universidade de lisboa faculdade de...
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTRIA
As Casas da Misericrdia:
confrarias da Misericrdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa
Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho
Volume 1
RAMO DE DOUTORAMENTO EM HISTRIA
ESPECIALIDADE HISTRIA DA ARTE
2012
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTRIA
As Casas da Misericrdia:
confrarias da Misericrdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa
Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho
Volume 1
RAMO DE DOUTORAMENTO EM HISTRIA
ESPECIALIDADE HISTRIA DA ARTE
Doutoramento orientado pelo Professor Doutor Fernando Grilo
2012
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Resumo
As confrarias da Misericrdia ou Santas Casas da Misericrdia, cuja primeira
fundao ocorreu em 1498 em Lisboa, so confrarias de leigos que se
organizaram sob a invocao de Nossa Senhora da Misericrdia e
prosseguiam objectivos assistenciais e espirituais. Estas confrarias tornaram-se
as mais importantes confrarias portuguesas da poca Moderna devido sua
rpida difuso por todo o pas e espao ultramarino assumindo-se como
eficazes estruturas socio-assistenciais que respondiam s necessidades desse
perodo.
A existncia de um edifcio permitia s Misericrdias implementar a sua
proposta caritativa e devocional e foi uma das suas primeiras preocupaes. A
relao destas confrarias com o espao construdo bastante peculiar. Desde
a fundao muitas confrarias ocuparam espaos no interior de edifcios
preexistente, religioso ou civis, pertena das mais variadas instituies e at de
particulares. Quase sempre esta situao foi passageira, pois durante a
centria de quinhentos a grande maioria das Misericrdias foram construindo
edifcios de raiz.
O edifcio utilizado ou construdo pelas Misericrdias tinha que servir s aces
caritativa, administrativas, espirituais, celebrativas, litrgicas e funerrias
desenvolvidas pelas confrarias, constituindo a Casa da Misericrdia, que para
esses fins reunia num mesmo edifcio igreja, sacristia, casa do despacho,
enfermarias, cemitrio, entre outros.
Diferencia-se de outros edifcios coevos por congregar esta multiplicidade de
usos e por servir de cenrio s mais importantes e diversificadas celebraes
assistenciais e cultuais das confrarias, por onde passava toda a dinmica e
quotidiano das mesmas, evidenciando alguns elementos caractersticos dessa
vivncia confraternal.
As Casas da Misericrdia quinhentistas, apesar da grande diversidade
arquitectnica, morfolgica e decorativa que apresentam, evidenciam algumas
particularidades, quer funcionais quer esttico-artsticas decorentes de terem
que corresponder ao cumprimento da finalidade para que estas confrarias
foram institudas.
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Esta dissertao procurar identificar, caracterizar, analizar e contectualizar
estas e outras problemticas relacionadas com as confrarias da Misericrdia e
a arquitectura portuguesa quinhentista.
Palavras chave
Confrarias da Misericrdia, sculo XVI, Arquitectura, Portugal, Assistncia
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Abstract
The brotherhood of Mercy or Holy Houses of Mercy, whose first foundation
occurred in 1498 in Lisbon, are confraternities organized under the patronage of
Our Lady of Mercy and proceed assistance and spiritual aims. These
brotherhoods became the most important Portuguese brotherhoods of the Early
Modern era owing to its rapid spread across the country and overseas,
assumed as effective socio-welfare structures that respond to the social needs
of that period.
The existence of a building permit to the tender mercies implement charitable
and devotional and was one of their main concerns. The relationship of these
brotherhoods with the built space is peculiar. Many of this confraternities
occupied spaces within existing buildings, religious or civil, attachment to
various institutions and even individuals. Almost always this situation was
temporary, as during half a century the majority of Mercies built ther own
buildings.
The building used or built by the confraternities of Mercy had to serve the
charitable, administrative, spiritual, celebrative and funeral actions developed by
this brotherhoods. Thereby the Houses of Mercy are compose by a multiplicity
of espaces with diferente functions.
It differs from other coeval buildings by this multiplicity of uses and are scenery
to the most important and diversified healthcare and religious celebrations, the
whole dynamic and the daily, and show some characteristic elements of this
fratenal experience.
The sixteenth century Houses of Mercy present great architectural diversity,
morphological and decorative feature and show some peculiarities, whether
functional or aesthetic-artistic deriving of having to fulfill the purpose for which
they were established.
This dissertation look for to identify, characterize, analyze and contextualize
these and other issues related to the confraternities of Mercy and the sixteenth
century Portuguese architecture.
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Key words
Confraternities of Mercy, Sixteen Century, Architecture, Portugal, welfare.
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ndice
VOLUME I
Resumo 5
Abstract 7
ndice 9
Agradecimentos 13
Introduo 23
Abreviaturas 51
Captulo I Estado do conhecimento e da investigao 53
I. 1 Histria e arte 56
I. 2 Definio da tipologia e estudos tipolgicos 71
I. 3 Proposta de evoluo arquitectnica das igrejas das Misericrdias 76
I. 4 Kits Patrimnio Igrejas de Misericrdia 80
Captulo II Histria e patrimnio das Misericrdias 85
II. 1 As Misericrdias portuguesas fundao e difuso 87
II. 1.1 A instituio da Misericrdia de Lisboa 90
II. 1.2 A difuso das confrarias da Misericrdia 91
II. 1.3 Do enquadramento ao funcionamento 95
II. 2 Devoo, aco e arte 109
II.2.1 Prtica assistencial e devocional 112
II.2.2 Aco cultural e artstica das Misericrdias 115
II.2.2.1 Manifestaes artsticas 117
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II.2.2.2 Temtica iconogrfica 133
II.2.2.3 Morfologias 140
Captulo III - As Misericrdias portuguesas e a arquitectura 145
III. 1 As Misericrdias e a Arquitectura 147
III. 2 Casa da Misericrdia 186
III. 2.1 Espaos cultuais e espiritualidade 199
III. 2.2 Espaos administrativos 204
III.2.3 Espaos assistenciais 216
III.2.4. Outros espaos 221
Captulo IV - A arquitectura das Casas das Misericrdias no sculo XVI 227
IV. 1 Localizao urbana 248
IV. 2 As igrejas preexistentes 258
IV. 3 Casa da Misericrdia - Caracterizao arquitectnica 268
IV. 3.1 Concepo espacial 270
IV. 3.2 Volumetria 281
IV. 3.3 Fachada principal e portal 296
IV. 3.4. Igrejas 329
IV. 3.4.1 Planimetrias 230
IV. 3.4.2 Cabeceira e arco triunfal 362
IV. 3.4.3 Equipamento retbulo, plpito e coro 380
IV. 3.4.4 Equipamento tribuna dos oficiais 410
IV. 3.4.5 Decorao integrada 437
IV. 3.4.6 Cobertura interior 449
IV. 3.5 Sacristia 461
IV. 3.6 Casa do despacho 463
IV. 3.7 Outras dependncias 470
IV. 3.8 Hospital 481
IV. 4 Mecenas e Patronos 489
IV. 5 Interveno rgia 501
IV. 6 Financiamento das obras 516
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Captulo V Particularidades arquitectnico-tipolgicas 541
V. 1. Especificidades arquitectnico-tipolgicas 543
V. 2. A difuso de modelos 555
V. 3. Significados de uma tipologia 568
Concluses 583
Fontes e Bibliografia 589
VOLUMES II e III
Anexos
Anexo I Fichas Analtico-descritivas
Anexo II Tabelas
Anexo III Mapas
Anexo IV Documentos
1. Documentos consultados das Misericrdias
2. Transcries documentais
Anexo V Fotografias
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Agradecimentos
O trabalho que agora apresentamos como dissertao de doutoramento
devedor da colaborao e empenho de muitas instituies e pessoas a quem
queremos transmitir o nosso profundo agradecimento: das Santas Casas da
Misericrdias detentoras dos edifcios e esplios artsticos s Juntas de
Freguesia, passando por Arquivos, Parquias, Museus e Cmaras Municipais.
Do apoio dado por estas instituies e respectivos dirigentes e tcnicos, a
quem agradeceremos nominalmente, destacamos a autorizao de visita e a
consulta de arquivos, a facilidade de acesso aos esplios artsticos e
documentais, a oferta de livros, o acolhimento gentil e o interesse pelo decorrer
da investigao.
Ao nosso orientador, Professor Doutor Fernando Grilo, que desde o incio
acreditou neste trabalho e na existncia de condies para a sua
concretizao, pela disponibilidade, empenho em questes cientficas mas
tambm administrativas, contributos e sugestes, pacincia e compreenso.
Ao Instituto de Histria da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa e aos seus docentes, pelo acolhimento e por incentivarem a um trabalho
cientfico rigoroso e a um esprito de entreajuda e companheirismo.
Professora Doutora Maria Joo Neto pela iniciativa do convite para frequentar o
doutoramento. Ao Professor Doutor Vtor Serro pelas sugestes de
investigao e pela facilidade de acesso aos seus textos no publicados.
Aos familiares, amigos e colegas com quem partilhmos os ltimos quatro
anos, os sucessos, as dvidas, as alegrias e as dificuldades, pelo apoio e
incentivo, pelo interesse pelo decorrer da pesquisa e percepo da sua
verdadeira dimenso, embora nem sempre tenham sido fcil o entendimento
da complexidade e esforo exigido pela investigao cientfica enquanto
actividade profissional.
Segue o agradecimento nominal a todos os que contribuiram para a realizao
da investigao que deu origem a esta tese:
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Unio das Misericrdias Portuguesas
Manuel Ferreira da Silva
Mariano Cabao
Miguel Loureiro
Santa Casa da Misericrdia de Abrantes
Santa Casa da Misericrdia de Alandroal
Santa Casa da Misericrdia de Albufeira
Santa Casa da Misericrdia de Alccer do Sal
Santa Casa da Misericrdia de Alccovas
Santa Casa da Misericrdia de Alcantarilha
Santa Casa da Misericrdia de Alcobaa
Grard Leroux
Santa Casa da Misericrdia de Alenquer
Vice-provedor Pe. Jos Martins
Santa Casa da Misericrdia de Algoso
Santa Casa da Misericrdia de Alhos Vedros
Santa Casa da Misericrdia de Aljezur
Provedor Gil Costa da Luz
Santa Casa da Misericrdia de Aljubarrota
Vice-provedor Jos Carvalho
Santa Casa da Misericrdia de Almada
Paula Costa
Santa Casa da Misericrdia de Almodvar
Santa Casa da Misericrdia de Alter do Cho
Santa Casa da Misericrdia de lvaro
Provedor Jos Nunes
Santa Casa da Misericrdia de Alverca
Santa Casa da Misericrdia de Alvito
Santa Casa da Misericrdia de Arez
Provedor Jos Fazendas
Ana Leito
Santa Casa da Misericrdia de Arouca
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Santa Casa da Misericrdia de Arraiolos
Provedor Lus Farinha Chinelos
Santa Casa da Misericrdia de Arruda dos Vinhos
Santa Casa da Misericrdia de Atouguia da Baleia
Provedora Maria Lisete Marques
Santa Casa da Misericrdia da Azambuja
Provedor Armando Aparcio
Jos Machado Pereira
Santa Casa da Misericrdia da Azinhaga
Vice-Provedora Maria de So Jos Mendes
Santa Casa da Misericrdia de Azurara
Santa Casa da Misericrdia de Barcelos
Ildio Torres
Santa Casa da Misericrdia do Barreiro
Santa Casa da Misericrdia da Batalha
Teresa Ramos
Santa Casa da Misericrdia de Benavente
Paulo Caldeira
Santa Casa da Misericrdia de Borba
Santa Casa da Misericrdia de Braga
Cnego Antnio Macedo
Santa Casa da Misericrdia de Buarcos
Provedor Carlos Gomes de Abreu
Santa Casa da Misericrdia de Castelo Branco
Santa Casa da Misericrdia da Chamusca
Santa Casa da Misericrdia de Coruche
Santa Casa da Misericrdia de Coimbra
Santa Casa da Misericrdia do Crato
Mariano Cabao
Santa Casa da Misericrdia de Cuba
Santa Casa da Misericrdia de Elvas
Santa Casa da Misericrdia de Evoramonte
Provedor Manuel Ribeiro
Santa Casa da Misericrdia de Estombar
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Santa Casa da Misericrdia de Faro
Felisbelo Raio
Salvador Santos
Santa Casa da Misericrdia de Freixo de Espada Cinta
Santa Casa da Misericrdia de Fronteira
Santa Casa da Misericrdia do Fundo
Santa Casa da Misericrdia da Goleg
Santa Casa da Misericrdia de Guimares
Santa Casa da Misericrdia de Idanha-a-Nova
Santa Casa da Misericrdia de Ladoeiro
Provedor Jos Ricacho
Santa Casa da Misericrdia de Loul
Santa Casa da Misericrdia do Lourial
Santa Casa da Misericrdia da Lourinh
Provedor Francisco Tavares
Santa Casa da Misericrdia da Lous
Santa Casa da Misericrdia de Mao
Santa Casa da Misericrdia de Medelim
Provedor Alberto Teodsio
Santa Casa da Misericrdia de Mrtola
Santa Casa da Misericrdia de Moncarapacho
Santa Casa da Misericrdia de Monsanto
Cnego Vtor Vaz
Santa Casa da Misericrdia de Montalvo
Provedor Joaquim Costa
Santa Casa da Misericrdia de Montargil
Lus Mendes
Santa Casa da Misericrdia de Montemor-o-Novo
Santa Casa da Misericrdia do Montijo
Francisco Correia
Santa Casa da Misericrdia de Mora
Maria Leonor Batista
Santa Casa da Misericrdia de Moura
Jos Correia
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Santa Casa da Misericrdia de Mura
Santa Casa da Misericrdia de Nisa
Santa Casa da Misericrdia de bidos
Santa Casa da Misericrdia de Ourique
Santa Casa da Misericrdia de Pavia
Santa Casa da Misericrdia de Penamacor
Santa Casa da Misericrdia do Penela
Provedor Manuel Ramos
Santa Casa da Misericrdia de Peniche
Provedor Carlos S
Santa Casa da Misericrdia de Pinhel
Santa Casa da Misericrdia de Ponte de Lima
Santa Casa da Misericrdia de Portalegre
Santa Casa da Misericrdia do Portel
Santa Casa da Misericrdia do Porto
Regina Andrade
Santa Casa da Misericrdia de Praia da Vitria
Provedor Francisco Ferreira
Santa Casa da Misericrdia de Proena-a-Nova
Provedor Jos Bairrada
Santa Casa da Misericrdia de Proena-a-Velha
Santa Casa da Misericrdia do Redondo
Provedor Joo Azaruja
Isabel Rei
Santa Casa da Misericrdia de Salvaterra do Extremo
Santa Casa da Misericrdia de Santarm
Antnio Monteiro
Santa Casa da Misericrdia de Santiago do Cacm
Santa Casa da Misericrdia do Sardoal
Santa Casa da Misericrdia de Segura
Santa Casa da Misericrdia de Serpa
Santa Casa da Misericrdia da Sert
Santa Casa da Misericrdia de Sesimbra
Mesa Administrativa
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Santa Casa da Misericrdia de Setbal
Provedor Fernando Ferreira
Daniela Silva
Santa Casa da Misericrdia de Sobreira Formosa
Santa Casa da Misericrdia de Soure
Santa Casa da Misericrdia de Sousel
Santa Casa da Misericrdia de Tavira
Mesria Maria Helena Leiria
Santa Casa da Misericrdia de Tentgal
Santa Casa da Misericrdia de Tomar
Provedor Fernando Jesus
Santa Casa da Misericrdia do Torro
Provedor Joo Nncio
Santa Casa da Misericrdia de Torre de Moncorvo
Santa Casa da Misericrdia de Torres Novas
Provedor Carlos Faria
Santa Casa da Misericrdia de Torres Vedras
Provedor Vasco Fernandes
Santa Casa da Misericrdia de Viana do Alentejo
Provedor Francisco Sitima
Santa Casa da Misericrdia de Viana do Castelo
Santa Casa da Misericrdia de Vila Franca
Provedor Carlos Dias
Santa Casa da Misericrdia de Vila do Conde
Firmino Abel
Liliana Aires
Santa Casa da Misericrdia de Vila Real
Provedor Pe. Jos Joaquim Dias Gomes
Santa Casa da Misericrdia de Vila Viosa
Santa Casa da Misericrdia do Vimieiro
Santa Casa da Misericrdia de Vouzela
Arquivo Distrital de Viana do Castelo
Olinda Pereira
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Arquivo Municipal de Castro Verde
Miguel Rego
Arquivo Municipal de Lagos
Sara Carvalho
Arquivo Municipal de Mogadouro
Rita Gonalves
Arquivo Municipal de bidos
Ricardo Pereira
Arquivo Municipal de Vila Franca de Xira
Manuela Corte Real
Associao Amigos de Abiul
E. Cunha
Biblioteca Municipal da Lous
Natrcia Pereira
Cmara Municipal de Belmonte
Cmara Municipal de Moura
Jos Correia
Cmara Municipal de Pombal
Nelson Pedrosa
Cidlia Brotas
Cmara Municipal de Vinhais Vereao da Cultura
Roberto Afonso
Comando das Tropas Aerotransportadas de Tancos
Pe. Constncio Gusmo
Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais/Instituto de
Reabilitao Urbana
Joo Vieira
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Paula No
Direco Regional de Cultura do Centro Diviso de Castelo Branco
Carla Ribeiro da Silva
Jos Paulo Leite
Junta de Freguesia de Alvalade
Junta de Freguesia do Brrio
Junta de Freguesia de Cabeo
Junta de Freguesia de Muge
Junta de Freguesia de Amoreira de bidos
Lar Jacinto Faleiro (Castro Verde)
Snia Nascimento.
Museu de Alhandra Casa Dr. Sousa Martins
Museu Municipal de Alcochete
Elsa Afonso
Museu Municipal de Vila Franca de Xira
Susana Gonalves
Graa Nunes
Maria Joo Martinho
Museu de Setbal/Convento de Jesus
Francisca Ribeiro
Parquia de Aljustrel
Pe. Paulo Carmo
Parquia de Colos
Pe. Lus Gomes
Parquia de Cs
Pe. Jos da Silva
Parquia de vora de Alcobaa
Pe. Carlos Marques
Parquia de Idanha-a-Velha
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Pe. Adelino Loureno
Parquia da Messejana
Pe. Hugo Gonalves
Parquia de Pernes
Pe. Arlindo Jorge
Parquia de Santa Maria de Lagos
Pe. Ablio Almeida
Parquia de Seda
Pe. Paulo Dias
Parquia de Vila Ruiva
Pe. Daniel Guerreiro
Parquia de Vila Verde dos Francos
Pe. Antnio Jos Serpa
Turismo da Cmara Municipal de Viana do Alentejo
Germano Fernandes
Turismo da Cmara Municipal do Alandroal Terena
Por ltimo agradecer a todos os familiares, amigos e colegas, lembrando
especialmente aqueles que no puderam presenciar o trmino deste trabalho.
Famlia
Me Ftima, pai Joo (in memoriam), irm Rita, av Graa, av Rita (in
memoriam), tios Li e Jcome, primo Sancho.
Amigos e colegas
Alice Alves, Ana Leito, Ana Sofia Azinhaga, Carla Baptista de Freitas, Carmo
Canto e Castro, Diana Santos, Ftima Fonseca, Ftima Toms, Filipa Cordeiro,
Francisco Queiroz, Francisco Sousa Lobo, Isabel Barata, Isabel Lopes,
Joaquim Caetano, Jos Eduardo Franco, Leonor Botelho, Madalena Costa
Lima, Margarida Amorim (in memoriam), Maria de Lourdes Nunes, Maria do
Rosrio Nogueira, Mrio Cabeas, Marisa Cristino, Marta Nogueira, Patrcia
Alho, Patrcia Monteiro, Ricardo Oliveira Nunes, Ricardo da Silva Nunes,
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Rosrio Carvalho, Sara Pereira, Sofia Valdez, Soraya Genin, Susana
Gonalves, Teresa Rodrigues, Silvia Santinho, Vanessa Antunes.
Aos Clepulianos pelo especial incentivo nas semanas que antecederam a
finalizao do trabalho: Beatriz Miranda, Daniel Nunes, Fernanda Santos,
Leonor Garcia, Mariana Gomes da Costa, Marta Duarte, Patrcia Pereira, Paulo
Paixo, Ricardo Ventura.
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INTRODUO
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As confrarias da Misericrdia, Santas Casas da Misericrdia, ou simplesmente
Misericrdias so confrarias de leigos que se organizaram sob a invocao de
Nossa Senhora da Misericrdia e prosseguiam objectivos assistenciais e
espirituais. Estas confrarias, cuja primeira fundao ocorreu em 1498 em
Lisboa, tornaram-se as mais importantes confrarias portuguesas da poca
Moderna devido sua rpida difuso por todo o pas e espao ultramarino. E
assumiram-se como eficazes estruturas assistenciais que respondiam s
necessidades sociais desse perodo, constituindo-se como uma experincia
espiritual, cultural e institucional.
Desde o sculo XV at actualidade, as Misericrdias permaneceram activas
assegurando o apoio aos mais necessitados; embora, os presos e pobres
envergonhados da fase inicial, tenham dado lugar aos idosos e s crianas do
presente, tentando colmatar a estrutural incapacidade do poder central de
chegar a todas as zonas do pas.
Neste contexto, as Misericrdias assumem uma enorme importncia histrica,
so transversais temporalmente e a um conjunto de acontecimentos e
problemticas, impossveis de abordar sem ter em conta a sua existncia. No
possvel fazer a histria da assistncia, da sade, da religiosidade popular e
at a histria social, ignorando a existncia das Santas Casas. Se estes
exemplos so praticamente evidentes, podemos sugerir alguns no to
evidentes mas igualmente relevantes: estudos de histria local e regional,
paisagem rural e urbana, elites sociais, economia local, entre outros.
Um outro domnio que no pode ignorar as Misericrdias a Histria da Arte.
Nestes vrios sculos as Santas Casas foram reunindo um extenso patrimnio
artstico fruto da sua aco encomendante e proveniente de benfeitores e da
anexao de outras instituies. H cerca de duas dcadas iniciou-se um
processo de consciencializao da importncia deste vasto e variado
patrimnio que desencadeou um conjunto de iniciativas de preservao,
valorizao e dinamizao do esplio artstico das Misericrdias. Tais como a
organizao de ncleos museolgicos, a inventariao de acervos e a
organizao de exposies e catlogos. Estes estmulos foram tambm
sentidos entre os investigadores incentivando-os a diversas pesquisas relativas
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aco destas confrarias, do social ao econmico e do assistencial ao
artstico. Desenvolvendo-se vrios estudos, de teses a monografias, de
catlogos a artigos cientficos, com abordagens monogrficas, dedicadas a
uma confraria especfica ou a temticas recorrendo comparao entre vrias
confrarias
No campo da Histria da Arte portuguesa torna-se incontornvel a produo
artstica das Santas Casas da Misericrdia pela diversidade de manifestaes,
qualidade e especificidade temtica e originalidade expressiva. Destaca-se
tambm o modo como esta produo se desenvolve face restante produo
artstica, repercutindo a evoluo da mesma mas, reflectindo as caractersticas
e histria das confrarias e as suas vicissitudes.
Especificamente dentro da Histria da Arte, a histria da arquitectura,
tambm um campo de trabalho que deve ter em conta as Misericrdias. Bem
reveladora desta ideia a afirmao de Rafael Moreira, num artigo do catlogo
500 Anos das Misericrdias Portuguesas, Solidariedade de Gerao em
Gerao, de que a arquitectura promovida pelas Misericrdias um dos
captulos mais densos e originais mas incompreensivelmente, talvez o menos
estudado dentro da histria da arquitectura portuguesa e do mundo luso, sem
paralelo no resto do mundo [...] e do ponto de vista da histria da arte e
urbanismo, uma histria por escrever.
Estas afirmaes incentivaram-nos a estudar a arquitectura produzida pela e
para as confrarias da Misericrdia e que agora apresentamos como dissertao
de Doutoramento em Histria da Arte Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa.
Neste captulo introdutrio, para alm de enquadrar a pertinncia do tema da
nossa investigao, queremos definir claramente o objecto de estudo, os seus
limites e as suas principais problemticas. De igual modo, devido
abrangncia do tema, foi necessrio fazer algumas opes metodolgicas que
consideramos importante explicitar, designadamente ao nvel da do trabalho de
campo e da pesquisa arquivstica.
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1. A definio do problema em estudo
Tema
O objecto de estudo do presente trabalho a arquitectura promovida pelas
confrarias da Misericrdia durante o sculo XVI. Aps investigaes
preliminares foi possvel constatar que as Misericrdias construram edifcios
que integravam uma igreja. Estas apresentavam uma grande diversidade
tipolgica, com alguns exemplares que se podem inserir na produo de
arquitectura religiosa de quinhentos e outros que evidenciavam caractersticas
tipolgicas diferenciadas. Estas particularidades levaram alguns autores a
definir uma tipologia arquitectnica que designaram por igreja tipo
Misericrdia. As suas caractersticas principais foram identificadas como:
unificao espacial, com nave e capela-mor em espao comum, presbitrio
elevado a que se acede por escadas, composio retabular nica ou inserida
em trs capelas no topo da capela-mor, tribuna dos mesrios, iconografia
especfica em portais, retbulos, azulejaria e pintura e predominncia de
valores chos de simplicidade e funcionalidade.
No entanto, a nossa investigao inicial deixou transparecer uma enorme
complexidade do fenmeno arquitectnico, que no se podia resumir apenas a
uma questo tipolgica e, que necessitava de um estudo sistemtico,
abrangente e detalhado. Constituindo tambm uma oportunidade para traar
um quadro alargado do seu patrimnio ainda existente
Ao estudar a arquitectura promovida pelas Misericrdia colocamos a nfase
nas confrarias enquanto encomendantes de obras de arte, concretamente, de
Arquitectura. Dito de outro modo procura-se estudar a arquitectura promovida
por um encomendante especfico, colectivo e leigo - associao de fiis leigos
com funo concreta de cariz assistencial e religiosa, com bvias repercusses
na arquitectura construda para servir de suporte a essa funo. Assim, as
Misericrdias distinguem-se de outros encomendantes (rei, nobreza, clero,
ordens religiosas, entre outros): a sua encomenda artstica, incluindo a
arquitectnica, tem uma inteno funcional servir de local prtica
assistencial incluindo elementos de religiosidade. Mas tambm uma forma de
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expressar as suas devoes e afirmar e difundir uma identidade e prestgio de
grupo. Como tal, a sua produo artstica vai apresentar algumas
caractersticas que a individualizam face restante produo artstica nacional.
Este tipo de estudos de Histria da Arquitectura, considerando um
encomendante especfico, tem tido algum protagonismo; so vrios os
contributos, mas as mais estudadas so as diferentes ordens religiosas, quase
sempre circunscritos geografica e temporalmente. Assim, falta uma
investigao global das Misericrdias mas concorrendo para a constituio de
um panorama global da arte portuguesa.
Definies de mbito temtico, temporal e geogrfico
Devido complexidade e abrangncia do fenmeno Santas Casas da
Misericrdia, definiu-se uma cronologia precisa para esta investigao: o
sculo XVI poca muito heterognea em termos de contributos e correntes
estticas, culturais e ideolgicas, perodo da fundao e incio da actividade
assistencial e cultual das Misericrdias, assim como, perodo inicial da
produo de obra arquitectnica pelas confrarias. Esta componente temporal
indispensvel para o enquadramento global e, para a contextualizao esttica,
ideolgica e social da arquitectura promovida pelas Santas Casas.
A escolha desta cronologia coloca questes pertinentes como a necessidade
de distino entre a data da fundao das confrarias e a da construo dos
edifcios, entre as duas datas poderiam mediar algumas dcadas. Esta
situao situa a data das primeiras construes no segundo quartel de
quinhentos.
A adopo de uma periodizao especfica implica uma seriao dos objectos
de estudo em funo da mesma, tarefa s possvel recorrendo ao reajuste e
confrontao dos dados, que se podem coligir na bibliografia e documentao.
Esta tarefa inicial revelou-se bastante morosa e crtica, pois as contradies e
as referncias sem indicao da fonte de informao foram situaes muito
comuns e de difcil resoluo.
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Optou-se igualmente, devido grande quantidade de confrarias fundadas no
sculo XVI cerca de duzentas e trinta, por circunscrever a investigao
principal ao territrio continental.
No entanto, sempre que relevante e quando existiram elementos para o fazer,
foram utilizados dados referentes a Misericrdias com outras cronologias e
outras localizaes geogrficas.
Tendo em considerao as definies temporais e geogrficas, foi necessrio
proceder identificao dos objectos de estudo. Primeiramente houve que
elaborar uma listagem de todas as confrarias, com respectivas datas de
fundao e construo dos edifcios, recorrendo a bibliografia genrica e
especfica referente histria das Misericrdias. Numa segunda fase, esta
listagem foi revista e completada, de modo a aferir quais as confrarias
quinhentistas cujos edifcios ainda mantinham elementos desse perodo e as
que sofreram remodelaes em pocas posteriores.
Assim retirmos do mbito principal do nosso estudo, pois apenas sero
consideradas em casos especficos:
todas as confrarias com fundao posterior ao sculo XVI;
todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI, viram os seus
edifcios alterados ao nvel arquitectnico, com implicaes planimtricas,
volumtricas e de concepo do espao interior em pocas posteriores ao
sculo XVI;
todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI, foram ocupar
espaos de culto preexistentes, no construdos com o objectivo de
albergar a realidade assistencial e cultual de uma confraria da
Misericrdia;
todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI e terem igreja
construda na mesma poca, viram-na destruda;
Ou seja, o nosso estudo integra prioritariamente os edifcios das Santas Casas
da Misericrdia que tenham sido edificados durante o sculo XVI com o
objectivo de acolher a aco assistencial e cultual da confraria e que
actualmente mantm um nmero mnimo de elementos ntegros, ao ponto de
poderem dar um contributo para o estudo das suas caractersticas e contexto
construtivo durante o sculo XVI.
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30
Este trabalho teria ficado beneficiado se existissem mais monografia, histricas
e artsticas, dedicadas a cada uma das Santas Casas do pas, obras essas que
deveriam privilegiar a metodologia e o rigor cientficos. Se assim fosse,
problemas como data de fundao da confraria, local inicial de funcionamento,
data de construo da igreja e campanha de obras posteriores, estariam num
grau de conhecimento muito mais avanado dispensando-nos de pesquisas
bsicas, muito morosas e exigentes de criticismo, deixando-nos tempo para o
verdadeiro tema do nosso trabalho.
Foi para suprimir estas lacunas e para sistematizar os elementos que poderiam
verdadeiramente interessar ao nosso trabalho que desenvolvemos fichas
analtico-descritivas de cada um dos edifcios quinhentistas. Este instrumento
de trabalho permitiu as concluses aqui explanadas e constitui um corpus de
informao textual e visual muito diversificado.
2. Objectivos
O presente trabalho procura dar um contributo para o conhecimento e
caracterizao do patrimnio arquitectnico das Misericrdias, nomeadamente
no mbito da arquitectura portuguesa quinhentista. No nossa inteno fazer
uma monografia dos edifcios quinhentistas da Misericrdias ou dar um
tratamento monogrfico informao bibliogrfica ou documental recolhida no
mbito desta investigao. Interessa-nos sim, contribuir para a compreenso
global do fenmeno arquitectnico das Misericrdias portuguesas. Neste
contexto foram identificadas algumas problemticas centrais a que queremos
dar resposta, nomeadamente:
levantamento e registo exaustivo de todas as confrarias e Casas da
Misericrdia quinhentistas e dos principais elementos para a sua
identificao, localizao e caracterizao;
enquadramento da produo arquitectnica das Misericrdias no
contexto mais vasto da encomenda artstica promovida por estas
confrarias;
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31
redefinio da questo central da arquitectura promovida pelas
Misericrdias tendo em conta a funo assistencial e religiosa da
confraria a Casa da Misericrdia;
identificao e caracterizao da relao que as Misericrdias
estabelecem com o espao edificado (as opes urbansticas e de
localizao dos imveis e os tipos de ocupao);
caracterizao da produo arquitectnica das confrarias da Misericrdia
e contextualiz-la no mbito da arquitectura quinhentista portuguesa de
modo a identificar as suas particularidades;
anlise das particularidades tipolgicas de alguns edifcios das Santas
Casas, tentando caracteriz-las, assim como o seu processo de difuso,
repercusses e permanncias em outros exemplares de arquitectura
religiosa, e identificar modelos e influncias arquitectnicas e artsticas.
constituio de um corpus informativo de todas as Misericrdias
fundadas no sculo XVI, analisando os edifcios quinhentistas em ficha
analtico-descritiva concebida para o efeito.
3. A investigao fontes e trabalho de campo
A nossa investigao iniciou-se pela pesquisa bibliogrfica e arquivstica e
continou pelo trabalho de campo, pois considermos absolutamente
fundamental o contacto com os edifcios de fundao quinhentista.
A pesquisa bibliogrfica assumiu grande importncia para o conhecimento
global do fenmeno Santas Casas da Misericrdia, histria, difuso, aco
assistencial e cultual e, mais concretamente, para a definio das datas de
instituio das confrarias, da construo dos edifcios e registo das alteraes
que sofreram. Assim, procurou-se que fosse o mais sistemtica possvel
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32
percorrendo os fundos da Biblioteca Nacional de Portugal, Biblioteca de Arte da
Fundao Calouste Gulbenkian, Biblioteca da Faculdade de Letras e dos
Servios de Documentao da Universidade de Lisboa, Biblioteca Geral e
Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Biblioteca da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Biblioteca da Santa Casa da
Misericrdia de Lisboa, Biblioteca Joo Paulo II da Universidade Catlica
Portuguesa, Centro de Documentao da Unio das Misericrdias Portuguesas
e Biblioteca Nacional de Espanha.
A pesquisa arquivstica incidiu sobretudo nos arquivos das prprias
Misericrdias, os que se constituem como arquivos prprios e os que esto em
depsito noutras instituies, que custodiam a documentao mais abundante
e directa relativa sua actividade incluindo a promoo de obras
arquitectnicas.
Existe uma grande heterogeneidade nos arquivos das confrarias da
Misericrdia ao nvel das tutelas, estado de tratamento e acondicionamento da
documentao, dimenses, nmero de documentos preservados, estado de
conservao, cronologias e tipologias documentais, entre outros, e que pode ir
do inventrio informatizado ao no tratamento e acondicionamento. Noutros
casos mais inslitos, a documentao est tratada e acondicionada, mas no
existe inventrio para consulta com correspondncia entre a numerao
atribuda s pastas e o seu contedo. Alguma documentao est j entregue
a instituies arquivsticas, de natureza municipal ou distrital, que podem
assegurar a preservao, difuso e acesso aos esplios documentais das
Misericrdias.
A grande maioria dos arquivos das Misericrdias no esto constitudos como
tal, e as condies de tratamento e conservao dos documentos e condies
de consulta no so as mais adequadas para a investigao. Assim, sentimos,
e no queremos deixar de o clarificar, que esta pesquisa foi condicionada pelo
estado de tratamento dos arquivos, pelas caractersticas dos instrumentos de
descrio documental disponibilizados ou pela sua inexistncia e pela
informao prestada pelos tcnicos. No entanto, situao semelhante verificou-
se em alguns arquivos municipais por desconhecimento dos fundos
documentais em depsito.
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33
A nossa investigao arquivstica, devido grande quantidade de arquivos e de
documentao, foi orientada pelas obras Guia dos arquivos em Portugaliae
Monumenta Misericordiarum (2002) e Recensamento dos Arquivos Locais
e Misericrdias (1995 - 2000). Estas obras revelaram-se fundamentais para a
identificao dos arquivos a consultar e para o estabelecimento de prioridades
dentro da economia de tempo destinada investigao. No entanto, no
decurso da pesquisa, constatmos que estas obras apresentam algumas
limitaes; nomeadamente, esto incompletas, no incluem todos os distritos e
em alguns casos apresentam datas extremas incorrectas. Estas limitaes, no
caso do Guia dos Arquivos so fruto da metodologia de trabalho que lhe est
inerente (a informao recolhida com base num contacto com a instituio,
sendo que muitas desconhecem a sua realidade documental e outras no
respondem) e uma excessiva dependncia informativa da obra mais antiga.
Destacamos apenas trs exemplos; o caso de Goleg que tem como data
inicial 1669 mas que tem documentao pelo menos desde 1540; o caso de
Freixo que aparece como no tendo documentao mas que a mais antiga
remonta a 1554; e o de Miranda do Douro cujo documento de arquivo mais
antigo data de 1578 mas que aparece como 1603.
Em alguns casos no foi possvel ultrapassar estas limitaes, pois a grande
quantidade de arquivos, tornava impraticvel confirmar todas as datas
apresentadas no Recenseamento e no Guia dos Arquivos. Para dificultar esta
tarefa, muitos arquivos no esto tratados e os tcnicos das instituies
desconhecem a documentao.
Assim, e dado o mbito da nossa investigao, primeiramente procedeu-se
consulta dos fundos com documentao quinhentista referentes a edifcios
tambm quinhentistas. Dentro da economia de tempo j referida, no se
consultaram os arquivos com documentao quinhentista correspondente a
confrarias quinhentistas e a edifcios fruto de campanhas de obras posteriores.
Apesar de considerarmos que esta documentao poderia ser potencialmente
importante, dentro das opes a fazer em qualquer investigao com limite
temporal concreto, considermo-la no prioritria, pois alargaria em muito a
pesquisa documental e no teramos a garantia de recolher mais do que
informaes parcelares. No entanto, e para que este conjunto de Misericrdia e
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edifcios no fique totalmente em aberto, decidimos aproveitar as referncias
documentais e bibliogrficas publicadas referentes a Misericrdias
quinhentistas com edifcios datados de pocas posteriores e Misericrdias de
fundao posterior ao sculo XVI. Estes revelaram-se muito teis a vrios
nveis para complementar o tema abordado neste trabalho, nomeadamente,
para demonstrar que muitas questes e problemticas no se restringem a um
perodo concreto mas, prolongam-se no tempo revelando a sua estruturalidade.
No entanto, e no querendo contradizer o que foi afirmado no pargrafo
anterior, em algumas circunstncias, consultou-se documentao posterior
referente a edifcios quinhentistas e arquivos com documentao referentes a
igrejas datadas de pocas posteriores. Estas circunstncias esto relacionadas
com factores meramente casuais; ou seja, revestiram a forma de oportunidade
a aproveitar (arquivos bem organizados, facilidades de consulta, tipologias
documentais existentes no arquivo).
No conjunto da documentao quinhentista privilegimos a consulta de
determinadas tipologias documentais, numa hierarquia de consulta necessria
gesto do tempo. Foram consultados sistematicamente os livros de termos e
acrdos da mesa, os livros de obra, as escrituras e os tombos; documentao
que considermos mais relevante aps um atento processo de aproximao e
conhecimento natureza e caractersticas dos fundos documentais das
Misericrdias.
Os livros de termos ou acrdos registam sob a forma de actas as resolues
dos oficiais que em cada ano administram a confraria e que se reuniam em
periodicidade varivel, de Misericrdia para Misericrdia, para tomar as
decises mais importantes. Esta tipologia documental apresenta um grau de
pormenor bastante considervel e, como tal, uma riqueza informativa relevante.
No caso dos livros de acrdos procurmos consultar tambm os posteriores
ao sculo XVI (do sculo XVII e XVIII), pois alguns livros mais recentes,
registam resumos dos acrdos antigos mais importantes, como acontece em
Torres Vedras.
Os livros de obra, bastante raros no contexto das Misericrdia para o perodo
em causa, foram consultados de forma sistemtica, pois fornecem informaes
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diversificadas sobre as campanhas de obras: pagamentos, recolha de esmolas,
actas de decises relativas a interveno, entre outros.
Muitas Misericrdias guardam maos compostos por inmeros documentos
avulsos coligidos com ou sem organizao cronolgica ou temtica, onde a
tipologia documental mais comum so as escrituras. Esta so quase sempre de
arrendamento, aforamento ou compra e venda; no entanto, em alguns casos
junto com esta documentao surgem contratos de obra como acontece na
Goleg, Lagos, Vila do Conde e Vila Ruiva o que determinou que este tipo de
documentos fosse sempre consultado, nomeadamente em arquivos com
tratamento arquivstico precrio e independentemente da sua cronologia.
Por ltimo, destacar os tombos que, embora quase sempre posteriores ao
sculo XVI, podiam assumir a forma de inventrio autntico dos bens de raiz,
com as suas demarcaes e confrontaes, ou registo de documentos
importantes para a gesto da confraria, como escrituras e testamentos e por
isso apresentaram um particular interesse para a nossa investigao. Estes
textos ao registarem e descreverem as propriedades pertencentes s
Misericrdia, incluem muitas vezes, a descrio do edifcio onde funciona a
confraria. Muitas destas descries permitem conhecer os edifcios antes de
campanhas de obras que os alteraram profundamente, nomeadamente na sua
planimetria e organizao espacial e por isso o seu interesse para esta
investigao, foi o caso de Viana do Alentejo e Vila Ruiva.
Num segundo momento, e sempre que no existia outra documentao ou as
condies de pesquisa o proporcionaram, foram consultados os livros de
receita e despesa, de menor riqueza informativa, quase sempre muito sucintos
e de grande ambiguidade. O registo pode ir de: ao pintor dez reis a ao pintor
Afonso Martins dez reis pelo retbulo, no entanto, faltando outro tipo de fontes
escritas, estas revelam-se bastante teis.
Em qualquer tipologia documental foram reveladoras as ltimas pginas dos
livros; o registo apressado e subsidirio nestas folhas, deixam antever as
dinmicas do registo escrito no perodo em questo, aproveitando as pginas
de um livro em utilizao, para assentar um acontecimento ou acto isolado:
acrdo especial, pagamento extra ou contextualizado, desenho...
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Ainda sobre a pesquisa documental gostaramos de salientar que, em muitos
casos, foi consultada toda a documentao do sculo XVI e princpios do
sculo XVII, independentemente da tipologia documental, pois muitas vezes a
organizao dos registos escritos no era muito clara. No mbito da nossa
pesquisa pudemos constatar que, no contexto das Misericrdia, existem
diferentes tipos de arquivos de acordo com o desenvolvimento e importncia
econmica e social da confraria e respectiva evoluo. Confrarias como Porto,
Guimares, Braga e Montemor-o-Novo que desde os primeiros anos registam
um elevado grau de complexidade, com nmero de irmos, actividade
assistencial e bens muito considerveis, tendem a ter uma maior
especializao dos seus registos escritos livro da irmandade ou dos irmos,
livro dos acrdos da mesa, livro de receita e despesa1. Por outro lado,
confrarias de menores dimenses e com uma actividade e bens mais restritos
tm nos anos iniciais apenas um livro, o livro da confraria, onde se concentram
todos os registos escritos relevantes para a sua gesto, e que nas de maiores
dimenses aparecem dispersos por vrios livros. o caso de Bragana com o
Livro que h-de servir nesta Santa Casa da Misericrdia este ano que
entra por dia de Santa Isabel, que servia para registar o ttulo dos oficiais
(provedor, mordomo, capelo, manposteiros), os acrdos da mesa, o ttulo
dos pobres que se receberam, entre outros. E o do Torro designado por Livro
da confraria da Misericrdia, ano 1604-1605, que integra: auto da eleio do
provedor e irmos, auto de eleio do mordomo e escrivo, obrigao do
meirinho da casa, titulo dos irmos para servir em cada ms, titulo dos
pedidores, titulo dos capeles, concerto com o mdico, obrigao do
sangrador, receita do meses, despesa dos meses, despesa do po por meses,
titulo do po que a casa tem de renda, titulo do po que recebeu, titulo do po
que se ficou a dever, titulo dos defuntos que a casa enterrou, dividas que se
devem a casa. Situao semelhante, ainda que nem todos os livros incluam as
mesmas rubricas, acontece nos primeiros anos de actividade em Alcobaa,
1 Um inventrio seiscentista da Misericrdia de Soure refere: tres liuros nouos de caixa, a saber hum da irmandade, outro das eleies e outro que he este da reeita e despesa e no ano seguinte acrescenta um quarto: outro de acordaons, cfr. Arquivo da Misericrdia de Soure, D 7 9 livro de receita e despesa (1658 - 1668), fls. 10 e 27.
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Arraiolos, Pavia e Monforte. Na maioria dos casos os instrumentos de
descrio documental no registam esta realidade, referenciando esta
documentao apenas como livro de receita e despesa.
Arquivos das Misericrdias consultados, num total de cento e quarenta
fundos documentais:
Abrantes (Arq. Mun. Abrantes)
Alandroal
Alccer do Sal
Alcovas
Alcobaa
Alcochete (Arq. Dist. Setbal)
Aljezur
Aljustrel (Arq. Mun. Aljustrel)
Alter do Cho
Alvito
Arraiolos
Atouguia da Baleia
Barcelos
Batalha
Beja (Arq. Dist. Beja)
Benavente
Borba
Braga (Arq. Dist. Braga)
Bragana (Arq. Dist. Bragana)
Buarcos
Calheta (Arq. Reg. Madeira)
Caminha (Arq. Dist. Viana Castelo)
Chamusca
Constncia (Arq. Dist. Santarm)
Coruche
Cs (Arq. Miseric. Alcobaa)
Erra (Arq. Miseric. Coruche)
Estmbar
Elvas
vora (Arq. Dist. vora)
vora de Alcobaa (Arq. Miseric.
Alcobaa)
voramonte
Faro
Freixo de Espada a Cinta
Fronteira (Bib. Mun. Fronteira)
Funchal (Arq. Reg. Madeira)
Fundo
Goleg
Guimares
Lagos (Arq. Mun. Lagos)
Lourinh
Lous (Bib. Mun. Lous)
Machico (Arq. Reg. Madeira)
Maiorga (Arq. Miseric. Alcobaa)
Mrtola (Arq. Mun. Mrtola)
Mogadouro
Moncarapacho
Monforte
Montargil
Montemor-o-Novo
Montijo (Arq. Mun. Montijo)
Mora
Moura (Arq. Mun. Moura)
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Nisa
bidos (Arq. Mun. bidos)
Pavia
Pederneira (Arq. Confraria N. Sra.
Nazar)
Peniche
Portalegre
Porto
Redondo
Santa Cruz (Arq. Reg. Madeira)
Santarm
Santiago do Cacm
Seda (Arq. Miseric. Alter do Cho)
Seia
Serpa (Arq. Mun. Serpa)
Sesimbra (Arq. Mun. Sesimbra)
Setbal (Arq. Dist. Setbal)
Soure
Tarouca
Tavira
Tentgal
Tomar
Torro
Torres Vedras
Viana do Alentejo
Viana do Castelo (Arq. Dist. Viana do
Castelo)
Vila Franca de Xira
Vila Real (Arq. Dist. Vila Real)
Vila Viosa
Vimieiro
Complementarmente foram pesquisados outros fundos documentais com o
nico objectivo de complementar as consultas nos arquivos das Misericrdias.
Estas pesquisas incidiram sobretudo em fundos notariais, diocesanos,
chancelarias rgias.
Os registos notariais so das tipologias documentais mais ricas para a Histria
da Arte, pois os contratos registados permitem obter diversas informaes
sobre determinada obra; designadamente, autoria, programa artstico, modelos,
condies e mtodo de trabalho, pagamentos, entre outros.
Os arquivos diocesanos revelaram-se igualmente bastante interessantes para o
estudo da arquitectura das Misericrdias, embora numa tipologia documental
especfica licenas de ereco e bno de altares para as igrejas. Estes
documentos, expedidos a pedido das Misericrdias e arquivados nos seus
cartrios, encontram-se tambm, sob a forma de cpias trasladadas nos livros
do Registo Geral dos arquivos diocesanos. Estes livros de registo de
documentos expedidos integram documentao muito variada (confirmaes
de capelania, benefcios, priorados e vigararias, mercs de ofcios, licenas
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para particulares e moradores levantarem altares em ermidas ou igrejas e
licenas para se fazerem ermidas ou oratrios particulares). A cpia, na ntegra
ou na parte essencial, dos actos expedidos pelo Bispo, no mbito do governo
da diocese, visava a preservao, controlo e acesso informao, e muitos
perderam-se na instituio de destino mas subsistem na diocese emissora nos
livros do Registo Geral.
Relativamente s Chancelaria rgias e das Ordens Militares existe um
levantamento, tendencialmente sistemtico, realizado e publicado pelo projecto
Portugaliae Monumenta Misericordiarum. No entanto, confrontando-o com
outra bibliografia, constatmos que alguns documentos que referiam as
Misericrdias, embora de uma forma indirecta, no constavam do
levantamento. Assim, decidimos realizar a nossa prpria pesquisa alargando os
termos pesquisados a todas as localidades includas nos ndices das
Chancelaria.
Ainda no Arquivo Nacional/Torre do Tombo foi bastante proveitosa a consulta
de outros documentos como o Corpo Cronolgico e as Memrias Paroquiais,
que incluem duas perguntas com informaes importantes para o nosso
estudo. A 11: Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem? e a
12: se tem casa de Misericrdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e
o que houver notvel em qualquer destas cousas. Na maioria dos casos os
registos so sucintos e limitam-se a responder s questes colocadas; no
entanto, noutros o relato bastante detalhado, incluindo tambm a descrio
do edifcio neste mesmo tpico ou no seguinte (pergunta 13: Se tem ermidas,
e de que santos, e se esto dentro, ou fora do lugar, e a quem pertencem).
Outros arquivos e fundos pesquisados:
Arquivo Distrital de Braga (notariais de Barcelos e de Braga; Registo
geral de Cmara Eclesistica de Braga; Gavetas do Cabido; Juzo dos
Resduos)
Arquivo Distrital de Faro (notariais de Faro);
Arquivo Distrital de Portalegre (notariais de Portalegre e Nisa);
Arquivo Distrital do Porto (notariais do distrito);
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Arquivo Distrital de Santarm (notariais de Tomar, Constncia e
Coruche);
Arquivo Distrital de Viana do Castelo (notariais do distrito);
Arquivo da diocese do Algarve;
Arquivo Histrico do Patriarcado de Lisboa;
Arquivo Nacionais/Torre do Tombo:
o Chancelaria de D. Manuel I;
o Chancelaria de D. Joo III;
o Chancelaria de D. Henrique/D. Sebastio;
o Chancelaria de Filipe I;
o Chancelaria de Filipe II;
o Chancelaria Antiga da Ordem de Cristo;
o Chancelaria Antiga da Ordem de S. Tiago:
o Arquivo Casa Fronteira e Alorna;
o Corpo Cronolgico;
o Memrias Paroquiais;
Arquivo Municipal de Mogadouro (fundos das extintas Misericrdias do
concelho);
Desta investigao no exclumos a documentao das Misericrdias extintas
e com edifcios destrudos; embora muitos dos arquivos tenham desaparecido,
mesmo que no fisicamente pelo menos do conhecimento. Para estes casos
foram contactados os arquivos municipais, algumas parquias e outras
instituies que detm a posse do imvel, para tentar localizar essa
documentao; mas na maioria dos casos no foi possvel localiz-los.
Transcreveram-se para incluir esta dissertao os documentos mais relevantes
de acordo com as temticas abordadas, os inditos e os que no sendo
inditos nunca foram alvo de transcrio. Um outro critrio para a seleco das
fontes a transcrever relacionam-se com a pouca acessibilidade (no apenas
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geogrfica) de determinados fundos arquivsticos, que incluem documentos
relevantes para o conhecimento da arquitectura promovida pelas Misericrdias.
Na transcrio documental foram seguidas as seguintes normas:
transcreveram-se os documentos em linha contnua;
respeitou-se a morfologia do texto original, mantendo-se a separao
entre os pargrafos e as indicaes margem;
colocou-se a foliao entre [ ], no meio do texto, coincidindo com o
inicio do respectivo flio;
respeitou-se a grafia das palavras conservando o uso das consoantes
e vogais dobradas, tanto no inicio como no meio das palavras, e o das
letras i, j, y, u e v;
respeitou-se a grafia dos numerais;
actualizou-se o uso de maisculas e minsculas nos topnimos e
antropnimos;
mantiveram-se os erros do escriba assinalando-os com [sic];
as anotaes marginais foram transcritas;
desenvolveram-se as abreviaturas no assinalando as letras omissas;
sempre que possvel esses desenvolvimento fez-se de acordo com a
ortografia habitual do escriba;
recompuseram-se as palavras, separando-se de outras ou agrupando
as slabas de acordo com os critrios morfolgicos actuais;
uitilizou-se a apstrofe nos casos de eliso;
utilizou-se o til nos ditongos nasais;
colocou-se entre [ ] tudo o que resultou da nossa interpretao devido
ilegibilidade do texto, falta ou deteriorao do suporte;
assinalou-se as lacunas de suporte com [];
assinalou-se a suspenso do texto com ();
assinalou-se as dvidas de leitura com (?);
assinalou-se as palavras que no se conseguiram ler com [--];
a transcrio das assinaturas foi precedida de [assinatura:];
De igual importncia se revestiu o trabalho de identificao e anlise detalhada
de todos os conjuntos arquitectnicos das Misericrdias que integram este
-
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estudo, incluindo os que esto referidos mas no identificados, os que
perderam a sua funo inicial, os que mudaram de proprietrio/tutela e os que
foram destrudos. Esta tarefa s possvel recorrendo a um trabalho de campo
sistemtico, complementado quando necessrio pela consulta de inventrios
patrimoniais, com especial relevncia para a publicao da Academia Nacional
de Belas Artes e para o SIPA Inventrio do Patrimnio Arquitectnico
acessvel em www.monumentos.pt.
Neste contexto foram analisados in loco os edifcios das Misericrdias de:
Abiul
Abrantes
Alandroal
Albufeira
Alccer do Sal
Alcovas
Alcantarilha
Alcobaa
Alcochete
Alenquer
Algoso
Alhandra
Aljezur
Aljubarrota
Aljustrel
Almada
Almendra
Almodovar
Alter do Cho
lvaro
Alverca
Alvito
Ansio
Arez
Arouca
Arouca
Arraiolos
Arronches
Arruda dos Vinhos
Assumar
Atouguia da Baleia
Aveiro
Azambuja
Azinhaga
Azinhoso
Azurara
Barcelos
Batalha
Beja
Borba
Braga
Bragana
Buarcos
Cabeo
Cacela Velha
Caminha
Cano
Cantanhede
Cardigos
Castanheira do Ribatejo
Castelo Branco
Castelo de Vide
Castro Marim
Castro Verde
Chamusca
Coina
Colares
Colos
Coruche
Cs
Crato
Cuba
Elvas
Ericeira
Estmbar
vora
vora de Alcobaa
voramonte
Faro
Freixo de Espada a
Cinta
Fronteira
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Funchal
Fundo
Gfete
Goleg
Gouveia
Guarda
Guimares
Idanha-a-Nova
Idanha-a-Velha
Ladoeiro
Lagos
Lisboa
Loul
Lourical
Lourinh
Lous
Mao
Maiorga
Maiorga
Medelim
Melo
Mrtola
Messejana
Miranda do Douro
Moncarapacho
Monsanto
Montalvo
Montemor-o-Novo
Montemor-o-Velho
Montijo
Mora
Moura
Mura
Nisa
bidos
Olivena
Palmela
Pavia
Pederneira
Pedrgo Grande
Pedrgo Pequeno
Penamacor
Penas Roias
Peniche
Pernes
Pinhel
Pombal
Ponte de Lima
Portalegre
Portalegre
Portel
Portel
Portimo
Porto
Porto
Porto de Ms
Pvoa e Meadas
Povos
Proena-a-Nova
Proena-a-Velha
Redondo
Rosmaninhal
Salvaterra do
Extremo
Samora Correia
Santa Cruz
Santarm
Santiago do Cacm
Sardoal
Seda
Segura
Seia
Serpa
Sert
Sesimbra
Setbal
Silves
Sobreira Formosa
Soure
Sousel
Tancos
Tavira
Tentgal
Terena
Tolosa
Tomar
Torro
Torro
Torre de Moncorvo
Torres Novas
Torres Vedras
Viana do Alentejo
Viana do Castelo
Vila do Conde
Vila do Conde
Vila Franca de Xira
Vila Nova da Baronia
Vila Real
Vila Real
Vila Ruiva
Vila Verde dos Francos
Vila Viosa
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Vimieiro Viseu
Para alm destes edifcios, que foram visitados individualmente, realizmos
algumas pesquisas referentes a edifcios destrudos, com base em
testemunhos subsistentes, que em alguns casos foram bastante relevante para
a compreenso global do fenmeno arquitectnico das Misericrdias.
A este conceito deu contedo Vtor Serro que desenvolveu a noo de cripto-
histria da arte - o estudo da obra de arte desaparecida e do fragmento. Este
no vestgio, arquitectura, pintura ou escultura desaparecida, que pode
subsistir apenas num desenho, fotografia ou planta, ao ser analisado permitem
um alargamento dos objectos de estudos e deve ser entendido como fazendo
parte e definindo uma determinada conjuntura artstica. No caso da nossa
investigao os edifcios desaparecidos, correspondem a cerca de 20% da
totalidade dos edifcios objecto do nosso estudo. Por isso, desencademos
uma investigao que, por se remeter a edifcios desaparecidos, teve que
assumir contornos especficos, metodologia prpria e fontes alternativas. Para
cada igreja destruda tentou-se identificar elementos que pudessem dar a
conhecer estas construes: fotografias anteriores destruio em coleces
de arquivos e museus locais e em outras instituies. Pesquisou-se igualmente
os seus arquivos de forma a encontrar descries antigas, por exemplo em
Tombos; tambm foram realizadas pesquisas ao nvel dos fundos de
cartografia do IGEO Instituto Geogrfico Portugus/Cartoteca Digital e do
SIDCarta - Sistema de Informao para Documentao Cartogrfica. Muitas
destas diligncias ficaram condicionadas pelo estado do tratamento de alguns
esplios, ainda em processo de inventariao e no disponveis na totalidade
para a consulta, e pelas informaes prestadas pelas instituies.
Esta investigao, morosa e exigente em criatividade, proporcionou recuperar a
memria de cerca de metade dos edifcios desaparecidos, sob a forma de
desenhos, plantas, fotografias, mapas e descries. Estas informaes
revelaram-se bastante relevantes para a consolidao de algumas ideias chave
sobre a caracterizao da arquitectura construda pelas Misericrdias durante o
sculo XVI.
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4. Os resultados
Esta investigao no adquire a forma de um inventrio dos edifcios
quinhentistas das Misericrdias, nem de monografias histrico-artsticas dos
mesmos. um tratamento global de vrios campos de anlise atravs de
abordagem histrica, social e cultural, holstica e integradora, da produo
arquitectnica das confrarias - da caracterizao arquitectnica s fontes de
financiamento, dos artistas interveno rgia, das funes da arquitectura
identificao de modelos artsticos e arquitectnicos.
Por isso, o tratamento da informao resultante da investigao por um lado
monogrfico, individual, cada Misericrdia tem uma ficha ou entrada numa
tabela. Estas constituem um conjunto de informao que aparecer sobre a
forma de anexos e no de texto principal; nelas sistematiza-se a informao
relevante e indita recolhida, de forma individualizada mas sem pretenses de
exaustividade, nomeadamente na identificao documental de todas as
campanhas artsticas.
Esta aborgadem monogrfica completada por uma outra temtica e
comparativa, em que vrias problemticas so tratadas recorrendo a elementos
recolhidos em cada confraria e procurando uma relao comparativa entre
todos eles.
Neste contexto privilegiamos uma abordagem que d uma importncia relativa,
posicionada, a questes de datao e autoria; preocupando-se com elementos
de diferente natureza. Designadamente, a compreenso de uma dinmica
encomendante especfica e com traos de identidade, que se encontram
dispersos por uma ampla rea geogrfica e o entendimento da identidade do
edifcio e da sua essncia enquanto espao com uma funo concreta.
Para operacionalizar a informao recolhida na nossa investigao foi
necessrio criar tabelas e fichas de recolha e sistematizao da informao,
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46
que assim registada e esquematizada pode ser encarada como um conjunto de
conhecimento sobre patrimnio arquitectnico das Misericrdias.
A informao bibliogrfica, iconogrfica, arquivstica e a disponibilizada pela
prpria obra de arte, recolhida no trabalho de campo, foi reunida em tabelas e
fichas. Estas so compostas por diferentes campos, que se justificam pela
necessidade de tratamento dessa mesma informao, sua sistematizao e
racionalizao, permitindo maximizar o seu potencial informativo e o seu
tratamento crtico.
Estas fichas no so fichas de inventrio, nem o seu contedo se refere a um
levantamento sistemtico, actualizado e preferencialmente exaustivo dos bens
culturais. Mas trata-se de uma forma de sistematizar informao, concebida de
modo a respeitar o particularismo de cada caso e a permitir o cruzamento da
informao de acordo com os objectivos pr-definidos para este trabalho.
Exigiram um preenchimento regular, metdico e sistemtico e a utilizao de
uma linguagem rigorosa, mas tambm sinttica, precisa e operativa.
A ficha estrutura-se em grandes grupos de informao: identificao,
localizao, proteco, enquadramento, nota histrica, nota artstica, nota
descritiva, intervenes, conservao, documentao, informaes
complementares. Cada um destes campos compreende vrios sub-campos:
IDENTIFICAO: integra a designao da Misericrdia estudo.
LOCALIZAO: identifica ao nvel dos sub-campos, diocese, distrito, concelho,
freguesia, a localizao religiosa e administrativa do edifcio da Misericrdia
em estudo, e ainda as vias de acesso no sub-campo do mesmo nome.
PROTECO: identifica ao nvel dos sub-campos, grau, decreto legal e ZP/ZEP,
a proteco administrativa a que o imvel est sujeito.
ENQUADRAMENTO: caracteriza o enquadramento da igreja quer no contexto
urbano, quer no contexto de outras construes pertencentes a um mesmo
conjunto edificado.
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47
UTILIZAO: identifica qual o uso iniciai e o uso actual do edifcio. Sempre que
se encontrou referncia a diferentes usos durante a histria do edifcio indicam-
se antecedidos pelas respectivas datas.
PROPRIEDADE/AFECTAO: propriedade e/ou usufruturio actual do imvel, ou
instituio a que est afecto.
NOTA HISTRICA: campo dividido em dois sub-campos, confraria e
hospital/construes assistenciais e onde se registam os dados de cariz
histrico referentes a esses sub-campos.
No sub-campo confraria indicam-se a data mais credvel para a fundao da
confraria, em funo das fontes existentes, assim como os seus
dinamizadores e as fontes documentais utilizadas para o seu preenchimento;
o local de funcionamento inicial e as datas dessa ocupao; em outras
datas indicam-se outras datas atribudas fundao da confraria referidas pela
bibliografia.
Existe tambm a possibilidade de, em texto livre, registar outros dados
histricos relacionados com a confraria.
No sub-campo hospital/construes assistenciais, registam-se em texto livre
os elementos essenciais referentes sua histria.
NOTA ARTSTICA: integra os dados artsticos respeitantes ao imvel em estudo;
assim nos sub-campos constam informaes referentes Casa da
Misericrdia: data, arquitecto/construtor/pedreiro e dinamizadores da
construo assim como as fontes documentais utilizadas para o seu
preenchimento.
Em sub-campo distinto registam-se os dados conhecidos sobre obras
posteriores: data de realizao, intervenes realizadas, os
arquitecto/construtor/pedreiro responsveis e as fontes documentais
utilizadas para o seu preenchimento.
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NOTA DESCRITIVA: integra a anlise descritiva da igreja, do hospital e de
outras dependncias (sacristia, casa do despacho, ptio, cemitrio, entre
outros).
Relativamente ao conjunto arquitectnico devem ser caracterizados em sub-
campos diferenciados a planta e a volumetria; de igual modo deve-se
descrever o exterior em trs sub-campos distintos: fachada principal,
fachadas laterais e cobertura. No interior, registam-se os dados referentes
Igreja, nomeadamente, concepo espacial, alados, decorao (azulejos,
estuques, pintura mural), equipamento (retbulos, tribuna, plpito, coro),
cobertura e pavimento;
Relativamente ao Hospital e Outras Dependncias a descrio feita em
texto livre registando os dados necessrios sua anlise artstica, seguindo os
sub-campos da anlise interior da igreja.
Ainda na nota descritiva sero integradas informaes referentes a
caractersticas estilsticas com uma anlise global da obra destacando as
suas caractersticas identificadoras especficas.
ESTADO DE CONSERVAO: o estado de conservao do imvel, genericamente
classificado de muito bom, bom, razovel, mau, muito mau, complementado
com informaes consideradas relevantes.
ARQUIVO: indica-se a existncia ou no de arquivo, a sua localizao, os
instrumentos de descrio documental existentes, assim como as fontes
consultadas.
OBSERVAES: registo de outras informaes consideradas relevantes e sem
cabimento nos campos anteriores;
BIBLIOGRAFIA: bibliografia consultada para a recolha de informao constante
na ficha;
FOTOGRAFIA DO EXTERIOR: fotografias do exterior do imvel: fachada principal,
fachadas laterais e fachada posterior; em alguns casos incluem-se fotografias
antes de intervenes de restauro relevantes que alteraram a sua fisionomia;
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FOTOGRAFIA DO INTERIOR: fotografias do interior do imvel, uma perspectiva da
nave para a capela-mor e outra da capela-mor para a nave; algum pormenor
relevante; em alguns casos incluem-se fotografias antes de intervenes de
restauro relevantes que alteraram a sua fisionomia;
PLANTA: planta do imvel sempre que existente;
MAPA: mapa da localizao do imvel no contexto urbano; assinalando os
edifcios notveis: a vermelho a Misericrdia, a rosa os conventos, a azul as
capelas, a verde os palacetes, a amarelo os castelos, a preto a Casa da
Cmara, a cinza o pelourinho, a roxo a torre do relgio, a laranja a igreja
matriz.
Para o preenchimento das fichas procurmos adoptar os seguintes critrios:
Sistematizar a informao recolhida de acordo com os campos definidos
na ficha;
No preenchimento dos campos decorao e equipamento seguimos
sempre o mesmo critrio de sistematizao da informao: autoria,
datao, corrente esttico-artstica, tema, localizao e integridade da
obra;
Quando no encontrmos informao para preencher determinados
campos e sub-campos estes ficam em branco;
Opo por repetio de terminologia/expresses sempre que nos
queremos referirmos a uma mesma realidade ou situao;
Na descrio dos objectos artsticos, imveis, mveis e integrados,
opo por descries operativas, que sirvam o objectivo desta
investigao em curso;
Indicao das fontes e/ou bibliografia para as fotografias, plantas e
mapas que se incluam nas fichas e que no sejam da nossa autoria;
As fichas analitico-descritivas dos edifcios quinhentistas constituem, no
apenas, um corpus de informao, mas sim de conhecimento, e integram o
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volume 2 do presente trabalho e so apresentadas por ordem alfabtica para
facilidade de consulta.
A presente dissertao consta de trs volumes, o primeiro correspondendo ao
texto e os outros dois a anexos.
O primeiro volume sistematiza a reflexo principal sobre o tema e estrutura-se
em cinco grandes captulos: Estado do conhecimento e da investigao,
Histria e patrimnio das Misericrdias, As Misericrdias e a Arquitectura, A
Arquitectura das Misericrdias no sculo XVI e Especificidades tipolgicas.
O primeiro captulo pretende reunir o conjunto de conhecimentos existentes
sobre o tema e as principais problemticas identificadas pelos autores que
estudaram o patrimnio artstico das Misericrdias.
O captulo dois procura contextualizar a fundao das Misericrdias e destacar
a sua importncia artstico-patrimonial e as particularidades da sua encomenda
artstica.
O terceiro captulo pretende revelar a relao estabelecida pelas Misericrdias
com o espao construdo, assim como as funes assumidas pelos diferentes
espaos que compem o edifcio no quotidiano da confraria.
O captulo quatro tem como objectivo caracterizar a produo arquitectnica
promovida pelas Misericrdias no sculo XVI e o seu contexto construtivo
meios de financiamento, patronos e mecenas, interveno rgia.
O ltimo captulo procura definir uma possvel especificidade tipolgica dos
edifcios das Misericrdias, propor significados, modos de difuso e
repercusses.
Por questes de organizao, cada captulo e subcaptulo est dividido em
seces assinaladas com numerao romana.
Os volumes 2 e 3 correspondem aos anexos e cada um precedido de um
ndice.
O anexo I, que compe o volume 2, integra as fichas analtico-descritivas dos
edifcios quinhentistas das Misericrdias; a cada edifcio corresponde uma ficha
que integra textos, fotografias, planta e mapa de localizao.
Os anexos II a V integram o volume 3. O anexo II composto por vrias
tabelas elaboradas durante a realizao do trabalho. O anexo III apresenta
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alguma cartografia temtica com localizao da distribuio geogrfica das
confrarias e dos edifcios das Misericrdias. O anexo IV constitudo pela
transcrio de documentos. No anexo V apresentamos algumas fotografias que
considermos relevantes para a compreenso dos temas tratados e que
agrupadas por temas e semelhanas formais e decorativas
Uma ltima nota para acrescentar aspectosrelacionados com as citaes. As
referncias bibliogrficas seguem as indicaes da NP 405 Norma
Portuguesa de Informao e Documentao: referncias bibliogrficas. A
citao, no corpo do texto, dos nomes das Misericrdias apresentada por
ordem alfabtica; as fontes documentais em apndice assim como as
fotografias, so indicadas tambm pelo nome da confraria antecedido pelo
nmero do anexo.
Abreviaturas e Siglas
Abr Abril
Ago Agosto
ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Arqto. - Arquitecto
atrib. atribudo
c. cerca de
col. - coleco
coord. - coordenao
Dez Dezembro
DGEMN Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais
dir. - direco
doc. - documento
Dr. - Doutor
Fev Fevereiro
fl. flio
fls. - flios
-
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IDD Instrumento de Descrio Documental
IDDs Instrumentos de Descrio Documental
IPA Inventrio do Patrimnio Arquitectnico
IPPAR Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico
Jan Janeiro
Jul Julho
Jun Junho
Lg. - Largo
m. - metros
Mai Maio
Mar Maro
m. - mao
N. Sra. Nossa Senhora
Nov Novembro
Out Outubro
p. - pgina
P. - Praa
Pe. Padre
pp. pginas
R. - Rua
S. So
s.d. sem data
s.n. sem editor
s.l. sem local
s.p. sem pginao
sculo - sculo
sep. - separata
Set Setembro
ss. - seguintes
Sta. Santa
Sto. Santo
Tv. - Travessa
v. verso
vol. volume
-
53
vols. volumes
ZEP Zona Especial de Proteco
ZP- Zona de Proteco
CAPTULO I
Estado do conhecimento e da investigao
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Aps as consideraes introdutrias necessrias ao entendimento do mbito,
limites e metodologia da nossa investigao, dedicaremos o primeiro captulo
ao estado do conhecimento e investigao sobre a produo arquitectnica das
Misericrdias no sculo XVI.
Queremos comear por referir que elaborar um estado da questo sobre o
tema que versa esta tese, revelou-se bastante complexo: existe inmera e
diversificada bibliografia, que alis foi sendo constantemente actualizada com
novas publicaes, incluindo durante o ano da apresentao deste trabalho. E
embora, nem sempre, estas obras estejam relacionadas estritamente com o
tema da nossa investigao, no possvel no consider-las. Aos estudarmos
cerca de duzentos edifcios, impossvel sintetizar neste captulo o estado
actual do conhecimento que existe sobre cada um deles; isto constituiria toda
uma outra tese de doutoramento. Por este motivo, e por outros que j
explicitmos na introduo, recorremos a fichas analtico-descritivas e a tabelas
para sistematizar toda a informao de cada edifcio, a dita e a indita.
Assim, a inteno neste captulo referir, ainda que brevemente, e remetendo
sempre para a obra em questo, as linhas de pesquisa seguidas e o conjunto
de conhecimentos que outros investigadores desenvolveram e que constituram
o ponto de partida do nosso trabalho. Limitamo-nos a apresentar as linhas
gerais desses conhecimentos, ou a remeter para eles, no discutindo o seu
contedo. Esta opo baseia-se em duas constataes: por um lado, a maioria
da bibliografia reporta-se a obras monogrficas de carcter histrico ou
explicativo da aco de Misericrdias concretas, tendo como base informaes
documentais, com contedos consensuais, sendo raros os contributos
interpretativos e reflexivos geradores de confronto. Por outro, para a discusso
de algumas ideias expostas na bibliografia, ser necessrio desenvolver
conceitos e elementos que decorreram directamente da nossa investigao e
que, como tal, vo ser explanados em captulos posteriores. Assim, a nossa
opo foi, sempre que se justifique, colocar ao longo dos vrios captulos, o
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confronto entre este conjunto de conhecimentos e o resultado da nossa
investigao.
Genericamente podemos afirmar que a investigao sobre as Misericrdias
portuguesas originou, no mbito da produo historiogrfica nacional, um
conjunto importante de obras, quer em nmero, quer em relevncia. Estes
estudos so muito diversificados ao nvel das cronologias, temas abordados,
grau de aprofundamento, tendncias em que se inserem e metodologias
utilizadas.
A bibliografia sobre as Misericrdias divide-se essencialmente em quatro
grandes grupos:
Obras gerais sobre a fundao, difuso e aco das Misericrdias;
Obras temticas, transversais a vrias Misericrdias;
Obras monogrficas sobre Misericrdias especficas, focando a histria
e evoluo das confrarias e aspectos artstico-patrimoniais;
Contributos mais breves, geralmente sobre a forma de artigos, sobre
Misericrdias especficas e abordando temas histricos e artstico-
patrimoniais muito precisos;
No campo da Histria da Arte e mais concretamente da Arquitectura promovida
pelas Misericrdias, esta bibliografia apresenta um conjunto de dados
relevantes para a nossa investigao: fundao das confrarias (data, condies
e local de funcionamento inicial) e construo/modificao dos edifcios
(cronologia das campanhas de obras, intervenes, artistas, promotores).
Estudos mais especficos avanam por outro tipo de questes fundamentais
para a definio do problema a estudar, nomeadamente a identificao e
definio de uma tipologia arquitectnica dita especfica das igrejas das
Misericrdias e a elaborao de uma proposta de evoluo tipolgica dessas
igrejas.
Neste captulo procuraremos sistematizar os conhecimentos produzidos pela
investigao realizada at ao momento, destacando os pontos que
consideramos essenciais e que constituram o ponto de partida para a nossa
prpria investigao; o seu tratamento ser temtico. O imenso conjunto de
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informaes fornecidas pelas monografias histrico-artsticas, esto integrados
nas tabelas e fichas analtico-descritivas de cada edifcio que constituem o
anexo I desta tese e foram um importante contributo para a elaborao desta
tese.
I. 1 Histria e arte
A maioria da bibliografia sobre as Misericrdias portuguesas fornece elementos
e conhecimentos sobre a sua histria, caractersticas e actividade; pode ser de
mbito mais geral2, referindo-se definio, caracterizao e histria
institucional, ou pode tratar questes mais especficas e transversais a vrias
confrarias, geralmente com o contributo de vrios autores3.
2 CORREIA, Fernando Silva - Origens e formao das Misericrdias Portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte, 1999; FONSECA, Carlos Dinis - Histria e Actualidade das Misericrdias. Mem Martins: Editorial Inqurito, D. L. 1996; GOODOLPHIM, Costa - Misericrdias. Lisboa: Livros Horizontes, 1998; S, Isabel Guimares - As Misericrdias portuguesas de D. Manuel I a Pombal. Lisboa: Livros Horizonte, 2001; SOUSA, Ivo Carneiro - A Rainha da Misericrdia, na Histria da Espiritualidade em Portugal na poca do Renascimento. Porto: Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 1992. Tese de Doutoramento; SOUSA, Ivo Carneiro - V Centenrio das Misericrdias Portuguesas. [s. l.]: CTT-Correios de Portugal, 1998; SOUSA, Ivo Carneiro - Da Descoberta da Misericrdia Fundao das Misericrdias (1498-1525). Porto: Granito Editores e Livreiros, 1999; SOUSA, Ivo Carneiro - A Rainha D. Leonor (1458-1525): Poder, Misericrdia, Religiosidade de Espiritualidade no Portugal do Renascimento. [s. l.]: Fundao Calouste Gulbenkian, Fundao para a Cincia e Tecnologia, 2002. (col. Textos Universitrios de Cincias Sociais e Humanas). 3 A Misericrdia de Vila Real e as Misericrdias no Mundo de Expresso Portuguesa, Vila Real, 2010 - A Misericrdia de Vila Real e as Misericrdias no Mundo de Expresso Portuguesa. Porto: CEPESE, 2011; Congresso de Histria da Santa Casa da Misericrdia do Porto, 1, Porto, 2009 - A solidariedade nos sculos: a confraternidade e as obras. Lisboa: Santa Casa da Misericrdia do Porto, Altheia Editores, 2009; Encontro das Misericrdias do Alto Minho, 1, Viana do Castelo, 2001 - Encontro das Misericrdias do Alto Minho. Viana do Castelo: Edio do Centro de Estudos Regionais, 2001; Jornadas de Estudo sobre as Misericrdias, 2, Penafiel, 2009 - As Misericrdias quinhentistas. Penafiel: Cmara Municipal de Penafiel, 2009; Oceanos - Misericrdias Cinco Sculos. Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses. 35, Jul - Set (1998); S, Isabel Guimares - Quando o rico se faz pobre: Misericrdias, caridade e poder no Imprio portugus (1500-1800). Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 1997; SILVA, Nuno Vassallo (coord.) - Mater Misericordia, Simbolismo e Representao da Virgem da Misericrdia. [s. l.]: Museu de So Roque, Livros Horizonte, 1995; 500 Anos das Misericrdias Portuguesas: solidariedade de gerao em gerao. Lisboa: Comisso para as Comemoraes dos 500 anos das Misericrdias, 2000.
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I. Neste ponto poderamos destacar nominalmente vrios trabalhos de grande
importncia para a historiografia das Misericrdia; no o faremos porque, alm
de moroso, recorreremos a eles durante os nossos textos, com os devidos
comentrios e citaes. No entanto, queremos destacar uma obra que muito
mais do que um estudo, um instrumento de trabalho para quem se dedica a
estas temticas; referimo-nos Portugaliae Monumenta Misericordiarum4.
Esta obra em 10 volumes, publicada desde 2002, resulta de um projecto do
Centro de Estudos de Histria Religiosa da Universidade Catlica Portuguesa,
a que se associou na edio a Unio das Misericrdias Portuguesas; a
coordenao da obra de Jos Pedro Paiva, que tambm assume a funo de
presidente da Comisso Cientfica5.
O primeiro volume, Fazer a Histria das Misericrdias, tem um cariz
introdutrio ao projecto e composto por estudos sntese e dois instrumentos
de trabalho muito importantes: bibliografia temtica e um guia dos arquivos6.
Os restantes, 2 a 9, tm um critrio cronolgico, dos antecedentes Repblica
e procedem edio de fontes impressas e manuscritas de diferentes
naturezas, actualizao das datas de fundao das Misericrdias de acordo
com o resultado da investigao realizada no mbito do projecto e identificao
de documentao relativa s Misericrdias existentes noutras instituies. O
ltimo volume, a publicar no fim de 2012, integra estudos inditos com vrias
temticas.
II. Um outro conjunto de obras muito significativo apresenta um cariz
monogrfico. So dedicadas a uma confraria concreta, abordam aspectos
histricos, nomeadamente a criao e evoluo da confraria, a sua aco 4 PAIVA, Jos Pedro (coord.) - Portugaliae Monumenta Misericordiarum. Lisboa: Centro de Estudos de Histria Religiosa da Universidade Catlica Portuguesa, Unio das Misericrdias Portuguesas, 2002 2012, vols. 1 10. 5 Sobre o projecto e contedos e organizao da obra ver PAIVA, Jos Pedro (coord.), - Portugaliae Monumenta Misericordiarum. 1, pp. 11 16. 6 Este guia baseia-se parcialmente no Recenseamento dos Arquivos Locais, Cmaras Municipais e Misericrdias. [S. l.]: Ministrio da Cultura, Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, 1995 2000, vols. 1 - 14: Distritos de Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Portalegre, Vila Real, Faro, Coimbra, Leiria, Aveiro, Castelo Branco, Setbal, vora, Guarda, Viseu, com excepo dos distritos de Beja, Bragana e Santarm que no incluem este guia.
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assistencial e relao com as elites locais e a sociedade e, em alguns casos,
breves apontamentos sobre o seu patrimnio artstico; so fruto de eventos
comemorativos, do esforo editorial das confrarias ou de trabalhos acadmicos.
Destacaremos apenas as que tm cabimento no mbito cronolgico e
geogrfico do nosso estudo7:
Abrantes8, Alcobaa9, Alandroal10, Almada11; Almeida12, Alvaizere13,
Amarante14; Arcos de Valdevez15, Arouca16, Azambuja17, Aveiro18;
Barcelos19; Barreiro20, Benavente21, Borba22, Braga23, Bragana24;
7 Existem tambm obras relativas a Misericrdias fundadas depois do sculo XVI e de Misericrdias institudas fora de Portugal continental, que no referiremos por estarem fora do mbito directo da nossa investigao, mas que so de fcil acesso atravs de pesquisas nas bases de dados das principais bibliotecas. 8 SOUSA, Antnio Soares de - A Santa Casa da Misericrdia de Abrantes nos sculos XVI e XVII. Coimbra: Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra. 1966. Tese de Licenciatura. 9 ZAGALO, Francisco Baptista - Histria da Misericrdia de Alcobaa. Alcobaa: Tipografia e Papelaria de Antnio M. Oliveira, 1918. 10 MARCOS, Francisco Sanches - Subsdios para a Histria da Misericrdia do Alandroal, Capelas e Morgados. Alandroal: [s. n.], 1982. 11 FLORES, Alexandre, COSTA, Paula - Misericrdia de Almada: das origens restaurao. Almada: Santa Casa da Misericrdia, 2006. 12 CARVALHO, Jos Vilhena - Santa Casa da Misericrdia de Almeida: apontamentos histricos. Guarda: Tipografia Vritas, 1971; CARVALHO, Jos Vilhena - Santa Casa da Misericrdia de Almeida: subsdios para a sua histria. [s. l.]: Santa Casa da Misericrdia de Almeida, 1991. 13 SILVA, Francisco Caetano, VENTURA, Maria Helena - Santa Casa da Misericrdia de Alvaizere: contributos para a sua histria. Alvaizere: S