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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA AUTO-PERCEPÇÃO E A DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA DANIELA DE OLIVEIRA Itajaí, (SC) 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

AUTO-PERCEPÇÃO E A DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA

DANIELA DE OLIVEIRA

Itajaí, (SC) 2006

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DANIELA DE OLIVEIRA

AUTO-PERCEPÇÃO E A DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA

Monografia apresentada como requisito final para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientador: Prof. Maria Isabel do Nascimento – André.

Itajaí SC, 2006

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DEDICATÓRIA

A todas as pessoas que possuem algum tipo de deficiência,e aos

queridos idosos da unidade de P.P.Ds do Hospital São Pedro,

Pois apesar destas limitações físicas, mentais e/ou psicológicas,

Sabem demonstrar o que há de mais puro no Ser Humano:

A riqueza dos gestos, a beleza dos sorrisos, onde a comunicação

verbal, o ouvir, o não caminhar, não se mostram fazer falta,

Porque no final do dia, esse brilho nos olhos e esse sorriso

estampado no rosto bastam para mostrar que a felicidade acontece

nas mais pequenas demonstrações do desejo de viver.

“Lutar sempre, vencer as vezes, desistir nunca”.

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AGRADECIMENTOS

Tenho três palavras fortes para expressar meus agradecimentos:

FÉ – o que me motivou e me motiva e me dá forças todo dia para viver;

Obrigada meu Deus!

FAMÍLIA – a base de todos meus princípios, minha expressão, de minhas conquistas, é

nela que encontro o conforto e o amor incondicional;

Pai, mãe, Guga e Uta, Amo muito vocês! Muito obrigada!

AMIGOS – criticam e elogiam, estão do teu lado, são em muitos momentos,

companheiros, confidentes e realmente amigos.

Cris, obrigada pela companhia e por todo teu amor!Te amo!

Maria Isabel, obrigada pelo teu suporte, teu ensinar e tua paciência!

Josi e Frank, amigos para toda hora e todos os minutos do meu dia, muito obrigada!

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SUMARIO

RESUMO 07

1. INTRODUÇÃO 08

2. EMBASAMENTO TEORICO 11

2.1 Conceituando a Deficiência 11 2.2 Deficiência Física 13 2.3 Percepção da Sociedade sobre as pessoas com Def iciência Física 14 2.4 Aspectos Psicológicos envolvidos na realidade d a pessoa com Deficiência Física 15 2.5 Qualidade de Vida e Deficiência Física 19 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS 22

3.1 Sujeito 22 3.2 Instrumento 22 3.3 Coleta de Dados 23 3.4 Análise dos Dados 23 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÂO DOS RESULTADOS 25

4.1 Concepções 25 4.2 Auto-Reconhecimento 27 4.3 Percepção Social Pessoal 29 4.4 Percepção Social do Outro 33 4.5 Qualidade de Vida – Busca 35 4.6 Qualidade de Vida – Resultados 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

7 APÊNDICES 45

6.1 Apêndice A : Termo de Consentimento 46

6.2 Apêndice B : Roteiro de Entrevista 47

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AUTO-PERCEPÇÃO E A DEFICIÊNCIA FISICA ADQUIRIDA

Acadêmica: Daniela de Oliveira Orientador: Prof. Msc. Maria Isabel do Nascimento - André Defesa: junho de 2006.

Resumo: Esta monografia busca apresentar os aspectos psicológicos, sociais e biológicos envolvidos na realidade da pessoa que adquiriu uma deficiência física aos dezessete anos de idade, assim como, investigar, a partir da análise do discurso proposta por Richardson (1999), a compreensão deste sujeito de sua experiência de aquisição da deficiência e a expressão de suas percepções. De acordo com os objetivos propostos inicialmente, podemos concluir que foi possível alcançar o fundamento necessário através da entrevista deste sujeito, juntamente com sua análise, no momento em que o sujeito expressa questões instigantes que trazem uma nova visão sobre a deficiência física, além das estratégias deste para alcançar uma qualidade de vida, mostrando uma visão diferenciada da situação de adquirir uma deficiência. Ele traz questões referentes ao processo de aceitação de sua condição, envolvido pela busca do conhecimento de seu corpo, de suas necessidades e os momentos em que precisou entender e re-significar sua deficiência frente os pré-conceitos das pessoas, em especial, da família, pois de acordo com ele, a família tem um papel primordial para todo o processo de readaptação de um indivíduo dotado de potencialidades, onde as limitações puderam ser controladas a partir de um novo olhar sobre a vida e sobre a percepção do outro. Palavras-chave: deficiência física, psicologia, aut o-percepção. BANCA AVALIADORA:

_____________________________________ _________________________________ Márcia Aparecida Miranda de Oliveira, MSc Rosária Maria Fernandes da Silva, MSc

__________________________________________________ Maria Isabel do Nascimento-André, MSc

Orientadora

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1 INTRODUÇÃO

Na intenção de conceituar a Deficiência nas suas diferentes formas, Buscaglia

(1997) chama-nos a atenção no momento de nomear o portador de deficiência como

pessoa que apresenta uma deficiência no lugar de uma pessoa deficiente, pois crê que

a denominação correta afirma que o indivíduo é, em primeiro lugar, uma pessoa, e em

segundo, deficiente e que, a deficiência é mais um aspecto médico e pode ou não vir

associada a uma incapacidade, não sendo um ser incapaz ou deficiente.

Ao pensarmos na pessoa com uma ou mais deficiências, seja ela física,

sensoperceptiva ou mental/intelectual, devemos levantar alguns fatores influenciadores

na sua condição, como os fatores biológicos e orgânicos, onde entram as questões

genéticas e de nascimento que predispõem a pessoa a algum tipo de limitação, como

por exemplo: as doenças infecciosas durante a gestação que podem ocasionar mal-

formações congênitas no bebê ou o manuseio inapropriado no momento do parto, entre

outras.

Destaca-se outro fator de alta relevância: o social, onde podemos pensar de que

forma essa pessoa com necessidades especiais é inserida na sociedade e o que ela

constrói, a partir disso em termos de subjetividade, pois isto está intimamente ligado ao

fato de que, em nossa cultura, a palavra “deficiente”1 tem um significado muito marcado

e estigmatizante, fazendo com que os indivíduos tentem fugir dessa categoria, onde a

aparência de normalidade ou a invisibilidade do desvio em relação à norma são o

principal elemento de inclusão ou exclusão.

1 O termo “deficiente” está entre aspas, pois sua designação acaba por levar o leitor à sensação de faltar algo, o que na verdade é relativo. Então, prefiro utilizar-me do termo pessoa com deficiência.

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No momento em que o indivíduo, independente de possuir alguma deficiência ou

não, tem o seu primeiro contato com o outro, neste caso, o Social, lhe são asseguradas

bases para confiança no meio e para as primeiras experiências relacionadas com este,

onde a comunicação e a linguagem ocuparão um lugar de destaque.

Portanto, a natureza do estigma2 da pessoa com deficiência não é meramente

física, ao contrário, um estigma que pode ser físico, é, também, moral e constitui-se

numa marca socialmente imposta por uma sociedade que categoriza em qual grupo a

pessoa pertencerá. Assim, se estabelece uma identidade social, além de um “status

social” fruto de expectativas normativas (GOFFMAN, 1982, p. 12).

É imprescindível analisarmos também, além dos fatores biológicos e sociais

envolvidos na deficiência, a instituição de base Família, onde se estabelecem as

relações e as percepções dos pais e irmãos da pessoa com deficiência. A maneira

como a família lida com a deficiência, irá influenciar, positivamente ou negativamente,

sob diversas formas, no comportamento e na construção da subjetividade da pessoa

com necessidade especial.

E, por último, e não menos importante, existe o fator psicológico onde as bases

da construção da personalidade se apóiam, pois se sabe que, o ser humano, desde o

nascimento, desenvolve olhares sobre si baseados no social, e ao longo de seu

desenvolvimento, molda-se, delineia-se, não com a finalidade de descrever-se, mas de

observar, ouvir e reunir todas as informações obtidas de seu relacionamento com o

outro, permitindo assim, a construção de sua auto-imagem, de sua personalidade,

formas de pensar, sentir e perceber a si mesmo e ao mundo.

Então, neste instante, é importante observar como o psicólogo e a pessoa com

necessidades especiais percebem a deficiência, para, então, ser pensada a

possibilidade de uma intervenção adequada, tendo em vista que estes aspectos podem

interferir no processo de acompanhamento desta pessoa, ou seja, essa intervenção

pode vir a afetar o profissional em diversos níveis, como na percepção do objeto, no

2 Referente um atributo depreciativo, confirmando ao indivíduo sua normalidade ou anormalidade (FELTRIN; LIZARAU, 1990, p.10).

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campo do conhecimento, na área das emoções e afetos e no nível das fantasias

inconscientes.

Com isso, Amiralian (1997) cita que o trabalho proposto às pessoas com

deficiência física não se restringe à recuperação das funções prejudicadas, até porque

a deficiência não pode ser considerada como causa da manifestação das perturbações

psíquicas, e sim como condição dificultadora das interações sociais. É importante,

segundo ele, que ocorra a organização de outras bases de interação com o mundo, a

partir da compreensão da interferência da limitação física ou cognitiva no sujeito que a

possui e naqueles com quem ele se relaciona.

Portanto, independente da forma como o indivíduo adquiriu e qual sua

deficiência, faz-se importante pensar como poderíamos contribuir, enquanto

profissionais da área da saúde, na promoção de informação à população e à

comunidade acadêmica em questão, acerca da Deficiência, em especial neste TCC a

Deficiência Física Adquirida, trazendo questões relacionadas a auto-percepção da

pessoa com a deficiência, formas de lidar, o reconhecimento de como foi para essas

pessoas adquirirem uma deficiência física em diferentes fases de seu ciclo evolutivo e

quais os recursos utilizados por elas para enfrentarem a nova situação, visto que, em

cada fase, podem existir aspectos críticos que serão afetados.

Pensando nos benefícios desta pesquisa para o sujeito (população) observado,

podemos mencionar o fato de que esta proporcionou uma melhor qualidade de vida a

este sujeito, já que a pesquisa auxiliou-o no auto-reconhecimento psicológico. Já, no

referente aos benefícios científicos, esta pesquisa permitiu suporte teórico acerca da

deficiência física aos interessados em compreender as possíveis interferências

advindas da limitação física no sujeito e em suas relações.

Então, o propósito deste TCC foi de investigar, embasado teoricamente, como

uma pessoa com deficiência física adquirida vê sua deficiência e como é vista pela

sociedade, já que, acabou ficando limitada em alguma função motora, e já precisa

desenvolver todo um processo de elaboração da nova situação adquirida perante um

imprevisto da vida, possibilitando a ela uma nova visão de si própria e uma melhor

qualidade de vida, ou melhor, de inter-relações pessoais – sociais -, entre outras.

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2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 Conceituando a Deficiência

O tema deficiência vem acompanhando a humanidade desde os

primórdios da civilização e ao longo do tempo foram sendo enfatizados diferentes

aspectos, de acordo com o momento histórico e sócio-cultural em que a questão da

deficiência se situava, então se torna interessante fazer um breve resgate teórico do

tema (CANTARELI, 1998).

Na Antiguidade Clássica, Silva (1987)3 apud Cantareli (1991), comenta que as

pessoas com necessidades especiais, doentes e idosos recebiam dois tipos de

reconhecimento e de tratamento: de aceitação e apoio e/ou de eliminação e

menosprezo ou destruição, pois num tempo onde à sobrevivência era a partir da caça e

da pesca, pessoas com dificuldades colocariam em risco todo o restante do grupo,

sendo abandonados, então, todos que impedissem este processo.

Já, para os Hebreus, a punição às atitudes erradas era a amputação dos

membros, constituindo-se, portanto, a deficiência física como sinal de pureza e pecado.

Com o Cristianismo, na Idade Média, a situação de deficiência era associada ao

demoníaco, onde o medo do desconhecido e a ausência de explicação científica faziam

com que as pessoas vissem um corpo doente com uma mente doente e perturbada

(FELTRIN; LAZARAU, 1990).

Já no Brasil, Bueno (1993)4 e Carmo (1991)5 (apud Cantareli, 1998) descrevem

que nos períodos colonial e imperial era raro encontrar, entre os índios, anomalias, pois

de acordo com suas crenças, as crianças nascidas com alguma deficiência congênita

deveriam ser sacrificadas pelos pais após o nascimento. Com a evolução científica e

3 SILVA, Otto M. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e hoje. São Paulo: Cedas, 1987. 4 BUENO, José Geraldo S. Educação Especial Brasileira: integração/segregação do aluno diferente. São Paulo: Educ, 1993.

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tecnológica, o marco do surgimento de instituições em prol das pessoas com deficiência

física no Brasil deu-se somente a partir de 1931 com a criação de algumas entidades

que os acolhiam.

Após uma breve retomada histórica acerca da Deficiência, é interessante

entendermos seu conceito, onde consideramos a pessoa com deficiência, como aquela

que apresenta uma condição permanente de perda ou anormalidade de sua estrutura

fisiológica, psicológica e/ou anatômica, contribuindo, assim, para um déficit ou

comprometimento no desempenho de atividades funcionais, sendo necessários

programas de educação especial em torno da mobilidade e da vitalidade física e mental

(CARVALHO e PRUDENTE et al, 1998).

A Organização Mundial da Saúde –OMS – (1989, apud Carvalho, 1998) nos

propõe pensarmos na importância de se estabelecer uma distinção entre as palavras

deficiência, incapacidade e desvantagem, sendo que a primeira, ao ser citada, remete-

nos às duas últimas, mas que não as tomemos como complementares, pois a palavra

incapacidade surge da não capacidade em realizar uma ação considerada normal

dentro dos padrões aceitos pela sociedade e a desvantagem entraria como uma

condição de impedimento do desempenho das atividades consideradas normais,

levando em consideração a idade, o gênero e os fatores sócio-culturais.

Cada um destes conceitos refere-se a um nível específico de situações

resultantes de uma limitação, onde a diferença entre eles é: que a deficiência diz

respeito a uma disfunção referente ao órgão; a incapacidade estaria relacionada ao

desempenho funcional do indivíduo; e a desvantagem, por fim, mostra-se como o

resultado da interação e adaptação do indivíduo com seu meio (O.M.S., 1989, apud

MARTINS e MAZZOTTA, 2002).

Mazzotta (1997 apud Araújo, 2002) procura conceituar a deficiência como os

impedimentos visuais, auditivos, mentais e motores. São inúmeras as modalidades de

deficiência, pois devemos considerar suas origens endógenas e exógenas, ou,

5 CARMO, Apolônio Abadio do. Deficiência Física: a sociedade cria, “recupera” e discrimina. Brasília: Secretaria do Desporto, 1991.

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congênita e adquirida, podendo ser classificada em deficiência física, mental ou

audiovisual (BUSCAGLIA, 1997).

2.2 Deficiência Física

Dentro da conceituação específica da deficiência física encontramos importantes

contribuições como a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (s.d), que

descreve que a presença da deficiência física se dá quando a pessoa possui a

condição de paralisia permanente total ou paralisia permanente das pernas ou paralisia

permanente de um dos lados do corpo e/ou falta de alguma das seguintes partes do

corpo: perna, braço, mão, pé ou dedo polegar. De acordo com o Censo 2000 - IBGE,

24,5 milhões de brasileiros (14,5% da população) apresentam algum tipo de deficiência

(www. Ibge. Gov. Br/deficiencia).

O Decreto-lei nº3. 298, de 20 de dezembro de 1999, que dispõe sobre a Política

Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, citado em Martins e

Mazzotta (2002), classifica a deficiência física como uma alteração parcial ou total de

uma ou mais partes do corpo, gerando conseqüências na função física como:

paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,

triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputações ou ausência de membros, paralisia

cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades

estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho funcional do

indivíduo.

A estas alterações no corpo, referentes à condição da deficiência física, citadas

acima, a O.M.S. (1989 apud Carvalho e Prudente et al, 1998) acrescenta a distrofia

muscular, a epilepsia, a asma, a febre reumática e o diabetes.

Uma característica física só é considerada uma incapacidade física quando é

uma barreira significativa à execução de determinadas ações. Então, uma deficiência

física pode ou não representar uma incapacidade quando afeta, de modo negativo, as

relações sociais (WRIGHT, 1960 apud BUSCAGLIA, 1997).

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2.3 Percepções da sociedade sobre as pessoas com de ficiência física

Para Buscaglia (1997), sociologicamente, a família é definida como um sistema

social pequeno e interdependente onde cada componente tem seus papéis definidos,

regras estabelecidas em comum acordo e seus próprios valores. Já no momento em

que ocorre um evento de impacto, a família terá de redefinir seus papéis e aprender

novos valores e padrões de comportamento, com a finalidade de se ajustarem ao novo

estilo de vida, ou seja, a família deverá ser reestruturada e isso dependerá do grau de

intimidade dos componentes desta família e a profundidade das reações emocionais

envolvidas.

Sabemos que uma criança que nasce com uma deficiência e/ou um adulto que a

adquire serão limitados por esta, mas, não tanto quanto serão limitados pela atitude da

sociedade, pois é ela que definirá a deficiência como uma incapacidade e o indivíduo

que sofrerá em conseqüência desta definição.

Pensando na questão cultural, onde se constroem idéias acerca da deficiência

física, Buscaglia (1997) busca mostrar a associação que é feita pela sociedade, da

deficiência física com os adjetivos: feio, estranho, torto e diferente, cultivada desde os

filmes de terror antigos e até mesmo atuais, onde os rostos eram distorcidos, os pés

tortos, as mãos atrofiadas, enfim, constituindo-se em padrões de beleza e de

imperfeição ligados a deformidades físicas ou defeitos físicos.

E, por fim, a família, entendida como o primeiro grupo social da pessoa com

deficiência, encontrará dificuldades e necessitará de mudanças, a fim de adaptar-se a

situação de possuir um de seus membros com alguma deficiência física. Torna-se

necessário, portanto, lidar com a incerteza, o sofrimento e o medo, pois cada um de

seus componentes ocupa um lugar neste ambiente de papéis, e tenderão a dois

caminhos: desorganização, ruptura, ou, organização, união e fortalecimento

(AMIRALIAN, 1997).

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Carvalho e Prudente et al (1998) crêem que “um grande complicador na atenção

à pessoa com deficiência é a desinformação” (p.13). Elas se referem à desinformação

social, que incluem as necessidades, possibilidades e direitos das pessoas com

deficiência, gerando disto, o preconceito, a segregação e a exclusão destas pessoas.

Então, torna-se viável que existam serviços de atendimento e de assistência a essa

parcela da população a fim de possibilitar a conscientização social, e,

conseqüentemente, a inclusão social.

2.4 Aspectos Psicológicos envolvidos na realidade d a pessoa com Deficiência

Física

Merleau-Ponty (1971) fala do corpo como unidade máxima de representação do

ser humano, onde, por este motivo, adquire importância para toda a vida e cultura. O

corpo é o primeiro dos objetos culturais, o portador dos comportamentos e toda

percepção exterior é imediatamente sinônimo de certa percepção do corpo, como toda

percepção do corpo se explicita na linguagem da percepção exterior.

A construção da personalidade e da auto-imagem de uma criança com

deficiência física depende, de certo modo, das atitudes de outras pessoas em relação a

ela. Neste momento podemos trazer a importante contribuição de Manoni (1999. p.2),

quando esta se refere aos sentimentos e atitudes dos pais com relação à criança

deficiente, onde crê que a relação de mãe-filho terá sempre “um ressaibo de morte, de

morte negada, disfarçada a maior parte das vezes em amor sublime, algumas vezes em

indiferença patológica, outras vezes em recusa consciente (...)”.

De acordo com a autora, o nascimento de um filho para a mãe representa a

recompensa ou a repetição de sua própria infância, e esta realizará todos seus desejos

faltantes nele. Esse filho dos sonhos (grifo nosso) tem por missão reparar o que no

passado da mãe foi deficiente e falho e, então, a partir do momento em que esta

criança idealizada vem ao mundo “doente”, há na mãe, um choque unido a sensações

fóbicas e de angústia que fazem renascer traumatismos e insatisfações passadas por

ela no passado.

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Quando Buscaglia (1997) diz que: “o modo como a criança deficiente será aceita

na família e o resultante clima emocional dependerão, em grande parte, da explicação

inicial” (p. 85), é onde o autor explica que as reações demonstradas pela mãe da

criança com deficiência, servirão de modelo para o pai e irmãos seguirem as mesmas

atitudes, além de apontar que o modo como a família enfrentou problemas sérios no

passado está diretamente ligado ao modo como lidará com novos problemas, ou seja,

as reações maternas ligadas às experiências passadas influenciam na aceitação ou

rejeição deste novo membro ‘deficiente’ (grifo nosso).

Roja (2003) menciona, em seus textos, que a agitação psíquica presente nas

relações parentais oriundas do nascimento de uma criança com necessidades

especiais, é, geralmente, representada por comportamentos depressivos por parte da

mãe que, conectada com a problemática do filho, empobrece sua vinculação com ele e

desfavorece a qualidade das respostas possíveis a este, o que intensifica o seu

desânimo e tristeza (www.autismo-congress.net/familia.html).

Pensando nos sentimentos maternos envolvidos na relação mamãe-bebê,

Winnicott (1993) fala da Relação Invasiva, descrevendo-a como uma falha na função

materna, manifestada pela atitude da mãe que impõe seu próprio gesto e carências ao

gesto do bebê, não sabendo reconhecer as autênticas necessidades deste. Esta

adaptação falha pode resultar no desenvolvimento de um falso self6, uma técnica

adaptativa do bebê diante das falhas da mãe em reconhecer suas reais necessidades.

Para a grande maioria dos pais de pessoas consideradas inválidas, a condição

de seus filhos envolve uma experiência um tanto difícil e dolorosa, pois

inconscientemente7, querem um filho perfeito. Já que a realidade se faz presente de

outra forma, esses pais fazem o uso de recursos neuróticos – mecanismos de defesa8 -

a adotar atitudes realistas. Ás vezes, tais sentimentos de incapacidade e culpa são tão

profundos nestes pais, que impedem a evolução de sentimentos de carinho e amor,

6 Falso Self/Verdadeiro Self: distinção estabelecida por D.W.Winnicott, referente ao desenvolvimento da criança. Para Winnicott, o eu do lactente é orientado para um estado no qual as exigências instintivas parecem fazer parte do ‘self’ e não do ambiente (CHEMANA, 1995, p.194). 7 Estado de conteúdo ausente, em um dado momento da consciência, que está no centro da teoria psicanalítica (CHEMANA, 1995, p. 106).

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sendo que isso influenciará na atenção emocional de uma geração à outra

(www.paho.org)9.

De acordo com o mesmo texto extraído do site acima, o sentimento de medo é

um dos principais sentimentos responsáveis pelo mecanismo de defesa negação e,

conseqüentemente, da projeção, onde estes pais, muitas vezes, irão culpar (projetar) o

meio ambiente, os médicos, o cônjuge. Outro mecanismo observado é o de

racionalização, onde a situação de filho limitado parece não ter uma conotação forte, no

momento em que eles encaram o seu caso como um entre muitos, ou mostram-se

despreocupados, isto é, uma racionalização típica de mães que apresentam

possibilidades de experiência emocional e intelectual limitada.

Em se falando de prevenção e busca de qualidade de vida para os sujeitos

envolvidos no processo da deficiência, Carvalho e Prudente et al (1998) dizem que as

pessoas com a deficiência e suas famílias geralmente não acessam muitas informações

a respeito da deficiência, o que acaba por não mobilizá-las na busca de serviços de

diagnóstico, de educação, de habilitação e reabilitação. Assim, a escuta, a informação

ampla e aconselhamentos são de fundamental importância para inserir estas famílias e

as pessoas com deficiência no movimento de inclusão e de proteção.

A fonte do progresso é processo maturacional inato do indivíduo, que pode ser

facilitada pelo ambiente. Se este não for bom o suficiente, o processo maturacional se

enfraquece ou se interrompe. Portanto, a dependência do indivíduo em relação ao

ambiente varia de acordo com a força e a estrutura do seu ego, e, então, chega um

período no qual a criança torna-se capaz de perceber quem é e de conter as pressões

e os estresses gerados na realidade psíquica interna e a criança torna-se capaz de se

sentir deprimida (WINNICOTT, 1999).

As teorias psicanalíticas acreditam que a deficiência quase sempre tem algum

efeito sobre a personalidade se adquirida na infância precoce, depois disso não

8 Operação pela qual um sujeito, confrontado com uma representação insuportável, recalca-a, por falta de meios de ligá-la através de um trabalho de pensamento, a outros pensamentos (CHEMANA, 1995, p. 38). 9 Este site apresentou uma matéria sobre aspectos psicológicos da família da pessoa com deficiência, porém não especifica a data da publicação e nem o autor, mas suas idéias auxiliam a elucidação teórica sobre o tema.

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ocorreria uma mudança substancial. Segundo Aloisi e Lipp (1988), a imagem corporal

seria um dos primeiros estágios na formação do autoconceito.

Na infância, pode haver alterações no processo de aprendizagem, na

adolescência podem ocorrer interferências no processo de aquisição da identidade, na

busca vocacional, na redescoberta do corpo e da sexualidade; na vida adulta as

relações profissionais, intimidade do casal, planejamento da gravidez e a criação dos

filhos. A velhice é uma fase propensa a várias doenças, que resultam em incapacitação,

que limitam a vida relacional e as atividades do cotidiano (KOVÁCS, 1997).

Para Buscaglia (1997), na primeira infância é importante o trabalho voltado para

a interação da criança com seus pais e irmãos, além da estimulação de uma relação

social saudável, através da orientação dos pais. A segunda infância inclui a

escolaridade e a socialização, onde as diferenças físicas começam a aparecer entre as

crianças, e as exigências quanto as suas capacidades também. Então cabe aos pais

fortalecer as crianças quanto suas potencialidades e limitações.

Já na adolescência, a aceitação por parte do grupo e a identificação, tornam-se

mais difíceis às pessoas com deficiência, seja por sua sensação de incapacidade de

relacionar-se normalmente, seja pelo preconceito expressado por atitudes excludentes

dos grupos. Junto a isso, afloram os impulsos sexuais e as características sexuais

secundárias que são, muitas vezes, impedidas de concretização devido as suas

limitações, então são expressas nessa fase ações agressivas de rebeldia pela não

capacidade de satisfazer-se plenamente (BUSCAGLIA, 1997).

Na idade adulta, as necessidades de orientação e aconselhamento irão

depender das oportunidades educacionais, da aptidão vocacional, da personalidade e

da adaptação social. Nesta etapa surgem pensamentos quanto à independência

financeira e pessoal, construção familiar e a busca do par ideal, e isso terá um impacto

maior para a pessoa com deficiência, pelo preconceito sofrido. Portanto, o

aconselhamento e a orientação à pessoa com deficiência física, implicam num processo

por toda a vida, seguido do apoio, compreensão e encorajamento constante por parte

dos envolvidos na busca da qualidade de vida destes (BUSCAGLIA, 1997).

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Associada às fases do desenvolvimento humano, a deficiência física adquirida,

em função de diversas situações como: acidentes, doenças, ou pelo avanço da idade,

pode ser vivenciada como uma “morte em vida” (p.96), pois, de acordo com Kovács

(1997),a perda de um movimento, um desfiguramento, alterarão a potencialidade do

sujeito, tanto na sua vida pessoal/afetiva quanto profissional.

Ela cita a seqüência das fases relacionadas à perda, baseada em Kluber-Ross

(1969 apud Kovács, 1997), como: o choque, que é o momento em que a pessoa fica

anestesiada, sem reação; a negação, onde a pessoa reage como se o ocorrido não

fosse com ela, sendo um processo inconsciente, utilizado como mecanismo de defesa e

necessário para este processo de aceitação da nova situação instalada; a raiva, onde a

pessoa tenta atribuir a culpa a alguém pela sua situação; a barganha, que aparece

como uma proposta de mudança de vida, de hábitos, em troca de sua ‘melhora’;

depressão, como processo da compreensão real da perda; e, por fim, a aceitação, onde

aparece a possibilidade do sujeito de conviver com sua deficiência, limitações,

potencialidades, integrando-se a vida.

Estes processos descritos por Kovács (1997) são também descritos por outros

autores como Buscaglia (1997), Manoni (1999), Winnicott (1999), com diferentes

denominações, porém são considerados normais ao processo de elaboração do

indivíduo frente à perda de uma função ou membro. Então, torna-se necessário

observar o período e intensidade de duração de cada fase, pois a estagnação em uma

delas, pode acarretar em conseqüências sérias na vida psicológica e social do

indivíduo.

2.5 Qualidade de Vida e Deficiência Física

De acordo com Amiralian (1997), o psicólogo vê-se, muitas vezes, frente

situações as quais não sabe como lidar, assim como surgem dúvidas freqüentes quanto

aos princípios básicos de intervenção psicológica, além do substrato teórico e prático

que sustenta o atendimento psicológico em suas várias linhas de atividade.

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Neste instante se originam questionamentos freqüentes como: “Existem

peculiaridades neste atendimento?” “Quais são as diferenças entre esse atendimento e

os prestados às pessoas sem deficiência física (...)?” E por fim, “Existem procedimentos

de intervenção psicológica específica para o atendimento dessas pessoas?”

(AMIRALIAN, 1997, p.32).

Tratando-se de deficiência física, torna-se necessário entender como o psicólogo

e o ‘deficiente’ percebem a deficiência, para que se consiga desenvolver uma

intervenção adequada, tendo em vista que estes aspectos podem interferir no processo

de acompanhamento desta pessoa. Esta intervenção pode vir a afetar o profissional em

vários níveis, como: na percepção do objeto, no campo do conhecimento, na área das

emoções e afetos e no nível das fantasias inconscientes (CARVALHO, 1998).

O trabalho assistencial com pessoas com deficiência, no seu sentido mais amplo

e mais humano, constitui-se num processo multidisciplinar de reabilitação, cujo objetivo

é o de ajudá-los, juntamente com suas famílias, na obtenção dos ajustes mentais,

físicos e emocionais com os quais se defrontam, permitindo-lhes a aquisição da

esperança, da compreensão e da força de sentirem-se sujeitos contempladores da

auto-realização (BUSGAGLIA, 1997).

Para Kovács (1997), a Qualidade de Vida envolve, entre muitos fatores

subjetivos, a clareza na comunicação entre seres humanos, à dignidade, o respeito, a

autonomia e o controle sobre a própria vida. Portanto, é importante observar o quanto à

comunicação é necessária e fica alterada quando surge uma crise – no caso, a

deficiência, e cabe ao profissional da saúde comunicar a pessoa sobre sua deficiência

de forma que fique claro para ela os recursos necessários e o processo de adaptação a

partir dessa nova condição.

Cantareli (1998), traz sua contribuição sobre o trabalho e a qualidade de vida da

pessoa com necessidades especiais, onde cita que:

É através do trabalho que são garantidas ao P.P.D. as satisfações de várias necessidades como: a auto-valorização, o desenvolvimento de potencialidades, a auto-estima, independência econômica, além de poderem experienciar a sensação de aceitação e pertencimento ao grupo (p.52).

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A autora também comenta que a privação do trabalho, seja pela situação de

desemprego ou da aposentadoria, também se dá pela situação da deficiência, gerando

na pessoa com deficiência, mais uma vez, o sentimento de inferioridade perante sua

família e de improdutividade perante a sociedade, pois no momento em que não se

produz e não se consome, deixa de ser visto como cidadão, ficando marginalizado pela

sociedade (CANTARELI, 1998).

Atualmente, já existem leis que amparam as pessoas com necessidades

especiais e que contribuem para a inserção destes no mercado de trabalho, descritas

pela autora como leis que proporcionam a habilitação e reabilitação profissional e trata

da reserva de mercado, ou seja, 2 à 5% das vagas em empresas privadas, além da

regulamentação do estágio educacional laborativo e a reserva de vagas em concursos

públicos estaduais, devem ser destinadas à este público.

Da mesma forma, existem leis que amparam a pessoa com necessidades

especiais no que diz respeito ao âmbito Educacional, baseado na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, de 20/12/1996, citada em Tudella (2002), que dão a pessoa o

direito de inclusão no ensino regular, bem como descreve que a qualificação docente

deve permear a capacitação e preparação técnica, objetivando a diminuição gradativa

da exclusão escolar dos alunos com necessidades especiais.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 Sujeito

O sujeito escolhido para a realização desta pesquisa é do sexo feminino, possui

34 anos de idade e adquiriu a deficiência física (modalidade paraplegia) oriunda de uma

lesão medular causada por um acidente de arma de fogo, sendo que possuía na época,

16 anos de idade.

Referente a sua ocupação, o sujeito encontra-se na fase de conclusão do ensino

superior, atua diretamente com grupos de pessoas que nasceram ou adquiriram algum

tipo de deficiência física aliado a uma profissão em um órgão público de sua cidade.

No que diz respeito a sua vida pessoal, possui um companheiro e um filho de 17

anos que foi concebido após a aquisição da deficiência física. Portanto, são 17 anos de

convivência com a deficiência física e todos seus aspectos, estando ativa nas questões

sociais envolvidas no tema Deficiência.

3.2 Instrumento

Para a construção deste TCC, foi realizada uma pesquisa de base qualitativa,

através da entrevista semi-estruturada. Neste tipo de entrevista, o sujeito fala livremente

sobre o tema em pauta, limitado, porém, ao roteiro de questões pontuadas durante a

entrevista. Para Minayo (1998), a fala permite que o sujeito expresse seus valores e

condições estruturais e culturais.

A entrevista é vista como uma forma de obter dados para determinada

investigação, representada por uma interação social entre investigador (pesquisador) e

investigado (pesquisado) e, é considerada técnica qualitativa importante, pois dá

acesso ao pesquisador de dados de realidade e subjetivos, além do acúmulo teórico

que possui como base de sua pesquisa (MINAYO, 1998).

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O roteiro de entrevista dessa pesquisa contou com questões que tiveram como

objetivo investigar pontos como: percepção pessoal, social e afetiva, pré-concepçoes,

auto-reconhecimento, estratégias utilizadas para obter qualidade de vida, etc, que, de

acordo com Kóvacs (1997), implica no uso de recursos a fim de preservar a integridade

somática e psíquica, frente uma necessidade de adaptação.

3.3 Coleta dos Dados

Os dados foram coletados através da entrevista semi-estruturada, que foi

marcada com antecedência com a pessoa. Foram utilizados recursos como o gravador,

o roteiro de entrevista (Apêndice 1) e o termo de consentimento.

A entrevista teve por objetivo, colher as respectivas informações que tiveram

relevância para a construção deste TCC. O tempo de duração da entrevista foi de três

horas.

Os dados do sujeito foram cuidadosamente protegidos ao longo do processo e

da análise dos dados.

3.4 Análise dos Dados

O modelo de análise dos dados utilizado nesta pesquisa foi o da Análise de

Conteúdo, que, para Richardson (1999) envolve primeiramente a leitura do material

coletado qualitativamente, para posterior análise das falas extraídas da entrevista.

A Análise de Conteúdo é uma técnica de pesquisa que envolve: objetividade das

regras e procedimentos utilizados em cada fase da análise e a sistematização do

conteúdo através de sua seleção, tendo em vista os propósitos deste trabalho.

O autor descreve as fases nas quais a análise de conteúdo se organiza, como: a

pré-análise onde as idéias são organizadas e sistematizadas; a análise do material, que

é a mais demorada e detalhada; e a fase final de inferências, interpretações dos

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resultados, onde as idéias acabam por serem codificadas em três etapas (determinação

das unidades de registro, escolha das regras de numeração e definição das categorias

de análise).

Portanto, neste trabalho final de Graduação, a análise do conteúdo se deu

através da categorização das falas extraídas a partir da entrevista com o sujeito,

constituindo-se na análise temática, que permitiu separar determinados pontos do texto

e aproveitá-los de acordo com o tema pesquisado, permitindo, assim, a comparação

com todo o material bibliográfico disponível.

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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

A apresentação dos resultados busca a análise da entrevista de um sujeito com

deficiência física. A descrição de sua fala será fundamentada em autores que

comentam sobre a questão da deficiência e dos seus diferentes impactos, e percepções

psicológicas seguidas pela interpretação da pesquisadora sobre os dados

apresentados. Esta análise foi dividida em categorias, tais como: Concepções, Auto-

Reconhecimento, Percepção Social Pessoal, Percepção Social do Outro, Qualidade de

Vida – Busca e Qualidade de Vida – Resultados facilitando o entendimento do leitor.

4.1 CONCEPÇÕES

Esta categoria busca, a partir da fala do sujeito, a concepção deste quanto a

Deficiência e os sentimentos dele com relação a sua própria situação atual.

Busca identificar qual a percepção da pessoa frente a perda de um membro ou

função, relacionadas a questão do corpo perfeito, da vaidade, da quebra do ideal de

corpo sadio/doente, da negação e/ou aceitação. Esta categoria busca, também, agrupar

algumas definições relativas à Deficiência, trazidas a partir da transcrição literal da fala

do sujeito entrevistado.

As reações frente à deficiência dependem, em parte, de quando e como

aconteceu, além de uma série de outros fatores do sujeito e do seu meio (VASH, 1988).

“(...) A criança, eu acho que a criança é mais fácil, ela é despida de todo e

qualquer tipo de preconceito, então, quando tu vê uma criança com deficiência

em convívio com outras crianças, ela é muito bem aceita”.

Ao crescermos, nossos critérios pessoais para perfeição mudam e podem ou não

estar de acordo com a cultura a qual pertencemos, influenciados muitas vezes, pelas

expectativas sociais, e nisto a criança chega num meio cheio de expectativas, porém

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ela já saberá de que forma proceder e que esforços deve ter para executar seus

movimentos básicos, sem qualquer pré-informação (BUSCAGLIA, 1997).

“(...) hoje ser deficiente físico, na minha concepção, é ter um horizonte maior

(...) ser deficiente é completamente o contrário de ser incapaz, é ter

possibilidade de descobrir pontos de vista a partir de pontos de vista bem mais

sensível e bem mais interessante do que eu teria antes. Então, deficiente pra

mim hoje, está associado a capacidade, a não ter limites, completamente

independente desses conceitos sociais estéticos padronizados”.

É essencial, para Buscaglia (1997), que não só vejamos e aceitemos nossa

força, mas que também comecemos a desenvolvê-las, assim como é importante que

reconheçamos que temos muitos aspectos fortes e superiores que devem ser

valorizados e confiados a fim de podermos começar a lidar com os aspectos menos

privilegiados.

“(...) o que eu acho que eu vou me realizar mais fazendo com que eu veja que outras

pessoas com deficiência enxerguem que, se eu achei o caminho da felicidade, elas

também podem achar (...), mas o equilíbrio interior, tu que vai ter que descobrir,

porque se: uma pessoa conseguiu, porque que outras pessoas não vão conseguir

(...) tu vai mexer com valores, tu vai mexer com tua escala de prioridades, tu tem que

te dispor a mexer, porque a partir do momento em que tu começa, tu não vai parar

na metade do caminho, porque tu vai melhorar numa parte e vai barrar noutra e vai

estar te contradizendo”.

A categoria de concepções traz, no geral, mais as concepções do sujeito

enquanto deficiente e falando por estes, pois crê que, muito da luta em prol da

conquista do espaço das pessoas deficientes está nelas mesmas. Portanto, esta

categoria foi mais um espaço introdutório que busca instigar sobre diversos aspectos

pessoais e sociais que serão melhores especificados a seguir.

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4.2 AUTO-RECONHECIMENTO

Esta categoria reúne todas as falas do sujeito referentes ao conhecimento de seu

corpo, imagem, pois se sabe que o sujeito está em constante busca de sua imagem

corporal. Ele busca conhecer-se. Ou seja, o sujeito descreve sua percepção corporal

atual, considerando-se uma pessoa com o corpo total como uma pessoa com

deficiência.

(...) “eu aprendi que o melhor amigo era o espelho (...)”.

Quando mencionamos a questão da concepção, devemos começar pelo

entendimento do que seria o Corpo. Para Merleau-Ponty (1971), este corpo

representaria a total expressão do ser humano para toda a vida e para sua cultura, pois

o corpo, sendo o primeiro objeto cultural, leva, traz e faz todo o comportamento e

percepção exterior para seu interior e vice-versa.

Aloisi e Lipp (1988); Manoni (1999) complementam a noção de corpo e auto-

imagem como sendo processos participantes da construção da personalidade de uma

criança e está dependerá das atitudes dos outros com relação a ela.

Amiralian (1997) cita que a deficiência não pode ser considerada como causa da

manifestação das perturbações psíquicas, e sim como condição dificultadora das

interações sociais. É importante, segundo ela, que ocorra a organização de outras

bases de interação com o mundo, a partir da compreensão da interferência da limitação

física ou cognitiva no sujeito que a possui e naqueles com quem ele se relaciona.

(...) “eu tive que reaprender como meu corpo funcionava com aquela nova condição e

eu só ia conseguir fazer isso se eu tivesse conhecimento sobre ele, então eu li alguma

coisa sobre lesão medular, pra saber o que que era, como eram as reações (...)”.

(...) “eu passei a conhecer mais (...)”.

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“(...) eu acredito que desenvolvi potencialidades. Uma delas é o desenvolvimento de

alguns sentidos (...) [pausa longa] como o tato, o olfato, a própria percepção que eu

acabei desenvolvendo mais a partir do momento em que eu fiquei limitada (...)”.

Vash (1988) comenta essa questão das novas aprendizagens, da aceitação da

deficiência, quando cita que para algumas pessoas, a deficiência pode ser vista como

uma contribuição positiva para a vida, contribuindo para o crescimento psicológico,

através do ensaio, erro e correção.

(...) “tu vai te readaptando ao corpo com essas limitações físicas (...)”.

“(...) Eu acho que eu já atingi o limite máximo dessa percepção em relação a minha

deficiência. Eu só tenho agora que melhorar, aprimorar, não aprender, porque acho

que já aprendi tudo”.

As pessoas que atingem o estágio do ajustamento, citado por Kerr (1977, apud

Vash, 1988), não compreendem mais a deficiência como barreiras as quais precisa

lutar, ao contrário, buscam formas de atender suas necessidades e se adequarem à

sociedade.

Para tanto, sabemos que este processo exige, além de tempo, outras questões,

as quais Winnicott (1999) comenta, como o progresso maturacional do indivíduo , que

poderá ser facilitado pelo meio, ou seja, a dependência de um indivíduo em relação ao

meio dependerá da força e estrutura de seu Ego, e só então aprenderá a conter as

pressões e estresses originados no aparato psíquico com a finalidade de se manter

saudável.

Para Vash (1988), o crescimento ou desenvolvimento humano para a pessoa

com deficiência, tem relação com o fato de alcançar a realização pessoal, fortalecendo

o potencial humano e estabelecendo o equilíbrio mente-corpo-espírito.

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“(...) Graças a Deus que diferencia! Que bom que diferencia, porque com deficiência

nós não somos iguais, só que a tendência é só estabelecer padrão, então o padrão

estético, longelíneo, loiro, olhos claros ou moreno, enfim, tu acaba padronizando e

igualando essas pessoas, como que é... (...) [pausa para relembrar] sinistramente

idênticos e perfeitamente substituíveis, é uma frase que eu li uma vez e achei muito

interessante, então quando tu tem uma diferença, a tendência é excluir do grupo, só

que ... que bom! Tu pode demonstrar que a diferença pode ser tão interessante

quanto aquilo que é igual. A diferença, ela chama a atenção, e ela chamar a atenção

se tu ta aberto pra aquilo que tu pretende, tu pode fazer aquela diferença fazer a

diferença na tua vida”.

O sujeito faz um entendimento geral dos pontos positivos de possuir uma

deficiência, ou melhor, de ser diferente de muitas pessoas, pois crê que essa diferença

trouxe e trará muito crescimento, além de uma percepção inovadora de si mesmo e dos

outros. Claro que, esse discurso não parte de uma opinião baseada apenas na

diferença, mas sim em toda a experiência pessoal do sujeito e toda sua construção

subjetiva feita nestes anos todos de convivência com a deficiência física. Envolve,

assim como Kerr10 (1977, apud Vash, 1988) e Vash (1988) comentam, todo um

processo de transcendência e de ajustamento à nova situação.

4.3 PERCEPÇÃO SOCIAL – PESSOAL

Esta categoria traz a percepção do sujeito perante a sociedade, ou seja, como

ele se vê perante a sociedade, quais percepções ele construiu e constrói diante dessa

relação, ou seja, uma percepção direta deste sujeito.

10 Carolyn Vash utiliza Nancy Kerr para complementar suas idéias, porém foi somente possível conseguir o nome do livro da autora citada por ela: KERR, N. Understanding the Process of Adjustment to Disability .

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“(...)Eu tinha muita preocupação em saber como as outras pessoas ia me aceitar

naquela condição (...)eu tinha medo que elas tivessem preconceito, não se

aproximassem (...)”.

De acordo com Vash (1988), a auto-estima é base da saúde mental do ser

humano, e o fato de não poder realizar atividades que são consideradas normais para

os outros, produzem certa auto-desvalorização, e uma das questões com que as

pessoas com deficiência se preocupam é o efeito disto quando percebidas pelas outras

pessoas e auto-percebidas. A autora cita que “Muito da incapacitação que as pessoas

deficientes experienciam é imposta pelos aspectos criados pelo homem no ambiente

físico, e pelos costumes, valores, atitudes e expectativas sociais” (pág. 27).

“(...) o quanto à família é importante. Porque ao mesmo tempo em que ela puxa pra

cima ela puxa pra baixo também, e se ela achar que tu não tem condições de fazer,

ela vai achar um jeito de acreditar que tu não tem condições de fazer, de mostrar a

limitação de uma forma muito feia e a nossa idéia é mostrar a limitação de uma

forma branda”.

No momento em que se estabelece uma deficiência, o grupo diretamente

atingido é a Família da pessoa com a deficiência, e é justamente ela, o foco de atenção

e intervenção, pois ela passa pelos mesmos níveis de elaboração de luto que a pessoa

com a deficiência enfrentou, e é preciso lidar com o medo, a incerteza e o sofrimento,

ou seja, ela se choca, ela nega, ela aceita, etc (KOVACS, 1997).

De acordo com Carvalho e Prudente et al (1998), geralmente não há uma atitude

da família da pessoa com deficiência quanto a busca de informação e auxílio, o que

dificulta a compreensão e aceitação por parte da mesma frente à nova e atual situação.

Buscaglia (1997) complementa, então, que a maneira como a pessoa com

deficiência será aceita na família e a carga emocional resultante, dependerão do

entendimento inicial, como forma de prevenção, pois, a maneira que a mãe se porta

perante o filho será modelo para a relação do resto da família com ele, além do modo o

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qual a família enfrentou problemas sérios no passado estaria diretamente ligada à

forma como ela lidará com a nova situação no lar – de uma pessoa que “perdeu” algo.

“Então, eu acho que o deficiente que conseguir adquiri isso e impor sua opinião e

mostrar que ele só parou de caminhar, que ele não parou de raciocinar, a família já

passa a respeitar a opinião dele e vai passar a ter uma relação melhor, é uma

questão de respeito essa questão do convívio familiar, é respeito com a opinião do

deficiente, porque não é o fato de ele ter parado de fazer alguma coisa que ele vai

ter que parar de fazer tudo”.

Uma nova organização no grupo familiar se faz necessária após a instalação da

deficiência em um dos seus membros, e dependendo do local que este ocupa dentro

desta estrutura e a fase em que se encontra, existirá um novo padrão de

funcionamento, seja adaptativo, seja desagregador (KOVACS, 1997).

“(...) A família, com o próprio adolescente ela tem dificuldade de lidar, então tu

imagina lidar com o adolescente deficiente. Quando adulto, ele já passou, ele já é

mais estável nas suas emoções, na sua personalidade que já está mais definida, e

com o idoso também; quando ele tem uma seqüela adquirida em função de algum

derrame ou de alguma coisa, ele acaba voltando a ser adolescente, voltando a ser

criança e causando, as vezes, muitos problemas, porque a gente sabe que eles

também têm aquela fragilidade da terceira idade, todo aquele conflito da chegada da

velhice, e se por ventura ele se torna deficiente, aí ele acaba tendo dois problemas

pra resolver (...)”.

Neste momento o sujeito traz muito bem elucidada, tanto a questão da aceitação

da família, que é muito abordada especialmente por Buscaglia (1997), quanto a questão

do desenvolvimento psicológico na adolescência, e isso contribuiu de alguma forma,

seja negativa ou positiva, para todo o processo de entendimento e aceitação da

deficiência pelo sujeito, quando ele discerne o que é da adolescência e o que é da

deficiência e isso exige do sujeito uma base psicológica para lidar com tanto impacto

emocional.

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“(...)quando elas tiverem algum conflito, eu acho que aí entra a parte fundamental de

um profissional habilitado pra poder fazer com ela um entendimento. Por exemplo:

quando tu tem um adolescente que se torna deficiente, tu não tem só um

adolescente que se torna um deficiente, só um deficiente; tu tem um adolescente

passando por todos os altos e baixos pertinentes a adolescência. Então tu tem dois

problemas: o luto da adolescência, todo aquele resgate da adolescência que tu tem

de respeitar e todo aquele trauma da incapacidade, da suposta incapacidade,

porque até então ele não acredita que ele seja capaz de nada. Ele acha realmente

que a vida dele terminou, que ele perdeu algo, que não perdeu só a jovialidade, a

vitalidade, ele acha que ele perdeu tudo dali pra frente”.

Buscaglia (1997) cita a adolescência, como a fase onde a aceitação por parte do

grupo e a identificação tornam-se mais difíceis às pessoas com deficiência, seja por sua

sensação de incapacidade de relacionar-se normalmente, seja pelo preconceito

expressado por atitudes excludentes dos grupos. Junto a isso, afloram os impulsos

sexuais e as características sexuais secundárias que são, muitas vezes, impedidas de

concretização devido às suas limitações, então são expressas nessa fase ações

agressivas de rebeldia pela não capacidade de satisfazer-se plenamente.

Então, a partir disto, torna-se importante considerar as necessidades de cada um

dos membros da família, onde tanto os cuidadores quanto os que recebem os cuidados

apresentam necessidades diferentes a serem satisfeitas (KOVACS, 1997).

A busca por informação e entendimento tanto pela família, pelos amigos quanto

pela própria pessoa irão facilitar todo o processo de elaboração e aceitação da

deficiência. Porém, levando sempre em conta as especificidades de cada personalidade

humana e o tempo que cada um leva para processar todo um entendimento e um

posicionamento a respeito de algo.

Este processo deve envolver a reabilitação, um termo que, para Vash (1988),

que se aplica em pessoas que já tiveram, antes da instalação da deficiência, habilitadas

para a execução de determinadas funções, sejam elas físicas, sociais ou profissionais.

Com isso, os aspectos únicos e as situações diferentes criadas pela deficiência devem

ser enfrentados com importância secundária para que se inicie o processo reabilitador.

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Então, dar prioridade aos aspectos positivos da deficiência é o passo inicial para

que a pessoa com a deficiência passe a compreendê-la por um outro prisma, que não o

de incapacitado e limitado.

4.4 PERCEPÇÃO SOCIAL - OUTRO

Esta categoria contempla as diversas maneiras como o sujeito descreve a visão

que o outro tem sobre sua situação atual, visto que essa lógica se constrói a partir da

percepção do sujeito frente o que ouve e vê do outro, e traduz em suas falas, uma

percepção indireta construída baseada no olhar e atitude do outro. Também busca a

percepção da família, amigos, trabalho, quanto a sua situação.

“Eu notava que algumas pessoas não se aproximavam até porque não conheciam

bem a deficiência (...)”.

Atitudes, preconceitos, esteriótipos e estigmas fazem parte da leitura social que

contempla mais as forças sociais do que no indivíduo, deslocando a discussão como

um todo, ou seja, observam aspectos normais, seguidos por padrões comparativos

(GOFFMAN, 1982).

Para o autor, no momento da aquisição da deficiência, o indivíduo é colocado na

situação de aceitação das novas contingências, tendo de utilizar novas estratégias de

adaptação, e junto a este processo, apresenta reações tanto positivas quanto negativas

conforme a percepção do outro.

“Então, tu te faz valer da deficiência, que é uma coisa diferente pra poder mostrar tua

opinião e daí as pessoas vão parar pra ouvir e vão dizer:” Olha que interessante! Ela

raciocina sentada!...Apesar da deficiência, ela trabalha, apesar da deficiência ela

estuda, apesar da deficiência (...) ““.

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Ou seja, “apesar da deficiência, ela...” nos mostra o quanto às pessoas utilizam

padrões de comparação para capacidades, habilidades e características, e muitas

vezes, a capacidade para algo ou a falta desta, acaba chamando mais a atenção,

sendo um elemento circunstancial no momento de definir e construir uma percepção do

indivíduo.

Numa seqüência de pensamento Goffman (1982) comenta que a pessoa com

necessidades especiais precisa demonstrar sua capacidade geral para desempenhar

papéis e funções, e também seus aprendizados e domínio necessário para executar

seu comportamento em função de suas limitações, como forma de adaptação.

“(...) se eu pedir pra alguém que não tenha a lesão, andar na minha cadeira de

rodas, essa pessoa vai ter dificuldades, porque pra mim já é uma coisa

automática, mas aquela pessoa não. Então, se ela for subir uma rampa ou for

fazer uma manobra, por exemplo, em sala de aula, ela vai penar (...)”.

Nós, seres humanos, tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir de um

modelo original, e ao mesmo tempo, delegar ao outros atributos desejáveis e

indesejáveis. Estas atitudes são uma parte do que o autor Goffman (1982) define como

sendo o ato de estigmatizar as pessoas, onde suas características distintivas se tornam

imediatamente evidentes.

“(...) alguns colegas comentaram que, como não conheciam ninguém com deficiência, achavam que eu

seria um aluno-problema, porque numa atividade que foi realizada com o trote que seria pra nós, eu

comentei que eu não iria e alguns alunos sem falar comigo, acharam que eu não iria porque eu queria me

excluir do grupo, no entanto eu não fui porque eu tinha que trabalhar, então foi duas surpresas pra eles:

primeiro, que eu não iria porque eu estava trabalhando, então, a primeira surpresa: eu trabalhava além

de estudar, e a segunda surpresa era que eu não era um aluno-problema eu não seria a mala da turma”.

Nesta fala é possível perceber o quanto de impressões, opiniões, percepções

são construídas nos sujeitos que não possuem e/ou não convivem com a deficiência,

delegando à pessoa com necessidades especiais, falhas ou ausência de capacidades

como trabalhar, estudar, pensar, além do preconceito de que esse ‘deficiente’ teria

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atenções especiais que poderiam prejudicar de alguma forma o processo de ensino.

Isso se faz presente na leitura que Vash (1988), que diz que essa atitude de

desvalorização não é característica só das pessoas com deficiência, mas sim de todos

que são considerados desviantes e provocam, nestas pessoas, muitas das dificuldades

psicológicas no interrelacionar-se.

4.5 QUALIDADE DE VIDA – A BUSCA

Aqui nesta categoria, o sujeito expõe todo o caminho percorrido por ele para

entender e aceitar sua situação, ou seja, envolve toda as ações deste para buscar uma

qualidade de vida.

“(...) tu tem que aprender a conhecer o teu estabelecer essas estratégias para que tu

possas ter uma qualidade de vida melhor, então, aí entra toda a parte funcional, da

hidro, da fisio, como também a parte mental, porque se tu tem alguma dificuldade e

não ta conseguindo tratar, às vezes, tu tem que procurar ajuda de um profissional, é

importante, não é só a parte funcional que vale, a parte mental também tem que

estar em sintonia com o corpo, pra ti poder conhecer, pra ti poder abstrair o que tem

de melhor na tua vida, pra ti poder retribuir e ir em busca de outros horizontes”.

A pessoa com a deficiência, necessita reformular a percepção de si mesmo e a

percepção do que os outros tem dela, constituindo-se numa mudança subjetiva

necessária para a aquisição de uma melhora na qualidade de vida bio-psico-social

(SHAEKESPEARE, 1977).

“(...) tu tem todos os sentidos bem trabalhados, bem trabalhados não, tu tem todos

os sentidos sem uma limitação, a partir do momento em que tu perde um deles, tu

tenta trabalhar com os outros, e acaba havendo a compensação, a gente sabe que

existe isso (...)”.

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A instalação da deficiência afeta diferentes pessoas de diferentes formas, no

passo em que, algumas se deprimem, outras encaram como um fator de motivação e

desafio. Sabemos, que na realidade, isso parece um pouco incompreensível, porém,

determinadas pessoas vão descobrindo diferentes pontos de vista, diferentes maneiras

de lidar, maior facilidade com certas tarefas, que antes, pareciam difíceis, ou seja, deve

haver um desenvolvimento compensatório nas áreas não afetadas para equilibrar com

as perdas advindas da situação da deficiência, assim como sua aceitação

(SHAEKESPEARE, 1977).

“A idéia é o resgate da auto-estima, ressocializar, reinserção no mercado de trabalho

para que aquela pessoa tenha maior independência possível, independência não só

afetiva, mas independência funcional e independência econômica. Isso é

importante!”.

É fundamental para que exista qualidade de vida, a preocupação com as

habilidades funcionais, o bem-estar dentro da família, a rede de apoio social, os planos

para o futuro, a ocupação e a satisfação com as atividades (KOVACS, 1997).

“(...) eu sei que aquela pessoa tem vários passos dali pra frente e isso é uma

transformação subjetiva, eu não vou ter muito a aumentar, a acrescer na vida dela,

porque ela primeiro vai ter que passar por estes estágios de transformação pessoal,

íntima, familiar, subjetiva, pra depois ela se dar conta das outras coisas, porque

nada de fora pra dentro vai ser possível, sem que haja essa transformação interna”.

Essa mudança para Vash (1988) exige um conhecimento de si mesmo, já que a

desvalorização de muitos perante a questão da deficiência, acaba por gerar no sujeito

que a possui sentimentos de inutilidade, baixa auto-estima, entre outros. Estes pontos

devem ser transformados interiormente, para que comece, então, a traçar um caminho

de busca pela qualidade de vida.

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“É romper todas essas barreiras e melhor será, se a gente tiver apoio de

governantes, reitores, de pessoas que estão acima, hierarquicamente falando, que

possam ter essa visão que a gente tem, se elas nos facilitarem a vida, a gente vai

poder devolver a ela um retorno muito positivo, vai poder mostrar pra eles que a

gente, além de ser capaz, apesar da deficiência, a gente pode dar respostas a

muitas questões relacionadas à qualidade de vida, que muitos que não tem

deficiência, também não têm”.

A pessoa com deficiência e os envolvidos acabam por evidenciar alguns pontos

ao lugar de outros, e a atitude de minimizar a importância da necessidade de aprovação

do outro tendo a ajuda da família e de profissionais que possam orientar, aconselhar,

dividir experiências, são passos primordiais para a conquista de qualidade de vida da

pessoa com deficiência (VASH, 1988).

“(...) A gente fazendo com que o deficiente se de conta de que não é incapaz, isso já é uma grande vitória”.

4.6 QUALIDADE DE VIDA: OS RESULTADOS:

Aqui, finalmente, traz as falas do sujeito referente aos resultados de sua busca

pela qualidade de vida, frente sua condição física, psicológica, biológica e social.

“(...) então eu consigo ver a coisa com mais facilidade, porque eu vejo a felicidade,

eu acho a felicidade em coisas bem menores do que, em distâncias bem menores

do que essas pessoas acham, porque às vezes, a felicidade não está relacionada a

viagens, a bens, à faculdade, a nada. Às vezes não, em geral não está, só que as

pessoas colocam em um lugar inacessível”.

Com relação à questão de aceitação, tanto por parte da pessoa quanto do seu

meio – família, trabalho, escola, etc. -, deve existir um espaço para este processo de

desenvolvimento, de transcendência, onde os sentimentos possam ser abertamente

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expressados tanto pela família, quanto para a pessoa que adquiriu a deficiência, para

que a partir desta compreensão e entendimento possa se estabelecer uma qualidade

de vida para todos os envolvidos neste processo (BUSCAGLIA, 1997).

“(...) eu acredito que desenvolvi potencialidades. Uma delas é o desenvolvimento de

alguns sentidos (...) [pausa longa] - como o tato, o olfato, a própria percepção que eu

acabei desenvolvendo mais a partir do momento em que eu fiquei limitada e eu acho

que é isso pra todos os deficientes, e aí eu falo que independente da deficiência

física, eu acho que o corpo tem esse fascínio, essa facilidade de compensar o que

falta de alguma outra forma, e a pessoa que souber se dar conta disso, souber

explorar, ela vai ter uma qualidade de vida, uma estratégia muito boa de melhorar

sua condição e sua qualidade de vida, e, também poder reproduzir isso para outra

pessoa”.

Vash (1988) comenta que a pessoa com deficiência, ao transcender,

transformam suas experiências catastróficas em características positivas para sua vida

e seu dia-a-dia, compartilhando, assim, o processo e os resultados com as pessoas ao

seu redor que irão oferecer a ela um novo território psicológico de conquistas e novas

percepções e transformações.

A descoberta do corpo representada na fala do sujeito demonstra com clareza o

quanto entendimento ele possui de si mesmo, e indica o nível de compreensão e

aceitação de si, como uma lei (grifo nosso) a ser seguida pelas pessoas que se

encontram nesta mesma situação, bem como descreve Muller (1989) ao sugerir à

pessoa com deficiência que busque respostas e soluções concretas para sua situação,

entre elas, o grupo de pessoas com a possibilidade de existirem trocas importantes que

contribuiriam para o desenvolvimento destas pessoas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado no material reunido, juntamente com o referencial teórico foi possível

realizar a análise dos dados e alcançar os objetivos deste trabalho.

As questões elaboradas para o roteiro de entrevista buscaram abordar todas as

especificidades desta investigação, assim como as respostas extraídas do sujeito

pesquisado trouxeram importantes contribuições para o entendimento que se faz

necessário quando falamos da auto-percepção do indivíduo que adquire uma

deficiência física.

Houveram algumas dificuldades em nível de bibliografias mais atualizadas sobre

este assunto abordado, sendo que, em sua maioria apresenta-se datas antigas, porém

o conteúdo demonstra ter sua validade nos dias atuais.

Com relação a divisão das categorias, foi um tanto quanto difícil organizá-las de

forma a contemplar as idéias do sujeito, pois muitas das falas traziam não só questões

específicas da categoria, mas abriam um leque de discussão em outros pontos ou

categorias. Essa divisão contribui para a melhor visualização e compreensão dos

aspectos específicos do sujeito, embora saibamos que o ser humano é um conjunto de

tudo, e funciona a partir de tudo.

Na categoria Concepções é possível perceber que foram citadas poucas falas,

justamente por essa dificuldade encontrada em dividir por categorias de assuntos.

Então optou-se por deixá-la presente mais com o intuito de demonstrar o que o sujeito

tem a dizer em nome das pessoas deficientes, e principalmente, para as pessoas

deficientes, pois crê que a mudança, em sua maior parte, tem que ser intrínseca.

Referente a análise das categorias, foi possível verificar que alguns autores

como Buscaglia (1997), Vash (1988), Kóvacs (1997), Shakespeare (1980), entre outros,

contribuem com visões semelhantes quanto os aspectos psicológicos envolvidos na

vida da pessoa com deficiência física. Da mesma forma, comentam em uma proporção

visível a questão da construção de identidade, percepções pessoais e, o mais

inquietante, a percepção do social, que acreditamos que interfira em grande parte no

processo de reabilitação da pessoa com necessidades especiais.

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Sabe-se, assim como Buscaglia (1997) e Kovacs (1997), que todo o processo de

aceitação da deficiência envolve diversos pontos que precisam ser desenvolvidos,

como a questão família, percepções, medos, formas de enfrentamento, aceitação,

exclusão, inserção, incentivo. Assim como a questão subjetiva do sujeito, que, de

acordo com Merleau Ponty (1971) é um processo longo de reconhecimento do corpo,

construção de percepções a partir do outro, entre outros pontos muito bem abordados

por outros autores como Manoni (1999), Amiralian (1997), Winnicott (1999), Vash

(1988).

O sujeito entrevistado trouxe frases muito interessantes, que demonstraram todo

o caminho traçado para promover seu desenvolvimento tanto físico, quanto psicológico.

Das dificuldades, das facilidades, das atitudes e falas das pessoas, entre outras

percepções.

O sujeito traz, em alguns momentos, de uma forma muito clara, a idéia que tentei

expor a partir das autoras Shakespeare (1980) e Vash (1997), quando elas comentam

da necessidade de transcendência, de buscar recursos que venham a compensar as

limitações impostas pela instalação da deficiência, deixando claro, da mesma forma,

que antes mesmo desta busca, a necessidade de conscientização e aceitação da

situação atual.

O ato de transcender implica na reorganização de toda uma estrutura de

relações, e havendo essa mudança interna e subjetiva, haverá a mudança externa, das

pessoas que convivem com a deficiência, as fazendo repensar e transformar suas pré-

concepções.

Ele também apresentou questionamentos interessantes no que se refere a

problemática atual das pessoas com necessidades especiais, como uma forma de fazer

este público pensar de que forma influencia nessa questão da deficiência física x

preconceito, como dito nas frases:

“(...) minha colega de serviço, convivendo já com todos os deficientes, sabendo que

ela estava com dificuldade de atravessar o meio-fio, perguntou pra ela: “a senhora

quer ajuda?” e ela respondeu: “e eu te pedi?” Então, se todo deficiente reagir dessa

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forma, a tendência é o isolamento, a tendência natural vai ser o isolamento, porque

ninguém também tem a obrigação de aturar pessoa mal-humorada, de mal com a

vida, e a gente sabe que ela não é tão mal-humorada, ela não teve esse referencial

de percepção dela mesma, dela em relação a outra pessoa, de conhecer sua

deficiência, de conhecer sua limitação, porque tu não pode também dizer que tu não

tem a limitação e esquecer que tu tem a deficiência, tu tem! A proposta de equidade

é tu respeitar a limitação, não tu botar todo mundo do mesmo nível e achar que não

tem limitação porque são deficientes, só tem aquelas limitações arquitetônicas. Não!

Nós temos várias limitações, só que tu tem que aprender a trabalhar com elas”.

Isto quer dizer a nós leitores, a parcela de preconceito existente nas próprias

pessoas com deficiência física, no momento em que, por dificuldades pessoais, não

conseguem estabelecer uma relação social de busca, crescimento e entendimento.

O sujeito coloca que busca, através destas atitudes, realizar um trabalho de

conscientização com a parcela em destaque, servindo como um multiplicador11 neste

processo.

A partir deste TCC colocamos em questão se um dos maiores complicadores ao

entendimento da deficiência tanto pelo que a possui quanto pelos outro, não estaria nas

atitudes e reações das próprias pessoas com deficiência?

Acredito que poderíamos afirmar que a pessoa com deficiência utiliza de meios,

assim como acaba por expressar de forma a deixar o outro numa posição de

expectativa e de pré-concepções. Então, no momento em que a pessoa com

necessidade especial fizer sua transformação interna com o apoio da família e de

profissionais, irá transformar seu meio e mudará muitas pré-conceitos, mostrando que a

deficiência, bem como diz o sujeito, é uma dificuldade que pode ser superada, e é

possível conviver com qualidade de vida, possuindo-a.

As dificuldades encontradas em embasar e organizar esta monografia estiveram

mais a nível bibliográfico, porém procurei extrair o máximo de informações sobre a

construção tanto pessoal quanto social do sujeito com deficiência física.

Em vários momentos, pensava no porque de nossa bibliografia ser tão escassa e

11 Palavra usada pelo sujeito para descrever seu trabalho, sua meta, e nomeia a entrevistadora como sendo multiplicadora no momento em que estará divulgando sua opinião e conscientizando as pessoas.

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ao mesmo tempo antiga, e então poderíamos concluir sobre dois prismas: as pessoas

não demonstram interesse em investigar a fundo a deficiência, pois crêem que ela deve

ser vista como uma perda como qualquer outra, como uma morte, que deve ser

entendida da mesma forma, sem levar em conta suas especificidades; ou elas crêem

que a pessoa com deficiência não exigiria uma publicação exclusiva já que encontra-se

inserida num mundo de diversidades.

Eu parto da concepção de que, mesmo que a pessoa com deficiência esteja

cada vez mais conseguindo se mostrar na sociedade, ela necessita de um suporte

teórico, de um entendimento do processo, além de mostrar à ela mesma que seus

sentimentos iniciais são normais, suas percepções e as reações da sociedade tendem

a ser comuns, embora não adequadas, pois vivemos num mundo onde essa questão do

diferente é um tanto quanto cultural, e até porque a base da nossa construção de

identidade está no reconhecimento de nós mesmos, a princípio do nosso corpo.

Então, todas as discrepâncias e diferenças irão ficar em evidência em algum

momento, porém caberá a nós a aprender a conviver com elas, encontrando uma

melhor forma de possuir qualidade de vida.

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7 APÊNDICES

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7.1 APÊNDICE A

TERMO E CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APRESENTAÇÃO

Gostaria de convidá-lo (a) para

participar de uma pesquisa cujo objetivo é

Investigar a auto-percepção biopsicosocial

de indivíduos que adquirem uma deficiência

física na fase adulta.

Sua tarefa consistirá na participação em

uma entrevista semi-estruturada, com

questões referentes a sua percepção sobre

suas vivências frente ao processo de

deficiência física adquirida em fase adulta.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de

informar que:

a) seus dados pessoais serão mantidos em

sigilo, sendo garantido o seu anonimato;

b) os resultados desta pesquisa serão

utilizados somente com finalidade

acadêmica podendo vir a ser publicado

em revistas especializadas, porém,

como explicitado no item (a) seus dados

pessoais serão mantidos em anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas, o

que importa é a sua opinião;

d) a aceitação não implica que você estará

obrigado a participar, podendo

interromper sua participação a qualquer

momento, mesmo que já tenha iniciado,

bastando, para tanto, comunicar aos

pesquisadores;

e) você não terá direito a remuneração por

sua participação, ela é voluntária;

f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e

não visa uma intervenção imediata.

g) durante a participação, se tiver alguma

reclamação, do ponto de vista ético,

você poderá contatar com o responsável

por esta pesquisa.

Pesquisadora responsável: Maria Isabel do Nascimento André, MSc E-mail: [email protected] Telefone: (47) 9123-5609 Pesquisadora: Daniela de Oliveira E-mail:[email protected] telefone: (47) 91628990 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401.

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7.2 APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA

� Percepções a nível físico e auto-reconhecimento do corpo:

1. Fisicamente, o que você sente que mudou?

2. Com relação ao seu corpo, o que você tem a dizer?

3. Sua condição física o incomoda?

4. A deficiência física acarreta ou acarretou alguma dificuldade à nível biológico/fisiológico?

5. Você se considera vaidoso (a)?

6. Você já acostumou com sua atual condição de vida?

� Percepções referentes às relações sociais/afetivas:

1. Após adquirir a deficiência física, como você se sentiu frente às outras pessoas?

2. E na sua casa, com sua família?

3. E com relação aos relacionamentos afetivos, o que você tem a dizer?

4. O que você percebe vindo das pessoas com relação á sua situação?

5. Quem facilitou para você o processo de entendimento e compreensão da sua deficiência?

6. Quem dificultou esse processo?

� Percepções Pessoais e pré-concepções:

1. Você acredita que o fato de possuir uma deficiência o faz sentir diferente? Incapaz? Limitado? Por quê?

2. Se algo lhe incomoda com relação à sua nova condição de vida, você pensa em estratégias ou algo que o faça se sentir melhor?

3. Você consegue desempenhar atividades que outras pessoas não conseguem? O que você pensa disso?

4. Quando você não consegue realizar algo que antes fazia, como se sente?

5. O que facilitou para você, a partir de sua percepção, compreender sua situação?

6. O que dificultou para você, a partir de sua percepção, compreender a sua situação?

7. Como você se sentiu após saber que estava comprometido em alguma parte de seu corpo ou função?

8. Como você se sente em casa, perante a família?

9. E na faculdade?

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10. E no serviço?

11. O que é ser deficiente físico para você?

12. Conte-me, resumidamente, quais seus pensamentos desde que adquiriu a deficiência até os dias de hoje, ou seja, como você se sentiu e como se sente.

� Percepções relacionadas à situação de dependência:

1. Você se sente dependente? À que? A quem?

2. A sua nova condição causou algum tipo de dependência para você? Exemplifique.

3. Como você vê o fato de necessitar de outra pessoa?

4. Precisa de alguma adaptação e auxílio de outro em decorrência de sua situação? Para quê?

5. Quando você não consegue desempenhar determinadas tarefas, você se sente como?

6. Você acha correto ser auxiliado? Porque?

� Estratégias para a qualidade de vida:

1. Quais estratégias você julga necessárias para se adequar à nova situação?

2. Quais potencialidades você acredita possuir?

3. Quais limitações você acredita possuir?

4. O que você diria para uma pessoa que, por um evento, adquiriu a deficiência física?

5. Hoje em dia, como você resumiria sua condição física?

6. Você poderia me contar que planos de vida possui?

7. Você acha que uma deficiência diferencia uma pessoa de outra? Se sua resposta for sim, nomeie em que momentos você acha isso? Se Sua resposta for negativa, diga-me o porque?

8. Você sente-se apoiado por alguém?

9. Quais atitudes você considera com essenciais por parte das pessoas que o fazem se sentir bem?

10. Quais atitudes por parte das pessoas que você julga serem ruins para você?

11. E para você, quais atitudes o fazem aceitar e compreender melhor sua situação?

12. O que você precisa para se sentir bem, neste momento?