universidade do algarve faculdade de ciências e … · segunda parte realizou-se um ensaio in vivo...
TRANSCRIPT
i
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Testes com novos fármacos no tratamento do parasita de peixes Amyloodinium ocellatum
Mónica Cristina Lopes Amaral
Dissertação
Mestrado em Aquacultura e Pescas
(Especialidade em Aquacultura)
Trabalho efetuado sob a orientação de:
Professor Doutor Adelino V. M. Canário
Doutor Pedro M. Guerreiro
2013
ii
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Testes com novos fármacos no tratamento do parasita de peixes Amyloodinium ocellatum
Dissertação
Mestrado em Aquacultura e Pescas
(Especialidade em Aquacultura)
Autora:
Licenciada Mónica Cristina Lopes Amaral
Trabalho efetuado sob a orientação de:
Professor Doutor Adelino V. M. Canário, Universidade do Algarve
Doutor Pedro M. Guerreiro, Centro de Ciências do Mar do Algarve
2013
iii
Testes com novos fármacos no tratamento do parasita de peixes Amyloodinium ocellatum
Declaração de autoria de trabalho
Declaro ser a autora deste trabalho, que é
original e inédito. Autores e trabalhos
consultados estão devidamente citados no
texto e constam da listagem de referências
incluída.
A autora:
(Mónica C. L. Amaral)
Copyright® by Mónica Amaral
A Universidade do Algarve tem o direito, perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e
publicitar este trabalho através de exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma
digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que venha a ser inventado, de o divulgar
através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos
educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e
editor.
iv
À minha família,
"I think using animals for food is an ethical thing to do,
but we've got to do it right. We've got to give those animals
a decent life and we've got to give them a painless death.
We owe the animal respect."
Temple Grandin
v
Agradecimentos
Ao Professor Doutor Adelino Canário, pelos conselhos valiosos na escrita desta tese e pela
disponibilidade demonstrada durante o decorrer deste estudo.
Ao Doutor Pedro Guerreiro pela disponibilidade ao longo de todas as etapas deste estudo,
pelo seu bom humor, por todos os conselhos e principalmente pela sua paciência.
À Piscicultura do Vale da Lama, Lda. pela realização de várias tarefas nas suas instalações e
pelo interesse demonstrado neste estudo.
Ao Grupo de Síntese e Reactividade Orgânica do Centro de Ciências do Mar pelo
fornecimento dos fármacos utilizados neste estudo.
À Paula Canada pela ajuda inicial, pela transmissão dos seus conhecimentos e pelo interesse
por este estudo.
À Elsa pela ajuda, disponibilidade e palavras sempre simpáticas durante o tempo passado no
laboratório.
À minha família por me terem sempre apoiado em todas as decisões ao longo da vida.
Principalmente aos meus pais, responsáveis pelo que sou hoje e que tornaram possível a
realização do sonho de estudar aquacultura.
Às amizades de infância, da Universidade de Évora, da Universidade do Algarve, de Erasmus
e às conquistadas durante a vida. Por vezes simples palavras foram essenciais para atingir os
meus objectivos.
E em especial ao Bruno (Shark), por tudo.
A todos,
Muito Obrigada!
vi
Testes com novos fármacos no tratamento do parasita de peixes Amyloodinium ocellatum
Resumo
O Amyloodinium ocellatum é um parasita dinoflagelado que aparece em aquaculturas
por todo o mundo, infectando as brânquias e o tegumento dos peixes. Esta parasita é
particularmente relevante na aquacultura mediterrânica onde os surtos causam perdas
consideráveis. Apesar de já terem sido experimentados vários tratamentos, nenhum deles se
revelou efectivo na erradicação do parasita e ainda alguns dos químicos utilizados podem ter
importantes efeitos nocivos sobre o ambiente. Deste modo, o objectivo deste estudo foi testar
novos fármacos para impedir o desenvolvimento e/ou eliminar o parasita em peixes já
infectados. Os fármacos utilizados neste estudo foram endoperóxidos, uma recente classe de
antimaláricos. Na primeira parte deste estudo realizaram-se ensaios in vitro onde se testaram
os efeitos de diferentes concentrações (0,1mM; 1 mM; 2mM e 2,5mM) dos fármacos NAD17,
NAD19, LCD93 e LCD67A sobre a divisão dos tomontes. Às 24 e 48 horas de exposição a
0,1mM NAD19 e 1mM LCD93, os tomontes observados não tinham entrado em divisão. Na
segunda parte realizou-se um ensaio in vivo no qual os fármacos foram administrados a
juvenis de dourada (Sparus aurata) a uma concentração de 10µmol/kg através de tratamento
oral. No ensaio in vivo avaliou-se o possível efeito profiláctico dos fármacos na infecção
através da análise da abundância e prevalência do parasita, da eficácia dos fármacos e dos
efeitos do parasita e do tratamento na fisiologia e no eixo do stress dos animais infectados
através de análises enzimáticas e de parâmetros bioquímicos do sangue. As medições
realizadas ao plasma sanguíneo e às brânquias de douradas com diferentes níveis de infecção
de A. ocellatum revelaram que não existe diferença significativa entre os controlos e os
endoperóxidos para a dose testada. Será necessário realizar mais ensaios para obter
conclusões sobre o efeito dos endoperóxidos no controlo do parasita de peixes A. ocellatum.
Palavras-chave: Amyloodinium ocellatum, endoperóxidos, fármacos, parasita de peixes.
vii
Trials with new drugs in the treatment of the fish parasite Amyloodinium ocellatum
Abstract
Amyloodinium ocellatum is a dinoflagellate parasite that occurs in aquacultures all
over the world, infecting the gills and integument of fish. This parasite is particularly relevant
in the Mediterranean Aquaculture, where the outbreaks cause considerable losses. Although
there are several treatments, none of them managed to completely eradicate the parasite and,
some of the compounds used may cause important adverse effects in the environment. Thus,
the aim of this study was to test new drugs that could hold back the parasite development or
eliminate it in fish that were already contaminated. The drugs tested were endoperoxides, a
recent type of antimalarials. Trials in vitro were conducted to assess the drugs effect, in
different concentrations (0,1mM; 1mM; 2mM and 2,5mM) of NAD17, NAD19, LCD93 and
LCD67A, in the division of the tomontes. In the tomontes exposed to concentrations of
0,1mM NAD19 and 1mM LCD93 didn’t occur division at 24 and 48 hours. In the second
part of the experiment, trials in vivo were made in which the drugs where administrated to the
seabream juveniles, with a concentration of 10µmol/kg, via oral treatment. In this trial it was
evaluated the possible prophylactic effect caused by the drugs in the infection through
analysis of the abundance, efficiency and prevalence of the parasite. The efficiency of the
drugs and the effects of the parasite, and their impact on the physiology and stress axis of fish
were also evaluated using an array of biochemical analysis on plasma. The analysis made in
the plasma and gills of seabream with different levels of infection with A. ocellatum revealed
no significant difference between the controls and the endoperoxides, for the tested dosages.
It will be necessary to perform more trials to obtain better conclusions about the
endoperoxides effect in the control of the fish parasite A. ocellatum.
Keywords: Amyloodinium ocellatum, endoperoxides, drugs, fish parasite.
viii
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1. Patogenicidade em aquacultura ............................................................................................... 1
1.2. Amiloodiniose – informação geral .......................................................................................... 2
1.3. Taxonomia ............................................................................................................................... 2
1.4. Ciclo biológico e morfologia ................................................................................................... 3
1.5. Factores ecológicos que afectam o crescimento ...................................................................... 4
1.6. Principais hospedeiros e distribuição geográfica .................................................................... 5
1.7. Transmissão ............................................................................................................................. 7
1.8. Diagnóstico da infecção .......................................................................................................... 7
1.9. Sinais clínicos/patologia .......................................................................................................... 8
1.9. Resistência imunológica dos peixes a Amyloodinium ocellatum ............................................ 9
1.9.1. Imunidade inata ............................................................................................................... 9
1.9.2. Imunidade adquirida ...................................................................................................... 10
1.10. Profilaxia e Tratamento (químico, físico e biológico) ....................................................... 11
1.11. Aplicações de antimaláricos em aquacultura..................................................................... 13
2. Objectivos ...................................................................................................................................... 14
3.1. Espécies – alvo ...................................................................................................................... 15
3.3. Diagnóstico da infestação ...................................................................................................... 16
3.4. Recolha de parasita ................................................................................................................ 16
3.5. Fármacos ............................................................................................................................... 18
3.6. Ensaios in vitro ...................................................................................................................... 20
3.6.1. Observação do ciclo de vida do parasita ....................................................................... 20
3.6.2. Exposição aos endoperóxidos........................................................................................ 22
3.7. Ensaio in vivo ........................................................................................................................ 23
3.7.1. Tratamento..................................................................................................................... 23
3.7.2. Circuito experimental .................................................................................................... 24
3.7.4. Infecção dos animais-alvo ............................................................................................. 26
3.7.5. Amostragem biológica .................................................................................................. 26
3.7.6. Análises bioquímicas ..................................................................................................... 27
3.7.6.1. Análises ao plasma .................................................................................................... 27
3.7.6.2. Medição da actividade Na+, K
+ - ATPase nas brânquias ........................................... 28
3.8. Análise estatística .................................................................................................................. 29
ix
4. Resultados ..................................................................................................................................... 30
4.1. Isolamentos ............................................................................................................................ 30
4.2. Ensaios in vitro ...................................................................................................................... 31
4.2.1. Observação do ciclo de vida do parasita ....................................................................... 31
4.2.2. Exposição aos endoperóxidos........................................................................................ 33
4.2.2.1. Abundância relativa do parasita ................................................................................ 33
4.2.3. Índice de desenvolvimento do parasita .......................................................................... 37
4.3. Ensaios in vivo ...................................................................................................................... 39
4.3.1. Animais ......................................................................................................................... 39
4.3.2. Infecção ......................................................................................................................... 39
4.3.3. Metabolitos .................................................................................................................... 42
4.3.4. Osmorregulação ............................................................................................................. 49
4.3.5. Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo ....................................... 55
5. Discussão ....................................................................................................................................... 58
6. Conclusão ...................................................................................................................................... 65
7. Considerações finais ...................................................................................................................... 65
Referências bibliográficas ..................................................................................................................... 66
x
Índice de figuras
Figura 1.1 – Ciclo de vida de A. ocellatum………………………………………………….....3
Figura 1.2 – Endoperóxidos antimaláricos (1- artimisinina, 2- trioxalano OZ439, 3-
tetraoxano) (O’neill et al., 2010) …………………………………………………………….14
Figura 3.1 – Cronograma das etapas do ensaio in vivo………………………………………23
Figura 3.2 – Circuito experimental…………………………………………………………...25
Figura 4.2 – Abundância relativa do estado do parasita ao longo do tempo quando não esteve
a 4ºC (a) e quando esteve 1 dia a 4ºC (b) (n = variável)…………………………………...…32
Figura 4.3 - Índice de desenvolvimento do parasita ao longo do tempo quando não esteve a
4ºC e quando esteve 1 dia a 4ºC………………………………………………………………33
Figura 4.4 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 0,1mM de NAD17 (a), NAD19 (b) e LCD93 (c) às 24h e às 48h
(n=variável)…………………………………………………………………………………...34
Figura 4.5 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 1mM de NAD17 (a), NAD19 (b), LCD93 (c) e LCD67A (d) às 24h e às 48h
(n=variável)……………………………………………………………………………...……35
Figura 4.6 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 2 e 2,5mM de NAD17 (a), NAD19 (b) e LCD67A (c) às 24h e às 48h
(n=variável)………………………………………………………………………….………..36
Figura 4.7 - Índice de desenvolvimento do parasita quando exposto a NAD17 (a), NAD19 (b),
LCD93 (c) e LCD67A (d) a diferentes concentrações às 24 e 48 horas……………………..37
Figura 4.8 – Índice de desenvolvimento do parasita quando exposto a NAD19 a diferentes
concentrações às 24 e 48 horas……………………………………………………………….38
Figura 4.9 – Quociente do Índice de desenvolvimento do parasita do NAD19 e do respectivo
índice do controlo às 24h e 48h………………………………………………………………38
Figura 4.10 – Abundância média (número total de parasitas observados em 20 filamentos
branquiais/número de peixes examinados) de douradas infectadas ( ) e não infectadas ( )
com A. ocellatum em diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª amostragem (b)………………....40
Figura 4.11 – Prevalência ((número peixes parasitados/ número de peixes examinados) x 100)
nas brânquias em douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum submetidas
a diferentes tratamentos orais na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n 1ª amostragem = 12; n 2ª
amostragem = 17-18)…………………………………………………………………………41
Figura 4.12 – Eficácia (%) (100 – (100 x (média da abundância de parasitas no grupo de
tratamento/media da abundância de parasitas no grupo de controlo)) dos tratamentos em
douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum na 1ª e 2ª amostragem. n=12
xi
(1ªamostragem) e n=17-18 (2ªamostragem) (n 1ªamostragem = 12; n 2ª amostragem = 17-
18)…………………………………………………………………………………………….42
Figura 4.13 – Níveis de cortisol (ng ml-1
) em plasma sanguíneo de diferentes grupos de
douradas expostas ao parasita. Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 5).…………….43
Figura 4.14 – Níveis de cortisol (ng ml-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( ) e
não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8)…………………………….44
Figura 4.15 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
cortisol (ng ml-1
) no plasma sanguíneo das douradas infectadas e não infectadas na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b) (n=47-48)……..…………………………......................................................45
Figura 4.16 – Níveis de glucose (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( ) e
não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8)……………………………46
Figura 4.17 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
glucose (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48)………......................................................47
Figura 4.18 – Níveis de proteína (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( )
e não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos orais na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8)…………………………….48
Figura 4.19 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
proteína (mg ml-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48)..................................................................49
Figura 4.20 – Níveis de osmolaridade (mOsm kg-1
) em plasma sanguíneo de douradas
infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos orais
na 1ª (a) e 2ª amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8)……………...50
Figura 4.21 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
osmolaridade (mOsm kg-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com
A. ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48)………………………………………..51
Figura 4.22 – Níveis de cloro (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( ) e
não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8)…………………………….52
Figura 4.23 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
cloro (mmol l-1
) em plasma sanguíneo das douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48)………......................................................53
Figura 4.24 – Actividade de Na+,K
+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) nas brânquias de
douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum de douradas do grupo controlo
xii
e do grupo exposto ao tratamento oral com o endoperóxido NAD19 na 2ª amostragem. Os
valores são as médias ± erro-padrão (n = 3)………………………………………………….54
Figura 4.25 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e a actividade
Na+,K+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) nas brânquias de douradas infectadas e não
infectadas com A. ocellatum na 2ª amostragem (n=12)…..…………………………………..55
xiii
Índice de tabelas
Tabela 1.1 – Infecções provocadas por amiloodiniose registadas em peixes para consumo
humano (esta tabela contém apenas registos de infecções onde o contágio foi identificado em
fontes locais ou foi introduzido nas águas locais com o peixe. Não inclui registos de peixes
em aquários) (Noga e Levy, 2006) ………………………………………………………….....6
Tabela 3.1 – Isolamentos de tomontes (não inclui isolamentos fracassados) ………………..17
Tabela 3.2 – Endoperóxidos fornecidos pelo Grupo de Síntese e Reactividade Orgânica…...19
Tabela 3.3 – Classificação do estado do ciclo de vida do parasita…………………………...21
Tabela 3.4 – Doses (mM) de endoperóxidos e volumes de DMSO (µl) testados…………….22
Tabela 3.5 – Tratamento por tanque………………………………………………………….26
Tabela 4.1 – Isolamento do parasita, quantidade isolada e utilização………………………..31
Tabela 4.2 – Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas
infectadas na 1ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=47). Existe relação quando
p<0,05………………………………………………………………………………………...55
Tabela 4.3 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas não
infectadas na 1ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05………………………………………………………………………………………...56
Tabela 4.4 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas
infectadas na 2ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05………………………………………………………………………………………...56
Tabela 4.5 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas não
infectadas na 2ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05………………………………………………………………………………………...57
1
1. Introdução
1.1.Patogenicidade em aquacultura
O conhecimento das doenças dos peixes e das suas zoonoses reveste-se de um
interesse que vai para além do campo específico da patologia, da biologia e mesmo da saúde
pública, revelando-se, cada vez mais, um instrumento ao serviço da ecologia e da dinâmica
das populações marinhas. No entanto esta temática é sobretudo importante no caso particular
da aquacultura onde, face às condições de produção, os problemas ligados à patologia,
sanidade e profilaxia das doenças de organismos cultivados são ainda mais críticos e
frequentemente, determinantes do sucesso desta actividade (Menezes, 2000).
Paralelamente ao crescente interesse e aos avanços na produção aquícola, detecta-se o
aparecimento, com maior frequência, de patologias, constituindo estas um factor limitante ao
desenvolvimento da cultura de algumas espécies, pois diminuem a produção e causam perdas
económicas difíceis de avaliar e prever.
O aparecimento de uma doença nos peixes é o resultado da interacção entre
patogénicos, hospedeiros e o meio ambiente (Zambrano et al., 2001; Basurco e Toranzo,
2004). A elevada concentração de material biológico num volume restrito comparada com as
condições naturais significa que as possibilidades para que ocorram doenças por contágio ou
deficiente qualidade da água são maiores nos sistemas de produção de peixes que na natureza
(Lekang, 2007). Este é um problema relevante para a aquacultura mundial que tem encontrado
e em muitos casos, controlado com sucesso vários surtos de doenças de origens diversas,
incluindo desequilíbrios fisiológicos ou aqueles provocados por factores abióticos, vírus,
bactérias ou parasitas.
No nosso país são conhecidos prejuízos relacionados com doenças na piscicultura,
nomeadamente bacterioses (vibriose e pasteurelose) e parasitoses (diplectanose, caligulose,
ictioftiriose, amiloodiniose) (Menezes, 2000). Dentre os principais grupos de parasitas que
afectam peixes marinhos e dulçaquícolas encontram-se os protozoários: ciliados, flagelados e
esporozoos, que em oposição às formas de vida livre vivem em forma contínua ou
descontinua na pele, brânquias, tecidos e órgãos internos (Zambrano et al., 2001).
2
1.2. Amiloodiniose – informação geral
A amiloodiniose ou ‘marine velvet’, causada pelo dinoflagelado Amyloodinium ocellatum
(Brown, 1931), com uma distribuição mundial e infectando mais de 100 espécies diferentes
de água salgada e salobra (Kuperman e Matey, 1999), sendo ainda um dos poucos parasitas
que consegue infectar tanto elasmobrânquios como teleósteos (Lawler, 1980 cit. Noga, 2012).
A. ocellatum (Brown, 1931) é um parasita obrigatório que infecta principalmente as brânquias
e o tegumento do peixe (Paperna, 1980; Cheung et al., 1981; Kuperman e Matey, 1999;
Ramos e Oliveira, 2001). Esta parasitose está também identificada em Portugal, tendo um
impacto significativo na piscicultura semi-intensiva devido às características edafoclimáticas
existentes no nosso país (Menezes, 2000).
1.3.Taxonomia
Para que seja possível um controlo efectivo dos dinoflagelados é necessário perceber a sua
epidemiologia, incluindo os hospedeiros e o intervalo geográfico, assim como outros factores
que afectam a sua transmissão. Os dinoflagelados são classificados em taxa zoológica e
botânica pois têm características de plantas e animais, porém os estudos mais recentes de
taxonomia destes parasitas utilizam a nomenclatura botânica (Noga e Levy, 2006).
Na classificação mais recente Amyloodinium ocellatum pertence ao Reino Protista, Filo
Mastigofora, Classe Dinoflagelida, Ordem Blastodinida, Família Oodinidae (Arthur e
Lumanlan-Mayo, 1997). Porém este parasita na classificação botânica pertence ao Filo
Dinoflagelida, Classe Blastodinifuceae, Ordem Blastodinia, Família Oodiniae (Cachon e
Cachon, 1987; Fensome et al., 1993), enquanto na classificação zoológica este organismo
encontra-se no Filo Sarcomastigofora, Subfilo Mastigofora, Classe Fitomastigofora, Ordem
Dinoflagelida (Levine et al., 1980).
Este organismo possui uma mancha vermelha muito característica, o que dá origem ao
nome da espécie, ocellatum junto à base, enquanto o núcleo grande e os numerosos grânulos
de amido espalhados por todo o citoplasma explicam o nome genérico Amyloodinium (Conroy
e Conroy, 2008). Até à data, apenas foi identificada uma espécie no género. Recentes estudos
genéticos de 5 isolamentos de A. ocellatum, obtidos de peixes no Mar Vermelho (Israel),
Mediterrâneo Oriental (Israel), Mar Adriático (Itália), Golfo do México (Florida), e de origem
desconhecida, revelaram uma variação não significativa, indicando que todos os isolados são
3
da mesma espécie (Levy et al., 2007). Porém os mesmos autores não eliminam a
possibilidade de existirem diferentes estirpes pois observaram que 3 isolados variavam em
comportamentos e morfologia. Alguns estudos de morfologia, como de Landsberg et al.
(1994), sugerem a existência de múltiplas espécies. Serão necessários mais isolamentos de
Amyloodinium de outras regiões geográficas e ecológicas que confirmem a existência de uma
única espécie (Francis-Floyd e Floyd, 2011).
1.4.Ciclo biológico e morfologia
O ciclo de vida do A. ocellatum tem três fases (figura 1.1): o trofonte ou fase parasitária,
com uma longevidade de 72 a 96 horas; o encapsulado (tomonte) ou fase reprodutiva, onde
ocorrem até seis divisões sucessivas e o dinosporo ou fase dispersiva, que são células com a
morfologia típica de um dinoflagelado (Zambrano et al., 2001).
Figura 1.1 – Ciclo de vida de A. ocellatum
Os trofontes de A. ocellatum anexados ao corpo dos peixes, barbatanas, olhos e cavidade
bucal são acastanhados ou amarelos, de forma esférica, ovóide ou piriforme (Cruz-Lacierda et
al., 2004; Kuperman e Matey, 1999) cuja dimensão pode variar entre 49x26 µm e 120x79 µm
(Kuperman e Matey, 1999). No citoplasma é possível observar um núcleo esférico e grande,
numa posição central com numerosos cromatófaros, grânulos de amido e vacúolos digestivos.
Externamente possui uma cápsula pseudoquitinosa, na zona polar um estomatópodo, estrutura
especializada na absorção de nutrientes e um pedúnculo curto com numerosos rizóides que
permite penetrar e fixar-se ao hospedeiro. Possui um flagelo curto na base da abertura da
cápsula e um estigma como órgão sensitivo (Zambrano et al., 2001).
Tomonte
Dinosporo Trofonte
4
No final do processo de absorção dos nutrientes os rizóides e o estomatopódo são
absorvidos através da abertura da cápsula que se fecha dando origem a um cisto ou tomonte
(Zambrano et al., 2001; Noga e Levy 2006).
Antes da primeira divisão do tomonte, a célula muda de forma, passando de ovóide para
alongada e o citoplasma torna-se mais escuro, denso e sofre estrangulamento. Dentro do
tomonte dividem-se os tomitos por fissão binária sincronizada normalmente a cada 9-10
horas. A cada estado do processo de divisão, o tomonte contem 2n
tomitos de igual tamanho,
por exemplo no primeiro processo de divisão o tomonte contém 2 tomitos (21). O potencial
reprodutivo do tomonte (número de divisões antes da esporulação) é determinado pelo
tamanho inicial do tomonte quando é desalojado das brânquias, contudo as condições de
incubação são importantes para obter a máxima capacidade reprodutiva. No final da divisão
cada tomito diferencia-se e transforma-se em dois dinosporos, os quais escapam da cápsula do
tomito, a este processo dá-se o nome de “esporulação”. Ocasionalmente, os dinosporos
escapam do tomito enquanto ainda estão ligados uns aos outros e a separação final ocorre fora
da célula mãe (Paperna, 1984b).
O dinosporo constitui o estado activo do parasita, na qual adopta a morfologia típica de
um dinoflagelado com dois flagelos. Este estado obtém-se após a 6ª divisão com o
rompimento da parede do tomito originando 64 dinosporos (Paperna, 1984b), porém alguns
autores referem até 256 dinosporos (Menezes, 2000).
1.5. Factores ecológicos que afectam o crescimento
Paperna (1984b) estudou o efeito da temperatura e da salinidade no ciclo de vida do A.
ocellatum e observou que existe um efeito sinergético da temperatura e da salinidade na
tolerância da divisão dos tomontes. O intervalo de temperaturas ideal para a divisão dos
tomontes e esporulação é de 18-30ºC, porém ao intervalo médio de 23-27ºC é quando a
reprodução dos tomitos é mais eficiente, ocorrendo esporulação em 2-3 dias. A 29-30ºC há
uma redução no número de divisões e a divisão final e esporulação terminam ao 4º dia,
enquanto a 18-20ºC a divisão dos tomontes é mais lenta (uma divisão por 19-34h) e existe
uma redução no sucesso da divisão (de 100% para 80-83%). O processo de divisão foi
totalmente inibido a 8ºC, mas recomeçou a 20ºC, porém se a incubação durar 7-9 dias apenas
16% dos tomontes retornam a divisão e poucos esporulam. Paperna (1984b) conclui que a
5
tolerância à salinidade é dependente das condições de temperatura ambiental. A uma
temperatura de 24-25ºC, o rendimento total da esporulação e a infecção efectiva dos peixes
ocorre no intervalo de 10-60 ppt.
Pereira e os seus colaboradores (2011) estudaram os factores para a ocorrência do parasita
em dourada em tanques de terra. No seu estudo o oxigénio dissolvido, a temperatura da água,
o pH, a biomassa de fitoplâncton tiveram uma relação significativamente negativa com a
ocorrência de A. ocellatum, enquanto a salinidade teve uma relação significativamente
positiva com presença de trofontes de A. ocellatum nas brânquias. Este estudo é o primeiro
que observa uma relação significativamente negativa entre a temperatura e a ocorrência de A.
ocellatum.
1.6.Principais hospedeiros e distribuição geográfica
Foram observadas ocorrências epizoóticas tanto em peixes selvagens, tendo sido
identificado a primeira vez na natureza em tilápias (Oreochromis mossambicus) do lago
Salton Sea (Califórnia, Estados Unidos) (Kuperman e Matey, 1999), como cultivados, assim
como peixes em aquários particulares e públicos (Francis-Floyd e Floyd, 2011). O parasita foi
ainda encontrado a parasitar uma dourada (Sparus aurata) e o monogéneo Neobenedenia
melleni que se encontrava a parasitar o peixe (Colorni, 1994).
A infecção foi tão severa em Espanha que em 2010 associações de aquacultura pediram
ajuda ao Estado para compensar as perdas devido à mortalidade causada pelo parasita (Soares
et al., 2012a). Em Portugal, o parasita foi já identificado no robalo (Dicentrarchus labrax),
dourada (Sparus saurata), sargo (Diplodus sargus) (Menezes, 2000), pregado (Psetta
maxima) (Ramos e Oliveira, 2001), rodovalho (Scophthalmus maximus) (Saraiva et al., 2011)
e corvina (Argyrosomus regius) (Soares et al., 2012b).
Na tabela 1.1 é possível observar a ocorrência de infecções provocadas pelo parasita por
todo o mundo.
6
Tabela 1.1 – Infecções provocadas por amiloodiniose registadas em peixes para consumo
humano (esta tabela contém apenas registos de infecções onde o contágio foi identificado em
fontes locais ou foi introduzido nas águas locais com o peixe. Não inclui registos de peixes
em aquários) (Noga e Levy, 2006).
Localização geográfica Hospedeiro
Golfo do México
Mississipi, Texas,
Luisiana, Florida
Robalo-muge (Morone saxatilis)
Corvinão-de-pintas (Sciaenops ocellata)
Tainha-olhalvo (Mugil cephalus)
Seraia-da-Flórida (Trachinotus carolinus)
Oceano Atlântico
Carolina do Norte
Híbrido (Morone chrysops × Morone
saxatilis)
Carta-de-verão (Paralichthys dentatus)
Carolina do Sul
Híbrido (Morone chrysops × Morone
saxatilis)
“Southern flounder” (Paralichthys
lethostigma)
Florida “Southern flounder” (Paralichthys
lethostigma)
Florida Keys Luciano (Lutjanus sp.)
Oceano Pacifico
México Bullseye puffer (Sphoeroides annulatus)
Hawaii Barbudo de seis dedos (Polydactylus sexfilis)
Iloilo Tainha (Chelon sp.)
Taiwan “Ayu” (Plecoglossus altivelis)
Austrália Roncadeira-austral (Argyrosomus japonicus)
Mar das Caraíbas
Martinica Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Isla de Margarita Sereia (Trachinotus goodei, T. carolinus)
Mar Mediterrâneo
Espanha Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Itália Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Sargo-bicudo (Puntazzo puntazzo)
Sète, França Dourada (Sparus saurata)
Israel
Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Dourada (Sparus saurata)
Sicilia Charuteiro-catarino (Seriola dumerili)
7
Mar Adriático Itália Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Mar Egeu Turquia Dourada (Sparus saurata)
Mar Vermelho Eilat
Dourada (Sparus saurata)
Robalo-legítimo (Dicentrarchus labrax)
Tainha-olhalvo (Mugil cephalus)
Tilápia (Oreochromis aureus)
Golfo Pérsico Kweit “Sobaity sea bream” (Acanthopagrus cuvieri)
1.7.Transmissão
Os animais que se movem entre os sistemas de cultura podem ser veículos portadores do
parasita transportando-o para áreas não infectadas. A infecção pode também ser transmitida
através de dinosporos em gotas de água provenientes de aerossóis (Roberts-Thomson et al.,
2006). Dada a elevada resistência do tomonte, este parasita pode ainda ser transmitido por
fómites (redes, sapatos, ferramentas comuns de limpeza, etc.) que tenham contactado com
água ou sedimentos contaminado (Abreu et al., 2005).
Os peixes mortos podem também ser um reservatório para o Amyloodinium, nos quais os
trofontes caiem para o sedimento e dividem-se sob a forma de tomontes ou podem até dividir-
se no peixe morto. Por esta razão, é aconselhável remover os peixes mortos o mais rápido
possível do sistema (Francis-Floyd e Floyd, 2011).
1.8.Diagnóstico da infecção
O quadro clínico dos animais com amiloodiniose é comum, em termos gerais, a todas as
infecções cutâneas e branquiais, pelo que é necessário identificar o agente causador pela
observação a fresco, entre lâmina e lamela, de raspagem da pele e pelo corte de filamentos
branquiais de animais moribundos ou imediatamente após a morte (Menezes, 2000).
As grandes infecções na pele são fáceis de ver em peixes de coloração escura. A olho nu,
os parasitas vêem-se melhor usando iluminação indirecta, como por exemplo uma lanterna
sob o peixe num local escuro. A coloração da pele ou tecido branquial com solução de Lugol
8
diluído também ajuda a visualizar os parasitas, uma vez que o iodo reage com o amido
presente no trofonte (Noga, 2012). É ainda possível a observação de tomontes através de
peixes infectados colocados num recipiente contendo água destilada durante alguns minutos,
os tomontes repousam no fundo do recipiente ao fim de 15 minutos (Bower et al., 1987).
Uma técnica especifica de reacção de polimerase em cadeia (PCR) é a única capaz de
detectar uma única célula de qualquer uma das 3 fases do ciclo de vida do parasita (trofonte,
tomonte, dinosporo) (Levy et al., 2007), porém esta técnica está longe de ser usada em
aquaculturas pois acarreta custos consideráveis e requer equipamento específico (Plumb,
2001).
1.9. Sinais clínicos/patologia
Este parasita que tem grande tolerância osmótica, afecta inúmeras espécies de peixes
marinhos de águas quentes, localizando-se na pele e brânquias. Sintomatologicamente o
quadro é comum a outras parasitoses cutâneas e branquiais. Esta caracteriza-se por alteração
do comportamento dos peixes (Menezes, 2000; Ramos e Oliveira, 2001), com movimentos
bruscos, saltando fora de água de boca aberta (dispneia), roçando-se nas paredes dos tanques
(prurido) e diminuição do apetite (Menezes, 2000; Ramos e Oliveira, 2001; Conroy e Conroy,
2008). Com o aumento da infecção o apetite é abolido (anorexia), acentua-se a dificuldade
respiratória e começam a surgir erosões nas brânquias e na pele, com descamação mais ou
menos extensa, observaram-se também alterações da pigmentação da pele tais como o
aparecimento de manchas de despigmentação/hiperpigmentação, congestão e erosão das
barbatanas, hipersecrecção mucosa cutânea e dilatação do ventre (Menezes, 2000; Ramos e
Oliveira, 2001). A morte é normalmente atribuída à anoxia e pode ocorrer dentro de 12 horas,
especialmente em infestações severas (Lawler, 1980 cit. Noga, 2012). Em contraste,
mortalidades agudas são por vezes associadas a infestações pequenas (por exemplo um ou
dois trofontes por filamento branquial), sugerindo que a hipoxia não é sempre a causa da
morte. A insuficiência osmorreguladora e infecções microbianas secundárias devido a severas
lesões do epitélio podem também ser importantes causas de debilitação e morte (Noga, 2012).
Em relação à prevalência do parasita no peixe, Paperna (1980) observou que as infecções
provocadas pelo A. ocellatum a juvenis e reprodutores de dourada e robalo encontram-se
predominantemente nas brânquias e tegumento da mucosa, mas em larvas encontram-se mais
na pele do que nas brânquias.
9
O único caso documentado da presença de trofontes nos tecidos e órgãos internos
aconteceu no roncador-listado-americano (Anisotremus virginicus). O mecanismo pelo qual o
parasita atingiu estas áreas invulgares não está determinado, no entanto assume-se que tenha
sido no estado de dinosporo (único estado capaz de se mover) através da faringe (Cheung et
al., 1981).
1.9.Resistência imunológica dos peixes a Amyloodinium ocellatum
Apesar da importância de A.ocellatum, sabe-se relativamente pouco sobre os mecanismos
de protecção pelos quais o peixe hospedeiro pode resistir à infecção (Smith et al., 1993).
1.9.1. Imunidade inata
Lawler (1977) (cit. Noga, 2012) observou que algumas espécies de peixes são
naturalmente mais resistentes à infecção que outras, estas são geralmente as que produzem
muco espesso ou conseguem tolerar baixos níveis de oxigénio, presumivelmente devido à
capacidade destas espécies para resistir ao ataque do parasita ao tecido epitelial. Algumas
destas espécies incluem “gulf killifih” (Fundulus grandis), enguia americana (Anguilla
rostrata), molinésia latipina (Poecilia latipinna).
A superfície do corpo é a primeira linha de defesa e é uma importante barreira contra a
fixação e penetração pelos parasitas. Algumas secreções da pele contêm lisozimas que podem
danificar a superfície da membrana dos parasitas, enquanto outros (por exemplo, muco)
bloqueiam a adesão de parasitas às células epiteliais e eliminam-nas mais tarde (Woo, 2007).
Landsberg e os seus colaboradores (1992) observaram que a infecção de A. ocellatum numa
cultura celular foi significativamente reduzida após exposição a muco e soro de tilápias (O.
aureus) que nunca tinham sido infectadas. No entanto, o muco teve, consideravelmente, uma
menor actividade inibitória, pelo menos para esta espécie. Para além do soro, a pele, as
brânquias e o baço da truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e do híbrido “striped bass” têm
proteínas letais para o A. ocellatum (Noga et al., 2001). A informação da espectrometria de
massa e da sequência de aminoácidos sugere que estas proteínas estão muito relacionadas
com a histona H2B e a histona H1, por este motivo são designadas de proteínas do tipo das
histonas (HLPs). Estas HLPs são pequenas (13-21kDa) e a maioria da sua actividade
antibiótica encontra-se na epiderme, contudo alguma dessa actividade está presente no muco.
10
Existe a evidência experimental que a actividade destas proteínas é dirigida contra o estado
trofonte (alimentação) do parasita, enquanto o dinosporo não é afectado. Esta toxicidade
preferencial para trofontes não é comum quando comparada com outras drogas típicas usadas
para tratar a amiloodiniose (por exemplo, cobre e formalina), as quais normalmente têm como
alvo os dinosporos (Noga et al., 2001). O mecanismo responsável pela toxicidade das HLPs
contra o Amyloodinium não é conhecido (Noga et al., 2001). No entanto o principal sítio de
acção da maioria dos endobioticos pensa-se que seja no plasma da membrana, onde estes
causam a formação de um poro ou a lise da membrana (Hancock e Lehrer, 1998). Por outro
lado, foi demonstrado que o magainin2, um antibiótico produzido na pele do sapo africano
(Xenopus laevis), é igualmente tóxico tanto para trofontes quanto para dinosporos (Noga et
al., 2001).
Recentemente foi descoberto o efeito antiparasitário da piscidina tipo 2 contra
ectoparasitas protozoários. Porém a eficácia da piscidinia 2 sintetizada em laboratório foi
baixa contra o A. ocellatum, propagado continuamente in vitro, quando comparada com
ectoparasitas dulçaquícolas (Colorni et al., 2008).
1.9.2. Imunidade adquirida
Até ao momento, não existem vacinas comerciais disponíveis para o tratamento de
parasitas protozoários de peixes, incluindo dinoflagelados (Woo, 2007). Contudo, recentes
estudos têm identificado importantes mecanismos de defesa contra o A. ocellatum. Paperna
(1980) não observou surtos de hiperinfecção de grupos de peixes sobreviventes de epizootias
anteriores.
Estudos examinando a resposta humoral do parasita demonstraram que o soro de O.
aureus imunizadas com antigénios vivos ou sonicados de dinosporos produziram uma
resposta anticorpo específica que foi detectada pelo método ELISA. A resposta humoral não
foi detectada após 8 semanas da primeira imunização com dinosporos sonicados, mas após
uma dose intensificadora à 9ª semana, a resposta aumentou e teve um pico à 12ª semana. Ao
longo das seguintes 6 semanas os anticorpos diminuíram, mas a resposta continuou a ser
positiva até à 18ª semana, quando terminou a experiência (Smith et al., 1992). Igualmente, o
soro de tilápias azuis (Oreochromis aureus) imunizadas intraperitonalmente com dinosporos
de A. ocellatum diminuiu a motilidade e a capacidade de infectar de dinosporos vivos e o
crescimento de trofontes em culturas celulares (Smith et al.,1993).
11
Outros estudos experimentais em Amphiprion frenatus demonstraram que o peixe
desenvolve uma forte acção de imunidade contra infecções do parasita após repetidas
exposições não-letais e que os anticorpos específicos estão associados a essa resposta (Cobb
et al., 1998). Também Cecchini e os seus colaboradores (2001) observaram que alguns
robalos desenvolvem uma resposta imunológica adaptativa contra o parasita. Os resultados
mostram uma imunidade adquirida contra o A. ocellatum, podendo os peixes desenvolver uma
resistência parcial contra novas infecções do dinoflagelado.
1.10. Profilaxia e Tratamento (químico, físico e biológico)
O controlo de surtos de amiloodiniose é uma das principais preocupações em
mariculturas. Quando é diagnosticado, é necessária uma intervenção rápida, nomeadamente
na implementação de um tratamento eficaz contra o Amyloodinium ocellatum e seguro para o
peixe, de forma a evitar uma rápida perda de “stock” (Ramos e Oliveira, 2001).
Apesar da forma livre (dinosporo) ser susceptível à quimioterapia (Lawler, 1980, cit.
Noga, 2012), o estado parasitário (trofonte) e o estado encapsulado (tomonte) são resistentes.
O método mais comum de tratamento em controlo e eliminação do parasita é o cobre sob a
forma de sulfato de cobre – um químico largamente utilizado em agricultura (Soares et al.,
2012a). Após o desalojamento dos trofontes dos tecidos do hospedeiro, o processo de
encapsulação e divisão ocorre normalmente até à esporulação porque a parede da célula limita
a entrada de iões cobre. Na esporulação, os dinosporos são expostos ao efeito citotóxico do
cobre, deste modo interrompe-se o ciclo de vida do parasita (Paperna, 1984b). Segundo
Canosa (2006) os tratamentos com cobre devem durar 10-14 dias para controlar a doença, a
uma concentração de 0,12-0,2 mg.l-1
. No entanto, Vaz (2010) ao expor juvenis de sargo
(Diplodus sargus) a 0,2 mg.l-1
, 0,5 mg.L-1
e 1 mg.L-1
durante 23 dias e 0,25 mg.L-1
e 0,5
mg.L-1
durante 60 dias, observou evidências do efeito tóxico durante a exposição ao sulfato de
cobre, com um aumento da concentração de cobre no fígado acompanhada por alterações
morfológicas nos peixes.
Todos os agentes (formalina (25-200 ppm), Nitrofurazone (10-50 ppm) e Furanace (0.1-
10 ppm)) utilizados por Paperna (1984a) no controlo do parasita induziram um efeito gradual
inibitório na taxa de divisão dos tomontes.
12
Os juvenis de tainha-olhalvo (Mugil cephalus) tratados durante 30 minutos com 25ppm de
peróxido de hidrogénio não foram afectados negativamente por esta concentração e o mesmo
tratamento permitiu parar um surto de amiloodiniose (Montgomery-Brock et al., 2000). Num
estudo similar com Polydactylus sexfilis, apenas um tratamento com peróxido de hidrogénio a
75 ou 150 ppm durante 30 minutos foi eficaz a eliminar trofontes das brânquias sem causar
perdas de peixes (Montgomery-Brock et al., 2001). Também Cruz-Lacierda e os seus
colaboradores (2004) realizaram tratamentos de 1h de água doce e 200 ppm de H2O2 em
Chanos chanos e Lutjanus argentimaculatus, os quais foram eficazes na eliminação do
parasita e não tiveram qualquer efeito adverso sobre o peixe.
Muitos outros tratamentos químicos foram testados contra o A. ocellatum, como por
exemplo 3,N-metilglucamina (Oestmann e Lewis, 1996), formalina (Paperna, 1980; Paperna,
1984a) ou até mesmo tratamentetos homeopáticos (Santos, 2011), porém a maioria tem
demonstrado limitações ou nenhum sucesso contra a amiloodiniose.
O A. ocellatum tolera um intervalo de temperatura e salinidade muito grande, o que torna
o controlo desta doença pela manipulação dos parâmetros químicos e físicos muito difícil
(Soares et al., 2012a). No entanto, é possível a inibição do crescimento do parasita reduzindo
a temperatura e a salinidade (Paperna, 1984a). A colocação de peixes em água doce causa o
desalojamento da maioria dos trofontes (Bower et al., 1987), porém as medidas com base na
redução da salinidade não podem ser facilmente e rapidamente aplicadas em tanques de terra
e em espécies que não toleram variações de salinidade elevadas, como a maioria das espécies
de aquacultura no sul da Europa (Soares et al., 2012a). Recentemente, um estudo de Pereira et
al. (2011) referiu que a manutenção da qualidade da água com uma definição da densidade do
stock poderá evitar infecções na dourada.
Para além do controlo químico e físico, foi ainda testado em laboratório o controlo
biológico com Artemia spp. (Oestmann et al., 1995) e ostras (Crassostrea gigas) (Severino,
2008) sob os dinosporos. Uma ênfase nos tratamentos biológicos poderá contribuir para o
aumento da qualidade dos produtos de pisciculturas (Soares et al., 2012a).
Em termos de prevenção da introdução do parasita no sistema devem ser tomadas medidas
de profilaxia em tanques de aquacultura: os peixes devem ser tratados em diferentes tanques
para evitar a formação de tomontes nos tanques de cultivo; tanques onde os peixes mostrem
sintomas da doença, deve ser removido o biofilme através de escovação e uso de ácido
clorídrico; a abundância de tomontes e o seu estado de desenvolvimento deve ser
monitorizado no biofilme do fundo dos tanques; a presença de trofontes ou tomontes em
peixes vivos dados como alimento deve ser controlada, os tanques devem ser separados e o
13
equipamento isolado para evitar cruzamento da contaminação (Abreu et al., 2005). Pode ainda
reduzir-se o risco de introduzir dinosporos no sistema de uma aquacultura através de
desinfecção (por exemplo, radiação ultravioleta, ozono ou cloro) na entrada da água (Lawler,
1977 cit. Noga, 2012). No entanto, estas práticas são difíceis de aplicar em tanques de terra.
1.11. Aplicações de antimaláricos em aquacultura
Carol Bower verificou que o antimalárico difosfato de cloroquina é seguro e efectivo a
tratar a amiloodiniose de peixes palhaços (Amphiprion ocellaris) infectados. A cloroquina foi
o primeiro fármaco de síntese utilizado para o tratamento da Malária (Brunton et al., 2006).
Após 10 dias expostos a um único tratamento aquoso de 5-10mg/L de difosfato de cloroquina
não houve efeito na divisão dos tomontes, mas os dinosporos morreram imediatamente a
seguir ao seu encistamento. Esta concentração não é tóxica para o peixe, mas é altamente
tóxica para micro e macroalgas e vários invertebrados (C.E Bower, Connecticut, comunicação
pessoal cit. Noga, 2012) e não pode ser usada em tanques de recife, pelo menos como fórmula
aquosa.
A farmacocinética da cloroquina administrada por via oral em corvinão-de-pintas
(Sciaenops ocellata) produzido em cativeiro, poderia parecer uma forma efectiva como
medicamento oral (Lewis et al., 1988). Contudo, a cloroquina é muito cara e não é susceptível
de ser aprovada para uso em peixes para alimentação (Noga e Levy, 2006; Noga, 2012).
Xenobióticos (Cicloheximido, desferrioxamino, 2,2-bipiridil, pirimetamina, sulfadiazina,
ciprofloxacina, cloroquina, artimisinina, atovaquone) conhecidos pelas suas propriedades
antimaláricas e antiprotozoárias foram testados contra o Perkinsus olseni, um parasita que
afecta as culturas de amêijoa e no qual o Fe (II) é essencial na sua proliferação. Destes, apenas
o desferrioxamino foi efectivo na redução das infecções in vivo (Elandalloussiet et al., 2005).
Recentemente surgiu uma nova classe de antimaláricos, os endoperóxidos (figura 1.2).
Segundo Delves et al. (2012), os endoperóxidos podem ser aplicados em testes de fármacos
contra outros patogénicos com ciclos de vida complexos.
14
Figura 1.2 – Endoperóxidos antimaláricos (1- artimisinina, 2- trioxalano OZ439, 3-
tetraoxano) (O’Neill et al., 2010).
2. Objectivos
O principal objectivo deste estudo foi a caracterização dos efeitos de fármacos
endoperóxidos sintéticos no desenvolvimento e patogenicidade do parasita A. ocellatum, com
o intuito de inibir a produção de estados infestantes. Devido ao seu ciclo de vida, com uma
fase enquistante, a erradicação deste parasita ainda não é possível. A descoberta de métodos
que permitam o tratamento dos animais, quer por destruir os estados iniciais do parasita quer
por criar resistência no hospedeiro, ou pela eliminação dos quistos dos tanques, tem grande
valor para a indústria.
Numa primeira fase foram testados fármacos in vitro sob a fase de tomonte (quisto), de
modo a perceber qual(ais) o(s) endoperóxido(s) que tem efeito na divisão do parasita.
Enquanto numa segunda fase foram realizados ensaios in vivo com o objectivo de avaliar a
eficácia dos diferentes endoperóxidos quando administrados sob a forma de vacina oral sobre
o controlo do Amyloodinium em douradas, através da avaliação da eficácia, prevalência e
incidência parasitária.
15
Material e Métodos
A infecção e obtenção de Amyloodinium ocellatum realizaram-se tanto no Laboratório
Experimental para Organismos Aquático (LEOA) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade do Algarve, como no laboratório da Piscicultura do Vale da Lama, Lda.
Os ensaios in vitro e bioquímicos foram realizados no laboratório de Fisiologia
Adaptativa e Bioquímica do Grupo de Investigação em Endocrinologia Comparativa e
Molecular do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), enquanto o ensaio in vivo decorreu no
laboratório da Piscicultura do Vale da Lama, Lda.
3.1. Espécies – alvo
Foram utilizados neste estudo peixes da espécie robalo (Dicentrarchus labrax) e
dourada (Sparus aurata). Estas espécies são produzidas na piscicultura e os seus ciclos de
vida, bem como os requisitos alimentares são bem conhecidos, deste modo a sua manutenção
em cativeiro e o seu manuseamento são de fácil execução. Todos estes factores são vantajosos
na escolha de um organismo modelo, e neste caso, a fácil disponibilidade, a sua importância
comercial bem como o vasto conhecimento que existe sobre as espécies, e o facto de serem o
principal alvo do parasita na indústria de aquacultura em Portugal foram determinantes para a
escolha destes espécimes como modelos experimental neste estudo.
3.2. Infecção dos peixes
Para o início e propagação da infecção dos peixes, com o intuito de obter parasitas
para os ensaios, foram realizados dois métodos, um utilizando sedimento com parasitas e
outro através de lavagem com água doce de peixes infectados.
O sedimento infectado foi utilizado para obter parasitas para os ensaios in vitro. Este
método consistiu em colocar peixes em aquários montados com sedimento proveniente de
tanques terra onde ocorreram surtos de Amyloodinium ocellatum, água salgada, arejamento
constante e termóstato. A temperatura foi aumentada gradualmente até aproximadamente
24ºC.
16
O outro método consistiu em lavar com água doce as brânquias e o tegumento de
peixes infectados e adicionar a água da lavagem a aquários onde se encontravam peixes.
3.3. Diagnóstico da infestação
O diagnóstico da infecção adaptado de Francis-Floyd e Floyd (2011) consistiu em
retirar o peixe do aquário com um camaroeiro e coloca-lo sob uma superfície plana não
abrasiva. Os olhos foram tapados para manter o peixe quieto enquanto se realizou a biópsia.
O material recolhido para biópsia foi uma pequena quantidade de filamentos
branquiais de modo a não ser um método letal para o peixe. Os animais não foram
anestesiados pois de acordo com Francis-Floyd e Floyd (2011) os anestésicos podem causar o
desalojamento do parasita do peixe, o que poderia resultar em falsos negativos aquando da
observação do material sob a luz do microscópio.
Para a realização de uma biópsia às brânquias, o opérculo foi levantado
cuidadosamente e com uma tesoura pequena foram cortadas as pontas dos filamentos
branquiais e logo de seguida colocadas numa lâmina, adicionada água salgada e colocada uma
lamela.
A observação ao microscópio foi realizada logo após a conclusão da preparação a uma
ampliação de 100x num microscópio Olympus CH2 ou num BMS - E1, consoante o
diagnóstico tenha sido realizado no Laboratório Experimental para Organismos Aquático
(LEOA) ou no laboratório da Piscicultura do Vale da Lama, Lda.
3.4. Recolha de parasita
O método inicialmente utilizado para isolar os parasitas dos peixes infectados (tabela
3.1) foi adaptado de Bower et al. (1987). Para remover os trofontes, os peixes infectados
foram capturados com camaroeiro e colocados num gobelé de 750 ml, cheio até metade com
água destilada. Após cerca de 5 minutos os peixes foram colocados de volta no aquário. A
suspensão de tomontes passou uma vez por filtros de 200 e 150 µm para filtrar pequenos
grãos de areia e outras impurezas que ficaram na suspensão quando os peixes foram
colocados no gobelé e deixada a repousar durante 20 min para os tomontes precipitarem.
Realizaram-se mais 2 lavagens com água destilada e 2 com água salgada filtrada (33 ppt).
17
Entre cada lavagem os tomontes foram deixados a repousar no fundo do gobelé durante 15-
20min e a água removida por sinfonagem através de uma pipeta de Pasteur ligada a uma
bomba de vácuo. Após a última lavagem fez-se a contagem de tomontes utilizando uma
câmara de Bürker. O método de isolamento do parasita (tabela 3.1) foi adaptado de Roberts-
Thomson et al. (2006) e passou a consistir em remover os trofontes das brânquias através de
jactos de água destilada para caixas de Petri. Sob a luz reflectida de uma lupa binocular Zeiss
Stemi DV4 agitou-se a placa de Petri de modo a concentrar no centro os tomontes. Os
tomontes foram recolhidos com uma micropipeta, de modo a minimizar a área de exposição,
para um frasco contendo água salgada (50ppt) sobre gelo. O gelo serviu para evitar que os
tomontes iniciassem o processo de divisão e a água salgada serviu para manter a salinidade a
cerca de 35ppt – importante da viabilidade dos tomontes (Paperna, 1984b) - pois ao
pipetarem-se os tomontes da caixa de Petri pipeta-se sempre uma pequena quantidade de água
doce. Após serem lavadas as brânquias dos peixes infectados, o frasco foi agitado e
pipetaram-se 1 ou 2µl de volume 3 vezes para uma lâmina para contar através do microscópio
a uma ampliação de 50x o número de tomontes e deste modo determinar a concentração de
tomontes isolados.
Tabela 3.1 – Isolamentos de tomontes (não inclui isolamentos fracassados).
Isolamento Local Nº
peixes Espécie
Técnica de
isolamento
Material de
contagem
13-01-
2012 LEOA 7 Robalo Bower et al. (1987) Câmara de Burker
25-01-
2012 LEOA 3 Robalos Bower et al. (1987) Câmara de Burker
28-01-
2012 LEOA 3 Robalos Bower et al. (1987) Câmara de Burker
04-02-
2012
Aqualvor,
Lda 9 Robalos Bower et al. (1987) Câmara de Burker
24-04-
2012 LEOA 3 Douradas Bower et al. (1987) Câmara de Burker
28-04-
2012 LEOA 6 Douradas Bower et al. (1987) Câmara de Burker
04-05-
2012 LEOA 3 Douradas Bower et al. (1987) Câmara de Burker
10-05-
2012 LEOA 5 Douradas Bower et al. (1987) Câmara de Burker
17-05-
2012 LEOA 3 Douradas Bower et al. (1987) Câmara de Burker
18
23-05-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
04-06-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
18-06-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
13-07-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
21-07-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
29-07-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
15-09-
2012
Aqualvor,
Lda 10 Robalos Lavagem brânquias Lâmina
3.5.Fármacos
Os fármacos utilizados no ensaio foram endoperóxidos sintetizados pelo Grupo de
Síntese e Reactividade Orgânica do Centro de Ciências do Mar. Este tipo de fármacos foi
seleccionado uma vez que alguns autores defendem que podem ser utilizados no combate a
outros patogénicos com um ciclo de vida complexo (Cristiano, 2012; Delves et al., 2012),
como é o caso do Amyloodinium ocellatum.
Os endoperóxidos foram dissolvidos em dimetilsulfóxido (DMSO) - um composto
muito usado como solvente aprótico e polar em laboratório e na indústria (Vignes, 2000) – e
conservados a 4ºC. A concentração final, nominal, em milimolar (mM) das soluções-mãe foi
de 100 mM (LCD67A, LC50, NAD16, NAD17 e NAD19), 75 mM (LCD95) e 50mM
(LCD93 e NAD11). No entanto, devido às suas propriedades fisico-químicas, a dissolução
destes fármacos, mesmo em DMSO, é difícil. Assim, e também por uma limitação logística
do número de ensaios possíveis e animais necessários, daqueles 8 endoperóxidos fornecidos
(tabela 3.2), optou-se por testar apenas os 4 (LCD67A, LCD93, NAD17, NAD19) cuja
dissolução ocorreu sem qualquer dificuldade.
19
Tabela 3.2 – Endoperóxidos fornecidos pelo Grupo de Síntese e Reactividade Orgânica.
Nome Formula Estrutura molecular
Massa
molecular
(g/mol)
LC50 C16H22O4
278,34
LCD67A C19H28O5
336,42
LCD93 C17H26O4
294,39
LCD95 C17H27NO3
293,4
NAD11 C16H24O3
264,36
NAD16 C20H30O5
350,45
NAD17 C18H26O5
322,40
NAD19 C22H33NO4
377,52
20
3.6.Ensaios in vitro
Cada ensaio in vitro iniciou-se a partir de um inóculo de concentração conhecida
(tomonte/µL) de parasita, do qual pipetou-se 200 µl de amostra para uma placa de 96 poços.
A placa de poços foi colocada à temperatura ambiental do laboratório, controlada para 24ºC,
no interior numa câmara com entrada de ar atmosférico e contendo água destilada no fundo de
forma a reduzir a evaporação nos poços.
Os tomontes incubados foram examinados diariamente usando um microscópio
Olympus CH2 e o número de tomitos por tomonte (t/T) registado. Os ensaios continuaram à
temperatura ambiente e a uma salinidade de 33 ppt até se observar o estado de dinosporo em
pelo menos um dos poços.
3.6.1. Observação do ciclo de vida do parasita
Na primeira parte dos ensaios in vitro observou-se o ciclo de vida do parasita de um
inóculo que após o isolamento foi incubado numa placa de poços à temperatura ambiente e de
outro inóculo que esteve 1 dia a 4ºC, com o objectivo de observar se existem diferenças no
ciclo de vida do parasita quando os inóculos com parasita após isolamento são armazenados a
baixas temperaturas. Foram adicionados 0,5ml de água salgada não esterilizada a cada um dos
inóculos de 1ml de parasita e seguidamente distribuídos em triplicado numa placa de poços. O
início da monitorização do ciclo de vida do parasita foi às 36 h após a inoculação e depois
passadas 4h e 12h até às 76h, pipetando 3 amostras de cada poço em cada contagem.
Na monitorização do ciclo de vida do parasita realizou-se uma classificação ao seu
ciclo de vida (tabela 3.3), optando-se por acrescentar estados intermédios entre as divisões do
tomonte pois durante os ensaios in vitro observou-se que a divisão dos tomitos dentro do
tomonte não era sincronizada. Para além disso, -aplicou-se um índice de desenvolvimento do
parasita, através da utilização de uma pontuação para cada estado do ciclo de vida do parasita
(tabela 3.3). O valor final do índice corresponde à soma dos produtos da frequência de células
contadas nas três pipetagens para cada estado de desenvolvimento do parasita pela pontuação
dada a cada estado. Esta abordagem é semelhante a outras previamente utilizadas noutros
estudos sobre a saúde de peixes (Landsberg et al., 1998), e permite a comparação dos efeitos
dos vários fármacos e diferentes concentrações sobre o desenvolvimento.
21
Tabela 3.3 – Classificação do estado do ciclo de vida do parasita.
Estado do ciclo de vida da
célula Características
Pontuação
Célula com a morfologia de
um dinoflagelado com dois
flagelos
12
Tomito com a capsula lisada 11
Tomonte na 6ª divisão com
32 tomitos
10
Tomonte entre a 5ª e a 6ª
divisão
9
Tomonte na 5ª divisão com
16 tomitos
8
Tomonte entre a 4ª e a 5ª
divisão
7
Tomonte na 4ª divisão com 8
tomitos
6
Tomonte entre a 3ª e a 4ª
divisão
5
Tomonte na 3ª divisão com 4
tomitos
4
Tomonte entre a 2ª e a 3ª
divisão
3
Tomonte na 1ª divisão 2
Tomonte que não sofreu
divisão
1
22
3.6.2. Exposição aos endoperóxidos
Os 4 endoperóxidos seleccionados foram testados em diferentes concentrações (Tabela
3.4) sob a divisão dos tomontes. Cada fármaco foi testado em triplicado e comparado com um
conjunto triplicado de controlo não tratado e outro tratado com solvente. O volume de
solvente (dimetilsulfóxido) testado em poços com 200µl de solução contendo parasitas foi
igual ao volume máximo de endoperóxido utilizado nesse ensaio (tabela 3.4) de modo a
verificar se o solvente tem influência na divisão do parasita.
Tabela 3.4 – Doses (mM) de endoperóxidos e volumes de DMSO (µl) testados.
Endoperóxido Concentração (mM) Volume de DMSO (µl)
NAD17
0,1 2
1 2
2 1
NAD19
0,01 20
0,05 20
0,1 20
0,25 20
1 2
2 1
LCD93 0,1 4
1 40
LCD67A 1 2
2,5 5
23
3.7. Ensaio in vivo
O ensaio in vivo decorreu ao longo de 42 dias (figura 3.1), durante o qual decorreu
aclimatização, tratamento oral, infecção dos peixes e amostragens.
Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Aclimatização
Tratamento oral
Infecção
Amostragem
Dia 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
Aclimatização
Tratamento oral
Infecção
Amostragem
Figura 3.1 – Cronograma das etapas do ensaio in vivo.
3.7.1. Tratamento
A administração dos endoperóxidos aos peixes realizou-se através de tratamento oral,
pois este requer menos trabalho que os tratamentos através de banhos, além disso o peixe
pode ser tratado como parte do seu normal regime de alimentação (Grant, 2002) e a
quantidade de fármaco a utilizar é menor. Para além das vantagens anteriores, os tratamentos
orais têm ainda como vantagens serem de fácil administração e não existir necessidade de
mão-de-obra. Este processo não garante que todos os peixes recebam a mesma dose de
tratamento, contudo durante o período do ensaio os peixes foram monitorizados regulamente
para assegurar que a ração era consumida (Tojo e Santamarina, 1998).
Foram testados 4 endoperóxidos (NAD17, NAD19, LCD93, LCD97A) a uma
concentração de 10µmol/kg de ração, utilizou-se ainda dois grupos de controlo como nos
ensaios in vitro (ração sem tratamento e ração tratada com solvente dos fármacos) a um
volume igual ao usado na ração tratada com endoperóxidos. Cada fármaco (já previamente
24
dissolvido em DMSO) foi novamente dissolvido em 30ml de etanol 100% e vaporizado sobre
um tabuleiro contendo ração usando um pulverizador. A preparação da ração realizou-se
semanalmente.
A percentagem de alimento fornecido foi de 2% do peso médio vivo dos peixes para
cada aquário.
O período de exposição ao tratamento foi de 42 dias, com o objectivo de verificar
palatibilidade, mortalidade e eficácia do tratamento.
3.7.2. Circuito experimental
O ensaio in vivo foi realizado em sistema de circuito fechado, composto por 24
aquários de plástico com capacidade de 120L, dispostos em paralelo (figura 3.2). O sistema
existente na piscicultura funciona em duplicado, ou seja, existem dois tanques aos quais se
aplica o mesmo tratamento. Cada aquário comunicava com um aquário mais pequeno
disposto ao lado que continha um escumador, um sistema de bombagem de água e um sistema
de filtragem mecânica (manta acrílica) e biológica (biobolas).
Antes de entrar no sistema, a água foi bombeada da Ria de Alvor para reservatórios,
junto ao laboratório, onde a água é filtrada mecanicamente e desinfectada com ozono e UV.
Devido ao sistema funcionar em circuito fechado, verificou-se uma acumulação de
detritos orgânicos provenientes dos restos de alimento e do próprio metabolismo do peixe,
deste modo a água foi renovada a 100% até ao 15º dia, a partir do qual a renovação da água
passou a ser de 40% pois a qualidade da água é importante para o Amyloodinium infectar os
peixes (Pereira et al., 2011).
O arejamento e o fotoperíodo foram mantidos constantes ao longo de todo o ensaio em
todos os tanques. A iluminação foi garantida por lâmpadas flora fluorescente tubular,
dispostas no tecto da sala, de modo a abranger todo o circuito experimental.
A temperatura da sala foi controlada por um aparelho de ar condicionado junto à
entrada da sala de ensaio. Ao 25ºdia de ensaio foram distribuídos dinoflagelados pelos 12
primeiros tanques e a temperatura foi aumentada de 21ºC para 26ºC, para potenciar a infecção
do parasita.
25
Figura 3.2 – Circuito experimental.
3.7.3. Animais-alvo
Para o ensaio in vivo foram utilizados 360 juvenis de douradas provenientes de uma
maternidade de França, com um peso inicial de 18,58 ± 3,27 g (média ± D.P). Os animais
foram lavados em água doce e alguns amostrados para garantir que os mesmos não se
encontravam infectados com A. ocellatum.
Após a pesagem foram distribuídos 15 peixes por aquário pelos 24 aquários do ensaio.
Tiveram um período de aclimatização para se adaptarem às condições experimentais (tipo de
alimentação, regime alimentar, qualidade da água, fotoperíodo, densidade e manutenção dos
tanques) de 13 dias.
No início do ensaio, os peixes foram alimentados duas vezes por dia com uma ração
comercial “AquaGold 5” 2 mm (Aquasoja, SORGAL, S.A., Ovar, Portugal) a uma taxa de 3%
do peso vivo médio do peixe. Ao fim de 12 dias os peixes passaram a ser alimentados com
ração tratada (tabela 3.5) a uma taxa de 2% do peso vivo médio dos peixes em cada tanque.
Os peixes mortos, foram removidos do tanque, dissecados e inspeccionados para
confirmar se se encontravam infectados com A. ocellatum (Masson et al., 2011).
26
Tabela 3.5 – Tratamento por tanque.
Composto Tanques
Controlo 1;2;13;14
DMSO 3;4;15;16
NAD19 5;6;17;18
NAD17 7;8;19;20
LCD93 9;10;21;22
LCD67A 11;12;23;24
3.7.4. Infecção dos animais-alvo
Os dinosporos utilizados no ensaio in vivo foram os obtidos do isolamento de dia 15-
09-2012 (tabela 3.1). Após o isolamento, descrito anteriormente, os tomontes foram
colocados num frasco com um volume de água salgada artificial de 24 ml. Os tomontes foram
incubados a 26 ºC e 35 ppt durante 72h, tempo aproximado que o parasita atinge o estado de
dinosporo (Oestmann e Lewis, 1995). Todos os dias foi pipetado 1 µl do volume de água
contendo o parasita para uma lâmina e observado ao microscópio com o objectivo de
acompanhar o desenvolvimento do parasita e obter a concentração aproximada de dinosporos.
Após as 72 h, foram distribuídos por 12 tanques, 2 ml da suspensão de dinosporos (±667
dinosporos). De modo a detectar a presença do parasita, após 5 dias de se ter realizado a
infecção, foi cuidadosamente examinado um peixe por tanque através de raspagem do
tegumento e observada sob luz do microscópio.
3.7.5. Amostragem biológica
Realizaram-se duas amostragens, a primeira foi realizada ao 7º e 8º dias de infecção
com dinosporos amostrando-se 6 peixes, enquanto a segunda realizada ao 18º dia amostraram-
se os restantes peixes.
Em ambas as amostragens, o volume da água do tanque foi reduzido para 50 % do
volume total e os peixes capturados com um camaroeiro. Os animais não foram anestesiados
pois poderia haver falsos negativos (Floyd e Floyd, 2011).
27
Após a pesagem, foram recolhidos 300 µl de sangue de 4 peixes por punção caudal
com seringas de 1 ml heparinizadas e seguidamente sacrificados por corte da coluna. O
sangue recolhido foi colocado em tubos eppendorf, devidamente identificados. O plasma
sanguíneo foi separado por centrifugação (11500g) e colocado em tubos eppendorf
identificados e imediatamente congelados.
A todos os peixes amostrados foram cortados filamentos do segundo arco branquial
aos quais se adicionou água salgada a 33ppt. A lâmina montada com filamentos branquiais foi
observada sob a luz do microscópio BMS - E1, anotou-se o número de trofontes em 20
filamentos a uma ampliação 100x.
Na segunda amostragem foi retirado um arco branquial com uma tesoura de pontas
finas de 3 peixes de tanques que não receberam tratamento e de peixes que receberam o
fármaco NAD19. Cada arco branquial foi colocado num tubo eppendorf identificado com
tampão SEI (150 mM sacarose, 10 mM EDTA, 50 mM imidazole, pH 7.3) e congelado para
posterior medição da actividade Na+/K
+ - ATPase.
Foram ainda amostrados 5 peixes de 3 tanques de terra com animais que recuperaram
de infecção de A. ocellatum, peixes que nunca foram infectados e peixes infectados. O plasma
recolhido destes peixes foi congelado em azoto líquido a -80ºC.
O transporte das amostras da piscicultura até ao laboratório de Fisiologia Adaptativa e
Bioquímica do Grupo de Investigação em Endocrinologia Comparativa e Molecular do
CCMAR foi efectuado em caixas isotérmicas de transporte de peixe com gelo em escamas.
3.7.6. Análises bioquímicas
O plasma é uma fracção de fluido de sangue que contém sais e proteínas dissolvidas
que fornecem dados sobre o bem-estar animal. As análises bioquímicas realizadas ao plasma
foram: medição da osmolaridade, quantificação do cloro, glucose, proteína e cortisol, e aos
arcos branquiais medição da actividade Na+, K
+ - ATPase.
As amostras recolhidas foram descongeladas no dia das análises.
3.7.6.1.Análises ao plasma
Os níveis de cortisol no plasma foram determinados pelo radioimunoensaio (RIA)
descrito por Rotllant e os seus colaboradores (2005). As amostras de plasma foram diluídas
28
em tampão SEI e desnaturadas a 70ºC durante 30 minutos. Preparou-se a curva-padrão através
de uma concentração conhecida de cortisol. Pipetou-se 100 µl de amostra em duplicado,
adicionou-se 100 µl de solução anticorpo/marcador ([3H]-cortisol+anticorpo+tampão gelatina)
e incubou-se a 4ºC durante a noite. Após incubação adicionou-se 250 µl de carvão activado
com excepção do tubo total (indica a actividade total em cada tubo), sempre sobre gelo sem
ultrapassar 12 minutos entre a primeira e a última amostra. Centrifugou-se a 2000 rpm
durante 12 minutos a 4ºC e o sobrenadante transferiu-se para tubos de cintilação aos quais se
adicionou 4 ml de líquido de cintilar.
A medição da osmolaridade do sangue providência informação funcional e essencial
para entender o estado de osmorregulação do peixe (Bodinier et al., 2010), tendo sido medida
num osmómetro de pressão de vapor (WESCOR 5520).
A concentração de proteína no plasma foi determinada pela diluição do plasma 1:40 e
medição da concentração de proteína usando uma variante em “kit” comercial (BIORAD) do
método Bradford (1976) adaptado a placa de 96 poços. A curva padrão foi realizada com uma
concentração conhecida de albumina de soro bovino (BSA) (2mg/ml) e a absorbância lida a
595 nm.
A quantificação da glucose e do cloro foi medida com kits comerciais de Spinreact
(Sant Esteve de Bas, Espanha) adaptados a placas de 96 poços. Para ambos preparou-se a
curva-padrão através de uma concentração conhecida de glucose (20 mM) e cloreto de sódio
(200 mM). Pipetou-se 2,5 µl de cada concentração da curva-padrão em triplicado, do padrão
do kit e das amostras em duplicado. Aos poços adicionou-se 250 µl de reagente e deixou-se a
incubar à temperatura ambiente durante 10 minutos. Através do espectofotómetro leu-se a
absorbância a 505 nm para a glucose e a 480 nm para o cloro. O declive da curva-padrão
permitiu calcular a concentração de cada composto em mmol/L.
3.7.6.2. Medição da actividade Na+, K
+ - ATPase nas brânquias
A actividade de Na+ / K
+ ATPase das brânquias foi determinada segundo o método
McCormick (1993) adaptado para peixes não-salmonideos. Após descongelar, cortou-se uns
três filamentos branquiais e homogeneizou-se em 125 µl de tampão SEI. A mistura foi
centrifugada a 5000g durante 2 minutos a 4ºC. Pipetou-se 10 µl dos homogeneizados em
quadriplicado para uma placa de 96 poços. Cada amostra tinha 2 poços contendo uma mistura
29
com oubaina (0,5 mM) e outros 2 contendo uma mistura sem oubaína, um inibidor específico
da actividade de Na+ / K
+ ATPase. Mediu-se cinemticamente durante 10 minutos a 25ºC e a
um comprimento de onda de 340 nm num espectofotometro.
A actividade ATPase foi detectada por acoplamento enzimático de desfosforilação de
ATP para a oxidação de NADH e expressa em µmol ADP mg proteína-1
hora-1
(Laiz-Carrión
et al., 2005).
3.8.Análise estatística
Para cada tratamento foi calculada a abundância média, a taxa de prevalência de
parasitas nas brânquias adaptado de Bush et al (1997) e a eficácia adaptada de Stone et al.,
(2000), como se segue:
Abundância média = (número total de parasitas observados em 20 filamentos
branquiais/número de peixes examinados);
Taxa de prevalência (%) = (número peixes parasitados/ número de peixes examinados)
x 100;
% Eficácia= 100 – (100 x (média da abundância de parasitas no grupo de
tratamento/media da abundância de parasitas no grupo de controlo)).
As diferenças estatisticamente significativas entre infectados e não infectados para o
mesmo tratamento e amostragem foram estadas através do teste t-Student. Utilizou-se ainda o
teste t-Student para verificar diferenças estatisticamente significantes entre infectados/não
infectados do mesmo tratamento entre amostragens. Para averiguar se existiam diferenças
significativas entre tratamentos para infectados/não infectados na mesma amostragem
aplicou-se uma análise de variância (ANOVA) em ranks seguindo-se o teste Kruskal-Wallis
para a osmolaridade, glucose e proteína e para o cloro foi através de uma ANOVA de um
factor. Através do teste de Pearson testou-se a relação entre o número de trofontes observados
em 20 filamentos branquiais para cada uma das medições realizadas ao plasma. Todos os
procedimentos estatísticos foram efectuados nos programas informáticos Microsoft Excel® e
SigmaPlot v.15 para Windows, para um nível de significância de 5%.
30
4. Resultados
A apresentação dos resultados foi elaborada em três partes. A primeira parte apresenta
os resultados dos isolamentos, enquanto a segunda e terceira parte apresenta os resultados dos
ensaios in vitro e in vivo, respectivamente.
4.1. Isolamentos
Para o diagnóstico da infecção foi necessário realizar biópsias às brânquias pois os
peixes utilizados para realizar isolamentos raramente revelaram sinais clínicos associados à
amiloodiniose.
Em contacto com água destilada o parasita retraiu os rizóides e formou uma célula
encapsulada (tomonte). Nos primeiros minutos após serem transferidos para água salgada
filtrada, ocorreu contracção do citoplasma da membrana celular. A maioria dos isolamentos
realizados foram utilizados para iniciar ensaios in vitro (tabela 4.1). Quando o inóculo não era
totalmente utilizado no ensaio in vitro, utilizou-se para contaminar peixes. Vários isolamentos
foram fracassados devido à morte dos animais ou ao reduzido número, por vezes zero, de
tomontes isolados.
31
Tabela 4.1 – Isolamento do parasita, quantidade isolada e utilização.
Isolamento Nº tomontes/µl Utilização
13-01-2012 0 -
25-01-2012 13 Ensaio in vitro
28-01-2012 10 Ensaio in vitro
04-02-2012 0 -
24-04-2012 24 Ensaio in vitro
28-04-2012 8 Ensaio in vitro
04-05-2012 3 Infecção de outros peixes
10-05-2012 6 Ensaio in vitro
17-05-2012 3 Infecção de outros peixes
23-05-2012 6 Ensaio in vitro
04-06-2012 8 Ensaio in vitro
18-06-2012 1 Infecção de outros peixes
13-07-2012 7 Ensaio in vitro
21-07-2012 34 Ensaio in vitro
29-07-2012 7 Ensaio in vitro
12-09-2012 3 Ensaio in vivo
4.2.Ensaios in vitro
4.2.1. Observação do ciclo de vida do parasita
A divisão do parasita iniciou-se primeiro no inóculo que não esteve a 4ºC (figura 4.2 a
e b). Nesse inóculo (figura 4.2 a), observaram-se as primeiras divisões às 36h após o início do
isolamento e atingiu o último estado de divisão (32t/T) às 72h. Enquanto no inóculo que
esteve 1 dia a 4ºC as primeiras divisões observaram-se às 68h (figura 4.2 b) e o estado de
divisão mais avançado que se observou foi 8 t/T.
32
Neste ensaio, os tomitos dividiram-se por fissão binária em completa sincronização
dentro do tomonte. No entanto, a divisão dos tomontes não foi sincronizada em ambos os
inóculos.
Figura 4.2 – Abundância relativa do estado do parasita ao longo do tempo quando não esteve
a 4ºC (a) e quando esteve 1 dia a 4ºC (b) (n = variável). Consultar tabela 3.3.
O valor do índice de desenvolvimento do parasita (figura 4.3) aumenta ao longo do
tempo e com valores mais elevados em parasitas que não estiveram a 4ºC, enquanto em
parasitas que estiveram 1 dia a 4ºC mantém-se estável nas primeiras 44 horas e com valores
mais baixos.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0 36 40 44 68 72 76
Ab
un
dân
cia
mé
dia
Tempo (h) (a)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0 36 40 44 68 72 76
Ab
un
dân
cia
mé
dia
Tempo (h) (b)
33
Figura 4.3 - Índice de desenvolvimento do parasita ao longo do tempo quando não esteve a
4ºC e quando esteve 1 dia a 4ºC.
4.2.2. Exposição aos endoperóxidos
4.2.2.1.Abundância relativa do parasita
Na generalidade, as células dos grupos de controlo de cada ensaio de exposição de
células de A. ocellatum a endoperóxidos, encontravam-se em estados mais avançados de
divisão que as células expostas a DMSO e/ou a um endoperóxido (figura 4.4, 4.5 e 4.6). Além
disso a maioria das células observadas tanto nos controlos como nos tratamentos, às 24 e 48
horas estavam no estado 1t/T (não ocorreu divisão).
Não se observou divisão às 24 e 48 horas nos seguintes poços: 0,1mM NAD19 (figura
4.4 a), 1mM LCD93 (figura 4.5 c) e DMSO dos ensaios com LCD93 a 1mM (figura 4.5 c) e
2,5mM (figura 4.6 c).
Em geral, das 24 para as 48h observaram-se estados de divisão mais avançados, com
excepção para os ensaios de 1mM de NAD17 e NAD19 nos quais às 48h apenas se
observaram células que não tinham sofrido divisão (1t/T) (figura 4.5).
Observaram-se estados mais avançados de divisão nos poços expostos a 2mM NAD19
que nas restantes doses testadas do fármaco.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0 36 40 44 68 72 76
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
par
asit
a
Tempo (h)
0 dias a 4ºC
1 dia a 4ºC
34
Figura 4.4 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 0,1mM de NAD17 (a), NAD19 (b) e LCD93 (c) às 24h e às 48h (n =
variável). Consultar tabela 3.3.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
NA
D1
7
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
NA
D1
7
24h 48h(a)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
NA
D1
9
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
NA
D1
9
24h 48h(b)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
LC
D9
3
Co
ntr
olo
DM
SO
0,1
mM
LC
D 9
3
24h 48h(c)
35
Figura 4.5 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 1mM de NAD17 (a), NAD19 (b), LCD93 (c) e LCD67A (d) às 24h e às 48h
(n = variável). Consultar tabela 3.3.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
1 m
M N
AD
17
Co
ntr
olo
DM
SO
1 m
M N
AD
17
24h 48h(a)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
1 m
M N
AD
19
Co
ntr
olo
DM
SO
1 m
M N
AD
19
24h 48h(b)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
1m
M L
CD
93
Co
ntr
olo
DM
SO
1m
M L
CD
93
24h 48h(c)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
1m
M L
CD
67
A
Co
ntr
olo
DM
SO
1m
M L
CD
67
A
24h 48h(d)
36
Figura 4.6 – Abundância relativa do estado do parasita comparando o controlo, solvente e
endoperóxido a 2 e 2,5mM de NAD17 (a), NAD19 (b) e LCD67A (c) às 24h e às 48h (n =
variável). Consultar tabela 3.3.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
2m
M N
AD
17
Co
ntr
olo
DM
SO
2m
M N
AD
17
24h 48h(a)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
2M
m N
AD
19
Co
ntr
olo
DM
SO
2M
m N
AD
19
24h 48h(b)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Co
ntr
olo
DM
SO
2,5
mM
LC
D6
7A
Co
ntr
olo
DM
SO
2,5
mM
LC
D6
7A
24h 48h(c)
37
4.2.3. Índice de desenvolvimento do parasita
O índice de desenvolvimento do parasita tem geralmente valores menores quando o
parasita é exposto a doses menores e tende a aumentar das 24 para as 48 horas (figura 4.7 a, b,
c e d), com excepção para o NAD19 a 2mM (figura 4.7 b).
O NAD 19 a 0,1mM (figura 4.7 b) foi o único endoperóxido que mantiveram o índice
de desenvolvimento de 1 das 24 para as 48 horas. O endoperóxido com um maior índice de
desenvolvimento foi o NAD17 a 0,1mM (figura 4.7 a).
Figura 4.7 - Índice de desenvolvimento do parasita quando exposto a NAD17 (a), NAD19 (b),
LCD93 (c) e LCD67A (d) a diferentes concentrações às 24 e 48 horas.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
24 48
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
par
asit
a
Tempo (h) (a)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
24 48
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
par
asit
a
Tempo (h) (b)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
24 48
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
par
asit
a
Tempo (h) (c)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
24 48
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
par
asit
a
Tempo (h) (d)
38
Os valores do índice de desenvolvimento de todas as concentrações testadas de
NAD19 encontram-se representados na figura 4.8, onde é possível observar que os valores às
24h são iguais aos das 48h com excepção das concentrações de 1 e 2mM.
Figura 4.8 – Índice de desenvolvimento do parasita quando exposto a NAD19 a diferentes
concentrações às 24 e 48 horas.
O quociente do índice de desenvolvimento do parasita do NAD19 e do respectivo
controlo para cada dose (figura 4.9) é muito próximo para as concentrações 0,01; 0,05; 0,1 e
0,25 aumentando na concentração 1mM e 2mM tanto às 24 como às 48 horas. Com excepção
da concentração 2mM o quociente é superior às 24 horas.
Figura 4.9 – Quociente do Índice de desenvolvimento do parasita do NAD19 e do respectivo
índice do controlo às 24h e 48h.
0
1
2
3
4
5
6
0,01 0,05 0,1 0,25 1 2
Índ
ice
de
de
sen
volv
ime
nto
do
p
aras
ita
Concentrações (mM)
24h
48h
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,01 0,05 0,1 0,25 1 2
Índ
. de
s. p
aras
. NA
D1
9/Í
nd
. d
es.
par
as. c
on
tro
lo
Concentração (mM)
24h
48h
39
4.3.Ensaios in vivo
4.3.1. Animais
Durante o período de aclimatização morreu uma dourada em cada um dos seguintes
aquários: 3 (DMSO), 19 (NAD17) e 22 (LCD93). Quanto à ingestão de alimento durante o
período de aclimatização dos animais à ração tratada com uma dose de 10µmol/kg, não se
observou regurgitação da ração nem sinais de toxicidade (por exemplo, natação errática ou
perda de equilíbrio).
Após o início da infecção, as douradas ingeriram sempre toda a ração fornecida com
excepção das douradas do aquário 10 (LCD93) que ao 33º, 34º e 35º dia ingeriram cerca de
80% da ração fornecida.
4.3.2. Infecção
O exame microscópio óptico das preparações a fresco de esfregaços da pele,
realizados ao 5ºdia após a infecção, permitiu identificar morfologicamente o estado trofonte
do A. ocellatum e observar que as douradas pertencentes ao grupo “não infectados”
encontravam-se infectadas. No entanto, optou-se por manter a classificação como
“infectados” e “não infectados”, para analisar se existiam diferenças entre as douradas que
foram infectadas de acordo com o protocolo e as que foram contaminadas.
A maioria dos trofontes observados eram de pequena dimensão e de coloração clara.
Observaram-se menos trofontes nas douradas que receberam tratamento NAD17 e
NAD19 na 1ª amostragem (figura 4.10 a) e nas que receberam DMSO e LCD67A na 2ª
amostragem (figura 4.10 b). Por outro lado, foi nas douradas que receberam tratamento oral
LCD93 (figura 4.10 a e b) em que se observaram maior número de trofontes nos 20
filamentos branquiais observados.
As douradas infectadas com A. ocellatum tinham um maior número de parasitas, com
excepção na 1ª amostragem (figura 4.10 a) para as que receberam tratamento oral NAD17 e
na 2ª amostragem (figura 4.10 b) as que receberam tratamento oral LCD93.
Apenas na 2ª amostragem (figura 4.10 b) existe diferença estatisticamente significativa
(p<0,05) entre o controlo das douradas não infectadas e as que receberam os tratamentos com
40
NAD17, NAD19 e LCD67A, nos quais o numero médio de parasitas é menor que o do
controlo.
Da 1ª para a 2ª amostragem há uma redução do número de parasitas observados em
todos os grupos.
Figura 4.10 – Abundância média (número total de parasitas observados em 20 filamentos
branquiais/número de peixes examinados) de douradas infectadas ( ) e não infectadas ( )
com A. ocellatum em diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª amostragem (b). Os valores são as
médias ± erro-padrão (n 1ªamostragem = 12; n 2ª amostragem = 17-18).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (P<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados ou não infectados (ANOVA de um factor);
*- Indica diferença estatisticamente significativa entre infectados e não infectados no mesmo
tratamento (teste t-Student);
# - Indica diferença estatisticamente significativa entre a 1ª e 2ª amostragem para o mesmo
tratamento e grau de infecção (teste t-Student).
Apesar de na 1ªamostragem o número de parasitas em 20 filamentos branquiais ser
menor nas douradas tratadas com NAD19 (figura 4.10 a), os peixes infectados que receberam
este tratamento tinham uma prevalência branquial de 100% (fig. 4.11 a).
A prevalência do parasita nas brânquias (figura 4.10 a e b) foi de modo geral maior
nos peixes infectados e diminuindo da 1ª para a 2ª amostragem.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Nº
par
asit
as/2
0 f
ilam
en
tos
bra
nq
uia
is
Tratamento
a
a
a
a
a
a
ab
a
ab
ab
b
ab *
(a)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Nº
par
asit
as/2
0 f
ilam
en
tos
bra
nq
uia
is
Tratamento
a
ac
a abc
a
ab
a
b
a
c
a
b
* * *
#
#
#
(b)
41
Figura 4.11 – Prevalência ((número peixes parasitados/ número de peixes examinados) x 100)
nas brânquias em douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum submetidas
a diferentes tratamentos orais na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n 1ª amostragem = 12; n 2ª
amostragem = 17-18).
Em relação à eficácia dos tratamentos existiu uma grande variabilidade para o mesmo
tratamento comparando a eficácia do tratamento nas douradas infectadas com as não
infectadas e da 1ª para a 2ª amostragem (figura 4.12 a e b), apenas o DMSO, o qual não é
considerado tratamento mas sim o controlo do solvente, registou valores mais próximos de
eficácia tanto em relação ao tipo de infecção como entre amostragens. Quanto ao
endoperóxido menos eficaz foi o LCD93.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Pre
valê
nci
a n
as b
rân
qu
ias
(%)
Tratamento (a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Pre
valê
nci
a n
as b
rân
qu
ias
(%)
Tratamento (b)
42
Figura 4.12 – Eficácia (%) (100 – (100 x (média da abundância de parasitas no grupo de
tratamento/media da abundância de parasitas no grupo de controlo)) dos tratamentos em
douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum na 1ª e 2ª amostragem. n=12
(1ªamostragem) e n=17-18 (2ªamostragem) (n 1ªamostragem = 12; n 2ª amostragem = 17-18).
Na dose testada nenhum dos endoperóxido conseguiu eliminar completamente o
parasita (figura 4.10 e 4.11) e obter uma eficácia de 100% (figura 4.12).
4.3.3. Metabolitos
No ensaio preliminar no qual se recolheu sangue de peixes que se encontravam
infectados, que tinham recuperado e outros que nunca tinham estado em contacto com o
parasita (näive) e se mediu o nível de cortisol não houve diferença estatisticamente
significativa (p < 0,05) (figura 4.13).
-200
-150
-100
-50
0
50
100
Efic
ácia
(%
)
Tratamento (a)
-200
-150
-100
-50
0
50
100
Efic
ácia
(%
) Tratamento
(b)
43
Figura 4.13 – Níveis de cortisol (ng ml-1
) em plasma sanguíneo de diferentes grupos de peixes
expostos ao parasita. Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 5).
Não existe diferença estatisticamente significativa (p<0,05) (ANOVA de um factor).
Relativamente ao ensaio in vivo, na 1ª amostragem (figura 4.14 a) não existe diferença
estatisticamente significante dos níveis de cortisol entre tratamentos, no entanto as douradas
que receberam o tratamento oral LCD67A foram as que tiveram níveis de cortisol
ligeiramente mais elevados (±40 ng ml-1
). Já na 2ª amostragem (figura 4.14 b) douradas não
infectadas e tratadas com DMSO e as infectadas tratadas com NAD19, LCD93 e LCD67A
tinham níveis mais elevados de cortisol (superior a 40 ng ml-1
) que as restantes douradas.
As concentrações plasmáticas de cortisol apresentaram uma grande variabilidade, o
que dificultou a análise e interpretação dos resultados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Infectados Recuperaram näive
Co
rtis
ol (
ng
ml-1
)
Peixes
a
a a
44
Figura 4.14 – Níveis de cortisol (ng ml-1
) em plasma de douradas infectadas ( ) e não
infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª amostragem
(b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativa (P<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados (ANOVA de um factor);
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados (teste t-Student);
# - Indica diferença estatística significativa entre a 1ª e 2ª amostragem no mesmo tratamento e
infecção (teste t-Student).
Pela análise da figura 4.15 a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e o nível de cortisol (ng ml-1
) em plasma de douradas infectadas e não
infectadas tanto na 1ª como na 2ª amostragem, comprovado pelo teste de correlação de
Pearson (p<0,05).
0102030405060708090
100110120130140150160
Co
rtis
ol (
ng
ml-
1)
Tratamento
a a a
a a
a a a a
a
a
a
(a)
0102030405060708090
100110120130140150160
Co
rtis
ol (
ng
ml-1
)
Tratamento
a a
a
bc bc
bc
a
b
a a
a ab
* #
#
* #
#
*
#
*
(b)
45
Figura 4.15 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
cortisol (ng ml-1
) no plasma das douradas infectadas e não infectadas na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b) (n=47-48).
Infectados ( ): y = 0,846x + 11,103 R2 = 0,0365; Teste de correlação de Pearson r=0,0803,
p=0,592 (1ª amostragem). y = 0,6911x + 42,553 R2
= 0,0082; Teste de correlação de Pearson
r= 0,0904; p=0,541 (2ª amostragem).
Não infectados ( ): y = 0,0364x + 11,088 R2
= 0,0005; Teste de correlação de Pearson
r=0,191; p=0,194 (1ª amostragem). y = - 0,1795x + 17,326 R2 = 0,0036; Teste de correlação
de Pearson r=-0,0599; p=0,686 (2ª amostragem).
Os níveis de glucose (mmol l-1
) (figura 4.16 a e b) no plasma das douradas tem valores
muito próximos dos 4 mmol l-1
, não existindo diferença estatisticamente significante.
0
50
100
150
200
250
300
0 20 40 60
Co
rtis
ol (
ng
ml-
1)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(a)
0
50
100
150
200
250
300
0 20 40 60
Co
rtis
ol (
ng
ml-1
)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(b)
46
Figura 4.16 – Níveis de glucose (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( ) e
não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados (ANOVA de um factor);
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados (teste t-Student);
# - Indica diferença estatística significativa entre a 1ª e 2ª amostragem no mesmo tratamento e
infecção (teste t-Student).
Pela análise da figura 4.17a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e o nível de glucose (mmol l-1
) em plasma de douradas infectadas e não
infectadas com A. ocellatum, tanto na 1ª como na 2ª amostragem, comprovado pelo teste de
correlação de Pearson (p<0,05).
0
1
2
3
4
5
6
Glu
cose
(m
mo
l l-1
)
Tratamento
a
a a a
a a a
a
a
a a a
(a)
0
1
2
3
4
5
6
Glu
cose
(m
mo
l l-1
)
Tratamento
a a a a a a
a
a a a
a a
(b)
47
Figura 4.17 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
glucose (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48). Infectados ( ): y = -0,013x + 3,8748 R
2 = 0,0155; Teste de correlação de Pearson r=-0,137;
p=0,359 (1ª amostragem). y = 0,0164x + 3,663 R2
= 0,0172; Teste de correlação r=0,131;
p=0,375 (2ª amostragem).
Não infectados ( ): y = 0,0027x + 3,6027 R2
= 0,0005; Teste de correlação de Pearson
r=0,0221; p=0,881 (1ª amostragem). y = - 0,0053x + 3,547 R2 = 0,00109; Teste de correlação
de Pearson r=-0,165; p=0,261 (2ª amostragem).
Os níveis de proteína (mg ml-1
) medidos foram de cerda de 20 ng ml-1
, tendo sido
ligeiramente superiores na 1ª amostragem (figura 4.18 a).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 20 40 60
Glu
cose
(m
mo
l l-1
)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais (a)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 20 40 60
Glu
cose
(m
mo
l l-1
)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(b)
48
Figura 4.18 – Níveis de proteína (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( )
e não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos orais na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados (ANOVA de um factor) ;
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados (teste t-Student);
# - Indica diferença estatística significativa entre a 1ª e 2ª amostragem no mesmo tratamento e
infecção (teste t-Student).
Pela análise da figura 4.19 a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e o nível de proteína (mg ml-1
) em plasma de douradas infectadas e não
infectadas com A. ocellatum, tanto na 1ª como na 2ª amostragem, comprovado pelo teste de
correlação de Pearson (p<0,05).
0
5
10
15
20
25
30
Pro
teín
a (m
g m
l-1)
Tratamento
a a
a a
a a ab
ab
a
b b b
* *
*
(a)
0
5
10
15
20
25
30
Pro
teín
a (m
g m
l-1)
Tratamento
a a a a a a
a a a a a a #
# #
(b)
49
Figura 4.19 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
proteína (mg ml-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48).
Infectados ( ): y = -0,0639x + 19,194 R2 = 0,0414; Teste de correlação de Pearson r=-0,223;
p=0,133 (1ª amostragem). y = -0,0861x + 18,939 R2
= 0,0271; Teste de correlação de Pearson
r=-0,165; p=0,263 (2ª amostragem).
Não infectados ( ): y = -0,1345x + 30,912 R2
= 0,00281; Teste de correlação de Pearson r=-
0,168; p=0,255 (1ª amostragem); y = 0,0402x + 18,813 R2 = 0,0132; Teste de correlação de
Pearson r=0,115; p=0,437 (2ª amostragem).
4.3.4. Osmorregulação
Como é possível observar na figura 4.20 b, os níveis de osmolaridade (mOsm kg-1
)
diminuíram no plasma sanguíneo de douradas não infectadas tratadas com DMSO e LCD93
da 1ª para a 2ª amostragem.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60
Pro
teín
a (m
g m
l)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais (a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60
Pro
teín
a (m
g m
l-1)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(b)
50
Figura 4.20 – Níveis de osmolaridade (mOsm kg-1
) em plasma sanguíneo de douradas
infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos orais
na 1ª (a) e 2ª amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados (ANOVA de um factor);
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados (teste t-Student);
# - Indica diferença estatística significativa entre a 1ª e 2ª amostragem no mesmo tratamento e
infecção (teste t-Student).
Pela análise da figura 4.21 a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e o nível de osmolaridade (mOsm kg-1
) em plasma sanguíneo de
douradas infectadas e não infectadas com A. ocellatum, tanto na 1ª como na 2ª amostragem,
comprovado pelo teste de correlação de Pearson (p<0,05).
330
340
350
360
370
380
390
400
410
420
430
Osm
ola
rid
ade
(m
Osm
Kg-1
)
Tratamento
a
a
a
a
a a
a
a
a a
a
a
(a)
330
340
350
360
370
380
390
400
410
420
430
Osm
ola
rid
ade
(m
Osm
Kg-1
) Tratamento
a a
a
a
a
a
a ab # a
a
b
a
# *
(b)
51
Figura 4.21 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
osmolaridade (mOsm kg-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas com
A. ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48).
Infectados ( ): y = -0,2189x + 389,57 R2 = 0,0054; Teste de correlação de Pearson r=-
0,0717; p=0,632 (1ª amostragem). y = -0,0109x + 378,85 R2
= 5E-06; Teste de correlação de
Pearson r=-0,00221; p=0,988 (2ª amostragem).
Não infectados ( ): y = 0,364x + 377,47 R2
= 0,003; Teste de correlação de Pearson
r=0,05467; p=0,712 (1ª amostragem). y = 0,082x + 363,68 R2 = 0,0011; Teste de correlação
de Pearson r=0,0324; p=0,827 (2ª amostragem).
As concentrações plasmáticas de cloro apresentaram uma grande variabilidade. No
entanto, os níveis de cloro (mmol l-1
) são na maioria dos tratamentos superiores nos peixes
infectados (fig. 4.22 a e b) e diminuíram nos peixes tratados com endoperóxidos da 1ª para a
2ª amostragem.
300
320
340
360
380
400
420
440
460
480
0 20 40 60
Osm
ola
rid
ade
(m
Osm
l-1)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(a)
300
320
340
360
380
400
420
440
460
480
0 20 40 60
Osm
ola
rid
ade
(m
Osm
Kg-1
) Nº parasitas/20 filamentos
branquiais (b)
52
Figura 4.22 – Níveis de cloro (mmol l-1
) em plasma sanguíneo de douradas infectadas ( ) e
não infectadas ( ) com A. ocellatum expostas a diferentes tratamentos na 1ª (a) e 2ª
amostragem (b). Os valores são as médias ± erro-padrão (n = 8).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados (ANOVA de um factor);
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados (teste t-Student);
# - Indica diferença estatística significativa entre a 1ª e 2ª amostragem no mesmo tratamento e
infecção (teste t-Student).
Pela análise da figura 4.23 a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e o nível de cloro (mmol l-1
) em plasma de douradas infectadas e não
infectadas com A. ocellatum, tanto na 1ª como na 2ª amostragem, comprovado pelo teste de
correlação de Pearson (p<0,05).
120
125
130
135
140
145
150
155
Cl-
(m
mo
l l-1
)
Tratamento
a
a *
a
a *
a
a *
a
ac * a
bc
a
b *
(a)
120
125
130
135
140
145
150
155
Cl- (
mm
ol l
-1)
Tratamento
ab
a
a
a *
b # a
ab #
a
ab
a * #
ab a #
(b)
53
Figura 4.23 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e o nível de
cloro (mmol l-1
) em plasma sanguíneo das douradas infectadas e não infectadas com A.
ocellatum na 1ª (a) e 2ª amostragem (b) (n=47-48).
Infectadas ( ): y = -0,2138x + 141,91 R2 = 0,0792; Teste de correlação de Pearson r=-0,207;
p=0,163 (1ª amostragem). y = 0,0116x + 135,51 R2
= 5E-05; Teste de correlação de Pearson
r=0,00703; p=0,962 (2ª amostragem).
Não infectadas ( ): y = 0,3177x + 133,89 R2
= 0,0749; Teste de correlação de Pearson
r=0,274; p=0,0597 (1ª amostragem). y = - 0,0809x + 130,65 R2 = 0,00273; Teste de
correlação de Pearson r=-0,165; p=0,261 (2ª amostragem).
Na actividade de Na+,K
+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) (figura 4.24) não existe
diferença estatisticamente significativa entre os peixes do grupo controlo e os que receberam
tratamento oral NAD19. No entanto, existe diferença no grupo controlo entre os peixes
infectados e os não infectados, tendo os infectados menor actividade nas brânquias.
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
0 20 40 60
Cl- (
mm
ol l
-1)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
(a)
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
0 20 40 60C
l (m
mo
l l-1
)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais (b)
54
Figura 4.24 – Actividade de Na+,K
+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) nas brânquias de
douradas infectadas ( ) e não infectadas ( ) com A. ocellatum de douradas do grupo controlo
e do grupo exposto ao tratamento oral com o endoperóxido NAD19 na 2ª amostragem. Os
valores são as médias ± erro-padrão (n = 3).
Letras diferentes - Indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre
tratamentos em peixes infectados e não infectados;
*- Indica diferença estatística significativa no mesmo tratamento entre infectados e não
infectados;
Pela análise da figura 4.25 a e b, não existe relação entre o número de parasitas em 20
filamentos branquiais e a actividade Na+,K+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) nas
brânquias de douradas infectadas e não infectadas com A. ocellatum, comprovado pelo teste
de correlação de Pearson (p<0,05).
0
1
2
3
4
5
6
7
Controlo NAD19
Na+
, K+
- A
TPas
e
(µm
ol A
DP
/mg
pro
teín
a/h
)
Tratamento
a
a
a a
*
55
Figura 4.25 – Relação entre o número de parasitas em 20 filamentos branquiais e a actividade
Na+,K+ - ATPase (µmol ADP/mg proteína/h) nas brânquias de douradas infectadas e não
infectadas com A. ocellatum na 2ª amostragem (n=12).
Infectadas ( ): y = -0,0239x+3,4880 R2=0,0141; Teste de correlação de Pearson r=-0,119;
p=0,713.
Não infectadas ( ):y = -0,1331x + 4,6693 R2 = 0,0597; Teste de correlação de Pearson
r=0,244; p=0,444.
4.3.5. Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo
Na 1ª amostragem existe relação positiva entre a osmolaridade (mOsm kg-1
) e o
cloro (mmol l-1
) do plasma sanguíneo de douradas infectadas (tabela 4.2), enquanto no plasma
sanguíneo das douradas não infectadas (tabela 4.3) a osmolaridade (mOsm kg-1
) tem relação
positiva com o cloro (mmol l-1
), a glucose (mmol l-1
) e o cortisol (ng ml-1
).
Tabela 4.2 – Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas
infectadas na 1ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=47). Existe relação quando
p<0,05.
Osmolaridade
(mOsm kg-1
)
Cloro
(mmol l-1
)
Glucose
(mmol l-1
)
Proteína
(mmol l-1
)
Cortisol
(ng ml-1
)
Osmolaridade
(mOsm kg-1
) -
r=0,455
p=0,00133
r=0,132
p=0,378
r=0,146
p=0,326
r=0,0803
p=0,922
Cloro
(mmol l-1
) - -
r=0,186
p=0,210
r=0,0293
p=0,845
r=-0,0097
p=0,949
Glucose
(mmol l-1
) - - -
r=0,0396
p=0,791
r=-0,0176
p=0,906
Proteína
(mmol l-1
) - - - -
r=0,164
p=0,270
Cortisol
(ng ml-1
) - - - - -
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0 10 20 30
Na+
, K+
- A
TPas
e
(µm
ol A
DP
/m
g p
rote
ína/
h)
Nº parasitas/20 filamentos branquiais
56
Tabela 4.3 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas não
infectadas na 1ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05.
Osmolaridade
(mOsm kg-1
)
Cloro
(mmol l-1
)
Glucose
(mmol l-1
)
Proteína
(mmol l-1
)
Cortisol
(ng ml-1
)
Osmolaridade
(mOsm kg-1
) -
r=0,429
p=0,00237
r=0,297
p=0,0406
r=-0,0693
p=0,640
r=0,492
p=0,000388
Cloro
(mmol l-1
) - -
r=-0,0988
p=0,504
r=-0,274
p=0,0598
r=0,164
p=0,265
Glucose
(mmol l-1
) - - -
r=-0,0372
p=0,802
r=0,226
p=0,122
Proteína
(mmol l-1
) - - - -
r=-0,128
p=0,388
Cortisol
(ng ml-1
) - - - - -
Na 2ª amostragem (tabela 4.4) a osmolaridade (mOsm kg-1
) do plasma sanguíneo de
douradas infectadas tem relação positiva com o cloro (mmol l-1
), a glucose (mmol l-1
) e a
proteína (mmol l-1
), e o cloro (mmol l-1
) tem relação positiva com a proteína (mmol l-1
).
Enquanto nas douradas não infectadas a osmolaridade (mOsm kg-1
) apenas tem relação
positiva com o cloro (mmol l-1
) e a glucose (mmol l-1
) (tabela 4.5).
Tabela 4.4 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas
infectadas na 2ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05.
Osmolaridade
(mOsm kg-1
)
Cloro
(mmol l-1
)
Glucose
(mmol l-1
)
Proteína
(mmol l-1
)
Cortisol
(ng ml-1
)
Osmolaridade
(mOsm kg-1
) -
r=0,424
p=0,00270
r=0,317
p=0,0280
r=0,333
p=0,0207
r=0,0219
p=0,883
Cloro
(mmol l-1
) - -
r=0,0994
p=0,501
r=0,250
p=0,0870
r=-0,0694
p=0,639
Glucose
(mmol l-1
) - - -
r=0,0129
p=0,931
r=0,213
p=0,146
Proteína
(mmol l-1
) - - - -
r=-0,0747
p=0,614
Cortisol
(ng ml-1
) - - - - -
57
Tabela 4.5 - Relações entre as análises bioquímicas ao plasma sanguíneo de douradas não
infectadas na 2ª amostragem. Teste de correlação de Pearson (n=48). Existe relação quando
p<0,05.
Osmolaridade
(mOsm kg-1
)
Cloro
(mmol l-1
)
Glucose
(mmol l-1
)
Proteína
(mmol l-1
)
Cortisol
(ng ml-1
)
Osmolaridade
(mOsm kg-1
) -
r=0,389
p=0,00627
r=0,306
p=0,0345
r=0,00217
p=0,988
r=-0,0869
p=0,557
Cloro
(mmol l-1
) - -
r=-0,00445
p=0,976
r=-0,185
p=0,207
r=0,0757
p=0,609
Glucose
(mmol l-1
) - - -
r=-0,216
p=0,141
r=-0,0240
p=0,872
Proteína
(mmol l-1
) - - - -
r=0,108
p=0,465
Cortisol
(ng ml-1
) - - - - -
58
5. Discussão
A. ocellatum é um agente patogénico que afecta vários peixes marinhos e euralianos,
especialmente espécies marinhas comerciais (Oestmann e Lewis, 1996), como a dourada
(Sparus aurata) e o robalo (Dicentrarchus labrax) nas aquaculturas semi-intensivas de
Portugal. Os surtos iniciam-se, normalmente, na Primavera quando a temperatura da água
aumenta e são especialmente epizoóticos no Verão, coincidindo com o período de elevada
procura comercial. Com base na necessidade de desenvolver estratégias para a profilaxia e
controlo de A. ocellatum, realizaram-se ensaios in vitro e in vivo com novos fármacos, uma
vez que os correntes métodos não são efectivos a eliminar todas as formas do parasita e
requerem longos períodos de exposição. Neste caso, foram usados os endoperóxidos, que
demonstraram a sua eficácia em outros protozoários, como o Plasmodium falciparum
(Opsenica e Šolaja, 2009; O’neill et al., 2010, Delves et al., 2012) e o Perkinsus sp.
(Cristiano, 2010).
Para a realização de ensaios in vitro, foi necessário isolar o parasita de peixes
infectados, uma vez que, não se conhece nenhum método que possibilite o isolamento do
parasita através da água ou do solo. A descoberta de um método capaz de obter o parasita do
solo ou da água evitaria o recurso a animais saudáveis, o que estaria de acordo com o
princípio dos 3R’s (Replacement, Reduction e Refinement). Além disso, seria ainda um
contributo para o estudo da biologia do parasita, do qual apenas se sabe até à data que o
parasita completa o seu ciclo de vida, quando a célula-mãe foi isolada de um peixe.
O método adaptado de Bower et al. (1987) não demonstrou ser o mais eficaz neste
estudo pois suspeita-se da perda de tomontes através da sinfonagem, que para além de ser um
método muito moroso, não pode ser aplicado a espécies menos tolerantes a meios
hipossalinos. O outro método adoptado de Roberts-Thomson et al. (2006), apesar de também
ser stressante para o peixe, é realizado num menor espaço de tempo. De modo a estudar o A.
ocellatum, uma técnica de propagação do parasita in vitro é necessária para que seja possível
ter parasitas sempre que se pretenda iniciar um ensaio e em quantidades suficientes que
permitam obter resultados fiáveis. Por exemplo, Ullal (2006) para testar o efeito de HbβP-1
em A. ocellatum utilizou parasitas isolados de Morone saxatilis propagados numa linha de
células das brânquias. Vários outros autores desenvolveram e melhoraram meios de cultura
capazes de produzir o parasita (Bower et al., 1987; Noga,1987; Oestmann e Lewis, 1995;
Oestmann e Lewis, 1996).
59
Em relação aos métodos utilizados para contar o parasita, alguns autores optaram por
uma “sedgwick-rafter counting cell” para contar o número total de dinosporos imobilizados
com formol (Bower et al., 1987, Masson et al., 2011), enquanto outros optaram pela
utilização de uma técnica especifica de PCR (Levy et al., 2007).
Os parasitas observados no isolamento mantiveram a sua forma e realizaram a
encapsulação em contacto com água doce e mesmo tendo-se observado contracção do
citoplasma dos tomontes, isto não pareceu afectar a sua divisão e consequente esporulação, tal
como observaram Bower et al. (1987).
Durante os ensaios in vitro observaram-se tomontes em diferentes estados de divisão,
devido ao facto de não existir sincronia de divisões entre tomontes, resultando numa
variabilidade no tempo de esporulação entre estes (Paperna, 1984b). O intervalo de
temperatura de 23-27ºC deveria ter sido o ideal para ocorrer um “sucesso de divisão” de
100% ao fim de 2-3 dias (Paperna, 1984b), porém nos primeiros ensaios in vitro tal não
aconteceu. Existem várias razões para não se terem observado dinosporos, tais como, os
trofontes não terem o tamanho ideal a quando do desprendimento das brânquias (Paperna,
1984b), a sua rápida mobilidade o que torna difícil a sua pipetagem e observação ao
microscópio, neste caso, à quantidade de água pipetada deveria ter-se adicionado anestésico
para imobilizar os dinosporos. Para além da dessincronização entre tomontes, observou-se
ainda dessincronização na divisão dos tomitos dentro do mesmo tomonte, contrariamente ao
observado por Paperna (1984b).
Após incubação 1 dia a 4ºC os tomontes demonstraram uma diminuição na capacidade
de divisão. Segundo (Paperna, 1984b), a divisão após incubação a 8ºC vai sendo adiada
progressivamente à medida que o período de incubação é prolongado. No entanto, no estudo
de criopreservação do A. ocellatum desenvolvido por Yang (2005), apenas após 48 horas de
armazenamento a 4ºC é que existe uma divisão irregular e mais lenta do parasita.
Nos ensaios in vitro de exposição do parasita aos endoperóxidos observaram-se
tomontes em estado mais avançado de divisão nos poços de controlo que nos restantes poços.
No entanto, o mesmo não aconteceu nos poços que continham apenas solvente, nestes
observou-se um efeito inibitório na divisão do parasita por vezes superior ao observado nos
poços que continham endoperóxido. Segundo Yang (2005) é possível conservar o parasita a
uma concentração de 3-10% de DMSO. Em próximos ensaios seria interessante testar o efeito
de outros solventes na divisão do parasita, como por exemplo o etanol.
Nos ensaios in vitro com NAD17 e NAD19 a 2mM observaram-se tomontes em
estados de divisão mais avançados que nos ensaios com os mesmos fármacos a menores
60
concentrações. Estes fármacos quando testados a 1mM, foi possível observar tomontes no
primeiro estado de divisão (2t/T) às 24 horas, porém às 48 horas apenas se observaram
tomontes que não tinham entrado em divisão. Uma vez que o tomonte ao dividir-se torna-se
mais pequeno, possivelmente a teca (parede externa da célula) fica mais sensível e mais
vulnerável à actuação dos endoperóxidos. Além disso nos vários ensaios in vitro, para além da
dessincronização na divisão entre tomontes também observada por Paperna (1984b),
observou-se uma dessincronização na divisão dos tomitos dentro do mesmo tomonte. Alguma
desta variabilidade pode ser atribuída a defeitos que ocorram nas tecas de células em divisão
ou resultado de uma incompleta vedação da parede celular durante a transformação de
trofonte em tomonte (Paperna, 1984b). No ensaio com LCD93, no qual o volume de DMSO
foi superior (40 µl) na concentração mais elevada (1mM), observou-se inibição do
desenvolvimento do parasita. Apesar de não ter sido possível comparar directamente o efeito
do endoperóxido LCD67A a 0,1mM com os restantes endoperóxidos uma vez que não se
realizou nenhum ensaio com este endoperóxido a esta concentração, observou-se tal como no
LCD93 estados menos avançados de divisão, porém este foi o fármaco no qual se observou
estados mais avançados de divisão. Apesar do solvente parecer ter um efeito inibitório, este
efeito parece ser mais notório em conjunto com um endoperóxido. As concentrações testadas
encontram-se dentro do intervalo de concentrações de antiprotozoários testados em Perkinsus
olseni (Elandalloussi et al., 2005).
O índice de desenvolvimento do parasita para além de comprovar as observações dos
gráficos de abundância relativa do parasita, teria como objectivo calcular o LC50,no entanto
não foi possível calcular o LC50 pois testaram-se apenas três concentrações devido à
dificuldade em obter parasitas para a realização de mais ensaios a diferentes concentrações.
No ensaio in vivo, para a infecção dos peixes do grupo “não infectados” utilizou-se
uma quantidade conhecida (Bower et al., 1987; Roberts-Thomson et al., 2006) de parasita
(±667dinosporos por aquário) em vez de colocar um peixe infectado em cada aquário
(Masson, 2009).
Após a distribuição dos dinosporos pelos aquário os peixes infectados deveriam
demonstrar sinais clínicos (anorexia, respiração rápida e superficial, natação errática)
associados à amiloodiniose após 5-8 dias (Bower et al., 1987), porém só as douradas do
aquário 10 que revelaram uma ligeira anorexia.
Durante o ensaio in vivo ocorreu contaminação das douradas do grupo “não
infectados”, esta contaminação pode ter ocorrido devido aos pequenos salpicos durante a
renovação da água com a mesma mangueira, além disso os aquários deviam estar noutro
61
compartimento para evitar a contaminação. Segundo Roberts-Thomson et al. (2006), o A.
ocellatum pode ser transportado em gotas de aerossol entre tanques muito próximos, outros
autores defendem ainda que o parasita pode ser transmitido através de fómites, como
equipamentos e mãos dos utilizados (Francis-Floyd e Floyd, 2011).
Para a análise parasitológica, realizou-se a contagem de trofontes em 20 filamentos
branquiais, porém num outro estudo realizado com o parasita o autor optou pela fixação de
brânquias em formalina a 5% e após 24 horas descartar o sobrenadante e acrescentar álcool a
70%, homogeneizado de seguida a mistura retirando 3 alíquotas para observação em câmara
de Mac Máster (Santos, 2011). Durante a contagem dos trofontes, observaram-se trofontes de
cor clara e pequenas dimensões. Dado que tanto na primeira amostragem como na segunda
observaram-se trofontes com estas características, a hipótese de não ter ocorrido nenhum surto
capaz de provocar a morte do peixe é apresentada. Esta hipótese tem como base o trabalho de
Paperna (1984b), segundo o qual o desalojamento dos trofontes inicia-se ao 3º dia de infecção
e está completo ao 6º dia a 9-24ºC. De modo a perceber o nível de infecção em futuras
experiências dever-se-á medir os trofontes e comparar com outros trabalhos (Paperna, 1984b;
Severino, 2008).
Uma vez que no ensaio in vivo nenhum dos fármacos teve uma eficácia de 100%, tal
pode dever-se à dose testada ter sido baixa. Para que um fármaco seja eficaz, este tem de ser
absorvido e distribuído pelo hospedeiro, atingindo os tecidos alvo onde o parasita se encontra
na forma activa em doses suficientes (Williams, 2009). E actualmente nada se sabe sobre a
biodisponibilidade e a farmacocinética dos endoperóxidos em peixes. Para se investigar a
eficácia de um composto contra um parasita, é necessário planeamento, ensaios, amostragem,
parasitas em quantidade suficiente e análise estatística dos dados.
Para além da dose testada, o método escolhido para administrar os fármacos aos peixes
pode não ter sido o mais apropriado para o tipo de fármacos em estudo. A principal limitação
na medicação através do alimento é que o peixe tem realmente de se alimentar e uma vez que
os peixes doentes, principalmente com amiloodiniose, têm tendência a deixar de se alimentar,
os tratamentos orais são mais um método profiláctico do que um método terapêutico (Daniel,
2009). Apesar do método mais utilizado de tratamento oral em peixes ser através da
alimentação, existem outros sistemas de disponibilidade oral, como a bioencapsulação e as
microesferas (Daniel, 2009). Os tratamentos orais requerem menos trabalho que os
tratamentos através de banhos, uma vez que o peixe pode ser tratado como parte do seu
normal regime de alimentação e têm menos impacto em outros organismos (Grant, 2002).
62
Para além dos banhos e dos tratamentos orais, a administração de medicação em
peixes pode ser feita através de injecção. Apesar de a injecção ser a opção mais efectiva,
existem contudo várias limitações para este método. Para além da manipulação, da anestesia e
da injecção serem stressantes para o peixe, exige também um trabalho intensivo, é mais
custosa e não é praticável em grandes quantidades de peixes com menos de 20g (Plant e
LaPrata, 2011).
O grupo endoperóxido é o farmacóforo que confere aos endoperóxidos a sua
capacidade antimalárica, dependendo esta acção farmacológica da bioactivação pelo ferro
existente no vacúolo alimentar do parasita da malária (Opsenica e Šolaja, 2009), deste modo é
necessário estudar a biologia do A. ocellatum.
A palavra stress é um termo largamente utilizado quer em linguagem corrente, quer
em linguagem científica. No entanto, este termo gera grande confusão, pelo que necessita de
ser definido com clareza. Um peixe de uma dada espécie colocado num meio onde as
características físico-químicas e biológicas são óptimas, não desenvolve qualquer reacção de
adaptação, independentemente do tempo de exposição a esse meio. Se, no entanto, se
produzirem alterações das características do meio que ultrapassem o intervalo de intensidade
e/ou tempo ultrapassando as capacidades de adaptação do organismo, fala-se então de stress
(Henrique, 2000). Apesar do conceito de stress ser largamente aceite pelos biólogos, a
definição de stress varia (Chrousos e Gold, 1992). Nesta tese, o stress é definido como uma
condição na qual a homeostase está ameaçada ou alterada devido à exposição de peixes à
amiloodiniose. O stress em si mesmo não pode ser medido, podendo-se apenas determinar
quantitativamente indicadores da resposta fisiológica ao stress provocado pela amiloodiniose.
Neste estudo mediram-se os níveis de cortisol como indicador da resposta primária ao stress e
de glucose, proteína, cloro e osmolaridade no plasma sanguíneo de douradas comoindicadres
de respostas secundárias ao stress.
Os resultados das análises realizadas com o plasma sanguíneo dos peixes amostrados
foram comparados com os resultados obtidos num estudo sobre resposta osmorregulatória
branquial à salinidade em douradas (Laiz-Carrión et al., 2005), no qual as douradas
encontravam-se em condições semelhantes às do estudo.
Os níveis de cortisol e glucose plasmáticos para além de serem geralmente usados
como indicadores de uma resposta primária e secundária ao stress, respectivamente, são
também usados como indicadores para determinar a duração e severidade do stress (Henrique
et al., 1996). No ensaio in vivo a maioria dos níveis de cortisol medidos foram elevados,
acima de 3,3±0,33 ng ml-1
. As douradas infectadas tratadas com LCD67A (na 1ª amostragem)
63
e as douradas infectadas tratadas com NAD17 e NAD19 (na 2ª amostragem) tiveram níveis de
cortisol normais (±3,3 ng ml-1
). Quanto ao grupo controlo, tanto na 1ª como na 2ª
amostragem, os níveis de cortisol foram inferiores aos níveis de cortisol do ensaio preliminar
em peixes infectados. Existem no entanto alguns estudos com parasitas - em truta arco-íris
infectada com o parasita sanguíneo Cryptobia salmositica (Laidley et al., 1988) e com
Ichthyophonus hoferi (Rand e Cone, 1990) - nos quais não foram encontrados aumentos do
cortisol plasmático, sugerindo que a parasitologia não activa o eixo hipotálamo.
O facto de não se ter utilizado anestésico deve-se a que alguns autores referirem que
estes podem fornecer falsos negativos relativamente à presença de A. ocellatum (Francis-
Floyd e Floyd, 2011), o que poderá ter tido efeito nos valores elevados de cortisol plasmático.
No entanto os resultados no que referem à utilização de anestésicos para bloquear ou diminuir
o stress não são concordantes. O anestésico MS-222 (tricaina), que é utilizado com frequência
em aquacultura, evidenciou ter quer um supressor quer um efeito indutor de stress em
douradas, dependendo da dose utilizada (Molinero e Gonzales, 1995).No entanto devido à
discrepância e aos elevados valores (por exemplo 120 ng ml-1
) obtidos de cortisol nalgumas
amostras é possível que tenha ocorrido algum erro durante as medições de cortisol por parte
do manipulador.
Os níveis de glucose medidos no plasma sanguíneo de douradas sujeitas a diferentes
tratamentos, tanto na 1ª como na 2ª amostragem foram próximos do valor considerado padrão
(3,66±0,24 mmol l-1
). Quanto aos níveis de proteína (mg ml-1
) medidos, estes foram mais
baixos (± 20 mg ml-1
) que os medidos no ensaio de condições semelhantes (37.5±4.3 mg ml-1
)
(Laíz-Carrión et al., 2005). Tal como noutro estudo (Rotllant et al., 1997) não se observou um
aumento da glicemia, apesar dos níveis de cortisol plasmático serem elevados. No entanto, a
ausência de hiperglicemia não pode ser considerada como a ausência de stress, pois deve-se
ter em conta outros factores que interferem directamente com a glicemia, como é o caso da
composição do alimento (Hemre et al., 1991) e as características genéticas da população em
estudo (Fevolden e Røed, 1993).
Os valores de osmolaridade (mOsm kg-1
) foram elevados (> 312±3.2 mOsm kg-1
), as
douradas tratadas com LCD93 foram as que tiveram valores mais baixos de osmolaridade
assim como as douradas da 2ª amostragem não infectadas dos grupos controlo, DMSO e
NAD17. Já os níveis de cloro medidos no ensaio in vivo foram menores (< 152±3 mmol l-1
)
que os medidos no ensaio semelhante. Este desequilíbrio nos valores de osmolaridade e de
cloro podem ser devido ao stress que os peixes estavam sujeitos devido à infecção com A.
ocellatum.
64
Segundo Noga e Levy (2006), a redução da osmorregulação e as infecções
microbianas secundárias devido às lesões severas no epitélio podem também ser importantes
causas de debilitação e morte. Uma vez que a actividade de Na+,K
+ - ATPase medida nas
brânquias, que é o principal órgão na osmorregulação (Laíz-Carrion et al., 2005), de douradas
infectadas e não infectadas com A. ocellatum foi baixa (<15 µmol ADP/mg proteína/h) e visto
não ter ocorrido mortalidade durante o ensaio, talvez a redução da osmorregulação não seja
uma das causas de morte. Além disso, uma vez que os valores de cortisol foram altos, era de
esperar um aumento da actividade branquial de Na+,K
+ - ATPase, pois nos peixes teleósteos
euralianos o cortisol actua em órgãos de osmorregulação aumentando em algumas espécies a
sua actividade branquial de Na+,K
+ - ATPase (Mancera et al., 1994). No entanto, será
necessário realizar mais medições pois apenas se mediu a actividade de Na+,K
+ - ATPase
(µmol ADP/mg proteína/h) em 6 peixes de cada grupo.
De acordo com os dados recolhidos não existe uma relação entre a quantidade de
trofontes em 20 filamentos branquiais e as respostas fisiológicas ao stress analisadas (cortisol,
cloro, glucose, proteína, osmolaridade e actividade de Na+,K
+ - ATPase). No entanto existe
uma relação positiva entre a osmolaridade (mOsm kg-1
) e o cloro (mmol l-1
) no plasma
sanguíneo de douradas infectadas e não infectadas, tanto na 1ª como na 2ª amostragem, pois o
aumento dos níveis de Cl- induz o aumento da osmolaridade do plasma (Lichtstein et al.,
1992; Widmaier et al., 2008). Existe ainda uma relação positiva entre a osmolaridade e a
glucose (mmol l-1
) no plasma de douradas não infectadas na 1ª amostragem e de douradas
infectadas e não infectadas na 2ª amostragem. A glucose é um dos componentes do plasma
(Weisberg, 1989), alterações nos seus níveis poderão alterar os níveis de osmolaridade. O
teste de Pearson revelou também a existência de uma relação positiva entre a osmolaridade
(mOsm kg-1
) e o cortisol (ng ml-1
) nas douradas não infectadas da 1ª amostragem, entre a
osmolaridade (mOsm kg-1
) e a proteína (mmol l-1
) e o cloro (mmol l-1
) e a proteína (mmol l-1
)
no plasma de douradas infectadas na 2ª amostragem. É possível que na realidade não exista
uma verdadeira relação entre certos indicadores, mas sim que ambos tenham aumentado
devido aos animais estarem sujeitos a uma situação de stress.
As medições realizadas ao plasma sanguíneo e às brânquias de douradas com
diferentes níveis de infecção de A. ocellatum revelam que não existe diferença significativa
entre os controlos e os endoperóxidos para a dose testada.
65
6. Conclusão
Durante o presente trabalho avaliou-se o efeito dos endoperóxidos na divisão do
parasita e em douradas quando administrados oralmente.
Nos ensaios in vitro o NAD19 a 0,1mM e o LCD93 a 1mM inibiram a divisão do
parasita tanto na observação realizada às 24 horas como após 48 horas. Para além do volume
de solvente (DMSO) utilizado no ensaio ter sido elevado, o solvente parece ter um efeito
inibitório na divisão do parasita.
Uma vez que no ensaio in vivo ocorreu contaminação dos peixes do grupo “não
infectados” não foi possível comparar o efeito dos fármacos entre peixes infectados e não
infectados. Nas análises efectuadas ao plasma sanguíneo, com excepção das medições de
cortisol e cloro, não existe diferença estatisticamente significativa nos valores medidos tanto
entre infectados e não infectados como da primeira para a segunda amostragem.
Será necessário realizar mais ensaios para obter conclusões sobre o efeito dos
endoperóxidos no controlo do parasita de peixes A. ocellatum.
7. Considerações finais
O presente estudo assume importância a nível mundial, uma vez que o A. ocellatum é
um ectoparasita de distribuição mundial para o qual não existe nenhuma metodologia que
permita a sua erradicação dos sistemas piscícolas.
Com base na informação recolhida é importante realizar mais ensaios sobre o ciclo de
vida do A. ocellatum, principalmente para averiguar se o parasita tem ferro, o qual é essencial
para a actuação deste tipo de fármacos. Caso se comprove a sua existência será necessário
realizar ensaios in vitro em que se testem os fármacos utilizando a mesma quantidade de
solvente em pequenas quantidades e comprovar que o solvente não afecta a divisão do
parasita. Para a realização dos ensaios in vitro é aconselhado o desenvolvimento de um
meio de cultura ou o desenvolvimento de um método capaz de obter o parasita da água ou
solo contaminados.
Os ensaios in vivo só deverão ser realizados após se comprovar a eficácia dos
endoperóxidos in vitro. Durante os ensaios in vivo é sugerido que os peixes infectados estejam
num compartimento diferente dos peixes não infectados para evitar contaminação cruzada e
para se poder avaliar o efeito dos fármacos tanto na sua eficácia como no seu modo de
actuação na fisiologia dos animais.
66
Referências bibliográficas
Abreu, P. C., Robaldo, R. B., Sampaio, L. A., Bianchini, A., Odebrecht, C. (2005) Recurrent
amyloodiniosis on broodstock of the Brazilian flounder Paralichthys orbignyanus:
Dinospore monitoring and prophylactic measures. Journal of the World Aquaculture
Society. 36 (1).
Arthur, J.R., Lumanlan-Mayo, S. (1997) Checklist of the parasites of fishes of the Philippines.
FAO Fisheries Technical Paper. 369: 102.
Basurco, B. e Toranzo, A.E. (2004) General aspects of Mediterranean aquaculture diagnostic
laboratories. In: Mediterranean aquaculture diagnostic laboratories; Results of the survey
on Mediterranean aquaculture diagnostic laboratories conducted within the framework of
the CIHEAM/FAO network on "Technology of Aquaculture in the Mediterranean"
(TECAM); Options Mediterraneennes. Serie B: Etudes et Recherches (France), Alvarez-
Pellitero, P. (ed.) Barja, J.L. (ed.) Basurco, B. (ed.) Berthe, F. (ed.) Toranzo, A.E. (ed.)
/ Centre International de Hautes Etudes Agronomiques Mediterraneennes, Zaragoza
(Spain). Inst. Agronomique Mediterraneen. 49:19-27.
Bodinier, C., Sucré, E., Lecurieux-Belfond, L., Blondeau-Bidet, E., Charmantier, G. (2010)
Ontogeny of osmoregulation and salinity tolerance in the gilthead sea bream Sparus
aurata. Comparative Biochemistry and Physiology, Part A. 155: 220-228.
Bower, C. E., Turner, D. T., Biever, R. C. (1987) A standardized method of propagating the
marine fish parasite, Amyloodinium ocellatum. Journal of Parasitology. 73 (1):85-88.
Bradford, M. M. (1976) A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram
quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical
Biochemistry. 72: 248–254.
Brunton, L.L., Lazo, J. S., Parker, K.L. (2006) Goodman & Gilman’s The Pharmacological
Basis of Therapeutics. McGraw-Hill Medical. 11 (39).
Bush, A. O, Lafferty, K. D.; Lotz, J. M., Shostak, A. W. (1997) Parasitology meets ecology
on its own terms. Margolis et al Revisited. Journal of Parasitology. 83 (4): 575-578.
Cachon, J. e Cachon, M. (1987) Parasitic dinoflagellates. In: Taylor, F.J.R. (ed.) The Biology
of Dinoflagellates. Blackwell, Oxford, UK. 71–610.
Canosa, B. (2006) Test of effects caused by chemical action of CuSO4 (widely used
fungicide-algicide). Tese de mestrado em aquaculture. Universidade do Algarve. 55.
Cecchini, S., Saroglia, M., Terova, G., Albanesi, F. (2001) Detection of antibody response
against Amyloodinium ocellatum (Brown, 1931) in serum of naturally infected European
sea bass by an enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). Bulletin of the European
Association of Fish Pathologists. 21 (3):104-108.
67
Chrousos, G.P. e Gold, P.W. (1992) The concepts of stress and stress system disorders.
Overview of physiological and behavioural homeostasis. Journal of the American
Medical Association. 267: 1244-1252.
Cheung, P. J., Nigrelli, R. F., Ruggieri, G. D. (1981) Oodinium ocellatum (Brown, 1931)
(Donoflagellata) in the kidney and other internal tissues of pork fish, Anisotremus
virginicus (L). Journal of Fish Diseases. 4 (6):523-525.
Cobb, C. S., Levy, M. G., Noga, E. J. (1998) Acquired immunity to amyloodiniosis is
associated with an antibody response. Diseases of Aquatic Organisms. 34 (2):125-133.
Colorni, A. (1994) Hyperparasitism of Amyloodinium ocellatum (Dinoflagellida, Oodinidae).
Diseases of Aquatic Organisms. 19 (2).
Colorni, A., Ullal, A., Heinisch, G., Noga , E. J. (2008) Activity of the antimicrobial
polypeptide piscidin 2 against fish ectoparasites. Journal of Fish Diseases. 31 (6).
Conroy, G. e Conroy, D. (2008) Oodiniasis in farmed tilapias. IN: Aquaculture Health
International. VIP PUBLICATIONS LTD. 12: 20-21.
Cristiano, M. L. (2010) Applications of antimalarial endoperoxide drugs in aquaculture. 2nd
UTEN Workshop 2010, Marine and Bio-Sciences, 27-28 September, Faro, Portugal
Comunicação oral. Acedido em Julho 2012, disponível em:
http://utenportugal.org/events/marine-science-workshop/program/.
Cruz-Lacierda, E. R., Maeno, Y., Pineda, A. J. T., Matey, V. E. (2004) Mass mortality of
hatchery-reared milkfish (Chanos chanos) and mangrove red snapper (Lutjanus
argentimaculatus) caused by Amyloodinium ocellatum (Dinoflagellida). Aquaculture.
236 (1-4):85-94.
Daniel, P. (2009) Drugs and chemicals in aquafeeds: The problems and solutions. IN: The use
of veterinary drugs and vaccines in Mediterranean aquacultu. Options Méditerranéennes.
86(A): 85-94.
Delves, M., Plouffe, D., Scheurer, C., Meister, S., Wittlin, S., Winzeler, E. A., Sinden, R. E.,
Leroy, D. (2012) The Activities of Current Antimalarial Drugs on the Life Cycle Stages
of Plasmodium: A Comparative Study with Human and Rodent Parasites. PLoS Med.
9(2): e1001169.
Elandalloussi, L. M., Leite, R. B., Rodrigues, P. M., Afonso, R., Nunes P. A., Cancela, M. L.
(2005) Effect of antiprotozoal drugs on the proliferation of the bivalve parasite Perkinsus
olseni. Aquaculture. 243: 9– 17.
Fensome, R.A., Taylor, F.J.R., Norris, G., Sarjeant, W.A.S., Wharton, D.I.,Williams, G.L.
(1993) A classification of living and fossil dinoflagellates. Micropaleontological Species
Publication. 7: 351.
68
Fevolden, S. E. e Roed, K. H. (1993) Cortisol and immune characteristics in rainbow trout
(Oncorhynchus mykiss) selected for high or low tolerance to stress. Journal of Fish
Biology. 43: 91 9-930.
Francis-Floyd, R. e Floyd, M. R. (2011) Amyloodinium ocellatum, an Important Parasite of
Cultured Marine Fish. Southern Regional Aquaculture Center. 4705: 1 – 12.
Grant, A.N. (2002) Medicenes for sea lice. Pest Management Science. 58: 521-527.
Hancock, R. E. e Lehrer, R. (1998). Cationic peptides: a new source of antibiotics. Trends in
Biotechnology. 16: 82-88.
Henrique, M. M. F., Morris, P. C., Davies, S. J. (1996) Vitamin C status and physiological
response of the gilthead seabream, Sparus aurata L., to stressors associated with
aquaculture. Aquaculture Research. 27: 405-412.
Henrique, M. M. F. (2000) Importância nutricional do ácido ascórbico e sua influência na
fisiopatologia do stress em dourada (Sparus aurata). Dissertação apresentada ao Instituto
de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto para obtenção do grau
de doutor em Ciências Biomédicas, especialidade de nutrição. 151p.
Hemre, G.I., Lambertsen, G., Lie, 0. (1991) The effect of dietary carbohydrate on stress
response in cod (Gadus morhua). Aquaculture. 95: 319-328.
Hwang, P. P., Sun, C. M., Wu, S. M. (1989) Changes of plasma osmolality, chloride
concentration and gill Na-K-ATPase activity in tilapia Oreochromis mossambicus during
seawater acclimation. Marine Biology. 100: 295-299.
Imsland, A. K., Gunnarsson, S., Foss, A., Stefansson, S. O. (2003) Gill Na+, K
+-ATPase
activity, plasma chloride and osmolality in juvenile turbot (Scophthalmus maximus)
reared at different temperatures and salinities. Aquaculture. 218: 671-683.
Kuperman, B. I. e Matey, V. E. (1999) Massive infestation by Amyloodinium ocellatum
(Dinoflagellida) of fish in a highly saline lake, Salton Sea, California, USA. Diseases of
Aquatic Organisms. 39 (1):65-73.
Laidley, C. W., Woo, P. T. K., Leaherland, J. F. (1988) The stress response of rainbow trout
to experimental infection with the blood parasite Cryptobia salmositica Katz, 1951.
Journal of Fish Biology. 32: 253-261.
Laiz-Carrión, R., Guerreiro, P. M., Fuentes, J., Canario, A. V. M., Río, M. P. M. D., Mancera,
J. M. (2005) Branchial Osmoregulatory Response to Salinity in the Gilthead Sea Bream,
Sparus auratus. Journal of experimental zoology. 303A:563–576.
Landsberg, J. H., Blakesley, B. A., Reese, R. O., McRae, G., Forstchen, P. R. (1998)
Parasites of fishes as indicators of environmental stress. Environmental Monitoring and
Assessment. 51: 211–232.
69
Landsberg, J. H., Smith, S. A., Noga, E. J., Richard, S. A. (1992) Effect of serum and mucus
of blue tilapia Oreochromis aureus on infectivity of the parasitic dinoflagellate
Amyloodinium ocellatum in cell culture. Fish Pathology. 27: 163-169.
Landsberg, J.H., Steidinger, K.A., Blakesley, B.A., Zondervan, R.L. (1994) Scanning electron
microscope study of dinospores of Amyloodinium ocellatum, a pathogenic dinoflagellate
of marine fish, and comments on its relationship to the Peridinales. Diseases of Aquatic
Organisms. 20:23-32.
Lekang, O. (2007) Aquaculture Engineering. Blackwell Publishing: 354.
Levine, N. D., Corliss, J. O., Cox, F. E., Deroux, G., Grain, J., Honinberg, B. M., Leedale, G.
F., Loeblich, A. R., Loin, J., Lynn, D., Merinfeld, E. G., Page, F. C., Polyanski, G.,
Sprague, V., Vavra, J., Wallace, F. G. (1980) A newly revised classification of the
Protozoa. Journal of Protozol. 27:37-58.
Levy, M. G., Poore, M. F., Colorni, A., Noga, E. J., Vandersea, M. W., Litaker, R. W. (2007)
A highly specific PCR assay for detecting the fish ectoparasite Amyloodinium ocellatum.
Diseases of Aquatic Organisms. 73 (3).
Lewis, D.H., Wenxing W., Ayers, A. and Arnold, C.R. (1988) Preliminary studies on the use
of chloroquine as a systemic chemotherapeutic agent for amyloodinosis in red drum
(Sciaenops ocellatus). Contributions in Marine Science 30 (suppl.). 183–189.
Lichtstein, D, Gati, I., Haver, E., Katz, U. (1992) Digitalis-like compounds in the toad Bufo
viridis: tissue and plasma levels and significance in osmotic stress. Life Sciences.
51(2):119-28.
Mancera, J. M., Pérez-Fígares, J. M., Fernández-Llebrez, P. (1994) Effect of cortisol on
brackish water adaptation in the euryhaline gilthead sea bream (Sparus aurata L.).
Comparative Biochemestry Physiology. 107A (2): 397-402.
Masson, I., Blaylock, R. B., Lotz, J. M. (2011) Susceptibility and Tolerance of Spotted
Seatrout, Cynoscion nebulosus, and Red Snapper, Lutjanus campechanus, to
Experimental infections with Amyloodinium ocellatum. Journal of Parasitology.
97(4):577-585.
McCormick, S.D. (1993) Methods for nonlethal gill biopsy and measurement of Na+ / K+
ATPase activity. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences. 50: 656–658.
Menezes, J. (2000) Parasitoses. In: Manual sobre Doenças de Peixes Ósseos. Publicações
Avulsas do IPIMAR. 3: 75 - 114.
Molinero, A. e Gonzalez, J. (1995) Comparative Effects of MS 222 and 2-Phenoxyethanol on
Guilthead Sea Bream (Sparus aurata L.) during Confinement. Comparative Physiology
and Biochemistry. 111 A: 405-414.
Montgomery-Brock, D. R., Sylvester, J. Y., Tamaru, C. S., Brock, J. A. (2000) Hydrogen
peroxide treatment for Amyloodinium sp. on mullet (Mugil cephalus) fry. Aqua Tips,
70
Regional Notes, Center for Tropical and Subtropical Aquaculture, Waimanalo, HI.
11(4):4-6.
Montgomery-Brock, D., Brock, J. A., Tamaru, C. S. (2001) The application of hydrogen
peroxide as a treatment for ectoparasite Amyloodinium ocellatum (Brown, 1931) on the
Pacific threadfin, Polydactylus sexfilis. Journal World Aquaculture Society. 32: 250-254.
Noga, E. J. (2012) Amyloodinium ocellatum. IN: Fish parasites : pathobiology and protection.
edited by Patrick T.K. Woo, Kurt Buchmann. CAB Inter- national: Oxford, UK. 2: 19-29.
Noga, E.J., Fan, Z., Silphaduang, U. (2001) Histone-like proteins from fish are lethal to the
parasitic dinoflagellate Amyloodinium ocellatum. Parasitology, 123: 57-65.
Noga, E.J. e Levy, M.G (2006). Phyllum Dinoflagellata. IN: Fish Diseases and Disorders,
Volume I: Protozoan and Metazoan Infections, P.T.K. Woo (ed). CAB Inter- national:
Oxford, UK. 16-45.
Noga, E. J. (1987) Propagation in cell culture of the Donoflagellate Amyloodinium, an
ectoparasite of marine fishes. Science. 236 (4806):1302-1304.
Oestmann, D. J. e Lewis, D. H. (1995) A method for producing microbe-free Amyloodinium
ocellatum (Brown) with Percoll ®. Veterinary Parasitology. 59 (2):169-175.
Oestmann, D. J. e Lewis, D. H. (1996) Improved cell culture propagation of Amyloodinium
ocellatum. Diseases of Aquatic Organisms. 24 (3):173-178.
O’Neill, P. M. , Barton, V. E., Ward, S. A. (2010) The Molecular Mechanism of Action of
Artemisinin—The Debate Continues. Molecules. 15: 1705-1721.
Opsenica, D. M. e Šolaja, B. A. (2009) Review Antimalarial peroxides. Journal of the Serbian
Chemical Society. 74 (11): 1155–1193.
Paperna, I. (1980) Amyloodinium ocellatum (Brown, 1931) (Dinoflagellida) infestations in
cultured marine fish at Eilat, Red Sea – Epizootiology and pathology. Journal of Fish
Diseases. 3 (5):363-372.
Paperna, I. (1984a) Chemical control of Amyloodinium ocellatum (Brown 1931)
(Dinoflagellida) infections – in vitro tests and treatment and treatment trials with infected
fishes. Aquaculture. 38 (1):1-18.
Paperna, I. (1984b) Reproduction cycle and tolerance to temperature and salinity of
Amyloodinium ocellatum (Brown, 1931) (Dinoflagellida). Annales De Parasitologie
Humaine Et Comparee. 59 (1):7-30.
Pereira, J. C., Abrantes, I., Martins, I., Barata, J., Frias, P., Pereira, I. (2011) Ecological and
morphological features of Amyloodinium ocellatum occurrences in cultivated gilthead
seabream Sparus aurata L.; A case study. Aquaculture. 310 (3-4):289-297.
Plant, K. P. e LaPatra, S. E. (2011). Advances in fish delivery. Developmental and
Comparative Immunology. 35: 1256-1262.
71
Plum, J. A. (2001) Disease recognition and diagnosis of fish in Modern Aquaculture in the
Coastal Zone: Lessons and Opportunities. Isos press. 145-154.
Ramos, P. e Oliveira, J.M. (2001) Amiloodiniose em pregado, Psetta maxima (L.) Revista
Portuguesa de Ciências Veterinárias. 96: 201-205
Rand, T. G. e Cone, D. K. (1990) Effects of Ichthyophonus hoferi on condition indices and
blood chemistry of experimentally infected rainbow trout (Oncorhynchus mykiss).
Journal of Wildlife Diseases. 26: 323-328.
Roberts-Thomson, A., Barnes, A., Fielder, D. S., Lester, R. J. G., Adlard, R. D. (2006)
Aerosol dispersal of the fish pathogen, Amyloodinium ocellatum. Aquaculture. 257 (1-
4):118-123.
Rotllant, J., Guerreiro, P.M., Anjos, L., Redruello, B., Canario, A.V.M., Power, D.M. (2005)
Stimulation of cortisol release by the N terminus of teleost parathyroid hormone-related
protein in interregnal cells in vitro. Endocrinology. 146:71–76.
Santos, B. G. (2011) Uso do medicamento homeopático Sulphor no controle do
Amyloodinium sp. em bijupirá (Rachycentron canadum Linnaeus, 1766). Dissertação
apresentada à Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. 101p.
Saraiva, A., Jerónimo, D., Cruz, C. (2011) Amyloodinium ocellatum (Chromalveolata:
Dinoflagellata) in farmed turbot. Aquaculture. 320: 34–36.
Severino, R. B. A. (2008) Contributo para o conhecimento do ciclo de vida de Amyloodinium
ocellatum e seu controlo em piscicultura. Dissertação de Mestrado em Ecologia Aplicada
apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 52p.
Smith, S. A., Noga, E. J., Levy, M. G., Gerig, T. M. (1993). Effect of serum from tilapia
Oreochromis aureus immunized with the dinosporo Amyloodinium ocellatum on the
motility, infectivity and growth of the parasite in cell culture. Diseases of Aquatic
Organisms. 15 (1).
Stone, J., Sutherland, I. H., Sommerville, C., Richards, R. H., Endris, R. G. (2000) The
duration of efficacy following oral treatment with emamectin benzoate against
infestations of sea lice, Lepeophtheirus salmonis (Kroyer), in Atlantic salmon Salmo
salar L. Fish Diseases. 23: 185-192.
Soares, F., Quental Ferreira, H., Cunha, E., Pousão-Ferreira, P. (2012a) Occurence of
Amyloodinium ocellatum in aquaculture fish production. Aquaculture Europe. 36(4): 13-
16.
Soares, F., Quental-Ferreira, H., Moreira, M., Cunha, E., Ribeiro, L., Pousao-Ferreira, P.
(2012b) First report of Amyloodinium ocellatum in farmed meagre (Argyrosomus regius).
Bulletin of the European Association of Fish Pathologists. 32 (1):30-33.
72
Tojo, J. L. e Santamarina, M. T. (1998) Oral pharmacological treatments for parasitic diseases
of rainbow trout Oncorhynchus mykiss. 11: Gyrodactylus sp. Diseases of Aquatic
Organisms. 33 : 187 – 193.
Ullal, A. J. (2006) Extraerythrocytic expression of the β-subunit of hemoglobin is associated
with a potent anti-parasitic defense in fish. A dissertation submitted to the Graduate
Faculty of North Carolina State University in partial fulfillment of the requirements for
the Degree of Doctor of Philosophy. 148p.
Vaz, C. L. O. (2010) Efeitos do cobre no sargo (Diplodus sargus, Linnaeus 1758):
implicações quer a nível fisiológico, quer de crescimento. Dissertação de mestrado em
Engenharia Zootécnica – Produção animal apresentada à Faculdade de Medicina
Veterinária e ao Instituto Superior de Agronomia da Universidade técnica de Lisboa.
119p.
Virgnes, R. (2000) Dimethyl Sulfoxide (DMSO) a “new” clean, nique, superior solvent.
American Chemical Society. 20.
Weisberg, L. S. (1989) Pseudohyponatremia: a reappraisal. Americam Journal of
Medecine.86:315-318
Widmaier, E. P., Raff, H., Strang, K. T. (2008) Vander's Human Physiology. 11th Ed..
McGraw-Hill. 108–120.
Williams, R. E. (2009) Oral treatment for monogenean parasites of farmed yellowtails,
Seriola spp. (Carangidae). Presented for the degree of Doctor of Philosophy School of
Earth and Environmental Sciences The University of Adelaide, South Australia.
Woo, P. T. K. (2007) Protective immunity in fish against protozoan diseases. Parassitologia.
49 (3).
Yang, C. (2005) Studies on the cryopreservation and in vitro culture of Amyloodinium
ocellatum. Master's Thesis National Sun Yat-sen University. 63p.
Zambrano, J.L.F., Dezón, D.E., González, C.R., Fermín, E.G. (2001) Ciclo de vida de
Amyloodinium ocellatum (Brown, 1931) (Dinoflagellata: Oodinidae). Boletin
Oceanografico, 83-89.