universidade do vale do itajaÍ adriana rÚbia duarte de …siaibib01.univali.br/pdf/adriana rubia...

157
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE FREITAS DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente Tijucas 2007

Upload: dangdat

Post on 10-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ADRIANA RÚBIA DUARTE DE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Tijucas

2007

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ADRIANA RÚBIA DUARTE DE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas.

Orientador: Prof. Esp. Edemir Aguiar

Tijucas

2007

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ADRIANA RÚBIA DUARTE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação Tijucas.

Área de Concentração: Direito Privado

Tijucas (SC), 11 de outubro de 2007

Prof. Esp. Edemir Aguiar

UNIVALI – CE Tijucas

Orientador

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 11 de outubro de 2007.

___________________________________

Adriana Rúbia Duarte de Freitas

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

Á Deus, Supremo Criador, pela vida e pela família que me

deu e ainda por todas as oportunidades oferecidas.

Aos meus queridos pais Nilo Duarte e Maria Soares

Duarte, pelo esforço de seus trabalhos me deram essa

oportunidade e também aos meus irmãos.

Ao meu marido Alex Andrade de Freitas, pela ajuda e

compreensão nas minhas ausências.

A minha filha Maria Eduarda de Freitas, que desde muito

pequena abdicou de momentos de carinho materno para que

eu pudesse me dedicar a vida acadêmica.

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

AGRADECIMENTOS

Ao meu professor Orientador Esp. Edemir Aguiar, pela atenção e valiosa

orientação de conteúdo.

A todos os professores pelas informações e conhecimentos transmitidos no

decurso do curso.

A Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, especialmente ao Coordenador

do Curso de Direito, Professor Celso Leal da Veiga Júnior, pelo esforço na qualidade

do curso.

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

“Traço dominante da evolução da família é a sua tendência a se

tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que

cada vez mais se funda na afeição mútua”.

Levy Bruhl

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

LISTA DE ABREVIATURAS

Art. Artigo

CC Código Civil

Civ Civil

CPC Código de Processo Civil

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Dec. Decreto

Inc. Inciso

n. número

p. Página

RT Revista dos Tribunais

Segs. Seguintes

Vol. Volume

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

RESUMO

A presente monografia tratou da Separação Judicial e considerações sobre o

instituto à luz da legislação vigente. Inicialmente falou-se sobre a origem e evolução

da família, que vem acompanhando as mutações constantes por que passam a

sociedade, o que possibilitou ao direito evoluir para acompanhar essas

transformações sociais. Foram demonstradas as mudanças ocorridas no Direito de

Família, destacando que, até bem pouco tempo atrás não passava de um conjunto

de normas que disciplinava a celebração do casamento; a sua validade; seus

efeitos; as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, assim como a

dissolução matrimonial; também as relações entre pais e filhos; seus vínculos do

parentesco. Ocorreu que, após a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil em 05 de outubro de 1988, o instituto veio a ter significativas

alterações, este fato teve reflexo profundo nos conceitos de família e na própria

realidade social. Com essas leis, foram introduzidas algumas outras modificações

como: a equiparação dos cônjuges, a não-discriminação entre filhos e o regime da

comunhão parcial de bens. Em resumo, com a presente pesquisa procurou-se

proporcionar uma visão geral das novas e relevantes mudanças ocorridas no Direito

de Família, em especial ao instituto da Separação Judicial, quais as suas

conseqüências jurídicas e seus reflexos até os dias atuais.

Palavras-chave: Casamento. Dissolução da Sociedade Conjugal. Família.

Separação Judicial.

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ABSTRACT

The present monograph dealt with the Judicial Separation and considerações

on the institute to the light of the current law. Initially one said on the origin and

evolution of the family, who comes following the constant mutations why they pass

the society, what she made possible to the right to evolve to follow these social

transformations. The occuredchanges in the Family law had been demonstrated,

detaching that, until good little time behind did not pass of a set of norms that the

celebration of the marriage disciplined; its validity; its effect; the personal and

economic relations of the conjugal society, as well as the marriage dissolution; also

the relations between parents and children; its bonds of the kinship. It occurred that,

after the promulgation of the Constitution of the Federative Republic of Brazil in 05 of

October of 1988, the institute came to have significant alterations, this fact had deep

consequence in the concepts of family and the proper social reality. With these laws,

other modifications had been introduced some as: the equalization of the spouses,

the not-discrimination between children and the regimen of the partial community

property of good. In summary, with the present research it was looked to provide a

general vision of the new and excellent occured changes in the Family law, special to

the institute of the Judicial Separation, which its legal consequences and its

consequences until the current days.

Key-Word: Marriage. Conjugal dissolution of the corporation. Family. Judicial

separation

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Casamento: “É a união [...] do homem e da mulher, de acordo com a lei, a fim

de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem seus filhos”.

(MONTEIRO, 2004, p. 11).

Cônjuge: “Diz-se do marido e mulher; cada uma das pessoas reciprocamente

unidas pelo vínculo matrimonial; aquele que é casado legalmente; membro da

sociedade conjugal”. (DINIZ, 1998, v. 1, p.770)

Direito de Família: “[...] um conjunto de normas e princípios que trata do

casamento, de sua validade e efeitos; das relações entre pais e filhos; do vínculo do

parentesco; da tutela e curatela; da dissolução da sociedade conjugal e dos

alimentos devidos entre parentes e os cônjuges”. (RIZZARDO, 2006, p. 02).

Dissolução da sociedade: “O termino da sociedade conjugal dá-se pela

morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou anulação do casamento, pela

separação judicial ou pelo divórcio”. (DINIZ, 1998, v. 2, p. 202).

Efeitos Jurídicos: “Conseqüência jurídica decorrente de atos ou fatos

jurídicos” (DINIZ, 1998, v. 2 p. 267).

Família: “Em sentido genérico e biológico, considera-se família o conjunto de

pessoas que descendem do tronco ancestral comum. Ainda neste plano geral,

acrescenta-se o cônjuge, aditam-se os filhos dos cônjuges (enteados), os cônjuges

dos filhos (genros e noras), os cônjuges dos irmãos e os irmãos do cônjuge

(cunhado). [...] Na verdade em sentido estrito, a família se restringe aos grupos

formados pelos pais e filhos”. (PEREIRA, 2004, p. 19-20).

Fidelidade conjugal: “Dever moral e jurídico, decorrente do caráter

monogâmico do casamento, que consiste em abster-se cada consorte de praticar

relações sexuais com terceiro. Com isso a liberdade sexual dos consortes fica

restrita ao casamento”. (DINIZ, 1998, v. 2 p. 545) .

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

Filiação: “[...] é a relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e

em linha reta, que liga uma pessoa aquelas que a geraram, ou a receberam como se

a tivesse gerado. Essa relação de parentesco, dada a proximidade de grau, cria

efeitos no campo do direito, daí derivando a importância de sua verificação”.

(RODRIGUES, 2004, p. 297).

Matrimônio: “Pacto matrimonial pelo qual o homem e a mulher constituem

entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos

cônjuges e à geração e educação da prole”. (DINIZ, 1998, v. 3, p. 385).

Pacto Antenupcial: “É um contrato solene, realizado antes do casamento,

por meio do qual as partes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre elas

desde a data do matrimônio”. (RODRIGUES, 1980 apud DINIZ 2002, p. 146).

Parentesco: “Parentesco é a relação vinculatória não só entre pessoas que

descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre

um cônjuge e os parentes do outro e entre adotante e adotado” (DINIZ, 2002, p.

371).

Poder Familiar: “O poder familiar pode ser conceituado como o conjunto de

obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores. Por

natureza é indelegável”. (MONTEIRO, 2004, p. 348).

Sociedade Conjugal: “É composta pelo marido e pela mulher, constitui o

núcleo básico da família, caracterizando-se pela convivência social e física e pela

solidariedade econômica”. (WALD, 2005, p. 116).

Vínculo familiar: “Atualmente o que se entende por elemento familiar é a

ligação duradoura de afeto, mútua assistência e solidariedade entre duas ou mais

pessoas, tenham elas ou não vínculos de parentesco, razão pela qual é devida se

cabalmente demonstrada a real convivência, o afeto recíproco”. (GONÇALVES,

2006, p. 93).

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

2 A FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA ..................................................................... 19

2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 19

2.2 FAMÍLIA .................................................................................................................. 19

2.2.1 Conceito de Família ............................................................................................. 19

2.2.2 Caracteres de Família .......................................................................................... 20

2.2.3 Origem e Evolução Histórica ................................................................................ 21

2.2.4 As Espécies de Família na Antiguidade ............................................................... 22

2.2.4.1 Família consangüínea ....................................................................................... 22

2.2.4.2 Família punaluana............................................................................................. 23

2.2.4.3 Família sindiasmática........................................................................................ 23

2.2.4.4 Família patriarcal ............................................................................................... 24

2.2.4.5 Família romana ................................................................................................. 24

2.3 O DIREITO DE FAMÍLIA ......................................................................................... 25

2.3.1 Noção de Direito de Família ................................................................................. 25

2.3.2 Extensão .............................................................................................................. 27

2.3.3 Objeto................................................................................................................... 29

2.3.4 Evolução............................................................................................................... 29

2.3.5 Princípios Norteadores......................................................................................... 31

2.3.6 Natureza Jurídica ................................................................................................. 32

2.3.7 Relações com Outros Ramos do Direito Público e Privado.................................. 33

2.4 TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NA FAMÍLIA E NO DIREITO DE FAMÍLIA

APÓS A PROMULGAÇÃO DA CRFB/1988 E DA LEI N. 10.406/2002 – CÓDIGO

CIVIL ............................................................................................................................. 35

3 A CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA PELO CASAMENTO ............................................ 39

3.1 CASAMENTO.......................................................................................................... 39

3.1.1 Conceito ............................................................................................................... 40

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

3.1.2 Caracteres e fins do Casamento .......................................................................... 41

3.1.3 Natureza e Regulamentação Legal ...................................................................... 43

3.1.4 Casamento Civil e Religioso................................................................................. 44

3.2 PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DO CASAMENTO .......................................... 45

3.2.1 Direitos e Deveres dos Cônjuges ......................................................................... 45

3.2.2 Impedimentos Matrimoniais.................................................................................. 45

3.2.3 Causas suspensivas do Casamento .................................................................... 46

3.2.4 Nulidade e anulação de Casamento .................................................................... 46

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE REGIMES DE BENS ......................................... 47

3.4 PARENTESCO E SUAS ESPÉCIES....................................................................... 49

3.4.1 Filiação................................................................................................................. 50

3.4.2 Reconhecimento da filiação ................................................................................. 51

3.4.3 Adoção na Atualidade .......................................................................................... 53

3.4.4 Poder Familiar ...................................................................................................... 55

3.4.4.1 Suspensão e extinção do poder familiar............................................................ 56

4 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL ................................................................................... ..59

4.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 59

4.2 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL .................................. 60

4.3 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL ................................................................................... 61

4.3.1 Finalidade da Separação Judicial......................................................................... 62

4.3.2 Causas da Separação Judicial ............................................................................. 63

4.3.2.1 Na separação consensual ................................................................................. 64

4.3.2.2 Na separação litigiosa ....................................................................................... 65

4.3.3 Caráter Pessoal da Separação Judicial ............................................................... 65

4.3.4 Espécies de Separação Judicial........................................................................... 66

4.3.4.1 Separação consensual ...................................................................................... 67

4.3.4.2 Separação litigiosa ............................................................................................ 68

4.3.5 Efeitos da Separação Consensual e Litigiosa ...................................................... 71

4.4 HOMOLOGAÇÃO DE SEPARAÇÃO NEGADA ...................................................... 74

4.5 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL .......................................... 75

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 77

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 79

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como tema “A Separação Judicial:

considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente”, partindo-se inicialmente

sobre a origem e evolução da Família e do Direito de Família até os dias atuais,

posteriormente sobre a constituição da família pelo casamento, destacando inclusive

os aspectos em relação ao parentesco, e por último fazer um estudo sobre a

Separação Judicial frente à legislação brasileira na atualidade.

A razão da escolha do tema deve-se ao fato da Separação Judicial ser uma

constante em nossas relações, pois, quem de nós nunca se deparou com um

parente, amigo, conhecido que esteja passando por uma situação semelhante.

As separações sejam consensuais ou litigiosas, estão se tornando cada vez

mais freqüentes no meio social. Mas, apesar de parecer tão banal, ao mesmo tempo

observa-se que a Separação é muito mais complicada que se possa imaginar, é um

momento muito delicado, pois envolve sentimentos, e, onde as pessoas precisam

tomar decisões importantes, que muitas vezes as marcam pro resto da vida.

Objetiva-se, com o presente trabalho, proporcionar uma visão geral das novas

e relevantes questões do Direito de Família, em especial ao instituto da Separação

Judicial, compreendendo e identificando os seus pressupostos, e por conseguinte,

as suas conseqüências tendo em vista às mudanças ocorridas desde a CRFB/1988,

com o surgimento de novas leis que atendem às mutações econômico-sociais do

mundo contemporâneo, trazendo indisfarçável reflexo nas relações familiares.

Portanto, têm-se novos tempos, com uma evolução legislativa constante, e, a exigir

atualização dos estudiosos da ciência jurídica.

Tratando-se dos objetivos específicos, esta pesquisa tentará buscar um

aprimoramento em: a) Analisar a origem histórica do instituto da Separação Judicial,

conforme a evolução da legislação brasileira, destacando seu conceito e natureza

jurídica; b) Situar a Separação Judicial no contexto jurídico do Direito de Família; c)

Identificar os elementos constitutivos do casamento; d) Identificar e explicitar as

causas terminativas da sociedade Conjugal; e) Identificar e analisar as modalidades

de dissolução da sociedade conjugal; f) Investigar as espécies e efeitos da

separação judicial; g) Consultar as conseqüências jurídicas da Separação em

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

17

relação aos cônjuges; h) Verificar a possibilidade de restabelecimento do casamento

após a separação.

Foram elencados os seguintes problemas e as respectivas hipóteses para a

presente pesquisa:

Primeiro problema: Quais as formas judiciais de dissolução da sociedade

conjugal decorrente da celebração do casamento?

Hipótese: São previstas no ordenamento jurídico brasileiro, quatro

modalidades de Separação Judicial decorrente do casamento, que são: pela morte

de um dos cônjuges; pela nulidade ou anulação do casamento; pela separação

judicial; e por último pelo divórcio.

Segundo problema: Quando decretada a Separação Judicial quais os vínculos

jurídicos que são dissolvidos, e, quais os deveres impostos entre os cônjuges?

Hipótese: Em relação aos vínculos jurídicos a Separação Judicial põe termo

aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens,

como se o casamento fosse dissolvido. No entanto permanecem, porém, outros

deveres como por exemplo: mútua assistência; sustento, guarda e educação dos

filhos; respeito e consideração mútuos.

Terceiro problema: É possível haver o restabelecimento do casamento após a

Separação Judicial? Se possível qual é o prazo para que isso possa ser requerido,

e, como ficará o regime de bens após a reconstituição do matrimônio?

Hipótese: Os cônjuges mesmo depois de separados judicialmente podem a

qualquer momento desde que requeiram o restabelecimento da união conjugal

tornarem-se novamente casados mesmo que, há muitos anos tenha sido rompida a

sociedade conjugal, ficando o regime de bens do mesmo modo como era na época

em que ambos eram casados.

Assim sendo, o presente estudo estará voltada aos aspectos doutrinário-

legais que o tema comporta, enriquecendo o estudo com os principais aspectos da

Separação Judicial em relação à legislação brasileira da atualidade.

O método que será utilizado para a elaboração do presente trabalho

monográfico é o dedutivo, partindo-se de um estudo geral para se chegar ao

particular.

Conforme Pasold (2003, p.104), método dedutivo é “[...] estabelecer uma

formulação geral e, em seguida, buscar as partes do fenômeno de modo a sustentar

a formulação geral”.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

18

A presente pesquisa aproveita como técnica para obtenção de informações

sobre o tema a investigação doutrinária e da legislação brasileira, como também os

meios eletrônicos disponíveis.

Tem-se, ainda, que a área de concentração desta monografia é o Direito Civil

pois refere-se ao Direito de Família. A linha de pesquisa é o Direito Privado.

Esta monografia será estruturada em três capítulos, objetivando assim

facilitar o desenvolvimento do trabalho e conferir maior organização estrutural ao

estudo.

No primeiro capítulo, denominado de A Família e o Direito de Família,

abordar-se-á o conceito, origem e evolução histórica da Família e do Direito de

Família, as espécies de família na antiguidade, também sobre os Princípios

norteadores do Direito de Família, natureza jurídica, a relação com os outros ramos

do Direito Público e Privado e por último as transformações ocorrida na família e no

Direito de Família após a promulgação da CRFB/1988 e do Código Civil.

No segundo capítulo, inicialmente demonstrar-se-á a Constituição da

Família pelo Casamento, conceito, analisando-se seus Pressupostos e Requisitos do

Casamento, as disposições gerais sobre regimes de bens, as relações de

parentesco.

No terceiro e último capítulo abordar-se-á o instituto da Separação Judicial

que é o tema do trabalho, iniciando-se pela evolução histórica, destacando-se as

Formas de Dissolução da Sociedade Conjugal, será feita uma abordagem sobre o

Conceito de Separação Judicial, sua finalidade, as causas, espécies, efeitos,

homologação. Também será analisado se há possibilidade jurídica do

restabelecimento da vida conjugal, após a separação judicial.

Nas considerações finais, será apresentado o arcabouço do trabalho com

considerações sobre as questões relativas aos problemas e hipóteses apresentados,

os aspectos relevantes, os principais ensinamentos, a indicação de itens para

continuidade dos estudos e reflexões sobre os diversos temas que integram o

instituto da Separação Judicial no ordenamento jurídico brasileiro.

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

2 A FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA

2.1 INTRODUÇÃO

Se, faz necessário para a presente monografia, inicialmente um estudo sobre

a Família, e ao Direito de Família, investigando seus aspectos destacados, como

entidade familiar, partindo-se inicialmente de sua evolução histórica, tanto na Lei

como na doutrina, no intuito de dar embasamento ao tema da monografia que é a

Separação Judicial.

Sabe-se que a Família é alvo de inúmeras transformações, motivo pelo qual

passa por evoluções constantes. A cada momento a sociedade muda, ou seja, se

renova, criando, dessa forma, novos entendimentos e novas formas de convivência.

O direito tem que evoluir para acompanhar as transformações sociais, e como a

família também faz parte dessa sociedade, ambos evoluem visando o bem estar de

todos.

2.2 FAMÍLIA

2.2.1 Conceito de Família

Considera-se família o conjunto de pessoas que descendem do tronco

ancestral comum. Ainda neste plano geral, acrescenta-se o cônjuge, aditam-se os

filhos dos cônjuges (enteados), os cônjuges dos filhos (genros e noras), os cônjuges

dos irmãos e os irmãos do cônjuge (cunhado). [...] Na verdade em sentido estrito, a

família se restringe aos grupos formados pelos pais e filhos”. (PEREIRA, 2004, p.

19-20).

Em concordância com o entendimento do autor acima, a família não necessita

ser constituída de laços sanguíneos, pois prevalece não apenas o núcleo ‘Família’,

mas também os seus componentes, retirando, desse modo, a atenção sobre o

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

20

núcleo e transportando-a para os seus entes. É um grupo social formado por pais e

filhos, que tem como ligação laços matrimonias, laços de filiação, de adoção ou

afetivos. Necessário se faz dizer que esse grupo social restrito possui parentescos

que não integram a acepção estrita do termo Família. (LEITE, 1991).

Nas palavras de Gomes (2002; p. 35), sobre o conceito de Família:

Nenhum desses critérios, isoladamente, proporciona elementos para inatacável definição jurídica de Família, mas, do exame de suas falhas, pode-se depreender seu sentido técnico, considerando-se Família o grupo fechado de pessoas, composto dos genitores e filhos, e para limitados efeitos outros parentes, unificados pela convivência e comunhão de afetos, em uma só e mesma economia, sob a mesma direção.

Venosa (2005, p. 16) entende que o conceito de Família em sentido amplo, é:

[...] o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes, colaterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se denominam parentes por afinidade ou afins. Nessa compreensão inclui-se o cônjuge que não é considerado parente.

Prossegue o autor definindo que a Família em sentido restrito é ”somente o

núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder”. (VENOSA, 2005,

p.16).

2.2.2 Caracteres de Família

Para R. Limongi França ([s.d] apud DINIZ, 2002, p. 12-14) vários são os

caracteres da família, passa-se a seguir às suas definições:

a) Caráter biológico: a família é por excelência, o agrupamento

natural. O indivíduo nasce, cresce numa família até casar-se e

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

21

constituir sua própria, sujeitando-se a várias relações, pois o homem nasce, vive e se reproduz nela;

b) Caráter Psicológico; a família possui em elemento espiritual unindo os componentes do grupo, que é o amor familiar;

c) Caráter econômico: Por ser a família o grupo dentro do qual o homem, com o auxílio mútuo e o conforto afetivo, se mune de elementos imprescindíveis à sua realização material, intelectual e espiritual;

d) Caráter religioso: a família é ser eminentemente ético ou moral, principalmente por influência do Cristianismo;

e) Caráter político: A família tem especial proteção do Estado, que assegurará sua assistência na pessoa de cada um dos que a integram;

f) Caráter jurídico: por ter a família sua estrutura orgânica regulada por normas jurídicas, cujo conjunto constitui o Direito de Família.

Para se ter o significado de família é necessário conhecer os caracteres

elencados acima pois os mesmos integram o verdadeiro conceito deste instituto e

suas variadas funções.

2.2.3 Origem e Evolução Histórica

Existem diversas teorias que têm por objetivo definir quando apareceram os

primeiros sinais de formação da entidade familiar. Só que tais teorias demonstram-

se imprecisas, pois não vislumbram o ponto de partida para a caracterização desse

grupo social. (LEITE, 1991).

Embora seja desconhecida a exata origem da família, resta a certeza de que

o homem, mulher e filhos sempre existiu, ainda que etimologicamente, não se

tivesse atribuído a esta união o título formal de casamento e ao conjunto de seres, a

condição de família. (LEITE, 1991).

Salienta Welter através de duas teorias sobre a configuração da entidade

familiar na época primitiva, como pode ser observado:

a) A teoria matriarcal, assevera que a Família é originária de um estágio inicial de promiscuidade sexual, em que todas as mulheres e homens pertenciam uns aos outros;

b) A teoria patriarcal, que nega essa promiscuidade sexual, aduzindo que o pai sempre foi o centro organizacional da Família. (2003, p. 33).

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

22

Portanto, pode-se concluir que a origem da Família é, tanto de afeto, quanto

de laços sanguíneos, já que a mesma sofreu mudanças impostas pela necessidade,

pela época, pelos costumes e pelo próprio direito. (LEITE, 1991).

2.2.4 As Espécies de Família na Antiguidade

Destaca-se que na Antigüidade quando os homens ainda moravam em tribos,

"cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as

mulheres". (ENGELS, 2000, p. 39).

Prossegue o autor que tal descoberta não demonstra a prática promíscua,

mas sim o matrimônio por grupos, muito embora possa ter havido um período de

promiscuidade quando da mudança do estágio animal para humano.

Oportuno se faz, dar ênfase ao comentário que Leite (1991, p. 23) fez sobre a

evolução da família:

Nenhuma outra instituição teve uma evolução tão notável, uma história tão rica de acontecimentos, de avanços e retrocessos, de conquistas e derrotas; nenhuma outra instituição se revela tão duradoura, estável, extraordinariamente permanente como a família. Foi necessário ao homem um prolongamento e enorme esforço mental e moral para preservar e conduzir através de suas diferentes etapas a sua forma atual.

A partir de tal período histórico, formaram-se as famílias: consangüínea,

punaluana, sindiásmica, monogâmica, dentre outras, destacadas a seguir:

2.2.4.1 Família consangüínea

Nasce a família consangüínea da união entre irmãos e irmãs carnais e

colaterais no seio de um grupo. As relações sexuais entre adultos e entre jovens,

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

23

sem nenhuma limitação do número de parceiros, característica da promiscuidade

como um padrão de conduta subordinado a certos costumes e ritos próprios e a

determinadas tribos. (ENGELS, 2000).

Para Pereira (2004, p. 17), "tal condição é incompatível com a idéia

exclusivista do ser humano e até mesmo de muitos irracionais, e contraditória com o

desenvolvimento da espécie", e complementa afirmando que: “atualmente, nem

mesmo os povos mais atrasados organizam-se de acordo com tal modelo”.

2.2.4.2 Família punaluana

Engels (2000, p. 39), disserta sobre a família punaluana alegando que: “Se o

primeiro progresso na organização da família consistiu em excluir os pais e filhos

das relações sexuais recíprocas, o segundo foi à exclusão dos irmãos”, [...] “esse

progresso foi infinitamente mais importante que o primeiro, e também mais difícil,

dada a maior igualdade nas idades dos participantes”.

2.2.4.3 Família sindiasmática

Com o passar do tempo, o matrimônio com parentes de qualquer grau Com o

decurso do tempo, passou a ser vedado o que acabou por inviabilizar o casamento

por grupo, levando à formação da família sindiásmica, onde o homem tem direito a

estabelecer relações poligâmicas, ainda que não o fizesse com muita freqüência por

motivos de ordem econômica. (ENGELS, 2000).

Engels (2000, p. 49), declara que a família sindiasmática “representava a

família oriunda das relações entre homem e mulher sem vínculo de parentesco, ou

seja, não poderia mais ter relações conjugais, pais e filhos, irmãs e irmãos”.

Destaca-se um aspecto importante que é o desenvolvimento do homem ao

instinto agressor, tanto que a mulher passa a ser possuída, tornando-se objeto de

agressão perdendo a sua posição de destaque até então assegurada. (LEITE,

1991).

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

24

2.2.4.4 Família patriarcal

No entendimento de Leite (1991), houve uma quarta família, chamada de

Patriarcal, marcado pela autoridade absoluta do chefe de família, ou patriarca, com a

total exclusão das mulheres quanto aos misteres da vida pública.

Aparecimento da noção de ‘pater’, que significava poder com toda

intensidade. Os filhos e as mulheres estavam totalmente subordinados a vontade do

patriarca. Sendo que a condição da mulher era reduzida a menor e equiparada ao

filho. (LEITE, 1991).

O pater Famílias1, era quem tinha o poder de direção sobre a Família, bem

como, era a pessoa que fazia os cultos ou os comandava e possuía a incumbência

de proceder à distribuição da justiça dentro da sociedade familiar. (WALD, 2005).

2.2.4.5 Família romana

A evolução do direito romano se caracterizou pela responsabilização sempre

crescente do pater familias no que diz respeito às obrigações contraídas pelos seus

familiares. Por outro lado, foi conferida cada vez maior independência patrimonial

aos alieni iuris por meio do desenvolvimento do instituto do pecúlio. Este era uma

parte do patrimônio da família, entregue à administração direta dos alieni iuris.

(MARKY, 1995).

É na Família romana que se encontra o exemplo mais vigoroso da

organização patriarcal. A constituição do vínculo familiar, reproduzindo a tendência

patriarcal, vai ocorrer num terreno de absoluta submissão. (LEITE, 1991).

No entendimento de Marky (1995, p. 153), especificamente quanto ao

relacionamento familiar no Direito Romano:

[...] para ter a completa capacidade jurídica de gozo, era preciso que o sujeito, além de ser livre e cidadão romano, fosse também

1 1 Pater familias: O patriarca no direito romano era singular, e de poder supremo sobre os demais membros, sendo a esposa e os filhos considerados incapazes e tratados como os escravos de sua propriedade. Portanto, a Família romana era inegavelmente patriarcal. (PEREIRA, 2002, p. 18).

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

25

independente do pátrio poder. A organização familiar romana distinguia entre pessoas independentes do pátrio poder, e pessoas, sujeitas ao poder de um pater familias. A independência do pátrio poder não tinha relação com a idade. Um recém-nascido, não tendo ascendente masculino, era independente do pátrio poder, ao passo que um cidadão de 70 anos, com o pai ainda vivo, era, sujeito, na qualidade de ao poder de seu pai.

Pereira (2004, p. 19) comenta que “O pater, acumulava as funções de chefe

político, sacerdote e juiz, sendo que, somente a ele era permitida a aquisição de

bens e a detenção do poder sobre o patrimônio familiar, a mulher e os filhos”.

O autor afirma que:

[...] a doutrina do Direito Natural e a filosofia individualística do século XVIII retiraram da família toda finalidade religiosa ou política, quebrando sua solidez originária, seja proclamando a independência e a igualdade dos filhos [...], seja negando o caráter religioso do casamento, cujas modalidades e efeitos passaram a ser regulados por lei. (PEREIRA, 2004, p. 19).

Nem o nascimento nem o afeto foram o fundamento da família romana,

julgando, que pelo contrário, deve-se encontrar tal fundamento no poder paterno ou

marital. (PEREIRA, 2004).

2.3 O DIREITO DE FAMÍLIA

2.3.1 Noção de Direito de Família

Antes da promulgação da CRFB/1988, Direito de Família, era o complexo das

normas que regulavam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos dele

resultantes; as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, assim como

a dissolução desta; as relações entre pais e filhos; o vínculo do parentesco; e os

institutos complementares da tutela e da curatela. (GOMES, 2002).

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

26

Houve alteração considerável no conceito de Família e na própria realidade

social, a partir da promulgação da CRFB/1988. A regulamentação do parágrafo 3º do

art. 226 - “Que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade

familiar, determinando que seja facilitada a sua conversão em casamento”, feita por

intermédio da Lei n. 8.971/94 ‘Direito dos companheiros a alimentos e á sucessão’,

e, posteriormente, da Lei n. 9.278/96, ainda que com suas imperfeições, estende o

conceito de Família à união estável, protegendo-a sob o manto legal. (GOMES,

2002).

Com essas leis, foram introduzidas algumas outras modificações no Direito

de Família: a equiparação dos cônjuges, a não-discriminação entre filhos e o regime

da comunhão parcial de bens. (GOMES, 2002).

A CRFB/1988 recepcionou, assim, a família como base de toda a sociedade

e a qual deve o Estado proteger, propiciando um desenvolvimento sustentável dos

seus membros, assim entendidos o pai, a mãe e os filhos.

A seguir serão repassados alguns conceitos de Direito de Família, elaborados

por doutrinadores, para melhor assimilação do tema.

Segundo Rizzardo (2006, p. 02) o Direito de Família consiste em:

[...] um conjunto de normas e princípios que trata do casamento, de sua validade e efeitos; das relações entre pais e filhos; do vínculo do parentesco; da tutela e curatela; da dissolução da sociedade conjugal e dos alimentos devidos entre parentes e os cônjuges.

Gonçalves (2006, p. 03) define o Direito de Família como sendo:

[...] um ramo do direito civil que disciplina as relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco, bem como os institutos complementares da tutela e da curatela, visto que, embora tais institutos de caráter protetivo ou assistencial não advenham de relações familiares, têm, em razão de sua finalidade, nítida conexão com aquele.

Para Diniz, (2002, p. 07) o conceito de Direito de Família:

É o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

27

econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela.

Analisando os conceitos acima fica evidenciado claramente que os temas

tratados pelo Direito de Família são: o casamento, a União Estável, as relações de

parentesco e os institutos de direitos protetivos. (DINIZ, 2002).

Complementa Bittar (2006, p. 01) destacando que o “Direito de Família

representa, em si, o conjunto de princípios e de regras que regem as relações entre

o casal e os familiares, vale dizer, pessoas ligadas por vínculos naturais ou jurídicos,

conjugais ou de parentesco”.

Reforçando o comentado acima, o autor esclarece, que estas relações

complementam-se com as de assistência, resultantes de liames jurídicos tutelares,

previsto para a proteção de incapazes e de ausentes. (BITTAR, 2006).

2.3.2 Extensão

No entendimento de Bittar (2006, p. 03), o Direito de Família projeta-se por

cinco planos. Os primeiros referentes a relacionamentos no seio da família, e o

último, em situações substitutas impostas por exigências sociais.

Conforme explanado a seguir:

a) da regulamentação do casamento e de seus efeitos (no denominado direito matrimonial);

b) da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal (com a proteção da pessoa dos filhos);

c) da disciplina das relações de parentesco (no chamado direito parental);

d) da regulamentação da união estável; e) da regulação dos institutos complementares de assistência (no

direito assistencial).

Insere-se, também, no estudo do Direito de família, as matérias sobre a união

estável e seus efeitos.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

28

No entendimento de Diniz (2002, p. 05) o direito matrimonial abrange normas

concernentes à validade do casamento “como as que disciplinam a capacidade

matrimonial, os impedimentos matrimoniais e as causas suspensivas, a celebração,

prova, nulidade e anulabilidade do casamento”.

Para Bittar (2006, p. 04), no direito matrimonial são disciplinados “o

casamento, formalidades preliminares, celebração, fins e efeitos”.

No direito parental são regulados, basicamente, “os liames naturais e afins, a

filiação natural ou por adoção e os institutos do poder familiar e dos alimentos, sob a

idéia central da assistência recíproca entre parentes”.

Algumas das matérias acima referidas são tratadas particularmente pelo

direito das sucessões, e outras, como o pátrio poder, pertencem, aparentemente, a

ambas as seções do direito de família, embora se verifique, após segura análise,

que o pátrio poder não é efeito imediato do casamento e como tal pertencente à

primeira seção, e sim à segunda, pois que ficam sujeitos a pátrio poder, não só os

filhos ex nuptiis, mas os havidos fora do casamento reconhecidos e os adotados.

(WALD, 2005).

Para Diniz (2002, p. 05) o direito parental rege, portanto, “relações pessoais

entre parentes e relações econômicas, como dever de sustento dos pais, poder

familiar quanto à pessoa e aos bens dos filhos e obrigações de prestar alimentos”.

No direito assistencial são versados os institutos complementares de proteção

a incapazes e a ausentes, conforme disciplina Bittar (2006, p. 04):

a) a tutela, para menores; b) a curatela, para outras categorias de incapazes; c) a curadoria na ausência, para pessoas desaparecidas, definindo-

se também os respectivos efeitos, incluídas a administração de seus bens e a sucessão provisória.

Nas palavras de Diniz (2002, p. 06) no direito assistencial são disciplinados

“as normas atinentes às relações que subsistem às familiares, ou seja, a guarda, a

tutela e a curatela, e pelas normas alusivas às medidas específicas de proteção ao

menor, Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente”.

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

29

2.3.3 Objeto

Primeiramente na visão de Miranda (2001, p. 74) o Direito de Família tem por

objetivo a “exposição dos princípios que regem as relações de família, quer quanto à

influência dessas relações sobre as pessoas quer sobre seus bens”.

No mesmo sentido complementa Diniz (2002, p. 09) afirmando que “O Direito

de Família tem por objeto a exposição dos princípios jurídicos que regem as

relações de Família e ocupa-se com o casamento, separação e divórcio, o

reconhecimento de filhos, filiação, pátrio poder, tutela, curatela e adoção”.

Quanto ao objeto do Direito de Família ensina Diniz (2002, p. 09) que é:

[...] a própria Família, embora contenha normas concernentes à tutela dos menores que se sujeitam a pessoas que não seus genitores, à curatela, que não tem qualquer relação com o parentesco, mas encontra guarida nessa seara jurídica devido à semelhança ou analogia com o sistema assistencial dos menores, apesar de ter em vista, particularmente, assistência aos psicopatas.

Pode-se observar diante dessas afirmações dadas acima, que o escopo do

Direito de Família é estudar a família em si que compreende os institutos do

casamento que ainda é a base da sociedade, a entidade familiar, o pátrio poder, o

estado civil das pessoas a tutela criada para suprir a autoridade do chefe de família,

a curatela instituição que tem por objetivo proteger os que estão impedidos de

governar pessoas e bens. (MIRANDA, 2001).

2.3.4 Evolução

O Direito de Família passou por longa evolução, em função do próprio

desenvolvimento da vida humana em sociedade e das diferentes mudanças de

costumes e idéias verificadas através dos tempos. (BITTAR, 2006).

O Código Civil de 1916 trazia uma concepção de Família diretamente ligada a

era da sociedade romana, onde o pai era o chefe de família e possuía amplo direito

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

30

sobre todos que estavam sobre o seu poder. Os filhos decorrentes destas uniões

ficavam sob a extrema autoridade paterna, o pai chefe da família administrava e

representava a sociedade conjugal. A mulher dedicava-se exclusivamente ao seu lar

e não tinha os mesmos direitos que o seu marido. (VENOSA, 2005).

Á época a única fonte legítima de constituição da Família era o casamento, e,

o Estado parece ter se deixado influenciar pelas regras estabelecidas pela Igreja

Católica que instituí o casamento como a única forma de regulamentação da família,

tornando o casamento indissolúvel. (WALD, 2005).

Para o autor acima (2005, p. 20) assevera a evolução a partir do século XX:

[...] o legislador brasileiro, foi vigorosamente ultrapassando as barreiras religiosas e atribuiu direitos aos filhos ilegítimos e beneficiou a mulher com a Lei n. 4.121/62 que a tornou plenamente capaz. A Lei n. 6.515/1977 regulamentou o divórcio, pondo fim as relações matrimoniais que antes eram indissolúveis. A partir da Constituição Brasileira de 1988, houve um avanço no Direito de Família, como se depreende do artigo 226 consagra em seus parágrafos a proteção à família não somente formada através do casamento, mas também, proclama outras formas de entidade familiar, como a União Estável, a família adotiva e a família monoparental. Nossa Carta Magna, veio resguardar a necessidade de reconhecimento de outras espécies de família independente ou não da existência de um casamento.

O Código Civil de 2002 modificou a posição do Direito de Família, que passou

a constituir o Livro IV da parte Especial, adotando-se assim um critério mais técnico

e didático. Trouxe em seu texto legal as orientações proferidas pela Constituição

Federativa do Brasil, enfatizando desde logo a igualdade dos cônjuges e a não

interferência das pessoas jurídicas de direito público na comunhão de vida instituída

pelo casamento, Art. 1.513, além de definir o regime do casamento religioso e dos

seus efeitos. (WALD, 2005).

Os textos legislativos não conseguem acompanhar a realidade e a evolução

social da família. Nem mesmo o Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003,

contempla todas as indagações e inquietações do Direito de Família

contemporâneo. A vida e as relações sociais são muito mais ricas e amplas do que é

possível conter uma legislação. (WALD, 2005).

Para Venosa (2005), ainda existem muitos temas que não foram

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

31

regulamentado como as inseminações artificiais os úteros de aluguel, as cirurgias de

mudança de sexo, os relacionamentos afetivos entre pessoas do mesmo sexo, a

clonagem de células e de pessoas.

2.3.5 Princípios Norteadores

Em razão da importância desta fonte do Direito é que se faz necessário

elencar para o Direito de Família alguns princípios que são vitais e fundamentais, e

sem os quais não é possível a aplicação de um direito que esteja próximo do ideal

de justiça.

No entendimento de Diniz, (2002, p. 17) as grandes mudanças havidas no

Direito de Família, foram mais substancias com o advento da CRFB/1988, a partir

daí rege-se pelos seguintes princípios.

Destacados a seguir:

a) Princípio do ‘Ratio’ do Matrimônio e da União Estável, o qual tem por fundamento básico do casamento e da vida conjugal a afeição entre os cônjuges e a necessidade de que perdure completa comunhão de vida;

b) Princípio da Igualdade Jurídica entre os Cônjuges e dos Companheiros no que atina aos seus direitos e deveres quanto à sociedade conjugal. A supremacia do poder marital e a autocracia do chefe da Família foram substituídas por um sistema em que as decisões devem ser tomadas, de comum acordo, entre conviventes ou entre marido e mulher;

c) Princípio da Igualdade Jurídica de todos os Filhos, que proíbe qualquer designação discriminatória, bem como distinção entre filhos legítimos, naturais e adotivos em relação a direitos e deveres;

d) Princípio do Pluralismo Familiar, uma vez que protege a Família matrimonializada ou não, constituída por ambos os genitores e filhos ou de caráter monoparental, originada por laços de sangue ou por meio da Adoção;

e) Princípio da Consagração do Poder Familiar, substituindo o poder marital e o paterno, no seio da Família, cabendo o seu exercício a ambos os genitores, o qual é considerado um poder-dever;

f) Princípio da Liberdade, para formar uma comunhão de vida, para o planejamento familiar, escolha do regime matrimonial de bens, aquisição e administração do patrimônio familiar, livre opção pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da prole;

g) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, alcança melhor compreensão quando aliado ao princípio da igualdade jurídica

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

32

entre homens e mulheres contido no artigo 5º, I, e o da Igualdade Jurídica entre os Filhos contido no artigo 227, parágrafo 6º.

Continua a autora reforçando o comentário anterior, dizendo que: “A

conjugação desses princípios oportunizou a edificação de uma nova estrutura de

Família, que valoriza a pessoa nas suas relações intersubjetivas, assegurando as

possibilidades de pleno desenvolvimento de todos os membros da entidade familiar”.

(DINIZ, 2002, p. 24).

Os princípios exercem uma função de otimização do Direito. Sua força deve

pairar sobre toda a organização jurídica, inclusive preenchendo lacunas deixadas

por outras normas, independentemente de serem positivados, ou não, isto é,

expressos ou não expressos. (BITTAR, 2006).

Eles têm, também, uma função sistematizadora: sem os princípios não há

ordenamento jurídico sistematizável nem suscetível de valoração. A ordem jurídica

reduzir-se-ia a um amontoado de centenas de normas positivas, desordenadas e

axiologicamente indeterminadas, pois são os princípios gerais que, em regra,

rompem a inamovibilidade do sistema, restaurando a dinamicidade que lhe é própria.

(BITTAR, 2006).

2.3.6 Natureza Jurídica

Diniz (2002, p. 26), entende que a natureza do Direito de Família impera “um

direito extrapatrimonial, ou personalíssimo, irrenunciável, intransmissível, não

admitindo condição ou termo ou seu exercício por meio de procurador”.

Dando prosseguimento ao entendimento a autora (2002, p. 28), acresce que

as normas do Direito de Família “são cogentes ou de ordem pública, insuscetíveis de

derrogação pelo simples arbítrio do sujeito”.

Gomes (2002, p. 06) afirma que “pelos sujeitos das relações que disciplina,

pelo conteúdo dessas relações, pelos fins de seu ordenamento e pela forma de

atuação, o Direito de Família é direito privado, e parte integrante do direito civil”.

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

33

Pode-se ressaltar que se vale das normas não pertencentes rigorosamente ao

Direito Civil, misturando-se aos demais ramos entre eles o Direito Penal, Direito

Comercial, Direito Processual. No entanto, não tiram o seu caráter preponderante de

Direito Civil, situado na esfera do Direito Privado. (MIRANDA, 2001).

Pereira (2004, p. 03-04) consoante ao autor acima, afirma que as normas do

Direito de Família são normas de Direito Privado, na medida em que os interesses

protegidos são predominantemente individuais, tratando-se de uma relação entre

particulares, embora haja interesse coletivo.

É certo que os interesses da família e dos membros que a compõem não

devem sofrer a intervenção direta e ostensiva do Estado, a quem compete apenas

tutelá-los. Dentro do Direito de Família o interesse do Estado é maior do que o

individual. Por isso, as normas são, quase todas, de ordem pública, insuscetíveis

portanto, de serem derrogadas pela convenção entre particulares. (RODRIGUES,

2004).

Rodrigues (2004, p. 07) assim se manifesta comentando que: “o interesse do

Estado pela família faz com que o ramo do direito que disciplina as relações jurídicas

que se constituem dentro dela se situe mais perto do direito público do que do direito

privado”.

A família é uma instituição, segundo a disciplina própria que é o Direito de

Família, que se encontra suscetível às mudanças da sociedade, o que dá vazão à

presença do Estado na disciplina de suas relações jurídicas. (PEREIRA, 2004).

Não se deve confundir, pois, esta tutela com poder de fiscalização e controle,

de forma a restringir a autonomia privada, limitando a vontade e a liberdade dos

indivíduos. Muito menos se pode admitir que esta proteção alce o Direito de Família

à categoria de Direito Público, apto a ser regulado por seus critérios técnico-

jurídicos. Esta delimitação é de fundamental importância, sobretudo para servir de

freio à liberdade do Estado para intervir nas relações familiares. (PEREIRA, 2004).

2.3.7 Relações com Outros Ramos do Direito Público e Privado

O Direito de Família relaciona-se com todos os ramos do Direito Público e do

Privado, exercendo neles grande influência.

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

34

Através dos ensinamentos de Monteiro e R. Limongi ([s.d] apud DINIZ, 2002,

p. 29), pode-se observar o seguinte:

No Direito Civil: a) O direito das obrigações contém normas que se fundam em

princípios do direito de família. b) O direito das coisas, como as concernentes à hipoteca legal dos

filhos sobre os bens imóveis do genitor que convolar núpcias sem fazer o inventário do casal anterior.

c) O direito das sucessões, que na sua maior parte, relativa à sucessão legítima, é aspecto patrimonial do direito de família.

No Direito Público: a) O direito constitucional sobre normas que regem a família, a

educação e a cultura. b) O direito tributário nas isenções tributárias relativas a cônjuges ou

companheiros, filhos e dependentes, pois na arrecadação do imposto de renda há deduções atinentes aos encargos de família;

c) O direito administrativo em matéria de preferência para a remoção de cargos públicos.

d) O direito previdenciário, no que concerne as pensões alimentícias a que têm direito viúvos ou ex-conviventes, filhos e dependentes.

e) O direito processual na suspeição do juiz e de serventuário da Justiça em razão de parentesco com as partes litigantes; no impedimento de testemunha; na remição e na execução.

f) O direito penal em proteger a família, ao reprimir os crimes contra o casamento; estado de filiação; assistência familiar; poder familiar; tutela e curatela.

No entendimento de Bittar (2006, p. 09) quanto ao relacionamento do Direito

de Família com os outros ramos do Direito:

Mas é no direito das sucessões que mais se mostra o enredamento do direito de família, pois, dadas as noções de preservação da espécie e de defesa dos ideais comuns do núcleo familiar, pode-se observar que o primeiro é verdadeira conseqüência, ou irradiação, do segundo, regendo os aspectos patrimoniais decorrentes da transmissão de riquezas em família, em razão da morte de um integrante.

Apesar do acima exposto pode-se verificar que mesmo assim o Direito de

Família, relaciona-se com os demais ramos do direito, numa espécie troca, ou seja

tanto ele influencia como sofre influência dos demais, ora oferecendo princípios e

subsídios, ora moldando-se à normas e princípios. (BITTAR, 2006).

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

35

2.4 TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NA FAMÍLIA E NO DIREITO DE FAMÍLIA

APÓS A PROMULGAÇÃO DA CRFB/1988 E DA LEI N. 10.406/2002 – CÓDIGO

CIVIL

O Direito de Família sofreu profundas transformações, desde a promulgação

do Código Civil em 1916 até os dias atuais. Mas a grande virada se deu com a

CRFB/1988, que introduziu relevantes mudanças no conceito de família e no

tratamento dispensado a essa instituição considerada a base da sociedade.

(BITTAR, 2006)

Após o advento da Constituição Federal de 1988 e com as inovações

surgiram inovações no Direito de Família, principalmente com a promulgação da Lei

10.406 de 10/01/2002 - Código Civil.

Venosa (2005, p. 29) reforça o comentário acima, destacando o seguinte

ensinamento:

O atual estágio legislativo teve que suplantar barreiras de natureza ideológica, sociológica, política, religiosa e econômica. Muito ainda, sem duvida, será feito em matéria de atualização no campo de família. Nessa ebulição social, mostra-se árdua uma codificação, tanto que o Projeto de 1975 que redundou no Código Civil de 2002 dormitou por muitos anos no Congresso.

Mesmo com a nova codificação oferecida pelo Código Civil de 2002, ainda

restam muitas discussões sobre o Direito de Família, já que a sociedade está em

constante mudança e com ela existem também avanços científicos, os quais o direito

não consegue acompanhar, criando, dessa forma, desafios para os juristas e para os

legisladores. (AZEVEDO, 2002).

Os direitos consagrados à família pela CRFB/1988 repercutiram quando da

elaboração do texto do Novo Código Civil, como por exemplo: a igualdade entre os

cônjuges, de forma que se substituiu o pátrio poder por poder familiar e o

reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar.

Ainda, foram totalmente abolidas todas as referências à filiação “legítima”,

“legitimada”, “adulterina”, “incestuosa” e “adotiva”, uma vez que a CRFB/1988

contempla a igualdade entre os filhos. (DINIZ, 2002).

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

36

O Código Civil não faz mais referência a legitimação, isto é, em consonância

com esta alteração, o artigo 1.618 do Código Civil dispõe: “São equiparados aos

nascidos no casamento, para todos os efeitos legais, os filhos concebidos ou

havidos de pais que posteriormente casaram”. (WALD, 2005).

Em relação ao concubinato, impede a nova lei a investigação de maternidade

quando esta tenha por fim atribuir a mulher casada filho havido fora da sociedade

conjugal, excetuando-se quando requerida a investigação depois de dissolvida a

sociedade conjugal ou de um ano de separação ininterrupta do casal, devidamente

comprovada. (WALD, 2005).

No entendimento de Bittar (2006) é necessário destacar as mudanças havidas

no contexto do direito de Família a partir dos artigos 226 e seguintes da CRFB/1988:

ampliação das formas de constituição da família, que antes se circunscrevia ao

casamento, acrescendo-se como entidades familiares à união estável e a

comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; b) facilitação da

dissolução do casamento pelo divórcio direto após dois anos de separação de fato, e

pela conversão da separação judicial em divórcio após um ano; igualdade de direitos

e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal; igualdade dos filhos,

havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-se a todos os mesmos

direitos e deveres e sendo vedada qualquer discriminação decorrente de sua

origem.

Haja vista ser a Família a base da sociedade e ter especial proteção do

Estado, a CRFB/1988 reconheceu a união estável entre o homem e a mulher como

entidade familiar, através de seu art. 226 e parágrafos 3º, trazendo em seu comando

novas espécies de família, que a partir daí foram tuteladas pela norma

constitucional. (AZEVEDO, 2002).

Dispõe o artigo da CRFB/1988 acima citado (2005, p. 143):

Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] [...] Parágrafo 3º - Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

37

Nesse contexto, além do já explanado evidencia-se a importância da Família

para Estado, como se depreende do o artigo 226, caput, da CRFB/1988, que ao

referir-se à Família como sendo a base da sociedade, assegurou-lhe especial

proteção do Estado, comprometendo-se pela sua integridade.

Em consonância a esse reconhecimento dispôs o Código Civil de 2002 em

seu art. 1.723 :

É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, continua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de Família. (2005, p. 378).

Á propósito, complementa Diniz (2002, p. 16) destacando que diante da

norma constitucional acima descrita se têm hoje três espécies de família: “a

matrimonial, oriunda das relações matrimoniais, a extramatrimonial que é a

decorrente da união de fato e a família monoparental que é aquela formada por um

de seus genitores e descendentes”.

Como decorrência dos novos mandamentos constitucionais, foram editadas

leis especiais garantidoras daqueles direitos, com atualização do texto da Lei

6.515/77, relativa à separação judicial e ao divórcio, a edição da Lei 8.069/90 -

Estatuto da Criança e do Adolescente, a normatização da Lei n. 8.560/90 -

Reconhecimento de Filhos havidos fora do Casamento e as Leis n. 8.971/94 e

9.278/96 - União Estável, dando aos companheiros direitos a alimentos, meação e

herança. (RIZZARDO, 2006).

Observa-se a seguir o entendimento de Rodrigues (2004, p. 05), comentando

o dispositivo acima em destaque:

A família constitui a base de toda a estrutura da sociedade. Nela se assentam não só as colunas econômicas, como se esteiam as raízes morais da organização social. De sorte que o Estado, na preservação de sua própria sobrevivência, tem interesse primário em proteger a família, por meio de leis que assegurem o desenvolvimento estatal e a intangibilidade de seus elementos institucionais.

Atualmente está se construindo uma nova concepção de família, ou seja, a

entrada da mulher no mercado de trabalho, as facilidades para a obtenção do

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

38

divórcio e a independência maior da juventude são alguns dos fatores que

contribuem para uma menor estabilidade da família. Isto não significa que a família

esteja em crise, há uma transformação decorrente das mudanças sociais. Estas

transformações acabam por criar a necessidade de uma proteção maior pelo Estado,

merecendo também a atenção da doutrina. (PEREIRA, 2004).

Feita esta explanação sobre o contexto da Família e do Direito de Família,

passa-se a destacar no capítulo seguinte o conceito e a natureza jurídica do

Casamento e Parentesco bem como sua origem e evolução na legislação brasileira.

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

3 A CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA PELO CASAMENTO

Para ter início no instituto da Separação Judicial é preciso primeiramente ter

uma idéia de como funciona o instituto do casamento seus efeitos legais e quais os

direitos e deveres aos cônjuges em relação à sociedade conjugal.

Encontra-se fundamentada no casamento ou matrimônio uma das fontes da

constituição da família, desde que o homem se conscientizou do relevo de sua ação

na formação e na preservação da espécie. A partir do momento em que os nubentes

declaram publicamente suas vontades, encontram-se no casamento e na família,

ideais, sentimentos e objetivos que interessam a toda a comunidade. (BITTAR,

2006).

3.1 CASAMENTO

Assevera Diniz (2002, p. 39), que “o casamento é a mais importante e

poderosa de todas as instituições de direito privado, por ser uma das bases da

família, que é a pedra angular da sociedade”.

Para Monteiro (2004, p. 21), “não existe, provavelmente, em todo o direito

privado, instituto mais discutido que o casamento”.

O casamento é uma instituição antiga, que nasceu a partir dos costumes,

portanto incentivada pelo sentimento moral e religioso, e na atualidade encontra-se

completamente incorporada ao direito pátrio. (BITTAR, 2006).

Pelo casamento cria-se um vínculo jurídico entre os cônjuges, em que está

contida a sociedade conjugal. Cria-se deveres legais de naturezas diferentes, alguns

de caráter nitidamente patrimonial, que se enquadram perfeitamente no campo das

obrigações, e outros n/ao patrimoniais. (WALD, 2005).

É condição jurídica para existência de certos direitos e, no sentido social,

pode ser entendido como uma manifestação de vontade conjunta, subordinada a

inúmeros pré-requisitos e a uma cerimônia civil que, cumpridas certas formalidades,

substancia e legitima uma união de pessoas. (WALD, 2005).

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

40

Para Venosa (2007, p. 25), o casamento é o centro do direito de família.

Dele irradiam suas normas fundamentais. Sua importância, como negócio jurídico formal, vai desde as formalidades que antecedem sua celebração, passando pelo ato material de conclusão até os efeitos do negócio que deságuam nas relações entre os cônjuges, os deveres recíprocos, a criação e assistência material e espiritual recíproca e da prole etc.

Constitui assim o casamento uma vasta instituição social, a qual, nasce da

vontade dos contraentes, mas que, da imutável autoridade da lei, recebe forma,

suas normas e seus efeitos. (MONTEIRO, 2004).

Venosa (2007), comunga do entendimento do autor acima citado, afirmando

que a conceituação de casamento não pode ser imutável, como costuma acontecer

com todos os fenômenos sociais que se modificam no tempo e no espaço.

3.1.1 Conceito

Os juristas têm tido muitas dificuldades para definir o casamento devido a

discordância em relação aos elementos caracterizadores ou elementares no

casamento. (BORGHI, 2005).

Ressaltar-se que o mesmo acontece em relação ao ordenamento jurídico, ou

seja, o Código Civil não define o que seja casamento, mas deixa evidenciado que é

ato a ser consumado entre um homem e uma mulher. Percebe-se que ele faz

referência a todo o momento aos cônjuges. Em relação a CRFB/1988 pode-se dizer

que ela também não o define, mas no art. 226, parágrafo 5º, prescreve que “os

direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo

homem e pela mulher”. (THOMAZ, 2006, p. 01).

Para Diniz (2002, p. 39), “o casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a

mulher que visa o auxilio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma

integração fisiopsíquica e a constituição de uma família”.

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

41

No direito romano houve duas definições do casamento. Uma se encontra no

Digesto, que é a de Modestino, e outra nas Institutas, de Justiniano e atribuída a

Ulpiano. (VENOSA, 2007).

Muito conhecida é a visão de Modestino ([s.d] apud VENOSA, 2007, p. 25), o

conceito de casamento é “o contrato de direito de família que tem por fim promover a

união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas

relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”.

Já a definição das Institutas ([s.d] apud BORGHI, 2005, p. 26), estabeleceu

que: “núpcias ou casamento é a união do homem e da mulher, estabelecendo entre

eles uma comunhão de existências indivisível”.

Clóvis Beviláqua ([s.d] apud BORGHI, 2005, p. 27) também definiu o

casamento, da seguinte maneira:

O casamento é um contrato bilateral e solene pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e interesses e comprometendo-se a criar e a educar a prole que de ambos nascer.

Monteiro (2004, p. 22), conceitua casamento como sendo “a união

permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se

reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus filhos”.

Por último tem-se a definição de casamento por Gonçalves (2006, p. 01),

como sendo a união legal entre um homem e uma mulher, com o objetivo de

constituírem a família legítima. Reconhece-se-lhe o efeito de estabelecer “comunhão

plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

3.1.2 Caracteres e fins do Casamento

Em relação aos caracteres do casamento Monteiro (2004, p. 22) assevera

que:

a) sua natureza é de ordem pública. A legislação sobre casamento plana acima das convenções particulares;

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

42

b) além disso, implica união exclusiva, tanto que a violação ao de ver de fidelidade constitui ilícito civil;

c) importa comunidade de vida para os cônjuges; d) não comporta termo ou condição, tratando-se, como se trata, de

negócio jurídico puro e simples.

Para Diniz (2002, p. 45-46) os caracteres do casamento são divididos em

quatro itens, conforme disposto a seguir: a) A liberdade na escolha do nubente; b) A

solenidade do ato nupcial; c) O fato de ser a legislação matrimonial de ordem

pública, por estar acima das convenções dos nubentes; d) A união permanente; e) A

união exclusiva.

Gonçalves (2006, p. 29) em relação às finalidades do casamento, assevera

que: “são múltiplas as finalidades e variam conforme a visão filosófica, sociológica,

jurídica e religiosa como são encaradas”.

Distingue-se no casamento fins primários e secundários. Em relação ao fim

primário, pode-se dizer que a sociedade conjugal não estabelece unicamente para a

procriação e educação da prole. Paralelamente seguem os denominados

secundários: o remédio à concupiscência e a ajuda mútua, suficientes, para justificar

o matrimônio, ainda que subordinados ao fim primário. (GOMES, 2002).

No entendimento de Miranda (2001, p. 105)

O matrimônio não é só relação jurídica, mas – e antes de tudo – relação moral. O direito apenas dá normas à expressão exterior do casamento. Daí os seus múltiplos efeitos: uns grafados, por sua importância, como deveres e direitos decorrentes do ato do matrimônio; outros, de menor alcance, que entram na dedução dos assuntos à medida que se faz sentir a sua influência, e outros, enfim, de caráter moral, que são corolários imediatos da afeição recíproca. Só o estudo dos primeiros compete à técnica do direito.

Segundo o direito positivo os artigos l.5111, l.5652, 1.5663 e outros do Código

Civil, o casamento tem por finalidade criar a família e estabelecer comunhão plena

1 Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 2 Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. 3 Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal;

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

43

de vida, com arrimo na igualdade de direitos e deveres dos componentes do casal, e

referindo-se à criação da família. (BORGHI, 2005, p. 42).

No entendimento de Gonçalves (2006) a principal finalidade do casamento é

estabelecer comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e afeição existentes

entre o casal e baseada na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua

assistência, como bem se observa o contexto no art. 1.511 do ordenamento jurídico.

3.1.3 Natureza e Regulamentação Legal

Quanto à natureza jurídica do casamento, há três correntes doutrinárias. Para

a primeira o casamento tem natureza contratual, para a segunda o casamento é uma

instituição e para a terceira é um estado, aliado a uma ou a outra daquelas

concepções, ou seja, é um misto. (BORGHI, 2005).

Em relação a concepção contratualista, o casamento é estabelecido por

acordo entre os cônjuges. Seria um contrato, ao qual se aplicariam as regras

ordinárias a todos os contratos civis, sendo o consentimento dos nubentes o

elemento essencial da sua existência. (BORGHI, 2005).

Já para os institucionalista o casamento constitui uma instituição social que

nasce da vontade dos contraentes mas que recebe sua forma, suas normas e seus

efeitos da autoridade da lei. (BORGHI, 2005).

Leciona Borghi (2005, p. 38) em relação à natureza jurídica do casamento:

Entendemos enquadrar-se o casamento na categoria dos negócios jurídicos mais consentânea com a realidade atual em referência aos contratos, embora o de casamento seja especial, como referido; não obstante, tem sido e continuará a ser utilizada a expressão negócio (ou ato) jurídico para designação do casamento.

Para os que afirmam ser um misto, ou seja, entendem o casamento como ato

complexo, ou seja, ao mesmo tempo contrato em sua formação, instituição no seu

III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

44

conteúdo; é mais que um contrato, mas não deixa de o ser também. (BORGHI,

2005).

Cita-se também o posicionamento de Diniz (2002, p. 44) que assim se

manifesta: “Por ser o matrimônio a mais importante das transações humanas, uma

das bases de toda a constituição da sociedade civilizada, filiamo-nos à teoria

institucionalista, que o considera como uma instituição social”.

3.1.4 Casamento Civil e Religioso

Com a proclamação da República e a conseqüente separação da Igreja e do

Estado, é que surgiu a possibilidade de realizar exclusivamente o casamento civil,

através do Decreto Lei n. 181 de 24 de janeiro de l.890. (MONTEIRO, 2004).

A partir daí, criou-se a seguinte situação: o casamento religioso não passava

de mera união, ou seja não era legalizado. Por sua vez o casamento civil em relação

a Igreja não passava igualmente de uma união livre, pois era contrária aos princípios

religiosos. (MONTEIRO, 2004).

Devido a população brasileira na época ser por sua maioria católica, o conflito

era conciliado através da realização sucessiva das duas cerimônias, civil e religiosa.

Na atualidade o casamento continua sendo civil. Entretanto equipara-se o

casamento religioso ao civil caso seja observados os impedimentos e as prescrições

da lei, assim o requerer o celebrante ou qualquer interessado, contando que seja o

ato inscrito no Registro Público, conforme determina a CRFB/1988 em seu art. 226

parágrafo 2º, in verbis: [...] “O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei”

(WALD, 2005).

Diniz (2002, p. 112) ressalta que em relação ao casamento civil, permite o

ordenamento jurídico brasileiro algumas modalidade de celebração conforme

disposto a seguir: a) Casamento por Procuração encontra-se estabelecido no art.

1.542, Parágrafos 1º a 4º do Código; b) Casamento Nuncupativo é uma forma

excepcional de celebração do ato nupcial em que o CC, art. 1.540; c) Casamento

perante autoridade Diplomática ou consular; d) Casamento Religioso com Efeitos

Civis.

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

45

3.2 PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DO CASAMENTO

3.2.1 Direitos e Deveres dos Cônjuges

São deveres recíprocos entre os cônjuges os de fidelidade, de vida em

comum no domicílio conjugal, de mútua assistência, sustento, guarda e educação

dos filhos, respeito e considerações mútuos, importando a grave violação de

qualquer deles em causa para a separação judicial litigiosa. (WALD, 2005).

Neste contexto fica estabelecido pela lei, doutrina e jurisprudência um

conjunto de direitos e obrigações recíprocas entre os cônjuges e que somente com a

dissolução do casamento podem ser liberados. Nascem a partir da celebração do

casamento, podendo manter-se embora sobrevenha a separação judicial ou até o

divórcio. (BITTAR, 2006).

Existe um complexo de deveres e obrigações de um lado, que gera direitos e

obrigações também para o outro lado, e somente esta harmonia de interesses e

manifestação de vontade é que sintetiza a completa relação conjugal legal e moral.

(PEREIRA, 2004).

Nesse diapasão salienta Rodrigues (2004, p. 135) que “o último passo, na

evolução igualitária, foi dada pelo legislador constituinte de 1988”, com a regra do

parágrafo 5º4 do art. 226 da CRFB/1988, como se pode observar:

3.2.2 Impedimentos Matrimoniais

O direito civil brasileiro prevê os impedimentos do casamento em seu art.

1.521 itens I a VII, que se referem à união entre ascendentes e descendentes, ao

parentesco em linha reta, seja ele natural ou civil, parentesco em linha colateral até

terceiro grau, à proibição do casamento entre o adotado e o filho do adotante, entre

4 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Parágrafo 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

46

pessoas já casadas, e entre o cônjuge sobrevivente e o condenado por homicídio ou

tentativa de homicídio contra o seu consorte. (WALD, 2005).

As razões desses impedimentos são ou a consangüinidade (parentesco em

linha reta ou linha colateral) ou a monogamia e monoandria (proibição do casamento

de pessoas já casadas), ou a proteção do recato da família (proibição do casamento,

nos casos de adoção, entre o adotado e os filhos do adotante), ou a espécie de

sanção acessória por crime cometido (homicídio). (WALD, 2005).

3.2.3 Causas Suspensivas do Casamento

São causas suspensivas do casamento aquelas constantes do art. 1.5235,

incisos I a IV, que impedem o casamento. (WALD, 2005).

Enquanto os impedimentos protegem a livre vontade dos nubentes,

estabelecendo ainda a idade mínima para o casamento, as causas suspensivas

visam resguardar situações econômicas, evitando que os filhos sejam prejudicados

pelo segundo casamento do viúvo ou viúva. (WALD, 2005).

3.2.4 Nulidade e Anulação de Casamento

É nulo o casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário

discernimento para os atos da vida civil e com infração de impedimentos contidos no

art. 1.5486, incisos I e II, do ordenamento jurídico. (WALD, 2005).

5 Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 6 Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - por infringência de impedimento

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

47

Estabelece o Código Civil em seu art. 1.561 “Embora anulável ou mesmo

nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a

estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória”, que

o casamento nulo ou anulável produz efeitos até o dia da sentença anulatória, caso

tenha sido contraído de boa-fé, salvo caso de putatividade. (GONÇALVES, 2006).

Há também o casamento eivado de nulidade sanável, ou seja é aquele que a

lei considera menos importante e que, não havendo qualquer oposição durante um

lapso de tempo, pode ficar sanada validando o casamento. (WALD, 2005).

Trata-se de casamento putativo, casamento nulo em que ao menos um dos

cônjuges estava de boa fé. O casamento nulo passa a ser putativo provando-se a

boa fé de um dos cônjuges e o erro em que incidiu, cabendo aos tribunais apreciar

as circunstâncias de cada caso concreto em virtude das quais o erro ou a ignorância

possa parecer plausível. (WALD, 2005).

O casamento anulável encontra-se disciplinado no art. 1.5507 do código civil,

conforme demonstrado em nota de rodapé.

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE REGIMES DE BENS

Os regimes de bens constituem, os princípios jurídicos que disciplinam as

relações econômicas entre os cônjuges, na constância do matrimônio. (PEREIRA,

2004).

Em relação ao regime de bens pode-se dizer que o matrimônio cria para os

cônjuges relações patrimoniais especialmente objetivadas no direito sucessório, nos

regimes matrimoniais e nas doações recíprocas. (PEREIRA, 2004).

Gomes (2002, p.161) traz sua contribuição em relação ao regime matrimonial,

asseverando que: “é o conjunto de regras aplicáveis à sociedade conjugal

7 Art. 1.550. É anulável o casamento: I - de quem não completou a idade mínima para casar; II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI - por incompetência da autoridade celebrante.

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

48

considerada sob o aspecto dos seus interesses patrimoniais. Em síntese, o estatuto

patrimonial dos cônjuges”.

O casamento gera efeitos de duas ordens: pessoais e matrimoniais. Os

primeiros estão elencados nos arts. 1.566 a 1.570 do Código Civil, que são os

efeitos patrimoniais ou econômicos. (PEREIRA, 2004).

Pereira (2004, p. 188), disciplina que o regime de bens atende a dois critérios:

a) quanto à origem, quando provém da convenção ou da lei; b) quanto ao seu

objeto, no que diz respeito ao fato de se comunicarem ou não os patrimônios dos

cônjuges.

Podem os cônjuges escolher o regime de bens de suas preferências, também

combinarem ou estipularem cláusulas de sua livre escolha e redação, desde que

estas, não atentem contra os princípios da ordem pública, e não contrariem a

natureza e os fins do casamento. (PEREIRA, 2004).

A imutabilidade do regime de bens não é, porém absoluta, pois o art. 1.639,

em seu Parágrafo 2º, admite a sua alteração, “mediante autorização judicial em

pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões

invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”. (GONÇALVES, 2006, p. 138).

Estão regulamentados no Código Civil em seus artigos 1.672 a 1.686 quatro

espécies de regimes de bens que são: comunhão parcial; comunhão universal;

separação total de bens e por último o regime de participação final dos aqüestos.

(DINIZ, 2002).

Importante ressaltar conforme o disposto no art. 1.640 caput do Código Civil

em relação à não manifestação por parte dos cônjuges em relação a escolha de

bens do matrimônio. Salienta-se, entretanto o Parágrafo Único do referido artigo a

necessidade de pacto antenupcial por escritura pública, na escolha dos outros

regimes, entre eles a comunhão universal, participação final nos aqüestos,

separação total convencional. (PEREIRA, 2004).

Deverá o pacto antenupcial ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis

conforme Lei n. 6.015/73 e art. 1.657, do código Civil para ter validade contra

terceiros e efeito "erga omnes". Caso não registrado no Cartório de Registro de

imóveis, não torna-se nulo, mas terá efeito somente perante os cônjuges e

herdeiros. No caso de empresários, deverá ser averbado no Cartório de Registros

Públicos de Empresas Mercantis, art. 979, CC.

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

49

3.4 PARENTESCO E SUAS ESPÉCIES

Nas palavras de Pereira (2004, p. 234) “dentre as várias espécies de relações

humanas, o parentesco é das mais importantes e a mais constante, seja no

comércio jurídico, seja na vida social”.

Diniz (2002, p. 367) complementa, destacando que “o parentesco é a relação

vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de

um mesmo tronco comum, mas também entre um cônjuge e os parentes do outro e

entre adotante e adotado”.

O Código Civil de 1916, nos artigos 330 a 336, instituía que o Parentesco

resulta da consangüinidade, da afinidade que liga o cônjuge aos parentes do outro

cônjuge e da Adoção. (WALD, 2005).

Atualmente, o Código Civil conservou essas espécies de Parentesco, fazendo

com que a afinidade alcance também a união estável, conforme disposto no artigo

1.5958 e trazendo outra inovação, a que o Parentesco é natural quando resultante da

consangüinidade e Parentesco Civil quando tiver outra origem segundo as

disposições do artigo 1.5939. (WALD, 2005).

Segundo Diniz (2002, p. 367-368) conforme disposto nos artigos do Código

Civil, destacados anteriormente, o Parentesco pode ser dividido em:

a) Natural ou consanguíneo: é o vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, portanto ligadas, umas às outras, pelo mesmo sangue; b) Parentesco por afinidade: consistente em um vínculo que é estabelecido entre cada cônjuge ou companheiro e os parentes do outro conforme estabelecido no artigo 1.595 do Código Civil Brasileiro de 2002; c) Parentesco civil: Caracterizado como sendo o vínculo da adoção, entre adotante e adotado, que se estende aos parentes de um e de outro.

Segundo o artigo 1.59110 do Código Civil, são parentes em linha reta as

pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e

8 Art. 1.595 - Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade 9 Art. 1.593 - O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem 10 Art. 1.591- São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes.

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

50

descendentes. Prevê o art. 159211 do referido diploma legal sobre as pessoas

provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra, que os mesmos

sejam parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau. (WALD, 2005).

O Código Civil em seu art. 159412 estabelece as regras de contagem do grau

de parentesco, segundo o qual, na linha reta, contam-se os graus de parentesco

pelo número de gerações e na colateral, também pelo número delas, subindo de um

dos parentes até o ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

(WALD, 2005).

3.4.1 Filiação

Segundo Diniz (2002, p. 378), a filiação é “o vinculo existente entre pais e

filhos; vem a ser a relação de parentesco consangüíneo em linha reta de primeiro

grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida”.

No entendimento de Wald (2005, p. 241), “a procriação gera efeitos jurídicos,

não mais importando a qualidade de filho na criação de deveres e direitos”.

"Filiação é a relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e em

linha reta, que liga uma pessoa àquelas que o geraram. Essa relação de parentesco,

dada a proximidade de grau, cria um sem-número de efeitos no campo do direito, daí

derivando a importância de sua verificação". (RODRIGUES, 2004, p. 297).

Diniz (2002, p. 381-394) apresenta uma classificação mais completa, não se

limitando a apenas mostrar o que é filiação matrimonial:

a) matrimonial, na qual se inserem os filhos nascidos da Constancia

do casamento, de acordo com as presunções contidas no art. 1.597 do mesmo código;

b) não matrimonial, abrangendo os filhos nascidos fora das relações matrimoniais, que podem ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente de acordo com o disposto no art. 1.607 do Código Civil;

c) adotiva, na forma do art. 1.626 do Código Civil e do art. 41 da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, que consiste

11Art. 1.592 - São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra 12Art. 1.594 - Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

51

na atribuição da condição de filho à pessoa sem vínculo consangüíneo ou que não se insira na filiação matrimonial e não matrimonial.

De acordo com o disposto no art. 227, parágrafo 6º da CRFB/1988 e do art.

1.596 do Código Civil, os filhos, qualquer que, seja a origem devem ter os mesmos

direitos e qualificações, sendo proibidas quaisquer designações discriminatórias

relativas à Filiação.

3.4.2 Reconhecimento da filiação

O reconhecimento do estado de Filiação constitui, de acordo com a nova lei,

direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, exercitável contra os pais e seus

herdeiros sem qualquer restrição, conforme disposto no artigo 27 do Estatuto da

Criança e do Adolescente. Outras disposições sobre o reconhecimento de filhos

constam dos artigos 1.607 a 1.617 Código Civil, supletivamente, na Lei 8.560/92 –

Investigação de Paternidade. (WALD, 2005).

O art. 1.607 do Código Civil dispõe que: “O filho havido fora do casamento

pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente” referindo-se ao

reconhecimento voluntário.

Cabe registrar o entendimento de Diniz, (2002, p. 395):

O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação havida fora do matrimônio, estabelecendo, juridicamente, o parentesco entre pai e mãe e seu filho. Não cria, portanto, a paternidade, pois apenas visa a declarar um fato, do qual o direito tira conseqüências. Desde o instante do reconhecimento válido, proclama-se a filiação, dela decorrendo conseqüências jurídicas, já que antes do reconhecimento, na órbita do direito, não há qualquer parentesco.

Os modos pelos quais se pode fazer o reconhecimento voluntário, cuida o

Código Civil em seu art. 1.609, nos seguintes termos:

Art. 1.609 – O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

52

I) no registro do nascimento; II) por escritura pública ou escrito particular a ser arquivado em cartório; III) por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV) por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não tenha sido objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo Único: O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. (2005, p. 354-355).

No entendimento de Pereira (2004, p. 214) o reconhecimento da Filiação seja

ela matrimonial ou extramatrimonial possui os seguintes atributos:

a) irrevogabilidade que significa que uma vez pronunciada não poderá ser revogada;

b) anulabilidade, haja vista que assim como os atos jurídicos em geral é anulável;

c) validade erga omnes, eis que vale em relação aos interessados diretos (pai e mãe) como a todas as pessoas, inclusive parentes;

d) indivisibilidade, pois não é possível fracionar-se para abranger o reconhecido como filho, efeitos parciais ou limitados;

e) incondicionabilidade, visto que o ato não comporta a oposição de uma condição; e f) a retroatividade, pois a mesma reflete a possibilidade do efeito retrooperante do reconhecimento à data do nascimento ou até a sua concepção.

Uma vez declarada a vontade de reconhecer, o ato passa a ser irretratável ou

irrevogável, inclusive se feito em testamento por implicar numa confissão de

paternidade ou maternidade, apesar de poder vir a ser anulado se inquinado de vício

de vontade como erro, coação ou se não observar certas formalidade legais. (WALD,

2005).

O interessado pode ingressar em juízo para investigar sua paternidade ou

maternidade biológica, caso haja dúvida quanto a filiação, pois trata-se de um direito

saber sua identidade genética. Este tipo de reconhecimento judicial, pode ser,

intentada através de uma Ação de Investigação de Paternidade ou Maternidade, a

qual permite obter a declaração de seu respectivo status familiae. (DINIZ, 2002).

Conforme disposto no art. 1.614 do Código Civil, “O filho maior não pode ser

reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento,

nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação”, para que haja o

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

53

reconhecimento do filho maior, o mesmo não poderá ser reconhecido sem o seu

consentimento e filho Menor pode impugnar o reconhecimento dentro dos quatro

anos que seguirem à maioridade ou emancipação. (DINIZ, 2002).

3.4.3 Adoção na Atualidade

No entendimento de Wald (2005, p. 270) o conceito de adoção “é uma ficção

jurídica que cria o parentesco civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de

paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente”.

Assevera Diniz (2002), que a adoção dá origem a uma relação jurídica de

parentesco civil entre adotante e adotado.

Seguindo o mesmo raciocínio prossegue a autora (2002, p. 423) que a

adoção: “É o ato jurídico solene pelo qual alguém estabelece, irrevogável e

independentemente de qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um

vinculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa

que geralmente lhe é estranha”.

O art. 227 parágrafos 5º e 6º da CRFB/1988, dispõe a igualdade dos direitos

de todos os filhos, inclusive os direitos referentes sucessórios, proibindo qualquer

discriminação. Também proporcionou avanços em matéria de Adoção, porém,

somente com a Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e Adolescente que os dispositivos

constitucionais passaram a ser regulamentados. (WALD, 2005).

O Código Civil 2002 não tratou totalmente o instituto da Adoção. Pelo

contrário em algumas situações o mesmo reprisou o já disposto na Lei n. 8.069/90 -

Estatuto da Criança e do Adolescente e em outras foi omissivo. (PEREIRA, 2004).

Pelo Código Civil de 1916, exigia do adotante idade mínima de 30 anos, pois

o legislador considerava que tal ato deveria ser efetuado por alguém dotado de um

grau maior de maturidade, já que o arrependimento poderia gerar danos irreparáveis

para as partes. O exigido atualmente é que o adotante tenha pelo menos 18 anos,

art. 1.618 do Código civil. (DINIZ, 2002).

Além disso, sendo o adotante casado, era requisito que o matrimônio

houvesse ocorrido há pelo menos cinco anos, a não ser que o homem fosse maior

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

54

de 50 e a mulher maior de 40 anos. Caso o adotante tivesse filhos, o adotado não

seria incluído na sucessão hereditária. (PEREIRA, 2004).

Não poderá haver qualquer forma de restrição quanto ao sexo do adotante,

entretanto para possibilitar a adoção cumulativa (por duas pessoas

simultaneamente), devem os adotantes ser marido e mulher ou viverem em união

estável, conforme disciplinam o artigo 1.62213 Caput e Parágrafo Único do Código

Civil e Parágrafo 1º do artigo 4114 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo

que tal direito, após o reconhecimento legal da união estável, naturalmente se

estende aos companheiros. (WALD, 2005).

Á propósito ensina Pereira (2004, p. 214) que a outra imposição é a diferença

de idade entre adotante e adotado, conforme disposto no art. 1.619 do Código Civil.

"Imitando a filiação biológica, e propiciando autoridade e respeito, o adotante há de

ser pelo menos 16 anos mais velho do que o adotado o Código de 1916 exigia 18

anos”.

Pereira (2004, p. 218) resume seu entendimento quanto ao disposto na Lei n.

4.655/65, de que a mesma surgiu com a pretensão de "suprir o parentesco civil dos

meios hábeis a realizar efetivamente a integração do adotado no meio familiar que o

recebia", sob o nome de legitimação adotiva, que objetivava equiparar o filho adotivo

ao natural, trazendo, contudo, uma série de restrições que continuaram a

obstaculizar o instituto.

Surgiu, com o decurso do tempo, uma tendência a alterar a expressão

consagrada pela lei acima mencionada, que passaria a ser tratada por adoção, nas

modalidades simples, prevista no Código Civil, e plena, que seria a legitimação

adotiva com as alterações acrescidas pelo revogado Código de Menores, Lei n.

6.697/79. (DINIZ, 2002).

Considerando o teor do antigo ordenamento, os adotantes se viam forçados a

partilhar o filho com a família biológica, o que levava os pais a registrar o filho

adotivo como se natural fosse (adoção à brasileira), o que constitui crime de

falsidade ideológica. (DINIZ, 2002). 13 Art. 1.622 - Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. Parágrafo único. Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. 14 Art. 41 - [...] Parágrafo 1º- Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

55

Em suma, esses são os efeitos pessoais e patrimoniais da Adoção, sendo

que esses efeitos somente terão início com o trânsito em julgado da sentença que o

decretar, exceto se o adotante vier a falecer no curso do processo, caso em que a

adoção produzirá efeitos retroativamente à data do óbito. O vínculo de adoção, por

sua vez, será inscrito no cartório de registro civil mediante mandado judicial,

cancelando-se o registro original do adotado. (WALD, 2005).

3.4.4 Poder Familiar

Para Rodrigues (2004, p. 356): “O poder familiar é o conjunto de direitos e

deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos não

emancipados, tendo em vista a proteção destes”.

Monteiro (2004, p. 348), traz sua contribuição quanto ao tema, destacando a

seguir:

Primitivamente, o pátrio poder, no Direito Romano, visava tão-somente ao interesse do chefe de família. Modernamente, despiu-se do caráter egoístico de que se impregnava; seu conceito, na atualidade, é profundamente diverso. Ele é presentemente um conjunto de deveres, de base nitidamente altruística.

Reforçando o comentado anteriormente Monteiro resume seu entendimento,

conceituando poder familiar como sendo: “[...] o conjunto de obrigações, a cargo dos

pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores. Por natureza é indelegável”.

(2004, p. 348).

A CRFB/1988, lembra Wald (2005), concedeu o pátrio poder ao casal, tal

como já o havia concedido a Lei n. 4.121/62. No entanto, havendo divergência entre

os cônjuges, não mais prevalece a vontade paterna, e aquele que estiver

inconformado, deverá recorrer à Justiça, pois o exercício do pátrio poder é de ambos

os cônjuges, igualmente dispõe o art. 21, da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e

do Adolescente. Só assumindo um deles com a exclusividade na falta ou

impedimento do outro, segundo artigo 1.631 do Código Civil Brasileiro de 2002.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

56

Na ordem pessoal, os atributos do pátrio poder manifestam-se sob três

aspectos fundamentais: guarda, educação e correição dos filhos; na ordem

patrimonial, os atributos do pátrio poder compreendem: a administração e o usufruto

dos bens dos filhos. (GOMES, 2002).

Aos incapazes que se encontram proibidos de atuarem, por si mesmos, na

vida jurídica; a lei confere proteção e colocá-os sob a orientação de uma pessoa

capaz, que os represente ou os assiste em todos os atos da vida civil.

(RODRIGUES, 2004).

No intuito de zelar pelo interesse do menor, encontra-se disposto no Art.

1.692 caput do Código civil o seguinte: “Sempre que no exercício do poder familiar

colidir o interesse dos pais com o do filho, a requerimento deste ou do Ministério

Público o juiz lhe dará curador especial”. (RODRIGUES, 2004).

Disposto no art. 1.63415, VII do Código Civil segundo o qual os filhos também

têm deveres em relação aos pais, devendo prestar-lhes todos os serviços

compatíveis com a sua situação. É preciso que não haja abuso no exercício dessa

prerrogativa, a fim de que não se transforme em malefícios para o filho, para

satisfazer a ganância dos pais (RODRIGUES, 2004).

3.4.4.1 Suspensão e extinção do poder familiar

Prevê os arts. 1.635 ao 1.637 do Código Civil, situações em que o poder

familiar poderá haver suspensão, cessação ou destituição. (RODRIGUES, 2004).

Primeiramente, têm-se o art. 1.635 do Código Civil onde constam às hipóteses em

que se extingue o poder familiar, quais sejam, pela morte dos pais ou do filho; pela

emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; pela maioridade; pela Adoção;

por decisão judicial. . (RODRIGUES, 2004).

15 Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: [...] V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

57

Leciona Rodrigues (2004, p. 145) que extingue-se o poder familiar pelos

seguintes motivos:

d) pela morte de ambos os pais ou do filho menor; e) pela emancipação; f) pela maioridade do filho; g) pela adoção, pois o pátrio poder do pai natural transferir-se-á para o adotante, e, mesmo que este venha a falecer, o pátrio poder não mais retornará ao pai carnal, nomeando-se, então, um tutor ao menor.

A segunda situação ocorre com a suspensão do poder familiar: a) abuso do

poder pelo pai ou pela mãe; b) falta aos deveres maternos ou paternos; c)

dilapidação dos bens dos filhos; d) condenação criminal paterna ou materna por

sentença irrecorrível por crime cuja pena exceda de dois anos de prisão. Conforme

disposto no art. 1.63716, do Código Civil e art. 24, da Lei n. 8.069/90 Estatuto da

Criança e do Adolescente. (RODRIGUES, 2004).

O art. 1.638 do Código Civil estabelece as situações em que, por ato judicial,

o pai ou a mãe podem perder o Poder Familiar: castigar imoderadamente o filho;

deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons costumes e

incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo 1.637 do diploma legal em

comento, quais sejam, abuso de autoridade, descumprimento dos deveres e ruína

dos bens dos filhos. (RODRIGUES, 2004).

Disposto nos art. 129, X, art. 155 a 163 da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da

Criança e do Adolescente, encontram-se a suspensão e a destituição do poder

familiar que são as sanções mais graves impostas aos pais quando, através de

sentença, tiverem seus atos caracterizados como atentatórios aos direitos do filho.

(RODRIGUES, 2004).

Enquanto a suspensão é provisória e fixada a critério do magistrado,

dependendo do caso e no interesse do menor, a perda do poder familiar pode

revestir-se de caráter irrevogável, assim como no caso de transferência do poder

16 Art. 1.637 - Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

58

familiar pela adoção. Esta diferença se estabelece pela graduação da gravidade das

causas que as fundamentam e a duração da penalidade. (AMIN, 2002).

O contexto apresentado neste capítulo teve como objetivo destacar os

aspectos concernentes ao entendimento jurídico do Instituto da Família.

No capítulo seguinte, será abordado o Direito de Família, conceito, natureza

jurídica, bem como a sua origem e desenvolvimento no mundo e evolução na

legislação brasileira.

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

4 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL

4.1 INTRODUÇÃO

A sociedade conjugal se estabelece através da união do homem e da mulher

com o ânimo de constituir uma família através do casamento, além disso apresenta

um vínculo jurídico que os une. Entende-se que através desta mesma vontade ou

pelo descumprimento dos deveres inerentes a ambos pode, ela ser dissolvida a

qualquer momento através de uma medida simples e imediata e que serve para

promover dissolução da sociedade conjugal chamada de Separação Judicial.

(BITTAR, 2006).

O instituto da Separação Judicial foi, inicialmente regulamentada, pelo Código

Civil de 1916 com a admissão apenas do desquite (ora separação), que opera a

terminação da sociedade conjugal, a par da previsão da anulação artigos 315 a 324

e da decretação de nulidade do ajuste artigos 207 a 224. (BITTAR, 2006).

A separação constante no art. 317 do Código Civil de 1916, destacava-se

com a denominação de ‘desquite’ e permitia unicamente a cessação da sociedade

conjugal, sendo que o mesmo era concedido nas seguintes previsões: adultério,

tentativa de morte, sevícia ou injúria grave e abandono do lar conjugal durante dois

anos contínuos. (RIZZARDO, 2006).

A partir dos anos 60, até a atualidade a sociedade esta se conscientizando de

que não é necessário que haja a solidez do matrimônio, se não há mais motivo para

que duas pessoas permaneçam casadas, para o bem delas e de seus filhos é

melhor que haja a separação. Sabe-se que muitos casamentos terminam justamente

por causa de brigas ou traições e, portanto, o casal decide por bem se separar até

para preservar os filhos. (VICENTE, 2006).

Até a década de 70 a família era constituída pelo casamento com vínculo

indissolúvel e merecendo a proteção do Estado. No ano de 1977, através da

Emenda Constitucional nº 9, que foi regulamentado pela Lei n. 6.515/77 conhecida

como a Lei do Divórcio. (VICENTE, 2006).

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

60

A partir daí, com a vigência desta lei, uma nova ordem no direito de família

ficou implantada no país, isso se deu com a introdução do divórcio como causa de

dissolução do vínculo conjugal. (VICENTE, 2006).

Já na década de 80, com a promulgação da CRFB de 05 de outubro de 1988

que preceitua em seu art. 226, que: “A família, base da sociedade, tem especial

proteção do Estado”, nota-se à proteção constitucional-familiar prevista no referido

texto da Lei Maior. (BITTAR, 2006).

Ressalta-se o contexto do Parágrafo 6º do artigo acima, in verbis, “O

casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por

mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por

mais de dois anos”, foi reafirmado a possibilidade de dissolução do casamento civil

pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano, nos casos

expressos em lei, ou comprovada a separação de fato por mais de dois anos.

(BITTAR, 2006).

O Código Civil em seus artigos 1.571 a 1.582 disciplina a matéria como

dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, englobando em uma disposição:

morte, a nulidade, a anulação, a separação judicial e o divórcio, e fazendo descrição

das regras básicas sobre a separação e o divórcio, mantida a obtenção deste por

meio de conversão. (BITTAR, 2006).

4.2 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

As formas de dissolução da sociedade conjugal encontra-se regulamentada

no art. 1.571 do Código Civil, que contempla quatro formas de terminar a sociedade

conjugal: in verbis:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I – pela morte de um dos cônjuges; II – pela nulidade ou anulação do casamento; III – pela separação judicial; IV – pelo divórcio. Parágrafo 1º: O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

61

Parágrafo 2º: Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. (2007, p. 439, grifo nosso).

Conforme dito anteriormente uma das formas de dissolução da sociedade

conjugal se dá através da Separação Judicial, em concordância com o texto do art.

2°, III, da Lei n. 6.515/77 que contempla a separação judicial como causa de

dissolução da sociedade conjugal. Não há, na hipótese, dissolução do vínculo

conjugal, como se dá com a morte e o divórcio. (BITTAR, 2006).

Em relação ao tema proposto por este trabalho monográfico considerar-se-á

somente o que diz respeito ao inciso III, “separação judicial”, portanto, não será

abordado, o instituto do Divórcio.

Importante ressaltar que a Lei n. 6.515/77 – Lei do Divórcio, está derrogada

pelo Código Civil de 2002 em tudo que disser respeito ao direito material da

separação e do divórcio, persistindo seus dispositivos de natureza processual, até

que sejam devidamente adaptados ou substituídos por nova lei. (VENOSA, 2007).

Contudo, serão utilizados alguns artigos da referida lei como demonstrativos

de que o tema que está sendo abordado já havia tido previsão material em lei

anterior.

4.3 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL

A Separação Judicial funda-se em causas previstas na lei, primeiramente foi

denominado desquite, texto este disposto no Código Civil de 1916 em seus artIgos

317 e 318. (BITTAR, 2006).

Primeiramente, no entendimento de Gonçalves (2006, p. 64) a sociedade

conjugal “é o complexo de direitos e obrigações que formam a vida em comum dos

cônjuges”.

Oportuno esclarecer que mesmo dissolvida a sociedade conjugal, o

casamento persistirá até que seja decretado o divórcio ou sobrevenha o falecimento

de qualquer deles.

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

62

Pereira (2004, p. 249), assim se manifesta sobre a diferença entre o término

da sociedade conjugal e a dissolução do vínculo matrimonial esclarecendo que:

Tratando-se de separação judicial, a extinção da sociedade conjugal não pressupõe o desfecho do vínculo matrimonial; ela põe termo às relações do casamento, mas mantém intacto o vínculo, o que impede os cônjuges de contrair novas núpcias. Somente a morte, anulação e o divórcio rompem o vínculo, autorizando os ex-cônjuges a contrair novas núpcias.

Diniz (2002, p. 249) traz sua contribuição em relação a separação judicial

afirmando que a mesma não é “causa de dissolução da sociedade conjugal (CC, art.

1.571, III), não rompendo o vínculo matrimonial, de maneira que nenhum dos

consortes poderá convolar novas núpcias”.

É pertinente frisar que o vínculo definitivo só termina pela morte ou pelo

divórcio. Pela separação judicial termina os deveres de coabitação e fidelidade, e

mais o regime de bens. Através do divórcio será possível um novo casamento, o que

não é possível com a separação. (GONÇALVES, 2006).

Portanto, o vínculo conjugal só se dissolve com a morte de um dos cônjuges

ou pelo divórcio, no dizer do parágrafo 1º do art. 1.571 do Código Civil: “O

casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,

aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente”. (2007, p.

439).

4.3.1 Finalidade da Separação Judicial

A Separação Judicial tem por finalidade dissolver a sociedade conjugal, o

objetivo imediato é a cessação dos efeitos civis, decorrentes da união, somente

depois, num segundo plano, é que vem a pretensão da dissolução do casamento.

(MONTEIRO, 2004).

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

63

Conforme dispõe o art. 1.576 do Código civil, in verbis, “A separação judicial

põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens”.

(PEREIRA, 2004).

No mesmo sentido dispunha em comunhão com o acima exposto, o art. 3° da

Lei n. 6.515/77: "A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação,

fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens, como se o casamento fosse

dissolvido". (PEREIRA, 2004).

Ressalta-se que a separação judicial, litigiosa ou consensual, põe fim aos

deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime de bens, mas não ao

casamento. Portanto, independentemente da causa da separação e do modo como

esta se faça, será permitido aos cônjuges restabelecer a qualquer tempo a

sociedade conjugal, por ato regular em juízo, em nada prejudicando o direito de

terceiros, adquiridos antes e durante o estado de separação, seja qual for o regime

de bens. (PEREIRA, 2004).

Com a separação judicial, cessam os deveres e direitos impostos ao

casamento, e o mesmo poderá se reconstituir a qualquer tempo, segundo regra o

art. 1.577 do Código Civil, “Seja qual for a causa da separação judicial e o modo

como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade

conjugal, por ato regular em juízo”, tal regra consta disciplinado na Lei n. 6.515/77-

Lei do Divórcio, em seu art. 46, com texto muito semelhante ao do artigo citado.

(GONÇALVES, 2006).

Permanecem, porém, os outros três deveres impostos pelo art. 1.566 do

código Civil que são: mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos;

respeito e consideração mútuos. (GONÇALVES, 2006).

4.3.2 Causas da Separação Judicial

Consideram-se causas da separação judicial, os fatos que servem de

fundamento para a sua postulação, ou que determinam o pedido de separação.

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

64

Diferentes situações interferem no contexto das vicissitudes1 do casamento,

ocasionando o desfazimento da relação conjugal, sob diversos efeitos, conforme

sejam anteriores, contemporâneos ou posteriores à celebração. (BITTAR, 2006)

4.3.2.1 Na separação consensual

No art. 1.574 o estatuto civil in verbis: “Dar-se-á a separação judicial por

mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o

manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a convenção”,

cuida da Separação Consensual, porém reduzindo o prazo constante do art. 4º da

Lei do Divórcio, que disciplinava que o referido prazo fosse superior a dois anos.

(2007, p. 439).

Verifica-se através da análise do artigo acima, que na separação consensual

não é necessário às partes deduzirem as razões da terminação da vida conjugal.

(VENOSA, 2005).

Bittar (2006), dá sua contribuição, afirmando que em relação a separação

consensual ou por mútuo consentimento, não há que falar em causa da separação.

Se for afirmado qual o motivo ou a atribuição da causa a um dos cônjuges, já,

descaracteriza a forma consensual da separação.

4.3.2.2 Na separação litigiosa

Encontra-se estabelecido nos artigos 1.572 e 1573 do Código Civil, os

motivos para que haja a Separação Judicial Litigiosa, in verbis: (2007, p. 439).

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.

1 Vicissitudes: Mudança ou variação de coisas que se sucedem. (FERREIRA, 2001, p. 710)

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

65

Parágrafo 1º A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição. Parágrafo 2º O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável. Parágrafo 3º No caso do parágrafo 2º reverterão ao cônjuge enfermo, que não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal. Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos: I – adultério; II - tentativa de morte; III - sevícia ou injúria grave; IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo; V - condenação por crime infamante; VI - conduta desonrosa. Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum.

Na separação litigiosa, deve-se demonstrar, em concreto, os fatos que a lei

define como geradores de dissolução da sociedade entre marido e mulher, ou seja,

cumpre fundar-se em uma das causas descritas conforme exposição dos artigos

1.572 e 1.573 do CC, expostos anteriormente. (VENOSA, 2007).

Sobre os fatos relativos ao casamento que demonstram a insuportabilidade

da vida em comum, cabe ao magistrado aferir, à luz dos contornos traçados na

legislação vigente, indicar contra quem ou a favor de quem a separação deve ser

decretada, tendo por base a imputação de certos fatos que permitem a sua

formalização. (PEREIRA, 2004).

4.3.3 Caráter Pessoal da Separação Judicial

Venosa (2007, p. 158) comenta sobre a legitimidade para a propositura da

ação de separação judicial destacando que, trata-se de uma faculdade

personalíssima dos cônjuges. Portanto somente eles têm legitimidade para propô-las

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

66

e contestá-las, uma vez que, “ninguém mais do que eles terão capacidade de

compreender o ato da separação”.

O caráter personalíssimo dessa ação torna inviável a substituição das partes

processuais, a morte de qualquer um dos consortes é motivo de extinção do

processo, na medida em que ela, em si e por si, fulmina o casamento e esvazia o

objeto da lide. A morte por si, já é causa de dissolução da sociedade conjugal.

(GONÇALVES, 2006).

A regra sobre o caráter personalíssimo da ação de dissolução da sociedade

está expresso no parágrafo único do art. 1.576 do Código Civil, com a mesma

orientação contida no texto do art. 3º, Parágrafo 1º da Lei n. 6.515/77.

Art. 1.576 [...] Parágrafo Único - O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão. (2007, p. 440).

Caso o cônjuge incapaz não tenha curador, ascendente ou irmãos vivos que

possam fazer a representação, poderá o juiz, mediante justificação, nomear curador

especial para a ação. O legislador estabeleceu ordem de preferência para a

representação: o curador prefere ao ascendente e este ao irmão. A representação

do incapaz pode ocorrer em qualquer fase do processo: no ajuizamento da ação,

oferecimento da defesa, em grau de recurso, enfim, pode ser inicial ou posterior.

(GONÇALVES, 2006).

4.3.4 Espécies de Separação Judicial

Basicamente há duas espécies de Separação Judicial prevista no

ordenamento jurídico, uma comumente chamada de amigável (consensual) e a outra

de litigiosa.

Portanto, quando se fala em separação judicial esta se referindo à ação

proposta por um cônjuge contra o outro. Se o réu anuir ao pedido, ocorre a

Page 67: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

67

conversão da separação judicial em separação consensual, ainda que tal não

subtraia a juridicidade da demanda. (PEREIRA, 2004).

A separação litigiosa ou consensual, põe fim aos deveres de coabitação,

fidelidade recíproca e ao regime de bens, mas não ao casamento. Com efeito,

independentemente da causa da separação e do modo como esta se faça, é

permitido aos cônjuges restabelecer a todo tempo a sociedade conjugal, por ato

regular em juízo, em nada prejudicando o direito de terceiros, adquiridos antes e

durante o estado de separação, seja qual for o regime de bens. (BITTAR, 2006).

4.3.4.1 Separação consensual

A separação requerida por ambos os cônjuges é procedimento típico da

jurisdição voluntária, em que o juiz administra interesses privados. Não há litígio,

pois ambos os cônjuges buscam a mesma solução, ou seja, a homologação judicial

do acordo por eles celebrado. (PEREIRA, 2004).

No entendimento de Tereza Ancona Lopez ([s.d] apud VICENTE, 2006, p. 02)

pode-se definir o conceito de Separação Consensual como sendo essencialmente:

Um acordo entre duas partes, que têm por objetivo dar fim à sua sociedade conjugal. É, portanto, negócio jurídico bilateral, pois, ara que esse acordo exista e seja válido, é necessária a declaração livre e consciente da vontade dessas partes. Todavia, para que o mutuus dissensus tenha executoriedade ou gere os efeitos queridos pelas partes, necessita de um ato de autoridade, qual seja a sua homologação através de sentença judicial.

Na separação consensual é dispensada a indicação da causa que levaram os

cônjuges a requerem o desfazimento da união. O único requisito exigido, havendo

consenso mútuo, é estarem os nubentes, casados há mais de um ano, e

manifestada amigavelmente pelo casal, a vontade de se separarem perante o juiz.

Nesse caso, ato contínuo, a convenção será homologada. (WALD, 2005).

Em relação a separação judicial consensual dispõe o art. 1.574 do Código

Civil (já exposto anteriormente), que o casal deva estar casado por mais de um

Page 68: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

68

ano. Já o art. 42 da Lei n. 6.515/77 referia-se a dois anos de matrimônio como

condição para a sua iniciativa. (PEREIRA, 2004).

À procura ao órgão judicial serve para que a separação seja revestida de

legalidade além de lhe surtirem os efeitos legais. É a ação apresentada ao juiz pelas

partes que, de comum acordo, desejam separar-se. (WALD, 2005).

Prescreve o art. 1.121 do Código de Processo Civil “A petição, instruída com

a certidão de casamento e o contrato antenupcial se houver [...]”. A petição inicial

será instruída com a certidão de casamento, para comprovar que o casamento foi

realizado há mais de um ano, e com o pacto antenupcial, se houver, que serve para

a comprovação do regime de bens adotado. Será verificado se a petição preenche

todos os requisitos legais. (GONÇALVES, 2006).

A seguir o magistrado ouvirá ambos os consortes, separadamente,

esclarecendo-os e verificando se ambos estão plenamente conscientizados de seus

atos e das condições avençadas, então, mandará reduzir a termo as declarações

dos consortes. Caso o juiz não se convença do propósito dos cônjuges, poderá

designar nova audiência, e, ouvidos novamente, mandará tomar por termo o que

disserem, e, depois ouvirá o representante do Ministério Público, e no prazo de 5

dias homologará o acordo para que produza efeitos jurídicos. (VENOSA, 2007).

Após o trânsito em julgado, a decisão homologatória deverá ser averbada no

Registro Civil competente e, se a partilha abranger bens imóveis, deverá ser

averbada no registro imobiliário; a separação consensual só terá eficácia com a

homologação judicial, que não é mero ato de chancela de um acordo, mas de

fiscalização e controle da convenção firmada pelos cônjuges, visto que a separação

do casal envolve também interesses da prole. (PEREIRA, 2004).

O art. 1.574 e seu parágrafo unico são as únicas regras do Código Civil que

regulam a separação consensual.

4.3.4.2 Separação litigiosa

A Separação Litigiosa é diferente da Separação Consensual, nesta não há

necessidade de demonstrar-se às causas que levaram os consortes a requerem a

Page 69: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

69

separação nem os motivos do desajuste conjugal, naquela é imprescindível não só

demonstrá-los como fundamentá-los. (PEREIRA, 2004).

Quanto a separação litigiosa, a mesma é requerida por um só cônjuge, com

fundamento em conduta desonrosa, violação grave dos deveres do casamento,

ruptura da vida em comum há mais de um ano, ou doença mental grave e de cura

improvável, no período de dois anos e verificada após o casamento. (WALD, 2005).

Dispõe o caput art. 1.572, do Código Civil que é possível o pedido de

Separação Judicial por um dos cônjuges, quando imputar ao outro qualquer ato que

importe em grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em

comum. (MONTEIRO, 2004).

Preceitua o Parágrafo 1º do artigo acima exposto que: [...] ruptura da vida em

comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição”. Este tipo de

ruptura, também chamada de Separação de Fato, acontece quando os cônjuges por

qualquer motivo, ou mesmo sem motivo, se separam e não regularizam-se

judicialmente a situação de ambos. Eles quase sempre são casados com uma

pessoa e vivem com outra, não podendo constituir patrimônio porque, quando da

legalização da separação deverão partilhá-los com seus ex-cônjuges. (RIZZARDO,

2006).

Esta possibilidade de separação judicial, encontra-se inserida no texto do art.

5º, Parágrafo 1º, da Lei 6.515/77, “A separação judicial pode, também, ser pedida se

um dos cônjuges provar a ruptura da vida em comum há mais de um ano

consecutivo, e a impossibilidade de sua reconstituição. (obs. - Redação conforme a

Lei nº 8.408, de 13.2.92)”. (RIZZARDO, 2006).

Portanto, é permitida a separação judicial a pedido de um dos cônjuges,

mediante processo contencioso, qualquer que seja o tempo de casamento, desde

que estejam presentes as hipóteses legais, que tornam insuportável a vida em

comum. (DINIZ, 2002).

Para Diniz (2002, p. 257-263), em conformidade com o disposto no art. 1.572

do Código Civil encontram-se previstas três espécies de separação litigiosa que são:

1) Separação litigosa como sanção, que se dá quando um dos consortes imputar ao outro qualquer ato que importe em grave violação dos deveres matrimoniais e torne insuportável a vida em comum. (CC, arts. 1.572, e 1.573, I a VI).

2) Separação litigiosa como falência que se efetivava quando qualquer dos cônjuges provasse a ruptura da vida em comum há

Page 70: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

70

mais de 1 ano e a impossibilidade de sua reconstituição, não importando a razão da ruptura, sendo, ainda, irrelevante saber qual dos consortes foi culpado pela separação, legalizando tão-somente uma separação de fato. (CC, art. 1.572, § 1º).

3) Separação litigiosa como remédio ocorre quando o cônjuge a pede ante o fato de estar o outro acometido de grave doença mental, manifestada após o matrimônio, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de 2 anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável. (CC, art. 1.572, § 2º).

Gonçalves (2006, p. 71) reforça o comentado anteriormente sobre a

separação-sanção esclarecendo que “esta é a única hipótese em que se discute

culpa, e também a única que admite a reconvenção2”. Assim, pode a separação ser

decretada por culpa de um só dos cônjuges ou de ambos, caso isso venha a ocorrer,

nenhum deles fará jus à verba alimentícia, exceto se necessária à subsistência.

A Lei n. 6.515/77 – Lei de Divórcio em seu art. 5º pondera para a apreciação

circunstancial das causas de Separação Judicial, ao subordiná-las a

insuportabilidade da vida em comum. (RIZZARDO, 2006).

Em relação a separação-falência Gonçalves (2006, p. 94) resume seu

entendimento em concordância com o parágrafo 1º do art. 1.572 , asseverando que

“se um dos cônjuges provar a ruptura da vida em comum há mais de um ano e a

impossibilidade de sua reconstituição”.

Ressalta-se que na hipótese de separação quando o outro cônjuge estiver

acometido de grave doença mental, a mesma deverá ser analisada cuidadosamente

pelo Juiz, que somente deferirá a separação quando estiver convicto de que a

doença mental impossibilita a manutenção da sociedade conjugal e que não há

perspectiva de cura. (MONTEIRO, 2004).

É importante salientar que no momento em que a Separação Judicial é

decretada com fundamento no art. 1.572, parágrafo 3º, analisado anteriormente,

sobre a ruptura da vida em comum ou grave doença mental, ainda que o regime de

casamento tenha sido o de comunhão de bens, ocorre um reflexo jurídico

importante: O Cônjuge que não pediu a separação tem direito aos bens

remanescentes que tenha levado para o casamento e ainda, se o regime de bens o

2Reconvenção é a ação proposta pelo réu contra o autor no mesmo feito e juízo em que é demandado. (GONÇALVES, 2006, p. 71).

Page 71: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

71

permitir, também a meação dos bens adquiridos na constância do casamento.

(PEREIRA, 2004).

Caso seja necessário pode-se preceder a separação litigiosa por uma

separação de corpos, essa medida cautelar consiste na suspensão autorizada do

dever de coabitação, por prazo curto, findo o qual deve ser proposta a ação de

separação litigiosa; que obedece o rito ordinário, e somente poderá ser proposta

pelo cônjuge que não lhe deu causa, com base nas circunstância previstas em lei,

cabendo-lhe o ônus da prova. (PEREIRA, 2004).

4.3.5 Efeitos da Separação Consensual e Litigiosa

A separação judicial produz efeitos idênticos aos do divórcio, apesar de não

produzir a dissolução do vínculo conjugal que permanece intacto. Seus efeitos

verificam-se em relação à pessoa dos cônjuges, aos bens e em relação aos filhos,

variando conforme seja a separação judicial consensual ou litigiosa, se consensual,

conformam-se às condições ajustadas pelo próprio casal, e, se litigiosa, são

estabelecidos, com certa margem de arbítrio, pelo juiz dentro dos termos legais.

(DINIZ, 2002).

Pereira (2004, p. 271) da mesma forma comenta, sobre os efeitos da

separação judicial, afirmando que “ocorre uma tríplice conseqüência, ou seja,

ocorrem efeitos aos cônjuges, aos filhos e ao patrimônio”.

Diniz (2002, p. 269), em concordância com o exposto acima, acrescenta

demonstrando os principais efeitos pessoais em relação aos cônjuges, são:

1) Pôr termo aos deveres recíprocos do casamento, coabitação, fidelidade e assistência;

2) Impedir a mulher de continuar a usar o nome do marido, se condenada na separação litigiosa ou se teve a iniciativa da separação judicial fundada em ruptura da vida em comum ou moléstia grave do marido;

3) Impossibilitar a realização de novas núpcias, pois a separação judicial é relativa, já que não se dissolve o vínculo;

4) Autorizar a conversão em divórcio, cumprido 1 ano de vigência de separação judicial.

Page 72: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

72

Pereira (2004, p. 271), dá sua contribuição em relação aos efeitos da

Separação Judicial aos cônjuges afirmando que:

Os cônjuges se separaram. Cessa obviamente o debitum conjugale. Cessa também o dever de fidelidade. Por muitos anos, os civilistas opinaram pela continuação deste dever, que reputavam corolário do vínculo matrimonial. A Lei n. 6.515/77 buscou esclarecer todas as dúvidas, declarando, por expresso, que a Separação Judicial põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens como se o casamento fosse dissolvido (art. 3º), o que foi objeto de regra expressa no art. 1.576, de 2002.

Bittar (2006, p. 178) se posiciona a respeito das conseqüências para os

separados, asseverando que:

A Separação põe fim aos deveres de coabitação e de fidelidade recíproca e ao regime de bens (CC, art. 1.576). Faz terminar a sociedade conjugal (art. 1.571, inc. III), opera a separação de corpos e impõe a partilha de bens (art. 1.575).

A Separação Judicial importa a separação de corpos e a partilha de bens.

Esta pode ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologação do juiz por este

decidida, conforme texto expresso no art. 1.575, parágrafo único do Código Civil.

Caso não haja acordo o Juiz poderá promover a partilha conforme seu

entendimento, e caso seja necessário, requisitará ajuda de peritos e avaliadores

judiciais. (DINIZ, 2002).

Para Wald (2006, p. 178) aplicam-se à separação, ademais, as regras sobre:

“o uso do nome do outro cônjuge (art. 1.578), e sobre alimentos (art. 1.694 e segs),

inclusive quanto à revisão do art. 1.699), permanecendo o dever de assistência entre

os cônjuges, nos termos expostos. Cessar-seá, outrossim, a relação sucessória”.

Sobre os efeitos em relação ao patrimônio dos cônjuges:

1) Resolve a situação econômica, pondo fim ao regime matrimonial de bens;

2) Substitui o dever de sustento pela obrigação alimentar;

Page 73: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

73

3) Dá origem, se litigiosa a separação, a indenização por perdas e danos, em face de prejuízos morais ou patrimoniais sofridos pelo cônjuge inocente;

4) Suprimir o direito sucessório entre os consortes. (DINIZ, 2002, p. 270).

Em relação aos efeitos patrimoniais, Pereira (2004, p. 271), afirma que: “A

Separação Judicial põe termo ao regime de bens (art. 1.576). Revertem a cada um

dos ‘separados’ os bens que não se comunicaram com o casamento, conforme

estabelecido no pacto antenupcial ou por imposição legal”.

Para Bittar (2006, p. 142), os efeitos centrais da separação sob o prisma

patrimonial, são os seguintes:

a) Findar o regime matrimonial; b) Provocar a partilha do acervo comum formado no casamento; c) Determinar a caducidade do direito sucessório e impor a

necessidade de prestação de alimentos pelo cônjuge culpado ao necessitado

Os efeitos em relação aos filhos são: (DINIZ, 2002, p. 274).

1) Passá-los à guarda e companhia de um dos cônjuges, ou, se houver, motivos graves, de terceiro;

2) Assegurar ao genitor, que não tem guarda e companhia da prole o direito de fiscalizar sua manutenção e educação, de visitá-los e de ter os filhos temporariamente em sua companhia no período de férias ou dias festivos, e de se corresponder com os filhos;

3) Garantir aos filhos menores e maiores inválidos, mediante pensão alimentícia, a criação e educação.

O art. 1.574, parágrafo único “Parágrafo único. O juiz pode recusar a

homologação e não decretar a separação judicial se apurar que a convenção não

preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges” , e 1.590

do Código Civil, se posicionam em relação ao acordo na guarda dos filhos.

Outrossim, caso não esteja preservado os interesses dos filhos menores e dos

inválidos o juiz poderá recusar a homologação. (PEREIRA, 2004).

Page 74: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

74

4.4 HOMOLOGAÇÃO DE SEPARAÇÃO NEGADA

Preceitua o art. 1.574 em seu parágrafo único que “0 juiz pode recusar a

homologação e não decretar a separação judicial, se apurar que a convenção não

preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges”. Portanto,

a lei confere ao Juiz o poder de negar a homologação da separação do casal, ainda

que ambos estejam de acordo com os termos da separação, quando,

comprovadamente, não estejam claramente preservados os interesses dos filhos ou

de qualquer dos cônjuges. (RIZZARDO, 2006).

No entendimento de Monteiro (2004, p. 268) sobre a não homologação da

separação judicial por parte do juiz o autor assim se pronuncia: “Se o juiz verificar

que o pai fica dispensado da obrigação de contribuir para a manutenção dos filhos

ou se um dos cônjuges não se revela suficientemente esclarecido sobre as

condições avençadas no acordo, pode e deve negar-lhe a sua homologação”.

Diz-se que é permitido ao juiz cindir a convenção, homologando parcialmente

a separação, deixando de lado, por exemplo, as cláusulas referentes à partilha, por

reputá-la prejudicial a um dos cônjuges. (GONÇALVES, 2006).

Encontra-se inserido na Lei 6.515/77, no art. 34 Parágrafos 2º, 3º, 4º

admitindo que:

Art. 34 – [...], Parágrafo 2º - 0 juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial, se comprovar que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges. Parágrafo 3º - Se os cônjuges não puderem ou não souberem assinar, é lícito que outrem o faça a rogo deles. Parágrafo 4º - As assinaturas, quando não lançadas na presença do juiz, serão, obrigatoriamente, reconhecidas por tabelião. (RIZZARDO, 2006, p. 02)

Rizzardo (2006, p. 02), afirma que em relação a emoção temporária, “alguns

cônjuges liberam, em benefício do outro, todos os bens e direitos, e, em muitos

casos, até renunciam a pensão alimentícia própria e até a dispensam para os filhos

que ficarão em seu poder”. As conseqüências virão tempos depois, quando, pela

Page 75: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

75

força da homologação judicial, os termos do acordo não mais poderão ser alterados,

salvo o caso de pensão alimentícia.

4.5 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL

É possível a qualquer momento haver o restabelecimento da Sociedade

Conjugal a pedido dos cônjuges, mesmo que, há muitos anos tenha rompido pela

Separação Judicial. (BITTAR, 2006).

Ensina Bittar (2006, p. 179), sobre o restabelecimento da Sociedade Conjugal

ou seja a reconciliação dos interessados, que deverão formalizar, perante o juiz de

separação, a sua intenção, por meio de requerimento por ambos firmado, voltando a

sua vida às condições anteriores e respeitados os direitos de terceiros.

Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo. Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens.

Preceitua o art. 1.577 citado anteriormente “[...], por ato regular em juízo”.

Este ato a que está se referindo o artigo, deverá ser requerido através de um

advogado, devido ao não cabimento de o interessado postular em juízo diretamente,

ainda que o valor da causa seja ínfimo. (GONÇALVES, 2006).

Em relação ao disposto no Parágrafo Único “[...] seja qual for o regime de

bens”, pode-se dizer que será o mesmo da sociedade conjugal anterior, porque o

restabelecimento far-se-á nos termos em que fora constituído o casamento, portanto,

em nada prejudicará o direito de terceiros. (PEREIRA, 2004).

Por ocasião da reconciliação, opte o casal em alterar o regime de bens, o

mesmo será possível mediante autorização judicial, se concordarem em fazer um

pedido motivado por ambos, apurada a procedência das razões invocadas e

ressalvados os direitos de terceiros. (GONÇALVES, 2006).

Page 76: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

76

O disposto no art. 1.639, em seu parágrafo 2º do Código Civil assim preceitua,

“É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido

motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e

ressalvados os direitos de terceiros”. Portanto, serão válidas as alienações de bens

efetuadas nesse período. Por outro lado, os bens adquiridos no interregno não se

comunicam a menos que o regime seja o da comunhão universal. (VENOSA, 2007).

Venosa (2007, p. 185) dá sua contribuição em relação ao acima exposto,

afirmando que: “Ao final da reconciliação deve a mesma ser averbada junto o

assento da separação. Com a reconciliação, a partilha ficará sem efeito,

reassumindo-se o regime de bens, preservando o direito de terceiros”.

Page 77: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ADRIANA RÚBIA DUARTE DE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Tijucas

2007

Page 78: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ADRIANA RÚBIA DUARTE DE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas.

Orientador: Prof. Esp. Edemir Aguiar

Tijucas

2007

Page 79: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ADRIANA RÚBIA DUARTE FREITAS

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL: considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação Tijucas.

Área de Concentração: Direito Privado

Tijucas (SC), 11 de outubro de 2007

Prof. Esp. Edemir Aguiar

UNIVALI – CE Tijucas

Orientador

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Page 80: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 11 de outubro de 2007.

___________________________________

Adriana Rúbia Duarte de Freitas

Page 81: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

Á Deus, Supremo Criador, pela vida e pela família que me

deu e ainda por todas as oportunidades oferecidas.

Aos meus queridos pais Nilo Duarte e Maria Soares

Duarte, pelo esforço de seus trabalhos me deram essa

oportunidade e também aos meus irmãos.

Ao meu marido Alex Andrade de Freitas, pela ajuda e

compreensão nas minhas ausências.

A minha filha Maria Eduarda de Freitas, que desde muito

pequena abdicou de momentos de carinho materno para que

eu pudesse me dedicar a vida acadêmica.

Page 82: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

AGRADECIMENTOS

Ao meu professor Orientador Esp. Edemir Aguiar, pela atenção e valiosa

orientação de conteúdo.

A todos os professores pelas informações e conhecimentos transmitidos no

decurso do curso.

A Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, especialmente ao Coordenador

do Curso de Direito, Professor Celso Leal da Veiga Júnior, pelo esforço na qualidade

do curso.

Page 83: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

“Traço dominante da evolução da família é a sua tendência a se

tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que

cada vez mais se funda na afeição mútua”.

Levy Bruhl

Page 84: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

LISTA DE ABREVIATURAS

Art. Artigo

CC Código Civil

Civ Civil

CPC Código de Processo Civil

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Dec. Decreto

Inc. Inciso

n. número

p. Página

RT Revista dos Tribunais

Segs. Seguintes

Vol. Volume

Page 85: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

RESUMO

A presente monografia tratou da Separação Judicial e considerações sobre o

instituto à luz da legislação vigente. Inicialmente falou-se sobre a origem e evolução

da família, que vem acompanhando as mutações constantes por que passam a

sociedade, o que possibilitou ao direito evoluir para acompanhar essas

transformações sociais. Foram demonstradas as mudanças ocorridas no Direito de

Família, destacando que, até bem pouco tempo atrás não passava de um conjunto

de normas que disciplinava a celebração do casamento; a sua validade; seus

efeitos; as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, assim como a

dissolução matrimonial; também as relações entre pais e filhos; seus vínculos do

parentesco. Ocorreu que, após a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil em 05 de outubro de 1988, o instituto veio a ter significativas

alterações, este fato teve reflexo profundo nos conceitos de família e na própria

realidade social. Com essas leis, foram introduzidas algumas outras modificações

como: a equiparação dos cônjuges, a não-discriminação entre filhos e o regime da

comunhão parcial de bens. Em resumo, com a presente pesquisa procurou-se

proporcionar uma visão geral das novas e relevantes mudanças ocorridas no Direito

de Família, em especial ao instituto da Separação Judicial, quais as suas

conseqüências jurídicas e seus reflexos até os dias atuais.

Palavras-chave: Casamento. Dissolução da Sociedade Conjugal. Família.

Separação Judicial.

Page 86: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

ABSTRACT

The present monograph dealt with the Judicial Separation and considerações

on the institute to the light of the current law. Initially one said on the origin and

evolution of the family, who comes following the constant mutations why they pass

the society, what she made possible to the right to evolve to follow these social

transformations. The occuredchanges in the Family law had been demonstrated,

detaching that, until good little time behind did not pass of a set of norms that the

celebration of the marriage disciplined; its validity; its effect; the personal and

economic relations of the conjugal society, as well as the marriage dissolution; also

the relations between parents and children; its bonds of the kinship. It occurred that,

after the promulgation of the Constitution of the Federative Republic of Brazil in 05 of

October of 1988, the institute came to have significant alterations, this fact had deep

consequence in the concepts of family and the proper social reality. With these laws,

other modifications had been introduced some as: the equalization of the spouses,

the not-discrimination between children and the regimen of the partial community

property of good. In summary, with the present research it was looked to provide a

general vision of the new and excellent occured changes in the Family law, special to

the institute of the Judicial Separation, which its legal consequences and its

consequences until the current days.

Key-Word: Marriage. Conjugal dissolution of the corporation. Family. Judicial

separation

Page 87: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Casamento: “É a união [...] do homem e da mulher, de acordo com a lei, a fim

de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem seus filhos”.

(MONTEIRO, 2004, p. 11).

Cônjuge: “Diz-se do marido e mulher; cada uma das pessoas reciprocamente

unidas pelo vínculo matrimonial; aquele que é casado legalmente; membro da

sociedade conjugal”. (DINIZ, 1998, v. 1, p.770)

Direito de Família: “[...] um conjunto de normas e princípios que trata do

casamento, de sua validade e efeitos; das relações entre pais e filhos; do vínculo do

parentesco; da tutela e curatela; da dissolução da sociedade conjugal e dos

alimentos devidos entre parentes e os cônjuges”. (RIZZARDO, 2006, p. 02).

Dissolução da sociedade: “O termino da sociedade conjugal dá-se pela

morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou anulação do casamento, pela

separação judicial ou pelo divórcio”. (DINIZ, 1998, v. 2, p. 202).

Efeitos Jurídicos: “Conseqüência jurídica decorrente de atos ou fatos

jurídicos” (DINIZ, 1998, v. 2 p. 267).

Família: “Em sentido genérico e biológico, considera-se família o conjunto de

pessoas que descendem do tronco ancestral comum. Ainda neste plano geral,

acrescenta-se o cônjuge, aditam-se os filhos dos cônjuges (enteados), os cônjuges

dos filhos (genros e noras), os cônjuges dos irmãos e os irmãos do cônjuge

(cunhado). [...] Na verdade em sentido estrito, a família se restringe aos grupos

formados pelos pais e filhos”. (PEREIRA, 2004, p. 19-20).

Fidelidade conjugal: “Dever moral e jurídico, decorrente do caráter

monogâmico do casamento, que consiste em abster-se cada consorte de praticar

relações sexuais com terceiro. Com isso a liberdade sexual dos consortes fica

restrita ao casamento”. (DINIZ, 1998, v. 2 p. 545) .

Page 88: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

Filiação: “[...] é a relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e

em linha reta, que liga uma pessoa aquelas que a geraram, ou a receberam como se

a tivesse gerado. Essa relação de parentesco, dada a proximidade de grau, cria

efeitos no campo do direito, daí derivando a importância de sua verificação”.

(RODRIGUES, 2004, p. 297).

Matrimônio: “Pacto matrimonial pelo qual o homem e a mulher constituem

entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos

cônjuges e à geração e educação da prole”. (DINIZ, 1998, v. 3, p. 385).

Pacto Antenupcial: “É um contrato solene, realizado antes do casamento,

por meio do qual as partes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre elas

desde a data do matrimônio”. (RODRIGUES, 1980 apud DINIZ 2002, p. 146).

Parentesco: “Parentesco é a relação vinculatória não só entre pessoas que

descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre

um cônjuge e os parentes do outro e entre adotante e adotado” (DINIZ, 2002, p.

371).

Poder Familiar: “O poder familiar pode ser conceituado como o conjunto de

obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores. Por

natureza é indelegável”. (MONTEIRO, 2004, p. 348).

Sociedade Conjugal: “É composta pelo marido e pela mulher, constitui o

núcleo básico da família, caracterizando-se pela convivência social e física e pela

solidariedade econômica”. (WALD, 2005, p. 116).

Vínculo familiar: “Atualmente o que se entende por elemento familiar é a

ligação duradoura de afeto, mútua assistência e solidariedade entre duas ou mais

pessoas, tenham elas ou não vínculos de parentesco, razão pela qual é devida se

cabalmente demonstrada a real convivência, o afeto recíproco”. (GONÇALVES,

2006, p. 93).

Page 89: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

2 A FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA ..................................................................... 19

2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 19

2.2 FAMÍLIA .................................................................................................................. 19

2.2.1 Conceito de Família ............................................................................................. 19

2.2.2 Caracteres de Família .......................................................................................... 20

2.2.3 Origem e Evolução Histórica ................................................................................ 21

2.2.4 As Espécies de Família na Antiguidade ............................................................... 22

2.2.4.1 Família consangüínea ....................................................................................... 22

2.2.4.2 Família punaluana............................................................................................. 23

2.2.4.3 Família sindiasmática........................................................................................ 23

2.2.4.4 Família patriarcal ............................................................................................... 24

2.2.4.5 Família romana ................................................................................................. 24

2.3 O DIREITO DE FAMÍLIA ......................................................................................... 25

2.3.1 Noção de Direito de Família ................................................................................. 25

2.3.2 Extensão .............................................................................................................. 27

2.3.3 Objeto................................................................................................................... 29

2.3.4 Evolução............................................................................................................... 29

2.3.5 Princípios Norteadores......................................................................................... 31

2.3.6 Natureza Jurídica ................................................................................................. 32

2.3.7 Relações com Outros Ramos do Direito Público e Privado.................................. 33

2.4 TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NA FAMÍLIA E NO DIREITO DE FAMÍLIA

APÓS A PROMULGAÇÃO DA CRFB/1988 E DA LEI N. 10.406/2002 – CÓDIGO

CIVIL ............................................................................................................................. 35

3 A CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA PELO CASAMENTO ............................................ 39

3.1 CASAMENTO.......................................................................................................... 39

3.1.1 Conceito ............................................................................................................... 40

Page 90: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

3.1.2 Caracteres e fins do Casamento .......................................................................... 41

3.1.3 Natureza e Regulamentação Legal ...................................................................... 43

3.1.4 Casamento Civil e Religioso................................................................................. 44

3.2 PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DO CASAMENTO .......................................... 45

3.2.1 Direitos e Deveres dos Cônjuges ......................................................................... 45

3.2.2 Impedimentos Matrimoniais.................................................................................. 45

3.2.3 Causas suspensivas do Casamento .................................................................... 46

3.2.4 Nulidade e anulação de Casamento .................................................................... 46

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE REGIMES DE BENS ......................................... 47

3.4 PARENTESCO E SUAS ESPÉCIES....................................................................... 49

3.4.1 Filiação................................................................................................................. 50

3.4.2 Reconhecimento da filiação ................................................................................. 51

3.4.3 Adoção na Atualidade .......................................................................................... 53

3.4.4 Poder Familiar ...................................................................................................... 55

3.4.4.1 Suspensão e extinção do poder familiar............................................................ 56

4 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL ................................................................................... ..59

4.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 59

4.2 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL .................................. 60

4.3 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL ................................................................................... 61

4.3.1 Finalidade da Separação Judicial......................................................................... 62

4.3.2 Causas da Separação Judicial ............................................................................. 63

4.3.2.1 Na separação consensual ................................................................................. 64

4.3.2.2 Na separação litigiosa ....................................................................................... 65

4.3.3 Caráter Pessoal da Separação Judicial ............................................................... 65

4.3.4 Espécies de Separação Judicial........................................................................... 66

4.3.4.1 Separação consensual ...................................................................................... 67

4.3.4.2 Separação litigiosa ............................................................................................ 68

4.3.5 Efeitos da Separação Consensual e Litigiosa ...................................................... 71

4.4 HOMOLOGAÇÃO DE SEPARAÇÃO NEGADA ...................................................... 74

4.5 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL .......................................... 75

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 77

Page 91: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 79

Page 92: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como tema “A Separação Judicial:

considerações sobre o instituto, à luz da legislação vigente”, partindo-se inicialmente

sobre a origem e evolução da Família e do Direito de Família até os dias atuais,

posteriormente sobre a constituição da família pelo casamento, destacando inclusive

os aspectos em relação ao parentesco, e por último fazer um estudo sobre a

Separação Judicial frente à legislação brasileira na atualidade.

A razão da escolha do tema deve-se ao fato da Separação Judicial ser uma

constante em nossas relações, pois, quem de nós nunca se deparou com um

parente, amigo, conhecido que esteja passando por uma situação semelhante.

As separações sejam consensuais ou litigiosas, estão se tornando cada vez

mais freqüentes no meio social. Mas, apesar de parecer tão banal, ao mesmo tempo

observa-se que a Separação é muito mais complicada que se possa imaginar, é um

momento muito delicado, pois envolve sentimentos, e, onde as pessoas precisam

tomar decisões importantes, que muitas vezes as marcam pro resto da vida.

Objetiva-se, com o presente trabalho, proporcionar uma visão geral das novas

e relevantes questões do Direito de Família, em especial ao instituto da Separação

Judicial, compreendendo e identificando os seus pressupostos, e por conseguinte,

as suas conseqüências tendo em vista às mudanças ocorridas desde a CRFB/1988,

com o surgimento de novas leis que atendem às mutações econômico-sociais do

mundo contemporâneo, trazendo indisfarçável reflexo nas relações familiares.

Portanto, têm-se novos tempos, com uma evolução legislativa constante, e, a exigir

atualização dos estudiosos da ciência jurídica.

Tratando-se dos objetivos específicos, esta pesquisa tentará buscar um

aprimoramento em: a) Analisar a origem histórica do instituto da Separação Judicial,

conforme a evolução da legislação brasileira, destacando seu conceito e natureza

jurídica; b) Situar a Separação Judicial no contexto jurídico do Direito de Família; c)

Identificar os elementos constitutivos do casamento; d) Identificar e explicitar as

causas terminativas da sociedade Conjugal; e) Identificar e analisar as modalidades

de dissolução da sociedade conjugal; f) Investigar as espécies e efeitos da

separação judicial; g) Consultar as conseqüências jurídicas da Separação em

Page 93: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

17

relação aos cônjuges; h) Verificar a possibilidade de restabelecimento do casamento

após a separação.

Foram elencados os seguintes problemas e as respectivas hipóteses para a

presente pesquisa:

Primeiro problema: Quais as formas judiciais de dissolução da sociedade

conjugal decorrente da celebração do casamento?

Hipótese: São previstas no ordenamento jurídico brasileiro, quatro

modalidades de Separação Judicial decorrente do casamento, que são: pela morte

de um dos cônjuges; pela nulidade ou anulação do casamento; pela separação

judicial; e por último pelo divórcio.

Segundo problema: Quando decretada a Separação Judicial quais os vínculos

jurídicos que são dissolvidos, e, quais os deveres impostos entre os cônjuges?

Hipótese: Em relação aos vínculos jurídicos a Separação Judicial põe termo

aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens,

como se o casamento fosse dissolvido. No entanto permanecem, porém, outros

deveres como por exemplo: mútua assistência; sustento, guarda e educação dos

filhos; respeito e consideração mútuos.

Terceiro problema: É possível haver o restabelecimento do casamento após a

Separação Judicial? Se possível qual é o prazo para que isso possa ser requerido,

e, como ficará o regime de bens após a reconstituição do matrimônio?

Hipótese: Os cônjuges mesmo depois de separados judicialmente podem a

qualquer momento desde que requeiram o restabelecimento da união conjugal

tornarem-se novamente casados mesmo que, há muitos anos tenha sido rompida a

sociedade conjugal, ficando o regime de bens do mesmo modo como era na época

em que ambos eram casados.

Assim sendo, o presente estudo estará voltada aos aspectos doutrinário-

legais que o tema comporta, enriquecendo o estudo com os principais aspectos da

Separação Judicial em relação à legislação brasileira da atualidade.

O método que será utilizado para a elaboração do presente trabalho

monográfico é o dedutivo, partindo-se de um estudo geral para se chegar ao

particular.

Conforme Pasold (2003, p.104), método dedutivo é “[...] estabelecer uma

formulação geral e, em seguida, buscar as partes do fenômeno de modo a sustentar

a formulação geral”.

Page 94: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

18

A presente pesquisa aproveita como técnica para obtenção de informações

sobre o tema a investigação doutrinária e da legislação brasileira, como também os

meios eletrônicos disponíveis.

Tem-se, ainda, que a área de concentração desta monografia é o Direito Civil

pois refere-se ao Direito de Família. A linha de pesquisa é o Direito Privado.

Esta monografia será estruturada em três capítulos, objetivando assim

facilitar o desenvolvimento do trabalho e conferir maior organização estrutural ao

estudo.

No primeiro capítulo, denominado de A Família e o Direito de Família,

abordar-se-á o conceito, origem e evolução histórica da Família e do Direito de

Família, as espécies de família na antiguidade, também sobre os Princípios

norteadores do Direito de Família, natureza jurídica, a relação com os outros ramos

do Direito Público e Privado e por último as transformações ocorrida na família e no

Direito de Família após a promulgação da CRFB/1988 e do Código Civil.

No segundo capítulo, inicialmente demonstrar-se-á a Constituição da

Família pelo Casamento, conceito, analisando-se seus Pressupostos e Requisitos do

Casamento, as disposições gerais sobre regimes de bens, as relações de

parentesco.

No terceiro e último capítulo abordar-se-á o instituto da Separação Judicial

que é o tema do trabalho, iniciando-se pela evolução histórica, destacando-se as

Formas de Dissolução da Sociedade Conjugal, será feita uma abordagem sobre o

Conceito de Separação Judicial, sua finalidade, as causas, espécies, efeitos,

homologação. Também será analisado se há possibilidade jurídica do

restabelecimento da vida conjugal, após a separação judicial.

Nas considerações finais, será apresentado o arcabouço do trabalho com

considerações sobre as questões relativas aos problemas e hipóteses apresentados,

os aspectos relevantes, os principais ensinamentos, a indicação de itens para

continuidade dos estudos e reflexões sobre os diversos temas que integram o

instituto da Separação Judicial no ordenamento jurídico brasileiro.

Page 95: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

2 A FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA

2.1 INTRODUÇÃO

Se, faz necessário para a presente monografia, inicialmente um estudo sobre

a Família, e ao Direito de Família, investigando seus aspectos destacados, como

entidade familiar, partindo-se inicialmente de sua evolução histórica, tanto na Lei

como na doutrina, no intuito de dar embasamento ao tema da monografia que é a

Separação Judicial.

Sabe-se que a Família é alvo de inúmeras transformações, motivo pelo qual

passa por evoluções constantes. A cada momento a sociedade muda, ou seja, se

renova, criando, dessa forma, novos entendimentos e novas formas de convivência.

O direito tem que evoluir para acompanhar as transformações sociais, e como a

família também faz parte dessa sociedade, ambos evoluem visando o bem estar de

todos.

2.2 FAMÍLIA

2.2.1 Conceito de Família

Considera-se família o conjunto de pessoas que descendem do tronco

ancestral comum. Ainda neste plano geral, acrescenta-se o cônjuge, aditam-se os

filhos dos cônjuges (enteados), os cônjuges dos filhos (genros e noras), os cônjuges

dos irmãos e os irmãos do cônjuge (cunhado). [...] Na verdade em sentido estrito, a

família se restringe aos grupos formados pelos pais e filhos”. (PEREIRA, 2004, p.

19-20).

Em concordância com o entendimento do autor acima, a família não necessita

ser constituída de laços sanguíneos, pois prevalece não apenas o núcleo ‘Família’,

mas também os seus componentes, retirando, desse modo, a atenção sobre o

Page 96: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

20

núcleo e transportando-a para os seus entes. É um grupo social formado por pais e

filhos, que tem como ligação laços matrimonias, laços de filiação, de adoção ou

afetivos. Necessário se faz dizer que esse grupo social restrito possui parentescos

que não integram a acepção estrita do termo Família. (LEITE, 1991).

Nas palavras de Gomes (2002; p. 35), sobre o conceito de Família:

Nenhum desses critérios, isoladamente, proporciona elementos para inatacável definição jurídica de Família, mas, do exame de suas falhas, pode-se depreender seu sentido técnico, considerando-se Família o grupo fechado de pessoas, composto dos genitores e filhos, e para limitados efeitos outros parentes, unificados pela convivência e comunhão de afetos, em uma só e mesma economia, sob a mesma direção.

Venosa (2005, p. 16) entende que o conceito de Família em sentido amplo, é:

[...] o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes, colaterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se denominam parentes por afinidade ou afins. Nessa compreensão inclui-se o cônjuge que não é considerado parente.

Prossegue o autor definindo que a Família em sentido restrito é ”somente o

núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder”. (VENOSA, 2005,

p.16).

2.2.2 Caracteres de Família

Para R. Limongi França ([s.d] apud DINIZ, 2002, p. 12-14) vários são os

caracteres da família, passa-se a seguir às suas definições:

a) Caráter biológico: a família é por excelência, o agrupamento

natural. O indivíduo nasce, cresce numa família até casar-se e

Page 97: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

21

constituir sua própria, sujeitando-se a várias relações, pois o homem nasce, vive e se reproduz nela;

b) Caráter Psicológico; a família possui em elemento espiritual unindo os componentes do grupo, que é o amor familiar;

c) Caráter econômico: Por ser a família o grupo dentro do qual o homem, com o auxílio mútuo e o conforto afetivo, se mune de elementos imprescindíveis à sua realização material, intelectual e espiritual;

d) Caráter religioso: a família é ser eminentemente ético ou moral, principalmente por influência do Cristianismo;

e) Caráter político: A família tem especial proteção do Estado, que assegurará sua assistência na pessoa de cada um dos que a integram;

f) Caráter jurídico: por ter a família sua estrutura orgânica regulada por normas jurídicas, cujo conjunto constitui o Direito de Família.

Para se ter o significado de família é necessário conhecer os caracteres

elencados acima pois os mesmos integram o verdadeiro conceito deste instituto e

suas variadas funções.

2.2.3 Origem e Evolução Histórica

Existem diversas teorias que têm por objetivo definir quando apareceram os

primeiros sinais de formação da entidade familiar. Só que tais teorias demonstram-

se imprecisas, pois não vislumbram o ponto de partida para a caracterização desse

grupo social. (LEITE, 1991).

Embora seja desconhecida a exata origem da família, resta a certeza de que

o homem, mulher e filhos sempre existiu, ainda que etimologicamente, não se

tivesse atribuído a esta união o título formal de casamento e ao conjunto de seres, a

condição de família. (LEITE, 1991).

Salienta Welter através de duas teorias sobre a configuração da entidade

familiar na época primitiva, como pode ser observado:

a) A teoria matriarcal, assevera que a Família é originária de um estágio inicial de promiscuidade sexual, em que todas as mulheres e homens pertenciam uns aos outros;

b) A teoria patriarcal, que nega essa promiscuidade sexual, aduzindo que o pai sempre foi o centro organizacional da Família. (2003, p. 33).

Page 98: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

22

Portanto, pode-se concluir que a origem da Família é, tanto de afeto, quanto

de laços sanguíneos, já que a mesma sofreu mudanças impostas pela necessidade,

pela época, pelos costumes e pelo próprio direito. (LEITE, 1991).

2.2.4 As Espécies de Família na Antiguidade

Destaca-se que na Antigüidade quando os homens ainda moravam em tribos,

"cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as

mulheres". (ENGELS, 2000, p. 39).

Prossegue o autor que tal descoberta não demonstra a prática promíscua,

mas sim o matrimônio por grupos, muito embora possa ter havido um período de

promiscuidade quando da mudança do estágio animal para humano.

Oportuno se faz, dar ênfase ao comentário que Leite (1991, p. 23) fez sobre a

evolução da família:

Nenhuma outra instituição teve uma evolução tão notável, uma história tão rica de acontecimentos, de avanços e retrocessos, de conquistas e derrotas; nenhuma outra instituição se revela tão duradoura, estável, extraordinariamente permanente como a família. Foi necessário ao homem um prolongamento e enorme esforço mental e moral para preservar e conduzir através de suas diferentes etapas a sua forma atual.

A partir de tal período histórico, formaram-se as famílias: consangüínea,

punaluana, sindiásmica, monogâmica, dentre outras, destacadas a seguir:

2.2.4.1 Família consangüínea

Nasce a família consangüínea da união entre irmãos e irmãs carnais e

colaterais no seio de um grupo. As relações sexuais entre adultos e entre jovens,

Page 99: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

23

sem nenhuma limitação do número de parceiros, característica da promiscuidade

como um padrão de conduta subordinado a certos costumes e ritos próprios e a

determinadas tribos. (ENGELS, 2000).

Para Pereira (2004, p. 17), "tal condição é incompatível com a idéia

exclusivista do ser humano e até mesmo de muitos irracionais, e contraditória com o

desenvolvimento da espécie", e complementa afirmando que: “atualmente, nem

mesmo os povos mais atrasados organizam-se de acordo com tal modelo”.

2.2.4.2 Família punaluana

Engels (2000, p. 39), disserta sobre a família punaluana alegando que: “Se o

primeiro progresso na organização da família consistiu em excluir os pais e filhos

das relações sexuais recíprocas, o segundo foi à exclusão dos irmãos”, [...] “esse

progresso foi infinitamente mais importante que o primeiro, e também mais difícil,

dada a maior igualdade nas idades dos participantes”.

2.2.4.3 Família sindiasmática

Com o passar do tempo, o matrimônio com parentes de qualquer grau Com o

decurso do tempo, passou a ser vedado o que acabou por inviabilizar o casamento

por grupo, levando à formação da família sindiásmica, onde o homem tem direito a

estabelecer relações poligâmicas, ainda que não o fizesse com muita freqüência por

motivos de ordem econômica. (ENGELS, 2000).

Engels (2000, p. 49), declara que a família sindiasmática “representava a

família oriunda das relações entre homem e mulher sem vínculo de parentesco, ou

seja, não poderia mais ter relações conjugais, pais e filhos, irmãs e irmãos”.

Destaca-se um aspecto importante que é o desenvolvimento do homem ao

instinto agressor, tanto que a mulher passa a ser possuída, tornando-se objeto de

agressão perdendo a sua posição de destaque até então assegurada. (LEITE,

1991).

Page 100: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

24

2.2.4.4 Família patriarcal

No entendimento de Leite (1991), houve uma quarta família, chamada de

Patriarcal, marcado pela autoridade absoluta do chefe de família, ou patriarca, com a

total exclusão das mulheres quanto aos misteres da vida pública.

Aparecimento da noção de ‘pater’, que significava poder com toda

intensidade. Os filhos e as mulheres estavam totalmente subordinados a vontade do

patriarca. Sendo que a condição da mulher era reduzida a menor e equiparada ao

filho. (LEITE, 1991).

O pater Famílias1, era quem tinha o poder de direção sobre a Família, bem

como, era a pessoa que fazia os cultos ou os comandava e possuía a incumbência

de proceder à distribuição da justiça dentro da sociedade familiar. (WALD, 2005).

2.2.4.5 Família romana

A evolução do direito romano se caracterizou pela responsabilização sempre

crescente do pater familias no que diz respeito às obrigações contraídas pelos seus

familiares. Por outro lado, foi conferida cada vez maior independência patrimonial

aos alieni iuris por meio do desenvolvimento do instituto do pecúlio. Este era uma

parte do patrimônio da família, entregue à administração direta dos alieni iuris.

(MARKY, 1995).

É na Família romana que se encontra o exemplo mais vigoroso da

organização patriarcal. A constituição do vínculo familiar, reproduzindo a tendência

patriarcal, vai ocorrer num terreno de absoluta submissão. (LEITE, 1991).

No entendimento de Marky (1995, p. 153), especificamente quanto ao

relacionamento familiar no Direito Romano:

[...] para ter a completa capacidade jurídica de gozo, era preciso que o sujeito, além de ser livre e cidadão romano, fosse também

1 1 Pater familias: O patriarca no direito romano era singular, e de poder supremo sobre os demais membros, sendo a esposa e os filhos considerados incapazes e tratados como os escravos de sua propriedade. Portanto, a Família romana era inegavelmente patriarcal. (PEREIRA, 2002, p. 18).

Page 101: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

25

independente do pátrio poder. A organização familiar romana distinguia entre pessoas independentes do pátrio poder, e pessoas, sujeitas ao poder de um pater familias. A independência do pátrio poder não tinha relação com a idade. Um recém-nascido, não tendo ascendente masculino, era independente do pátrio poder, ao passo que um cidadão de 70 anos, com o pai ainda vivo, era, sujeito, na qualidade de ao poder de seu pai.

Pereira (2004, p. 19) comenta que “O pater, acumulava as funções de chefe

político, sacerdote e juiz, sendo que, somente a ele era permitida a aquisição de

bens e a detenção do poder sobre o patrimônio familiar, a mulher e os filhos”.

O autor afirma que:

[...] a doutrina do Direito Natural e a filosofia individualística do século XVIII retiraram da família toda finalidade religiosa ou política, quebrando sua solidez originária, seja proclamando a independência e a igualdade dos filhos [...], seja negando o caráter religioso do casamento, cujas modalidades e efeitos passaram a ser regulados por lei. (PEREIRA, 2004, p. 19).

Nem o nascimento nem o afeto foram o fundamento da família romana,

julgando, que pelo contrário, deve-se encontrar tal fundamento no poder paterno ou

marital. (PEREIRA, 2004).

2.3 O DIREITO DE FAMÍLIA

2.3.1 Noção de Direito de Família

Antes da promulgação da CRFB/1988, Direito de Família, era o complexo das

normas que regulavam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos dele

resultantes; as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, assim como

a dissolução desta; as relações entre pais e filhos; o vínculo do parentesco; e os

institutos complementares da tutela e da curatela. (GOMES, 2002).

Page 102: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

26

Houve alteração considerável no conceito de Família e na própria realidade

social, a partir da promulgação da CRFB/1988. A regulamentação do parágrafo 3º do

art. 226 - “Que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade

familiar, determinando que seja facilitada a sua conversão em casamento”, feita por

intermédio da Lei n. 8.971/94 ‘Direito dos companheiros a alimentos e á sucessão’,

e, posteriormente, da Lei n. 9.278/96, ainda que com suas imperfeições, estende o

conceito de Família à união estável, protegendo-a sob o manto legal. (GOMES,

2002).

Com essas leis, foram introduzidas algumas outras modificações no Direito

de Família: a equiparação dos cônjuges, a não-discriminação entre filhos e o regime

da comunhão parcial de bens. (GOMES, 2002).

A CRFB/1988 recepcionou, assim, a família como base de toda a sociedade

e a qual deve o Estado proteger, propiciando um desenvolvimento sustentável dos

seus membros, assim entendidos o pai, a mãe e os filhos.

A seguir serão repassados alguns conceitos de Direito de Família, elaborados

por doutrinadores, para melhor assimilação do tema.

Segundo Rizzardo (2006, p. 02) o Direito de Família consiste em:

[...] um conjunto de normas e princípios que trata do casamento, de sua validade e efeitos; das relações entre pais e filhos; do vínculo do parentesco; da tutela e curatela; da dissolução da sociedade conjugal e dos alimentos devidos entre parentes e os cônjuges.

Gonçalves (2006, p. 03) define o Direito de Família como sendo:

[...] um ramo do direito civil que disciplina as relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco, bem como os institutos complementares da tutela e da curatela, visto que, embora tais institutos de caráter protetivo ou assistencial não advenham de relações familiares, têm, em razão de sua finalidade, nítida conexão com aquele.

Para Diniz, (2002, p. 07) o conceito de Direito de Família:

É o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e

Page 103: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

27

econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela.

Analisando os conceitos acima fica evidenciado claramente que os temas

tratados pelo Direito de Família são: o casamento, a União Estável, as relações de

parentesco e os institutos de direitos protetivos. (DINIZ, 2002).

Complementa Bittar (2006, p. 01) destacando que o “Direito de Família

representa, em si, o conjunto de princípios e de regras que regem as relações entre

o casal e os familiares, vale dizer, pessoas ligadas por vínculos naturais ou jurídicos,

conjugais ou de parentesco”.

Reforçando o comentado acima, o autor esclarece, que estas relações

complementam-se com as de assistência, resultantes de liames jurídicos tutelares,

previsto para a proteção de incapazes e de ausentes. (BITTAR, 2006).

2.3.2 Extensão

No entendimento de Bittar (2006, p. 03), o Direito de Família projeta-se por

cinco planos. Os primeiros referentes a relacionamentos no seio da família, e o

último, em situações substitutas impostas por exigências sociais.

Conforme explanado a seguir:

a) da regulamentação do casamento e de seus efeitos (no denominado direito matrimonial);

b) da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal (com a proteção da pessoa dos filhos);

c) da disciplina das relações de parentesco (no chamado direito parental);

d) da regulamentação da união estável; e) da regulação dos institutos complementares de assistência (no

direito assistencial).

Insere-se, também, no estudo do Direito de família, as matérias sobre a união

estável e seus efeitos.

Page 104: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

28

No entendimento de Diniz (2002, p. 05) o direito matrimonial abrange normas

concernentes à validade do casamento “como as que disciplinam a capacidade

matrimonial, os impedimentos matrimoniais e as causas suspensivas, a celebração,

prova, nulidade e anulabilidade do casamento”.

Para Bittar (2006, p. 04), no direito matrimonial são disciplinados “o

casamento, formalidades preliminares, celebração, fins e efeitos”.

No direito parental são regulados, basicamente, “os liames naturais e afins, a

filiação natural ou por adoção e os institutos do poder familiar e dos alimentos, sob a

idéia central da assistência recíproca entre parentes”.

Algumas das matérias acima referidas são tratadas particularmente pelo

direito das sucessões, e outras, como o pátrio poder, pertencem, aparentemente, a

ambas as seções do direito de família, embora se verifique, após segura análise,

que o pátrio poder não é efeito imediato do casamento e como tal pertencente à

primeira seção, e sim à segunda, pois que ficam sujeitos a pátrio poder, não só os

filhos ex nuptiis, mas os havidos fora do casamento reconhecidos e os adotados.

(WALD, 2005).

Para Diniz (2002, p. 05) o direito parental rege, portanto, “relações pessoais

entre parentes e relações econômicas, como dever de sustento dos pais, poder

familiar quanto à pessoa e aos bens dos filhos e obrigações de prestar alimentos”.

No direito assistencial são versados os institutos complementares de proteção

a incapazes e a ausentes, conforme disciplina Bittar (2006, p. 04):

a) a tutela, para menores; b) a curatela, para outras categorias de incapazes; c) a curadoria na ausência, para pessoas desaparecidas, definindo-

se também os respectivos efeitos, incluídas a administração de seus bens e a sucessão provisória.

Nas palavras de Diniz (2002, p. 06) no direito assistencial são disciplinados

“as normas atinentes às relações que subsistem às familiares, ou seja, a guarda, a

tutela e a curatela, e pelas normas alusivas às medidas específicas de proteção ao

menor, Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente”.

Page 105: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

29

2.3.3 Objeto

Primeiramente na visão de Miranda (2001, p. 74) o Direito de Família tem por

objetivo a “exposição dos princípios que regem as relações de família, quer quanto à

influência dessas relações sobre as pessoas quer sobre seus bens”.

No mesmo sentido complementa Diniz (2002, p. 09) afirmando que “O Direito

de Família tem por objeto a exposição dos princípios jurídicos que regem as

relações de Família e ocupa-se com o casamento, separação e divórcio, o

reconhecimento de filhos, filiação, pátrio poder, tutela, curatela e adoção”.

Quanto ao objeto do Direito de Família ensina Diniz (2002, p. 09) que é:

[...] a própria Família, embora contenha normas concernentes à tutela dos menores que se sujeitam a pessoas que não seus genitores, à curatela, que não tem qualquer relação com o parentesco, mas encontra guarida nessa seara jurídica devido à semelhança ou analogia com o sistema assistencial dos menores, apesar de ter em vista, particularmente, assistência aos psicopatas.

Pode-se observar diante dessas afirmações dadas acima, que o escopo do

Direito de Família é estudar a família em si que compreende os institutos do

casamento que ainda é a base da sociedade, a entidade familiar, o pátrio poder, o

estado civil das pessoas a tutela criada para suprir a autoridade do chefe de família,

a curatela instituição que tem por objetivo proteger os que estão impedidos de

governar pessoas e bens. (MIRANDA, 2001).

2.3.4 Evolução

O Direito de Família passou por longa evolução, em função do próprio

desenvolvimento da vida humana em sociedade e das diferentes mudanças de

costumes e idéias verificadas através dos tempos. (BITTAR, 2006).

O Código Civil de 1916 trazia uma concepção de Família diretamente ligada a

era da sociedade romana, onde o pai era o chefe de família e possuía amplo direito

Page 106: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

30

sobre todos que estavam sobre o seu poder. Os filhos decorrentes destas uniões

ficavam sob a extrema autoridade paterna, o pai chefe da família administrava e

representava a sociedade conjugal. A mulher dedicava-se exclusivamente ao seu lar

e não tinha os mesmos direitos que o seu marido. (VENOSA, 2005).

Á época a única fonte legítima de constituição da Família era o casamento, e,

o Estado parece ter se deixado influenciar pelas regras estabelecidas pela Igreja

Católica que instituí o casamento como a única forma de regulamentação da família,

tornando o casamento indissolúvel. (WALD, 2005).

Para o autor acima (2005, p. 20) assevera a evolução a partir do século XX:

[...] o legislador brasileiro, foi vigorosamente ultrapassando as barreiras religiosas e atribuiu direitos aos filhos ilegítimos e beneficiou a mulher com a Lei n. 4.121/62 que a tornou plenamente capaz. A Lei n. 6.515/1977 regulamentou o divórcio, pondo fim as relações matrimoniais que antes eram indissolúveis. A partir da Constituição Brasileira de 1988, houve um avanço no Direito de Família, como se depreende do artigo 226 consagra em seus parágrafos a proteção à família não somente formada através do casamento, mas também, proclama outras formas de entidade familiar, como a União Estável, a família adotiva e a família monoparental. Nossa Carta Magna, veio resguardar a necessidade de reconhecimento de outras espécies de família independente ou não da existência de um casamento.

O Código Civil de 2002 modificou a posição do Direito de Família, que passou

a constituir o Livro IV da parte Especial, adotando-se assim um critério mais técnico

e didático. Trouxe em seu texto legal as orientações proferidas pela Constituição

Federativa do Brasil, enfatizando desde logo a igualdade dos cônjuges e a não

interferência das pessoas jurídicas de direito público na comunhão de vida instituída

pelo casamento, Art. 1.513, além de definir o regime do casamento religioso e dos

seus efeitos. (WALD, 2005).

Os textos legislativos não conseguem acompanhar a realidade e a evolução

social da família. Nem mesmo o Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003,

contempla todas as indagações e inquietações do Direito de Família

contemporâneo. A vida e as relações sociais são muito mais ricas e amplas do que é

possível conter uma legislação. (WALD, 2005).

Para Venosa (2005), ainda existem muitos temas que não foram

Page 107: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

31

regulamentado como as inseminações artificiais os úteros de aluguel, as cirurgias de

mudança de sexo, os relacionamentos afetivos entre pessoas do mesmo sexo, a

clonagem de células e de pessoas.

2.3.5 Princípios Norteadores

Em razão da importância desta fonte do Direito é que se faz necessário

elencar para o Direito de Família alguns princípios que são vitais e fundamentais, e

sem os quais não é possível a aplicação de um direito que esteja próximo do ideal

de justiça.

No entendimento de Diniz, (2002, p. 17) as grandes mudanças havidas no

Direito de Família, foram mais substancias com o advento da CRFB/1988, a partir

daí rege-se pelos seguintes princípios.

Destacados a seguir:

a) Princípio do ‘Ratio’ do Matrimônio e da União Estável, o qual tem por fundamento básico do casamento e da vida conjugal a afeição entre os cônjuges e a necessidade de que perdure completa comunhão de vida;

b) Princípio da Igualdade Jurídica entre os Cônjuges e dos Companheiros no que atina aos seus direitos e deveres quanto à sociedade conjugal. A supremacia do poder marital e a autocracia do chefe da Família foram substituídas por um sistema em que as decisões devem ser tomadas, de comum acordo, entre conviventes ou entre marido e mulher;

c) Princípio da Igualdade Jurídica de todos os Filhos, que proíbe qualquer designação discriminatória, bem como distinção entre filhos legítimos, naturais e adotivos em relação a direitos e deveres;

d) Princípio do Pluralismo Familiar, uma vez que protege a Família matrimonializada ou não, constituída por ambos os genitores e filhos ou de caráter monoparental, originada por laços de sangue ou por meio da Adoção;

e) Princípio da Consagração do Poder Familiar, substituindo o poder marital e o paterno, no seio da Família, cabendo o seu exercício a ambos os genitores, o qual é considerado um poder-dever;

f) Princípio da Liberdade, para formar uma comunhão de vida, para o planejamento familiar, escolha do regime matrimonial de bens, aquisição e administração do patrimônio familiar, livre opção pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da prole;

g) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, alcança melhor compreensão quando aliado ao princípio da igualdade jurídica

Page 108: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

32

entre homens e mulheres contido no artigo 5º, I, e o da Igualdade Jurídica entre os Filhos contido no artigo 227, parágrafo 6º.

Continua a autora reforçando o comentário anterior, dizendo que: “A

conjugação desses princípios oportunizou a edificação de uma nova estrutura de

Família, que valoriza a pessoa nas suas relações intersubjetivas, assegurando as

possibilidades de pleno desenvolvimento de todos os membros da entidade familiar”.

(DINIZ, 2002, p. 24).

Os princípios exercem uma função de otimização do Direito. Sua força deve

pairar sobre toda a organização jurídica, inclusive preenchendo lacunas deixadas

por outras normas, independentemente de serem positivados, ou não, isto é,

expressos ou não expressos. (BITTAR, 2006).

Eles têm, também, uma função sistematizadora: sem os princípios não há

ordenamento jurídico sistematizável nem suscetível de valoração. A ordem jurídica

reduzir-se-ia a um amontoado de centenas de normas positivas, desordenadas e

axiologicamente indeterminadas, pois são os princípios gerais que, em regra,

rompem a inamovibilidade do sistema, restaurando a dinamicidade que lhe é própria.

(BITTAR, 2006).

2.3.6 Natureza Jurídica

Diniz (2002, p. 26), entende que a natureza do Direito de Família impera “um

direito extrapatrimonial, ou personalíssimo, irrenunciável, intransmissível, não

admitindo condição ou termo ou seu exercício por meio de procurador”.

Dando prosseguimento ao entendimento a autora (2002, p. 28), acresce que

as normas do Direito de Família “são cogentes ou de ordem pública, insuscetíveis de

derrogação pelo simples arbítrio do sujeito”.

Gomes (2002, p. 06) afirma que “pelos sujeitos das relações que disciplina,

pelo conteúdo dessas relações, pelos fins de seu ordenamento e pela forma de

atuação, o Direito de Família é direito privado, e parte integrante do direito civil”.

Page 109: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

33

Pode-se ressaltar que se vale das normas não pertencentes rigorosamente ao

Direito Civil, misturando-se aos demais ramos entre eles o Direito Penal, Direito

Comercial, Direito Processual. No entanto, não tiram o seu caráter preponderante de

Direito Civil, situado na esfera do Direito Privado. (MIRANDA, 2001).

Pereira (2004, p. 03-04) consoante ao autor acima, afirma que as normas do

Direito de Família são normas de Direito Privado, na medida em que os interesses

protegidos são predominantemente individuais, tratando-se de uma relação entre

particulares, embora haja interesse coletivo.

É certo que os interesses da família e dos membros que a compõem não

devem sofrer a intervenção direta e ostensiva do Estado, a quem compete apenas

tutelá-los. Dentro do Direito de Família o interesse do Estado é maior do que o

individual. Por isso, as normas são, quase todas, de ordem pública, insuscetíveis

portanto, de serem derrogadas pela convenção entre particulares. (RODRIGUES,

2004).

Rodrigues (2004, p. 07) assim se manifesta comentando que: “o interesse do

Estado pela família faz com que o ramo do direito que disciplina as relações jurídicas

que se constituem dentro dela se situe mais perto do direito público do que do direito

privado”.

A família é uma instituição, segundo a disciplina própria que é o Direito de

Família, que se encontra suscetível às mudanças da sociedade, o que dá vazão à

presença do Estado na disciplina de suas relações jurídicas. (PEREIRA, 2004).

Não se deve confundir, pois, esta tutela com poder de fiscalização e controle,

de forma a restringir a autonomia privada, limitando a vontade e a liberdade dos

indivíduos. Muito menos se pode admitir que esta proteção alce o Direito de Família

à categoria de Direito Público, apto a ser regulado por seus critérios técnico-

jurídicos. Esta delimitação é de fundamental importância, sobretudo para servir de

freio à liberdade do Estado para intervir nas relações familiares. (PEREIRA, 2004).

2.3.7 Relações com Outros Ramos do Direito Público e Privado

O Direito de Família relaciona-se com todos os ramos do Direito Público e do

Privado, exercendo neles grande influência.

Page 110: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

34

Através dos ensinamentos de Monteiro e R. Limongi ([s.d] apud DINIZ, 2002,

p. 29), pode-se observar o seguinte:

No Direito Civil: a) O direito das obrigações contém normas que se fundam em

princípios do direito de família. b) O direito das coisas, como as concernentes à hipoteca legal dos

filhos sobre os bens imóveis do genitor que convolar núpcias sem fazer o inventário do casal anterior.

c) O direito das sucessões, que na sua maior parte, relativa à sucessão legítima, é aspecto patrimonial do direito de família.

No Direito Público: a) O direito constitucional sobre normas que regem a família, a

educação e a cultura. b) O direito tributário nas isenções tributárias relativas a cônjuges ou

companheiros, filhos e dependentes, pois na arrecadação do imposto de renda há deduções atinentes aos encargos de família;

c) O direito administrativo em matéria de preferência para a remoção de cargos públicos.

d) O direito previdenciário, no que concerne as pensões alimentícias a que têm direito viúvos ou ex-conviventes, filhos e dependentes.

e) O direito processual na suspeição do juiz e de serventuário da Justiça em razão de parentesco com as partes litigantes; no impedimento de testemunha; na remição e na execução.

f) O direito penal em proteger a família, ao reprimir os crimes contra o casamento; estado de filiação; assistência familiar; poder familiar; tutela e curatela.

No entendimento de Bittar (2006, p. 09) quanto ao relacionamento do Direito

de Família com os outros ramos do Direito:

Mas é no direito das sucessões que mais se mostra o enredamento do direito de família, pois, dadas as noções de preservação da espécie e de defesa dos ideais comuns do núcleo familiar, pode-se observar que o primeiro é verdadeira conseqüência, ou irradiação, do segundo, regendo os aspectos patrimoniais decorrentes da transmissão de riquezas em família, em razão da morte de um integrante.

Apesar do acima exposto pode-se verificar que mesmo assim o Direito de

Família, relaciona-se com os demais ramos do direito, numa espécie troca, ou seja

tanto ele influencia como sofre influência dos demais, ora oferecendo princípios e

subsídios, ora moldando-se à normas e princípios. (BITTAR, 2006).

Page 111: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

35

2.4 TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NA FAMÍLIA E NO DIREITO DE FAMÍLIA

APÓS A PROMULGAÇÃO DA CRFB/1988 E DA LEI N. 10.406/2002 – CÓDIGO

CIVIL

O Direito de Família sofreu profundas transformações, desde a promulgação

do Código Civil em 1916 até os dias atuais. Mas a grande virada se deu com a

CRFB/1988, que introduziu relevantes mudanças no conceito de família e no

tratamento dispensado a essa instituição considerada a base da sociedade.

(BITTAR, 2006)

Após o advento da Constituição Federal de 1988 e com as inovações

surgiram inovações no Direito de Família, principalmente com a promulgação da Lei

10.406 de 10/01/2002 - Código Civil.

Venosa (2005, p. 29) reforça o comentário acima, destacando o seguinte

ensinamento:

O atual estágio legislativo teve que suplantar barreiras de natureza ideológica, sociológica, política, religiosa e econômica. Muito ainda, sem duvida, será feito em matéria de atualização no campo de família. Nessa ebulição social, mostra-se árdua uma codificação, tanto que o Projeto de 1975 que redundou no Código Civil de 2002 dormitou por muitos anos no Congresso.

Mesmo com a nova codificação oferecida pelo Código Civil de 2002, ainda

restam muitas discussões sobre o Direito de Família, já que a sociedade está em

constante mudança e com ela existem também avanços científicos, os quais o direito

não consegue acompanhar, criando, dessa forma, desafios para os juristas e para os

legisladores. (AZEVEDO, 2002).

Os direitos consagrados à família pela CRFB/1988 repercutiram quando da

elaboração do texto do Novo Código Civil, como por exemplo: a igualdade entre os

cônjuges, de forma que se substituiu o pátrio poder por poder familiar e o

reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar.

Ainda, foram totalmente abolidas todas as referências à filiação “legítima”,

“legitimada”, “adulterina”, “incestuosa” e “adotiva”, uma vez que a CRFB/1988

contempla a igualdade entre os filhos. (DINIZ, 2002).

Page 112: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

36

O Código Civil não faz mais referência a legitimação, isto é, em consonância

com esta alteração, o artigo 1.618 do Código Civil dispõe: “São equiparados aos

nascidos no casamento, para todos os efeitos legais, os filhos concebidos ou

havidos de pais que posteriormente casaram”. (WALD, 2005).

Em relação ao concubinato, impede a nova lei a investigação de maternidade

quando esta tenha por fim atribuir a mulher casada filho havido fora da sociedade

conjugal, excetuando-se quando requerida a investigação depois de dissolvida a

sociedade conjugal ou de um ano de separação ininterrupta do casal, devidamente

comprovada. (WALD, 2005).

No entendimento de Bittar (2006) é necessário destacar as mudanças havidas

no contexto do direito de Família a partir dos artigos 226 e seguintes da CRFB/1988:

ampliação das formas de constituição da família, que antes se circunscrevia ao

casamento, acrescendo-se como entidades familiares à união estável e a

comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; b) facilitação da

dissolução do casamento pelo divórcio direto após dois anos de separação de fato, e

pela conversão da separação judicial em divórcio após um ano; igualdade de direitos

e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal; igualdade dos filhos,

havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-se a todos os mesmos

direitos e deveres e sendo vedada qualquer discriminação decorrente de sua

origem.

Haja vista ser a Família a base da sociedade e ter especial proteção do

Estado, a CRFB/1988 reconheceu a união estável entre o homem e a mulher como

entidade familiar, através de seu art. 226 e parágrafos 3º, trazendo em seu comando

novas espécies de família, que a partir daí foram tuteladas pela norma

constitucional. (AZEVEDO, 2002).

Dispõe o artigo da CRFB/1988 acima citado (2005, p. 143):

Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] [...] Parágrafo 3º - Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Page 113: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

37

Nesse contexto, além do já explanado evidencia-se a importância da Família

para Estado, como se depreende do o artigo 226, caput, da CRFB/1988, que ao

referir-se à Família como sendo a base da sociedade, assegurou-lhe especial

proteção do Estado, comprometendo-se pela sua integridade.

Em consonância a esse reconhecimento dispôs o Código Civil de 2002 em

seu art. 1.723 :

É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, continua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de Família. (2005, p. 378).

Á propósito, complementa Diniz (2002, p. 16) destacando que diante da

norma constitucional acima descrita se têm hoje três espécies de família: “a

matrimonial, oriunda das relações matrimoniais, a extramatrimonial que é a

decorrente da união de fato e a família monoparental que é aquela formada por um

de seus genitores e descendentes”.

Como decorrência dos novos mandamentos constitucionais, foram editadas

leis especiais garantidoras daqueles direitos, com atualização do texto da Lei

6.515/77, relativa à separação judicial e ao divórcio, a edição da Lei 8.069/90 -

Estatuto da Criança e do Adolescente, a normatização da Lei n. 8.560/90 -

Reconhecimento de Filhos havidos fora do Casamento e as Leis n. 8.971/94 e

9.278/96 - União Estável, dando aos companheiros direitos a alimentos, meação e

herança. (RIZZARDO, 2006).

Observa-se a seguir o entendimento de Rodrigues (2004, p. 05), comentando

o dispositivo acima em destaque:

A família constitui a base de toda a estrutura da sociedade. Nela se assentam não só as colunas econômicas, como se esteiam as raízes morais da organização social. De sorte que o Estado, na preservação de sua própria sobrevivência, tem interesse primário em proteger a família, por meio de leis que assegurem o desenvolvimento estatal e a intangibilidade de seus elementos institucionais.

Atualmente está se construindo uma nova concepção de família, ou seja, a

entrada da mulher no mercado de trabalho, as facilidades para a obtenção do

Page 114: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

38

divórcio e a independência maior da juventude são alguns dos fatores que

contribuem para uma menor estabilidade da família. Isto não significa que a família

esteja em crise, há uma transformação decorrente das mudanças sociais. Estas

transformações acabam por criar a necessidade de uma proteção maior pelo Estado,

merecendo também a atenção da doutrina. (PEREIRA, 2004).

Feita esta explanação sobre o contexto da Família e do Direito de Família,

passa-se a destacar no capítulo seguinte o conceito e a natureza jurídica do

Casamento e Parentesco bem como sua origem e evolução na legislação brasileira.

Page 115: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

3 A CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA PELO CASAMENTO

Para ter início no instituto da Separação Judicial é preciso primeiramente ter

uma idéia de como funciona o instituto do casamento seus efeitos legais e quais os

direitos e deveres aos cônjuges em relação à sociedade conjugal.

Encontra-se fundamentada no casamento ou matrimônio uma das fontes da

constituição da família, desde que o homem se conscientizou do relevo de sua ação

na formação e na preservação da espécie. A partir do momento em que os nubentes

declaram publicamente suas vontades, encontram-se no casamento e na família,

ideais, sentimentos e objetivos que interessam a toda a comunidade. (BITTAR,

2006).

3.1 CASAMENTO

Assevera Diniz (2002, p. 39), que “o casamento é a mais importante e

poderosa de todas as instituições de direito privado, por ser uma das bases da

família, que é a pedra angular da sociedade”.

Para Monteiro (2004, p. 21), “não existe, provavelmente, em todo o direito

privado, instituto mais discutido que o casamento”.

O casamento é uma instituição antiga, que nasceu a partir dos costumes,

portanto incentivada pelo sentimento moral e religioso, e na atualidade encontra-se

completamente incorporada ao direito pátrio. (BITTAR, 2006).

Pelo casamento cria-se um vínculo jurídico entre os cônjuges, em que está

contida a sociedade conjugal. Cria-se deveres legais de naturezas diferentes, alguns

de caráter nitidamente patrimonial, que se enquadram perfeitamente no campo das

obrigações, e outros n/ao patrimoniais. (WALD, 2005).

É condição jurídica para existência de certos direitos e, no sentido social,

pode ser entendido como uma manifestação de vontade conjunta, subordinada a

inúmeros pré-requisitos e a uma cerimônia civil que, cumpridas certas formalidades,

substancia e legitima uma união de pessoas. (WALD, 2005).

Page 116: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

40

Para Venosa (2007, p. 25), o casamento é o centro do direito de família.

Dele irradiam suas normas fundamentais. Sua importância, como negócio jurídico formal, vai desde as formalidades que antecedem sua celebração, passando pelo ato material de conclusão até os efeitos do negócio que deságuam nas relações entre os cônjuges, os deveres recíprocos, a criação e assistência material e espiritual recíproca e da prole etc.

Constitui assim o casamento uma vasta instituição social, a qual, nasce da

vontade dos contraentes, mas que, da imutável autoridade da lei, recebe forma,

suas normas e seus efeitos. (MONTEIRO, 2004).

Venosa (2007), comunga do entendimento do autor acima citado, afirmando

que a conceituação de casamento não pode ser imutável, como costuma acontecer

com todos os fenômenos sociais que se modificam no tempo e no espaço.

3.1.1 Conceito

Os juristas têm tido muitas dificuldades para definir o casamento devido a

discordância em relação aos elementos caracterizadores ou elementares no

casamento. (BORGHI, 2005).

Ressaltar-se que o mesmo acontece em relação ao ordenamento jurídico, ou

seja, o Código Civil não define o que seja casamento, mas deixa evidenciado que é

ato a ser consumado entre um homem e uma mulher. Percebe-se que ele faz

referência a todo o momento aos cônjuges. Em relação a CRFB/1988 pode-se dizer

que ela também não o define, mas no art. 226, parágrafo 5º, prescreve que “os

direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo

homem e pela mulher”. (THOMAZ, 2006, p. 01).

Para Diniz (2002, p. 39), “o casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a

mulher que visa o auxilio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma

integração fisiopsíquica e a constituição de uma família”.

Page 117: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

41

No direito romano houve duas definições do casamento. Uma se encontra no

Digesto, que é a de Modestino, e outra nas Institutas, de Justiniano e atribuída a

Ulpiano. (VENOSA, 2007).

Muito conhecida é a visão de Modestino ([s.d] apud VENOSA, 2007, p. 25), o

conceito de casamento é “o contrato de direito de família que tem por fim promover a

união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas

relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”.

Já a definição das Institutas ([s.d] apud BORGHI, 2005, p. 26), estabeleceu

que: “núpcias ou casamento é a união do homem e da mulher, estabelecendo entre

eles uma comunhão de existências indivisível”.

Clóvis Beviláqua ([s.d] apud BORGHI, 2005, p. 27) também definiu o

casamento, da seguinte maneira:

O casamento é um contrato bilateral e solene pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e interesses e comprometendo-se a criar e a educar a prole que de ambos nascer.

Monteiro (2004, p. 22), conceitua casamento como sendo “a união

permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se

reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus filhos”.

Por último tem-se a definição de casamento por Gonçalves (2006, p. 01),

como sendo a união legal entre um homem e uma mulher, com o objetivo de

constituírem a família legítima. Reconhece-se-lhe o efeito de estabelecer “comunhão

plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

3.1.2 Caracteres e fins do Casamento

Em relação aos caracteres do casamento Monteiro (2004, p. 22) assevera

que:

a) sua natureza é de ordem pública. A legislação sobre casamento plana acima das convenções particulares;

Page 118: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

42

b) além disso, implica união exclusiva, tanto que a violação ao de ver de fidelidade constitui ilícito civil;

c) importa comunidade de vida para os cônjuges; d) não comporta termo ou condição, tratando-se, como se trata, de

negócio jurídico puro e simples.

Para Diniz (2002, p. 45-46) os caracteres do casamento são divididos em

quatro itens, conforme disposto a seguir: a) A liberdade na escolha do nubente; b) A

solenidade do ato nupcial; c) O fato de ser a legislação matrimonial de ordem

pública, por estar acima das convenções dos nubentes; d) A união permanente; e) A

união exclusiva.

Gonçalves (2006, p. 29) em relação às finalidades do casamento, assevera

que: “são múltiplas as finalidades e variam conforme a visão filosófica, sociológica,

jurídica e religiosa como são encaradas”.

Distingue-se no casamento fins primários e secundários. Em relação ao fim

primário, pode-se dizer que a sociedade conjugal não estabelece unicamente para a

procriação e educação da prole. Paralelamente seguem os denominados

secundários: o remédio à concupiscência e a ajuda mútua, suficientes, para justificar

o matrimônio, ainda que subordinados ao fim primário. (GOMES, 2002).

No entendimento de Miranda (2001, p. 105)

O matrimônio não é só relação jurídica, mas – e antes de tudo – relação moral. O direito apenas dá normas à expressão exterior do casamento. Daí os seus múltiplos efeitos: uns grafados, por sua importância, como deveres e direitos decorrentes do ato do matrimônio; outros, de menor alcance, que entram na dedução dos assuntos à medida que se faz sentir a sua influência, e outros, enfim, de caráter moral, que são corolários imediatos da afeição recíproca. Só o estudo dos primeiros compete à técnica do direito.

Segundo o direito positivo os artigos l.5111, l.5652, 1.5663 e outros do Código

Civil, o casamento tem por finalidade criar a família e estabelecer comunhão plena

1 Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 2 Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. 3 Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal;

Page 119: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

43

de vida, com arrimo na igualdade de direitos e deveres dos componentes do casal, e

referindo-se à criação da família. (BORGHI, 2005, p. 42).

No entendimento de Gonçalves (2006) a principal finalidade do casamento é

estabelecer comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e afeição existentes

entre o casal e baseada na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua

assistência, como bem se observa o contexto no art. 1.511 do ordenamento jurídico.

3.1.3 Natureza e Regulamentação Legal

Quanto à natureza jurídica do casamento, há três correntes doutrinárias. Para

a primeira o casamento tem natureza contratual, para a segunda o casamento é uma

instituição e para a terceira é um estado, aliado a uma ou a outra daquelas

concepções, ou seja, é um misto. (BORGHI, 2005).

Em relação a concepção contratualista, o casamento é estabelecido por

acordo entre os cônjuges. Seria um contrato, ao qual se aplicariam as regras

ordinárias a todos os contratos civis, sendo o consentimento dos nubentes o

elemento essencial da sua existência. (BORGHI, 2005).

Já para os institucionalista o casamento constitui uma instituição social que

nasce da vontade dos contraentes mas que recebe sua forma, suas normas e seus

efeitos da autoridade da lei. (BORGHI, 2005).

Leciona Borghi (2005, p. 38) em relação à natureza jurídica do casamento:

Entendemos enquadrar-se o casamento na categoria dos negócios jurídicos mais consentânea com a realidade atual em referência aos contratos, embora o de casamento seja especial, como referido; não obstante, tem sido e continuará a ser utilizada a expressão negócio (ou ato) jurídico para designação do casamento.

Para os que afirmam ser um misto, ou seja, entendem o casamento como ato

complexo, ou seja, ao mesmo tempo contrato em sua formação, instituição no seu

III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos

Page 120: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

44

conteúdo; é mais que um contrato, mas não deixa de o ser também. (BORGHI,

2005).

Cita-se também o posicionamento de Diniz (2002, p. 44) que assim se

manifesta: “Por ser o matrimônio a mais importante das transações humanas, uma

das bases de toda a constituição da sociedade civilizada, filiamo-nos à teoria

institucionalista, que o considera como uma instituição social”.

3.1.4 Casamento Civil e Religioso

Com a proclamação da República e a conseqüente separação da Igreja e do

Estado, é que surgiu a possibilidade de realizar exclusivamente o casamento civil,

através do Decreto Lei n. 181 de 24 de janeiro de l.890. (MONTEIRO, 2004).

A partir daí, criou-se a seguinte situação: o casamento religioso não passava

de mera união, ou seja não era legalizado. Por sua vez o casamento civil em relação

a Igreja não passava igualmente de uma união livre, pois era contrária aos princípios

religiosos. (MONTEIRO, 2004).

Devido a população brasileira na época ser por sua maioria católica, o conflito

era conciliado através da realização sucessiva das duas cerimônias, civil e religiosa.

Na atualidade o casamento continua sendo civil. Entretanto equipara-se o

casamento religioso ao civil caso seja observados os impedimentos e as prescrições

da lei, assim o requerer o celebrante ou qualquer interessado, contando que seja o

ato inscrito no Registro Público, conforme determina a CRFB/1988 em seu art. 226

parágrafo 2º, in verbis: [...] “O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei”

(WALD, 2005).

Diniz (2002, p. 112) ressalta que em relação ao casamento civil, permite o

ordenamento jurídico brasileiro algumas modalidade de celebração conforme

disposto a seguir: a) Casamento por Procuração encontra-se estabelecido no art.

1.542, Parágrafos 1º a 4º do Código; b) Casamento Nuncupativo é uma forma

excepcional de celebração do ato nupcial em que o CC, art. 1.540; c) Casamento

perante autoridade Diplomática ou consular; d) Casamento Religioso com Efeitos

Civis.

Page 121: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

45

3.2 PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DO CASAMENTO

3.2.1 Direitos e Deveres dos Cônjuges

São deveres recíprocos entre os cônjuges os de fidelidade, de vida em

comum no domicílio conjugal, de mútua assistência, sustento, guarda e educação

dos filhos, respeito e considerações mútuos, importando a grave violação de

qualquer deles em causa para a separação judicial litigiosa. (WALD, 2005).

Neste contexto fica estabelecido pela lei, doutrina e jurisprudência um

conjunto de direitos e obrigações recíprocas entre os cônjuges e que somente com a

dissolução do casamento podem ser liberados. Nascem a partir da celebração do

casamento, podendo manter-se embora sobrevenha a separação judicial ou até o

divórcio. (BITTAR, 2006).

Existe um complexo de deveres e obrigações de um lado, que gera direitos e

obrigações também para o outro lado, e somente esta harmonia de interesses e

manifestação de vontade é que sintetiza a completa relação conjugal legal e moral.

(PEREIRA, 2004).

Nesse diapasão salienta Rodrigues (2004, p. 135) que “o último passo, na

evolução igualitária, foi dada pelo legislador constituinte de 1988”, com a regra do

parágrafo 5º4 do art. 226 da CRFB/1988, como se pode observar:

3.2.2 Impedimentos Matrimoniais

O direito civil brasileiro prevê os impedimentos do casamento em seu art.

1.521 itens I a VII, que se referem à união entre ascendentes e descendentes, ao

parentesco em linha reta, seja ele natural ou civil, parentesco em linha colateral até

terceiro grau, à proibição do casamento entre o adotado e o filho do adotante, entre

4 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Parágrafo 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

Page 122: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

46

pessoas já casadas, e entre o cônjuge sobrevivente e o condenado por homicídio ou

tentativa de homicídio contra o seu consorte. (WALD, 2005).

As razões desses impedimentos são ou a consangüinidade (parentesco em

linha reta ou linha colateral) ou a monogamia e monoandria (proibição do casamento

de pessoas já casadas), ou a proteção do recato da família (proibição do casamento,

nos casos de adoção, entre o adotado e os filhos do adotante), ou a espécie de

sanção acessória por crime cometido (homicídio). (WALD, 2005).

3.2.3 Causas Suspensivas do Casamento

São causas suspensivas do casamento aquelas constantes do art. 1.5235,

incisos I a IV, que impedem o casamento. (WALD, 2005).

Enquanto os impedimentos protegem a livre vontade dos nubentes,

estabelecendo ainda a idade mínima para o casamento, as causas suspensivas

visam resguardar situações econômicas, evitando que os filhos sejam prejudicados

pelo segundo casamento do viúvo ou viúva. (WALD, 2005).

3.2.4 Nulidade e Anulação de Casamento

É nulo o casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário

discernimento para os atos da vida civil e com infração de impedimentos contidos no

art. 1.5486, incisos I e II, do ordenamento jurídico. (WALD, 2005).

5 Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 6 Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - por infringência de impedimento

Page 123: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

47

Estabelece o Código Civil em seu art. 1.561 “Embora anulável ou mesmo

nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a

estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória”, que

o casamento nulo ou anulável produz efeitos até o dia da sentença anulatória, caso

tenha sido contraído de boa-fé, salvo caso de putatividade. (GONÇALVES, 2006).

Há também o casamento eivado de nulidade sanável, ou seja é aquele que a

lei considera menos importante e que, não havendo qualquer oposição durante um

lapso de tempo, pode ficar sanada validando o casamento. (WALD, 2005).

Trata-se de casamento putativo, casamento nulo em que ao menos um dos

cônjuges estava de boa fé. O casamento nulo passa a ser putativo provando-se a

boa fé de um dos cônjuges e o erro em que incidiu, cabendo aos tribunais apreciar

as circunstâncias de cada caso concreto em virtude das quais o erro ou a ignorância

possa parecer plausível. (WALD, 2005).

O casamento anulável encontra-se disciplinado no art. 1.5507 do código civil,

conforme demonstrado em nota de rodapé.

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE REGIMES DE BENS

Os regimes de bens constituem, os princípios jurídicos que disciplinam as

relações econômicas entre os cônjuges, na constância do matrimônio. (PEREIRA,

2004).

Em relação ao regime de bens pode-se dizer que o matrimônio cria para os

cônjuges relações patrimoniais especialmente objetivadas no direito sucessório, nos

regimes matrimoniais e nas doações recíprocas. (PEREIRA, 2004).

Gomes (2002, p.161) traz sua contribuição em relação ao regime matrimonial,

asseverando que: “é o conjunto de regras aplicáveis à sociedade conjugal

7 Art. 1.550. É anulável o casamento: I - de quem não completou a idade mínima para casar; II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI - por incompetência da autoridade celebrante.

Page 124: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

48

considerada sob o aspecto dos seus interesses patrimoniais. Em síntese, o estatuto

patrimonial dos cônjuges”.

O casamento gera efeitos de duas ordens: pessoais e matrimoniais. Os

primeiros estão elencados nos arts. 1.566 a 1.570 do Código Civil, que são os

efeitos patrimoniais ou econômicos. (PEREIRA, 2004).

Pereira (2004, p. 188), disciplina que o regime de bens atende a dois critérios:

a) quanto à origem, quando provém da convenção ou da lei; b) quanto ao seu

objeto, no que diz respeito ao fato de se comunicarem ou não os patrimônios dos

cônjuges.

Podem os cônjuges escolher o regime de bens de suas preferências, também

combinarem ou estipularem cláusulas de sua livre escolha e redação, desde que

estas, não atentem contra os princípios da ordem pública, e não contrariem a

natureza e os fins do casamento. (PEREIRA, 2004).

A imutabilidade do regime de bens não é, porém absoluta, pois o art. 1.639,

em seu Parágrafo 2º, admite a sua alteração, “mediante autorização judicial em

pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões

invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”. (GONÇALVES, 2006, p. 138).

Estão regulamentados no Código Civil em seus artigos 1.672 a 1.686 quatro

espécies de regimes de bens que são: comunhão parcial; comunhão universal;

separação total de bens e por último o regime de participação final dos aqüestos.

(DINIZ, 2002).

Importante ressaltar conforme o disposto no art. 1.640 caput do Código Civil

em relação à não manifestação por parte dos cônjuges em relação a escolha de

bens do matrimônio. Salienta-se, entretanto o Parágrafo Único do referido artigo a

necessidade de pacto antenupcial por escritura pública, na escolha dos outros

regimes, entre eles a comunhão universal, participação final nos aqüestos,

separação total convencional. (PEREIRA, 2004).

Deverá o pacto antenupcial ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis

conforme Lei n. 6.015/73 e art. 1.657, do código Civil para ter validade contra

terceiros e efeito "erga omnes". Caso não registrado no Cartório de Registro de

imóveis, não torna-se nulo, mas terá efeito somente perante os cônjuges e

herdeiros. No caso de empresários, deverá ser averbado no Cartório de Registros

Públicos de Empresas Mercantis, art. 979, CC.

Page 125: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

49

3.4 PARENTESCO E SUAS ESPÉCIES

Nas palavras de Pereira (2004, p. 234) “dentre as várias espécies de relações

humanas, o parentesco é das mais importantes e a mais constante, seja no

comércio jurídico, seja na vida social”.

Diniz (2002, p. 367) complementa, destacando que “o parentesco é a relação

vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de

um mesmo tronco comum, mas também entre um cônjuge e os parentes do outro e

entre adotante e adotado”.

O Código Civil de 1916, nos artigos 330 a 336, instituía que o Parentesco

resulta da consangüinidade, da afinidade que liga o cônjuge aos parentes do outro

cônjuge e da Adoção. (WALD, 2005).

Atualmente, o Código Civil conservou essas espécies de Parentesco, fazendo

com que a afinidade alcance também a união estável, conforme disposto no artigo

1.5958 e trazendo outra inovação, a que o Parentesco é natural quando resultante da

consangüinidade e Parentesco Civil quando tiver outra origem segundo as

disposições do artigo 1.5939. (WALD, 2005).

Segundo Diniz (2002, p. 367-368) conforme disposto nos artigos do Código

Civil, destacados anteriormente, o Parentesco pode ser dividido em:

a) Natural ou consanguíneo: é o vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, portanto ligadas, umas às outras, pelo mesmo sangue; b) Parentesco por afinidade: consistente em um vínculo que é estabelecido entre cada cônjuge ou companheiro e os parentes do outro conforme estabelecido no artigo 1.595 do Código Civil Brasileiro de 2002; c) Parentesco civil: Caracterizado como sendo o vínculo da adoção, entre adotante e adotado, que se estende aos parentes de um e de outro.

Segundo o artigo 1.59110 do Código Civil, são parentes em linha reta as

pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e

8 Art. 1.595 - Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade 9 Art. 1.593 - O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem 10 Art. 1.591- São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes.

Page 126: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

50

descendentes. Prevê o art. 159211 do referido diploma legal sobre as pessoas

provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra, que os mesmos

sejam parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau. (WALD, 2005).

O Código Civil em seu art. 159412 estabelece as regras de contagem do grau

de parentesco, segundo o qual, na linha reta, contam-se os graus de parentesco

pelo número de gerações e na colateral, também pelo número delas, subindo de um

dos parentes até o ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

(WALD, 2005).

3.4.1 Filiação

Segundo Diniz (2002, p. 378), a filiação é “o vinculo existente entre pais e

filhos; vem a ser a relação de parentesco consangüíneo em linha reta de primeiro

grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida”.

No entendimento de Wald (2005, p. 241), “a procriação gera efeitos jurídicos,

não mais importando a qualidade de filho na criação de deveres e direitos”.

"Filiação é a relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e em

linha reta, que liga uma pessoa àquelas que o geraram. Essa relação de parentesco,

dada a proximidade de grau, cria um sem-número de efeitos no campo do direito, daí

derivando a importância de sua verificação". (RODRIGUES, 2004, p. 297).

Diniz (2002, p. 381-394) apresenta uma classificação mais completa, não se

limitando a apenas mostrar o que é filiação matrimonial:

a) matrimonial, na qual se inserem os filhos nascidos da Constancia

do casamento, de acordo com as presunções contidas no art. 1.597 do mesmo código;

b) não matrimonial, abrangendo os filhos nascidos fora das relações matrimoniais, que podem ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente de acordo com o disposto no art. 1.607 do Código Civil;

c) adotiva, na forma do art. 1.626 do Código Civil e do art. 41 da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, que consiste

11Art. 1.592 - São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra 12Art. 1.594 - Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

Page 127: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

51

na atribuição da condição de filho à pessoa sem vínculo consangüíneo ou que não se insira na filiação matrimonial e não matrimonial.

De acordo com o disposto no art. 227, parágrafo 6º da CRFB/1988 e do art.

1.596 do Código Civil, os filhos, qualquer que, seja a origem devem ter os mesmos

direitos e qualificações, sendo proibidas quaisquer designações discriminatórias

relativas à Filiação.

3.4.2 Reconhecimento da filiação

O reconhecimento do estado de Filiação constitui, de acordo com a nova lei,

direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, exercitável contra os pais e seus

herdeiros sem qualquer restrição, conforme disposto no artigo 27 do Estatuto da

Criança e do Adolescente. Outras disposições sobre o reconhecimento de filhos

constam dos artigos 1.607 a 1.617 Código Civil, supletivamente, na Lei 8.560/92 –

Investigação de Paternidade. (WALD, 2005).

O art. 1.607 do Código Civil dispõe que: “O filho havido fora do casamento

pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente” referindo-se ao

reconhecimento voluntário.

Cabe registrar o entendimento de Diniz, (2002, p. 395):

O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação havida fora do matrimônio, estabelecendo, juridicamente, o parentesco entre pai e mãe e seu filho. Não cria, portanto, a paternidade, pois apenas visa a declarar um fato, do qual o direito tira conseqüências. Desde o instante do reconhecimento válido, proclama-se a filiação, dela decorrendo conseqüências jurídicas, já que antes do reconhecimento, na órbita do direito, não há qualquer parentesco.

Os modos pelos quais se pode fazer o reconhecimento voluntário, cuida o

Código Civil em seu art. 1.609, nos seguintes termos:

Art. 1.609 – O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:

Page 128: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

52

I) no registro do nascimento; II) por escritura pública ou escrito particular a ser arquivado em cartório; III) por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV) por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não tenha sido objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo Único: O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. (2005, p. 354-355).

No entendimento de Pereira (2004, p. 214) o reconhecimento da Filiação seja

ela matrimonial ou extramatrimonial possui os seguintes atributos:

a) irrevogabilidade que significa que uma vez pronunciada não poderá ser revogada;

b) anulabilidade, haja vista que assim como os atos jurídicos em geral é anulável;

c) validade erga omnes, eis que vale em relação aos interessados diretos (pai e mãe) como a todas as pessoas, inclusive parentes;

d) indivisibilidade, pois não é possível fracionar-se para abranger o reconhecido como filho, efeitos parciais ou limitados;

e) incondicionabilidade, visto que o ato não comporta a oposição de uma condição; e f) a retroatividade, pois a mesma reflete a possibilidade do efeito retrooperante do reconhecimento à data do nascimento ou até a sua concepção.

Uma vez declarada a vontade de reconhecer, o ato passa a ser irretratável ou

irrevogável, inclusive se feito em testamento por implicar numa confissão de

paternidade ou maternidade, apesar de poder vir a ser anulado se inquinado de vício

de vontade como erro, coação ou se não observar certas formalidade legais. (WALD,

2005).

O interessado pode ingressar em juízo para investigar sua paternidade ou

maternidade biológica, caso haja dúvida quanto a filiação, pois trata-se de um direito

saber sua identidade genética. Este tipo de reconhecimento judicial, pode ser,

intentada através de uma Ação de Investigação de Paternidade ou Maternidade, a

qual permite obter a declaração de seu respectivo status familiae. (DINIZ, 2002).

Conforme disposto no art. 1.614 do Código Civil, “O filho maior não pode ser

reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento,

nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação”, para que haja o

Page 129: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

53

reconhecimento do filho maior, o mesmo não poderá ser reconhecido sem o seu

consentimento e filho Menor pode impugnar o reconhecimento dentro dos quatro

anos que seguirem à maioridade ou emancipação. (DINIZ, 2002).

3.4.3 Adoção na Atualidade

No entendimento de Wald (2005, p. 270) o conceito de adoção “é uma ficção

jurídica que cria o parentesco civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de

paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente”.

Assevera Diniz (2002), que a adoção dá origem a uma relação jurídica de

parentesco civil entre adotante e adotado.

Seguindo o mesmo raciocínio prossegue a autora (2002, p. 423) que a

adoção: “É o ato jurídico solene pelo qual alguém estabelece, irrevogável e

independentemente de qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um

vinculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa

que geralmente lhe é estranha”.

O art. 227 parágrafos 5º e 6º da CRFB/1988, dispõe a igualdade dos direitos

de todos os filhos, inclusive os direitos referentes sucessórios, proibindo qualquer

discriminação. Também proporcionou avanços em matéria de Adoção, porém,

somente com a Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e Adolescente que os dispositivos

constitucionais passaram a ser regulamentados. (WALD, 2005).

O Código Civil 2002 não tratou totalmente o instituto da Adoção. Pelo

contrário em algumas situações o mesmo reprisou o já disposto na Lei n. 8.069/90 -

Estatuto da Criança e do Adolescente e em outras foi omissivo. (PEREIRA, 2004).

Pelo Código Civil de 1916, exigia do adotante idade mínima de 30 anos, pois

o legislador considerava que tal ato deveria ser efetuado por alguém dotado de um

grau maior de maturidade, já que o arrependimento poderia gerar danos irreparáveis

para as partes. O exigido atualmente é que o adotante tenha pelo menos 18 anos,

art. 1.618 do Código civil. (DINIZ, 2002).

Além disso, sendo o adotante casado, era requisito que o matrimônio

houvesse ocorrido há pelo menos cinco anos, a não ser que o homem fosse maior

Page 130: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

54

de 50 e a mulher maior de 40 anos. Caso o adotante tivesse filhos, o adotado não

seria incluído na sucessão hereditária. (PEREIRA, 2004).

Não poderá haver qualquer forma de restrição quanto ao sexo do adotante,

entretanto para possibilitar a adoção cumulativa (por duas pessoas

simultaneamente), devem os adotantes ser marido e mulher ou viverem em união

estável, conforme disciplinam o artigo 1.62213 Caput e Parágrafo Único do Código

Civil e Parágrafo 1º do artigo 4114 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo

que tal direito, após o reconhecimento legal da união estável, naturalmente se

estende aos companheiros. (WALD, 2005).

Á propósito ensina Pereira (2004, p. 214) que a outra imposição é a diferença

de idade entre adotante e adotado, conforme disposto no art. 1.619 do Código Civil.

"Imitando a filiação biológica, e propiciando autoridade e respeito, o adotante há de

ser pelo menos 16 anos mais velho do que o adotado o Código de 1916 exigia 18

anos”.

Pereira (2004, p. 218) resume seu entendimento quanto ao disposto na Lei n.

4.655/65, de que a mesma surgiu com a pretensão de "suprir o parentesco civil dos

meios hábeis a realizar efetivamente a integração do adotado no meio familiar que o

recebia", sob o nome de legitimação adotiva, que objetivava equiparar o filho adotivo

ao natural, trazendo, contudo, uma série de restrições que continuaram a

obstaculizar o instituto.

Surgiu, com o decurso do tempo, uma tendência a alterar a expressão

consagrada pela lei acima mencionada, que passaria a ser tratada por adoção, nas

modalidades simples, prevista no Código Civil, e plena, que seria a legitimação

adotiva com as alterações acrescidas pelo revogado Código de Menores, Lei n.

6.697/79. (DINIZ, 2002).

Considerando o teor do antigo ordenamento, os adotantes se viam forçados a

partilhar o filho com a família biológica, o que levava os pais a registrar o filho

adotivo como se natural fosse (adoção à brasileira), o que constitui crime de

falsidade ideológica. (DINIZ, 2002). 13 Art. 1.622 - Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. Parágrafo único. Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. 14 Art. 41 - [...] Parágrafo 1º- Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes

Page 131: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

55

Em suma, esses são os efeitos pessoais e patrimoniais da Adoção, sendo

que esses efeitos somente terão início com o trânsito em julgado da sentença que o

decretar, exceto se o adotante vier a falecer no curso do processo, caso em que a

adoção produzirá efeitos retroativamente à data do óbito. O vínculo de adoção, por

sua vez, será inscrito no cartório de registro civil mediante mandado judicial,

cancelando-se o registro original do adotado. (WALD, 2005).

3.4.4 Poder Familiar

Para Rodrigues (2004, p. 356): “O poder familiar é o conjunto de direitos e

deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos não

emancipados, tendo em vista a proteção destes”.

Monteiro (2004, p. 348), traz sua contribuição quanto ao tema, destacando a

seguir:

Primitivamente, o pátrio poder, no Direito Romano, visava tão-somente ao interesse do chefe de família. Modernamente, despiu-se do caráter egoístico de que se impregnava; seu conceito, na atualidade, é profundamente diverso. Ele é presentemente um conjunto de deveres, de base nitidamente altruística.

Reforçando o comentado anteriormente Monteiro resume seu entendimento,

conceituando poder familiar como sendo: “[...] o conjunto de obrigações, a cargo dos

pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores. Por natureza é indelegável”.

(2004, p. 348).

A CRFB/1988, lembra Wald (2005), concedeu o pátrio poder ao casal, tal

como já o havia concedido a Lei n. 4.121/62. No entanto, havendo divergência entre

os cônjuges, não mais prevalece a vontade paterna, e aquele que estiver

inconformado, deverá recorrer à Justiça, pois o exercício do pátrio poder é de ambos

os cônjuges, igualmente dispõe o art. 21, da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e

do Adolescente. Só assumindo um deles com a exclusividade na falta ou

impedimento do outro, segundo artigo 1.631 do Código Civil Brasileiro de 2002.

Page 132: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

56

Na ordem pessoal, os atributos do pátrio poder manifestam-se sob três

aspectos fundamentais: guarda, educação e correição dos filhos; na ordem

patrimonial, os atributos do pátrio poder compreendem: a administração e o usufruto

dos bens dos filhos. (GOMES, 2002).

Aos incapazes que se encontram proibidos de atuarem, por si mesmos, na

vida jurídica; a lei confere proteção e colocá-os sob a orientação de uma pessoa

capaz, que os represente ou os assiste em todos os atos da vida civil.

(RODRIGUES, 2004).

No intuito de zelar pelo interesse do menor, encontra-se disposto no Art.

1.692 caput do Código civil o seguinte: “Sempre que no exercício do poder familiar

colidir o interesse dos pais com o do filho, a requerimento deste ou do Ministério

Público o juiz lhe dará curador especial”. (RODRIGUES, 2004).

Disposto no art. 1.63415, VII do Código Civil segundo o qual os filhos também

têm deveres em relação aos pais, devendo prestar-lhes todos os serviços

compatíveis com a sua situação. É preciso que não haja abuso no exercício dessa

prerrogativa, a fim de que não se transforme em malefícios para o filho, para

satisfazer a ganância dos pais (RODRIGUES, 2004).

3.4.4.1 Suspensão e extinção do poder familiar

Prevê os arts. 1.635 ao 1.637 do Código Civil, situações em que o poder

familiar poderá haver suspensão, cessação ou destituição. (RODRIGUES, 2004).

Primeiramente, têm-se o art. 1.635 do Código Civil onde constam às hipóteses em

que se extingue o poder familiar, quais sejam, pela morte dos pais ou do filho; pela

emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; pela maioridade; pela Adoção;

por decisão judicial. . (RODRIGUES, 2004).

15 Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: [...] V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

Page 133: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

57

Leciona Rodrigues (2004, p. 145) que extingue-se o poder familiar pelos

seguintes motivos:

d) pela morte de ambos os pais ou do filho menor; e) pela emancipação; f) pela maioridade do filho; g) pela adoção, pois o pátrio poder do pai natural transferir-se-á para o adotante, e, mesmo que este venha a falecer, o pátrio poder não mais retornará ao pai carnal, nomeando-se, então, um tutor ao menor.

A segunda situação ocorre com a suspensão do poder familiar: a) abuso do

poder pelo pai ou pela mãe; b) falta aos deveres maternos ou paternos; c)

dilapidação dos bens dos filhos; d) condenação criminal paterna ou materna por

sentença irrecorrível por crime cuja pena exceda de dois anos de prisão. Conforme

disposto no art. 1.63716, do Código Civil e art. 24, da Lei n. 8.069/90 Estatuto da

Criança e do Adolescente. (RODRIGUES, 2004).

O art. 1.638 do Código Civil estabelece as situações em que, por ato judicial,

o pai ou a mãe podem perder o Poder Familiar: castigar imoderadamente o filho;

deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons costumes e

incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo 1.637 do diploma legal em

comento, quais sejam, abuso de autoridade, descumprimento dos deveres e ruína

dos bens dos filhos. (RODRIGUES, 2004).

Disposto nos art. 129, X, art. 155 a 163 da Lei n. 8.069/90 - Estatuto da

Criança e do Adolescente, encontram-se a suspensão e a destituição do poder

familiar que são as sanções mais graves impostas aos pais quando, através de

sentença, tiverem seus atos caracterizados como atentatórios aos direitos do filho.

(RODRIGUES, 2004).

Enquanto a suspensão é provisória e fixada a critério do magistrado,

dependendo do caso e no interesse do menor, a perda do poder familiar pode

revestir-se de caráter irrevogável, assim como no caso de transferência do poder

16 Art. 1.637 - Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

Page 134: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

58

familiar pela adoção. Esta diferença se estabelece pela graduação da gravidade das

causas que as fundamentam e a duração da penalidade. (AMIN, 2002).

O contexto apresentado neste capítulo teve como objetivo destacar os

aspectos concernentes ao entendimento jurídico do Instituto da Família.

No capítulo seguinte, será abordado o Direito de Família, conceito, natureza

jurídica, bem como a sua origem e desenvolvimento no mundo e evolução na

legislação brasileira.

Page 135: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

4 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL

4.1 INTRODUÇÃO

A sociedade conjugal se estabelece através da união do homem e da mulher

com o ânimo de constituir uma família através do casamento, além disso apresenta

um vínculo jurídico que os une. Entende-se que através desta mesma vontade ou

pelo descumprimento dos deveres inerentes a ambos pode, ela ser dissolvida a

qualquer momento através de uma medida simples e imediata e que serve para

promover dissolução da sociedade conjugal chamada de Separação Judicial.

(BITTAR, 2006).

O instituto da Separação Judicial foi, inicialmente regulamentada, pelo Código

Civil de 1916 com a admissão apenas do desquite (ora separação), que opera a

terminação da sociedade conjugal, a par da previsão da anulação artigos 315 a 324

e da decretação de nulidade do ajuste artigos 207 a 224. (BITTAR, 2006).

A separação constante no art. 317 do Código Civil de 1916, destacava-se

com a denominação de ‘desquite’ e permitia unicamente a cessação da sociedade

conjugal, sendo que o mesmo era concedido nas seguintes previsões: adultério,

tentativa de morte, sevícia ou injúria grave e abandono do lar conjugal durante dois

anos contínuos. (RIZZARDO, 2006).

A partir dos anos 60, até a atualidade a sociedade esta se conscientizando de

que não é necessário que haja a solidez do matrimônio, se não há mais motivo para

que duas pessoas permaneçam casadas, para o bem delas e de seus filhos é

melhor que haja a separação. Sabe-se que muitos casamentos terminam justamente

por causa de brigas ou traições e, portanto, o casal decide por bem se separar até

para preservar os filhos. (VICENTE, 2006).

Até a década de 70 a família era constituída pelo casamento com vínculo

indissolúvel e merecendo a proteção do Estado. No ano de 1977, através da

Emenda Constitucional nº 9, que foi regulamentado pela Lei n. 6.515/77 conhecida

como a Lei do Divórcio. (VICENTE, 2006).

Page 136: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

60

A partir daí, com a vigência desta lei, uma nova ordem no direito de família

ficou implantada no país, isso se deu com a introdução do divórcio como causa de

dissolução do vínculo conjugal. (VICENTE, 2006).

Já na década de 80, com a promulgação da CRFB de 05 de outubro de 1988

que preceitua em seu art. 226, que: “A família, base da sociedade, tem especial

proteção do Estado”, nota-se à proteção constitucional-familiar prevista no referido

texto da Lei Maior. (BITTAR, 2006).

Ressalta-se o contexto do Parágrafo 6º do artigo acima, in verbis, “O

casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por

mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por

mais de dois anos”, foi reafirmado a possibilidade de dissolução do casamento civil

pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano, nos casos

expressos em lei, ou comprovada a separação de fato por mais de dois anos.

(BITTAR, 2006).

O Código Civil em seus artigos 1.571 a 1.582 disciplina a matéria como

dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, englobando em uma disposição:

morte, a nulidade, a anulação, a separação judicial e o divórcio, e fazendo descrição

das regras básicas sobre a separação e o divórcio, mantida a obtenção deste por

meio de conversão. (BITTAR, 2006).

4.2 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

As formas de dissolução da sociedade conjugal encontra-se regulamentada

no art. 1.571 do Código Civil, que contempla quatro formas de terminar a sociedade

conjugal: in verbis:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I – pela morte de um dos cônjuges; II – pela nulidade ou anulação do casamento; III – pela separação judicial; IV – pelo divórcio. Parágrafo 1º: O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.

Page 137: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

61

Parágrafo 2º: Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. (2007, p. 439, grifo nosso).

Conforme dito anteriormente uma das formas de dissolução da sociedade

conjugal se dá através da Separação Judicial, em concordância com o texto do art.

2°, III, da Lei n. 6.515/77 que contempla a separação judicial como causa de

dissolução da sociedade conjugal. Não há, na hipótese, dissolução do vínculo

conjugal, como se dá com a morte e o divórcio. (BITTAR, 2006).

Em relação ao tema proposto por este trabalho monográfico considerar-se-á

somente o que diz respeito ao inciso III, “separação judicial”, portanto, não será

abordado, o instituto do Divórcio.

Importante ressaltar que a Lei n. 6.515/77 – Lei do Divórcio, está derrogada

pelo Código Civil de 2002 em tudo que disser respeito ao direito material da

separação e do divórcio, persistindo seus dispositivos de natureza processual, até

que sejam devidamente adaptados ou substituídos por nova lei. (VENOSA, 2007).

Contudo, serão utilizados alguns artigos da referida lei como demonstrativos

de que o tema que está sendo abordado já havia tido previsão material em lei

anterior.

4.3 DA SEPARAÇÃO JUDICIAL

A Separação Judicial funda-se em causas previstas na lei, primeiramente foi

denominado desquite, texto este disposto no Código Civil de 1916 em seus artIgos

317 e 318. (BITTAR, 2006).

Primeiramente, no entendimento de Gonçalves (2006, p. 64) a sociedade

conjugal “é o complexo de direitos e obrigações que formam a vida em comum dos

cônjuges”.

Oportuno esclarecer que mesmo dissolvida a sociedade conjugal, o

casamento persistirá até que seja decretado o divórcio ou sobrevenha o falecimento

de qualquer deles.

Page 138: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

62

Pereira (2004, p. 249), assim se manifesta sobre a diferença entre o término

da sociedade conjugal e a dissolução do vínculo matrimonial esclarecendo que:

Tratando-se de separação judicial, a extinção da sociedade conjugal não pressupõe o desfecho do vínculo matrimonial; ela põe termo às relações do casamento, mas mantém intacto o vínculo, o que impede os cônjuges de contrair novas núpcias. Somente a morte, anulação e o divórcio rompem o vínculo, autorizando os ex-cônjuges a contrair novas núpcias.

Diniz (2002, p. 249) traz sua contribuição em relação a separação judicial

afirmando que a mesma não é “causa de dissolução da sociedade conjugal (CC, art.

1.571, III), não rompendo o vínculo matrimonial, de maneira que nenhum dos

consortes poderá convolar novas núpcias”.

É pertinente frisar que o vínculo definitivo só termina pela morte ou pelo

divórcio. Pela separação judicial termina os deveres de coabitação e fidelidade, e

mais o regime de bens. Através do divórcio será possível um novo casamento, o que

não é possível com a separação. (GONÇALVES, 2006).

Portanto, o vínculo conjugal só se dissolve com a morte de um dos cônjuges

ou pelo divórcio, no dizer do parágrafo 1º do art. 1.571 do Código Civil: “O

casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,

aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente”. (2007, p.

439).

4.3.1 Finalidade da Separação Judicial

A Separação Judicial tem por finalidade dissolver a sociedade conjugal, o

objetivo imediato é a cessação dos efeitos civis, decorrentes da união, somente

depois, num segundo plano, é que vem a pretensão da dissolução do casamento.

(MONTEIRO, 2004).

Page 139: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

63

Conforme dispõe o art. 1.576 do Código civil, in verbis, “A separação judicial

põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens”.

(PEREIRA, 2004).

No mesmo sentido dispunha em comunhão com o acima exposto, o art. 3° da

Lei n. 6.515/77: "A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação,

fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens, como se o casamento fosse

dissolvido". (PEREIRA, 2004).

Ressalta-se que a separação judicial, litigiosa ou consensual, põe fim aos

deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime de bens, mas não ao

casamento. Portanto, independentemente da causa da separação e do modo como

esta se faça, será permitido aos cônjuges restabelecer a qualquer tempo a

sociedade conjugal, por ato regular em juízo, em nada prejudicando o direito de

terceiros, adquiridos antes e durante o estado de separação, seja qual for o regime

de bens. (PEREIRA, 2004).

Com a separação judicial, cessam os deveres e direitos impostos ao

casamento, e o mesmo poderá se reconstituir a qualquer tempo, segundo regra o

art. 1.577 do Código Civil, “Seja qual for a causa da separação judicial e o modo

como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade

conjugal, por ato regular em juízo”, tal regra consta disciplinado na Lei n. 6.515/77-

Lei do Divórcio, em seu art. 46, com texto muito semelhante ao do artigo citado.

(GONÇALVES, 2006).

Permanecem, porém, os outros três deveres impostos pelo art. 1.566 do

código Civil que são: mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos;

respeito e consideração mútuos. (GONÇALVES, 2006).

4.3.2 Causas da Separação Judicial

Consideram-se causas da separação judicial, os fatos que servem de

fundamento para a sua postulação, ou que determinam o pedido de separação.

Page 140: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

64

Diferentes situações interferem no contexto das vicissitudes1 do casamento,

ocasionando o desfazimento da relação conjugal, sob diversos efeitos, conforme

sejam anteriores, contemporâneos ou posteriores à celebração. (BITTAR, 2006)

4.3.2.1 Na separação consensual

No art. 1.574 o estatuto civil in verbis: “Dar-se-á a separação judicial por

mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o

manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a convenção”,

cuida da Separação Consensual, porém reduzindo o prazo constante do art. 4º da

Lei do Divórcio, que disciplinava que o referido prazo fosse superior a dois anos.

(2007, p. 439).

Verifica-se através da análise do artigo acima, que na separação consensual

não é necessário às partes deduzirem as razões da terminação da vida conjugal.

(VENOSA, 2005).

Bittar (2006), dá sua contribuição, afirmando que em relação a separação

consensual ou por mútuo consentimento, não há que falar em causa da separação.

Se for afirmado qual o motivo ou a atribuição da causa a um dos cônjuges, já,

descaracteriza a forma consensual da separação.

4.3.2.2 Na separação litigiosa

Encontra-se estabelecido nos artigos 1.572 e 1573 do Código Civil, os

motivos para que haja a Separação Judicial Litigiosa, in verbis: (2007, p. 439).

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.

1 Vicissitudes: Mudança ou variação de coisas que se sucedem. (FERREIRA, 2001, p. 710)

Page 141: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

65

Parágrafo 1º A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição. Parágrafo 2º O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável. Parágrafo 3º No caso do parágrafo 2º reverterão ao cônjuge enfermo, que não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal. Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos: I – adultério; II - tentativa de morte; III - sevícia ou injúria grave; IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo; V - condenação por crime infamante; VI - conduta desonrosa. Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum.

Na separação litigiosa, deve-se demonstrar, em concreto, os fatos que a lei

define como geradores de dissolução da sociedade entre marido e mulher, ou seja,

cumpre fundar-se em uma das causas descritas conforme exposição dos artigos

1.572 e 1.573 do CC, expostos anteriormente. (VENOSA, 2007).

Sobre os fatos relativos ao casamento que demonstram a insuportabilidade

da vida em comum, cabe ao magistrado aferir, à luz dos contornos traçados na

legislação vigente, indicar contra quem ou a favor de quem a separação deve ser

decretada, tendo por base a imputação de certos fatos que permitem a sua

formalização. (PEREIRA, 2004).

4.3.3 Caráter Pessoal da Separação Judicial

Venosa (2007, p. 158) comenta sobre a legitimidade para a propositura da

ação de separação judicial destacando que, trata-se de uma faculdade

personalíssima dos cônjuges. Portanto somente eles têm legitimidade para propô-las

Page 142: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

66

e contestá-las, uma vez que, “ninguém mais do que eles terão capacidade de

compreender o ato da separação”.

O caráter personalíssimo dessa ação torna inviável a substituição das partes

processuais, a morte de qualquer um dos consortes é motivo de extinção do

processo, na medida em que ela, em si e por si, fulmina o casamento e esvazia o

objeto da lide. A morte por si, já é causa de dissolução da sociedade conjugal.

(GONÇALVES, 2006).

A regra sobre o caráter personalíssimo da ação de dissolução da sociedade

está expresso no parágrafo único do art. 1.576 do Código Civil, com a mesma

orientação contida no texto do art. 3º, Parágrafo 1º da Lei n. 6.515/77.

Art. 1.576 [...] Parágrafo Único - O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão. (2007, p. 440).

Caso o cônjuge incapaz não tenha curador, ascendente ou irmãos vivos que

possam fazer a representação, poderá o juiz, mediante justificação, nomear curador

especial para a ação. O legislador estabeleceu ordem de preferência para a

representação: o curador prefere ao ascendente e este ao irmão. A representação

do incapaz pode ocorrer em qualquer fase do processo: no ajuizamento da ação,

oferecimento da defesa, em grau de recurso, enfim, pode ser inicial ou posterior.

(GONÇALVES, 2006).

4.3.4 Espécies de Separação Judicial

Basicamente há duas espécies de Separação Judicial prevista no

ordenamento jurídico, uma comumente chamada de amigável (consensual) e a outra

de litigiosa.

Portanto, quando se fala em separação judicial esta se referindo à ação

proposta por um cônjuge contra o outro. Se o réu anuir ao pedido, ocorre a

Page 143: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

67

conversão da separação judicial em separação consensual, ainda que tal não

subtraia a juridicidade da demanda. (PEREIRA, 2004).

A separação litigiosa ou consensual, põe fim aos deveres de coabitação,

fidelidade recíproca e ao regime de bens, mas não ao casamento. Com efeito,

independentemente da causa da separação e do modo como esta se faça, é

permitido aos cônjuges restabelecer a todo tempo a sociedade conjugal, por ato

regular em juízo, em nada prejudicando o direito de terceiros, adquiridos antes e

durante o estado de separação, seja qual for o regime de bens. (BITTAR, 2006).

4.3.4.1 Separação consensual

A separação requerida por ambos os cônjuges é procedimento típico da

jurisdição voluntária, em que o juiz administra interesses privados. Não há litígio,

pois ambos os cônjuges buscam a mesma solução, ou seja, a homologação judicial

do acordo por eles celebrado. (PEREIRA, 2004).

No entendimento de Tereza Ancona Lopez ([s.d] apud VICENTE, 2006, p. 02)

pode-se definir o conceito de Separação Consensual como sendo essencialmente:

Um acordo entre duas partes, que têm por objetivo dar fim à sua sociedade conjugal. É, portanto, negócio jurídico bilateral, pois, ara que esse acordo exista e seja válido, é necessária a declaração livre e consciente da vontade dessas partes. Todavia, para que o mutuus dissensus tenha executoriedade ou gere os efeitos queridos pelas partes, necessita de um ato de autoridade, qual seja a sua homologação através de sentença judicial.

Na separação consensual é dispensada a indicação da causa que levaram os

cônjuges a requerem o desfazimento da união. O único requisito exigido, havendo

consenso mútuo, é estarem os nubentes, casados há mais de um ano, e

manifestada amigavelmente pelo casal, a vontade de se separarem perante o juiz.

Nesse caso, ato contínuo, a convenção será homologada. (WALD, 2005).

Em relação a separação judicial consensual dispõe o art. 1.574 do Código

Civil (já exposto anteriormente), que o casal deva estar casado por mais de um

Page 144: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

68

ano. Já o art. 42 da Lei n. 6.515/77 referia-se a dois anos de matrimônio como

condição para a sua iniciativa. (PEREIRA, 2004).

À procura ao órgão judicial serve para que a separação seja revestida de

legalidade além de lhe surtirem os efeitos legais. É a ação apresentada ao juiz pelas

partes que, de comum acordo, desejam separar-se. (WALD, 2005).

Prescreve o art. 1.121 do Código de Processo Civil “A petição, instruída com

a certidão de casamento e o contrato antenupcial se houver [...]”. A petição inicial

será instruída com a certidão de casamento, para comprovar que o casamento foi

realizado há mais de um ano, e com o pacto antenupcial, se houver, que serve para

a comprovação do regime de bens adotado. Será verificado se a petição preenche

todos os requisitos legais. (GONÇALVES, 2006).

A seguir o magistrado ouvirá ambos os consortes, separadamente,

esclarecendo-os e verificando se ambos estão plenamente conscientizados de seus

atos e das condições avençadas, então, mandará reduzir a termo as declarações

dos consortes. Caso o juiz não se convença do propósito dos cônjuges, poderá

designar nova audiência, e, ouvidos novamente, mandará tomar por termo o que

disserem, e, depois ouvirá o representante do Ministério Público, e no prazo de 5

dias homologará o acordo para que produza efeitos jurídicos. (VENOSA, 2007).

Após o trânsito em julgado, a decisão homologatória deverá ser averbada no

Registro Civil competente e, se a partilha abranger bens imóveis, deverá ser

averbada no registro imobiliário; a separação consensual só terá eficácia com a

homologação judicial, que não é mero ato de chancela de um acordo, mas de

fiscalização e controle da convenção firmada pelos cônjuges, visto que a separação

do casal envolve também interesses da prole. (PEREIRA, 2004).

O art. 1.574 e seu parágrafo unico são as únicas regras do Código Civil que

regulam a separação consensual.

4.3.4.2 Separação litigiosa

A Separação Litigiosa é diferente da Separação Consensual, nesta não há

necessidade de demonstrar-se às causas que levaram os consortes a requerem a

Page 145: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

69

separação nem os motivos do desajuste conjugal, naquela é imprescindível não só

demonstrá-los como fundamentá-los. (PEREIRA, 2004).

Quanto a separação litigiosa, a mesma é requerida por um só cônjuge, com

fundamento em conduta desonrosa, violação grave dos deveres do casamento,

ruptura da vida em comum há mais de um ano, ou doença mental grave e de cura

improvável, no período de dois anos e verificada após o casamento. (WALD, 2005).

Dispõe o caput art. 1.572, do Código Civil que é possível o pedido de

Separação Judicial por um dos cônjuges, quando imputar ao outro qualquer ato que

importe em grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em

comum. (MONTEIRO, 2004).

Preceitua o Parágrafo 1º do artigo acima exposto que: [...] ruptura da vida em

comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição”. Este tipo de

ruptura, também chamada de Separação de Fato, acontece quando os cônjuges por

qualquer motivo, ou mesmo sem motivo, se separam e não regularizam-se

judicialmente a situação de ambos. Eles quase sempre são casados com uma

pessoa e vivem com outra, não podendo constituir patrimônio porque, quando da

legalização da separação deverão partilhá-los com seus ex-cônjuges. (RIZZARDO,

2006).

Esta possibilidade de separação judicial, encontra-se inserida no texto do art.

5º, Parágrafo 1º, da Lei 6.515/77, “A separação judicial pode, também, ser pedida se

um dos cônjuges provar a ruptura da vida em comum há mais de um ano

consecutivo, e a impossibilidade de sua reconstituição. (obs. - Redação conforme a

Lei nº 8.408, de 13.2.92)”. (RIZZARDO, 2006).

Portanto, é permitida a separação judicial a pedido de um dos cônjuges,

mediante processo contencioso, qualquer que seja o tempo de casamento, desde

que estejam presentes as hipóteses legais, que tornam insuportável a vida em

comum. (DINIZ, 2002).

Para Diniz (2002, p. 257-263), em conformidade com o disposto no art. 1.572

do Código Civil encontram-se previstas três espécies de separação litigiosa que são:

1) Separação litigosa como sanção, que se dá quando um dos consortes imputar ao outro qualquer ato que importe em grave violação dos deveres matrimoniais e torne insuportável a vida em comum. (CC, arts. 1.572, e 1.573, I a VI).

2) Separação litigiosa como falência que se efetivava quando qualquer dos cônjuges provasse a ruptura da vida em comum há

Page 146: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

70

mais de 1 ano e a impossibilidade de sua reconstituição, não importando a razão da ruptura, sendo, ainda, irrelevante saber qual dos consortes foi culpado pela separação, legalizando tão-somente uma separação de fato. (CC, art. 1.572, § 1º).

3) Separação litigiosa como remédio ocorre quando o cônjuge a pede ante o fato de estar o outro acometido de grave doença mental, manifestada após o matrimônio, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de 2 anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável. (CC, art. 1.572, § 2º).

Gonçalves (2006, p. 71) reforça o comentado anteriormente sobre a

separação-sanção esclarecendo que “esta é a única hipótese em que se discute

culpa, e também a única que admite a reconvenção2”. Assim, pode a separação ser

decretada por culpa de um só dos cônjuges ou de ambos, caso isso venha a ocorrer,

nenhum deles fará jus à verba alimentícia, exceto se necessária à subsistência.

A Lei n. 6.515/77 – Lei de Divórcio em seu art. 5º pondera para a apreciação

circunstancial das causas de Separação Judicial, ao subordiná-las a

insuportabilidade da vida em comum. (RIZZARDO, 2006).

Em relação a separação-falência Gonçalves (2006, p. 94) resume seu

entendimento em concordância com o parágrafo 1º do art. 1.572 , asseverando que

“se um dos cônjuges provar a ruptura da vida em comum há mais de um ano e a

impossibilidade de sua reconstituição”.

Ressalta-se que na hipótese de separação quando o outro cônjuge estiver

acometido de grave doença mental, a mesma deverá ser analisada cuidadosamente

pelo Juiz, que somente deferirá a separação quando estiver convicto de que a

doença mental impossibilita a manutenção da sociedade conjugal e que não há

perspectiva de cura. (MONTEIRO, 2004).

É importante salientar que no momento em que a Separação Judicial é

decretada com fundamento no art. 1.572, parágrafo 3º, analisado anteriormente,

sobre a ruptura da vida em comum ou grave doença mental, ainda que o regime de

casamento tenha sido o de comunhão de bens, ocorre um reflexo jurídico

importante: O Cônjuge que não pediu a separação tem direito aos bens

remanescentes que tenha levado para o casamento e ainda, se o regime de bens o

2Reconvenção é a ação proposta pelo réu contra o autor no mesmo feito e juízo em que é demandado. (GONÇALVES, 2006, p. 71).

Page 147: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

71

permitir, também a meação dos bens adquiridos na constância do casamento.

(PEREIRA, 2004).

Caso seja necessário pode-se preceder a separação litigiosa por uma

separação de corpos, essa medida cautelar consiste na suspensão autorizada do

dever de coabitação, por prazo curto, findo o qual deve ser proposta a ação de

separação litigiosa; que obedece o rito ordinário, e somente poderá ser proposta

pelo cônjuge que não lhe deu causa, com base nas circunstância previstas em lei,

cabendo-lhe o ônus da prova. (PEREIRA, 2004).

4.3.5 Efeitos da Separação Consensual e Litigiosa

A separação judicial produz efeitos idênticos aos do divórcio, apesar de não

produzir a dissolução do vínculo conjugal que permanece intacto. Seus efeitos

verificam-se em relação à pessoa dos cônjuges, aos bens e em relação aos filhos,

variando conforme seja a separação judicial consensual ou litigiosa, se consensual,

conformam-se às condições ajustadas pelo próprio casal, e, se litigiosa, são

estabelecidos, com certa margem de arbítrio, pelo juiz dentro dos termos legais.

(DINIZ, 2002).

Pereira (2004, p. 271) da mesma forma comenta, sobre os efeitos da

separação judicial, afirmando que “ocorre uma tríplice conseqüência, ou seja,

ocorrem efeitos aos cônjuges, aos filhos e ao patrimônio”.

Diniz (2002, p. 269), em concordância com o exposto acima, acrescenta

demonstrando os principais efeitos pessoais em relação aos cônjuges, são:

1) Pôr termo aos deveres recíprocos do casamento, coabitação, fidelidade e assistência;

2) Impedir a mulher de continuar a usar o nome do marido, se condenada na separação litigiosa ou se teve a iniciativa da separação judicial fundada em ruptura da vida em comum ou moléstia grave do marido;

3) Impossibilitar a realização de novas núpcias, pois a separação judicial é relativa, já que não se dissolve o vínculo;

4) Autorizar a conversão em divórcio, cumprido 1 ano de vigência de separação judicial.

Page 148: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

72

Pereira (2004, p. 271), dá sua contribuição em relação aos efeitos da

Separação Judicial aos cônjuges afirmando que:

Os cônjuges se separaram. Cessa obviamente o debitum conjugale. Cessa também o dever de fidelidade. Por muitos anos, os civilistas opinaram pela continuação deste dever, que reputavam corolário do vínculo matrimonial. A Lei n. 6.515/77 buscou esclarecer todas as dúvidas, declarando, por expresso, que a Separação Judicial põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens como se o casamento fosse dissolvido (art. 3º), o que foi objeto de regra expressa no art. 1.576, de 2002.

Bittar (2006, p. 178) se posiciona a respeito das conseqüências para os

separados, asseverando que:

A Separação põe fim aos deveres de coabitação e de fidelidade recíproca e ao regime de bens (CC, art. 1.576). Faz terminar a sociedade conjugal (art. 1.571, inc. III), opera a separação de corpos e impõe a partilha de bens (art. 1.575).

A Separação Judicial importa a separação de corpos e a partilha de bens.

Esta pode ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologação do juiz por este

decidida, conforme texto expresso no art. 1.575, parágrafo único do Código Civil.

Caso não haja acordo o Juiz poderá promover a partilha conforme seu

entendimento, e caso seja necessário, requisitará ajuda de peritos e avaliadores

judiciais. (DINIZ, 2002).

Para Wald (2006, p. 178) aplicam-se à separação, ademais, as regras sobre:

“o uso do nome do outro cônjuge (art. 1.578), e sobre alimentos (art. 1.694 e segs),

inclusive quanto à revisão do art. 1.699), permanecendo o dever de assistência entre

os cônjuges, nos termos expostos. Cessar-seá, outrossim, a relação sucessória”.

Sobre os efeitos em relação ao patrimônio dos cônjuges:

1) Resolve a situação econômica, pondo fim ao regime matrimonial de bens;

2) Substitui o dever de sustento pela obrigação alimentar;

Page 149: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

73

3) Dá origem, se litigiosa a separação, a indenização por perdas e danos, em face de prejuízos morais ou patrimoniais sofridos pelo cônjuge inocente;

4) Suprimir o direito sucessório entre os consortes. (DINIZ, 2002, p. 270).

Em relação aos efeitos patrimoniais, Pereira (2004, p. 271), afirma que: “A

Separação Judicial põe termo ao regime de bens (art. 1.576). Revertem a cada um

dos ‘separados’ os bens que não se comunicaram com o casamento, conforme

estabelecido no pacto antenupcial ou por imposição legal”.

Para Bittar (2006, p. 142), os efeitos centrais da separação sob o prisma

patrimonial, são os seguintes:

a) Findar o regime matrimonial; b) Provocar a partilha do acervo comum formado no casamento; c) Determinar a caducidade do direito sucessório e impor a

necessidade de prestação de alimentos pelo cônjuge culpado ao necessitado

Os efeitos em relação aos filhos são: (DINIZ, 2002, p. 274).

1) Passá-los à guarda e companhia de um dos cônjuges, ou, se houver, motivos graves, de terceiro;

2) Assegurar ao genitor, que não tem guarda e companhia da prole o direito de fiscalizar sua manutenção e educação, de visitá-los e de ter os filhos temporariamente em sua companhia no período de férias ou dias festivos, e de se corresponder com os filhos;

3) Garantir aos filhos menores e maiores inválidos, mediante pensão alimentícia, a criação e educação.

O art. 1.574, parágrafo único “Parágrafo único. O juiz pode recusar a

homologação e não decretar a separação judicial se apurar que a convenção não

preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges” , e 1.590

do Código Civil, se posicionam em relação ao acordo na guarda dos filhos.

Outrossim, caso não esteja preservado os interesses dos filhos menores e dos

inválidos o juiz poderá recusar a homologação. (PEREIRA, 2004).

Page 150: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

74

4.4 HOMOLOGAÇÃO DE SEPARAÇÃO NEGADA

Preceitua o art. 1.574 em seu parágrafo único que “0 juiz pode recusar a

homologação e não decretar a separação judicial, se apurar que a convenção não

preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges”. Portanto,

a lei confere ao Juiz o poder de negar a homologação da separação do casal, ainda

que ambos estejam de acordo com os termos da separação, quando,

comprovadamente, não estejam claramente preservados os interesses dos filhos ou

de qualquer dos cônjuges. (RIZZARDO, 2006).

No entendimento de Monteiro (2004, p. 268) sobre a não homologação da

separação judicial por parte do juiz o autor assim se pronuncia: “Se o juiz verificar

que o pai fica dispensado da obrigação de contribuir para a manutenção dos filhos

ou se um dos cônjuges não se revela suficientemente esclarecido sobre as

condições avençadas no acordo, pode e deve negar-lhe a sua homologação”.

Diz-se que é permitido ao juiz cindir a convenção, homologando parcialmente

a separação, deixando de lado, por exemplo, as cláusulas referentes à partilha, por

reputá-la prejudicial a um dos cônjuges. (GONÇALVES, 2006).

Encontra-se inserido na Lei 6.515/77, no art. 34 Parágrafos 2º, 3º, 4º

admitindo que:

Art. 34 – [...], Parágrafo 2º - 0 juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial, se comprovar que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges. Parágrafo 3º - Se os cônjuges não puderem ou não souberem assinar, é lícito que outrem o faça a rogo deles. Parágrafo 4º - As assinaturas, quando não lançadas na presença do juiz, serão, obrigatoriamente, reconhecidas por tabelião. (RIZZARDO, 2006, p. 02)

Rizzardo (2006, p. 02), afirma que em relação a emoção temporária, “alguns

cônjuges liberam, em benefício do outro, todos os bens e direitos, e, em muitos

casos, até renunciam a pensão alimentícia própria e até a dispensam para os filhos

que ficarão em seu poder”. As conseqüências virão tempos depois, quando, pela

Page 151: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

75

força da homologação judicial, os termos do acordo não mais poderão ser alterados,

salvo o caso de pensão alimentícia.

4.5 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL

É possível a qualquer momento haver o restabelecimento da Sociedade

Conjugal a pedido dos cônjuges, mesmo que, há muitos anos tenha rompido pela

Separação Judicial. (BITTAR, 2006).

Ensina Bittar (2006, p. 179), sobre o restabelecimento da Sociedade Conjugal

ou seja a reconciliação dos interessados, que deverão formalizar, perante o juiz de

separação, a sua intenção, por meio de requerimento por ambos firmado, voltando a

sua vida às condições anteriores e respeitados os direitos de terceiros.

Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo. Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens.

Preceitua o art. 1.577 citado anteriormente “[...], por ato regular em juízo”.

Este ato a que está se referindo o artigo, deverá ser requerido através de um

advogado, devido ao não cabimento de o interessado postular em juízo diretamente,

ainda que o valor da causa seja ínfimo. (GONÇALVES, 2006).

Em relação ao disposto no Parágrafo Único “[...] seja qual for o regime de

bens”, pode-se dizer que será o mesmo da sociedade conjugal anterior, porque o

restabelecimento far-se-á nos termos em que fora constituído o casamento, portanto,

em nada prejudicará o direito de terceiros. (PEREIRA, 2004).

Por ocasião da reconciliação, opte o casal em alterar o regime de bens, o

mesmo será possível mediante autorização judicial, se concordarem em fazer um

pedido motivado por ambos, apurada a procedência das razões invocadas e

ressalvados os direitos de terceiros. (GONÇALVES, 2006).

Page 152: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

76

O disposto no art. 1.639, em seu parágrafo 2º do Código Civil assim preceitua,

“É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido

motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e

ressalvados os direitos de terceiros”. Portanto, serão válidas as alienações de bens

efetuadas nesse período. Por outro lado, os bens adquiridos no interregno não se

comunicam a menos que o regime seja o da comunhão universal. (VENOSA, 2007).

Venosa (2007, p. 185) dá sua contribuição em relação ao acima exposto,

afirmando que: “Ao final da reconciliação deve a mesma ser averbada junto o

assento da separação. Com a reconciliação, a partilha ficará sem efeito,

reassumindo-se o regime de bens, preservando o direito de terceiros”.

Page 153: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como escopo principal investigar o instituto da

Separação Judicial dentro do ordenamento jurídico brasileiro. O interesse pelo tema

abordado deu-se em razão de sua atualidade e pela diversidade de assuntos que

abrange, e principalmente devido à análise sobre as modalidade de Separação

Judicial, litigiosa e consensual.

Procurou-se traçar, de maneira simples, uma linha histórica sobre a família,

sua criação, sua evolução até os dias atuais, concretizando, assim, o aspecto

dinâmico do Direito, acompanhando o senso evolutivo da civilização, conduzindo as

relações interindividuais dentro do convívio social, delimitando os seus contornos,

onde direitos e deveres se impõem, devendo, como tais, serem cumpridos e

respeitados.

A família não é alvo de reflexões apenas no campo jurídico, diante da sua

importância como organismo ético, religioso, moral e social, mas é objeto de

preocupação mundial, posto que fundamental para a própria sobrevivência da

espécie humana, bem como para organização e manutenção do Estado.

A CRFB/1988 reconhece a família como base da sociedade, estabelecendo

entre os consortes a igualdade de exercício de direitos e deveres referentes à

sociedade conjugal. Em relação ao Código civil pode-se dizer que o mesmo traz

como deveres de ambos os cônjuges: a fidelidade recíproca; a vida em comum, no

domicílio conjugal; a mútua assistência; o sustento, a guarda e educação dos filhos;

e o respeito e considerações mútuos.

Pode-se dizer que para a maioria dos doutrinadores, o instituto nuclear do

direito de família é o casamento, daí têm-se, “um contrato de direito de família que

visa promover a união do homem e da mulher, que tem por fim regular suas

relações, entre elas: a assistência mútua e também aos filhos em comum”, assim

sendo, percebe-se que a instabilidade da família é medida pelo aumento de

separações e divórcios.

Mas a instabilidade da vida conjugal e os problemas inerentes à família estão

interligados a uma série de fatores que vão desde a estruturação da sociedade até a

constante modificação de concepções e mentalidades. A pressão das necessidades

Page 154: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

78

materiais e espirituais que pesa sobre o ser humano torna difícil o convívio e

desencadeia constantes atritos, isso fica demonstrado através da incapacidade de

alguns não suportarem um prolongamento maior da união.

Portanto, percebe-se que os problemas de família, e que resultam em

separação, são menos de ordem jurídica e mais de relacionamento, de convivência

e de novas concepções sobre valores existenciais, o que não é peculiar apenas à

realidade atual.

Em relação aos efeitos que a separação dos pais traz perante os filhos, pode-

se perceber que, por mais que se procure incutir neles uma idéia de aceitação, e

mesmo que não convivam com os atritos dos pais, não se pode evitar que apareçam

traumas emocionais, psíquicas ou até mesmo físicos, inerentes à situação pela qual

estejam passando ou que tiveram que passar.

No momento em que desaparecem os laços afetivos e de respeito mútuo que

uniram o casal, ou os desencantos tornam-se uma constante, e quando a

desarmonia e as ofensas pessoais prejudicam todo o ambiente familiar, além de

outras situações mórbidas e inclusive de violência, não há mais lugar para manter-se

o casamento após a deterioração da união conjugal, surge daí a necessidade de

regularizar esta situação, com a chamada Separação.

Desta forma, as hipóteses elencadas na introdução, ao longo da investigação

realizada, restaram totalmente confirmadas.

Ao final do presente estudo, salienta-se que esta investigação não teve a

pretensão alguma de esgotar o tema proposto, mas contribuir com algumas

reflexões necessárias e problemáticas que se apresentam na prática da

caracterização da Separação Judicial, e principalmente em relação às dúvidas e

divergências que possivelmente ainda existam a respeito.

Page 155: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

REFERENCIAS

AMIN, Andréia Rodrigues et al. O Novo Código Civil: livro IV do direito de família. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002. 578 p.

AZEVEDO, Álvaro Vilhaça. Estatuto da Família de fato: de acordo com o novo Código Civil, Lei n. 10406/2002, de 10-01-2002. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.

BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Família. 2. ed. Ver. atual. e ampl. Rio de janeiro: Forense Universitária, 2006. 263 p.

BORGHI, Hélio. Casamento & união estável: formação, eficácia e dissolução. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005. 360 p.

BRASIL, Código civil; comercial; Processo Civil; Constituição Federal. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 1592 p.

______. Lei n. 6.515 de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6515.htm> Acesso em: 10 de jul. 2007

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: direito de família. v. 5. 18. ed. São Paulo : Saraiva, 2002a 572 p.

______. Código Civil anotado. 8. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2002b. 1099 p.

______, Dicionário jurídico. v. 1 São Paulo: Saraiva, 1998. 980 p.

______, Dicionário jurídico. v. 2 São Paulo: Saraiva, 1998. 916 p.

______, Dicionário jurídico. v. 3 São Paulo: Saraiva, 1998. 869 p.

Page 156: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

79

ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade privada e do Estado. Tradução Leandro Konder. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, 224p.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuquesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 790 p.

GOMES, Orlando. Direito de família. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família. v. 2 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 210 p.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Tratado do Direito de família, v. 1. São Paulo: Juruá, 1991.

MARKY, Thomas, Curso elementar de Direito Romano. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado: direito matrimonial. v. 1. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. Campinas: Bookseller, 2001. 596 p.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito de família. v. 2. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 410 p.

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 7. ed. rev. atual. e ampl. Florianópolis: OAB/SC, 2003. 243 p.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: direito de família. v. 5. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. 585 p.

RIZZARDO, Arnaldo. Separação e Divórcio. Gontijo-Família. Disponível em: http://www.gontijo-familia.adv.br/tex214.htm. Acesso em: 15 de Jul. 2007

RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito de Família. Atual. por Francisco José Cahali v. 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 433 p.

Page 157: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIANA RÚBIA DUARTE DE …siaibib01.univali.br/pdf/Adriana Rubia Duarte de Freitas.pdf · Prof. Fulano de Tal UNIVALI – CE Tijucas Membro Prof

80

THOMAZ, Thiago Hauptmann Borelli União homossexual: reflexões jurídicas. Ministério Público do Amapá. Macapá. 2006. Disponível em: < http://www.mp.am.gov.br/index.asp?page=cao-civel-04-13> Acesso em 10 jul. 2007.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 525 p.

______. Direito Civil: direito de família. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 459 p.

WALD, Arnoldo. O novo Direito de Família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 756 p.

WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológica e sócioafetiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

VICENTE, José Carlos. Da dissolução da sociedade conjugal. analisa as formas de como se dissolve uma sociedade conjugal. Direito net . São Paulo: 10 out. 2006. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/x/29/46/2946/> Acesso em 10 jul. 2007.