Localização da área de estudo..................................................................................................1

Objetivos..................................................................................................................................3 Metodologia............................................................................................................................4 Justificativa.............................................................................................................................4 1.Considerações sobre a trajetória e eclosão das questões ambientais no Brasil.............6

2. Recursos Naturais ............................................................................................................12

2.1 Conceituação ....................................................................................................................12

2.2 Pinus: Aspectos históricos e sua implantação no Brasil...................................................15

2.3 Cadeia produtiva...............................................................................................................18

3. A gestão ambiental como mero simulacro ou proposta efetiva e aplicável................22

3.1 O conceito original de gestão..........................................................................................22

3.2 Gestão Ambiental: Algumas considerações....................................................................23

3.3 Gestão Ambiental numa abordagem Sistêmica...............................................................25

3.4 A compatibilidade entre o crescimento econômico e a gestão ambiental.......................27

3.5 As atribuições do Estado na gestão ambiental e no ordenamento territorial..................29

3.6 Gestão de recursos naturais.............................................................................................34

3.7 Princípios necessários a um sistema de gestão...............................................................35

4. O que significa impacto ambiental................................................................................37

4.1 Conceitos........................................................................................................................37

4.2 Possíveis impactos associados ao cultivo de pinus........................................................42

5. Certificações ambientais – mecanismos de mercado..................................................47

5.1. Conceituação e aplicações............................................................................................47

5.2. FSC-Forest Stedwardship Council-Um selo verde.......................................................53

6. Manejo florestal.............................................................................................................61

6.1 Plano de Manejo............................................................................................................64

6.2 Plano de Manejo Valor Florestal..................................................................................65

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6.2.1 Objetivos do Manejo................................................................................................65

6.2.2 Composição da floresta............................................................................................66

6.2.3 Sistema Silvicultural................................................................................................67

6.2.4 Sistema de manejo...................................................................................................67

6.2.4.1 Manejo..................................................................................................................68

6.2.4.2 Desbaste................................................................................................................68

6.2.4.3 Poda......................................................................................................................69

6.2.4.4 Programa anual de plantio....................................................................................69

6.2.4.5 Plano de conservação de estradas.........................................................................69

6.2.4.6 Plano de gerenciamento ambiental.......................................................................70

6.2.4.7 Plano de recuperação de áreas de preservação permanente.................................70

6.2.4.8 Plano de eliminação de espécies exóticas em áreas de conservação....................72

6.2.5 Projetos Ambientais e Sociais Programados e Desenvolvidos................................75

6.2.5.1 Monitoramento da fauna.......................................................................................76

6.2.5.1.1 Programa de Levantamento e Monitoramento da Fauna Silvestre:

Mastofauna........................................................................................................................76

6.2.5.2 Parte do Programa de levantamento Florístico e fitossociológico........................78

6.2.5.3 Monitoramento da fragmentação e conectividade de áreas nativas... ..................81

6.2.5.4 Reserva particular do patrimônio natural-RPPN..................................................82

6.2.5.5 Projeto de Ecoturismo na RPPN Vale do Corisco................................................85

6.2.5.6 Programa de Levantamento de Cavernas de Sítios Arqueológicos .....................86

6.2.5.7 A Coleta de Resíduos orgânicos e inorgânicos....................................................92

6.2.6 Sistema de Monitoramento......................................................................................93

CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................102

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Introdução

As atividades florestais monoculturais como cultivo de pinus e eucalipto vêm

ganhando espaço em diversos Estados no Brasil em especial no Paraná. Neste contexto,

o estudo que se segue procura investigar como se desdobra tal atividade, ou, mais

especificamente, como se processa a gestão do recurso (pinus) pela empresa Valor

Florestal a qual não é proprietária das florestas, mas administra os ativos florestais de

outras empresas como a Florestal Vale do Corisco e Norske Skog Florestal, ambas com

sede na cidade de Jaguariaíva, no Paraná. Atualmente a empresa é responsável pela

administração de 90 mil hectares de florestas de Pinus spp e pela produção de

aproximadamente três milhões de metros cúbicos de madeira por ano.

Questões relacionadas a essa atividade serão levantadas a fim de detectar as

possíveis ocorrências dos impactos ambientais gerados, ao mesmo tempo em que os

planos de gestão são elaborados com o intuito de possibilitar um melhor aproveitamento

do recurso, com vistas a reduzir os desdobramentos negativos ao meio e a maximizar os

benefícios.

Localização da área de estudo

A área de estudo compreende os municípios de Jaguariaíva de localização 24°

15’03’’ latitude S 49° 42’ 21’’ longitude W com área de 1.524 km² e Sengés de

localização 24° 06’ 46’’ S 49° 27’ 50’’ W com área de 1.367 km², sendo esse último

limítrofe com o município de Itararé no Estado de São Paulo. Os municípios em questão

pertencem ao Estado do Paraná, localizados na Mesoregião Centro Oriental Paranaense,

Microregião de Jaguariaíva.

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Fonte: Ângelo Spoladore

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Objetivos

O objetivo geral deste trabalho consiste na abordagem, de modo integrado,

dos conceitos referentes à gestão ambiental e de recursos naturais e os padrões de

certificação florestal, mais especificamente pela adoção do selo FSC em áreas de cultivo

de pinus. Apresentaremos algumas considerações sobre como tal selo orienta os planos

gestores, da mesma forma que os últimos têm poder de influencia nos primeiros, e quais

seus desdobramentos no meio ambiente natural. Para tanto as discussões serão pautadas

num estudo de caso realizado na empresa Valor Florestal – Gestão de ativos Florestais

Ltda, a qual administra ativos florestais de várias empresas. Entretanto as análises e o

campo interpretativo se restringirão às áreas da Vale do Corisco, mais especificamente

nos municípios de Sengés e Jaguariaíva.

Como objetivos específicos, tem-se:

• Trazer algumas breves considerações sobre a intensificação da discussão acercadas questões ambientais em escala mundial em seu contexto temporal; • Discorrer sobre o conceito de gestão ambiental; • Introduzir e desenvolver o conceito de impactos ambientais, bem como apontar os possíveis impactos relacionados à atividade monocultora de pinus (analisada); • Fazer algumas observações sobre as certificações ambientais enquanto

mecanismos de mercado, com maior ênfase no selo FSC-Forest Stedwardship Council, bem como seus desdobramentos no meio ambiente natural;

• Apresentar e desenvolver o plano de manejo específico das áreas da Vale do

Corisco e monitoradas e gerenciadas pela Valor Florestal desenvolvidos a partir dos princípios e critérios do selo FSC com seus pontos e elementos constitutivos;

• Analisar o conceito de recursos naturais.

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Metodologia

Para a elaboração e desenvolvimento do trabalho optou-se pela sua divisão em

quatro etapas, as quais não serão conduzidas de forma independente, mas interligadas e

dialogando entre si conforme a obtenção e compilação dos dados adquiridos.

A primeira etapa foi dedicada ao levantamento bibliográfico na Biblioteca

Central da Universidade Estadual de Londrina, em livros e periódicos de diversas áreas

do conhecimento que abordam a questão e por textos com publicação on line.

A segunda etapa, por sua vez, concentrou-se no levantamento de dados e

informações obtidas mediante realização de trabalho de campo com duração de um mês,

programado para ter início em13 de agosto e término em 12 de setembro do ano de

2007. A programação dos campos, com duração de três semanas, foi toda de

responsabilidade da empresa Valor Florestal, de acordo com suas necessidades internas

e aconteceu em diferentes locais nos municípios de Sengés e Jaguariaíva. A última

semana do referido estágio basicamente foi dedicada aos arquivos próprios, tanto

impressos como eletrônicos, disponibilizados a critério da empresa. Dessa forma,

muitas das informações adquiridas e posteriormente citadas advêm de textos e

documentos dela procedentes. Sendo assim, além das referências científico-acadêmicas,

trabalharemos um conjunto de informações que se baseiam nos resultados empíricos

desenvolvidos ao longo do tempo.

A análise dos dados, terceira etapa seguida, consiste no cruzamento das

informações extraídas das referências consultadas em bibliografias e dos dados

extraídos in loco por imagem fotográfica e anotações em caderno de campo.

A etapa final foi destinada à continuação de levantamentos bibliográficos,

ordenação das informações extraídas in loco concomitantemente à elaboração do texto

final.

Justificativa

O conceito de gestão ambiental basicamente se baseia na comercialização de

um determinado recurso em seu máximo potencial produtivo, sempre em busca da

otimização de seus lucros e minimização do ônus ambiental.

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Para o cumprimento das metas traçadas no tocante à produtividade, há

responsabilidades a serem cumpridas em relação às normas do campo legislativo

ambiental, ao atendimento das exigências do mercado externo à qual destina sua

matéria-prima, bem como aos princípios e critérios do selo verde que incorporou em seu

sistema de gestão ambiental.

Nesse sentido, uma investigação mais detalhada com o intuito de verificar

quais são os desdobramentos da adoção de um sistema de gestão ambiental e de

certificação no gerenciamento dos recursos naturais que exploram é, no mínimo,

pertinente, pois se trata de uma questão da ordem do dia e de uma atividade com

tendência à expansão. Da mesma forma, é importante investigar quais são as

conseqüências ao meio ambiente que sustenta a atividade silvicultora, em franca

expansão em várias regiões brasileiras, principalmente no oeste paranaense.

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1. Considerações sobre a trajetória e eclosão das questões ambientais.

A compreensão tradicional das relações entre o homem e a natureza

desenvolvidas e aprofundadas até o século XIX, vinculadas ao processo da produção

capitalista, considerava o homem e a natureza como entes dissociados, situados em

pólos excludentes. A partir dessa relação desdobra-se uma concepção de natureza como

objeto exterior ao homem, sendo fonte inesgotável de recursos ilimitados a serem

apropriados pelas atividades humanas.

Em decorrência dessa forma de entendimento e por meio de um processo de

industrialização cada vez mais intrínseco às praticas humanas, houve uma busca

frenética por acumulação, principalmente a dos recursos naturais existentes. Os avanços

científicos e tecnológicos adentram nas formas de produzir, tornando as técnicas cada

vez mais sofisticadas, com maior capacidade de intervenção direta no meio, muitas

vezes provocando impactos negativos de difícil recuperação. (Bernardes & Ferreira,

2003)

Certos acontecimentos acabaram por mostrar os riscos do uso indiscriminado

da tecnologia e das atividades industriais sem parâmetros. Para citar um exemplo

extremo, temos o emblemático caso Hiroshima e Nagasaki, durante a segunda guerra

mundial que contabilizou por volta de 100 mil mortos e o envenenamento de milhares

de animais e pessoas pela contaminação da baia de Minamoto no Japão, por metais

lançados pela indústria Chisso Corporation. Em Taiwan, na década de 90 do século

passado, enormes quantidades de venenos foram usadas na agricultura e na indústria

poluindo grande parte dos rios que cortam o país. Em alguns lugares não havia mais

peixes e a água perdeu totalmente a potabilidade, chegando a pegar fogo. Os altos níveis

de poluentes atmosféricos fizeram dobrar o número de câncer por segmento da

população e o país, na época, apresentava a maior incidência de hepatite do mundo

(Capra, 1982).

Os fatos citados, de alguma forma, contribuíram para que parte da sociedade

revisse a forma de ação sobre o meio e sobre suas múltiplas relações com ele.

Começam-se então a questionar os rumos da sociedade em relação aos modos de

produção, como também fundamentalmente os modos de vida. Segundo Bernardes &

Ferreira (2003), nos períodos pós Segunda Guerra Mundial a humanidade percebeu que

os recursos naturais são finitos e que seu uso indiscriminado pode trazer sérias

conseqüências.

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Alguns autores como Gonçalves (2006), Bernardes & Ferreira (2003),

afirmam que até os anos 60 e 70 acreditava-se piamente que o crescimento econômico e

o processo de desenvolvimento, principalmente o dos países centrais de capitalismo

avançado, não tinham limites, e que desenvolvimento era sinônimo de dominação de

uma natureza provedora dos elementos que, conforme as novas necessidades tornar-se-

iam recursos.

Assim, nessas décadas, observou-se que o modelo de desenvolvimento

apregoado se mostrava insustentável, haja vista que países de economia periférica

apresentavam relativa estagnação econômica com índices sociais alarmantes e

naturalmente com desdobramentos ambientais adversos. Pois, como afirma Gonçalves

(2006), ao falarmos de meio ambiente não falamos somente dos ecossistemas, mais sim

falamos também das condições dos habitantes que compõem esses ecossistemas, que de

alguma forma exercem uma constante pressão sobre eles. É de suma importância

identificar pobreza e miséria como fator contribuinte dos problemas ambientais,

entretanto, é importante destacarmos que, uma maior pressão sobre o meio advém das

práticas de consumo dos habitantes dos países ricos. Ainda segundo o autor acima

citado, 20% dos mais ricos são responsáveis por 86% dos gastos de consumo privados,

consomem 58% da energia mundial e possuem 87% dos carros em circulação no

planeta.

Nesse contexto, emerge a necessidade de rompimento dessa concepção de

crescimento e desenvolvimento cultuados, pautados em aspectos majoritariamente

economicistas, em detrimento dos sociais e humanos, bem como na eleição de novos

traços paradigmáticos que invertam a lógica da teoria econômica padrão. Esta, segundo

Herman Daly (2002), citado por Cavalcante (s/d), entende a “natureza como sendo

apenas um setor, um compartimento do sistema econômico, que tem a forma de

florestas, pescas, agricultura e extrativismo e etc. Sua função não é a de conter, de

sustentar, de prover serviços biofísicos à economia, como efetivamente ocorre. Ou seja,

a natureza envolve, abriga as atividades econômicas. Não existe artifício realista que

possa reduzi-la a um componente das últimas”, sendo assim, invertem-se as posições e a

lógica de importância.

No caso brasileiro, observa Cavalcante (s/d) que o primado do

desenvolvimento é o espelho das formas adotadas em escala mundial, em que há um

claro processo de desinvestimento do capital natural, ou uma espécie de incorporação

predatória do mesmo capital, que causa sensível perda de substancia ecológica à base

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produtiva, por meio da destruição de ambientes, da perda de biodiversidade,

contaminação de aqüíferos. O referido desinvestimento se refere ao esgotamento de

recursos não-renováveis, e à utilização irresponsável dos recursos renováveis, com

impactos ecológicos negativos de diversos tipos.

O mesmo autor ainda nos mostra que os bens e serviços gerados são

contabilizados como riqueza nacional e como parcela estritamente positiva nas

montagens do PIB (Produto Interno Bruto), ignorando os custos ocultos que a

sustentam. Nesse sentido, a perda dos recursos não-renováveis, como minérios,

vegetação nativa, não é contabilizada como retirada definitiva do estoque de capital da

natureza. Na montagem do PIB somente as parcelas ditas positivas são contabilizadas. É

de se notar que a própria parcela positiva aponta para uma direção oposta à idéia de

sustentação dos ecossistemas naturais. O valor ecológico real da natureza só é

reconhecido como tal no momento de sua potencialidade de transformação em recurso,

não enquanto valor patrimonial. A deterioração causada pelos impactos ambientais

geralmente é deixada de fora do calculo econômico como sendo externo, uma vez que a

perda ambiental configura prejuízo real e físico. (Cavalcante s/d).

Nas palavras de Godard (1997) as diferentes formas de gestão dos recursos

naturais colocam em jogo o futuro do meio ambiente, em todas as suas esferas, tanto por

estarem sujeitos a práticas superexploratórias, ou mesmo pelo descuido verificado que

aponta para um abandono nas práticas de conservação do meio. Enfatiza da mesma

forma que o meio ambiente não pode ser apenas visto como fonte de coações, e,

sobremaneira, como ônus suplementares a serem assumidos, mas sim como potencial a

ser gerenciado com vistas à ampliação de seus múltiplos benefícios.

Dessa maneira o importante é superarmos a idéia meramente protetora dos

elementos naturais, bem como reduzi-los unicamente a estância mercadológica regulada

pelo mercado.

Segundo Mendonça (1998) contradições sociais que eram observadas pelo

mundo, reforçavam de alguma forma a luta por melhor qualidade de vida e por um

ambiente sadio. O problema vivenciado pelos povos africanos, com a expulsão

paulatina dos povos nativos para áreas mais desérticas em decorrência da maciça

entrada dos invasores europeus em busca dos recursos naturais existentes, era um alerta

de caráter denuncista sobre o agravamento das condições dos povos dos países

conhecidos como subdesenvolvidos.

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No período do pós-guerra, os países de matrizes capitalistas começam a

exportar inúmeras “indústrias sujas” para países “terceiro mundistas”, como parte da

África e América Latina, somente absorvendo dos mesmos os aviltantes lucros gerados

e deixando um rastro de devastação e desordem sócio-ambiental materializados em

toneladas de resíduos gerados pelo processo de industrialização instaurado, desemprego

latente, êxodo rural, pauperização e favelização das principais cidades envolvidas

(Mendonça, 1998). Nessa trajetória não havia de fato nenhuma preocupação com

nenhum tipo de poluição. Nas relações de colonialidade, termo tomado de empréstimo

de Gonçalves (2006), o desenvolvimento vincula-se diretamente à dependência dos

últimos em relação aos primeiros, tanto em termos tecnológicos para a produção

industrial, quanto em termos de mercado para a absorção da produção primária.

Logo após o fim do conflito mundial de meados do século XX, são criadas as

bases para o surgimento dos movimentos sociais, dentre eles o movimento ecológico na

Europa e Estados Unidos. Pode-se considerar este, um dos mais importantes

movimentos do período que acabou por colocar em relevo questões fundamentais que

mereciam dedicação e atenção necessárias.

Então, no ano de 1972, foi realizada a Primeira Conferência Mundial de

Desenvolvimento e Meio Ambiente, em Estocolmo, considerado um evento de projeção

jamais visto até então e que abordava questões de cunho sociopolítico bem como

ambientais. Para Mendonça (1998) significou uma primeira tentativa de equacionar os

problemas ambientais em evidência, deixando claro que a problemática ambiental

existia de fato e não era apenas alarde com doses exageradas dos ambientalistas cada

vez mais críticos ao modelo desenvolvimentista ultrapassado.

Acreditava-se que a partir do encontro, as ações relacionadas ao meio

ambiente seriam melhores orientadas, no entanto isso não aconteceu, segundo o mesmo

autor. E para Leis (1999), a conclusão desse encontro foi a confirmação “oficial” da

existência dos problemas ambientais globais que para serem tratados com eficácia,

necessitavam ser pensados sob uma perspectiva também global.

As ações depredatórias advindas das relações capitalistas de produção eram

cada vez mais evidentes a ponto de se justificar a necessidade da realização de uma

segunda conferência a qual trazia as mesmas questões ainda não resolvidas no campo da

ação. Acontece em junho de 1992 sob a gestão do então presidente da república

Fernando Collor de Mello a chamada Eco-92 realizada na cidade do Rio de Janeiro.

Essa conferência marca um processo de internacionalização das questões ambientais e

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daquelas ligadas a um desenvolvimento, de certa forma, mais responsável. Criam-se

então elementos como a Agenda 21 e o Fundo Global para o Meio Ambiente, esse

último a cargo do Banco Mundial. (Mendonça 1998). Um dos pontos de maior

relevância foi marcado pela Convenção sobre Alteração Climática, que estabelecia

algumas regras para a diminuição das emissões dos gases poluentes, principalmente

aqueles intensificadores do efeito estufa.

Em linhas gerais, Mendonça (1998) registra que o saldo final não difere

substancialmente da primeira conferência realizada vinte anos antes, e acrescenta que

muitos países tiveram participação discreta. Os Estados Unidos da América foi um país

que se mostrou indiferente às deliberações gerais, recusando-se a assinar o Acordo

Internacional da Biodiversidade, que tinha como proposta um tratamento mais sério e

efetivo aos desdobramentos ambientais decorrentes das atividades engendradas pelo

modo de produção capitalista, apesar da adesão de países como Japão e os da

comunidade Européia. (Bernardes & Ferreira, 2003).

Apesar de alguns “esforços” e uma aparente conscientização sobre os cuidados

em relação à capacidade de sustentação do ambiente, essa postura tem progredido de

forma lenta e em doses homeopáticas. (Philippi & Bruna, 2004). Ainda assim segundo

os mesmos autores, inúmeros congressos, seminários e conferências têm acontecido em

diversas localidades. A própria mídia tem abordado a questão de modo a tornar pública

a temática, levando até a grande maioria da população informações relevantes, no

tocante à necessidade de tirar o debate do âmbito estritamente acadêmico e das cúpulas

supranacionais de poder, mesmo que com isso se perca em profundidade e rigor

exigidos pelos conceitos que a constituem.

Nesse sentido surtos de conscientização vêm atingindo os moradores dos

espaços urbanos, bem como dos rurais, não só pela popularização da temática como

citada acima, mas pelos efeitos vivenciados, como falta de água potável para

considerável número de pessoas, qualidade do ar comprometida nos grandes centros,

períodos de seca prolongados, chuvas abundantes fora de época, dentre outros.

Propostas que apontam para a gestão do ambiente aparecem comumente como forma de

atenuar os problemas correlacionados aos padrões de desenvolvimento almejados, da

mesma forma se inserem dentro da lógica do modo de produção vigente.

Moraes (1994) observa que as discussões relacionadas à questão ambiental

estão vinculadas às discussões em torno das questões democráticas, tais como no caso

em pauta: no uso racional dos recursos, nas políticas nacionais correlacionadas, no papel

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dos agentes estatais, nos marcos regulatórios e na participação social exercendo controle

sobre o Estado. Pois, a forma e condução das políticas de uso e ocupação dos solos,

numa ordem democrática, têm uma carga de autodeterminação advinda da sociedade de

direito. Faz-se necessário discutir então, noções de soberania e legitimidade, no

momento em que o que se percebe é a manutenção de um processo de espoliação dos

recursos naturais existentes, principalmente nos países Latino Americanos, Africanos e

Asiáticos.

Inevitavelmente outros questionamentos surgem na ordem do dia: a quem

realmente pertence os recursos? Ou mesmo até que ponto determinados estados

nacionais têm o legítimo poder de normatização das formas e usos de seus territórios?

Qual a carga de responsabilidade de cada setor social? A intenção aqui não é de forma

alguma responder diretamente tais questões, mas abrir caminhos pra outras que venham

a reboque das discussões subseqüentes, de modo a serem pensadas a partir dos temas

propostos.

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2. Recursos Naturais

2.1 Conceituação

A palavra recurso, no entender de Zimmermann (1957) citado por Fuertes

(1964, p. 417), não se refere a uma coisa ou substância propriamente dita, mas sim à

função que determinado elemento natural ou humano recebe e que, por sua vez, tem

caráter utilitário com o objetivo de alcançar um determinado fim como o de, por

exemplo, satisfazer necessidades humanas.

Para Godard (1997) o termo recurso natural constitui:

[...] um daqueles conceitos situados na interface entre os processos sociais e processos naturais: resulta do olhar lançado pelos homens sobre seu meio biofísico, um olhar orientado por suas necessidades, seus conhecimentos [...] nele se corporifica uma das principais modalidades de articulação entre produção social e reprodução ecológica. (Godard, 1997, p. 205.).

O conceito de recursos pressupõe uma ação humana, como planejador e

agente atribuidor de uma função dada de acordo com a relação entre os meios para sua

obtenção e certos fins, a partir dos objetivos em questão, do grau de desenvolvimento e

aprimoramento tecnológico e das relações sociais institucionais estabelecidas numa

dada espaço-temporalidade. Percebe-se que a noção circunscrita ao conceito “recursos”,

ou seja, elemento natural a que foi conferido valor, é socialmente construída e obedece a

uma dada lógica atrelada aos níveis de produtividade que por sua vez se modificam de

acordo com a apropriação desses mesmos recursos por determinados grupos de poder.

No entender de Raffestin (1993), todo recurso é o produto de uma relação, e toda

relação com a matéria é uma relação de poder circunscrito num dado modo de

produção. Certos elementos não se constituem em recursos, mas podem vir a sê-los, ou

um mesmo recurso pode ser usado de formas diferentes em vários períodos históricos,

saliente Godard (1997).

Raffestin (1993) refere que a matéria por preexistir à ação humana pode ser

concebida como um “dado puro” que decorre de forças que agiram por milhares de anos

sem a intervenção humana, ou seja, não é a conseqüência de uma prática, mas é

oferecida a ela e acaba se tornando um vasto campo de possibilidades. Sobre essas

possibilidades constata que apenas algumas delas se realizam por meio de uma

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intencionalidade associada a uma prática e conhecimento e que, por sinal, qualquer

mudança nas práticas implica novas relações com a matéria.

Segundo o mesmo autor toda e qualquer matéria é caracterizada por

propriedades cuja valorização vai depender da relação que os homens mantiverem com

ela. Para tanto afirma:

É efetivamente o homem quem, por seu trabalho (energia informada), “inventa” as propriedades da matéria. As propriedades da matéria não são dadas, mas “inventadas”, pois resultam de um processo analítico, empírico por muitos tempo, acionado pelo homem que submete a matéria a operações diversas. (Raffestin, 1993, p. 223.).

Qualquer grau de manipulação tecnológica dos recursos naturais brutos já

implica em transitar do extrativismo para atividades chamadas de "produtivas",

"transformadoras", ou "industriais". É nesse aspecto que a tecnologia tem o papel

fundamental na forma e na intensidade da utilização dos recursos. Como exemplo,

podemos citar a hulha que só se tornou recurso e valioso, a partir do momento em que

se desenvolveram métodos para sua queima. Para Godard (1997) o desenvolvimento

técnico pode provocar mudanças nas formas de exploração dos recursos bem como se

apoiar neles para promover modificações de caráter revolucionário, haja vista as

matrizes energéticas.

Os povos de diferentes graus de desenvolvimento, de uma forma ou de outra

dependem dos recursos naturais, e com a diversificação e intensificação das

necessidades criadas teremos consequentemente um aumento da demanda de certos

recursos. A necessidade de consumir recursos naturais tem desdobramentos sociais e

físico-ambientais sérios como mudanças constantes na "divisão internacional do

trabalho" e a não recuperação das áreas desativadas, à medida que antigos depósitos se

esgotam e novos depósitos começam a ser explorados.

O aumento das aglomerações urbanas, processo esse que se deu de forma

diferenciada em relação a espaço e tempo, contribuiu decerto, segundo Ramina (2004),

para que os recursos locais, onde cada aglomeração de expandiu, se exaurissem. Como

conseqüência os recursos necessários passaram a ser extraídos em outras localidades e

trazidos até seus consumidores graças ao desenvolvimento dos sistemas tecnológicos

que passaram a permitir um fluxo maior desses mesmos recursos.

Numa escala espacial planetária e numa escala temporal de décadas, isso

significa que as novas frentes extrativistas se tornam cada vez "menos

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convenientemente localizadas”. Além disso, os novos depósitos desses mesmos recursos

assumem escalas financeiras e tecnológicas cada vez maiores. Esses processos se

combinam para fazer com que os novos depósitos de recursos naturais tornem-se mais

remotos, maiores, e menos numerosos, e, portanto, mais desconectados entre si e isso

acaba por elevar os custos de sua exploração. A acessibilidade aos recursos num

determinado momento constitui numa resistência natural cada vez maior, na medida em

que os obstáculos são grandes e a energia e custos desprendidos para sua obtenção

excedem as taxas de lucros, tornando assim a atividade inviável. (Drummond, 2002)

Há divergências e diferenças conceituais em torno dos critérios que são

assimilados e adotados e que irão compor o corpo teórico a classificar os recursos.

Fuestes (1964) apresenta algumas possíveis classificações baseadas em autores, e sob

diversos pontos de vista, relacionado aos aspectos econômicos, utilização, localização e

ocorrência, dentre outros. Mais especificamente iremos tratar do conceito em relação a

sua natureza que pode ser classificado em dois grupos. Os recursos inorgânicos e

orgânicos.

Os recursos naturais inorgânicos são os elementos químicos presente nos

componentes como água, minerais, combustíveis, aos quais se atribui o caráter de

recurso. Podem ser sólidos, líquidos e gasosos. Já os recursos orgânicos são aqueles que

derivam da vegetação e da vida animal, como madeira, pastos naturais e animais de caça

e pesca. Tanto os de natureza inorgânica quanto orgânica são ainda subdivididos em três

outros grupos: inesgotáveis, renováveis e não-renováveis.

• Recursos naturais inesgotáveis são os que não estão suscetíveis ao esgotamento independente da sua forma de uso, como ar e areia;

• Recursos naturais renováveis são aqueles cuja renovação acontece

normalmente, desde que seu equilíbrio ecológico não seja perturbado e que sua utilização seja feita de forma a acompanhar o tempo de recuperação da área e recurso em questão; nesse grupo temos como exemplo a atividade florestal; estão sujeitos a mecanismos de regulação ajustados aos ecossistemas;

• Recursos naturais não-renováveis não podem ser repostos devido aos

processos intrínsecos de sua formação, geralmente ligados a longos processos geológicos, tais como carvão mineral, ferro, ouro. Ainda dentro desse grupo, temos os recursos não-renováveis recuperáveis, uma vez já extraídos e utilizados são reutilizados, vide sucata de ferro; não estão sujeitos a nenhum mecanismo natural de regulação a não ser por uma normatização instituída, porém passível de modificação.

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No caso de recursos não-renováveis, a sua reprodução é impossível, sendo

assim a forma e intensidade de exploração tem que ser meticulosamente calculadas, o

que, decididamente, não é o que vem acontecendo. Esses, em última análise, são mais

suscetíveis à manipulação humana conforme os graus de tecnificação, contribuindo com

a elaboração de índices de projeção a curto médio e longo prazo. No caso de recursos

renováveis, a sua reprodução natural pode estar fora dos prazos viáveis à cultura

humana ou ela não consegue ser manipulada pela cultura de forma eficaz. A pesca, a

caça e o corte de árvores nativas incluem fatores naturais mais complexos e mais

difíceis de serem manipulados. Os seres vivos estão sujeitos a fatores reprodutivos, a

dinâmicas populacionais, a ciclos vitais, a doenças, a influências ecológicas imediatas e

remotas, à perecibilidade, e a fatores sazonais e climáticos, complicando muito a sua

tecnificação e previsibilidade. (Drummond, 2002).

Segundo Godard (1997) a concepção econômica clássica entendia como

recurso os estoques de bens passíveis de troca que não eram produzidos pelos homens,

entretanto administráveis. Há, ainda, aqueles outros que eram livres, isto é, existentes

independentemente da interferência humana e da produção social em questão, como

radiação solar, umidade, temperatura, ou seja, bens coletivos. Tanto em uma concepção

quanto em outra, o homem tem a capacidade de influenciar o estado de sua qualidade, e,

de igual modo, é dependente dos processos de regulação biogeoquímicas e dos

equilíbrios ecológicos que são dissociados de suas práticas.

2.2 Pinus: Aspectos históricos e sua implantação no Brasil

No ano de 1906, segundo Kronk (2005) surgem os primeiros resultados

referentes aos longos estudos sobre a introdução de pinus em território brasileiro em

uma obra intitulada “Notas sobre as plantas exóticas introduzidas no estado de São

Paulo” de A. Löfgren. Nessa obra é relatada a introdução de 16 espécies de pinus e as

55 espécies de eucalipto.

De acordo com o mesmo autor, os primeiros estudos referentes às espécies de

Pinus Subtropicais foram definitivamente elaborados pelo Instituto Florestal de São

Paulo, ao introduzirem espécies como P.elliottii var.elliottii e de P.taeda. No ano de

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1955 os experimentos continuaram em extensas áreas, agora, porém, com espécies

tropicais como: P.caribea var.caribea, P. caribea var.hondurensis, P.tecunumani,

P.maximinoi, dentre outros.

Sabe-se que muitas das espécies trazidas não se adaptaram em áreas

brasileiras, devido às diferentes condições encontradas, em relação aos seus locais de

origem, principalmente aquelas de regiões de clima mediterrâneo (Kronk, 2005).

Já nos idos de 1958 iniciou-se de fato a plantação de pinus em terras

brasileiras, principalmente no estado de São Paulo com inicialmente 200 hectares

chegando, no mesmo período, a 13 000 hectares destinados a espécies exóticas de

subtropicais como P. elliottii, v. elliottii e P.taeda, além de outras espécies e variedades

tropicais como: P.caribea, v. caribea, P. caribea, v. bahamensis e tantos outros (Kronk,

2005).

Afirma ainda o mesmo autor que os incentivos fiscais para o reflorestamento

foram os grandes motivadores para a expansão das áreas plantadas. Grande parte desses

empreendimentos florestais se estabeleceu na região central do estado de São Paulo, em

áreas de vegetção típicas de cerrado e campos. O suporte técnico do Instituto Florestal e

da Companhia Agroflorestal Monte Alegre- CAFMA foram de suma importância para

que nessa região se desenvolvesse o pólo florestal de Pinus spp, expandindo-se para

áreas dos estados de Mato Grosso do Sul e norte de Minas Gerais ( Kronk, 2005).

Para Tuoto (et al., 2004) foi nas décadas de 70 e 80 do século XX, via

incentivos fiscais, que se teve um aumento das áreas destinadas ao cultivo de pinus no

Brasil. Sua oferta, da mesma forma, acabou por ser fator indutor ao desenvolvimento da

indústria florestal, tanto a de papel e celulose como a indústria de madeira sólida.

Há uma relação intrínseca entre o aumento das áreas de cultivo de pinus e o

crescimento das indústrias florestais de madeira sólida e de molduras. A

competitividade do produto brasileiro, aliado ao aumento das transações comerciais que

se intensificaram no final da década de 80, ao aumento da demanda internacional e ao

fraco desempenho da economia brasileira durante a década de 90, acabou por

desencadear uma reorientação da indústria florestal brasileira. Antes desse período as

exportações eram de papel e celulose basicamente.

Ao longo dos últimos anos, o Brasil vem ganhando espaço no mercado

internacional de produtos florestais, o qual movimenta anualmente cerca de 130 bilhões

de dólares. No início da década de 90, a participação do Brasil nas exportações

mundiais de produtos florestais não ultrapassava 1,7%, passando para quase 4% em

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2003. Isso reflete basicamente o forte crescimento das exportações brasileiras. Entre

1991 e 2003, a taxa média de crescimento das exportações brasileiras de produtos

florestais foi 10,1% ao ano. As exportações brasileiras de produtos florestais atingiram a

cifra recorde de 5,5 bilhões em 2003, o que representa 7,5% do montante total

exportado pelo Brasil neste mesmo ano. (Tuoto, et al., 2004)

A necessidade de oferta de madeira para atender o setor industrial na

produção de energia, de madeira serrada e laminada, indústria de papel e celulose, bem

como na confecção de painéis foi umas das principais razões para a introdução e cultivo

do pinus no Brasil, haja vista que, a madeira antes ofertada, araucaria angustifolia, fora

explorada de forma abusiva exaurindo-se para fins comerciais e chegando quase à

extinção.

As condições ambientais apresentadas como solos ácidos, luminosidade

suficiente, sem falar no regime de chuvas, eram essenciais não só para a sua adaptação,

como para a implantação em extensas áreas. Por ser considerada uma espécie rústica, ou

seja, não há muitos obstáculos que dificultem sua expansão, suas florestas então, foram

se estabelecendo em diversas localidades. Além do que sua matéria-prima atendia os

diferentes segmentos setoriais de demanda. (Kronk, 2005).

Com o objetivo de estruturar as informações acerca das espécies de eucaliptos

e coníferas a serem utilizadas em atividades de reflorestamento no Brasil, foi

desenvolvido um trabalho de Zoneamento Ecológico. A estruturação das informações

proporcionaria, de acordo com os parâmetros adotados, como os de ordem climática,

vegetacional, aspectos do relevo e altitude, a delimitação de regiões chamadas de

“bioclimáticas” as quais indicariam quais seriam as melhores espécies para

determinadas áreas levando em consideração a aptidão do vegetal, seu possível

rendimento aliado às diversas formas de uso (Kronk, 2005).

Dessa forma, mapas apresentavam a relação entre as regiões brasileiras

potencialmente aptas para a introdução das espécies correlacionadas com as condições

das regiões de origem.

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2.3 Cadeia produtiva

O caminho percorrido pela matéria-prima advinda das florestas de pinus que se

estende desde o produtor até o consumidor final é extenso e apresenta um fluxo, não só

de matéria-prima e de produtos, mas principalmente de capital. Este, de fato, financiará

todo o processo, configurando-se como uma espécie de sistema fechado, o qual, como

todo sistema, mantém os elementos que o compõem intimamente interligados com seus

principais componentes, FLORESTA-INDUSTRIA-MERCADO interagindo, como nos

mostra o diagrama abaixo.

Fonte: Francisco J.N. Kronk (O cultivo de Pinus no Brasil,2005)

Inicialmente é logo na base, na produção de florestas que se dá a opção das

espécies a serem cultivadas, do manejo adotado e da destinação da produção da matéria-

prima. Essa etapa pode ser conduzida por pequenos proprietários que administram sua

própria produção e geralmente acabam se interessando pela madeira e pela resina.

Também por empresas que desenvolvem atividades ligadas ao processo de manufatura e

que detêm áreas produtoras de madeira, ou mesmo utilizam terras de terceiros por meio

de arrendamento. Há também aquelas áreas de reflorestamento que são administradas

pelas reflorestadoras as quais utilizam os incentivos fiscais para a produção da madeira

comercializando-a pela sua venda em pé. Neste caso outras empresas se responsabilizam

pelas operações como o corte e a comercialização pós-corte.

Da mesma forma, empresas são contratadas para gerenciar o processo de

produção e destinação da matéria-prima, desde o plantio até à destinação da madeira já

cortada pronta para atender à demanda industrial.

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Já em relação à indústria florestal, ela é composta por dois setores, a indústria

primária e a indústria secundária. A primária pode ser subdividida, segundo Kronk

(2005), em três segmentos principais: o de celulose, painéis e processamento mecânico.

No primeiro, a madeira é transformada em fibras por procedimento químico,

mecânico e também térmico. Neste segmento a forma, como o diâmetro da madeira não

tem relevância no processo de sua transformação. De igual modo, a indústria de painéis

não tem exigências em relação ao diâmetro das toras, pois adota o procedimento térmico

e mecânico, como no ramo de produção de celulose.

As serrarias, indústrias de lâminas, compensados e molduras necessitam

obrigatoriamente de toras com diâmetros acima de 20cm, e ainda mais, de alta

qualidade. Por qualidade, entende-se a madeira sem rachaduras, nós, curvatura,

conicidade e manchas de fungos. Isto é requerido, não só para a obtenção de bons

produtos, como para o próprio processamento efetuado pelas máquinas. Como exemplo,

temos as toras enviadas para a Braspine, indústria de molduras que atende 100% o

mercado externo. Além disso, para que a madeira possa ser cortada logo quando chega,

é necessário que seja anteriormente descascada. Sendo assim, árvores que não forem

devidamente desgalhadas e apresentarem saliências laterais entre o tronco e o galho

chamadas vulgarmente de “chupetas”, podem danificar o maquinário envolvido no

processo.

Outro setor menos expressivo, porém em desenvolvimento, é o de madeira

roliça, para a produção de postes, moirões para cercas e palanques para construções

rurais.

A indústria secundária utiliza-se dos produtos da primária para a fabricação

dos produtos finais como madeira serrada e compensada, lâminas decorativas, painéis,

celulose. Os diversos tipos de painéis são usados na indústria de móveis e embalagens.

As lâminas decorativas são utilizadas no recobrimento de painéis, enquanto a madeira

serrada é destinada à fabricação de molduras, embalagens, materiais para construção

civil, móveis e outros. Já a celulose é utilizada basicamente para a produção de papéis.

Podemos pensar as indústrias primárias e secundárias como processos distintos.

Entretanto, existe numa mesma empresa a combinação das duas atividades, formando-se

então, uma indústria integrada, como exemplo a Braspine.

A comercialização dos produtos à base de pinus pelos revendedores segue a

demanda do mercado e segundo Kronk (2005), os últimos podem desempenhar o papel

de intermediário entre a indústria e o consumidor final, ou então agregar valor ao

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produto. As formas de comercialização variam, e mais uma vez a lógica do mercado

acaba por regulá-las. Existem então os produtos primários destinados à indústria

primária, como madeira serrada para a indústria de embalagens ou de móveis. Podem

ainda atender aos consumidores finais, na forma de tábuas para a construção civil ou

serem encaminhados diretamente para o mercado externo, vale dizer, comercializados

como produto in natura. Lembremos também os produtos secundários para o

consumidor final, como os móveis e, por fim, os produtos secundários para exportação,

como molduras.

Fechando o ciclo, temos o consumidor final que, de modo geral, é quem acaba

por decidir quais as formas de utilização e destinação, tipo a ser usado, qualidade e

durabilidade da madeira. Sua participação é fundamental no sentido de saber da

importância e responsabilidade que lhe cabe. Assim, o seu poder na orientação e

reorientação da cadeia produtiva exige que o consumidor final seja no mínimo, mais

consciente com relação àquilo que demanda.

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Fonte: Francisco J.N. Kronk ( O cultivo de Pinus no Brasil,2005)

Acima temos um diagrama que mostra o sistema da produção florestal em todas as suas

etapas.

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3. A Gestão Ambiental como mero simulacro ou proposta efetiva e

aplicável

3.1 O conceito original de gestão

Inicialmente podemos entender que a gestão, de maneira geral, tem por

objetivo orientar uma determinada atividade assegurando seu bom funcionamento, sua

rentabilidade a pequeno, médio e longo prazo numa tendência crescente e não abalada

pelas oscilações dos agentes com capacidade de intervenção. Historicamente o conceito

de gestão surgiu na esfera privada e está diretamente relacionado com o ato de

administrar bens materiais e imateriais sempre em vista do melhor desempenho no

mercado bem como da ampliação de seu potencial de venda. Existe uma relação

implícita entre o possuidor desse bem e o objeto possuído. A partir do momento de sua

apropriação o objeto possuído está submetido aos projetos traçados pelo possuidor, ou

seja, manifesta-se o direito da propriedade privada e até mesmo o direito de destruí-lo se

assim for. (Remond-Gouilloud, 1989 apud Godard, 1997)

De certa forma a noção de gestão de recursos, por exemplo, está pautada nos

objetivos atribuídos ao recurso em questão, logicamente que segue os anseios dos

sujeitos possuidores. Não deixa de ser uma gestão de relações entre a sociedade e a

natureza: a primeira representada por um sujeito ou grupo, e a segunda materializada na

forma de recurso. O autor supracitado ainda enfatiza que um projeto de gestão de

recursos naturais, mais especificamente tem duas tarefas centrais, sendo a primeira

assegurar sua inserção no processo econômico vigente, e da mesma forma garantir as

condições de reprodução do meio.

Dentro da idéia de reprodução do meio, é importante que qualquer plano de

gestão desenvolva um conjunto de medidas necessárias, conhecidas também como

medidas mitigatórias, que atenuem os impactos negativos. Entretanto, de nada adiantam

medidas lançadas e validadas por si só, se não houver de fato sua aplicação.

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3.2 Gestão ambiental: Algumas considerações

O campo da gestão ambiental é indubitavelmente extenso e complexo, pois o

tema meio ambiente, apesar de sua difícil definição epistemológico-conceitual, tem que

ser entendido, no mínimo, como um conjunto de fatores fundamentados numa

integração físico-territorial, social, política, econômica e cultural. Deve-se nora que

todos estes aspectos são interdependentes e interconectados constituindo um todo. Para

tanto o tratamento multidisciplinar é um requisito básico para o enfrentamento das

problemáticas relacionadas. A abordagem de uma gestão ambiental integrada procura

abranger questões que interferem no meio-ambiente, através de interações de diferentes

sistemas por atividades antrópicas dependentes dos recursos naturais existentes, como

por exemplo, o abastecimento de água com o sistema de recursos hídricos. (Philipi &

Bruna, 2004).

Nesse sentido uma das possíveis definições apresentadas destaca que:

Gestão ambiental é o ato de administrar, de dirigir ou reger os ecossistemas naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, num processo de interação entre as atividades que exerce, buscando a preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, de acordo com padrões de qualidade. O objetivo último é estabelecer, recuperar ou manter o equilíbrio entre natureza e o homem. (Philipi & Bruna, 2004,p. 700).

O ato de administrar ou mesmo dirigir podem ser entendido em seu caráter

público e privado, com abrangência nos diversos níveis: internacional, federal, estadual

e municipal. Para tanto há diferenças entre os princípios de gestão ambiental pública e

privada, entretanto a necessidade de resolver os problemas ambientais é o ponto de

intersecção entre ambas (Floriano, 2007).

Em nível internacional a gestão ambiental baseia-se principalmente nos

princípios da Declaração do Rio (Anexo III), na Agenda 21, em alguns preceitos ditados

por organismos internacionais, como ONU (Organização das Nações Unidas), ISO

(International Organization for Standardization) OMC (Organização Mundial do

Comércio), organizações financeiras como Banco Mundial e Banco Interamericano de

Desenvolvimento. No nacional, três grandes princípios encabeçam os demais, que são

estabelecidos na lei 6938/81 Artigo 2°, como o de sustentabilidade, responsabilidade

ambiental e na máxima que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

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equilibrado”. No setor privado a gestão ambiental é fator de competição comercial, há

contratos de comércio internacional que vigoram somente mediante a adoção, pelas

empresas envolvidas, em sistemas de gestão que estão alicerçadas em normas

internacionalmente reconhecidas e certificadas, ISO e FSC (Forest Stewarship Council),

esse último certifica empresas florestais. (Floriano, 2007).

Philipi & Bruna ainda afirmam que a abordagem da gestão ambiental exige

necessariamente dois olhares, sendo eles assim apresentados:

O primeiro se refere à compreensão do significado da expressão meio ambiente, abrangendo tanto o meio natural como o construído, isto é, aquela alteração pela ação do homem. Este pode estar identificado com o espaço urbano ou agrícola; aquele com seu estado primitivo ou recomposto. O segundo diz respeito à característica abrangente da gestão ambiental que envolve a saúde pública e o planejamento territorial. (Id. Ibid., p. 699).

Nessa perspectiva os autores recomendam cautela em relação ao reducionismo

que limita o conhecimento ambiental com o estado natural dos ecossistemas,

dissociados da esfera relacional inerente a sua dinâmica e associados à idéia de

conservação.

O termo gestão ambiental segundo (Id. Ibid, p. 666) e em última análise, “é a

busca do equilíbrio entre o homem e o seu ambiente, tanto o rural quanto o urbano”. Tal

equilíbrio significa, segundo os mesmos autores, num primeiro momento, eliminar o

falso antagonismo entre desenvolvimento econômico e qualidade ambiental. Ou seja,

um modelo de crescimento da economia que leve em consideração as possibilidades de

exaustão dos recursos naturais, possibilidades de reutilização de produtos ou

subprodutos originados desses mesmos recursos, o controle de danos que os produtos e

resíduos possam provocar no ambiente e por fim, as possibilidades de minimizar seus

impactos.

A idéia de equilíbrio presente na esfera privada nem sempre aponta pra essa

direção, e pode ser entendida como sendo uma melhoria no desempenho ambiental, na

medida em que isso significa economia de matéria-prima, aproveitamento de

subprodutos gerados, otimização dos processos produtivos e operacionais, menores

custos com o tratamento dos resíduos e muitas vezes, diminuição do consumo de

energia. Nota-se que a idéia de qualidade nesse caso está impregnada de uma

determinante quantitativa, ou seja, a exploração do máximo do potencial produtivo dos

recursos naturais em questão.

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Viterbo (1998) afirma que os acionistas de uma empresa não querem de

nenhuma forma comprometer resultados em função dos possíveis problemas

ambientais, da mesma maneira que investidores e agentes financeiros exigem uma

avaliação prévia das condições ambientais antes de fecharem definitivamente qualquer

negócio, ainda mais se, porventura, venham a atender mercados os quais determinam

responsabilidades ambientais. Nesse sentido supomos que o foco da gestão ambiental

no setor privado não é o meio ambiente, mas sim a empresa.

Para tanto, segundo Nardelli (2001), a idéia de um planejamento e gestão mais

amplos que transcendam tal determinação é fundamental na tomada de decisões

condizentes com os princípios dessa mesma gestão.

3.3. Gestão ambiental numa abordagem sistêmica

Nardelli (2001) faz notar que a forma de gestão que se pauta somente por

aspectos produtivos, eficiência e consumo, conhecido como o paradigma tradicional de

gerenciamento, é capaz de pôr em xeque o ideal de equilíbrio e acaba por apresentar

limites latentes quando considerados em suas dimensões ambientais. Esta visão

tradicional pode obscurecer a compreensão da complexa relação entre organização e

meio ambiente. Nesse sentido a autora complementa seu raciocínio com uma citação de

Capra (1996), que diz:

A implantação de gerenciamento ambiental efetivo requer uma abordagem adequada para lidar com um mundo globalmente interconectado, exigindo uma mudança de percepção, valores e pensamentos, ou seja, uma mudança de paradigma. Quanto mais são estudadas as questões ambientais, mais se percebe que elas não podem ser mais compreendidas isoladamente, pelo fato de serem sistêmicas, interconectadas e interdependentes.

A autora apresenta ainda em sua tese de doutorado, autores que utilizam em

suas análises do campo gerencial-ambiental, conceitos e métodos do pensamento

sistêmico com a alegação de que podem contribuir de forma mais efetiva para o

desenvolvimento de práticas gerenciais que ultrapassem os desafios do campo

econômico, ambiental e social.

De forma genérica, o pensamento sistêmico analisa o mundo em termos de

relações e de integração, ou seja, qualquer sistema é por si só totalidade integrada que

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por sua vez é composta por componentes indissociados e interdependentes. Um aspecto

importante dessa idéia é a natureza intrinsecamente dinâmica, pois suas formas não são

estruturas que apresentam rigidez, mas sim flexibilidade (Capra, 1982).

Num processo de implantação de uma gestão ambiental, as decisões são

tomadas em diferentes pontos do sistema, as ações não estão isoladas numa relação

simplesmente de causa e efeito. São necessários ajustes quando há indução de uma

prática corretiva num outro ponto desse mesmo sistema, devido a existir uma estrutura

circular inter-relacional. (Forrester, 1994 apud Nardelli, 2001). Podemos pensar uma

atividade florestal como um sistema aberto, no entender de Nardelli (2001), por receber

do meio externo, produtos como equipamento, combustível, mão-de-obra e os

implementos químicos utilizados no controle das pragas. A entrada desses produtos que

passam a compor o sistema produtivo é organizada e aplicada de acordo com os

objetivos da empresa, de maneira a atender aos mercados que absorvem seus produtos.

Por sua vez esse sistema interage com outro que apresenta sua demanda em

relação à primeira, que por sua vez também tem demandas institucionais, normas e

regras. Como conseqüência, temos os desdobramentos no campo técnico, cujas práticas

serão orientadas pelo campo organizacional que é definido pela ideologia e política da

empresa. Como exemplo, temos a forma de gerenciamento dos ativos florestais pela

Valor Florestal que orienta sua forma de gestão a partir dos mercados aos quais atende e

pelas normas do campo legislativo no qual se insere. Os compradores de sua matéria-

prima, que decerto tem suas atividades comumente ligadas às exigências de seus

mercados, apresentam suas condições que se refletirão na forma de condução da

produção de seus fornecedores, no caso a Valor Florestal.

Para Nardelli (2001), no setor florestal as questões ambientais, principalmente

aquelas referentes aos métodos de produção, propiciam o estreitamento da relação entre

as empresas e certos setores sociais. Conforme já comentado, o elemento ambiental

agora incorporado, insere novas demandas aos produtores, as quais se materializam na

adoção de mecanismos de mercado capazes de oferecer a credibilidade tão necessária e

exigida em tempos de “sustentabilidade”. Para a mesma autora, o setor florestal

apresenta uma dinâmica própria que vem se alterando de acordo com a capacidade de

resposta frente a essas questões. A certificação é uma variável importante nessa

dinâmica.

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3.4. A compatibilidade entre o crescimento econômico e a gestão

ambiental

Entretanto há algumas questões relevantes a serem discutidas. O modelo de

crescimento adotado permite de alguma forma a não-exaustão dos recursos existentes?

Como equacionar a desproporção entre os componentes de qualquer sistema causado

pelo fundamentalismo de um mercado que opera muitas vezes transcendendo os limites

de sua base material? Há uma compatibilidade prática nesse sentido, que transcenda o

matiz discursivo?

Numa sociedade industrial, o planeta é concebido como um sistema gigante

repleto de recursos, e o termo conservação pode ser entendido como sinônimo de um

manejo eficiente dos recursos, sempre em vista de obter o máximo de sua capacidade

produtiva sem ameaçar seus estoques. A própria noção de manejo, monitoramento,

planejamento do uso dos recursos e gestão, de alguma forma, é um entrave à obtenção

indiscriminada de matérias-primas para as indústrias, que estão comprometidas com o

ideário de progresso a qualquer custo. (Duarte apud Cunha & Coelho, 2003).

Para exemplificar, os autores Philippi & Bruna, 2004, usam uma fábula de

Esopo, autor grego de século VI AC, chamada A Galinha de Ovos que diz: “Colher

ovos é uma prática sustentável do recurso galinha. Entretanto, torcer seu pescoço para

comê-la é, por suposto, um uso não racional desse recurso em relação à produção de

ovos”. O que se verifica é a relação entre o recurso e sua forma de utilização que se

insere na idéia de manejo. Para os autores outra questão importante é a discussão do

valor do desenvolvimento e do crescimento, que certamente difere em perspectiva de

um grupo social a outro. Mesmo porque os valores e culturas das comunidades

envolvidas podem em algum momento entrar em rota de colisão com o ideal de

crescimento pautado no atual discurso da sustentabilidade. Sendo assim todo e qualquer

programa de gestão ambiental deve reconhecer os traços culturais e o conjunto de

valores apreciados. (Philippi & Bruna, 2004).

Seguindo o raciocínio ainda dos autores supracitados, a idéia de

desenvolvimento é descrita como:

(...) um processo contínuo e progressivo, gerado na comunidade e por ela assumido, que leva as populações a um crescimento global e harmonioso de todos os setores da sociedade, pelo aproveitamento dos seus diferentes valores e potencialidades, de modo a produzir e distribuir os bens e serviços

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necessários à satisfação das necessidades individuais e coletivas do ser humano por intermédio de um aprimoramento técnico e cultural e com o menor impacto ambiental possível. (p.668).

Nota-se que a citação acima desconsidera as contradições e desigualdades

geradas no seio do desenvolvimento padrão atual.

No entender de Godard (1997), os valores centrais ligados à idéia de

desenvolvimento, sustentam-se por componentes ideológicos como o progresso técnico

identificado ao progresso humano, a ambição de domínio sobre o meio natural, a

superutilização dos recursos naturais existentes com finalidades de aporte às

necessidades humanas que cada vez são mais numerosas e exigentes, e por fim o

pressuposto do caráter benéfico do crescimento econômico cultuado.

Nesse sentido, Gonçalves (2006) ao tratar dos limites do desenvolvimento

coloca que: A idéia de desenvolvimento sintetiza melhor que qualquer outra um projeto civilizatório que, tanto pela via liberal e capitalista, como pela via social-democrata e socialista acreditou universalizar-se. Desenvolvimento é o nome síntese da idéia de dominação da natureza [...] uma das principais críticas que se faz ao desenvolvimento hegemônico, está em seu caráter necessariamente desigual, e não ao desenvolvimento como tal. (p. 62).

De acordo com a afirmação acima como podemos conceber a idéia de gestão

num padrão de desenvolvimento naturalmente desigual?

Godard (1997) sugere que para superar o aparente antagonismo entre a

conservação ambiental e a promoção do desenvolvimento sócio-econômico, primeiro

teríamos que eliminar análises ambientais dicotômicas que, de um lado focalizam os

fenômenos de degradação e as ações corretivas, e de outro, as análises centradas sobre a

disponibilidade dos recursos existentes capazes de suprir as necessidades da produção e

do consumo. Desponta aí uma proposta de reorientação nas regras de gestão dos

recursos naturais. Concomitantemente, apregoa-se o estreitamento entre essas possíveis

formas aliadas às do plano mais abrangente: uma gestão ampliada e integrada se lança

na esteira das discussões atuais.

A problematização acima apresentada é inevitável, porém, independente da

concepção circunscrita no debate, a busca pelo equilíbrio colocado entre os agentes

humanos com seu meio, deve ser um dos pressupostos de qualquer plano de gestão

ambiental. Logicamente não aquela concepção de equilíbrio meramente pautada no

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produtivismo. Divergências teóricas não devem de nenhuma forma perder de vista que

a busca pelo equilíbrio é essencial à saúde do ambiente como um todo.

Como já apontamos, os debates em torno da temática ambiental emergem com

mais efervescência nos idos da década de 70 do século passado, e umas das questões

centrais era exatamente a compatibilidade entra o desenvolvimento econômico e a

preservação do meio ambiente. Segundo Godard (1997) alguns autores colocam que

somente uma taxa de crescimento elevada permitiria de alguma forma o financiamento

de uma política ambiental pertinente que acompanhasse tal ritmo. Já para outros a

harmonia entre desenvolvimento e preservação seria possível. Entretanto, demandaria

novas concepções de desenvolvimento que implicariam mudanças nas formas de vida

das pessoas, nos modos de produção, nas formas sociais de organização e nas opções

técnicas, essas últimas, em sentido amplo, desde a manutenção, a adoção e a criação de

novas. De toda forma, falamos novamente de mudanças paradigmáticas no cerne das

sociedades contemporâneas.

3.5. As atribuições do Estado na gestão ambiental e no ordenamento

territorial

Os projetos de gestão ambiental partem do princípio de que, quanto melhor a

qualidade do ambiente, seja ele natural ou construído, mais perto se estará de um estado

de bem estar físico, mental e social. Entretanto não confundamos o sentido de bem estar

com qualidade de vida, haja vista que essa última se configura como uma expressão

mercadológica, vinculadas ao poder aquisitivo de cada indivíduo. Pelo menos é o

pretendem os publicitários, e não está assentada num ambiente de qualidade mais

duradoura, independente das condições econômicas de cada um.

Notoriamente, no discurso dos projetos de gestão ambiental, insere-se a idéia

de saúde pública, que está vinculada diretamente ao estado em que se encontra o meio

ambiente em geral. Esse aspecto se evidencia na área de administração pública, devido

ao fato de, ao falarmos em saúde pública, correlacionamos diretamente com os recursos

hídricos e saneamento básico, por exemplo. Quando esse último é colocado em forma

de gestão, envolve as políticas igualmente de revitalização das bacias hidrográficas

como unidade de intervenção. (Philippi & Bruna, 2004).

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Exemplificando essa relação, os autores afirmam que, de acordo com falta de

investimento em infra-estrutura no Brasil, especificamente em saneamento básico, há o

favorecimento da proliferação de doenças tropicais com maior incidência nas áreas

periféricas das grandes cidades, ocorrendo então, um desbalanceamento ambiental. Os

surtos de dengue são um exemplo pertinente.

Os investimentos para a área de infra-estrutura são disponibilizados

majoritariamente pela esfera estatal, que continua sendo a instância maior que viabiliza

e instrumentaliza as políticas públicas para o setor. (Cunha & Coelho, 2003). É ela que

define prioridades e relações entre os organismos estatais e a iniciativa privada.

Segundo ainda para Cunha e Coelho (2003):

A gestão ambiental faz parte de um processo mais amplo de gestão do território. [...] a falta de uma articulação mais forte entre as ações e estratégias de gestão ambiental e territorial pode ser creditada a uma série de fatores explicativos, entre eles a falta de capacidade do Estado em implementar políticas integradas de transformação socioespacial [...]

Na visão de Godard (1997) a gestão territorial é um mecanismo capaz de

proporcionar ao Estado um meio de auto-regulação e controle, socializar

responsabilidades e sanar certos desequilíbrios frentes aos mecanismos com capacidade

de intervenção em sua condução. Cabe ao Estado, porém, a tomada das decisões

estratégicas que reorientam seus rumos, assim gestão territorial designa:

[...] a ação do Estado e da coletividade locais visando corrigir desequilíbrios regionais em termos tanto populacionais quanto do exercício das atividades econômicas. Trata-se de levar em conta, num mesmo enfoque, os aspectos demográficos, econômicos e espaciais, a fim de corrigir os excessos decorrentes das evoluções espontâneas induzidas por processos acelerados e insuficientemente controlados de crescimento econômico e de urbanização. (Godard, 1997, p.205.).

Os planos gestores territorial e ambiental têm como ponto de intersecção o

controle e a ordenação espacial de diversos ambientes, diferenciando assim o foco da

análise, o ponto de partida na tomada de decisões prioritárias, bem como os agentes

gestores envolvidos.

Moraes (1994) concebe as políticas ambientais como modalidades das

políticas territoriais, como sendo mais um fator a ser considerado no processo de

conformação do espaço terrestre. Sugere da mesma forma que as políticas ambientais

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devem acompanhar as atividades de gestão territorial, numa relação hierárquica entre

ambas, em que a gestão mais ampla do território orienta as demais. Mesmo por que o

vetor ambiental se faz presente em várias classes de atividades e se difunde por todo o

campo das políticas referentes ao território.

Para tanto o poder público é um dos agentes de maior responsabilidade nas

políticas de gestão ambiental, pois os marcos regulatórios, que dizem respeito à

elaboração do corpo legislativo específico, bem como à regulamentação das normas,

regras de uso e acesso aos recursos naturais, são de responsabilidade da administração

pública. A importância de um arcabouço jurídico, no caso, a elaboração das leis

ambientais, faz-se extremamente necessário, na medida em que há uma tensão

permanente entre em interesses antagônicos dos diferentes atores sociais que demandam

à natureza funções e significados diferentes.

A atuação do Estado em suas atribuições apresenta resultados oscilatórios,

dependendo das políticas adotadas e da conjuntura nacional e internacional. Com isso

sua legitimidade também apresenta inconstâncias. Uma das possíveis causas, apontadas

por Nardelli (2001), está relacionada, no caso brasileiro, a uma dependência da

economia externa, aliada à ineficiência das políticas públicas, por exemplo, do setor

florestal, evidenciadas pela extração indiscriminada de madeira, pela corrupção passiva

e ativa dos órgãos públicos. ONG’s (Organizações Não-Governamentais) acabam,

muitas vezes, desempenhando um papel que seria do próprio Estado, como uma forma

de preencher as lacunas deixadas por ele.

Antes mesmo que a discussão tome seu rumo, cabe identificar o Estado de que

se trata. Partimos da concepção de um Estado democrático, aquela instituição que

segundo Bobbio, citado por Bressan (1996), é representante de uma dada sociedade, e

que é permeado por ela, com capacidade de articulação entre seus múltiplos atores,

desde que sejam criados mecanismos capazes de garantir a mobilização e participação

daqueles envolvidos no processo de planejamento e ordenamento territorial.

A criação de todo um aparato institucional que venha a garantir o

cumprimento da lei também faz parte de suas atribuições (Cunha & Coelho, 2003).

Entretanto isso não tira da sociedade civil sua parcela de participação necessária na

tomada de decisões ou mesmo na fiscalização cotidiana em meio a suas atividades. Põe-

se em evidência fundamentalmente a necessidade de desenvolver certa consciência

política e espírito de cidadania como ação conjunta de complementaridade e

responsabilidade que cabe a cada indivíduo enquanto ser social.

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Em âmbito público a idéia que se inscreve sobre a gestão ambiental citada

durante O Seminário sobre a Formação do Educador no Processo de Gestão Ambiental

no ano de 1995 coloca o Estado como mediador das questões ambientais, de tal forma:

A gestão ambiental pública é um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que agem sobre os meios físico-naturais e construídos. Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também, como se distribuem na sociedade os custos e os benefícios decorrentes da ação destes agentes (Floriano, 2007, p. 2).

Outra atribuição estatal está no emprego de políticas chamadas indutoras, as

quais influenciam o comportamento de indivíduos ou grupos sociais enquanto

consumidores, bem como nas práticas do setor privado enquanto empreendedores.

Políticas fiscais e tributárias, financiamento de projetos que contabilizem a degradação

ambiental pertencem a essa classe, legitimando e criando assim, ações favoráveis à

implantação de determinados projetos. As próprias certificações ambientais podem ser

incluídas no rol das políticas indutoras (Cunha & Coelho, 2003).

As políticas de gestão ambiental, segundo Floriano (2007), tendem a se

concentrar sobre determinados elementos naturais de acordo com a importância a eles

atribuída. Como por exemplo, a biodiversidade, unidade de conservação, recursos

hídricos, solos e ecossistemas frágeis. Entretanto sabemos que a importância atribuída

tem caráter histórico-social, ou seja, sofre uma variação de acordo com as relações de

poder num dado contexto e não necessariamente com as condições materiais existentes.

Nesse sentido as políticas de gestão são sempre deficientes e capengas, pois a maior

responsabilidade recai sobre o poder público que acaba não tendo as condições

apropriadas de gerenciamento, seja por falta de um plano efetivo que dê conta das

necessidades, ou mesmo por “vontade política”. Adota-se então a política do descaso

que se manifesta num abandono proposital e vantajoso para certos grupos.

Além das atribuições do poder público, McGrath (apud Cunha & Coelho,

2003) lembra que mais recentemente, tentativas de articulação entre a regulação do uso

dos recursos naturais pelo Estado com algumas iniciativas locais de auto-regulação, têm

acontecido com sucesso. Trata-se do chamado manejo participativo. Nesse processo, o

Estado acaba por reconhecer as iniciativas locais, dando-lhes o suporte necessário para

o modelo implementado ser realmente eficiente. De certa forma, o que acontece é uma

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descentralização dos processos de tomada de decisões e responsabilidade acerca das

questões ambientais.

Segundo o mesmo autor o co-manejo é uma forma de encarar alguns

problemas e fragilidades apresentadas pelas regulações estatais e de permitir eventuais

correções de rumo pelas comunidades rurais. Para tanto afirma:

O modelo estatal ou tecnocrata de regulação gera grande demanda sobre a capacidade de monitoramento do Estado, que por sua vez não dispões de pessoal, fundos e equipamentos necessários para execução das atividades de fiscalização e controle das regras de uso e acesso aos recursos naturais estabelecidos por suas leis e decretos. Por outro lado, o Estado depende ainda de uma ampla base de dados para tomar suas decisões, informações que normalmente não estão disponíveis ou apresentam altos custos, especialmente para as instâncias públicas dos países em desenvolvimento. (McGrath, apud Cunha e Coelho, 2003 p. 61).

Longe de uma tarefa fácil, a iniciativa esbarra muitas vezes na rígida

burocracia estatal, que acaba por impedir a efetivação de alguns projetos que não são

assegurados pela falta de participação necessária do Estado, e também por choques e

divergências no campo das crenças, valores, idéias e principalmente interesses. Como

exemplo, podemos citar o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.

Além das políticas públicas estatais, há outras que caminham paralelamente às

primeiras e que estão relacionadas a organizações internacionais, ONG’S e grandes

corporações. Todas elas têm forte influência na definição nos projetos e programas em

todas as esferas do poder, e nas negociações sobre os mecanismos de regulação que dão

forma às políticas ambientais (Cunha & Coelho, 2003).

Deve-se ter em mente que a elaboração e execução de planos, programas e

projetos devem ser articulados com os respectivos setores administrativos nos diferentes

âmbitos de governo. Apesar da influência do setor privado sobre os mecanismos de

regulação, os três níveis de governo precisam estar em sintonia, mediante a

apresentação de políticas compatibilizadas e coerentes entre si. Mesmo por que o

aparato legislativo obedece a uma hierarquia de poder decisório. Há casos de política

setoriais em nível municipal que acabam esbarrando em restrições jurídicas de

instâncias superiores.

Vemos nesse debate a possibilidade do vetor ambiental, expressão de Moraes

(1994), estar internalizado nos diversos programas e ações que compõem a área de

planejamento territorial, tornando-o um elemento de articulação, ao mesmo tempo como

ponto de partida e ponto de chegada. Segundo o mesmo autor é impossível que se faça

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um planejamento ambiental sem uma articulação entre os diversos setores que agem a

partir de um mesmo plano de ação, não se pode pensar em manejo de uma determinada

área sem levar em consideração os programas setoriais que incidem sobre a mesma.

(Moraes, 1994). Nesse sentido:

Um plano de gestão deve ser um catalisador e ordenador das várias políticas e programas existentes para a área por ela abrangida. Uma ação de monitoramento só tem sentido se estiver continuamente fornecendo informações para o conjunto de órgãos que atuam no espaço rastreado [...] os recortes territoriais fornecem um bom mote para pensar a implantação de políticas ambientais (Moraes, 1994; p. 24).

Em suma, o vetor ambiental se insere no debate da contemporaneidade agora

como indissociável dos planos gestores tanto em nível governamental, como na

iniciativa privada.

3.6 Gestão de recursos naturais

Com relação a gestão de recursos naturais Godard (1997) acaba por distinguir

dois conceitos associados. O primeiro está relacionado, como ele mesmo designa, com a

gestão cotidiana dos elementos do meio. Utiliza-se como exemplo o gerenciamento do

recurso água que é orientado de acordo com as necessidades, demanda e as múltiplas

formas de uso, mediante os dispositivos a cargo das instituições responsáveis em

assegurar sua distribuição, qualidade e quantidade disponibilizada. Um dos objetivos é,

além da satisfação da demanda, gerenciar procurando as formas possíveis que venham a

minimizar os custos, levando em conta os diversos interesses dos atores sociais ou até

mesmo dos institucionais discordantes em suas aspirações com relação ao uso.

Teria como meta atuar no sentido da busca pela renovação do recurso natural a longo

prazo. Para tanto, tal renovação se basearia em ações diretas sobre o meio físico-natural

e sobre as formas mais amplas que orientam as relações entre o campo social e o

econômico, ou seja, influenciar numa certa orientação de desenvolvimento via

estruturas de consumo, opções tecnológicas e até mesmo a organização do espaço. Esse

seria o segundo conceito que transcende a gestão cotidiana dos recursos em si. Nesse

sentido os desdobramentos na demanda influenciariam diretamente na oferta, e vive-

versa.

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Dessa forma não se conceberia a gestão de recursos como apenas mais um

setor, dentre tantos outros que compõem o administrativo-gerencial. Entende ainda o

autor supracitado, que tal gestão deva penetrar em outras esferas de tomada de decisões

que por sua vez orientam outros setores fragmentados, como os da política industrial,

planejamento e territorial, por exemplo. Emerge então um enfoque intitulado por

Godard como contextual.

A gestão de recursos deve estar pautada numa visão estratégica do

desenvolvimento a longo prazo, que lhe confere um sentido para além dos usos

cotidianos. (Godard, 1997)

3.7. Princípios necessários a um sistema de gestão

Segundo Nardelli (2001), planejamento, capacitação e supervisão, e

monitoramento são princípios que servem como base de sustentação a qualquer sistema

de gestão. Tendem a garantir a melhoria do desempenho da atividade florestal, por

exemplo. O planejamento fornece uma estrutura-pivô e a partir dela são elaborados

planos específicos de acordo com as demandas. Esses princípios se expressam na forma

de um plano de manejo.

Capacitação e supervisão dizem respeito ao corpo de funcionários habilitados

para implantarem efetivamente o plano de manejo previamente elaborado. O

responsável, ou responsáveis pelo plano tem como atribuição, entre outras, fazer com

que os outros trabalhadores tenham a consciência de que todos têm sua parcela de

responsabilidade com o plano de manejo. Os funcionários, tanto os próprios como os

terceiros, devem conhecer o método mais apropriado para a execução de suas tarefas e

ter informação sobre seus desdobramentos. Para tanto, um programa de treinamento

adequado e contínuo é um dos itens a estar presente no plano de manejo. Um exemplo

constatado em campo foi o treinamento dado aos motosserristas, que consistia na

aplicação dos métodos adequados no manuseio do equipamento prezando pela

qualidade do corte da madeira com o aproveitamento máximo da árvore (corte mais raso

o possível), de modo a não danificar a árvores vizinhas, conforme normas de segurança

contidas na NR 31(Norma Reguladora de Segurança e Saúde no Trabalho na

Agricultura, Pecuária Silvicultora, Exploração Florestal e Aqüífera) Para essa atividade

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contratou-se um profissional terceirizado e especialista nesse tipo de atividade. Uma

avaliação é feita individualmente para cada motosserrista, que pode levar ao

afastamento daqueles que não tiverem desempenho satisfatório.

No aspecto da supervisão um plano de melhoria contínua é traçado com o

objetivo de desenvolver o espírito de coletividade em que todos têm a possibilidade de

apresentar suas sugestões na tomada de decisões e na condução das atividades referentes

ao desempenho do manejo florestal. O PMC (Plano de Melhoria Contínua) presente na

empresa Valor Florestal tem caráter motivacional. Tem por objetivo principal

disponibilizar aos colaboradores da empresa um canal para exposição de possíveis

problemas, viabilizado na forma de um quadro exposto num local de circulação e

dividido em duas partes: problemas e soluções. Para cada problema exposto,

necessariamente deve ser apresentada também uma solução. Esse problema torna-se

público e qualquer funcionário poderá apresentar uma nova solução. O programa possui

um grupo de oito pessoas responsáveis, que acabam servindo como ponte entre as

soluções apresentadas pelo quadro de funcionários e os responsáveis da área pertinente

ao problema.

O monitoramento tem como objetivo analisar e informar sobre os

desdobramentos a respeito das atividades do plano de manejo, através da geração de

informações que irão compor um banco de dados. Os aspectos a serem monitorados têm

que estar de acordo com as normas já desenvolvidas as quais já estão apresentadas no

plano de manejo. Para Nardelli (2001), é importante que se tenha claridade e

objetividade com relação ao processo de monitoramento, o como e quais as medidas a

serem tomadas caso haja distorções com relação às normas aplicadas.

Para Sánchez (2006) o monitoramento é visto como parte essencial de

qualquer atividade orientada por um plano gestor. Deve permitir a confirmação ou não

dos possíveis impactos ambientais previamente supostos, e ainda verificar se atende aos

requisitos legais e técnicos que acompanham a atividade desenvolvida. Nesse sentido os

ajustes e correções podem ser feitos a partir dos diagnósticos apresentados.

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4. O que significa impacto ambiental

4.1 Conceitos O conceito de impacto ambiental pode apresentar diferentes enfoques e

abordagens segundo os quais se chegam a diferentes diagnósticos. Segundo Garcia

(1987; apud Tommasi, 1993), de acordo com o enfoque funcionalista, impacto pode ser

entendido como qualquer forma de perturbação que tende a desequilibrar o estado de

equilíbrio instável em que se encontra um sistema. Sabe-se que qualquer intervenção

tende a provocar conseqüências secundárias temporárias ou mesmo permanentes, em

vários graus e intensidade. Por funcionalista, entende Trepl (2002), que é a maneira de

pensar em qualquer comunidade de seres vivos a partir da adaptabilidade dos

organismos vivos que a compõem numa relação de dependência mutua e recíproca. Ao

contrário, portanto, da idéia de competição presente numa abordagem progressista, ou

seja, a adaptação dos organismos vivos é parcialmente substituída pela adaptação

recíproca entre os mesmos.

Ainda para o primeiro autor há o enfoque intitulado de estruturalista, segundo

o qual o impacto se caracteriza por fatores ou condições de um sistema que o levam a

mudanças estruturais.

Entretanto para buscar uma definição genérica de impacto ambiental,

Tommasi a apresenta como:

Uma alteração física ou funcional em qualquer dos componentes ambientais. Essa alteração pode ser quantificada e, muitas vezes qualificada. Pode ser favorável ou desfavorável ao ecossistema ou a sociedade humana. (Tommasi, 1993; p.19).

Segundo o artigo 1° da Resolução n° 01 do CONAMA, impacto ambiental é:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria e energia que resulta das atividades que direta ou indiretamente tem o poder de afetar: a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e por último a qualidade dos recursos naturais (Tommasi, 1993).

Há várias outras definições sobre impacto ambiental, Sánchez (2006, p. 28.)

apresenta algumas, mediante citações, enfatizando concordâncias associativas com

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relação a alguns elementos, representadas por atividade antrópica, componentes

naturais, escala e temporalidade. Então temos:

“Qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes provocada pela ação humana”. (Moreira,1992, p. 113)

“O efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem”. (Westman, 1985, p. 5.).

“A mudança em um parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada área, que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada”. (Wathern, 1988ª, p.7.)

Outra definição é dada pela norma ISO 14.001: 2004, na qual impacto

ambiental é qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulta,

no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (item 3.4

da norma apud Sánchez, 2006, p. 29.). Nesse caso as organizações que adotam o

sistema de gestão ambiental baseada por essas normas, tendem a entender impacto

ambiental a partir dessa da definição apresentada.

Se quisermos também estabelecer comparações entre legislações de outros

países notaremos de fato, a concordância anteriormente apontada pelo autor supracitado.

A diferença está no detalhamento desses elementos, pelo menos nos casos analisados.

Na legislação portuguesa, por exemplo, impacto ambiental aparece como

sendo o conjunto de alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas em parâmetros

ambientais e sociais, num determinado período de tempo e numa determinada área,

resultante da realização de um projeto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse

período de tempo e nessa área, se o projeto não viesse a ter lugar. Para a legislação

finlandesa, impacto são os efeitos diretos e indiretos dentro e fora do território finlandês

de um projeto ou operações sobre a saúde humana, condições de vida, solo, ar, clima,

organismos, interação entre eles, e diversidade biológica, sobre as estruturas das

comunidades, paisagem, patrimônio cultural e recursos naturais. (Sánchez, 2006, p. 30).

É possível compreender impacto ambiental como a conseqüência de

determinadas atividades, que podem ser do setor produtivo industrial, do de serviços ou

em decorrência da utilização de produtos nocivos ao meio, como a aplicação de

agrotóxicos e sua causa é o resultado de uma ação humana. Vale então apontar a

diferença entre os agentes causais e suas conseqüências. Para exemplificar, entendemos

que uma rodovia não é um impacto ambiental em si, mas sua implantação é a geradora.

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Sendo assim o conceito em questão é uma espécie de modificação ambiental,

independentemente de seu grau de importância, e é necessariamente indissociável das

práticas humanas. (Sánchez, 2006)

A partir do momento em que consideramos impacto ambiental como forma de

alteração provocada pos práticas humanas, partimos então para o caráter dessas

alterações que podem ser de caráter negativo, como é apreendido a priori, e positivo.

Porém são as conseqüências negativas que são citadas pela legislação vigente.

Sánchez (2006) apresenta algumas implicações advindas dos impactos gerados

por certas atividades:

• Supressão de certos elementos do ambiente, como os componentes do ecossistema (vegetação, e certas formas especiais de relevo); destruição completa de habitat e dos componentes físicos da paisagem; eliminação de certos referenciais a memória coletiva (locais sagrados);

• Inserção de elementos no ambiente via introdução de espécies exóticas, ou

mesmo de componentes construídos, como edifícios e rodovias;

• Sobrecarga, com a introdução de fatores que excedam a capacidade natural de absorção, capazes de gerar desequilíbrios, como qualquer emissão de poluentes.

O conceito de impacto ambiental apresenta em si um juízo de valor, sendo

esse positivo ou benéfico, e negativo ou prejudicial. E tal conceito está condicionado

aos aspectos de espaço-temporalidade, de acordo com o contexto de um determinado

grupo social. De certo é sempre uma perturbação ecossistêmica que provêm de uma

ação humana ou mesmo de sua omissão.

Na contramão, os impactos considerados positivos são de natureza sócio-

econômica bem como físico-natural. A geração de empregos é um exemplo que bem

representa o primeiro caso. Já o de natureza físico-natural pode ser um projeto de

melhoramento da qualidade dos corpos hídricos pela recuperação da mata ciliar, ou

também a substituição de uma caldeira a óleo pesado por uma a gás que emitirá menos

poluentes numa atividade industrial. Há projetos que acabam por gerar impactos

positivos que abrangem tanto os de natureza social como natural, como as obras de

saneamento básico por tratar adequadamente dos efluentes domésticos diminuem a

incidência de doenças geradas pela sua falta.

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É válido ressaltar que nos enfoques apresentados o elemento humano não é

parte integrante que se insere no sistema natural, mas sim fora dele. Prevalece a

dicotomia entre homem e natureza, como entes dissociados, porém correlacionados.

Nesse sentido, consideramos o processo de análise dos impactos como uma

forma de previsão destes, uma vez que ambos trazem em si a idéia de planejamento

como fonte norteadora, bem como necessária para as ações e práticas modificadoras de

um determinado ambiente.

A previsão de impactos, segundo Ab’Saber (2002), é uma operação técnico-

científica de caráter essencialmente multidisciplinar que está relacionada com a forma

de organização espacial e territorial de uma dada localidade, independente da escala em

questão. Busca, através dos instrumentos legais, garantir um quadro razoável de

qualidade ambiental e ordenamento territorial. Trata-se, sobretudo, de analisar um

quadro complexo das possíveis conseqüências em cadeia resultante de um projeto. É

pertinente avaliar a ordenação espacial que antecede a implementação do projeto, assim

como levantar hipóteses acerca do quadro a posteriori, visando a tempos de curto e

médio prazo. Os elementos que compõem o meio físico, ecológico e social são

contabilizados no quadro de interferências possíveis. (Ab’Saber, 2002).

Um dos passos iniciais de um processo mais amplo da análise ambiental, a

previsão pode ser entendida como prognóstico que procura estimar a magnitude e a

intensidade das mudanças ocorridas nos sistemas naturais e sociais que compõem uma

dada localidade, em decorrência de um projeto.

Segundo Sánchez (2006) “a previsão de impactos deve ser entendida

basicamente como uma hipótese acerca do comportamento futuro de alguns parâmetros,

denominados aqui de indicadores ambientais”. Se possível tal hipótese deve ser

justificada e quantificada.

Desse modo, é um mecanismo que, apoiado pelo quadro jurídico legislativo

aliado ao comprometimento dos profissionais envolvidos, evitam o radicalismo

pertinente àqueles empreendedores descompromissados com a viabilidade de seus

projetos, poucos sensíveis aos danos causados pelas suas atividades. Para tanto, sabe-se

que o bom conhecimento da legislação vigente, corretas estratégias de monitoramento e

gerenciamento são fundamentais para lidar com projetos de cunho desenvolvimentista,

os quais muitas vezes não contabilizam o ônus da degradação (Ab’Saber, 2002).

Outro aspecto de importância é o conhecimento indispensável necessário das

estruturas, da composição e da própria dinâmica dos fatos responsáveis pela

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caracterização do espaço total da região escolhida. Entende-se por espaço total o arranjo

territorial adquirido ao longo dos anos pelas atividades e funções atribuídas a essa

espacialidade em decorrência da organização humana, ou seja, os processos e as formas

de interação entre as atividades antrópicas e os ecossistemas naturais. Mais

especificamente dissecamos a idéia de totalidade em três conjuntos macro-sistêmicos

que se entrelaçam numa relação dinâmica, sendo eles os ecossistemas naturais, agrícolas

e os urbanos. (Ab’Saber, 2002).

A tarefa de prever impactos está diretamente relacionada à de perceber e

detectar no espaço as mudanças em sua organização, que naturalmente trazem a reboque

conseqüências tanto de caráter negativo como positivo. Cabe ressaltar que os

mecanismos de previsibilidade dos impactos bem como ações e procedimentos

mitigatórios não obedecem a uma lógica a ser detalhadamente seguida em casos

análogos, pois se considera que cada região tem características próprias e necessita ser

analisada de forma específica. Cabe ressaltar no entender de Sánchez (2006), que há

uma diferença entre o simples ato de identificação de impactos e previsão desses

mesmos impactos, para tanto, diz:

A identificação é apenas uma enumeração das prováveis conseqüências futuras de uma ação. Também deve ser justificada e fundamentada, mas ao contrário da previsão de impactos, não resulta da aplicação sistêmica e dirigida de métodos e técnicas próprias de cada uma das disciplinas científicas conhecidas pelos membros de uma equipe multidisciplinar...

O que podemos perceber na atividade florestal em questão é o fato de a

identificação dos possíveis impactos ser a forma utilizada para se detectá-los. Nenhum

método ou técnicas próprias são utilizados como forma de controle dos inevitáveis

desdobramentos sobre o meio. As respostas dadas aos possíveis problemas que surgem

acabam por servir de exemplo e parâmetro para outras situações.

De qualquer forma, toda e qualquer atividade se desenvolve sobre um meio

físico. Para tanto todas devem conter aspectos referentes à recuperação do ambiente que

sofrerá o impacto, invariavelmente e independentemente da localidade em que se

inserem e das ações que se planejam. Desse modo, as medidas a serem tomadas estão a

cargo dos órgãos ambientais responsáveis, por meio da emissão de um Termo de

Referência o qual propõe as formas de intervenção recuperativas com seu conjunto de

medidas e técnicas a serem adotadas. (Floriano, 2007).

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4.2. Possíveis impactos associados ao cultivo de pinus

A busca por um manejo mais adequado que considere as especificidades da

área e os sistemas de auto-regulação dos ecossistemas regionais faz parte dos planos de

manejo de algumas instituições que desenvolvem atividades florestais. Por manejo mais

adequado entende-se a correlação entre os potenciais produtivos do sítio, a rentabilidade

econômica e a diminuição dos impactos ambientais associados.

Sabe-se que as atividades florestais alteram diretamente as características

naturais dos solos, principalmente devido à retirada da cobertura vegetal pré-existente

que acaba por influenciar de maneira significativa na hidrologia. Além disso, a

supressão da cobertura vegetal permite que os nutrientes presentes no solo sejam

carreados pelas águas que correm na superfície e subsuperfície, aumentando suas

concentrações no deflúvio, em processo conhecido como lixiviação. Não

negligenciemos o fato de que as concentrações de nutrientes no solo acabam variando

de acordo com os estágios de crescimento do vegetal, com a espécie em questão, regime

de chuvas e fatores geológicos.

As atividades realizadas tanto no plantio quanto na colheita acabam por gerar

impactos sobre as microbacias, em decorrência da compactação dos solos, dos

processos erosivos e ruptura da ciclagem dos nutrientes (diferença entre a entrada de

nutrientes via precipitação e sua saída via deflúvio) os quais, por sua vez, têm

desdobramentos tanto na qualidade quanto na quantidade da água que circula em cada

sistema. A adjetivação qualidade se refere às características físicas, biológicas e

químicas da água,

O regime de vazão também sofre variações em maior ou menor grau, de

acordo com a forma de manejo adotada. As águas de subsuperfície acompanham o ritmo

das transformações superficiais e os níveis do lençol freático acabam sendo rebaixados

na medida em que as características da cobertura vegetal se modificam.

Os mecanismos de funcionamento hidrológico de uma microbacia são, de

certa forma, estáveis e capazes de suportar as variações do ambiente sem sofrer

perturbações estruturais, se e somente se, a cobertura vegetal estiver em boas condições

de preservação. Nesse sentido, Oki (2002) afirma haver estudos que demonstram a

eficiência da utilização de microbacias na análise dos efeitos ambientais a partir das

formas de uso e ocupação dos solos, ou seja, as microbacias como forte indicador

ecológico.

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Outra modificação não menos importante apontada por Brooks et al., 1991,

citado por Oki (2002) é com relação às mudanças nas taxas de evapotranspiração. Nos

casos em que umas das formas de manejo contemplam o corte raso ou os desbastes, há o

aumento da produção de água dentro da microbacia que acaba ocasionando aumento no

deflúvio.

A autora supracitada, em seus estudos sobre os impactos decorrentes das

práticas silviculturais com pinus taeda nas microbacias da região de Arapoti- PR,

constatou que os restos de material cortado e serrapilheira, bem como sedimentos

contribuem para o aumento das taxas de turbidez e variação da coloração da água.

Demonstrou da mesma forma que a saída de altas concentrações de nutrientes da bacia

pela biomassa se dá pela comercialização do lenho, parte em que tem a maior

concentração de nutrientes, e não ocorre sua compensação. Desta forma o balanço de

nutrientes é negativo, se compararmos as concentrações pré-corte e pós-corte.

Entretanto afirma em suas conclusões que os níveis de nutrientes e a quantidade da água

encontrados antes do corte tendem a voltar a sua normalidade ao longo do período após

o corte.

Ao iniciarmos as discussões em torno dos possíveis impactos ambientais

decorrentes das atividades florestais, mais especificamente a monocultura de pinus, é

importante partirmos do princípio que essa espécie é exótica e como tal tem uma grande

capacidade de modificação dos ecossistemas que a abrigam, na medida em que com o

tempo ocupam o espaço natural das nativas. Como conseqüências principais diretas,

temos a perda da biodiversidade, a modificação dos ciclos e características naturais, a

alteração da fisionomia da paisagem, mudança nas taxas de decomposição, mudança

nos mecanismos de polinização, sem falar nos impactos citados anteriormente nesse

mesmo capítulo.

Segundo Ziller (2000) o processo de invasão de espécies exóticas é conhecido

como contaminação biológica, ou seja, as espécies invasoras passam a se dispersar e

provocam mudanças significativas nos ambientes, e, conforme o grau de contaminação,

não permitem que a vegetação nativa se restabeleça. A mesma autora apresenta algumas

hipóteses para explicar a maior suscetibilidade à invasão que alguns ambientes

apresentam com relação a outros. Assim sendo quanto mais reduzida a diversidade

natural, as riquezas e as formas de vida de um dado ecossistema, mais suscetível à

invasão; outra hipótese está relacionada à competição, ou à falta dela. As espécies

exóticas, muitas vezes, apresentam uma vantagem competitiva em relação às nativas.

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Acrescente-se que as espécies exóticas estão livres de seus predadores e parasitas

naturais, o que não garante que não haja outras formas de relações parasitárias e

predatórias. Um maior grau de dispersão de uma espécie exótica é proporcional ao nível

de perturbação do ecossistema, principalmente após um processo de intensa intervenção

predatória da área. (Ziller, 2000).

A dispersão e o estabelecimento das espécies invasoras estão relacionados a

múltiplos fatores, como a morfologia vegetal, tipos de solo, características dos terrenos,

aspectos climáticos. As áreas que apresentam ambientes abertos como os campos e

cerrados, esse último em suas formas herbácio-arbustivas, apresentam mais facilidades

de penetração do que aqueles ambientes florestados. A similaridade climática também é

um fator que contribui para uma rápida adaptação. Essas características são as que

foram encontradas em grande parte na área de estudo.

Segundo Mineiro, técnico da Valor Florestal que atua na área de coleta e

estudos genéticos com sementes, o potencial de dispersão de sementes é outro fator

preponderante, no caso de algumas espécies de pinus: uma árvore de pomar pode chegar

a produzir por volta de um quilograma de semente, que em números se aproxima a algo

como 12 mil unidades.

Outro fator de elevado potencial de degradação está relacionado aos processos

de queimada. Num primeiro momento, as queimadas podem funcionar como fertilizante

do solo, uma vez que as cinzas produzidas são convertidas em nutrientes vegetais pelos

microorganismos encontrados na terra. Todavia, a queima sucessiva de uma mesma

região pode vir a matar esses microorganismos, tornando o solo cada vez mais

empobrecido e impróprio para o desenvolvimento de qualquer atividade agrícola.

Além das modificações de ordem físico-químico, esse procedimento traz

conseqüências tanto no microclima como no ciclo das águas. As queimadas são

responsáveis pela emissão significativa de gases que contribuem para intensificação do

processo natural de efeito estufa, como o gás carbônico (CO²), que acaba por alterar as

temperaturas em escala planetária. E se por um lado, sabe-se que as plantas acabam por

retirá-los da atmosfera utilizando-os para seu próprio crescimento, por outro, as

queimadas têm produzido uma quantidade de gás carbônico maior do que a capacidade

de absorção por vegetais, plantas e microorganismos.

Pesquisas recentes indicam que uma floresta queimada tem probabilidade

muito maior de pegar fogo novamente. A segunda queimada é sempre mais intensa e a

mortalidade das árvores é muito maior. O fogo que queima pela segunda vez é

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alimentado pela material seco resultante da primeira queimada. Este fogo é

aproximadamente duas vezes mais alto, duas vezes mais largo e mais vulnerável a

novos incêndios. (Higuchi & Fonseca, 2004).

A prática de queimadas foi abolida do processo de manejo das áreas de cultivo

de pinus da Vale do Corisco desde 2001, não só pelos desdobramentos negativos

causados, como a perda controle das queimadas, mas principalmente pelas

determinações da certificadora que não admitem de forma alguma esse procedimento.

Uma grande quantidade e variedade de resíduos florestais são geradas

anualmente pelas diversas indústrias de base florestal. Para se ter uma idéia, a geração

de resíduos na cadeia produtiva de serrados de Pinus é da ordem de 75%, ou seja,

apenas 25% do volume total de uma árvore é colocado no mercado na forma de tábuas,

caibros, ripas, etc. Ao se desdobrar uma tora de madeira, a geração de resíduos é

inevitável, sendo que o volume e tipos de pedaços e/ou fragmentos gerados, são

dependentes de vários fatores. Como exemplo destes fatores, destaca-se o diâmetro das

toras e o uso final das peças serradas, que invariavelmente seguem os padrões exigidos

pelos compradores. Considerando uma tora cilíndrica, e desejando-se retirar apenas um

bloco central, o rendimento corresponderia a 63,66%. De modo geral, os resíduos

gerados em uma cadeia produtiva de serrados constituem-se de 7 % de casca, 10 % de

serragem e 28 % de pedaços, isto sem considerar as perdas na extração da madeira.

(Mendes et al., 2004).

Verificou-se em campo a considerável quantidade de resíduos que acabam por

ficar nas áreas de cultivo e extração. Um dos motivos apontados para o seu não

aproveitamento, decorre dos custos elevados do processo de recolhimento desses

resíduos, principalmente pelos gastos com transporte e material humano disponibilizado

para essa tarefa. Outro fator que não estimula a utilização está vinculado à falta de

empresas e locais que recebam e utilizem esse material como fonte de energia.

De certo que os impactos positivos são claros, e os dados da Associação

Brasileira de produtores de florestas plantadas ABRAF, apontam pra essa direção.

Estimativas mostram que a cadeia produtiva do setor de florestal no Brasil, tanto o

primário quanto o de transformação industrial, no ano de 2005, foi responsável por

cerca de 4,1 milhões de empregos. (Fonte: Relatório de Avaliação de impactos sociais

elaborado pela RB Florestal Ltda).

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Outro aspecto positivo está relacionado com o aumento da oferta de madeira

que pode diminuir a pressão sobre o restante dos ecossistemas naturais, caso o aumento

das áreas de plantio não avance sobre os ambientes intactos.

A geração de renda, contribuição na geração de tributos e o possível

desenvolvimento sócio-econômico das regiões que abrigam a produção de florestas são

contabilizados como indicadores positivos.

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5. Certificações Ambientais – Mecanismos de mercado

5.1. Conceituação e aplicações

A partir da década de 80, têm sido desenvolvida e implementadas, segundo

Cunha & Coelho (2003), estratégias de regulação que atribuem aos mecanismos de

mercado uma participação de certa forma complementar ao enfrentamento dos

problemas ambientais, instrumentalizados pelas certificações ambientais ou os selos

verdes. Esses mecanismos estão associados a regimes privados de regulação ou auto-

regulação, como afirmam Coleman & Perl (apud Cunha & Coelho, 2003 pg 62), e

funcionam dissociados do poder público, organizados pelas instituições não-

governamentais em âmbito nacional e internacional.

A certificação pode ser entendida como um instrumento de adesão a um sistema

de gestão ambiental condizente aos parâmetros legais vigentes, que atesta a fiscalizada

nos parâmetros estabelecidos. A certificação ambiental nas palavras de D’Isep (2004)

pode ser entendido como:

Um instrumento plural, uma vez que em seu procedimento engloba muitos outros instrumentos, tais como o plano, a educação, a auditoria ambiental, a comunicação e o monitoramento. E complexo, pois plano de gestão deverá abrager todas as etapas do processo produtivo, atividades e estruturação da organização (D’Isep, 2004; p. 221).

Para a mesma autora é importante que se conheça a proposta de cada

certificação, selos ou rótulos, pois cada um tem métodos e objetivos distintos. Há alguns

que têm por finalidade a adesão meramente formal a um sistema de gestão, sem

responsabilidades além das deliberações normativas referentes ao corpo legislativo

circunscrito. Da mesma forma, existem outros que visam à adoção de projetos

responsáveis que se inserem no discurso da sustentabilidade, como os MDL

(Mecanismos Limpos de Desenvolvimento). Salienta então D’Isep que, quanto mais

formatada e regulada a certificação, maior é a incidência jurídica.

É valido ressaltar que há diferença entre o que vem a ser gestão ambiental e

sistema de gestão ambiental, no contexto da adesão a um padrão de certificação no

campo empresarial.

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Para Moreira (2001), quando uma empresa inclui em seus projetos a gestão

ambiental, ela simplesmente atende às exigências dos órgãos ambientais, limitando-se

ao atendimento dos requisitos legais. Já um sistema de gestão ambiental quando

adotado, visa a agir além das funções e dos requisitos legais deliberados. Há, nesse

caso, por parte da empresa, a implantação de um Sistema que envolve todos os seus

setores, desde a área operacional, administrativa à de serviços em gerais. Sendo assim,

conforme a política adotada seja em âmbito privado ou estatal, a certificação ganha uma

outra importância.

A certificação transcende o sentido estritamente instrumental, é norteador de

uma forma de gestão garantida pelas atribuições que as compõem, tendo um caráter de

dinamismo, como coloca a autora supracitada, pois é movida pelo comando da melhoria

contínua, já que as ações são revistas em função dos resultados apresentados em relação

ao desempenho ambiental, identificando os possíveis riscos e propondo assim

mecanismos de controle.

Segundo Vallejo (1996), citado por Nardelli (2001), não podemos conceber a

certificação como um mecanismo autônomo capaz de suprir as deficiências encontradas

nos aspectos referentes aos diversos manejos implantados, mas sim como uma

complementação aos outros instrumentos reguladores, como os de ordem legislativa

nacional e os supranacionais firmados em acordos internacionais.

A adesão de sistemas de gestão ambiental, com a aquisição de certificações

passa a ser uma exigência em processos de licitação (D’Isep, 2004). Certamente uma

conquista em termos de responsabilidade por parte do âmbito das políticas públicas

nacionais e das discussões que vêm sendo travadas na esfera internacional. Nesse

sentido a participação da sociedade civil se insere paralelamente via conscientização

materializada pelo consumo coerente com o ideário de uma coletividade atenta

minimamente ao sentido de qualidade dos produtos escolhidos. O sentido de qualidade,

para a autora, diz respeito a todo o processo produtivo que se dá de forma cíclica

composto por três fases. Primeiramente iniciada pela produção, passando pelo consumo

e por fim o descarte. A qualidade agora se coloca além do produto em si, transpõe a

subjetividade imediata ao ato do consumo.

O interessante é o fato de que as certificações se fazem presentes, não

obviamente em sua totalidade, tanto na área pública quanto na privada, com a

capacidade de garantir assim responsabilidades extras para as duas iniciativas. Por

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conseguinte tanto as obrigações quanto os deveres de cada parte passam a ser

regulamentados pela instância jurídico-ambiental.

Dentre as certificações a ISO é uma federação de caráter não-governamental

que conta com a participação de cerca de 100 países, com sede em Genebra, Suíça. Um

dos objetivos é a proposição de normas que representam o consenso dos países

membros para a elaboração e uniformização de normas e métodos. O trabalho da ISO se

dá por intermédio de comitês técnicos, que geralmente são compostos por especialistas

e representantes dos diversos países que a compõem. A elaboração e criação das normas

relacionadas à temática ambiental foi fruto das discussões da conferência das Nações

Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento Eco-92, tendo no ano seguinte a

instalação do comitê técnico conhecido como ISO/TC207- Gestão Ambiental que

elaborou as séries de normas da ISO 14000, que por sua vez se inter-relacionavam com

o ISO/TC-176, normas de Gestão de Qualidade (Série ISO 9000). A norma ISO 14000

fornece à empresa que o adota, um instrumento de orientação que insere a variável

ambiental em seu sistema de gestão pré-existente. Nota-se que ambas as séries se

integram mutuamente. (Moreira, 2001).

Cumpre ressaltar, segunda a mesma autora, que a ISO, mesmo antes da Eco-

92, já desenvolvia trabalhos na área de meio ambiente através de comitês

independentes, como o que tratava da qualidade do ar, da água e do solo.

A ISO 14001 é uma norma criada no ano de 1996 tendo caráter internacional.

Segundo D’Isep (2004), a maioria das organizações privadas e públicas a adotou, dentre

outros, por motivos de mercado, diretamente ligados à imagem da empresa em relação

aos seus consumidores, bem como para possíveis e eventuais financiamentos bancários.

Ela se aplica aos aspectos ambientais que podem ser controlados pela organização

responsável, que estão vinculados de forma direta ou indireta com a mesma. (Moreira,

2001).

Podemos considerar a ISO como um mecanismo de certa importância nas

formulações de políticas, no caso ao meio ambiente, pois privilegiam empresas que

acabam por cumprir as normas ambientais que estão expressas nos contratos de

comércio internacional. Entretanto, há outras que sobrevivem mesmo não seguindo as

normas e princípios, pois certamente há mercados para elas. Além do mais, há que se

analisar que normas são essas, vale dizer, a quem interessam.

A certificação pode ser entendida como um instrumento que atesta

determinadas características de um produto ou de um processo produtivo circunscrito à

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atividade em questão, uma forma de garantia de que uma determinada empresa ou

comunidade obtém seus produtos de acordo com um plano de manejo baseado e

reiterado por princípios e critérios pré-estabelecidos. Para o setor florestal, busca a

comprovação de que a matéria-prima e seus subprodutos de origem florestal como,

madeira cerrada, moveis, laminados, papéis, assoalhos, venham de países onde a

legislação é obedecida, em todas as suas esferas, tributária, ambiental e trabalhista.

(Silva, 2005).

Os padrões adotados podem oferecer segundo Nardelli (2001), uma

oportunidade de melhoria nos padrões em suas atividades, uma maior confiabilidade de

seus produtos perante seus consumidores e comunidades envolvidas, revertendo em

maiores taxas de lucros.

Por outro lado as práticas de manejo florestal alicerçadas pelos princípios do

selo FSC, mais especificamente, requerem investimentos não só nas atividades

florestais, como também na preservação e monitoramento dos ecossistemas regionais e

na capacitação dos profissionais envolvidos, além da mudança da própria política e

cultura da organização, demandada pelas novas exigências.

Foi na década de 90 que a certificação surgiu para o setor florestal, a partir de

campanhas que incentivavam o boicote aos produtos oriundos de matéria-prima das

florestas tropicais que não tinham o devido manejo. Segundo Nardelli (2001), esse

boicote poderia agravar ainda mais o problema, uma vez que a possível queda na

demanda empurraria os preços dos produtos para baixo, desestimulando a atividade

florestal, que por sua vez teria grandes chances de ser substituída por uma atividade de

maior poder de predação como, pastagem e outras atividades agrícolas.

A obtenção da certificação acontece de forma voluntária, a empresa, produtor

rural ou comunidade acaba por optar pela sua aquisição temporária. Esses sistemas são

de origem da iniciativa privada e de ambientalistas, com representação igualitária dos

setores econômicos, social e ambiental. (Silva, 2005). Isso garantiria de alguma forma a

paridade e um relativo equilíbrio na condução das diretrizes e na tomada de decisões.

Seria uma forma encontrada para atender a demanda dos diferentes setores envolvidos

na atividade florestal, uma espécie de gerenciamento dos interesses muitas vezes

divergentes.

Segundo o autor supracitado, atualmente existem diversos sistemas de

certificação florestal, podendo ser nacional, regional e em âmbito mundial. A seguir

algumas certificadoras: o Canadian Standard Association (CSA), Canadá; a Sustainable

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Forestry Iniciative ( SFI ), EUA; American Tree Farm System, EUA; a Pan Earth Forest

Certification (PEFC) e a Forest Stewardship Council (FSC). Mais localmente, em

território brasileiro, foi lançado em 2002, o Programa Nacional de Certificação de

Origem Florestal (CERFLOR) que objetiva espraiar os princípios da certificação nas

atividades florestais brasileiras, principalmente aquelas ligadas à indústria do setor

moveleiro. Empresas como Impacel e Aracruz recebem a certificação da CERFLOR,

totalizando 216 mil hectares. A FSC também tem suas atividade sendo desenvolvidas no

Brasil a partir do ano de 1994. O representante do FSC no Brasil é o Conselho

Brasileiro de Manejo Florestal (CBMF).

O processo de certificação basicamente acontece em duas etapas, sendo elas a

certificação do manejo florestal e a certificação da cadeia de custódia.

Por manejo florestal, entende-se, de forma genérica, a extração de produtos da

floresta de forma a minimizar os inevitáveis impactos decorrentes. Nessa etapa é feita

uma análise das condições técnicas, ecológicas, trabalhistas e sociais, essa última das

comunidades afetadas direta e indiretamente. Se, porventura a empresa ou a

comunidade solicitadora estiver nas normas, então toda a matéria-prima extraída saíra

certificada.

Já cadeia de custódia é o conjunto das sucessivas etapas de transformação

ou comercialização de produtos florestais. Trata-se de um rastreamento iniciado desde a

extração da matéria-prima, passando por todos os processos de manufatura até a

comercialização do produto final. Entende-se como todo o processo, o plantio, colheita,

o transporte utilizado, o armazenamento do produto e seu processamento. Há casos de

uma mesma unidade produtiva não utilizar em sua totalidade matéria-prima certificada.

Neste caso a cadeia de custódia é denominada de não-exclusiva e aparece identificada

no próprio selo estampado em cada produto como visto in locu na Braspine, indústria de

molduras e batentes localizada no município de Jaguariaíva, durante uma visita por todo

o setor produtivo da mesma.

Para a implantação de um sistema de certificação, várias são as etapas que se

sucedem de forma a conferir a ambos, tanto certificador e certificado, a viabilidade do

processo.

O esquema a seguir foi apresentado por Viana (2002), e faz parte do sistema

composto por oito procedimentos seqüenciais que são utilizados pela Imaflora, membro

de uma certificadora intitulada Rede Smart Wood a qual credencia certificadoras que

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trabalham com o selo FSC. Esse sistema é utilizado basicamente por várias

certificadoras, entretanto com algumas pequenas diferenças.

O primeiro procedimento é o contato inicial com a certificadora. O segundo

procedimento adotado é o contrato de prestação de serviços elaborado pelo certificador

que não atesta ainda a certificação, junto a isso uma avaliação do manejo florestal. Em

seguida, o terceiro procedimento é uma consulta pública e a preparação de avaliação.

Busca-se com a consulta pública, a participação da sociedade, de alguma forma, tirando

as possíveis dúvidas e levantando questionamentos sobre as práticas de manejo a serem

adotadas. Já a preparação de avaliação é feita por uma auditoria que analisará a

operação da candidata à certificação, bem como os padrões relevantes na avaliação.

O quarto procedimento consiste em idas a campo e visitas ao escritório. Nessa

etapa verificam-se os documentos necessários, como escrituras de posse das terras,

situação dos funcionários e o plano de manejo existente. As informações adquiridas no

escritório serão confrontadas com a situação encontrada em campo.

A quinta etapa consiste na elaboração de relatórios, procedimento padrão que

acontece logo após as idas a campo. Tal relatório traz um parecer sobre os critérios

existentes nos padrões utilizados para avaliação das áreas. De forma geral os relatórios

trazem três categorias distintas: as pré-condições, que apresentam as falhas com

gravidade presentes no manejo da floresta e que precisam com urgência ser sanadas

antes mesmo da regulamentação efetiva da certificadora. Outra categoria, denominada

condições, ocorre quando há falhas com níveis de gravidade suportáveis a curto prazo e

que necessitam ser solucionadas de acordo com os prazos estipulados. Por último, as

recomendações referentes aos aspectos do manejo que se encontram adequados com os

padrões e critérios, porém, de alguma forma, podem ser melhorados e também

incorporados ao plano de manejo que será atualizado. O relatório resultante será

enviado à entidade a ser certificada e receberá seus comentários e apartes. Por fim, a

certificadora se encarrega da elaboração de uma segunda versão do relatório revisado já

com as considerações prévias de ambas as partes com as determinações a serem

cumpridas, no caso as pré-condições e condições.

O sexto procedimento se refere à decisão de certificação. Após o cumprimento

das pré-condições, o corpo técnico responsável elabora um relatório final que

posteriormente é analisado pelo Conselho de Certificação o qual corrobora ou não a

implantação do sistema de certificação. Sendo assim o contrato é firmado com validade

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de cinco anos. Caso haja interesse na re-certificação, um processo de avaliação

completa é novamente necessário.

O sétimo procedimento se restringe à elaboração de um resumo público do

processo de certificação que será disponibilizado para os grupos envolvidos na consulta

pública.

O monitoramento feito a cada ano para verificar o andamento e a condução do

plano de manejo é o oitavo procedimento. Caso haja falhas no sistema de manejo, bem

como na sua condução, serão emitidas ações corretivas ou CAR (corrected action

requested) que são subdivididas em CARS MAIORES E CARS MENORES. A

primeira está relacionada a falhas graves como as pré-condições, e a segunda a falhas de

menor gravidade.

Os sistemas de certificação ISO 14001 e o FSC apresentam diferenças em seus

aspectos, porém podem se complementar de modo a formarem um sistema de gestão

integrado que contemple, além dos aspectos do campo ambiental, também a área da

saúde, qualidade e trabalho. O ISO 14001, segundo Nardelli (2001), adapta o Sistema

de Gestão Ambiental aos princípios e normas ambientais vigentes na legislação. Já o

FSC está restrito à atividade florestal, sendo essa certificação realizada a partir de

parâmetros específicos, via adoção de medidas preventivas e mitigatórias em relação

aos impactos ambientais num determinado ecossistema.

5.2. FSC-Forest Stedwardship Council: Um selo verde

O FSC- Forest Stedwardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal é

uma organização não-governamental independente, sendo composta por representantes

da sociedades civil, ambientalistas, comunidades e povos indígenas e certificadoras de

produtos florestais cuja criação data de 1993, em Toronto-Canadá, com sede em

Oaxaca, México. Nasceu após longas e conflitantes reuniões para a definição dos

membros participantes, haja vista que a participação majoritária de empresas poderia de

alguma forma prezar pelas questões econômicas. Sendo assim as empresas acabaram

por se tornar membros com participação minoritária de 25%. O setor público, em

algumas instâncias não tem participação direta na tomada de decisões, mas somente

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como observadores, na medida em que o corpo legislativo nacional tem que ser

respeitado e paira acima das diretrizes das certificações (Viana, 2002 et al).

O distanciamento entre a esfera governamental e as certificadoras é a forma

encontrada de garantir independência e credibilidade. Entretanto, um estreitamento da

relação é fundamental, tanto para certificadoras, quanto para a sociedade de maneira

geral. Viana (2002 et al), trás algumas vantagens da intensificação do diálogo entre

ambos, como a criação de programas e treinamentos em unidades de manejo florestal já

certificadas, com isso propagando suas descobertas para aqueles ligados à temática.

Outro fator interessante seria a vinculação dessas áreas certificadas que, em sua maioria

apresentam certo grau de desenvolvimento tecnológico, a instituições públicas, como

universidades e outros institutos de pesquisa. Caberia às instituições públicas ampliar os

créditos e os apoios financeiros ao setor florestal oferecendo todo o aparato técnico

necessário, bem como as informações necessárias a um bom manejo, fruto da

experiência adquirida pelas certificadas. Essas questões aqui expostas inserem-se na

discussão sobre a participação dos governos nos diferentes setores da economia.

O histórico do FSC, segundo o mesmo autor, integra o movimento da década

de 90 que basicamente clamava por práticas ambientais menos predatórias e propunha o

boicote à madeira originária dos países tropicais. Sua criação seria uma alternativa que

buscava aliar as demandas de uma realidade inevitável de mercado com práticas de

manejo comprometidas com a manutenção dos ecossistemas regionais atingidos.

Cumpre lembrar que instituições como essas são produtos de seu tempo, não surgem

espontaneamente a partir da iniciativa de alguns, mas sim como resultado de longas

pesquisas, experiências, estudos de caso e debates que envolverem representantes de

diversos setores da sociedade internacional. (Berguer & Luckmam, 1967 apud Nardelli,

2001).

A partir dessa preocupação 10 princípios e 56 critérios foram desenvolvidos e

estabelecidos internacionalmente através de um processo de consulta que durou

aproximadamente dois anos. Ainda assim existem equipes de trabalhos responsáveis

pelo direcionamento desses princípios e critérios norteadores, de acordo com as

especificidades de cada local, para cada tipo de floresta plantada ou natural. Para tanto o

FSC não emite certificado. Na verdade acaba por credenciar certificadoras que ao todo

contabilizam o número de seis espraiadas em todo o mundo. As certificadoras têm por

encargo o desenvolvimento de guias de campo baseadas nos princípios e critérios do

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FSC os quais recebem uma complementação recomendada pela entidade com o intuito

de uma apropriada adequação com as realidades locais. (Viana et al, 2002)

Esses princípios e conceitos estão pautados na idéia de bom manejo florestal,

ou seja, transcendem a perspectiva meramente das práticas de cultivo e capacidade

produtiva das florestas. Estratégias são adequadas às alternativas pautadas por um

planejamento de produção contínua, mesmo que as demandas e variações de mercado

oscilem. Considera-se a inserção das dimensões sócio-culturais às perspectivas

econômicas que por sua vez não só contemplem, mas incorporem as legitimadas

dimensões ambientais. Dessa forma isso implica numa visão mais ampla em que se

passa a incluir práticas ambientais mais severas e a geração de serviços, bem como a

garantia de benefícios já garantidos por lei aos trabalhadores e às comunidades locais

(Viana 2002 et al...). Além do mais, é um indicativo de que houve mudanças no setor

florestal. que por várias décadas, que segundo Nardelli (2001), tinha sua eficiência

mensurada meramente pelos seus aspectos relativos ao campo técnico.

O conceito de bom manejo pode ser entendido, como ressalta Viana (2002 et

al), por: [...] melhores praticas de gestão aplicáveis a uma determinada unidade de manejo, considerando-se suas características e condicionantes sócio-culturais, ambientais e econômicas e o conhecimento técnico-científico existentes. O bom manejo pode variar entre unidades de manejo e [...] numa mesma unidade de manejo ao longo do tempo.

Nesse mesmo sentido o autor supracitado ressalta diferenças entre a apregoada

idéia de sustentabilidade e a de “bom manejo”. Reitera o caráter utópico da primeira,

como sendo um ponto a se atingir, não considerando os meios para tal. Diferentemente,

o outro conceito representa as práticas e sistemas de gestão utilizados empiricamente,

implantados e testados as suas viabilidades, na medida em que seus resultados concretos

são os desdobramentos que se sucedem em decorrência de seus métodos. Nota-se que os

modelos prontos e sustentáveis a serem seguidos perecem facilmente devido ao seu

caráter generalista e pouco prático. Cada realidade produz peculiaridades que somente

ações específicas geradas nesse mesmo contexto são capazes de orientar as tomadas de

decisões necessárias. Pois na verdade, nenhum modelo, independentemente das técnicas

aplicadas, descreve fielmente todos os aspectos ou relações de uma tal organização.

Segundo GEUS (1994) citado por Nardelli (2001) nos apresenta índicos da não exatidão

dos modelos:

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Nenhum modelo é uma representação precisa ou exata da realidade, e sim uma simplificação desta, criado para explicar determinado problema. Deve-se sempre ter em mente que a observação da realidade é influenciada pela posição do observador. A importância de um modelo teórico reside, principalmente, na sua utilização como instrumento de aprendizagem e não de predição. (p. 23.).

A idéia de bom manejo como uma forma de estratégia que envolve o setor

empresarial aliado aos múltiplos aspectos legislativos, as mudanças de preferência do

consumidor e as ações dos grupos ambientalistas acabam por contribuir para o

surgimento de um conjunto de valores que incorporem a dimensão ambiental com

desdobramentos nas práticas de consumo, com a capacidade de distinção entre os

produtos oferecidos conforme a natureza de sua procedência. Pode também ampliar o

poder de avaliação do consumidor sobre a relação entre a qualidade e o preço a ser pago

por determinado produto introduzindo mais um elemento que pesa na balança no ato do

consumo (Nardelli, 2001).

O procedimento para a obtenção da certificação, além do contato com a

certificadora de interesse se dá por meio de solicitação de uma inspeção prévia cujo

objetivo principal é determinar o estado da realidade operacional da floresta e fazer uma

análise que permita saber o quanto a área a ser certificada apresenta minimamente os

níveis exigidos com relação aos princípios e critério. Caso a instituição decida por

adotar de fato a certificação, será realizada uma auditoria completa por um grupo de

profissionais que farão uma avaliação mais detalhada sobre os aspectos do manejo

florestal e sobre quais e como serão os procedimentos corretos para a implantação do

sistema. Mesmo que a realidade da solicitadora não satisfaça os padrões exigidos em

sua totalidade, a certificadora concede a certificação com determinadas condições a

serem atendidas em seus respectivos prazos. Decorrido o período de um ano, uma

auditoria é feita para ver se as condições e solicitações descritas foram cumpridas como

planejado. Essa etapa seria a confirmação da aquisição temporária da certificação.

As certificadoras fazem visitas anuais em que são priorizados de 2 a 3

princípios e critérios a serem por elas definidos. Auditorias sem aviso prévio, como

consta em algumas bibliografias, não se realizaram até então na prática, pelo menos na

realidade constatada.

No primeiro ano, quando é feita a solicitação da certificação, todos os

princípios são analisados minuciosamente, tarefa essa que se repete a cada cinco anos

no processo de re-certificação. Objetiva-se então que as determinações sejam levadas a

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cabo, de acordo com as constatações feitas anteriormente, além de registradas no

relatório que contém as avaliações efetuadas até então. De acordo os protocolos de

avaliação do Programa de Conservação Florestal da SCS, a equipe de avaliação

coletivamente deve determinar se uma dada operação florestal está em conformidade

com qualquer indicador dentro do padrão de certificação. Cada não-conformidade de

um critério ou sub-critério precisa ser avaliada para determinar se constitui uma não-

conformidade maior ou menor. Nem todos os indicadores têm a mesma importância e

não existe nenhuma fórmula que determine se uma operação está em uma não-

conformidade. A equipe acaba por avaliar cada critério e definir a sua conformidade.

As Pré-Condicionantes são Ações Corretivas (CAR) maiores que são definidas

em uma operação florestal após a avaliação inicial e antes que esta operação seja

certificada como já exposto anteriormente. A certificação não pode ser concedida se

existir uma pré-condicionante não cumprida.

Durante a avaliação inicial na Vale do Corisco, CARS MAIORES foram

apontadas e enumeradas de 1 a 10 seguindo a ordem dos princípios e critérios do FSC.

A partir daí a empresa apresentou as medidas cabíveis e necessárias, desde que

obviamente, não contrariem os outros princípios. São elas:

• CAR MAIOR 2006-01

Resolver o problema de horas dos tratoristas da empresa Cledemil (P1 C1)

A Valor Florestal realizou em 04/08/06 uma reunião com as empresas que têm

turnos de 24 horas. Nessa ocasião, o advogado da empresa apresentou um parecer

jurídico sobre o assunto e as empresas se comprometeram a seguir imediatamente a

legislação conforme esse parecer. Mas como os turnos devem continuar, a Valor deverá

realizar o monitoramento contínuo a fim de garantir que as horas extras não ultrapassem

o limite legal.

• CAR MAIOR 2006-02

O corte raso das árvores não manejadas e passíveis de mecanização, o corte semi-mecanizado não deve ser realizado para evitar acidentes de trabalho. (P4C2)

A Valor Florestal realizou um levantamento das áreas declivosas e determinou

que nas áreas com declividade superior a 16º não há condições de se realizar corte

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mecanizado. Nas áreas com declividade inferior, haverá corte mecanizado desde que

tenha volume suficiente e torne economicamente viável tal exploração. Nos demais

casos o corte continuará a ser semi-mecanizado, mesmo nas áreas sem desbaste.

• CAR MAIOR 2006-03

Plano de ação para implantação da NR 31 com cronograma (P4C2).

A Valor Florestal apresentou o cronograma de adequação das prestadoras de

serviços à NR 31.

• CAR MAIOR 2006-04

Mudar o manual de Procedimento de Derrubada de árvore, proibindo qualquer uso de motosserras depois que a árvore começar a cair (P4C2).

A Valor Florestal fez uma revisão de seu Manual de Derrubada de Árvores e

concluiu que não havia necessidade de alterá-lo, mas que a questão se relaciona a um

maior rigor no monitoramento em segurança do trabalho para impedir tal procedimento

inadequado.

• CAR MAIOR 2006-05

Incluir o check list dos técnicos de segurança a verificação da habilitação (DER E DETRAM) dos motoristas de ônibus (P4C2).

• CAR MAIOR 2006-06

Colocar na parta externa da Valor Florestal placa com o número de dias sem acidente de trabalho (próprio e terceiros) (P4C2).

A Valor Florestal confeccionou as placas que passam a ser fixadas em quatro

pontos da empresa de fácil visualização.

• CAR MAIOR 2006-07

Programa de identificação e reclamação de todos os caminhões que transportam madeira proveniente da Vale do Corisco (P4c6).

Foram constatados que 58 caminhões prestam serviços à Valor Florestal e

deste modo, até o final de outubro todos contarão com placa de identificação, com

número e e-mail de contato para quaisquer reclamações ou comentários.

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• CAR MAIOR 2006-08

Apresentar no Programa de Eliminação de pinus em Áreas de Conservação

norma de colheita que preveja:

a) redução de danos durante a derrubada na flora existente;

b) introduzir elementos de planejamento de arraste;

c) normas de segurança específicas;

d) obrigatoriedade de retirada dos resíduos dos cursos d’água (P6C3)

O controle e eliminação de pinus em áreas de conservação serão realizados

dentro de 4 atividades: I Remoção sistemática da regeneração de pinus na implantação da 2° rotação

Atividade realizada por Empresas Prestadoras de Serviços (EPS) da área de

silvicultura. Tem como orientação principal eliminar, através da roçada manual, a

regeneração de pinus ao longo da APP e de áreas de Reserva Legal confrontantes ao

talhão que estiver sendo plantado. A regeneração de porte comercial e passível de

extração não será eliminada por estas EPS e sim por empresas especializadas da área de

Colheita florestal, respeitando as normas estabelecidas para tal atividade. A área de

silvicultura ficará responsável pela manutenção destas áreas durante os três primeiros

anos do plantio.

II Corte de pinus plantado em APP´s

Esta operação será enquadrada nos procedimentos de colheita e segurança. Em

termos práticos, o que será acrescido as normas operacionais é a planificação de colheita

dentro dos limites da APP. Os benefícios previstos com esta abordagem são, dentre

outros, a recomendação da estratégia de corte das árvores visando ao menor impacto

sobre a vegetação nativa marginal ao plantio e análise prévia da condição operacional

do plantio dentro da APP, para tomada de decisão sobre o corte ou anelamento das

árvores.

Nestes casos é importante ressaltar que mesmo estando dentro dos limites da

APP, o plantio de pinus terá preferência sobre qualquer árvore nativa estabelecida na

área após o plantio comercial (conforme ocorre em situações normais) respeitando-se o

critério da “árvore da vez” (procedimento de segurança).

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III Corte da regeneração de pinus com valor comercial em áreas de conservação (APP E RESERVA LEGAL)

Observou-se a existência de maciços de regeneração de pinus de interesse

comercial. A possibilidade de comercialização desta madeira viabiliza a contratação de

uma equipe especializada no corte e extração destas mesmas árvores. Porém é

necessária a adoção de normas e a capacitação das equipes para a realização desta

atividade.

A proposta é realizar um levantamento dos maciços de regeneração dentro das

áreas de vegetação nativa e a partir destes resultados planejar a operação de colheita. A

EPS que for destinada para tal atividade estará comprometida com a eliminação da

regeneração a ser classificada da seguinte forma:

• Tipo 1: porte comercial; • Tipo 2: porte não-comercial; • Tipo 3: porte comercial não passível de extração.

A eliminação da regeneração Tipo1 deverá atender aos procedimentos

estabelecidos em normas operacionais e, sobretudo a recomendações da planificação.

Em relação aos tipos 2 e3 a eliminação será realizada através de roçada manual e

anelamento das árvores, respectivamente.

IV Mapa de “Talhão de conservação”.

Um mapa com a estratificação das áreas de vegetação nativa deverá ser

adotado. Nele estará plotado o resultado do levantamento dos maciços de regeneração

de pinus, bem como sua classificação com relação ao “Tipo” de regeneração (Tipo 1,

Tipo 2, Tipo 3). Este mapa permitirá estabelecer uma base de dados das intervenções

realizadas nas áreas.

• CAR MAIOR 2006-09

Reimplantar o sistema de controle de embalagens de pesticidas no Distrito de Moquén exigindo que as embalagens sejam inutilizadas (P6C6).

A empresa já reimplantou o procedimento para controle da devolução de

embalagens inutilizadas, tanto no distrito de Moquém como revisou em todos os outros

distritos.

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• CAR MAIOR 2006-10

Apresentar um plano de Divulgação do Seminário Público do PMF (Plano de

Manejo Florestal) incluindo mecanismos de esclarecimento de dúvidas.

Colocar no atual Seminário Público, o endereço, telefone e pessoas de contato.

Apresentar uma listagem dos Sumários já entregues (P7C4).

A Valor Florestal identificou as entidades e cidadãos representativos da

sociedade civil, tanto de municípios onde atua quanto as entidades estaduais e

instituições de ensino e pesquisa em nível nacional, e enviou o Sumário Público a todos.

6. Manejo Florestal

Historicamente a formação brasileira se insere num processo de apropriação de

suas terras, de usurpação de seus recursos naturais e de suas populações. A formação

colonial significou a conquista de novos espaços comandada por um espírito

colonizador que se expressou pelo padrão extensivo e intensivo do uso dos solos, que

segundo Moraes (1994), imprime na sociedade um forte elemento identitário

correlacionado com a idéia de conquista.

Essas determinações coloniais pautadas pela dependência externa, pela

subvaloração de seus elementos naturais preexistentes, persistiram até mesmo após o

processo de independência. Uma vez que o processo “emancipatório” não rompeu com

a herança colonial, as elites permanecem pensando seus países como espaços passíveis

de serem conquistados e acabam por incorporar novas frentes a seus domínios. Moraes

(1994) afirma que a própria motivação expansionista iniciada com o estabelecimento

das primeiras missões portuguesas nos idos de século XVI, permanece sob bases sólidas

capaz que recriar um ambiente com mesma orientação. A ideologia propagada pelos

diferentes períodos históricos brasileiros tem como matriz principal o ideário de

construção. Tal idéia, afirma o mesmo autor, tem como pressuposto uma ação

colonizadora, uma forma de ocupação territorial de caráter exploratório como condição

sine qua non de um projeto de nação.

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Mais adiante com as sucessivas etapas econômicas vinculadas aos processos

de industrialização, as florestas brasileiras acabaram sendo apropriadas, como afirma

Couto & Alves (s/d) como um recurso de difícil esgotamento, não se justificando então,

preocupações e cuidados de cunho preservacionista, e até mesmo conservacionista.

Objetivava-se simplesmente seu uso imediato, a curto prazo, sem nenhuma preocupação

com o ritmo de esgotamento. Nesse caso as únicas formas de regulação são as do

mercado. Para tanto enquanto seus sinais forem favoráveis a exploração, assim

prossegue. Falamos aqui de um comportamento exploracionista. (Raffestin, 1993).

Na década de 60 mais especificamente, a atividade ligada à agricultura

comercial e de exportação cresce de forma substancial. Tal crescimento agrícola abarca

novos espaços expandindo assim as fronteiras agrícolas as quais muitas vezes são

incentivadas pelas políticas setoriais e intersetoriais de desenvolvimento. Direitos de

ocupação de terras e incentivos agrícolas foram os fatores facilitadores da referida

expansão. Segundo Couto & Alves (s/d) os sucessos do padrão de crescimento se

alicerçavam num paradigma predatório levando em consideração as conseqüências

ambientais, sociais e econômicas, essa última de segunda ordem. Foi notória nesse

período a degradação galopante dos recursos naturais, como a perda de fertilidade dos

solos bem como a intensificação dos processos erosivos, a supressão da cobertura

vegetal, o aumento da concentração fundiária e a pauperização dos trabalhadores rurais

que desempenhavam suas atividades com base na agricultura familiar.

Num contexto de expansão da atividade agrícola, da formação de uma

estrutura social hierárquica marcada pela exclusão e pelo favorecimento de um estrato

social de caráter patrimonial, reforçou-se a noção de que as florestas eram áreas

“improdutivas” sendo um obstáculo ao uso “produtivo” do solo. Daí então é um passo

para a associação direta entre desenvolvimento e desmatamento. Essa idéia tem reflexos

no valor imobiliário das propriedades, em que as áreas florestadas possuem valores

monetários inferiores as desflorestadas, exceto logicamente nos pólos madeireiros.

(Couto & Alves, s/d).

Há inúmeros outros fatores que não estimulam a manutenção das florestas,

como por exemplo, o não incentivo àqueles proprietários os quais não suprimem a

vegetação em detrimento a expansão de outras atividades possíveis, lembrando ainda

que as atividades agropecuárias dispõem de grande quantidade de linhas de crédito de

fácil acesso. O preconceito contra florestas se evidencia também nas práticas das

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instituições financeiras que não apropriam as mesmas como valor caucionário para

concessão de empréstimos, segundo afirmam os autores citados.

Outra questão assinalada, gira em torno da titulação das terras, sendo os títulos

de posse fundamentados em sua produtividade. Uma propriedade quando destinada à

atividade florestal acaba por não ser reconhecida como produtiva, não se percebem os

ativos florestais como forma efetiva de uso do solo. A claúsula de desapropriação de

terra regulamentada pela legislação brasileira diz respeito também à questão da

produtividade. O processo de incorporação a uma outra área reconhecida como tal é

sucedida pela conversão da floresta em pastagens, como forma de garantir o título de

posse.

Segundo ainda os autores acima citados, a expressão manejo florestal

significava apenas atividades ligadas à produção contínua de madeira, não trazia noções

de planejamento ligado à economia e à ecologia, com base no princípio de regime

sustentado e de múltiplo uso a médio e longo prazo. Segundo Nardelli (2001), a idéia

que permeava o discurso do manejo florestal sustentável se alicerçava na produção

baseada em práticas que se restringiam na divisão da floresta em classe de idade que

poderia gerar uma colheita regular anual, garantindo assim um estoque em crescimento

ano a ano. Entretanto, essa forma de manejo manteve-se até meados do século XX. Já

nos anos 60 do mesmo século desenvolve-se o manejo a partir do conceito de “múltiplo

uso da floresta”, em que a produção não se baseava somente na produção de madeira,

mas sim na de alimentos, preservação da diversidade das espécies tanto animais quanto

vegetais, complementa a autora.

A partir de então, nos idos dos anos 80 e 90, as questões relativas ao manejo

florestal adequado são discutidas nos principais encontros e acordos firmados no plano

internacional, como Rio-92, Agenda 21 e Convenção da Biodiversidade (Nardelli,

2001). Nota-se que a idéia de sustentabilidade já está presente nos primórdios da

atividade florestal e ganha ainda mais força com a popularização da temática ambiental,

porém não nos esqueçamos de que o contexto em termos da produtividade em meados

do século XX era outro, portanto, consideremos este fator em sua aplicação.

No ano 2000, mais precisamente em 2004, foi elaborado o Programa Nacional

de Florestas (PNF-Decreto n° 3.420). Conforme o projeto de consolidação dos

instrumentos políticos e institucionais para implantação do programa nacional de

florestas do MMA (Ministério do Meio-Ambiente), o PNF engloba três linhas

programáticas do Plano Plurianual de Aplicações 2000-2003 que são: Expansão da Base

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Florestal Plantada e Manejada, conhecido como FLORESTAR, florestas sustentáveis,

SUSTENTAR e Prevenção e Combate a Desmatamentos, Queimadas e Incêndios

Florestais, FLORESCER. Os sistemas de manejo e conservação advindos do PNF

foram, segundo os mesmos autores, amplamente debatidos com ONGs, com diversas

esferas governamentais, institutos de pesquisa e com os setores empresariais da área.

(Couto & Alves, s/d).

A gestão dos recursos florestais tem que ser compartilhada entre União,

Estados e Municípios sendo inscrita nos artigos 23 e 24 da Constituição Federal (1988)

e suas determinações.

Outro instrumento legal de proteção e controle de florestas e outras formas de

vegetação é o Código Florestal, Lei Federal n. 4771/1965. Esse código reconhece as

florestas como um bem que é comum a todos os habitantes de um país, prevendo

sanções e penalidades aqueles possíveis contraventores, a necessidade da reposição

florestal em decorrência da exploração de madeira e a manutenção da Reserva Legal

obrigatória que pode variar de acordo com as características da área, dentre outras

deliberações.

6.1 Plano de Manejo

O plano de manejo basicamente tem por finalidade definir o modo como a

floresta será explorada, o que inclui o zoneamento da propriedade, distinguindo as áreas

de exploração, as zonas de preservação permanente e os trechos inacessíveis. Planeja-se

a rota das estradas secundárias e dividi-se a área total de manejo em talhões de

exploração anual. Por último define-se a seqüência de exploração do talhão ao longo do

tempo. Esta medida visa reduzir os impactos da exploração madeireira sobre os

ecossistemas locais e também a proteção contra o fogo florestal.

Plano de Manejo pode ser entendido como um projeto dinâmico que determina

o zoneamento de uma área, caracterizando cada uma de suas zonas e propondo seu

desenvolvimento físico, de acordo com suas finalidades. Estabelece desta forma,

diretrizes básicas para o manejo da área.

Mais especificamente o plano de manejo florestal deve conter informações

precisas sobre a área e características da floresta, as técnicas de exploração, regeneração

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e crescimento das espécies comerciais, cronograma de exploração num período de um

ano e uma projeção dos custos e benefícios do empreendimento.

6.2 Plano de Manejo Valor Florestal 6.2.1 Objetivos do Manejo

As atividades desenvolvidas na Florestal Vale do Corisco Ltda têm como

objetivos:

• A implantação e manejo de plantações florestais para múltiplos usos;

• A comercialização de produtos florestais para o mercado (toras, sementes,

etc.);

• O abastecimento de madeira para a fábrica da Norske Skog Pisa Ltda,

através do contrato WSA – Wood Supply Agreement com validade de 50

anos.

Para atender à política da empresa, foram estabelecidas as seguintes diretrizes:

• Respeitar as leis brasileiras, os tratados internacionais e os acordos

assinados pelo país, além de obedecer a todos os princípios e critérios do FSC;

• Definir, documentar e legalizar as posses de longo prazo e os direitos de

uso da terra dos recursos florestais;

• Reconhecer e respeitar os direitos legais e constitucionais das comunidades locais de possuir, de usar e de manejar suas terras, territórios e recursos;

• Manter ou ampliar, a longo prazo, o bem-estar social e econômico dos

trabalhadores florestais e das comunidades locais;

• Incentivar o uso eficiente e otimizado dos múltiplos produtos e serviços das plantações, de modo a assegurar a viabilidade econômica, bem como benefícios ambientais e sociais;

• Conservar a diversidade ecológica e seus valores associados, os recursos

hídricos, os solos, os ecossistemas frágeis e as paisagens singulares;

• Implementar o Plano de Gestão através de definições claras dos meios e dos prazos para atender seus objetivos, e de revisões periódicas.

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6.2.2 Composição da floresta

Administrativamente as propriedades foram divididas em cinco distritos:

Moquém, Jaguariaíva, Sengés, Ouro Verde e Pouso Alto, conforme apresentado na

figura abaixo. Abaixo estão relacionados os distritos da Vale do Corisco que, por sua

vez, são formados por uma série de Fazendas, distribuídas da seguinte maneira como

mostra o quadro n°1 abaixo:

Quadro n °1

Distrito Área Total Efetivo Plantio Sengés 31.632 19.874 Jaquariaíva 25.557 15.165 Moquém 20.469 9.544 Pouso Alto 8.786 5.237 Ouro Verde 15.850 8.557 TOTAL 102.295 58.376

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Na Figura 2 abaixo é apresentada a distribuição dos distritos e suas unidades florestais.

6.2.3 Sistema Silvicultural

O sistema silvicultural adotado é de monociclo com idades uniformes por

talhão, com a realização de podas, desbastes e cortes rasos em determinadas idades

conforme o site, procurando a maximização de volumes de madeira produzidos.

6.2.4 Sistema de manejo

Os pinus tropicais plantados pela Vale do Corisco atualmente são o pinus

caribaea var. hondurensis e pinus maximinoi. As plantações da Vale do Corisco distam,

em média, 60 km do maior pólo consumidor de madeira, situado no município de

Jaguariaíva.

Com o final do incentivo fiscal em 1985 o volume de plantio de florestas teve

um decréscimo significativo. Entre 1987e 1997, as plantações que hoje pertencem à

Vale do Corisco passaram a ter uma área de plantio média de 1.800 ha por ano, A área

plantada antes desse período terá a colheita terminada em 2009.

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Com o objetivo de garantir a “sustentabilidade” da produção e também de

atender ao aumento da demanda pelo mercado, a Pisa Florestal aumentou seu programa

de plantio, a partir de 1.998, para 4.000 hectares por ano, o que ocorreu até 2001. Em

2002 e 2003, quando as florestas pertenciam à Vale do Corisco, foram plantados em

média 3.500 hectares e em 2004, 5.500 hectares, superando a meta que era de 4.000

hectares. Em 2005 voltou-se à meta de 3.500 ha/ano, fato este que se repetirá em 2006.

Nos próximos anos estão previstos um plantio anual de 2.500 a 3.000 hectares, devido à

redução de área disponível pelo corte raso. Nos plantios comerciais são utilizadas

sementes geneticamente melhoradas de pinus taeda, oriundas de um programa de

pesquisa, que vem sendo conduzido há mais de 20 anos e que está sendo mantido pela

referida empresa.

Atualmente, cerca de 70 a 80% da área é plantada com pinus taeda e os outros

20 a 30% com pinus caribaea var. hondurensis e pinus maximinoi, cujas sementes são

provenientes de testes de progênie.

6.2.4.1 MANEJO

Atualmente esta sendo usada apenas uma prescrição de manejo. O

espaçamento utilizado é o de 3m X 2m (1.666 árvores por hectare), e estão previstas

podas apenas na primeira tora, ou seja, antes mesmo do primeiro desbaste. A descrição

do manejo segue no quadro n° 2 logo abaixo.

Quadro n°2

Intervenção Idade Tipo Árvores remanescente/ha 1° desbaste 7 a 9 Sistemático. 7ª linha +

seletivo 800

2° desbaste 11 a 14 Seletivo 400 Corte raso 20 0

6.2.4.2 DESBASTE

As plantações são conduzidas visando à otimização das árvores, priorizando o

abastecimento de madeira para todos os seus clientes, desde indústrias de processo até

laminadoras. Em condições normais, o primeiro desbaste tem sido realizado entre 7 e 9

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anos de idade, com a retirada de aproximadamente 50% das árvores existentes,

realizando o corte sistemático na 7ª linha das plantações não podadas e na 5ª ou 6ª linha

das plantações podadas. Nas demais linhas de plantio realiza-se a operação de marcação

seletiva das árvores dominadas, geralmente aquelas que apresentam alguma anomalia

como bifurcação ou germinação.

O segundo desbaste tem sido realizado entre 11 e 14 anos de idade, com a

retirada de aproximadamente 50% das árvores remanescentes através do processo

seletivo das árvores de menor qualidade e menor volume individual.

O corte raso vem sendo realizado em plantios de até 35 anos devido à grande

quantidade de áreas nessas condições. Futuramente pretende-se realizar esta atividade

em florestas com até 20 anos de idade.

6.2.4.3 PODA Visando a um produto de maior valor agregado, a empresa adota a prática da poda apenas da primeira tora (altura de poda até 3,20 metros) somente nos sítios de alta produtividade e nos plantios de espécies tropicais. 6.2.4.4 PROGRAMA ANUAL DE PLANTIO

O Programa Anual de Plantio foi elaborado para atender às necessidades

comerciais da empresa, bem como a legislação vigente. Esse programa contempla a

execução de ações paralelas, ou seja, a execução do Plano de Recuperação das Áreas de

Preservação Permanente, do Plano de Eliminação de Espécies Exóticas em Áreas de

Conservação e o Plano de Conservação das Estradas por Distrito.

O programa anual de plantio foi desenvolvido obedecendo à área disponível,

oriunda do corte raso das plantações adultas e de fazendas adquiridas de terceiros para a

realização de plantios.

6.2.4.5 PLANO DE CONSERVAÇÃO DE ESTRADAS

O referido Plano será executado em concordância com o Programa Anual de

Plantio, dividido em Distritos Florestais. O Plano teve iniciou em julho de 2001, com

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prazo até o ano de 2014 para que seja realizado em toda a área de plantio. O prazo,

portando, de 14 anos, coincidirá com o período de rotação para maximização da

produção das florestas já plantadas. O montante de estradas conservadas a cada ano será

condicionado ao total de área de plantio anual para cada Distrito Florestal da empresa.

Por exemplo, se o Programa Anual de Plantio de um determinado Distrito totalizar 1000

ha, serão conservadas as estradas de um ou mais Projetos que estejam relacionados a

essa área.

Em 2008 se iniciará o programa regularizador das áreas em segundo desbaste,

quando será executado o corte raso com objetivo de recuperar as áreas de preservação

permanente, aumentando as áreas de estrada conservadas. Cabe salientar que algumas

dessas áreas já foram reformadas antes do previsto. Considerando-se as diferentes

necessidades de utilização de cada segmento no interior das propriedades da Valor

Florestal, a malha viária foi subdividida em categorias, as quais demandam parâmetros

de recuperação e conservação também distintos.

6.2.4.6 PLANO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL

O Plano de Gerenciamento Ambiental, segundo as diretrizes da empresa, deve

assegurar o cumprimento da legislação pertinente, bem como buscar a conservação da

biodiversidade ecológica e de seus valores associados.

6.2.4.7 PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Esse plano assume o compromisso de manter, a partir de julho de 2001 e em

função do Programa Anual de Plantio, o cumprimento da legislação florestal no que

concerne às distâncias a serem respeitadas junto às nascentes de água, e de rios e

córregos adjacentes às plantações florestais da empresa para manutenção de uma área de

preservação permanente. Esse Plano será cumprido em conjunto com o Plano de

Eliminação de Espécies Exóticas em Áreas de Conservação. O montante da área onde

serão eliminadas as espécies exóticas a cada ano estará condicionado à área de plantio

programada pelo Distrito Florestal da empresa.

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As áreas definidas por Lei como Áreas de Preservação Permanente (APP’s), e

que se encontram com plantios florestais, serão restabelecidas através das seguintes

ações:

• Corte raso de plantios adultos em APP a partir de 2001. • Corte raso de plantios jovens em APP a partir de 2006. • Corte raso de plantios em APP com idade para 2° desbaste a partir de

2008. • Corte Raso - Plantações adultas.

A titulo de esclarecimento, fazemos notar que são consideradas adultas as

plantações de pinus e eucalipto da empresa, com data de plantio entre 1968 e 1984.

Essas plantações serão cortadas na sua totalidade nos próximos 09 anos, a contar de

julho de 2001. Já plantações jovens referem-se a todas as florestas de pinus e eucalipto

da empresa com data de plantio superior a 1985. Essas áreas serão cortadas entre os

anos de 2006 e 2014. Para os plantios situados em áreas de conservação com idade de

2° desbaste, será realizado o corte raso, a partir de 2.008.

A necessidade de 14 anos para a execução do Plano de Recuperação das Áreas

de Preservação Permanente está condizente com o tempo necessário para que as

florestas jovens atinjam no mínimo a idade para o 2º desbaste. Apenas então estas

seriam submetidas ao corte raso, quando estiverem em áreas de preservação permanente

não respeitadas no período da implantação.

Qualquer período inferior ao proposto significaria o corte raso de florestas

com baixo valor comercial e, conseqüentemente, um prejuízo financeiro. A realização

do corte raso de florestas em áreas de conservação a partir do 2º desbaste ameniza o

prejuízo financeiro pela oferta de sortimentos diferenciados e com maior valor

agregado, com reconhecimento no mercado.

Considerando o fato de que as áreas da empresa estão situadas em diferentes

tipos de vegetação, as possíveis técnicas silviculturais de recuperação das APP´s serão

avaliadas caso a caso. A princípio, prevê-se a eliminação de espécies exóticas existentes

através do anelamento ou da retirada da árvore para aproveitamento comercial. Em

função da vegetação existente, preferencialmente, poder-se-á deixá-la recuperar

naturalmente ou através do plantio de espécies pioneiras e secundárias.

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6.2.4.8 PLANO DE ELIMINAÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS EM ÁREAS DE CONSERVAÇÃO

A partir de julho de 2001, todas as Áreas de Conservação sofreram a

intervenção para a manutenção de suas características, através da eliminação de plantios

indevidamente posicionados e da regeneração de espécies exóticas. Estarão incluídas

nesse Plano as áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal e Reserva Particular do

Patrimônio Natural. Será adotado o procedimento de corte raso dos plantios localizados

em Áreas de Conservação, sendo estes talhões realocados.

O Plano está sendo executado em concordância com o Programa Anual de

Plantio, dividido em Distritos Florestais. O início desse Plano ocorreu em julho de

2001, com prazo para execução em toda a área de plantio em 2014. O montante da área

de onde serão eliminadas as espécies exóticas a cada ano estará condicionado à área de

plantio programada por Distrito Florestal da empresa. Até o momento as áreas

regularizadas foram 455 ha de áreas de conservação.

Serão eliminadas as espécies pinus spp. e eucalyptus spp. que se encontrem na

situação de localização mencionada. Conforme o tamanho (altura e diâmetro) e

quantidade (nº de plantas por unidade de área) dos plantios posicionados indevidamente

e das plantas de regeneração encontradas, e das condições de relevo, os métodos de

eliminação adotados serão: corte com motosserra, corte com foice, roçada ou

anelamento. Quando a regeneração não estiver localizada em áreas da Vale do Corisco,

mas, for proveniente de sementes dos seus plantios ou de plantios de terceiros, esta

também será eliminada, desde que em conformidade com a vontade do proprietário da

área.

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Foto1: Retirada de espécies exóticas em APP. Autor: Frederico Muller Bisogni

A seguir, elencamos procedimentos recomendados e adotados pela empresa:

• Realizar o planejamento da área, aproveitando a declividade do terreno. • Em florestas com sub-bosque intenso, realizar roçada pré-corte para

facilitar a visão entre os envolvidos na operação. • Com auxílio de um guincho acoplado a um trator, serão puxadas estas árvores com o objetivo de direcionar a queda. 1 Guinchamento individual: • Utilizado em casos de árvore muito pesada e com forte inclinação para a

mata nativa, etc. • A altura de amarração do cabo deverá ser de no mínimo a 3 metros da base

da árvore. Quanto mais alto melhor será sua eficiência. Utilizam-se duas varas para erguer o cabo. Em caso de árvores com muita inclinação ou grossas, a altura de amarração do cabo deverá ser mais elevada.

• Utilizar corretamente as técnicas de derrubada. • Deve existir a sincronia entre a derrubada e o guinchamento. • Caso não haja visibilidade entre operadores, será necessário que o ajudante

intermedeie as ações. • À distância entre o trator com guincho e as árvores a serem abatidas deverá

ser, no mínimo, duas vezes a altura média das árvores.

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2 Guinchamento em grupo:

• Passa-se o cabo do guincho, abraçando um número máximo de 05 árvores, caso estas árvores encontrem-se alinhadas.

• Laçar um número menor de árvores, caso estas se encontrem desalinhadas, observando a seqüência da derrubada.

• A altura do cabo, cortes na técnica, trabalho em sincronia, visualização e distância do guincho, devem seguir os mesmos procedimentos do guinchamento individual.

Derrubando e Guinchando uma de cada vez

Sequencia de Árvores a serem derrubadas

Sentido de Derrubada

1

1,2,3...

2

3 4

5

Com Alinhamento

APP

Sentido de Derrubada

Sentido de Derrubada

Primeira Sequencia de Árvores a serem derrubadasSegunda Sequencia de Árvores a serem derrubadas

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6.2.5 Projetos Ambientais e Sociais Programados e Desenvolvidos

Os projetos ambientais e sociais desenvolvidos pela Valor Florestal tiveram

início, em sua maioria, no ano de 2001, após a adoção do selo FSC. Muitos deles estão

em andamento e sem data prevista para término. Aqueles aqui apresentados são

resultado das pesquisas realizadas nos arquivos presentes no sistema da empresa durante

o estágio.

As informações a seguir foram trabalhadas e apresentadas de acordo com

disponibilidade dos relatórios e documentos de acesso, os quais muitos deles, não

continham informações além das que serão apresentadas a seguir.

Sendo assim, haverá uma desproporcionalidade com relação ao conteúdo dos

projetos apresentados, mesmo assim optou-se por dar ênfase da mesma forma, àqueles

com poucas informações disponibilizadas.

Primeira Sequencia de Árvores a serem derrubadas

Terceira Sequencia de Árvores a serem derrubadasSegunda Sequencia de Árvores a serem derrubadas

Quarta Sequencia de Árvores a serem derrubadas

Sem Alinhamento

APP

Sentido de Derrubada

Sentido de Derrubada

11

2

3

4

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6.2.5.1 Monitoramento da Fauna

O Plano de Monitoramento da Fauna Silvestre tem como objetivo obter

informações para auxiliar a linha de ação da empresa, levando à manutenção e à

melhoria das condições de vida da Fauna Silvestre nas suas propriedades e em toda sua

região de atuação.

O Monitoramento está sendo realizado através de levantamentos periódicos,

sempre nos mesmos locais (amostragem por ponto fixo), com intervalos de 2 meses por

grupo (mastofauna e avifauna) alternadamente, entre um levantamento e outro. Ao fim

de dois anos de monitoramento será possível analisar a flutuação na estrutura da

comunidade que está sendo estudada, e avaliar as condições de habitat. O trabalho se

iniciou no distrito de Jaguariaíva, depois será feito o monitoramento no distrito de

Sengés e futuramente no distrito da Moquém.

Para isso, é importante que se tenha implantado um sistema de fichas e

ocorrências e treinamento de funcionários ou pessoa responsável pelo recebimento e

triagem de animais silvestres para preenchimento de formulário e encaminhamento de

animais silvestres encontrados na propriedade nas mais diversas situações: animais

mortos por atropelamento, feridos, órfãos, doações, apreensões e capturas.

Tanto para as fichas de ocorrência como para as fichas de visualização, deve

haver uma normatização para sua utilização. O uso normatizado das fichas de

ocorrência tem por objetivo estimular funcionários e as demais pessoas envolvidas a

enviarem animais silvestres atropelados ao departamento responsável, possibilitando

sua correta identificação, registro e aproveitamento para o acervo do museu. Em

paralelo, serão elaboradas normas internas que contemplem aspectos como proibição da

caça em todas as propriedades da empresa durante o ano todo, e a proibição da pesca na

época da piracema, que acontece de outubro a março.

6.2.5.1.1 Programa de Levantamento e Monitoramento da Fauna

Silvestre: Mastofauna

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Vêm sendo desenvolvidos estudos de diagnósticos e monitoramento de

mamíferos nos Distritos de Jaguariaíva e Mocambo, região essa apresentando elementos

típicos da Floresta de Araucária, campos e cerrados.

Métodos

O diagnóstico mastofaunistico está sendo realizado mediante a utilização de

métodos convencionais de estudo como: busca de evidências diretas (visualizações e

localizações), e indiretas (rastros, amostras fecais, tocas e restos de alimentos, etc.).

Além deste, procede-se ao monitoramento de mamíferos de pequeno porte por meio da

utilização armadilhas live trap e redes de neblina mist nets para a captura e ainda do uso

de adaptadores fotográficos. Os animais capturados recebem anilhas (morcegos) e

brincos (pequenos roedores e marsupiais) metálicos numerados para verificação de

trânsito entre remanescentes florestais e áreas de reflorestamento de pinus e fidelidade

de habitat. No distrito de Jaguariaíva está em fase de implantação o monitoramento do

lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), puma (Puma concolor) e tamanduá-bandeira

(Myrmecophaga tridactyla). Os indivíduos capturados serão anestesiados para avaliação

sanitária e posteriormente serão soltos com radar-colar para continuarem sendo

monitorados (Todo o procedimento terá autorização prévia do IBAMA).

Resultados preliminares

No distrito de Jaguariaíva foram registradas efetivamente em campo 39

espécies de mamíferos, enquanto que no distrito de Mocambo foram registrados até o

momento 29 espécies. As duas áreas apresentam similaridade, com alguns

representantes exclusivos.

Os talhões de pinus com idades mais avançadas favorecem o deslocamento de

espécies entre os remanescentes naturais, principalmente para espécies de grande e

médio porte. No entanto, aponto uma preocupação de manejo. Uma vez que estas áreas

sofrerão corte raso, haverá um impacto imediato sobre a fauna local pela supressão total

destas conexões.

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As áreas remanescentes de vegetação nativa na região são de suma

importância para a conservação da fauna local, por atuarem como locais de

forrageamento e abrigo.

Dentro do mesmo programa há um projeto e estudos realizados no ano de

2006 para equacionar os problemas relacionados aos danos decorrentes das populações

de macaco-prego (Cebus apella), realizado pela Bio Gênesis Consultoria e

Gerenciamento Ambiental Ltda. Avaliações foram feitas no tocante aos danos causados

por essas espécies e possíveis alternativas para evitá-los e os custos-benefícios gerais

das alternativas de manejo.

Objetivos do projeto

Relacionamos, a seguir, os objetivos do projeto:

• verificar os itens alimentares utilizados por essa espécie nas áreas de estudo;

• verificar a disponibilidade desses alimentos nas áreas de estudo;

• verificar a porcentagem de árvores predadas de pinus spp para as áreas de

estudo;

• comparar disponibilidade de alimento com a porcentagem de predação ao

pinus

spp;

• realizar avaliações comportamentais e ecológicas os bandos estudados.

6.2.5.2 Parte do Programa de levantamento Florístico e fitossociológico

Nesse programa os objetivos e procedimentos adotados estão relacionados

abaixo conforme consta nos projetos arquivados e disponibilizados pela empresa.

• caracterização fitofisiológica dos remanescentes de vegetação natural;

• caracterização florística e estrutural através de levantamentos

fitossociológicos dos remanescentes de vegetação natural;

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• avaliação do estado de conservação dos remanescentes;

• monitoramento fenológico voltado principalmente para espécies da flora

que potencialmente sirvam de suprimento alimentício para fauna frugívora;

duração de um ano acompanhando todas as estações do ano.

Passos a serem seguidos na recuperação da referida da APP:

• delimitação da área de preservação permanente: através de estacas de bambu, dispostas de forma visível;

• obtenção de mudas de espécies nativas do local: a recomposição das

comunidades florestais no entorno do reservatório deverá utilizar mudas de espécies observadas no local, priorizando aquelas mais rústicas, preferencialmente de dispersão zoocórica. Parte destas espécies podem ser encontradas no IAP; para as não encontradas monta-se um viveiro destinado a sua produção. As mudas seriam produzidas com sementes coletadas nos fragmentos remanescentes, baseando-se nas espécies detectadas (pioneiras e secundárias).

• delimitação dos trechos originalmente ocupados por vegetação campestre:

a delimitação das manchas destinadas à recuperação de campos deverá ser materializada por estacas de bambu e fitas plásticas de sinalização. Tal processo deverá ser realizado antes do plantio das mudas de espécies arbóreas;

• delineamento do plantio de mudas: numa faixa de 30 m ao reservatório as

mudas deverão ser plantadas num espaçamento 3x2m, no intuito de potencializar a formação de cobertura florestal rapidamente e proteger os cursos d’água dos processos erosivos atuantes, bem como do assoreamento. Nas demais áreas, que não se enquadram como manchas de campo, o espaçamento entre mudas deverá ser de 5x5 m.

• plantio de mudas: deverá ser efetuado no inicio da primavera, período de

chuvas. Deve ocorrer preferencialmente em dias nublados ou mesmo com leve precipitação, pouco antes de chuvas já previstas para os dias subseqüentes As covas deverão ser dimensionadas com folga para q o torrão de muda possa ser envolvido com camada de terra local.

• revegetação de voçorocas para contenção de erosão: no caso especifico

para as voçorocas existentes nas margens do reservatório, deverá ser dedicada atenção especial para a contenção do processo erosivo. Deverão ser plantadas de forma bastante adensada, 2x2 m, espécies arbóreas nativas de desenvolvimento vigoroso como Schinus terebinthifolius, Miconia sellowiana e Myrsine coriacea, além de arbustos pioneiros como o juquiri (Mimosa sp) e vária solanáceas ( Solanum spp);

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• tratos culturais e monitoramento do plantio: três meses após o plantio deverá ser realizada a primeira visita de monitoramento visando, principalmente, à reposição das mudas que porventura tenham sucumbido. A roçada e o coroamento no entorno das mudas deverá ser realizado durante dois anos com freqüência semestral;

• tratos culturais e monitoramento das manchas de vegetação campestre: os

locais delimitados como manchas de vegetação campestre deverão ser abandonados a regeneração natural. Com plantio ou somente através da regeneração natural, os tratos culturais e o monitoramento das manchas de campo se limitam à retirada periódica dos indivíduos de pinus, a ser realizada semestralmente, de forma continua;

• enriquecimento com espécies clímax: o enriquecimento dos plantios

florestais não é obrigatório, tendo em vista que as aves e outros elementos da fauna se encarregarão de enriquecer a área em recomposição de forma natural, principalmente por existir um remanescente relativamente bem conservado nas proximidades da área a ser recuperada. No entanto, no momento em que o plantio de pioneiras e secundárias tomar conformação florestal, com as copas formando cobertura continua sobre o solo, poderá ser realizado um plantio de enriquecimento, priorizando assim as espécies clímax identificadas, com espaçamentos grandes de aproximadamente 10x10 m.

Métodos

A caracterização dos remanescentes vegetais nativos está sendo realizada

através do levantamento fitossociológico das comunidades arbóreas e do levantamento

florístico de todas as espécies vegetais observadas.

A amostragem vem sendo feita com base em parcelas temporárias

distribuídas aleatoriamente. Para amostragem de florestas são consideradas todas as

árvores com circunferência maior ou igual a 15,7 cm, de acordo com medida tomada à

altura do peito. Já para amostragem de cerrados, são inclusos todos os indivíduos com

circunferência na base maior ou igual a 8,0 cm. São registradas além da circunferência,

valores de altura e ponto de inversão morfológica, posição sociológica e identificação

taxonômica.

O levantamento florístico é realizado de maneira paralela à coleta de dados

fitossociológicos e ao monitoramento fenológico sendo complementar a ambos. Este

consiste na coleta de amostras de espécies férteis, as quais são herborizadas,

identificadas e tombadas em Museu Botânico.

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6.2.5.3 MONITORAMENTO DA FRAGMENTAÇÃO E

CONECTIVIDADE DE ÁREAS NATIVAS

Existe uma preocupação em relação à fragmentação causada pelas atividades

antrópicas que interagem diretamente com áreas nativas, podendo-se incluir nesse caso

a atividade florestal. O grau de conectividade dos fragmentos florestais é vital à análise

da conservação da biodiversidade em plantações florestais. As matas ciliares, os

corredores entre interflúvios e os talhões voltados para cortes seletivos podem contribuir

para o aumento da conectividade.

A proporção de remanescentes de ecossistemas naturais e seus estados de

conservação são indicadores importantes da qualidade ambiental. As ações do plano têm

como objetivo possibilitar o conhecimento do grau de fragmentação e da conectividade

das áreas naturais na Vale do Corisco, bem como o seu monitoramento, contribuindo

para a conservação das áreas naturais e preservação da diversidade genética.

Está em andamento um estudo da paisagem do distrito de Jaguariaíva o qual

faz parte do projeto de Avaliação e Monitoramento do Nível de Fragmentos e

Conectividade das Florestas Nativas. Tem como objetivos principais:

• determinar a porcentagem de ocupação dos fragmentos na paisagem do Distrito;

• identificar os diferentes tipos de contato entre os remanescentes e a matriz

(floresta nativa primária);

• identificar a existência de estruturas de conexão e seu grau de percolação entre habitat;

• Apontar as estruturas de conexão necessárias para viabilizar o fluxo de

fauna entre fragmentos remanescentes; • Definir formas de implantação das estruturas de conexão, de acordo com a

necessidade local (tipo de conexão, espécies a serem utilizadas, extensão e largura dos corredores, entre outros).

Todos esses objetivos visam a melhorar a conservação dos remanescentes

florestais do Distrito de Jaguariaíva e possibilitam que a empresa trabalhe de acordo

com os objetivos traçados em seus planos de manejo e de gestão ambiental.

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As atividades foram iniciadas em março de 2007 e contaram com a análise e

recorte das imagens de satélite CBERS-2 de 6 de setembro de 2006, tratada e fornecida

pelo laboratório de geoprocessamento da Valor Florestal para definição da área de

estudo.

Nesse caso foram analisados mapas de uso do solo da fazenda e localizados os

fragmentos florestais nativos, bem como os possíveis acessos à área. Serão necessárias

idas a campo para conferência dos polígonos cuja classificação não foi possível ou

gerou dúvida.

Identificação e mapeamento dos fragmentos

Os fragmentos de matas naturais e campos nativos devem ser identificados e

mapeados, e em seguida avaliados em função de sua Biodiversidade. Essa fase está

sendo executada utilizando-se o material disponível (mapas e fotos aéreas), sua

interpretação e complementação em campo.

Monitoramento da Fragmentação

O monitoramento dos fragmentos está sendo realizado considerando-se a

manutenção de espécies de importância conservacionista. A manutenção destas espécies

pode ser avaliada através de levantamentos faunísticos periódicos, envolvendo aves,

insetos e anfíbios através de amostragem por pontos fixos.

6.2.5.4 RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL - RPPN

A RPPN Vale do Corisco se constitui em uma Floresta de Alto Valor de

Conservação, pelas seguintes razões:

• Apresenta espécies ameaçadas de extinção e se constitui em refúgio para a fauna e flora;

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• Constitui-se em importante paisagem dentro da unidade de manejo;

• É uma área de importância cultural, turística e ecológica para a

comunidade local.

Essa área foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural pelo

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

através da portaria 83/99-N, de 30 de setembro de 1999, demonstrando o interesse

público e em caráter de perpetuidade, de preservar esta área com 507,5 hectares,

denominada RPPN Vale do Corisco, situada nos municípios de Sengés e Itararé.

A RPPN - Vale do Corisco prevê entre seus objetivos o desenvolvimento de

estudos científicos e o aproveitamento de suas estruturas para o programa de educação

ambiental e ecoturismo. Pretende da mesma forma:

• Conhecer a biodiversidade das áreas da empresa e estabelecer reservas genéticas efetivas para a conservação in situ;

• Elaborar material a ser utilizado no Programa de Educação Ambiental;

• Obter subsídios para o restabelecimento da “Zona de Recuperação”,

previsto na manutenção da Reserva Particular do Patrimônio Natural através de um levantamento florístico e fitossociológico que poderá ter suas informações completadas pelo levantamento de fauna já concluído.

Dentro da RPPN, as áreas de maior instabilidade e, conseqüentemente,

prioritárias à recuperação, localizam-se ao longo da estrada de acesso à foz do rio

Capivari, as quais, depois de recuperadas, podem vir a integrar os programas de

desenvolvimento como trilha interpretativa e recreação.

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Foto 2 : Vista da estrada para o Vale do Corisco. Autor: Ângelo Spoladore

Foto 3: Vale do Corisco. Autor: Ângelo Spoladore

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Foto 4: Vale do Corisco. Autor: Ângelo Spoladore.

6.2.5.5 Projeto de Ecoturismo na RPPN Vale do Corisco

Dentre os projetos ambientais há o programa de ecoturismo na RPPN Vale do

Corisco. Esse projeto consiste numa parceria entre a Vale do Corisco e a Associação

Itararense de ensino, através do curso de Turismo das Faculdades Integradas de Itararé.

Seu objetivo é oferecer condições de visitação adequada que inclua a conservação do

ambiente em questão.

Há ainda o programa realizado pela empresa Facic Tur, juntamente com os

alunos da Faculdade de Turismo Facic/Fafit de Itararé-SP. Todos os finais de semana e

feriados, os alunos recebem turistas na sede da Facic Tur e os acompanham até à RPPN

Vale do Corisco, mostrando algumas características da Região e sobre a empresa. A

atividade é vista como estágio para os alunos da faculdade e um ponto turístico

divulgado pelas prefeituras de Sengés, PR e Itararé, SP.

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Essa parceria destaca pontos positivos para a empresa como “interação com a

sociedade e institutos educacionais” da região (conforme solicitado pelo FSC), além

disso, esse programa se desenvolveu através de uma CAR antiga do FSC e deve ter

continuidade para que não se torne uma CAR maior.

6.2.5.6 Programa de Levantamento de Cavernas de Sítios

Arqueológicos CAVERNAS

No ano de 2002 iniciou-se levantamento das cavidades naturais. Nessa

primeira etapa do trabalho foram identificadas, caracterizadas e registradas:

• Distrito Moquém: 15 cavidades (algumas em propriedades vizinhas) • Distrito Sengés: 12 cavidades • Distrito Jaguariaíva: 1 caverna • Distrito Pouso Alto: 1 caverna e 1 furna

Nem todas as cavidades foram estudadas detalhadamente por razões diversas,

conforme exposto a seguir: • Dimensão da caverna: caso uma cavidade não apresentasse pelo menos 10

metros de desenvolvimento ela não era mapeada, pois o Cadastro Nacional de Cavernas não aceita cavidades inferiores a 10 metros.

• O tempo e a dificuldade de se trabalhar no interior das cavernas,

especialmente nos abismos, fossos e furnas.

• Relatos de várias pessoas sobre a existência de uma caverna, com informações imprecisas, impossibilitando a sua localização.

O estudo dos ambientes subterrâneos tem por objetivo principal fornecer

subsídios para que haja uma valorização das cavidades naturais encontradas, da mesma

forma traçar um plano de demarcação das áreas de preservação permanente ao redor de

tais cavidades com a finalidade de desenvolver ações diretas e efetivas que possam

contribuir para a conservação dos elementos bióticos, abióticos e culturais existentes.

Esses estudos têm por base as legislações aplicáveis para a área com potencial

espeleológico (Constituição Federal Art.20, inciso X, Decreto n.º 9.556, de 01/10/1990 ,

Resolução CONAMA n.° 237/97, de 19/12/1997, Resolução CONAMA n.° 347/04, de

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13/04/2004, Portaria IBAMA n.° 887/90, de 15/06/1990 e IN n.° 100, 05/06/2006) bem

como os termos de referência solicitados pelo CECAV/IBAMA de março de

2007.(Spoladore, 2003)

As análises feitas levam em consideração os seguintes elementos:

• Dimensão e morfologia; • Peculiaridades geológicas, geomorfológicas e mineralógicas; • Ocorrência, constituição e interconexão de cavidades naturais

subterrâneas; • Existência, beleza e raridade dos espeleotemas; • Existência e regime dos cursos hídricos; • Ocorrência de ecossistemas frágeis e espécies endêmicas, raras ou

ameaçadas de extinção; • Diversidade biológica; • Potencial turístico; • Relevância histórico-cultural e socioeconômica.

Nas cavidades em que se desenvolveram estudos mais aprofundados, outras

atividades e procedimentos foram utilizados como:

• Monitoramento da temperatura e umidade relativa do ar; • Monitoramento do pH das águas internas das cavidades; • Levantamentos bioespeleológicos; • Levantamento biótico básico no entorno das cavidades; • Estudo sobre as estruturas impressas nas rochas nos ambientes internos e

externos; • Demarcação da projeção do contorno das cavidades em superfície; • Elaboração de proposta de área de preservação ao redor das cavidades

encontradas.

Junto aos levantamentos realizados em campo, pesquisas bibliográficas

serviram como base para a elaboração dos textos publicados como para o

enriquecimento dos estudos essa temática em âmbito acadêmico.

Anteriormente SPOLADORE (2003) já havia realizado o inventário das

cavernas situadas nos município de Sengés, sendo esses trabalhos tomados como base

para os estudos posteriores.

Uma das considerações mais relevantes diz respeito à ocorrência desse tipo de

ambiente desenvolvido em litologias areníticas das diferentes unidades lito-

estratigráficas da Bacia Sedimentar do Paraná. Sua gênese e desenvolvimento estão

associados à dissolução da sílica a ao fraturamento impresso nas rochas.

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Para a realização deste trabalho foram utilizadas diversas metodologias, de

acordo com as situações enfrentadas. Num primeiro momento a área total de estudo foi

subdividida segundo os Distritos Florestais anteriormente estabelecidos. Cada um dos

Distritos foi estudado separadamente, por meio de trabalhos de gabinete para levantar

dados já existentes sobre a região estudada. Assim, para cada um dos Distritos, antes

dos trabalhos de campo, foram realizados levantamentos geológicos, climáticos, sobre a

malha hidrográfica, bem como sobre a geomorfologia. Também foram consultados o

Cadastro Nacional de Cavernas, o Cadastro do Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional e o Cadastro de Sítios Geológicos, Geomorfológicos e

Paleontológicos do Brasil.

Para que as cavernas fossem encontradas e estudadas inicialmente buscaram-se

informações com os empregados mais antigos da firma bem como moradores da região.

Ocorria muitas vezes, as pessoas entrevistadas saberem da existência de cavernas, mas

quase sempre, não tinham o conhecimento preciso de sua localização. Caso a localização

fosse conhecida, solicitávamos que o informante nos acompanhasse até o local. Por outro

lado, se porventura a localização não fosse conhecida, buscava-se extrair o máximo de

dados do informante, para, num segundo momento, verificar essas informações com

outras pessoas. Somente então se saía a campo e toda a trilha era percorrida de automóvel

ou a pé, sempre demarcada por GPS e posteriormente plotada em mapa. Em campo,

quando uma caverna era localizada, a trilha de acesso era devidamente demarcada com o

auxílio de GPS, trena e bússola e referenciais obtidos in locu. As coordenadas UTM da

entrada da caverna também eram extraídas. O trabalho seguinte era de caracterização

geológica e geomorfológica e de observações quanto ao uso e ocupação, bem como das

condições ambientais da área de entorno da caverna. Posteriormente, passava-se a

explorar a parte interna da caverna. A equipe então, seguia até o final da cavidade,

procurando achar todos os salões, passagens e galerias, bem como identificar os

principais espeleotemas e formas de vida. Uma vez explorada a gruta, dava-se início ao

mapeamento e descrição da caverna bem como de estudos referentes ao microclima

interno da cavidade. O mapeamento era feito utilizando bússola, trena e clinômetro. Para

o estudo do microclima utilizavam-se termômetros diversos bem com higrômetros e

termo-higrômetros. As leituras dos aparelhos eram feitas de hora em hora durante todo o

período de trabalho. Também eram medidas as temperaturas da água (caso houvesse a

presença de algum corpo hídrico no interior da caverna), temperatura e umidade da parte

externa da mesma. O interior da caverna era então descrito e fotografado. Caracterizava-

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se o teto, paredes, chão e ornamentos. Terminada essa fase, eram buscados vestígios

arqueológicos. Assim, pinturas rupestres, petrogrifos, artefatos líticos e cerâmicos eram

buscados não somente no interior da cavidade, mas também nas áreas próximas aos

afloramentos rochosos, nascentes ou em pequenos terraços ou platôs próximos aos cursos

d’água.

Foto 5: Furna Cheia D’Água encontrada no distrito de Mocambo município de Sengés. Autor: Ângelo Spoladore.

Foto 6: Toca do Batista 2, distrito de Mocambo município de Sengés. Autor: Ângelo Spoladore

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Foto 7 : Boca da Toca do Batista 2. Autor: Ângelo Spoladore.

Foto 8 : Caverna Portão de Cima- Município de Sengés. Autor: Ângelo Spoladore.

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SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

O levantamento foi realizado juntamente com o de cavernas, detectou-se a

existência de sítios arqueológicos diversos, alguns com depósitos de artefatos líticos

lascados e/ou polidos e artes rupestres. Nos sítios encontrados, apenas foram realizados

estudos de enfoque arqueológico superficiais, não houve, portanto, escavação ou

qualquer outro tipo de estudo aprofundado. Os materiais encontrados, nos sítios, não

foram retirados do local, apenas fotografados e documentados.

Foto 9 – figuras zoomórficas e geométricas. Detalhe para a ação do intemperismo na rocha e também na pintura rupestre. Autor: Ângelo Spoladore

Foto 10 – figuras zoomórficas. Autor: Ângelo Spoladore.

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6.2.5.7 A Coleta de Resíduos orgânicos e inorgânicos

Os resíduos produzidos pelos funcionários dentro das unidades de manejo são

agora separados e classificados em classes de acordo com as características dos

mesmos. Para que realmente a coleta seja efetuada, todas as empresas prestadoras de

serviços devem ser orientadas e obrigadas a ter em suas áreas de atuação um padrão de

recipientes para a devida separação dos resíduos sólidos e líquidos. Abaixo segue a

descrição das classes e as orientações de uso.

Resíduo Classe 2 – Sólido (Material Reciclável): Papel (abriga todo e

qualquer material constituído de papel ou papelão não contaminado); Plástico (recebe

garrafas PET e sacos plásticos); Metal (recebe latas de tinta, sabres, correntes, latas de

alimento, cabos de aço, peças de ferro, telhas de zinco – não contaminados); Vidro

(recebe qualquer tipo de vidro não contaminado).

Resíduos Classe 1 - Sólido: Serão necessários DOIS recipientes de lixo: a)

Um recipiente de lixo destinado a receber resíduos sujos de óleo ou graxa (p. ex.: latas

de metal, galões, garrafas plásticas, estopa, EPI´s, filtros de óleo, mangueiras das

máquinas, qualquer recipiente contendo óleo e embalagens metálicas de alimentos). b)

Outro recipiente destinado apenas às embalagens de óleos lubrificantes.

Resíduos Classe 1 – Líquido: Um recipiente de lixo destinado a receber

apenas os óleos lubrificantes reutilizáveis.

Resíduos orgânicos

Para a coleta dos resíduos orgânicos é recomendado que se faça um buraco

(longe das APP ou Reservas Legais) onde se coloquem os restos de comida, papel sujo

ou molhado e, ao final do dia, o buraco seja corretamente tampado. Abaixo figura n°

ilustrando os recipientes e sua disposição:

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Foto 11 : Recipientes de resíduos utilizados pelas empreiteiras que atuam em campo. Autor: Frederico

Muller Bisogni.

Orientações divulgadas pela empresa:

• Todo lixeiro deve estar sempre tampado e corretamente identificado; • Lixo no transporte ou estradas: todo caminhão ou máquina que trabalha

isolada (estradas e silvicultura) deve ter ao menos um saco de lixo;

• Colocar uma proteção com serragem embaixo do tambor que contém resíduos contaminados com óleo;

• O tambor com o Resíduo Classe I-Líquido pode ficar junto ao depósito de

combustível, porém, deve estar devidamente identificado.

6.2.6 SISTEMA DE MONITORAMENTO

A Vale do Corisco realiza os monitoramentos, apresentando seus resumos

executivos sob os seguintes parâmetros:

Monitoramento Florestal

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• De pragas florestais como:

o Cinara spp. - pulgão-do-pinus o Atta spp. e Acromyrmex spp. – formigas cortadeiras o Sirex noctilio - vespa-da-madeira o Cebus nigritus – macaco-prego

• Incêndios • Inventário Florestal • Custos • Preparo da Madeira

Monitoramento Sócio-Ambiental

• Qualidade da Água Efluente dos Viveiros • Flora e Fauna • Agrotóxicos • Ocorrências com a Comunidade • Acidentes de trabalho: com e sem afastamento, pessoal próprio e de

empresas prestadoras de serviço. • Rotatividade de mão-de-obra. • Cumprimento de legislação trabalhista e tributária pelas eventuais

empresas prestadoras de serviços contratadas. • Áreas trabalhadas por ano no Programa de Eliminação de Pinus em Áreas

de Conservação.

Estimativa da máxima produção sustentada

A Empresa elabora seu planejamento a longo prazo, levando em consideração o

ciclo de maturação completo referente a uma rotação florestal, o que equivale a um

período de 20 anos. No final de cada ano, faz-se uma atualização das informações

cadastrais, levando em consideração as áreas onde foram realizados os cortes rasos e as

áreas de novos plantios. Após essa atualização, as florestas existentes são classificadas

em estratos com a finalidade de projetar os volumes e sortimentos disponíveis a serem

vendidos nos próximos 20 anos. De posse dessas informações, elabora-se o

planejamento de médio prazo (05 anos), quando são identificados os projetos que irão

ser cortados. Essas informações são disponibilizadas para a realização de uma

importante reunião entre as áreas de Planejamento, Comercial e Operacional, com o

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objetivo de elaborar o programa de curto prazo (12 meses), referente aos projetos que

irão ser cortados para atender à demanda dos clientes. A definição do planejamento de

curto prazo (12 meses) mostra-se complexa, visto que as plantações não foram

reguladas, existindo uma área muito grande de plantações velhas, um período com a

existência de pouco plantios, finalizando com uma área muito grande de plantações

jovens.

O volume de madeira disponível para a comercialização e o volume total

produzido são determinados para que os clientes saibam da capacidade produtiva de sua

fornecedora e possam, de posse desses dados, traçarem suas metas baseadas na oferta de

madeira. Abaixo segue o quadro n°3 com as espécies e sua produtividade por área:

Quadro n°3: Produtividade Florestal atual na Vale do Corisco por espécie

Espécies Produtividade atual (m3/há/ano)

Pinus taeda 25

Pinus oocarpa 35

Pinus elliottii 25

Eucalyptus spp 35

Estimativa atual e projetada da produção

A condução das plantações de acordo com as unidades de manejo descritas anteriormente e a programação de plantios novos deve garantir uma produção média de 1.400.000 m3 por ano. Na seqüência segue o quadro n° 4 com o potencial de produção por ano:

Quadro n°4

Ano 2010 2006 2007 2008 2009

Potencial de produção 1.400.000 1.500.000 1.400.000 1.400.000 1.500.000

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Uso de Pesticidas

Existem procedimentos detalhados sobre o uso de cada produto bem como da

incorporação de novos às práticas florestais. Tais procedimentos alertam para a

proibição do uso e/ou teste de pesticidas que contenham em sua formulação qualquer

dos produtos químicos proibidos pelo FSC.

Quadro n°5: Relação dos pesticidas utilizados

Nome Comercial Princípio Ativo Classe Toxicológica Ação Bendazol Benzimidazol III - Medianamente Tóxico Fungicida - viveiro Captan 500 PM Orthocide 500 Captan III - Medianamente Tóxico Fungicida semente

Derosal 500 SC Cabendazin III - Medianamente Tóxico Fungicida viveiro Decis 25 CE Deltametrina III - Medianamente Tóxico Inseticida viveiro Blitz F Fipronil IV - Pouco Tóxico Formicida K-Othrine 2P NA Deltamethrin IV - Pouco Tóxico Formicida Mirex–S MAX N.A. Sulfluramida IV - Pouco Tóxico Formicida

Confidor 700 GrDa Imidacloprido IV - Pouco Tóxico Inseticida Roundup NA Herbicida Glifosato NORTOX N.A. Scout N.A

Glifosate IV - Pouco Tóxico Herbicida Pós emergente

A aplicação é realizada teoricamente de modo controlado, sendo que os

trabalhadores devem ser treinados para a atividade, bem como para a utilização dos

equipamentos de segurança correspondentes. Acima o quadro n° 5 com a relação dos

pesticidas utilizados:

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Considerações finais

Inevitavelmente a cultura de pinus gera múltiplas modificações no espaço

geográfico na medida em que se expande. As modificações ganham em materialidade.

Salta-nos à vista, num primeiro momento àqueles que viajam pelas rodovias estaduais

paranaenses no sentido leste, a extensão das áreas destinadas à monocultura de pinus, e

que começam a ganhar contorno a partir do município de Ventania. Estas mesmas

estradas que são fundamentais para o escoamento da produção estão em bom estado de

conservação em sua maioria e apresentam um grande fluxo de caminhões,

principalmente a partir do distrito de Moquém, tendo esse, grandes áreas de cultivo

desse mesmo recurso. Perpassando pelo município de Jaguariaíva, a situação é bem

similar, com a diferença de que, além de ter grandes áreas também destinadas ao cultivo

de pinus, abriga duas grandes empresas que o utilizam como matéria-prima em seu

processo produtivo, são elas Norske-Skog e Braspine.

Um outro aspecto evidente está relacionado aos elementos da paisagem em

seus aspectos distintivos, ou então a redução significativa destes, desdobrando para uma

paisagem com tendências fortes à homogeneização, que muito raramente, apresenta

formas vegetacionais típicas, como resquícios de Mata Atlântica ou manchas

esporádicas de Cerrado strictu senso, Mata de Araucárias e Floresta de Galerias.

Quando não, essas últimas estão quase que totalmente suprimidas em decorrência do

avanço do pinus. Cabe ressaltar que tais constatações se restringem a uma visão de

alcance possível numa escala de análise a olho nu em que os trechos percorridos estão

limitados aos acessos disponíveis.

Todos os municípios envolvidos, mais especificamente aqueles visitados, têm

suas atividades econômicas amplamente relacionadas com o cultivo de pinus. Os

estabelecimentos comerciais ofertam seus produtos e serviços que atendem à demanda

do setor, como por exemplo: estabelecimentos de autopeças para tratores e caminhões,

materiais gerais de uso em campo, assistência técnica e representação de marcas de

motosserras e equipamentos pesados, mercado atacadista de agrotóxicos e venenos.

Existem diversas empreiteiras que oferecem serviços diretamente específicos para cada

etapa do processo de manejo, de acordo com as demandas dos produtores florestais.

Exemplo disso são aquelas que só trabalham com poda, outras com a retirada de pinus

em APP’s, com o plantio e assim por diante. Caso surja alguma nova forma de manejo,

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independentemente de suas causas, novos serviços serão oferecidos, logicamente de

acordo com os custos operacionais.

Um aspecto importante nesse sentido é a relação entre as formas e técnicas de

se desempenhar certas atividades. Por tecnicidade, Raffestin (1993) a entende como

sendo o conjunto das relações que o homem, inserido num dado grupo social, mantém

com os elementos naturais, que por sua vez pode ser de caráter simétrico ou

dissimétrico. A primeira se caracteriza por relações não destrutivas do meio material,

enquanto a segunda por relações de natureza destrutiva. Um exemplo emblemático é a

forma débil de apropriação e utilização de certos recursos, que acaba por resultar numa

ameaça de exaustão. Bressan (1996) nos alerta também para o risco da necessidade de

substituição de bens, e não de forma espontânea, mais sim por uma determinação

natural, ou seja, problemas na fonte das matérias em decorrência de uma

superutilização. Gonçalves (2006) sinaliza essa tendência de substituição de fibras

naturais por sintéticas.

Falamos aqui de utilização de técnicas de preservação bem como de formas de

utilização, entendendo que, tanto uma quanto a outra interferem nos graus de

degradação. Deparamo-nos então com a seguinte questão: ou mudamos nossas práticas

ou certamente nos faltarão determinadas matérias, numa escala temporal relativamente

curta para certos elementos. Para Raffestin (1993), quanto mais complexa é a nossa

tecnicidade, mais frágil se torna, em decorrência do número de inter-relações incutidas

nesse processo.

Muitas vezes as técnicas de fazer decorrem não só dos meios técnicos

disponíveis, mas também das exigências normativas do Ministério do Trabalho,

conforme NR-31, bem como de outros órgãos relacionados a tal atividade. Isto quer

dizer que, caso tenha que se executar uma tarefa de risco ao trabalhador, como a retirada

de espécies exóticas em APP’s, o método empregado é o semi-mecanizado. Para tanto,

neste caso, somente algumas empreiteiras terão condições financeiras para oferecer tal

serviço. Da mesma forma são necessários equipamentos específico e material humano

especializado. Ainda assim há outros fatores que acabam por fazer cumprir tais

determinações normativas, que dependerão de múltiplos outros fatores, como o

cumprimento dos órgãos fiscalizadores, das empresas envolvidas e, sem deixar de

mencionar, das políticas das empresas florestais com suas formas de manejo e planos de

gestão.

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O que pudemos verificar in loco, foi que as formas de manejo adotadas e

desenvolvidas pelos planos de manejo são aperfeiçoadas à medida que esses múltiplos

fatores acima citados entram em conformidade. Aliado a isso, a existência da

certificação florestal, indubitavelmente trás resultados positivos que minimizam os

impactos negativos ao meio em questão. Essa afirmação não decorre somente das

situações analisadas, mas é unanimidade entre todos os envolvidos no processo

produtivo. Desde o motosserrista contratado por uma prestadora de serviço, que passou

a ter maior segurança em sua situação trabalhista regularizada, até os funcionários que

tiveram experiências em outras empresas e que há anos desempenham atividades no

setor, muito antes do padrão atual de certificação ser adotado, todos reiteram seus

benefícios. Ou seja, o selo FSC é um mecanismo que acaba por contribuir na

disseminação de práticas social e ambientalmente mais justas, em todos os sentidos. Da

mesma forma, a área de ambiência ganhou certo destaque e goza de uma maior

participação na condução das políticas e diretrizes das empresas florestais, contando

hoje com um setor específico e autônomo, como verificado na empresa Valor Florestal.

A ação sobre determinado espaço está diretamente vinculada às relações dos

diferentes agentes produtores desse mesmo espaço. Dessa forma, as relações no campo

social se reorganizam. E tais relações podem ser fator condicionante na tomada de

decisões com relação a certa atividade produtiva, no caso o cultivo de pinus, podendo

implicar sua expansão ou não. O espaço geográfico acaba por apresentar então, outros

contornos, outras formas de ordenação e mesmo de utilização. A relação com a matéria

não deixa de forma alguma de ser uma relação com e numa dada espacialidade. Para

tanto os planos de gestão entram em cena como possibilidades de reorientarem a relação

entre os grupos humanos com suas territorialidades.

Nesse sentido o Estado, na medida em que é, de alguma forma, o representante

legítimo da população e gestor de um dado território, tem por obrigação buscar os meios

de aperfeiçoar os recursos existentes em seus domínios e não deixar de forma alguma de

gerenciar o patrimônio de sua nação, mesmo numa sociedade de mercado, pautada por

relações dissimétricas no campo social, como a de propriedade privada.

As atribuições conferidas ao Estado são, por si só, de direito, e este deve, em

sua competência, criar marcos regulatórios que apontem para uma gestão tanto em nível

governamental quanto privado, capaz de equacionar os evidentes desequilíbrios entre o

tempo de mercado e o tempo da natureza.

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Cabe ressaltar que o conceito de gestão ambiental na esfera pública não deve

em última análise ser determinado apenas como fundamento setorial. Como registra

Godard (1997), ele dever ser contextual, na medida em que seus objetivos devem estar

associados e correlacionados a outras esferas de decisão, como as do campo das

políticas de ordenação espacial, da ciência e tecnologia, da economia e do planejamento

e social, dentre outras. Ou seja, as possíveis formas de gestão abrangem não somente a

busca pela manutenção dos ecossistemas ecológicos regulados pelos mecanismos

naturais, mas também pelo meio modificado pelo homem.

Não temos condições de saber ao certo como serão utilizados os recursos pelas

próximas gerações. Estamos cientes, porém, de que as possíveis formas de utilização e

conservação estão diretamente ligadas às transformações nos campos social, tecnológico

e principalmente econômico. Dessa forma é possível que se pense em alternativas como

alerta Bressan: É obvio que não há como retroceder a uma visão de mundo definitivamente superada; há sim, que descobrir outras compreensões de natureza capazes de inspirar a busca de alternativas compatíveis com o atual estágio de desenvolvimento da civilização. (Bressan, 1996 p. 15.).

Para tanto a idéia de uma “gestão racional” é apresentada, no contexto das

possíveis alternativas e procuraria, segundo o autor:

[...] de certa forma absorver as possibilidades mas também os limites da ciência e da técnica, circunscrevendo-os a contextos históricos específicos; em igual medida, procura incorporar princípios éticos, instrumentos jurídicos e valores culturais e estéticos, os quais, isolados ou em conjunto, funcionam como reguladores das relações sociais e, por conseqüência, das relações da sociedade com a natureza.”(Bressan, 1996, p. 16.).

Dessa forma, a construção de um modelo de gestão racional tem por idéia uma

natureza que ultrapasse a concepção mítica de um paraíso contemplativo representado

pelas áreas de conservação e por uma natureza “original” intocada. A gestão racional

acaba por direcionar suas práticas tanto para os ambientes e sistemas ecológicos

regulados pelos mecanismos naturais como para o meio natural já modificado pela ação

antrópica, considerando assim, os diversos ambientes e seus graus de artificialização.

Se não quisermos que a ação do homem continue a ser depredadora, é

conveniente organizar a ação dos homens entre si e substituir por novas as velhas

relações nas diversas dimensões sociais. Isso implica, dentre outros aspectos, repensar

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novas formas de mediação entre sociedade humana e meio natural, sem desconsiderar as

inovações no campo da ciência e tecnologia.

O recurso em questão se insere nessa discussão, na medida em que sua utilização

em diversos setores da economia tende à expansão. No entanto, as perspectivas em

médio e longo prazo não são nada animadoras. A reduzida oferta de matéria-prima

(tora), particularmente oriunda de floresta plantada, aliada ao forte aumento de preços,

evidencia-se atualmente como a principal limitação para ampliar as exportações

brasileiras de produtos florestais, inclusive o pinus. Somam-se ainda, os problemas

crônicos de infra-estrutura existentes no país e o aumento da pressão internacional

através de barreiras tarifárias e não-tarifárias sobre o produto brasileiro. No entanto, em

que pesem as limitações existentes, o setor florestal brasileiro apresenta as condições

básicas para ocupar uma posição de destaque muito maior no cenário internacional. Para

tanto, é imprescindível que o país utilize suas vantagens comparativas, como por

exemplo, a elevada produtividade florestal, para fortalecer sua competitividade, sem

deixar de lado formas de manejo adequadas. Neste contexto, os esforços do setor

privado devem ser complementados por ações de governo na defesa dos interesses

nacionais, convergindo para uma estratégia setorial conjunta a fim de assegurar o

suprimento de longo prazo, promover a produção, apoiar o desenvolvimento

tecnológico e de recursos humanos, penetrar em novos mercados e acima de tudo

manter as características dos ecossistemas. No entanto, o limite será estabelecido pelas

políticas de governo, as quais, por sua vez, podem favorecer ou restringir o

desenvolvimento do setor florestal brasileiro, bem como pelos mecanismos de mercado,

no caso as certificações ambientais.

Assim, no quadro que aqui esboçamos, essas medidas podem contribuir

substancialmente para que a atividade florestal no Brasil seja mais responsável em suas

práticas, de forma a estabelecer uma relação mais digna entre o homem e suas

atividades com seu meio.

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