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Universidade Estadual de Londrina
IRIS MATTEUZZO VENTURA
OS IMIGRANTES ITALIANOS NO SETOR INDUSTRIAL TÊXTIL DE
ITATIBA- SP
LONDRINA 2008
IRIS MATTEUZZO VENTURA OS IMIGRANTES ITALIANOS NO SETOR INDUSTRIAL
TÊXTIL DE ITATIBA- SP
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Departamento de Geociências, do Centro de Ciências Exatas, da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora: Prof. Dra. Alice Yatiyo Asari
LONDRINA 2008
IRIS MATTEUZZO VENTURA
OS IMIGRANTES ITALIANOS NO SETOR INDUSTRIAL TÊXTIL DE ITATIBA- SP
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Departamento de Geociências, do Centro de Ciências Exatas, da Universidade Estadual de Londrina.
COMISSÃO EXAMINADORA
Dra. Alice Yatiyo Asari ____________________ Profa. Orientadora Universidade Estadual de Londrina
Dr. Claudio Roberto Bragueto __________________________ Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina
Dra. Ruth Youko Tsukamoto _________________________ Profa. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina
Londrina, 10 de dezembro de 2008.
À minha família:
Pai, Mãe, Iu e Vó,
dedico esse trabalho!
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Cláudio e Edna... por tudo!
Ao meu irmão, Iuri, pelas sugestões, confidências e companheirismo.
À minha avó, “Papa”, pela criação, apoio financeiro e conselhos.
À Bovarry e Macabéa, pelos afagos mesmo após meses de ausência.
À minha orientadora, Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari, por me aceitar
como orientanda e me dar todo o apoio necessário para que minhas pesquisas
e principalmente esse trabalho, fossem concluídos.
À Profa. Dra. Ruth Youko Tsukamoto, pelas discussões nos grupos de
pesquisa e por fazer parte dessa banca.
Ao Prof. Dr. Cláudio Roberto Braguetto, por aceitar fazer parte da
banca examinadora.
À Profa. Dra. Eloíza Cristiane Torres, minha primeira orientadora e
hoje, amiga. E também aos demais professores do Departamento de
Geociências que durante o curso, contribuíram para meu crescimento
intelectual.
Aos amigos de sempre (de lá!): Bruno, Camila, Joyce, Lorena, Luciana,
Mel, Thaís e Yáci.
Aos amigos daqui: Ana Paula, Andrea, Bárbara, Diogo, Hugo (on-line!)
Kelly, Márcio, Mariana R., Kleyton, Tatiana, Paloma, Sílvia e Viviane. E também
aos demais colegas da turma e de projeto, pela harmoniosa convivência e
amizade.
Márcio e Kleyton, pela ajuda com os mapas.
Edvaldo e toda família Fattori, pelo empréstimo de documentos raros e
livros sobre Itatiba.
A todos os entrevistados pelo tempo dispensado à minha pesquisa.
José Tadeu Braga, pela imensa ajuda com os questionários.
À Secretaria de Obras e Meio Ambiente, pelos mapas do município de
Itatiba.
Aos funcionários do Arquivo Público Municipal de Itatiba,
especialmente Lucimara Gaburdi, pelo fornecimento de informações.
Paulo Degani e demais funcionários do Museu Padre Francisco de
Paula Lima (Itatiba), pela disponibilização de materiais.
Toninho Tescarolo, da Associação Ítalo- Brasileira, pelo fornecimento
de informações.
Luís Soares de Camargo e João Fábio Bertonha, pelas sugestões.
Aos funcionários do Departamento de Geociências, principalmente
Edna, pelas ajudas de sempre.
E finalmente, aqueles que de alguma forma, colaboraram para a
finalização desse trabalho.
Muito obrigada a todos!
...tudo que acontece na vida
tem um momento e um destino....
(Nando Reis)
VENTURA, Iris Matteuzzo. Os imigrantes italianos no setor industrial têxtil de Itatiba- SP. 2008. P. 132. (Bacharelado em Geografia)- Centro de Ciências
Exatas, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2008.
RESUMO
A imigração italiana para o Brasil teve início em 1876 e a partir de então, o país
recebeu mais de um milhão de imigrantes dessa nacionalidade, que se
dedicaram inicialmente à lavoura do café. Em Itatiba, eles chegaram em 1884,
onde havia inúmeras fazendas cafeeiras.
Mais tarde, após crises econômicas, um contingente significativo dedicou-se à
atividade industrial, contribuindo na instalação de importantes estabelecimentos
no município, a exemplo, da têxtil, a partir de 1915, que mantém-se importante
para o desenvolvimento da cidade até hoje.
Atualmente, os imigrantes e seus descendentes, atuam também em
Associações Ítalo-Brasileiras, como seus antepassados já fizeram, com o
objetivo de unir a população italiana do município, através da realização de
cursos de língua italiana, por exemplo. Portanto, objetiva-se analisar a
influência dos descendentes e imigrantes no desenvolvimento do município
focando a atividade econômica ligada ao setor têxtil e a social, relacionada à
Associação Ítalo- Brasileira de Itatiba.
Palavras-chave: migração italiana, indústria têxtil, Associação Ítalo- Brasileira
Itatiba-SP
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Mapa da Itália no período pré- unificação.........................................31
Figura 2 - Mapa da Itália após a unificação......................................................33
Figura 3 – Principais ferrovias do estado de São Paulo em 1878....................44
Figura 4 – Itinerário da ferrovia Jundiaí- Itatiba................................................45
Figura 5 – Localização do estado de São Paulo no Brasil e de Itatiba no
estado................................................................................................................47
Figura 6 – Moradia para os imigrantes em Itatiba.............................................49
Figura 7 –Regiões da origem das famílias italianas de
Itatiba.................................................................................................................51
Figura 8 – Notas de compradores de café de Itatiba........................................54
Figura 9 – Localização de importantes ruas de Itatiba na época do café........55
Figura 10 – Imigrantes em uma das fazendas de café de Itatiba.....................56
Figura 11- Fábrica de Massas “Pastifício Itatibense”, uma das primeiras do
município...........................................................................................................58
Figura 12- Propaganda da Fabril Scavone.......................................................59
Figura 13 - Propaganda da Scavone em Itatiba e a loja da mesma.................60
Figura 14 - Notícia relatando a inauguração da Fábrica de Tecidos de Itatiba, a
segunda do
município...........................................................................................................61
Figura 15 - Anúncios de indústrias da época: Companhia de Fábrica de
Tecidos Itatiba e Sociedade Anônima Fabril
Scavone...........................................................................................................62
Figura 16 - Instalações da Duomo Têxtil.........................................................63
Figura 17 - Observa-se a diversidade de tipos de indústrias, após 1929:
sabão, calçados, fósforo, meias e
tecidos...........................................................................................................64
Figura 18 - Lojas destinadas à venda de móvel colonial, além do Shopping
Móveis..............................................................................................................70
Figura 19 – Distribuição da população italiana em Itatiba................................72
Figura 20- Nota da Sociedade de Mútuo Socorro Itatibense...........................75
Figura 21- Certificado de sócio da Sociedade Giuseppe Garibaldi..................76
Figura 22- Origem das famílias dos entrevistados...........................................87
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Brasileiros Residentes no Exterior-
1996...................................................................................................................21
Tabela 2 – Entrada de Imigrantes Italianos no Brasil- período 1872-
1972...................................................................................................................37
Tabela 3 – População Estrangeira por Estados (censo
1920)..................................................................................................................42
Tabela 4 – População total residente em
Itatiba.................................................................................................................48
Tabela 5 – Origem das Famílias Italianas de
Itatiba.................................................................................................................50
Tabela 6 – Produção de café em
Itatiba.................................................................................................................57
Tabela 7 - Pessoal ocupado de acordo com o setor de
atividade.............................................................................................................67
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Divisão Política da Itália...................................................................30
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Idade dos
entrevistados......................................................................................................79
Gráfico 2- Escolaridade dos
entrevistados......................................................................................................80
Gráfico 3- Aspectos da cultura italiana que são
mantidos............................................................................................................81
Gráfico 4- Imigrante da
família................................................................................................................85
Gráfico 5- Local de nascimento dos
imigrantes..........................................................................................................86
Gráfico 6- Data da chegada dos imigrantes no
Brasil..................................................................................................................88
Gráfico 7- Profissão dos imigrantes na
Itália.......................................,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.................88
Gráfico 8- Produtos fabricados na indústria têxtil de
Itatiba.................................................................................................................92
Gráfico 9- Meios para obtenção da
indústria.............................................................................................................93
Gráfico 10- Número de
funcionários........................................................................................................94
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS - Mato Grosso do Sul
N.R – Núcleo Residencial
PMI - Prefeitura Municipal de Itatiba
R.N. – Rio Grande do Norte
R.S – Rio Grande do Sul
SA – Sociedade Anônima
SP – São Paulo
SPI – Sociedade Promotora da Imigração
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................16
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE MIGRAÇÃO.........................................19
2.1 OS ATORES SOCIAIS DA MIGRAÇÃO: OS MIGRANTES .........................................................23
3 IMIGRAÇÃO ITALINA PARA O BRASIL ..............................................................27
3.1 PANORAMA ITALIANO.................................................................................................................30
3.2 PANORAMA BRASILEIRO............................................................................................................38
3.3 O ESTADO DE SÃO PAULO COMO RECEPTOR DE MÃO-DE-OBRA ITALIANA.....................41
4 ITATIBA: LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS................................47
4.1 MIGRAÇÃO ITALIANA PARA ITATIBA ........................................................................................48
4.2 DA CANA DE AÇÚCAR À INDUSTRIALIZAÇÃO: MUDANÇAS DAS ATIVIDADES
ECONÔMICAS ITATIBENSES .............................................................................................................53
4.3 DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ITALIANA ..............................................................................71
4.4 A INFLUÊNCIA DOS IMIGRANTES NAS ASSOCIAÇÕES ITALIANAS ......................................73
5 CONSIDERAÇÕES DA PESQUISA EMPÍRICA....................................................78
5.1 PERFIL DO ENTREVISTADO.......................................................................................................79
5.2 PERFIL DO IMIGRANTE QUE FAZ PARTE DA FAMÍLIA DO ENTREVISTADO ........................84
5.3 PERFIL DA INDÚSTRIA TÊXTIL ..................................................................................................91
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................100
APÊNDICES .............................................................................................................107
APÊNDICE A- Questionário ......................................................................................108
ANEXOS ...................................................................................................................112
ANEXO A – Estatuto da Associação Ítalo- Brasileira de Itatiba.................................113
ANEXO B – Lista de Famílias Italianas de Itatiba .....................................................124
ANEXO C- Lista de Indústrias Têxteis de Itatiba.......................................................126
1. INTRODUÇÃO
A imigração italiana para o Brasil teve início no século XIX, mais
especificamente a partir de 1876, como solução do problema da mão-de-obra
para a cafeicultura brasileira. Esse fluxo migratório se iniciou graças às leis que
proibiram o tráfico negreiro, que tornaram os sexagenários livres, possibilitaram
a liberdade dos recém-nascidos e que culminou com a Lei Áurea, de 1888,
que extinguiu a escravidão no país. Assim, os imigrantes (europeus e mais
tarde, asiáticos) vieram em substituição aos escravos, como afirma Bassanezi
(1996, p. 03):
O rápido crescimento da economia cafeeira e São Paulo- que
gerou capital para subsidiar a imigração estrangeira- e seus
outros desdobramentos (a expansão da rede ferroviária,
industrialização e urbanização), aliados às importantes
reformas institucionais e políticas (como a abolição da
escravatura) (...), criaram condições importantes para a
imigração em grande escala.
A situação vivenciada na Itália também favoreceu a imigração tanto
para o Brasil quanto para outros países, como a Argentina. O país acabara
de ser unificado, e assim, o governo nacionalista incentivava, entre outros
aspectos, a consolidação da indústria nacional. Esse processo teve início
no Norte italiano, expulsando assim, a mão-de-obra do campo, e não as
acolhendo inteiramente na indústria.
Dessa forma, os primeiros emigrantes italianos eram originários do
Norte, e assim, Hobsbawn (1996, p. 274), confirma que, “já que a maioria
dos europeus era de origem rural, assim eram os emigrantes. O século XIX
foi uma gigantesca máquina de desenraizar os homens do campo”.
Note-se ainda que, conforme a industrialização do país foi chegando
a outras regiões, e ainda, aliada ao desemprego, problemas sociais e
econômicos, entre outros, as levas de emigrantes não se restringiram a
mulheres, homens ou crianças. E assim, conforme Martins (2003) até 1939,
mais de um milhão de italianos chegaram ao Porto de Santos- SP, com a
esperança de “fazer a América”.
Inseridos principalmente na agricultura, especificamente do café do
estado de São Paulo, os imigrantes italianos formaram entre si, redes sociais,
para que juntos pudessem superar as dificuldades e manter seus costumes,
mesmo inseridos em uma cultura que não a deles. Após crises econômicas
(principalmente a de 1929) que afetaram diretamente a produção cafeeira,
muitos deles se dirigiram para as cidades em busca de novas oportunidades
em outros setores da economia como no comércio e na indústria.
Porém, diferentemente dos primeiros imigrantes, os do segundo pós-
guerra, tinham especialização, que segundo Martins (2003) era denominado
“corporativismo de ofício”, pois, quando na Itália, as crianças aprendiam algum
ofício, como alfaiate, mecânico, marceneiro, e assim, quando emigraram para o
Brasil, se dedicaram especificamente a atividades urbanas. Assim, os
imigrantes que se dirigiram para Itatiba após 1945, instalaram suas próprias
indústrias. Segundo Hutter (1972), a pequena indústria dispersa pelo estado de
São Paulo, estava quase que inteiramente nas mãos de italianos. E a indústria
têxtil como característica desse grupo imigrantista é consequência desse
processo em Itatiba e no estado de São Paulo.
Feitas as considerações acerca do contexto italiano e brasileiro,
considere-se que, esse trabalho se justifica por propor um estudo a respeito da
imigração italiana no município de Itatiba, interior do Estado de São Paulo,
analisando principalmente de que forma esse deslocamento populacional
influenciou e influencia o município em aspectos relacionados à atividade
econômica, especialmente a indústria têxtil e a atuação das associações de
descendentes e imigrantes italianos (Associação Ítalo- Brasileira de Itatiba).
Portanto, como objetivos apresenta-se: compreender os aspectos
históricos e econômicos que permitiram a vinda de imigrantes para o Brasil,
para São Paulo e para Itatiba; entender de que forma a imigração italiana
influenciou a instalação de indústrias têxteis na cidade e como esta, influencia
a mesma; observar quais e quantas são as indústrias desse ramo hoje e quais
delas têm como proprietário o descendente ou o imigrante italiano e finalmente,
analisar o histórico da Associação Ítalo-Brasileira de Itatiba em aspectos
relacionados aos objetivos, sócios, eventos, entre outros.
Para tanto, o trabalho baseou-se em duas formas de investigação: os
trabalhos de gabinete e os de campo. Quanto ao primeiro, realizou-se o
levantamento bibliográfico referente à imigração italiana, ao desenvolvimento
econômico de Itatiba, às questões referentes à industrialização do estado e do
município, assuntos referentes à Associação Ítalo- Brasileira e também outras
associações do município. O levantamento de dados foi feito em museus,
jornais, revistas, agência do IBGE e Prefeitura de Itatiba.
Em relação aos trabalhos de campo, foram feitas oito entrevistas com
industriais, todos descendentes de italianos e que atuam na área têxtil, para
que a mesma pudesse ser analisada no município atualmente. O questionário
utilizado se encontra em anexo.
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE MIGRAÇÃO
Muitas são as formas de migração: migração interna, internacional,
temporária, permanente, entre outras. Far- se - á nesse capítulo inicial, breves
considerações a respeito da migração, tanto teóricas quanto às relacionadas
aos migrantes. Conforme Damiani (2004, p. 61): “considera-se desde
migrações intercontinentais - detendo-se especialmente, pelo seu volume, na
emigração européia, do final do século XIX às primeiras décadas do século XX
- até as migrações a curta e média distâncias, mais freqüentes.”
Assim, ainda de acordo com Damiani (2004), as migrações
permanentes são caracterizadas por serem aquelas de refugiados, escravos ou
seja, de forma forçada, autoritária; já as espontâneas ocorrem, por motivos
estruturais, sejam econômicos ou políticos. Dessa forma, analisar-se-á, a
seguir, os três principais tipos de migração: migração temporária, interna e
internacional.
Quanto a migração temporária, Martins (1986, p. 45) assim se
refere:
Migrar temporariamente é mais do que ir e vir – é viver em espaços
geográficos diferentes, temporalidades dilaceradas pelas
contradições como duplicidade; é ser duas pessoas ao mesmo
tempo, cada uma constituída por específicas relações sociais,
historicamente definidas; é viver como presente e sonhar como
ausente. É ser e não ser ao mesmo tempo; sair quando está
chegando, voltar quando está indo. É necessitar quando está
saciado. É estar em dois lugares ao mesmo tempo, e não estar em
nenhum. É, até mesmo, partir sempre e não chegar nunca.
Portanto, os imigrantes temporários vivem em constante
deslocamento, por motivos decorrentes das necessidades do sistema produtivo
em que estão inseridos. No Brasil, as migrações temporárias são relacionadas
principalmente, segundo Martins (1986), aos trabalhadores rurais que migram
para as cidades em busca de trabalho na indústria, na construção civil e no
setor de serviços; indígenas em busca de trabalho e sobrevivência nas
cidades; trabalhadores rurais que migram para outras áreas rurais em períodos
de entressafra; trabalhadores bóias - frias principalmente em estados como
Paraná e São Paulo, na colheita de algodão e cana, por exemplo.
O migrante temporário desloca-se com o objetivo de voltar para sua
origem, já que geralmente seu trabalho no local de destino também é
temporário, a exemplo da colheita de determinadas culturas. Assim, a
migração temporária é uma forma de migração interna, pois não se caracteriza
por ser internacional, mas apenas entre estados ou cidades. Assim sendo,
dentre os principais motivos para a migração interna, de acordo com Matos
(1992), estão os relacionados à economia industrial na região Sudeste,
redefinindo as relações entre campo e cidade; aumento populacional;
eliminação das barreiras internas à mobilidade, entre outros. Outro exemplo é
do Nordeste brasileiro, por se tratar de um importante emissor de mão-de-obra
principalmente para estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Distrito
Federal, caracterizando um dos principais fluxos de migração interna no país.
De outra forma, Braga (2006, p. 01), afirma que: (...) “as migrações
internas começam a protagonizar os movimentos populacionais mais
importantes do país, refletindo uma integração maior do mercado de trabalho
nacional, pela oferta de oportunidades de trabalho nos crescentes centros
urbanos.”. Em relação às técnicas adotadas para medir essa migração,
segundo, Henriques e Beltrão (1986) há duas formas: técnicas diretas (local de
origem e de destino, tempo de residência, ou seja, informações relacionadas à
migração) e indiretas (sexo e idade, número de filhos, por exemplo, não
vinculadas à migração, mas que permitem estimativas).
Por fim, analisaremos brevemente conceitos a respeito da migração
internacional, por ser objeto de nosso estudo e, portanto, detalhada ao longo
do trabalho. As migrações internacionais, cujo destino do migrante é um país
que não o seu, de origem, apresenta atualmente quatro principais modalidades,
de acordo com Antico (1998). A primeira, principalmente de jovens, de classe
média urbana, que se deslocam para países da Europa, para os Estados
Unidos, Canadá e Japão, em busca de melhores remunerações, como
observa-se na tabela a seguir.
Tabela 1: Brasileiros Residentes no Exterior- 1996
Continente Quantidade
África 3.126
América Central 2.052
América do Norte 609.738
América do Sul 535.977
Ásia 203.062
Europa 1.613.103
Oceania 12.504
Fonte: Relatório da Divisão de Assistência Consular do Ministério
de Relações Exteriores apud Ântico (1998, p. 666)
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
De acordo com a tabela, o maior contingente de brasileiros se
encontra na Europa, sendo que os países de maior destaque são Itália,
Alemanha e Portugal, onde estão mais de 40 mil, 36 mil e 32 mil brasileiros,
respectivamente. Na América do Norte, se encontram mais de 609 mil
brasileiros, sendo que apenas nos Estados Unidos, estão 598 mil deles.
Na América do Sul residem cerca de 535 mil brasileiros, sendo que o
maior país receptor é o Paraguai, onde estão 460 mil brasileiros, porém, em
outros, como na Guiana Francesa e na Argentina, o contingente de brasileiros
não passa de 16 mil. Em relação aos brasileiros na Ásia, o principal país de
recepção é o Japão, com 201 mil brasileiros residentes. Na África e Oceania
estão as menores quantidades de brasileiros, 3 e 12 mil, respectivamente. Na
Oceania, o principal país de destino dos brasileiros é a Austrália.
Em relação à segunda modalidade, ainda de acordo com Antico
(1998), é referente a transição do Brasil, de mão-de-obra receptora, para
expulsora, pois o país não recebe tantos imigrantes quanto já recebeu, sendo
que atualmente eles são caracterizados, em sua maioria, por serem coreanos e
latino-americanos, e se instalarem principalmente em São Paulo. Para Truzzi
(2001), no bairro do Bom Retiro, os coreanos começaram a instalar as
primeiras lojas e indústrias de confecção a partir da década de 1970, atraindo
assim, tal colônia para esse bairro da cidade de São Paulo.
Já entre os latino-americanos, há destaque para os bolivianos, que
iniciaram o fluxo migratório para o Brasil na década de 1950. Segundo Galetti
(1996), os imigrantes foram expulsos da Bolívia pela recessão, principalmente
pelos altos índices de inflação. Eles também se caracterizam por ter
expressividade no município de São Paulo, por viverem na ilegalidade e
também por trabalharem em confecções, muitas delas, dos coreanos.
A terceira e quarta modalidades, de acordo com Antico (1998) se
referem à migração entre países fronteiriços na Região Norte do Brasil
principalmente por questões ligadas ao tráfico de drogas e a outra, relativa ao
fluxo entre os países do Cone-Sul, principalmente os brasiguaios. De acordo
com Salim (1996), os países membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul)
concluíram entre outros aspectos, acordos sobre a expansão das redes sociais
e maior movimentação dos trabalhadores entre os países membros, e que
deve interferir na entrada de imigrantes desses países no Brasil.
Ressalte-se que as migrações tratadas aqui serão as dos séculos
XIX e XX, quando o Brasil vivenciou a chegada de imigrantes europeus e
asiáticos como mão-de-obra principalmente para a agricultura cafeeira.
Bassanezi (1996), afirma que o Brasil era emigrantista, em se tratando de
movimentos populacionais, pois desde a colonização portuguesa até meados
do século XX, recebeu imigrantes portugueses, espanhóis, italianos, alemães e
japoneses, como se verá nos próximos capítulos.
No próximo subitem serão feitas algumas considerações a respeito
dos atores do processo migratório, os migrantes.
2.1 OS ATORES SOCIAIS DA MIGRAÇÃO: OS IMIGRANTES
Inicialmente apresentam-se algumas definições a respeito do
processo migratório. Para Moura (1980, p. 99), a migração é definida por “uma
mudança permanente ou semipermanente de residência. Não se põem
limitações com respeito à distância do deslocamento, ou à natureza voluntária
ou involuntária”.
Outra definição é dada por Sayad (1998, p. 15): (...) “é, em primeiro
lugar, um deslocamento de pessoas no espaço, e antes de mais nada no
espaço físico” (...). Ou seja, ambos concordam que a migração acontece
quando há um deslocamento populacional num determinado espaço, e Sayad
(1998) afirma que ciências como Geografia e Demografia, estudam esse
fenômeno pois buscam compreender a população e o espaço e mais
especificamente, a ocupação do território e distribuição da população. Ainda
Sayad (1998) diz que o espaço do deslocamento além de físico é um espaço
qualificado como cultural, social, histórico, político, econômico, podendo ser,
portanto, objeto de estudo de variadas ciências.
Dessa forma, “o imigrante é (...) sem lugar, deslocado, inclassificável
(...) nem cidadão, nem estrangeiro, nem totalmente do lado do mesmo, nem
totalmente do lado do outro, o imigrante situa-se nesse lugar “bastardo”
(SAYAD, 1998, p. 11)”. Já George (1991, p.105), define os imigrantes como:
(...) trabalhadores não especializados, e por isso mesmo procurados
pelas economias evoluídas cujas populações não aceitam os
trabalhos ingratos e mal remunerados. Têm de aceitar as tarefas mais
desagradáveis e quase sempre mais insalubres e perigosas por
salários próximos do mínimo legal. (...) têm de se conformar com
condições de existência miseráveis; alojamentos coletivos
desconfortáveis e insalubres, alimentação pobre e reduzida, vestuário
insuficiente para enfrentar as condições de trabalho e de clima que
lhe são impostas.
No entanto, a migração não é um processo de uma única pessoa,
mas sim, segundo Singer (1998), um processo social, cuja unidade atuante é o
grupo e não o indivíduo. Em relação às motivações desse grupo em migrar, há
diversas e de acordo com Sorre apud Damiani (2004, p. 63): (...) “o impulso
migratório raramente é um fato simples; resume-se num acúmulo de
necessidades, desejos, sofrimentos e esperanças.”.
E segundo Martins e Vanalli (1994), o fator econômico é o maior
motivador de migrações, principalmente pela busca de melhores condições de
vida, pois Hobsbawn (1996) já afirmava que as pessoas emigravam, sobretudo
por motivos econômicos, já que eram pobres e esses, tendiam a migrar mais
que ricos.
Para Singer (1998), os fatores de expulsão que levam às migrações
são de duas ordens: de mudança e de estagnação. O primeiro está relacionado
à introdução de técnicas capitalistas, já o segundo, relacionado à pressão
populacional sobre certa disponibilidade de áreas cultiváveis (pela insuficiência
física de terra aproveitável ou pela monopolização pelos grandes proprietários).
A explicação da mobilidade de mão-de-obra e o direito de ir e vir,
como uma liberdade exercida por indivíduos livres, é explicada, segundo Rua
(1997) pela visão neo- clássica, pois as migrações seriam uma forma de
eliminar os desequilíbrios entre regiões ou setores econômicos, com excedente
de mão-de-obra ou falta da mesma. A visão neo- clássica, não aborda
prioritariamente a visão histórica do processo migratório, e segundo a mesma,
a migração ocorre objetivando melhores condições de vida.
Rua (1997) ainda define outro enfoque para a análise da migração, a
histórico-estrutural, que destaca as relações entre campo e cidade e fatores
inerentes ao capitalismo. Essa corrente de análise prioriza os fatores de
expulsão, ou seja, os motivos de saída do imigrante do seu local de origem,
pois de acordo com a mesma, os fatores de atração não são suficientes para
motivar as pessoas a migrar.
Por fim, Rua (1997) afirma que há a mobilidade do trabalho segundo
as exigências do capitalismo e nesse caso, a migração é entendida como um
pressuposto econômico que transforma a força de trabalho em mercadoria.
Portanto, os homens se submetem às necessidades do crescimento capitalista.
Observa-se que as principais causas das migrações são
relacionadas às questões econômicas, e assim, são observados diversos tipos
de fluxos migratórios, como o interno e o internacional. Assim, os imigrantes,
principais atores do processo migratório, são motivados a migrar em busca de
melhores condições de vida, seja no mesmo país ou fora deles. Observa-se
também, que o Brasil vivencia atualmente um fluxo diferente do observado nos
séculos XIX ou XX, pois “expulsa” mão-de-obra para países mais
desenvolvidos e recebe emigrantes, muitas vezes ilegais, de países da Ásia e
América do Sul.
Portanto, a migração será tratada como um ato realizado por um
grupo de pessoas e não individualmente, já que no caso da migração italiana
para o Brasil, os motivos econômicos e sociais de ambos os países
proporcionaram tal fluxo. E em relação aos imigrantes, os deslocamentos
tiveram como motivos a esperança de se conseguir melhores condições de
vida.
3. IMIGRAÇÃO ITALIANA PARA O BRASIL
Como visto no capítulo anterior, a migração internacional é
caracterizada pelo ato de migrar para um país que não o seu, assim,
estudaremos neste item, a migração internacional ocorrida a partir do século
XIX, que teve como origem a Itália e como destino, o Brasil.
A partir da década de 1870, o Brasil começou a receber novos
imigrantes, cujos objetivos e motivações eram diferentes daqueles que já
haviam migrado para o Brasil, como os portugueses colonizadores e os
escravos africanos. Chegaram então os europeus e posteriormente, os
asiáticos, como trabalhadores livres em busca de melhores condições de vida,
já que seus países de origem passavam por crise econômica, política ou social.
Para Levy (1974), no século XIX, duas circunstâncias favoreceram a
transformação dos imigrantes que chegaram ao Brasil: de migração africana
forçada, para migração de trabalho livre, de origem européia. Isso aconteceu
porque se tornava cada vez mais difícil conseguir escravos e também por
questões demográficas nos países da Europa, que vivenciava o aumento
significativo de população e um sistema econômico inadequado.
Assim, contingentes de diversas nacionalidades emigraram para o
Brasil. Como exemplo a japonesa, cujo grupo imigrantista, juntamente com
espanhóis, italianos, alemães e portugueses, foram as principais
nacionalidades que o Brasil recebeu a partir do século XIX. O Japão estava
diante de um quadro de superpopulação, com oscilações econômicas,
industrialização, seca, baixo nível salarial, modificações nas relações sociais e
guerras.
Nogueira (1973, p. 57) afirma que: “conhecia o país do Sol nascente
o problema de uma densidade populacional crescente, em um solo apenas em
parte cultivável, ao mesmo tempo em que atravessava uma situação sócio-
econômica toda particular.“. Portanto, o Brasil foi a oportunidade de busca por
uma vida melhor, com novas oportunidades. Há que se lembrar que os
imigrantes japoneses eram caracterizados por anseios de voltar à terra natal,
assim que conseguissem uma determinada quantia em dinheiro, o que nem
sempre acontecia.
Já os espanhóis, foram, atrás de italianos e portugueses, os que
mais migraram para cá. De acordo com Bassanezzi (1996), os espanhóis se
configuraram como o grupo menos alfabetizado dentre os imigrantes
estrangeiros, e, eram também os que mais migraram em unidades familiares,
sendo alto, portanto, o número de crianças e mulheres. Eles também foram os
que mais se dedicaram à agricultura, principalmente nas atividades cafeeiras.
A imigração alemã caracterizou-se por ter tido razões econômicas e
políticas, principalmente, entre as duas guerras mundiais, quando ocorreram os
maiores fluxos da Alemanha para o Brasil. A grande maioria dos imigrantes se
estabeleceu na região Sul, e em menor escala no Espírito Santo, São Paulo,
Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Segundo Seyferth (1993), a maioria das colônias alemãs foram
fundadas na metade do século XIX, a exemplo de Blumenau, Joinville e
Brusque, em Santa Catarina. No Paraná, os imigrantes alemães se
concentraram em Curitiba, a partir do século XX. Em relação ao total de
imigrantes, os alemães apresentam um menor contingente se comparado aos
portugueses, espanhóis e italianos.
Em relação aos portugueses, após a vinda na qualidade de
colonizadores, a descoberta do ouro em Minas Gerais foi outro fato que atraiu
bastante essa nacionalidade de migrantes, porém, com a diminuição dessa
atividade econômica, foi o café que novamente os atraiu. No entanto, esses, de
acordo com Bassanezzi (1996, p. 19): (...) “tenderam menos aos trabalhos
agrícolas do que os italianos, espanhóis, japoneses e alemães (...) a maioria
dedicou-se a trabalhos na ferrovia, a atividades artesanais e manufatureiras”
(...).
No caso da nacionalidade de nosso estudo, a italiana, cuja proporção
de imigrantes, foi a maior recebida no Brasil, teve como motivos que
proporcionaram os primeiros fluxos, as crises em relação à unificação de seus
estados, já que segundo Bertonha (2005), criar um Estado não foi fácil, pois a
burocracia unificada, leis, impostos, exércitos únicos foram gradativamente
sendo consolidados, além disso, para a maioria da população rural, que não
havia participado ativamente da unificação, consideravam-se ainda vênetos,
toscanos e sicilianos, e não, italianos, dificultando a conscientização de que
eram uma única nação; destaca-se que apenas 2,5% da população utilizava o
italiano oficial, logo após a unificação.
Dessa forma, objetivamos nesse capítulo analisar mais
profundamente, as consequências da unificação do país, bem como outros
motivos, como o pós- guerra, que fizeram os italianos migrar, especialmente
para o Brasil. É interesse nosso também, aprofundar os estudos sobre as
oportunidades que o Brasil disponibilizou para receber esses imigrantes, a
partir do século XIX, focando também o Estado de São Paulo como principal
receptor desses imigrantes.
3.1 PANORAMA ITALIANO
A unificação dos estados italianos aconteceu entre 1815 e 1870,
quando a Itália se tornou um único Estado-Nação. Até então, cada estado tinha
seu próprio governo. Observa-se no quadro a seguir os diferentes estados da
Itália não unificada e seus governantes.
Quadro 1: Divisão Política da Itália
Fonte: Schilling, Voltaire s/d1
No mapa a seguir, tem-se a divisão do território antes da unificação,
observando-se a presença dos reinos e ducados.
1 Disponível em: http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/italianos.pdf
Figura 1: Mapa da Itália no período pré- unificação
Fonte: BERTONHA, João Fábio, 2005, p. 50
Foram muitas as revoltas e problemas enfrentados até que se
conseguisse a unificação da Itália. De acordo Schilling (s/d, p. 25):
Em termos simbólicos, pode-se dizer que o messias da Itália
contemporânea assumiu, isso sim, a forma de Giuseppi (...)
Giuseppe Mazzini (1805-1872) e Giuseppe Garibaldi (1807-1882)
Um pelas idéias e outro pelas armas. (...) Foi a ação deles, em
campos distintos, mas complementares, que inspirou os italianos a
se recomporem, depois de quatorze séculos de divisionismo, para
virem formar um só corpo político.
Além desses, o terceiro defensor da unificação foi o Conde de
Cavour, que diferentemente dos já citados, acreditava que para ocorrer o
risorgimento de fato, era necessário, segundo Schilling (s/d, p. 26), (...) “uma
complicada operação de engenharia diplomática - militar, na qual mesclavam-
se medidas visando obter apoio internacional para a unificação, com operações
militares” (...). Segundo Santos (2006), no governo de Vítor Emanuel II, o
movimento a favor da unificação foi liderado pelo seu primeiro-ministro, o
Conde de Cavour que em 1859, iniciou a guerra contra a dominação austríaca,
alcançando expressivas vitórias ao anexar algumas regiões como a Lombardia.
Os dois grupos a favor da unificação se uniram e formaram o
exército “camisas vermelhas”, com mil homens, que segundo Santos (2006)
ocuparam o Reino das Duas Sicílias. No entanto, o território italiano ainda não
estava definido, pois Veneza, por exemplo, foi incorporada à Itália Unificada
anos mais tarde.
Assim sendo, eram objetivos da unificação implantar um país
republicano, unificado e nacionalista, e também, segundo Schilling (s/d) afastar
assuntos civis do clero e expulsar estrangeiros, como os austríacos, do país. E
dentre as principais consequências da unificação, observa-se a divisão do
território atual, dividido em 20 regiões, como se observa no mapa a seguir.
Figura 2: Mapa da Itália após a unificação
Fonte: BERTONHA, João Fábio, 2005
Economicamente, a unificação italiana acentuou ainda mais as
diferenças entre o Norte e o Sul do país, já que aquele se industrializou mais
cedo e esse, ainda era predominantemente agrícola. Além disso, de acordo
com Santos (2006, p. 02), para obter recursos para obras, como ferrovias, o
governo impôs medidas impopulares, como impostos, prejudicando a
população mais carente.
Dessa forma, a unificação italiana e suas consequências não
favoreceram a população de forma homogênea, pois de acordo com Sonino
apud Bassanezzi (1996) a unificação intensificou a criação de um mercado
nacional, modernizando a sociedade e a economia, realocando recursos
demográficos, culturais e profissionais, intensificando a propensão à emigração
italiana para a Europa e a América. Portanto, apresentava-se um quadro
totalmente favorável à migração, agravada pelo fato dos italianos não se
identificarem como tais.
Em busca dessa identidade nacional, o fascismo de Benito Mussolini,
após a 1ª Guerra Mundial, tinha como objetivo justamente a identificação dos
italianos com a Itália, baseado na cultura e repressão e, segundo Bertonha
(2005), a repressão violenta eliminou partidos políticos e sociedades secretas,
que poderiam significar a divisão do país culturalmente. Houve intensa
utilização de cinemas e transmissões radiofônicas para difundir a cultura
italiana, principalmente o futebol, como forma de identificação nacional e
propaganda de seu governo, tal como se refere Ramonet apud Vaz (2001, p.
91): “Que se lembre que o bi-campeonato da Itália nas Copas do Mundo de
Futebol, em 1934 e em 1938, foi largamente comemorado como triunfo e
expressão da suposta superioridade do fascismo, inclusive sobre o socialismo.”
O processo de nacionalização defendido pelo fascismo e também
pela unificação, criou oportunidades para a emigração italiana, tanto que os
primeiros fluxos emigratórios se originaram no Norte, pois lá o processo de
industrialização aconteceu primeiro; segundo Santos (2006) os agricultores que
complementavam suas rendas com trabalho manual ficaram sem emprego,
pois era inviável a competição com um produto industrializado. A porção Sul da
Itália vivenciou os primeiros fluxos apenas a partir do século XX.
Portanto, a unificação da Itália foi a principal motivadora do intenso
fluxo migratório italiano, que além de problemas culturais, como os diferentes
dialetos, enfrentava dificuldades sócio- econômicas que a unificação não havia
resolvido. Porém, além desses problemas, outra justificativa para essa
migração maciça é dada por Bertonha (2005), em relação à geografia, pela
proximidade dos italianos com o mar e também pela presença de montanhas
em grande parte do território, dificultando assim, a obtenção de recursos
necessários. Assim, (...) “migrar para territórios vizinhos, para as planícies ou
para as cidades era uma constante, no mínimo, desde o período medieval.”
(BERTONHA, 2005, p. 81)
Desta forma, identificam-se os primeiros fluxos migratórios italianos a
partir de 1876, devido as conseqüências da unificação do país, que não
beneficiou igualmente toda a população, dificultando a permanência na Itália.
De acordo com Bertonha (2005), entre 1870 e 1970, 26 milhões migraram da
Itália para outros países, sendo que esse número é o mesmo que a população
italiana em 1870, portanto a migração era um processo viável e comum para
aqueles com dificuldades no país de origem. Não que fosse fácil sair do seu
país em busca de melhores condições, porém, com as oportunidades em
outros, a motivação era maior. Além disso, por se tratar de uma migração em
grupo, as dificuldades poderiam ser amenizadas favorecendo e viabilizando tal
fluxo.
Segundo Bassanezi (1996) o pico de chegada de imigrantes no
Brasil foi entre 1890-1899, isto é, logo após o fim da unificação. E durante a 1ª
Guerra Mundial (1914-1918), observa-se ligeira diminuição do fluxo migratório,
assim como durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando observou-se
uma das menores taxas de chegada dos imigrantes italianos no Brasil,
causada pela necessidade de utilização da população em defesa do país, além
do preconceito e da ruptura das relações diplomáticas entre Itália e Brasil. De
acordo com Zanini (2007), os italianos migrantes passaram por dificuldades
pelo rompimento diplomático entre Itália e Brasil, já que esta se uniu aos
Aliados (Estados Unidos, França, ex- União Soviética e Grã- Bretanha) contra o
Eixo (Alemanha, Japão e Itália).
A diminuição do fluxo ocorreu também nos anos que antecederam
esse conflito, porém, a partir de 1950, o fluxo começa aumentar novamente.
Segundo Bassanezi (1996), no pós- Guerra, pela falta de capital, de trabalho e
devido à derrota, houve a retomada da emigração da Itália para outros países,
que foi facilitada pelo governo italiano com o objetivo de reduzir tanto as
tensões sociais quanto os problemas econômicos. Ainda a respeito da guerra,
Martins (2003), afirma que:
(...) a Itália estava destroçada pela guerra, incapaz de absorver a
população desempregada. No Norte, 70% das fábricas encontravam-
se inoperantes; no Sul, terras foram queimadas e oliveiras – o
principal ganha pão dos italianos – cortadas pelos alemães por
vingança, quando foram obrigados a se retirar.
Além da destruição física da infra- estrutura, equipamentos, os
problemas sócio- econômicos favoreceram a emigração de italianos, que foi um
mecanismo conduzido pelo próprio governo da Itália. Deve-se lembrar também
que a situação econômica pela qual passava o Brasil incentivou a migração.
Este assunto será tratado no próximo item.
Na tabela a seguir, apresenta-se os números e principais períodos de
entrada de imigrantes italianos no Brasil, justificando os motivos apresentados.
Tabela 2: Entrada de Imigrantes Italianos no Brasil- período 1872-1972
Período Total
1872-1879 45.467
1880-1889 277.124
1890-1899 690.365
1900-1909 221.394
1910-1919 138.168
1920-1929 106.835
1930-1939 22.170
1940-1949 15.819
1950-1959 91.931
1960-1969 12.414
1970-1972 804
1872-1972 1.622.491
Fonte: LEVY, Maria Stella Ferreira, 1974
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
Observa-se que o fluxo migratório foi muito importante tanto para a
Itália, quanto para os países de recepção dos imigrantes, especialmente o
Brasil, dada a significativa entrada de italianos, compatibilizando-se os motivos
desse deslocamento tanto por parte do Brasil quanto da Itália. Desta forma,
tem-se a unificação italiana como principal motivador da emigração, devido as
suas conseqüências principalmente para a população mais pobre, já que o país
se tornou capitalista unificado, beneficiando a concorrência e a industrialização,
em detrimento dos camponeses.
A seguir será apresentada a situação do Brasil no século XIX,
justificando também o tão expressivo fluxo de imigrantes.
3.2 PANORAMA BRASILEIRO
As causas da entrada de imigrantes italianos, espanhóis, alemães,
portugueses e japoneses no Brasil, foram decorrentes de problemas em
relação à situação do próprio país de origem, porém, a análise do momento
pelo qual o Brasil passava é fundamental para se entender tal dinâmica.
Como visto, os imigrantes europeus e asiáticos foram os primeiros
trabalhadores livres a chegar ao país, isso porque, os africanos desde o século
XVI, migraram de forma forçada para o Brasil, em regime escravocrata, como
mão-de-obra na produção de açúcar em engenhos, principalmente nos estados
da região Nordeste. Segundo Vainer (2000), as primeiras políticas migratórias
no Brasil, se referem à transição do regime escravocrata para o trabalho livre,
no fim dos anos 1880 e a substituição por imigrantes, no começo do século XX.
Assim, muitas foram as estratégias utilizadas para extinguir a
escravidão, ou seja, os escravos seriam livres mas teriam de trabalhar, pois de
acordo com Vainer (2000, p. 16): (...) “com a transição, homens livres deveriam
trabalhar- pelo menos aqueles que, além de juridicamente livres, fossem
também despossuídos dos meios de produção e subsistência- a legislação vai
progressivamente impor aos libertos uma série de constrangimentos”.
Os constrangimentos incluíam leis que progressivamente libertaram
os escravos, a exemplo da Lei do Ventre Livre e do Sexagenário, tornando
escassa a mão-de-obra. Em 1888, a Lei Áurea, extinguiu de vez a escravidão e
consequentemente foram necessários novos braços para o trabalho agrícola,
que tinha como produto predominante, o café, principalmente no estado de São
Paulo. A partir de então, o Brasil se tornou o país de destino dos imigrantes
europeus e asiáticos. Segundo Vainer (2000, p. 17), “a substituição do trabalho
do negro escravo não vai ser feita (...) pelo trabalho liberto (...) mas por um
outro contingente de trabalhadores que o Estado brasileiro havia começado a
recrutar, transportar e localizar: o trabalhador branco e livre da Europa.”
Levy (1974) apresenta quatro períodos da entrada de imigrantes
europeus e asiáticos no Brasil: 1820- 1876 (primeiro), 1877- 1903 (segundo),
1904- 1930 (terceiro), 1931-1963 (quarto). No primeiro, o pico de entrada dos
imigrantes foi de 30.000 em 1876, cuja principal nacionalidade foi a portuguesa.
Durante esse período houve as primeiras iniciativas, governamentais ou não,
de colonização, principalmente em Santa Catarina e São Paulo. Os italianos
somam apenas 6% do total de imigrantes durante o período.
Já no segundo período, é a imigração italiana que se destaca, pois
representou 58,49% do total de imigrantes, sendo que o número total foi de
1.927.992 pessoas. A partir desse período, o Rio Grande do Sul começou a
financiar a imigração para a constituição de núcleos de colonização. Em 1902,
foi promulgado, na Itália, o decreto Prinetti, que proibia a imigração gratuita
para o Brasil, pelas más condições durante a viagem e na hospedagem das
fazendas, reduzindo, portanto, o número de italianos imigrantes que chegavam
ao Brasil.
O terceiro período foi de intenso fluxo migratório, pois o número de
imigrantes ultrapassou 2 milhões. No entanto, esse período coincide com a 1ª
Guerra Mundial, diminuindo, assim, o fluxo de nacionalidades como a italiana, e
destacando a portuguesa, espanhola e japonesa, que iniciou seu fluxo para o
Brasil, em 1908. Em 1930, houve restrições à entrada de imigrantes, com cotas
fixas anuais de 2% sobre o total de imigrantes do país, diminuindo, portanto, a
vinda de imigrantes no país, incluindo os italianos.
De 1931 a 1963, o quarto período, apresentou taxas médias anuais
de 45.000 imigrantes. Durante a 2ª Guerra Mundial houve reduzida entrada de
imigrantes, porém com a Constituição de 1946 e as alterações feitas em
relação às cotas de imigrantes, houve a possibilidade de aumento da entrada
dos mesmos no Brasil. Nesse período se destacam os italianos, japoneses e
espanhóis, com uma imigração dirigida, principalmente para o setor industrial.
Todos os imigrantes chegavam ao Brasil pelo Porto de Santos- SP, e
dali eram levados até a Hospedaria de Imigrantes, em São Paulo- SP. De
acordo com o Memorial do Imigrante2, os imigrantes recém-chegados poderiam
ficar na hospedaria por até oito dias, tempo necessário para acertar os
contratos de trabalho. A iniciativa de construção desse abrigo foi do próprio
governo do estado de São Paulo, através de Antonio Queiroz Telles (Conde de
Parnaíba), e está localizada nas imediações da Estrada de Ferro do Norte e
São Paulo Railway. A Hospedaria tinha capacidade para mil pessoas, sendo
que os primeiros imigrantes chegaram em 1887 e os últimos em 1978.
2 A Hospedaria do Imigrante se transformou no Memorial do Imigrante, museu que retrata os imigrantes no Brasil, localizado no bairro do Brás, em São Paulo – SP.
Dentre outros incentivos do governo brasileiro para os imigrantes
destacam-se os subsídios, que segundo Bassanezi (1996), cessaram em 1927,
tendo começado na Província de São Paulo, em 1884, com transporte gratuito
até as fazendas, extensivo para operários e artesãos. Além disso, havia
facilidades de acesso à terra, que aliada às propagandas brasileiras, tornaram
o país atraente aos imigrantes estrangeiros.
Observa-se então que esses imigrantes foram fundamentais para o
desenvolvimento das atividades econômicas, principalmente as cafeeiras. Os
subsídios, propagandas e benefícios a esses imigrantes fizeram com que em
100 anos, segundo Levy (1974), mais de 5 milhões de estrangeiros entrassem
no país, sendo que a nacionalidade italiana foi a segunda maior (30,32%), atrás
apenas dos portugueses, e seguida pelos espanhóis, japoneses e alemães.
Analisar-se-á a seguir a importância dos imigrantes italianos para o
estado de São Paulo, principalmente no que diz respeito a produção cafeeira.
3.3 O ESTADO DE SÃO PAULO COMO RECEPTOR DE MÃO-DE-OBRA ITALIANA
A mão-de-obra estrangeira dedicou-se principalmente ao trabalho
rural, destacando o café. E, em relação ao estado de destino desses
imigrantes, São Paulo foi o grande receptor, justamente por ter sua economia
baseada na produção cafeeira. Inicialmente, observa-se na tabela 2, a
composição de população estrangeira, em 1920, destacando os italianos:
Tabela 3: População Estrangeira por Estados (censo 1920)
Estados Itália Espanha, Portugal, Alemanha, Japão e Outras
Nacionalidades
Total
Acre 56 3.450 3.506
Alagoas 134 559 693
Amazonas 726 16.210 16.936
Bahia 1.448 9.152 10.600
Ceará 105 796 901
Distrito
Federal321.929 217.200 239.129
Espírito Santo 12.553 6.201 18.754
Goiás 268 1.426 1.694
Maranhão 108 1.478 1.586
Mato Grosso 810 24.511 25.321
Minas Gerais 42.943 42.762 85.705
Pará 1.114 20.969 22.083
Paraíba 207 395 602
Paraná 9.046 53.707 62.753
Pernambuco 756 10.942 11.698
Piauí 37 289 326
Rio de Janeiro 10.000 40.831 50.831
R.N. 91 236 327
R.S. 49.136 101.889 151.025
Santa Catarina 8.062 23.181 31.243
São Paulo 398.797 431.054 829.851
Sergipe 79 318 397
Brasil 558.405 1.007.556 1.568.961
Fonte: Levy, Maria Stella Ferreira, 1974. Grifo nosso
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
3 O Distrito Federal era até então, Guanabara.
Observa-se, que os estados com maior participação de estrangeiros
foram: Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
Em relação à população italiana (48% da população estrangeira), destacam-se
Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais,
sendo a participação tanto de estrangeiros quanto de italianos pouco
significativa em estados como Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba,
Alagoas e Ceará. Justifica-se, portanto, a vinda de imigrantes para servir de
mão-de-obra no cultivo do café, principalmente, já que nos estados nortistas e
nordestinos tal atividade econômica não era relevante. Destaque-se que no Rio
Grande do Sul, os imigrantes se dedicaram também ao cultivo da uva.
Para Levy (1974), dentre os imigrantes que se destinaram ao Estado
de São Paulo de 1885 a 1971, os que apresentaram a porcentagem mais
elevada foram os italianos (35,64%), seguido pelos espanhóis (16,10%) e
portugueses (13,73%). Em relação ao total de entrada no estado, o período
entre 1885 e 1889 foi o mais representativo, antecedendo a 1ª Guerra Mundial.
De acordo com Alvim (2000), o intenso fluxo para São Paulo foi
ocasionado também pelos arregimentadores da Sociedade Promotora da
Imigração (SPI)4 que subsidiava a imigração pagando o valor da passagem até
o Brasil e do porto de Santos até o local de destino. Durante a existência da
SPI (1886-1895) entraram em São Paulo mais de 350 mil imigrantes italianos,
do total de 480 mil, sendo que 220 mil chegaram através da SPI.
4 Segundo Quintela (2002) foi criada, em 1886, por fazendeiros paulistas, a SPI, que tinha como objetivo promover a vinda de mão-de-obra para o café, através de propagandas e subsídios
Em relação às características desse grupo imigrantista no estado de
São Paulo, de acordo com Alvim (2000), até o ano de 1890 foi predominante a
entrada de grandes famílias, com até 15 pessoas, composta por filhos, netos e
casais, de Vêneto, principalmente. Após 1890, entraram famílias menores,
originários do Sul da Itália.
A maior presença de imigrantes se deu “na zona de fronteira da
expansão do café, ou seja, nas áreas ao longo das ferrovias Mogiana e
Paulista” (TRENTO, 1989, p. 108), pois o café ainda predominava no estado de
São Paulo graças a expansão da ferrovia que ligava São Paulo a Santos e
posteriormente chegando até Campinas, Rio Claro e Ribeirão Preto, totalizando
2.600 km, permitindo o aumento e o barateamento da produção. Dessa forma,
apresenta-se a seguir (figuras 3 e 4), a localização das principais ferrovias do
estado de São Paulo e também o itinerário da ferrovia que chegava até Itatiba:
Figura 3: Principais ferrovias do estado de São Paulo em 1878.
Fonte: Associação Nacional de Preservação Ferroviária5
Figura 4: Itinerário da ferrovia Jundiaí- Itatiba
Fonte: Associação Nacional de Preservação Ferroviária
Assim sendo, de acordo com Carvalho (2007, p. 01),
O período que compreende as duas últimas décadas do século XIX e o
início do século XX marca o fortalecimento no estado de São Paulo do
trinômio: cultura cafeeira, expansão ferroviária e crescimento
populacional (imigração) (...) [com a] introdução das ferrovias, a vinda
em massa de imigrantes e a disponibilidade de terras foram fatores
decisivos que levaram a esse grande desenvolvimento da cultura
cafeeira.
Portanto, o capital gerado pelo café proporcionou a construção de
ferrovias, que por sua vez, além de ser indispensável para o escoamento da
produção era responsável pela abertura de novas áreas para plantio, como é o
caso da Estrada de Ferro Noroeste. Segundo Carvalho (2007), a maioria das
ferrovias paulistas foram construídas com capital das províncias e dos grandes
cafeicultores como é o caso da Mogiana, Paulista e Sorocabana.
5 Disponível em: http://www.anpf.com.br/histnostrilhos/historianostrilhos14_janeiro2004.htm
O Vale do Paraíba era o maior produtor de café do estado até então,
e, portanto alguns motivos justificam a expansão para o Oeste Paulista a partir
de 1860: primeiramente a disponibilidade de terras e a qualidade das mesmas,
investimentos oriundos do açúcar e do algodão e também pelo fim dos
impostos para a exportação do café aos Estados Unidos. Além disso, segundo
Carvalho (2007), a Estrada de Ferro Noroeste, que ligava Bauru (SP) a
Corumbá (MS) introduziu no Oeste paulista o sistema agroexportador, além do
povoamento, integrando assim, as economias de São Paulo com as mato-
grossenses.
A região de Campinas e Itu iniciou suas atividades baseadas na
cultura do café, em substituição à cana -de- açúcar a partir de 1870, assim, o
café chega à Itatiba e assim como nos demais municípios, se transforma na
principal atividade econômica, e, consequentemente traz consigo imigrantes,
infra-estrutura e desenvolvimento, como se verá no próximo capítulo.
4. ITATIBA: IMIGRAÇÃO ITALIANA E MUDANÇAS ECONÔMICAS
O município de Itatiba está localizado a sudeste do estado de São
Paulo, mais precisamente a 80 km da capital, São Paulo. A região
administrativa e metropolitana a qual pertence é a de Campinas, distante 35 km
de Itatiba. Segundo a Prefeitura Municipal de Itatiba (PMI), o município ocupa
325 km2 , ou seja, 0, 13% da área do estado de São Paulo.
Figura 5: Localização do estado de São Paulo no Brasil e de Itatiba no estado.
Fonte: Base Cartográfica IBGE. Adaptado por: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Dentre os municípios limítrofes estão: Morungaba, Jundiaí, Louveira,
Vinhedo, Jarinú, Bragança Paulista e Valinhos. Em relação à população, de
acordo com o IBGE, o município vivenciou um intenso aumento de população
e, atualmente conta com aproximadamente 100 mil habitantes. O crescimento
populacional ocorreu tanto na área urbana, quanto rural, como se observa na
tabela a seguir, com dados do Censo Demográfico de 1970 a 2000.
Tabela 4: População total residente em Itatiba
Ano Situação do domicílio 1970 1980 1991 2000
Total 28.376 41.630 61.645 81.197
Urbana 20.767 35.536 54.078 65.925
Rural 7.609 6.094 7.567 15.272
Fonte: Censo Demográfico IBGE, 1970, 1980, 1991, 2000
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Nos próximos sub-itens analisaremos a migração italiana para o
município de Itatiba, bem como a influência da mesma na instalação de
indústrias têxteis, objetivo principal de nosso trabalho.
4.1 MIGRAÇÃO ITALIANA PARA ITATIBA
Assim como em todo o estado de São Paulo, os imigrantes italianos
chegaram a Itatiba com o propósito de trabalhar nas fazendas cafeeiras, no
ano de 1884, portanto, antes da Abolição dos Escravos, em 1888. De acordo
com Gabuardi (2004), havia muitos abolicionistas em Itatiba que fizeram
campanhas para os fazendeiros aceitarem a libertação dos escravos, tanto que
em 1888, o município contava com apenas oito escravos.
Os primeiros imigrantes que chegaram ao município foram os
italianos, pelos motivos já discutidos, porém os de outras nacionalidades como
portugueses e espanhóis também tiveram participação no município. Na figura
a seguir, observa-se a moradia desses imigrantes em uma das fazendas de
café em Itatiba.
Figura 6: Moradia para os imigrantes em Itatiba
Fonte: CAMARGO, Luis Soares de, 2003, p. 28
Segundo Camargo (2003), uma das primeiras famílias italianas que
chegou à Itatiba, foi a Bertoni, originárias da Toscana, porém já em 1888, a
colônia italiana em Itatiba contava com 4 mil pessoas, sendo que a maioria
delas era da região de Vêneto, localizada no Norte da Itália.
De acordo com estudos de Camargo (2003), das 237 famílias de
origem italiana ainda presentes no município, 198 indicaram a origem de seus
antepassados, justificando a predominância de vênetos no município, como se
observa a seguir:
Tabela 5: Origem das Famílias Italianas de Itatiba
Origem
Quantidade
de famílias %
Vêneto 106 53,5
Calábria 15 7,5
Campânia 15 7,5
Friuli V. Giuli 13 6,5
Lombardia 13 6,5
Molise 06 3,0
Sicília 06 3,0
Toscana 06 3,0
Abruzzo 04 2,0
Emília Romana 04 2,0
Basilicata 03 1,5
Ligúria 03 1,5
Lazio 02 1,0
Puglia 01 0,5
Trentino 01 0,5
Fonte: CAMARGO, Luis Soares de., 2003, p. 21
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
No mapa a seguir, observa-se, em destaque, as regiões de origem
das famílias italianas de Itatiba:
Figura 7: Regiões da origem das famílias italianas de Itatiba
Fonte: BERTONHA, João Fábio, 2005
Org.: KAMOGAWA, Kleyton; VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
Hoje, a Itália é dividida em regiões e essas, em províncias, dessa
forma, apenas cinco regiões italianas (Sardenha, Vale d´Osta, Piemonte,
Marcas, Úmbria) não contam com representantes de origem italiana, assim,
53,53% são de Vêneto, que atualmente é subdividida em províncias: Belluno,
Padova, Rovigo, Treviso, Veneza, Verona e Vicenza. Todas as outras regiões
do Norte totalizam 19, 5% do total de famílias. Posteriormente, a região Sul
(Calábria, Campania, Sicília, Basilicata e Puglia) que representa 20% da
origem das famílias e finalmente, o Centro (Molise, Abruzzo e Lazio), 6% do
total.
Atualmente, o Norte da Itália, onde se localiza Vêneto, é considerada
a região mais desenvolvida da Itália, no entanto, durante os fluxos migratórios
dos séculos XIX e XX, a região vivenciava a miséria, como consequência
principalmente do processo de industrialização, justificando, portanto, o êxodo
para o Brasil e especificamente para Itatiba. A chegada dos imigrantes fez com
que a população do município aumentasse expressivamente, já que de acordo
com Camargo (2003), em 1889 o município contava com 7.500 habitantes e em
1900, com 11.639 e 25 mil em 1912. Números que só sofreram declínio com a
crise econômica no século XX.
Com o aumento da população, principalmente pela chegada de
estrangeiros, fez-se necessário a introdução de atividades econômicas até
então pouco comuns para suprir as necessidades tanto dos fazendeiros quanto
dos trabalhadores. Gabuardi (2004) afirma que os imigrantes italianos tiveram
expressiva participação pois, além das atividades cafeeiras, dedicaram-se ao
artesanato, ao comércio e à indústria, como se verá a seguir.
4.2 DA CANA DE AÇÚCAR À INDUSTRIALIZAÇÃO: MUDANÇAS DAS ATIVIDADES
ECONÔMICAS ITATIBENSES
A cultura cafeeira, a partir de 1840 quando foi introduzida no
município, interrompeu a discreta produção de cana-de-açúcar, que foi o
primeiro produto agrícola de Itatiba. De acordo com Gabuardi (2004, p. 18),
esta atividade foi importante pois,
(...) marcou o início de uma tímida participação no sistema
aberto de economia de mercado, embora a Freguesia6 ainda
não tivesse força para integrar o chamado “quadrilátero do
açúcar”, formado por Jundiaí, Mogi Guaçu, Piracicaba e
Sorocaba. Na época, a cana era a única atividade econômica
de importância na província de São Paulo.
Em pouco tempo, as lavouras de cana-de-açúcar e de subsistência
foram substituídas pelo café, que se tornou tanto em Itatiba quanto em
municípios da região, como Jundiaí e Campinas, a principal atividade agrícola
do século XIX. Segundo Gabuardi (2004) em 1876, a produção chegou a 300
mil arrobas7 de café e em 1886, 374 mil, sendo superada apenas por
Campinas.
Como veremos a seguir, a principal forma de comunicação entre
comprador e produtor era por meio do Jornal A Reacção, que publicava várias
notas a respeito de compra de café (figura 8). Todos esses compradores
residiam na área central (Ruas Francisco Glicério, Benjamin Constant e Jorge 6 Até 1827 Itatiba era considerada um povoado, pois em Gabuardi (2004, p. 15): “Pelas Leis do Governo Imperial do Brasil, um povoado só poderia ser elevado à condição de Freguesia se tivesse em sua área uma Igreja”. 7 1 arroba = 14,69 kg.
Tibiriçá), justificando que a presença do café afetou as relações econômicas de
todo o município. E também a localização das ruas citadas.(figura 9)
Figura 8: Notas de compradores de café de Itatiba
Fonte: Jornal A Reacção, 1917, p. 02, 03.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
Figura 9: Localização de importantes ruas de Itatiba na época do café
Fonte: Google Earth, 2008
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Devido a grande produção de café foi construída no município, a
ferrovia “Estrada de Ferro Itatibense”, inaugurada em 1899 e desativada na
década de 50. (...) “até então, toda a produção das fazendas seguia em
comboios puxados por animais até Jundiaí, onde então era embarcada.
Através da “The São Paulo Railway” (hoje Santos/ Jundiaí) o café era
transportado para o porto e seguia para o exterior.” (CAMARGO, 2003, p. 17).
A ferrovia atravessava a área central da cidade, ocupada hoje por uma
importante avenida comercial (R. Francisco Glicério- figura 9)
A justificativa para a região ter vivenciado grande desenvolvimento
populacional, econômico, de infra- estrutura, como conseqüência do café, é
dada por Camargo (2003, p. 12), pois (...) “a área mais propícia para o plantio
de café localizava-se no entorno de Morungaba8. Pela excelência do solo, ali
estavam as fazendas mais lucrativas, seja pela quantidade produzida, seja pela
qualidade do café”. Na figura a seguir, visualiza-se uma das muitas fazendas
produtoras de café de Itatiba.
Figura 10: Imigrantes em uma das fazendas de café de Itatiba
Fonte: CAMARGO, Luis Soares de, 2003, p. 28
Porém, a partir de 1918, com uma forte geada, aliada à Quebra da
Bolsa de Nova York em 1929, e conseqüente diminuição do preço da saca do
café, da produção e da exportação, as atividades econômicas da região se
modificaram. A seguir, observa-se a diminuição na produção do café pelos
problemas econômicos ocorridos na década de 1920: 8 (...) “até meados do século XX, as cidades de Itatiba e Morungaba (...) formavam um só município. Inicialmente como bairro e depois como Distrito, Morungaba emancipou-se em 1965” (CAMARGO, 2003, p. 12)
Tabela 6: Produção de café em Itatiba
Ano Quantidade produzida (arrobas)
1850 200.000
1879 300.000
1889 373.333
1920 186.000
1935 50.000
Fonte: GABUARDI,Lucimara, 2004, p. 27
Org: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
Observa-se que a partir de 1920, a produção de café em Itatiba
diminui de forma expressiva, sendo seu auge em 1889; a partir de então,
segundo a Prefeitura Municipal de Itatiba (PMI, 2000), o município se
comportou como uma área de transição, pois municípios como Amparo e
Bragança Paulista começaram a se organizar em função da pecuária e,
Jundiaí, na policultura, principalmente, fruticultura e horticultura.
Dessa forma, a economia voltada ao mercado externo foi reduzida e
diversificadas produções agrícolas começaram a ser implantadas na região,
houve também intenso processo de urbanização, crescimento populacional e
industrialização. De acordo com a PMI (2000, p. 03):
As áreas rurais passam então a produzir em função dos novos
mercados consumidores, sobretudo do mercado paulistano.
(...) Os centros urbanos em expansão não são apenas os
consumidores de uma produção agrícola que se torna cada
vez mais diversificada, mas os receptores de toda uma
numerosa mão-de-obra rural que o descalabro da lavoura
cafeeira expulsará do campo.
É nesse contexto que se inicia a industrialização e a urbanização é
intensificada no município de Itatiba. É observada também a instalação de
infra-estrutura como: (...) “telégrafo (1888), telefone (1895), o teatro São
Joaquim (1876), o antigo Grupo Escolar Cel. Júlio César (1896), o serviço de
abastecimento de água (1898) e a luz elétrica (1906), dentre outros.”
(CAMARGO, 2003, p.15), implantados graças à produção e venda do café.
Após 1844, com o fim da Lei Barbosa Alves, que não permitia a
instalação de indústrias no país, Itatiba começa a vivenciar a instalação das
primeiras indústrias: de fósforos, refrigerantes, cervejas, massas (figura 11) e
têxteis. Gabuardi (2004) afirma que a primeira indústria instalada na cidade foi
uma fábrica de cerveja e refrigerante, depois de fósforo, em 1893, e finalmente
a primeira têxtil, a Lanifício Luiz Scavone, produtora de fios de lã para tricô,
crochê e tecidos, em 1938.
Figura 11: Fábrica de Massas “Pastifício Itatibense”, uma das primeiras do
município. No detalhe, propaganda da mesma publicada no jornal A Reacção.
Fonte: CAMARGO, Luis Soares de., 2003, p. 29
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Na história do Lanifício Luiz Scavone, disponível em seu site9,
observa-se que a partir de 1948 foram instalados os primeiros teares, iniciando
a produção de mantas, cobertores, colchas, lençóis. Tal indústria mantém suas
atividades até os dias de hoje, com a denominação de Fabril Scavone. A
seguir, propaganda uma da Scavone (como popularmente é chamada)
veiculada em jornais e revistas no ano de 1956 (figura 12)
Figura 12: Propaganda da Fabril Scavone
Fonte: CAMARGO, Luis Soares de, 2003, p. 26
9 Disponível em: http://www.fabrilscavone.com.br/
A “Scavone” é, atualmente, a única indústria têxtil que mantém
comércio de seus produtos no próprio município. O mesmo aconteceu no início
de suas atividades em Itatiba, justificando assim, a presença de propagandas
nos jornais locais. Abaixo, a atual loja da Scavone, na Avenida Independência,
no Centro de Itatiba e propagandas da mesma em outdoors. (figura 13)
Figura 13: Propaganda da Scavone em Itatiba e a loja da mesma
Fonte: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Itatiba recebeu a segunda fábrica têxtil em 1914, a Companhia
Indústria Têxtil Itatibense, e (...) “dez anos depois da inauguração, já produzia 5
mil metros de tecidos por dia e empregava 200 funcionários” (GABUARDI,
2004, p. 59), como se pode observar na notícia de um jornal local. (figura 14).
Pelas pesquisas realizadas, observa-se que muitas das indústrias utilizavam o
jornal, no caso, “O Reacção” como meio de comunicação de suas atividades,
tais como: reuniões e assembléias, como nos anúncios a seguir (figura 15)
Figura 14: Notícia relatando a inauguração da Fábrica de Tecidos de Itatiba, a segunda
do município.
Fonte: Jornal a Reacção, 1914, p. 01
Figura 15: Anúncios de indústrias da época: Companhia de Fábrica de Tecidos
Itatiba e Sociedade Anônima Fabril Scavone.
Fonte: Jornal A Reacção, 1915, p.05/ p. 04
Todas as indústrias citadas tinham como proprietários imigrantes
italianos, e isso, continuou acontecendo também com a instalação de indústrias
mais recentemente, como é o caso da Têxtil Duomo S/A, inaugurada em 1950,
pelo italiano Sr. Ettore Calvi e seu sócio, Sr. Eloy Argemiro Carniatto. Observa-
se nas fotos a seguir, as instalações dessa indústria. (figura 16)
Figura 16 : Instalações da Duomo Têxtil
Fonte: Encarte de propaganda da indústria, s/d
O número de indústrias têxteis continuou a crescer, tanto que em
1958, das 27 indústrias da cidade, 10 eram têxteis: Companhia Têxtil Brasileira,
Têxtil Paulo Abreu, Têxtil Santa Anastácia, Indústria de Tecidos São Sebastião,
Indústria de Tecidos Cioffi, Têxtil Duomo, Têxtil Guilherme Scharan, Fabril
Scavone, Tecelagem Santo Antonio, Têxtil Nasini. Dentre os outros gêneros
industriais destacam-se as de calçados, colchões, fósforos, fogos de artifício
(figura 17) vinhos e palitos, instaladas principalmente após 1929, pelos
problemas econômicos ocorridos com o café e a Quebra da Bolsa de Nova
York, intensificando assim, o capital empregado no setor secundário.
Segundo Scarlato (2005) com a crise na exportação do café,
principalmente pela crise de 1929, os investimentos foram desviados para
outros tipos de cultura e para setores industriais, diversificando assim, os tipos
de indústrias presentes no municípios, como se observa a seguir (figura 17)
Figura 17: Observa-se a diversidade de tipos de indústrias, após 1929: sabão,
calçados, fósforo, meias e tecidos.
Fonte: Jornal “A Reacção”, 1932, p. 05
De acordo com Mamigonian (1987), a burguesia industrial cresceu
após 1930, atraindo os empresários rurais e nesse caso, tem-se o exemplo da
indústria têxtil que se expandiu e substituiu as importações. Para Scarlato
(2005, p. 349), “A expressão indústria de substituição de importações (...)
Caracterizou-se pelo crescimento da demanda interna de manufaturados,
estimulada pelo aumento da circulação de dinheiro” (...). Portanto, a
industrialização itatibense só foi possível com intensos investimentos de
capital, que antes era empregado na produção do café.
Scarlato (2005) afirma que a indústria brasileira cresceu
expressivamente também pelo apoio do governo nacionalista de Getúlio
Vargas. Em seus 15 anos de governo, o Estado ampliou seu estímulo à
industrialização criando órgãos como o Ministério do Trabalho, da Indústria e
Comércio.
Atualmente, as indústrias têxteis itatibenses não têm na sua
totalidade proprietários italianos, destacando-se também os espanhóis e
judeus. Dentre os principais problemas que as mesmas enfrentam, Gorini
(2000) enfatiza a competição com alguns países: Coréia do Sul, Taiwan, Hong
Kong, Indonésia, Tailândia, Índia, que influenciaram países europeus e norte-
americanos a adotarem um novo padrão de concorrência, não baseado apenas
em preços, mas também em qualidade, diferenciação de produtos, tecnologia,
entre outros.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e
Tecelagem em Geral de Itatiba e Morungaba10, o município conta atualmente
com 31 indústrias têxteis e com aproximadamente 3.150 funcionários, sendo
portanto, o setor secundário o principal empregador de mão-de-obra,
principalmente pela diversificação de produtos fabricados e pelas 596
indústrias11 de transformação presentes no município. Observa-se, na tabela 7,
que o número de pessoas ocupadas na indústria, é de fato superior a outras
atividades econômicas do município, pois representa 26,5% do total de
pessoas empregadas, de acordo com setor de atividade.
Na indústria têxtil, o pessoal ocupado representa 32% do total das
indústrias de transformação. E, ainda em relação a empregados, a indústria de
transformação é seguida pelo comércio (18%), construção e serviços
domésticos (9,2%), entre outros, e em menor proporção, a indústria extrativa,
agricultura e educação.
10 Ver anexo 11 De acordo com as Informações Estatísticas do IBGE, 2007
Tabela 7: Pessoal ocupado de acordo com o setor de atividade
Fonte: Censo Demográfico, IBGE, 2000. Grifo nosso
Seção de atividade do trabalho principal Número de pessoas
%
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 2.189 5,9
Pesca - 0
Indústria extrativa 85 0,2
Indústria de transformação 9.741 26,5
Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 226 0,6
Construção 3.396 9,3
Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 6.594 18
Alojamento e alimentação 1.319 3,5
Transporte, armazenagem e comunicação 1.451 3,9
Intermediação financeira 487 1,3
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 1.906 5,2
Administração pública, defesa e seguridade social 1.029 2,8
Educação 1.874 5,1
Saúde e serviços sociais 1.023 2,7
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 1.397 3,8
Serviços domésticos 3.380 9,2
Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais - 0
Atividades mal especificadas 545 1,4
TOTAL 36.642 100
Org: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
A instalação de indústrias têxteis no município é conseqüência do
processo de industrialização ocorrido na Itália (primeiramente no Norte) após a
unificação, pois até então boa parte da população ainda vivia na área rural
(60%, de acordo com BERTONHA, 2005). Assim sendo, os imigrantes
trouxeram para o Brasil e especificamente para Itatiba, as técnicas adotadas no
país de origem e assim puderam implantar suas próprias indústrias, tornando
esse ramo tradicional no município e influenciando também descendentes.
Segundo Kon (1999), um dos principais problemas relacionados à
implantação de uma indústria se refere à sua localização. A autora define
alguns fatores fundamentais para tal escolha, destacando: eficiência de
transporte, disponibilidade de mão-de-obra e de energia, acesso e
comunicação, serviços públicos, entre outros. No caso de Itatiba, o transporte
era, como já dito, feito principalmente pela ferrovia e aos poucos, com a
rodovia, facilitando o transporte de matéria-prima e dos produtos já
industrializados.
Em relação à mão de obra, vale lembrar que os proprietários de
indústrias como Têxtil Duomo e Fabril Scavone, já haviam trabalhado em
outras indústrias têxteis, assim foram fundamentais para treinar os
trabalhadores que antes se dedicavam às atividades agrícolas. A infra-
estrutura de Itatiba na época acompanhava o desenvolvimento econômico,
tanto que no final do século XIX e início do XX, segundo Gabuardi (2004),
Itatiba vivenciou o processo de modernização com a chegada de água, esgoto,
telefone, energia elétrica e telégrafo, fundamentais para todo o município como
um todo, mas também essenciais para a instalação e produção industrial.
Vale lembrar que a indústria têxtil, não foi um fato isolado em Itatiba,
pois todo o estado de São Paulo contava com várias delas, como por exemplo:
no ano de 1912, 12 indústrias têxteis ou 40% e em 1927, 75 (35,9%)
(TRENTO, 1989). Note-se que, de acordo com Martins (1976, p. 70), “as
ocorrências básicas relativas à possibilidade da indústria no Brasil referem-se
sem dúvida à suspensão do trabalho escravo e à imigração estrangeira para
atender à demanda de mão-de-obra, pelo alargamento da faixa dos
consumidores-compradores (...) surgiu um acréscimo de mercado que não
podia ser atendido pelo comércio importador”. Dessa forma, fez-se necessária
a instalação de diversas indústrias além da têxtil, como a de banha e cerveja,
pois o mercado consumidor havia aumentado e a importação não era mais
viável.
Concomitante a esse processo houve o aparecimento de importantes
industriais como o Conde Francisco Matarazzo12, de origem italiana e que
cujos negócios englobava, segundo Martins (1976), fábrica de fiação,
tecelagem, malharia e tinturaria; fábrica de óleos e de sabão; moinho de trigo;
engenho de beneficiar arroz; depósitos e armazéns; estamparia de tecidos;
cocheiras; fábrica de banha, entre outros. Suas fábricas estavam localizadas
em municípios como Sorocaba, onde iniciou suas atividades em 1881, Apiaí,
São Paulo e Capão Bonito, no estado de São Paulo e em Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul.
Portanto, observa-se que os imigrantes, tanto os italianos quanto os
de outras nacionalidades, foram fundamentais para o desenvolvimento
industrial e econômico de todo o estado de São Paulo, pela instalação de
indústrias, principalmente. Em Itatiba, não foi diferente, e, portanto, os
imigrantes foram fundamentais para o surgimento de atividades econômicas
urbanas, pois, abriram-se estabelecimentos comerciais e instalaram-se
indústrias.
Destacam-se as indústrias têxteis, foco de nosso trabalho e que foi
fundamental para a industrialização e o desenvolvimento do município
12 Conde é um título de nobreza concedido pelo governo italiano a imigrantes bem- sucedidos.
principalmente pela chegada dos imigrantes italianos do Norte da Itália e que
continuam até os dias de hoje, com seus descendentes, apresentando ainda
uma variedade de tecidos produzidos, que será discutido adiante.
Atualmente, a indústria itatibense é voltada também para os
cosméticos, motores automobilísticos, embalagens, entre outros, porém é mais
conhecida pelos móveis, cujas atividades foram iniciadas a partir de 1960,
recebendo o título de “Capital do Móvel Colonial”, com feiras e
estabelecimentos comerciais destinados à venda desses produtos (figura 18).
Destaca-se que os imigrantes italianos nesse caso, não têm participação, pois
é uma atividade recente (a partir da década de 1960), portanto são seus
descendentes que ocupam esse ramo.
Figura 18: Lojas destinadas à venda de móvel colonial, além do Shopping Móveis
Fonte: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
No entanto, em Itatiba, os imigrantes italianos não se destacaram
apenas em setores econômicos, mas também, nas atividades sociais, a
exemplo, das Associações de Mutuo Socorro e atualmente, a Ítalo- Brasileira. A
seguir será analisada a distribuição da população italiana em Itatiba e também
a Associação dessa colônia presente no município.
4.3 DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ITALIANA
Para se entender de que forma está distribuída a população italiana
em Itatiba, foi feito levantamento das famílias citadas por Camargo (2000,
2003) a partir da lista telefônica do município13. Assim, teríamos as famílias já
distribuídas por bairros, que por sua vez, foram também disponibilizados pela
PMI através de base cartográfica do município.
Dessa forma, foram levantadas 2.862 famílias de origem italiana,
distribuídas por todo o município, e, portanto, se multiplicar por 4 (média de
pessoas em uma família) pode-se estimar que a população descendente de
italianos é de 11.448, ou seja, 14% da população total do município,
justificando a notável presença dessa colônia no município.
O mapa a seguir foi elaborado a partir das delimitações de
zoneamento do município, cuja base cartográfica foi fornecida pela PMI, e para
contabilizar as famílias residentes nesses locais foram agrupados bairros, vilas
ou loteamentos próximos, para que fossem levantadas todas as famílias do
município.
13 Agetel- Agendas Telefônicas, 2006.
Figura 19: Distribuição da população italiana em Itatiba
Fonte: Agetel, 2006; PMI, 2007
Org.: MARCHETTI, Márcio Catharin; VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
Portanto, observa-se que a população italiana em Itatiba está mais
concentrada na área central e em bairros próximos. Em locais mais periféricos,
como a área rural, a menor presença italiana se justifica pela grande
quantidade de chácaras de lazer e, portanto, uma população não residente no
município.
No entanto, em algumas porções periféricas do município, nota-se
uma relativa expressividade na quantidade de famílias italianas, que nesse
caso, é justificada pelas propriedades agrícolas, cujos produtores em sua
maioria, também são descendentes italianos. Por outro lado, em bairros mais
afastados do Centro estão localizados Núcleos Residenciais, onde a população
italiana não é nula, mas também não é muito representativa, como é o caso do
Núcleo Residencial Beija- Flor que conta com apenas 10 famílias de
descendência italiana, representando 0,3% do total.
Em relação aos números do Centro, que é o local com maior número
de famílias, foram levantadas 531 de origem italiana, representando 18% do
total de famílias italianas do município. Portanto, observa-se que as mesmas
não estão localizadas em apenas um local específico, mas sim, distribuídas por
todo o município, com maior expressividade em alguns locais por se tratar de
bairros melhor localizados, e outros, em menor proporção por serem áreas
rurais ou núcleos residenciais.
4.4. A INFLUÊNCIA DOS IMIGRANTES NAS ASSOCIAÇÕES ITALIANAS
Muitos poderiam ser os assuntos a ser discutidos em relação aos
aspectos que ainda são mantidos da cultura italiana no município, a exemplo
da religião, festas ou alimentação, que são ainda bastante preservados, dado o
número elevado de descendentes. Porém, tratar-se-á aqui, apenas das
Associações italianas, pois é um aspecto que é preservado desde a imigração
do século XIX.
Como já foi visto, os imigrantes italianos foram fundamentais para o
desenvolvimento econômico do município, principalmente pela instalação de
indústrias. Porém, anteriormente à elas, os italianos já influenciavam de alguma
forma o município, pois após a Proclamação da República foram criadas
sociedades de ajuda. A primeira em 1892: “Societá de Mutuo Soccorso
Giuseppe Garibaldi”, a segunda em 1897, “Sociedade Italiana de Mutuo
Soccorso Christovam Colombo”, (...) que “tinha, como objetivo ajudar os
italianos que chegavam para trabalhar na região. Era mantida por doações de
associados”. (GABUARDI, 2004, p. 92).
Assim sendo, os italianos, reunidos nesse tipo de associação,
puderam formar em Itatiba, redes sociais, que são definidas, de acordo com
Massey apud Fazito (2002, p. 03), como:
Laços sociais que ligam comunidades expulsoras a pontos
específicos de destino nas sociedades receptoras. Esses laços
unem migrantes e não migrantes em uma teia complexa de
papéis sociais e relações interpessoais complementares,
mantidos por conjuntos informais de expectativas recíprocas e
comportamentos escritos.(...) Esses laços sociais não são
criados pelo processo migratório mas antes adaptados a ele,
sendo reforçados, ao longo do tempo, através da experiência
comum dos migrantes.
Assim, a formação dessas redes foi possível, pois, a grande maioria
dos imigrantes se dedicou ao cultivo do café, e a união dos mesmos nas
fazendas, facilitou a manutenção de alguns marcos culturais, como a religião,
que era utilizada para superar dificuldades, e que foi inserida na cultura
brasileira e hoje, a religião católica é mais popular no país não apenas entre
imigrantes italianos e descendentes.
Dessa forma, Itatiba contava com duas associações relacionadas
aos imigrantes italianos, que encerraram suas atividades na década de 1920.
Porém, havia outras com o objetivo de propiciar amparo à população em geral,
a exemplo, da Sociedade do Mútuo Socorro Itatibense, da Igreja Matriz que,
também se fizeram presentes na cidade.
A seguir, apresenta-se nota (figura 20) publicada no jornal A
Reacção, convocando os sócios da Associação para a Assembléia Geral,
portanto as mesmas tinham um número significativo de sócios, já que era
necessária convocação via jornal.
Figura 20: Nota da Sociedade de Mutuo Socorro Itatibense
Fonte: Jornal A Reacção, 1918, p. 03-
Apresenta-se a seguir o certificado de um dos sócios da Sociedade
Italiana de Mútuo Socorro Giuseppe Garibaldi, Sr. Andrea Denoni. (figura 21).
Observa-se então que a profissão do mesmo é bracciante (agricultor) e que é o
sócio de número 514, justificando a nota publicada acima, que utilizou o jornal
para convocação de reunião. Portanto, os objetivos da Associação, de união
dos imigrantes e ajuda, eram importantes para os mesmos, pois vivenciavam
uma situação diferente da vivida na Itália.
Figura 21: Certificado de sócio da Sociedade Giuseppe Garibaldi
Fonte: FATTORI, Edvaldo.
Atualmente, o município conta com a Associação Ítalo- Brasileira de
Itatiba, fundada em 2003, cujos objetivos segundo seu estatuto (anexo) são:
promover cursos, conferências, eventos; desenvolver atividades culturais e
educacionais; promover a divulgação das culturas e legislações italiana e
brasileira; promover divulgação de conhecimento histórico nacional referente à
imigração de povos no Brasil, entre tantos outros.
Nota-se que a Associação Ítalo- Brasileira tem objetivos diferentes
daqueles observados nas primeiras Associações, já que a preservação da
cultura, estudos relacionados a História, legislação e língua são predominantes,
pois os descendentes italianos estão inseridos na sociedade de uma forma
diferente dos seus antepassados, e portanto, as necessidades são outras, pois
não necessitam se adaptar à uma nova cultura, por exemplo.
Há que se lembrar que as Associações Giuseppe Garibaldi e
Christovam Colombo tinham objetivos principais ajuda aos imigrantes. De
qualquer forma, observa-se que os italianos descendentes ou imigrantes,
tiveram e ainda tem participação ativa na vida social do município e não
apenas econômica.
5. CONSIDERAÇÕES DA PESQUISA EMPÍRICA
A metodologia desse trabalho envolveu pesquisa bibliográfica acerca
de alguns assuntos chaves, tais como: migração, migração italiana,
desenvolvimento econômico, industrialização, entre outros, que foram
fundamentais para a elaboração do referencial teórico. Porém, os resultados a
respeito das indústrias têxteis, foram conseguidos através de pesquisa em
campo, com visita a oito indústrias e entrevista com seus proprietários.
Assim, os resultados serão subdivididos de acordo com o
questionário aplicado, ou seja, perfil da indústria têxtil, do imigrante da família e
do entrevistado. Portanto, inicialmente, os levantamentos a respeito das
indústrias têxteis de Itatiba foram realizados com dados do Sindicato Têxtil de
Itatiba (anexo), que forneceu a relação do total de indústrias. Porém, como é
nosso objetivo estudar apenas as indústrias cujos proprietários são imigrantes
italianos ou descendentes, foi feito contato com as mesmas para que se
pudesse avaliar quais fariam parte do nosso estudo.
Há que se lembrar que, pela dificuldade em identificar os
sobrenomes que são italianos, utilizou-se aqueles levantados por Camargo
(2000, 2003) (anexo), em trabalhos já realizados sobre as famílias italianas
de Itatiba. Dessa forma, os sobrenomes que não constam no livro desse
autor não representam uma família essencialmente itatibense, não estando,
portanto, inserido no perfil objetivado pela pesquisadora.
Assim, após o levantamento das indústrias, de seus proprietários e
das famílias, foram realizadas entrevistas em oito indústrias têxteis, que se
enquadraram na nossa proposta, ou seja, indústria têxtil, de descendente
ou imigrante italiano e cujo sobrenome tivesse relacionado nos livros
citados. O questionário, como se observa nos anexos, era composto de
três itens: “sobre o entrevistado”, “sobre o imigrante da família” e “sobre a
indústria”, para que se pudesse traçar um perfil dos atuais proprietários das
indústrias têxteis.
Dessa forma, obteve-se os resultados que serão discutidos seguir.
5.1 PERFIL DO ENTREVISTADO
a) Idade
Em relação à idade dos entrevistados, verificou-se que a média é de
54 anos, sendo que seis deles (75%) tem entre 35 e 55 anos e 25% (duas
pessoas) entre 55 e 75 anos.(gráfico 1)
Gráfico 1: Idade dos Entrevistados
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
b) Escolaridade
Quanto à escolaridade, apenas dois entrevistados cursaram até o
Ensino Médio, os outros seis, possuem Ensino Superior, sendo que um desses,
é pós- graduado.(gráfico 2)
Gráfico 2: Escolaridade dos Entrevistados
Fonte: Pesquisa In Loco, 2008.
Org. VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
c) Local de Nascimento
Dentre os locais de nascimento, todos os oito entrevistados
nasceram em Itatiba, justificando portanto, o perfil traçado pela metodologia
do trabalho, que objetivava pesquisar indústrias de famílias itatibenses,
descendentes de italianos.
d) Características da cultura italiana que são preservados
Os aspectos da cultura italiana que são mais preservados são a
alimentação e música (três entrevistados), posteriormente, apenas
alimentação (dois entrevistados), seguidos por alimentação e idioma e
finalmente, apenas idioma, com um entrevistado cada. Dessa forma,
observa-se que a alimentação é o aspecto mais preservado, já que foi
citado individualmente, mas também com a música. (gráfico 3)
Gráfico 3: Aspectos da cultura italiana que são mantidos
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
e) Contato com parentes italianos
O questionário abordou também as relações dos entrevistados com
parentes italianos. Quatro deles (50%) ainda mantém contato, sendo que a
principal justificativa foi por serem primos de 1º grau. Para todos eles, a
Internet foi o único meio de comunicação utilizado para tal contato, sendo
que todos disseram que os parentes já vieram ao Brasil para visitas ou
ainda, que moram aqui. Os contatos com a terra natal dos antepassados
têm sido freqüentes, pois 87% (7 entrevistados) já visitaram o país por três
vezes ou mais e apenas um (12%) não conhece a Itália.
f) Participação na Associação Ítalo - Brasileira de Itatiba
No que tange a participação na Associação Ítalo - Brasileira de
Itatiba, portanto uma forma de rede social, apenas um entrevistado participa
da mesma, que justificou sua participação pois é importante para
preservação da cultura e costumes dos antepassados.
A baixa participação na Associação pelos descendentes pode ser
justificada por ter sido fundada recentemente, em 2003 e segundo o
presidente da mesma, também pela contribuição de R$ 50,00 anuais que
pode afastar possíveis freqüentadores, pois atualmente apenas 50 pessoas
fazem parte da Associação, mesmo a sede estando localizada no Centro de
Itatiba, onde há a maior concentração de famílias italianas.
Segundo o estatuto da Associação, é objetivo da mesma, o
entrosamento entre a população de origem italiana e brasileira com outras
etnias, promover vida social entre os associados e também projetos
principalmente para jovens, mulheres e idosos, entre outros. Sendo assim,
as redes sociais formadas por esse tipo de Associação podem ser
realizadas de várias formas, pois há a participação de pessoas com
variadas idades, cultura e sexo. Assim, Clemente (2004) justifica que as
redes sociais podem se dar a partir da memória, amizade, solidariedade,
família, trabalho, etnia e outros.
g) Considerações
Portanto, em relação aos entrevistados, nota-se a faixa etária entre
35 e 55 anos, é predominante, pois apenas dois deles, têm entre 55 e 75
anos. São todos nascidos em Itatiba e apenas dois não cursaram ensino
superior, sendo que um deles é pós graduado, portanto, a maioria teve a
oportunidade de estudar.
A respeito das tradições italianas mantidas em suas residências, a
maioria citou a alimentação e música, porém outros aspectos lembrados
foram: o sistema educacional e o idioma. Assim, observou-se a influência da
alimentação italiana que é percebida também na quantidade de restaurantes e
festas que proporcionam esse tipo de alimentação, tanto em Itatiba quanto em
São Paulo e Brasil. A respeito da cultura, segundo Claval (1999), é
transmitida de uma geração a outra e de um lugar a outro, sendo que as
migrações favorecem essa trocas e contribuem para a diversidade das
sociedades.
Assim, o fluxo migratório favoreceu a disseminação de
características da cultura italiana pelo Brasil. E atualmente, essas
características são mantidas não apenas por imigrantes ou descendentes, a
exemplo, da religião católica e da alimentação (massas, principalmente).
Segundo Claval (1999), cultura é todo comportamento, saber e conhecimento
das pessoas e que pode ser transmitido de uma geração para outra, e ainda
que, os indivíduos são influenciados pelo meio cultural em que vivem,
portanto, como os imigrantes italianos representam o mais significativo grupo
imigrantista do município, a sua participação na sociedade contribuiu para a
disseminação e a influência até na população brasileira, que não tem vínculo
com a Itália.
Ainda em relação aos entrevistados, um aspecto curioso é a religião
católica, não citada por nenhum deles, mas que se sabe que é um dos
principais aspectos herdados da cultura italiana. Observou-se também que
muitos mantêm contato com parentes, via Internet, e os mesmos já vieram ao
Brasil. A maioria também, já foi, várias vezes, à Itália. Porém, a participação
na Associação italiana de Itatiba ainda é restrita, pois apenas um entrevistado
participa da mesma.
Portanto, os proprietários entrevistados, de alguma forma, mantêm
algum aspecto da cultura italiana, porém, por serem descendentes, alguns não
foram assimilados, como a língua, que só foi citado por um deles. Esse fato
representa um processo também o que acontece com outras famílias, que aos
poucos perdem os valores culturais dos antepassados por estarem inseridos
em uma cultura diferente.
5.2 PERFIL DO IMIGRANTE QUE FAZ PARTE DA FAMÍLIA DO ENTREVISTADO
a) Imigrante da família
O questionário abordou inicialmente quem era o imigrante da família,
e segundo os entrevistados, apenas um (12,5%) tem o pai, como sendo
imigrante italiano, no caso dos demais (87,5%) são os avós, os imigrantes.
(gráfico 4)
Gráfico 4: Imigrante da família
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
b) Local de Nascimento do Imigrante
Em relação ao local de nascimento dos imigrantes (avós e pai) da
família dos entrevistados, obteve-se as seguintes respostas: Vêneto (Norte) é o
local de nascimento de três imigrantes (37,5%), de Basilicata (Sul), dois
imigrantes (25%) e da Toscana, Lombardia e do Sul da Itália14, um imigrante
cada, que representa 12,5%. (gráfico 5)
14 O entrevistado não soube responder qual a região específica de origem do imigrante, respondendo apenas “Sul da Itália”
Gráfico 5: Local de nascimento dos imigrantes
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
No mapa a seguir (figura 21) observa-se a localização exata da
origem dos imigrantes citados:
Figura 22: Origem das famílias dos entrevistados
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
c) Ano de chegada ao Brasil
Quanto ao ano de chegada desses imigrantes no Brasil, tem-se que,
três imigrantes (50%) chegaram em 1884, dois em 1887 (33%) e em 1949
apenas um (16%), sendo que dois entrevistados não souberam responder.
Gráfico 6: Data de chegada dos imigrantes no Brasil
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
d) Atividade exercida pelo imigrante na Itália
Uma das questões era relacionada ao trabalho do imigrante quando
ainda morava na Itália, e os resultados foram os seguintes: dois eram
comerciantes (28,5%), outros dois trabalhavam em tecelagem (28,5%), um (14,
28%) era militar do exército e outro chefe de tecelagem de linho. Um
entrevistado não soube responder.
Gráfico 7: Profissão dos imigrantes na Itália
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
e) Motivos da vinda para o Brasil
Dentre os principais motivos que motivaram os imigrantes a migrar,
segundo os entrevistados, foram: falta de trabalho na Itália e de expectativas,
além de dificuldade de sobrevivência; busca por melhores condições de vida e
novas oportunidades no Brasil no pós – guerra. Assim, os motivos para tal fluxo
se enquadram naqueles estudados anteriormente, ou seja, a Itália vivenciava
dificuldades após a unificação e conseqüente industrialização e modernização
do campo, por exemplo, que favoreceram a migração em massa para o Brasil,
que por sua vez, necessitava de mão-de-obra para a agricultura cafeeira,
sendo portanto, uma oportunidade por melhores condições de vida.
f) Trajetória do imigrante no Brasil
Foi apresentado ao entrevistado um quadro para que fosse
preenchido a respeito da trajetória do imigrante no Brasil, com os seguintes
itens: cidade, atividade exercida, tempo de permanência, motivo da mudança
para outra cidade, para que se pudesse avaliar quais foram os principais
empregos no Brasil em diferentes cidades. Apenas um entrevistado, por não
dispor de dados, não forneceu as informações necessárias.
Sendo assim, observamos que os imigrantes, após a chegada no
Porto de Santos, pouco se deslocaram, pois apenas os municípios de Jundiaí,
e São Paulo, além de Itatiba, foram citados como local de fixação dos mesmos.
Em relação às atividades exercidas, também pouco variaram, já que os
imigrantes tiveram como emprego atividades relacionadas ao comércio e à
agricultura do café.
No caso dos dois imigrantes que se dedicaram às atividades
industriais têxteis em Itatiba, apenas um deles não teve outro emprego além
desse, pois desde a Itália já sabia que viria para Itatiba abrir uma indústria
têxtil. Segundo a revista Expressão (1999), um dos chefes do Sr. Ettore Calvi,
propôs que o mesmo viesse ao Brasil montar uma nova indústria têxtil em
Itatiba, que só foi possível graças à experiência de seu sócio (Sr. Eloy Argemiro
Carniatto) na indústria brasileira, pois a tecnologia italiana trazida era superior à
disponível aqui.
g) Considerações
A respeito da família do imigrante, observa-se que a maioria deles
são avós dos entrevistados, sendo que o único que tem o pai como imigrante, é
o mesmo cuja chegada ao Brasil foi a mais tardia entre todos (1949), portanto
após a 2ª Guerra Mundial, e que já trabalhava em tecelagem, justificando
portanto, o que já foi dito por Martins (2003), que os imigrantes do pós- guerra
tinham um ofício, que nesse caso é relacionado à indústria têxtil (tecelagem).
Porém, outros imigrantes que também se dedicaram à indústria têxtil
chegaram antes dessa data. Nesse caso, a instalação da indústria se deu,
entre outros motivos, pela experiência adquirida em São Paulo. Segundo
Camargo (2000), Luiz Scavone, por exemplo, da Fabril Scavone, já havia
trabalhado no comércio e, além disso, era amigo de Francisco Matarazzo, que
anos mais tarde intermediou a produção de café itatibense para exportação.
Além disso, a instalação de indústrias está relacionada a dois fatores:
o primeiro, pela origem dos imigrantes, Pois a maioria é de Vêneto, que como
já foi discutido, foi a região que primeiro se industrializou, e também, pela
experiência adquirida em indústrias de tecelagem. De acordo com Santos
(2006, p. 01),
(...) a unificação política (...) impulsionou a industrialização, que se
intensificou no decênio de 1880-1890. O Estado reservou a produção
de ferro e aço para a indústria nacional, favorecendo a criação da
siderurgia moderna. Protegida pelo Estado, a siderurgia se
concentrava ao norte (...) [e a] indústria mecânica cresceu mais
depressa, especialmente as de construção naval e ferroviária,
máquinas têxteis e ligadas à eletrificação, principalmente motores e
turbinas. (...) O problema mais grave estava na total concentração do
processo de crescimento no norte, enquanto o sul permanecia
agrário.
Note-se que os imigrantes do Sul também migraram logo após a
unificação, mas o contingente do norte foi mais expressivo, como foi observado
nos resultados apresentados. Em relação a trajetória do imigrante no Brasil, a
maioria se deslocou pouco, em apenas um ou dois municípios, e quanto aos
empregos, não foram diferentes daqueles já discutidos: agricultura, comércio e
indústria. No próximo sub-item analisar-se-á as atuais indústrias têxteis no
município de Itatiba.
5.3 PERFIL DA INDÚSTRIA TÊXTIL
a) Ano de início das atividades
Sobre o ano de início das atuais indústrias têxteis de Itatiba, observa-
se que a mais antiga foi instalada em 193815 e a mais recente em 2004. Apesar
da segunda ser recente, ambas continuam em atividade desde a criação pelos
15 A Scavone apresenta duas datas de sua fundação, 1893 e 1938, a primeira se refere à
criação do grupo em Itatiba, quando foi criada a indústria de fósforos, por exemplo, e a
segunda é relacionada à data de fundação da indústria têxtil.
seus familiares (avó e pai); são elas, respectivamente: Scavone S/A e a Têxtil
Duomo (agora Catedral Tecidos, administrada pelo filho mais velho do
fundador, Sr. Ettore Calvi). Em relação às demais, as datas de início das
atividades são: 1977, 1978, 1984, 1993, 1998 e 2000.
b) Produto Fabricado
Dada a amplitude da cadeia produtiva têxtil, os produtos fabricados
em Itatiba também se demonstraram como tal, pois, roupas de cama
(cobertores, mantas, etc.) são os produtos fabricados em duas empresas
(25%), tecidos (por exemplo: para decoração, moda feminina e camisaria) em
três (37,5%), fibras têxteis, barbantes e malhas são produzidos em uma
indústria cada um, representando 12,5% cada. Portanto é bastante variada a
produção de têxteis no município.
Gráfico 8: Produtos fabricados na indústria têxtil de Itatiba
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
c) Como obteve a indústria
Quanto à forma como obteve a indústria, a maioria (cinco
entrevistados, 75%) conseguiu por meios próprios, um por herança (12,5%) e
outro por herança e empreendimento próprio. (12,5%). Portanto, justifica-se
que houve a instalação por imigrantes cujas indústrias se mantêm até hoje,
porém, as mais recentes foram instaladas por descendentes, dada a tradição
da indústria têxtil no município e também por muitos dos atuais proprietários
terem trabalhado em outras indústrias têxteis e assim, adquirido experiência
para a instalação de suas. (gráfico 9)
Gráfico 9: Meios para obtenção da indústria
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
d) Número de Funcionários
Em relação ao número de funcionários de cada indústria, observa-se
que não são regulares, pois a maior delas conta com 340 e a menor, com 06,
as outras, registram, 155, 140, 64, 60, 33 e 32, sendo que a média de
funcionários é 103, portanto de porte médio.
Gráfico 10: Número de Funcionários
Fonte: Pesquisa in Loco, 2008.
Org.: VENTURA, Iris Matteuzzo, 2008.
e) Problemas enfrentados pela indústria têxtil
Dentre os principais problemas enfrentados atualmente pela indústria
têxtil, os entrevistados destacaram: a concorrência externa principalmente de
países asiáticos (China e Índia); oscilações econômicas; valorização do Real,
que facilita a importação de produtos asiáticos e dificulta as exportações pelos
preços elevados; problemas estruturais (carga tributária, custo portuário, falta
de mão-de-obra especializada, etc.), falta de investimento do governo atual e
finalmente, a vulnerabilidade da indústria têxtil aos problemas econômicos: alta
do dólar, por exemplo. Esses problemas dificultam a expansão das atividades
têxteis principalmente quando relacionadas à exportação, dada a influência do
dólar nessas relações e também as relacionadas aos produtos importados.
f) Considerações
À vista dos dados apresentados, observa-se que as indústrias têxteis
pesquisadas são de instalação recente, com exceção de algumas, mais
tradicionais no município, que iniciaram as atividades já com os imigrantes.
Porém, muitos dos atuais proprietários já haviam trabalhado em alguma outra
indústria têxtil, e, a experiência os motivou para a instalação das mesmas. O
número de funcionários se mostrou bastante diverso, variando de o6 a 340
funcionários, assim como os anos de instalação, entre 1938 e 2004.
A forma como eles implantaram as indústrias foi, principalmente,
através de recursos próprios, mas também, em dois casos, ocorreu por
herança. Dentre os produtos fabricados, também se apresentou variado, desde
manta, cobertor até tecidos para decoração. Isso acontece, pois a indústria
têxtil conta com um número grande de produtos. Segundo Gorini (2000), sua
cadeia produtiva reúne fiação, tecelagem, malharia, acabamento,
beneficiamento e confecção, portanto sendo variados os produtos fabricados,
como foi observado pelos dados fornecidos pelos empresários entrevistados.
Como já discutido, a indústria têxtil enfrenta alguns problemas
originados entre outros motivos pela concorrência. Segundo Gorini (2000), isso
acontece, entre outros motivos, porque as indústrias têxteis norte-americanas
passaram a investir fortemente em novas tecnologias e em nichos mais
lucrativos, como fibras químicas e novos processos produtivos, objetivando
maximizar sua proximidade com maiores mercados consumidores, diminuição
do tempo de fabricação, comercialização e custos.
Assim sendo, segundo os entrevistados, a concorrência é de fato, o
maior problema da indústria têxtil atualmente, principalmente pelos produtos
originados de países da Ásia, pois segundo um dos entrevistados
“notadamente a Índia e China, os quais têm custos bem menores que o Brasil,
em todos os segmentos (mão-de-obra, tributos, financiamentos, etc).” (...). Vale
lembrar que muitos também citaram a vulnerabilidade, da indústria, estando a
mercê dos problemas econômicos brasileiros e também mundiais, prejudicando
assim, as relações comerciais com outros países.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A chegada de imigrantes italianos no Brasil, nos séculos XIX e XX,
coincide com a necessidade de mão-de-obra para a lavoura do café,
principalmente no Estado de São Paulo, ocasionada pela Abolição dos
Escravos, em 1888, que até então eram os principais responsáveis pela
produção agrícola brasileira, principalmente as relacionadas à monocultura
canavieira. Portanto, após a efetivação dessa lei, a migração internacional para
o Brasil ganhou importância, já que cerca de cinco milhões de europeus e
asiáticos para cá vieram.
A Itália, por sua vez, vivia a unificação de seus reinos, que ocorreu
entre 1860 e 1880, além da industrialização, do êxodo rural, da mecanização
da agricultura, que propiciou a formação de excedentes populacionais,
ocasionando a emigração em massa para Argentina, Brasil, Canadá e Estados
Unidos.
Note-se que a transição para a produção capitalista ocasionou a
concentração de terras nas mãos de poucos agricultores, e, aliada as altas
taxas de impostos sobre a terra, levou ao endividamento do pequeno produtor
e eliminação de concorrência para os grandes. Assim, houve a formação de
excedente de mão-de-obra, que a indústria e a agricultura não absorveram,
favorecendo o fluxo migratório italiano, que inicialmente ocorreu na região de
Vêneto, Norte da Itália, justificando que entre 1870 e 1920, 30% dos imigrantes
italianos que chegaram no Brasil eram dessa região.
Especificamente para o estado de São Paulo, foi o crescimento da
economia cafeeira que proporcionou, através de subsídios, a vinda dos
imigrantes. Nesse caso, destaca-se a SPI, que era mantida por fazendeiros
paulistas e que garantiu a entrada de 220 mil imigrantes em São Paulo, entre
1886 e 1895.
Há de se observar que nos primeiros anos do século XX, mais de 8
mil imigrantes se deslocaram da Hospedaria do Imigrante, na capital paulista,
para o interior do Estado, para trabalharem na lavoura do café. Deste
contingente, pouco mais de 20 chegaram ao município de Itatiba, atraídos
também pela cafeicultura.
Em Itatiba, os imigrantes italianos se tornaram o principal grupo
estrangeiro, porém não se pode deixar de citar os espanhóis e portugueses.
Como já foi discutido, o café era, até então, o principal produto da economia
local, porém, com o desenvolvimento trazido pelo comércio do produto, o
município ampliou outros setores econômicos, como o industrial e o comercial.
Observa-se que os italianos inseriram-se desde cedo nas atividades
urbanas principalmente no Sudeste e no Sul do Brasil, tanto como
trabalhadores como proprietários, o que foi observado também no município de
Itatiba, que vivenciou o processo de industrialização, com a colaboração
fundamental dos imigrantes, principalmente em atividades ligadas ao setor
têxtil.
Em Itatiba, a entrada de imigrantes italianos, já com experiência
nesse setor, possibilitou a instalação e o desenvolvimento da indústria têxtil.
Porém, muitas indústrias foram instaladas não apenas pela presença de
imigrantes na família, mas também pela tradição que Itatiba passou a ter em
relação a esse produto, como se observou na análise dos resultados do
trabalho.
Em relação a distribuição da população italiana no município,
observou-se que é bem mais expressiva na área central do núcleo urbano de
Itatiba, porém em outros bairros próximos ou até mais periféricos também
estão presentes, em menor proporção, justificando que é um grupo expressivo
no município e que atualmente, está disperso. A localização dessa população,
atualmente, segue a ordem social e econômica, pois, se concentra em locais
melhores do município (próximo do Centro) ou ainda relacionada à questões de
trabalho, como no caso da agricultura.
Portanto, após pesquisa em campo e bibliográfica, concluiu-se que
os imigrantes italianos foram fundamentais para o desenvolvimento do
município de Itatiba, desde o cultivo de café, como mão-de-obra, até as
atividades econômicas urbanas, destacando nesse caso, as indústrias têxteis,
que foram uma das primeiras instaladas no município e que se mantêm ativas
até os dias de hoje, dada a variedade de produtos que o setor engloba.
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APÊNDICE
APÊNDICE A Questionário
Questionário
Sobre o entrevistado:
1) Nome: ____________________________________________________
2) Idade: ________ 3) Escolaridade: _______________________________
4) Local de nascimento: ________________________________________
5) Quais aspectos culturais italianos mantêm em casa? Língua, música,
alimentação,etc.____________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
6) Mantém contato com parentes italianos?______ Se sim, por quais
meios? Internet( ) Telefone( ) Cartas( ) Outro( ) qual?_____________
7) Caso mantenha contato: Os parentes italianos já vieram ao Brasil?
Quantas vezes?________________________________________________
E você, já foi à Itália? Quantas vezes?______________________________
8) Participa da Associação Ítalo- Brasileira de Itatiba?__________________
9)Se sim, porque acha importante
participar?____________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
Sobre o imigrante da família
10) Imigrante italiano da família: pai ( ) mãe ( ) avós ( ) entrevistado ( )
11) Local de nascimento do imigrante (cidade e
região):____________________________________________________
12) Ano de chegada do imigrante no Brasil: ______________________
13) Atividade exercida (trabalho) do imigrante na Itália:
__________________________________________________________
__________________________________________________________
14) Motivos da vinda para o
Brasil:_____________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
15) Trajetória do imigrante da família: (já no Brasil)
Local (cidade) Atividade exercida Tempo de permanência Motivo da mudança (para outra
cidade)
Sobre a indústria
16) Nome da indústria: __________________________________________
17) Ano de início das atividades: ________________
18) Produto fabricado:___________________________________________
19) Como obteve a indústria? Herança ( ) Compra ( )
Instalação Própria ( ) Outra( ) qual?________________________
20) Número de funcionários: ____________
21) Quais os maiores problemas enfrentados pela indústria têxtil
atualmente?___________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
ANEXOS
ANEXO A Estatuto da Associação Ítalo- Brasileira de Itatiba
ANEXO B Lista de Famílias Italianas de Itatiba
Famílias italianas de Itatiba16
Aiello Allegre Ambrosim Andreatta Andretta Angelon Baldan Baldin Balestrin Baptistella Barca Bartholomeu Bassi Bedani Belgine Benedetti Bergamin Bernucci Bertaglia Bertelli Berti Berto Bertonha Bertoni Bettim Bez Bianchi Bianco Biral Biraia Bisetto Bolsanelli Bordim 16 CAMARGO, Luis Soares de. Imigrantes Italianos em Itatiba. Berto Editora: Itatiba, 2000. CAMARGO, Luis Soares de. Imigrantes Italianos em Itatiba e Morungaba. Berto Editora: Itatiba, 2003.
Borella Bortolaso Bortolossi Braido Bredariol Buffallo Busca Cabrino Cadorin Calvi Canal Candotta Capelletto Caponegro Carbonari Carra Casarin Cascaldi Casseta Castaldi Castelletto Catalano Cecon Ceolim Cesarini Chiarini Ciffoni Cioffi Cisotto Cogni Colleti Conde Consolin Consoline Corcelli Corradini Costa Cozetto Cremonesi Crivelari Dalbosco Dalcin Deantoni
Degani Del Col Dellalio Dellforno De Nadai Del Nero Denardi Desordi Di Fiori Dotta Evangelista Facchini Fascioni Fasoli Fassina Fattori Ferrari Flaibam Fontana Fosuzzi Franchin Franciscon Frare Frediani Fumachi Gaboardi Gabriel Gallo Galvani Galvão Gambeloni Gasparoti Gava Geromel Gervásio Giani Gianine Gianini Giaretta Giovanelli Greco Hercoles Hércules
Lanfranchi Latorre
Leardine Leardini
Leo
Liote Lippi Mantovani Masiero Massarelli Massaretti Massaretto Mattiuzzo Mazzuchetti Mazzutti Mecca Meneguetti Meneguim Micheletto
Milanez Minutti Miorin Modolo Mônaco Monte Montico Moretto Murolo Mutton Nardi Nardin Netto Órdine
Osello Osso Paccola Paganini Palladino Panachi Pantano Papa Parisotto Patuti Pauletto Pelacani Pellizer
Perrone Pesce Petti Pinatti Piovesana Pizzi Polessi Polezel Polli Presotto Pretti Protta Puccinelli Quaglia Rabechi Rampasso Reinaldi Regagnin Rela Ridolfi Rosseto
Rossi Rovacci Saccardi Sajn Sanjuliani Sarti Sartoratto Scarmato Scavone Schiavinatto Scremin Sesti Simioni Soave Solito Sordi Speciari Spinelli Squilante Stefani Suzan
Tegon Tescarollo Thomazini Torso Tosadori Trausula Trevine Trevisan Trevisono Troiano Tulon Tuon Vedovello Ventura Vicino Vitiello Zamboni Zanichelli Zattoni
ANEXO C Lista de Indústrias Têxteis de Itatiba