universidade estadual de feira de santana - civil…civil.uefs.br/documentos/michel torao barreto...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
MICHEL TORAO BARRETO MIZUSHIMA
AVALIAÇÃO DE RISCOS MECÂNICOS: ESTUDO
DE CASO EM UMA OBRA VERTICAL NA CIDADE DE
FEIRA DE SANTANA
Feira de Santana
2010
MICHEL TORAO BARRETO MIZUSHIMA
AVALIAÇÃO DE RISCOS MECÂNICOS: ESTUDO
DE CASO EM UMA OBRA VERTICAL NA CIDADE DE
FEIRA DE SANTANA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à disciplina Projeto Final II do curso
de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Feira de Santana.
Orientador(a). Sarah Patricia de Oliveira Rios
Feira de Santana
2010
iii
MICHEL TORAO BARRETO MIZUSHIMA
AVALIAÇÃO DE RISCOS MECÂNICOS: ESTUDO
DE CASO EM UMA OBRA VERTICAL NA CIDADE DE
FEIRA DE SANTANA
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de Título de Bacharel em
Engenharia Civil
Feira de Santana, dezembro de 2010
Banca Examinadora
_______________________________________________
Eduardo Antonio Lima Costa/UEFS
_______________________________________________
Sergio Tranzillo França/UEFS
_______________________________________________
Sarah Patricia de Oliveira Rios /UEFS
iv
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Aieny Barreto Soares e Jose Mitio Mizushima e ao meu
irmão, Marcelo Yukio Barreto Mizushima, que sempre me deram força
e apoio imensurável ao longo de minha vida.
v
AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço a Deus que me deu força, competência e dedicação para
a conclusão deste trabalho e por ter alcançado mais uma etapa da minha vida.
Agradeço a todos de minha família que sempre acreditaram e que
contribuíram em minha educação, bom senso e a ética que seguirão sempre ao longo
de minha vida pessoal e profissional.
Agradeço a minha namorada Clélia pela contribuição, carinho e paciência
durante o período deste trabalho.
Agradecimento a professora Sarah Patrícia de Oliveira Rios que me orientou
na realização deste trabalho mostrando ser uma excelente educadora, paciente e muito
competente.
Agradeço aos membros da banca Prof. Eduardo Costa e Prof. Sérgio Tranzillo.
Agradeço a todos os meus amigos que de forma direta ou indireta
contribuíram para a elaboração deste trabalho.
vi
"Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem
algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo."
(Mahatma Ghandi)
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Acidentes de Trabalhos Registrados no Brasil
Tabela 2 – Cores e Graus Usados no Mapa de Risco.
Tabela 3 – Tabela Descritiva dos Riscos
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Sistema de gerenciamento de riscos para a construção civil.
Figura 2 - Modelo mapa de risco.
Figura 3 - Vista externa do edifício.
Figura 4 - Operadores realizando escavações.
Figura 5 – Escada de acesso ao fundo da escavação.
Figura 6 – Resíduo da escavação na borda do talude.
Figura 7 - Serra circular sem proteção.
Figura 8 – Resíduo proveniente da carpintaria.
Figura 9 - Bancada de dobragem e corte do aço.
Figura 10 - Lâmpada sem proteção.
Figura 11- Detalhe da sinalização de advertência no vergalhão.
Figura 12 - Arranque do pilar sem proteção.
Figura 13 - Escada apoiada em piso irregular
Figura 14- Detalhe do montante da escada.
Figura 15 - Vista lateral.
Figura 16 - Espaço entre a escada e a viga.
Figura 17 - Sistema do tipo guarda corpo e rodapé.
Figura 18 - Abertura de piso com proteção irregular.
Figura 19 - Abertura de piso sinalizada.
Figura 20 - Fechamento correto da abertura de piso.
Figura 21 - Vão de acesso ao elevador.
Figura 22 - Fechamento do vão de elevador.
Figura 23 - Inexistência de proteção da periferia da edificação.
ix
Figura 24 - Cabo sintético na periferia da laje.
Figura 25 - Ausência de proteção na periferia da laje.
Figura 26 - Sistema do tipo guarda-corpo e rodapé.
Figura 27 - Ausência da plataforma em parte da periferia da laje.
Figura 28 - Ausência de bandeja secundária.
Figura 29 - Torre do elevador.
Figura 30 - Detalhe da sinalização pendurada.
Figura 31 - Cabine do operador de elevador.
Figura 32 - Quadro principal de distribuição.
Figura 33 - Chave elétrica sem identificação.
Figura 34 - Disjuntor utilizado como liga-desliga.
Figura 35 - Detalhe na ausência do conjunto “plugue”/tomada.
Figura 36 - Fiação exposta .
Figura 37 - Emendas inadequadas.
Figura 38 - Esquema “plugue”/tomada.
Figura 39 - Estoque de capacetes.
Figura 40 - Funcionário da empresa (fardamento cinza).
Figura 41 - Funcionário terceirizado (fardamento amarelo).
Figura 42 - Empilhamento dos blocos.
Figura 43 - Empilhamento de diversos materiais.
Figura 44 - Extintor na porta do almoxarifado.
Figura 45 - Extintor na carpintaria.
Figura 46 - Sinalização de advertência.
Figura 47 – Lista de participantes do treinamento admissional.
Figura 48 – Lista de participantes do treinamento periódico.
xi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas
DRT - Delegacia Regional do Trabalho
DSST - Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho
EPI - Equipamentos de Proteção Individual
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
FIESP - Federação das Indústrias de São Paulo
FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho
GcR – Guarda-Corpo e Rodapé
GRTE - Gerência Regional do Trabalho e Emprego
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NR - Norma Regulamentadora
OIT - Organização Internacional do Trabalho
RTP - Recomendação Técnica de Procedimento
PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PIB - Produto interno Bruto
PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
SRTE – Superintendência Regional de Trabalho e Emprego
SSST- Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho
xii
RESUMO
Este trabalho final de conclusão de curso faz um estudo dos riscos encontrados
em uma obra vertical na cidade de Feira de Santana, com enfoque nos riscos
mecânicos. Trata-se de uma abordagem aprofundada em função do elevado número de
acidentes de trabalho na construção civil. Objetiva-se demonstrar os riscos
encontrados neste tipo de obra destacando medidas preventivas para os mesmos,
levando em consideração, além do número de acidentes registrados, os tipos e a
gravidade dos acidentes e tecendo comentários a respeito das causas e conseqüências
dos mesmos. A metodologia deste trabalho consiste inicialmente em uma
fundamentação teórica na área de segurança do trabalho com enfoque na Norma
Regulamentadora 18 (NR 18); posteriormente foi feito um estudo de caso onde foi
aplicada uma lista de verificação abordando itens desta norma e foram realizados
também verificações das condições de trabalho sendo registradas através de
fotografias. O trabalho está focado na análise, avaliação, qualificação e por fim
sugestões de medidas preventivas associadas aos riscos encontrados no canteiro com o
intuito de melhorar as condições de trabalho e reduzir a elevada quantidade de
acidentes de trabalho na construção civil. Após a aplicação da lista de verificação
pôde-se observar quais foram os principais problemas encontrados na obra, sendo que
o principal foi o risco de quedas em altura.
Palavras Chave: Construção Civil, Riscos Mecânicos, Norma Regulamentadora, NR
18, Segurança do Trabalho.
xiii
ABSTRACT
This final work of completion is a study of the risks found in a vertical work in the city
of Feira de Santana, focusing on mechanical hazards. This is an in-depth due to the
high number of accidents in construction. It aims to demonstrate the risks encountered
in this type of work highlighting preventive measures for them, taking into account
both the number of accidents reported, the types and severity of accidents and
commenting about the causes and consequences thereof. The methodology consists
initially in a theoretical area of workplace safety with a focus on Norm 18 (NR 18),
was later made a case study where it was applied a checklist items addressing this
standard and also checks were performed working conditions were recorded through
photographs. The work focuses on analysis, evaluation, qualification and finally
suggestions for preventive measures associated with the risks found in bed with the
intention of improving working conditions and reduce the high number of accidents in
construction. After applying the checklist could observe what were the main problems
encountered in the work, and the main was the risk of falls from height.
Keywords: Construction, Mechanical hazards, Norm, NR 18, Safety Work.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................................vii
LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................viii
LISTA DE GRÁFICOS ...............................................................................................x
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................xi
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................2
1.2 OBJETIVO ..............................................................................................................3
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................3
1.2.2 Objetivo Específico ..............................................................................................3
1.3 METODOLOGIA ....................................................................................................3
1.4 ESTRUTURA DA MANOGRAFIA .......................................................................4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...........................................................................5
2.1 MARCOS IMPORTANTES EM SEGURANÇA DO TRABALHO .....................6
2.2 CONCEITO DE SEGURANÇA DO TRABALHO ...............................................9
2.3 GERENCIAMENTO DE RISCOS .........................................................................9
2.4 CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS ....................................................................... 12
2.4.1 Riscos Ambientais ............................................................................................. 12
2.4.2 Riscos Operacionais .......................................................................................... 13
2.4 CARACTERIZAÇÃO DOS RISCOS ................................................................... 14
2.5 MAPA DE RISCOS .............................................................................................. 17
3 ESTUDO DE CASO – RISCOS MECÂNICOS EM UMA OBRA
VERTICAL........................................................................................................ 22
3.1 IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA ...................................................................... 22
3.2 DESCRIÇÃO DO CANTEIRO ............................................................................ 23
3.3 LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS RISCOS ................ 24
3.3.1 Escavações, Fundações e Desmonte de Rochas ................................................. 24
3.3.2 Carpintaria .......................................................................................................... 26
3.3.3 Armações de Aço ............................................................................................... 27
3.3.4 Escadas, Rampas e Passarelas ............................................................................ 29
3.3.5 Medidas de Proteção contra Queda de altura ..................................................... 31
3.3.6 Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas .......................................... 39
3.3.7 Instalações Elétricas ........................................................................................... 41
3.3.8 Equipamentos de Proteção Individual ................................................................ 43
3.3.9 Armazenamento e Estocagem de Materiais ....................................................... 45
3.3.10 Proteção contra Incêndio .................................................................................. 48
3.3.11 Sinalização de Segurança ................................................................................. 48
3.3.12 Treinamento ...................................................................................................... 49
3.4 QUANTIFICAÇÃO DOS RISCOS ..................................................................... 50
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 53
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 55
ANEXOS .................................................................................................................... 57
1
1 INTRODUÇÃO
A ausência de segurança do trabalho gera bilhões de reais em custos
anualmente no Brasil: no ano de 2000 gerou cerca de R$ 23,6 bilhões para o país,
equivalente a 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Deste total, R$ 5,9 bilhões
correspondem a gastos com benefícios acidentários, aposentadorias especiais e
reabilitação profissional. Os restantes da despesa referem-se à assistência à saúde do
acidentado, indenizações, retreinamento, reinserção no mercado de trabalho e horas de
trabalho perdidas (PINHEIRO E ARRUDA, 2001).
Destes custos, a construção civil possui uma parcela significativa haja vista
que é um dos ramos de atividade econômica que apresenta um dos maiores percentuais
de acidentes. Para a redução destes índices e melhoria das condições de trabalho deve-
se investir em segurança do trabalho sendo que um dos documentos que serve de
auxilio para tal, propondo medidas de prevenção de acidentes é a Norma
Regulamentadora 18 (NR 18). Esta Norma estabelece diretrizes de ordem
administrativa, de planejamento e de organização, que objetivam a implementação de
medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições
e no meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção.
A partir deste contexto surge a motivação específica para o estudo na área de
segurança do trabalho voltado para temática dos riscos mecânicos encontrados no
canteiro. Convém salientar que as atividades exercidas em um canteiro de obra são
realizadas em sua maioria por métodos arcaicos e por mão-de-obra não qualificada,
fatores que neste caso estarão sempre associados aumentando desta maneira a
probabilidade de ocorrer acidentes.
2
1.1 JUSTIFICATIVA
A justificativa para a escolha do tema se deve a várias observações pessoais do
autor deste trabalho: a falta de segurança em diversas obras, principalmente em
edificações nas periferias de laje no momento da concretagem onde o risco é iminente;
a insatisfação dos funcionários que trabalham em situações de risco demonstrando
grande desconforto e até mesmo medo devido a falta de segurança; e ao grande
número de acidentados na Construção Civil.
Aliado a estas observações vê-se importante a realização deste trabalho em
prol de futuras melhorias que visem a redução dos índices de acidentados decorridos
da falta de segurança no ambiente de trabalho. Isso poderá ser alcançado através de
medidas como a caracterização da atividade, identificação do perigo e a estimativa do
risco; a partir desta análise será possível a implementação de medidas preventivas
almejando a redução de acidentes.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Realizar o levantamento dos riscos mecânicos encontrados em uma obra
vertical.
1.2.2 Objetivo Específico
Avaliar possíveis motivos para o não cumprimento da norma NR 18;
Observar outros riscos associados aos riscos mecânicos;
Sugerir melhorias propondo meios de prevenção de acidentes;
3
1.3 METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado inicialmente com uma fundamentação teórica a fim
de que se obtivesse um conhecimento aprofundado da área Segurança do Trabalho,
através de livros, documentos, publicações, artigos, monografias, sites e normas.
Posteriormente foi feito a realização de um estudo de caso em uma obra
vertical. A escolha foi feita decorrente das observações citadas na justificativa deste
trabalho.
Os riscos encontrados durante o estudo de caso foram avaliados e analisados
de forma que se pudessem propor medidas de prevenção. Ocorreram diversas visitas,
durante os meses de outubro e novembro de 2010, onde foram feitas observações,
anotações, recomendações, registro fotográfico e a aplicação de uma lista de
verificação. Todos estes requisitos foram embasados na NR 18. Após a definição dos
riscos foi feita a qualificação dos mesmos, podendo desta maneira observar quais são
as atividades que possuem medidas de segurança ineficazes ou insuficientes para a
partir daí sugerir as melhorias nas condições do ambiente de trabalho.
4
1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
O presente trabalho será estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo
expõe inicialmente uma introdução que fornece uma visão ampla do tema seguida pela
justificativa da escolha do tema. Ainda no primeiro capítulo encontram-se os objetivos
deste trabalho e a metodologia.
No segundo capítulo é feita a fundamentação teórica necessária para
realização deste trabalho; será feita uma abordagem para o entendimento sobre
segurança do trabalho e um enfoque sobre os riscos.
No terceiro capítulo encontra-se o estudo de caso, que foi realizado em uma
obra na cidade de Feira de Santana abordando os riscos encontrados e identificando
medidas preventivas, utilizando como base a NR 18.
No quarto capítulo são abordadas as discussões dos resultados onde foram
feitas considerações a respeito do estudo de caso destacando os serviços que obtiveram
os piores conceitos em relação à segurança do trabalho.
No quinto e último capítulo foram apresentadas considerações finais obtidas
pela lista de verificação empregada neste trabalho que aborda onze itens contemplados
pela NR 18 com enfoque nos riscos mecânicos.
Ao final do trabalho seguem as referências e os anexos.
5
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE),
em 2001 o setor da construção civil foi responsável por 8,0% do total de riquezas
geradas no país. O ramo da construção civil, apesar de sua constante evolução,
consiste em atividades que demandam grande esforço físico do trabalhador e segundo
ARAÚJO (1998) está em segundo lugar na freqüência de acidentes registrados em
todo o país. Esse perfil pode ser traduzido como gerador de inúmeras perdas de
recursos humanos e financeiros no setor.
A Tabela 1 fornece dados do números de acidentados registrados na indústria
da construção civil no período de 1998 à 2004.
Tabela 1 – Acidentes de Trabalhos Registrados no Brasil
Fonte: INSS/Anuário Brasileiro de Proteção 2006.
6
2.1 MARCOS IMPORTANTES EM SEGURANÇA DO TRABALHO
Desde a antiguidade greco-romana, o trabalho já era visto como um fator
gerador e modificador das condições de viver, adoecer e morrer dos homens.
Alguns dos principais marcos que aconteceram antes do século XX são
listados a seguir:
Agrícola e Paracelso investigaram doenças ocupacionais nos séculos
XV e XVI.
De Re Metallica, obra de Georgius Agricola de 1556, faz referência a
doenças pulmonares em mineiros.
Em 1700, surge a obra de Bernardino Ramazzini, descrevendo doenças
que ocorriam em mais de cinqüenta profissões (BISSO, 1990).
A história sobre saúde e segurança do trabalho no século XX no mundo, pode
ser escrita segundo alguns pontos importantes (FIESP, 2003):
Em 1919, A OIT - Organização Internacional do Trabalho, adotou seis
convenções destinadas à proteção da saúde e à integridade física dos
trabalhadores (limitação da jornada de trabalho, proteção à
maternidade, trabalho noturno para mulheres, idade mínima para
admissão de crianças e o trabalho noturno para menores).
Em 1945 é assinada a Carta das Nações Unidas que estabelece nova
ordem na busca da preservação, progresso social e melhores condições
de vida das futuras gerações.
Em Dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprova
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se constitui em uma
fonte de princípios na aplicação das normas jurídicas, que assegura ao
trabalhador o direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, as
condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra ao
desemprego; o direito ao repouso e ao lazer, limitação de horas de
7
trabalho, férias periódicas remuneradas, além de padrão de vida capaz
de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar.
Em 1949, a Inglaterra pesquisa a ergonomia, que tem o objetivo a
organização do trabalho em vista da realidade do meio ambiente laboral
adequar-se ao homem.
Na década de 60, iniciou-se um movimento social renovado, revigorado
e redimensionado marcado pelo questionamento do sentido da vida, o
valor da liberdade, o significado do trabalho na vida, o uso do corpo,
notadamente nos países industrializados como a Alemanha, França,
Inglaterra, Estados Unidos e Itália.
Na Itália, ainda na década de 60, a empresa Farmitália, iniciou um
processo de conscientização dos operários quanto à nocividade dos
produtos químicos e das técnicas para a detecção dos problemas. A
FIAT reorganiza as condições de trabalho nas fábricas, modificando as
formas de participação da classe operária.
No mesmo período no Brasil, com condições precárias de trabalho, começa a
surgir as primeiras medidas de prevenções e algumas legislações, buscando a
segurança e condições básicas de trabalho para todos os trabalhadores:
No início da década de 70, o Brasil é o detentor do título de campeão
mundial de acidentes.
Em 1977, o legislador dedica no texto da CLT - Consolidação das Leis
do Trabalho, por sua reconhecida importância Social, capítulo
específico à Segurança e Medicina do Trabalho. Trata-se do Capítulo
V, Título II, artigos 154 a 201, com redação da Lei nº 6.514/77.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Secretaria de
Segurança e Saúde no Trabalho (SSST), hoje denominado
Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST), regulamenta
os artigos contidos na CLT por meio da Portaria nº 3.214/78, criando
8
vinte e oito normas regulamentadoras. Com a publicação da Portaria nº
3214/78 se estabelece a concepção de saúde ocupacional.
Com a Constituição de 1988, está garantida a redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança. Nasce então o marco principal da etapa de saúde do
trabalhador no nosso ordenamento jurídico.
Em 1990, foi criado o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao
Trabalhador, por meio da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro.
Em 2004, o Decreto nº 5.063, de 3 de maio, deu nova Estrutura
Regimental ao Ministério do Trabalho e Emprego, estruturando a
Ouvidoria-Geral e o Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego
para a Juventude.
Em 2008, o Decreto nº 6.341, de 3 de janeiro alterou a nomenclatura
das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT) para Superintendências
Regionais do Trabalho e Emprego (SRTE), das Subdelegacias do
Trabalho para Gerências Regionais do Trabalho e Emprego (GRTE) e
das Agências de Atendimento para Agências Regionais. As
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego passaram a ser
competentes pela execução, supervisão e monitoramento de todas as
ações relacionadas às políticas públicas afetas ao Ministério do
Trabalho e Emprego.
As conquistas, pouco a pouco, vêm introduzindo novas mentalidades,
sedimentando bases sólidas para o pleno exercício do direito que todos devem ter à
saúde e ao trabalho protegido de riscos ou das condições perigosas e insalubres que
põem em risco a vida, a saúde física e mental do trabalhador.
9
2.2 CONCEITO DE SEGURANÇA DO TRABALHO
“A segurança do trabalho pode ser entendida como o conjunto de medidas
que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais,
bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador”
(http://www.areaseg.com/seg/).
Um outro conceito é defendido por TORREIRA (1977) , que define segurança do
trabalho como a tentativa de inibir acidentes que é o acontecimento infeliz casual ou
não, e de que resulta ferimento, dano, estrago, prejuízo, ruína, avaria, etc.
As Normas Regulamentadoras fornecem orientações sobre procedimentos
obrigatórios relacionados à medicina e segurança no trabalho no Brasil (ANEXO A).
Como anexos da Consolidação das Leis do Trabalho, são de observância obrigatória
por todas as empresas.
2.3 GERENCIAMENTO DE RISCOS
Para definir o que é Gerenciamento de Risco devem-se esclarecer brevemente
quais são as principais causas do acidente de trabalho, que se deve principalmente por
duas condições primordiais:
Ato Inseguro que é o ato praticado pelo homem o qual acontece quando o
trabalhador não segue as normas de segurança do trabalho.
Condição Insegura que é a condição do ambiente de trabalho que oferece
perigo e ou risco ao trabalhador.
Existem muitas definições de Gerenciamento dos Riscos. Segue a definição
fornecida pela Universidade de Surrey, que se localiza no Reino Unido
(http://www.overseasbr.com/pt/riskmanagement):
“Não é um processo de evitar os riscos. O objetivo do Gerenciamento dos
Riscos não é eliminar os riscos, mas Gerenciar os Riscos envolvidos em todas as
10
atividades, para maximizar as oportunidades e minimizar os efeitos adversos. Mais
especificamente, o Gerenciamento dos Riscos é um processo formal (de negócios)
usado para identificar os riscos e oportunidades, em uma organização, estimar o
impacto potencial desses eventos e fornecer um método para tratar esses impactos,
para reduzir as ameaças até um nível aceitável ou para alcançar as oportunidades”. Em
sua forma básica, o processo de Gerenciamento dos Riscos envolve:
A identificação dos riscos e oportunidades;
A medição e avaliação desses riscos, a partir de uma perspectiva da
exposição atual;
A determinação de um nível alvo (ou desejado) de exposição (apetite do
risco).
Um plano de gerenciamento (envolvendo controles, ações e retrocessos)
para evoluir do estado atual para o estado alvo
PONTES et al. (1998) salientam que devido ao grande número de atividades
envolvidas num canteiro de obras na construção civil e a falta de gerenciamento no
controle da qualidade das atividades, as causas de ocorrência dos acidentes são
praticamente as mesmas, caracterizadas por atos inseguros e/ou condições ambientais
inseguras.
Um motivo de forte influência também para a elevada quantidade de
acidentados na construção civil é a falta de percepção dos riscos. SALDANHA (1997),
por exemplo, afirma em seu trabalho que existem situações onde foram encontradas a
"negação do risco", estas situações aparecem de diversas maneiras, como por exemplo,
na rejeição ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI). Além da "negação
do risco", o autor ainda cita o depoimento de operário, que confirma conscientemente
o uso incorreto do EPI durante execução de atividades de risco em seu trabalho.
Ainda no trabalho de PONTES et al. (1998) é sugerida a implantação de um
sistema de gerenciamento de risco na indústria da construção civil conforme a Figura
1. Este sistema deixa evidente a importância da análise e identificação dos riscos para
uma futura redução dos mesmos.
11
Figura 1 - Sistema de gerenciamento de riscos para a construção civil
Programas de gerenciamento de riscos como o PCMAT (Programa de
Condições e Meio Ambiente de Trabalho) e o PPRA (Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais) tem por função a localização da maior probabilidade do risco e
quando utilizado de forma coerente é possível recolher informações que irão beneficiar
o monitoramento e o controle das operações de riscos.
O PCMAT, previsto na NR 18, estabelece diretrizes de ordem administrativa,
de planejamento e de organização, que objetivam a implementação de medidas de
controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio
ambiente de trabalho na Indústria da Construção. Após a visita de um profissional
habilitado (Engenheiro de Segurança do Trabalho), a empresa receberá um documento,
contendo as informações necessárias para atingir esses objetivos.
O PPRA, previsto NR 9, são as medidas de reconhecimento, avaliação e
controle dos riscos ambientais inerentes a cada função dentro de uma determinada
12
empresa. É um documento utilizado para a prevenção e/ou controle de doenças
ocupacionais, acidentes de trabalho e preservação do meio ambiente. Serve como base
para a elaboração e implantação do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional (PCMSO), previsto na NR 7.
2.4 CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS
Os canteiros de obras possuem o risco em torno de todas as atividades
envolvidas. Estes riscos aumentam também em função do método que se realizam as
atividades e da grande quantidade de situações que não são previstas. Na realidade, a
maioria das empresas não possuem procedimentos formais para a execução das tarefas
sendo muitas vezes os trabalhadores que regulam os procedimentos. Os riscos podem
ser classificados em ambientais e operacionais, conforme discussão a seguir:
2.4.1 Riscos Ambientais
A NR 9 considera riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do trabalhador.
Riscos Físicos
De acordo com a NR 9 os riscos físicos são considerados as diversas formas
de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações,
pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som.
13
Riscos Químicos
Riscos gerados pelos agentes que modificam a composição química do meio
ambiente. Segundo a NR 9 os agentes químicos podem se apresentar nas formas de
poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores.
Riscos Biológicos
Os riscos biológicos são causados por microrganismos invisíveis a olho nu,
são capazes de desencadear doenças devido à contaminação e pela própria natureza do
trabalho. Segundo a NR 9 são considerados agentes biológicos as bactérias, fungos,
bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros.
2.4.2 Riscos Operacionais
São considerados riscos operacionais os riscos mecânicos (ou de acidentes) e
os riscos ergonômicos.
Os riscos mecânicos são os que ocorrem em função das condições físicas (do
ambiente físico de trabalho) e tecnológicas impróprias, capazes de colocar em perigo a
integridade física do trabalhador.
Os riscos ergonômicos são qualquer fator que possa interferir nas
características psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua
saúde.
Riscos Mecânicos
Os riscos mecânicos ou risco de acidentes são condições de construção,
instalação e funcionamento de uma empresa, assim como as máquinas, equipamentos
ou ferramentas que não apresentam adequadas condições de uso. São modalidades de
risco de acidente: arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção,
14
ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada, instalações elétricas
deficientes, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado,
animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para a
ocorrência de acidentes (PIZA, 1997).
Riscos Ergonôminos
São considerados riscos ergonômicos: esforço físico, levantamento de peso,
postura inadequada, controle rígido de produtividade, situação de estresse, trabalhos
em período noturno, jornada de trabalho prolongada, monotonia e repetitividade,
imposição de rotina intensa. Os riscos ergonômicos podem gerar distúrbios
psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador porque
produzem alterações no organismo e estado emocional, comprometendo sua
produtividade, saúde e segurança.
2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS RISCOS
De acordo com GROHMANN (1997), a construção civil ao contrário de
diversos outros setores da economia possui características próprias, sendo que uma das
principais é a pouca mecanização e tecnologias para a obtenção da qualidade do
produto, dependendo esta, quase que exclusivamente, da mão-de-obra utilizada.
A grande utilização de mão-de-obra na construção civil associado com a falta
e/ou não utilização de mecanismos de segurança, fiscalização precária, tipos de
serviços, falta de sensibilização dos trabalhadores tendem a gerar inúmeros acidentes.
O desenvolvimento das atividades da construção civil é realizado em várias
etapas, onde é mencionado algumas delas, assim como os tipos de acidentes mais
comuns associados às mesmas (PONTES et al., 1998):
15
1. Demolição - serviço bastante complexo, devendo ser realizado seguindo um
método determinado de modo a não prejudicar a estabilidade do conjunto e a
segurança da equipe de demolição. Os principais riscos associados são: queda,
soterramento, falta de Equipamento de Proteção Individual e incêndio decorrente de
materiais combustíveis existentes. Tem-se ainda a demolição por uso de explosivos
que ocorre nos grandes centros urbanos e locais com topografia acidentada. Os
trabalhos de desmonte, a frio ou a fogo que antecedem à fundação são freqüentes,
trazendo grandes riscos aos trabalhadores, como também aos moradores vizinhos. Os
principais riscos são: projeção de pedras em conseqüência das explosões e colapso em
estruturas em construções vizinhas durante a implosão; incluindo ainda o perigo
implícito no manuseio dos explosivos.
2. Montagem do canteiro de obra – conjunto de instalações que dá apoio à
administração de obra e aos trabalhadores, para a construção de uma edificação. Os
principais riscos envolvidos são: choque elétrico e a falta de Equipamentos de
Proteção Individual e incêndio.
3. Escavação – os principais riscos associados são: desabamento de terra,
bombeamento (casos de rebaixamento do lençol d’água), distância entre trabalhadores
em escavação manual (proximidade dos trabalhadores no momento da execução dos
serviços) e raio de ação da escavadeira (próximo a atividades que estão sendo
executadas manualmente).
4. Fundação – parte de uma estrutura que transmite ao terreno subjacente
(abaixo) a carga da edificação ou ainda, o plano sobre o qual assentam-se os alicerces
de uma construção. Os riscos envolvidos são: falta de escoramento dos taludes, má
utilização de campânula (câmara usada para compressão e/ou descompressão de
trabalhadores), queda, lançamento de partículas sólidas, etc.
5. Trabalhos em concreto armado (fase estrutural) – apresentam diversidades
de riscos e grande incidência de acidentes. Esse trabalho se divide nas seguintes fases:
formas, escoramentos, armação de aço, concretagem e desforma. Riscos envolvidos:
prensagem e/ou corte de mãos e dedos, queda de pessoas/peças/ferramentas, choques
elétricos, tombamento de materiais, madeiras com pregos expostos, escorregamento,
16
falta de proteções nas pontas dos vergalhões (aço), falta de proteção individual e/ou
coletiva e os incêndios ocorridos principalmente no coletor de serragem da serra
circular.
6. Revestimentos e acabamentos – serviço que é realizado após o levante de
alvenaria e assentamento das esquadrias. Esses serviços são realizados no final da
obra; os riscos principais são: a falta de proteções adequadas (proteções de quadro fixo
de tomadas energizadas, de quedas de pessoas e materiais, de todas as aberturas de
lajes, de periferias, de instalação de plataformas principal e telas, entre outras),
explosão, incêndio, intoxicação, falta de sinalização e advertência, projeção de
fragmentos e quedas.
7. Instalações em geral – compreende o seguinte: instalações elétricas,
hidráulicas, sanitárias, de gás, de elevadores, de ar condicionado, de exaustão e de
ventilação, assim como, canalizações em geral. As conseqüências dos acidentes mais
evidenciados nestas operações são: choque elétrico, uso de adorno (pulseiras,
correntinhas e canetas de corpo metálico, etc.), contusão, corte e/ou ferimentos,
vazamentos d’água e de gás, queda, falta de sinalização e tantos outros.
8. Máquinas e equipamentos – as máquinas e equipamentos não são uma etapa
propriamente da obra porém são instrumentos que são utilizados durante todo o
período da obra; os mais utilizados são: guindaste (grua, sobre esteira ou rodas),
betoneiras, compressores, máquinas de dobrar, cortar ferro e virar chapas, serra
circular de bancada, guinchos e torres, bombas, vibradores, talhas, etc. Os principais
riscos são: quebra de partes móveis, projeção de peças ou partículas, ruptura de cabos
e/ou amarras, operadores não habilitados, corte e/ou prensagem de mãos e dedos, falta
de manutenção preventiva, choque elétrico, incêndio, falta de envelope de proteção em
partes móveis de máquinas.
Com o objetivo de minimizar e/ou eliminar os problemas identificados nas
fases de desenvolvimento das atividades na construção civil, se faz necessário a
identificação dos riscos, tendo como objetivo o aperfeiçoamento do comportamento
humano, ambiental e de processos, numa tentativa de prevenir os acidentes o que
resultará no aumento da produtividade.
17
2.6 MAPA DE RISCOS
Implantado pela portaria n°5 de 17 de agosto de 1992 do Ministério do
Trabalho e Administração o mapa de risco é um instrumento obrigatório nas empresas
com grau de risco e com número de empregados que se já exija a Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA), onde a mesma deverá ouvir os trabalhadores para a
confecção do mapa.
O mapa de risco é uma simbologia gráfica que utiliza plantas baixas do local
de trabalho identificando com o auxilio de cores variadas o tipo e o grau de risco de
cada zona, é de extrema importância nas empresas e a sua não realização acarreta em
multas elevadas. A Tabela 2 define as cores usadas no mapa de risco e a Tabela 3
fornece a descrição do risco associados com os agentes causadores
(http://www.areaseg.com/sinais/mapaderisco.html):
Tabela 2 – Cores e Graus Usados no Mapa de Risco.
Recomenda-se que sejam simbolizados por círculos de três tamanhos distintos:
pequeno, para representar o grau leve; médio, para representar um risco de grau
médio; e grande, para representar um risco de grau elevado; utilizados na proporção
1:2:4.
18
Na planta baixa, no local onde se encontra o risco deve ser colocado o círculo
no tamanho avaliado pela CIPA e na cor correspondente ao grau de risco. A função do
mapa de risco é a identificação dos riscos e permitir com que este local especifico seja
monitorado à fim de que não exista prejuízos e danos em função de acidentes.
20
Alguns critérios são utilizados para a confecção do mapa de risco; seguem os
primordiais:
Conhecer os setores/seções da empresa, que tipo de produto ela produz,
quem é o consumidor, e a quantidade que é produzida deste produto;
Montar um fluxograma (desenho de todos os setores da empresa e das
etapas de produção);
Listar todas as matérias-primas e os demais insumos envolvidos no
processo produtivo;
Listar todos os riscos existentes (físico, químico, biológico, ergonômico
e/ou mecânicos).
O mapa de risco exemplificado na Figura 2 demonstra de forma clara os locais
de riscos, os tipos e o grau de cada setor. No caso das empresas da indústria da
construção, o mapa de riscos do estabelecimento deverá ser realizado por etapa de
execução dos serviços, devendo ser revisto sempre que um fato novo e superveniente
modificar a situação de riscos estabelecida.
22
3 ESTUDO DE CASO – RISCOS MECÂNICOS EM UMA OBRA VERTICAL
Um dos objetivos deste trabalho é realizar o levantamento de riscos em uma
obra vertical da construção civil em uma determinada empresa localizada em Feira de
Santana, visando a identificação dos riscos, a avaliação dos mesmos e métodos de
prevenção sugeridos pela NR 18. Convém salientar que os itens da norma utilizado
neste trabalho são somente os que envolvem riscos mecânicos de acidente e que foram
encontrados durante o período das visitas realizadas nos meses de outubro e
novembro.
A obra escolhida foi a construção de um Hotel, que está sendo realizada pela
empresa Ômega Engenharia (nome fictício) por ser um edifício onde possa se avaliar
diversos tipos de riscos inclusive os que envolvem altura.
Vale ressaltar que o desenvolvimento deste trabalho (com visitas, registros
fotográficos, aplicação da lista de verificação etc) foi autorizado verbalmente pelo
responsável da obra.
3.1 IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
Razão Social: Ômega Engenharia.
Endereço: CIS, Feira de Santana – Ba.
Ramo de Atividade: Construção de edifícios.
Grau de Risco: 03 (três).
N° de Funcionários: 60 (sessenta).
Descrição da Empresa: Atua no ramo da Construção Civil em Feira de Santana desde
1996 como empresa de engenharia e construtora. Com o passar do tempo e
com o aumento de seu reconhecimento a empresa começou expandir seus
negócios para os interiores e regiões vizinhas a Feira de Santana e atuando
23
hoje em dia inclusive em outros estados, expandiu-se também para o mercado
imobiliário tornando-se referência como construtora.
3.2 DESCRIÇÃO DO CANTEIRO
Obra: Construção do Hotel
Endereço: Caseb, Feira de Santana – Ba.
Proprietário: B. E. Ltda e Ômega Engenharia.
Data de Início: 01/03/2010
Data de Conclusão: 28/02/2011
Responsável pela Obra: R. M. A.
Descrição do Empreendimento: Construção de um hotel com 128 apartamentos, um
total de 9 (nove) andares, centro de convenções para 350 (trezentas e
cinqüenta) pessoas, a Figura 3 mostra o porte do empreendimento.
Figura 3 - Fachada do hotel.
24
3.3 LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS RISCOS
Este trabalho de Conclusão de Curso identificou os riscos possíveis na obra e
através de alguns itens da NR 18 propôs melhorias citando recomendações e práticas
exercidas corretamente pela empresa. A seguir seguem os itens da norma relacionado
com as fotos descrevendo a real situação encontrada no canteiro no momento das
visitas.
3.3.1 Escavações, Fundações e Desmonte de Rochas
Este item da NR 18 engloba três situações, porém no canteiro analisado na
atual etapa da obra somente são realizadas escavações. Este serviço é realizado pelos
operários, sem utilização de equipamentos mecanizados, apenas manuais tais como pás
e picaretas, a Figura 4 mostra os trabalhadores realizando suas atividades.
Figura 4 - Operadores realizando escavações.
Situação Encontrada: As escavações são realizadas por trabalhadores da
própria empresa e por terceiros, todos utilizam os EPI necessários para a realização do
serviço, o material retirado é colocado na beira da escavação e os locais onde a
escavação é mais profunda possuem acesso por escadas (Figura 5).
25
Figura 5 – Escada de acesso ao fundo da escavação.
Recomendações: Antes de serem realizadas atividades de escavações deve-se
garantir a estabilidade dos taludes e é de extrema importância que os materiais
retirados deste serviço sejam colocados a uma distância superior a metade da
profundidade, medidas a partir da borda do talude. Na figura 6 pode ser observado o
risco em que o trabalhador esta submetido ao realizar sua atividade com o material
armazenado na borda do talude, pode-se observar que ele se encontra a uma
profundidade superior a dois metros aumentando o risco.
Figura 6 – Resíduo da escavação na borda do talude.
26
Boas práticas: a empresa disponibiliza escada de acesso aos serviços de
escavação (Figura 5) sendo algo fundamental neste tipo de serviço, porém esta escada
encontra-se fora dos padrões exigidos pela NR18.
3.3.2 Carpintaria
A carpintaria é a responsável pelo corte das peças de madeira na obra, utiliza
como equipamento principalmente a serra circular (Figura 7) que é um instrumento
extremamente perigoso por possuir uma lâmina ou disco de corte dentado para a
realização desta atividade. Ao se realizar o corte das peças de madeira é liberado um
resíduo conhecido como serragem mostrado na Figura 8.
Figura 7 - Serra circular sem proteção. Figura 8 – Resíduo proveniente da carpintaria.
Situação Encontrada: O local destinado para a carpintaria encontra-se isolado
e afastado dos locais onde existe fluxo de trabalhadores. A serra circular não apresenta
nenhum dispositivo de proteção como pode ser observado na Figura 7 e não existe
também nenhum recipiente para o armazenamento da serragem, sendo que este
material fica espalhado no próprio piso de trabalho (Figura 8).
Recomendações: A serra deve possuir uma coifa protetora para que no
momento da realização dos serviços o operário esteja protegido contra possíveis
27
contatos acidentais. Deve existir um coletor de serragem e placas de sinalização com
os dizeres “Proibido Fumar” no local destinado a carpintaria.
Boas Práticas: A empresa disponibiliza na proximidade da carpintaria extintor
de incêndio o que é necessário, pois o material é de fácil combustão.
3.3.3 Armações de Aço
O local para armações de aço é destinado a dobragem e o corte de vergalhões
da obra onde são realizados sobre uma bancada (Figura 9).
Figura 9 - Bancada de dobragem e corte do aço.
Situação Encontrada: O local para execução dos serviços de dobragem e corte
do aço encontra-se protegido com cobertura, nas proximidades acontecem escavações,
a lâmpada utilizada para iluminação não esta protegida (Figura 10) e são encontrados
vergalhões armazenados ao longo de toda obra.
28
Figura 10 - Lâmpada sem proteção.
Recomendações: A bancada deve estar fora da circulação dos operários e de
onde estejam ocorrendo outras atividades; as lâmpadas devem estar protegidas contra
impactos provenientes da projeção de partículas ou de vergalhões. Os vergalhões
encontrados na obra devem possuir proteções em suas extremidades, pela Figura 11 é
possível observar que existe sinalização de advertência, mas não existe nenhum tipo de
proteção contra contatos acidentais; na Figura 12 os vergalhões que são utilizados
como arranque dos pilares não possuem proteções na sua extremidade.
Figura 11- Detalhe da sinalização irregular de
advertência no vergalhão.
Figura 12 - Arranque do pilar sem proteção
29
3.3.4 Escadas, Rampas e Passarelas
Este item da NR 18 engloba três situações, porém no canteiro analisado
somente são utilizadas escadas, envolvendo dois tipos diferentes (escada de mão
portátil e escada provisória de uso coletivo). A escada de mão portátil é utilizada em
alguns serviços de rápida execução. A escada provisória de uso coletivo é utilizada
pelos trabalhadores para a locomoção de um andar para o outro, convém salientar que
esta escada será a mesma ao término da obra para utilização dos usuários do hotel.
a) Escada de Mão Portátil
Situação Encontrada: Na Figura 13 pode-se observar que a escada encontra-se
apoiada em uma tábua de madeira que não oferece restrição contra o escorregamento
da escada, além do que esta tábua é utilizada para fechar uma abertura existente no
piso da laje, caso a carga aplicada nesta tábua de madeira seja superior a resistência da
mesma a escada poderá vir a cair junto com o trabalhador para um andar inferior. A
Figura 14 mostra como é feito a fixação dos degraus no montante desta escada e como
se encontra este montante; pode-se observar que somente um prego sustenta este lado
do degrau e que o montante é formado pela união de varias peças de madeira.
Figura 13 - Escada apoiada em piso irregular. Figura 14- Detalhe do montante da escada.
30
Recomendações: Neste tipo de escada é de fundamental importância que ela
esteja apoiada na parte inferior em piso resistente de maneira que se evite seu
escorregamento e apoiada na parte superior de modo que ela não caia, a escada deve
estar sempre fixada em ambas extremidades antes do inicio dos serviços.
O seu montante deve ser uniforme e construído com material de ótima
qualidade, no mesmo montante deve possuir cavilhas com espaçamentos uniformes
para a fixação dos degraus.
b) Escada Provisória de Uso Coletivo
Situação Encontrada: A escada de uso coletivo não possui nenhum tipo de
proteção nas suas laterais (Figuras 15 e 16) o que provoca grande desconforto pelos
seus usuários e comprova o grande risco de acidentes em sua proximidade.
Figura 15 - Vista lateral. Figura 16 - Espaço entre a escada e a viga.
Recomendações: Apesar da escada ser construída com material de boa
qualidade ela deve possuir um sistema do tipo Guarda-Corpo e Rodapé (GcR) com o
intuito de que pessoas e materiais não caiam e nem provoquem acidentes. Na
Recomendação Técnicas de Procedimento Número 4 (RTP 04) da Fundação Jorge
Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO) pode ser
31
observado um esquema deste tipo de sistema (Figura 17), mostrando detalhadamente
os limites mínimos de altura para a construção do rodapé e dos travessões
intermediário e superior.
Figura 17 - Sistema de guarda corpo e rodapé
.
3.3.5 Medidas de Proteção contra Queda de altura
A NR 18 aborda este item de forma bastante ampla, envolvendo neste mesmo
quesito os seguintes pontos: abertura de piso, vãos de acesso a caixa de elevadores,
periferia da edificação, plataformas de proteção (bandejas) e um sistema limitador de
quedas de altura com a utilização de redes de segurança que é um sistema pouco
utilizado nas obras.
32
a) Abertura de Piso
Situação Encontrada: As aberturas de piso encontram-se fechadas, porém de
forma irregular. Com a Figura 18 é possível observar o risco de acidente que pode ser
ocasionado devido à falta de proteção nestas aberturas.
Figura 18 - Abertura de piso com proteção irregular.
Um operário pode sofrer alguma vertigem ou se descuidar e ocasionar um
acidente devido a falta de proteção e sinalização; convém observar também que na
proximidade desta abertura se encontra a periferia da laje que também não possui
proteção. Ou seja, caso aconteça algum acidente neste ponto da obra o operário poderá
cair de uma altura de aproximadamente vinte metros.
Recomendações: As aberturas de piso devem possuir fechamento provisório
resistente. Quando esta abertura é utilizada para transporte vertical de materiais e
equipamentos (Figura 19) é obrigatório a instalação de um sistema de Guarda-Corpo
com cancela.
33
Figura 19 - Abertura de piso sinalizada.
O sistema utilizado na obra não garante resistência alguma contra possíveis
acidentes, o sistema utilizado serve somente como sinalizador de que existe uma
abertura de piso neste local. Nas Recomendações Técnicas de Procedimento número
um (RTP 01) da FUNDACENTRO é esquematizada a correta utilização deste
mecanismo de segurança (Figura 20).
Figura 20 - Fechamento correto da Abertura de Piso.
34
b) Vão de Acesso a Caixa de Elevadores
Situação Encontrada: Todos os vão de elevadores encontrados na obra não
possuiam nenhum tipo de proteção, somente possuiam uma faixa de sinalização como
pode ser observado na Figura 21.
Figura 21 - Vão de acesso ao elevador.
Recomendações: É necessária a instalação de fechamentos provisórios de no
mínimo um metro e vinte centímetros (1,20 m) de altura, constituído de material
resistente e fixado seguramente a estrutura, até a colocação definitiva das portas. A
RTP 01 fornece um esquema da correta utilização deste fechamento conforme a Figura
22.
35
Figura 22 - Fechamento do vão de elevador.
c) Periferia da Edificação
Situação Encontrada: A edificação não possui um sistema de proteção
eficiente, na maioria da periferia das lajes não possui nenhum tipo de sistema
preventivo de segurança (Figura 23).
Figura 23 - Inexistência de proteção da periferia da edificação
36
Nas periferias das lajes existe somente um cabo de fibra sintética que é
utilizado como sinalização e não uma proteção efetiva (Figura 24). Parte da laje que
está sendo preparada para a concretagem não possui nem sequer este cabo (Figura 25);
a concretagem foi realizada e a laje permaneceu com as mesmas condições de ausência
de segurança. No momento da concretagem o único dispositivo de segurança utilizado
era o cinto de segurança do tipo pára-quedista que não era utilizado por todos os
trabalhadores devido a dificuldade de manuseio dos aparelhos utilizados no momento,
junto com a falta de mobilidade que o cinto promove.
Figura 24 - Cabo sintético na periferia da laje.
Figura 25 - Ausência de proteção na periferia
da laje.
Recomendações: É necessária a instalação de um sistema de proteção do tipo
guarda-corpo e rodapé constituído de anteparos rígidos. Este tipo de proteção é de
extrema importância devido as atividades que são exercidas que envolvem grande
quantidade de trabalhadores associados a uma altura que neste momento superam os
vinte e cinco metros. A Figura 26 mostra um tipo de proteção do tipo GcR muito
utilizado em obras deste porte.
37
Figura 26 - Sistema do tipo guarda-corpo e rodapé.
d) Plataformas de Proteção
Situação Encontrada: Existe uma plataforma principal (bandeja principal ou
plataforma principal) de proteção na altura da primeira laje, porém esta plataforma não
está em torno de todo o perímetro da edificação (Figura 27).
Figura 27 - Ausência da plataforma em parte da periferia da laje.
38
Existe uma outra plataforma com três lajes acima desta plataforma principal
que é chamada de plataforma secundária ou bandeja secundária. Não existe telas entre
as bandejas sendo que os materiais e ferramentas podem ser projetados para fora do
alcance da bandeja e ocasionar possíveis acidentes. Convém mencionar que a bandeja
secundária substitui as redes de segurança que também é um dispositivo utilizado para
proteção.
Recomendações: Entre as bandejas principal e secundárias é obrigatória a
instalação de telas de proteção, evitando que objetos possam ser arremessados fora da
área da bandeja. Todo o perímetro da edificação deve possuir bandeja atendendo a sua
função que é de barrar queda de materiais e ferramentas para pisos inferiores. As
bandejas secundárias devem ser instaladas a cada três lajes; como pode ser observado
na Figura 28 o edifício necessita de outra bandeja secundária, pois já foram
construídas cinco lajes acima da bandeja secundária existente.
Figura 28 - Ausência de bandeja secundária.
39
3.3.6 Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas
Neste item são tratados todos os mecanismos de movimentação e transporte de
pessoas e materiais sendo caracterizadas as torres de elevadores, os elevadores de
passageiros, os elevadores de materiais, as gruas e os elevadores de cremalheiras. Na
obra em estudo somente existe a realização do transporte de materiais, que é realizado
pelo elevador. Os trabalhadores utilizam a escada provisória de uso coletivo. Para a
análise do elevador deve-se também analisar a torre do mesmo.
a) Torres de Elevadores
Situação Encontrada: A torre do elevador encontra-se devidamente telada e
apoiada na edificação; seus elementos estruturais encontram-se em perfeito estado de
conservação (Figura 29), atendendo a todos os requisitos exigidos pela NR 18.
Figura 29 - Torre do elevador.
40
b) Elevadores de Transporte de Materiais
Situação Encontrada: A obra possui um único elevador que é utilizado
somente para transporte de materiais, a sinalização alertando que o elevador é de uso
específico para transporte de materiais é precária e encontra-se somente no térreo
(Figura 30) e o operador do elevador realiza suas atividades em uma cabine isolada no
térreo do edifício (Figura 31).
Figura 30 - Detalhe da sinalização pendurada.
Figura 31 - Cabine do operador de elevador.
41
Recomendações: As torres de elevadores de materiais devem ter suas faces
revestidas com tela de arame galvanizado ou material de resistência e durabilidade
equivalentes. As placas de sinalização devem ser posicionadas no interior do elevador
alertando quanto a capacidade máxima de carga e a impossibilidade de transporte de
pessoas.
3.3.7 Instalações Elétricas
As instalações elétricas devem ser sempre realizadas de forma que evite
qualquer tipo de acidente. As formas de proteções podem ser contra contatos diretos
ou indiretos. Contatos diretos através do contato com as partes vivas da instalação e
contatos indiretos que podem acontecer devido à falta de aterramento em
equipamentos.
Situação Encontrada: Foi observado que todos os equipamentos elétricos
estavam aterrados, o quadro principal de distribuição encontram-se devidamente
trancado (Figura 32), porém suas chaves elétricas não estavam identificadas e os
demais disjuntores encontrados na obra também não possuíam identificação quanto à
sua finalidade (Figura 33).
Figura 32 - Quadro principal de distribuição. Figura 33 - Chave elétrica sem identificação.
42
Os disjuntores encontravam-se devidamente protegidos contra as intempéries,
porém eram utilizados como liga-desliga sendo ausente a associação com interruptores
(Figura 34). Algumas tomadas não utilizam os corretos “plugues” para a realização do
serviço deixando evidente o risco exposto (Figura 35).
Figura 34 - Disjuntor utilizado como liga-
desliga.
Figura 35 - Detalhe na ausência do conjunto
“plugue”/tomada.
Ao longo da obra foi observada grande quantidade de fiação exposta (Figura
36). A utilização de extensões elétricas é a principal causa da grande quantidade de
fios ao longo da obra, sendo que estas são deixadas nos locais onde ocorre passagem
de pessoas e equipamentos e acabam se desgastando, além do que, os próprios
funcionários fazem emendas inadequadas ao longo desta fiação (Figura 37) gerando
partes vivas expostas que podem ocasionar um contato acidental e provocar acidentes.
Figura 36 - Fiação exposta. Figura 37 - Emendas inadequadas.
43
Recomendações: Todos os disjuntores e as chaves elétricas devem possuir
identificações quanto à sua função, convém salientar que as instalações elétricas
devem ser realizadas somente por trabalhador qualificado. Os disjuntores não devem
ser utilizados como liga-desliga: o ideal é a utilização de interruptores para este
serviço e as fiações também não devem permanecer em passagens com o intuito de se
evitar o desgaste mecânico das mesmas e prováveis contatos acidentais. É obrigatória
a utilização de sistema do tipo “plugue”/tomada para a ligação de equipamentos
elétricos ao circuito de distribuição, a RTP 02 (Recomendações Técnicas de
Procedimento número dois) da FUNDACENTRO demonstra a correta utilização deste
sistema (Figura 38).
Figura 38 - Esquema “Plugue”/Tomada.
3.3.8 Equipamentos de Proteção Individual
Os equipamentos de proteção individual (EPI) são dispositivos utilizados por
uma pessoa contra possíveis riscos ameaçadores da sua saúde ou segurança durante o
exercício de uma determinada atividade.
Situação Encontrada: A empresa fornece a todos os funcionários todos os EPI
necessários para cada atividade, possui estoque adequado de capacetes (Figura 39) e
dos outros EPI necessários e encontram-se em perfeito estado de conservação e
funcionamento.
44
Figura 39 - Estoque de capacetes.
Cabe mencionar que a empresa possui alguns funcionários terceirizados para a
realização de algumas atividades. Pode se observar que na realização de uma mesma
tarefa dois funcionários; um da própria empresa com fardamento cinza (Figura 40)
utiliza o cinto de segurança do tipo pára-quedista travando-o na estrutura enquanto o
outro terceirizado, com fardamento em amarelo, apesar de possuir o cinto prefere não
utilizar (Figura 41); justificando que o cinto interfere na realização de suas atividades,
pois limita a sua movimentação.
Figura 40 - Funcionário da empresa (fardamento cinza).
45
Figura 41 - Funcionário terceirizado (fardamento amarelo).
Recomendações: É necessário instruir todos os funcionários, isso inclui os
terceirizados, quanto à correta utilização dos mecanismos de segurança, a fim de se
evitar lesões decorrentes de possíveis acidentes.
3.3.9 Armazenamento e Estocagem de Materiais
Para uma melhor utilização da área de trabalho e uma melhoria na qualidade
dos serviços os materiais devem estar armazenados ou estocados de forma a não
obstruir as passagens e as atividades que estão sendo exercidas no canteiro.
Situação Encontrada: A obra no geral apresenta grande quantidade de
materiais estocados de forma inapropriada. Na Figura 42 é perceptível a altura que
estão sendo empilhados os blocos, uma altura superior ao próprio muro, podendo
ocasionar um desabamento ao retirar os blocos para utilização dos serviços na obra.
46
Figura 42 - Empilhamento dos blocos.
Outra situação bastante comum é o armazenamento do material que não será
mais utilizado em determinada etapa da obra; na Figura 43 os materiais são
empilhados a uma elevada altura sendo que estes oferecem riscos aos operários devido
ao tipo de armazenamento e ao tipo de material que neste caso é composto em sua
maioria por peças de madeiras com pregos.
Figura 43 - Empilhamento de diversos materiais.
Recomendações: Todas as pilhas de materiais devem ter forma e altura que
garantam a sua estabilidade e facilitem o seu manuseio, o armazenamento deve ser
feito de modo a permitir que os materiais sejam retirados obedecendo à seqüência de
47
utilização planejada e não devem ser empilhados diretamente sobre piso instável,
úmido ou desnivelado.
3.3.10 Proteção contra Incêndio
É obrigatória a instalação de medidas preventivas que atendam, de forma
eficaz, as necessidades de prevenção e combate a incêndio para os diversos locais que
exercem diferentes serviços simultaneamente.
Situação Encontrada: Em torno de todo o canteiro foi observada a existência
de somente dois extintores na obra, o primeiro extintor situado na porta do
almoxarifado (Figura 44) e o segundo extintor localizado na carpintaria (Figura 45).
Figura 44 - Extintor na porta do almoxarifado. Figura 45 - Extintor na carpintaria.
Recomendações: É necessária a instalação de extintores ao longo de todo
canteiro atendendo aos riscos de cada ambiente e utilizados de acordo com sua classe.
48
3.3.11 Sinalização de Segurança
Este item tem o objetivo de alertar os trabalhadores quanto aos perigos, riscos
em geral, uso de EPI, mostrar as saídas da obra, ou seja, informar todas as situações de
riscos que os operários estão dispostos.
Situação Encontrada: A obra possui poucas placas de sinalização, sendo que a
maioria informava somente quanto ao uso de EPI (Figura 46) não foram observadas
sinalizações indicando a saída das obras, perigo quanto ao risco de queda e nem de
proibido fumar devido a quantidade de material inflamável estocado no canteiro.
Figura 46 - Sinalização de advertência.
Recomendações: É necessária a intensificação dos cartazes nas obras alertando
quanto aos riscos em geral. Convém salientar que as placas ou cartazes devem ser
feitas de materiais com boa qualidade de forma que seja visível a todos os funcionários
e entendidas por todos.
49
3.3.12 Treinamento
Os treinamentos periódicos devem ser realizados para todos os funcionários,
sempre visando garantir a realização das suas atividades com segurança.
Situação Encontrada: A empresa realiza treinamento admissional para todos os
funcionários e mostrou evidências (Figura 47). Os treinamentos periódicos (Figura 48)
são realizados utilizando diversos temas e estes treinamentos são ministrados pela
técnica de segurança. Este item encontra-se de acordo com todas as recomendações
sugeridas pela NR 18.
Figura 47 – Lista de participantes do
treinamento admissional
Figura 48 – Lista de participantes do
treinamento periódico
50
3.4 QUALIFICAÇÃO DOS RISCOS
Após a análise dos riscos feita no item 3.3 deste trabalho, foi realizada a
qualificação dos mesmos neste presente item. Para qualificar os riscos foi utilizada
uma lista de verificação, baseada no modelo utilizado no SESI (Serviço Social da
Indústria).
Para a avaliação qualitativa foram utilizados os seguintes conceitos:
Ótimo = nota dez (10);
Bom = nota oito (8);
Regular = nota seis (6);
Ruim = nota quatro (4);
Péssimo = nota dois (2);
Não possui = nota zero (0);
Não se aplica (NA).
Cada quesito avaliado nos itens sugeridos pela NR 18 foi pontuado de acordo
os conceitos descritos e resultaram nas médias seguintes:
Escavação, Fundação e Desmonte de Rocha (ANEXO B) = 6,86
Carpintaria (ANEXO C)= 4,85
Armações de Aço (ANEXO D)= 5,98
Escadas, Rampas e Passarelas (ANEXO E) = 6,69
Medidas de Proteção contra Queda de altura (ANEXO F) = 3,21
Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas (ANEXO G) = 8,92
Instalações Elétricas (ANEXO H) = 5,98
51
Equipamentos de Proteção Individual (ANEXO I) = 9,96
Armazenamento e Estocagem de Materiais (ANEXO J) = 5,58
Proteção contra Incêndio (ANEXO K) = 6,30
Sinalização de Segurança (ANEXO L) = 3,67
Treinamentos (ANEXO M) = 10,00
O gráfico 1 evidencia que a maioria dos resultados não superaram o conceito
de bom que equivale a nota oito (considerada a nota mínima), sendo que somente três
itens alcançaram esta meta (Transporte de materiais, EPI e Treinamentos).
Gráfico 1 - Pontuação dos Riscos.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Nota obtida
Nota mínima aceitável
52
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Após a análise e identificação das atividades que podem provocar algum tipo
de risco ao trabalhador, os mesmos foram avaliados e foram feitas recomendações de
melhorias. O intuito foi perceber quais são as atividades que são tratadas com menos
importância e que não utilizam os fundamentos fornecidos pela NR18.
O item que teve a pior nota, queda de alturas, é um dos serviços geradores de
muitos acidentes na construção civil, mostrando a negligência da maioria das empresas
no investimento de proteções de segurança.
Proteções voltadas para serviços que são realizados em alturas possuem um
custo mais elevado em relação as outras proteções e geralmente são de mais difícil
aplicação como por exemplo as bandejas, proteções do tipo guarda-corpo e rodapé e
outros dispositivos limitadores; razão justificada pelo engenheiro da obra pela falta de
uso em algumas situações encontradas.
As melhores notas foram na questão de treinamentos e uso de EPI. A
justificativa dos treinamentos obterem nota elevada está relacionada com a presença de
uma técnica de segurança na obra, fornecendo palestras relacionadas à segurança do
trabalho. O quesito EPI obteve nota elevada pois na obra é considerado por todos os
funcionários equipamento de uso fundamental, porém em alguns casos foi encontrada
a utilização de forma errada dos mesmos.
Foram listadas doze atividades sendo que destas somente três alcançaram a
nota mínima aceitável. Ou seja, 75% das atividades encontravam-se fora dos padrões
de segurança do trabalho exigidos pela NR 18, comprovando desta maneira a falta de
comprometimento tanto da empresa quanto dos trabalhadores.
O canteiro no geral obteve uma nota de 6,50 que está conceitualmente entre
regular e bom. Para que o canteiro se enquadre nas exigências estabelecidas pela NR
18 a empresa pode aplicar um sistema de gerenciamentos de riscos, sendo o específico
para a construção civil e regulamentado pela própria norma é o PCMAT.
53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da lista de verificação utilizada neste trabalho pôde-se avaliar os
riscos no canteiro em questão propondo as devidas melhorias. Com os resultados foi
possível observar quais são os serviços mais críticos em relação a segurança. Ou seja,
foi possível destacar quais são os riscos de cada tarefa demonstrando a ineficácia dos
dispositivos utilizados no canteiro ou a ausência dos dispositivos de segurança.
Este trabalho teve como principal objetivo avaliar os riscos encontrados em
uma obra vertical da construção civil. Apesar de nunca ter ocorrido um acidente de
trabalho na obra analisada durante o período de estudo, isso não justifica o pouco
investimento em mecanismos de proteção para o operário.
Um fator observado durante a elaboração deste trabalho é que o funcionário
não possui nenhum tipo de contato durante a decisão dos mecanismos de segurança
que são utilizados na obra. Alguns dos funcionários justificam a utilização incorreta ou
a não utilização de alguns mecanismos devido a dificuldade de realizar suas atividades
com a proteção adotada no canteiro.
Segundo a NR 18 somente é necessário a CIPA em obras que possuem mais
de setenta trabalhadores, sendo que neste caso a obra não necessita. Cabe destacar que
é através da CIPA que os trabalhadores podem expor coletiva e individualmente suas
queixas quanto à segurança de seu trabalho, participar dos projetos de equipamentos
de proteção coletiva e na escolha dos EPI mais adequados para a realização de suas
atividades.
Os riscos de acidentes podem ser controlados e até mesmo eliminados por
medidas como:
Treinamentos e capacitação para os funcionários quanto à correta
utilização dos EPI;
Fornecimento dos dispositivos de proteção que sejam adequados as
atividades que estão sendo exercidas;
54
Informar a todos os funcionários os riscos de suas atividades e a
utilização de métodos de gerenciamento de risco para o controle dos
mesmos.
Seguir as recomendações fornecidas pelas normas, principalmente a
NR 18 que é voltada justamente para a construção civil.
55
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Nelma Miriam Chagas de. Custos de implantação do PCMAT
(Programa de condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção) em obras de edificações verticais – um estudo de caso. 1998.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Universidade Federal
da Paraíba, João Pessoa.
AREASEG, SEGURANÇA DO TRABALHO. Normas. Disponível em
<http://www.areaseg.com/normas>. Acesso em 06/05/2010.
AREASEG, SEGURANÇA DO TRABALHO. Artigos. Disponível em
<http://www.areaseg.com/seg/>. Acesso em 10/05/2010.
AREASEG, SEGURANÇA DO TRABALHO. Gerenciamento de Riscos.
Disponível em <http://www.areaseg.com/sinais/mapaderisco.html>. Acesso
em 15/05/2010.
BISSO, Ely Moraes. O que é segurança do trabalho. São Paulo: Brasiliense,
1990.
COPENE, CONSTRUÇÃO CIVIL. Disponível em <
http://www.copene.com.br/boletins/Construcao_Civil/boletim/2.htm >.
Acesso em 20/04/10.
FIOCRUZ, Riscos de Acidentes. Artigos. Disponível em
<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/riscos_de_acidentes.h
tml>. Acesso em 16/07/2010.
GROHMANN, Márcia Zampieri. Seguança no Trabalho Através do Uso de
EPI’s: Estudo de Caso Realizado na Construção Civil de Santa Maria.
Estudo de Caso, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS,
1997.
Manual Prático: Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho. São Paulo,
2003.
MTE, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Disponível em
http://www.mte.gov.br/institucional/historia.asp . Acesso em 25/08/10
NORMA REGULAMENTADORA n° 9 (NR –9). Manual de Legislação
sobre Segurança Medicina do Trabalho, 65ª Edição, 2010.
56
OVERSEAS, Gerenciamento de Riscos. Artigos. Disponível em
<http://www.overseasbr.com/pt/riskmanagement/newtorisk/whatisriskmana
gement.asp>. Acesso em 11/05/2010.
PINHEIRO, V.C.; ARRUDA, G. A. Segurança do Trabalho no Brasil.
Informe de Previdência Social, Distrito Federal, v. 13, n. 10, out. 2001.
PIZA, F.T. Informações Básicas Sobre Saúde e Segurança no Trabalho. São
Paulo: CIPA. 1997. 119p.
PONTES, R.; LEITE, M. S.; DUARTE, D. Uma filosofia para o
gerenciamento dos riscos na construção civil. In: XVIII Encontro Nacional
de Engenharia de Produção. 8 p. Rio de Janeiro: RJ, 1998.
SALDANHA, Maria Cristina Werba. Racionalização construtiva: um enfoque
na execução do revestimento. 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia
de Produção), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
TORREIRA, R. P. Segurança Industrial e Saúde. Editora Eletrônica MCT
Produções Gráficas, 1997.
57
ANEXOS
ANEXO A - RELAÇÃO DAS NORMAS REGULAMENTADORAS DE SEGURANÇA
NR 1 Disposições Gerais
NR 2 Inspeção Prévia
NR 3 Embargo ou Interdição
NR 4 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
NR 5 CIPA
NR 6 Equipamento de Proteção Individual
NR 7 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
NR 8 Edificações
NR 9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
NR10 Serviços em Eletricidade
NR 11 Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais
NR 12 Máquinas e Equipamentos
NR 13 Caldeiras e Vasos de Pressão
NR 14 Fornos
NR 15 Atividades e Operações Insalubres
NR 16 Atividades e Operações Perigosas
NR 17 Ergonomia
NR 18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
NR 19 Explosivos
NR 20 Líquidos Combustíveis e Inflamáveis
NR 21 Trabalhos a céu aberto
NR 22 Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração
NR 23 Proteção contra incêndios
NR 24 Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho
NR 25 Resíduos Industriais
NR 26 Sinalização de Segurança
NR 27 Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho
(Revogada pela portaria GM n° 262,29 de maio de 2008)
NR 28 Fiscalização e Penalidades
NR 29 Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário
NR 30 Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário
NR 31 Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura
NR 32 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde
NR 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados
NR 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação
Naval