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i UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL/USP ALIEL BACIEGA ROSCHEL ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS HIDRÁULICAS DE MATERIAIS CIMENTÍCIOS ATRAVÉS DE MÉTODOS ELÉTRICOS Declaro que esta monografia foi revisada e encontra-se apta para avaliação e apresentação perante a banca avaliadora. DATA:___/___/2014 _____________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR Lorena - SP

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL/USP

ALIEL BACIEGA ROSCHEL

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS HIDRÁULICAS DE

MATERIAIS CIMENTÍCIOS ATRAVÉS DE MÉTODOS

ELÉTRICOS

Declaro que esta monografia foi revisada e encontra-se apta

para avaliação e apresentação perante a banca avaliadora.

DATA:___/___/2014

_____________________________

ASSINATURA DO ORIENTADOR

Lorena - SP

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ALIEL BACIEGA ROSCHEL

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS HIDRÁULICAS DE

MATERIAIS CIMENTÍCIOS ATRAVÉS DE MÉTODOS

ELÉTRICOS

Monografia apresentada junto ao curso de Engenharia Industrial Química da

Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da Universidade de São Paulo (USP) como

requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química.

Orientador: Prof. Dr. FERNANDO VERNILLI JUNIOR

Lorena - SP

2014

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“Imagination is more important than knowledge, because

knowledge is limited”

Albert Einstein

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Resumo

Esse trabalho busca um melhor entendimento do comportamento de alguns

materiais cimentícios quando misturados com água; escórias, gesso, clínquer e o próprio

cimento, mas principalmente a Escória de Aciaria que é um resíduo gerado pela indústria

siderúrgica. O documento traz uma revisão da formação até o destino final de cada um

desses materiais que possuem estrutura química e mineralógica complexa, pois os

profissionais que utilizam os diferentes cimentos muitas vezes não dão devida

importância para os fenômenos que de fato estão ocorrendo durante as reações de

endurecimento, se importam somente com as características finais que, para as devidas

aplicações, acabam sendo suficiente, por haver padrões de qualidade em normas muito

bem definidas. Maneiras diretas para analisar pozolanicidade, principalmente através de

métodos elétricos e outras técnicas para análises da cura em cimentos com alta alumina,

são o ponto de partida para a análise dos materiais alvo de estudo até que se chegasse

ao principal método deste trabalho utilizando um amplificador Lock-in. Os instantes

iniciais do endurecimento são analisados através da condutividade elétrica na pasta,

obtendo-se o de padrão do gráfico desejado durante todo trabalho, correspondente a

dissociação dos íons e subsequente estabilização das reações.

Palavras chave: Escória de Aciaria. Pozolanicidade. Condutividade elétrica.

Endurecimento.

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Abstract

This work intends to get a better comprehention about the behaviour of some

cementitious materials when mixed with water; slags, lime, clinker and cement it self, but

mainly a Steel Slag, which is a residue generated by siderurgic industry. This document

bring us a review from the formation until the final destination of each one of these

materials that have complex chemical and mineralogic structures, because the

professionals that use the different cements many times don’t mind about the phenomena

that are happening during the healing reactions. They only care about the final

characteristics and applications, which is enough because there are well defined security

standards. Direct ways to analyse pozzolanicity mainly through electric methods and

other techniques to analyse the healing in high aluminate cement are the begining to

analize "targets materials" of this work until it gets to the main method of this monography

using Lock-in amplifier. The initial instant of hardening is analyzed through the paste

conductivity, getting the graphics curves desired during all over this work, corresponding

of dissociation of íons and subsequent stabilization of reactions.

Keywords: Steel Slag. Pozzolanicity. Electric conductivity. Healing.

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Sumário

1. Introdução .................................................................................................................. 14

1.1. Contextualização ................................................................................................. 14

1.2. Justificativa.......................................................................................................... 14

1.3. Objetivo ............................................................................................................... 16

2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 16

2.1. Cimento Portland ................................................................................................ 16

2.1.1. Calcário ........................................................................................................ 17

2.1.2. Argila ............................................................................................................ 17

2.1.3. Gesso ........................................................................................................... 18

2.2. Fabricação do cimento Portland .......................................................................... 19

2.2.1. Processo de dosagem .................................................................................. 20

2.2.2. Homogeneização .......................................................................................... 21

2.2.3. Clinquerização .............................................................................................. 21

2.2.4. Resfriamento ................................................................................................ 24

2.2.5. Adições ......................................................................................................... 27

2.3. Mineralogia do Clínquer ...................................................................................... 28

2.3.1. Adições de compostos químicos ao Clínquer ............................................... 36

2.4. Normatização e características dos diferentes cimentos Portland ...................... 38

2.5. Indústria Siderúrgica ........................................................................................... 42

2.5.1. Escória ............................................................................................................. 43

2.5.2. Aciaria .......................................................................................................... 44

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2.5.2.1. Produção do aço .................................................................................... 44

2.5.2.2. Composição da escória de aciaria ......................................................... 44

2.5.2.3. Fenômeno de expansibilidade da escória de Aciaria ................................ 46

2.6. Hidratação do cimento ........................................................................................ 47

2.6.1. Fatores que influenciam a hidratação ........................................................... 48

2.6.2. Consequências das reações de hidratação .................................................. 48

2.6.3. Hidratação dos Silicatos de Cálcio (C3S e C2S) ........................................... 49

2.6.4. Hidratação do Aluminato tricálcico (C3A) e do Ferro aluminato tetracálcico

(C4AF) 51

2.6.5. Desenvolvimento da micro-estrutura do cimento .......................................... 52

2.7. Hidratação em cimentos de Aluminato ................................................................ 52

2.8. Métodos elétricos ................................................................................................ 53

2.8.1. Materiais pozolânicos ................................................................................... 53

2.8.2. Ensaios realizados com cimentos de alta alumina ....................................... 56

2.8.3. Ensaios realizados durante o endurecimento do cimento ............................ 57

2.8.4. Utilização de KCl como solução padrão ....................................................... 60

3. Materiais .................................................................................................................... 60

3.1. Materiais estudados ............................................................................................ 60

3.2. Reagentes ........................................................................................................... 61

3.3. Equipamentos ..................................................................................................... 61

3.4. Outros materiais .................................................................................................. 61

4. Métodos ..................................................................................................................... 61

4.1 Condutivímetro MCA150 ..................................................................................... 61

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4.2. Sistema montado com multímetros ..................................................................... 62

4.3. Amplificadores ..................................................................................................... 65

4.3.1. Ponte ............................................................................................................ 65

4.3.2 . Amplificador Lock-in ....................................................................................... 66

4.3.2.1 Eletrodo .................................................................................................. 67

4.3.2.2. Circuito ................................................................................................... 67

4.3.2.3. Parâmetros do equipamento .................................................................. 68

4.3.2.4 Preparação da pasta .............................................................................. 69

4.4. Gráficos Lock-in .................................................................................................. 69

5. Resultados e discussão. ............................................................................................ 69

5.1 Condutivímetro MCA150 ..................................................................................... 69

5.2. Sistema montado com multímetros ..................................................................... 70

5.3. Amplificadores ..................................................................................................... 71

5.3.1. Ponte ............................................................................................................ 71

5.3.2. Amplificador Lock-in ..................................................................................... 73

5.3.2.1. Eletrodo .................................................................................................. 73

5.3.2.2. Parâmetros do equipamento .................................................................. 73

5.3.3. CPIII.............................................................................................................. 74

5.3.4. CPIII 5% EA .................................................................................................. 75

5.3.5. CPIII 10% EA ................................................................................................ 75

5.3.6. Gesso ........................................................................................................... 76

5.3.7. Escória de Aciaria (EA) ................................................................................. 77

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5.3.8. Escóia de Alto Forno (AF) ............................................................................ 78

5.3.9. Clínquer (CLK) .............................................................................................. 79

6. Conclusão .................................................................................................................. 80

7. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 83

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Lista de lustrações

Figura 1 Processo fabricação cimento Portland .................................................. 20

Figura 2 Diagrama de equilíbrio de fases entre CaO, SiO2 e Al2O3 ..................... 23

Figura 3 Parte do sistema CaO-SiO2-Al2O3, da Figura 2, ilustrando a formação

do clínquer de cimento Portland ....................................................................................... 23

Figura 4 Fotomicrografia de um clínquer com os cristais de alita e belita com boa

formação, caracterizando um resfriamento normal .......................................................... 26

Figura 5. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita atacados pela fase

líquida, formando cristais de belita em sua superfície, caracterizando um resfriamento

lento ................................................................................................................................. 26

Figura 6. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita com formação

predominantemente idiomórfica ....................................................................................... 30

Figura 7. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita com formação

idiomórfica e subdiomórfica .............................................................................................. 30

Figura 8 Ordem de temperatura de estabilização da fase belita ......................... 30

Figura 9 Fotomicrografia de um clínquer com cristais de belita arredondados,

com fraturas que indicam um resfriamento rápido ........................................................... 31

Figura 10 Fotomicrografia de um clínquer com cristais de belita em forma

digitada, característica de um resfriamento lento ............................................................. 32

Figura 11 Fotomicrografia de um clínquer com fase intersticial homogênea,

indicando um resfriamento rápido .................................................................................... 33

Figura 12 Fotomicrografia de um clínquer com fase intersticial cristalizada,

característica de um resfriamento lento ........................................................................... 34

Figura 13 Fotomicrografias de clínquer com agrupamento de cal livre ............... 35

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Figura 14 Fotomicrografia de um clínquer com periclásio idiomórfico. ................ 36

Figura 15 Fotomicrografia de um clínquer com periclásio com aspecto dentrítico

......................................................................................................................................... 36

Figura 16 Resultado de DRX da escória de aciaria ............................................. 46

Figura 17 Resistência à compressão dos compostos do cimento ....................... 49

Figura 18 Taxa de calor gerado durante a hidratação do cimento ao longo do

tempo. .............................................................................................................................. 51

Figura 19 Curvas de condutividade elétrica em função do tempo, obtidas para

suspensões aquosas de CA14M puro e na presença de diferentes dispersantes (0,05%-

p) para a temperatura de 50ºC ......................................................................................... 57

Figura 20 Porta-amostras para medições com Lock-in ....................................... 58

Figura 21 Circuito de medição de Z com Lock-in ................................................ 58

Figura 22 Detalhe do circuito de medição de Z* com Lock-in.............................. 59

Figura 23 Aparato para medição da condutividade ............................................. 62

Figura 24 KEITHLEY 2410 1100V (Source Meter) .............................................. 63

Figura 25 Curva de calibração da tensãoxcorrente para KCl 0,1M ..................... 64

Figura 26 Curva calibração KCl 0,01M. ............................................................... 64

Figura 27 Ponte, Hp 4262 LCR Meter Hewlett – Packard ................................... 66

Figura 28 Desenho do eletrodo de circuito impresso e eletrodos com clínquer .. 66

Figura 29 Diferentes tipos de eletrodos testados no Lock-in. .............................. 67

Figura 30 Circuito montado para os testes no Lock-in. ....................................... 68

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Figura 31 Aparato montado para análise dos diversos materiais no Lock-in. ...... 68

Figura 32 Gráfico da solução preparada com clinquer. ....................................... 70

Figura 33 Gráfico do fenômeno de relaxamento elétrico na solução de KCl. ...... 71

Figura 34 Curvas de condutividade obtidas na ponte com destaque após 50min

devido à queda brusca nos valores. ................................................................................. 72

Figura 35 Curvas obtidas com cimento CPIII sem escória de aciaria. ................. 74

Figura 36 Curvas obtidas com cimento CPIII com 5% escória de aciaria. .......... 75

Figura 37 Curvas obtidas com cimento CPIII com 10% escória de aciaria. ........ 76

Figura 38 Curvas obtidas com Gesso comercial JUNTALIDER. ......................... 76

Figura 39 Curvas obtidas com Gesso Natural. .................................................... 77

Figura 40 Curvas obtidas com Escória de Aciaria. .............................................. 78

Figura 41 Curvas obtidas com Escória de Alto Forno. ......................................... 79

Figura 42 Curvas obtidas com Clínquer. ............................................................. 79

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Método de controle de dosagem para clínquer ..................................... 20

Tabela 2 Principais reações do processo de sinterização do clínquer ................. 24

Tabela 3 – Composição típica de clínqueres de cimento Portland (% em peso) . 29

Tabela 4 Composição dos cimentos Portland comuns e compostos .................. 39

Tabela 5 Composição dos cimentos Portland de alto-forno e pozolânicos .......... 39

Tabela 6 Composição do cimento portland de alta resistência inicial .................. 40

Tabela 7 Exigências físicas e mecânicas ............................................................ 40

Tabela 8 Exigências químicas ............................................................................. 41

Tabela 9 Influência dos tipos de cimento nas argamassas e concretos .............. 41

Tabela 10 Composição química típica de uma escória ........................................ 43

Tabela 11 Composição química de um cimento e escória de aciaria .................. 45

Tabela 12 Características das distintas fases no clínquer ................................... 49

Tabela 13 Condutividade medidas na ponte em longos períodos de tempo. ...... 72

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1. Introdução

1.1. Contextualização

No Brasil as áreas de construção Civil encontram-se em crescente expansão.

Logo há um aumento cada vez maior na necessidade de materiais para esse setor,

sendo necessário o desenvolvimento de novos materiais. Acompanhando esse

crescimento também é importante considerarmos a situação global em que vivemos, que

é a exigência de um desenvolvimento sustentável.

Em praticamente todos os meios de produção um dos focos principais para

crescer sustentavelmente reside utilização de resíduos, por essas razões, o trabalho

abordará a utilização de resíduos da indústria siderúrgica como agregado em materiais

da indústria civil.

1.2. Justificativa

A indústria siderúrgica gera resíduos das mais diversas formas, tais como finos e

pós, agregados siderúrgicos (escória) e lamas, sendo os principais a escória de Alto

Forno e Aciaria. A escória de Alto Forno gerada a partir da produção do ferro gusa é

utilizada basicamente como matéria prima na produção do cimento, pois possui boas

propriedades hidráulicas.

Já a escória de Aciaria é gerada a partir da produção de aço e separada por

diferença de densidades a altas temperaturas, comumente em fornos a oxigênio. Essa

escória contém como componentes FeO, SiO2, MgO, CaO, entre outros óxidos, que

provém dos minérios, compostos usados para proteção do forno, materiais usados para

proteção da oxidação do ferro, produtos usados para desprendimento de gases produto

de compostos indesejados e outros óxidos produtos da dessulfuração, entre outras

impurezas.

A escória de Aciaria pode possuir as mais diversas composições químicas

dependendo de fatores industriais, porém de modo geral possuem componentes que,

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quando expostos ao meio ambiente, sofrem expansão. Por essa razão necessita de

grandes pátios de estocagem por um longo período de tempo para estabilização química

e volumétrica e mesmo assim acaba sendo usada para fins menos nobres que a escória

de Alto Forno, tais como; fundação de construção civil, diques marítimos, lastro

ferroviário, base e sub-base para pavimentos, corretivo de solo, entre outros, ARAÚJO

(2005), GUMIERI (2002).

O processo convencional de fabricação do clínquer Portland consiste na

mineração e britagem das matérias-primas, seguindo-se a preparação adequada da

mistura para tratamento térmico por volta de 1450ºC em forno rotativo. O clínquer

Portland é a denominação dada ao produto desse processo de sinterização e deve

conter em sua composição química: CaO, SiO2, Al2O3 e Fe2O3. O calcário e a argila são

as matérias-primas mais comuns como fontes dos três primeiros, sendo o minério de

ferro a principal fonte do óxido de ferro, ROMANO (2004), ABCP.

A composição química da escória de Aciaria possui várias semelhanças com o

clínquer; suas estruturas cristalinas e propriedades hidráulicas podem se tornar

semelhantes dependendo do tratamento térmico adotado. A escória pode imprimir boas

propriedades ao cimento, portanto a viabilidade da utilização da escória de Aciaria no

cimento deve estudada.

Há poucas técnicas diretas para análise de materiais cerâmicos com

características hidráulicas utilizados em larga escala na engenharia, pois o profissional

que utiliza esses materiais está apenas interessado nas propriedades finais e ensaios

mecânicos normalmente bastam para esse fim. No entanto um estudo mais aprofundado

e até mesmo com técnicas alternativas pode ser um bom caminho para compreender

melhor esses materiais e possibilitar a adição de “resíduos” como escória de Aciaria,

reduzindo o custo e até mesmo melhorando as propriedades do produto final.

Acredita-se que os métodos elétricos que consideram as variações de

condutividade durante a cura do material estudado podem ser uma boa alternativa para

melhor entendimento dos fenômenos que ocorrem, tomando-se como ponto de partida os

ensaios, já conhecidos, realizados com materiais pozolânicos.

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1.3. Objetivo

Este trabalho terá como principal objetivo (a) estudo de métodos

condutivimétricos de análise dos materiais presentes no cimento como pozolanas (b)

desenvolvimento de técnica, através de métodos elétricos, para estudo dos componentes

do cimento e escórias da indústria siderúrgica.

O trabalho pretende um melhor entendimento a respeito dos materiais estudados

para que, em médio e longo prazo, materiais como escória de Aciaria possa ser utilizada

para fins mais “nobres”, com valor de mercado mais alto como, por exemplo, agregado

em materiais da indústria civil, entre eles, cimento e argamassa.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Cimento Portland

O cimento pode ser definido como um pó fino, com propriedades aglomerantes,

aglutinantes ou ligantes, que endurece sob a ação de água. Na forma de concreto, torna-

se uma pedra artificial, que pode ganhar formas e volumes, de acordo com as

necessidades de cada obra. Graças a essas características, o concreto é o segundo

material mais consumido pela humanidade 3.600Mt no ano de 2011, superado apenas

pela água que também entra na composição do concreto em proporções pré-definidas

por normas, além de outras utilizações amplamente conhecidas; EBC (2012), ABCP

(2002).

O cimento Portland foi criado por um construtor inglês, Joseph Aspdin, que o

patenteou em 1824. Nessa Época, era comum na Inglaterra construir com pedra de

Portland, uma ilha situada no sul daquele país. Como o resultado da invenção de Aspdin

se assemelhasse na cor e na dureza a essa pedra de Portland, ele registrou esse nome

em sua patente, por isso que o cimento é chamado cimento Portland, ABCP (2002).

O cimento Portland é um dos mais importantes materiais de construção a serviço

da engenharia, com um vastíssimo campo de aplicação que vem se expandindo com a

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criação de novas aplicações como solo-cimento, a pavimentação de estradas, as

habitações pré-fabricadas, etc.

O cimento Portland é um material pulverulento, construído de silicatos e

aluminatos de cálcio, praticamente sem cal livre. Esses silicatos aluminatos complexos,

ao serem misturados com água, hidratam-se e produzem o endurecimento da massa,

que pode então oferecer elevada resistência mecânica de acordo com tipo e classe

determinada por norma, ROMANO (2004).

O cimento Portland depende, principalmente, para sua fabricação, dos seguintes

produtos minerais: calcário, argila e gesso, ROMANO (2004).

2.1.1. Calcário

O calcário é o carbonato de cálcio (CaCO3) que se apresenta na natureza com

impurezas como óxido de magnésio. O carbonato puro ou calcita, sob agitação e calor,

decompõe-se de acordo com a Equação 1:

CaCO3 = CaO + CO2 (1)

(100%) (56%) (44%)

É perceptível que uma tonelada de cálcio dá origem a 560kg de cal, que é

verdadeiramente a matéria prima que entra na fabricação do cimento, porquanto os

440kg de CO2 são perdidos na forma de gás, que saem pela chaminé das fábricas.

A dolomita é o carbonato de cálcio e magnésio (CaMg(CO3)2), que encerra 30,4%

de CaO e não é utilizada na fabricação do cimento Portland, ROMANO (2004).

2.1.2. Argila

Argila é um material natural, de textura terrosa, de granulação fina, constituída

essencialmente de argilominerais, podendo conter outros minerais que não são

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argilominerais (quartzo, mica, pirita, hematita, etc), matéria orgânica e outras impurezas,

SOUZA (1993).

Os argilominerais são os minerais característicos das argilas; quimicamente são

silicatos de alumínio ou magnésio hidratados, contendo em certos tipos outros elementos

como ferro, potássio, lítio e outros. Graças aos argilominerais, as argilas, na presença de

água, desenvolvem uma série de propriedades tais como: plasticidade, resistência

mecânica a úmido, retração linear de secagem, compactação, tixotropia, etc, SOUZA

(1993).

A argila empregada na fabricação do cimento é essencialmente constituída de

um silicato de alumínio hidratado, geralmente contendo ferro e outros minerais, em

menores porcentagens. A argila fornece os óxidos SiO2, Al2O3, Fe2O3 necessários à

fabricação do cimento, ROMANO (2004).

2.1.3. Gesso

O gesso é o produto de adição final no processo de fabricação do cimento

Portland, com fim de regular o tempo de pega por ocasião das reações de hidratação. É

encontrado sob forma de gipsita (CaSO4.2H2O); hemidrato ou bassanita (CaSO4.0,5H2O)

e anidrita (CaSO4).

A gipsita, o tipo estrutural de gesso mais consumido na indústria cimenteira,

encontrar-se no estado natural em grandes jazidas sedimentares, geologicamente

denominadas evaporitos.

As reservas naturais de gesso natural conhecidas são suficientes para atender

ao consumo, nos níveis atuais, por cerca de 1000 anos, porém a má distribuição

geológica dos depósitos, restritos à região Nordeste, e as enormes proporções de

rejeitos industriais da fabricação do ácido fosfórico no Sul e Sudeste do país motivaram a

industrialização do fosfogesso ou gesso sintético, a partir de 1975, ROMANO (2004).

A reação química que permite a obtenção do ácido fosfórico a partir da Ca(PO4)

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(apatita - minério natural de fosfato) é mostrada na Equação 2.

Ca3(PO4)2 + 3H2SO4 + 6H2O = 2H3PO4 + 3((CaSO4).2H2O) (2)

Frequentemente, o minério fosfático está associado a impurezas, originando a

presença no gesso sintético de produtos como fluoretos, fosfatos residuais, matéria

orgânica, que podem afetar o tempo de pega e as resistências mecânicas do cimento,

daí a necessidade de purificação do fosfogesso.

2.2. Fabricação do cimento Portland

De acordo com a ABCP o processo de fabricação do cimento Portland envolve as

seguintes etapas, que estão mostradas esquematicamente na Figura 1:

(1) Extração: exploração do calcário e argila; (2) Britagem: redução da dimensão do calcário e eliminação de

impurezas; (3) Depósito: calcário e argila são homogeneizados e estocados

separadamente; (4) Dosagem: O composto de cacário(90%) e argila(10%) é dosado no

moinho cru; (5) Moinho cru: moagem até 0,050mm em média; (6) Silos de homogeneização: processo pneumático ou gravidade; (7) Pré-aquecimento(clinquerização): mistura calcinada até 1450ºC,

dando origem ao clínquer, produto com aspecto de bolotas escuras; (8) Resfriador: redução a temperatura de 80ºC, aproximadamente, etapa

em que ocorre uma série de reações químicas. (9) Depósito de clínquer: armazenamento; (10) Adições: Adições de sustâncias que determinam os diversos tipos de

cimento Portland; (11) Moinho de cimento: moagem final resultando no cimento como

conhecido; (12) Silos de enchimento: estoque de cimento; (13) Expedição: remessa para o mercado a granel ou sacos de 50kg.

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2.2.1. Processo de dosagem

De acordo com e ABCP (2002) no processo de dosagem da mistura crua a

determinação da porcentagem de cada matéria prima depende essencialmente da

composição química das matérias primas e da composição que se deseja obter para o

cimento Portland. Durante o processo de fabricação, a matéria-prima e a mistura crua

são analisadas quimicamente, numerosas vezes, em conformidade com as fórmulas da

tabela. Nos cimentos nacionais, como resultado de numerosos ensaios realizados em

seu laboratório, a ABCP encontrou os valores mostrados na Tabela 1.

Tabela 1 Método de controle de dosagem para clínquer (ROMANO (2004))

MÉTODO DE CONTROLE

Notação Fórmula Mínimo Máximo

Módulo Hidráulico

MH 32322 OFeOAlSiO

CaO

1,8 2,2

Figura 1 Processo fabricação cimento Portland, ABCP (2002)

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Módulo de Sílica

MS 3232

2

OFeOAl

SiO

1,7 3,1

Módulo de Alumínio-Ferro

MAF 32

32

OFe

OAl 1,2 3,2

Segundo TAYLOR (1990), este cálculo é aproximado por desprezar óxidos

minoritários e as substituições iônicas nas fases sólidas e outras reações. Uma mistura

possuindo um alto fator de saturação de cal (FSC) produzirá concentrações de cal livre

durante o processo de clinquerização, que permanecerão no produto final. Com baixos

valores de FSC atinge-se o máximo teor de C3S (3CaO.SiO2), limitando a formação das

outras fases.

O MS controla a quantidade da fase líquida e permite avaliar a proporção de

silicatos cálcicos (3CaO.SiO2 + 2CaO.SiO2 ou também representados por C3S + C2S)

em relação aos aluminatos e ferro aluminatos cálcicos (3CaO.Al2O3 + 4CaO.Al2O3.Fe2O3

ou também representados por C3A + C4AF), que compõem a fase intersticial. O MAF

controla a composição e viscosidade da fase líquida, com grande influência na

temperatura de clinquerização e no processo de granulação do clínquer, retratando a

proporção C3A/C4AF, MARINGOLO (2001).

2.2.2. Homogeneização

A matéria prima reduzida a pó muito fino, após moagem, é homogeneizada por

via úmida ou seca. Na fabricação por via úmida a matéria prima é moída com água e sai

dos moinhos sob forma de uma pasta contendo geralmente 30% a 40% de água,

enquanto que no processo por via seca a matéria prima sai do moinho (normalmente

trabalha a 300ºC-400ºC) já misturada, pulverizada e seca, passando para o silo de

homogeneização apenas para assegurar a homogeneização, ROMANO (2004).

2.2.3. Clinquerização

A clinquerização constitui um conjunto de reações físico-químicas que ocorre

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devido ao aquecimento controlado da mistura crua, devidamente dosada e

homogeneizada, até a temperatura de 1450°C, tendo como produto final o clínquer. As

reações ocorrem por meio de fenômenos de difusão iônica entre sólidos, aceleradas pelo

aparecimento da fase líquida, que começa a se formar a aproximadamente 1300ºC. O

equilíbrio entre a fase líquida e a fase sólida pode ser estudado a partir de diagramas de

equilíbrio de fases envolvendo o CaO, SiO2 e Al2O3, Figura 2, TAYLOR (1990).

De forma geral a clinquerização pode ocorrer de duas formas distintas, no

processo por via úmida, todo processamento termoquímico necessário à produção do

clínquer se dá no forno rotativo. No processo por via seca, até temperatura de ordem de

900ºC a 1000ºC, o processamento da mistura crua se dá em trocadores de calor do tipo

ciclone ou de contra-corrente. O processamento restante realiza-se no forno, de

comprimento reduzido, que recebe a mistura na já referida temperatura, ROMANO

(2004).

As composições puras do sistema CaO-SiO2-Al2O3, que correspondem à

formação do clínquer de cimento Portland encontram-se destacadas na figura 3,

determinada pela área tracejada que circunda o ponto P. Este ponto encontra-se num

triângulo formado entre as composições do C3S, C2S e um ponto X, limitado pela

isoterma de 1500ºC. Para qualquer composição inserida no triângulo o equilíbrio de fases

a 1500ºC conterá C3S, C2S e uma fase líquida de composição X. Baseado neste

diagrama pode-se entender o que acontece se resfriarmos uma composição que estiver

contida na área P: primeiramente o C3S cristaliza, a fase líquida transforma-se até que o

equilíbrio primário entre as fases de C3S e C2S é alcançado, então ambas são

cristalizadas. No resfriamento subsequente, a fase líquida solidifica, gerando a fase

intersticial, TAYLOR (1990).

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Figura 2 Diagrama de equilíbrio de fases entre CaO, SiO2 e Al2O3, SLAG ATLAS

(1995)

Figura 3 Parte do sistema CaO-SiO2-Al2O3, da Figura 2, ilustrando a formação do clínquer

de cimento Portland, TAYLOR (1990)

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A Tabela 2 apresenta as principais reações que ocorrem em cada intervalo de

temperatura nas etapas do processo de clinquerização e as correlaciona com as fases

formadas, destacando os compostos formados durante o processo, CENTURIONE

(1993).

Tabela 2 Principais reações do processo de sinterização do clínquer,

CENTURIONE (1993)

2.2.4. Resfriamento

No forno, como resultado do tratamento sofrido, a matéria-prima transforma-se

em clínquer. Na saída o material apresenta-se na forma de bolas de diâmetro máximo

variável entre 10 e 30 mm. As bolas que constituem o clínquer saem do forno a uma

temperatura da ordem de 1200ºC a 1300ºC, pois há início de abaixamento de

temperatura, na fase final, ainda no interior do forno, ABCP (1984).

O clínquer sai do forno e passa ao equipamento esfriador, que pode ser de vários

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tipos. Sua finalidade é reduzir a temperatura, mais ou menos rapidamente, pela

passagem de uma corrente de ar frio no clínquer. Nesta etapa ocorre uma série de

reações químicas que influenciarão a resistência mecânica do concreto nas primeiras

idades, o calor de hidratação, o início de pega e a estabilização química dos compostos.

Dependendo da instalação, na saída do esfriador, o clínquer apresenta-se com

temperatura próxima a 80ºC, ROMANO (2004).

O resfriamento do clínquer é uma das fases mais importantes da sua formação,

pois dele depende a estabilidade, o idiomorfismo e a decomposição dos cristais de alita,

a formação de belita secundária e a formação de periclásio e de aluminato cálcico, sendo

os dois últimos responsáveis pela expansão do cimento, ABCP (1984).

Durante o resfriamento ocorre a cristalização do líquido formando aluminato e

ferrita, e as transições polimórficas da alita e belita. O resfriamento pode ser dividido em

duas etapas distintas, a primeira ocorre dentro do forno, onde, após passar pela zona de

máxima temperatura, o clínquer é resfriado até aproximadamente 1200°C. Nesta etapa

verificam-se variações da estabilidade dos silicatos cálcicos (alita e belita). Quanto mais

decompostos estiverem esses cristais, ou seja, quando suas bordas apresentarem-se

não retilíneas ou em decomposição, diz-se que o primeiro resfriamento é lento. Belitas

com bordas arredondadas e alitas com bordas retilíneas indicam primeiro resfriamento

normal. A segunda etapa ocorre no resfriador, onde a temperatura deve ser reduzida

rapidamente para aproximadamente 50°C. A avaliação se baseia no grau de cristalização

da fase intersticial: quando esta se apresenta vítrea considera-se um segundo

resfriamento rápido; quando se apresenta semicristalizada, é considerado normal e

quando se apresenta cristalizada, com separações nítidas entre as fases aluminato e

ferro-aluminato, caracteriza um segundo resfriamento lento. Quando o segundo

resfriamento é lento é possível identificar a presença de álcalis no aluminato cálcico

através do alongamento desses cristais, SEBBEN (2006).

A alita torna-se instável abaixo de 1250ºC, decompondo-se em C2S e CaO livre

secundária TROJER (1953). Num resfriamento lento, a alita inicialmente formada, entra

em desequilíbrio com a fase líquida, que sendo mais ácida, ataca os grãos de alita,

formando cristais de belita em sua superfície. As Figuras 4 e 5 ilustram o comportamento

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num resfriamento normal e lento, MARTINS (2003).

Figura 4 Fotomicrografia de um clínquer com os cristais de alita e belita com boa formação,

caracterizando um resfriamento normal. MARTINS (2003)

Figura 5. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita atacados pela fase líquida, formando

cristais de belita em sua superfície, caracterizando um resfriamento lento. MARTINS (2003)

A belita também é bastante sensível às condições de resfriamento. Num

resfriamento rápido pode apresentar-se fraturada, porém isenta de geminações e com

forma arredondada. Já, com o resfriamento lento, as geminações são aparentes podendo

ainda alterar a forma, anteriormente arredondada, para uma forma digitada, com aspecto

dentrítico, e por vezes até com aspectos de segregação. Segundo ALEGRE e TERRIER

(1957), a cristalização da belita digitada tem origem a partir da dissolução de alita pela

fase líquida.

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2.2.5. Adições

Após resfriamento o cimento Portland recebe uma série de adições em

proporção desejada, como o gesso, escória de alto forno, pozolana e o próprio calcário,

determinando assim os diferentes tipos de cimento Portland que encontramos no

mercado. Essa mistura segue então para o moinho de cimento e subsequente

distribuição, ROMANO (2004) e ABCP (2002).

De acordo com a ABCP (2002) o gesso tem como função básica controlar o

tempo de pega, isto é, o início do endurecimento do clínquer moído quando este é

misturado com água. Caso não se adicionasse o gesso à moagem do clínquer, o

cimento, quando entrasse em contato com a água, endureceria quase que

instantaneamente, o que inviabilizaria seu uso nas obras. Por isso, o gesso é uma adição

presente em todos os tipos de cimento Portland. A quantidade adicionada é pequena: em

geral, 3% de gesso para 97% de clínquer, em massa, ARAÚJO (2005).

As escórias de alto-forno são obtidas durante a produção de ferro-gusa nas

indústrias siderúrgicas e se assemelham aos grãos de areia. Possuem propriedade de

ligante hidráulico muito resistente, ou seja, que reagem em presença de água,

desenvolvendo características aglomerantes de forma muito semelhante à do clínquer. É

possível adicionar a escória de alto-forno à moagem do clínquer com gesso, guardadas

certas proporções, e obter como resultado um tipo de cimento que, além de atender

plenamente aos usos mais comuns, apresenta melhoria de algumas propriedades, como

maior durabilidade e maior resistência final. ABCP (2002).

A escória granulada é misturada com calcário moído, (a fim de aumentar a

percentagem de CaO de 40-45% para 64-66%) e adicionando-se até 3-4% de gesso. O

calcário não deve ter muito carbonato de magnésio para não ultrapassar o limite de 5%

de MgO no clínquer, o que causaria a formação de anéis no interior do forno rotativo. O

formato angular entre as partículas da escória fazem uma excelente ligação entre a

argamassa de cimento e o agregado. ARAÚJO (2005)

Os materiais pozolânicos são rochas vulcânicas ou matérias orgânicas

fossilizadas encontradas na natureza, certos tipos de argilas queimadas em elevadas

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temperaturas (550ºC a 900ºC) e derivados da queima de carvão mineral nas usinas

termelétricas, entre outros. Outros materiais pozolânicos têm sido estudados, tais como

as cinzas resultantes da queima de cascas de arroz e a sílica ativa, um pó finíssimo que

sai das chaminés das fundições de ferro-silício e que, embora em caráter regional, já tem

seu uso consagrado no Brasil, a exemplo de outros países tecnologicamente mais

avançados. ABCP (2002).

Os materiais carbonáticos são rochas moídas, que apresentam carbonato de

cálcio em sua constituição, tais como o próprio calcário. Tal adição serve também para

tornar os concretos e as argamassas mais trabalháveis, porque os grãos ou partículas

desses materiais moídos têm dimensões adequadas para se alojar entre os grãos ou

partículas dos demais componentes do cimento, funcionando como um verdadeiro

lubrificante. Quando presentes no cimento são conhecidos como fíler calcário.

Conclui-se, pois que, de todas as adições, o gesso não pode, em hipótese

alguma, deixar de ser misturado ao cimento, e que as demais matérias-primas

adicionadas (escória de alto-forno, materiais pozolânicos e materiais carbonáticos) são

totalmente compatíveis com o principal componente do cimento Portland, o clínquer,

acabando por conferir ao cimento pelo menos uma qualidade a mais, ABCP (2002).

2.3. Mineralogia do Clínquer

A composição típica de um clínquer Portland contém 67% de CaO, 22% de SiO2,

5% de Al2O3, 3% de Fe2O3 e 3% de outros componentes, distribuídos por quatro fases

distintas, conhecidas como alita, belita, fase aluminato e fase ferrita. Segundo a ABCP

(1984), o clínquer, composto por quatro fases principais, o silicato tricálcico (C3S), o

silicato dicálcico (C2S), a fase aluminato (C3A) e a fase ferrita (C3AF). Essas abreviaturas

são válidas somente nas fases puras, que praticamente não são encontradas em

clínqueres industriais, que contêm impurezas de alguns elementos, como Al, Fe, Mg, Na,

K, Cr, Ti, Mn, P entre outros, sob forma de solução sólida. Podem ocorrer ainda outras

fases individualizadas, como o periclásio (MgO), em clínqueres magnesianos, e CaOlivre,

em clínqueres com alto fator de saturação de cal ou com problemas no processo de

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fabricação. A Tabela 3 apresenta valores de composições químicas típicas dos

constituintes principais de clínqueres industriais, TAYLOR (1990).

Tabela 3 – Composição típica de clínqueres de cimento Portland (% em peso) TAYLOR

(1990)

A alita constitui de 50 a 70% do clínquer, e é formada por silicato tricálcico,

também chamado de C3S, modificado em composição e estrutura cristalina pela

incorporação de íons, principalmente Mg2+, Al3+ e Fe3+, entre outros. De todos os

componentes do clínquer a alita é o de maior influência no desenvolvimento das

resistências mecânicas a todas as idades do cimento. Esta fase reage rapidamente com

a água e em cimentos Portland comuns é a mais importante das fases, TAYLOR (1990).

A alita, nome genérico dado aos polimorfos de C3S, é um nesossilicato artificial.

Em geral os cristais de alita são tabulares compactos que, em seção transversal, são

hexagonais, tal forma é denominada idiomórfica, Figura 6. Quando os contornos dos

cristais apresentam reentrâncias e saliências, estas formas são chamadas de

xenomórficas. Entre as duas formas citadas ainda pode ocorrer uma forma intermediária,

chamada de subdiomórfica, Figura 7. A dimensão média dos cristais de alita varia

normalmente entre 25 e 65 µm , GOBBO (2003).

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Figura 6. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita com formação predominantemente

idiomórfica. MARTINS (2003)

Figura 7. Fotomicrografia de um clínquer com cristais de alita com formação idiomórfica e

subdiomórfica. MARTINS (2003)

A belita, que constitui de 15 a 30% do clínquer, é formada por silicato dicálcico,

também chamado de C2S, modificado pela incorporação de íons, principalmente Mg2+,

Al3+, Na+, Ti4+, Ba2+, Fe3+. O C2S apresenta cinco formas polimórficas bem definidas, com

estruturas cristalinas nitidamente diferentes, desde a temperatura ambiente até 1500ºC.

As quatro modificações cristalográficas do C2S são denominadas de α, α', β e γ e

obedecem a ordem de temperatura de estabilização mostrada na Figura 8, TAYLOR

(1990).

Figura 8 Ordem de temperatura de estabilização da fase belita, TAYLOR (1990)

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No estudo do polimorfismo do C2S o problema mais importante é a

transformação de β para e sua estabilização. Na forma β (larnita) o poliedro de

coordenação do íon cálcio é irregular e as ligações Ca-O, mais longas, facilitam a

hidratação. A forma é considerada pouco "hidráulica" ou inerte; esta inércia se deve à

coordenação simétrica do íon cálcio e à grande força de ligação Ca-O, devido à baixa

coordenação do cálcio. Segundo certas condições termodinâmicas, a forma β pode

passar para a forma γ, com variação do volume de 12%, provocando a pulverização do

clínquer, MARTINS (2003).

Os cristais de belita são geralmente arredondados e idiomórficos, têm dimensão

média variando de 20 a 40µm e apresentam lamelas multidirecionais, e, quando

submetidas a um resfriamento rápido, podem apresentar fraturas, Figura 9. Porém,

algumas vezes, a forma arredondada é substituída por formas digitadas, podendo

apresentar até aspectos individualizados de segregação. Estas formas estão

relacionadas à instabilidade originada pelas condições lentas de primeiro resfriamento no

processo industrial de fabricação do clínquer, Figura 10, MARTINS (2003) e ABCP

(1984).

Figura 9 Fotomicrografia de um clínquer com cristais de belita arredondados, com fraturas

que indicam um resfriamento rápido. MARTINS (2003)

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Figura 10 Fotomicrografia de um clínquer com cristais de belita em forma digitada,

característica de um resfriamento lento. MARTINS (2003)

Embora geralmente ocorra em proporções menos expressivas que a alita, a

belita é um dos constituintes principais do clínquer Portland, com contribuição

significativa nas resistências mecânicas do cimento a idades mais longas. Esta fase

reage lentamente com a água, contribuindo pouco para a resistência nos primeiros 28

dias, TAYLOR (1990).

A fase aluminato constitui de 5 a 10% do clínquer e é formada por aluminato

tricálcico (Ca3Al2O6), conhecido como C3A, modificado em composição e algumas vezes

em estrutura pela incorporação de íons, principalmente de Si4+, Fe3+, Na+ e K+.

Clínqueres industriais normalmente contêm aluminatos em formas cúbicas ou

ortorrômbicas, isoladas ou combinadas. A forma ortorrômbica é conhecida por ser

prismática e se mostrar como um material intersticial escuro e por vezes

pseudotetragonal. A fase cúbica constitui-se de cristais uniformes, xenomórficos a

retangulares, com a dimensão variando entre 1 e 60 µm [GOBBO, 2003]. O C3A tem um

papel importante na resistência dos cimentos às águas agressivas, sendo o tipo de

cristalização o fator preponderante quanto ao seu comportamento. É também o

componente que apresenta o maior calor de hidratação, sendo o principal responsável

pela “pega” do cimento. Reage rapidamente com a água, conferindo ao cimento,

juntamente com o C3S, a resistência inicial às solicitações mecânicas, ABCP (1984).

Já a fase ferrita, que constitui de 5 a 15% do clínquer, é formada por ferro-

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aluminato tetracálcico, conhecido como C4AF, modificado em composição pela proporção

Al/Fe e pela incorporação de íons, TAYLOR (1990). Este composto possui baixa

reatividade hidráulica e tem pequena participação na resistência aos esforços mecânicos

do cimento. Sua propriedade principal é imprimir resistência à corrosão química do

cimento e confere ao cimento uma coloração acinzentada devido à presença de ferro em

sua constituição, não devendo portanto, estar presente em cimentos brancos ABCP

(1984). Os cristais são normalmente tabulares, mas podem se apresentar como

preenchimentos intersticiais, podendo ser também prismáticos, dendríticos ou massivos

a fibrosos. A simetria exibida pelos membros desta série é a ortorrômbica, tendo todos

uma estrutura cristalina muito similar.

Essas duas fases C3A e C4AF, são intersticiais e quando o resfriamento é rápido

apresentam-se vítreas, sem distinção entre elas, porém quando o resfriamento é lento

apresentam-se cristalizadas, com diferenciações entre os cristais de C3A e C4AF,

conforme ilustrado nas Figuras 11 e 12, MARTINS (2003).

Figura 11 Fotomicrografia de um clínquer com fase intersticial homogênea, indicando um resfriamento rápido. MARTINS (2003)

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Figura 12 Fotomicrografia de um clínquer com fase intersticial cristalizada, característica

de um resfriamento lento. MARTINS (2003)

O aluminato cálcico (12CaO.7Al2O3 ou C12A7), também conhecido como

maienita, pode ser encontrado na fase intersticial. Ocorre normalmente em cimentos

aluminosos, tendo sua formação decorrente das condições de umidade no resfriamento

associado ao elevado MAF, TAYLOR (1997).

Como citado anteriormente, também podem ocorrer outras fases

individualizadas: o cal livre forma-se através da calcinação dos carbonatos cálcicos e

permanece no clínquer devido a alguma condição inadequada do processo de

clinquerização, sendo considerada indesejável no clínquer Portland a partir de 2%. Os

clínqueres apresentam em média 1% de cal livre, sendo sua presença usada como

parâmetro para o controle das condições de fabricação. As principais causas de

ocorrência de cal livre primária podem ser a queima insuficiente, por tempo curto ou

baixa temperatura de clinquerização, um elevado fator de saturação de cal (FSC),

moagem inadequada do calcário, homogeneização insatisfatória das matérias-primas,

GOBBO (2003).

O cal livre é encontrada sob forma de cristais arredondados e sempre associada

à alita e à fase líquida, Figura 13. Normalmente não coexiste com o C2S, pois haveria

uma combinação entre ambos formando o C3S, porém, caso ocorra combinada ao C2S,

indica que foi gerada através da decomposição do C3S, que pode ocorrer sob condições

lentas de resfriamento, MARTINS (2001) e MARINGOLO (2003).

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Figura 13 Fotomicrografias de clínquer com agrupamento de cal livre. MARTINS (2003)

O excesso de cal livre pode provocar expansão no cimento Portland durante a

hidratação, convertendo-se em portlandita [Ca(OH)2], sendo essa reação acompanhada

por um aumento em volume da ordem de 97,6%, GOBBO (2003).

Outra fase individualizada é o periclássio com MgO normalmente proveniente de

calcários magnesianos e calcário dolamítico, MARINGOLO (2001). Grande parte do MgO

presente no clínquer entra na solução sólida da fase intersticial quando o segundo

resfriamento é realizado rapidamente. Caso o segundo resfriamento seja lento, a

formação de periclásio é favorecida, TAYLOR (1990).

O sistema cristalino do periclásio é cúbico, sendo que a forma dos cristais

depende fundamentalmente das condições de resfriamento do clínquer. Em seções

transversais, quando idiomórficos, apresentam formas hexagonais ou quadrangulares,

Figura 14; quando são xenomórficos, apresentam aspecto dendrítico, Figura 15, GOBBO

(2003).

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Figura 14 Fotomicrografia de um clínquer com periclásio idiomórfico. MARTINS (2003)

Figura 15 Fotomicrografia de um clínquer com periclásio com aspecto dentrítico. MARTINS (2003)

2.3.1. Adições de compostos químicos ao Clínquer

No processo de fabricação do Clínquer muitos elementos surgem como

impurezas, provenientes das matérias-primas naturais do processo; tais elementos

podem ser prejudiciais ao produto final. Quando são inseridos resíduos ao processo

industrial, os níveis de elementos químicos diversos presentes podem variar ainda mais.

O magnésio é considerado por alguns pesquisadores benéfico para a reatividade

da mistura crua. Uma quantidade adequada de MgO pode diminuir a viscosidade do

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líquido, aumentando sua quantidade, acelerando assim a formação de C3S, UCHIKAWA

e HANEHARA (1996).

No estudo de ALTUN (1999) sobre adição de MgO em todas as amostras com

adição de MgO foi verificada a diminuição da viscosidade e aumento da fase líquida, bem

como sua formação em menores temperaturas. Na amostra contendo 1% de MgO foi

verificado que a quantidade de cal livre era menor que na amostra pura. O aparecimento

de periclásio livre no clínquer ocorre quando a adição de MgO excede 2,5%, dependente

do tipo de resfriamento ao qual a amostra é submetida. De acordo com LOCHER (1960)

o Mg, além de substituir o Ca no retículo, influenciava na sua estabilidade abaixo de

1200ºC. Verificou ainda que a solubilidade do Mg aumentava com a temperatura, a

1420ºC até 1,5% do MgO poderia ser incorporado no C3S e a 1500ºC este valor atingia

2,5%.

O MgO quando hidratado forma hidróxido de magnésio. Esta reação provoca

uma expansão volumétrica de até 2,5 vezes, porém o MgO aumenta a refratariedade e a

resistência à corrosão em concretos, por isso vários estudos estão sendo realizados

buscando técnicas de antihidratação do MgO, visando a minimizar seus danos.

A especificação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) constante

na NBR 14656 limita o valor de MgO nos cimentos nacionais em 6,5%.

Outros elementos e composições também podem influenciar no processo de

clinquerização ou no produto final. O flúor pode alterar as propriedades do cimento,

retardando o processo de solidificação, sendo por isso limitada a sua quantidade na

mistura crua. Geralmente a adição de flúor aumenta a formação de C3S, porém, esta

adição não deve ultrapassar 0,5%, pois pode promover um aumento no FSC. O flúorita

decompõe facilmente, formando álcalis e sulfatos. Quando presente na argila mineral

volta à fase gasosa por decomposição térmica e circula no interior do forno. A

condensação ocorre na zona de resfriamento do forno, onde reage com o excesso de

CaO, para formar o CaF2 , SPRUNG (1982). O CaF2 diminui a temperatura de formação

da alita por melhorar a difusão no estado sólido, também reduz a viscosidade e a tensão

superficial da fase líquida. A redução da viscosidade tem um efeito positivo nas reações

da fase líquida, porém a diminuição da tensão superficial gera aumento de porosidade no

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clínquer.

O enxofre a altas temperaturas estabiliza a belita e o cal promove o aumento em

tamanho dos cristais de alita, porém reduz a quantidade da fase alita. Nem atmosfera

redutora, o enxofre converte facilmente o S2- em CaS. A ABNT limita o teor de enxofre no

cimento brasileiro a 3,5 ou 4%, dependendo do tipo de cimento, conforme a NBR 14656.

O sódio e potássio diminuem a temperatura de formação e reduzem a

viscosidade do clínquer, porém, a viscosidade aumenta quando não há presença de

enxofre. Os metais de transição têm a habilidade de modificar as propriedades da fase

líquida, relacionada à eletronegatividade dos íons TIMASHEV (1980). A viscosidade e a

tensão superficial diminuem à medida que o estado de oxidação dos elementos aumenta,

na ordem Cd2+ >Zn>Ni>Cu>Co>Fe>Mn>Ti>Cr>V>W>Mo6+, correspondendo também a

um enfraquecimento do caráter ácido dos elementos e fortalecimento da ligação

metaloxigênio, MARINGOLO (2001).

2.4. Normatização e características dos diferentes cimentos Portland

De acordo com a ABCP o mercado nacional dispõe de 8 opções, que atendem

com igual desempenho aos mais variados tipos de obras. O cimento Portland comum

(CPI) é referência, por suas características e propriedades, aos 11 tipos básicos de

cimento Portland disponíveis no mercado brasileiro:

(1) Cimento Portland Comum (CP I)

a. CP I – Cimento Portland Comum

b. CP I-S – Cimento Portland Comum com Adição

(2) Cimento Portland Composto (CP II)

a. CP II-E – Cimento Portland Composto com Escória

b. CP II-Z – Cimento Portland Composto com Pozolana

c. CP II-F – Cimento Portland Composto com Fíler

(3) Cimento Portland de Alto-Forno (CP III)

(4) Cimento Portland Pozolânico (CP IV)

(5) Cimento Portland de Alta Resistência Inicial (CP V-ARI)

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(6) Cimento Portland Resistente a Sulfatos (RS)

(7) Cimento Portland de Baixo Calor de Hidratação (BC)

(8) Cimento Portland Branco (CPB)

Esses tipos se diferenciam de acordo com a proporção de clínquer e sulfatos de

cálcio, material carbonático e de adições, tais como escórias, pozolanas e calcário,

acrescentadas no processo de moagem. Podem diferir também em função de

propriedades intrínsecas, como alta resistência inicial, a cor branca etc. O próprio

Cimento Portland Comum (CP I) pode conter adição (CP I-S), neste caso, de 1% a 5% de

material pozolânico, escória ou fíler calcário e o restante de clínquer. O Cimento Portland

Composto (CP II- E, CP II-Z e CP II-F) tem adições de escória, pozolana e filer,

respectivamente, mas em proporções um pouco maiores que no CP I-S. Já o Cimento

Portland de Alto-Forno (CP III) e o Cimento Portland Pozolânico (CP IV) contam com

proporções maiores de adições: escória, de 35% a 70% (CP III), e pozolana de 15% a

50% (CP IV).

As Tabelas de 4 a 9 mostram as características e propriedades dos cimentos

Portland que a ABCP adota como padrões de qualidade.

Tabela 4 Composição dos cimentos Portland comuns e compostos ABCP (2002)

Tabela 5 Composição dos cimentos Portland de alto-forno e pozolânicos, ABCP (2002)

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Tabela 6 Composição do cimento portland de alta resistência inicial, ABCP (2002)

Tabela 7 Exigências físicas e mecânicas, ABCP (2002)

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Tabela 8 Exigências químicas ABCP (2002)

Tabela 9 Influência dos tipos de cimento nas argamassas e concretos ABCP (2002)

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2.5. Indústria Siderúrgica

Em indústrias siderúrgicas o ferro gusa é produzido em Alto Forno e podemos

simplificadamente dividi-lo em 3 regiões, na 1ª região a temperatura aumenta de 200ºC

para 800-1000ºC, a carga perde sua umidade e inicia-se a calcinação dos carbonatos e

redução dos óxidos de ferro. Na 2º região o material se torna plástico e depois, fluido e o

gusa e a escória começam a gotejar através do coque. O ferro puro funde a 1530ºC; ao

absorver carbono esta temperatura decresce até o eutético (ledeburita), a 1153ºC. Na 3ª

região ocorre a combustão do coque diante das ventaneiras e a separação da escória,

que sendo mais leve, flutua sobre o gusa no cadinho na base do equipamento , ARAÚJO

(2005).

Nos últimos quarenta anos, avanços consideráveis na indústria siderúrgica foram

conseguidos com beneficiamento de minérios, sínter autofluxante, pelotização, pré-

aquecimento do ar, este último tendo diminuído o consumo de coque de 900 a 1000kg

em 1946, para 450kg por tonelada de gusa, além da operação do alto forno com pressão

elevada e da injeção de óleo, gás natural ou carvão através de ventanas ajudando a

diminuir ainda mais o consumo de coque metalúrgico. Mas realmente importante foi o

desenvolvimento da injeção de oxigênio através da lança resfriada a água, para

converter gusa líquido em aço, que se tornou, em pouco tempo, o principal método de

fabricação do aço; (conversores LD Linz-Donawitz e OBM Oxygen Boden Maxhütte =

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Oxigênio soprado pelo fundo e demais processos de sopro combinado), ARAÚJO

(2005).

O Instituto Brasileiro de Siderurgia, IBS, no anuário estatístico de 2012, ano base

2011, consta que foram gerados aproximadamente 19 milhões de toneladas dos quais

59% eram agregados siderúrgicos, 94% desta parte tiveram algum destino e 5% foram

estocados.

2.5.1. Escória

Um dos resíduos gerados numa siderúrgica é a escória de alto forno que se

forma da seguinte maneira: os óxidos ainda não reduzidos, ao atingirem a rampa do alto

forno, a uma temperatura acima de 1200ºC, reagem entre si; com aumento da

temperatura, passam ao estado líquido, formando a escória, Os principais componentes

presentes na escoria de Alto Forno são mostrados na Tabela 10.

Tabela 10 Composição química típica de uma escória ARAÚJO (2005)

Provenientes

do

minério

Sílica (SiO2)

Magnésia (MgO)

Sulfeto de Manganês (MnS)

Óxido de Zinco (ZnO)

Alumina (Al2O3)

Titânia (TiO2)

Dissulfeto de Cálcio (CaS)

Óxido de Chumbo (PbO2)

Cal (CaO)

Óxido de Manganês (MnO2)

Óxido de ferro (FeO)

Provenientes

do

Coque

Cinzas [contendo cerca de 40% de Silica] Enxofre (S)

Provenientes

dos

fundentes

Cal (CaO)

Sílica (SiO2)

Magnésia (MgO)

Sulfeto de Cálcio (CaS) Pentóxido de fósforo (P2O5)

Conforme resfriamento, a escória poderá ser transformada em produtos

compactos, porosos, vítreos e filamentosos. A escória deixa o Aluto Forno a mais 1480ºC;

ao vazar a escória o operador realiza testes mergulhando um ferro dobrado de ângulo

reto e determina a Escória como “curta” (superfície rugosa e fosca), elevada basicidade

para granulação, “longa” (aspecto liso, vidrado, com filamentos compridos aderentes),

para lastros e estradas.

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2.5.2. Aciaria

2.5.2.1. Produção do aço

ARAUJO (2005) diz que processos de fabricação do aço são designados pelo

tipo de forno (Bessemer, Siemens-Martin, LD, Elétrico, etc.) e a natureza da escória

(ácida ou básica). Fala também que o processo mais utilizado é o processo com injeção

de oxigênio puro (99,5%), sendo realizada em vazão supersônica para penetrar na

camada da escória e, também para evitar o entupimento dos bocais da lança, pois traz

diversas vantagens ao processo como a rapidez da transformação no gusa em aço e

custo operacional.

MOORE e MARSHALL (1980) relatam que o oxigênio é introduzido por uma

lança a altas velocidades, provocando uma movimentação energética do banho e

propiciando as reações de refino do gusa líquido. Ocorre, então, a oxidação parcial do

carbono, manganês, silício, entre outros elementos residuais.

Citam também que as temperaturas de reação nos conversores LD são bastante

elevadas, onde o metal líquido na temperatura de aproximadamente 1400ºC é convertido

a aço em 1650ºC. O teor de carbono é reduzido de 4,6% para 0,05%. Eles descrevem

que o gusa líquido constitui a maior parte da carga metálica, correspondendo a mais de

80% desta carga, e é responsável pelo fornecimento de calor do processo. Já a sucata,

que possui alto teror de ferro, é utilizada como material refrigerante na carga do

conversor LD, controlando a temperatura do metal no final do sopro

2.5.2.2. Composição da escória de aciaria

Nas duas ultimas décadas, procurou-se pré-tratar o gusa líquido, pela

dessulfuração e, até com um pré-refino, (dessiliconização, desfosforação e

dessulfuração), ARAUJO (2005).

Nesse processo outra característica importante para composição da escória de

aciaria são os escorificantes; usam-se cal, dolomita calcinado e fluorita. No cal procura-

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se alta porosidade e elevada reatividade. Cal dolomítica pode ser utilizada para proteger

o revestimento de magnésia ou de dolomita do conversor; procura-se operar com 4 a 6%

de MgO na escória. O consumo de cal dolomita é da ordem de 30 a 35kg por t de aço. A

fluorita promove a dissolução do cal e baixa o ponto de fusão, além de estimular a

fluidificação da escória. Ferro-ligas – Fe-Cr e maiores quantidades de Fe-Mn podem ser

adicionadas no estado líquido durante o vazamento. Pode-se empregar um forno de

indução para este fim, evitando-se ter que sobreaquecer o banho para dissolver as ferro-

ligas, ARAUJO (2005).

A escória de aciaria, geralmente denominada agregado granulado de aciaria, é

separado granulometricamente e estocado em pilhas nos pátios de deposição, onde

permanece geralmente por um determinado tempo chamado “cura” antes de ser

transportado para o destino final. Este período é necessário para possibilitar a hidratação

dos óxidos expansivos presentes nas escórias. Normalmente, este agregado é utilizado

em lastros ferroviários e pavimentação.

Decorrente do processo de produção do aço a escória possui composição

química e mineralógica bastante complexa. A tabela 12 mostra uma comparação entre as

composições típicas da escória de aciaria e o cimento Portland e a Figura 16 mostra o

espectro de difração de raios X de uma escória de aciaria, WANG (2010).

Tabela 11 Composição química de um cimento e escória de aciaria WANG (2010)

Composição SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2Oeq MnO

Cimento 21,86 4,25 2,66 63,59 2,19 2,42 0,55 0

Escória de

aciaria 17,03 5,64 22,69 43,38 5,98 0 0,45 1,70

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Figura 16 Resultado de DRX da escória de aciaria WANG (2010)

2.5.2.3. Fenômeno de expansibilidade da escória de Aciaria

Alguns autores como GUMIERI (2002) pesquisaram sobre as características

expansivas destas escórias, provocadas principalmente pela hidratação dos óxidos,

contidos nestes resíduos, apresentam aumento de volume, dificultando, desta forma, o

uso destas escórias como materiais de construção.

Segundo LEA (1970), os cristais de menor tamanho também estão melhor

distribuídos no clínquer, facilitando sua hidratação. O resfriamento rápido é importante

sobretudo para clínqueres com elevados teores de MgO e CaO. Este processo pode

também ocorrer para escórias de aciaria.

De acordo com LEA (1970), um CaO calcinado sob baixas temperaturas possui

estrutura porosa e, portanto, a alta superfície específica em contato com a água produz

uma rápida hidratação. Quando a calcinação é realizada sob altas temperaturas, o CaO

formado é denso, proporcionando menor superfície em proporção à sua massa,

dificultando a ação da água em sua hidratação. Desta forma, o CaO oriundo do

resfriamento da escória liquida será denso, de baixa porosidade, é naturalmente menos

reativo, sendo também responsável por expansões a longo prazo, ocorridas após o

endurecimento de concretos e argamassas.

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2.6. Hidratação do cimento

A água associada ao cimento anidro para formar a pasta de cimento cumpre a

função não só de hidratar o cimento, mas também de fluidificação da pasta de cimento. A

água que existe dentro da mistura de pasta de cimento pode ser de três tipos distintos,

Reis (2007).

- Água ligada, componente principal do gel de cimento CaO-SiO2-H2O (C-S-H)

após a reação entre água e cimento anidro. Esta água entra na composição química dos

hidratos podendo também estar ligada fisicamente, caso se encontre no interior dos

poros dos hidratos;

- Água adsorvida, refere-se à água fixada nos poros externos da superfície das

camadas de gel C-S-H devido à atração molecular entre a superfície dos grãos e as

moléculas de água na superfície;

- Água livre, toda água remanescente incluindo a que ocupa os poros capilares.

Esta água não participa na reação de hidratação estando sujeita a forças de tensão

superficial, devido aos pequenos grãos do cimento anidro e à reduzida dimensão dos

poros do cimento hidratado, que limitam a sua deslocação. A água que ocupa o espaço

além da ação das forças de adsorção e que resulta da condensação do vapor de água

nos capilares pode ser chamada água capilar, numa quantidade que varia com a

umidade relativa da atmosfera e com o raio dos capilares.

A água adsorvida e a água livre são designadas em conjunto como água

evaporável, pois podem ser removidas da pasta de cimento por aquecimento a 105 ºC. A

água ligada é designada não evaporável por estar quimicamente ligada à pasta de

cimento, mas pode ser removida por aquecimento acima de 105 ºC. Ambos os tipos de

água dependem de fatores como proporção de água, tempo desde a preparação da

pasta de cimento, aditivos e tipo de cimento.

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2.6.1. Fatores que influenciam a hidratação

A hidratação do cimento é um fenômeno bastante complexo. Esta complexidade

deriva de vários fatores como: REIS (2007), SILVA (2011).

- A diferença entre a composição real e a composição elementar teórica;

- A extensão das reações de hidratação não é de 100%, isto é, a hidratação das

partículas do clínquer não é total. Os seus componentes não surgem isolados numa só

partícula, mas sim associados em partículas com dimensões da ordem das dezenas de

micrômetros e apenas os componentes periféricos poderão ser hidratados;

- Os produtos da reação de hidratação que se vão formando e que interferem

também na hidratação dos restantes componentes.

Para compreender a química de hidratação do cimento Portland, é necessário

considerar os processos de hidratação de cada um dos componentes do clínquer

conjuntamente com os efeitos do gesso que lhe é adicionado durante o processo de

produção, REIS (2007).

2.6.2. Consequências das reações de hidratação

Do ponto de vista de resistência, os dois silicatos são os fundamentais, o C3S

nas primeiras idades e o C2S em maiores.

Os aluminatos são responsáveis pelas primeiras reações, porém atingem valores

muito baixos de resistência aos esforços mecânicos. Por outro lado, o calor desenvolvido

pelas reações do aglomerante com água é devido, principalmente, ao C3A, seguido pelo

C3S. O C2S e o C4AF liberaram muito pouco calor por ocasião da hidratação, ROMANO

(2004). A Tabela 13 mostra as diferentes características entre estas fases e a Figura 17

mostras a variação das resistências mecânicas destas fases em função do tempo de

cura.

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Figura 17 Resistência à compressão dos compostos do cimento ROMANO (2004)

2.6.3. Hidratação dos Silicatos de Cálcio (C3S e C2S)

O C3S é o componente maioritário do cimento Portland. Sua natureza

extremamente complexa ainda não se conhece em pormenor, bem como os detalhes do

mecanismo da sua hidratação com a água. A reação química de hidratação pode ser

traduzida pela Equação 3 química:

2Ca3SiO5 6H2O = Ca3Si2O7 3H2O 3Ca(OH)2 (3)

Os produtos que se formam são silicatos de cálcio hidratados conhecidos por

CSH e hidróxido de cálcio, conhecido por portlandite (CH) REIS (2007).

Após a adição de água o C3S reage rapidamente libertando íons cálcio, íons

hidróxido e uma grande quantidade de calor. O pH da mistura aumenta rapidamente até

cerca de 12, devido aos íons hidróxido que conferem à mistura um carácter alcalino. Esta

Tabela 12 Características das distintas fases no clínquer ROMANO (2004)

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hidrólise inicial diminui drasticamente, o que resulta numa diminuição do calor envolvido

na reação, ROMANO (2004), REIS (2007).

A reação continua lentamente, produzindo íons cálcio e hidróxido até a saturação

do sistema, sendo que, o hidróxido de cálcio começa a cristalizar. Simultaneamente,

ocorre a formação de silicato de cálcio hidratado. Os íons precipitam o que, pelo princípio

de Le Chatelier, provoca uma aceleração da reação de hidratação do C3S, aumentando

novamente a quantidade de calor envolvida, REIS (2007).

A formação dos cristais hidróxido de cálcio e silicato de cálcio influencia a

hidratação do C3S anidro, uma vez que estes dificultam o “contato” entre as moléculas de

água e o C3S. A velocidade da reação é agora controlada pela taxa à qual as moléculas

de água se difundem através do silicato de cálcio, REIS (2007).

A reação do C2S é semelhante à do C3S, mas ocorre mais lentamente. Como o

C2S é menos reativo que o C3S, a reação de hidratação ocorre com menor libertação de

energia. Os produtos da reação de hidratação do C2S são também o CSH e o CH,

Equação 4. É de notar que o CSH que se forma não é do mesmo tipo que no caso da

hidratação do C3S e forma-se menor quantidade de CH; ROMANO (2004), REIS (2007).

2Ca2SiO4 4H2O =Ca3Si2O7 3H2O Ca(OH)2 (4)

Ao longo da hidratação do cimento, o calor envolvido evolui ao longo do tempo,

devido à ruptura e formação de ligações químicas, como ilustrado na Figura 18.

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Figura 18 Taxa de calor gerado durante a hidratação do cimento ao longo do tempo. REIS

(2007)

O fenômeno de hidratação do cimento é bastante complexo uma vez que as

reações apresentadas só se atingem no limite da hidratação total dos componentes.

Estes não aparecem isolados numa só partícula de cimento com dimensões tão

reduzidas que permitam a reação total, mas associados em partículas com dimensões da

ordem de dezenas de micrómetros. Somente estão em condições de se hidratar os

componentes que se encontram na periferia e as reações levam também um certo tempo

a realizar-se, pelo que, muitas vezes, ficam a meio, e o produto final não se obtém

completamente. É de notar também que os produtos da reação com a água também

reagem entre si, REIS (2007).

2.6.4. Hidratação do Aluminato tricálcico (C3A) e do Ferro aluminato

tetracálcico (C4AF)

A reação do C3A e do C4AF é bastante complexa uma vez que além de reagirem

com a água reagem também com o gesso (CaSO4.1/2 H2O) .

Sabe-se que a reação de hidratação do C3A é bastante rápida e conduz à

formação de hidratos de alumínio bastante estáveis à temperatura ambiente e é

responsável pela ocorrência rápida da presa do cimento, de modo que é necessária a

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adição de gesso a fim de retardar fisicamente ao hidrato, caso se encontre no interior dos

poros do hidrato. Assim, a água que entra na constituição do CSH encontra-se ligada

química e fisicamente, REIS (2007).

2.6.5. Desenvolvimento da micro-estrutura do cimento

O cimento Portland, durante a sua hidratação, é um material cuja microestrutura

é em grande parte determinada pela química de formação dos seus produtos. As reações

podem continuar durante anos, formando um sistema entrelaçado que endurece e

adquire consistência. A estrutura atômica de uma substância reflete-se na morfologia do

crescimento dos cristais. Na pasta de cimento vários produtos podem ser identificados

pela sua morfologia, SILVA (2011).

A pasta de cimento endurece assim que o cimento anidro reage com a água,

dando origem à formação de produtos que substituem as partículas iniciais do cimento e

se expandem no espaço ocupado pela água. Este processo resulta numa microestrutura

complexa que contém partículas de cimento anidro (que não reagiram), produtos

resultantes da hidratação e poros capilares. A porosidade do cimento deve-se à

porosidade capilar, mas também a própria porosidade do CSH.

2.7. Hidratação em cimentos de Aluminato

PARR (2004) em seu trabalho estuda sobre a influência da hidratação de

diferentes tipos de cimentos de aluminato de cálcio em algumas de suas propriedades. A

condutividade da solução mantida a 20ºC está diretamente ligada à quantidade de íons

em solução. Descrevem que ele passa por 3 fases bem distintas quando em solução.

Fase I caracterizada pelo rápido aumento da condutividade com formação de Ca2+ e

Al(OH)4-. Hidratos primários formados como pequenas partículas coloidais em volta de

grãos anidros. Fase II ocorre a estabilização da condutividade. Os núcleos formados

alcançam a saturação e começam a precipitar. Fase III ocorre rápida diminuição da

condutividade. A massiva precipitação da solução supersaturada causa floculação do

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cimento, a formação dos hidratos consome água diminuindo a trabalhabilidade e a

superfície negativa dos hidratos é atraída pelas superfícies positiva dos anidros.

Duas propriedades importantes são de interesse específico, o tempo de

trabalhabilidade que cimento pode ter antes de se tornar duro e o tempo que a estrutura

de cimento tem resistência suficiente para ser desenformado.

Segundo BIER (1993), a forma característica das curvas de condutividade contra

o tempo, obtidas para cimentos comerciais reflete o comportamento das duas fases

C12A7 e CA, presentes nestes materiais. Em um cimento formado por diferentes

proporções das fases cristalinas possíveis observa-se um rápido aumento da

condutividade devido à rápida hidratação da fase C12A7 (fase I), seguida de uma queda

rápida na condutividade referente a precipitação do hidrato (C2AH8). Entretanto, após

esta queda, a condutividade volta a aumentar (fase II) devido à reação de dissolução da

fase estequiométrica CA, alcançando um novo patamar até que ocorra a precipitação do

hidrato CAH10. A formação deste hidrato resulta em uma nova queda no valor de

condutividade iônica, conforme indicado na fase III.

2.8. Métodos elétricos

Vários métodos elétricos foram estudados até que se percebesse que nenhum

deles se encaixava perfeitamente no objetivo deste trabalho, no entanto muitas

conclusões puderam ser tiradas para se chegar até o método desenvolvido.

2.8.1. Materiais pozolânicos

De acordo com NBR 05736 (1991) materiais pozolânicos são materiais silicosos

ou sílico aluminosos que por si só possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante,

mas que, quando finamente divididos e na presença de água, reagem com o hidróxido de

cálcio, à temperatura ambiente, para formar compostos com propriedades cimentícias.

Podendo ainda ser pozolanas naturais de origem vulcânica, geralmente ácidos, ou de

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origem sedimentar ou pozolanas artificiais que são materiais provenientes de tratamento

térmico ou subprodutos industriais com atividade pozolânica.

A substituição parcial de cimentos Portland por pozolanas no concreto tem

aumentado gradativamente por trazerem diversas vantagens como durabilidade e

resistência, SUPPACHAI e PICHAI (2007).

A bibliografia mais antiga para utilização da condutividade para estudo deste tipo

de material foi LUXÁN (1988). Nesse trabalho amostras de material pozolânico em pó

eram adicionadas à solução saturada de Ca(OH)2 a temperatura controlada, e a queda

da condutividade era medida. Parâmetros variados foram tempo de medição e massa da

amostra em pó até que se propusesse um método eficiente para determinação da

atividade pozolânica de qualquer material. Mais de 100 produtos naturais de diferentes

origens foram testados pelo método proposto obtendo-se resultados satisfatórios e

determinado que 5g da amostra e os primeiros 2 minutos eram suficientes para tal

análise.

Mais recentemente PAYÁ (2000) tenta melhorar o método proposto em LUXÁN

(1988), pois reivindica que a presença de sais solúveis e a contribuição da condutividade

da própria amostra não foram consideradas, portanto a amostra devia ser medida em

água sem saturação de Ca(OH)2 e então subtraída da queda de condutividade da

amostra em solução de Ca(OH)2 saturada.

PAYÁ (2000) analisa 10 amostras de cinzas volantes de composições químicas

distintas e obtém excelentes resultados para 9 delas, no entanto o método se mostrou

pouco funcional na amostra que possui 46,51% CaO enquanto as outras possuem

menos de 10% de CaO. O autor justifica que essa cinza é intrinsicamente hidráulica e

possui propriedades pozolânicas, ou seja o Ca(OH)2 formado na adição de água pode ser

consumido pela própria cinza.

SUPPACHAI e PICHAI (2007) estudam o efeito da alcalinidade da solução na

atividade pozolânica de determinada amostra. Também através da análise da queda na

condutividade com adição da pozolana em uma solução de condutividade conhecidada,

três soluções distintas são testadas, Ca(OH)2 saturada, Ca(OH)2 insaturada e cimento

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portland qualquer Este trabalho cita que existe uma relação linear entre o aumento da

massa da amostra, no caso utilizada sílica ativa, e aumento na queda da condutividade,

o que está de acordo com LUXÁN (1988). Este fato é explicado pelo fato de que durante

o estágio inicial ocorrem somente reações superficiais e partes inertes permanecem sem

serem afetadas até determinado período da reação. SUPPACHAI e PICHAI (2007)

estudaram ainda o efeito da temperatura e concluem que quanto maior a temperatura

maior a queda na condutividade, tornando o método mais ilustrativo.

NITA (2007) estuda ainda outros métodos não elétricos para avaliação da

atividade pozolânica. Os métodos comumente empregados para medir a atividade

pozolânica consistem da análise da evolução dos produtos hidratados por DRX, TG e

método Chapelle. Outra forma de se medir a atividade pozolânica, e que é muito usual, é

pela evolução da resistência mecânica ao longo do tempo.

Outros métodos normatizados também foram encontrados na literatura como:

- ABNT NBR5753(2010), Cimento Portland – Ensaio de pozolanicidade para

cimento Portland pozolânico.

- ABNT NBR NM12 (2012) Cimento Portland - Análise química - Determinação de

óxido de cálcio livre. NBR 12653 Materiais pozolânicos (1992).

- ABNT NBR NM 25:2003. Materiais pozolânicos - Determinação do teor de

álcalis disponíveis.

- ABNT NBR 5751:2012 Materiais pozolânicos — Determinação da atividade

pozolânica — Índice de atividade pozolânica com cal — Método de ensaio.

- ABNT NBR 15895:2010 Materiais pozolânicos – Determinação do teor de

hidróxido de cálcio fixado – Método Chapelle modificado.

- ABNT NBR 12653:2014 Materiais pozolânicos — Requisitos

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2.8.2. Ensaios realizados com cimentos de alta alumina

T. A. BIER (1993), PARR (2004), OLIVEIRA (2006) e outros autores realizaram

ensaios semelhantes através da condutividade de cimentos de alta alumina, conforme já

citado anteriormente neste trabalho. Os autores concordam em determinados pontos,

como o fato de a temperatura influenciar significativamente no tipo de hidrato que é

formado, que os resultados não são coincidentes com os obtidos através de outras

análises devido ao estado de dispersão das partículas da matriz determinar a velocidade

de consolidação da suspensão, porém é um método eficiente para avaliar as

características do material inclusive para avaliar aditivos aceleradores de pega.

Por exemplo, OLIVEIRA (2006) realiza medidas de condutividade elétrica em

função do tempo para o cimento CA14M com controle de temperatura em 50ºC,

utilizando-se um eletrodo de condutividade (ESA 9800, Matec Applied Sciences – UK),

Figura 19. Suspensões aquosas de cimento preparadas com um teor de sólidos de 4,2%

em volume para a realização das medidas na ausência ou na presença de dispersante

(0,05%-p) e Li2CO3 (0,01%-p) quando puros ou combinados. Suspensões aquosas das

diferentes matrizes preparadas com um teor de sólidos de 16,8% em volume para

medidas de condutividade a 50ºC.

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Figura 19 Curvas de condutividade elétrica em função do tempo, obtidas para suspensões

aquosas de CA14M puro e na presença de diferentes dispersantes (0,05%-p) para a temperatura de

50ºC OLIVEIRA (2006)

2.8.3. Ensaios realizados durante o endurecimento do cimento

REIS (2007) e SILVA (2011) realizam análises com corrente alternada com

controle de frequência para diferentes proporções de água em um período de até 30

dias, para baixas frequências utilizando amplificador Lock-in de duas saídas com a

mesma marca do utilizado neste trabalho e para altas frequências, um medidor de

impedância LCR com quatro saídas. A Figura 20 mostra esquematicamente o porta-

amostras desenvolvido para medição.

Os resultados obtidos para diferentes proporções de água foram bem

interessantes indicando que para maiores quantidades de água o endurecimento é

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retardado e também que para altas frequências os resultados são mais ilustrativos e bem

definidos. No entanto no mesmo trabalho o equipamento foi utilizado paralelamente para

outros tipos de análise e a quantidade de dados coletados não foi suficiente, então o

perfil do gráfico de admitância por tempo não pode ser bem definido.

Figura 20 Porta-amostras para medições com Lock-in SILVA (2011)

Um amplificador Lock-In é um aparelho que permite que pequenos sinais AC, da

ordem dos nanovolts, possam ser detectados e medidos mesmo quando sujeitos a ruído

de várias ordens de grandeza superior. Este tipo de aparelho faz uso de uma técnica de

detecção por fase para obter o sinal segundo uma referência específica de frequência e

de fase, de modo a rejeitar outras componentes fora da frequência de referência sem que

afetem a medida.

Este equipamento permite efetuar medidas elétricas com base no circuito

ilustrado na Figura 21. Verifica-se que um sinal sinusoidal V0 é aplicado a uma

impedância em série formada por uma carga Z e por uma impedância conhecida Z1,

SILVA (2011). Esse é o princípio básico necessário para medir impedância de uma

amostra qualquer.

Figura 21 Circuito de medição de Z com Lock-in SILVA (2011)

Nos trabalhos de REIS (2007) e SILVA (2011) uma tensão de referência V0 e

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utilizada uma resistência de precisão R1, para uma impedância de entrada do Lock-In

formada pelo paralelo entre uma resistência Ri e um condensador Ci. A carga segue um

modelo paralelo de capacidade C com resistência R para modelar a amostra que se

pretende medir, enquanto a impedância conhecida resulta do paralelo entre a impedância

de entrada do amplificador Lock-In com a resistência de precisão, ilustrado na Figura 22.

Figura 22 Detalhe do circuito de medição de Z* com Lock-in SILVA (2011)

A parte real e imaginária da impedância pode ser encontrada com as fórmulas

das Equações 5 e 6, respectivamente, para o esquema mostrado na Figura 21. Sendo

frequência angular de onda ( ), tensão aplicada pelo equipamento ( 0V ), valores de

tensão fornecidos pelo equipamento ( fV e qV ), capacitor de valor conhecido ( iC ),

resistor de valor conhecido ( iR ) e resistor com valor desprezível ( 1R ),

))(1(

)('

22222

0

2222

0

qfii

qiiqffi

VVRC

VVRCVVVVRZ

(5)

))(1(

)("

22222

22

0

22

0

qfii

qffiiiq

VVRC

VVVVRCRVVZ

(6)

Através dos valores obtidos pelas Equações 5 e 6 é possível determinar

permissividade elétrica ( ), Equações 7 e 8, e consequentemente os valores de

condutividade elétrica ( ), Equação 9. Sendo capacitância inicial ( 0C ), frequência da

onda ( f ) e a impedância Z a raiz da soma dos quadrados de 'Z e "Z .

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2||0

'''

ZCf

Z

(7)

2||00

'''

ZCV

Z

(8)

''0 C (9)

2.8.4. Utilização de KCl como solução padrão

São facilmente encontrado trabalhos que utilizam KCl como solução padrão por

possuir boa estabilidade química e constantes de dissociação bem semelhantes para

cada íon. E a condutividade cresce linearmente com a concentração molar de acordo

com a Equação 10, PILLING (2014).

][*68,10918442,53 KCl (10)

Os valores são bem semelhantes para vários outros trabalhos pesquisados na

literatura disponível.

3. Materiais

3.1. Materiais estudados

Com exceção do item (8) Gesso comercial JUNTALIDER, os materiais listados a

seguir são de teste industrial, fornecidos pela CSN.

(1) Cimento CPIII (2) Cimento CPIII com 5% Escória de Aciaria (3) Cimento CPIII com 10% Escória de Aciaria (4) Gesso Natural (5) Escória de Aciaria (6) Escória de Alto forno (7) Clínquer (8) Gesso comercial JUNTALIDER (para acabamentos)

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3.2. Reagentes

(1) Cloreto de Potássio KCl (2) Água deionizada (3) Água mineral (4) Água corrente

3.3. Equipamentos

(1) Condutivimetro modelo MCA150 com eletrodo de platina e termopar acoplado

(2) Moinho de bolas, Mixer/Mill – 8000M (3) Multímetro KEITHLEY 2410 1100V (Source Meter) (4) Amplificador Lock-in srs850 (5) (Ponte), Hp 4262 LCR Meter Hewlett – Packard (6) Placa de aquecimento com agitador magnético (7) Computador para aquisição de dados

3.4. Outros materiais

(1) Cuba de vidro (2) Balão de vidro com duas saídas (3) Béquer (4) Fenolite (5) Eletrodo de grafite (6) Capacitor de 33pF (7) Resistores de 1M Ω e 1,46K Ω

4. Métodos

4.1 Condutivímetro MCA150

Inicialmente o condutivimetro, modelo MCA150 com eletrodo de platina e

termopar acoplado, foi utilizado para avaliar o grau de dissociação dos íons e

subsequentes reações de hidratação do clinquer. Nesta etapa do trabalho, baixas

concentrações de clinquer em água deionizada (1:20) em massa foram utilizadas pois

acreditava-se que a precipitação dos hidratos poderia danificar o eletrodo. O clínquer

pulverizado abaixo de 200mesh (74 m) em moinho de bolas, Mixer/Mill – 8000M, foi

pesado e transferido para o recipiente, em seguida adicionada água sob vigorosa

agitação e as medições realizadas à temperatura ambiente e controlada a 40ºC com

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banho termostatizado com glicerina. Foi desenvolvido sistema de aquisição de dados

para o computador no Software Matlab. A imagem da Figura 23 mostra a documentação

fotográfica de como o sistema foi montado.

Figura 23 Aparato para medição da condutividade

4.2. Sistema montado com multímetros

Foi desenvolvido um sistema com dois multímetros, KEITHLEY 2410 1100V

(Source Meter), Figura 24, controlados pelo computador com um programa também

desenvolvido no Matlab em que um deles aplicava uma tensão fixa e o outro media a

corrente gerada em ambos os sentidos. Dessa forma foi possível medir

simplificadamente a condutividade ( ) da solução em maiores concentrações.

Inúmeros testes foram realizados com o aparato montado para determinar:

(1) Taxa de aquisição de dados.

(2) Corrente aplicada na amostra.

(3) Área a ser utilizada nos eletrodos de grafite.

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(4) Distância entre os eletrodos.

(5) Constante (K) com soluções padrão.

Figura 24 KEITHLEY 2410 1100V (Source Meter)

Para aferição do equipamento e determinação da constante (K), soluções de KCl

0,1 e 0,01M foram preparadas. Assim, uma corrente (I) era aplicada por um primeiro

equipamento no eixo das abcissas plotado no gráfico enquanto a tensão (U) era medida

por um segundo equipamento conforme eixo das ordenadas. Assim foi possível utilizar a

Equação 11 para encontrar a resistividade da amostra.

IRUU 0 (11)

Sabendo que a condutividade é o inverso da resistência (R) a constante (K) é

análoga ao aparato montado, Equação 12.

R

K (12)

A condutividade ( ) da solução de KCl obedece a Equação 13, que estabelece a

relação entre a concentração molar e a condutividade da solução de KCl.

][*68,10918442,53 KCl (13)

Sendo [KCl] em mol/L e em mS/cm

Sendo assim, os seguintes gráficos foram obtidos na calibração do equipamento,

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figura 25 e 26.

Figura 25 Curva de calibração da tensãoxcorrente para KCl 0,1M

Figura 26 Curva calibração KCl 0,01M.

A partir das curvas de calibração foram determinados e confirmados pela

equação 13:

(a) para 0,1M é 10971,9mS/cm e os parâmetros encontrados

R=509,6Ω, K=5591274,1.

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(b) para 0,01M é 1145,98mS/cm e os parâmetros encontrados

R=1077Ω, K=1234220.

Como observado, as constantes encontradas para diferentes concentrações de

KCl foram bem diferentes, porém o coeficiente de correlação foi bem próximo de 1 para

ambos os casos mostrando que a precisão do aparato montado é boa, mas a exatidão

não, portando a ideia seria avaliar apenas o perfil da curva e não a grandeza do valor

obtido.

4.3. Amplificadores

A partir dos dados inconclusivos obtidos com ambos os experimentos e tempo

disponível para execução optou-se por abandonar parte da proposta inicial do trabalho e

tentar outra forma de avaliação da hidratação do material nos primeiros momentos da

cura, que sempre foi o ponto principal do trabalho, mas dessa vez foi estudado um

método distinto em que se pudesse avaliar diretamente a pasta do material, mais

próximo da realidade.

Um amplificador lock-in srs850 foi escolhido para efetuar as análises que se

seguem. Este equipamento é pouco utilizado para avaliar comportamento de soluções

eletrolíticas, mas há referências para a cura do cimento em longos períodos de tempo.

Inicialmente um equipamento similar (ponte), Hp 4262 LCR Meter Hewlett -

Packard, Figura 27, com funcionamento e utilização mais simples, foi utilizado para

ajudar a determinar parâmetros que seriam utilizados posteriormente no lock-in, que é

um equipamento mais sensível e com controle de parâmetros, pouco mais complexos.

4.3.1. Ponte

Inicialmente foram montados eletrodos de circuito impresso com área delimitada,

pois este modelo poderia ser facilmente inserido em uma peça de concreto para análise

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da cura.

Figura 27 Ponte, Hp 4262 LCR Meter Hewlett – Packard

A pasta de clínquer foi preparada em um béquer, relação de 1:2 em massa (água

corrente:clinquer) e aproximadamente 1,35g da pasta foi colocado no eletrodo, Figura 28.

Medições foram tomadas manualmente a cada 10min até a primeira hora, e a cada

30min até a terceira hora.

Figura 28 Desenho do eletrodo de circuito impresso e eletrodos com clínquer

4.3.2 . Amplificador Lock-in

O sistema de aquisição de dados foi desenvolvido no Matlab com registro a cada

cinco segundos, considerado tempo suficiente para verificar perfil da curva, e facilitar

manipulação dos dados.

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O Lock-in é um equipamento de alta complexidade, portanto muitos testes

adicionais precisaram ser realizados até chegar a um resultado satisfatório quanto ao

eletrodo utilizado, circuito adotado em série com a amostra, valor da tensão aplicada,

frequência da carga e preparação da pasta.

4.3.2.1 Eletrodo

O tipo de eletrodo utilizado na ponte não apresentou bons resultados no Lock-in,

portanto outros tipos de eletrodos foram testados. Um deles já era utilizado para análise

de algumas resinas e outro com referência na literatura com cura do cimento em longos

períodos de tempo e ainda os demais sem referência na literatura. Os eletrodos testados

estão representados na Figura 29.

Figura 29 Diferentes tipos de eletrodos testados no Lock-in.

4.3.2.2. Circuito

Após inúmeros testes com diferentes circuitos optou-se pela montagem de um

circuito RC com referência encontrada na literatura, REIS (2007) e SILVA (2011), para o

mesmo material em longos períodos de tempo, capacitor de 33pF em série com resistor

de 1M Ω e 1,46K Ω, Figura 30.

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Figura 30 Circuito montado para os testes no Lock-in.

4.3.2.3. Parâmetros do equipamento

A frequência foi fixada em 1Hz, enquanto que a tensão aplicada foi de 0,2V.

Esses parâmetros foram adotados para todos os experimentos com Lock-in, Figura 31,

baseado em referências na bibliografia, REIS (2007) e SILVA (2011), e outros testes

realizados.

Figura 31 Aparato montado para análise dos diversos materiais no Lock-in.

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4.3.2.4 Preparação da pasta

A pasta foi preparada em um béquer com proporção de material e água

deionizada em todos os casos 1:2 em massa. O tempo necessário para fazer a pasta,

colocá-la no eletrodo e pôr o programa para rodar foi de aproximadamente 2min, portanto

as medições são feitas a partir de 2min do início das reações.

Quanto à granulometria do material, nos casos do cimento CPIII com e sem

Escória de Aciaria foi utilizado conforme fornecido pela CSN, enquanto os outros

materiais, devido às dificuldades encontradas com moagem e peneiras foram reduzidos

apenas a 100mesh (174 m).

4.4. Gráficos Lock-in

Os valores obtidos com Matlab foram manipulados de acordo com as Equações

de 5 a 13.

5. Resultados e discussão.

5.1 Condutivímetro MCA150

Os resultados obtidos com o aparato montado foram inconclusivos. Os poucos

dados obtidos mostraram que não seria possível uma boa análise com o esquema

montado, pois;

- O condutivímetro apresentou funcionamento instável e o problema só piorou.

- Os dados obtidos mostraram apenas medições constantes de condutividade

mesmo em longos períodos de tempo.

- A aquisição de dados para o computador era lenta não sendo possível observar a

dissolução inicial, ao passo que após a dissolução todos os dados obtidos pareciam

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constantes, mesmo em longos períodos de tempo (dias).

Por estas razões não foi dado prosseguimento nas análises no aparato de

medição da figura 23.

5.2. Sistema montado com multímetros

Através do método descrito no item 4.1 e valores encontrados de tempo mínimo

que o programa seria capaz de registrar os dados (6 segundos), corrente aplicada na

amostra (28mA), área a ser utilizada nos eletrodos, de grafite e distância entre os

eletrodos.

Vários problemas com essa análise foram encontrados e novamente os

resultados foram inconclusivos. Além dos problemas com o equipamento que não

permitiriam avaliar os fenômenos nos primeiros minutos da cura do material, outro

problema foi identificado. Conforme indicado Figura 33, ocorreu o fenômeno de

relaxamento elétrico, diversas vezes durante os dias de medição.

Inicialmente pensou-se que o fenômeno de relaxamento elétrico fosse

consequência direta dos fenômenos de cura do material, mas a suspeita de ser apenas

Figura 32 Gráfico da solução preparada com clinquer.

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um relaxamento elétrico foi confirmada pelo perfil do gráfico quando o teste foi realizado

com solução 0,1M de KCl no mesmo período de tempo, conforme indicado na Figura 33.

5.3. Amplificadores

5.3.1. Ponte

Através das curvas obtidas de condutividade do material medida em Siemes fica

evidente, com o aumento exponencial seguida pela queda brusca de condutividade na

primeira hora da cura e com a mudança de cor do material, que houve a dissolução do

material e diversas reações de hidratação, principalmente das fases C3A e C4AF que

possuem reação rápida seguida da formação de C3S C2S em períodos de tempo mais

longos.

Figura 33 Gráfico do fenômeno de relaxamento elétrico na solução de KCl.

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Figura 34 Curvas de condutividade obtidas na ponte com destaque após 50min devido à

queda brusca nos valores.

A ponte apresenta limitações para esse tipo de análise, pois não consegue

realizar medidas na queda brusca de condutividade por aproximadamente 10min. O

equipamento possui um sistema interno que configura automaticamente a forma de

medição para cada tipo de material, e como há transformações químicas e físicas

radicais durante a cura do material o equipamento não consegue medidas reais no

período de transição que ocorre principalmente na primeira hora, que é principal objetivo

deste trabalho. Porém, é um bom meio para avaliação preliminar do material e também

após longos períodos de tempo como verificado na Tabela 14.

Tabela 13 Condutividade medidas na ponte em longos períodos de tempo.

TEMPO σ1 (1,3351g) σ2 (1,3501g) σ2 (1,3673g)

3 horas 2,0.10-7 1,5.10-6 1,8.10-6

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3 dias 2,2.10-7 1,0.10-6 1,6.10-6

7 dias 2,7.10-7 2,9.10-7 4,0.10-7

5.3.2. Amplificador Lock-in

Os testes preliminares na ponte ajudaram a definir os parâmetros de trabalho

para o Lock-in, mas mesmo com esses parâmetros já definidos, mas conforme já citado o

Lock-in é um equipamento de alta complexidade, portanto muitos testes adicionais

precisaram ser realizados até chegar a um resultado satisfatório.

5.3.2.1. Eletrodo

O tipo de eletrodo utilizado na ponte não apresentou bons resultados no Lock-in.

Acredita-se que o espaçamento entre as trilhas era pequeno para a frequência de

trabalho escolhida. Pela lógica, quanto maior a frequência aplicada maior será o grau de

agitação dos elementos da amostra e como a pasta já se comporta como solução

eletrolítica os valores obtidos eram apenas consequência de um curto circuito.

Outros tipos de eletrodos foram testados com ou sem referências encontradas na

literatura, mas o que apresentou melhor resultado foi o mostrado na figura 27, que já era

utilizado para análise de algumas resinas, porém o espaçador utilizado foi feito com

espessura maior por se tratar de um material eletrolítico com inúmeros problemas para

esse tipo de medição, conforme já exposto nesses resultados.

5.3.2.2. Parâmetros do equipamento

A frequência foi fixada em 1Hz, pois em baixas frequência os resultados

pareciam mais bem definidos, contrária a bibliografia pesquisada, SILVA (2011),

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enquanto que a tensão aplicada foi de 0,2V também distinta à bibliografia pesquisada,

SILVA (2011), porque em altas tensão e altas frequência um problema similar ao eletrodo

de circuito impresso ocorria, obtenção de valores constantes como em um curto circuito.

Esses parâmetros foram adotados para todos os experimentos.

5.3.3. CPIII

Cinco amostras, de cimento CPIII fornecido pela CSN, foram analisadas,

obtendo-se curvas bem semelhantes conforme mostrado na Figura 35.

Figura 35 Curvas obtidas com cimento CPIII sem escória de aciaria.

Através do perfil dos gráficos, Figura 35, é possível observar que em todos os

casos nos primeiros 5 minutos houve aumento da condutividade (indicando na região 1)

associada a dissolução inicial dos íons até a saturação na pasta, a partir daí a

condutividade tende a um patamar constante (indicado pela região 2) havendo pequenas

variações na condutividade mostrando possivelmente a nucleação e crescimento dos

cristais de hidratos seguida de mais dissolução de íons, o que está de acordo com o

princípio de Le Chatelier, a aceleração da reação de hidratação. Observa-se que em

aproximadamente após 70min há uma grande diminuição na condutividade (indicado

pela região 3), tempo aproximado ao que ocorre a transição na ponte no estudo do

clinquer, onde deve haver uma formação massiva de hidratos por todo eletrodo, e em

todos os casos a condutividade cai para bem próximo de 1mS (indicado pela região 4).

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5.3.4. CPIII 5% EA

Cinco amostras, de cimento CPIII com 5% de Escória de Aciaria fornecido pela

CSN, foram analisadas, obtendo-se curvas bem semelhantes conforme mostrado na

Figura 36.

Figura 36 Curvas obtidas com cimento CPIII com 5% escória de aciaria.

Quando comparado ao cimento sem escória a dissolução inicial ocorre bem mais

rapidamente havendo sempre uma pequena queda da condutividade seguida de um

segundo aumento sempre maior que o primeiro, indicando que substâncias presentes na

escória aceleram a velocidade da primeira dissolução (que ocorria nos primeiros cinco

minutos) e até mesmo outro tipo de reação de hidratação pode estar ocorrendo. Acredita-

se que essas substâncias ainda presentes na parte solúvel da pasta permitem uma

segunda dissolução mais acentuada, é um princípio da termodinâmica que o grau de

dissolução de determinada solução muda com as substâncias presentes na solução, por

exemplo uma quantidade adequada de CaO pode diminuir a viscosidade do líquido,

aumentando sua quantidade, acelerando assim a formação de seguida da formação de

hidratos em maior velocidade alcançando valores mais próximos de 1,5mS em três

horas.

5.3.5. CPIII 10% EA

Cinco amostras, de cimento CPIII com 10% de Escória de Aciaria fornecido pela

CSN, foram analisadas, obtendo-se curvas bem semelhantes conforme mostrado na

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Figura 37.

Figura 37 Curvas obtidas com cimento CPIII com 10% escória de aciaria.

Através da análise preliminar é possível notar que, comparando a adição de 5%

e 10% de Escória de Aciaria no CPIII, houve um recuo do momento da queda da

condutividade, ou seja, o aumento da porcentagem dessa escória adiantou a formação

massiva dos hidratos, assim como na adição de aditivos aceleradores de pega no

cimento de alta alumina.

5.3.6. Gesso

Quatro amostras de Gesso comercial JUNTALIDER (para acabamentos) foram

analisadas, obtendo-se curvas bem semelhantes conforme mostrado na Figura 38.

Figura 38 Curvas obtidas com Gesso comercial JUNTALIDER.

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Conforme verificado nas quatro amostras durante as três primeiras horas os

valores da condutividade permaneceram mais baixos quando comparados ao cimento

com ou sem Escória de Aciaria, havendo um pequeno pico em torno de meia hora. Neste

caso acredita-se que os íons mal se formam na pasta e já reagem, não alterando muito a

condutividade. Esse comportamento está de acordo com a teoria, PARR (2004),

ROMANO (2004), REIS (2007), SILVA (2011), ABCP, pois o gesso é o produto de adição

final no processo de fabricação do cimento Portland, com fim de regular o tempo de pega

por ocasião das reações de hidratação.

Três amostras, de Gesso Natural fornecido pela CSN, foram analisadas,

obtendo-se curvas bem semelhantes, Figura 39.

Figura 39 Curvas obtidas com Gesso Natural.

O Gesso natural também mantém valores de condutividade mais baixos quando

comparados ao cimento com ou sem escória, mas em valores semelhantes ao gesso

comercial.

O pico de condutividade que ocorre no gesso comercial não é notado no gráfico

do gesso natural provavelmente devido a sua composição com mais impurezas como

óxido de Magnésio e livre de aditivos.

5.3.7. Escória de Aciaria (EA)

Três amostras, de Escória de Aciaria fornecida pela CSN, foram analisadas,

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obtendo-se curvas bem semelhantes, Figura 40.

Figura 40 Curvas obtidas com Escória de Aciaria.

Diferente dos materiais estudados até aqui, a escala do gráfico da Escória de

Aciaria é mais alta. Durante as três primeiras horas esses valores se mantêm bem mais

elevados, porém tendem a uma queda após a primeira hora de reação.

Em todos os casos houve uma leve queda na condutividade seguida de um

grande aumento em aproximadamente 30min.

Acredita-se que esse comportamento está ligado à grande variedade de íons,

consequência da grande variedade de elementos se complexando na pasta.

5.3.8. Escóia de Alto Forno (AF)

Três amostras, de Escória de Alto Forno fornecida pela CSN, foram analisadas,

obtendo-se curvas bem semelhantes, Figura 41.

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Figura 41 Curvas obtidas com Escória de Alto Forno.

Apesar de a grandeza dos valores serem semelhantes ao gesso e cimento, essa

escória tem perfil bem distinto ao observado neles, pois há uma queda considerável na

condutividade nos primeiros 20min de reação, com um leve aumento seguido de um

aumento brusco bem visível, seguido ainda de uma leve queda em aproximadamente

uma hora, sendo que ao fim de três horas, como em todos os materiais, os valores

tendem a convergir para um mesmo patamar.

5.3.9. Clínquer (CLK)

Três amostras, de clínquer fornecido pela CSN, foram analisadas, obtendo-se

curvas bem distintas conforme mostrado na Figura 42.

Figura 42 Curvas obtidas com Clínquer.

Quanto ao perfil das curvas obtidas, pouco se pode afirmar sobre as reações que

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estão ocorrendo com o material, pois diferentemente dos materiais estudados

anteriormente o clínquer não apresentou um perfil bem definido, mas é possível apenas

afirmar que os valores tendem a convergir para um mesmo patamar após três horas de

reação.

O clínquer é composto por quatro fases principais (C3S), (C2S), (C3A), (C3AF).

Porém essas abreviaturas são válidas somente nas fases puras, que praticamente não

são encontradas em clínqueres industriais, que contêm impurezas de alguns elementos,

como Al, Fe, Mg, Na, K, Cr, Ti, Mn, P entre outros. Podem ocorrer ainda outras fases

individualizadas, como o periclásio (MgO), em clínqueres magnesianos, e CaOlivre. Por

essa razão acredita-se que o clínquer teve o comportamento mostrado na Figura 42.

Quando analisado isoladamente pouco se pode dizer sobre esse material, mas é

sabido que o cimento CPIII é composto de Escória de Alto Forno, Calcário, Gesso e

além, é claro, do clínquer, então esses outros componentes fazem com que esse perfil da

curva se torne mais uniforme de acordo com a Figura 35.

Também é interessante notar que com a adição de Escória de Aciaria, Figuras 36

e 37, o perfil continua uniforme, porém distinto do CPIII puro, conforme já discutido.

6. Conclusão

A revisão sobre cimento e aglomerantes, bem como pozolanas, é um tema de

grande complexidade no que diz respeito à engenharia química, pois é alta a

complexidade da estrutura química e física desses materiais cerâmicos, portanto não há

tanta informação quanto necessária.

Os profissionais que utilizam os diferentes cimentos estão interessados nas

características finais desse material, o fator que realmente importa é a resistência

mecânica, que é muito bem normatizada. Mas para estudo e investigação do material

não devemos apenas nos limitar a esse aspecto, pois, neste caso, os fenômenos que de

fato estão ocorrendo durante as reações de endurecimento são igualmente importantes.

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Essa alta complexidade está atrelada a uma característica análoga aos

cerâmicos que é a grande alteração nas propriedades finais apenas com adição ínfimas

de determinados elementos e como o cimento é um material utilizado em larga escala,

seu custo deve ser o menor possível, não sendo possível utilizar matérias primas de alta

pureza que possuam propriedades perfeitamente definidas. Métodos de análise

convencionais como FRX, DRX ou MEV demonstram-se insuficiente para caracterizar

estes materiais por conta da complexidade química e mineralógica, mesmo um diagrama

de equilíbrio de fases ternário não é bem representativo para esse tipo de material

cerâmico.

O principal objetivo, em longo prazo deste trabalho, é o entendimento dos

fenômenos de hidratação para viabilização do uso da Escória de Aciaria em adição ao

cimento, portanto compreender a forma como a escória é gerada na indústria siderúrgica

foi de grande valia para entender parte das dificuldades encontradas para esse fim.

Através dos métodos elétricos estudados para análises de pozolanas através da

queda de condutividade concluiu-se que esse tipo de análise não pode ser aplicado em

materiais como Escória de Aciaria por possuir alto teor de CaO, então o método elétrico

semelhante ao utilizado em cimentos com alto teor de alumina foram tentados, mas não

foi possível conforme demostrado no trabalho, provavelmente por possuir características

químicas e físicas distintas os hidratos formados e esse técnica não funcionou quando

aplicada em cimento portland.

O método desenvolvido no amplificador para análise dos materiais alvo de

estudo se mostrou eficiente. Porém como não há referência com esse método é difícil

concluir algo com absoluta certeza apenas observando os gráficos.

Os primeiros resultados obtidos na ponte mostraram a possibilidade de estudar a

cura do material através da pasta com esse tipo de equipamento, abrindo um novo

horizonte e um ânimo renovado para o tema.

Foi possível observar que os eletrodos testados e circuito montado para o Lock-

in influenciam muito nos resultados, mas se mostraram eficientes, pois foi possível obter

os gráficos mostrados no trabalho, porém as possibilidades de montagem são infinitas.

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As análises efetuadas nas primeiras 3 horas de cura apresentaram gráficos com

perfil característico esperado para os materiais testados. Fica claro que em todos os

gráficos obtidos na primeira hora de reação ocorrem diversos fenômenos que alteram os

valores de condutividade e após esse período tendem a se estabilizar em valores mais

baixos. Acredita-se que esse fenômeno esteja ligado à dissolução de íons e

subsequentes reações de hidratação.

Os testes preliminares do método Lock-in foram bem sucedidos, atingindo o

principal objetivo do trabalho que era estudar as características hidráulicas de materiais

cimentícios. Este método pode ser otimizado e utilizado para uma melhor compreensão

dos fenômenos de hidratação das distintas fases presentes no cimento permitindo

adições como Escória de Aciaria e outros materiais que permitam redução de custo e/ou

melhora nas propriedades dos cimentos como trabalhabilidade, resistência à

compressão, tempo de pega, calor liberado na reação, etc.

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