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FELIPE GUIMARÃES FACURI O USO DO FUNIL DE INOVAÇÃO PARA ANÁLISE DE PROCESSOS INOVATIVOS E DE OUTSOURCING NA INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS: UM ESTUDO DE CASO Lorena – SP 2013 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena

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FELIPE GUIMARÃES FACURI

O USO DO FUNIL DE INOVAÇÃO PARA ANÁLISE DE PROCESSO S

INOVATIVOS E DE OUTSOURCING NA INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS: UM

ESTUDO DE CASO

Lorena – SP

2013

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Engenharia de Lorena

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FELIPE GUIMARÃES FACURI

O USO DO FUNIL DE INOVAÇÃO PARA ANÁLISE DE PROCESSO S

INOVATIVOS E DE OUTSOURCING NA INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS: UM

ESTUDO DE CASO

Monografia de conclusão de curso apresentado a Escola de Engenharia de Lorena EEL-USP para a obtenção do título de Engenheiro Químico. Orientador: Professor Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

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Aos meus pais, Edson e Elza que me ensinaram

e moldaram, acima de tudo, a ser quem sou.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, em primeiro plano, à Universidade de São Paulo e

à Escola de Engenharia de Lorena, assim como todos seus professores e

funcionários. Sem eles, todas as experiências, amigos, o conhecimento que

adquiri e o título de engenheiro não fariam parte da minha vida.

Aos meus pais, Edson e Elza, que souberam o tempo exato para

realizarem o segundo feito mais importante de suas vidas. Junto com meu irmão

Gabriel, fornecendo o apoio sem fim, mesmo com a saudade e a distância, se

mantiveram sempre fortes ao meu lado.

Serei sempre grato ao meu tio Rafael, o profissional e ser humano que uso

como exemplo da profissão na qual ele mesmo me inspirou.

Agradeço à minha parceira, amiga, confidente e amada Janaina. Nunca

desestimulada pela distância e pelas dificuldades; eu te amo meu amor.

Por último, mas não menos importante, durante esses anos em Lorena

estão os mais de 20 irmãos que ganhei da República del Ponte. Fomos amigos,

companheiros os pais uns dos outros.

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RESUMO

FACURI, F. G. O uso do funil de inovação para análise de processo s

inovativos e de outsourcing na indústria de cosméticos: um estudo de caso .

2013. 59 f. Monografia (conclusão de curso) – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

O presente trabalho de monografia apresenta um estudo de caso envolvendo a

implementação de duas inovações na área de cosméticos, o qual suas

manufaturas foram iniciadas diretamente em um terceiro, exibindo também quais

foram as motivações para o outsourcing. Para o acompanhamento, foi utilizado o

“funil de inovação”, que apresentou todos os procedimentos e ações

frequentemente utilizadas nesse tipo de situação. O trabalho mostra quais

modificações no produto e em sua produção que podem reduzir a complexidade

dos processos de terceirização. Por fim, constatou-se que a introdução do projeto

estudado ocorreu de forma adequada e do com os resultados esperados,

demonstrando assim a eficácia de controle que as fases e gates proporcionaram

ao processo de inovação.

Palavras-chave: Outsourcing.Terceirização. Funil de inovação. Indústria de cosméticos.

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ABSTRACT

FACURI, F. G. The usage of innovation funnel for the analysis of innovative

and outsourcing processes in the cosmetics industry : a case study. 2013. 59

f. Monografia (conclusão de curso) – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

This research monograph presents a case study involving the implementation of

two innovations in cosmetics bussiness, which its manufactures were started

directly in a third party industry, also exhibiting what were the motivations for

outsourcing. For the follow up, the “innovation funnel” was used, which showed all

procedures and actions commonly used in this type of situation. The monograph

shows what kind of changes in the product and its production which can reduce

the complexity of outsourcing processes. Finally, it was agreeded that the

introduction of the studied project was adequately done and with expected results,

thus demonstrating the control effectiveness of the phases and gates provided for

the innovation process.

Keywords: Outsourcing .Third-party. Innovation funnel. Cosmetics Industry.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abifra – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Essenciais, Produtos

Químicos Aromáticos, Fragrâncias, Aromas e Afins.

ABIHPEC - Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos.

BCT – Batch cycle time (tempo de ciclo de batch).

CapEx – Capital expenditure (despesa de capital).

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

GPS - Global Positioning System (sistema de posicionamento global).

HPC – Hygiene and personal care (higiene e cuidados pessoais).

INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia.

MPT – Main Plant Trial (teste em planta principal).

PC - Personal Care (cuidado pessoal).

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento.

R&D – Research and Development (pesquisa e desenvolvimento).

RH - Recursos Humanos.

SKU – Stock keeping unit (unidade de manutenção de estoque).

TI - Tecnologia da Informação.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Diagrama para decisão de fazer ou comprar ....................................... 16

Figura 2 – Distribuição das indústrias de cosméticos em outubro de 2012 .......... 22

Figura 3 - Funil de inovação utilizado na Unilever ................................................. 28

Figura 4 - Andamento do Projeto King dentro do funil de inovação ...................... 34

Figura 5 - Análise de mercado em 2010 ............................................................... 36

Figura 6 - Realização de um dos MPT’s do Projeto King ...................................... 43

Figura 7 - Pontos de maior importância na avaliação pós-MPT ............................ 45

Figura 8 – Change parts: estrelas (peças azuis) e rosca (peça branca) ............... 47

Figura 9 - Sabonetes Colgate-Palmolive que utilizam a mesma embalagem ....... 48

Figura 10 - Produtos Unilever que utilizam mesmo chassi de formulação ............ 49

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Fatores que contribuem para a não terceirização .................................. 19

Gráfico 2 - Importância dos fatores para a decisão de terceirizar ............................. 21

Gráfico 3 - Vendas totais anuais da indústria de cosméticos brasileira .................... 23

Gráfico 4 - Investimento realizado pelas empresas do setor, em bilhões de reais.... 27

Gráfico 5 - Divisão do volume de mercado para cada região.................................... 37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

1.1 Justificativa .................................................................................................. 13

1.2 Objetivo Geral .............................................................................................. 14

1.3 Objetivos específicos ................................................................................... 14

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 15

2.1 Outsourcing .................................................................................................. 15

2.1.1 Terceirização dos processos de manufatura ......................................... 19

2.2 A indústria de cosméticos ............................................................................ 21

2.3 Inovação ...................................................................................................... 24

2.3.1 Inovação dentro do contexto da indústria de cosméticos ...................... 26

2.3.2 O funil de inovação ................................................................................ 27

3 METODOLOGIA ................................................................................................ 30

3.1 Tipo de pesquisa .......................................................................................... 30

3.2 População e amostra ................................................................................... 30

3.3 Coleta de dados ........................................................................................... 32

3.4 Análise de dados ......................................................................................... 33

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 34

4.1 Fase de Ideia ............................................................................................... 35

4.2 Fase de Viabilidade...................................................................................... 38

4.2.1 Razões para o outsourcing .................................................................... 38

4.2.2 Validação do terceiro ............................................................................. 42

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4.2.3 Redução de complexidade .................................................................... 46

4.3 Fase de Capabilidade .................................................................................. 50

4.4 Status do projeto .......................................................................................... 51

5 CONCLUSÕES .................................................................................................. 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 54

ANEXO A - Estudo do mercado na América Latina .................................................. 55

ANEXO B - Estudo do mercado global ..................................................................... 55

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1 Introdução

Nas últimas décadas, o meio empresarial tem mostrado um aumento em

seu nível de concorrência, acompanhado de um mercado consumidor cada vez

mais exigente. Esse fato tem levado as empresas a buscarem alternativas de

gestão que melhorem seu desempenho organizacional e aumentem seu grau de

vantagem competitiva sobre os concorrentes. Dessa forma, as empresas tendem

a incorporar ferramentas e práticas em sua gestão estratégica que, como

resultado esperado, exerçam impactos positivos sobre os resultados do negócio.

(MACHADO, 2010)

O setor industrial possui a característica de ser altamente evolutivo, onde

ocorrem mudanças cada vez maiores e mais intensas em seu modo de trabalho.

Uma dessas evoluções que pode ser ressaltada é o processo de “outsourcing”,

conhecido no Brasil como “terceirização”.

Assim, com o advento da terceirização, muitas empresas optam por

delegar a terceiros uma parte da gestão, das operações ou da sua cadeia

logística. Atualmente, esse fato faz parte de uma tendência mundial das

organizações que buscam atingir um nível mais elevado de produtividade,

aumentando também o grau de qualidade de seus produtos e serviços, aliado a

redução de custos, o que sustenta então sua sobrevivência em mercados de alta

competitividade.

Terceirizar consiste em repassar uma atividade antes feita pela própria

empresa para outra companhia, que é especializada nessa atividade. Em um

primeiro momento, apenas atividades completamente fora da finalidade das

empresas foram terceirizados, como serviços de segurança e limpeza. Após isso,

a busca por empresas especializadas se estendeu também, por exemplo, para os

serviços de recursos humanos, manutenção e logística.

Deste modo, são transferidas aos terceiros as atividades que são

secundárias e de suporte, através de um processo cuidadosamente gerenciado,

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que exige parceria entre ambas as empresas, para que cada uma coordene seu

negócio e se concentre no objetivo principal, resultando na maior qualidade da

execução de seus serviços e processos.

No cenário atual da terceirização, é possível notar até órgãos públicos com

alguns de seus serviços terceirizados, como as auditorias internas no INMETRO

(BARRETO, 2010). No caso da indústria, diversas companhias terceirizam

projetos e desenvolvimento de produtos, enquanto outras repassam etapas ou

linhas inteiras de manufatura totalmente para outras empresas, como por

exemplo, o caso da Apple Inc. que tem contrato com a empresa Foxconn para

realizar a montagem de seus equipamentos eletrônicos (FERGUSON, 2013).

1.1 Justificativa

A importância dessa obra de monografia é representada pela presente

tendência crescente das indústrias, especialmente aquelas do ramo de

cosméticos e produtos de cuidado pessoal, de migrarem parte ou toda sua linha

de manufatura para empresas terceirizadas, especializadas na produção desses

produtos acabados, prontos para venda.

A prática do outsourcing afeta diretamente o negócio e a competitividade

no setor de cuidados pessoais, tendo importância direta na sobrevivência e

desempenho de novos projetos ou produtos dentro do mercado.

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1.2 Objetivo geral

Acompanhar e avaliar o projeto de outsourcing de todo o processo de

produção referente a uma nova linha de produtos cosméticos de um grande

fabricante multinacional, a partir do uso do Funil de Inovação.

1.3 Objetivos específicos

Acerca do tema proposto, o trabalho tem como objetivo apresentar os

procedimentos padrões ou frequentemente seguidos quanto à terceirização da

manufatura de produtos previamente realizada dentro da empresa que busca o

outsourcing, assim como empresas nas quais suas inovações podem ser

terceirizadas desde o início de sua produção.

O estudo de caso apresentando tem como meta a implementação de novos

produtos diretamente em um terceiro, que tenha experiência nesse tipo de

produção, sendo esse caso alvo de um estudo mais profundo pela presente

monografia, apresentando também suas motivações para a terceirização.

O trabalho, em seu estudo de caso, acompanhará a implementação do

projeto estudado seguindo o Funil de Inovação.

Por último, como objetivo secundário, o estudo também visa mostrar certos

pontos de simplificação para que os processos a serem terceirizados possam ser

padronizados ou então que sejam facilitadas tais mudanças.

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2 Revisão da literatura

2.1 Outsourcing

Quanto à terminologia usada, o relatório do DIEESE (2007) define

terceirizar como “a ideia de um trabalho realizado por terceiros, (...) algo feito por

outros”. Já a palavra equivalente em inglês, outsourcing1, que também é muito

usada, é também definida pelo DIEESE como um “fornecimento vindo de fora”.

A terceirização dos serviços, ou outsourcing, é uma das estratégias

adotadas pelas organizações para se tornarem mais competitivas. Consiste

basicamente em repassar as tarefas secundárias, ou também chamadas de

atividades meio, para empresas especializadas nesses serviços, para que com

isso, as empresas contratantes podem dedicar-se mais a sua atividade principal,

ou atividade fim (CAMBUI, 2004). Essa definição de Cambui se encaixa na lógica

central da terceirização, porém a prática hoje se estendeu também para as

atividades primárias, como no caso da manufatura.

Desta forma, o outsourcing é um processo em que um conjunto de

atividades ou serviços realizados por uma empresa são executados por uma outra

empresa externa, através de um relacionamento colaborativo e interdependente.

A empresa fornecedora desenvolve e melhora continuamente a sua competência

e infraestrutura para atender ao cliente, o qual deixa de possuí-las total ou

parcialmente, mas mantendo uma estreita relação com o fornecedor (PIRES,

1998 apud PIRES, 2004). O relatório do DIEESE (2007) cita as inovações de

produto e gerenciais, simplificação de processos produtivos e administrativos e

por fim a eliminação de desperdícios como justificativas de terceirização.

1 Dentro das empresas, principalmente as multinacionais, é muito comum o uso de termos e expressões em inglês. Durante o trabalho, para maior proximidade com a indústria, serão adotados muitos desses termos estrangeiros.

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Dentro do questionamento de quais operações ou negócios uma empresa

deve realizar outsourcing, Slack (2006) propõe uma análise para a decisão prática

de se fazer ou comprar, onde o primeiro termo significa manter o processo interno

e o segundo constitui na aquisição externa por meio da terceirização.

Figura 1 – Diagrama para decisão de fazer ou comprar (Fonte: SLACK et al., 2006, p.100)

Focar nas atividades fim é também poupar recursos, tempo e se dedicar ao

que a empresa tem como seu diferencial frente aos concorrentes. Por exemplo, a

empresa A, que produz GPS automotivo, tem como seu diferencial o software

intuitivo e de fácil utilização. Portanto, é de se esperar que ocorra terceirização do

desenvolvimento de hardware para a empresa D e a montagem do equipamento

para a empresa M, deixando somente o desenvolvimento e instalação do

programa para a empresa A, etapa na qual ela possui excelência.

Os processos de terceirização, apesar de começarem a ser utilizados no

Brasil de forma muito tímida no início da década de 1980, ganharam destaque

nos meios empresariais a partir do início da década de 1990 e marcaram essa

década, quando da abertura do mercado nacional à economia mundial já em

estágio avançado de globalização (MARCIUS et al, 2006). Assim, a relação de

cooperação entre as empresas tornou-se uma estratégia competitiva de mercado

na qual, juntas, as empresas procuravam reduzir custos de processos e

operacionais, com aumento de produtividade e qualidade, com o objetivo de

atender às expectativas e necessidades de seus clientes.

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Para Vernalha e Pires (2005), o outsourcing vem sendo praticado com a

finalidade de redução de custos e para aumentar a flexibilidade das empresas,

para manter o foco nas suas competências e atividades principais, ao contrário de

uma ideia anterior na qual eram terceirizadas somente as atividades não

produtivas de uma empresa. Para eles, as empresas terceiras nascem a partir de

um procedimento de desverticalização2 de uma organização mãe, ou surge

através de empresas atentas à oportunidade de mercado em que assumem uma

postura gerencial adequada a cada situação.

Outsourcing pode ser aplicado em diversas áreas e indústrias, com os mais

diversos objetivos e resultados. Como alguns exemplos, tem-se:

a) Setor público: por meio de parcerias e concessões, o Estado repassa a

execução de atividades como limpeza pública, saúde, administração de rodovias,

entre outras;

b) Setor bancário: terceiriza na maioria das vezes o atendimento ao cliente em

call centers, serviços de impressão, entregas, comunicação e informática (TI);

c) Setor industrial químico: limpeza, vigilância, RH, logística, montagem e

manutenção.

Algumas vantagens e desvantagens dos processos de terceirização são

(HANDFIELD & NICHOLS, 2002):

Vantagens:

- Maior flexibilidade;

- Melhor qualidade de produtos e serviços;

- Diminuição dos equipamentos e espaços físicos;

- Maior especialização;

2 Desverticalização remete à diminuição ou extinção da cadeia hierárquica interdependente entre processos de manufatura ou administrativos dentro de uma empresa. (CONTADOR, 1999)

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- Redução do quadro de funcionários, assim como os custos a ele

atrelados;

- Melhor utilização dos recursos disponíveis;

- Melhora nos fluxos de materiais e recursos;

- Redução de investimentos em fábricas e equipamentos;

Desvantagens:

- Resistência de alguns setores quanto às mudanças;

- Falta de empresas que atendam as necessidades dos contratantes;

- Alta complexidade;

- Dependência da empresa contratante com relação à contratada,

relacionada à importância do processo;

- Interferência do fornecedor sobre a flexibilidade da empresa em atender à

demanda de mercado;

- Perda de controle sobre os processos;

- Comprometimento da qualidade do produto;

- Transferência tecnológica e de conhecimentos.

Do mesmo modo que cada setor ou indústria tem serviços ou tarefas mais

comumente terceirizados, Kujuwa (2003) faz também uma análise dos motivos

mais comuns que contribuem negativamente para o processo de outsourcing,

conforme o conteúdo apresentado no Gráfico 1.

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Gráfico 1 – Fatores que contribuem para a não terceirização (Fonte: adaptado de KUJAWA, 2003, p.6.)

2.1.1 Terceirização dos processos de manufatura

A terceirização pode ser aplicada em diversas áreas de uma empresa,

onde se julgue necessário e/ou onde a empresa não deseja aplicar seu foco.

Deste modo, em algumas empresas a própria manufatura de seus produtos é

terceirizada, o que é chamado de externalização da manufatura. A terceirização é

passível de ser aplicada a uma ou mais etapas do processo de manufatura,

podendo, em qualquer processo, ir de sua fase inicial até ao fim. Esses processos

podem compreender desde apenas um único produto até o portfólio completo da

empresa. Em diversos casos de terceirização da manufatura, os processos

produtivos externalizados estão distribuídos por diversos terceiros, cada um deles

possuindo pleno domínio e conhecimento sobre cada produto ou tecnologia

aplicada.

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O processo de terceirização da manufatura é definido como a transferência

da propriedade de um processo produtivo de uma corporação para uma outra

empresa, sendo que a responsabilidade da manufatura é totalmente transferida

para essa firma contratada (ANDRADE & FURTADO, 2005).

Portanto, para atender as demandas produtivas e inovativas, algumas

empresas tem de usar as instalações, equipamentos, mão-de-obra e materiais de

outras contratadas ao invés de utilizar os recursos já existentes na sua fábrica, ou

então abrir mão do investimento para aprimorar a estrutura produtiva. Os

processos de outsourcing da manufatura são na maioria complexos, de forma que

envolvem diferentes níveis gerenciais e técnicos (VERNALHA & PIRES, 2005).

Furtado e Andrade (2005) esclarecem que o início da terceirização dos

processos produtivos ocorreu nas empresas de moda e calçados, que ao

repassarem todo processo de manufatura, concentraram seus recursos,

principalmente, nas áreas de marketing e desenvolvimento de novos produtos.

Em função disto, estas empresas conseguiram ter uma grande redução de custos

e habilidade de mudança rápida de portfólio (associado à ideia de flexibilidade).

Desde então, outras empresas de outros setores adotaram as mesmas práticas.

Sturgeon (1997) cita o outsourcing da manufatura como uma importante

ferramenta para implementação de inovações. Com a produção externa a

empresa, as inovações podem ser concebidas e testadas nos mais diversos

ambientes produtivos, sem a necessidade de se investir em equipamento,

diminuindo o lead time3 entre a ideia e o produto final, fator que é crucial em

termos de concorrência e competitividade.

O Gráfico 2, extraído do estuda da CNI (2009), mostra as três maiores

motivações para a terceirização da manufatura, assim como o peso que cada

ponto de benefício exerce sobre a análise de se terceirizar.

3 Lead time: período de tempo entre o início e o fim de uma atividade, sendo essa produtiva ou não.

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Gráfico 2 - Importância dos fatores para a decisão de terceirizar (Fonte: CNI, 2009)

2.2 A indústria de cosméticos

A indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos abrange uma

extensa família de produtos sem fronteiras precisas, pois englobam bens que vão

desde sabonetes e shampoos, passando por maquiagem até chegarem aos

cremes hidratantes e protetores solares.

Conforme dados do ano de 2012 da ABIHPEC (Associação Brasileira das

Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), existem no Brasil 2.329

empresas que atuam no mercado de cosméticos e cuidados pessoais, dos quais

se destaca 20 empresas de grande porte atuando em nosso país.

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Figura 2 – Distribuição das indústrias de cosméticos em outubro de 2012 (Fonte: ABIHPEC, 2012)

O mercado brasileiro é o terceiro maior consumidor de produtos de PC4 do

mundo e faturou quase 30 bilhões de reais em 2011, ficando atrás somente dos

Estados Unidos e Japão (ABIHPEC, 2012).

O Gráfico 3 apresenta o crescimento acelerado do mercado brasileiro de

produtos cosméticos.

4 Personal Care: categoria que inclui os produtos cosméticos e de higiene pessoal dentro dos bens de consumo.

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Gráfico 3 - Vendas totais anuais da indústria de cosméticos brasileira (Fonte: ABIHPEC – Euromonitor, 2012)

A indústria de cosméticos, em seus processos de manufatura, possui

estreita relação com outros segmentos indústrias, tais como:

I. Indústria química, em razão da utilização e sintetização de insumos

oriundos dessa indústria (como surfactantes, preservantes, corantes, entre

outros insumos);

II. Indústria farmacêutica, na qual ocorre o desenvolvimento e a pesquisa de

princípios ativos de benefícios estéticos;

III. Indústria de fitoterápicos, com seus medicamentos originados de material

botânico e seus extratos, largamente utilizados nos cosméticos

(GUIMARAES, 2010).

Com o crescimento das indústrias de cosméticos e cuidados pessoais, há

também um desenvolvimento intenso das indústrias de suporte, como por

exemplo, as fabricantes de fragrâncias e perfumes, que vêm instalando unidades

no Brasil. Isso se deve também ao fato de que o desenvolvimento dos novos

produtos há uma grande colaboração desses parceiros industriais. Segundo

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dados da Abifra, Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Essenciais,

Produtos Químicos Aromáticos, Fragrâncias, Aromas e Afins, três importantes

centros de desenvolvimento da área de fragrâncias e aromas foram instalados no

Brasil nos últimos três anos, indicando o crescimento do setor (ABIHPEC, 2012).

Garcia e Furtado (2002) ainda salientam que “as linhas de produtos

cosméticos de grandes empresas originaram-se de atividades no ramo químico e

no de higiene pessoal. Um exemplo (...) é o da estadunidense Johnson &

Johnson, cujas atividades incluem a indústria farmacêutica, instrumentos

cirúrgicos, higiene pessoal e de cosméticos, (...). Entre outros exemplos similares,

encontram-se as estadunidenses Colgate-Palmolive e Procter & Gamble e a

anglo-holandesa Unilever”, deixando claro sobre a grandeza dos portfólios

trabalhados pelos grandes players globais.

Neste segmento de cosméticos destacam-se grandes e pequenas

empresas que possuem características distintas em seus modos de atuação,

porém que possuem um grande espaço expansivo e são muito dinâmicas, já que

produtos cosméticos possuem um enorme potencial de penetração no mercado

nacional e internacional, além do setor ter uma cadeia produtiva cada vez mais

crescente.

2.3 Inovação

Para entender o conceito de inovação é preciso explicar, inicialmente, o

conceito de invenção.

Invenção é o ato de formular novos conceitos materiais ou não, sempre

vinculados aos primórdios de uma ideia apresentada. Já inovação, é quando se

agrega invenções aos processos e procedimentos, visando algo novo ou um

aprimoramento. Na indústria, as inovações podem ser tanto de produto, processo

ou até mesmo no ambiente administrativo (FILHO et al., 2008).

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Um conceito importantíssimo é citado por Neto (2003), o qual diz que

inovação é uso de maneira comercial de novidades ou aperfeiçoamentos

previamente pesquisados e estudados. Portanto a inovação na indústria é dita

como a evolução ferramental e de práticas nos âmbitos de processo, produto e

mercado.

A inovação é um dos fatores importantes para que uma empresa possa se

manter no mercado. Com os efeitos cada vez mais presentes da globalização e,

consequentemente, o aumento da concorrência, as empresas tornaram-se mais

competitivas, diversificando seus produtos, reformulando seus processos,

serviços e estratégias (FRITZ et al., 2006).

A gestão das inovações dentro de uma empresa usa as prioridades

estratégicas da organização como linha guia das inovações, envolvendo todo

pessoal interno - com grande destaque para marketing, P&D e manufatura - assim

como externo (fornecedores e parceiros). Deste modo, as empresas precisam ter

gestores e incentivos internos para que se crie cada vez mais, criando um

constante fluxo de inovações.

Para Avelar e Souza (2005), as empresas, com relação ao comportamento

estratégico de inovação, podem seguir alguns modelos:

I. Comportamento ofensivo: é adotado por empresas de ponta, que se

arriscam ao serem pioneiras nos lançamentos.

II. Comportamento defensivo: utilizado por empresas de espirito inovador,

mas que querem uma segurança maior ao lançar produtos novos, por isso

geralmente são as segundas, dentro de uma ordem cronológica, a

colocarem essas inovações no mercado.

III. Comportamento tradicional: apresentado por empresas que têm uma

conduta estratégica mais sólida e estável, aguardando um longo prazo

após os lançamentos das inovações de seus concorrentes e levando um

extenso período de tempo para reagir.

IV. Comportamento dependente: comumente visto em empresas que se

mostram passivas ao mercado, pois muitas vezes são subordinadas a uma

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matriz e não possuem liberdade para inovar. A maioria de seus projetos é

de melhoria ou redução de custos.

2.3.1 Inovação dentro do contexto da indústria de c osméticos

Segundo Fritz e Souza (2006), o mercado cada dia mais exigente, o

aumento da demanda de produtos cada vez mais específicos quanto ao gênero e

raça, e também o acesso mais fácil e barato aos produtos de cuidados pessoais,

fazem com que as empresas invistam cada dia mais na busca pela melhoria

contínua de seus processos e principalmente do anseio da inovação de seu

portfólio, para atingir uma maior variedade de mercados e consumidores.

A indústria de cosméticos no Brasil aplicou em média 2% (chegando até

5%) de seu faturamento em P&D, contra 0,7% da média da indústria brasileira

(ABIHPEC, 2012), o que ressalta o espírito inovativo das indústrias de

cosméticos. O Gráfico 4 apresenta os valores médios destinados anualmente

para as inovações na indústria de cosméticos e cuidados pessoais.

A maioria das ações de pesquisa na área de cosméticos ocorre nas

grandes empresas multinacionais, por possuírem sólidos centros de pesquisa e

capacidade de assumir os riscos inerentes às inovações. Por outro lado, as

pequenas e médias empresas do ramo, também investem em inovações, só que

em projetos menores e possuem um foco maior na melhoria do processo

(AVELAR & DE SOUZA, 2005).

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Gráfico 4 - Investimento realizado pelas empresas do setor, em bilhões de reais (Fonte: ABIHPEC, 2012)

2.3.2 O funil de inovação

Um dos modos de controle e incentivo das inovações mais usado é o

chamado funil de inovação (CLARK & WHEELWRIGHT, 1993). Como há um

enorme número de ideias e variáveis que são discutidas dentro do setor de

criação de uma empresa, se faz necessária a redução do número de projetos de

inovação que são criados, mantendo foco sobre aqueles que possuem maior

probabilidade de sucesso ao entrarem em vigência.

Sob a ótica de Kotler (2000) o funil de inovação que conta com fases e

portões (phases e gates) demonstra ser o mais eficaz método para

gerenciamento de projetos de inovação, por possuir etapas e paradas para

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análise, onde não se deixa avançar até que todos os pontos vitais para o projeto

seguir sejam previamente revisados e dados como concluídos.

Dentro do funil, as ideias ou pré-projetos – frequentemente levantados por

questões do dia-a-dia, por pesquisa ou por workshops de inovação - passam por

fases, que desenvolvem e trabalham cada ponto especifico do projeto (geração

de documentos e execução de ações), pois já fazem parte de um padrão, porém

esse modelo varia dentre as empresas. Ao final do período estipulado para cada

fase, acontecem as reuniões de gate que contam com representantes de todas as

áreas envolvidas (Planejamento, Marketing, R&D5, Engenharia, Compras, etc.),

fazendo uma avaliação do que foi desenvolvido no projeto e dando-lhe o crédito

para continuar para a próxima etapa, ser reciclado ou então ser abortado. Esse

modelo garante que o projeto seja entregue “on time in full”, ou seja, no tempo

previsto e de forma completa.

A Figura 3 apresenta o “funil de inovação”, modelo esse utilizado pela

multinacional Unilever, onde os blocos demonstram as fases, enquanto os traços

representam os gates.

Figura 3 - Funil de inovação utilizado na Unilever (Fonte: Unilever, 2013)

A primeira fase do funil de inovação consiste na “fase de ideia”, que se

trata de um período exploratório para o desenvolvimento do conceito e para

5 Dentro das empresas de cosméticos, há uma tendência de denominar as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento como o acrônimo inglês R&D.

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identificar o impacto do projeto para a companhia e para o consumidor. Nesse

período, as questões levantadas abordam aspectos como “vale a pena continuar

com essa ideia?” ou até mesmo “devemos alocar recursos humanos e financeiros

para explorar mais a fundo?”.

Em seguida, o projeto passa pela “fase de viabilidade”, etapa na qual são

analisados os pontos técnicos e comerciais a fim de verificar se o projeto é

possível dentro dos objetivos e limitações da empresa. São desenvolvidos os

protótipos de embalagem e formulação, por exemplo. É também nesse ponto do

projeto geralmente se define se a manufatura será feita pela própria empresa ou

se haverá outsourcing da produção, já ocorrendo às primeiras cotações de

terceiros. Testes industriais são executados durante essa fase, e estes tem um

grande peso decisório dentro do gate ao final dessa fase.

Na terceira fase, a “fase de capabilidade”, as versões finais dos produtos

envolvidos no projeto já estão prontos para a execução operacional. Nesse

momento o estudo técnico-econômico completo do projeto é realizado, para que

se confirme a necessidade da aplicação dos custos estimados durante os testes,

e no caso de terceiros, para que se o defina a empresa e que o contrato de

prestação de serviço seja assinado.

Pontos como planos de propaganda e marketing, distribuição e vendas são

fechados durante a “fase de market ready”, onde o projeto já está em um nível de

desenvolvimento tão avançado que a recusa da sua execução por qualquer parte

já não é mais aceita. Nessa fase, plantas ou linhas modificadas são

comissionadas e toda produção já é direcionada para o mercado.

Para finalizar o projeto, há a “fase de avaliação pós-lançamento”, com o

intuito de monitorar o andamento das vendas e também a capabilidade da

produção para que o “projeto” passe a ser considerado um produto de produção

corrente. Essa etapa fornece os grandes aprendizados que serão usados para

aprimorar o projeto após seu lançamento (como, por exemplo, a redução de seus

custos) ou então para projetos futuros.

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3 Metodologia

3.1 Tipo de pesquisa

Yin (2005) e Goode (1969) situam a estudo de caso como uma

metodologia de pesquisa exploratória que analisa fenômenos reais de ocorrência

recente, na qual são coletadas informações de diversas fontes, como observação

direta e entrevistas, buscando responder a motivação dos acontecimentos e como

eles ocorrem ou já ocorreram.

No estudo de caso, o pesquisador não tem controle ativo nos

acontecimentos examinados, portanto não pode alterar seu desenvolvimento nem

resultados, preservando suas particularidades. O papel do observador se resume,

basicamente, em observar os fatos, explicá-los com base científica, assim como

avaliar e comentar o que estiver envolvido na sua área de estudo. (YIN, 2005)

Durante o desenvolvimento desta monografia, o autor observou os eventos

e também foi um agente passivo nos acontecimentos estudados pelo trabalho,

pois o projeto em questão não era de responsabilidade do autor no momento da

coleta de dados, o que caracteriza esta monografia com um delineamento de

estudo de caso.

3.2 População e amostra

O trabalho focou-se em um projeto em especial, de um caso de realização

de uma inovação diretamente em uma empresa de manufatura terceirizada. Vale

salientar que o projeto abrange uma família de diferentes produtos, sendo cada

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um deles aplicados em uma empresa contratada diferente, totalizando três

distintas empresas.

Para estudar processos de outsourcing como um todo, foram consultados

também outros projetos de externalização que já tinham sido executados ou que

corriam em paralelo ao período de coleta de dados, inclusive com situações

análogas de outras empresas. Por conta de outros cases semelhantes, foi

possível a exemplificação e o embasamento de ações tomadas pelo time do

projeto estudado neste trabalho.

A empresa e o projeto estudado nesta monografia, serão doravante

denominados de “InovaCare” e “Projeto King”, respectivamente, devido a acordo

de confidencialidade pactuado entre este autor e a empresa.

A operação da InovaCare no Brasil, tanto em volume de venda quanto em

produção (inclusive para exportação), é a segunda maior e mais importante do

mundo no seu segmento de atuação, estando a empresa presente em mais de

190 países com um quadro de cerca de 170 mil colaboradores. No setor de HPC,

a empresa possui diversas marcas sólidas e respeitadas, pois muitas delas

possuem mais de 80 anos, ou seja, foram criadas pela empresa quando ela

iniciou suas operações no Brasil. Com isso, a InovaCare, no Brasil, é líder em

diversos segmentos que atua, tendo obtido um lucro bruto de R$ 12,1 bilhões em

2012, graças ao esforço de 13.500 colaboradores que trabalham nas suas 11

fábricas distribuídas pelo país, cada uma delas especializada em um segmento ou

tecnologia (como por exemplo líquidos, sabonetes em barra, aerossóis, etc.).

O Projeto King foi, em seu momento inicial, o maior projeto de toda a

operação da InovaCare no Brasil, pois registrava em seu escopo a introdução de

uma linha de oito produtos, voltados para uma região de 10 países. Para isso, a

empresa utilizou uma das suas marcas mais conhecidas e sólidas para que a

entrada desses novos produtos garantisse uma rápida absorção do mercado e

também uma grande parte do market share6.

6 Market share: em português quota de mercado, é a porcentagem de participação de uma empresa em um segmento especifico.

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Dentro do portfólio de produtos do Projeto King, este estudo de caso teve

como objetivo central o estudo de uma única linha de produto para cuidados com

o cabelo: o desenvolvimento de um novo xampu e um novo condicionador.

As empresas contratadas para atuarem nas atividades de manufatura dos

oito novos produtos do Projeto King são especializadas na produção de produtos

cosméticos e de cuidados pessoais e atendem diversos clientes, muitos deles

com produtos concorrentes diretos da InovaCare. O desenvolvimento dos

produtos estudados nesta monografia, o xampu e o creme condicionador para

cabelos, tiveram suas manufaturas terceirizadas numa empresa, doravante

denominada de Alfa, de acordo com a confidencialidade pactuada entre autor e a

empresa.

3.3 Coleta de dados

Os dados foram coletados em um espaço de oito meses e de diferentes

formas, dentre as quais notas de acompanhamento de testes, entrevistas com os

gerentes e coordenadores, tanto da InovaCare quanto da Alfa, envolvidos no

desenvolvimento do novo xampu e condicionador, e também com os fornecedores

dos produtos manufaturados envolvidos. Foram feitas diversas visitas na empresa

Alfa, o que possibilitou também a obtenção de informações de outras empresas

que terceirizavam alguma parte de suas manufaturas.

O trabalho esteve, a todo o momento, suscetível a mudanças estratégicas

que um projeto pode sofrer durante sua execução assim como a proibição da

divulgação de dados e procedimentos protegidos, podendo comprometer a

análise de alguns parâmetros.

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3.4 Análise de dados

Os dados coletados do núcleo do projeto, durante os testes e as

entrevistas com os profissionais envolvidos foram triados e selecionados antes de

serem incorporados na monografia, pois o projeto, por ser muito amplo e

complexo, abordou temas que ultrapassam as fronteiras do estudo aqui realizado.

Para manter o anonimato da empresa e conservar o sigilo pactuado, este

trabalho apresenta de forma integral, somente dados da situação de mercado.

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4 Resultados e discussão

O Projeto King, assim como todos outros projetos de inovação e/ou

externalização da InovaCare, seguiu o fluxo de trabalho do funil de inovação,

assim a empresa consegue obter um melhor acompanhamento de tais planos.

Como mostra a Figura 4, a empresa correlaciona cada fase do funil com

certos documentos e tarefas que, executadas em paralelo ou não, devem ser

entregues para a análise de cada gate.

Fase Documento ou tarefa Responsável

Ideia • Bosscard • Conceito final

Todas áreas Marketing

Viabilidade

• Design final de produto • Conceito de manufatura

final/MPT • Estimativa de investimento • Estimativa de volume

R&D Engenharia Engenharia Planejamento

Capabilidade • Business Case final • Entrega do plano de venda

Todas áreas Marketing/Vendas

Market Ready • Primeira produção

(comissionamento) Engenharia/Manufatura

Avaliação pós -lançamento

• Indicar status do projeto Manufatura/Vendas

Figura 4 - Andamento do Projeto King dentro do funil de inovação

Durante os meses de acompanhamento em conjunto com a equipe do

projeto, este estudo de caso aborda desde a seção final da fase de “Ideia” até o

gate ao término da fase de “Capabilidade”.

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4.1 Fase de Ideia

O primeiro documento gerado no projeto foi o “bosscard”, no qual são

apresentados, pelas equipes de marketing, desenvolvimento de produto e

desenvolvimento de embalagem, todas as ideias e conceitos iniciais que o projeto

carrega consigo. No “bosscard são descritas informações da situação de

mercado, análise dos concorrentes e quais são os desejos do consumidor para os

novos xampu e condicionador que o Projeto King trará ao mercado. Essa fase é

extremamente importante para o projeto, pois se alguma premissa for acordada

erroneamente o equivoco pode se estender para as etapas seguintes do projeto,

levando-o possivelmente ao fracasso. Por isso, os conceitos do produto que o

bosscard carrega consigo, tem que ser concordado com todas as áreas.

O início do Projeto King ocorreu devido a oportunidade de inserção da

empresa estudada em um novo segmento de higiene e cuidado pessoal. O

histórico desse segmento de mercado é marcado pela liderança de uma grande

multinacional (Empresa A) durante muitas décadas. Porém, nos últimos anos,

outras empresas menores entraram nesse mesmo nicho, obtendo sucesso e

diminuindo a predominância da empresa líder de mercado. O Gráfico 4 mostra o

market share global e brasileiro deste segmento visado pelo Projeto King, no ano

de 2010. A análise dos dados permite constatar que a empresa InovaCare já

possuía experiência na área, porém advinda de outros países, fato que facilitaria

o desenvolvimento e a aplicação do Projeto King no Brasil, devido sua interface e

suporte de sua matriz.

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Market Share Global Market Share Brasileiro

Empresa A 32,9% Empresa A 33,8%

Empresa B 3,5% Empresa E 18,0%

Empresa C 3,4% Empresa B 12,5%

Empresa D 3,1% Empresa F 9,8%

InovaCare 2,1% _ _

Figura 5 - Análise de mercado em 2010 (Fonte: EUROMONITOR, 2010)

Os Anexos A e B, obtidos juntos a equipe do Projeto King, reforçaram a

oportunidade existente para esses novos produtos dentro do segmento no

período de inicio do projeto. Desse modo, aproveitando o grande mercado na

América Latina, como apresentado no Gráfico 5, a InovaCare apostou em um

projeto grandioso para sua entrada neste segmento.

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Gráfico 5 - Divisão do volume de mercado para2010)

De acordo com

tamanho do mercado

em 2010, com uma projeção de

anos, ou seja, para um mercado de

para o lançamento dos produtos para o

Para efeito comparativo, um levantamento

projetos de inovação que a

que grande parte das iniciativas inovativas se trata na verdade de

outros projetos a nível global, onde já passaram por algumas regiões piloto. Essa

é uma atitude muito prudente, pois a empresa

região piloto para garantir um bom desempenho operacional.

Para o encerramento dess

equipe de marketing tenha todos os conceitos do produto já fechados e

considerados imutáveis. Alguns exemplos dos conceitos do projeto são:

benefícios e características do produto, perfil do público alvo (comprad

Ásia22%

América Latina27%

Divisão do volume de mercado para cada região (Fonte: Euromonitor,

De acordo com o bosscard apresentado no início do Projeto King, o

mundial do segmento estudado era de 5,2 bilhões de euros

em 2010, com uma projeção de crescimento de 45% para os próximos

para um mercado de 7,5 bilhões de euros em 2014, data prevista

para o lançamento dos produtos para o consumidor.

Para efeito comparativo, um levantamento foi realizado

que a InovaCare havia realizado. Este levantamento revelou

grande parte das iniciativas inovativas se trata na verdade de

outros projetos a nível global, onde já passaram por algumas regiões piloto. Essa

atitude muito prudente, pois a empresa se utiliza dos aprendizados

para garantir um bom desempenho operacional.

Para o encerramento dessa fase do projeto, é muito importante que a

equipe de marketing tenha todos os conceitos do produto já fechados e

considerados imutáveis. Alguns exemplos dos conceitos do projeto são:

benefícios e características do produto, perfil do público alvo (comprad

Oceânia1%

Oriente Médio e África

6% Europa Oriental

7%

Europa Ocidental

Ásia22%

América Latina

37

(Fonte: Euromonitor,

no início do Projeto King, o

5,2 bilhões de euros

para os próximos quatro

de euros em 2014, data prevista

foi realizado com os últimos

havia realizado. Este levantamento revelou

grande parte das iniciativas inovativas se trata na verdade de extensões de

outros projetos a nível global, onde já passaram por algumas regiões piloto. Essa

se utiliza dos aprendizados da

a fase do projeto, é muito importante que a

equipe de marketing tenha todos os conceitos do produto já fechados e

considerados imutáveis. Alguns exemplos dos conceitos do projeto são:

benefícios e características do produto, perfil do público alvo (comprador e

Oriente Médio

Europa Oriental

7%América do

Norte15%

Europa Ocidental

22%

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consumidor), impacto esperado no mercado, estratégia de preços, marca a ser

trabalhada e fraquezas dos concorrentes. No bosscard do Projeto King, todos os

pontos destacados estavam contidos dentro do documento como deve ser feito,

pois o projeto é de grande importância e impacto para a empresa, fato que é

realçado pela falta algumas informações nos bosscards de outros projetos, de

menor importância estratégica.

4.2 Fase de Viabilidade

A questão de qual seria a fábrica (ou também chamada sourcing unit), na

qual as produções das novas variantes de xampu e condicionador seriam

instaladas, foi decidida logo que o projeto entrou na fase de viabilidade. Nesta

etapa, ocorreram as primeiras reuniões entre o time técnico, composto por

representantes de R&D e engenharia de processo, sobre a aplicação industrial

dos novos processos. O time de planejamento estratégico, que tinha a

responsabilidade de analisar as capacidades de cada fábrica da InovaCare, assim

como realizar a distribuição da manufatura dos produtos entre as linhas

disponíveis, reuniu todas informações técnicas e de disponibilidade para levar a

discussão à equipe do projeto de quais seriam as rotas mais factíveis de

manufatura.

4.2.1 Razões para o outsourcing

Considerando os conceitos do produto que já tinham sido fechados por

marketing no bosscard, e utilizando de todos os aspectos técnicos de formulação

e embalagem nos quais seus desenvolvimentos já tendiam para versões finais

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elaboradas pelo time de R&D, foi decidido que, em um primeiro momento, o

projeto iniciaria sua produção em terceiros. Com isso, foi feita uma análise mais

profunda dos seis fatores mais relevantes para a validação da escolha desta rota

de produção, utilizando-se do outsourcing.

4.2.1.1 Tecnologia

Alguns produtos exigiam uma tecnologia muito especifica, a qual nenhuma

das fábricas da InovaCare na América Latina atendia, como no caso do

condicionador que seria feito com uma tecnologia de emulsão que ainda não tinha

sido utilizada internamente. Então se decidiu optar por desenvolver a produção

em uma empresa que já possuía experiência técnica de processos similares.

Nesse ponto, ficou claro que, se os produtos, tanto o xampu quanto o

condicionador, fossem feitos pela própria InovaCare, haveriam certos riscos de

atraso na produção e entrega do produto claramente atrelados a falta de

conhecimento nessa tecnologia diferenciada.

4.2.1.2 Aspectos de Segurança

Na InovaCare, o controle de materiais perigosos, corrosivos, inflamáveis e

o manuseio de itens de produção pesados (como sacos e tambores) é muito

rígido e restritivo. Em função disto, há uma tendência de mover projetos que lidam

com esse tipo de material para terceiros, pois os mesmo podem trabalhar com

regras mais brandas de saúde e segurança do trabalho. Além disso, no caso do

condicionador, havia a necessidade de se utilizar uma matéria prima em forma de

pó particulado muito fino, que precisaria de um equipamento especial para sua

exaustão.

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A necessidade de um baixo índice de acidentes em fábricas da InovaCare

está diretamente ligado ao fato de que todos os acidentes ocorridos devem ser

reportados a matriz da empresa, o que pode denegrir a imagem das fabricas

brasileiras, diminuindo a entrada de novos projetos e maiores investimentos.

4.2.1.3 Aspectos financeiros

De um modo geral, as operações realizadas em terceiros possuem um

custo menor do que realizadas na InovaCare, por não precisarem atender alguns

padrões específicos desta última, tais como linhas de alta velocidade e baixa

especificidade, dentre outros.

Outro ponto que foi discutido para a compra ou não de novas tecnologias

para uma das fábricas da InovaCare é qual seria o seu tempo de payback7,

métrica esta que é utilizada para qualquer projeto na empresa e pode ser, de no

máximo, dois anos. Portanto, para o CapEx8 estimado de todas modificações

necessárias em instalações próprias, apurou-se que o retorno não pagaria o

investimento no tempo máximo estabelecido.

Neste ponto é possível observar certo conservadorismo da empresa

InovaCare, que agiu de forma defensiva frente a oportunidade do mercado,

esperando um retorno aquém do que realmente poderia ser obtido frente aos

estudos do segmento no bosscard.

7 Tempo de payback: tempo entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento. 8 CapEx: montante de verba despendida na aquisição de melhorias.

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4.2.1.4 Elevado BCT9

Dentre os lançamentos, havia produtos em que seu tempo de produção

para cada batch10 era muito alto – aproximadamente 5 horas no caso do xampu –

inviabilizando sua inserção na fábrica da InovaCare, já que as linhas instaladas

são todas de alta velocidade e consumiriam um lote em apenas 3 horas, gerando

ociosidade na manufatura.

4.2.1.5 Capacidade

A fábrica dedicada à produção de produtos líquidos da InovaCare se

encontra trabalhando quase no limite de sua capacidade produtiva máxima nas

suas linhas de produção, o que não daria flexibilidade e poder de resposta, caso o

projeto viesse a obter uma demanda de vendas maior do que o estimado.

Se a empresa optasse por comprar ao menos uma nova linha, essa ainda

geraria um cenário muito favorável, pois seria utilizada, além do Projeto King, para

diminuir a carga nas outras linhas de produção e gerar um cenário favorável para

a entrada das próximas inovações.

9 BCT: tempo medido entre o início e o fim da fabricação de um produto, sem contar o tempo gasto para o envase. 10 Batch: partida ou lote de produto acabado a ser produzido

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4.2.1.6 Volume de produção

Por se tratar de um portfólio muito extenso e de produtos com qualificação

Premium (qualidade superior), era esperado um baixo volume de produção por

SKU11, gerando um cenário evitado nas fábricas da InovaCare de alta

especificidade e baixo volume de produção, o que diminuía a eficiência das linhas

e aumenta o tempo de paradas.

4.2.2 Validação do terceiro

Logo que foram idealizadas as rotas de produção embasadas em

outsourcing, o departamento de compras deu início à escolha e ao processo de

cotação dos terceiros.

Para a seleção dos fornecedores, foram alinhadas as demandas do time

técnico com relação a equipamentos e instalações. Assim, foi possível que

propostas fossem enviadas através da equipe de compras, na forma de dossiês

técnicos, para os terceiros em estudo. Mesmo que já houvesse uma tendência

natural do xampu e do condicionador serem produzidos na empresa Alfa, devido

ao conhecimento prévio desta companhia advindo de projetos realizados

anteriormente, a documentação de cotação foi enviada a diversas empresas.

Um ponto interessante na relação entre empresa contratante, InovaCare, e

empresa contratada, os terceiros, é com relação a confidencialidade de

informações, o que é algo essencial para o sucesso de qualquer projeto de

inovação. Para garantir esse aspecto, a InovaCare assina um termo de

confidencialidade juntamente com o terceiro, o que acontece logo em um primeiro

momento independente do fechamento do contrato de prestação de serviços. Só 11 SKU: unidade única de variante e formato, ou seja, cada produto de uma linha é um SKU.

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depois dessa certificação da segurança das informações, que é garantida por

altas multas, a empresa de manufatura recebe o brief12 do que será realizado.

Assim como todo e qualquer projeto, seja ele de inovação ou de

outsourcing de um produto, já produzido anteriormente em qualquer unidade da

InovaCare, são feitos testes industriais de processo e envase nos terceiros

cotados, chamados de MPT’s, para ratificação dos equipamentos e

procedimentos.

Durante os testes, foi exigida a presença de uma equipe com

representantes de diversas áreas da InovaCare, estando cada departamento

interessado em uma das etapas de validação, para assim realizar a concordância

de todos os aspectos do terceiro e validá-lo por completo.

Figura 6 - Realização de um dos MPT’s do Projeto King

12 Brief: dossiê técnico do projeto

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44

Para a equipe técnica acompanhada por este autor, os testes em planta

tiveram o intuito de assegurar a capabilidade dos equipamentos - tanto da área de

processo quanto das linhas de envase - do terceiro para as fórmulas e formatos

de embalagem esperados pelo projeto, assim como que com a velocidade

esperada e com a qualidade exigida pela InovaCare. Para isso, os testes

consistiram na produção de um lote industrial completo e em seguida, o seu

envase na linha utilizando todos os itens de embalagem. No MPT também foram

retirados amostras de produtos para testes de estabilidade, confirmando que a

fórmula e o produto correspondem às expectativas dos dados gerados nos

estudos de bancada e planta piloto, assim como a validação de toda parte de

higiene e contaminação microbiológica da planta.

Para a realização dos testes, foram utilizadas matérias primas de empresas

fornecedoras provisórias, que poderão ou não ser as responsáveis por prover

materiais durante as próximas fases do projeto. Portanto, os testes servem

também para a validação dos fornecedores e das especificações técnicas das

novas matérias primas.

A partir dos resultados dos testes, foram gerados relatórios (também

chamados de test report) e foi feita uma avaliação final para a contratação ou não

da empresa Alfa, bem como uma identificação de todos os pontos de melhoria, se

necessários. O time técnico que participa dos testes repassa sua recomendação

para toda a equipe do projeto, para que em reunião seja tomada a decisão

conjunta de aprovação ou mudança de terceiro. Caso a produção em terceiros

não se mostre factível, o projeto tem de ser revisto para que seja adotada outra

estratégia de manufatura, o que pode incluir internalização ou mudanças no

produto para que esse tenha sua produção viabilizada, por exemplo. Com os tests

reports apontando resultados negativos, é comum que os projetos sejam

abortados nessa etapa, evitando que nenhum investimento de maior magnitude

seja feito.

Apesar da avaliação feita por diversas áreas e diversos times, constatou-se

que a equipe que possui maior peso durante as avaliações de testes em terceiro é

o time de engenharia de processo, e essa importância pode ser explicado pela

complexidade envolvida em qualquer ponto dessa área.

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Ponto de análise Criticidade Área de interesse Scale-up de processo média Eng. Processo/R&D

Higiene e limpeza média Qualidade Output de linha baixa Planejamento

Aspecto final do produto média Qualidade/Marketing Capabilidade de processo alta Eng. Processo

Capabilidade da linha alta Eng. Processo Figura 7 - Pontos de maior importância na avaliação pós-MPT

Os testes de processo para o xampu e o condicionador obtiveram sucesso

logo na primeira rodada, não havendo necessidade de alterações no que foi visto

durante os MPT’s. Isto se deve ao fato de que a empresa Alfa já havia sido

contratada em projetos passados, onde, de acordo com os coordenadores do

projeto, o terceiro mais se parece como uma extensão do parque fabril da

InovaCare. Para o processo, o único ponto que teve de ser modificado foi a

instalação de um sistema de exaustão para a dosagem da matéria prima que é

usada na forma de um pó fino. Com isso, a estimativa de investimento (CapEx) e

o conceito final do modo de manufatura puderam ser fechados para a avaliação

no gate.

Alguns poucos pontos foram levantados durante a avaliação de linha,

havendo a necessidade de se realizar outro teste envolvendo somente o envase,

no qual pudesse ser reavaliado o material utilizado no rótulo, fato que poderia ser

evitado se o primeiro teste já tivesse envolvido a avaliação de mais de um

material. Com a aprovação final da formulação utilizada e dos desenhos (e

materiais) das embalagens utilizados nos teste, o produto já é dado como pronto

e tem seu desenvolvimento concluído.

Com base no acompanhamento dos tempos de batch e também das

velocidades nas quais as linhas conseguem operar, o time de planejamento já

deve divulgar um estudo no qual são definidas a velocidade de produção do

terceiro e o output, ou entrega de produto final, que esse pode entregar.

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4.2.3 Redução de complexidade

Tendo em vista os procedimentos, as áreas e recursos envolvidos, assim

como todos os aspectos do produto que tiveram que ser desenvolvidos, são

visíveis algumas medidas que, se adotadas, poderiam simplificar e reduzir os

custos e tempos de implementação do projeto, sem afetar de maneira drástica a

entrega inicial que o projeto tinha como objetivo.

Alguns pontos de otimização e redução de complexidade operacional foram

levantados para atingir os objetivos.

4.2.3.1 Padronização de formato

A Figura 8 mostra um equipamento que faz parte de uma das linhas de

envase da InovaCare e que possui partes desmontáveis (change parts) que

devem ser alteradas ao mudar o tamanho ou desenho da embalagem, pelo fato

das peças serem desenhadas para cada tipo de frasco. Com o lançamento dos

oito produtos no mercado, a InovaCare terá que lidar também com oito diferentes

embalagens, e oito diferentes conjuntos de change parts. Se fosse utilizado, ao

menos para o condicionador e o xampu, os mesmos aspectos de embalagem (o

que é compreendido como tampas, frascos, rótulos e caixas), poder-se-ia diminuir

custos de implementação e produção, assim como aumentar a capacidade

produtiva e promover a diminuição dos tempos de parada, pois não são

necessários quaisquer ajustes em uma linha que já essa trabalha com o desenho

da última embalagem que foi produzida na linha.

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Figura 8 – Change parts: estrelas (peças azuis) e rosca (peça branca)

Esse ponto pode ser facilmente extrapolado para qualquer projeto de

inovação. Como exemplo, utilizando-se de um mesmo molde, diferentes frascos

podem ser produzidos a partir de uma variação do tipo de polímero utilizado ou

então em atributos do material, como o masterbatch13, do mesmo modo que a

empresa Colgate-Palmolive tem adotado em seus produtos na Figura 9.

Apesar da diferença visual, essa rota geralmente recebe críticas por deixar

os produtos muito genéricos, o que, a partir do ponto de vista da maioria dos

departamentos de Marketing, pode ser motivo para a falta de atração dos

diferentes produtos.

13 Masterbatch: composto plástico com alta concentração de aditivos, utilizado para conferir cor e outras prioridades para objetos plásticos soprados, injetados ou extrudados.

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Figura 9 - Sabonetes Colgate-Palmolive que utilizam a mesma embalagem (Fonte: COLGATE-PALMOLIVE, 2013)

4.2.3.2 Chassi único de formulação

Se fossem enumeradas todas as diferentes formulações de xampu e

condicionador que a InovaCare possuía no período inicial do Projeto King, seriam

listadas diversas marcas que têm muitas variantes cada, e a grosso modo, cada

uma com uma fórmula diferente, o que implica em matérias-primas e processos

diferentes entre si. Porém, se fossem adotadas formulações únicas para cada um

dos tipos de produtos – uma fórmula para xampu e outra para condicionador -

com variações somente para os pequenos ingredientes (corante, fragrância,

extrato, etc.) o processo de produção validado para uma marca e uma variante

poderia servir para outra, sendo pronta a externalização do segundo modelo.

Outro ponto benéfico que a unificação de formula traz é o aumento de volume de

compra das matérias primas, pois no momento que a InovaCare adquiri um

volume maior de determinada produto químico, suas chances de conseguir

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preços menores com o fornecedor ficam mais factíveis. A diminuição de custos

faz também aumentar o lucro bruto na venda do produto final.

Para o Projeto King, a unificação das fórmulas seria totalmente desejável,

já que outros xampus e condicionadores da empresa também são produzidos no

terceiro Alfa, porém a equipe do projeto continuou a adotar diferentes formulações

para os novos xampu e condicionador. Esse fato foi justificado com o fato de que

os produtos não alcançariam a qualidade e nem o desempenho desejado se

fossem adotados alguns dos chassis das fórmulas atuais, considerados de

qualidade inferior ao que o Projeto King sugeria inicialmente.

Como foi verificado durante as visitas a empresa Alfa, muitas empresas

adotam fórmulas muito similares até mesmo para produtos que atenderiam

diferentes tipos de exigências e mercados, como no exemplo que a Figura 10 traz

de três produtos do portfólio de sabonetes líquidos da empresa Unilever.

Figura 10 - Produtos Unilever que utilizam mesmo chassi de formulação (Fonte: UNILEVER, 2013b)

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4.2.3.3 Equipamentos padronizados

Com equipamentos padronizados, utilizando-se os mesmos atributos e

funcionalidades da indústria contratante na contratada, pode-se pular ou diminuir

a complexidade de etapas como o MPT, pois já é garantida a viabilidade do

processo no desenho de reator em questão. Se adotada essa opção, é possível

obter uma variedade maior de produtos com formulações das mais diferentes,

com garantia de validação e performance no terceiro, o que pode ser seguido

caso o conceito de formulação única não seja do interesse na empresa.

No caso da InovaCare, entre suas fábricas, é seguido um desenho único

para os equipamentos de processo. Porém, o alto custo pode ser um

impedimento para a construção desses processos em terceiros, já que seu maior

atrativo para a empresa contratante é o baixo custo.

Do mesmo modo, não foi possível verificar o motivo da aplicação de uma

nova tecnologia para a fabricação do condicionador do Projeto King, já que com o

desenho único de equipamentos, nenhuma das fábricas da InovaCare poderia

atender a esse projeto, o que pode ser um indício de que o terceiro Alfa já era

considerado desde a concepção do projeto.

4.3 Fase de Capabilidade

Concluído todos os testes de fábrica necessários para validar os dois

novos produtos, o projeto entrou na etapa de “capabilidade”. Esta é a fase que

possui a mais curta duração de todas. Nela, ocorre o desenvolvimento de uma

parte estratégica e decisiva do projeto.

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Para que fosse fechado o bussines case, o time do projeto precisou realizar

uma análise com todo o CapEx necessário para a produção, os custos de

produção (tanto de insumos quanto de operação do terceiro) e os custos de

distribuição. Com isso, foi desenvolvido o balanceamento econômico do projeto,

obtendo-se sua rentabilidade na forma de lucro líquido que é o maior objetivo de

qualquer atividade produtiva. Esse documento é crítico com relação ao tempo de

payback e lucratividade, e já pode apontar financeiramente se o projeto foi bem

desenvolvido e estruturado estratégica e operacionalmente, como no caso do

Projeto King.

4.4 Status do projeto

O Projeto King se encontra atualmente (em novembro de 2013) na fase de

“market ready”14, onde as melhorias estão sendo finalizadas na empresa Alfa para

que se iniciem os comissionamentos, que consistem nas primeiras produções

assistidas, para que já se produza produto acabado para os demonstrativos de

clientes (chamados de sales kits) assim como para pipeline15 do lançamento.

Haverá também a avaliação do processo produtivo como um todo, para que

possa ser certificado que todos os pontos retirados dos MPT’s foram aplicados

com sucesso.

O plano de vendas, fechado com base na estimativa de volume produtivo,

foi desenvolvido e entregue pelos times de vendas e marketing, onde já estavam

descritas as formas de divulgação dos novos produtos e também as prioridades

de entrega dentre os clientes.

Devido à grande complexidade do projeto, suas inúmeras variáveis e o uso

de produtos com tecnologias inovadoras para a InovaCare no Brasil, o projeto

14 Market Ready: penúltima fase do funil de inovação 15 Pipeline: quantidade de produto necessária antes do lançamento, suficiente para abastecer todos centros de distribuição e pontos de venda.

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sofreu atraso de aproximadamente oito meses. Este atraso, apesar de ser

considerado razoável para um projeto dessa magnitude, faz com que a empresa

esteja correndo o risco de perder mercado para possíveis inovações de seus

concorrentes e/ou a reação do principal competidor desse segmento de mercado

de produtos cosméticos.

Além disto, é importante destacar que este estudo de caso previa em seu

escopo inicial o acompanhamento até o lançamento do produto, entretanto, o

atraso de oito meses no projeto estudado inviabilizou a participação deste autor

nas últimas etapas do projeto, tendo em vista o prazo autorizado pela Escola de

Engenharia de Lorena para a conclusão desta monografia, em função da colação

de grau deste autor.

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5 Conclusões

Após o acompanhamento da implementação do Projeto King em um

terceiro, utilizando-se do “funil de inovação”, foi possível verificar com grande

êxito a eficácia de controle que essa ferramenta, com suas fases e gates,

proporcionou ao processo de inovação, verificando também os procedimentos,

análises e documentos padrões que são executados para os projetos de inovação

e terceirização. Foi possível observar a grande complexidade envolvida em um

projeto dessa magnitude, mas por envolver um time multifuncional e terceiros

competentes, sendo agravada pelo fato de que a aplicação é feita totalmente fora

da empresa.

Da mesma forma que o estudo de caso, pode-se concluir que a

implementação do outsourcing deve ser sempre feita em uma empresa contratada

que já possua toda experiência e estrutura para receber o processo terceirizado.

Com isso, pode-se afirmar que, no caso estudado, o ponto de maior importância

para a terceirização da manufatura foi financeiro, devido ao investimento incerto

que a empresa InovaCare deveria fazer na implementação do projeto.

O projeto, mesmo não atendendo o lead time esperado inicialmente, pode

confirmar claramente algumas das vantagens de se terceirizar uma inovação,

como o menor investimento em peças e equipamentos. Do mesmo modo,

evidenciou-se também aspectos negativos da terceirização, como a falta de

empresas que atendiam as exigências feitas para a produção do Projeto King. O

sucesso do projeto está evidenciado pela fase que se encontra, onde as fases

mais criticas tecnicamente foram superadas com êxito.

Por não utilizar nenhum dos três principais pontos de redução de

complexidade apresentados no trabalho, é possível concluir que o projeto poderia

ter caminhado com muito mais facilidade e eficácia se adotada qualquer uma das

práticas descritas, mas mesmo assim apresentando um bom desempenho.

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5

Brazil accounts for 70% of the Baby Care Market in Latam

28 3872 86

130

605

30 44 73139 125

705

36 5589 115

148

1.008

Chile Argentina Colombia Venezuela Mexico Brazil

€ million - 2008 € million - 2009 € million - 2010

Anexo A - Estudo do mercado na América Latina

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5

In 2010 Brazil overcame USA, taking the leadership of the Baby Market

Brazil China

USA

Japan

Russia

1st

2nd

3rd4th

5th

Source: Euromonitor

Anexo B - Estudo do mercado global