universidade estadual de campinas instituto de...

108
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE BIOLOGIA CAROLINA CARVALHO DE MELLO FREITAS CARACTERES ESTRUTURAIS DIAGNÓSTICOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS EM FRUTOS DE RAUVOLFIOIDEAE (APOCYNACEAE) COM ÊNFASE NA TRIBO VINCEAE CAMPINAS (2017)

Upload: hoangcong

Post on 28-Nov-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

CAROLINA CARVALHO DE MELLO FREITAS

CARACTERES ESTRUTURAIS DIAGNÓSTICOS E

TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS EM FRUTOS DE

RAUVOLFIOIDEAE (APOCYNACEAE) COM ÊNFASE NA

TRIBO VINCEAE

CAMPINAS

(2017)

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

CAROLINA CARVALHO DE MELLO FREITAS

CARACTERES ESTRUTURAIS DIAGNÓSTICOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS EM FRUTOS DE RAUVOLFIOIDEAE

(APOCYNACEAE) COM ÊNFASE NA TRIBO VINCEAE

Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do Título de Doutora em Biologia Vegetal.

Orientador: ANDRÉ OLMOS SIMÕES Co-Orientador: SANDRA MARIA CARMELLO-GUERREIRO

CAMPINAS

(2017)

ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA

ALUNA CAROLINA CARVALHO DE MELLO

FREITAS E ORIENTADA PELO PROF. DR.

ANDRÉ OLMOS SIMÕES.

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles
Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

Campinas, 30 de agosto de 2017.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. André Olmos Simões

Profa. Dra. Letícia Silva Souto

Profa. Dra. Ingrid Koch

Prof. Dr. Diego Demarco

Prof. Dr. João Semir Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa, que se encontra no processo de vida acadêmica do aluno.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

“Dedico a Deus e a minha família,

que tanto me ajudaram para que este sonho se

tornasse realidade. ”

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por seu amor incondicional e por iluminar meu caminho, me

guiando e dando forças para sempre seguir em frente.

Ao Departamento de Biolgia Vegetal do Instituto de Biolgia da Unicamp,

principalmente ao laboratório de Anatomia Vegetal, onde recebi toda a infraestrutura

para a realização desta dissertação.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e

ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq) pelas bolsas

concedidas durante a elaboração desta tese.

Ao meu orientador Prof. Dr. André Olmos Simões, por todos estes 6 anos de

incentivo na vida de pesquisa, pelo apoio, paciência, confiança, por me envolver na

pesquisa e pela sua amizade.

À minha coorientadora Profa. Dra. Sandra Maria Carmello-Guerreiro, pela ajuda,

apoio, carinho, conselhos e pelos ensinamentos na anatomia vegetal.

Aos membros da pré banca Prof. Dr. Diego Demarco, Profa. Dra. Ingrid Koch e

a Profa. Dra. Letícia Souto pelas excelentes sugestões, correções e discussões que me

ajudaram para a elaboração de minha dissertação. Ao Prof. Dr. Diego Demarco, Profa.

Dra. Ingrid Koch, Profa. Dra. Letícia Souto, Profa. Dra. Priscila Cortez, Profa. Dra.

Juliana Mayer, Prof. Dr. João Semir e a Dra. Rosemari Morokawa por terem aceitado

participar como membros da banca examinadora da minha dissertação.

Aos funcionários do Departamento de Biologia Vegetal pela prestatividade a

ajuda durante esses anos.

Aos meus pais, Artur e Virgínia e ao meu irmão Artur, responsáveis por cada

sucesso obtido, cada degrau avançado e que durante todos esses anos foram para mim

um grande exemplo.

Ao meu marido Alaor e minha filha Manuela, pelo amor, carinho e compreensão.

Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles muito longe, mas que

mesmo assim nunca deixaram de ser amigos.

Aos amigos do laboratório de Anatomia Vegetal por serem sempres tão

prestativos e carinhosos comigo, em especial a Bárbara Biazotti, que além de fazer parte

fundamental de todo o trabalho se tornou uma grande amiga.

Assim, agradeço a todas as pessoas que me ajudaram a transformar este meu

sonho em realidade! Muito obrigado!

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

RESUMO

Apocynaceae é uma das maiores famílias dentre as angiospermas e apresenta

notável variedade morfológica de caracteres reprodutivos. A classificação tribal de

Rauvolfioideae tem sido tradicionalmente baseada em caracteres de frutos e sementes,

já que representa um grupo morfologicamente heterogêneo quanto aos frutos e

sementes. Rauvolfioideae forma um grupo parafilético composto por linhagens basais

e possui 11 tribos e 79 gêneros. As tribos Aspidospermeae e Alstonieae são fortemente

apoiadas como linhagem irmã das demais tribos da subfamília e Vinceae forma um

clado fortemente sustentado com as tribos irmãs Willughbeieae e Tabernaemontaneae.

Estudos filogenéticos contribuíram para avaliar a importância de caracteres

morfológicos nas classificações de Rauvolfioideae, no entanto, em níveis de hierarquia

taxonômica mais baixos, a anatomia de frutos pode fornecer conjuntos de caracteres

relativamente estáveis que atuam como diagnósticos para as tribos Vinceae,

Willughbeieae, Tabernaemontaneae e, especialmente, para suas subtribos e gêneros.

Por isso, o trabalho tem como objetivo caracterizar os frutos de trinta e quatro espécies

de cinco tribos e, por meio de estudo anatômico, fornecer caracteres taxonomicamente

úteis para uma melhor interpretação da história evolutiva dos frutos na família. Frutos

foram coletados e processados conforme técnicas usuais de microscopia de luz. No

primeiro capítulo, a partir dos resultados anatômicos de 26 espécies, foi construida uma

matriz de dados codificados preparado no programa Mesquite 2.75, esses caracteres

codificados foram mapeados em cladograma construído a partir das relações

filogenéticas evidenciadas por estudos já realizados por outros autores. Dos 30

caracteres analisados, seis são prováveis sinapomorfias para classificação das tribos e

os demais se mostraram homoplásticos ou de reconstrução ambígua para os clados

principais da filogenia. As principais sinapomorfias são: 1. Polpa do fruto envolvendo as

sementes, 2. Flange cuticular no exocarpo, 3. Idioblastos fenólicos no mesocarpo, 4.

Linha de Deiscência, 5. Número de camadas do endocarpo e 6. Endocarpo lignificado.

No capítulo 2, foram analisados caracteres anatômicos de nove espécies do gênero

Rauvolfia e os resultados foram comparados com espécies de outros quatro gêneros de

Vinceae - Kopsia fruticosa, Ochrosia elliptica, Catharanthus roseus e Petchia

erythrocarpa. Os resultados reafirmam a hipótese de outros autores sobre o

monofiletismos do gênero, a partir da constância dos caracteres observados na

ontogenia do fruto. Quando comparado com dados de espécies de gêneros diferentes

da tribo que possuem o mesmo tipo de fruto, podemos afirmar a hipótese que esses

frutos drupoides não são homólogos, devido às grandes mudanças que ocorrem no

pericarpo dos frutos.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

ABSTRACT

Apocynaceae is one of the largest families in angiosperms and presents a remarkable

morphological variety of reproductive traits. Rauvolfioideae is one of the five subfamilies

recognized in Apocynaceae, comprising 11 tribes and 79 genera that form a paraphyletic

and morphologically heterogeneous group. In contrast to the other subfamilies, the tribal

classification of Rauvolfioideae has been traditionally based on fruit character and seeds,

The tibes Aspidospermeae and Alstonieae are strongly supported as sister to the other

tribes of the subfamily, whereas Vinceae forms a strongly supported clade with the sister

tribes Willughbeieae and Tabernaemontaneae. Phylogenetic studies have contributed to

evaluate the importance of molecular characters in the taxonomy of Rauvolfioideae;

however, at lower taxonomic levels, fruit and seed morphology and anatomy may provide

relatively stable characters that may be diagnostic at the tribal or generic level, especially

within the Vinceae-Willughbeieae- Tabernaemontaneae clade. Therefore, the objective

of this work is describe and characterize the fruit anatomy of thirty-four species from five

tribes of Rauvolfioideae (Alstonieae, Aspidospermeae, Tabernaemontaneae, Vinceae

and Willughbeieae) and to provide characters taxonomically useful for a better

interpretation of the evolutionary history of the fruits in the family. Fruits were collected

and processed according to usual light microscopy techniques. In the first chapter, based

on the anatomical results of 26 species, an encoded data matrix was constructed. These

coded characters were mapped in a cladogram constructed from the phylogenetic

relationships evidenced by studies already performed by other authors. Of the 30

characters analyzed, six are putative synapomorphies for major clades, and the others

are homoplastic or have ambiguous reconstructions of character state changes. The

principal synapomorphies are: 1. Fruit pulp surrounding the seeds, 2. Cuticle flap in the

exocarp, 3. Phenolic idioblasts in the mesocarp, 4. Dehiscence line, 5. Number of layers

of the endocarp, and 6. Lignified endocarp. In chapter 2, the fruit anatomy of nine species

from the genus Rauvolfia were analyzed and the results were compared with species

from other four genera of Vinceae - Kopsia fruticosa, Ochrosia elliptica, Catharanthus

roseus and Petchia erythrocarpa. The results reinforces the monophylly of Rauvolfia,

due to the constancy of the characters observed in the fruit ontogeny of the studies

species of he genus. When compared with the other studied genera of Vinceae with

drupoid fruits, our results corroborate the hypothesis that these drupoid fruits are not

homologous in Vinceae, mainly due to the observed differences in the pericarp structure

and organization.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 10

JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 19

OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................................................... 20

OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................. 20

Capítulo 1 .................................................................................................................................... 21

Caracteres estruturais diagnósticos e possíveis tendências evolutivas de frutos em tribos da

subfamília Rauvolfioideae .......................................................................................................... 21

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 21

MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................................... 22

RESULTADOS ........................................................................................................................... 25

Reconstrução de estados de caráter ancestrais ................................................................. 33

DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 53

Tendências evolutivas em frutos de Rauvolfioideae........................................................... 53

Homologia dos frutos drupoides de Vinceae ...................................................................... 56

Homologia dos folículos secos e carnosos .......................................................................... 58

Tabernaemontaneae e homologia dos frutos bacoides ..................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 66

Capítulo 2 .................................................................................................................................... 71

Valor taxonômico de caracteres estruturais de frutos no gênero Rauvolfia L. (Vinceae,

Rauvolfioideae, Apocynaceae) ................................................................................................... 71

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 71

OBJETIVOS ............................................................................................................................... 73

MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................................... 74

RESULTADOS ........................................................................................................................... 76

Discussão ................................................................................................................................. 85

Referências Bibliograficas ....................................................................................................... 91

Considerações Finais ................................................................................................................... 96

Referência Bibliográfica .............................................................................................................. 98

Anexo I .....................................................................................................................................107

Anexo II ....................................................................................................................................108

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

10

INTRODUÇÃO

HISTÓRICO TAXONÔMICO DA FAMÍLIA

Segundo Tournefort (1694), a família Apocynaceae foi estabelecida por

Adanson em 1768 sob o nome de Apocyna, a qual englobava Apocynaceae s.str.

(Atuais subfamílias Rauvolfioideae e Apocynoideae) e Asclepiadaceae (atuais

subfamílias Periplocoideae, Secamonoideae e Asclepiadoideae) como uma

única família. Posteriormente, Jussieu (1789) modificou o termo “Apocyna” para

“Apocineae”, sem alterar a sua circunscrição e, a partir de então, vem sendo

citado como autor da família na maioria dos trabalhos. Em 1810, Brown

considerou estas duas famílias separadamente baseando-se na presença de um

translador portando polínias em Asclepiadeae (Asclepiadaceae) e ausência

deste em Apocineae (Apocynaceae). Segundo Cronquist (1981), estas famílias

seriam as mais relacionadas entre si na ordem Gentianales, e esta proximidade

taxonômica se deve, dentre outros fatores, à presença de laticíferos e

glicosídeos cardiotônicos. Embora a classificação de Brown tenha sido

universalmente aceita e implementada por autores subsequentes,

questionamentos sobre a delimitação das duas famílias e o relacionamento entre

estas permaneceram entre os taxonomistas do grupo e com informações

moleculares, agora, asseguram que Asclepiadaceae é um subclado de

Apocynaceae (Endress, et al., 1996; Sennblad & Bremer, 1996; Potgieter &

Albert, 2001; Livshultz et al., 2007; Livshultz, 2010).

Endress & Bruyns (2000) combinaram, pela primeira vez, um grande

conjunto de caracteres morfológicos e evidências moleculares e propuseram a

reunificação das tradicionais Apocynaceae s. str. e Asclepiadaceae numa ampla

circunscrição, sendo dividida em cinco subfamílias: Rauvolfioideae,

Apocynoideae, Periplocoideae, Asclepiadoideae e Secamonoideae. As

subfamílias Rauvolfioideae e Apocynoideae correspondem à tradicional

Apocynaceae s. str. e as subfamílias Periplocoideae, Asclepiadoideae e

Secamonoideae, à tradicional Asclepiadaceae. Essa delimitação de

Apocynaceae s.l. engloba um grupo fortemente suportado como monofilético em

Gentianales e a classificação infrafamiliar vem sendo aprimorada por Endress et

al. (2007) e mais recentemente por Endress et al. (2014). Apesar dos avanços

na sistemática de Apocynaceae nas últimas duas décadas, a divisão em

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

11

subfamílias ainda é imperfeita devido aos parafiletismos de Rauvolfioideae e

Apocynoideae e do posicionamento fracamente sustentado de Periplocoideae

(Potgieter & Albert, 2001; Sennblad & Bremer, 2002; Livshultz et al., 2007; Ionta

& Judd, 2007; Simões et al., 2007; Livshultz, 2010) necessitando, portanto, de

mais estudos morfológicos e moleculares para aprimorar a circunscrição

infrafamiliar.

Apocynaceae possui sua distribuição principalmente em zonas tropicais e

subtropicais, com poucos representantes em zonas temperadas (Sennblad et al.,

2002; Judd et al., 2009). É uma das maiores famílias de angiospermas, com 375

gêneros e mais de 5.000 espécies (Endress, 2004; Endress et al., 2007). Todos

os representantes da família são latescentes e produzem vários alcaloides e

cardenolídeos, dos quais alguns possuem propriedades medicinais. O exemplo

mais conhecido é Catharanthus roseus (L.) G. Don (pervinca-rosa), que contém

vimblastina e vincristina, compostos usados em todo o mundo para o tratamento

de leucemia infantil (Souza & Lorenzi, 2008). A família também possui muitas

plantas ornamentais bem conhecidas, tais como Allamanda cathartica L. (dedal-

de-rainha), Nerium oleander L. (espirradeira) e Hoya carnosa (L. F.) R. Br. (flor-

de-cera). (Sennblad & Bremer, 2002; Judd et al., 2009).

Algumas características úteis na classificação em níveis mais altos dentro

de Apocynaceae foram descritas por Goyder (1992) e Endress & Bruyns (2000).

Elas incluem: a direcionalidade dextrorsa vs sinistrorsa dos lobos da corola em

pré-floração, a presença vs ausência de tecidos lignificados na região dorsal das

anteras, o número de sacos polínicos, o tipo de abertura do grão de pólen, a

formação ou não de um ginostégio (órgão formado pela fusão dos estames ao

gineceu), o grau de fusão dos ovários, o tipo de fruto, a presença ou ausência

de tricomas sobre a semente, e a presença ou ausência de alcaloides indólicos.

Quando todas essas características são levadas em consideração, alguns

gêneros da subfamília Apocynoideae, mostram ter mais características em

comum com táxons tradicionalmente posicionados em Asclepiadaceae

(atualmente, subfamílias Asclepiadoideae e Secamonoideae) do que com táxons

de Rauvolfiodeae (Goyder, 1992; Endress & Bruyns, 2000).

Na maioria das famílias de angiospermas, a antera é uma estrutura

bilateral simétrica que produz quatro sacos polínicos (microesporângios)

dispostos em dois pares (tecas), em ambos os lados. Em Asclepiadoideae, um

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

12

saco de pólen em cada lado da antera foi perdido durante a evolução, de modo

que cada antera produz apenas dois sacos polínicos, um em cada teca. O

conteúdo de pólen total de cada saco polínico se fundiu e está rodeado por uma

espessa camada exterior. Esta massa aglutinada de pólen é chamada de polínia

(Endress & Bruyns, 2000; Judd et al., 2009; Demarco, 2014; Endress, 2016).

Cada flor, em Asclepiadoideae, tem cinco anteras e, portanto, dez polínias e um

dispositivo para o transporte de pólen em massa, chamado translador. Em

Apocynaceae s.str., o pólen amadurecido está na forma de mônades ou mais

raramente em tétrades, mas nunca formando polínias e o translador está ausente

(Endress & Bruyns, 2000).

Dessa forma, muitos estudiosos argumentaram que Asclepiadaceae

poderia ser distinta de Apocynaceae com base em duas características, a

presença de translador e os grãos de pólen unidos em polínias (Sennblad, 1997;

Endress & Bruyns, 2000). Esta proposta, no entanto, não encontra suporte em

estudos filogenéticos e, por esta razão, o conceito amplo de Apocynaceae é

largamente aceito pelos taxonomistas da família.

SUBFAMÍLIA RAUVOlFIOIDEAE

Rauvolfioideae forma um grupo parafilético composto por linhagens

basais e possui 11 tribos e 79 gêneros (Simões et al., 2007; Endress et al., 2014

– Cladograma 1). As tribos Aspidospermeae e Alstonieae são fortemente

apoiadas como linhagem irmã das demais tribos da subfamília e Vinceae forma

um clado fortemente sustentado com as tribos irmãs Willughbeieae e

Tabernaemontaneae (Endress & Bruyns, 2000; Potgieter & Albert, 2001,

Sennblad & Bremer, 2002, Simões et al., 2007, 2010, 2016).

Essa subfamília apresenta flores morfologicamente mais simples do que

as encontradas nas demais subfamílias e, dessa forma, as flores apresentam

menos caracteres taxonomicamente úteis para a diferenciação de suas tribos,

quando comparada com as outras quatro subfamílias de Apocynaceae. Por outro

lado, Rauvolfioideae é considerada um grupo morfologicamente heterogêneo

quanto aos frutos e sementes. As espécies de Rauvolfioideae apresentam frutos

que variam de apocárpicos a sincárpicos, deiscentes ou indeiscentes, com

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

13

pericarpo carnoso ou seco, do tipo baga, drupa, folículo, cápsula ou, raramente

sâmara e com sementes nuas, aladas, ariladas ou, raramente, comosas

(Endress & Bruyns, 2000). Este padrão difere do encontrado nas demais

subfamílias, nas quais os frutos são, com raras exceções, um par de folículos

secos portando sementes comosas. Sendo assim, a construção das

classificações tribais tradicionais de Rauvolfioideae foi baseada, principalmente,

nos caracteres de frutos e sementes (Pichon, 1948; Boiteau & Sastre, 1975;

Boiteau et al., 1978; Leeuwenberg, 1994) e na classificação mais recente,

proposta por Endress et al. (2014), os limites das tribos foram estabelecidos a

partir de filogenias e dados morfológicos.

TRIBO VINCEAE

Vinceae é composta por nove gêneros (Catharanthus G. Don, Kamettia

Kostel., Kopsia Blume, Laxoplumeria Markgr., Ochrosia Juss., Petchia Livera,

Rauvolfia L., Tonduzia Pittier e Vinca L.) e cerca de 110 espécies, sendo

amplamente distríbuida em regiões tropicais e subtropicais (Endress et al., 2007;

Simões et al., 2016). Na tribo podem ser encontrados espécies arborescentes e

arbustivas (exceto em Catharanthus e Vinca onde as espécies são herbáceas e

Kamettia, que possui duas espécies lianescentes). Todos os representantes

possuem látex leitoso, folhas opostas ou verticiladas, coléteres calicinais

ausentes, corola com pré-floração sinistrorsa (dextrorsa em Kopsia e Ochrosia),

cabeça do estilete especializada com anel membranáceo basal e a região

estigmática na transição com o estilete (exceto em Kamettia e algumas espécies

de Ochrosia), e ovário apocárpico a sincárpico. A morfologia dos frutos e

sementes em Vinceae é altamente variável. Kopsia, Ochrosia, Petchia e

Rauvolfia possuem drupas com um pericarpo espesso e fibroso ou carnoso e um

endocarpo pétreo, contendo 1-6 sementes, raramente mais. As sementes são

nuas, geralmente com endosperma, reduzido ou ausente apenas em Kopsia. Por

outro lado, em Catharanthus, Kamettia, Laxoplumeria, Tonduzia e Vinca, os

frutos são um par de folículos lenhosos contendo várias sementes nuas, aladas

ou ciliadas, com endosperma abundante. Esta diversidade, tanto nas

características morfológicas vegetativas quanto nas reprodutivas resultou em

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

14

posições amplamente divergentes desses gêneros em classificações anteriores

(Pichon, 1948; Endress & Bruyns, 2000).

Embora superficialmente similares aos frutos de representantes de outras

tribos, como Alyxieae e Carisseae, detalhes da anatomia de frutos de espécies

de Vinceae são desconhecidos. Mesmo existindo alguns trabalhos relacionados

à morfoanatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae (Thomas

& Dave, 1991; Kuriachen et al., 1992; Souza & Moscheta, 1992; Thomas & Dave,

1994; Souza et al., 2004, Aguiar, 2003; Gomes, 2008; Aguiar et al., 2009, entre

outros) eles são poucos frente à riqueza de espécies e diversidade dos frutos e

sementes apresentada pela família.

Em 1844, De Candolle propôs uma classificação, baseada principalmente

em caracteres de frutos e influenciado pelo trabalho de Jussieu (1789), incluiu

quatro gêneros que são hoje colocados em Vinceae. Rauvolfia foi incluído na

tribo Carisseae, que foi caracterizado pelo ovário sincárpico e frutos bacoides ou

drupaceos. Kopsia, Ochrosia e Vinca foram incluídos na tribo Plumerieae,

definido como ovário apocárpico, vários tipos de frutos e sementes nuas. Pichon

(1948a, 1950b) propôs uma nova classificação do grado Rauvolfioideae,

reconhecendo seis tribos (Carisseae, Ambelanieae, Alstonieae, Rauvolfieae,

Tabernaemontaneae, Allamandeae), em que Catharanthus, Kamettia,

Laxoplumeria e Vinca foram incluídos na tribo Alstonieae (com três subtribos e

caracterizada por frutos deiscentes, normalmente folicular, mais raramente

capsular com a parede de fruto seco), enquanto kopsia, Ochrosia, Petchia e

Rauvolfia foram colocados em tribo Rauvolfieae (também com três subtribos e

caracterizado por frutos indeiscente, drupaceos com a parede do fruto carnoso).

Na classificação de Leeuwenberg (1994) o grado Rauvolfioideae seguiu o

de Pichon (1948a, 1950b) para a maior parte. No entanto, os nomes das tribos

e subtribos foram alterados em conformidade com o ICN (McNeill et al., 2012).

Assim, Alstonieae e Rauvolfia na classificação de Pichon (1948 d) tornou-se

Plumerieae e Alyxiae, respectivamente.

Em 2000, Endress & Bruyns (2000), definiram o grupo Vinceae pela

presença da cabeça do estilete geralmente com um colar basal e frutos

drupaceos ou foliculares com uma a seis sementes nuas (ou seja, sem asas,

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

15

pêlos ou cílios na margem), e composta por oito gêneros: Amsonia,

Catharanthus, kopsia, Neisosperma Raf, Ochrosia, Petchia, Rauvolfia e Vinca.

Na classificação mais recente feita por Endress et al. (2014), seis

subtribos são recém-reconhecidas em Vinceae: Kopsiinae (incluindo apenas

kopsia), Ochrosiinae (incluindo apenas Ochrosia), Tonduziinae (incluindo

Laxoplumeria e Tonduzia), Vincinae (com apenas Vinca), Catharanthinae

(compreendendo Catharanthus, Kamettia e Petchia) e Rauvolfiinae (com apenas

Rauvolfia).

TRIBO WILLUGHBEIEAE

Segundo Endress et al. (2007,2014), a tribo possui 108 espécies e 18

gêneros (Ancylobotris, Bousigonia Pierre, Chamaeclitandra Pichon, Clitandra

Benth., Couma Aubl., Cyclocotyla Stapf, Cylindropsis Pierre, Dictyophleba

Pierre, Hancornia Gomes, Lacmellea H. Karst., Landolphia P. Beauv., Leuconotis

Jack, Ortopichonia Jack, Pacouria Aubl., Parahancornia Ducke, Saba (Pichon)

Pichon, Vahadenia Stapf e Willughbeia Roxb.) e apresenta distribuição

pantropical. As espécies neotropicais são árvores ou mais raramente arbustos

com a exceção de Pacouria Aubl., um pequeno gênero contendo três espécies

de hábito lianescente. Já as espécies paleotropicais são arbustos ou mais

comumente lianas com inflorescências ramificadas e por vezes portando

gavinhas. Todas as espécies de Willughbeieae possuem folhas opostas, ovário

sincárpico, frutos indeiscentes e carnosos do tipo baga, pericarpo não fibroso

(com camadas lenhosas no mesocarpo em alguns gêneros paleotropicais, como

Ancylobotris e Landolphia, e também em Pacouria), e um grande número de

sementes no interior do pericarpo (Endress & Bruyns, 2000).

TRIBO TABERNAEMONTANEAE

Dentre as tribos de Rauvolfioideae, Tabernaemontanae é a maior com 15

gêneros (Ambelania Aubl., Callichilia Stapf, Calocrater K. Schum. & Prantl,

Carvalhoa K. Schum. & Prantl, Crioceras K. Schum. & Prantl, Macoubea Aubl.,

Molungum, Mucoa Zarucchi, Neocouma Pierre, Rhigospira Miers, Schizozygia

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

16

Baill., Spongiosperma Zarucchi, Tabernaemontana L., Tabernanthe Baill. e

Voacanga Thouars) e 170 espécies (Simões et al. 2010). As espécies da tribo

apresentam uma variação considerável na morfologia de frutos e sementes, com

frutos apocárpicos ou sincárpicos, deiscentes ou indeiscentes, do tipo baga ou

folicular carnoso com sementes ariladas, recobertas por polpa ou nuas, podendo

apresentar sulco hilar profundo (Corner, 1976; Endress & Bruyns, 2000). Apesar

desse conjunto distintivo de caracteres de frutos e de sementes em

Tabernaemontaneae, há controvérsias quanto a sua evolução, principalmente,

em comparação com os frutos e sementes das espécies das tribos irmãs

Willughbeieae e Vinceae (Simões et al., 2007; 2010).

Uma das mais abrangentes classificações tradicionais de Rauvolfioideae

foi a de Pichon (1948a; b) que baseou a classificação supragenérica na

morfologia do fruto e da semente. Pichon (1948b) dividia os gêneros em duas

tribos: 1) Tabernaemontaneae, com frutos apocárpicos e deiscentes com

sementes ariladas; e 2) Ambelanieae, com frutos sincárpicos, indeiscentes e

com sementes não ariladas. O autor dividiu ainda Ambelanieae em duas

subtribos, Ambelaniinae (gêneros Ambelania, Mologum, Neocouma e

Rhigospira), e Macoubeinae (somente Macoubea), baseado principalmente no

grau de fusão do ovário.

Com os adventos da cladística e do uso de dados moleculares para

reconstrução de filogenias, diversos caracteres de frutos e sementes mostraram-

se convergentes, como frutos bacoides indeiscentes em Hunteriaeae,

Tabernaemontaneae, Willughbeieae e em Vinceae e sementes aladas em

Aspidospermeae, Hunteriaeae, Melodineae, Plumerieae e em Vinceae (Simões

et al., 2010), provavelmente, em resposta a pressões seletivas exercidas por

fatores ecológicos e por diferentes agentes dispersores (Potgieter & Albert, 2001;

Simões et al., 2007, 2010, 2016), tornando, portanto, muitos dos agrupamentos

propostos por Pichon (1948a; b) não monofiléticos. Posteriormente, Endress &

Bruyns (2000) circunscreveram Tabernaemontaneae incluindo todos os gêneros

de Rauvolfioideae que possuem anteras lignificadas com suas laterais formando

alas estaminais formando a fenda estaminal (“guide rails”). Nesta circunscrição,

Tabernaemontaneae engloba todos os táxons das tribos Ambelanieae e

Tabernaemontaneae sensu Pichon (1948b). Simões et al. (2010) manteve essa

delimitação e propôs a divisão da tribo em duas subtribos, Ambelaniinae com

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

17

espécies restritas, principalmente, à planície da Floresta Tropical Amazônica,

com frutos sincárpicos indeiscentes e sementes sem arilo, incluindo o gênero

Macoubea, e Tabernaemontaninae com espécies pantropicais com frutos

apocárpicos, geralmente, deiscentes e sementes ariladas.

ESTUDO DOS CARACTERES ANATOMICOS NAS CLASSIFICAÇÕES DE

RAUVOLFIOIDEAE

Os estudos filogenéticos de Potgieter et al. (2001), Simões et al. (2007),

Simões et al. (2010) e de Simões et al. (2016) contribuíram para avaliar se

caracteres morfológicos são informativos nas classificações de Rauvolfioideae,

inclusive para identificar evidências de repetida evolução de alguns caracteres

de frutos e sementes. No entanto, em níveis da hierarquia taxonômica mais

baixos, a anatomia de frutos pode fornecer conjuntos de caracteres

relativamente estáveis que atuam como diagnósticos para as tribos Vinceae,

Willughbeieae, Tabernaemontaneae e, especialmente, para suas subtribos e

gêneros (Potgieter et al., 2001; Simões et al., 2007; Simões et al., 2010; Simões

et al., 2016). Além deles poderem sugerir tendências evolutivas dentro da tribo

e entre as tribos. A morfoanatomia detalhada e comparada desses grupos pode

fornecer caracteres com valor taxonômico diagnóstico para atuarem como uma

ferramenta de identificação, para auxiliar no entendimento da evolução de

caracteres dentro das tribos e até mesmo para reforçar o posicionamento em

relação a tribos irmãs, Vinceae, Willughbeieae e Tabernaemontaneae, em

conjunto com o estudo dos grupos externos Aspidospermeae e Alstoneae.

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

18

Cladograma 1. Cladograma ilustrando a subfamília Rauvolfioideae. Simões et

al., 2007.

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

19

JUSTIFICATIVA

Um dos fatores importantes para o desenvolvimento desta tese foi a

necessidade de obter dados que auxiliem na delimitação morfológica de grupos

fracamente suportados e melhor compreensão das relações entre os táxons bem

como na compreensão da evolução dos frutos neste grupo especialmente

diverso quanto a este caráter.

Além disso, este estudo faz parte de um grupo de pesquisa sediado no

Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da UNICAMP. Este grupo tem

como líderes o Prof. Dr. André Olmos Simões, que desenvolve estudos em

sistemática, filogenia, taxonomia e morfoanatomia de flores e frutos de

Apocynaceae, a Profa. Dra. Sandra Maria Carmello-Guerreiro, que desenvolve

projetos em anatomia de fruto na família, e a Profa. Dra. Ingrid Koch, especialista

com ampla experiência na taxonomia de representantes diversos de

Apocynaceae. Mesmo existindo alguns trabalhos relacionados à morfoanatomia

de frutos em espécies de Apocynaceae, eles são poucos frente à riqueza de

espécies e à diversidade encontrada na família. Em particular, há uma escassez

de estudos relacionados à anatomia de frutos em Vinceae, Willughbeieae e

Tabernaemontanae.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

20

OBJETIVOS GERAIS

Caracterizar os frutos maduros de trinta e duas espécies de cinco tribos

de Rauvolfioideae, Apocynaceae e, por meio de estudo anatômico, levantar

caracteres que sejam importantes para distinção das tribos, subtribos e gêneros

e identificação de uma possível série evolutiva dos caracteres de frutos, servindo

como subsídios para futuros trabalhos taxonômicos e filogenéticos para família.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar caracteres estruturais diagnósticos para as tribos e subtribos

de Rauvolfioideae;

• Identificar possível série evolutiva dos caracteres de frutos dentro das

tribos e entre as tribos, de acordo com filogenia atual.

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

21

Capítulo 1

Caracteres estruturais diagnósticos e possíveis tendências evolutivas de

frutos em tribos da subfamília Rauvolfioideae

INTRODUÇÃO

Apocynaceae é uma das maiores famílias de angiospermas, com 375

gêneros e mais de 5.000 espécies, pertence a ordem Gentianales (Endress,

2004; Endress et al., 2007; Endress et al., 2014). Possui sua distribuição

principalmente em zonas tropicais e subtropicais, com poucos representantes

em zonas temperadas (Judd et al.,1994; Sennblad & Bremer, 2002).

A subfamília Rauvolfioideae possui 11 tribos e forma um grupo parafilético

composto por linhagens basais (Endress et al., 2014), na qual as tribos

Aspidospermeae e Alstonieae são fortemente sustentadas como uma linhagem

irmã das demais tribos e Vinceae forma um clado com as tribos irmãs

Willughbeieae e Tabernaemontaneae (Potgieter & Albert, 2001, Sennblad &

Bremer, 2002, Simões et al., 2007).

A subfamília é particularmente distinta das demais por apresentar uma

grande variação morfológica em frutos e sementes. Seus representantes podem

ter gineceu totalmente sincárpicos a apocárpicos, com diferentes graus de

hemissincarpia (Gomes, 2008). Os frutos podem ser indeiscentes ou deiscentes,

carnosos ou secos, do tipo baga, drupa, sâmara, folículo ou cápsula, endocarpo

muitas vezes lignificado e sementes nuas, aladas ou total a parcialmente

revestidas por tricomas (Endress & Bruyns, 2000; Judd et al., 2009). Os frutos

são bacáceos na maioria dos representantes das tribos Willughbeieae,

Carisseae, Hunterieae, Plumerieae, Melodineae e em alguns representantes de

Tabernaemontaneae (os demais frutos da tribo são folículos carnosos),

drupaceos em espécies de Vinceae, Alyxieae e Plumerieae, capsulares em

Allamanda L. (Plumerieae) (Sakane & Shepherd, 1986) e Plectaneia Thou.

(Alyxieae), e samaroides em Cerberiopsis (Plumerieae).

Os estudos morfológicos e anatômicos são importantes para o auxílio na

delimitação de espécies, para verificação de padrões estruturais comuns entre

os taxa, para a 7, em análises filogenéticas do gênero e até da família.

Considerando-se ainda que frutos exibem pequena plasticidade fenotípica,

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

22

diversos autores (Thomas & Dave, 1991; Kuriachen et al., 1992; Souza &

Moscheta, 1992; Thomas & Dave, 1994; Souza et al., 2004, Aguiar, 2003;

Gomes, 2008; Aguiar et al., 2009) têm se dedicado a ampliar as informações

morfológicas e anatômicas referentes a esse órgão.

Para a subfamília Rauvolfioideae, principalmente nas tribos aqui

estudadas, Vinceae, Willughbeieae e Tabernaemontaneae, estudos moleculares

já foram realizados, juntamente com estudos estruturais (Endress & Bruyns,

2000; Potgieter & Albert, 2001; Sennblad & Bremer, 2002; Aguiar, 2003; Simões

et al., 2007; Gomes, 2008; Aguiar et al., 2009; Simões et al., 2010, Simões et al.,

2016). A combinação de dados destes estudos é importante para verificar as

relações entre taxa e detectar possíveis tendências evolutivas nas tribos. Para

isso, será analisado anatomia de frutos maduros de vinte e seis espécies de

cinco tribos da subfamília Rauvolfioideae, a fim de responder às seguintes

questões: (1) Quais as características do fruto ancestral do clado Vinceae-

Willughbeieae-Tabernaemontaneae (V-W-T)? (2) Os frutos drupoides de

Vinceae são homólogos? (3) Os frutos bacoides de Tabernaemontaneae e

Willughbeieae são homólogos? (4) Os frutos foliculares de

Tabernaemontanineae são homólogos aos foliculares das demais

Apocynaceae? (5) Existem caracteres diagnósticos de frutos para as tribos e

subtribos estudadas?

MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais de estudo foram obtidos de uma coleção de amostras

reprodutivas de Apocynaceae coletadas na Reserva Ducke (Manaus, AM), no

Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba (Ubatuba, SP), e em

Campinas, SP. Os materiais testemunho destes espécimes estão depositados

nos herbários INPA e UEC com os seguintes números de coletor:

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

23

• Tribo Aspidospermeae

1. Aspidosperma australe Müll. Arg.: S. M. Gomes 656 (UEC)

2. Aspidosperma piryfolium Mart.: S. M. Gomes 564 (UEC)

3. Aspidosperma olivaceum Müll. Arg.: S. M. Gomes 575 (UEC)

• Tribo Alstoneae

4. Alstonia macrophylla Wall.: A.O. Simões 1708 (UEC)

• Tribo Vinceae

5. Kopsia fruticosa (Ker Gawl.) A. DC: A.O. Simões s.n. (UEC)

6. Ochrosia elliptica Labill.: P. Forster 27100 (BRI)

7. Cataranthus roseus (L.) G. Don: A.O. Simões s.n. (UEC)

8. Petchia erythrocarpa (Vatke) Leeuwenb.: A.J.M. Leeuwenberg 13870 (WAG)

9. Rauvolfia ligustrina Willd.: I. Koch & J.R. Guimarães s.n. (UEC)

10. Rauvolfia sellowii Müll. Arg.: I. Koch 858 (UEC)

11. Rauvolfia vomitoria Afzel.: I. Koch 871 (UEC)

• Tribo Willughbeieae

12. Couma rigida: M. Watanabe 7 (HUEFS)

13. Lacmellea panamensis: J.F. Morales et al. s.n. (INB, UEC)

14. Hancornia speciosa: L.S. Kinoshita et al. 03/214 (UEC)

15. Parahancornia fasciculata: S.S. Viana et al. 38 (MG)

• Tribo Tabernaemontaneae

16. Ambelania duckei Aubl. - S.S. Viana 87 (MG);

17. Rhigospira quadrangularis (Müll.Arg.) Miers – A.O.Simões et al. 03/2008

(INPA, UEC);

18. Spongiosperma grandiflorum (Huber) - S.S. Viana 17 (MG).

19.Tabernaemontana catharinensis A. DC. – A.O. Simões 1039 (UEC)

20.Tabernaemontana elegans Stapf. - A.O. Simões 1039 (UEC);

21. Tabernaemontana sananho Ruiz & Pav. – A.O.Simões et al. s.n. (INPA,

UEC);

22. Tabernaemontana crassa Benth. - R. Morokawa s.n. (RB);

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

24

23. Tabernaemontana laeta Mart. - I. Koch 890 (UEC);

24. Tabernaemontana donnell-smithii - J.F. Morales s.n. (INB, UEC).

25. Tabernaemontana angulata Mart. ex Müll. Arg.: C.S. Costa 535 (MG, IAN)

26. Tabernaemontana alba Mill. – A.O. Simões 1039 (UEC)

As espécies das tribos Aspidospermeae e Alstonieae foram analisadas

como grupo externo ao clado Vinceae-Willughbeieae-Tabernaemontaneae (V-

W-T.

Microscopia de luz: Os frutos maduros das 26 espécies foram fixados em

FAA (formaldeído, ácido acético glacial, etanol 50%, 1:1:18 (v/v)) (Johansen,

1940) por um período mínimo de 24 horas, colocados em bomba de vácuo para

auxiliar na penetração do fixador, e estocados em álcool etílico 70%. A região

mediana de frutos maduros foi incluída em resina plástica (Historesin Leica)

seguindo o método proposto por Gerrits & Smid (1983), que foi otimizado por

aumento do tempo nos passos de pré-infiltração e infiltração, aplicação de vácuo

e movimentação das soluções em agitador de tubos para potencializar a

penetração da resina no material. Aumentou-se em 50% o volume do catalisador

Hardener, sugerido no terceiro tratamento de Paiva et al. (2011). Secções

transversal e longitudinal foram realizadas com espessura de 4 a 8 μm em

micrótomo rotativo manual com navalha de aço, as lâminas foram coradas com

Azul de Toluidina a 0,05% em tampão acetato 0,1M (pH 4,7) (O’Brien et al., 1964)

por 5 min e montagem das lâminas foi feita em água para observação e

documentação foi realizada em fotomicroscópio Olympus BX51 com câmera

digital (modelo DP71).

Histoquímica: Foi realizado teste histoquímico de Sudan Black B (Pearse,

1980) para detecção de lipídios totais na cutícula e comprovação de presença

de flange cuticular.

As terminologias adotadas para a classificação de figuras planas e sólidas

simétricas foi a de Radford et al., 1974.

As camadas do fruto, exocarpo, mesocarpo e endocarpo, seguiram a

descrição de Roth (1977) em que: exocarpo é a camada mais externa no

pericarpo, mesocarpo é a porção intermediária, se encontra entre o exocarpo e

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

25

o endocarpo e para o endocarpo, como não foi feita a ontogenia do fruto,

utilizamos a classificação morfológica, de sua origem independente.

A descrição de polpa seguiu a descrição de Van der Pijl (1966), que a

define como um crescimento especial. Esse crescimento especial ou também

chamado excrescência carnosa é classificada como polpa e essa pode penetrar

entre as sementes às envolvendo completamente ou não.

Construção de matriz de dados e reconstrução de estados de caráter ancestrais

A matriz de dados codificados foi preparada no programa Mesquite 2.75

(Maddison & Maddison, 2011). Todos os caracteres selecionados são

qualitativos, com estados discretos (Tabelas 1 a 5). Os caracteres codificados

foram mapeados em cladograma construído a partir das relações filogenéticas

evidenciadas pelos estudos de Simões et al. (2010, 2016). Este cladograma

inclui todas as vinte e seis espécies aqui estudadas, sendo que a informação

sobre o tamanho dos ramos não foi considerada. Para detectar os eventos de

mudanças de estado de caráter e possíveis sinapomorfias para clados, foi

aplicada a metodologia de reconstrução de estados de caráter ancestrais

implementada no pacote “Ancestral States Reconstruction Package” pelo critério

de Máxima Parcimônia. Sempre que a reconstrução se mostrou ambígua para

um ou mais nós internos, o modo de visualização MPR (most parsimonious

reconstructions) foi habilitado, de forma a visualizar todas as reconstruções mais

parcimoniosas alternativas.

RESULTADOS

Para frutos bagas e folículos carnosos, o endocarpo é composto por uma

única camada de células epidérmicas não lignificadas. Para os frutos drupas e

folículos secos, o endocarpo é composto pelas várias camadas internas de

células lignificadas, juntamente com outros tipos celulares, quando presentes,

como idioblastos fenólicos, idioblastos cristalíferos e laticíferos.

A análise morfológica e anatômica dos frutos das espécies selecionadas

revelou a existência de características variáveis entre táxons tanto nas

características gerais do pericarpo, como nas características específicas de cada

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

26

região, exocarpo, mesocarpo e endocarpo. A variação observada está codificada

na forma de 30 caracteres, listados a seguir:

Pericarpo

1. Sinuosidade do pericarpo na face externa: (0) Ausente (Fig.1 e 3); (1)

Presente (Fig.2);

2. Sinuosidade do pericarpo na face interna: (0) Ausente (Fig.3); (1)

Presente (Fig.1);

3. Lenticelas: (0) Ausente (Fig.3); (1) Presente (Fig.7);

4. Periderme: (0) Ausente (Fig.3); (1) Presente (Fig.7);

5. Polpa envolvendo cada semente: (0) Não envolve individualmente cada

semente (Fig.5 e 27); (1) Envolve individualmente cada semente (Fig.6 e 26).

Exocarpo:

6. Cutícula: (0) Delgada (de 1 a 4µm) (Fig.2); (1) Espessa (de 5 a 17µm) (Fig.8);

7. Flange cuticular: (0) Ausente (Fig.9); (1) Presente (Fig.8);

8. Tricomas: (0) Ausentes (Fig.9); (1) Presentes (Fig.8);

9. Estômatos: (0) Ausentes (Fig.4a); (1) Presentes (Fig.9);

10. Células lignificadas: (0) Ausentes (Fig.11); (1) Presentes (Fig.10);

11. Cristais de oxalato de cálcio: (0) Ausente (Fig.11); (1) Presente (Fig.10);

12. Conteúdo fenólico: (0) Ausentes (Fig.9); (1) Presentes (Fig.11);

13. Células papilosas: (0) Ausentes (Fig.10); (1) Presentes (Fig.11).

Mesocarpo:

14. Esclereídes: (0) Ausentes (Fig.1); (1) Presentes (Fig.3);

15. Distribuição dos esclereídes (0) Porção externa do mesocarpo (Fig.3); (1)

Dispersos por todo o mesocarpo (Fig.4a e 4b);

16. Fibras não lignificadas (0) Ausentes (Fig.7); (1) Presentes (Fig.9);

17. Cristais de oxalato de cálcio: (0) Ausentes (Fig.9); (1) Presentes (Fig.10);

18. Idioblastos fenólicos: (0) Ausentes (Fig.4a e 4b); (1) Presentes (Fig.12a e

12b);

19. Distribuição dos idioblastos fenólicos: (0) Dispersos por todo mesocarpo

(Fig.12a e 12b); (1) Presentes em todo mesocarpo, concentrados na porção

externa; (2) Presentes só na porção externa (Fig.11);

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

27

20. Grandes espaços intercelulares - a partir de 33mm2 (área): (0) Ausente

(Fig.13); (1) Presente (Fig.14);

21. Linha de deiscência: (0) Ausente (Fig.12a e 12b); (1) Presente (Fig.15);

22. Células da linha de deiscência (sutura ventral do carpelo): (0) Tipo A:

células de contorno arredondado, em secção transversal do fruto, com

parede celular delgada e menores que as células do mesocarpo adjacente

(Fig.15 e 16); (1) Tipo B: células alongadas, preferencialmente, de forma

oblíqua em relação ao raio, em secção transversal do fruto, com parede

celular delgada (Fig.17); (3) Tipo C: sem diferenciação das células na região

de deiscência em relação ao restante do mesocarpo por serem semelhantes

em tamanho e contorno (secção transversal do fruto) (Fig.18);

23. Esclereídes adjacentes à linha de deiscência: (0) Ausentes (Fig.15); (1)

Presentes (Fig.16).

Endocarpo:

24. Número de camadas: (0) uma camada (Fig.19); (1) mais de uma camada

(Fig.20, 21, 23a e 23b);

25. Parede celular lignificada: (0) Ausente (Fig.19); (1) Presente (Fig.20);

26. Tipo de célula lignificada: (0) Somente fibras (Fig.23a e 23b); (1)

Esclereídes e fibras (Fig.21).

27. Orientação das fibras: (0) Transversal e longitudinalmente alongadas

(Fig.21); (1) Obliquamente alongadas (Fig.23a e 23b);

28. Cristais de Oxalato de Cálcio: (0) Ausentes (Fig.21); (1) Presentes (Fig.22);

29. Conteúdo fenólico: (0) Ausente (Fig.21); (1) Presente (Fig.23a e 23b);

30. Laticíferos: (0) Ausentes (Fig.21); (1) Presentes (Fig.23a e 23b).

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

28

Tabela 1: Características gerais do Pericarpo. Relação de caracteres e estados de caráter dos frutos conforme as espécies e subtribos

de Rauvolfioideae (Apocynaceae).

ASP = Aspidospermeae; ALS = Alstonieae; VIN = Vinceae; TAB = Tabernaemontaneae; WIL = Willughbeieae; B = baga; D = drupa; F = folículo.

Tribo Espécies1. Sinuosidade

(face externa)

2. Sinuosidade

(face interna)3. Lenticelas 4. Periderme

5. Mesocarpo e endocarpo

envolvendo cada semente

ASP Aspidospema australe (F) 0 0 1 0 0

Aspisdosperma olivaceum (F) 0 0 1 0 0

Aspidospema pyrifolium (F) 0 0 1 0 0

ASL Alstonia macrophylla (F) 0 0 0 0 0

Kopsia fruticosa (D) 0 0 0 0 1

Ochrosia elliptica (D) 0 0 0 0 1

Cataranthus roseus (F) 0 1 0 0 0

Petchia erythrocarpa (D) 0 0 1 0 1

Rauvolfia vomitoria (D) 0 0 0 0 1

Rauvolfia ligustrina (D) 0 0 0 0 1

Rauvolfia sellowii (D) 0 0 0 0 1

Couma rigida (B) 0 0 1 0 1

Lacmellea panamensis (B) 0 0 1 0 1

Hancornia speciosa (B) 0 0 1 1 1

Parahancornia fasciculata (B) 0 0 0 0 1

Ambelania duckei (B) 0 1 0 0 0

Rhigospira quadrangularis (B) 0 0 0 0 1

Spongiosperma macrophyllum (B) 0 1 1 0 0

Tabernaemontana catharinensis (F) 1 0 0 0 0

Tabernaemontana elegans (F) 0 0 1 1 0

Tabernaemontana sananho (F) 0 0 0 0 0

Tabernaemontana crassa (F) 0 0 0 0 0

Tabernaemontana laeta (F) 1 1 1 0 0

Tabernaemontana donnell-smithii (F) 0 0 1 1 0

Tabernaemontana angulata (F) 0 0 0 0 0

Tabernaemontana alba (F) 0 0 0 0 0

VIN

WIL

TAB

PERICARPO

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

29

Tabela 2: Características específicas do Exocarpo. Relação de caracteres e estados de caráter dos frutos conforme as espécies e subtribos

de Rauvolfioideae (Apocynaeceae).

ASP = Aspidospermeae; ALS = Alstonieae; VIN = Vinceae; TAB = Tabernaemontaneae; WIL = Willughbeieae; B = baga; D = drupa; F = folículo.

EXOCARPO

Tribo Espécies 6. Cutícula7. Flange

cuticular8. Tricomas 9. Estômatos

10. Células

lignificadas

11. Cristais de

oxalato de cálcio

12. Conteúdo

fenólico

13. Células

papilosas

ASP Aspidospema australe (F) 1 0 1 0 0 0 1 0

Aspdosperma olivaceum (F) 1 0 0 0 0 0 0 0

Aspidospema pyrifolium (F) 1 0 0 0 0 0 0 0

ASL Alstonia macrophylla (F) 1 0 0 1 1 0 0 0

Kopsia fruticosa (D) 1 1 1 1 0 0 1 1

Ochrosia elliptica (D) 0 0 0 1 0 0 0 0

Cataranthus roseus (F) 1 0 1 1 0 0 0 0

Petchia erythrocarpa (D) 1 0 0 1 0 0 0 0

Rauvolfia vomitoria (D) 1 0 0 0 0 0 0 0

Rauvolfia ligustrina (D) 0 0 0 0 0 0 0 0

Rauvolfia sellowii (D) 1 0 0 0 0 0 0 0

Couma rigida (B) 1 1 0 1 0 0 0 1

Lacmellea panamensis (B) 1 1 0 1 0 0 0 0

Hancornia speciosa (B) 1 1 0 1 0 0 0 1

Parahancornia fasciculata (B) 1 1 0 1 0 0 0 1

Ambelania duckei (B) 1 1 0 0 0 0 0 1

Rhigospira quadrangularis (B) 1 1 0 0 0 1 0 1

Spongiosperma macrophyllum (B) 1 1 0 1 0 0 0 0

Tabernaemontana catharinensis (F) 0 0 0 1 0 0 0 1

Tabernaemontana elegans (F) 1 0 0 0 0 0 0 0

Tabernaemontana sananho (F) 0 0 0 1 0 0 0 0

Tabernaemontana crassa (F) 1 0 0 1 1 1 0 0

Tabernaemontana laeta (F) 0 0 0 1 0 0 0 0

Tabernaemontana donnell-smithii (F) _ _ _ _ _ _ _ _

Tabernaemontana angulata (F) 0 0 1 1 0 0 0 1

Tabernaemontana alba (F) 0 0 0 1 0 0 0 0

VIN

WIL

TAB

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

30

Tabela 3: Caractepristicas específicas do Mesocarpo. Relação de caracteres e estados de caráter dos frutos conforme as espécies e subtribos de

Rauvolfioideae (Apocynaeceae).

ASP = Aspidospermeae; ALS = Alstonieae; VIN = Vinceae; TAB = Tabernaemontaneae; WIL = Willughbeieae; B = baga; D = drupa; F = folículo.

MESOCARPO

Tribo Espécies 14. Esclerócitos15. Distribuição dos

esclerócitos16. Fibras não lignificadas

17. Cristais de oxalato de

cálcio18. Idioblastos fenólicos

19. Distribuição dos idioblastos

fenólicos

ASP Aspidospema australe (F) 1 1 0 1 0 _

Aspidosperma olivaceum (F) 1 1 0 0 0 _

Aspidospema pyrifolium (F) 1 1 0 1 0 _

ASL Alstonia macrophylla (F) 0 _ 1 0 0 _

Kopsia fruticosa (D) 0 _ 0 1 1 1

Ochrosia elliptica (D) 0 _ 0 0 1 0

Cataranthus roseus (F) 0 _ 1 0 0 _

Petchia erythrocarpa (D) 0 _ 0 0 0 _

Rauvolfia vomitoria (D) 0 _ 0 0 1 0

Rauvolfia ligustrina (D) 0 _ 0 0 0 _

Rauvolfia sellowii (D) 0 _ 0 0 1 0

Couma rigida (B) 1 0 0 0 1 0

Lacmellea panamensis (B) 0 _ 0 0 1 0

Hancornia speciosa (B) 0 _ 0 0 1 2

Parahancornia fasciculata (B) 0 _ 0 0 1 0

Ambelania duckei (B) 0 _ 0 1 1 1

Rhigospira quadrangularis (B) 1 0 0 1 1 0

Spongiosperma macrophyllum (B) 1 0 0 1 1 0

Tabernaemontana catharinensis 1 0 0 1 0 _

Tabernaemontana elegans (F) 1 0 0 1 0 _

Tabernaemontana sananho (F) 1 0 0 1 0 _

Tabernaemontana crassa (F) 1 0 0 1 0 _

Tabernaemontana laeta (F) 1 0 0 1 0 _

Tabernaemontana donnell-smithii (F) 0 _ 0 0 0 _

Tabernaemontana angulata (F) 1 0 0 0 0 _

Tabernaemontana alba (F) 0 _ 0 1 0 _

TAB

VINC

WIL

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

31

Tabela 4: Características específicas do Mesocarpo (continuação). Relação de caracteres e estados de caráter dos frutos conforme as

espécies e subtribos de Rauvolfioideae (Apocynaceae).

ASP = Aspidospermeae; ALS = Alstonieae; VIN = Vinceae; TAB = Tabernaemontaneae; WIL = Willughbeieae; B = baga; D = drupa; F = folículo.

Tribo Espécies

20. Grandes

espaços

intercelulares

21. Linha de

deiscência

22. Células da

Linha de

deiscência

23. Esclerócitos

adjacentes à linha de

deiscencia

ASP Aspidospema australe (F) 0 1 0 1

Aspidosperma olivaceum (F) 0 1 0 1

Aspidospema pyrifolium (F) 0 1 0 0

ASL Alstonia macrophylla (F) 0 1 3 1

Kopsia fruticosa (D) 0 0 _ _

Ochrosia elliptica (D) 0 0 _ _

Cataranthus roseus (F) 0 1 3 1

Petchia erythrocarp (D) 1 0 _ _

Rauvolfia vomitoria (D) 0 0 _ _

Rauvolfia ligustrina (D) 0 0 _ _

Rauvolfia sellowii (D) 0 0 _ _

Couma rigida (B) 0 0 _ _

Lacmellea panamensis (B) 1 0 _ _

Hancornia speciosa (B) 0 0 _ _

Parahancornia fasciculata (B) 1 0 _ _

Ambelania duckei (B) 0 0 _ _

Rhigospira quadrangularis (B) 0 0 _ _

Spongiosperma macrophyllum (B) 1 0 _ _

Tabernaemontana catharinensis (F) 0 1 0 1

Tabernaemontana elegans (F) 1 1 0 1

Tabernaemontana sananho (F) 1 1 1 1

Tabernaemontana crassa (F) 1 1 0 1

Tabernaemontana laeta (F) 0 1 0 1

Tabernaemontana donnell-smithii (F) 0 1 0 1

Tabernaemontana angulata (F) 0 1 0 1

Tabernaemontana alba (F) 0 1 0 1

VINC

WIL

TAB

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

32

Tabela 5: Características específicas do Endocarpo. Relação de caracteres e estados de caráter dos frutos conforme as espécies e subtribos

de Rauvolfioideae (Apocynaeceae).

ASP = Aspidospermeae; ALS = Alstonieae; VIN = Vinceae; TAB = Tabernaemontaneae; WIL = Willughbeieae; B = baga; D = drupa; F = folículo.

ENDOCARPO

Tribo Espécies 24. Nº camadas25. Parede celular

lignificada

26. Tipo de célula

lignificada27. Orientação das fibras

28. Cristal de

oxalato de cálcio

29. Conteúdo

fenólico30. Laticíferos

ASP Aspidospema australe (F) 1 1 1 0 0 0 0

Aspidosperma olivaceum (F) 1 1 1 0 0 0 0

Aspidospema pyrifolium (F) 1 1 1 0 0 0 0

ASL Alstonia macrophylla (F) 1 1 1 0 1 0 0

Kopsia fruticosa (D) 1 1 1 0 0 0 0

Ochrosia elliptica (D) 1 1 0 1 0 1 1

Cataranthus roseus (F) 1 1 1 0 0 0 0

Petchia erythrocarpa (D) 1 1 1 0 1 0 1

Rauvolfia vomitoria (D) 1 1 1 0 1 0 0

Rauvolfia ligustrina (D) 1 1 1 0 1 0 0

Rauvolfia sellowii (D) 1 1 1 0 1 0 0

Couma rigida (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Lacmellea panamensis (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Hancornia speciosa (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Parahancornia fasciculata (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Ambelania duckei (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Rhigospira quadrangularis (B) 0 0 _ _ 0 0 _

Spongiosperma macrophyllum (B) 0 0 _ _ 0 1 _

Tabernaemontana catharinensis (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana elegans (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana sananho (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana crassa (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana laeta (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana donnell-smithii (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana angulata (F) 0 0 _ _ 0 0 _

Tabernaemontana alba (F) 0 0 _ _ 0 0 _

VINC

WIL

TAB

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

33

Reconstrução de estados de caráter ancestrais

Dos 30 caracteres analisados, seis são prováveis sinapomorfias (polpa

envolvendo cada semente, flange cuticular, idioblastos fenólicos no mesocarpo,

linha de deiscência, número de camadas no endocarpo e endocarpo lignificado)

para classificação das tribos (Cladograma 1-6) e os demais se mostraram

homoplásticos ou de reconstrução ambígua para os clados principais da

filogenia. Foi feito um cladograma para tipos de frutos para reforçar a hipótese

do fruto ancestral família e das tribos (Cladograma 7).

As características como, polpa não envolvendo individualmente cada

semente, presença de linha de deiscência no mesocarpo e células com parede

celular lignificada no endocarpo dão indícios de que frutos foliculares secos como

sendo o fruto ancestral da família.

Com base nos caracteres analisados, o fruto ancestral em Apocynaceae

foi reconstruído como sendo folicular seco (Fig.24 – Cladograma 7) no ancestral

comum mais recente (ACMR) da família, apresentando as seguintes

características: a) pericarpo: sinuosidade na face externa ausente (caráter 1,

estado 0 – Fig.1 e 3), sinuosidade na face interna ausente (caráter 2, estado 0 –

Fig.3), lenticelas ausentes (caráter 3, estado 0 – Fig.3), periderme ausente

(caráter 4, estado 0 - – Fig.3), polpa não envolve, individualmente, cada semente

(caráter 5, estado 0 – Fig.5); b) exocarpo: cutícula espessa (caráter 6, estado 1

– Fig.8), flange cuticular ausente (caráter 7, estado 0 – Fig.9), tricomas ausentes

(caráter 8, estado 0 – Fig.9), estômatos ausentes/ presentes (caráter 9 – Fig.4a/

9), ausência de células lignificadas (caráter 10, estado 0 – Fig.11), ausência de

cristais de oxalato de cálcio (caráter 11, estado 0 – Fig.11), ausência de células

com conteúdo fenólico (caráter 12, estado 0 – Fig.9) e células papilosas ausentes

(caráter 13, estado 0 – Fig.10); c) mesocarpo: ausência/presença de esclereídes

(caráter 14 – Fig.1/3) , ausência de fibras não lignificadas (caráter 16, estado 0

– Fig.7), ausência/presença de cristais de oxalato de cálcio (caráter 17 –

Fig.9/10), ausência de idioblastos fenólicos (caráter 18, estado 0 – Fig.4a e b),

ausência de grandes espaços intercelulares (caráter 20, estado 0 – Fig.13 ),

presença de linha de deiscência (caráter 21, estado 1 – Fig.15), com maior

probabilidade de ser composta por células do tipo A (caráter 22, estado 0 –

Fig.15) e esclereídes adjacentes (caráter 23, estado 1 – Fig.15) d) endocarpo:

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

34

maior probabilidade de possuir mais de uma camadas (caráter 24, estado 1 –

Fig.21), células com parede celular lignificada (caráter 25, estado 1 – Fig.20),

compostas por fibras e esclereídes (caráter 26, estado 1 – Fig.21) e fibras

alongadas transversal e longitudinalmente (caráter 27, estado 0 – Fig.21),

ausência de células de oxalato de cálcio (caráter 28, estado 0 – Fig.21), ausência

de conteúdo fenólico (caráter 29, estado 0 – Fig.21), e ausência de laticíferos

(caráter 30, estado 0 – Fig.21).

Dentre os caracteres reconstruídos para o fruto ancestral do clado

Vinceae – Willughbeieae – Tabernaemontaneae (VWT), quatro se apresentaram

potenciais sinapomorfias: 1) polpa envolvendo, individualmente, cada semente

(caráter 5, estado 1 – Fig.6 – Cladograma 1); 2) presença de flange cuticular

(caráter 7, estado 1 – Fig.8 – Cladograma 2a e 2b); 3) presença de idioblastos

fenólicos no mesocarpo (caráter 18, estado 1 – Fig.12a e b – Cladograma 3); 4)

ausência de linha de deiscência (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e b – Cladograma

4). Outro estado de caráter que se mostrou determinante para classificar o tipo

de fruto do ACMR do clado VTW, é a presença de endocarpo lignificado (caráter

25, estado 1 - Fig.20 – Cladograma 6), sendo, no entanto, um caráter

plesiomórfico para este clado.

A reconstrução do caráter polpa envolvendo cada semente (caráter 5,

estado 1 - Fig.6) resultou em uma análise inequívoca, sendo a provável condição

plesiomórfica para Apocynaceae a polpa não envolvendo, individualmente, cada

semente (caráter 5, estado 0 - Fig.5). A mudança para a condição de polpa

envolvendo individualmente cada semente é uma provável sinapomorfia do

clado VWT, com uma origem independente em Rhigospira quadrangularis

(Tabernaemontaneae). Para o caráter flange cuticular (caráter 7), a reconstrução

resultou em duas hipóteses contrastantes, sendo que em todas a ausência de

flange cuticular (caráter 7, estado 0 - Fig.9) é sempre a condição plesiomórfica

para o ancestral de Apocynaceae. Na primeira hipótese, a presença da flange

(caráter 7, estado 1 - Fig.8) surge como sinapomorfia para o clado VWT,

apresentando perda desse caráter as drupas de Vinceae, com exceção de

Kopsia fruticosa e os frutos foliculares de Tabernaemontaneae. Na segunda

hipótese, a presença da flange (caráter 7, estado 1 - Fig.8) surge como uma

sinapomorfia para o clado Willughbeieae-Tabernaemontaneae (WT), surgindo

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

35

de forma independente em K. fruticosa e perda desse caráter nos frutos

foliculares de Tabernaemontaneae.

A presença de idioblastos fenólicos no mesocarpo (caráter 18, estado 1 -

Fig.12a e b) resultou em apenas uma reconstrução, em que esta característica

no ACMR do clado VWT é uma sinapomorfia, com perdas subsequentes no

ancestral de Catharanthus roseus e Pecthia erytrocarpa, em Rauvolfia ligustrina

e no ACMR de Tabernaemontaninae. Ou seja, estes idioblastos estão ausentes

nos frutos foliculares, mas presentes nos frutos drupáceos (com algumas

perdas) e nos bacáceos. A reconstrução do caráter linha de deiscência no

mesocarpo também resultou em uma análise inequívoca, sendo a presença

desta linha (caráter 21, estado 1 - Fig.15) a condição plesiomórfica do ACMR de

Apocynaceae e a sua ausência (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e b) uma provável

sinapomorfia do ACMR do clado VWT, com duas reversões para presença de

linha de deiscência em Vinceae (Catharanthus roseus) e paralelamente em

Tabernaemontaneae, (subtribo Tabernaemontaninae).

A presença de endocarpo lignificado é uma característica importante para

inferir qual o tipo de fruto ancestral do clado VWT. A presença de lignificação

(caráter 25, estado 1 - Fig.20) é reconstruída como uma característica

plesiomórfica, sendo que a perda desta lignificação (caráter 25, estado 0 - Fig.19)

a condição mais parcimoniosa para o ACMR do clado WT.

Nossos resultados também indicam que o fruto do ACMR do clado VWT

apresenta características diagnósticas de drupas (Fig.25 – Cladograma 7), como

polpa envolvendo, individualmente, cada semente, ausência de linha de

deiscência e presença de endocarpo lignificado.

O fruto ancestral do clado WT foi reconstruído como sendo bacoide

(Fig.26 – Cladograma 7), apresentando as seguintes características: 1)

endocarpo com apenas uma camada (caráter 24, estado 0 - Fig.19 – Cladograma

5); 2) endocarpo sem lignificação (caráter 25, estado 0 - Fig.19 – Cladograma 6).

A ausência de linha de deiscência (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e b –

Cladograma 4) é a condição pleisiomórfica presente no clado VWT e é um estado

de caráter importante para classificação do tipo de fruto ancestral. Outros

estados de caráter que representam o fruto, mas não reconstruídos como

sinapomorfias são: 1) pericarpo: sinuosidade na face externa (caráter 1, estado

0 - Fig.3) e interna (caráter 2, estado 0 - Fig.3) ausentes, lenticelas (caráter 3,

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

36

estado 0 - Fig.3) e periderme (caráter 4, estado 0 - Fig.3) ausentes e polpa

envolvendo cada semente (ambiguidade) (caráter 5 - Fig.5/6); 2) exocarpo:

cutícula espessa (caráter 6, estado 1 - Fig.8), flange cuticular presente (caráter

7, estado 1 - Fig.8), tricomas ausentes (caráter 8, estado 0 - Fig.9), estômatos

presentes (caráter 9, estado 1 - Fig.9), células lignificadas ausentes (caráter 10,

estado 0 - Fig.11), cristais de oxalato de cálcio ausentes (caráter 11, estado 0 -

Fig.11) e células papilosas ausentes (caráter 13, estado 0 - Fig.10); 3)

mesocarpo: esclereídes ausentes (caráter 14, estado 0 - Fig.1), fibras não

lignificadas ausentes (caráter 16, estado 0 - Fig.7), cristais de oxalato de cálcio

(ambiguidade) (caráter 17 - Fig.9/10), idioblastos fenólicos presentes (caráter 18,

estado 1 - Fig.12a e b) e dispersos por todo mesocarpo (caráter 19, estado 0 -

Fig.12a e b) e grandes espaços ausentes (caráter 20, estado 0 - Fig.13); 4)

endocarpo: cristal de oxalato de cálcio ausente (caráter 28, estado 0 - Fig.21) e

conteúdo fenólico ausente (caráter 29, estado 0 - Fig.21).

Os frutos drupoides de Vinceae foram avaliados quanto a sua homologia,

ou seja, quando as características do fruto do ACMR de Vinceae tivessem

origem única e compartilhada entre os taxa terminais de frutos drupoides, e não

foliculares. Os frutos apresentam sinapomorfias e, possíveis homologias para os

seguintes estados de caráter: polpa envolvendo, individualmente, cada semente

(caráter 5, estado 1 - Fig.6 – Cladograma 1), presença de idioblastos no

mesocarpo (caráter 18, estado 1 - Fig.12a e b – Cladograma 3) e a ausência de

linha de deiscência (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e b – Cladograma 4). Outros

caracteres que são possíveis homologias, mas de condição plesiomórfica são:

ausência de sinuosidade do pericarpo na face externa (caráter 1, estado 0 -

Fig.3) e interna (caráter 2, estado 0 - Fig.3), no exocarpo ausência de periderme

(caráter 4, estado 0 - Fig.3), ausência de células lignificadas (caráter 10, estado

0 - Fig.11 ) e ausência de cristais de oxalato de cálcio (caráter 11, estado 0 -

Fig.11), ausência de esclereídes (caráter 14, estado 0 - Fig.1), ausência de fibras

não lignificadas no mesocarpo (caráter 16, estado 0 - Fig.7) e grandes espaços

intercelulares (caráter 20, estado 0 - Fig.14) e endocarpo lignificado (caráter 25,

estado 1 - Fig.20).

A presença de Idioblastos fenólicos no mesocarpo (caráter 18, estado 1 -

Fig.12a e b) é uma sinapomorfia do clado VWT, porém alguns frutos ancestrais

possivelmente não apresentavam esse estado de caráter, como o ACMR de

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

37

Catharanthus roseus e Pecthia erytrocarpa e de Rauvolfia ligustrina. Já a

ausência da linha de deiscência no mesocarpo (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e

b) é o estado mais parcimonioso para o ACMR do clado VWT, sendo um estado

de caráter comum aos frutos drupaceos da tribo, com presença de linha de

deiscência apenas o fruto folicular do grupo, Catharanthus roseus.

Na tribo Vinceae, as quatro subtribos representadas no presente trabalho,

Kopsiinae, Ochrosiinae, Catharanthinae e Rauvolfiinae não apresentaram

sinapomorfias inequívocas, embora possamos destacar estados de caráter

exclusivos para cada uma destas:

Na subtribo Kopsiinae (Kopsia), o exocarpo apresenta flange cuticular

(caráter 7, estado 1 - Fig.8), conteúdo fenólico (caráter 12, estado 1 - Fig.12a e

b) e células papilosas (caráter 13, estado 1 - Fig.11) e o mesocarpo possui

cristais de oxalato de cálcio (caráter 17, estado 1 - Fig.10) e idioblastos fenólicos

dispersos por todo mesocarpo, com maior concentração na porção externa

(caráter 19, estado 1 - Fig.11). A subtribo Rauvolfiinae (Rauvolfia), por sua vez,

é a única que apresenta estômatos no exocarpo (caráter 9, estado 1 - Fig.9). Na

subtribo Ochrosiinae (Ochrosia), o endocarpo apresenta mais de uma camada

(caráter 24, estado 1 - Fig.23a e b), somente fibras no endocarpo lignificado

(caráter 26, estado 0 - Fig.23a e b) que estão obliquamente alongadas (caráter

27, estado 1 - Fig.23a e b) e conteúdo fenólico (caráter 29, estado 1 - Fig.23a e

b).

A espécie Catharanthus roseus apresenta algumas características

exclusivas por apresentar o fruto folicular, diferentemente dos outros frutos que

são drupoides. Entre essas características podemos destacar: presença de

sinuosidade do pericarpo na face interna (caráter 2, estado 1 - Fig.1), a polpa

não envolve, individualmente, cada semente (caráter 5, estado 0 - Fig.5),

presença de fibras não lignificadas (caráter 16, estado 1 - Fig.9) e de linha de

deiscência no mesocarpo (caráter 21, estado 1 - Fig.15).

Os frutos bacoides dos gêneros estudados de Willughbeieae e de

Ambalaninae (Tabernaemontaneae) são, possivelmente, homólogos para os

seguintes estados de caráter: presença de células papilosas no exocarpo

(caráter 13, estado 1 - Fig.11), presença de idioblastos fenólicos no mesocarpo

(caráter 18, estado 1 - Fig.12a e b), ausência de linha de deiscência no

mesocarpo (caráter 21, estado 0 - Fig.12a e b) e endocarpo composto por uma

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

38

camada (caráter 24, estado 1 - Fig.19) sem liginificação (caráter 25, estado 0 -

Fig.19). Estes frutos também se mostraram potencialmente homólogos na

maioria das reconstruções mais parcimoniosas (MRPs) em relação às células

papilosas no exocarpo (caráter 13 - Fig.11). Dentre essas, oito indicaram a

ausência de células papilosas no exocarpo (caráter 13, estado 0 - Fig.10) como

condição ancestral da família. Entretanto, em seis delas, a presença desse

caráter (caráter 13, estado 1 - Fig.11) é o estado mais parcimonioso para o

ACMR do clado WT, com perdas em Lacmellea panamensis, Spongiosperma

macrophyllum e em cincos espécies de Tabernaemontana. Já o surgimento dos

compostos fenólicos no mesocarpo (caráter 18, estado 1 - Fig.12a e b) do ACMR

do clado VWT apresentou apenas uma reconstrução possível, sugerindo que os

frutos bacoides de WT (Ambelaninae) também são homólogos para esse caráter,

com perda destes compostos no ACMR de Tabernaemontaninae

(Tabernaemontaneae). A ausência da linha de deiscência (caráter 21, estado 0

- Fig.12a e b) é o provável estado ancestral do clado WT, pois a perda da linha

de deiscência possivelmente ocorreu no ACMR do clado VWT, com duas

reversões subsequentes nos frutos foliculares de Catharanthus roseus (Vinceae)

e de Tabernaemontaninae (Tabernaemontaneae). O endocarpo formado por

apenas uma camada (caráter 24, estado 0 - Fig.19) e a perda de lignificação das

suas células (caráter 25, estado 0 - Fig.19) foram identificados como

sinapomorfias potenciais do clado WT. Essa condição ocorreu em todas as

espécies estudadas de Willughbeieae e de Tabernaemontaneae, constituindo

mais um indicativo de homologia entre os frutos bacoides ocorrentes neste clado.

Os caracteres reconstruídos para o fruto folicular seco ancestral da família

estão presentes tanto nos ancestrais dos folículos secos estudados, ACMR de

Aspidospermeae e ACMR de Alstonieae, como no ancestral dos folículos

carnosos de Tabernaemontaninae (Tabernaemontaneae) (Cladograma 7). No

entanto, seis características aparecem apenas em frutos foliculares carnosos de

Tabernaemontaninae (Tabernaemontaneae) e não estão presentes nos

foliculares secos dos representantes de Aspidospermeae, Alstonieae e Vinceae

estudados. A sinuosidade do pericarpo na face externa (caráter 1, estado 1 -

Fig.2) surgiu independentemente no ancestral do clado T.catharinensis-T.laeta.

Já o exocarpo com células papilosas (caráter 13, estado 1 - Fig.11) ocorrem em

T. angulata, T.catharinensis e T.laeta. Os folículos carnosos de T. crassa e T.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

39

sananho possuem mesocarpo com grandes espaços intercelulares (caráter 20,

estado 1 - Fig.14). A linha de deiscência formada por células do tipo B (caráter

22, estado 1 - Fig.17) surgiu, exclusivamente, em T. sananho. Por fim, o

endocarpo composto por uma camada de células (caráter 24, estado 0 - Fig.19)

e sem lignificação (caráter 25, estado 0 - Fig.19) foram caracteres reconstruídos

apenas para o folículo carnoso do ACMR Tabernaemontaninae

(Tabernaemontaneae). Visto isso, somente os frutos foliculares secos

apresentaram endocarpo formado por fibras (caráter 26, estado 0 - Fig.23a e b)

e/ou esclereídes (caráter 26, estado 1 - Fig.21) e, quando, fibras orientadas

transversal, longitudinalmente (caráter 27, estado 0 - Fig.21) e/ou obliquamente

alongadas (caráter 27, estado 1 - Fig.23a e b).

Por outro lado, somente frutos foliculares secos de Alstonia (Alstonieae)

e Catharanthus roseus (Vinceae), exceto Aspidosperma (Aspidospermeae),

apresentaram fibras não lignificadas no mesocarpo (caráter 16, estado 1 - Fig.9)

e células da linha de deiscência do tipo C (caráter 22, estado 2 - Fig.18). O

endocarpo com mais de uma camada é comum aos frutos foliculares secos

estudados, sendo o estado de caráter plesiomórfico mais parcimonioso.

As reconstruções dos 30 caracteres também não revelaram sinapomorfias

para Tabernaemontaneae, mas sim potenciais características diagnósticas para

as subtribos Ambelaninae e Tabernaemontaninae: idioblastos fenólicos no

mesocarpo (caráter 18 - Fig.12a e b) e linha de deiscência (caráter 21 - Fig.15).

O estado mais parcimonioso (duas de três MRPs) para o fruto ancestral de

Tabernaemontaneae é possuir exocarpo com flange cuticular (caráter 7, estado

1 - Fig.8), mantendo-se em Ambelaninae e sido perdido em

Tabernaemontaninae. A terceira hipótese indica o surgimento do caráter apenas

no ACMR de Ambelaniinae. A reconstrução de idioblastos fenólicos no

mesocarpo (caráter 18 - Fig.12a e b) dos frutos de Tabernaemontaneae foi

inequívoca, mostrando que tanto os frutos do ancestral da tribo como a subtribo

Tabernaemontaninae apresentaram a presença desse caráter (caráter 18,

estado 1 - Fig.12a e b), com perda no ACMR de Ambelaninae. Frutos com linha

de deiscência (caráter 21, estado 1 - Fig.15) é uma sinapomorfia para

Tabernaemontaninae, sendo esse caráter ausente no ancestral da tribo e no

ACMR de Ambelaniinae.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

40

Figura 1-6. Frutos maduros evidenciando caracteres do Pericarpo, Exocarpo e Mesocarpo. 1 a 4 e 6. Secções transversais. 5. Secção longitudinal. 1. Catharanthus roseus. Pericarpo com sinuosidade da face externa ausente. Sinuosidade da face interna presente. 2. Tabernaemontana catharinensis. Pericarpo com sinuosidade da face externa presente. Cutícula delgada (em detalhe). 3. T. angulata. Pericarpo com sinuosidade externa e interna ausentes. Esclerócitos isolados/grupos na porção externa do mesocarpo (cabeças de seta). 4. Aspidosperma pyrifolium. 4a. Porção externa do pericarpo. 4b. Porção interna do pericarpo. Esclerócitos isolados/grupos por todo o mesocarpo (cabeças de seta). 5. Cataranthus roseus. Mesocarpo e endocarpo não envolvem individualmente cada semente. 6. Couma rigida. Porção interna do pericarpo. Mesocarpo e endocarpo envolvem individualmente cada semente.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

41

Figura 7-12. Frutos maduros evidenciando caracteres do Pericarpo, Exocarpo e Mesocarpo. 7. Aspidosperma australe. Lenticela e periderme. 8. Kopsia fruticosa. Teste histoquímico com Sudan Black. Tricomas, cutícula espessa e flange cuticular penetrando até a segunda camada mesocárpica subjacente. 9. Alstonia macrophylla. Estômatos e fibras não lignificadas (setas estreitas). 10. Tabernaemontana crassa. Cutícula espessa. Algumas células do exocarpo lignificadas (cabeças de seta). Cristais de oxalato de cálcio presentes em células do exocarpo e do mesocarpo (em detalhe; Luz polarizada). 11. Hancornia speciosa. Algumas células do exocarpo com conteúdo fenólico (setas largas). Células papilosas (em detalhe) e idioblastos presentes na porção externa do mesocarpo (linhas tracejadas). 12. Lacmellea panamensis. 12a. Porção externa do pericarpo. 12b. Porção interna do pericarpo. Idioblastos dispersos por todo mesocarpo.

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

42

Figura 13-18. Frutos maduros evidenciando caracteres do Mesocarpo. Secções transversais. 13. Tabernaemontana alba.

Ausência de grandes espaços intercelulares no mesocarpo. 14. Parahancornia fasciculata. Presença de grandes espaços

intercelulares (asteriscos). 15 - 18. Linha de deiscência. 15. Aspidosperma australe. Linha Tipo A, células de contorno

arredondado. Presença de esclerócitos adjacentes. 16. T. donnell-smithii. Linha Tipo A com ausência de esclerócitos

adjacentes. 17. T. sananho. Linha Tipo B, células alongadas, preferencialmente, de forma oblíqua em relação ao raio.

Presença de esclerócitos adjacentes. 18. Catharanthus roseus. Linha Tipo C (linha tracejada), sem diferenciação das células

em relação às do mesocarpo adjacente.

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

43

Figura 19-23. Frutos maduros evidenciando caracteres do Mesocarpo e Endocarpo. Secções transversais. 19. Tabernaemontana angulata. Endocarpo com uma camada de células não lignificadas. 20. Kopsia fruticosa. Endocarpo lignificado com 2 a 8 camadas. 21. Aspidosperma australe. Endocarpo lignificado com 13 a 22 camadas de esclerócitos (camadas mais internas) e fibras transversal e longitudinalmente alongadas (camadas mais externas). 22. Rauvolfia vomitoria. Endocarpo lignificado com 13 a 22 camadas. Presença de cristais de oxalato e cálcio (setas largas). 23. Ochrosia elliptica. 23a. Mesocarpo interno e camadas mais internas do endocarpo. 23b. Camadas mais externas do endocarpo e semente. Endocarpo formado por mais de 50 camadas de células em processo de lignificação. Presença de idioblastos fenólicos e laticíferos (seta estreitas) no endocarpo. en: endocarpo; se: semente.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

44

Legenda:

Figura 24-26: Esquemas hipotéticos dos pericarpos para estados de caráter ancestrais. 24. Folículo seco ancestral da família. 25. Fruto

ancestral do clado VWT com características diagnósticas de drupa. 26. Fruto ancestral do clado WT, reconstruído como sendo uma

baga.

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

45

Figuras 27 e 28. Frutos maduros evidenciando o Caráter 5 (Polpa envolvendo cada semente). Secções transversais. 27. Spongiosperma macrophyllum. Polpa do fruto não envolve individualmente cada semente. 28. Rhigospira quadrangularis. Polpa do fruto envolve individualmente cada semente. se: semente.

Serão representados somente as oito cladogramas que apresentaram sinapomorfias para os grupos.

Cladograma 1: Caráter 5: Polpa envolvendo cada semente - análise inequívoca, provável condição

pleisiomórfica para Apocynaceae é que a polpa não envolve, individualmente, cada semente e a

mudança para a condição polpa envolvendo individualmente cada semente é uma provável

sinapomorfia do clado VWT. Asp: Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae;

Tab: Tabermaemontaneae.

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

46

Cladograma 2a: Caráter 7 - Flange cuticular – duas hipóteses contrastantes, na primeira a ausência

de flange cuticular é a condição plesiomórfica para o ancestral de Apocynaceae e a presença da

flange surge como sinapomorfia para o clado VWT, apresentando perda desse caráter as drupas de

Vinceae, com exceção de Kopsia fruticosa e os frutos foliculares de Tabernaemontaneae. Asp:

Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

47

Cladograma 2b: Caráter 7 - Flange cuticular – Na segunda hipótese a ausência de flange cuticular

é a condição plesiomórfica para o ancestral de Apocynaceae e a presença da flange surge como

uma sinapomorfia para o clado Willughbeieae-Tabernaemontaneae (WT), surgindo de forma

independente em Kopsia fruticosa e perda desse caráter nos frutos foliculares de

Tabernaemontaneae. Asp: Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab:

Tabermaemontaneae.

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

48

Cladograma 3: Caráter 18 - Idioblastos fenólicos no mesocarpo – análise inequívoca, a presença no

ACMR do clado VWT é uma sinapomorfia, com perdas subsequentes no ancestral de Catharanthus

roseus e Pecthia erytrocarpa, em Rauvolfia ligustrina e no ACMR de Tabernaemontaninae. Asp:

Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

49

Cladograma 4: Caráter 22 – Linha de deiscência - análise inequívoca, sendo a presença desta linha

a condição plesiomórfica do ACMR de Apocynaceae e a sua ausência uma provável sinapomorfia do

ACMR do clado VWT, com duas reversões para presença de linha de deiscência em Vinceae

(Catharanthus roseus) e paralelamente em Tabernaemontaneae, (subtribo Tabernaemontaninae).

Asp: Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

50

Cladograma 5: Caráter 25 – Número de camadas do endocarpo – endocarpo com mais de uma

camanda é a condição plesiomórfica do ACMR de Apocynaceae e endocarpo com uma camada uma

provável sinapomorfia do ACMR do clado WT. Asp: Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae;

Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

51

Cladograma 6: Caráter 26 – Parede celular do endocarpo lignificada - A presença de lignificação

foi reconstruída como uma característica plesiomórfica, sendo que a perda desta lignificação a

condição mais parcimoniosa para o ACMR do clado WT. Asp: Aspidospermeae; Als: Alstonieae;

Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

52

Cladograma 7: Tipos de frutos: Reconstrução de caráter morfológico de frutos referente a sua

classificação morfólogica, conforme revisões mais recentes (Leeuwenberg, 1994; Endress & Bruyns,

2000). A provável condição pleisiomórfica para Apocynaceae são frutos foliculares secos, seguido

pelos drupoides de Vinceae. Os frutos bagas é uma sinapomorfia para Willughbeieae e os frutos

foliculares carnosos evoluíram dos frutos bagas de Willughbeieae- Tabermaemontanea. Asp:

Aspidospermeae; Als: Alstonieae; Vin: Vinceae; Wil: Willughbeieae; Tab: Tabermaemontaneae.

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

53

DISCUSSÃO

Tendências evolutivas em frutos de Rauvolfioideae

As reconstruções de caráter ancestrais resultaram na visualização de

possíveis tendências evolutivas para Rauvolfioideae, especialmente nas tribos –

Vinceae, Willughbeieae e Tabernaemontaneae. Nossos resultados sugerem que

o fruto ancestral de Apocynaceae seria um folículo, já que apresenta uma linha

de deiscência e endocarpo lignificado. Estas características são tradicionalmente

utilizadas por diferentes autores para caracterizar um fruto do tipo folículo (ex.,

Roth, 1977; Barroso et al., 1999). Neste cenário, frutos do tipo baga ou drupa em

Rauvolfioideae teriam evoluído partir de modificações deste tipo folicular

ancestral. Uma provável mudança de folículos para drupas ocorreu no ancestral

do clado VTW, a partir da perda da linha de deiscência e aumento da

carnosidade. Esta característica, em conjunto com um endocarpo lignificado,

está presente em frutos do tipo drupa, definidos como frutos indeiscentes, com

exocarpo e mesocarpo geralmente de consistência carnosa e endocarpo com

tecido esclerificado envolvendo a semente (Roth, 1977; Barroso et al. 1999;

Souza et al., 2006).

Frutos drupoides foram reconstruídos para o ACMR de Vinceae,

sugerindo que esse tipo de fruto possa apresentar características presentes no

ancestral do clado VTW, mas ausentes em Willughbeieae e

Tabernaemontaneae. Além disso, a presença de carpelos com poucos óvulos,

como as drupas, é a provável condição ancestral em Vinceae, sendo que

somente Pecthia não se inclui nessa classificação, já que possui mericarpo

moniliforme com mais de dez sementes (Simões et al., 2016).

Desta forma, a tendência evolutiva dos frutos nos grupos analisados de

Rauvolfioideae aparenta ser uma perda de sua lignificação e a perda da linha de

deiscência.

Segundo Roth (1977), a tendência evolutiva dos frutos é que os tipos

lenhosos prevalecem como formas mais primitivas, enquanto frutos carnosos

são considerados mais derivados. Além disso, frutos com deiscência ventral são

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

54

considerados o tipo mais primitivo, ou seja, filogeneticamente, a evolução dos

frutos usual começa com o folículo deiscente como a forma plesiomórfica. Para

Fahn & Zohary (1955), que tratam tendências evolutivas em Leguminosae

abordando a região esclerificada do pericarpo, frutos com dois estratos

esclerenquimáticos são tidos como mais primitivos, passando pelos

uniestratificados, sendo os frutos indeiscentes e sem nenhuma lignificação

considerados os mais derivados. Essa tendência evolutiva de frutos secos para

carnosos também foi observada por Oliveira et al (2014), que estudou a

ontogenia do pericarpo de espécies de Mimosa (Leguminosae).

Beaulieu & Donoghue (2013), em análise da evolução dos frutos em

Campanulidae, defendem a hipótese de que frutos secos, deiscentes e com

múltiplas sementes seja a condição ancestral dentro do grupo. Neste cenário, os

frutos carnosos seriam derivados deste tipo ancestral, seja através da perda de

deiscência ou através de uma redução para uma única semente.

Estudos de evolução de frutos em Rubiaceae apontam que os prováveis

estados plesiomórficos, do fruto na família são cápsulas com muitas sementes,

sendo frutos do tipo noz, drupa e baga derivados (Bremer & Struwe, 1992). Os

frutos secos apresentam o mesocarpo e endocarpo moderadamente

esclerificado, sendo que os frutos com mesocarpo espesso, geralmente

carnosos ou fibrosos a lenhosos considerados como “carnosos”. Já as drupas

são caracterizadas pela presença de mesocarpo carnoso, endocarpo rígido e

geralmente com uma a algumas sementes, e as bagas pela carnosidade de suas

camadas e ausência de endocarpo rígido (Bremer & Struwe, 1992). O estudo de

Bremer & Struwe (1992), assim como este, considera o endocarpo funcional, já

que não foi feita a ontogenia do fruto, utilizando, assim, a classificação

morfológica. Para os frutos bagas, o endocarpo é composto por uma única

camada de células epidérmicas não lignificadas. Para os frutos drupas e folículos

secos, o endocarpo é composto pelas várias camadas internas de células

lignificadas. Mudanças de cápsula em baga ou drupa, segundo Bremer & Struwe,

1992, são geradas pela perda do mecanismo de abertura, diminuição no número

de sementes e diferenciação do exo-, meso- e endocarpo. Como estas

alterações na morfologia são complexas e a maioria das cápsulas da família são

muito semelhantes, é provável que a evolução dos frutos carnosos a partir de

cápsulas seja um processo irreversível (Bremer & Eriksson, 1992). A

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

55

partir dos resultados obtidos neste estudo, podemos inferir que os frutos

foliculares secos em Apocynaceae possuem mais de um estrato

esclerenquimático, a partir do qual frutos drupoides podem ter se originado pelo

aumento nas camadas esclerenquimáticas, aumento da carnosidade e pela

ausência de abertura. As bagas e folículos carnosos das demais tribos

estudadas possuem apenas uma camada de endocarpo sem lignificação,

sugerindo assim, que as bagas sejam os frutos mais derivados do grupo e os

foliculares carnosos da subtribo Tabernaemontaneae mais derivados que os

foliculares secos da tribo Aspidospermeae e Alstonieae.

A presença de linha de deiscência no mesocarpo é a condição

plesiomórfica em Apocynaceae e sua ausência sinapomorfia para o clado VWT,

essa transição progressiva de frutos deiscentes para frutos indeiscentes, muitas

vezes, pode estar relacionada com a redução do número de sementes. Esta

redução pode ter levado a um tipo de perda de deiscência. Esse tipo de fruto,

sem deiscência e com sementes simples, funciona agora como a unidade de

dispersão, diferente do que ocorre nos frutos deiscentes onde as sementes

possuem a função original de diásporo (Pijl, 1966; Roth, 1977). Com este padrão

de desenvolvimento, a anatomia da parede do fruto também mudou e

desenvolveram-se formas zoocóricas carnosas, assim os tipos indeiscentes

carnosos como drupas e bagas podem, portanto, ser considerado mais

derivados. Sendo assim, drupas e bagas podem ter se desenvolvido a partir de

folículos e cápsulas que perderam sua deiscência e sob certos aspectos, a baga

pode eventualmente representar o tipo de fruto mais derivado (Pijl, 1966; Roth,

1977; Barroso et al. 1999; Souza et al., 2006).

Além dessa evidência evolutiva de perda da linha, nossos resultados

demonstram que a presença de idioblastos fenólicos no AMRC do clado VWT é

uma provável sinapomorfia para o grupo, com perdas subsequentes na tribo

Vinceae e no ACMR da subtribo Tabernaemontaninae. Estes resultados também

mostram que os idioblastos fenólicos estão ausentes nos frutos foliculares e

presentes nos frutos drupáceos (com algumas perdas) e nos frutos bacáceos da

tribo Willughbeieae e em Tabernaemontaneae subtribo Ambelaninae.

Muitos trabalhos relacionam a ocorrência de compostos fenólicos à

proteção do embrião, especialmente pela resistência que conferem ao ataque de

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

56

patógenos (Suárez & Engleman 1980). Quando o fruto é deiscente, no caso de

folículos e cápsulas, por exemplo, os compostos se concentram principalmente

nos tegumentos e são as sementes a unidade de dispersão; já em frutos

indeiscentes, como bagas e drupas, eles se acumulam em grandes quantidades

no pericarpo e são os frutos a unidade de dispersão (Pijl, 1966).

Estudos feitos com frutos e sementes de Byrsonima intermedia A. Juss.,

um fruto drupoide da família Malpighiaceae, mostra que estes apresentam

sementes retidas em pericarpos com grandes porções lenhosas e indeiscentes,

com provável transferência da função de proteção dos tegumentos, que são

reduzidos, para o pirênio (Souto & Oliveira, 2005). Tegumentos pouco

diferenciados, segundo Boesewinkel & Bouman (1984), ocorrem em famílias

avançadas com frutos indeiscentes, como os drupoides. Além de frutos

drupoides, as sementes de sâmaras de diversas espécies também apresentam

essas características, como em Tipuana tipu (Benth.) O. Kuntze (Martins &

Oliveira 2001) e Pterocarpus violaceus Vog. (Nakamura & Oliveira 2005), ambas

espécies de Fabaceae. Além disso, nos frutos e sementes estudados, foi

observada uma grande concentração de idioblastos contendo compostos

fenólicos, sendo considerados um tipo de defesa química contra a herbivoria

(Swain 1979), já que se encontram em ambientes em que existe grande

predação dos frutos e sementes por herbívoros.

Homologia dos frutos drupoides de Vinceae

Em Vinceae, os frutos drupoides são encontrados em quatro gêneros

(Kopsia Dumort, Ochrosia Juss., Petchia Livera, Rauvolfia L.), sendo

caracterizados por um mesocarpo carnoso em torno de um endocarpo rígido. Os

demais gêneros da tribo (Catharanthus G. Don, Kamettia Kostel., Laxoplumeria

Markgr., Tonduzia Pittier, Vinca Vest), por sua vez, possuem frutos secos e

foliculares. A tribo possui cerca de 153 espécies, das quais mais de 130 espécies

possuem frutos do tipo drupa, com poucos representantes foliculares.

(Middleton, 2007, 2011; Middleton, 2007, 2014; Leeuwenberg, 1997).

Simões et al. (2016), em estudo filogenético da tribo, sugere que as

drupas são a provável condição ancestral na tribo mas aparentam não ser

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

57

homólogas, com possíveis origens independentes em Kopsia, primeiro gênero a

se divergir, seguido de Ochrosia, Petchia e Rauvolfia. Evidências morfológicas

dão suporte à hipótese de Simões et al. (2016), uma vez que as drupas de

Kopsia, Ochrosia, Petchia e Rauvolfia são facilmente diferenciadas por uma

série de características, como articulação de mericarpos, diferenciação do

endocarpo, e presença/ausência de endosperma. Os frutos de Petchia possuem

o mericarpo alongado moniliforme com até 13 sementes, sendo que cada artículo

comporta uma semente. Já o endocarpo em Ochrosia é formado por uma

camada compacta e mais ou menos lisa em torno da semente, geralmente como

duas cavidades laterais de ambos os lados do fruto ou projeções fibrosas

entremeadas com o mesocarpo. O endocarpo de Kopsia, Petchia e Rauvolfia

forma uma camada sólida e mais ou menos lisa em torno da semente, sem

cavidades internas e projeções fibrosas. As sementes de Kopsia são as únicas

na tribo que são exoalbuminosas (Pichon 1948, Leeuwenberg 1997, Markgraf

1979, Middleton 2004, Simões et al., 2016).

A partir dos caracteres anatômicos estudados, também podemos inferir

que os frutos drupoides de Vinceae provavelmente não são homólogos. As

reconstruções dos 30 caracteres apontaram que apenas 11 representam

possíveis homologias entre os frutos e 19 caráteres os diferenciam entre as

subtribos e até mesmo em nível de espécies. Os caráteres que as diferenciam

são: a) Pericarpo: sinuosidade do pericarpo na face interna, lenticelas e polpa

envolvendo cada semente; b) exocarpo:, cutícula, flange cuticular, tricomas,

estômatos, células papilosas, conteúdo fenólico; c) mesocarpo: fibras não

lignificadas, cristais de oxalato de cálcio, idioblastos fenólicos, linha de

deiscência; d) endocarpo:, número de camadas, tipo de célula lignificada,

orientação das fibras, cristal de oxalato de cálcio, conteúdo fenólico e laticíferos.

Frutos drupoides também podem ser encontrados em outras tribos dentro

da subfamília Rauvolfioideae, como Plumerieae (gêneros Cerbera L. e Thevetia

L.) e Alyxieae (gêneros Alyxia Banks ex R. Br., Condylocarpon Desf., Lepinia

Decne., Lepiniopsis Valeton e Pteralyxia K. Schum. & Prantl). As espécies de

Thevetia possuem formato reniforme com endocarpo segmentado, formando

mais de um pirênio, sincarpia parcial e dois óvulos por carpelo. Essas

características são encontradas em todas as espécies do gênero e hipóteses

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

58

suportam fortemente sua homologia a partir de estudos morfológicos e

anatômicos (Pichon, 1948a, 1950b; Alvarado-Cárdenas, 2003, 2007).

Assim, para se definir a homologia nos frutos drupoides é preciso avaliar

não apenas caracteres morfológicos, mas também anatômicos e quando

disponíveis dados moleculares para uma correta confirmação.

Homologia dos folículos secos e carnosos

Os frutos foliculares secos de Aspidosperma (Aspidospermeae) e Alstonia

(Alstoneae) não são homólogos aos frutos foliculares carnosos de

Tabernaemontana (Tabernaemontaneae, Tabernaemontaninae) se

considerarmos a presença de linha de deiscência uma característica

classificatória decisiva para folículos e/ou cápsulas, além de ovário unilocular e

unicarpelar. Apesar da reconstrução de estados de caráter ancestrais apontar

que frutos foliculares secos representam a provável condição ancestral em

Apocynaceae, a linha de deiscência pode ter surgido independentemente no

ACMR de Tabernaemontaninae (Tabernaemontaneae) a partir de frutos

bacoides. Tradicionalmente, os frutos foliculares são classificados por

originarem-se de único carpelo, serem secos e deiscentes por única fenda

(Barroso et al., 1999; Souza, 2006). No entanto, Roth (1977) já enquadrava os

folículos como unidade básica dos frutos deiscentes, sendo subdividido de

acordo com a consistência seca ou carnosa do pericarpo. Essa variação entre

frutos deiscentes secos e carnosos também foi identificada em outra família

pertencente à Gentianales, Rubiaceae. Por exemplo, espécies do gênero Diodia

L. possuem cápsulas secas ou carnosas (Terrell & Wunderlin, 2002). Dessa

forma, frutos foliculares são aqueles que se originam de único carpelo,

apresentam um lóculo e possuem linha de deiscência, independentemente de

serem secos ou carnosos.

Ainda que haja mudanças na consistência do pericarpo e provável

evolução convergente dos folículos de Apocynaceae, a linha de deiscência

apresenta características celulares correspondentes a um modelo

tradicionalmente descrito para frutos deiscentes. Para Roth (1997), a linha de

deiscência é composta por camadas de separação representada por uma região

estruturalmente mais frágil, composta geralmente por células pequenas de

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

59

parede celular delgada ou por tecido esponjoso formado por células

arredondadas com espaços intercelulares. As células da linha de deiscência

descrita aqui como tipo A se enquadram nessa descrição e foram reconstruídas

como provável condição ancestral dos folículos carnosos de

Tabernaemontaninae (Tabernaemontaneae), assim como condição mais

provável no ancestral da família. Células da linha de deiscência de folículos

secos de outras subfamílias foram descritos com mesmas características. Frutos

de Apoynoideae também possuem linha de deiscência composta por células

pequenas de paredes delgadas, como em Prestonia riedelli (Müll. Arg.) Markgr.

(Aguiar, 2009), Asclepias curassavica L. (Souza, 2004), Nerium indicum Mill.

(Thomas & Dave, 1991), Aganosma caryophyllata G. Don, Ichnocarpus frutences

(L.) W.T. Aiton, Strophanthus wallichii A. DC., Vallaris solanacea (Roth) Kuntze

e Wrightia tomentosa (Roxb.) Roem. & Schult. (Thomas & Dave, 1991). Na

subfamília Asclepiadoideae, Kuriachen (1992) descreveu a linha de deiscência

formada por células pequenas e de parede celular delgada para sete espécies:

Calotropis gigantea (L.) R. Br., Tylophora indicum (Burm. f.) Merr., Gymnema

sylvestre (Retz.) R. Br., Marsdenia tenacissima Tsiang, Wattakaka volubilis (L. f.)

Stapf, Ceropegia bulbosa Roxb. e Leptadenia reticulata (Retz.) Wight & Arn.

Outros dois tipos de constituição celular da linha de deiscência foram

descritos para os frutos de Rauvolfioideae estudados. Células da linha de

deiscência do tipo B surgiram exclusivamente nos folículos carnosos de T.

sananho e as do tipo C, somente em folículos secos de Alstonia (Alstonieae) e

de Catharanthus roseus (Vinceae). As células da linha de deiscência do tipo A e

C se enquadram na classificação de Roth (1977), citada anteriormente, por

comporem um tecido esponjoso funcional no processo de deiscência do fruto.

Todavia as células do tipo B, provavelmente, impossibilitam a abertura do fruto

de T. sananho por serem alongadas de forma oblíqua em relação ao raio e

estarem em diferentes orientações. A disposição irregular dessas células já foi

relatada como um empecilho para deiscência de frutos de Tipuana tipu

(Fabaceae) (Martins & Oliveira, 2001).

Em Apocynaceae, todos os frutos foliculares carnosos de

Tabernaemontana (Tabernaemontaninae, Tabernaemontaneae) apresentam

endocarpo com uma camada e sem lignificação. Esses caracteres surgiram

como prováveis sinapomorfias de frutos carnosos já no ancestral do clado WT.

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

60

Apesar desses folículos carnosos de Tabernaemontana exibirem mais três

características que os diferenciaram dos folículos secos de Aspidosperma e

Alstonia (presença de sinuosidade na face interna do pericarpo, presença de

células papilosas no exocarpo e presença de grandes espaços intercelulares no

mesocarpo), as características celulares do endocarpo (uma camada e ausência

de lignificação) ainda não foram registradas para folículos, secos ou carnosos,

de outras subfamílias. Todavia, a sinuosidade no pericarpo e grandes espaços

intercelulares já foram descritos para poucos folículos secos pertencentes às

subfamílias Apocynoideae e Asclepiadoideae (Kuriachen, 1992; Gomes, 2008).

Diante disso, estudos com mais representantes da família são necessários para

elucidar a evolução dessas características.

Algumas das características anatômicas descritas auxiliam no processo

de deiscência de folículos de Rauvolfioideae e de outras subfamílias. Tanto a

sinuosidade do pericarpo quanto os grandes espaços intercelulares citados

anteriormente foram considerados como fatores que aumentam a eficiência do

processo de deiscência em frutos de Apocynoideae e Asclepiadoideae

(Kuriachen, 1992; Gomes, 2008). Os folículos secos estudados de Alstonia

(Alstonieae) e de Catharanthus roseus (Vinceae) possuem fibras não lignificadas

no mesocarpo, enquanto essas células são ausentes em Aspidosperma australe,

A. pyrifolium e A. olivaceum. Folículos secos de Apocynoideae também possuem

fibras não lignificadas no mesocarpo, como em Mesechites mansoanus (A. DC.)

Woodson (Gomes, 2008) e em Temnadenia violacea (Vell.) Miers (Martins,

2011). Segundo Souza (2004), a linha de deiscência de Asclepias curassavica

Griseb. (Asclepiadoideae) é margeada por tecido colenquimático. Do mesmo

modo, os folículos estudados, exceto os de A. pyrifolium e Tabernaemontana

donnell-smithiiI, possuem esclereídes adjacentes à linha de deiscência. De modo

semelhante, Wrightia tomentosa (Apocynoideae) possui esclereídes numa

região próxima à linha de deiscência, compondo uma “região de deiscência”

(Thomas & Dave, 1994). As funções de todos esses grupos celulares em relação

ao processo de abertura dos frutos foram brevemente exploradas, necessitando

de estudos mais detalhados.

Possivelmente, os frutos foliculares secos de Apocynaceae também

apresentam um padrão na constituição do endocarpo, ou seja, mais de uma

camada formada por esclereídes e/ou fibras alongadas em diferentes

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

61

orientações. A reconstrução dos caracteres apontou o folículo ancestral da

família com endocarpo composto por mais de uma camada de esclereídes e

fibras alongadas transversal e longitudinalmente. Gomes (2008) descreveu o

endocarpo de Aspidosperma parvifolium com 13 a 18 camadas de fibras em

diferentes orientações. Já dois folículos secos de Vinceae (Rauvolfioideae),

Catharanthus pusillus (Murray) G. Don e Vinca major L., foram registrados com

uma a duas camadas de células lignificadas (Thomas & Dave, 1994). Frutos

foliculares de outras subfamílias de Apocynaceae também evidenciaram esse

padrão: duas camadas em Temnadenia violacea (Martins, 2011) e em Prestonia

riedelli (Aguiar, 2009), de 3 a 4 camadas em Holarrhena antidysenteria e em

Wrightia tinctoria (Thomas & Dave, 1994), de 5 a 8 camadas em Nerium indicum

(Thomas & Dave, 1991). Em Asclepiadoideae, há registros de 2 a 3 camadas em

Calotropis gigantea e emTylophora indicum, de 4 a 5 camadas em Ceropegia

bulbosa e de 5 a 8 camadas em Marsdenia tenacissima (Kuriachen, 1992).

Dentre essas espécies relatadas, na maioria das descrições, as células do

endocarpo eram fibras dispostas em diferentes orientações (Kuriachen, 1992;

Thomas & Dave, 1994; Martins, 2011).

Tabernaemontaneae e homologia dos frutos bacoides

Dentre os 30 caracteres anatômicos analisados, nenhum se mostrou

exclusivo para Tabernaemontaneae, entretanto caracteres morfológicos florais

são potenciais diagnósticos da tribo. As sinapomorfias que delimitam a tribo são

anteras lignificadas dorsalmente e cabeça do estilete diferenciada com cinco

lóbulos e com flange basal (Endress & Bruyns, 2000; Simões et al., 2007; Simões

et al., 2010).

Por outro lado, há potenciais características diagnósticas anatômicas e

morfológicas de frutos e sementes para as subtribos Ambelaninae e

Tabernaemontaninae. Em especial, revelamos três potenciais caracteres

anatômicos de frutos que subdividem Tabernaemontaneae em dois grupos:

flange cuticular, idioblastos fenólicos no mesocarpo e linha de deiscência.

Somente Ambelania duckei, Rhigospira quadrangularis e Spongiosperma

macrophyllum (subtribo Ambelaniinae, segundo Simões et al., 2010) possuem

frutos com flange cuticular e mesocarpo com compostos fenólicos presentes e

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

62

linha de deiscência ausente. Por outro lado, as espécies analisadas da subtribo

Tabernaemontaninae, T. catharinensis, T. elegans e T. sananho, apresentam

frutos com flange cuticular ausente, mesocarpo com idioblastos fenólicos

ausentes e presença de linha deiscência. Em especial, como já discutido em

homologia de folículos, frutos com linha de deiscência é uma sinapomorfia para

Tabernaemontaninae, estando esse caráter ausente no ancestral da tribo e no

ACMR de Ambelaninae. Além de Tabernaemontana, os demais gêneros que

compõem Tabernaemontaninae, todos de distribuição paleotropical, possuem

frutos foliculares carnosos (Simões et al., 2010). Além disso, as espécies de

Tabernaemontaninae são conhecidas pela placentação marginal em

Tabernaemontana e axilar em Ambelaninae, como em Ambelania, Rhigospira e

Spongiosperma (Simões et al., 2010). Outros caracteres morfológicos

diagnósticos para Tabernaemontaninae são sementes ariladas

(Tabernaemontana, Callichilia Stapf, Carvalhoa K. Schum. & Prantl, Crioceras

Pierre, Calocrater K. Schum. & Prantl, Schizozygia Baill. e Voacanga Thouars)

com sulco hilar profundo (Tabernaemontana e Voacanga) e endosperma

ruminado (Callichilia, Tabernaemontana e Voacanga) (Endress et al., 2000;

Simões et al., 2010).

O reconhecimento dessas características diagnósticas corrobora a divisão

dos gêneros de Tabernaemontaneae em dois grupos, reconhecidas como duas

subtribos por Simões et al. (2010). Nesta classificação, as espécies de

Ambelaniinae possuem ovários sincárpicos (apocárpico apenas em Macoubea

spp. Aubl.), frutos indeiscentes do tipo baga com as sementes envoltas por polpa

do fruto, enquanto as espécies de Tabernaemontaninae possuem ovários

apocárpicos, raramente hemissincárpico ou sincárpicos, frutos foliculares, raros

bacoides, com sementes ariladas e, frequentemente, com sulco hilar profundo.

É interessante ressaltar que esta divisão em dois grupos não está em desacordo

com as classificações anteriores propostas por Pichon (1948) e Leeuwenberg

(1994). Estas propostas já os reconheciam como dois grupos distintos através

de análises dos caracteres de frutos e sementes, embora fossem delimitados

como tribos e não subtribos.

Em concordância com o estudo filogenético de Simões et al. (2010),

nossos dados sugerem que o ACMR de Tabernaemontaneae possuía frutos

baga (Endress & Bruyns, 2000; Simões et al. 2007; Simões et al., 2010). Os

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

63

primeiros gêneros a divergirem em Tabernaemontaneae, pertencentes à

Ambelaniinae, são caracterizados por ovários sincárpicos (exceto em

Macoubea) que se desenvolvem em frutos carnosos indeiscentes do tipo baga,

assim como todos os gêneros da sua tribo irmã Willughbeieae. Essa similaridade

com Willughbeieae foi proposta, primeiramente, por Endress & Bruyns (2000) e

observada em estudos filgoenéticos recentes (Simões et al., 2007, 2010, 2016).

Nossos dados dão suporte adicional a este relacionamento entre as duas tribos,

pois tanto os frutos bacoides de Tabernaemontaneae, (subtribo Ambelaniinae)

quanto os de Willughbeieae compartilham características como exocarpo com

lenticelas ausentes e flange cuticular presente, mesocarpo com idioblastos

fenólicos e ausência de linha de deiscência. Desta forma, os frutos bacoides de

W-T (Ambelaninae) parecem ser homólogos por compartilharem duas

características, endocarpo formado por apenas uma camada com células não

lignificadas.

A presença/ausência de uma linha de deiscência foi uma característica

determinante para classificarmos os tipos de frutos de Tabernaemontaneae. Os

frutos indeiscentes e sem linha de deiscência de Ambelaniinae foram

classificados como bagas, enquanto os frutos deiscentes ou indeiscentes, mas

com linha de deiscência de Tabernaemontaninae, foram classificados como

folículos. Essa alternância entre frutos deiscentes e indeiscentes na subtribo

Tabernaemontaninae ocorre tanto no clado Callichia sensu Simões et al. 2016

(frutos indeiscentes em espécies de Callichilia e Tabernanthe e deiscentes nos

demais táxons) quanto no clado Tabernaemontana (frutos indeiscentes em

Tabernaemontana aurantiaca Gaudich e T. sananho, versus deiscentes nas

demais espécies do gênero). Além disso, frutos de mesma espécie foram

observados ora indeiscentes (nomeado pelos autores como bagas) ora

deiscentes (folículos), como em Callichilia (C. barteri (Hook. f.) Stapf, C.

bequaertii De Wild., C. inaequalis Stapf, C. orientalis S. Moore e C. subsessilis

(Benth.) Stapf e em Tabernaemontana penduliflora K. Schum. e T. psorocarpa

(Pierre ex Stapf) Pichon (Simões et al., 2010). Alternativamente, nossos

resultados mostraram que dentre os frutos indeiscentes de Tabernaemontaneae,

os de Ambelaniinae não possuem linha de deiscência, ao passo que todos os

frutos de Tabernaemontana estudados (clado Tabernaemontana,

Tabernaemontaninae) a possuem, inclusive o fruto de T. sananho. Como o fruto

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

64

desta espécie não abre na maturidade (A.O. Simões, comunicação pessoal) e

possui linha de deiscência, sugerimos que ele seja nomeado de folículo

indeiscente e não de baga, como é referido na literatura por Simões et al, (2010).

O termo “folículo indeiscente” já foi utilizado por Roth, (1977) para alguns

legumes (“Leguminosae”, atual Fabaceae), como um tipo especial de fruto, ou

seja, uma redução a partir daquele deiscente. No clado Tabernaemontana,

Simões et al. (2010) reinteraram doze espécies de Tabernaemontana que são

relatadas na literatura como possuindo frutos indeiscentes (Leeuwenberg, 1991;

Middleton, 2007). Essas evidências podem indicar que se trata do mesmo tipo

de fruto, diferenciando-se apenas entre os que abrem ou não na maturidade.

Diante disso é possível inferir duas hipóteses evolutivas para os frutos em

Tabernaemontaniinae, baseando-se no surgimento da linha de deiscência: 1) o

ACMR da subtribo possuía folículos deiscentes, sendo a capacidade de abertura

perdida de forma independente em alguns táxons por mudanças na formação e

estruturação da linha de deiscência; ou 2) o ACMR da subtribo possuía frutos

foliculares com linha de deiscência, porém não se abriam na maturidade,

semelhantemente ao que ocorre em T. sananho. E a capacidade de abertura

surgiu independentemente ao menos três vezes (em Carvalhoa – Schizozygia,

em Voacanga e em Tabernaemontana), com reversões subsequentes para

frutos indeiscentes em algumas espécies de Tabernaemontana. Assim, a partir

das análises anatômicas, podemos concluir que a hipótese 1 é a melhor

sustentada por nossos resultados, já que é mais provável que ocorra a perda da

capacidade de abertura do fruto do que esse fruto readquirir características de

uma linha de deiscência funcional. Estudos feitos por Beauliei & Donoghue

(2013) com evolução de cápsulas, dão suporte adicional a nossa hipótese,

citando que qualquer mudança na morfologia básica de uma cápsula envolve

rearranjos estruturais extremamente complicados e tais modificações são

improváveis de serem reversíveis.

A partir dos dados analisados, podemos concluir que os caracteres

anatômicos de frutos são boas fontes de informações diagnósticas e também

para detecção de possíveis tendências evolutivas entre tribos, apoiando

hipóteses que o fruto folicular seco corresponde ao fruto ancestral da família e

que os drupoides correspondem ao fruto ancestral do clado V-W-T.

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

65

Além disso, verificou-se que houve uma redução da lignificação dos frutos,

o que resultou na não abertura espontânea dos mesmos. Uma vez que o fruto

não se abre e a sua dispersão passa a não ser pelo vento, investe-se mais no

pericarpo e não na quantidade de sementes e notou-se também que a

biossíntese de fenólicos se mantém em todas as espécies, o que houve foi uma

transferência da proteção física (esclereides) pela proteção química

(idioblastos). Nos dois casos são compostos fenólicos, a diferença é que a lignina

é um fenólico estrutural e o do idioblasto é uma substância acumulada no

vacúolo da célula.

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de

Apocynaceae do cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S. 2009. Mofoanatomia de frutos e sementes de Apocynaceae. Tese de

Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita L.S. 2009. Ontogenia e

estrutura do pericarpo de Prestonia riedelii (Müll.Arg.) Markgr.

(Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica 23: 729-737.

Beauliei, J. M. & Donoghue, M. J. 2013. Fruit evolution and diversification in

campanulid angiosperms. Evolution InternationalJournal of Organic

Evolution 67(11): 3132–3144.

Boesewinkel, F.D. & Bouman, F. 1984. The seed: structure. In Embryology of

Angiosperms (B.M. Johri, ed.). Springer-Verlag, Berlin p.567-610.

Bremer, B. & Eriksson, O. 1992. Evolution of fruit characters and dispersal

modes in the tropical family Rubiaceae. Biological Journal of the Linnean

Sociey 47: 79-95.

Corner, E.J.H. 1951. The leguminous seed. Phytomorphology 1:117-150.

Corner, E.J.H. 1976. The seeds of dicotyledons. University Press, Cambridge,

2v.

Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae

s.l. The Botanical Review 66 (1): 1-56.

Endress, M.E. 2004. Apocynaceae: Brown and now. Telopea 10: 525–541.

Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in

Apocynaceae: the enlightenment, an introduction. Annals of the Missouri

Botanical Garden 94 (2): 260267.

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

67

Endess, M.E., Liede-Shumann, S. & Meve, U. 2014. An update classification

for Apocynaceae. Institute Of Systematic Botany, University of Zurich,

Zollikerstrasse 107, 8008 Zürich, Switzerland.

Fahn, A. & Zohary, M. 1955. On the pericarpial structure of the legumen, its

evolution and relation to dehiscence. Phytomorphology 5: 99-111.

Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos em espécies de Apocynaceae:

Significado ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521-534.

Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. McGraw-Hill, New York. Judd, W.S.; Sanders, R.W. & Donoghue, M.J. 1994. Angiosperm family pairs:

preliminary phylogenetic analysis. Harvard Papers in Botany 5: 1 – 51.

Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2009. Sistemática

Vegetal: Um enfoque filogenético. Editora Artmed, Porto Alegre.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic

significance of fruit walls in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103: 179-

193.

Leeuwenberg, A.J.M. 1991. A revision of Tabernaemontana, vol. 1, The Old

World species. Kew: Royal Botanic Gardens Press.

Leeuwenberg, A. J. M. 1994. A revision of Tabernaemontana. Two. The New

World species. Kews: Royal Botanic Gardens Press.

Leeuwenberg, A.J.M. 1997. Series of revisions of Apocynaceae XLIV:

Craspidospermum Boj. ex A.DC., Gonioma E.Mey., Mascarenhasia A.DC.,

Petchia Livera, Plectaneia Thou., and Stephanostegia Baill. Wageningen

Agric. Univ. Pap. 97: 1–124.

Maddison, W.P. & Maddison, D.R. 2011. Mesquite: A modular system for

evolutionary analysis, version 2.75 http://mesquiteproject.org

Markgraf, F. 1979. Flora Malesianae praecursores LIX. Apocynaceae V. –

Ochrosia, Neisosperma. Blumea 25: 233–247.

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

68

Martins, M. A. G. & Oliveira, D. M. T. 2011. Morfo-anatomia e ontogênese do

fruto e da semente de Tipuana tipu (Benth.) O. Kuntze (Fabaceae:

Faboideae). Revista brasileira de Botânica 24(1):109-121.

Middleton, DJ. 2004. A revison of Kopsia (Apocynaceae: Rauvolfioideae).

Harvard Pap. Bot. 9: 89–142.

Middleton, D.J. 2007. Flora Malesiana, ser. 1, Seed plants, vol. 18,

Apocynaceae (subfamilies Rauvolfioideae and Apocynoideae) Leiden:

Foundation Flora Malesiana.

Middleton, D.J. 2011. Apocynaceae. Pp. 1–235 in: Kiew, R., Chung, R.C.K.,

Saw, L.G., Soepadmo, E. & Boyce, P.C. (eds.), Flora of Peninsular

Malaysia, ser. 2, Seed plants, vol. 2. Kepong: Forest Research Institute

Malaysia.

Middleton, D.J. 2014. Flora of Cambodia, Laos and Vietnam, vol. 33,

Apocynaceae. Paris: Muséum National d’Histoire Naturelle; Edinburgh:

Royal Botanic Garden Edinburgh.

Nakamura, A.T. & Oliveira, D.M.T. 2005. Morfoanatomia e ontogênese da

sâmara de Pterocarpus violaceus Vogel (Fabaceae: Faboideae). Revista

Brasileira de Botânica 28:375-387.

O’Brien, T. P.; Feder, N. & McCully, M. E. 1964. Polychromatic staining of plant

cell walls by toluidine blue O. Protoplasma 59: 368-373.

Oliveira, J. H. G.; Iwazaki, M. C. & Oliveira, D. M. T. 2014. Análises

ontogenéticas do pericarpo de espécies de Mimosa Linnaeus (Fabaceae,

Mimosoideae). Hoehnea 41(4): 483-497.

Paiva, E.A.S.; Pinho S.Z. & Oliveira D.M.T. 2011. Large plant samples: how to

process for GMA embedding? In: Chiarini-Garcia H,Melo CN (eds) Light

microscopy: methods and protocols. Humana Press, Totowa: 37-49.

Pearse, A.G.E. 1980. Histochemistry theoretical and applied: preparative and

optical technology. 4ed. Edinburgh. Churchill Livingston.

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

69

Pichon, M. 1948. Classification des Apocynacées: IX. Rauvolfiées, Alstoniées,

Allamandées et Tabernaemontanoidées. Mémoires du Muséum National

d'Histoire Naturelle B 27: 152-251.

Pichon, M. 1950. Classification des Apocynacéaes: XXVIII, Supplément aux

Plumérioïdées. Mém. Mus. Natl. Hist. Nat., B, Bot. 1: 145–166.

Pijl, V der. 1966. Ecological aspects of fruit evolution. Proc. K. ned. Akad Wet. C

69, 597-640.

Polhill, R.M. 1981b. Dalbergieae. In Advances in legume systematics. (R.M.

Polhill & P.H. Raven, eds.). Royal Botanical Gardens, Kew, Part 1, p.233-

242

Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within

Apocynaceae s.l. based on trnL intron and trnL – F spacer sequences and

propagule characters. Annals of Missouri Botanical Garden 88: 523-549.

Radford, A.E; Dickison, W.C.; Massey, J.R. & Bell, C.R. 1974. Vascular Plant

Systematics. Harper & Row Publishers, New York.

Roshchina, V.V. & Roshchina, V.D. 1993. The secretory function of higher

plants. Berlim, Springer.

Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin,

Gebrüder Borntraeger.

Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L.

(Apocynaceae). Revista Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.

Sennblad, B & Bremer, B. 2002. Classification of Apocynaceae s.l. according to

a new approach combining linnaean and phylogenetic taxonomy.

Systematic Biology 51: 389-409.

Simões, A. O., Livshultz, T., Conti, E., Endress, M. E. 2007. Phylogeny and

systematics of the Rouvolfioideae (Apocynaceae) based on molecular and

morphological evidence. Annals of the Missouri Botanical Garden 94: 268–

297.

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

70

Simões. A.O.; Endress, M.E. & Conti, E. 2010. Systematics and character

evolution of Tabernaemontaneae based on molecular and morphological

evidence. Taxon 59: 772-790.

Simões, A.O.; Kinoshita, L.S.; Koch, I.; Silva, M.J. & Endress, M.E. 2016.

Systematics and character evolution of Vinceae (Apocynaceae). Taxon

65(1): 99-122.

Souto, L. S. & Oliveira, D. M. T. 2005. Morfoanatomia e ontogênese do fruto e

semente de Byrsonima intermedia A. Juss. (Malpighiaceae). Revista

Brasileira de Botânica 28(4):697-712.

Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de

Aspidosperma polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de

Biologia 52: 439-447.

Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da

semente em desenvolvimento de Asclepias curassavica L.

(Asclepiadaceae). Insula 33: 39-49.

Souza, L, A. Anatomia do fruto e da semente. Ed. UEPG, 2006.

Suárez, G.R. & Engleman, E.M. 1980. Deposito de taninos en la testa de

Amaranthus hypochondriacus L. (alegria). Agrociencia 42:35-50.

Terrell, E. E & Wunderlin, R. P. 2002. Seed and fruit Characters in selected

Spermacoceae and comparison with Hedyotideae (Rubiaceae). The

Botanical Research Institute of Texas. 20 (2): 549-557.

Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium

indicum Mill. (Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399-407.

Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae.

Acta Societatis Botanicorum Poloniae 63: 9-20.

Trzeciak-Limeira, F.; PintoII, D. D.; Mourão, K. S. M. 2013. Pericarp

ontogenesis with emphasis on the dispersal apparatus of three weed

species of Faboideae (Fabaceae). Acta Botânica Brasilica 27(4).

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

71

Capítulo 2

Valor taxonômico de caracteres estruturais de frutos no gênero Rauvolfia

L. (Vinceae, Rauvolfioideae, Apocynaceae)

INTRODUÇÃO

Apocynaceae, nas últimas duas décadas, têm sido alvo de estudos

filogenéticos que tiveram impactos importantes sobre sua sistemática (Endress

& Bruyns, 2000; Potgieter & Albert, 2001; Sennblad & Bremer, 2002; Simões et

al., 2007, 2010, 2016).

Dos grupos atualmente reconhecidos (Endress et al., 2007, 2014), o grado

Rauvolfioideae é de grande interesse para estudos sistemáticos devido à sua

posição basal na família e a sua grande variação nos frutos e sementes, não

encontrado em nenhuma outra subfamília, que apresentam apenas em sua

quase totalidade frutos foliculares com sementes comosas.

Vinceae, uma tribo da subfamília Rauvolfioideae, é um grupo

morfologicamente heterogêneo de gêneros, que têm sido posicionado em

diferentes tribos e / ou subtribos baseados quase exclusivamente em

características de frutos e de sementes. A tribo é composta por nove gêneros e

cerca de 153 espécies, sendo amplamente distríbuida em regiões tropicais e

subtropicais (Endress et al., 2007, Simões et al., 2016). A maioria das espécies

da tribo são arborescentes ou arbustivas (exceto em Catharanthus G. Don e

Vinca L. onde as espécies são herbáceas e Kamettia Kostel., que possui duas

espécies lianescentes). A morfologia dos frutos e sementes em Vinceae é

altamente variável. Kopsia Blume, Ochrosia Juss., Petchia Livera e Rauvolfia L.

possuem drupas com um pericarpo espesso e fibroso ou carnoso e um

endocarpo pétreo. As sementes são nuas, geralmente com endosperma,

reduzido ou ausente apenas em Kopsia. Já em Catharanthus, Kamettia,

Laxoplumeria Markgr., Tonduzia Pittier e Vinca, os frutos são um par de folículos

lenhosos contendo um número variável de sementes nuas, aladas ou ciliadas

com endosperma abundante (Endress & Bruyns, 2000; Simões et al., 2016). Esta

diversidade, tanto nas características morfológicas vegetativas quanto nas

reprodutivas resultou em posições amplamente divergentes desses gêneros em

classificações anteriores (Pichon, 1948; Endress & Bruyns, 2000).

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

72

Evidências morfológicas, comprovam uma notável diversidade

morfológica nas drupas em Vinceae, sugerindo que provavelmente essas não

são homólogas. As drupas de Kopsia, Ochrosia, Petchia e Rauvolfia podem ser

facilmente distinguidas uma das outras por uma série de características

morfológicas, como articulação de mericarpos (inteiros – não articulados,

moniliformes ou drupas individuais), grau de diferenciação no endocarpo

(formam cavidades ou não e projeções), e presença/ausência de endosperma

nas sementes. Essas diferenças em drupas de Vinceae provavelmente estão

associados a diferentes estratégias de dispersão apresentadas por linhagens

distintas (Simões et al., 2016).

Os frutos de Kopsia e Ochrosia possuem o pericarpo fibroso e

especializações que auxiliam na sua flutuabilidade, como a cavidade ventral no

mesocarpo em Kopsia ou uma densa rede de fibras divergentes a partir do

endocarpo em Ochrosia. Estas especializações, em conjunto com a ocorrência

de espécies destes gêneros em regiões insulares ou costeiras no sudeste

asiático e Oceania, sugerem que a água poderia ser o principal agente de

dispersão de frutos desses gêneros. Já as drupas de Petchia e Rauvolfia são

menores e muitas vezes coloridas, com endocarpo membranáceo sem

especializações para flutuabilidade. Este padrão morfológico indica que os

animais são os agentes de dispersão de frutos destes dois gêneros (Simões et

al., 2016).

O monofiletismo de Rauvolfia, o maior gênero da tribo com distribuição

pantropical e cerca de 60 espécies, é apoiado em análise moleculares feitas por

Simões et al. (2016), corroborando resultados anteriores baseados em

amostragem bastante reduzida do gênero (Potgieter & Albert, 2001; Simões et

al., 2007). A congruência observada entre filogenia e classificações pregressas

na delimitação de Rauvolfia, no entanto, não se refletiu no reconhecimento de

categorias infragenéricas. A maioria das seções e séries propostas nas

classificações de Pichon (1947) e Rao (1956) mostraram-se parafiléticas,

evidenciando que os caracteres diagnósticos utilizados por esses autores são

homoplásticos, como a inflexão dos lobos da corola no botão, grau de sincarpia

dos carpelos e frutos e disposição de tricomas no tubo da corola.

Frente a essas evidências, trabalhos de caracterização de frutos são

sugeridos por taxonomistas do grupo, em conjunto com outros dados

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

73

morfológicos e genéticos, para auxiliar na compreensão da evolução dos

caracteres e detectar possíveis sinapomorfias para a geração de classificações

mais consistentes (Endress & Bruyns, 2000; Potgieter & Albert, 2001; Simões et

al., 2007; Simões et al., 2016).

OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo principal caracterizar anatomicamente os

frutos de nove espécies do gênero Rauvolfia (Rauvolfia aphlebia (Standl.) A.H.

Gentry, R. ligustrina Willd., R. littoralis Rusby, R. sellowii Müll. Arg., R. sprucei

Müll. Arg., R. sumatrana Jack, R. tetraphylla L., R. vomitoria Afzel., R. weddeliana

Müll. Arg.), em diferentes estádios de desenvolvimento, afim de verificar o

monofiletismo do gênero, fornecer caracteres úteis para a taxonomia e detectar

possíveis tendências na evolução dos frutos do gênero.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

74

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a ontogenia dos frutos foram descritos estádios de desenvolvimento

conforme eventos de divisão, alongamento e maturação das células do

pericarpo, dividido em exocarpo, mesocarpo e endocarpo. Para o estudo do

desenvolvimento das células do mesocarpo foram reconhecidas três regiões de

acordo com porções bem distintas formadas no estádio maduro em termos de

tamanho celular, espessura da parede celular e/ou presença de lignificação na

parede secundária. A primeira região está adjacente à epiderme externa (ovário)/

exocarpo (fruto), a segunda se encontra entre a primeira e a terceira que é

adjacente à epiderme interna (ovário)/ endocarpo (fruto).

O desenvolvimento dos frutos das Rauvolfia foi dividido em quatro etapas:

Ovário; estádio I para fruto jovem; estádio II para fruto imaturo e estádio III para

fruto maduro.

A terminologia adotada para a classificação de figuras planas e sólidas

simétricas foi de Radford, et al. (1974).

Foram documentadas fotos da morfologia das espécies, a partir das flores

até o estágio do fruto maduro.

Para a classificação do grau de sincárpia do ovário em Apocynaceae s.s.

ou s.l., utilizamos sincárpicos quando os carpelos estão totalmente fundidos,

apocárpicos quando refere-se aos carpelos livres apenas na região do ovário

(Endress 1989, Gomes & Cavalcanti 2001, Sennblad & Bremer 2002, Simões &

Kinoshita 2002), hemissincárpicos quando dois carpelos estão livres em quase

toda a extensão do ovário e conatos distalmente, numa condição intermediária

entre a apocarpia e a sincarpia (Gomes, 2008b).

Os materiais testemunhos estão depositados nos herbários INPA, UEC e

Z, com os seguintes números de coletor:

Rauvolfia aphlebia (Standl.) A.H. Gentry: J.F. Morales et al. s.n. (INB)

Rauvolfia ligustrina Willd.: I. Koch & J.R. Guimarães s.n. (UEC)

Rauvolfia littoralis Rusby: J.F. Morales et al. s.n. (INB)

Rauvolfia sellowii Müll. Arg.: I. Koch et al. 858 (UEC)

Rauvolfia sprucei Müll. Arg.: I. Koch et al. 2008/18 (INPA, UEC)

Rauvolfia sumatrana Jack: I. Koch s.n. (RB, UEC)

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

75

Rauvolfia tetraphylla L.: M.A. Farinaccio et al. s.n. (CGMS)

Rauvolfia vomitoria Afzel.: I. Koch et al. 8571(UEC)

Rauvolfia weddeliana Müll. Arg.: L.S. Kinoshita et al. 2002/12 (UEC)

As espécies estão representadas no cladograma 1, abaixo:

Cladograma 1. Cladograma ilustrando as espécies de Rauvolfia, tribo Vinceae, evidenciando em vermelho as espécies analisadas neste estudo e em * a sincarpia do ovário (Laranja: apocárpico, Verde: hemissincárpico e Roxo: sincárpico). Simões et al., 2016.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

76

Microscopia de luz: Frutos em diferentes estádios foram fixados em FAA

(formaldeído, ácido acético glacial, etanol 50%, 1:1:18 (v/v)) (Johansen, 1940)

por um período mínimo de 24 horas, colocados em bomba de vácuo para auxiliar

na penetração do fixador, e estocados em álcool etílico 70%. A região mediana

de frutos maduros foi incluída em resina plástica (Historesin Leica) seguindo o

método proposto por Gerrits & Smid (1983), que foi otimizado por aumento do

tempo nos passos de pré-infiltração e infiltração, aplicação de vácuo e

movimentação das soluções em agitador de tubos para potencializar a

penetração da resina no material. Aumentou-se em 50% o volume do catalisador

Hardener, sugerido no terceiro tratamento de Paiva et al. (2011). Secções

transversal e longitudinal foram realizadas com espessura de 4 a 8 μm em

micrótomo rotativo manual com navalha de aço, as lâminas foram coradas com

Azul de Toluidina a 0,05% em tampão acetato 0,1M (pH 4,7) (O’Brien et al., 1964)

por 5 min e montagem das lâminas foi feita em água para observação e

documentação foi realizada em fotomicroscópio Olympus BX51 com câmera

digital (modelo DP71).

Foi realizado o teste histoquímico Cloreto de Ferro III (Johansen, 1940),

nos materiais já includos em resina, para a detecção de compostos fenólicos nos

idioblastos.

RESULTADOS

Todas as espécies de Rauvolfia estudadas apresentam flores com ovário

súpero e bicarpelar. O grau de sincarpia do ovário pode variar entre as espécies,

resultando em frutos apocárpicos em R. sellowii e R. vomitoria, sendo chamados

de drupídeos, hemissincárpicos em R. sprucei e R. weddeliana e sincárpicos em

R. aphlebia, R. ligustrina, R. littoralis, R. tetraphylla e R. sumatrana, sendo

chamados de drupoides. Os frutos drupideos e drupoides, variando entre

cordiforme (Figura1) em R. aphlebia, R. sprucei e R. weddeliana, elipsoide

(Figura 2) em R. sellowii e obovoide (Figura 3) em R. ligustrina, R. littoralis, R.

tetraphylla, R. sumatrana e R. vomitoria.

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

77

Figura 1: Botão floral e frutos de Rauvolfia sprucei em diferentes fases de

desenvolvimento A= Ovário, B= Frutos imaturos, C= Fruto jovem e D= Fruto

maduro de formato cordiforme. Escala = 1 cm

Figura 2: Botão floral e frutos de Rauvolfia sellowii em diferentes fases de

desenvolvimento. Frutos de formato elipsoide. A= Ovário, B= Frutos imaturo, C=

Fruto jovem e D= Fruto maduro de formato elipsoide. Escala = 1 cm

Figura 3: Botão floral e frutos de Rauvolfia tetraphylla em diferentes fases de

desenvolvimento. A= Ovário, B= Frutos imaturo, C= Fruto jovem e D= Fruto

maduro de formato obovoide. Escala = 1 cm

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

78

Ovário

O gineceu de R. sellowii e R. vomitoria são bicarpelares, com cada carpelo

portando dois óvulos ou mais, como no caso de R. sellowii, de funículo curto e

placentação marginal (Figura 4A). O ovário hemissincárpico de R. sprucei e R.

weddeliana (Figura 4B) e sincárpicos de R. aphlebia, R. ligustrina, R. littoralis, R.

tetraphyla e R. sumatrana (Figura 4C) são biloculares e bicarpelares com cada

carpelo portando dois óvulos também de funículo curto e placentação axilar, com

exceção de R. sprucei que contém mais de dois óvulos por carpelo (Figura 5C e

D). A epiderme externa do ovário, em secção transversal, é uniestratificada,

formada por células alongadas radialmente, com parede celular de faces

periclinais externa e interna espessadas, núcleo evidente em posição central e

recoberta por cutícula delgada (Figura 5A). O mesofilo apresenta células

parenquimáticas arredondadas de paredes delgadas, com núcleo evidente e

arranjo compacto em secção transversal do ovário, com exceção de,

aproximadamente, 2-5 camadas adjacentes à epiderme interna que possuem

células alongadas tangencialmente. (Figura 5B e D). A vascularização é

constituída por vários feixes colaterais, sendo um dorsal e dois ventrais de maior

calibre (Figura 4). A epiderme interna é uniestratificada (Figura 5E e F) e

composta por células alongadas tangencialmente, no plano transversal do

ovário, com paredes delgadas e núcleo evidente de posição central (Figura 5B).

A placenta é bem desenvolvida e possui, aproximadamente, 15 camadas de

células parenquimáticas com menor tamanho em relação às células da epiderme

interna, contorno arredondado, em secção transversal do ovário, com núcleo

evidente e de arranjo compacto (Figura 5B).

Fruto - Apesar das diferenças morfológicas e de origem, anatomicamente os

frutos são iguais e, por isso, serão descritos juntos.

Estádio I: O exocarpo é recoberto por cutícula delgada e constituído por uma

única camada de células, com núcleos centrais (Figura 6A). Estômatos são

frequentes ao longo de todo o exocarpo (Figura 6B). O mesocarpo apresenta

células parenquimáticas e organizadas em três regiões. A primeira região,

mesocarpo externo, são formadas por células de parede celular ligeiramente

espessada, de arranjo compacto e contorno arredondado, em secção transversal

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

79

do fruto, com núcleos evidentes. Nesta região ocorrem divisões celulares, tanto

anticlinais como periclinais (Figura 6B). Já a segunda região, chamada de

mesocarpo mediano, possui maior número de camadas e células de parede

celular delgada, disposição compacta e maiores que as demais. A

vascularização é observada no limite do mesocarpo mediano e interno, é

formada por um maior número de feixes vasculares que no ovário e agora num

padrão disperso. Na região mediana, há laticíferos ramificados e não ramificados

e os idioblastos fenólicos são encontrados apenas em R. vomitoria e R. sellowii

(Figura 6B). A terceira região, mesocarpo interno, as céulas são menores que as

da região anterior, de parede celular delgada, contorno arredondado, tanto em

secção longitudinal quanto transversal do fruto, e apresentam-se em intensa

atividade de divisão celular em diferentes planos (Figura 6C). As células do

mesocarpo interno adjacentes ao endocarpo (2 a 5 camadas), são alongadas

tangencialmente, em secção transversal do fruto, com contorno arredondado,

em secção longitudinal e possuem parede celular delgada (Figura 6A e C). O

endocarpo é uniestratificado e formado por células de parede celular espessada

e mais alongadas tangencialmente que as do ovário, em secção transversal do

fruto, e contorno arredondado, em secção longitudinal (Figura 6A e C).

Estádio II: O exocarpo aumenta o número de células na camada por divisões

anticlinais mantendo-se uniestratificado com estômatos e células de parede

celular espessadas e núcleos centrais. Nesta fase a cutícula permanece delgada

(Figura 7A e B). No mesocarpo, as células das três regiões estão em divisão,

principalmente as células do mesocarpo interno, tanto anticlinal quanto periclinal,

as células da região mediana também estão em estádio de expansão,

aumentando o tamanho do fruto. Laticíferos e feixes vasculares estão dispersos

no mesocarpo mediano (Figura 7A). Os idioblastos com compostos fenólicos

apresentam, neste estádio, conteúdo mais denso em R. vomitoria e R. sellowii

(Figura 7B). No mesocarpo externo, as células aumentam a espessura da

parede e permanecem com arranjo compacto. Na região mediana, predomina o

processo de expansão celular e início da formação de espaços intercelulares

(Figura 7B). As células região interna continuam menores em relação à da região

mediana e se dividindo em diferentes planos e iniciam a deposição de parede

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

80

secundária e lignificação (Figura 7C). Nessa região, também são encontrados

idioblastos cristalíferos em todas as espécies (Figura 7A). O endocarpo

uniestratificado, formado por células alongadas tangencialmente, inicia também

a deposição de parede secundária e lignificação (Figura 7C). Esse processo de

lignificação ocorre de dentro para fora, ou seja, as primeiras células a se

lignificarem são as do endocarpo e depois as camadas subjacentes da região

interna do mesocarpo (Figura 7A).

Estádio III: O exocarpo permanece uniestratificado, sendo recoberto por cutícula

delgada em R. sprucei, R. aphlebia, R. ligustrina e nas demais espécies ela se

torna espessada, com células de parede mais espessadas, núcleos na região

periférica e estômatos. Observamos a formação de lenticelas no fruto de R.

ligustrina (Figura 8A). No mesocarpo, a região externa possui cerca de 10

camadas de células com paredes que permanecem espessadas e com arranjo

compacto (Figura 8B). Na região mediana, as células são semelhantes ao

estádio anterior e aumentam a quantidade e o tamanho dos espaços

intercelulares (Figura 8A e B). Nessa região estão os feixes vasculares e

idioblastos fenólicos. Também aumentam a quantidade de laticíferos dispersos

nas regiões internas e medianas do mesocarpo. Nessa fase de maturação, as

células do mesocarpo interno e as células do endocarpo estão totalmente

lignificadas, formando esclereídes e fibras no mesocarpo interno e fibras no

endocarpo, que se cruzam em diferentes ângulos, produzindo um padrão

entrelaçado.

Figura 4: Ovários de Rauvolfia em secção transversal. A. Ovário apocárpico de R. sellowii B. Ovário

hemissincárpico de R. weddeliana C. Ovário sincárpico de R. litorallis. Escalas: (A) 200μm; (B-C) 100μm

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

81

Figura 5: Ovário de Rauvolfia sellowii e Rauvolfia sprucei, em secção transversal. A. Rauvolfia sellowii. Epiderme

externa recoberta por cutícula delgada (seta) com células alongadas radialmente de parede de faces periclinais

externa e interna espessadas. Mesofilo com células parenquimáticas de parede delgada. Feixe vascular (linha

tracejada). B. Rauvolfia sellowii. Mesofilo interno com células arredondadas e aproximadamente duas camadas

de células alongadas tangencialmente (1 e 2) e Epiderme interna uniestratificada (3). C. Ovário hemissincárpico

de R. sprucei. D. R. sprucei. Presença de mais de dois óvulos por carpelo. E. Rauvolfia sellowii. Ovário no início

do desenvolvimeno indicando epiderme interna uniestratificado (ponta da seta). F. Rauvolfia sellowii. Epiderme

interna (ponta da seta). Ee= epiderme externa, Ov= óvulo e Pl= placenta. Escalas: (A) 20μm; (B) 25μm; (C) 200μm;

(D) 100μm

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

82

Figura 6: Estádio I: fruto imaturo de Rauvolfia tetraphylla e Rauvolfia vomitoria. A. Rauvolfia

tetraphylla. Vista geral do pericarpo do fruto em secção transversal. Mesocarpo dividido em três

regiões, com feixes vasculares e laticíferos. Endocarpo com células alongadas tangencialmente.

B. Rauvolfia vomitoria. Exocarpo com estômato (“inset”) e mesocarpo externo, em secção

transversal. C. Rauvolfia vomitoria. Detalhe da região do mesocarpo interno, com células em

divisão celular e endocarpo uniestratificado com células de contorno arredondado, em secção

longitudinal (seta). En= endocarpo, ME= mesocarpo externo, MM= mesocarpo mediano e MI=

mesocarpo interno Escalas: (A) 100 μm; (B) 20μm; (C) 50 μm

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

83

Figura 7: Estádio II: fruto jovem de Rauvolfia aphlebia e Rauvolfia sellowii. A. R. aphlebia. Vista

geral do pericarpo do fruto em secção transversal. Mesocarpo dividido em três regiões, com

feixes vasculares na segunda região. B. R. sellowii. Exocarpo uniestratificado com cutícula e

região do mesocarpo externo, em secção transversal. Exemplo de idioblasto (“inset”) e laticífero

(estrela). C. R. sellowii. Células da região do mesocarpo interno com esclereídes e fibras e

endocarpo uniestratificado com fibras (ponta da seta), em secção longitudinal. Es= esclereídes,

Fi- fibras, ME= mesocarpo externo, MM= mesocarpo mediano e MI= mesocarpo interno.

Escalas: (A) 100 μm; (B) 50μm; (C) 50 μm

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

84

Figura 8: Estádio III: fruto maduro de Rauvolfia ligustrina e Rauvolfia weddeliana, em secção

transversal. A. R. ligustrina. Vista geral do pericarpo do fruto. Mesocarpo com as três regiões

distintas. Feixes vasculares no mesocarpo mediano e lenticela (“Inset”). B. R. ligustrina. Detalhe

do exocarpo com estômato (seta preta), mesocarpo mediano com espaços intercelulares. C.

Rauvolfia weddeliana. Mesocarpo interno com esclereídes e fibras e endocarpo com fibras. Es=

esclereídes, Fi= fibras, ME= mesocarpo externo, MM= mesocarpo mediano e MI= mesocarpo

interno. Escalas: (A-C) 100 μm; (B) 50μm.

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

85

Discussão

Os frutos com exocarpo e mesocarpo, geralmente, de consistência

carnosa, frequentemente comestível e endocarpo com textura coriácea ou

lenhosa que protege a semente, podem ser chamados de drupas “clássicas” ou

drupoides. Os frutos drupoides são formados por dois ou mais carpelos que se

desenvolvem, com endocarpo espessado envolvendo a semente formando um

pirênio (Barroso et al., 1999). Se o fruto tem um só pirênio com espaço central

não dividido (único lóculo), desenvolve-se apenas de um carpelo e produz

apenas uma semente, ele é denominado uma drupa “clássica” (Roth, 1977). Os

frutos estudados são bicarpelares e possuem duas sementes por carpelo, sendo,

portanto, caracterizados como drupoides, porém na maioria dos casos só uma

semente por carpelo se desenvolve até o desenvolvimento final do fruto. Se

considerarmos também a sincárpia do ovário, os apocárpicos podem ser

classificados como drupideos (Barroso et al., 1999). Em Apocynaceae, esse tipo

de fruto é encontrado somente na subfamília Rauvolfioideae, em algumas

espécies da tribo Vinceae, nos gêneros Kopsia Dumort., Ochrosia Juss., Petchia

Livera e Rauvolfia L., em Plumereae, nos gêneros Cerbera L. e Thevetia L., e

em Alyxieae nos gêneros Alyxia Banks ex R. Br, Chilocarpus Blume,

Condylocarpon Desf., Lepinia Decne. e Lepiniopsis Valeton (Endress & Bryuns

2000).

Evidencias morfológicas, descritas em outros estudos, sugerem que as

drupas de Vinceae provavelmente não são homólogas (ex., Pichon 1948a,b,

Markgraf, 1979; Middleton 2004, 2007). Os frutos das espécies drupoides da

tribo, como Kopsia, Ochrosia, Petchia e Rauvolfia são facilmente distinguidos

uns dos outros por uma série de características, como articulação de mericarpos,

diferenciação do endocarpo, e presença/ausência de endosperma, que

provavelmente estão associados a diferentes estratégias de dispersão.

Os frutos de Petchia possuem o pericarpo alongado moniliforme com até

13 sementes, sendo que cada artículo comporta uma semente. O endocarpo em

Ochrosia é formando por uma camada compacta em torno da semente,

geralmente como duas cavidades laterais de ambos os lados do fruto ou

projeções fibrosas entremeadas com o mesocarpo. O endocarpo de Kopsia,

Petchia e Rauvolfia formam uma camada sólida e mais ou menos lisa em torno

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

86

da semente, sem cavidades internas e projeções fibrosas e além, disso

sementes de Kopsia são as únicas na tribo que não possuem endosperma

(Pichon 1948a, b, Leeuwenberg, 1997, Markgraf, 1979, Middleton, 2004, Simões

et al., 2016).

A variação no grau de sincarpia do ovário é comum dentro do gênero

Rauvolfia, como já descritos em vários estudos, como apocárpicos em R.

verticillata (Lour.) Baill. (Kumar et al., 2011), hemissincarpicos em R. gracilis I.

Koch, R. moricandii A. DC, R. pruinosifolia I. Koch & Kinoshita-Gouvêa (Koch,

2002), R. andina Markgr, R. atlantica Emygdio, R. bahiensis A. DC, R.

biauriculata Mull. Arg, R. cubana A.DC, R. grandiflora Mart., R. hookeri (Bedd.)

S.R. Sriniv. & Chithra, R. micranta Hook. f. e R. serpentina (L.) Benth. ex Kurz

(Kumar et al., 2011) e sincárpicos em R. capixabae I. Koch (Koch et al., 2007).

Essa variação morfológica também foi observada nesse estudo, com

carpelos apocárpicos em R. sellowii e R vomitoria, hemissincárpicos em R.

sprucei.e R. weddeliana e sincárpicos em de R. aphlebia, R. ligustrina, R.

littoralis, R. tetraphylla, R. sumatrana. Em Apocynaceae, 70% das espécies são

parcial a totalmente apocárpicas, enquanto a sincarpia congênita parcial na base

do ovário é comum em alguns grupos, inclusive em Rauvolfia (Fallen, 1983,

1986). Porém, nesse estudo, podemos constatar que a maioria das espécies são

sincárpicas, mas outros estudos sobre o assunto precisam ser realizados.

A primeira classificação de Rauvolfia feita por Pichon em 1947,

reconheceu 13 seções, que foram diferenciadas principalmente pelo tamanho e

textura das folhas, distribuição dos coléteres ao longo do pecíolo, a posição dos

lobos da corola em botão, a distribuição dos tricomas dentro do tubo da corola,

tamanho dos filamentos estaminais, o grau de sincarpia e formato dos frutos. Um

estudo de Rauvolfia feita por Rao em 1956, forneceu uma nova classificação

infragenérica, porém para a maior parte, ele seguiu a classificação feita por

Pichon (1947a).

Assim, em conjunto com outros caracteres, o estudo de frutos também se

mostra importante para auxiliar na distinção das espécies dentro do gênero

(Hooker, 1882, Kumar & Singh, 1990, Das et al., 1995, Basak & Maiti, 2000,

Bernard, 2000, Munoz-Centeno et al., 2006). Comprovando isso, estudos feitos

por Kumar et al., (2011), utilizou caracteres de frutos para distinção de um grupo

de espécies de Rauvolfia, como os frutos de R. verticillata que são distintos dos

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

87

demais por apresentarem formas elipsoides. Os frutos de R. verticillata são

apocárpicos com uma única semente, Rauvolfia hookeri, R. micrantha e R.

serpentina possuem frutos hemisincárpicos com uma ou duas sementes (Kumar

et al., 2011).

Porém, todas as diferenças propostas até hoje foram feitas a partir de

características morfológicas de frutos, sendo importante também incluir nessas

análises dados anatômicos, que podem responder com mais clareza e certeza

diferenças entre os gêneros.

Os tecidos que compõem o ovário e o seu desenvolvimento são iguais em

todas as espécies, assim como o fruto maduro, que são formados por exocarpo

uniestratificado com estômatos, cutícula, mesocarpo dividido em três regiões,

mesocarpo externo, mediano e interno, portando feixes vasculares, laticíferos

ramificados e não ramificados e endocarpo uniestratificado. As diferenças

anatômicas entre as espécies são sutis, porém determinantes, como idioblastos

fenólicos nos frutos maduros de R. vomitoria, cutícula delgada em R. sprucei, R.

ophlebia, R. ligustrina e lenticelas em R. ligustrina.

Apesar de algumas diferenças auxiliarem na caracterização das espécies,

as similaridades anatômicas observadas foram grandes, ajudando, assim, a

reafirmar a hipótese do monofiletismo do gênero. Esta hipótese apresentou alta

sustentação no estudo filogenético de Simões et al. (2016), corroborando

também com os resultados de estudos anteriores (Potgieter & Albert, 2001;

Simões et al., 2007). O gênero é caracterizado por um número de sinapomorfias

morfológicas como, presença de um anel nectarífero circundando a base do

ovário e estilete inserido em uma depressão no ápice do ovário, e agora a partir

das análises ontogenéticas confirma a origem comum dos tecidos, comprovando

assim, a similaridade das espécies desde o ovário até os frutos maduros.

Essas características anatômicas encontradas em Rauvolfia, como já dito,

ajudam a confirmar o monofiletismo do gênero, porém quando incluído dados

anatômicos de outras drupas da tribo, como Kopsia fruticosa, Ochrosia elliptica,

Petchia erythrocarpa (vide capítulo 1), podemos mais uma vez apoiar que as

drupas de Vinceae não são homologas. Características como presença de

tricomas apenas em Kopsia fruticosa, estômatos presentes apenas em

Rauvolfia, laticíferos somente não ramificado e presença de espaços

intercelulares no mesocarpo em Petchia erythrocarpa, diferenças no número de

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

88

camadas no endocarpo, assim como o tipo de células lignificadas e sua

orientação, são diferentes entre os gêneros, dando evidência adicional para a

origem independente deste tipo de fruto nas diferentes linhagens de Vinceae.

Se tratando das diferenças encontradas dentro de Rauvolfia, podemos

destacar a espessura da cutícula. Segundo Roth (1977), a cutícula é a camada

de proteção que impede a perda excessiva de água. Ela é composta por

substâncias lipídicas, poliésteres insolúveis, que são consideravelmente

impermeáveis à água e sua formação pode ser influenciada por fatores

ambientais, como a intensidade da luz (Alquini et al., 2006). Cutículas delgadas

são encontradas nas espécies de R. sprucei, R. aphlebia, R. ligustrina, e

possivelmente, está relacionada às áreas de menor incidência solar onde essas

espécies são encontradas. Cutículas espessas, por sua vez, são encontradas

nas demais espécies, sendo algumas delas como R. littoralis e R. Tetraphylla,

pertencentes ao clado Eurauvolfia. Segundo Simões et al. (2016), espécies deste

clado ocorrem preferencialmentevem florestas abertas, savanas e em formações

de campo na América Central, Caribe e América do Norte Sul (Rao, 1956; Koch,

2002, Koch et al., 2007). Dada a sua atual distribuição, características dos

órgãos vegetativos podem representar adaptações para auxiliar a proliferação

dessas espécies em habitats abertos, em que as temperaturas são mais

elevadas, como redução no tamanho da planta e desenvolvimento de um

xilopódio subterrâneo, podendo dessa forma, melhorar as chances de

sobrevivência durante períodos em que a água é escassa, assim como cutículas

espessas, que evitam a perda de água e refletem com maior intensidade a luz

recebida (Pijl, 1966; Roth, 1977; Alquini et al., 2006)

A cutícula pode ser encontrada ainda em muitos frutos de Apocynaceae,

porém sua espessura não foi detalhada, tendo sido relatadas em

Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar, 2003), Allamanda blanchettii A.

DC., A. shotti Pohl, Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Aguiar, 2009), Prestonia

riedelli (Mull.Arg.) Markgr. (Aguiar et al. 2009), Ambelania duckei Markgr e

Macoubea sprucei (Mull.Arg.) Markgr. (Vilalba-Ferreira, 2012), porém, a

espessura de cutícula parece não ser um bom carater taxonômico, já que

responde à alterações ambientais.

Outra característica variável dentro do gênero foi a presença de idoblastos

fenólicos, observadas apenas no mesocarpo de R. sellowii e R. vomitoria. Os

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

89

Idioblastos secretores estão presentes na maioria dos frutos (Roth, 1977). Muitos

trabalhos relacionam a ocorrência de compostos fenólicos à proteção do

embrião, especialmente pela resistência que conferem ao ataque de patógenos.

Quando o fruto é deiscente, os taninos se concentram principalmente nos

tegumentos, já nos frutos indeiscentes eles se acumulam em grandes

quantidades no pericarpo (Suárez & Engleman 1980). Nesse caso, os idioblastos

fenólicos, quando presentes, estão em quantidade diminuta, já que a grande

quantidade de esclereídes e fibras no endocarpo, cerca de 11 a 22 camadas, já

exercem a função de proteção. A presença desses idioblastos é muito comum

em frutos carnosos de Apocynaceae (Dave & Kuriachen 1991, Souza &

Moscheta 1992, Kuriachen et al. 1993, Aguiar 2003, 2009, Vilalba-Ferreira, 2012,

Mello, 2013), assim como em frutos carnosos de outras famílias, como em

Myrtaceae e Musaceae, por exemplo (Roth, 1977).

A presença de laticíferos em Apocynaceae, assim como os observados

em todas as espécies estudadas, é amplamente conhecida (Metcalfe & Chalk,

1950), tendo sido relatada em diversos frutos de espécies da família (Kuriachen

& Dave, 1989; Kuriachen et al., 1990, 1991; Dave & Kuriachen, 1991; Thomas &

Dave, 1991; Kuriachen et al.,1992; Thomas & Dave, 1994; Gomes, 2008; Aguiar,

2009; Aguiar et al., 2009, Vilalba- Ferreira, 2012, Mello, 2013). Desta forma, a

presença de laticíferos parece revelar mais uma provável peculiaridade da

família do que um caráter especial de um tipo de fruto. Porém a presença de

laticíferos ramificados e não ramificados em todas as espécies pode ser uma

característica para o gênero, porém mais estudos anatômicos, com maior

número de espécies devem ser feitos para comprovar essa hipótese.

As similaridades anatômicas observadas no endocarpo dos frutos

também ajudam a sustentar o monofiletismo do gênero. Em todas as espécies,

o mesocarpo interno é formado por esclereídes e fibras e endocarpo

uniestratificado formado por fibras. Segundo Evert (2006), fibras e esclereídes

são células que estão relacionadas ao sistema de sustentação e proteção

mecânica das plantas. Nos frutos drupoides, esses dois tipos de células

esclerenquimáticas estão próximos à semente formando o pirênio, portanto

protegendo as sementes até o final do seu desenvolvimento (Barroso et al.

1999). Em alguns frutos de Apocyanceae, drupaceos e foliculares secos que

apresentam camadas esclenquimáticas, podemos observar a presença desses

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

90

dois tipos celulares, ou somente fibras ou somente esclereídes, como em

Temnadenia violacea (Vell.) Miers (Martins, 2011), Prestonia riedelli (Müll. Arg.)

Markgr. (Aguiar, 2009), Holarrhena antidysenterica (L.) Wall., Wrightia tinctoria

R. Br. (Thomas & Dave, 1994) e Mesechites mansoanus (A. DC.) Woodson

(Gomes, 2008). Ainda em relação ao mesocarpo interno e endocarpo, pode-se

constatar que as fibras estão dispostas transversal e longitudinalmente

alongadas, além de todas possuírem idioblastos com cristais de oxalato de cálcio

nessa região.

Essa disposição das fibras e esclereídes parece também ser comum em

frutos foliculares secos da família, como os de Aspidospema australe Müll.,

Aspidosperma pyrifolium Mart., Aspidosperma olivacium Müll., Alstonia

macrophylla Wall. e Catharanthus roseus (L.) G. Don, porém nas drupas de

Vinceae essa configuração pode mudar, como no caso de Ochrosia elliptica que

possui somente fibras obliquamente alongadas (vide capítulo 1), reforçando

ainda mais a ideia de que evoluiram de maneira independente.

Os cristais de oxalato de cálcio observado no mesocarpo interno e

endocarpo de todas as espécies, podem indicar mais um sistema de proteção

da semente, juntamente com o endocarpo esclerificado. Várias funções já foram

propostas para os cristais, incluindo a regulação do cálcio das células, proteção

vegetal contra herbivoria, suporte do tecido (rigidez) e captação ou reflexão da

luz (Franceschi et al., 1980; Nakata, 2011). Esse tipo de estrutura anatômica foi

observado apenas no endocarpo desse gênero e em Petchia erytrocarpa, nas

demais drupas, como Kopsia fruticosa e Ochrosia elliptica, estão ausentes (vide

capítulo 1), porém para afirmar sua função nesses frutos é necessário estudo

mais aprofundado de ecologia.

Assim, as evidências observadas de similaridade anatômicas a partir das

análises ontogenéticas confirmam a origem comum dos tecidos, comprovando

assim, a similaridade das espécies desde o ovário até os frutos maduros,

podendo apoiar a hipótese de monofiletismo do gênero e a origem independente

das drupas na tribo quando incluído dados anatômicos de Kopsia fruticosa,

Ochrosia elliptica e Petchia erythrocarpa.

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

91

Referências Bibliograficas

Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de

Apocynaceae do cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S. 2009. Morfoanatomia de frutos e sementes de Apocynaceae. Tese

de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita L.S. 2009. Ontogenia e

estrutura do pericarpo de Prestonia riedelii (Müll.Arg.) Markgr.

(Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica 23: 729-737.

Alquini, Y.; Bona, C.; Boeger, M. R. T.; Costa, C. G.; Barros, C. F. 2006.

Epiderme. Anatomia Vegetal. 2nd. Ed. UFV 3: 87-96

Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e

Sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Editora

UFV, Viçosa.

Basak, S.K. & Maiti, G.G. 2000. Seed morphology in Primula capitata Hook.

complex (Primulaceae) from the Eastern Himalayas. J. Econ. Taxon. Bot.

24: 107 – 114.

Bernard, C. 2000. Comparative seed micro morphology of Brassica L. and

Sinapis L. species growing in France. Seed Sci. & Technol. 3: 699 – 707.

Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of

Periplocaceae follicles and their taxonomic significance. Feddes

Repertorium 102: 63-68.

Das, S.; Mitra, S.K. & Mukherjee, K.K. 1995. SEM studies on seed coat of some

species of Ipomoea (Convolvulaceae). Phytomorphology 45: 113 – 125.

Endress, M.E. 1989. Novelties in South American Malouetia (Apocynaceae).

Annals of the Missouri Botanical Garden 76:1141-1147.

Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae

s.1. The Botanical Review 66(1): 1 – 56.

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

92

Endress, M.E. 2004. Apocynaceae: Brown and now. Telopea 10: 525–541.

Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in

Apocynaceae: the enlightenment, an introduction. Annals of the Missouri

Botanical Garden 94(2): 260 – 267.

Endess, M.E.; Liede-Shumann, S. & Meve, U. 2014. An update classification

for Apocynaceae. Institute Of Systematic Botany, University of Zurich,

Zollikerstrasse 107, 8008 Zürich, Switzerland.

Evert, R.F. 2006. Esau's Plant Anatomy, 3a. ed. Wiley-Interscience, New Jersey.

Faleen, M. 1983. Morphological, functional, and evolutionary aspects of the

flowers in the Apocynaceae. Dissertação de doutorado. Universität Zürich:

ADAG Administration & Druck AG pag 63.

Fallen, M. 1986. Floral structure in Apocunaceae: Morphological, functional, and

evolutionary aspects. Bot. Jahrb. Syst 106(2): 246-286.

Gomes, S.M. & Cavalcanti, T.B. 2001. Morfologia floral de Aspidosperma Mart

& Zucc. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica 15:73-88.

Gomes, S.M. 2008a. Morfo-anatomia de frutos em espécies de Apocynaceae:

significado ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521-534.

Gomes, S. M.; Kinoshita, L. S. & Castro, M. M. 2008b. Hemisincarpia e nectário

apendicular enfocados através de ontogênese floral em Mandevilla velame

(A. St.-Hil.) Pichon, Apocynoideae. Revista Brasileira de Botânica 31(1): 81-

93.

Hooker, J.D. 1882. The Flora of British India. Vol. 3. L. Reeve & Co. Ltd., London.

pp. 632 – 634.

Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. McGraw-Hill, New York.

Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A.; Stevens, P.F.1999.Plant

systematic: a phylogenic approach. Sunderland: Sinauer Associates.

Koch, I. 2002. Estudo das espécies neotropicais do gênero Rauvolfia L.

(Apocynaceae). Ph.D. Thesis, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

93

Koch, I., Kinoshita, L.S. & Bittrich, V. 2007. Taxonomic novelties in Rauvolfia

L. (Apocynaceae, Rauvolfioideae) from Brazil. Novon 17: 462–471.

http://dx.doi.org/10.3417/1055-3177(2007)17[462:TNIRAR]2.0.CO;2

Kumar, P. & D. Singh 1990. Development and structure of seed coat in Hibiscus

L. Phytomorphology 40: 179 – 188.

Kumar, C. A., Bindu, S., Chitra, C.R. & Mathew, P.J. 2011. Taxonomic signifi

cance of fruit and seed morphology in identifi cation of South Indian R a u v

olfi a (Apocynaceae). Rheedea 21(2) 160-166.

Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall

ornamentations in Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae).

Proceedings of the Indian Academy of Sciences (Plant Sciences) 99: 15-

20.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the

follicle of Tylophora dalzellii HK. F. Phytomorphology 40: 349-347.

Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and

dehiscence of follicles of Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae).

Korean Journal of Botany 34: 107-112.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic

significance of fruit walls in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103: 179-

193.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1993. Ultrastructural studies of the

ovary wall and pericarp of Asclepias curassavica L. II. Mesocarp

development. Feddes Repertorium 104: 227-235.

Leeuwenberg, A. J. M. 1994. A revision of Tabernaemontana. Two. The New

World species. Kews: Royal Botanic Gardens Press.

Markgraf, F. 1979. Flora Malesianae praecursores LIX. Apocynaceae V. –

Ochrosia, Neisosperma. Blumea 25: 233–247.

Martins, M. A. G. & Oliveira, D. M. T. 2001. Morfo-anatomia e ontogênese do

fruto e da semente de Tipuana tipu (Benth.) O. Kuntze (Fabaceae:

Faboideae). Revista brasileira de Botânica 24(1):109-121.

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

94

Mello, C. C. 2013. Morfologia e anatomia de frutos e sementes da tribo

Willughbeieae (Apocynaceae, Rauvolfioideae). Tese de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1950. Anatomy of the dicotyledons: leaves, stem and

wood in relation to taxonomy with notes on economic uses. Oxford:

Clarendon.

Munoz-Centeno, L.M., Albach, D.C., SanchezAgudo, J.A. & M.M. Martinez-

Ortega. 2006. Systematic signifi cance of seed morphology in Veronica

(Plantaginaceae): A phylogenetic perspective. Ann. Bot. 98: 335 – 350.

Paiva, E.A.S.; Pinho S.Z. & Oliveira D.M.T. 2011. Large plant samples: how to

process for GMA embedding? In: Chiarini-Garcia H,Melo RCN (eds) Light

microscopy: methods and protocols. Humana Press, Totowa: 37–49

Pichon, M. 1947. Classification des Apocynacées II, genre Rauvolfia. Bull. Bot.

Soc. France 94: 3–39.

Pichon, M. 1948. Classification des Apocynacées: IX. Rauvolfiées, Alstoniées,

Allamandées et Tabernaemontanoidées. Mém. Mus. Natl. Hist. Nat., Sér.

B, Bot. 27: 153–252.

Pijl, L. 1966. Ecological aspects of fruit evolution. Proc. K. ned. Akad Wet. C 69,

597-640.

Radford, A.E; Dickison, W.C.; Massey, J.R. & Bell, C.R. 1974. Vascular Plant

Systematics. Harper & Row Publishers, New York. 891pp

Rao, A.S. 1956. A revison of Rauvolfia with particular reference to the American

species. Ann. Missouri Bot. Gard. 43: 253–354.

http://dx.doi.org/10.2307/2394642

Sennblad, B & Bremer, B. 2002. Classification of Apocynaceae s.l. According

to a New Approach Combining Linnaean and Phylogenetic Taxonomy.

Systematic Biology 51: 389-409.

Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas

region, Minas Gerais, Brazil. Darwiniana 40:127-169.

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

95

Simões, A. O., Livshultz, T., Conti, E., Endress, M. E. 2007. Phylogeny and

systematics of the Rouvolfioideae (Apocynaceae) based on molecular and

morphological evidence. Annals of the Missouri Botanical Garden 94: 268–

297.

Simões. A.O., Endress, M.E. & Conti, E. 2010. Systematics and character

evolution of Tabernaemontaneae based on molecular and morphological

evidence. Taxon 59: 772-790.

Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de

Aspidosperma polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de

Biologia 52: 439-447.

Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium

indicum Mill. (Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399-407.

Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae.

Acta Societatis Botanicorum Poloniae 63: 9-20.

Vilalba-Ferreira, C. A. 2012. Morfoanatomia de frutos de espécies neotropicais

da tribo Tabernaemontana (Apocynaceae, Rauvolfioideae. Tese de

Mestrado. Universidades Estadual de Campinas, Campinas.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

96

Considerações Finais

No primeiro capítulo, a partir dos resultados anatômicos das 26 espécies,

da matriz de dados com 30 caracteres e dos cladogramas construídos a partir

das relações filogenéticas evidenciadas por estudos já realizados, foi possível

verificar que seis são prováveis sinapomorfias para classificação das tribos e os

demais caracteres se mostraram homoplásticos ou de reconstrução ambígua

para os clados principais da filogenia. As principais sinapomorfias são: 1.

Mesocarpo e endocarpo envolvendo cada uma das sementes, 2. Flange cuticular

no exocarpo, 3. Idioblastos fenólicos no mesocarpo, 4. Linha de deiscências, 5.

Número de camada do endocarpo e 6. Células lignificadas no endocarpo. Com

base nos caracteres analisados, podemos reconhecer o fruto ancestral em

Apocynaceae reconstruído como sendo folicular seco no ancestral comum mais

recente (ACMR) da família, o fruto ancestral de Vinceae – Willughbeieae –

Tabernaemontaneae (VWT), foi recontruido como sendo drupas e o fruto

ancestral de Willughbeieae – Tabernaemontaneae (WT), como bagas. Os outros

caracteres auxiliaram para diferenciar tribos e até mesmo a níveis subtribo e

espécies.

No capítulo 2, foi realizada a ontogenia de nove espécies do gênero

Rauvolfia e os caracteres anatômicos foram comparados com espécies de

outros quatro gêneros de Vinceae - Kopsia fruticosa, Ochrosia elliptica,

Catharanthus roseus e Petchia erythrocarpa. Os resultados dessa análise

reafirmaram a hipótese de outros autores sobre o monofiletimos do gênero, a

partir da constância dos caracteres observados. Os tecidos que compõem o

ovário e o seu desenvolvimento são iguais em todas as espécies, assim como o

fruto maduro, que são formados por exocarpo uniestratificado com estômatos,

cutícula, mesocarpo dividido em três regiões, mesocarpo externo, mediano e

interno, portando feixes vasculares, laticíferos ramificados e não ramificados e

endocarpo multiestratificado. As diferenças anatômicas entre as espécies foram

sutis, porém determinantes para diferenciar algumas espécies, como o ovário de

R. sprucei que apresenta mais de dois óvulos por carpelo, idioblastos fenólicos

nos frutos maduros de R. vomitoria, cutícula delgada em R. sprucei, R. ophlebia,

R. ligustrina e lenticelas em R. ligustrina. Porém, quando esses dados são

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

97

comparados os de espécies de gêneros diferentes da tribo que possuem o

mesmo tipo de fruto, podemos fortalecer a hipótese que esses frutos não são

homólogos, devido as grandes mudanças que ocorrem no pericarpo dos frutos.

Características como presença de tricomas apenas em Kopsia fruticosa,

estômatos presentes apenas em Rauvolfia, laticíferos somente não ramificado e

presença de espaços intercelulares no mesocarpo em Petchia erythrocarpa,

diferenças no número de camadas no endocarpo, assim como o tipo de células

lignificadas e sua orientação, são diferentes entre os gêneros, dando evidênciia

adicional para a origem independente deste tipo de fruto nas diferentes linhagens

de Vinceae.

Em particular, há uma escassez de estudos relacionados à anatomia de

frutos em Rauvolfiodeae, desta forma este trabalho trouxe novos dados para

trinta de duas espécies da família e todas elas ocorrentes no Brasil. A

caracterização através da anatomia de frutos, levantando dados que possam ser

utilizados para a distinção das espécies e fornecer caracteres taxonomicamente

úteis para uma melhor interpretação da história evolutiva da família foi o principal

objetivo do trabalho.

Trabalhos anatômicos para detectar possíveis tendências evolutivas em

sementes para as três tribos, Vinceae, Willughbeiea e Tabernaemontaneae já

estão sendo realizados, afim de complementar os dados de frutos aqui

apresentados.

O Capítulo 1 dessa tese será submetido para a revista Botanical Journal

of the Linnean Society e o Capítulo 2 para a Plant Systematics and Evolution.

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

98

Referência Bibliográfica

Adanson, M. 1768. Familles des plantes. (Reimp. 1966. Introdução de F.A.

Stafleu.) Paris,Ed. Lehre.

Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de

Apocynaceae do cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S. 2009. Mofoanatomia de frutos e sementes de Apocynaceae. Tese de

Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita L.S. 2009. Ontogenia e

estrutura do pericarpo de Prestonia riedelii (Müll.Arg.) Markgr.

(Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica 23: 729-737.

Alquini, Y.; Bona, C.; Boeger, M. R. T.; Costa, C. G.; Barros, C. F. 2006.

Epiderme. Anatomia Vegetal. 2nd. Ed. UFV 3: 87-96

Alvarado-Cardenas, L. & Ochoterena, H. 2007. A phylogenetic analysis of the

Cascabela-Thevetia complex (Plumerieae; Apocynaceae) based on

morphology. Ann. Missouri Bot. Gard. 49: 298–323.

Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e

Sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Editora

UFV, Viçosa

Basak, S.K. & Maiti, G.G. 2000. Seed morphology in Primula capitata Hook.

complex (Primulaceae) from the Eastern Himalayas. J. Econ. Taxon. Bot.

24: 107 – 114.

Beaulieu, J. M. & Donoghue, M. J. 2013. Fruit evolution and diversification in

campanulid angiosperms. Evolution InternationalJournal of Organic

Evolution 67(11): 3132–3144.

Bernard, C. 2000. Comparative seed micro morphology of Brassica L. and

Sinapis L. species growing in France. Seed Sci. & Technol. 3: 699 – 707.

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

99

Boesewinkel, F.D. & Bouman, F. 1984. The seed: structure. In Embryology of

Angiosperms (ed.B.M. Johri,). Springer-Verlag, Berlin p.567-610.

Boiteau, P. & Sastre, C. 1975. Sur l’arille des Macoubea et la classification de

la sous famille des Tabernaemontanoïdées (Apocynacées). Adansonia. 2,

15(2): 239–250.

Boiteau, P., Allorge, L. & Sastre, C. 1978. Morphologie florale des

Apocynaceae: II. Caractères distinctifs entre Ambelanieae (Plumerioideae)

et Macoubeae (Tabernaemontanoideae). Adansonia. 2,18: 267–277.

Bremer, B. & Eriksson, O. 1992. Evolution of fruit characters and dispersal

modes in the tropical family Rubiaceae. Biological Journal of the Linnean

Sociey 47: 79-95.

Brown, R. 1810. On the Asclepiadeae, a natural order of plants separated from

the Apocineae of Jussieu. Memoirs of the Wernerian Natural History Society

1: 12-78.

Candolle, A. de. 1844. Apocynaceae. Prodromus Systematis Naturalis Regni

Vegetabilis 8: 317—489. Fortin, Masson & Soc., Paris.

Clausing, G.; Meyer, K. & Renner, S. S. 2000. Correlations among fruit traits

and evolution of different fruits within MelastomataceaeBotanical Journal of

the Linnean Society. 133: 303–326.

Corner, E.J.H. 1951. The leguminous seed. Phytomorphology 1:117-150.

Corner, E.J.H. 1976. The seeds of dicotyledons. University Press, Cambridge,

2v.

Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants.

New York, Columbia University Press.

Sinapis L. species growing in France. Seed Sci. & Technol. 3: 699 – 707.

Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of

Periplocaceae follicles and their taxonomic significance. Feddes

Repertorium 102: 63-68.

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

100

Das, S., Mitra, S.K. & Mukherjee, K.K. 1995. SEM studies on seed coat of some

species of Ipomoea (Convolvulaceae). Phytomorphology 45: 113 – 125.

Demarco, D. 2014. Secretory tissues and the morphogenesis and histochemistry

of pollinarium in flowers of asclepiadeae (apocynaceae). International

Journal of Plant Sciences 175(9):1042–1053.

Endress, M.E. 1989. Novelties in South American Malouetia(Apocynaceae).

Annals of the Missouri Botanical Garden 76:1141-1147.

Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae

s.l. The Botanical Review 66 (1): 1-56.

Endress, M.E. 2004. Apocynaceae: Brown and now. Telopea 10: 525–541.

Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in

Apocynaceae: the enlightenment, an introduction. Annals of the Missouri

Botanical Garden 94 (2): 260267.

Endess, M.E., Liede-Shumann, S. & Meve, U. 2014. An update classification

for Apocynaceae. Institute Of Systematic Botany, University of Zurich,

Zollikerstrasse 107, 8008 Zürich, Switzerland.

Endress, P. 2016. Development and evolution of extreme synorganization in

angiosperm flowers and diversity: a comparison of Apocynaceae and

Orchidaceae. Annals of Botany 117: 749–767.

Evert, R.F. 2006. Esau's Plant Anatomy, 3a. ed. Wiley-Interscience, New Jersey.

Fahn, A. & Zohary, M. 1955. On the pericarpial structure of the legumen, its

evolution and relation to dehiscence. Phytomorphology 5: 99-111.

Faleen, M. 1983. Morphological, functional, and evolutionary aspects of the

flowers in the Apocynaceae. Dissertação de doutorado. Universität Zürich:

ADAG Administration & Druck AG pag 63.

Fallen, M. 1986. Floral structure in Apocunaceae: Morphological, functional, and

evolutionary aspects. Bot. Jahrb. Syst 106(2): 246-286.

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

101

Gomes, S.M. & Cavalcanti, T.B. 2001. Morfologia floral de Aspidosperma Mart

& Zucc. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica 15:73-88.

Gomes, S.M. 2008a. Morfo-anatomia de frutos em espécies de Apocynaceae:

Significado ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521-534.

Gomes, S. M.; Kinoshita, L. S. & Castro, M. M. 2008b. Hemisincarpia e nectário

apendicular enfocados através de ontogênese floral em Mandevilla velame

(A. St.-Hil.) Pichon, Apocynoideae. Revista Brasileira de Botânica 31(1): 81-

93.

Goyder, D. J. 1992. Secamone (Asclepiadaceae subfam. Secamonoideae) in

Africa. Kew Bull. 47: 437-474.

Hooker, J.D. 1882. The Flora of British India. Vol. 3. L. Reeve & Co. Ltd., London.

pp. 632 – 634.

Ionta, G.M. & Judd, W.S. 2007. Phylogenetic relationships in Periplocoideae

(Apocynaceae s.l.) and insights into the origin of pollinia. Annals of the

Missouri Botanical Garden 94: 360-375.

Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. McGraw-Hill, New York. Judd, W.S.; Sanders, R.W. & Donoghue, M.J. 1994. Angiosperm family pairs:

preliminary phylogenetic analysis. Harvard Papers in Botany 5: 1 – 51.

Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2009. Sistemática

Vegetal: Um enfoque filogenético. Editora Artmed, Porto Alegre.

Jussieu, A.L. 1789. Genera plantarum. Zurique, Viduam Herissant.

Koch, I. 2002. Estudo das espécies neotropicais do gênero Rauvolfia L.

(Apocynaceae). Ph.D. Thesis, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.

Koch, I., Kinoshita, L.S. & Bittrich, V. 2007. Taxonomic novelties in Rauvolfia

L. (Apocynaceae, Rauvolfioideae) from Brazil. Novon 17: 462–471.

http://dx.doi.org/10.3417/1055-3177(2007)17[462:TNIRAR]2.0.CO;2

Kumar, P. & D. Singh 1990. Development and structure of seed coat in Hibiscus

L. Phytomorphology 40: 179 – 188.

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

102

Kumar, C. A., Bindu, S., Chitra, C.R. & Mathew, P.J. 2011. Taxonomic signifi

cance of fruit and seed morphology in identifi cation of South Indian R a u v

olfi a (Apocynaceae). Rheedea 21(2) 160-166.

Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall

ornamentations in Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae).

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the

follicle of Tylophora dalzellii HK. F. Phytomorphology 40: 349-347.

Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and

dehiscence of follicles of Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae).

Korean Journal of Botany 34: 107-112.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic

significance of fruit walls in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103: 179-

193.

Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1993. Ultrastructural studies of the

ovary wall and pericarp of Asclepias curassavica L. II. Mesocarp

development. Feddes Repertorium 104: 227-235.

Leeuwenberg, A.J.M. 1991. A revision of Tabernaemontana, vol. 1, The Old

World species. Kew: Royal Botanic Gardens Press.

Leeuwenberg, A. J. M. 1994. A revision of Tabernaemontana. Two. The New

World species. Kews: Royal Botanic Gardens Press.

Leeuwenberg, A.J.M. 1997. Series of revisions of Apocynaceae XLIV:

Craspidospermum Boj. ex A.DC., Gonioma E.Mey., Mascarenhasia A.DC.,

Petchia Livera, Plectaneia Thou., and Stephanostegia Baill. Wageningen

Agric. Univ. Pap. 97: 1–124.

Livshultz, T. 2010. The phylogenetic position of milkweeds (Apocynaceae

subfamilies Secamonoideae and Asclepiadoideae): Evidence from the

nucleus and chloroplast. Taxon 59: 1016-1030.

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

103

Livshultz, T., Middleton, D.J., Endress, M.E. & Williams, J. 2007. Phylogeny

of Apocynoideae and the APSA clade. Annals of the Missouri Botanical

Garden 94: 323-361.

Maddison, W.P. & Maddison, D.R. 2011. Mesquite: A modular system for

evolutionary analysis, version 2.75 http://mesquiteproject.org

Markgraf, F. 1979. Flora Malesianae praecursores LIX. Apocynaceae V. –

Ochrosia, Neisosperma. Blumea 25: 233–247.

Martins, M. A. G. & Oliveira, D. M. T. 2001. Morfo-anatomia e ontogênese do

fruto e da semente de Tipuana tipu (Benth.) O. Kuntze (Fabaceae:

Faboideae). Revista brasileira de Botânica 24(1):109-121.

Mello, C. C. 2013. Morfologia e anatomia de frutos e sementes da tribo

Willughbeieae (Apocynaceae, Rauvolfioideae). Tese de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1950. Anatomy of the dicotyledons: leaves, stem and

wood in relation to taxonomy with notes on economic uses. Oxford:

Clarendon.

Middleton, DJ. 2004. A revison of Kopsia (Apocynaceae: Rauvolfioideae).

Harvard Pap. Bot. 9: 89–142.

Middleton, D.J. 2007. Flora Malesiana, ser. 1, Seed plants, vol. 18,

Apocynaceae (subfamilies Rauvolfioideae and Apocynoideae) Leiden:

Foundation Flora Malesiana.

Middleton, D.J. 2011. Apocynaceae. Pp. 1–235 in: Kiew, R., Chung, R.C.K.,

Saw, L.G., Soepadmo, E. & Boyce, P.C. (eds.), Flora of Peninsular

Malaysia, ser. 2, Seed plants, vol. 2. Kepong: Forest Research Institute

Malaysia.

Middleton, D.J. 2014. Flora of Cambodia, Laos and Vietnam, vol. 33,

Apocynaceae. Paris: Muséum National d’Histoire Naturelle; Edinburgh:

Royal Botanic Garden Edinburgh.

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

104

Munoz-Centeno, L.M., Albach, D.C., SanchezAgudo, J.A. & M.M. Martinez-

Ortega. 2006. Systematic signifi cance of seed morphology in Veronica

(Plantaginaceae): A phylogenetic perspective. Ann. Bot. 98: 335 – 350.

Nakamura, A.T. & Oliveira, D.M.T. 2005. Morfoanatomia e ontogênese da

sâmara de Pterocarpus violaceus Vogel (Fabaceae: Faboideae). Revista

Brasileira de Botânica 28:375-387.

O’Brien, T. P.; Feder, N. & McCully, M. E. 1964. Polychromatic staining of plant

cell walls by toluidine blue O. Protoplasma 59: 368-373.

Oliveira, J. H. G.; Iwazaki, M. C. & Oliveira, D. M. T. 2014. Análises

ontogenéticas do pericarpo de espécies de Mimosa Linnaeus (Fabaceae,

Mimosoideae). Hoehnea 41(4): 483-497.

Paiva, E.A.S.; Pinho S.Z. & Oliveira D.M.T. 2011. Large plant samples: how to

process for GMA embedding? In: Chiarini-Garcia H,Melo CN (eds) Light

microscopy: methods and protocols. Humana Press, Totowa: 37-49.

Pearse, A.G.E. 1980. Histochemistry theoretical and applied: preparative and

optical technology. 4ed. Edinburgh. Churchill Livingston.

Pichon, M. 1947. Classification des Apocynacées II, genre Rauvolfia. Bull. Bot.

Soc. France 94: 3–39.

Pichon, M. 1948. Classification des Apocynacées: IX. Rauvolfiées, Alstoniées,

Allamandées et Tabernaemontanoidées. Mémoires du Muséum National

d'Histoire Naturelle B 27: 152-251.

Pichon, M. 1950. Classification des Apocynacéaes: XXVIII, Supplément aux

Plumérioïdées. Mém. Mus. Natl. Hist. Nat., B, Bot. 1: 145–166.

Polhill, R.M. 1981b. Dalbergieae. In Advances in legume systematics. (R.M.

Polhill & P.H. Raven, eds.). Royal Botanical Gardens, Kew, Part 1, p.233-

242.

Pijl, V der. 1966. Ecological aspects of fruit evolution. Proc. K. ned. Akad Wet. C

69, 597-640.

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

105

Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within

Apocynaceae s.l. based on trnL intron and trnL – F spacer sequences and

propagule characters. Annals of Missouri Botanical Garden 88: 523-549.

Radford, A.E; Dickison, W.C.; Massey, J.R. & Bell, C.R. 1974. Vascular Plant

Systematics. Harper & Row Publishers, New York.

Rao, A.S. 1956. A revison of Rauvolfia with particular reference to the American

species. Ann. Missouri Bot. Gard. 43: 253–354.

http://dx.doi.org/10.2307/2394642

Roshchina, V.V. & Roshchina, V.D. 1993. The secretory function of higher

plants. Berlim, Springer.

Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin,

Gebrüder Borntraeger.

Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L.

(Apocynaceae). Revista Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.

Sennblad, B & Bremer, B. 2002. Classification of Apocynaceae s.l. according to

a new approach combining linnaean and phylogenetic taxonomy.

Systematic Biology 51: 389-409.

Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas

region, Minas Gerais, Brazil. Darwiniana 40:127-169.

Simões, A. O., Livshultz, T., Conti, E., Endress, M. E. 2007. Phylogeny and

systematics of the Rouvolfioideae (Apocynaceae) based on molecular and

morphological evidence. Annals of the Missouri Botanical Garden 94: 268–

297.

Simões. A.O.; Endress, M.E. & Conti, E. 2010. Systematics and character

evolution of Tabernaemontaneae based on molecular and morphological

evidence. Taxon 59: 772-790.

Simões, A.O.; Kinoshita, L.S.; Koch, I.; Silva, M.J. & Endress, M.E. 2016.

Systematics and character evolution of Vinceae (Apocynaceae). Taxon

65(1): 99-122.

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

106

Souto, L. S. & Oliveira, D. M. T. 2005. Morfoanatomia e ontogênese do fruto e

semente de Byrsonima intermedia A. Juss. (Malpighiaceae). Revista

Brasileira de Botânica 28(4):697-712.

Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de

Aspidosperma polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de

Biologia 52: 439-447.

Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da

semente em desenvolvimento de Asclepias curassavica L.

(Asclepiadaceae). Insula 33: 39-49.

Souza, L, A. Anatomia do fruto e da semente. Ed. UEPG, 2006.

Suárez, G.R. & Engleman, E.M. 1980. Deposito de taninos en la testa de

Amaranthus hypochondriacus L. (alegria). Agrociencia 42:35-50.

Terrell, E. E & Wunderlin, R. P. 2002. Seed and fruit Characters in selected

Spermacoceae and comparison with Hedyotideae (Rubiaceae). The

Botanical Research Institute of Texas. 20 (2): 549-557.

Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium

indicum Mill. (Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399-407.

Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae.

Acta Societatis Botanicorum Poloniae 63: 9-20.

Trzeciak-Limeira, F.; PintoII, D. D.; Mourão, K. S. M. 2013. Pericarp

ontogenesis with emphasis on the dispersal apparatus of three weed

species of Faboideae (Fabaceae). Acta Botânica Brasilica 27(4).

Tournefort, P. 1694. Élémens de Botanique ou méthode pour connoitre Les

Plantes. Tome Premiére – Les Campaniformes: 161 – 170.

Vilalba-Ferreira, C. A. 2012. Morfoanatomia de frutos de espécies neotropicais

da tribo Tabernaemontana (Apocynaceae, Rauvolfioideae. Tese de

Mestrado. Universidades Estadual de Campinas, Campinas.

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

107

Anexo I

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331146/1/Freitas_Carolina... · Aos amigos lindos, queridos, companheiros, alguns deles

108

Anexo II