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A CONCEPO DE UM MODELO DE CIDADE DIGITAL BASEADO NAS NECESSIDADES INFORMACIONAIS DO CIDADO: O CASO DOS MUNICPIOS
BRASILEIROS DE PEQUENO PORTE
JOO BATISTA SIMO
Tese apresentada ao Departamento de Cincia da Informao e Documentao da Universidade de Braslia, como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Cincia da Informao.
Orientador: Professor Doutor Emir Jos Suaiden
BRASLIA 2010
Universidade de Braslia UnB Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Cincia da Informao e Documentao FACE Departamento de Cincia da Informao e Documentao CID Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao PPGCINF
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DEDICATRIA
Ao meu av (in memorian), pela sabedoria e
pela vontade de viver que cultivou at o fim.
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AGRADECIMENTOS
Dividir o mrito de uma etapa vencida sempre muito gratificante,
principalmente se essa etapa desafiadora e dura um longo tempo. Nesses casos,
quase sempre impossvel faz-lo sem que cometamos alguma injustia, por menor
que seja. Assim sendo, deixo antecipadamente registradas minhas desculpas aos
que de alguma forma contriburam com a realizao dessa tese e que porventura
no receberam nominalmente os merecidos agradecimentos.
Primeiramente agradeo a Deus, pelo dom da vida, pela capacidade adquirir
conhecimentos e por tornar esse momento uma realidade.
Meus sinceros agradecimentos ao Professor Doutor Emir Jos Suaiden, tanto
pela orientao segura e objetiva quanto pela confiana demonstrada desde o dia
em que nos conhecemos, o que foi fundamental para realizarmos um bom trabalho.
Aos professores Doutores Antonio Lisboa Carvalho de Miranda, Rogrio
Henrique de Arajo Jnior, s Professoras Doutoras Clia Leite Oliveira, Elmira
Luzia Melo Soares Simeo e Laura Vilela Rodrigues Rezende, obrigado por terem
aceitado o convite para participar da Banca Examinadora e pelas valiosas sugestes
que possibilitaram melhorar a qualidade da tese.
Aos Professores do Departamento de Cincia da Informao e
Documentao, agradeo imensamente pela dedicao e pelos ensinamentos.
Aos colegas de curso e funcionrios do Departamento de Cincia da
Informao e Documentao da Universidade de Braslia, obrigado pelo apoio.
Ao Exrcito Brasileiro agradeo pela liberao do expediente nas ocasies
imprescindveis.
Agradeo tambm Diretora da Faculdade Jesus Maria Jos, Irm Maria da
Silva Maciel, e Coordenadora Geral Acadmica Professora Eldy Fagundes Camlo
Mendes, por terem viabilizado minha licena para estudos sem a necessidade de
desligamento formal da Instituio.
Aos Professores Ronald Emerson Scherolt da Costa, Carlos Bacellar Bon e
Sueli Andrade de Souza, obrigado pelo incentivo, disposio e palavras de apoio
que sempre proferiram quando eu precisava ouvir.
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Aos Professores Francisco Sedenho e Eustquio Guimares, ao aluno
Rogrio Amorim e ao colega Nathaniel Simch de Morais, meus agradecimentos pelo
apoio durante as viagens para Trombas.
Ao Prefeito de Santa Ceclia do Pavo, Edimar dos Santos, pela forma
simptica e gentil com que respondeu a todos os questionamentos sobre o Projeto
Cidade Digital.
Ao Prefeito de Trombas, Catarino Jos da Silva, e toda sua Administrao,
especialmente sua Secretria de Educao, Mirele Eugnio dos Santos, muito
obrigado pelo irrestrito apoio na elaborao da pesquisa.
Agradeo pelo interesse e persistncia a todos os respondentes dos
questionrios, de forma especial aos gestores dos projetos das cidades digitais dos
seguintes municpios: Pitangueiras no Paran, Paulo Afonso na Bahia, Valna e
Maca no Rio de Janeiro, Vacaria no Rio Grande do Sul, Agua, Sud Mennucci,
Jaboticabal, Pedregulho e Promisso em So Paulo.
Aos entrevistados Lo Paolo Martin de Oliveira, Marcos Izumi Okajima, Mrcio
Mathias Dourado, Rogrio Nogueira Campos, Wagner Nascimento, Paulo Henrique,
Hrculis Higor de Rezende, obrigado pela receptividade e pelo profissionalismo que
demonstraram. Sem a colaborao de vocs a pesquisa no seria vivel.
Ao pessoal da Network Eventos, pela franquia em diversos eventos
relacionados com o tema cidade digital.
A minha esposa Eliane e minha filha Aline, pela compreenso durante os
momentos de ausncia e pelo incentivo nos momentos mais difceis.
Aos meus pais Antnio Simo da Costa e Lzara Amrica da Costa, que
mesmo de forma silenciosa sempre oram e torcem pelo meu sucesso.
Enfim, a todos que de uma forma ou de outra contriburam para a realizao deste trabalho.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADSL Linha Digital Assimtrica para Assinante
AHCIET Associao Ibero-americana de Centros de Pesquisa e Empresas de
Telecomunicaes
AP Administrao Pblica
APM Administrao Pblica Municipal
ARIST Annual Review of Information Science and Technology
ASPA Sociedade Americana para Administrao Pblica
AUTELSI Associao Espanhola de Usurios de Telecomunicaes e Sociedade
da Informao
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
BI Business Intelligence
CEF Caixa Econmica Federal
CETIC.br Centro de Estudos Sobre as Tecnologias da Informao e da
Comunicao
CI Cincia da Informao
CID Departamento de Cincia da Informao e Documentao
COFINS Contribuio para Financiamento da Seguridade Social
CPF Cadastro de Pessoas Fsicas
CRM Customer Relationship Management
DF Distrito Federal
EDI Escola Digital Integrada E-GOV Governo Eletrnico
EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicaes
ERB Estao Rdio Base
EUA Estados Unidos da Amrica
FACE Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Cincia da
Informao e Documentao
FPM Fundo de Participao dos Municpios
GB Gigabyte
GC Gesto do Conhecimento
GDF Governo do Distrito Federal
GESAC Governo Eletrnico - Servio de Atendimento ao Cidado
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GO Gois
GT Grupo de Trabalho
IBAM Instituto Brasileiro de Administrao Municipal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios
IDEMA Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa do Meio Ambiente e Atividades
Esportivas
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
IEEE Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrnicos
IGDCD ndice Geral de Desenvolvimento das Cidades Digitais
IPTU Imposto Predial Territorial Urbano
ISS Imposto Sobre Servios
ITI Instituto Nacional de Tecnologia da Informao
LOS Line of Sight
MAAP-M Modelo de Anlise e Avaliao de Portais Municipais
MAC Media Access Control
MB Megabyte
MBPS Megabits por segundo
MC Ministrio das Comunicaes
MICD Modelo de Implantao de Cidades Digitais
MIMO Multiple-Input Multiple-Output
MMDS Servio de Distribuio de Sinais Multiponto Multicanais
MPOG Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto
NGP Nova Gesto Pblica
NI Necessidade de Informao
NLOS Non Line of Sight
OE Objetivos Especficos
OFDM Multiplexao Ortogonal por Diviso de Frequncia
OG Objetivo Geral
ONGs Organizaes No Governamentais
PIB Produto Interno Bruto
PIS Programa de Integrao Social
PLC Power Line Communications
PMBOK Project Management Body of Knowledge
vi
PMAT Programa de Modernizao da Administrao Tributria e de Gesto dos
Setores Sociais Bsicos
PMI Project Management Institute
PMT Prefeitura Municipal de Trombas
PNAFM Programa Nacional de Apoio Modernizao Administrativa e Fiscal dos
Municpios Brasileiros
PPGCINF Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao
PRODESP Companhia de Processamento de Dados do Estado de So Paulo
PSI Programa Sociedade da Informao
PTCD Projeto Trombas Cidade Digital QoS Qualidade de Servio
RH Recursos Humanos
SAAE Servio Autnomo de gua e Esgoto
SCM Supply Chain Management
SERPRO Servio Federal de Processamento de Dados
SI Sociedade da Informao
SIG Sistemas de Informaes Geogrficas
SLP Servio Limitado Privado
SLTI Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao
SMET Secretaria Municipal de Educao do Municpio de Trombas
SMST Secretaria Municipal de Sade de Trombas
SP So Paulo
SRP Servio de Rede Privado
TI Tecnologia da Informao
TICs Tecnologias da Informao e Comunicao
UF Unidade da Federao
UnB Universidade de Braslia
UNDPEPA Division for Public Economics and Public Administration
VoIP Voice Over Internet Protocol
WECA Wireless Ethernet Compatibility Alliance
WI-FI Wireless Fidelity
WiMAX Worldwide Interoperability for Microwave Access
WiMesh Redes em malha sem fio
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 As necessidades humanas e a oferta de informao........................... 45
Figura 2 Municpios brasileiros atendidos por banda larga em 2008................. 47
Figura 3 Smbolo que identifica rea coberta por rede Wi-Fi............................. 49
Figura 4 Esquema bsico de rede WiMAX......................................................... 51
Figura 5 Distribuio das pequenas cidades digitais brasileiras por regies..... 72
Figura 6 Distribuio dos usurios por sexo....................................................... 75
Figura 7 Tempo de uso dos computadores dos respondentes.......................... 77
Figura 8 Distribuio de renda da populao de Trombas-GO.......................... 87
Figura 9 Distribuio dos professores de Trombas-GO por titulao................. 88
Figura 10 Distribuio dos funcionrios da SMST por nvel de ensino.............. 89
Figura 11 Kit utilizado em Chapado do Cu..................................................... 101
Figura 12 Fluxograma para criao de uma Cidade Digital............................... 117
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LISTA DE QUADROS Quadro 1 Etapas da Escola Digital Integrada................................................ 32 Quadro 2 Frequncias disponveis para WiMAX no Brasil............................ 51 Quadro 3 Caractersticas das entrevistas realizadas..................................... 71 Quadro 4 Objetivos especficos e pressupostos............................................ 74 Quadro 5 Link contratado, disponvel e nmero de usurios....................... 104
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SUMARIO
CAPTULO I............................................................................................................... 13 1. INTRODUO.................................................................................................... 13 1.1. Problema.....................................................................................................15 1.2. PREMISSAS BSICAS...................................................................................... 17 2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 17 2.1. Trabalhos afins........................................................................................... 19 3. OBJETIVO GERAL.............................................................................................. 21 3.1. Objetivos especficos..................................................................................22
CAPTULO II.............................................................................................................. 23 4. REVISO DE LITERATURA................................................................................... 23 4.1. Formao dos municpos brasileiros.......................................................... 23 4.2. Incluso digital............................................................................................ 27 4.2.1. A incluso digital e a mediao da informao........................................30 4.3. Governo .eletrnico.....................................................................................33 4.4. Programas de governo eletrnico...............................................................34 4.5. Avaliao de programas de governo eletrnico..........................................35 4.6. Portais de governo eletrnico..................................................................... 38 4.7. Estudo de usurios..................................................................................... 40
4.7.1. Necessidade de informao................................................................42 4.7.2. Necessidade e direito informao: questo de cidadania................ 43
4.8. Infraestrutura de rede para cidades digitais................................................ 46 4.8.1. Redes Wireless................................................................................... 47 4.8.2. Redes WiMAX..................................................................................... 50 4.8.3. Redes WiMesh.................................................................................... 52
4.9. CIDADES DIGITAIS.......................................................................................... 53 4.10. Viso da AHCIET e da AUTELSI sobre projetos de cidades digitais....... 57
4.10.1. Manual para o desenvolvimento de cidades digitais na Ibero-amrica................................................................................................. 57 4.10.2. Livro Branco sobre cidades digitais na Ibero-amrica....................... 59 4.10.3. Livro Branco sobre cidades digitais na Argentina.............................. 60 4.10.4. Cidades digitais: guia de melhores prticas...................................... 61
4.11. Os investimentos da APM em projetos de TI e as teorias da AP............. 61 4.12. Concluses sobre a reviso de literatura..................................................63
CAPTULO III............................................................................................................. 66 5. METODOLOGIA..................................................................................................66 5.1. Justificativa pela escolha da metodologia...................................................66 5.2. Ambiente da pesquisa................................................................................ 67 5.3. Coleta de dados..........................................................................................68
5.3.1. Questionrios....................................................................................... 69 5.3.2. Entrevistas........................................................................................... 71 5.3.3. Pressupostos e variveis..................................................................... 73
CAPTULO IV.............................................................................................................75 6. QUESTIONRIOS E ENTREVISTAS........................................................................75 6.1. Questionrio nmero um............................................................................ 75 6.2. Questionrio nmero dois...........................................................................80
x
6.3. Anlise dos dados dos questionrios nmero um e dois............................83 6.4. Confirmao dos pressupostos de um a quatro......................................... 85 6.5. Questionrio nmero trs........................................................................... 86 6.6. Questionrio nmero quatro....................................................................... 88 6.7. Questionrio nmero cinco.........................................................................89 6.8. Questionrio nmero seis...........................................................................90 6.9. Questionrio nmero sete...........................................................................90 6.10. Anlise dos dados dos questionrios de trs a sete.................................91 6.11. Confirmao do pressuposto cinco...........................................................91 6.12. Questionrio nmero oito..........................................................................92 6.13. Anlise dos dados do questionrio oito.................................................... 96 6.14. Entrevista com gestores de projetos de cidade digital..............................98 6.15. Confirmao do pressuposto seis...........................................................104
CAPTULO V............................................................................................................106 7. ETAPAS DO MODELO DE IMPLANTAO DE CIDADES DIGITAIS.............................. 106 7.1. Definir o Modelo de Implantao de Cidades Digitais.............................. 106 7.2. Realizar anlise preliminar sobre a possibilidade de se transformar em cidade digital..............................................................................................107 7.3. Definir um Grupo de Trabalho para estudar o tema................................. 107 7.4. Realizar levantamento sobre os nveis de apropriao e uso de TICs na cidade......................................................................................................... 108 7.5. Buscar as melhores prticas de implantao de projetos de cidade digital...............................................................................................109 7.6. Definir o escopo do projeto.......................................................................110 7.7. Elaborar um estudo de viabilidade............................................................110 7.8. Elaborar um projeto para implantao da cidade digital...........................111 7.9. Elaborar uma campanha para divulgar o projeto......................................111 7.10. Realizar estudo de impacto econmico e social do projeto................... 112 7.11. Elaborar o edital..................................................................................... 112 7.12. Avaliar as propostas............................................................................... 112 7.13. Implantar o projeto..................................................................................113 7.14. Solicitar licena de operao na Anatel..................................................113 7.15. Enviar o projeto para aprovao no Legislativo Municipal......................113 7.16. Inaugurar o projeto..................................................................................114 7.17. Avaliar o projeto......................................................................................115 7.18. Buscar a sustentabilidade do projeto......................................................115 7.19. Expandir o projeto...................................................................................116
CAPTULO VI........................................................................................................... 118 8. CONCLUSO...................................................................................................118 8.1 Sugestes para trabalhos futuros..............................................................123 8.2 Limitaes e contribuies da pesquisa.................................................... 124
REFERNCIAS........................................................................................................125 ANEXOS De 1 a 13 inclusive arquivos do LimeSurvey (Anexados ao Arquivo .Pdf).
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RESUMO
O principal objetivo desta pesquisa foi conceber um Modelo para Implantao de Cidade Digital (MICD) baseado nas melhores prticas j observadas no Brasil e nas recomendaes de organismos internacionais da rea de telecomunicaes que considere as necessidades informacionais dos cidados relacionadas com servios pblicos em meio eletrnico. Para tal, buscou-se, na literatura especializada, a reviso dos temas relacionados com a implantao de cidades digitais, bem como documentos publicados por organismos internacionais, como a Associao Ibero-americana de Centros de Pesquisa e Empresas de Telecomunicaes (AHCIET) e a Associao Espanhola de Usurios de Telecomunicaes e Sociedade da Informao (AUTELSI). Para elaborao do MICD, considerou-se a realidade de municpios brasileiros com menos de 100 mil habitantes em reas urbanas. Empregou-se mtodos da pesquisa qualitativa e, na coleta de dados, utilizou-se questionrios e entrevistas para identificar as necessidades informacionais do cidado, os nveis de preparao e apropriao das Tecnologias da Informao e Comunicaes (TICs) da comunidade e da Administrao Pblica Municipal (APM) e as melhores prticas de implantao de cidades digitais no Brasil. A pesquisa concluiu que, na implantao de projetos de cidades digitais, fundamental que seja realizada uma pesquisa para diagnosticar o nvel de apropriao e uso das TICs na cidade, bem como as necessidades informacionais dos cidados. Foi possvel concluir tambm que, em geral, as experincias brasileiras em implantao de cidades digitais em municpios de pequeno porte so iniciativas isoladas, sem o aproveitamento de boas prticas de projetos similares, com pequena participao de universidades e centros de pesquisa, os quais tm priorizado a distribuio do sinal de Internet de forma gratuita em detrimento de investimentos em infraestrutura de rede, automatizao de processos e de servios pblicos em meio eletrnico e de um portal de governo eletrnico eficiente. Com a anlise crtica dos dados coletados, juntamente com os conhecimentos adquiridos a partir da reviso de literatura, aliados tambm s recomendaes de organismos internacionais da rea de telecomunicaes, foi possvel a elaborao do MICD.
Palavras-chave: cidade digital; direito informao; e-gov; incluso digital; necessidade de informao; portais de e-gov; rede sem fio; modelo de implantao de cidade digital.
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ABSTRACT The main focus of this study was to design a Digital City Deployment Model (MICD) based on the best observed practices in Brazil as well as on international organizations recommendations on telecommunication field which consider the information need of citizens related to public services on electronic media. To accomplish such objective, a review of themes related to digital cities implantation was carried out based on specialized literature as well as on documents published by international organizations such as the Iberian-American Association for Research Centers and Telecommunication Companies (AHCIET) and the Spanish Association for Telecommunication Users and Information Society (AUTELSI). Qualitative research methods were applied and, during data collection, questionnaires and interviews were applied to identify informational need of citizens, the levels of preparation and appropriation of Information and Communication Technologies (TICs) by the community and the City Public Administration (APM). Another purpose of the questionnaires was to identify the best practices of digital city implantations in Brazil. This work shows that it is fundamental that research be carried out when attempting to implement digital city projects, in order to identify the level of appropriation and usage of TICs in the town, as well as citizens informational needs. The study also concluded that in general Brazilian digital city implantation experiences in small towns are isolated actions which occur without the use of good practices learned from previous similar projects. It also demonstrates that these projects have low participation of universities and research centers, which have privileged the distribution of free Internet signal on the expense of investments on network infrastructure, process automation and public services offered through digital media and also on the expense of an efficient e-government portal. It was possible to elaborate the MICD with a critical analysis of collected data along with knowledge acquired from literature review, as well as by following recommendations given by international organizations of the telecommunication area.
Key words: digital city; information rights; information need; e-government portals; wireless net; digital city implantation model.
CAPTULO I
1. Introduo
As Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs) tm apresentado, nas
ltimas dcadas, grande evoluo. Esse avano tem sido vislumbrado por
especialistas e tambm por governantes de muitos pases como uma oportunidade
de melhoria no relacionamento entre o Estado e o cidado. Diversos estudiosos1
defendem a necessidade de mudana de paradigma na gesto pblica. Segundo
esses pesquisadores, os Estados que no se modernizarem para acompanhar a
nova ordem mundial certamente ficaro margem do desenvolvimento da nova
economia.
O Estado brasileiro, em todos os nveis, vem criando mecanismos para tirar
proveito das TICs. No Governo Federal, entre as aes ligadas ao tema, pode-se
destacar o Programa de Modernizao do Estado, o Programa Sociedade da
Informao (PSI) e o Programa Governo Eletrnico, que implementou trs das sete
aes concretas, contidas no Livro Verde do PSI.
O Programa de Governo Eletrnico foi criado em outubro de 2000 para
desenvolver aes com vistas a melhorar a prestao de servios pblicos
oferecidos pela Internet. Entre os principais objetivos do programa podem ser
destacados: i) a diminuio dos custos, ii) a busca pela melhoria da qualidade, iii) a
prestao dos servios em meio eletrnico, iv) o aumento da transparncia nos
rgos pblicos e v) o estmulo ao controle social.
Nos nveis estaduais e municipais, apesar das inmeras iniciativas, so mais
raros os casos de sucesso do uso eficiente das TICs para disponibilizao de portais
de governo eletrnico (e-gov). Isso pode ser comprovado claramente ao se analisar
os estudos de Cunha (2000), Vilella (2003) e Vaz (2003).
Para que sejam implantados projetos de e-gov ou os projetos denominados
cidade digital, com maiores chances de sucesso, necessrio que se tenha uma
infraestrutura mnima de informatizao dos processos da Administrao Pblica
(AP) e que as necessidades informacionais do cidado sejam consideradas.
1 Entre outros, podem ser citados Bresser Pereira (1999) e Bovaird (2002).
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Santos (2002) define a infraestrutura necessria para implantao de projetos
de e-gov como protogoverno eletrnico.
No Brasil, o uso eficiente das TICs no nvel municipal est praticamente restrito
s grandes e mdias cidades. Analisando a pesquisa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica2 (IBGE), publicada em 2005, possvel verificar que todos os
municpios com mais 500 mil habitantes, de maneira mais ou menos eficiente, esto
presentes na Internet. A situao deixa de ser confortvel quando se observa que as
pequenas cidades que representam mais de 95% do total, normalmente, no
possuem adequada infraestrutura de informtica.
Partindo da premissa de que um projeto de cidade digital, no mbito
governamental, requer o uso eficiente das TICs, para dotar a AP de infraestrutura
bsica de telecomunicaes e realizar a mediao entre as TICs e a comunidade, a
presente pesquisa prope conceber um Modelo de Implantao de Cidade Digital
(MICD), considerando os aspectos acima descritos. Para validar a pesquisa, foi
escolhida, como estudo de caso, uma pequena cidade do interior de Gois,
chamada Trombas.
A cidade de Trombas possui uma alta taxa de excluso digital, pois
praticamente no existe na cidade infraestrutura de rede nem provedor de Internet e
os principais meios de acesso Internet so duas Lan Houses e um telecentro que
funciona de forma precria. Aps contato inicial, a AP Municipal (APM) mostrou-se
interessada em criar um projeto para a modernizao tecnolgica da cidade e, com
isso, a cidade passou a ter o principal requisito para o estudo de caso da tese.
A AP de Trombas criou, ento, o Projeto Trombas Cidade Digital (PTCD), que
tem como objetivo principal utilizar as TICs para modernizar a APM e universalizar o
acesso Internet. Ser utilizada como metodologia para mediao da transferncia
da informao a Escola Digital Integrada (EDI), concebida pela pesquisadora
Oliveira (2003), na qual apresenta um modelo de incluso digital como instrumento
de incluso social, baseado na mediao da informao. Consta no planejamento do
PTCD a utilizao da metodologia de mediao da informao da EDI, que ser
aplicada para o treinamento de professores, funcionrios, alunos das escolas
pblicas e da comunidade em geral.
2 Perfil dos Municpios Brasileiros Gesto Pblica 2005.
15
A forma como a tese foi estruturada est detalhada a seguir. No Captulo I,
esto a introduo, o problema da pesquisa, a justificativa, os trabalhos relacionados
com o tema, os objetivos gerais e os objetivos especficos.
No Captulo II, apresentada a reviso de literatura e uma pequena concluso
sobre os temas tratados. Na reviso de literatura foram abordados os seguintes
tpicos: formao dos municpios brasileiros, incluso digital, governo eletrnico,
programas de e-gov, avaliao de programas de e-gov, portais de e-gov, estudo de
usurios, infraestrutura de redes para cidades digitais, cidades digitais, viso da
Associao Ibero-americana de Centros de Pesquisas e Empresas de
Telecomunicaes (AHCIET) e da Associao Espanhola de Usurios de
Telecomunicaes e Sociedade da Informao (AUTELSI) sobre projetos de cidades
digitais, os investimentos da APM em Projetos de Tecnologia da Informao (TI) e as
Teorias da Administrao Pblica.
O Captulo III trata da metodologia, da justificativa pela metodologia adotada,
do ambiente da pesquisa, da correlao entre os objetivos especficos e os
pressupostos e destes com os instrumentos de coleta de dados.
O Captulo IV trata da apresentao e da anlise dos dados coletados com os
questionrios e com as entrevistas, bem como da refutao ou confirmao dos
pressupostos apresentados.
O Captulo V apresenta o Modelo de Implantao de Cidades Digitais,
considerando os assuntos abordados na reviso de literatura, as melhores prticas
captadas por meio da anlise crtica dos dados levantados e as recomendaes da
AHCIET e da AUTELSI.
Finalmente, no Captulo VI, so apresentadas as concluses da pesquisa, bem
como as recomendaes para novos estudos sobre temas adjacentes ao abordado.
1.1. Problema
Analisando os dados da pesquisa do IBGE, Perfil dos Municpios Gesto
Pblica, publicada em 2005, possvel observar que apenas 384 dos 1359
municpios brasileiros com at 5000 habitantes possuam pgina na Internet, o que
correspondia a apenas 28,25% dessa categoria de municpios. Quanto ao nvel de
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prestao de servios, apenas trs desses municpios ofereciam os servios
pblicos mais sofisticados como, por exemplo, Consulta a processos e Ouvidoria,
Agendamento/atendimento ao cidado.
Dessa forma, pode-se concluir que a maioria dos municpios enquadrados
nessa categoria, presentes na Internet, disponibilizam apenas servios informativos,
ou seja, aqueles que, em linhas gerais, aproximam-se de um folder institucional,
porm em formato eletrnico, como definiu Jardim (1999, p. 168).
Em contrapartida ao grande nmero de municpios brasileiros que no tm
estrutura adequada para aproveitar os grandes benefcios oferecidos pelas TICs,
algumas pequenas cidades tm-se destacado, criando projetos denominados
cidades digitais. Esses projetos tm includo digitalmente grande parte dos cidados
da comunidade na qual esto inseridos e, em muitos casos, so apontados como
uma forma de incluso social.
O reconhecimento dessas iniciativas pela mdia tem ocasionado o aumento do
nmero de prefeitos interessados em implantar esse tipo de projeto. Com o
crescimento da demanda por esse tipo de servio, as empresas tm aproveitado a
oportunidade para oferecer seus produtos. O problema que nem sempre esses
projetos atendem com eficincia e eficcia seus principais clientes: o cidado e a
AP. A maioria desses projetos desenvolvida com uma viso empresarial e
normalmente desconsidera as necessidades informacionais do cidado e prioriza
apenas os requisitos da APM. Isso pode explicar o motivo pelo qual grande parte
dos servios disponveis nos portais de e-gov no Brasil esto relacionados com a
arrecadao de impostos. fundamental que esse tipo de projeto seja precedido de
pesquisas que identifiquem as necessidades do cidado para que o projeto seja uma
via de mo dupla.
Como normalmente os projetos de cidade digital desenvolvidos no Brasil so
elaborados de forma isolada, sem considerar a experincia de outras cidades em
projetos similares e sem o embasamento terico de pesquisas acadmicas (o
assunto ainda pouco explorado nas universidades e centros de pesquisas e ainda
no existem, no mbito do Governo Federal, estudos norteadores como, por
exemplo, um Livro Branco para implantao de cidades digitais), vislumbra-se
preencher essa lacuna.
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Do exposto anteriormente, apresenta-se o seguinte problema como objeto de
pesquisa: Como implantar um projeto de cidade digital que considere as melhores
prticas j observadas no Brasil, que contenha recomendaes de organismos
internacionais e que leve em conta as necessidades informacionais dos cidados
relacionadas com servios pblicos em meio eletrnico?
Acredita-se que, com o resultado da pesquisa, ser possvel subsidiar o
Governo Federal no projeto de criao de cidades digitais e no apoio de programas
de capacitao e assessoramento tcnico aos municpios, considerando que esse
tema est entre os mais relevantes na viso dos gestores municipais, segundo
Bremaeker (2001).
1.2. Premissas bsicas
A proposta de soluo do problema est fundamentada nas seguintes
premissas bsicas:
I. Projetos de incluso digital que buscam a transformao da realidade das
pessoas da comunidade na qual esto inseridos, como o PTCD, por
extenso, tendem a incluir socialmente os cidados.
II. Projetos de cidades digitais, como o PTCD, podem ser mecanismos para
promoo da cidadania, desde que sejam implantados levando em
considerao as necessidades informacionais dos cidados.
2. Justificativa
Tm sido pesquisados com certa frequncia temas relacionados influncia
das TICs na sociedade ou na AP, com o potencial das TICs na democracia e a
disponibilizao de servios pblicos na Internet. No entanto, falta, ainda, uma
resposta cientfica de como encontrar e representar as necessidades informacionais
dos cidados nos projetos da AP, como os projetos de cidades digitais ou mesmo de
e-gov.
Na busca pela resposta ao problema apresentado na seo 1.1, a presente
pesquisa inserir-se- na perspectiva da interdisciplinaridade, caracterstica marcante
da Cincia da Informao (CI). Segundo Le Coadic (1996, p. 23-24), temas de
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carter sociolgico, econmico, jurdico e poltico, apesar de fortemente ligados s
suas disciplinas de origem, esto firmemente apoiados no campo da CI.
Tavares (2001, p. 12), na mesma linha de Le Coadic, vai alm ao afirmar que
temas como a excluso social e sua relao com os servios de telecomunicaes,
tradicionalmente tratados na sociologia urbana, economia da informao e cincia
poltica, ganham vida e inspirao quando estudados na CI.
Para a soluo do problema da pesquisa, foram aplicados mtodos e tcnicas
de coletas de dados que so objeto de estudo de uma das disciplinas da CI,
normalmente denominada Estudo de usurios. Foi necessrio, tambm, entender
com clareza a estrutura poltico-administrativa do municpio, os seus aspectos
socioeconmicos e a infraestrutura tecnolgica. Para isso, a abordagem
interdisciplinar da CI foi fundamental, pois buscou-se conhecer um pouco mais do
aporte terico da administrao pblica, da sociologia e da cincia da computao.
A pesquisa encontra-se, tambm, alinhada com as trs caractersticas bsicas
da CI, apontadas por Saracevic (1992), que so consideradas essenciais para o
entendimento do passado, do presente e do futuro da rea da CI: a
interdisciplinaridade, a inexorvel vinculao com a TI e o fato de ser a CI uma
participante ativa e deliberada na evoluo da Sociedade da Informao (SI).
Nessa perspectiva, as caractersticas acima tambm so encontradas na
pesquisa como se segue: primeiro porque, como j demonstrado, os estudos
complementares de outras reas so importantes tanto para o entendimento quanto
para a proposio da metodologia. Segundo, porque o corpus da pesquisa a
relao entre o cidado e as TICs. Finalmente, por considerar que, na SI, a
infraestrutura tecnolgica de uma cidade digital o suporte para a interao entre o
Estado e o cidado, ou seja, um dos principais objetos da pesquisa surgiu com a
evoluo da SI.
possvel, tambm, inserir a pesquisa na viso de Wersig (1993), na qual o
autor defende a CI como uma cincia ps-moderna, considerando que ela no
motivada pela procura de um entendimento completo de como o mundo, mas pela
necessidade de desenvolver estratgias e resolver, principalmente, aqueles
problemas que tm sido causados pelas cincias e tecnologias clssicas (WERSIG,
1993, p. 230-233).
19
2.1. Trabalhos afins
Sero apresentados a seguir alguns trabalhos acadmicos que, mesmo sendo
citados em outras sees, sero destacados devido ao fato de que, de alguma
maneira, esto direta ou indiretamente relacionados com o presente trabalho.
Cunha (2000), em sua tese, avaliou os portais de e-gov de trs nveis
governamentais: o federal, o do Estado do Paran e o do municpio de Santo Andr.
Pesquisou a opinio de dirigentes pblicos e de informtica sobre aspectos da
utilizao de tecnologia de informao na sociedade informacional, descreveu o
processo de implementao dos portais, desenhou o perfil do cidado usurio dos
servios eletrnicos e avaliou as caractersticas dos portais de e-gov que oferecem
os servios e informaes governamentais. A pesquisa apontou que o perfil do
cidado usurio de servios eletrnicos semelhante ao do internauta brasileiro
classe A e B, educao formal de nvel superior.
Cunha (2000) classificou sua pesquisa como qualitativa, de mltiplos casos. Os
instrumentos para coleta de dados foram os seguintes: i) pesquisa diretamente nos
portais de e-gov para avaliar as caractersticas (usabilidade, eficincia,
funcionalidade e contedo) de cada um (observao direta); ii) pesquisa online
(questionrio), a partir de portais de e-gov, de preenchimento voluntrio, para obter o
perfil do cidado e motivao para uso dos servios na Internet; iii) entrevista
pessoal (com dirigentes do governo e dirigentes de organizaes de TI para
observar como estavam sendo considerados alguns aspectos da SI e como os
objetivos estratgicos estavam sendo direcionados para construo das aplicaes
na Internet; iv) entrevista pessoal (com gerentes de projeto e/ou webmasters nas
organizaes responsveis pelas hospedagens dos portais) para obter a descrio
do processo de implementao do portal de e-gov.
Vaz (2003), em sua tese, tratou dos limites e possibilidades de promoo da
cidadania por portais municipais. Construiu um Modelo de Anlise e Avaliao de
Portais Municipais (MAAP-M) com o intuito de analisar e avaliar portais municipais
em termos de sua contribuio promoo da cidadania. Aplicou o MAAP-M no
portal do municpio de So Paulo e realizou uma pesquisa exploratria com
municpios brasileiros sobre servios e informaes oferecidos pelos portais.
20
A pesquisa concluiu pela aplicabilidade do modelo e pela possibilidade de os
portais municipais serem utilizados para promoo da cidadania, mas sob efeito de
condicionantes tecnolgicos e no tecnolgicos.
Vaz (2003) classificou sua pesquisa quanto aos objetivos como qualitativa e
quanto aos procedimentos tcnicos utilizados como estudo de caso. Os instrumentos
para coleta de dados foram os seguintes: i) entrevistas com servidores e dirigentes
municipais; ii) observao do portal e estudo detalhado de seu contedo e estrutura
de navegao; iii) consulta a documentos produzidos pela prefeitura.
Oliveira (2003), em sua tese, construiu um modelo de incluso digital como
instrumento para a incluso social, baseado na mediao da informao. No modelo
concebido pela autora, a mediao definida como um apoio pedaggico para o
processo ensino-aprendizagem. O enfoque do modelo o desenvolvimento das
habilidades em informao, o qual centrado no apenas nas etapas que
determinam a soluo de um determinado problema, mas tambm nas fases que
requerem um processo de aprendizagem no aprender a informar-se.
A autora utilizou a abordagem etnogrfica e, como principal instrumento de
coleta de dados, a observao participativa. Oliveira (2003) concluiu em sua tese
que a leitura e o desenvolvimento do senso crtico so elementos determinantes
para a autonomia intelectual dos indivduos e que as TICs devem ser entendidas
como algo tecnologicamente novo e diferente, capaz de, com a mediao, ampliar o
poder cognitivo do ser humano e possibilitar mixagens complexas e cooperativas do
conhecimento.
Guerreiro (2004) apresentou em sua tese um estudo sobre as formas e tipos de
cidades que surgem com o processo de desenvolvimento humano at a formao da
cidade moderna. O autor considera que a SI existe para suprir lacunas de cidadania
deixadas pelo desenvolvimento humano, implicando que a tecnologia seja vista
como essencialmente social em sua natureza. A hiptese defendida pelo autor de
que a infoincluso social deve ser planejada como relao de equilbrio sustentvel
entre o progresso tecnolgico e o desenvolvimento social nas cidades, possibilitando
a emergncia da futura cidade digital. Guerreiro (2004) aborda, tambm, a formao
da cidade moderna e classifica as cidades em diversos tipos, tais como:
Administrativa, Empreendedora, Tecnolgica e outras, at chegar ao conceito de
cidade digital.
21
Fchter (2005) apresentou em sua tese um modelo para implementao de TI
em prefeituras que engloba bases de dados, sistemas de gesto, prego eletrnico
e planejamento estratgico da TI e para permitir a gesto do conhecimento. O
modelo proposto apresentou a sequncia de implementaes que devem ser feitas e
as dificuldades e solues a elas relacionadas, visando a uma melhoria na AP
dentro do ambiente de e-gov.
Dias (2006), em sua tese, definiu e validou um mtodo para avaliao de
resultados de programas de e-gov sob a tica dos cidados-clientes. Foi utilizado
como estudo de caso o programa de e-gov do governo brasileiro. Dias (2006) utilizou
as seguintes tcnicas para coleta de dados para elaborao do mtodo: i) pesquisa
documental; ii) entrevista; iii) levantamento (survey)3; iv) observao direta; v)
consulta a especialista. A autora concluiu que, com o mtodo apresentado,
possvel acompanhar e controlar a qualidade dos servios eletrnicos oferecidos aos
cidados pelos portais de e-gov.
Riecken (2008) realizou, em sua tese, uma pesquisa de campo aplicada aos
governos estaduais e s prefeituras municipais com o objetivo de testar o modelo de
maturidade em e-gov. Os resultados dessa pesquisa permitiram autora concluir
pelo avano das iniciativas de programas de e-gov estaduais brasileiros. Alm disso,
a autora apresentou uma estratgia que consiste no desenvolvimento de um modelo
estatstico e de recomendaes que apoiem os governos estaduais na seleo de
municpios para a implantao ou aprimoramento de iniciativas do governo
eletrnico, integrando-os em uma rede intraestadual de informaes, servios e
comunicao eletrnicos, que possibilita transferir para as prefeituras municipais os
avanos verificados nos programas de e-gov estaduais.
3. Objetivo geral
O objetivo geral (OG) da pesquisa conceber um Modelo para Implantao de
Cidade Digital aderente s melhores prticas j observadas no Brasil, bem como s
recomendadas de organismos internacionais da rea de telecomunicaes e que
considere as necessidades informacionais dos cidados.
3 Dias (2006, p. 73) descreve levantamento como uma tcnica tambm denominada survey (ingls), que utilizada para coletar informaes quantitativas ou qualitativas de uma ampla populao; conhecer a opinio e o ponto de vista de beneficirios ou executores de programas; identificar a frequncia de um determinado evento, testar hipteses ou investigar relaes causais. Segundo a autora, seu instrumento de coleta de dados o questionrio, composto de perguntas fechadas em sua maioria.
22
3.1. Objetivos especficos
Para atingir o OG, foram definidos os seguintes objetivos especficos (OE):
OE-1) identificar as necessidades informacionais dos cidados usurios de
Internet de Trombas-GO, relacionadas com os servios pblicos em meio eletrnico
disponibilizados em portais de e-gov;
OE-2) identificar os nveis de apropriao e de uso das TICs pelos cidados
usurios de Internet em Trombas-GO;
OE-3) diagnosticar os nveis de apropriao e de uso das TICs da APM, pela
Iniciativa Privada e pela Sociedade Civil Organizada, em Trombas-GO;
OE-4) identificar as melhores prticas de implantao de Projetos de Cidades
Digitais em cidades brasileiras de pequeno porte e as recomendaes de
organismos internacionais da rea de telecomunicaes.
23
CAPTULO II
4. Reviso de literatura
Na reviso de literatura, foram abordados os assuntos relacionados ao tema
cidades digitais, que foram estruturados da seguinte forma: i) formao dos
municpios brasileiros; ii) incluso digital, iii) e-gov; iv) programas de e-gov; v)
avaliao de programas de governo eletrnico; vi) portais de e-gov; vii) estudo de
usurio, infraestrutura de redes para cidades digitais; viii) cidades digitais; ix)
investimentos da APM em Projetos de Tecnologia da Informao; x) viso da
AHCIET e da AUTELSI sobre projetos de cidades digitais; e xi) investimentos da
APM em projetos de TI e as Teorias da Administrao Pblica.
4.1. Formao dos municpios brasileiros
Segundo o dicionrio Michaelis (2008), municpio uma circunscrio territorial
administrada nos seus prprios interesses por um prefeito, que executa as leis
emanadas do corpo de vereadores eleitos pelo povo. Os municpios brasileiros
tiveram sua estrutura poltico-adminstrativa inspirada no modelo portugus que, por
sua vez, teve grande influncia dos romanos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM) (2008),
as Ordenaes Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que, regendo Portugal, regeram o Brasil desde seu descobrimento at a Independncia, transplantaram o modelo municipal lusitano para nosso Pas, com as mesmas atribuies polticas, administrativas e judiciais. Desta forma, nossos Municpios tinham um Presidente, trs Vereadores, um Procurador, dois Almotacs, um Escrivo, um Juiz de Fora vitalcio e dois Juizes Comuns, eleitos com os Vereadores.
Durante o incio do perodo colonial, os municpios brasileiros eram
subordinados administrativamente aos donatrios, que tinham liberdade para
estabelecer a estrutura administrativa dentro de suas capitanias. Segundo o IBAM
(2008), apesar de praticamente subjugados pelo poder centralizador das Capitanias
Hereditrias, os municpios brasileiros, por meio de suas cmaras, sempre buscaram
autonomia e independncia administrativa da metrpole, apoiados pela Igreja, nunca
pelos donatrios. Dessa forma, eles conseguiram algumas vitrias, na maioria das
vezes, desafiando a Coroa Portuguesa, como o caso da criao de novas vilas.
24
Isso pode ser comprovado ao verificar que importantes fatos histricos no perodo
colonial tiveram participao ativa do poder local, como, por exemplo, o Grito de
Repblica por Bernardo Vieira de Melo (1710 em Olinda), o Manifesto do Dia do
Fico, em 9 de janeiro de 1822, nas Cmaras de So Paulo, Vila Rica e Rio de
Janeiro, sob a influncia de Jos Bonifcio e Jos Clemente Pereira e a outorga do
ttulo de Defensor Perptuo do Brasil, em 13 de maio de 1822, ao prncipe D.
Pedro I, pela Cmara do Rio de Janeiro (Jacques, 1970, p. 149).
Embora tenha sido com a Independncia do Brasil, segundo Montoro (1975, p.
27), que se iniciou verdadeiramente a histria da municipalidade brasileira, j que
pela primeira vez o tema passou a ser tratado na Carta Magna de 1824 (Artigo 167),
o Perodo Imperial foi marcado pelo cerceamento da atuao das Cmaras
Municipais, que perderam funes polticas e financeiras, embora seu presidente
exercesse funes executivas (sob protestos e denncias de polticos e estadistas)
(IBAM, 2008).
Com o Ato Adicional de 1834 (Lei no 16, de 12 de agosto de 1834) veio a
descentralizao do Estado, um benefcio de curta durao para os municpios. Com
a edio da Lei 105, de 12 de maio de 1840, os municpios perderam novamente a
autonomia. Para Montoro (1975, p. 32), se o Ato Adicional foi um passo frente em
direo ao federalismo, a Lei de 12 de maio de 1840 no trouxe avanos para o
poder local, ou melhor, pode ser considerada como retrgrada, pois, como
consequncia dela, os municpios atravessaram o Imprio sem rendas prprias para
prover suas demandas e sem possibilidade de exerccio autnomo do poder de
polcia.
Apesar de a primeira Constituio Republicana Brasileira no ter se omitido
quanto questo da autonomia municipal, ao explicitar em seu Artigo 68 que os
estados organizar-se-iam com base na autonomia dos municpios e em tudo quanto
respeitasse seus peculiares interesses, segundo Meirelles (1996), durante os
quarenta anos em que vigorou a Constituio de 1891 no houve, na prtica,
autonomia municipal no Brasil. O centralismo, a opresso do coronelismo e a
incultura do povo transformaram os municpios em feudos de polticos truculentos,
que mandavam e desmandavam nos seus distritos de influncia, como se o
municpio fosse propriedade particular e o eleitorado um rebanho dcil ao seu poder
(MEIRELLES, 1996, p. 37).
25
A Constituio de 1934 definiu, de forma clara, os parmetros da autonomia
municipal. Alm disso, declarou expressamente a eletividade de prefeitos e
vereadores e atribuiu ao municpio renda prpria e autonomia para decretar seus
impostos, taxas e a aplicao de suas rendas, bem como a organizao de servios
de sua competncia (DE MARCO, 2003, p. 8).
Com a criao do Estado Novo, a Constituio de 1937 retrocede novamente
quanto autonomia municipal, e dessa vez at o prefeito passou a ser nomeado
pelo Interventor Federal, que fazia o papel de governador do estado. Segundo De
Marco (2005, p. 8), a previso de eleio para vereador apenas ilustrou o texto
constitucional que nunca foi obedecido. Acima do prefeito, estava ainda o Conselho
Administrativo Estadual, rgo controlador das atividades municipais. Com isso, as
Cmaras Municipais perderam completamente suas funes democrticas, visto que
todo o poder decisrio estava atrelado unicamente ao prefeito.
Com o retorno normalidade democrtica em 1946, a Constituio promulgada
em 18 de setembro do mesmo ano, na viso de Bastos (1993, p. 217), trouxe o
chamado perodo rseo do municipalismo brasileiro. Para o autor, a corrente
municipalista atuou fortemente, revivescendo o tradicional conceito de peculiar
interesse. O peculiar interesse municipal, por fora de uma interpretao
jurisprudencial encampada na dcada de 30, deixa de ser a expresso de uma ideia
vaga e imprecisa para significar tudo aquilo que fosse de interesse predominante do
municpio.
Segundo Meirelles (1996, p. 39), com a Constituio de 1946, estados,
municpios e a Unio foram contemplados de maneira simtrica com o novo sistema
poltico municipal, integrado pelos Poderes Executivo e Legislativo. O municpio
brasileiro, pela primeira vez, tinha assegurado constitucionalmente autonomia
poltica, administrativa e financeira.
Por meio de Emendas Constitucionais, dos Atos Institucionais4 e da
promulgao da Constituio de 1967, segundo De Marco (2005), houve uma
centralizao do poder na esfera federal e um enfraquecimento do poder local. Para
Bastos (1993), as principais causas foram i) a indicao de prefeitos para municpios
classificados como relevantes para a segurana nacional e para aqueles
4 Especialmente o Ato Institucional Nmero 3, que determinou que os prefeitos das capitais e das cidades consideradas como de segurana nacional no seriam mais eleitos e sim indicados por nomeao pelos governadores.
26
considerados estncias hidrominerais e ii) a diminuio da participao dos
municpios na arrecadao tributria.
Com a promulgao da Constituio Cidad em 3 de outubro de 1988, o poder
local volta a ser fortalecido. Os municpios ganharam status de entes da federao5
e ainda ganharam a prerrogativa de elegerem seus prefeitos, mesmo os que antes
fossem considerados estncias hidrominerais, rea de segurana nacional ou
mesmo capitais de estados.
Para De Marco (2005), a partir da nova Constituio, o municpio recebeu
algumas competncias comuns (Artigo 23) com a Unio, os estados e o Distrito
Federal (DF), como, por exemplo: i) zelar pela guarda da Constituio Federal e das
instituies democrticas; ii) cuidar da sade e assistncia pblicas; iii) proporcionar
os meios de acesso cultura, educao e cincia; iv) proteger o meio ambiente,
entre outras. Contudo, tambm conquistou competncias privativas (Artigo 30), entre
elas a de legislar sobre assuntos de interesse local.
Com relao aos aspectos financeiros, o municpio teve sua receita ampliada.
Os impostos, Predial Territorial Urbano (IPTU) e Sobre Servios (ISS), passaram a
ser arrecadados pelos municpios, alm de passarem a receber outros subsdios dos
governos estadual e federal, como, por exemplo, o Fundo de Participao dos
Municpios (FPM) e a quota-parte do Imposto Sobre Circulao de Mercadorias e
Servios (ICMS), bem como a participao nos resultados da explorao de
recursos minerais e hdricos no respectivo territrio6.
Entretanto, junto com a autonomia, vieram tambm as obrigaes, como, por
exemplo, de investimento mnimo em sade e educao. Para muitos especialistas,
alm da falta de clareza das obrigaes do municpio, h, tambm, uma sobrecarga
de responsabilidade, considerando a concentrao da arrecadao dos impostos
mais importantes na Unio e nos estados.
Outros estudiosos destacam como um grande problema para os municpios a
elevada carga tributria brasileira, visto que nem sempre os benefcios dos impostos
retornam ao municpio. Como exemplo da alta carga tributria nos servios de
5 O Artigo 18 da Constituio Federal define que a organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, todos autnomos, nos termos dessa Constituio, ou seja, no h hierarquia entre os entes federados. 6 1o do Artigo 20 da Constituio Federal: assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, bem como a rgos da administrao direta da Unio, participao no resultado da explorao de petrleo ou gs natural, de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica e de outros recursos minerais no respectivo territrio, plataforma continental, mar territorial ou zona econmica exclusiva, ou compensao financeira por essa explorao.
27
telecomunicaes, no Estado de So Paulo, na conta telefnica o cidado paga
25 % de ICMS que vai para o fisco estadual e 3,65% para o fisco federal composto
pela Contribuio para o Programa de Integrao Social (PIS) e pela Contribuio
para Financiamento da Seguridade Social (COFINS), mas como o imposto
cobrado um sobre o outro, a alquota chega a 40,15%.
Na viso de Santos (1999), apesar da autonomia que a Constituio Federal de
1988 concede aos municpios, a situao dos municpios dentro da federao no
deixa de ser complexa, tendo em vista que eles conquistaram maior importncia
comparado com o previsto pelas Constituies anteriores, mas ainda carecem de
que ocorra o fortalecimento, de fato, de instituies municipalistas, pois na esfera
municipal que h maior interao entre a AP e o cidado.
4.2. Incluso digital
Segundo Silva et al. (2005, p. 29), o ponto de partida do conceito de incluso
digital o acesso informao que est nos meios digitais e o ponto de chegada, a
assimilao da informao e sua reelaborao em novo conhecimento, tendo como
consequncia desejvel a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Portanto, pode-se concluir que a incluso digital est diretamente associada s
novas tecnologias. A adoo de novas tecnologias, desde o incio da civilizao,
sempre aconteceu primeiramente nas classes mais favorecidas e com as TICs no
tem sido diferente. Na viso de Suaiden (2004), a questo da excluso to antiga
quanto a humanidade. Segundo o autor, h diversas explicaes sociolgicas sobre
o fenmeno. Alguns culpam o processo de colonizao; outros, a hegemonia do
poder, entre outros fatores.
No caso brasileiro, especificamente com a Internet, desde seu lanamento
comercial, o nmero de pessoas das classes menos favorecidas que acessam a
Internet vem aumentando. Entretanto, o fenmeno da excluso digital ainda muito
preocupante.
Quando os dados sobre o acesso Internet no Brasil so analisados de forma
macro, percebe-se que o pas est em uma situao confortvel, visto que figura
entre os cinco primeiros em nmero de hosts e, em nmero de usurios, o stimo
pas do mundo. Entretanto, ao fazer uma anlise mais detalhada, possvel
perceber que, apesar das inmeras iniciativas em prol da incluso digital, a situao
28
, no mnimo, desafiadora. Dados da pesquisa do Centro de Estudos Sobre as
Tecnologias da Informao e da Comunicao (CETIC.br) mostram que, em 2007,
cerca de 60% da populao brasileira nunca utilizaram o computador.
Do total de brasileiros com acesso Internet, 42% ainda acessam utilizando a
conexo discada, o que na maioria das pequenas cidades significa que o usurio
paga tarifa interurbana para se conectar Internet, pois grande parte dos
provedores esto localizados nas mdias e grandes cidades.
Alm disso, segundo a pesquisa do IBGE, apenas 30% dos domiclios no Brasil
possuem computador e, desses, apenas a metade tem acesso Internet.
Desde a publicao do Livro Verde do PSI, em setembro de 2000, inmeros
projetos de incluso digital tm sido criados tanto pelo Governo Federal quanto
pelos governos estaduais, municipais, iniciativa privada e sociedade organizada,
especialmente pelas Organizaes No Governamentais (ONGs). Alguns projetos
impressionam pelos seus oramentos e pelo nmero de pessoas beneficiadas,
como, por exemplo, o Computador para Todos, o Casa Brasil e o Governo Eletrnico
- Servio de Atendimento ao Cidado (Gesac).
No entanto, parece que, apesar dos grandes investimentos em programas de
incluso digital, os benefcios no esto chegando aos cidados de menor poder
aquisitivo, de forma proporcional aos investimentos realizados. Isso pode ser
comprovado ao analisar a pesquisa do CETIC.br, que demonstrou que quanto
menor a renda e o nvel de instruo do cidado, maior o acesso Internet em
estabelecimentos comerciais (Lan Houses). Com isso, a pesquisa aponta a Lan
House como o principal meio de acesso Internet do cidado brasileiro das classes
C, D e E7, deixando para trs os telecentros, os quais, em sua maioria, oferecem
acesso livre populao.
Como aparentemente no h falta de recursos para programas de incluso
digital, e eles existem em grande nmero, o pas pode estar carecendo de um
programa estratgico para o setor, ou seja, a soluo do problema da excluso
digital est diretamente ligado a outros aspectos estruturais.
7 Segundo a pesquisa, dos usurios de Internet com renda at um salrio mnimo, 78% declararam utilizar a Rede por meio de centros pblicos de acesso pago (Lan Houses). Esse nmero cai para 67% para os que tm renda entre um e dois salrios mnimos; 55% para os que tm renda entre dois e trs salrios mnimos; 42% para os com renda entre trs e cinco salrios mnimos; e de apenas 30% para os usurios com renda superior a cinco salrios mnimos. A pesquisa mostra, tambm, que Lan Houses so utilizadas especialmente pelas pessoas com menor nvel de escolaridade: 64% so estudantes de nvel fundamental, 53% so de nvel mdio e 54% daqueles que completaram at a educao infantil frequentaram Lan Houses em 2007. Entre os usurios com ensino superior, esse percentual cai para 27%.
29
Segundo Silva Filho (2006), para o combate excluso digital, deve haver
investimentos nos trs pilares que formam um trip fundamental para que a incluso
digital acontea: as TICs, a renda e a educao. Na viso do autor, no difcil
vaticinar que sem investimento em qualquer um desses pilares, independentemente
de qualquer combinao feita, a ao de incluso digital est fadada ao insucesso.
Os investimentos em TICs so muito importantes para que projetos de incluso
digital sejam implantados. Para o bom funcionamento dos equipamentos,
necessrio que se tenha infraestrutura adequada, como, por exemplo, rede eltrica
estabilizada e conexo em banda larga. Outro requisito que os equipamentos
tenham boa capacidade de processamento, armazenamento e memria.
Os projetos de incluso digital devem, sempre que possvel, fomentar o
empreendedorismo, com o objetivo de buscar a autossustentao e tambm a
melhoria do nvel de renda do cidado.
O acesso coletivo e gratuito deve ser priorizado para a parcela da populao
que no possui condies financeiras de adquirir os equipamentos e custear o
acesso Internet por meios prprios. No caso brasileiro, grande parte da populao
encontra-se nessa situao, no s pela enorme desigualdade social que reina no
pas, mas principalmente pelos preos cobrados pelo acesso Internet.
Nos meados da dcada de 90, o grande problema era adquirir a linha
telefnica, que era muito cara. Naquela poca, 80% das linhas telefnicas
residenciais pertenciam aos cidados das classes A e B. Com a privatizao das
empresas de telecomunicaes, o preo da linha telefnica passou a ser acessvel,
mas os valores cobrados pelo seu uso dispararam. A m distribuio dos provedores
no territrio brasileiro aliado falta de uma tarifao especfica para transmisso de
dados faz com que o acesso Internet no interior do Brasil seja um dos mais caros
do mundo8.
Com relao ao terceiro pilar que deve estar presente em projetos de incluso
digital, defendido por Silva Filho (2006), vale destacar que os projetos de incluso
digital devem conter aes que permitam a transferncia da informao de forma
natural ao cidado. Nesse sentido, Oliveira (2003, p. 190) destaca que de
8 No s o acesso Internet por meio da conexo discada caro no Brasil; a pesquisa divulgada no Portal Comparatel mostra que o acesso por meio da banda larga o mais caro entre os pases emergentes. Disponvel em: . Acesso em: 16 out. 2008.
30
fundamental importncia que projetos de incluso digital considerem a realidade
social dos cidados.
Os gestores de projetos de incluso digital devem, inicialmente, formar
mediadores que possam atuar no projeto preparando o cidado no apenas para ser
um usurio passivo da tecnologia, mas, sobretudo, para transform-lo em um
gerador de contedo, capaz de aproveitar as vantagens das TICs em benefcio de
sua realidade social.
Na mesma linha, Miranda e Mendona (2005) defendem que a excluso digital
um fenmeno complexo e que deve ser analisado na perspectiva de suas diversas
dimenses. Segundo os autores, apenas o incentivo ao desenvolvimento tecnolgico
no suficiente para super-la; necessrio, tambm, incentivar a democratizao
da informao, ampliando o acesso do cidado aos espaos pblicos de produo e
divulgao do conhecimento, melhorar a distribuio de renda, o desenvolvimento
dos Recursos Humanos (RH) locais e a construo de uma rede digital rizomtica.
Dessa forma, parece haver consenso entre diversos autores no sentido de que
o problema da excluso digital no Brasil est muito mais ligado ineficincia dos
projetos que falta de iniciativas. A pesquisa do IBGE, Perfil dos Municpios
Gesto Pblica, publicada em 2005, revelou que 52,9% dos municpios informaram
possuir, planos ou polticas de incluso digital, como a criao de telecentros que,
alm do acesso Internet, ofereciam cursos de informtica. Entretanto, em poucos
projetos de incluso digital h, de fato, incluso social.
4.2.1. A incluso digital e a mediao da informao
consensual a posio dos pesquisadores que se dedicam ao estudo dos
temas ligados incluso digital e social de que o sucesso dos projetos de incluso
digital no depende apenas de receber equipamentos dos governos. Sabe-se que,
alm de outros aspectos, a metodologia utilizada na transferncia da informao do
indivduo que detm o conhecimento para as pessoas que devero ser includas
fundamental.
31
A EDI um projeto de incluso social baseado em uma metodologia de
mediao da informao que trabalha com educao integral, tendo as novas
tecnologias como instrumento de desenvolvimento cognitivo. A Metodologia da EDI
foi desenvolvida por Oliveira (2003), fundamentada em uma pesquisa de doutorado
do Departamento de Cincia da Informao e Documentao (CID) da Universidade
de Braslia.
A metodologia da EDI foi adotada no Distrito Federal (DF) por meio da Lei
3.275, de 31 de dezembro de 2003. O objetivo principal da adoo da EDI pelo
Governo do DF (GDF) foi possibilitar escola pblica o acesso s novas tecnologias
por meio da mediao, contribuindo para a incluso dos alunos na SI. Oliveira (2003)
define mediao da informao como um processo de interface de tecnologia,
contedos e sujeitos sociais (usurios), na identificao da sua necessidade, das
fontes, de seleo e de busca da informao, do uso das novas tecnologias e da
construo do conhecimento em um contexto socioeconmico e cultural, adequado
realidade de determinado cidado, determinada comunidade, a partir de suas
experincias e do momento histrico, capazes de satisfazer suas necessidades
informacionais e de gerar patamares de conhecimento.
A metodologia da EDI se desenvolve em etapas que determinam a resoluo
de problemas de informao e de fases que requerem um processo de
aprendizagem para aprender a informar-se. O Quadro 1 resume as cinco etapas
previstas na metodologia da EDI.
32
Quadro 1 Etapas da Escola Digital Integrada.
ETAPAS FINALIDADES
Primeira Etapa (Reflexivo-transformador)
Refletir sobre as transformaes da sociedade atual a partir de trs aspectos interdependentes: trabalho, comunicao e conhecimento, para sensibilizar os alunos da importncia da autonomia no processo de acesso informao; propiciar uma interveno positiva de colaborao e amizade entre os alunos, mediadores e responsveis pelos espaos necessrios para o desenvolvimento de habilidades de informao; explicar os objetivos gerais e especficos do projeto que ser desenvolvido e motivar os alunos para sua realizao, procurando convenc-los de que as novas formas de aprendizagem sero importantes para melhorar o rendimento escolar e cognitivo.
Segunda Etapa (Cognitivo-lingustico)
Explicar aos alunos os passos necessrios para conseguir um bom aprendizado e promover atitudes positivas para execuo das tarefas; conscientizar os alunos sobre suas possibilidades intelectuais e de sua capacidade para melhorar suas deficincias na aquisio, compreenso, organizao e comunicao da informao; exercitar e melhorar as habilidades bsicas (observao, classificao e orientao espao-tempo) e as habilidades de compreenso da informao (anlise de ideias e argumentos); assimilar tcnicas de aprendizagem para aquisio da informao, que permitam selecion-las, organiz-las e controlar cada uma das diferentes fases de um trabalho intelectual; adquirir estratgias para melhorar a compreenso de textos expositivos.
Terceira Etapa (Tecnolgico-documental)
Introduzir os alunos no mundo da informao, mediante o estudo e a avaliao de seu desenvolvimento histrico e tecnolgico, de seus contextos de conservao e difuso e de sua influncia na vida sociocultural; realizar projetos de trabalhos cooperativos, desenvolvendo atividades que instruam na busca e no uso da informao, adaptando diferentes comportamentos estratgicos.
Quarta Etapa (Estratgico-criativo)
Desenhar aplicaes documentais de carter ldico, utilizando as aprendizagens anteriores.
Quinta Etapa (Autoavaliao) Promover a autoavaliao do aluno e a avaliao pelo mediador.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2003).
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A tarefa de incluir socialmente os cidados por meio da incluso digital
complexa. Diversas pesquisas tm mostrado que os projetos de incluso digital sem
essa perspectiva no trazem resultados satisfatrios para a sociedade.
Buscando uma soluo para o problema, tem crescido o nmero de estudos,
principalmente na rea da Educao e da CI, que abordam o tema. Entre os estudos
na rea da CI, tem-se destacado a Metrologia da EDI, tanto por sua fundamentao
terica quanto por sua aplicao prtica.
4.3. Governo eletrnico
O conceito de e-gov, por estar ainda em formao, tem recebido conceituaes
conflitantes e, por vezes, at contraditrias. Por isso, pode ser considerado ainda
emergente no meio acadmico. Analisando as contribuies de diversos autores na
conceituao do termo e-gov, podemos classific-los em dois grupos bem distintos.
O primeiro mais restritivo e fundamenta o conceito na aplicao das TICs na
informatizao dos processos da AP. O segundo grupo d ao termo e-gov uma
maior abrangncia, relacionando-o no s aplicao das TICs, mas defende,
sobretudo, que o e-gov est diretamente ligado aos processos da AP. Os autores
que sustentam essa corrente afirmam que a viabilidade de implantao de um
projeto de e-gov depende de mudanas estruturais na AP, incluindo os processos e
a conscientizao dos servidores.
Os autores Zweers e Planqu (2001), por exemplo, so adeptos do primeiro
grupo e definem e-gov da seguinte forma:
e-gov objetiva tornar disponveis informaes, servios ou produtos, por meio eletrnico, a partir de rgos pblicos, a qualquer momento, local e cidado, de modo a agregar valor a todos os stakeholders envolvidos com a esfera pblica.
Na mesma linha, Balutis (1999) utiliza at uma equao para conceituar e-gov:
e-gov = de Comrcio Eletrnico; Customer Relationship Management (CRM); Supply Chain Management (SCM); Gesto do Conhecimento; Business Intelligence (BI); Tecnologias Colaborativas.
34
Ainda podem ser citados como autores do mesmo grupo: Gant e Gant (2001),
Cunha, Oliveira e Santos Filho (2003). Vale ressaltar que o Diviso das Naes
Unidas para a Economia Pblica e da Administrao Pblica (UNDPEPA) tambm
conceituou e-gov, enfatizando o uso das TICs (UNDPEPA, 2001).
Os autores Mentzas, Apostolou e Abecker (2001), representantes do segundo
grupo, tm a seguinte definio para o termo e-gov:
o e-gov prov uma viso e uma estratgia para a criao de um ambiente de transformao das atividades do governo pela aplicao de mtodos do e-business no mbito do setor pblico.
Como pode ser comprovada na viso desses autores, a existncia do e-gov
est condicionada transformao do ambiente em que ocorre o governo
tradicional. Podemos observar a mesma percepo em outros autores, como, por
exemplo, Tambouris, Gorilas e Boukis (2001).
Entretanto, a definio mais divergente do conceito defendido pelo primeiro
grupo aqui apresentado e o que mais adequado ao presente trabalho, devido
sua preocupao no s com a questo tecnolgica, mas, sobretudo, com as
questes da AP e da sua relao com a sociedade, o conceito apresentado por
Jardim (2000):
e-gov expressa uma estratgia pela qual o aparelho de Estado faz uso das novas tecnologias para oferecer sociedade melhores condies de acesso informao e servios governamentais, ampliando a qualidade desses servios e garantindo maiores oportunidades de participao social no processo democrtico.
4.4. Programas de governo eletrnico
Segundo Chahin et al. (2004), a expanso dos programas de e-gov deu-se a
partir de janeiro de 1999, por ocasio do 1o Frum Global sobre Reinveno do
Governo, em Washington, que contou com a presena de representantes de 45
pases.
O governo do Reino Unido foi um dos precursores, ao criar, em 1994, um stio
com a proposta de disseminar as informaes do governo. Em 1998, foi realizado
um estudo no qual se definiu a necessidade de criar um programa integrado que no
s universalizasse o acesso aos servios e informaes do governo, mas tambm
35
qualificasse os cidados. Assim, o governo britnico criou trs programas de ao: i)
programa de comunicao; ii) programa de conscientizao; iii) programa de
recursos para pequenas empresas.
No Canad, o programa de e-gov foi iniciado em 1998. Devido s condies
socioeconmicas e infraestrutura de Internet do pas, o programa j nasceu com
grande chance de sucesso.
O diferencial do programa canadense que, naquela poca, 98% da
populao do pas j possuam linha telefnica. A taxa de penetrao da Internet em
2003 estava em torno de 52%, mais de 48% da populao dispunham de linha
telefnica de alta velocidade, e a taxa de servios online do governo, nos nveis
federal, estadual e municipal, no mesmo ano, estava acima dos 50%, consolidados
no portal Connecting Canadians.
O governo dos Estados Unidos da Amrica (EUA), em 1999, por intermdio do
documento Paperwork Elimination Act, assumiu o compromisso de disponibilizar na
Internet todos os servios do governo at o final de 2003.
A estratgia adotada pelos norte-americanos foi autorizar cada rgo
governamental a implementar suas iniciativas, que depois convergiriam para o portal
Firstgov.gov, que pretende ser o nico ponto de acesso aos servios e informaes
do governo dos EUA.
4.5. Avaliao de programas de governo eletrnico
Nos ltimos anos, diversos estudos sobre avaliao de e-gov tm surgido.
Esses estudos tm sido realizados tanto por empresas de consultoria, por empresas
de tecnologia prestadoras de servios e fornecedoras de solues quanto pela
comunidade acadmica e organismos internacionais, como a Organizao das
Naes Unidas (ONU).
No final de 2001, um dos organismos da ONU Division for Public Economics
and Public Administration (UNDPEPA) , juntamente com a Sociedade Americana
para Administrao Pblica (ASPA), apresentaram um benchmarking sobre a
situao do e-gov de seus 190 pases-membros. O estudo mostrou que, em 2001,
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169 pases estavam presentes na Web. Desses, 34 possuam portais e 17
dispunham de algum tipo de transao online. O estudo identificou cinco estgios de
e-gov e apresentou um ranking dos pases analisados, subdivididos em pases com
alta, mdia, mnima e deficiente capacidade em e-gov.
O estudo indicou como lderes os EUA, seguidos pela Austrlia e pela Nova
Zelndia. O Brasil ficou em 19o lugar, uma posio acima da Itlia.
Hiller e Blanger (2001), apud Santos (2002), tambm apresentaram um
estudo no qual classificaram os pases analisados nos seguintes estgios de e-gov
(do menos para o mais evoludo):
i) Informatizado: nesse estgio, normalmente o governo apenas marca
sua presena na Internet por meio de um stio, onde, de forma esttica,
apresenta informaes de seus rgos, equivalente ao que Jardim
(1999) denominou folder institucional.
ii) No estgio denominado comunicao de duas vias, j existe um canal
de comunicao entre o governo e seus usurios, que normalmente
utilizam o endereo eletrnico como ferramenta. Segundo os autores, a
maioria dos pases em desenvolvimento encontra-se nesse estgio.
iii) O estgio transacional, em que possvel aos usurios efetuar
transaes online com rgos do governo, na Internet ou em pontos de
autoatendimento.
iv) O quarto estgio denominado integrao. Nele, todos os servios
devero ser transacionais e devero estar integrados, eliminando,
assim, toda a cadeia hierrquica presente na prestao de servios
pblicos tradicional.
v) O ltimo estgio o da participao. Para atingi-lo, necessrio, alm
de oferecer servios e informaes online, que os pases implementem
procedimentos de participao poltica para seus cidados, criando, por
exemplo, sistemas de votao online com segurana e privacidade.
Nenhum pas obteve essa classificao no estudo de Hiller e Blanger
(2001).
Outros estudos que merecem destaque sobre avaliao de e-gov foram
realizados pela Accenture, tambm nos ano de 2001 e 2002. Os estudos possuem
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uma viso muito crtica sobre o desempenho de projetos de governo eletrnico nos
diversos pases pesquisados. No estudo de 2002, a empresa de consultoria
Accenture previu grandes mudanas nos prximos anos, devido grande
penetrao da telefonia mvel no mundo.
Outro autor que se dedicou avaliao de programas de e-gov foi Santos
(2002) que, aps analisar diversos estudos sobre o assunto, concluiu que os
programas de e-gov, em geral, no trouxeram resultados muito promissores. Ficou
evidente, segundo o autor, que um grande nmero de Estados ainda est receoso
com relao a investimentos nessa rea, sobretudo os pases em desenvolvimento.
Para Santos (2002), um dos fatores que prejudicam o bom andamento dos
projetos de e-gov a falta de polticas de incluso digital consistentes. Para o autor,
as polticas de universalizao de acesso deveriam preceder as polticas de
converso de servios convencionais em eletrnicos, mas quase sempre ocorre a
inverso.
Apesar do grande nmero de estudos sobre o tema, a maioria deles tem-se
preocupado apenas em avaliar a parte visvel dos programas, ou seja, os portais
de e-gov, desconsiderando todas as outras dimenses existentes. Dias (2006)
estudou o tema sob a perspectiva da avaliao dos programas de e-gov pelo prprio
Estado e apresentou um mtodo de avaliao contendo lista de verificao para
portais e servios de e-gov, instrumentos de coleta de dados validados e
procedimentos detalhados, com anlise crtica das vantagens e desvantagens de
cada tcnica, para avaliao de programas e servios pblicos em meios
eletrnicos, visando tomada de deciso abalizada para a melhoria desses
programas e servios (DIAS, 2006, p. v).
Diferentemente da avaliao de programas de e-gov, no caso de projetos de
cidades digitais, ainda no existe uma metodologia desenvolvida especificamente
para esse fim, o que certamente uma dificuldade adicional para quem busca
experincias de outras iniciativas e, o mais preocupante, torna a tarefa dos rgos
de controle de aplicao de recursos pblicos ainda mais rdua.
38
4.6. Portais de governo eletrnico
Vilella (2003) defende que o portal deve ser planejado como verdadeiro
sistema de informao e que deve ser resultado da integrao desses sistemas.
Tambm na viso de Silveira (2002), um portal de governo deve ser cooperativo, ou
seja, as transaes gerenciadas que envolverem mais de um rgo devem ser
realizadas pelo portal de maneira transparente, sem apresentar dificuldades
adicionais ao cidado usurio. Essa uma das formas de utilizao da Internet que
tm sido defendidas como uma oportunidade de transformar a relao entre os
governos e os cidados. importante ressaltar que, se o objetivo proporcionar
mudana na relao, o planejamento e a implantao dos portais devem considerar
a busca pelo interesse e as necessidades do cidado, ou seja, o desenvolvimento e
a implantao do portal devem estar centrados no cidado. Nos projetos de alguns
pases que detm as melhores prticas de e-gov, esto presentes aplicaes que
implementam conceitos relevantes em um portal e-gov, como o ponto nico de
parada (one-stop government).
Para atender a esse conceito, o portal deve concentrar grande quantidade de
servios e informaes de forma que no seja necessrio o deslocamento do
cidado a outro endereo para utilizar um determinado servio pblico. O conceito
de fatos da vida do cidado (life-events) est diretamente relacionado com a
integrao dos servios oferecidos pelo portal. Na implementao desse recurso, os
sistemas de informao dos rgos pblicos e seus processos devero estar
organizados de modo a oferecer um determinado servio pblico
independentemente da estrutura fsica tradicional.
Assim, ao atender ao evento documentos perdidos, por exemplo, o portal
dever transacionar com diferentes rgos, possivelmente de diferentes poderes ou
at mesmo em mais de um nvel de governo (federal, estadual e municipal) para
solucionar o problema do cidado, que comunicar-se com os rgos ligados
polcia e com os responsveis pela emisso da segunda via dos documentos
perdidos. Para que seja possvel a implementao de portais com as caractersticas
defendidas pelos autores j citados nesse tpico, necessrio que os governos que
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tenham sistemas de informao no integrados reorganizem seus sistemas visando
obter interoperabilidade entre eles.
Silveira (2002) descreve a situao de sistemas no integrados e sem
interoperabilidade no governo brasileiro como verdadeiras ilhas interligadas entre si
apenas por meio de links. Tambm mostra a necessidade de esses sistemas serem
transformados em continente, ou seja, serem integrados ou interoperveis.
No caso do programa e-gov brasileiro, j existe uma iniciativa para tentar
resolver o problema da interoperabilidade entre os sistemas do governo. Em 2004, o
Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (MPOG), por meio da sua
Secretaria de Logstica e Tecnologia da Informao (SLTI), o Instituto Nacional de
Tecnologia da Informao da Presidncia da Repblica (ITI) e o Servio Federal de
Processamento de Dados (Serpro) organizaram um seminrio com participao de
rgos do governo federal, no mbito do Poder Executivo, com o objetivo de
conduzir os trabalhos iniciais de definio de uma arquitetura de interoperabilidade.
O produto final dessa iniciativa foi denominado e-Ping que, se aprovado e
adotado como padro pelo programa e-gov, contribuir para a integrao com a
finalidade de resolver um dos maiores problemas da rea de TI no governo, a falta
de integrao dos sistemas.
Finalmente, tanto Santos (2002) quanto Terra e Gordon (2002) afirmam que um
portal s pode alcanar xito se houver uma mudana na prpria cultura
organizacional e na forma pela qual os conhecimentos sero geridos a partir de sua
implantao.
importante ressaltar que os portais de e-gov so elementos fundamentais em
projetos de cidades digitais, pois so utilizados para agregar os servios pblicos em
meio eletrnico (e-servios), bem como as principais formas de interao entre o
poder local e a comunidade, como fruns de discusso, salas de bate-papo,
enquetes, entre outros.
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4.7. Estudo de Usurios
O tema Estudo de Usurios tem sido objeto de pesquisa de diversas reas do
conhecimento. Provavelmente pelas caractersticas inerentes de uma cincia social
aplicada e pela sua inquestionvel interdisciplinaridade e, sobretudo, pela sua
inexorvel vinculao com a TI, a CI tem-se tornado um ambiente propcio para o
desenvolvimento de trabalhos acadmicos sobre esse assunto.
Segundo Baptista e Cunha (2007), o tema Estudo de Usurios vem sendo
pesquisado h mais de quatro dcadas. Os autores apresentaram uma trajetria do
Estudo de Usurios, na qual apontaram os primeiros trabalhos ainda da chamada
fase quantitativa (de 1960 a 1980), bem como a fase qualitativa. Alm disso,
destacaram as vantagens e desvantagens dos principais mtodos de coleta de
dados utilizados nas pesquisas do tema na rea da CI.
Sanz Casado apud Rubio (2003, p. 4) defende a seguinte definio para
estudos de usurios:
conjunto de estudios que tratan de analizar cualitativa y cuantitativamente los habitos de informacion de los usuarios, mediante la aplicacion de distintos metodos, entre ellos los matematicos (principalmente estadisticos) a su consumo de informacin.
Desde os primeiros trabalhos sobre Estudo de Usurios, tem havido muitas
controvrsias entre os pesquisadores. Inicialmente, as discusses voltaram-se para
a avaliao dos mtodos de coleta de dados, pois a maioria das pesquisas era
eminentemente quantitativa. Dervin e Nilan identificaram essa tendncia:
a tradicional abordagem sobre a pesquisa de necessidade de informao e uso tem absorvido tcnicas quantitativas sofisticadas. Essa metodologia tem aparecido em todas as revises anteriores do Annual Review of Information Science and Technology (Arist). [...] Ainda no contexto da mudana de paradigma, estudiosos agora esto pedindo pela utilizao da abordagem qualitativa (1986, p.16, traduo nossa).
Posteriormente, passou-se a questionar at a ambiguidade dos termos
envolvidos nesses estudos. Por exemplo, os responsveis pela compilao do
volume 2 do Arist destacaram:
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o problema da linguagem merece discusso especfica e imediata. Com o devido respeito aos editores deste volume, o prprio ttulo deste captulo (que eles escolheram) ambguo e confuso. Algum pode concluir uma ampla variedade de significados a partir das palavras necessidades e usos, muitas das quais no teriam qualquer relao com o propsito e o contedo deste captulo. Em publicaes revisadas neste captu