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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
E MEIO AMBIENTE URBANO
LUZIA CRISTINA IZIDIA ARRUDA
GESTÃO COMPARTILHADA PARA UMA EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL NAS
CIDADES:
ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL DR. CARLOS GUIMARÃES,
PARCERIAS E O MODELO DE IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NO
MUNICÍPIO DE BELÉM/PA
BELÉM - PA
2015
LUZIA CRISTINA IZIDIA ARRUDA
GESTÃO COMPARTILHADA PARA UMA EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL NAS
CIDADES:
ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL DR. CARLOS GUIMARÃES,
PARCERIAS E O MODELO DE IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NO
MUNICÍPIO DE BELÉM/PA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da
Universidade da Amazônia como requisito para a
obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa: Gestão, Planejamento e
Dinâmica Socioambiental Urbana.
Orientadora: Profa. Dra. Rosália do Socorro da
Silva Corrêa.
BELÉM - PA
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sheila Monteiro CRB2 859
370.153 A778g Arruda, Luzia Cristina Izidia.
Gestão compartilhada para uma educação sustentável nas
cidades: estudo de caso da Escola Estadual Dr. Carlos Guimarães,
parcerias e o modelo de implementação da coleta seletiva na área
metropolitana de Belém/PA / Luzia Cristina Izidia Arruda – Belém,
2015. 118 f.; il.: 21 x 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Programa
de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2015. Orientadora: Profa. Dra. Rosália do Socorro da Silva Corrêa.
1. Gestão escolar sustentável. 2. Coleta seletiva. 3. Meio
ambiente. 4. Ação participativa. I. Corrêa, Rosália do Socorro da
Silva. II. Título.
LUZIA CRISTINA IZIDIA ARRUDA
GESTÃO COMPARTILHADA PARA UMA EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL NAS
CIDADES:
ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL DR. CARLOS GUIMARÃES,
PARCERIAS E O MODELO DE IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NO
MUNICÍPIODE BELÉM/PA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da
Universidade da Amazônia como requisito para a
obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa: Gestão, Planejamento e
Dinâmica Socioambiental Urbana.
Orientadora: Profa. Dra. Rosália do Socorro da
Silva Corrêa.
Banca Examinadora:
_______________________________________________
Profa. Dra. Rosália do Socorro da S. Corrêa - UNAMA
Orientadora
____________________________________________ Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo - UNAMA
_______________________________________________
Prof. Dr. Licurgo Peixoto Brito - UFPA
Apresentado em: ____ / ____ / 2015.
Conceito: _____________________
BELÉM - PA
2015
Dizemos que são boas as virtudes de um
homem, não por causa dos resultados que
podem ter para ele, mas por causa dos
resultados que podem ter para nós e para a
sociedade.
F. Nietzsche
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor Deus pelo dom da vida, por conceder força e coragem para seguir a diante no
enfrentamento dos desafios.
À coordenação, professores e secretaria do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia - UNAMA pelo apoio durante o
andamento do curso.
A querida orientadora Profa. Dra. Rosália do Socorro da S. Corrêa, pela preciosa e valiosa
cordialidade com que conduziu as inúmeras sessões de orientação.
A querida Profa. Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos, pela pessoa amável e cordial
que sempre foi nos momentos iniciais dessa caminhada.
A CAPES instituição financiadora da pesquisa pela bolsa concedida, imprescindível para a
realização do curso.
Aos colegas de turma pelo convívio amigável e contribuições com a pesquisa ao longo do ano
das disciplinas.
A minha família que sempre esteve ao meu lado incentivando nessa caminhada.
Aos meus filhos Luiz Filipe e Juan Lucas que iluminam minha vida.
A Ivan F. Sampaio pelo companheirismo e apoio ao longo dessa jornada.
Aos amigos e companheiros de ideal Edilson Rodrigues, Maria Ferreira, Pablo Muffarej,
Valéria Foro, Luciana Assad, Ilka Costa, Maria Graciléia, Izete Pantoja, Jandiassy Ribeiro,
Ellen Débora, Marcivânia Souza, Gil Malcher, Lidiana Alessandra, Lélia Fernandes, Ivanilson
Favacho, Maria Nunes.
A todos os servidores da Escola E.E.F. Dr. Carlos Guimarães e aos moradores da quadra K,
que fizeram parte da pesquisa por suas valiosas informações, que tornaram possível a
efetivação da pesquisa.
A equipe da biblioteca do curso de pós-graduação pelo bom atendimento prestado.
A todos que de alguma forma, direta ou indireta, contribuíram para a realização desse projeto
pessoal.
RESUMO
Considerando-se a relevância do tema e a função social da escola, esta pesquisa teve por
objetivo analisar o modelo de gestão utilizado na implantação do Projeto Coleta Seletiva da
Escola Estadual E. F. “Dr. Carlos Guimarães” e na comunidade do entorno, como modo de
inserção da PNRS no município de Belém, assim como da participação dos atores sociais
nesse processo. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, baseado em pesquisa
bibliográfica, e aplicação de questionário aos servidores da escola e representantes da
comunidade. Através das respostas registradas, ficou evidente que a gestão fomentou o
projeto da coleta seletiva tanto na escola, quanto na comunidade, possibilitando a participação
efetiva de todos no processo, conduzindo uma gestão de forma compartilhada. Os pesquisados
sabem o que é coleta seletiva e, a partir da execução do Projeto, os pesquisados tiveram
conhecimento acerca da prática, e tornaram-se agentes multiplicadores, levando esse
aprendizado para sua vida pessoal, familiar e social. Os moradores consideram importante o
ponto de coleta seletiva instalado porque promove a EA na comunidade, auxiliando na
mudança de hábitos. Apesar de desconhecerem a PNRS, alegaram que esta política não foi
implantada em Belém e que o projeto subsidiou a implantação da mesma no município. A
maioria dos pesquisados na escola conhece a referida política. Os servidores não tinham
experiência de trabalho com projetos de EA, e receberam treinamento na escola para
desenvolverem as ações. O projeto possibilitou novos conhecimentos acerca dos problemas
ambientais, que foram submetidos de forma prática, construindo uma consciência crítica e
uma ação participativa, conduzindo a comunidade escolar e do entorno a assumirem a
responsabilidade com o meio ambiente.
Palavras-chave: Gestão. Coleta Seletiva. Meio Ambiente. Participação.
ABSTRACT
Considering the importance of the topic and the school social function, this study aimed to
analyze the management model used in the implementation of the EF State School Selective
Collection Project "Dr. Carlos Guimarães "and in the surrounding community, as PNRS the
insert mode in the city of Bethlehem, as well as the participation of social actors in this
process. The methodology used was the case study, based on literature search, and application
servers questionnaire to school and community representatives. Through the responses
recorded, it became clear that the management fostered the selective collection project at
school, and in the community, enabling the effective participation of all in the process,
leading a shared management approach. Respondents know what selective collection and
from the execution of the Project, respondents had knowledge about the practice, and become
multipliers, taking this learning to their personal, family and social life. The residents consider
important the selective collection point installed because it promotes EA in the community,
helping to change habits. Despite being aware of the PNRS, claimed that this policy was not
implemented in Bethlehem and the project supported the implementation of the same in the
city. The majority of respondents in school knows that policy. The servers had no experience
working with EA projects, and received training in school to develop actions. The project
enabled new knowledge about environmental problems, which were submitted in a practical
way, building a critical awareness and participatory action, leading the school community and
the environment to take responsibility for the environment.
Keywords: Management. Selective Collection. Environment. Participation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Correntes de Educação Ambiental 41
Quadro 2 - Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global
44
Quadro 3 - Principais eventos de meio ambiente e EA 53
Figura 1 - Tipos de Metabolismo das Cidades 71
Fotografias 1 e 2 - Escola Carlos Guimarães antes da reforma em 2008 77
Fotografias 3 e 4 - Escola Carlos Guimarães depois da reforma em 2010 77
Fotografias 5 e 6 - Acessibilidade na Escola Carlos Guimarães 80
Fotografias 7 e 8 - Oficina de Futuro em 2009 e oficina de confecção dos
equipamentos em 2010
84
Fotografia 9 - Equipamento coleta seletiva na sala de aula 85
Fotografia 10 - Equipamento coleta seletiva no corredor da escola 85
Fotografias 11 e 12 - Oficina de Papel Reciclado 90
Fotografia 13 - Oficina de puff de PET para os pais, professores e comunidade 90
Fotografias 14 e 15 - Aula prática na horta e colheita 92
Fotografias 16 e 17 - Formação de professores na horta 93
Fotografias 18 e 19 - Sistema de Captação Pluvial 94
Fotografias 20 e 21 - Ponto de Entrega Voluntária (PEV), caminhão da cooperativa
retirando material
96
Fotografia 22 - Mutirão de limpeza e inauguração do PEV, Quadra K, Conjunto
COHAB, Belém/PA
103
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACCSB - Associação dos Catadores da Coleta Seletiva de Belém
AEE - Atendimento Educacional Especializado
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Social
CEMPRO - Compromisso Empresarial para Reciclagem
CCNOMA - Centro Comunitário Nova Marambaia
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAH - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano
CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CDS - Comissão de Desenvolvimento Sustentável
COM-VIDA - Comissão de Qualidade de vida e Meio ambiente
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
COEMA - Conselho Estadual de Meio Ambiente
COOTPA - Cooperativa de Trabalho dos Catadores do Aurá
DEMA - Delegacia de Meio Ambiente
DNUEDS - Decênio das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável
EPS - Educação para a Sustentabilidade
EJA - Educação de Jovens e Adultos
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC - Ministérios da Educação
MINC - Ministério da Cultura
ME - Ministério do Esporte
MMA - Ministério do Meio Ambiente
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PAC - Programa de Aceleração do Crescimento
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
PET - Politereftalato de etileno
PIEA - Programa Internacional de Educação Ambiental
PGRS - Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
PMB - Prefeitura Municipal de Belém
PNMA - Política Nacional de Meio Ambiente
PNEA - Plano Nacional de Educação Ambiental
PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos
PPP - Projeto Político Pedagógico
PRONEA - Programa Nacional de Educação Ambiental
PNUMA - Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente
PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação
PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola
PNE - Plano Nacional de Educação
RIMA - Relatório de Impacto Ambiental
SEDUC - Secretaria de Estado de Educação
SECTAM - Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Meio Ambiente
SEIDURB - Secretaria de Estado de Integração Regional, Desenvolvimento Urbano e
Metropolitano
SESAM - Secretaria Municipal de Saneamento
SEMA - Secretaria Especial de Meio Ambiente
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
TAC - Termo de Ajuste de Conduta
UFPA - Universidade Federal do Pará
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
USE - Unidade Seduc na Escola
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 GESTOR E COMUNIDADE: OS DESAFIOS DA GESTÃO
COMPARTILHADA
16
2.1 Pressupostos da Gestão Compartilhada 16
2.2 Gestão Participativa e Inovação: A Gestão Escolar e o Fomento as Parcerias 21
2.3 Mudanças de Paradigma: do Administrador para o Gestor 29
3 ABORDAGEM HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL(EA) E
FORMAS DE INSERÇÃO NA COMUNIDADE
36
3.1 Histórico da Educação Ambiental e sua Expansão no Brasil 37
3.2 Políticas Públicas de Educação Ambiental e o Processo de Expansão na
Escola e na Comunidade
54
3.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos: Perspectivas de Implantação no
Município de Belém
60
3.4 Cidades Sustentáveis 69
4 ESCOLA SUSTENTÁVEL DR. CARLOS GUIMARÃES: O PROJETO DA
COLETA SELETIVA E A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
75
4.1 A Gestão e a Implantação da Educação Ambiental 77
4.2 A Prática da Educação Ambiental no Espaço Urbano: Outras Ações da
Escola
91
4.3 O Projeto para Além dos Muros da Escola Carlos Guimarães: Inserção do
Projeto na Área Urbana de Belém
95
4.4 As Percepções da Comunidade sobre o Projeto Coleta Seletiva 99
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 106
REFERÊNCIAS 109
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS TÉCNICOS 114
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS DOCENTES 115
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COMUNIDADE 116
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS SERVIDORES 117
APÊNDICE E – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
118
12
1 INTRODUÇÃO
Administrar uma escola na atualidade vai além da questão etimológica, visto que a
designação apropriada seria gerir, em decorrência do perfil que a sociedade globalizada
requer. A gestão possibilita espaços para participação da comunidade escolar, dentro da
dinâmica social na qual está inserida, assegurando sua autonomia através do Conselho Escolar
e do seu Projeto Político Pedagógico, como afirma Gadotti (2010); e também do
compartilhamento de suas ações, sejam de ordem administrativa, jurídica, financeira ou na sua
dimensão pedagógica, de acordo com Dourado (2006).
A participação do Conselho Escolar é fundamental para a garantia dessa autonomia,
por ser um espaço que possibilita a discussão e o diálogo entre os pares e, principalmente,
porque pode definir questões que são fundamentais para o bom andamento da escola.
A consolidação de projetos que atendam às necessidades da urgência ambiental tem
como grande desafio para a gestão sensibilizar a comunidade escolar para os problemas
ambientais no contexto social e na condução de ações que sejam significativas para a escola e
comunidade, buscando resultados positivos.
Para dar suporte a essa demanda socioambiental, a gestão necessita encaminhar e
possibilitar a captação de parcerias vindas da sociedade civil organizada, sem tirar a
responsabilidade do governo no processo, como afirma Sorrentino (2009).
A divisão e o compartilhamento das responsabilidades, através da participação,
significa um avanço na gestão e no processo educativo, podendo possibilitar um ensino
público de qualidade e para todos. Entretanto, a mudança no paradigma do administrador para
o gestor caminha lentamente pelos corredores das escolas públicas, sendo essa uma questão
mais do que semântica.
Portanto, é necessário refletir sobre essa nova forma de conduzir a escola e chamar a
atenção sobre a importância desse modelo de gestão para o avanço da educação, que objetiva
uma transformação social, como afirma Luck (2009). De modo contrário, a ausência de
compromisso da direção escolar com a dinâmica pedagógica de uma prática sustentável na
escola provoca um retrocesso, no que se refere à questão ambiental.
A preocupação mundial com as questões ambientais emergiu nas últimas décadas,
principalmente nas grandes cidades, como uma necessidade vital. O incontrolável aumento da
13
densidade populacional nos centros urbanos gerou, ao longo do tempo, fortes impactos ao
meio ambiente.
A importância da função da escola nesse contexto socioambiental deve ser
compreendida por gestores públicos das diversas esferas e instituições, prefeituras e, como no
caso de nosso estudo, escolas públicas. A adoção da legislação ambiental nesse âmbito
significa uma mudança nas instituições, sendo extremamente relevante para a sociedade e
para a garantia da qualidade de vida nas cidades, pois demonstra um alto grau de avanço
social.
A escola necessita posicionar-se com ações que garantam de forma significativa esse
avanço, através da adoção de práticas de educação ambiental, compartilhado no espaço
escolar, envolvendo a comunidade no entorno de forma dinâmica e com resultados que
possam ser significativos para todos.
Nessa perspectiva, o objeto deste trabalho é a importância e a função da gestão do
espaço escolar urbano como agente mitigador de impactos ao meio ambiente, por meio da
prática da educação ambiental, visando a sustentabilidade do espaço, possibilitadas por
projetos educacionais que estão em consonância com a PNRS.
O principal objetivo foi analisar o modelo de gestão utilizado na implantação do
projeto da coleta seletiva na Escola Estadual “Dr. Carlos Guimarães” e na comunidade no
entorno, como modo de facilitar a implementação da PNRS no município de Belém, assim
como a participação dos atores sociais nesse processo.
A sociedade precisa posicionar-se com relação às questões ambientais. A escola “Dr.
Carlos Guimarães” demonstrou ser isto possível, tomando para si a problemática relativa ao
lixo, procurando através da parceria com a comunidade consolidar seu trabalho por meio do
Projeto da Coleta Seletiva, e transformar a realidade de forma significativa na construção da
cidadania planetária.
A pergunta norteadora dessa dissertação versa sobre o modelo de gestão escolar
utilizado para a adoção da educação ambiental, e da captação de parcerias para implantação
da coleta seletiva na comunidade escolar e no entorno, como forma de viabilizar a PNRS.
A pesquisa é do tipo qualitativa, é um estudo de caso e, tem como objetivo geral
analisar a atuação do gestor no processo de construção do Projeto da Coleta Seletiva e na
captação de parcerias, para sua implementação na escola “Dr. Carlos Guimarães” e na
comunidade no entorno, no município de Belém.
Os objetivos específicos desse trabalho foram de investigar de que forma o gestor agiu
no desenvolvimento do projeto da coleta seletiva no espaço escolar, e a sua inserção junto à
14
comunidade no entorno; o processo de captação de parcerias que deram suporte ao projeto,
assim como a forma de implementação das PNRS no espaço escolar e urbano.
Partiu-se do pressuposto de que as lacunas provenientes da formação acadêmica e da
visão de mundo da gestão comprometem o desempenho e a execução de tarefas, quer sejam
de cunho administrativo ou pedagógico, pois ambas se sobrepõem e inferem na qualidade do
ensino. Outro fator relevante está relacionado à inserção da EA como tema transversal no
currículo, de acordo com os PCNs, voltada para o compromisso socioambiental.
A ausência da atuação do gestor na inserção ou continuidade de projetos em educação
ambiental leva os sujeitos do processo a desconstruírem os saberes estabelecidos. Com isso,
impede vínculos perenes de responsabilidade com relação à problemática ambiental e ao
impacto do lixo, vivenciados nos espaços escolares e, por consequência, nas áreas urbanas.
Em relação ao procedimento metodológico, a pesquisa foi dividida nas três partes a
seguir: caracterização da área de estudo; levantamento de dados documentais; aplicação de
questionários. A pesquisa foi realizada no mês de outubro de 2014, com aplicação de
questionários semiestruturados para professores, técnicos, demais servidores da Escola “Dr.
Carlos Guimarães”, e para os moradores do entorno da escola. Utilizaram-se como critério de
seleção da comunidade escolar apenas os servidores que faziam parte do quadro funcional da
Escola no período de implantação do Projeto da coleta seletiva e das demais ações de EA.
O conteúdo da Dissertação está organizado em três capítulos. No primeiro capítulo,
apresentamos uma abordagem sobre os pressupostos da gestão compartilhada, e a mudança de
paradigma do administrador para o gestor. O segundo capítulo discorre acerca de uma
abordagem histórica sobre a educação ambiental no Brasil e no mundo, e o processo de sua
expansão da escola e da comunidade. Neste capítulo também se discutiu sobre a PNRS e sua
implantação no município de Belém, além de apresentar alguns modelos de projetos de
cidades sustentáveis. No terceiro capítulo estão os resultados da pesquisa de campo, onde se
fez uma caracterização da Escola “Dr. Carlos Guimarães”, o modelo da gestão e sua
participação na implantação do Projeto Coleta Seletiva na Escola e na comunidade no
entorno; além dos demais projetos de sustentabilidade desenvolvidos pela Escola e que,
somados, favoreceram-na com o título de Escola Sustentável, em consonância com a
Resolução nº 18/2013 do MEC/FNDE. No final deste capítulo também constam as percepções
da comunidade escolar e do entorno, sobre o Projeto desenvolvido.
As mudanças nas escolas e nas comunidades precisam acontecer para favorecer a
capacidade dos sujeitos de identificar problemas e tomar decisões que afetem individual e
coletivamente a sociedade.
15
Afinal, viver de forma democrática é um exercício que todo cidadão deve fazer
diariamente, para construir um mundo mais justo e fraterno, onde haja mais ética e o respeito
ao direito do próximo não seja negado. Só assim teremos uma escola com formação para
cidadania plena e planetária.
16
2 GESTOR E COMUNIDADE: OS DESAFIOS DA GESTÃO COMPARTILHADA
Administrar uma escola requer, além do conhecimento técnico, o conhecimento de
mundo, das relações em sociedade. A gestão lida com interfaces no contexto escolar ao liderar
grupos heterogêneos, sem perder o objetivo maior, que é proporcionar educação pública de
qualidade e para todos.
O gestor, na atualidade, pensa a escola que se configura hoje de acordo com a
realidade social, política e econômica. Nesse contexto do mundo globalizado, é preciso
adequar-se a essas mudanças, não com o sentido de modernidade ou modernismo, mas sim no
intuito de gerir para gerações de crianças e jovens, futuros adultos e possíveis responsáveis
pelas transformações da sociedade do amanhã.
Contudo, é possível estruturar o espaço escolar, onde todos possam participar de forma
dinâmica e colaborativa, onde prevaleça a autonomia da escola para administrar seus recursos
e proventos, de tal forma que atenda a comunidade nas suas reais necessidades. Desse modo,
um novo olhar sobre a prática da gestão que se encontra na maioria das escolas sugere uma
nova proposição, que possibilite a participação coletiva e garanta o processo democrático, no
sentido de favorecer mudanças para que se tenha uma escola integrada à comunidade,
desempenhando seu papel social.
2.1 Pressupostos da Gestão Compartilhada
O princípio da gestão democrática da educação, que tem por base o Plano Nacional de
Educação, aprovado e sancionado pela Lei n.º 10.172, de janeiro de 2001, e através do Art.
12, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB nº 9.394/96, e no conjunto de incisos,
deixa clara a autonomia das escolas em vários aspectos, que ultrapassam o aspecto
pedagógico.
A autonomia confere à escola capacidade de autogestão, iniciando pela sua proposta
pedagógica, que alicerça seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e lhe confere autonomia total
e irrestrita mediante suas entidades superiores. Desse modo, sua identidade fica garantida e,
por extensão, sua autonomia, não submetendo a escola a ordens de entidades superiores, ou
não permitindo que a mesma se torne mera executora de demandas de gabinetes.
Entende-se, como processo de gestão democrática, que sejam garantidas condições
mínimas para que haja espaços de participação e descentralização do poder. Desse modo,
17
portanto, compete ao gestor garantir esses espaços para a comunidade discutir seus problemas
e juntos chegarem a propostas para buscarem soluções.
A escola é um espaço onde as diferenças são marcantes; portanto, respeitar essas
diferenças é importante. Porém, buscar diferentes formas de participação coletiva na
construção de um processo educativo, onde o diálogo e a troca de saberes sejam garantidos, é
um grande desafio; e nisso consiste a construção do processo de gestão democrática
construída de forma coletiva. De acordo com Luck (2010, p.29), participação na visão da
gestão democrática significa estar consciente do seu papel no processo de construção coletiva.
Compartilhar é dividir responsabilidades, participar; e a participação é o princípio da
democracia.
A participação em seu sentido pleno caracteriza-se por uma força de atuação
consciente pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e
assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa
unidade, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua
competência e vontade de compreender, decidir e agir sobre questões que lhe
são afetas, dando-lhes unidade, vigor e direcionamento firme.
Falar no conceito de gestão educacional participativa pressupõe um grupo de pessoas
que se unem com um objetivo comum, o da melhoria da qualidade do ensino. Para tanto, é
necessário que todos sejam mobilizados na construção desse objetivo comum. A gestão
participativa implica que todos os sujeitos no processo estejam envolvidos e comprometidos
com um objetivo comum e o gestor precisa mediar o diálogo entre eles.
A liderança nessa mediação é fundamental; contudo, o gestor apropria-se das
características específicas dos indivíduos ou grupos, e possibilita a esses grupos ou indivíduos
autonomia de suas ações. Para tanto, o gestor busca autonomia para construir sua equipe de
trabalho, já que nas escolas há grupos heterogêneos e, na maioria dos casos, de difícil
compatibilização. De acordo com Gutierrez (2000, p.63),
As características individuais também são importantes para uma gestão
participativa bem-sucedida. É comum ouvir queixas, entre diretores de
escola, referentes à necessidade de ter que trabalhar com um grupo
heterogêneo e em cuja formação ele não pode interferir.
A autonomia, enquanto pressuposto importante, está relacionada de acordo com sua
etimologia, com o sentido de autogovernar, ou seja, a capacidade que os indivíduos ou
organizações têm de criarem e gerir suas próprias regras de acordo com seus princípios e
necessidades. Significa ter liberdade de decisão. Porém, não existe de certa forma uma relação
18
de “independência”, visto que tanto no individual quanto no organizacional há um sistema
coletivo permeado pela relação social de troca entre os pares. Nisso se configura uma
interpelação proximal e, portanto, de dependência, dessa forma relativizando o sentido pleno
da autonomia. A autonomia ocorre na dimensão administrativa, jurídica, financeira e
pedagógica. A autonomia financeira da escola pode ser total ou parcial. No que diz respeito,
de acordo com Dourado (2006, p.60),
Para que o processo seja consolidado, é fundamental que sejam criados
mecanismos de participação tornando a gestão mais democrática, que as
prioridades sejam estabelecidas pelo conjunto daqueles que participam direta
e indiretamente da comunidade local e escolar e que as ações sejam
planejadas coletivamente.
Na opinião de Barroso (2000, p.16), somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser
autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia pedagógica
está diretamente associada à construção do Projeto Político Pedagógico da escola e, por
extensão, ao seu currículo, onde está inserida a dimensão ambiental na autonomia pedagógica.
Outro fator que infere na autonomia da comunidade escolar são os interesses de
grupos políticos, que acabam afetando a gestão pública e, por consequência, também afetam a
gestão escolar. Toda organização política em nível superior muitas vezes compromete o
trabalho na ponta ou na base, que são as escolas. Os interesses desses grupos entram em
conflito por serem opostos, e a liberdade prevista na legislação educacional acaba sendo tirada
e sobrepõe-se a hierarquia. Nesse cenário, o diretor continua sendo, como afirma Paro (2005,
p.11), um mero preposto do Estado, gerando a falta de autonomia da escola.
[...] o sistema hierarquizado coloca pretensamente o poder nas mãos do
diretor, tornando-se contraditório que a escola torne-se autônoma, já que o
diretor detém o poder máximo de decisão. Assim, afirma o autor que essa
impotência e falta de autonomia do diretor sintetizam a impotência e falta de
autonomia da própria escola[...].
Não haverá autonomia coletiva se não houver primeiramente a autonomia individual;
pois, antes de alicerçar o coletivo, é necessário consciência e coerências nas proposições, no
modo de pensar e agir. Antes de tudo, primeiro ser autônomo, e depois fazer autonomia. Não
existe autonomia de forma isolada, desconectada da ação dos seus membros de forma
abstrata, antissocial; esse tipo de autonomia inexiste. A autonomia das escolas vem
acompanhada de mudança de pensamento e de postura cultural, dentro da organização e da
estrutura do espaço.
19
O que se observa em algumas escolas é que estas se encontram ou em total
heteronomia1, ou na quase anomia2 completa, o que é muito pior. São poucas as escolas que
conseguem de fato atingir um grau de autonomia, pautadas na criação de espaços de decisões
coletivas. De acordo com Barroso (2000, p.17),
A autonomia é um campo de forças, onde se confrontam e equilibram
diferentes detentores de influência (externa e interna) dos quais se destacam:
o governo, a administração, professores, alunos, pais e outros membros da
sociedade local.
De acordo com Carneiro (2010), o binômio autonomia e proposta pedagógica
constitui o único elemento capaz de conferir, a cada escola, a condição de laboratório vivo de
aprendizagem referida a contextos concretos de vida.
A autonomia pedagógica está diretamente associada à construção do Projeto Político
Pedagógico da escola e, por extensão, ao seu currículo. De acordo com Ferreira (2000), a
autonomia afirma-se, assim, como expressão da unidade social que é a escola e não a ação dos
indivíduos. Ou seja, os indivíduos precisam antes de tudo construir sua própria autonomia,
para depois construírem, juntos, uma nova identidade, uma nova escola. De acordo com
Barroso (2000, p.24).
As escolas oscilam entre a heteronomia absoluta, que é a dependência total
da administração, e a quase completa anomia, que é a ausência de normas,
havendo, contudo, muitas situações em que as escolas souberam construir
uma real autonomia, querem aproveitando o espaço de decisão legalmente
consagrado quer desenvolvendo “autonomias clandestinas”.
A autonomia das escolas foi viabilizada a partir do momento que houve o processo de
descentralização do repasse dos recursos públicos através dos projetos do Governo, tanto a
nível Estadual, quanto Federal, para serem geridos pelas escolas, através dos Conselhos
Escolares. De acordo com Gadotti (2010, p.47),
A participação e a democratização num sistema público de ensino é a forma
mais prática de formação para a cidadania. A educação para a cidadania dá-
se na participação no processo de tomada de decisão. A criação dos
conselhos de escola representa uma parte desse processo.
1 Heteronomia é um conceito criado por Kant para denominar a sujeição do indivíduo à vontade de terceiros ou
de uma coletividade. Ocorre quando se tem consciência das regras, ou realismo moral. 2 Anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações
ocorrentes no mundo social moderno.
20
Tendo como requisitos estabelecidos que as escolas elaborem seus planos de
desenvolvimento das ações que serão desenvolvidas e onde será aplicado o recurso, os
princípios necessários para a autonomia escolar, de acordo com Barroso (2000), são:
legitimidade, participação, liderança, qualificação e flexibilidade. Entendendo-se que todos
estão inter-relacionados.
A autonomia é um processo lento que vem sendo consolidado historicamente e
gradualmente nos espaços escolares. Assim, os avanços no sentido da descentralização da
gestão e da participação da comunidade tornam-se cada vez mais essenciais para o
desenvolvimento do processo de aprendizagem. Nesse contexto, a criação de espaços de
discussão coletiva e a criação dos conselhos escolares são fundamentais para o processo
educacional.
O Conselho Escolar é um órgão colegiado composto por representantes das diversas
categorias que fazem parte da comunidade escolar. Assim, são conselheiros professores,
alunos, pais, servidores e comunidade. Todos passam por um pleito eleitoral e têm o mandato
de dois anos; na vacância de titular, o suplente assume, podendo ser reeleito por no máximo
dois anos. Sendo permitido, após um ano de afastamento da função, terá direito a candidatar-
se novamente. De acordo com Bordignon (2004, p.18),
No processo de gestão democrática da coisa pública, consignada pela
Constituição de 1988, os conselhos assumem uma nova institucionalidade,
com dimensão de órgãos do Estado, expressão da sociedade organizada. Não
se lhes atribui responsabilidade de governo, mas de voz plural da sociedade
para situar a ação do Estado na lógica da cidadania.
O Conselho Escolar representa um lugar de participação e decisão, um espaço de
discussão, negociação e encaminhamento das demandas educacionais, possibilitando a
participação social e promoção da gestão democrática. Contribui decisivamente para a
criação de um novo cotidiano escolar, no qual a escola e a comunidade se identificam no
enfrentamento dos desafios escolares de um modo geral. De acordo com Bordignon (2004, p.
23-24), estabelece-se a divisão das competências dos Conselhos Escolares em quatro
principais:
a) Deliberativas: quando decidem sobre o projeto político pedagógico e outros
assuntos da escola, aprovam encaminhamentos de problemas, garantem a elaboração de
normas internas e o cumprimento das normas dos sistemas de ensino, e decidem sobre a
organização e o funcionamento. Elaboram normas internas da escola sobre questões referentes
ao seu funcionamento nos aspectos pedagógico, administrativo ou financeiro.
21
b) Consultivas: quando têm um caráter de assessoramento, analisando as questões
encaminhadas pelos diversos segmentos da escola e apresentando sugestões ou soluções, que
poderão ou não ser acatadas pelas direções das unidades escolares.
c) Fiscais (acompanhamento e avaliação): quando acompanham a execução das ações
pedagógicas, administrativas e financeiras, avaliando e garantindo o cumprimento das normas
das escolas e a qualidade social do cotidiano escolar.
d) Mobilizadoras: quando promovem a participação, de forma integrada, dos
segmentos representativos da escola e da comunidade local em diversas atividades,
contribuindo assim para efetivação da democracia participativa e para a melhoria da qualidade
social da educação.
Além da autonomia, como pressuposto elementar para consolidar a gestão
compartilhada, também é preciso que haja uma melhor integração da escola com a sociedade.
Portanto, captar parcerias com a sociedade civil organizada e com instituições públicas ou
privadas, que possam dialogar com a Escola para a construção da cidadania é essencial, pois
fortalecem o trabalho pedagógico.
Para Dourado (2000, p.90-92), as premissas acerca da democratização na escola
passam, sobretudo, pelo papel da escola no contexto social, político e econômico. Da
importância da recuperação do trabalho docente, da consolidação dos mecanismos de
participação coletiva e da organização do trabalho no interior da escola, do provimento ao
cargo de dirigente e, sobretudo, da autonomia da escola.
Desse modo, participação, democracia e autonomia são premissas essenciais para que
seja garantido de fato o processo da gestão compartilhada no espaço escolar, envolvendo
todos na construção de uma educação pública de qualidade, com responsabilidade ambiental.
2.2 Gestão Participativa e Inovação: A Gestão Escolar e o Fomento as Parcerias
A crise da governabilidade do sistema de ensino é um fato recorrente em diversos
países, por conta da sobrecarga do próprio sistema, dentro da sua complexidade e da própria
ingerência do poder público, resultante das constantes crises na economia, que afetam o
aparelho administrativo e, por consequência, a educação.
A gestão participativa deve ser entendida como um processo de aprendizagem
coletiva, na perspectiva de que os sujeitos na ação unem-se através de um objetivo comum -
no caso, a melhoria da qualidade da educação -, compartilhando seus saberes e deveres como
cidadãos. Esse processo ocorre de forma gradual, sendo, portanto, necessário que os sujeitos
22
sejam estimulados na busca de um ideal comum, assumindo para si e, ao mesmo tempo,
dividindo responsabilidades com o grupo de forma coletiva.
A gestão democrática é um contínuo exercício da plena cidadania, onde através da
participação direta ou indireta dos atores sociais, constrói-se um todo de forma consciente.
Uma das formas de participação desses sujeitos no processo democrático é através de sua
atuação através dos Conselhos Escolares; na função de conselheiros, buscam compartilhar na
tomada de decisões e no processo de descentralização do poder. Essas decisões muitas vezes
podem implicar no avanço ou retrocesso do processo educacional.
Portanto, é preciso garantir a participação plena desses sujeitos, que historicamente no
Brasil foi marcada pelo descaso. Somente a partir da década de 1980, os movimentos
associativos de participação comunitária reivindicam a participação na gestão pública,
consolidando-se assim, a criação dos Conselhos Escolares com a Constituição de 1988.
A ausência da comunidade escolar no processo de consolidação democrática através
dos conselhos escolares seria um fato lamentável; assim, é de fundamental importância
garantir e validar essa autonomia conquistada pela sociedade aos seus representantes
comprometidos com o bom desempenho da escola, para participarem ativamente das decisões
importantes, que constatem a relevância que todos têm nesse processo democrático, onde cada
um pode fazer a diferença no contexto sócio educacional.
Sabe-se que é difícil realizar mudanças dentro de uma realidade social onde a
comunidade escolar muitas vezes depara-se com situações extremas de descaso e abandono
pelo poder público, de prédios sucateados ou caindo aos pedaços, salas sem condições
mínimas de trabalho, uma série de falhas de diferentes naturezas. No entanto, cabe à
comunidade aproximar-se da escola e tomar para si a situação, conduzir na forma da gestão
democrática meios para solucionar os problemas, mesmo porque existem recursos para isso.
Muitos recursos que financiam projetos similares ao da coleta seletiva implantado na
Escola “Dr. Carlos Guimarães” são recebidos diretamente em contas correntes, que são
administradas pelos conselhos escolares, os quais devem planejar sua aplicação e fazer o
devido acompanhamento da sua aplicação. A gestão financeira precisa ser assumida pelos
conselheiros com total atenção e zelo pelo recurso público, que deverá ser aplicado com o
objetivo da melhoria da educação pública.
O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) consiste no repasse anual de recursos
às escolas públicas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação(FNDE). Os
mesmos devem ser utilizados, conforme Dourado (2006, p. 65) afirma, para:
23
[...] aquisição de material permanente; manutenção, conservação e pequenos
reparos da unidade escolar; aquisição de material de consumo necessário ao
funcionamento da escola; capacitação e aperfeiçoamento de profissionais da
educação; avaliação de aprendizagem; implementação de projeto político
pedagógico e desenvolvimento de atividades educacionais.
Contudo, se o conselho escolar estiver com problemas na sua prestação de contas,
precisa resolver com a máxima urgência, porque a escola poderá ser prejudicada em
decorrência da gestão equivocada.
A inadimplência da prestação de contas prejudica toda a escola, que deixa de receber
verbas que são repassadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação(FNDE) nos
exercícios posteriores, e por outras fontes mantenedoras, para suas contas, em decorrência de
suas pendências. Em alguns casos, a comunidade nunca fica sabendo que a escola encontra-se
nessa situação, por não haver transparência na prestação de contas. Assim, nenhuma atitude é
tomada e os projetos ficam pendentes, comprometendo o processo ensino aprendizagem.
Algumas medidas governamentais já foram tomadas visando vencer o antigo processo
de centralização na tomada de decisão com relação aos recursos que financiam e dão
condições para que as escolas consigam desenvolver um trabalho de qualidade. Ao contrário
da afirmação de Paro (2005, p.11), de que o problema da escola pública no país não é, na
verdade, o da administração de recursos, mas o da falta de recursos, na verdade existem
muitos recursos investidos em educação; o problema consiste na forma da gestão, que muitas
vezes não viabiliza para que os recursos cheguem até a ponta, que é o aluno, o qual deve ser o
maior beneficiário, e deveria ser o foco do interesse de atendimento da gestão.
De acordo com Barros (2013, p.40), o orçamento do MEC hoje é de 80 bilhões de
reais, e vai aumentar com a chegada dos royalties do pré-sal; sendo que os gastos com a
educação no Brasil saíram de 4,5% do PIB para 6%. Porém, alerta que ter mais dinheiro não
significa ter mais qualidade da educação, e a isso se soma o fato de que a forma de gerir esses
recursos precisa ser eficiente para chegar a resultados concretos.
Atualmente, a maior parte das verbas destinadas à educação pública por parte do
Governo Federal vai direto para as escolas, para os gestores ou administradores que, em
conjunto com os Conselhos Escolares, devem decidir a melhor forma de aplicação, ou de
acordo com o Programa ou Projeto do Governo, já vêm quase pré-estabelecidas no plano de
metas, cabendo às escolas apenas elaborarem o seu plano de ação de acordo com suas
necessidades e especificidades.
São vários os investimentos que o Governo Federal fez ao longo dessas últimas
décadas, através dos programas Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), PDDE, Mais
24
Educação, Pacto pela Educação; dentre tantos outros que podem ser consultados no site do
MEC por qualquer cidadão. Isso tudo já atendendo ao processo de descentralização, que teve
início com a criação dos conselhos escolares e que hoje atinge o seu ápice.
A gestão democrática deve ser entendida como um processo de aprendizagem
coletiva; portanto, com a efetiva participação dos sujeitos. Tal processo de consolidação
democrática foi historicamente marcado pelo descaso e ausência da comunidade escolar.
Validar essa autonomia é fundamental para que a escola possa de fato construir um futuro
pautado na ética, no respeito e na responsabilidade socioambiental.
Na medida em que a comunidade percebe a necessidade de buscar soluções, e que isso
só será possível quando todos se unirem num consenso, o que era utópico pode tornar-se
realidade quando todos estiverem conscientes de seus interesses coletivos, buscando soluções
de forma unificada, coesa e com propósitos claros.
Em alguns casos, diretores de escola usufruem dos benefícios da função, imposta pelo
Estado, para impor seu modo de ver e de pensar sobre educação para determinado espaço. É a
visão de mundo pessoal em detrimento dos anseios da comunidade, que também tem o direito
de ver, pensar e agir. Nessas situações não existe o coletivo, o todo, não há uma gestão,
apenas uma direção nos moldes tradicionais. Como afirma Paro (2005, p.11),
[...] a função atual do diretor que o coloca como autoridade última no
interior da escola. Esta regra, astutamente mantida pelo Estado, confere um
caráter autoritário ao diretor, na medida em que estabelece uma hierarquia na
qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituição
escolar; leva a dividir os diversos setores no interior da escola [...].
Esse tipo de situação é mais comum do que se imagina, e pode ser constatado nos
dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) baixo das escolas públicas.
Existem diretores que gostam e querem apenas ser diretores, desconhecem o significado e a
amplitude do termo gestar.
A comunidade precisa organizar-se e provocar essa transformação no modo de
administração escolar; precisa acompanhar o processo educacional de suas crianças, jovens e
adultos; necessita fazer-se presente para produzir mudanças. Segundo Paro (2005, p.18), a
democracia só se efetiva por atos e relações que se dão no nível da realidade concreta. Para o
autor, a gestão democrática implica necessariamente a participação da comunidade no
processo, não é algo desconectado. Porém, para que de fato a comunidade participe da gestão
escolar, é fundamental que a mesma entenda o porquê da importância da sua participação.
25
O processo democrático, ou a democracia liberal é algo relativamente novo em nosso
país. Em decorrência desse fato, a população acaba distanciando-se do seu direito recém-
conquistado de decidir. Não existia a cultura da participação popular nos processos decisórios
dentro de uma escola; nesse espaço sempre prevaleceu a “figura” do diretor que tudo pode e
deve fazer. A comunidade tem uma relação de respeito porque é necessário, porém também
tem uma relação de receio, de dúvida de arriscar ao se expor e depois ter que assumir algum
tipo de consequência com relação aos seus atos; fica o receio de alguns gerando dificuldade
para o surgimento de uma gestão democrática desses espaços.
Ter postura democrática não significa ter atitudes que de algum modo possam ser
benéficas para determinado sujeito no espaço escolar; não significa apenas deixar ou permitir
que participem das decisões, e sim firmar compromissos juntos e realizá-los. O sujeito, para
estar pleno do exercício da democracia, antes de tudo precisa atingir sua própria autonomia
nas diferentes formas de ver e de agir no seu espaço social. Não haverá democracia plena sem
a presença de sujeitos democráticos para exercê-la. O processo ocorre antes na forma
individual e se estende para o coletivo, por isso é lento e requer tempo para acontecer.
A gestão deve posicionar-se de forma decisória, porém buscando sempre respeitar a
posição dos demais membros do conselho escolar; colocando seu ponto de vista, suas
opiniões e sugestões, mas também ouvindo muito, debatendo e acatando o que os demais
conselheiros encaminham, para finalmente juntos chegarem a um consenso, pois as decisões
não são da gestão e sim do coletivo. A escola tem autonomia para resolver suas demandas
relevantes, e nesse novo contexto o diretor ou gestor não detém o poder de decisão. Procura
não tomar a decisão final e sim deixar que prevaleça a do grupo, de forma democrática e
participativa, nesse estudo de caso.
Cabe, nesse momento, a intervenção da gestão na articulação desses sujeitos para que
as ações possam ser encaminhadas. De acordo com Luck (2010, p. 21),
O conceito de gestão, portanto, parte do pressuposto de que o êxito de uma
organização social depende da mobilização da ação construtiva conjunta de
seus componentes, pelo trabalho, associado, mediante reciprocidade que cria
um “todo” orientado por uma vontade coletiva. Esta, aliás, é condição
fundamental para que a educação se processe de forma efetiva no interior da
escola, tendo em vista a complexidade e a importância de seus objetivos e
processos.
A plena participação pode partir de forma individual ou coletiva, onde todos se
envolvem no processo de transformação, os projetos focados na implementação da prática da
Educação Ambiental no currículo escolar sendo encaminhados, e a escola tornando-se um
26
espaço cujo referencial maior a ser repassado para os alunos e toda comunidade seja o do
respeito à natureza e, por extensão, à vida.
A função social da escola pública está voltada para a formação plena do cidadão, de
modo a torná-lo um indivíduo solidário, crítico, ético e participativo. Para tanto, os
conhecimentos sistematizados devem ser socializados, de forma a aproveitar os saberes que o
aluno já traz consigo em um contexto sociocultural, como elemento fundamental no processo
da democratização social.
A escola, desse modo, torna-se lugar para o exercício da democracia participativa.
Assim, o conselho escolar tem papel essencial nesse processo de democratização, pois conta
em seus lócus organizacionais com a participação representativa dos diferentes segmentos
existentes na escola.
A escola pública, ao longo do seu processo histórico, foi marcada como um espaço
onde as decisões ficavam ou ainda ficam centralizadas na figura do diretor que acata e repassa
informações e faz solicitações, e que muitas vezes não questiona as determinações de
estâncias superiores, as Secretarias de Educação.
Passadas décadas, após o advento dos Conselhos Escolares e o processo de
descentralização, e com uma possível mudança de cultura no espaço escolar, educadores
conscientes do seu papel acabam contraditoriamente acatando determinações impostas por
muitos diretores de escola que ainda persistem no tradicional sistema burocrático
hierarquizado de controle e na heteronomia. Sabe-se que culturalmente a imagem do diretor
impõe respeito e receio, mesmo que esteja cometendo equívocos e comprometendo toda a
comunidade escolar.
Por outro lado, o diretor que, aparentemente, detém o poder no seu lócus, muitas vezes
depende da decisão de instâncias superiores do sistema de ensino, para soluções de demandas,
principalmente referentes ao quadro funcional, pois não tem autonomia para dispensar o
servidor improdutivo ou que apresente lacunas em sua formação acadêmica. Esse tipo de
problema é muito comum no sistema público de ensino; em geral, compromete a qualidade do
processo ensino aprendizagem. Hoje, identificamos escolas que são administradas nos moldes
do século passado, com alunos pensando e vivenciando o futuro.
Diferente do sistema privado de ensino, onde a seleção de pessoal é rigorosa e o
controle é sistemático pela qualidade do serviço, no serviço público o candidato é submetido a
uma prova, que nem sempre atesta se a pessoa realmente está habilitada para a função. Além
disso, não há nenhum sistema de avaliação de desempenho ao longo da carreira, somente nos
primeiros anos. Alguns servidores, por serem efetivos, sentem-se confortáveis e seguros; por
27
isso, nem sempre buscam melhorar a qualidade do trabalho. Porém, se for contratado e não
estiver correspondendo, existe a possibilidade de um processo administrativo, o que
possibilita romper o contrato.
Outro fator relevante está relacionado a efetiva participação da comunidade nos
processos administrativos escolares. Normalmente ocorre através dos Conselhos Escolares,
que têm como representantes das diversas categorias da comunidade um quantitativo pequeno
de conselheiros, mesmo a escola sendo de grande porte com mais de dois mil alunos; ou seja,
não são suficientes para resolverem algumas demandas urgentes.
Porém, partindo da premissa que podem mobilizar seus pares, certamente muitas
mudanças podem acontecer. Como afirma Alexandre (2005, p.169), a civilização é definida
como força transformadora do comportamento social e da psique individual. Passamos por
um processo de busca da necessidade humana de colaborar, de atribuir valor, de participar
para melhorar o ambiente em que vivemos.
Quando a comunidade passa a fazer parte da escola, não mais como mero observador,
ou apenas apontando defeitos e fazendo críticas no portão da escola, e sim como agente
atuante no processo, tomando para si o compromisso de melhorar e buscar informar-se dos
meios para atingir esse objetivo coletivo da melhoria da qualidade do ensino, o simples ato de
trocar uma lâmpada, fazer um pequeno reparo, ajudar no preparo da merenda ou no controle
da entrada e saída dos alunos, os pais e/ou responsáveis passam a se apropriar da dinâmica da
escola e a compreender as dificuldades da gestão na solução de muitos problemas que muitas
vezes podem ser resolvidos contando com a participação da comunidade. A partir desse olhar
proximal fica mais clara a complexidade de educar e, dessa forma, o envolvimento é
inevitável.
Uma das formas que a gestão tem para buscar a efetiva participação da comunidade é
através da sensibilização nas reuniões de pais e servidores, que ocorrem a partir de um
calendário pré-estabelecido pela escola, ou quando há uma necessidade urgente. Nessas
situações são socializadas as demandas da escola e é colocada em discussão a busca de
soluções em conjunto. Como afirma Paro (2005), a participação é o princípio da democracia.
E a democracia é um dos princípios da gestão compartilhada.
Outra forma de parceria que a gestão busca é com a sociedade civil organizada e com
as ONGs, que, pela sua natureza, são formadoras de opinião e têm papel fundamental no
processo das demandas ambientais. Historicamente, no Brasil o movimento ecológico é
resultante de um contexto internacional estimulado pela Europa e pelos Estados Unidos, desde
28
a década de 1970, quando a comunidade científica internacional começou a detectar os
problemas ambientais. De acordo com Araújo (2005, p.186),
[...] entre elas as ONGs. Sobretudo no que se refere às questões ambientais,
essas instituições da contemporaneidade, vem atuando no desenvolvimento
de projetos de cunho ambientalista, na prestação de serviços sociais e
assessoria a organizações populares de defesa de direitos e se relacionam
diretamente ao processo de desregulamentação do papel do Estado, seja em
relação à economia ou mesmo em relação à sociedade civil. O Estado
transfere parcelas de responsabilidades para as comunidades organizadas, em
ações de parceria com as ONGs de modo significativo.
A busca por parcerias é fundamental para conseguir desenvolver ações que visam
atender demandas sociais amplas, como no caso da implantação da coleta seletiva na escola e
na comunidade no entorno.
Outras demandas da escola que também são relevantes e precisam da parceria para a
busca de soluções, como o problema do bullyng, que é um tema que preocupa educadores,
pais e sociedade. Dessa forma, a escola buscou a parceria com o Conselho Tutelar do bairro,
onde foi discutida a questão da violência social e urbana no espaço escolar. Entenda-se que as
questões sociais como a pobreza, a violência, a fome e outros temas são abordados na
perspectiva socioambiental.
As parcerias são fundamentais para o encaminhamento do trabalho de educação
ambiental, e a participação coletiva nesses processos sociais se configura na tomada da
autonomia dos sujeitos na construção da cidadania e do pleno exercício da democracia. A
relação de reciprocidade existente, permeada pela plenitude do ato em si de fazer-se atuante,
dinâmico, participativo e transformador do meio.
2.3 Mudanças de Paradigma: do Administrador para o Gestor
A mudança do paradigma de administrador para gestor é um processo que está
ocorrendo de forma gradual nos espaços escolares, onde, através dos esforços coletivos e do
talento humano de alguns grupos organizados, é possível visualizar grandes e significativas
transformações nesses espaços.
O termo gestão, muito utilizado na área da administração, não se trata de uma questão
semântica, e sim de um novo conceito que está relacionado diretamente à participação
coletiva e ao fortalecimento da democracia. Os fundamentos pertinentes à administração, que
29
são repassados nos cursos de formação docente, já não são mais suficientes nessa nova
perspectiva.
De acordo com Luck (2009), a mudança do termo diretor para gestor é fruto da
própria dinâmica imposta pelo processo humano, cultural e de inovação que vem ocorrendo
ao longo do tempo, associada ao mundo em transformação.
O termo “gestão educacional”, relativamente novo no Brasil, substituiu o termo
“administração educacional”. Para Luck (2007, p. 47), uma mudança de denominação só é
significativa quando representa uma mudança de concepção da realidade e de significado de
ações, mediante uma postura e atuação diferente. Porém, muito além de substituir, essa
mudança de paradigma traz a compreensão na dinâmica transformadora do espaço escolar.
Esse novo conceito é uma nova forma de fazer educação, traz o desejo de transformação de
pessoas que estão, de fato, comprometidas com a qualidade da educação e que, acima de tudo,
acreditam que esse é o verdadeiro caminho da transformação social que a escola poderá
viabilizar com suas ações.
Na verdade, não há dicotomia explícita entre gestão e administração, visto que ambas
não são totalmente contrárias ou opostas, e sim complementares, pois o ato de gestar busca
superar as lacunas do ato de administrar, de modo complementar, dentro da dinâmica social
atual. Assim, não se descartam as práticas administrativas, mesmo porque elas são necessárias
para a condução do trabalho da escola; porém, não é tudo para um mundo em transformação,
no qual a participação deve fortalecer o espírito democrático das instituições escolares.
As limitações do ato de administrar foram, e ainda são em alguns casos, nocivos ao
processo de democratização do ensino público, gerando ao longo do tempo perdas na
aprendizagem, baixa qualidade do ensino e o não cumprimento do papel social da escola, de
formação para a cidadania.
A transição da conduta administrativa para a conduta de gestão ocorre lentamente, na
medida em que novos aspectos são incorporados no contexto escolar. Desta forma, é
fundamental repensar o papel de cada sujeito nesse processo, rompendo com o senso comum
e com a visão limitada e incoerente com o campo antagônico de forças que é gerado, onde
haverá alguém que é a causa e a outra o efeito.
Romper com práticas hierarquizadas no dia-a-dia das escolas, onde é comum fazer
apenas aquilo que compete ao desempenho da função; onde setores afins sequer sabem da
importância da função que um desenvolve para o bom desempenho do outro, e o quanto
poderia ser enriquecedor e até inovador essa troca de saberes. Pois tudo é sequencial,
complementar, até mesmo o trabalho da merendeira depende da informação correta do
30
número total de alunos para processar a merenda, para que não haja desperdícios ou prejuízos.
Em escala e proporções maiores, pode-se tomar vários outros exemplos de situações que são
evitadas quando se tem um processo de gestão participativa. Essa visão individualizada da
função do servidor precisa ser superada, através da postura de uma gestão compartilhada na
sua concepção plena. Dessa forma a escola poderá avançar.
Essa mudança de paradigma está associada ao compromisso humano e individual, e
acima de tudo, depende do grau de maturidade intelectual e pessoal de cada um; dos
princípios, da força de vontade para propor mudanças no sentido de elevar a qualidade do
trabalho educativo.
Para Ferreira (2000, p.113), a função da direção no sentido de administrar é assegurar
a manutenção de uma estrutura e o regime de atividade na realização de um projeto/programa.
Para a autora, a direção está condicionada à escola ou sistema educacional. Porém, esse
mesmo sistema contraditoriamente pode não viabilizar ou legitimar o exercício da plena
autonomia, tão essencial para o processo da gestão, caso o diretor não consiga assegurar sua
função de forma plena. A autora continua esclarecendo que não há distinção explícita entre
direção e gestão, e sim no processo democrático de participação coletiva, na construção social
da educação.
São várias as formas de acesso à gestão escolar, que podem ser por indicação política,
de carreira, concurso público, indicado por listas tríplices ou sêxtuplas ou processos mistos, e
por eleição, que é o mais democrático, ainda que ofereça alguns riscos. Cada uma dessas
formas enquadra-se de acordo com o contexto político, social e econômico, que varia de
região para região. Porém, um fator é fundamental e importante, e está relacionado ao bom
desempenho do trabalho que deve ser desenvolvido: a liderança dos postulados ao cargo. De
acordo com Dourado (2013, p.102),
Em pesquisa concluída no início da década de 1990, detectamos que as
formas e/ou propostas mais usuais de gestão das escolas públicas do sistema
educacional brasileiro nos anos 1980 compreendiam: 1) diretor livremente
indicado pelos poderes públicos (estados e municípios); 2) diretor de
carreira; 3) diretor aprovado em concurso público; 4) diretor indicado por
lista tríplice ou sêxtuplas; e 5) eleição direta para diretor.
Observando-se as diversas formas de um diretor assumir a função, constata-se o fato
de que, independentemente do modo pelo qual ele assume, ele terá que corresponder ao cargo
ao qual foi designado, porque existe uma comunidade que precisa ser atendida em suas
necessidades. Portanto, seu trabalho precisa ser desenvolvido da melhor forma possível. Se
31
ele será posteriormente cobrado, e de que forma virá essa cobrança, caberá somente à
comunidade escolar da qual ele faz parte e ao modelo de gestão que ele vai adotar.
Outra observação pertinente está relacionada ao processo de eleição para direção, que
obviamente, dentre todos os processos de escolha ao cargo, é o ideal, pois tenta excluir
qualquer forma de autoritarismo e corporativismo. Porém, mesmo este para vivenciarmos um
estado de democracia é algo complexo, pois são constatadas velhas práticas ainda existentes
no cotidiano escolar.
Muitas vezes através de um processo democrático da eleição de um diretor escolar,
uma comunidade acaba validando e colocando no poder alguém que nem sempre vai
desenvolver um bom trabalho; ou em outros casos, onde ocorre indicação política que sempre
é criticada por muitos e, ao final, o indicado acaba correspondendo às expectativas da
comunidade. Ou seja, sempre existirão boas e más gestões de uma escola, os fatores de
oscilação são diversos, dentro do panorama político, social, econômico e cultural que
vivenciamos em nosso país.
Com relação aos critérios estabelecidos, quando é apenas o aspecto técnico da função,
trata-se de um grande equívoco, visto que uma escola não se resume ao aspecto burocrático,
pois o aspecto político-pedagógico é a sua essência, e nele consiste o trabalho do gestor
escolar.
Quando a escolha é feita por meio de listas, a comunidade é consultada e participa do
processo via Conselho Escolar, nas categorias representadas. Por isso, é importante o processo
de gestão democrática, pois através do Conselho Escolar os sujeitos refletem de forma crítica
e posicionam-se com vistas a construir uma escola ativa, dinâmica e transformadora da
sociedade, cientes de que devem eleger um diretor que vai garantir um processo de gestão
democrática. Para Dourado (2013, p.103),
Entendemos que a administração escolar, por não se resumir à dimensão
técnica, mas por configurar-se como ato político, tem a sua trajetória
reduzida, no bojo desta modalidade, à rotinização das atividades
administrativas e burocráticas, secundarizando, desse modo, a compreensão
mais abrangente do processo político-pedagógico.
Nesse sentido as escolas necessitam de mais gestores do que administradores, pois os
primeiros correspondem às pessoas que sabem liderar equipes de trabalho de forma
compartilhada e humana, absorvendo e atribuindo valores e práticas que fazem a diferença no
processo da aprendizagem.
32
Para as autoras Luck (2010) e Ferreira (2000), gestão democrática tem o mesmo
sentido, o da participação coletiva e consciente das pessoas nos processos decisórios, isso é,
compartilhar poder de decisão coletiva e cidadania plena. De acordo com Ferreira (2000, p.
111).
Somente a participação efetiva e coletiva do conjunto de educadores de uma
instituição escolar garante que um projeto se viabilize e concretize, porque,
convictos do homem e da mulher que desejam formar para a sociedade que
querem construir, são capazes de trabalhar nesta direção.
As lacunas provenientes da formação dos administradores escolares que buscam na
maioria das vezes apenas atender as demandas burocráticas em detrimento das questões
pedagógicas, comprometem de modo significativo o avanço da qualidade educacional. São
administradores que desconsideram os reais interesses e necessidades da comunidade, não
legitimam as demandas, e acabam incorporando, na instituição escolar, seus preceitos e
crenças, limitando a criatividade coletiva, tolhendo a liberdade e desprezando a cidadania.
Diante disso, é necessário rever o perfil do administrador escolar no contexto onde
ocorrem grandes investimentos de várias instituições como MEC, SEDUC, FNDE e, portanto,
exigem resultados mensuráveis. Pois, se existe alto investimento de recursos públicos na
educação, os resultados ainda são discretos em termos de qualidade.
No que diz respeito à gestão compartilhada no espaço escolar e a relação com a
temática ambiental, estudos realizados nas escolas públicas da Região Metropolitana de
Belém (RMB) destacam as lacunas identificadas nesse aspecto.
A gestão compartilhada no espaço escolar com relação à temática ambiental é
observada de forma discreta nas escolas públicas da área metropolitana de Belém. Analisando
a pesquisa realizada por Monteiro em 50 escolas públicas da área metropolitana que
desenvolveram projetos ou ações com o tema Meio Ambiente no período de 1998 a 2007,
constatou-se que esses projetos ocorreram de modo pontual, porquanto não foram inseridos
no PPP das escolas. E na maioria dos casos correspondem a ações isoladas de alguns
professores. De acordo com Monteiro (2009, p. 133),
No entanto, o que se verificou é que a maioria das ações dos
projetos/práticas desenvolvidos ligados ao tema foi pontual e episódica, uma
vez que 78% das escolas não incluíram a temática em seu projeto político
pedagógico, ou seja, não fizeram parte da cultura escolar. Foram quase
sempre iniciativas isoladas de poucos professores, de disciplinas específicas,
já que em apenas 5% dos projetos o processo de interdisciplinaridade
envolveu a totalidade dos docentes das escolas.
33
A pesquisa realizada por Silva (2012), a exemplo da realizada por Monteiro, também
conclui que os projetos e práticas com a temática ambiental não fazem parte do PPP da escola,
sendo pontuais e encaminhados de forma isolada por iniciativa de alguns professores ou
originados da esfera pública ou privada. De acordo com Silva (2012, p. 76),
Verificou-se que as ações e projetos/práticas que contemplam a temática
ambiental não fazem parte do PPE, foram iniciativas isoladas de alguns
professores ou projetos originários da esfera pública ou privada na escola,
mas como se observou, as ações foram voltadas ao espaço interno da escola.
Os projetos não contemplam nenhuma ação perceptível no espaço no espaço
externo.
Conforme o resultado das duas pesquisas, a maioria das diretoras não procura
desenvolver práticas voltadas para a inserção do tema no PPP; ou, em decorrência de lacunas
em sua formação, não tem o perfil para trabalhar com a referida temática. De acordo com as
pesquisas mencionadas, é preciso ter liderança suficiente para encaminhar as demandas
vindas da comunidade, independentemente de ter ou não o perfil; precisa possibilitar a
participação na sua forma plena, conduzir as demandas de forma integral e não isolada.
Quando é demonstrada ou apresentada a possibilidade de desenvolver um projeto que
é relevante para a comunidade em geral, esse deve ser socializado e encaminhado pela gestão,
que, junto com sua equipe, deverá incluí-lo no PPP e conduzí-lo para a escola como um todo.
É muito comum essa prática de desenvolver projetos de forma isolada ou pontual, como as
citadas nas pesquisas de Monteiro (2009). Uma das escolas fez parceria com a Marinha do
Brasil, para implantar a coleta seletiva; outra escola se juntou à empresa de refrigerante Coca-
Cola, na coleta de garrafas PET; e também são comuns parcerias com Organizações Não
Governamentais.
Outra forma de implantação de projetos de educação ambiental muito comum, também
constatada nas pesquisas já citadas, ocorre quando professores das disciplinas das áreas
temáticas próximas ao meio ambiente - como ciências, biologia, geografia, artes ou português
-, desenvolvem isoladamente projetos de educação ambiental, muitas vezes contando apenas
com o apoio de seus alunos, porque a gestão é vista como nula em alguns casos. De qualquer
modo, as parcerias ou participações, mesmo que isoladas ou pontuais, são válidas para
socialização dos temas e práticas da educação ambiental. Porém, esse é um processo que
precisa ser contínuo no espaço escolar, para garantir resultados a longo prazo.
34
Portanto, para assumir a função de gestão é essencial ter espírito de liderança e
capacidade de compartilhar e promover troca de saberes no sentido de aprimorar, melhorar e
chegar a excelência no trabalho pedagógico que será desenvolvido, garantindo a qualidade da
educação pública. Um bom líder sabe ouvir, refletir e posicionar-se, aproveitando o que é
essencial e necessário ao bom andamento do trabalho, minimizando e buscando equilibrar os
problemas. A liderança educacional é uma habilidade necessária, pois um líder deve inspirar
confiança e mudar a escola para melhor. Para fazer a diferença em uma escola o gestor deve
estar atento para não sucumbir ao controle de caráter administrativo, sem espírito de liderança
e, com isso, prejudicar toda a comunidade.
Toda e qualquer mudança significa alterar um padrão já existente, implantado,
formatado, acomodado. Nesse caso, o questionamento quanto à utilidade do modelo e dos
resultados que apresenta ainda são válidos para a comunidade escolar é pertinente. Pois, se
constatado que o modelo antigo de administração escolar já não é mais suficiente e adequado
para os dias atuais, deve ser mudado. Todavia, é necessário avaliar se alguns aspectos, ao
invés de serem descartados, podem ser aproveitados.
A transição do modelo de direção para gestão escolar requer preparo acadêmico e
compromisso com a educação. É preciso despertar o espírito de liderança associado ao lado
humano para a construção e condução de uma sociedade mais fraterna e justa, na qual a escola
pública represente um espaço onde as possibilidades se concretizem na dimensão humana
daqueles que a gerem.
35
3 ABORDAGEM HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) E FORMAS DE
INSERÇÃO NA COMUNIDADE
A EA, antes de ser institucionalizada, surge no Brasil através dos movimentos
conservacionistas, com a emergência do ambientalismo e do movimento social pela
democracia. Na concepção de Reigota (2001), a educação ambiental deve ser entendida como
educação política. A perspectiva histórica oriunda dos movimentos sociais que buscavam
subsidiar ampla discussão sobre os problemas ambientais conduziu à reflexão sobre a
participação da população na resolução de problemas no seu contexto social, que através das
escolas e de outros espaços de formação podem conduzir esse processo de participação.
Para Guimarães (2005, p.101), a EA vai além de sensibilizar a população para o
problema ambiental. O autor afirma que a população precisa sentir-se parte integrante do
meio e, para preservá-lo, é preciso agir, ter atitudes. De acordo com a Política Nacional de
Educação Ambiental, no seu Art. 1º, onde conceitualmente EA:
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.
A urgência da EA está na real necessidade da população fazer parte do processo de
tomada de decisão com relação às demandas ambientais, e de agir conscientemente para a
preservação do meio ambiente, fortalecendo a função de cidadão. Para Sorrentino (2005), a
EA nasce como resultado de um processo educativo e das regras políticas sociais, sendo
direcionada para a ação de cidadania ativa. O autor compartilha com o pensamento de
Guimarães (2005), em relação ao sentido de pertencimento do indivíduo ao meio ambiente. Já
para Layrargues (2002), a EA é considerada como um processo educativo político, visando
uma consciência crítica do aluno.
A estrutura pedagógica utiliza a EA para que a população passe a conhecer, através de
sua própria realidade, do seu contexto social, os reais problemas que afetam o meio ambiente
onde o cidadão está inserido, conduzindo-o a um processo de consciência com sentido de
responsabilidade, para que possa coletiva ou individualmente atuar para atingir mudanças
propostas pelas políticas públicas ambientais.
36
3.1 Histórico da Educação Ambiental e sua Expansão no Brasil
Para alguns autores, a EA originou-se na Grécia, há 300 a.C., através do manejo
pastoril e da vida campestre e rural. Outro momento a relaciona com o surgimento de uma
nova sensibilidade em relação aos animais e às plantas, na Europa, por volta do século 19,
saindo de um período onde a observação da natureza e de seus elementos era o ponto central
das ciências, para um novo momento, que coloca o homem como parte de um Reino na
natureza; contrariando a visão da cosmogonia cristã vigente naquela época, e
complementando a afirmação de Barbieri (2011, p.1) ao dizer que o marco inicial seria a
publicação da obra “Generelle Morphologie der Organismen”, de Ernest Haeckel. em 1866.
Nesta aparece pela primeira vez a palavra ecologia, entendida como “a totalidade da ciência
das relações do organismo com o meio ambiente”, conforme Acot (1990 apud BARBIERI,
2011, p.3), porque todo o movimento mundial em defesa do meio ambiente tem como base os
estudos da ecologia e do ecologismo.
De acordo com Araújo (2009, p.4), em 1965 surgiu o termo Environmental Education
ou Educação Ambiental, resultante da Conferência sobre Educação na Grã-Bretanha. Deste
modo possivelmente nasceu a educação ambiental. Porém, apesar dessas afirmações, muito
depois, em 1975, após a instituição do Programa Internacional de Educação Ambiental
(PIEA), a EA foi reconhecida internacionalmente.
Oficial e mundialmente, o marco histórico foi a criação do Parque de Yellowstone, em
1872, nos Estados Unidos, o primeiro do mundo e o início do movimento global de criação de
áreas protegidas. Essas áreas na maioria das vezes são utilizadas para diversas atividades
voltadas tanto para a prática do lazer e da contemplação da beleza natural, como para a
educação ambiental, com trilhas ecológicas, aulas de campo, dentre outras.
Contudo, vale salientar que para muitos educadores a prática da EA ficou em alguns
casos restrita apenas às atividades específicas nesses espaços. O que obviamente tem sua
importância vital, porém são pontuais e acabam não refletindo seus esforços na perspectiva de
que o aluno precisa, para construir e internalizar valores ambientais, muito mais que apenas
momentos presenciais nesses espaços. É necessário que haja todo um trabalho complementar
via Projeto Político Pedagógico da escola, devidamente implantado e funcionando, onde seja
possibilitada a obtenção dos saberes para que o aluno, ou qualquer cidadão, possa posicionar-
37
se de forma crítica, coletivamente ou individualmente, e atuar no sentido de transformar o
meio onde está inserido. De acordo com Carvalho (2004, p.80),
Essa técnica está historicamente relacionada às primeiras atividades de EA
incorporadas pelos planos de manejo de unidades de conservação (UC).
Como recurso pedagógico, em geral, as trilhas estabelecem previamente um
roteiro para a caminhada, em conformidade com o qual um grupo de
visitantes, seja formado pelo chamado “público em geral”, seja por grupos
mais homogêneos, como alunos de determinada série escolar, é conduzido
por um monitor.
Ao longo da sua história, a EA conta com a contribuição de grandes pensadores,
escritores e educadores ambientais, desde o século18 até os dias atuais, tendo como referência
Patrick Geddes3, considerado o fundador por ser um dos primeiros a usar a ideia do consumo
de recursos renováveis como base para estabelecer uma periodização histórica. Lançou bases
para o movimento pelo desenvolvimento urbano e regional e, na época, em 1889 já tinha
visão interdisciplinar, quando afirmava que a economia, geografia, sociologia e antropologia
deveriam começar pelo estudo do meio ambiente.
No Brasil, alguns eventos marcaram o processo histórico relativos ao meio ambiente e
a EA, tais como: a criação do Parque Nacional do Iguaçu, oficializado em 1939; a criação do
Parque Nacional da Ilha do Bananal em Sete Quedas; a introdução do ensino e pesquisa em
ecologia pelo professor Felix Rawitscher, em 1934, precursor do movimento ambientalista
brasileiro; e a criação da Fundação Brasileira de Conservação da Natureza, em 1958, ações
feitas por José Bonifácio4, sugeridas por Andre Rebouças5, inspirados pelo pensamento
europeu da época; além da criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), em
1973.
No final do século 19 e começo do século 20 emergiram movimentos internacionais
relativos à problemática ambiental, porém a contribuição desses movimentos para o processo
da EA na perspectiva socioambiental acabou não acontecendo naquela época, segundo
Barbieri (2011).
A década de 1970 foi marcada por vários eventos que tiveram fundamental relevância
no processo de maturidade da EA no Brasil e no mundo. Nesse período incorpora-se uma
3 Patrick Geddes (1854-1932), biólogo, urbanista e educador escocês, considerado um dos pioneiros do
planejamento urbano e da educação ambiental (ABBAGNANO, 2000; ACOT, 1990) Suas ideias, como
"pensar global, agir local", tornaram-se comuns. Palavras que ele criou, como 'aglomeração', 'megalópole',
'habitat'. 4 José Bonifácio de Andrade e Silva, filósofo, advogado, professor, cientista e político. Seguiu para a Alemanha,
em 1791, onde fez amizade com o naturalista Alexander von Humboldt e adquiriu a fama de cientista. No
Brasil foi nomeado ministro do Reino e de Estrangeiros, com o fim de promover "a independência do Brasil". 5 André Pinto Rebouças. Engenheiro militar, engajou-se na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão.
38
dimensão política e social à educação ambiental, através do relatório formulado pelo Clube de
Roma, publicado com o título de “Limites do Crescimento”. Este relaciona variáveis de
crescimento econômico, explosão demográfica, poluição e esgotamento de recursos naturais,
abordando os aspectos técnicos da contaminação em decorrência da urbanização e
industrialização, levando ao esgotamento dos recursos naturais. O Clube de Roma é formado
por um grupo de pessoas ilustres que se reúnem para debater assuntos relacionados à política,
economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável. O
clube foi fundado em 1968 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e pelo
cientista escocês Alexander King.
No entanto, o que culminou no Brasil com a necessidade de se encaminhar um
processo educativo voltado para a problemática ambiental está diretamente relacionado aos
movimentos ecológicos, que surgiram na década de 70, quando se iniciou o pensamento sobre
desenvolvimento sustentável, porém ainda não assim designado. Foi marcado pelas lutas dos
movimentos sociais na busca da democracia e da igualdade social, atitude característica do
movimento surgido na Europa, América Latina e nos Estados Unidos, denominado de
contracultura6, que marcou o século passado com suas propostas arrojadas para o futuro e a
preocupação também com as questões ambientais, que já começavam a afetar o Hemisfério
Norte.
Ainda em 1970 surgiu uma estrutura institucional voltada para regulação, legislação e
controle das questões relativas ao meio ambiente, isso impulsionada por um movimento a
nível mundial, oriundo dos processos das conferências de meio ambiente. Desta forma, no
Brasil, o movimento ecológico é resultante desse contexto internacional e também nacional.
Na perspectiva de que os movimentos sociais passaram a se aproximar das questões
ambientais, fugindo da visão estanque do conceito de ecologismo e tendo um forte apelo
social quando defrontado com problemas relativos à pobreza, falta de saneamento e
desigualdade social, foi incorporada uma dimensão política e social a EA.
O governo brasileiro criou a SEMA, logo após a Conferência de Estocolmo, vinculada
ao Ministério do Interior. Essa instituição estabeleceu, como parte de suas atribuições, que o
povo brasileiro tivesse o devido esclarecimento para o uso adequado dos recursos naturais,
visando à preservação ambiental, sendo responsável pela capacitação de recursos humanos e
do processo de sensibilização da população, iniciando o processo de educação ambiental
6 Contracultura: cultura minoritária, caracterizada por um conjunto de valores, normas e padrões de
comportamento que contradizem diretamente os da sociedade. Inclui os grupos, associações e organizações da
sociedade civil que surgiram com grande força nos Estados Unidos e Europa na década de 60 (CARVALHO,
2004, p.46).
39
através de projetos que inseriam temas nos currículos escolares do 1º e 2º graus da época na
região norte.
Em 1981 foi criada a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), e somente em
1992 foi criado o Ministério do Meio Ambiente (MMA); logo depois, em julho do mesmo
ano, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),
que instituiu núcleos de educação ambiental em todas as suas superintendências estaduais.
Esses eventos culminam, em 1997, com a realização em Brasília da 1ª Conferência de
Educação Ambiental, onde foi produzido o documento “Carta de Brasília para Educação
Ambiental”.
Foram identificadas quinze correntes de educação ambiental ao longo das décadas,
entendendo por corrente, de acordo com Sauvé (2005), “uma maneira geral de conceber e
praticar a EA”. Dentre essas correntes, as mais antigas têm como base a natureza e os
problemas que a afetam. Já as correntes mais recentes, conservacionistas, etnográficas, eco
educação e desenvolvimento sustentável. No Brasil, essas modalidades de atividades ligadas à
natureza ficaram em evidência em decorrência da larga divulgação dos problemas ambientais.
De acordo com Sorrentino (2009 apud BARBIERI, 2011, p.7),
[...] considera-se quatro grandes projetos de educação ambiental:
conservacionista, educação ao ar livre, gestão ambiental e economia
ecológica. O modelo conservacionista predomina nos países desenvolvidos,
o projeto de educação ao ar livre já é largamente praticado por antigos
naturalistas, escoteiros e outras modalidades de esportes naturais e outras
atividades ligadas à natureza [...].
O quadro 1 apresenta o conjunto de correntes relacionadas à EA, destacando suas
particularidades a respeito da concepção de meio ambiente, intenção, abordagem dominante e
exemplos de estratégias adotadas.
41
Quadro 1 - Correntes de Educação Ambiental
CORRENTE CONCEPÇÃO DE
MEIOAMBIENTE
INTENÇÃO DA EA ABORDAGENS
DOMINANTES
EXEMPLOS DE ESTRATÉGIAS
1 Naturalista Natureza Reconstruir o vínculo com a natureza Sensorial, Cognitiva,
Afetiva
Experiencial
Criativa/Estética
Imersão
Interpretação
Jogos sensoriais
Atividades de descobrimento
2 Conservacionista
Recursista
Recurso Adotar comportamento compatível com a conservação.
Desenvolver habilidades para a gestão de recursos
Cognitiva
Pragmática
Guias ou códigos de comportamento
Atividades 3 Rs
Auditoria ambiental
Projeto de conservação
3 Resolução de
problemas
Problema Desenvolver habilidade de resolução de problemas de
diagnóstico à ação.
Cognitiva
Pragmática
Estudos de casos: análise de questões-problemas
Projetos de resolução de problemas
4 Sistêmica Sistema Desenvolver o pensamento sistêmico: análise e síntese
para uma visão global.
Compreender as realidades ambientais para tomar
decisões esclarecidas.
Cognitiva Estudo de casos: análise de sistemas ambientais
Construção de modelos de ecossistemas
5 Científica Objeto de Estudo Adquirir conhecimento em ciências ambientais.
Desenvolver habilidades relativas no método científico.
Cognitiva
Experimental
Estudo de fenômenos
Observação
Demonstração
Experimentação
Atividade de pesquisa hipotético-dedutiva
6 Humanista Meio de vida Conhecer e apreciar o meio de vida; conhecer melhor a si
mesmo em relação ao meio de vida. Desenvolver um
sentido de pertencimento.
Sensorial
Afetiva
Cognitiva
Experiencial
Criativa/Estética
Itinerário
Leitura da paisagem
Estudo do meio
Investigação
7 Centrada em valor Campo dos valores Adotar conduta eco cívica.
Desenvolver um sistema ético
Cognitiva
Afetiva
Moral
Analise de valores
Clarificação de valores
Crítica aos valores sociais.
8 Holística Holos, Gaia, Todo o ser Desenvolver as múltiplas dimensões do seu ser em
interação com todas as dimensões do meio ambiente.
Desenvolver um conhecimento “orgânico” do mundo e a
ação participativa no e com o meio ambiente.
Holística
Orgânica
Intuitiva
Criativa
Exploração livre
Visualização
Oficinas de criatividade
Integração de estratégias complementares
9 Biorregionalista Lugar de pertencimento
Projeto comunitário
Desenvolver competências em eco desenvolvimento
comunitário local e regional
Cognitiva
Afetiva
Experimental
Pragmática
Criativa
Exploração de nosso meio compartilhado
Projeto comunitário
Projeto de eco desenvolvimento local e regional
10 Práxica Lugar de ação e reflexão Aprender em, pela e para a ação,
Desenvolver competências de reflexão
Práxica Pesquisa-ação
Postura reflexiva em atividades e projetos
42
11 Crítica social Objeto de transformação
Lugar de emancipação
Desconstruir as realidades socioambientais para
transforma-las e transformar as pessoas nesse processo
Práxica
Reflexiva
Dialógica
Análise do discurso
Estudo de casos
Debates
Pesquisa-ação
12 Feminista Objeto de solicitude Integrar os valores feministas na relação com o meio
ambiente
Intuitiva
Afetiva
Simbólica
Espiritual
Criativa/Estética
Estudos de casos
Imersão
Oficinas de criatividade
Atividades de comunicação e intercambio
13 Etnográfica Território lugar de
identidade
Natureza/Cultura
Reconhecer o vínculo íntimo entre natureza e cultura,
clarificar sua própria cosmogonia. Valorizar a dimensão
cultural do relacionamento com o meio ambiente.
Experiencial
Intuitiva
Afetiva
Simbólica
Espiritual
Criativa/Estética
Fábulas
Histórias e lendas
Estudos de casos
Imersão
Modelização
Tutoria
14 Eco educação Papel de interação para o
desenvolvimento pessoal.
Local de construção da
realidade.
Experiência com o meio ambiente para experimentar-se e
desenvolver-se em e pelo meio ambiente.
Construir um relacionamento com todos os demais seres
do mundo
Experiencial
Sensorial
Intuitiva
Afetiva
Simbólica
Espiritual
Criativa
História de vida
Imersão
Exploração
Introspecção
Escuta sensível
Alternância subjetiva/objetiva
15 Desenvolvimento
sustentável/Sustenta
bilidade
Recursos para o
desenvolvimento
econômico.
Compartilhar recursos para
uma vida saudável
Promover o desenvolvimento econômico que considera a
equidade social e a sustentabilidade ecológica. Contribuir
para alcançar esse desenvolvimento
Pragmática
Cognitiva
Estudos de casos
Marketing social
Atividades de consumo sustentável
Projetos de gestão de vida saudável.
Fonte: Sauvé (2005 apud BARBIERI, 2011, p.15-17).
43
A luta pela preservação do meio ambiente ganha força através das organizações de
inspiração religiosa, das Igrejas da libertação e das Comunidades Eclesiais de Base, que
passam a fomentar, através da teologia da libertação7, uma ética ambiental e de ação, apesar
de discreta, dos movimentos sociais populares e organizações não governamentais. Por
possuírem capacidade de mobilização e organização na condução de processos educativos
voltados para problemas ambientais, esses movimentos se multiplicaram no Brasil entre 1980
e 1990. De acordo com Carvalho (2004, p. 50),
Podemos dizer que o movimento ecológico no Brasil será resultado do
encontro de dois contextos socioculturais: a) o contexto internacional da
crítica contracultura e das reformas de luta do ecologismo europeu e norte-
americano; b) o contexto nacional, em que a recepção do ideário ecológico
acontece no âmbito da cultura política e dos movimentos sociais no país,
assim como da América Latina.
A EA foi introduzida nos movimentos sociais, criando motivação, estimulando debates
e se tornando parte do movimento ecológico criado em torno da preocupação social e da
necessidade de uma maior conscientização em relação à preservação do meio ambiente. O
avanço da EA teve início a partir da Conferência Rio-92 quando as ONGs e os movimentos
sociais elaboraram o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, definindo
dessa forma o projeto pedagógico que iria direcionar a implantação da EA em todos os níveis
e sistemas de educação.
No quadro 2, a seguir, constam os dezesseis princípios da educação para sociedades
sustentáveis e responsabilidade global, que nortearam a EA.
7 Teologia da libertação: é um movimento supra-denominacional, apartidário e inclusivista de teologia política,
que engloba várias correntes de pensamento1 que interpretam os ensinamentos de Jesus Cristo em termos de
uma libertação de injustas condições econômicas, políticas ou sociais. Ela foi descrita, pelos seus proponentes
como reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã, em vista dos problemas sociais, mas outros a
descrevem como marxismo, relativismo e materialismo.
44
Quadro 02 - Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
1. A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores.
2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer
tempo ou lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a
transformação e a construção da sociedade.
3. A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com
consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a
soberania das nações.
4. A educação ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político.
5. A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação
entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.
6. A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos
direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as
culturas.
7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-
relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos
primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como população,
saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna, devem ser
abordados dessa maneira.
8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de
decisão, em todos os níveis e etapas.
9. A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história
indígena e cultura locais, assim como promover a diversidade cultural, linguística e
ecológica. Isto implica uma visão da história dos povos nativos para modificar os
enfoques etnocêntricos, além de estimular a educação bilíngue.
10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações,
promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base que estimulem os
setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a
condução de seus próprios destinos.
11. A educação ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento. Este é
diversificado, acumulado e produzido socialmente, não devendo ser patenteado ou
monopolizado.
12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem
conflitos de maneira justa e humana. A educação ambiental deve
13. Promover a cooperação e do diálogo entre indivíduos e instituições, com a finalidade de
criar novos modos de vida, baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem
distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe.
14. A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de massa e
seu comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade.
15. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser
transformados em um canal privilegiado de educação, não somente disseminado
informações em bases igualitárias, mas também promovendo intercâmbio de
experiências, métodos e valores.
16. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações.
Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades
sustentáveis. Fonte: Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
45
O Tratado estabelece os princípios da educação para sociedades sustentáveis e
responsabilidade visto de forma global crítica, destacando o pensamento crítico e inovador, o
propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária de forma política, numa
perspectiva holística, buscando estimular a solidariedade, igualdade, o respeito aos direitos
humanos. A EA deve tratar não somente as questões relativas à degradação da flora e fauna,
mas também relativas à população, fome, saúde, democracia e a valorização das diferenças e a
promoção do diálogo entre os indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos
modos de vida e, principalmente, estabelecer uma forma de ética com relação à todas as
formas de vida presentes no planeta. O Tratado também apresenta um plano de ação contendo
vinte e duas diretrizes necessárias para garantir o cumprimento dos seus princípios.
Ainda no contexto histórico da EA, a participação da Organização das Nações Unidas
(ONU), criada em 1945, foi marcante no processo de organização das Conferências Mundiais
de Meio Ambiente, que ocorrem a cada vinte anos, o que sempre contribuiu de forma
significativa com o avanço das demandas da implantação da EA, através do trabalho
incansável de todos que fazem partem da sua organização, visto que o processo das
conferências busca legitimar os anseios sociais para a preservação e o equilíbrio ambiental.
Após o Relatório do Clube de Roma (1970), em 1987, o Relatório de Brundtland
(Nosso Futuro Comum), produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD), foi o documento que fundamentou as discussões para a I
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD). Os
trabalhos desenvolvidos por essa comissão constituíram fontes fundamentais dos conceitos
propostos relacionados com o desenvolvimento sustentável. Um ano depois do Relatório de
Brundtland, foi estabelecido o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
da Organização das Nações Unidas (ONU), que, em reunião recente na Dinamarca, divulgou
o quinto relatório sobre mudanças do clima e novamente fez o alerta sobre os danos causados
ao meio ambiente em decorrência da ação antrópica. Contudo, afirma que esses danos podem
ser reversíveis se as medidas necessárias forem adotadas imediatamente, principalmente a
redução do uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) nos centros urbanos.
Posteriormente, ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Humano (CNUMAH), conhecida como Conferência de Estocolmo (Suécia), em 1972, com a
criação do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), objetivando
coordenar ações internacionais de proteção ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável,
onde foi criada a Declaração sobre o Ambiente Humano, com 26 princípios voltados para a
orientação e construção de um ambiente que harmonize os aspectos humanos e naturais,
46
sendo indispensável um trabalho de Educação Ambiental voltado para jovens e adultos. O
PNUMA divide com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura) as questões relativas à EA no âmbito da ONU.
Em 1975, antecedendo a I Conferência Mundial, ocorreu o Seminário Internacional
sobre EA, realizado pelo Programa Internacional de Educação Ambiental da Unesco
(PNUMA). O PNUMA objetivava o intercâmbio de ideias e a circulação de informações e
experiências em EA. No referido seminário foi aprovada a Carta de Belgrado e suas
Recomendações, que estabelecem metas básicas da ação ambiental em seus objetivos,
considerada um marco histórico para evolução dos movimentos e que desenvolve a
consciência para a cidadania planetária. Os objetivos da educação ambiental, de acordo com a
Carta de Belgrado (1975), são os seguintes:
1. Conscientização: contribuir para que indivíduos e grupos adquiram
consciência e sensibilidade em relação ao meio ambiente como um todo e
quanto aos problemas relacionados com ele.
2. Conhecimento: propiciar uma compreensão básica sobre o meio
ambiente, principalmente quanto às influencias do ser humano e de suas
atividades.
3. Atitudes: propiciar a aquisição de valores e motivação para induzir uma
participação ativa na proteção ao meio ambiente e na resolução dos
problemas ambientais.
4. Habilidades: proporcionar condições para que os indivíduos e grupos
sociais adquiram as habilidades necessárias a essa participação ativa.
5. Capacidade de avaliação: estimular a avaliação das providencias
efetivamente tomadas em relação ao meio ambiente e aos programas de
educação ambiental.
6. Participação: contribuir para que os indivíduos e grupos desenvolvam o
senso de responsabilidade e de urgência com respeito às questões
ambientais.
Em 1977, na Geórgia, aconteceu a Conferência Intergovernamental sobre EA de
Tbilisi, com a deliberação da Declaração das 41 Recomendações contemplando todos os
grupos sociais. Em especial, a Resolução nº 11 recomenda que a EA se baseie em pelo menos
dois aspectos: nos programas aprofundados de formação complementar, e na prática ou
programas de formação permanente com base interdisciplinar. Em 1987, a Conferência
Internacional sobre Educação e Formação Ambiental; no mesmo ano, a Declaração de
Moscou e suas Recomendações. Na Declaração de Moscou, reafirmaram as recomendações e
objetivos da Declaração de Tbilisi, e discutiram questões de natureza pedagógica, com vistas
a uma estratégia internacional, com relação ao modelo de currículos, capacitação de docentes
47
e de alunos, acesso à informação, educação universitária e outras, necessárias para integrar a
EA ao sistema educacional do país.
Em 1990, na Tailândia, surgiu a Declaração Mundial sobre Educação para todos ou
Declaração de Jomtiem, a qual definiu novas abordagens sobre as necessidades básicas de
aprendizagem, estabelecendo compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os
conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, para uma sociedade mais justa e
igualitária. Essa declaração serviu de base para alguns princípios que serão essenciais no
processo de inserção da EA nos sistemas de ensino.
Após vinte anos da Conferência em Estocolmo, ocorreu a I Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD). Também conhecida como
Cúpula da Terra ou Eco-92, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 1992. Nessa
conferência, pela primeira vez foram discutidas questões sobre proteção ambiental em escala
global, possíveis de se concretizar através de acordos entre os países participantes.
O panorama político na ocasião da conferência não era um dos melhores, pois havia
graves denúncias contra o Presidente do país sede, na época Collor de Melo, que
posteriormente culminou com seu impeachment. Contudo, todos os 172 chefes de Estado dos
países foram recebidos com a nobre missão de juntos decidirem sobre o destino do nosso
planeta e a garantia da sobrevivência dos recursos naturais para as gerações atuais e futuras.
O tema trabalhado na conferência foi sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente,
porém nela foi amplamente divulgado o termo desenvolvimento sustentável, já publicado
anteriormente no Relatório Nosso Futuro Comum e consagrado posteriormente na segunda
grande conferência, na Rio +20. Segundo Barbieri (2011, p.21).
Vale mencionar por agora que a definição mais conhecida de
desenvolvimento sustentável encontra-se nesse relatório: “É aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das
gerações futuras de atenderem as próprias necessidades”.
As recomendações adotadas na Rio-92 foram a Agenda 21, a Declaração do Rio de
Janeiro sobre meio Ambiente e Desenvolvimento, e os Princípios Relativos às Florestas e
Selvas. Além dessas recomendações, também foram encaminhadas duas convenções: a
Convenção do Clima, que foi considerada o principal trunfo da Cúpula da Terra, pois ratifica
o Tratado de Quioto, e na referida convenção 153 países assinaram o documento, inclusive os
Estados Unidos. A outra convenção foi sobre a Biodiversidade, na qual 174 países assinaram
o documento, exceto os Estados Unidos.
48
É inegável que os resultados do trabalho realizado na Rio-92 são extremamente
significantes na perspectiva que pontuam de fato os principais problemas emergenciais
relativos às questões ambientais globais. Porém, é necessário que se reflitam na sociedade por
meio de ações concretas e com resultados mensuráveis, para validar todos os esforços da
Conferência.
Na Agenda 21, ou plano mundial de ação para o desenvolvimento sustentável do
século XXI, foram elaboradas 2.500 recomendações compatíveis com o crescimento
econômico, o progresso social e o respeito ao meio ambiente; ou seja, as três principais
temáticas desenvolvidas, que são: sociedade (pobreza), economia e meio ambiente. Na
Agenda 21, presente em quase todas as áreas e programas a promoção da educação,
especificamente no Capítulo 36, sobre a promoção do ensino, o qual é entendido como base
para o aumento da consciência pública e o treinamento. As áreas programas descritos neste
capitulo são:
a) Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento sustentável.
b) Aumento da consciência pública.
c) Promoção do treinamento.
A base de ação para reorientação, a partir da qual o ensino é reconhecido como
fundamental no processo de transformação social através do desenvolvimento das
potencialidades humanas e da sociedade, especifica que tanto o ensino formal ou informal é
indispensável para modificar a atitude das pessoas; para que estas tenham capacidade de
avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável e abordá-los, devendo o ensino integrar-
se em todas as disciplinas. Um dos principais objetivos esclarece quanto à reorientação do
ensino, quando fica claro a necessidade do cumprimento do que foi estabelecido na
Conferência em Jomtiem, referente ao Ensino para todos, além do desenvolvimento da
consciência ambiental e da promoção à integração de conceitos de ambiente e
desenvolvimento. Para tanto, faz-se necessário uma revisão exaustiva dos currículos para
assegurar uma abordagem multidisciplinar.
Nesse capítulo, é recomendado que as autoridades educacionais utilizem a experiência
das ONGs para treinamento de professores, administradores, planejadores educacionais,
educadores informais de todos os setores. Também recomenda que as autoridades pertinentes
assegurem às escolas ajuda para elaboração de seus planos de trabalho sobre atividades
ambientais de forma compartilhada, incluindo temáticas polêmicas e atuais e respeitando a
questão cultural e territorial, através de métodos educacionais inovadores.
49
Além disso, os Governos devem garantir, por meio da legislação se necessário, o
direito das populações indígenas, posto que sua experiência e compreensão sobre
desenvolvimento sustentável desempenha um papel no ensino e no treinamento. Com relação
ao aumento da consciência pública, quando a Agenda 21 foi elaborada e finalizada ainda
havia pouca informação sobre a relação da atividade humana com o meio ambiente;
atualmente, e como reflexo da Rio-92, inicia-se um processo de divulgação dos problemas
ambientais, gerando a possibilidade de uma consciência maior pela sociedade.
O programa de promoção do treinamento está relacionado na perspectiva do
desenvolvimento humano, dirigido a profissionais determinados. Esses programas também
visam promover a consciência ambiental e o desenvolvimento como processo de
aprendizagem. Para tanto, deve-se estabelecer ou fortalecer programas de treinamento
vocacional e a capacidade nacional no ensino científico, promover uma força de trabalho
flexível e adaptável, assegurando que as considerações ambientais e de ecologia humana
integrem todos os níveis administrativos e funcionais. Para alcançar esses objetivos, é preciso
estimular governos, empresas, universidades, e outros setores da sociedade civil a investirem
em atividades de treinamento de pessoal.
Muitas demandas da Agenda 21 já foram alcançadas ao longo das últimas décadas e de
esforços de vários governos, ONGs, sociedade civil. Em 1992 foi criada a Comissão de
Desenvolvimento Sustentável (CDS), para acompanhar e avaliar a implementação das áreas,
programas e atividades da Agenda 21. A coordenação do Capítulo 36 ficou a cargo da
UNESCO, que em 1994 promoveu uma iniciativa denominada Educação para a
Sustentabilidade (EpS), objetivando reforçar as propostas desse capítulo.
A Declaração do Rio de Janeiro sobre o meio ambiente e desenvolvimento contém 27
princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global
justa, sustentável e pacífica. Foi aprovada em Estocolmo e reafirmada na Eco-92. Porém, nos
27 princípios não foi recomendado, especificamente, a adoção da EA; apenas no Princípio Nº
11 assegura que os Estados devem adotar legislação ambiental eficaz. Nesse sentido, é
possível visualizar a possibilidade da inserção da EA nos sistemas de ensino de acordo com a
legislação ambiental vigente. A declaração preocupa-se com a transição para maneiras
sustentáveis de vida e desenvolvimento humano sustentável. A Declaração sobre as Florestas
e Selvas, que orienta para a gestão ecologicamente correta e viável das florestas e selvas,
também se constitui em documento importante que faz parte desse conjunto de iniciativas.
Outro documento oriundo dessa Conferência foi a Carta da Terra, uma iniciativa da
ONU, que há mais de uma década estava sendo construída, e na Rio-92 foi finalmente
50
finalizada, com a contribuição dos delegados dessa conferência. A Carta da Terra teve adesão
de 4.500 organizações, legitimando o documento, que adquiriu, segundo alguns legistas, o
status de lei branca. Leis brancas, como a Declaração Universal de Direitos Humanos, são
consideradas como moralmente, mas não juridicamente, obrigatórias para os Governos de
Estado. Esse documento nos encoraja a buscar aspectos comuns em meio à nossa diversidade
e adotar uma nova ética global, num momento onde educação para o desenvolvimento
sustentável tornou-se essencial. A Carta da Terra oferece um instrumento educacional muito
valioso. Representa uma forma de transição para um novo modo de vida.
De acordo com Ferreira (2004, p.27), a última década foi demarcada pela emergência
da questão ecológica ou a intensificação dos problemas ambientais globais. Contudo, essa
preocupação a nível local é ainda recente. O enfoque do sistema urbano como parte do
ecossistema global coloca em pauta a discussão de como garantir o desenvolvimento urbano
sustentável, tendo em vista os problemas ambientais globais. Para tanto, é necessário
compreender a problemática urbana, no sentido de superar a visão que atribui estatuto
diferenciado para a questão da pobreza e da deterioração ambiental.
Dentre os temas polêmicos da Rio-92 tem a questão da Convenção do Clima e da
Biodiversidade, na qual os países como Estados Unidos e Arábia Saudita ofereceram
resistência às propostas colocadas nas comissões de trabalho, por interesses específicos, e não
assinaram os termos de compromisso, o que acabou prejudicando a adesão dos demais países
a essas Convenções. Com relação à pauta de financiamento de projetos ambientais, previsto
na Agenda 21, os países pobres (77 países) reclamaram um maior empenho dos países ricos
em disponibilizarem mais fundos. ONGs renomadas como Greenpeace, Third World
Network, World Wil Fund for Nature e Friends of the Earth alertaram para o fato de que,
segundo o Banco Mundial, o desenvolvimento sustentável “requer políticas abertas para
encorajar o comércio e o investimento externo”; assim como também criticaram a aceitação
nessa conferência da criação de uma instituição de financiamento independente no hemisfério
norte através do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Depois da Rio-92, em 1995 aconteceu a Cimeira de Copenhagen, encontro de chefes
de Estado preocupados com o desenvolvimento social e o bem-estar da humanidade,
estabelecendo dentro de várias de suas ações o ser humano como centro do desenvolvimento e
a orientação da economia para satisfação mais eficaz das necessidades humanas; além de
assumir dez compromissos. Em 1997, a ONU organizou a Rio +5 ou Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, na qual foi realizada uma avaliação da Rio-92. O documento
51
final foi uma “Declaração de Compromisso”, no qual foram reiterados os acordos da Rio-92,
garantindo a continuidade da implementação das determinações.
No mesmo ano, em Tessalônica, na Grécia, acontece a Conferência Internacional
sobre Meio Ambiente e Sociedade, resultando na Declaração de Tessalônica, que considera
válido os planos e as recomendações das conferências de Belgrado, Tbilisi, Moscou e
Toronto, porém não totalmente explorados, e os esforços dos últimos cinco anos insuficientes.
Assim como os planos de ação das conferências adotadas em 1996 estão para serem
implementados por governos e sociedade civil, além do sistema das Nações Unidas e outras
organizações internacionais. Uma das reafirmações da declaração fica evidente a função da
educação na relação com processo social da pobreza relacionado à degradação ambiental.
Sendo a redução da pobreza meta essencial e condição indispensável para a sustentabilidade.
Em 2000 aconteceu a Assembleia Geral da ONU, onde se originou a Declaração do
Milênio das Nações Unidas, realizada em Nova York, tendo como valores que sejam
garantidos princípios da dignidade humana, igualdade e equidade a nível global. E para tanto
um dos princípios é o desenvolvimento e erradicação da pobreza, proteção ao ambiente
comum, o cumprimento de metas e recomendações estabelecidas na Agenda 21, dentre outros
de imensa relevância. Após dez anos da Rio-92, acontece a Cúpula Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável (CMDS), em Johanesburgo, conhecida como Rio +10, onde
foram tratados cinco grandes temas: água e saneamento, energia, saúde, agricultura,
biodiversidade e gestão de ecossistemas. Também ficou conhecida pela sigla WEHAB (do
inglês: water and sanitation, energy, health, agriculture, biodiversity and ecossitem
management). Temas como a pobreza, globalização, problemas da África também foram
debatidos e ao final foi elaborado um plano de ação contendo 153 recomendações para o
efetivo cumprimento da Agenda 21 e os princípios constantes na Declaração do Rio de
Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Em 2003 foi proclamado o Decênio das Nações Unidas da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável (DNUEDS), sendo a UNESCO responsável pela sua promoção.
O objetivo desse decênio, que corresponde ao período de 2005 a 2014, é a promoção do
ensino e aprendizagem para todos ao longo de toda vida, como parte do processo para
alcançar o desenvolvimento sustentável.
Em 2012, na cidade do Rio de Janeiro aconteceu a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, com três pilares básicos: econômico, social e
ambiental. A Conferência fez uma avaliação do progresso ocorrido nos últimos 20 anos após a
Rio-92, as pendências deixadas e os novos desafios. Discutiu-se muito sobre economia verde,
52
e nos pavilhões havia muitas exposições de trabalhos já desenvolvidos em diversos países na
busca pelo desenvolvimento sustentável.
O forte apelo à questão energética, ao uso de energias alternativas como a solar e o uso
de biocombustíveis, chamava a atenção do público no evento. No documento final da Rio
+20, os chefes de Estados e governo reafirmaram sua determinação em livrar a humanidade
da fome e da miséria por meio da erradicação de todas as formas de pobreza, e da luta por
sociedades mais justas, equitativas e inclusivas, em prol da estabilidade econômica e do
crescimento para o benefício de todos. Ficou claro nesta ocasião a preocupação com a
erradicação da pobreza, pois foi avaliado se houve algum avanço nesse sentido, ainda que
tenha sido constatado um retrocesso em decorrência da inter-relação existente entre economia,
energia e alimentos, e a crise financeira no mundo. A decisão final foi redobrar os esforços
para erradicar a pobreza e a fome.
O compromisso com o desenvolvimento sustentável foi fortalecido por alguns
governos que já incorporaram nas suas agendas as questões ambientais e sociais.
Reconheceram que somente com a participação da sociedade civil, através do acesso às
tecnologias de informação e comunicação, será facilitada a circulação e o monitoramento das
ações desenvolvidas pelos governos. O grupo de chefes de estado estabeleceu três ações: 1) o
compromisso de melhorar a governança e a capacitação em todas as esferas, promovendo a
integração nas decisões; 2) revalidar a parceria global pelo desenvolvimento sustentável; e 3)
defender uma estrutura política global que incite todas as grandes empresas privadas a
considerar questões de sustentabilidade e a integrar informações de sustentabilidade em seus
relatórios periódicos.
O quadro 3, abaixo, lista os principais eventos que indicam a preocupação global com
o meio ambiente e com a necessária EA.
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Quadro 3 - Principais eventos de meio ambiente e EA
ANO EVENTOS
1970 Relatório do Clube de Roma “Limites do Crescimento”
1972 Conferência de Estocolmo: Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano
(CNUMAH). Criação do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o meio ambiente)
1975 Seminário Internacional sobre EA – Aprovada a Carta de Belgrado
1977 Declaração de Tbilisi- Conferência Intergovernamental sobre EA
1987 Declaração de Moscou: Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental
1988 Relatório Brundtland "Nosso Futuro Comum": Relatório da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
1990 Declaração de Jomtiem
1992 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
1995 Cimeira de Copenhagen
1997 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável: Rio +5.
Declaração de Tessalônica: Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade
2000 Declaração do Milênio das Nações Unidas
2002 Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (CMDS): Rio + 10
2003 Assembleia Geral da Nações Unidas: Decênio das Nações Unidas da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável. ( DNUEDS)
2012 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável: Rio + 20
Fonte: Pesquisa Bibliográfica.
Desde sua origem, o caminho para implantar a EA enfrentou grandes desafios. Todo
esse processo iniciado fora do Brasil obteve sucesso primeiro na Europa e América do Norte,
onde, ao longo desse percurso, foram realizadas inúmeras reuniões que juntaram cientistas,
estudiosos, sociedade civil. Nesses eventos e, principalmente, nas conferências de meio
ambiente organizadas pela ONU, foram sendo incorporadas pelos governos e, por extensão,
pela população de países, algumas recomendações que representam um salto de qualidade
para a sobrevida do planeta Terra. No Brasil, este avanço está ocorrendo através das
instituições sob a égide da Lei Ambiental, que estimula novas atitudes e um novo modo de
pensar sobre a questão ambiental.
Entretanto, quando o tema é a PNRS, fica evidente que em alguns lugares quase não
houve avanço, a exemplo da capital paraense, que ainda convive com a realidade de um lixão.
Dessa forma, a escola tornou-se, pela sua essência social, um forte aliado nesse processo de
54
transformação; um meio capaz de promover consciência quanto à responsabilidade
socioambiental e formar uma cidadania ecológica e, dessa forma, consolidar o empenho de
todos que lutam pela vida do planeta e, por extensão, pela nossa espécie.
3.2 Políticas Públicas de Educação Ambiental e o Processo de Expansão na Escola e na
Comunidade
A essência da palavra política, na perspectiva ambiental, durante um longo período
perde seu sentido em decorrência da apropriação indevida dos recursos naturais sem o
controle adequado pelo Estado. O marco inicial da educação ambiental na legislação
ambiental brasileira está relacionado à associação do meio ambiente exclusivamente com a
natureza e seus elementos constituintes.
Exemplifica-se através da primeira Lei ambiental brasileira, o Código Florestal, Lei
4.771/65, de 1965 no seu Art. 42, o qual afirma que dois anos depois da promulgação desta
Lei, nenhuma autoridade poderá permitir a adoção de livros escolares de leitura que não
contenham textos de educação florestal, previamente aprovados pelo Conselho Federal de
Educação, e ouvido o órgão florestal competente.
No seu inciso 1º, o Código Florestal afirma que as estações de rádio e televisão
incluirão, obrigatoriamente, em suas programações, textos e dispositivos de interesse florestal,
aprovados pelo órgão competente, no limite mínimo de cinco (5) minutos semanais,
distribuídos ou não em diferentes dias. E que o ensino se torna limitado e ineficaz se não
contemplar a essência do saber ambiental; e, não existindo continuidade, não pode ser
considerado como um processo educativo de EA, de acordo com o que preconiza a Carta de
Belgrado.
Segundo Bredariol (2001, p.16), no pós-guerra não havia propriamente uma política
ambiental, mas sim políticas que resultavam nesta perspectiva. A legislação que baseava essa
política era formada pelos seguintes códigos: Código de águas (1934), Código florestal
(1965), e Código de caça e pesca (1967). Nessa época, o país fazia investimentos públicos nas
áreas de petróleo, energia, siderurgia e infraestrutura, e principalmente no processo de
industrialização.
Do mesmo modo, a Lei n° 5.197, de 1967, de Proteção à Fauna, no seu Art. 35,
estabelecia exigências semelhantes em relação à adoção de livros e aos programas de rádio e
televisão, estabelecendo que os programas de ensino médio privado deveriam contar pelo
55
menos com duas aulas anuais sobre proteção à fauna. De forma ainda muito preliminar,
ambas as leis buscavam a dimensão de seu objeto de interesse, visto que na época não se tinha
a visão socioambiental que surgiu posteriormente à inserção da EA nos diferentes níveis de
formação, formal e não formal. Contudo, de acordo com Dias (2006, p.209), o Brasil é o
único país da América Latina que tem uma política nacional específica para educação
ambiental.
No Brasil, o tema meio ambiente como política pública surge após a Conferência de
Estocolmo, em 1972, inserindo-se nas agendas dos governos. Dessa forma, as políticas de EA
ficaram associadas às políticas de meio ambiente.
Assim, em 31 de agosto de 1981 foi criada a Lei nº 6.938, que dispõe sobre a PNMA;
e no inciso X do Art. 2º estabelece que a educação ambiental seja para todos os níveis de
ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa
na defesa do meio ambiente. Neste caso foi observado um avanço significativo comparado à
legislação inicial do Código Florestal e da Proteção à Fauna, que são leis macros regulatórias
na sua amplitude ecossistêmica e natural, estabelecendo, portanto, as bases para criação da
política específica para educação ambiental.
Após a criação da PNMA ocorreu à inserção da EA no currículo escolar, de acordo
com o estabelecido na Constituição Federal de 1988, no inciso V do § 1° do Artigo 225, que
determina como responsabilidade do Poder Público promover a EA em todos os níveis de
ensino. De acordo com a Constituição:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as
presentes e futuras gerações.
Com relação à LDB, Lei nº9394/96, apenas prevê que na formação básica do cidadão
seja assegurada a compreensão do ambiente natural e social, essa redação da Lei prejudica de
certa forma o entendimento e a aplicação das demais legislações no âmbito escolar.
Entende-se que, a partir da Constituição, a EA tornou-se um dever do Estado, o que de
fato não aconteceu. Somente em 1996, com a promulgação da LDB, que por sua vez não
atende ao esforço internacional das conferências e da própria Constituição, a lacuna foi
lentamente superada com a adoção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
encaminhados pelo MEC, em 1997. A educação ambiental no Brasil inclui as três
56
modalidades de políticas públicas: a intervenção direta, a regulamentação, e a contratualista.
De acordo com Sorrentino (2005, p.297):
Como política pública, algumas modalidades da ação do MEC se enquadram
mais na perspectiva da intervenção direta, o que é natural, uma vez que tal
intervenção incide principalmente sobre a educação pública, que já possui
toda a sua estrutura como política realizada diretamente pelo Estado. O
objetivo é inserir a educação ambiental no cotidiano da educação pública em
todos os níveis de ensino.
A educação para o desenvolvimento sustentável, apesar de sua ambiguidade, tem uma
visão positiva do futuro da humanidade. A Lei nº 9.795/99, de 27 de abril de 1999,
regulamentada pelo Decreto n° 4.281 de 25 de junho de 2002, que institui a Política Nacional
de Educação Ambiental – PNEA, estabelece a Educação Ambiental como um componente
urgente, essencial e permanente em todo o processo educativo formal e/ou não formal. No seu
Artigo 10º, estabelece que: “A educação ambiental será desenvolvida como uma prática
educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino
formal”; e no Parágrafo 1º: “A Educação Ambiental não deve ser implantada como disciplina
específica no currículo de ensino”. Essa prática preconizada no Artigo 10° foi possível ser
desenvolvida na escola “Dr. Carlos Guimarães”. Os objetivos fundamentais da EA
estabelecidos no Art. 5º da Lei nº 9.795/99 são os seguintes:
I - O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em
suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,
psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e
éticos;
II - a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a
problemática ambiental e social;
IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e
responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se
a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da
cidadania;
V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis
micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade
ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade,
solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e
sustentabilidade;
VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a
tecnologia;
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e
solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.
A Lei 6938/81 da PNMA é complementada pela Lei 9795/99, a qual determina que a
EA na abordagem inter, multi e transdisciplinar focada em problemas específicos a nível
57
global e local, com visão integradora das questões socioambientais. Para tanto, o Decreto nº
4.281/02, que regulamenta a Lei nº 9795/99, recomenda como referência os PCNs, que foram
elaborados para serem incorporados ao currículo educacional, dando apoio na elaboração de
projetos educativos. De acordo com Sorrentino (2001, p.40), os PCNs devem ser utilizados
como filosofia, fundamentando a própria prática de capacitação dos profissionais do ensino
para sua atuação no cotidiano escolar.
Em função da Constituição e de todas as demandas vindas dos processos de
conferências internacionais, principalmente da Conferencia Rio-92, em 1994 foi criado pela
Presidência da República o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), sendo
executado pela Coordenação de Educação Ambiental do MEC. O ProNEA previu três
componentes: a) capacitação de gestores e educadores; b) desenvolvimento de ações
educativas; e c) desenvolvimento de instrumentos e metodologias.
Essas políticas são implementadas pelo MMA, do MEC e do ProNEA, nas escolas, nas
unidades de conservação, nos consórcios, nos comitês, nas bacias hidrográficas, nos
sindicatos, nas empresas, nos movimentos sociais e na sociedade. As políticas públicas em
educação ambiental são um processo dialético partilhado entre o Estado e a sociedade civil. A
EA é uma política pública contratualista, regida pelo princípio da subsidiariedade8 (Castells,
1999).
As bases legais da EA são complementadas com as Diretrizes Curriculares Nacionais
para Educação Básica em todas as suas etapas e modalidades, que reconhecem a relevância e
a obrigatoriedade da EA, sendo estabelecida com o atual documento de regulamentação do
processo de educação ambiental nas escolas públicas, a Resolução n° 2, de 15 de junho de
2012, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para EA em âmbito nacional.
Quando os conteúdos de Educação Ambiental são inseridos no currículo escolar, o
aluno absorve esses conteúdos sistematizados dentro de uma prática educativa, tornando-se
sujeito ativo do processo de aprendizagem, construtor de seu saber. Esse conteúdo é
compartilhado com todos do espaço escolar, tornando-se uma aprendizagem vivencial e
voltada para o exercício de cidadania. Acredita-se que somente através da implantação da
Educação Ambiental nos currículos escolares - não como disciplina, de acordo com o Art. 10º
§1º da PNEA, mas de forma transversal, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s) -, será possível minimizar a ação das pessoas que constantemente lançam no chão
8 Subsidiariedade: Princípio que se aplica para dirimir um conflito aparente de normas, quando duas ou mais
normas legais parecem incidir sobre determinado fato delituoso, devendo escolher-se qual delas a mais
indicada.
58
das cidades os seus dejetos, poluindo e degradando o seu espaço físico, fazendo das ruas seu
fiel depositário de tudo que não lhes servem. Esquecendo-se que por ali passam pessoas que
querem um espaço saudável para convivência. Segundo Chassot (2003, p.137),
A cidadania que queremos é aquela que passa a ser exercida através de
posturas críticas na busca de modificações do ambiente natural e que estas
sejam evidentemente para melhor. O impacto que os seres humanos
provocam no meio ambiente é algo assustador, configura-se assim a “crise
ecológica”, que somada à “crise de valores”, compõem o cenário no qual a
educação passa a ter uma grande relevância.
De acordo com o Art.5º, parágrafo II da PNEA, dentre os objetivos fundamentais está
a garantia de democratização das informações ambientais, que deveria iniciar primeiro pela
divulgação e compreensão das leis ambientais, as quais a maioria da população desconhece e
seria fundamental conhecê-las, para sua efetiva implantação, já que em toda legislação
vigente a participação da comunidade é importante como elemento catalisador. Por outro
lado, a comunidade ciente dessas leis poderia posicionar-se de forma significativa para a
melhor implantação. A divulgação das informações ambientais em geral ocorre através de
notícias nas diversas mídias sobre temas diversos e abordando os principais problemas;
porém, a ausência da divulgação das leis e do papel do cidadão contido nelas é quase
inexistente.
Deve-se considerar a ação interministerial entre o MEC e o MMA através da CIEAs
(Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental), desenvolvida por meio dos
municípios educadores sustentáveis e a formação de educadores ambientais, com quatro
compromissos: 1) Formação de educadores ambientais; 2) Educomunicação socioambiental;
3) Estruturas educadoras; e 4) Foros e coletivos.
O MEC tem encaminhado as seguintes ações voltadas para implantação do PNEA:
formação continuada de professores e estudantes; a inclusão digital, com o Programa Ciências
de Pés no Chão; e a Educação de Chico Mendes. É a busca de construir um processo
permanente de EA nas escolas, sob diferentes formas. Para o MMA e para o MEC, o foco está
na formação e na capacitação de profissionais para atuarem nas diversas atividades, de acordo
com o Art. 11, Parágrafo Único da PNEA.
Outro processo encaminhado pelo MEC junto às escolas públicas foi a Campanha
“Vamos cuidar do Brasil”, através da Conferência Nacional de Meio Ambiente e da
Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Através disto foi possível criar uma nova
dinâmica nas escolas, para trabalharem com a temática ambiental, resultando na criação das
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Com-Vida (Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) nas escolas. Essa é uma forma
da educação ambiental ser inserida nos PPP das escolas que participaram das Conferências.
De acordo com o MEC, o Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”
realizou a formação continuada de 32 mil professores e 32 mil alunos do ensino fundamental,
através do processo da Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. O programa é
implantado a partir da adesão das Secretarias de Estado de Educação, por meio de suas
Coordenações de Educação Ambiental, ou pela Diretoria do Ensino Fundamental na ausência
da coordenação de EA. Contudo, para que o programa chegue à ponta, que são as escolas, é
necessária uma boa articulação da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC).
As políticas públicas de educação ambiental representam a organização do Estado para
a solução de seus problemas. Assim, no âmbito do Estado, segundo Bordieu (apud
SORRENTINO, 2005, p.290), a educação ambiental é a “mão esquerda” do Estado, que
resume trabalhadores sociais, educadores, professores e cujas ações são ignoradas pela
chamada “mão direita” do Estado. Essa visão crítica é importante, contudo, deve-se ressaltar o
esforço do governo federal nas últimas décadas, na busca do enfrentamento para inserir a EA
nos espaços escolares e na sociedade como um todo.
Desta forma, essas políticas de educação ambiental chegaram até as escolas públicas e
comunidades. Tornarem-se efetivas na sua origem e foco, através das diversas ações e
projetos encaminhados pelo MEC e, principalmente, por meio de ações desenvolvidas nos
projetos pedagógicos das escolas que se vinculam às leis e aos programas - como no caso do
projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola “Dr. Carlos Guimarães” e comunidade no
entorno. Porém, o processo de educação ambiental, por ter na sua essência a forma
continuada, encontra dificuldades muitas vezes não de implementação, mas sim de
continuidade. Assim, os resultados que poderiam tornar-se expressivos não repercutem na
sociedade, que não se percebe como sujeito no processo e com isso deixa de fazer a diferença
no espaço que ocupa e no processo de transformação ambiental.
Ressalte-se também que o elemento norteador desse processo de inserção está
associado ao modelo de gestão escolar e à capacidade de interlocução com a comunidade,
favorecendo o fluxo de ideias e ações, no sentido de viabilizar a implementação da prática de
projetos de educação ambiental nos currículos escolares. O Programa “Vamos Cuidar do
Brasil com as Escolas” é uma ação que tem o objetivo de chegar até a escola e promover
mudanças no currículo. Assim, ao adotar o programa, a escola cria a possibilidade das ações
nela desenvolvidas multiplicarem-se para a comunidade.
60
Portanto, a escola é uma via de acesso que a sociedade tem para participar e contribuir
de forma transformadora para a preservação ambiental, principalmente dos espaços urbanos;
espaços que causam sérias preocupações devido à grande densidade demográfica, associada
ao alto padrão de degradação ambiental.
A legislação ambiental referente à inserção da EA, que deveria chegar até a população
através das escolas se a mesma fosse incluída em seus currículos escolares, também poderia
chegar até a população por outras vias, se o poder público viabilizasse de fato a implantação
dessas leis, para benefício de toda população e, por consequência, do meio ambiente.
Incentivar a participação individual e coletiva de forma permanente, no sentido da
preservação ambiental, é um valor associado à formação para a cidadania que deve ser
assegurado na formação escolar.
Ações encaminhadas pelo Governo, como no caso do Programa “Vamos Cuidar do
Brasil com as Escolas”, apesar de atenderem um número significativo de escolas, não
apresentam uma continuidade, que ainda são pontuais nas escolas. O quantitativo de escolas
participantes do programa deveria ser ampliado; quanto mais escolas, melhor. Se o programa
é bom, por que não há continuidade?
A sociedade de um modo geral, mediante a ausência do poder público, organiza-se
para atender muitas demandas sociais referentes às questões ambientais. Desse modo, escola,
comunidade e sociedade buscam soluções individuais ou coletivas para problemas que já não
podem ser ignorados, como o do lixo nas grandes cidades.
3.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos: Perspectivas de Implantação no Município de
Belém
A visão de que o ambiente compreende a soma de elementos distintos que formam um
todo ou um ecossistema não é capaz hoje de representar a gigantesca malha imbricada de
relações que demandam a necessidade da preservação ambiental.
Muito antes do processo da industrialização e da descoberta do petróleo, que segundo
Sachs (2009, p.54) desenvolveu-se em um perverse growth9 (crescimento perverso) da
economia mundial, cientistas como Humboldt10 e Haeckel11 lançaram suas bases do estudo da
9 Sachs utiliza esse termo em referência ao crescimento que não leva ao desenvolvimento sustentável. 10 Friedrich Alexander Humboldt, naturalista alemão que deixou uma obra vultuosa - Cosmo, escrita em 1845.
Foi um dos primeiros a propor uma relação lógica entre vegetação e clima.
61
ecologia que remontam até mesmo às origens da EA na Grécia, há 300 a.C., onde existia
apenas o manejo pastoril e a vida campestre e, em ambos os casos, não se cogitava avaliar a
influência do homem, ao fazer o uso excessivo desses recursos naturais.
O processo histórico da urbanização teve início com os primeiros grupos humanos
(coletores, pescadores, caçadores) que ocuparam o solo e começaram a explorar, surgindo
assim a agricultura de subsistência. Segundo Castells (2000, p.41), no final do período
neolítico, com a mecanização e as técnicas agrícolas associadas às condições sociais e
naturais de trabalho, foi possível produzir mais do que o necessário, resultando no excedente.
A partir do momento que esses grupos humanos se fixaram, formaram-se as aldeias,
vilas que posteriormente se desenvolveram com o advento da Revolução Industrial, e graças
ao excedente produzido e o processo de migração do trabalhador da área rural para essas
vilas.
A necessidade de aprimoramento de tecnologias para dominar e conquistar novos
espaços teve papel importante no cenário de avanço e de consolidação das cidades, surgindo
dessa forma um novo modo de vida, a vida urbana, antes apenas rural. Porém, a dicotomia
urbano e rural não será o objeto de discussão desse trabalho.
A relação humana com o espaço natural ao longo de séculos foi sempre de exploração
e usurpação, sem se preocupar ou imaginar que muito do que estava sendo explorado não era
renovável e era essencial para a manutenção da sua própria existência nesse planeta, enquanto
ser vivo. A humanidade saiu de um longo período da condição de nômade, fixando-se;
posteriormente, continuou explorando e buscando o que temos hoje como conceito de
modernidade ou desenvolvimento, que simboliza e ainda hoje é um forte atrativo para o
processo de migração para as cidades.
Porém, a modernidade de acordo com Berman (1986, p.15), é encontrar-se em um
ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e
transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos,
tudo o que sabemos e tudo o que somos.
Nas cidades, o padrão cada vez maior de consumo da população, que poderia
significar desenvolvimento, acaba na produção de grande quantidade de insumos, originando
os lixões que contaminam o solo, o ar e a água, criando desequilíbrio à vida da população. As
medidas necessárias para mitigar a ação antrópica serão através da implantação das políticas
públicas ambientais, que devem constar nas agendas governamentais.
11 Erneste Haeckel, filósofo e naturalista alemão que notabilizou pela criação da palavra ecologia e pela defesa
da teoria evolucionista de Darwin.
62
Por outro lado, a maioria das cidades em seus planos diretores consta, mas não
atendem a Política Nacional de Resíduos Sólidos na implantação do sistema de coleta seletiva
nos municípios. Muitas cidades apenas formalizaram a proposta e ainda não implantaram. De
acordo com a legislação, a determinação da educação ambiental deve incentivar as boas
práticas de responsabilidade socioambiental, estimulando dessa forma novos hábitos na
população. De acordo com o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRO) de
2010, os programas/projetos de coleta seletiva em exercício atendem menos de 10% dos
municípios brasileiros.
Abre-se uma nova discussão com relação a essas mudanças de hábito da população,
também caracterizadas pelo consumo em quantidade muito maior do que realmente precisa de
bens e serviços, e ao Art. 77 do Decreto 7404/2010 sobre a adoção da EA na Gestão de
Resíduos Sólidos. Não se utiliza do produto até exaurir, logo o substituindo por outro;
principalmente no campo da tecnologia, que deixa em curto espaço de tempo um aparelho
obsoleto, graças à sedução do mercado, que é implacável, voraz e nada sustentável. Segundo
Bursztyn (1994, p.7),
O modelo de crescimento adotado após a segunda guerra mundial revelou-se
rapidamente (pela sua amplitude e pela complexificação externa dos seus
meios), como um agente de quebra do equilíbrio ecológico, o que acarreta,
em termos econômicos, um desequilíbrio da alocação de recursos e, em
termos sociais, da distribuição do bem-estar.
Para tanto, a EA faz-se cada vez mais essencial nesse cenário urbano como uma
prática ecológica de aprendizagem que permita ao cidadão avançar politicamente mediante o
mundo e a sociedade onde está inserido como força de transformação. Como afirma o slogan
extraído do pensamento de Patrick Geddes, usado pelos “militantes” ambientais: “pensar
globalmente, agir localmente”.
No Brasil, a legislação que trata sobre a questão dos resíduos sólidos foi estabelecida
com a Política Nacional de Gestão de Resíduos Sólidos, através do Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA), em consonância com a Política Nacional de Meio Ambiente, de
Educação Ambiental, de Recursos Hídricos, de Saneamento Básico, de Saúde, Urbana,
Industrial, Tecnológica e do Comércio Exterior, descritos no Art. 9º da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS). Porém, somente em 2010 essa política foi promulgada através da
Lei 12.305/10, instituindo finalmente a PNRS, ou seja, muito depois da criação da PNMA de
1991 e regulamentada pelo Decreto 7404/2010, após a criação da lei.
63
Em Belém, apesar das discussões em defesa da criação de uma legislação para gestão
de resíduos sólidos terem iniciado em 1991 (ano da criação do Projeto de Lei 203/91, que
institui a PNRS, passado todo esse período e vencido o prazo de aplicação da Lei, o município
ainda não possui efetivamente um sistema de coleta seletiva que atenda toda a população da
cidade, muito menos das cidades que fazem parte da área metropolitana.
Nesse panorama histórico, de acordo com as diretrizes contidas no projeto de Lei
203/91, já existia a preocupação com a regulamentação da EA como via facilitadora para
articular junto à sociedade a política de resíduos sólidos, através da consciência pública e de
uma gestão integrada para construção da cidadania planetária. De acordo com a PNRS, no
Art. 8º, a EA é um dos instrumentos utilizados para sua implantação; em seu Art. 25º afirma
que o poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das
ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das
diretrizes e demais determinações estabelecidas nessa Lei e em seu regulamento. E destaca,
em seus objetivos contidos no Art. 7º da referida lei, a importância da sua implantação para a
sociedade:
I - Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de
bens e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como
forma de minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de
matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;
VII - gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o
setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão
integrada de resíduos sólidos;
IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da
prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem
a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua
sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de
2007;
XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:
a) produtos reciclados e recicláveis;
b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões
de consumo social e ambientalmente sustentáveis;
XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas
ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos;
XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;
64
XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e
empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao
reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o
aproveitamento energético;
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável.
No estado do Pará, as primeiras ações relativas à EA e à gestão de resíduos sólidos
surgiram com a criação da SECTAM, em junho de 1990. Já dispunha também sobre a
promoção da EA em todos os níveis, de acordo com Art. 255, inciso IV, da Constituição
Estadual, na qual consta a necessidade de promover a EA em todos os níveis e proporcionar,
na forma da lei, informação ambiental.
Logo depois, em 1993, foi criado o Conselho Estadual de Meio Ambiente (COEMA),
Lei 5.742, regulamentada pelo Decreto nº 1.859/93, ficando responsável pela política de meio
ambiente do Estado. Uma ação foi a promulgação da Lei 6.918/2006, que, no seu Art. 1º,
dispõe sobre a Política Estadual de Reciclagem de Materiais, cujo objetivo é incentivar o uso
de produtos que podem ser reciclados, sua comercialização e industrialização, como papel
usado, aparas de papel e papelão; sucatas de metais ferrosos e não ferrosos; plásticos, garrafas
plásticas e vidros; entulhos de construção civil; resíduos sólidos e líquidos, urbanos e
industriais, passíveis de reciclagem, e produtos resultantes do reaproveitamento, da
industrialização e do recondicionamento.
Uma forma de melhor implantar a Lei no Estado, foi usar como medida a concessão de
benefícios e incentivos fiscais. Outra ação de implantação da coleta seletiva no Estado foi
através do Art. 1º do Decreto 801/2008. Foi instituída a separação de resíduos sólidos
recicláveis na fonte geradora, em todos os órgãos da Administração direta e indireta, no
âmbito estadual, e sua destinação às associações e cooperativas dos catadores, o que está
previsto na legislação com relação à elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos
sólidos. De acordo com Freire (2010, p.56), em um ano de aplicação do programa foram
coletadas 20 toneladas e destinadas aos catadores das cooperativas.
Na cidade de Belém, a Lei de Resíduos Sólidos está inserida no Plano Diretor de 1993,
Lei nº 7.603. No Item IV, referente a Resíduos Sólidos, estabelece em seus artigos a
obrigatoriedade da fixação e do controle de normas com relação ao sistema de implantação da
coleta seletiva no município, assim como de um trabalho de conscientização da população, ou
de educação ambiental, previsto no Art. 121. Para atender a essa necessidade, a Prefeitura
Municipal de Belém (PMB) implantou, em 1998, o Programa “Cidade Limpa, Povo Sadio”,
através da Lei nº 7917/98, onde em seu Art.2º afirma que:
65
O Programa “Cidade Limpa, Povo Sadio”, tem por objetivo disciplinar a
população em geral quanto à necessidade da proibição de jogar lixo nas vias
públicas, praças, jardins, passeios, canais, valas, bueiros, lagos, rios, terrenos
baldios, córregos e terrenos não edificados de propriedade pública ou
privada.
Ainda de acordo com a referida Lei, em seu Art. 3º, §1 cabe à Prefeitura de Belém
definir o local adequado para colocar as lixeiras na cidade, que sejam de fácil acesso à
população. Assim como é de competência do Departamento de Resíduos Sólidos a função de
coletar entulhos, fazer abertura de valas, capinação, limpeza de canal, educação, coleta
seletiva, dentre outras funções. De acordo com os estudos de Oliveira (2012, p .53), em 1996
teve início o projeto da coleta seletiva em Belém, através do Projeto de Biorremediação12
implantado pela Prefeitura Municipal de Belém, no aterro sanitário do Aurá, em 1997,
caracterizando-se como o início da coleta seletiva no município de Belém. O objetivo era
transformar o antigo Lixão do Aurá em um verdadeiro aterro sanitário; porém esse projeto foi
prejudicado por questões políticas e não teve continuidade, ficando mais uma vez assinalado o
descaso público com as questões ambientais. O projeto previa como resultado a criação da
Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá (COOTPA). O projeto chegou a entrar em
operação, tendo enfrentado alguns problemas, já mencionados por outros autores, e não teve
continuidade em decorrência da alternância de poder.
De acordo com Romani (2004, p.22), em 2001, foi criada a COOTPA, com 450
catadores cadastrados e 220 mantendo vínculo com a cooperativa. Em 2003, a prefeitura
entregou à população 7.500 contêineres de coleta seletiva, distribuídos em 80 Postos de
Entrega Voluntária (PEV) na cidade, em quatro bairros. Porém, lamentavelmente o projeto
teve vários problemas em decorrência da ausência da implantação das políticas públicas de
educação ambiental junto à população, que acabou não se sensibilizando e, posteriormente,
com a mudança de prefeito, o projeto foi abandonado. De acordo com Freire (2004, p.60),
Essa iniciativa fracassou, primeiro devido a ações de roubo e danos aos
contêineres seletivos para coleta instalados pela prefeitura, segundo pela
distância dos locais que exigiam o deslocamento dos resíduos das
residências até os contêineres, terceiro porque a ordem de disposição dos
resíduos nos contêineres não era respeitada e os mesmos foram utilizados
para deposição de diversos tipos de resíduos orgânicos e até animais mortos.
12 Biorremediação: é uma técnica de recuperação de áreas degradadas por disposição não controlada de lixo no
solo, consiste em estimular a produção de grande quantidade de bactérias capazes de alimentar-se do lixo.
66
Posteriormente, todos os PEVs foram retirados da cidade, sendo levados para
condomínios, escolas ou instituições que tinham afinidade com o projeto. Com isso, os
catadores de Belém foram excluídos da COOTPA e sentiram necessidade de criar uma nova
associação. Assim surgiu a ACCSB, que em 2007 iniciou o projeto coleta seletiva porta-a-
porta em alguns bairros, contando com o apoio de alguns parceiros.
A ACCSB enfrentou dificuldades, por questões políticas e pela falta de apoio.
Somente depois do financiamento da Caixa Econômica/BNDES, no âmbito do PAC, foi
possível construir o espaço adequado e dar continuidade ao trabalho da cooperativa até os dias
atuais.
Atualmente a cidade de Belém ainda conta com o antigo Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos (PGRS) de 2011, implementado pela Lei 8.899/2001. No mesmo ano foi
realizado um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), no qual foi proposta a implantação de
um aterro sanitário, com a previsão de processar 100% dos resíduos coletados, o que acabou
não acontecendo e o Aurá continua como depósito de lixo.
Mediante a necessidade urgente da adoção da PNRS, um novo plano está sendo
desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), por solicitação da
Secretaria de Estado de Integração Regional, Desenvolvimento Urbano e Metropolitano
(Seidurb). Os dados do PGRS apontam que a cidade de Belém produz aproximadamente 908
ton/dia de resíduos sólidos, incluindo resíduos oriundos de coleta domiciliar, feiras e
mercados, comércio e resíduos hospitalares, o que representa uma produção de
aproximadamente 651 gramas/habitante/dia. Estes resíduos são oriundos dos 08 distritos
administrativos. A média mensal de resíduos gerados nos domicílios de Belém é de
aproximadamente 11.280,00 toneladas, que representam cerca de 42% de todo o lixo gerado
na cidade.
Outra medida encaminhada pelo poder público para implantação da Lei 12.305/10 da
PNRS na área Metropolitana de Belém foi a assinatura do TAC entre as prefeituras de Belém,
Ananindeua e Marituba, em 2013. O capítulo I da referida Lei estabelece o compromisso da
utilização temporária do Aurá para recebimento dos resíduos sólidos dos municípios da RMB,
e de iniciar a recuperação da referida área. O capítulo IV determina a obrigação de apresentar,
no prazo de 360 (trezentos e sessenta) dias, o Plano Intermunicipal ou Regional de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos; o subcapítulo IV, relativo à coleta seletiva, também determina
o prazo de 360 (trezentos e sessenta) dias, a partir da data da assinatura do TAC, para
implantação do sistema de coleta seletiva nos municípios.
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É inegável a existência de uma legislação que atenda à necessidade de resolver o
problema do lixo, principalmente nos centros urbanos. Porém, não se observa a efetiva
implementação dessas leis. A ausência no cumprimento da legislação, que se arrasta por anos
em vários níveis governamentais, reflete no problema de esgotamento da capacidade de
armazenamento desses resíduos nas grandes cidades. A forma como vem sendo tratada a
legislação ambiental nos municípios, aliada ao desconhecimento da sociedade sobre a sua
importância, afeta diretamente toda a população, que continua apenas convivendo no seu dia-
a-dia com as sequelas deixadas pelo descaso público das prefeituras no emaranhado de
interesses políticos e, consequentemente, do próprio descaso da população. De acordo com
Oliveira (2012, p.42),
A inoperância das administrações municipais, emaranhada por conflitos de
interesse e ou políticos, em melhorar a qualidade dos serviços públicos
prestados e com isso, melhorar a qualidade de vida da população, faz com
que os órgãos públicos municipais deixem de buscar investimentos federais,
ou até mesmo, os percam para a implantação de aterros sanitários, coleta
seletiva e usinas de reciclagem, um dos grandes desafios, uma vez que no
Brasil, os serviços de limpeza urbana são de responsabilidade do município.
Portanto, a via de acesso para articular os sujeitos sociais é através da educação
ambiental, e as escolas públicas possuem papel primordial nesse processo. A adoção de
algumas diretrizes da Agenda 21 no currículo escolar, provocando a aproximação da
comunidade para debater e juntos buscar soluções de forma coletiva para a questão do lixo no
espaço escolar e na comunidade, como forma de exercício da plena cidadania. De acordo com
Rogers (2012, p.16),
Uma cidadania ativa e uma vida urbana vibrante são componentes essenciais
para uma cidade e uma boa identidade cívica. Para recuperar esses aspectos,
onde eles estejam desconsiderados, os cidadãos devem estar envolvidos com
o processo de evolução de suas cidades. Devem sentir que o espaço público
é responsabilidade e propriedade da comunidade.
Um bom exemplo de gestão pública voltada para as questões ambientais é a cidade de
Curitiba no Paraná, onde foram implantadas políticas públicas para aumentar a consciência
social e ambiental, resultando na participação efetiva dos cidadãos.
Ressalte-se que, ao longo do século XX, a cidade de Belém passou por um processo
onde o governo preocupava-se apenas com o local para depósito do lixo e a coleta do material
nas ruas e bairros da cidade. A população, sem muita informação ou preocupação com a
68
temática ambiental - que nem sempre era pauta nos lares ou nas escolas, quando não havia o
recolhimento do lixo pelo caminhão da prefeitura costumava queimar ou enterrar o lixo nos
quintais ou em qualquer área livre disponível. Essa prática é tão antiga quanto recorrente até
hoje em muitos lugares. Isso significa que vivemos uma sociedade de consumo, em pleno
crescimento desordenado com forte desgaste ambiental e ainda assim temos uma população
pouco informada ou indiferente à necessidade de preservação do espaço, que é um bem
comum a todo cidadão.
De acordo com pesquisa realizada por Freire (2010, p.103), nos últimos quatro anos,
entre 2010-2014, a PMB realizou coleta seletiva apenas em dois bairros da grande Belém; o
que não resolve, minimamente, o problema do lixo na cidade.
A implantação do sistema de coleta seletiva será um grande avanço no sentido da
cidade buscar sua sustentabilidade, e promover a qualidade de vida da população. O progresso
em direção a uma cidade sustentável, com escolas atuantes na educação ambiental, exige uma
renovação na própria estrutura do poder público. Muito já vem sendo feito no Brasil nesse
sentido, porém a problemática urbana relativa ao lixo nas cidades ainda persiste. Para Rogers
(2012, p.159),
Os progressos em direção à sustentabilidade exigem uma renovação na
estrutura do próprio poder público. Hoje em dia, os governos ainda atuam
através de ministérios com pautas individuais e sem uma estratégia social ou
ambiental abrangente. Estas pautas em geral são incompatíveis com aquelas
de outros ministérios. Permitir que políticas ministeriais atuem em direções
divergentes está em total descompasso com as demandas da moderna vida
urbana.
A construção de políticas públicas voltadas para a problemática dos resíduos sólidos
vem ao longo do tempo caminhando paralelamente com as demais políticas ambientais, num
contexto histórico onde a sociedade nem sempre foi consultada ou informada sobre a urgência
de sua implantação. Com isso, o problema dos resíduos sólidos nas cidades tende a piorar
com o grande crescimento populacional e a necessidade de consumo cada vez maior,
produzindo cada vez mais resíduos.
Na capital paraense, projetos desenvolvidos por alguns prefeitos ao longo desse
período fizeram a diferença, enquanto duraram. Foi o começo, porém não resolveram o
problema, que ainda está na pauta dos governos. Mesmo com a criação do TAC, passou o
período legal para implantação da Lei, e a população ainda convive com a coleta sendo levada
para o lixão da cidade.
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Nesse cenário, as escolas deveriam fazer a diferença, no sentido de auxiliar a
implantação da legislação, a exemplo da escola “Dr. Carlos Guimarães”. Contudo, poucas
escolas públicas de Belém têm a coleta seletiva efetivamente implantada e funcionando. De
acordo com pesquisa realizada na capital, quando foram visitadas cinquenta escolas públicas
de Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, com o objetivo de identificar se as escolas estaduais
desenvolvem o tema Meio Ambiente, foi constatado que apenas a Escola “Almirante R.
Guillobel” tem coleta seletiva implantada, em parceria com a Marinha do Brasil, que ofereceu
formação e instalou os coletores na escola. Porém, não se sabe se o projeto teve continuidade
e como foi administrado. As demais escolas analisadas pela autora, apenas 08 (oito) fizeram
campanha de sensibilização com a comunidade ou mutirão de limpeza. De acordo com
Monteiro (2009, p.130),
[...] Escola Estadual “Almirante Renato Guillobel”, no bairro de Val de
Cans, tem a Marinha do Brasil como uma parceira, ou melhor, como
madrinha de todas as ações desenvolvidas no colégio. Reciclagem do lixo,
em que todo resíduo sólido produzido na escola foi acondicionado em
coletores seletivos para depois ser reaproveitado por meio de oficinas
oferecidas pela Marinha.
Na Escola Estadual “Ruy Paranatinga Barata”, no Paraíso dos Pássaros, percebe-se
também a dificuldade de implantar o projeto da coleta seletiva, em decorrência de ser um
trabalho desenvolvido sem a inclusão no currículo escolar e de forma participativa. De acordo
com Silva (2012, p.64),
Contatou-se que a dificuldade principal desta iniciativa e de outras
vivenciadas pela escola é a falta de continuidade dos projetos. O que se
observou na escola foi um conjunto de projetos sendo trabalhados em
tempos diferentes, com disciplinas isoladas e que se efetivam em períodos de
tempo estabelecido no programa da escola.
A escola “Dr. Carlos Guimarães” foi citada apenas na pesquisa realizada por Silva
(2012, p.46). Na pesquisa realizada por Monteiro (2009), a escola não foi citada, em
decorrência de a pesquisa ter sido aplicada em escola que não oferece de 5ª a 8ª série.
Entretanto, a legislação existe, e há várias décadas, mas é negligenciada pelo poder público,
ficando claro a necessidade e a urgência de sua implantação. Porém, a população continua na
dependência de que sejam devidamente priorizadas e cumpridas, garantindo dessa forma ao
cidadão o direito de um futuro com qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.
70
3.4 Cidades Sustentáveis
A constatação de que o futuro das civilizações está diretamente relacionado ao modo
de vida das cidades é um fato inegável. Atualmente, as cidades consomem três quartos de toda
energia do mundo e causam pelos menos três quartos de poluição mundial; são grandes
organismos vivos, parasitas de si próprios, num processo migratório cada vez maior. As
megacidades que estão surgindo simbolizam não o desenvolvimento; são sinônimos de
segregação e pobreza, pois não conseguem oferecer estrutura suficiente para dar suporte à
população que se comprime no denso espaço físico, cheio de problemas de todos os tipos. Um
exemplo é a cidade do México, com uma população de 20 milhões de habitantes e 4 milhões
de carros.
Segundo Dias (2006 p.19), as cidades ocupam apenas 2% da superfície da Terra, mas
consomem 75% dos seus recursos naturais, produzindo 80% de poluição, tornando-se o maior
agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça à vida do planeta.
Uma das cidades que utilizam o modelo de sustentabilidade proposto pelo escritório de
arquitetura de Rogers (2012) é Xangai, na China, com uma população de 13 milhões de
habitantes. O projeto foi desenvolvido no Distrito de Lu Zia Sui, com um bom sistema de
transporte público, reduzindo assim o uso do automóvel, e proporcionando ao cidadão
espaços para caminhar, usar bicicleta nas ciclovias, além dos parques e espaços públicos.
Outro projeto foi aplicado nas colinas de Maiorca, para atender cinco mil habitantes.
Essa conhecida Tecnópolis de Maiorca é dividida em três comunidades de aproximadamente
dois mil moradores, que utilizam energia renováveis, como a solar e a eólica; também fazem
uso do reaproveitamento de água da chuva para irrigação das plantas, resfriamento de praças e
ruas e na produção agrícola. Os edifícios são dispostos de modo a utilizar os elementos
naturais, como o sol e a ventilação, a exemplo do que já é feito na Europa. As ruas são
adequadas para deslocamentos a pé, e incentivam-se as caminhadas e o bom convívio dos
moradores.
Diante disso, verifica-se que a gestão pública deve ser capaz de consolidar
desenvolvimento econômico e sustentabilidade em seu plano diretor, para manter o bem-estar
da população. Um dos maiores problemas das cidades consiste no controle de entrada e saída
de recursos, também denominado por Herbert Girardet 13 de metabolismo das cidades.
Existem dois tipos de metabolismo, o linear e o circular. O metabolismo linear é o tipo que
13 Herbet Girardet: é o co-fundador e ex-diretor de programas do Conselho Mundial Futuro (WFC), membro
honorário do Royal Institute of British Architects, e professor visitante na University of the West of England.
71
ocorre na maioria das cidades; nele consome-se em grande quantidade, resultando em alto
grau de poluição. A emissão de seus resíduos causa impacto em uma determinada área
produzindo uma marca, ou pegada ecológica, que é a soma da área impactada no processo de
produção com a área para depósito dos resíduos.
A solução está na busca pelo metabolismo circular, que é o modelo que deve ser
adotado pelas cidades para tornarem-se sustentáveis. Por meio deste, a reutilização de
recursos é maximizada e minimizada a entrada de insumos, a reciclagem de materiais reduz o
lixo, conservam-se os recursos não renováveis e insiste no consumo de renováveis, de acordo
com Vendramini (2004). A figura 1, abaixo, mostra o mecanismo de funcionamento desses
metabolismos.
Figura 1- Tipos de Metabolismo das Cidades
Fonte: Vendramini (2004).
Planejar uma cidade de forma sustentável requer compreender o universo social,
econômico, político e lógico ambiental de forma mais ampla. Para tanto, a população antes de
tudo precisa estar consciente e motivada para fazer parte dessas mudanças no modo de ser e
de agir no seu cotidiano, na sua cidade sustentável. Esse conceito de cidade sustentável, de
acordo com Rogers (2012, p.33), reinventa e reinterpreta o conceito de “cidade densa”, pelo
seu modo organizacional de distribuição dos espaços setorizados de bens e serviços,
agregando todo um conjunto social e uma diversidade econômica que poderá trazer benefícios
ecológicos. Para o autor, esse é o modelo ideal de cidade sustentável, pois concentra e agrega
de forma simples ou complexa, dependendo do poder aquisitivo, o que é necessário para
manutenção da vida da população residente, reduzindo os impactos ao meio ambiente, ou
seja, o habitat ideal para a vida em comunidade.
É necessário pensar o modo de vida nas cidades na sua totalidade, em todos os
diferentes aspectos interligados: educação, saúde, meio ambiente, pobreza, criminalidade,
desemprego, drogas e buscar um planejamento interligando ações de diferentes órgãos
governamentais no sentido de transformar para melhor a qualidade de vida da população. No
72
Brasil temos um ótimo exemplo a ser seguido, que é a cidade de Curitiba, no Paraná, com 1,5
milhão de habitantes. No passado, enfrentou problemas de expansão e favelas, mas com um
bom planejamento participativo junto à comunidade conseguiu desenvolver-se. Hoje é
considerada um modelo de cidade sustentável, reconhecida internacionalmente, pelo esforço
do arquiteto e urbanista, o prefeito Jaime Lerner.
Nota-se que desde a formação das cidades, o poder público negligenciou as questões
relativas ao meio ambiente. Os antigos centros urbanos, formados por casarões bucólicos,
praças, igrejas e bulevares, sofreram a dinâmica do zoneamento; este fato, em decorrência do
valor exorbitante do preço da terra, baniu as casas do centro para as periferias da cidade,
deixando o espaço urbano central para atividades comerciais, num longo processo de
segregação social e espacial. Ficou a preocupação básica com o desenvolvimento econômico
em detrimento à vida em sociedade, à fraternidade, à união e ao bem viver. Atualmente,
populações de grandes metrópoles sofrem em decorrência da escassez de água, consequência
das mudanças climáticas e da falta de atenção da gestão pública para com a ameaça do
problema antes sinalizado por especialistas. O metabolismo linear dessas cidades e a grande
densidade demográfica são fatores que devem ser levados em conta.
Pensar uma cidade sustentável não seria exatamente o oposto do que se tem
atualmente, mesmo porque não seria impossível; mas uma cidade que fosse desenvolvida,
manter o equilíbrio e a harmonia entre a paisagem natural e cultural, capaz de adaptar-se a
mudanças sociais. Para Rogers (2012, p.169), uma cidade sustentável é:
Uma cidade justa, onde justiça, alimentação, abrigo, educação, saúde e
esperança sejam distribuídos de forma justa e onde todas as pessoas
participem da administração; uma cidade bonita, onde arte, arquitetura e
paisagem incendeiem a imaginação e toquem o espírito; uma cidade criativa,
onde uma visão aberta e a experimentação mobilizem todo o seu potencial
de recursos humanos e permitam uma rápida resposta á mudanças; uma
cidade ecológica, que minimize seu impacto ecológico, onde a paisagem e a
área construída estejam equilibradas e onde os edifícios e a infraestrutura
sejam seguros e eficientes em termos de recursos; uma cidade fácil;
compacta e policêntrica e diversificada.
Uma forma de garantir a implementação das políticas ambientais é manter a população
sempre bem informada para tornar-se agente de fiscalização. Assim, os cidadãos poderão
pressionar o poder público para o cumprimento de ações e da aplicação das penalidades
cabíveis, se for necessário.
Para Ferreira (2004, p.24), em 2015 quatro das cinco maiores aglomerações urbanas
do planeta estarão em países emergentes. De acordo com a ONU (1996), o progresso de uma
73
nação está associado à viabilidade das suas áreas urbanas. A vida nas grandes cidades está
associada aos problemas sociais e ambientais, passou a representar pobreza, desemprego,
violência, poluição. Isso tudo associado à falência administrativa, que não consegue atender
grande parte da população em suas necessidades elementares como saúde, saneamento, água,
educação dentre outros. Assim, instaura-se a crise de valores, que se soma à crise ambiental,
como afirmou o prof. Chassot (2003).
De acordo com Gauzin-Muller (2002, p.21), os pioneiros na implantação de um
modelo de cidade sustentável foram os holandeses. Em decorrência da sua alta densidade
demográfica, que ocasionou sérios prejuízos ao meio ambiente, hoje a cidade é um modelo de
sustentabilidade. A previsão dos cientistas que avaliam as mudanças climáticas alertava que
no século XXI o nível do mar seria elevado em decorrência dos efeitos das mudanças
climáticas e, com isso, cidades como Rotterdam seriam afetadas. Assim, em 1993 colocou-se
como prioridade ecológica o planejamento da área portuária de Amsterdam, incluindo nessa
obra diversos materiais ecológicos.
Em 1988 foi lançado um projeto experimental de casa ecológica com baixo consumo
de energia, gestão de água, controle de resíduos e paisagismo. Esse modelo, denominado de
Ecolonia, deu certo e foi colocado em prática em larga escala. Também em Amsterdam, o
bairro GWL (Waterboard Minicipal terreno) é uma área residencial ecológica e livre de
carros. O complexo inclui propriedades, tanto para alugar e comprar, com ênfase em casas
maiores para as famílias. Há espaços generosos ao ar livre, apartamentos com jardins no
telhado, jardins privados para as propriedades do piso térreo e um espaço público verde
destinado não só para os moradores, mas também para aqueles que vivem nos bairros
adjacentes, densamente construídas.
Segundo Gauzin-Muller (2002, p.60-89), seis grandes exemplos de cidades europeias
que já desenvolvem na prática a sustentabilidade: Mader, na Áustria; Stuttgart e Friburgo de
Brisgovia, ambas na Alemanha; Amsterdam, na Holanda; Rennes, na França; e Helsinki, na
Finlândia. Na Alemanha, a cidade de Friburgo é uma referência internacional pela gestão
energética pública e das ecolonias, iniciada nos anos de 1980, com reaproveitamento de água
pluvial e energia solar nas casas e no comércio.
Na cidade de Londres, na Inglaterra, considerada a capital menos sustentável, a
contaminação do ar diminuiu a qualidade de vida dos moradores da cidade. O governo
municipal elaborou uma estratégia para o desenvolvimento do espaço urbano, visando atender
os aspectos econômicos e as questões sociais. Nesse plano, é dada uma atenção especial ao
Rio Tâmisa.
74
No Brasil temos, além da cidade de Curitiba, no Paraná, um bairro de Florianópolis
que é um empreendimento privado, a cidade Universitária Pedra Branca, que contou em seu
projeto com a participação do urbanista Jaime Lerner, seguindo o modelo de sustentabilidade.
Além de João Pessoa, na Paraíba; Paragominas, no Pará; Santana do Parnaíba e Londrina.
Porém, nenhuma dessas cidades é cem por cento sustentáveis, ainda estamos num processo
lento de adequação desse modelo de cidade. As principais práticas adotadas pelas cidades
sustentáveis são:
- Ações efetivas voltadas para diminuição da emissão de gases do efeito estufa,
visando o combate ao aquecimento global.
- Medidas que visam a manutenção dos bens naturais comuns.
- Planejamento e qualidade nos serviços de transporte público, principalmente
utilizando fontes de energia limpa.
- Incentivo e ações de planejamento para o uso de meios de transporte não poluentes
como, por exemplo, bicicletas.
- Ações para melhorar a mobilidade urbana, diminuindo consideravelmente o tráfego
de veículos.
- Promoção de justiça social.
- Destino adequado para o lixo. Criação de sistemas eficientes voltados para a
reciclagem de lixo. Uso de sistema de aterro sanitário para o lixo que não é reciclável.
- Aplicação de programas educacionais voltados para o desenvolvimento sustentável.
- Investimentos em educação de qualidade.
- Planejamento urbano eficiente, principalmente levando em consideração o longo
prazo.
- Favorecimento de uma economia local dinâmica e sustentável.
- Adoção de práticas voltadas para o consumo consciente da população.
- Ações que visem o uso racional da água e seu reaproveitamento.
- Práticas de programas que visem a melhoria da saúde da população.
- Criação de espaços verdes (parques, praças) voltados para o lazer da população.
- Programas voltados para a arborização das ruas e espaços públicos.
Planejar uma cidade de forma que atenda as reais necessidades de sua população,
objetivando uma melhor qualidade de vida, é uma missão que todos os gestores públicos
precisam assumir urgentemente, pois a instabilidade gerada pela ação antrópica causará o caos
urbano de forma crescente e danosa ao cidadão. A população precisa participar ativamente de
ações cotidianas em suas cidades, para promover uma vida mais sustentável num país de
75
dimensão continental, onde as dificuldades são imensas, quer seja pelo viés das políticas
públicas ou do descaso da própria população; esta não cobra de seus legítimos representantes
o cumprimento da legislação existente para que tenham qualidade de morar e viver
dignamente em sua cidade. Que essa qualidade de vida represente o respeito ao seu
semelhante e as mais variadas formas de vida existentes no planeta.
76
4 ESCOLA SUSTENTÁVEL DR. CARLOS GUIMARÃES: O PROJETO DA COLETA
SELETIVA E A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Escola Estadual de Ensino Fundamental “Dr. Carlos Guimarães” é uma escola de
pequeno porte, localizada no conjunto da Cohab, gleba I, quadra K, s/nº, bairro da Nova
Marambaia, na capital paraense. Foi fundada em 11 de março de 1971, sob a Resolução
nº32/37 do Conselho Estadual de Educação. O nome da escola foi escolhido para prestar
homenagem ao Secretário de Estado de Saúde Pública, o médico Dr. Carlos Guimarães
Pereira da Silva. Desde sua fundação, a escola funciona nos três turnos. Hoje conta com um
quadro funcional de 52 servidores públicos.
Atualmente, oferece do 1º ao 5º Ano no sistema de Tempo Integral, que teve início no
ano letivo de 2013. Enfrentou alguns problemas para consolidar-se, contudo foi implantado.
A escola também atende da 2ª a 4ª etapas da Educação de Jovens e Adultos(EJA), além do
Atendimento Educacional Especializado (AEE) das Pessoas Portadoras de Necessidades
Especiais, em uma sala multifuncional, apresentando um trabalho que é uma referência na
Unidade SEDUC na Escola 08.
Entretanto, a escola estruturou-se como espaço de aprendizagem para legitimar sua
autonomia com a criação do conselho escolar, descentralizando dessa forma o poder da
direção. O Conselho Escolar foi criado em 1998 com base na LDB 9394/96, Art. 3º, "gestão
democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino"
(inciso VIII do art. 3º da LDB), em consonância com a Constituição de 1988 e com a Lei
Orgânica Municipal. A escola tem, na composição de seu Conselho Escolar, em média onze
conselheiros, distribuídos entre pais, alunos, professores, comunidade, servidores e membros
natos, no caso a direção e vice-direção.
As principais funções do Conselho Escolar são: a de elaboração do regimento interno;
convocação de assembleias gerais, garantindo a participação da comunidade; promover
relações pedagógicas; propor e coordenar alterações curriculares; participar da elaboração do
calendário escolar; acompanhar a evolução dos indicadores educacionais; elaborar o plano de
formação continuada dos conselheiros; aprovar o plano administrativo anual; fiscalizar a
gestão administrativa, e promover relações de cooperação com outros conselhos escolares. Ou
seja, tem função vital no processo de gestão de uma escola e, desse modo, precisa ser
compreendido e respeitado pela comunidade que o compõem.
77
O Conselho Escolar, desde sua criação, na medida do possível, procurou ser atuante e
participativo, pois sempre dependeu dos recursos vindos do Governo Federal e Estadual. As
mudanças na melhoria desses recursos e dos investimentos em educação são recentes e,
portanto, foram buscados por meio da gestão resultados satisfatórios para a comunidade.
A escola passou por uma ampla reforma e ampliação em 2009, e hoje tem na sua
estrutura física nove salas de aula, auditório, biblioteca, sala de informática, sala de arte, sala
multifuncional, três depósitos, bloco administrativo, arquivo, refeitório. A quadra de esportes
foi revitalizada pois, já tinha cobertura, uma ação do Conselho Escolar, realizada
anteriormente. Após as adaptações para implantação do projeto Escola em Tempo Integral,
em 2013, foi construído um banheiro com vestiário e feita a adequação do antigo banheiro.
A escola tem Projeto Político Pedagógico, que foi reestruturado em 2010. No seu
escopo buscou alcançar metas necessárias para gerar as mudanças que garantam o
fortalecimento da cidadania e a participação efetiva da comunidade escolar, bem como a
qualidade de vida e a sustentabilidade. A escola desenvolveu, entre 2008 e 2010, um total de
quinze projetos, além dos Programas Mais Educação e Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE), que também viabilizaram muitas ações dos projetos já implantados.
A escola foi reconhecida pela SEDUC em 2010 como uma escola sustentável, em
decorrência de todos os projetos desenvolvidos em educação ambiental, iniciados a partir de
2009, e pelo relevante trabalho pedagógico desenvolvido. De acordo com Cunha (2010),
Em seu pronunciamento, Socorro Coelho anunciou que a “Carlos
Guimarães” é a primeira escola sustentável do Estado por apresentar em sua
nova composição aspectos em harmonia com o meio ambiente. O projeto foi
concebido com o aproveitamento da água da chuva destinada à limpeza da
escola, reduzindo dessa forma, o desperdício de água potável. A coleta do
lixo obedece ao processo seletivo, além da reciclagem de garrafas pet e
papel. A escola reservou espaço também para implantação do projeto “mesa
saudável”, por meio do cultivo de horta.
De acordo com o a Resolução CD/FNDE Nº 18/2013 do MEC, consideram-se escolas
sustentáveis aquelas que mantêm relação equilibrada com o meio ambiente e compensam seus
impactos com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, de modo a garantir qualidade de
vida às presentes e futuras gerações. A resolução afirma que a transição para a
sustentabilidade nas escolas é promovida a partir de três dimensões inter-relacionadas: o
espaço físico, a gestão e o currículo.
A função socioambiental da escola está na relação de reciprocidade com a
comunidade, e nisso configura-se o entendimento da parceria, da colaboração, da divisão de
78
responsabilidades e do compromisso que o poder público assumiu na Escola “Dr. Carlos
Guimarães”, de educação pública de qualidade, possibilitando a estrutura física fundamental
através da reforma, com a escola alicerçando a sua parte, garantindo o aspecto pedagógico
desse novo espaço. São conquistas extremamente importantes para a sociedade que hoje
convive com sérios problemas causados pela ação humana e muitas vezes pelo descaso
público. Abaixo estão algumas fotografias da Escola em questão.
Fotografias 1 e 2 - Escola Carlos Guimarães antes da reforma em 2008
Fonte: Acervo da escola.
Fotografias 3 e 4 - Escola Carlos Guimarães depois da reforma em 2010
Fonte: Acervo da escola.
4.1 A Gestão e a Implantação da Educação Ambiental
O processo para a escola Dr. Carlos Guimarães tornar-se sustentável começou no ano
letivo de 2006, quando uma ex-aluna, e agora professora de Ciências, do EJA noturno da
escola levou para a pauta de uma reunião do Conselho Escolar o projeto de construção de uma
79
horta na escola. Os conselheiros aprovaram um investimento com um pequeno percentual dos
recursos do PDDE para o projeto “Mesa saudável- horta escolar”. O dinheiro era pouco,
porém de valor inestimável para iniciar o projeto, que foi somado à doação de um dos
conselheiros e também ex-aluno da escola, que se tornou grande colaborador do projeto da
horta e da escola.
No primeiro momento a professora, e agora coordenadora do projeto, buscou a
parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) do Pará, que ofereceu
curso de aperfeiçoamento em Olericultura básica para os alunos do EJA noturno, visto que um
dos objetivos do projeto da horta era qualificar os alunos para o mercado de trabalho. Eram
alunos do EJA, do ensino fundamental, principalmente noturno, a maioria trabalhando no
mercado informal e não possuindo qualificação certificada; por isso a importância de terem
um certificado que os capacitasse. O curso oferecido pelo SENAR aconteceu durante uma
semana, quando os alunos associaram teoria e prática; no final, a horta ficou pronta. Além do
instrutor, o SENAR também fez a doação de sementes e algumas ferramentas importantes
para a continuidade do trabalho. O local onde a horta foi instalada tinha muitas pedras e
formigas; foi um trabalho árduo para deixar o terreno adequado para receber as culturas
alimentares. Os alunos envolveram-se na aprendizagem, e isso os despertou para o
conhecimento de mundo, antes adormecido, e a escola resgatou esses saberes via projeto.
Entretanto, o projeto era uma ação apenas dos alunos do noturno e da professora de
Ciências, que faziam os encaminhamentos da horta. Os demais professores, apesar do convite,
não se sentiram sensibilizados para somar os saberes. O projeto não fazia parte do PPP da
escola, nem era conhecido pelos outros turnos; o espaço era apenas cuidado pelos alunos do
noturno, porém o que era produzido na horta, como couve, cheiro-verde, feijão de metro,
pepino, pimentão, chicória, carirú, cebolinha, era levado para enriquecer a merenda escolar,
beneficiando todos os alunos. Essa ação resultou em grande divulgação na mídia e a escola
passou a ser conhecida pelo seu trabalho de educação ambiental. O projeto da horta teve
períodos bons e ruins, contudo permaneceu por seis anos na escola, produzindo frutos para
alimentar as ideias de seus mentores e de seus alunos, o que será explicitado nesse trabalho na
próxima subseção.
No ano seguinte, houve eleição do Conselho Escolar, e a coordenadora do projeto da
horta foi eleita coordenadora do Conselho Escolar. Durante o período que esteve na função
passou a conhecer a dinâmica da escola, no seu aspecto administrativo, e solicitou a inclusão
do projeto da horta no PPP da escola. Porém, pelo fato de a professora que iniciou o Projeto
trabalhar na escola somente à noite, não conseguiu implantar o projeto no espaço educacional
80
como um todo. Uma de suas ações como conselheira foi retomar o projeto de reforma geral da
escola, solicitado ao departamento físico da SEDUC inúmeras vezes.
Posteriormente, a coordenadora do Conselho Escolar tornou-se gestora da escola. No
primeiro momento por indicação e, posteriormente, por meio de eleição, sendo eleita com
75% dos votos. No entanto, devido a problemas na comissão avaliadora do pleito na SEDUC,
a eleição não foi homologada, continuando seu mandato por indicação do Conselho Escolar.
A gestão durou quase cinco anos, período em que a escola esteve sob a direção de uma ex-
aluna, cuja mãe tivera que dormir na fila para conseguir sua matricula na década de 1970.
Formada em biologia pela PUC de Campinas em São Paulo, especializou-se em Ensino de
Ciências e Matemática e em Gestão Escolar. Afastou-se da gestão para aperfeiçoamento e
produção da pesquisa agora apresentada.
A nova gestão apresentou um plano de ação para a comunidade, no qual a principal
metodologia a ser desenvolvida pela escola seria a pedagogia de projetos com o foco em
educação ambiental. A comunidade escolar avaliou a proposta e resolveu acatar, dando início
ao trabalho de inserir de forma interdisciplinar os conteúdos pertinentes ao projeto Coleta
Seletiva apresentado no currículo escolar.
Nesse período a equipe técnica da escola contava com poucos servidores, e para
melhor desenvolver um trabalho como se pretendia seriam necessárias muitas “mãos”. Além
disso, era o final do ano letivo e a gestão precisava esperar o início do próximo ano. Isso
permitiu que houvesse tempo para organização, que foi finalizada durante a jornada
pedagógica. Aos poucos foram montadas estratégias de trabalho, que contou com a
participação de todos os professores, servidores, pais de alunos e responsáveis. Estes se
envolveram nos projetos e na organização de um novo período letivo, com a perspectiva de
muitas novidades em termos de avanço de aprendizagem, pois o trabalho significativo no
campo pedagógico está voltado para os encaminhamentos que são dados aos projetos
desenvolvidos. De acordo com Ferreira (2013, p.135),
É a intencionalidade do que se quer fazer que define a direção da ação e as
formas de organizar e execução. É a intencionalidade- que se expressa nos
objetivos- que irá nortear aquilo que se apresenta como desejado e
necessário. Isto implica a explicitação de determinada intenção de ações, da
definição dos fins que se quer alcançar, que sustentam naquilo que tem valor
para uma coletividade em determinado momento histórico em uma dada
sociedade.
81
Ao longo de seus quarenta e três anos de existência, a escola “Dr. Carlos Guimarães”
passou por poucas reformas significativas na sua estrutura física, o que de certa forma
também foi um fator que prejudicou o processo educacional, como afirma Freire (1996, p.45),
Como cobrar das crianças um mínimo de respeito às carteiras escolares, às
mesas, às paredes se o poder Público revela absoluta desconsideração à coisa
pública? É incrível que não imaginemos a significação do ‘discurso”
formador que faz uma escola respeitada em seu espaço. A eloquência do
discurso “pronunciado” na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na
higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há pedagogicidade
indiscutível na materialidade do espaço.
Entretanto, após solicitação dos conselheiros, no ano letivo de 2009 a escola passou
por uma grande reforma e ampliação, quando foram revitalizados e criados novos espaços
fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem e da sustentabilidade, embora só o
espaço físico não signifique qualidade de ensino. Para tanto, foi necessário associar uma boa
estrutura física com uma equipe pedagógica qualificada, com profissionais comprometidos
com o processo educacional.
Além da reforma das nove salas de aula, também foram reformadas a sala
multifuncional para o Atendimento Educacional Especializado (AEE), e outras mudanças que
garantiram acessibilidade a esses alunos; a sala para a equipe técnica; a sala de professores
ampliada e mobiliada, diretoria, a secretaria e o arquivo, que foi todo revigorado e
organizado; além da copa e cozinha ampliada, refeitório com mobília nova, três depósitos,
sendo um para armazenar a merenda escolar e dois para almoxarifado. A maioria dos espaços
foram climatizados. Abaixo estão algumas imagens da acessibilidade existente na escola.
Fotografias 5 e 6 - Acessibilidade na Escola Carlos Guimarães
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
82
A escola conquistou novos espaços antes inexistentes como: uma sala de artes,
laboratório de informática todo equipado, auditório com capacidade para 90 pessoas sentadas
e uma moderna biblioteca equipada com recursos decorrentes das ações do PDE, que foram
essenciais para o fomento de projetos e a aprendizagem. Durante os dois mandatos anteriores
essa reforma já estava sendo solicitada pelo conselho escolar, que a conseguiu apenas de
forma parcial em 2006 (o bloco administrativo e a cobertura da quadra de esportes).
Em 2010, a escola foi reinaugurada, e seu PPP reestruturado, pois a versão anterior era
de 2004. A nova versão contou com um total de quinze projetos em diferentes áreas de
atuação, que tinham como eixo principal a Educação ambiental; além dos programas do
Governo Federal, como o PDE e o Programa “Mais Educação”, os quais agregaram suas
ações às já existentes nos projetos anteriores. Portanto, os programas foram bem vindos ao
processo educativo já desenvolvido pela escola.
O modelo de gestão que foi proposto na Escola “Dr. Carlos Guimarães” tomou como
base os princípios da gestão compartilhada, nos quais a participação e a autonomia são vias de
acesso à democracia. Dessa forma, todos os servidores e a comunidade de um modo geral,
principalmente através dos seus representantes no Conselho Escolar, participavam ativamente
nas decisões junto com a gestão. Desde o início, ao socializar a proposta de trabalho, a gestão
possibilitou que a comunidade se posicionasse com relação ao que pensavam da escola e,
principalmente, qual seria o melhor caminho na busca de soluções para construir a escola
desejada pela comunidade. A comunidade era consultada durante os momentos de
implantação dos projetos e sempre contribuiu ativamente para o sucesso de suas ações.
A estrutura orgânica das ações estabeleceu que os professores entregassem, no início
do ano letivo, o planejamento anual, elaborado coletivamente durante a jornada pedagógica,
com base nas proposições que foram deliberadas pelo colegiado no projeto que seria
desenvolvido. Posteriormente, todos deveriam entregar, semanalmente, os planos de aula,
para que a equipe técnica avaliasse se estava de acordo com o plano anual e com o Projeto
Político Pedagógico da escola. A equipe técnica avaliava, monitorava e dava suporte ao
desenvolvimento dos trabalhos.
O resultado do trabalho desenvolvido com a prática da educação ambiental foi
mensurado pelo próprio MEC, através do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) da escola, que passou de 3,4 para 4,7. Esse resultado significa por si só, que a gestão
democrática é possível, funciona e gera resultados extremamente positivos no processo de
ensino aprendizagem.
83
O primeiro projeto de educação ambiental implantado no currículo escolar e, portanto
nos três turnos, foi o da coleta seletiva. De acordo com pesquisa de campo, os professores não
tiveram dificuldade de inserir os conteúdos relativos ao Projeto de forma interdisciplinar com
seus alunos. Na metodologia estava prevista uma serie de oficinas de reciclagem de papel,
oficina com garrafas PET, além de palestras temáticas e das visitas monitoradas aos parques
ambientais de Belém e área Metropolitana.
A primeira oficina foi a de confeccionar os equipamentos a serem colocados nas salas
de aula; como matéria prima reutilizaram-se baldes de margarina, coletados em campanha na
escola junto aos alunos e pais.
Essa oficina contou com a participação dos alunos da Comissão de qualidade de vida e
meio ambiente (Com-Vida) da escola, que foi criada em 2009 com objetivo de dinamizar as
ações dos projetos em educação ambiental no espaço escolar. A cada dois anos é realizada
uma nova oficina de futuro para a criação de uma nova Com-Vida. A primeira oficina de
futuro foi encaminhada pela gestora da escola, que é bióloga e foi facilitadora dos processos
de formação da Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA) no Estado do
Pará, através da coordenação de EA da SEDUC. A segunda oficina de futuro foi através dos
técnicos da coordenação de educação ambiental da SEDUC.
A Com-Vida desenvolve ações em consonância com as recomendações resultantes da
Eco-92, através da implantação da Agenda 21 na Escola. Essa conferência é uma ação
vinculada ao Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, do Governo Federal em
parceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Ministério do Meio Ambiente
(MMA). Por meio da Com-Vida foi possível a escola contribuir com a responsabilidade
socioambiental, tornando-se referência no sistema público de ensino em decorrência de seus
projetos de educação ambiental. A escola desenvolveu este trabalho com as séries iniciais do
Ensino Fundamental, e foram os alunos dessas séries que participaram da oficina para
formação dessa comissão de meio ambiente da escola.
Historicamente, a primeira proposta de criação da Com-Vida originou-se das
deliberações da I Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada pelo
MMA em parceria com o MEC, em 2003, quando os estudantes envolvidos criaram os
coletivos jovens de meio ambiente nas escolas do país. A partir desse momento foi idealizado
o Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, que envolveu 16 mil escolas em
centenas de seminários de formação de professores e alunos em Educação Ambiental.
Os coletivos jovens são grupos informais de jovens e organizações juvenis existentes
em todos os estados do Brasil e em diversos municípios, que se mobilizam em torno da
84
temática socioambiental. Eles têm como princípio: “Jovem escolhe jovem” e “uma geração
aprende com a outra”, ou seja, jovem ensina jovem. A formação das Com-Vidas é baseada
nesses princípios e sua força consiste na aprendizagem que os jovens passam para outros
jovens e para os mais velhos, com relação ao respeito ao meio ambiente.
Entretanto, quem deve fazer a formação ou a Oficina de Futuro, chamado no momento
de formação onde oficialmente é a criação da Com-Vida, é o coletivo jovem ou um professor
que fez a formação citada anteriormente. No caso da escola “Dr. Carlos Guimarães”, a gestora
realizou a Oficina de Futuro por ser bióloga e por ter feito a formação. A metodologia
utilizada na oficina de futuro busca compreender os processos da dinâmica do espaço escolar
e analisar de que forma a comunidade escolar se percebe nesse contexto e como interage com
ele. Assim, os participantes são conduzidos a encaminhar proposições baseadas na escola que
têm e na escola que desejam ter, visualizando as dificuldades que deverão enfrentar ao longo
do trajeto; no final, juntos constroem um plano de ação, o qual deverá ser executado e
devidamente acompanhado pelos representantes da comissão. Essa oficina geralmente é
realizada ao longo de um dia, de forma bem dinâmica e prazerosa. Depois se estabelece um
Acordo de Convivência, que é um conjunto de entendimentos que as pessoas fazem para
facilitar o funcionamento da Com-Vida. Uma vez que todos ajudam a construir e concordam,
tornando-se responsáveis por cumprir este acordo.
Normalmente participa um número elevado de pessoas e no final é feita a adesão
voluntária, onde um grupo menor é formado; assim, fica criada a comissão na escola. A
vigência é de dois anos, e quem participa são os representantes das diversas categorias da
comunidade escolar, similar à representação do conselho escolar. Não há estatuto ou
regimento, apenas o compromisso de cada um dos representantes.
A Com-Vida da Escola “Dr. Carlos Guimarães”, no seu Acordo de Convivência,
responsabilizou-se pelo suporte e monitoramento dos projetos da coleta seletiva e da horta da
escola. Os alunos participavam de reuniões e de encontros de formação, onde eram aplicadas
metodologias especificas para o desenvolvimento de suas habilidades e competências voltadas
para temáticas ambientais, pois tornavam-se multiplicadores. Participaram ativamente da
confecção dos equipamentos utilizados na coleta seletiva, realizaram intervenções junto às
turmas que apresentavam problemas de adaptação com o projeto da coleta seletiva, orientando
o uso correto dos equipamentos e dando suporte durante o período do intervalo para o lanche
e nas atividades específicas da horta.
A Escola “Dr. Carlos Guimarães” não participou da Conferência Infanto-Juvenil pelo
Meio Ambiente, em decorrência dos critérios estabelecidos pelo MEC. De acordo com esses
85
critérios, somente podem ser escolhidos como delegados para essa Conferência: 1) os alunos
matriculados em turma do 6º ao 9º ano do ensino fundamental; 2) na faixa etária entre 11 e 14
anos (no período da Conferência Nacional); 3) Gostar de debates sobre o meio ambiente; 4)
Comunicar-se bem e ser claro; e 5) Ter participado de maneira significativa no processo da
conferência, na construção do projeto e na formação e fortalecimento da Com-Vida.
Nesse caso, os alunos da escola, não se enquadram em dois critérios: faixa etária e
série. Contudo, a escola, por ser referência nos trabalhos em EA, sempre é convidada para
participar das ações pertinentes à Conferência junto a Secretaria de Educação do Estado; e
mesmo sem participar da Conferência criou a “Com-Vida”, por acreditar que é essencial a
criação da Comissão na escola para encaminhar o trabalho com as crianças e jovens.
Nesse sentido, é fundamental que o gestor contribua de diferentes formas com o
processo da formação dessa Comissão, integrando a escola e a comunidade no processo.
Abaixo estão fotografias da Oficina de Futuro e a Oficina de Confecção de Equipamentos,
que foram realizadas na Escola em 2009 e 2010, respectivamente.
Fotografias 7 e 8 - Oficina de Futuro em 2009 e oficina de confecção dos equipamentos em 2010
Fonte: Acervo da escola.
Nessa oficina, os alunos de todos os turnos envolveram-se na ação, sendo que cada
turma confeccionou o seu próprio equipamento, dentro de uma dinâmica de divisão de tarefas.
Dessa forma, todas as salas de aula receberão os equipamentos para a coleta seletiva, assim
como também foram instalados equipamentos maiores no corredor da escola, que foram
confeccionados pelos alunos do EJA noturno.
Os equipamentos foram pintados de acordo com o que determina a resolução
CONAMA Nº 275, a qual estabelece um padrão de cores de fácil visualização para identificar
os recipientes e transportadores utilizados na coleta seletiva, a saber: azul papel/papelão;
86
vermelho – plástico; verde – vidro; amarelo – metal; marrom – resíduos orgânicos, entre
outros. A seguir, constam as fotografias dessas ações na Escola.
Fotografia 9 - Equipamento coleta seletiva na sala de aula
Fonte: Acervo da escola.
Fotografia 10 - Equipamento coleta seletiva no corredor da escola
Fonte: Acervo da escola.
Antes da instalação do PEV na quadra K, localizada no conjunto da Cohab, em frente
à Escola, todo esse material coletado na Escola era recolhido pelo caminhão da limpeza
pública, e levado direto para o lixão do Aurá. Ou seja, de nada adiantava efetuar um trabalho
na Escola se extramuros esse trabalho se perdia por falta da ação do poder público na
implantação da PNRS no município de Belém.
Ao longo da gerência desse projeto no espaço escolar, a coleta seletiva funcionou; o
problema estava na área externa da Escola e chegava à rua. Durante alguns meses a gestão
localizou um número de telefone de serviço da Prefeitura da cidade, para a coleta seletiva, que
87
os moradores do entorno da Escola ligavam e solicitavam a coleta. Por meio dessa via de
comunicação, a Prefeitura recolhia o lixo nas casas e o material para ser destinado à
reciclagem. Nesse período em que a PMB fazia o recolhimento, o sistema de coleta seletiva
da escola funcionava plenamente. A equipe da prefeitura passava na escola e recolhia todo o
material. Porém, esse sistema funcionou por pouco tempo, pois ocorreram alguns problemas
de organização dos materiais e a equipe que recolhia reclamou e não retornou mais, apesar da
solicitação feita pela gestão. Assim, a escola voltou a deixar seu material da coleta seletiva
para o caminhão do lixo levar para o lixão da cidade, rompendo-se o ciclo. A cooperativa, que
provavelmente no período descrito recolhia o material da escola, era a recém-criada ACCSB
sob a tutela da SESAN, que já estava enfrentando dificuldades, de acordo com Oliveira (2012,
p.87),
Frequentes modificações no rumo das ações do programa, a cada mudança
de administração municipal, também refletem nos vários aspectos de gestão
e execução do programa, chegando a ameaçar sua continuidade. Como
resultado, tem-se um projeto incipiente, sem expressividade e com poucas
possibilidades de expansão a partir da adesão da população local e, por
conseguinte, de sua sustentabilidade ao longo do tempo.
O recolhimento dos resíduos sólidos produzidos nas cidades é de responsabilidade das
prefeituras, assim como sua destinação, sendo um serviço público elementar de saneamento
básico. Porém, historicamente desde a Revolução Industrial, com o avanço da produção em
larga escala de diferentes produtos, principalmente embalagens diversas, aumentou
consequentemente o volume de produtos que são jogados diariamente nos lixões das cidades,
já que nas grandes metrópoles não há mais espaço para armazenar tanta coisa. O ideal seria
adotar o metabolismo circular, diminuição do consumo e reaproveitamento ao máximo do que
for possível, produzindo novos objetos, como no caso do papel reciclado e dos puffs de
garrafa PET (Politereftalato de etileno) feitos na escola.
Na escola pesquisada os educandos aprenderam, na prática, que é possível reduzir o
problema do lixo nas grandes cidades. Mas para isso é necessário que todo cidadão se
conscientize do seu papel no meio em que vive, e que todos possam contribuir para melhorar
a qualidade de vida dessa e das futuras gerações, tão preconizada nas Constituição de 1988 e
nas diretrizes da Educação Ambiental. A iniciativa da Escola “Dr. Carlos Guimarães” não foi
constatada na maioria das escolas de Belém. Se pelo menos 50% das escolas públicas da
cidade adotassem a estrutura de trabalho que foi desenvolvido na Escola em questão, com
certeza diminuiria o problema do lixo, e seria uma forma de auxiliar a implantação da PNRS.
88
A Escola “Dr. Carlos Guimarães” é apenas um exemplo de que é possível mudar para melhor,
a forma de viver e de se relacionar com questões ligadas ao meio ambiente de forma
relativamente simples; basta a colaboração democrática e participativa de todos.
Foi necessário primeiro empreender ações internas, porém com grande visibilidade
para depois fazer a captação de possíveis parceiros. Foi o que aconteceu entre a parceria da
Escola com a Organização Não Governamental (ONG) “No olhar”. Esta ONG foi fundada em
2005, com objetivo de apoiar a educação, a inclusão e a cidadania, desenvolvimento
sustentável e a conservação do meio ambiente. A direção da ONG já conhecia o trabalho
desenvolvido na Escola através da divulgação feita na mídia, e também conhecia a gestora da
escola. A ONG recebeu o convite da Coordenação de Educação Ambiental da SEDUC para
realizar uma oficina de sabão ecológico na Escola. Nesse primeiro contato com a Escola, a
direção da “No olhar” comprovou o que havia lido sobre a instituição. Após uma reunião com
a gestão, formatou-se a parceria, onde foram desenvolvidas muitas ações, entre palestras,
oficinas, caminhadas ecológicas em parques ambientais de Belém, com turmas de alunos, até
a instalação do equipamento da coleta seletiva na comunidade no entorno da escola.
Uma parceria se constrói e se solidifica com base no trabalho desenvolvido por ambos.
É preciso antes de tudo acreditar um no outro, na capacidade humana de transformação social.
A equipe da “No olhar”, por ter um histórico de trabalho comprometido com a questão
ambiental, percebeu na gestão da Escola a parceria ideal para tocar o projeto junto à
comunidade externa, já que era um projeto piloto da ONG; e foi o primeiro ponto de coleta
seletiva instalado na cidade de Belém. A equipe da ONG não poderia saber como seriam os
resultados dessa ação na comunidade. Por esse motivo, a Escola foi o lugar perfeito para
iniciar o projeto, quer seja por seu know-how, ou por sua localização que facilitaria o controle
do equipamento.
Outra parceria que foi muito relevante para o processo da gestão democrática foi com
a Igreja Assembleia de Deus, do bairro da Marambaia, e com o Centro Comunitário. A Escola
sempre foi parceira dessas entidades sociais, no atendimento de suas demandas sociais. Em
contrapartida, as referidas entidades, também contribuíam com as demandas da Escola nos
momentos que eram organizados mutirões para revitalização da escola para o início do ano
letivo, ou quaisquer outras necessidades emergenciais.
A parceria com a Delegacia de Meio Ambiente (DEMA), através do Programa Sala
Verde, onde a escola participou de uma gincana ecológica e foi contemplada com um passeio
ecológico em um parque ambiental da cidade, além de um ciclo de palestras na escola. Cada
vez mais contar com a parceria da sociedade civil organizada ou das instituições, para
89
encaminhar projetos relacionados à educação ambiental é fundamental, onde haja espaço e
possibilidade para que aconteçam, viabilizando boa parcela das políticas públicas ambientais.
De acordo com Sorrentino (2005, p.297),
[...] não significam, de modo algum, uma redução do papel do Estado ou
uma menor importância na manutenção de uma boa estrutura público-
governamental para a implementação das políticas públicas de educação
ambiental. Pelo contrário, cada vez mais esperamos que a sociedade se
organize, as instituições se envolvam e qualifiquem suas demandas, para que
os governos subsidiem suas práticas de educação ambiental.
A situação da Escola mudou a partir do momento em que foi realizada a parceria com
a ONG. O principal trabalho realizado através dessa parceria foi a instalação de um Ponto de
Entrega Voluntária (PEV) na quadra K, em frente à escola. O PEV foi todo confeccionado
com material reutilizado, no caso aparas de processos produtivos, que são sobras dos cortes
finais de acabamento. Porém, o equipamento foi fruto da parceria, da referida ONG com a
empresa Tetrapack, que forneceu o equipamento. A Escola “Dr. Carlos Guimarães” foi
selecionada para a instalação em decorrência do trabalho que já desenvolvia com o projeto da
coleta seletiva desde 2009.
Desta forma, a escola ficou responsável pela estrutura para fixação do equipamento, e
a ONG pela instalação do equipamento. Posteriormente iniciou-se o trabalho de palestras na
própria escola, quando todos da escola foram convidados para participar, e deste modo foi
feita a sensibilização junto aos moradores da quadra e da comunidade interna da escola, para a
utilização correta do equipamento. Nesse posto de coleta seletiva seriam depositados apenas
materiais a serem reciclados e/ou reutilizados, como papel, plástico, metal e vidro. Material
orgânico não poderia ser depositado nesse ponto de coleta. Isso gerou problemas na gerência
do equipamento.
Todo o material depositado era coletado quinzenalmente por uma cooperativa de
catadores e coletores do bairro da Marambaia, indicada pela ONG. A manutenção,
organização e monitoramento do equipamento eram de responsabilidade da Escola, que
deveria acionar a ONG ou a cooperativa, caso houvesse algum tipo de problema e, neste caso,
todos procurariam soluções. Um dos problemas enfrentados foi quando colocaram animal
morto e sacos com lixo orgânico. Não foi possível saber se foram os moradores da quadra ou
alguém de outro lugar. Esse mesmo problema foi detectado na pesquisa realizada por Oliveira
(2012), quando a coleta seletiva foi instalada em alguns pontos da cidade de Belém.
90
A equipe de serventes da escola, que receberam capacitação para desenvolver o
projeto, recolhiam todo o material coletado da escola, que era depositado nos equipamentos
maiores e depois levados para o PEV, na praça em frente à escola. Assim, fechava-se o ciclo
completo da coleta seletiva, e todo material coletado na Escola era conduzido para uma
cooperativa que iria encaminhar para a indústria da reciclagem, beneficiando toda a cadeia
produtiva, social, humana e ambiental.
As ações participativas e a formação de parcerias para solucionar problemas
ambientais estão cada vez mais evidentes. Essas são as tendências que envolvem a
comunidade como parceira, envolvendo também alunos, professores, ONGs e políticos, que
atuam em conjunto para identificar e resolver problemas socioambientais. Dessa forma, todos
assumem o compromisso de transformação social pautada na cidadania planetária.
A segunda oficina ofertada foi a de papel reciclado, que todo ano se repete na Escola.
No início, as primeiras oficinas eram para os professores e alunos que precisavam adquirir
essa habilidade e, posteriormente, repassavam para seus alunos. Com o tempo, todos
aprenderam, e atualmente quem ministra as oficinas são os próprios alunos, inclusive para os
pais ou responsáveis. Isso é outra forma do projeto chegar até a comunidade. O papel
reciclado é recolhido na própria Escola. Também houve a oficina de arte com papel reciclado,
onde era ensinada a confecção de cartões de presente, porta CD, porta lápis, dentre outros
produtos.
Nesse processo de inserção curricular, os alunos absorviam os conteúdos
sistematizados dentro de uma prática educativa, tornando-se sujeito ativo do processo de
aprendizagem, construtor de seu saber, compartilhado com todos do espaço escolar; ou seja,
uma aprendizagem vivencial, voltada para o exercício da cidadania. Abaixo constam
fotografias da Oficina de Papel Reciclado oferecida pela Escola.
91
Fotografias 11 e 12 - Oficina de Papel Reciclado
Fonte: Acervo da escola.
Outra oficina realizada foi a de confecção de puffs de garrafa PET (Politereftalato de
etileno), que os alunos e os servidores coletavam em suas casas. Essas oficinas ocorrem todos
os anos, desde o início do projeto. Também eram direcionadas para a participação dos pais e
dos moradores da comunidade no entorno da Escola, que recebiam convites em suas casas.
Essas ações contam com o apoio financeiro do FNDE, através do PDE, que subsidia a compra
de equipamentos e de materiais para o projeto. A seguir , uma fotografia da Oficina de puff
de PET, com a presença de pais de alunos, professores, alunos e comunidade do entorno da
Escola.
Fotografia 13 - Oficina de puff de PET para os pais, professores e comunidade
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
92
O projeto coleta seletiva passou por vários momentos ao longo desses anos, porém
nunca deixou de existir na escola. Não foi caracterizado um projeto pontual como ocorre na
maioria das escolas já citadas nesse trabalho.
A mudança de hábito e atitude com relação ao lixo no espaço escolar foi significativa
para toda a comunidade. Nem todos estavam devidamente preparados ou sensibilizados para
tamanha mudança; portanto, foi necessário utilizar como metodologia, no Projeto Coleta
Seletiva, a formação continuada para a comunidade escolar. Assim, os servidores de apoio
operacional, principalmente as servidoras responsáveis pela limpeza da escola – porque
compete a elas todo o processo de recolhimento do material dos equipamentos da coleta
seletiva na escola, participaram de uma oficina de formação. Através desta aprenderam sobre
coleta seletiva e a importância do processo de reciclagem para a preservação ambiental. Nesta
ocasião, observou-se que a participação e atuação de todos eram fundamentais para o sucesso
do projeto na Escola.
Os desafios são inúmeros, e no início de cada ano letivo, na jornada pedagógica o
projeto é revisado, com novos encaminhamentos para garantir a sua continuidade. Apresenta
períodos de oscilação, mas não há declínio. O Projeto se mantém no espaço escolar, pois já
faz parte da rotina da Escola. Em alguns momentos imagina-se que todos esqueceram como
funciona o projeto, com o acréscimo daqueles alunos recém-chegados à escola, que não
conhecem o projeto e não estão familiarizados com esse tipo de ação, além de professores e
funcionários novatos que não tem à prática de trabalhar com projetos. Nesses momentos de
declínio basta a gestão estar atenta para recuperar tudo que foi construído.
4.2 A Prática da Educação Ambiental no Espaço Urbano: Outras Ações da Escola
Além do projeto da coleta seletiva, que é uma das principais ações desenvolvidas pela
escola na prática da educação ambiental e que motivou essa pesquisa, a escola também
encaminha outros projetos significativos de educação ambiental, desde 2009, quando a escola
decidiu trabalhar com pedagogia de projetos impulsionados pela gestão.
Assim, outros projetos foram sendo retomados e novos foram sendo inseridos ao longo
do processo do projeto da coleta seletiva, e em decorrência da ação da Com-Vida existente na
escola. Um dos projetos que foi retomado por já estar inserido no PPP foi o projeto da horta.
Era uma ação antiga que estava sendo desenvolvida apenas pelos alunos do EJA noturno e
passou a ser inserido no planejamento anual, fazendo parte das atividades de todas as turmas
93
em todos os turnos; ou seja, o projeto da horta passou a ser uma ação de toda a comunidade
escolar.
O projeto da horta, similar ao da coleta seletiva, também em sua metodologia tinha
uma série de oficinas e principalmente atividades práticas, onde crianças, jovens e adultos,
num sistema de revezamento, frequentavam o espaço físico da horta para aulas práticas. Em
sala aprendiam os conteúdos sistematizados relativos ao projeto nas diferentes disciplinas, de
forma interdisciplinar, e vivenciavam esses saberes nas aulas de campo. As atividades
desenvolvidas compreendiam desde o cultivo das sementes, o preparo do solo, o plantio, os
tratos culturais, a fase da colheita e o preparo da merenda escolar.
Tudo que era colhido na horta enriquecia a merenda escolar, as crianças aprendiam
sobre reeducação alimentar, economia alimentar, reaproveitamento de alimentos e vida
saudável. Os pais e toda a comunidade eram envolvidos nas ações do projeto que resultavam
em uma culminância bimestral. Parte dos recursos para manter o projeto da horta vinha do
Programa Mais Educação, através da atividade Meio Ambiente Horta escolar. Esse programa
do Governo Federal chegou para somar-se ao trabalho que a escola já estava desenvolvendo,
fortalecendo-a com recursos para adquirir materiais e com auxilio transporte e alimentação,
pago aos monitores voluntários do programa para desenvolverem as atividades com os alunos.
Fotografias 14 e 15 - Aula prática na horta e colheita
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
Além das atividades desenvolvidas pelos alunos, os professores também recebiam
capacitação para desenvolverem suas atividades curriculares com os alunos. Durante o
período da jornada pedagógica foi ofertada a oficina sobre noções básicas em Olericultura,
com monitora do programa Mais Educação, para que os docentes pudessem trabalhar melhor
suas atividades práticas no espaço. De acordo com Sorrentino (2001, p. 39),
94
Capacitar em Educação Ambiental o professor do ensino fundamental, assim
como em qualquer outro processo de capacitação, significa antes de mais
nada delinear para onde se quer caminhar. A responsabilidade por tais
processos deveria estar nas mãos de diferentes atores sociais, coordenadores
e fomentados pelo Estado em suas diferentes instancias e níveis [...].
A relação proximal com o processo de produção de alimentos possibilitou ao aluno dar
um novo significado ao ato de consumir, posto que antes não existia nenhuma relação ou
vivência. Pelo fato de morar na cidade, apenas limitava-se a um mero consumidor e, portanto,
nem sempre valorizava ou dava importância ao que consumia. Depois do projeto da horta teve
um novo sentido.
Fotografia 16 e 17 - Formação de professores na horta
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
Outra ação de educação ambiental desenvolvida na escola foi a instalação do sistema
de captação e reaproveitamento de água da chuva, implantado no período da reforma da
escola em 2009. O sistema foi solicitado pela gestão da escola e deveria ser uma cisterna,
onde a água coletada seria distribuída em todas as torneiras da escola, o que não foi possível
em decorrência da rede física da SEDUC não encaminhar esse tipo de projeto nas escolas
públicas. Assim, optou-se por um sistema simples de pressão d’água, onde se aproveitaram as
calhas instaladas no telhado da quadra de esportes, pela sua altura, para conectá-las a quatro
caixas d’água, cada uma com capacidade de mil litros, ligadas a três torneiras em pontos
estratégicos na escola.
A água coletada não é potável, porém é utilizada para a limpeza diária da escola,
irrigação do jardim e da horta, gerando economia para o poder público e garantindo a
sustentabilidade de um recurso natural não renovável e cada vez mais ameaçado. O clima da
região norte possui um índice pluviométrico favorável a projetos de reaproveitamento de água
da chuva; porém, segundo levantamento bibliográfico feito, não há registros em escolas
95
públicas da região norte que desenvolvam esse tipo de projeto. A Escola “Dr. Carlos
Guimarães” é pioneira nesse tipo de coleta; é uma ação inovadora da escola, que gera
economia no gasto mensal com a conta de água, desonerando os cofres públicos e
contribuindo com o desenvolvimento econômico sustentável.
Isso é desenvolvimento sustentável na prática, visualizado em apenas uma ação da
escola. Quando somada às demais ações, é possível perceber que, quando se fala em
economia e sustentabilidade, não é algo dissociável, fora da realidade ou impossível de se
realizar. Apenas é necessário que tenhamos boas práticas de forma continuada nos espaços de
significância e representatividade social como as escolas.
Fotografias 18 e 19 - Sistema de Captação Pluvial(Telhado Quadra de Esportes)
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
A escola diariamente convive com a prática da educação ambiental, onde a coleta
seletiva é diária, a limpeza, irrigação da horta e do jardim é sempre com água da chuva e
sempre tem atividade na horta. Além dessas ações, que funcionam sistematicamente e
simultaneamente durante todo o ano letivo, a escola também faz campanhas de economia de
energia e de água nos banheiros, cujas torneiras são econômicas e sempre existe uma atenção
para casos de vazamentos, que são logo reparados. A soma dessas ações fez com que a escola
fosse reconhecida como uma escola sustentável. De acordo com Loureiro (2012, p.75), “[...]
criar e fomentar processos pelos quais a sustentabilidade, enquanto premissa geral, seja
incorporada e assumida pela educação; e a educação seja sempre uma prioridade para as
estratégias de promoção da sustentabilidade[...].”
Entretanto, é bom ressaltar que as atitudes vivenciadas na escola pela preservação
ambiental pode não significar necessariamente que houve uma mudança de comportamento
dos sujeitos. Na escola o aluno pode ter uma atitude de responsabilidade para com o meio
ambiente, em decorrência do projeto, e, no entanto, na sua casa, nem sempre isso se refletir,
96
porque é necessário que haja consciência de todos para mudar de atitude. De acordo com
Carvalho (2004, p. 177),
As ações humanas são multideterminadas, e há muitos fatores em jogo na
relação entre atitude e comportamentos. Determinada pessoa pode cultivar
uma atitude ecológica, mas, por vários motivos, seguir mantendo hábitos e
comportamentos nem sempre em conformidade com esses ideais.
Destaca-se nessa pesquisa de campo que o ganho pessoal adquirido com o Projeto
coleta seletiva foi significativo. De fato, ocorreram mudanças de comportamento em muitos
sujeitos, transformando-os em sujeitos ecológicos. Esse tem sido o grande desafio da EA: ir
além da aprendizagem comportamental.
4.3 O Projeto para Além dos Muros da Escola Carlos Guimarães: Inserção do Projeto
na Área Urbana de Belém
A pesquisa de campo foi realizada no mês de outubro de 2014, com a aplicação de 30
questionários, distribuídos entre professores, técnicos, demais servidores e moradores do
entorno da escola. Utilizou-se como critério, que seriam pesquisados apenas os servidores que
faziam parte do quadro funcional da escola no período de implantação do projeto da coleta
seletiva. O mesmo critério não foi aplicado aos moradores da comunidade.
A pesquisa é um estudo de caso, de acordo com Ludke e André (1986), vai estudar um
único caso. Devendo ser aplicado quando o pesquisador tiver o interesse em pesquisar uma
situação singular, particular.
O raciocínio que orienta a pesquisa é indutivo e os dados serão analisados com base na
abordagem qualitativa. De acordo com Rauen (2006), a indução naturalística fundamenta a
maioria das pesquisas qualitativas, não há interesse em generalizar os dados obtidos no
estudo, mas em aprofundar as nuanças, buscando descrever mais profundamente a
constituição intrínseca daquilo que está pesquisando.
De acordo com o resultado da pesquisa, todos os moradores da comunidade utilizavam
o Ponto de Entrega Voluntária (PEV) para coleta seletiva, instalado na quadra K, em frente à
Escola “Dr. Carlos Guimarães”. Alguns depositavam seu material uma vez na semana e os
demais a cada quinze dias. Os moradores não tiveram dificuldade de aprender que tipo de
material deveria ser depositado no ponto, pois já sabiam o que é coleta seletiva antes do
projeto ser implantado. Na sequência, imagens do PEV na quadra K.
97
Fotografias 20 e 21 - Ponto de Entrega Voluntária (PEV), caminhão da cooperativa retirando material
Fonte: Arquivo da Autora.
No decorrer das entrevistas com os moradores da comunidade do entorno da Escola,
muitos responderam de forma positiva quando perguntados sobre o PEV. Para eles foi muito
importante para a comunidade, porque promoveu a educação ambiental e ajudou-os no
processo de mudança de hábitos e da responsabilidade com a questão ambiental.
Trecho das respostas de dois moradores pesquisados: “Boa, porque aprendi a
selecionar o lixo, ficou bem prático, deixei de misturar”; “Proporcionando a educação
ambiental com a destinação correta do lixo produzido pela comunidade”.
Também afirmaram que o projeto da coleta seletiva é uma ação da gestão da escola;
que o projeto foi positivo para a comunidade no entorno porque, a partir dessa ação, os
moradores solucionaram o problema do descarte do lixo e aprenderam a fazer a separação
correta em suas casas, tomando consciência com relação ao problema. Pensamento similar ao
que ocorreu entre os servidores e docentes da escola, que também mudaram de atitude após as
ações do projeto na escola.
Trecho da resposta de uma moradora: “[...] dessa forma desafoga o lixão do Aurá,
facilitando o trabalho do que reciclam”.
Percebe-se o grau de consciência do problema do lixo no espaço urbano e da
necessidade urgente da implantação da PNRS no município de Belém. Para a moradora acima
mencionada, o lixão da cidade não tem mais capacidade de receber material, um fato já
comprovado. E há, acima de tudo, a visão da responsabilidade para com a camada da
população que vem, historicamente, contribuindo com o processo de reciclagem, que são os
catadores anônimos e as cooperativas de catadores. No caso da escola, o material era coletado
no início pelo caminhão da PMB, depois através da parceria da ONG “No olhar” com a
COOTPA e, por último, pela ACCSB.
De acordo com o exemplo colocado por Chassot (2003, p.137),
98
Aquele aluno que, por ter discutido estas questões na escola, souber propor
na sua casa um processo de seleção do lixo que redundar na facilitação do
trabalho das catadoras, não apenas para que estas consigam material limpo e
organizado, mas que corram menos riscos, quando manuseiam os nossos
rejeitos[..].
Na sequência, três moradores pesquisados ressaltaram: “Trouxe uma nova forma de
como descartar o lixo doméstico”; “Com certeza, muita gente se conscientizou, muita gente
colaborou, foi produtivo” e “[...] fazia uma mistura toda e agora já tinha onde colocar, não
queimava mais. Comecei a separar depois que o posto foi colocado”.
Diante dessas afirmações, fica evidente que para muitos o problema do lixo pode ser
solucionado com a participação, criando-se um consciente coletivo, onde juntos assumam o
compromisso de mudança e de responsabilidade para com o meio ambiente e com sua própria
vida através de suas ações cotidianas. Para tanto, basta que alguém tome uma atitude ou de o
primeiro passo para que a mudança aconteça. As pessoas querem e sabem que é preciso
contribuir com a preservação ambiental; o que elas precisam é de estimulo para que isso
ocorra. Ninguém gosta de viver cercado de dejetos, mesmo que sejam produzidos por si
próprios; a grande maioria gosta de ambientes harmônicos e saudáveis.
Para a comunidade da quadra K, a gestão da escola implantou o projeto da coleta
seletiva tanto na escola, quanto na comunidade, levando informação para os moradores
através de palestras, oficinas e cursos.
Trecho da resposta de uma moradora: “Promovendo atividades teóricas e práticas, e
os alunos com objetivo de ensiná-los a coletar o lixo seletivamente”; e “Através da ação da
escola aprendemos a separar o nosso lixo. Com a saída do equipamento ficou ruim, ficou
abandonado [...]”.
Ficando claro, nos depoimentos acima citados, que o equipamento foi retirado do
local em junho de 2014, e a comunidade desconhece a razão. Ou seja, o projeto da coleta
seletiva não funciona mais para a comunidade, o que é um fato lamentável.
Os moradores desconhecem de que forma a gestão da escola conseguiu a parceria com
a ONG “No olhar”. O morador afirmou: “Não sei, pois quando vi a coleta estava instalada e
ela fez uma reunião com a comunidade e ensinou como era para fazer o uso”.
De acordo com a pesquisa, nenhum representante da comunidade externa conhece a
PNRS, ou seja, a população do entorno está sem informação sobre a legislação que é
fundamental para a sociedade, apesar de ser noticiada esporadicamente pela mídia. De um
modo geral, não procuram saber do que se trata, se é importante para suas vidas, em que
99
sentido aquilo lhes afeta direta ou indiretamente, e de que forma a sua participação poderá
contribuir ou não com a implantação da legislação.
Para os moradores, a PNRS não está funcionando na cidade de Belém, e que o projeto
da coleta seletiva desenvolvido na Escola”Dr. Carlos Guimarães” coloca em prática essa
política, sendo uma boa atitude da escola.
A comunidade da quadra K, que antes tinha apenas uma relação de vizinhança com a
escola, a partir do projeto da coleta seletiva, passou a ter uma relação mais próxima, onde os
alunos passaram a serem vistos de modo diferente, por suas atitudes de respeito ao meio
ambiente. É obvio que nem todos os moradores da quadra envolveram-se no projeto porque
não participaram das reuniões ocorridas na escola e nem foram abordados pelas inúmeras
visitas realizadas nas casas desses moradores pelos alunos, por estarem fechadas ou por
ninguém atender. Contudo, para os moradores que atenderam ao chamado da escola para o
projeto, todos participaram ativamente e contribuíram de forma positiva para o êxito do
trabalho da escola, foram nossos parceiros de ação.
Porém, o que nenhum dos entrevistados afirmou foi o fato do equipamento da coleta
seletiva ter sido retirado da quadra em decorrência da cooperativa ter encontrado um animal
morto e inúmeras vezes lixo orgânico depositado indevidamente. Esse episódio lembra o que
ocorreu com o projeto implantado pela Prefeitura de Belém em 2006, quando a coleta seletiva
foi instalada em alguns bairros e que não deu certo, pois a população não estava
conscientizada para utilizar os equipamentos de forma adequada.
Além do trabalho da educação ambiental ser fundamental e permanente, como vem
sendo feito na escola, a população também precisa receber sistematicamente esse tipo de
formação, como está previsto na legislação. As escolas têm essa função social, de formação
para a cidadania, por estarem inseridas nas comunidades e fazerem parte delas. As
contribuições foram de ambas as partes. Quando somamos forças acrescentamos saberes,
contribuímos para o fortalecimento humano e social e, acima de tudo, fortalecemos a
convicção da importância da preservação ambiental como forma de garantia da nossa própria
sobrevivência.
100
4.4 As Percepções da Comunidade sobre o Projeto Coleta Seletiva
A outra fase da pesquisa de campo ocorreu com aplicação dos questionários aos
professores, técnicos e servidores, sendo que os servidores compreendem a equipe do serviço
operacional, o assistente administrativo e a secretária. Ressalte-se que todos os entrevistados
acompanharam a implantação do projeto da coleta seletiva e também foram sujeitos atuantes
nesse processo.
De acordo com os resultados da pesquisa, para esse grupo de representantes da
comunidade escolar foi a partir da participação direta da gestão que o projeto foi implantado
na escola, sendo a mesma responsável pela coordenação e execução do planejamento aplicado
na comunidade escolar através de palestras, cursos e intervenções de forma didática e
democrática. Os trechos das falas a seguir comprovam esta assertiva: “De forma crucial, foi o
principal condutor e articulador do projeto, firmou parcerias, elaborou projetos, conseguiu
financiamento”; “Totalmente, aliás, a gestora foi mentora, coordenadora e, sobretudo,
fomentadora do projeto”; e “Por apresentar o projeto e orientar a comunidade escolar para a
importância da coleta seletiva”.
A forma que a gestão encaminhou para compartilhar a proposta de trabalhar com
projetos em EA, sendo acolhido por sua equipe de trabalho, pelo conselho escolar,
possibilitou que os mesmos participassem ativamente do processo da construção das ações do
projeto, que durou quatro anos na escola (2009-2013), quando foi necessário o afastamento da
gestão para licença aprimoramento. Nesse período, a escola vivenciou o que se denomina
gestão compartilhada na sua essência, visto que os sujeitos apropriaram-se dos conhecimentos
e tomaram para si o compromisso de desenvolverem um trabalho diferenciado, gerando sua
própria autonomia, para depois assumirem juntos um compromisso coletivo e compartilhado.
Dessa forma, todos participaram, contribuíram efetivamente com seus saberes, que foram
muitos, e enriqueceram o currículo escolar, tornando possível a condução do projeto por
quatro anos e levando para além dos muros da escola, como a pesquisa mostra. De acordo
com Luck (2010, p.78),
Aos responsáveis pela gestão escolar compete, portanto, promover a criação
e a sustentação de um ambiente propício à participação plena no processo
social escolar de seus profissionais, bem como de alunos e de seus pais, uma
vez que se entende que é por essa participação que os mesmos desenvolvem
consciência social crítica e sentido de cidadania, condições necessárias para
a gestão escolar democrática e práticas escolares efetivas na promoção da
formação de seus alunos.
101
A aprendizagem repassada através do projeto é utilizada na vida pessoal de todos os
entrevistados, que, depois da implantação do projeto na escola, levaram esse conhecimento
para suas casas, socializaram e sensibilizaram seus familiares, vizinhos e amigos; houve uma
transformação com relação a suas posturas, tornaram-se mais conscientes e principalmente
atuantes com relação ao problema ambiental. Ou seja, todos levaram de forma autônoma o
projeto para sua realidade de mundo, para suas casas, para suas vidas e, acima de tudo,
tornaram-se agentes de transformação social ao multiplicarem os conhecimentos adquiridos.
De acordo com Loureiro (2012, p.80),
O cerne da educação ambiental é a problematização da realidade, de valores,
atitudes e comportamentos em práticas dialógicas. Ou seja, para esta,
conscientizar só cabe no sentido posto por Paulo Freire de
“conscientização”: de processo de mútua aprendizagem pelo diálogo,
reflexão e ação no mundo. Movimentos coletivos de ampliação do
conhecimento das relações que constituem a realidade, de leitura do mundo,
conhecendo-o para transforma-lo, conhecê-lo.
Talvez esse seja um dos maiores legados do projeto, pois quando se constrói a
consciência de forma coletiva e dentro de uma dinâmica, essa ação chega à sociedade para
transformar as relações humanas, antes não vistas e agora devidamente engajadas nesse
contexto social, gerando autonomia dos sujeitos envolvidos. Dessa forma, possibilita uma
cidadania planetária.
Imaginar que antes do projeto esse grupo de pessoas agia como a grande maioria da
população, que descarta seu lixo rotineiramente para ser levado ao lixão da cidade sem a
menor preocupação, não havia um olhar sobre essa ação e sua consequência. A partir do
momento que compreenderam a dinâmica do processo, ficaram sensibilizados à medida que
passaram por uma transformação total no seu modo de ver, pensar e agir. Agora, esse grupo
de pessoas faz parte de um universo ainda restrito, mas que de fato está fazendo a diferença
pela preservação ambiental no espaço escolar e na sociedade, repassando sua aprendizagem
para outros, criando uma escala de amplitude significativa de mudança, configurando-se a
participação no sentido pleno, assumindo seu poder de criar um todo coletivo, configurando-
se nesse cenário um modelo de gestão democrática.
Nessa perspectiva, os sujeitos primeiro construíram sua própria autonomia ao
assumirem para si a questão, e depois, junto com a sociedade, construíram uma nova
identidade através das ações tomadas primeiro individualmente e depois coletivamente,
102
configurando dessa forma a identidade da escola e, como tal, sua autonomia, como afirma
Barroso (2000, p.18),
Não há “autonomia da escola” sem o reconhecimento da “autonomia dos
indivíduos” que a compõem. Ela é, portanto, o resultado da ação concreta
dos indivíduos que a constituem, no uso das suas margens de autonomia
relativa. Não existe uma “autonomia” da escola em abstracto, fora da acção
autônoma organizada dos seus membros.
De acordo com a afirmação dos docentes, quando questionado sobre de que forma o
projeto influenciou sua vida pessoal, responderam: “[...] trabalho também na minha quadra, na
minha igreja, sempre envolvendo ações que melhorem o meio em que estamos”; “[...] acredito
que foi um dos melhores ganhos como pessoa [...]”; e “Efetuando essa coleta em casa,
conscientizando parentes, amigos, vizinhos etc”.
Com relação ao conhecimento conceitual, a comunidade escolar sabe o que é coleta
seletiva. Alguns aprenderam na escola através do projeto e outros através da mídia.
A maioria dos pesquisados sabe que a PNRS é sobre a implantação de aterros
sanitários em substituição dos lixões existentes nas cidades, e da prática da coleta seletiva; e
que essa política já existe em alguns Estados. Alguns aprenderam na escola, através do
projeto.
Para os pesquisados tanto na escola quanto na comunidade, a PNRS não está
funcionando na cidade de Belém e o projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola “Dr.
Carlos Guimarães” coloca em prática essa política, sendo uma boa atitude da escola. De
acordo com a afirmação dos técnicos: “Sem dúvida, a experiência vivenciada da coleta
seletiva transpôs os muros da escola” e “[...] incentivando a pratica da reciclagem e adotando
práticas sustentáveis”.
Também de acordo com depoimento de um docente pesquisado: “[...] pois a coleta
seletiva na escola contribui para influenciar no modo de vida de uma nova geração. Compete
ao Estado e município garantir a estruturação do restante do projeto para o problema
relacionado ao lixo”.
O grupo dos servidores entrevistados na pesquisa faz parte do quadro operacional da
escola, formado por serventes; responsáveis pela limpeza da escola, ou por servidores que
trabalham diretamente com os alunos dando suporte nas diversas atividades na escola, e os
assistentes administrativos, que trabalham na secretaria da escola. Esses servidores afirmaram
que antes da Escola “Dr. Carlos Guimarães” nunca tinham trabalhado com projetos de EA,
nem com a coleta seletiva. Os servidores afirmaram que receberam formação específica para
103
trabalharem com o projeto da coleta seletiva da escola através de palestras sobre EA, cursos e
oficinas com materiais recicláveis. Para eles, o projeto contribuiu de forma positiva para o
aprendizado dos alunos e reconhecem que o trabalho que eles desempenham é essencial para
a continuidade do projeto na escola. Os servidores não tiveram dificuldade de trabalhar com o
projeto.
Para os técnicos da escola que fizeram parte desde o início da implantação do projeto,
a experiência de trabalhar com projetos de EA, em específico sobre a problemática do lixo,
acabou trazendo novos conhecimentos para os alunos. Pois os conteúdos foram inseridos no
currículo escolar, através do seu Projeto Político Pedagógico, conduzindo a uma prática
reflexiva sobre as questões ambientais. Para os técnicos, a parceria com a ONG “No olhar” foi
possibilitada através da SEDUC em decorrência do trabalho já desenvolvido pela escola e da
sua ampla divulgação na mídia, e através do contato direto da gestão da escola com a direção
da ONG.
Já a instalação do PEV na comunidade, segundo os técnicos, contou com a
participação direta da gestão da escola, que coordenou a ação. Foi uma decisão exclusiva da
gestão da escola com a direção da ONG; o processo ocorreu com a divisão de
responsabilidades, onde a escola ficou incumbida pela limpeza do espaço e pela construção de
uma estrutura física para receber o equipamento que seria fixado nela. A gestão sensibilizou
alguns dos servidores e professores que contribuíram doando cimento e até mesmo a mão de
obra.
Na semana seguinte aconteceu um mutirão de limpeza da área em torno do
equipamento, com plantio de mudas ornamentais regionais, com a participação de toda a
comunidade escolar e do entorno. Depois o equipamento foi instalado, dando início ao projeto
que beneficiou socialmente a comunidade em geral, de acordo com a afirmação: “Através da
iniciativa, pois o projeto da escola ‘extrapolou’ o muro chegando à comunidade, e para tal
faz-se necessário a infraestrutura” - trecho da resposta de um docente. Na sequência imagem
do mutirão de limpeza e da inauguração do PEV.
104
Fotografia 22 - Mutirão de limpeza e inauguração do PEV, Quadra K, Conjunto COHAB, Belém/PA
Fonte: Acervo da escola - Pablo Muffarej.
O projeto influenciou na mudança de atitude dos alunos com relação ao lixo que é
produzido tanto na escola, quanto em suas casas e por extensão na sociedade. Segundo os
técnicos, criou-se uma consciência crítica com relação não somente ao problema do lixo, mas
também no que diz respeito ao meio ambiente, construindo dessa forma uma consciência
cidadã de responsabilidade ambiental. De acordo com depoimentos dos técnicos: “Foram
tantos os exemplos vivenciados pela comunidade escolar, onde houve depoimento de aluno
para não destruir a natureza mediante o corte de uma árvore”; “Percebemos dentro da escola
uma mudança de atitude da criança em relação ao lixo produzido na escola, ou seja, ele passa
a informação em casa” e “[...] isso possibilitou uma consciência crítica às questões
ambientais, adotando práticas sustentáveis”.
A principal dificuldade encontrada pelos técnicos para implantação do projeto da
coleta seletiva foi a falta de compromisso de algumas pessoas na execução; porém, isto não
inviabilizou que as ações ocorressem. No início, houve um pouco de resistência de alguns
servidores da escola, ainda habituados com práticas arcaicas de educação, e mudar hábitos
requer tempo, perseverança e muita paciência. Para Luck (2010, p.76),
O processo de resistência a mudanças, mesmo as desejadas, constitui-se em
uma expressão comum em qualquer contexto social. Determinação,
competência e perseverança são condições fundamentais para a promoção de
mudanças, associadas a uma grande sensibilidade às expressões
comportamentais e seu significado.
De acordo com os docentes, a experiência de trabalhar com projetos de educação
ambiental contribuiu para o processo de aprendizagem de seus alunos, proporcionando novos
saberes, vistos de forma crítica. Uma aprendizagem de forma prática, porque foi
105
proporcionada através das inúmeras oficinas do projeto; lúdica, através dos momentos das
culminâncias envolvendo dramatizações e brincadeiras e, portanto, prazerosa. Dessa forma,
possibilitando tanto a multidisciplinaridade quanto a interdisciplinaridade. De acordo com
depoimento de dois docentes: “Os alunos têm a possibilidade de refletirem de maneira crítica
sobre sua ação e responsabilidade com o meio em que vivemos. E esses projetos facilitam sua
aprendizagem por permitirem a prática, vivência real, dos conteúdos trabalhados”; e
“Possibilitar aos alunos uma experiência prática das abordagens teóricas discutidas em sala
sobre temas, e assim garantir que os educandos entendam que são atores sociais de
intervenção sobre o meio ambiente e suas consequências”.
Os professores não tiveram dificuldade de utilizar os conteúdos curriculares do projeto
de forma transversal com seus alunos. Afirmaram que, ao contrário, conseguiram trabalhar em
todas as disciplinas, e a partir da própria vivência do aluno, de forma contextualizada. Para
Barbieri (2011, p.80)
[...] a integração da EA às disciplinas de modo transversal, contínuo e
permanente de acordo com os PCN e as Diretrizes Curriculares Nacionais
como procedimento essencial para as propostas pedagógicas da educação
básica [...].
Profissionalmente, trabalhar com projetos de EA contribuiu de forma positiva para os
docentes, inovando a sua forma de educar, enriquecendo-os e levando-os a buscar novas
estratégias de ensino que valorizam suas ações. Na opinião dos docentes: “Trabalhar os
projetos em si já nos enriquece pela possibilidade de sequenciar as nossas ações e torná-las
experiências significativas”.
De acordo com Sorrentino (2001), os PCNs devem ser utilizados como filosofia,
fundamentando a própria prática de capacitação dos profissionais do ensino para sua atuação
no cotidiano escolar. Ainda de acordo com trechos da fala dos docentes pesquisados: “Os
projetos em educação ambiental nos ajudaram a solidificar essas experiências com o trabalho
na horta, a fabricação de papel reciclado, separação do lixo, a capitação de água da chuva,
entre outros”; e “Me enriquece e me anima, para que eu busque cada vez mais novas
estratégias, novas metodologias a serem trabalhadas em sala com diferentes educandos”.
De acordo com afirmação de Luck (2010, p.22),
A gestão participativa se assenta, portanto, no entendimento de que o alcance
dos objetivos educacionais, em seu sentido amplo, depende da canalização e
do emprego adequado da energia dinâmica das relações interpessoais
ocorrentes no contexto de sistemas de ensino e escolas, em torno de
106
objetivos educacionais, concebidos e assumidos por seus membros, de modo
a constituir um empenho coletivo em torno de sua realização.
A metodologia de trabalhar nos espaços de integração, como a horta, possibilita ao
aluno: a) a participação ativa no processo, como construtor do seu conhecimento; b) permite
inferências no processo da aprendizagem, à medida que ele se apropria do saber; c)
correlaciona teoria e prática; d) fortalece os vínculos de afetividade entre os alunos e com o
professor, criando um ambiente harmonioso dentro e fora da sala de aula; e) associa o
conhecimento adquirido com seu dia-a-dia, com sua vida, tornando-se vivencial; f) possibilita
despertar habilidades e demonstrar competências.
Os professores foram questionados sobre de que forma a instalação do equipamento da
coleta seletiva na comunidade contou com a participação da gestão da escola. As respostas
foram diversificadas; porém, evidenciou-se que foi através da articulação e da parceria da
gestão da escola com a ONG, a exemplo do que aconteceu com sua implantação na escola,
exceto pelo fato de que a SEDUC não participou diretamente desse momento com a
comunidade externa.
A comunidade compreendeu a dimensão do projeto Coleta Seletiva como ferramenta
necessária para o processo de empoderamento da comunidade com relação às questões
ambientais, visando construir uma sociedade que possa participar ativamente, dentro da
dinâmica social, contribuindo para o engrandecimento da educação.
A percepção que as mudanças encaminhadas pela gestão foram fundamentais para o
avanço na qualidade do ensino, ao possibilitar abertura ao diálogo e à participação. As
transformações humanas e o ganho pessoal ocorrido com todos que participaram do projeto
deixa evidente que os seres humanos são movidos por estímulos externos e algumas vezes
negligenciam o que é importante para a qualidade do ensino e da vida.
O conhecimento apenas de modo conceitual, sem uma ação prática que estimule novos
saberes, que dialogam e resultam em uma lógica vivencial, menos pragmática e mais realista
com relação à problemática ambiental.
Conduzir a comunidade e cada sujeito a perceberem que cada um tem uma função a
desempenhar nesse cenário de desequilíbrio ambiental, sendo possível contribuir com atitudes
relativamente simples, como separar corretamente o lixo, reaproveitar a água da chuva e
economizar energia. Somente a falta de vontade justifica a ausência de ação.
O projeto coleta seletiva teve muitos desafios, porém a comunidade não desistiu,
somando esforços para garantir sua continuidade. A gestão, através de suas ações, deixa na
107
Escola a marca de um trabalho voltado para a qualidade da educação, através da dedicação e
do compromisso assumido de forma coletiva. Fica evidente que a participação foi essencial e
marcante e, sem a qual, pouco seria feito.
108
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência vivenciada na Escola “Dr. Carlos Guimarães” demonstrou que a prática
da gestão compartilhada e a sustentabilidade são possíveis na escola pública e podem
também, chegar à comunidade. A pesquisa aponta que a transição da Escola para a
sustentabilidade foi proporcionada pela mudança no modelo de gestão que de forma
compartilhada, encaminhou a reestruturação do seu espaço físico, garantindo a acessibilidade,
a gestão eficiente da água e da energia e a destinação correta dos resíduos, além do trabalho
pedagógico voltado para inclusão de saberes e práticas sustentáveis que foram inseridas no
currículo escolar e no PPP da Escola, assim como a sua inserção na comunidade no entorno.
O trabalho pedagógico voltado para projetos em educação ambiental têm sido referência da
Escola ao longo de quase cinco anos seguidos. Essa decisão foi acatada pela comunidade, que
debateu as diversas formas de como implementar as ações para atender a todos os alunos e,
principalmente, garantir que os projetos desenvolvidos fossem relevantes para a Escola como
um todo.
A inserção da EA no currículo escolar, alavancou a estrutura do trabalho pedagógico
desenvolvido pela escola. Os projetos possibilitaram novos saberes, através de práticas
vivenciadas na rotina da escola, que foram sendo incorporadas na vida dos alunos e dos
servidores da escola. A aprendizagem vivencial através de projeto é extremamente
significante no fortalecimento do processo ensino aprendizagem, nisso consiste o valor
pedagógico da experiência vivida pela escola.
Observou-se, nos resultados obtidos na pesquisa de campo, que a gestão fomentou em
parceria com a comunidade escolar e do entorno o desenvolvimento das atividades do projeto
da coleta seletiva, fornecendo orientações e buscando a interação da escola com a
comunidade, através das diversas oficinas temáticas que foram desenvolvidas ao longo da sua
implantação. Buscou identificar entre os pares o potencial a ser investido, criando novas
possibilidades para o trabalho. E fortaleceu a troca de saberes entre a comunidade, rompendo
as diferenças e dificuldades.
A efetiva participação da comunidade no modelo de gestão participativa que foi
aplicado, pode ser evidenciada através das ações do Conselho Escolar, com uma
representação significativa das diversas categorias da comunidade escolar, possibilitando o
andamento dos projetos, sendo, portanto, um Conselho atuante. A participação da comunidade
109
via Conselho Escola também foi um diferencial no trabalho desenvolvido na Escola “Dr.
Carlos Guimarães”, garantindo uma gestão bem sucedida.
O gestor desse século deve gerir para a escola que se configura hoje, que vivencia uma
realidade social, política e econômica bem diferente do passado, adequando-se à nova
realidade. Não com o sentido de modernidade ou modernismo, mas sim com o intuito de gerir
para gerações de crianças e jovens que serão os futuros adultos e, possivelmente, os
responsáveis pelas transformações da sociedade.
Gerir uma escola requer algo além do conhecimento técnico. É necessário o
conhecimento de mundo, das relações em sociedade, como lidar com essas interfaces no
contexto escolar, como liderar grupos tão heterogêneos sem perder o objetivo maior, que é o
de proporcionar educação pública de qualidade e para todos.
A mudança de paradigma de diretor para gestor que ocorreu na Escola “Dr. Carlos
Guimarães” foi a mola propulsora para as inovações que ocorreram no processo educacional e
no modo de perceber e ver as questões ambientais, indo além das expectativas criadas pela
comunidade. Possibilitar ao educando e toda comunidade uma nova forma de condução do
ensino na esfera pública, com a criação de espaços de discussão e diálogo, absorvendo as
contribuições vindas de acordo com as habilidades e competências pertinentes de cada um,
conduzindo a participação individual e coletiva, garantindo dessa forma a autonomia
necessária para democratização do espaço.
A inserção dos projetos interdisciplinares com o foco na EA, inserida no PPP da
Escola e, portanto, no seu currículo de forma transversal, levou o ensino a um patamar de
qualidade no processo educativo. Os projetos foram desenvolvidos de forma continuada e não
pontual como ocorre na maioria das escolas, garantindo a responsabilidade socioambiental.
A fundamental e urgente reforma da estrutura física foi garantida e preservada pela
comunidade, que reconheceu o valor e a grandeza do respeito lhe que foi dado, reconhecendo
também que foi garantido o direito de cada cidadão ter um espaço digno para aprendizagem,
resultando na elevação do IDEB. Porém, o referido índice não é capaz de mensurar o ganho
pessoal que foi possibilitado e as transformações processadas ao longo do período da
implantação das ações dos projetos.
A experiência adquirida através da efetiva prática da educação ambiental, por meio da
coleta seletiva, da horta, do reaproveitamento da água da chuva, do paisagismo e da economia
de luz, que foram realizadas paralelamente ao longo do ano letivo, constituindo a rotina da
escola e incorporadas à comunidade e à vida das pessoas, tornou a comunidade escolar e os
110
moradores do entorno da Escola multiplicadores desses saberes adquiridos, consolidando
assim a essência da EA.
Os participantes da pesquisa se posicionaram com relação à prática da gestão e sua
relação com os projetos de EA, implantados na escola e na comunidade no entorno. Todos os
pesquisados, afirmaram que sabem o que é coleta seletiva, sendo que alguns aprenderam na
escola através das ações do projeto e outros aprenderam através da mídia. Os moradores da
comunidade disseram que não tiveram dificuldade em utilizar o PEV instalado na quadra K,
consideram o equipamento importante porque promove a EA na comunidade e auxilia na
mudança de hábitos dos moradores da quadra, solucionando o problema do descarte do lixo.
Desconhecem de que forma a gestão da escola conseguiu a parceria com a ONG “No olhar”, e
não conhecem a PNRS. Porém, mesmo desconhecendo essa política, afirmaram que a referida
não está funcionando na cidade de Belém, e que foi o projeto da Coleta Seletiva da Escola
colocou em prática essa política.
Os servidores pesquisados na escola afirmaram conhecer a PNRS e alguns explicaram
que essa política é sobre a implantação de aterros sanitários, mas também alegam que a
política não está funcionando no município de Belém. Os servidores de apoio operacional
pesquisados não tinham experiência anterior com projetos de EA e receberam treinamento na
Escola, através de palestras, cursos e oficinas. Afirmam que o projeto contribuiu de forma
positiva para a aprendizagem dos alunos e reconhecem que o trabalho que eles desempenham
é fundamental para a continuidade do projeto. Tanto para equipe técnica como para os
docentes, a experiência de trabalhar com projetos de EA trouxe novos conhecimentos acerca
dos problemas ambientais aos alunos, influenciando de forma positiva na atitude deles,
construindo uma consciência crítica acerca da responsabilidade que todos têm para a
preservação ambiental, através de ações práticas.
O projeto da coleta seletiva na Escola “Dr. Carlos Guimarães” tornou-se um caminho
a ser seguido como propulsão para as práticas ambientais no espaço escolar e, através dessa
ação, a escola criou possibilidades de inserir-se na comunidade do entorno, dando novo
significado a função social da escola, que é o de conduzir a sociedade na construção de uma
visão participativa dentro da dinâmica dos problemas socioambientais.
A Escola e a comunidade passaram por mudanças significativas no modo de agir e na
relação de reciprocidade com a sociedade, marcando sua função na transformação do espaço,
através das proposições encaminhadas e, principalmente, pela liberdade de ação
proporcionada. Os resultados da pesquisa apontam que a ação do projeto da Escola contribuiu
111
para o esclarecimento acerca dos problemas ambientais, levando o conhecimento de forma
prática da EA, bem como subsidiou a implantação da PNRS no município de Belém.
A grandeza desse grupo de pessoas que se uniram por um ideal comum, o da melhoria
da educação, fez a diferença no momento de colher os resultados positivos alcançados por seu
trabalho e compartilhado por todos que fizeram parte dessa história de sucesso na educação
pública do Pará.
112
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117
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS TÉCNICOS
Prezado (a) Técnico, essa entrevista faz parte de uma pesquisa desenvolvida por uma
aluna do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e meio Ambiente Urbano e tem como
objetivo verificar qual a importância do projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola
Carlos Guimarães para o processo de ensino-aprendizagem.
01) De que forma a experiência de trabalhar com projetos de Educação Ambiental sobre a
problemática do lixo, contribuiu para o processo da aprendizagem dos alunos desta
Escola?
02) De que forma o gestor (direção) participou no processo de implantação do projeto coleta
seletiva na Escola?
03) Você sabe dizer de que forma o gestor conseguiu a parceria com a ONG Noolhar?
04) De que forma a instalação do equipamento da coleta seletiva na comunidade contou com
a participação do gestor (direção)?
05) Você utiliza na sua vida pessoal à aprendizagem que foi repassada através do projeto da
coleta seletiva da Escola?Como?
06) Na sua opinião, quais atitudes dos alunos revelam a influência do Projeto da Coleta
Seletiva na consciência cidadã?
07) Qual o seu conhecimento sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos?
08) Você saberia informar se a Política Nacional de Resíduos Sólidos já está funcionando na
cidade de Belém?
09) Na sua opinião o projeto da coleta seletiva apresentado na Escola coloca em prática a
Política Nacional de Resíduos Sólidos?
10) Qual a participação do gestor (direção) da escola na parceria com a ONG Noolhar?
11) Qual a importância da parceria da escola com a ONG Noolhar para o projeto coleta
seletiva?
12) Quais foram as dificuldades encontradas na sua atuação profissional, para implantação do
projeto coleta seletiva?
118
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS DOCENTES
Prezado (a) professor (a), o questionário faz parte de uma pesquisa desenvolvida por
uma aluna do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e meio Ambiente Urbano e tem como
objetivo verificar qual a importância do projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola
Carlos Guimarães para o desenvolvimento do trabalho docente e para sua vida.
01) De que forma a experiência de trabalhar com projetos em Educação Ambiental
contribuiu para o processo da aprendizagem de seus alunos?
02) Você encontrou dificuldades para utilizar os conteúdos curriculares relativos ao projeto
da coleta seletiva de forma transversal com seus alunos? Quais foram essas dificuldades?
03) Em relação à sua vivência profissional, de que forma os projetos de educação ambiental
da escola contribuíram para a sua profissão?
04) Você utiliza na sua vida pessoal à aprendizagem em Educação Ambiental que foi
repassada na Escola?
05) De que forma o gestor (direção) participou no processo de implantação do projeto da
coleta seletiva na Escola?
06) Você sabe dizer de que forma o gestor (direção) conseguiu a parceria com a ONG
Noolhar?
07) De que forma a instalação do equipamento da coleta seletiva na comunidade contou
com a participação do gestor (direção)?
08) Qual o seu conhecimento sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos?
09) Você saberia informar se a Política Nacional de Resíduos Sólidos já está funcionando
na cidade de Belém?
10) Na sua opinião o projeto da coleta seletiva apresentado na Escola coloca em prática a
Política Nacional de Resíduos Sólidos?
11) De que forma o projeto da coleta seletiva contribuiu para a formação da cidadania do
aluno com relação às questões ambientais?
12) Qual a importância da parceria da escola com a ONG Noolhar para o projeto coleta
seletiva?
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APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COMUNIDADE
Prezado(a) senhor(a), o questionário faz parte de uma pesquisa desenvolvida por uma
aluna do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano e tem como
objetivo verificar qual a importância do projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola
Carlos Guimarães em parceria com a ONG Noolhar, para a comunidade do entorno da Escola,
para a sua cidadania, através da instalação do PEV (Posto de Entrega Voluntária) na praça da
quadra K.
01) Você já sabia o que é coleta seletiva antes da instalação do Posto de Entrega Voluntária
(PEV) na Quadra k, próximo da sua casa, em frente da Escola?
Sim ( ) Não ( )
02) Você utiliza esse posto? ( ) sim ( ) não Obs: _________________________
03) Quantas vezes você deposita seu material no posto.
( ) uma vez na semana ( ) todo dia ( ) a cada 15 dias Outros_____________
04) Você teve dificuldade de aprender que tipo de material deve ser depositado no posto?
( ) sim ( ) não
05) Qual a importância do Posto de Entrega Voluntária para a comunidade?
06) Qual o seu conhecimento sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos?
07) Você saberia informar se a Política Nacional de Resíduos Sólidos já está funcionando
na cidade de Belém?
08) Na sua opinião o projeto da coleta seletiva apresentado na Escola coloca em prática a
Política Nacional de Resíduos Sólidos?
09) A comunidade acha que o projeto da coleta seletiva da Escola é uma atitude da direção
da Escola?
Sim ( ) Não ( )
10) O projeto da coleta seletiva foi positivo para a comunidade, por quê?
11) De que forma o diretor da escola participou no processo de implantação do projeto da
coleta seletiva na comunidade?
12) Você sabe dizer de que forma a direção da escola conseguiu a parceria com a ONG No
olhar que instalou o posto de coleta seletiva na quadra K?
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APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS SERVIDORES
Prezado(a) servidor(a), o questionário faz parte de uma pesquisa desenvolvida por
uma aluna do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano e tem como
objetivo verificar qual a importância do projeto da coleta seletiva desenvolvido na Escola
Carlos Guimarães, de que forma contribuiu com o desenvolvimento do trabalho da Escola e
como se refletiu na sua vida.
01) Você já tinha experiência de trabalhar em outra escola que desenvolve projetos de
Educação Ambiental e com a coleta seletiva?
( ) sim ( ) Não
02) Você já sabia o que é coleta seletiva antes do projeto ser desenvolvido na escola?
( ) sim ( ) Não __________________________________________________________
03) Você recebeu alguma formação ou curso preparatório para trabalhar com o projeto da
coleta seletiva na Escola? Como foi essa formação?
( ) sim ( ) Não ________________________________________________________
04) De que forma o projeto da coleta seletiva contribuiu para a aprendizagem dos alunos:
( ) positiva ( ) negativa ( ) não contribuiu
05) Você tem consciência que o seu trabalho é essencial para a continuidade do projeto
coleta seletiva da Escola?
( ) sim ( ) Não
06) Como o gestor (direção) foi responsável pela introdução do projeto da coleta seletiva na
Escola?
07) Você encontrou dificuldades para trabalhar com o projeto da coleta seletiva? Se sim,
quais foram as dificuldades?
( ) sim ( ) Não _________________________________________________________
08) De que forma você utiliza na sua vida pessoal à aprendizagem que foi passada pelo
projeto da coleta seletiva da Escola?
09) Qual o seu conhecimento sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos?
10) Você saberia informar se a Política Nacional de Resíduos Sólidos já está funcionando na
cidade de Belém?
11) Na sua opinião o projeto da coleta seletiva apresentado na Escola coloca em prática a
Política Nacional de Resíduos Sólidos.