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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE ARTES CEART CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA DULCINÉIA MACHADO A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE MÚSICA FLORIANÓPOLIS/SC 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE ARTES – CEART

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

DULCINÉIA MACHADO

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO

PROFESSOR DE MÚSICA

FLORIANÓPOLIS/SC

2012

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DULCINÉIA MACHADO

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO

PROFESSOR DE MÚSICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Música, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Música. Orientadora: Dr.ª Teresa Mateiro

FLORIANÓPOLIS/SC

2012

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DULCINÉIA MACHADO

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO

PROFESSOR DE MÚSICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Música,

da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Florianópolis/SC, 30 de novembro de 2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus.

À minha família pela educação, amor e apoio, sem vocês a luta não teria

tanto significado.

Ao meu querido Vitor Sabag pelo carinho, incentivo e paciência demonstrada

durante esses anos.

À minha grande amiga Jaciele por todos os anos de amizade, apoio e

imensa alegria proporcionada.

À querida professora Teresa Mateiro por ter aceitado ser minha orientadora

e por todos os ensinamentos durante o curso.

Aos professores de curso, principalmente a professora Regina Finck, pelos

esclarecimentos e ensinamentos referentes à área da educação especial, sem ela

esta escolha profissional não seria tão concreta.

Aos membros da banca, professoras Regina Finck e Maira Ana Kandler por

terem aceitado meu convite.

Ao maestro e amigo Almir José por ter me ensinado as primeiras notas

musicais, pela influência positiva na minha escolha profissional, e principalmente,

por todo ensinamento de vida.

À Banda de Santo Amaro por todos os anos de aprendizado, alegria e

experiência musical que me proporcionou e ainda proporciona.

Aos amigos de curso, em especial Ana Ester, Ana Letícia e Henrique

Baldrani, pela boa companhia durante esses quatro anos.

À APAE de Santo Amaro por ter me proporcionado a oportunidade de

estagiar num ambiente em que a educação especial está presente.

Aos professores de música, participantes da pesquisa, que contribuíram

para a realização deste trabalho.

Agradeço, enfim, à todos que participaram deste percurso.

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“A única coisa que importa é colocar em prática, com sinceridade e seriedade, aquilo em que se acredita.”

Dalai Lama

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RESUMO

MACHADO, Dulcinéia. A Educação Especial na Formação e na Prática Pedagógica do Professor de Música. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Música) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Departamento de Música/Centro de Artes, Florianópolis, 2012. A presente pesquisa teve como objetivo investigar como os professores de música lidam com os alunos com deficiência em suas aulas e identificar os aspectos sobre a formação desses profissionais para atuarem em contexto inclusivo. Este trabalho está dividido em cinco capítulos. Os capítulos 1 e 2 referem-se a fundamentação teórica sobre o tema da pesquisa. O capítulo 3 trata da abordagem metodológica utilizada no trabalho, o survey. A coleta de dados foi realizada através de um questionário aplicado aos professores de música atuantes nas escolas da rede pública de educação básica da cidade de Florianópolis. A apresentação e discussão dos dados referem-se aos capítulos 4 e 5 respectivamente. Os resultados justificam a importância da música para os alunos com deficiência e apontam para as necessidades que os professores de música têm em atuar em contexto inclusivo. Também foi constatada a importância de haver na grade do curso de graduação em música uma disciplina ou item que aborde os aspectos da educação especial na formação do professor de música. Palavras-chave: Educação Musical. Educação Especial. Formação e Prática Pedagógica.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa Conceitual. .................................................................................... 46

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Idade dos professores. .......................................................................... 48

Gráfico 2 – Curso de graduação. ............................................................................. 48

Gráfico 3 – Tempo de atuação na escola. ................................................................ 50

Gráfico 4 – Carga horária. ........................................................................................ 51

Gráfico 5 – Média de alunos por turma. ................................................................... 51

Gráfico 6 – Atividades musicais. .............................................................................. 52

Gráfico 7 – Número de alunos deficientes por professor .......................................... 56

Gráfico 8 – Tipos de deficiência. .............................................................................. 57

Gráfico 9 – Participação dos alunos deficientes nas aulas de música. ..................... 58

Gráfico 10 – Inclusão dos alunos deficientes nas atividades musicais. .................... 59

Gráfico 11 – Curso referente à educação especial. .................................................. 61

Gráfico 12 – Auxílio do conhecimento em educação especial na prática docente. ... 61

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LISTA DE SIGLAS

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais

ONU – Organização das Nações Unidas

AAMR – American Association on Mental Retardation

CDF – Children’s Defense Fund

QI – Quociente de Inteligência

TDAH/I – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade/Impulsividade

TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento

TEA – Transtorno do Espectro Autístico

ABEM – Associação Brasileira de Educação Musical

ACIC – Associação Catarinense para Integração do Cego

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

UFPR – Universidade Federal do Paraná

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................12

1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL ................................................................................ 15

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL ................ 15

1.2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO ............................ 18

1.3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA ..................................................................... 20

1.3.1 Deficiência Mental ........................................................................ 21

1.3.2 Deficiência Física ......................................................................... 22

1.3.3 Deficiência Sensorial .................................................................... 24

1.3.4 Deficiência Múltipla ...................................................................... 25

1.3.5 Condutas Típicas ......................................................................... 26

1.3.6 Superdotação ............................................................................... 26

2 MÚSICA E EDUCAÇÃO ESPECIAL ................................................................. 28

2.1 MÚSICA: BENEFÍCIOS E ASPECTOS INCLUSIVOS .......................... 28

2.2 FORMAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE

MÚSICA 30

2.3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 31

2.3.1 Música e Inclusão......................................................................... 32

2.3.2 Música e Educação Especial ........................................................ 35

2.3.3 Formação do Professor de Música para o Contexto Inclusivo ...... 36

3 METODOLOGIA ............................................................................................... 38

3.1 MÉTODO DE PESQUISA SURVEY ..................................................... 38

3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ........................................... 40

3.3 ESTUDO PILOTO ................................................................................ 42

3.4 AMOSTRA ............................................................................................ 43

3.5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 44

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4 CARACTERÍSTICAS E SABERES DOCENTES: APRESENTAÇÃO DOS

DADOS .................................................................................................................... 47

4.1 EDUCAÇÃO MUSICAL ........................................................................ 47

4.1.1 Perfil do Professor ........................................................................ 47

4.1.2 Formação Acadêmica .................................................................. 48

4.1.3 Atuação Profissional ..................................................................... 49

4.2 EDUCAÇÃO ESPECIAL ....................................................................... 53

4.2.1 Concepção Docente ..................................................................... 53

4.2.2 Alunos .......................................................................................... 56

4.2.3 Atividades Musicais ...................................................................... 59

4.2.4 Atendimento Educacional Especializado ...................................... 60

4.2.5 Conhecimento na Área ................................................................. 60

5 EDUCAÇÃO MUSICAL E EDUCAÇÃO ESPECIAL: DIÁLOGO ENTRE AS

CONCEPÇÕES DOCENTES E A LITERATURA ..................................................... 63

5.1 TERMINOLOGIA .................................................................................. 63

5.2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO ESPECIAL ........................... 64

5.3 RELATOS DOS PROFESSORES DE MÚSICA .................................... 66

5.4 MÚSICA E SURDEZ ............................................................................. 67

5.5 BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O ALUNO DEFICIENTE .................. 69

5.6 TIPOS DE DEFICIÊNCIA NAS AULAS DE MÚSICA ............................ 70

5.7 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MÚSICA PARA O CONTEXTO

INCLUSIVO .......................................................................................................... 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................78

ANEXOS.....................................................................................................................82

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INTRODUÇÃO

Este estudo teve como objetivo investigar como os professores de música

lidam com os alunos com deficiência em suas aulas e identificar os aspectos sobre a

formação desses profissionais para atuarem em contexto inclusivo. A inclusão,

atualmente, é uma realidade perante a sociedade. Com o surgimento das leis

inclusivas, as escolas também tiveram que atender os alunos que apresentassem

necessidades educacionais especiais. O princípio da inclusão consiste no direito de

todos os alunos em período escolar a receberem educação.

A escolha do tema para esta pesquisa foi influenciada pelo interesse

pessoal na musicalização dos indivíduos com deficiência. Este interesse surgiu

durante o curso de graduação através da realização de duas disciplinas – Língua

Brasileira de Sinais – LIBRAS e Educação Especial – voltadas ao atendimento de

pessoas com necessidades educacionais especiais, pela minha participação no

projeto de pesquisa “Professores de Arte: Um Estudo das Adaptações Curriculares

para Inclusão”, onde pesquisei e realizei trabalhos sobre a educação inclusiva com

coordenação da Prof.ª Dr.ª Regina Finck Schambeck, e também, através da prática

de estágio realizada numa escola especial. O envolvimento com a educação musical

e a educação especial fez-me perguntar como os professores de música tem lidado

com o contexto inclusivo das escolas. Esta questão consolidou a escolha do tema

sobre os aspectos de formação e prática pedagógica do professor de música que dá

aula aos indivíduos com deficiência.

Dessa forma a questão de pesquisa que impulsionou a realização deste

estudo foi: Como os professores de música lidam com alunos com deficiência em

suas aulas? Por um lado, senti necessidade de conhecer a realidade escolar dos

professores de música, ou seja, saber que atividades musicais são propostas por

eles e como os alunos com deficiência são incluídos. Por outro lado, também me

interessei sobre o conhecimento que esses professores tem sobre a educação

especial, tanto o conhecimento obtido nos cursos de graduação quanto durante a

formação continuada.

O processo deste estudo foi realizado em cinco partes complementares:

levantamento bibliográfico, fundamentação teórica, coleta de dados, apresentação e

discussão dos dados. O levantamento bibliográfico consistiu na busca pelos

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trabalhos – artigos, monografias, dissertações e teses – referentes ao tema da

pesquisa. Na fundamentação teórica esses trabalhos foram analisados,

apresentados e discutidos. A coleta de dados foi fundamentada pelo método de

pesquisa survey, utilizando como instrumento de coleta, o questionário. O

questionário foi aplicado a um grupo de professores de música atuantes nas escolas

da rede pública de educação básica da cidade de Florianópolis. As informações

obtidas foram apresentadas e discutidas nesta pesquisa.

Este trabalho está organizado em cinco capítulos. O primeiro e segundo

capítulos se referem a fundamentação teórica. No primeiro capítulo é realizada uma

contextualização sobre a educação especial e tem como objetivo esclarecer alguns

aspectos sobre definição e proposta. Nesta parte são apresentadas informações

sobre o atendimento educacional especializado e sobre alguns tipos de deficiências.

O segundo capítulo aborda sobre a relação da música com a educação

especial. Nesta parte são apresentados alguns benefícios que a música pode

proporcionar ao indivíduo, tenha ele uma deficiência ou não. Alguns aspectos

inclusivos também são abordados nesta parte, assim como, a formação e prática

pedagógica do professor de música. A revisão de literatura foi incluída neste

capítulo, pois as pesquisas nela apresentada trazem abordagens que relacionam a

música com a educação especial.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia adotada para o trabalho. Esta

pesquisa foi fundamentada pelo método survey. A escolha do método foi

influenciada por este poder atingir um maior número de participantes ao mesmo

tempo. O questionário foi o instrumento de coleta de dados utilizado. Este foi

aplicado, primeiramente, a duas professoras de música com o objetivo de realizar

um teste piloto, e em seguida, aplicado à amostra definitiva. Através das perguntas

aplicadas aos professores de música foi possível investigar as concepções e prática

pedagógica desses sujeitos.

O quarto capítulo se refere à apresentação dos dados obtidos. Nesta

parte são apresentadas as características e os saberes docentes. Este capítulo está

dividido em duas áreas: educação musical e educação especial. A primeira consiste

nas características dos professores de música, como perfil, formação e atuação

profissional. A segunda apresenta algumas relações que o professor de música tem

com a educação especial, como suas concepções sobre o tema, os alunos com

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deficiência que esses sujeitos tem e as atividades musicais que realizam em sala de

aula.

Enfim, o quinto e último capítulo, refere-se à discussão dos dados. Nesta

parte os apontamentos dos professores de música são apresentados e discutidos

através de um diálogo com a literatura. Neste capítulo são apresentados os

principais assuntos levantados pelos professores de música, como as expressões

utilizadas para identificar os alunos com deficiência, a diferença entre educação

especial e educação inclusiva, os relatos sobre como os professores de música se

sentem atuando num contexto inclusivo, a musicalização do aluno surdo, os

benefícios da música para o indivíduo com necessidades educacionais especiais, os

casos de deficiência presente nas aulas de música, e por fim, a formação do

professor de música para o contexto inclusivo.

Nas considerações finais são apresentados os resultados do estudo e as

contribuições do mesmo para a área da educação musical. Além disso, são

oferecidas algumas sugestões para futuras investigações que abordem a relação da

música com a educação especial.

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1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL

Durante muitos anos, as pessoas com deficiência foram vistas e definidas

como membros excluídos, declaradas incapazes de exercer alguma função perante

a sociedade. No entanto, havia algumas pessoas que acreditavam e lutavam pelo

direito de todos aos serviços oferecidos pela sociedade. A educação para crianças

deficientes, por exemplo, começou há mais de 200 anos1. No início, o ensino voltado

para esses indivíduos era considerado desnecessário, porém, aos poucos ele foi

sendo valorizado e solidificado, constituído no que hoje chamamos de educação

especial.

A educação especial já foi explicada de diversas formas, algumas

definições se referem aos professores desta área e outras aos serviços oferecidos

ao sistema educacional. De um modo geral, pode-se dizer que a educação especial

é um atendimento especializado oferecido aos alunos com necessidades

educacionais especiais – seja ela física, psíquica, sensorial ou de origem social –,

que através dos recursos adequados pretende “conseguir o máximo

desenvolvimento das possibilidades e capacidades desses alunos, respeitando as

diferenças individuais apresentadas ao longo desse processo.” (GONZÁLES, 2007,

p.19).

Os serviços especializados são amplos e abrangem desde os

profissionais adequados para o atendimento dos sujeitos com deficiência, quanto os

materiais pedagógicos e estrutura física do ambiente em que esses alunos têm

acesso. Gonzáles (2007) afirma que,

a educação especial já não é vista como a educação de um tipo de aluno, mas entendida como o conjunto de recursos pessoais e materiais colocados à disposição do sistema educacional para que este possa responder adequadamente às necessidades que, de forma transitória ou permanente, alguns dos alunos possam apresentar. (GONZÁLES, 2007, p. 19).

1 Caso de Itard e Victor, o “menino selvagem de Aveyron”, França, 1799.

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Segundo Smith (2008), a educação para os alunos com necessidades

educacionais especiais deve ser oferecida em ambientes com acesso ao sistema

regular de ensino e não deve ser cobrado nenhum custo às famílias. Os alunos

nessa situação devem estar matriculados em instituições onde tenha a presença de

alunos com desenvolvimento típico.

A educação especial é um serviço que deveria estar presente em todas as

escolas da rede pública de educação básica, porém, algumas instituições ainda não

incluem ou atendem os alunos com necessidades educacionais especiais. Até

alguns anos atrás, a educação especial era totalmente separada da educação

regular, ou seja, crianças com deficiências eram separadas daquelas com

desenvolvimento típico. Isso incluía também a separação de professores especiais

dos educadores com formação em pedagogia e licenciatura. De acordo com Beyer

(2007), a educação especial tem passado por crises de identidade devido às

pressões sociais para a abertura de espaços que atendam tanto as crianças com

deficiências quanto aquelas sem deficiências. Dentre esses espaços são

consideradas as escolas regulares e mercado de trabalho que ofereçam os serviços

adequados a esses sujeitos.

O atendimento educacional especializado deve ser realizado em todas as

instituições de ensino e não somente nas escolas especiais. Apesar de seu valor, as

escolas especiais não oferecem uma situação de inclusão ao aluno, pois atendem

somente os sujeitos com deficiência. Durante anos, a função da escola especial foi

atender os alunos que o sistema regular de ensino rejeitava. A Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva diz que,

por muito tempo perdurou o entendimento de que a educação especial organizada de forma paralela à educação comum seria mais apropriada para a aprendizagem dos alunos que apresentavam deficiência, problemas de saúde, ou qualquer inadequação com relação à estrutura organizada pelos sistemas de ensino. (BRASIL, 2008, p. 14).

Com o decorrer dos anos foi-se percebendo a importância da inclusão e

por este motivo, o atendimento educacional especializado passou a fazer parte do

sistema regular de ensino. O sistema educacional deve aceitar e oferecer seus

serviços através de adaptações curriculares a todos os alunos, independente das

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diversidades. As adaptações curriculares são realizadas pelos professores e equipe

de orientação e têm como objetivo moldar o atendimento educacional de acordo com

as necessidades do aluno. Segundo Gonzáles (2007), é o ensino que deve se

adaptar para atender os indivíduos com deficiência, considerando todas as suas

necessidades e peculiaridades, e não o sujeito deficiente se adaptar à educação.

É importante que todos os alunos, independente de suas limitações,

recebam uma educação eficaz. Para isso é necessário integrar todos os elementos

do âmbito educacional, dentre eles o “estudo da aptidão, atitude, motivação,

relações sociais, estilo de aprendizagem e contexto em que o sujeito se desenvolve.”

(GONZÁLES, 2007, p.30). Por meio do incentivo e do desenvolvimento destes

elementos, o aluno deficiente terá mais possibilidades para adquirir o aprendizado,

independente da diversidade escolar em que se encontra.

A respeito dos serviços educacionais que o aluno deficiente necessita,

Smith (2008) diz que a educação especial precisa fornecer

instrução direta na sala de aula, consultoria e colaboração com o professor da educação regular, coordenação do programa educacional dos alunos e normalização das oportunidades de aprendizagens necessárias para que cada jovem possa se beneficiar da instrução. Também inclui uma ampla variedade de serviços correlatos2, os quais combinam a fim de formar equipes multidisciplinares designadas a dar conta das necessidades específicas de cada aluno com deficiência. (SMITH, 2008, p. 41).

As adaptações curriculares devem estar presentes em todo o contexto da

escola, no modo de atuação do professor com o aluno, nos métodos adotados e na

estrutura dela. Existe também a adaptação curricular individualizada que atende a

necessidade individual de cada aluno, no entanto, é necessário que isto não o leve

para uma situação de isolamento. Gonzáles (2007) afirma que essas adaptações

individualizadas devem estar “conectadas com as propostas curriculares reunidas

nas programações de sala de aula”. (p.32). O aluno com necessidades educacionais

especiais precisa estar envolvido nas mesmas atividades que os demais, porém, seu

2 Serviços correlatos são aqueles oferecidos por outros profissionais além dos professores da

educação, como: fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, etc.

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atendimento será diferenciado para que ele possa alcançar os mesmos objetivos de

aprendizagem que seus colegas.

1.2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

O atendimento educacional especializado é um serviço oferecido pela

educação especial e tem como objetivo elaborar, organizar e oferecer recursos

pedagógicos que sejam acessíveis aos alunos com necessidades educacionais

especiais. De acordo com Fávero, Pantoja e Mantoan (2007), “esse atendimento é

necessariamente diferente do ensino escolar e é indicado para melhor suprir as

necessidades e atender as especialidades dos alunos com deficiência.” (p. 26).

Atualmente, ele é oferecido tanto pelas escolas especiais, quanto pelas escolas de

ensino regular. Porém, Alves e Gotti (2006, p. 75) afirmam que por muito tempo ele

manteve “as práticas educacionais direcionadas a alunos com deficiência, bem como

a formação de professores de educação especial” para atuarem somente nas

escolas especiais.

A concepção de que os sujeitos com deficiências não eram capazes de

aprender gerou o impedimento da inclusão desses alunos nas escolas regulares de

ensino. Aos poucos essa ideia foi sendo modificada, tornando-se positiva para a

educação e para a inclusão. Segundo Gotti e Alves (2006), essa mudança se deu

conforme o avanço no desenvolvimento do conhecimento referente aos alunos com

necessidades educacionais especiais, e também, devido ao surgimento das

abordagens constitucionais sobre a educação para todos e sobre o atendimento

educacional especializado para os alunos deficientes.

O atendimento educacional especializado fornece os instrumentos

necessários aos alunos deficientes para a realização das atividades. Fávero, Pantoja

e Mantoan (2007) apontam esses instrumentos como,

ensino da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, do código braille, uso de recursos de informática e outras ferramentas tecnológicas, além de linguagens que precisam estar disponíveis nas escolas comuns para que elas possam atender com qualidade os alunos com e sem deficiência. (FÁVERO; PANTOJA; MANTOAN, 2007, p. 26).

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Além desses, Alves e Gotti (2006) acrescentam as seguintes atividades

educacionais: estimulação e intervenção precoce, interpretação de LIBRAS digital,

literatura em formato digital, tecnologias assistivas3 e ajudas técnicas, atividades

cognitivas, enriquecimento e aprofundamento curricular e atividades de vida

autônoma e social. O atendimento educacional especializado deve contar com

recursos que auxiliem no processo de ensino-aprendizagem do aluno com

necessidades educacionais especiais. A escola que não oferece tal atendimento não

poderá ajudar o indivíduo em seu desenvolvimento educacional.

Gonzáles (2007) questiona quando, onde e por quem deve ser feito esse

atendimento. Sobre quando, o autor afirma que o atendimento educacional

especializado deve ser realizado logo ao se perceber as necessidades do sujeito,

independente de sua idade, ou quando forem identificados os riscos de dificuldades

no início da escolarização. Sobre onde, os alunos com necessidades especiais

deverão, primeiramente, integrar-se em aulas especializadas de escolas regulares,

se caso não atingirem as metas nesta instituição deverão ir para as escolas de

educação especial. Quem deve tomar a decisão sobre a capacidade dos alunos são

os profissionais com qualificações diferenciadas através de identificação e avaliação.

Essa intervenção deve ser realizada por meio de planos de atuação para cada caso.

O atendimento só poderá ser oferecido após a identificação das necessidades

educacionais do aluno.

A escola precisa se adaptar ao aluno deficiente. De acordo com Fávero,

Pantoja e Mantoan (2007), é dever da escola fornecer o atendimento educacional

especializado em todos os níveis de ensino, tanto no básico quanto no fundamental.

O sujeito com deficiência tem o direito de estar matriculado no sistema regular de

ensino.

3 Tecnologias assistivas: serviço que auxilia no desenvolvimento das habilidades funcionais dos

sujeitos com deficiência.

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1.3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA

O princípio da educação inclusiva declara o direto de todos em idade

escolar, inclusive os alunos com deficiência, a frequentarem e participarem

ativamente das escolas regulares de ensino. A inclusão deve ser compromisso de

toda a sociedade. A Politica Nacional da Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva

têm como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL, 2008).

Considerando a presença de alunos com necessidades educacionais

especiais nas salas de aula, constatou-se importante apontar alguns casos de

deficiência mais comuns nas escolas brasileiras. A Convenção da Organização das

Nações Unidas – ONU –, de dezembro de 2006 “define pessoas com deficiência

aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial.” (SANTA

CATARINA, 2006). É importante dizer que a deficiência também pode estar

relacionada a uma visão sociológica, ou seja, quando o indivíduo tem dificuldade de

aprendizagem e de desenvolvimento devido a fatores externos, como os problemas

familiares, discriminação e preconceito.

Nesta parte do capítulo estão apontadas apenas aquelas deficiências cujo

comprometimento é de caráter cognitivo e físico. As deficiências apresentadas e

esclarecidas a seguir estão divididas em três grupos: 1) deficiência mental, 2)

deficiência física e 3) deficiência sensorial. Além destes, são abordados alguns tipos

de transtornos de comportamento, também denominados de condutas típicas, e por

fim, a superdotação.

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1.3.1 Deficiência Mental

A definição de deficiência mental tem sido esclarecida por algumas

teorias, entre elas a psicológica, sociológica, antropológica e da psicanálise.

(GOMES et al., 2007). Todas tem assumido uma posição frente à deficiência mental,

dificultando na concretização de um conceito único. A definição adotada pelo

Ministério da Educação a partir de 1994 considera o deficiente mental aquele que

apresenta “incapacidade caracterizada por limitações em ambos, funcionamento

intelectual e comportamento adaptativo e está nas habilidades sociais, conceituais e

práticas.” (AAMR apud SANTA CATARINA, 2006, p. 21). A deficiência mental tem

origem antes dos 18 anos e também pode ser empregada com o termo retardo

mental.

O retardo mental é diagnosticado ao analisar a atuação intelectual e

adaptativa do aluno, podendo ser identificado em quatro níveis de gravidade: 1)

retardo mental leve, 2) retardo mental moderado, 3) retardo mental grave e 4)

retardo mental profundo. (SMITH, 2008). Os casos de deficiência mental leve e

moderada são as que mais estão presentes nas escolas de ensino regular, posto

que nos casos de deficiência mental grave e profunda a dificuldade de

aprendizagem é extremamente acentuada, apresentando sérias limitações ao aluno.

A deficiência mental é causada por fatores genéticos, tóxicos, desnutrição

materna, maus-tratos e abandono da criança e discriminação. As causas genéticas

são muitas, sendo identificadas mais de 500 atualmente. Dentre as causas genéticas

existem aquelas ocasionadas por alterações cromossômicas. A Síndrome de Down,

por exemplo, é uma deficiência decorrente de uma anormalidade no número de

cromossomos. De acordo com Smith (2008), “cada célula humana normal contém 23

pares de cromossomos (um total de 46) em seus núcleos. No tipo mais comum de

Síndrome de Down, a trissomia 21, o vigésimo primeiro par de cromossomos contém

três cromossomos em vez de dois.” (p. 178). Os sujeitos com Síndrome de Down

apresentam características como uma prega epicântica4 a mais nos olhos, perda de

audição, problemas com a linguagem e dificuldades cognitivas. Diferente de outros

4 Prega epicântica: dobra de pele sobre o canto de interno dos olhos.

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casos de deficiência mental, os indivíduos com Síndrome de Down apresentam

poucas dificuldades no comportamento adaptativo.

As deficiências mentais ocasionadas por fatores tóxicos são aquelas em

que a criança é exposta a ambientes tóxicos como a poluição, e também quando há

o uso de drogas e/ou álcool pela mãe. O retardo mental originado por esses fatores

pode ocorrer tanto no período pré-natal quanto no pós-natal, ou seja, antes ou

depois do nascimento do bebê.

A desnutrição materna também é um fator de risco para o surgimento da

deficiência. Normalmente é ocasionada pela pobreza e falta de atendimento médico.

Segundo Smith (2008), “25% dos bebês com baixo peso no nascimento costumam

apresentar paralisia cerebral.” (p. 179). A paralisia cerebral será abordada apenas no

próximo tópico, pois é considerada uma deficiência física. É importante dizer que

nem todas as crianças nascidas em uma situação precária apresentam uma

deficiência.

A inibição da aprendizagem do indivíduo também pode ser causada por

maus-tratos ou abandono. Crianças envolvidas nessas situações poderão

apresentar “QI mais baixo e taxas reduzidas de respostas a estímulo cognitivo.”

(CDF apud SMITH, 2008, p. 179). Tais abusos podem originar dificuldades

permanentes de linguagem e cognição. O mesmo pode ocorrer aos indivíduos que

sofrem com a discriminação e o preconceito.

As características dos deficientes mentais – problemas na cognição e no

comportamento adaptativo – não são desculpas para não incluí-los nas escolas de

ensino regular. Por mais que haja dificuldade em ensinar indivíduos nessas

circunstâncias é dever da sociedade atender as necessidades de tais e para isso

temos a educação especial.

1.3.2 Deficiência Física

O deficiente físico é aquele que apresenta algum comprometimento da

função física. Smith (2008) destaca que indivíduos nessa situação apresentam

problemas na estrutura ou funcionamento do corpo. O Decreto nº 5.296 de 02 de

dezembro 2004 considera que o deficiente físico é aquele que apresenta

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alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, parapesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. (BRASIL, 2004, s/p).

O indivíduo nessa situação pode apresentar comprometimento da função

física devido as seguintes causas: amputação, má-formação ou deformação de

algum membro. Segundo a Política de Educação Especial do Estado de Santa

Catarina (2006), a deficiência física também pode ser originada por: “patologias

degenerativas do sistema nervoso central, miopatias, artropatias, reumatismos,

sequelas de queimaduras, hemofilia e doenças osteomusculares.” (p. 22). Pode-se

perceber que são muitos os casos de deficiência física existentes. Apesar da

importância em entender o que é e quais as características de todas essas

deficiências, apenas algumas serão esclarecidas por serem consideradas as mais

comuns nas escolas.

Como esclarecido no tópico anterior, a paralisia cerebral é uma deficiência

física e por isso está presente neste tópico. Essa deficiência é ocasionada por danos

neuromotores, normalmente originados pela falta de oxigênio no cérebro, lesões

ocasionadas por acidentes, infecções cerebrais ou maus-tratos. De acordo com

Smith (2008), as características dessa deficiência são apresentadas por movimentos

de contração e/ou involuntários, espasmos e dificuldade no funcionamento motor.

A epilepsia também é um exemplo de deficiência física ocasionada por

danos neuromotores. Caso comum na escola, a epilepsia é aquela em que o

indivíduo sofre convulsões. Smith (2008) afirma que os indivíduos nessas condições

“tem ataques recorrentes, os quais são o resultado de descargas inesperadas,

excessivas, espontâneas e anormais dos neurônios do cérebro.” (p. 265).

Existem também as deficiências físicas causadas por condições ósseas e

musculares, temos como exemplos a artrite juvenil, as deficiências dos membros e

os distúrbios ósseos. Nestes casos os indivíduos apresentam dificuldades em

controlar os movimentos. A artrite juvenil causa inchaço, imobilidade e dor nas

articulações devido a um processo autoimune do indivíduo. As deficiências dos

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membros são “problemas ósseos em que o membro (ou membros) do indivíduo é

encurtado, malformado ou inexistente.” (SMITH, 2008, p. 266). Os distúrbios ósseos

são casos onde pode haver desenvolvimento anormal dos ossos (nanismo),

problemas na calcificação (osteogênese imperfeita) e ocorrência de uma curvatura

da espinha na fase da puberdade (escoliose).

Para os casos de deficiência física é necessário que haja adaptações nas

escolas de ensino regular e na estruturação da sociedade como um todo, auxiliando

no acesso e interação dos indivíduos nesses ambientes.

1.3.3 Deficiência Sensorial

A deficiência sensorial é ocasionada quando há a perda parcial ou total de

um dos cinco sentidos. Os dois casos mais comuns são a surdez e a cegueira. Estes

são frequentemente encontrados nas escolas regulares de ensino.

A deficiência auditiva é aquela em que o indivíduo apresenta “perda

parcial ou total da audição, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a

fala, através do ouvido.” (SANTA CATARINA, 2006, p. 21). Segundo Smith (2008),

mesmo que pessoas com surdez façam uso de aparelhos ou que percebam alguns

sons, “elas não podem usar a audição como seu principal meio de obter informação.”

(p. 299). A surdez compromete não só a audição do indivíduo, mas a fala também,

dificultando na comunicação do mesmo.

Existem dois tipos de indivíduos com surdez: os surdos pré-linguísticos e

os surdos pós-linguísticos. Estas definições são caracterizadas de acordo com o

período em que a pessoa adquire a perda auditiva, sendo esta antes ou depois do

aprendizado e entendimento da linguagem. De acordo com Smith (2008), “a perda

auditiva acontece quando o ouvido e o mecanismo da audição são lesados ou

obstruídos, de modo que os sons não podem ser percebidos ou entendidos.” (p.

299). Os alunos nesta situação necessitam de atendimento especializado, tendo

como principal meio de comunicação a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. O

sistema de LIBRAS é considerado a linguagem principal do indivíduo surdo.

O deficiente visual “é aquele que apresenta redução ou perda total da

capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor correção óptica.” (SANTA

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CATARINA, 2006, p. 21). Quando o indivíduo enxerga normalmente, quatro fatores

são percebidos: “luz, algo que reflita a luz, um olho que processe a imagem

projetada por impulsos elétricos e um cérebro que receba e empreste significado

para esses impulsos.” (SMITH, 2008, p. 331). As pessoas com deficiência visual têm

esses fatores comprometidos. As deficiências visuais são classificadas em dois

tipos: baixa visão e cegueira. A pessoa com baixa visão ainda possui resíduos de

visão, já a pessoa com cegueira possui perda total da visão, necessitando assim, do

Sistema Braille.

As deficiências auditivas e visuais necessitam de atendimento

educacional especializado. Esse atendimento deve estar presente nas escolas

regulares de ensino para que alunos nestas condições possam aprender como

qualquer outra pessoa. As deficiências sensoriais não são apenas aquelas ligadas à

audição e visão, mas também, aos casos onde há comprometimento do tato, olfato

ou paladar.

1.3.4 Deficiência Múltipla

A pessoa com deficiência múltipla é aquela que apresenta duas ou mais

deficiências integradas, sejam elas mentais, físicas ou sensoriais. Um caso comum é

quando o indivíduo com retardo mental possui também alguma deficiência física

(paralisia) ou sensorial (cegueira, surdez). De acordo com Smith (2008), pessoas

com esse tipo de deficiência necessitam de auxílio contínuo e intensivo durante o

cotidiano, inclusive na escola.

A deficiência múltipla é um caso de baixa incidência, mas que merece

total atenção e apoio. Um exemplo de indivíduo nesta situação é o surdocego, este

apresenta tanto perdas auditivas quanto visuais. A surdocegueira é uma deficiência

séria e causa grandes impactos no indivíduo, “ela compromete definitivamente a

educação dos alunos e frequentemente é tão individualizada e intensiva que não

ocorre no contexto da educação regular.” (SMITH, 2008, p. 384). Apesar de não ser

uma deficiência comum nas escolas, considerou-se importante colocá-la neste

tópico para que as pessoas saibam de sua existência e da possibilidade de haver

um sujeito com várias deficiências associadas.

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1.3.5 Condutas Típicas

As condutas típicas são aquelas em que o indivíduo apresenta problemas

de comportamento, ou seja, manifestações de conduta “típicas de portadores de

síndromes e quadros neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no

desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira

atendimento educacional especializado.” (BRASIL apud SANTA CATARINA, 2006,

p. 23).

Segundo a Política de Educação Especial do Estado de Santa Catarina,

alunos com condutas típicas ou transtorno de comportamento são aqueles que

apresentam “dificuldade de aprendizagem, fracasso escolar, transtorno de conduta e

uma série de outras manifestações de ordem social e econômica que interferem no

comportamento e no processo de ensino e aprendizagem.” (SANTA CATARINA,

2006, p. 23). Temos como exemplo de condutas típicas: Transtorno do Déficit de

Atenção com Hiperatividade/Impulsividade – TDAH/I – e os Transtornos Globais do

Desenvolvimento – TGD.

O primeiro caso é “caracterizado pela combinação de comportamento

hiperativo/impulsivo com desatenção marcante.” (SANTA CATARINA, 2006, p. 24).

O segundo caso refere-se aos indivíduos que “apresentam alterações qualitativas

das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e

atividades restrito, estereotipado e repetitivo.” (BRASIL, 2008, p. 15). Podemos citar

como exemplo de TGD o autismo.

O autismo faz parte dos Transtornos do Espectro Autístico – TEA –, estes

são caracterizados por “problemas com comunicação, habilidades sociais, padrões

de comportamento ou grupos de interesses.” (SMITH, 2008, p. 357). Casos de

autismos são frequentes nas escolas, por este motivo é necessário uma

compreensão melhor de como lidar com indivíduos nessa situação.

1.3.6 Superdotação

A superdotação ou alta habilidade é caracterizada por indivíduos que

apresentam um desempenho notável. Alunos superdotados não apresentam tanta

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dificuldade de aprendizagem, porém, necessitam de atendimento especializado do

mesmo modo. O atendimento oferecido nestes casos tem como objetivo suprir com

a necessidade do aluno de acordo com seu nível de inteligência.

Apesar de suas capacidades, os indivíduos com superdotação podem

apresentar desvantagens devido a “atitudes negativas em relação a si mesmos e

crenças de que não precisam de serviços especiais para alcançar todo o seu

potencial e desenvolver seus talentos.” (SMITH, 2008, p. 204). Contudo, os

professores que atendem os indivíduos superdotados devem despertar o

desenvolvimento do aluno de acordo com o andamento e nível que ele estiver.

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2 MÚSICA E EDUCAÇÃO ESPECIAL

As pesquisas referentes à educação musical são muitas, assim como as

que abordam a educação especial, porém, existe uma escassez nos trabalhos que

se referem à união dessas duas áreas de estudo. Durante a etapa correspondente

ao levantamento bibliográfico foi possível perceber, assim como Louro (2006), que a

maioria dos materiais que abrangem e discutem ambas as áreas é encontrada nos

trabalhos de musicoterapia. Esses trabalhos não serão abordados, pois a intenção

desta pesquisa não é trazer a questão terapêutica da música, mas sim, discutir

sobre a educação musical para o aluno deficiente, e também, investigar a formação

e a prática pedagógica dos professores de música para o contexto inclusivo.

Neste capítulo são abordados os seguintes temas: os benefícios e

aspectos inclusivos da música e a formação de professores. Esses temas foram

escolhidos a fim de apresentar a função inclusiva da música, bem como a formação

e a prática pedagógica cotidiana dos professores de música. “A discussão sobre a

formação do professor de música e sobre o ensino de música para pessoas com

necessidades educacionais especiais, torna-se bastante atual e importante.”

(SOARES, 2006, p. 08).

2.1 MÚSICA: BENEFÍCIOS E ASPECTOS INCLUSIVOS

A música é uma área que proporciona benefícios aos seres humanos. De

acordo com Nascimento (2008), “o trabalho com musicalização proporciona o

desenvolvimento da atenção, memória, concentração, psicomotricidade,

sensibilidade, disciplina e organização.” (p. 01). Esses benefícios são

proporcionados tanto aos indivíduos com desenvolvimento típico quanto aos com

deficiência.

Os aspectos musicais como o ritmo, o canto e a execução instrumental,

podem auxiliar no desenvolvimento do aluno com deficiência. O ritmo é capaz de

despertar a noção de pulsação e desenvolver a coordenação motora do sujeito. O

ensino do canto desenvolve a dicção do sujeito, fator importante para o aluno

deficiente, que na maioria dos casos apresenta dificuldades na articulação das

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palavras. Tocar algum instrumento musical, além de desenvolver a coordenação

motora, melhora a concentração e desperta a sensibilização do aluno. (LOURO,

2006). Além desses benefícios, a música também auxilia na inclusão do sujeito.

Se a música é capaz de proporcionar inclusão, ela é um fator necessário

para o ensino do aluno com necessidades educacionais especiais. O sujeito com

algum tipo de deficiência ou dificuldade de aprendizagem deve estar incluído nas

escolas, pois ele também tem o direito à educação necessária para o seu

desenvolvimento. É importante dizer que uma sala de aula inclusiva não proporciona

somente benefícios aos alunos deficientes, pois ela também desenvolve uma

consciência de aceitação por todos do grupo. (FREIRE; OLIVEIRA; MESQUITA,

2004).

A conscientização para a inclusão deve ser trabalhada por toda a

sociedade. Apesar dos incentivos para isso, nas escolas ainda há casos de

exclusão, inclusive nas aulas de música. Muitas vezes, o professor de música exclui

o aluno deficiente das atividades da turma, pois acha difícil atender tal aluno ou

porque considera o sujeito incapaz de realizar alguma atividade musical. Segundo

Teixeira e Lüders (2010), “a perspectiva inclusiva da educação musical parte do

princípio que os conteúdos musicais devem ser oferecidos para todos os alunos, nos

diversos níveis e modalidades da educação.” (p. 121).

Ensinar música ao aluno deficiente não é uma tarefa fácil, mas também

não é impossível. O professor deve desenvolver atividades que o aluno com

necessidade educacional especial possa desenvolver, adaptando-as e

disponibilizando maior tempo e atenção para ele. Além disso, o professor precisa

estar consciente de que o aluno deficiente está na escola para aprender como os

demais alunos. De acordo com Louro (2006), “a educação musical, realizada por

profissionais informados e conscientes de seu papel, educa e reabilita a todo o

momento, uma vez que afeta o indivíduo em seus aspectos principais: físico, mental,

emocional e social.” (p. 27). O professor deve aproveitar a música como ferramenta

para desenvolver as potencialidades e a inclusão do aluno. Morales (2008) acredita

que através da parceria entre a música e a educação especial poderá se

desenvolver as potencialidades desses alunos, buscando alternativas que melhorem

a qualidade de vida deles.

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2.2 FORMAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE MÚSICA

A inclusão do indivíduo com necessidade educacional especial nas

escolas de educação básica possibilitou um encontro do professor de música com a

educação especial. Apesar disso, a maioria desses professores não tem o

conhecimento necessário sobre a área da educação especial (SOARES, 2006). A

falta de estudo nessa área pode limitar tanto o professor de música quanto o aluno

deficiente. Além do professor não saber o que poderá ser trabalhado ou como são

aplicadas as atividades, o aluno não terá o envolvimento ideal com a música,

impedindo assim, de obter os benefícios que ela pode oferecer a ele.

O professor de música que tem alunos com deficiência precisa se

preocupar com as condições e peculiaridades desses indivíduos e, além disso, deve

“produzir mais conhecimento sobre suas condições presentes para atuar de modo a

favorecer, ao ensinar música, o processo de inclusão.” (SOARES; CORTEGOSO,

2004, p. 604). A inclusão só acontece quando todos os alunos estão envolvidos

ativamente nas atividades realizadas em sala de aula, inclusive as oferecidas pela

educação musical.

É importante destacar que o professor de música que dá aula para alunos

com deficiência não exerce a mesma função que o musicoterapeuta. Ambos são

profissionais com objetivos distintos. Segundo Louro (2006), na educação musical,

o aprendizado musical, de certo modo, é a questão central, ou seja, através do processo que envolve a aquisição de algum conhecimento na área musical, tem por objetivo atingir o ser em sua totalidade. Na musicoterapia, o objetivo também é atingir o ser, mas através do melhoramento da saúde. (LOURO, 2006, p. 67).

De acordo com Alves (2010), “mesmo que o educador musical precise

considerar as possíveis dificuldades emocionais, motoras, sociais e intelectuais de

seus alunos, o seu enfoque é no processo ensino-aprendizagem.” (p. 134). O ensino

da música ao aluno deficiente deve ser prioridade do professor e os benefícios que

ela traz são apenas as consequências. O professor de música não pode se focar na

terapia do aluno, mas sim, no seu aprendizado musical.

Deste modo, o professor de música precisa ter o conhecimento adequado

para sua atuação no contexto inclusivo. Existem recursos disponíveis que facilitam a

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prática docente, como o uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS –, o sistema

Braille, tecnologias assistivas e a adaptação de material didático. A educação

musical especial, pode-se assim dizer, também faz uso de materiais adaptados para

a realização das atividades musicais. A Musicografia Braille é um exemplo desses

recursos que o professor de música tem à sua disposição.

Os trabalhos referentes à formação do professor de música no contexto

da educação especial ainda são escassos. Deste modo, existem poucas

informações sobre essa abordagem, assim como, a prática docente aplicada ao

aluno com necessidades educacionais especiais. De acordo com Morales e

Bellochio (2009), a pequena quantia de produções se justifica pela “falta de interesse

dos pesquisadores nesta área e aponta para um futuro crescimento quando as

pessoas com necessidades educacionais especiais forem incluídas nas escolas

regulares de ensino, o que está acontecendo.” (p. 116). A revisão de literatura traz

algumas pesquisas a respeito da educação musical e educação especial inclusive na

área da formação do professor de música.

2.3 REVISÃO DE LITERATURA

Durante o processo de levantamento bibliográfico para esta pesquisa

foram encontrados trabalhos que abordam sobre a música no contexto da educação

especial ou inclusiva. Ambas as áreas tem sido temas de investigação no contexto

da educação musical. Deste modo, são apresentadas nesta revisão de literatura

algumas pesquisas referentes ao assunto.

A busca dos trabalhos foi realizada na internet por meio de bancos de

dados de trabalhos acadêmicos, anais de congressos e sites referentes ao tema.

Como exemplos, pode-se citar a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações, o Portal de Periódicos da Capes, os Anais do Simpósio Brasileiro de

Pós-Graduandos em Música e o site Música & Inclusão. Para a busca foram

utilizadas palavras-chave como: educação especial, educação inclusiva, educação

musical e música para deficientes. Por este meio foram encontradas teses,

dissertações, monografias e artigos referentes ao tema da pesquisa.

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A revisão de artigos foi realizada nas revistas e anais da Associação

Brasileira de Educação Musical – ABEM. Nas revistas foram encontrados apenas

dois artigos: um referente à musicoterapia e outro sobre a inclusão de um aluno

autista nas aulas de música. Nos anais da ABEM foram encontrados os seguintes

temas: música e inclusão, aula de música para alunos com Síndrome de Down,

música para o aluno surdo, música na escola especial, musicografia Braille, prática

docente no contexto inclusivo, e também, musicoterapia. Os anais apresentaram um

grande número de publicações, já nas revistas foi constatada a escassez do

assunto.

Nos trabalhos encontrados nos referidos bancos de dados, anais e

revistas foram verificadas três abordagens: música e inclusão (FINCK, 2009;

SOUZA, 2010; LOURO, 2003; TRISOLDI, 2008; JUNIOR, 2007; SILVA, 2007;

GOMES, 2010), música e educação especial (SEZERINO, 2010; MORALES, 2010)

e formação de professores de música no contexto inclusivo (SOARES, 2006). Foi

possível perceber que existem muitos trabalhos referentes à música e inclusão se

comparado às investigações sobre a formação e prática pedagógica dos professores

de música que possuem alunos com necessidades educacionais especiais.

Entretanto, para esta revisão optou-se por privilegiar as pesquisas inseridas nos

temas acima mencionados.

2.3.1 Música e Inclusão

Finck (2009) realizou uma pesquisa de caráter qualitativo sobre a

aprendizagem musical de alunos surdos no contexto inclusivo. Essa teve duas

etapas, na primeira foi realizada uma investigação com os professores, diretores e

outros profissionais que atuam com alunos surdos a fim de analisar o que estes

pensam sobre a aula de música para os alunos nessa situação. A segunda etapa foi

dedicada à aplicação de atividades musicais para alunos com surdez num contexto

inclusivo através da Oficina Sons em Movimento. Essa pesquisa procurou verificar

as práticas musicais no contexto inclusivo, a adaptação do material didático e os

recursos pedagógicos, visando uma aprendizagem musical significativa. Concluiu-se

que as ações inclusivas nas escolas ainda não satisfazem as necessidades

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educacionais das crianças com deficiência. No entanto, foi possível ampliar as

discussões sobre a aprendizagem musical com alunos surdos, além de constatar

aprendizagens musicais significativas com essas crianças através do material

pedagógico adaptado utilizado na oficina.

A situação da educação musical frente às mudanças da legislação

nacional referente à inclusão foi abordada por Souza (2010). Como instrumento de

coleta de dados a autora realizou um questionário para identificar as principais

concepções e dificuldades que professores de música encontraram ao lidar com

pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas. Através desse

trabalho foram sistematizadas as estratégias de atuação para o professor de música

que possui alunos com essas características. Os resultados indicaram que o

professor de música pode desenvolver um bom trabalho no contexto inclusivo,

considerando ser importante evidenciar as potencialidades dos alunos com

limitações e não suas dificuldades.

Louro (2003) realizou um estudo de caso com três pessoas com

deficiência física em situação de aprendizagem musical. A autora investigou e

discutiu o processo de adaptação desses três indivíduos com seus respectivos

instrumentos musicais. Essa pesquisa teve como objetivo esclarecer alguns

aspectos sobre a relação da pessoa com deficiência física e sua prática musical, e

também, influenciar na criação e adaptação nas aulas do professor de música que

possui alunos com necessidades educacionais especiais. Além do estudo de caso,

também foi realizado um levantamento bibliográfico referente aos temas sobre

educação inclusiva nos cursos de música e a formação do educador musical

direcionada ao atendimento especializado para alunos com deficiência física. Louro

considerou importante a abordagem desses temas devido a sua escassez em

relação à investigação e discussão no que se refere à união da educação especial

ou inclusiva com a educação musical. No estudo de caso, a autora concluiu que os

três indivíduos com deficiência apresentaram dificuldades semelhantes na execução

dos instrumentos musicais, porém, através das adaptações para tais ações, nos três

casos foi possível identificar o desfrutar do fazer musical. Foi constatado que as

adaptações de materiais são importantes, pois possibilitam que pessoas com

deficiência física consigam executar um instrumento musical.

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As práticas inclusivas relacionadas à música foram investigadas por

Tresoldi (2008). Para essa pesquisa a autora realizou um estudo de caso com dois

alunos deficientes inclusos nas aulas de música matriculados em escolas municipais

do município de Cachoeirinha/RS. A coleta de dados foi feita por meio de

observações das aulas que esses alunos frequentavam, tendo como objetivo

identificar se a música estaria contribuindo ou não para a inclusão dos alunos com

necessidades educacionais especiais. Também foram realizadas entrevistas

semiestruturadas com professores, funcionários e alunos das escolas a fim de

investigar o que esses sujeitos compreenderam sobre o tema abordado. Como

conclusão de sua pesquisa, a autora apontou o interesse que há no município de

Cachoeirinha/RS em tornar-se uma comunidade inclusiva, destacando os locais

onde esta ação funciona. Em relação à música, a autora afirma que esta é capaz de

contribuir para a inclusão, considerando ser este um motivo importante para que o

ensino musical esteja presente nas escolas.

Junior (2007) realizou uma pesquisa em duas escolas municipais de João

Pessoa/PB. O autor teve como objetivo de seu trabalho investigar o processo

inclusivo de pessoas com deficiência nessas escolas, assim como, identificar se a

música estava presente no currículo escolar, considerando também, se esta estaria

voltada aos alunos com deficiência. A coleta de dados foi realizada por meio de

observações, questionário e entrevista. As observações foram voltadas para o

cotidiano escolar, investigando as práticas inclusivas presentes nas escolas. O

questionário e entrevista foram aplicados aos professores e gestores das escolas.

Com essa pesquisa pode-se concluir que existem muitos casos de alunos com

deficiência que são apenas inseridos nas salas de aula, não havendo assim, uma

inclusão de fato. O autor mencionou também a importância do ensino musical nas

escolas, pois esta é capaz de interferir no desenvolvimento e formação da pessoa

com deficiência.

A relação de alunos surdos com a música foi investigada por Silva (2007).

Como metodologia, foi desenvolvido um estudo de caso numa escola da cidade do

Rio de Janeiro, visando aplicar atividades musicais para os alunos surdos. Essa

investigação teve como objetivo analisar como alunos com este tipo de deficiência

desenvolvem atividades musicais num contexto incluso, que tipos de atividades são

possíveis para eles e qual a importância do ensino musical para esses alunos. Além

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disso, a autora sugeriu atividades musicais possíveis aos alunos surdos visando

auxiliar professores que possuem alunos nesta situação. Nos resultados da pesquisa

foi constatado que o aluno surdo é capaz de entender e fazer música, além de

mostrar-se interessado.

Gomes (2010) realizou uma pesquisa em cinco escolas particulares da

zona sul da cidade do Rio de Janeiro, tendo como objetivo investigar o processo de

ensino e aprendizagem de crianças deficientes incluídas nas aulas de música.

Através desse trabalho, a autora observou o comportamento dessas crianças com a

finalidade de descobrir como realizar uma aula inclusiva. No decorrer da pesquisa

foram realizados questionários com os diretores das escolas, entrevistas com os

professores de música e observação das aulas. Gomes destacou que observar e

compreender o comportamento de alunos deficientes pode auxiliar na prática

docente do professor de música frente à inclusão.

2.3.2 Música e Educação Especial

Sezerino (2010) desenvolveu uma pesquisa na área da educação musical

voltada aos alunos cegos e com baixa visão. Esse trabalho, de cunho qualitativo,

teve como objetivo investigar a realidade do ensino musical para alunos com essas

características que frequentam a Associação Catarinense para Integração do Cego –

ACIC, situada em Florianópolis. Após uma contextualização sobre as nomenclaturas

referentes aos alunos especiais, o autor abordou sobre o ensino da música no

contexto da Educação Especial, considerando a formação do educador musical e do

educador especial e também, sobre o processo de ensino e aprendizagem dos

alunos que possuem limitações visuais. Em sua conclusão o autor destacou que as

necessidades educacionais de alunos cegos e com baixa visão são diferentes dos

alunos com desenvolvimento típico, ou seja, alunos com esse tipo de deficiência

necessitam de um atendimento especializado diferente dos alunos videntes. Para

isso é necessário que haja na formação dos professores capacitação para o

atendimento especializado.

A presença da música na prática docente de educadoras especiais foi o

tema da pesquisa de Morales (2010). Esse estudo abordou sobre as professoras de

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educação especial atuantes em escolas básicas na cidade de Santa Maria/RS que

utilizavam a música em suas atividades aplicadas aos alunos deficientes. Essa

pesquisa teve como objetivo investigar como essas professoras entendem e utilizam

a música na prática docente, investigando também, o trabalho com a música

realizado por elas. Foram entrevistadas quinze educadoras especiais, selecionadas

em cinco escolas. Os resultados mostraram que a música está presente nas

atividades dessas professoras de diferentes formas e intenções, sendo utilizada

como instrumento de inclusão. Além disso, nas entrevistadas foi destacado que a

música é uma importante contribuição para o desenvolvimento dos alunos.

2.3.3 Formação do Professor de Música para o Contexto Inclusivo

Soares (2006) realizou uma investigação com três professoras de música

atuantes em escolas particulares da educação básica numa cidade de São Paulo. A

autora abordou a formação do professor de música no contexto inclusivo. Nessa

pesquisa também foram investigadas as relações entre práticas musicais com

alunos incluídos na escola regular. Os dados foram coletados por meio de

entrevistas individuais, observação das aulas, filmagem e análise das filmagens.

Além de discutir a importância do ensino musical para todos, incluindo alunos com

necessidades educacionais especiais, os resultados desse trabalho mostraram que

existe uma necessidade de cursos que abordem as práticas inclusivas na formação

do professor de música.

As pesquisas descritas acima apontam que há uma preocupação em

incluir o aluno com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares, do

mesmo modo que há uma preocupação em como oferecer o atendimento adequado

para cada tipo de deficiência. A presença da música nas escolas e o direito de todos

ao ensino possibilitou o encontro do professor de música com os alunos deficientes.

Este acontecimento remete para que esses professores planejem suas aulas

pensando nas possibilidades de cada aluno.

Os trabalhos apresentados nesta revisão de literatura contribuíram para o

entendimento do que vem sendo investigado no que tange a educação musical e a

educação especial. As investigações trouxeram sugestões de materiais adaptados

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para aulas de música, apontaram estratégias de atuação para o professor de música

no contexto inclusivo, destacaram a possibilidade do desenvolvimento musical do

aluno deficiente, afirmando também, as contribuições da música para alunos nesta

situação.

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38

3 METODOLOGIA

3.1 MÉTODO DE PESQUISA SURVEY

O survey de pequeno porte é o método utilizado nesta pesquisa. Este é

um procedimento do tipo levantamento. De acordo com Babbie (2005), o survey é

considerado o método das ciências sociais. As ciências sociais são determinadas

por pesquisas sobre o comportamento social humano. Segundo o autor, esse tipo de

ciência possui algumas oposições, como a das ciências físicas, que discutem que o

método científico não pode ser utilizado para investigar o comportamento social

humano.

Dentro das pesquisas científicos-sociais encontramos o método survey.

Babbie (2005) afirma que o modelo típico desse método apresenta alguns

componentes, como a amostra, o questionário e a quantificação. Primeiro é

selecionado uma amostra do número de participantes de determinado grupo, a

seguir é aplicado um questionário a fim de levantar informações sobre o tema

investigado, e por fim, as respostas são codificadas e registadas de forma

quantitativa, sendo também analisadas pelo pesquisador.

Segundo Babbie (2005), a pesquisa survey apresenta algumas

características. A primeira delas é a lógica, ou seja, esse método visa entender

racionalmente o comportamento social humano, apesar de que certos

comportamentos são irracionais, ocasionando assim algumas restrições lógicas. A

segunda diz que a pesquisa survey é determinística, pois há a intenção de explicar

razões, características e correlações do objeto investigado. A terceira diz que essa

pesquisa é geral, ou seja, ela busca o entendimento geral de determinado fenômeno

em vez de explicar os eventos individuais. Também é possível investigar o

comportamento humano de determinado grupo de uma população, e assim,

apresentar uma visão geral dessa população. A quarta característica diz que a

pesquisa survey é parcimoniosa, isso significa ela é econômica, pois permite ao

pesquisador obter muitas variáveis que poderão servir como modelos explicativos

em outros casos, do mesmo modo que é possível descobrir as razões para

determinados eventos utilizando o mínimo possível de fatores explicativos. Por fim, a

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quinta e última característica diz que esse método é específico, isto é, permite que o

pesquisador obtenha respostas específicas do tema investigado através de um

questionário que possua perguntas ou itens específicos.

O método survey apresenta três objetivos gerais: descrição, explicação e

exploração. (BABBIE, 2005). O primeiro objetivo explica que o método permite

descrever uma população, considerando seus traços e atributos. O segundo se

refere à explicação que a pesquisa pode dar a determinado fenômeno da população,

como por exemplo, o pesquisador poderá explicar por que a maioria das pessoas de

uma determinada cidade está desempregada, caso o tema da pesquisa seja o

desemprego. E o terceiro objetivo se refere à possibilidade de buscar e explorar

sobre o tema investigado através de uma amostra da população. A exploração

ocorre através de técnicas de coletas de dados, como questionários e entrevistas,

que o pesquisador utiliza para aprofundar seu estudo.

Moreira e Caleffe (2008) também afirmam essa informação, dizendo que o

survey “é o tipo de pesquisa descritiva mais comum, que incluí a utilização de

questionários, entrevistas e levantamentos normativos.” (p. 77). A escolha do survey

para essa pesquisa foi influenciada por esse método poder abranger o maior número

de pessoas simultaneamente e, desse modo, poder aplicar um único questionário a

todos os participantes num mesmo momento. Assim, o pesquisador não terá que

aplicá-lo individualmente aos participantes, o que economizará no tempo da

pesquisa.

O método survey é apropriado quando “se deseja responder questões do

tipo ‘o quê?’, ‘por quê?’, ‘como?’ e ‘quanto?’, ou seja, quando o foco de interesse é

sobre ‘o que está acontecendo’ ou ‘como e por que isso está acontecendo.”

(FREITAS et al., 2000, p. 105). Esses tipos de questões podem ser aplicados

através de um questionário ou entrevista. Estes são os instrumentos de coleta de

dados utilizados por esse método.

Para que o survey seja bem efetuado é necessário que haja, além das

normas técnicas, a questão da ética na pesquisa. O pesquisador deve entender que

a participação dos membros é voluntária, não os forçando a participarem da

pesquisa. Muitos indivíduos se negam a colaborar com tais estudos, e por isso é

necessário que o pesquisador apresente a importância de sua investigação. A

pesquisa survey nunca deve prejudicar os participantes, seja envergonhando-os ou

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os colocando em risco. Por este motivo, o anonimato dos membros é um fator

predominante, preservando assim, o bem estar e a identidade dos indivíduos. A ética

também deverá estar presente na escrita do texto, onde o pesquisador deverá

apresentar as respostas e opiniões dos participantes sem que esses sejam

identificados, assim como, abordar tais concepções sem julgá-las, caso elas não

estejam de acordo com as suas. Neste estudo a participação de todos os sujeitos foi

voluntária e a identidade dos mesmos foi preservada.

Considerando todas as características, objetivos e questões éticas, o

método survey foi considerado propício para esta pesquisa, pois através dele foi

possível investigar o que pensam e como é o cotidiano dos professores de música

das escolas da rede pública de educação básica que possuem alunos com

deficiência, assim como, analisar como esses professores lidam com a inclusão e

com os alunos nessa situação.

3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

O instrumento de coleta de dados utilizado nessa pesquisa foi o

questionário. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), o questionário é “constituído

por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem

a presença do entrevistador.” (p. 86). Esse instrumento tem como objetivo “suscitar

dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre assunto que os

informantes saibam opinar ou informar.” (CHIZZOTTI, 2003, p. 55).

Para a realização do questionário foi utilizado o Google Docs. Esse é um

serviço online presente num programa de e-mail do Google usado para a elaboração

e aplicação de formulários. O link do questionário foi enviado aos respondentes via

e-mail para que eles pudessem responder as questões. Ao clicar em “confirmar”, as

respostas dos participantes foram encaminhadas automaticamente aos relatórios do

programa. Outra opção de envio de questionários é através do correio ou por um

portador, já que não se deve ter a presença do entrevistador. Essa etapa da

pesquisa requer tempo e trabalho tanto para elaboração das questões que

fundamentam o tema investigado quanto na análise das respostas dos participantes.

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De acordo com Silva e Menezes (2001), “o questionário deve ser objetivo,

limitado em extensão e estar acompanhado de instruções.” (p. 33). O questionário

elaborado para este estudo continha 30 questões, sendo essas fechadas, abertas e

de múltipla escolha (ver anexo 2). As perguntas fechadas, “também denominadas

limitadas ou de alternativas fixas, são aquelas em que o informante escolhe sua

resposta entre duas opções: sim e não.” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 89). As

perguntas fechadas com várias opções de respostas são consideradas de múltipla

escolha, essas também estavam presentes no questionário. Vale ressaltar que as

questões fechadas facilitam a análise das informações, pois os participantes são

obrigados a responder no limite das respostas pré-elaboradas, impedindo a

abordagem de assuntos desnecessários para pesquisa.

O questionário também continha perguntas abertas, o que permite ao

respondente liberdade em suas respostas, sem que haja sugestões pré-elaboradas

para ele assinalar. Outro tipo de questão são aquelas que possuem uma

combinação de perguntas fechadas e abertas, e essas também foram contempladas

no questionário. Esse tipo de pergunta possui as opções de respostas e dependendo

de qual o respondente assinalar ele deverá justificar o porquê. Um exemplo é

quando uma das opções de resposta é “outra”, ou seja, outra alternativa de resposta

que não havia sido descrito em nenhuma das opções anteriores. Nesse caso o

entrevistador poderá perguntar que outra opção o respondente tem, caracterizando a

pergunta para um lado mais aberto.

Por meio do questionário é possível obter respostas mais precisas e

permitir maior liberdade aos informantes, devido ao anonimato e a não influência do

pesquisador. É preciso considerar também que existem desvantagens na aplicação

dessa técnica de coleta de dados, entre elas, o número de questionários que são

retornados, onde muitas vezes possuem perguntas sem respostas; a demora no

retorno do questionário, prejudicando ou impedindo até na sua utilização; e também

a impossibilidade de auxiliar o respondente caso ele não compreenda alguma

questão. Para evitar estas situações, foi enviado junto com o questionário “uma nota

ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância e a necessidade de

obter respostas, tentando despertar o interesse do recebedor para que ele preencha

e devolva o questionário dentro de um prazo razoável.” (MARCONI; LAKATOS,

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2010, p. 86). A carta (anexo 1) foi enviada aos professores via e-mail juntamente

com o link para o questionário.

3.3 ESTUDO PILOTO

Antes da aplicação definitiva do questionário, foi realizado um estudo

piloto, ou seja, o questionário elaborado foi aplicado a duas pessoas antes de ser

enviado aos informantes definitivos da pesquisa. O estudo piloto teve como objetivo

analisar a elaboração das questões do questionário e constatar se essas estão

compreensíveis. Segundo Chizzotti (2003), é importante que o “informante

compreenda claramente as questões que lhe são propostas, sem dúvidas de

conteúdo com termos compatíveis com seu nível de informações, com sua condição

e com suas reações pessoais.” (p. 56). Esses são alguns dos cuidados que o

pesquisador deve ter na elaboração e aplicação de um questionário para que não

ocorram situações de desvantagens que influenciem de modo negativo em sua

pesquisa.

O estudo piloto tem suma importância para uma pesquisa, pois através

dele é possível identificar erros que muitas vezes não são percebidos pelo

pesquisador ao elaborar um questionário, e também, receber sugestões que

acrescentem de forma positiva nos itens do questionário. Para isso, é essencial que

o pesquisador esteja presente no momento em que o participante do estudo piloto

esteja respondendo ao questionário, assim, poderão “discutir às várias questões

relativas ao entendimento dos itens.” (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 128).

Para a amostra do estudo piloto foram selecionadas duas professoras de

música que já haviam atuado em escolas da rede pública de educação básica, uma

com formação em Licenciatura em Música e a outra com formação em Licenciatura

em Educação Artística – Habilitação Música. Como ambas não estavam atuando nas

escolas, foi considerado o último ano de atuação das professoras como referência e

critério para responderem o questionário. A escolha dessas professoras para o teste

piloto foi influenciada pela semelhança delas com o perfil dos professores que

participaram do questionário definitivo. De acordo com Moreira e Caleffe (2008),

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o pesquisador deve escolher indivíduos que provavelmente simpatizam com o trabalho, mas que proporcionarão comentários francos e críticos: o pesquisador quer testar as perguntas da melhor maneira possível antes de enviar o questionário para amostra ou para a população definitiva. (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 128).

É importante que o teste piloto seja aplicado individualmente com os

participantes, assim o pesquisador poderá avaliar como cada pessoa preenche o

questionário, quanto tempo leva e como foram entendidas as perguntas. O

pesquisador “deve encorajar os respondentes a mencionarem qualquer aspecto que

represente dificuldade, mas não oferecer ajuda.” (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p.

129). Nesse momento ele deve identificar a dificuldade do respondente e tentar

reformular o questionário para que não haja dúvida, isso poderá ser feito através de

sugestões do participante.

Para o teste piloto aplicado nessa pesquisa não foi utilizado o programa

Google Docs, mas sim, o papel impresso, estando esta pesquisadora presente no

momento do teste. Isso possibilitou que os respondentes pudessem escrever e

anotar sugestões ao longo do questionário. As sugestões das professoras no teste

piloto foram atendidas, a maioria delas se referia a acréscimos de itens nas opções

de respostas. Após o estudo piloto, o questionário foi reformulado considerando

todas as sugestões das professoras participantes, possibilitando uma melhora na

compreensão do mesmo.

3.4 AMOSTRA

Para a realização da coleta de dados é necessário que haja a aplicação

do questionário a uma amostra. (MOREIRA; CALEFFE, 2008). A seleção da amostra

é um passo importante na pesquisa. Ela tem como objetivo representar uma

proporção da população, trazendo informações relevantes sobre o tema que o

pesquisador esta investigando. Para isso, é necessário que o pesquisador defina os

participantes de sua amostra considerando seu interesse da pesquisa. Não seria útil,

por exemplo, querer investigar a atuação de professores de música e aplicar o

instrumento de coleta de dados a um grupo de pessoas atuantes em outro ramo

profissional.

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Nessa pesquisa o instrumento de coleta de dados, o questionário, foi

aplicado a um grupo de 19 professores de música atuantes nas escolas da rede

pública de educação básica da cidade de Florianópolis/SC. Optou-se por não

identificar se foram professores das escolas municipais e estaduais ou apenas uma

ou outra a fim de preservar a identidade do grupo. A seleção dessa amostra foi

motivada pelo perfil dos professores e pela localidade em que atuam. Considerando

o tema da pesquisa, os professores foram selecionados devido à formação deles em

música, assim como, a atuação nas escolas da rede pública de educação básica.

É importante dizer que não houve seleção individual desses professores,

pois isso evita a imposição dos conceitos ou interesses pessoais do pesquisador. De

acordo com Moreira e Caleffe (2008), “o pesquisador deve ter a certeza de que não

está sendo tendencioso e de alguma forma estar impondo suas noções sobre o que

está tentando descobrir.” (p. 121). Isso não significa que a amostra dessa pesquisa

foi realizada aleatoriamente. A seleção dos participantes se deu conforme a escolha

de um único grupo de professores e esta ocorreu sem que houvesse o

conhecimento de quem eram os sujeitos. Dos 19 sujeitos da amostra, nove

responderam ao questionário.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados é a etapa da pesquisa onde as informações

coletadas são quantificadas e analisadas pelo pesquisador. Além disso, o

pesquisador também deve examinar as associações presentes nos dados obtidos.

Segundo Moreira e Caleffe (2008), no método de survey a análise se divide entre a

descrição e a explicação. Sobre a análise de questionários, os autores apresentam

três fases principais. A primeira é a preparação dos dados, nessa fase o pesquisador

organiza os dados através de uma matriz, dispondo-os de uma maneira fácil para

trabalhar. A segunda fase é a de descrição, aqui o pesquisador “trabalha a partir da

matriz, contando as respostas nas diferentes categorias, calculando proporções e,

possivelmente, aplicando análises estatísticas.” (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p.

136). A terceira e última fase é a interpretação dos dados, ou seja, o conteúdo da

coleta é discutido e fundamentado pelo pesquisador.

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Para a análise dos dados do questionário dessa pesquisa foram definidas

algumas categorias e subcategorias. Essas foram utilizadas como estratégias para

organizar a análise, apresentação e discussão dos dados. As categorias e

subcategorias foram definidas de acordo com os temas das questões elaboradas

para o questionário. Desse modo, cada questão foi classificada em uma das

categorias definidas, e a partir daí, foi realizada a quantificação, análise e discussão

dos dados.

A sequência das perguntas no questionário não é a mesma que a da

apresentação dos dados, isso porque algumas das perguntas que estavam em

ordem no questionário não foram classificadas em uma mesma categoria. Dentro de

algumas das categorias estabelecidas haviam tanto perguntas fechadas quanto

abertas. A análise da pergunta fechada é diferente da pergunta aberta. Enquanto no

primeiro tipo o pesquisador codifica os dados de acordo com as respostas pré-

estabelecidas, no segundo caso ele terá de analisar uma abordagem que o

respondente trouxe sem nenhum incentivo do investigador.

As categorias e subcategorias elaboradas para a análise dos dados dessa

pesquisa partiram de duas grandes áreas: a educação musical e a educação

especial. Essas duas áreas estão diretamente relacionadas e partem de um único

foco: o professor de música. Dentro da área da educação musical foram definidas

três categorias: o perfil do professor, formação acadêmica e atuação profissional. Já

na área da educação especial foram definidas cinco categorias: concepção docente,

alunos, atendimento educacional especializado, atividades musicais e

conhecimentos na área. Para melhor compreensão dos dados, foi elaborado um

mapa conceitual (figura 1) que representa as categorias e subcategorias

mencionadas.

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Figura 1 – Mapa Conceitual.

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4 CARACTERÍSTICAS E SABERES DOCENTES: APRESENTAÇÃO DOS

DADOS

O presente capítulo se refere à apresentação dos dados coletados para o

desenvolvimento desta pesquisa. Essa etapa tem como objetivo descrever e analisar

como os professores de música das escolas da rede pública de educação básica da

cidade de Florianópolis lidam com os alunos deficientes. O capítulo está organizado

em duas partes: a primeira traz informações a respeito da relação do professor de

música com a educação musical e a segunda sobre o seu envolvimento com a área

da educação especial.

4.1 EDUCAÇÃO MUSICAL

4.1.1 Perfil do Professor

A investigação foi realizada com nove professores de música, sendo

esses os respondentes de um grupo de 19 sujeitos, todos tendo sido convidados a

participar da presente pesquisa. Deste modo, os dados obtidos não podem justificar

todo o grupo, no entanto, é possível ter uma noção de como esses professores tem

lidado com a relação que há entre a educação musical e a educação especial. Os

sujeitos dessa pesquisa são todos professores atuantes nas escolas da rede pública

de educação básica da cidade de Florianópolis. Dentre os nove respondentes, seis

são mulheres e dois são homens. Todos os participantes tem idade acima dos 26

anos e a maioria não passa dos 35, como mostra o gráfico 1.

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Gráfico 1 – Idade dos professores.

4.1.2 Formação Acadêmica

A formação acadêmica dos participantes foi um aspecto investigado

necessário para a pesquisa, pois a partir dele foi possível detectar se os sujeitos

eram realmente professores de música formados na área. A preocupação sobre

esse aspecto se deu devido à quantidade de professores formados em Arte ou

mesmo em outra área que atuam como professores de música nas escolas. Esse

não foi o caso dos respondentes dessa pesquisa, pois foi constatado que todos os

professores têm formação superior em música, como mostra o gráfico 2. A maioria é

formada em Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Música.

Gráfico 2 – Curso de graduação.

0

1

2

3

4

Entre 20 a 25 Entre 26 a 35 Entre 36 a 45 Acima de 46

0

1

2

3

4

5

Licenciaturaem Música

Bachareladoem

Instrumento

Licenciaturaem Educação

Artística -Hab. Música

Licenciaturaem Artes -

Música

Outro

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Os professores de música realizaram seu curso de graduação em

universidades localizadas nos estados da região sul do Brasil. Foram identificados

sete sujeitos com formação na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

–, um na Universidade Federal do Paraná – UFPR – e um na Universidade Federal

do Rio Grande do Sul – UFRGS. Como os professores são atuantes em escolas de

Florianópolis, e provavelmente moradores da região, podemos tomar isso como

motivo da grande maioria ter realizado sua graduação em Santa Catarina.

Além do curso de graduação, foi identificado que duas professoras

possuem pós-graduação, uma no curso de especialização e outra no de doutorado.

Também foi observado que três professores, sendo duas mulheres e um homem,

estão cursando uma especialização. Desse modo, foi possível perceber que a

maioria dos professores de música tem interesse em dar continuidade à formação

acadêmica com enfoque na qualificação profissional.

4.1.3 Atuação Profissional

A categoria atuação profissional tem como objetivo identificar os aspectos

profissionais do professor de música frente à escola. Para isso, as perguntas do

questionário referentes a essa categoria foram divididas em duas subcategorias:

atuação na escola e perfil das turmas.

A primeira subcategoria se refere a todos os aspectos que relacionam o

professor de música à escola. Para isso, foi considerado o tempo de atuação do

sujeito na escola da rede pública de educação básica, em quantas escolas trabalha,

quais são elas, e também, quantas horas semanais ele dedica a sua prática docente.

Em relação ao tempo de atuação, foi identificada a presença daqueles

que atuam há menos de um ano, e também, daqueles que já trabalham há mais de

dez anos. O gráfico 3 mostra com mais clareza o tempo de atuação de todos os

professores, sendo que a maioria dos professores trabalha entre 5 e 10 anos.

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Gráfico 3 – Tempo de atuação na escola.

Sabe-se que muitos dos professores, independente da área, atuam em

mais de uma escola. Esse fato também foi verificado nos dados coletados, sendo

constatado que a maioria dos professores de música atua em duas escolas. Dos

cinco professores que trabalham em duas escolas foi identificado que dois deles

atuam tanto em escola da rede pública quanto em escola particular, e três deles

atuam somente em escolas públicas.

Quanto à carga horária dos professores, foi identificado que todos eles

têm no mínimo vinte horas semanais de aula (gráfico 4). A quantidade de horas de

atuação deles está diretamente relacionada ao número de turmas que possuem. Dos

quatro participantes que responderam ter mais de dez turmas foi verificado que

todos trabalham 40 horas semanais. Dentre os quatro que tem até dez turmas, um

afirmou trabalhar 40 horas, outro disse que sua carga horária é mais de 20 horas, no

entanto não chega a 40 horas, e outros dois trabalham 20 horas semanais. Também

foi identificado um professor que trabalha 20 horas semanais tendo cerca de cinco

turmas.

0

1

2

3

Menos de1 ano

1 a 3 anos 3 a 5 anos 5 a 10 anos Mais de 10anos

mer

o d

e p

rofe

sso

res

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Gráfico 4 – Carga horária.

A segunda subcategoria se refere ao perfil das turmas e a relação dos

professores de música com os alunos. No gráfico 5 é possível observar a média de

alunos que cada professor de música tem por turma, ficando evidente que a maioria

dos professores tem turmas com 25 a 30 alunos.

Gráfico 5 – Média de alunos por turma.

A relação dos professores com os alunos se refere especificamente as

atividades que esses sujeitos realizam em suas aulas. No questionário da pesquisa

0

1

2

3

4

5

Menos de 10horas

10 horas 20 horas Mais de 20horas

40 horas

0

1

2

3

4

5

De 10 a 15 De 15 a 20 De 20 a 25 De 25 a 30 De 30 a 40 Mais de 40

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52

foram apresentadas algumas atividades musicais e a maioria dos professores

afirmou que realiza praticamente todas as atividades sugeridas, como teoria musical,

canto, prática instrumental, entre outras (gráfico 6).

Gráfico 6 – Atividades musicais.

Os professores que afirmaram realizar outras atividades, além das

sugeridas, identificaram essas como: “contextualização sobre a música”, “criação” e

“jogos musicais”. Quanto à contextualização, um dos professores descreveu que fala

sobre a “importância e as funções da música com seus alunos”, trazendo também

informações sobre a “história da música”. Esse mesmo professor também citou

trabalhar com a “família dos instrumentos musicais”. Outro respondente afirmou que

ensina aos alunos sobre o “contexto histórico cultural da música”. Um dos sujeitos

respondeu que realiza atividades de “criação” e “jogos musicais”. Algumas das

atividades musicais apresentadas pelos professores como “outras” estão

relacionadas às atividades que foram sugeridas na questão, como, por exemplo,

“percussão instrumental” e “flauta doce” estão presentes no item “prática

instrumental” e “notação musical” está relacionada ao item “teoria musical”.

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4.2 EDUCAÇÃO ESPECIAL

4.2.1 Concepção Docente

Essa categoria se baseia nas concepções que os professores de música

dessa pesquisa têm sobre a educação especial. Além disso, será descrito como eles

se sentem dando aula para alunos com deficiência. Por fim, são apresentadas

algumas opiniões dos docentes sobre como o ensino da música interfere no

desenvolvimento dos alunos deficientes.

Quando perguntados sobre o que entendem por educação especial, a

maioria dos educadores musicais mostrou ter conhecimento da área. Apesar disso,

alguns professores apresentaram concepções que justificam a educação inclusiva e

não a educação especial. Foi possível detectar três tipos de concepções referentes a

essa questão: educação para alunos deficientes, inclusão e musicalização.

Dos nove professores, seis responderam que a educação especial é uma

área voltada para os alunos deficientes. Muitos deles acrescentaram também a

exigência do atendimento educacional especializado, ou seja, a adaptação do ensino

voltado aos alunos com necessidades educacionais especiais. Alguns dos

professores mencionaram sobre os recursos possíveis para tal atendimento, entre

eles a presença de um intérprete (caso haja aluno com surdez na turma) e de sala

multiuso5. O atendimento educacional especializado faz parte da área da educação

especial e deve estar incluído nas propostas escolares. Através dos materiais

adaptados é possível ensinar o aluno deficiente e incluí-lo nas atividades da turma.

Outra concepção observada entre os professores foi sobre a inclusão.

Dois participantes responderam que a educação especial se refere à inclusão de

alunos deficientes nas salas convencionais. O entendimento sobre a inclusão dos

alunos deficientes se refere à educação inclusiva, porém, a educação especial

também apresenta características inclusivas. A opinião de alguns professores se

refere especificamente à educação inclusiva, que tem como objetivo incluir o aluno

5 Sala multiuso: sala de aula presente nas escolas regulares organizada para a realização do

Atendimento Educacional Especializado dos alunos com necessidades educacionais especiais. O

termo sala de multimeios também é utilizado.

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deficiente no sistema regular de ensino. Já a educação especial se refere ao

atendimento especializado dos alunos deficientes. Quando a escola oferece os

recursos necessários para o atendimento do aluno com necessidades educacionais

especiais, ela possibilita a participação desses alunos nas atividades da escola,

permitindo assim uma situação de inclusão.

A última concepção foi observada na resposta de um único professor que

disse que a educação especial se refere à “musicalização dos alunos”. A educação

especial não é uma área voltada ao ensino da música, essa resposta cabe à

educação musical. É possível que esse participante tenha se referido aos alunos

deficientes, porém, não especificou a característica desses. A educação especial

está relacionada ao atendimento dos alunos com deficiência e não aos alunos com

desenvolvimento típico.

No questionário da pesquisa havia duas questões abertas referentes ao

que os professores sentem dando aula de música para alunos deficientes. A primeira

delas questionou a reação desses professores ao descobrir que teriam a presença

de alunos com deficiência em suas aulas. Quatro dos professores responderam que

ficaram “preocupados” devido à “despreparação” que tinham para trabalhar num

contexto inclusivo. Três dos professores afirmaram “procurar auxilio” com

especialistas na área a fim de aprender como trabalhar e como se relacionar com os

alunos deficientes. Apenas um professor se mostrou “normal” ao saber que teria

alunos deficientes em suas aulas. O mesmo disse que procurou conversar com os

demais alunos da turma, explicando a eles que “não se pode medir a capacidade de

aprendizado dos alunos deficientes com os mesmos métodos de provas e trabalhos

realizados com os alunos” de desenvolvimento típico. Um dos professores não

respondeu a essa pergunta.

A segunda questão perguntava exatamente o que os professores de

música sentiam ao dar aula de música aos alunos deficientes. Três professores

demonstraram se sentirem “bem e felizes” com os alunos deficientes, relatando o

interesse desses pelas aulas de música e afirmando sempre incluí-los nas atividades

da turma. Dois professores disseram que “não sentem diferença” em dar aula para

os alunos deficientes e para os alunos com desenvolvimento típico. Porém, um

desses dois professores disse não fazer atividades musicais para os alunos surdos,

justificando que se sentiria um “impostor” se dissesse que dá aula de música para

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um aluno surdo. Tal afirmação não foi esclarecida pelo professor, no entanto pode-

se imaginar que ele acredite que o aluno por ser surdo não seja capaz de realizar

uma atividade musical ou que o próprio professor não possa ensinar música ao

aluno com surdez. Um dos participantes afirmou que se sente “limitado” nessa

situação, procurando sempre a orientação do professor auxiliar de sala. Outro

professor respondeu que se sente “mais desafiado ainda” para realizar as aulas. Um

dos sujeitos se mostrou “normal” ao lidar com os alunos deficientes, afirmando ter

sentido dificuldades apenas uma vez quando teve um aluno que além de não

participar das atividades, dispersava os demais alunos. Por fim, um dos professores

da pesquisa respondeu que sente “uma responsabilidade muito grande”, tanto com o

aluno deficiente quanto com a família dele. Ele mencionou que o aluno deficiente foi

incluído nas escolas regulares a partir da legislação e que por isso as escolas não

tiveram tempo de se organizarem adequadamente para receber os alunos nessa

situação. Por esse motivo, alguns professores ainda se sentem despreparados para

atuar nesse contexto devido à falta de estrutura e de materiais adaptados. Além

disso, esse professor disse que deveria haver mais cursos de formação continuada

voltada aos professores que atendem a esse público.

Para finalizar esse tema, serão apresentadas as opiniões dos professores

sobre como o ensino da música interfere no desenvolvimento dos alunos deficientes.

Dos nove participantes, sete responderam a essa questão. Dentre esses, a maioria

dos professores falou da importância da música para o desenvolvimento tanto dos

alunos deficientes quanto daqueles com desenvolvimento típico. Esses sujeitos

acrescentaram que não se pode generalizar sobre a interferência do ensino musical

no desenvolvimento dos alunos, pois cada indivíduo é diferente do outro e por isso

tem um processo de aprendizado diferente. Apesar disso, os participantes

apresentaram alguns benefícios que a música é capaz de trazer aos alunos

deficientes ou com desenvolvimento típico: “trabalha com questões emocionais e

afetivas”, “desenvolve habilidades mentais”, “auxilia na coordenação motora”,

“melhora a concentração e percepção”, “desenvolve a sensibilização” e “socialização

do aluno”.

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4.2.2 Alunos

A presença dos alunos deficientes nas salas de aula do ensino regular

tem se tornado mais frequente a cada dia. Os indivíduos que apresentam ter alguma

necessidade educacional especial também têm direito à aprendizagem. Essa é uma

questão de igualdade dos direitos humanos e não uma obrigação para as

instituições de ensino. Todos os indivíduos em idade escolar tem o direito ao

aprendizado.

Todos os professores de música afirmaram já ter dado aula para alunos

com deficiência. Na maioria dos casos, esses professores possuem mais de um

aluno deficiente no contexto geral da escola, ou seja, muitos professores têm vários

alunos deficientes, no entanto, cada aluno está em uma turma diferente. O gráfico 7

mostra o número de alunos que cada professor de música teve ou têm. Chama a

atenção um dos professores que afirmou já ter tido 16 alunos com deficiência.

Gráfico 7 – Número de alunos deficientes por professor

Os tipos de deficiência desses alunos também foram questionados aos

professores. O interesse nessa pergunta foi identificar quais tipos de deficiências são

mais frequentes nas escolas da rede pública de educação básica, e também,

verificar a diversidade dos casos com que os professores de música tem lidado

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dentro das salas de aula. Para isso, foram indicadas na questão algumas

deficiências a serem assinaladas e, deste modo, foi possível identificar que todas

elas em algum momento foram apontadas por um ou mais professores de música.

Entretanto, os alunos com Síndrome de Down são os casos mais frequentes nessas

escolas, como mostra o gráfico 8.

Gráfico 8 – Tipos de deficiência.

Além das deficiências sugeridas na questão, alguns professores

apontaram ter outros casos em suas turmas, como baixa visão, hidrocefalia e

dislexia. Um dos professores descreveu ter um aluno cadeirante e com deficiência

mental, porém, não soube identificar o tipo de deficiência desse aluno. Pelas

características apontadas, como dificuldade motora e de dicção, é provável que o

aluno em questão também tenha paralisia cerebral.

Muitas vezes, os professores que atuam num contexto inclusivo não

sabem o diagnóstico dos alunos com deficiência. Isso pode limitá-los pelo fato de

não saberem o que pode ou não ser trabalhado com esses alunos. Além do

professor, o desenvolvimento do aluno deficiente também poderá ser limitado.

Existem casos de professores que deixam de realizar certas atividades que

poderiam ser importantes para o desenvolvimento do aluno, pois acreditam que tal

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indivíduo não seria capaz de realizá-la. Podemos dar o exemplo da aula de música

para o aluno surdo, que apesar de não ouvir, consegue desenvolver outras

características despertadas pela música como: pulsação, vibração, ritmo e

concentração. Desse modo, é essencial que o professor conheça o diagnóstico de

seus alunos para compreender que atividades poderão ser realizadas a fim de

auxiliar no desenvolvimento do aluno deficiente.

As dificuldades que os alunos deficientes apresentam não são motivos

para excluí-los das atividades da turma. Todos são capazes de participar e aprender

durante as aulas, a única diferença que há é no tempo que cada aluno leva para

realizar tais atividades. A participação dos alunos deficientes foi questionada na

pesquisa e a maioria dos professores de música afirma que seus alunos sempre

participam das atividades, como mostra o gráfico 9.

Gráfico 9 – Participação dos alunos deficientes nas aulas de música.

Os alunos deficientes podem participar das aulas de música. A

participação deles nas atividades da turma depende muitas vezes do modo que o

professor se posiciona. É dever do professor incluir o aluno deficiente, estimulando-

o sempre para que ele realize as atividades. O que não pode ocorrer é a negação do

professor pelo aluno, deixando-o em situação de exclusão mesmo estando numa

turma que se diz inclusiva.

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4.2.3 Atividades Musicais

Essa categoria se refere à forma que o professor de música relaciona o

aluno deficiente às atividades musicais. Quando perguntado aos participantes da

pesquisa se eles incluíam seus alunos nas atividades da turma, a maioria afirmou

que sim (ver gráfico 10).

Gráfico 10 – Inclusão dos alunos deficientes nas atividades musicais.

Apesar dos professores de música incluírem os alunos deficientes nas

aulas, cinco deles afirmaram não adaptar as atividades musicais realizadas. De

acordo com as respostas obtidas, quase todos utilizam estratégias simples de

inclusão. Um dos professores disse que “procura ficar sempre próximo” do aluno

cego, fazendo uso do toque físico para orientá-lo. Esse mesmo professor realiza

atividades em duplas ou grupos para que os demais alunos ajudem o colega com

deficiência e para que ele se sinta incluído na turma. Outro professor disse que

trabalha de maneira mais visual as atividades de música a fim de auxiliar o aluno

surdo. A questão visual é essencial nas aulas daqueles professores que tem alunos

surdos. Essa estratégia também é utilizada por outro participante que afirma fazer o

uso de LIBRAS para ensinar as músicas a serem cantadas pelos alunos. Outro

professor mencionou que trabalha algumas vezes junto com o professor auxiliar de

turma, o que permite que o aluno deficiente tenha mais atenção e ajuda para realizar

as atividades. O professor auxiliar é um dos profissionais que realizam o

atendimento educacional especializado.

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4.2.4 Atendimento Educacional Especializado

Essa categoria se refere aos serviços que são oferecidos aos alunos e

professores. Dentre esses foi considerado o atendimento do professor auxiliar de

sala e os materiais pedagógicos adaptados. De todos os professores de música

respondentes do questionário, somente um deles afirmou não ter a presença de um

professor auxiliar durante as suas aulas. Isso mostra que as escolas da rede pública

de educação básica tem se preocupado com o atendimento dos alunos deficientes.

Em relação aos materiais pedagógicos adaptados, 75% dos professores

disse que não os utilizam. Aqueles que fazem uso desses materiais em suas aulas

destacaram utilizar o sistema Braille e a musicografia Braille. Apesar de grande parte

dos participantes não utilizarem os materiais pedagógicos adaptados, a maioria

deles considera necessário o uso desses meios nas aulas de música.

4.2.5 Conhecimento na Área

A presente categoria se refere ao conhecimento que o professor de

música tem em relação à educação especial. Além disso, algumas sugestões dos

participantes sobre os conhecimentos que poderiam ser incluídos nos cursos de

Licenciatura em Música serão aqui tratadas.

Em relação à formação do professor de música, foi questionada se esses

já haviam realizado algum curso referente à educação especial. O gráfico 11 mostra

os resultados, apontando que cerca da metade dos professores de música já

realizou algum curso na área da educação especial.

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Gráfico 11 – Curso referente à educação especial.

Dos participantes que realizaram cursos, apenas um afirmou que seu

conhecimento referente à educação especial auxilia totalmente na sua prática

docente (ver gráfico 12). Com os demais sujeitos nem sempre o conhecimento que

eles possuem na área é satisfatório para sua atuação no contexto inclusivo.

Gráfico 12 – Auxílio do conhecimento em educação especial na prática docente.

Considerando o conhecimento que os participantes têm referente à

educação especial, e também, a possibilidade deles terem alunos deficientes, os

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Sim Não Não, mas sintonecessidade em

fazer

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professores de música foram questionados sobre o que poderia ser incluído nos

cursos de Licenciatura em Música que pudesse auxiliar na prática docente. Dos

nove participantes, dois não responderam a questão justificando não saber o que

dizer. Outros dois não apontaram nenhuma sugestão de conhecimento, afirmando

que não acham importante haver conhecimentos referentes à educação especial

dentro do curso de Licenciatura em Música. Os demais participantes falaram da

importância de tais informações dentro da graduação, trazendo também algumas

sugestões do que poderia ser trabalhado durante o curso.

Os sujeitos que não acham importante ter conhecimento em educação

especial dentro do curso de Licenciatura em Música justificaram suas opiniões. O

primeiro sujeito disse que os professores de música não precisam se ater em

desenvolver técnicas para dar aulas aos alunos deficientes durante o curso. O

segundo acrescentou que a universidade não precisa oferecer tais informações,

sendo dever de cada professor buscar os recursos necessários para atuar com os

alunos deficientes. O mesmo constatou que dentro da universidade não se aprende

como atuar nas escolas e que somente através da prática docente que se podem

obter tais conhecimentos.

Com relação às respostas dos professores que consideram importante ter

o ensino referente à educação especial dentro do curso, foram constatadas diversas

sugestões. Um professor mencionou a importância em ter uma disciplina específica

sobre educação especial onde possa ser discutido o assunto. Dois professores

sugeriram ter informações sobre os tipos de deficiências e sobre como lidar com os

casos de alunos nessa situação. Além disso, falaram em ter no curso técnicas e

sugestões sobre como dar aula num contexto inclusivo. Um professor sugeriu haver

o uso de materiais adaptados que auxiliassem no ensino da música. Por fim, um

professor recomendou que houvesse a elaboração de planejamentos de aulas

específicos para alunos deficientes, sugerindo inclusive, a simulação da atuação em

contexto inclusivo para os professores compreenderem melhor como lidar com o

aluno deficiente. O mesmo falou da importância em ler artigos, estudar a legislação e

ver documentários referentes ao tema, e também, aprender a utilizar e desenvolver

os softwares para o ensino da música aos alunos deficientes.

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5 EDUCAÇÃO MUSICAL E EDUCAÇÃO ESPECIAL: DIÁLOGO ENTRE AS

CONCEPÇÕES DOCENTES E A LITERATURA

O presente capítulo se refere à discussão dos dados descritos no capítulo

anterior e tem como objetivo fundamentar as concepções dos professores através de

um diálogo com a literatura apresentada anteriormente. O capítulo está organizado

de acordo com os seguintes temas: terminologia, educação inclusiva e educação

especial, relatos dos professores de música, música e surdez, benefícios da música

para o aluno deficiente, tipos de deficiência nas aulas de música e formação do

professor de música para o contexto inclusivo.

5.1 TERMINOLOGIA

Nas respostas dos professores de música foi possível constatar uma

variedade de termos referentes aos alunos com deficiência. As denominações

identificadas foram: “aluno especial”, “portador de deficiência”, “deficiente” e “aluno

com necessidade educacional especial”. Essas denominações são comuns perante

a sociedade, porém, algumas já não são mais usadas pela educação especial.

O termo “aluno especial” ainda é muito utilizado. Segundo Morales e

Bellochio (2009), acredita-se que a frequência desse termo ocorre devido ao medo

que as pessoas têm em falar na deficiência ou na limitação de um indivíduo. Não é

errado dizer que tal sujeito tem uma deficiência, até porque ele tem e isso deve ser

aceito pelas pessoas. Além disso, o termo “aluno especial” pode remeter a outro

sentido, como por exemplo, a um aluno que seja querido e estimado pelo professor,

ou ainda, a um aluno muito inteligente.

De acordo com Morales e Bellochio (2009), o termo “portador” de

necessidades educacionais especiais ainda é encontrado nas leis da educação

brasileira, porém, “esta expressão não é mais utilizada no meio da educação

especial, pois tratam-se de pessoas que apresentam características próprias e não

‘portam’ suas deficiências.” (MORALES; BELLOCHIO, 2009, 118-119). Os indivíduos

com necessidades educacionais especiais tem uma deficiência e não podem portá-

la, caso pudessem, provavelmente não o fariam.

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Os termos “aluno deficiente”, “com deficiência” ou “com necessidade

educacional especial” são mais adequados para especificarem os sujeitos nessa

situação. Além de serem simples e objetivos, os termos não atribuem significados

pejorativos ao indivíduo. Independente das denominações utilizadas, o mais

importante é que haja respeito pelos sujeitos nesta situação e o reconhecimento

destes pelas pessoas que são e não pela deficiência que tem. Como afirma Louro

(2006), o importante é entender os “alunos como seres únicos, não apenas

biologicamente, mas também do ponto de vista psico-social.” (p. 38).

5.2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO ESPECIAL

Quando questionados sobre o significado de educação especial, alguns

professores de música disseram que se trata da inclusão dos alunos deficientes nas

salas convencionais, ou seja, nas salas de aula das escolas de educação básica.

Apesar de andarem juntas, a educação inclusiva e a educação especial possuem

concepções diferentes. Enquanto a primeira se justifica como uma prática que

atenda a todos, onde determina a igualdade dos direitos humanos, a segunda se

aplica como serviços especializados que forneçam o atendimento adequado para as

pessoas com necessidades educacionais especiais, auxiliando assim, na inclusão.

Como definição da educação inclusiva, a Política Nacional de Educação Especial na

perspectiva da Educação Inclusiva diz que esta área

constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. (BRASIL, 2008, p. 05).

A partir da década de 90, a inclusão passou a fazer parte das reflexões da

sociedade. Desde então, ela foi sendo considerada um elemento necessário perante

as escolas. Apesar disso, ela ainda se encontra ausente em diversas instituições de

ensino. Carvalho (2005) discute o assunto, partindo de que a inclusão deve ser

considerada como um princípio nas instituições de ensino e não como uma

obrigação. Ela deve ser um processo contínuo e permanente dentro das escolas. A

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inclusão nas escolas é um desafio, pois demanda que haja transformações na

estrutura e nos métodos de ensino para o acolhimento dos alunos deficientes. O

objetivo é definir mudanças na escola para que possam atender todas as crianças,

independente de suas peculiaridades.

O termo inclusão pode referir-se a vários sentidos, dentre eles os espaços

onde ocorre a inclusão (inclusão social, no mundo do trabalho, na escola) e também

em relação aos sujeitos ao qual se refere (etnias, religião, deficiências).

(CARVALHO, 2005). Deste modo, é necessário entender o significado do termo. A

inclusão dentro das escolas, por exemplo, não significa apenas colocar o aluno

deficiente dentro das salas de aula, é preciso que este esteja envolvido no sistema

regular e que participe das aulas como os demais colegas, o que muda é o

atendimento que cada aluno deverá ter de acordo com suas necessidades. Somente

colocar o aluno com necessidades educacionais especiais dentro da sala não

garante que este estará incluso, aliás, o sujeito poderá estar em situação de

exclusão.

Carvalho (2005) indica que há dois tipos de exclusão: uma onde os

professores não aceitam os alunos deficientes em suas turmas e outra onde os

professores aceitam esses alunos em sua turma, porém, coloca-os em um grupo

separado dos alunos com desenvolvimento típico, onde muitas vezes não recebem o

atendimento adequado. De acordo com a autora,

a presença física como justaposição, não garante que os aprendizes estejam integrados uns com os outros, aprendendo e participando de todas as atividades escolares. Além da inserção física, é indispensável que todos os estudantes sejam beneficiados com a inclusão na aprendizagem e com a inclusão social, exercitando e desenvolvendo a plena cidadania. (CARVALHO, 2005, p. 02).

Deste modo, o atendimento educacional especializado deve ser efetuado

sem que haja divisões de capacidades dentro das salas de aula, ou seja, o aluno

com deficiência deve obter o atendimento específico à sua necessidade sem que ele

se sinta fora do sistema regular de ensino. É imprescindível que o sistema regular de

ensino se adapte ao aluno e não o contrário. Dentre os sujeitos da inclusão estão

incluídos aqueles que não têm acesso aos bens e serviços disponíveis. Tratando de

deficiência, esta pode estar presente em pessoas que necessariamente não

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possuem uma deficiência biológica, mas que do mesmo modo possuem dificuldades

em aprendizagem ocasionadas por outros fatores.

Conforme Gonzáles (2007), o atendimento especializado nos casos de

dificuldade no aprendizado não é voltado somente para aqueles alunos com

necessidades especiais permanentes, mas a todos que apresentam alguma

dificuldade em aprendizagem, seja qual for o motivo. De acordo com o autor, “nesse

sentido amplo podem ser incluídos os atrasos na aprendizagem de diferentes

matérias, a lentidão na compreensão da leitura, os problemas na linguagem, os

transtornos emocionais e de conduta, o abandono escolar, o isolamento social, etc.”

(GONZÁLES, 2007, p.18).

Tais dificuldades podem estar associadas a fatores externos encontrados

em situações familiares, sociais e culturais, porém, é na escola que tais dificuldades

se manifestam mais. Os fatores externos têm forte influencia sobre estes alunos e

deste modo devem ser considerados, como “o ambiente de aprendizagem, a

concepção curricular que tivemos, a regulação dos conflitos, os valores e as atitudes

para com as diferenças.” (GONZÁLES, 2007, p.21). O ambiente escolar e a prática

educacional precisam levar em conta essas considerações e atendê-las, pois se seu

atendimento for ineficaz os alunos poderão desenvolver outras dificuldades.

É preciso levar em conta as diferenças e dificuldades encontradas em

cada aluno, aceitando-as e fazendo o possível para atender a todos aqueles sujeitos

que apresentam necessidades educacionais especiais. Definir que um aluno é

diferente e julgá-lo incapaz não irá ajudá-lo a superar suas dificuldades. É

necessário que a sociedade e a escola busquem os recursos adequados ao

atendimento deste aluno, pois todos têm direito ao aprendizado e principalmente a

realização pessoal perante a sociedade.

5.3 RELATOS DOS PROFESSORES DE MÚSICA

Alguns dos professores de música mostraram-se preocupados ao saber

que lidariam com os alunos deficientes. A preocupação é comum entre os

professores que encontram presentes nas suas aulas alunos com necessidades

educacionais especiais. Essa reação, na maioria das vezes, ocorre devido à

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despreparação que os professores têm para atuar num contexto inclusivo. Soares

(2006) afirma que para alguns profissionais da educação a inclusão “ainda é uma

inovação para a qual julgam não estarem preparados.” (p. 05). Além disso, Louro

(2006) aponta que as “escolas e professores muitas vezes ficam receosos de arcar

com alguma responsabilidade sobre a saúde de uma pessoa com deficiência.” (p.

25).

Ensinar o aluno com deficiência é sim uma responsabilidade, assim como

é ensinar qualquer outro aluno com desenvolvimento típico. O caso é que o aluno

deficiente possui características a mais que o professor deve compreender, como os

sintomas e peculiaridades de sua deficiência. O ensino ao aluno deficiente é

possível, assim como é para os demais alunos, a diferença “está no modo e no

tempo que cada um se apropria do conteúdo proposto.” (LOURO, 2006, p. 29). O

professor deve ter consciência de que o processo de ensino do aluno com

necessidade educacional especial é na maioria das vezes mais lenta, e por isso, a

paciência e o estímulo ao sujeito são fatores essências na prática docente.

5.4 MÚSICA E SURDEZ

Durante a apresentação dos dados, um dos professores disse que não faz

as atividades com os alunos surdos, afirmando que se sentiria um “impostor” caso

dissesse que dá aula ao aluno surdo. Devido a essa afirmação, ainda que apenas

uma, sentiu-se a necessidade de criar um tópico específico sobre as práticas

musicais direcionadas ao aluno com surdez.

A afirmação do professor remete à incapacidade na relação do sujeito

surdo com a música. De acordo com Finck (2009), “esta é uma opinião

compartilhada pelo senso comum da população ouvinte e também das comunidades

surdas e vem se perpetuando há anos, sem realmente haver uma reflexão sobre a

possibilidade ou não da sua realização.” (p. 03). Este tipo de concepção pode estar

relacionado há falta de pesquisas na área, o que deixa o professor desinformado

sobre essa questão. Finck (2008) afirma que a possibilidade do desenvolvimento de

um trabalho de música com alunos surdos ainda é desconhecida entre os

professores que atuam com esse público.

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Apesar da diferença nas possibilidades auditivas que há entre o indivíduo

surdo do ouvinte, ambos são capazes de realizar atividades musicais e de aprender

música. Segundo Silva (2008), as atividades na área da educação musical são

possíveis de serem realizadas com os alunos surdos, considerando a utilização das

adaptações necessárias. Essas atividades musicais partem do princípio da vibração,

posto que este seja o modo que o indivíduo surdo percebe os sons. De acordo com

Silva (2008), “a vibração é um parâmetro muito importante para o aluno surdo, pois

através dela ele consegue diferenciar timbres, que para nós é diferenciado através

da audição.” (p. 22).

As adaptações das atividades e dos materiais utilizados são fundamentais

tanto para o professor quanto para o aluno surdo. Finck (2009) afirma que “os

métodos de ensino deverão ser adaptados e modificados para que o aluno surdo

possa tocar com técnica.” (p. 65). O professor deve buscar os meios que ajude no

processo de aprendizagem do aluno com surdez. A utilização da Língua de Sinais

durante as atividades, por exemplo, permite que o professor se comunique com o

aluno sem a ajuda de um intérprete. O contato direto com o aluno surdo permite que

haja uma maior compreensão das informações, posto que seja o próprio professor

de música que está ensinando as atividades.

O professor de música ao realizar as atividades com os alunos surdos

precisa entender que o som ou a audição não é o único elemento a ser trabalhado.

De acordo com Finck (2009), o ato de escutar “engloba três ações: o ouvir, o sentir e

o ver.” (p. 61). A visão é o principal meio de comunicação que o indivíduo surdo tem

com o meio. Deste modo, realizar atividades musicais de modo visual auxilia no

aprendizado musical do aluno.

O processo de aprendizagem musical do aluno deficiente não deve ser

entendido apenas como fator de interesse do aluno, mas também do professor, que

por sua vez, deve procurar os conhecimentos adequados para uma prática docente

inclusiva. A educação é válida quando ambos se empenham para efetivar o

aprendizado. O professor tem a função de educar, para isso ele deve realizar várias

tentativas de ensino que possam incluir o aluno deficiente nas atividades da turma.

O fato de não realizar as atividades devido à crença na impossibilidade de um aluno

surdo aprender música, além de impedir a efetivação do aprendizado deste aluno, o

colocará em situação de exclusão.

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5.5 BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O ALUNO DEFICIENTE

Os participantes da pesquisa apresentaram alguns benefícios dos quais

acreditam que a música é capaz de oferecer ao aluno com ou sem deficiência. De

acordo com as opiniões dos professores, a música é capaz de “trabalhar com

questões emocionais e afetivas”, “desenvolver habilidades mentais”, “auxiliar na

coordenação motora”, “melhorar a concentração e a percepção”, e também,

“desenvolver a socialização do aluno”. Essas concepções são apontadas por

Pereira, Oliveira e Marcio (2008), onde afirmam que

um processo de construção do conhecimento através da musicalização desperta o gosto musical, aflora a sensibilidade, o senso rítmico, a imaginação, a memória, a concentração, a autodisciplina e uma melhor socialização e afetividade; as crianças que nascem com deficiência necessitam extremamente desse processo de integração. (PEREIRA et al., 2008, p. 11).

Louro (2006) afirma que a música pode proporcionar melhoria em vários

aspectos da vida do sujeito, como na autoestima, na dicção, comunicação e

sensibilização. A educação musical tanto educa quanto reabilita, pois “afeta o

indivíduo em seus aspectos principais: físico, mental, emocional e social.” (LOURO,

2006, p. 27). Considerando esses aspectos, pode-se dizer que a música auxilia no

desenvolvimento psicomotor do indivíduo.

A psicomotricidade engloba as características emocionais, cognitivas,

físicas e de desenvolvimento do indivíduo. Considerando esses aspectos, Louro

(2006) aponta algumas atividades musicais que desenvolvem a psicomotricidade do

indivíduo:

andar pela sala na pulsação da música (tônus, equilíbrio dinâmico, consciência têmporo-espacial); exploração de sons ambientais (estimulação auditiva, importantíssima para o desenvolvimento psicomotor); percussão corporal (esquema corporal, noção espacial, tônus, lateralidade); jogos de improvisação (estimulação da criatividade, expressão e conceitos); imitações de movimentos com o corpo (estimulação visual, coordenação motora, esquema corporal); tocar instrumentos de percussão ou outros (tônus, lateralização, orientação espacial, temporal e esquema corporal); montar pequenos grupos instrumentais (tônus, equilíbrio estático, consciência espacial e lateralização); cantar (estimulação do aparelho fonador (tônus),

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articulação, respiração, afinação – esquema corporal). (LOURO, 2006, p. 59-60).

O ensino da música, além do aprendizado musical, proporciona benefícios

para o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Contudo, os participantes da pesquisa

mostraram-se conscientes e informados sobre as funções da música na vida dos

indivíduos, sejam eles deficientes ou não.

5.6 TIPOS DE DEFICIÊNCIA NAS AULAS DE MÚSICA

De acordo com Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –

LDBEN, a Lei 9.394/96, os alunos com necessidades educacionais especiais tem o

direito à educação. O acesso desses sujeitos às escolas de educação básica

possibilitou o encontro dos professores de música com os casos de deficiência. Esse

contato pode ser confirmado nesta pesquisa, onde foi constatado que todos os

participantes têm alunos com deficiências em suas aulas.

As deficiências identificadas pelos professores de música foram:

Síndrome de Down, autismo, surdez, cegueira, baixa visão, paraplegia, paralisia

cerebral, hidrocefalia, dislexia e deficiência múltipla. De todas as deficiências foi

constatado que a presença de alunos com Síndrome de Down é mais frequente nas

aulas de música.

Durante a pesquisa, um dos respondentes não soube identificar o tipo de

deficiência de um determinado aluno. Entretanto, esta situação é comum nas

escolas, onde muitos professores, não só os de música, não têm conhecimento nem

acesso ao diagnóstico de seus alunos. A falta de informações sobre as deficiências

pode limitar o professor na realização de atividades por não saber o que o aluno

deficiente pode ou não realizar. De acordo com Louro (2006),

uma das coisas mais importantes para o professor de música que pretende se especializar na área da educação musical para pessoas com deficiência, ou mesmo, pretende estar aberto para inserir em suas aulas de música essas pessoas é ter informações básicas a respeito das deficiências. (LOURO, 2006, p. 35).

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Como a inclusão não é opcional, mas sim, obrigatória nas escolas de

educação básica, o conhecimento sobre as deficiências torna-se necessário para

todos aqueles que lidam com educação. Através de informações a respeito das

deficiências, o professor de música poderá realizar as atividades estando consciente

daquilo que o indivíduo com deficiência necessita para auxiliar em seu

desenvolvimento. Por exemplo, alunos com deficiência mental necessitam de

“atividades que estimulem o desenvolvimento dos processos mentais: atenção,

percepção, memória, raciocínio, imaginação, criatividade e linguagem.” (ALVES;

GOTTI, 2006, p. 78). Esses aspectos devem ser estimulados, pois os indivíduos com

deficiência mental têm dificuldades nestes pontos, como o raciocínio lógico e a

abstração. Deste modo, Louro (2006) afirma que o professor deve

sempre partir do concreto para o abstrato, bem como, construir o raciocínio lentamente com ele. Ou seja, não adianta explicar muitas vezes a mesma coisa, ele vai continuar não entendendo nada. Por isso incentivamos a relacionar sempre o que está dizendo com algo concreto. (LOURO, 2006, p. 98).

Aos alunos com deficiências físicas é importante que o professor

desenvolva atividades onde o sujeito se sinta fisicamente confortável. O professor

precisa estar consciente de que muitas atividades musicais não podem ser

realizadas por alunos com deficiência física. Deste modo, a adaptação se torna

imprescindível para a realização das atividades. De acordo com Louro (2006), “o

ideal é o professor nunca deixar um aluno de fora da atividade e sempre adaptar de

forma que ele não fique constrangido.” (p. 104).

As atividades direcionadas aos indivíduos com surdez devem ser visuais,

pois o aluno surdo percebe o movimento à sua volta através da visualização. Se o

aluno com essa característica fosse vendado, por exemplo, não saberia o que

estaria sendo realizado à sua volta. Atividades como apreciação sonora – onde

muitos professores de música realizam o exercício pedindo aos alunos que fechem

os olhos – não seria adequada e muito menos efetuada pelo aluno surdo. De acordo

com Finck (2009) para que o professor possa “ajudar um indivíduo surdo a construir

seus próprios conceitos da música e a compreendê-los é preciso ensinar música ao

surdo utilizando o corpo inteiro, através dos movimentos.” (p. 65). Trabalhar a

intensidade nas aulas de música também requer algumas estratégias. Caso o

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professor faça o uso de algum instrumento de percussão, como o surdo, é

importante que este seja executado de maneira mais forte possível, deste modo “o

aluno com deficiência auditiva conseguirá perceber melhor do que quando o

instrumento for tocado de forma fraca.” (LOURO, 2006, p. 101-102). Colocar o aluno

surdo perto da fonte sonora fará com que ele perceba melhor a vibração, seja ela

forte ou fraca.

No caso dos alunos com deficiência visual o princípio de sua percepção

com o meio parte da fonte sonora. De acordo com Louro (2006), é necessário que a

estimulação envolva aspectos tátil-cinestésico (tato e movimento), auditivo, olfativo e

gustativo. Pode-se perceber que para realizar atividades com alunos cegos é

necessário que o professor trabalhe com os demais sentidos do indivíduo. Como

afirma Sezerino (2010), “o diferencial está na ação de utilizar os outros sentidos para

esse desenvolvimento individual.” (p. 22).

Os alunos com deficiência podem e devem participar das atividades. Este

fato é constatado nas respostas dos participantes desta pesquisa, onde foi

identificado que a maioria dos alunos deficientes desses professores participa das

atividades musicais. Deste modo, cabe ao professor compreender sobre as

deficiências de modo que facilite na sua prática docente, e também, na realização

das atividades pelos alunos com deficiências. As considerações acima são apenas

algumas entre as diversas informações que podem auxiliar o professor de música

que tem alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver seus

planos de aula.

5.7 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MÚSICA PARA O CONTEXTO

INCLUSIVO

Cerca da metade dos participantes deste estudo já realizaram algum

curso referente à educação especial, no entanto, apenas um professor afirmou que

seu conhecimento auxilia totalmente em sua prática pedagógica. Os cursos que

esses professores realizaram foram efetivados somente após o término do curso de

graduação, pois a educação especial não era considerada uma disciplina obrigatória

nos currículos durante o período em que estavam na faculdade. Essa realidade é

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confirmada por Soares (2006) quando diz que “os cursos de graduação parecem não

contemplar a formação para tal prática.” (p. 03).

Outros participantes disseram que não realizaram nenhum curso, porém,

sentem necessidade em fazê-lo. O trabalho de Soares (2006) também aponta que

muitos profissionais da educação julgam não estarem preparados para atuarem em

contexto inclusivo. Finck (2009) acrescenta que estes professores “sentem-se

despreparados para o trabalho, necessitando, certamente, de ajuda e apoio para

darem as respostas educacionais necessárias à aprendizagem dos alunos com

deficiência.” (p. 31-32).

A maioria dos professores desta pesquisa falou da importância em haver

informações ou até mesmo uma disciplina sobre a educação especial dentro dos

cursos de graduação. Os mesmos acrescentaram alguns conhecimentos a serem

abordados nos cursos, como: compreender os tipos de deficiências, desenvolver

práticas docentes no contexto inclusivo, estudar as leis que tangem a inclusão e

educação especial, e também, aprender a utilizar softwares para o ensino da música

aos alunos deficientes. Segundo Louro (2006), “os educadores da área musical

estão cada vez mais sentindo a necessidade de ampliar suas metodologias em prol

da diversidade.” (p. 31). A autora acrescenta que,

o professor deve tomar conhecimento do processo de desenvolvimento e aprendizagem, ser capaz de criar adaptações, compreender aspectos da psicomotricidade, informar-se sobre as características básicas das deficiências, entre outros assuntos, para que possa lidar com os novos desafios e superar as dificuldades. (LOURO, 2006, p. 32).

A necessidade para tais aspectos demonstram a importância em haver no

currículo do curso de música um embasamento sobre a educação especial. No

entanto, é preciso considerar que “uma titulação não indica estar pronto para a

atuação, já que há a necessidade de rever a prática.” (SOARES, 2006, p. 85). Deste

modo, a prática com alunos com deficiência também poderá ser realizada nos

cursos de graduação em música através do estágio supervisionado. De acordo com

Finck (2009),

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a Portaria 1.793/94 do MEC recomenda além de estágios com alunos, a inclusão nos cursos de formação de professores e de outros profissionais, de disciplina ou de itens em disciplinas do currículo referentes, ao atendimento especializado à alunos com deficiência. (FINCK, 2009, p. 32).

Segundo Soares e Cortegoso (2004), a capacitação dos professores de

música para atuarem com alunos com necessidades educacionais especiais é

importante devido à presença desses indivíduos nas escolas de educação básica.

Além disso, Soares (2006) afirma que “é importante, também, que estes cursos

favoreçam a reflexão sobre a inclusão, tendência segundo a qual a sociedade deve

reorganizar-se para atender todas as pessoas sem discriminações ou rotulações,

valorizando as diferenças, sejam elas quais forem.” (p. 05). Contudo, foi constatado

que os professores de música necessitam de informações sobre as características

dos alunos que apresentam alguma deficiência, assim como, de conhecimentos no

que diz respeito à prática musical inclusiva.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa permitiu responder à minha questão inicial,

pois a presença de alunos com necessidades educacionais especiais nas aulas de

música é concreta e a maioria dos professores de música, participantes deste

estudo, inclui os alunos com deficiência nas atividades da turma. Porém, ainda há

casos de aulas de música onde o aluno deficiente está apenas presente na sala e

não incluído. Esse fato foi identificado entre os participantes, onde foi constatado

que alguns professores de música não realizam as atividades com determinados

alunos.

Várias são as razões que podem justificar essa exclusão ou dificuldade de

incluir o aluno com deficiência nas atividades. Entre elas, comento as encontradas

neste estudo: o professor não acreditar na possibilidade do indivíduo com deficiência

realizar uma atividade musical, a falta de conhecimentos específicos na área de

educação especial e o grande número de alunos em sala de aula versus recursos

materiais e humanos disponíveis.

A crença de que o aluno deficiente não é capaz é uma concepção que

limita tanto o professor de música quanto o aluno deficiente. O professor que não

busca os meios para incluir todos os alunos nas atividades musicais, considerando

as diversas propostas possíveis, estará restringindo seus conhecimentos referentes

à prática musical pedagógica. Já os alunos excluídos das atividades não poderão

usufruir dos prazeres e benefícios que a música é capaz de proporcionar.

A exclusão dos alunos com deficiência das atividades das aulas de

música também é constatada devido à falta de preparo dos professores de música

para a inclusão. Os participantes da pesquisa, por mais que atuem com alunos

deficientes, ainda se sentem despreparados para ensiná-los. A falta de informação

ocorre, por um lado, devido à pouca quantidade de cursos que abordem sobre a

educação especial no contexto da educação musical e, por outro, pelo fato da

maioria dos professores terem sido formados no curso de Licenciatura em Educação

Artística, curso que atualmente está em extinção, e que naquele momento não

oferecia algum contato com a área de educação especial. Com isso, os recursos

para a prática musical docente no contexto inclusivo não fazem parte do

conhecimento do professor de música.

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Constatou-se que as informações acerca da educação especial são

relevantes para a formação do professor de música. A maioria dos participantes

falou da importância em ter uma disciplina ou item que aborde a educação especial

nos cursos de graduação em música. Os conhecimentos sugeridos para a

graduação em música pelos professores da pesquisa foram: informações sobre os

tipos de deficiência, prática musical docente para o contexto inclusivo, utilização dos

softwares para os alunos com deficiência, elaboração de planejamentos de aula para

o contexto inclusivo, ler artigos e estudar as legislações acerca da educação

especial e inclusão.

A maioria dos professores que participaram desta pesquisa informou que

trabalha 40 horas semanais em duas escolas e tem em média 25 a 30 alunos em

sala de aula. Frente a esta realidade é fácil entender as dificuldades de planejar e

dar aulas incluindo alunos deficientes, pois ainda que os professores de música

contem com um professor auxiliar são muitas as variáveis a serem controladas para

o sucesso da aula. Penso que o número de alunos é muito grande para as aulas de

música, mesmo sem contar com a presença de alunos deficientes que de alguma

forma exigem uma abordagem diferenciada.

Contudo, foi possível identificar que os professores de música se

importam com a inclusão, no entanto, ainda não estão preparados para tal. Nota-se

também, a importância dos cursos de graduação em música oferecerem disciplinas

que preparem o professor que terá alunos com necessidades educacionais

especiais. O curso de Música-Licenciatura da UDESC, onde a maioria dos

participantes estudou, já tem em sua grade curricular as disciplinas de Língua

Brasileira de Sinais – LIBRAS – e Introdução à Educação Musical Especial.

Observa-se que esta é uma tendência atual na formação de professores de qualquer

área.

Este trabalho trouxe informações a respeito da educação especial que

poderão auxiliar o professor de música em sua prática pedagógica como:

informações a respeito das deficiências, considerações acerca dos benefícios que a

música pode proporcionar ao aluno deficiente, e também, esclarecimentos sobre as

terminologias utilizadas e sobre a diferença entre a educação especial e a educação

inclusiva. A partir disso posso vislumbrar outros trabalhos complementares a este

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como, por exemplo, conhecer a prática pedagógica dos professores in loco, já que

nesta investigação os dados foram coletados apenas por meio de um questionário.

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ANEXOS

Anexo 1 – Carta direcionada

Carta Direcionada aos Professores de Música Atuantes nas Escolas Básicas

de Florianópolis

Prezado(a) professor(a),

Venho por meio desta mensagem convidá-lo a responder um questionário que tem

como tema a relação do professor de música com a educação especial. Esta

pesquisa refere-se ao meu trabalho de conclusão de curso em Licenciatura em

Música. Sua colaboração é muito importante.

O questionário encontra-se no link abaixo:

https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?fromEmail=true&formkey=dFg5dndY

eUtsWEpycUhzVW1ndkYxd1E6MQ

Desde já agradeço imenso a sua atenção.

Atenciosamente,

Dulcinéia Machado

Acadêmica do curso de Licenciatura em Música

Universidade do Estado de Santa Catarina

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Anexo 2 – Questionário

QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES DE MÚSICA

Tema: Educação Especial

Agradeço sua colaboração no preenchimento deste questionário que tem como

objetivo coletar dados para a elaboração do meu trabalho de conclusão de curso

sobre a formação de professores de música e educação especial. Ressalto que sua

identidade será preservada para efeitos de publicação. Estão dispostas abaixo 30

questões. Assinale ou preencha os espaços com as informações solicitadas.

1. Sexo:

[ ] Feminino

[ ] Masculino

2. Qual a sua idade:

[ ] Entre 20 a 25

[ ] Entre 26 a 35

[ ] Entre 36 a 45

[ ] Acima de 46

3. Você tem algum curso superior?

[ ] Sim

[ ] Não

4. Qual o curso de graduação que você cursou?

[ ] Licenciatura em Música

[ ] Bacharelado em Instrumento (violão, violino, piano, canto ou outros)

[ ] Licenciatura em Educação Artística – Habilitação Música

[ ] Licenciatura em Artes – Música

[ ] Outro.

Se outro, qual? __________

5. Em qual instituição você estudou?

[ ] FURB

[ ] UDESC

[ ] UERGS

[ ] UNIPLAC

[ ] UNIVALI

[ ] UFSC

[ ] EMPAP

[ ] UFPR

[ ] FAP

[ ] UEM

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[ ] UEL

[ ] UFRGS

[ ] Outra

Se outra, qual? __________

6. Você tem pós-graduação?

[ ] Sim

[ ] Não

Se sim, assinale qual o curso.

[ ] Especialização

[ ] Mestrado

[ ] Doutorado

7. Você está cursando alguma pós-graduação?

[ ] Sim

[ ] Não

Se sim, assinale qual o curso.

[ ] Especialização

[ ] Mestrado

[ ] Doutorado

8. Há quanto tempo você atua como professor de música na escola básica da rede

pública?

[ ] Menos de 1 ano

[ ] 1 a 3 anos

[ ] 3 a 5 anos

[ ] 5 a 10 anos

[ ] Mais de 10 anos

9. Em quantas escolas da rede pública você trabalha?

[ ] Uma

[ ] Duas

[ ] Mais de duas

10. Em qual escola você trabalha? Cabe resposta múltipla.

[ ] Federal

[ ] Estadual

[ ] Municipal

[ ] Particular

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11. Quantas horas semanais você dá aula de música na escola básica da rede

pública?

[ ] Menos de 10 horas

[ ] 10 horas

[ ] 20 horas

[ ] Mais de 20 horas

[ ] 40 horas

12. Para quantas turmas você dá aula de música na escola básica da rede pública?

[ ] Até cinco

[ ] Até dez

[ ] Mais de dez

13. Qual é a média de alunos que você tem por turma?

[ ] De 10 a 15

[ ] De 15 a 20

[ ] De 20 a 25

[ ] De 25 a 30

[ ] De 30 a 40

[ ] Mais de 40

14. Com que frequência você planeja suas aulas?

[ ] Diariamente

[ ] Semanalmente

[ ] Mensalmente

[ ] Semestralmente

[ ] Anualmente

[ ] Nunca

15. Que tipos de atividades musicais você trabalha com os alunos?

Cabe resposta múltipla.

[ ] Teoria musical

[ ] Canto

[ ] Prática instrumental

[ ] Apreciação musical

[ ] Percussão corporal

[ ] Outras

Se outras, quais? __________

16. O que você entende por educação especial?

__________

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17. Você já teve ou têm alunos com deficiência em suas aulas?

[ ] Sim

[ ] Não (Pule para questão 27)

Se sim, descreva quantos.

__________

18. Que tipos de deficiência esses alunos tinham ou têm? Cabe resposta múltipla.

[ ] Síndrome de Down

[ ] Autismo

[ ] Surdez

[ ] Cegueira

[ ] Paraplegia

[ ] Paralisia cerebral

[ ] Deficiência múltipla (quando há duas ou mais deficiências associadas)

[ ] Outras

Se outras, quais? __________

19. Qual a sua reação ao descobrir que teria alunos com deficiência?

__________

20. Há professor auxiliar para esses alunos durante as suas aulas?

[ ] Sim

[ ] Não

21. Você inclui o aluno com deficiência nas atividades da turma?

[ ] Sempre

[ ] Às vezes

[ ] Raramente

[ ] Nunca

22. Você adapta as atividades musicais para o alunos deficiente?

[ ] Sim

[ ] Não

Se sim, descreva como.

__________

23. Você utiliza material pedagógico adaptado para realizar as atividades com os

alunos deficientes?

[ ] Sim

[ ] Não

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Se sim, descreva quais.

__________

24. Você acha necessária a utilização do material pedagógico adaptado?

[ ] Sim

[ ] Não

25. Os alunos deficientes participam das atividades?

[ ] Sempre

[ ] Às vezes

[ ] Raramente

[ ] Nunca

26. Descreva em poucas palavras como você se sente dando aulas para alunos

deficientes.

__________

27. Você já realizou algum curso referente à Educação Especial?

[ ] Sim

[ ] Não

[ ] Não, mas sinto necessidade em fazer

28. O conhecimento que você tem referente ao atendimento educacional

especializado auxilia na sua prática docente?

[ ] Sim, absolutamente

[ ] Sim, em sua maioria

[ ] Não realmente

[ ] Definitivamente não

[ ] Não tenho conhecimento na área

29. Em sua opinião, de que modo o ensino musical interfere no desenvolvimento dos

alunos com deficiência?

__________

30. Considerando a possibilidade de haver alunos deficientes em sala de aula, que

tipo de conhecimento você sugeriria a ser incluído nos cursos de Licenciatura em

Música?

__________