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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA Luana Maria Carrasco Michelini IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DE LODO PROVENIENTE DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE EFLUENTES COMO FERTILIZANTE Lorena 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

Luana Maria Carrasco Michelini

IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DE LODO PROVENIENTE DE ESTAÇÕES DE

TRATAMENTO DE EFLUENTES COMO FERTILIZANTE

Lorena

2013

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Luana Maria Carrasco Michelini

IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DE LODO PROVENIENTE DE ESTAÇÕES DE

TRATAMENTO DE EFLEUNTES COMO FERTILIZANTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo como requisito parcial para conclusão da Graduação do curso de Engenharia Bioquímica.

Orientador: Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves

Lorena

2013

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS

DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

Michelini, L. M. C Impactos da utilização de lodo proveniente de estações de tratamento de

efluentes como fertilizante/L. M. C Michelini/ Orientador Adilson Roberto

Gonçalves—Lorena, 2013. 54 p.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo.

1. Fertilizantes. 2. Adubo de Lodo 3. Lodo (Aproveitamento). 4.

Metais pesados. 5. Legislação Ambiental. 6. Tratamento de águas residuais.

I. Rodrigues, Rita de Cássia Lacerda Brambilla Orient.

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Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.

Martin Luther King

O maior problema do homem moderno não é dominar o mundo físico, mas conhecer sua própria mente e controlar seu comportamento. Só uma grande revolução de consciência pode solucionar grandes problemas da era contemporânea.

Humberto Rodhen

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todas as bênçãos recebidas e oportunidades

conquistadas durante a realização deste trabalho, pela saúde e conforto em

momentos de angústia.

Aos meus pais, Elenira Carrasco Michelini e José Luiz Michelini, pelo amor

incondicional, apoio, encorajamento e exemplo. Pelos sacrifícios realizados os

quais muito me ensinaram e toda a dedicação que me moldaram como ser

humano.

Às minhas irmãs, Mayara Maria Carrasco Michelini e Jaqueline Maria

Carrasco Michelini que me alegraram e cuidaram de mim mesmo a grandes

distâncias. Agradeço-as pela proteção de irmãs mais velhas, pelas risadas e

conforto a cada telefonema.

A todos os meus amigos pelas experiências compartilhadas, conselhos,

companheirismo e incentivo para a conclusão deste trabalho. Por cada minuto de

convivência, mesmo em silêncio, que fortaleceram os laços de amizades

maravilhosas e sinceras.

Aos colegas de trabalho da Ajinomoto de Valparaíso e da Monsanto de São

José dos Campos, com os quais aprendi incessantemente, agradeço pelas

sugestões e colaboração.

Ao Prof. Dr. Adilson Roberto Gonçalves pela amizade, pelas diversas

oportunidades e aprendizado oferecidos, pela orientação e contribuição ao longo

de toda a minha graduação.

À Escola de Engenharia de Lorena como um todo pelo suporte e, de forma

especial, a todos os professores cuja sabedoria induziu ao aperfeiçoamento do

pensamento crítico. Agradeço também pela paciência, pelo conhecimento técnico

e empírico transmitido.

Gostaria de poder citar o nome de todas as pessoas as quais me

auxiliaram, porém como foram muitas as ajudas certamente esqueceria o nome

de alguém o que seria injusto, por isso, peço desculpas pela generalização. Mas

deixo minha profunda gratidão a todos que, de alguma forma, contribuíram para a

conclusão desta pesquisa.

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RESUMO

MICHELINI, L. M. C. Impactos da utilização de lodo proveniente de estações de tratamento de efluentes como fertilizante. Trabalho de Conclusão de Curso

– Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

A intensa demanda por alimentos e o crescimento demográfico e urbano contribuem para a busca de alternativas sustentáveis capazes de ampliar a produtividade agrícola e aumentar a qualidade de vida da população. As legislações ambientais e políticas de desenvolvimento e saneamento básico promoveram esforços consideráveis neste sentido, promovendo o aumento do número das estações de tratamento de efluentes as quais permitem a devolução de água residuária em condições ambientalmente aceitáveis para o corpo receptor. Como consequência desta expansão, um problema tem se tornado frequente em grandes centros urbanos, a geração de volume considerável de lodo. Frente a este desafio, muitos pesquisadores passaram a estudar diferentes destinações para a biomassa gerada nas estações sendo a utilização para fins agrícola apontada como método mais viável do ponto de vista econômico e ambiental, visto que, além de representar disposição de baixo custo, agrega no desenvolvimento de culturas, colaborando para o aumento da produtividade então necessário. A sua utilização, entretanto, não é simples, pois requer estudos aprofundados de gerenciamento para se identificar impactos a curto e longo prazo. Tal cuidado faz-se necessário pela intensa variação da composição do lodo o qual depende de fatores como tipo de efluente, tratamento utilizado, formas de estabilização e graus de desenvolvimento socioeconômico da população. O lodo, dessa forma, pode ser constituído tanto por macro e micronutrientes essenciais a sobrevivência de plantas, destacando-se a presença de nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio, zinco, ferro e matéria orgânica, como por compostos considerados tóxicos para a saúde humana e meio ambiente (por exemplo, metais pesados e compostos fenólicos). Esta composição variada torna essencial o controle do lodo como biossólido, não só de sua composição e limitação da concentração de alguns elementos por legislações ambientais, mas também da taxa de aplicação e seu acúmulo no solo. Com essas considerações, é possível afirmar que o uso de lodo como fertilizante é conveniente? Devido à complexidade do tema o trabalho teve por objetivo estudar a relação do lodo com o solo, plantas e animais para compreender melhor os benefícios e impactos da sua utilização como fertilizante. Foi empregada a metodologia da pesquisa documental para efetuar uma análise comparativa dos pontos positivos e negativos dessa aplicação, estudando-se a composição do lodo, os diferentes tipos gerados nas estações de tratamento, quantidade gerada, absorção de elementos por plantas e pelo solo (lixiviação), casos de sucesso e barreiras do seu uso agrícola além de uma síntese de outras formas de sua disposição final. Pela pesquisa, entende-se que aplicação do lodo é muita vantajosa para os agricultores, pois possui nutrientes essenciais às plantas, é capaz de aumentar o volume de poros e a capacidade de retenção de água, contribui para absorção gradativa e mais eficiente dos nutrientes por plantas, atua como condicionador do solo,

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aumentando o pH e corrigindo a acidez. Apesar da possível presença de contaminantes tóxicos como metais pesados e compostos fenólicos estes podem ser reduzidos pelo uso do tratamento adequado do lodo enquanto os efeitos de dificuldade de infiltração na camada superficial do solo e a possível lixiviação de compostos podem ser atenuados pelo manejo e uso de técnicas de aplicação adequadas. Palavras-chave: Fertilizante, Lodo, Estações de tratamento, Metais pesados, Legislação Ambiental, Destinação final, Benefícios e Impactos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Análise comparativa entre OECD, países em desenvolvimento e do

mundo do aumento de consumo de produtos agrícolas – porcentagem a ser

modificada/ampliada em 2022 em relação à média de 2010 a 2012 .. ................ 15

Figura 2 – Análise comparativa entre a média de consumo, produção e o estoque

de trigo em milhões de toneladas de 2004 a 2014. .............................................. 16

Figura 3 – Análise comparativa da produção e da demanda média de diferentes

grãos do período de 2011 a 2018 e a média anual de crescimento de cada grão

por ano . ............................................................................................................... 16

Figura 4 – Análise comparativa da produção e da demanda média de diferentes

tipos de carne do período de 2008 a 2013 e a média anual de crescimento de

2012 para 2013.. .................................................................................................. 17

Figura 5 – Distribuição dos solos no Brasil baseado no Mapa de Solos do Brasil,

atualizado segundo o atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos ........... 20

Figura 6 – Sistema genérico de tratamento de esgoto e principais etapas .......... 23

Figura 7 – Cargas cumulativas máximas permissíveis de metais pesados pela

aplicação de biossólidos em solos agrícolas ........................................................ 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipo de lodo gerado em cada etapa/tipo de tratamento ..................... 27

Tabela 2 – Produção de lodo em diferentes países...............................................28

Tabela 3 – Produção de lodo (em volume) em diferentes sistemas de tratamento

de esgoto.............................................................................................................. 29

Tabela 4 - Composição média do lodo produzido no Brasil por tratamento

aeróbio....................................................................................................................30

Tabela 5 – Análise dos principais riscos à saúde associados à presença de metais

pesados ................................................................................................................ 33

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................14

2.1. Projeção Mundial do Agronegócio.............................................................................14

2.2. Fertilizantes ..............................................................................................................18

2.3. Estações de Tratameto de Efluentes ........................................................................22

2.3.1. Decantador ............................................................................................................24

2.3.2. Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente .................................................................25

2.3.3. Reator Aeróbio de Lodo Ativado ............................................................................25

2.4. Lodo ..........................................................................................................................26

2.4.1. Produção e Composição do Lodo ..........................................................................29

2.4.2. Metais Pesados .....................................................................................................31

2.4.3. Tratamento e Gerenciamento do Lodo ...................................................................34

2.5. Aplicação do Lodo como Fertilizante .........................................................................35

2.6. Outras Aplicações e Destino do Lodo .......................................................................41

2.6.1. Destinação a Aterros ..............................................................................................41

2.6.2. Destinação a Floresta ............................................................................................42

2.6.3. Aplicação em Construção Civil ...............................................................................42

3. METODOLOGIA ..........................................................................................................44

4. CONCLUSÃO ..............................................................................................................46

RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................................................48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................49

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1. INTRODUÇÃO

A agricultura surgiu como uma ciência que engloba várias áreas do

conhecimento como a química, geologia, mineração, metalogenia (produção de

fertilizantes), biotecnologia e economia a qual busca atender de forma sustentável

a demanda por alimentos em face ao crescimento populacional (EMBRAPA,

2009).

Até 2050, estima-se que a população mundial será de 9 bilhões de

pessoas. Para atender este consumo, será necessário que a produção mundial de

alimentos cresça aproximadamente 70%, sendo importante considerar problemas

com a escassez de solos agricultáveis e água, ocorrência de desastres naturais e

alta taxa de urbanização (FAO, 2013).

Além do crescimento demográfico global, o maior poder de consumo de

países emergentes, mudanças de hábitos alimentares e o aumento da demanda

por agroenergia fazem parte do conjunto de tendências consolidadas que antecipa

a expansão da demanda por produtos advindos do setor agropecuário.

Frente a este cenário internacional, o Brasil tem sido papel fundamental na

sustentação da produção de alimentos, destacando-se pela disponibilização

considerável de fronteira agrícola e de água (EMBRAPA, 2009). O país também

se destaca pela ênfase nos aspectos científicos, tecnológicos e de inovação que

garantem a produtividade principalmente de culturas para alimentação básica.

Os investimentos em técnicas de melhoria dos solos pela diferenciação do

manejo de culturas e pelo uso de fertilizantes, por exemplo, contribuem pelo

aumento de cerca de 50% da produtividade no Brasil, aspecto o qual comprova a

importância do uso de fertilizantes como fator competitivo na produção de

alimentos em comparação a outros países, garantindo o seu reconhecimento

como líder mundial em tecnologia de manejo de fertilidade dos solos ácidos da

região tropical (EMBRAPA, 2009).

Atualmente, o agronegócio brasileiro apresenta crescimento de 14,7%

comparando-se o primeiro semestre de 2013 com o mesmo período do ano

passado, revelando uma projeção dos economistas de que o setor será

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responsável por 30,4% de toda riqueza a ser gerada no país. Além disso, o uso da

tecnologia de fertilizantes evitou o desmatamento de 80 milhões de hectares entre

as décadas de 70, fazendo com que o seu uso junto ao aumento da produtividade

seja essencial do posto de vista ambiental, econômico e social (ESTADO DE

MINAS, 2013). Assim, o presente estudo procura estudar a aplicação de

fertilizantes como componente do aumento da produção de alimentos.

Dentro deste cenário de novas tecnologias, de crescimento agropecuário,

industrial e demográfico em centros urbanos e da diversificação do consumo de

bens e serviços surge, em paralelo, um aumento na quantidade de resíduos

gerados em todos os setores produtivos e o desafio de destiná-los de forma

sustentável.

Estas expectativas de desenvolvimento, todavia, não se restringem apenas

ao setor do agronegócio, mas também ao setor industrial e de prestação de

serviços o que tem contribuído para crescimento urbano e, consequentemente

para a ampliação de redes de coleta e tratamento de efluentes doméstico e

industrial, resultando em um dos principais resíduos e o de maior volume em

estações de tratamento, o lodo (TCHOBANOGLOUS, BURTON E STENSEL

2003).

Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, de acordo com a

SABESP (2001), a produção diária das cinco maiores ETEs foi estimada em 540

toneladas/dia de lodo (base seca) em 2005 e de acordo com a previsão de Tsutya

(2000), a produção será de 785 toneladas diárias em 2015.

Devido à evolução da legislação ambiental, este resíduo passou a receber

diferentes destinos e aplicações com interface em outras áreas como na produção

de tijolos e concretos, geração de energia, produção de óleos e adubos, sendo

esta última forma de destinação extremamente conveniente para a agricultura e a

correção dos nutrientes do solo, uma vez que o lodo de esgoto é rico em

nitrogênio, fósforo, micronutrientes e matéria orgânica (PROSAB, 2013).

Assim, como há uma grande necessidade por novas tecnologias na

agricultura para tornar possível o aumento da produtividade agrícola a fim de se

atender a demanda mundial ao mesmo tempo em que se exige alta demanda por

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uma destinação final sustentável de resíduos sólidos como o lodo de estações de

tratamento de efluentes, é objetivo desse trabalho estudar e esclarecer, tanto do

ponto de vista econômico quanto ambiental, os benefícios e possíveis impactos do

uso do lodo como fertilizante nas culturas agrícolas mediante ampla pesquisa

bibliográfica.

A aplicação de lodo nos diferentes solos agrícolas, entretanto, apresenta

diversos riscos associados à presença de espécies

inorgânicas metálicas tóxicas, mais conhecidas como metais pesados e à

sanidade, fazendo-se necessário compreender também parâmetros para a

reciclagem deste resíduo (FERNANDES et al., 1996). Desta forma, para uma

melhor abordagem do tema proposto, serão comparadas diferentes formas de

disposição final do lodo proveniente das ETE’s com enfoque na aplicação agrícola

deste resíduo rico em nutrientes. Para esta finalidade, também será descrito neste

trabalho as principais especificações exigidas por lei para o uso de biossólidos

como fertilizantes principalmente com relação à presença e concentração de

metais pesados.

Outro aspecto fundamental a ser avaliado serão as características do solo

após aplicação de fertilizantes minerais e do lodo comparando-se desempenho,

custo e impacto ambiental. Busca-se com isso, responder à seguinte pergunta: o

uso de lodo como fertilizante em culturas agrícola é conveniente?

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Projeção Mundial do Agronegócio

Através do crescimento econômico e de uma nova política agrícola

estabelecida mundialmente, o setor do agronegócio deixou de ser induzido pela

política de excedentes e tornou-se orientado principalmente pelo mercado das leis

de oferta e procura, promovendo crescimento e oportunidades únicas para países

cuja economia baseia-se principalmente na produção agrícola (OCDE-FAO, 2013).

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação

e Agricultura) e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico) a produção agrícola mundial deverá crescer 0,6% a menos no período

de 2013 a 2022 se comparado ao período de 2003 a 2012. Tal decréscimo deve-

se principalmente à limitação de expansão das fronteiras agrícolas, à baixa

disponibilidade de água e outros recursos naturais, ao aumento dos custos de

produção e ao aumento das exigências legais em termos de desenvolvimento

sustentável. Este declínio também é apontado como reflexo da crise econômica e

financeira global ocorrida em 2009.

Apesar desta redução no ritmo de produção, projeta-se um crescimento de

1,5% ao ano para a próxima década em decorrência da demanda mundial. Este

aumento da demanda por produtos agrícolas, o qual projeta o crescimento do

setor principalmente nos países em desenvolvimento, é proporcionado pela

expectativa crescente da necessidade de produção de energia, consumo por

grandes centros urbanos e mega cidades, aumento da renda per capita e

expansão da classe média (FAO, 2003).

De forma geral, portanto, o consumo de vários produtos agrícolas como

trigo, arroz, açúcar, algodão e grãos grosseiros deverá crescer mesmo que em

ritmo mais lento se comparado ao período atual como demonstrado na figura 1:

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Figura 1 – Análise comparativa entre OECD, países em desenvolvimento e do mundo do aumento de consumo de produtos agrícolas – porcentagem a ser modificada/ampliada em 2022 em relação à média de 2010 a 2012 (Fonte: (OECD-FAO, 2013)).

Segundo a projeção 2012 da IGC (Conselho Internacional de Grãos), a

produção de grãos e sementes oleaginosas deverá aumentar para os anos de

2017/2018 enquanto os estoques devem diminuir, a menos que as expectativas de

colheita sejam superadas neste período.

Neste seguimento, a produção mundial de trigo e grãos grossos excederá 2

bilhões de toneladas desde que as condições meteorológicas sigam médias

padrões subindo 8,1% entre 2013 e 2014 e 1,6% em média nos anos

subsequentes. Neste ritmo, espera-se uma produção de 696 milhões de toneladas

de trigo, um consumo de 690 milhões de toneladas e uma redução dos estoques

deste grão em quase 25 milhões de toneladas (IGC, 2013).

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Figura 2 – Análise comparativa entre a média de consumo, produção e o estoque de trigo em milhões de toneladas de 2004 a 2014 (Fonte: (IGC, 2013)).

Esta melhoria das disponibilidades de diversas commodities deverá ser

amplamente absorvida pelo aumento do consumo como demonstrado na Figura 3:

Figura 3 – Análise comparativa da produção e da demanda média de diferentes grãos do período de 2011 a 2018 e a média anual de crescimento de cada grão por ano (Fonte: (IGC, 2013)).

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Não só a produção vegetal está em crescimento, mas também a animal. De

acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no Brasil,

enquanto a produção de carne suína e de frango cresceu 11,28% e 20%

respectivamente entre 2009 e 2013 o consumo cresceu 14,39% e 24%,

demonstrando a necessidade do aumento da produtividade também para este

setor (IBGE, 2013).

Espera-se que até o final do ano de 2013 a produção de carne bovina,

suína e de aves crescerá em média 1,6% em relação ao ano de 2012 sendo o

crescimento da produção de suínos o mais expressivo. Já a demanda pela carne

deve aumentar 1,8% em média no mesmo período sendo a carne de aves (frango

e peru) a de maior demanda. Desde 2008 até o momento, a ampliação do

consumo de aves e porcos foi de 10,7% em média.

Figura 4 – Análise comparativa da produção e da demanda média de diferentes tipos de carne do período de 2008 a 2013 e a média anual de crescimento de 2012 para 2013 (Fonte: (USDA, 2013)).

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Para a ONU (Organização das Nações Unidas), já em 2004 a expansão da

demanda de alimentos foi maior que a produção, favorecendo, por exemplo, o

aumento do preço de grãos, o qual foi impulsionado em 2005 por incidentes

meteorológicos extremos nos principais países produtores de alimentos,

ocasionando baixas nos estoques mundiais, instabilidade e volatilidade no

mercado internacional de modo a suscitar desequilíbrio na segurança alimentar

mundial e consequências devastadoras para as populações mais vulneráveis do

mundo (ONU, 2013).

Frente a esta demanda crescente por alimentos, ração e energia resultante

da prosperidade nos mercados emergentes e aumento da população mundial faz-

se necessário utilizar diferentes formas de tecnologia e inovação de cultivo para

incrementar a produtividade agrícola evitando-se incorporar novas áreas para que

não haja desmatamento. Na avaliação da FAO, 90% do aumento de produção

devem vir de investimentos em produtividade, com uso mais eficiente da terra.

Dentro deste contexto, as técnicas mais utilizadas para este fim são: o emprego

da tecnologia de manejo de culturas, proteção de cultivo, correção do solo e

adubação pelo uso de fertilizantes.

2.2. Fertilizantes

De acordo com a Lei Nº 6.894, Decreto Nº 4.954 de 14 de Janeiro de 2004

da constituição brasileira, fertilizante é qualquer substância mineral ou orgânica,

natural ou sintética, fornecedora de um ou mais nutrientes de plantas. Pelo

regulamento, há diferentes tipos de fertilizantes divididos em mais de dez

categorias sendo duas principais:

a) Fertilizante mineral: produto de natureza fundamentalmente mineral,

natural ou sintética, obtido por processo físico, químico ou físico-

químico, fornecedor de um ou mais nutrientes de plantas;

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b) Fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica,

obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural

ou controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana

ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais.

No Brasil, devido à presença predominante de solos tropicais ácidos, é

preciso aplicar processos de transformação capazes de adequar o solo às

características físico-químicas exigidas para a produção agrícola. Para isto, são

utilizados insumos e outras técnicas de manejo apropriadas ao tipo climático

predominante. De acordo com Melfi (1997), cerca de 60% do território brasileiro é

recoberto com solos ácidos enquanto, na Terra, o valor chega a 30% das terras

emersas segundo Baligar et al. (1997).

Esse tipo de solo, além da acidez, é caracterizado pela falta de nutrientes

como fósforo, cálcio e magnésio e presença de alumínio e manganês os quais

dificultam o crescimento vegetal, comprovando a necessidade da aplicação de

calcário para reduzir a acidez, fertilizantes e adubos para maior produtividade de

culturas agrícolas.

A figura 5 abaixo demonstra a diversidade do solo brasileiro e

predominância de latosolos e solos argilosos.

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Figura 5 – Distribuição dos solos no Brasil baseado no Mapa de Solos do Brasil, atualizado segundo o atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Fonte: (EMBRAPA, 2013)).

O aumento da fertilidade do solo contribui para o aumento do sistema

radicular de plantas, disponibilidade de nutrientes e melhorias nas condições

físicas e biológicas do solo.

Os métodos tradicionais de fertilização implicam na utilização de sais de

nitrogênio e fósforo principalmente, cuja solubilidade é elevada promovendo rápida

absorção dos macronutrientes pelas plantas. Esta alta solubilidade, entretanto,

apresenta pontos negativos referentes à quantia não absorvida destes sais. O que

não é aproveitado pela planta sofre lixiviação e atinge os lençóis freáticos

ocasionando poluição (Silverol, 2006).

Segundo Borggaard et al. (2004), a aplicação de fertilizantes químicos

repetidamente também pode levar à exaustão de adsorção do fosfato o qual, ao

se acumular no solo, pode ser carregado por águas superficiais até camadas mais

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profundas e água subterrânea. Além disso, ao se associarem aos íons de

herbicidas promovem a redução da retenção do herbicida no solo o que pode

provocar o transporte de metais pesados presente no mesmo para o lençol

freático.

A demanda por alimentos, por outro lado, continua crescente, e atingir

patamares cada vez maiores de produção é fundamental. O Brasil como um dos

maiores produtores deve buscar soluções para o desenvolvimento de uma

agricultura competitiva capaz de contornar a disponibilidade de terras e a

características às vezes desfavoráveis dos seus solos.

Atualmente, os insumos utilizados para a produção nacional de fertilizantes

é insuficiente para a demanda e os fertilizantes importados muitas vezes são

inadequados para as condições geológicas locais. Assim, buscar alternativas de

fertilização que se adéquam ao solo e garantam produtividade, conservação da

fertilidade e sustentabilidade é indispensável (SILVEROL, 2006).

Nesse sentido, uma das principais alternativas ao método tradicional de

fertilização é a utilização de fertilizantes orgânicos por serem de baixo custo, fácil

manejo e sustentavelmente corretos.

Algumas vantagens citadas por Wang & Yang (2003), Oorts et al. (2003),

Kwabiath et al. (2003) e Parfitt et al. (2005) da adição de material orgânico em

solos tropicais são: aumento da concentração de carbono orgânico, maior

agregação, capacidade de retenção de água e padrão de infiltração, diminuição da

densidade do solo, aumento da capacidade de troca catiônica, melhor

aproveitamento do fósforo.

Lodo de esgoto, vermicomposto e composto de lixo são exemplos de

fertilizantes orgânicos compostos cujos benefícios ecológicos referem-se à

devolução ao solo do carbônico orgânico e dos nutrientes, aumento da

produtividade das culturas e menor impacto ambiental.

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2.3. Estações de Tratamento de Efluentes

De acordo com a Resolução Nº430 de 13 de Maio de 2011 do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), efluente é o termo usado para

caracterizar os despejos líquidos provenientes de diversas atividades ou

processos. Tais efluentes ao serem despejados com os seus poluentes

característicos causam a alteração de qualidade nos corpos receptores e

consequentemente a sua poluição.

A poluição hídrica pode ser definida como qualquer alteração física, química

ou biológica da qualidade de um segmento de corpo de água ao longo do tempo,

capaz de ultrapassar os padrões estabelecidos para a classe. A poluição origina-

se da ineficiência dos processos industriais devendo estes serem inicialmente

otimizados para a redução de perdas que levam à poluição para, então se

estabelecerem sistemas de controle como o tratamento de efluentes (GIORDANO,

1999).

Segundo Giordano (1999) os sistemas de tratamento de efluentes são

baseados na transformação dos poluentes dissolvidos e em suspensão em gases

inertes e ou sólidos sedimentáveis para a posterior separação das fases

sólida/líquida. Desta forma, os tratamentos aplicados são determinados para cada

tipo de efluente e suas características, considerando-se a legislação ambiental; os

custos de investimento e operacionais; a quantidade e a qualidade do lodo gerado;

a qualidade do efluente tratado; a interação com a vizinhança e as características

do corpo receptor.

Para a CONAMA (2011), a escolha do tratamento deve se sustentar no

nível de eficiência desejado, ou seja, qualidade final do efluente tratado em

concordância com o corpo receptor, na área disponível para implemntação, custo

e complexidade do processo, na produção e disposição do lodo assim como na

dependência de insumos externos.

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O tratamento de efluentes pode seguir etapas complementares aumentando

sua eficiência. Divide-se, assim, o tratamento em diferentes níveis:

- Preliminar: responsável pela remoção de sólidos grosseiros e areia

presentes no esgoto afluente de modo a evitar o acúmulo de sólidos grosseiros e

material abrasivo nas tubulações da estação.

- Primário: responsável pela sedimentação de partículas em suspensão

e/ou pela decomposição da matéria orgânica presente no efluente através da

utilização de sistemas de decantadores e lagoas/reatores anaeróbios.

- Secundário: responsável pela degradação biológica de compostos

carbonáceos em reatores biológicos contendo microrganismos aeróbios.

- Terciário: responsável pela remoção de nitrogênio e fósforo através de

lodos ativados e tratamento químico com coagulantes ou sulfato de alumínio.

Nesta etapa, também pode ser considerada a remoção de patôgenos.

A ilustração abaixo demonstra um exemplo de tratamento de esgoto

utilizando as técnicas preliminares, primária e secunária de um tratamento típico.

Figura 6 – Sistema genérico de tratamento de esgoto e principais etapas (Fonte: (SABESP, 2013)).

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A partir do sistema primário, é formado lodo primário e lodo secundário

(lodo ativado), constituídos por material de sedimentação instável.

No Brasil, os principais sistemas de tratamento de efluentes incluem

decantadores, reatores anaeróbios e reatores de lodo ativado.

2.3.1. Decantador

A sedimentação é um processo físico de clarificação. Quanto maior a

concentração de sólidos em suspensão maior a sedimentação. Em decantadores

primários de estações de tratamento de efluentes normalmente ocorre a

sedimentação floculante a qual permite a formação de flocos que decantam com

maior velocidade. Quando a concentração da suspensão aumenta ainda mais

ocorre a sedimentação por zona em que a velocidade de sedimentação diminui ao

longo da profundidade do decantador devido a maior concentração de sólidos e

consequente dificuldade de saída de água contra-corrente.

Existem, basicamente, dois tipos de decantadores de esgotos: os de

secção retangular e os de secção circular. Os decantadores de secção circular

são mais viáveis economicamente do ponto de vista da estrututa em concreto e

apresentam menor variação da vazão de alimentação do efluente. Já os

decantadores retangulares possuem o fundo ligeiramente inclinado para que o

lodo possa ser raspado e direcionado (GIORDANO, 1999).

As comportas de distribuição dos esgotos no canal de entrada do

decantador têm a função de evitar escoamentos preferenciais enquanto as

canaletas do final dos decantadores reduz a velocidade dos esgotos na região de

saída evitando-se a ressuspensão de lodo.

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2.3.2. Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente

Esse reator possui uma série de compartimentos internos que agregam

diferentes processos como a sedimentação, floculação, estabilização biológica

anaeróbia, filtração e separação de fases (sólida e líquida). Neste equipamento,

forma-se lodo a partir dos resíduos da digestão anaeróbia e da biomassa

anaeróbia ainda ativa além de intensa produção de biogás cujo deslocamento no

interior do reator auxilia na mistura do efluente e dos sólidos contidos no mesmo.

Os sólidos deslocados são coletados para evitar sua passagem para a

região de coleta do efluente e retornam para a câmara de disgetão. O excesso de

lodo formado deve ser desidratado e encaminhado para descarte controlando-se

sempre a quantia mínima no reator para funcionamento adequado.

Neste caso, o tratamento preliminar de desarenação deve ser rigoroso para

evitar acúmulos de sólidos e remover óleos e gorduras que podem formar capas

de espuma na superfície dos reatores. A produção de lodo neste reator é mais

baixa que em reatores aeróbios e mostra-se capaz de reduzir em até 65% o nível

de DBO - demanda biológica de oxigênio - (GIORDANO, 1999).

2.3.3. Reator Aeróbio de Lodo Ativado

Este sistema apresenta elevada eficiência de remoção de matéria orgânica

e sólidos em suspensão e tem sido empregado como forma de remover nitrogênio

e fósforo por via biológica, sendo o consumo energético um dos principais

limitantes na degradação aeróbia de matéria orgânica (MINISTÉRIO DO MEIO

AMBIENTE, 2009).

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Após passagem pelo decantador primário, o lodo gerado é enviado para

estabililização em digestores anaeróbios e, em seguida, o afluente é

encaminhado para o reator aeróbio ou tanque de aeração onde a degradação da

matéria orgânica pelo crescimento da biomassa ocorre.

O tanque de aeração é alimentado continuamente e o regime de mistura

gera arraste de biossólidos com efluentes para a próxima etapa sendo necessário

a utilização de um decantador secundário. No reator, a concentração de biomassa

é mantida pela recirculação do lodo decantado no clarificador.

A introdução de oxigênio pode ser feita por meio de aeradores superficiais,

sistemas com difusores ou mesmo oxigênio puro pode ser introduzido diretamente

nos tanques. Os sólidos biológicos crescem na forma de flocos e são mantidos em

suspensão pelo equipamento de aeração (GIORDANO, 1999).

2.4. Lodo

A universalização do saneamento básico, o desenvolvimento de tecnologias

sustentáveis frente ao aumento das exigências das legislações ambientais e sua

preocupação com a degradação dos recursos naturais tem proporcionado, cada

vez mais, o surgimento e aprimoramento das Estações de Tratamento de

Efluentes (ETE’s). Com o desenvolvimento para a busca de maior qualidade de

vida, entretanto, surgem aspectos negativos como o aumento na quantidade de

resíduos gerados em todos os setores produtivos, fator agravado pelo intenso

crescimento demográfico urbano.

Com relação ao manejo dos efluentes e seu tratamento, o principal resíduo

(hoje considerado subproduto) gerado é o lodo, subproduto semissólido, pastoso e

de natureza predominantemente orgânica (ANDRADE, 1999). Em princípio, todos

os processos de tratamento biológico geram lodo e sua produção é dependente do

tipo de tratamento utilizado. Assim, pode-se obter em uma ETE:

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a) Lodo primário: originado em decantadores primários, é composto por

sólidos sedimentáveis que podem gerar odor desagradável em

condições de alta temperaturas caso não seja removido periodicamente

(VON SPERLING, 2002).

b) Lodo secundário: originado em reatores aeróbios, é composto pela

biomassa ativa do tratamento biológico a partir da alimentação dos

microrganismos pelo afluente recebido na estação.

c) Lodo misto: mistura de lodo primário e secundário.

A tabela em seguida exemplifica os tipo de lodo gerado de acordo com o

tratamento utilizado:

Tabela 1 – Tipo de lodo gerado em cada etapa/tipo de tratamento. SUBPRODUTO ETAPA DO TRATAMENTO

Lodo Primário Tanque séptico e decantador primário

Lodo biológico aeróbio

(não estabilizado)

Lodo ativado convencional e reatores aeróbios com biofilme

Lodo biológico aeróbio

(estabilizado) Lodo ativado de aeração prolongada

Lodo biológico anaeróbio Lagoas de estabilização, reatores

anaeróbios e filtros anaeróbios

(Fonte: (Adaptado PEDROZZA et al.,2010)).

O alto custo proveniente do gerenciamento do lodo é outro fator agravante

na estações de tratamento e a dificuldade aumenta proporcionalmente com a

quantidade produzida. Na tabela abaixo é possível identificar a quantidade de lodo

formada em diferentes sistemas de tratamento de efluentes do mundo.

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Tabela 2 – Produção de lodo em diferentes países CIDADE OU PAÍS QUANTIDADE PRODUZIDA ESTIMADA

Reino Unido 1 milhão m³/ano

Alemanha 50 milhões m³/ano

Suíça 4,2 milhões m³/ano

Sydney 190 mil ton/ano

Espanha 1,12 milhões ton/ano

Austrália 0,25 milhões/ano

Brasil 150 a 220 mil ton/ano

São Paulo 100 ton/dia

(Fonte: (Adaptado PEDROZZA et al, 2010)).

Nas cinco maiores estações de tratamento de esgoto da região

Metropolitana de São Paulo, estima-se que em 2015 seja produzido um total de

749 toneladas (base seca) de lodo pelos estudos de Tsutiya (2001),

correspondendo 303 toneladas à estação de Barueri, 32 toneladas à de Suzano,

106 toneladas à do ABC, 231toneladas à do Parque Novo Mundo e 77 toneladas à

de São Miguel.

Segundo Barneto et al. (2009), da produção de lodo estimada para a

Espanha, 725 mil toneladas foram disponilizadas para uso em solo e na Austrália

um terço do biossólido recebe este destino. O destino escolhido para o lodo,

todavia, não é fácil. Requer estudos complexos de viabilidade cuja execução

errônea pode comprometer os benefícios ambientais e sanitários esperados

(LUDUVICE, 2001).

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2.4.1. Produção e Composição do Lodo

Em sistemas de tratamento existem bactérias as quais utilizam a matéria

orgânica presente como fonte de energia e fonte de carbono para a formação do

material celular, sendo esta última reação conhecida como anabólica. Pelas

publicações de Brock & Madigan (1991), aproximadamente 3000 mmols de ATP

são necessários para se realizar este tipo de reação.

Esta energia requerida para a produção de massa celular é proveniente da

degradação de material celular bacteriano, também conhecido como catabolismo

celular (BITTON, 2001) realizado por processos oxidativos ou fermentativos. Pela

via oxidativa, o material orgânico disponível é oxidado por oxidantes presentes no

próprio efluente como oxigênio, nitrato e sulfato, enquanto pela via fermentativa

ocorre digestão anaeróbia com formação de gás carbônico e metano, onde grande

parte da energia inicial da matéria orgânica permanece (PEDROZZA et al.,2010).

Devido a diferença de energia gerada pelo catabolismo oxidativo e

fermentativo, bactérias que utilizam a primeira via tendem a formar mais massa

que as demais levando-se em consideração a mesma quantia de material

orgânico disponibilizado.

Tabela 3 – Produção de lodo (em volume) em diferentes sistemas de tratamento de esgoto

Tipo de Sistemas Volume de Lodo Produzido

(L/hab.d)

Lagoas facultativas 0,05 – 0,15

Reator UASB 0,2 – 0,6

Lodos ativados convencionais 3,1 – 8,2

Aeração prolongada 3,3 – 5,6

Lagoa anaeróbia 0,1 – 0,3

Filtro biológico de alta carga 1,4 – 5,2

Lagoa aerada facultativa 0,08 – 0,22

(Fonte: (METCALF e EDDY, 2002)).

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Pela tabela 3, nota-se maior produção de lodo em tratamentos que utilizam

lodos ativados convencionais, já que caracteriza-se pelo presença do metabolismo

aeróbio e o curto tempo de permanência do lodo no tanque de aeração. Por outro

lado, as lagoas anaeróbias produzem o menor volume de lodo pois trata-se de um

sistema anaeróbio cujo maior tempo de residência do lodo permite digestão e

adensamento, levando à redução da umidade e conversão em água e gases.

A composição do lodo varia de acordo com o tipo de tratamento utilizado

nas estações, com o período do ano e com a origem do efluente (industrial ou

doméstica). Outros fatores capazes de influenciar a composição química do lodo,

segundo Tsutiya (2001), é a variação do nível socioeconômico e cultural da

populaçõ geradora do efluente e o grau de industrialização de uma determinada

região. Pela tabela 4 abaixo é possível identificar a composição média geral do

lodo gerado no Brasil por tratamento aeróbio.

Tabela 4 – Composição média do lodo produzido no Brasil por tratamento aeróbio.

Parâmetros Valor

pH 11,6

Material Seco, MS (%) 57,86

Nitrogênio Total, N (%) 1,07

Carbono Total, C (%) 12,56

Relação C/N 13,32

Fósforo Total, P2O5 (%) 0,26

Potássio, K2O (%) 0,16

Cálcio Total, CaO (%) 19,85

Magnésio Total, MgO (%) 3,17

Cádmio (mg/kg MS) 0,57

Zinco (mg/kg MS) 28,99

Cobre (mg/kg MS) 73,73

Cromo (mg/kg MS) 28,11

Mercúrio (mg/kg MS) 0,52

Níquel (mg/kg MS) 18,06

Coliformes fecais (NMP/100g) < 4,0

Ovos de helmintos (NMP/100g) < 0,2

(Fonte: (SANTOS , 2009)).

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Nota-se que o lodo apresenta diferentes porções de metais pesados

destacando-se o o cobre, zinco, níquel e cromo devido as maiores concentrações.

Por ser um fator limitante na destinação final do lodo, os metais pesados serão

abordados no próximo tópico.

2.4.2. Metais Pesados

De acordo com a Sociedade Brasileira de Química, o conceito de metais

pesados é variado e aborda aspectos como massa específica, massa atômica,

número atômico, a formação de sulfetos e hidróxidos insolúveis, a formação

de sais geradores de soluções aquosas coloridas e complexos coloridos além do

potencial tóxico. Assim, a definição mais utilizada define metal pesado como

sendo aquele que apresenta massa específica elevada (geralmente maior que 5

g/cm³) e está associado a contaminações, potencial tóxico e ecotóxico.

Como principalmente os efluentes industriais podem conter esses

elementos é preciso certificar-se que a concentração presente no lodo é

admissível pela legislação ambiental uma vez que este, ao ser aplicado no solo,

pode contaminá-lo caso as concentrações sejam elevadas ou haja acúmulo

derivado de aplicações sucessivas desregradas. Assim, há uma grande

preocupação com relação ao uso deste lodo como fertilizante.

Os metais presentes no biossólido podem ser classificados em duas

categorias: os de baixo risco (manganês, ferro, alumínio, cromo, chumbo e o

mercúrio) e os potencialmente perigosos (zinco, cobre, níquel, molibdênio e

cádmio) os quais exercem efeitos negativos não só no desenvolvimento de

plantas, mas também nos processos bioquímicos do solo (TSUTIYA, 2001).

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Os principais sintomas de toxidez dos solos apontados por Beckett (1991)

são redução da colheita e do crescimento vegetal, concentração de metais nos

tecidos das plantas e assimetria ou anomalias em folhas pares ou próximas. Além

destes, Marques et al. (2001) cita interferências na integridade das membranas e

consequentemente na cadeia de transporte de elétrons e na fotossíntese,

surgimento de manchas em folhas, inibição de atividades enzimáticas e

desequilíbrio no balanço nutricional. Estes indícios podem ocorrer pela

interferência doa metais pesados na absorção, transporte e funções dos macro e

micronutrientes, passando do nível celular para sintomas visíveis.

Além dos danos ao solo e plantas, estes contaminantes podem sofrer

lixiviação e atingir lençois freáticos de modo a contaminar a água e possivelmente

se instalar na cadeia alimentar de humanos exercendo riscos à saúde e ao

sistema imunológico devido ao efeito biocumulativo. Pelos estudos diversos de

Santos (2003), Munhoz (2002), Martins (2003), Organização Mundial da Sáude

(2001), Oliveira (2003), Paoliello e Capitani (2003), os metais pesados estão

associados a diversas doenças como identificado na tabela 5:

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Tabela 5 – Análise dos principais riscos à saúde associados à presença de metais pesados

Metal Pesado Risco Associado à Saúde

Alumínio, Manganês Neurotóxico

Cromo, Zinco Carcinogênico

Níquel Cancerígeno, pode causar hemorragia, inflamação em

órgãos vitais e morte *

Cobre Intoxicação e problemas gastrointestinais

Cádmio Danos neurológicos, remoção de cálcio dos ossos,

deformação do esqueleto e mutações cromossômicas

Cromo Transtornos nos sitemas endócrino, renal, reprodutivo e

nervoso

Mercúrio Atrofia muscular, lesão renal, aborto, câncer e

malformações congênitas

Nota: *O níquel apenas pode causar morte se inalado na forma de carbonila de níquel.

No lodo, os metais são encontrados principalmente ligados à fração sólida

(óxidos e matéria orgânica) e sofrem influência do tipo de tratamento sofrido nas

estações. Para Marques et al. (2001), por exemplo durante digestão em reatores

anaeróbios grande parte da massa orgânica é degrada, facilitando a solubilização

dos metais pesados os quais compõem a massa de microrganismo.

Como nestes reatores o pH é mais elevado, torna-se possível a

precipitação de alguns cátions de metais resultando na predominância de

concentrações mínimas (traços) de metais os quais podem se aderir às superfícies

irregulares dos precipitados.

Como a probabilidade de presença e contaminação do lodo por metais

pesados é alta e os riscos destes associados à humanos, plantas, rios e solo

torna-se indispensável o gerenciamento correto, sustentável e bem planejado da

disposição final deste subproduto seguindo as legislações ambientais em rigor.

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Assim, é preciso selecionar barreiras e tratamentos adequados do lodo para sua

utilização como biossólido, por exemplo.

2.4.3. Tratamento e Gerenciamento do Lodo

Os principais métodos de tratamento utilizados para reduzir a concentração

de metais pesados no lodo de esgoto são: precipitação, resinas de troca iônica,

absorção, eletrólise, imobilização, solidificação, vitrificação e tratamento químico

segundo Pedrozo (2003). Estes itens prezam por maior segurança, menor impacto

ambiental das possíveis disposições do lodo.

Para garantir a estabilidade biológica do lodo e manter o mesmo livre de

microrganismos patógenos é preciso realizar outras etapas de tratamento.

Cassani (2003) divide o sistema de tratamento em quatro macro etapas:

adensamento, estabilização (redução de matéria orgânica e sólidos voláteis),

condicionamento, desidratação e disposição final.

A primeira e quarta etapas usam métodos físicos para aumentar a

concentração de lodo através da sedimentação do material em suspensão,

fotação ou centrifugação. O teor de sólidos no subproduto dependerá do tipo de

estabilização e adensamento/desaguamento utilizado.

A segunda etapa utiliza métodos físicos e químicos para aumentar a

separação das fases sólido-líquido do lodo. Neste caso, pode-se adicionar

alumínio, ferro ou polímeros orgânicos capazes de formar flóculos maiores do lodo

ou tratar termicamente para reduzir o volume, facilitando a sequência do

tratamento.

O terceiro estágio ocorre por digestão aeróbia, anaeróbia, compostagem,

estabilização química ou térmica (LUDUVICE, 2001).

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Na digestão aeróbia, adiciona-se 1 mg/L de ar ou oxigênio por um intervalo

de 12 a 30 dias de modo a evitar a liberação de gases com odores desagradáveis.

Os microrganismos, então sobre aerobiose, degradam a matéria orgânica e

promovem a nitrificação biológica da amônia, convertendo-a em nitrato.

Na digestão anaeróbia, os microrganismos participam de reações de

hidrólise (realizada por bactérias fermentativas hidrolíticas), acidogênese

(bactérias do gênero Clostridium e Bacteroids), acetogênese (bactéria

acetogênicas que produzem acetato, gás carbônico e água) e metanogênense

(realizada por bactéria acetotróficas do gênero Methanosarcina e Methanothrix)

para degradar a matéria orgânica em compostos como água, dióxido de carbono,

amônia, gás sulfídrico e metano (CHERNICHARO, 1997).

Na compostagem os sólidos orgânicos biodegradáveis são estabilizados

por microrganismos mesófilos ou termófilos enquanto as estabilizações química e

térmica são essenciais para eliminação de patógenos.

Com esses tratamentos de estabilização biológica, redução de metais

pesados e eliminação de patógenos é possível utilizar o lodo em diferentes

segmentos desde que os requisitos legais e de segurança sejam atendidos.

2.5. Aplicação do Lodo como Fertilizante

Atualmente, há uma grande necessidade por novas tecnologias na

agricultura para tornar possível o aumento da produtividade agrícola a fim de se

atender a demanda mundial ao mesmo tempo em que se exige alta demanda por

uma destinação final sustentável de resíduos sólidos como o lodo de estações de

tratamento de efluentes.

Este subproduto na forma de fertilizante passa a ser chamado de biossólido

e é composto, de uma forma geral, por nutrientes dos quais 40% são matéria

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orgânica, 4% nitrogênio, 2% fósforo e 0,4% potássio entre outros componentes

(ZEITOUNI, 2005). De acordo com a tabela 4, o lodo gerado no Brasil ainda é

caracterizado pela presença de cálcio, magnésio e outros metais.

Grande parte destes constituintes é considerada macronutrientes para

plantas e como muitos estão presentes na forma orgânica, são liberados

gradativamente no solo, por processos oxidativos, aumentando a absorção pelas

plantas e diminuindo os riscos de poluição ambiental (MELO e MARQUES, 2000).

O nitrogênio amoniacal e o nitrato presentes em grandes quantidades

principalmente em lodos digeridos em anaerobiose estão totalmente disponíveis

para os vegetais enquanto a forma orgânica deve passar por mineralização

biológica. Entretanto, devido à falta de sincronismo entre a mineralização do

nitrogênio e a absorção deste nutriente pelas plantas, é possível que este

nutriente seja perdido por lixiviação levando à contaminação do lençol freático.

O nitrogênio é essencial para a formação de aminoácidos e proteínas. Este

nutriente quando em falta para as plantas, promove um amarelamento das folhas.

Como o potássio é muito solúvel em água este nutriente tão igualmente

importante para o crescimento vegetal apresenta-se em concentrações mais

baixas no lodo. Embora esta quantia seja absorvida pela planta, poderá ser

necessário complementar a adubação com este elemento, pois o mesmo controla

a abertura dos estômatos da planta protegendo-a da falta de água e algumas

doenças.

Com relação ao elemento fósforo, este está presente na forma orgânica e

inorgânica, sendo predominantemente presente na forma mineralizada em lodos

estabilizados anaerobicamente assim como para o nitrogênio. Este nutriente

possui alto valor agrícola, pois está intimamente relacionado com o metabolismo e

a produção de energia pela planta, promovendo o crescimento das raízes,

maturação e melhor formação dos grãos e frutos.

Os micronutrientes cobre, zinco e ferro atuam como ativadores de enzimas,

catalisadores e elementos importantes em reações de oxi-redução, classificando-

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se como necessários para o desenvolvimento do metabolismo vegetal e seu

crescimento.

A matéria orgânica dos biossólidos, por sua vez, favorece a formação de

agregados no solo, fator o qual favorece a penetração das raízes no solo e a vida

microbiana, atua como condicionador do solo, melhoria do nível de fertilidade,

aumento de pH, diminuição da acidez potencial e aumento gradual da

disponibilidade de nutrientes (TSUTIYA, 2001).

Por apresentar menor custo para reciclagem de matéria orgânica e

nutriente, a disposição do lodo como fertilizante é uma das formas mais

convenientes de disposição utilizada em diversos países. Nos Estados Unidos da

América, metade do lodo de esgoto produzido é aplicada na agricultura (KHAI,

2007). Na comunidade européia, esta aplicação representa mais de 30% do total

produzido, enquanto na Dinamarca e na França esta destinação ultrapassa os

50% (MATTHEWS, 1998).

Embora os benefícios sejam aparentes é preciso lembrar os possíveis

impactos negativos da utilização do lodo como, por exemplo, contaminação por

patógenos e metais pesados principalmente. Assim, Tsutiya (1999) afirma que

antes de dispor o lodo como fertilizante em solos agrícolas é preciso atentar-se às

características das áreas, condições do solo, taxa de aplicação, tipo de cultura

agrícola a ser explorada e exigências legais.

A figura 7 a seguir demonstra os limites de metais pesados pela aplicação

de biossólidos em diferentes comunidades:

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Figura 7 – Cargas cumulativas máximas permissíveis de metais pesados pela aplicação de biossólidos em solos agrícolas (Fonte: (TSUTIYA, 1999)).

Nota-se pela tabela que países como a Bélgica e a Dinamarca apresentam

restrições apenas para o cromo enquanto a Inglaterra é o único país a descrever

limites máximos para todos os metais apontados. É importante perceber que os

níveis estipulados por cada país diference-se entre si, visto que para cada um

foram calculados valores de acordo com a realidade climática e metalogênica de

cada local.

As normas e limites estipulados pelos EUA, por exemplo, foi desenvolvido

pelo National Research Council cuja consideração inicial foi avaliação de risco do

uso de biossólido. Neste programa, assumiu-se que os contaminantes

provenientes dos biossólidos eram transportados por vias identificáveis. (USEPA,

1993). O Brasil, por meio da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento

Ambiental), estipulou valores iguais aos dos EUA com exceção do estado do

Paraná que adotou limites estabelecidos pela Espanha (ZEITOUNI, 2005).

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Devido aos diversos contaminantes que se agregam ao lodo durante o

tratamento dos efluentes não se recomenda a aplicação direta da biomassa em

áreas agrícolas ou florestais, devendo ser realizados tratamentos biológicos que

reduzam a carga orgânica e estabilizem o material como discutido anteriormente

no item de composição do lodo.

No estado do Paraná, onde a legislação vigente é mais rigorosa, não se

recomenda o uso do lodo em produtos consumidos crus ou que tenham contato

direto com o fertilizante como ocorre para horticultura, Porém, a aplicação de lodo

é bem aceita no cultivo de milho, trigo, cana-de-açúcar, sorgo, frutíferas, espécies

reflorestais e para recuperação de áreas degradadas (COMPANHIA DE

SANEAMENTO DO PARANÁ, 1997).

Apesar da possibilidade de toxidez inclusive com compostos fenólicos, em

comparação com outras formas de disposição, o lodo como fertilizante orgânico

composto reduz os efeitos negativos causados pela incineração (a qual representa

outra forma de deposição do lodo), melhora o balanço do CO2 pela disponibilidade

de matéria orgânica no solo e diminui a necessidade de fertilizantes minerais para

produção agrícola (FILHO e BARBOSA, 2006). Além disso, as condições

climáticas e o tipo de solo presente no Brasil requerem reposição de matéria

orgânica como forma de aumentar a capacidade produtiva dos solos, nutriente em

abundância no lodo, já que altas temperaturas e umidade aceleração a

degradação do mesmo (BISCAIA e MIRANDA, 1996).

Outros atributos físicos influenciados positivamente pelo lodo são a taxa de

infiltração da água no solo, o volume de poros e a capacidade de retenção de

água, que é afetada pelo número e distribuição dos poros pela superfície

específica (MELO e MARQUES, 2000). A dificuldade de infiltração foi apontada

apenas para camada superficial, não comprometendo as camas mais profundas

do solo.

Por outro ângulo, Stevenson (1982) verificou que a adição de material

orgânico pode estimular a decomposição do húmus. O aumento da população

microbiana provoca, então, a produção de enzimas as quais atacam o material

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orgânico do lodo reduzindo seu índice no solo ao invés de aumentar. O autor,

entretanto, afirma que este quadro poderia ser revertido com aplicações mais

sucessivas na área de interesse.

Nas Em cultura do girassol e feijão, Deschamps e Favaretto (1997)

conseguiram atingir os níveis de nitrogênio exigidos para a cultura apenas pela

utilização do lodo como fertilizante, não detectando prejuízos de rendimento em

comparação ao uso de adubação mineral. Também foi possível detectar que a

aplicação da biomassa promoveu o aumento do pH do solo, agindo como corretor

de acidez e reduziu a concentração de alumínio trocável.

Uma vantagem interessante do lodo em relação aos fertilizantes

convencionais observada por Melo e Marques (2000) foi a absorção gradativa do

fósforo a qual permitiu melhor utilização pela planta. É necessário estar atento às

necessidades do solo, porque, caso o nutriente permaneça em excesso por longos

períodos este pode sofrer lixiviação.

Um ponto a ser melhorado no lodo é o percentual de potássio o qual não

satisfaz as exigências nutricionais das plantas, necessitando sempre de um

complemento mineral. A variada composição do lodo e a complexidade para

mantê-lo estável são pontos adversos que causam falta de equilíbrio dos

nutrientes em sua composição. Esta é uma desvantagem em relação ao

fertilizante mineral que possui formulação fixa e controlada.

Segundo Silva et al. (2010), o uso de biossólido em cana-de-açúcar

aumentou a atividade da fosfatase ácida (houve incremento de cobre e zinco cuja

função de catálise contribui para ampliar a taxa fotossintética), a produtividade de

biomassa e açúcares.

Estudos comparativos de Galdos, De Maria e Camargo (2004) e Silva,

Resck e Sharma (2002) concluíram que o lodo como fertilizante foi mais eficiente a

ponto de promover maior produção que o superfosfato triplo, um tipo de fertilizante

mineral.

Por ser gerado como subproduto, o lodo apresenta baixo custo como

fertilizante quando comparado aos exemplares industriais. O transporte e a

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distância a ser percorrida para sua aplicação, contudo, são determinantes para

sua viabilização econômica.

Percebe-se assim, as diversas vantagens e impactos que o uso de lodo

como fertilizante pode oferecer à agricultura mundial. Esta disposição tem sido

indicada como a mais viável econômica e ambientalmente, mas muitas outras

aplicações ainda estão em estudo.

2.6. Outras Aplicações e Destino do Lodo

2.6.1. Destinação a Aterros

É forma de disposição que confina a biomassa de forma segura e compacta

evitando danos ao meio ambiente e à população. Aproximadamente 41% do lodo

produzido nos EUA e 40% na Europa são destinados aos aterros (TSUTIYA,

2001).

Utilizado principalmente quando o lodo produzido:

a) Não atende aos requisitos necessários para outras aplicações

b) É excedente

c) Para disposição de cinzas de incineração

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2.6.2. Destinação a Florestas

As vantagens neste uso são praticamente as mesmas observadas para o

uso de biossólidos em áreas agrícolas como favorecimento da formação de

agregados no solo, fator o qual favorece a penetração das raízes no solo e a vida

microbiana, atuação como condicionador do solo, melhoria do nível de fertilidade,

aumento de pH, diminuição da acidez potencial e aumento gradual da

disponibilidade de nutrientes (TSUTIYA, 2001). Uma vantagem adicional é que a

matéria receptora do lodo não será destinado para consumo humano ou de outros

animais.

2.6.3. Aplicação em Construção Civil

O lodo passou a ser inicialmente utilizado na construção civil na parte de

cerâmicas e tem potencial no setor para formação de estruturas de concreto cuja

resistência requerida é baixa. Para a utilização como concreto, o lodo também

precisa passar por etapas de higienização e estabilização com tratamento térmico

cuja temperatura estabelecida definira diferentes características e propriedades

mecânicas.

Na figura 8 pode-se observar os diferentes usos do lodo no setor.

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Figura 8 – Aplicação do lodo em diferentes segmentos do setor de construção civil de acordo com o tratamento de estabilização realizado (Fonte: (FEDRIZZI, 2012)).

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3. Metodologia

A metodologia deste trabalho empregou a Pesquisa Documental cujo

estudo é focado no entendimento dos benefícios e impactos da utilização do lodo

como fertilizante bem como da composição da biomassa, tipos de tratamento

utilizados para sua estabilização, eliminação de patógenos e redução de metais

pesados, produção de lodo em diferentes sistemas de tratamento de efluentes do

Mundo, exigências legais e suas considerações na composição do lodo, tipo de

vantagens e dificuldades encontradas por diferentes autores em diferentes

culturas para a utilização de lodo como biossólido. Destacou-se também a

importância da escolha de uma destinação economicamente viável e sustentável

para utilização do lodo residual das estações.

As informações coletadas foram obtidas principalmente de teses de

mestrado e doutorado, publicações em revistas e congressos e livros que

abordavam diferentes expectativas da aplicação do lodo no solo. Esta forma de

pesquisa possibilitou identificar as diferenças da ação do lodo em plantios distintos

bem como observar resultados semelhantes ou opostos quanto sua utilização

como fertilizante ampliando a pesquisa. Como o tema aborda riscos associados ao

meio ambiente e à saúde humana, foram consultados domínios virtuais de

organizações internacionais e legislações associadas ao tema. Estes documentos

são públicos e responsáveis pela gestão de conhecimento confiável.

Os dados utilizados foram retirados de fontes nacionais e internacionais de

modo a englobar da melhor forma possível o conteúdo em questão. Muitos

autores apresentam diversas obras do mesmo tema demonstrando experiência e

domínio do assunto, o que também contribui para maios confiabilidade dos dados

encontrados.

A revisão teve por objetivo identificar se a utilização do lodo como

fertilizante é viável ou não, levando-se em consideração questões como

sustentabilidade (social, econômico e ambiental), saúde, política internacional e

nacional e desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Ao longo da monografia, a

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partir destas análises, foi possível comparar as vantagens e desvantagens da

utilização do lodo como fertilizante comparando-se também com os fertilizantes

convencionais adotados hoje em dia.

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4. CONCLUSÃO

A aplicação do lodo como biossólido apresenta diversas vantagens das

quais de se destacam:

(i) Atuação como condicionador do solo, formação de agregados e

aumento do volume de poros. Estes fatores favorecem o crescimento

e penetração das raízes no solo e o desenvolvimento de

microrganismos os quais, ao se associarem às raízes em simbiose,

melhoram absorção de nutrientes pela forma como os mesmos são

disponibilizados.

(ii) Aumento do pH e redução da acidez potencial. Esta consequência

da aplicação do lodo fator é extremamente interessante

principalmente no Brasil onde aproximadamente 65% do solo é

classificado como ácido e pobre em nutrientes. Assim, a presença de

nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio, cálcio, níquel zinco e matéria

orgânica é outro fator vantajoso para o uso de lodo como forma de

aumentar a produtividade agrícola e o crescimento vegetal.

(iii) Absorção gradativa dos nutrientes e melhor balanço do CO2 devido à

disponibilidade de matéria orgânica fornecida pelo lodo. A absorção

mais lenta permitida pela aplicação do lodo promove a

disponibilização do nutriente por mais tempo e melhor eficiência de

uso.

Apesar dos diversos benefícios, o uso de lodo também apresenta

desvantagens relacionadas à presença de metais pesados, compostos fenólicos,

baixo teor de potássio e dificuldade de infiltração:

(i) A principal preocupação relacionada à presença de metais pesados

e compostos fenólicos no lodo é o potencial tóxico. Metais pesados

podem causar mutações cromossômicas, malformação congênita,

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inflamações em órgãos vitais câncer e danos neurológicos enquanto

os fenóis causam sérios problemas a microbiota do solo.

(ii) O baixo teor de potássio no biossólido deve ser complementado pelo

uso de fertilizantes minerais uma vez que este nutriente é essencial

para a proteção das plantas ao estar presente em estômatos.

(iii) A dificuldade de infiltração de água no solo por conta da aplicação de

uma massa sólida foi apontada como um problema registrado

apenas para a camada superficial não afetando o transporte de

nutrientes nas demais camadas do solo.

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RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como sugestão para futuros trabalhos destacam-se:

Análise microbiológica do lodo de esgoto;

Aprofundamento nas técnicas de tratamento do lodo para redução de

fenóis e metais pesados;

Comparação do custo da aplicação de fertilizantes minerais e

biossólidos em diferentes culturas agrícolas.

Estudo da otimização do tratamento do efluente para a produção de

lodo específico para aplicação em solo.

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