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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Análise crítica do planejamento estratégico do produto em uma empresa de manufatura. Caio Paziani Tomazella Orientador: Prof. Dr. Kleber Francisco Esposto São Carlos 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Análise crítica do planejamento estratégico do produto

em uma empresa de manufatura.

Caio Paziani Tomazella

Orientador: Prof. Dr. Kleber Francisco Esposto

São Carlos

2015

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Análise crítica do planejamento estratégico do produto

em uma empresa de manufatura.

Caio Paziani Tomazella

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Escola de Engenharia de

São Carlos da Universidade de São Paulo

para a obtenção do título de Engenheiro

de Produção Mecânica.

São Carlos

2015

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RESUMO

Tomazella, C. P. (2015). Análise crítica do planejamento estratégico do produto em uma

empresa de manufatura. Trabalho de Conclusão de Curso – Departamento de Engenharia de

Produção da Escola de Engenharia de São Carlos. São Carlos: Universidade de São Paulo,

2015.

Este trabalho tem como objetivo propor melhorias na fase do planejamento

estratégico do produto do modelo de PDP de uma empresa de manufatura de bens de

consumo duráveis, desenvolvido por Zanatta (2010), utilizando como referência o método

ITG (Oliveira, 2009). Ao final, foi proposto um novo modelo de planejamento estratégico do

produto com ferramentas de gestão estratégica integradas, critérios de avaliação de

portfólio mais completo e com menor tempo de execução.

Palavras-chave: Processo de Desenvolvimento de Produto; Planejamento Estratégico do

Produto; Technology Roadmapping; Gestão de Portfólio.

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ABSTRACT

Tomazella, C. P. (2015). Critical analysis of the product strategy in a manufacturing company.

Trabalho de Conclusão de Curso – Departamento de Engenharia de Produção da Escola de

Engenharia de São Carlos. São Carlos: Universidade de São Paulo, 2015.

This project’s objective is to analyze and improve the product strategy phase of the

PD reference model from a consumer durables manufacturer, developed by Zanatta (2010),

using as a reference the ITG method: Integration of Technology Roadmapping and Portfolio

Management (Oliveira, 2009). As a result, it is presented new phase model consisting of the

integrated use of strategic management tools, a more complete project portfolio evaluation

and shorter lead time.

Key words: Product Development, Product Strategy; Technology Roadmapping; Portfolio

Management.

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Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................ 9

2. Método ............................................................................................................................... 11

2.1 Definição e análise do modelo a ser estudado .............................................................. 11

2.2 Comparação com o método ITG ................................................................................... 12

2.3 Análise dos resultados e propostas ............................................................................... 12

2.4 Limitações do trabalho ................................................................................................. 13

3. Revisão Bibliográfica ........................................................................................................... 14

3.1 Processo de desenvolvimento do produto .................................................................... 14

3.1.1 Diferentes tipos de PDP ........................................................................................ 15

3.1.2 Projeto de plataforma .......................................................................................... 16

3.1.3 As macrofases do PDP .......................................................................................... 17

3.1.4 Planejamento Estratégico do Produto ................................................................... 18

3.1.5 O fluxo de atividades no Planejamento Estratégico do Produto ............................. 19

3.2 Technology roadmapping ............................................................................................. 21

3.3 Gerenciamento de projetos .......................................................................................... 23

3.3.1 Gestão do portfólio de projetos ............................................................................ 24

3.4 O modelo integrado ..................................................................................................... 25

4. Análise do Modelo Atual ..................................................................................................... 29

4.1 Contextualização ......................................................................................................... 29

4.2 O processo de melhoria ............................................................................................... 29

4.2.1 Projeto 01 - Classificação de projetos .................................................................... 31

4.2.2 Projeto 02 - Planejamento estratégico de produtos ............................................... 31

4.2.3 Projeto 10 - Gerenciamento do custo integrado ..................................................... 32

4.2.4 Projeto 12 - Padronização de produtos .................................................................. 32

4.2.5 Projeto 13 - Redução do gap tecnológico ............................................................... 33

4.2.6 Projeto 06 - Implementação do modelo de referência ........................................... 33

4.3 Análise do Planejamento Estratégico do Produto no modelo de referência.................... 36

5. Comparação com modelo de referência ............................................................................... 41

6. Resultados e Conclusões ...................................................................................................... 45

6.1 Síntese e comparação completa do pré-desenvolvimento do produto no modelo

estudado com o método ITG ................................................................................................... 45

6.2 Observações e sugestões de melhoria .......................................................................... 46

6.2.1 Atualizações periódicas do TRM e do PRM ............................................................ 46

6.2.2 Análise constante do mercado .............................................................................. 47

6.2.3 Desenvolvimento de tecnologia independente do PDP .......................................... 47

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6.2.4 Análise de riscos do projeto .................................................................................. 48

6.2.5 Análise estratégica do relacionamento entre os projetos ....................................... 49

6.3 Nova proposta de modelo de PDP ................................................................................ 50

6.4 Conclusões finais ......................................................................................................... 53

7. Referências ......................................................................................................................... 55

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Lista de figuras

Figura 1: Fluxo de atividades do trabalho ............................................................................................. 12

Figura 2: Custos comprometidos e incorridos ao longo das etapas da vida do produto (adaptado de

ANDERSON, 2001) ................................................................................................................................. 15

Figura 3: Classificação dos processos de desenvolvimento do produto de acordo com o grau de

inovação (Adaptado de CLARK e WHEELWRIGHT, 1993). ..................................................................... 15

Figura 4: Macrofases e fases do modelo de Rozenfeld et al. (2006) .................................................... 18

Figura 5: Fluxograma com as atividades do planejamento estratégico do produto (ROZENFELD et al.,

2006) ..................................................................................................................................................... 19

Figura 6: modelo de TRM aplicado ao planejamento de produtos (PHAAL et al., 2001) ..................... 22

Figura 7: Fluxograma do método ITG (OLIVEIRA, 2009) ....................................................................... 26

Figura 8: Fases do modelo de Zanatta (2010) ....................................................................................... 34

Figura 9: Comparação entre as fases dos modelos de Rozenfeld et al. (2006) e Zanatta (2010) ......... 34

Figura 10: Extração de informações dos documentos estratégicos ..................................................... 37

Figura 11: Ilustração do planejamento estratégico do produto no modelo de Zanatta (2010) ........... 40

Figura 12: Ilustração do modelo de Zanatta (2010) com as melhorias sugeridas. ............................... 52

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Lista de quadros

Quadro 1: Características de cada tipo de processo de desenvolvimento de produto (ROZENFELD et

al., 2006) ................................................................................................................................................ 16

Quadro 2: As macrofases do PDP e suas principais entregas (ROZENFELD et al., 2006) ...................... 17

Quadro 3: As atividades do planejamento estratégico de produto (ROZENFELD et al., 2006) ............ 20

Quadro 4: Ciclos de melhoria do modelo de PDP (Zanatta, 2010) ....................................................... 30

Quadro 5: Categorização dos projetos do portfólio (ZANATTA, 2010) ................................................. 35

Quadro 6: Comparação entre as análises dos dois modelos estudados ............................................... 43

Quadro 7: Correspondência entre as atividades dos dois modelos estudados .................................... 45

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Lista de abreviaturas

IEA – International Energy Agency

ITG – Integração de Technology Roadmapping e Gestão de Portfólio

NPD – New Product Development

PDCA – Plan, do, check, act

PDP – Processo de Desenvolvimento do Produto

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PEE – Planejamento Estratégico da Empresa

PEN – Plano Estratégico de Negócios

PEP – Planejamento Estratégico do Produto

PRM – Product Roadmap

TRM – Technology Roadmap/Technology Roadmapping

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1. Introdução

Este trabalho analisa o planejamento estratégico do produto, ou seja, a fase inicial do

PDP, do modelo de referência de uma empresa de manufatura e propõe melhorias com a

finalidade de:

Incorporar atividades estratégicas ao PDP;

Agilizar a coleta de informações necessárias para o PDP;

Diminuir o tempo de execução (lead time) desta fase;

Tornar a avaliação de portfólio de projetos mais completa;

Para isto, foram utilizados modelos de referência para extrair os critérios de análise e

também servirem como base de comparação. O modelo de Rozenfeld et al. (2006) foi usado

como referência para o PDP como um todo, e para delimitar a fase de planejamento

estratégico, com base na natureza das atividades e das entregas realizadas. Já o modelo de

Oliveira (2009), chamado de método ITG, foi usado como referência para a integração de

ferramentas estratégicas (TRM e gestão de portfólio) nesta fase.

O modelo alvo deste estudo foi desenvolvido por Zanatta (2010) e é utilizado na

empresa Tecumseh Products Company, de São Carlos, especializada na manufatura em

massa de compressores herméticos. O nível de competitividade do mercado em que a

empresa está inserida demanda a melhoria contínua de processos internos: administrativos,

operacionais e, consequentemente, o PDP.

O autor deste trabalho participou de atividades do PDP da empresa durante o

período entre fevereiro e agosto de 2015, atuando majoritariamente na área de

benchmarking. Os trabalhos realizados, junto com a dissertação de Zanatta (2010), a qual

descreve o modelo de PDP e os passos de seu desenvolvimento, foram as principais fontes

de informação da pesquisa.

A análise foi feita primeiramente separando as atividades do modelo e organizando

as em um fluxo de modo que pudessem ser visualizadas em comparação com a referência de

Rozenfeld et al. (2006). Em seguida, o uso de atividades estratégicas de Zanatta (2010) foi

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comparado com a referência de Oliveira (2009). Neste caso, os pontos principais foram a

utilização do TRM como parte do PDP e os critérios de avaliação dos projetos na gestão de

portfólio.

Ao final, foram feitas 5 propostas de melhoria a fim de atingir os objetivos propostos,

extraindo exemplos do modelo de referência e adaptando-os à realidade da empresa. Das

cinco propostas, duas agem na fase de análise estratégica das informações (TRM e pesquisa

de mercado), uma no desenvolvimento de tecnologia e duas na gestão de portfólio (critérios

de avaliação).

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2. Método

Este trabalho é um estudo de caso de caráter exploratório, consistindo

primeiramente na revisão bibliográfica de temas relevantes à pesquisa (PDP, planejamento

estratégico do produto, Technology Roadmapping, gestão de portfolio de produtos).

Após a revisão teórica, as etapas do trabalho, com base nas diretrizes de Gil (2002),

são:

2.1 Definição e análise do modelo a ser estudado

Contextualizar o modelo de Zanatta (2010) e delimitar a parte do modelo em que

este estudo será focado. Como o modelo passou por um processo de melhoria, as etapas

deste processo são estudadas, pois estas são responsáveis pelas principais características e

particularidades do modelo. As informações relevantes ao modelo são obtidas através de

três fontes principais:

Revisão da dissertação de mestrado de Zanatta (2010), em que o autor descreve a

pesquisa-ação que envolveu a melhoria do modelo de PDP. Zanatta ocupa o cargo de

Supervisor de Produtos na empresa, tendo participação ativa na gestão do PDP;

Depoimentos pessoais, provenientes de colabores da empresa e do autor do modelo.

Os colaboradores consultados são das áreas de business intelligence, P&D, marketing

e vendas;

Observação participante do autor deste trabalho, que foi colaborador da empresa

durante o período de desenvolvimento do mesmo, com os seguintes trabalhos e

atividades desenvolvidos: coleta, compilação e análise de dados (mecânicos e de

desempenho) referentes a produtos de empresas concorrentes, utilizando catálogos

eletrônicos abertos à consulta; utilização de bancos de dados para a análise de dados

de importação/exportação de produtos concorrentes; participação em reuniões de

atualização do portfolio de produtos; participação em reuniões periódicas de gates.

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2.2 Comparação com o método ITG

Como sugerido por Oliveira e Rozenfeld (2010), que utilizaram o método em uma

empresa de pequeno porte com alta tecnologia, este estudo de caso será feito para uma

empresa de grande porte com tecnologia relativamente menos complexa, neste caso, uma

indústria de manufatura de bens de consumo duráveis.

A fase que corresponde ao planejamento estratégico do modelo de Zanatta (2010)

será comparada com o método ITG, salientando as semelhanças e diferenças, com

justificativas e comentários teóricos necessários.

2.3 Análise dos resultados e propostas

Feita a comparação, os resultados serão resumidos e serão feitas propostas de

melhoria para o modelo estudado, com base no contexto da empresa e suas necessidades.

As propostas serão feitas incluindo: objetivos e justificativa; descrição; sugestão de

implementação. A figura a seguir ilustra este fluxo de atividades.

Revisão bibliográfica

Contextualização do problema e estudo da situação atual

Comparação crítica com a referência literária

Coclusão e sugestões de melhoria

Figura 1: Fluxo de atividades do trabalho

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2.4 Limitações do trabalho

Dois fatores limitaram a execução desta pesquisa. O primeiro deles foi a menor

participação do autor deste trabalho em outras fases do PDP além do Planejamento

Estratégico do Produto, proporcionando pouco conhecimento sobre a sequência do

processo e no uso das entregas e informações geradas nas fases estudadas.

A segunda e mais crítica limitação foi a saída do autor antes da finalização do

trabalho proposto, que envolvia a implementação deste modelo em um projeto já existente

e análise dos resultados. No momento da interrupção, todo o material teórico já havia sido

coletado, sendo possível realizar o trabalho com as informações disponíveis.

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3. Revisão Bibliográfica

3.1 Processo de desenvolvimento do produto

O processo de desenvolvimento do produto (PDP) consiste na análise do mercado,

seus requisitos e oportunidades tecnológicas, e na combinação desta com o planejamento

estratégico da empresa, tendo como finalidade definir as especificações do produto, do seu

processo de produção, e de todo o acompanhamento pós lançamento. Dado o alto nível de

competitividade do mercado e de exigência dos clientes, o PDP tem ganhado cada vez mais

importância para a sobrevivência das organizações, tornando-se um fator crítico de sucesso,

principalmente em setores de alta tecnologia (automobilístico e eletrônicos). (Rozenfeld et

al., 2006).

Por ser um processo único, ou seja, sem repetibilidade, o PDP apresenta

particularidades, muitas delas relacionadas ao grau de incerteza no início do projeto para a

tomada de decisões e o impacto destas decisões nas fases seguintes do projeto. Há um

grande volume de informação de entrada no processo, entre elas, requisitos (de mercado e

legais), capacidade da empresa (de recursos e conhecimento) e o ambiente em que está

inserida (fornecedores, concorrentes). Estas informações provêm de um número variado de

fontes, em formatos e quantidades diferentes, portanto o trabalho de coleta e análise,

seguido do alinhamento dos resultados com a estratégia organizacional estabelecida, além

de ser a base do desenvolvimento do produto, possui um impacto crítico no custo do

produto.

Segundo Anderson (2001), após a fase de desenvolvimento apenas 8% do custo total

do projeto já foi gasto (custo incorrido). Entretanto, neste ponto também já foi determinado

80% do custo do produto (custo comprometido) e, nas fases seguintes, a dificuldade de

redução deste custo é aumentada significantemente. O gráfico a seguir mostra a relação da

fase do desenvolvimento do produto com os custos envolvidos (comprometido e incorrido).

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Figura 2: Custos comprometidos e incorridos ao longo das etapas da vida do produto (adaptado de ANDERSON, 2001)

3.1.1 Diferentes tipos de PDP

Como já dito anteriormente, o PDP é um processo singular, podendo assim ser de

naturezas diferentes para cada tipo de situação. A classificação mais comum de PDPs utiliza

como critério o nível de inovação do produto em questão, que vai desde projetos radicais

que apresentam novos conceitos de produto e processos (breakthrough) a projetos

incrementais, que são baseados em produtos já existentes, realizando pequenas

modificações visando melhoria, redução de custo entre outros. (CLARK e WHEELWRIGHT,

1993).

Figura 3: Classificação dos processos de desenvolvimento do produto de acordo com o grau de inovação

(Adaptado de CLARK e WHEELWRIGHT, 1993).

P&D

Break-

through

Plataforma

Derivados

Inovação no processo

Ino

vaçã

o n

o p

roje

to

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O P&D tem seu foco em tecnologia ao invés do produto, com o objetivo de criação de

know-how para projetos avançados, tanto que é comum os processos desta área serem

realizados separadamente do PDP. Já os outros processos de PDP são caracterizados da

seguinte maneira:

Tipo de PDP Nível de inovação Características

Breakthrough Novos conceitos

Modificações radicais no produto

Introdução de tecnologias e materiais

Inovação no processo de manufatura

Plataforma Nova geração de

produtos

Alterações significativas no produto

Não há a introdução de novas tecnologias e

materiais

Derivados Novos produtos da

família

Incrementos e melhorias em projetos anteriores

Menor uso de recursos

Quadro 1: Características de cada tipo de processo de desenvolvimento de produto (ROZENFELD et al., 2006)

Neste trabalho, o projeto estudado é do tipo plataforma, já que apresenta um grau

de inovação significativo se comparado ao seu predecessor. Este tipo de projeto será

analisado mais detalhadamente a seguir.

3.1.2 Projeto de plataforma

Situado em um nível intermediário de inovação, os projetos de plataforma (Oliveira

et al, 2006) trazem mudanças de melhoria relevantes tanto no produto (dimensões,

especificações, lista de materiais, desempenho, custo) como em processos de manufatura

(equipamentos necessários, técnicas), porém sem introduzir elementos inovadores

relacionados a tecnologia ou materiais.

Rozenfeld et al (2006) define plataforma como um projeto que funciona como uma

estrutura básica de produto comum para os modelos que compõe uma família. Esta

plataforma serve de suporte para a geração deste produto e tem ligação com as gerações

anteriores e posteriores. Segundo Rozenfeld et al (2000), o trabalho com plataformas de

produto é uma tendência que foi difundida da indústria automobilística para outros

segmentos, e que permite a empresa a lançar produtos diferentes, porém com o mesmo

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conjunto de partes e tecnologias, variando em suas combinações. Esta prática reduz o custo

no processo de desenvolvimento de produto e acelera o tempo de lançamento, já que

elimina atividades do processo que seriam redundantes. Para que o desenvolvimento de

diferentes modelos a partir de uma plataforma ocorra de uma forma sincronizada, com o

melhor uso do tempo e recursos disponíveis, é necessária uma boa gestão de portfólio de

produtos, conceito que será descrito na seção 2.2.1.

3.1.3 As macrofases do PDP

Rozenfeld et al (2006) divide o PDP em três macrofases: pré-desenvolvimento;

desenvolvimento; pós-desenvolvimento. Mesmo este projeto sendo focado na primeira

macrofase, é importante definir os conceitos relacionados à fase.

A fase de um projeto é determinada pela entrega de resultados pré-determinados

para que haja o avanço do projeto. Apesar de os resultados serem obtidos através de

diferentes atividades, não é possível utilizá-las para caracterizar uma fase, já que é comum a

realização simultânea de atividades de diferentes fases. Uma vez que os resultados

referentes a cada fase são atingidos, é realizado um processo de revisão e retificação

chamado de gate. Neste processo os resultados são avaliados de maneira detalhada e

criteriosa e, com a aprovação dos gerentes responsáveis, a atual fase é finalizada para o

início da seguinte. A tabela 2 mostra as fases do PDP e seus principais resultados entregues

ao final de cada uma.

Macrofase Fase Resultado principal

Pré-desenvolvimento

Planejamento estratégico

Portfólio de produtos Minuta do projeto

Planejamento do projeto

Plano do projeto

Desenvolvimento

Projeto informacional Especificações-Meta

Projeto conceitual Concepção do produto

Projeto detalhado Especificações finais

Preparação do produto Liberação da produção

Lançamento do produto

Documentos e especificações de lançamento

Pós-desenvolvimento

Acompanhamento Feedbacks periódicos

Descontinuação Avaliação do ciclo de vida Quadro 2: As macrofases do PDP e suas principais entregas (ROZENFELD et al., 2006)

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A figura a seguir é uma ilustração das informações contidas na tabela em forma de

fluxograma.

PlanejamentoEstratégicode Produtos

Planejamentode Projeto

ProjetoInformacional

ProjetoConceitual

ProjetoDetalhado

Preparaçãoda Produção

Lançamento do Produto

AcompanharProduto eProcesso

DescontinuarProduto

Pré-desenvolvimento Desenvolvimento Pós-desenvolvimento

Figura 4: Macrofases e fases do modelo de Rozenfeld et al. (2006)

Como este trabalho é focado no planejamento estratégico do produto, as próximas

seções detalharão esta fase.

3.1.4 Planejamento Estratégico do Produto

No modelo desenvolvido por Rozenfeld et al. (2006), e também utilizado como

referência para este trabalho, o Planejamento Estratégico do Produto é a primeira fase do

PDP. Esta fase utiliza como base o PEN da empresa, que é descrito da seguinte maneira:

“...a estratégia da empresa dentro de um horizonte de planejamento, que,

em suma, define como a empresa pretende competir e quanto almeja crescer”.

ROZENFELD et al., 2006.

A principal entrega desta fase é o portfólio de produtos, ou seja, uma lista dos

produtos da empresa e os projetos a serem desenvolvidos com base nas metas da estratégia

organizacional. Para os produtos em fase de projeto, é necessário que haja uma descrição e

as previsões de início de desenvolvimento, lançamento e retirada; e para os produtos já

existentes e em circulação, as previsões de retirada. (ROZNFELD et al., 2006)

O fluxo de atividades do Planejamento Estratégico do Produto é mostrado a seguir, e

a próxima seção irá discutir estas atividades e as entregas intermediárias.

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Figura 5: Fluxograma com as atividades do planejamento estratégico do produto (ROZENFELD et al., 2006)

3.1.5 O fluxo de atividades no Planejamento Estratégico do Produto

As duas primeiras atividades do Planejamento Estratégico do Produto (definição do

escopo de revisão do PEN e o planejamento das atividades para esta revisão) são

responsáveis pela programação da atualização estratégica da empresa anterior ao

desenvolvimento do produto: a primeira define o nível de detalhamento, ou seja, a

profundidade da análise feita para usar como base do planejamento de acordo com o

horizonte e o mercado em que a empresa está inserida; já a segunda utiliza esta base para

definis as atividades, prazos e recursos envolvidos na revisão do PEN. Ao final, estará pronto

o plano de revisão do PEN, que contém todas as informações necessárias para as próximas

atividades.

Também necessária para a revisão do PEN, a consolidação de informações sobre

tecnologia e mercado pode ocorrer paralelamente às duas primeiras atividades. Dadas as

condições de alta dinamicidade do mercado atual, esta atividade ganhou ainda mais

importância. Os dados coletados são divididos entre os provenientes de fontes secundárias e

primárias, e também entre dados referentes ao mercado (cliente, consumidor e público) e

tecnologia (conhecimentos com finalidades práticas). Estes dados auxiliam na criação de

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cenários atuais e futuros, que servem como base para a revisão do PEN e do portfólio de

produtos.

Com todas as informações e o planejamento disponíveis, é feita a revisão do PEN. Os

itens revisados serão especificados com mais detalhes na seção 3, juntamente com a

metodologia de análise.

As fases seguintes à revisão do PEN consistem na revisão do portfólio de projetos e a

decisão sobre qual destes serão iniciados. A gestão do portfólio de projetos consiste em

atividades que se mesclam com as atividades da segunda metade do planejamento

estratégico do produto, e são detalhadas na seção a seguir. O planejamento estratégico do

produto segue através da gestão do portfólio de projetos até as entregas finais dessa fase,

que são o portfólio revisado e aprovado e a minuta do projeto, o documento oficial da

abertura do processo de desenvolvimento do produto.

A tabela a seguir lista as cada uma das atividades desta fase com as informações de

entrada necessárias (inputs) e as entregas de cada uma.

Informações de entrada (Inputs) Atividade Entregas

Plano estratégico de Negócios

Lista de membros do time

1. Definir escopo da revisão do PEN

Declaração de escopo de revisão do PEN

Plano estratégico de Negócios

Escopo de revisão do PEN

2. Planejar atividades de revisão do PEN

Plano de revisão do PEN

Plano estratégico de Negócios

Escopo de revisão do PEN Plano de revisão do PEN

3. Consolidar informações sobre

tecnologia e mercado

Dados de tecnologia e mercado

PEN

Dados de tecnologia e mercado 4. Revisar o PEN PEN (revisado)

PEN (revisado)

Portfólio (atual) 5. Análise do portfólio

Portfólio (revisado)

Lista de ideias

Portfólio (revisado)

Lista de ideias

6. Propor mudanças no portfólio

Portfólio (aprovado)

Minuta de projeto

Portfólio (aprovado) 7. Verificar a

viabilidade do portfólio Portfólio (aprovado)

Portfólio (aprovado)

Minuta de projeto

8. Decidir início de planejamento do

produto

Minuta do projeto (aprovada)

Quadro 3: As atividades do planejamento estratégico de produto (ROZENFELD et al., 2006)

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3.2 Technology roadmapping

Os TRMs foram inicialmente desenvolvidos durante a década de 70 pela Motorola

como uma forma de planejamento estratégico que mantém alinhados os processos de

desenvolvimento tanto de produtos como de tecnologias. O TRM garante que os

investimentos em tecnologia sejam direcionados de forma a atender as futuras necessidades

de mercado, criando uma espécie de roteiro de inovação para os produtos e serviços da

organização. (BERNAL et al., 2009)

De maneira mais específica, o IEA define TRM da seguinte maneira:

“Um conjunto dinâmico de requisitos técnicos, políticos, legais,

financeiros, organizacionais e de mercado identificados por todos os stakeholders

envolvidos em seu desenvolvimento. Este conjunto leva um melhor e mais

completo compartilhamento de informações tecnológicas relacionadas ao processo

de P&D. A meta [do TMR] é acelerar o processo de P&D, entregando mais cedo

atualizações tecnológicas no mercado. ”

IEA, 2009

Segundo Phaal et al (2001), os TRMs são flexíveis e abrangentes, podendo variar em

sua estrutura e conteúdo de acordo com a necessidade (produto, estratégia, conhecimento).

Das oito grandes áreas em que os TRMs podem ser agrupados, a mais comum, e também

utilizada neste trabalho, é a de Planejamento de Produto: este formato de TRM mostra a

inserção de tecnologias a serem desenvolvidas em novos produtos, normalmente contendo

mais de uma geração deste produto.

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22

Figura 6: modelo de TRM aplicado ao planejamento de produtos (PHAAL et al., 2001)

A metodologia usada para a construção de um TRM é chamada de Technology

Roadmapping, e, assim como a gestão de portfólio de projetos, não possui um passo-a-passo

definido, já que cada processo de mapeamento é único e deve ser conduzido de maneira

particular. É importante diferenciar os termos Roadmap e Roadmapping, que serão

extensivamente utilizados neste trabalho: Roadmapping corresponde ao processo de

mapeamento da tecnologia no contexto estratégico, enquanto Roadmap se refere ao mapa

gerado através deste processo. (OLIVEIRA, 2009)

Do mesmo modo, é possível criar um modelo com atividades e requisitos críticos que

devem ser cumpridos. Por exemplo, Bray & Garcia (1997) dividem o processo de Technology

Roadmapping em 3 fases principais, divididas posteriormente em subcategorias:

Fase 1: Atividades preliminares: verificação da existência de uma real necessidade

do Technology Roadmap; definição do escopo e das fronteiras do TRM.

Fase 2: Desenvolvimento do TRM: identificação do produto em que o TRM será

focado, requisitos críticos e as metas; especificação das áreas tecnológicas em que os

trabalhos serão focados, as variáveis envolvidas e as alternativas existentes; montagem do

cronograma com estas alternativas, do plano de execução das atividades; compilação de

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todas as informações obtidas, documentos gerados e decisões tomadas em um relatório

final.

Fase 3: Implementação e acompanhamento: validação do TRM; criação de um plano

de implementação, atividades rotineiras de revisão e atualização.

Já o modelo desenvolvido por Phaal et al. (2001), utilizado como base do método ITP,

divide o processo de Roadmapping em 4 workshops e 2 atividades paralelas. Os workshops

correspondem à fase de desenvolvimento do TRM, e ocorrem na seguinte sequência:

workshop de mercado; workshop de produto; workshop de tecnologia; workshop de

mapeamento. A primeira atividade, a de planejamento, consiste nas atividades preliminares,

iniciando junto com o processo de TRM e ao workshop de mercado. Já a segunda

corresponde à implementação e acompanhamento do TRM.

3.3 Gerenciamento de projetos

Tendo como escopo o ambiente empresarial, o termo gerenciamento refere-se ao

ato de administrar pessoas e recursos visando a obtenção de resultados, sejam eles internos

ou externos, e que podem ser medidos e comparados, também interna (metas da empresa)

ou externamente (concorrentes). Já o termo projeto engloba os esforços e as tarefas feitas

para atingir este resultado, com parâmetros pré-estabelecidos de escopo (contexto,

objetivos), tempo (duração) e custos (investimento, recursos e pessoas envolvidas). É

importante salientar que cada projeto é um evento único, e deve ser conduzido através de

um gerenciamento particular, diferentemente de um processo ou atividade rotineira, que

podem ser acompanhados por procedimentos de gestão padronizados. (OLIVEIRA, 2003)

Desse modo, gerenciamento de projetos é definido pela organização de recursos,

técnicas e tarefas visando a realização mais eficaz de um projeto de características únicas.

Entretanto, em um nível empresarial, como o estudado neste trabalho, são realizados

simultaneamente vários projetos, e que normalmente requerem o uso de recursos em

comum (por exemplo, o mesmo gestor é responsável por um número de projetos em seu

departamento). Para a melhor condução destes projetos, estes são organizados em

conjuntos denominados portfólios. Os projetos de um portfólio podem ser dependentes

entre si ou não, porém este método de organização permite uma gestão integrada e

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coordenada, que além de ser mais eficiente que uma individualizada para cada projeto,

também auxilia na gestão estratégica da empresa. (PADOVANI, 2012)

3.3.1 Gestão do portfólio de projetos

Como constatado na seção anterior, a gestão de portfólio de projetos ocorre no nível

estratégico da empresa, possuindo uma abordagem holística, ou seja, avalia o desempenho

e o retorno de todos os projetos individualmente e das relações existentes entre cada um.

Além disso, esta gestão possibilita a identificação, manutenção e solução de problemas

relacionados aos projetos e quais iniciativas devem ser tomadas para mantê-los alinhados

aos objetivos estratégicos da organização. (Stouffer & Rachlin, 2003)

Tendo em vista a dinamicidade do mercado e as diferentes naturezas tecnológicas de

cada organização, a tarefa da gestão de portfólio de projetos é singular para cada caso, não

possuindo um roteiro trivial de atividades. Entretanto, vários autores criaram modelos que

podem ser seguidos com a finalidade de focar o portfólio na direção dos objetivos

estratégicos. Estes modelos, apesar das diferenças, seguem um padrão de atividades ou

etapas que podem ser sintetizadas em quatro etapas essenciais, como descrito no modelo

de Elgund & Graham (1999), que são:

1. Coleta de informações: nesta etapa todo o conhecimento necessário para a gestão

do portfólio é obtido e organizado. Ocorre durante a atividade 3 do planejamento

estratégico de produtos.

2. Estabelecimento de critérios de avaliação: aqui são determinadas as dimensões em

que os projetos serão avaliados e o método de tomada de decisão utilizado na etapa

3. Ocorre durante a atividade 5 do planejamento estratégico de produtos.

3. Avaliação e recomendações: após a análise dos projetos, a decisão tomada para cada

um enquadra-se entre cinco diferentes tipos de escolha (criação de um novo projeto;

aprovação; redirecionamento; congelamento; cancelamento) (ROZENFELD et al.,

2006). Ocorre durante as atividades 5 e 6 do planejamento estratégico de produtos.

4. Monitoramento: esta etapa ocorre após o início dos projetos e consiste em verificar

se estes estão sendo desenvolvidos de acordo com a estratégia organizacional,

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propor medidas corretivas quando necessário e realizar feedbacks do progresso e dos

resultados. Ocorre posteriormente ao planejamento estratégico de produtos.

Os processos utilizados como referência por Oliveira (2009) no modelo base deste

trabalho, Cooper et al. (1999) e Archer e Ghasemzadeh (1999), também seguem, de certa

forma, esta estrutura. O primeiro integra a gestão de portfólio com a avaliação de projetos e

propõe esta avaliação através de gates. Já o segundo também divide as atividades, porém

em 3 macrofases: pré-processo (coleta de informações e estabelecimento de critérios de

avaliação); processo (avaliação e recomendações) e pós-processo (monitoramento). Este

modelo propõe uma flexibilidade nas fases para torná-lo adaptável para diferentes

situações. Por fim, o modelo de Bitman (2005), divide o processo em dois blocos: o primeiro

referente à análise do contexto do negócio, aproximando-se do desenvolvimento do TRM; já

o segundo é referente à seleção de projetos, em que ocorre uma avaliação dos projetos

utilizando valores ponderados de atributos como critério.

3.4 O modelo integrado

Desenvolvido por Oliveira (2009), o método ITG é uma ferramenta utilizada para a

aplicação do TRM e da Gestão de Portfólio na fase de pré-desenvolvimento do produto. A

sigla ITG é formada pelos termos: (I) Integração, (T) Technology Roadmapping, e (G)Gestão

de Portfólio. Como já foi observado nas seções anteriores, este modelo adota atividades de

TRM descritas por Phaal et al. (2001) e de Gestão de Portfólio propostas pelos modelos de

Cooper et al. (1998) e Archer e Gamsemzadeh (1999), alinhando-as em um fluxo

correspondente ao pré-desenvolvimento do produto. Além disso, foi adicionada uma

atividade de proposição de projetos e produtos como ligação entre as etapas referentes ao

TRM e as de Gestão de Portfólio.

A figura a seguir, retirada de Oliveira (2009), mostra o Método ITG em sua

integridade, com suas atividades e o fluxo entre elas. Para facilitar a leitura deste trabalho,

as atividades do método serão referidas através do nome ITGXX, em que XX corresponde ao

número da atividade (ex. ITG02 = atividade 2 do método ITG).

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Figura 7: Fluxograma do método ITG (OLIVEIRA, 2009)

1. Definição da unidade de análise: esta atividade corresponde ao início do processo de

TRM, em que são definidas as fronteiras de aplicação do método, ou seja, qual a

unidade de negócio, o segmento de mercado e a linha de produtos em que o

processo de desenvolvimento de produto será focado.

2. Análise das estratégias de negócio: aqui são definidos os direcionadores estratégicos

a partir dos quais as metas são estabelecidas; fatores quantitativos (atributos físicos,

retorno financeiro) e qualitativos (grau de inovação) são levados em consideração de

acordo com a estratégia de negócios e, com base nestes fatores, os direcionadores

são identificados, bem como suas prioridades.

3. Análise de mercado: utilizando estudos sobre o mercado em que a organização atua,

especialmente em relação às suas necessidades e tendências, esta etapa identifica os

direcionadores de mercado e também as suas prioridades. Exemplos de

direcionadores são as características e atributos técnicos que clientes procuram, ou

que terão maior demanda em um futuro próximo.

4. Análise de produto: com base nos resultados das atividades 2 e 3, determina-se as

características mais importantes dos produtos, de modo que eles atendam os

direcionadores estabelecidos no tempo certo.

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5. Análise de tecnologia: aqui são identificadas as tecnologias necessárias para a

produção dos produtos especificados, e se estas tecnologias já existem, se estão ao

alcance da empresa ou se precisam ser desenvolvidas.

6. Definição das estratégias de produto: esta atividade corresponde à etapa de

desenvolvimento do TRM, ou seja, ela utiliza as informações geradas previamente e

as organiza em um mapa estratégico da unidade de análise.

7. Proposição de projetos de novos produtos: aqui são elaborados os conceitos para

novos produtos e, a partir destes conceitos, reunir informações necessárias para as

atividades seguintes. Estas informações são: tipo de projeto; segmento de mercado;

preço, receita e recursos estimados; requisitos do mercado; visão do produto;

materiais e componentes; competências críticas; e planejamento do ciclo de vida.

8. Análise financeira dos projetos: ferramentas como valor presente líquido, taxa

interna de retorno e payback são utilizadas para transformar informações coletadas

em dados financeiros, que servem de critério para avaliação dos projetos.

9. Análise da probabilidade de sucesso dos projetos: semelhantemente à análise

financeira, aqui é feita uma análise de risco dos projetos, como a probabilidade de

sucesso tanto do PDP como da comercialização do produto.

10. Análise do potencial estratégico dos projetos: esta atividade assegura que os projetos

estão de acordo com o alinhamento estratégico da empresa e o impacto individual

de cada um na estratégia.

11. Classificação dos projetos: a classificação é feita quantificando-se os resultados

obtidos nas atividades 8, 9 e 10 de acordo com as prioridades da organização; para

cada projeto é calculada uma nota normalizada, que facilita a comparação entre o

potencial de cada projeto.

12. Análise do relacionamento entre os projetos: aqui é feito um estudo de como cada

projeto dentro do portfólio está relacionado com os outros. Estas relações podem ser

de dependência, compartilhamento de atividades, impacto nos resultados e de

tempo. Isto é usado para otimizar a utilização de recursos e evitar o

comprometimento de um projeto se outro for escolhido.

13. Seleção dos projetos de produtos para desenvolvimento: a atividade final consiste

não apenas em escolher os melhores projetos para andamento com base em suas

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notas, mas também o melhor conjunto de projetos com base em seus

relacionamentos. Este conjunto deve atender os objetivos estratégicos da empresa,

maximizando o valor do portfólio, além de manter balanceada a alocação de

recursos.

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4. Análise do Modelo Atual

4.1 Contextualização

A empresa, Tecumseh Products Company, multinacional com sede nos Estados

Unidos da América, possui sua maior unidade na cidade de São Carlos, Brasil, e no ano de

criação do modelo, seu quadro de funcionários era de aproximadamente 4000 pessoas. Seu

principal produto é uma commoditie (compressores herméticos), atuando em um mercado

de escala mundial com pouca flexibilidade nos preços, necessitando de processos internos

eficazes para manter sua competitividade (Zanatta, 2010). Tendo em vista este contexto,

ocorreu o processo de melhoria do PDP já existente na empresa.

4.2 O processo de melhoria

Utilizando o modelo de referência de Rozenfeld et al. (2006); o modelo de referência

adotado pela matriz da empresa e uma metodologia de Pesquisa-ação, o trabalho de Zanatta

(2010) foi divido em três ciclos sequenciais de natureza PDCA, com cada ciclo possuindo as

seguintes etapas: diagnóstico do PDP; definição e priorização dos projetos de melhoria;

implementação dos projetos de melhoria; avaliação dos resultados.

No início do primeiro ciclo, o time responsável pelo processo utilizou a ferramenta

Árvore de Causa e Efeito para a identificação de oportunidades de melhoria, focando nas

causas raízes com a finalidade de eliminar o máximo de problemas com melhor

aproveitamento de recursos.

Os seguintes projetos de melhoria foram selecionados:

1. Classificação de projetos

2. Planejamento estratégico de produtos

3. Políticas de RH para o desenvolvimento de produtos

4. Organização estrutural englobando clientes e fornecedores

5. Planejamento de TIC para o processo de desenvolvimento de produto

6. Implementação o modelo de referência

7. Práticas de gerenciamento de projeto

8. Treinamento em temas relacionados ao PLM

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9. Melhoria no uso do FMEA

10. Gerenciamento de custo integrado

11. Gerenciamento de mudança cultural voltado ao PDP

12. Padronização de produtos

13. Redução do gap tecnológico

14. Processo de análise de mercado

Destes 14 projetos, 2 deles são completamente relacionados ao planejamento

estratégico do produto e ao modelo ITG (projetos 02 e 07), enquanto outros 5 são

parcialmente relacionados (01, 06, 10, 12, 13). Estes projetos serão o foco do estudo, sendo

detalhados em seguida. Para facilitar a leitura e o entendimento, os projetos de melhoria

serão nomeados como PXX, sendo XX o número do projeto (ex. P06 = Projeto de melhoria

06)

Ao final dos três ciclos de melhoria, 12 projetos foram implementados, 7 no primeiro

ciclo, 4 no segundo e 1 no terceiro e último. Dois projetos foram cancelados: P07, que pôde

ser realizado junto com P06, não havendo assim a necessidade de dois projetos separados;

P14, que acabou sendo realizado dentro de outro projeto da empresa, em nível global.

Diagnóstico Planejamento Implementação Avaliação

Ciclo 1 Diagnóstico do PDP Árvore da Realidade

Atual (ARA)

Definição e priorização de 14 projetos

Escolha de projetos para implementação

Projetos 01, 02, 03, 08, 10, 12,

13

Avaliação dos resultados do ciclo

Ciclo 2 Árvore da Realidade

Atual (ARA)

Escolha de projetos para implementação

Cancelamento dos projetos 07 e 14

Projetos 05, 06, 09, 11

Avaliação dos resultados do ciclo

Ciclo 3 Árvore da Realidade

Atual (ARA) Escolha de projetos para

implementação Projeto 04

Avaliação dos resultados do ciclo

Quadro 4: Ciclos de melhoria do modelo de PDP (Zanatta, 2010)

Nas seções a seguir são descritos os seis projetos relacionados ao modelo ITG (este

número foi reduzido devido à junção de P07 ao P06). A descrição é dividida em três partes:

objetivo, implementação e resultados.

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4.2.1 Projeto 01 - Classificação de projetos

Objetivo: utilizando como critério o grau de complexidade do projeto, estabelecer

uma nomenclatura padronizada para os projetos de desenvolvimento de produto.

Implementação: definição de três tipos de projetos, utilizando a nomenclatura MR

(marketing request), já utilizada na empresa. (MR1) complexidade simples, novo modelo

sem novos componentes; (MR2) complexidade média, nova família ou novos modelos com

novos componentes (MR3) complexidade alta, nova família de produtos.

Resultado: cumpriu seus objetivos e serviu como base para a implementação de P12 e P06,

já que, separando os diferentes projetos de produtos de acordo com seu grau de

complexidade, é possível padronizar o tipo de processo de desenvolvimento para cada um.

Os projetos tipo MR1 necessitam de poucos recursos para sendo atendido, enquanto os tipo

MR3 seguem o modelo de referência para PDP desenvolvido em P06.

4.2.2 Projeto 02 - Planejamento estratégico de produtos

Objetivo: utilizar o método de TRM para definir um portfólio de produtos alinhado

com a estratégia da empresa, considerando as tendências e oportunidades do mercado e

tecnologia.

Implementação: quatro atividades sequenciais, realizadas por times multifuncionais

selecionados com base nas entregas; (1) revisão estratégica, alinhando o planejamento

estratégico dos produtos com o da empresa; (2) desenvolvimento do TRM através de

workshops; (3) elaboração de um sistema de gerenciamento do portfólio de projetos, de

forma a auxiliar a implementação do P07; (4) implementação e planejamento de análise do

TRM.

Resultados: (1) esta atividade deu origem ao PRM da empresa, que, junto com o

TRM, é responsável pela definição dos projetos de produto e tecnologia; (2 e 4)

primeiramente, o time responsável pela elaboração do TRM definiu o template a ser

utilizado, que, tendo como base a referência de Phaal et al. (2007), divide as categorias

tecnológicas em 5 diferentes áreas (Tendências e direcionadores, Manufatura, Logística,

Recursos, Subsistemas de produtos), com o estado atual e o futuro em curto, médio e longo

prazo; o workshop de desenvolvimento do TRM teve duração de 2 dias, com todas as ideias

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sendo anotadas, debatidas e, por final, apresentadas à alta gerência; foi definido que

revisões periódicas seriam realizadas anualmente, porém esta frequência ficou sujeita à

alteração caso seja necessário (3) com as definições estabelecidas no P01, foi feita uma

adaptação do modelo global da empresa para a gestão de portfólio de produtos; a planilha

de gestão divide os projetos em 4 níveis e os classifica através do critério “retorno sobre o

investimento”; esta atividade possibilitou a integração de P07 com P06, sendo que a planilha

em questão será detalhada durante a seção correspondente ao P06, onde foi feita sua

implementação efetiva;

4.2.3 Projeto 10 - Gerenciamento do custo integrado

Objetivo: criar um método de monitoramento do custo dos projetos em toda sua fase

de desenvolvimento.

Implementação: (1) desenvolver uma planilha de gerenciamento de custos; (2)

integrar esta planilha com o PDP; (3) criação de uma sala específica para reuniões referentes

aos custos de produtos (Sala de Custos).

Resultados: (1 e 2) a empresa possuía uma planilha com esta função, que, utilizando

a lista de materiais do produto e os custos obtidos através do banco de dados; esta planilha

foi alterada com a finalidade de ter uma interface amigável com o usuário e facilitar o uso a

partir do time de PDP quanto à atualização e extração de informações; a partir disso, a

análise de custo passou a ser utilizada durante todo o PDP a partir da fase um (ver P06); (3) a

sala foi criada e nela estão contidas informações referentes ao custo dos materiais, retorno

dos projetos, volume de compras/vendas/produção; as informações são atualizadas

mensalmente e são realizadas reuniões para encontrar oportunidades de redução de custos.

4.2.4 Projeto 12 - Padronização de produtos

Objetivo: criar um padrão de produtos, componentes, sistemas e embalagens e

aplicar em todo o portfólio da empresa, a fim de reduzir a quantidade de itens ociosos e

redundantes no sistema.

Implementação: (1) análise de componentes, sistemas, e subsistemas de todos os

produtos ativos; (2) análise dos produtos ativos no portfólio da empresa; (3) criação de um

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banco de dados com os atributos de cada componente; (4) elaboração de um processo para

criação de produto e seus componentes.

Resultados: (1) os componentes foram caracterizados e agrupados de acordo com as

suas características (funcionalidade, dimensões, tolerâncias); componentes similares foram

revisados e os que possuíam baixo volume de vendas foram substituídos por um

correspondente com maior volume; esta redução de componentes no sistema facilita a

fabricação e montagem de produtos, além de impedir que dois projetos em que a diferença

está em componentes similares sejam desenvolvidos ao invés de um. (2) a mesma análise foi

feita para os produtos liberados no sistema; após o estudo, os produtos que não foram

vendidos dos 18 meses anteriores foram inativados, o que resultou em uma redução de 17%

da quantidade de produtos liberados no sistema; (3) esta atividade não foi realizada pois

havia a necessidade de uma concordância global para a padronização dos códigos de

componentes e suas características; (4) foi definido um padrão para criação de novos

produtos (MRs), e seus componentes; para um produto ser criado, este deverá obedecer

critérios internos e ser aprovado pela engenharia.

4.2.5 Projeto 13 - Redução do gap tecnológico

Objetivo: redução da defasagem tecnológica entre os produtos e tecnologias da

empresa com os do mercado.

Implementação: identificar as áreas em que a tecnologia da empresa esta defasada

em relação ao mercado, e, durante a aplicação das atividades de redução, monitorar o

mercado para identificar novas oportunidades.

Resultados: este projeto tem forte ligação com P02, já que as informações relativas

aos gaps foram utilizadas na construção do TRM e o próprio TRM auxiliou a visualização de

outras defasagens; ao final do primeiro ciclo de identificação foram encontrados 49 gaps,

sendo eles de tecnologia, produto e software, e 30 estavam com projetos de redução

iniciados.

4.2.6 Projeto 06 - Implementação do modelo de referência

Objetivo: analisar o modelo de referência global de PDP proposto pela corporação

para ser utilizado na planta do Brasil.

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Implementação: (1) apresentação e estudo do modelo de referência; (2) definir as

funções de gerência do projeto; (3) apresentação do modelo de Gestão de Portfólio de

Projetos; (4) adequar os projetos em andamento a este modelo e utilizá-lo em novos

projetos.

Resultados:

(1) O modelo apresentado pela corporação (representada por um membro da alta

diretoria) é caracterizado como NPD, possuindo um padrão consistente, similar ao processo

de manufatura, com alta previsibilidade e repetibilidade. Este modelo possui fases bem

especificadas com suas respectivas entradas, saídas e critérios de avaliação dos gates.

Este modelo possui 8 diferentes fases, como é mostrado na figura a seguir.

Fase 0Idéia

Fase 1Requisitos do negócio e do cliente

Fase 2Projeto conceitual

Fase 3Validação do protótipo

Fase 4Manufatura

Fase 5Pré-piloto

Fase 6Validação de produto e processo

Fase 7Lançamento

Figura 8: Fases do modelo de Zanatta (2010)

Em comparação com o modelo de Rozenfeld et al. (2006) é possível observar que as

duas primeiras fases (0 e 1) são correspondentes ao Pré-desenvolvimento do produto e ao

Projeto Informacional, sendo que as Fases 0 e 1 representam o Planejamento Estratégico de

Produtos, a primeira em sua integridade enquanto a segunda parcialmente. As fases

intermediárias (2 a 6) correspondem à macrofase de Desenvolvimento, com maior foco na

manufatura do produto, já a última fase (7) corresponde ao lançamento do produto. Desse

modo, o modelo corporativo abrange parcialmente o Pós-desenvolvimento, contendo ações

de auditoria e correção, porém sem trabalhar com o fim do ciclo de vida do produto, o

phase-out, como é chamado internamente.

PlanejamentoEstratégicode Produtos

Planejamentode Projeto

ProjetoInformacional

ProjetoConceitual

ProjetoDetalhado

Preparaçãoda Produção

Lançamento do Produto

AcompanharProduto eProcesso

DescontinuarProduto

Pré-desenvolvimento Desenvolvimento Pós-desenvolvimento

Fase 0 Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fases 4, 5 e 6 Fase 7

Figura 9: Comparação entre as fases dos modelos de Rozenfeld et al. (2006) e Zanatta (2010)

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O modelo de gates usado entre as fases se assemelha ao descrito na literatura,

havendo a verificação das atividades completas, o alinhamento estratégico do projeto e uma

revisão da análise financeira, de mercado e do planejamento do projeto. Ao final de cada

gate, o responsável (gate keeper) toma a decisão de continuidade do processo: avançar para

a fase seguinte; cancelar o projeto; aguardar nova avaliação; retrabalhar as atividades.

Durante a implementação do modelo, houve dificuldade por parte dos membros de

time em relação ao alto volume de documentos envolvido, e foi necessário um tempo para

que houvesse o entendimento geral sobre eles. Também houve maior envolvimento das

áreas comercial e de vendas nas duas primeiras fases do processo.

(2) Para auxiliar a implementação e o uso deste modelo de PDP, foram introduzidos

dois novos cargos na estrutura da empresa: gerente de projetos, responsável pela

coordenação das atividades, reuniões e formação dos times; gate keeper, grupo responsável

pela avaliação do projeto nas reuniões de gate e pela tomada de decisões quanto à

continuidade do projeto.

(3) O modelo de Gestão de Portfólio de Projetos é conhecido na empresa como PRL

(Product Ranking List), e divide os projeto em 4 diferentes categorias, como mostra a tabela

a seguir:

Tipo de projeto Status

Inativo Aguardando análise

Ativo Aguardando a liberação de recursos para o início

Hedge Projetos de médio e longo prazo ativos e com recursos alocados

Budget Projetos de curto prazo (com final previsto para o ano corrente) ativos e com

recursos alocados

Quadro 5: Categorização dos projetos do portfólio (ZANATTA, 2010)

O PRL é trabalhado em forma de planilha, onde todos os projetos são listados,

separados por tipo e descritos através de sete diferentes critérios: datas de fim do projeto e

início das vendas; margem; recursos necessários; investimentos necessários; margem bruta

(período de 3 anos); payback; e retorno sobre investimento. Mensalmente esta planilha é

atualizada, com os projetos sendo reclassificados de acordo com os novos status.

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(4) A implementação deste modelo NPD deu-se apenas nos projetos MR3, devido à

maior complexidade destes. Projetos MR1 e MR2, por serem mais simples e já terem uma

base de documentos e tecnologias, foram criados fluxogramas mais enxutos, que visam

otimizar o tempo. No momento de sua implementação, 8 projetos MR3 foram adaptados ao

NPD, e 2 outros projetos tiveram início seguindo o modelo. Deste modo, ocorreu uma

padronização não só na planta brasileira, mas em nível global, do PDP da corporação. A

maior dificuldade desta atividade foi inserir os projetos em andamento ao NPD, já que estes

projetos não estavam seguindo um fluxo de atividades semelhante ao do modelo: enquanto

um número de atividades estava atrasado, outras posteriores já haviam sido concluídas. Isto

foi resolvido através das reuniões de gates, em que os projetos foram estabilizados e

sincronizados com o modelo.

4.3 Análise do Planejamento Estratégico do Produto no modelo de referência

Como visto na seção 4.2, a Fase 0 do modelo de Zanatta (2010) corresponde, em sua

integridade, ao escopo deste estudo, ou seja, o Planejamento Estratégico do Produto e o

modelo ITG.

Esta fase é descrita da seguinte maneira:

“Fase zero: Ideia. Tem o propósito de atrair, gerar e esgotar oportunidades

e identificar ideias para criação do novo produto. O foco inicial deve ser em

pesquisa de plataformas específicas. Estabelecer visão geral das oportunidades de

mercado e uma análise de risco preliminar. O resultado desta fase é uma proposta

de ideia de produto.”

Zanatta (2010)

As cinco principais atividades desta fase são:

Identificar oportunidades de mercado

Prospecção de tecnologia

Mapear mercado

Propriedade intelectual/patentes

Novos processos de manufatura

Esta fase é relacionada com o desenvolvimento e uso do TRM, bem como a obtenção

de informações estratégicas. Como dito na seção 4.2, o TRM é revisado periodicamente, com

a frequência sujeita a alterações. Entretanto, esta frequência não acompanha o ciclo de

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37

desenvolvimento de produtos e a atualização do Portfólio de Projetos. Simultaneamente ao

primeiro TRM, feito no processo de melhoria do modelo de PDP, foi feito o PRM, com ambos

sendo o resultado do alinhamento do PEE com o PEP.

Este alinhamento do PEE com o PEP, assim como os roadmaps, são projetos e

documentos globais para nortear o PDP da empresa. O PEE e o PEP refletem a organização

como um todo, logo, não é um planejamento feito somente na unidade brasileira da

corporação.

PRM

PEE PEP

TRM

Definições: Projetos de Produto Tecnologia Processos

Figura 10: Extração de informações dos documentos estratégicos

Uma vez definido o escopo do PDP, neste caso, a unidade de negócios, é possível

extrair as informações necessárias para o seguimento do planejamento estratégico do

produto.

A fase seguinte do modelo, chamada de “Requisitos do negócio ou cliente” em

português e “Client & Business Case” em inglês, dá continuidade ao planejamento

estratégico do produto, além de finalizar o pré-desenvolvimento e iniciar o planejamento do

produto em si.

A descrição da fase é a seguinte:

“Fase um: Requisito do negócio e dos clientes. Tem como objetivo

principal verificar as necessidades do cliente e definir as oportunidades de negócio.

(...) Esse documento deve garantir que todos os tópicos necessários para a criação

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do business case foram identificados e tratados (...) Planejamento de projeto

preliminar, análise de mercado e análise de viabilidade financeira são algumas das

atividades desta fase. Como saída, deve-se obter o acordo de que o projeto é

teoricamente alcançável e pode-se proceder à fase de projeto conceitual e

viabilidade.”

Adaptado de Zanatta (2010)

As atividades/entregas da fase são:

Pesquisa de mercado

Revisão de patentes

Requisitos críticos

Make vs. Buy

Definição dos gate-keepers

Envolvimento de fornecedores

Viabilidade financeira

Definir objetivos do programa

Destes tópicos, a pesquisa de mercado e o estudo de viabilidade financeira são os

que possuem relação com o planejamento estratégico produto. Os demais são referentes às

fases seguintes à seleção do projeto do portfólio.

A pesquisa de mercado serve como base para a análise financeira e estratégica dos

produtos do portfólio e também para a definição dos requisitos críticos. Já a análise de

viabilidade financeira ocorre na gestão de portfólio, em que os projetos são categorizados e

descritos de acordo com os critérios financeiros, citados na seção 4.2.6.

De modo a facilitar a visualização da etapa de pré-desenvolvimento do produto no

modelo, foi feito um fluxograma ilustrando as atividades envolvidas e suas relações com os

projetos de melhoria. A primeira observação de destaque é que o P02 situa-se fora do

modelo, ou seja, apesar de o TRM ser uma ferramenta fundamental para o PDP da empresa,

ele não foi especificamente feito para este modelo, sendo uma ferramenta estratégica

global da corporação. O P06 possui influência em todo o PDP, não apenas no pré-

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desenvolvimento, e uma das características do modelo de Zanatta (2010), bem como

descrito na teoria de Rozenfeld et al. (2006) pode ser visualizada na figura: a sobreposição

de fases, com atividades sendo realizadas de forma simultânea. A redução do gap

tecnológico foi o único projeto a ter efeito somente na fase 0, muito por estar relacionado

ao estudo das informações retiradas do TRM.

Os demais projetos (P01, P07, P10 e P12), são referentes às práticas de gestão de

portfólio: o gerenciamento de custo integrado (P10) dá suporte informacional para a análise

financeira; a classificação de projetos (P01) e a padronização de produtos (P12) simplifica e

reduz a quantidade de informações, auxiliando a organização do portfolio; já o projeto P07

(cancelado para ser implementado junto ao modelo de referência) trouxe um método de

gerenciamento de portfolio para ser de forma geral no PDP.

A figura 11 mostra o fluxo de atividades do planejamento estratégico distribuído

entre as duas fases do modelo. Os círculos representam os projetos de melhoria e estão

localizados perto das atividades em que afetaram. É possível ver que as atividades de

pesquisa estratégica de mercado são seguidas pela gestão de portfólio, e ambas ocorrem

paralelamente ao desenvolvimento estratégico de tecnologia.

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Identificar oportunidades de

mercado

Prospecção de tecnologia

Mapear mercado

Propriedade intelectual/

patentes

Novos processos de manufatura

Alinhamento do PEE com o PEP

TRM PRM

Pesquisa de mercado

Análise financeira

Atualização do portfólio de

projetos

Sequência do PDP

Fase

0

Fase

1

P02

P13

P10

P01

P06

P07 P12

Figura 11: Ilustração do planejamento estratégico do produto no modelo de Zanatta (2010)

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5. Comparação com modelo de referência

Esta seção irá comparar o modelo desenvolvido e melhorado por Zanatta (2010) com

o método ITG seguindo o fluxo de atividades e fazendo observações sobre as semelhanças e

diferenças.

Estruturalmente, é possível extrair duas conclusões da análise do modelo: (1) o PDP

da empresa tem início na extração de informações do TRM e do PRM globais para os

primeiros estudos, de tecnologia e mercado; (2) Zanatta (2010), ao contrário de Rozenfeld et

al. (2006), não divide seu modelo de PDP em macro fases, e primeiras atividades da fase 1

são parte do planejamento estratégico do produto, com as seguintes sendo referentes ao

desenvolvimento (fase de planejamento do produto).

A primeira fase do modelo de Zanatta (2010), denominada de “Fase Zero: Ideia”

corresponde à primeira metade do método ITG, a qual inclui atividades referentes ao TRM.

A atividade ITG1 (Definição da unidade de análise) é realizada através das entregas,

provenientes do alinhamento do PEE com o PEP e dos roadmaps. Destas entregas são

retirados os dados com as unidades de negócios, os segmentos de mercado e as linhas de

produtos. “Identificar oportunidades de mercado” e “Mapear Mercado” correspondem à

ITG3 (Análise de Mercado).

As definições de tecnologia e processos, ambas provenientes do TRM, são base para

ITG5. Já as definições de projetos de produto, extraídas do PRM, são base para a escolha de

quais projetos farão parte do portfólio estratégico da empresa, e da inclusão de novos

projetos neste portfólio. Já “Prospecção de tecnologia” e “Propriedade intelectual/patentes”

estão inclusas em ITG5 (Análise de tecnologia). Além disso, a atividade “Novos processos de

manufatura” também pode estar inserida neste contexto, já que a tecnologia de manufatura

é de extrema importância para atingir os requisitos do mercado ao se tratar do tipo de

produto da empresa, possuindo impacto no custo e no tempo de fabricação das peças.

Comparando com o método ITG, as entregas referentes ao PRM representam ITG4

(Análise do produto), ITG6 (Definição das estratégias de produto) e ITG7 (Proposição de

novos projetos de produto).

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Entretanto, modelo estudado difere do método ITG no que tange o desenvolvimento

e o uso do TRM:

Método ITG (Oliveira, 2009): faz uma análise da unidade de negócios e seus fatores

estratégicos (mercado, produto e tecnologia), desenvolve o TRM com base nestes e

em seguida define os produtos do portfólio. Como o TRM utiliza o modelo padrão de

EIRMA (1997) apud Phaal (2004), que descreve mercado, produtos e tecnologia, é

possível retirar e/ou criar a partir deste o portfólio de produtos alinhado com a

estratégia organizacional.

Modelo de Zanatta (2010): usa documentos estratégicos e informações globais para

desenvolver o TRM e, a partir deste, o PRM. A partir destes surgem as análises e os

projetos de produtos para o portfólio.

Esta diferença ocorre devido a dois fatores: o primeiro relacionado ao tamanho da

empresa da qual o modelo é analisado, e ao tipo de TRM utilizado.

O método ITG foi desenvolvido e testado originalmente em uma pequena empresa

de base tecnológica, que previamente não possuía um planejamento estratégico

estruturado. Já o modelo estudado faz parte de uma corporação de tamanho grande, com

unidades de negócio em diferentes países e um planejamento estratégico corporativo feito

previamente à definição do modelo de referência. O TRM e, por sua vez, o PRM, partem

deste planejamento.

Enquanto o método ITG utiliza o tipo tradicional de TRM, com informações de

mercado, tecnologia e produto (Phaal et al., 2001), o modelo de Zanatta (2010) dá menor

foco aos fatores de mercado e inclui informações detalhadas sobre tecnologia, processos de

fabricação, cadeia de suprimentos. Isso faz com que seja necessária uma análise e

mapeamento de mercado para auxiliar a definição dos projetos de produto, além do PRM,

que foi feito de forma independente do modelo de referência.

Após as atividades estratégicas, os dois modelos seguem para a gestão de portfólio,

começando pela análise criteriosa dos projetos. Dos três campos de análise sugeridos pelo

método ITG (financeiro, estratégico e de risco), o único utilizado por Zanatta (2010) é o de

análise financeira, e os projetos tem seu potencial avaliado por critérios econômicos apenas.

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Estes critérios foram citados na seção 4.2.6, e se comparados aos utilizados no

método ITG, é possível notar que o modelo de Zanatta (2010) possui um foco maior no

retorno do investimento, já que os indicadores usados na gestão de portfólio são voltados

para esta medida tanto em quantidade absoluta, relativa e em tempo. Pode-se observar que

o método ITG é mais completo neste quesito ao utilizar indicadores adicionais e que

apontam um cenário mais voltado ao longo prazo, como VPL e tempo de venda.

De acordo com Zanatta (2010), em seu modelo as decisões de manter ou alterar o

status do projeto são tomadas majoritariamente com base nestes indicadores, não havendo

indicadores de nível estratégico nem de risco do projeto. A análise de risco proposta por

Oliveira (2009) calcula os riscos comerciais (ex. falta de um canal de distribuição, mudança

de tendências de mercado) e técnicos (falta de tecnologia ou capacidade produtiva). Apesar

de não haver uma análise formal, as atividades rotineiras de atualização do TRM e o

Gerenciamento de Custo Integrado (desenvolvido em P10) garantem a segurança do projeto

em certos aspectos, porém são análises de risco indiretas, o que não exclui a oportunidade

de um processo formal para isto.

No que se refere à análise do potencial estratégico, não há atividades formalizadas

neste estágio do modelo que se assemelham às propostas pelo método ITG. O método

utiliza uma ferramenta de definição de critérios e cálculo a partir de pontuações,

quantificando o impacto estratégico no projeto para facilitar a sua visualização e poder

compará-lo com outros fatores mais simples de serem definidos, como o financeiro.

Tendo em vista a não utilização destes dois critérios para avaliação, as atividades

ITG9 e ITG10 não são realizadas. Entretanto, é importante destacar a importância de inserir

no cálculo de prioridades dos projetos estas duas outras famílias de também de analisar a

relação entre dois ou mais projetos escolhidos para desenvolvimento (ITG11).

O quadro a seguir resume as diferenças entre as análises dos dois modelos.

Análise ITG (Oliveira, 2009) Zanatta (2010)

Financeira Valores absolutos e relativos Valores relativos

Risco Indicadores Indireta

Potencial estratégico Indicadores Não há

Relacionamento entre projetos Indicadores Não há

Quadro 6: Comparação entre as análises dos dois modelos estudados

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A falta das análises e de conhecimento estes relacionamentos pode levar ao

desequilíbrio estratégico da organização, trazendo problemas exemplificados da seguinte

maneira:

A empresa desenvolveu um produto que, ao início da sua fase de comercialização, já

se estava defasado em relação ao mercado. Causado pela falta de análise estratégica.

O produto possui um custo alto, não conseguindo competir com os concorrentes. As

tecnologias são caras e o processo de manufatura é complexo. Causado pela falta de

análise de riscos

Falta de capacidade para o PDP: a escolha de determinado grupo de projetos

sobrecarregou um time de funcionários que não conseguem se dedicar a todos

simultaneamente. Causado pela falta de análise de relacionamentos.

Canibalização de mercado: um produto em desenvolvimento compete com outro

produto da própria empresa já existente ou também em desenvolvimento. Causado

pela falta de análise de relacionamentos.

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45

6. Resultados e Conclusões

6.1 Síntese e comparação completa do pré-desenvolvimento do produto no modelo

estudado com o método ITG

Muitas das observações da comparação do modelo de Zanatta (2010) com o método

ITG foram levantadas nas seções anteriores. A tabela a seguir sintetiza as comparações,

fazendo a correspondência de cada uma das 13 atividades do método ITG com as atividades

propostas por Zanatta (2010).

Atividades do método ITG (Oliveira, 2009) Correspondência com Zanatta (2010)

1. Definição da unidade de análise Atividade anterior ao modelo

2. Análise das estratégias de negócio Atividade anterior ao modelo

3. Análise de mercado Fase 0: Ideia

4. Análise de produto Anterior/Fase 0: Ideia

5. Análise de tecnologia Fase 0: Ideia

6. Definição das estratégias de produto Anterior/Fase 0: Ideia

7. Proposição de projetos de novos produtos Fase 0: Ideia

8. Análise financeira Fase 1: Requisitos do negócio ou cliente

9. Análise de risco Não consta no modelo

10. Análise de potencial estratégico Não consta no modelo

11. Classificação dos projetos Fase 1: Requisitos do negócio ou cliente

12. Análise do relacionamento entre os projetos Não consta no modelo

13. Seleção dos projetos para desenvolvimento Fase 1: Requisitos do negócio ou cliente Quadro 7: Correspondência entre as atividades dos dois modelos estudados

A primeira observação a ser feita é que o fluxo de atividades segue uma ordem

diferente da proposta por Oliveira (2009). As duas atividades referentes à estratégia da

empresa (ITG1 e ITG2) são realizadas em um período de tempo anterior ao modelo

proposto, além de ITG4 e ITG6 ocorrerem antes e durante a Fase 0. Isto acontece em função

de o PRM, que serve como guia para a escolha estratégica de um produto, localizar-se fora

do modelo. A partir das primeiras definições do produto, são feitas as análises propostas em

ITG3 e ITG5, e por fim, os projetos de produto são formalmente apresentados (ITG7).

O maior risco nesta primeira metade é o comprometimento da corporação em

atualizar os documentos estratégicos, principalmente o TRM e o PRM, que servem como

fontes de informação para a Fase 0. Como o TRM foi feito durante o processo de melhoria

por um time brasileiro, a sua atualização é mais simples e rápida, dependendo do

comprometimento e da disponibilidade do time. Já o PRM, que demandou um tempo maior

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para ser feito por um time de diretores internacionais, não pode ser atualizado com tanta

frequência, logo, este deve cobrir prazos maiores com mais detalhes. Para que gaps entre as

ideias do PRM e a realidade do mercado no início do PDP sejam reduzidos, fazem-se

necessárias tanto as análises da primeira parte como da segunda.

A segunda parte do planejamento estratégico do produto de Zanatta (2010), ou seja,

a gestão de portfólio, também acompanha parcialmente o método ITG, contando com uma

forte e constante análise financeira, porém sem análises de risco e estratégicas próprias. A

classificação dos projetos é feita com base em dados financeiro e data de fim do projeto, e o

formato de seleção ocorre por mudança de status.

6.2 Observações e sugestões de melhoria

Com base nas diretrizes do método ITG (Oliveira, 2009), serão feitas sugestões de

melhorias para o modelo de Zanatta (2010), considerando as características da empresa. As

propostas serão feitas todas no mesmo formato, contendo: 1) Objetivos e justificativas da

proposta; 2) Descrição; 3) Sugestões de implementação. Ao final desta seção, uma nova

proposta de modelo para o planejamento estratégico do produto será mostrada.

6.2.1 Atualizações periódicas do TRM e do PRM

Objetivos e justificativa

Os roadmaps funcionam como fonte das informações iniciais para o PDP, logo é

importante mantê-los atualizados em relação ao mercado em que a empresa atua.

Descrição

Criação de uma sistemática para a atualização, incluindo o time responsável, a

frequência das reuniões, os temas a serem abordados e a sequência de atividades.

Sugestão de implementação

Como a primeiro workshop de TRM foi bem sucedido, recomenda-se que este time

do primeiro seja mantido, adicionando novos membros de acordo com a necessidade; o

mesmo para o PRM, porém, já que este foi realizado por um time internacional, será feito o

uso de tecnologias como videoconferência. A atualização do TRM deve ser feita e a nova

versão do mapa consolidada antes da atualização do PRM, para que as ideias de produtos

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possam ser baseadas com as tecnologias mais novas possíveis. Como o mercado em que a

empresa compete (refrigeração) encontra-se em um estado de maturidade saturado, ou

seja, o desenvolvimento de tecnologia é mais lento, a frequência proposta de um ano é

ideal. Entretanto, no caso de o portfolio da empresa encontrar-se defasado em relação ao

mercado, a frequência poderá ser reduzida por um determinado número de ciclos.

Primeiramente, as atualizações deverão ser focadas no curto prazo, observando as

tendências do mercado, preferência dos consumidores e novos produtos dos concorrentes,

após isso, projeções a médio e longo prazo são discutidas, e destes resultados saem as

propostas que guiam o PDP.

6.2.2 Análise constante do mercado

Objetivos e justificativa

Manter um trabalho de vigilância constante para assegurar o conhecimento total de

sua movimentação; os roadmaps sozinhos podem não ser suficientes para detectar estas

informações.

Descrição

Otimizar o uso de recursos já existentes na empresa, direcionando-os para um

trabalho de análise de mercado em tempo real.

Sugestão de implementação

Utilizar a equipe de marketing e vendas como fonte de informações de clientes, como novas

tendências e preferências; criar um banco de dados de benchmarking dos concorrentes,

incluindo as especificações técnicas mais relevantes dos produtos; para concorrentes diretos

e fortes, utilizar o laboratório de testes para obter uma análise mais detalhada do produto;

utilizar os profissionais e as ferramentas de business intelligence para obter dados em tempo

real do mercado.

6.2.3 Desenvolvimento de tecnologia independente do PDP

Objetivos e justificativa

Assegurar o desenvolvimento constante e linear de tecnologia a ser aplicada nos

produtos, diminuindo o lead time do PDP e otimizando os recursos destinados a esta área.

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Descrição

Reformulação do departamento de P&D, para que este esteja focado em aprimorar

as tecnologias do produto.

Sugestão de implementação

Direcionar o P&D da empresa a aprimorar componentes utilizados nos produto

fabricado com a finalidade de aumentar sua eficiência; cada componente é desenvolvido de

forma independente, com todas as versões aprovadas sendo disponíveis para testes.

Assim que o processo atingir a fase de especificações do produto, a equipe de PDP

poderá então consultar as tecnologias disponíveis e testar a melhor combinação de

componentes para o produto, tanto em termos de desempenho como em termos

estratégicos (ex. componentes que possibilitam o produto atingir um determinado nível de

eficiência e ruído, estando dentro dos limites dimensionais e de uma faixa de custos). Apesar

de este P&D sugerido ser independente do PDP, as prioridades de desenvolvimento serão

obtidas através de análise dos roadmaps, para que ocorra o mínimo de defasagem possível

entre as tecnologias em posse da empresa e as patenteadas pelo mercado.

6.2.4 Análise de riscos do projeto

Objetivos e justificativa

Criar uma sistemática de análise de riscos para assegurar que o PDP alcance seus

objetivos.

Descrição

Adaptação dos critérios de análise do método ITG (Oliveira, 2009) para a realidade da

empresa, que servirão como base para a análise de risco.

Sugestão de implementação

Os riscos de Oliveira (2009) são, no total, onze, divididos em duas categorias: riscos

técnicos (cinco) e riscos comerciais (seis).

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Dentre os cinco riscos técnicos do método ITG, três são aplicáveis a este caso: 1)

probabilidade de desenvolver patentes tecnológicas protegidas; 2) competência dos

recursos envolvidos para desenvolver o projeto; 3) capacidade de produção disponível.

Todos os riscos comerciais aplicam-se a este caso, sendo eles: 1) probabilidade de

existir um mercado para o produto; 2) probabilidade de aceitação do produto no mercado

devido à força da marca/empresa; 3) força dos canais de distribuição do produto para os

clientes; 4) força dos clientes no mercado; 5) efeito dos fornecedores de componentes e

matéria-prima; 6) probabilidade de impactos de saúde, segurança e ambientais relacionados

ao produto.

Para cada um destes riscos é atribuída uma nota de 1 a 5, com o valor 1

representando alto risco e 5, baixo (alta probabilidade de sucesso). A nota final é obtida

através de uma média (aritmética ou ponderada, sujeito à escolha dos envolvidos)

convertida em porcentagem.

6.2.5 Análise estratégica do relacionamento entre os projetos

Objetivos e justificativa

Como os produtos desenvolvidos pela empresa são similares e seus projetos

extraídos de documentos estratégicos, não foi considerada necessária uma análise individual

do impacto estratégico de cada produto na organização, mas sim do impacto de um projeto

em outro.

Descrição

Adaptar o modelo de análise de relacionamento de projetos de Oliveira (2009) para o

portfólio da empresa estudada.

Sugestão de implementação

Dos quatro critérios de relacionamento utilizados por Oliveira (2009), dois não se

aplicam ao modelo de Zanatta (2010): dependência e impacto. Os projetos que são

desenvolvidos simultaneamente são de famílias de produtos ou possuem plataformas

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diferentes, logo não há relação direta do resultado de um em outro. A única relação deste

tipo ocorre em projetos sequenciais, de versões diferentes de produtos da mesma família.

O compartilhamento de atividades e recursos deve ser levado em consideração,

especialmente em situações de orçamento limitado. Vários projetos caros ativados ao

mesmo tempo podem consumir os recursos financeiros disponíveis rapidamente, sem que

um projeto seja de fato concluído. Além disso, há a restrição de disponibilidade de pessoas

para trabalharem nas equipes de PDP e de equipamento para ser utilizado na prototipagem

e nos testes.

O outro critério é fortemente relacionado anterior, que é o impacto no tempo de

execução do projeto. As restrições de recursos podem variar o tempo de desenvolvimento

dos projetos em relação ao estipulado, bem como o cronograma do projeto pode afetar a

distribuição dos recursos. Adicionalmente, o período de lançamento dos produtos no

mercado deve ser bem definido e respeitado para que não haja conflitos e a perda de

oportunidades no mercado.

Por último, o time responsável pela análise de portfolio deve-se atentar à

canibalização de mercado que pode ocorrer após o lançamento: caso a empresa desenvolva

um produto similar a outros em seu portfolio, porem com maiores vantagens competitivas, e

não perceba esta diferença antes de lança-lo no mercado, este produto irá eventualmente

substituir os antigos, causando a obsolescência e o fim do ciclo de comercialização destes

mais cedo do que o planejado.

6.3 Nova proposta de modelo de PDP

A figura 11 mostra o modelo de Zanatta (2010) após as sugestões de melhoria, com

cada proposta representada por um circulo verde, localizado perto das atividades em que

ela tem impacto.

As propostas 1 e 3 possuem um efeito maior nas atividades de fora do modelo, a

primeira agindo no uso dos roadmaps para a extração de informações essenciais para o PDP

e a segunda sendo responsável pela disponibilidade de tecnologia a ser utilizada nos novos

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produtos (a atividades de avaliação de tecnologia tem início da Fase 0, justificando o

posicionamento da esfera da proposta 3).

A proposta 2 tem efeito também na Fase 0, porém nas atividades referentes à análise

de mercado. Já as propostas 4 e 5 criam novas atividades na Fase 1 do PDP, com a análise de

risco (proposta 4) ocorrendo simultaneamente à análise financeira, e a análise de

relacionamento entre projetos (proposta 5) ocorrendo entre estas e a atualização do

portfolio. Estas duas atividades fazem com que o processo de gestão de portfolio seja mais

completo, prevenindo dificuldades nas fases seguintes do PDP (tanto financeiras como

operacionais), e fazendo com que os projetos sejam desenvolvidos de forma sincronizada. A

figura 12 ilustra estas mudanças, com os círculos representando as propostas.

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Identificar oportunidades de

mercado

Prospecção de tecnologia

Mapear mercado

Propriedade intelectual/

patentes

Novos processos de manufatura

Alinhamento do PEE com o PEP

TRM PRM

Pesquisa de mercado

Análise financeira

Atualização do portfólio de

projetos

Sequência do PDP

Fase

0

Fase

1

1

2

3

Análise de risco

Análise do relacionamento entre projetos

5

4Desenvolvimento

de tecnologia

Figura 12: Ilustração do modelo de Zanatta (2010) com as melhorias sugeridas.

Apesar de as propostas de melhoria serem baseadas no método ITG, o modelo

proposto possui diferenças fundamentais se comparado ao modelo do método. Estas

diferenças ocorrem, em sua maioria, pelo fato de a empresa estudada possuir tamanho,

estrutura e produtos diferentes da qual o método foi testado pela primeira vez no trabalho

de Oliveira (2009).

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As diferenças são as seguintes:

Tamanho e estrutura da empresa: a empresa utilizada no trabalho de Oliveira (2009)

é definida como pequena de base tecnológica, enquanto a analisada aqui é uma

multinacional de grande porte especializada em manufatura; já possuindo recursos e

estrutura voltados para o PDP e um alinhamento estratégico definido e

documentado, não houve a necessidade da criação de uma sistemática de análise

estratégica, como sugerido na primeira metade do método ITG; para esta parte do

modelo foram dadas sugestões para tornar o alinhamento estratégico mais

consistente e eficiente em suprir o PDP de informações necessárias, além de

aprimorar as atividades de pesquisa tecnológica e de mercado.

Objetivos estratégicos da empresa: por causa dos motivos citados anteriormente, os

objetivos estratégicos de cada empresa também são divergentes em alguns pontos;

enquanto a empresa do caso de Oliveira (2009) busca estruturar o portfolio para se

consolidar em um mercado em crescimento, a de Zanatta (2010) situa-se em um

mercado saturado e tem sua marca já consolidada, e seu objetivo é manter-se no

mercado com produtos mais competitivos.

Nível tecnológico do produto: a empresa em questão não tem como foco principal o

desenvolvimento de tecnologia e sim a manufatura de produtos que utilizam esta

tecnologia; o método ITG foi desenvolvido a partir de uma empresa cujo foco é o

desenvolvimento de novos produtos tecnológicos, e com um nível de complexidade

maior, logo este ponto causou as maiores diferenças entre os dois modelos.

6.4 Conclusões finais

A utilização de um modelo de referência para o PDP torna este processo uma

atividade rotineira e estruturada. Independentemente do tamanho e da especialidade da

empresa, é possível adotar um modelo e adaptá-lo de acordo com suas necessidades.

O método ITG, um modelo de referência para o planejamento estratégico, que

corresponde às fases iniciais do PDP, foi desenvolvido a partir de um estudo com uma

empresa de porte pequeno com base tecnológica. Entretanto, este estudo mostrou que o

método também pode ser utilizado em empresas com outras características, utilizando-o

como base para analisar e propor melhorias para um modelo de PDP de uma empresa de

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manufatura de bens de consumo duráveis em massa, com maior foco na produção do que

no desenvolvimento de tecnologia, necessitando desta para manter sua competitividade no

mercado.

A primeira etapa do estudo foi uma análise detalhada tanto do método ITG, através

do trabalho de Oliveira (2009), e também do modelo a ser melhorado, desenvolvido por

Zanatta (2010). Além das atividades de planejamento estratégico do produto, foram

estudados os projetos que deram origem ao modelo em questão.

A etapa seguinte, a análise do modelo de Zanatta (2010) e comparação paralela ao

método ITG, tornou possível a identificação de cinco propostas de melhoria para o modelo.

Duas delas, uma referente à gestão estratégica da organização e outra ao desenvolvimento

de novas tecnologias, afetam atividades fora do modelo de PDP, porém tem um efeito direto

na sua execução. As outras três propostas são relacionadas às atividades de dentro do

modelo: uma para aprimorar o estudo estratégico do mercado e duas para tornar a gestão

de portfólio mais precisa na avaliação dos projetos vigentes.

Este estudo mostrou que é possível adaptar um modelo de referência de PDP focado

em alta tecnologia para o caso de uma empresa de manufatura com um nível tecnológico

menor. Os conceitos de TRM e gestão de portfólio puderam ser aplicados nas sugestões de

melhoria do modelo sem muitas modificações, enquanto a proposta de desenvolvimento de

tecnologia para o modelo foi modificada em relação ao método para adequar-se à realidade

(estrutura e recursos) da empresa.

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