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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA As Casas da Misericórdia: confrarias da Misericórdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho Volume 1 RAMO DE DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA ESPECIALIDADE HISTÓRIA DA ARTE 2012

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  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE LETRAS

    DEPARTAMENTO DE HISTRIA

    As Casas da Misericrdia:

    confrarias da Misericrdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa

    Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho

    Volume 1

    RAMO DE DOUTORAMENTO EM HISTRIA

    ESPECIALIDADE HISTRIA DA ARTE

    2012

  • 2

  • 3

    UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE LETRAS

    DEPARTAMENTO DE HISTRIA

    As Casas da Misericrdia:

    confrarias da Misericrdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa

    Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho

    Volume 1

    RAMO DE DOUTORAMENTO EM HISTRIA

    ESPECIALIDADE HISTRIA DA ARTE

    Doutoramento orientado pelo Professor Doutor Fernando Grilo

    2012

  • 4

  • 5

    Resumo

    As confrarias da Misericrdia ou Santas Casas da Misericrdia, cuja primeira

    fundao ocorreu em 1498 em Lisboa, so confrarias de leigos que se

    organizaram sob a invocao de Nossa Senhora da Misericrdia e

    prosseguiam objectivos assistenciais e espirituais. Estas confrarias tornaram-se

    as mais importantes confrarias portuguesas da poca Moderna devido sua

    rpida difuso por todo o pas e espao ultramarino assumindo-se como

    eficazes estruturas socio-assistenciais que respondiam s necessidades desse

    perodo.

    A existncia de um edifcio permitia s Misericrdias implementar a sua

    proposta caritativa e devocional e foi uma das suas primeiras preocupaes. A

    relao destas confrarias com o espao construdo bastante peculiar. Desde

    a fundao muitas confrarias ocuparam espaos no interior de edifcios

    preexistente, religioso ou civis, pertena das mais variadas instituies e at de

    particulares. Quase sempre esta situao foi passageira, pois durante a

    centria de quinhentos a grande maioria das Misericrdias foram construindo

    edifcios de raiz.

    O edifcio utilizado ou construdo pelas Misericrdias tinha que servir s aces

    caritativa, administrativas, espirituais, celebrativas, litrgicas e funerrias

    desenvolvidas pelas confrarias, constituindo a Casa da Misericrdia, que para

    esses fins reunia num mesmo edifcio igreja, sacristia, casa do despacho,

    enfermarias, cemitrio, entre outros.

    Diferencia-se de outros edifcios coevos por congregar esta multiplicidade de

    usos e por servir de cenrio s mais importantes e diversificadas celebraes

    assistenciais e cultuais das confrarias, por onde passava toda a dinmica e

    quotidiano das mesmas, evidenciando alguns elementos caractersticos dessa

    vivncia confraternal.

    As Casas da Misericrdia quinhentistas, apesar da grande diversidade

    arquitectnica, morfolgica e decorativa que apresentam, evidenciam algumas

    particularidades, quer funcionais quer esttico-artsticas decorentes de terem

    que corresponder ao cumprimento da finalidade para que estas confrarias

    foram institudas.

  • 6

    Esta dissertao procurar identificar, caracterizar, analizar e contectualizar

    estas e outras problemticas relacionadas com as confrarias da Misericrdia e

    a arquitectura portuguesa quinhentista.

    Palavras chave

    Confrarias da Misericrdia, sculo XVI, Arquitectura, Portugal, Assistncia

  • 7

    Abstract

    The brotherhood of Mercy or Holy Houses of Mercy, whose first foundation

    occurred in 1498 in Lisbon, are confraternities organized under the patronage of

    Our Lady of Mercy and proceed assistance and spiritual aims. These

    brotherhoods became the most important Portuguese brotherhoods of the Early

    Modern era owing to its rapid spread across the country and overseas,

    assumed as effective socio-welfare structures that respond to the social needs

    of that period.

    The existence of a building permit to the tender mercies implement charitable

    and devotional and was one of their main concerns. The relationship of these

    brotherhoods with the built space is peculiar. Many of this confraternities

    occupied spaces within existing buildings, religious or civil, attachment to

    various institutions and even individuals. Almost always this situation was

    temporary, as during half a century the majority of Mercies built ther own

    buildings.

    The building used or built by the confraternities of Mercy had to serve the

    charitable, administrative, spiritual, celebrative and funeral actions developed by

    this brotherhoods. Thereby the Houses of Mercy are compose by a multiplicity

    of espaces with diferente functions.

    It differs from other coeval buildings by this multiplicity of uses and are scenery

    to the most important and diversified healthcare and religious celebrations, the

    whole dynamic and the daily, and show some characteristic elements of this

    fratenal experience.

    The sixteenth century Houses of Mercy present great architectural diversity,

    morphological and decorative feature and show some peculiarities, whether

    functional or aesthetic-artistic deriving of having to fulfill the purpose for which

    they were established.

    This dissertation look for to identify, characterize, analyze and contextualize

    these and other issues related to the confraternities of Mercy and the sixteenth

    century Portuguese architecture.

  • 8

    Key words

    Confraternities of Mercy, Sixteen Century, Architecture, Portugal, welfare.

  • 9

    ndice

    VOLUME I

    Resumo 5

    Abstract 7

    ndice 9

    Agradecimentos 13

    Introduo 23

    Abreviaturas 51

    Captulo I Estado do conhecimento e da investigao 53

    I. 1 Histria e arte 56

    I. 2 Definio da tipologia e estudos tipolgicos 71

    I. 3 Proposta de evoluo arquitectnica das igrejas das Misericrdias 76

    I. 4 Kits Patrimnio Igrejas de Misericrdia 80

    Captulo II Histria e patrimnio das Misericrdias 85

    II. 1 As Misericrdias portuguesas fundao e difuso 87

    II. 1.1 A instituio da Misericrdia de Lisboa 90

    II. 1.2 A difuso das confrarias da Misericrdia 91

    II. 1.3 Do enquadramento ao funcionamento 95

    II. 2 Devoo, aco e arte 109

    II.2.1 Prtica assistencial e devocional 112

    II.2.2 Aco cultural e artstica das Misericrdias 115

    II.2.2.1 Manifestaes artsticas 117

  • 10

    II.2.2.2 Temtica iconogrfica 133

    II.2.2.3 Morfologias 140

    Captulo III - As Misericrdias portuguesas e a arquitectura 145

    III. 1 As Misericrdias e a Arquitectura 147

    III. 2 Casa da Misericrdia 186

    III. 2.1 Espaos cultuais e espiritualidade 199

    III. 2.2 Espaos administrativos 204

    III.2.3 Espaos assistenciais 216

    III.2.4. Outros espaos 221

    Captulo IV - A arquitectura das Casas das Misericrdias no sculo XVI 227

    IV. 1 Localizao urbana 248

    IV. 2 As igrejas preexistentes 258

    IV. 3 Casa da Misericrdia - Caracterizao arquitectnica 268

    IV. 3.1 Concepo espacial 270

    IV. 3.2 Volumetria 281

    IV. 3.3 Fachada principal e portal 296

    IV. 3.4. Igrejas 329

    IV. 3.4.1 Planimetrias 230

    IV. 3.4.2 Cabeceira e arco triunfal 362

    IV. 3.4.3 Equipamento retbulo, plpito e coro 380

    IV. 3.4.4 Equipamento tribuna dos oficiais 410

    IV. 3.4.5 Decorao integrada 437

    IV. 3.4.6 Cobertura interior 449

    IV. 3.5 Sacristia 461

    IV. 3.6 Casa do despacho 463

    IV. 3.7 Outras dependncias 470

    IV. 3.8 Hospital 481

    IV. 4 Mecenas e Patronos 489

    IV. 5 Interveno rgia 501

    IV. 6 Financiamento das obras 516

  • 11

    Captulo V Particularidades arquitectnico-tipolgicas 541

    V. 1. Especificidades arquitectnico-tipolgicas 543

    V. 2. A difuso de modelos 555

    V. 3. Significados de uma tipologia 568

    Concluses 583

    Fontes e Bibliografia 589

    VOLUMES II e III

    Anexos

    Anexo I Fichas Analtico-descritivas

    Anexo II Tabelas

    Anexo III Mapas

    Anexo IV Documentos

    1. Documentos consultados das Misericrdias

    2. Transcries documentais

    Anexo V Fotografias

  • 12

  • 13

    Agradecimentos

    O trabalho que agora apresentamos como dissertao de doutoramento

    devedor da colaborao e empenho de muitas instituies e pessoas a quem

    queremos transmitir o nosso profundo agradecimento: das Santas Casas da

    Misericrdias detentoras dos edifcios e esplios artsticos s Juntas de

    Freguesia, passando por Arquivos, Parquias, Museus e Cmaras Municipais.

    Do apoio dado por estas instituies e respectivos dirigentes e tcnicos, a

    quem agradeceremos nominalmente, destacamos a autorizao de visita e a

    consulta de arquivos, a facilidade de acesso aos esplios artsticos e

    documentais, a oferta de livros, o acolhimento gentil e o interesse pelo decorrer

    da investigao.

    Ao nosso orientador, Professor Doutor Fernando Grilo, que desde o incio

    acreditou neste trabalho e na existncia de condies para a sua

    concretizao, pela disponibilidade, empenho em questes cientficas mas

    tambm administrativas, contributos e sugestes, pacincia e compreenso.

    Ao Instituto de Histria da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de

    Lisboa e aos seus docentes, pelo acolhimento e por incentivarem a um trabalho

    cientfico rigoroso e a um esprito de entreajuda e companheirismo.

    Professora Doutora Maria Joo Neto pela iniciativa do convite para frequentar o

    doutoramento. Ao Professor Doutor Vtor Serro pelas sugestes de

    investigao e pela facilidade de acesso aos seus textos no publicados.

    Aos familiares, amigos e colegas com quem partilhmos os ltimos quatro

    anos, os sucessos, as dvidas, as alegrias e as dificuldades, pelo apoio e

    incentivo, pelo interesse pelo decorrer da pesquisa e percepo da sua

    verdadeira dimenso, embora nem sempre tenham sido fcil o entendimento

    da complexidade e esforo exigido pela investigao cientfica enquanto

    actividade profissional.

    Segue o agradecimento nominal a todos os que contribuiram para a realizao

    da investigao que deu origem a esta tese:

  • 14

    Unio das Misericrdias Portuguesas

    Manuel Ferreira da Silva

    Mariano Cabao

    Miguel Loureiro

    Santa Casa da Misericrdia de Abrantes

    Santa Casa da Misericrdia de Alandroal

    Santa Casa da Misericrdia de Albufeira

    Santa Casa da Misericrdia de Alccer do Sal

    Santa Casa da Misericrdia de Alccovas

    Santa Casa da Misericrdia de Alcantarilha

    Santa Casa da Misericrdia de Alcobaa

    Grard Leroux

    Santa Casa da Misericrdia de Alenquer

    Vice-provedor Pe. Jos Martins

    Santa Casa da Misericrdia de Algoso

    Santa Casa da Misericrdia de Alhos Vedros

    Santa Casa da Misericrdia de Aljezur

    Provedor Gil Costa da Luz

    Santa Casa da Misericrdia de Aljubarrota

    Vice-provedor Jos Carvalho

    Santa Casa da Misericrdia de Almada

    Paula Costa

    Santa Casa da Misericrdia de Almodvar

    Santa Casa da Misericrdia de Alter do Cho

    Santa Casa da Misericrdia de lvaro

    Provedor Jos Nunes

    Santa Casa da Misericrdia de Alverca

    Santa Casa da Misericrdia de Alvito

    Santa Casa da Misericrdia de Arez

    Provedor Jos Fazendas

    Ana Leito

    Santa Casa da Misericrdia de Arouca

  • 15

    Santa Casa da Misericrdia de Arraiolos

    Provedor Lus Farinha Chinelos

    Santa Casa da Misericrdia de Arruda dos Vinhos

    Santa Casa da Misericrdia de Atouguia da Baleia

    Provedora Maria Lisete Marques

    Santa Casa da Misericrdia da Azambuja

    Provedor Armando Aparcio

    Jos Machado Pereira

    Santa Casa da Misericrdia da Azinhaga

    Vice-Provedora Maria de So Jos Mendes

    Santa Casa da Misericrdia de Azurara

    Santa Casa da Misericrdia de Barcelos

    Ildio Torres

    Santa Casa da Misericrdia do Barreiro

    Santa Casa da Misericrdia da Batalha

    Teresa Ramos

    Santa Casa da Misericrdia de Benavente

    Paulo Caldeira

    Santa Casa da Misericrdia de Borba

    Santa Casa da Misericrdia de Braga

    Cnego Antnio Macedo

    Santa Casa da Misericrdia de Buarcos

    Provedor Carlos Gomes de Abreu

    Santa Casa da Misericrdia de Castelo Branco

    Santa Casa da Misericrdia da Chamusca

    Santa Casa da Misericrdia de Coruche

    Santa Casa da Misericrdia de Coimbra

    Santa Casa da Misericrdia do Crato

    Mariano Cabao

    Santa Casa da Misericrdia de Cuba

    Santa Casa da Misericrdia de Elvas

    Santa Casa da Misericrdia de Evoramonte

    Provedor Manuel Ribeiro

    Santa Casa da Misericrdia de Estombar

  • 16

    Santa Casa da Misericrdia de Faro

    Felisbelo Raio

    Salvador Santos

    Santa Casa da Misericrdia de Freixo de Espada Cinta

    Santa Casa da Misericrdia de Fronteira

    Santa Casa da Misericrdia do Fundo

    Santa Casa da Misericrdia da Goleg

    Santa Casa da Misericrdia de Guimares

    Santa Casa da Misericrdia de Idanha-a-Nova

    Santa Casa da Misericrdia de Ladoeiro

    Provedor Jos Ricacho

    Santa Casa da Misericrdia de Loul

    Santa Casa da Misericrdia do Lourial

    Santa Casa da Misericrdia da Lourinh

    Provedor Francisco Tavares

    Santa Casa da Misericrdia da Lous

    Santa Casa da Misericrdia de Mao

    Santa Casa da Misericrdia de Medelim

    Provedor Alberto Teodsio

    Santa Casa da Misericrdia de Mrtola

    Santa Casa da Misericrdia de Moncarapacho

    Santa Casa da Misericrdia de Monsanto

    Cnego Vtor Vaz

    Santa Casa da Misericrdia de Montalvo

    Provedor Joaquim Costa

    Santa Casa da Misericrdia de Montargil

    Lus Mendes

    Santa Casa da Misericrdia de Montemor-o-Novo

    Santa Casa da Misericrdia do Montijo

    Francisco Correia

    Santa Casa da Misericrdia de Mora

    Maria Leonor Batista

    Santa Casa da Misericrdia de Moura

    Jos Correia

  • 17

    Santa Casa da Misericrdia de Mura

    Santa Casa da Misericrdia de Nisa

    Santa Casa da Misericrdia de bidos

    Santa Casa da Misericrdia de Ourique

    Santa Casa da Misericrdia de Pavia

    Santa Casa da Misericrdia de Penamacor

    Santa Casa da Misericrdia do Penela

    Provedor Manuel Ramos

    Santa Casa da Misericrdia de Peniche

    Provedor Carlos S

    Santa Casa da Misericrdia de Pinhel

    Santa Casa da Misericrdia de Ponte de Lima

    Santa Casa da Misericrdia de Portalegre

    Santa Casa da Misericrdia do Portel

    Santa Casa da Misericrdia do Porto

    Regina Andrade

    Santa Casa da Misericrdia de Praia da Vitria

    Provedor Francisco Ferreira

    Santa Casa da Misericrdia de Proena-a-Nova

    Provedor Jos Bairrada

    Santa Casa da Misericrdia de Proena-a-Velha

    Santa Casa da Misericrdia do Redondo

    Provedor Joo Azaruja

    Isabel Rei

    Santa Casa da Misericrdia de Salvaterra do Extremo

    Santa Casa da Misericrdia de Santarm

    Antnio Monteiro

    Santa Casa da Misericrdia de Santiago do Cacm

    Santa Casa da Misericrdia do Sardoal

    Santa Casa da Misericrdia de Segura

    Santa Casa da Misericrdia de Serpa

    Santa Casa da Misericrdia da Sert

    Santa Casa da Misericrdia de Sesimbra

    Mesa Administrativa

  • 18

    Santa Casa da Misericrdia de Setbal

    Provedor Fernando Ferreira

    Daniela Silva

    Santa Casa da Misericrdia de Sobreira Formosa

    Santa Casa da Misericrdia de Soure

    Santa Casa da Misericrdia de Sousel

    Santa Casa da Misericrdia de Tavira

    Mesria Maria Helena Leiria

    Santa Casa da Misericrdia de Tentgal

    Santa Casa da Misericrdia de Tomar

    Provedor Fernando Jesus

    Santa Casa da Misericrdia do Torro

    Provedor Joo Nncio

    Santa Casa da Misericrdia de Torre de Moncorvo

    Santa Casa da Misericrdia de Torres Novas

    Provedor Carlos Faria

    Santa Casa da Misericrdia de Torres Vedras

    Provedor Vasco Fernandes

    Santa Casa da Misericrdia de Viana do Alentejo

    Provedor Francisco Sitima

    Santa Casa da Misericrdia de Viana do Castelo

    Santa Casa da Misericrdia de Vila Franca

    Provedor Carlos Dias

    Santa Casa da Misericrdia de Vila do Conde

    Firmino Abel

    Liliana Aires

    Santa Casa da Misericrdia de Vila Real

    Provedor Pe. Jos Joaquim Dias Gomes

    Santa Casa da Misericrdia de Vila Viosa

    Santa Casa da Misericrdia do Vimieiro

    Santa Casa da Misericrdia de Vouzela

    Arquivo Distrital de Viana do Castelo

    Olinda Pereira

  • 19

    Arquivo Municipal de Castro Verde

    Miguel Rego

    Arquivo Municipal de Lagos

    Sara Carvalho

    Arquivo Municipal de Mogadouro

    Rita Gonalves

    Arquivo Municipal de bidos

    Ricardo Pereira

    Arquivo Municipal de Vila Franca de Xira

    Manuela Corte Real

    Associao Amigos de Abiul

    E. Cunha

    Biblioteca Municipal da Lous

    Natrcia Pereira

    Cmara Municipal de Belmonte

    Cmara Municipal de Moura

    Jos Correia

    Cmara Municipal de Pombal

    Nelson Pedrosa

    Cidlia Brotas

    Cmara Municipal de Vinhais Vereao da Cultura

    Roberto Afonso

    Comando das Tropas Aerotransportadas de Tancos

    Pe. Constncio Gusmo

    Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais/Instituto de

    Reabilitao Urbana

    Joo Vieira

  • 20

    Paula No

    Direco Regional de Cultura do Centro Diviso de Castelo Branco

    Carla Ribeiro da Silva

    Jos Paulo Leite

    Junta de Freguesia de Alvalade

    Junta de Freguesia do Brrio

    Junta de Freguesia de Cabeo

    Junta de Freguesia de Muge

    Junta de Freguesia de Amoreira de bidos

    Lar Jacinto Faleiro (Castro Verde)

    Snia Nascimento.

    Museu de Alhandra Casa Dr. Sousa Martins

    Museu Municipal de Alcochete

    Elsa Afonso

    Museu Municipal de Vila Franca de Xira

    Susana Gonalves

    Graa Nunes

    Maria Joo Martinho

    Museu de Setbal/Convento de Jesus

    Francisca Ribeiro

    Parquia de Aljustrel

    Pe. Paulo Carmo

    Parquia de Colos

    Pe. Lus Gomes

    Parquia de Cs

    Pe. Jos da Silva

    Parquia de vora de Alcobaa

    Pe. Carlos Marques

    Parquia de Idanha-a-Velha

  • 21

    Pe. Adelino Loureno

    Parquia da Messejana

    Pe. Hugo Gonalves

    Parquia de Pernes

    Pe. Arlindo Jorge

    Parquia de Santa Maria de Lagos

    Pe. Ablio Almeida

    Parquia de Seda

    Pe. Paulo Dias

    Parquia de Vila Ruiva

    Pe. Daniel Guerreiro

    Parquia de Vila Verde dos Francos

    Pe. Antnio Jos Serpa

    Turismo da Cmara Municipal de Viana do Alentejo

    Germano Fernandes

    Turismo da Cmara Municipal do Alandroal Terena

    Por ltimo agradecer a todos os familiares, amigos e colegas, lembrando

    especialmente aqueles que no puderam presenciar o trmino deste trabalho.

    Famlia

    Me Ftima, pai Joo (in memoriam), irm Rita, av Graa, av Rita (in

    memoriam), tios Li e Jcome, primo Sancho.

    Amigos e colegas

    Alice Alves, Ana Leito, Ana Sofia Azinhaga, Carla Baptista de Freitas, Carmo

    Canto e Castro, Diana Santos, Ftima Fonseca, Ftima Toms, Filipa Cordeiro,

    Francisco Queiroz, Francisco Sousa Lobo, Isabel Barata, Isabel Lopes,

    Joaquim Caetano, Jos Eduardo Franco, Leonor Botelho, Madalena Costa

    Lima, Margarida Amorim (in memoriam), Maria de Lourdes Nunes, Maria do

    Rosrio Nogueira, Mrio Cabeas, Marisa Cristino, Marta Nogueira, Patrcia

    Alho, Patrcia Monteiro, Ricardo Oliveira Nunes, Ricardo da Silva Nunes,

  • 22

    Rosrio Carvalho, Sara Pereira, Sofia Valdez, Soraya Genin, Susana

    Gonalves, Teresa Rodrigues, Silvia Santinho, Vanessa Antunes.

    Aos Clepulianos pelo especial incentivo nas semanas que antecederam a

    finalizao do trabalho: Beatriz Miranda, Daniel Nunes, Fernanda Santos,

    Leonor Garcia, Mariana Gomes da Costa, Marta Duarte, Patrcia Pereira, Paulo

    Paixo, Ricardo Ventura.

  • 23

    INTRODUO

  • 24

  • 25

    As confrarias da Misericrdia, Santas Casas da Misericrdia, ou simplesmente

    Misericrdias so confrarias de leigos que se organizaram sob a invocao de

    Nossa Senhora da Misericrdia e prosseguiam objectivos assistenciais e

    espirituais. Estas confrarias, cuja primeira fundao ocorreu em 1498 em

    Lisboa, tornaram-se as mais importantes confrarias portuguesas da poca

    Moderna devido sua rpida difuso por todo o pas e espao ultramarino. E

    assumiram-se como eficazes estruturas assistenciais que respondiam s

    necessidades sociais desse perodo, constituindo-se como uma experincia

    espiritual, cultural e institucional.

    Desde o sculo XV at actualidade, as Misericrdias permaneceram activas

    assegurando o apoio aos mais necessitados; embora, os presos e pobres

    envergonhados da fase inicial, tenham dado lugar aos idosos e s crianas do

    presente, tentando colmatar a estrutural incapacidade do poder central de

    chegar a todas as zonas do pas.

    Neste contexto, as Misericrdias assumem uma enorme importncia histrica,

    so transversais temporalmente e a um conjunto de acontecimentos e

    problemticas, impossveis de abordar sem ter em conta a sua existncia. No

    possvel fazer a histria da assistncia, da sade, da religiosidade popular e

    at a histria social, ignorando a existncia das Santas Casas. Se estes

    exemplos so praticamente evidentes, podemos sugerir alguns no to

    evidentes mas igualmente relevantes: estudos de histria local e regional,

    paisagem rural e urbana, elites sociais, economia local, entre outros.

    Um outro domnio que no pode ignorar as Misericrdias a Histria da Arte.

    Nestes vrios sculos as Santas Casas foram reunindo um extenso patrimnio

    artstico fruto da sua aco encomendante e proveniente de benfeitores e da

    anexao de outras instituies. H cerca de duas dcadas iniciou-se um

    processo de consciencializao da importncia deste vasto e variado

    patrimnio que desencadeou um conjunto de iniciativas de preservao,

    valorizao e dinamizao do esplio artstico das Misericrdias. Tais como a

    organizao de ncleos museolgicos, a inventariao de acervos e a

    organizao de exposies e catlogos. Estes estmulos foram tambm

    sentidos entre os investigadores incentivando-os a diversas pesquisas relativas

  • 26

    aco destas confrarias, do social ao econmico e do assistencial ao

    artstico. Desenvolvendo-se vrios estudos, de teses a monografias, de

    catlogos a artigos cientficos, com abordagens monogrficas, dedicadas a

    uma confraria especfica ou a temticas recorrendo comparao entre vrias

    confrarias

    No campo da Histria da Arte portuguesa torna-se incontornvel a produo

    artstica das Santas Casas da Misericrdia pela diversidade de manifestaes,

    qualidade e especificidade temtica e originalidade expressiva. Destaca-se

    tambm o modo como esta produo se desenvolve face restante produo

    artstica, repercutindo a evoluo da mesma mas, reflectindo as caractersticas

    e histria das confrarias e as suas vicissitudes.

    Especificamente dentro da Histria da Arte, a histria da arquitectura,

    tambm um campo de trabalho que deve ter em conta as Misericrdias. Bem

    reveladora desta ideia a afirmao de Rafael Moreira, num artigo do catlogo

    500 Anos das Misericrdias Portuguesas, Solidariedade de Gerao em

    Gerao, de que a arquitectura promovida pelas Misericrdias um dos

    captulos mais densos e originais mas incompreensivelmente, talvez o menos

    estudado dentro da histria da arquitectura portuguesa e do mundo luso, sem

    paralelo no resto do mundo [...] e do ponto de vista da histria da arte e

    urbanismo, uma histria por escrever.

    Estas afirmaes incentivaram-nos a estudar a arquitectura produzida pela e

    para as confrarias da Misericrdia e que agora apresentamos como dissertao

    de Doutoramento em Histria da Arte Faculdade de Letras da Universidade

    de Lisboa.

    Neste captulo introdutrio, para alm de enquadrar a pertinncia do tema da

    nossa investigao, queremos definir claramente o objecto de estudo, os seus

    limites e as suas principais problemticas. De igual modo, devido

    abrangncia do tema, foi necessrio fazer algumas opes metodolgicas que

    consideramos importante explicitar, designadamente ao nvel da do trabalho de

    campo e da pesquisa arquivstica.

  • 27

    1. A definio do problema em estudo

    Tema

    O objecto de estudo do presente trabalho a arquitectura promovida pelas

    confrarias da Misericrdia durante o sculo XVI. Aps investigaes

    preliminares foi possvel constatar que as Misericrdias construram edifcios

    que integravam uma igreja. Estas apresentavam uma grande diversidade

    tipolgica, com alguns exemplares que se podem inserir na produo de

    arquitectura religiosa de quinhentos e outros que evidenciavam caractersticas

    tipolgicas diferenciadas. Estas particularidades levaram alguns autores a

    definir uma tipologia arquitectnica que designaram por igreja tipo

    Misericrdia. As suas caractersticas principais foram identificadas como:

    unificao espacial, com nave e capela-mor em espao comum, presbitrio

    elevado a que se acede por escadas, composio retabular nica ou inserida

    em trs capelas no topo da capela-mor, tribuna dos mesrios, iconografia

    especfica em portais, retbulos, azulejaria e pintura e predominncia de

    valores chos de simplicidade e funcionalidade.

    No entanto, a nossa investigao inicial deixou transparecer uma enorme

    complexidade do fenmeno arquitectnico, que no se podia resumir apenas a

    uma questo tipolgica e, que necessitava de um estudo sistemtico,

    abrangente e detalhado. Constituindo tambm uma oportunidade para traar

    um quadro alargado do seu patrimnio ainda existente

    Ao estudar a arquitectura promovida pelas Misericrdia colocamos a nfase

    nas confrarias enquanto encomendantes de obras de arte, concretamente, de

    Arquitectura. Dito de outro modo procura-se estudar a arquitectura promovida

    por um encomendante especfico, colectivo e leigo - associao de fiis leigos

    com funo concreta de cariz assistencial e religiosa, com bvias repercusses

    na arquitectura construda para servir de suporte a essa funo. Assim, as

    Misericrdias distinguem-se de outros encomendantes (rei, nobreza, clero,

    ordens religiosas, entre outros): a sua encomenda artstica, incluindo a

    arquitectnica, tem uma inteno funcional servir de local prtica

    assistencial incluindo elementos de religiosidade. Mas tambm uma forma de

  • 28

    expressar as suas devoes e afirmar e difundir uma identidade e prestgio de

    grupo. Como tal, a sua produo artstica vai apresentar algumas

    caractersticas que a individualizam face restante produo artstica nacional.

    Este tipo de estudos de Histria da Arquitectura, considerando um

    encomendante especfico, tem tido algum protagonismo; so vrios os

    contributos, mas as mais estudadas so as diferentes ordens religiosas, quase

    sempre circunscritos geografica e temporalmente. Assim, falta uma

    investigao global das Misericrdias mas concorrendo para a constituio de

    um panorama global da arte portuguesa.

    Definies de mbito temtico, temporal e geogrfico

    Devido complexidade e abrangncia do fenmeno Santas Casas da

    Misericrdia, definiu-se uma cronologia precisa para esta investigao: o

    sculo XVI poca muito heterognea em termos de contributos e correntes

    estticas, culturais e ideolgicas, perodo da fundao e incio da actividade

    assistencial e cultual das Misericrdias, assim como, perodo inicial da

    produo de obra arquitectnica pelas confrarias. Esta componente temporal

    indispensvel para o enquadramento global e, para a contextualizao esttica,

    ideolgica e social da arquitectura promovida pelas Santas Casas.

    A escolha desta cronologia coloca questes pertinentes como a necessidade

    de distino entre a data da fundao das confrarias e a da construo dos

    edifcios, entre as duas datas poderiam mediar algumas dcadas. Esta

    situao situa a data das primeiras construes no segundo quartel de

    quinhentos.

    A adopo de uma periodizao especfica implica uma seriao dos objectos

    de estudo em funo da mesma, tarefa s possvel recorrendo ao reajuste e

    confrontao dos dados, que se podem coligir na bibliografia e documentao.

    Esta tarefa inicial revelou-se bastante morosa e crtica, pois as contradies e

    as referncias sem indicao da fonte de informao foram situaes muito

    comuns e de difcil resoluo.

  • 29

    Optou-se igualmente, devido grande quantidade de confrarias fundadas no

    sculo XVI cerca de duzentas e trinta, por circunscrever a investigao

    principal ao territrio continental.

    No entanto, sempre que relevante e quando existiram elementos para o fazer,

    foram utilizados dados referentes a Misericrdias com outras cronologias e

    outras localizaes geogrficas.

    Tendo em considerao as definies temporais e geogrficas, foi necessrio

    proceder identificao dos objectos de estudo. Primeiramente houve que

    elaborar uma listagem de todas as confrarias, com respectivas datas de

    fundao e construo dos edifcios, recorrendo a bibliografia genrica e

    especfica referente histria das Misericrdias. Numa segunda fase, esta

    listagem foi revista e completada, de modo a aferir quais as confrarias

    quinhentistas cujos edifcios ainda mantinham elementos desse perodo e as

    que sofreram remodelaes em pocas posteriores.

    Assim retirmos do mbito principal do nosso estudo, pois apenas sero

    consideradas em casos especficos:

    todas as confrarias com fundao posterior ao sculo XVI;

    todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI, viram os seus

    edifcios alterados ao nvel arquitectnico, com implicaes planimtricas,

    volumtricas e de concepo do espao interior em pocas posteriores ao

    sculo XVI;

    todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI, foram ocupar

    espaos de culto preexistentes, no construdos com o objectivo de

    albergar a realidade assistencial e cultual de uma confraria da

    Misericrdia;

    todas as confrarias que apesar de fundadas no sculo XVI e terem igreja

    construda na mesma poca, viram-na destruda;

    Ou seja, o nosso estudo integra prioritariamente os edifcios das Santas Casas

    da Misericrdia que tenham sido edificados durante o sculo XVI com o

    objectivo de acolher a aco assistencial e cultual da confraria e que

    actualmente mantm um nmero mnimo de elementos ntegros, ao ponto de

    poderem dar um contributo para o estudo das suas caractersticas e contexto

    construtivo durante o sculo XVI.

  • 30

    Este trabalho teria ficado beneficiado se existissem mais monografia, histricas

    e artsticas, dedicadas a cada uma das Santas Casas do pas, obras essas que

    deveriam privilegiar a metodologia e o rigor cientficos. Se assim fosse,

    problemas como data de fundao da confraria, local inicial de funcionamento,

    data de construo da igreja e campanha de obras posteriores, estariam num

    grau de conhecimento muito mais avanado dispensando-nos de pesquisas

    bsicas, muito morosas e exigentes de criticismo, deixando-nos tempo para o

    verdadeiro tema do nosso trabalho.

    Foi para suprimir estas lacunas e para sistematizar os elementos que poderiam

    verdadeiramente interessar ao nosso trabalho que desenvolvemos fichas

    analtico-descritivas de cada um dos edifcios quinhentistas. Este instrumento

    de trabalho permitiu as concluses aqui explanadas e constitui um corpus de

    informao textual e visual muito diversificado.

    2. Objectivos

    O presente trabalho procura dar um contributo para o conhecimento e

    caracterizao do patrimnio arquitectnico das Misericrdias, nomeadamente

    no mbito da arquitectura portuguesa quinhentista. No nossa inteno fazer

    uma monografia dos edifcios quinhentistas da Misericrdias ou dar um

    tratamento monogrfico informao bibliogrfica ou documental recolhida no

    mbito desta investigao. Interessa-nos sim, contribuir para a compreenso

    global do fenmeno arquitectnico das Misericrdias portuguesas. Neste

    contexto foram identificadas algumas problemticas centrais a que queremos

    dar resposta, nomeadamente:

    levantamento e registo exaustivo de todas as confrarias e Casas da

    Misericrdia quinhentistas e dos principais elementos para a sua

    identificao, localizao e caracterizao;

    enquadramento da produo arquitectnica das Misericrdias no

    contexto mais vasto da encomenda artstica promovida por estas

    confrarias;

  • 31

    redefinio da questo central da arquitectura promovida pelas

    Misericrdias tendo em conta a funo assistencial e religiosa da

    confraria a Casa da Misericrdia;

    identificao e caracterizao da relao que as Misericrdias

    estabelecem com o espao edificado (as opes urbansticas e de

    localizao dos imveis e os tipos de ocupao);

    caracterizao da produo arquitectnica das confrarias da Misericrdia

    e contextualiz-la no mbito da arquitectura quinhentista portuguesa de

    modo a identificar as suas particularidades;

    anlise das particularidades tipolgicas de alguns edifcios das Santas

    Casas, tentando caracteriz-las, assim como o seu processo de difuso,

    repercusses e permanncias em outros exemplares de arquitectura

    religiosa, e identificar modelos e influncias arquitectnicas e artsticas.

    constituio de um corpus informativo de todas as Misericrdias

    fundadas no sculo XVI, analisando os edifcios quinhentistas em ficha

    analtico-descritiva concebida para o efeito.

    3. A investigao fontes e trabalho de campo

    A nossa investigao iniciou-se pela pesquisa bibliogrfica e arquivstica e

    continou pelo trabalho de campo, pois considermos absolutamente

    fundamental o contacto com os edifcios de fundao quinhentista.

    A pesquisa bibliogrfica assumiu grande importncia para o conhecimento

    global do fenmeno Santas Casas da Misericrdia, histria, difuso, aco

    assistencial e cultual e, mais concretamente, para a definio das datas de

    instituio das confrarias, da construo dos edifcios e registo das alteraes

    que sofreram. Assim, procurou-se que fosse o mais sistemtica possvel

  • 32

    percorrendo os fundos da Biblioteca Nacional de Portugal, Biblioteca de Arte da

    Fundao Calouste Gulbenkian, Biblioteca da Faculdade de Letras e dos

    Servios de Documentao da Universidade de Lisboa, Biblioteca Geral e

    Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Biblioteca da

    Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Biblioteca da Santa Casa da

    Misericrdia de Lisboa, Biblioteca Joo Paulo II da Universidade Catlica

    Portuguesa, Centro de Documentao da Unio das Misericrdias Portuguesas

    e Biblioteca Nacional de Espanha.

    A pesquisa arquivstica incidiu sobretudo nos arquivos das prprias

    Misericrdias, os que se constituem como arquivos prprios e os que esto em

    depsito noutras instituies, que custodiam a documentao mais abundante

    e directa relativa sua actividade incluindo a promoo de obras

    arquitectnicas.

    Existe uma grande heterogeneidade nos arquivos das confrarias da

    Misericrdia ao nvel das tutelas, estado de tratamento e acondicionamento da

    documentao, dimenses, nmero de documentos preservados, estado de

    conservao, cronologias e tipologias documentais, entre outros, e que pode ir

    do inventrio informatizado ao no tratamento e acondicionamento. Noutros

    casos mais inslitos, a documentao est tratada e acondicionada, mas no

    existe inventrio para consulta com correspondncia entre a numerao

    atribuda s pastas e o seu contedo. Alguma documentao est j entregue

    a instituies arquivsticas, de natureza municipal ou distrital, que podem

    assegurar a preservao, difuso e acesso aos esplios documentais das

    Misericrdias.

    A grande maioria dos arquivos das Misericrdias no esto constitudos como

    tal, e as condies de tratamento e conservao dos documentos e condies

    de consulta no so as mais adequadas para a investigao. Assim, sentimos,

    e no queremos deixar de o clarificar, que esta pesquisa foi condicionada pelo

    estado de tratamento dos arquivos, pelas caractersticas dos instrumentos de

    descrio documental disponibilizados ou pela sua inexistncia e pela

    informao prestada pelos tcnicos. No entanto, situao semelhante verificou-

    se em alguns arquivos municipais por desconhecimento dos fundos

    documentais em depsito.

  • 33

    A nossa investigao arquivstica, devido grande quantidade de arquivos e de

    documentao, foi orientada pelas obras Guia dos arquivos em Portugaliae

    Monumenta Misericordiarum (2002) e Recensamento dos Arquivos Locais

    e Misericrdias (1995 - 2000). Estas obras revelaram-se fundamentais para a

    identificao dos arquivos a consultar e para o estabelecimento de prioridades

    dentro da economia de tempo destinada investigao. No entanto, no

    decurso da pesquisa, constatmos que estas obras apresentam algumas

    limitaes; nomeadamente, esto incompletas, no incluem todos os distritos e

    em alguns casos apresentam datas extremas incorrectas. Estas limitaes, no

    caso do Guia dos Arquivos so fruto da metodologia de trabalho que lhe est

    inerente (a informao recolhida com base num contacto com a instituio,

    sendo que muitas desconhecem a sua realidade documental e outras no

    respondem) e uma excessiva dependncia informativa da obra mais antiga.

    Destacamos apenas trs exemplos; o caso de Goleg que tem como data

    inicial 1669 mas que tem documentao pelo menos desde 1540; o caso de

    Freixo que aparece como no tendo documentao mas que a mais antiga

    remonta a 1554; e o de Miranda do Douro cujo documento de arquivo mais

    antigo data de 1578 mas que aparece como 1603.

    Em alguns casos no foi possvel ultrapassar estas limitaes, pois a grande

    quantidade de arquivos, tornava impraticvel confirmar todas as datas

    apresentadas no Recenseamento e no Guia dos Arquivos. Para dificultar esta

    tarefa, muitos arquivos no esto tratados e os tcnicos das instituies

    desconhecem a documentao.

    Assim, e dado o mbito da nossa investigao, primeiramente procedeu-se

    consulta dos fundos com documentao quinhentista referentes a edifcios

    tambm quinhentistas. Dentro da economia de tempo j referida, no se

    consultaram os arquivos com documentao quinhentista correspondente a

    confrarias quinhentistas e a edifcios fruto de campanhas de obras posteriores.

    Apesar de considerarmos que esta documentao poderia ser potencialmente

    importante, dentro das opes a fazer em qualquer investigao com limite

    temporal concreto, considermo-la no prioritria, pois alargaria em muito a

    pesquisa documental e no teramos a garantia de recolher mais do que

    informaes parcelares. No entanto, e para que este conjunto de Misericrdia e

  • 34

    edifcios no fique totalmente em aberto, decidimos aproveitar as referncias

    documentais e bibliogrficas publicadas referentes a Misericrdias

    quinhentistas com edifcios datados de pocas posteriores e Misericrdias de

    fundao posterior ao sculo XVI. Estes revelaram-se muito teis a vrios

    nveis para complementar o tema abordado neste trabalho, nomeadamente,

    para demonstrar que muitas questes e problemticas no se restringem a um

    perodo concreto mas, prolongam-se no tempo revelando a sua estruturalidade.

    No entanto, e no querendo contradizer o que foi afirmado no pargrafo

    anterior, em algumas circunstncias, consultou-se documentao posterior

    referente a edifcios quinhentistas e arquivos com documentao referentes a

    igrejas datadas de pocas posteriores. Estas circunstncias esto relacionadas

    com factores meramente casuais; ou seja, revestiram a forma de oportunidade

    a aproveitar (arquivos bem organizados, facilidades de consulta, tipologias

    documentais existentes no arquivo).

    No conjunto da documentao quinhentista privilegimos a consulta de

    determinadas tipologias documentais, numa hierarquia de consulta necessria

    gesto do tempo. Foram consultados sistematicamente os livros de termos e

    acrdos da mesa, os livros de obra, as escrituras e os tombos; documentao

    que considermos mais relevante aps um atento processo de aproximao e

    conhecimento natureza e caractersticas dos fundos documentais das

    Misericrdias.

    Os livros de termos ou acrdos registam sob a forma de actas as resolues

    dos oficiais que em cada ano administram a confraria e que se reuniam em

    periodicidade varivel, de Misericrdia para Misericrdia, para tomar as

    decises mais importantes. Esta tipologia documental apresenta um grau de

    pormenor bastante considervel e, como tal, uma riqueza informativa relevante.

    No caso dos livros de acrdos procurmos consultar tambm os posteriores

    ao sculo XVI (do sculo XVII e XVIII), pois alguns livros mais recentes,

    registam resumos dos acrdos antigos mais importantes, como acontece em

    Torres Vedras.

    Os livros de obra, bastante raros no contexto das Misericrdia para o perodo

    em causa, foram consultados de forma sistemtica, pois fornecem informaes

  • 35

    diversificadas sobre as campanhas de obras: pagamentos, recolha de esmolas,

    actas de decises relativas a interveno, entre outros.

    Muitas Misericrdias guardam maos compostos por inmeros documentos

    avulsos coligidos com ou sem organizao cronolgica ou temtica, onde a

    tipologia documental mais comum so as escrituras. Esta so quase sempre de

    arrendamento, aforamento ou compra e venda; no entanto, em alguns casos

    junto com esta documentao surgem contratos de obra como acontece na

    Goleg, Lagos, Vila do Conde e Vila Ruiva o que determinou que este tipo de

    documentos fosse sempre consultado, nomeadamente em arquivos com

    tratamento arquivstico precrio e independentemente da sua cronologia.

    Por ltimo, destacar os tombos que, embora quase sempre posteriores ao

    sculo XVI, podiam assumir a forma de inventrio autntico dos bens de raiz,

    com as suas demarcaes e confrontaes, ou registo de documentos

    importantes para a gesto da confraria, como escrituras e testamentos e por

    isso apresentaram um particular interesse para a nossa investigao. Estes

    textos ao registarem e descreverem as propriedades pertencentes s

    Misericrdia, incluem muitas vezes, a descrio do edifcio onde funciona a

    confraria. Muitas destas descries permitem conhecer os edifcios antes de

    campanhas de obras que os alteraram profundamente, nomeadamente na sua

    planimetria e organizao espacial e por isso o seu interesse para esta

    investigao, foi o caso de Viana do Alentejo e Vila Ruiva.

    Num segundo momento, e sempre que no existia outra documentao ou as

    condies de pesquisa o proporcionaram, foram consultados os livros de

    receita e despesa, de menor riqueza informativa, quase sempre muito sucintos

    e de grande ambiguidade. O registo pode ir de: ao pintor dez reis a ao pintor

    Afonso Martins dez reis pelo retbulo, no entanto, faltando outro tipo de fontes

    escritas, estas revelam-se bastante teis.

    Em qualquer tipologia documental foram reveladoras as ltimas pginas dos

    livros; o registo apressado e subsidirio nestas folhas, deixam antever as

    dinmicas do registo escrito no perodo em questo, aproveitando as pginas

    de um livro em utilizao, para assentar um acontecimento ou acto isolado:

    acrdo especial, pagamento extra ou contextualizado, desenho...

  • 36

    Ainda sobre a pesquisa documental gostaramos de salientar que, em muitos

    casos, foi consultada toda a documentao do sculo XVI e princpios do

    sculo XVII, independentemente da tipologia documental, pois muitas vezes a

    organizao dos registos escritos no era muito clara. No mbito da nossa

    pesquisa pudemos constatar que, no contexto das Misericrdia, existem

    diferentes tipos de arquivos de acordo com o desenvolvimento e importncia

    econmica e social da confraria e respectiva evoluo. Confrarias como Porto,

    Guimares, Braga e Montemor-o-Novo que desde os primeiros anos registam

    um elevado grau de complexidade, com nmero de irmos, actividade

    assistencial e bens muito considerveis, tendem a ter uma maior

    especializao dos seus registos escritos livro da irmandade ou dos irmos,

    livro dos acrdos da mesa, livro de receita e despesa1. Por outro lado,

    confrarias de menores dimenses e com uma actividade e bens mais restritos

    tm nos anos iniciais apenas um livro, o livro da confraria, onde se concentram

    todos os registos escritos relevantes para a sua gesto, e que nas de maiores

    dimenses aparecem dispersos por vrios livros. o caso de Bragana com o

    Livro que h-de servir nesta Santa Casa da Misericrdia este ano que

    entra por dia de Santa Isabel, que servia para registar o ttulo dos oficiais

    (provedor, mordomo, capelo, manposteiros), os acrdos da mesa, o ttulo

    dos pobres que se receberam, entre outros. E o do Torro designado por Livro

    da confraria da Misericrdia, ano 1604-1605, que integra: auto da eleio do

    provedor e irmos, auto de eleio do mordomo e escrivo, obrigao do

    meirinho da casa, titulo dos irmos para servir em cada ms, titulo dos

    pedidores, titulo dos capeles, concerto com o mdico, obrigao do

    sangrador, receita do meses, despesa dos meses, despesa do po por meses,

    titulo do po que a casa tem de renda, titulo do po que recebeu, titulo do po

    que se ficou a dever, titulo dos defuntos que a casa enterrou, dividas que se

    devem a casa. Situao semelhante, ainda que nem todos os livros incluam as

    mesmas rubricas, acontece nos primeiros anos de actividade em Alcobaa,

    1 Um inventrio seiscentista da Misericrdia de Soure refere: tres liuros nouos de caixa, a saber hum da irmandade, outro das eleies e outro que he este da reeita e despesa e no ano seguinte acrescenta um quarto: outro de acordaons, cfr. Arquivo da Misericrdia de Soure, D 7 9 livro de receita e despesa (1658 - 1668), fls. 10 e 27.

  • 37

    Arraiolos, Pavia e Monforte. Na maioria dos casos os instrumentos de

    descrio documental no registam esta realidade, referenciando esta

    documentao apenas como livro de receita e despesa.

    Arquivos das Misericrdias consultados, num total de cento e quarenta

    fundos documentais:

    Abrantes (Arq. Mun. Abrantes)

    Alandroal

    Alccer do Sal

    Alcovas

    Alcobaa

    Alcochete (Arq. Dist. Setbal)

    Aljezur

    Aljustrel (Arq. Mun. Aljustrel)

    Alter do Cho

    Alvito

    Arraiolos

    Atouguia da Baleia

    Barcelos

    Batalha

    Beja (Arq. Dist. Beja)

    Benavente

    Borba

    Braga (Arq. Dist. Braga)

    Bragana (Arq. Dist. Bragana)

    Buarcos

    Calheta (Arq. Reg. Madeira)

    Caminha (Arq. Dist. Viana Castelo)

    Chamusca

    Constncia (Arq. Dist. Santarm)

    Coruche

    Cs (Arq. Miseric. Alcobaa)

    Erra (Arq. Miseric. Coruche)

    Estmbar

    Elvas

    vora (Arq. Dist. vora)

    vora de Alcobaa (Arq. Miseric.

    Alcobaa)

    voramonte

    Faro

    Freixo de Espada a Cinta

    Fronteira (Bib. Mun. Fronteira)

    Funchal (Arq. Reg. Madeira)

    Fundo

    Goleg

    Guimares

    Lagos (Arq. Mun. Lagos)

    Lourinh

    Lous (Bib. Mun. Lous)

    Machico (Arq. Reg. Madeira)

    Maiorga (Arq. Miseric. Alcobaa)

    Mrtola (Arq. Mun. Mrtola)

    Mogadouro

    Moncarapacho

    Monforte

    Montargil

    Montemor-o-Novo

    Montijo (Arq. Mun. Montijo)

    Mora

    Moura (Arq. Mun. Moura)

  • 38

    Nisa

    bidos (Arq. Mun. bidos)

    Pavia

    Pederneira (Arq. Confraria N. Sra.

    Nazar)

    Peniche

    Portalegre

    Porto

    Redondo

    Santa Cruz (Arq. Reg. Madeira)

    Santarm

    Santiago do Cacm

    Seda (Arq. Miseric. Alter do Cho)

    Seia

    Serpa (Arq. Mun. Serpa)

    Sesimbra (Arq. Mun. Sesimbra)

    Setbal (Arq. Dist. Setbal)

    Soure

    Tarouca

    Tavira

    Tentgal

    Tomar

    Torro

    Torres Vedras

    Viana do Alentejo

    Viana do Castelo (Arq. Dist. Viana do

    Castelo)

    Vila Franca de Xira

    Vila Real (Arq. Dist. Vila Real)

    Vila Viosa

    Vimieiro

    Complementarmente foram pesquisados outros fundos documentais com o

    nico objectivo de complementar as consultas nos arquivos das Misericrdias.

    Estas pesquisas incidiram sobretudo em fundos notariais, diocesanos,

    chancelarias rgias.

    Os registos notariais so das tipologias documentais mais ricas para a Histria

    da Arte, pois os contratos registados permitem obter diversas informaes

    sobre determinada obra; designadamente, autoria, programa artstico, modelos,

    condies e mtodo de trabalho, pagamentos, entre outros.

    Os arquivos diocesanos revelaram-se igualmente bastante interessantes para o

    estudo da arquitectura das Misericrdias, embora numa tipologia documental

    especfica licenas de ereco e bno de altares para as igrejas. Estes

    documentos, expedidos a pedido das Misericrdias e arquivados nos seus

    cartrios, encontram-se tambm, sob a forma de cpias trasladadas nos livros

    do Registo Geral dos arquivos diocesanos. Estes livros de registo de

    documentos expedidos integram documentao muito variada (confirmaes

    de capelania, benefcios, priorados e vigararias, mercs de ofcios, licenas

  • 39

    para particulares e moradores levantarem altares em ermidas ou igrejas e

    licenas para se fazerem ermidas ou oratrios particulares). A cpia, na ntegra

    ou na parte essencial, dos actos expedidos pelo Bispo, no mbito do governo

    da diocese, visava a preservao, controlo e acesso informao, e muitos

    perderam-se na instituio de destino mas subsistem na diocese emissora nos

    livros do Registo Geral.

    Relativamente s Chancelaria rgias e das Ordens Militares existe um

    levantamento, tendencialmente sistemtico, realizado e publicado pelo projecto

    Portugaliae Monumenta Misericordiarum. No entanto, confrontando-o com

    outra bibliografia, constatmos que alguns documentos que referiam as

    Misericrdias, embora de uma forma indirecta, no constavam do

    levantamento. Assim, decidimos realizar a nossa prpria pesquisa alargando os

    termos pesquisados a todas as localidades includas nos ndices das

    Chancelaria.

    Ainda no Arquivo Nacional/Torre do Tombo foi bastante proveitosa a consulta

    de outros documentos como o Corpo Cronolgico e as Memrias Paroquiais,

    que incluem duas perguntas com informaes importantes para o nosso

    estudo. A 11: Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem? e a

    12: se tem casa de Misericrdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e

    o que houver notvel em qualquer destas cousas. Na maioria dos casos os

    registos so sucintos e limitam-se a responder s questes colocadas; no

    entanto, noutros o relato bastante detalhado, incluindo tambm a descrio

    do edifcio neste mesmo tpico ou no seguinte (pergunta 13: Se tem ermidas,

    e de que santos, e se esto dentro, ou fora do lugar, e a quem pertencem).

    Outros arquivos e fundos pesquisados:

    Arquivo Distrital de Braga (notariais de Barcelos e de Braga; Registo

    geral de Cmara Eclesistica de Braga; Gavetas do Cabido; Juzo dos

    Resduos)

    Arquivo Distrital de Faro (notariais de Faro);

    Arquivo Distrital de Portalegre (notariais de Portalegre e Nisa);

    Arquivo Distrital do Porto (notariais do distrito);

  • 40

    Arquivo Distrital de Santarm (notariais de Tomar, Constncia e

    Coruche);

    Arquivo Distrital de Viana do Castelo (notariais do distrito);

    Arquivo da diocese do Algarve;

    Arquivo Histrico do Patriarcado de Lisboa;

    Arquivo Nacionais/Torre do Tombo:

    o Chancelaria de D. Manuel I;

    o Chancelaria de D. Joo III;

    o Chancelaria de D. Henrique/D. Sebastio;

    o Chancelaria de Filipe I;

    o Chancelaria de Filipe II;

    o Chancelaria Antiga da Ordem de Cristo;

    o Chancelaria Antiga da Ordem de S. Tiago:

    o Arquivo Casa Fronteira e Alorna;

    o Corpo Cronolgico;

    o Memrias Paroquiais;

    Arquivo Municipal de Mogadouro (fundos das extintas Misericrdias do

    concelho);

    Desta investigao no exclumos a documentao das Misericrdias extintas

    e com edifcios destrudos; embora muitos dos arquivos tenham desaparecido,

    mesmo que no fisicamente pelo menos do conhecimento. Para estes casos

    foram contactados os arquivos municipais, algumas parquias e outras

    instituies que detm a posse do imvel, para tentar localizar essa

    documentao; mas na maioria dos casos no foi possvel localiz-los.

    Transcreveram-se para incluir esta dissertao os documentos mais relevantes

    de acordo com as temticas abordadas, os inditos e os que no sendo

    inditos nunca foram alvo de transcrio. Um outro critrio para a seleco das

    fontes a transcrever relacionam-se com a pouca acessibilidade (no apenas

  • 41

    geogrfica) de determinados fundos arquivsticos, que incluem documentos

    relevantes para o conhecimento da arquitectura promovida pelas Misericrdias.

    Na transcrio documental foram seguidas as seguintes normas:

    transcreveram-se os documentos em linha contnua;

    respeitou-se a morfologia do texto original, mantendo-se a separao

    entre os pargrafos e as indicaes margem;

    colocou-se a foliao entre [ ], no meio do texto, coincidindo com o

    inicio do respectivo flio;

    respeitou-se a grafia das palavras conservando o uso das consoantes

    e vogais dobradas, tanto no inicio como no meio das palavras, e o das

    letras i, j, y, u e v;

    respeitou-se a grafia dos numerais;

    actualizou-se o uso de maisculas e minsculas nos topnimos e

    antropnimos;

    mantiveram-se os erros do escriba assinalando-os com [sic];

    as anotaes marginais foram transcritas;

    desenvolveram-se as abreviaturas no assinalando as letras omissas;

    sempre que possvel esses desenvolvimento fez-se de acordo com a

    ortografia habitual do escriba;

    recompuseram-se as palavras, separando-se de outras ou agrupando

    as slabas de acordo com os critrios morfolgicos actuais;

    uitilizou-se a apstrofe nos casos de eliso;

    utilizou-se o til nos ditongos nasais;

    colocou-se entre [ ] tudo o que resultou da nossa interpretao devido

    ilegibilidade do texto, falta ou deteriorao do suporte;

    assinalou-se as lacunas de suporte com [];

    assinalou-se a suspenso do texto com ();

    assinalou-se as dvidas de leitura com (?);

    assinalou-se as palavras que no se conseguiram ler com [--];

    a transcrio das assinaturas foi precedida de [assinatura:];

    De igual importncia se revestiu o trabalho de identificao e anlise detalhada

    de todos os conjuntos arquitectnicos das Misericrdias que integram este

  • 42

    estudo, incluindo os que esto referidos mas no identificados, os que

    perderam a sua funo inicial, os que mudaram de proprietrio/tutela e os que

    foram destrudos. Esta tarefa s possvel recorrendo a um trabalho de campo

    sistemtico, complementado quando necessrio pela consulta de inventrios

    patrimoniais, com especial relevncia para a publicao da Academia Nacional

    de Belas Artes e para o SIPA Inventrio do Patrimnio Arquitectnico

    acessvel em www.monumentos.pt.

    Neste contexto foram analisados in loco os edifcios das Misericrdias de:

    Abiul

    Abrantes

    Alandroal

    Albufeira

    Alccer do Sal

    Alcovas

    Alcantarilha

    Alcobaa

    Alcochete

    Alenquer

    Algoso

    Alhandra

    Aljezur

    Aljubarrota

    Aljustrel

    Almada

    Almendra

    Almodovar

    Alter do Cho

    lvaro

    Alverca

    Alvito

    Ansio

    Arez

    Arouca

    Arouca

    Arraiolos

    Arronches

    Arruda dos Vinhos

    Assumar

    Atouguia da Baleia

    Aveiro

    Azambuja

    Azinhaga

    Azinhoso

    Azurara

    Barcelos

    Batalha

    Beja

    Borba

    Braga

    Bragana

    Buarcos

    Cabeo

    Cacela Velha

    Caminha

    Cano

    Cantanhede

    Cardigos

    Castanheira do Ribatejo

    Castelo Branco

    Castelo de Vide

    Castro Marim

    Castro Verde

    Chamusca

    Coina

    Colares

    Colos

    Coruche

    Cs

    Crato

    Cuba

    Elvas

    Ericeira

    Estmbar

    vora

    vora de Alcobaa

    voramonte

    Faro

    Freixo de Espada a

    Cinta

    Fronteira

  • 43

    Funchal

    Fundo

    Gfete

    Goleg

    Gouveia

    Guarda

    Guimares

    Idanha-a-Nova

    Idanha-a-Velha

    Ladoeiro

    Lagos

    Lisboa

    Loul

    Lourical

    Lourinh

    Lous

    Mao

    Maiorga

    Maiorga

    Medelim

    Melo

    Mrtola

    Messejana

    Miranda do Douro

    Moncarapacho

    Monsanto

    Montalvo

    Montemor-o-Novo

    Montemor-o-Velho

    Montijo

    Mora

    Moura

    Mura

    Nisa

    bidos

    Olivena

    Palmela

    Pavia

    Pederneira

    Pedrgo Grande

    Pedrgo Pequeno

    Penamacor

    Penas Roias

    Peniche

    Pernes

    Pinhel

    Pombal

    Ponte de Lima

    Portalegre

    Portalegre

    Portel

    Portel

    Portimo

    Porto

    Porto

    Porto de Ms

    Pvoa e Meadas

    Povos

    Proena-a-Nova

    Proena-a-Velha

    Redondo

    Rosmaninhal

    Salvaterra do

    Extremo

    Samora Correia

    Santa Cruz

    Santarm

    Santiago do Cacm

    Sardoal

    Seda

    Segura

    Seia

    Serpa

    Sert

    Sesimbra

    Setbal

    Silves

    Sobreira Formosa

    Soure

    Sousel

    Tancos

    Tavira

    Tentgal

    Terena

    Tolosa

    Tomar

    Torro

    Torro

    Torre de Moncorvo

    Torres Novas

    Torres Vedras

    Viana do Alentejo

    Viana do Castelo

    Vila do Conde

    Vila do Conde

    Vila Franca de Xira

    Vila Nova da Baronia

    Vila Real

    Vila Real

    Vila Ruiva

    Vila Verde dos Francos

    Vila Viosa

  • 44

    Vimieiro Viseu

    Para alm destes edifcios, que foram visitados individualmente, realizmos

    algumas pesquisas referentes a edifcios destrudos, com base em

    testemunhos subsistentes, que em alguns casos foram bastante relevante para

    a compreenso global do fenmeno arquitectnico das Misericrdias.

    A este conceito deu contedo Vtor Serro que desenvolveu a noo de cripto-

    histria da arte - o estudo da obra de arte desaparecida e do fragmento. Este

    no vestgio, arquitectura, pintura ou escultura desaparecida, que pode

    subsistir apenas num desenho, fotografia ou planta, ao ser analisado permitem

    um alargamento dos objectos de estudos e deve ser entendido como fazendo

    parte e definindo uma determinada conjuntura artstica. No caso da nossa

    investigao os edifcios desaparecidos, correspondem a cerca de 20% da

    totalidade dos edifcios objecto do nosso estudo. Por isso, desencademos

    uma investigao que, por se remeter a edifcios desaparecidos, teve que

    assumir contornos especficos, metodologia prpria e fontes alternativas. Para

    cada igreja destruda tentou-se identificar elementos que pudessem dar a

    conhecer estas construes: fotografias anteriores destruio em coleces

    de arquivos e museus locais e em outras instituies. Pesquisou-se igualmente

    os seus arquivos de forma a encontrar descries antigas, por exemplo em

    Tombos; tambm foram realizadas pesquisas ao nvel dos fundos de

    cartografia do IGEO Instituto Geogrfico Portugus/Cartoteca Digital e do

    SIDCarta - Sistema de Informao para Documentao Cartogrfica. Muitas

    destas diligncias ficaram condicionadas pelo estado do tratamento de alguns

    esplios, ainda em processo de inventariao e no disponveis na totalidade

    para a consulta, e pelas informaes prestadas pelas instituies.

    Esta investigao, morosa e exigente em criatividade, proporcionou recuperar a

    memria de cerca de metade dos edifcios desaparecidos, sob a forma de

    desenhos, plantas, fotografias, mapas e descries. Estas informaes

    revelaram-se bastante relevantes para a consolidao de algumas ideias chave

    sobre a caracterizao da arquitectura construda pelas Misericrdias durante o

    sculo XVI.

  • 45

    4. Os resultados

    Esta investigao no adquire a forma de um inventrio dos edifcios

    quinhentistas das Misericrdias, nem de monografias histrico-artsticas dos

    mesmos. um tratamento global de vrios campos de anlise atravs de

    abordagem histrica, social e cultural, holstica e integradora, da produo

    arquitectnica das confrarias - da caracterizao arquitectnica s fontes de

    financiamento, dos artistas interveno rgia, das funes da arquitectura

    identificao de modelos artsticos e arquitectnicos.

    Por isso, o tratamento da informao resultante da investigao por um lado

    monogrfico, individual, cada Misericrdia tem uma ficha ou entrada numa

    tabela. Estas constituem um conjunto de informao que aparecer sobre a

    forma de anexos e no de texto principal; nelas sistematiza-se a informao

    relevante e indita recolhida, de forma individualizada mas sem pretenses de

    exaustividade, nomeadamente na identificao documental de todas as

    campanhas artsticas.

    Esta aborgadem monogrfica completada por uma outra temtica e

    comparativa, em que vrias problemticas so tratadas recorrendo a elementos

    recolhidos em cada confraria e procurando uma relao comparativa entre

    todos eles.

    Neste contexto privilegiamos uma abordagem que d uma importncia relativa,

    posicionada, a questes de datao e autoria; preocupando-se com elementos

    de diferente natureza. Designadamente, a compreenso de uma dinmica

    encomendante especfica e com traos de identidade, que se encontram

    dispersos por uma ampla rea geogrfica e o entendimento da identidade do

    edifcio e da sua essncia enquanto espao com uma funo concreta.

    Para operacionalizar a informao recolhida na nossa investigao foi

    necessrio criar tabelas e fichas de recolha e sistematizao da informao,

  • 46

    que assim registada e esquematizada pode ser encarada como um conjunto de

    conhecimento sobre patrimnio arquitectnico das Misericrdias.

    A informao bibliogrfica, iconogrfica, arquivstica e a disponibilizada pela

    prpria obra de arte, recolhida no trabalho de campo, foi reunida em tabelas e

    fichas. Estas so compostas por diferentes campos, que se justificam pela

    necessidade de tratamento dessa mesma informao, sua sistematizao e

    racionalizao, permitindo maximizar o seu potencial informativo e o seu

    tratamento crtico.

    Estas fichas no so fichas de inventrio, nem o seu contedo se refere a um

    levantamento sistemtico, actualizado e preferencialmente exaustivo dos bens

    culturais. Mas trata-se de uma forma de sistematizar informao, concebida de

    modo a respeitar o particularismo de cada caso e a permitir o cruzamento da

    informao de acordo com os objectivos pr-definidos para este trabalho.

    Exigiram um preenchimento regular, metdico e sistemtico e a utilizao de

    uma linguagem rigorosa, mas tambm sinttica, precisa e operativa.

    A ficha estrutura-se em grandes grupos de informao: identificao,

    localizao, proteco, enquadramento, nota histrica, nota artstica, nota

    descritiva, intervenes, conservao, documentao, informaes

    complementares. Cada um destes campos compreende vrios sub-campos:

    IDENTIFICAO: integra a designao da Misericrdia estudo.

    LOCALIZAO: identifica ao nvel dos sub-campos, diocese, distrito, concelho,

    freguesia, a localizao religiosa e administrativa do edifcio da Misericrdia

    em estudo, e ainda as vias de acesso no sub-campo do mesmo nome.

    PROTECO: identifica ao nvel dos sub-campos, grau, decreto legal e ZP/ZEP,

    a proteco administrativa a que o imvel est sujeito.

    ENQUADRAMENTO: caracteriza o enquadramento da igreja quer no contexto

    urbano, quer no contexto de outras construes pertencentes a um mesmo

    conjunto edificado.

  • 47

    UTILIZAO: identifica qual o uso iniciai e o uso actual do edifcio. Sempre que

    se encontrou referncia a diferentes usos durante a histria do edifcio indicam-

    se antecedidos pelas respectivas datas.

    PROPRIEDADE/AFECTAO: propriedade e/ou usufruturio actual do imvel, ou

    instituio a que est afecto.

    NOTA HISTRICA: campo dividido em dois sub-campos, confraria e

    hospital/construes assistenciais e onde se registam os dados de cariz

    histrico referentes a esses sub-campos.

    No sub-campo confraria indicam-se a data mais credvel para a fundao da

    confraria, em funo das fontes existentes, assim como os seus

    dinamizadores e as fontes documentais utilizadas para o seu preenchimento;

    o local de funcionamento inicial e as datas dessa ocupao; em outras

    datas indicam-se outras datas atribudas fundao da confraria referidas pela

    bibliografia.

    Existe tambm a possibilidade de, em texto livre, registar outros dados

    histricos relacionados com a confraria.

    No sub-campo hospital/construes assistenciais, registam-se em texto livre

    os elementos essenciais referentes sua histria.

    NOTA ARTSTICA: integra os dados artsticos respeitantes ao imvel em estudo;

    assim nos sub-campos constam informaes referentes Casa da

    Misericrdia: data, arquitecto/construtor/pedreiro e dinamizadores da

    construo assim como as fontes documentais utilizadas para o seu

    preenchimento.

    Em sub-campo distinto registam-se os dados conhecidos sobre obras

    posteriores: data de realizao, intervenes realizadas, os

    arquitecto/construtor/pedreiro responsveis e as fontes documentais

    utilizadas para o seu preenchimento.

  • 48

    NOTA DESCRITIVA: integra a anlise descritiva da igreja, do hospital e de

    outras dependncias (sacristia, casa do despacho, ptio, cemitrio, entre

    outros).

    Relativamente ao conjunto arquitectnico devem ser caracterizados em sub-

    campos diferenciados a planta e a volumetria; de igual modo deve-se

    descrever o exterior em trs sub-campos distintos: fachada principal,

    fachadas laterais e cobertura. No interior, registam-se os dados referentes

    Igreja, nomeadamente, concepo espacial, alados, decorao (azulejos,

    estuques, pintura mural), equipamento (retbulos, tribuna, plpito, coro),

    cobertura e pavimento;

    Relativamente ao Hospital e Outras Dependncias a descrio feita em

    texto livre registando os dados necessrios sua anlise artstica, seguindo os

    sub-campos da anlise interior da igreja.

    Ainda na nota descritiva sero integradas informaes referentes a

    caractersticas estilsticas com uma anlise global da obra destacando as

    suas caractersticas identificadoras especficas.

    ESTADO DE CONSERVAO: o estado de conservao do imvel, genericamente

    classificado de muito bom, bom, razovel, mau, muito mau, complementado

    com informaes consideradas relevantes.

    ARQUIVO: indica-se a existncia ou no de arquivo, a sua localizao, os

    instrumentos de descrio documental existentes, assim como as fontes

    consultadas.

    OBSERVAES: registo de outras informaes consideradas relevantes e sem

    cabimento nos campos anteriores;

    BIBLIOGRAFIA: bibliografia consultada para a recolha de informao constante

    na ficha;

    FOTOGRAFIA DO EXTERIOR: fotografias do exterior do imvel: fachada principal,

    fachadas laterais e fachada posterior; em alguns casos incluem-se fotografias

    antes de intervenes de restauro relevantes que alteraram a sua fisionomia;

  • 49

    FOTOGRAFIA DO INTERIOR: fotografias do interior do imvel, uma perspectiva da

    nave para a capela-mor e outra da capela-mor para a nave; algum pormenor

    relevante; em alguns casos incluem-se fotografias antes de intervenes de

    restauro relevantes que alteraram a sua fisionomia;

    PLANTA: planta do imvel sempre que existente;

    MAPA: mapa da localizao do imvel no contexto urbano; assinalando os

    edifcios notveis: a vermelho a Misericrdia, a rosa os conventos, a azul as

    capelas, a verde os palacetes, a amarelo os castelos, a preto a Casa da

    Cmara, a cinza o pelourinho, a roxo a torre do relgio, a laranja a igreja

    matriz.

    Para o preenchimento das fichas procurmos adoptar os seguintes critrios:

    Sistematizar a informao recolhida de acordo com os campos definidos

    na ficha;

    No preenchimento dos campos decorao e equipamento seguimos

    sempre o mesmo critrio de sistematizao da informao: autoria,

    datao, corrente esttico-artstica, tema, localizao e integridade da

    obra;

    Quando no encontrmos informao para preencher determinados

    campos e sub-campos estes ficam em branco;

    Opo por repetio de terminologia/expresses sempre que nos

    queremos referirmos a uma mesma realidade ou situao;

    Na descrio dos objectos artsticos, imveis, mveis e integrados,

    opo por descries operativas, que sirvam o objectivo desta

    investigao em curso;

    Indicao das fontes e/ou bibliografia para as fotografias, plantas e

    mapas que se incluam nas fichas e que no sejam da nossa autoria;

    As fichas analitico-descritivas dos edifcios quinhentistas constituem, no

    apenas, um corpus de informao, mas sim de conhecimento, e integram o

  • 50

    volume 2 do presente trabalho e so apresentadas por ordem alfabtica para

    facilidade de consulta.

    A presente dissertao consta de trs volumes, o primeiro correspondendo ao

    texto e os outros dois a anexos.

    O primeiro volume sistematiza a reflexo principal sobre o tema e estrutura-se

    em cinco grandes captulos: Estado do conhecimento e da investigao,

    Histria e patrimnio das Misericrdias, As Misericrdias e a Arquitectura, A

    Arquitectura das Misericrdias no sculo XVI e Especificidades tipolgicas.

    O primeiro captulo pretende reunir o conjunto de conhecimentos existentes

    sobre o tema e as principais problemticas identificadas pelos autores que

    estudaram o patrimnio artstico das Misericrdias.

    O captulo dois procura contextualizar a fundao das Misericrdias e destacar

    a sua importncia artstico-patrimonial e as particularidades da sua encomenda

    artstica.

    O terceiro captulo pretende revelar a relao estabelecida pelas Misericrdias

    com o espao construdo, assim como as funes assumidas pelos diferentes

    espaos que compem o edifcio no quotidiano da confraria.

    O captulo quatro tem como objectivo caracterizar a produo arquitectnica

    promovida pelas Misericrdias no sculo XVI e o seu contexto construtivo

    meios de financiamento, patronos e mecenas, interveno rgia.

    O ltimo captulo procura definir uma possvel especificidade tipolgica dos

    edifcios das Misericrdias, propor significados, modos de difuso e

    repercusses.

    Por questes de organizao, cada captulo e subcaptulo est dividido em

    seces assinaladas com numerao romana.

    Os volumes 2 e 3 correspondem aos anexos e cada um precedido de um

    ndice.

    O anexo I, que compe o volume 2, integra as fichas analtico-descritivas dos

    edifcios quinhentistas das Misericrdias; a cada edifcio corresponde uma ficha

    que integra textos, fotografias, planta e mapa de localizao.

    Os anexos II a V integram o volume 3. O anexo II composto por vrias

    tabelas elaboradas durante a realizao do trabalho. O anexo III apresenta

  • 51

    alguma cartografia temtica com localizao da distribuio geogrfica das

    confrarias e dos edifcios das Misericrdias. O anexo IV constitudo pela

    transcrio de documentos. No anexo V apresentamos algumas fotografias que

    considermos relevantes para a compreenso dos temas tratados e que

    agrupadas por temas e semelhanas formais e decorativas

    Uma ltima nota para acrescentar aspectosrelacionados com as citaes. As

    referncias bibliogrficas seguem as indicaes da NP 405 Norma

    Portuguesa de Informao e Documentao: referncias bibliogrficas. A

    citao, no corpo do texto, dos nomes das Misericrdias apresentada por

    ordem alfabtica; as fontes documentais em apndice assim como as

    fotografias, so indicadas tambm pelo nome da confraria antecedido pelo

    nmero do anexo.

    Abreviaturas e Siglas

    Abr Abril

    Ago Agosto

    ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo

    Arqto. - Arquitecto

    atrib. atribudo

    c. cerca de

    col. - coleco

    coord. - coordenao

    Dez Dezembro

    DGEMN Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais

    dir. - direco

    doc. - documento

    Dr. - Doutor

    Fev Fevereiro

    fl. flio

    fls. - flios

  • 52

    IDD Instrumento de Descrio Documental

    IDDs Instrumentos de Descrio Documental

    IPA Inventrio do Patrimnio Arquitectnico

    IPPAR Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico

    Jan Janeiro

    Jul Julho

    Jun Junho

    Lg. - Largo

    m. - metros

    Mai Maio

    Mar Maro

    m. - mao

    N. Sra. Nossa Senhora

    Nov Novembro

    Out Outubro

    p. - pgina

    P. - Praa

    Pe. Padre

    pp. pginas

    R. - Rua

    S. So

    s.d. sem data

    s.n. sem editor

    s.l. sem local

    s.p. sem pginao

    sculo - sculo

    sep. - separata

    Set Setembro

    ss. - seguintes

    Sta. Santa

    Sto. Santo

    Tv. - Travessa

    v. verso

    vol. volume

  • 53

    vols. volumes

    ZEP Zona Especial de Proteco

    ZP- Zona de Proteco

    CAPTULO I

    Estado do conhecimento e da investigao

  • 54

    Aps as consideraes introdutrias necessrias ao entendimento do mbito,

    limites e metodologia da nossa investigao, dedicaremos o primeiro captulo

    ao estado do conhecimento e investigao sobre a produo arquitectnica das

    Misericrdias no sculo XVI.

    Queremos comear por referir que elaborar um estado da questo sobre o

    tema que versa esta tese, revelou-se bastante complexo: existe inmera e

    diversificada bibliografia, que alis foi sendo constantemente actualizada com

    novas publicaes, incluindo durante o ano da apresentao deste trabalho. E

    embora, nem sempre, estas obras estejam relacionadas estritamente com o

    tema da nossa investigao, no possvel no consider-las. Aos estudarmos

    cerca de duzentos edifcios, impossvel sintetizar neste captulo o estado

    actual do conhecimento que existe sobre cada um deles; isto constituiria toda

    uma outra tese de doutoramento. Por este motivo, e por outros que j

    explicitmos na introduo, recorremos a fichas analtico-descritivas e a tabelas

    para sistematizar toda a informao de cada edifcio, a dita e a indita.

    Assim, a inteno neste captulo referir, ainda que brevemente, e remetendo

    sempre para a obra em questo, as linhas de pesquisa seguidas e o conjunto

    de conhecimentos que outros investigadores desenvolveram e que constituram

    o ponto de partida do nosso trabalho. Limitamo-nos a apresentar as linhas

    gerais desses conhecimentos, ou a remeter para eles, no discutindo o seu

    contedo. Esta opo baseia-se em duas constataes: por um lado, a maioria

    da bibliografia reporta-se a obras monogrficas de carcter histrico ou

    explicativo da aco de Misericrdias concretas, tendo como base informaes

    documentais, com contedos consensuais, sendo raros os contributos

    interpretativos e reflexivos geradores de confronto. Por outro, para a discusso

    de algumas ideias expostas na bibliografia, ser necessrio desenvolver

    conceitos e elementos que decorreram directamente da nossa investigao e

    que, como tal, vo ser explanados em captulos posteriores. Assim, a nossa

    opo foi, sempre que se justifique, colocar ao longo dos vrios captulos, o

  • 55

    confronto entre este conjunto de conhecimentos e o resultado da nossa

    investigao.

    Genericamente podemos afirmar que a investigao sobre as Misericrdias

    portuguesas originou, no mbito da produo historiogrfica nacional, um

    conjunto importante de obras, quer em nmero, quer em relevncia. Estes

    estudos so muito diversificados ao nvel das cronologias, temas abordados,

    grau de aprofundamento, tendncias em que se inserem e metodologias

    utilizadas.

    A bibliografia sobre as Misericrdias divide-se essencialmente em quatro

    grandes grupos:

    Obras gerais sobre a fundao, difuso e aco das Misericrdias;

    Obras temticas, transversais a vrias Misericrdias;

    Obras monogrficas sobre Misericrdias especficas, focando a histria

    e evoluo das confrarias e aspectos artstico-patrimoniais;

    Contributos mais breves, geralmente sobre a forma de artigos, sobre

    Misericrdias especficas e abordando temas histricos e artstico-

    patrimoniais muito precisos;

    No campo da Histria da Arte e mais concretamente da Arquitectura promovida

    pelas Misericrdias, esta bibliografia apresenta um conjunto de dados

    relevantes para a nossa investigao: fundao das confrarias (data, condies

    e local de funcionamento inicial) e construo/modificao dos edifcios

    (cronologia das campanhas de obras, intervenes, artistas, promotores).

    Estudos mais especficos avanam por outro tipo de questes fundamentais

    para a definio do problema a estudar, nomeadamente a identificao e

    definio de uma tipologia arquitectnica dita especfica das igrejas das

    Misericrdias e a elaborao de uma proposta de evoluo tipolgica dessas

    igrejas.

    Neste captulo procuraremos sistematizar os conhecimentos produzidos pela

    investigao realizada at ao momento, destacando os pontos que

    consideramos essenciais e que constituram o ponto de partida para a nossa

    prpria investigao; o seu tratamento ser temtico. O imenso conjunto de

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    informaes fornecidas pelas monografias histrico-artsticas, esto integrados

    nas tabelas e fichas analtico-descritivas de cada edifcio que constituem o

    anexo I desta tese e foram um importante contributo para a elaborao desta

    tese.

    I. 1 Histria e arte

    A maioria da bibliografia sobre as Misericrdias portuguesas fornece elementos

    e conhecimentos sobre a sua histria, caractersticas e actividade; pode ser de

    mbito mais geral2, referindo-se definio, caracterizao e histria

    institucional, ou pode tratar questes mais especficas e transversais a vrias

    confrarias, geralmente com o contributo de vrios autores3.

    2 CORREIA, Fernando Silva - Origens e formao das Misericrdias Portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte, 1999; FONSECA, Carlos Dinis - Histria e Actualidade das Misericrdias. Mem Martins: Editorial Inqurito, D. L. 1996; GOODOLPHIM, Costa - Misericrdias. Lisboa: Livros Horizontes, 1998; S, Isabel Guimares - As Misericrdias portuguesas de D. Manuel I a Pombal. Lisboa: Livros Horizonte, 2001; SOUSA, Ivo Carneiro - A Rainha da Misericrdia, na Histria da Espiritualidade em Portugal na poca do Renascimento. Porto: Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 1992. Tese de Doutoramento; SOUSA, Ivo Carneiro - V Centenrio das Misericrdias Portuguesas. [s. l.]: CTT-Correios de Portugal, 1998; SOUSA, Ivo Carneiro - Da Descoberta da Misericrdia Fundao das Misericrdias (1498-1525). Porto: Granito Editores e Livreiros, 1999; SOUSA, Ivo Carneiro - A Rainha D. Leonor (1458-1525): Poder, Misericrdia, Religiosidade de Espiritualidade no Portugal do Renascimento. [s. l.]: Fundao Calouste Gulbenkian, Fundao para a Cincia e Tecnologia, 2002. (col. Textos Universitrios de Cincias Sociais e Humanas). 3 A Misericrdia de Vila Real e as Misericrdias no Mundo de Expresso Portuguesa, Vila Real, 2010 - A Misericrdia de Vila Real e as Misericrdias no Mundo de Expresso Portuguesa. Porto: CEPESE, 2011; Congresso de Histria da Santa Casa da Misericrdia do Porto, 1, Porto, 2009 - A solidariedade nos sculos: a confraternidade e as obras. Lisboa: Santa Casa da Misericrdia do Porto, Altheia Editores, 2009; Encontro das Misericrdias do Alto Minho, 1, Viana do Castelo, 2001 - Encontro das Misericrdias do Alto Minho. Viana do Castelo: Edio do Centro de Estudos Regionais, 2001; Jornadas de Estudo sobre as Misericrdias, 2, Penafiel, 2009 - As Misericrdias quinhentistas. Penafiel: Cmara Municipal de Penafiel, 2009; Oceanos - Misericrdias Cinco Sculos. Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses. 35, Jul - Set (1998); S, Isabel Guimares - Quando o rico se faz pobre: Misericrdias, caridade e poder no Imprio portugus (1500-1800). Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 1997; SILVA, Nuno Vassallo (coord.) - Mater Misericordia, Simbolismo e Representao da Virgem da Misericrdia. [s. l.]: Museu de So Roque, Livros Horizonte, 1995; 500 Anos das Misericrdias Portuguesas: solidariedade de gerao em gerao. Lisboa: Comisso para as Comemoraes dos 500 anos das Misericrdias, 2000.

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    I. Neste ponto poderamos destacar nominalmente vrios trabalhos de grande

    importncia para a historiografia das Misericrdia; no o faremos porque, alm

    de moroso, recorreremos a eles durante os nossos textos, com os devidos

    comentrios e citaes. No entanto, queremos destacar uma obra que muito

    mais do que um estudo, um instrumento de trabalho para quem se dedica a

    estas temticas; referimo-nos Portugaliae Monumenta Misericordiarum4.

    Esta obra em 10 volumes, publicada desde 2002, resulta de um projecto do

    Centro de Estudos de Histria Religiosa da Universidade Catlica Portuguesa,

    a que se associou na edio a Unio das Misericrdias Portuguesas; a

    coordenao da obra de Jos Pedro Paiva, que tambm assume a funo de

    presidente da Comisso Cientfica5.

    O primeiro volume, Fazer a Histria das Misericrdias, tem um cariz

    introdutrio ao projecto e composto por estudos sntese e dois instrumentos

    de trabalho muito importantes: bibliografia temtica e um guia dos arquivos6.

    Os restantes, 2 a 9, tm um critrio cronolgico, dos antecedentes Repblica

    e procedem edio de fontes impressas e manuscritas de diferentes

    naturezas, actualizao das datas de fundao das Misericrdias de acordo

    com o resultado da investigao realizada no mbito do projecto e identificao

    de documentao relativa s Misericrdias existentes noutras instituies. O

    ltimo volume, a publicar no fim de 2012, integra estudos inditos com vrias

    temticas.

    II. Um outro conjunto de obras muito significativo apresenta um cariz

    monogrfico. So dedicadas a uma confraria concreta, abordam aspectos

    histricos, nomeadamente a criao e evoluo da confraria, a sua aco 4 PAIVA, Jos Pedro (coord.) - Portugaliae Monumenta Misericordiarum. Lisboa: Centro de Estudos de Histria Religiosa da Universidade Catlica Portuguesa, Unio das Misericrdias Portuguesas, 2002 2012, vols. 1 10. 5 Sobre o projecto e contedos e organizao da obra ver PAIVA, Jos Pedro (coord.), - Portugaliae Monumenta Misericordiarum. 1, pp. 11 16. 6 Este guia baseia-se parcialmente no Recenseamento dos Arquivos Locais, Cmaras Municipais e Misericrdias. [S. l.]: Ministrio da Cultura, Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, 1995 2000, vols. 1 - 14: Distritos de Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Portalegre, Vila Real, Faro, Coimbra, Leiria, Aveiro, Castelo Branco, Setbal, vora, Guarda, Viseu, com excepo dos distritos de Beja, Bragana e Santarm que no incluem este guia.

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    assistencial e relao com as elites locais e a sociedade e, em alguns casos,

    breves apontamentos sobre o seu patrimnio artstico; so fruto de eventos

    comemorativos, do esforo editorial das confrarias ou de trabalhos acadmicos.

    Destacaremos apenas as que tm cabimento no mbito cronolgico e

    geogrfico do nosso estudo7:

    Abrantes8, Alcobaa9, Alandroal10, Almada11; Almeida12, Alvaizere13,

    Amarante14; Arcos de Valdevez15, Arouca16, Azambuja17, Aveiro18;

    Barcelos19; Barreiro20, Benavente21, Borba22, Braga23, Bragana24;

    7 Existem tambm obras relativas a Misericrdias fundadas depois do sculo XVI e de Misericrdias institudas fora de Portugal continental, que no referiremos por estarem fora do mbito directo da nossa investigao, mas que so de fcil acesso atravs de pesquisas nas bases de dados das principais bibliotecas. 8 SOUSA, Antnio Soares de - A Santa Casa da Misericrdia de Abrantes nos sculos XVI e XVII. Coimbra: Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra. 1966. Tese de Licenciatura. 9 ZAGALO, Francisco Baptista - Histria da Misericrdia de Alcobaa. Alcobaa: Tipografia e Papelaria de Antnio M. Oliveira, 1918. 10 MARCOS, Francisco Sanches - Subsdios para a Histria da Misericrdia do Alandroal, Capelas e Morgados. Alandroal: [s. n.], 1982. 11 FLORES, Alexandre, COSTA, Paula - Misericrdia de Almada: das origens restaurao. Almada: Santa Casa da Misericrdia, 2006. 12 CARVALHO, Jos Vilhena - Santa Casa da Misericrdia de Almeida: apontamentos histricos. Guarda: Tipografia Vritas, 1971; CARVALHO, Jos Vilhena - Santa Casa da Misericrdia de Almeida: subsdios para a sua histria. [s. l.]: Santa Casa da Misericrdia de Almeida, 1991. 13 SILVA, Francisco Caetano, VENTURA, Maria Helena - Santa Casa da Misericrdia de Alvaizere: contributos para a sua histria. Alvaizere: S