universidade estadual de campinas instituto de...

130
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA EUPÍDIO SCOPEL APROVEITAMENTO INTEGRAL DO CAPIM ELEFANTE NA PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO CAMPINAS 2019

Upload: others

Post on 14-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

EUPÍDIO SCOPEL

APROVEITAMENTO INTEGRAL DO CAPIM ELEFANTE NA PRODUÇÃO DE

ETANOL CELULÓSICO

CAMPINAS

2019

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

EUPÍDIO SCOPEL

APROVEITAMENTO INTEGRAL DO CAPIM ELEFANTE NA PRODUÇÃO DE

ETANOL CELULÓSICO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Química

da Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em

Química na área de Físico-Química.

Orientadora: Profa. Dra. Camila Alves de Rezende

O arquivo digital corresponde à versão final da Dissertação defendida pelo

aluno Eupídio Scopel e orientada pela Profa. Dra. Camila Alves de Rezende.

CAMPINAS

2019

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de
Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Camila Alves de Rezende (Orientador)

Profa. Dra. Ljubica Tasic (Instituto de Química - Unicamp)

Prof. Dr. Roberto Rinaldi Sobrinho (Imperial College London)

A Ata da defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da

Unidade.

Este exemplar corresponde à redação

final da Dissertação de Mestrado

defendida pelo(a) aluno(a) Eupídio

Scopel, aprovada pela Comissão

Julgadora em 30 de julho de 2019.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

À minha mãe, Adriana,

minha avó, Maria José

e minha irmã, Gabriela

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

“Nós só podemos ver um pouco do futuro,

mas o suficiente para perceber que há muito a

fazer.”

Alan Turing

“We are souls dressed up in biochemical

garments and our bodies are the instruments

through which our souls play their music.”

Albert Einstein

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

AGRADECIMENTOS

Esse trabalho e essa lista de agradecimentos (maior do que eu

imaginava, por sinal) só reforçam que eu fiz uma ótima escolha quando resolvi sair

do Espírito Santo para uma nova experiência no mestrado. Esses últimos dois anos

foram marcados por muitas pessoas que eu queria agradecer. Pessoas que não

somente contribuíram para a realização do trabalho, mas também para o meu

crescimento pessoal.

Agradeço à professora Camila, por toda a atenção e acolhimento desde

as primeiras conversas por e-mail, que se estenderam por toda a condução do

trabalho. Seu exemplo como professora e pesquisadora marcaram a minha visão

sobre ciência, docência e o cuidado com escrita e apresentações. Além de tudo,

lembrarei e serei eternamente grato por ter feito muito mais do que deveria por mim

durante seu período de licença maternidade. Muito obrigado!

A todos do LaQuiMoBio, Henrique, Elisa, Camilla, Bruna Sussai, Lidiane,

Sandra, Helena, José e Bruna Botelho, pelas discussões nas reuniões de grupo e

nos cafés, que enriqueceram esse trabalho, além, é claro, dos piqueniques na Praça

da Paz e outros tantos momentos de (muita) comida e diversão. Vocês fizeram eu

sentir como se eu tivesse estado na Unicamp desde a graduação. Muito obrigado!

À Andreza e ao Douglas, técnicos do laboratório, por toda a

disponibilidade em sempre resolver os problemas cotidianos e por terem sido

sempre tão prestativos. Além disso, agradeço aos técnicos dos laboratórios

institucionais, Ricardo, Hugo, Pri, Claudinha, Renata e Deborah, pelas ajudas nas

análises, treinamentos, dicas e resolução dos problemas que apareciam. Também a

todos da CPG, especialmente à Bel, à Janaína e ao Diego, pelas ajudas nas

soluções das dúvidas burocráticas.

Ao professor Celso Bertran, por ter permitido realizar os ensaios de

moagem no moinho de bolas; também ao Vitor e à Mari por terem me ajudado nas

moagens.

À professora Susanne Rath e todo pessoal do laboratório Paracelsus,

pela ajuda com as análises no PLE, especialmente à Nati e ao Rudson, que me

acompanharam para a realização dos experimentos.

Ao professor Julian Martínez, por ter permitido a realização dos ensaios

com CO2 supercrítico no seu laboratório, e à Luana por ter me acompanhado e

discutido comigo os resultados das extrações. Também ao Matheus por ter discutido

comigo os resultados das caracterizações dos extratos.

À professora Rosana Goldbeck e à Guta, pela ajuda com os experimentos

de fermentação no laboratório LEMeB, na FEA. Além dos experimentos, agradeço

também à professora Rosana e à professora Taícia Fill, pelos comentários no

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

Exame de Qualificação de Área à professora Ljubica Tasic e ao professor Roberto

Rinaldi por terem participado da banca de defesa.

Ao LNNano e à Bruna, pelos experimentos no micro-CT.

Além do pessoal do laboratório, quero agradecer a todos que fizeram

parte dessa etapa da minha vida em Campinas, Thiago, Laris, Victor, Robson,

Roney, Gesiane, Tsu, Mari, Gerion, PT, Murilo e Rafa e aos amigos de casa, Ana,

Elisa, Sarah e Walter, por todos as saídas para festas, comidas, passeios, viagens,

que tornaram tudo mais divertido. Também agradeço aos amigos do Espírito Santo,

Júlia, Guilherme, Márcio, Danilo, Rafael, Gabriel e Patrick pelas visitas à SP, aos

acolhimentos e saídas no ES, que marcaram esse período.

Ao Cleocir, à Carla e à Maristela, meus professores da Ufes, pelo convite

para a participação na III SEQUINES para ministrar o minicurso e participar da mesa

redonda. Ao Cleocir e à Carla, agradeço também por terem sido meus orientadores

e terem contribuído também para a publicação dos artigos e do capítulo do livro

nesses últimos dois anos.

Agradeço imensamente à minha mãe, Adriana, minha avó, Maria José e

minha irmã, Gabriela, por terem acreditado em mim, investido na minha educação,

por aceitarem quem eu sou. Amo vocês, e o mais legal é saber que esse sentimento

é mútuo. Muito obrigado!

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de

Financiamento 001.

Ao CNPq, pela bolsa do mestrado e pelo financiamento do projeto do

grupo de pesquisa (420031/2018-9).

À Fapesp, pelo auxílio financeiro para a pesquisa no grupo (projetos

2016/13602-7 e 2018/23769-1).

À FAEPEX, pelo auxílio para a apresentação do trabalho no 41st SBFC,

em Seattle.

A Deus, por ter me guiado para que meus caminhos me trouxessem até

aqui.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

RESUMO

O cenário ideal para viabilizar a utilização da biomassa como fonte para

combustíveis, materiais e outros insumos químicos é o de uma biorrefinaria. Nele, o

máximo dos seus componentes é aproveitado, de modo integrado e com o menor

gasto possível de insumos e energia. Neste trabalho, o capim elefante foi utilizado

como substrato para uma biorrefinaria, visando à produção de etanol celulósico

como produto principal e acoplando a esse processo a recuperação de extrativos,

hemicelulose e lignina. A maior recuperação de extrativos foi obtida na extração com

líquidos pressurizados (cerca de 7% da biomassa in natura), levando a obtenção de

extratos ricos em fenólicos e esteroides, principalmente. A utilização de tratamentos

com ácidos diluídos levou a extração de cerca de 70% da hemicelulose do substrato

e possibilitou a recuperação de cerca de 190 kg de xilose/ton de biomassa a partir

do licor ácido. Para a lignina, pode-se recuperar 138 kg/ton de folhas e 85 kg/ton de

colmos quando se aplica um tratamento com base diluída sequencialmente. No

entanto, maiores quantidades de etanol foram obtidas quando o tratamento alcalino

foi aplicado diretamente à biomassa in natura (70 e 78 kg/ton de folhas e colmos,

respectivamente) quando comparados aos tratamentos sequenciais ácido-base (62

e 60 kg/ton. para folhas e colmos, respectivamente). A moagem em moinho de bolas

aplicada à biomassa também levou ao aumento da taxa de conversão de celulose

até aproximadamente 100%.

A caracterização química e morfológica dos substratos pré-tratados foi

utilizada para explicar os resultados de hidrólise enzimática obtidos, que possuem

forte relação com a remoção dos componentes, como hemicelulose e lignina, no

processo de exposição das fibras de celulose, aumento da área superficial e

porosidade. A partir das discussões, três diferentes cenários foram propostos

visando à obtenção integrada de etanol e lignina (Cenário 1), etanol, hemicelulose e

lignina (Cenário 2) e etanol, extrativos e lignina (Cenário 3). Essa abordagem

representa uma possibilidade para a viabilização de biorrefinarias para diversificar as

fontes de obtenção de produtos tradicionalmente obtidos de fontes não renováveis.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

ABSTRACT

The ideal scenario to enable the production of fuels, materials and other

chemicals from ligocellulosic biomass is a biorefinery. In this work, elephant grass

was used as raw material in a biorefinery scheme, aiming at the production of

cellulosic ethanol mainly, but also at the recovery of extractives, hemicellulose and

lignin. Higher extractive recovery was achieved using pressurized liquid extractions

(ca. 7% of biomass in natura), leading to extracts rich in phenolics and steroids.

Diluted acid treatments extracted ca. 70% of hemicellulose and allowed the recovery

of 190 kg of xylose/ton biomass. For lignin, 138 kg/ton of leaves and 85 kg/ton of

stems were recovered by a sequential treatment using diluted acid and alkali

solutions. However, a higher amount of ethanol was obtained when the alkaline

treatment is applied alone and directly on the biomass (70 and 78 kg/ton of leaves

and stems, respectively). Under sequential treatments, 62 and 60 kg/ton of leaves

and stems were obtained, respectively. The use ball milling as a pretreatment step

increased the conversion of cellulose into glucose.

Chemical and morphological characterizations of pretreated substrates

were used to explain the enzymatic hydrolysis results, which are strongly associated

to the removal of hemicellulose and lignin from cellulosic fibers, to substrate

exposure and to the increase of surface area and porosity. Finally, three scenarios

were proposed, aiming at an integrated production of ethanol and lignin (Scenario 1);

ethanol, hemicellulose and lignin (Scenario 2); or ethanol, extractives and lignin

(Scenario 3). From these scenarios, elephant grass was used to produce fuels,

materials and chemicals traditionally produced from non-renewable sources.

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Comparação entre processos para a obtenção de combustíveis, insumos

químicos e materiais de uma refinaria de petróleo e uma biorrefinaria. Adaptado de

Ragauskas e colaboradores1. ................................................................................... 20

Figura 2. Representação esquemática da composição da parede celular vegetal,

formada por cadeias de celulose estruturadas em microfibrilas e envoltas por

hemicelulose e lignina, formando as macrofibrilas. ................................................... 22

Figura 3. Estrutura da celobiose, unidade repetitiva da celulose, formada pela união

de duas moléculas de glicose por meio de uma ligação β-1,4. ................................. 23

Figura 4. Modelo para a estruturação das fibras de celulose em regiões amorfas e

cristalinas. ................................................................................................................. 24

Figura 5. a) Exemplos de monossacarídeos que compõem a hemicelulose nas suas

formas cíclicas: glicose, manose e galactose (hexoses) e xilose e arabinose

(pentoses); b) Estruturação dos açúcares na biomassa lignocelulósica. .................. 25

Figura 6. a) Estrutura dos três monolignois (álcool p-cumarílico, álcool coniferílico e

álcool sinapílico) constituintes da lignina; b) Exemplo de estrutura proposta para a

macromolécula de lignina, formada pela união dos monolignois. ............................. 27

Figura 7. Mecanismo proposto para a solubilização da sílica em meio alcalino por

meio da despolimerização iniciada pelo ataque nucleofílico da hidroxila ao silício,

seguido pela quebra das ligações Si-O ..................................................................... 31

Figura 8. Esquema das etapas para a produção de etanol celulósico. .................... 33

Figura 9. Esquema para os pré-tratamentos da biomassa lignocelulósica visando o

aumento da digestibilidade enzimática. ..................................................................... 34

Figura 10. Número de artigos utilizando a palavra-chave “Biorefinery” indexados na

base de dados Web of Science em cada ano entre 2004 e 2018. ............................ 37

Figura 11. Mecanismo esperado para a hidrólise da hemicelulose em seus

monômeros, utilizando como exemplo uma cadeia de xilano. .................................. 42

Figura 12. Principais ligações envolvidas na união covalente entre lignina e cadeias

de celulose. ............................................................................................................... 42

Figura 13. Mecanismo para a fragmentação da lignina por meio da quebra das

ligações β-O-4 em decorrência da hidrólise básica. .................................................. 43

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

Figura 14. Esquema para a moagem em moinho de bolas planetário, utilizado para

reduzir a cristalinidade da celulose.. ......................................................................... 44

Figura 15. Fotografia da plantação de capim elefante do Instituto de Zootecnia

(Nova Odessa, SP) de onde as amostras foram colhidas. ........................................ 45

Figura 16. Modelo do capim elefante e diferenciação ente colmos e folhas. ........... 51

Figura 17. Representação esquemática do sistema de extração com fluidos

pressurizados. ........................................................................................................... 52

Figura 18. a) Equipamento utilizado para as extrações com líquidos pressurizados

(Dionex ASE 350, Thermo Scientific); b) Esquema de funcionamento do processo. 53

Figura 19. Esquema para a determinação da composição química da biomassa

lignocelulósica. .......................................................................................................... 58

Figura 20. Rampa de aquecimento utilizada para a calcinação de matéria inorgânica

e determinação de cinzas totais ................................................................................ 59

Figura 21. Produtos formados na hidrólise para a quantificação da biomassa

lignocelulósica. .......................................................................................................... 61

Figura 22. Indicação dos picos da celulose (002 e 101) e do vale amorfo (Iam) nos

difratogramas de raios-X de capim elefante.. ............................................................ 63

Figura 23. Esquema geral da biorrefinaria de capim elefante proposta no trabalho. 65

Figura 24. Perfil do ensaio cinético realizado para as extrações com scCO2 em: a)

folhas; e b) colmos. ................................................................................................... 68

Figura 25. Rendimentos de extração para folhas e colmos e folhas ........................ 69

Figura 26. Composição percentual dos extratos caracterizados por GC-MS para

folhas (a e c) e colmos (b e d). .................................................................................. 76

Figura 27. Percentual das classes de compostos presentes nos extratos

considerando os rendimentos de extração. ............................................................... 77

Figura 28. Percentual mássico restante de celulose, hemicelulose, lignina e cinzas

após os pré-tratamentos para as folhas em relação à massa inicial: a) folhas; b)

colmos. ...................................................................................................................... 81

Figura 29. Composição da matéria inorgânica do capim elefante determinada por

XRF. .......................................................................................................................... 83

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

Figura 30. Índice de cristalinidade das amostras pré-tratadas antes e após a

moagem em moinho de bolas (12 bolas de 20 mm a 250 rpm por 2 h). ................... 85

Figura 31. Massa de açúcar liberada pela hidrólise enzimática dos substratos após a

extração com scCO2 e PLE. ...................................................................................... 86

Figura 32. Imagens de FESEM das folhas in natura (a e b); submetidas à extração

com scCO2 (c e d); somente com PLE, utilizando água e etanol (e e f); e sequencial

scCO2-PLE (água e etanol) (g e h). ........................................................................... 88

Figura 33. Imagens de FESEM dos colmos in natura (a); submetidos à extração com

scCO2 (b); somente com PLE, utilizando água e etanol (c); sequencial scCO2-PLE

(água e etanol) (d). .................................................................................................... 89

Figura 34. Quantidade de açúcares liberados por grama de substrato após a

hidrólise enzimática das amostras submetidas ao tratamento com ácido e base

diluídos. ..................................................................................................................... 90

Figura 35. Correlações entre teores de um determinado componente no sólido e a

quantidade de glicose liberada pela hidrólise enzimática para folhas e colmos:

celulose (a e b); carboidratos (soma de celulose e hemicelulose) (c e d); lignina (e e

f). ............................................................................................................................... 92

Figura 36. Imagens de FESEM para as folhas: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base

(20 min) (c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente

básico por 100 min (f); PLE e básico por 20 min (g); PLE e básico por 100 min. ..... 94

Figura 37. Imagens de FESEM para os colmos: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base

(20 min) (c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente

básico por 100 min (f); PLE e básico por 20 min (g); PLE e básico por 100 min. ..... 95

Figura 38. Imagens de micro-CT das folhas de capim elefante: In natura (a);

Submetidas a tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente

a tratamento básico (d). ............................................................................................ 97

Figura 39. Imagens de micro-CT dos colmos de capim elefante: In natura (a);

Submetidas a tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente

a tratamento básico (d). ............................................................................................ 98

Figura 40. Quantidade de açúcares liberados por grama de substrato após a

hidrólise enzimática das amostras submetidas ao tratamento com ácido e base

diluídos e após moagem. .......................................................................................... 99

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

Figura 41. Imagens de FESEM das amostras moídas em moinho de bolas: folhas

submetidas a tratamento sequencial ácido-base por 20 min (a e b); somente básico

por 20 min (c e d); colmos submetidos a tratamento sequencial ácido-base por 20

min (e e f); e somente básico por 20 min (g e h). .................................................... 100

Figura 42. Resumo da liberação de açúcares das amostras in natura e submetidas a

tratamentos químicos e físicos. ............................................................................... 102

Figura 43. Relação entre a quantidade de glicose liberada pela hidrólise enzimática

e o percentual de conversão de celulose em glicose: a) folhas; e b) colmos. ......... 103

Figura 44. Massas de açúcares fermentáveis obtidos a partir de 1 tonelada de

biomassa. ................................................................................................................ 104

Figura 46. Ensaio cinético para a fermentação e obtenção de etanol: a) folhas; b)

colmos. .................................................................................................................... 107

Figura 46. Esquema do Cenário 1 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas

(acima) e colmos (abaixo): obtenção de etanol e recuperação de lignina. .............. 109

Figura 47. Esquema do Cenário 2 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas

(acima) e colmos (abaixo): obtenção de etanol, recuperação de hemicelulose e

lignina. ..................................................................................................................... 111

Figura 48. Esquema do Cenário 3 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas

(acima) e colmos (abaixo): obtenção de etanol, recuperação de hemicelulose e

lignina. ..................................................................................................................... 113

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Resumo das aplicações do capim elefante publicadas no período de

janeiro de 2004 a maio de 2019 de acordo com a base de dados Web of Science

(Palavras-chave: Elephant grass), com exceção das aplicações para alimentação

animal. ....................................................................................................................... 47

Tabela 2. Conclusões a respeito da otimização dos pré-tratamentos ácido-base. ... 49

Tabela 3. Condições experimentais para a escolha da condição de moagem em

moinho de bolas. ....................................................................................................... 55

Tabela 4. Significado dos códigos utilizados para nomear as amostras. .................. 56

Tabela 5. Fatores de conversão utilizados para a determinação dos teores de

celulose e hemicelulose a partir dos açúcares, ácidos orgânicos e produtos de

degradação determinados por HPLC. ....................................................................... 61

Tabela 6. Cálculo da constante S/F para a extração com scCO2. ............................ 68

Tabela 7. Compostos presentes nos extratos quantificados por GC-MS. ................. 71

Tabela 8. Composição química e massa de sólido remanescente após pré-

tratamentos com ácidos e bases diluídos. As análises foram realizas em duplicata e

os erros correspondem ao desvio padrão. ................................................................ 78

Tabela 9. Planejamento experimental para a moagem em moinho de bolas. .......... 84

Tabela 10. Caracterização dos componentes presentes nas frações líquidas dos

tratamentos químicos. ............................................................................................. 106

Tabela 11. Quantidade de etanol produzida a partir de 1 tonelada de biomassa e

rendimento do processo. ......................................................................................... 107

Tabela A1. Percentual mássico de celulose, hemicelulose, lignina e cinzas

considerando o rendimento após os tratamentos. ................................................... 128

Tabela A2. Quantidade açúcar liberado após a hidrólise enzimática por grama de

biomassa e percentual de conversão de celulose em glicose. ................................ 129

Tabela A3. Quantidade de açúcares obtidos a partir de 1 ton. de biomassa

considerando rendimentos ...................................................................................... 130

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

SUMÁRIO

1. Introdução ......................................................................................................... 19

1.1 Composição da biomassa lignocelulósica .............................................. 21

1.1.1 Celulose ................................................................................................. 22

1.1.2 Hemicelulose ......................................................................................... 25

1.1.3 Lignina ................................................................................................... 26

1.1.4 Extrativos ............................................................................................... 29

1.1.5 Cinzas .................................................................................................... 30

1.2 Produção de etanol celulósico.................................................................. 32

1.2.1 Pré-tratamentos ..................................................................................... 33

1.2.2 Hidrólise enzimática ............................................................................... 35

1.2.3 Fermentação.......................................................................................... 36

1.3 Biorrefinarias .............................................................................................. 36

1.4 Métodos para o fracionamento e melhoria da digestibilidade enzimática

utilizados neste trabalho ..................................................................................... 39

1.4.1 Extrações com CO2 supercrítico ............................................................ 39

1.4.2 Extrações com líquidos pressurizados .................................................. 40

1.4.3 Tratamentos com ácidos e bases diluídos ............................................. 41

1.4.4 Moagem em moinho de bolas................................................................ 43

1.5 Capim elefante ............................................................................................ 45

1.5.1 Características ....................................................................................... 45

1.5.2 Aplicações do capim elefante ................................................................ 46

1.5.3 Trabalhos anteriores do grupo de pesquisa .......................................... 47

2. Objetivos ........................................................................................................... 50

3. Materiais e métodos ......................................................................................... 51

3.1 Preparo da biomassa..................................................................................... 51

3.2 Pré-tratamentos e fracionamento dos componentes .............................. 51

3.2.1 Extração com CO2 supercrítico .............................................................. 52

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

3.2.2 Extrações com líquidos pressurizados .................................................. 53

3.2.3 Tratamentos com ácido diluído .............................................................. 54

3.2.4 Tratamento com base diluída ................................................................ 54

3.2.5 Moagem em moinho de bolas................................................................ 54

3.2.6 Nomenclatura das amostras .................................................................. 56

3.3 Hidrólise enzimática ................................................................................... 57

3.4 Fermentação ............................................................................................... 57

3.5 Determinação da composição química dos sólidos ............................... 57

3.5.1 Cinzas totais .......................................................................................... 58

3.5.2 Extrativos ............................................................................................... 59

3.5.3 Celulose, hemicelulose e lignina............................................................ 59

3.5.4 Quantificação dos açúcares liberados ................................................... 60

3.6 Determinação da composição química das frações líquidas ................. 62

3.7 Determinação dos açúcares obtidos após a hidrólise enzimática ........ 62

3.8 Caracterizações .......................................................................................... 62

3.8.1 Identificação dos extratos ...................................................................... 62

3.8.2 Índice de cristalinidade .......................................................................... 63

3.8.3 Composição química das cinzas ........................................................... 64

3.8.4 Análise morfológica ............................................................................... 64

4. Resultados e Discussão .................................................................................. 65

4.1 Proposta de biorrefinaria ........................................................................... 65

4.2 Fracionamento dos extrativos .................................................................. 67

4.2.1 Ensaio cinético para a extração com scCO2 .......................................... 67

4.2.2 Rendimentos das extrações .................................................................. 69

4.2.3 Composição dos extratos ...................................................................... 69

4.3 Fracionamento de hemicelulose e lignina ............................................... 78

4.4 Composição das cinzas ............................................................................. 82

4.5 Efeito da moagem em moinho de bolas ................................................... 83

4.5.1 Escolha da condição de moagem .......................................................... 83

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

4.5.2 Efeito da moagem na cristalinidade da biomassa.................................. 84

4.6 Efeito dos tratamentos na digestibilidade enzimática ............................ 86

4.6.1 Efeito das extrações .............................................................................. 86

4.6.2 Análise morfológica dos substratos após as extrações ......................... 87

4.6.3 Efeito dos tratamentos com ácidos e bases diluídos ............................. 89

4.6.4 Alterações morfológicas dos substratos após os tratamentos com ácidos

e bases diluídos ................................................................................................. 93

4.6.5 Efeito da moagem em moinho de bolas ................................................ 99

4.6.6 Visão geral do efeito dos processos na digestibilidade enzimática ..... 101

4.6.7 Conversão de celulose em glicose ...................................................... 102

4.6.8 Avaliação dos açúcares liberados considerando os rendimentos ....... 103

4.7 Caracterização das frações líquidas ...................................................... 105

4.8 Fermentação ............................................................................................. 106

4.9 Propostas de cenários ............................................................................. 108

4.9.1 Cenário 1: Produção de etanol e recuperação de lignina .................... 108

4.9.2 Cenário 2: Produção de etanol, recuperação de hemicelulose e lignina

..............................................................................................................110

4.9.3 Cenário 3: Produção de etanol, recuperação de extrativos e lignina ... 112

5. Conclusões ..................................................................................................... 114

6. Referências bibliográficas ............................................................................. 116

7. APÊNDICES .................................................................................................... 128

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

19

1. Introdução

A biomassa lignocelulósica, composta majoritariamente por celulose,

hemicelulose e lignina, além de extrativos e matéria inorgânica, é uma fonte

promissora para a produção de combustíveis, materiais e outros insumos químicos.

Dentre os possíveis produtos derivados desse substrato, destaca-se o etanol de

segunda geração (2G), também chamado de etanol celulósico, que é obtido a partir

da hidrólise dos carboidratos em açúcares que são fermentáveis.

A utilização de combustíveis de origem vegetal apresenta uma vantagem

frente à produção de combustíveis fósseis, por serem obtidos a partir de uma fonte

renovável, que não interfere no ciclo do carbono, sendo considerados uma “energia

limpa”1,2. No entanto, apesar das claras vantagens ambientais, para que o etanol

celulósico possa competir com o petróleo e com o etanol de primeira geração (obtido

a partir da sacarose ou do amido), alternativas que viabilizem seu custo são

necessárias.

São apontados dois possíveis caminhos para a viabilização do etanol

celulósico: a otimização dos processos produtivos, pela redução de quantidades de

insumos químicos, tempo e energia; e o aproveitamento dos subprodutos que são

gerados no fracionamento da biomassa, em um processo integrado3. Esses

caminhos recebem o nome de biorrefinaria, em analogia a uma refinaria petrolífera,

em que o máximo dos componentes da biomassa seria utilizado, de forma similar ao

que ocorre com o petróleo, como esquematizado na Figura 1. Atualmente, a maioria

dos combustíveis, materiais e insumos químicos utilizados são provenientes do

refino e processamento do petróleo; o que se deseja é alterar esse paradigma para

utilizar a biomassa lignocelulósica como fonte desses produtos, tornando o processo

produtivo mais sustentável. Além disso, o CO2 liberado na decomposição ou

combustão dos produtos é utilizado para o crescimento das plantas, o que não

desregula o ciclo do carbono e não contribui para o aumento do efeito estufa.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

20

Figura 1. Comparação entre processos para a obtenção de combustíveis, insumos químicos

e materiais de uma refinaria de petróleo e uma biorrefinaria. Adaptado de Ragauskas e

colaboradores1.

Embora a biomassa possua características que justifiquem e permitam

sua utilização como fonte de carbono, somente 14,1% do total de energia consumido

mundialmente é proveniente de fontes renováveis4. Desses, a utilização de

biomassa para geração de energia representa 73%, sendo que o principal modo de

obtenção é pela queima direta desse substrato. Quanto aos combustíveis utilizados

no transporte, apenas 2,8% são biocombustíveis, destacando-se o bioetanol, o

biodiesel e o biogás. No Brasil, o percentual de utilização de fontes renováveis no

cenário energético é acima da média global (41,0%), devido, dentre outros fatores, à

utilização em larga escala do etanol de primeira geração, obtido a partir da

fermentação do caldo da cana-de-açúcar, como combustível.

A composição química da biomassa lignocelulósica, além da sua alta

disponibilidade, a tornam, portanto, um substrato de alto valor biotecnológico para

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

21

ser utilizado como fonte de carbono nesses processos, agregando maior valor

quando comparado com a queima direta deste material para a produção de energia.

Portanto, as biorrefinarias representam uma possibilidade de valorizar a biomassa e

contribuir para um panorama energético mais sustentável.

Neste contexto, as próximas seções abordarão os aspectos mais

importantes relacionados à proposta de uma biorrefinaria: as características

químicas dos componentes da biomassa lignocelulósica, que permitem que ela seja

utilizada para a produção de etanol celulósico, foco deste trabalho, e também de

outros insumos químicos e materiais; os métodos de fracionamento destes

componentes, que impactam em quais produtos podem ser obtidos e são um dos

principais fatores no custo do processo; o processo de produção do etanol

celulósico, que envolve, além da obtenção de um substrato rico em celulose, etapas

de hidrólise e fermentação; por fim, será feita uma pequena introdução a respeito do

capim elefante, justificando as razões pela qual foi a biomassa escolhida para ser

investigada nesse trabalho.

1.1 Composição da biomassa lignocelulósica

A Figura 2 apresenta um modelo para a estruturação dos componentes

principais na parede celular vegetal5. De modo simplificado, cerca de 36 cadeias de

celulose estão unidas principalmente por meio de ligações de hidrogênio inter e

intramoleculares, além de interações de van der Waals, formando as microfibrilas de

celulose. Hemicelulose e lignina unem as fibrilas em estruturas maiores, chamadas

de macrofibrilas, que compõem a parede celular das plantas. Além desses

componentes, certa quantidade de matéria inorgânica está presente, denominada

como cinzas, além de outras moléculas orgânicas, chamadas de extrativos.

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

22

Figura 2. Representação esquemática da composição da parede celular vegetal, formada

por cadeias de celulose estruturadas em microfibrilas e envoltas por hemicelulose e lignina,

formando as macrofibrilas. Adaptado de Volynets e colaboradores5.

Devido à complexa estruturação dos componentes na parede celular

vegetal, um dos principais desafios para viabilizar a utilização da biomassa na

produção de insumos foi desenvolver métodos eficientes para a separação dos

componentes. Diferentemente do petróleo, onde os componentes são, em sua

maioria, voláteis, na biomassa lignocelulósica os métodos de extração utilizando

líquidos são os principais caminhos para o fracionamento1. Por serem métodos mais

específicos, também são mais caros. Portanto, é indispensável avaliar as

propriedades químicas desses componentes para o planejamento dos métodos mais

adequados de fracionamento e conversão.

1.1.1 Celulose

A celulose é um polímero formado por moléculas de glicose unidas por

ligações glicosídicas β-1,4, conforme demonstrado na Figura 3. Na planta, as

cadeias de celulose podem conter de 2000 a 25000 resíduos de glicose, formando

as microfibrilas, que são regiões relativamente impermeáveis e resistentes à ação

química ou à degradação biológica6.

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

23

Eq. 1

Figura 3. Estrutura da celobiose, unidade repetitiva da celulose, formada pela união de duas

moléculas de glicose por meio de uma ligação glicosídica β-1,4.

A celulose é sintetizada pelas plantas a partir da conversão de CO2 e

água pela ação da luz nos cloroplastos7 (Equação 1). Esse é um processo

biossintético para o armazenamento de carbono na forma de macromoléculas de

celulose; portanto, o saldo de CO2 liberado na decomposição dos materiais e

combustíveis é compensado por sua utilização para o crescimento de novas plantas,

mais rapidamente do que ocorre com o petróleo.

nCO2 + nH2O + luz → (CH2O)n + nO2

Devido ao arranjo supramolecular de suas cadeias, as fibrilas de celulose

na planta apresentam regiões cristalinas e regiões amorfas, conforme ilustrado na

Figura 4. As regiões amorfas são mais susceptíveis à ação química e enzimática, e,

geralmente, são mais facilmente hidrolisadas para a formação de nanoestruturas8,9,

justamente pela menor organização das cadeias, quando comparadas às regiões

cristalinas.

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

24

Figura 4. Modelo para a estruturação das fibras de celulose em regiões amorfas e

cristalinas.

Devido à combinação dessas diversas características, a celulose é

insolúvel em solventes convencionais. Alguns métodos para a solubilização da

celulose envolvem sua modificação química, por meio da produção de derivados

celulósicos, como o acetato de celulose10, pela dissolução com NaOH11 ou pela

utilização de líquidos iônicos12. Por outro lado, a baixa solubilidade da celulose tem

vantagens, pois permite, por exemplo, que a separação dos componentes da

biomassa lignocelulósica seja feita por meio da extração de hemicelulose, lignina,

extrativos e cinzas, obtendo-se um sólido rico em celulose.

A aplicação mais utilizada deste biopolímero é na produção de papel,

obtido principalmente de eucalipto13. De fato, a madeira é a principal fonte para a

obtenção de celulose, que também é utilizada para a produção de derivados

celulósicos, como ésteres e éteres, aplicados como coatings, filmes e aditivos em

fármacos e cosméticos13. Como mencionado, diversos estudos estão atualmente

direcionados para a obtenção de etanol a partir da celulose14,15, especialmente

usando resíduos agroindustriais e gramíneas de crescimento rápido, como o bagaço

de cana-de-açúcar14,16, a palha do milho17,18 e o capim elefante19,20.

Além disso, devido ao caráter semicristalino da celulose, nanopartículas

(nanocristais e nanofibrilas) podem ser extraídas por meio da hidrólise controlada de

suas regiões amorfas, por via ácida21, via enzimática22, via oxidativa23, por fibrilação

mecânica24 ou pela combinação destes métodos. Esses materiais podem ser

utilizados na preparação de aerogéis e hidrogéis8,25, como reforço em

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

25

nanocompósitos poliméricos26 e na produção de papel para substratos eletrônicos27,

dentre outras aplicações.

1.1.2 Hemicelulose

A hemicelulose também é um polissacarídeo como a celulose, mas

formado pela união de hexoses e pentoses, de modo ramificado, e com uma

composição que varia de acordo com a planta. A Figura 5 apresenta exemplos de

açúcares que podem formar a hemicelulose e como estão estruturados.

Figura 5. a) Exemplos de monossacarídeos que compõem a hemicelulose nas suas formas

cíclicas: glicose, manose e galactose (hexoses) e xilose e arabinose (pentoses); b) Exemplo

de estruturação dos açúcares na biomassa lignocelulósica.

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

26

Devido às ramificações, a hemicelulose é um polímero amorfo,

diferentemente da celulose, o que a torna mais suscetível à hidrólise7. Durante a

extração, a hemicelulose é convertida em oligômeros ou nos monômeros

correspondentes.

Esses açúcares obtidos podem ser convertidos em etanol, pela ação de

leveduras específicas para a fermentação de pentoses28, uma vez que as leveduras

tradicionalmente utilizadas para a fermentação de glicose, especialmente a

Saccharomyces cerevisiae, que é a mais utilizada, não são eficientes na conversão

dos derivados de hemicelulose. Um outro método para agregar valor a essa fração

da biomassa é a conversão desses açúcares em furfural, que pode ser obtido a

partir da hidrólise ácida das pentoses3 ou da utilização de catalisadores, como

zeólitas29. O furfural é uma plataforma química e pode ser convertido em plásticos,

fármacos e insumos agrícolas30, substituindo os produtos tradicionalmente obtidos a

partir do petróleo.

1.1.3 Lignina

A lignina, assim como a hemicelulose, possui estrutura e composição que

variam de acordo com a planta. A Figura 6a apresenta a estrutura dos seus

precursores, os chamados monolignois, que são formados a partir da polimerização

de derivados de fenilpropanois: álcool p-cumarílico, álcool coniferílico e álcool

sinapílico. Essas estruturas precursoras estão unidas principalmente por ligações

éter arílicas β-O-4 e α-O-4, formando uma rede tridimensional (Figura 6b). A lignina

é especialmente responsável pela resistência dos tecidos vasculares da planta, pela

defesa contra micro-organismos, pela proteção ultravioleta e pelo transporte de

água6,31.

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

27

Figura 6. a) Estrutura dos três monolignois (álcool p-cumarílico, álcool coniferílico e álcool

sinapílico) constituintes da lignina; b) Exemplo de estrutura proposta para a macromolécula

de lignina, formada pela união dos monolignois.

De modo geral, madeiras coníferas (do inglês, softwoods) possuem

ligninas formadas em maior quantidade por álcool coniferílico, enquanto madeiras

lenhosas (do inglês, hardwoods) possuem tanto álcool coniferílico como álcool

sinapílico como unidades formadoras. Por outro lado, as gramíneas contém as 3

unidades de monolignois7,32.

A biossíntese da lignina ocorre por via radicalar dos álcoois precursores

iniciada por enzimas. Devido à deslocalização dos elétrons no anel aromático, à

OH

HO

OH

HO

eO

OH

HO

eO

O e

O

HO OH

O e

O

OH

O e

OHO

HO

O e

O

OH

OH

eOO e

HO

HO

O

O e

OH

OHO

eO

O O

O e

OH

OH OH

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

28

dupla ligação na cadeia alifática e à presença de oxigênio (Figura 6a), a ligação

pode ocorrer em diferentes posições, levando à complexa estrutura da

macromolécula.

Atualmente, cerca de 60% da lignina que é obtida como subproduto do

processamento de papel e celulose é queimada para produzir energia consumida na

própria indústria33. No entanto, por ser a maior fonte de compostos aromáticos

disponível, a lignina tem um grande potencial para a aplicação em materiais e para a

conversão em produtos químicos e combustíveis.

A lignina pode ser utilizada para a produção de fibras de carbono, que são

feitas atualmente a partir de poliacetonitrila (PAN), um processo que encarece o

produto e dificulta a aplicação34. Para esse processo, o método pelo qual a lignina foi

extraída é fundamental nas propriedades das fibras de carbono, bem como a fonte

de biomassa. Por exemplo, ligninas extraídas pelo método Kraft (utilizado na

indústria de papel) resultam em fibras de carbono frágeis35, o que reforça a

importância do estudo dos métodos de fracionamento dos componentes.

Nanopartículas de lignina vem sendo estudadas para a produção de

nanocompósitos em diversas matrizes, como hidrogéis36 e protetores solares37.

Nessas aplicações, busca-se uma amplificação das propriedades de proteção UV,

antibacteridas e antifúngicas em regime nanométrico.

Por fim, é possível obter insumos químicos por meio da despolimerização

catalítica da lignina, por estratégias como tratamentos termoquímicos, catálise

homogênea e heterogênea e despolimerização biológica34. Isso permite a produção

de compostos aromáticos tradicionalmente obtidos a partir do petróleo, como

benzeno, tolueno e xileno. No entanto, devido à complexidade da macromolécula,

esse é um caminho ainda complexo, que está focado especialmente nos métodos

para a quebra específica das ligações.

No entanto, para que a lignina possa ser usada como fonte desses

materiais e produtos, métodos eficientes para a sua extração são necessários. Além

disso, integrar esses processos à cadeia produtiva do etanol celulósico representa

uma possibilidade de agregar valor à cadeia produtiva deste biocombustível.

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

29

1.1.4 Extrativos

Diversas moléculas orgânicas, como ácidos, esteroides e fenólicos,

compõem a biomassa e são chamados de extrativos. Esses compostos podem ser

aplicados como fármacos, essências, emulsificantes, dentre outros38. Embora

correspondam a uma fração significativa da biomassa, o aproveitamento dos

extrativos é um caminho muito pouco explorado na literatura para a viabilização da

produção de bioetanol. A escolha do método de extração permite a obtenção de

extratos que são ricos em determinadas classes de compostos.

Devido ao aumento da demanda pela utilização de produtos mais

naturais, de fontes verdes e renováveis, como é o caso da biomassa lignocelulósica,

a investigação dos componentes presentes nesses substratos pode contribuir para

uma indústria mais sustentável. Muitas plantas já são utilizadas como fontes de

antioxidantes naturais para cosméticos e em suplementação alimentícia, como é o

caso das vitaminas A, C e E, flavonoides, taninos, carotenoides, dentre outros39,40.

Além disso, diversas plantas, especialmente flores, são utilizadas para a obtenção

de fragrâncias. No entanto, poucos estudos investigam a presença dessas

moléculas nos substratos utilizados para a produção de etanol celulósico38,41.

Trabalhos que exploraram a composição química de extratos de resíduos

do processamento da cana-de-açúcar (bagaço, casca e folhas)38 apresentaram

diferentes tipos de compostos. Destacam-se, por exemplo, aldeídos de cadeias

longas, como o n-octacosanal, que podem ser utilizados no tratamento de

osteoporose, além de ácidos poli-insaturados, como ácidos linolênico, linoleico e

oleico, utilizados para o tratamento de hipercolesterolemia. Além disso, também são

encontrados fitosteróis, como stigmasterol e β-sitosterol, com propriedades

anticâncer. Portanto, a utilização desta fração da biomassa pode representar um

caminho para viabilizar as biorrefinarias. Devido à diversa composição química dos

componentes, os métodos de extração devem ser escolhidos visando à recuperação

de classes de compostos específicas.

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

30

Eq. 2

1.1.5 Cinzas

A matéria inorgânica presente na biomassa possui papel fundamental no

processo de crescimento das plantas, especialmente em gramíneas, onde atuam

como agentes de resistência a estresse e contra patógenos42. Entretanto,

dependendo do tipo de processamento da biomassa, as cinzas podem causar

problemas nos processos industriais, por entupimento das tubulações, por

exemplo43.

Os principais componentes inorgânicos da biomassa lignocelulósica são,

de modo geral, determinados como óxidos, dos quais destacam-se SiO2, CaO, K2O,

P2O5, Al2O3, MgO e Fe2O344. Os teores variam bastante dependendo do tipo de

planta (gramíneas ou árvores, por exemplo), além de poderem variar entre as partes

de uma mesma planta.

A sílica (SiO2) geralmente é o componente inorgânico presente em maior

quantidade nas gramíneas, podendo chegar a cerca de 91% do percentual de

matéria inorgânica no arroz, uma biomassa com um alto teor de cinzas (cerca de

20% de cinzas na casca e na palha)45. Embora representado por uma estrutura

monomérica, a sílica encontra-se na forma de um polímero na planta, podendo ser

solubilizado por meio da reação reversível (Equação 2). Esta reação pode ser

catalisada tanto em meio ácido como em meio básico, sendo que é favorecida em

condições alcalinas. Esse óxido encontra-se depositado em partículas coloidais e é

insolúvel em água, o que pode causar corrosão nos equipamentos usados no

processamento da biomassa43. O silício é introduzido na planta pela reação inversa

e precipita na forma de sílica cristalina44. Além disso, SiO2 pode estar presente na

biomassa lignocelulósica devido à contaminação com areia ou argila, o que pode

comprometer as operações seguintes19,44,46.

SiO2(s) + 2H2O Si(OH)4(aq)

A Figura 7 apresenta um mecanismo proposto para a despolimerização

do silício e sua solubilização em meio alcalino43. A reação é iniciada por um ataque

nucleofílico da hidroxila ao silício, seguido pela quebra da ligação entre silício e

oxigênio. Após a quebra das ligações, a sílica é solubilizada na forma de ácido silício

(Si(OH)4).

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

31

Figura 7. Mecanismo proposto para a solubilização da sílica em meio alcalino por meio da

despolimerização iniciada pelo ataque nucleofílico da hidroxila ao silício, seguido pela

quebra das ligações Si-O. Adaptado de Le e colaboradores43.

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

32

Os demais óxidos presentes na biomassa possuem solubilidades variadas

em meio ácido ou alcalino, ou mesmo em condições neutras, sendo, de modo geral,

mais suscetíveis à extração durante os tratamentos químicos.

1.2 Produção de etanol celulósico

O uso de biocombustíveis, como o bioetanol, é uma das alternativas para

a redução da poluição do ar nas cidades e do processo de acumulação do CO2

liberado na combustão, além de ser um caminho para a segurança energética, uma

vez que diversifica as fontes de combustíveis fósseis42,47. O uso de bioetanol de

primeira geração é uma realidade no Brasil desde a década de 1970, graças a

incentivos governamentais. Com a produção de veículos flexíveis, que podem utilizar

tanto gasolina como etanol, desde de 2001, houve um novo aumento na demanda e

na produção desse biocombustível, devido ao menor preço comparado à gasolina48.

Segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (CONAB)49, a

estimativa de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar para a safra de

2018/2019 é de 32,3 bilhões de litros, o que representa um aumento de 18,6% em

relação à safra anterior. Desses, 1,3 bilhões foram exportados entre abril e

novembro de 2018, 18% a mais do que o mesmo período de 2017. Os principais

importadores de etanol do Brasil são Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão, Holanda

e Colômbia.

Do ponto de vista ambiental, a utilização de etanol leva à redução de 62%

dos gases causadores do efeito estufa, quando comparado à gasolina48. Esses

fatores contribuem para o estudo de métodos que aumentem a produtividade desse

biocombustível, além da redução de custos do processo de produção.

Como alternativa para o aumento da produtividade do bioetanol, a

produção do etanol 2G é um caminho promissor. Além das vantagens do

biocombustível, já discutidas, ela representa um modo de agregar valor aos resíduos

agroindustriais e às gramíneas de rápido crescimento. Além disso, as exportações

de etanol reduzem nos meses do fim da colheita da cana-de-açúcar, devido à perda

de competitividade do etanol com a gasolina49, o que reforça a necessidade de

aumentar a produtividade do etanol, especialmente nesse período. Além disso,

utilizar resíduos agroindustriais ou plantas que crescem em terrenos pouco férteis,

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

33

como o capim elefante, não afeta a extensão de terras cultiváveis utilizadas na

produção de alimentos50.

A produção de etanol 2G pode ser dividida em 4 etapas: pré-tratamentos,

hidrólise, fermentação e destilação, conforme ilustrado na Figura 8. No conceito de

uma biorrefinaria, esse processo deve, além de maximizar a produção de açúcares

fermentáveis (e consequentemente, de etanol), buscar alternativas para o

aproveitamento das outras frações.

Figura 8. Esquema das etapas para a produção de etanol celulósico.

1.2.1 Pré-tratamentos

Por definição, pré-tratamentos são todos os procedimentos realizados

antes da hidrólise da celulose em açúcares, podendo ser métodos físicos, químicos,

biológicos ou a combinação desses51. Pré-tratamentos efetivos devem reduzir o

gasto energético, o tempo de operação e a quantidade de resíduos19. A hidrólise é

comumente catalisada por enzimas; portanto, os pré-tratamentos são utilizados

principalmente para a obtenção de um sólido rico em celulose, que apresente pouca

lignina, maior porosidade e área superficial52, o que facilita a ação enzimática. Isso é

necessário devido à recalcitrância da biomassa, o que reduz o acesso da enzima e,

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

34

consequentemente, reduz a taxa de conversão de celulose em monossacarídeos

fermentáveis53, conforme indicado na Figura 9.

Figura 9. Esquema para os pré-tratamentos da biomassa lignocelulósica visando o aumento

da digestibilidade enzimática.

Dentro do conceito de uma biorrefinaria, a totalidade dos componentes da

biomassa deve ser separada e aproveitada. Para isso ser possível, a escolha dos

métodos de pré-tratamentos é fundamental, além de serem decisivos no custo e

tempo dos processos. Biorrefinarias podem representar um novo mercado para a

agricultura, podendo gerar empregos, o que contribui para o desenvolvimento

econômico das áreas onde estão implementadas54.

Processos que maximizem a conversão de celulose em açúcares

fermentáveis são cruciais para viabilizar a produção de etanol de segunda geração

em larga escala. Essa taxa de conversão pode ser aumentada por diferentes

métodos de tratamento, que agem de formas distintas. Eles podem atuar na redução

da recalcitrância da biomassa, tanto por remoção dos componentes como

hemicelulose e lignina, como pela redução da cristalinidade, do grau de

polimerização ou promovendo aumento da área superficial16,17,55,56. Além disso,

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

35

deve-se evitar a degradação do substrato celulósico e a produção de inibidores

enzimáticos e fermentativos57.

Os três principais desafios para a produção do etanol celulósico são: os

processos de pré-tratamento da biomassa58, que envolvem o que foi proposto neste

trabalho; o alto custo das enzimas para a hidrólise enzimática59 e a viabilização da

fermentação das pentoses em etanol60. Como uma série de métodos de pré-

tratamentos já estão bem estabelecidos, quanto aos efeitos químicos que causam

na biomassa, os passos atuais envolvem a otimização de condições, para reduzir

gastos, além de integrar os processos.

1.2.2 Hidrólise enzimática

A conversão de celulose em glicose é comumente catalisada por enzimas

chamadas celulases, que são altamente específicas nesse processo de conversão61.

Embora o processo de hidrólise possa ser também catalisado por via ácida, a

utilização de enzimas apresenta vantagens devido à maior especificidade, à não

geração de inibidores enzimáticos (como os produtos de degradação dos açúcares),

e à utilização de condições mais brandas para os equipamentos (temperaturas em

torno de 50°C e pH próximos a 5), evitando oxidação62.

Bactérias e fungos podem produzir celulases, sendo que os fungos são

mais estudados e utilizados, especialmente espécies de Trichoderma, Aspergillus e

Penicillium. Três principais grupos de enzimas compõem as celulases, responsáveis

pela conversão de celulose em glicose: as endoglucanases, que atacam as regiões

de menor cristalinidade da fibra celulósica, reduzindo o tamanho das cadeias; as

exoglucanases, que atacam as extremidades da cadeia, liberando celobiose; e as β-

glucosidades, que hidrolisam celobiose em glicose. Além disso, enzimas auxiliares,

que atacam hemicelulose podem estar presentes em coquetéis comerciais63.

O processo de hidrólise pode ser dividido em três etapas: a adsorção da

enzima na superfície da celulose, seguido pela biodegradação da celulose em

açúcares fermentáveis e pela dessorção da enzima. Grande parte da inativação da

enzima está relacionada a não-dessorção da superfície da celulose ou a adsorção

em lignina64.

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

36

1.2.3 Fermentação

Após a obtenção dos açúcares, estes são fermentados para a produção

de etanol. Esse processo pode ser realizado por micro-organismos, bactérias e

leveduras65. Comumente, utiliza-se a levedura Saccharomyces cerevisiae, que pode

crescer consumindo tanto glicose, como sacarose. É por essa via, por exemplo, que

é obtido o etanol de primeira geração, pela fermentação dos açúcares contidos no

caldo da cana-de-açúcar.

A hidrólise enzimática e a fermentação também podem ser realizadas

simultaneamente (SSF, do inglês simultaneous saccharification and fermentation). O

processo feito separadamente (SHF, do inglês separate hydrolysis and fermentation)

possui um maior rendimento de hidrólise, uma vez que as enzimas realizam a

conversão na sua temperatura ótima. No entanto, podem ser formadas maiores

quantidades de inibidores fermentativos e ocorre o aumento do número de passos

do processo50. Por outro lado, a utilização de SSF leva a um menor número de

inibidores fermentativos, mas é realizado em uma temperatura inferior para a

enzima, devido à possível degradação das leveduras. Após obtido por fermentação,

o etanol é então destilado e direcionado para suas aplicações.

1.3 Biorrefinarias

Conforme mencionado, a produção de materiais, combustíveis e outros

insumos químicos pode ser acoplada à produção de etanol celulósico. Essa

abordagem seria um caminho para viabilizar tanto a produção deste biocombustível,

devido ao alto custo de produção e baixo preço de venda, além de alterar o atual

paradigma, no qual grande parte dos produtos à base de carbono são obtidos a

partir de fontes não renováveis.

Portanto, nesse conceito, na etapa de pré-tratamentos é importante

considerar processos que facilitem a recuperação dos componentes da biomassa,

além do aumento da liberação de açúcares para produzir açúcares fermentáveis. Na

base de dados Web of Science, é possível notar um aumento expressivo nos artigos

publicados utilizando o termo Biorefinery nos últimos anos (Figura 10). Esses artigos

unem diversas áreas, uma vez que esse é um trabalho altamente interdisciplinar,

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

37

que associa conhecimentos em química, bioquímica, biotecnologia, genética,

técnicas de separação e engenharia de processos1.

Figura 10. Número de artigos utilizando a palavra-chave “Biorefinery” indexados na base de

dados Web of Science em cada ano entre 2004 e 2018.

No entanto, embora haja esse aumento expressivo na quantidade de

artigos publicados, grande parte apresenta somente as potencialidades da biomassa

para a produção de materiais, combustíveis e outros insumos químicos e os

métodos para a separação dos componentes da biomassa, sem apresentar

propostas de processos integrados1,66,67. Uma outra parte dessas publicações trata

das potencialidades de subprodutos da produção de etanol celulósico, como

lignina34,35,68–73 e hemicelulose28–30,74–76. O aproveitamento desses insumos na

produção de materiais e produtos químicos deverá agregar valor à biorrefinaria

Recentemente, Alonso e colaboradores3 utilizaram um método integrado para

obterem celulose, lignina e furfural a partir de bétula branca, uma árvore utilizada

para a produção de papel. Para isso, utilizaram como solvente γ-valerolactona para

4

mero de artigos

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

38

a extração de hemicelulose e lignina e posterior separação por precipitação com

água. Deste modo, os 3 principais componentes da biomassa estão disponíveis para

serem convertidos em produtos por processos químicos ou biológicos, o que agrega

valor à biomassa.

Há ainda uma parte das publicações que realizam processos integrados

de primeira e segunda geração, especialmente utilizando a cana-de-açúcar66,77–79.

Nesses trabalhos, o bagaço, resíduo do processo de produção do etanol de primeira

geração, é utilizado tanto para geração de energia para a usina como também é

estudado para a produção de etanol de segunda geração. Embora esses artigos

apresentem abordagens integradas, os demais componentes do bagaço não são

utilizados em sua máxima potencialidade, sendo utilizados exclusivamente para a

geração de energia da refinaria.

Sobre a cana-de-açúcar, a biomassa mais disponível para a utilização em

biorrefinarias no Brasil, há ainda propostas de processos integrados que realizam

análises tecno-econômicas para a produção de xilitol, ácido cítrico e ácido glutâmico,

cada um desses processos acoplado à produção de energia80 e à produção de

biogás a partir de resíduos de etanol de segunda geração, juntamente com

quantificações dos teores de lignina que podem ser recuperados77.

Justamente devido ao alto caráter interdisciplinar, nota-se nas

publicações uma evolução histórica, iniciando pelos estudos a respeito da

composição da biomassa e dos métodos para o fracionamento destes componentes.

Com esses conhecimentos atualmente mais consolidados, os esforços atuais estão

divididos entre a otimização destes processos, as aplicações de celulose,

hemicelulose, lignina, extrativos e cinzas, e a integração dos métodos, onde este

projeto de mestrado se enquadra, caracterizando uma biorrefinaria.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

39

1.4 Métodos para o fracionamento e melhoria da digestibilidade enzimática

utilizados neste trabalho

Para melhorar a digestibilidade enzimática, podem ser utilizados

tratamentos físicos, como moagem81,82 ou irradiação com micro-ondas83;

tratamentos biológicos, com fungos ou bactérias84; e tratamentos físico-químicos,

principalmente com explosão de vapor85, explosão de amônia57, solventes orgânicos

(organossolve)86, líquidos iônicos87, fluidos supercríticos57, ácidos e bases diluídos16,

dentre outros. Visando o aproveitamento dos demais componentes, neste trabalho,

foram escolhidos métodos que possibilitassem a recuperação de extrativos, também

de hemicelulose e lignina, além da melhoria da digestibilidade enzimática. Nessa

abordagem, os métodos químicos se destacam por facilitarem a recuperação desses

subprodutos, além de apresentam menor custo, em relação a outros métodos52.

Assim, as próximas seções abordarão os princípios físico-químicos dos

métodos de extração e fracionamento escolhidos para a recuperação de extrativos

(extrações com CO2 supercrítico e líquidos pressurizados), hemicelulose

(tratamentos ácidos) e lignina (tratamentos alcalinos), que também podem aumentar

a liberação de açúcares fermentáveis. Combinado a esses métodos químicos, a

moagem em moinho de bolas também foi utilizada somente para a melhoria da

digestibilidade enzimática, uma vez que não é um método que possibilita o

fracionamento.

1.4.1 Extrações com CO2 supercrítico

Tradicionalmente, métodos para a recuperação de moléculas orgânicas

de plantas utilizam solventes como hexano, diclorometano e clorofórmio para a

extração41. No entanto, esses solventes são tóxicos e não seletivos, o que torna

esses processos inviáveis para aplicações que requerem compostos purificados,

além de serem nocivos ao ambiente.

Por isso, uma alternativa à utilização dos solventes orgânicos

convencionais é a utilização de extrações com dióxido de carbono supercrítico

(scCO2). O CO2 é um solvente verde por ser não tóxico e é completamente removido

após a extração, o que elimina a necessidade de etapas de purificação do extrato. É

uma extração ideal para as indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética88.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

40

O estado supercrítico é alcançado quando a temperatura e a pressão são

aumentadas até o valor crítico. Nestas condições, o fluido possui características

tanto de líquido quanto de gás, com baixa tensão superficial, alta difusividade e

baixa viscosidade, sendo um solvente ideal para extrações89.

A utilização de CO2 supercrítico (scCO2) é estudada como substituinte

dos solventes orgânicos convencionais na extração de compostos de diversas

plantas e resíduos agroindustriais, como é o caso da extração de óleos e aldeídos

de cadeia longa de resíduos da cana-de-açúcar, como bagaço, folhas e casca38, e

de resíduos de folhas de tamareira após a extração do óleo de palma41; da extração

de fenóis de casca de cacau, seguido por processos de extração de pectina

utilizando água em estado subcrítico90; e extração de óleo de farelo de arroz91,

dentre outras aplicações. Portanto, a investigação desse tipo de extração é

interessante para processos que busquem a recuperação de extratos da planta no

aproveitamento integral da biomassa lignocelulósica.

1.4.2 Extrações com líquidos pressurizados

Na extração com líquidos pressurizados (PLE), os solventes estão no

estado subcrítico, em que são líquidos mesmo acima da temperatura de ebulição,

devido à alta pressão aplicada92, o que facilita o processo de extração. Devido à

combinação de alta pressão e temperatura, é possível reduzir a quantidade de

solvente utilizada: a temperatura elevada aumenta a solubilidade do analito e diminui

a viscosidade e tensão superficial do solvente92. Além disso, é considerado um

método verde, por utilizar menores quantidades de solventes e estes serem não

tóxicos (como água e etanol). Assim, é um método promissor na extração de

compostos de plantas, devido aos menores tempos de extração e menores gastos

com equipamento e solventes.

A extração com líquidos pressurizados (PLE) possui outras

nomenclaturas, como extração acelerada com solventes (ASE, do inglês accelerated

solvent extraction), extração aprimorada com solventes (ESE, do inglês enhanced

solvent extraction) e extração com solvente em alta pressão (HPSE, do inglês high

pressure solvent extraction)93. Devido às condições para a extração, a utilização de

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

41

PLE mostrou-se eficiente para a recuperação de compostos polares, como fenólicos

de resíduos de vinícolas94 e isoflavonas de soja95, sem degradação.

1.4.3 Tratamentos com ácidos e bases diluídos

Tratamentos utilizando ácidos e bases diluídos são comumente

reportados na literatura para o aumento da liberação de açúcares de biomassas

lignocelulósicas. Rezende e colaboradores16 utilizaram pré-tratamentos sequenciais

utilizando ácidos e bases diluídos em bagaço de cana-de-açúcar e obtiveram taxas

de conversão de celulose em glicose por hidrólise enzimática de aproximadamente

100%. Para o capim elefante, tratamentos utilizando base diluída foram mais

eficientes para impulsionar a hidrólise enzimática do que tratamentos organossolve,

utilizando etanol e água19.

A eficiência desse tipo de tratamento está na sinergia da utilização dos

processos sequenciais ácido-base. Na etapa ácida, ocorre principalmente a hidrólise

da hemicelulose, produzindo um licor rico em xilose (hidrolisado da hemicelulose),

conforme exemplificado pelo mecanismo da Figura 11. Esse é um método

comumente utilizado para a recuperação de hemicelulose64, já que é capaz de

remover até cerca de 90% desse componente. Nessa etapa, também são removidas

quantidades menores de lignina, cinzas e grande parte dos extrativos, caso estes

não tenham sido previamente extraídos.

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

42

Figura 11. Mecanismo esperado para a hidrólise da hemicelulose em seus monômeros,

utilizando como exemplo uma cadeia de xilano.

Na etapa alcalina, a desestruturação da parede celular pode acontecer

por dissolução da hemicelulose, devido ao rompimento das ligações de hidrogênio

com a celulose96, por dissolução das cinzas e pelo rompimento das ligações

covalentes existentes entre celulose e lignina. Estas ligações são, principalmente, do

tipo éter e éster, conforme indicado na Figura 12.

Figura 12. Principais ligações envolvidas na união covalente entre lignina e cadeias de

celulose.

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

43

Além da quebra das ligações entre celulose e lignina, também pode

ocorrer a fragmentação da macromolécula de lignina, o que auxilia no processo de

dissolução e extração da parede celular vegetal, conforme indicado na Figura 13.

Essa decomposição se deve principalmente ao rompimento das ligações éter β-

arílicas96. Após a extração da lignina da biomassa lignocelulósica, ela pode ser

precipitada a partir do fração líquida por meio da adição de ácido73

Figura 13. ecanismo para a fragmentação da lignina por meio da quebra das ligações β-

O-4 em decorrência da hidrólise básica.

Portanto, a utilização sequencial desses tratamentos é um método que

permite a extração fracionada dos dois principais subprodutos da produção de etanol

celulósico, especialmente hemicelulose, que é extraída para a fração líquida ácida,

enquanto a lignina é extraída para a fração líquida alcalina na segunda etapa.

Assim, é possível a obtenção desses componentes de modo mais purificado já no

processo de extração, sem a utilização de solventes orgânicos tóxicos, além de

realizar o processo em meio aquoso.

1.4.4 Moagem em moinho de bolas

Como já discutido, a celulose possui partes cristalinas e amorfas (Figura

4), sendo que as regiões amorfas são apontadas em muitos estudos como sendo

mais susceptíveis à ação enzimática19,97,98. Sendo assim, métodos que reduzam a

cristalinidade da biomassa devem favorecer o aumento da quantidade de açúcares

liberados na hidrólise.

O e

OOHO e

OHO e

OOH

OH

eO

+

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

44

A moagem em moinho de bolas é um desses métodos, que foi eficiente

para a melhoria da digestibilidade enzimática no capim elefante19, na palha de trigo81

e no bagaço de cana-de-açúcar97. A ação deste tipo de tratamento mecânico ocorre

tanto pela redução da cristalinidade como pela redução do tamanho da partícula. A

Figura 14 apresenta o esquema de como a moagem é realizada, utilizando como

exemplo um moinho de bolas planetário: o material é colocado em um jarro

apropriado, juntamente com as bolas, geralmente de ZrO2. Conforme o movimento

de rotação acontece, as bolas caem sobre o material sólido, macerando o mesmo, o

que também pode levar à desfibrilação e à redução da cristalinidade98.

Figura 14. Esquema para a moagem em moinho de bolas planetário, utilizado para reduzir a

cristalinidade da celulose. Nesse esquema, a biomassa é adicionada juntamente com as

bolas e o moinho é rotacionado, juntamente com os jarros. Após o tempo de moagem,

observa-se a redução do tamanho da partícula.

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

45

1.5 Capim elefante

1.5.1 Características

Uma biomassa ideal para a produção de etanol 2G deve possuir baixo

custo de produção e apresentar uma alta produtividade2,99,100. O capim elefante

(Pennisetum purpureum), fotografado na Figura 15, é considerada uma fonte de

energia alternativa para a produção de biocombustíveis101–103 porque atende a esses

requisitos. Pode ser colhida de duas a quatro vezes por ano, possui alta capacidade

de adaptação a climas e solos com baixos nutrientes, uma baixa demanda por

pesticidas e uma alta produtividade (cerca de 35 ton/ha, comparado a 21 ton/ha da

cana-de-açúcar)42.

Figura 15. Fotografia da plantação de capim elefante do Instituto de Zootecnia (Nova

Odessa, SP) de onde as amostras foram colhidas.

Grande parte dessas características do capim elefante devem-se ao fato

desta planta ser da família das gramíneas (Graminae ou Poaceae) com metabolismo

do tipo C419, ou seja, os primeiros compostos de carbono sintetizados a partir do

CO2 fixado nos cloroplastos são convertidos em espécies com 4 carbonos. Plantas

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

46

com esse tipo de metabolismo geralmente possuem maior tendência de

crescimento.

Além disso, o teor de celulose disponível no capim elefante (cerca de 36 a

46%, considerando a biomassa seca21,104), é semelhante ao teor presente no bagaço

de cana-de-açúcar (entre 34 e 45%)105,106. A utilização do capim elefante também é

interessante do ponto de vista da diversificação de biomassas para a produção de

etanol e, consequentemente, para o aproveitamento dos seus demais componentes.

Além disso, permite a utilização ininterrupta das refinarias de etanol de primeira

geração, que são fechadas nos períodos em que não há colheita da cana-de-

açúcar19,42. Por ser uma gramínea de rápido crescimento, a utilização desta

biomassa também não compete com a alimentação animal e humana107.

1.5.2 Aplicações do capim elefante

Atualmente, capim elefante é principalmente utilizado na alimentação

animal, tanto de ovinos108,109 quanto de bovinos110. De fato, a maioria dos resultados

encontrados na base de dados Web of Science dizem respeito a estudos que

buscam aprimorar essa aplicação. No entanto, nos últimos 10 anos, o capim elefante

começou a ser estudado também para outras finalidades, como a produção de

biogás, de bioetanol, e para aplicação em materiais. A Tabela 1 apresenta uma

compilação das aplicações do capim elefante dos últimos 15 anos, com exceção das

aplicações para alimentação animal. Destacam-se o grande leque de usos desta

biomassa não somente na produção de biocombustíveis, como também para a

produção de outros insumos químicos e materiais.

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

47

Tabela 1. Resumo das aplicações do capim elefante publicadas no período de janeiro de

2004 a maio de 2019 de acordo com a base de dados Web of Science (Palavras-chave:

Elephant grass), com exceção das aplicações para alimentação animal.

Aplicação Referências

Produção de biogás 111–113

Produção de ácido lático 114

Pirólise 115–120

Produção de “biocarvão” (biochar) 121

Utilização de sílica para adsorção de corantes e poluentes 122,123

Fibras como reforço polimérico na preparação de compósitos 124–126

Extração de nanoestruturas de celulose 21

Extração de lignina 127

Substrato para produção de celulases e xilanases 58,85,128–131

Produção de etanol

Tipo de pré-tratamento Referências

Ácido diluído 132

Base diluída 133,134

Base diluída com surfactantes 103

Ácido e base diluídos (sequencial) 19

Organossolve 19

Explosão de vapor 20,114,135

CO2 e água (alta pressão) 136

Moagem em moinho de bolas 19,104

1.5.3 Trabalhos anteriores do grupo de pesquisa

Nosso grupo de pesquisa utilizou o capim elefante em duas vertentes:

para a produção de nanomateriais de celulose21 e para a produção de etanol 2G19.

No primeiro trabalho, Nascimento e Rezende21 utilizaram o capim elefante para a

produção de nanocristais e nanofibrilas de celulose, caracterizando os produtos

intermediários dos tratamentos para a obtenção de um sólido rico em celulose. Esse

trabalho já adiantou a necessidade do aproveitamento dos subprodutos do processo,

uma vez que o rendimento dos nanocristais de celulose que podem ser obtidos do

capim elefante variou entre 12 e 16% (m/m) em relação à biomassa in natura. Este

valor está coerente com os rendimentos tipicamente obtidos na produção de

nanocristais de celulose de diferentes biomassas9,137. Quando os subprodutos foram

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

48

quantificados, o aproveitamento da biomassa inicial passou para 82%, contribuindo

assim para a sustentabilidade e para a viabilidade econômica do processo como um

todo.

No caso da utilização do capim elefante para a produção de etanol 2G,

que foi a base para este trabalho, Rezende e colaboradores19 utilizaram

planejamentos experimentais fatoriais para otimizar as condições de pré-tratamentos

ácido-base e ácido-organossolve (utilizando água e etanol como solvente). A

primeira conclusão deste trabalho foi que os tratamentos ácido-base mostraram-se

mais eficientes na liberação de açúcares redutores, em comparação ao tratamento

organossolve.

Neste trabalho, foram estudadas cinco variáveis no pré-tratamento ácido-

base, utilizando um planejamento do tipo 2V5-1, ou seja, foram avaliadas 5 variáveis

em dois níveis, de modo fracionado. A diferença entre um planejamento fracionado e

um planejamento completo é o número de experimentos: enquanto no completo,

seriam necessários 32 experimentos para este número de variáveis e níveis (além

do ponto central em triplicata, totalizando 35), no planejamento fracionado, a

quantidade de experimentos é reduzida pela metade (portanto, 16 experimentos e o

ponto central em triplicata, totalizando 19 experimentos). Como essa quantidade de

níveis, ainda é possível ajustar o modelo utilizando um planejamento fracionado, já

que não há certeza somente das interações de 3 variáveis, que são pouco

prováveis. Assim, tem-se certeza do efeito das variáveis individualmente e das suas

interações com outra variável.

Sendo assim, a Tabela 2 apresenta um resumo das variáveis analisadas

no trabalho de Rezende e colaboradores19 para avaliar o efeito na liberação de

açúcares redutores. Pode-se concluir que: a etapa ácida não contribui para a

liberação de açúcares redutores após a hidrólise enzimática; a temperatura na etapa

básica deve ser mantida no nível mais baixo, permitindo a redução de gastos

energéticos; a concentração de NaOH e o tempo em moinho de bolas deve ser

mantido no nível mais alto; o tempo na etapa básica não apresenta efeito

individualmente, mas apresenta interações com outras variáveis, como o tempo no

moinho de bolas e a temperatura.

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

49

Tabela 2. Conclusões a respeito da otimização dos pré-tratamentos ácido-base19.

Variável Nível inferior Nível superior Efeito

Tempo de moagem em moinho de bolas (h)

0 10 Deve ser mantida no nível

superior Concentração de H2SO4

(% v/v) 0 2

Não contribui na liberação de açúcares

Concentração de NaOH (% m/v)

0,5 4,5 Deve ser mantida no nível

superior Temperatura na etapa

alcalina (°C) 85 125

Deve ser mantida no nível inferior

Tempo na etapa alcalina (min)

20 100

Possui interação significativa com o tempo

de moagem em moinho de bolas e com a temperatura

Deve-se destacar nestas conclusões que o tempo de moagem depende

do tipo de moinho utilizado; logo, embora o tempo de moagem seja de 10 horas

neste trabalho anterior, foi possível reduzir a cristalinidade em cerca de 10% apenas.

Além disso, outro destaque são as conclusões sobre a variável “tempo na etapa

alcalina”. Conforme mencionado, embora ela não tenha apresentado um efeito

significativo individualmente, o que, a princípio, permitiria que ela fosse mantida no

nível inferior para reduzir gastos, houve interações significativas do tempo na etapa

alcalina com o tempo de moagem no moinho de bolas e com a temperatura na etapa

alcalina. De fato, essas interações devem ser levadas em conta, uma vez que a

condição que liberou a maior quantidade de açúcares (204,5 mg/g de biomassa)

neste trabalho anterior foi uma condição que utilizou 10 h de moagem em moinho de

bolas, sem etapa ácida, com concentração de 4,5% m/v de NaOH a 85 °C, por 100

min.

Sendo assim, essas conclusões, juntamente a ideia de construir uma

biorrefinaria foram utilizadas para nortear as condições de pré-tratamentos nesta

dissertação visando reduzir tempos, excesso de reagentes e energia no processo.

No entanto, como a resposta utilizada para o planejamento experimental no trabalho

de Rezende e colaboradores19 foi a liberação de açúcares redutores, o

aproveitamento dos demais componentes não foi levado em consideração, que é um

dos principais pontos nos quais este trabalho se propôs a avançar. Portanto,

melhores cenários para a liberação de açúcares devem ser avaliados juntamente

com os melhores cenários para o aproveitamento de extrativos, hemicelulose e

lignina, que podem viabilizar economicamente a utilização da biomassa.

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

50

2. Objetivos

O objetivo deste trabalho foi propor uma biorrefinaria de capim elefante,

estudando técnicas para melhorar a digestibilidade enzimática e para possibilitar o

aproveitamento dos demais componentes em tratamentos sequenciais e integrados.

Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos específicos:

• Estudar métodos para o aproveitamento dos extrativos, utilizando extrações com

fluidos supercríticos e líquidos pressurizados;

• Avaliar as melhores condições de deslignificação para a melhoria da

digestibilidade enzimática e o aproveitamento da hemicelulose e da lignina;

• Avaliar a influência da moagem em moinho de bolas no aumento da liberação de

açúcares fermentáveis;

• Avaliar o efeito dos tratamentos químicos e físicos na morfologia da biomassa,

relacionando com a composição química.

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

51

3. Materiais e métodos

3.1 Preparo da biomassa

O capim elefante (Pennisetum purpureum), variedade guaçu, foi colhido

no Instituto de Zootecnia de Nova Odessa-SP, após 12 meses do plantio. As plantas

foram separadas em folhas e colmos (tipo de caule de gramíneas), conforme

indicado na Figura 16, e então secas em estufa com circulação de ar (TE-394/3,

Tecnal) a 60 °C por cerca de 6 h. A biomassa foi então moída em moinho de facas

(Arthur H. Thomas Co – Standard model 3) até passar por uma peneira de 2 mm e

armazenada em embalagens plásticas.

Figura 16. Modelo do capim elefante e diferenciação ente colmos e folhas.

3.2 Pré-tratamentos e fracionamento dos componentes

Para a melhoria da digestibilidade enzimática, foram testados métodos de

extração dos componentes utilizando fluidos supercríticos, solventes sob alta

pressão, ácidos e bases diluídos, além da moagem em moinho de bolas. Com

exceção da moagem, esses métodos possibilitam o fracionamento dos componentes

e o posterior aproveitamento.

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

52

3.2.1 Extração com CO2 supercrítico

A extração com CO2 supercrítico foi realizada a 40 °C e 350 bar, que foi

uma condição previamente utilizada para a extração de óleos e ceras de resíduos de

cana-de-açúcar (bagaço, casca e folhas)38. Os extratos foram obtidos a partir de

uma unidade laboratorial composta por um extrator de metal de 0,1 L, como indicado

na Figura 17. O CO2 foi bombeado através de uma serpentina em um banho de

resfriamento (Novatecnica NT281, Piracicaba – SP, Brasil) para ser liquefeito antes

de ser bombeado para o sistema, a fim de atingir a temperatura desejada e alcançar

a amostra presente no extrator.

Para definir a quantidade de solvente necessária para a extração dos

componentes do capim elefante, foi realizado um ensaio cinético prévio. Nesse

ensaio, o fluxo de CO2 utilizado foi 0,06x103 kg.s-1. Após a definição dos parâmetros

cinéticos, a extração foi realizada utilizando o fluxo de CO2 de 0,175x103 kg.s-1. Os

extratos foram armazenados na ausência de luz a -18°C até a caracterização. Os

sólidos foram armazenados em sacos plásticos para os tratamentos posteriores e

caracterizações.

Figura 17. Representação esquemática do sistema de extração com fluidos pressurizados

(F1 e F2: filtros; CO2: cilindro de CO2; CO: compressor; V0 a V2: válvulas de bloqueio; SV:

válvula de segurança; P: bomba pneumática; HB: banho de aquecimento; EX: vaso extrator;

PI: indicador de pressão; TI: indicador de temperatura; FI: indicador de fluxo; MV: válvula

micrométrica; FT: totalizador de fluxo).

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

53

3.2.2 Extrações com líquidos pressurizados

As extrações com líquidos pressurizados foram realizadas em um extrator

acelerado por solvente (Dionex ASE 350, Thermo Scientific, Waltham, MA),

mostrado na Figura 18, juntamente com o esquema de funcionamento.

Figura 18. a) Equipamento utilizado para as extrações com líquidos pressurizados (Dionex

ASE 350, Thermo Scientific); b) Esquema de funcionamento do processo: o solvente é

pressurizado e injetado na amostra, juntamente com N2; a célula fica contida em um forno

que mantém o sistema na temperatura desejada; após o tempo de extração, o extrato,

juntamente com o solvente é recolhido em um outro frasco.

Para as extrações, foram utilizados dois tipos de solventes:

▪ Água e etanol (1:1), nas extrações realizadas diretamente na biomassa in natura

e no sólido residual da extração com scCO2;

▪ Acetato de etila, na extração realizada apenas diretamente na biomassa in natura.

Ambas as extrações foram realizadas a 100 °C em 3 ciclos de 15 min,

utilizando 5 min de pré-aquecimento e 120 s para a purga do solvente.

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

54

3.2.3 Tratamentos com ácido diluído

O tratamento ácido foi realizado tendo como base condições utilizadas

anteriormente no grupo de pesquisa19: a biomassa seca é tratada com uma solução

de H2SO4 2% (v/v) a 121 °C por 40 min em autoclave (1,05 bar), utilizando uma

relação sólido:líquido de 1:10 (g:mL), considerando a massa de biomassa seca.

Após o tratamento, o sólido foi lavado com quantidade de água igual à adicionada

para o tratamento e o licor foi recolhido para a posterior caracterização. O sólido foi

lavado até pH neutro, seco em estufa a 60 °C por cerca de 6 h e armazenado.

3.2.4 Tratamento com base diluída

O tratamento básico foi realizado em condições otimizadas por meio de

planejamentos experimentais19: a biomassa foi tratada com uma solução de NaOH

4,5% (m/v) a 85 °C em banho de óleo, utilizando a razão sólido:líquido de 1:10

(g:mL), também considerando a massa de biomassa seca. A etapa básica foi

testada em tempos de 20 ou 100 min. Assim como na etapa ácida, após o tempo de

reação, o sólido foi lavado com o mesmo volume de água adicionado para o

tratamento e o licor foi armazenado. Em seguida, o sólido foi lavado até pH neutro,

depois seco em estufa a 60 °C por cerca de 6 h e armazenado.

3.2.5 Moagem em moinho de bolas

Para a moagem em moinho de bolas, foi utilizado um moinho de bolas

planetário (MTI Corporation, SFM-1 Desk-Top), utilizando jarros de alumina e bolas

de óxido de zircônio. Para definir as melhores condições da moagem, um

planejamento de experimentos com arranjo ortogonal L9 foi realizado, utilizando o

software MODDE Go (versão 12)138. Os experimentos desse planejamento foram

feitos só com a biomassa in natura.

Para a moagem, 10 g de biomassa foram adicionadas juntamente com a

quantidade de bolas necessárias no jarro de 250 mL e realizou-se a moagem no

tempo e velocidades do experimento, como especificado na Tabela 3. A resposta do

planejamento experimental foi o índice de cristalinidade da amostra, cujos menores

valores favorecem maiores rendimentos de hidrólise139. As variáveis analisadas para

a moagem foram:

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

55

1) Tamanho das bolas (12, 15 ou 20 mm);

2) Tempo de moagem (variando de 2 a 10 h);

3) Velocidade de rotação (variando de 150 a 250 rpm);

4) Quantidade de bolas (variando de 8 a 16 bolas).

Após a escolha da melhor condição determinada na biomassa in natura,

os sólidos submetidos à etapa alcalina também foram moídos nesta condição para

avaliar a influência da moagem pós tratamento na liberação de açúcares.

Realizando a moagem após os tratamentos químicos, não há interferência deste

tratamento mecânico nos processos de extração e, consequentemente, na

recuperação dos demais subprodutos.

Tabela 3. Condições experimentais para a escolha da condição de moagem em moinho de

bolas.

Nível dos fatores Nível 0 Nível 1 Nível 2

Diâmetro das bolas (mm) 12 15 20

Quantidade de bolas 8 12 16

Tempo (h) 2 6 10

Rotação (rpm) 150 200 250

Condições experimentais

Ensaio Diâmetro das

bolas (mm)

Quantidade de

bolas Tempo (h) Rotação (rpm)

1 12 8 2 150

2 12 12 6 200

3 12 16 10 250

4 15 16 2 200

5 15 8 6 250

6 15 12 10 150

7 20 12 2 250

8 20 16 6 150

9 20 8 10 200

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

56

3.2.6 Nomenclatura das amostras

A Tabela 4 apresenta os códigos utilizados para nomear as amostras,

conforme a parte da planta e os tipos de tratamentos.

▪ O início do código se refere à parte da planta: L para folhas (do inglês leaves) e S

para colmos (do inglês stems);

▪ IN indica a amostra in natura;

▪ As amostras submetidas à moagem em moinho de bolas possuem a letra M

adicionadas ao final do código.

▪ As extrações podem ser de 4 tipos: 1. Utilizando CO2 supercrítico (SC); 2.

Utilizando PLE com água e etanol (WE, do inglês water e ethanol,

respectivamente); 3. Utilizando extrações sequenciais (SEQ, CO2 seguido de

água e etanol); e 4. Utilizando PLE com acetato de etila (EA, do inglês ethyl

acetate);

▪ As amostras submetidas à etapa ácida estão identificadas como AC;

▪ As submetidas ao tratamento sequencial ácido-base estão indicadas com AB;

▪ As amostras submetidas somente à etapa básica estão identificadas com B;

▪ O número indica o tempo na etapa básica (20 ou 100 min);

Tabela 4. Significado dos códigos utilizados para nomear as amostras.

Código Tipo de extração Etapa

ácida?

Etapa básica?

(Tempo) Moagem?

LIN / SIN - - - -

LINM / SINM - - - Sim

LSC / SSC scCO2 - - -

LWE / SWE PLE (H2O/EtOH) - - -

LSEQ / SSEQ scCO2 – PLE

(H2O/EtOH) - - -

LEA / SEA PLE (EA) - - -

LAC / SAC - Sim - -

LAB20 / SAB20 - Sim 20 min -

LAB20M / SAB20M - Sim 20 min Sim

LAB100 / SAB100 - Sim 100 min -

LAB100M / SAB100M - Sim 100 min Sim

LB20 / SB20 - - 20 min -

LB20M / SB20M - - 20 min Sim

LB100 / SB100 - - 100 min -

LB100M / SB100M - - 100 min Sim

LWEB20 / SWB20 PLE (H2O/EtOH) - 20 min -

LWEB100 / SWEB100 PLE (H2O/EtOH) - 100 min -

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

57

3.3 Hidrólise enzimática

Todas as amostras foram submetidas à hidrólise enzimática, utilizando o

coquetel enzimático Cellic® CTec 2 (Novozymes). A carga enzimática utilizada foi de

25 mg por grama de substrato (aproximadamente 20 FPU), com teor de sólido de

2,5% em tampão citrato (50 mmol.L-1, pH=5). O sistema foi alocado em uma

incubadora a 50 °C por 72 h e as enzimas foram desnaturadas após o tempo

reacional a 95 °C por 5 min. O líquido sobrenadante foi filtrado para a determinação

cromatográfica dos teores de açúcares obtidos.

3.4 Fermentação

Para a fermentação, utilizou-se a levedura Saccharomyces cerevisiae

(linhagem SA – Santa Adélia). Inicialmente, preparou-se um inóculo (10 g.L-1 de

levedura, 20 g.L-1 de peptona e 20 g.L-1 de glicose), cultivado a 30 °C e 150 rpm por

12 h. A fermentação foi realizada em tubos de centrífuga de 15 mL, utilizando como

substrato os hidrolisados das amostras que tiveram os melhores rendimentos na

hidrólise enzimática. Os ensaios foram realizados nas mesmas condições que o

preparo do inóculo, sendo retiradas amostras após 6, 12, 24 e 48 h de fermentação.

3.5 Determinação da composição química dos sólidos

Para a quantificação dos teores de celulose, hemicelulose, lignina e

extrativos nas amostras in natura e após os tratamentos, seguiu-se o protocolo do

National Renewable Energy Laboratory (NREL)140, com algumas modificações.

Inicialmente, as amostras foram moídas em moinho de facas até passarem por uma

peneira de 0,8 mm e determinou-se o teor de umidade em uma balança de

infravermelho (Mettler Toledo HG63) a 105 °C.

Com exceção das cinzas, que são determinadas a partir da biomassa in

natura, as outras determinações são realizadas de modo sequencial, conforme

demonstrado na Figura 19.

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

58

Figura 19. Esquema para a determinação da composição química da biomassa

lignocelulósica: os extrativos são determinados após uma extração com Soxhlet; em

seguida, é realizada uma hidrólise com ácido concentrado, que leva à obtenção de uma

fração sólida, por meio da qual é determinado o teor de lignina insolúvel, e uma fração

líquida, que é utilizada para a determinação de lignina solúvel, por UV-Vis, e celulose e

hemicelulose, por HPLC (Cromatografia líquida de alta eficiência, do inglês High

Performance Liquid Chromatography).

3.5.1 Cinzas totais

Para a determinação de cinzas totais, cerca de 1 g da biomassa foi

pesada em cadinhos de porcelana previamente calcinados a 800 °C em forno mufla

(EDG 10P-S) e com a massa determinada. A amostra foi então calcinada utilizando

a rampa de temperatura indicada na Figura 20. O sistema foi pesado e as cinzas

foram recolhidas para a posterior caracterização.

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

59

Figura 20. Rampa de aquecimento utilizada para a calcinação de matéria inorgânica e

determinação de cinzas totais

3.5.2 Extrativos

A determinação dos extrativos foi realizada com um extrator Soxhlet em

duas etapas: a primeira utilizando cicloexano por 8 h e a segunda utilizando uma

mistura de água e etanol (1:1 v/v) por 24 h. Em cada cartucho de extração,

adicionaram-se cerca de 2 g de biomassa moída. Entre as etapas, o sólido foi

pesado para a determinação do teor de extrativos.

3.5.3 Celulose, hemicelulose e lignina

Para a determinação de celulose, hemicelulose e lignina total, realizou-se

uma hidrólise com H2SO4 em duas etapas. Para isso, 0,3 g de biomassa foi colocada

em um tubo de hidrólise apropriado para autoclave e adicionaram-se 4,5 mL de

H2SO4 72% (m/m). Alocou-se o sistema em banho-maria a 30 °C por 1 h e, após

isso, adicionaram-se 82,5 mL de água destilada para diluir o ácido até atingir uma

concentração de 4% (m/m). O sistema foi então alocado na autoclave a 121 °C por 1

h. Após despressurização da autoclave e resfriamento do sistema em banho de

gelo, o líquido foi separado do sólido por filtração a vácuo, utilizando um cadinho de

placa porosa (7 a μm).

Uma alíquota da fração líquida foi filtrada e analisada por cromatografia

líquida de alta eficiência (HPLC) para a determinação dos açúcares. Uma outra

alíquota teve o pH ajustado para 10 para a determinação do teor de lignina solúvel

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

60

por absorção UV-Vis (Agilent, modelo Cary 5000) em 280 nm, utilizando água

destilada como branco.

A fração sólida foi lavada até pH neutro para a determinação de lignina

insolúvel. O cadinho foi então seco em estufa a 105 °C até massa constante e

calcinado seguindo a rampa da Figura 20.

3.5.4 Quantificação dos açúcares liberados

Os açúcares liberados pela hidrólise enzimática e pela hidrólise para a

quantificação dos componentes foram analisados por HPLC em um cromatógrafo

Agilent (modelo 1200), acoplado com um detector de índice de refração. Foi utilizada

uma coluna de troca iônica BIORAD HPX87H a 45 °C e H2SO4 5 mmol.L-1 como fase

móvel.

Para a determinação dos teores de celulose e hemicelulose, é necessário

converter a concentração dos açúcares obtidos na fonte de carboidrato precursora,

conforme indicado na Figura 21. Após a determinação dos teores de açúcares,

ácidos orgânicos e produtos de degradação, são utilizados os fatores de hidrólise

para a obtenção dos teores de carboidratos, conforme indicado na Tabela 5.

Celobiose, glicose e hidroximetilfurfural são somados para o teor de celulose,

enquanto xilose, arabinose, ácido acético e furfural são somados para o teor de

hemicelulose.

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

61

Figura 21. Representação geral dos possíveis produtos formados na hidrólise para a

quantificação da biomassa lignocelulósica: a) Celulose; e b) Hemicelulose (considerandoe

pentoses equivalentes a xilose ou arabinose).

Tabela 5. Fatores de conversão utilizados para a determinação dos teores de celulose e

hemicelulose a partir dos açúcares, ácidos orgânicos e produtos de degradação

determinados por HPLC.

Componente Açúcar, ácido ou produto de

degradação Fator de hidrólise

Celulose

Celobiose 0,95

Glicose 0,90

Hidroximetilfurfural 1,29

Hemicelulose

Xilose 0,88

Arabinose 0,88

Ácido acético 0,72

Furfural 1,37

OOHO

OH

O

OH

O

HO OH

OH

OO HO

OH

O

OH

O

HO OH

OH n

+H O+ OHO

HO

OH

O

OH

O

HO OH

OH

OH

+H O+

OHO

HO

OH

OH

OH

O

OHO

O

HOOH

OO

O

HO

OCCOH

n

H O+

O

HOOH OH

HO

O

O

H O+

O

OH

H O+

O

HOOH OH

OH

H O

+H O++ H O+

H O

+H O++ H O+

H O

+H O++ H O+

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

62

3.6 Determinação da composição química das frações líquidas

Para a determinação da composição química dos licores, também foi

utilizada a metodologia do NREL140, de modo semelhante ao que é realizado para os

sólidos. Uma alíquota de 5 mL do licor foi diluída 10 vezes em balão volumétrico;

para os licores alcalinos, fez-se um ajuste do pH, adicionando-se ,7 μL de H2SO4

72% (m/m). Após isso, o líquido foi transferido para um tubo apropriado para

autoclave, e foi autoclavado a 121 °C por 1 h, seguindo o mesmo procedimento

descrito no item 3.3 (Determinação da composição química dos sólidos).

3.7 Determinação dos açúcares obtidos após a hidrólise enzimática

Após filtradas, as frações líquidas obtidas no processo de hidrólise

enzimática foram analisadas por HPLC utilizando o mesmo método descrito no item

3.5.4 para a determinação de glicose, xilose e arabinose.

3.8 Caracterizações

3.8.1 Identificação dos extratos

Os extratos foram analisados por cromatografia gasosa acoplada à

espectrometria de massas (GC-MS) em um cromatógrafo Agilent (modelo 7890)

equipado com uma coluna capilar HP-5 S ( m x , 5 mm x , 5 μm), com

analisador quadrupolo. Os compostos foram ionizados via ionização por impacto de

elétrons e utilizou-se hélio como gás de arraste, em uma taxa de 1,0 mL.min-1. A

coluna foi aquecida a uma taxa de 10 °C.min-1 até 150 °C, permanecendo nesta

temperatura por 5 min, e continuou sendo aquecida a uma taxa de 5 °C.min-1 até

300 °C, também permanecendo nessa temperatura por 5 min.

A faixa de massas analisadas foi de 30 a 550 u. Os dados foram

processados com o software Chemstation e os compostos foram identificados por

comparação com os padrões da biblioteca do National Institute of Standards and

Technology (NIST).

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

63

Eq. 3

3.8.2 Índice de cristalinidade

O índice de cristalinidade (IC) foi calculado de acordo com o método da

altura do pico, por difração de raios-X139, utilizando um difratômetro Shimadzu

XRD7000, na faixa de varredura ( θ) de 5 a 5°, com velocidade de °/min e passo

de 0,02°. A voltagem aplicada ao alvo de cobre foi de 40 kV e a corrente de 30 mA.

As intensidades do pico cristalino (I002) da celulose e do vale amorfo (Iam) foram

obtidas a partir do difratograma das amostras e descontadas da intensidade do porta

amostra, conforme exemplificado na Figura 22.

Figura 22. Indicação dos picos da celulose (002 e 101) e do vale amorfo (Iam) nos

difratogramas de raios-X de capim elefante. Para o cálculo do índice de cristalinidade da

biomassa, a intensidade do porta-amostra foi descontada, seguindo a referência de Park e

colaboradores139.

Após a determinação dos valores para I002 e Iam, calculou-se o índice de

cristalinidade (IC), conforme a Equação 3.

𝐼𝐶 = 𝐼002 − 𝐼𝑎𝑚

𝐼002

Onde: I002 = intensidade do pico cristalino; Iam = intensidade do vale amorfo.

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

64

3.8.3 Composição química das cinzas

A composição química da matéria inorgânica foi determinada por

fluorescência de raios-X (XRF) em um espectrômetro sequencial por comprimento

de onda (Shimadzu XRF-1800). Utilizou-se um tubo de ródio como fonte de radiação

(voltagem de 40 kV e corrente de 95 mA) e a análise foi feita no modo semi-

quantitativo e de varredura, utilizando todos os canais disponíveis (Cl, S, P, Si, Al,

Mg, Na, F, Ti-U e K, Ca, Sn-Cs).

3.8.4 Análise morfológica

Para avaliar as alterações morfológicas causadas pelos tratamentos

físicos e químicos, as amostras foram analisadas por microscopia eletrônica de

varredura com fonte de emissão de campo (FESEM Quanta 650, FEI), com voltagem

de aceleração de 5 kV. As amostras foram revestidas com uma película de irídio em

um metalizador Baltec (Oerlikon-Balzers), operando com corrente de 11,3 mA

durante 120 s.

Os substratos submetidos aos tratamentos ácido e alcalino foram também

analisados por microtomografia computadorizada de raios-X (micro-CT), utilizando

um equipamento Skyscan 1272, operando a kV e 75 μA. A varredura foi

realizada com resolução de , μm. As imagens foram reconstruídas utilizando o

software o NRecon e as imagens 3D foram processadas a partir do software CTVox.

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

65

4. Resultados e Discussão

4.1 Proposta de biorrefinaria

O cenário ideal para o processamento de uma biomassa é o que utiliza o

máximo dos componentes, de modo integrado e com o menor gasto possível de

insumos e energia. Por isso, a Figura 23 apresenta um esquema proposto neste

trabalho para uma biorrefinaria de capim elefante, que tem como base uma

otimização prévia das condições para pré-tratamentos ácido-base19 e métodos para

o aproveitamento dos extrativos relatados na literatura38,92.

Figura 23. Esquema geral da biorrefinaria de capim elefante proposta no trabalho.

Extrativos são retirados primeiramente. Depois o sólido é submetido a um tratamento

ácido, resultando em um licor rico em hemicelulose e, em seguida, a um tratamento

básico para retirada de lignina. O sólido restante é moído e fermentado para

produção de etanol.

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

66

Para esse trabalho, decidiu-se separar as folhas e os colmos do capim

elefante antes da moagem em moinho de facas para que fosse possível comparar

os dois substratos. Cada uma destas partes da planta possui diferentes funções e,

em experimentos preliminares, elas apresentaram diferenças no rendimento dos pré-

tratamentos e na composição química. Além disso, no trabalho anterior do grupo19,

condições de pré-tratamento foram otimizadas apenas para as folhas do capim

elefante, o que também motivou o estudo das partes separadamente. Em uma

biorrefinaria, contudo, seria interessante processar esses dois componentes juntos.

Os primeiros procedimentos para o aproveitamento dos componentes do

capim elefante utilizados neste trabalho foram as extrações com fluídos supercríticos

(scCO2) e com líquidos pressurizados (acetato de etila e água:etanol). Como o nome

sugere, esse procedimento foi utilizado para a recuperação da fração de extrativos

da biomassa, que é composta por diversas classes de compostos, como ácidos,

esteroides, álcoois, dentre outros. Esse procedimento deve ser o primeiro a ser

realizado, uma vez que os tratamentos com ácidos e bases também removem esta

fração da biomassa sólida, fazendo com que os componentes se misturem nos

licores e dificultando sua recuperação, além da possibilidade de degradá-los.

A retirada prévia também é indicada, uma vez que esses compostos

podem ser destinados para aplicações na indústria farmacêutica e alimentícia, que

requerem substâncias extremamente puras1,38. Dessa forma, os extratos obtidos

foram caracterizados, visando escolher os melhores métodos de extração. Também

foi avaliada a influência das extrações na melhoria da digestibilidade enzimática dos

sólidos. Após as extrações, os sólidos das melhores condições foram direcionados

para os tratamentos posteriores.

Os tratamentos químicos seguintes foram conduzidos tendo como base

uma otimização prévia19. Decidiu-se estudar tanto os cenários que utilizassem

somente a etapa básica, assim como cenários que utilizassem o tratamento

sequencial ácido-base. Na etapa básica, também foram estudados dois tempos de

reação (20 e 100 min), para avaliar a influência desta variável na liberação dos

açúcares ou no efeito dos pré-tratamentos na recuperação de hemicelulose e

lignina. Os sólidos foram caracterizados quanto à composição química, para verificar

a eficiência dos tratamentos, e quanto à liberação de açúcares, para comparar as

melhores condições. Além disso, os licores também foram caracterizados para

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

67

avaliar os subprodutos que podem ser recuperados, agregando valor à cadeia

produtiva.

Por fim, também seguindo o indicado pela otimização anterior19,

buscaram-se condições de moagem mais eficientes para a maior redução no índice

de cristalinidade da biomassa. No trabalho anterior, a cristalinidade foi reduzida em

apenas 10% nas melhores condições possíveis de moagem, sendo que a otimização

indicava que diminuições maiores de cristalinidade favoreceriam a sacarificação.

Além dos dados experimentais deste trabalho, a redução da cristalinidade da

celulose é apontada como uma alternativa para a melhoria da digestibilidade

enzimática, uma vez que as regiões cristalinas são geralmente bastante

recalcitrantes para as enzimas139. Diferentemente do trabalho anterior19, a moagem

foi realizada após a etapa alcalina devido à maior redução no tamanho da partícula,

o que dificultava os processos de separação, caso a moagem fosse realizada

diretamente à biomassa in natura antes dos tratamentos químicos.

Sendo assim, as seções seguintes discutirão os efeitos de cada etapa da

biorrefinaria na melhoria da digestibilidade enzimática, visando à produção de

etanol, e na recuperação dos subprodutos desse processo, buscando viabilizá-lo.

4.2 Fracionamento dos extrativos

4.2.1 Ensaio cinético para a extração com scCO2

O ensaio cinético foi realizado para minimizar os gastos desnecessários

de solvente no processo de extração com scCO2. A Figura 24 apresenta o perfil

obtido, relacionando o tempo de extração com a massa de extrato acumulada para

folhas e colmos. Para as folhas, a saída do extrato foi mais contínua, permitindo que

fossem adquiridos mais pontos experimentais. Para os colmos, o extrato acumulava

na tubulação antes que fosse expulso para o frasco e contabilizado. Além disso,

após 200 min não foi observada mais a saída de extrato. Sendo assim, para os

cálculos da quantidade de CO2 que seria utilizada na extração, adotou-se o tempo

de 90 min para folhas e 63 min para os colmos, uma vez que, em tempos

superiores, não se notou aumento significativo na quantidade de extrato obtida.

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

68

Figura 24. Perfil do ensaio cinético realizado para as extrações com scCO2 em: a) folhas; e

b) colmos.

Como o fluxo da extração pode ser modificado, a principal variável que é

obtida após o ensaio cinético é a quantidade de CO2 necessária (S) para a extração

de uma determinada massa inicial de biomassa (F). Com os dados obtidos na Figura

24, determinou-se essa relação, que é chamada na área de razão S/F. Sendo assim,

conhecendo-se a massa de biomassa inicial e a razão S/F pode-se realizar a

extração em um fluxo mais rápido, reduzindo o tempo de operação. A Tabela 6

apresenta como essa constante foi calculada, considerando o tempo obtido na

Figura 24 e a massa inicial de biomassa.

Tabela 6. Cálculo da constante S/F para a extração com scCO2.

Folhas Colmos

Tempo de extração (min) 90 63

Massa de CO2 utilizada (S) (g) 405 311

Massa de biomassa (F) (g) 18,1905 19,0550

Razão S/F 22,3 16,3

4 4

,

,

, 4

,

,

,

,

, 4

assa acululada (g)

empo (min)

4 4

,

,

, 4

,

,

,

, assa acumulada (g)

empo (min)

colmosfol as

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

69

4.2.2 Rendimentos das extrações

A Figura 25 apresenta os rendimentos de cada extração, indicando que a

extração sequencial scCO2-PLE com água e etanol e a extração utilizando apenas o

PLE mostraram-se mais eficientes no rendimento global dos extratos para folhas e

colmos. A extração utilizando scCO2 apresentou menor rendimento, sendo que a

extração com acetato de etila apresentou rendimentos intermediários. Embora os

rendimentos para a extração com scCO2 sejam baixos, são próximos aos obtidos

para a cana-de-açúcar em condições similares38 (0,8% m/m para a casca, 1,6% m/m

para as folhas e 0,5% m/m para o bagaço). Entretanto, vale ressaltar que o capim

elefante possui maior velocidade de crescimento que a cana-de-açúcar, sendo,

portanto, mais produtivo103.

Figura 25. Rendimentos de extração para folhas (L) e colmos (S): (LSC/SSC: Extração com

scCO2; LWE/SWE: PLE com água e etanol; LSEQ/SSEQ: Extração sequencial com scCO2 e

PLE com água e etanol; LEA/SEA: PLE com acetato de etila).

4.2.3 Composição dos extratos

Devido à utilização de solventes e métodos de extração que levam à

obtenção de extratos ricos em compostos com a polaridade do solvente utilizado, os

rendimentos devem ser considerados juntamente com os tipos de classes de

compostos obtidos por cada método. No total, considerando folhas e colmos, foram

identificados 83 compostos por GC-MS, que estão relacionados na Tabela 7,

agrupados em 9 classes: ácidos carboxílicos (identificados somente como ácidos),

álcoois e fenólicos, aldeídos, amidas, ésteres, hidrocarbonetos, cetonas, esteróis e

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

70

outros. O percentual foi obtido com relação às áreas dos picos obtidos em cada

cromatograma.

Em maior percentual, destacam-se os ácidos graxos e o glicerol,

relacionados à hidrólise dos triacilgliceróis, que são fontes energéticas para a planta,

além de comporem as membranas celulares6. Moléculas de glicerol livres podem ser

convertidas em triacilgliceróis ou em glicerol 3-fosfato e direcionadas para a via da

gliconeogênese ou para via glicolítica. Industrialmente, o glicerol é utilizado como

solvente, como emulsificante e umectante na indústria alimentícia e também na

indústria farmacêutica141.

Os ácidos graxos, armazenados como triacilgliceróis, são provenientes do

piruvato sintetizado a partir do CO2 fixado nos cloroplastos. Há uma grande

diferença dos tipos de ácidos presentes em diferentes plantas, o que determina a

fluidez das bicamadas lipídicas, dependendo do tamanho da cadeia e das

insaturações6. Dentre os ácidos identificados no capim elefante, o ácido linoleico

(ômega 6), o ácido α-linolênico (ômega 3) e o ácido palmítico são frequentemente

utilizados na indústria alimentícia.

O fenol e o álcool coniferílico pertencem à classe dos metabólitos

secundários das plantas, sendo este último um dos precursores para a síntese da

lignina72. Por fim, os esteroides identificados são hormônios vegetais, sintetizados a

partir dos isoprenóides, responsáveis pelo controle do desenvolvimento da planta,

estimulando o crescimento, o desdobramento das folhas, a diferenciação do xilema,

dentre outros6. Os esteroides agem ligando-se aos receptores da membrana

plasmática, ativando os genes para a modificação celular, para a síntese do

citoesqueleto e para a síntese de outros hormônios6. Estudos demonstram a

potencialidade da aplicação do sitosterol em anti-inflamatórios, na inibição de

cânceres e na redução do colesterol142 – aplicação na qual o estigmasterol também

é utilizado. O tocoferol, conhecido popularmente como vitamina E, possui atividade

antioxidante que protege as células contra radicais livres, podendo ser utilizado em

cremes e loções para a pele.

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

71 Tabela 7. Compostos presentes nos extratos estimados por GC-MS com similaridade mínima de 80%.

Compostos Folhas (% no extrato) Colmos (% no extrato)

LSC LWE LSEQ LEA SSC SWE SSEQ SEA

Ácidos carboxílicos

Ácido 9,12-octadecadienoico (Ácido linoleico) 3,08 0,13 - 0,74 4,08 - - 1,61

Ácido 9,12,15-octadecatrienoico (Ácido α-linolenico) 8,07 - - 2,29 - - - -

Ácido docosanoico (Ácido beênico) 0,43 - - - - - - -

Ácido dodecanoico (Ácido láurico) 0,39 0,22 - 0,59 0,86 - - 1,01

Ácido eicosanoico 0,67 - - - 1,34 - - -

Ácido heptadecanoico (Ácido margárico) - - - - 0,16 - - -

Ácido hexadecanoico (Ácido palmítico) 7,14 1,95 1,59 5,04 6,05 - 0,52 5,17

Ácido octadecanoico (Ácido esteárico) 1,35 - - 0,30 - - - 0,51

Ácido Z-octadec-9-enoico (Ácido oleico) - - - - 5,79 - - 1,18

Ácido pentadecanoico - - - - 0,08 - - -

Ácido tetradecanoico 0,16 - - 0,22 - - - -

Ácidos (total) 21,29 2,30 1,59 9,18 18,36 0,00 0,52 9,48

Álcoois / Fenólicos

1-Heptacosanol 0,48 - - - - - - -

2,4-bis(1,1-dimetiletil)-fenol - 0,31 0,38 0,42 - 0,60 0,60 0,79

2,6-dimetoxi-4-(2-propenil)-fenol - - 0,51 - - 0,78 0,82 -

2,6-dimetoxifenol - 1,16 1,68 0,38 - 0,48 0,76 -

2-metoxi-4-propilfenol - - - 0,38 - 1,04 - -

2-metoxi-4-vinilfenol - 1,60 2,25 0,58 - 1,31 1,53 0,47

2-metoxifenol - 0,55 0,75 0,13 - - 0,59 0,13

Álcool coniferílico - 2,40 3,85 - - 7,40 0,46 1,09

4-(2-propenil)-fenol - - - - - - 0,29 -

Catecol - 0,40 0,50 - - - - -

Eritritol - - - - - 3,52 3,25 2,77

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

72

Álcoois e fenólicos - continuação

Eugenol - - - - - 0,24 0,29 -

Glicerol - 17,79 27,16 10,39 - 17,69 19,97 19,40

Hidroquinona - 0,29 - - - - - -

Mequinol - - - - - 0,26 - -

Fenol - 2,71 4,04 - - - - -

Fitol 0,33 0,38 0,30 2,29 - - - 0,21

Trans-isoeugenol - 0,33 0,60 - - 1,88 4,93 0,13

Álcoois e fenólicos (Total) 0,81 27,92 42,02 14,57 0,00 35,20 33,49 24,99

Hidrocarbonetos

1,19-Eicosadieno - - - 0,32 - - - 0,65

1,21-Docosadieno - - - - - - - 0,30

2-metil-hexadecano - - - - - - - 0,18

4-(4-etilciclohexil)-1-pentylciclohexeno - - - - - - - 0,15

Eicosano 4,50 - - 1,12 2,19 - - 1,08

Heneicosano - - - 1,57 - - - 0,38

Hexadecano - - - - - - - 0,58

Octacosano - - - 0,34 - - - -

Octadecano - - - 3,77 - - - 0,58

Tetracosano 5,59 - - 2,80 - - - -

Hidrocarbonetos (Total) 10,09 0,00 0,00 9,92 2,19 0,00 0,00 3,90

Esteroides

4,22-Stigmastadiene-3-ona - 0,90 - - - - - -

Tocoferol (Vitamina E) 2,77 - - 3,16 0,21 - - -

Sitosterol 3,97 1,57 0,94 7,56 7,47 1,45 - 7,52

Campesterol - - - 1,36 3,32 - - 3,74

β-amirina 1,30 - - 0,64 - - - -

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

73

Esteroides – continuação - - - - - - - -

Spinasterona - - - - 3,61 - - -

Squaleno 0,26 - - 0,18 - - - -

Stigmast-4-en-3-ona 3,88 3,90 - - 6,51 - - -

Stigmasterol 2,43 - - 3,10 4,66 0,92 5,12

Esteroides (Total) 14,61 6,37 0,94 16,00 25,78 2,37 0,00 16,38

Aldeídos

3,5-dimetoxi-4-hidroxi cinamaldeído - 0,19 - - - 0,76 0,75 0,32

4-hidroxi-2-metoxi cinamaldeído - 0,45 - - 1,12 - -

4-hidroxi-3,5-dimetoxibenzaldeído - 0,16 - - - 0,63 0,55 0,61

4-hidroxibenzaldeído - 0,22 0,37 - - 1,95 1,64 0,68

Heptadecanal - - - 3,82 - - - -

Octadecanal - - - - - - 0,37 2,02

Pentadecanal - - - - - - - 0,23

Tetradecanal - - - - - - 0,12 -

Aldeídos (Total) 0,00 0,57 0,82 3,82 0,00 4,46 3,43 3,86

Amidas

(Z)-13-docosenamida (Erucamida) - - - - 0,34 - - -

(Z)-9-octadecenamida (Oleamida) 0,14 - - - 4,68 - - 0,33

Hexadecanamida - - - - 1,11 - - -

N-butil-benzenesulfonamida 0,35 - - - 0,37 - - -

4-etil-N-(4-octafenil)-benzylamina - - - - 0,13 - - -

Amidas (Total) 0,49 0,00 0,00 0,00 6,63 0,00 0,00 0,33

Ésteres

Diisobutilftalato - - - - - - - 0,19

Bis(2-etilhexil) isoftalato - - - - 0,66 - - -

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

74

Ésteres – continuação

Metil homovanilato - - - 0,22 - 0,77 0,42 -

Etilvanilato - - - - - - - 0,29

Glicerol palmitato - - 2,94 - - - 0,83 0,77

Metil palmitato - - 0,14 - - - - -

Metil lignocerato 0,12 - - - - - - -

Ésteres (Total) 0,12 0,00 3,08 0,22 0,66 0,77 1,25 1,25

Cetonas

Fenilpropilcetona - - - 0,15 - - - -

2-Nonadecanona - - - - 0,06 - - 0,83

3,5-dihidroxi-6-metil-2,3-dihidropiran-4-ona - - 0,13 - - - 0,13 -

5,6,7,7a-tetrahidro-4,4-7a-trimetil-2(4H)-

benzofuranona 0,17 - - 0,31 - - - -

6,10,14-trimetil-2-pentadecanona - - - - - - - 0,28

1,8-hidroxi-3-metoxi-6-metil-9,10-antracenediona - - - - - - - 0,48

Cetonas (Total) 0,17 0,00 0,13 0,46 0,06 0,00 0,13 1,59

Outros

Cumarona - - 4,90 0,86 - - - -

Apocinina - - - - - - - 0,22

Alose - 1,11 - - - - - -

Hexadecil-oxirano 1,64 - - 4,92 - - - 1,41

Tridecil-oxirano - - - - - - - 0,25

Vanilina - 0,40 0,63 0,31 - 0,72 0,72 0,35

Outros (Total) 1,64 1,51 5,53 6,09 0,00 0,72 0,72 2,23

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

75

A Figura 26 apresenta um resumo das classes de compostos identificadas

nos diferentes métodos de extração utilizados. Nota-se que os extratos de colmos e

folhas, apesar da diferença no rendimento de extração, apresentam a composição

percentual das classes de compostos semelhantes. Além disso, a composição

percentual dos extratos mostra uma tendência esperada: a extração utilizando

scCO2 obteve extratos mais ricos em compostos apolares, como ácidos de cadeias

longas, hidrocarbonetos e esteróis, além de amidas, especialmente para os colmos.

Já a utilização de solventes polares, levou à obtenção de extratos ricos em álcoois e

fenólicos, principalmente, além de aldeídos nos colmos. Os extratos obtidos com

acetato de etila, por outro lado, apresentaram uma distribuição mais uniforme das

classes de compostos, devido à polaridade desse solvente ser intermediária entre o

CO2 supercrítico e a mistura água e etanol.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

76

Figura 26. Composição percentual dos extratos caracterizados por GC-MS para folhas (a e

c) e colmos (b e d).

Quando o rendimento da extração é considerado, pode-se estimar a

quantidade de cada classe de compostos que pode ser obtida a partir da biomassa

in natura (Figura 27). Nesta observação, os métodos de PLE levam a rendimentos

superiores aos rendimentos das extrações com scCO2, mesmo para as classes de

compostos que possuem menor afinidade com os solventes polares. Além disso, a

extração sequencial apresenta teores similares à extração utilizando somente PLE, o

que não justificaria, em termos de rendimento total, a utilização de scCO2. No

entanto, para a escolha do método, além dos rendimentos, devem ser analisadas as

técnicas de extração em que os compostos de interesse estão presentes e quais os

métodos de separação desses componentes, com base nas aplicações finais.

4

4

4

5

7

4

5

7

cidos lcoois / en licos Hidrocarbonetos ster ides

Aldeídos Amidas steres Cetonas Outros

endimento do extrato ( )

endimento do extrato ( )

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

77

Figura 27. Percentual das classes de compostos presentes nos extratos considerando os

rendimentos de extração.

A escolha pela tecnologia supercrítica pode ser feita se forem

consideradas situações em que seja necessária uma total eliminação do solvente,

como nas aplicações da indústria alimentícia e farmacêutica143, além de casos em

que a eliminação de etapas de evaporação do solvente seja importante. Apesar do

baixo rendimento, esse método de extração não adiciona toxicidade ao extrato,

como por exemplo, quando solventes como o acetato de etila ou outros solventes

orgânicos são utilizados.

O uso de compostos extraídos da biomassa lignocelulósica pode

representar um novo paradigma na redução de impactos ambientais, reduzindo a

dependência de fontes de petróleo e o gasto com processos químicos de conversão,

além de agregar valor à cadeia produtiva do etanol celulósico ou de outros produtos

e materiais bioderivados. Um gargalo para a aplicação industrial desses compostos

é a necessidade de purificação e os baixos rendimentos de algumas moléculas.

Para tanto, é necessário um estudo mais aprofundado quanto à eficácia de utilizar

métodos mais seletivos de extração ou métodos de separação após a obtenção de

um extrato rico em diversos compostos.

,

,5

,

,5

,

,5

,

,5

,

,5

,

,5

cidos lcoois / en licos

Hidrocarbonetos ster ides

Aldeídos Amidas steres

Cetonas Outros

endimento em relação extração ( )

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

78

4.3 Fracionamento de hemicelulose e lignina

A obtenção de etanol celulósico a partir da biomassa do capim elefante

requer substratos ricos em celulose e com composições mínimas de lignina. A

composição química das folhas do capim elefante in natura e após os tratamentos

com ácido e base diluídos está relacionada na Tabela 8, juntamente com o

somatório de percentuais dos componentes para cada amostra (Total) e com a

massa de sólido restante após cada pré-tratamento.

Tabela 8. Composição química e massa de sólido remanescente após pré-tratamentos com

ácidos e bases diluídos. As análises foram realizas em duplicata e os erros correspondem

ao desvio padrão.

Amostra Componentes (% m/m)

Massa

remanescente

(%) Celulose Hemicelulose Lignina Cinzas Total

Folhas

In natura* 30,1 ± 2,2 24,3 ± 2,1 22,5 ± 0,1 5,7 ± 0,1 102,7 ± 3,1 100,0

LAC 54,2 ± 1,5 6,9 ± 0,2 29,0 ± 0,8 7,0 ± 0,2 97,1 ± 1,7 49,1 ± 2,9

LAB20 73,4 ± 0,4 6,1 ± 0,8 14,0 ± 0,4 3,0 ± 0,2 96,5 ± 1,0 30,1 ± 2,9

LAB100 82,9 ± 2,3 4,0 ± 1,1 12,3 ± 0,1 1,4 ± 0,1 100,6 ± 2,5 28,1 ± 0,7

LB20 54,7 ± 1,5 24,3 ± 1,5 20,5 ± 1,5 6,0 ± 0,1 105,5 ± 2,6 55,7 ± 0,1

LB100 63,0 ± 1,6 22,0 ± 0,6 16,2 ± 1,5 6,3 ± 0,2 107,6 ± 2,3 46,3 ± 0,1

LWEB20 55,6 ± 0,3 20,4 ± 0,2 12,6 ± 1,1 3,7 ± 0,1 92,2 ± 1,2 53,9 ± 0,3

LWEB100 63,6 ± 5,5 19,5 ± 1,7 13,3 ± 5,5 4,4 ± 0,2 100,9 ± 7,9 46,4 ± 9,1

Colmos

In natura* 38,6 ± 0,5 21,8 ± 0,7 25,5 ± 1,9 3,2 ± 0,1 103,2 ± 2,1 100,0

SAC 58,2 ± 0,2 7,8 ± 0,2 32,8 ± 4,1 1,3 ± 0,2 100,1 ± 4,1 61,0 ± 0,6

SAB20 71,9 ± 2,1 5,7 ± 0,3 22,3 ± 1,0 1,3 ± 0,2 101,2 ± 2,4 46,0 ± 2,2

SAB100 79,0 ±2,1 3,6 ± 0,1 19,1 ± 0,1 1,0 ± 0,1 102,7 ± 2,1 41,6 ± 0,4

SB20 58,0 ± 0,2 23,2 ± 0,2 17,5 ± 0,2 2,8 ± 0,1 101,6 ± 2,1 65,8 ± 4,1

SB100 62,7 ± 0,1 20,0 ± 0,1 18,2 ± 0,2 2,2 ± 0,1 103,2 ± 0,2 58,7 ± 1,6

SWEB20 60,3 ± 1,1 20,7 ± 0,1 11,1 ± 1,1 0,4 ± 0,1 92,5 ± 1,6 66,9 ± 0,6

SWEB100 63,9 ± 1,3 18,9 ± 0,2 12,8 ± 4,1 1,2 ± 0,1 96,8 ± 4,3 61,2 ± 4,2

* Foram adicionados no somatório da amostra IN 20,2 ± 0,2% de massa referente aos extrativos para as folhas e 14,2 ± 0,6% para os colmos.

Nota-se que os colmos in natura apresentam maior teor de celulose em

comparação às folhas (cerca de 8% maior). Isso possui relação com a maior

quantidade de extrativos e cinzas que as folhas apresentam, uma vez que os teores

de hemicelulose e lignina são similares para ambas as partes da planta. No entanto,

de modo geral, a utilização dos tratamentos com ácido e base diluídos foram

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

79

eficientes para aumentar o teor de celulose em ambos os sólidos, especialmente

com a utilização dos tratamentos sequenciais ácido-base, nos quais o teor de

celulose passou de 30% para cerca de 83% para as folhas e de 39% para 79% para

os colmos, em maiores tempos de reação.

Observa-se também que os teores dos componentes são similares entre

folhas e colmos quando se aplica um mesmo tratamento aos diferentes substratos.

Entretanto, o rendimento de sólidos é inferior para as folhas, indicando que mais

quantidades dos componentes foram extraídas para as frações líquidas, uma vez

que não foram quantificadas nos sólidos. Nas amostras em que não foi realizada a

etapa ácida, o teor máximo de celulose obtido foi de 63% para as folhas e colmos,

devido à menor remoção de hemicelulose: nas amostras sem etapa ácida, o teor

desse carboidrato é praticamente inalterado.

A etapa ácida levou à redução de 70% no teor de hemicelulose nas folhas

e 64% nos colmos. Esse teor é apenas minimamente reduzido após a etapa alcalina

sequencial. De fato, a etapa ácida é a principal responsável pela hidrólise da

hemicelulose em seus monômeros (xilose e arabinose, no caso do capim elefante19)

e em oligômeros, o que justifica a maior redução no teor deste componente nas

amostras que foram submetidas ao tratamento ácido. Os produtos hidrolisados

derivados da hemicelulose são solubilizados na fração líquida e podem ser

posteriormente direcionados para diferentes aplicações, como na própria

fermentação desses açúcares em etanol144 ou xilitol145, que é um açúcar utilizado na

dieta de diabéticos, além da produção de materiais, como adesivos76.

O aumento no teor de celulose também está relacionado à redução no

teor de lignina, que ocorreu especialmente nas etapas alcalinas: redução de até 45%

para as folhas e 31% para os colmos. Já o tratamento alcalino age especialmente na

clivagem da ligação α-aril-éter que une os monômeros da lignina, quebrando a

macromolécula em fragmentos menores, que também são solubilizados na fração

líquida16. Deste modo, a etapa alcalina mostra-se fundamental para a remoção de

lignina, conforme pode ser notado na Tabela 8, comparando as amostras in natura e

LAC com as demais. A remoção de lignina é um efeito desejado, já que sua

presença é apontada na literatura como um dos principais entraves para o acesso

das enzimas hidrolíticas ao substrato celulósico146. Além disso, a lignina removida

pode ser utilizada para a geração de energia na biorrefinaria71, para a produção de

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

80

materiais, como nanopartículas147 e para a produção de outros insumos químicos,

como a vanilina68, por meio de quebras catalíticas das ligações entre os monômeros

e a posterior conversão.

Além disso, a etapa alcalina também foi aplicada às amostras que foram

submetidas previamente à extração PLE utilizando água e etanol como solvente

(LWEB20, LWEB100, SWEB20 e SWEB100). Esse tratamento resultou em teores de

celulose e hemicelulose similares às amostras que foram submetidas somente ao

tratamento alcalino durante o mesmo período, indicando que as extrações podem

ser utilizadas para o fracionamento dos extrativos, sem interferirem nos tratamentos

posteriores.

Os teores de celulose obtidos por esses tratamentos são semelhantes ou

superiores aos relatados na literatura utilizando tratamentos sequenciais com ácido

e base (cerca de 1 a 2% de H2SO4 e entre 2 e 4,5% de NaOH)19,21, utilizando

apenas base (2 a 6% de NaOH)129 ou em tratamentos organossolve (40 a 80% de

etanol)19, todos aplicados a folhas de capim elefante.

Embora as etapas sequenciais levem a um maior teor de celulose, elas

resultam em hidrólise pronunciada do sólido e em menores valores de massa total

remanescente de substrato (Tabela 8), quando comparadas às amostras que não

foram submetidas à etapa ácida. Isso ocorre, pois parte da celulose acaba sendo

hidrolisada nos pré-tratamentos, na tentativa de purificá-la retirando os demais

componentes.

Na Figura 28, é possível observar o percentual restante de cada

componente nos sólidos, considerando os rendimentos dos pré-tratamentos

mostrados na Tabela 8. Nas amostras com altos teores de celulose, como as

amostras LAB20, LAB100, SAB20 e SAB100, há uma maior transferência de

celulose para a fração líquida. Contrariamente, as amostras LB20 e SB20, que são

as amostras com o menor teor de celulose dentre as amostras submetidas a algum

tratamento, não apresentem perdas de celulose. No entanto, nota-se que, mesmo

para essas amostras, há uma baixa perda de celulose nos tratamentos, o que é

desejado para o aproveitamento futuro deste componente na forma sólida. As

etapas sequenciais são as que levam à maior perda de massa celulósica, o que está

relacionado com a estrutura da parece celular, cujos componentes apresentam-se

emaranhados16.

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

81

Figura 28. Percentual mássico restante de celulose, hemicelulose, lignina e cinzas após os

pré-tratamentos para as folhas em relação à massa inicial: a) folhas; b) colmos.

Quanto aos teores de hemicelulose, evidencia-se o que já havia sido

observado pela composição percentual dos sólidos: há uma maior transferência

deste componente na etapa ácida, sendo apenas minimamente reduzido quando se

aplica o tratamento sequencial alcalino. O aumento do tempo de reação nesta

segunda etapa não contribui significativamente para a remoção de hemicelulose. As

amostras que não foram submetidas à etapa ácida apresentam maiores quantidades

de hemicelulose na fração sólida, evidenciando que, para o fracionamento deste

carboidrato, a etapa ácida é fundamental: além de remover maiores quantidades,

comparado às situações em que apenas o tratamento alcalino é realizado, é

possível obter uma fração líquida mais pura. Caso esse componente seja extraído

diretamente pela etapa alcalina, haverá a necessidade de purificação, uma vez que

o licor será composto também em grande parte por lignina.

Quanto à remoção da lignina para a fração líquida, nota-se que uma

pequena parte é extraída na etapa ácida, que diz respeito justamente à lignina

solúvel em meio ácido, geralmente fragmentos menores que são mais facilmente

arrastados do sólido. Entretanto, é a etapa alcalina que é a maior responsável pela

extração deste componente, conforme já discutido. As etapas sequenciais ácido-

Celulose Hemicelulose Lignina Cinzas

4

restante de cada componente

na fração s lida

4

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

82

base, além de permitirem o melhor fracionamento de hemicelulose e lignina também

levam a uma maior remoção do componente aromático.

Quanto às cinzas, a análise deve ser avaliada com relação aos tipos de

compostos presentes em cada parte da biomassa, que possuem diferentes

características de solubilidade e, consequentemente, de extrações, que serão

discutidos na seção seguinte.

4.4 Composição das cinzas

A fração inorgânica da biomassa é chamada de cinzas e possui uma

composição dependente do tipo de biomassa e que pode ser diferente mesmo em

diferentes partes da planta. A Figura 29 apresenta a composição das cinzas para as

folhas e colmos do capim elefante, demonstrando uma grande diferença na

composição relativa. A sílica foi o principal componente encontrado nas cinzas das

folhas, enquanto para os colmos, o K2O foi majoritariamente identificado. As

quantidades de MgO foram similares para folhas e colmos, enquanto as folhas

apresentaram quantidades superiores de CaO. Embora na biomassa in natura o

percentual de cinzas fosse relativamente baixo, comparado aos outros

componentes, essa fração também dificulta a ação enzimática43. Para as folhas, o

tratamento ácido levou à remoção de 40% da matéria inorgânica, sendo que o

tratamento sequencial com base levou a até 93% de remoção na amostra LAB100,

conforme mostrado na Tabela 8. Os tratamentos sequenciais ácido-base foram mais

eficientes na remoção das cinzas, uma vez que os tratamentos que utilizaram

apenas base removeram no máximo 49% das cinzas na amostra LB100 (Tabela 8).

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

83

Figura 29. Composição da matéria inorgânica do capim elefante determinada por XRF.

Os compostos inorgânicos presentes no capim elefante, identificados

como óxidos por XRF, possuem diferentes solubilidades em meio ácido ou alcalino,

o que justifica essa diferença restante no sólido. A solubilização da sílica, por

exemplo, ocorre por meio da hidrólise do óxido (SiO2) em ácido silícico (Si(OH)4),

que é solúvel em água e pode ser lixiviado para o licor do pré-tratamento. Esse

processo é catalisado em meio alcalino e ácido, mas mais favorecido em pH acima

de 943. Os óxidos de magnésio e cálcio são solúveis em meio ácido, o que justifica a

menor redução de cinzas quando a etapa ácida não é realizada. Já o óxido de

potássio e o pentóxido de fósforo apresentam solubilidade em meio aquoso, e,

provavelmente, foram removidos na etapa ácida148.

4.5 Efeito da moagem em moinho de bolas

4.5.1 Escolha da condição de moagem

A redução da cristalinidade é apontada na literatura como um fator para a

melhoria da atividade enzimática139. Assim, um planejamento experimental foi

realizado com as folhas e colmos in natura separadamente para otimizar a moagem

em moinho de bolas (Tabela 9). Com base neste estudo, definiu-se a condição do

Ensaio 7 como a condição que seria utilizada para a moagem das amostras pré-

tratadas, devido ao menor tempo para alcançar cristalinidade semelhante à de

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

84

experimentos mais longos (como dos ensaios 3 e 8). Esse tipo de planejamento

ortogonal L9 é utilizado quando as condições experimentais não permitem a

realização de um ponto central que seja de fato a metade entre os pontos superiores

e inferiores. No caso deste estudo sobre a moagem, a quantidade de bolas

utilizadas tinha esta limitação. No entanto, foi possível, por meio da modificação de

todas as variáveis simultaneamente, definir uma condição ótima por meio da análise

multivariada.

Tabela 9. Planejamento experimental para a moagem em moinho de bolas.

Ensaio

Diâmetro

das bolas

(mm)

Quantidade

de bolas

Tempo

(h)

Rotação

(rpm)

Cristalinidade (%)

Folhas Colmos

In natura - - - - 54 65

1 12 8 2 150 52 69

2 12 12 6 200 52 53

3 12 16 10 250 23 18

4 15 16 2 200 52 54

5 15 8 6 250 53 28

6 15 12 10 150 36 35

7 20 12 2 250 29 29

8 20 16 6 150 24 29

9 20 8 10 200 17 16

4.5.2 Efeito da moagem na cristalinidade da biomassa

A Figura 30 apresenta a cristalinidade das amostras de folhas e colmos

de capim elefante pré-tratadas antes e após a moagem utilizando a condição

definida anteriormente (12 bolas de 20 mm por 2 h a 250 rpm). Considerando o

índice de cristalinidade da amostra in natura (Tabela 9), nota-se um aumento com a

realização dos tratamentos químicos, devido à remoção de frações amorfas da

biomassa, como lignina e hemicelulose9,149. Após a moagem, ocorre a redução do

índice de cristalinidade devido à amorfização da celulose cristalina.

Surpreendentemente, colmos e folhas comportam-se de modo muito diferente

quando submetidos à moagem após os pré-tratamentos: a ação do moinho é muito

mais pronunciada nos colmos do que nas folhas. Isso pode ter relação com o

contato mecânico entre as bolas e a biomassa, uma vez que as partículas das folhas

são mais finas do que as partículas dos colmos.

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

85

Conforme observado, a presença da etapa ácida dificulta a amorfização

da biomassa, uma vez que as amostras que não foram submetidas à etapa ácida

apresentaram uma maior redução na cristalinidade. Quando o teor de celulose e o

teor de lignina são relacionados com o índice de cristalinidade das folhas, observa-

se uma tendência: o aumento no teor de celulose leva a um aumento no IC,

enquanto um aumento no teor de lignina leva a uma redução no IC. Além disso,

esses teores também possuem uma relação: o aumento no teor de celulose está

linearmente relacionado com a remoção de lignina. Como a lignina é um

componente amorfo, isso leva ao aumento do índice de cristalinidade, que é um

valor relativo.

Figura 30. Índice de cristalinidade das amostras pré-tratadas antes e após a moagem em

moinho de bolas (12 bolas de 20 mm a 250 rpm por 2 h).

4

Sem moagem Ap s moagem

5 5

74

5

7

7

54

75

7

7

7

7

5

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

86

4.6 Efeito dos tratamentos na digestibilidade enzimática

4.6.1 Efeito das extrações

Para avaliar se as extrações teriam algum efeito na liberação de

açúcares, os sólidos residuais das extrações foram submetidos à hidrólise

enzimática. As amostras submetidas à extração utilizando acetato de etila não foram

estudadas nessa etapa, devido à maior toxicidade e porque os resultados obtidos

utilizando esse solvente não foram superiores aos obtidos utilizando água e etanol,

que são solventes menos tóxicos. Essa avaliação foi realizada considerando que

CO2 supercrítico em conjunto com água ou outros solventes, como etanol, já tinha

sido utilizado para a melhoria da digestibilidade enzimática, especialmente de

madeiras150,151. Portanto, era importante avaliar se haveria algum aumento na

liberação de açúcares, o que poderia ser utilizado para a obtenção dos extratos, por

meio das extrações, e de açúcares fermentáveis, após a hidrólise enzimática.

Entretanto, as extrações não contribuíram significativamente na liberação

de açúcares em nenhum dos casos, conforme observado na Figura 31. Para as

folhas, a hidrólise da biomassa in natura leva à liberação de 124,3 ± 2,7 mg de

açúcar/g biomassa, enquanto a hidrólise do substrato residual da extração

sequencial scCO2-PLE leva à liberação de 198,2 ± 20,6 mg/g de biomassa, o que

representa um aumento de cerca de 55%. No entanto, esse aumento é baixo,

comparado a outros tipos de pré-tratamentos, como o alcalino16,19,104.

Figura 31. Massa de açúcar liberada pela hidrólise enzimática dos substratos após a

extração com scCO2 e PLE.

5

5

5

mg aç car / g biomassa

licose ilose Arabinose

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

87

4.6.2 Análise morfológica dos substratos após as extrações

O percentual dos componentes extraídos é pequeno quando comparado

aos processos de remoção de hemicelulose e lignina, que levam a um aumento

significativo na digestibilidade enzimática. Além disso, a análise microestrutural dos

substratos in natura e após as extrações, apresentados na Figura 32 para as folhas

e na Figura 33 para os colmos, mostra que não há uma alteração significativa da

superfície dos materiais causadas pelas extrações. Como os processos removem

quantidades relativamente baixas de componentes, não ocorre uma desestruturação

da parede celular vegetal. Logo, como a ação das enzimas depende da exposição

das cadeias de celulose, que estão recobertas por hemicelulose e lignina no material

in natura, não foram observados aumentos significativos na liberação dos açúcares.

Resultados semelhantes sobre o efeito da extração com CO2 supercrítico foram

obtidos em outros substratos, como resíduos de amora152 e pimenta malagueta153.

Para os colmos, nota-se, após a extração com CO2 supercrítico, a

presença de pequenos depósitos que não foram observados no material in natura.

Isso pode indicar a redeposição do extrato no substrato, o que também já foi

relatado na literatura153 e poderia justificar o baixo rendimento de extração (Figura

25).

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

88

Figura 32. Imagens de FESEM das folhas in natura (a e b); submetidas à extração com

scCO2 (c e d); somente com PLE, utilizando água e etanol (e e f); e sequencial scCO2-PLE

(água e etanol) (g e h).

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

89

Figura 33. Imagens de FESEM dos colmos in natura (a); submetidos à extração com scCO2

(b); somente com PLE, utilizando água e etanol (c); e sequencial scCO2-PLE (água e etanol)

(d).

4.6.3 Efeito dos tratamentos com ácidos e bases diluídos

A Figura 34 apresenta um resumo da quantidade de açúcares liberados

por grama de biomassa por meio da hidrólise enzimática das amostras in natura e

que foram submetidas a tratamentos com ácido e base diluídos. Todos os

tratamentos levaram ao aumento na liberação de açúcares em relação à amostra in

natura, chegando a 6 vezes para as folhas e 3 vezes para os colmos. De modo

geral, as folhas liberaram uma maior quantidade de açúcares por grama de

biomassa do que os caules quando submetidas ao mesmo tratamento.

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

90

Figura 34. Quantidade de açúcares liberados por grama de substrato após a hidrólise

enzimática das amostras submetidas ao tratamento com ácido e base diluídos.

O efeito da etapa ácida na liberação de açúcares é mais pronunciado

para as folhas do que para os colmos, fato que já havia sido discutido por Santos e

colaboradores132. Devido ao efeito da etapa ácida na remoção de hemicelulose,

todas as amostras que foram submetidas a esse tratamento apresentaram menor

liberação de xilose e não apresentaram liberação de arabinose, que são os açúcares

que compõem este biopolímero.

No caso do coquetel enzimático utilizado no nosso trabalho (Cellic® CTec

2, Novozymes), a presença de hemicelulose no sólido não é um problema, já que ele

contém enzimas que atuam também na digestão dessa fração da biomassa, levando

à formação de açúcares fermentáveis. De fato, conforme mencionado anteriormente,

a otimização utilizando uma mistura dos coquetéis enzimáticos Celluclast e

Novozyme 188 já havia concluído que a etapa ácida não contribui para a liberação

de açúcares redutores19, o que foi novamente observado. Assim, no caso do

presente trabalho, a etapa ácida é estudada e proposta mais como uma forma de

promover um fracionamento seletivo da hemicelulose.

No entanto, xilose e arabinose, embora sejam fermentáveis, necessitam

de condições específicas para tanto. A fermentação diretamente utilizando a

levedura Saccharomyces cerevisiae não é possível, sendo necessário um processo

prévio de isomerização da xilose a xilulose para poder ser fermentado por esta

levedura154. Outros métodos envolvem a utilização de leveduras específicas para a

4

licose ilose Arabinosemg aç car / g biomassa

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

91

fermentação de pentoses, como é o caso do micro-organismo Pichia stipitis155. Além

desses métodos, também é possível realizar manipulações genéticas na levedura

Saccharomyces cerevisiae, que possibilitam a fermentação156.

A etapa alcalina teve um efeito mais expressivo na liberação de açúcares,

sendo que não houve diferença significativa entre amostras que foram submetidas a

tratamentos longos (100 min) e amostras submetidas a tratamentos curtos (20 min).

Essas conclusões são importantes para definir as condições de pré-

tratamento, pois, em uma biorrefinaria, deve-se avaliar as alternativas mais

economicamente vantajosas para a utilização dos componentes. Por exemplo, a não

utilização da etapa ácida restringe a utilização da hemicelulose para a produção de

açúcares fermentáveis, que não são tão facilmente fermentáveis, embora

representem a eliminação de uma etapa do processo (a etapa ácida). Deste modo,

caso a etapa ácida seja utilizada, a hemicelulose pode ser recuperada da fração

líquida e direcionada para a produção de materiais ou outros insumos químicos,

como o furfural75.

As amostras submetidas à extração com PLE utilizando água e etanol

como solvente, que apresentaram maior rendimento de extração e menor

quantidade de etapas no processo, foram também submetidas ao tratamento

alcalino. De modo geral, o comportamento frente à hidrólise enzimática foi

semelhante às amostras que foram submetidas apenas à etapa alcalina, indicando

que as extrações não atrapalham nos tratamentos seguintes. Os tempos mais curtos

de reação na etapa alcalina também foram mais eficientes, como para as outras

amostas. Portanto, tais métodos podem ser combinados caso deseje-se aproveitar a

fração dos extrativos e produzir etanol. Além disso, a lignina removida pelo

tratamento básico pode ser aproveitada.

A Figura 35 apresenta as correlações entre os teores dos componentes

presentes nos sólidos e os açúcares liberados na hidrólise enzimática. Nota-se uma

correlação positiva e alta entre os teores de celulose no sólido e glicose liberada

pela hidrólise (Figura 35a e b), indicando que o enriquecimento de celulose na

fração sólida está diretamente relacionada com a liberação de glicose; ou seja, os

tratamentos químicos possuem efeito no aumento da liberação de açúcares. O

mesmo ocorre quando considera-se o total de celulose e hemicelulose, relacionando

com a quantidade de glicose, xilose e arabinose liberadas (Figura 35c e e). Para a

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

92

lignina, há uma correlação negativa, indicando que com maiores teores de lignina há

uma menor liberação de glicose.

Figura 35. Correlações entre teores de um determinado componente no sólido e a

quantidade de glicose liberada pela hidrólise enzimática para folhas e colmos: celulose (a e

b); carboidratos (soma de celulose e hemicelulose) (c e d); lignina (e e f).

4

4

mg de glicose liberada / g de biomassa

mg de celulose / g de biomassa

4

4

mg de glicose liberada / g de biomassa

mg de celulose / g de biomassa

4

mg de aç cares liberados /

g de biomassa

mg de carboidratos / g de biomassa

4

mg de aç cares liberados /

g de biomassa

mg de carboidratos / g de biomassa

4

4

mg de glicose liberada / g de biomassa

mg de lignina / g de biomassa

4

4

mg de glicose liberada / g de biomassa

mg de lignina / g de biomassa

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

93

Os resultados de hidrólise enzimática obtidos no trabalho são

semelhantes, e até mesmo superiores, aos relatados na literatura para o capim

elefante tratado com NaOH 3%131 e hidrolisado com enzimas produzidas utilizando

capim elefante como substrato (carga de 10 FPU/g de substrato) que liberou 558,56

± 41,18 mg de açúcares redutores por grama de biomassa. Também são superiores

aos de amostras tratadas com explosão de vapor20, que liberaram um total de

863,42 ± 62,52 mg/g de açúcares redutores, utilizando as mesmas condições de

hidrólise.

4.6.4 Alterações morfológicas dos substratos após os tratamentos com ácidos e

bases diluídos

As imagens de SEM foram utilizadas para discutir os efeitos dos

tratamentos químicos na biomassa in natura, o que influencia na liberação de

açúcares pela hidrólise enzimática (Figura 36 para folhas e Figura 37 para os

colmos).

Conforme discutido sobre o efeito das extrações (item 4.6.1), o substrato

não tratado (Figura 36a e Figura 37a) apresenta uma camada densa,

majoritariamente composta por lignina e hemicelulose, que é sequencialmente

removida com os tratamentos químicos16,157. As alterações morfológicas possuem,

portanto, uma relação com a composição química: a etapa ácida, que remove

principalmente hemicelulose, leva a uma maior exposição das fibras de celulose

(Figura 36b e Figura 37b). No entanto, esse efeito é mais pronunciado nos

tratamentos alcalinos, devido à remoção da lignina (Figura 36c-h e Figura 37c-h).

Além disso, como a lignina atua como uma espécie de cola entre as fibras

de celulose, observa-se uma desfibrilação do substrato nos tratamentos sequenciais

ácido-base (Figura 36c-d e Figura 37c-d), observando-se o destacamento de fibras

micrométricas. Entretanto, esse efeito não é observado tão expressivamente nas

amostras que não foram tratadas previamente com ácido diluído. Efeitos de

tratamentos combinados em bagaço de cana-de-açúcar resultaram em efeitos

similares, deixando as fibras de celulose mais expostas e disponíveis para a ação

enzimática157. De fato, especialmente nas folhas, os tratamentos combinados

levaram a uma maior liberação de açúcares pela hidrólise enzimática (Figura 34).

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

94

Figura 36. Imagens de FESEM para as folhas: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base (20 min)

(c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente básico por 100

min (f); PLE e básico por 20 min (g); e PLE e básico por 100 min.

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

95

Figura 37. Imagens de FESEM para os colmos: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base (20 min)

(c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente básico por 100

min (f); PLE e básico por 20 min (g); e PLE e básico por 100 min.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

96

Além da análise da superfície dos substratos, análises de micro-CT foram

utilizados para avaliar a estrutura interna dos materiais (Figura 38, para as folhas e

Figura 39, para os colmos). Comparando as partes da planta sem tratamento, nota-

se que os colmos apresentam poros maiores do que as folhas. De modo geral, os

tratamentos químicos criam poros na estrutura da biomassa, devido à extração dos

componentes como hemicelulose e lignina. Esse fator, juntamente com a exposição

das fibras de celulose, é importante para aumentar a digestibilidade enzimática da

biomassa62,146. Nota-se para as folhas, que o material in natura apresenta uma

estrutura mais compacta (fechada), que vai se abrindo com os tratamentos químicos.

Para os colmos, nota-se que, devido aos vasos condutores da planta, não há uma

“abertura” da amostra, e sim a criação de mais portos nas regiões densas do

substrato in natura.

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

97

Figura 38. Imagens de micro-CT das folhas de capim elefante: In natura (a); Submetidas a

tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente a tratamento básico

(d).

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

98

Figura 39. Imagens de micro-CT dos colmos de capim elefante: In natura (a); Submetidas a

tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente a tratamento básico

(d).

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

99

4.6.5 Efeito da moagem em moinho de bolas

A Figura 40 apresenta a comparação entre a quantidade de açúcares

liberados antes e após a moagem em moinho de bolas. O tratamento físico utilizado

levou ao aumento na digestibilidade enzimática para quase todos os casos (exceto

para as amostras LAB100M e SB100M). A amostra SB20M teve o maior aumento

em relação à amostra sem moagem (cerca de 30%), no qual a liberação de

açúcares passou de 644,5 ± 20,8 mg/g de biomassa para 849,2 ± 37,8 mg/g de

biomassa. Para as folhas, o maior aumento se deu na amostra LB20M, com

aumento de cerca de 20%. Esses aumentos, embora sejam relativamente pequenos,

devem ser analisados do ponto de vista da eficiência dos pré-tratamentos na

digestibilidade enzimática: os tratamentos utilizados já conduzem a melhorias de

cerca de 600%, comparados às amostras in natura.

Figura 40. Quantidade de açúcares liberados por grama de substrato após a hidrólise

enzimática das amostras submetidas ao tratamento com ácido e base diluídos e após

moagem.

As imagens de SEM das amostras após a moagem (Figura 41) indicam a

redução do tamanho das partículas ocasionado pelo processo físico. Além disso,

não é possível identificar as fibras anteriormente presentes, indicando a maceração

por meio da moagem. As partículas obtidas formam aglomerados, como é possível

observar nas imagens com o aumento de 1000x, além de apresentarem a superfície

mais compactada, também devido ao efeito da moagem.

4

mg aç car / g biomassa

licose ilose Arabinose

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

100

Figura 41. Imagens de FESEM das amostras moídas em moinho de bolas: folhas

submetidas a tratamento sequencial ácido-base por 20 min (a e b); somente básico por 20

min (c e d); colmos submetidos a tratamento sequencial ácido-base por 20 min (e e f); e

somente básico por 20 min (g e h).

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

101

A literatura aponta que não há uma relação muito clara entre a redução

da cristalinidade e o aumento na liberação de açúcares redutores139. Logo, como o

processo de redução da cristalinidade é acompanhado pela redução do tamanho da

partícula, os aumentos ocasionados pela moagem podem também ter relação com a

maior área superficial. A utilização da moagem como alternativa para a melhoria da

liberação de açúcares deve ser estudada do ponto de vista econômico, em uma

avaliação que conclua se a adição de uma etapa ao processo, que leva a um maior

gasto de tempo e energia, é compensada pela liberação de açúcares. Caso a

moagem não seja excessivamente dispendiosa energeticamente, estudos podem

ser direcionados para a minimização de tempos e insumos químicos que sejam

compensadas pela ação do moinho de bolas e levem à uma conversão máxima de

carboidratos em açúcares fermentáveis.

Menegol e colaboradores103, ao estudarem o efeito de diferentes

tamanhos de partícula na hidrólise enzimática de capim elefante, notaram uma

relação entre o tamanho da partícula e a liberação de açúcares: partículas maiores

liberaram menos açúcares que partículas menores. Esse mesmo efeito pode ocorrer

no caso da moagem em moinho de bolas, uma vez que o material é pulverizado

nesse processo, dificultando a diferenciação entre o efeito do tamanho da partícula e

da redução da cristalinidade na liberação de açúcares.

4.6.6 Visão geral do efeito dos processos na digestibilidade enzimática

A Figura 42 apresenta o resumo de todas as amostras submetidas a

tratamentos químicos e moagem, quanto à digestibilidade enzimática. Nota-se que a

moagem aplicada diretamente à biomassa in natura leva a um aumento significativo

da quantidade de açúcar liberada, o que indica que esse tratamento físico é eficiente

na liberação de açúcares. Entretanto, como a moagem e a hidrólise são realizadas

sem o fracionamento dos componentes, é necessário estudar a influência desses

procedimentos nas propriedades dos subprodutos e se é possível recuperá-los.

Ademais, a moagem em moinho de bolas ainda não é um método industrial, e

devem ser realizados estudos quanto ao gasto energético desse processo.

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

102

Figura 42. Resumo da liberação de açúcares das amostras in natura e submetidas a

tratamentos químicos e físicos.

4.6.7 Conversão de celulose em glicose

A Figura 43 apresenta a conversão de celulose em glicose, juntamente

com a quantidade de glicose liberada pela hidrólise enzimática nos tratamentos

químicos. Nota-se que após os tratamentos químicos, a conversão de glicose passa

atinge valores próximos a 100%. A conversão é aumentada com a moagem em

moinho de bolas, quando comparam-se amostras sem moer e moídas. Além disso, a

utilização da moagem diretamente ao substrato in natura já foi eficiente na

conversão de cerca de 100% de celulose em glicose. Nota-se também que tempos

maiores na etapa básica nem sempre conduzem a maiores conversões de celulose

em glicose, o que são indícios para a redução dos tempos de tratamento.

4

mg aç car / g biomassa

licose ilose Arabinose

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

103

Figura 43. Relação entre a quantidade de glicose liberada pela hidrólise enzimática e o

percentual de conversão de celulose em glicose: a) folhas; e b) colmos.

4.6.8 Avaliação dos açúcares liberados considerando os rendimentos

A eficiência no tratamento pode ser notada quando se compara a

quantidade de glicose liberada nas amostras que foram submetidas ao tratamento

sequencial ácido-base às que não foram. Nota-se que a quantidade de glicose

liberada pelos pré-tratamentos sequenciais é superior às que não foram submetidas,

o que tem relação com a maior quantidade de celulose disponível nestes sólidos

(Tabela 8). A quantidade de xilose é superior nas amostras que não foram

submetidas ao tratamento ácido pelo mesmo motivo: a hemicelulose é mantida no

sólido e convertida em xilose e arabinose.

Outra observação quanto à relação entre os tratamentos realizados e a

digestibilidade enzimática foi que o aumento no tempo do tratamento alcalino não

conduz a liberações de açúcares muito superiores. A amostra LAB100 libera apenas

2,5% a mais de açúcares do que a amostra LAB20, por exemplo. Além disso, como

maiores tempos levam a menores rendimentos de sólido, também há uma menor

massa total de açúcares obtidos. A Figura 44 apresenta esses valores, considerando

os rendimentos. Nota-se que, devido à menor perda de massa dos colmos durante

os tratamentos, mesmo com menor liberação de açúcares, comparados às folhas, a

massa total de açúcares liberados é superior. Esse é um resultado importante e

inesperado, uma vez que os trabalhos relatados na literatura estão focados

especialmente nas folhas do capim elefante19,20,104. Portanto, a utilização dos colmos

4

5

7

4

5

7

4

5

7

4

5

7

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

104

pode representar um modo de viabilizar a utilização desta biomassa em larga

escala.

Figura 44. Massas de açúcares fermentáveis obtidos a partir de 1 tonelada de biomassa.

A partir desses dados, pode-se determinar os melhores cenários, visando

à produção de etanol celulósico e utilizando ácidos e bases diluídos. Para o

fracionamento da hemicelulose, buscando a aplicação em outras áreas, é

necessária a utilização da etapa ácida. Portanto, as amostras LAB20 e SAB20,

ambas utilizando 20 minutos de reação, são mais promissoras para essa finalidade,

uma vez que gastam 1/5 do tempo das amostras LAB100 e SAB100 e liberam

quantidades semelhantes de açúcares totais. Por ser utilizada após a remoção dos

demais componentes, a moagem apresenta uma possibilidade para a melhoria da

digestibilidade enzimática que deve ser estudada, uma vez que não prejudica o

fracionamento dos subprodutos.

No cenário em que a hemicelulose é hidrolisada e fermentada em etanol,

a amostra LB20 tem um rendimento superior à amostra LB100, sendo mais

promissora; para os colmos, há uma maior liberação de açúcares na amostra

SB100. No entanto, considerando o tempo de processamento, conforme já

mencionado, a amostra SB20 possui vantagem. É importante notar que essa

avalição é superficial e não estão sendo considerados os processos intermediários,

como a lavagem e o resfriamento, que ocorrem em maior frequência nos processos

que duram 20 minutos.

4

5

7

licose ilose Arabinose

Aç car liberado a partir de

ton de biomassa (kg)

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

105

Conforme já discutido anteriormente, a moagem diretamente à biomassa

in natura leva a um aumento significativo de conversão de celulose em glicose e,

como não há perda de massa na moagem, há uma liberação alta de açúcares,

quando compara-se às outras amostras. No entanto, embora pareça promissor para

a produção de etanol, esse processo não permite a recuperação dos componentes

de modo seletivo e estudos devem ser realizados sobre as características da lignina

residual da hidrólise enzimática.

Sendo assim, as condições utilizando 20 minutos na etapa básica tornam-

se mais promissoras em ambos os casos, o que é positivo, uma vez que utilizam

menores tempos para a reação. Portanto, as frações líquidas dessas condições

foram quantificadas, como será discutido na próxima seção.

4.7 Caracterização das frações líquidas

A Tabela 10 apresenta a quantidade de açúcares, lignina solúvel e

insolúvel presentes nas frações líquidas das amostras submetidas ao tratamento

ácido e alcalino (por 20 min), considerando 1 ton de material de partida. Essa

caracterização é importante para determinar a quantidade de cada produto que pode

ser recuperada das frações. Analisando tais resultados, o tratamento sequencial

ácido-base é mais eficiente para a recuperação de hemicelulose e lignina, tanto para

folhas como para colmos, em termos de quantidade que pode ser recuperada e de

possibilidade de fracionamento durante a extração. Além disso, conforme já

discutido, a etapa alcalina quando aplicada aos substratos residuais das extrações

utilizando PLE com água e etanol permitem recuperar tanto os extratos quanto

lignina, em quantidades similares ou superiores às amostras cujo tratamento alcalino

foi diretamente aplicado à biomassa in natura.

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

106

Tabela 10. Caracterização dos componentes presentes nas frações líquidas dos

tratamentos químicos.

Amostra

Massa quantificada partindo de 1 ton de biomassa (kg)

Glicose Xilose Arabinose Lignina

solúvel

Lignina

insolúvel

Folhas

LAC 37,8 ± 0,8 190,3 ± 4,6 43,6 ± 2,0 73,1 ± 0,2 29,6 ± 6,0

LAB20 2,1 ± 0,1 7,6 ± 0,1 3,6 ± 0,2 - 137,8 ± 50,0

LB20 31,1 ± 6,8 81,8 ± 1,9 18,0 ± 1,4 23,9 ± 5,6 85,2 ± 12,5

LWEB20 20,7 ± 0,3 97,9 ± 3,2 21,8 ± 0,6 18,8 ± 2,8 85,2 ± 15,5

Colmos

SAC 32,5 ± 1,4 187,5 ± 8,1 21,4 ± 0,6 13,4 ± 0,8 -

SAB20 11,4 ± 6,6 16,8 ± 0,1 7,7 ± 0,2 11,4 ± 0,9 85,2 ± 15,5

SB20 12,8 ± 0,1 56,1 ± 0,8 0,4 ± 0,1 16,0 ± 0,1 56,9 ± 1,5

SWEB20 13,2 ± 0,7 89,5 ± 0,3 11,3 ± 0,1 18,6 ± 0,1 94,7 ± 5,0

4.8 Fermentação

A Figura 45 apresenta o ensaio cinético realizado para a obtenção de

etanol obtido a partir da fermentação dos açúcares das condições que utilizavam 20

minutos na etapa básica, utilizando ou não etapa ácida previamente. Nota-se que a

concentração de etanol mantém-se praticamente constante após 12 horas de

processo para as folhas (Figura 45a), com uma concentração de etanol de 5,14 ±

0,57 g/L para a condição sequencial ácido-base e 3,14 ± 0,12 g/L para a condição

utilizando apenas o tratamento alcalino. Para os colmos, a fermentação atingiu a

concentração máxima após 6 horas para os colmos (Figura 45b), com a

concentração de 3,26 ± 0,22 g/L para os tratamentos sequenciais e 2,95 ± 0,10 g/L

para os que utilizaram somente base. Para as folhas, esses valores estão próximos

dos valores obtidos para a fermentação de capim elefante utilizando altas

concentrações de sólidos104 (6,1 g/L).

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

107

Figura 45. Ensaio cinético para a fermentação e obtenção de etanol: a) folhas; b) colmos.

A partir das condições obtidas no ensaio cinético, é possível estimar a

quantidade de etanol que pode ser obtida a partir de 1 ton de biomassa, como foi

realizado para as frações líquidas e açúcares, além do rendimento de etanol,

considerando a quantidade de glicose disponível para fermentação (Tabela 11).

Portanto, nesse caso, como foi utilizada a levedura Saccharomyces cerevisiae, as

pentoses não foram convertidas a etanol. Esses valores de rendimento podem ser

utilizados para estimar a quantidade de etanol que pode ser produzida, por exemplo,

nas amostras que foram submetidas ao tratamento sequencial PLE-alcalino

(LWEB20 e SWEB20).

Tabela 11. Quantidade de etanol produzida a partir de 1 tonelada de biomassa e rendimento

do processo.

Amostra

Massa quantificada partindo de 1 ton de

biomassa (kg)

Glicose Etanol Rendimento

(%)

Folhas

LAB20 225,3 ± 23,3 61,8 ± 9,1 48,4

LB20 310,5 ± 5,5 70,0 ± 2,6 39,7

Colmos

SAB20 242,5 ± 11,6 59,9 ± 4,9 43,6

SB20 307,8 ± 23,0 77,7 ± 5,5 44,5

4 5

4

Concentração de etanol (g/L)

empo de fermentação ( )

LA L

SA S

empo de fermentação ( )

4

4 5

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

108

4.9 Propostas de cenários

Tendo como base os resultados obtidos para a conversão dos

carboidratos em açúcares fermentáveis, da fermentação em etanol e da

caracterização dos demais componentes extraídos, além da avaliação de tempos de

reação e redução de etapas e reagentes, foi possível traçar diferentes cenários,

dependendo do tipo de produto que se deseja obter em uma refinaria. Para isso,

dividiu-se o processo em 3 possíveis cenários. Nesses cenários, não foi considerada

a possibilidade de somente moer a biomassa em moinho de bolas, embora isso

tenha levado a resultados surpreendentes de sacarificação. Isso porque a moagem

aplicada diretamente à biomassa, seguida da sacarificação, torna mais difícil a

recuperação dos demais compostos.

Nestes cenários, considera-se que toda a fração de extrativos é extraída

com o primeiro tratamento químico aplicado; portanto, o balanço não é realizado

para esses componentes. Além disso, como geralmente a recuperação da lignina é

realizada por precipitação em meio ácido73, apenas a lignina insolúvel foi

considerada como possível de recuperação.

4.9.1 Cenário 1: Produção de etanol e recuperação de lignina

A Figura 46 apresenta o esquema para o cenário em que se deseja

produzir etanol e recuperar lignina. Conforme discutido, devido à maior transferência

de massa para a fração líquida quando são aplicados tratamentos sequenciais, a

etapa alcalina aplicada diretamente à biomassa in natura é a melhor opção quando

se deseja obter açúcares fermentáveis. Além disso, grande parte da hemicelulose

permanece no substrato, que pode ser convertida a etanol utilizando os processos

específicos para fermentação de pentoses.

No licor da etapa alcalina, encontra-se uma grande quantidade de lignina

(85 kg para as folhas e 60 kg para os colmos), que pode ser recuperada por

precipitação em meio ácido73. No entanto, devido à presença de hemicelulose, pode

ser necessário uma etapa de purificação da lignina precipitada.

Foram consideradas condições com e sem moagem em moinho de bolas,

uma vez que a literatura ainda não apresenta análises aprofundadas sobre a energia

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

109

gasta por esse tipo de tratamento em escala industrial. Caso esse seja um processo

que demande muita energia, no contexto deste trabalho, essa etapa pode ser

eliminada, pois encareceria o custo do processo.

Figura 46. Esquema do Cenário 1 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas (acima)

e colmos (abaixo): obtenção de etanol e recuperação de lignina.

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

110

4.9.2 Cenário 2: Produção de etanol, recuperação de hemicelulose e lignina

O segundo cenário proposto (Figura 47) foi um cenário em que se deseja

fracionar a hemicelulose na fração líquida ácida e obter lignina mais purificada na

fração líquida alcalina. Conforme discutido, a partir da fração ácida é possível

recuperar cerca de 190 kg de xilose, o principal constituinte da hemicelulose, a partir

de 1 ton. de biomassa. Como os extrativos também são removidos na etapa ácida,

após a extração destes componentes para uma fração orgânica, por exemplo, é

possível obter xilose mais purificada158.

A quantidade de lignina que pode ser obtida na fração líquida da etapa

alcalina (135 kg para as folhas e 85 kg para os colmos) é superior do que no Cenário

1, indicando que o Cenário 2 também é mais interessante quando se deseja

recuperar este componente. Embora o rendimento de etanol seja menor nesse

processo (cerca de 10% menor para as folhas e 25% para os colmos), uma

avaliação integrada da possibilidade de utilizar hemicelulose e lignina para outras

aplicações com maior valor agregado é importante para viabilizar a biorrefinaria.

Além disso, os extrativos da biomassa foram extraídos na etapa ácida e podem ser

recuperados por meio de uma extração líquido-líquido, por exemplo, e podem ser

utilizados. Apesar dessa abordagem também ser possível no Cenário 1, como

lignina, hemicelulose e extrativos estão misturados na mesma fração líquida, o

processo de separação é mais difícil, com mais etapas e, consequentemente, mais

caro.

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

111

Figura 47. Esquema do Cenário 2 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas (acima)

e colmos (abaixo): obtenção de etanol, recuperação de hemicelulose e lignina.

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

112

4.9.3 Cenário 3: Produção de etanol, recuperação de extrativos e lignina

O último cenário proposto (Cenário 3) está apresentado na Figura 48.

Neste cenário, escolheu-se a extração com PLE utilizando água e etanol para a

recuperação dos extrativos, especialmente álcoois e fenólicos (21 kg para as folhas

e 25 kg para os colmos). Embora esses teores sejam inferiores aos teores de

hemicelulose e lignina que podem ser recuperados, esses produtos são utilizados

geralmente para aplicações com maior valor agregado, conforme já discutido. Do

mesmo modo que para o Cenário 1, a etapa alcalina permite, portanto, a

recuperação de lignina da fração líquida.

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

113

Figura 48. Esquema do Cenário 3 para a biorrefinaria de capim elefante para folhas (acima)

e colmos (abaixo): obtenção de etanol, recuperação de hemicelulose e lignina.

Page 114: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

114

5. Conclusões

A partir do estudo de métodos químicos e físicos para a melhoria da

digestibilidade enzimática e para a recuperação dos subprodutos do processo de

produção de etanol celulósico, foi possível propor condições mais eficientes que

permitem o aproveitamento integral do capim elefante de modo integrado. Os

diferentes tipos de extração utilizados para a recuperação de moléculas orgânicas

de alto valor agregado, além de serem métodos verdes, permitiram a caracterização

de compostos que podem ser empregados nas indústrias alimentícia, farmacêutica e

cosmética, de modo sustentável. Por meio dessa abordagem, além de viabilizar uma

biorrefinaria, é um caminho para alterar o paradigma atual de obtenção desses

produtos de fontes não renováveis.

A etapa ácida demonstrou ser fundamental para o fracionamento da

hemicelulose, além de possibilitar uma maior recuperação de lignina. Por outro lado,

o tratamento alcalino aplicado diretamente à biomassa in natura leva a valores

superiores de produção de etanol. No entanto, os produtos que podem ser obtidos

por meio da conversão da hemicelulose e lignina em materiais, outros combustíveis,

além do etanol, e demais insumos químicos, podem agregar mais valor à

biorrefinaria.

A moagem em moinho de bolas levou ao aumento da liberação de

açúcares nas condições testadas, unindo o efeito de redução da cristalinidade com a

redução do tamanho da partícula. Surpreendentemente, a ação do moinho

diretamente à biomassa in natura levou a uma conversão de celulose em glicose em

cerca de 100%, o que pode ser um caminho para a obtenção de etanol celulósico

apenas com esse tratamento mecânico. No entanto, em escala industrial, esse não é

um processo amplamente estudado, sendo necessários estudos quanto a gasto

energético e escalonamento dos moinhos para a aplicação em biorrefinarias. Além

disso, é necessário avaliar as alterações causadas pela moagem e pela hidrólise

enzimática na recuperação dos demais componentes, para que sejam utilizados de

modo integrado.

Os efeitos observados na liberação de açúcares e na recuperação dos

demais componentes possuem uma forte relação com a composição química e a

estrutura dos substratos utilizados. A combinação das análises química e

Page 115: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

115

morfológica possibilitou a explicação dos efeitos dos tratamentos químicos e físicos

na remoção dos componentes, relacionados com remoção de hemicelulose e

lignina, e a consequente exposição das fibras de celulose, maior área superficial

para a ação enzimática e maior porosidade.

Além disso, embora a aplicação deste trabalho tenha sido utilizar a

celulose para a conversão em etanol, os tratamentos utilizados permitem que os

substratos tratados sejam utilizados para a produção de nanomateriais, derivados

celulósicos, além da conversão da celulose em insumos químicos, como é o caso do

hidroximetilfurfural (HMF).

Os resultados obtidos nesta dissertação são, portanto, motivadores, uma

vez que poucos trabalhos da literatura utilizam essa abordagem integrada. Além

disso, apresenta o capim elefante como uma possibilidade como substrato para

biorrefinarias, o que diversifica as possíveis fontes, além do fato das vantagens do

capim elefante quanto a produtividade e facilidade de crescimento.

Como sugestões para trabalhos futuros, pode ser desenvolvida uma

análise tecno-econômica para avaliar a viabilidade dos cenários e utilizar esses

cenários como base para recuperar os subprodutos e destiná-los para as outras

aplicações.

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

116

6. Referências bibliográficas

1. Ragauskas, A. J. et al. The path forward for biofuels and biomaterials. Science

311, 484–489 (2006).

2. de Souza, A. P., Grandis, A., Leite, D. C. C. & Buckeridge, M. S. Sugarcane as

a Bioenergy Source: History, Performance, and Perspectives for Second-

Generation Bioethanol. Bioenergy Research 7, 24–35 (2014).

3. Alonso, D. M. et al. Increasing the revenue from lignocellulosic biomass:

Maximizing feedstock utilization. Science Advances 3, (2017).

4. Jackson, C. & Wang, X. Steering committee. 2010 IEEE Radio and Wireless

Symposium, RWW 2010 - Paper Digest 80 (2010).

5. Volynets, B., Ein-Mozaffari, F. & Dahman, Y. Biomass processing into ethanol:

Pretreatment, enzymatic hydrolysis, fermentation, rheology, and mixing. Green

Processing and Synthesis 6, 1–22 (2017).

6. Heldt, H.-W. & Piechulla, B. Plant Biochemistry Translation of the 4th German

edition. (Elsevier, 2011).

7. Huber, G. W., Iborra, S. & Corma, A. Synthesis of transportation fuels from

biomass: Chemistry, catalysts, and engineering. Chemical Reviews 106, 4044–

4098 (2006).

8. De France, K. J., Hoare, T. & Cranston, E. D. Review of Hydrogels and Aerogels

Containing Nanocellulose. Chemistry of Materials 29, 4609–4631 (2017).

9. Nascimento, D. M. et al. A novel green approach for the preparation of cellulose

nanowhiskers from white coir. Carbohydrate Polymers 110, 456–463 (2014).

10. Cerqueira, D. A., Filho, G. R. & Meireles, C. da S. Optimization of sugarcane

bagasse cellulose acetylation. Carbohydrate Polymers 69, 579–582 (2007).

11. Isogai, A. & Atalla, R. H. Dissolution of cellulose in aqueous NaOH solutions.

Cellulose 5, 309–319 (1998).

12. Isik, M., Sardon, H. & Mecerreyes, D. Ionic liquids and cellulose: Dissolution,

chemical modification and preparation of new cellulosic materials. International

Journal of Molecular Sciences 15, 11922–11940 (2014).

13. Klemm, D., Heublein, B., Fink, H. P. & Bohn, A. Cellulose: Fascinating

biopolymer and sustainable raw material. Angewandte Chemie - International

Edition 44, 3358–3393 (2005).

14. Sims, R. E. H., Taylor, M., Saddler, J. N. & Mabee, W. From 1st to 2nd

generation biofuel technologies: An overview of current industry and RD&D

activities. IEA Bioenergy 1–124 (2008).

15. Bon, E. P. S. & Ferrara, M. A. Bioethanol Production via Enzymatic Hydrolysis of

Cellulosic Biomass. Biotechnology 1–11 (2007).

Page 117: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

117

16. Rezende, C. A. et al. Chemical and morphological characterization of sugarcane

bagasse submitted to a delignification process for enhanced enzymatic

digestibility. Biotechnology for Biofuels 4, 54 (2011).

17. Kumar, P., Barrett, D. M., Delwiche, M. J. & Stroeve, P. Methods for

pretreatment of lignocellulosic biomass for efficient hydrolysis and biofuel

production. Industrial and Engineering Chemistry Research 48, 3713–3729

(2009).

18. Chen, M., Zhao, J. & Xia, L. Comparison of four different chemical pretreatments

of corn stover for enhancing enzymatic digestibility. Biomass and Bioenergy 33,

1381–1385 (2009).

19. Rezende, C. A. et al. Optimization of biomass pretreatments using fractional

factorial experimental design. Biotechnology for Biofuels 11, (2018).

20. Scholl, A. L. et al. Ethanol production from sugars obtained during enzymatic

hydrolysis of elephant grass (Pennisetum purpureum, Schum.) pretreated by

steam explosion. Bioresource Technology 192, 228–237 (2015).

21. Nascimento, S. A. & Rezende, C. A. Combined approaches to obtain cellulose

nanocrystals, nanofibrils and fermentable sugars from elephant grass.

Carbohydrate Polymers 180, 38–45 (2018).

22. Beltramino, F., Blanca Roncero, M., Vidal, T. & Valls, C. A novel enzymatic

approach to nanocrystalline cellulose preparation. Carbohydrate Polymers 189,

39–47 (2018).

23. Pinto, L. O., Bernardes, J. S. & Rezende, C. A. Low-energy preparation of

cellulose nanofibers from sugarcane bagasse by modulating the surface charge

density. Carbohydrate Polymers 218, 145–153 (2019).

24. Pääkko, M. et al. Enzymatic hydrolysis combined with mechanical shearing and

high-pressure homogenization for nanoscale cellulose fibrils and strong gels.

Biomacromolecules 8, 1934–1941 (2007).

25. Nascimento, D. M. et al. Nanocellulose nanocomposite hydrogels: Technological

and environmental issues. Green Chemistry 20, 2428–2448 (2018).

26. Kargarzadeh, H. et al. Recent developments on nanocellulose reinforced

polymer nanocomposites: A review. Polymer 132, 368–393 (2017).

27. Phanthong, P. et al. Nanocellulose: Extraction and application. Carbon

Resources Conversion 1, 32–43 (2018).

28. Martins, G. M. et al. The isolation of pentose-assimilating yeasts and their xylose

fermentation potential. Brazilian Journal of Microbiology 49, 162–168 (2018).

29. Gürbüz, E. I. et al. Conversion of hemicellulose into furfural using solid acid

catalysts in γ-valerolactone. Angewandte Chemie - International Edition 52,

1270–1274 (2013).

30. Cozier, M. Business highlights: Collaboration: Bigger and beta. Biofuels,

Bioproducts and Biorefining 8, 743 (2014).

Page 118: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

118

31. Rinaldi, R. et al. Paving the Way for Lignin Valorisation: Recent Advances in

Bioengineering, Biorefining and Catalysis. Angewandte Chemie - International

Edition 55, 8164–8215 (2016).

32. Evans, R. J., Milne, T. A. & Soltys, M. N. Direct mass-spectrometric studies of

the pyrolysis of carbonaceous fuels. III. Primary pyrolysis of lignin. Journal of

Analytical and Applied Pyrolysis 9, 207–236 (1986).

33. Sannigrahi, P. & Ragauskas, A. J. Characterization of Fermentation Residues

from the Production of Bio-Ethanol from Lignocellulosic Feedstocks. Journal of

Biobased Materials and Bioenergy 5, 514–519 (2012).

34. Ragauskas, A. J. et al. Lignin valorization: Improving lignin processing in the

biorefinery. Science 344, (2014).

35. Norberg, I., Nordström, Y., Drougge, R., Gellerstedt, G. & Sjöholm, E. A new

method for stabilizing softwood kraft lignin fibers for carbon fiber production.

Journal of Applied Polymer Science 128, 3824–3830 (2013).

36. Chen, Y. et al. Highly mechanical properties nanocomposite hydrogels with

biorenewable lignin nanoparticles. International Journal of Biological

Macromolecules 128, 414–420 (2019).

37. Wang, B., Sun, D., Wang, H. M., Yuan, T. Q. & Sun, R. C. Green and Facile

Preparation of Regular Lignin Nanoparticles with High Yield and Their Natural

Broad-Spectrum Sunscreens. ACS Sustainable Chemistry and Engineering 7,

2658–2666 (2019).

38. Attard, T. M. et al. Sugarcane waste as a valuable source of lipophilic molecules.

Industrial Crops and Products 76, 95–103 (2015).

39. Altemimi, A., Lakhssassi, N., Baharlouei, A., Watson, D. & Lightfoot, D.

Phytochemicals: Extraction, Isolation, and Identification of Bioactive Compounds

from Plant Extracts. Plants 6, 42 (2017).

40. González-Minero, F. & Bravo-Díaz, L. The Use of Plants in Skin-Care Products,

Cosmetics and Fragrances: Past and Present. Cosmetics 5, 50 (2018).

41. Al Bulushi, K., Attard, T. M., North, M. & Hunt, A. J. Optimisation and economic

evaluation of the supercritical carbon dioxide extraction of waxes from waste

date palm (Phoenix dactylifera) leaves. Journal of Cleaner Production 186, 988–

996 (2018).

42. Lima, M. A. et al. Evaluating the composition and processing potential of novel

sources of Brazilian biomass for sustainable biorenewables production.

Biotechnology for Biofuels 7, 10 (2014).

43. Cozier, M. Business highlights: Collaboration: Bigger and beta. Biofuels,

Bioproducts and Biorefining 8, 743 (2014).

44. Vassilev, S. V., Baxter, D., Andersen, L. K. & Vassileva, C. G. An overview of

the chemical composition of biomass. Fuel 89, 913–933 (2010).

Page 119: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

119

45. Jenkins, B. M., Baxter, L. L., Miles, T. R. & Miles, T. R. Combustion properties of

biomass. Fuel Processing Technology 54, 17–46 (1998).

46. Baxter, L. L. et al. The behavior of inorganic material in biomass-fired power

boilers: Field and laboratory experiences. Fuel Processing Technology 54, 47–

78 (1998).

47. Haultain, A. The American Association for the Advancement of Science. Nature

40, 556–560 (1889).

48. Wang, M., Han, J., Dunn, J. B., Cai, H. & Elgowainy, A. Well-to-wheels energy

use and greenhouse gas emissions of ethanol from corn, sugarcane and

cellulosic biomass for US use. Efficiency and Sustainability in Biofuel

Production: Environmental and Land-Use Research 249–280 (2015).

49. Conab. Follow-up of the Brazilian harvest: Sugarcane. Acompanhamento da

Safra Brasileira - Cana-de-açúcar 70 (2018).

50. da Silva, F. L. et al. Valorization of an agroextractive residue—Carnauba

straw—for the production of bioethanol by simultaneous saccharification and

fermentation (SSF). Renewable Energy 127, 661–669 (2018).

51. Hendriks, A. T. W. M. & Zeeman, G. Pretreatments to enhance the digestibility

of lignocellulosic biomass. Bioresource Technology 100, 10–18 (2009).

52. Agbor, V. B., Cicek, N., Sparling, R., Berlin, A. & Levin, D. B. Biomass

pretreatment: Fundamentals toward application. Biotechnology Advances 29,

675–685 (2011).

53. Kim, J. S., Lee, Y. Y. & Kim, T. H. A review on alkaline pretreatment technology

for bioconversion of lignocellulosic biomass. Bioresource Technology 199, 42–

48 (2016).

54. Rosegrant, M. W., Zhu, T., Msangi, S. & Sulser, T. Global scenarios for biofuels:

Impacts and implications. Review of Agricultural Economics 30, 495–505 (2008).

55. Himmel, M. E. et al. Biomass recalcitrance: Engineering plants and enzymes for

biofuels production. Science 315, 804–807 (2007).

56. Palonen, H., Tjerneld, F., Zacchi, G. & Tenkanen, M. Adsorption of Trichoderma

reesei CBH I and EG II and their catalytic domains on steam pretreated

softwood and isolated lignin. Journal of Biotechnology 107, 65–72 (2004).

57. Taherzadeh, M. J. & Karimi, K. Pretreatment of lignocellulosic wastes to improve

ethanol and biogas production: A review. International Journal of Molecular

Sciences 9, (2008).

58. Basso, V. et al. Different elephant grass (Pennisetum purpureum) accessions as

substrates for enzyme production for the hydrolysis of lignocellulosic materials.

Biomass and Bioenergy 71, 155–161 (2014).

59. Camassola, M. & Dillon, A. J. P. Biological pretreatment of sugar cane bagasse

for the production of cellulases and xylanases by Penicillium echinulatum.

Industrial Crops and Products 29, 642–647 (2009).

Page 120: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

120

60. Koppram, R., Albers, E. & Olsson, L. Evolutionary engineering strategies to

enhance tolerance of xylose utilizing recombinant yeast to inhibitors derived

from spruce biomass. Biotechnology for Biofuels 5, 1–12 (2012).

61. Schubert, W. J. Biological degradation of cellulose. Archives of Biochemistry and

Biophysics 99, 202 (2004).

62. Sun, Y. & Cheng, J. Hydrolysis of lignocellulosic materials for ethanol

production: A review. Bioresource Technology 83, 1–11 (2002).

63. Duff, S. J. B. & Murray, W. D. Bioconversion of forest products industry waste

cellulosics to fuel ethanol: A review. Bioresource Technology 55, 1–33 (1996).

64. Cozier, M. Business highlights: Collaboration: Bigger and beta. Biofuels,

Bioproducts and Biorefining 8, 743 (2014).

65. Lin, Y. & Tanaka, S. Ethanol fermentation from biomass resources: Current state

and prospects. Applied Microbiology and Biotechnology 69, 627–642 (2006).

66. Naik, S. N., Goud, V. V., Rout, P. K. & Dalai, A. K. Production of first and second

generation biofuels: A comprehensive review. Renewable and Sustainable

Energy Reviews 14, 578–597 (2010).

67. Menon, V. & Rao, M. Trends in bioconversion of lignocellulose: Biofuels,

platform chemicals & biorefinery concept. Progress in Energy and Combustion

Science 38, 522–550 (2012).

68. Wang, Y., Sun, S., Li, F., Cao, X. & Sun, R. Production of vanillin from lignin:

The relationship between β-O-4 linkages and vanillin yield. Industrial Crops and

Products 116, 116–121 (2018).

69. Mussatto, S. I., Fernandes, M. & Roberto, I. C. Lignin recovery from brewer’s

spent grain black liquor. Carbohydrate Polymers 70, 218–223 (2007).

70. Ragauskas, A. J. et al. Lignin valorization: Improving lignin processing in the

biorefinery. Science 344, 1246843–1246843 (2014).

71. Rana, R., Nanda, S., Meda, V. & Dalai, A. K. A Review of Lignin Chemistry and

its Biorefining Conversion Technologies. Journal of Biochemical Engineering &

Bioprocess Technology 1, 1–14 (2018).

72. Lora, J. H. & Glasser, W. G. Recent industrial applications of lignin: A

sustainable alternative to nonrenewable materials. Journal of Polymers and the

Environment 10, 39–48 (2002).

73. Kim, D. et al. Extraction and characterization of lignin from black liquor and

preparation of biomass-based activated carbon therefrom. Carbon Letters 22,

81–88 (2017).

74. Cheng, H., Zhan, H., Fu, S. & Lucia, L. A. Alkali extraction of stover.

BioResources 11, 196–206 (2010).

Page 121: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

121

75. Spiridon, I. & Popa, V. I. Hemicelluloses: Major Sources, Properties and

Applications. in Monomers, Polymers and Composites from Renewable

Resources (eds. Belgacem, M. N. & Gandini, A.) (Elsevier, 2008).

76. Farhat, W. et al. Hemicellulose extraction and characterization for applications in

paper coatings and adhesives. Industrial Crops and Products 107, 370–377

(2017).

77. Rabelo, S. C., Carrere, H., Maciel Filho, R. & Costa, A. C. Production of

bioethanol, methane and heat from sugarcane bagasse in a biorefinery concept.

Bioresource Technology 102, 7887–7895 (2011).

78. Albarelli, J. Q. et al. Valorization of sugarcane biorefinery residues using

supercritical water gasification: A case study and perspectives. Journal of

Supercritical Fluids 96, 133–143 (2015).

79. Dias, M. O. S. et al. Biorefineries for the production of first and second

generation ethanol and electricity from sugarcane. Applied Energy 109, 72–78

(2013).

80. Özüdoğru, H. . ., ieder-Heitmann, M., Haigh, K. F. & Görgens, J. F.

Techno-economic analysis of product biorefineries utilizing sugarcane

lignocelluloses: Xylitol, citric acid and glutamic acid scenarios annexed to sugar

mills with electricity co-production. Industrial Crops and Products 133, 259–268

(2019).

81. Silva, G. G. D., Couturier, M., Berrin, J. G., Buléon, A. & Rouau, X. Effects of

grinding processes on enzymatic degradation of wheat straw. Bioresource

Technology 103, 192–200 (2012).

82. YOSHIDA, M. et al. Effects of Cellulose Crystallinity, Hemicellulose, and Lignin

on the Enzymatic Hydrolysis of Miscanthus sinensis to Monosaccharides .

Bioscience, Biotechnology, and Biochemistry 72, 805–810 (2008).

83. Cozier, M. Business highlights: Collaboration: Bigger and beta. Biofuels,

Bioproducts and Biorefining 8, 743 (2014).

84. Kurakake, M., Ide, N. & Komaki, T. Biological pretreatment with two bacterial

strains for enzymatic hydrolysis of office paper. Current Microbiology 54, 424–

428 (2007).

85. Scholl, A. L. et al. Elephant grass (Pennisetum purpureum Schum.) pretreated

via steam explosion as a carbon source for cellulases and xylanases in

submerged cultivation. Industrial Crops and Products 70, 280–291 (2015).

86. Mesa, L. et al. The effect of organosolv pretreatment variables on enzymatic

hydrolysis of sugarcane bagasse. Chemical Engineering Journal 168, 1157–

1162 (2011).

87. Stark, A. Ionic liquids in the biorefinery: A critical assessment of their potential.

Energy and Environmental Science 4, 19–32 (2011).

Page 122: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

122

88. Chemat, F., Vian, M. A. & Cravotto, G. Green extraction of natural products:

Concept and principles. International Journal of Molecular Sciences 13, 8615–

8627 (2012).

89. Mark, M. & Val, K. Supercritical Fluid Extraction: Principle and Practise.

(Butterworth-Heinemann, 1994).

90. Muñoz-Almagro, N., Valadez-Carmona, L., Mendiola, J. A., Ibáñez, E. &

Villamiel, M. Structural characterisation of pectin obtained from cacao pod husk.

Comparison of conventional and subcritical water extraction. Carbohydrate

Polymers 217, 69–78 (2019).

91. Soares, J. F. et al. Extraction of rice bran oil using supercritical CO 2 combined

with ultrasound. Brazilian Journal of Chemical Engineering 35, 785–794 (2018).

92. Azmir, J. et al. Techniques for extraction of bioactive compounds from plant

materials: A review. Journal of Food Engineering 117, 426–436 (2013).

93. Nieto, A., Borrull, F., Pocurull, E. & Marcé, R. M. Pressurized liquid extraction: A

useful technique to extract pharmaceuticals and personal-care products from

sewage sludge. TrAC - Trends in Analytical Chemistry 29, 752–764 (2010).

94. Teixeira, A. et al. Natural bioactive compounds from winery by-products as

health promoters: A review. International Journal of Molecular Sciences 15,

15638–15678 (2014).

95. Rostagno, M. A., Palma, M. & Barroso, C. G. Pressurized liquid extraction of

isoflavones from soybeans. Analytica Chimica Acta 522, 169–177 (2004).

96. Jackson, M. G. Review article: The alkali treatment of straws. Animal Feed

Science and Technology 2, 105–130 (1977).

97. Buaban, B. et al. Bioethanol production from ball milled bagasse using an on-

site produced fungal enzyme cocktail and xylose-fermenting Pichia stipitis.

Journal of Bioscience and Bioengineering 110, 18–25 (2010).

98. Da Silva, A. S. A., Inoue, H., Endo, T., Yano, S. & Bon, E. P. S. Milling

pretreatment of sugarcane bagasse and straw for enzymatic hydrolysis and

ethanol fermentation. Bioresource Technology 101, 7402–7409 (2010).

99. McKendry, P. Energy production from biomass (part 1): overview of biomass.

Bioresource Technology 83, 37–46 (2002).

100. Davis, S. C., Anderson-Teixeira, K. J. & DeLucia, E. H. Life-cycle analysis and

the ecology of biofuels. Trends in Plant Science 14, 140–146 (2009).

101. Xie, X. M., Zhang, X. Q., Dong, Z. X. & Guo, H. R. Dynamic changes of lignin

contents of MT-1 elephant grass and its closely related cultivars. Biomass and

Bioenergy 35, 1732–1738 (2011).

102. Li, H. Q., Li, C. L., Sang, T. & Xu, J. Pretreatment on Miscanthus lutarioriparious

by liquid hot water for efficient ethanol production. Biotechnology for Biofuels 6,

1–10 (2013).

Page 123: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

123

103. Menegol, D., Scholl, A. L., Fontana, R. C., Dillon, A. J. P. & Camassola, M.

Increased release of fermentable sugars from elephant grass by enzymatic

hydrolysis in the presence of surfactants. Energy Conversion and Management

88, 1252–1256 (2014).

104. Menegol, D., Fontana, R. C., Dillon, A. J. P. & Camassola, M. Second-

generation ethanol production from elephant grass at high total solids.

Bioresource Technology 211, 280–290 (2016).

105. Lima, M. A. et al. Effects of pretreatment on morphology, chemical composition

and enzymatic digestibility of eucalyptus bark: A potentially valuable source of

fermentable sugars for biofuel production - Part 1. Biotechnology for Biofuels 6,

75 (2013).

106. Szczerbowski, D., Pitarelo, A. P., Zandoná Filho, A. & Ramos, L. P. Sugarcane

biomass for biorefineries: Comparative composition of carbohydrate and non-

carbohydrate components of bagasse and straw. Carbohydrate Polymers 114,

95–101 (2014).

107. Delzeit, R. & Holm-Müller, K. Steps to discern sustainability criteria for a

certification scheme of bioethanol in Brazil: Approach and difficulties. Energy 34,

662–668 (2009).

108. Dias, E. C. B., Cândido, M. J. D., Furtado, R. N., Pompeu, R. C. F. F. & Silva, L.

V. da. Nutritive value of elephant grass silage added with cottonseed cake in diet

for sheep. Revista Ciência Agronômica 50, 321–328 (2018).

109. Lima, P. R. et al. Dietary supplementation with tannin and soybean oil on intake,

digestibility, feeding behavior, ruminal protozoa and methane emission in sheep.

Animal Feed Science and Technology 249, 10–17 (2019).

110. Santiago, B. M. et al. Effect of different roughages sources on performance, milk

composition, fatty acid profile, and milk cholesterol content of feedlot feed

crossbred cows (Holstein × Zebu). Tropical Animal Health and Production 51,

599–604 (2019).

111. Huang, C. et al. Anaerobic digestion of elephant grass hydrolysate: Biogas

production, substrate metabolism and outlet effluent treatment. Bioresource

Technology 283, 191–197 (2019).

112. Haryanto, A., Hasanudin, U., Afrian, C. & Zulkarnaen, I. Biogas production from

anaerobic codigestion of cowdung and elephant grass (Pennisetum Purpureum)

using batch digester. IOP Conference Series: Earth and Environmental Science

141, (2018).

113. Strezov, V., Evans, T. J. & Hayman, C. Thermal conversion of elephant grass

(Pennisetum Purpureum Schum) to bio-gas, bio-oil and charcoal. Bioresource

Technology 99, 8394–8399 (2008).

Page 124: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

124

114. Montipó, S. et al. Integrated production of second generation ethanol and lactic

acid from steam-exploded elephant grass. Bioresource Technology 249, 1017–

1024 (2018).

115. Baruch, D., Mallick, D., Kalita, P. & Moholkar, V. S. A Detailed Study of Pyrolysis

Kinetics of Elephant Grass Using Thermogravimetric Analysis. 2nd International

Conference on Energy, Power and Environment: Towards Smart Technology,

ICEPE 2018 (2019).

116. Rocha, E. P. A. et al. Kinetics of pyrolysis of some biomasses widely available in

Brazil. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry 130, 1445–1454 (2017).

117. Collazzo, G. C. et al. A detailed non-isothermal kinetic study of elephant grass

pyrolysis from different models. Applied Thermal Engineering 110, 1200–1211

(2017).

118. De Conto, D., Silvestre, W. P., Baldasso, C. & Godinho, M. Performance of

rotary kiln reactor for the elephant grass pyrolysis. Bioresource Technology 218,

153–160 (2016).

119. Braga, R. M. et al. Pyrolysis kinetics of elephant grass pretreated biomasses.

Journal of Thermal Analysis and Calorimetry 117, 1341–1348 (2014).

120. Fontes, M. do S. B., Melo, D. M. de A., Barros, J. M. de F., Braga, R. M. &

Rodrigues, G. Kinetic study of the catalytic pyrolysis of elephant grass using Ti-

MCM-41. Materials Research 17, 216–221 (2014).

121. Ferreira, S. D. et al. Steam gasification of biochar derived from elephant grass

pyrolysis in a screw reactor. Energy Conversion and Management 153, 163–174

(2017).

122. Akpotu, S. O. & Moodley, B. Effect of synthesis conditions on the morphology of

mesoporous silica from elephant grass and its application in the adsorption of

cationic and anionic dyes. Journal of Environmental Chemical Engineering 6,

5341–5350 (2018).

123. Akpotu, S. O. & Moodley, B. Encapsulation of Silica Nanotubes from Elephant

Grass with Graphene Oxide/Reduced Graphene Oxide and Its Application in

Remediation of Sulfamethoxazole from Aqueous Media. ACS Sustainable

Chemistry and Engineering 6, 4539–4548 (2018).

124. Bakar, N. A., Sultan, M. T. H., Azni, M. E., Hazwan, M. H. & Ariffin, A. H.

Extraction and surface characterization of novel bast fibers extracted from the

Pennisetum Purpureum plant for composite application. Materials Today:

Proceedings 5, 21926–21935 (2018).

125. Rao, K. M. M., Prasad, A. V. R., Babu, M. N. V. R., Rao, K. M. & Gupta, A. V. S.

S. K. S. Tensile properties of elephant grass fiber reinforced polyester

composites. Journal of Materials Science 42, 3266–3272 (2007).

Page 125: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

125

126. Gunti, R., Ratna Prasad, A. V. & Gupta, A. V. S. S. K. S. Mechanical and

degradation properties of natural fiber-reinforced PLA composites: Jute, sisal,

and elephant grass. Polymer Composites 39, 1125–1136 (2018).

127. Toscan, A. et al. Effective Extraction of Lignin from Elephant Grass Using

Imidazole and Its Effect on Enzymatic Saccharification to Produce Fermentable

Sugars. Industrial and Engineering Chemistry Research 56, 5138–5145 (2017).

128. Menegol, D., Scholl, A. L., Dillon, A. J. P. & Camassola, M. Use of elephant

grass (Pennisetum purpureum) as substrate for cellulase and xylanase

production in solid-state cultivation by Penicillium echinulatum. Brazilian Journal

of Chemical Engineering 34, 691–700 (2017).

129. Menegol, D., Scholl, A. L., Dillon, A. J. P. & Camassola, M. Influence of different

chemical pretreatments of elephant grass (Pennisetum purpureum, Schum.)

used as a substrate for cellulase and xylanase production in submerged

cultivation. Bioprocess and Biosystems Engineering 39, 1455–1464 (2016).

130. Scholl, A. L. et al. Elephant grass pretreated by steam explosion for inducing

secretion of cellulases and xylanases by Penicillium echinulatum S1M29 solid-

state cultivation. Industrial Crops and Products 77, 97–107 (2015).

131. Menegol, D., Luisi Scholl, A., Claudete Fontana, R., Pinheiro Dillon, A. J. &

Camassola, M. Potential of a Penicillium echinulatum enzymatic complex

produced in either submerged or solid-state cultures for enzymatic hydrolysis of

elephant grass. Fuel 133, 232–240 (2014).

132. Santos, C. C., de Souza, W., Sant Anna, C. & Brienzo, M. Elephant grass leaves

have lower recalcitrance to acid pretreatment than stems, with higher potential

for ethanol production. Industrial Crops and Products 111, 193–200 (2018).

133. Phitsuwan, P., Sakka, K. & Ratanakhanokchai, K. Structural changes and

enzymatic response of Napier grass (Pennisetum purpureum) stem induced by

alkaline pretreatment. Bioresource Technology 218, 247–256 (2016).

134. Eliana, C., Jorge, R., Juan, P. & Luis, R. Effects of the pretreatment method on

enzymatic hydrolysis and ethanol fermentability of the cellulosic fraction from

elephant grass. Fuel 118, 41–47 (2014).

135. Kataria, R., Mol, A., Schulten, E., Happel, A. & Mussatto, S. I. Bench scale

steam explosion pretreatment of acid impregnated elephant grass biomass and

its impacts on biomass composition, structure and hydrolysis. Industrial Crops

and Products 106, 48–58 (2017).

136. Toscan, A. et al. High-pressure carbon dioxide/water pre-treatment of sugarcane

bagasse and elephant grass: Assessment of the effect of biomass composition

on process efficiency. Bioresource Technology 224, 639–647 (2017).

137. Teixeira, E. de M. et al. Sugarcane bagasse whiskers: Extraction and

characterizations. Industrial Crops and Products 33, 63–66 (2011).

138. Umetrics. MODDE Go. Available at: https://umetrics.com/product/modde-go.

Page 126: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

126

139. Park, S., Baker, J. O., Himmel, M. E., Parilla, P. A. & Johnson, D. K. Cellulose

crystallinity index: Measurement techniques and their impact on interpreting

cellulase performance. Biotechnology for Biofuels 3, 10 (2010).

140. Hames, B. et al. Preparation of Samples for Compositional Analysis - Technical

Report NREL/TP-510-42620. National Renewable Energy Laboratory (NREL) 1–

9 (2008).

141. Quispe, C. A. G., Coronado, C. J. R. & Carvalho, J. A. Glycerol: Production,

consumption, prices, characterization and new trends in combustion. Renewable

and Sustainable Energy Reviews 27, 475–493 (2013).

142. Saeidnia, S. The Story of Beta-sitosterol- A Review. European Journal of

Medicinal Plants 4, 590–609 (2014).

143. Reverchon, E. & De Marco, I. Supercritical fluid extraction and fractionation of

natural matter. Journal of Supercritical Fluids 38, 146–166 (2006).

144. Helle, S. S., Murray, A., Lam, J., Cameron, D. R. & Duff, S. J. B. Xylose

fermentation by genetically modified Saccharomyces cerevisiae 259ST in spent

sulfite liquor. Bioresource Technology 92, 163–171 (2004).

145. Tamburini, E., Costa, S., Marchetti, M. G. & Pedrini, P. Optimized production of

xylitol from xylose using a hyper-acidophilic Candida tropicalis. Biomolecules 5,

1979–1989 (2015).

146. Yang, B., Dai, Z., Ding, S. Y. & Wyman, C. E. Enzymatic hydrolysis of cellulosic

biomass. Biofuels 2, 421–450 (2011).

147. Tian, D. et al. Lignin valorization: Lignin nanoparticles as high-value bio-additive

for multifunctional nanocomposites. Biotechnology for Biofuels 10, 1–11 (2017).

148. Lee, J. D., Toma, H. E., Araki, K. & Rocha, R. C. Química inorgânica não tão

concisa. (Edgard Blucher, 1999).

149. Sheltami, R. M., Abdullah, I., Ahmad, I., Dufresne, A. & Kargarzadeh, H.

Extraction of cellulose nanocrystals from mengkuang leaves (Pandanus

tectorius). Carbohydrate Polymers 88, 772–779 (2012).

150. Kim, K. H. & Hong, J. Supercritical CO2 pretreatment of lignocellulose enhances

enzymatic cellulose hydrolysis. Bioresource Technology 77, 139–144 (2001).

151. Pasquini, D., Pimenta, M. T. B., Ferreira, L. H. & Curvelo, A. A. D. S. Extraction

of lignin from sugar cane bagasse and Pinus taeda wood chips using ethanol-

water mixtures and carbon dioxide at high pressures. Journal of Supercritical

Fluids 36, 31–39 (2005).

152. Pasquel Reátegui, J. L., Machado, A. P. D. F., Barbero, G. F., Rezende, C. A. &

Martínez, J. Extraction of antioxidant compounds from blackberry (Rubus sp.)

bagasse using supercritical CO2 assisted by ultrasound. Journal of Supercritical

Fluids 94, 223–233 (2014).

153. Santos, P., Aguiar, A. C., Barbero, G. F., Rezende, C. A. & Martínez, J.

Supercritical carbon dioxide extraction of capsaicinoids from malagueta pepper

Page 127: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

127

(Capsicum frutescens L.) assisted by ultrasound. Ultrasonics Sonochemistry 22,

78–88 (2015).

154. Yuan, D., Rao, K., Relue, P. & Varanasi, S. Fermentation of biomass sugars to

ethanol using native industrial yeast strains. Bioresource Technology 102, 3246–

3253 (2011).

155. Agbogbo, F. K. & Coward-Kelly, G. Cellulosic ethanol production using the

naturally occurring xylose-fermenting yeast, Pichia stipitis. Biotechnology Letters

30, 1515–1524 (2008).

156. Sonderegger, M. et al. Fermentation performance of engineered and evolved

xylose-fermenting Saccharomyces cerevisiae strains. Biotechnology and

Bioengineering 87, 90–98 (2004).

157. Espirito Santo, M. et al. Structural and compositional changes in sugarcane

bagasse subjected to hydrothermal and organosolv pretreatments and their

impacts on enzymatic hydrolysis. Industrial Crops and Products 113, 64–74

(2018).

158. Huang, H. J., Ramaswamy, S., Tschirner, U. W. & Ramarao, B. V. A review of

separation technologies in current and future biorefineries. Separation and

Purification Technology 62, 1–21 (2008).

Page 128: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

128

7. APÊNDICES

Tabela A 1. Percentual mássico de celulose, hemicelulose, lignina e cinzas considerando o

rendimento após os tratamentos.

Amostra % restante após as extrações

Celulose Hemicelulose Lignina Cinzas

Folhas

In natura 100 100 100 100

LAC 88,4 ± 1,5 14,0 ± 0,1 63,3 ± 0,4 60,3 ± 0,1

LAB20 73,4 ± 1,6 7,6 ± 0,1 18,7 ± 0,1 15,8 ± 0,1

LAB100 77,4 ± 0,7 4,6 ± 0,1 15,4 ± 0,1 6,9 ± 0,1

LB20 101,2 ± 0,8 55,9 ± 0,4 50,7 ± 0,3 58,6 ± 0,1

LB100 96,9 ± 0,7 42,1 ± 0,1 33,3 ± 0,2 51,2 ± 0,1

LWEB20 99,6 ± 0,2 45,4 ± 0,1 30,2 ± 0,1 35,0 ± 0,1

LWEB100 98,0 ± 6,2 37,4 ± 0,6 27,4 ± 0,6 35,8 ± 0,1

Colmos

In natura 100 100 100 100

SAC 92,0 ± 0,4 21,8 ± 0,1 80,9 ± 1,7 24,8 ± 0,1

SAB20 85,7 ± 2,0 12,0 ± 0,1 40,2 ± 0,2 18,7 ± 0,1

SAB100 85,1 ± 1,0 6,9 ± 0,1 31,2 ± 0,1 13,0 ± 0,1

SB20 98,9 ± 3,0 70,0 ± 0,5 45,2 ± 0,6 57,6 ± 0,1

SB100 95,3 ± 1,2 53,9 ± 0,1 41,9 ± 0,1 40,4 ± 0,1

SWEB20 104,5 ± 1,1 63,5 ± 0,1 29,1 ± 0,2 8,4 ± 0,1

SWEB100 101,3 ± 3,6 53,1 ± 0,3 30,7 ± 0,7 23,0 ± 0,1

Page 129: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

129

Tabela A 2. Quantidade açúcar liberado após a hidrólise enzimática por grama de biomassa

e percentual de conversão de celulose em glicose.

Amostra

mg de açúcar / g de biomassa Conversão

de celulose

em glicose

(%) Glicose Xilose Arabinose Total

Folhas

In natura 93,0 ± 0,7 26,3 ± 2,3 5,1 ± 1,2 124,4 ± 23,9 27,8 ± 0,7

LINM 332,8 ± 9,9 110,4 ± 1,4 11,0 ± 0,5 454,2 ± 25,8 99,5 ± 3,7

LAC 615,0 ± 22,9 60,7 ± 1,7 - 675,7 ± 23,1 102,1 ± 4,7

LAB20 748,4 ± 27,8 60,8 ± 1,6 - 809,2 ± 29,3 91,8 ± 3,4

LAB20M 822,4 ± 32,9 72,4 ± 1,5 - 894,8 ± 34,2 100,8 ± 4,1

LAB100 800,1 ± 0,6 28,8 ± 0,2 - 828,9 ± 12,4 86,9 ± 2,4

LAB100M 690,5 ± 10,1 34,2 ± 0,2 - 724,7 ± 16,0 75,0 ± 2,3

LB20 557,5 ± 9,8 168,7 ± 7,2 33,8 ± 2,6 760,0 ± 21,0 91,7 ± 3,0

LB20M 615,2 ± 11,2 199,4 ± 1,7 32,4 ± 1,0 847,0 ± 20,4 101,2 ± 3,3

LB100 687,5 ± 14,7 152,9 ± 0,6 22,2 ± 3,0 862,6 ± 16,5 98,2 ± 3,2

LB100M 703,3 ± 3,1 157,3 ± 4,0 20,4 ± 1,1 881,0 ± 8,5 100,5 ± 2,6

LWEB20 642,5 ± 16,4 156,2 ± 8,2 33,9 ± 1,5 832,6 ± 18,6 104,0 ± 2,7

LWEB100 591,8 ± 31,2 121,0 ± 3,5 19,9 ± 2,3 732,7 ± 36,9 83,8 ± 8,4

Colmos

In natura 167,3 ± 1,3 33,1 ± 15,5 5,2 ± 0,8 205,6 ± 17,5 39,0 ± 0,6

SINM 438,2 ± 24,7 167,8 ± 2,0 9,9 ± 2,1 615,9 ± 26,1 102,2 ± 5,9

SAC 298,6 ± 5,8 34,9 ± 2,6 - 333,5 ± 6,7 46,2 ± 0,9

SAB20 527,1 ± 0,3 31,4 ± 0,4 - 558,5 ± 23,7 66,0 ± 1,9

SAB20M 634,3 ± 12,4 55,5 ± 1,7 - 689,8 ± 26,8 79,4 ± 2,8

SAB100 664,8 ± 16,0 21,5 ± 0,7 - 686,3 ± 28,6 75,7 ± 2,7

SAB100M 814,4 ± 2,3 38,5 ± 2,0 - 852,9 ± 23,9 92,8 ± 2,5

SB20 467,8 ± 19,3 162,2 ± 7,9 14,5 ± 0,4 644,5 ± 21,0 72,6 ± 3,0

SB20M 609,0 ± 34,5 221,0 ± 14,8 19,2 ± 4,4 849,2 ± 37,9 94,5 ± 5,4

SB100 646,4 ± 35,1 177,1 ± 5,4 16,3 ± 0,8 839,8 ± 35,5 92,8 ± 5,0

SB100M 657,3 ± 41,4 192,3 ± 14,5 17,6 ± 0,4 867,2 ± 43,9 94,4 ± 5,9

SWEB20 647,2 ± 32,1 199,6 ± 8,8 20,7 ± 2,9 867,5 ± 33,4 96,6 ± 5,1

SWEB100 657,5 ± 38,5 179,1 ± 13,0 18,9 ± 0,3 855,5 ± 40,7 92,6 ± 5,7

Page 130: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335175/1/Scopel_Eupidio_M.pdfFotografia da plantação de capim elefante do Instituto de

130

Tabela A 3. Quantidade de açúcares obtidos a partir de 1 ton. de biomassa considerando

rendimentos

Amostra Massa de açúcar (kg) a partir de 1 ton. de biomassa

Glicose Xilose Arabinose Total

Folhas

In natura 93,0 ± 0,7 26,3 ± 2,3 5,1 ± 1,2 124,4 ± 2,7

LINM 332,8 ± 9,9 110,4 ± 1,4 11,0 ± 0,5 454,2 ± 10,0

LAC 302,0 ± 21,1 29,8 ± 1,9 - 331,8 ± 21,2

LAB20 225,3 ± 23,3 18,3 ± 1,8 - 243,6 ± 23,3

LAB20M 247,5 ± 25,8 21,8 ± 2,1 - 263,3 ± 25,9

LAB100 224,8 ± 5,6 8,1 ± 0,2 - 232,9 ± 5,6

LAB100M 194,0 ± 5,6 9,6 ± 0,2 - 203,6 ± 5,6

LB20 310,5 ± 5,5 94,0 ± 4,0 18,8 ± 1,4 423,3 ± 7,0

LB20M 342,7 ± 6,3 111,1 ± 1,0 18,0 ± 0,6 471,8 ± 6,4

LB100 318,3 ± 6,8 70,8 ± 0,3 10,3 ± 1,4 399,4 ± 7,0

LB100M 325,6 ± 1,6 72,8 ± 1,9 9,4 ± 0,5 407,9 ± 2,5

LWEB20 346,3 ± 9,0 84,2 ± 4,4 18,3 ± 0,8 448,8 ± 10,1

LWEB100 274,6 ± 55,8 56,1 ± 11,1 9,2 ± 2,1 340,0 ± 56,9

Colmos

In natura 167,3 ± 1,3 33,1 ± 15,5 5,2 ± 0,8 205,6 ± 15,6

SINM 438,2 ± 24,7 167,8 ± 2,0 9,9 ± 2,1 615,9 ± 24,9

SAC 182,1 ± 4,0 21,3 ± 1,6 - 203,4 ± 4,3

SAB20 242,5 ± 11,6 14,4 ± 0,7 - 256,9 ± 11,6

SAB20M 291,8 ± 15,1 25,5 ± 1,4 - 317,3 ± 15,1

SAB100 276,6 ± 7,2 8,9 ± 0,3 - 285,5 ± 7,2

SAB100M 338,8 ± 3,4 16,0 ± 0,8 - 354,8 ± 3,5

SB20 307,8 ± 23,0 106,7 ± 8,4 9,5 ± 0,7 424,1 ± 24,5

SB20M 400,7 ± 33,7 145,4 ± 13,3 12,6 ± 3,0 558,8 ± 364

SB100 379,4 ± 23,1 104,0 ± 4,3 9,6 ± 0,5 493,0 ± 23,0

SB100M 385,8 ± 26,5 112,9 ±9,1 10,3 ± 0,4 509,0 ± 28,0

SWEB20 433,0 ± 21,8 135,5 ± 5,8 13,8 ± 1,9 580,4 ± 22,7

SWEB100 402,4 ± 36,3 109,6 ± 10,9 11,6 ± 0,8 523,6 ± 37,9