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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena EEL PEDRO HENRIQUE DAMIÃO DALÓ Medicamentos Biológicos: Estudo da produção e comércio de hormônios e anticorpos monoclonais no Brasil Área de Concentração: Engenharia Química/ Produção de Fármacos Lorena - SP 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

E s c o l a d e E n g e n h a r i a d e L o r e n a – E E L

PEDRO HENRIQUE DAMIÃO DALÓ

Medicamentos Biológicos: Estudo da produção e comércio de hormônios e

anticorpos monoclonais no Brasil

Área de Concentração: Engenharia Química/ Produção de Fármacos

Lorena - SP

2015

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PEDRO HENRIQUE DAMIÃO DALÓ

Medicamentos Biológicos: Estudo da produção e comércio de hormônios e

anticorpos monoclonais no Brasil

Projeto de monografia apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena –

Universidade de São Paulo como

requisito parcial para obtenção de título

de Engenheiro Industrial Químico.

Orientadora: Profª. Drª. Elisângela de Jesus Cândido Moraes

Lorena - SP

2015

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Daló, Pedro Henrique Damião Medicamentos Biológicos: Estudo da produção ecomércio de hormônios e anticorpos monoclonais noBrasil / Pedro Henrique Damião Daló; orientadorAElisângela de Jesus Cândido Moraes. - Lorena, 2015. 62 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaIndustrial Química - Escola de Engenharia de Lorenada Universidade de São Paulo. 2015OrientadorA: Elisângela de Jesus Cândido Moraes

1. Engenharia química. 2. Produção de fármacos. 3.Medicamentos biológicos. 4. Hormônios. 5. Anticorposmonoclonais. I. Título. II. Moraes, Elisângela deJesus Cândido, orient.

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RESUMO

DALÓ, P. H. D. Medicamentos Biológicos: Estudo da produção e comércio

de hormônios e anticorpos monoclonais no Brasil. 2015. 62 f. Monografia

(Trabalho de Graduação em Engenharia Industrial Química) – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015.

O mercado farmacêutico tem se modernizado a fim de suprir as necessidades

da população e oferecer melhor tratamento às doenças que atualmente são

fatais. Uma notável forma dessa modernização são os medicamentos

biológicos, produzidos a partir de biotecnologia, como os hormônios e

anticorpos monoclonais, ambos apresentados neste trabalho. Hormônios

produzidos a partir da técnica de DNA recombinante têm propiciado melhora da

qualidade de vida de pacientes com Diabetes Mellitus e têm ajudado pacientes

com dificuldade de reprodução a gerarem filhos, ao suprirem a deficiência de

hormônios que normalmente são produzidos de forma natural no organismo

humano. Além disso, os anticorpos monoclonais apresentam grande potencial

no tratamento de doenças autoimunes e de câncer, ao serem produzidos para

ligar-se a antígenos específicos, aumentando a eficácia do tratamento. Neste

trabalho será apresentada uma revisão da literatura dos hormônios e

anticorpos monoclonais que nos dias atuais são comercializados no Brasil,

suas estatísticas de vendas e crescimento, além de um esclarecimento sobre

os procedimentos de testes clínicos e registro junto à agência regulamentadora

(Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA).

Palavras-chave: Medicamentos biológicos, biomedicamentos, anticorpos monoclonais, hormônios, proteína recombinante.

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ABSTRACT

DALÓ, P. H. D. Biomedicines: A study about the production and market of

hormones and monoclonal antibodies in Brazil. 2015. 62 p. Monograph

(Research Project for Graduation in Industrial Chemical Engineering) –

Engineering College of Lorena, University of São Paulo, Lorena, 2015.

The pharmaceutical market has been modernized to fulfill the needs of the

population and to provide a better treatment for diseases that are currently fatal.

A remarkable fact of this modernization is the introduction of the biomedicines,

produced from biotechnology, such as hormones and monoclonal antibodies,

both presented in this work. Hormones produced by the technique of

recombinant DNA have led to an improved quality of life on patients with

Diabetes Mellitus and have helped patients with reproductive health issues to

bear children, by overcoming the deficiency of hormones that are produced

naturally in the human body. Moreover, monoclonal antibodies have a great

potential in the treatment of autoimmune diseases and cancer, being produced

to bind to specific antigens, increasing the efficacy of treatment. This study

presents a literature review of hormones and monoclonal antibodies that are

currently marketed in Brazil, as well as their sales statistics and growth, and a

clarification on clinical trials and registration procedures with the regulatory

agency (National Health Surveillance Agency - ANVISA).

Key words: biomedicines, biological drugs, monoclonal antibodies, hormones, recombinant protein.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, Laércio, Ângela, Maria Fernanda, Ana Beatriz e Helena,

por serem a base da minha vida, por me incentivarem a ser melhor a cada dia

e pela eterna confiança depositada em mim.

Aos meus amigos da EEL, que caminharam comigo nessa jornada e que

compartilham da mesma luta e dos mesmos desafios.

À Profª. Dra. Elisângela de Jesus Cândido Moraes por ter gentilmente

aceitado me orientar nesse trabalho, e por tê-lo feito com maestria.

Às Srtas. Minji Kang (Daewoong Pharmaceutical) e Juliana Mazza Reis

(Eurofarma) pelos valiosos dados fornecidos, indispensáveis para o

enriquecimento do meu trabalho.

Aos colegas da Daewoong Pharmaceutical Co. Ltd., empresa onde

realizei o meu estágio e que contribuiu para a minha escolha do tema deste

trabalho, por todos os ensinamentos e companheirismo com que me

acolheram.

Aos professores da Escola de Engenharia de Lorena, em especial às

professoras Dra. Larissa de Freitas Teixeira e Dra. Patrícia Caroline Molgero da

Rós, por todos os conhecimentos transmitidos, essenciais para a minha

formação e crescimento.

E a todos que, de uma forma direta ou indireta, contribuíram para a

minha formação e realização deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura de alguns aminoácidos encontrados em proteínas. ......... 18

Figura 2 – Conformações α-hélice e β-folhas. .................................................. 20

Figura 3 – Síntese de proteína. ........................................................................ 21

Figura 4 – Ação dos hormônios no fígado, músculo e tecido adiposo. ............ 23

Figura 5 – Diferenças entre anticorpos policlonais e monoclonais. .................. 29

Figura 6 – Método Hibridoma com células murinas. ........................................ 30

Figura 7 – Estrutura de um anticorpo. .............................................................. 32

Figura 8 – Classes de anticorpos monoclonais existentes hoje no mercado. .. 33

Figura 9 – Atuação da enzima de restrição no DNA e no plasmídeo. .............. 35

Figura 10 – Estrutura do plasmídeo. ................................................................ 36

Figura 11 – Esquema da Ultrafiltração. ............................................................ 40

Figura 12 – Cromatografia em coluna. ............................................................. 40

Figura 13 – Cromatografia por exclusão. ......................................................... 41

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Mercado de Hormônios e Anticorpos Monoclonais no Brasil. ........ 48 Gráfico 2 – Registros de Anticorpos Monoclonais no Brasil, EUA e Europa .... 49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Pesos moleculares de moléculas sintéticas e biológicas. .............. 16 Tabela 2 – Hormônios registrados no Brasil..................................................... 43 Tabela 3 – Anticorpos Monoclonais registrados no Brasil. ............................... 44 Tabela 4 – Dados coletados do IMS Health. .................................................... 47 Tabela 5 – Requerimentos para registro. ......................................................... 53

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BHK Rim de Hamster Bebê

CHO Ovário de Hamster Chinês

DDCM Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento

DMCD Drogas Modificadoras do Curso da Doença

DNA Ácido Desoxirribonucleico

EU União Européia

EUA Estados Unidos da América

FDA Food and Drug Administration

FSH Hormônio Folículo Estimulante

GnRH Hormônio de Liberação das Gonadotropinas

hCG Gonadotropina Coriônica Humana

hGH Hormônio do Crescimento Humano

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

LH Hormônio Luteinizante

mRNA RNA Mensageiro

NPH Protamina Neutra Hagedorn

ORPC Organização Representativa de Pesquisa Clínica

PBC Produto Biológico Comparador

PTM Modificação Pós-Translacional

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RNA Ácido Ribonucleico

TNF Fator de Necrose Tumoral

tRNA RNA Transportador

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SUMÁRIO

OBJETIVO ....................................................................................................... 13

1. Introdução .................................................................................................... 14

2. Metodologia Experimental ............................................................................ 15

3. Revisão Bibliográfica ................................................................................... 16

3.1. Medicamentos Biológicos .......................................................................... 16

3.1.1. Definição ................................................................................................ 16

3.1.2. Histórico ................................................................................................. 17

3.1.3. Proteínas ................................................................................................ 18

3.1.3.1. Síntese de proteínas ........................................................................... 20

3.1.3.2. Modificação pós-translacional de proteínas ........................................ 21

3.2. Hormônios ................................................................................................. 22

3.2.1. Insulina ................................................................................................... 22

3.2.1.1. Diabetes Mellitus tipos 1 e 2 ................................................................ 24

3.2.1.2. Produção de Insulina ........................................................................... 24

3.2.2. Hormônio do Crescimento Humano ....................................................... 25

3.2.2.1. Deficiência do hGH ............................................................................. 25

3.2.2.2. Uso terapêutico do hGH ...................................................................... 25

3.2.3. Gonadotropinas ...................................................................................... 26

3.2.3.1. Deficiência e uso terapêutico .............................................................. 27

3.2.3.2. Produção comercial de Gonadotropinas ............................................. 28

3.3. Anticorpos Monoclonais ............................................................................ 28

3.3.1. Método de produção hibridoma .............................................................. 30

3.3.1.1. Anticorpos monoclonais de primeira geração ...................................... 31

3.3.1.2. Anticorpos monoclonais de segunda geração ..................................... 31

3.3.1.3. Anticorpos monoclonais inteiramente humanos .................................. 32

3.3.2. Tratamentos com anticorpos monoclonais ............................................. 34

3.3.2.1. Anticorpos monoclonais no tratamento de artrite reumatóide ............. 34

3.3.2.2. Anticorpos monoclonais em tratamentos oncológicos ......................... 34

3.4. Técnica de DNA Recombinante ................................................................ 35

3.4.1. Processo Upstream ................................................................................ 37

3.4.2. Processo Downstream ........................................................................... 38

3.4.2.1. Recuperação ....................................................................................... 38

3.4.2.2. Concentração ...................................................................................... 39

3.4.2.3. Purificação ........................................................................................... 40

3.5. Mercado Brasileiro .................................................................................... 42

3.5.1. Diferentes tipos de Insulina no mercado ................................................ 45

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3.5.2. Diferentes tipos de Gonadotropinas no mercado ................................... 46

3.5.3. Evolução do mercado de hormônios e anticorpos monoclonais............. 46

3.6. Ensaios Clínicos no Brasil ......................................................................... 50

3.7. Registro de Medicamentos Biológicos no Brasil........................................ 52

4. Conclusão .................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 56

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OBJETIVO

O presente trabalho tem por objetivo realizar um estudo através da

pesquisa bibliográfica sobre os medicamentos biológicos da classe dos

hormônios e anticorpos monoclonais no Brasil, sua produção e comércio, bem

como dados estatísticos de venda e crescimento. Além disso, será abordado

como são feitos os estudos sobre a eficácia desses medicamentos no Brasil e

o processo de registro na agência reguladora (ANVISA), a fim de oferecer um

esclarecimento sobre procedimentos de testes e registros no país.

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1. Introdução

As terapias medicinais têm sua base nas substâncias farmacêuticas.

Atualmente, grande parte dos princípios ativos dos medicamentos é obtida por

via sintética. Esses medicamentos são denominados ‘químicos’. No entanto,

com o diagnóstico de novas doenças, com difícil tratamento (ou sem

tratamento ainda), as indústrias farmacêuticas tentam se adaptar, e os setores

de pesquisa e desenvolvimento estão em constante trabalho, a fim de oferecer

tratamento a essas doenças.

Com a descoberta da técnica de DNA recombinante, em 1973, as

empresas farmacêuticas passaram a ter mais um recurso em suas pesquisas e

desenvolvimento, até 1982, quando o primeiro medicamento produzido a partir

dessa técnica foi aprovado pela FDA. Esse medicamento é indicado para

pacientes com Diabetes Mellitus, e seu princípio ativo é a insulina humana.1

A partir de então, outros medicamentos foram produzidos utilizando essa

técnica. Esses medicamentos são denominados medicamentos biológicos, e

são produzidos a partir da biotecnologia. Outros biomedicamentos podem ser

gonadotropinas, interleucinas, fatores de crescimento, e os potenciais

anticorpos monoclonais que são fonte de inúmeras pesquisas atualmente,

principalmente contra doenças como câncer ou doenças autoimunes.2

Neste trabalho, é apresentada uma revisão bibliográfica dos

medicamentos biológicos da classe dos hormônios e anticorpos monoclonais

produzidos e comercializados no Brasil. Além disso, são apresentados dados

estatísticos sobre venda e crescimento, além de um esclarecimento sobre

como são feitos os estudos de eficácia e o registro desses medicamentos no

Brasil.

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2. Metodologia Experimental

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica,

utilizando publicações de artigos e livros referentes ao tema proposto.

Inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o que são os

medicamentos biológicos, seu histórico e também sobre as proteínas e sua

síntese. Em seguida foram apresentados os produtos foco deste trabalho,

hormônios e anticorpos monoclonais, suas definições, sintomas e causas de

suas deficiências, e tratamentos. Além disso, foi feita uma revisão bibliográfica

também sobre o método de proteína recombinante, amplamente utilizado na

produção dos medicamentos biológicos. Depois desta revisão, foram

analisados o mercado e a produção atual dos hormônios e anticorpos

monoclonais no país, seu crescimento ao longo dos anos, e por último os

requerimentos para testes clínicos e registro desses produtos no país.

As pesquisas da primeira parte, desde a definição dos medicamentos

biológicos até o processo de DNA recombinante foram feitas em bancos de

dados acadêmicos, como ScienceDirect, Scielo, e Google Acadêmico. Para

isso foram usadas palavras-chave, em inglês, pertinentes ao assunto

pesquisado, por exemplo: “recombinant human insulin” ou “monoclonal

antibody hybridoma”. Além disso, foram utilizadas publicações da Interfarma e

da ANVISA. Para a lista dos hormônios e anticorpos monoclonais registrados

no Brasil, foi consultado o meio de busca de medicamentos registrados do sítio

eletrônico da ANVISA e a Lista de Preços de Medicamentos, que é

disponibilizada no site da agência, e atualizada constantemente. A partir dessa

lista de moléculas, os dados sobre a produção e mercado brasileiro foram

coletados da plataforma de pesquisa da IMS Health, e então analisados.

Algumas empresas foram consultadas, porém poucas se dispuseram a

fornecer informações. Por último, o sítio eletrônico da ANVISA foi novamente

consultado, dessa vez com foco em suas normas para registro de

medicamentos biológicos e para a realização de testes clínicos no Brasil, na

finalização do trabalho de pesquisa. A conclusão foi feita analisando-se as

perspectivas do mercado desses produtos no Brasil para o futuro.

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3. Revisão Bibliográfica

3.1. Medicamentos Biológicos

3.1.1. Definição

Medicamentos produzidos a partir de biossíntese em sistemas vivos são

denominados medicamentos biológicos. No geral são proteínas, e podem ser

extraídos de órgãos ou tecidos de origem animal, ou podem ser produzidos em

células geneticamente modificadas, utilizando-se de biotecnologia, em escala

industrial.1

Esses medicamentos são mais complexos que os medicamentos

denominados sintéticos (de origem química), devido aos seus componentes

ativos terem mecanismo de ação heterogêneo, podendo variar no corpo

humano; além de terem difíceis replicação e caracterização, e possuírem peso

molecular de 100 a 1000 vezes maiores que as moléculas sintéticas, conforme

listado na Tabela 1.2

Tabela 1 – Pesos moleculares de moléculas sintéticas e biológicas.

Composto Massa molar (u)

Químicos Ác. Acetilsalicílico 180 Meropenem 383

Biológicos Rituximabe 143.860 Somatropina 22.000

Fonte: Encyclopedia of Ind. Biotech.: Bioprocess, Bioseparation and Cell

Technology3

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e

de sua resolução RDC nº 554, e também de acordo com Walsh1, os

medicamentos de origem biológica podem ser divididos em diferentes

categorias. Abaixo estão listadas as categorias, seguidas de exemplos.

Fatores de coagulação sanguínea: Fator VIII e Fator IX;

Agentes trombolíticos: Alteplase, Reteplase;

Hormônios: Insulina, Somatropina, Gonadotropina;

Fatores de Crescimento: Eritropoietina (EPO), Fator estimulante de

colônias (CSF);

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Citocinas: Interferona-α (IFN-α), Interleucina-2 (IL-2);

Anticorpos Monoclonais: Adalimumabe, Bevacizumabe;

Vacinas: vacina recombinante contra Hepatite B.

3.1.2. Histórico

A indústria farmacêutica, durante quase todo o século XX esteve

fundamentada nos medicamentos químicos, que são moléculas de baixo peso

molecular, produzidas a partir de sínteses químicas. Esses produtos

dominaram o mercado e atingiram um valor estimado de 100 bilhões de dólares

nos anos 80.1

No entanto, métodos de terapias utilizando moléculas extraídas de

fontes biológicas já haviam sido estudados. Em 1922, Frederick Banting e

Charles Best obtiveram sucesso ao utilizar insulina coletada do pâncreas de

um animal no tratamento de um paciente com diabetes, doença fatal na

época.5 Também, em 1958, Raben extraiu hormônio do crescimento (hGH) da

hipófise de um cadáver, e o utilizou para tratar um garoto de 17 anos.6 Com

isso, essas duas moléculas foram, por muitos anos, utilizadas no tratamento de

deficiência hormonal como únicas opções.2

Com a descoberta da estrutura dupla hélice do DNA, por James Watson

e Francis Crick em 19537, algumas proteínas que eram produzidas

naturalmente pelo corpo humano, e suas aplicações terapêuticas foram

pesquisadas. Porém, apesar de terem grande potencial, devido ao fato de

serem produzidas naturalmente em pouca quantidade, o estudo e prováveis

aplicações terapêuticas tornaram-se inviáveis.8

Então, em 1973, Stanley Cohen e Herbert Boyer realizaram o primeiro

experimento de engenharia genética, introduzindo a técnica de criação de DNA

recombinante.9 Esse método se tornou foco de grandes estudos na área de

biomedicamentos, e fundamenta os principais produtos baseados em proteínas

recombinantes que são produzidos em escala industrial atualmente.8 O

primeiro produto aprovado pela FDA (Food and Drugs Administration), para

comércio produzido a partir da técnica de proteína recombinante, em 1982, foi

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18

o Humulin®, insulina humana recombinante, idêntica à insulina humana nativa,

produzida em Escherichia coli.1

No Brasil o Humulin® foi aprovado em 1983 (segundo informação

fornecida pela fabricante Eli Lilly), e desde então vários outros

biomedicamentos têm conseguido aprovação. Esses medicamentos são na sua

maioria importados, e em 2013 a ANVISA autorizou a produção do primeiro

biomedicamento totalmente nacional, o etanercepte, utilizado no tratamento de

artrite reumatóide.10

3.1.3. Proteínas

A maior parte dos biomedicamentos, já comercializados ou ainda em

estudos, é baseada em proteínas, e são na sua maioria produzidos através da

tecnologia de proteína recombinante.1

Proteínas são cadeias poliméricas consistindo de séries, que podem ser

curtas ou longas, de aminoácidos (aminoácidos esses que podem ser de vinte

tipos diferentes, porém cada tipo pode aparecer várias vezes na cadeia), que

estão ligados entre si por ligações peptídicas.11 Os aminoácidos são compostos

orgânicos, sintetizados a partir da junção de três nucleotídeos (denominados

códons, formados por ácido fosfórico, açúcar e uma base que pode ser

citosina, adenina, guanina, tiamina ou uracila), e têm em sua estrutura um

grupo amina (-NH2) e um grupo carboxílico (-COOH), e uma cadeia ramificada

específica. A Figura 1 exemplifica alguns tipos de aminoácidos e suas

estruturas químicas.12

Figura 1 – Estrutura de alguns aminoácidos encontrados em proteínas.

Fonte: Lehninger's Principles of Biochemistry, adaptado.11

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19

Ao ligar-se na cadeia peptídica, os aminoácidos recebem a

denominação de ‘resíduos de aminoácidos’ porque perdem o elemento água ao

ligarem-se em outro aminoácido por ligação peptídica. Dois aminoácidos

formam um dipeptídeo, três formam um tripeptídeo, e muitos aminoácidos

ligados entre si por ligações peptídicas formam um polipeptídeo. Usualmente

os termos ‘proteína’ e ‘polipetídeo’ são usados no mesmo sentido, porém

cientistas assumem que polipeptídeos têm um peso molecular menor que as

proteínas.11 Ao ligarem-se entre si, e formarem as proteínas, os aminoácidos

assumem uma conformação específica tridimensional. Essa conformação

depende da cadeia de aminoácidos (com os vinte diferentes aminoácidos

possíveis, pode-se sintetizar proteínas imensamente diferentes, específicas

para determinada função na célula), e é estabilizada por fracas interações não

covalentes. Se essas interações forem desfeitas, por algum agente externo, a

conformação tridimensional da proteína também é desfeita, causando a

desnaturação da proteína e consequente perda da sua função.1, 11

Segundo Murray12, as estruturas das proteínas podem ter quatro

diferentes aspectos, dependendo dos aminoácidos presentes:

Estrutura primária: Nível estrutural mais simples da cadeia, dado pela

sequencia de aminoácidos, de onde deriva o arranjo espacial.1

Estrutura secundária: É dada pela conformação espacial dos

aminoácidos da cadeia principal da proteína, excluindo as cadeias

ramificadas. Na sequencia principal podem-se observar padrões de

conformação que se repetem. Os padrões mais comumente observados

são α-hélice e β-folhas, conforme ilustrados na Figura 2, que são

estabilizados por pontes de hidrogênio entre os aminoácidos próximos

nas cadeias.1. 11

Estrutura terciária: É a estrutura tridimensional exata da proteína,

indicando a posição no espaço de todos os polipeptídios presentes. É

resultado das α-hélice e β-folhas enoveladas, e mantida por ligações

hidrofóbicas.13

Estrutura quaternária: Estrutura adotada pela união de um número de

moléculas protéicas, por ligações não covalentes, agindo como um único

complexo de proteínas.1. 12

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Em adição, as es

adquirir diferentes confor

Figura 2

Fonte: M

3.1.3.1. Síntese de prote

A síntese de prote

onde os genes de uma fi

polimerase, que sintetiz

acordo com os genes c

formado pelos nucleotíd

Esse processo é denom

o citoplasma, onde ocorr

Na Figura 3 estã

citoplasma encontram-se

ligando-se ao códon inic

RNA transportadores (tR

um aminoácido específic

inicial do mRNA, esse

específico, que liga-se

traduzindo em um amino

estruturas das proteínas não são rígidas

ormações enquanto desempenham as sua

2 – Conformações α-hélice e β-folhas.

Molecular biology of the cell, adaptado.14

teínas

teínas ocorre dentro das células. Ela inicia

fita da dupla hélice do DNA são lidos pela

tiza o RNA mensageiro (mRNA), uma

copiados do DNA. No mRNA está o có

deos, e que dará origem aos aminoácido

minado transcrição. O mRNA então é tran

rrerá o processo de tradução.14

tão ilustrados os passos da síntese de

se os ribossomos, que participam da sín

icial do mRNA. Toda célula tem em seu

tRNA), cada um com um anticódon para

fico. No instante em que o ribossomo lig

códon é reconhecido por um tRNA com

e ao mRNA, formando uma base co

noácido. Esse processo continua ao long

20

as. Elas podem

uas funções.12

ia-se no núcleo,

la enzima RNA-

única fita, de

código genético

os da proteína.

ansportado para

e proteína. No

íntese protéica,

u citoplasma os

a a tradução de

iga-se ao códon

om o anticódon

omplementar e

go da molécula

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21

do mRNA até que encontre-se um códon terminal. Então um fator de liberação

se liga ao códon terminal, liberando a cadeia polipeptídica finalizada.14

Figura 3 – Síntese de proteína.

Fonte: Protein Synthesis, disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/44/Protein_synthesis.

svg/640px-Protein_synthesis.svg.png

3.1.3.2. Modificação pós-translacional de proteínas

Após a síntese da proteína (ou durante, em poucos casos), os

polipeptídeos podem sofrer modificações covalentes que são denominadas

modificações pós-translacionais (PTM). Essas modificações podem alterar a

função biológica e/ou estruturas das proteínas, e são de grande importância no

ramo dos biomedicamentos.1 Seguem as mais importantes PTMs para os

biomedicamentos:

Glicosilação: É o processo de anexar carboidratos às proteínas. Essas

glicoproteínas podem ter a sua meia-vida ou atividade biológica alterada,

melhorada. Além disso, a glicosilação pode melhorar a conformação da

estrutura tridimensional das proteínas.15

Carboxilação e hidroxilação: Processos usados nos produtos de

fatores sanguíneos VII e IX. A carboxilação converte resíduos de

aminoácido glutamato em carboxiglutamato, enquanto que a

hidroxilação converte os resíduos de aspartato em hidroxiaspartato.

Ambos os processos ajudam na ligação de íons de cálcio, essenciais

para o funcionamento dos fatores sanguíneos.1, 15

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22

Existem vários tipos de proteínas no corpo humano que são usadas em

medicamentos biológicos. Um tipo dessas proteínas são os hormônios, grupo

no qual se inclui o primeiro medicamento biológico produzido a partir de DNA

recombinante, a insulina.

3.2. Hormônios

De acordo com a US National Library of Medicine, hormônios são

substâncias que regulam a atividade de órgãos específicos do corpo. São

produzidos principalmente pelas glândulas endócrinas, como a Insulina

produzida pelo pâncreas, que liberam os hormônios na rede sanguínea até que

cheguem à sua célula de destino. Na célula, os hormônios ligam-se a seus

receptores, e ativam funções específicas.16

Baseado em sua natureza química, os hormônios podem ser

classificados em peptídicos (proteínas) e não peptídicos. Os hormônios

peptídicos são os de maior número, e seu tamanho pode variar de três a mais

de duzentos aminoácidos. Os hormônios são essenciais para o crescimento e

desenvolvimento dos organismos eucariontes, e sua deficiência pode causar

sérias doenças.17

Os hormônios que estão em foco neste trabalho são a insulina, o

hormônio do crescimento (Somatropina) e as gonadotropinas. Esses três

hormônios são produzidos por glândulas endócrinas e são comercializados

mundialmente, produzidos pelo método de proteína recombinante ou coletados

de fonte animal.1

3.2.1. Insulina

Insulina é um hormônio, com massa molecular de 5.800Da, produzido

pelas células Beta das Ilhotas de Langerhans, que são um grupo especial de

células localizadas no pâncreas. Esse hormônio é responsável pela captação e

utilização dos nutrientes dos alimentos ingeridos, regulando assim o nível de

glicose no sangue. Apesar de muitas células no corpo expressarem o receptor

da insulina, sua ação principal é no fígado, músculos e tecido adiposo, onde

começam a agir a partir de poucos minutos após a ingestão do alimento.18

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23

Quando o alimento é ingerido, o nível de glicose no sangue aumenta,

devido aos carboidratos. Esse aumento da glicose estimula a liberação de

insulina pelo pâncreas, que é liberada na rede sanguínea. Ao atingir as células

do fígado, a insulina liga-se a seus receptores na superfície celular, e assim

estimula a síntese de glicogênio, que é armazenado, a partir da glicose.1 Além

disso, nos músculos e tecidos adiposos, a insulina estimula a absorção da

glicose que será convertida em glicogênio no primeiro, em ácidos graxos para

ser armazenada como triglicérides no segundo. A Figura 4 ilustra a ação

desses hormônios nos órgãos e tecidos citados.19

Figura 4 – Ação dos hormônios no fígado, músculo e tecido adiposo.

Fonte: Endocrinology: an integrated approach, adaptado.19

O glucagon é um hormônio produzido pelas células Alfa das ilhotas de

Langerhans, e tem mecanismo de ação contrário à insulina. Enquanto a

insulina ativa as vias anabólicas, como a síntese de glicogênio (ao estimular a

enzima glicogênio sintase e inibir a enzima glicogênio fosforilase)19, o glucagon

ativa as vias catabólicas, sintetizando a glicose a partir do glicogênio, a

liberando na rede sanguínea. O glucagon é liberado pelo pâncreas quando o

nível de glicose no sangue está baixo.1

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24

3.2.1.1. Diabetes Mellitus tipos 1 e 2

O diabetes mellitus tipo 1 caracteriza-se pela deficiência de produção de

insulina no pâncreas. Isso ocorre devido à destruição das células β das ilhotas

de Langerhans, que são responsáveis pela produção de insulina, que são

atacadas pelo próprio sistema imunológico do indivíduo. Normalmente ocorre

na infância ou adolescência.18

A destruição das células produtoras de insulina pode se dar por fatores

genéticos, ambientais, ou acredita-se ainda que pode ser desencadeado por

uma invasão viral. Neste caso, o sistema imunológico atacaria as células

infectadas pelo vírus, e juntamente as células β do pâncreas.20

Essa condição pode ser controlada pela administração de insulina, que

nos dias atuais é produzida e comercializada mundialmente pelo método de

DNA recombinante, normalmente por injeções subcutâneas.1

O diabetes mellitus tipo 2 é uma condição que ocorre mais comumente

em pessoas com mais de 40 anos e obesas. Nesse tipo, a insulina ainda é

produzida pelo corpo, porém sua ação é dificultada, causando uma resistência

do corpo à insulina. Esse tipo não pode ser tratado com injeções de insulina.

3.2.1.2. Produção de Insulina

A insulina para uso comercial, tradicionalmente era extraída diretamente

de animais (porcos e gado de casas de abate), e passavam por processos

cromatográficos de purificação. Essa insulina, segundo Walsh1, derivada de

animais, possuía algumas desvantagens, como a baixa disponibilidade para

tratar as 200 milhões de pessoas com diabetes no mundo. Além disso, a

insulina bovina possui três aminoácidos diferentes da humana, o que pode

causar uma resposta imunológica.

Com os avanços da técnica de DNA recombinante, cientistas passaram

a produzir a insulina com essa técnica, e em 1982 o primeiro biomedicamento

produzido por DNA recombinante foi aprovado para uso médico. Atualmente,

há diversos fabricantes comercializando a insulina idêntica à humana, além de

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25

insulinas modificadas geneticamente, que podem ter um efeito prolongado ou

mais rápido.1

3.2.2. Hormônio do Crescimento Humano

O hormônio do crescimento humano (hGH), também conhecido por

Somatropina ou Somatotropina, é um hormônio polipeptídico, contendo 191

resíduos de aminoácidos e massa molecular igual a 22kDa, sintetizado na

glândula adeno-hipófise. Sua síntese e liberação são reguladas por dois fatores

hormonais, a somatorelina para a liberação, e somatostatina para inibição.18

Esse hormônio é o principal responsável pelo crescimento e

desenvolvimento do corpo em humanos e animais, além do crescimento e

regeneração celular e crescimento das células dos ossos, músculos e

cartilagens. Seu mecanismo de ação, como outros hormônios, baseia-se na

ligação a um receptor específico na superfície celular.1, 18

3.2.2.1. Deficiência do hGH

Durante os anos de crescimento corporal, a deficiência na produção e/ou

liberação do hGH pode ocasionar nanismo pituitário, caracterizado pela altura

20% menor do que as pessoas que não apresentam nanismo. Por outro lado,

produção acima da média desse hormônio pode causar gigantismo e

acromegalia, caracterizados por alargamento de mãos, pés e do maxilar e

estatura acima da média.21

Outros problemas causados pela deficiência do hGH podem ser o atraso

da maturidade sexual em jovens, e em adultos, pode causar um aumento da

massa gordurosa e relativa perda da massa muscular.22

3.2.2.2. Uso terapêutico do hGH

O hGH foi usado terapeuticamente em 1958 no tratamento de nanismo

pituitário.6 O tratamento com o hormônio difundiu-se desde então, e em

meados dos anos 80 ele era usado em grande escala. Nessa época, o

hormônio usado nos tratamentos era extraído de cadáveres humanos. Em

1985, o uso desse hormônio extraído de cadáveres foi terminado devido à

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26

ligação do uso dessa substância, para tratar um paciente quinze anos antes,

com a doença de Creutzfeld-Jakob, condição rara, porém fatal que afeta o

cérebro.23 A partir desse caso, diversos outros casos dessa doença foram

ligadas à administração de hGH nos pacientes, o que causou o fim da

produção e comércio desse hormônio nas condições em que eram

realizados.24, 25

Nesse mesmo período, os primeiros hGH recombinantes estavam

começando a surgir, o que pôde suprir as necessidades dos pacientes com

deficiência desse hormônio, após o término do hGH extraído de cadáveres.1

Nos dias atuais, todo o hGH comercializado é produzido pela técnica

recombinante. Ele tem se mostrado efetivo também no tratamento de outras

condições, incluindo Sindrome de Turner, insuficiência renal crônica, e como

anabolizante. Ainda assim, o tratamento contra nanismo é o principal motivo de

uso dessa substância.1

3.2.3. Gonadotropinas

Esta família de hormônios é denominada gonadotropina devido a seus

alvos de ação serem as gônadas (ovários e testículos), e estão ligados

diretamente à produção de gametas e consequentemente à reprodução.

Existem três hormônios dessa família que são usados terapeuticamente: o

hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH) que são

produzidos na adeno-hipófise e ocorrem tanto em homens quanto em

mulheres; e a gonadotropina coriônica (hCG), hormônio sintetizado por

trofoblastos extra-embrionários e por células da placenta apenas em mulheres

grávidas.18

O hormônio hCG é liberado pelos trofoblastos durante o inicio da

gravidez, e garante a manutenção do corpo lúteo no ovário nesse período,

liberando progesterona e garantindo a continuidade da gravidez. A partir da

décima/décima primeira semana, esse hormônio passa a ser liberado pela

placenta.26

A produção e liberação do LH e do FSH na adeno-hipófise são

controladas pelo hormônio de liberação das gonadotropinas (GnRH). Esse

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27

hormônio é considerado como um neuro hormônio, por ser sintetizado em

células neurais e sua liberação é regulada pelo hipotálamo. Quando liberado,

esse hormônio liga-se ao seu receptor nas células da adeno-hipófise,

estimulando a secreção dos hormônios. A atividade do GnRH é baixa durante a

infância, porém atinge alto índice durante a maturidade sexual e nos períodos

de ovulação.27

O FSH em homens atinge as células de Sertoli, encontradas nos

testículos, onde vai estimular a espermatogênese. Nas mulheres, esse

hormônio atinge as células do folículo ovariano. O FSH estimula o

desenvolvimento e crescimento folicular, e com isso a ovulação.1 O LH tem

seus receptores nas células de Leydig, localizadas nos testículos, e nas células

da teça e da granulosa nas mulheres. Ele estimula a síntese de testosterona e

progesterona, além de romper o folículo dominante durante ovulação e ser

necessário para a expressão do receptor do FSH nas mulheres.18

3.2.3.1. Deficiência e uso terapêutico

A deficiência dessa família de hormônios pode causar infertilidade, tanto

em homens quanto em mulheres, devido à falta de maturação dos gametas.18

O uso de gonadotropinas na estimulação de ovários para a ovulação dá-

se desde o começo dos anos 60. De lá para cá, o tratamento evoluiu, com a

tecnologia recombinante, e formas mais puras e modificadas dos hormônios

para obtenção de melhores resultados.28

A principal indicação das gonadotropinas é para a indução da ovulação

em mulheres que não ovulam devido à disfunção da hipófise, ou que tenham

síndrome do ovário policístico. Mulheres que apresentam infertilidade, apesar

de não apresentarem nenhuma das duas condições citadas e apresentarem

ovulação normal, também podem ser tratadas com esses hormônios.18, 29

Em homens, esses hormônios são usados em tratamentos de fertilidade

para iniciar a espermatogênese. Homens com hipogonadismo

hipogonadotrópico, condição causada pela diminuição do funcionamento das

gônadas e consequentemente baixa taxa de produção de hormônios sexuais,

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28

são submetidos a esse tratamento, que tem mostrado resultados satisfatórios

em estudo.30

Além disso, o hCG é a base dos testes de gravidez vendidos em

farmácia. No início da gravidez a mulher produz esse hormônio, que ao serem

detectados na urina durante o teste indicam resultado positivo para a

gravidez.18

3.2.3.2. Produção comercial de Gonadotropinas

Os hormônios dessa classe são comercializados desde meados dos

anos 60. Nessa época, havia apenas uma fonte, eles eram extraídos da urina

de mulheres na pós-menopausa, obtendo-o FSH. Esse tipo de FSH, que

também contém níveis variáveis de LH, é chamado de Menotropina. O hCG é

extraído da urina de mulheres grávidas.31

Esse processo persiste ainda atualmente. Há padrões a serem seguidos,

como coleta de urina apenas de países com baixa incidência de HIV e

ausência da doença de Creutzfeld-Jakob (para evitar o ocorrido com o hGH,

citado anteriormente). A urina, que contém aproximadamente 2% de FSH

passa por múltiplos processos de purificação por cromatografia para remover

qualquer vírus, e ainda passa por um processo de desativação viral. O produto

final contém mais de 95% de FSH puro, e é aprovado pela FDA.32

Em 1995, tornaram-se disponíveis no mercado as gonadotropinas

recombinantes, porém as que são produzidas a partir da urina não deixaram de

existir. 31 Os hormônios FSH recombinante recebem a denominação rhFSH, e

são clinicamente efetivos na estimulação do crescimento folicular em mulheres.

São produzidos em células ovarianas de hamsters e apesar de exibirem

sequencia de aminoácidos idêntica à humana, possuem glicosilação levemente

diferenciada. Essa preparação é bem tolerada quando administrada em

humanos, sem efeitos adversos inesperados.1

3.3. Anticorpos Monoclonais

Anticorpos monoclonais são anticorpos específicos idênticos, que são

clonados a partir de uma única célula imunizada. Esse conceito foi

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29

primeiramente desenvolvido por Kohler e Milstein em 1975, ao fundirem com

sucesso uma célula de mieloma (tipo de câncer que atinge os linfócitos-B no

sangue) com linfócito-B (no caso essa célula foi clonada de linfócitos-B de ratos

imunizados), que são células produtoras de anticorpos e principais agentes do

sistema imunológico.33

Figura 5 – Diferenças entre anticorpos policlonais e monoclonais.

Fonte: Pharmaceutical Biotechnology: Concepts and Applications, adaptado.1

Os linfócitos-B, um tipo de glóbulo branco, são as células responsáveis

por produzirem os anticorpos na presença de um antígeno, regulando assim a

imunidade humoral. A região no antígeno onde se ligam os anticorpos é

denominada epítopo, e um antígeno tem centenas de epítopos diferentes em

sua molécula. As células de linfócito-B, assim como os antígenos, são

específicas e produzem diferentes anticorpos que se ligarão ao seu epítopo

especifico no antígeno. Os anticorpos policlonais são produzidos de clones

celulares contendo anticorpos que se ligarão a epítopos diferentes. Os

anticorpos monoclonais são produzidos de forma que apenas um tipo de

anticorpo especifico para apenas um antígeno esteja presente, aumentando a

eficácia terapêutica ao atacar o epítopo específico que destruirá o antígeno.1 A

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30

Figura 5 ilustra a diferença entre os anticorpos produzidos no corpo humano, e

os monoclonais, de única especificidade.

Hoje, esses anticorpos monoclonais são assunto de inúmeras pesquisas

e estudos, pois representam grande potencial no tratamento de doenças como

câncer, doenças autoimunes e inflamatórias.2

3.3.1. Método de produção hibridoma

O experimento de Kohler e Milstein, em 1975, que gerou o processo

hibridoma, consistiu em uma linha celular produzida a partir da fusão de células

de mieloma de ratos (células essas que não produziam anticorpos), com

células do baço de rato previamente imunizado. Essas células do baço

produzem linfócitos-B, e consequentemente anticorpos. Ao serem fundidas,

essas células formam um hibridoma, que mantém características de célula

imortal do mieloma, e produzem anticorpos por um longo tempo (diferente das

células B isoladas, que têm um curto tempo de vida in vitro). Assim, como

ilustrado pela Figura 6, podem-se produzir anticorpos monoclonais ao isolar os

linfócitos-B de interesse e formar os hibridomas desses linfócitos.33, 34

Figura 6 – Método Hibridoma com células murinas.

Fonte: Culture Cell Dish Website, adaptado.35

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31

No entanto, esses anticorpos, apesar do grande potencial no tratamento

de doenças autoimunes e tumores, mostraram-se ineficientes durante testes

clínicos, e em alguns casos provocaram reações adversas indesejadas.1

3.3.1.1. Anticorpos monoclonais de primeira geração

Os anticorpos produzidos a partir do método original de Kohler e Milstein

são denominados de anticorpos monoclonais de primeira geração. Eles eram

produzidos totalmente de células murinas (células de ratos), e durante testes

clínicos demonstraram grande ineficácia em humanos. Por serem proteínas

derivadas de células de camundongos, esses anticorpos provocaram, em 50 a

75% dos receptores, resposta imunológica indesejada. Além disso, eles

apresentaram penetração insuficiente nos tumores, e baixa meia-vida em

humanos. A partir de então, buscaram-se outras técnicas para criar os

anticorpos monoclonais sem as inconveniências das células totalmente

murinas.2

O primeiro anticorpo monoclonal, produzido inteiramente de células

murinas, aprovado para uso clinico em humanos pela FDA foi o Muromomabe,

em 1986. Esse medicamento pode desencadear desde reações alérgicas até

encefalopatias ou edemas pulmonares, além da produção de anticorpos

humanos anti-camundongo (HAMA – human anti-mouse antibodies), o que

levaria a uma posterior eliminação do anticorpo monoclonal murino. A

indicação do muromomabe era para o tratamento de rejeição em transplante de

órgãos.36

3.3.1.2. Anticorpos monoclonais de segunda geração

Para contornar o problema das células murinas, cientistas criaram em

1984 uma forma de anticorpo monoclonal denominada quimérica, utilizando de

técnicas de DNA recombinante. Neste modelo, o anticorpo consistia de uma

parte de célula murina variável e específica (a parte que se liga ao antígeno), e

uma parte fixa, de célula humana.37

Pela estrutura do anticorpo, na Figura 7, podem-se notar duas regiões

diferentes: Fc e Fab. A região hipervariável é a região que se liga ao antígeno,

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32

sendo especifica para cada epítopo existente. A região Fc é fixa e não se altera

nos anticorpos. A partir de técnicas de DNA recombinante, clona-se o domínio

Fab murino e o acopla a regiões de Fc humano, originando assim os anticorpos

monoclonais quiméricos, que possuem maior meia vida no organismo humano

e melhor capacidade de ativar os mecanismos de defesa.38

Figura 7 – Estrutura de um anticorpo.

Fonte: Medicamentos biológicos na prática médica.2

Além do quimérico, desenvolveu-se outro tipo de anticorpo monoclonal,

o ‘humanizado’, tentando assim aproximar-se ao máximo possível do anticorpo

produzido em humanos. Neste tipo de anticorpo, as regiões Fc e Fab são

derivadas de anticorpos humanos, e apenas a região hipervariável da área Fab

é descendente de células murinas, obtendo-se assim uma melhor aceitação

pelo sistema imune do corpo humano.39

3.3.1.3. Anticorpos monoclonais inteiramente humanos

A partir dos anticorpos monoclonais quiméricos e humanizados,

cientistas tentaram criar anticorpos monoclonais inteiramente humanos, para

minimizar ainda mais o risco de imunogenicidade que as células murinas

poderiam causar. Duas abordagens de sucesso foram identificadas: utilização

de ratos transgênicos, e a técnica de Phage Display.40 Na Figura 8 estão os

diferentes anticorpos monoclonais atualmente produzidos.

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33

O método de utilização de ratos transgênicos consiste em transferir

genes de imunoglobina humana no genoma do animal, que é vacinado em

seguida contra o antígeno específico para o qual se deseja produzir os

anticorpos monoclonais. Ao ser vacinado, os linfócitos B do rato produzem

anticorpos com a região hipervariável idêntica à humana, diminuindo assim os

riscos de resposta imunológica ao serem administrados nos pacientes

humanos. Essa técnica tem grande sucesso na produção de anticorpos

monoclonais humanos, sendo usada em sete dos nove produtos que são

comercializados (outros dois usando técnica de Phage Display).41

A técnica de Phage Display consiste em uso de bacteriófagos para

determinar interações proteína – proteína ou proteína – DNA. Nessa técnica,

insere-se o código de uma proteína de interesse no fago, que vai ‘exibir’ essa

proteína em seu exterior e ter o código genético dela no seu interior. Esses

fagos passam então por uma varredura em uma biblioteca de proteínas,

peptídeos e DNA, para detectar possíveis interações. Assim, pôde-se criar uma

biblioteca de fagos ‘exibindo’ anticorpos, que podem ser acessados para

coletar o anticorpo de interesse para a posterior síntese.41

Figura 8 – Classes de anticorpos monoclonais existentes hoje no mercado.

Fonte: Monoclonal antibody therapeutics: history and future, adaptado.39

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34

3.3.2. Tratamentos com anticorpos monoclonais

3.3.2.1. Anticorpos monoclonais no tratamento de artrite reumatóide

A artrite reumatóide atinge aproximadamente 25 homens e 54 mulheres

a cada 100.000, e se apresenta entre os 30 e 50 anos de idade. É uma doença

sistêmica autoimune, inflamatória e crônica, que causa inflamação de tecidos e

órgãos, principalmente das juntas, causando dor e debilitando os movimentos.

A doença caracteriza-se por uma inflamação da membrana sinovial (membrana

que envolve as juntas), seguida de inchaço, secreção de altas quantidades de

fluidos sinoviais, e desenvolvimento de tecido fibroso. A patologia leva à

destruição da cartilagem envolvendo essas áreas e fusão das juntas.42

A falha na identificação de pacientes com artrite em estagio inicial pode

levar ao subseqüente desenvolvimento de artrite reumatóide. Pacientes

apresentando inchaço, dor e endurecimento poliarticular, em padrões

simétricos podem ser clinicamente diagnosticados com artrite reumatóide, o

que pode ser posteriormente confirmado com radiografias e exames

laboratoriais.43

Os anticorpos monoclonais que são comercializados atualmente para o

tratamento da artrite reumatóide são: adalimumabe, certolizumabe,

golimumabe e infliximabe. Esses medicamentos têm a função de bloquear o

fator de necrose tumoral (TNF), que é uma citocina inflamatória encontrada no

fluido sinovial de pacientes com artrite reumatóide, cuja inibição tem se

mostrado eficiente no tratamento dessa doença. Usualmente, o tratamento

demonstra resultados superiores se a droga for administrada em associação

com outras drogas modificadoras do curso da doença (DMCD).2

3.3.2.2. Anticorpos monoclonais em tratamentos oncológicos

Atualmente, alguns tipos de câncer estão sendo tratados com anticorpos

monoclonais, caso do câncer colorretal, câncer de mama e de pulmão. Como

um grande número de pacientes só tem a doença diagnosticada já em estágio

avançado, fazendo da cirurgia inviável, as drogas de ação neoplásica são o

único tratamento disponível, porém apresentam grande inconveniente por

comprometerem os tecidos saudáveis, além dos patológicos.2

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35

Os anticorpos monoclonais são direcionados para células específicas,

aumentando assim a eficácia e diminuindo os efeitos adversos devidos à

destruição de células saudáveis. Medicamentos como bevacizumabe,

nimotuzumabe e cetuximabe já são comercializados no Brasil no tratamento de

câncer, apresentando melhor controle da doença, diminuindo a progressão e o

risco de morte.2

3.4. Técnica de DNA Recombinante

A técnica de DNA recombinante consiste basicamente em inserir, no

DNA de outro organismo, o gene da proteína humana de interesse, fazendo

com que esse organismo que recebeu o gene produza a proteína idêntica à

humana em cultivos laboratoriais ou industriais.16 Para os medicamentos

biológicos, os organismos que recebem o gene para produzir a proteína podem

ser Escherichia coli (bactéria), Saccharomyces cerevisiae (levedura), ou células

animais como células de ovário de hamster chinês (CHO), ou células de rim de

hamster bebê (BHK).1 As primeiras publicações descrevendo com sucesso a

replicação intracelular de DNA recombinante apareceram entre 1972 e 1973, e

nesses estudos foram utilizadas colônias de E. coli para a produção da

proteína recombinante.9, 44

Figura 9 – Atuação da enzima de restrição no DNA e no plasmídeo.

Fonte: Diagram of molecular cloning with bacteria and plasmids, disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a3/Gene_cloning.svg/3

20px-Gene_cloning.svg.png

O primeiro passo desse processo é identificar e isolar o código genético

da proteína de interesse. Isso ocorre pela utilização das enzimas de restrição

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36

(usualmente endonucleases de restrição).45 Essas enzimas reconhecem e

cortam sequências de DNA definidas, normalmente deixando extremidades

coesivas (Sticky ends), as quais serão preenchidas ao se inserir esse

fragmento de DNA no vetor, conforme ilustrado na Figura 9. Atualmente, cerca

de 800 enzimas de restrição já foram identificadas, cada uma cortando o DNA

em um gene específico. Nesta etapa, um mRNA com o código da proteína

também pode ser um ponto de partida. Nesse caso, através de enzimas, o

código contido no mRNA é transcrito reversamente, gerando DNA

complementar (cDNA).1, 45

Em seguida, coletam-se os vetores, usualmente plasmídeos, que são

pequenos segmentos de DNA contendo código necessário para a replicação.

Na Figura 10 pode-se ver a estrutura de um plasmídeo, onde há um gene

denominado LacZ, que é responsável por sua cor azul. Dentro do LacZ, estão

os locais de clonagem, e os locais da restrição, que é onde atuará a mesma

endonuclease de restrição que atuou no DNA, abrindo a estrutura do

plasmídeo e deixando-o com extremidades coesivas. Como foi utilizada a

mesma enzima de restrição, as extremidades coesivas terão as mesmas bases

do gene de DNA previamente isolado, fazendo com que o gene de interesse

seja incluído nos plasmídeos. Alguns vetores, porém, se fecham logo após

serem abertos, não recebendo gene nenhum.45

Figura 10 – Estrutura do plasmídeo.

Fonte: Diagram of molecular cloning with bacteria and plasmids, disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a3/Gene_cloning.svg/3

20px-Gene_cloning.svg.png

Posteriormente os plasmídeos são introduzidos no meio junto com a

bactéria. Algumas bactérias são preenchidas com plasmídeo que foi

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modificado, enquanto outras são preenchidas com plasmídeo sem o gene da

proteína de interesse, e outras não tomam plasmídeo nenhum. Como o gene

LacZ foi interrompido, no caso dos plasmídeos modificados, a bactéria mantém

sua cor original, enquanto que nos outros casos ela fica azul. A esse meio

introduz-se um antibiótico, fazendo com que as bactérias que não foram

introduzidas com plasmídeo nenhum não sobrevivam.1, 45

Em laboratórios, essas células são colocadas em placas de Petri de

ágar, e incubadas, a fim de começarem a formar colônias. Essas colônias

podem ser diferenciadas pela sua coloração, já que as bactérias com

plasmídeos sem o gene clonado formarão colônias azuis. As células contendo

o plasmídeo com o código da proteína recombinante de interesse são

coletadas e formam um banco de células de trabalho, o qual será multiplicado e

usado continuamente conforme as necessidades do fabricante. Em processos

industriais, devido ao alto nível de expressão heteróloga de proteínas que se

podem alcançar, essas células contendo o código da proteína humana

normalmente são células de S. cerevisiae ou E. coli. Elas passam então pelos

processos Upstream e Downstream, para a obtenção do produto final.1, 16

3.4.1. Processo Upstream

Um frasco é coletado do banco de células de trabalho, mantendo o

banco para produções futuras. As células desse frasco são utilizadas para

inocular um pequeno volume de meio de cultura estéril, gerando as culturas

iniciais em escalas de laboratório. Essa cultura inicial será então utilizada para

inocular o biorreator, para a produção dos lotes desejados, onde ocorrerá a

fermentação.1

O biorreator deve ser especificado para controlar os parâmetros do

processo a valores pré-determinados pelo fabricante. Parâmetros a serem

manipulados podem ser temperatura, pressão e volume, pH do meio, oxigênio

dissolvido, taxa de agitação, concentração celular, entre outros pertinentes ao

processo. As condições presentes no ambiente interno do reator dependem

não só da manipulação pelo operador, mas também das interações celulares

com o ambiente, e podem interferir no crescimento celular e na síntese de

proteínas.46

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Dos parâmetros citados acima, a quantidade de oxigênio dissolvido

requer bastante atenção pois o oxigênio tem baixa solubilidade em água, o que

dificulta a sua transferência para a cultura celular. As culturas devem ser

aeradas de forma homogênea para evitar fermentação alcoólica ou ácida, e

isso faz com que os biorreatores sejam projetados para aumentar a taxa de

transferência de oxigênio.46

Adicionalmente, a operação do reator também pode influenciar o

ambiente interno. Processos em batelada, por exemplo, são utilizados para

aumentar a concentração celular, e o controle da concentração de nutrientes

pode aumentar a eficiência metabólica. Além disso, a estabilidade dos

plasmídeos também pode ser afetada pelo modo de operação do biorreator.

Em operações contínuas e em larga escala é comum a segregação dos

plasmídeos devido às várias gerações de culturas presentes. Um processo

para diminuir essa instabilidade dos plasmídeos poderia ser realizado em duas

etapas, uma para o crescimento celular e outra para a produção da proteína

recombinante.46

Além das culturas iniciais, nos biorreatores são também colocados os

nutrientes para o crescimento celular, além de água. A fermentação ocorre por

dias e durante esse processo ocorre acúmulo de biomassa. Essas células são

coletadas quando atingem o máximo rendimento de biomassa, e a partir daí

passam para o processo Downstream.47

3.4.2. Processo Downstream

Após a fermentação, o produto coletado da fermentação passa por uma

série de etapas, denominadas processo Downstream. O processo Downstream

compreende as etapas de coleta das células, subsequente separação,

concentração e purificação da proteína recombinante produzida, até a

formulação final do produto.

3.4.2.1. Recuperação

O início desse processo se dá com a recuperação da proteína de sua

fonte, o que depende se a proteína é produzida intra ou extracelular.1 Neste

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trabalho, como a maioria dos medicamentos biológicos utiliza proteína

recombinante de culturas de E. coli ou S. cerevisiae, e nessas culturas a

proteína é produzida intracelular, o foco será dado às proteínas intracelulares.

Inicialmente coletam-se as células, através de centrifugação. Para a

coleta do produto intracelular, incluindo a proteína de interesse, as células

precisam ser rompidas, o que apresenta significante dificuldade devido à

parede celular.1 Alguns processos se mostraram efetivos nessa etapa como a

homogeneização e a agitação em moinho de esferas, com 65% e 50% das

células rompidas, respectivamente. Aumentar esse rendimento, sem

desnaturar as proteínas, tem sido um desafio do processo Downstream. Ao

final, detritos celulares e células não rompidas podem ser separados por

processos que não produzam uma alta força de cisalhamento, como a filtração,

processo mais utilizado em larga escala.48

3.4.2.2. Concentração

Nesta etapa, concentra-se o produto bruto em volumes menores, mais

convenientes para trabalhar e que podem ser processados a maior velocidade.

Um método comum é a precipitação por sais, como cloreto de lítio ou sulfato de

amônio. Nesse caso, o precipitado é coletado por centrifugação, o que irá para

a purificação.48

Outro método comumente usado nessa etapa é a ultrafiltração, que

remove células ou detritos celulares, mas deixam passar os componentes

macromoleculares, como as proteínas. Esses ultrafiltros, que tradicionalmente

eram construídos de materiais celulósicos, são construídos atualmente com

materiais poliméricos como polietilenoglicol ou policarbonato, devido à maior

estabilidade química e física, e baixa adsorção de proteínas.49

A Figura 11 ilustra como ocorre a ultrafiltração. Este processo apresenta

alta taxa de recuperação, e baixo tempo de processamento. A parte retida pode

ser reciclada e filtrada novamente para atingir maior rendimento.1, 49

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40

Figura 11 – Esquema da Ultrafiltração.

Fonte: Pharmaceutical Biotechnology: Concepts and Applications, adaptado.1

3.4.2.3. Purificação

Com a proteína concentrada, ela deve ser purificada para que se remova

qualquer proteína que não seja de interesse, ou outros contaminantes. Esse

processo se dá normalmente por cromatografia em coluna, comumente

combinado em duas ou três variações da técnica.50 A Figura 12 ilustra,

sucintamente, a cromatografia em coluna, que baseia-se na separação das

proteínas pela sua adsorção nos grânulos da cromatografia.1

Figura 12 – Cromatografia em coluna.

Fonte: Pharmaceutical Biotechnology: Concepts and Applications, adaptado.1

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Primeiramente aplica-se a amostra, contendo a proteína de interesse, na

coluna onde estão os grânulos. Estes grânulos adsorvem a proteína de

interesse, e a amostra é coletada na saída da coluna. Em seguida a coluna é

irrigada com outra fase móvel, apenas para remover qualquer impureza que

tenha ficado retida nos grânulos, mantendo a proteína de interesse ainda

adsorvida neles. Finalmente, passa-se outra irrigação na coluna, dessa vez

com propriedades que fazem com que a proteína adsorvida seja carregada,

sendo então coletada ao fim da coluna.51

Existem alguns tipos de cromatografia utilizados para os processos

Downstream em medicamentos biológicos, sendo a cromatografia por exclusão

e a cromatografia de troca iônica as duas técnicas mais utilizadas. A

cromatografia por exclusão baseia-se nas diferenças em massa molecular e na

forma para separar as proteínas, conforme Figura 13, enquanto a por troca

iônica é baseada na carga na superfície das proteínas a um determinado pH.

Proteínas diferentes apresentam cargas diferentes a um mesmo pH,

selecionando e separando a proteína de interesse.50

Figura 13 – Cromatografia por exclusão.

Fonte: Pharmaceutical Biotechnology: Concepts and Applications, adaptado.1

Como citado anteriormente, nos processos envolvendo medicamentos

biológicos, para garantir a máxima pureza e consequente segurança do

produto, é comum a combinação de duas ou mais técnicas de cromatografia.

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42

Outras técnicas usadas são a cromatografia por afinidade, separando as

proteínas de acordo com suas interações bioespecífica com os grânulos;

cromatografia de interação hidrofóbica, que é baseada na superfície hidrofóbica

das proteínas; e a cromatofocagem, que separa as proteínas de acordo com

seus pontos isoelétricos.1

Após essas cromatografias, obtém-se uma proteína que é de 98 a 99%

pura. O próximo passo é a formulação do produto final, que envolve a adição

de excipientes, e a formulação na forma desejada do fabricante e que melhor

atenda às necessidades dos consumidores, que podem ser líquidos,

comprimidos, injetáveis, entre outros.1

3.5. Mercado Brasileiro

Segundo a Interfarma, Associação da Indústria Farmacêutica de

Pesquisa, o mercado de produtos biológicos no Brasil ainda é pequeno,

representando menos de 1% do mercado farmacêutico total. Porém, esse

mercado tem um crescimento muito acima do mercado farmacêutico total,

estimado para 80% até esse ano de 2015.2

Através do sítio eletrônico da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária), e da lista de medicamentos registrados disponibilizada nesse sítio

eletrônico, chegou-se aos anticorpos monoclonais e hormônios (Insulina e

Gonadotropinas), que até o ano de 2015 estão registrados no Brasil. O país

tem um total de vinte e sete anticorpos monoclonais no mercado, oito variações

de Insulina e oito produtos classificados dentro das Gonadotropinas, além do

hormônio do crescimento (Somatropina), que é comercializado por sete

diferentes empresas farmacêuticas. As Tabelas 2 e 3 apresentam a relação

desses produtos, além dos nomes comerciais e das empresas responsáveis

pelo registro e comércio de cada um no Brasil. A Tabela 3 também apresenta

as principais indicações dos anticorpos monoclonais.

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43

Tabela 2 – Hormônios registrados no Brasil.

Hormônios Nome Comercial Empresa

Insulina Asparte Novorapid Novo Nordisk

Novomix 30 Novo Nordisk

Insulina Bifásica Humulin 70/30 Eli Lilly Insunorm 70/30 Aspen Pharma

Wosulin 70/30 UCB-Meizler Insulina Degludeca Tresiba Novo Nordisk Insulina Detemir Levemir Novo Nordisk

Insulina Glargina Lantus Sanofi-Aventis Veluxus Medley

Insulina Glulisina Apidra Sanofi-Aventis

Insulina Humana

Humulin R/N Eli Lilly Insunorm R/N Aspen Pharma

Novolin R/N Novo Nordisk Wosulin R/N UCB-Meizler

Insulina Lispro Humalog Eli Lilly

Somatropina

Biomatrop Biosintética

Eutropin Aspen Pharma

Genotropin Pfizer Hormotrop Bergamo Norditropin Novo Nordisk Omnitrope Sandoz Saizen Merck

Alfacorifolitropina Elonva Schering-Plough Alfacoriogonadotropina Ovidrel Merck Gonadotropina Coriônica Choriomon UCB-Meizler

Gonadotropina Sérica Menogon Ferring Menopur Ferring

Alfalutropina Luveris Merck

Alfafolitropina Gonal F Merck Pergoveris Merck

Betafolitropina Puregon Schering-Plough

Urofolitropina Bravelle Ferring Fostimon-M UCB-Meizler

Fonte: Do autor, adaptado de ANVISA

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Tabela 3 – Anticorpos Monoclonais registrados no Brasil.

Anticorpo Monoclonal

Nome Comercial Empresa Principais Indicações

Abciximabe Reopro Eli Lilly Antiagregante plaquetário

Adalimumabe Humira Abbvie Artrite Reumatóide, Psoríase, Doença de Crohn, Espondilite Anquilosante

Alentuzumabe Lemtrada Genzyme Esclerose Múltipla

Basiliximabe Simulect Novartis Prevenção de rejeição em transplantes e órgãos

Belimumabe Benlysta GlaxoSmithKline Linfoma Não-Hodgkin Bevacizumabe Avastin Roche Câncer metastático Brentuximabe Vedotina Adcetris Takeda Câncer hematológico Canaquinumabe Ilaris Novartis Artrite Reumatóide Certolizumabe Cimzia AstraZeneca Doença de Crohn Cetuximabe Erbitux Merck Câncer metastático

Denosumabe Prolia GlaxoSmithKline Osteoporose, Metástase

óssea Xgeva Lab. Stiefel

Golimumabe Simponi Janssen-Cilag Artrite Reum., Artrite Psoriática, Espondilite Anquilosante

Infliximabe Remicade Janssen-Cilag Artrite Reum., Psoríase,

Doença de Crohn, Espondilite Anquil.

Remsima (Bioss.) Celltrion

Ipilimumabe Yervoy Bristol-Myers Squibb Melanoma

Natalizumabe Tysabri Biogen Doença de Crohn, Esclerose Múltipla

Nimotuzumabe Cimaher Eurofarma Glioma Pediátrico Refratário Obinutuzumabe Gazyva Roche Leucemia Linfoide crônica Ofatumumabe Arzerra GlaxoSmithKline Leucemia Linfoide crônica Omalizumabe Xolair Novartis Asma alérgica

Palivizumabe Synagis Abbvie Prevenção ao vírus sincicial respiratório

Panitumumabe Vectibix Amgen Câncer colorretal Pertuzumabe Perjeta Roche Câncer Ranibizumabe Lucentis Novartis Degeneração Macular

Rituximabe Mabthera Roche Linfomas, Leucemias, Doenças Autoimunes

Tocilizumabe Actemra Roche Artrite Reumatóide

Trastuzumabe Herceptin

Roche Câncer de mama Kadcyla

Ustequinumabe Stelara Janssen-Cilag Esclerose Múltipla, Psoríase, Artrite Psoriática

Fonte: Do autor, adaptado de ANVISA.

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Analisando-se a Tabela 3, nota-se a presença de apenas uma empresa

originalmente brasileira (Eurofarma), no meio de todas as outras multinacionais

que comercializam esses produtos no país. Além disso, todos os produtos

listados nessa tabela são produzidos fora do país, e importados. Isso tende a

mudar, com a recente criação de dois laboratórios brasileiros, Bionovis e

Orygen, que são joint ventures de companhias brasileiras visando a produção

de medicamentos biológicos em território nacional. De acordo com o sítio

eletrônico da Bionovis, e do pipeline disponibilizado, algumas moléculas já

estão em estudo para serem desenvolvidas no Brasil, e a empresa tem

parcerias com a Merck e a Janssen-Cilag para produção de anticorpos

monoclonais no país. A Orygen tem um acordo de cooperação tecnológica com

a empresa Pfizer para produzir internamente cinco anticorpos monoclonais.

3.5.1. Diferentes tipos de Insulina no mercado

Na Tabela 2 são mostrados os diferentes tipos de insulina

comercializados no Brasil. Além da insulina humana, foram desenvolvidos em

meados dos anos 2000 os chamados Análogos de Insulina, que são

modificações na sequência de aminoácidos da insulina, para atender às

necessidades específicas dos pacientes e reproduzir com mais fidelidade a

secreção da insulina no corpo humano. Essas modificações na cadeia de

aminoácidos produziram as insulinas Detemir, Degludeca e Glargina, que são

análogos de ação longa, para controle geral durante o dia (insulina basal); e

análogos de ação rápida, as insulinas Asparte, Glulisina e Lispro, para controlar

o nível glicêmico logo após as refeições (insulina pós-prandial).52

Muito anterior aos análogos, em 1946 um tipo de insulina modificada foi

introduzida: a insulina NPH (Protamina Neutra Hagedorn). Essa insulina NPH

tem ação intermediária, controlando a duração da ação e reduzindo o efeito de

pico, uma alternativa na época em que até então existia apenas a insulina

humana regular, que tem ação rápida.53 Na Tabela 2, no campo da Insulina

Humana pode-se ver R/N, indicando que os produtos são comercializados na

versão R (insulina humana regular, por exemplo Insunorm R), e na versão N

(insulina NPH, por exemplo Novolin N). Além disso, também há no mercado as

insulinas bifásicas, e os três fabricantes desse tipo de insulina no Brasil as

oferecem na versão 70/30, ou seja, 70% NPH e 30% regular.

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3.5.2. Diferentes tipos de Gonadotropinas no mercado

As diferentes gonadotropinas apresentadas na Tabela 3, são as

diferentes formulações com os hormônios LH, FSH ou hCG. Essas formulações

diferenciam-se também na procedência do hormônio, pois alguns são

coletados de urina humana enquanto outros são recombinantes, conforme

abaixo:

Alfacorifolitropina: Primeira proteína recombinante híbrida com ação

de estimulação de folículo, sem ação do hormônio luteinizante. É uma

fusão de FSH com hCG que apresenta uma vantagem de ter uma ação

longa, sendo necessária apenas uma injeção nos primeiros setes dias

da estimulação, ao contrário das injeções diárias requeridas por outros

medicamentos. Apresentou, em estudo, taxa de gravidez similar ao FSH

recombinante;54

Alfafolitropina, Betafolitropina, Urofolitropina: São três preparações

do FSH, porém a urofolitropina é coletada da urina de mulheres na pós

menopausa, e a alfafolitropina e a betafolitropina são recombinantes.

Estudos mostram que as preparações recombinantes são mais puras,

porém mais caras, e também mostram que as preparações apresentam

eficácia semelhante, com a betafolitropina se sobressaindo levemente

como a mais potente;55

Alfacoriogonadotropina e Gonadotropina Coriônica: Ambas são

preparações do hormônio hCG, usados na maturação final do folículo e

consequente ovulação. A diferença entre as duas é que a Gonadotropina

Coriônica é coletada da urina de mulheres grávidas, e a

Alfacoriogonadotropina é produzida a partir de técnica recombinante;56

Alfalutropina: Preparação de LH via proteína recombinante.

Administrado através de injeção;56

Gonadotropina Sérica: Preparações de FSH e LH, coletados da urina

de mulheres na pós menopausa.56

3.5.3. Evolução do mercado de hormônios e anticorpos monoclonais

Para coleta de dados e subsequente estudo de vendas e crescimento

dos produtos foco deste trabalho, foi utilizada a plataforma da IMS Health,

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plataforma mundialmente utilizada por empresas farmacêuticas. A planilha

completa, conforme foi coletada do IMS Health, está na Tabela 4.

Tabela 4 – Dados coletados do IMS Health.

UNIDADES VENDIDAS

(MIL) 2011

UNIDADES VENDIDAS

(MIL) 2012

UNIDADES VENDIDAS

(MIL) 2013

MERCADO (MIL US$)

2011

MERCADO (MIL US$)

2012

MERCADO (MIL US$)

2013

VENDAS BRASIL - TOTAL 6486,721 8235,088 10081,648 235114,876 248633,238 270298,771 INSULINA HUMANA ISOFANA 2699,387 4244,738 5603,374 38927,607 52576,975 64082,787 SOMATROPINA 140,222 169,987 188,217 50283,422 56426,645 61486,193 INSULINA GLARGINA 996,945 1174,197 1381,617 47133,157 46873,182 49875,340 ALFAFOLITROPINA 58,503 75,974 81,248 21196,563 20122,468 19729,645 INSULINA DETEMIR 582,335 492,850 460,136 16757,014 12321,286 10375,166 INSULINA LISPRO 669,956 751,962 764,594 11371,619 10881,511 10181,436 TRASTUZUMABE 1,710 2,579 2,351 8051,308 10463,710 8872,835 INSULINA ASPARTE 854,245 765,791 697,845 14249,548 10717,386 8763,845 INSULINA HUMANA 352,985 495,687 665,737 5238,161 6301,490 7747,581 RITUXIMABE 4,486 4,858 4,821 7005,066 6547,910 5883,055 BETAFOLITROPINA 15,057 14,445 20,192 4980,168 3964,048 5063,489 DENOSUMABE 0,000 4,916 20,623 0,000 1258,340 5018,381 INSULINA NPH 351,514 359,001 373,975 5659,430 5031,708 4840,552 ALFACORIOGONADOTROP. 28,785 32,868 31,287 4422,408 4387,263 3928,530 INSULINA GLULISINA 177,694 93,347 215,386 1890,228 1277,197 1892,685 ADALIMUMABE 0,770 1,236 1,284 1143,365 1606,032 1524,904 INFLIXIMABE 0,426 0,695 1,096 657,311 909,163 1333,197 CETUXIMABE 3,964 3,289 3,935 1420,234 1240,088 1314,688 RANIBIZUMABE 0,270 0,407 0,741 441,865 584,828 985,719 ALFACORIFOLITROPINA 0,000 0,000 1,011 0,000 0,000 618,658 TOCILIZUMABE 0,697 0,923 1,446 389,769 444,694 611,012 OMALIZUMABE 0,619 0,658 0,814 495,880 462,687 525,498 GONADOTROP. CORIÔNICA 0,112 0,006 19,619 2,171 0,054 481,806 PALIVIZUMABE 0,112 0,076 0,128 247,802 137,815 219,969 IPILIMUMABE 0,000 0,000 0,014 0,000 0,000 124,235 GOLIMUMABE 0,000 0,020 0,092 0,000 28,122 117,243 CANAQUINUMABE 0,000 0,000 0,007 0,000 0,000 107,242 PANITUMUMABE 0,016 0,112 0,178 9,195 55,720 86,902 PERTUZUMABE 0,000 0,000 0,017 0,000 0,000 60,670 USTEQUINUMAB 0,007 0,013 0,013 40,047 63,357 57,301 NATALIZUMABE 0,063 0,025 0,026 133,050 45,057 43,291 CERTOLIZUMABE 0,000 0,056 0,112 0,000 21,926 39,468 BELIMUMABE 0,000 0,000 0,057 0,000 0,000 23,068 BASILIXIMABE 0,004 0,000 0,009 9,909 0,000 17,948 ABCIXIMABE 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 ALENTUZUMABE 0,006 0,051 0,000 4,642 33,364 0,000

Fonte: IMS Health, adaptado.

O Gráfico 1 ilustra a venda desses produtos, distribuído por categorias

(Insulinas, Gonadotropinas, Somatropina e Anticorpos Monoclonais), e seu

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crescimento entre os anos de 2011 a 2013. Os valores de vendas

apresentados no gráfico estão em milhares de dólares.

Gráfico 1 – Mercado de Hormônios e Anticorpos Monoclonais no Brasil.

Fonte: Do autor.

Como é possível observar, as insulinas comandam o mercado dos

produtos foco deste trabalho, alcançando um total de US$ 157.759.392,00 em

vendas no ano de 2013, um aumento de 11% em relação ao ano de 2011.

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil apresentou 11,9

milhões de casos da doença em 2013, com uma taxa de 8,7% da população de

20 a 79 anos apresentando a condição. Estima-se ainda que 46% das pessoas

vivendo com Diabetes não tenha conhecimento da sua condição, vivendo com

a doença sem tratamento.57 Essa alta incidência da doença no país explica as

grandes vendas de insulina. De acordo com os dados coletados, a insulina

NPH é a mais vendida no país, chegando a US$ 64.082.787,00 em 2013,

seguida da insulina Glargina e da Detemir. A insulina humana regular é a

terceira menos vendida, devido às outras apresentações de insulina, com ação

determinada a atender melhor os pacientes. As insulinas Glulisina e Degludeca

são as menos vendidas no Brasil.

Ainda pelo Gráfico 1, pode-se notar que o mercado de Gonadotropinas

tem se mantido estável nos três anos apresentados, gerando US$

29.822.128,00 em 2013. Já a Somatropina é um hormônio com grande

mercado no Brasil, com crescimento de 22% de 2011 a 2013, e com um

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2011 2012 2013

Insulinas

Somatropina

Gonadotropinas

Anticorpos Monoc.

mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$mil US$

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mercado de US$ 61.483.193,00 no ano de 2013. Além da deficiência desse

hormônio, que é indicação registrada na ANVISA para uso desse

medicamento, a Somatropina é mundialmente utilizada como anabolizante e

suplemento alimentar, indicando o crescimento de músculos e

rejuvenescimento da pele. Fisiculturistas e atletas abusam do uso desse

medicamento, seja por prescrição médica ou por compras em sítios eletrônicos

ilegais, de musculação e fisiculturismo, que oferecem o produto importado sem

registro na ANVISA. O abuso desse hormônio pode causar problemas graves,

como o crescimento acelerado de tumores que já possam haver no corpo do

usuário, ou mesmo Diabetes, devido ao pâncreas não conseguir produzir

insulina suficiente para controlar a alta taxa de glicose no sangue ocasionado

pela injeção de altas doses de somatropina.58

Gráfico 2 – Registros de Anticorpos Monoclonais no Brasil, EUA e Europa.

Fonte: Do autor

Em relação aos anticorpos monoclonais, pelo Gráfico 1 pode-se

observar que esses produtos apresentaram também um crescimento nos anos

de 2011 a 2013, com um mercado de US$ 27.452.989 em 2013, representando

um aumento de 35% em relação a 2011, maior aumento entre os produtos foco

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EUA UE Brasil

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deste trabalho. Pelo Gráfico 2, pode-se observar o crescimento do número de

registros de anticorpos monoclonais no Brasil, Estados Unidos da América

(EUA), e União Europeia (UE). O primeiro dessa classe de produtos registrado

nessas três regiões foi o Muromonab-CD3, que não está incluído no Gráfico 2,

em 1986 nos Estados Unidos e UE, e em 1988 no Brasil. O Muromonab-CD3

era indicado para reversão de rejeição em transplantes de rim, porém foi

descontinuado. Outros anticorpos monoclonais que foram registrados, porém

descontinuados, e estão mostrados no Gráfico 2 são: Daclizumabe,

Efalizumabe, Gemtuzumabe e Alentuzumabe. O Alentuzumabe é um caso

diferente, pois foi registrado em 2006, indicado para Leucemia Mieloide Crônica

e descontinuado. Então, em 2014, foi novamente registrado, indicado para

pacientes com Esclerose Múltipla. O Brasil, até o ano de 2015, conta com 34

anticorpos monoclonais registrados no país, sendo que 4 desses foram citados

acima como descontinuados, e 30 encontram-se listados na Tabela 2. Um

desses produtos, o Remsima, aprovado em 2015, é o primeiro biossimilar de

anticorpo monoclonal aprovado no Brasil e no mundo. Apesar de o país

oferecer um número razoável de produtos nessa classe, fica atrás dos Estados

Unidos, com 43 anticorpos monoclonais aprovados até 2015, e da União

Européia, com 37.59

3.6. Ensaios Clínicos no Brasil

Para que um medicamento seja registrado no país, e possa ser

produzido e comercializado, ele deve ter sua eficácia e segurança confirmadas

através de ensaios clínicos. Esses ensaios são pesquisas realizadas em seres

humanos que, além de atestar a eficácia e segurança do produto, podem

também identificar quaisquer efeitos farmacológicos, farmacodinâmicos e

também as reações adversas que podem vir a ocorrer. Além disso, esses

ensaios também estudam como o medicamento é absorvido, metabolizado e

eliminado do organismo humano.

No Brasil, esses ensaios precisam ser registrados e autorizados pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e devem ser

cuidadosamente planejados e acompanhados por profissional de saúde.

Mundialmente os testes clínicos são divididos em fases de I a IV, e há também

a fase pré-clínica, realizada antes da fase I, em animais.

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Fase Pré-Clínica: Após o estudo de uma nova molécula, e de

resultados potencialmente positivos nos testes in vitro, procede-se à

fase pré-clínica onde a molécula é testada em animais. Nessa fase

usualmente são utilizadas altas doses do produto, e o principal objetivo é

testar a eficiência e toxicidade da molécula. Resultados positivos nessa

fase são indispensáveis para que a Fase I seja iniciada, e o resultado

negativo faz com que os estudos em determinada molécula sejam

descontinuados.

Fase I: Nessa fase os testes são realizados em humanos saudáveis,

com o objetivo principal de mensurar os intervalos de dosagem que são

seguros, e a partir de qual dosagem a substância se torna tóxica. É

avaliada também a farmacocinética do produto. Inicia-se normalmente

com uma baixa dose, o que vai aumentando gradativamente. A Fase I

utiliza um número pequeno de voluntários, que varia de vinte a cem

pessoas.

Fase II: Na Fase II são realizados testes em um número maior de

humanos, que varia de cem a trezentos. Ao invés de pessoas saudáveis,

realizam-se os testes em pessoas que apresentem a determinada

condição patológica para a qual a substância está sendo testada. O

objetivo é demonstrar a eficiência e eficácia do produto em curto prazo,

além de confirmar a segurança. Testes de biodisponibilidade e

bioequivalência também são realizados.

Fase III: Estudos na Fase III são normalmente realizados

internacionalmente, com diferentes populações, em larga escala. O

número de indivíduos pode variar de mil a dois mil, e devem apresentar

a condição patológica necessária. Nessa fase é estabelecido o perfil

terapêutico (indicações, posologia, efeitos adversos mais frequentes),

além de serem realizadas comparações com competidores no mercado.

O sucesso nessa fase pode levar ao registro e comércio do

medicamento no país.

Fase IV: Também chamada de Ensaio Clínico Pós-Comercialização,

essa fase é realizada depois que o produto já foi registrado e passa a

ser comercializado. Esse é um estudo de verificação, onde se avaliam

efeitos adversos menos frequentes e que podem se apresentar em

longo prazo, além de tratamentos para efeitos adversos mais

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recorrentes, e a frequência com que se apresentam. Durante esse

estudo, caso um produto apresente um efeito adverso grave, o comércio

do medicamento pode ser proibido. Também podem ser realizados

testes em populações em condições diferentes das da Fase III

(mulheres grávidas, por exemplo), ou testes para avaliar a administração

da substância em conjunto com outros medicamentos.

No Brasil, foi publicada uma nova Resolução da Diretoria Colegiada

(RDC), em fevereiro de 2015, definindo os procedimentos para a realização

desses testes. A RDC Nº 9 de 20 de fevereiro de 2015 está disponível no site

da ANVISA.

Antes de iniciar um estudo clínico no Brasil, a empresa solicitante, ou

patrocinador, deve entregar à ANVISA um Dossiê de Desenvolvimento Clínico

de Medicamento (DDCM), apresentando o medicamento experimental e todos

os dados obtidos nas fases pré-clínicas, garantindo a segurança dos

participantes. Junto com o dossiê devem ser apresentados, devidamente

preenchidos, dois formulários que estão disponíveis no sítio eletrônico da

ANVISA, o formulário de petição e o formulário de apresentação de ensaio

clínico. A ANVISA, ao receber o DDCM, tem cento e oitenta dias (para

medicamentos biológicos, noventa dias para sintéticos), para avaliar o DDCM e

publicar seu parecer. O ensaio pode ser iniciado após aprovação da ANVISA.60

Mundialmente existem empresas que realizam os testes clínicos para as

empresas farmacêuticas. No Brasil, uma Organização Representativa de

Pesquisa Clínica (ORPC), deve estar instalada em território nacional. Uma

companhia farmacêutica que não tenha instalações no Brasil, ou mesmo uma

que não tenha instalações para realizar seus testes clínicos, pode recorrer aos

serviços de uma ORPC, que assume as atribuições do patrocinador, junto à

ANVISA, referentes aos ensaios clínicos.60

3.7. Registro de Medicamentos Biológicos no Brasil

No Brasil, a resolução vigente para o registro de medicamentos

biológicos junto à ANVISA é a RDC nº 55 de 16 de dezembro de 2010. Essa

RDC é a terceira resolução a tratar do registro dos produtos biológicos no país;

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as anteriores foram a RDC nº 80 de 2002 e a RDC nº 315 de 2005. O objetivo

principal da RDC nº 55 é regulamentar o registro de produtos biológicos no

Brasil, garantindo a eficácia e segurança destes medicamentos. O registro é

indispensável para a produção e comércio de qualquer medicamento no Brasil,

de acordo com a lei 6.360/76. O registro tem validade de cinco anos, e pode

ser revalidado por períodos iguais quando faltarem seis meses para expirar o

registro. Dentro da RDC nº 55de 2010 são considerados:

Produtos biológicos novos, que são produzidos a partir de molécula que

tenha atividade biológica conhecida, porém sem registro no Brasil;

Produtos biológicos (não novos), que são produzidos a partir de

molécula cuja atividade biológica é conhecida, e já registrada no Brasil.61

A Tabela 5 apresenta os requerimentos da ANVISA para registro dos

medicamentos biológicos novos e não novos, de acordo com a RDC nº

55/2010.

Tabela 5 – Requerimentos para registro.

Produtos Biológicos Novos

Produtos Biológicos (não novos)

Comparabilidade Individual

Manufatura e Qualidade Necessários Comparativos De acordo com padrões Estudos Pré-Clínicos Necessários Comparativos Podem ser reduzidos

Estudos Clínicos I e II Necessários Comparativos Podem não ser comparativos

Estudos Clínicos III Necessários Comparativos Comparativos com exceções

Estudos de Imunogenicidade Necessários Comparativos Necessários Mesmo comparador Não Sim Não especificado Plano de Farmacovigilância Necessário Necessário Necessário Extrapolação de Indicações Não se aplica Possível Não é possível

Fonte: Entendendo os Medicamentos Biológicos, adaptado.62

Para o desenvolvimento e subsequente registro dos produtos biológicos

não-novos, duas vias podem ser seguidas:

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Via de desenvolvimento individual, na qual devem ser apresentados

dados totais de desenvolvimento, produção, além de resultados de

testes clínicos e não clínicos que demonstrem a eficácia e segurança do

produto;

Via de desenvolvimento por comparabilidade, na qual um produto é

eleito como o produto biológico comparador (PBC), já registrado na

ANVISA, e então são realizados testes de comparabilidade entre o PBC

e o produto para o qual pretende-se pedir o registro, atestando a

segurança, eficácia e qualidade entre os dois produtos.61

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4. Conclusão

O mercado brasileiro farmacêutico é o maior da América Latina e um

dos maiores do mundo, apresentando um constante crescimento. Não

diferente, o segmento de medicamentos biológicos é o que mais cresce,

representando grande potencial tanto para empresas do ramo.

Produtos importados de grandes empresas multinacionais, com pequena

participação de empresas brasileiras na distribuição, e nenhuma em

relação à produção.

Empresas multinacionais têm em seu pipeline um grande número

desses medicamentos em pesquisa e desenvolvimento, principalmente

anticorpos monoclonais, o que ocasionalmente resulta na produção de

uma nova molécula e consequente exportação. Algumas empresas

brasileiras, de acordo com os pipelines fornecidos em seus sítios

eletrônicos, têm pouca ou nenhuma pesquisa nesse ramo, que tem alto

valor e um mercado em crescimento.

Predominância de pesquisas em medicamentos genéricos nas

empresas brasileiras.

Mercado em crescimento, e com potencial de crescer ainda mais com o

passar dos anos, porém é dominado por multinacionais. Participação

muito pequena de empresas brasileiras, cenário que tende a mudar com

a criação dos dois novos laboratórios brasileiros, com parcerias para

produção, em território nacional, de produtos que são produzidos no

exterior; e pesquisas em novas moléculas.

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