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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO INVENTÁRIO E PARTILHA – EXTRAJUDICIAL – LEI 11.441/2007. RODRIGO CARLOS TRUPPEL Itajaí (SC), maio de 2011.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

INVENTÁRIO E PARTILHA – EXTRAJUDICIAL – LEI 11.441/2007.

RODRIGO CARLOS TRUPPEL

Itajaí (SC), maio de 2011.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

INVENTÁRIO E PARTILHA – EXTRAJUDICIAL LEI 11.441/2007

RODRIGO CARLOS TRUPPEL

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

Itajaí (SC), maio de 2011

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a minha família, com quem pude contar nas horas difíceis, minha mãe Izabel, meu

pai Adiel, e meus irmãos Envino, Adiel Júnior e Isabela. Minha esposa Luciana, bem como aos meus filhos, Luiz Henrique e Leonardo, a quem

privei de momentos para me dedicar a esta empreitada. A mestre Dra. Fernanda, que

possibilitou a concretização deste trabalho. Por fim, a Deus, por ter permitido que eu chegasse

até aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa Monografia, aos meus pais, irmãos e minha esposa e filhos, os quais sempre me

incentivaram para este fim. Muito obrigado. Ama-os profundamente!

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, ____ de maio de 2011

Rodrigo Carlos Truppel Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Rodrigo Carlos Truppel, sob o

título Inventário e Partilha Extrajudicial – Lei nº 11.441/07, foi submetida em

10/06/2011 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Msc.

Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes, Presidente, Professora Caroline

Ruschel, Membro e Professora Tatiane Cavalcanti, Membro, e aprovada com a

nota _______________ (________________).

Itajaí, ______ de maio de 2011.

Professor Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

Orientador e Presidente da Banca

Professor Msc. Maria Claúdia Silva Antunes de Souza Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CPC Código de Processo Civil

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CGJ-SC Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina

CNJ Conselho Nacional de Justiça

TJSC Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina

ANOREG/SC Associação dos Notários e Registradores do Estado de Santa Catarina

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

SFH Sistema Financeiro de Habitação

SFI Sistema Financeiro Imobiliário

STF Supremo Tribunal Federal

LRP Lei dos Registros Públicos

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ROL DE CATEGORIAS

O autor elenca algumas categorias consideradas

estratégicas, com seus conceitos operacionais, para melhor compreensão do

trabalho.

Escritura Pública

“A escritura pública é instrumento dotado de fé pública, fazendo prova plena.

Deve conter, alem dos requisitos previstos no art. 134 do Código Civil 1916, (art.

215, CC/2002), os indicados em leis especiais1”.

Fé Pública

“É atribuída aos tabeliães atendendo as exigências da ordem jurídica, de modo

que os documentos notariais devem superar as suspeitas tranquilizando o corpo

social2”.

Função Pública

“É aquela atividade própria e característica do Estado, pela razão de que a

comunidade está interessada de maneira direta em sua organização e em seu

cumprimento regular e contínuo. É aquela função que, devido a sua importância

para a coletividade, a todos interessa diretamente tê-la prestada de forma

eficiente e contínua, sendo ela, pois exercida sob o manto estatal, que visa a

garanti-la3”.

Herança

“É o conjunto de bens, direitos e obrigações, que se transmitem aos herdeiros e

legatários. [...] A herança também denominada espólio ou monte-mor,

abrangendo a totalidade dos bens transferíveis, é considerada pelo direito

brasileiro, em virtude de fixação legal, como um imóvel, obedecendo às normas

peculiares referentes a esta espécie de bens4”.

1 CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e Registradores Comentada, 1999. p.46. 2 PUGLIESE, Roberto J. Direito Notarial Brasileiro. 1989. São Paulo. Ed. Leud. p.68-69. 3 BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. Porto Alegre. Livraria do Advogado,

1998. p. 131. 4 WALD. Arnoldo. Direito das Sucessões. 12. ed.rev., ampl. e atual.São Paulo: Saraiva, 2002).

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Inventário

“O inventário consiste na descrição individuada e clara dos bens da herança,

sejam móveis ou imóveis, dívidas ativas e outros direitos, como cauções,

precatórios etc.5”

Partilha

“Partilha é a repartição dos bens da herança ou a distribuição do acervo

hereditário entre os herdeiros6”.

Partilha Amigável

“Partilha amigável é o negócio multilateral que pressupõe, como todo ato jurídico,

agente capaz, objeto lícito e forma não proibida por lei. Os herdeiros devem ser

maiores e capazes. O acordo entre eles é essencial sem o que não se conclui o

contrato. Pode ser feita por escritura pública ou particular, assim como por petição

assinada por todos e reproduzida em termos nos autos7.

Sobrepartilha

“Faz-se a sobrepartilha dos bens, que por alguma razão, não tenham sido

partilhados no processo de inventário, diz-se que é uma complementação da

partilha, destinada à suprir omissões desta8”.

Sucessão

“Depreende-se que a sucessão vem a ser a transmissão do patrimônio de

uma pessoa morta para uma ou mais pessoas vivas9”.

5 CATEB, Salomão de Araújo. Direito das Sucessões. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2003. P. 238. 6 MONTEIRO, Washington De Barros. Curso de Direito Civil: Direito das Sucessões, Saraiva, 7

ed., p274. 7 PACHECO, José da Silva. Inventários e Partilhas na Sucessão Legítima e Testamentária. 19. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. P. 654. 8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Sucessões, p.177). 9 CATEB, Salomão de Araújo. Direito das Sucessões. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2003. P. 27.

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Sumário

RESUMO ........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

INVENTÁRIO E PARTILHA DE BENS ............................................... 4

1.1 DO INVENTÁRIO .............................................................................................. 4

1.2 DA PARTILHA................ .................................................................................. 7

1.3 DA DECISÃO SOBRE A PARTILHA AMIGÁVEL E A PARTILHA JUDICIAL 9

1.4 DA PARTILHA DE BENS ENTRE HERDEIROS MAIORES E CAPAZES..... 13

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 16

DA ESCRITURA PÚBLICA .............................................................. 16

2.1 DA FÉ PÚBLICA ............................................................................................ 16

2.2.DA FÉ PÚBLICA NOS ATOS NOTARIAIS .................................................... 22

2.3. DA NATUREZA DOS ATOS NOTARIAIS ..................................................... 24

2.4.DA FORMAÇÃO DOS ATOS PRATICADOS PELOS NOTARIAIS ............... 25

2.4.DA ESCRITURA PÚBLICA ............................................................................ 26

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 28

DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA NA FORMA EXTRAJUDICIAL 29

3.1.EXTERIORIDADES GENÉRICAS .................................................................. 29

3.2.DA COMPETÊNCIA QUANTO A SE PROCESSAR O INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAL .............................................................................. 30

3.3.IMPOSSIBILIDADE DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL .............................. 31

3.3.1.DA ÚLTIMA VONTADE ...................................................................................... 31

3.3.2.INTERESSADO INÁBIL ............................................................................... 33

3.4.DAS CATEGORIAS PARA SE INVENTARIAR PELA FORMA EXTRAJUDICIAL...... ........................................................................................... 35

3.5.DAS PARTES NA ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO ....................... 36

3.6.DA DESCRIÇÃO DOS BENS ......................................................................... 38

3.7.DA DIVISÃO DOS BENS................................................................................ 39

3.8.DO ADVOGADO DAS PARTES ..................................................................... 40

3.9.DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS DAS FAZENDAS DO MUNICÍPIO ESTADO E UNIÃO..... .......................................................................................... 42

3.10. SOBREPARTILHA POR ESCRITURA PÚBLICA ....................................... 43

3.11.A GRATUIDADE DAS DESPESAS CONFORME A NORMA LEGAL ......... 45

3.12.O LIMITE PARA A ABERTURA DO INVENTÁRIO E PARTILHA ............... 46

3.13.DA DIVISÃO DOS BENS DE FORMA AMIGÁVEL ...................................... 47

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3.14.DO REGISTRO DA ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO E PARTILHA................ .............................................................................................49

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 54

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo conhecer as noções

e condições necessárias destinadas à lavratura de Inventário e Partilha

Extrajudicial, a serem executadas por Tabelionato de Notas, conforme prevê a Lei

n° 11.441/07. A Lei acima mencionada admite a possibilidade e a permissibilidade

da parte interessada selecionar, pela via extrajudicial, a realização de inventário e

partilha através de escritura pública, devendo para tanto, serem todos os

interessados, maiores, capazes e concordes. No presente trabalho, o ponto de

vista a ser atingido se relaciona ao Inventário e Partilha Extrajudicial. Assim,

compõe-se o mesmo de três capítulos. No primeiro capítulo, tratar-se-à de

Inventário e da Partilha de Bens. Por outro lado, no segundo capitulo, abordar-se-

à Escritura Pública, a Fé Pública, a Fé Pública Notarial, Natureza dos Atos

Notariais e a Formação dos Atos Praticados pelo Notário. Finalmente, no terceiro

capítulo, serão feitas suas exteriorizações acerca da Lei n° 11.441/07, a

Competência do seu Processamento, a Impossibilidade de se inventariar pela via

Extrajudicial, Última Vontade, Interessado Inábil, suas Categorias, das Partes,

Descrição dos Bens, da Representação das Partes, os Débitos Fiscais, da

Sobrepartilha, da Gratuidade, do Prazo, da Divisão dos Bens Amigavelmente e do

Registro, bem como sua aplicação efetiva no contexto do negócio jurídico

realizado na esfera extrajudicial. Na presente monografia, o relatório dos

resultados foi expresso com base na análise lógica.

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1

INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho se objetiva o conhecimento das

noções e requisitos básicos destinados à lavratura de Inventário e Partilha

Extrajudicial, realizados no Tabelionato de Notas, condição esta propiciada pela a

Lei n° 11.441/07.

A novel norma legal acima referida veio a ser proposta e

sancionada em face do elevado número de ações judiciais que assoberbam o

Poder Judiciário, em que não há partes contrárias, conflitantes entre si.

O Poder Judiciário deverá ser provocado quando os

interessados sofrem lesão a direito e desejam solucionar a demanda de forma

judicial.

Entretanto pode o cidadão ser liberado da tutela jurisdicional

e procurar o meio extrajudicial o que é hoje propiciada com agilidade à

consecução de seu fim, pela Lei nº 11.441/07.

Assim, a norma legal antes referida, presume a

possibilidade, leia-se: permissibilidade, das partes interessadas optarem, para a

concretização de inventário e partilha, pela via extrajudicial, através da lavratura

por escritura pública, a ser lavrada por Tabelião de Notas, desde que sejam os

interessados, maiores, capazes e concordes.

O ponto de vista abordado no presente trabalho, se dá

somente em relação ao Inventário e Partilha, afastando-se as Separações e

Divórcios.

Por estes motivos, têm a presente monografia, os objetivos:

institucional, produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em

Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI; geral, analisar o campo de

atuação da lei em afinidade ao Inventário e a Partilha Extrajudicial, entre as partes

interessadas, desde que sejam maiores, capazes e concordes, sem a

necessidade de homologação judicial.

Diante da morosidade inerente a conclusão de inventários

judiciais, represando outras ações jurídicas, levou o legislador brasileiro a fazer

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alterações consubstanciais no Código Civil e Código de Processo Civil, através da

Lei nº 11.441/07.

Por acompanhar de perto as dificuldades enfrentadas pelas

partes quanto ao Inventário Judicial, e diante da novel Lei nº 11.441/07, optou-se

por proceder a um estudo aprofundado do Inventário e Partilha Extrajudicial,

realizado por Escritura Pública, perante o Tabelionato de Notas, desde que

preenchido os requisitos da mencionada Lei.

Portanto, o tema da Monografia que será submetida à

análise das Nobres Senhoras componentes da Banca Examinadora, de

conformidade com a orientação recebida, é dividida em três capítulos.

Tratar-se-á no Primeiro Capítulo do tema, o Inventário,

Partilha, Decisão sobre a Partilha Amigável e Partilha Judicial, Partilha de Bens

entre herdeiros maiores e capazes, demonstrando-se, desta forma, a maneira

através da qual ocorre a sucessão no Brasil, em decorrência do óbito do autor da

herança.

O Capítulo Segundo, destina-se a explicação da formalidade

dos atos que se fazem necessários à concretização do Inventário por Escritura

Pública.

Por isto, este capítulo tratará da Fé Pública, Fé Pública nos

Atos Notarias, Formação dos Atos praticados pelos Notários e Escritura Pública.

O Terceiro Capítulo e último, destina-se à análise da Lei nº

11.441/07, ou seja, do Inventário e Partilha Extrajudicial a ser realizada pelo

Tabelião, com a observância dos requisitos legais entre eles a maioridade,

capacidade e concordância entre todos os herdeiros.

Diante disto, no Terceiro Capítulo é apresentado o estudo da

Exteriorização Genérica, Competência quanto a se processar o Inventário e

Partilha Extrajudicial, Impossibilidade de Inventário Extrajudicial inerente à Última

Vontade do autor da herança e Interessado Inábil, as Categorias para se

inventariar pela forma Extrajudicial, das Partes na Escritura Pública, da Descrição

dos Bens, da Divisão dos Bens, do Advogado das Partes, da Inexistência de

Débitos das Fazendas Públicas, da Sobrepartilha por Escritura Pública, da

Gratuidade das Despesas, conforme a norma legal, do limite para a abertura do

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Inventário e Partilha, da Divisão de Bens na forma Amigável e do Registro da

Escritura Pública de Inventário e Partilha.

Para o presente estudo, elaborou-se os seguintes

problemas:

1- No ordenamento jurídico brasileiro, existe a possibilidade

de se proceder a legalização dos bens em nome de pessoas falecidas?

2- Os atos praticados pelo Tabelião em escrituras públicas,

possuem eficácia, validade, presunção de veracidade, e esses atos encontram

respaldo legal?

3- Diante de todas as dificuldades encontradas para se

realizar a legalização dos bens do de cujus na forma tradicional prevista no CPC ,

pode-se dizer que a Lei nº 11.441/2007 que autoriza o inventário e partilha

extrajudicial, trouxe benefícios às partes no que se refere a praticidade de seu

processamento?

Diante dos problemas acima descritos, foram levantadas as

seguintes hipóteses:

� Que os bens deixados por pessoa falecida, submetido

a legislação vigente, deveriam ser regularizados mediante o

inventário;

� Os atos praticados pelo Tabelião na Escritura Pública

possuem previsão legal que confere total eficácia e

legalidade;

� Os benefícios advindos da Lei nº 11.441/2007, ou seja,

inventario e partilha pelo procedimento Extrajudicial, traz

com maior facilidade os bens do de cujus à regularização,

uma vez que torna simplificado o processamento.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica, utilizando-se da Jurisprudência do Tribunal de Justiça Estadual

TJ/SC, do Tribunal Superior – STF, os quais embasam todo trabalho.

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Capítulo 1

INVENTÁRIO E PARTILHA DE BENS

1.1. DO INVENTÁRIO

Conforme as doutrinas pátrias e a própria lei, inventário é o

meio pelo qual se possibilita a sucessão no Brasil.

Neste procedimento é arrolado todo acervo patrimonial do

autor da herança, bem como se relaciona os herdeiros e sucessores legais do

mesmo.

Para Salomão de Araújo Cateb10:

“Inventário é arrecadação dos bens deixados pelo de cujus, chamamento de todos os herdeiros para participação desse procedimento, apuração do imposto a pagar pela transferência desses bens, em virtude da morte, e partilha aos novos titulares, quer por força da sucessão legítima, quer pelas disposições de última vontade, manifestadas em testamento pelo falecido”.

O jurista José da Silva Pacheco11, assim discorre:

“O termo inventário, na acepção que lhe é próprio de descrição e enumeração de bens, é empregado, em nossa legislação, para diversas hipóteses. Grosso modo, a inventário de bens recebidos pelo usufrutuário; de bens gravados de fideicomisso; de bens do menor ou do incapaz sob curatela ou tutela; de bens de ausentes; de bens de um estabelecimento; de bens arrecadados; de bens do casal em separação judicial e etc [...]”.

Assim pode-se verificar que com a abertura do inventário,

não se outorga direitos, sendo este apenas, o meio próprio para que ocorra a

transferência dos bens, em face dos herdeiros já serem titulares, com a abertura

da sucessão, conforme disposição contida no Artigo 1.784 do Código Civil.

10 CATEB, Salomão de Araújo. Direito das Sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. P. 238. 11 PACHECO, José da Silva, Inventários e Partilhas na sucessão legítima e testamentária, revista e atualizada, - Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 362 .

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Portanto, inventariar é o ato de arrolar, registrar, catalogar,

descrever, enumerar coisas, etc12. O vocábulo é de origem latina e deriva de

inventarium, de invenire, isto é, achar, encontrar.

Destaca Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira13:

“É através do procedimento do inventário e da partilha, que os bens passam oficialmente do de cujus para os seus sucessores. A Sucessão pode ser legítima e Testamentária. Legítima é a que deriva de disposição legal, e testamentária é a que provém de disposição de última vontade do falecido. Quando morre uma pessoa deixando bens, abre-se sua sucessão, e procede-se ao inventário, para regular apuração dos bens deixados, com a finalidade de que passem a pertencer legalmente aos seus sucessores. O inventário é sempre obrigatório, para a atribuição legal dos bens aos sucessores do falecido, mesmo em caso de partilha extrajudicial (...)”. É diverso o sistema em outros países, onde se concede autonomia à partilha amigável fora dos autos, desde que celebrada por maiores e capazes. Assim, no Direito Português, o inventário judicial pode revestir duas modalidades: obrigatório e facultativo”.

Por outro lado, Caio Mário da Silva Pereira14, afirma:

“Na idade média, instituiu-se a praxe de ser devolvida a posse dos bens, por morte do servo, ao seu senhor, que exigia dos herdeiros dele um pagamento, para autorizar a sua imissão. No propósito de defendê-lo dessa imposição, a jurisprudência no velho direito costumeiro francês, especialmente no Costume de Paris, veio a consagrar a transferência imediata dos haveres do servo aos seus herdeiros, assentada a fórmula: Lê serf mort saisit lê vif, son hoir de plus proche. Daí ter a doutrina fixado por volta do século XIII, diversamente do sistema romano, o chamado droit de saisine, que traduz precisamente este imediatismo da transmissão dos bens, cuja propriedade e posse passam diretamente da pessoa do morto aos seus herdeiros: lê mort saisit lê vif”.

Segundo o princípio da Saisine hereditária, o acervo

patrimonial, bem como o domínio e a posse de toda herança do “de cujus”,

12 Dicionário Jurídico – Academia Brasileira de Letras Jurídicas – 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. P. 64. 13 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das

sucessões: teoria e prática. p. 157. 12.ed., ver. e ampl. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 1999.

14 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. v. 6. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

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transmite-se, automaticamente, aos herdeiros, desde o exato momento da morte

do autor da herança. Assim, o inventário e a partilha os utensílios legais para

regularizar essa situação, como encontra-se disposto no artigo 1.784, do Código

Civil, que estabelece “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos

herdeiros legítimos e testamentários15.”

Por meio do inventário, o acervo patrimonial deixado pelo

falecido, deve ser relacionado, bem como estabelecer-se-á os respectivos valores

pecuniários, objetivando-se a divisão aos sucessores e herdeiros legais, através

da competente partilha.

Assim, inventário é o procedimento de descrição dos direitos

e deveres do “de cujus”, transmitidos, na ocasião do falecimento, imediatamente

aos herdeiros e sucessores legais. É a forma pela qual se formaliza a

comunicação do acervo patrimonial existente quando do falecimento do autor da

herança.

Conforme Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira16:

“Inventário e Partilha figuram conceitos jurídicos diversos, desenvolvendo-se em

processos próprios, embora de natureza continuativa”.

Wilson de Oliveira17 nos ensina:

“Aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Torna-se, no entanto, necessária à determinação do valor da herança não só para o Estado recolher o imposto de transmissão de propriedade causa mortis, como também para os sucessores do autor da herança, receberem os bens transmitidos de acordo com as disposições legais e testamentárias. A sucessão não se dá apenas com a morte do autor da herança. Tanto o Código Civil, como o Código de Processo Civil, tratam da sucessão em bens dos ausentes. O inventário-partilha é um só processo, composto de duas partes: a primeira denominada inventário, e a segunda, partilha. Essa depende da primeira, sem a qual não pode subsistir.”

15 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 239. 16 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das

sucessões: teoria e prática. P.160. 17 OLIVEIRA, Wilson de. Inventários e Partilhas. P. 4. 5.ed. ver. e atual. – São Paulo: Saraiva,

1987.

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É através de inventário-partilha, seja ele judicial ou

extrajudicial, que os herdeiros ficam cientes da verdadeira situação dos direitos e

deveres do autor da herança e que, quando do falecimento, transmitiu-se a estes.

Por isto que a transferência se formaliza apenas com este procedimento.

Na lição de Arnoldo Wald18, segue:

“Inventário é o processo judicial de levantamento e apuração de bens pertencentes ao falecido, que visa a realização do ativo e ao pagamento do passivo, a fim de repartir o patrimônio do de cujus entre os seus herdeiros”.

Utilizam-se as denominações de inventariado, de cujus,

autor da herança, falecido, para indicar a pessoa cujos bens deixados, quando do

seu falecimento, são objeto de inventário e partilha.

1.2. DA PARTILHA

Concluído o inventário, apresentado o quadro completo do

monte, acervo ou patrimônio sucessório, tem-se a partilha.

Partilha é a divisão dos bens deixados pelo de cujus a ser

efetuada entre herdeiros e sucessores legais. É a partilha, o procedimento

sucessivo do inventário, ocorrendo ela no mesmo processo.

Conforme preleciona Sílvio Rodrigues19, “partilha é a divisão

dos bens da herança segundo o direito hereditário dos que sucedem.”

Na lição de Washington de Barros Monteiro20:

“Partilha é a repartição dos bens da herança ou a distribuição do acervo hereditário entre os herdeiros. No direito romano, ela era translativa de propriedade; o herdeiro tornava-se proprietário do quinhão respectivo no momento da partilha, como se nesse instante o tivesse adquirido aos demais co-herdeiros. Perante a nossa lei, porém, ela é simplesmente declarativa e não atributiva de direitos. O herdeiro adquire a propriedade, não em virtude de partilha, mas por força da abertura da sucessão. O próprio de cujus, por ficção, investe seu sucessor no domínio e posse da herança.”

18 WALD, Arnoldo. Direito das Sucessões. São Paulo: Saraiva. 2002. P. 200. 19 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Direito das Sucessões. São Paulo: Saraiva. 2002, V. 7. P. 293. 20 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, “Sucessões”, Saraiva, 7ª ed.,

p274.

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Em que consiste a partilha, destaca ainda José da Silva

Pacheco21:

“Somados, todos os bens do espólio, temos o monte-mor, de que se deduzem as dívidas, as despesas, as custas e encargos, apurando-se o monte líquido. Desse se deduz a meação do cônjuge sobrevivente, que já lhe pertencia, resultando o monte partível do inventariado, que se decompõe na metade disponível, de que se não poderão extravasar os legados, e na metade da legítima, de que não se excluirão os herdeiros necessários, se houver. Na partilha, atende-se: a) ao direito do cônjuge meeiro, se houver, que não se circunscreve entre os direitos hereditários; b) aos direitos dos herdeiros; e c) aos direitos dos legatários. Antes, porém, atenderam-se: a) aos direitos de créditos contra o espólio; b) aos direitos referentes às despesas, custas e encargos processuais ou testamentários. Assim, pode-se conceber a partilha como: a) a distribuição do monte partível entre os titulares de direitos hereditários e outros direitos pertinentes; b) a atribuição aos titulares desses direitos da parte do monte partível que lhes couberem.” No mesmo sentido, Arnoldo Wald22, ensina:

“A partilha é repartição ou distribuição dos bens do falecido e tem efeitos meramente declaratórios, pois os haveres do de cujus transferem-se aos herdeiros com o falecimento e independentemente da partilha, que se limita a esclarecer os pertences de cada herdeiro”.

Por isto, o plano de partilha nada mais é do que a forma

através da qual serão os bens partilhados entre os herdeiros e sucessores do

autor da herança.

Nas palavras de Maria Helena Diniz23:

“É a partilha o ponto culminante da liquidação da herança, já que é por meio dela que se especifica o quinhão de cada herdeiro (CC, art. 2.023). Assim sendo, a herança, até a partilha, é uma unidade legalmente indivisível, embora seja de natureza divisível, razão pela qual existe a partilha.”

21 PACHECO, José da Silva, Inventários e Partilhas na sucessão legítima e testamentária, revista e atualizada, - Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 652. 22 WALD, Arnoldo.Direito das Sucessões. 12.ed.rev., ampl. e atual. de acordo com a legislação vigente, jurisprudência dos tribunais e o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002).- São Paulo: Saraiva, 2002. P. 212. 23 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, V6. 17 Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.

p. 375.

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No plano de partilha, observar-se-á a igualdade dos

quinhões hereditários, partilhando-se o monte em tantos quinhões iguais e em

quantos foram os herdeiros do autor da herança.

O plano de partilha é a divisão oficial do monte líquido,

apurado no inventário, entre os sucessores do autor da herança.

Procedido ao plano de partilha e a respectiva divisão entre

os herdeiros, cessa, de plano, a comunhão hereditária e desaparece a figura do

espólio, sendo substituída pelos herdeiros a quem couber o direito ou a coisa,

objeto da ação.

Concedida a tutela jurisdicional com o julgamento da partilha

ou ocorrendo ela por ajuste nos autos, em negócio multilateral feito pelos co-

herdeiros, o direito de cada um destes fica circunscrito aos bens de seu quinhão,

proporcionalmente.

1.3. DA DECISÃO SOBRE A PARTILHA AMIGÁVEL E A PARTILHA JUDICIAL

Cumpridas as formalidades do inventário, tem-se a partilha.

Maria Helena Diniz24, argumenta que partilha “é, portanto, a

divisão oficial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre os sucessores

do de cujus, para lhes adjudicar os respectivos quinhões hereditários.”

A partilha somente iniciará após cumprida a disposição

estabelecida no artigo 1.017, § 3°, do Código de Processo Civil, facultará o

magistrado, às partes que, em dez (10) dias, ordenem o pedido de quinhão,

proferindo, na sequência, no prazo de dez (10) dias, o respeitável despacho

quanto a deliberação da partilha, decidindo os requerimentos das partes e

indicando os bens que devam constituir o quinhão de cada herdeiro e legatário

(Art. 1.022 do CPC).

Discorrendo, ainda sobre partilha, Sebastião Amorim e

Euclides de Oliveira25, entendem que:

“Na deliberação sobre a partilha o juiz deve dizer quem são os sucessores, como devem suceder, quais são os bens que irão ser

24 DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro – Direito das Sucessões. São Paulo. Saraiva. 2004. V. 6. P. 376. 25 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das

sucessões: teoria e prática. P.161.

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distribuídos, resolverá os pedidos das partes, e dará solução a todos os incidentes que tenham surgido no transcorrer do Processo”. “O Despacho de deliberação da partilha não poderá ser atacado por recurso de qualquer natureza (RT 474/79, 506/123, RP 41/296, RJTJESP 92/277 e 103/153).

O Código Civil, em seus artigos 2.015 e 2.016, estabelecem

que as partilhas podem ser amigáveis ou judiciais. Para que a partilha seja

amigável, devem os herdeiros ser maiores, capazes e concordes (art. 2.015, CC),

sendo ultimado esse negócio jurídico por Escritura Pública, por Termo o próprio

inventário, ou documento particular, homologado pelo Juiz.

Na partilha amigável, prevalece a vontade dos herdeiros,

podendo ser representados por procurador, não podendo, entretanto, decidir

divisões contra disposições de ordem pública.

Poderá ela ser ineficaz, por exemplo, se deliberarem os

herdeiros sobre a divisão de imóvel rural, quando o fracionamento for inferior ao

módulo rural.

Com o advento da Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007,

permite-se o inventário e a partilha por Escritura Pública, sendo todos os

interessados maiores, capazes e concordes, constituindo-se aquela em título hábil

para o registro imobiliário e todas as demais transmissões dos bens não imóveis.

Se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha

amigável, por escritura pública, termo nos autos do inventário, ou escrito

particular, homologado pelo juiz, conforme artigo 2.015, do CC26.

Para Maria Helena Diniz27, poderá ser feita Partilha

Amigável:

[...]“quando entre os herdeiros maiores e capazes houver acordo unânime, hipótese em que essa forma de partilha poderá ser feita por escritura pública, por termo nos autos do inventário ou por escrito particular homologado pelo juiz (CC, art. 2.015; CPC, art. 1.029; RT, 247:145; TSTJ, 102:261); em qualquer caso, é imprescindível, por ser negócio jurídico plurilateral, a assinatura do instrumento por todos os interessados, ou por procurador com

26 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 246. 27 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, V6. 17 Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.

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poderes especiais (CC, art. 661, §1°; RT, 146:114). Exige-se homologação judicial do instrumento público ou particular, anexado aos autos a requerimento do inventariante ou de qualquer herdeiro, a fim de se verificar se houve observância das formalidades legais. As declarações dos partilhantes, feitas por termo nos autos, também serão, por essa razão, sujeitas à homologação do magistrado”.

Wilson de OIiveira28 ratifica no sentido de que “tal partilha

é permitida quando são satisfeitas as condições exaradas em nossa lei civil.

Pago o imposto de transmissão causa mortis, podem fazê-la os

interessados.”

A partilha será sempre judicial, conforme o artigo 2.016. do

Código Civil, quando houver divergência entre os herdeiros, bem como se algum

deles for menor ou incapaz.

Se algum herdeiro for incapaz, quando do óbito do autor da

herança, e, se na época da partilha for capaz, pode ocorrer a partilha amigável. É

no momento da prática do ato que se rege a capacidade.

Quando da conclusão da partilha judicial, para que

garantidas sejam as dívidas do espólio, terão que ter ocorrido as colações e o

pagamento ou separação de bens.

Incube ao partidor, conforme determinação do Juiz (art.

1.023, CPC), organizar o esboço de partilha, entretanto, independente da partilha

ser judicial, se o inventariante ou qualquer interessado, apresentar plano

aprovado por todos, desnecessária é a intervenção do partidor.

Os bens adquiridos pelo autor da herança podem ser

partilhados amigavelmente por ato inter vivos ou post mortem.

“A partilha por ato inter vivos, ou partilha em vida, é aquela feita pelo pai, como declaração de vontade, por escritura ou testamento, dispondo sobre a divisão dos seus bens, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários”, diz Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira29.

28 OLIVEIRA, Wilson de. Inventários e Partilhas. p. 4. 5.ed. ver. e atual. – São Paulo: Saraiva,

1987. 29 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das

sucessões: teoria e prática. P.161.

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O ato de partilhar os bens em vida é exclusivo do titular dos

bens, não podendo ser praticado por eventuais herdeiros, em face de não poder

ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Nesse sentido, ainda nos firmam Sebastião Amorim e

Euclides de Oliveira30 o seguinte:

“Em qualquer dessas modalidades, exige-se que a partilha amigável contenha todos os requisitos da partilha judicial celebrada em processo de inventário, segundo as normas dos artigos 1.023 e 1.025 do Código de Processo Civil. Apenas se resume a celebração, com dispensa de esboço e autos específicos. Mas é essencial que a partilha contenha: a) os dados completos do autor da herança, do inventariante, do cônjuge supérstite, dos herdeiros, dos legatários, e dos credores admitidos; b) o ativo, o passivo, e o líquido partível, com as necessárias especificações; c) o valor de cada quinhão; d) a folha de pagamento de cada parte, declarando a quota a pagar-lhe, a razão do pagamento, a relação dos bens que lhe compõem o quinhão, as características que os individualizam (situação, confrontantes e origem) e os ônus que os gravam. Sem tais formalidades, a partilha não poderá ser homologada; ou terá problemas na fase de registro, exigindo providências de retificação ou aditamento dos autos do processo31”. José da Silva Pacheco32 finaliza no seguinte sentido:

“Na Partilha amigável de herdeiros maiores e capazes, tem-se negócio multilateral que pressupõe, como todo ato jurídico, agente capaz, objeto lícito e forma não proibida em lei. Os herdeiros devem ser maiores e capazes. O acordo entre eles é essencial sem o que não se conclui o contrato. Supõe-se exclusão de qualquer vício do consentimento, e de infringência legal. A oportunidade de fazê-la é após a conclusão do inventário, antes ou depois do despacho de determinação da partilha. Pode ser feita por escritura pública ou particular, assim como por petição assinada por todos e reproduzida em termo nos autos”.

Tem-se desta forma que na partilha amigável, não pode

haver menores, incapazes e todas as partes devem estar em concordância,

requisitos esses essenciais.

O Código Civil33 em relação à Partilha:

30 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das sucessões: teoria e prática. 31 AMORIM, Sebastião Luiz. Euclides Benedito de Oliveira. Inventários e Partilhas: Direito das

sucessões: teoria e prática. P.162. 32 PACHECO, José da Silva. Inventários e Partilhas na sucessão legítima e testamentária,

revista e atualizada, - Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 363 .

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O Código Civil regulou a partilha, em capítulo especial, nos art.s 2.013 a 2.022, compreendendo: a) a legitimidade para requerer; b) a indicação dos bens e valores que comporão os quinhões; c) a partilha amigável entre maiores, por escritura pública; (grifo meu) d) a judicialidade da partilha, à falta de assentimento unânime ou de maioridade e capacidade de todos; e) a justiça, eqüidade e igualdade; f) a partilha feita pelo pai por ato entre vivos ou de última vontade; g) as regras relativas à indivisão; h) os frutos dos bens da herança; i) os bens remotos e a sobrepartilha; José da Silva Pacheco34 interfere:

“Para se chegar a poder proceder à partilha, insta, antes, inventariar os bens, pagar as dívidas, despesas e impostos. Só aí se vai saber, exatamente, o que há a partilhar. Nessa oportunidade as partes interessadas podem pedir os seus quinhões. Fala-se, com muita razão, em pedir os quinhões e não em requerer a partilha, porque esta já foi requerida, ao se pedir o inventário e partilha. Contudo, nada impede que, nessa oportunidade se reitere o requerimento de partilha, ou se a peça de novo, uma vez que só aí, pode ela ser, regularmente feita. Pode, inclusive, apresentá-la nos termos dos arts. 2.013 e 1.028 do Código de Processo Civil, se não houver incapazes, ou pedir que se concretize a realizada pelo pai, por ato entre vivos ou declaração de última vontade. Entretanto, mesmo que ninguém faça pedido algum, no prazo comum de dez dias, previsto no art. 1.022 do Código de Processo Civil, o juiz proferirá o despacho de deliberação da partilha, determinando sua elaboração”.

Portanto será feita a partilha, por escritura pública que

depende de homologação judicial; por escrito particular que depende de

homologação depois de assinado pelos herdeiros o termo de ratificação e por

termo nos autos do inventário.

Assinada, devem os interessados requerer ao Juiz a

lavratura do termo de ratificação, a fim de, em seguida, ser homologada.

O termo de ratificação era exigido pelo parágrafo único do

art. 512 do CPC, de 1939, não constando da atual Lei Processual Civil.

1.4. DA PARTILHA DE BENS ENTRE HERDEIROS MAIORES E CAPAZES

Denomina-se de negócio jurídico plurilateral a partilha de

bens entre herdeiros maiores e capazes, advindo da vontade concordante de 33 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 246/247. 34 PACHECO, José da Silva. Inventários e Partilhas na sucessão legítima e testamentária,

revista e atualizada, - Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 363.

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todos os herdeiros, que expõem, por declarações, seus propósitos de dividirem o

espólio de maneira igualitária35.

Silvio de Salvo Venosa36, leciona no seguinte sentido:

“Quando todos os herdeiros são maiores e capazes, apresentando eles o plano de partilha, assim será homologado, porque não há qualquer dissensão a ser discutida. Estar-se-á atendendo a um interesse comum. Havendo incapazes, a partilha dependerá sempre da deliberação do juiz, ainda que acolha esboço formulado pelos interessados”.

Conforme anteriormente exposto, sendo todos os herdeiros

maiores e capazes, existindo entre eles acordo elaborado e apresentado como

plano de partilha, o Juiz homologará o acordo, por ser de interesse de todos.

Existindo menores e/ou incapazes, será imprescindível o procedimento judicial,

em face de ser indispensável a ouvida do digníssimo representante do Ministério

Público.

Ainda, segundo Silvio de Salvo Venosa37:

“O Art. 2.026 (antigo, art. 1.774) exige que a partilha seja sempre judicial, se os herdeiros divergirem, assim como se algum deles for menor ou incapaz. Se havendo incapaz quando da morte, quando da partilha já for capaz, tal não impede a partilha amigável. O momento da prática do ato é que rege a capacidade. Quando da partilha judicial, já terão ocorrido as colações e o pagamento ou separação de bens, para garantir dívidas do espólio. Cabe ao partidor organizar o esboço da partilha, de acordo com orientação dada na deliberação do juiz (art. 1.023 do CPC, que fala em “decisão”). Mesmo judicial a partilha, se o inventariante ou qualquer interessado apresentar plano aprovado por todos, torna-se desnecessária a intervenção do partidor. Na prática, ocorrem situações de difícil deslinde, quando as partes não chegam a um ponto comum. Lembre-se que, quando há incapazes, o Ministério Público obrigatoriamente deve opinar”.

Assim, como todo negócio jurídico, implica a partilha

amigável, na capacidade das partes. Se não forem todos maiores e capazes,

impossível é a solução extrajudicial.

Concluído o primeiro capítulo, com o estudo aprofundado do

inventário, da partilha, da partilha amigável e judicial, da divisão do acervo

35 RODRIGUES, Silvio. Direito das Sucessões. V.7, 25.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.p. 295. 36 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito das Sucessões, Volume VII, 4ª Ed. Atlas. São Paulo, p399. 37 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito das Sucessões, Volume VII, 4ª Ed. Atlas. São Paulo, p399.

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patrimonial do autor da herança entre herdeiros maiores e capazes, estudaremos,

no segundo capítulo, a escritura pública de inventário, a fé pública e a fé pública

notarial, natureza dos atos notariais e a formação dos atos praticados pelo

notário.

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CAPÍTULO 2

DA ESCRITURA PÚBLICA

2.1. DA FÉ PÚBLICA

A fé pública notarial corresponde à especial confiança

atribuída por lei ao que o delegado declare ou faça, no exercício da função, com

presunção de verdade; afirma a eficácia de negócio jurídico ajustado com base no

declarado ou praticado pelo registrador ou pelo notário.

Segundo Walter Ceneviva:

“A fé pública afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o Tabelião e o Oficial do Registro pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição. A fé pública: 1. corresponde à especial confiança atribuída por lei ao que o delegado (tabelião ou oficial) declare ou faça, no exercício da função, com presunção de verdade; 2. afirma a eficácia de negócio jurídico ajustado com base no declarado ou praticado pelo registrador e pelo Tabelião. O conteúdo da fé pública se relaciona com a condição, atribuída ao Tabelião e ao registrador, de profissionais do direito 38”.

A jurisprudência catarinense é no mesmo sentido:

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONVERTIDA EM AÇÃO DE DEPÓSITO - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - NOTIFICAÇÃO PESSOAL VIA CARTÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS FRUSTRADA - POSTERIOR PROTESTO DO TÍTULO - CERTIDÃO DO OFICIAL DO CARTÓRIO QUE ATESTA A INTIMAÇÃO DO DEVEDOR - FÉ PÚBLICA - PRESUNÇÃO DE VERACIDADE - VIABILIDADE - MORA CONFIGURADA.

Para a caracterização da mora autorizadora da deflagração de busca e apreensão decorrente de contrato de financiamento garantido por alienação fiduciária, é imprescindível a prévia notificação pessoal do devedor.

38 CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores – Comentada, 4ª Edição, São Paulo, Ed. Saraiva.

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Frustrada a tentativa por carta expedida via Cartório de Títulos e Documentos, se legitima intimação por ocasião de posterior protesto do título, valendo o instrumento como comprovação da mora.

Sendo merecedoras de fé pública as informações prestadas pelo Cartório de Títulos, fazem presunção juris tantum e somente podem ser desconstituídas mediante prova em contrário. (...)" (grifo no original). 39

O termo autenticação, traz o entendimento o qual comporta

a idéia de veracidade, certeza da origem, além disso o termo tem relação direta

com a autenticidade a qual significa “característica de uma coisa cuja exatidão ou

verdade não se podem contestar, ou cuja origem é indubitável” 40.

Desta feita, entende-se que, se a fé pública se efetiva com a

devida autenticação, evidentemente não haverá meios de contestá-la.

Conforme doutrina de Luiz Carlos Aronchi41 tal

incontestabilidade é dada pelo Estado aos atos emanados da autoridade pública.

O poder não seria o poder se o particular não pudesse impugnar a veracidade dos

atos da autoridade ou se essa não pudesse constranger o cidadão manu militari

à execução das suas decisões. Todos os atos do poder são, pois, autênticos. E

são autênticos apenas os atos de Poder, porque somente o Poder pode garantir a

incontestabilidade ou obrigar à execução.

Assim temos que o Estado, no intuito de garantir a paz civil –

a tranqüilidade e a segurança da vida econômica e social – requer a sua

intervenção preventiva atribuindo a autenticidade a certos atos dos particulares,

dando a eles força probatória e executiva, amparados pela fé pública atribuída a

determinadas autoridades.

Nesse contexto o Estado confere ao oficial público, poder da

fé pública para que proceda àquelas autenticações, obedecidos os trâmites

legais, dos quais a submissão a concurso público para provimento de Tabelião, o

qual devidamente provido no cargo deverá submeter-se a responsabilidade a ele

39 Apelação cível n. 2007.003530-3, de Jaraguá do Sul, Terceira Câmara de Direito Comercial, relator o desembargador Paulo Roberto Camargo Costa, j. em 1º.7.2010. Disponível em: <http://www tjsc.jus.br>. Acesso em: 20 jan. 2011). 40 Grande Dicionário Enciclopédico Larousse. 41http://www.cartoriotatui.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30:fe-publica&catid=6:informacoes-gerais&Itemid=17

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atribuída, e o não cumprimento do seu papel resultará em processo de

responsabilidade.

A cerca da responsabilidade dos tabeliões os tribunais

catarinenses entendem:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ATO NOTARIAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - LAVRATURA DE PROCURAÇÃO FALSA POR TABELIÃO - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - OUTORGANTE E OUTORGADO FALSÁRIOS - DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO PELO VERDADEIRO PROPRIETÁRIO - PREJUÍZO DO ADQUIRENTEDE BOA-FÉ - DESÍDIA DO NOTÁRIO VERIFICADA - NEGLIGÊNCIA SOBRE A VERACIDADE DOS DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO- ATO ILÍCITO CARACTERIZADO - DEVER DE INDENIZAR - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO

"A teor do que dispõe o art. 37, § 6º, da CRFB as pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídica de direito privado que prestam serviços públicos respondem objetivamente pelos danos que seus agentes - entre eles os notários e registradores - causem a terceiros no exercício da função"(TJSC, Des. Volnei Carlin).

Responde pelos prejuízos causados o notário que não procede a verificação da veracidade dos documentos e das informações que lhe foram prestadas, lavrando, em conseqüência, mandato falso que deu origem a compra e venda de imóvel, já que permitiu que falsário agisse como mandatário do legítimo proprietário.42 [grifo nosso]

O Desembargador Francisco Oliveira Filho, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ensina:

“Finalmente, importante é proclamar o vínculo que a tabeliã mantém com o Estado, sendo valioso recordar que "se carente de responsabilidade fosse a instituição, a fé pública notarial que lhe é própria e sustenta a razão que motiva a instituição, perderia o poder ficto de credibilidade coercitiva que é imposta ao corpo social e ao próprio Estado. Sem a gama de responsabilidade não haveria como se impor a crença de fidedignidade, nos atos da

42 Apelação Cível n. 2007.008413-1, de Balneário Camboriú. Relator: Des. Fernando Carioni, DJ: 29/08/2007.

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lavra notarial, igualando-se estes, àqueles de instrumentalização particular" (Roberto J. Pugliese, Direito Notarial Brasileiro).43

O fato é que os notários têm o dever de garantir

autenticidade, segurança e eficiência aos atos jurídicos, sendo a sua

responsabilidade inerente ao exercício das suas atribuições.

Nesse sentido, Silvio Rodrigues44, ao referir-se a escritura

pública e outros atos lavrados em cartório e servidores da justiça, discorre que

“como goza ele de fé pública, presume-se que o conteúdo do documento seja

verdadeiro, até prova em contrário.”

Do entendimento do Supremo Tribunal Federal, destaca-se:

“PODER CERTIFICANTE DO SERVENTUÁRIO DE JUSTIÇA –

fé pública a função certificante, enquanto prerrogativa institucional

que constitui emanação da própria autoridade do Estado destina-

se a gerar situação de certeza jurídica, desde que exercida por

determinados agentes a quem se outorgou ministério legis, o

privilégio da fé pública 45.”

“PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DAS CERTIDÕES EMANADAS

DOS ÓRGÃOS AUXILIARES DO JUÍZO. As declarações

emanadas dos servidores estatais que atuam no âmbito das

Secretarias dos Tribunais Judiciários, consubstanciadas em

certidões exaradas em razão de seu ofício, revestem-se

essencialmente em função da fé publica de que gozam tais

agentes auxiliares do Juízo de presunção juris tantum de

legitimidade e de veracidade (RTJ 133/1235), prevalecendo,

sempre, aquilo que nelas se achar atestado, até que se produza

prova idônea e inequívoca em sentido contrário.” 46

43 Apelação Cível nº 2008.008223-3. Relator: Juiz Saul Steil. Terceira Câmara de Direito Civil. DJ: 15/06/2011.

44 RODRIGUES. Silvio. Direito Civil, Parte Geral, Vol. 1, 30ª Edição, S.Paulo, Ed. Saraiva, 2002, p. 268). 45 STF - Ag. Reg. Em Ag. De Inst. ou de Petição- Agrav-146785/DF, relator Ministro Celso de Mello, DJ 15/05/98 Primeira Turma. 46 STF, Ag. Reg. Em Ag. De Inst. Criminal- Agcra- 375124/MG, Relator Ministro Celso de Mello, 2ª Turma.

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Uma escritura lavrada pelo Tabelião, faz prova quanto à data

e local de sua realização, da identidade e capacidade das partes, bem como de

clara manifestação de vontade, ficando eternamente arquivada nas notas do

Tabelião, assim como os documentos essenciais à sua lavratura, sendo certo que

a qualquer tempo, qualquer pessoa pode requisitar certidões a eles referentes.

Restarão arquivados as certidões de nascimento, de

casamento, óbito, de inexistência de feitos ajuizados em face do vendedor, de

débitos de tributos imobiliários, conjunta negativa de débito relativo aos tributos

federais e a dívida ativa da União, negativa de débitos da receita federal, de

débitos rurais e previdenciários, imposto causa mortis e inter vivos, além de guias

de pagamentos e recolhimentos de vários impostos e taxas.

Para Julenildo Nunes Vasconcelos 47: “O Estado, no

desenvolvimento de sua atividade pluralista, como representante dogmático de

povo, atribui constitucionalmente a determinados cidadãos, o direito de

determinadas tarefas, e eles contribuem para a paz social que todo Estado de

Direito Democrático procura”, chamam-se Oficial Registrador Público, o Escrivão,

o Notário, o Serventuário da Justiça, entre outros.

A conclusão do Tabelião de Notas de Campos do Jordão em

São Paulo, Julenildo Nunes Vasconcelos48 é sucinta nesse sentido:

“[...] a fé pública atribuída a essas pessoas o foi em decorrência de um mandamento legal, em cumprimento de algumas e sérias formalidades, bem como de especificidades naturais que regram o acolhimento do indivíduo como representante formal desse Estado para determinado labor. Especificamente essa crença atribuída, por exemplo, ao Notário, é a mesma que o Estado recebeu de seu povo, mas restrita a garantir e certificar uma segurança nas relações sociais (atos jurídicos) que todos desejam como princípio de justeza e certeza daquilo quanto ao efetivamente ajustado, escriturado e trasladado. A fé pública nesta conjuntura individualizada na figura do notário é uma das mais amplas já conhecidas, pois ao detentor dessa atribuição cabe a expressão da verdade, ou seja, vige a crença popular de ser correto e autêntico em tudo aquilo que dita e escreve, salvo incontestável prova em contrário, já que a sociedade não pode ser

47 VASCONCELOS, Julenildo Nunes. Direito Notarial – Teoria e Prática. 1ª Ed, 2000. Ed. Juarez

de Oliveira, p. 1. 48 VASCONCELOS, Julenildo Nunes. Direito Notarial – Teoria e Prática. 1ª Ed, 2000. Ed. Juarez

de Oliveira, p. 1.

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traída em nenhuma hipótese. (...) Assim ele é depositário da fé pública”.

A fé pública é o privilégio atribuído a determinadas pessoas,

legitimadas para tal ato, que conferem a expressão da verdade, naquilo a que são

questionados, ou para os atos que praticam. Supõe, a idéia de que o que lhe foi

apresentado, está revestido das formalidades legais, e/ou características

extrínsecas para a validação ao ato jurídico que se pretende formar. Mas que

garante o contraditório. A essa característica, assiste o mesmo poder de uma lei,

frente ao que alegam, ou declaram os particulares em suas relações.

Roberto J. Pugliese 49, discorre sobre o tema:

“A idéia de fé tem como notas características a sinceridade de quem afirma e a adesão confiante do espírito de quem recebe a afirmação. O ato jurídico com a fé pública se tem POR AUTÊNTICO, palavra derivada do grego que significa: CERTO – VERDADEIRO o que há de ser crido, o que é fidedigno; portanto, afirma-se a sua certeza como se presente fosse, ao ditar a lei, o preceito, a sentença, na celebração do ato ou do contrato (...) Fé pública é pois a necessidade que o direito, na sua realização, tem de impor ao corpo social a crença de verdadeiros, atos que especifica em sua forma e modo. Trata-se de dogma jurídico, pois prevalece enquanto não provado o contrário, impondo a sociedade o dever de crer na legalidade, legitimidade, fidedignidade et allis. Fé pública é a crença na sociedade. A crença imposta pelo direito. Fé pública é uma qualidade de ordem pública que, mediante a intervenção do oficial público, concede a certos documentos o caráter de autênticos e eficazes [MUSTAPICH]”.50

Leonardo Brandelli51 define o caráter público da função,

senão vejamos:

“Função Pública, é aquela atividade própria e característica do Estado, pela razão de que a comunidade está interessada de maneira direta em sua organização e em seu cumprimento regular e contínuo. É aquela função que, devido a sua importância para a coletividade, a todos interessa diretamente tê-la prestada de forma eficiente e contínua, sendo ela, pois exercida sob o manto estatal, que visa a garanti-la”.

49 PUGLIESE, Roberto J. Direito Notarial Brasileiro. 1989. São Paulo. Ed. Leud. P.71 50 KOLLET, Ricardo Guimarães. Tabelionato de Notas para Concursos. 2003. Norton Livreiro.

Porto Alegre. P. 23. 51 BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. Porto Alegre. Livraria do Advogado,

1998. p. 131.

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Por isto, pode-se concluir ser a Fé Pública a expressão da

verdade. É a qualidade de verdade pelo que se afirma e atesta. É a presunção

legítima, e originária do poder de atestar a autenticidade do que se está sendo

dito, ou escrito, salvo incontestável prova em contrário.

2.2. DA FÉ PÚBLICA NOS ATOS NOTARIAIS

A fé pública dos atos notarias afirmam a certeza e a verdade

dos assentamentos que o notário pratica e das certidões que emita nessa

condição, afirmando a eficácia de negócio jurídico ajustado com base no

declarado ou praticado pelo notário.

Leonardo Brandelli52, assim descreve a Fé Pública dos

Notários:

“A função a cargo do notário é pública, posto que, embora ela seja exercida sobre direitos provados, atende a um interesse da coletividade traduzido pela necessidade de afirmar a soberania do direito garantindo a legalidade e a prova dotada de fé sobre os atos e fatos que são erigidos pelas relações privadas. Ao Estado cumpre tal mister, porém, este o exerce através da instituição notarial”.

Neste prisma, está o entendimento de Julenildo Nunes

Vasconcelos53:

“Enquanto depositários da fé pública, os notários exercem uma função que não pode quedar-se alheia aos preceitos de liberdade, justiça, segurança jurídica, igualdade e demais valores institucionalizados. Dentre as exigências que a sociedade impõe, tanto no momento da criação de uma norma ou da validação de atos jurídicos, como em seu desenvolvimento e aplicação, sobressai, como se afirmou a segurança jurídica. Sem dúvida, esta aspiração constitui-se num dos fundamentos da forma das normas quanto às ações individuais, visando a uma legalidade perante os cartórios, cujos pressupostos, requisitos e efeitos tendem, entre outros afins, à garantia e à certeza dessas relações. Entre as normas destaca-se, de maneira intensiva e mesmo decisiva, a finalidade que o corpo social e a lei atribuem aos providos de fé pública.

52 BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. Porto Alegre. Livraria do Advogado,

1998. p. 132. 53 VASCONCELOS, Julenildo Nunes. Direito Notarial – Teoria e Prática. 1ª Ed, 2000. Ed. Juarez

de Oliveira, p. 1.

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O âmbito do desenvolvimento da fé pública é tão amplo como o das relações jurídicas, que se refere a toda atividade humana, razão pela qual há distintas formas, a geral e especial, a judicial e administrativa, a extrajudicial, tendo esta última, como depositário dominante, o Notário, embora existam outras pessoas que desempenham a fé pública em atividade notarial, como por exemplo, os Cônsules, os militares, entre outros. Esta diversidade não é obstáculo para afirmar que todos os tipos respondem a um conceito e finalidade idênticos. São manifestações de fé pública que procuram dotar as relações jurídicas de certeza e estabilidade, de autenticidade e indiscutibilidade. No entanto, a fé pública não tem apenas o significado de representação exata e correta da realidade, de certeza ideológica, mas também um sentido jurídico, ou seja, evidência e força probante atribuída pelo ordenamento quanto à intervenção do oficial público em determinados atos ou documentos”.

Os Notários possuem atuação, a serviço da justiça, de

equilíbrio, e tem como finalidade evitar-se a instauração de litígio, entre as partes,

sem ser um mero colaborador instrumental, na preparação de processos. Assim,

os Notários são verdadeiros consultores jurídicos das partes, na formação e

exteriorização da vontade juridicamente válida e possível.

Já Willian Garcia de Souza54, assim discorre:

“O notário no desenvolvimento de sua função e no cumprimento das tarefas que lhes são atribuídas pelo Estado, através de representação delegada, necessita garantir e certificar uma segurança nos atos jurídicos que pratica. Esta segurança jurídica é uma exigência da própria sociedade, que necessita de estabilidade em suas relações. A participação destes profissionais nos atos que pratica são marcantes e plenas de responsabilidades, uma vez que suas atividades estão perfeitamente estribadas em ditames legais, isentas de quaisquer dúvidas, até prova em contrário”.

A conferência da fé pública é a principal característica da

função notarial de quem os pratica, gerando assim, a segurança jurídica das

relações negociais.

54 SOUZA, Wilian Garcia de. Escritura Pública de Compra e Venda, Aspectos Práticos e

Doutrinários. São Paulo: Forense, 2007 (no prelo).

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2.3. DA NATUREZA DOS ATOS NOTARIAIS

A fé pública não provém do Estado, mas de um atributo da

qualidade do profissional do notário, conforme entende Julenildo Nunes

Vasconcelos55:

“Por sua própria natureza, a fé pública é uma instituição jurídico-pública, tendo necessariamente um “sinal público” autorizado pelo Estado, de modo que o qualificativo de público compreende a “fé”, significando que o notário é uma autoridade da sociedade nesse setor, vindo a garantir a certeza e autenticidade naquilo que exara. A fé pública exarada pelo notário, nos atos que pratica, é dotada de fé pública, e faz prova plena, nos termos do artigo 215 do Código Civil brasileiro. Goza, portanto, de presunção legal de autenticidade. Nesse prisma, Márcia Elisa Comassetto Santos, atribuí a fé pública: A fé pública é atribuída constitucionalmente ao Notário, que atua como representante do Estado na sua atividade profissional. A fé pública é atribuída por lei e "afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o notário e oficial de registro pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição”, com as qualidades referidas no art. 1° da Lei n. 8.935/94 (publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos)56”.

O Artigo 236 da Constituição da República Federativa do

Brasil é regulamentado pela Lei n° 8.935/94, que assim dispõe:

Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são

profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado

o exercício da atividade notarial e de registro.

A disposição do Código de Normas da Corregedoria Geral

de Justiça de Santa Catarina (CNCGJ/SC), em seu art. 519:

55 VASCONCELOS, Julenildo Nunes. Direito Notarial – Teoria e Prática. 1ª Ed, 2000. Ed. Juarez

de Oliveira, p. 2. 56 SANTOS. Macia Elisa Comassetto. Fundamentos tóricos e práticos das funções notarial e

registral imobiliária. Porto Alegre: Norton Editor, 2004. p. 36.

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“Os notários e registradores são dotados de fé pública, razão pela

qual devem pautar-se pela correção em seu exercício profissional,

a fim de garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia

dos atos jurídicos em que intervém.”

Por isto devem ser todos os atos praticados pelos notários e

registradores pautados dentro da legalidade, a fim de dar uma maior segurança

jurídica a parte.

2.4. DA FORMAÇÃO DOS ATOS PRATICADOS PELOS NOTARIAIS

O formato público dos atos notariais é essencial a sua

formalização, estando revestida de juridicidade, adequadamente às normas de

direito, portanto, os atos notariais devem ser praticados por profissionais

habilitados, sempre de modo a preservar a intenção e a verdade da manifestação

neles contida.

A falta de cumprimento dos requisitos formais pode gerar a

nulidade, exemplo disso é a lavratura de instrumento público, pacto antenupcial.

Ricardo Guimarães Kollet57, aduz que “o notário, ao

qualificar determinado ato jurídico, se orienta no sentido de proceder à

documentação do mesmo, transpondo a manifestação de vontade das partes para

o instrumento, revestindo as declarações de forma instrumental”.

Dentre as manifestações de vontade há que se falar

que as mesmas podem ser solenes ou não solenes.

A forma não solene se prevalece do art. 107 do código

Civil, sendo expressão de vontade através de sinais, gestos comportamento

ou ainda o silêncio.

No que se refere àquelas consideradas solenes ou formais, previstas no art. 108 e 109 do Código Civil, das quais os escritos particulares (art.221, CC), escrituras públicas notariais (art.215,CC) e documentos públicos.

57 KOLLET, Ricardo Guimarães. Tabelionato de Notas para Concursos. 2003. Norton Livreiro.

Porto Alegre. P. 27.

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Assim, o instrumento público por expressar a vontade das

partes, deve ser confeccionado de forma técnica pelo Tabelião, cuja finalidade

prova fatos, soleniza e da forma aos negócios jurídicos assegurando a eficácia de

seus efeitos.

2.5. DA ESCRITURA PÚBLICA

A escritura pública é instrumento dotado de fé pública,

fazendo prova plena, e, deve conter, além dos requisitos previstos no artigo 134

do Código Civil 1916, (art. 215, CC/2002), os indicados em leis especiais.

O artigo 215 do Código Civil58, elenca os requisitos

fundamentais para a lavratura da escritura pública, quais sejam:

I- Data e local de sua realização; II- Reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; III- Nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; IV- Manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes; V- Referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; VI- Declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram; VII- Assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato; § 2º- Se algum comparecente não puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo. § 3º- A escritura será redigida na língua nacional. § 4º- Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa capaz, que a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes. § 5º- Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e atestem sua identidade.

58 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 166.

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Estas condições são ratificadas no Código de Normas da

Corregedoria-Geral da Justiça, do Estado de Santa Catarina, na Seção IV, no art.

881 e seguintes. O Decreto nº 93.240, de 9 de setembro de 1986, que

regulamentou a Lei nº 7.433, de 18 de dezembro de 1985, que “dispõe sobre os

requisitos para a lavratura das escrituras públicas, e dá outras providências”,

passou a exigir para a lavratura das escrituras públicas, a apresentação de mais

alguns documentos.

Doutrinando Willian Garcia de Souza59:

“Considerado um dos mais importantes instrumentos de lavra notarial, a Escritura Pública é o documento feito perante o tabelião, em seu livro de notas, que consubstancia a vontade e o fato querido pelas partes, para a realização de um negócio jurídico.60 No caso em estudo, a escritura pública de compra e venda, como documento confeccionado pelo Notário, deve estar revestida dos elementos essenciais do ato negocial para que possa produzir efeitos positivos no mundo jurídico. Quando o tabelião aceita a declaração de uma pessoa, o primeiro ato que faz é identificar quem declara. Em seguida, verifica a capacidade civil das partes envolvidas, e por fim, somente aceita essas declarações, se forem feitas livremente. Além dessas cautelas, quando a escritura tiver como objeto um imóvel, o tabelião verifica se a documentação está perfeita, apurando se existe ônus sobre o imóvel (penhora, hipoteca, servidões, usufruto, etc.); se existem impostos em atraso; se a construção está averbada no Registro de imóveis; se existe débito condominial sobre unidades autônomas (apartamentos, garagens, Box, etc.); se os vendedores estão sendo processados ou tem títulos protestados. Verificados os documentos das partes e do objeto do negócio, o tabelião orientará o vendedor e o comprador, explicando-lhes todos os aspectos jurídicos, as diversas formas de pagamento e suas garantias, a rescisão do negócio, os impostos que incidem sobre o lucro na alienação, como e porque fazer o registro da escritura, etc. O Código Civil prevê no caput de seu artigo 215, que a “Escritura pública lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena”.

59 SOUZA, Wilian Garcia de. Escritura Pública de Compra e Venda, Aspectos Práticos e

Doutrinários. São Paulo: Forense, 2007 (no prelo). 60 Como assevera Venosa, o negócio jurídico “tem origem na doutrina alemã e foi assimilada pela Itália e posteriormente em outros países. Fundamentalmente consiste na manifestação de vontade que procura produzir determinado efeito jurídico, embora haja profundas divergências em sua conceituação e doutrina. É contudo, onde repousa a base da autonomia da vontade, o fundamento do direito privado. É por meio do negócio jurídico que se dá vida às relações jurídica tuteladas pelo direito”. (Silvio de Salvo Venosa, direito Civil – Parte Geral, Edit. Atlas, São Paulo, 2002, pg. 354).

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Desta forma, é por meio da Escritura Pública que se define a

vontade das partes na realização de um determinado negócio jurídico.

Assim, concluído o segundo capítulo, com o estudo

detalhado da fé pública e a fé pública notarial, natureza dos atos notariais, a

formação dos atos praticados pelo notário e escritura pública de inventário,

trataremos a seguir as exteriorizações genéricas do inventário e da partilha

extrajudicial, a competência para se processar o inventário e partilha de forma

extrajudicial, a impossibilidade de se inventariar quando se possuir testamento, o

interessado inábil, as categorias para se inventariar por escritura pública, as

partes, descrição dos bens, divisão dos bens, assistência às partes, inexistência

de débitos fazendários, sobrepartilha, gratuidade, prazo para abertura do

inventário e partilha, divisão dos bens de forma amigável, do registro da escritura

público.

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CAPÍTULO 3

DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA NA FORMA EXTRAJUDICIAL

3.1. EXTERIORIDADES GENÉRICAS

Objetivando uma maior celeridade aos processos, foi

sancionada a Lei n° 11.441, em 04 de janeiro de 2007, com vigência a partir de 05

de janeiro do mesmo ano, alterando-se, em face da mencionada Lei alguns

dispositivos do Código de Processo Civil, vindo, desta forma, a possibilitar a

realização de inventários, partilhas, separações consensuais e divórcios

consensuais, pela via administrativa, no tabelionato de notas mediante a lavratura

de Escritura Pública.

A mencionada norma legal alterou a redação dos artigos

982, 983 e 1.031, alterações estas que tratam do inventário e partilha

extrajudicial, bem como incluiu ao CPC, o art. 1.124-A, dispositivo este inerente

separação consensual e divórcio consensual.

Neste capítulo, abordar-se-á questão relativa ao inventário e

partilha.

Dispõe o Código de Processo Civil61:

Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário. § 1º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. § 2º A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei62. Art. 983. O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de 60 (sessenta) dias a contar da abertura da sucessão,

61 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 331. 62 Parágrafos 1º e 2º acrescentados pela Lei 11.965 de 03 de julho de 2009.

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ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. (Revogado pela Lei 11.441 de Janeiro de 2007. O art. 1.031, da mesma norma processual, passou, em face da novel Lei 11.441/07, a vigorar com a seguinte redação: Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos do art. 2.015 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, será homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts. 1.032 a 1.035 desta Lei.

Algumas condições devem ser lembradas para que sejam

realizados o inventário e a partilha extrajudicial, o que trataremos a seguir.

3.2. DA COMPETÊNCIA QUANTO A SE PROCESSAR O INVENTÁRIO E

PARTILHA EXTRAJUDICIAL

Como é cediço, no Inventário Judicial o foro competente

para se processar a inventariança, é o do domicílio do de cujus, como

competência absoluta, se o óbito ocorreu no Brasil.

Em caso de Inventário Extrajudicial que é aquele feito por

Escritura Pública, é possível sua confecção em qualquer Tabelionato localizado

no território brasileiro, independentemente da observância das regras de

competência interna.

Através da Circular n° 01/2007, a Corregedoria-Geral de

Justiça, do Estado de Santa Catarina, estabelece:

1. As Escrituras Públicas de Inventário e partilha, de separação e de divórcio – bem como, por extensão, de sobrepartilha e de restabelecimento de sociedade conjugal – poderão ser lavradas por qualquer tabelião ou escrivão de paz, independentemente do domicílio ou do local do óbito do autor da herança e da residência dos separandos ou divorciandos.

Por sua vez, o Conselho Nacional de Justiça - CNJ com a

Resolução n° 35, de 24 de Abril de 2007, estipula que “para lavratura dos atos

notariais de que trata a Lei n° 11.441/07, é livre a escolha do tabelião de notas,

não se aplicando as regras de competência do Código de Processo Civil”.

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Para o doutrinador Christiano Cassettari63:

“Um outro argumento da desnecessidade de se impor regra de competência territorial ao tabelionato de notas no caso em questão é de que, por se tratar de incompetência relativa (RSTJ 3/741; RT 492/101; RJTJSP 47/233), poderia se processar o feito em local diverso do indicado por acordo entre partes (art. 111 do Código de Processo Civil), o que, faze ao obrigatório consenso entre as partes, estabelece a presunção da existência desse acordo”.

Desta forma, as Escrituras de que trata a Lei n° 11.441/07

podem ser lavradas em qualquer tabelionato de notas, do país, inexistindo

competência territorial para tanto, sendo da livre escolha das partes o local da

lavratura da escritura.

Entretanto, far-se-á o Registro, obrigatoriamente, no local

onde estejam os bens registrados (Ofício de Registro de Imóveis), podendo ser

em mais de uma Cidade, e/ou Circunscrição Imobiliária, dependendo do local

onde estejam situados os bens do falecido.

3.3. IMPOSSIBILIDADE DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

3.3.1. Da última vontade

Da leitura da Lei 11.441, de 04 de Janeiro de 2007, se faz,

desde o início, uma exclusão quanto à possibilidade de ser feito o inventário

através de Escritura Pública se houver testamento (CC/2002, arts. 1.857 a 1.911).

No entendimento de Salomão de Araújo Cateb64:

“Testamento é um ato jurídico pelo qual o homem, no decorrer dos séculos, encontrou uma fórmula para distribuir seus bens após sua morte. Algum testadores não se satisfazem em distribuir; querem, até mesmo, administrá-los, acrescentando disposições testamentárias rígidas para serem cumpridas pelos herdeiros testamentários ou legatários.”

Ainda, Washington de Barros Monteiro65 escreve:

63 CASSETTARI, Christiano. Separação, Divórcio e Inventário por Escritura Pública. Teoria e

Prática. São Paulo: Método. P.26. 64 CATEB, Salomão de Araújo. Direito das Sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. P. 123.

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“Testamento é um ato unilateral e gratuito, de natureza solene, essencial revogável, pelo qual dispõe dos bens para depos de sua morte, ou determina a própria vontade sobre a situação dos filhos e outros atos de última vontade”.

Assim, temos características primordiais do testamento:

1- Ato Unilateral: Para que a declaração de última vontade

emana de uma só parte isoladamente. Proíbe o Código Civil, testamento conjunto,

também chamado de não comum, feito conjuntamente por marido e mulher, no

mesmo papel.

2- Ato Gratuito: O código não diz, porém subtende-se que o

testamento constitui ato jurídico a título gratuito. Mas a coexistência de algum

elemento oneroso, como a presença de encargo, não o disvirtua, salvo se

preponderante.

3- Ato Solene: Para elaboração prescreve o legislador

numerosas formalidades, que não podem ser desculpadas ou postergadas, sob

pena de nulidade. Destina-se esse formalismo a proteger a veracidade e a

realidade do ato.

4- Essencialmente Revogável: A vontade do testador pode

ser revogada, modificada em tudo ou em parte.

5- Ato Mortis Causa: Somente produzirá efeitos após a

morte do testador.

Sendo o testamento um ato de última vontade, deve ser

cumprido conforme os artigos 1.125 ao 1.141 do Código de Processo Civil,

procedimento próprio para a abertura de testamento.

Neste sentido, a Corregedoria de Justiça do Estado de

Santa Catarina, por meio da Circular n° 01/200766, dispõe:

“[...] 3. Não Será lavrada a escritura pública sem que as partes interessadas apresentem, conforme o caso:

65 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, “Sucessões”, Saraiva, 7ª ed., p. 89. 66 Corregedoria-Geral de Justiça, do Estado de Santa Catarina, 18.01.2007. Circular 01/2007.

Des. Newton Trisotto, Corregedor-Geral de Justiça.

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3.1. No inventário e partilha ou na sobrepartilha: [..] d) declaração subscrita pelos interessados no sentido de que inexiste testamento”;

Também, o artigo 21 da Resolução n° 35, do Conselho

Nacional de Justiça67, dispõe:

Art. 21. A escritura pública de inventário e partilha conterá (...) e a menção ou declaração dos herdeiros de que o autor da herança não deixou testamento e outros herdeiros, sob as penas da lei.

Desta forma, por ter que ser o testamento executado pos

mortem, trata-se de negócio jurídico perfeito e acabado, sua eficácia é diferida,

bem como seu procedimento de regularização se faz por meio próprio, sendo

assim, inviável a sua execução através de escritura pública de inventário, por não

preencher os requisitos descritos nos artigos 1.125 e 1.141 do Código de

Processo Civil.

3.3.2. Interessado Inábil

Considera-se incapaz, conforme dispõe os artigos 3º e 4º do

Código Civil68:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I- os menores de dezesseis anos;

II- os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;

III- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

I- os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II- os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III- os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV- os pródigos.

67 Conselho Nacional de Justiça, 24 de abril de 2007. Resolução, n° 35. Ministra Ellen Gracie,

Presidente. 68 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 156.

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Assim, ainda no corpo da lei, ocorre a exclusão quanto aos

interessados incapazes de poderem realizar a escritura pública de inventário e

partilha extrajudicial, se não vejamos:

O Código de Processo Civil, em seu artigo 98269,

estabelece que “Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao

inventário judicial;(...)”.

O incapaz não está apto a exercer pessoalmente os atos da

vida civil, inclusive não pode manifestar sua vontade em um inventário, nem

deliberar sobre a partilha. Neste caso, o inventário obrigatoriamente, em face da

incapacidade civil, tem de ser judicial, sendo imprescindível à oitiva do Ministério

Público, bem como a nomeação de um curador, para a preservação dos direitos e

interesses do incapaz.

Vale mencionar que a incapacidade superveniente, não

invalida o testamento eficaz, nem o testamento se valida com a superveniência da

capacidade.

Observa-se porém, que somente após a morte do testador,

é que se poderá questionar sobre a capacidade dele dispor.

Ensina João Roberto Parizatto70:

“No que se refere ao incapaz, o mesmo não possui condições de exercer pessoalmente os atos da vida civil, inclusive, à evidência, de manifestar sua vontade em, um inventário. Logo, nessa hipótese, o inventário far-se-á em juízo, com a fiscalização de um curador e do Ministério Público, visando preservar seus direitos e interesses. Assim, insuscetível de ser previamente definida em escritura pública a sua participação no inventário”.

Pode a incapacidade pode ser cessada por meio de

Emancipação, tornando o interessado absolutamente capaz, para a prática dos

atos da vida civil, inclusive, da escritura de inventário e partilha extrajudicial.

Segundo Maria Helena Diniz71: 69 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 331. 70 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.2.

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“A incapacidade termina, em regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. (...). Em relação à menoridade, a incapacidade cessa quando: 1) o menor completar 21 anos, (CC/2002 art. 5°, 18 anos), segundo nossa legislação civil, (...) 2) Houver a emancipação pelas formas previstas no art. 9°, §1°;” (art. 5°, parágrafo único, I, CC/2002).”

O artigo 5°, parágrafo único, inciso I, do Código Civil72,

estabelece:

Art. 5° A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à pratica de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, ser o menor tiver dezesseis anos completos.

A Resolução n° 35, do CNJ, em seu artigo 12, aduz que

“Admitem-se inventário e partilha extrajudiciais com viúvo(a), ou herdeiro(s)

capazes, inclusive por emancipação(...)”.

Em caso da incapacidade ou da existência de testamento,

deixado pelo de cujus, não incide a faculdade legal de se proceder da forma

extrajudicial, sendo, obrigatoriamente, processado o inventário e partilha pelo

modo usual perante o Poder Judiciário, por meio do procedimento previsto nos

artigos 982 e seguintes do Código de Processo Civil.

3.4. DAS CATEGORIAS PARA SE INVENTARIAR PELA FORMA

EXTRAJUDICIAL

Tendo inexistência de testamento conhecido e sendo todos

os herdeiros maiores e civilmente capazes, bem como havendo a concordância

de todos, estarão presentes as condições para o procedimento extrajudicial do

inventário e a respectiva partilha do acervo patrimonial do autor da herança.

Para a opção pela escritura pública, há que existir

concordância, em face de que a divergência entre os herdeiros e a (o) viúva (o),

71 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2001. p.119-120. 72 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 156.

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torna obrigatória a utilização do procedimento judicial, uma vez que caberá ao

magistrado da lide decidir sobre o litígio.

Pode o senhor tabelião, existindo fortes indícios que

indiquem estar algum dos interessados praticando o ato sob pressão, de qualquer

uma das partes, negar-se a lavrar a respectiva escritura, fundamentando a recusa

por escrito, conforme estabelece o art. 32 da Resolução n° 35, do CNJ:

Art. 32. O tabelião poderá se negar a lavrar a escritura de inventário ou partilha se houver fundados indícios de fraude ou em caso de dúvidas sobre a declaração de vontade de algum dos herdeiros, fundamentando a recusa por escrito.

A concordância, a maioridade e a capacidade são requisitos

imprescindíveis para adotar a via extrajudicial. Inobservados qualquer dessas

condições, a lei é clara em dispor que a via judicial é a forma adequada.

3.5. DAS PARTES NA ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO

Obrigatoriamente, constarão como partes na escritura, na

sua ordem da vocação hereditária, todos aqueles elencados no artigo 1.829 do

Código Civil73, conforme segue:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais.

Desta forma, a (o) viúva(o), como meeira (o), e ainda como

herdeira, caso ocorra a hipótese do artigo 1829, III, do vigente Código Civil,

constando na escritura o nome, qualificação, endereço, número do CPF e da

cédula de identidade, ou outro documento legal que possibilite sua identificação

civil.

73 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 239 e 240.

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Os herdeiros descendentes ou ascendentes, e, inexistindo

descendentes ou ascendentes e cônjuge viúvo, serão chamados os colaterais até

o quarto grau, na seguinte ordem: irmãos, sobrinhos, depois tios e em último caso

os primos e tio-avô, esclarecendo-se que o mais próximo exclui o mais remoto.

Tem que ter sempre a anuência dos cônjuges dos herdeiros

que participam da escritura com a partilha elaborada e referente ao ato notarial.

Na forma do que estabelece o artigo 1.790, do vigente

Código Civil, a companheira ou companheiro, poderá, comparecer ao ato, eis que

é titular da metade dos bens adquiridos onerosamente na constância da União

Estável.

Observado que a situação do companheiro (a) foi relegada à

um segundo plano, tanto que foi estabelecida a eles uma ordem de vocação

hereditária, separada da contida no artigo 1.829 do Código Civil, e como se não

bastasse, colocaram-na no capítulo que tratam das disposições gerais a respeito

da sucessão, mas, o entendimento pacífico e majoritário, é hipótese que se

confirma que, mesmo sendo tratado de forma diversa, os que vivem em união

estável, têm direito à meação.

Ainda nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça, em

seu artigo 17, 18 e 20 da Resolução n° 35, dispõe:

Art. 17. Os Cônjuges dos herdeiros deverão comparecer ao ato de lavratura da escritura pública de inventário e partilha quando houver renúncia ou algum tipo de partilha que importe em transmissão, exceto se o casamento se der sob o regime da separação absoluta. Art. 18. O (A) companheiro(a) que tenha direito à sucessão é parte, observada a necessidade de ação judicial se o autor da herança não deixar outro sucessor ou não houver consenso de todos os herdeiros, inclusive quanto ao reconhecimento da união estável. Art. 20. As partes e respectivos cônjuges devem estar, na escritura, nomeados e qualificados (nacionalidade; profissão; idade; estado civil; regime de bens; data do casamento; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver; número do documento de identidade; número de inscrição no CP/MF; domicílio e residência).

A escritura pública de inventário corresponderá à mesma

situação em que se faria o inventário judicial, indicando o que está sendo objeto

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de inventário e partilha, bem como os bens deixados pelo falecimento do “de

cujus”.

Constará, obrigatoriamente, no corpo do ato notarial, o

parentesco de todas as partes com o falecido, bem como menção dos nomes dos

sucessores nas linhas de parentesco, observadas as hipóteses de filhos pré-

mortos, com ou sem herdeiros.

3.6. DA DESCRIÇÃO DOS BENS

Na relação de bens deverão ser arrolados todos os objetos

da partilha, anexando-se os documentos comprobatórios dos títulos aquisitivos de

direitos, posse e propriedade, semoventes, singulares e coletivos, direitos e

ações, certidão de ônus e ações, bem como a prévia avaliação de cada bem.

Observa-se que a posse pode ser homologada, mas não

constitui documento hábil a ser registrado, apenas para expressar a vontade dos

herdeiros ou forma documental e que deve ser buscado por meio próprio a

obtenção desta propriedade.

Na descrição de todos os bens, deverá constar o tipo de

cada bem e sua destinação, área, limites e confrontações, benfeitorias, forma de

aquisição, nome dos transmitentes, as quais serão exclusivas para o devido

recolhimento do causa mortis.

Neste sentido, João Roberto Parizatto74, leciona:

“Constará, ainda da escritura, a relação dos bens objeto de inventário e partilha, citando-se os dados acerca dos títulos aquisitivos e valor atribuído aos bens, mercê da avaliação previamente procedida para fins de inventário...”.

Se por acaso os bens tiverem dívidas e obrigações do

falecido, bem como a existência de credores do espólio, não haverá impedimento

para lavratura da escritura pública de inventário e partilha, conforme os artigos 27

e 28 da Resolução 35 do Conselho Nacional de Justiça75, inclusive a realização

do inventário negativo, senão vejamos:

74 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.5. 75 JUSTIÇA, Conselho Nacional de. Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007.

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Art. 27 A existência de credores do espólio não impedirá a realização do inventário e partilha, ou adjudicação, por escritura pública. Art. 28 É admissível inventário negativo por escritura pública.

Portanto, todos os bens em nome do autor da herança,

quando forem relacionados, deverão sempre estarem descritos de forma clara,

contendo todas as suas características, com as avaliações e certidões de débitos

fiscais, os quais, mesmo existindo, não serão óbice algum para a formalização da

escritura pública de inventário e partilha.

3.7 DA DIVISÃO DOS BENS

Por intermédio de advogado constituído pelas partes

interessadas em conjunto ou individualmente, apresentada será a minuta da

partilha dos bens deixados pelo autor da herança, a qual será realizada de forma

concordante e previamente pelas partes, ao tabelião de notas, segundo o

disposto no § 1º do artigo 982, do Código de Processo Civil76.

Art. 982 Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá titulo hábil para o registro imobiliário. § 1º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

O acima explicitado somente discorre sobre a ocorrência de

mais de um herdeiro, e, desta forma, o Conselho Nacional de Justiça, por meio da

Resolução número 35, apresentou uma circunstância legal, no seu artigo 26, que

não foi prevista na Lei n° 11.441/07, vejamos:

Art. 26 - Havendo um só herdeiro, maior e capaz, com direito à totalidade da herança, não haverá partilha, lavrando-se a escritura de inventário e adjudicação dos bens.

76 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 331.

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Acertadamente foi aquele procedimento do Conselho

Nacional de Justiça, regularizando a situação do herdeiro único e universal da

totalidade da herança.

Caso não tivesse o Conselho Nacional de Justiça, emitido a

Resolução número 35, o herdeiro único e universal de toda a herança, não se

vendo na iminência de partilhar, estaria obrigado a recorrer ao Poder Judiciário

procedendo ao Inventário Judicial.

A escritura pública de inventário, neste caso, é mais rápida

do que o inventário judicial, e, deverá estar presente o advogado quando da

lavratura da respectiva escritura, nos termos da lei.

3.8. DO ADVOGADO DAS PARTES

Acerca da presença do advogado na escritura pública de

inventário, destaca-se o artigo 8º da Resolução n° 35, do CNJ77:

Art. 8°. É necessária a presença do advogado, dispensada a procuração, ou do defensor público, na lavratura das escrituras decorrentes da Lei 11.441/07, nelas constando seu nome e registro na OAB.

A legislação informa que o advogado deverá encontrar-se

presente, como assistente das partes, no ato notarial.

Neste sentido, Carlos Luiz Poisl78, esclarece:

“Tanto no caso de inventário, como no de separação, a terminologia usada é idêntica (redação dada ao parágrafo primeiro do art. 982, e o art. 1.124-A, § 2º, ambos do Código de Processo Civil): no caso de inventário, o tabelião somente lavrará a escritura se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado; no de separação ou divórcio, o tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem assistidos por advogado. Quem assiste é assistente. O emprego desta palavra assistente é, sem dúvida, correta, se considerado apenas o seu sentido semântico, de presenciar. [...] No caso das escrituras, porém, as partes, obrigatoriamente dotadas de plena capacidade jurídica, expressam elas próprias a

77 JUSTIÇA. Conselho Nacional de. 24 de abril de 2007. Resolução n° 35. Ministra Ellen Gracie,

Presidente.. 78 POISL, Carlos Luiz. O Advogado nas Escrituras. Site Anoreg/SC. Acesso em 15.04.2007.

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sua vontade. Esta manifestação de vontade não precisa ser suprida por outrem. Não se diga que essa distinção é estéril, sem maior significação. Ela tem importância na técnica de redação da escritura pública. Então entra-se no terreno em que o Direito Notarial impera, e não outro ramo do Direito, como seria o Processual, também chamado de Judiciário. Tenha-se permanentemente em conta que a escritura pública notarial nada tem de judicial. Ela reflete um acordo de vontades de pessoas capazes, ao qual nem o poder do juiz se pode sobre elevar. Nas escrituras em causa, os advogados não representam as partes e nem suprem o seu consentimento. Eles são assistentes das partes num significado bem mais restrito. Eles são como que uma espécie de fiscais de que a escritura observará todas as prescrições legais referentes ao inventário, à partilha, à separação ou ao divórcio. Quem fala na escritura, quem a outorga, são as partes O advogado não intervém. Nada diz. Somente comparece, observa, ouve, confere, assiste. Pode até dizer-se que ele é uma testemunha, porém testemunha qualificada. Evidentemente, o advogado não admitirá que a escritura falseie, de qualquer modo, a expressão da vontade das partes, ou que ela deixe de atender a qualquer exigência legal, inclusive as da legislação tributária e previdenciária. Havendo, por parte dele, alguma inconformidade com a redação feita pelo tabelião, ele não a declarará na escritura, mas não a assinará. Ela então não estará completa, e, pois, não produzirá efeito, pela falta de um requisito essencial, a assinatura do advogado”.

Assim, após praticados todos os atos necessários para a

formalização da escritura pública de inventário, deve comparecer o advogado, na

qualidade de assistente, devidamente qualificado e inscrito no órgão

representativo da classe, para assinar o documento lavrado pelo tabelião, sob

pena de lhe faltar as formalidades legais previstas.

O advogado, quando da lavratura da escritura pública de

inventário extrajudicial, participa do ato como assistente, exceto no caso em que

se faça representar por procuração pública com poderes específicos, qualquer

dos interessados que se encontre impossibilitado de comparecer pessoalmente.

Ressalta-se que a assistência independe de procuração,

bastando tão somente apresentação de credencial profissional.

Portanto, inexiste qualquer impedimento de cada parte ser

assistida por profissional de sua confiança.

Deve o advogado, por força da própria norma legal, inerente

ao inventário extrajudicial, prestar, da forma clara possível, todos os

esclarecimentos e orientação aos herdeiros para que se proceda à sua

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realização, por ser a maneira mais rápida de desburocratizar a realização do

procedimento que até então era feito somente na via judicial.

Assim, a função do advogado, na escritura pública de

inventário e partilha, é a mesma que este exerce na esfera judicial, em face de

que, além de orientar as partes de forma clara quanto a realização da partilha,

deve ele efetuar a avaliação dos bens junto à administração fazendária

competente, recolhendo os valores dos impostos devidos, a fim de que possa o

tabelião fazer constar no corpo do ato notarial, os recolhimentos devidos, que

devem ser apresentados anteriormente a lavratura da escritura.

Para João Roberto Parizatto79 ainda destaca:

“O advogado quem deverá redigir os termos da partilha, levando ao tabelionato tão-somente para a lavratura da escritura, de acordo com a vontade e o direito de seus clientes. Não, compete, portanto, ao tabelião elaborar a partilha dos bens, ficando tal função ao advogado”.

Desta forma, o advogado, na qualidade de assistente,

exerce todas as prerrogativas quanto a sua profissão para o bom andamento da

escritura pública de inventário, devendo, ao final, assinar juntamente com os

herdeiros, o ato notarial.

3.9. DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS DAS FAZENDAS DO MUNICÍPIO,

ESTADO E UNIÃO

Com relação aos débitos fiscais existentes em nome do

autor da herança, devem as partes interessadas apresentar para ao notário, as

certidões negativas fazendárias, cabendo ao tabelião a observância da existência

de débitos fiscais.

Caso não tenha sido observado pelo tabelião a existência de

débitos fiscais, a Corregedoria Geral de Justiça do Estado de Santa Catarina, com

a Circular n° 01/2007, estabelece que:

79 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.7.

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[...] 3. Não Será lavrada a escritura pública sem que as partes interessadas apresentem, conforme o caso: [...] 3.1. No inventário e partilha ou na sobrepartilha: [...] e) certidão ou informação negativa de dívida para com a Fazenda Pública;

Por sua vez e no mesmo sentido, estabelece o artigo 22 da

Resolução n° 35, do Conselho Nacional de Justiça:

“Art. 22. Na lavratura da escritura deverão ser apresentados os seguintes documentos: [...] g) – Certidão negativa de tributos”;

Frisa-se que em momento algum as normatizações

anteriormente citadas, fizeram qualquer referencia quanto às certidões positivas

com efeito de negativa, o que leva a concluir, que em face da explanação de

Normas Regulamentadoras e Procedimentais, que é vedado a escritura de

inventario e partilha de forma extrajudicial.

A quitação dos tributos fiscais é uma exigência legal que dá

a permissibilidade da realização do procedimento via extrajudicial, sendo

imperativo que se analise e se cumpra tal determinação.

Não apresentadas às certidões negativas, a via extrajudicial

fica prejudicada, sendo, portanto, a forma mais adequada, a realização do

inventário por via judicial.

3.10. SOBREPARTILHA POR ESCRITURA PÚBLICA

Inexiste qualquer norma contrária à lavratura da competente

escritura pública de sobrepartilha referente aos bens deixados fora da

inventariança.

Assim, dispõe o artigo 2.022 do Código Civil80 vigente:

Art. 2.022. Ficam sujeitos a sobrepartilha os bens sonegados e quaisquer outros bens da herança de que se tiver ciência após a partilha.

80 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 247.

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Desta forma, realizada a partilha, por meio de escritura

pública, e descobrindo-se a existência de algum bem depois de ultimada, realizar-

se-á a sobrepartilha, também por escritura pública.

Neste sentido, o artigo 25 da Resolução 35 do Conselho

Nacional de Justiça, assim discorre:

Art. 25. É admissível a sobrepartilha por escritura pública, ainda que referente a inventário e partilha judiciais já findos, mesmo que o herdeiro, hoje maior e capaz, fosse menor ou incapaz ao tempo do óbito ou do processo judicial.

No mesmo sentido, dispõe a Circular n° 01/2007, da

Corregedoria Geral de Justiça de Santa Catarina:

As Escrituras Públicas de Inventário e partilha, de separação e de divórcio – bem como, por extensão, de sobrepartilha e de restabelecimento de sociedade conjugal – poderão ser lavradas por qualquer tabelião ou escrivão de paz, independentemente do domicílio ou do local do óbito do autor da herança e da residência dos separandos ou divorciandos.

Ainda a respeito, Christiano Cassetari81, citando Francisco

José Cahali, dita:

“[...] a sobrepartilha também pode ser chamada de complementação da partilha, partilha adicional ou nova partilha, o que demonstra que a mesma poderá ser feita não só nas hipóteses do art. 1.040 do Código de Processo Civil, mas também quando for necessário dividir bens, que por qualquer motivo não tenham sido partilhados no inventário. Com isso, em razão da nova legislação autorizar o inventário extrajudicial, está, também, permitida a sobrepartilha por escritura pública”.

Desta forma, observa-se que mesmo após a realização do

inventário extrajudicial, descobrindo outros bens em nome do “de cujus” e que são

objetos de partilha, não impede que se faça a divisão destes bens, de forma

extrajudicial.

81 CASSETTARI, Christiano. Separação, Divórcio e Inventário por Escritura Pública. Teoria e Prática. São Paulo: Método. P.68.

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3.11. A GRATUIDADE DAS DESPESAS CONFORME A NORMA LEGAL

Está assegurada a gratuidade das despesas, inerentes a

lavratura da escritura pública de inventário, àqueles que se declararem pobres,

sob as penas da lei, e sem condições de arcarem com os pagamentos das

despesas sem que afetado seja o seu próprio sustento e de seus familiares,

conforme prevê a Lei.

O artigo 1.124-A, § 3º do Código de Processo Civil82,

acrescido pela Lei nº 11.441/07, aduz que “a escritura e demais atos notariais

serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei”.

Esclarecem ainda os artigos 6º e 7º da Resolução n° 35, de

2007, do Conselho Nacional de Justiça:

Art. 6° A gratuidade prevista na Lei n° 11.441/07 compreende as escrituras de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais. Art. 7° Para a obtenção da gratuidade de que trata a Lei n° 11.441/07, basta a simples declaração dos interessados de que não possuem condições de arcar com os emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por advogado constituído. Por sua vez, a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Santa Catarina, ao se posicionar nesse sentido, explana que o Estado ressarcirá os notários e registradores, conforme Circular n° 01/2007: [...] 9. Àqueles que se declararem pobres na forma da lei, os atos notariais e registrais serão gratuitos, assegurado aos notários e registradores, o ressarcimento na forma do Provimento n° 08/2006.

Ainda em referência a gratuidade, destaca-se que o mesmo

cabe aos interessados que não tenham condições financeiras de arcar com o

pagamento de honorários advocatícios, neste caso, deverá o tabelião orientá-los

no sentido de que procurem a Ordem dos Advogados do Brasil da cidade e

Comarca ou ainda que dirijam à Defensoria Pública do Estado, caso exista, para

que lhe seja nomeado um advogado dativo.

A gratuidade referida apenas se presta unicamente às

despesas com a escrituração, atos notariais e registro imobiliários, não se

estendendo aos impostos e tributos exigidos pelas legislações municipais,

82 Vade Mecum Universitário de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização. – 8.ed.- São Paulo:Rideel, 2010.- (Coleção de Leis Rideel) p. 337 e 338.

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estaduais e federais, em especial ao causa mortis e cessão dos bens no

inventário, devendo, portanto, os impostos fiscais, serem arcados pela parte.

3.12. DO LIMITE PARA A ABERTURA DO INVENTÁRIO E PARTILHA

O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro

de 60 (sessenta) dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12

(doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício ou a

requerimento da parte, isto é o que prevê o artigo 983 do CPC, com a alteração

trazida pela Lei nº 11.441/07.

Sobre o tema, nos traz João Roberto Parizatto83:

“O dispositivo em apreço se refere ao processo de inventário e partilha que deve ser aberto dentro de 60 (sessenta) dias contados do óbito que é quando ocorre a abertura da sucessão, tendo sido tal prazo prorrogado eis que antes era de trinta (30) dias. Quanto ao término previu-se um prazo de doze (12) meses, contados da abertura do inventário ou partilha. (...) Tem-se, ainda, que o juiz poderá prorrogar tal prazo de ofício ou atendendo-se a requerimento das partes, que justificarão o retardamento”.

E ainda, José da Silva Pacheco84, nos diz que:

“Devem o inventário e a partilha ser requeridos dentro de sessenta dias a contar da abertura da sucessão, isto é, do óbito do inventariado. Trata-se de prazo para os legitimados a fazê-lo. Se não o fizerem, o Juiz pode determinar, de ofício, que se inicie o inventário. É de doze meses o prazo para o encerramento do processo de inventário e partilha. Não se refere apenas ao inventário, mas ao processo, em que se fazem o inventário e a partilha. Começa a contar da data do início do respectivo processo e não da abertura da sucessão. São dois os termos iniciais previstos pelo art. 983 do Código de Processo Civil: um, o do falecimento do de cujus, para a instauração do processo de inventário e partilha; o outro, o do ajuizamento do requerimento de inventário, para a ultimação do respectivo processo.”

83 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.10. 84 PACHECO, José da Silva. Inventários e Partilhas na Sucessão Legítima e Testamentária. Revista e Atualizada. Rio de Janeiro: Forense. 2009. P. 447.

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Realizado o inventário e partilha por escritura pública,

observado os prazos estabelecidos no artigo mencionado, não acarretará sanção

judicial de qualquer natureza.

Sobre a não observação dos prazos estipulados em lei para

a abertura do inventário e partilha, assim explana Christiano Cassetari85:

“O prejuízo pela não observância do prazo, na maioria das vezes se restringia a sanções tributárias, onde o ITCMD – Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação – seria recolhido com multa. No prazo, segundo o art. 987 do Código de Processo Civil, poderia requerer a abertura do inventário a pessoa que esteja na posse ou administração do espólio. Passado o prazo, as pessoas descritas no art. 988 do mesmo diploma poderiam abri-lo e ser nomeado inventariante, como por exemplo, o credor do de cujus. Assim verifica-se que não era apenas tributária a sanção estabelecida pela não observância do prazo, mas também da possibilidade de, talvez, o herdeiro não poder exercer a inventariança”.

Caso as partes efetuem a abertura o inventário e partilha por

escritura pública, mesmo que fora do prazo legal, incorrerão apenas nas infrações

administrativas impostas pela Fazenda Estadual, competente para a arrecadação

do imposto causa mortis, qual seja, o recolhimento de multa sobre o valor do

imposto devido e não acarretará as partes, qualquer sanção judicial.

A Súmula 542 do STF dispõe sobre a penalização a ser

aplicada pela demora na abertura do inventário, afirmando que “Não é

inconstitucional a multa instituída pelo Estado-Membro, como sanção pelo

retardamento do início ou da ultimação do inventário”.

Desta maneira, mesmo que não sofra pena ao deixar de

abrir o inventário e partilha dentro do prazo, às partes caberá o pagamento da

multa a ser imposta pela Secretaria da Fazenda do Estado.

3.13. DA DIVISÃO DOS BENS DE FORMA AMIGÁVEL

O artigo 1.031, do Código de Processo Civil, alterado pelo

artigo 2° da Lei n° 11.441/07, referente à Partilha Amigável, dispõe que sendo os

85 CASSETTARI, Christiano. Separação, Divórcio e Inventário por Escritura Pública. Teoria e Prática. São Paulo: Método. P.56.

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herdeiros capazes, poderão fazer partilha amigável, por escritura pública, termo

nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz, como

assegura o artigo 2.015 do Código Civil vigente.

Na opinião de João Roberto Parizatto86:

“O dispositivo em apreço contempla a possibilidade de se fazer a partilha de forma amigável, através de escritura pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular firmado pelos herdeiros, mas esse procedimento depende de homologação judicial, que nada tem a ver com o procedimento da escritura pública. O que se permite aqui é que as partes que optem pela realização do inventário através do Poder Judiciário na forma preconizada pelo Código de Processo Civil, façam o procedimento mais ágil, utilizando-se de tais meios de partilha, mas que ficarão dependendo de homologação pelo juiz, nos autos do inventário”.

Ainda a esse respeito, Arnaldo Wald87, nos ensina que “A

partilha pode ser amigável ou judicial, podendo, também, decorrer de decisão do

de cujus antes de sua morte. Será amigável quando todos os herdeiros forem

capazes e houver acordo unânime entre eles”.

No escólio de Fredie Didier Jr 88:

“Há utilidade da jurisdição toda vez que o processo puder propiciar ao demandante o resultado favorável pretendido. A providência jurisdicional reputa-se útil na medida em que, por sua natureza, verdadeiramente se revele – sempre em tese – apta a tutelar, de maneira tão completa quanto possível, a situação jurídica do requerente”.

Desta forma, mesmo que sejam os herdeiros maiores,

capazes e concordes, mas optarem pela via judicial, dependerá de homologação

do Juiz a partilha proposta pelos interessados.

86 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.11. 87 WALD, Arnaldo. Direito das Sucessões. 12. ed. Rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002. P. 212. 88 DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael, Curso de Direito Processual Civil, vol. I, Bahia: Ed. Edições JusPodivm, 2008, p. 188)

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3.14. DO REGISTRO DA ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

A escritura pública de partilha amigável extrajudicial se

constitui em título próprio para o registro imobiliário nos precisos termos que

estabelece a Lei 11.441/07, que deu nova redação ao artigo 982, do Código de

Processo Civil.

No ensinamento de João Roberto Parizatto89:

“Logo, uma vez observadas as formalidades legais e concluída a escritura, será entregue uma via a cada um dos herdeiros para que esses providenciem o registro imobiliário, sendo o caso, daquilo que lhes ficou por direito e ajuste firmada em tal ato notarial, independentemente de qualquer outro ato judicial de homologação ou expedição de ofício autorizando ou solicitando o registro imobiliário. A própria escritura terá tal força, autorizando que o oficial proceda ao registro na forma previamente ajustada pelas partes e chancelada pelo tabelião de notas”.

Apesar da clareza da norma legal referida, há instituições,

entre elas as delegacias do DETRAN, bem como instituições financeiras e

companhias telefônicas, que podem alegar ser a Lei 11.441/07 aplicável apenas a

imóveis e assim negar o registro das alterações inerentes a partilha de veículos,

valores existentes em bancos e ações de companhias telefônicas.

As alegações daquelas instituições, não podem, sob

qualquer pretexto, serem acatadas em face de contrariar a norma legal vigente

que trata do inventário e respectiva partilha extrajudicial.

Este procedimento se equipara ao usual registro de escritura

pública de compra e venda, atendendo às normas da Lei de Registros Públicos-

LRP, Lei nº 6.015, de 31.12.1973, que dispõe acerca dos registros públicos.

Em face de tal circunstância, o Conselho Nacional de

Justiça90, objetivando alcançar-se a finalidade de Lei nº 11.441/07, por meio da

Resolução 35, em seu art. 3°, estabeleceu:

Art. 3° As escrituras públicas de inventário e partilha, separação e divórcio consensuais não dependem de homologação judicial e são títulos hábeis para o registro civil e o registro imobiliário, para a transferência de bens e direitos, bem como para a promoção de

89 PARIZATTO, João Roberto. Inventário-Partilha-Separação-Divórcio Extrajudicial e Judicial.

Edipa, 2007, p.6-7. 90 Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007. CNJ.

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todos os atos necessários à materialização das transferências de bens e levantamento de valores (DETRAN, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financeiras, companhias telefônicas, etc.

Assim, existindo nos inventários e partilhas abrangidos pela

Lei nº 11.441/07, bens móveis, valores em dinheiro depositados em contas

correntes, poupanças e/ou investimentos em nome do autor da herança, ações

também a ele pertencente, além de veículos e linhas telefônicas, poderão ser

devidamente inventariados e partilhados entre os herdeiros por meio da escritura

pública.

Dita situação foi muito bem observada pelo Egrégio

Conselho Nacional de Justiça, em face de ser defeso ao tabelião a expedição de

alvarás para aqueles fins.

Assim, a legalização dos bens deixados pelo autor da

herança após a sua morte, sendo todos os seus herdeiros maiores, capazes e

concordes, o meio mais apropriado e rápido, para a legalização do patrimônio, é

por meio de Escritura Pública de Inventário e Partilha.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia teve como primórdio o detalhamento da Lei

11.441 de 04 de Janeiro de 2007, que alterou a redação dos artigos 982, 983 e

1.031 do Código de Processo Civil e, ainda, acrescentou o artigo 1.024 A do

mesmo diploma legal, modificando especificamente no que se refere ao inventário

e a partilha extrajudicial.

A opção pelo tema pesquisado se dá pela grande mudança

no modo que vem sendo tratado o inventário e a partilha extrajudicial no contexto

nacional, de forma interessante e diversificada.

Com isso, buscando-se um desenvolvimento lógico e

sistemático do trabalho, dividiu-se a pesquisa em três capítulos.

O primeiro capítulo traz a noção básica do que é um

inventário e o que vem a ser a partilha do qual em suma, destaca-se que

inventário é o processo de descrição de direitos e deveres do autor da herança,

que se transmite instantaneamente, pelo princípio de origem germânica adotado

por nosso ordenamento jurídico que é o da saisine, que representa uma

apreensão possessória autorizada, para os herdeiros e sucessores do de cujus.

A partilha é a concretização do processo de inventário e se

constituí como sendo a descrição pormenorizada dos direitos e deveres do

falecido e sua conseqüente repartição entre todos os sucessores.

Vale mencionar que a partilha pode ser feita de forma

judicial e extrajudicial. A judicial é aquela que advém do processo de inventário

sempre que houver menores, incapazes e/ou a discordância entre os herdeiros. A

extrajudicial é a que resulta do acordo entre as partes maiores e civilmente

capazes.

Por sua vez, o segundo capítulo tratou das formalidades a

serem observadas e cumpridas pelas partes e a função essencial do tabelião

como agente apto à formalizar a intenção das pessoas como prestador de serviço

essencial à Justiça, o qual possui fé pública na prática de todos os seus atos.

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Via de conseqüência, o terceiro capítulo abordou a Lei

11.441/2007 de forma detalhada, seu processo e seu procedimento, bem como

suas regulamentações, levando a observar que o inventário e a partilha feita de

forma extrajudicial pode ser realizado em qualquer tabelionato brasileiro desde

que inexista testamento, menoridade e incapacidade entre os herdeiros. Devendo

ser observado que a anuência de todos os sucessores é pressuposto

imprescindível para a realização do ato quando a opção for a via extrajudicial.

Por fim, verifica-se que as hipóteses aventadas na pesquisa

foram confirmadas, senão vejamos:

1- Que os bens deixados por pessoa falecida, submetidos a

legislação vigente, deveriam ser regularizados mediante o inventário, advindo do

direito sucessório que disciplina a relação de transmissão causa mortis, assim,

necessário se faz, a transferência de bens, direitos e obrigações após o

falecimento do autor da herança, descrito na Carta Magna em seu artigo 5º

incisos XXX e XXXI, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXX - é garantido o direito de herança; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus".

Portanto, o direito sucessório, não é exceção, e sim regra

insculpida na Constituição Federal.

2- Os atos praticados pelo Tabelião na Escritura Pública

possuem previsão legal que confere total eficácia e legalidade, ademais, os

notários são verdadeiros colaboradores da justiça, cuja atividade notarial afirma a

eficácia do negócio jurídico uma vez que é dotada de presunção juris tamtum, a

fim de concretizar e validar a vontade das partes, desde que em consonância com

o ordenamento jurídico a que está submetido. Os notários estão submetidos ao

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princípio basilar do regime jurídico-administrativo que é o da legalidade. Como se

não bastasse, o artigo 3º da Lei 8935/94, Lei dos Cartórios, qualifica-os como

profissionais do direito, logo, têm eles o dever de conhecer os princípios e normas

atinentes a seu ofício e velar por ele.

Assim, a Escritura Pública de Inventário e Partilha

Extrajudicial possui eficácia, pois suas atribuições devem ser realizadas com

presteza e perfeição, exigindo resultados positivos e satisfatórios.

3- Os benefícios advindos da Lei nº 11.441/2007, ou seja,

inventario e partilha pelo procedimento Extrajudicial, traz com maior facilidade os

bens do de cujus à regularização, uma vez que torna simplificado o

processamento, evidenciado desta forma, que a Lei nº 11.441/07, é mais benéfica

ao procedimento do Inventário e Partilha administrativa, tendo em vista a

celeridade à legalização de patrimônio deixado por pessoa falecida, desde que

respeitado os requisitos essenciais, que são a capacidade civil, maioridade e a

concordância entre todos os herdeiros.

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