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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PUBLICIDADE E PROPAGANDA JANAÍNA MENEGOL O IMAGINÁRIO DOS CONTOS DE FADAS E SUA UTILIZAÇÃO PELA MARCA DISNEY PRINCESAS CASE GRENDENE KIDS CAXIAS DO SUL 2014

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E PROPAGANDA

JANAÍNA MENEGOL

O IMAGINÁRIO DOS CONTOS DE FADAS E SUA UTILIZAÇÃO PELA MARCA

DISNEY PRINCESAS – CASE GRENDENE KIDS

CAXIAS DO SUL

2014

JANAÍNA MENEGOL

O IMAGINÁRIO DOS CONTOS DE FADAS E SUA UTILIZAÇÃO PELA MARCA

DISNEY PRINCESAS – CASE GRENDENE KIDS

Monografia de conclusão do Curso de

Comunicação Social, habilitação em

Publicidade e Propaganda da

Universidade de Caxias do Sul,

apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel.

Orientadora:

Prof.. Ms. Ivana Almeida

CAXIAS DO SUL

2014

JANAÍNA MENEGOL

O IMAGINÁRIO DOS CONTOS DE FADAS E SUA UTILIZAÇÃO PELA MARCA

DISNEY PRINCESAS – CASE GRENDENE KIDS

Monografia de conclusão do Curso de

Comunicação Social, habilitação em

Publicidade e Propaganda da

Universidade de Caxias do Sul,

apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel.

Aprovada em:

Banca Examinadora

___________________________________________________________________ Prof. Ms. Ivana Almeida Universidade de Caxias do Sul – UCS ___________________________________________________________________ Prof. Ms. Alessandra Pinto Nora Universidade de Caxias do Sul – UCS ___________________________________________________________________ Prof. Ms. Misael Paulo Montaña Universidade de Caxias do Sul – UCS

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ser à base das minhas conquistas.

Aos meus pais, pelo exemplo e por acreditarem em minhas escolhas,

apoiando-me em todos os momentos que precisei. Ao meu namorado e amigos mais

próximos pela paciência e compreensão.

A minha orientadora Ivana Almeida, pela dedicação em suas orientações

prestadas na elaboração deste trabalho, incentivando-me e colaborando no

desenvolvimento e concretização desse trabalho.

Aos professores do curso de Publicidade e Propaganda, pelos ensinamentos,

paciência e empenho, pois cada um contribui de uma forma especial para a

conclusão deste trabalho e também na minha formação profissional.

Enfim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram e me apoiaram

nesta etapa da minha vida.

RESUMO

Este trabalho tem como tema de estudo os contos de fadas e a sua relação com as

marcas, buscando uma relação entre o imaginário das princesas e a consumidora

infantil. Os contos de fadas estão em nossa cultura há milhares de anos e são

transmitidos de geração em geração. Muitas animações, filmes e desenhos já foram

criados a partir dessas histórias, onde as versões mais conhecidas são as da Walt

Disney. Os personagens dessas histórias ficaram eternizados, as princesas dessas

histórias representam para as meninas modelos de beleza e comportamento a

seguir, deste modo esse trabalho abordará o uso dessas personagens para atingir

essas jovens consumidoras. O presente estudo utiliza como metodologia a pesquisa

bibliográfica e o estudo de caso. Para isso, apresenta a franquia Disney Princesas e

sua utilização pela marca Grendene Kids. A franquia possui produtos destinados às

meninas de três a oito anos. Os produtos utilizam o universo das princesas das

animações da Disney, que foram inspirados nos contos de fadas de autores como:

Perrault, Irmãos Grimm e Andersen.

Palavras-chave: contos de fadas, imaginário, consumidora infantil, Disney

Princesas, Grendene Kids.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mamãe Gansa, ilustração de 1862, feita por Gustave Doré ..................... 18

Figura 2 - Chapeuzinho Vermelho, ilustração de 1862, feita por Gustave Doré ....... 20

Figura 3 - A menina dos fósforos, ilustração de 1920, feita por Honor Appleton ...... 22

Figura 4 - Criança de zero a dois anos ..................................................................... 38

Figura 5 - Criança de três a sete anos ...................................................................... 40

Figura 6 - Criança de oito a doze anos ..................................................................... 42

Figura 7 - Bonecos Punch e Judy, 1880 ................................................................... 51

Figura 8 - Branca de Neve e os Sete ....................................................................... 52

Figura 9 - Cena da animação do coelho Oswald ....................................................... 57

Figura 10 - Pato Donald e Zeca Carioca ................................................................... 60

Figura 11 - Pato Donald na 2ª Guerra Mundial ......................................................... 61

Figura 12 - Castelo da Bela Adormecia na Disneylândia .......................................... 62

Figura 13 - Castelo da Cinderela no Parque Walt Disney World Resort ................... 62

Figura 14 - As princesas da marca Disney Princesas ............................................... 63

Figura 15 - Branca de Neve, ilustração de 1905, feita por Franz Jüttner .................. 66

Figura 16 - Cena do filme Branca de Neve e os Sete Anões da Disney ................... 66

Figura 17 - Cinderela, ilustração de 1922, feita por Harry Clarke .............................. 68

Figura 18 - Cena do filme Cinderela da Disney ......................................................... 68

Figura 19 - A Pequena Sereia, ilustração de 1876, feita por Bertall .......................... 71

Figura 20 - Cena do filme Pequena Sereia da Disney ............................................. 71

Figura 21 - A Bela e a Fera, ilustração de 1875, feita por Walter Crane ................... 72

Figura 22 - Cena do filme A Bela e a Fera da Disney ............................................... 73

Figura 23 - O Príncipe Sapo, ilustração de 1874, feita por Walter Crane .................. 75

Figura 24 - Cena do filme A princesa e o Sapo da Disney ........................................ 76

Figura 25 - Rapunzel, ilustração de 1876, feita por P. J Lynoh ................................. 78

Figura 26 - Imagem do filme Enrolados ................................................................... 78

Figura 27 - Imagem do filme Valente ....................................................................... 79

Figura 28 - Captura da tela do site Disney Princesas ............................................... 80

Figura 29 - Captura da tela do jogo Enrolados .......................................................... 81

Figura 30 - Captura da tela das atividades ................................................................ 81

Figura 31 - Visita a Cinderela no Princess Fairytale Hall .......................................... 82

Figura 32 - Transformação em princesa na Bibbidi Bobbidi Boutique ....................... 83

Figura 33 - Coroação da Princesa Mérida ................................................................. 84

Figura 34 - Montagem de produtos Disney Princesas ............................................... 85

Figura 35 - Imagem do filme Cinderela ..................................................................... 87

Figura 36 - Gráfico de pares por gênero (%) ............................................................. 90

Figura 37 - Gráfico de participação de volume de pares ........................................... 92

Figura 38 - Gráfico de volume de pares .................................................................... 92

Figura 39 - Gráfico de investimento em publicidade e propaganda .......................... 93

Figura 40 - Imagem do site da Grendene Kids .......................................................... 94

Figura 41 - Licenças Grendene Kids – Baby ............................................................. 95

Figura 42 - Tênis Galinha Pintadinha ........................................................................ 95

Figura 43 - Licenças Grendene Kids – Menino ......................................................... 96

Figura 44 - Produto Grendene Kids – Ben 10 ........................................................... 97

Figura 45 - Licenças Grendene Kids – Meninas....................................................... .97

Figura 46 - Produto Grenden Kids – Barbie .............................................................. 98

Figura 47 - Sandálias Disney Princesas Encantadas .............................................. 100

Figura 48 - Cenas do comercial Sandália Disney Princesas 15’ ............................. 102

Figura 49 - Anúncio impresso Sandália Disney Princesas ...................................... 105

Figura 50 - Embalagem Sandália Disney Princesas Encantadas............................ 106

Figura 51 - Display Sandália Disney Princesas Encantadas ................................... 107

Figura 52 - Casamento Duque e Duquesa de Cambrige ........................................ 109

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

1.1 METODOLOGIA .................................................................................................. 12

2 CONTOS DE FADAS ............................................................................................. 14

2.1 HISTÓRIA DOS CONTOS DE FADAS ............................................................... 16

2.1.1 Charles Perrault (1628 – 1703) ...................................................................... 17

2.1.2 Jacob Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Grimm (1786 – 1859) ...................... 19

2.1.3 Hans Christian Andersen (1805 – 1875) ....................................................... 21

2.2 OS CONTOS DE FADAS E O IMAGINÁRIO INFANTIL ..................................... 23

2.3 OS PERSONAGENS DOS CONTOS DE FADAS ............................................... 27

2.3.1 As princesas dos contos de fadas ............................................................... 29

3 CONSUMIDORA INFANTIL ................................................................................... 32

3.1 A CRIANÇA E O CONSUMO .............................................................................. 33

3.1.1 As idades do consumo .................................................................................. 37

3.1.1.1 Babies – 0 a 2 anos ....................................................................................... 38

3.1.1.2 Kids – 3 a 7 anos ........................................................................................... 40

3.1.1.3 Tweens – 8 aos 12 anos ............................................................................... 42

3.1.2 Meninos e meninas e as diferenças de consumo ....................................... 44

3.2 CONSUMIDORA INFANTIL: AS MARCAS E A COMUNICAÇÃO ...................... 45

3.3 A MENINA CONSUMIDORA: PRODUTOS LICENCIADOS E PERSONAGENS 50

4 DISNEY .................................................................................................................. 56

4.1 WALT DISNEY .................................................................................................... 56

4.2 O UNIVERSO DAS PRINCESAS DISNEY ......................................................... 63

4.2.1 As princesas clássicas (1937-1959) .............................................................. 64

4.2.2 As princesas rebeldes (1989-1998) ............................................................... 69

4.2.3 As princesas contemporâneas (2009-2012) ................................................. 74

4.3 CONSUMINDO O UNIVERSO DAS PRINCESAS DA DISNEY .......................... 80

5 SAPATO DE PRINCESA: CASE GRENDENE KIDS ............................................ 87

5.1 O CONSUMO DE CALÇADOS ........................................................................... 88

5.2 GRENDENE ........................................................................................................ 90

5.3 GRENDENE KIDS ............................................................................................... 93

5.3.1 Disney Princesas – Grendene kids ............................................................... 99

5.3.2 Comunicação ................................................................................................ 100

5.3.2.1 Televisão ..................................................................................................... 101

5.3.2.2 Revista em quadrinhos ................................................................................ 104

5.3.2.3 Material de ponto de venda ......................................................................... 106

5.4 DISNEY PRINCESAS E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DE PRINCESA 108

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 111

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 113

ANEXO A – PROJETO DA MONOGRAFIA ........................................................... 119

10

1 INTRODUÇÃO

Os contos de fadas estão presentes na nossa cultura há muito tempo.

Transmitidos geração após geração, eles se modernizaram acompanhando a

evolução da sociedade em que estão inseridos, porém sem perderem o

encantamento e a magia que um conto de fada deve apresentar. Os contos,

surgidos a partir da necessidade do homem de narrar os eventos que aconteciam

com ele, mexem com o imaginário das crianças e de muitos adultos até os dias

atuais. Essas narrativas contam histórias sobre fadas, rainhas, reis, príncipes e

princesas em reinos encantados.

Histórias como os contos de fadas alimentam o imaginário das pessoas,

principalmente das crianças, pois são histórias cheias de encantamento e

mensagens positivas. O imaginário é capaz de transformar e criar imagens,

ultrapassando a própria obra. Sendo assim, a cultura modificou essas histórias

conforme foram contados no decorrer dos anos. Isso fez com que as princesas e

seus contos de fada continuassem populares, já que suas histórias se renovaram

junto com a cultura onde estão inseridas.

O cinema, a televisão e a literatura, assim como os contos, estimulam a

imaginação. Por isso filmes, desenhos, séries e novos livros continuam a surgir

baseados nos enredos já conhecidos das histórias das princesas. Algumas marcas

se apropriam dos contos de fadas e seus personagens nos seus produtos e

comunicação. Como as princesas e suas histórias podem ser reconhecidas e

amadas pelas consumidoras infantis, acreditamos que talvez elas podem influenciar

no consumo das meninas.

A atemporalidade dessas histórias faz com que elas sejam assistidas e

apreciadas até os dias atuais, especialmente pelas crianças. Sendo assim “de que

forma os contos de fadas são utilizados pelas marcas e qual seu papel na

construção do imaginário da consumidora infantil? Case Disney Princesas".

Da mesma maneira que as histórias, a maneira de utilização pelas marcas também

se modificou ao longo dos anos, sendo assim vamos estudar nesse trabalho como a

franquia Disney Princesas é utilizada pela marca Grendene Kids.

As princesas se popularizaram com o passar dos anos, na mesma medida

que os contos de fadas. As princesas dessas histórias representam ideais de beleza,

comportamento e romantismo para a população, assim como princesas das

11

monarquias, atuais e passadas. As características citadas geralmente são atribuídas

ao universo feminino, tanto nos contos de fadas quanto na vida real. Desse modo, o

uso de referências ao universo das princesas talvez possa motivar a consumidora

infantil na aquisição produtos e serviços.

As preferências das consumidoras infantis normalmente são moldadas e

influenciadas pais, amigos e meios de comunicação. Logo que nascem, de certa

forma, elas tornam-se consumidoras e a maneira que crescem aumentam o seu

potencial de consumo. As consumidoras infantis influenciam também na compra de

seus pais, mesmo em produtos que não estejam ligados diretamente com as

mesmas, como comida, produtos de higiene e para casa. Nas compras que estão

diretamente ligados com elas, como roupas e brinquedos, desempenham grande

papel no processo de decisão para aquisição dos produtos, podendo escolher as

marcas de sua preferência.

Walt Disney transformou os tradicionais contos de fadas, em filmes e

desenhos que misturam o lúdico, o mágico com a realidade. As histórias das

princesas da Disney estimulam as emoções e desejos das meninas que almejam

viverem histórias como as das princesas. Como veremos, a jovem consumidora

consome produtos que a aproximem do ideal de beleza que consideram. Em 2000, a

Disney reuniu as principais princesas das histórias em uma única e forte marca

perante as meninas, a Disney Princesas. Atualmente a marca, funciona como

franquia, e possui diversas linhas de produtos como: roupas, calçados, maquiagens,

brinquedos, material escolar, entre outros produtos. Atualmente a franquia é uma

das mais reconhecidas voltadas para as consumidoras infantis.

Nosso trabalho foi divido em cinco capítulos para melhor entendimento e

explanação sobre os assuntos. Abordaremos primeiramente sobre a origem dos

contos de fadas, a transformação das histórias adultas para a literatura infantil e os

escritores responsáveis pela mudança. Consideraremos nesse trabalho os escritores:

Perrault, Irmãos Grimm e Andersen. Trataremos aqui também sobre a construção do

imaginário infantil e a construção de arquétipos através dos contos de fadas e de

seus personagens.

No capítulo três estudaremos sobre o comportamento das consumidoras

infantis e a sua relação com as marcas. Também faremos a segmentação dos

consumidores de acordo com a sua idade e sexo. Abordaremos nesse capítulo

12

também sobre a utilização de personagens e licenças para atingir as jovens

consumidoras.

No capítulo seguinte contaremos a história de uma das empresas pioneiras

de licenciamento de personagens, a Walt Disney. Discutiremos acerca do seu

surgimento até a construção do império de entretenimento dos dias atuais. No

capítulo quatro ainda analisaremos a utilização das princesas dos contos pela

empresa nas animações e nos parques. Dividiremos as princesas de acordo com o

período em que surgiram, e as suas características, fazendo uma breve comparação

da história original com a versão da Disney.

No capítulo final, o cinco, comentaremos sobre o consumo de calçados e a

expansão do mercado de calçados infantis. Finalizaremos nosso trabalho falando a

respeito de nosso estudo de caso, a licença das princesas da Disney utilizada pela

marca Grendene Kids em produtos para meninas. Neste momento também,

analisaremos os produtos e as estratégias de comunicação usadas pela marca para

atingir as consumidoras infantis.

A partir desse estudo queremos aumentar os conhecimentos acerca da

construção do imaginário infantil e a sua utilização pelas marcas para promover o

consumo de produtos relacionados ao universo das princesas dos contos de fadas.

Porém, estamos cientes que esse assunto ainda tem muito a ser desenvolvido,

sendo que com este trabalho pretendemos dar nossa pequena contribuição nesta

questão.

1.1 METODOLOGIA

Este subtítulo tem como objetivo definir e explicitar as técnicas e métodos de

pesquisa para obtenção dos resultados a serem encontrados. A metodologia pode

ser entendida como um processo racional para atingir um determinado fim, chegar a

algum conhecimento ou demonstração da verdade. A metodologia também pode ser

considerada como o campo em que se estuda os melhores métodos a serem

praticados para a produção do conhecimento.

As escolhas metodológicas para a elaboração desse trabalho são a pesquisa

bibliográfica e o estudo de caso. A pesquisa bibliográfica nesse estudo servirá para

a identificação, localização e obtenção da bibliografia sobre os assuntos que serão

abordados no trabalho. Como explica Stumpt (2005), a pesquisa bibliográfica precisa

13

ser aprofundada conforme o andamento do trabalho, usando estratégias para

encontrar teorias e trabalhos relacionados com o foco da pesquisa. Como estratégia,

utilizaremos autores e teorias adequadas para o conhecimento teórico, para

posteriormente nos aprofundarmos em nosso estudo de caso.

Através da pesquisa bibliográfica realizaremos a identificação, seleção das

fontes e a obtenção do material mais adequado para esclarecer e aprofundar o

conhecimento nos assuntos escolhidos. Os materiais utilizados serão trabalhos,

teses, artigos, livros e documentos que contribuirão na captação de informações e

dados importantes em nossa pesquisa.

O segundo método que vamos utilizar nesse trabalho é o estudo de caso, um

método qualitativo de pesquisa que será o centro de nosso estudo. A escolha desse

método, de acordo com Yin (2001), serve para a compreensão dos fenômenos

individuais, organizacionais, sociais e políticos, que será fundamental para a

compreensão final em nosso trabalho.

Para Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação empírica, que através

da experiência e observação investiga um fenômeno dentro de seu contexto de vida

real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e contexto não estão

claramente definidos. Em nosso caso torna-se necessário uma estratégia analítica,

construindo com os dados uma rica fonte de informações acerca do assunto

abordado.

O estudo de caso escolhido para nosso trabalho foi a franquia Disney

Princesas, franquia mundialmente conhecida de produtos dirigido as consumidoras

infantis. A franquia pertence a Walt Disney Company, e é inspirada nas animações

da empresa sobre princesas. Iremos estudar o uso da franquia Disney Princesas

pela marca Grendene Kids. Em nosso estudo iremos analisar as peças e os

produtos da coleção Disney Princesas Encantadas, levando em conta o produto e

também as peças publicitárias como, comercial de 15’, anúncio em revista, display e

embalagem.

Selecionamos a marca Grendene Kids, pois ela cria e produz uma linha de

sapatos de plásticos com acessórios inspirados no universo das princesas. O recorte

de tempo selecionado para o nosso estudo foi o segundo semestre de 2013, de julho

a dezembro. Deste modo após o levantamento bibliográfico a respeito do assunto e

a explanação de nosso estudo de caso conseguiremos compreender mais sobre o

nosso tema de estudo.

14

2 CONTOS DE FADAS

A arte de contar histórias está em nossa cultura há milhares de anos,

transmitindo de geração em geração contos e histórias, reais e fabulosos. Muitas

histórias atravessaram gerações e perpetuaram-se até os dias atuais, como é o caso

de alguns contos que surgiram há centenas de anos. O costume de narrar histórias,

como explica Goés (1991), começou antes do surgimento da escrita, a partir do

momento em que o homem sentiu a necessidade de procurar explicações para o

que acontecia ao seu redor. A partir da oralidade, as memórias eram preservadas

para as gerações futuras. Segundo Goés (1991), quando a memória do contador

falhava era a imaginação que completava as histórias, disseminando um universo de

seres mágicos e fantásticos.

Os contos de atualmente fazem parte do imaginário das crianças e de muitos

adultos. Coelho (1991) divide os contos em “contos maravilhosos” e “contos de

fadas”. Para a autora, o conto de fadas se desenvolve a partir de uma problemática

existencial e seus argumentos se desenrolam dentro da magia feérica, com reis,

rainhas, príncipes, princesas, fadas e outros seres mágicos. Geralmente está ligado

à união de um homem e uma mulher. Já o conto maravilhoso desenvolve-se num

cotidiano mágico, com elementos extraordinários como varinhas e lâmpadas com

poderes especiais, e seres sobrenaturais como duendes. Busca, na sua abordagem,

uma problemática social.

Para este trabalho, trataremos todos os contos como “contos de fadas”,

usando como base a explicação de Coelho (2010) para o “conto maravilhoso”, que

envolve o que é fora da realidade concreta, do mundo da fantasia e diferente do real.

Nisso os contos são semelhantes, tanto os de fadas quanto os maravilhosos. Em

suas histórias há sempre a presença de elementos e personagens encantados que

não existem no mundo real, somente na fantasia. Além disso, através das gerações

os contos de fadas ajudaram, de certa maneira, o aprendizado das crianças sobre

os fenômenos da vida que são de difícil compreensão para as mesmas durante a

infância.

A linguagem presente nos contos de fadas, segundo Franz (2003), tem a

capacidade de atingir a todos os públicos, não importando sua idade, etnia ou

cultura. Segundo a autora, os contos de fadas são a mais pura e simples expressão

do que são os processos psíquicos do inconsciente coletivo. Eles representam os

15

modelos de comportamento na sua forma mais simples, plena e concisa. Pois, é que

no inconsciente que todos os padrões estão ligados, formando imagens, e não

podendo mais ser separados.

A palavra fada deriva do latim fatum e significa destino, fatalidade. Entender o

seu significado nos ajuda a compreender mais sobre esses contos. Coelho (1991)

esclarece mais acerca das fadas:

Fazem parte do folclore europeu ocidental [...] tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários de grande beleza, que se apresenta como forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível (COELHO, 1991, p.31).

As fadas podem representar o bem ou o mal nas histórias. Quando elas

representam o mal são consideradas bruxas, que ao contrário de quando

representam o bem, são de grande feiura e tentam atrapalhar os homens,

colocando-os em situações-limite.

Apesar do nome, nem todos os contos de fadas realmente possuem fadas,

porém as histórias sempre se desenvolvem dentro da realidade feérica, sendo

atemporal e com território indeterminado, fora da realidade. É por isso que é comum

nas histórias desses contos geralmente o uso de expressões como “Era uma vez” e

“Em uma terra distante”, que não delimitam o tempo e lugar, se tornando assim uma

história que pode ultrapassar gerações sem ficar obsoleta, pois sua narrativa

consegue se encaixar na realidade atual do leitor.

Para Bettlheim (2005), as histórias dos contos de fadas conseguem expor

para os leitores novos caminhos para a imaginação. Em seus enredos os contos

transmitem não somente o lado bom e agradável da sociedade, mas também o lado

perverso e egoísta. Outro fato relevante dos contos é que os personagens, diferente

da vida real, nunca são bons e ruins ao mesmo tempo. Sempre existe a

representação do bem, no caso do herói, e do mal, no caso do vilão. O herói faz um

apelo positivo ao leitor, pelas suas características físicas e morais. Destacam-se

também pelas suas atitudes, que fazem com que o leitor sinta uma maior simpatia

por ele.

Apesar de os seres humanos terem impulsos e desejos não só positivos, os

contos de fadas ajudam a compreender e encontrar um caminho justo a seguir,

conforme explica Oberg:

16

Assim, os contos parecem falar, através de suas personagens e imagens, que a vida é feita de provas nos quais os saberes vão sendo acumulados, possibilitando o amadurecimento e o equilíbrio interior que propiciará o encontro com o significado da vida, a conquista da autonomia e a descoberta do outro. Pois, se por um lado, essas histórias afirmam que desde a infância o homem é sujeito a desejos e emoções nem sempre positivos, por outro lado expressam sua necessidade de imaginação, sua luta pela vida, pela busca da realização, seu anseio por justiça e por uma atuação plena (OBERG, 2005 p.11).

A dualidade presente nos contos de fadas, no caso a presença do bem e do

mal, se diferenciada, consegue exemplificar claramente ao leitor qual o melhor

caminho a seguir. O desfecho da história sinaliza este ponto, onde o bem sempre

tende a superar o mal. O uso de padrões de beleza e de comportamento enquadram

nas histórias os personagens como bons e maus. Geralmente os heróis e fadas, são

personagens que representam a bondade e beleza através das suas atitudes boas e

generosas. Já os maus, como bruxas e madrastas, representam a feiura, a inveja e

suas atitudes desonestas e violentas durante o decorrer da história confirmam sua

imagem.

A organização de personagens por padrões nos contos, apesar de serem

extremos somente bons ou ruins, oferecem às crianças padrões simples para que

ela consiga, de certa forma, entender o mundo. Geralmente as crianças identificam-

se com aqueles personagens representados com grande beleza e atitudes corretas,

e que ao final derrotam o mal.

2.1 HISTÓRIA DOS CONTOS DE FADAS

Como já explanado anteriormente, a arte de contar histórias é muito antiga

vindo dos primórdios da humanidade, a partir do momento em que o homem sentiu

necessidade de se comunicar. Os primeiros registros de histórias surgiram ainda nas

paredes das cavernas. Através dos desenhos nas paredes era contada a vida e as

experiências dos homens daquela época. Criando assim um registro também para

as futuras gerações. Quando o homem dominou a oralidade, as histórias

começaram a ser passados de geração em geração através da fala.

A origem exata de muitos contos de fadas ainda é desconhecida, mas

existem suposições e teorias sobre o assunto. Alguns existem há milhares de anos e

sofreram grandes alterações com o decorrer do tempo. Eles também não eram como

17

conhecemos hoje, histórias bonitas e infantis com finais felizes para os heróis. Em

seus primórdios os contos eram destinados aos adultos, geralmente com histórias

macabras e assustadoras.

A ideia de infância como conhecemos começou a surgir no século XVIII, como

explica Goés (1991), a partir da ascensão da ideologia da burguesia que as crianças

passaram a receber mais atenção da sociedade e de sua família. A criação da

literatura para as crianças surgiu na metade do século XVIII, durante a época do

Absolutismo e Classicismo. Momento quando o Rei Luís XIV começou a declarar

sua preocupação com uma literatura voltada para as crianças. Começou-se então a

produzir textos apoiados do mundo feérico, da magia.

A tradição de contar histórias com teor simbólico para as crianças, como os

contos de fadas, surgiu há muito tempo como maneira de ajudar na sua educação,

como explica Franz (2003). Há indícios ainda, segundo a autora, que alguns dos

mais tradicionais contos tenham surgido acerca de 25 mil anos. Deste modo é muito

comum que mesmo antes de ser alfabetizada, nos dias de hoje, a criança já

conheça pelo menos um conto de fadas.

Os contos de fadas já foram alvo de inúmeras pesquisas e estudos, e escritos

e reescritos por inúmeros autores no decorrer dos anos. Para Coelho (2010), há

autores que foram fundamentais para o desenvolvimento da literatura infantil, como

os contos de fadas. Alguns dos mais conhecidos e importantes são: Perrault, que foi

o primeiro a reescrever tradicionais contos, lendas e mitos destinados aos adultos

para livros infantis; os irmãos Grimm, que realizaram uma grande pesquisa e

levantamento de inúmeros contos conhecidos; e Andersen, que buscou explanar os

problemas sociais da sua época em seus contos.

Apesar de não serem os verdadeiros criadores das histórias dos contos de

fadas, eles tiveram um importante papel na sua popularização e disseminação pelo

mundo. Além disso, também pesquisaram e reuniram as histórias que circulavam há

milhares de anos em seus países e as registraram por escrito. Deste modo fizeram

que esses contos se perpetuassem até hoje.

2.1.1 Charles Perrault (1628 – 1703)

Charles Perrault, francês nascido em 1628, foi um dos pioneiros a escrever

literatura para as crianças. Em 1867 lançou o que se imortalizaria como literatura

18

para crianças, Os contos da Mamãe Gansa. Seus contos levavam os valores e

ideais burgueses de sua época, porém segundo Goés (1991), sua maneira de expor

permanece original, profundo e atual.

Em sua coleção, Perrault reuniu oito contos de fadas, com origem popular,

construídos através dos textos da antiguidade clássicos e narrativos do povo, sem

muito espaço para o maravilhoso e para as fadas. Apenas metade da sua coleção

tinha a presença de fadas nas histórias. Os clássicos que estavam presentes em

sua obra eram: A Bela Adormecida no Bosque; Chapeuzinho Vermelho; O Barba

Azul; O Gato de Botas; As Fadas; Cinderela; Henrique, o Topetudo e Pequeno

Polegar.

Figura 1 - Mamãe Gansa, ilustração de 1862, feita por Gustave Doré

Fonte:

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/12/29/ilustracao-os-

contos-da-mamae-gansa-1862-de-dore-150013.asp; acesso em 02

de maio de 2014.

19

A Mamãe Gansa do título da coleção de Perrault refere-se, segundo Coelho

(2010), a uma personagem de uma fábula onde sua função era contar histórias para

os seus filhos. Retratada na imagem por Gustave Doré, que apesar de não ter vivido

na mesma época de Perrault, mostrou em seus desenhos um pouco na crueldade

narrada pelos escritores da época, como explica Larentis (2010). Posteriormente o

autor incluiu mais três histórias para a coleção, que são: A Pele de Asno, Os

Desejos Ridículos e Grisélidis.

Para Goés (1991), Perrault tem um papel fundamental na introdução dos

contos de fadas na literatura infantil. E apesar de seus contos não terem se tornado

tão populares quanto os dos Irmãos Grimm, ele conseguiu introduzir seus contos de

fadas para a classe mais humilde da sociedade da época.

2.1.2 Jacob Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Grimm (1786 – 1859)

Os contos de fadas dos Irmãos Grimm foram lançados mais de um século

depois do Os Contos da Mamãe Ganso de Perrault, porém tornaram-se mais

populares que as versões de antecessor. Jacob e Wilhelm Grimm nascidos em 1785

e 1786, respectivamente, eram filósofos e grandes estudiosos folcloristas. Os irmãos

fizeram uma grande pesquisa em busca de contos, lendas, memória popular e mitos

germânicos.

Durante Romantismo e o Realismo, a criança ganhou ainda mais atenção.

Para Coelho (2010), foi nessa época que muitos livros voltados para adultos

começaram a ser adaptados para clássicos infantis, inclusive os contos de fadas. Os

Irmãos Grimm, assim como Perrault, fizeram isto também. Um dos exemplos é o

caso do clássico Chapeuzinho Vermelho. Na história de Perrault a Chapeuzinho e

sua avó são devoradas pelo Lobo Mau e ninguém as consegue salvar. Diferente do

final dos Grimm, o Lobo Mau também devora as duas, porém aparece o lenhador

que abre a barriga do lobo, tira as duas com vida e enche a barriga do lobo de

pedras.

20

Figura 2 - Chapeuzinho Vermelho, ilustração de 1862, feita por Gustave Doré

Fonte:

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/12/31/ilustracao-

chapeuzinho-vermelho-de-dore-150460.asp ; acesso em 02 de maio

de 2014.

Apesar dos contos desses autores terem surgido em momentos diferente da

história, para Coelho (1991), há inúmeras semelhanças entre os contos dos Irmãos

Grimm e Perrault: todos revelam como ponto de partida comum as fontes orientais,

célticas e europeias, origem de personagens e episódios narrados nos contos de

fadas. Coelho ainda acrescenta que:

Entre o real do cotidiano e o mistério do imaginário, desaparecem as fronteiras, mostrando a vida como algo muito difícil de ser enfrentado, mas talvez por isso mesmo, extremamente valiosa e merecedora dos mais extremos sacrifícios (COELHO, 1991 p.75).

E é por isso que em ambas as obras, o que predomina é a atmosfera de

leveza, bom humor ou alegria, que neutraliza os dramas e medos dos contos antigos.

Os Irmãos Grimm publicaram mais de 200 contos juntos, entre os anos de

1812 e 1822, muitos de origem germânica e alguns com procedências derivadas de

suas pesquisas. As histórias deles não foram escritas em uma época menos violenta

e conflitante do que a Perrault, porém já havia outra forma de enxergar e

compreender o próprio homem, seu mundo e seus objetivos na vida. Isso deriva do

humanismo que o Romantismo trouxe, fazendo que houvesse renovações na arte,

21

nos costumes e na literatura. Os autores também perceberam que para escrever

para as crianças precisavam suavizar as histórias, de forma que elas ficassem leves,

sem que perdessem o seu sentido, adaptando-as à mentalidade infantil.

2.1.3 Hans Christian Andersen (1805 – 1875)

Hans Christian Andersen foi um poeta e novelista dinamarquês, nascido em

1805, aproximadamente duas décadas depois dos Irmãos Grimm. Os contos de

Andersen também são voltados ao Romantismo, exaltando os valores e ideias

humanos, como fraternidade e generosidade.

“Andersen é o filho do povo e seus contos brotam de sua própria substância. Vivendo sempre do povo, não é somente a credibilidade e a simplicidade da gente humilde, sua bondade cordial e alegria ingênua, sua irreverência” (GOÉS, 1991, P.135).

Para Goés (1991), Andersen estava à frente do seu tempo e os contos que

escrevia ainda fazem pensar. Ele usava um tom especial e encantador para narrar e

contar histórias. Andersen era autor de histórias como: O Patinho Feio; O

Soldadinho de Chumbo; João e Maria; Os Sapatinhos Vermelhos; A Roupa Nova do

Imperador. Nos contos de Andersen a morte e finais tristes são comuns, porém nem

sempre a morte representa algo ruim, como é o caso na Menina dos Fósforos, onde

a morte é uma passagem, uma libertação para algo maior. Outra característica dos

contos de Andersen é que seus contos apesar de se desenrolarem no mundo da

imaginação, muitos deles estão presos ao cotidiano da faixa social que ele mesmo

viveu, da miséria e da pobreza.

22

Figura 3 - A Menina dos Fósforos, ilustração de 1920, feita por Honor Appleton

Fonte: Histórias maravilhosas de Andersen, 1995, Hans Christian

Andersen.

“Como um verdadeiro romântico, falando a linguagem do coração, ele foi

compreendido e amado de imediato por crianças e adultos” (Coelho, 2010, p.159-

160, grifo do autor). Os Contos de Andersen ficaram reconhecidos pela modernidade

e pela sua escrita com ternura que cativou os leitores, tanto as crianças como os

próprios adultos. Diferente dos autores vistos anteriormente, ele não tentou

esconder a violência e a injustiça nas suas histórias que são inerentes à vida. Ele as

explorou ainda mais. Além de escrever sobre as narrativas orais tradicionais ele

também utilizou a vida real como inspiração, passando a partir de 1843 a inventar as

suas próprias histórias, com heróis e elementos mágicos e maravilhosos do

cotidiano.

Andersen foi, portanto, a primeira voz autenticamente romântica a contar estórias para as crianças e a sugerir-lhes padrões de comportamento a serem adotados pela nova sociedade que se organizava. [...] Na ternura que ele demonstra, em suas estórias, pelos pequenos e desvalidos,

23

encontramos a generosidade humanista e o espírito de caridade do Romantismo (COELHO, 2010 p.161).

Nos contos de Andersen, como demonstra Coelho (2010), é fácil identificar

que ele defendia os direitos iguais para todos, valorizava o indivíduo pelas suas

próprias qualidades e não pela posição que ocupava na sociedade, condenando a

arrogância e a maldade contra os fracos e os animais.

2.2 OS CONTOS DE FADAS E O IMAGINÁRIO INFANTIL

O imaginário é ao mesmo tempo: 1. o locus de ideias, sentimentos, fantasias, ideologias, crenças e epistemologias de um grupo; 2. O gerador de imagens que posteriormente são traduzidas em ideias e sentimentos etc., desse grupo; 3. O que poderíamos ironicamente chamar “mínimo denominador comum” de um grupo, pois ali está a identidade, ou o que permite identificar os participantes do grupo (REÑONES, 1996, p.79).

Os contos de fadas servem para os jovens leitores como uma base de

conhecimento sobre o mundo, porém os mesmos tem um papel também muito

importante no desenvolvimento do imaginário infantil. Para Maffesoli (2001), o

imaginário carrega consigo o mistério da criação. O imaginário não pode ser medido

e nem classificado, considerado pelo filósofo como uma força social de ordem, uma

construção mental. Segundo ele, o imaginário pode ser considerado a cultura de um

grupo, não podendo ser visto individualmente.

Deste modo o imaginário dos contos de fadas é percebido pelo coletivo, não

individualmente. A partir do momento em que a imagem dos contos de fadas

signifique algo para a sociedade, essa imagem passa ser considerada dentro do

imaginário coletivo. O imaginário, assim como os contos de fadas sempre apresenta

alguma parte real, racional, mas principalmente é composto pelo lúdico, o irreal, o

fantástico, os sonhos e o irracional, o que dá à imaginação os parâmetros para

inventar e usar as histórias em sua própria vida.

Maffesoli (2001) explica ainda que quem produz a imagem não é o imaginário,

mas sim o inverso, a imagem é produção do imaginário. Utilizando este pensamento

percebemos que todas as imagens, sejam elas cinematográficas, pinturas,

esculturas, tecnologias e muitas outras mais, tudo aquilo que pode ser construído é

resultado do imaginário. Até mesmo os personagens, cenários e histórias dos contos

de fadas são construções do nosso imaginário.

24

O imaginário é explicado por Jaqueline Held (1980, p.23) da seguinte maneira:

“Se o fantástico se opõe ao real, será fantástico o que for “criado pelo espírito, pela

fantasia””. E uma narração fantástica é o imaginário trabalhando, realizando todos os

tipos de desejos e criando seres até o momento irreais. Os contos de fadas podem

transformar todos os desejos em realidade dentro da história, torna-se invisível,

mudar seu tamanho, conversar com animais falantes e tudo o que se puder imaginar.

Held (1980) coloca que o mundo das fadas é um dado cultural que encontrou

como forma de expressão o modo artístico. Para a autora, a ficção responde a uma

necessidade da criança, que é de não se contentar com a própria vida, permitindo à

criança imaginar outras possibilidades para poder ser. Aprendemos em histórias

onde o imaginário se mistura com o real, da mesma forma ocorre com as crianças.

O papel do fantástico não é, de maneira alguma, dar às crianças receitas de saber e de ação, por mais exatas que sejam. A literatura fantástica e poética é, antes de tudo e indissociavelmente, fonte de maravilhamento e de reflexão pessoal, fontes de espírito crítico, porque toda descoberta de beleza nos torna exigente e, pois, mais críticos diante do mundo. E por que quebra clichês e estereótipos, por que é re-criação que desbloqueia e fertiliza o imaginário pessoal do leitor, é que é indispensável para a construção de uma criança que, amanhã, saiba inventar o homem (HELD, 1980, p.234).

Sendo assim, a leitura do fantástico presente nos contos de fadas fará que o

leitor tenha um imaginário que não siga apenas os clichês da sociedade, que

consiga passar por cima modelos definidos, escolher e inventar o caminho a seguir.

Com a possibilidade de achar novos caminhos a percorrer, deixando a própria

criança concluir com seus conhecimentos futuramente.

Os contos de fadas transmitem para as crianças o mágico, fantástico e

maravilhoso. No geral, os contos de fadas têm onipresentes em suas histórias o bem

e o mal. O mal aparece tanto quando o bem, assumindo geralmente em uma forma

contrária ao que é do bem, como a bruxa e a fada.

Os contos de fadas conseguem chegar ao consciente, pré-consciente e ao

inconsciente das crianças, fazendo com que levem para a vida as lições que

aprenderam quando pequenas com os contos. Desde modo esses contos perduram

na mente da criança não somente pela sua história, mas pelo que ela transmite

moralmente e que vai ser absorvido além do consciente.

Segundo Bettelhein (2005), os contos de fadas tem papel fundamental para

as crianças principalmente quando oferecem novas dimensões à imaginação dela,

25

dimensões que ela não conseguiria descobrir sozinha. E há ainda um aspecto ainda

mais importante na relação, a maneira como as histórias são contadas. Elas

sugerem imagens à criança, imagens que as ajudam ela a esclarecer suas dúvidas e

confusões.

Os contos podem oferecer para as crianças soluções às suas aflições. Apesar

das histórias não mudarem, elas podem mudar o seu significado dependendo do

problema que a criança enfrenta. Os contos de fadas mostram as crianças o lado

bom e ruim das histórias. Diferente do que acontece na vida real, em que os pais

tentam proteger seus filhos de conhecer o que há de ruim e perverso da sociedade.

Com os contos de fadas e a identificação com o herói, a criança usa o

imaginário para ultrapassar a realidade que a prende no real, fazendo com que ela

possa voar, atravessar as paredes, realizando assim todos os desejos através da

fantasia. O maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais

importantes na literatura infantil, para Coelho (2010), os significados simbólicos dos

contos de fadas estão diretamente ligados aos eternos dilemas que homem enfrenta

durante o seu amadurecimento emocional.

Vale ressaltar, que uma das principais funções do imaginário é fazer com que

os homens estejam sempre em movimento, buscando novos meios de inspirações e

crescimento. Os contos também fazem com que os homens acreditem em uma

relação entre o real e o irreal, onde personagens reais se relacionam com os

maravilhosos.

As tecnologias atuais, para Maffesoli (2010), alimentam e são alimentadas

pelo imaginário, da mesma forma acontece com a televisão e a publicidade. Sendo

que o criador somente cria algo quando consegue captar o que está acontecendo na

sociedade, mesma forma como no cinema e na publicidade lidam com modelos, por

isso devem estar em sintonia com o real e o vivido.

Sendo assim a cada nova versão que surge dos contos de fadas, seja filme,

desenho, livros e publicidades acabam alimentando ainda mais a imaginação,

fazendo com que a o imaginário da criança ainda queira consumir aquelas histórias,

as novas versões, para acrescentar e modificar ao que ela já conhece.

Em qualquer ser humano, e ainda mais na criança, imaginação, sensibilidade, inteligência não são funções que poderíamos facilmente envolver e dissociar. A crença psíquica é global. A criança para se desenvolver de maneira equilibrada, harmoniosa, tem necessidade de sonho, de imaginário. O problema todo, de fato, está em alimentá-la com

26

imaginário são, autêntico, de qualidade real. Pois, na verdade, quando a imaginação humana não foi, é formada e alimentada de maneira válida, ela se perverte e procura, em compensação, sucedâneos, formas de substituição deploráveis, aviltantes e degradantes (HELD, 1980, p. 174).

É através dos contos de fadas que muitas vezes o imaginário se

desenvolve, quando a criança interpreta uma princesa ou um príncipe a sua

imaginação está em pleno funcionamento, se alimentando através dos contos e se

expressando pelas brincadeiras de faz de conta.

Philipe Malrieu (1996) dividiu em três os comportamentos para a construção

do imaginário, eles são: os sonhos, como manifestação involuntária; no mito, como

um sistema coletivo de crenças; e nas artes, controlada por um tema consciente. O

que há de comum nesses três comportamentos é que todos passam, de forma

indireta, algum problema vivido do sujeito.

O imaginário é capaz de abrir espaço para que novas possiblidades sejam

experimentadas, lugares onde as ideias novas são criadas e se desenvolvem. O

imaginário de cada lugar ou região muda de acordo com a cultura, pois é a cultura

que poderá modificar esse imaginário. Quando uma história, como os contos de

fadas, é contada inúmeras vezes, ela acaba sendo capaz de acrescentar ou

modificar um mito á existente no coletivo de um pequeno grupo ou também

individualmente.

O mito faz parte da expressão de um imaginário coletivo, não podendo ser

criado individualmente. Possui limites formais, mas não substanciais. Podendo estar

sempre em processo de modificação. O mito é definido por Roland Barthes (2001),

como uma fala, porém não uma fala qualquer, mais sim um sistema de comunicação,

uma mensagem. O autor considera que toda a imagem é transformada em uma

mensagem a partir do momento em que ela se torna significativa. Ou seja, tudo pode

vir a se transformar uma fala um mito, quando passar a significar algo além do óbvio.

Essa mensagem pode ser oral, escrita ou representada pelo cinema, fotografias, os

espetáculos e também pela publicidade.

Para entender melhor o mito é necessário compreender ele como um sistema

semiológico, um sistema de formas. Barthes (2001) explica que todo o sistema

semiológico é a relação entre dois termos, um significante e um significado, que

resulta em um terceiro termo, o signo.

27

Quando a imagem psíquica, significante, relaciona-se com um conceito,

significado, o que se resulta é o signo. Esse signo é considerado pelo autor por

qualquer objeto, como roupa, carro, filme, música, que represente e signifique

alguma coisa. Como por exemplo, dar status a alguém que veste uma camisa de

determinada marca, a definição da camisa vai muito além do conceito do que é uma

camisa, somando-se a imagem que as pessoas terão de quem a usa, criando assim

um novo signo. Da mesma maneira isso pode ocorrer com a interpretação de algum

personagem e sua história.

A nossa imaginação é a energia vital das nossas configurações de sentido,

ela transcende e ordena todas as outras atividades de nossa consciência. Turchi

(2003) nos explica o conceito definido por Jung de arquétipo, que seriam estruturas

das imagens primordiais da fantasia inconsciente coletiva, elementos que seriam a

base para a formação do mito, sendo que o imaginário se estabelece no

inconsciente e seria o criador, de onde emerge a palavra humana e a poética das

imagens.

Os arquétipos formados em nossa mente são capazes de se ligarem com

outras imagens de diferentes culturas, fazendo com que o arquétipo consiga ser

universal, e se adequar ao sistema com o passar do tempo. Nisso podemos

perceber que a imagem que a criança de hoje tem do herói ou da própria história é

exatamente igual em seus primórdios, porém esses arquétipos foram se atualizando

e renovando com o passar do tempo. Os contos de fadas permitem que o imaginário

trabalhe em cima dessas histórias, completando e as modificando. Fazendo com

que os contos perdurem por gerações.

2.3 OS PERSONAGENS DOS CONTOS DE FADAS

Os contos de fadas tradicionais são diversificados, e possuem muitas

histórias e enredos diferentes. Porém há sempre algo que podemos definir como

semelhante em suas histórias: os personagens. Para Coelho (2010) um personagem

é a transfiguração de uma realidade humana, que pode existir no plano comum ou

somente no imaginário, que é transposta para o plano da realidade estética ou

literária. Sem o personagem não haveria o interesse do leitor, pois ele é o elemento

decisivo da fabulação que vai cativá-lo ou não.

28

A autora ainda explica que existem três tipos básicos de personagens que

povoam a literatura, são eles: o personagem-caráter, que é comum na literatura

tradicional; o personagem-individualidade, típico da ficção contemporânea; e o

personagem-tipo; presente principalmente em contos de fadas e na literatura popular.

Para esse trabalho aprofundaremos o estudo acerca do personagem-tipo,

utilizado nos contos de fadas. Esse tipo de personagem, segundo Coelho (2010), é

bastante simples e o leitor consegue o reconhecer facilmente, pois eles

correspondem a uma função ou estado social. Eles são personagens bastante

estereotipados e não mudam suas ações e reações.

Khéde (1990) completa ainda que os personagens-tipo dos contos de fadas

são marcados com somente um traço, como a bondade ou a beleza. Quando esse

traço é reforçado podemos chamar de caricatura, é e então que surgem os

estereótipos como: a bruxa malvada, a fada bondosa, o sapo que vira príncipe.

Como nesses contos de fadas os personagens geralmente possuem somente

uma qualidade principal, como explica Goés (1991), ela é exaltada ao máximo

durante todo o conto. Podem ser qualidades físicas ou morais, como o orgulho, a

modéstia, coragem, feiura, beleza, bondade e maldade. No final da história

geralmente as qualidades positivas se sobressaem sobre as negativas.

Coelho (1991) nos explica que os contos de fadas sempre desenvolvem seus

argumentos dentro da magia feérica, deste modo seus personagens principais

costumam ser os reis e rainhas, príncipes e princesas, as fadas, os gênios, bruxas,

gigantes, anões e entre outros que variam conforme a história . Além dos

personagens principais, existem aqueles que são considerados secundário, como: a

madrasta, a avó, as cortes dos reis, trabalhadores, os animais encantados ou ainda

os objetos animados.

Um dos principais personagens e que dá nome ao tipo de literatura que

estamos estudando, são as fadas. As fadas nasceram da voz viva e falada dos

povos, na idade oral do mito. Tem sua origem na literatura durante o surgimento da

poesia céltico-bretã, quando as primeiras mulheres com poderes sobrenaturais

começam a aparecer nas histórias. A partir de então, como apresenta Coelho (1991),

começaram a fazer parte do folclore europeu ocidental e posteriormente migraram

para as Américas. As fadas são conhecidas como seres fantásticos ou imaginários,

que usam os seus poderes para ajudar os homens, sendo mulheres com imensa

beleza.

29

Goés (1991) acrescenta ainda que as fadas são as responsáveis nos contos

pelo destino do homem. Brotando da concepção mais doce e trágica, mais íntima e

universal da vida humana, seres que nas histórias sempre estavam envolvidas com

o amor, se não são amadas e nem amam, mediam o amor entre as pessoas.

Outro personagem que geralmente significa o mau nas histórias são as

bruxas e feiticeiras, elas são personificadas como o inverso das fadas. Geralmente

são representadas por mulheres já velhas e de grande feiura. Detentoras de poderes

demoníacos. Elas tentam atingir o herói fazendo com que ele tenha de superar a

maldade e o feitiço da bruxa para encontrar a felicidade eterna.

Os animais são personagens muito comuns nos contos de fadas, eles podem

ser representados de duas maneiras: algumas vezes são perigosos e destrutivos,

como o lobo de Chapeuzinho Vermelho, ou como animais sábios que ajudam os

heróis, guiando-os no melhor caminho, como os passarinhos de Cinderela. Há

também os animais que são encantados, que eram homens e viraram animais e

animais que acabam virando homens.

Os príncipes e heróis dessas histórias são representados, na maioria das

vezes por homens bonitos, fortes, altos, amáveis e gentis. Segundo Zurchi (2003),

os príncipes aparecem sempre nessas histórias guiados por gênios ou fadas, e

estão dispostos a se entregar totalmente para cumprir uma missão que lhes foi

designada. Para Carvalho (2009), os heróis ou príncipes podem ser considerados,

em algumas histórias, personagens secundários em relação à princesa, fazendo o

papel de ajudá-las a superar os obstáculos, muitas vezes tendo que salvar a vida

delas.

Os reis e rainhas dos contos de fadas representam o poder na história, as

suas decisões podem ser consideradas positivas ou negativas, porém as decisões

tomadas por eles sempre representam os valores da sociedade em que estão

colocados.

2.3.1 As princesas dos contos de fadas

As princesas são personagens principais de muitos contos, podendo ser

consideradas em muitas histórias como personagens indefesas, que são

perseguidas pelo mal, representado por bruxas ou madrastas malvadas. A liberdade

da princesa, normalmente conta com a ajuda de seres mágicos, como fadas,

30

duendes, animais, e também pelo príncipe encantado. Em muitos contos a princesa

só encontra o seu final feliz no casamento com o príncipe.

Para Khéde (1990) as princesas podem ser personagens oprimidos, que se

armam com atributos da inteligência e da perspicácia para vencer a força bruta dos

personagens que a oprimem. Porém elas possuem características muito marcantes

e comuns entre si, como por exemplo, a beleza. Geralmente as princesas citadas

são descritas em seus livros como mulheres de grande beleza, porém não é

somente a beleza física que é semelhante, mas também como qualidades como

caráter, bondade, generosidade, principalmente com os menos favorecidos

socialmente.

Para Cunha (apud Gomes, 2000) as princesas dos contos são portadoras de

alguns elementos que fazem com que elas sejam semelhantes. Geralmente são

descritas e ilustradas como mulheres jovens e bonitas, de pele e olhos claros, mãos

e dedos delicados e cabelos longos e brilhosos. Além das qualidades físicas, a

autora ressalta ainda as qualidades morais dessas princesas, como de serem

virtuosas, santas, piedosas e cheias de candura. Ainda nota-se nessas princesas

que elas muitas vezes possuem traços delicados, como por exemplo, sua forma

física normalmente é magra e esbelta, de ventre reto, nariz pequeno e pele

homogênea, imagem que reforça ainda mais a juventude da personagem.

A heroína ou princesa tem as suas qualidades exaltadas sobre as outras

personagens femininas, sendo a mais bela, melhor dançarina e cantora, prendada

nas atividades domésticas, como cuidar da casa e cozinhar. Este é também um dos

motivos por ser sempre alvo de inveja, sendo castigada e algumas vezes

aprisionada nas histórias. Muitas das heroínas apesar de todas as suas qualidades,

esperam passivamente até que alguém lhes ajude a se libertar do seu sofrimento,

não se opondo contra o destino que lhe é designado.

Outra característica marcante das princesas são os seus vestidos e sapatos.

Eles têm papel fundamental na trama e representam o momento da história, como

por exemplo, na história de Cinderela, onde as suas vestimentas são decisivas para

poder ir ao baile e se libertar de sua madrasta e irmãs.

Porém com o passar dos anos, e com o surgimento da mulher moderna

algumas das clássicas versões dos contos ficaram para trás, dando lugar a novas

princesas mais independente e que fogem ao estereótipo das princesas clássicas,

31

que não decidem sobre o seu futuro, esperando passivamente por um príncipe para

resgatá-la.

Os estereótipos criados pelas histórias, como ser a mais bela, ter o melhor

vestido e sapato irão fazer com que as meninas consumam produtos que às

aproximem do padrão estético desejado. Influenciando na aquisição de

determinados bens de consumo dessa jovem consumidora desde muito cedo. No

capítulo seguinte estudaremos mais a respeito do comportamento dessa jovem

consumidora, para podermos entender a influência das princesas em seu consumo.

32

3 CONSUMIDORA INFANTIL

Nas últimas décadas a consumidora infantil vem ganhando cada vez mais

preocupação e atenção das marcas. Esse interesse nas consumidoras mais jovens

é com propósito de fidelizar ela e criar hábitos de consumo desde cedo. Pois, como

veremos nesse capítulo, ela possui grande potencial de consumo ainda na infância e

aumenta-o conforme cresce. As consumidoras do sexo feminino são consideradas

mais lucrativas e rentáveis para as empresas em longo prazo, mesmo na infância.

Como explica Barletta (2003), consumidoras fieis tendem a repetir seus hábitos de

compra, consumindo as mesmas marcas e produtos.

Segundo Schiffman e Kanuk (2000), as crianças não nascem consumidoras,

elas se tornam. Se tornar consumidor também é um processo de aprendizagem que

começa ainda no início da vida, quando a menina apenas acompanha os pais nas

compras. Para os autores, a partir das primeiras experiências de consumo e compra

é que ela adquire o conhecimento e experiência de compra. Esse aprendizado na

infância ainda influenciará o seu comportamento como consumidora no futuro. Os

principais elementos da aprendizagem, como explicam Schiffman e Kanuk (2000),

são: a motivação, os sinais, a resposta e o reforço.

A motivação da consumidora infantil baseia-se nas suas necessidades e

objetivos. Quando a criança tem um objetivo, como por exemplo, ser uma princesa,

ela busca informações e objetos que lhe deixem mais perto de alcançar seu objetivo.

Quando a criança observa as princesas nos filmes, desenhos, na vida real e também

em produtos, ela pode entender isso como um sinal. Esse sinal pode estimular o

objetivo já existente e o torná-lo mais importante, reforçando a ideia da criança a

fazendo desejar e consumir produtos onde que estejam ligados ao seu objetivo.

A potencialidade de consumo das crianças é ampla, como veremos no

decorrer desse trabalho, elas podem influenciar desde as compras destinadas a elas

até mesmo as grandes aquisições familiares. As crianças para alcançar a

independência como consumidoras precisam passar por cinco estágios. O primeiro é

a observação, quando a criança, apenas observa a compra de seus pais, nos

mercados e lojas. Após observar, a menina começa a fazer pedidos de compra e

posteriormente já começa escolher produtos e marcas da sua preferência com

auxílio dos pais. Pedidos podem vir antes de ela começar a falar com gestos e sons.

Quando a criança já tem acesso ao dinheiro, começa fazer compras assistidas e

33

depois as primeiras compras independentes, quando já possuem percepção sobre o

dinheiro.

De acordo com nossos estudos bibliográficos constatamos que a divisão

entre as idades torna mais fácil a identificação dos elementos que compões cada

grupo. Assim também, como as capacidades psíquicas, cognitivas e afetivas desses

jovens consumidores.

3.1 A CRIANÇA E O CONSUMO

Os consumidores são como icebergs, segundo Samara e Morsch (2005).

Onde as suas ações e decisões são visíveis e claras, porém as suas reais

motivações e atitudes ficam ocultas. Para compreendermos de maneira correta de

como o consumidor se comporta, é preciso não apenas compreender as

necessidades e utilidades dos produtos para eles. O significado adicional, como

imagem, pertencimento e status para os consumidores também precisam ser

compreendidos.

As necessidades dos consumidores podem ser classificadas e separadas em

duas, segundo Karsaklian (2000), que são: as necessidades utilitaristas e as

necessidades hedônicas. As duas influenciam no processo de compra e consumo.

Quando a compra tem um objetivo funcional, classifica-se como consumo utilitarista,

porém quando o consumo do bem também serve como status e prestígio, podemos

dizer que é o consumo hedônico.

Cada vez mais as marcas buscam estabelecer ligações com os consumidores.

De acordo com Solomon (2002), o relacionamento e a fidelidade a uma determinada

marca ou produto ajudam a construir e posicionar o nosso lugar na sociedade. As

pessoas quando consomem um mesmo produto ou marca se sentem ligadas umas

as outras, se sentindo parte de um grupo.

Segundo Solomon (2002), as relações que os consumidores podem ter com

as marcas podem ser definidas em três tipos; ligação de autoconceito, ligação

nostálgica e ligação de interdependência. A primeira, ligação de autoconceito ajuda

a estabelecer a identidade do usuário perante a sociedade que vive. Quando o

consumidor compra produtos e marcas que tenham elo com o seu passado,

chamamos de ligação nostálgica. A ligação de interdependência é definida como o

34

consumo de produtos que fazem parte do dia a dia do consumidor, em que um

depende do outro.

Muitas marcas, mesmo que seus produtos não sejam para o público infantil,

voltam parte da sua comunicação para as crianças. Com propósito de associar seus

nomes e criar vínculos e ligações com essas consumidoras ainda na infância. Os

pais transmitem seus valores de consumo para seus filhos, deste modo o jeito que

os pais consomem pode influenciar na maneira que os consumidores infantis

consumirão.

Porém, não são somente os pais que influenciam no consumo das crianças,

de acordo com Solomon (2002). As crianças também podem exercer grande

influência sobre seus pais, principalmente porque geralmente os acompanham nas

compras. No momento da compra, muitas crianças escolhem as marcas e produtos

que querem consumir, mesmo em itens para casa, como comida, produtos de

higiene e de limpeza.

As crianças, na maioria das vezes, não possuem uma renda fixa muito alta.

Dependendo de mesadas e presentes que recebem em dinheiro para realizar suas

compras. Gunter e Furnhan (2001) explicam que o maior gasto das crianças é em

lanches e guloseimas, que possuem valores acessíveis. Após os doces, os maiores

investimentos são em jogos, brinquedos e roupas, que possuem valores mais

elevados.

A compra do produto é apenas uma parte do processo decisório do consumo.

Diversos fatores, de antes e depois da compra, devem ser estudados para entender

a forma em que a criança consome. As principais motivações para o consumo,

segundo Gade (1998), são as necessidades básicas e o meio social em que a

criança está inserida. Os seus pais, colegas, amigos e a também a publicidade

podem influenciar o modo como a criança consome. Para finalizar o processo

decisório e finalizar com a compra, as jovens consumidoras buscam informações

para justificar a aquisição, como falar com os pais e amigos. Caso a compra seja

realizada, o estímulo que receber após a compra, positivo ou negativo, influenciará

em seu consumo futuro do produto ou da marca.

A lealdade com as marcas são consequências de compras finalizadas com

estímulos positivos. Segundo Gade (1998), existem três tipos de lealdade às marcas,

que são: lealdade total, que todas as suas compras serão de uma marca somente; a

lealdade dividida, onde a criança pode consumir até duas marcas intercaladamente;

35

e a lealdade instável, que é aquela onde a ela consome um tempo de uma marca e

algum tempo da outra. A forma e existem também as que são leais a algumas

marcas e seu consumo varia entre elas.

A lealdade a uma marca pode aumentar com a idade ou desaparecer. Pois a

lealdade da criança está voltada a marcas que estão na moda atualmente, que seu

grupo social consome. Quando a moda e a tendência mudam, a lealdade também

tende migrar parra o novo produto. Segundo a autora, nas crianças é comum a

fidelidade aos personagens, e da mesma forma que a moda, de tempos em tempos

os personagens preferidos podem mudar, e deste modo o consumo.

A socialização dessas consumidoras começa a partir do momento em que

eles começam a expressar suas preferências e realizar as próprias aquisições. Para

Reynolds e Wells (apud Gunter e Furnhan, 2002), a socialização do consumidor

acontece no momento em que ele é capaz, através do processo de aprendizagem,

de ter competências, conhecimentos e atitudes relacionadas ao consumo. Sendo

que, as suas possibilidades de consumo variam de acordo com as suas fases de

idade. À medida que elas vão crescendo, as suas aptidões cognitivas e os seus

recursos financeiros também crescem, assim também ocorre coma esfera de

consumo da criança que aumenta com a idade.

Solomon (2002) esclarece que a maturidade para tomar decisões sobre o

consumo aumenta conforme a idade da criança. Porém, mesmo quando já realizam

compras independentes, as suas decisões sobre o consumo podem não ser

consideradas maduras. Por que, as decisões podem ser influenciadas pela

publicidade na televisão e também em outros meios de comunicação, mesmo que a

criança já consiga distinguir as mensagens persuasivas das informativas.

Para Gade (1998), a criança é alvo de diversos apelos publicitários, não

somente para que ela consumir, mas também para promover o consumo. A criança

pode tanto influenciar o consumo de seus pais, como o de seu grupo social. Alguns

produtos para o público adulto têm sua comunicação alguns elementos focados nas

crianças, como brindes e personagens que são oferecidos como atrativos para elas.

Como vimos, ela aprende as necessidades básicas de consumo com seus pais,

porém o significado simbólico dos bens que está consumindo, aprende com seus

amigos, grupo social e com a publicidade.

A classe social, segundo Gunter e Furnhan (2001), é um fator determinante

durante o processo de socialização do consumidor. As crianças e adolescentes de

36

classe média tem uma menor independência do que os jovens da classe alta, pois

os pais de classe média tendem a supervisionar mais as compras seus filhos. As

crianças das classes trabalhadoras têm acesso mais fácil ao dinheiro, como

explicam os autores, pois elas têm maiores responsabilidades com o dinheiro, como

a de fazerem pequenas compras no lugar de seus pais.

As crianças da classe trabalhadora se tornam mais experientes em relação ao

consumo e ao preço dos bens. Porém, o consumo entre as classes sociais é

diferente, as crianças de classe média e alta possuem poder aquisitivo maior do que

as da classe trabalhadora. As crianças que possuem mais opções de escolha, que

possuem mais dinheiro, criam preferências por determinadas marcas mais cedo,

apesar das crianças com menor poder aquisitivo lidar melhor com o dinheiro.

A publicidade e a mídia podem oferecer para crianças, produtos e marcas,

que devido a sua classe social sejam difíceis de atingir. A criança muitas vezes não

está apta a compreender a situação econômica da família, e veem os pais como

vilões por não lhe darem o que deseja.

A independência financeira geralmente é combinada com o aumento da

liberdade de consumo, onde as duas se desenvolvem praticamente no mesmo ritmo.

Para Gunter e Furnhan (2001), a publicidade através da televisão e outros

pontos de contato, podem despertar nas crianças desejos, e esses desejos podem a

vir se tornam exigências de consumo. Cabe aos pais, muitas vezes, decidir o que o

filho deve ou não consumir. Muitas vezes permitem a compra, mesmo sem aprovar o

produto ou marca, para não ter conflito com os filhos.

A origem do pedido da criança para os pais influência muito na resposta

positiva ou negativa dos pais, segundo Gunter e Furnhan (2001). Quando os pais

percebem que o pedido da criança não é influenciado pelos meios de comunicação,

respostas positivas são mais comuns. Por que quando as crianças decidem

sozinhas, sem a influência de publicidade e amigos, os pais ficam mais seguros em

relação ao pedido da criança.

Para compreender o consumo infantil, é necessário entender quais são os

fatores de maior influência para esse público. Segundo Gunter e Furnhan (2001),

assim como a publicidade, a opinião dos colegas, sobre marcas e produtos, é muito

importante na decisão de consumo das crianças. O que os colegas usam e dizem

sobre produtos e marcas geram os desejos e curiosidade nas crianças. A

publicidade pode ser um complemento à opinião dos colegas, ou também ao

37

contrário. Esses dois fatores podem estimular positivamente ou não a aquisição dos

produtos. Sendo que, para os autores, a influência dos colegas e amigos pode ser

muito mais importante do que a própria publicidade.

Os pedidos e desejos nas crianças passam por três estágios: afetivo,

cognitivo e conotativo. O estágio afetivo é responsável pelas atitudes, o conotativo

pelo comportamento. O estágio cognitivo muitas vezes aparece somente após a

compra, esse estágio é o conhecimento sobre aquilo que se adquiriu. Geralmente

esse estágio vem somente após a compra, nas crianças, pois primeiro ela deseja o

produto, adquire e somente depois analisa a sua utilidade. Por isso, é comum a

criança brincar poucas vezes com alguns brinquedos e esquecê-lo, pois após

análise, ela pode percebe que o brinquedo não tem graça e nem serventia para as

suas brincadeiras.

A publicidade e o marketing utilizam os sistemas sensórios dos consumidores

para se aproximarem ainda mais deles, segundo Solomon (2002) as imagens, sons,

odores, gestos e texturas são estímulos para aos consumidores, desse modo atrair a

sua atenção e facilitará a sua interpretação sobre o que está sendo oferecido e

assim adquirir um significado. A qualidade sensorial de um produto pode fazer com

que ele se sobressaia sobre os concorrentes. A visão é um dos principais elementos

utilizados para atrair a atenção das crianças, porém uma marca que qualifique os

outros elementos, como tato, olfato e audição pode se sobressair sobre os outros

produtos, que investem somente na visão.

3.1.1 As idades do consumo

O consumo das crianças pode ser analisado sobre as suas vivências

passadas e suas habilidades cognitivas. Para conseguirmos estudar melhor sobre

os processos de desenvolvimento do consumidor infantil, segmentaremos de acordo

com a sua faixa etária. Existem inúmeros estudos e delimitações de faixas etárias,

porém para esse trabalho segmentaremos os consumidores infantis da seguinte

maneira: de zero aos dois anos, dos três aos sete anos e dos oito até os doze anos.

Baseado no estudo desenvolvido por Acuff e Reinher (1997), que os dividiu

conforme as suas capacidades, gostos e hábitos de consumo.

38

3.1.1.1 Babies – 0 a 2 anos

Figura 4 - Criança de zero a dois anos

Fonte: http://www.mundodastribos.com/os-bebes-mais-fofos-do-mundo.html; acesso

em 05 de maio de 2014

Os primeiros anos de vida após o nascimento de uma criança são os mais

ricos e significativos para a sua aprendizagem e desenvolvimento. O bebê tem seus

primeiros contatos físicos e emocionais, onde tudo é novo e está em pleno

desenvolvimento. Durante os primeiros anos de vida, a criança é totalmente

dependente afetivamente e fisiologicamente de seus pais. As experiências de afeto

e amor acontecem com seu pai, familiares, amigos íntimos, porém principalmente

com a sua mãe por causa da amamentação.

Segundo Acuff e Reinher (1997), a criança do nascimento até o final do seu

segundo ano de vida explora o mundo a sua volta. Sendo anos onde a criança fica

muito atenta a tudo e a todos que estão em sua volta, explorando o mundo

primeiramente com seus olhos e depois com as mãos. Agarrando e apertando tudo

que conseguir alcançar.

39

Para os autores as crianças desenvolvem nos seus primeiros anos de vida, o

senso de segurança emocional através das relações com seus pais e familiares. E

também primeiras experiências básicas, com as palavras e a linguagem, que serão

potencializadas no futuro.

Para Acuff e Reinher (1997), as crianças com cerca 18 meses já prestam

atenção por curtos períodos de tempo na televisão. E isso já influencia no seu

desenvolvimento. A partir dos dois anos, ela já tem capacidade de prestar atenção

por longos períodos de tempo, em filmes e programas da televisão. Sendo assim,

desde muito cedo elas já tem potencial de serem alvos da comunicação e

publicidade.

Piaget (1987) explica que os dois primeiros anos de vida são fundamentais,

pois é nesse período que a criança desenvolve um conjunto de estruturas cognitivas

através de suas experiências diárias. A partir do desenvolvimento dessas estruturas,

se desenvolverão as futuras relações afetivas e fazem parte importante no processo

decisório do consumo.

A inteligência na criança também sure nessa etapa da vida, segundo Piaget

(1987). A criança antes dos dois anos de vida já demonstram ter hábitos próprios,

onde a inteligência da criança pode ser notada em suas ações. A inteligência nessa

fase é perceptível através da criação de imagens mentais e a significação para

objetos e acontecimentos a sua volta. Essas imagens mentais ou imitações se

manifestam na criança geralmente quando ela reconhece algum animal ou objeto e

passa a reproduzi-lo. Seja nos desenhos ou imitando mesmo quando o objeto ou

animal não está perto da criança.

As crianças dessa faixa etária são atraídas por objetos e produtos coloridos,

além se serem fascinados por animais de todos os tipos. Acuff e Reinher (1997)

explicam que os animais, sejam personagens ou de verdade, representam a

segurança e carinho nessa fase. As características principais desses animais são as

formas arredondas e curvilíneas, além de uma cabeça desproporcionalmente maior

que o corpo, que são identificados por elas como os personagens bons e carinhosos.

As crianças se tornam consumidoras muito antes de nascerem, onde seus

pais desejam e planejam tudo muito antes dela vir ao mundo. Comprando roupas,

berços, carrinho, fraldas e muitas outras coisas consideradas necessárias até o

nascimento. Após o nascimento o consumo aumenta, novas roupas, acessórios e

brinquedos são adquiridos pelos pais, já que desenvolvimento dessa fase ocorre

40

muito rápido. Além disso, os pais compram alimentos e brinquedos que ajudem e

incentivem o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo.

A criança observa os hábitos de consumo de seus pais desde muito cedo,

pois os acompanha nas compras. Para Solomon (2002), a criança até os três anos

de idade fazem parte do consumo através dos seus pais, observando e fazendo

pedidos com cerca de dois anos de idade. Aos três elas já começam a fazer

compras com o auxílio e permissão de seus pais, de produtos que lhe dizem

respeito diretamente como alimentos, roupas e brinquedos.

3.1.1.2 Kids – 3 a 7 anos

Figura 5 - Criança de três a sete anos

Fonte: http://minutocrianca.com/tag/lazer/; acesso em 05 de maio de

2014

Apesar das habilidades, percepções e comportamento de uma criança de três

anos, ser diferente de uma de sete anos, o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo

estão em um estágio semelhante, por isso que foram agrupados juntos nesse

segundo grupo.

Para os autores Acuff e Reinher (1997), essa faixa etária é com mais fantasia

e mágica, pois nessa fase a imaginação está em pleno desenvolvimento. As

crianças passam horas e horas brincando de construir castelos e fortes, de polícia e

ladrão, se fantasiando de personagens. Até os sete anos de idade muitas crianças

41

ainda acreditam em Papai-Noel, sendo a diversão e os jogos a principal

preocupação dessas crianças.

Segundo Karsaklian (2000), é a partir dos quatro anos que as crianças

começam a manifestar as preferências por determinadas marcas e produtos. Como

ainda são fortemente ligadas às mães, nesse período ela tem papel fundamental na

escolhe de compra dessas crianças. As crianças dessa idade estão desenvolvendo

as suas habilidades cognitivas e de percepção. Sendo assim, elas não prestam

muito atenção no que lhe dito e em coisas lógicas, compreendendo melhor no que é

visual. E é por isso, que a comunicação voltada para crianças dessas faixas etárias

tem muita cor e atrativos visuais para prender a atenção e conseguir seu interesse.

Conforme as crianças crescem novos interesses passam a surgir. Nessa fase

as crianças querer acumular objetos, não tendo uma lógica e nem se prendendo a

detalhes. Quanto mais objetos eles conseguirem acumular melhor. Como Acuff e

Reinher (1997, p.72) explicam, as crianças nessa fase querem um “monte de coisas”,

sem se importar com os detalhes do que estão guardando, já que elas ainda não

fazem distinções e discriminações dos objetos.

É a dos sete anos, que os jovens consumidores começam a distinguir o

programa da publicidade que assiste na televisão, segundo Karsaklian (2000).

Porém apesar de identificar, elas consideram que a publicidade tem apenas caráter

informativo e que não a está persuadindo a comprar determinado produto ou marca.

Os pedidos nessa fase ainda estão ligados os produtos que lhe dizem a

respeito diretamente. Para Solomon (2002), no início dessa fase aos três anos de

idade a criança ainda não consegue fazer suas compras independentemente, porém

elas já solicitam e selecionam quais produtos querem consumir. Quando a criança

se aproxima dos cinco anos, as compras com o auxílio dos pais se tornam mais

frequentes. E ao chegar ao final dos sete anos, a criança já possui independência

para comprar e fazendo suas próprias compras, sem supervisão dos pais. Porém,

essas são idades médias, que podem variar dependendo da classe social e do

controle de seus pais sobre o consumo.

Nessa idade onde tudo é mágico e fantástico, a imaginação da criança

precisa ser incentivada com brincadeiras, histórias e programas que explore o seu

lado lúdico. Os filmes, desenhos e brinquedos em que há magia e transformações,

segundo Acuff e Reinher (1997), atraem as crianças. Pois o sistema cognitivo delas

ainda está em desenvolvimento, e elas ainda não conseguem delimitar claramente o

42

começo, meio e o fim das coisas. Deste modo, tudo que se transforma se torna mais

fantástico, como um carrinho que vira robô e uma boneca que pode virar sereia. Pois

a criança não está vendo as partes do processo, e sim um todo.

Nos filmes, desenhos, jogos eletrônicos e também na publicidade, os efeitos

especiais e os recursos tecnológicos chamam atenção e impactam a criança, pelo

mesmo motivo das transformações, parecem ser feitas como mágica e as

surpreendem nessa fase da vida.

As crianças, de três aos sete anos, se inspiram no comportamento de

personagens que admiram. Os meninos se identificam mais com os heróis e adultos,

quando ele interpreta um herói ele se imagina com poderes e força fantásticos,

podendo exercer o mesmo poder que seus pais e adultos detêm sobre ele mesmo

que é pequeno num mundo de gigantes. As meninas, pelo contrário, se identificam

com seres delicados e femininos, onde o aspecto emocional é mais forte. Suas

principais brincadeiras são cuidar e adotar bonecas, animais e objetos com

qualidades e características humanas, pois ela se vê como quem está sendo

cuidado, se identifica com ele.

A publicidade estimula o imaginário já existente de uma criança nessa idade.

Através de produtos e comunicação atrativos, que transmitem à criança a conquista

de seus desejos. Acuff e Reinher (1997) ressaltam que o mais importante durante

essa fase da vida é amor, segurança e autonomia. Essa autonomia se percebe

claramente no consumo da próxima fase, dos oito aos doze anos, onde as crianças

são muito mais independentes e têm a sua opinião própria defendida.

3.1.1.3 Tweens – 8 aos 12 anos

Figura 6 - Criança de oito a doze anos

Fonte: Montagem de acervo pessoal

43

As crianças entre oito e doze anos estão em fase de transição, entre a

infância e a adolescência. Sendo definidas Acuff e Reinher (1997) como pré-

adolescentes. Nessa fase, a parte social da criança fica mais evidenciada, onde a

opinião dos colegas e amigos influência muito em suas decisões. Entre os oito e

nove anos a criança passa por grandes mudanças, elas entram no estágio

denominado pelos autores como de “Rule/Role”, que traduzido para o português

significa Regra/Função. Nessa fase ela começa a compreender os papéis da

sociedade, principalmente o seu papel, e as regras para convívio social. Ela começa

a ter maior discernimento do que é certo e do que é errado.

A criança aqui também já não está mais tão interessada em mágica e fantasia,

o seu pensamento cognitivo já está mais desenvolvido e assim ela começa a se

interessar pelo que é mais lógico.

Para Karsaklian (2000), a criança já influencia muito o consumo da família

desde o seu nascimento, porém nessa fase há ampliação dos seus centros de

interesses e também na sua influência. A partir dessa idade ela começa influenciar

nas compras maiores da família, como a troca de automóvel, as férias e as

aquisições de equipamentos eletrônicos para a casa.

O interesse por produtos adultos também surgem nessa fase, pois como já

dissemos é uma fase de transição. Maquiagens, perfumes, roupas, celulares e

outros objetos passam a ser de interesse desses jovens consumidores.

A partir dos oito anos as crianças conseguem diferenciar claramente a

publicidade dos programas de televisão. Segundo Karsaklian (2000), além de

identificar os comerciais elas fazem análises e conseguem compreender que a

publicidade vai além de informar, mas que tenta persuadir o consumo de

determinado produto ou marca.

Alguns hábitos desaparecem e outros surgem quando a criança entra nessa

fase, como por exemplo, em vez de amontoar objetos passam a colecioná-los de

acordo com as características dos objetos. Podendo ser bonecas, carrinhos,

figurinhas entre outros objetos, porém eles têm que possuir características em

comum para serem de interesse da criança.

Os hábitos de consumo começam a aparecer mais claramente, assim como

as suas preferências de marcas e produtos. Apesar de serem mais críticas sobre a

influência da publicidade, como explica segundo Karsaklian (2000), quando as

44

crianças são expostas a comercias de determinadas marcas a probabilidade de ela

vir a consumir determinada marca aumenta. Mas só a publicidade não é suficiente

para fazer surgir o desejo nesses consumidores, assim como na fase anterior, eles

precisam investigar se o produto ou marca realmente é bom, com seus pais e seu

grupo social, os colegas.

Nesse novo universo a criança já ocupa os cinco papéis possíveis do

consumidor, que são: usuário, iniciador, influenciador, decisor e comprador. Sendo

que os papéis de decisor e comprador só entram nessa última etapa do

desenvolvimento. Quando se cria uma maior noção do valor do dinheiro e de

tomadas de decisões, ela já sabe andar sozinho na comunidade em que vive e

manter comunicação e relacionamento com outras pessoas, como vendedores e

balconistas.

3.1.2 Meninos e meninas e as diferenças de consumo

Conforme esses jovens consumidores vão crescendo, as maneiras e

preferências de consumo vão se tornando cada vez mais distintas de acordo com o

sexo da criança. Por volta dos sete anos, segundo Gunter e Furnhan (2001), ficam

mais independentes de seus pais nas compras e começam a ser influenciados pelos

seus grupos sociais. As meninas se interessam por itens e produtos para manter a

aparência, como roupas e cuidados de saúde e beleza, valorizando as relações

familiares e pessoais. Já os meninos almejam mais o desempenho e

engrandecimento pessoal em suas compras.

A consumidora menina, por volta dos dez anos se torna ainda mais

interessada, tranquila e com opinião própria. Para Karsaklian (2000), ela tem

interesse em consumir o que há de novo e ir a lojas para experimentar quantos

produtos forem possíveis. Com autoestima alta ela tende a consumir produtos de

beleza, bijuterias, sapatos da moda, produtos que a valorizem perante as suas

colegas e grupo social. A menina continua valorizando muito a sua família, mesmo

se sentindo incompreendida por ela, segundo a autora.

Já o menino consumidor, não gosta de se submeter às regras que lhe são

impostas, sendo rebelde e provocando os outros. Ele é resistente as regras da

escola e de seus pais, pois regras lhe impõe limites. Eles buscam consumir produtos

45

que simbolizem a força, o poder e o dinheiro, se importando muito com que os

amigos pensam.

Segundo Solomon (2002), as indústrias de brinquedos separam e diferenciam

os seus brinquedos, entre masculinos e femininos, desde o início da vida da criança,

primeiramente pelas cores e depois pelas funções. Brincadeiras com caminhões,

carrinhos, bonecos de guerra são caracterizados como masculinas, as brincadeiras

que envolvem cozinhar, limpas, cuidar de bonecas como femininas. Na publicidade a

diferença também fica evidente, através dos personagens, textos e tom emocional.

Os meninos se interessam por batalhas e competições e as meninas têm interesse

em criatividade e relacionamentos, e isso fica claro na comunicação das marcas

também.

Para Levin e Kilbourne (2009), os brinquedos que as meninas consomem

estão cada vez mais voltados para a moda e a aparência, e os meninos estão

consumindo cada vez mais brinquedos ligados à violência. Os brinquedos de menino

sempre representam a força, resistência e conforme crescem os brinquedos são

substituídos por jogos de videogame ou computador, que representem isso também.

3.2 CONSUMIDORA INFANTIL: AS MARCAS E A COMUNICAÇÃO

A consumidora infantil, como vimos, tem seus próprios meios e hábitos de

consumo. Ela é uma consumidora curiosa e atenta as novidades, sempre buscando

o que há de bom e novo. A moda, também é um dos grandes interesses dessa

consumidora. A menina busca inspiração em garotas mais velhas e também

personagens que consideram inspiradoras. Imitando e ajustando os seus padrões

para a realidade que vive.

A menina busca consumir aquilo que lhe dá status perante o seu grupo social

e alimenta a sua autoestima. Seguindo tendências de moda e comportamento. A

menina dessa idade muda as suas preferências com muita rapidez, num dia ela

pode querer algo e no outro já ter mudado de ideia. Outro aspecto da menina atual é

a precocidade da consumidora, consumindo produtos que muitas vezes são

destinadas as meninas e mulheres mais velhas. A consumidora jovem não se atrai

pela publicidade que considera muito infantil. Como já vimos também, a

comunicação voltada para essas deve atrair as jovens consumidoras chamando a

atenção delas.

46

Essa geração de meninas está exposta a mais informação do que qualquer

outra geração. Elas são impactadas através de muitos meios e horários, que

antigamente se restringia apenas aos horários dos desenhos animados de sábado

de manhã, segundo Sabino (apud Voigt, 2007).

A comunicação dirigida às crianças está por toda parte, como complementa

Levin e Kilbourne (2009), a menina consumidora desde a hora que acorda até a hora

que vai dormir recebe informações de marcas o tempo todo por diversos meios.

Segundo os autores, elas estão expostas a cerca de 40 mil anúncios por ano através

da televisão. Nos outros meios, como a internet elas encontram também muita

publicidade e informação sobre os produtos.

A consumidora infantil começa desde muito novo a ser alvo de marcas, em

curto e longo prazo, pensando em fidelizar a consumidora para ela continuar a

consumir a marca até em sua vida adulta. O sucesso da marca em âmbito global,

segundo Aaker e Joachimsthaler (2000), é resultado de uma construção em longo

prazo, e reforços constantes durante os anos, onde uma marca mais forte resulta um

crescimento maior em longo prazo.

A comunicação e os produtos são diferenciados para as meninas

consumidoras. As cores, personagens, texto e tom emocional estão voltados para

alcançar essa consumidora, que gosta de novidade e também é muito crítica com a

publicidade. Deste modo à publicidade para essas consumidoras precisam ter o

papel de entreter e inspirar as jovens consumidoras.

A publicidade continua sendo o instrumento mais poderoso que o mundo dos

negócios, para Randozza (1997), possuindo o papel de criar e manter marcas.

Mesmo após tanto tempo, a afirmação do autor continua sendo atual, pois a

publicidade ainda tem um papel fundamental na criação da mitologia da marca e

sem ela não seria possível à criação de marcas fortes e duradouras.

Para Acuff e Reinher (1997), para obter o sucesso na comunicação voltada às

meninas consumidoras é preciso levar em conta a sua faixa etária, as suas

motivações. Segundo os autores, para que a comunicação seja eficaz é necessário

que haja uma estimulação rápida da criança, e que a publicidade seja um pouco

realista, com humor abstrato, e com modelos heroicos.

Uma comunicação realmente efetiva faz com que a jovem consumidora passe

por sete degraus, definidos por Acuff e Reinher (1997). Quando a consumidora

passa por todos os degraus pode-se considerar que a comunicação foi eficaz para o

47

público-alvo. Os sete degraus são: conseguir conquistar a atenção; fazê-la

compreender e envolver-se com a mensagem; criar interesse de compra; comprar;

obter satisfação com a compra; voltar a comprar e recomendar a marca. Quando a

consumidora infantil não completar todos os degraus a comunicação não será

totalmente eficiente, ou por causa do produto, ou por qualquer experiência negativa

durante o processo.

Uma marca não é somente um produto, a marca é uma entidade física e ao

mesmo tempo de percepção, explica Randazzo (1997). O aspecto físico de uma

marca, o seu produto, embalagem é na maioria das vezes estático e finito, porém a

presença da marca na mente do consumidor é algo dinâmico e maleável. A marca,

enquanto conteúdo psíquico existe dentro da mente do consumidor, e esse conteúdo

é moldado e acessado através da publicidade da marca, e a maneira como ela se

posiciona.

Uma marca pode ser representada através de um conjunto de imagens,

símbolos e sensações, denominado de mitologia. A mitologia de uma marca, para

Randazzo (1997), é tudo aquilo que uma marca representa na mente do consumidor,

podendo ser através da criação de atrativos e personagens, que com a publicidade

ficam atrelados a uma marca. Segundo o autor, a publicidade através da criação da

mitologia da marca, posiciona a marca no mercado e na mente do consumidor.

Criando a sua personalidade e a imagem, os vínculos emocionais entre o

consumidor e a marca, e comunicando os atributos e benefícios.

Outro aspecto importante na relação com a consumidora, é a conquista da

confiança, assumindo a preferência da menina e influenciando na escolha. Uma

marca, para ser amada precisa ser uma fonte de inspiração. Precisa transmitir nos

produtos e na comunicação a personalidade da marca, se diferenciando e

destacando das outras. Mostrar as experiências sensórias que vão além dos seus

benefícios funcionais, e manter-se presente na vida dessa consumidora. A jovem

consumidora não busca uma marca que apenas fale com ela, sem escutá-la. Ela

quer participar e estar associadas às decisões tomadas pelas marcas. Decisões que

reconheçam as suas necessidades e suas preferências.

Para evitar a guerra pelos preços baixos é necessário que a marca

desenvolva os elementos emocionais. Vendendo não somente um produto, mas sim

todo um pacote emocional, que aproximará o consumidor da marca. Sendo assim, “a

Marca Emocional é o meio pelo qual as pessoas se conectam subliminarmente com

48

as empresas e seus produtos de forma profundamente emocional” (Gobé, 2002,

p.32).

Para Gobé (2002), o desenvolvimento da emoção certa é o investimento de

maior importância a ser realizado por uma marca, é isso é possível somente através

de parceria e comunicação. Existem alguns fatores fundamentais para a criação de

marcas emocionais poderosas, que vai além de suprir uma necessidade, mas fazer

que a consumidora tenha uma experiência positiva com o produto. Quando o

produto supre os seus desejos através da aquisição, o produto ficará na memória

emocional do consumidor. Não importando se ele é novo ou velho, se o produto

continua em sua memória emocional ele é importante.

Para saber se uma marca é forte, é necessário analisar quatro dimensões,

que são: conscientização da marca; a qualidade percebida; associações da marca; e

fidelidade à marca. Para os autores Aaker e Joachimsthaler (2000), para a marca se

perpetuar na mente da consumidora é necessário que, além dos benefícios

funcionais, ocorra também os benefícios emocionais e de autoexpressão.

Os benefícios funcionais são os que se esperam da finalidade do produto ou

serviço, os benefícios emocionais são quando a marca consegue fazer com que o

comprador sinta alguma coisa a mais na compra e uso da marca. Sensações

positivas que agreguem para a marca valores e sentimentos pessoais na hora da

compra, deste modo acrescentam riqueza e profundidade à experiência de possuir e

usar a marca. O benefício de autoexpressão é quando através do uso da marca a

consumidora consegue transmitir a sua própria autoimagem ou como que ela queira

se representar.

Cada marca possui a sua própria identidade e personalidade, segundo Aaker

(2001), a identidade proporciona um sentido, finalidade e significado para a marca.

A identidade de uma marca é um conjunto exclusivo de associações com que a marca que o estrategista de marcas ambiciona criar ou manter. Essas associações representam aquilo que a marca pretende realizar e implicam uma promessa aos clientes, feita pelos membros da organização (Aaker, 2001, p.80).

Sendo assim, essa identidade a ajuda a estabelecer um relacionamento com

o cliente, mostrando quais serão os benefícios funcionais, emocionais ou de

autoexpressão desse relacionamento.

49

A personalidade da marca pode ser definida, segundo (Aaker 2001), como um

conjunto de características humanas que são associadas a uma determinada marca.

Podendo incluir características como gênero, idade e classe econômica, além de

traços afetivos da personalidade humana. O fato de uma marca com uma

personalidade bem definida, e com características voltadas para seu público-alvo faz

com que ela torne a sua comunicação e relacionamento com o consumidor mais

eficaz. O posicionamento da marca estiver correto, ela consegue atingir seu público,

que muitas vezes se refere a ela como uma pessoa. Principalmente quando os seus

produtos estão relacionados a produtos significativos para o consumidor.

Outro fator influente na comunicação voltada para as crianças, segundo

Lawrence (apud Voigt 2007) é a promoção. Quando com a compra de um produto

ela ganha algum tipo de brinde ou presente, influencia muito na decisão de consumo

do produto, mesmo que o determinado produto não seja para ela. As consumidoras

infantis costumam pagar até a mais por um produto que tenha uma recompensa

surpreendente.

Para atrair a consumidora é necessário que a comunicação seja muito mais

visual do que verbal e textual. Levin e Kilbourne (2009) descrevem que os

corredores dos mercados, lojas que são praticamente todos cor-de-rosa e em tons

pastel estão cheios de brinquedos para as meninas. A maioria desses brinquedos e

sua comunicação valorizam e enfatizada a aparência, a moda e a sensualidade das

meninas. Segundo os autores, a imagem estereotipada feminina, que anteriormente

era usada somente para atingir meninas mais velhas, está cada vez mais sendo

voltadas as meninas mais novas. Influenciando seus hábitos de consumo de roupas,

maquiagem e outros produtos de beleza cada vez mais precoce.

Segundo Scodro (2009), o material de ponto de venda, chamados aqui

também de MPV, consegue atingir a jovem consumidora diretamente no momento

em que ela está consumindo. Um dos grandes fatores do sucesso desses MPVs

com as meninas consumidoras é que ele consegue mexer com os cinco sentidos

das crianças. A audição, olfato, paladar, tato e visão são explorados por esses

materiais, estimulando a compra por impulso. Podendo até dobrar a chance de

compra, se comparado com a propaganda sozinha, segundo a autora.

“A embalagem é um comercial de trinta segundos”, ela deve funcionar no

momento em que a consumidora a veja, atraindo a sua atenção ou estabelecendo

familiaridade (GOBÉ, 2002, p.256). Precisa ser uma mensagem instantânea e direta,

50

que consiga impactar a consumidora e fazer com que ela se conecte

emocionalmente para que possa ser apreciada, mostrando com clareza a definição

do produto. Como ferramenta final da comunicação, a embalagem precisa se

destacar nas prateleiras cheias das lojas, proporcionado para as jovens

consumidoras experiências de descoberta durante e depois da compra. A

embalagem pode influenciar muito na hora da escolha e precisa estar alinhada com

o resto da comunicação da marca, já que reforça a imagem da marca pelo

consumidor.

Atualmente é comum ligar determinados produtos a programas de televisão,

celebridades e personagens. Essa estratégia serve para aumentar a identificação

com a criança, fazendo-a consumir aquele produto. Isso ocorre principalmente no

produto e na comunicação, embalagem, material de ponto de venda. É comum

também o uso dos personagens ou programas infantis para anunciar os produtos,

como veremos a seguir.

3.3 A MENINA CONSUMIDORA: PRODUTOS LICENCIADOS E PERSONAGENS

O uso de marcas licenciadas é um grande atrativo para outras marcas e

licenças. Os personagens conseguem transmitir os atributos de um marca e fazer

com que as consumidoras tenham mais familiaridade com os produtos. Muitas

personagens de licenças são utilizadas para se aproximar da consumidora infantil. A

consumidora infantil é atraída pelas personagens que representam a feminilidade,

romantismo, beleza, os atributos que busca para si mesma. As crianças de três a

oito anos de idade, como estudamos, são as que gostam e consomem as

personagens.

O uso de marcas licenciadas para se aproximar das consumidoras surgiu

ainda no século XIX e continua até os dias atuais. O primeiro registro de licença de

personagens foi com as marionetes inglesas, Punch e Judy, que eram muito

populares em 1880, segundo Diesendruck (2000). A partir do licenciamento dos

bonecos muitos produtos surgiram a partir da imagem dos bonecos.

51

Figura 7 - Bonecos Punch e Judy, 1880

Fonte: http://babylonbaroque.wordpress.com/2010/08/16/the-punch-

judy-show-the-original-slapstick/; acesso em 25 de abril de 2014.

Em 1903, segundo o autor, surgiram também produtos e brinquedos

baseados no coelho Petter Rabbit da escritora Beatrix Potter. Após isso muitos

produtos licenciados surgiram voltados para o público infantil, mas também para o

adulto. Muitos outros produtos começaram a aparecer utilizando a imagem de

personagens que eram famosos no momento, e quando mudavam os personagens

mudavam as imagens dos produtos. Como foi o caso, Charlie Chaplin, em 1910 que

virando um boneco que levava a sua caricatura singular, segundo Diesendruck

(2000).

A partir disso a fotografia e o cinema também renderam diversos produtos

licenciados, porém a empresa que deu um grande impulso para o negócio de

licenciamento, de acordo Diesendruck (2000), foi a Walt Disney. Em 1930, a primeira

licença da Disney, os camundongos Mickey e Minnie, passaram a estampar diversos

52

produtos pelo mundo todo. Diversos bonecos e brinquedos surgiram do casal de

camundongos, embalando um importante segmento de mercado.

Porém o grande salto das licenças foi em 1937, novamente com o Walt

Disney. Nesse ano a empresa fez o lançamento do primeiro longa-metragem de

desenho animado: A Branca de Neve e os sete anões. A animação foi um grande

sucesso, estreando nos Estados Unidos e depois adaptada para o resto do mundo.

Após o lançamento do filme, segundo Gabler (2009), foram lançados 2.183 produtos

diferentes de Branca de Neve. Só de copos de refrigerantes da personagem mais de

16,5 milhões foram vendidos depois da estreia do filme, impulsionando e muito o

mercado de licenciamentos.

Figura 8: Branca de Neve e os sete anões

Fonte: http://freakpopfashion.wordpress.com/2012/06/13/branca-de-neve-e-

thor-apresentam-julia-roberts-em-espelho-bipolar/; Acesso em 25 de abril de

2014

Diesendruck (2000) explica que o licenciamento de uma marca serve para

mediar à relação entre o criador e o produtor. Onde o criador é proprietário da marca,

e o produtor possui o copyright, que significa o direito de copiar e reproduzir a marca.

O autor explica que o copyright estabelece quanto o produtor pode usar e se basear

nas obras precedentes, que são devidamente protegidas pelos direitos autorais. O

53

uso da licença serve para proteger a obra do criador e remunerar o criador pela sua

reprodução ou exploração por terceiros.

O licenciamento de personagens se tornou conhecido primeiramente nos

Estados Unidos e depois se espalhou pelo mundo. Incorporado pelas grandes

licenciadoras no segmento de produtos para o consumo, vão desde a promoção de

vendas, brindes, lojas exclusivas e uma infinidade de produtos. Os personagens

licenciados podem ser divididos, conforme Diesendruck (2000), em: Cartoons e

Comics. Os Cartuns são os personagens que são extraídos dos desenhos animados

e de filmes da indústria de entretenimento, como Mickey Mouse, Pato Donald e

Tartarugas Ninja.

Os Comics são personagens que apareceram primeiramente nos veículos

editorias impressos, como livros, revistas e tiras de jornais, e com o passar do tempo

esses personagens foram adaptados para cinema e televisão também, como

Garfield, Homem Aranha, Batman, Turma da Mônica e outros.

De acordo com a revista online Global Licence!1, a Disney atualmente é a

maior licenciadora global. Em 2012, as licenças da Disney movimentaram cerca de

39,2 bilhões de dólares, a frente de todas as outras licenciadoras. Em 2013, o

Prêmio Licensing Brasil2, que destaca as melhores licenças e licenciadas do Brasil

revelou que as marcas e/ou personagens mais amadas pelas meninas

consumidoras, as Princesas da Disney. Com destaque também para Monster High e

Galinha Pintadinha como melhores licenças para público infantil e pré-escolar.

Para os autores Bonfa e Rabelo (2009), os licenciamentos de personagens

são os mais lucrativos e estão constante crescimento no Brasil. Eles podem ser

aplicados em inúmeros produtos dependendo o seu público-alvo. Os personagens

também têm ciclos de vida e podem ser classificados da seguinte forma: os

clássicos, que são os que continuam tendo apelo de geração em geração; e os

sazonais ou modais, que são personagens que tem um grande sucesso por um

curto tempo, como personagens de um filme que será lançado e ficará por algum

tempo em alta.

O uso de personagens aumenta os efeitos da publicidade na consumidora

infantil, um produto com uma marca licenciada tem número de venda e lucro

1 Informações obtidas em: http://images2.advanstar.com/PixelMags/license-global/digitaledition/05-

2014_sp.html#2 2 Informações obtidas em: http://www.expolb.com.br/premio/premio-licensing-brasil-edicao-2013/

54

maiores do que as concorrentes, que não utilizam personagens. Os personagens

sazonais muitas vezes são usados para alavancar a venda em um determinado

momento, geralmente na estreia do filme ou desenho quando o apelo do

personagem está alta. Pratica comum do Mc Donalds, que já chegou a aumentar até

em 400% a venda de Mc Lanche Feliz, que vem com brindes geralmente de

personagens, segundo os autores Bonfa e Rabelo (2009).

O uso de personagem licenciados pelas marcas é um grande fator de

influência no consumo das meninas consumidoras, pois elas consumem produtos e

marcas que possuam uma relação de afinidade com elas. Por exemplo, se a menina

assiste e gosta os desenhos das Meninas Super Poderosas terá mais chances de

ela escolher um produto delas do que um da Monsters High e vice-versa. O

relacionamento que a menina tem com um personagem, pode ser o mesmo que com

uma marca que passa a fazer parte de seu cotidiano.

Montigneaux (apud Voigt, 2007) afirma que quando uma marca associa-se a

um personagem ela acaba se tornando mais acessível, compreensível e viva para a

criança. Usando o imaginário da criança a marca se torna cúmplice da consumidora,

atraindo a sua atenção. Os efeitos em curto prazo do uso de personagens, como

explica o autor, são: a facilidade de memorização e o reconhecimento da marca,

criando forte atração entre o produto e a criança e proporcionando mais credibilidade

à marca. Além de suscitar o interesse da criança, faz com que gere na menina

preferências de consumo, aumentando assim o volume de compra.

Há também os personagens próprios das marcas, que são criados para

representar os atributos e características do produto e da marca. O uso de

personagens não licenciados é comum em produtos voltados o público adulto, pois

as crianças podem influenciar a decisão de seus pais quando os produtos adultos

trazem personagens, principalmente, quando elas veem nos comercias e depois no

ponto de venda.

As principais vantagens de usar um personagem licenciado são de aumentar

rapidamente o valor percebido perante a consumidora e reforçá-lo perante a

concorrência, segundo Montigneaux (apud Voigt, 2007). Assegurando o

reconhecimento imediato, reforçando o posicionamento da marca e estimulando

compras por impulso já que o pode fornecer uma dimensão lúdica e afetiva para a

menina.

55

Como afirma Rabelo e Cardoso (2008), para um personagem fazer sucesso

entre as consumidoras é necessário que o personagem escolhido represente a

marca. Correspondendo a identidade, atributos e características que interessem a

consumidora, fazendo com que ela consiga se relacionar e criar vínculos emocionais.

É necessário também que a ambientação e o contexto onde a personagem está se

relacionem diretamente com seus aspectos físicos. Com seu desenho, traços,

roupas e cores que expressem seu estilo e personalidade, além dos atributos.

As meninas consumidoras, principalmente nas fases pré-escolar e escolar,

dos três aos oitos anos, se influenciam muito pelos personagens, dentre eles o que

elas mais demonstram interesse tanto nos personagens clássicos como as

princesas da Disney tradicionais, Bela, Aurora, Branca de Neve, e personagens

contemporâneos que foram incorporados por essa geração como as princesas Tiana,

Merida, entre outras. Sendo assim em nossa pesquisa abordaremos mais

profundamente sobre as princesas das Disney e seu uso pelas marcas para

conseguir alcançar as jovens consumidoras.

56

4 DISNEY

A empresa Walt Disney Company foi responsável pela popularização de

muitas histórias e contos que conhecemos. Seus filmes, desenhos animados, livros

estão presentes a gerações enchendo o mundo de magia e encantamento. Presente

no imaginário de todos, principalmente no imaginário das crianças, a Walt Disney

está sempre renovando as histórias, a fim de permanecer sempre na vida das

pessoas.

Como vimos nos capítulos anteriores, cada vez mais as marcas estão

empenhadas em conquistar as jovens consumidoras. É comum vermos as marcas

recorrem aos contos de fadas e seus personagens em sua comunicação com

objetivo de se aproximar dos mesmos. Nesse capítulo vamos estudar mais sobre o

universo de uma das maiores empresas de entretenimento do mundo, a Walt Disney

Company.

4.1 WALT DISNEY

A Walt Disney Company começou a esboçar seu surgimento em 1920,

quando Walt Disney, fundador da empresa entra para a função de cartunista na

empresa Kansas City Film. Disney observou e em pouco tempo aprendeu o que

precisava para começar a produzir seus próprios desenhos animados. Todas as

noites, após o trabalho, em seu estúdio improvisado na garagem da casa do seu

irmão Roy, ele e seu amigo Ub Iwerks criavam as suas próprias produções.

Como as animações de Walt Disney e Ub Iwerks não interessavam a Kansas

City Film, eles começaram a vender os seus desenhos por um valor baixo para o

cinema da cidade. Apesar de não ganharem quase nada com os seus desenhos,

Disney e UB não se importavam, pois o que eles queriam é estar produzindo e

exibindo os seus próprios desenhos, como explica Nader (2009).

Depois de dois anos produzindo seus desenhos animados depois de trabalho,

Disney e Ub lançaram Chapeuzinho Vermelho, a primeira animação que deu bons

retornos para a empresa. A partir desse sucesso, Walt Disney se sentiu seguro e

começou a trabalhar em tempo integral na produção de novas animações.

Em 1923 os negócios não estavam mais lucrativos para Disney, segundo

Krasniewicz (2010), e neste mesmo ano Walt Disney decidiu ir atrás do sonho

57

americano da época. Foi para Hollywood na Califórnia, que era considerada a capital

da imaginação, símbolo da audácia e liberdade. Pegou um trem levando consigo 40

dólares e novos rolos de uma animação chamada Alice, além dos sonhos, ideias e

planos que se tornariam realidade um dia.

Cansado dos fracassos do mundo da animação até então, Disney tentou

conseguir um emprego como diretor de filmes cômicos em Hollywood. Porém sem

nenhuma experiência não conseguiu nenhuma oportunidade na nova cidade. Sem

grandes expectativas de conseguir se tornar diretor e há dois meses desempregado,

sua grande chance foi quando sua antiga distribuidora de Nova York pediu mais

doze rolos do filme Alice.

Nader (2009) explica que a busca obsessiva de Disney pela perfeição em

todas as suas animações gastava grande parte do dinheiro que ganhava para

produzi-las. Apesar de não obter muito lucro, Walt Disney começou a se destacar

em Hollywood devido as suas animações de ótima qualidade. Como resultado do

grande sucesso das suas animações, Walt Disney assinou com grandes estúdios,

como a Universal Pictures. Da parceria com a Universal, novos personagens

surgiam a cada momento, entre eles o que mais fez sucesso foi Oswald, o coelho,

de 1926. Oswald rendia em média três rolos mensais para a empresa de Disney.

Figura 9 - Cena da animação do coelho Oswald

Fonte: Desenho animado Oswald The Luck Rabbit (Disney, 1927)

58

Os desenhos do coelho continuavam um sucesso e Walt Disney decidiu

renegociar com a Universal Pictures os valores dos rolos de filmes de Oswald, que já

não estavam trazendo tanto lucro para a empresa de Disney. Porém, o descuido

com a parte burocrática da empresa fez Disney ter assinado um contrato em que a

Universal tinha todos os direitos autorais dos personagens criados durante a

parceria. A Universal Pictures a fim de aumentar os lucros com os desenhos

animados resolveram dispensar Walt Disney e contratar todos os seus funcionários

pelo dobro de salário.

Amargurando mais essa decepção, perdia além do personagem que mais lhe

rendia rolos, todos os seus funcionários. Com a ajuda de Ub, os dois criaram e

executaram sozinhos as animações de um novo personagem, chamado Mickey, um

ratinho com a personalidade inspirada em Charles Chaplin, ídolo de Disney, em

1928.

O desenho de Mickey Mouse se tornou um sucesso no mundo todo, em

países como França, Rússia, México, Japão. O rosto do Mickey passou a estampar

milhares produtos como pulseiras, suéteres, lapiseiras, uma infinidade de produtos,

como explica Thomas (1966). Os rolos de Mickey continuaram a ser produzidos por

anos, após seu lançamento, com o próprio Walt Disney dando voz e vida ao ratinho.

Muitos outros desenhos animados surgiram depois, o império Disney

começou a se fortalecer com a criação de novos personagens e desenhos animados

como Pato Donald e os Três Porquinhos. Segundo Thomas (1966), a partir do

sucesso de Mickey o estúdio Disney já conseguia produzir animações e histórias

mais elaboradas, numa escala surpreendente. O personagem Pato Donald

transformou-se, assim como Mickey, em um dos maiores sensações da época no

mundo da animação.

Segundo o autor, Walt Disney sempre foi fascinado pela história da Branca de

Neve. Quando surgiu a ideia de criar animações mais longas, Branca de Neve foi

eleita por ele como a história perfeita, pois o seu enredo era completo, tinha

suspense, amor e comicidade. Era uma história aonde a princesa fugia de sua

madrasta, a grande vilã da história, e procurava refúgio com um grupo de anões.

Também havia o amor entre um príncipe e uma princesa, e o lado cômico ficava com

os anões. Os estúdios Walt Disney já tinham a capacidade de produzir animações

de sucesso e haviam encontrado a história perfeita para uma animação com longa

59

duração. E em 1934 os estúdios Disney começaram a produção do longa, com cerca

de 90 minutos, Branca de Neve e os sete anões.

A produção do filme esgotou o orçamento dos estúdios Disney, se mostrando

muito mais complexo do que se imaginava no princípio, necessitando pedir novos

empréstimos para continuar a produzir. Quando o primeiro longa-metragem

finalmente ficou pronto, em 1937, a animação foi lançada em um dos maiores

cinemas de Hollywood. Foi um imenso sucesso e a história tornou-se sensação pelo

país todo, todos falavam e cantavam as canções do filme. Foi um recorde de público

para a época e os rendimentos do filme foram responsáveis pela quitação das

dívidas da empresa e a construção de um moderno estúdio em Los Angeles.

Após o enorme sucesso de seu primeiro longa-metragem, Walt iniciou logo

em seguida a produção de, pelo menos, mais três desenhos. O primeiro foi Pinóquio,

história de boneco de madeira que se transformava em um menino de verdade,

seguido de Bambi, que contava a história da vida de um veado na floresta, do seu

nascimento até a adolescência. E Fantasia, que era a história de Mickey como

aprendiz de feiticeiro. Foram empregados mais milhões para a produção desses

filmes, porém nenhum deles fez tanto sucesso e nem rendeu tanto lucro quanto o

primeiro, Branca de Neve e os sete anões.

Durante a segunda Guerra Mundial, entre 1939 a 1945, os estúdios de Walt

Disney estavam novamente quase sem trabalho. A alternativa para sair da crise foi

começar a criar e produzir filmes conforme a solicitação do governo. De acordo com

Thomas (1966), os filmes criados por eles na época buscavam o apoio aos Estados

Unidos na Guerra, por parte de outros países. A criação do personagem Zé Carioca,

brasileiro que fazia amizade com o americano Pato Donald buscava no Brasil um

aliado.

60

Figura 10 - Pato Donald e Zé

Fonte: Desenho Pato Donald em Aquarela do Brasil (Disney, 1942)

Além dos filmes de animação voltados à busca de aliados, foram criados

filmes e animações com fins propagandísticos, mostrando, de forma implícita, o

discurso norte-americano sobre a Guerra. Esse material também incentivava o

pagamento de impostos no período. Muitos filmes com esse propósito utilizaram o

personagem Pato Donald, por ele ser muito popular, até em sátiras criticando o

regime nazista alemão de Hitler.

Figura 11 - Pato Donald na Segunda Guerra

Fonte: Desenho animado Pato Donald in Der Fuehrer's Face (Disney, 1942)

61

Como explica Moya (1996), os filmes produzidos para o governo na época,

sejam de propaganda, documentários ou educativos, ajudaram os estúdios Disney a

saírem da crise em que estavam. Após a guerra e quatro anos sem lançar nenhum

projeto, os estúdios Disney investiram mais uma vez em uma animação de longa-

metragem, contrariando os péssimos resultados obtidos nas últimas tentativas.

Sendo assim, em 1950 o estúdio lança Cinderela, outra animação baseada

num conto de fadas, com enredo clássico e com a presença de todos os elementos

que precisava para agradar o público, na opinião de Disney. O filme foi um sucesso

e em seguida lançaram mais dois, Peter Pan e A dama e o Vagabundo, que também

foram grandes sucessos.

Walt Disney, que sempre queria ir mais longe, decidiu começar a produzir,

além das suas animações, filmes com atores reais e documentários sobre a

natureza. O grande sonho de Walt Disney, como explica Nader (2009), era levar a

magia para todos os lugares, através dos seus filmes, desenhos animados e

posteriormente com construção a Disneylândia. Inaugurado em 1955, o grande

parque de diversos, no primeiro ano de funcionamento atraiu 3,6 milhões de

visitantes, quase metade dos turistas que visitaram o sul da Califórnia visitaram o

parque, de acordo com Gabler (2009).

Planejado e construído por Walt Disney, a Disneylândia era mais do que um

parque ou uma experiência, segundo Gabler (2009), era um repositório dos valores

de Walt Disney. Ao formular o parque com uma rua principal que começava na

entrada e levava até o castelo da Bela Adormecida, cercado por terras como a Terra

da Fantasia, Terra da Aventura, Terra da Fronteira e Terra do Amanhã, Disney

recriava a jornada de sua vida, como explica a autora.

62

Figura 12 - Castelo de Bela Adormecia na Disneylândia

Fonte: http://capricho.abril.com.br/diversao/viagem-sonhos-disney-california-

682011.shtml; acesso em 04 de junho de 2014.

Devido o grande sucesso da Disneylândia, Disney começou o planejamento

de outro parque complementar, em Orlando. Walt Disney World Resort foi

inaugurado em 1971, cinco anos após a morte de Walt Disney. O novo parque

apesar de semelhante ao primeiro, conta com um espaço mais amplo e mais

atrações, aonde o castelo principal do parque é o de princesa Cinderela.

Figura 13 - Castelo de Cinderela no Parque Walt Disney World Resort

Fonte: http://pacotes-viagens.com/pacotes-walt-disney-world-disneyland-

resort-parques-2013-2014; acesso em 04 de junho de 2014.

63

A Walt Disney Company se tornou um grande nome no mundo do

entretenimento, sendo proprietária de outras franquias que surgiram através das

suas criações, como é o caso da marca Disney Princesas. A marca é fruto das

animações da Disney que contam histórias sobre princesas que encantam as

meninas e atravessam gerações. Composta por onze personagens femininas dos

filmes produzidos pelos estúdios Walt Disney. Todas as onzes personagens são

consideradas princesas por serem filhas da realeza, ou pelo casamento, ou devido

aos seus atos heroicos.

Desde 2000, quando a marca foi criada, a sua formação não é a mesma.

Desde o seu surgimento, que devido aos lançamentos de novos filmes algumas

princesas foram incluídas e outras deixaram de fazer parte da marca. Atualmente a

marca é formada pelas princesas: Branca de Neve; Cinderela; Aurora; Pequena

Sereia; A Bela; Jasmine; Pocahontas; Tiana; Rapunzel e Merida.

Figura 14 - As princesas da marca Disney Princesas (2014)

Fonte: http://www.deviantart.com/morelikethis/412795273; acesso em 21 de junho de 2014.

4.2 O UNIVERSO DAS PRINCESAS DISNEY

Nas histórias da Disney há diversos modelos de personagens diferentes,

porém alguns deles sempre se destacam como é o caso das princesas. Elas são

representadas nas histórias da Disney como jovens bonitas, que geralmente

encontram no casamento a felicidade eterna. Porém essas princesas surgiram muito

antes dos filmes da Disney, desde os primórdios suas histórias eram transmitidas

64

através da oralidade, de geração em geração. Posteriormente as histórias

eternizadas nos livros de contos de fadas por diversos escritores.

Essas histórias foram adaptadas pela Disney para virarem filmes de acordo

com a época em que foram lançadas, muitas das histórias originais eram macabras

e cruéis, não tendo um final feliz. O papel da mulher, assim como as princesas,

mudou com o tempo. Quando as primeiras histórias de princesas da Disney surgiram,

as mulheres eram obedientes aos desejos de seus pais, após o casamento, de seus

maridos. Eram preocupadas com a beleza clássica, ainda usavam espartilhos e

vestidos mais longos.

Com o passar dos anos e a evolução do papel da mulher na sociedade, as

princesas também evoluíram, ganhando maior liberdade e tornaram-se mais ativas

nas decisões sobre o seu futuro nas histórias. Deste modo para esse trabalho

dividiremos as princesas de acordo com a época em que surgiram. Baseando no

estudo de Breder (2013) sobre as princesas da Disney e as dividiremos as princesas

em: clássicas, rebeldes e contemporâneas.

4.2.1 As princesas clássicas (1937-1959)

As princesas clássicas, como chamaremos as primeiras princesas, possuem

um comportamento mais passivo e esperam pelo seu príncipe para salvá-las. Uma

característica comum nesses três primeiros contos é que todo o mal que acontece

com as princesas é motivado pela inveja, da madrasta ou de uma fada má. São

histórias aonde a beleza e as qualidades das princesas são exaltadas. As princesas

clássicas são: A Branca de Neve, de A Branca de Neve e os sete anões (1937),

Cinderela de 1950 e Aurora, de A bela adormecida de 1959.

As princesas clássicas, segundo Breder (2013), são as mais lembradas, pois

seus filmes e histórias são conhecidas há mais tempo, e seguem um padrão clássico

presente na memória das pessoas. Essas três princesas têm como características

destacadas a beleza e a bondade com todos, principalmente com os animais, e elas

esperam que o seu príncipe venha lhes salvar.

A primeira princesa a ter sua história transformada em longa-metragem foi a

Branca de Neve. Inspirada na história dos irmãos Grimm, a primeira princesa

clássica é no conto narrada como uma menina de pele branca como a neve, lábios

vermelhos como o sangue e cabelos negros como ébano. De grande beleza, é

65

criada pelo seu pai e por sua madrasta. A madrasta é descrita pelos autores como

uma dama belíssima, mas orgulhosa e arrogante, e não podia suportar a ideia de

que alguém fosse mais bonita que ela. Deste modo a grande beleza de Branca de

Neve motivou a inveja da madrasta, que a queria morta.

A beleza da princesa é enaltecida principalmente pelo espelho mágico da

rainha, que ela consulta insistentemente para saber se existia alguma mulher mais

bonita que ela. O espelho sempre respondia que ela era a mulher mais bonita de

todas, até que um dia, quando Branca de Neve já estava maior, o espelho a indicou

como sendo mil vezes mais bonita que a própria rainha, madrasta da princesa.

A beleza da princesa, na história fez com que a rainha mandasse um caçador

matar a pequena princesa para recuperar seu lugar como a mulher mais bonita que

existia. Branca de Neve, no entanto consegue fugir e se abrigar em uma pequena

cabana no meio da floresta. A cabana pertencia há os sete anões, onde ela

precisava: cozinhar, lavar, costurar, tricotar, manter a casa limpa em troca de um

lugar seguro para morar. A rainha tenta ainda matar a princesa outra três vezes. Nas

duas primeiras tentativas ela é salva pelos anões, porém na terceira os anões não

chegam a tempo e não a conseguem a salvar. A princesa já havia mordido a maça

envenenada, e caído em sono profundo.

A princesa é posta em um caixão de vidro em cima de uma montanha vigiada

pelos sete anões o tempo todo. Na história dos irmãos Grimm ela passa muitos anos

até ser encontrada por um príncipe, que mesmo estando adormecida a leva para

seu castelo, prometendo amor eterno. Quando os guardas do príncipe desciam a

montanha o caixão balançou e o pedaço da fruta envenenada salta da garganta de

Branca de Neve, devolvendo a vida a princesa. Os dois se apaixonam e se casam,

no final a rainha resolve ir ao casamento dos dois e como castigo é obrigada a

calçar sapatos de ferro em brasa e dançar até a morte.

66

Figura 15 - Branca de Neve, ilustração de 1905, feita por Franz Jüttner

Fonte: Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen &

outros, p.132, 2010

As duas versões dessa história mostram o papel da mulher na sociedade na

época em que surgiu, no qual não tinham papel influente sobre as decisões de seu

futuro e esperando passivamente pelo príncipe para viver feliz para sempre. Na

figura anterior temos Branca de Neve numa ilustração realizada por Franz Jüttner,

quando a história da Branca de Neve já era conhecida, de vestido branco e com

longos cabelos. Já na figura a seguir temos Branca de Neve na versão criada pela

Disney em 1937, imagem que é mantida e reconhecida até os dias atuais: vestido

amarelo com azul, capa e tiara vermelha.

Figura 16 - Cena do filme Branca de Neve e os sete anões da Disney

Fonte: Filme Branca de Neve e os sete anões (Disney, 1937)

67

Cinderela, a segunda princesa, de acordo o site da Disney (2013) 3, não

nasceu princesa, mas possui toda a graciosidade e a pose de uma. Apesar dos

maus tratos das meias-irmãs e da madrasta ela também se mantém fiel aos seus

sonhos. Baseado na história de Perrault, a gata borralheira, popularmente conhecida

como Cinderela morava com as meias-irmãs e madrasta, que a faziam de

empregada, trabalhando duro e usando somente roupas velhas. Certa noite o

príncipe da cidade oferece um baile, onde a madrasta e as suas meias-irmãs foram

convidadas, mas Cinderela não podia ir já que não tinha acabado os seus afazeres e

não tinha roupas adequadas para a ocasião, ficando trancada no quarto.

Sua fada madrinha, compadecida com a tristeza de Cinderela, realiza um

encanto onde até a meia-noite ela terá lindas roupas e uma carruagem para ir ao

baile. Porém quando o relógio bater meia-noite o feitiço se desfazia e suas roupas

viravam trapo e a sua carruagem uma abóbora. Quando ela chega ao baile todos se

encantam com ela, principalmente o príncipe, que se apaixona imediatamente por

ela. Quando o relógio marca meia-noite a princesa sai correndo e deixa para trás o

seu sapatinho de cristal.

O príncipe fica obstinado em encontrar a linda princesa da festa, fazendo

todas as moças da cidade provar o sapatinho de cristal. Na casa de Cinderela o

sapatinho é provado por suas meias-irmãs, porém não serve em nenhuma delas.

Quando chega a vez da princesa provar o sapatinho, a madrasta faz o serviçal que

carregava o sapato tropeçar e quebrá-lo, mas a princesa ainda tinha o outro pé em

seu bolso que a serviu perfeitamente. Cinderela então encontra a liberdade e pouco

tempo depois se casa com o príncipe e vive feliz para sempre.

No conto que originou a versão da Disney da história, Perrault destaca que a

princesa, apesar de ser tratada como empregada pela madrasta e suas malvadas

meias-irmãs, tem grandes qualidades. Como ser cem vezes mais bonita, ter um

ótimo bom gosto, bom coração, sendo bela e amorosa com todos e dança

graciosamente. Tantas qualidades que faziam com que sua madrasta e irmãos

tivessem inveja de Cinderela. No final do conto, apesar das maldades que suas

meias-irmãs a faziam, a princesa as perdoa e arranja ótimos casamentos para as

duas, mostrando seu coração bondoso.

33

As informações obtidas no site da Disney Princesas, e podem ser acessadas em: http://www.disney.pt/princesas/index.jsp.

68

Figura 17 - Cinderela, ilustração de 1922, feita por Harry Clarke.

Fonte: Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen

& outros, p.132, 2010

Figura 18 - Cena do filme Cinderela da Disney

Fonte: Filme Cinderela (Disney, 1950)

69

Aurora é a princesa graciosamente natural, com simplicidade e espírito

alegre e sincero, espera passivamente o seu verdadeiro amor. A princesa Aurora, do

filme A bela adormecida, como explica Breder (2013), apesar de também ser

considerada clássica, divide a história com o príncipe Felipe, que possui papel

fundamental na história. A princesa passa praticamente toda a história enfeitiçada

esperando para ser salva, Enquanto o príncipe tem que enfrentar a bruxa má em

forma de dragão para poder resgatá-la e salvá-la de seu sono, também com um

beijo.

Todas as três princesas clássicas têm características semelhantes, são

obedientes, passivas e esperam o seu verdadeiro amor e a realização de seus

sonhos com auxílio das fadas madrinhas e príncipes. Nos filmes de Branca de Neve

e Cinderela, o papel feminino possui grande destaque, onde o centro do enredo são

os sonhos, desejos e desafios da princesa..

Outra característica semelhante entre essas duas princesas, é que elas

precisam se livrar da malvadeza de suas madrastas. Além disso, representam a

mulher perfeita até a década de 50, prendadas nos afazeres domésticos, pois

cozinham, varrem, lavam a louça, que são tarefas de uma boa mulher na época.

Branca de Neve se comporta como a mulher “ideal” da época para agradecer aos

anões por deixá-la ficar na casa deles no meio da floresta, sentido prazer e

satisfação em praticar as atividades domésticas, já Cinderela fazia os afazeres

domésticos como forma de castigo imposto pela sua madrasta.

4.2.2 As princesas rebeldes (1989-1998)

Durante os anos 1960 o movimento feminista começa a surgir, onde as

mulheres passavam a exigir os seus direitos, e mulheres casadas a entrarem no

mercado de trabalho. Elas lutavam, de acordo com Breder (2013), para defender o

seu papel na sociedade, por maior liberdade, para ingressarem na política e terem

cargos de poder. Lutavam pelo direito de divórcio e leis de aborto mais liberais. As

princesas clássicas que vimos, não representavam mais os desejos das mulheres

dessa época. Então após Aurora, demorou 30 anos até que surgissem novas

princesas, que classificaremos como princesas rebeldes.

O mundo estava em uma época rebelde, e isso fica evidente na primeira

princesa: Ariel, da animação A Pequena Sereia de 1989, inspirada no conto de

70

Andersen. Como explica o site da Disney (2014) 4 , Arial era uma princesa

independente, impulsiva e aventureira. Cansada da vira restrita no fundo do mar e

apaixonada pelos humanos e seus objetos, enfrentou tudo para ir atrás de seus

sonhos. Como se percebe essa princesa é totalmente diferente das anteriores, em

vez de esperar pelo seu príncipe encantado ela vai atrás dele e de seus sonhos,

abrindo mão do seu mundo encantado e da vida de princesa, para ir para um mundo

normal como humana e encontrar o seu final feliz junto ao príncipe.

Na história de Andersen, Ariel é descrita como a mais bela das suas cinco

irmãs. Com pele clara, olhos azuis e cauda de peixe, tinha a voz mais bonita de todo

o seu reino. Quando se apaixonou pelo príncipe fez um acordo com a feiticeira

trocando sua voz por lindas pernas, porém ela sentiria dores terríveis pelo resto da

vida. Ariel só se tornaria realmente uma humana quando se casasse com o príncipe,

e caso ele se casasse com outra mulher ela viraria espuma com o próximo raiar do

dia.

Mesmo a princesa vivendo no castelo com o príncipe, e apaixonada por ele, o

príncipe se casou com outra mulher. Como opção para se salvar, a feiticeira impõe

que ela terá de matar o príncipe com um punhal. Porém como a princesa possuía

um coração puro e bom, abre mão de sua vida e virar espuma, para salvar o

príncipe.

4 As informações obtidas no site da Disney Princesas, e podem ser acessadas em:

http://www.disney.pt/princesas/index.jsp.

71

Figura 19 - A Pequena Sereia, ilustração de 1876, feita por Bertall.

Fonte: Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen & outros, p.231,

2010

Figura 20 - Cena do filme A Pequena Sereia da Disney

Fonte: Filme A Pequena Sereia (Disney, 1989)

A próxima princesa é a Bela. Apaixonada por leitura e livros, ela não se

conforma com a vida que leva no vilarejo que mora com seu pai e suas irmãs.

72

Recusa o casamento que seu pai lhe arranjou, pois considerada o homem escolhido

insensível e grosseiro, que considera a paixão da princesa por livros inútil. O pai de

Bela era mercador, e na volta de uma das suas viagens foi aprisionado pela Fera.

Bela, para salvar a vida de seu pai, se entrega no lugar de seu pai. A vida no

castelo com a Fera era cheia de mágica e encantamento. Morando com a Fera, a

princesa se apaixona por ele. Pois, apesar das suas aparências ele era doce e gentil

com a princesa. Tanto na versão da Disney, quanto no conto de Perrault, a princesa

é quem salva a Fera, através de um beijo de amor verdadeiro. E a Fera, na

realidade, é um príncipe amaldiçoado por uma bruxa.

Figura 21 - A Bela e a Fera, ilustração de 1875, feita por Walter Crane

Fonte: Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen & outros,

p.132, 2010

Como nos outros contos, a princesa Bela também é retrata pelas feições

características das princesas. Ela era meiga, doce, bondosa e de grande beleza. A

Fera na história Disney, apesar de ser representada por um monstro de grande

feiura como as bruxas das outras histórias, não representa o mal na história. A Fera,

73

apesar da sua aparência, representa o príncipe da história, belo, gentil, amável, que

após o beijo da princesa retorna a sua verdadeira forma.

Figura 22 - Cena do filme A Bela e a Fera da Disney

Fonte: Filme A Bela e a Fera (Disney, 1991)

A partir de Bela, começam a surgir princesas representando diferentes etnias.

As próximas princesas são: Jasmine, Pocahontas e Mulan, de origens árabe,

indígena e chinesa, respectivamente.

Descrita como de beleza exótica e ardente pelo site da Disney (2014) 5, a

princesa Jasmine, de não tem grandes desejos. Ela deseja apenas se casar por

amor e poder viver a sua vida fora dos portões do palácio, de onde quase não sai.

Assim como as outras princesas contemporâneas, ela é forte e independente,

mesmo não sendo a protagonista de seu filme, tem papel importante na história de

Aladdin. Jovem pobre que com a ajuda de um gênio, inventa mentiras para se

aproximar da princesa. Mesmo descobrindo a verdade, Jasmine se apaixona por

Aladdin devido ao seu coração puro e sua inteligência. A princesa precisou enfrentar

a fúria de seu pai, o sultão, mudando as leis para poder se casar com Aladdin e

ainda ser princesa.

Pocahontas, a próxima princesa tem origem indígena e é apaixonada pela

natureza e pela sua terra. A história é inspirada em uma lenda norte-americana da

5 As informações obtidas no site da Disney Princesas, e podem ser acessadas em:

http://www.disney.pt/princesas/index.jsp

74

índia Pocahontas que viveu no século XIV. A animação retrata a ida de John Smith,

junto a Companhia Virgínia, as novas terras em busca de ouro. Das diferenças entre

os povos, surgem muitas rivalidades e desavenças, que colocam Pocahontas e John

Smith, apesar de apaixonados, em lados apostos da guerra.

Em uma dessas desavenças, John Smith se atira na frente do pai de

Pocahontas, chefe da tribo, para salvá-lo de ser baleado. Gravemente ferido, John

precisa a voltar para a Inglaterra para se salvar. Apesar do convite, a princesa

decide não ir com ele para a Inglaterra, pois considera que seu lugar é na tribo. A

história dessa princesa traz um final diferente das outras, pois a princesa escolhe

ficar na tribo com seus pais e amigos, em vez de ir atrás de seu amor.

A última princesa rebelde é Mulan, a versão da Disney foi inspirada em uma

lenda sobre uma guerreira chinesa. A personagem representa a cultura chinesa

dentro da franquia, ela rouba o uniforme do exército de seu pai e se passa por

homem para ir à guerra, para salvar a vida seu dele, que já estava velho e ferido de

batalhas anteriores. Por não possuir a mesma força que os outros soldados, a

princesa precisar usar a perspicácia para superar os inimigos e os obstáculos que

lhe são impostos durante a sua aventura.

A princesa não trouxe a honra para sua família através de um bom casamento,

como eles desejavam, mas sim salvando a vida o imperador de um ataque do

inimigo, mesmo após ter sido descoberta como mulher, humilhada e expulsa do

exército. Mulan não é uma princesa tão delicada como as outras, porém sem perder

a feminidade e beleza consegue se sobressair sobre todos os homens do exército.

4.2.3 As princesas contemporâneas (2009-2012)

As próximas princesas são consideradas, nesse trabalho, como princesas

contemporâneas. Surgiram no século XXI e possuem características bem diferentes

das anteriores. Tiana, Rapuzel e Merida são princesas independentes, fortes,

empreendedoras e que correm atrás dos seus sonhos. Tiana é a primeira princesa,

do filme a A princesa e o Sapo de 2009. O enredo dessa história se desenvolve em

volta do grande sonho dessa princesa, que ao contrário das outras, não é encontrar

um príncipe encantado, mas sim montar seu próprio restaurante. Mesmo sonho de

seu pai, que morre antes de conseguir conquistá-lo.

75

Porém, Tiana acaba conhecendo um príncipe que está transformado em sapo.

Para ajudar ele a reverter o feitiço, a princesa o beija. Mas ao invés do príncipe

voltar a sua forma normal, Tiana é que acaba se transformando em rã, pois ela não

era uma princesa de verdade. Somente no final do filme, com a ajuda de outros

animais da floresta os dois conseguem voltar à forma normal após um beijo de amor.

O príncipe leva Tiana para o seu castelo e a ajuda a abrir o seu próprio restaurante,

realizando o seu verdadeiro sonho.

Essa princesa retrata bem o papel da mulher na sociedade, a mulher

empreendedora que busca os seus sonhos, sem esperar que um príncipe lhe

entregue com um beijo a sua realização.

O filme da Disney, A Princesa e o Sapo, foi inspirado no antigo conto dos

Irmãos Grimm, O Príncipe Sapo. A história também contava a história de um

príncipe transformado em sapo por uma feiticeira, que só voltaria a sua forma se

dormisse e comesse ao lado de uma princesa, por três noites seguidas. O príncipe

então ajudou uma princesa a recuperar a sua bola de ouro em troca de sua ajuda.

Porém a ideia de dormir com um sapo não agradou nada a princesa e muito

aborrecida atirou o sapo na parede, e foi assim que ele voltou a ser príncipe

novamente.

Figura 23 - O Príncipe Sapo, ilustração de 1874, feita por Walter Crane

Fonte:www.pinterest.com/pin/49877372745400200

5/; acesso em 30 de maio de 2014.

76

Na ilustração acima, do conto original O Príncipe Sapo, a princesa ainda é

representada por uma mulher com cabelos e pele clara, assim como as primeiras

princesas que estudamos. A princesa Tiana, figura abaixo, da versão da Disney é a

única princesa afrodescendente da marca, com cabelos escuros e enrolados.

Figura 24 - Cena do filme A princesa e o Sapo da Disney

Fonte: Filme A Princesa e o Sapo (Disney, 2009)

A penúltima princesa a fazer parte da Disney Princesas foi Rapunzel, do filme

Enrolados. O filme foi lançado em 2010 e tentou atrair não somente o público

feminino, mas fazer algo para que o público masculino infantil também se

interessasse a assistir. O filme em vez de se chamar Rapunzel, nome da princesa,

ganhou o nome de Enrolados, como explica Breder (2013). Pensando em aumentar

a bilheteria com o público dos meninos, a narração do filme é feita pelo personagem

masculino, o ladrão Flyyn Ryder. O ladrão desempenha na história o papel de herói,

mesmo não sendo um príncipe.

A princesa Rapunzel é sequestrada de seus pais, o rei e a ranha, pela vilã

Gorthel ao nascer. A vilã sequestra a princesa porque seus cabelos possuem

poderes de cura e rejuvenescimento, que a feiticeira quer para ser jovem para

sempre.

Gorthel faz a princesa acreditar que é a sua mãe, e a deixa trancada em uma

torre isolada do mundo, e como desculpa a convence que o mundo é um lugar

77

perigoso demais para ela. Todos os anos em seu aniversário eram soltos balões

pelo rei e seus súditos, que nunca perderam a esperança da princesa voltar para a

casa. A princesa não sabia o significado dos balões e nem que eles eram para ela.

Em um dos seus aniversários, quando a cidade estava repleta de balões, um

ladrão fugindo dos guardas do rei se esconde na torre da princesa. Com seu longo

cabelo a princesa o prende em um armário, e esconde o objeto roubado, uma coroa.

Para ter a coroa de volta, o ladrão é obrigado pela princesa a levá-la ver os balões

na cidade e trazê-la de volta em segurança.

Apesar do remorso e tristeza por ter desobedecido Gorthel, Rapunzel

descobre que o mundo não é tão ruim como sua mãe contava. Porém, a vilã captura

novamente a princesa, e feri e amarra o ladrão que ajudou a princesa. Em troca da

liberdade e da permissão para poder curar o ladrão, a princesa promete nunca mais

desobedecer a sua falsa mãe. Porém quando a princesa se aproxima do ladrão,

para lhe salvar a vida, ele corta o longo cabelo da princesa. Assim, Flyyn a livra de

Gorthel, que sem o poder do cabelo envelhece e morre. Flyyn Ryder leva a princesa

de volta ao castelo para seus pais e é perdoado de todos os seus crimes.

O filme Enrolados foi inspirada no conto dos irmãos Grimm, Rapunzel. No

conto, a mãe de Rapunzel tinha muita vontade de comer os rabanetes do quintal

vizinho. O pai da princesa, com medo que sua filha morresse antes do nascimento,

roubava os rabanetes de sua vizinha feiticeira, para dar a sua mulher. Porém a cada

dia que passava a mãe da princesa queria mais rabanetes. Um dia a vizinha viu o

homem roubando os seus rabanetes, e como penitência exigiu a criança que

nasceria. Descrita no conto, como uma menina mais linda que o sol, com cabelos

compridos como fio de ouro, a feiticeira prende Rapunzel em uma torre e lá ela

ficava isolada por muitos anos.

A princesa, que passava os dias cantados, atraiu a atenção de um príncipe

que passava perto da torre. O príncipe observou como a feiticeira subia na torre com

a ajuda dos cabelos da princesa, e passou a visitá-la também. Quando a feiticeira

descobriu a traição da princesa, armou uma armadilha para o príncipe. Cortou os

cabelos da princesa e o atraiu para cima da torre, depois o atirou em cima dos

espinhos que ficavam ao redor da prisão da princesa. A feiticeira largou a princesa,

que estava grávida no deserto sozinha.

O príncipe ficou cego ao cair nos espinhos e vagou pela floresta até chegar a

Rapunzel, com seus filhos gêmeos que haviam nascido no deserto. Quando

78

Rapunzel o encontrou, duas lágrimas dela caíram nos olhos do príncipe e lhe

devolveram a visão.

Figura 25 - Rapunzel, ilustração de 1876, feita por P. J Lynoh

Fonte: http://www.pinterest.com/leegillie/rapunzel-

longhair/; acesso em 28 de maio de 2014.

Figura 26 - Cena do filme Enrolados da Disney

Fonte: Filme Enrolados (Disney, 2010)

79

Nas duas versões as princesas são representadas por princesas de pele e

cabelos claros, com cabelos compridos. Apesar das semelhanças físicas, as

histórias têm enredos diferentes. Na primeira história a feiticeira pega Rapunzel por

vingança, e na segunda por ganância e vaidade.

A última princesa inclusa na franquia foi Mérida, a protagonista do filme

Valente de 2012, criação do estúdio de animação Pixar, da Walt Disney Company. A

princesa é definida pelo site da Disney (2014) 6, como impetuosa e impaciente,

características presentes nas crianças de hoje. Mérida luta contra o seu destino real

que é de se casar com o primogênito do clã vizinho. O maior sonho da princesa é

aperfeiçoar as suas habilidades atléticas e o manejo da espada e do arco, sonho

incompatível com o as da sua mãe, que é lhe tornar uma boa esposa. Com cabelos

e espírito indomáveis, mantém o seu o coração doce.

Na história de Mérida não há nenhum príncipe envolvido, a trama se

desenvolve em torno da relação conflitante que tem com a sua mãe. A mãe da

princesa quer que ela se case e se torne prendada com os serviços de casa. Para

se livrar da pressão da mãe, Mérida encontra uma bruxa que faz um feitiço para

mudar a mãe, para que ela aceita Mérida como ela é. Porém a sua mãe e seus

irmãos trigêmeos se transformam em ursos, e então a princesa tem que salvar a

vida dela. Através do amor e arrependimento princesa faz a mãe e seus irmãos

voltarem à forma normal.

Figura 27 - Cena do filme Valente da Disney

Fonte: Filme Valente (Disney, 2012)

6 As informações obtidas no site da Disney Princesas, e podem ser acessadas em:

http://www.disney.pt/princesas/index.jsp.

80

Como vimos todas as onze princesas possuem atributos e características

diferentes, principalmente diferenças decorrentes a época em que foram produzias.

Porém, como explica Gomes (2000), a consagração dessas personagens Disney

criou grandes e verdadeiros ícones de consumo. Figuras que duram e vem se

mantendo a um longo tempo, quase 80 anos desde o lançamento da primeira versão

de Branca de Neve e os sete anões até o lançamento da última princesa, Mérida do

filme Valente, em 2012.

4.3 CONSUMINDO O UNIVERSO DAS PRINCESAS DA DISNEY

As princesas da Disney vão muito além de seus filmes. Atualmente elas

podem ser vistas em muitos produtos licenciados, na publicidade, jogos e na internet.

Com as novas tecnologias, as crianças já nascem a era tecnológica e

conectados na internet. As plataformas digitais promovem mais interação das

consumidoras com as marcas, como a Disney Princesas. No site da licença Disney

Princesas7, a menina encontra além das princesas, encontra outros elementos do

universo das princesas. Na tela inicial do site a menina encontra as princesas dos

filmes, sobre um plano de fundo de castelos e outros elementos das animações. Na

plataforma também são oferecidos jogos, músicas, vídeos, atividades e também

mais informações das princesas, onde as meninas podem se divertir e estimular a

imaginação dentro de um mundo encantado, além de se relacionar com a marca.

Figura 28 - Captura da tela do site Disney Princesas

Fonte: http://www.disney.pt/princesas/index.jsp ; acesso em 04 de junho

de 2014

7 Site: http://www.disney.pt/princesas/index.jsp.

81

Os jogos e as atividades do site são baseados nos filmes das princesas,

envolvendo a criança nos enredos das histórias. Como por exemplo, em um dos

jogos disponíveis: Enrolados, Confusão em Dobro. O jogo, assim como o filme, está

dividido entre fases de Rapunzel e Flyyn. Onde cada dos personagens tem papéis

fundamentais, e juntos eles buscam conquistar o objetivo final do jogo.

Figura 29 - Captura da tela do jogo Enrolados

Fonte: http://www.disney.com.br/disneyjunior/shows/princesas/# ; acesso em 04 de junho de 2014

Além dos jogos, há atividades como pintar e montar os castelos das princesas,

com peças para imprimir, e desenhos para colorir dos personagens e imagens dos

filmes.

Figura 30 - Captura da tela das atividades

Fonte: www.disney.com.br/disneyjunior/shows/princesas/# ;

acesso em 04 de junho de 2014

No parque da Disney, Walt Disney World em Orlando na Florida, as princesas

também são representas. Interpretadas por atrizes, são encontradas pelo parque

82

nas atrações, atividades e espetáculos. Entre os personagens clássicos na terra da

fantasia estão às princesas. No castelo das princesas, Princess Fairytale Hall, as

meninas podem visitar e conhecer mais sobre o universo das princesas.

O castelo conta com a presença fixa das princesas Cinderela e Rapunzel, que

ficam em ambientes inspirados em suas próprias histórias e sempre estão

acompanhados por alguma outra princesa convidada. No corredor do castelo há o

retrato de todas as princesas e após a visita no castelo é possível escolher qual

princesa quer conhecer.

Figura 31: Visita a Cinderela no Princess Fairytale Hall

Fonte: http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2013/09/princesas-

da-disney-ganham-nova-area-tematica-em-parque-de-orlando.html;

acesso em 04 de junho de 2014

O parque oferece ainda para as meninas a opção de viverem seu próprio

conto de fadas, se tornando uma princesa na Bibbidi Bobbidi Boutique. No salão

mágico, como é definido pelo site do parque8, as meninas de três a doze anos

podem realizar o sonho de se tornar uma princesa de verdade por um dia. O preço

do pacote básico custa 54 dólares e o mais completo pode chegar até 194 dólares.

As aprendizes de fadas madrinhas ajudam as meninas se transformarem, fazendo

8 As informações foram obtidas no site do parque Walt Disney World, e podem ser acessadas em:

http://disneyworld.disney.go.com/pt-br/

83

cabelo e maquiagem, arrumando as unhas e finalizando com acessórios e vestidos

de princesas.

A menina pode também comprar a fantasia das princesas: Ariel, Branca de

Neve, Aurora, Bela, Jasmine, Cinderela, Sininho, Tiana, Rapunzel, e Mérida. Ou

simplesmente levar uma lembrança com uma foto do momento do processo de

transformação, que dura cerca de uma hora. Além de virar uma princesa, as

meninas também podem realizar refeições com as princesas e outros personagens

dos filmes nos parques e resorts da Disney.

Figura 32 - Transformação em princesa na Bibbidi Bobbidi Boutique

Fonte: https://disneyworld.disney.go.com/events-tours/downtown-

disney/bibbidi-bobbidi-boutique-downtown/; acesso em 04 de junho de 2014

A cada princesa que entra para a franquia, é realizada uma cerimônia de

coroação. A décima primeira princesa coroada foi Mérida, em 2013. Para celebrar a

entrada da princesa, foi realizada uma grande celebração no parque Walt Disney

World que oficializou a entrada de Mérida como princesa oficial da Disney.

84

Figura 33 - Coroação da Princesa Mérida

Fonte: http://www.orlandoviagem.com.br/veja-como-foi-a-cerimonia-de-coroacao-

da-princesa-merida/; acesso em 04 de junho de 2014

Como vimos à marca está presente em muitos lugares, porém aonde ela está

mais próxima das meninas consumidoras são nos produtos que utilizam a as

princesas. A franquia Disney Princesas, como já vimos, surgiu em 2000, contendo

as principais princesas das histórias da Disney. A franquia das princesas, como

vimos, é a preferida entre as meninas, se tornando assim a melhor franquia,

segundo o site Variety, a Disney atualmente é possui 80% do licenciamento de

personagens, sendo a primeira na categoria9.

Essas personagens são amadas e conhecidas pelas consumidoras meninas,

principalmente entre os três e oito anos. Nessa fase, como estudamos, as meninas

são fascinadas pela magia e por personagens maravilhosos. Desse modo, muitas

empresas utilizam a franquia da Disney Princesas em seus produtos para aumentar

as vendas e também cativar as consumidoras infantis.

Para usar a franquia Disney Princesas as empresas precisam pagar royalties

sobre as vendas dos produtos, ou seja, os direitos autorais sobre a imagem para a

Walt Disney Company, que é detentora da franquia e também da imagem das

princesas.

As consumidoras infantis nessa etapa se fantasiam, brincam e sonham com

personagens e suas histórias encantadas. Elas são personagens clássicas, que

ocupam um lugar no imaginário dessas meninas há muitas gerações, pois mesmo

9

Informações obtidas em: http://variety.com/2013/biz/news/disney-star-wars-princesses-licensing-1200498040/:

85

antes do lançamento da franquia com todas as princesas, elas já eram encontradas

nos produtos, desde as primeiras animações lançadas. Personagens que

representam, além da magia dessa idade, estereótipos a serem imitados.

Figura 34 - Montagem de produtos Disney Princesas

Fonte: http://www.magazineluiza.com.br/busca/disney%20princesas/, acesso em

22 de junho de 2014

Os padrões de beleza, comportamento, moda que as princesas transmitem

são absorvidos pelas meninas, que tentam segui-los. Deste modo, concluímos que a

imagem das princesas pode influenciar no consumo das meninas, principalmente as

86

que têm princesas como modelos. A diversificação das princesas, com etnias e

culturas diferentes, e também a renovação das características das princesas das

novas histórias, sejam alguns dos motivos para que a marca ainda seja a mais

amada pelas pequenas consumidoras.

Sendo assim, deste do surgimento da franquia, a imagem das princesas tem

sido vistas em uma variedade cada vez maio de produtos. São roupas, calçados,

brinquedos, utensílios para casa, material escolar, entre outros produtos voltados

para as consumidoras infantis.

87

5 SAPATO DE PRINCESA: CASE GRENDENE KIDS

Nos contos de fadas, geralmente as roupas e sapatos indicam o lugar que o

personagem ocupa na sociedade. Em histórias como as de Branca de Neve,

Cinderela, Tiana, Bela e outras princesas da Disney, a roupa representa o antes e o

depois de se tornar princesa. Enquanto vivem como plebeias usam vestimentas

simples, com cores neutras e muitas vezes velhas. Quando se tornam princesas, ou

se livram do mal que lhe infligia, passam a vestir roupas e sapatos novos, brilhosos,

elegantes e com cores mais vibrantes. Elas se destacam em relação às outras

personagens, indicando o seu novo papel, como parte da realeza.

No conto de fadas Cinderela o papel das vestimentas da princesa é essencial.

Como já vimos, para a princesa poder ir ao baile precisa de um vestido e sapato

adequados para a festa e consegue com a ajuda da sua fada madrinha. Cinderela

ganha um vestido deslumbrante e sapatos de cristal, que a transformam na moça

mais bonita do baile, não sendo reconhecida pela sua madrasta e meias-irmãs. A

figura a seguir representa a passagem de Cinderela de empregada, da madrasta e

meias-irmãs, à princesa. O sapato preto e sem salto representa a primeira parte da

história, já o sapato que lhe está sendo colocado, de cristal e com salto alto

representa o início de um novo momento na história, com a Gata Borralheira se

tornando princesa e encontrando o seu final feliz.

Figura 35 - Cena do filme Cinderela da Disney

Fonte: Filme Cinderela (Disney, 1950)

88

Na vida real, assim como nos contos e histórias, as roupas e sapatos servem

para apontar, reforçar, instituir características físicas, sociais e de classe,

delimitando e influenciando a imagem que a consumidora infantil tem de si mesmo.

Nesse capítulo iremos estudar sobre o uso das princesas Disney em sapatos da

marca Grendene Kids e o seu papel na construção do imaginário da consumidora

infantil, através da comunicação e dos produtos oferecidos.

5.1 O CONSUMO DE CALÇADOS

O uso de símbolos de moda pode ser considerado como indicador da

identidade de cada indivíduo, de acordo com Seferin (2012). Para a autora, foi a

partir do século XVII que a moda se popularizou, e o que antes era restrito apenas

para as classes mais altas passou a circular também nas outras classes sociais. As

classes sociais menos abastadas adaptam a moda de acordo com os seus

dividendos, muitas vezes substituindo materiais caros por mais baratos semelhantes.

A moda se tornou símbolo de elegância e status, expressando e expandindo a

personalidade de cada indivíduo com bens de consumo. Os calçados se tornaram

produtos símbolos de status e que influenciam o consumo a cada nova tendência

lançada. Como explica Csikszentmihaly e Rochberg-Halton (apud Seferin, 2012), o

status pode ser considerado uma forma de poder que consiste no respeito,

consideração e inveja dos outros. Uma pessoa que possua status pode estabelecer

padrões e normas pelos quais outras pessoas vão querer agir, influenciando no

consumo dessas pessoas.

O consumo de calçados exercem três tipos de funções, segundo Löbach

(apud Seferin, 2012), que são: prática, que está relacionada às necessidades

fisiológicas, como proteger os pés; estética, que refere-se a aparência do produto; e

a simbólica, que se relaciona aos aspectos psíquicos e sociais do uso, que podem

estar associadas a memórias e experiências vividas. As funções simbólicas e

estéticas geralmente se sobressaem à prática, pois na sociedade moderna os

calçados não são consumidos apenas pela necessidade de proteger os pés, mais

sim pela sua aparência e pelas tendências da moda.

Para Seferin (2012), o consumo de calçados pelos consumidores de sexo

feminino, é maior em relação ao masculino, pois as mulheres tendem a criar

relações afetivas com os produtos. Os sentimentos destinados a um produto, de

89

acordo com a autora, podem ser os mesmos sentidos em relação a outras pessoas:

admiração, antipatia, amor ou ódio. Na compra de um sapato por prazer, os

benefícios principais são: o emocional, quando a compra gera satisfação; e o

hedônico, quando resulta prazer relacionado a estética do produto.

Costa (2014) explica que a evolução do calçado transformou-o de um artigo

de última necessidade em termos de bem de consumo. Há uma enorme quantidade

de publicidade e promoções que incentivam a compra somente por comprar, não

pela necessidade básica. Isso ocorre principalmente com o público feminino, onde o

calçado possui uma função muito mais estética do que utilitária e funcional. No

processo decisão de compra, os aspectos hedônicos, como peso, cor, forma são

importantes, porém a compra efetiva, os aspectos instrumentais, como a

desempenho e as características físicas, que precisam estar de acordo com as

necessidades.

A aquisição de um calçado gera sentimentos positivos e de prazer quando a

compra é bem-sucedida. Segundo Barlettta (2003), as consumidoras do sexo

feminino tendem a se tornar mais fiéis às marcas e aos produtos quando a aquisição

é positiva, podendo intensificar o consumo, comprando novamente ou indicando

para outras mulheres. Assim como as mulheres, as jovens consumidoras também

tem um grande potencial de consumo, pois tendem a inspirar o seu comportamento

nas mães, amigas e irmãs mais velhas.

O mercado de calçados infantis tem um papel fundamental no crescimento do

segmento nos últimos anos, crescimento oriundo principalmente da classe C.

Segundo o levantamento de Abicalçados (2012) 10, o mercado total de calçados

nacionais cresceu 5,5% em 2014, totalizando 864 milhões de pares produzidos. O

segmento infantil no mesmo período cresceu 12,7%, totalizando 184,9 milhões de

pares produzidos no Brasil.

No Brasil a população infantil, de zero e catorze anos, representa é 24,2% da

população e representa 20,2% do consumo de calçados. A classe C, segundo a

pesquisa Pyxis do Ibope de Inteligência (2014) 11, é responsável por 46,12% do total

de consumo de calçados, onde a média gasta per capita é de R$ 39,02.

10

Informações obtidas em: http://www.abicalcados.com.br/site/; 11

Informações obtidas em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Consumo-de-calcados-vai-movimentar-40-bilhoes-em-2013.aspx

90

Como vimos o mercado de calçados infantis brasileiro está em expansão,

representando 20,2%, do total de calçados produzidos no país, como vemos na

figura a seguir. Outro fato relevante dessa pesquisa é que 56% dos calçados são

voltadas ao público feminino. Concluímos, assim que o potencial de consumo das

meninas ainda na infância é muito grande e pode ser potencializado quando adultas,

através da criação de hábitos de consumo e relação com as marcas.

Figura 36 - Gráfico de pares por gênero (%)

Fonte: http://www.abicalcados.com.br/site/; acesso em 4 de junho de 2014.

Alguns elementos nos calçados, como atrativos visuais, cores destacadas, o

uso de personagens conhecidos e design aprimorado influenciam na escolha das

pequenas consumidoras, como explica Costa (2014). Esses elementos não

influenciam somente as crianças, mas também na decisão de seus pais. Cada vez

mais as empresas estão preocupadas com a opinião das crianças na hora da

escolha do produto.

5.2 GRENDENE

A Grendene é uma das maiores produtoras de calçados do Brasil e seus

produtos estão presentes em todos os continentes, espalhados mais de 90 países.

Fundada em 1971, pelos irmãos Alexandre e Pedro Grendene, a empresa começou

produzindo embalagens plásticas para garrafões de vinho, que até então eram feitas

de vime. Alguns anos depois, em 1976 a empresa começou a produzir peças de

91

nylon para calçados. Com o pensamento inovador e atento às oportunidades, em

1979 a empresa lança a primeira sandália, com a marca Melissa, inspirada nos

calçados dos pescadores franceses12.

Após entrar no mercado internacional, em 1983, com a marca Melissa, a

empresa resolve lançar outras marcas próprias para segmentar e atingir um maior

público. Algumas das marcas lançadas ao decorrer do tempo foram: Rider, 1986,

primeira marca masculina de chinelos e sandálias; Grendha, 1994, calçados

femininos voltada para a classe C e D; Ipanema, 2001, marca de chinelos para praia,

com parcerias de grandes celebridades e que continuam até os dias atuais, como a

Ipanema Gisele Bündchen; Zaxy, 2007, para o público feminino jovem e Cartago,

2009, que surgiu com o reposicionamento da marca Rider para o público masculino

maduro. Atualmente a empresa também possui as marcas: Anitta, Zizou e Grendene

Kids. A última, Grendene Kids, trabalha com personagens licenciados para produção

de calçados para o público infantil, e será o centro de nosso estudo.

Além das marcas próprias, uma forte característica da empresa é a utilização

de parcerias com celebridades nacionais e internacionais para impulsionar suas

marcas e o uso de licenciamentos no universo infantil e adulto.

A Grendene possui capacidade para a produção de 250 milhões de pares/ano

em suas seis unidades industriais, compostas por 13 fábricas de calçados,

matrizaria e fábrica de PVC para consumo próprio. A principal material prima para a

produção de calçados é o PVC, um plástico que pode ser reciclado diversas vezes

sem perder a sua capacidade original. Além disso, há outros materiais de variam de

produto para produto.

A logística de distribuição da empresa atinge distribuidores e varejistas

tradicionais e não tradicionais em todo o território nacional e também no exterior,

fazendo com que as marcas estejam presentes em todo o país com grande força, e

no exterior com grande representatividade nos países em que está presente.

Atualmente a Grendene comercializa seus produtos em 80 mil pontos

espalhados pelo mundo, sendo 60 mil no Brasil e 20 mil no exterior. A exportação

representou 23 % do total de pares produzidos pela Grendene em 2013.

12

As informações contidas nesse item foram obtidas no site da empresa, e podem ser acessadas em:

http://ri.grendene.com.br/.

92

Figura 37 - Gráfico de participação de volume de pares

Fonte: http://ri.grendene.com.br/; acesso em 10 de junho de 2014

Como já vimos, a empresa tem capacidade de produzir 250 milhões de pares

por ano. No ano passado a Grendene atingiu a marca de 216 milhões de pares,

sendo 51 milhões para exportação e 166 para o mercado interno.

Figura 38 - Gráfico de volume de pares

Fonte: http://ri.grendene.com.br/; acesso em 10 de junho de 2014

O investimento da empresa em publicidade e propaganda é uma preocupação

forte, sendo que a cada ano a empresa o aumenta, conforme o volume de pares

produzidos. Como vemos na figura a seguir, no último ano a empresa investiu cerca

de 164 milhões, 11,3% a mais que no ano anterior. Esse investimento é no mercado

interno e externo, que varia conforme a necessidade.

93

Figura 39 - Gráfico de investimento em publicidade e propaganda

Fonte: http://ri.grendene.com.br/ ; acesso em 10 de junho de 2014

No ano de 2013, de acordo com a empresa, foram lançados 1013 novos

produtos, entre renovações e lançamentos, onde a verba publicitária é dividida de

acordo com a importância e relevância das marcas. Onde cada marca trabalha com

um planejamento de marketing, conforme o seu público-alvo A missão da empresa é

fazer moda democrática, respondendo rapidamente às necessidades do mercado e

gerando retorno atrativo para a empresa, voltado ao público feminino, masculino e

infantil de classe A a D.

5.3 GRENDENE KIDS

A marca Grendene Kids pertence à empresa Grendene, e é uma marca

voltada aos produtos infantis e Baby. Surgiu com a expansão do segmento de

calçados voltados para esse público e desde seu lançamento, a linha Kids da

empresa não parou de crescer. A marca aposta em personagens e personalidades

licenciados, utilizando, na maioria das vezes, o apelo emocional e lúdico dos

calçados com acessórios, que simbolizem o universo infantil13.

Atualmente, segundo a empresa, a marca infantil é líder do mercado de

calçados para esse público, com cerca de 30 linhas de produtos para Meninos,

13

As informações contidas nesse item foram obtidas no site da empresa, e podem ser acessadas em:

http://ri.grendene.com.br/.

94

Meninas e babies. O público-alvo da Grendene Kids são meninos e meninas de zero

até os oito anos, com produtos que estimulam o imaginário infantil.

Figura 40 - Imagem do site da Grendene Kids

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em 13 de junho

de 2014

A marca utiliza personagens que fazem parte do imaginário infantil, junto o

apelo emocional e o aspecto lúdico dos produtos, como meio de aumentar e

incentivar o consumo dos produtos Grendene Kids. O direcionando dos personagens

é feito de acordo com a idade e o sexo da criança, estudando as preferências que

mudam rapidamente nessa faixa etária. A empresa não se preocupa unicamente

com a percepção da criança sobre os produtos, mas também com a percepção e a

aceitação da marca Grendene Kids pelos adultos, pais das crianças. A mesma

preocupação que se tem com o uso adequado dos personagens, sem tem com a

marca licenciadora. A marca Grendene Kids está presente nos produtos, nas

embalagens e na comunicação, utilizando a sua identidade visual,

independentemente da licença utilizada, para validar a marca perante aos adultos.

Grendene Kids – Baby

Os personagens utilizados pela linha Baby da marca possuem formas

arredondadas, com a cabeça desproporcional ao corpo e muitos personagens

animais. Pois, como estudamos no capítulo sobre o consumidor infantil, esses são

95

os personagens mais atrativos na faixa etária do zero até os três anos. Atualmente a

linha Baby conta com as licenças: The Backyardigans, Galinha Pintadinha, Patati

Patatá, Fisher Price, Hello Kitty Pet Baby, Mickey Mouse e Minnie Mouse. São

personagens conhecidos pelas crianças nessa faixa etária devido aos desenhos

assistidos, na televisão e também pela internet.

Figura 41 - Licenças Grendene Kids – Baby

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em

13 de junho de 2014

Os produtos da linha Baby, na maioria dos casos, não são separados por

femininos ou masculinos com personagens, mas sim pelas cores dos produtos.

Percebemos isso no tênis Galinha Pintadinha, personagem que é adorada por

crianças pequenas de ambos os sexos. No tênis da licença há quatro cores

disponíveis, que são: azul, verde, rosa e lilás. Onde as cores rosa e lilás são

voltadas para as meninas, e o azul e o verde vendem para os meninos.

Figura 42 - Tênis Galinha Pintadinha

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/; acesso em 13 de junho de 2014

96

Grendene Kids – Meninos

Os produtos voltados para o público infantil masculino também fazem o uso

de personagens reconhecidos pelos meninos. Temos o uso de personagens que

representam a força, poder e que remetam a batalhas e competições. Os heróis são

os mais utilizados para meninos de três a oito anos, como vimos no capítulo três.

Como explica Costa (2014), o direcionamento dos produtos para os jovens

consumidores nessa faixa etária está ligado aos filmes de ação, desenhos animados,

jogos e esportes radicais. Atualmente as licenças de personagens para os meninos

são: Angry Birds, Ben 10, Homem de Ferro, Power Rangers, Tartarugas Ninjas,

Aviões, Hotwhells, Max Steel, Homem Aranha.

Figura 43 - Licenças Grendene Kids - Menino

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em 13 de junho de 2014

Os produtos da Grendene Kids geralmente são acompanhas de algum brinde

ou complemento ao produto, que normalmente giram em torno da mesma temática

do produto. Como é o caso do produto abaixo, tênis do Ben 10 que vem

acompanhado de uma caneleira. Os dois, tênis e caneleira, estão voltados para a

temática do universo esportivo, o futebol. A presença da caneleira aumenta o valor

percebido nesse produto pelos consumidores.

97

Figura 44 - Produto Grendene Kids – Ben 10

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em 13 de junho de 2014

Grendene Kids – Meninas

A coleção feminina na linha Grendene Kids é a que conta com mais

licenciadas, onze personagens no total. Voltadas a meninas de três a oito anos, as

personagens vão desde animais, como as gatas Marie e Hello Kitty, personagens de

desenhos, como Minnie, Moranguinho e Monster High, bonecas, como Jolie, Polly

Pocket e Barbie, apresentadora de televisão, como a Xuxa, e personagens de

contos de fadas, como a fada Sininho e a Disney Princesas.

Figura 45 - Licença Grendene Kids - Meninas

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em 13 de junho de 2014

Como explica Costa (2014), os calçados voltados para as meninas

geralmente trazem mais brilho, salto alto, cores vibrantes e brindes ligados a joias,

98

maquiagens e bolsas, áreas de interesse das meninas como visto no capítulo três.

Os produtos também tendem a ter características mais delicadas e serem voltados

ao universo da moda, como no exemplo a seguir.

Figura 46 - Produto Grendene Kids – Barbie

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/; acesso em 13 de junho de 2014

A sandália da Barbie possui dez cores diferentes para a menina escolher e

colecionar, além de vir com uma bolsa com o mesmo detalhe e a mesma cor do

sapato, que como já vimos são atributos eu atraem as jovens consumidoras. Como

explica Solomon (2002), os acessórios e brindes, além das cores e embalagens, são

assimilados pelos olhos e traduzidos como estímulos e impulsos de compra,

aumentando assim a chance da menina escolher o produto em vez de algum outro,

de outra marca ou com personagem similar.

Como vimos a marca Grendene Kids tende a criar produtos que instiguem a

imaginação e estimulem o sistema sensorial das crianças, para obter respostas

positivas para os produtos. Pois como explica Costa (2014), os calçados passaram

de um simples artigo de necessidade, proteger os pés, para se tornar um bem de

consumo, que precisa ser incentivado. A publicidade é uma das grandes

responsáveis pelo estímulo da compra, nos produtos licenciados a relação das

consumidoras com os personagens também servem de estímulos, que pode não

funcionar mais caso mudem as preferências desses jovens consumidores.

Para esse trabalho analisaremos o uso da licença Disney Princesas pela

marca Grendene Kids, nos produtos e também na sua comunicação. Escolhemos

99

essa licença por ela estar presente no imaginário das crianças há muitas gerações,

primeiramente por causa os contos de fadas e animações da Walt Disney, e

posteriormente nos bens de consumo, como os calçados.

5.3.1 Disney Princesas – Grendene kids

A marca Grendene Kids lança uma ou duas coleções anuais inspiradas nas

princesas da Disney. A coleção que estudaremos é a coleção Disney Princesas

Encantadas, do segundo semestre de 2013. O produto é um modelo de sandália que

vem acompanhada da bolsa Glam, com a mesma cor do sapato.

A sandália de plástico vem em quatro opções de cores: dourado, lilás, rosa e

branca, trazendo estampada uma princesa na palmilha dos produtos. As princesas

utilizadas para essa coleção foram: a princesa Bela, do filme A Bela e a Fera;

Cinderela, da animação que leva seu nome, e Aurora, de A Bela Adormecida. As

sandálias das princesas possuem salto alto com cerca de quatro centímetros, para

meninas de três a oito anos, idade em que elas ainda são principalmente inspiradas

e influenciadas pela fantasia e contos de fadas. Além de sandália, a menina também

ganha uma bolsa de mão na hora da compra, feita do mesmo material e cor.

Na sandália há ainda outros elementos que remetem ao universo das

princesas, além da imagem delas estampada. Em todo o produto há aplicação de

glitter, brilho da mesma cor do sapato e que lembra os deslumbrantes vestidos e

sapatos das princesas nos contos e animações. Na parte da frente do produto, há

uma joia aplicada com pedra da mesma cor, na bolsa e sandália, que remete as

coroas e joias das princesas. Na lateral do produto encontramos o contorno de uma

coroa, que amplifica ainda mais a ideia que a sandália é um sapato de princesa, feito

para as princesas ou para quem almeje se tornar uma.

Como as princesas, as cores dos produtos também são clássicas e habituais

dentro do universo das princesas e das meninas. Muitos aspectos e elementos

presentes nos produtos vão ser mais enaltecidos ainda mais durante a comunicação

da coleção, como veremos a seguir.

100

Figura 47 - Sandálias Disney Princesas Encantada

Fonte: http://www.grendenekids.com.br/ ; acesso em 25 de novembro de 2013

5.3.2 Comunicação

A comunicação da coleção está voltada ao universo da princesa e da menina,

misturando o clássico dos contos de fadas com as características da menina

moderna e decidida. Os meios utilizados para essa campanha foram: a televisão e

as revistas em quadrinhos.

O comercial de 15 segundos foi veiculado de nas principais emissoras e

programas voltados para o público infantil feminino, de canais abertos e fechados.

Os canais abertos escolhidos foram o SBT e a Globo, nos horários dos desenhos

animados e também nas novelas infantis, os canais fechados foram Disney Chanel e

Gloob, nos intervalos dos desenhos animados, seriados e programas para as

meninas.

101

A revista em quadrinho escolhida para a campanha foi a da Turma da Mônica,

do mês de novembro. A comunicação é reforçada na hora da compra também pelo

material de ponto de venda exclusivo para a coleção.

5.3.2.1 Televisão

Para a televisão o formato escolhido foi o comercial de 15 segundos, onde o

foco principal é a apresentação do lançamento da nova sandália da Disney

Princesas e da bolsa Glam que acompanha o produto. A narração do comercial é

feita por uma mulher, que apresenta a sandália e a bolsa, usadas pela protagonista

do filme, uma menina. A abertura do comercial é com a marca Grendene Kids e a

sua assinatura sonora, que está presente em todos os comerciais da marca.

Uma menina de pele e cabelos claros deixa a casa e se dirige para o jardim,

com flores cor-de-rosa e arbustos. Ela está usando saia e uma blusa em tons rosa

claro, sapatos e bolsas em um tom mais escuro de rosa. Ela caminha por uma trilha

de pedras no jardim e a narração começa. Temos um close no produto, a sandália

da menina, e a narradora anuncia que é a nova sandália da Disney Princesas.

Depois, se aproxima da mão da menina com a bolsa, onde a narradora ressalta

também a bolsa Disney Princesas, enquanto a menina continua caminhando.

Temos então a imagem de uma casa na árvore, para onde a menina está se

dirigindo, e a narradora apresenta a casa como "casinha". A menina então

interrompe a fala, voltada para a câmera anuncia que é um “castelo”, não uma

“casinha”.

A narradora concorda com a menina, e então apresenta todas as cores da

sandália, que são mostradas em cima de uma almofada com o castelo ao fundo. A

marca Grendene Kids está presente em todo o comercial, “assinando” o comercial. A

logomarca da licença Disney Princesas também aparece, mas no final do comercial.

102

Figura 48 - Cenas do comercial Sandália Disney Princesas 15’

Fonte: http://www.youtube.com/channel/UCw5VAOSbsaQxyeLAU7VRWKw; acesso em 30 de maio

de 2014

Narradora: Essa á a nova sandália Disney Princesas. Essa é a bolsa Disney Princesas E essa é a casinha.. Menina: Casinha não, Castelo! Narradora: Isso, Castelo. Nova sandália Disney Princesas com bolsa Glam

A narrativa do filme é o que explica o sentido e significado do que está

aparecendo, comunica os objetivos principais da peça e atrai a atenção de quem

está vendo. Nesse caso, a atração da atenção aumenta quando há a interrupção da

personagem central da história, que fazendo o papel da ouvinte corrige a informação.

103

Do mesmo modo que existe, no interior da narrativa, uma grande função de troca (repartida entre um doador e um beneficiário), também, homologicamente, a narrativa, como objeto, é o lugar de uma comunicação. Como se sabe, na comunicação linguística, eu e tu são absolutamente pressupostos um pelo outro; do mesmo modo, também não pode existir narrativa sem narrador e sem ouvinte (ou leitor) (BARTHES, 1987, P.118).

Como percebemos a narração depende dos dois lados, emissor e receptor,

para que a comunicação faça sentido e possa existir. Na narração do filme,

usaremos para definir a terceira concepção sobre narrador explicada por Barthes

(1987). O narrador nesse caso é limitado a aquilo que ele observa e sabe do

personagem ou sobre que está narrando, onde o personagem pode ser considerado

o próprio emissor da narrativa. É por esse motivo, que no filme a personagem

central interrompe a narração para dar seu ponto de vista sobre o que a narradora

considerava apenas uma “casinha”. O que a narradora enxergava como “casinha”,

era vista pela menina como um “castelo”.

A cor, como explica Lurker (1997), precisa ser analisa de acordo com o

ambiente em que está inserida. Pode representar aspectos de alguma cultura ou

costume. No filme a cor predominante, tanto na roupa, quanto calçado, bolsa e no

castelo é a rosa. Cor que normalmente é relacionado a mulheres e meninas, e que

pode representar romantismo, bondade, amor, afeto, nobreza, beleza, fantasia,

elementos presentes nas histórias das princesas e que podem representam a

personalidade da menina.

A cor rosa nesse caso representa os elementos que a menina que possuir,

como romantismo, beleza e a nobreza das princesas. A utilização da cor rosa como

principal durante toda a comunicação aumenta a possibilidade de identificação com

a menina do filme, e pode influenciar na resposta positiva ao comercial.

Existem também no filme elementos que fazem referência ao universo

estudado, como o sapato, que além do produto é um elemento importante, assim

com o vestido, nos contos de fadas. O castelo que representa o lar real, onde a

princesa vive, e também as almofadas aonde os produtos são expostos remetem às

almofadas que nas histórias aparecem com as coroas para a coroação real.

Todos esses elementos, como explica Barthes (2001), fazem parte do

processo de significação, que dão origem ao signo. Essa significação surge a partir

104

da junção do significado, conceito ou imagem psíquica, com o significante, que é

formado por matéria, como sons imagens e os objetos.

5.3.2.2 Revista em quadrinhos

O outro meio de comunicação utilizado, na campanha da coleção Disney

Princesas Encantadas, foi às revistas em quadrinhos. A revista escolhida foi a

Turma da Mônica. O anúncio segue o mesmo padrão visual da peça principal, o

filme publicitário. Há bastante destaque para a sandália e bolsa, e a presença muito

forte da cor rosa.

Os elementos desse anúncio complementam e reforçam a mensagem do

outro anúncio. A sandália rosa, da princesa Aurora, ocupa a posição central da

imagem colocada em cima da almofada que remetem as almofadas dos castelos.

Segurando a bolsa, que complementa a sandália, há uma menina diferente do

que a do comercial, porém ela mantém o estereótipo de princesa, cabelos longos e

arrumados, pele clara e feições delicadas. Ela também aparece abaixo da sandália,

ao lado da logomarca da licença.

O vestido que a menina usa remete aos vestidos de princesas, com brilho e

mangas curtas bufantes, que são mangas franzidas e presas aos ombros para criar

um efeito cheio, comum nos vestidos de princesas. A cor predominante em todo o

anúncio é a rosa, tanto do vestido da princesa, quanto na almofada, bolsa, e fundo.

Que como já vimos, representa a feminilidade e umas das cores preferidas das

meninas dessa idade.

Os elementos nesse anúncio, que reforçam a identificação da sandália da

Disney Princesas, assim como um sapato de princesa, são: a coroa, que assim

como no produto aparece desenhada; a almofada; que é o local onde a coroa

espera até a coroação da princesa ou rainha; os castelos, que desenhados ao fundo,

e que como no comercial, remetem ao lar real/ideal de uma princesa. Afirma ainda

mais a sandália como um signo de princesa, pois temos o significante, no caso a

sandália, com suas formas, cores e material, que remete a um significado que vai

além de sandália apenas. Temos um objeto/signo ligado ao sonho, aos desejos e

fantasias das meninas e as imagens apresentadas reforçam o imaginário de

princesa.

105

Figura 49 - Anúncio impresso Sandália Disney Princesas

106

Fonte: Turma da Mônica, nº 83, novembro de 2013

5.3.2.3 Material de ponto de venda

O material de ponto de venda da sandália serve como apoio a campanha e as

peças publicitarias da televisão e da revista em quadrinho. As peças trabalhadas

para essa coleção foram: display e embalagem exclusiva. Como explica Scrodro

(2009), a embalagem é a forma mais imediata de publicidade no ponto de venda, a

preocupação das empresas com a embalagem dos produtos aumentou muito, pois

ela consegue chamar a atenção e agregar mais valor ao produto. Sendo o material

de ponto de venda, a última oportunidade de atrair a atenção da consumidora para o

produto, deste modo, precisa ser chamativa e se sobressair às outras marcas

similares.

Figura 50 - Embalagem Sandália Disney Princesas Encantadas

Fonte: Grendene14

14

Imagem fornecida pela a empresa Grendene

107

Assim como nos outros materiais, os tons de rosas se sobressaem às outras,

mas o uso do lilás, ligado ao universo feminino e mágico também por vezes é usado.

Na parte da frente da embalagem, o destaque fica para a bolsa, que mesmo dentro

da caixa pode ser vista por uma abertura. No lado direito, estão ilustradas as

princesas da Disney: Bela; Aurora; Cinderela e Branca de Neve. Branca de Neve é

uma princesa clássica e sua imagem é uma das mais conhecidas entre as princesas,

deste modo ela também é utilizada nas embalagens e displays.

A embalagem do lado esquerdo, novamente a imagem da mesma menina do

anúncio impresso, segurando a bolsa dourada, reforçando mais uma vez a presença

da bolsa. A menina da embalagem ajuda na identificação da pequena consumidora

com o produto, com o universo e também com o seu uso. Atrás tem mais

informações e instruções de uso e manutenção do produto. Outro aspecto

importante da embalagem, é que ela aparenta ser uma caixa de presente, com laço

e espaço para remetente e destinatário. Ressaltando que o produto possa ser dado

como presente para as meninas.

O display de vitrine serve para dar destaque ao produto, pois ele disputa um

espaço na vitrine que é concorrido com muitas outras marcas infantis semelhantes e

precisa chamar a atenção da pequena consumidora. A cor principal dessa peça

também é a rosa, assim como restante da comunicação do produto. Como nas

outras peças, o display destaca a bolsa e o produto. Possui espaço para exposição

de um pé da sandália na parte inferior, e um degrau com espaço destinado a bolsa.

108

Figura 51 - Display Sandália Disney Princesas Encantadas

Fonte: Grendene 15

Aqui é reforçada a imagem das quatro princesas citadas anteriormente, que

aparecem na parte superior do display, e a imagem da menina segurando a bolsa

dourada, marcando o lugar atribuído à bolsa. Alguns elementos que eram usados

nas outras peças, como a coroa, a almofada e o castelo, deixam de aparecer no

material de ponto de venda porque são substituídos pela imagem das princesas em

destaque.

Como se percebe a comunicação da coleção direciona-se às pequenas

consumidoras, onde a magia e as fantasias ocupam parte de suas preferências,

como de se tornar princesa, morar em um castelo e viver um conto de fadas. Porém

sem esquecer as tendências atuais, como a moda, a bolsa, elemento ausente nos

contos de fadas, que vem como complemento de valor para a comunicação e para a

venda.

5.4 DISNEY PRINCESAS E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DE PRINCESA

A construção do imaginário de princesa como vimos passa por algumas

etapas, sendo influenciado pelas histórias e também pelos meios de comunicação.

Desde o surgimento das primeiras princesas, como as princesas da monarquia, elas

15

Imagem fornecida pela empresa Grendene

109

já serviam como padrão de comportamento para as outras mulheres e para a

sociedade em geral. Onde os seus hábitos, como a maneira de se vestir, comer,

falar, se comportar, serviam como referência para as demais pessoas. A mídia é

uma das grandes responsáveis por disseminar padrões, pois ela tem grande impacto,

principalmente quando falamos em meios de comunicação de massa como televisão,

jornal e revistas. Como espaço comunicacional, temos a internet, onde as notícias

se espalham rapidamente.

Atualmente a princesa do mundo real mais célebre é a princesa inglesa Kate

Middleton, nascida em 1982. A princesa é de origem plebeia, assim como muitas

das princesas que estudamos nesse trabalho, ganhou o título de princesa através do

casamento com um príncipe. Uma história real de uma plebeia que se casa com o

príncipe da vida real estimula ainda mais o imaginário de princesa, torna alcançável

e ainda mais desejado o sonho de princesa.

Casada com o príncipe Willian, neto da Rainha Elizabeth II da Inglaterra, a

nova princesa viveu um conto de fadas na vida real. O Duque e Duquesa de

Cambridge, título que receberam depois do casamento em 2011, já possuem um

herdeiro real, o príncipe George Alexander Louis de Cambridge, nascido em 2013.

Figura 52 - Casamento Duque e Duquesa de Cambrige

Fonte:http://ego.globo.com/gente/noticias/0,,mul1660572-9798,00-

veja+o+primeiro+beijo+de+kate+e+william+casados.html; acesso em 16 de

junho de 2014.

110

Desde o anúncio de noivado, o novo casal real não parou de atrair a atenção

do mundo. O casamento deles foi um acontecimento histórico, o casamento da

plebeia Kate com o príncipe William foi transmitido ao vivo para o mundo todo.

Princesa Catherine, como foi nomeada desde o casamento, se tornou símbolo de

beleza, devido a sua maneira de se vestir e de se comportar. A princesa foi

escolhida como a terceira mais bonita da realeza mundial em 2011, mesmo antes de

seu casamento. Em 2012, logo após a sua coroação a princesa foi eleita como a

mulher mais bonita do Reino Unido, de acordo com uma pesquisa publicada no

jornal inglês Daily Mail.

Se compararmos as características das princesas, descritas no capítulo dois,

com as da princesa Catherine vamos perceber que há algumas semelhanças entre

elas. A princesa da Inglaterra possui olhos claros, pele branca, sem imperfeições e

de fisionomia delicada. Kate Middleton ainda possui cabelos longos e sempre

arrumados, além de se vestir com elegância e sempre usar joias e acessórios

delicados.

O imaginário de princesa, como percebemos, vai muito além dos filmes e dos

contos de fadas. As princesas, dos contos e da vida real, influenciam a maneira

como as pessoas, principalmente as mulheres, se comportam e se veem. A

construção desse imaginário de princesa, com ideais românticos, padrões de

belezas predefinidos é reafirmado pela mídia constantemente. O arquétipo de

princesa, mostrado pela mídia e também pelos padrões existentes nas princesas da

Disney, muitas vezes não podem ser alcançados por todas as meninas e mulheres.

É por esse motivo também, que muitas marcas trabalham nos produtos e na

comunicação o imaginário de princesa, oferecendo para a menina consumidora

produtos que a aproximem de alguma maneira do padrão que lhe é mostrado. A

construção desse imaginário se dá pela junção do real com as princesas da

monarquia, e da fantasia com os contos de fadas e suas princesas. A marca

Grendene Kids com os produtos da Disney Princesas fortalece e ajuda a construir

esse imaginário, mostrando, de certa maneira, na sua comunicação e construção de

marca que é possível se tornar uma princesa, nem que seja usando os sapatos de

princesas da marca.

111

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notamos que mesmo com o passar dos anos os contos e histórias continuam

presentes na cultura da maioria dos indivíduos. Com o desenvolvimento desse

trabalho podemos perceber que as histórias dos contos de fadas vão muito além dos

livros, fazendo parte do cotidiano das pessoas e principalmente das crianças.

Percebemos com o estudo que os contos de fadas fazem parte de um

imaginário coletivo. Imaginário alimentado pelas diversas versões existentes das

histórias, como livros, animações, filmes, desenhos e publicidades. Da mesma forma

que as histórias, muitos personagens habitam o imaginário das pessoas. Isso se

deve aos autores que transcrevem as histórias ao longo dos anos e também a Walt

Disney, que foi o primeiro a transformar as histórias dos contos para animações. Há

praticamente 80 anos atrás, Walt Disney lançou o primeiro longa-metragem de

animação: Branca de Neve e os sete anões. A partir de então muitas outras histórias

também foram sendo transformadas em filmes e animações, que as tornaram

mundialmente conhecidas.

Os personagens principais, como princesas, príncipes, bruxas, madrastas e

animais falantes são os mais lembrados e suas representações estão presentes no

imaginário. Em nosso estudo, abordamos sobre a imagem das princesas nas

animações da Disney contribuindo para a construção de um imaginário ao longo dos

anos, a partir de suas histórias e desdobramentos.

Buscamos aprofundar o nosso conhecimento também acerca do papel da

criança sociedade atual e a sua socialização precoce como consumidora. As

crianças, como percebemos, exercem influência no consumo de seus pais e grupos

sociais, como amigos e colegas. Atualmente, não é somente nas compras que lhe

dizem respeito diretamente que elas ajudam escolher, como roupas, brinquedos e

lanches. Mas também em produtos para casa e compras maiores como viagens de

férias e compras de carros. Identificamos que conforme a criança cresce o seu

potencial de consumo e de decisão também evolui, sendo que aos oito anos ela já

realiza compras sem a supervisão de seus pais.

O trabalho também apresentou que é ainda na infância que a consumidora

começa a definir as suas preferências de consumo, como marcas e produtos.

Personagens e mascotes estimulam nas crianças o desejo de compra, influenciando

o consumo principalmente entre os três e oito anos. Isso explicasse por que nessa

112

faixa etária a criança vive um mundo de fantasia e magia, onde os personagens

possuem grande destaque e se diferenciam para meninos e meninas.

As meninas, conforme explanamos, são atraídas por produtos e marcas que

ressaltem nelas atributos como feminilidade, romantismo e beleza. Elas estão se

interessando cada vez mais cedo por joias, maquiagens, sapatos e roupas da moda.

Percebemos assim que os atributos físicos, como a beleza são cada vez mais

importantes para as jovens consumidoras, e que elas consomem marcas que

ressaltem essas características.

O estereótipo de princesa, criado e alimentado principalmente através das

animações da Walt Disney, faz parte do imaginário coletivo e estimula o

comportamento da menina. A Disney reuniu todas as princesas em uma única e

forte franquia voltada para o público feminino infantil, a Disney Princesas. A franquia

é utilizada em muitos produtos dirigido a esse público-alvo, como brinquedos, roupas,

calçados, materiais escolares e muitos outros.

Com a análise de nosso estudo de caso, podemos compreender mais sobre o

uso das princesas da Disney pela marca Grendene Kids. A marca de calçados

infantis utiliza as princesas, e os elementos de seu universo, para se aproximar da

menina e das suas fantasias. A marca de calçados cria produtos e comunicação que

misturam o lúdico ao real, que reforcem o ideal de ser princesa.

Este estudo buscou aumentar o nosso conhecimento em relação ao uso da

franquia Disney Princesas pela marca Grendene Kids para aumentar a aproximação

com a marca e também o consumo de seus produtos. Podemos perceber que a

utilização da franquia poder vir a fortalecer a construção de um imaginário de

princesa para as meninas consumidoras, que enxergam nas princesas da Disney um

padrão de beleza e comportamento a ser seguido.

O trabalho apresentado tem sua importância por tratar de um tema que

mesmo estando em há gerações, continua atual e de grande relevância para

compreender o comportamento da consumidora infantil e os movimentos da

comunicação.

113

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118

ANEXOS

119

ANEXO A – PROJETO DA MONOGRAFIA

120

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

JANAÍNA MENEGOL

O IMAGINÁRIO DOS CONTOS DE FADAS E SUA UTILIZAÇÃO PELA MARCA

DISNEY PRINCESAS

Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado como requisito para

aprovação na disciplina de Monografia I.

Orientadora: Prof. Ms. Ivana Almeida

Caxias do Sul

2013

121

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................122 2 TEMA....................................................................................................................124 2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA..................................................................................124 3 JUSTIFICATIVA....................................................................................................125 4 QUESTÃO NORTEADORA..................................................................................127 5 OBJETIVOS. ........................................................................................................128 5.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................................128 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..............................................................................128 6 METODOLOGIA..................................................................................................129 7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................133 7.1 IMAGINÁRIO......................................................................................................133 7.2 CONTOS DE FADAS.........................................................................................135 7.3 CONSUMIDORA INFANTIL..............................................................................138 7.4 CASE DISNEY...................................................................................................140 8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS................................................................................143 9 CRONOGRAMA....................................................................................................144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................145

122

1 INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa é um estudo elaborado para ser o trabalho de

conclusão de Curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e

Propaganda, da Universidade de Caxias do Sul. O projeto tem como intuito analisar

o uso da imagem das personagens princesas, presentes nos contos de fadas da

Disney, em publicidades voltadas para as consumidoras infantis.

Os contos de fadas que estão presentes na nossa cultura há muitos anos

foram se adaptando ao decorrer do tempo. Eles ficarem mais modernos e se

atualizaram, porém nunca perderam o encantamento e a magia que um conto de

fada tem que ter. Contam histórias de fadas, rainhas, reis, príncipes, princesas e

reinos encantados que mechem com o imaginário de crianças e muitos adultos.

Para Franz (2003) a linguagem presente nos contos de fada é a linguagem

universal. As histórias desses contos conseguem atingir a todos, dos mais diversos

lugares do mundo, independentemente da classe social, etnia. A linguagem mágica

dos contos de fadas auxiliam as crianças a superar os problemas encontrando

soluções morais para eles.

Histórias como os contos de fadas alimentam o imaginário das pessoas e

principalmente os das crianças. Para Maffesoli (2001), pensador francês, o

imaginário é uma força social coletiva, sendo capaz de transformar e criar novas

imagens, ultrapassando a própria obra. Deste modo a cultura pode modificar as

histórias, as princesas e seus contos de fada continuam populares, pois suas

histórias se renovaram ao longo dos anos.

O cinema, a televisão e a literatura estimulam a imaginação, por isso filmes,

desenhos, séries e novos livros continuam a surgir baseados nos enredos já

conhecidos das histórias das princesas. Algumas marcas utilizam da imagem das

princesas dos contos de fadas em seus produtos e publicidade, como as

personagens da Disney Princesas, pois são personagens reconhecidas e amadas

pelas consumidoras infantis.

As princesas se popularizam com o passar dos anos, da mesma forma como

os contos de fadas que estão presentes em nossa cultura há muito tempo. As

princesas representam ideais de beleza, comportamento e romantismo,

características geralmente atribuídas ao universo feminino, tanto nos contos de

fadas quanto na vida real. Princesas das monarquias, atuais e passadas,

123

representam para seu povo um ideal a ser seguido.

As crianças logo que nascem já se tornam consumidoras, e a maneira que

cresce vão aumentando seu potencial de consumo. As consumidoras infantis têm

influência na compra de seus pais, em produtos que não estão ligados diretamente

com eles, como comida e produtos de higiene. Nas compras que estão diretamente

ligados com elas, como roupas e brinquedos elas possuem uma influência ainda

maior, podendo escolher até as marcas que prefere.

A consumidora infantil desde que pequena ouvi histórias, vê filmes e

desenhos da Disney que misturam o lúdico, o mágico com a realidade, provocando

emoções e desejos de viverem histórias como as das princesas. A publicidade faz

uso da imagem dessas personagens para criar fidelidade e reconhecimento imediato

a produtos com a assinatura da marca da Disney Princesas, já que a menina já as

conhece.

As preferências das consumidoras infantis são moldadas e influenciadas

pelos colegas, pais e pelos meios de comunicação. O uso das princesas voltadas

para a consumidora infantil pode aumentar a motivação da criança de consumir

estes produtos e serviços. Já que consumidora consume produtos que a aproximem

do seu eu ideal, e as ainda princesas são consideradas como ideias de beleza e

comportamento.

Um exemplo é a marca Disney Princesas, uma franquia da mundialmente

conhecida Walt Disney. Desde 1937, após sua primeira longa-metragem, a Disney

já produziu diversos filmes inspirados nos livros de contos de fada. Atualmente a

marca conta com dez princesas de dez filmes produzidos pela Disney. São elas as

princesas: Branca de Neve, Cinderela, Aurora, Ariel, Bela, Jasmine, Pocahontas,

Mulan, Tilan, Rapunzel e Mérida.

Michael R. Solomon (2002), professor de Ciências Humanas de

Comportamento do Consumidor, explica que geralmente empresas criam

personagens para desenvolver uma personalidade para os seus produtos, para

serem amadas na cultura popular. Deste modo pesquisaremos se a consumidora

infantil, que ainda está com sua personalidade em desenvolvimento, estabelece uma

ligação de autoconceito com a marca, ajudando a ela estabelecer a identidade do

usuário. Investigaremos também se o uso da imagem das princesas dos contos de

fada em produtos influência as consumidoras infantis na escolha do produto com as

personagens da Disney Princesas.

124

2 TEMA

Os contos de fadas e a sua relação com o consumidor infantil.

2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Os contos de fadas e sua utilização pelas marcas a partir das histórias das

princesas e seu papel na construção do imaginário da consumidora infantil.

125

3 JUSTIFICATIVA

O comportamento consumidor já foi alvo de diversos estudos e

pesquisas, porém continua sendo relevante estudar sobre como se comporta o

consumidor, pois da mesma maneira que a humanidade modificou-se com a

modernidade e as novas tecnologias, a nossa forma de consumir também se alterou.

O consumidor atual tem mais opções, porém continuam amando e consumindo

algumas marcas mais do que as outras.

Este projeto voltou-se para a consumidora infantil, pois a pesquisadora em

questão tem a curiosidade de conseguir compreender mais sobre o desenvolvimento

da criança como consumidora. Porque ao contrário do que pode parecer, a criança

não é um adulto miniaturizado, ela tem seus próprios desejos e vontades, diferentes

das de um adulto.

Pesquisar sobre o uso da imagem das princesas dos contos de fadas é

importante, pois os contos de fadas estão em nossa cultura há muitos anos, sendo

transmitidos de geração em geração. Alguns personagens dessas histórias ficam

guardados em nossas memórias, para uma criança, personagens inspiracionais

como princesas e príncipes. Para as meninas, as princesas são um ideal a ser

seguido.

As histórias sobre princesas, como Branca de Neve, Cinderela, Bela, entre

outras princesas da Disney, são muito populares e se disseminaram para muito além

da literatura. Sua imagem é reconhecida perante as consumidoras infantis, as

princesas saíram dos filmes, desenhos e livros, e podem ser vistos produtos e

publicidades utilizando a imagem dessas princesas com foco no público infantil.

Como parte da infância, as princesas ajudam a formar a personalidade das

meninas. Por isso é significativo para a sociedade analisar como o uso da imagem

das princesas influência no consumo dos produtos, já que fazem parte importante na

vida delas. A consumidora infantil de hoje será a consumidora do futuro, desta forma

a maneira como consomem hoje influenciará no comportamento de consumo dela

quando for adulta.

Deste modo essa pesquisa é relevante para compreender mais sobre as o

comportamento das consumidoras infantis e sua relação com as marcas assinadas

pela Disney Princesas. Esta pesquisa auxiliará os profissionais e estudantes da área

da Comunicação, já que eles são ou serão responsáveis pelo que é ou será

126

vinculado nos meios de comunicação. Aos que têm filhas, para aprofundar o

conhecimento sobre o comportamento como consumidora nesta fase importante da

vida. Aos educadores, que trabalham com as crianças e que convivem durante o

desenvolvimento delas.

127

4 QUESTÃO NORTEADORA

De que forma os contos de fadas são utilizados pelas marcas e qual

seu papel na construção do imaginário da consumidora infantil? Case: Disney

128

5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL

Estudar a forma como os contos de fadas são utilizados pelas marcas e seu papel

na construção do imaginário da consumidora infantil.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar a relação entre os contos de fada e o imaginário infantil.

Pesquisar o comportamento infantil em relação ao consumo.

Pesquisar de que forma a publicidade apresenta-se diante da consumidora

infantil.

Verificar de que forma a Disney estabelece relações com o imaginário dos

contos de fadas em produtos e estratégias de comunicação.

129

6 METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica serve como o planejamento inicial de qualquer

trabalho de pesquisa, segundo Stunpt (2005). A pesquisa serve desde a

identificação, localização e obtenção da bibliografia sobre o assunto da pesquisa.

Segundo a autora para elaborar um trabalho sobre determinado assunto é

necessário fazer uma revisão literária sobre o que já existe a respeito, essa revisão

vai desde o inicio do trabalho com a formulação do problema e objetivos até a

análise dos resultados.

Para Stumpt (2005) a pesquisa bibliográfica precisa ser aprofundada

conforme o andamento do trabalho, porém é preciso ter uma boa estratégia de

busca para encontrar teorias e trabalhos relacionados com o foco da pesquisa. Há

algumas formas de realizar a pesquisa bibliográfica, denominado pela autora como o

conjunto de procedimentos para identificar, selecionar, localizar e obter documentos

interessantes para a realização de um trabalho acadêmico.

A primeira etapa é identificar os assuntos e o tema do estudo, geralmente é

uma etapa fácil, pois geralmente o pesquisador escolhe algo que lhe instiga. O

pesquisador deve definir as palavras chaves de sua pesquisa, sabendo claramente

os seus significados. Ainda convém delimitar o tema no tempo e espaço, período e

área geográfica, deste modo se evitará a perda de tempo com materiais e fontes

inadequadas.

A segunda etapa da pesquisa é a seleção de fontes, onde se deve fazer

uma lista com os documentos representativos para a pesquisa, anotando as fontes e

os dados de cada documento. A terceira etapa consiste na localização e obtenção

do material necessário para a pesquisa, que podem ser retirados em bibliotecas,

revistas, compra ou empréstimo de matérias, e até a consulta pela internet.

A quarta etapa, segundo Stumpt (2005), é a leitura e a transcrição dos dados

recolhidos, estabelecendo as prioridades e o interesse para cada parte do trabalho.

Durante a leitura é necessário ficar atento aos dados, ideias e posicionamento que

se quer apresentar. Após cada trabalho lido deve-se fazer um resumo contendo a

opinião sobre o conteúdo.

Para este trabalho também usaremos o estudo de caso, considerado

um método qualitativo de pesquisa. Robert Yin (2001) apresenta um levantamento

130

detalhado e aprofundado sobre o assunto. Para o autor o estudo de caso contribui

para a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos.

Esse tipo de estudo permite uma investigação para preservar as características

holísticas e significativas do evento na vida real.

Para Yin (2001) o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga

um fenômeno dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites

entre o fenômeno e contexto não estão claramente definidos. Para trabalhar neste

projeto utilizaremos o estudo de caso explanatório, como estratégia de pesquisa.

Para o estudo explanatório é necessário uma estratégia analítica, construindo com

os dados uma explanação a respeito do caso.

Pensando o projeto de pesquisa como um “esquema”, deve-se tratar de

quatro problemas centrais que são: quais questões a estudar, quais os dados

relevantes, o que coletar e como analisar os resultados. Para o autor o

desenvolvimento da teoria é parte fundamental como parte do projeto, caso o

proposito da pesquisa seja testar uma teoria. A coleta de dados é uma atividade

complexa e difícil, se não houver uma boa coleta de dados todo o trabalho anterior

pode ser em vão.

Das fontes de pesquisa definidas por Yin (2001), utilizaremos duas que são

os documentos sobre o assunto e os registros em arquivos. Para ter uma boa

pesquisa deve seguir três princípios que são: utilizar várias fontes e evidências, criar

um banco de dados e manter o encadeamento das evidências encontradas.

Neste estudo utilizaremos a pesquisa bibliográfica para realizar o

levantamento de trabalhos, teses, artigos, livros e documentos que possam

contribuir e estejam relacionados com a nossa pesquisa. Alguns autores foram

fundamentais para esta construção inicial da pesquisa como Bruno Bettlheim, Nelly

Coelho, Marie-Louise von Franz, Eliane Karsaklian, Gilberto Durand, Michel

Maffesoli, Michael Solomon, há outros autores que também contribuíram e vão

contribuir ainda para o desenvolvimento de nossa pesquisa.

O estudo de caso auxiliará também em nossa pesquisa, pois focaremos uma

parte de nosso trabalho na Disney e em suas princesas, para elaborarmos este

estudo de caso buscaremos matérias que nos auxiliem a aprofundar o nosso

conhecimento sobre o caso em específico. Através do estudo de caso, definido dor

Yin (2005), como explanatório, construiremos um estudo por meio da explanação de

teorias existentes de escritores e de algumas pesquisas nas áreas relacionadas a

131

este trabalho.

Neste trabalhamos utilizaremos, além da pesquisa bibliográfica e estudo de

caso explanatório, ferramentas para análise do discurso e da imagem em nas peças

publicitárias selecionadas. Para Eduardo Manhães (2005) o discurso significa “em

curso”, ou seja, que a linguagem é um instrumento que está sempre em atividade.

Para o autor, o discurso é apropriação da linguagem por um emissor que tem papel

ativo para uma ação social, podendo significar o mundo mostrado, organizar e

ordenar ou falar do seu entendimento sobre o mundo. Podemos analisar o discurso

construindo-o, para saber que ele foi montado. Utilizando o que é definido por

Manhães (2005) como uma análise de discurso francesa, mais indicado para

análises de peças são publicitárias, que são discursos já instituídos.

Rosalina Gill (2005) nos ajudará a aprofundar mais sobre a análise do

discurso, para a autora é necessário procurar padrões nas peças analisadas e criar

hipóteses para estes padrões encontrados. Para Gill (2008) é necessário durante a

análise ficar muito atento a aquilo que não está sendo dito claramente. A análise de

discurso, segundo a autora, não constrói generalizações universais, mais sim

contextos focados em casos específicos, por isto este método será uma base

fundamental em nosso estudo de caso, pois é a interpretação fundamenta em uma

argumentação detalhada e com uma atenção cuidadosa ao material que está sendo

estudado.

Para a análise e leitura de imagens utilizaremos a ajuda de Iluska Coutinho

(2005) que define uma imagem como toda e qualquer imagem gerada pelo ser

humano, seja um objeto, obra de arte, foto, pintura, desenho, gravura ou ater mesmo

pensamentos. Segundo a autora a análise da imagem é uma faculdade natural de

todo o ser humano, uma das formas de comunicação. Para a análise da imagem

interessa compreender as mensagens visuais como produtos comunicacionais.

Para Coutinho (2005) a imagem é uma reconstrução mão objetiva do objeto

representado, ou seja, uma fotografia representa um recorte da sociedade ou fato,

por isso analisar as imagens presentes nas peças será tão importante em nossa

pesquisa. Entre as imagens que podemos analisar estão as fotográficas, as da

televisão, cinema, porém cada imagem tem de ser analisada conforme o local onde

foi transmitida.

Para Gemma Penn (2005) as imagens, objetos e comportamentos podem

significar, porém nunca significam sozinhas, ou seja, o sentido de uma imagem tem

132

de ser analisada juntamente com os textos que a acompanham e os objetos

presentes na imagem também.

Sendo assim em nossa pesquisa além da pesquisa bibliográfica e estudo de

caso, analisaremos em conjunto as imagens e discursos presentes nas peças

publicitárias escolhidas para termos uma completa interpretação.

133

7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

7.1 IMAGINÁRIO

Para Edgar Morin (1969) o imaginário se estrutura segundo arquétipos

também, para ele os arquétipos são figuras modelos do espirito humano que

ordenam os sonhos e os sonhos racionalizados, que são os temas místicos ou

romanescos. As regras e convenções impõem ao sujeito estruturas externas, as

situações-tipo e personagens-tipo oferecem estruturas internas.

Para ele a indústria cultural se apropria de arquétipos e dos temas

romanescos do sujeito para criarem os estereótipos. A cultura de massa tem uma

figura particular e complexa da felicidade, Para Morin (1969) a felicidade é um mito,

uma projeção imaginária de arquétipos de felicidade buscada pelas pessoas.

A cultura de massa pode se apresentar de diversas formas, principalmente

sob forma de espetáculo. E é através de espetáculos que os conteúdos imaginários

se manifestam, ou seja, é por meio do consumo estético que se estabelece a

relação de consumo imaginário. A literatura segundo o autor também cria um

universo imaginário, onde o leitor se identifica com os personagens, e ele passa a

viver neles e eles passam a viver nele.

Para Morin (1969) a cultura de massa desenvolve seus campos comuns no

imaginário do espaço, e tem a tendência a se adaptar as diversas classes sócias,

idades e nações.

Jacqueline Held (1980) coloca que o mundo o mundo das fadas é um dado

cultural que encontrou como forma de expressão o modo artístico. Para ela a ficção

responde a uma necessidade da criança, que é a de não se contentar com a própria

vida, permitir a criança imaginar outras possibilidades para poder ser. Aprendemos

em histórias onde o imaginário se mistura com o real, da mesma forma ocorre com a

cabeça das crianças.

Para Held (1980) a imaginação, como a inteligência e a sensibilidade, ou são

cultivadas, ou se atrofiam. Quando a criança brinca com brinquedos simbólicos, que

em sua mente possuem mil possibilidades do que pode se tornar, a criança está em

plena atividade do imaginário.

Para compreender melhor sobre as peças publicitárias escolhidas

134

contaremos com a ajuda da definição de Barthes (2009) sobre o mito e suas

motivações, para ele o mito é uma fala, mas não é uma fala qualquer, é um sistema

de comunicação, com uma significação, uma forma, Tudo pode constituir um mito

desde que seja possa ser julgado por um discurso. Os objetos míticos podem

permanecer por muitos anos e depois serem substituídos por outros mitos, deste

modo eles não antigos, mas não são eternos.

Para o autor, a fala é uma mensagem que pode ser escrita ou por

representações, o discurso escrito, assim com a fotografia, o cinema, a publicidade e

os espetáculos podem servir de apoio para a fala mítica. A representação do mito é

feita através de toda a matéria-prima do mito, do que já foi visto e trabalhado sobre

ele.

Barthes (2009) trabalha o mito como um sistema semiológico, onde a

semiologia é definida como um sistema de formas que estuda as significações,

ideias em formas. Para o autor, a semiologia relaciona as os dois termos, significado

e significante, para ele significado é o conceito sobre o objeto e o significante é a

sua imagem, onde desta relação surge o signo que é a entidade concreta da

representação. O signo para ele é próprio mito, sendo um sistema ideográfico puro,

na qual as formas são motivadas pelo conceito que representam.

Segundo o autor a relação que une o conceito do mito ao seu sentido é uma

relação de deformação, isto porque o significante tem duas faces, uma forma que é

o sentido e outra que é a forma, mesmo deformando o mito não elimina o sentido

fundamental, ou seja, o mito é uma fala determinada pela intenção final que tem voz

imperativa, que tem apelo direto ao homem.

Para Barthes (2009) a significação mítica nunca é totalmente casual, sempre

havendo uma parte motivada e com uma parte de analogia, não existindo um mito

que não tenha uma forma motivada, pois é necessário para a própria duplicidade do

mito.

O imaginário para Michel Maffessoli (2001) é uma força social de ordem

espiritual, uma construção mental que não pode ser quantificável. Leva com ele o

mistério da criação ou da transfiguração. Para ele o imaginário é aquilo que não

conseguimos ver na obra, mas que podemos sentir, podendo ultrapassar a própria

obra e ser considerado como a cultura de um grupo.

Para Maffesoli (2001) não é a Imagem que produz o imaginário, mas o

contrário, sendo a imagem o resultado. Considerando todas as imagens,

135

cinematográficas, pinturas, esculturas, tecnologias e outras mais, tudo aquilo que

pode ser construído é resultado do imaginário. Ele possui um elemento racional,

apesar dos outros elementos como o lúdico, a fantasia, o afetivo, não racional,

irracional e outras construções mentais, mesmo o imaginário sendo impalpável ele é

real.

As tecnologias atuais para o autor alimentam e são alimentadas pelo

imaginário, da mesma forma acontece com a televisão e a publicidade. Sendo que o

criador somente cria algo quando consegue captar o que está acontecendo na

sociedade, mesma forma como no cinema e na publicidade lidam com arquétipos,

por isso devem estar em sintonia com o real e o vivido.

Para Maria Zaira Turchi (2003) cada geração traz consigo novas

descobertas e aventuras, sendo que o prazer não está no produto final da ação mais

na aventura. Isto por que a imaginação humana transcende e ordena toas as outras

atividades da consciência. O imaginário desenvolve arquétipos como estruturas das

imagens primordiais da fantasia, inconsciente coletivo, que são elementos

formadores do mito. Onde o imaginário é o dinamismo criador, a potência de

imagens e palavras humanas emerge do inconsciente coletivo.

Turchi (2003) explica o que seria um esqueleto dinâmico do imaginário, que

contemplaria o polo subjetivo, da natureza humana e o polo objetivo, que seriam as

manifestações culturais que se relacionam através de esquemas de arquétipos e

dos símbolos. Para a autora o processo da consciência não se confunde com o

processo tecnológico, mas se integra cada vez mais, sendo através da cultura que o

imaginário realmente aparece.

7.2 CONTOS DE FADA

Os contos de fada estão em nossa cultura há muitos anos, por serem

populares. Para Coelho (1991) os contos de fada podem nem sempre possuir fadas,

porém sempre está presente o maravilhoso e o lúdico. As histórias se desenvolvem

dentro da magia feérica, ou seja, que pertence ao mundo das fadas. Sempre há um

problema existencial e o herói precisa vencer os obstáculos para alcançar a

autorrealização existencial.

A autora explica que as fadas são conhecidas como seres fantásticos ou

136

imaginários, de grande beleza, que se apresentam em forma de mulher. Com

virtudes e poderes sobrenaturais auxiliando os homens quando já não há mais

soluções possíveis.

As fadas geralmente aparecem ligadas ao amor, sendo amadas ou sendo

mediadoras entre os amantes. Já o male visto como o inverso das fadas, como

bruxas de aparência grande feiura.

Franz (2003) considera que “a linguagem dos contos de fada parece ser a

linguagem internacional de toda a especial humana- de idades, raças e culturas”.

Deste modo ao interpretar os contos de fadas a autora demonstra como os contos

de fada tem o poder de atingir a todos os públicos, desde o início até o final da vida.

Para Franz (2003) os contos de fadas são a mais pura e simples expressão

do que são os processos psíquicos do inconsciente coletivo. Eles representam os

arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa. É que no inconsciente que

todos os arquétipos estão contaminados um pelo outro, se juntando e formando uma

imagem só. Não podendo ser mais separados.

Bruno Bettelheim (2005) explica que para prender atenção de uma criança

as histórias tem que entreter e estimular a sua curiosidade, sendo os contos

folclóricos os mais enriquecedores e satisfatórios para as crianças.

O autor clarifica que os contos de fada apesar de serem escritos há muitos

anos, ensinam as crianças um pouco sobre as condições da vida moderna na

sociedade de massa. Aprende-se sobre os problemas interiores dos seres humanos

e as suas soluções corretas, a criança encontra nos contos de fada as ideias de

educação moral de modo implícito e sutil.

Segundo ele os personagens das histórias não são únicos, mais são típicos.

O bem e o mal estão sempre onipresentes nessas histórias, geralmente recebendo

corpo na forma e nas ações. Nesses contos de fada tradicionais não há

personagens ambivalentes, nunca são bons e maus ao mesmo tempo, diferente da

realidade como somos.

“Não é o fato de a virtude vencer no final que promove a moralidade, mas de

o herói ser mais atraente para a criança que se identifica com ele em todas as suas

lutas” (BETTELHEIM, 2005, p.15-16).

Para Bettelheim (2005), os contos de fada precisam ser transmitidos para as

crianças de forma que haja envolvimento emocional coma estória e com a criança.

Deixando que a própria criança modifique a história, podendo modifica as histórias

137

na lembrança de maneira diferente da original. Isto ocorre, segundo o autor, pois os

caminhos fantásticos que ela se desenrola permitem isso, encorajam mudanças

espontâneas.

Essas histórias auxiliam as crianças a lidarem com seus próprios problemas,

encontrando soluções. Dá a criança condições favoráveis para lidar

construtivamente com as suas experiências internas, os contos de fadas descrevem

estados internos da mente, por meio de imagens e ações. Bettlheim (2005) diz que

nunca se explica os significados dos contos para as crianças, se ela não

compreender o conto deve-se buscar contos que ela consiga entender.

Na percepção de Bettlheim (2005) a significação dos contos pode ser

diferente para cada pessoa dependendo do momento da vida. Extraindo significados

divergentes da mesma estória dependendo de seus interesses e necessidades

momentâneas.

Em seu estudo sobre os contos de fadas e a publicidade, Monique Larentis

(2010) nos ajudará a compreender a evolução dos contos de fada, desde os

primórdios de seu surgimento até como eles são utilizados atualmente, e a relação

desses contos de fadas com o consumo. Os contos de fadas encantam e seduzem

adultos e crianças através das imagens do cinema, na internet e outros espaços

comunicacionais há muito tempo, desde quando eram apenas transmitidos apenas

pela oralidade. Modificaram-se de acordo com os gostos conscientes e

inconscientes de cada geração.

Larentis (2010) discute a respeito da temporalidade nos contos de fadas,

que estão sempre se referindo a algo ocorrido no passado, onde não há uma data

precisa de quando aconteceu. O escritor marca o tempo através do texto, podendo

perceber isso já no começo da história, com o “Era uma vez...” ou “Há muito tempo

atrás...”. A autora explica que o espaço onde o personagem se encontra, reflete nas

próprias características dos personagens sendo fundamental para estabelecer o

contexto da história.

Segundo Mayara M. Bortolotto (2010) o que faz os contos de fadas

sobreviverem no tempo é a sua atemporalidade, a época indefinida, os personagens

e temas eternos. Por isso as histórias continuam vivas e sendo renovadas a cada

geração, por que tornaram parte importante na cultura das pessoas. Na antiguidade

os contos eram populares entre a classe trabalhadora, porém não eram bem vista

pela classe nobre.

138

Bortolotto (2010) também considera que o sucesso dos contos de fadas tem

esse grande sucesso graças a três escritores, que ela denomina como os “padrinhos”

dos contos de fadas. São eles: Perrault, os Grimm e Andersen, que foram os

primeiros a transcrevem os contos para a literatura e se dedicaram ao público infantil.

A autora também dedica parte da responsabilidade aos estúdios Disney, pois foram

eles que recriaram no cinema os grandes clássicos da literatura infantil, dando novo

sentido e imaginação aos contos e personagens dos livros.

7.3 CONSUMIDORA INFANTIL

Compreender o modo como o consumidor se comporta se tornou alvo de

diversos estudos. O consumidor está sempre em processo de aprendizagem,

aprende nome de produtos, lojas, como utilizar e precisar deles.

Eliane Karsaklian (2000) nos ajuda a entender mais sobre o comportamento

dos consumidores, ela explica que a compra de um produto não aparece do nada,

que no sujeito vai primeiro surgir à motivação que vai lhe causar uma nova

necessidade, despertando assim um novo desejo. A autora esclarece que a partir

do desejo surgem as preferências desse consumidor.

Fatores como o autoconceito e a personalidade vão o fazer ter uma

percepção particular do objeto. Essa percepção particular do consumidor pode ser

positiva ou negativa, fazendo o consumidor desejar um produto ou não.

Como visto vários fatores nos levam a consumir um produto, para

compreender melhor sobre o que motiva o comportamento humano sobre o

consumo, Christiane Gade (1998) discute a cerca dos aspectos psicológicos do que

é considerada a motivação do comportamento de consumo.

Para Gade (1998) a motivação tem dos aspectos, um interno que estimula o

indivíduo em direção a algum objeto e um comportamento que almeja alcançar este

objetivo. Para ela a motivação é um estado que gera um comportamento direcionado.

As necessidades e os desejos são categorizados pela autora como primários

e secundários. Os primários são as necessidades básicas, como a fome, sede, sono

etc. Os secundários são as de fundo psicológico, psicossocial, são necessidades de

causar impressão para os outros, de ser visto e ouvido. Em algumas pessoas as

necessidades secundárias podem ultrapassar as primárias.

Para a autora a motivação sempre vem acompanhada da emoção, sendo

139

definida pela psicologia como um estado de experiência ou um sentimento individual.

Algumas coisas, como os anúncios ou produtos podem ser considerados estímulos

que geram sentimentos como alegria, ansiedade, insegurança ou medo. O sujeito

pode interpretar o estimulo como positivo ou negativo, potencializando ou não a

comunicação recebida.

Fatores como a personalidade também influenciam no comportamento do

consumidor, a autoimagem é definida por Gade (1998) como a imagem que o

indivíduo tem de si, se desenvolvendo a partir das identificações com o outro. O

consumidor busca preservar a autoimagem comprando produtos que percebe como

congruentes com a imagem que faz de si. Ele compra, usa e consume produtos que

aproxima o eu real do eu ideal.

Para Michael R Solomon (2002) geralmente escolhemos os produtos não

pelo que eles fazem, mas sim pelo que eles significam. Os significados mais

profundos de um produto o destacam em relação ao outro. O autor segmenta os

consumidores que se assemelham de uma ou mais maneiras, as principais

dimensões demográficas definidas pelo autor são: idade, gênero, classe social e

renda, raça e etnia, estilo de vida e geografia.

As mulheres atualmente são consideradas as melhores consumidoras,

segundo Martha Barletta (2003), possuem um poder aquisitivo muito maior agora do

que na década de 70, sendo o maior segmento do mercado. Atualmente são as

mulheres que controlam a maior parte dos ativos financeiros das famílias, possuem

um maior poder de consumo sendo consideradas as diretoras de compras da casa.

Segundo Barletta (2003) as mulher são consideradas as consumidoras mais

lucrativas em longo prazo, já que tendem a permanecer fiéis a algumas marcas e

produtos por muito mais tempo. As mulheres além de controlarem o dinheiro,

comprarem mais, tendem a recomendar os produtos que usam para as outras

mulheres, diferentemente dos homens que não se fidelizam tão fácil a uma marca e

não fazem propaganda para os outros homens.

Para a autora qualquer processo de decisão de compra é classificado em

quatro estágios que são: ativação, indicação, investigação e a repetição. Nas

mulheres esses quatros estágios estão de forma circular, por isso elas tendem a

repetir mais o comportamento de compra de um determinado produto. Nos homens

os estágios estão de forma linear, por isso a repetição pode nem sempre ocorrer.

As mulheres almejam ter a sensação de fazer parte de alguma coisa, de

140

serem compreendidas e aceitas. Por isso muitas vezes compram objetos e produtos

que irão lhe fazer se sentir aceita.

Sendo as consumidoras mais lucrativas do mercado, é interessante para as

empresas criarem vínculos com essas consumidoras desde muito cedo, para

conquista-la já que como foi visto elas tendem a se tornar as consumidoras mais

fiéis que uma marca ou produto pode ter.

Como o foco principal desta pesquisa são as consumidoras infantis, elas

possuem características e desejos diferentes dos demais consumidores, inclusive

das consumidoras mulheres. Por isso alguns autores vão nos ajudar a entender

melhor sobre essas pequenas consumidoras, uma das autoras é novamente a

Karsaklian (2000) que em seu livro sobre o Comportamento do Consumidor, dedica

um capítulo completo sobre o consumidor na infância.

A autora se utiliza o pensamento de Boniface e Gaussel (1981) que diz que

“crescer é consumir”, aonde a criança ao longo de sua infância vai aumentando o

número de bens. Para ela à medida que elas crescem há uma ampliação rápida na

esfera de consumo.

Karkaklian (2000) diz que independentemente de classe social, lugar de

moradia e até mesmo o país onde mora a cultura das crianças é muito semelhante,

a cultura deles é baseada nas mesmas músicas, moda e humor. Sendo assim, as

crianças apreciam os mesmos produtos, aonde somente a idade das crianças vai

criar diferenças nas preferências e comportamentos.

Gunter e Furnham (2001) explicam que as crianças influenciam diretamente

no consumo de produtos ou serviços que estão diretamente ligadas a elas, como

brinquedos, alimentos e roupas. Os autores dizem que a socialização do consumidor

começa cedo é moldado por diversos fatores importantes, como pelos pais, colegas

e meios de comunicação.

7.4 CASE DISNEY

A empresa Walt Disney é um caso de sucesso no meio do entretenimento,

Neal Gabler (2009) nos ajuda a compreender mais sobre o surgimento dessa

empresa que está presente na imaginação de todos. Walt Disney criador da maior e

141

mais reconhecida empresa de entretenimento do mundo. Para Glaber (2009), Walt

Disney havia sido feito para Hollywood, por que adorava fantasias e faz de conta,

era sociável e gostava de atenção.

Na década de 1920, Hollywood era considerada a capital da imaginação,

símbolo de liberdade e audácia. E em 1923, Walt Disney chega a capital da

imaginação e é lá que ele começa a construir seu império, com o rolo de Alice no

país das maravilhas. Pouco a pouco começou a criar novos personagens e curtas.

Em 1933, Walt começou a planejar o que seria sua primeira longa metragem,

segundo o autor, Walt escolheu esta história, pois se assemelhava muito a sua

própria, de tudo que teve que superar e o que havia conquistado. E em 1937 o

longa-metragem Branca de Neve e os Sete Anões foi lançado e foi um imenso

sucesso e continuou gerando lucros para a empresa durante anos.

Após isso, segundo Gabler (2009) foram lançados 2.183 produtos diferentes

de Branca de Neve e só de copos de refrigerantes da personagem mais de 16,5

milhões foram vendidos depois da estreia do filme. E depois disso o império Disney

começou a ganhar ainda mais força.

Para Bortolotto (2010), a Disney com suas versões cinematográficas dos

populares contos de fada deu novo sentido e imaginação aos famosos personagens

dos livros. Walt Disney, fundador da empresa ganhou mais de 950 menções

honrosas e condecorações em todo mundo, e isto inclui os 48 Oscars e sete Emmys,

isso só foi possível graças ao seu pensamento inovador e criativo.

O grande sucesso de Branca de Neve não garantiu a estabilidade da

empresa para sempre, e após inúmeros insucessos Walt Disney estava arruinada.

Segundo Bortolotto (2010), foi em 1950 com o lançamento de Cinderela a empresa

se restabeleceu, aumentou seu prestígio e só cresceram.

Um dos sonhos de Walt Disney era proporcionar felicidade às pessoas em

todos os lugares, a empresa, segundo Ginha Nader (2009), desenvolveu no público

uma imagem de encantamento que é reconhecida e respeitada mundialmente. Para

o autor, Walt Disney fez dos desenhos animados uma arte, mesmo com poucos

recursos. A ideia de levar a felicidade e encantamento, defendida por Walt Disney,

chega para o público de todos os lugares do mundo, através de seus filmes e

produtos licenciados. E também para quem visita os parques da Disney nos Estados

Unidos.

Segundo Nader (2009), desde 1922 Walt Disney começou a desenvolver as

142

primeiras criaturas mágicas e novos personagens. Que se tornaram sucessos da

marca e são reconhecidos até hoje, como o Mickey Mouse. A Disney tem como

objetivo encantar as pessoas, transformar a Disney num lugar feliz, onde todos se

divertem, transformando o sonho em algo visível e que pode ser tocado,

transformando os desenhos animados magicamente em coisas vivas. Fazer as

pessoas participarem da fantasia, tornando-se personagens e as fazer entrarem no

mundo mágico que ela proporciona.

Michele Escoura Bueno (2012) em seu estudo sobre o gênero nos contos de

fada nos ajuda a compreender mais sobre o papel da Walt Disney na disseminação

da imagem dos personagens das histórias. Segundo a autora, a Cinderela, Branca

de Neve, Aurora, Bela, Ariel, Jasmin, Mulan além de outras protagonistas das

versões dos filmes hollywoodianos, sucessos entre as crianças, não são vistas

apenas nos filmes e desenhos, agora elas podem são vistas em decorações de

festas infantis, roupas, calçados, matérias escolares, ventiladores de teto,

computadores, brinquedos e outras infinidades de produtos.

A marca comercial Princesas, linha da empresa Disney como explica Bueno

(2012) foi fundada em 2000 e já se consolidou com uma das marcas mais

importantes de produtos no mercado para as crianças, sendo comum encontrar

meninas utilizando produtos com a imagem das princesas da Disney. A marca

ganha a cada dia mais espaço no cotidiano das crianças, criando familiaridade entre

elas e a imagens das protagonistas da Disney, abrindo espaço para que a imagem

delas seja usada cada vez em mais lugares, inclusive no cinema.

As variações entre as histórias são explicadas pela autora, que conta que as

variações nas histórias e a personalidade das princesas, variam de acordo com o

período em que as histórias foram produzidas, isto ocorre por que deve haver um

mínimo de contemporaneidade presente nas histórias e uma dose de realismo ao

conto, para que a história se torne agradável e sedutora ao público que está

direcionada.

Bueno (2012) explica que existe uma divisão entre as princesas da marca,

sendo classificadas em princesas clássicas ou rebeles. As Princesas clássicas são

aquelas que mantêm os traços clássicos em suas histórias, como as histórias da

Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida e A Bela e a Fera. As rebeldes são

consideradas a princesas que surgiram depois da década de 90, como Ariel e Mulan

que são heroínas desobedientes e não contam com ajuda de fadas madrinhas.

143

8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1 INTRODUÇÃO

2 OS CONTOS DE FADA

2.1 A HISTÓRIA DOS CONTOS DE FADA

2.2 OS CONTOS DE FADA E O IMAGINÁRIO INFANTIL

2.3 PERSONAGENS DOS CONTOS DE FADA

2.3.1 O imaginário de princesa

3 CONSUMIDORA INFANTIL

3.1 A CRIANÇA E O CONSUMO

3.1.2 As fases do consumo

3.2 MARKETING E COMUNICAÇÃO FOCADA NA CONSUMIDORA INFANTIL

3.3 A CONSUMIDORA INFANTIL E SUA RELAÇÃO COM AS MARCAS

3.3.1 Produtos licenciados e personagens

4 CASE DISNEY

4.1 DISNEY

4.2 UNIVERSO DAS PRINCESAS DISNEY

4.3 PRINCESAS

4.3.1 Análise da imagem e texto

144

9 CRONOGRAMA

Defesa da Monografia em 2014/2

Atividade 2014/2

Março Abril Maio Junho Julho

Estudos Bibliográficos X

Introdução e Redação do 1º e 2º capítulo X

Redação 3º capítulo X

Estudo de Caso: X

Coletas de dados/matérias X

Redação 4º capítulo X

Redação da conclusão X

Revisão final, formatação e

encadernação.

X

Defesa X

145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTHES, Roland. Mitologias. 4.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra Ltda, 1996. BORTOLOTTO, Mayara M. A mulher como personagem nos contos de fadas e na publicidade. 2010. 98 p. Dissertação (Graduação em Comunicação Social- Publicidade e Propagada). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. BUENO, Michele Escoura. Girando entre princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças. Dissertação (Pós-Graduação em Antropologia Social). Universidade de São Paulo. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo: Ática, 1991. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. 3.ed. São Paulo: M. Fontes, 2002. FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fada. São Paulo: Paulus, 2003. GADE, Christiane. Psicologia do consumidor e da propaganda. Ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1998. GABLER, Neal. Walt Disney: o triunfo da imaginação americana. São Paulo: Novo Século, 2009. GUNTER, Barrie; FURNHAM, Adrian. As crianças como consumidoras: uma análise psicológica do mercado juvenil. Lisboa: Instituto Piaget, [2001]. HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantátisca. São Paulo: Summus, 1980. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000. LARENTIS, Monique. Contos de fada na publicidade: Branca de Neve, consumo e representações. 2010. 80 p. Dissertação (Graduação em Comunicação Social- Publicidade e Propagada). Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul. MAFFESOLI, Michel. O imaginário é uma realidade. Revista Famecos, nº15. Porto Alegre. 2001.

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