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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO CURSO DE PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO SUPERIOR SÃO PAULO 2012

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO

CURSO DE PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO

SUPERIOR

SÃO PAULO

2012

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SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO

CURSO DE PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO

SUPERIOR

Dissertação apresentada como exigência para a obtenção do título de Mestre em Educação, junto à Universidade Cidade de São Paulo – UNICID sob a orientação da Profª. Drª. Ecleide Cunico Furlanetto.

SÃO PAULO

2012

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Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

B322d

Bassotto, Simone Aparecida Silva Angelo.

Os desafios enfrentados pelos alunos do curso de pedagogia para inserção no ensino superior. / Simone Aparecida Silva Angelo Bassotto. --- São Paulo, 2012.

141 p.; anexos.

Bibliografia

Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientadora: Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.

1. Ensino superior. 2. Curso de pedagogia. 3. Formação docente. 4. Aprendizagem de adultos. I. orient. II. Título.

CDD 378

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SIMONE APARECIDA SILVA ANGELO BASSOTTO

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ALUNOS DO CURSO DE

PEDAGOGIA PARA INSERÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para a obtenção do título de Mestre.

Área de concentração:

Data da defesa:

Resultado:_________________________________________

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto ______________________________ Universidade Cidade de São Paulo

Prof. Dr. Jair Militão da Silva ______________________________ Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Marília Claret Geraes Duran ______________________________ Universidade Metodista de São Paulo

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu querido esposo Daniel, que sempre me

apóia nos momentos em que a vida exige mais de mim, me incentivando

a caminhar com mais intensidade ao invés de desistir.

Ao meu filho Natanael Isaac que sempre me espera com um sorriso, o

que me dá forças para continuar depois das batalhas e dos

enfrentamentos diários, que enquanto eu estudo pega seus livros de

literatura infantil, e fica à minha volta lendo e brincando.

À minha querida mãe Jaci, que com seu amor e dedicação me

acompanha com alegria, e que sempre profere palavras de ânimo e de

conquistas.

Aos que amam a vida e fizeram a escolha de percorrer o caminho da

busca pelo conhecimento.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que ele é e me faz ser na vida!

Agradeço à professora Dra. Ecleide Cunico Furlanetto, pelo acolhimento

com que fui recebida no primeiro dia que entrei em sua sala, à procura

de informações sobre um livro seu; pelas orientações que me

conduziram aos caminhos desta pesquisa; por ter, sempre, palavras que

respeitam e consideram os pensamentos do outro; e pela sabedoria e

excelência com que exerce a docência.

Ao professor Dr. Jair Militão da Silva, com quem eu aprendi que além de

conteúdos, uma aula pode nos trazer alegria no convívio diário com os

colegas; pela pessoa humana que é, pela escuta ativa que tem, pela

sabedoria ao expor seus conhecimentos, e por todas as vezes que me

incentivou a apresentar trabalhos e a realizar publicações, me fazendo

acreditar que eu poderia.

À professora Dra. Marília Claret Geraes Duran, que com sua experiência

profissional, contribuiu com seu olhar sábio, mostrando caminhos que eu

poderia percorrer para aprimorar este trabalho, para mim, seus

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comentários e sugestões vieram como luz no momento necessário,

como ponte sobre as águas.

Aos professores do Programa de Mestrado da UNICID, que partilham

seus conhecimentos e experiências da docência que exercem.

Aos alunos do curso de Pedagogia, que participaram desta pesquisa

expressando suas dificuldades, tristezas, conflitos, alegrias e

realizações.

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“Porque a um, pelo Espírito,

é dada a palavra da sabedoria;

e a outro, pelo mesmo Espírito,

a palavra da ciência;”

1 Coríntios 12:8

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RESUMO

Este estudo teve por objetivo investigar os desafios enfrentados pelos alunos do curso de Pedagogia de duas Universidades da cidade de São Paulo ao ingressarem no Ensino Superior. Para isso estabeleceram-se diálogos com autores que possibilitaram ampliar os conhecimentos acerca dos processos formativos no Ensino Superior. Bauman (2007) trata dos assuntos relativos à velocidade dos acontecimentos que impulsionam os adultos a buscarem formação; Boutinet (1999) investiga desafios da vida adulta e seus enfrentamentos e Silva (2011) fala das novas camadas sociais que estão ingressando no Ensino Superior no Brasil. Autores como Libâneo (2004), Freire (1996) e Pimenta (2005), contribuem para ampliar a compreensão a respeito da formação do Pedagogo. O caminho metodológico pautou-se na abordagem qualitativa (BOGDAN E BIKLEM, 1999). Os sujeitos de pesquisa foram alunos do último semestre do curso de Pedagogia das duas Universidades. A coleta de dados baseou-se na técnica do grupo focal (GATTI, 2005). A análise dos dados foi realizada com base na análise do conteúdo (FRANCO, 2003). Os resultados mostram que os alunos tiveram dificuldades em diversas dimensões ao se inserir no ensino superior: dificuldades externas ao curso; dificuldades familiares e de ordem emocional; dificuldades relacionadas à estrutura física da Universidade; dificuldades com o curso e na relação com os professores; dificuldades com a aquisição de conhecimento teórico; e dificuldades com relacionamento interpessoal. Os resultados de pesquisa apontam para a necessidade dos Cursos de Pedagogia investirem no sentido de compreender e acolher seus alunos, para que eles possam realmente serem inseridos em suas atividades. Palavras-chave: Dificuldades de inserção na Universidade; Formação docente, Aprendizagem de Adultos, Curso de Pedagogia.

ABSTRACT This study aimed to investigate the challenges faced by students of the Pedagogy course at two Universities in São Paulo when joining College. Dialogues were established with authors who disclosed the complexities of higher education processes. . Bauman (2007) deals with matters relating to the speed of events that drive adults to seek training; Boutinet (1999) investigates the challenges of adulthood and its confrontations and Silva (2011) writes about the new social strata that are entering this level of education in Brazil. Authors like Libâneo (2004), Freire (1996) and Pimenta (2005), contribute to broaden understanding about the formation of the pedagogue. The methodology was based on a qualitative approach (BOGDAN E BIKLEM, 1999). The research subjects were students in their last semester of Pedagogy course of the two Universities. Data collection was based on focus group technique (GATTI, 2005). Data analysis was performed based on content analysis (FRANCO, 2003). Results showed that students had difficulties in several dimensions, when entering higher education: the ongoing external difficulties; family and emotional; difficulties related to the physical structure of the university; difficulties with the course and the relationship with teachers; difficulties with the acquisition of theoretical knowledge and difficulties with interpersonal relationships. The research

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findings point to the need of Pedagogy courses invest in order to understand and accept their students so they can really be placed on their activities.

Keywords: Insertion difficulties at the University; Teacher Training, Adult Learning, School of Education.

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Perfil dos alunos- Universidade 1- Grupo focal 1....................................42 Quadro 2 – Perfil dos alunos- Universidade 2- Grupo focal 2....................................43

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Sumário

RESUMO....................................................................................................................09

ABSTRACT................................................................................................................09

INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

1 ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO ACADÊMICA.............................19

1.1 A vida adulta nas sociedades Contemporâneas..................................................19

1.2 Os processos formativos, educação e cultura no Ensino Superior......................21

1.3 A Universidade ....................................................................................................22

1.4 A necessidade de acolhimento............................................................................23

1.5 O adulto e a aprendizagem. ...............................................................................24

1.6 A inserção do aluno na Universidade...................................................................26

2 PEDAGOGIA E PEDAGOGOS – NUANCES DA PROFISSÃO...........................30

2.1 Quanto ao curso de Pedagogia: alguns marcos históricos..................................31

2.2 Estrutura do curso................................................................................................34

2.3 O pedagogo na contemporaneidade....................................................................36

3 OS CAMINHOS DA PESQUISA............................................................................38

3.1 Procedimento de coleta de dados........................................................................38

3.2 Contexto da pesquisa...........................................................................................40

3.3 Sujeitos da pesquisa............................................................................................40

3.4 Como se organizou o trabalho de coleta de dados..............................................41

4 ANÁLISE DE DADOS............................................................................................44

4.1 Dificuldades externas ao curso............................................................................45

4.2 Problemas familiares e de ordem emocional.......................................................48

4.3 Dificuldades com relação à estrutura física da Universidade e internet..............51

4.4 Dificuldades na relação com o professor e o curso.............................................56

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4.5 Dificuldades com o conhecimento teórico............................................................64

4.6 Dificuldades de relacionamento interpessoal.......................................................72

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................82

REFERÊNCIAS..........................................................................................................86

ANEXOS....................................................................................................................90

Anexo A - Quadro para aquecimento do assunto......................................................91

Anexo B - Transcrições Grupo focal 1.......................................................................92

Anexo C - Transcrições Grupo focal 2.....................................................................116

Anexo D - Quadro de dificuldades- Grupo Focal 1..................................................132

Anexo E - Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2..................................................135

Anexo F - Quadro de dificuldades- Grupos Focais 1 e 2.........................................138

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INTRODUÇÃO

Iniciei minha trajetória no ensino superior em 1991 quando cursei Serviço

Social na UNICID. Muitos foram os processos de mudanças, os conflitos, os desafios

que enfrentei, principalmente, no que se refere às novas leituras de mundo que fui

estimulada a fazer e que me obrigaram rever ideias e valores.

Quando entrei na Universidade, senti-me entrando em outro mundo. Os

professores se expressavam de uma maneira diferente da que conhecia falavam a

respeito de assuntos distantes do meu cotidiano. Demorei um tempo para adquirir

um repertório que me permitisse participar das atividades desenvolvidas. Ao terminar

o curso, ingressei no mercado de trabalho atuando como Assistente Social por oito

anos. Com o passar do tempo, senti necessidade de voltar a estudar e procurei o

curso de Pedagogia em 2007, em uma faculdade em Curitiba.

Por causa da minha primeira formação, ganhei uma bolsa de monitoria. As

disciplinas que eram comuns aos cursos de Serviço Social e Pedagogia tiveram

equivalência, nessas disciplinas e também nas que havia concluído no próprio curso

de Pedagogia, pude atuar como monitora. Ao todo, atuei 860 horas em sala de aula

junto aos professores e alunos, e também prestei atendimento aos alunos fora de

sala.

Durante as aulas ministradas pelos professores, auxiliava os alunos em sua

organização e os ajudava na compreensão dos textos trabalhados, individualmente

ou em grupo. Nos horários de atendimento extraclasse, atendia os alunos que

solicitavam auxílio para melhor compreensão das atividades desenvolvidas nas

disciplinas.

Dentre as atribuições que tive, destacam-se o acompanhamento e orientação

aos alunos que apresentavam dificuldades de adaptação nos primeiros períodos do

curso. Tais dificuldades apareciam em diferentes áreas: compreensão e

interpretação de textos científicos, problemas de interação nos grupos de trabalho,

elaboração de trabalhos escritos e apresentações (individuais e em grupo).

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As atividades realizadas foram leitura de textos acadêmicos, discussão em

grupo, resumos, resenhas, análise de artigos científicos, e elaboração de

apresentações referentes aos temas e textos propostos pelas disciplinas e também

conversas a respeito de relações interpessoais.

Percebi que os alunos com os quais trabalhei para se inserir no Curso

Superior, além de serem aprovados na seleção, necessitam se familiarizar com a

linguagem acadêmica, e compreender os desafios impostos pela nova etapa de

vida.

Este trabalho foi muito proveitoso, devido à oportunidade que tive de me

aproximar dos conteúdos das disciplinas, e de práticas pedagógicas diferenciadas.

Além de aperfeiçoar os conhecimentos teóricos, houve a possibilidade de construir e

valorizar relacionamentos interpessoais (professor-aluno-monitoria e Instituição).

Ao voltar para São Paulo, procurei dar continuidade à minha vida profissional

buscando o Mestrado em Educação. Apesar de ter observado o crescimento dos

alunos, algumas questões que emergiram no contexto da monitoria exigiam que eu

buscasse espaços para discuti-las. Entre elas uma se destacou: como os adultos

aprendem?

Cumpre salientar que essa questão torna-se cada vez mais pertinente, ao se

considerar que nas sociedades contemporâneas, aprender constantemente tornou-

se uma necessidade. A vida moderna faz com que o adulto tenha que passar por

processos de reorganização. No mestrado encontrei teóricos que aprofundam essa

temática. Bauman (2007), refere-se à modernidade líquida, e diz que na vida

moderna tudo passa muito rápido, o que hoje é sólido, logo pode não ser, e desta

forma, não dá para fazer previsões para um futuro certo, acabado, pois as incertezas

são constantes.

No enfrentamento das mudanças do cotidiano relacionadas à vida profissional

do adulto, Boutinet (1999) salienta a necessidade da aprendizagem:

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Funções desligadas de uma aprendizagem interminável serão cada vez mais relegadas para a subalternidade, à desclassificação social. Quem deixa de aprender condena-se a ver-se ultrapassado, como quem numa autoestrada se vê força forçado a passar para uma faixa de menor velocidade. Nessa corrida desapiedada não há contemplações para os retardatários, os que desistiram de aprender. (BOUTINET, 1999, p. 07).

Nesse contexto, observa-se a ampliação da demanda pelos cursos

superiores. Os indivíduos percebem que para se situar em um mercado de trabalho

em constante transformação, necessitam de melhor formação e optam pelo caminho

universitário.

Soares (2002) enfatiza que a demanda por Ensino Superior no Brasil tem

aumentado, isso ocorre por conta de vários fatores, são eles: a quase

universalização do ensino fundamental, o aumento das taxas de promoção e

conclusão do ensino médio, e as exigências do mercado de trabalho. O adulto atual

vive em busca de aperfeiçoamentos constantes, almejando melhores condições de

trabalho e de vida. No entanto, observa-se que os alunos que se inserem no Ensino

Superior encontram inúmeras dificuldades que muitas vezes impedem que ele dê

sequência aos seus estudos.

Para realizar a revisão de literatura, investigou-se no banco de Teses da

Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) as

dissertações e teses de 2008 e 2009, utilizando-se dos descritores: aprendizagem

de adultos e inserção no ensino superior.

Em 2008, com o descritor aprendizagem de adultos, foram encontradas

setenta e oito (78) dissertações, quanto às teses de doutorado, foram localizadas

vinte e duas (22), excetuando uma dissertação de mestrado, todas as outras se

referiam à EJA (Educação de jovens e adultos); em 2009, encontrou-se noventa e

quatro (94) dissertações de mestrado e vinte e sete (27) teses de doutorado,

nenhuma delas abordava a aprendizagem de adultos no Ensino Superior.

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Quanto ao descritor inserção no ensino superior, em 2008 foram encontradas

trinta (30) dissertações de mestrado, e doze (12) teses de doutorado; em 2009 foram

encontradas cinquenta e duas (52) dissertações de mestrado e dezesseis (16) teses

de doutorado, mas nenhum desses trabalhos estava relacionado à temática desta

investigação. Esses dados serviram como incentivo para a realização desta

pesquisa, na medida em que verificou-se que a temática da aprendizagem dos

adultos necessita ser melhor compreendida nas sociedades contemporâneas.

Nessa perspectiva, delineou-se o tema de pesquisa: Os desafios enfrentados

pelos alunos do curso de Pedagogia nos períodos de inserção no Ensino Superior. A

pesquisa assume como objetivo geral:

• Investigar os desafios enfrentados pelos alunos do curso de Pedagogia

de duas Universidades da cidade de São Paulo ao ingressarem no

Ensino Superior.

e como objetivos específicos:

• Estabelecer diálogos teóricos com autores que investigam a

aprendizagem de adultos e a profissão do pedagogo;

• Realizar grupos focais com alunos de Pedagogia de duas

universidades de São Paulo, com o intuito de identificar as dificuldades

enfrentadas por eles para se inserir no curso superior.

• Analisar os dados coletados com vistas a contribuir com novos

elementos para se pensar a inserção de alunos nos Cursos de

Pedagogia

Acredita-se que inicialmente a relevância dessa pesquisa se dá num âmbito

pessoal porque segue dando continuidade às observações e estudos realizados

como monitora e estudante de Pedagogia; mas, também é importante destacar a

relevância social e acadêmica dessa investigação, na medida em que visa contribuir

para a ampliação da compreensão dos processos de inserção de alunos no Curso

Superior.

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O trabalho organiza-se em quatro capítulos: o primeiro trata de alguns

aspectos que envolvem a formação acadêmica, tem como objetivo mostrar algumas

questões importantes para a compreensão dos processos formativos no Ensino

Superior: a Universidade, os cenários da vida adulta e a aprendizagem para o

adulto.

No segundo capítulo faz-se uma reflexão sobre assuntos relacionados ao

curso de Pedagogia e a atualidade da profissão do Pedagogo, buscando-se

conhecer essa realidade.

No terceiro capítulo há uma descrição do caminho metodológico da pesquisa

caracterizada como qualitativa, pois se aprofundam em dados recolhidos relativos às

pessoas, locais e conversas (BOGDAN E BIKLEN, 1999), se utilizando do trabalho

com grupos focais (GATTI, 2005) como procedimento de coleta de dados.

No quarto capítulo realizou-se a análise de dados, com base na análise do

conteúdo (FRANCO, 2003), que considera a mensagem verbal dentro de um

contexto, com suas relações e significados.

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1. ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO ACADÊMICA

1.1 A vida adulta nas sociedades contemporâneas

Uma das questões a serem consideradas nesse trabalho é a configuração da

vida adulta nas sociedades contemporâneas, na medida em que a entrada na

Universidade para muitos significa também a entrada na vida adulta. Estudos atuais

têm demonstrado que a idade adulta, outrora considerada um estágio no qual o

sujeito alcançava a maturidade, no qual era capaz de assumir as responsabilidades

que a sociedade lhes impunha, hoje é considerada um problema a ser resolvido.

(BOUTINET, 1999). A imagem de um adulto pronto e acabado foi se desfazendo e

aos poucos, substituída a de um sujeito inacabado em processo de construção.

A sociedade atual oferece desafios constantes que devem ser enfrentados

pelos adultos, as incertezas permanentes delineiam a vida adulta. Na sociedade

pós-industrial, o adulto tem encontrado dificuldade para se organizar e organizar sua

vida. Boutinet (1999) descreve alguns enfrentamentos do sujeito contemporâneo:

• O adulto nos limites de si próprio: O sujeito necessita encontrar respostas e

estratégicas para enfrentar situações que são extremas.

• O adulto em metamorfose cognitiva: o sujeito necessita reordenar suas

aprendizagens e é pressionado a tomar decisões e a realizar projetos

individuais.

• O adulto mal reconhecido: na cultura pós-moderna o adulto não se sente

reconhecido na sua singularidade. Mesmo com os avanços pós-industriais

que se voltam para políticas de participação, os adultos passam por

desilusões experimentando um sentimento de inutilidade social e pessoal.

• O sujeito à prova de idade: o adulto que envelhece, mas encontra uma

sociedade que não aceita o envelhecimento, e por conta disso há uma

rejeição da idade.

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Em não se podendo mais contar com um padrão de representações do que é

ser adulto, como ofereciam as sociedades anteriores, o sujeito atual traça seu

próprio caminho, em meio à flexibilidade, incerteza e vulnerabilidade. “[...] Somos

realmente levados a ver a vida adulta em termos de itinerário de vida, face às

desestabilizações do ambiente, com as quais essa vida adulta precisa se harmonizar

sem cessar. [...]” (BOUTINET, 1999, p. 158). Nos contextos atuais, o adulto frente às

mudanças pode se disponibilizar a enfrentá-las, contando para isso com recursos

pessoais, ou resistir a elas. As mudanças implicam em rupturas em relação às

adesões antigas, o que provoca a necessidade de novas adesões. Nessa mesma

direção, Bauman (2007) salienta que:

A “vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente ligadas. “A vida líquida é uma forma de vida que tende a ser levada adiante numa só sociedade líquido moderna. Líquido moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida assim como a sociedade líquido moderna, não pode manter a forma ou permanecer por muito tempo. (BAUMAN, 2007, p. 07).

O adulto se vê envolto por preocupações tais como: não dar conta dos

movimentos constantes, medo de não acompanhá-los, ficar para trás; e por isso,

todos correm o tempo todo como se necessitassem livrar-se das coisas, antes

mesmo de adquiri-las. Largar o “tudo” sem alcançar o “tudo” passa a ser habitual, o

que provoca uma sucessão de reinícios. (BAUMAN, 2007).

Para Bauman (2007), é neste cenário em transformação, onde tudo se

modifica e não há lugar para o apego, onde a vulnerabilidade se torna cada vez mais

presente e o consumo se mostra como um dos marcadores de identidade, que o

adulto vai traçar seus próprios caminhos buscando construir sua história de vida e

sua identidade profissional. Ele percebe que há necessidade de superação dos seus

limites para vencer cada dificuldade que apareça. A insegurança do momento faz

com que a coragem seja aguçada, como fator propulsor da transposição dos

obstáculos.

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1.2 Os processos formativos, educação e cultura no Ensino Superior

Os processos formativos envolvem diversas áreas da vida humana. É

possível perceber que há um envolvimento do adulto cada vez maior com a

educação, e cada vez mais, o Ensino Superior se torna responsável pela formação

de parcelas da sociedade. As exigências do mercado de trabalho (SOARES, 2002)

têm contribuído para que isso ocorra.

Segundo Jair Militão da Silva (2011), em seu artigo: “Caminhos para a

democratização do acesso, permanência e aprendizagem na universidade”, há um

ingresso de alunos oriundos de camadas sociais, menos favorecidas no Ensino

Superior, esses acesso é alcançado com sacrifícios pessoais, gastos com

alimentação transporte, materiais, e mensalidades. Zabalza (2004) também se refere

à democratização do acesso no Ensino Superior:

Hoje em dia, a educação superior já não é mais privilégio social para poucas pessoas (normalmente provenientes da classe social média alta), mas que com exceções, se transforma em aspiração plausível para camadas cada vez mais amplas da população. Essa abrangência ocorre não apenas em sentido horizontal (jovens de diferentes classes sociais e de diferentes localizações geográficas), mas também em sentido vertical (indivíduos de diferentes faixas-etárias começam ou continuam seus estudos). (ZABALZA, 2004, p.182).

Depreende-se que a educação tem sido um dos meios pelos quais as

pessoas acreditam ser possível ascender profissionalmente. Sabe-se, no entanto,

que nem sempre isso ocorre, melhor dizendo, o sucesso profissional não depende,

somente de um curso superior.

No momento em que se encontra a sociedade brasileira, há necessidade de

se refletir sobre as questões culturais, econômicas e sociais que chegam ao Ensino

Superior por meio das novas camadas que se inserem nesse nível de educação. As

dificuldades que aparecem em sala de aula podem ser indicadores de questões

culturais mais amplas. Silva (2011) fala sobre a cultura:

Cultura pode ser entendida como a maneira de produzir a vida e seus significados. No relacionamento com a natureza, consigo

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própria e com os demais seres humanos, cada pessoa aprende a melhor maneira de viver em certo ambiente. Esta maneira pode ser considerada a melhor se resiste ao longo do tempo como forma adequada de garantir a vida individual e do grupo em um dado ambiente. (SILVA, 2011, p.40).

O aluno que ingressa no Ensino Superior traz consigo traços culturais,

econômicos e sociais que foram construídos em suas vivências e se depara com

uma nova realidade que demanda outras competências e comportamentos. Para

alguns, a passagem para este nível de ensino pode ocorrer de maneira tranquila,

mas, para outros, podem surgir conflitos a serem superados no próprio processo

educativo ao longo do curso que o aluno escolheu. Essa superação se faz

necessária, caso contrário o aluno não será capaz de usufruir de seu curso

encontrando dificuldades para até mesmo finalizá-lo.

1.3 A Universidade

Entende-se a Universidade como um espaço de desenvolvimento humano

que se propõe a trabalhar com diversas dimensões da formação profissional. Para

Pimenta (2005):

A universidade, enquanto instituição educativa configura-se como serviço público de educação que se efetiva pela docência e investigação tendo por finalidades: a criação, o desenvolvimento, a transmissão e a crítica da ciência, da técnica e da cultura; a preparação para o exercício de atividades profissionais que exijam a aplicação de conhecimentos e métodos científicos e para a criação artística; o apoio científico e técnico ao desenvolvimento cultural, social e econômico das sociedades. (PIMENTA, 2005, p. 40).

Aos objetivos da Universidade integram-se os dos alunos, porém nem sempre

esse processo ocorre de forma tranquila. Silva (2011) fala sobre a necessidade de

confluência entre os objetivos organizacionais e pessoais. Para o autor, a

Universidade, para integrar os alunos, deve trabalhar ou considerar as necessidades

reais dos alunos, caso contrário não poderá desenvolver com eles um trabalho

pedagógico eficaz.

Zabalza (2004) faz referência a um crescente processo de massificação no

Ensino Superior e à concentração de alunos em determinados cursos, o autor fala,

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também, de algumas questões a serem pensadas com relação ao aumento de

alunos na Universidade:

Ao citar a massificação, não nos referimos apenas ao aumento no número de estudantes, já que outras variáveis são atingidas de maneira direta ou indireta pela quantidade de alunos em sala de aula. Pensemos, por exemplo: - na necessidade de atender a grupos muito grandes; - na maior heterogeneidade dos grupos; - na pouca motivação pessoal para estudar; - na necessidade de contratar novos professores ou de fazê-los iniciar no magistério antes mesmo de estar em condições ideais para isso (estagiários, monitores, pessoal sem experiência docente nem preparação pedagógica); - no retorno aos modelos clássicos da aula para grupos com muitos alunos frente à possibilidade de implementar um procedimento mais individualizado; - na menor possibilidade de responder às necessidades específicas de cada aluno; - na menor possibilidade de organizar (planejar e fazer o acompanhamento), em condições favoráveis, os períodos de práticas em contextos profissionais. (ZABALZA, 2004, p.182).

Para Zabalza (2004), a massificação implica no surgimento de alguns

empecilhos para introdução de renovações, porque quando as Universidades

possuem um número muito grande de alunos, os professores e a Instituição

renunciam ao ensino de qualidade. O mesmo autor diz que:

Busca-se apenas “sobreviver” e vencer os obstáculos esperando que só os alunos mais capacitados ou mais motivados superem a barreira das primeiras disciplinas, tornando, desse modo, mais suportável a situação nas futuras disciplinas. (ZABALZA, 2004, p.183).

A qualidade no Ensino Superior requer atenção, pois ao mesmo tempo em

que se verifica o crescimento desse nível de ensino, percebe-se que surgem

situações que necessitam ser repensadas com relação a sua qualidade.

1.4 A necessidade de acolhimento

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O acolhimento do aluno ingressante no espaço universitário é algo que

favorece o seu processo de pertencimento, pois uma vez que ele se sinta pertencer

à Universidade terá mais facilidade em superar desafios. Silva (2011) diz que:

A identidade de uma pessoa contrói-se pelo seu pertencer concreto a um grupo que comunica uma visão de si e do mundo; é o processo educativo atuando na constituição de seres humanos aptos ou inaptos para a vida democrática. A escola desempenha papel marcante nessa formação (SILVA, 2011, p.42).

Cabe à Universidade, como espaço formativo, propiciar ao aluno um ambiente

no qual ele possa interagir com os professores, com os colegas e com os conteúdos,

para que se torne possível alcançar os objetivos educacionais, tanto da universidade

como do aluno. A realização de estudos e reflexões sobre o ingresso de alunos no

Ensino Superior é sem dúvida necessária, para se entender e superar as

dificuldades apresentadas por eles para se integrar à Universidade.

1.5 O adulto e a aprendizagem

Pensar em como o adulto aprende, nos leva num primeiro momento a buscar

um significado para a palavra aprender. Placco e Souza (2006), falam que na

procura por esta definição, encontraram em vários dicionários, significados

semelhantes e sempre relacionados à aquisição do conhecimento, ao estudo ou

implicação.

Claudia Danis (1998), professora agregada ao departamento de

psicopedagogia na Universidade de Montreal, diz que são poucas as pesquisas

científicas que tratam dos processos de aprendizagem dos adultos, a maioria delas

investiga a aprendizagem de crianças e adolescentes. As investigações que têm

como tema a aprendizagem de adultos destacam que os adultos não têm a mesma

plasticidade para aprender que as crianças, eles selecionam suas aprendizagens e

escolhem aprender o que tem sentido para eles. Furlanetto (2010), fala sobre a

aprendizagem de adultos, se referindo às diferenças que existem com relação à

aprendizagem das crianças:

Os adultos, ao contrário, são portadores de cultura o que os torna mais singulares, críticos e seletivos em relação às novas

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aprendizagens. Muitas vezes, o novo não acrescenta, mas questiona o que o adulto já sabe, exigindo que transforme suas crenças e idéias. Em tais situações, é necessário desaprender para aprender, o que não se configura tarefa fácil [...] (FURLANETTO, 2010, p. 96).

A afirmação da autora acima citada remete ao pensamento de que a

aprendizagem na vida adulta requer disposição da parte do adulto para participar

dos movimentos que o levam a aprender.

Placco e Souza (2006), ao investigar a aprendizagem do adulto professor,

mencionam fatores internos e externos que influenciam a aprendizagem do adulto:

Identificamos fatores e motivos internos que influenciam nossa

aprendizagem, como: desejo, interesse, compromisso, necessidade, curiosidade, disciplina, gosto pelo que faz, dimensionamento da tensão, preconceito, teimosia, emoções, vínculos, entusiasmo, alegria, euforia e determinação.

Reconhecemos também fatores e motivos externos que interferem

no processo, como: ajuda mútua, organização e sistematização da situação e do conteúdo, exigência de rigor, diversidades de campo de atuação, amplitude e diversidade exigidas, natureza do conhecimento, desafio permanente, contexto sociopolítico-pedagógico, respeito à diversidade cultural, entre outros, que facilitam e medeiam essa aprendizagem. (PLACCO e SOUZA, 2006, p.18).

Nota-se nas afirmações de Placco e Souza (2006), que o processo de

aprendizagem do adulto é complexo por envolver aspectos variados, que

necessitam de interação entre eles. Entende-se que é nesse processo de interação

que a aprendizagem ocorrerá. As mesmas autoras falam de quatro aspectos

importantes característicos da aprendizagem dos adultos:

• A experiência: como ponto de partida e de chegada da aprendizagem,

acredita-se que, as experiências anteriores vivenciadas influenciarão as

novas aprendizagens;

• O significativo: no processo de aprendizagem de adultos há uma interação de

significados cognitivos e afetivos;

• O proposital: que é algo que o adulto precisa alcançar, desenvolver, que o faz

se mobilizar para tal;

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• A deliberação: a condição que o adulto tem de fazer escolhas com relação a

sua própria sua aprendizagem.

Esses aspectos merecem destaque nos processos formativos do adulto, uma

vez conhecidos podem ser utilizados para aprimorar tais processos, na tentativa de

favorecer o desenvolvimento do adulto.

Nota-se que nos processos formativos, a aprendizagem ocupa um espaço

importante e necessário na vida do adulto, na medida em que ela possibilita a

construção de novos significados para o enfrentamento das problemáticas

relacionadas aos movimentos constantes. Dominicé (2006), afirma que a pluralidade

biográfica, a perda de referências culturais e o confronto entre gerações no mundo

contemporâneo, fazem com que a formação do adulto esteja focada naquilo que lhe

é significativo e relaciona-se com sua própria trajetória de vida.

Para Boutinet (1999), a postura de aprendiz do adulto nasce das

necessidades que ele tem de se ajustar às mudanças cotidianas, é por isso que o

adulto necessita tornar-se sujeito da sua história, para fazer as escolhas que lhe

permitam desenvolver-se. A aprendizagem, nessa perspectiva, é vista como meio

para o desenvolvimento profissional e pessoal, ela ocupa um espaço de destaque na

pós-modernidade.

1.6 A inserção do aluno na Universidade

Cumpre destacar mais uma vez, que os alunos que ingressam no Ensino

Superior são adultos, este fato aponta para a necessidade de um olhar diferenciado

para este nível de ensino. É importante considerar características próprias do aluno

adulto, para se pensar em como esses alunos podem enfrentar os desafios no

processo de aprendizagem e permanecer na Universidade. Zabalza (2004) salienta:

[...] Podemos dizer com razão, que uma característica fundamental dos estudantes universitários é que são sujeitos adultos, ao menos legalmente, em total posse de sua capacidade de decisão. Dessa condição geral, derivam outras várias que tem grande relevância ao se desenvolver o trabalho da universidade. (ZABALZA, 2004, p. 187).

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Ao entrar no Ensino Superior, o aluno carrega suas experiências de

aprendizagem que podem favorecer, ou não, sua entrada e permanência. Sua

aderência a esse nível de ensino, ocorre em meio a situações complexas que

articulam suas experiências anteriores ás novas que precisa viver. Alain Coloun

sociólogo, professor de ciências da educação na Université Paris 8, alerta para a

importância de se compreender cada vez mais os desafios existenciais enfrentados

por aqueles que buscam o Ensino Superior: “Trata-se de um ensino que se dirige a

adultos e, exatamente por isso, problemas particulares se colocam e deveriam ser

estudados [...]”. (COLOUN, 2008, p. 33).

Coloun salienta, também, que o aluno ao entrar na Universidade precisa

aprender seu novo ofício: o de estudante universitário, apesar desse ofício ser

provisório e de ter duração de alguns anos.

“A entrada na vida universitária é como uma passagem: é necessário passar do estatuto do aluno ao de estudante”. Como toda passagem, ela necessita de uma iniciação[...]. Eu entendo por filiação o método através do qual alguém adquire um status social novo. (COLOUN, 2008, p.32).

É preciso aprender a ser estudante universitário, para que as vivências

cotidianas e as exigências da formação em nível superior impulsionem o aluno

ingressante. Quando o aluno passa a ser estudante do Ensino Superior, é porque foi

reconhecido em suas competências, ele conseguiu legitimar os saberes que

adquiriu; mas isso não garante sua permanência que depende de sua adaptação às

novas condições, caso isso não ocorra, ele corre o risco de fracassar.

Se o fracasso e o abandono são numerosos ao longo do primeiro ano é precisamente porque a adequação entre as exigências acadêmicas, em termos de conteúdos intelectuais, métodos de exposição do saber e dos conhecimentos e os hábitos dos estudantes, que são ainda alunos, não aconteceu. (COLOUN, 2008, p.32).

É preciso conhecer os códigos do Ensino superior, é necessário haver um

processo de aprendizagem com relação à Instituição, sua cultura e suas rotinas.

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Coloun (2008) descreve três tempos vivenciados pelo aluno ao ingressar no ensino

universitário:

A entrada na universidade pode ser analisada como uma passagem, no sentido etnológico do termo, que eu proponho considerar em três tempos:

- O tempo do estranhamento, ao longo do qual o estudante entra em um universo desconhecido, cujas instituições rompem com o mundo familiar que ele acaba de deixar; - O tempo da aprendizagem quando ele se adapta progressivamente e onde uma acomodação se produz;

- E por fim, o tempo da filiação que é o do manejo relativo das regras identificado especialmente pela capacidade de interpretá-las ou transgredi-las. (COLOUN, 2008, p.32).

Quando Coloun (2008) fala a respeito do tempo do estranhamento refere-se

no aluno que ingressa num espaço que para ele é novo, chamado Universidade, e

que necessitará de um tempo para assimilar e se dar conta das novas regras que

farão parte de sua vida enquanto estiver ali.

O tempo da aprendizagem remete a um processo de familiarização com o

novo mundo. Coloun (2008) diz que:

[...] Consiste em aprender os rudimentos do ofício: de debutante o estudante se torna aprendiz. Sua angústia inicial será sucedida com a familiarização progressiva com a Instituição, uma adaptação em relação aos códigos locais e pelo início do trabalho intelectual, que devem, em princípio, levá-lo a se tornar um membro competente da comunidade universitária e a ser reconhecido como tal. (COLOUN, 2008, p.151).

A afirmação do autor acima citado, faz com que se perceba que os caminhos

de aprendizagem os quais o aluno universitário tem que percorrer, não são só

cognitivos, além desses, existe todo uma cultura que ele precisa compreender para

nela transitar e ser reconhecido.

O tempo da filiação faz com que o estudante se torne um membro do Ensino

Superior, ele se estabelece quando o ambiente não é mais hostil, as regras já foram

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de alguma maneira internalizadas, e o estudante está familiarizado com a vida social

e intelectual. Esse tempo faz menção a um aluno que conseguiu se adaptar ao novo

mundo no qual se inseriu.

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2 PEDAGOGIA E PEDAGOGOS: NUANCES DA PROFISSÃO

A Pedagogia pode ser compreendida de diferentes maneiras, em Libâneo, no

entanto, encontramos uma conceituação que permite uma aproximação do sentido

da Pedagogia e de seus objetivos:

A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2004, p. 32).

Considerando que a Pedagogia investiga a realidade educacional pensou-se

ser importante compreender o que é Educação. Brandão (2007) mostra que devido a

amplitude dos processos educativos não podemos falar de Educação no singular,

mas de Educações:

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na Igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela. Para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações. [...] não há uma forma única nem um único modelo de educação, a escola não é o único lugar em que ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é seu único praticante [...] (BRANDÃO, 2007, p.09).

A Educação faz parte da sociedade, está ligada à vida do homem e envolve

muitos aspectos do cotidiano. Os processos educativos acontecem de maneira

variada e se manifestam em diferentes atividades, tais como: sociais, políticas,

econômicas, religiosas, familiares e escolares. Segundo Libâneo:

A educação associa-se, pois, a processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades técnicas, atitudes, valores existentes no meio culturalmente organizado e, com isso, ganham o patamar necessário para produzir outros saberes, técnicas, valores etc. É intrínseco ao ato educativo seu caráter de mediação que favorece o desenvolvimento dos indivíduos na dinâmica sociocultural de seu grupo, sendo que o conteúdo dessa mediação são os saberes e

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modos de ação. (LIBÂNEO, 2004, p. 32).

Para Libâneo (2004), a Pedagogia é um campo de conhecimento da

totalidade e da historicidade da problemática educativa, o que com certeza abarca

um conjunto de ações, processos, influências, estruturas que envolvem o

desenvolvimento do indivíduo e de grupos de indivíduos. É através da educação que

o ser humano assimila saberes habilidades, técnicas, atitudes e valores, dessa

forma, o ato educativo está permeado por interações e ações que lhe são próprias,

mas, que podem ser produzidas, reproduzidas, e/ou transformadas. Nessa

perspectiva a formação do Pedagogo e suas possibilidades de atuação se alargam:

Por sua vez, pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modo de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização teórica. (LIBÂNEO, 2004, p. 33).

Há necessidade de que o profissional (pedagogo) se torne um pesquisador,

curioso, democrático (FREIRE, 1996), altamente observador de sua prática, para

que a mesma seja mutável e aperfeiçoada e dessa forma possa atuar em diferentes

contextos profissionais. Convém lembrar que para Freire (1979), o educador está no

mundo e com o mundo, o que significa que é um ser capaz de relacionar-se, e

quando compreende sua realidade pode levantar hipóteses sobre ela e buscar

soluções para a mesma. Cabe ao pedagogo o conhecimento da realidade, para que

possa nela intervir. É a partir da compreensão do que é Educação, que se busca

entender o papel do pedagogo, suas atribuições e caminhos para alcançar uma

prática condizente com a realidade na qual se trabalha.

2.1 Quanto ao curso de Pedagogia: alguns marcos históricos

O curso de Pedagogia foi instituído no Brasil em decorrência da organização

da Faculdade Nacional de Filosofia do Brasil, com base no decreto-lei nº 1.190 de 4

de abril de 1939, para preparação de docentes, (técnicos de educação, professores

para o ensino secundário e para as escolas normais). (CRUZ, 2011).

Segundo Daniele Saheb (2008), professora da Pontifícia Universidade

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Católica do Paraná, e pesquisadora da formação docente:

Por esse decreto Lei criava-se a seção Pedagogia que pretendia formar profissionais do ensino médio e a técnica em educação, ou seja, formando licenciadas e bacharéis. Para tanto, seguia a fórmula que foi conhecida como o esquema 3+1 no qual as disciplinas de conteúdo específico tinham duração de 3 anos e as disciplinas pedagógicas, justapostas às específicas, eram cursadas no último ano. Formava-se nos 3 primeiros anos, a bacharel e no quarto ano, era-lhe conferido o diploma de licenciada. (SAHEB, 2008, p. 10).

Para Giseli Barreto da Cruz (2011) professora adjunta da Faculdade de

Educação da Universidade do Rio de Janeiro e pesquisadora da história e formação

do curso de Pedagogia no Brasil, o Decreto Lei n.º 1.190 de 4 de abril de 1939, é o

primeiro marco legal do curso de Pedagogia, que decorre da necessidade de

estabelecer definições para as bases de formação de professores. O curso de

Pedagogia permaneceu organizado conforme o Decreto Lei acima citado, por vinte e

três anos.

Em 1960 surgem questionamentos com relação às especificações da atuação

do Bacharel em Pedagogia, havia a necessidade de encontrar definições para sua

identidade, e conteúdos elaborados para o curso. (SAHEB, 2008).

Em 1961 a educação básica no Brasil cresceu, e como consequência em

1962 o Conselho Federal de Educação (CFE) aprovou o parecer n.º 251, de 1962,

que reformula o currículo do curso de Pedagogia (SAHEB, 2008). Cruz (2011),

afirma que este parecer é o segundo marco legal do curso de Pedagogia, que

estabeleceu um currículo mínimo e duração com relação ao bacharelado.

Estabeleceu-se assim, o período de 4 (quatro) anos tanto para Bacharel

quanto para Licenciado, o Licenciado seria o professor para a escola normal e o

Bacharel para a escola técnica. Até 1969 a estrutura do curso permaneceu a mesma

(SAHEB, 2008).

Em 1969 o parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) n.º 252, de 11

de abril de 1969, traz novas mudanças para o curso de Pedagogia. Cruz (2011)

menciona que esse é o terceiro marco legal do curso, e afirma:

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Esse parecer foi acompanhado da Resolução CFE n.º 2/1969, que, tal como a anterior, se incumbiu de fixar o currículo mínimo e a duração do curso. Essa regulamentação manteve a formação de professores para o Ensino Normal e introduziu oficialmente as habilitações para formar os especialistas responsáveis pelo trabalho de planejamento, supervisão, administração e orientação, que se constituíram, a partir de então, como um forte meio de identificar o pedagogo. As habilitações Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Inspeção Escolar, além do magistério para o Ensino Normal, foram amplamente difundidas, tornando-se nucleares para o curso ao longo de grande parte de sua trajetória. (CRUZ, 2011, p.47).

Segundo Saheb (2008) em 1969 o curso foi reorganizado, e a distinção entre

bacharelado e licenciatura, deixou de existir: passou-se a ter um diploma único que

se refere à formação de professores para o ensino normal, e especialistas para

habilitações específicas, como: orientação, administração, supervisão e inspeção

escolar.

Quanto à reorganização, mesmo extinguindo a distinção entre bacharelado e

licenciatura, o curso continuou em duas partes separadas: uma parte representada

pelas disciplinas dos fundamentos da educação e a outra pelas disciplinas das

habilitações específicas (SAHEB, 2008).

Na década de 70, percebe-se que o curso de Pedagogia tinha identidade

fragmentada, o que provocava críticas dos profissionais da área e também havia a

necessidade de uma base comum nacional de ensino . Em 1980, as críticas e

reflexões deram lugar a um movimento realizado por professores, instituições

universitárias e organismos governamentais, que objetivavam a reformulação do

curso. Neste movimento, fica claro que, além da base comum nacional de ensino,

havia também a preocupação de que a docência fosse a base da formação. (CRUZ,

2011).

As discussões acerca da reformulação do curso de Pedagogia continuaram

nas décadas de 80 e 90. A LDB № 9394/961 é uma tentativa de realizar mudanças,

em seu artigo 21, institui uma nova estrutura escolar composta por educação básica

e ensino superior, coloca a formação do professor em nível superior de forma

1 LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

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obrigatória. (SAHEB, 2008).

Para Gadotti (2000), a LDB 9394/96 aponta para melhorias com relação à

formação docente, bem como para aperfeiçoamento profissional, incluindo

licenciamento periódico remunerado, período reservado para estudos, planejamento

e avaliação. Percebe-se também, que nesta lei há uma preocupação com a

formação continuada que deve se realizar em serviço: com estudos dirigidos, leituras

de livros, estudos à distância, reflexões, e através de novas tecnologias.

Cruz (2011) salienta, que o quarto marco legal do curso de Pedagogia foi a

Resolução do Conselho Nacional de Educação n.º 1, de 10 de abril de 2006, que

tratou da fixação de diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia.

Nas novas diretrizes curriculares do curso, verificou-se que as habilitações

como administração, orientação e supervisão escolar, aparecem como

possibilidades de formação em nível de pós-graduação (CRUZ, 2011). Cabendo ao

pedagogo então, atuar na educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental e

também no desenvolvimento de competências.

Segundo Saheb (2008), nota-se com isso, que há um incentivo à formação

profissional, no sentido de se fazer reflexões a respeito de pesquisas inerentes à

teoria e prática cotidiana, buscando assim, meios para alcançar uma formação

docente que atinja as problemáticas que envolvem a própria profissão e seus

objetivos.

2.2 Estrutura do curso

Destaca-se a resolução CNE/CP2 no. 1, de 15 de maio de 2006 que institui as

diretrizes nacionais para o curso de Pedagogia licenciatura (ROMANOWSKI, 2007),

que no seu artigo 2º. afirma que o curso destina-se formação inicial do professor

para:

2 Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno

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Educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (ROMANOWSKI, 2007, p. 83).

A mesma resolução no art. 6º, diz que a estrutura do curso de Pedagogia

deve respeitar a diversidade nacional e a autonomia das Instituições. Saviani

(2007), fala a respeito das novas diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia:

Sobre o modo de organizar a estrutura do curso a resolução prevê no artigo 6º, três núcleos: 1. Estudos básicos; 2. Aprofundamento e diversificação de estudos; 3. Estudos integradores para enriquecimento curricular. Nos três casos apresenta uma lista de tarefas e um conjunto de exortações, mais que a especificação dos componentes curriculares que integrariam os referidos núcleos. (SAVIANI, 2007, p. 127).

Gatti e Nunes (2009) realizaram uma pesquisa sobre as características dos

cursos de Pedagogia no Brasil. As autoras mencionam que em 2006, havia no Brasil

mil quinhentos e sessenta e dois (1562) cursos de graduação presenciais com cerca

de duzentos e oitenta e um mil (281.000) alunos matriculados. As autoras falam que

para analisarem as estruturas curriculares dos cursos de Pedagogia em sua

pesquisa, tiveram que elaborar categorias que especificassem os núcleos descritos

nas diretrizes curriculares. Da amostra de setenta e um (71) cursos distribuídos em

todo Brasil, listaram três mil quinhentos e treze (3513) disciplinas, sendo que, três

mil cento e sete (3107) eram obrigatórias e quatrocentas e seis (406) optativas.

Para organizar a análise, as autoras definiram categorias de agrupamento das

disciplinas: Fundamentos teóricos da educação – tais disciplinas se referem ao

embasamento teórico do aluno; com relação às outras áreas do conhecimento (ex:

Psicologia, Antropologia, e outros); Conhecimentos relativos aos sistemas

educacionais, que são todas as disciplinas de conhecimento pedagógico (ex:

estrutura e funcionamento do ensino); Conhecimentos relativos à formação

profissional específica, que se referem a todo instrumento necessário às práticas do

professor (ex: metodologias do ensino de matemática); Conhecimentos relativos a

modalidades e nível de ensino específicas, que são compostas por disciplinas

relacionadas à educação infantil, educação especial, e etc.; Outros saberes que são

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disciplinas que fornecem ao professor conteúdos diversos (exemplos: novas

tecnologias, religião etc.); Pesquisa e trabalho de conclusão de curso – que são

disciplinas que vão contribuir para a elaboração dos trabalhos de conclusão, ex:

metodologias de pesquisa; Atividades complementares que são disciplinas que se

referem às atividades integradoras (seminários, estudos, atividades culturais).

Também fazem parte das disciplinas os estágios, que segundo as autoras, são

obrigatórios e tem carga horária definida. (GATTI e NUNES, 2009)

Ao analisar as diretrizes curriculares do curso de Pedagogia e relacionar com

os estudos das autoras, a respeito das disciplinas que compõem o curso, percebe-

se que há uma multiplicidade delas a serem estudadas pelo aluno e organizadas

pelas Universidades. Neste sentido, observa-se que os processos de formação do

Pedagogo assumem características diversas.

Para Saviani (2007) as novas diretrizes, por um lado, são restritas com

relação ao que é essencial (o campo teórico-prático) experiências acumuladas

historicamente e extensivas no acessório (há uma multiplicidade de referências à

linguagem que está em evidência (ex: conhecimentos ambientais, étnico raciais,

exclusões sociais e etc.). Nessa perspectiva, com base nas novas diretrizes

curriculares, as instituições enfrentam inúmeras dificuldades para organizar o

currículo do curso de Pedagogia.

2.3 O Pedagogo na contemporaneidade

Dada à realidade atual, percebe-se a complexidade que envolve a atuação do

Pedagogo. É necessário alcançar uma prática que responda às demandas da

contemporaneidade. Os conflitos e contradições que fazem parte da sociedade,

também, estão presentes na escola, como também em diferentes instituições nas

quais o Pedagogo atua. Nessa perspectiva, compreende-se que a formação inicial

do Pedagogo, na maioria das vezes, não dá sustentação à prática dos professores.

Com isso, verifica-se que há um leque variado de possibilidades de atuação

do Pedagogo na sociedade, o que lhe exige ter uma capacitação ampla. O

Pedagogo precisa estar constantemente em busca de conhecimentos para que

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possa compreender e atuar na realidade.

Na atualidade, o Pedagogo é chamado a redefinir sua prática

constantemente, por isso, é preciso entender as relações que existem entre o

professor e a construção dos seus saberes, pois, são os saberes construídos que

dão sustentação à sua prática pedagógica.

Se chamamos de saberes sociais o conjunto de saberes de que dispõe uma sociedade e de educação o conjunto dos processos de educação e de aprendizagem elaborados socialmente e destinados a instruir os membros da sociedade com base nesses saberes, então é evidente que os grupos de educadores, os corpos docentes que realizam efetivamente esses processos educativos no âmbito do sistema de formação em vigor, são chamados de uma maneira ou de outra, a definir sua prática em relação aos saberes que possuem e transmitem. (TARDIFF, 2002, p.31).

O Pedagogo, como todo ser humano, possui experiências que favorecem a

internalização de regras, crenças, idéias presentes na cultura da qual ele faz parte.

Ao entrar na escola, além dos conhecimentos sistematizados, ele também continua

o aprendizado de hábitos, valores e atitudes.

Ao se inserir no Curso de Pedagogia já traz uma bagagem de conhecimentos

a respeito dos processos de aprendizagem que Furlanetto (2011) denomina de

matrizes pedagógicas: “As matrizes pedagógicas podem ser comparadas a arquivos

existenciais que guardam registros sensoriais, emocionais e cognitivos, acessados

no espaço pedagógico”. (FURLANETTO, 2011, P. 129).

Os saberes pedagógicos sistematizados e transmitidos nos cursos passam a

compor ou não suas matrizes, base de sua prática docente. É importante salientar

que os processos de formação do Pedagogo, além de se pautar nas ciências da

educação, nos saberes pedagógicos, necessitam ser constantemente revistos e

repensados.

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3 OS CAMINHOS DA PESQUISA

A pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa, por se considerar ser ela mais

adequada para atingir os objetivos da investigação, na medida em que ela possibilita

aprofundar a compreensão das realidades estudadas.

Para Bogdan e Biklen (1999) a investigação qualitativa possui cinco

características: 1) a fonte direta de dados, é o ambiente natural e os investigadores

se introduzem nesse ambiente na tentativa de elucidar as questões educativas; 2) a

investigação qualitativa é descritiva; 3) os investigadores qualitativos se interessam

pelos processos além dos resultados ou produtos; 4) os investigadores qualitativos

tendem a analisar os seus dados de forma indutiva, os dados recolhidos não têm o

objetivo de afirmar ou não uma hipótese previamente construída, mas vão se

construindo pensamentos a partir dos dados coletados; 5) o significado é de

importância vital na abordagem qualitativa.

Os mesmos autores destacam que os investigadores que fazem uso da

abordagem qualitativa, estão interessados em saber como os sujeitos dão sentido às

suas vidas e o modo como eles próprios interpretam suas experiências e estruturam

o mundo social em que vivem.

3.1 Procedimento de coleta de dados

Escolheu-se para a coleta de dados a técnica do grupo focal. Para Gatti

(2005) é um instrumento que possibilita levantar dados nas investigações em

ciências humanas e sociais. Consiste em reunir um grupo de pessoas que possuem

uma vivência comum com relação ao tema de pesquisa. Esse mesmo tema servirá

como foco da discussão realizada pelo grupo. Gatti (2005) destaca que o trabalho

com este instrumento de coleta de dados permite:

[...] compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos comportamentos e atitudes, construindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições

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preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado. A pesquisa com grupos focais, além de ajudar na obtenção de perspectivas diferentes sobre uma questão, permite também a compreensão de idéias partilhadas por pessoas no dia-a-dia e dos modos pelos quais os indivíduos são influenciados pelos outros. (GATTI, 2005, p.11).

Acreditou-se que o trabalho com grupos focais permitiria uma aproximação

maior da realidade dos alunos pesquisados, uma vez que a interação dos alunos no

grupo poderia trazer dados significativos para a discussão. Gatti diz que:

Porém a riqueza do que emerge “a quente” na interação grupal, em geral, extrapola em muito as idéias prévias, surpreende, coloca novas categorias e formas de entendimento, que dão suporte a inferências novas e proveitosas relacionadas com o problema em exame. (GATTI, 2005, p. 13).

Um dos fatores que direcionou a escolha pelo trabalho com grupos focais, foi

a questão da vivência comum dos alunos no curso de Pedagogia. Para Gatti: Os

participantes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal modo

que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiências

cotidianas. (GATTI, 2005, p.07).

Essa técnica de coleta de dados possibilita ao pesquisador conhecer várias

informações que surgem no decorrer da discussão em grupo, dependendo da

interação, os participantes sentem liberdade de expor seus pontos de vista, e de

falar a respeito com os outros integrantes do grupo. Gatti fala que: “O grupo focal

permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais,

pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que

com outros meios, poderiam ser difíceis de se manifestar”. (GATTI, 2005, p.9).

Segundo a mesma autora:

A técnica é muito útil quando se está interessado em compreender as diferenças existentes em perspectivas, idéias, sentimentos, representações, valores e comportamentos de grupos diferenciados de pessoas, bem como compreender os fatores que os influenciam, as motivações que subsidiam as opções, os porquês de determinados posicionamentos. O trabalho com grupo focal pode trazer bons esclarecimentos em relação a situações complexas, polêmicas, contraditórias, ou a questões difíceis de serem abordadas

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em função de autoritarismos, preconceitos, rejeição ou de sentimentos de angústia ou de medo de retaliações; ajuda a ir além das respostas simplistas ou simplificadas, além das racionalizações tipificantes e dos esquemas explicativos superficiais. (GATTI, 2005, p. 14).

A afirmação de Gatti (2005) possibilita um entendimento amplo das

informações que podem ser captadas através desse procedimento de coleta de

dados, a técnica veio de encontro às necessidades dessa pesquisa.

3.2 Contexto da Pesquisa

Essa investigação se realizou nos curso de Pedagogia de duas Universidades

do setor privado de ensino, localizadas em São Paulo. Uma das Universidades está

situada na zona leste e a outra na cidade de Guarulhos.

A Universidade que se situa na zona leste de São Paulo (Universidade-1),

possui um campus que ocupa cinquenta e oito mil metros quadrados (58.000 m²),

por onde circulam diariamente cerca de treze mil (13.000) alunos, oitocentos e

cinquenta (850) professores e funcionários administrativos, além de centenas de

pessoas da comunidade que procuram os serviços prestados pela Instituição. Esta

Universidade oferece sessenta (60) cursos de graduação, três (3) Programas de

Pós-Graduação em nível de mestrado, além de cursos de especialização e

extensão. No curso de Pedagogia há dez (10) turmas em andamento.

A Universidade situada em Guarulhos (Universidade-2), possui quatro (04)

unidades e mais de mil (1.000) docentes e funcionários em diversos setores. Para

atender cerca de vinte mil alunos (20.000) alunos, a Universidade oferece mais de

cinquenta (50) cursos entre graduação convencional e tecnológica, dezenas de

cursos de especialização e MBA, três (3) programas de mestrado e um (1)

doutorado. No curso de Pedagogia dessa instituição há vinte e uma (21) turmas em

andamento.

3.3 Sujeitos da Pesquisa

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Os sujeitos da pesquisa foram alunos que estavam cursando o último ano de

Pedagogia. Por já terem passado pelos primeiros períodos, acreditou-se que teriam

mais elementos para contribuir com o trabalho. Para selecionar os sujeitos de

pesquisa, entrou-se em contato com os coordenadores de curso que autorizaram a

realização da pesquisa nas instituições.

3.4 Como se organizou o trabalho de coleta de dados

O trabalho de coleta de dados foi realizado no segundo semestre de 2011,

com dois grupos focais compostos por alunos do curso de Pedagogia das duas

Universidades, aos sujeitos participantes foram feitos convites abertos em sala de

aula, suas inscrições foram voluntárias. Gatti diz que: “Embora alguns critérios

pautem o convite às pessoas para participar do grupo, sua adesão deve ser

voluntária”. (GATTI, 2005, p.13).

Cada grupo contou com a participação de cinco alunos, ambos do período

matutino, um dos grupos contou com um moderador e um observador, o outro,

contou com um moderador; o que possibilitou a investigação dos desafios que

enfrentaram nos primeiros períodos, que se considera como processo de inserção

no Ensino Superior.

Foram feitos um encontro com cada grupo, com duração aproximada de duas

horas, o que delimitou o número de encontros foi a disponibilidade dos próprios

sujeitos, haja visto que os participantes da pesquisa, tinham que sair rapidamente

em função do horário de trabalho.

Nos encontros foram feitas apresentações e esclarecimentos com relação à

pesquisa, depois foi entregue a cada sujeito, um quadro para aquecimento do

assunto (Ver anexo A), onde escreveram algumas situações ligadas às dificuldades

pelas quais passaram. Após o aquecimento, iniciou-se a gravação do encontro com

a questão norteadora: Quais as dificuldades enfrentadas nos primeiros períodos do

curso de Pedagogia?

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Dos sujeitos que participaram dos grupos focais, nove (09) eram do sexo

feminino e um (1) do sexo masculino, suas idades variavam entre vinte e um (21) e

cinquenta e dois (52) anos, e suas atuações profissionais estavam ligadas a

diversas áreas.

Os quadros abaixo permitem uma visualização mais clara do perfil dos

sujeitos que participaram dos grupos. Utilizou-se para identificação dos sujeitos a

letra S (representando a palavra sujeito), e os números de 1 a 10 para identificar os

participantes do grupo, sendo que os sujeitos de 1 a 5, participaram do grupo focal

1, e os sujeitos de 6 a 10, do grupo focal 2. A identificação foi feita dessa forma para

garantir o sigilo com relação aos sujeitos participantes da pesquisa.

Quadro 1 – Perfil dos alunos- Universidade 1- Grupo focal 1

Sujeito

Sexo

Idade

Atuação Profissional

Tempo de atuação

Profissional

S6

Feminino

52

Não está atuando

Não está atuando

S7

Feminino

49

Cabeleireira

21 anos

S8

Feminino

22

Recreacionista

01 ano

S9

Feminino

35

Funcionária pública

10 anos

S10

Feminino

26

Não está atuando

Não está atuando

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Quadro 2 – Perfil dos alunos – Universidade 2- Grupo focal 2

Durante a realização dos encontros, foi possível perceber a necessidade que

os participantes tinham de relatar as vivências marcantes que ocorreram com

relação ao tema da pesquisa, foi possível perceber que esses relatos foram

permeados por emoções que pareciam brotar e eram detectadas por meio de

sorrisos, de lágrimas e, por vezes de manifestações de ira. Os sujeitos sentiram-se à

vontade para falar de suas dificuldades.

Sujeito

Sexo

Idade

Atuação Profissional

Tempo de atuação

Profissional

S1

Masculino

25

Prof. Educação Física

Não está atuando

S2

Feminino

23

Escriturária/ tele operadora

4 Anos

S3

Feminino

21

Auxiliar de classe

6 Meses

S4

Feminino

22

Auxiliar de classe

1 Ano

S5

Feminino

45

Não está atuando

Não está atuando

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4. ANÁLISE DOS DADOS

A Análise dos dados foi realizada com base na Análise de Conteúdos. Para

Franco (2003), essa análise é utilizada para produzir inferências3 acerca de dados

que podem ser verbais ou simbólicos, e que são obtidos através de perguntas e

observações de um pesquisador. A autora afirma que a mensagem expressa um

significado e um sentido que não pode ser isolado. A emissão de palavras de um

texto ou de um discurso, tem vínculo com o contexto. Por isso, ao analisar o

conteúdo, o pesquisador deve ter capacidade para conhecer os dados e

compreendê-los no contexto.

A questão norteadora no trabalho com os grupos focais foi: Quais as

dificuldades que tiveram nos primeiros períodos do curso de Pedagogia? Suas

respostas foram gravadas, e após as transcrições (Ver anexos B e C) deu-se início a

análise dos dados.

Várias dificuldades e busca de estratégias para a superação das mesmas,

foram detectadas nos relatos dos sujeitos de pesquisa as quais possibilitaram

elencar os seguintes eixos de análise:

• Dificuldades externas ao curso.

• Dificuldades familiares e de ordem emocional.

• Dificuldades relacionadas à estrutura física da universidade.

• Dificuldades na relação com o professor e o curso.

• Dificuldades com o conhecimento teórico.

• Dificuldades com relacionamento interpessoal.

Após serem estabelecidos eixos de análise, as dificuldades encontradas

foram organizadas em quadros: o quadro 1 (Ver anexo D) corresponde às

3 “Exemplificando: O investigador, ao ler ou ouvir um discurso sobre o papel do educador, deve ser capaz de

poder compatibilizar o conteúdo do discurso (lido ou ouvido) com alguma, ou algumas teorias explicativas”

(FRANCO, 2003, p. 25).

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dificuldades dos sujeitos da Universidade-1, o quadro 2 (Ver anexo E) corresponde

às dificuldades dos sujeitos da Universidade 2; e o quadro 3 (Ver anexo F) se refere

às dificuldades dos sujeitos de ambas as Universidades.

4.1 Dificuldades externas ao curso

No que se refere às dificuldades externas ao curso, os sujeitos destacam as

dificuldades de: conciliar atividades de estudo, trabalho e família; dificuldade

econômica para custear os estudos (pagamento de mensalidades, transporte e

materiais) e escolaridade comprometida (frequência às escolas consideradas fracas,

interrupções dos estudos).

Para os sujeitos pesquisados, a dificuldade de administrar o tempo com

relação ao trabalho e estudos é algo que influencia no rendimento:

Uma dificuldade que tive também foi do tempo. Uma coisa que aconteceu no primeiro semestre é que foi difícil conciliar o tempo de trabalho porque eu estudava de manhã e trabalhava de manhã também, então eu entrava no serviço 11:30 h. e a aula aqui termina às 11:00 h. Eu moro longe, a maioria das vezes eu tinha que sair antes, e os professores continuavam passando as matérias, eu acabava perdendo muitas coisas. O primeiro semestre, foi o semestre que tirei as notas mais baixas. Eu não tinha tempo. (S8).

Coloun (2008) menciona como uma das confrontações que existem no

ingresso do aluno no ensino superior, a questão da universidade e a vida

profissional, o autor diz que há uma ruptura entre o previsível, aquilo que os

indivíduos faziam habitualmente e a nova vida acadêmica. Nos relatos dos sujeitos

percebe-se que há uma desestabilização com relação ao tempo, aos horários, o que

requer deles uma reorganização de suas tarefas cotidianas.

Alunos que trabalhavam em escolas, também passavam pela dificuldade de

conciliar trabalho e estudos, em seus depoimentos é possível detectar alguns

conflitos que enfrentaram:

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Bom no começo foi difícil porque a minha diretora não entendia, eu tenho uma bolsa do sindicato dos metalúrgicos e era só de manhã, eu não poderia estudar à noite, se não eu perderia o desconto; mas a diretora não entendia ela queria que eu estivesse lá antes das 11:00 h. e antes das 11:00 h. era quase impossível. A diretora dizia: ”se vira, ah sai mais cedo”; e eu falava: mas se eu sair mais cedo eu vou perder as matérias. Eu não podia ficar até o final, nem nas provas. (S8).

As responsabilidades familiares ocorrem concomitantes às responsabilidades

com relação aos estudos:

Por exemplo: teve trabalho recente, nesse semestre, que a Ana não pode vir porque tinha que cuidar do filho que é pequeno, e não tinha com quem deixar. Eu e a Lúcia não tínhamos lido o texto. Chegou na hora da apresentação e uma integrante falou: Eu li, mas não gosto de falar e não vou explicar. Graças a Deus, com o pouco que lemos, conseguimos explicar na hora, procurando nas páginas. O professor falava: e tal página? Nós falávamos: Qual professor? Íamos lá e procurávamos. (S8).

Os alunos universitários, por serem sujeitos adultos têm diversas

responsabilidades, além dos estudos. Zabalza (2004) afirma que:

Os alunos têm que responder, em muitos casos, as exigências alheias ao que é estritamente universitário (o preenchimento dos quesitos de estudante é incompleto): às vezes, são pessoas casadas com obrigações familiares; às vezes trabalham; às vezes vivem longe dos campi, etc. (ZABALZA, 2004, p. 187).

A dificuldade de locomoção por causa da distância percorrida no trajeto para

a Universidade é citada pelos alunos, o trânsito também é um fator que influencia o

dia-a-dia e isso aparece na sala de aula.

Eu e a Lúcia moramos na mesma região, eu moro no Jardim São João e ela mora na Cidade Soberana, nós pegamos o ônibus, um ônibus que cabe 100 pessoas, 50 sentados e 50 em pé; eles conseguem colocar 250 pessoas dentro do ônibus às 6 horas da manhã, isso já é uma dificuldade. (S9). Tem o trânsito. (S8).

É o trânsito é uma dificuldade. (S9).

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S8 Às vezes você chega atrasado, por exemplo: teve um acidente na famosa Via Dutra e ela parou. Aquela história: o cachorro comeu meu trabalho... Você explica para o professor que teve um acidente na Dutra, e ele diz: Ah lá vem aquelas desculpinhas! Mas não é uma tira, é uma realidade que a gente enfrenta desde o 1º. semestre. (S8). Ainda mais aqui em São Paulo, se tem uma moto quebrada na trabalhadores, trava-se tudo. Você acaba pegando o trânsito, condução lotada, você acaba tendo outros desgastes. (S9).

As dificuldades financeiras, tais como: dinheiro para condução, mensalidade e

aquisição de materiais, também, aparecem nos relatos dos sujeitos:

Dinheiro de condução é uma dificuldade, mensalidade é uma dificuldade. (S9).

Quando entrei na Universidade, nos primeiros semestres eu não tinha um computador. (S2).

Eu não conseguia pegar muitos textos, porque eu estava desempregado, meu tio que me ajudava. (S1).

Silva (2011) menciona a questão de que os alunos de novas camadas sociais

que estão ingressando no Ensino Superior, precisam custear seus estudos:

Se bem que, em grande parte, esse ingresso seja feito à custa de imensos sacrifícios pessoais, tendo o educando que garantir o custeio das mensalidades, mesmo quando recebe auxílio institucional para pagamento destas, ainda deve prover o necessário para alimentação, transporte, material para estudo. (SILVA, 2011, p. 39).

A citação acima vem de encontro à realidade dos sujeitos de pesquisa, o

esforço empreendido por eles para alcançar o nível superior de ensino é evidente.

Superação

A tensão dos conflitos que ocorreram entre trabalho e estudo não foi

solucionada de fato, mas, os sujeitos tentam de alguma forma encontrar estratégias

para dar prosseguimento aos estudos:

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Eu só consegui solucionar esse problema no 3º semestre que foi a época que eu me afastei do trabalho na escola, agora eu estou afastada, mas as meninas na escola onde eu trabalho tem dificuldade com essa questão de horário até hoje. Solucionar, não solucionou tudo, agora melhorou porque eu me afastei, talvez volte o ano que vem, mas ainda não tem uma solução para isso, porque eles lá não entendem esse fato de poder estudar. (S8).

Os sujeitos pesquisados buscam melhor qualificação através dos estudos,

mas, o mundo do trabalho, embora precise de pessoas qualificadas, muitas vezes,

está em descompasso com o esforço empreendido pelos trabalhadores em busca de

formação, o que gera conflitos e dificuldades para os sujeitos que desejam estudar.

No que se refere às dificuldades financeiras e à aquisição de recursos

materiais, percebe-se nas falas dos sujeitos que ao conseguirem melhores

colocações no mundo do trabalho, investem na aquisição de materiais que facilitem

seus processos de aprendizagem.

Quando você consegue um emprego melhor você compra um computador, eu consegui com esforço, em várias prestações, mas aí é uma coisa que é minha, que vai estar comigo. (S2).

4.2 Problemas familiares e de ordem emocional

As dificuldades familiares e de ordem emocional se mostram presentes na

trajetória acadêmica dos sujeitos de pesquisa: dúvida se consegue continuar ou não

fazendo o curso (nos primeiros períodos), alterações emocionais no momento das

apresentações, falta de motivação e conflitos familiares.

Por causa das dificuldades que surgem nos primeiros períodos, os sujeitos

pensam que não vão conseguir continuar com o curso, a falta de motivação é

percebida em seus relatos:

Eu achava que não ia dar conta! (S9).

Eu pensei até em desistir, foi muito difícil! (S4).

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Coloun (2008) menciona que as mudanças que ocorrem na vida do aluno que

ingressa no Ensino Superior, fazem com que muitos estudantes tenham rupturas

inclusive nas condições de existência, o que pode provocar ansiedade, mudanças

de comportamento e sentimento de fracasso.

Nos relatos dos sujeitos, percebe-se que as dificuldades enfrentadas não

ocorrem somente no espaço da universidade, mas podem aparecer em diversas

áreas, provocando alterações emocionais:

No primeiro semestre eu olhava para aquelas pessoas do meu grupo e pensava: Eu te mato! Vou te dar chumbinho no café... Você acha que tudo é pessoal, mas tudo por conta da falta de maturidade. Então você fica com raiva da pessoa mesmo. (S9). Tive problemas familiares, minha avó veio a óbito, foi no terceiro semestre. Eu pensei que fosse ficar desamparada, que iria ser reprovada. (S4).

A vida do aluno continua em movimento, situações do cotidiano que fazem

parte da vida humana, continuam tendo que ser administradas; a universidade é

mais uma responsabilidade e inevitavelmente os conflitos tendem a aparecer. Os

sujeitos pesquisados falam sobre conflitos familiares, por causa da opção por

estudar:

Meu esposo também me ajuda, meu segundo esposo. Fui casada com o primeiro marido durante 18 anos. Meu sonho era voltar a estudar, mas, ele nunca deixou. Eu falei para ele que iria me separar dele e iria voltar a estudar, me separei dele e voltei a estudar. Meu marido atual no começo colocou barreiras e eu disse: Olha eu me separei do meu primeiro marido, pai dos meus filhos, para voltar a estudar, não vai ser você que vai me impedir, aí ele falou: tudo bem então. Hoje ele me apóia, me parabeniza. (S7).

Segundo Coloun (2008), há várias rupturas que ocorrem durante a passagem

para o Ensino Superior, a vida afetiva e familiar também passam por mudanças, que

indicam um caminho em direção para uma vida mais autônoma.

Os relatos dos sujeitos apontam para a questão das apresentações de

trabalhos em sala de aula, há alunos que ficam abalados emocionalmente:

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Ah! Eu chorava, chorava muito! Eu achava que não ia dar conta. Já teve trabalho em grupo, em que o grupo não apareceu. Nós tivemos uma menina do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque tinha dor de barriga, mas isso era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca. (S9).

Eu também chorei! (S7).

Superação

A superação das questões familiares e de ordem emocional, não foi

aprofundada, nos relatos dos sujeitos. Entende-se que eles foram reagindo às

situações de estresse conforme os recursos disponíveis no momento. Eles não

falam sobre orientações recebidas por professores a respeito dessas questões, e

citam a família como coadjuvantes do processo acadêmico. Considera-se que a

vontade e a escolha por fazer um curso superior fez com que os sujeitos

pesquisados superassem os desafios. Placco e Souza (2006) mencionam a

deliberação como característica da aprendizagem do adulto: “[...] aprender decorre

de uma escolha deliberada de participar ou não de dado processo”. (PLACCO e

SOUZA, 2006, p.19). As autoras falam que a base da deliberação é a volição, diante

disso, pode-se dizer que os sujeitos de pesquisa passaram por esse processo para

superar as dificuldades:

Eu superei porque sempre tive o sonho de fazer um curso superior, Mas eu falei: sou capaz! Acreditei em mim, pensei: eu vou vencer! Então superei os obstáculos. (S5).

Na fala dos sujeitos percebe-se que a vontade de aprender e vencer, o correr

atrás do que se quer, faz superar as dificuldades:

Eu acho que independe da Escola, da Universidade, vai depender de você. Se quisermos aprender algo: vamos aprender. (S4).

Os sujeitos dizem que há um sentimento de vitória na superação das

dificuldades de conciliar família e estudos:

Para mim foi muito bom, com a idade que eu tenho chegar até a Faculdade... foi difícil porque eu tenho duas filhas, conciliar horários, ser dona de casa, cuidar de crianças... Hoje eu me sinto vitoriosa. Eu consegui vencer uma batalha! Eu sonhei há mais de 20 anos com isso! (a aluna chorou nesse momento). (S5).

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4.3 Dificuldades com relação à estrutura física da universidade e Internet

Os sujeitos pesquisados relatam que nos primeiros períodos, tiveram

dificuldades com relação às condições do laboratório de informática, à obtenção de

orientação na biblioteca e uso da Internet.

Segundo Zabalza (2004), as novas tecnologias afetam a organização da

formação, isso ficou muito explícito no relato dos sujeitos com relação às situações

que tiveram que enfrentar no uso de instrumentos de pesquisa.

Dificuldade com o laboratório de informática

Os sujeitos falam das dificuldades que tiveram com a informática, relatam que

o laboratório não atende às suas necessidades de horário, de acesso e de leitura de

e-mails, reclamam da falta de disponibilidade com relação aos equipamentos que as

universidades oferecem:

Fazer uma pesquisa na hora do intervalo rapidinho é muito difícil. (S3). . Quem não tem computador em casa vai procurar aonde? Na faculdade. Você chega na faculdade, os laboratórios estão lotados, tem muitos alunos. A faculdade tem capacidade de ter um laboratório maior. Às vezes está lotado e você não consegue entrar no laboratório e quando consegue, até uma máquina ligar, até você entrar na internet...S3 Você já desistiu. (S2). Não abre email, o aluno precisa enviar o trabalho por email. Às vezes o professor reserva o laboratório e então dificulta para os alunos. (S4).

Quando os sujeitos não conseguem acessar os computadores na

Universidade, pedem auxílio para outras pessoas, ou não fazem os trabalhos:

A gente tem que ir na casa de alguém que tem computador ou pedir para alguém pesquisar alguma coisa para você, então essa é a grande dificuldade, porque você tem que pedir para os outros pesquisarem para você e às vezes, pagar para alguém para fazer uma pesquisa. (S2).

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Muita gente fica sem fazer os trabalhos, acaba ficando sem nota, porque a maioria dos trabalhos tem que ser digitados. Hoje em dia é muito difícil um professor pedir um trabalho manuscrito, porque é de universidade. Então tem muitas pessoas que não têm como pesquisar em algum lugar, essas acabam não fazendo. (S3).

O fato de os sujeitos não possuírem, ou de não terem acesso a um

computador, dificulta a realização dos trabalhos acadêmicos, isso demonstra que as

exigências atuais relacionadas à informática, não podem ser ainda atendidas por

todos os alunos que ingressam na universidade.

Os sujeitos dizem que o computador é uma necessidade:

É uma necessidade com certeza. Ainda mais na universidade, totalmente. (S2). Na verdade o computador vira ferramenta necessária. (S4). Tudo gira em torno do computador, e não tem jeito, o professor diz que vai enviar as informações por e-mail. (3).

No entanto, alguns sujeitos não sabem lidar com informática e dessa forma,

sentem-se despreparados para cursar uma universidade.

Eu tinha bastante dificuldade e tenho até hoje na área de informática. Eu conheço muito pouco, mas para pesquisa resolve. No começo para fazer e montar os trabalhos era muito difícil, porque eu não tinha esse conhecimento em informática. Eu falo: Sou uma analfabeta em informática. O que eu conheço é muito pouco para quem está no nível universitário, se torna um pouco carente o conhecimento da informática. (5).

Nos relatos dos sujeitos percebe-se que alguns não conseguem acessar os

materiais disponibilizados on-line, então solicitam o uso de xerocópias:

O professor diz para entrarmos no site onde estão os materiais da disciplina. E nós perguntamos: Mas não tem como deixar no xerox? O professor responde: Não. Entra no site; ou então, o que está passando no slide a gente vai anotando, e eles falam que nós estamos anotando alguma coisa que ele está passando no slide, aí eles mudam o slide, aí a gente fala: professor, espera um pouquinho que nós estamos copiando. E ele diz: Não. Está tudo no site. Você depende do computador. As xerocópias ajudariam muito a gente a acompanhar as matérias. (S2).

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Os sujeitos que passaram algum tempo sem estudar falam das dificuldades

que tiveram com a informática:

Eu tive dificuldade na realização de trabalhos, a gente fazia com almaço, porque fiquei fora da escola, fora da sala de aula,muito tempo. Quando regressei, a minha dificuldade era navegar na internet, porque como dona de casa, eu não navegava na internet. Aí como mexer no computador? Esse negócio de normas, como fazer? A coisa não andava, quando eu achava que tinha conseguido uma coisa, vinha um e falava: não, não é mais assim, vinha outro e falava não, não é assim, é assado. Aperta tal botão, não é esse botão é o do lado. (S6). Fiquei mais de 20 anos fora da escola, quando voltei a estudar fui para a EJA, fiquei 3 anos e meio, fiz da 5ª. série até o 3º. Colegial, e a partir disso, entrei na Universidade em 2009. Quanto tempo fiquei fora da escola? Para mim todas aquelas matérias eram um bicho de sete cabeças. Eu não conseguia entender, era muito difícil! A questão do computador... a internet para mim era novidade. (S7).

Um novo descompasso se evidencia, uma utilização cada vez maior das

novas tecnologias como ferramentas indispensáveis nos espaços de aprendizagem

e a impossibilidade de ter acesso a elas, por parte dos estudantes, no que se refere

à competência para utilizá-las e aos recursos materiais para adquiri-las.

A internet ganhou espaço na educação, as redes atraem os estudantes e

existem vários tipos de aplicações educacionais: de divulgação, de pesquisa, de

apoio ao ensino e de comunicação (MOURAN, 1997).

Cada vez mais, os estudantes necessitam da habilidade de se comunicar

através da Internet, mas, os relatos dos sujeitos mostram que nos primeiros períodos

existem dificuldades no manuseio do computador e no uso da Internet.

A dificuldade de realização dos trabalhos acadêmicos com relação à

informática vem acompanhada da dificuldade de utilização da biblioteca. Os sujeitos

falam da dificuldade de obter orientação para pesquisa na biblioteca:

Tive problema na biblioteca, no primeiro e segundo semestre. Os atendentes quando estão ali atrás do balcão, você pede uma ajuda, eles falam que não, que estão ocupados separando livros. Eu fiquei quase duas horas sozinha procurando um livro e a funcionária ali, foi

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um descaso. Sabe, eu acho que eles poderiam ter me recebido melhor. É difícil! Eu acho que é um erro da universidade. (S4).

Coloun (2008) fala que as questões relacionadas à dificuldade que os alunos

têm de acessar a biblioteca, quando estão ingressando na Universidade, não são

muito discutidas no seio da comunidade universitária. O autor afirma:

Eu tenho tido a oportunidade, sobretudo no início das aulas, quando eu mesmo estou procurando referências na biblioteca, de dar informações a estudantes que se dirigem a mim e colocam questões básicas, muito práticas, como o significado dos números vermelhos e negros sobre os resumos do catálogo manual, como preencher uma ficha de empréstimo ou como encontrar uma referência nos terminais informatizados, etc. Existem, entretanto, perto dos catálogos, cartazes explicativos, mas eles não são completos e explícitos e, de qualquer forma, eles não ensinam como passar para as operações concretas. (COLOUN, 2008, p.194).

Nos relatos dos sujeitos de pesquisa, nota-se que nenhum deles menciona

preocupação por parte das Universidades com relação ao entendimento do aluno

quanto aos mecanismos de acesso à biblioteca. Coloun (2008) menciona a

importância da pesquisa documental para o estudante:

A necessidade mais evidente de aprendizagem dos códigos do trabalho intelectual se manifesta no trabalho de pesquisa documental nas bibliotecas. Podemos considerar que isso é absolutamente fundamental, pois permite aos estudantes ativar as instruções, explícitas ou implícitas que fazem parte dos estudos acadêmicos. É necessário aprender a se servir de uma biblioteca. (COLOUN, 2008, p. 263).

Para o mesmo autor, o uso competente da biblioteca proporciona ao

estudante a condição de identificar o conteúdo que necessita, caso contrário, nasce

um sentimento de fracasso e de frustração.

Superação

Os sujeitos falam da superação das dificuldades de lidar com a informática e

com as pesquisas na biblioteca, a realização de cursos, o auxílio da família e amigos

contribuíram:

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Eu fiz um curso de informática para me auxiliar nas dificuldades que eu tinha com as normas da ABNT e formatar. Hoje eu já consigo fazer, mas, ainda estou engatinhando na informática. O meu esposo que trabalha na área de comunicação me ajudou muito. Eu aprendi, melhorei bastante. (S5).

Para superar eu tive que ser encorajada. Existem apostilas de informática hoje, mas, na minha opinião, para você aprender você precisa praticar. Então eu sentava na frente do computador, o esposo da minha tia ficava do meu lado e me encorajava para conhecer os programas, essa foi a forma que eu tive para superar essa dificuldade. Praticando... ser desafiada a conhecer novos programas, digitar, formatar. (S4).

Os sujeitos que disseram ter passado algum tempo sem estudar e que

regressam aos estudos na Universidade, relatam que não superaram totalmente a

questão de lidar com a informática, mas se percebe avanços com relação a isso:

Meu marido sempre me ajudou numa boa, ele sempre me incentivou a voltar a estudar, ele está mais acostumado a mexer no computador por causa do trabalho dele. O meu filho por ser mais novo já cresceu nesse meio, para ele é normal, é esquisito quando ele vai fazer alguma coisa e não tem computador. Eu achava que era muito complicado, tinha uma seqüência de botões que eu não lembrava, então eu pedia para ele fazer para mim. Rsrs... È assim até hoje. Eu tive que pedir ajuda para o meu marido, para os meus filhos, para as amigas do grupo. Tenho dificuldade até hoje. Se eu falar que consigo navegar é mentira, mas hoje tenho mais intimidade com o computador. (S6). Meus filhos foram me ajudando, eu fiz um curso para conhecer um pouquinho o computador, hoje eu não sei mexer em tudo, mas conheço uma boa parte, quando tenho dificuldade o meu filho e minha filha me ajudam. Até nos trabalhos acadêmicos, meus filhos são muito importantes nessa parte, meu esposo também. (S7).

É notável que as novas gerações tenham contato mais dinâmico com os

meios de aquisição da informação, os filhos e familiares dos sujeitos tem um papel

significativo no processo de superação das dificuldades relacionadas ao uso da

internet e realização de trabalhos acadêmicos.

Com relação à biblioteca, os sujeitos dizem que o auxílio dos amigos fez com

que eles fossem dominando, aos poucos, seus mecanismos:

No primeiro semestre foi uma amiga que estudou aqui que me ajudou, ela falou: você vai, olha a numeração, foi muito difícil mesmo. (S4).

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Os sujeitos não mencionam nenhum tipo de estratégia oferecida pelas

universidades para a superação das dificuldades à respeito da utilização dos

instrumentos de pesquisa na biblioteca.

4.4 Dificuldades na relação com o Professor e o curso

As dificuldades na relação com o professor e o curso aparecem em vários

seguimentos.

Na relação com o professor, os sujeitos falam da falta de clareza quanto ao

planejamento das aulas, orientação inadequada para o desenvolvimento dos

trabalhos individuais e grupais, metodologia inadequada, desconhecimento por parte

dos professores das condições de vida dos alunos, exigências que não podem ser

atendidas pelos alunos por falta de repertório, dificuldade de comunicação entre

professores e alunos.

Na relação com o curso, os sujeitos relatam que o curso é muito amplo,

enfoca muitos conteúdos, há muita teoria, pouca prática, existem também

dificuldades com estágio e atividades complementares.

Na relação com o professor:

A falta de clareza quanto ao planejamento das aulas é uma dificuldade que os

sujeitos citam como algo que os confunde com relação às disciplinas:

É aquele professor! Ele é confuso e nos deixa confusos. E o pior é que a gente se prejudica. (S3).

A minha dificuldade foi com alguns professores que não seguiam o cronograma. O professor começa a dar uma matéria hoje e quando você vai ver ele está dando outra matéria, e não acabou aquela que ele começou na aula anterior, e não acaba aquela que ele está dando naquela aula, então você fica perdido. Eu acho que essa é a parte mais difícil. Ele começou a aula hoje, explica que aconteceu um problema, pede desculpas por estar meio aéreo, aí fica tudo bem, então na outra semana já é outra coisa, ele fala que na semana que vem é para fazer mapa conceitual, aí na outra semana ele chega e fala que não pediu isso: Eu não pedi isso. E nós falamos: Mas professor a sala toda fez o que você pediu. E o professor diz: Não,

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nós vamos fazer outra coisa. Ele não planeja as aulas, é também falta de organização. Com certeza, ele tem que planejar, a gente tem que planejar desde quando entra numa escola, tem fazer todo o cronograma até o término. (S2).

A dificuldade que eu tive: foi que alguns professores, eu não vou citar nomes. Alguns professores desorganizados. Teve um professor que não planejava. Começava um assunto, não dava continuidade. Por exemplo: ele começou um tema em uma aula, e disse que ia continuar na próxima aula, mas quando chegou o dia ele já começou outro assunto, isso me deixou confusa, então eu não entendia direito. Um dia ele chegou em sala e falou: O que vocês querem que eu dê? Acho que não é bem assim. Acho que os professores de Universidades, escolas particulares no geral, eles deveriam antes de entrar numa sala de aula, ter um planejamento. Para não ficar confuso, o professor tem que vir mais preparado. (S4).

Analisando os comentários que os sujeitos de pesquisa fazem, percebe-se

que existe, por parte deles, uma necessidade de entender os caminhos que o

professor está utilizando para que eles atinjam os objetivos da aprendizagem. Gil

(2006) diz que nos levantamentos que são realizados com alunos que cursam o

Ensino Superior, verifica-se que há deficiências com relação à formação do

professor deste nível de ensino, e que os alunos apontam, em sua maioria, para

questões de falta de didática.

Gil (2006) afirma que durante muito tempo, bastava ao professor do Ensino

Superior ter uma comunicação fluente e domínio dos conhecimentos referentes às

disciplinas que iria lecionar para ser bom naquilo que fazia, isso porque os alunos

desse nível de ensino são adultos e não exigiriam de seus professores mais do que

isso: “Os estudantes universitários, por já possuírem uma “personalidade formada” e

por saberem o que pretendem, não exigiriam de seus professores mais do que

competência para transmitir os conhecimentos e para sanar suas dúvidas.” (GIL,

2006, p.01). O autor prossegue com sua reflexão, e fala a respeito de que na

atualidade são poucas as pessoas que aceitam esse pensamento:

O professor universitário, como o de qualquer outro nível, necessita não apenas de sólidos conhecimentos na área em que pretende lecionar, mas também de habilidades pedagógicas suficientes para tonar o aprendizado mais eficaz. Além disso, o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciência e de educação compatível com as características de sua função. (GIL, 2006, p.1).

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Além das características necessárias à sua função, o planejamento de ensino

é outra questão importante que serve para direcionar a atuação do professor. Nos

relatos dos sujeitos pesquisados verificou-se a necessidade de planejamento. Gil

(2006) diz que o planejamento direciona as atividades para o aprendizado:

O planejamento do ensino é o que se desenvolve em nível mais concreto e está a cargo principalmente dos professores. Ele é alicerçado no planejamento curricular e visa ao direcionamento sistemático das atividades a serem desenvolvidas dentro e fora de sala de aula com vistas a facilitar o aprendizado dos estudantes. O professor universitário, ao assumir uma disciplina, precisa tomar uma série de decisões. Precisa, por exemplo, decidir acerca dos objetivos a serem alcançados pelos alunos, do conteúdo programático adequado para o alcance desses objetivos, das estratégias e dos recursos que vai adotar para facilitar a aprendizagem, dos critérios de avaliação etc. (GIL, 2006, p. 99).

As necessidades verificadas nos comentários dos sujeitos, e as afirmações do

autor acima citado, implicam em se pensar nas contribuições do plano de ensino

para a aprendizagem do adulto no Ensino Superior, porque a falta de clareza desse

plano provoca uma série de situações que deixam o aluno inseguro para realização

de atividades relacionadas às disciplinas do curso escolhido.

Os sujeitos falam da falta de diretrizes específicas nas orientações para o

desenvolvimento dos trabalhos individuais e grupais:

No semestre que nós estávamos fazendo o TCC, nós não estávamos preparadas ainda para o TCC, eu não estava bem orientada. Eu acho que faltou orientação. Este trabalho deveria ser melhor orientado pelo professor. Houve falha de orientação. Era meio confuso, o professor não era bem específico no que ele queria. Você escrevia uma coisa, ele lia e falava: Não, não é isso. Depois de uma semana você voltava com a mesma coisa, e ele falava: Ah, isso está legal. Então, assim ele entrava em contradições quando lia os artigos. Não só eu fiz essa reclamação, várias pessoas reclamaram. (S5).

Os sujeitos mencionam as orientações do TCC como tardias:

As orientações do TCC ocorreram muito depois. Assim que começou o semestre a gente já pensou que teria as orientações, mas, foi lá

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para frente. Quando foram na sala de aula falar sobre o TCC nós comentamos: Não teria como vir antes? E eles falaram: não, porque tem que programar muita coisa. O TCC é a conclusão do curso, você fica com aquilo na sua cabeça o dia inteiro: Eu tenho que fazer o TCC! (S8).

Os sujeitos dizem que em determinado momento do curso as

responsabilidades aumentam, e eles começam a se preocupar com a quantidade do

que estão fazendo, e não com a qualidade:

Para falar a verdade no meu ponto de vista, você está concluindo o curso agora, então quando chega o final do seu curso você tem o TCC para fazer, o estágio para fazer, você tem filho, marido, então tudo que não está bom acaba piorando, e você não encontra qualidade no que está fazendo, porque vai se preocupar na quantidade. (S9).

Nos relatos dos sujeitos mencionam-se as exigências feitas pelos

professores, que às vezes não podem ser atendidas por falta de repertório ou de

condições financeiras:

Eu sei que o aluno contribui às vezes na aula, o aluno fala dá opinião, mas às vezes tem muitos professores que esperam muito dos alunos. (S4).

Percebe-se que há um desconhecimento por parte dos professores das

condições de vida dos alunos, os sujeitos de pesquisa relatam não ter condições

para aquisição de material:

Eu conseguia pegar poucos textos, porque no momento eu estava desempregado, quem estava me ajudando era meu tio, que ainda continua me ajudando, então para evitar transtornos com mais gastos eu pegava alguns, eu pegava os mais importantes. (S1).

Os sujeitos relatam que a falta dos professores nas aulas prejudica a

aprendizagem dos conteúdos, a comunicação entre professor e aluno fica a desejar:

A gente perdeu muitas aulas, esse professor de lúdico, por exemplo, ele falta e pede desculpas, mas, já faz dois semestres que ele está assim desse jeito, a gente que está perdendo. Nós tivemos professores que foram mandados embora, por exemplo, no meio do

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semestre, vieram outros professores para substituição. Então eu acho que os professores têm que ser melhor selecionados. (S2).

Uma disciplina tão interessante que é sobre lúdico que a gente queria muito aprender sobre isso. Acabamos não aprendendo. (S3).

Os sujeitos dizem que há falta de comunicação entre os professores e

solicitam que a coordenação do curso esteja mais presente em determinadas

situações:

Reclamam que há falta de comunicação entre os próprios professores porque teve semana que eles trocaram aula e o professor acabou esquecendo, viemos de graça. Teve gente que veio do Ipiranga para ter aula, chegou aqui e o professor esqueceu. Aí a pessoa acabou indo embora, só que a pessoa ficou muito brava, fez uma reclamação no CA e enviou para a coordenadora do curso, eles resolveram entre eles, mas, não deram a resposta para a sala. O que acontece é que a coordenação não passa para os alunos, o que aconteceu ninguém sabe. Eles pediram desculpas, disseram que foi um erro deles, mas a coordenação tinha que participar mais, descer na sala, olhar, ver o que está acontecendo. (S1).

Dificuldades na relação com o curso: Os sujeitos dizem que há críticas quanto ao curso de Pedagogia, relatam que

o Curso é muito amplo, enfoca muitos conteúdos, muita teoria, e isso desmotiva:

Quando a gente chega na faculdade a gente chega cheia de perguntas e dúvidas. Quando você fala que é Pedagogia, as pessoas te criticam bastante, a sociedade critica, eles esquecem que tem que ter professores para que existam profissionais no mercado. (S5). Eu acho o curso de Pedagogia muito aberto, é muito aberto! É matemática, português, geografia, ciências, tudo no mesmo semestre, você acaba se perdendo, você não sabe o que você estuda. O meu problema foi de adaptação. Achei que deveria ser um curso que motivasse mais os alunos, e não é o que acontece, ele se torna um curso muito aberto porque são várias disciplinas e isso não motiva ninguém, porque tem muita gente que vai parando, acho que por causa dessa falta de motivação. (S1).

Os sujeitos falam da dificuldade que tiveram para realizar as atividades

complementares e estágios, dizem não compreender o porquê dessas atividades:

Tem uma questão que é difícil que é o estágio. E a atividade complementar então? Na minha opinião, a atividade complementar... as visitas culturais...tem algum fundamento, mas eu acho que a

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gente faz 200, 250 horas no curso todo, só que não tem um professor para falar assim: olha vocês vão lá, que depois a gente vai estudar sobre isso, vai discutir o que vocês acham. (S10).

Gatti e Nunes (2009), coordenaram a realização de um estudo que se propôs

à analisar disciplinas e conteúdos de formação no Ensino Superior de vários cursos

de licenciatura, o curso de Pedagogia fez parte dessa pesquisa. Entre outras

questões, as autoras falam sobre as atividades complementares, que se referem às

atividades integradoras, e que são recomendadas pelas Diretrizes Curriculares

Nacionais do curso de Pedagogia, mas apontam para o fato de que a denominação

dessas atividades nos currículos não é muito definida, e não se tem muita clareza do

que se trata de fato.

Nas afirmações de Gatti e Nunes (2009), percebe-se que existe falta de

clareza nas especificações das atividades complementares, o que vem de encontro

com o relato dos alunos, quando não entendem o porquê da sua realização. Quanto

ao estágio, está previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais, possui carga horária

definida, mas não há uma especificação de como se realizam (GATTI e NUNES,

2009). Gatti e Nunes (2009), falam sobre os estágios:

Essa ausência nos projetos e ementas pode sinalizar que, ou são considerados totalmente à parte do currículo, o que é um problema, na medida em que devem integrar-se com as disciplinas formativas e com aspectos da formação e da docência, ou sua realização é considerada meramente formal. (GATTI e NUNES, 2009, p. 21).

O relato dos sujeitos de pesquisa mostram que na realização dos estágios, o

que é formal aparece:

A aula de estágio nada mais é para o professor ver se sua ficha está certa ou não... As dificuldades do estágio acontecem em todos os aspectos: tempo, dinheiro, disponibilidade. Às vezes por causa de uma vírgula você tem que refazer o trabalho todinho, aí você vai lá e imprime seu trabalho todinho... Porque o P de Pedagogia ficou com letra minúscula... Para mim, o que foi mais difícil no curso, falando hoje no sexto semestre, foi o estágio e atividade complementar. (S10).

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Fávero (2011) faz uma reflexão a respeito do estágio curricular na

universidade, ela diz que:

[...] embora legalmente ou em termos de discurso, o estágio curricular seja apresentado como elemento de integração entre teoria e prática, na realidade ele continua sendo um mecanismo de ajuste que busca solucionar ou acobertar a defasagem existente entre os elementos teóricos e trabalhos práticos”. (FÁVERO, 2011, p. 68).

No caso dos sujeitos que participaram dessa pesquisa, entende-se que a

defasagem que Fávero (2011) comenta, entre os conhecimentos teóricos e trabalhos

práticos, aparece nas atividades que eles têm que realizar no processo formativo. A

teoria e prática teriam que estar sincronizadas, mas, na vivência acadêmica desses

alunos isso não ocorreu desta forma.

Outra questão que os sujeitos dos grupos pesquisados apontam, é a

organização das disciplinas com relação ao estágio, nas falas dos alunos percebe-

se que as disciplinas de determinados estágios, eram cursadas depois da realização

do estágio, isso dificultou a compreensão da vivência do estágio:

Uma dificuldade que houve muito grande, por exemplo, foi o fato de nós estarmos tendo disciplinas sobre administração, gestão, liderança, tudo mais voltado para esse lado, e o nosso estágio foi no quinto semestre...(S8). Foi empresarial. (S9). S8 Foi no semestre anterior. A gente chegava na empresa para fazer aquele estágio, e a gente via aquele monte de nomes. O professor queria saber o clima organizacional, queria saber de todos os termos... e a gente ficava assim: O que é isso? As disciplinas anteriores eram sobre EJA, metodologias de matemática, coisas que não tinham muito a ver. A organização das disciplinas, no meu ver, não é assim que deveria ser, porque hoje, depois de cursar as disciplinas, se eu fosse fazer o estágio numa empresa, eu já iria entender os termos que eles usavam, porque para falar a verdade, eu só coloquei no papel o que eu fiz no semestre passado, mas, entender o que aquilo queria dizer eu não entendi. Hoje eu entendo, até falo para as meninas: Fiquei tão agoniada no semestre passado porque eu não sabia os termos que eles usavam. (S8). É uma confusão brava. (S9). É muita confusão... (S8).

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É sim o negócio está estreito. (S9).

Fávero (2011), fala a respeito da desarticulação das disciplinas no Ensino Superior e de como os alunos se sentem frente à essa situação:

[...] tornando-se o currículo, muitas vezes, um elenco de disciplinas justapostas e desconexas, apesar de estarem administrativa e burocraticamente ligadas por pré-requisitos e correquisitos, e “controladas” por um colegiado de curso. (FÁVERO, 2011, p.66). Frente a essa desarticulação a mente do aluno se transforma em um verdadeiro “samba do crioulo doido”, marcada pela inexistência de clareza quanto ao sentido do que deve ser estudado e à razão de ser de cada disciplina, programa e bibliografia. Em decorrência, muitos caminham para a conclusão do curso quase por uma fatalidade e cada vez mais inseguros. (FÁVERO, 2011, p. 66).

No relato dos sujeitos da pesquisa encontra-se o que eles chamam de

confusão com relação às disciplinas. Fávero (2011), faz afirmações muito precisas

sobre o assunto, contribuindo para o esclarecimento de questões, que muitas vezes,

não emergem no contexto da graduação.

Superação

Superação das dificuldades na relação com o professor

Os sujeitos não relatam superações muito específicas a respeito das

dificuldades encontradas para compreender o planejamento dos professores, mas,

salientam que quando os professores fazem algum tipo de esclarecimento é muito

positivo:

O professor demorou quase um semestre para explicar a

metodologia e quando chegou agora no sexto semestre o professor

conseguiu explicar para a gente em vinte minutos, assim deu uma

diferença. (S1)

Superação das dificuldades com relação ao curso.

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Os sujeitos de pesquisa não falam muito a respeito das superações com

relação ao curso, somente um deles diz não ter desistido de estudar porque

percebeu as possibilidades que o curso poderia oferecer:

No meu caso, quando comecei a estudar, eu via que a Pedagogia poderia me abrir muitas portas, ela é como um leque bem amplo, você não precisa ir só para a sala de aula, ela te dá outras oportunidades, isso me motivou bastante para continuar na Pedagogia, tanto é que eu superei e estou aqui. (S5).

4.5 Dificuldades com o conhecimento teórico

Os sujeitos salientaram que ao iniciar o Curso de Pedagogia entraram em

contato com a produção teórica de diferentes autores, penetrar em seus

pensamentos, compreender suas idéias não se apresentou como tarefa fácil.

Dificuldades de leitura e interpretação de textos

Quando se fala em dificuldades de leitura e interpretação de textos, é

importante lembrar que a habilidade de leitura está profundamente relacionada ao

cotidiano das práticas profissionais do professor, o que referenda a importância do

desenvolvimento dessas habilidades no Curso de Pedagogia. Essas habilidades

também são fundamentais para que o aluno se aproprie dos conteúdos trabalhados

nas diferentes disciplinas que compõe o curso. Santuza Amorim da Silva (2009),

investigadora das trajetórias de leitura de docentes afirma: “[...] o itinerário de leitura

das professoras tornou-se significativo, à medida que elas são importantes

mediadoras da leitura no universo escolar [...]”. (SILVA, 2009, pg. 208).

Para o docente a leitura é instrumento para o seu trabalho, que provoca a

interação com o conhecimento e com aqueles que se propõem a conhecer. Quando

existem dificuldades no âmbito da leitura e interpretação a apropriação dos

conhecimentos fica prejudicada. Os professores necessitam da leitura para mediar a

relação dos alunos com o conhecimento.

Silva (2009) salienta que os níveis de leitura dos alunos da escola pública

brasileira são baixos, e que se transformaram em problema não só para a escola,

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mas para toda a sociedade. A leitura aparece como uma questão social importante

que necessita de ampla atenção por parte da comunidade acadêmica, talvez com

olhares para as questões econômicas e culturais, se consiga compreender um

pouco melhor os fatores que colaboram para os problemas existentes nessa área.

Para Silva:

[...] Há de se considerar que a leitura se encontra diretamente ligada às condições de distribuição e apropriação dos bens culturais pela população em geral”. E, no caso do Brasil, os dados apontam com frequência para a falta do hábito de leitura do povo brasileiro; em muitos casos, sem levar em consideração que o acesso a determinados bens culturais não se realiza de forma igualitária e democrática. Ainda vivenciamos problemas que dificultam a apropriação de diferentes segmentos sociais na herança cultural veiculada na sociedade da informação, seja através do objeto livro ou dos meios eletrônicos. (SILVA, 2009 p. 206).

Para Silva (2009) 87% dos municípios brasileiros não possuem livrarias e as

bibliotecas públicas são insuficientes, percebe-se com esses dados que não há um

incentivo eficaz de leitura com relação à população brasileira e que tais questões

vão muito além de pensar somente no aluno leitor, mas essa falta de incentivo

provoca dificuldades que aparecem no Ensino Superior. A autora afirma que é

necessário haver um aprofundamento na área de leitura com relação às práticas de

formação de professores.

A dificuldade de leitura e interpretação de textos foi relatada pelos sujeitos

dos dois grupos pesquisados, os mesmos afirmam que nos primeiros semestres é

muito difícil compreender os textos disponibilizados:

A dificuldade que nós encontramos no primeiro semestre é que eram muitas informações, muita teoria, então a gente não conseguia assimilar. (S1). Eu tive dificuldade em fazer leitura e saber interpretar essa leitura. (S2).

Nossa! Era complicado entender os textos no começo. (S3).

Para Ruth Ceccon Barreiros (2010), docente e pesquisadora sobre formação

de leitores, as pesquisas sobre habilidade de leitura mostram que os alunos

apresentam dificuldades nos vários níveis de ensino, o que também ocorre no curso

de Pedagogia cujo objetivo é formar leitores capazes de decodificar e também

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trabalhar com textos. A dificuldade da leitura, na verdade, é uma das barreiras para

que os alunos permaneçam na Universidade.

Percebe-se que muitas vezes, a quantidade de textos assusta os alunos que

estão no início do curso. Os sujeitos dos dois grupos pesquisados foram unânimes

em afirmar que há muita teoria nos cursos de Pedagogia:

É muita informação! É só teoria, teoria, teoria e pouca prática, é totalmente fora da nossa realidade. Você se depara na Universidade com textos científicos, com trabalhos científicos. (S1).

Então chegar na Universidade e se deparar com um texto de vinte páginas, e o professor dizer assim: é um texto pequenininho, só tem vinte páginas. É complicado, e muito difícil. (S9).

Barreiros (2010) salienta que seus estudos sobre o curso de Pedagogia,

mostram que muitos dos alunos que ingressam no Ensino Superior não demonstram

interesse pela leitura e não estão preparados para o volume de leitura solicitado. A

Universidade parece pensar que não é sua função resolver as dificuldades de leitura

e de interpretação de textos apresentadas pelos estudantes, considerando que isso

seria da competência dos ensinos fundamental e médio.

As afirmações feitas pelos sujeitos participantes dessa pesquisa, explicitam

suas percepções a respeito das diferenças existentes entre o Ensino Médio e o

Ensino Superior:

Quando entrei na faculdade, estava ciente de que iria ter dificuldade por causa do ensino médio. Eu gostaria de ter estudado numa escola particular. (S4).

É porque no Ensino Médio a gente não tem aquela matéria que o professor vai fundo. Não precisa pesquisar, é só ir ao Google e achar uma figura bonita e tirar A. Na faculdade tem que pesquisar mesmo, até pode achar alguma coisa no Google, mas tem que ver se é verdade ou não. No ensino médio não tem essa obrigação. (S10).

Percebe-se pela fala dos alunos pesquisados, que entre o Ensino Médio e o

Superior existe um fosso e a leitura e interpretação de textos é um dos fatores que

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mais dificulta a inserção dos alunos na vida universitária. Isso é explicitado pelos

depoimentos dos sujeitos de pesquisa:

No meu caso, as dificuldades foram com relação à alguns textos, que eu achei que é muito conteúdo, e muito complexo.O pessoal da sala começava a ler e parava na metade do texto, não aguentava mais ler, pegava e parava; na hora dos debates em sala o pessoal lia na hora, mas, a maioria não lia.Textos de Psicologia e Alfabetização são muito difíceis! (S1).

Eu não tinha o hábito de ler, não compreendia os textos. (S7).

Espera-se que os alunos ao chegarem à Universidade tenham pleno domínio

da técnica da escrita. Para Soares (2004), o letramento é a via pela qual o indivíduo

se insere no mundo da escrita: é o aprender da técnica- o saber ler e escrever, e

fazer uso dessa técnica envolvendo-se nas práticas sociais da leitura e escrita. Para

Silva:

O foco e o interesse em torno do letramento docente se dão sobre tudo em decorrência do discurso consensual por parte de pesquisadores de que a formação dos docentes deve ser redimensionada nesta área, tendo em vista o fracasso no âmbito do letramento escolar (SILVA, 2009, p. 205).

Relacionando o que Soares (2004) e Silva (2009) afirmam nas citações

acima, com as respostas dos sujeitos que participaram dessa pesquisa, entende-se

que há uma lacuna entre dominar a técnica da leitura e da escrita, e fazer uso

daquilo que se lê para desenvolver ações no cotidiano; o que reforça a importância

do letramento nos processos formativos.

Os sujeitos dos grupos pesquisados dizem que nos primeiros períodos não

estão familiarizados com os textos que lhe são exigidos na Universidade:

São poucas as pessoas que tem o hábito de ler, quando lê, é no máximo um jornal, essa não é a nossa realidade. (S1).

No começo, eu não conseguia interpretar os textos. (S8).

Você se depara com textos científicos... não faz parte da nossa realidade, não faz parte da realidade da maioria das pessoas...não faz parte da nossa classe social, não estamos acostumados à isso.(S9).

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Eu tive dificuldade na leitura e interpretação de textos. Eu estava acostumada a ler jornal, assuntos da atualidade, quando os textos tinham essa referência tudo ia bem, mas, quando eram filosóficos eu não entendia. (S10).

Os sujeitos ao se referirem aos textos acadêmicos dizem que eles não fazem

parte da sua realidade, eles provavelmente se distanciam dos gêneros textuais

familiares aos alunos. Barreiros (2010) diz que foi possível perceber uma grande

dificuldade apresentada pelos alunos universitários que participaram de suas

pesquisas, no que se refere à leitura de textos acadêmicos, sendo que frente aos

textos do cotidiano não apresentam as mesmas dificuldades.

Dificuldade de estabelecer relação entre os textos lidos e prática.

Nos primeiros períodos, os sujeitos dos grupos pesquisados não conseguem

relacionar os textos lidos com as práticas cotidianas, mesmo aqueles que já têm

algum contato com o ambiente escolar. Seus depoimentos levam a crer que teoria e

prática estão em oposição. Isso fica muito claro quando dizem:

Eu trabalhava em escola, mas, não conseguia enxergar a relação do que aprendia com a escola que eu trabalhava, então ficava difícil conciliar as duas e por conta disso, o rendimento foi lá em baixo. (S8).

Esse curso é muito teórico, para entender tudo mesmo só na prática, mas, a aula de hoje que é de prática pedagógica, não tem nada, só fantasia... só fantasia... Se eu pudesse ir embora eu iria. (S1).

É de se pensar quando o aluno diz: “Só Fantasia”, que as leituras ao invés de

aproximá-lo distanciam-no de sua realidade, o fato é que isso parece desmotivar o

aluno a ponto de dizer: “Se eu pudesse eu iria embora”. Segundo Saviani (2007):

No dia-a-dia da sala de aula os alunos tendem a, constantemente, reivindicar a primazia da prática: “esse curso é muito teórico” dizem eles; “precisaria ser mais prático”. “O professor, por sua vez, tende a defender a importância da teoria”. (SAVIANI, 2007, p.106).

Para o autor, essa é uma situação difícil de resolver que se repete a cada

turma que chega ao Ensino Superior para cursar Pedagogia, os sujeitos requisitam

um curso mais prático, e os professores enfatizam a importância da teoria.

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Os sujeitos de pesquisa mostram por meio de suas afirmações, a

necessidade que sentem de compreender os textos, Essa disponibilidade parece

não ser aproveitada pelos professores. Freire (1996) faz um questionamento a

respeito disso: “Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes

curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como

indivíduos?”. (FREIRE, 1996, p. 30). Torna-se clara a importância de buscar

diferentes maneiras de aproximar os alunos das temáticas tratadas nos textos

acadêmicos, para isso, é necessário rever os caminhos que estão sendo percorridos

nessa direção nos Cursos de Pedagogia. Para Saviani:

Teoria e prática são aspectos distintos e fundamentais da experiência humana. Nessa condição podem, e devem ser consideradas na especificidade que as diferencia, uma da outra. Mas ainda que distintos esses aspectos sejam inseparáveis, definindo-se e caracterizando-se sempre um em relação ao outro. Assim a prática é a razão de ser da teoria, o que significa que a teoria só se constituiu e se desenvolveu em função da prática que opera, ao mesmo tempo, como seu fundamento, finalidade e critério de verdade. A teoria depende, pois, radicalmente da prática. (SAVIANI, 2007, p.108).

Observa-se que teoria e prática estão articuladas e que é preciso encontrar

estratégias para minimizar essa oposição entre ambas, que se expressa nas salas

de aulas dos cursos investigados.

Saviani (2007) se utiliza de dois termos para falar da oposição entre teoria e

prática: verbalismo e ativismo o verbalismo seria o falar por falar (teoria sem prática),

e o ativismo a ação pela ação (a prática sem teoria). Segundo o autor, os alunos

querem a prática e os professores defendem a teoria, dessa forma se distanciam

nos espaços de formação.

Superação

A superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos ocorreu de

forma contínua e gradativa, os sujeitos relatam que na medida em que liam os

textos, e se dedicavam à leitura, o entendimento ia se aprimorando. Além das

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leituras constantes, iam surgindo alternativas que colaboravam para a aproximação

de entendimento dos textos. Koch e Elias (2011, p. 07) destacam:

[...] Postula-se que a leitura de um texto exige muito mais que o simples conhecimento linguístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é necessariamente, levado a mobilizar uma série de estratégias tanto de ordem linguística como de ordem cognitivo-discursiva, com o fim de levantar hipóteses, validar ou não as hipóteses formuladas, preencher as lacunas que o texto apresenta, enfim, participar, de forma ativa, da construção do sentido. Nesse processo, autor e leitor devem ser vistos como ‘estrategistas’ na interação pela linguagem. (KOCH E ELIAS, 2011, p.07).

Os sujeitos participantes dessa pesquisa mobilizaram-se de várias formas

para compreender os textos acadêmicos. Contando com seus recursos,

desenvolveram ações que se traduziram em buscar caminhos para prosseguir com o

curso e ultrapassar os obstáculos que dificultavam o entendimento do texto escrito.

Os sujeitos pesquisados relatam que a superação da dificuldade de leitura e

interpretação dos textos, ocorreu aos poucos; a atenção em sala de aula, o uso do

Google e do dicionário, são estratégias que facilitaram esse processo, eles dizem:

Para entender eu tive que prestar atenção, porque pegar um texto e não acompanhar a aula, não adianta. Achei que acompanhar a aula é fundamental. (S8).

Eu achava que ia dar conta, eu procurava muito no Google alguma palavra que não conhecia. (S9).

Dicionário para mim, anda lado a lado comigo, quando eu não estou com ele, eu jogo no Google, pergunto e ele fala.(S7).

Alguns sujeitos que recorreram ao dicionário, disseram que para superar as

dificuldades de leitura, o dicionário ajudava, mas não bastava:

A gente até entende o que está no dicionário, mas pergunta por que esta palavra está aqui? (S7).

Diante dessas afirmações, é possível identificar uma busca pela compreensão

dos textos acadêmicos, que não se completava, havia sempre, questionamentos e

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necessidade de desenvolver novos recursos para o seu entendimento. Segundo

Koch e Elias: “A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de

produção de sentidos” (KOCH E ELIAS, 2011, p. 11).

Outra questão destacada pelos sujeitos, diz respeito à trocas de informações

existentes nos grupos de estudos dos quais os alunos participavam, isso auxiliava

na compreensão e interpretação dos textos.

Severino (2000) descreve a organização necessária para leitura, análise e

interpretação de textos, uma de suas orientações, é delimitar unidades de leitura,

considerando que a leitura do texto deve ser feita por etapas, de forma disciplinada e

coerente, conforme a natureza e familiaridade do leitor em relação ao texto. Nota-se

com base nas afirmações dos sujeitos que ao enfrentarem as dificuldades, mesmo

sem saber inicialmente como fazer, acabavam descobrindo um caminho que

facilitava a compreensão:

O que me ajudou a compreender melhor os textos, foi o trabalho que a gente dividia: uma fazia uma parte e outra pessoa outra parte, nos reuníamos e comentávamos: a minha parte está falando assim... assim... e assim..., a outra parte fala outra coisa, então consegui conciliar; a parte que não entendi, a colega entendeu, ela me ajuda naquilo que não entendi, e eu ajudo naquilo que entendi. Esse foi o ponto que mais ajudou a compreender os textos. (S8).

Aqueles que não tinham o hábito de ler começaram a ler muito mais na

tentativa de compreender o que estavam lendo:

Eu não tinha hábito de ler, eu passei a fazer leitura constante, ler livros, até mesmo textos científicos, passei a estudar mais, e também em grupo a gente se reunia e conversava um pouco sobre essa dificuldade. Principalmente, minhas colegas que têm mais conhecimento do que eu, eu perguntava e elas iam me ajudando. Eu não superei 100%, eu tenho muito a aprender ainda. (S7).

Os sujeitos disseram que faziam demarcações nos textos para melhorar seu

entendimento:

Marcava, fazia marcação nos textos. Lia várias vezes, duas ou três vezes, quantas vezes fossem necessárias para que eu pudesse entender o texto. (S5).

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Para resolver essa dificuldade eu li muito, peguei textos difíceis da internet, tentei fazer resumo, foi sozinha mesmo, não tive ajuda de nenhum professor. Enfrentei sozinha. (S5).

Sozinha mesmo, com muita força de vontade, pegando textos mais difíceis... Entre o segundo e o terceiro semestre, eu fui percebendo que eu escrevia melhor, entendia melhor.(S4).

Os sujeitos dizem que a aproximação dos textos com a realidade ajuda no

entendimento:

Se você trouxer esse texto científico para a sua vivência, você relaciona o texto àquilo que você já viu em algum lugar, isso melhora, facilita a compreensão e você passa a perceber que ele não é tão chato assim. (S9).

Koch e Elias afirmam: “A leitura é uma atividade na qual se leva em conta as

experiências e os conhecimentos do leitor”. (KOCH E ELIAS, 2011, p. 11). Isso

denota que quando os sujeitos dos grupos pesquisados fizeram alguma relação do

texto escrito, com suas experiências de vida, ou com o que já viram em algum lugar,

ou ouviram em algum momento, o texto teve mais aceitação por parte dos alunos e

o entendimento passou a ganhar mais espaço.

4.6 Dificuldades com relacionamento interpessoal

O relacionamento interpessoal está presente na formação docente. O

ambiente acadêmico proporciona convivência entre alunos e professores. No que

se refere às relações entre alunos, cumpre destacar que nem sempre ela é pacífica.

Cada sujeito ao se inserir no Ensino Superior, não abandona sua trajetória, suas

experiências e ao encontrar-se com o outro, as diferentes maneiras de estar na vida

se tornam aparentes.

Placco (2004), autora que fala das relações interpessoais em sala de aula e

do desenvolvimento pessoal do aluno, diz:

Temos dito que a formação do sujeito se dá no meio da cultura, em parceria e em presença do outro. O que isso significa? Se por um lado se traduz uma articulação de saberes, por uma troca que mobiliza e permeia os processos cognitivos, por outro também significa considerar que cada um, nessa interação, expõe seus pensamentos, seus modos de interpretar a realidade, suas

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perspectivas de ação e reação, seus motivos e intenções, seus desejos e expectativas- seus afetos, enfim. E essa exposição afetiva se encontra e embate com os pensamentos, modos de interpretação, sentimentos, reações e motivos do outro. Nesse encontro, ocorrem transformações que constituem ambos os sujeitos da relação como identidades separadas e ao mesmo tempo imbricadas com o ambiente social e cultural de que provêm e no qual estão. (PLACCO, 2004, p.10).

A fala da autora, acima citada, auxilia na compreensão das relações

interpessoais, na Universidade. O cotidiano da sala de aula permite aos alunos

encontrar-se com o outro, com a cultura do outro, com as ideias do outro, e isso

muitas vezes ocorre em meio a conflitos.

Os sujeitos da pesquisa, encontraram dificuldades para trabalhar em grupo:

grupos fechados; divisão entre grupos na sala, falta de interação; falta de

cooperação; falta de recursos para lidar com a diversidade e com conflitos.

As primeiras dificuldades foram com o trabalho em grupo, do grupo se entender, havia falta de comunicação, o individualismo, o egoísmo e a falta de entendimento. (S1).

Uma das maiores dificuldades era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos integrantes do grupo... A nossa sala é grande, um não sabe o nome do outro na sala, a gente está há três anos juntos e não se conhece. Tem uma divisão muito grande na sala. (S5) Uma das dificuldades que eu tive foi a questão de trabalhar em grupo. (S4).

Na Universidade você tem dificuldade de relacionamento. (S6).

Toda dificuldade que você vai ter na Universidade, é de relação com o próximo, eu até coloquei num papel que a diversidade entre pessoas é muito grande, você tem que aprender a trabalhar em grupo, a respeitar a opinião do próximo, e tudo isso no 1º. e no 2º. semestre. (S9).

A resolução dos conflitos que emergem das relações é complexa, os sujeitos

dizem que não há entendimento nos grupos:

Ninguém se entendia no grupo mesmo. - Acabou a amizade, por causa de trabalho. Hoje uma (colega) senta de um lado da sala, a

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outra senta do outro lado, as duas passam, se olham, mas, não se falam, nem bom dia, nem boa tarde, nem nada. A relação do grupo acabou. (S1).

Percebe-se na fala dos sujeitos que a diversidade de comportamento gera

conflitos entre os componentes dos grupos de estudos:

Uma das integrantes do grupo não escrevia nada, e as poucas coisas que eu escrevia ela criticava ainda, ou então ela dava sumiço nas coisas e falava que eu não tinha entregado para ela, então tinha que sempre ter cópia daquele trabalho, do que eu escrevia, e eu guardava, eu não tinha mais confiança de entregar para ela o que eu escrevia. Procurava sempre fazer todo mundo junto, porque aí ela não tinha aquela de dizer que ela fez, ou de que ninguém do grupo participava. (S5).

Os sujeitos dizem não serem ouvidos pelos colegas:

As pessoas são muito individualistas não sabem ouvir o outro. No primeiro semestre as pessoas já formaram grupos. Por exemplo, quando eu estava fazendo o TCC, estava todo o grupo em círculo, eu fui dar minha opinião, a pessoa simplesmente ignorou, virou para a outra e fingiu que não estava me ouvindo. Então eu acho que hoje, o ser humano não sabe, saber sabe, é que ignoram a idéia da outra pessoa, e pensa que está certo em tudo. (S4).

No relato dos sujeitos pesquisados, percebe-se a falta de diálogo, e as

dificuldades que os grupos têm de lidar com as críticas:

Eu sempre tinha a mesma dificuldade no grupo, falta de diálogo nos grupos. Às vezes é mais fácil você agredir do que chegar e falar o problema. São palavras que te agridem, que são as maiores dificuldades, às vezes a pessoa não conversa com você, não fala onde está o problema. Críticas das pessoas umas com as outras, criticar, apontar o defeito do outro, não se autoavaliar, porque é muito mais fácil eu apontar o defeito do outro, do que me auto avaliar e ver o meu defeito; onde eu posso melhorar. Acho que essa é uma das maiores dificuldades dos grupos, porque eles não se autoavaliam, só veem o defeito do outro. (S5).

Os sujeitos da pesquisa mostram em suas falas, as dificuldades de

compreender as críticas que fazem, um com relação ao outro, mas, Placco e Souza

(2006) dizem que é necessário para a aprendizagem o reconhecimento de que não

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se sabe tudo, quando se reconhece isso, surge a abertura para o novo , Placco e

Souza (2006), afirmam que :

Aprender, de um lado, supõe aceitar que não se sabe tudo, ou que se sabe de modo incompleto, ou impreciso ou mesmo errado, o que é doloroso; de outro, relaciona-se ao prazer de descobrir, de criar, de inventar e encontrar respostas para o que se está procurando, para a conquista de novos saberes, idéias e valores. (PLACCO e SOUZA, 2006, p. 20).

Acredita-se que as críticas seriam melhor compreendidas e trabalhadas, a

partir do reconhecimento dos sujeitos, das áreas em que eles têm dificuldades a

serem superadas.

Os grupos são fechados em sua formação, os sujeitos dizem ter que pedir

para serem aceitos em um grupo de estudos, e precisam se sujeitar às regras

estabelecidas pelo grupo:

Eu pedi para entrar num grupo, falei com duas pessoas da sala para entrar no grupo delas, aí elas falaram que o grupo era só as duas, não me deram resposta de nada. Elas pensaram em uma ou duas semanas se eu podia entrar no grupo ou não, eu as via conversando entre elas, e pensava: acho que elas estão pensando se eu vou poder entrar no grupo ou não. Elas pensaram uma, duas semanas e deram a resposta para mim, que eu poderia entrar no grupo. (S1). Uma colega pediu para entrar no grupo e nós falamos: tudo bem, a gente aceita, mas você vai ter que chegar mais cedo nas aulas. (S8).

Dificuldade de apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação

entre os alunos da sala (relacionamentos estremecidos). Os sujeitos falam sobre a

dificuldade que tiveram para realizar os trabalhos acadêmicos:

Há dificuldade também do grupo se encontrar para fazer trabalho, porque muita gente mora longe da faculdade e quando tem um tempo, ninguém quer estudar, nem se reunir, o pessoal quer deixar o tempo livre, ter um tempo livre, isso gera briga entre o grupo. Tanto é que no quarto semestre eu entrei num grupo e hoje no início do quinto semestre ninguém se fala. (S1).

Outra das maiores dificuldades era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos outros integrantes do grupo, eu não tenho problema de trabalhar em grupo, mas na sala havia muito desrespeito para trabalhar em grupo. Havia pessoas que não faziam

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nada, encostavam no grupo, e o que o outro fazia, criticavam ainda. (S5).

Você vai apresentar o trabalho, querem te deixar para baixo, te olham de cara feia. (S4).

Já teve trabalho em grupo do grupo não aparecer, e nós tivemos uma menina do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque ficava doente, mas isso era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca. (S9).

Os sujeitos da pesquisa falam sobre os grupos de estudo, e de como o não comprometimento dos alunos geram situações e impasses de difícil resolução:

Ninguém se fala mais. Ninguém se fala porque a montagem de um artigo sobrecarregou muito uma pessoa, eu a ajudei no que pude, foi a primeira vez que eu montei um artigo, eu não sabia que era tão difícil. Hoje ela passa por mim, não me cumprimenta, não olha pra mim, muito menos para o grupo, e quando falam é na base do interesse, ela quer alguma coisa, mas fora isso, a gente não se conversa. Então gerou um conflito entre as pessoas do grupo. Foi um artigo que precisava de uma visita na brinquedoteca de um hospital (pedagogia hospitalar), houve uma dificuldade para conseguir permissão para ver as crianças com câncer, o trabalho com elas é muito difícil, é muito restrito, e quando se conseguiu o grupo não foi. Então a menina trabalhava no hospital, ela acabou passando vergonha porque marcou, e chegou na hora ninguém foi. No dia seguinte cada um inventou uma desculpa. Um falou que foi trabalhar, outro falou que foi cuidar do filho, outro falou que foi fazer não sei o quê, e no final não deu para ninguém ir, então ela passou vergonha, ficou um negócio chato. O grupo estava se desentendo, aí como era a montagem desse artigo, para não haver mudança de grupo, não quebrar o ritmo do grupo, porque teria de começar tudo de novo, a gente optou por continuar junto, mas, ninguém estava se entendo mais. A amizade das melhores amigas da sala acabou, uma não olha para a cara da outra. Acabou a amizade, por causa do trabalho. (S1).

O grupo era muito crítico, não aceitavam opinião um do outro, chegou um momento que eu terminei concluindo no primeiro semestre a primeira parte do artigo em grupo, mas tinha coisas absurdas que eu não aceitava, por ser um trabalho que pesava bastante no nosso currículo, eu achei melhor me desintegrar do grupo e fazer um grupo separado. (S5).

A dificuldade de realizar trabalhos em grupo, pode não favorecer o processo

de aprendizagem dos alunos. Segundo Placco e Souza (2006), o adulto aprende de

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várias formas, e as relações ocupam um papel importante no processo de

aprendizagem:

Também consideramos que aprendemos de muitas formas, por intermédio de múltiplas relações. Entretanto, é só no grupo que ocorre a interação que favorece a atribuição de significados pela confrontação dos sentidos. Significados da ordem do público, sentidos da ordem do privado. No coletivo, portanto, os sentidos construídos com base nas experiências de cada um circulam e conferem ao conhecimento novos significados- agora partilhados. (PLACCO e SOUZA, 2006, p. 20)

Na fala dos sujeitos, percebe-se que a intolerância provoca relacionamentos

estremecidos:

Cada um aqui tem um grupo, eu não vejo a dificuldade do grupo como pessoal. Eu sou capaz de estar no mesmo grupo que você, e não necessariamente sermos amigas, de uma ir à casa da outra todos os dias, não é isso; mas se tem a facilidade de se tolerar, tolerar mesmo. Na intolerância não se tem grande coisa. É uma sala assim: O pessoal não coopera por diversos motivos, aonde tem mais que um ser humano tem problema. Trabalhei em um grupo com uma pessoa, hoje não somos amigas, mas eu não acho que faça falta, sei lá... A gente conversa, da risada, mas, para fazer um trabalho não dá para fazer. Eu tenho uma maneira de ver as coisas, ela tem outra. Quando você aprende a unir a sua maneira com a do outro, fecha os olhos para algumas coisas e fica mudo para outras até dá, mas, no primeiro semestre você não sabe disso. No primeiro semestre você é verdade absoluta, eu acho que é o que eu estou dizendo, ela acha que é o que ela está dizendo... Depois com a maturidade muda. (S9).

Há uma busca de identidade de grupo nos primeiros períodos: Os sujeitos

relatam que no primeiro semestre os grupos de trabalho em sala de aula já estão

formados, os alunos que ingressam algum tempo depois do início das aulas

encontram dificuldades. Percebe-se que existe uma movimentação que ocorre entre

os alunos a partir do primeiro semestre: os alunos iniciam uma busca por grupos

com os quais se identifiquem:

No primeiro semestre as pessoas já formaram grupos. (S4).

Eu comecei em um, e terminei o ano em outro grupo. A cada semestre eu participava de um grupo. (S5).

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Teve algumas pessoas que tiveram uma dificuldade e formaram novos grupos. (S4).

É fui procurar pessoas que falassem mais ou menos a mesma linguagem que eu, procurei fazer amizade, até que achei um grupo. Porque no primeiro grupo do qual participei, eu pensei: não vai dar certo. (6).

Cheguei na Universidade depois de uns 20 dias que as aulas tinham começado, os grupos já estavam formados. Eu tive uma dificuldade maior porque não conseguia escolher um grupo... Fui inserida no meio de um grupo que todos já estavam lá, e nem sempre você se identifica com aquelas pessoas, que foi o meu caso. (S9).

Eu vou falar da minha dificuldade, igual a S9 eu entrei na faculdade um mês depois, o mesmo caso que ela. As pessoas já tinham formado seus grupos, e eu cheguei e caí onde tinha menos gente. Comecei numa segunda-feira, e acho que tinha um feriado na terça e já tinha um trabalho para ser entregue na semana seguinte, me passaram algumas informações, o que a professora falou e já tinha dividido: vai fazer assim, assim, assado e cada um tinha um pedaço para resumir. Eu levei o meu pedaço para casa, como tinha feriado combinamos para nos falar por telefone para trocar idéias Cheguei em casa toda feliz... Resumindo... Resumindo... Resumindo... Eu não sabia se estava bom, se batia com as idéias das meninas ou não. Pedi para o meu menino digitar, isso foi na terça-feira à noite, no feriado eu mandei para as meninas do grupo. Uma delas respondeu: está muito bom, você pode levar na segunda-feira? Eu respondi posso então ficou assim: eu levava o meu pedaço e cada um levava o seu. Quando chegou a segunda-feira, na hora de mostrar cada um o seu pedaço, só tinha o meu, e cadê os outros? Eu falei: eu fiz, mandei para vocês, e vocês falaram que estava bom e eu trouxe, e uma das meninas que estava lá falou: mas você só fez isso? rsrsrs. Eu de idade no meio de meninas novas. Fiquei sem palavras na hora e disse: não foi esse o combinado. Pensei: vou terminar esse trabalho, porque agora não tenho como sair daqui. Ir para onde? Quando terminou aquele trabalho eu pensei →vou procurar outro grupo. (6).

A questão do trabalho em grupo é vista pelos sujeitos como importante, não só em sala, mas também para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade:

A sala é um grupo. A sala devia ser mais unida, um ajudar mais o outro, isso está na sociedade, não é só na sala de aula. Você vai procurar um serviço, você vai andar na sociedade, você vai se deparar com pessoas. (S4).

A gente vai aprendendo a conviver com os grupos, porque na verdade quando você vai para o mercado de trabalho... Você saiu do mundo da sua casa, do mundo da Universidade onde você conviveu

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por um período de tempo com algumas pessoas, e vai conhecer outras pessoas. (S9).

Com o passar dos semestres os sujeitos percebem a importância do trabalho em grupo, e refletem sobre o papel do professor com relação à isso:

Afinal de contas estou me formando para ser professora e como professora eu vou trabalhar com seres que eu vou preparar para a sociedade. E como que eu vou prepará-los para a sociedade se eu não sei interagir com o outro? Muitos querem ser professores pela professora que tiveram, então, acho que eu tenho que aprender a trabalhar em grupo, para que eu possa ensinar as crianças a trabalhar em grupo, porque amanhã, na vida, eles vão trabalhar dessa forma, em qualquer lugar, seja numa escola ou numa empresa eles vão ter que trabalhar em grupo, porque é uma sociedade. Não conseguimos viver sem ser em grupo. O grupo é uma forma de socialização, você aprende outras culturas, você conhece outros povos. Se você não tem essa interação, você não conhece, eu acho importante o trabalho em grupo (S5).

Os sujeitos falam da importância dos professores para mediar conflitos de

relacionamento interpessoal, e sugerem a intervenção dos professores:

Eu acho que os professores deviam entrar em sala, e incentivar a mudança, para que um trabalhe com o outro. (S4).

Quando os sujeitos sugerem a intervenção dos professores para mediar os

conflitos, entende-se que os professores ocupam um papel importante em sala de

aula no que se refere à aprendizagem do adulto. Zabalza (2004), diz que a

aprendizagem do aluno universitário não depende somente dele, de suas

capacitações, mas também das condições em que ocorre essa aprendizagem, e da

capacidade dos professores em auxiliar os alunos no processo.

Os sujeitos de pesquisa relatam que há resistência por parte dos grupos

formados em sala de aula com relação à intervenção dos professores para a

interação:

Mas quando tem alguns professores que tentam fazer isso, é muito difícil. Nós tivemos aula esse final de semestre, e a professora fez papeizinhos com cores diferentes para que a gente pudesse interagir com outras pessoas de outros grupos, e nós percebemos que tinha

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muita resistência. O professor solicitou aquela interação, mas houve resistência. Após a aula, os alunos falaram: porque o professor fez isso se nós já temos o nosso grupo? Então quando o professor força uma situação de interação dentro da sala, para socialização, há resistência dos alunos. Eles não aceitam a troca de grupo, conversar com outra pessoa, trocar idéias. (S5).

As mudanças dos integrantes vão definindo uma nova formação dos grupos,

que os sujeitos veem como positiva:

Eu entrei num semestre no grupo, logo depois uma integrante descobriu que Pedagogia não era o forte dela. rsrs. Ela era inteligente, mas, disse que iria fazer outra coisa. A partir daí o grupo começou a esvaziar, então a S10 chegou, ela entrou no segundo semestre, eu me identifiquei bem com ela, por conta das leituras, ela me ajuda muito quando eu não estou entendendo uma coisa; então veio a S9 que acabou entrando no grupo também. Eu não vi como uma dificuldade o grupo ter se separado, vi que pude aprender um pouquinho mais. No trabalho em grupo não tem como pensar individualmente. A meu ver, um grupo não pode pensar em um só. Nós temos que ser uma equipe. (S8).

Superação

A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade de se

trabalhar em grupo. A vivência com outras pessoas abriu espaço para aprender com

o outro, e superar dificuldades. Segundo Placco (2004):

Habilidades de relacionamento interpessoal e social são, como tantas outras, aprendidas e desenvolvidas no viver junto- e dessa aprendizagem ninguém sai igual: mudanças são engendradas no nível da consciência, das atitudes, das habilidades e dos valores da pessoa [...]. (PLACCO, 2004, p. 11).

Baseando-se no que as autoras afirmam, os sujeitos pesquisados, no

processo de relacionar-se com o outro, foram aprendendo a se relacionar, mesmo

em meio aos conflitos e dificuldades ocorridas, foi se construindo uma forma de viver

junto:

Participei de vários grupos. Eu comecei em um, e terminei o ano em outro. A cada semestre eu participava de um grupo, até mesmo para interagir com outras pessoas, conhecer outras pessoas, para não ficar num grupo fechado, porque quando você está num grupo

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fechado, você perde a oportunidade de conhecer outras pessoas. Eu acho que, quando você trabalha com várias pessoas, te enriquece porque com as dificuldades do outro você aprende a superar as suas. Você passa a conhecer o outro como ele é, você vai ver que ninguém é igual, todo mundo é diferente, mas que você é capaz de lidar com as diferenças. Comecei a aprender com as pessoas, achei que daquelas situações poderia tirar algo de bom. Eu acho que eu aprendi bastante com esses grupos. (S5).

Eu procurei conhecer novas pessoas. Nesse semestre eu conheci mais pessoas do que no primeiro e no terceiro, mas, por mais que eu queira conhecer novas pessoas, acho que as pessoas ainda são muito fechadas. (S4).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início deste trabalho, objetivou-se investigar quais os desafios enfrentados

pelos alunos nos primeiros períodos do curso de Pedagogia para inserção no Ensino

Superior. Os dados de pesquisa evidenciaram que os alunos ao ingressarem no

Curso de Pedagogia enfrentam dificuldades de diferentes ordens.

Inicialmente podem-se destacar as dificuldades denominadas de externas ao

curso - Tratam-se das dificuldades que os sujeitos dizem ter enfrentado e que não

têm relação direta com o curso: conciliar atividades de estudo, trabalho e família;

dificuldade econômica para custear os estudos (pagamentos de mensalidades,

transporte e materiais). A partir dos relatos dos sujeitos de pesquisa, entende-se que

a entrada no Ensino Superior provoca uma desestabilização na vida do aluno. Há

necessidade de uma reorganização por parte dos sujeitos, para que possam

enfrentar mudanças no que se refere ao orçamento familiar e também com relação à

conciliação entre trabalho e estudo. Quanto à superação desses conflitos, ela não

se deu imediatamente, alguns deles permanecem sem serem totalmente

equacionados, quando muito, os alunos vão encontrando estratégias no decorrer do

curso para lidar com eles.

Cumpre salientar também a existência de Problemas familiares e de ordem

emocional (falta de motivação, interferências na vida familiar, incertezas), relatados

pelos participantes da pesquisa. As dificuldades enfrentadas no período de inserção

na Universidade provocam alterações emocionais nos sujeitos; eles se sentem

inseguros, incompetentes para realizar as tarefas acadêmicas. Tal insegurança

reflete na vida afetiva do sujeito como um todo, a família sofre consequências é

obrigada a se reorganizar, o que afeta as relações provocando transformações e até

mesmo rupturas.

A superação das dificuldades familiares e de ordem emocional não foi

aprofundada, o que se detectou é que situações de estresse vão sendo

administradas conforme surgem. Os familiares têm um papel importante nesse

processo, ora apoiando e dando suporte para que as dificuldades sejam

enfrentadas, ora dificultando, por se sentirem ameaçados e excluídos. O sonho, a

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vontade de concluir o curso superior é a mola propulsora para que iniciantes deem

continuidade ao curso, em meio aos desafios.

Os sujeitos de pesquisa salientam também dificuldades relativas à utilização

dos laboratórios de informática e da biblioteca. Segundo os alunos, os laboratórios

de informática não atendem às necessidades de horário, de acesso e de

equipamentos, o que provoca atraso na entrega e, às vezes, até mesmo a não

realização de trabalhos acadêmicos. Além de não terem acesso à internet, não

sabem acessá-la e dizem não encontrar na universidade apoio para realizar essa

tarefa. Apesar das universidades contarem com bibliotecas adequadas, os alunos

destacam a falta de apoio para aprender utilizar seus recursos.

A superação das dificuldades em relação à Informática se deu por meio da

realização de cursos fora da Universidade e por meio do auxílio de amigos e

familiares. Quanto à biblioteca, não mencionaram como se apropriaram de seus

recursos.

Quanto às dificuldades encontradas referentes à relação com os professores

do curso, os alunos fazem referência a falta de clareza de alguns planejamentos e

de orientação adequada para o desenvolvimento de trabalhos individuais e grupais.

Em relação ao curso, os sujeitos relataram que o curso de Pedagogia é muito

amplo, enfoca muitos conteúdos, não os aprofunda e não estabelece relações muito

claras com a prática. Nos estágios e nas atividades complementares essa falta de

relação se evidencia, o que faz com que os alunos não vejam sentido nessas

atividades. Os sujeitos não fizeram comentários relacionados à superação das

dificuldades, eles dizem que continuam o curso por terem desejo de se formar.

É importante ressaltar a ênfase dada pelos alunos quanto às dificuldades

relativas à leitura e interpretação de textos. A não familiarização com os textos

acadêmicos nos primeiros períodos é evidenciada e necessita de bastante atenção

por parte dos projetos pedagógicos dos cursos de Pedagogia, na medida em que é

por meio da leitura e interpretação de texto que os alunos se apropriam de grande

parte dos conteúdos acadêmicos. O aluno que não tem essa competência encontra

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muita dificuldade para se inserir nos cursos superiores. Os sujeitos dizem ter

superado essa dificuldade durante o curso com base em iniciativas particulares, não

mencionam participação sistemática dos professores nesse processo.

As dificuldades de relacionamento interpessoal também são enfatizadas nos

relatos dos sujeitos. Nos primeiros semestres, as relações entre os sujeitos são

conflituosas e a interação na sala de aula é algo difícil. Percebe-se que existe falta

de preparo para lidar com as diferenças e com os conflitos, isso acaba refletindo na

formação de grupos de trabalhos.

Salienta-se que a atividade docente pressupõe interações e que não parece

existir nos cursos pesquisados, um trabalho específico no sentido de preparar os

futuros profissionais de educação para vivenciar esses processos de forma criativa,

evitando embates, rompimentos desnecessários e desgastantes. Os sujeitos de

pesquisa relatam que a participação em vários grupos no decorrer no curso, ajudou

a superar as dificuldades de relacionamento pessoal. Os sujeitos não mencionam a

intervenção de professores na mediação dos conflitos.

Com base na pesquisa realizada, pode-se dizer que os desafios enfrentados

para inserção no Ensino Superior, são inúmeros e de diferentes ordens. Fica claro

que esse processo, para muitos é penoso, exigindo inúmeras superações, o que

ocorre na maioria das vezes é por meio de busca de recursos e de esforço pessoal.

Os alunos participantes não se sentem reconhecidos e apoiados pela universidade e

por seu corpo docente nesse processo.

Esse estudo ressalta a necessidade dos cursos de Pedagogia cada vez mais

se dedicarem a conhecer e a compreender os novos alunos que os estão

procurando e quais as possibilidades e dificuldades que apresentam. Com base

nesse conhecimento será possível pensar com mais clareza e eficiência em formas

de inseri-los e mantê-los nas Universidades.

Apesar de terem participado da pesquisa, alunos dos Cursos de Pedagogia

de, somente, duas Universidades Privadas localizadas na cidade de São Paulo, os

resultados de pesquisa fornecem algumas pistas que merecem ser destacadas.

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Inicialmente fica evidente a importância de que o curso de Pedagogia se

organize com base em um projeto pedagógico claro e articulado que possa ser

discutido e compreendido pelos alunos. Os alunos necessitam se situar no curso

para que possam fazer parte dele e isso se dá pelo acesso e compreensão do

Projeto Pedagógico e dos planos de Ensino que lhe dão sustentação.

Para que isso ocorra, é necessário o desenvolvimento de projetos com vistas

a favorecer a inserção e o pertencimento de alunos ao curso, considerando que

para isso é necessário que os alunos que estão procurando o Curso de Pedagogia

na atualidade, sejam conhecidos e compreendidos em suas necessidades.

As dificuldades que foram explicitadas por meio dessa investigação servem a

partir de agora, como provocação para aqueles que estão desafiados em

compreender os processos de inserção no curso de Pedagogia, com vistas a evitar

o fracasso e favorecer a aprendizagem e a permanência dos alunos.

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ANEXOS

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Anexo A – Quadro para aquecimento do assunto

Dificuldades encontradas

Descrição Período em que se apresentaram as dificuldades

Como conseguiu resolver?

Em que período conseguiu resolver?

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Anexo B – Transcrições Grupo focal 1

M – Estamos iniciando nosso encontro, desde já quero agradecer pela presença de

vocês, gostaria que falassem sobre: Quais as dificuldades que tiveram nos primeiros

períodos do curso de Pedagogia para se inserir no Ensino Superior?

S1 - Uma das dificuldades foi entender os textos de alfabetização. É muita

informação, e só teoria, teoria, teoria e pouca prática, Apesar de que a professora

explicou bem, mas para pegar tudo mesmo só na prática né?

M -Como você superou essa dificuldade de leitura dos textos?

S1 -Eu evitava ler os textos.

M -Como assim?

S1 -Eu comprava todos, se precisasse na sala de aula eu tinha como consultar,

tinha como me virar, né? Isso acabou sendo para mim mais fácil, mas em casa, fora

da faculdade eu não lia os textos, eu lia outras coisas, né? Pedagogia eu quis

mesmo só para complementar a educação crítica, né? A área que eu quero atuar é

outra, né? É só para complementar mesmo, o interesse mesmo é só conseguir

pegar mais aulas na pedagogia, só isso. Uma determinada idade é só pedagogia

que consegue dar aulas né? Então é só por isso que eu estou fazendo a pedagogia.

Uma outra dificuldade também foram nas aulas práticas, como por exemplo essa de

hoje de prática pedagógica, de pedagógica não tem nada, só fantasia, só fantasia.

Sei lá colocaram uma pessoa frase não compreendida se eu pudesse ir embora eu

ia embora porque eu venho só pela presença.

S2 -Ele começa a dar uma matéria hoje e quando você vai ver ele está dando outra

matéria, e não acabou aquela que ele começou na aula anterior, e não acaba aquela

que ele está dando naquela aula, então você fica perdido.

S3- É aquele professor ele é confuso e te deixa confuso.

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S2- Ele não termina a matéria que ele começou e eu acho que essa é a parte mais

difícil, é um professor que não sabe nem o que está fazendo aqui.

Ele começou a aula hoje, explica que aconteceu um problema, que não sei o que,

que não sei o que lá, aí ele pede desculpas por estar meio aéreo, né? Aí fica tudo

bem, aí na outra semana já é alguma outra coisa, aí ele fala que, fala assim: semana

que vem é para fazer mapa conceitual, aí na outra semana ele chega e fala que não

pediu isso.

S2 - Não, eu não pedi isso, Mas professor, a sala toda fez o que você pediu. Não,

não, vamos fazer outra coisa, esquece isso, não sei o que lá, não sei o que lá, não

sei o que lá, então ele nunca termina a aula que ele começou, esse é o grande

problema desse professor.

S3 - E o pior é que a gente se prejudica porque, agora ele fala ai vamos, aí ele faltou

alguns dias, aí ele falou vamos compensar aula, vamos vir aos sábados aqui? Aí a

gente fala, não aos sábados não tem como. Ah então eu vou falar com a outra

professora, vou pegar um pouquinho da aula dela para gente ir fazendo, ou seja, ele

vai estender as aulas até o final de junho com certeza, coisa que os professores já

vão encerrar porque ele se atrapalhou todo, e ele nem sabe praticamente o que esta

fazendo.

S2 - Ele não sabe nem onde ele está na verdade aquele professor. Ele não planeja

as aulas, é também falta de organização. Com certeza, ele tem que planejar, a gente

tem que planejar desde quando a gente entra numa escola, tem que fazer todo o

cronograma até o término. É isso que ele não fez, uma aula.

S3 - E ele não sabe fazer. Uma disciplina tão interessante, é sobre lúdico que a

gente queria muito aprender sobre isso. Acabamos não aprendendo.

S1 - Essa matéria de prática pedagógica, eu acho que quem deveria dar é um

educador físico, que tem a pedagogia. Eu acho que deveria ser um educador físico.

M - Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?

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S1- Eu acho o curso de pedagogia muito aberto, é muito aberto. É matemática, é

português, tudo no mesmo semestre, é matemática, português, geografia, ciências e

você acaba se perdendo, você não sabe o que você estuda.

M - Nos primeiros períodos vocês tiveram dificuldades com as disciplinas?

S1- O meu foi de adaptação, matemática, ciências, geografia, português.

M - Vocês também tiveram essa dificuldade?

S2 - Não, eu até que não tive muita assim. A minha dificuldade foi com alguns

professores mesmo que não seguiam o cronograma, assim, que mais faltavam do

que iam. A gente perdeu muitas aulas, esse professor de lúdico, por exemplo, ele

falta, ah pede desculpas , mas já faz dois semestres que ele está assim, desse jeito,

é a gente que está perdendo. Então a gente teve professores que foram mandados

embora, por exemplo, no meio do semestre, e aí vem outro professor substituí-lo, e

consequentemente é ele que dá o lúdico hoje para gente, e que não deu nada na

verdade, então a gente acabou perdendo essa matéria. Então eu acho que tem que

ser mais selecionados os professores, porque é difícil.

S3 - Tem alguns que a gente sabe que eles sabem bem, porém eles não sabem

muito bem transmitir de forma fácil para nós entendermos, tem alguns que acontece

isso. Outra dificuldade que eu tenho, inclusive a semana passada nós mesmos

estávamos comentando é o laboratório. Os computadores são muito velhos e muito

lentos, então se a gente precisa, na hora do intervalo rapidinho fazer uma pesquisa

ou alguma coisa, é muito difícil.

S2- A gente não consegue, além do mais está muito cheio, cheio de vírus.

M - Mas nos primeiros períodos vocês já tiveram essa dificuldade?

S2- Sempre. O laboratório, quem não tem computadores em casa vai procurar

aonde, na faculdade. Você chega na faculdade, os laboratórios estão lotados, sendo

que tem muitos alunos; tem capacidade de ter um laboratório maior, então às vezes

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está lotado e você não consegue entrar no laboratório e quando consegue, até uma

máquina ligar, até você entrar na internet...

S3- Você já desistiu.

S2- É super lento, então é péssimo o laboratório daqui, é péssimo, é o pior de todos.

S4- Não abre email, às vezes o aluno precisa enviar o trabalho por email, ás vezes o

professor reserva o laboratório então dificulta os alunos.

S2- E o pior é que é um absurdo, porque a gente não paga barato a mensalidade

dessa faculdade. Se você ver tem muita gente que estuda aqui, cada cabecinha é

um valor alto, o preço de um curso menor que tem aqui digamos que seja de R$

500, então dava para trocarem, pegar uma sala maior e a gente que está sendo

prejudicado, não tem condições. Só que se você for contar, isso prejudica porque

muitas pessoas as vezes não tem condições de chegar em casa e fazer o trabalho,

ou se não, você vai sair daqui e antes de entrar no seu serviço você vai ficar um

pouco aqui para estudar, procurar, fazer uma pesquisa que é um tempo que você

tem para fazer e o laboratório não colabora, a faculdade não colabora, porque você

paga caro pela faculdade então eu acho que o laboratório deveria receber uma

reforma, ter computadores melhores, porque iria ajudar muito, nas pesquisas de

todos os alunos de qualquer curso que seja, ainda mais aqueles que só tem aqui

para estudar. Eu acho que ajuda muito.

S3- Á noite tem gente que nem consegue entrar no laboratório de tão cheio que é.

De manhã a gente ainda tem um pouco de dificuldade, mas não está muito cheio.

S2- Agora à noite, nem quando eu estava precisando à noite no ano passado, eu

nem ia no laboratório, porque tinha fila para entrar, para ir nos computadores. E todo

mundo que vai fica reclamando, nossa esse computador está muito lento.

M - E o que vocês fizeram, por exemplo, nos primeiros períodos para superar isso?

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S2- A gente ia na casa de alguém, que tem computador ou pedir para alguém se

pesquisar alguma coisa para você, então essa é a grande dificuldade, porque o que

você não pode aqui, não pode na sua casa porque o tempo que você tem na

faculdade, não tem como, você tem que pedir para os outros pesquisar para você,

ou pagar ás vezes alguém para fazer uma pesquisa.

S3- Muita gente fica sem fazer porque não tem como. Fica sem fazer os trabalhos,

acaba ficando sem nota, porque a maioria dos trabalhos tem que ser digitados. Hoje

em dia é muito difícil um professor pedir um trabalho manuscrito, porque é de

universidade né? Então tem muitas pessoas que acabam não fazendo, as pessoas

que não tem como pesquisar em algum lugar, acaba não fazendo.

S2- Eu mesma já perdi nota porque não tinha, hoje lógico eu consegui com esforço

comprar um computador, mas quando eu entrei, nos primeiros semestres eu não

tinha, eu peguei agora no último semestre quando estava acabando o TCC

praticamente. Então no começo teve trabalho sim que eu não entreguei, porque não

tinha como fazer, não tinha tempo para fazer, outros, pedi para amigos de sala

pesquisar também para mim, aí depois, quando chegava na sala com a pesquisa e

eu tentava selecionar o que eu queria, então era complicado. Daí assim você vai

resolvendo, quando você consegue um emprego melhor você compra um

computador, né? Em várias prestações, mas, é uma coisa que vai ser sua e você vai

ter, no final de semana ele está ali.

M-O computador é uma necessidade?

S2- É uma necessidade com certeza. Ainda mais na universidade, totalmente.

S3- Tudo gira em torno do computador, e não tem jeito, o professor diz: eu vou

enviar por email.

S2- Ah entra no aula livre (professor). Mas não tem como deixar no xerox? (aluno)

Não, entra no aula livre (professor).

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- Ou então, o que está passando no slide a gente vai anotando.

M- O aula livre é?

S2- Um site onde os professores deixam as matérias dele. Então você precisa do

computador e eles falam assim que nós estamos anotando alguma coisa que ele

está passando no slide, aí eles mudam o slide, aí a gente fala: professor, espera um

pouquinho que nós estamos copiando. E ele diz: Não, está tudo no aula livre, eu

perguntei.

S2- Você depende do computador e se você não consegue entrar no aula livre,

como você faz? Tem que ter na xerox, por exemplo, na xerox as matérias que eles

vão utilizar nas aulas. Ajudaria muito a gente a acompanhar a matéria deles, mas

não, sempre é no aula livre, o professor diz: vai estar tudo disponível lá. Aí você vai

entrar no aula livre, cadê? Isso quando o professor lembra de colocar para você. Aí

você chega na outra semana e pergunta, professor eu procurei tal matéria na aula

livre, e ele responde: ah eu esqueci de pôr, você acredita? Ele diz: Depois eu ponho.

E acaba nem colocando.

M- Estamos finalizando, tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar, que

vocês não falaram ainda?

S1- Dificuldade que eu acho também é o da coordenação. Quando a gente reclama

de um professor com razão, ele dizem: a gente vai resolver aqui entre nós, e acaba

não tendo resposta, fica entre eles. Os alunos nunca tem razão. E a dificuldade

também é o professor né? Eles acham que estão dando aula para o ensino

fundamental, né? Enche a lousa, não sei, eu tenho uma professora que enche a

lousa. E começa a escrever e todo mundo tem que escrever, acompanhar o que ela

está escrevendo, então, é uma aula que antes de terminar o semestre ela já

terminou o conteúdo dela. Ela chegou na quinzena de maio eu acho a aula dela é

tão boa que o pessoal não aguentou, o pessoal combinou de não vir na aula dela, se

vieram, foram três pessoas, ela ficou até chateada. Então ela disse: Ah! A melhor

coisa que eu faço é encerrar o semestre, eu vou encerrar. Venham para ver a nota

de vocês para ver se não tem nenhum erro.

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S2- Detalhe ela deu a mesma nota para todo mundo. Por exemplo, ela pediu para a

gente apresentar um trabalho, geralmente o que o professor faz, faz assim, qual o

nome dos integrantes do grupo, aí anota e avalia os trabalhos. Ela chegou, não fez

chamada, terminou ficou um olhando para a cara do outro.

S2- Deu a mesma nota para todo mundo e detalhe teve gente que não foi nesse dia,

não fez a apresentação e todo mundo se matando para fazer a apresentação

achando que ia valer nota. Ela foi e deu a mesma nota para todo mundo. Teve gente

que nem estava na sala e ficou com a mesma nota. Então você vem para a

faculdade, você se esforça para vir de manhã, para que os professores nem façam

chamada depois. Então eu acho que os professores tem que dar mais valor aos

alunos, porque os alunos estão pagando a mensalidade, estão querendo ter aula, e

isso requer um pouco mais de esforço dos professores, porque isso ajuda muito sim

para concluir nosso curso com satisfação e eu acho que é isso.

M - Ok. Tem mais alguém que quer falar mais alguma coisa?

S1- As primeiras dificuldades foram o trabalho em grupo, do grupo se entender, a

falta de comunicação, o individualismo, o egoísmo e a falta de entendimento, né?

Muita gente trabalha, algumas não, e essas pessoas que muitas vezes não

trabalham inventam desculpas, para evitar de ter trabalho na verdade. A dificuldade

também do grupo se encontrar para fazer trabalhos, porque muita gente mora longe

da faculdade, quando tem um tempo, ninguém quer estudar, nem se reunir, o

pessoal quer deixar o tempo livre, e isso gera briga entre o grupo. Tanto é que no

quarto semestre eu entrei num grupo e hoje no início do quinto semestre ninguém se

fala.

S1- Ninguém se fala mais.

S1- Ninguém se fala porque foi a montagem de um artigo, de um pré-projeto e

depois virou um artigo e sobrecarregou muito uma pessoa, hoje essa pessoa passa

por mim, eu ajudei ela no que eu pude e tipo, a primeira vez que eu montei um

artigo, eu não sabia da dificuldade e hoje ela passa por mim, me cumprimenta, não

olha pra mim, muito menos para o grupo e quando fala é na base do interesse, quer

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alguma coisa, mas fora isso a gente não se conversa. Então gerou um conflito entre

as pessoas do grupo.

M- Sim.

S1- Porque as pessoas deixam tudo para a última hora e o pessoal só se preocupou

mesmo na hora da apresentação e aí foi aquela, o pessoal quer conseguir decorar

sua parte, a sua fala, mas a montagem mesmo desse pré projeto, desse artigo,

ninguém se preocupou. Foi um artigo que precisava de uma pedagogia hospitalar,

precisava de uma visita em uma brinquedoteca de pedagogia hospitalar, houve uma

dificuldade de ir até o hospital, conseguir a permissão para ver as crianças com

câncer, o trabalho com elas é muito difícil, é muito restrito e quando conseguiu o

grupo não foi. Então a menina trabalhava no hospital, ela acabou passando

vergonha porque marcou e chegou na hora ninguém foi e aí no dia seguinte cada

um inventou uma desculpa né? Um falou que ia trabalhar, outro falou que ia cuidar

do filho, outro falou que ia fazer não sei o que, e acabou que não deu para ninguém

ir então ela passou vergonha, então ficou um negócio chato. O grupo estava se

desentendo desde o quarto semestre, aí como era a montagem desse pré projeto

para esse artigo, para não haver mudança de grupo, não quebrar o ritmo do grupo,

porque teria de começar tudo de novo, montar esse pré-projeto tudo de novo a gente

optou por continuar junto, mas ninguém estava se entendo mais.

S1- Ninguém se entendia no grupo mesmo. Ninguém se entendia. Quando chegou

no quinto semestre, ela sempre falava para mim: eu não aguento mais, eu não

aguento mais, e eu falava para ela: então vamos mudar, vamos mudar, aí ela falou:

não, vamos aguentar até onde der. Aí quando chegou no quinto semestre ela pegou

e falou assim para mim: essa é a primeira e a última vez. Aí entramos em férias,

quando voltamos montamos ainda o artigo, quando chegou no final do semestre

apresentamos, ela falou assim para mim: nunca mais, nunca mais eu faço isso na

minha vida, nunca mais.

M- Mas o que ela falou que não ia fazer nunca mais?

S1- Se sobrecarregar por causa dos outros, né?

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M - Entendi.

S1-Ela falou: nunca mais porque se é para trabalhar em grupo é para trabalhar em

grupo, se fosse para fazer um negócio individual era só avisar que eu fazia o

negócio sozinha. Aí acabou que todo mundo passou com dez e aí ela falou: aí, tá

vendo? E ninguém se preocupou em fazer nada, todo mundo ganhou dez e hoje

ninguém está nem aí, hoje o pessoal desconversa, não se fala e quando eu entrei eu

ia em outro curso e ela tinha uma melhor amiga, A melhor amiga da sala dela, tanto

que a amizade acabou uma não olha para a cara da outra.

M - Acabou a amizade?

S1- Acabou a amizade, por causa de trabalho. Hoje uma senta de um lado da sala a

outra senta do outro lado, as duas passam se olham, mas não se falam, nem bom

dia, nem boa tarde, nem nada. A relação do grupo acabou.

M- Você tinha trabalhado em outros grupos?

S1- Não, agora que eu participei de outro. Eu pedi para entrar num grupo (como eu

fiquei sem grupo), porque teve esse conflito, aí eu pedi para duas pessoas da sala

para poder entrar no grupo, aí elas falaram que o grupo era só as duas, não me

deram resposta de nada. Aí elas pensaram em uma ou duas semanas se eu podia

entrar no grupo ou não, eu via elas conversando entre elas, aí eu pensei: acho que

elas estão pensando se eu vou poder entrar no grupo ou não. Aí elas pensaram

uma, duas semanas e deram a resposta para mim, que eu podia entrar no grupo. Só

que eu não sabia que tinha uma terceira pessoa no grupo e essa terceira pessoa era

uma pessoa muito arrogante. Que tem uma condição de vida melhor e que gosta de

pisar nos outros, e tudo o que ela apresenta no grupo é conteúdo da internet, e fala

que foi ela que fez, mas não fez nada, ela pega e imprime tudo da internet: ah

porque eu fiz, vocês não fizeram nada, tudo o que eu fiz está aqui. E quando a gente

corre atrás é tudo coisa da internet, e o antigo grupo dessa terceira pessoa ficou

com ela durante um ano, e essa semana eu vi a moça e ela falou assim: nossa não

sei como você aguenta essa praga!. Porque eu aguentei essa daí um ano, nunca

mais eu faço trabalho com essa mulher, porque ela é arrogante, a soberba dela é

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demais, porque só o dela que é bom, só o dela é o melhor, o dela é que presta, e é

tudo cópia de internet, copia cola e ela mesma não faz nada. Quando ela faz alguma

coisa, é errado e quando sai alguma coisa errada ela joga para as pessoas, porque

o dela sempre está bom, sempre está certo. É sempre assim, sempre está certo.

M- Você gostaria de falar mais do trabalho em grupo, das dificuldades do trabalho

em grupo ou outras dificuldades que você tenha tido nos primeiros períodos?

S1- Dificuldade que eu vejo, não só minha, mas de outras pessoas é relacionada

com os professores, porque muitos professores não entendem o aluno, a dificuldade

do aluno, mas acho que faz parte, e acaba gerando um pouco de briga. Há um

pouco de desentendimento entre professores e alunos. Tem aluno que gosta de

provocar, gosta de medir força com o professor e acabam se dando mal, e outros

reclamam de perseguição de professores, apesar de que eu não vi. Reclamam da

perseguição de professores e as vezes a falta de comunicação entre os próprios

professores porque teve semana que eles trocaram aula e o professor acabou

esquecendo, viemos de graça. Teve gente que veio do Ipiranga para ter aula,

chegou aqui e o professor esqueceu que tinha as quatro aulas. Aí a pessoa acabou

indo embora, só que a pessoa ficou muito brava e fez uma reclamação no CA e

mandou para a coordenadora do curso, e acabou que eles resolveram entre eles,

mas não deram a resposta para a sala. Todo mundo ficou bravo, porque veio à toa,

e acabaram, resolveram entre eles, agora o que aconteceu mesmo ninguém sabe. O

que acontece é que a coordenação não passa para os alunos e isso fica entre eles,

porque ninguém sabe o que eles resolveram e aí todo mundo vem. Eles pediram

desculpa, que foi um erro deles, mas a coordenação, ela tinha que participar mais,

descer na sala, olhar, ver o que está acontecendo e não só ficar sentada na cadeira

atrás do computador.

M - E tem alguma outra dificuldade que vocês queiram comentar?

S1- Outra dificuldade também, no meu caso, foram os textos de alfabetização, que

eu achei que é muito conteúdo, é muito complexo, e acho que faltou um pouquinho

de aula prática, aula prática, principalmente.

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M - Como vocês faziam a leitura desse texto?

S1- Em casa, era em casa. A professora pedia para tirar cópia, quem podia, que ela

iria na próxima aula debater o texto e acabava que ninguém lia e chegava na hora

de debater o texto o pessoal lia na hora e falava, texto chato, complexo, é ruim de

ler. O pessoal começava a ler e parava na metade do texto, não aguentava mais ler,

pegava e parava e chegava na hora de debater o texto o pessoal lia na hora. Quem

conseguia ler na hora lia na hora, mas a maioria não lia e ela ficava muito brava, a

professora então perguntava se tinha algum problema no texto, e o pessoal não

respondia para ela. O pessoal tinha medo de responder e ela entender isso aí mal.

M - E aí como é que você fez para ler os textos, como é que você se organizou?

S1- Eu tentava ler um pouco, só que a maioria eu não lia também. Eu não lia todo

dia, porque eu achava o texto difícil de entender, porque é muita coisa para a gente

entender e são diversas matérias. Aí às vezes tinha coisa mais importante para

fazer, o que dava à entender, é que ela( a professora) chegava no final do semestre

e ia passar todo mundo, então todo mundo não se preocupava. Isso foi durante dois

semestres, então o pessoal não se preocupava mesmo. Eu lia outras coisas, porque

quando a gente estava lendo esses textos de alfabetização, a gente estava na

montagem do pré projeto do quarto semestre, então, estava preocupado com esse

pré projeto que valia nota para todas as disciplinas, então se faltasse nota para mim

aqui na matéria de alfabetização eu saberia que o pré projeto iria cobrir essa nota,

porque ele valia de zero a dez.

Quando a gente chegou no quinto semestre a gente também teve alfabetização, no

caso, virou para a montagem do artigo. O artigo também vale para todas as notas,

então todo mundo estava preocupado com o pré projeto e com o artigo, então

ninguém se preocupou com os textos de alfabetização, que entre a pesquisa de

alfabetização e a montagem de um pré projeto e um artigo, a montagem do pré

projeto e do artigo é mais importante.

M- As leituras que vocês faziam no começo, no início, nos primeiros semestres, bem

nos primeiros períodos. Como era essa leitura?

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S1- Para mim, eu conseguia pegar poucos textos, porque no momento eu estava

desempregado, então quem estava me ajudando era meu tio, que ainda continua me

ajudando, então para evitar transtornos com mais gastos eu pegava alguns, eu

pegava os mais importantes. Mesmo assim eu senti dificuldades nos textos que

envolvem alfabetização e os textos que envolvem psicologia. Tem algumas partes

da psicologia que é difícil de entender, é muito específica, só um psicólogo mesmo

para poder compreender o texto.

M - E como você superou essa dificuldade? O que aconteceu?

S1- Ah eu lia, sempre que tinha dúvida eu perguntava quando terminava a aula para

os professores. Eles sempre respondiam para mim e foi na base da pergunta

mesmo, eu sempre perguntava para a professora. Daí ela respondia, perguntava se

eu tinha entendido, eu dizia que sim.

M - E aí você começou a superar, começou a entender a disciplina?

S1- Consegui entender, mas a dificuldade mesmo foi em alfabetização.

M - A sua dificuldade foi essa?

S1- Alfabetização e quando a gente está montando o artigo, na montagem da

metodologia. O professor demorou quase um semestre para explicar a metodologia

e quando chegou agora no sexto semestre o professor conseguiu explicar para a

gente em vinte minutos, assim deu uma diferença boa.

M - Você teve mais alguma dificuldade que gostaria de comentar?

S1- A dificuldade foi entrar no ritmo das aulas, porque eu achei que deveria ser um

curso, que deveria motivar mais os alunos, e não é o que acontece, e aí ele se torna

um curso muito aberto porque são várias disciplinas e assim, não motiva ninguém

porque tem muita gente que vai parando, acho que por causa dessa falta de

motivação. Aí vai parando, vai parando, aí começa entrar em conflito com o grupo,

com o professor, aí começa a falta de entendimento, começa o individualismo, o

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pessoal vai parando. Isso é a falta de motivação também do professor intervir nos

grupos, até saber como,direcionar o grupo, achar o melhor caminho, a melhor

pesquisa, eu achei o curso um pouquinho aberto. Nesse sentido né.

M - Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?

S5- A minha maior dificuldade no primeiro período, é que eu estava há muito tempo

sem estudar, e isso dificultou bastante principalmente a parte de leitura e

interpretação de texto que eu tive bastante dificuldade. No começo eu lia bastante os

textos e demarcava para identificar onde eu tinha dificuldade e poder fazer o melhor

trabalho.

M- Você começou a marcar os textos?

S5- Marcava, fazia marcação nos textos, lia várias vezes, duas a três vezes, quantas

vezes fossem necessárias para que eu pudesse entender o texto.

S5-Essa foi a parte que eu tive a maior dificuldade. Outra das maiores dificuldades

era o trabalho em grupo, não por mim, mas sim pelos integrantes do grupo, eu não

tenho problema de trabalhar em grupo, mas na sala havia muito desrespeito para

trabalhar em grupo. Havia pessoas que não faziam nada, encostavam no grupo e o

outro fazia e criticava ainda. Eu tenho problema, mas de trabalhar no grupo não, eu

tenho um pouco de dificuldade de aceitar críticas, mas se a pessoa souber me

criticar e for maleável eu acho que é melhor a gente conversar e resolver os

problemas.

M-E que problemas você teve nos trabalhos em grupo,nos primeiros períodos?

S5- É que uma das integrantes do grupo ela não escrevia nada e as poucas coisas

que eu escrevia ela criticava ainda, ou então ela dava sumiço nas coisas e falava

que não tinha entregado para ela. Essas foram as minhas maiores dificuldades.

M- E como é que você resolveu isso?

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S5- Ah eu sempre tinha cópia daquele trabalho, do que eu escrevia e eu guardava,

eu não tinha mais confiança de entregar para ela o que eu escrevia. Procurava

sempre fazer todo mundo junto, porque aí ela não tinha aquela de dizer que ela fez,

ou de que ninguém do grupo participava.

M- Você participou de outros grupos para fazer os trabalhos?

S5- Participei de vários grupos.

M- De vários grupos?

S5- Eu comecei em um, e terminei o ano em outro grupo. A cada semestre eu

participava de um grupo.

M- Cada semestre você participava de um?

S5- É. Até mesmo para poder interagir com outras pessoas, conhecer outras

pessoas, para não ficar num grupo fechado, porque quando você está num grupo

fechado, você perde a oportunidade de conhecer outras pessoas.

Eu acho que, quando você trabalha com várias pessoas, te enriquece porque com

as dificuldades do outro você aprende a superar as suas, e você passa a conhecer o

outro, como ele é, você vai ver que ninguém é igual, todo mundo é diferente, mas

que você é capaz de lidar com as diferenças.

M- Você foi participando de um, do outro, o que ia acontecendo?

S5- Eu sempre tinha a mesma dificuldade do grupo, falta de diálogo nos grupos. Às

vezes é mais fácil você agredir do que chegar e falar o problema. São palavras que

te agridem, que são as maiores dificuldades, ás vezes a pessoa não conversa com

você, não fala onde está o problema. Críticas das pessoas umas com as outras,

criticar, apontar o defeito do outro não se auto-avaliar, porque é muito mais fácil eu

apontar o teu defeito do que eu me auto avaliar e ver o meu defeito, onde que eu

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posso melhorar. Acho que essa é uma das maiores dificuldades dos grupos, porque

eles não se auto avaliam, só veem o defeito do outro.

M- E como você resolveu? Mesmo participando de outros grupos como você

resolveu?

S5- Ah eu preferia não dar atenção para essas conversinhas, comecei a aprender

com as pessoas, Achei que daquela situação poderia tirar algo de bom. Eu acho que

eu aprendi bastante...

Com esses grupos, porque você tem que aproveitar, é enriquecedor você trabalhar

em grupo, conhecer outras pessoas. A nossa sala é grande, tem pessoas que um

não sabe o nome do outro, a gente está há três anos juntos e não se conhece. Tem

uma divisão muito grande na sala, mas eu procuro não levar isso em consideração.

Sempre que posso eu estou interagindo, eu converso, porque é para isso que eu

estou aqui.

M- Claro.

S5- Afinal de contas estou me formando para ser professora e como professora eu

vou trabalhar com seres que eu vou preparar eles para a sociedade. E como que eu

vou preparar eles para a sociedade se eu não sei interagir com o outro? Eu vou

estar com seres lá, eu vou ser formadora de opinião, de uma certa forma, porque eu

vou trabalhar com crianças pequenas.

Até a quarta série eles são muito pequenos e o professor para eles é um ídolo, ou

uma bruxa, mas isso depende da professora. Mas normalmente o professor nessa

idade para o aluno é ídolo, ele adora o professor, ele idealiza o professor.

Muitos querem ser professores pela professora que tiveram, então eu acho que eu

tenho que aprender a trabalhar em grupo para que eu possa ensinar essas crianças

a trabalhar em grupo, porque amanhã na vida eles vão trabalhar em grupo, em

qualquer lugar, seja numa escola ou numa empresa ele vai ter que trabalhar em

grupo, porque nós fazemos parte do grupo, nós somos uma sociedade. Não

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conseguimos viver sem ser em grupo. O grupo eu acho que é uma forma de

socialização, você aprende outras culturas, você conhece outros povos. Se você não

tem essa interação, você não conhece, eu acho importante o trabalho em grupo.

M- Então você procura se interar participando de vários grupos?

S5- Participando de vários grupos, aí eu tinha a oportunidade de conhecer outras

pessoas, até mesmo outras culturas porque a partir do momento que eu trabalho

com outra pessoa, ela tem outra visão e aí eu passo a conhecer outras fontes,

outras formas de vida, porque um é diferente do outro. Eu procurei resolver

trabalhando com outras pessoas.

M- E você teve outra dificuldade?

S5- No meu TCC foi um dos meus momentos mais difíceis, para trabalhar em grupo.

O grupo era muito crítico, não aceitavam opinião um do outro, chegou um momento

que eu terminei concluindo no primeiro semestre a primeira parte do artigo em

grupo, mas tinha coisas absurdas que eu não aceitava, por ser um trabalho que

pesava bastante no nosso currículo, eu achei melhor me desintegrar do grupo e

fazer um grupo separado.

Nessa separação de grupo, eu fui trabalhar com mais duas outras pessoas, e eu

aprendi bastante. Uma das pessoas já era integrante, nós trabalhávamos sempre

junto, mas a outra pessoa não, nunca tivemos a oportunidade de trabalhar junto. Foi

muito bom trabalhar com ela. Ela foi uma pessoa muito criticada na sala, tanto que

ela ficou sem grupo por causa disso, porque a pessoa que estava fazendo o trabalho

com ela, foi para outro período, outro horário, e ela ficou sem grupo.

Ela veio falar comigo e eu abri as portas para ela, e foi muito bom trabalhar com ela,

é uma pena que ela não está com a gente agora no último semestre, porque ela está

com problemas de saúde, mas foi muito enriquecedor.

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Ela é uma pessoa muito legal, muito esforçada, atenta, sabe? Prestava atenção, ia

correr atrás das coisas, a gente sentava e conversava, foi muito bom, no final ela

teve um rendimento muito bom no nosso trabalho. O pior do trabalho, eu acho que o

tempo foi muito pouco, nós tivemos que concluir no quinto semestre, eu acho que

nós não estávamos prontos no quinto semestre para a conclusão de um artigo

científico, porque esse projeto teria de ser concluído agora no sexto semestre,

porque tem coisas, matérias que nós trabalhamos agora no quinto e sexto semestre

que caía muito bem no nosso artigo e daria para melhorar bastante, mas foi bom e

eu aprendi bastante.

Tive a oportunidade de ir para a escola, porque eu trabalhei com um projeto sobre

alfabetização, eu fui para a escola, vi as dificuldades do professor, vi as dificuldades

das crianças, lá dentro da escola, que era uma sala de Pic, um projeto do prefeito de

São Paulo, e vi a dificuldade que é trabalhar com as crianças. Era uma comunidade

carente, mas assim para o meu conhecimento foi muito enriquecedor, eu vi todas as

dificuldades.

M- Por que você falou que no TCC você teve uma dificuldade? Qual foi a dificuldade

que você teve no TCC?

S5- A dificuldade é que eu acho, é que no semestre que nós estávamos fazendo o

TCC, nós não estávamos preparadas ainda para o TCC, não estava bem orientada,

eu acho que faltou orientação no TCC, deveria ser mais bem orientado pelo

professor que estava orientando a gente, houve falha de orientação. Meio confuso, o

professor não era bem específico no que ele queria. Você escrevia uma coisa ele lia

e falava não, não é isso. Depois de uma semana você voltava para a mesma coisa e

ele falava ah, isso está legal. Então assim ele entrava em contradições quando ele

lia os artigos. Não só eu fiz essa reclamação, a sala, várias pessoas reclamam.

S4-Uma das dificuldades que eu tive foi parecida com a dela, é a questão de

interpretar textos, porque eu não entendia, o professor pedia para fazer resumo,

pegar uma ideia central de um texto, eu tive muita dificuldade. Eu acho que é até

devido a ter vindo de uma escola pública, onde o ensino era fraco, os professores

não estimulavam os alunos, só fazíamos cópias de livros, não usávamos as nossas

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próprias palavras, só ficava cópia, cópia, não tinha diálogo e o período foi mais no

primeiro semestre, quando eu entrei mesmo na faculdade, eu me debati mesmo, foi

um confronto que eu enfrentei. Assim para resolver eu li muito, peguei textos difíceis

da internet, tentei fazer um resumo, foi sozinha mesmo. Não tive ajuda de nenhum

professor, eu enfrentei sozinha.

M- Para começar a compreender os textos?

S4- Isso. Sozinha mesmo, com muita força de vontade, pegando textos mais difíceis,

usei dicionário para entender palavras que eu não sabia o significado, e eu consegui

resolver entre o segundo e terceiro semestre eu fui percebendo que eu escrevia

melhor, entendia melhor. Uma das dificuldades que eu tive também foi a questão de

trabalhar em grupo. Como a colega falou, as pessoas muito individualistas, as

pessoas não sabem ouvir o outro. Por exemplo, aconteceu comigo quando eu

estava fazendo o TCC, estava todo o grupo em roda, eu fui dar minha opinião, a

pessoa simplesmente ignorou, virou para a outra e fingiu que não estava me

ouvindo. Então eu acho que hoje, o ser humano não sabe, saber sabe, é que ignora

a idéia de outra pessoa, e pensa que está certo em tudo. Eu acho também que os

professores deveriam estar mais preocupados com a pedagogia, que está formando

pessoas para trabalhar com seres, com crianças, eles deviam estar mais

preocupados. Assim, Por exemplo, no primeiro semestre as pessoas já formaram

grupos, e a maioria desses grupos permaneceram em todos os semestres, não

houve alteração na formação dos grupos. Até teve algumas pessoas que tiveram

uma dificuldade e formaram novos grupos, mas, poucas pessoas fizeram isso. Eu

acho que os professores deviam entrar na sala, e não que forçar, mas incentivar a

mudança, de um trabalhar com o outro.

S5- Mas quando tem alguns professores que tentam fazer isso, é muito difícil. Nós

tivemos aula esse final de semestre, e a professora fez papeizinhos com cores

diferentes para que a gente pudesse interagir com outras pessoas de outros grupos,

e nós percebemos que tinha muita resistência. Tem muita resistência essa troca de

grupo. O professor solicitou aquela interação, mas há uma resistência. Após a aula

sempre há alguma crítica, os alunos falam: porque o professor fez isso se nós já

temos o nosso grupo? Então quando o professor força uma situação de interação

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dentro da sala, socialização, há uma resistência dos alunos. Eles não aceitam essa

troca de grupo, conversar com outra pessoa, troca outras idéias, porque quando a

gente está trocando idéias, o meu grupo pode ter uma idéia formada e um

determinado conceito. Se eu for conversar com outro grupo, sobre aquele mesmo

conceito, o outro grupo pode ter uma idéia totalmente diferente, para mim vai ser

construtivo. A partir do momento que eu converso com a colega, e ela me dá uma

ideia que eu já tinha uma ideia formada, eu posso enriquecer a minha idéia.

S4- O conhecimento para mim é infinito, sempre que você sabe algo, sempre vai ter

alguém para contribuir para você aprender mais.

M- Mas quanto ao trabalho em grupo, como você superou a dificuldade de

trabalhar em grupo, o que você fez para superar?

S4- Eu procurei conhecer novas pessoas. Eu comecei esse semestre, eu conheci

mais pessoas do que no primeiro e terceiro semestre, mas ainda, por mais que eu

queira da minha parte conhecer novas pessoas, acho que são as pessoas que estão

muito fechadas. Te olham com cara feira, você vai apresentar o trabalho, querem te

deixar para baixo. Eu acho que como é um grupo, a sala devia ser mais unida, um

ajudar mais o outro, isso está na sociedade, não é só na sala de aula. Você vai

procurar um serviço, você vai andar na sociedade, você vai se deparar com pessoas

assim. E outra dificuldade que eu tive, logo no primeiro semestre foi a questão de

apresentações. Eu ficava muito nervosa, até mesmo devido às pessoas que

estavam lá assistindo, pessoas de cara feia, sem incentivo.

S5- Uma expressão Crítica né? As pessoas te olham com uma expressão crítica.

S4- Isso. Não é porque eu não sabia o conhecimento, eu sabia tudo sobre o

trabalho, mas devido a recepção que eu tinha... e no caso para vencer (hoje eu

venci isso), eu tive mais segurança quando eu estava lá na frente apresentando

porque eu passei a pensar, que eu estava ali para ser uma mediadora, eu estava

ali para não ser criticada, para passar conhecimento para aquelas pessoas que

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estavam me assistindo.

M- Foi essa a forma que você encontrou para superar?

S4- Eu estava ali para passar conhecimento, não para ser criticada. Foi mais no

primeiro e segundo semestre, hoje eu consegui superar mais. Tive problema

também na biblioteca, no primeiro e segundo semestre, apesar de que eu ainda

tenho problemas de procurar livros. Os atendentes quando estão ali atrás do

balcão, você pede uma ajuda, é difícil, eles falam que não, que estão ocupados,

estão separando livros. Eu acho que é um erro da universidade.

M- Assim que você chegou, nos primeiros períodos, o que você fazia?

S4- No primeiro semestre foi uma amiga que estudou aqui que me ajudou, ela falou:

você vai, olha a numeração, foi muito difícil mesmo. Sozinha eu fiquei quase duas

horas procurando um livro e a funcionária ali, foi um descaso. Sabe,eu acho que

eles poderiam ter me recebido melhor. Tive problema familiar, minha avó veio a

óbito, foi no terceiro semestre, eu agradeço alguns professores que me deram força,

e um professor que me ajudou muito. Eu pensei que fosse ficar desamparada, que

eu ia ser reprovada, porque teve trabalhos para apresentar, então eu agradeço à

alguns professores.

Não foram todos, mas eu tive muito apoio. Eu pensei até em desistir, foi muito difícil.

Minha avó morava comigo então foi um choque que me deixou totalmente

desnorteada. Mas os amigos, a família, algumas amigas do meu grupo me deram

força, então eu consegui superar para continuar o curso, se não eu já tinha

desistido.

M- E tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar que tiveram, que não

falaram ainda?

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S5-Quando a gente chega na faculdade a gente cheia de perguntas e dúvidas.

Quando você fala que é pedagogia, as pessoas te criticam bastante. A sociedade

critica, eles esquecem que tem que ter professores para que existam profissionais

no mercado. Sem professor não tem profissional. Há muita dificuldade no curso de

Pedagogia a procura é muito baixa porque a sociedade ainda rejeita muito. No meu

caso quando comecei a estudar eu via que a pedagogia poderia me abrir muitas

portas, ela é como um leque bem amplo, você não precisa ir só para a sala de aula,

ela te dá outras oportunidades, isso me motivou bastante para continuar na

pedagogia, tanto é que eu superei e estou aqui.

M – Quando vocês chegaram ao ensino superior como superaram os desafios?

S5- Eu superei porque sempre tive o sonho de fazer um curso superior, eu vim de

uma família carente, não tive oportunidade de estudar, meus estudos foram muito

carentes (educação infantil e ensino fundamental). É como o alicerce de uma casa,

se ela for bem construída ela não vai cair. A alfabetização é a mesma coisa, se ela

for bem estruturada chegando lá na frente você não vai cair. Mas eu falei: sou capaz

eu acreditei em mim, pensei eu vou vencer então superei os obstáculos.

V4– Eu também quando entrei estava ciente de que iria ter dificuldade, por causa do

ensino médio, mas eu pensei: Eu tenho que enfrentar. Eu gostaria de ter estudado

numa escola particular, mas acredito quem quer adquirir o conhecimento corre atrás,

mesmo que eu tenha que estudar numa escola pública, hoje eu vou me formar em

Pedagogia, vou fazer minha pós no ano que vem, eu acho que independente da

Escola, da Universidade, vai depender de você. Se quisermos aprender algo: vamos

aprender.

M – Vocês estão terminando o curso, faltam alguns dias apenas, já são pedagogos

praticamente. Como foi para vocês essa passagem pelo Ensino Superior?

S5 – Para mim foi muito bom, com a idade que eu tenho chegar até a Faculdade...

foi difícil porque eu tenho duas filhas, conciliar horários ser dona de casa, cuidar de

crianças, mas hoje eu me sinto vitoriosa. Eu consegui vencer uma batalha que eu

sonhei mais de 20 anos! (a aluna chorou nesse momento).

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S4 – Para mim também foi maravilhoso, eu enfrentei diversos obstáculos, acho que

foi uma prova na minha vida, de que o que se quer é possível, não devemos

desanimar nem nos abater com pessoas negativas que sempre estão ao nosso lado

querendo deixar a gente para baixo, é uma vitória na minha vida, hoje eu digo para

as pessoas correrem atrás não desistirem.

S4 – É uma prova de que, quando você quer você consegue. Basta você querer,

porque não existe obstáculo para quem quer conseguir alguma coisa na vida.

M - É verdade, vêm às dificuldades, mas vamos superando, vocês falaram das

dificuldades que foram superando sem desistir para chegar aonde vocês queriam.

Tem mais alguma dificuldade que vocês querem falar?

S4– A dificuldade que eu tive: foi que alguns professores, eu não vou citar nomes.

Alguns professores desorganizados. Teve um professor que não planejava.

Começava um assunto, não dava continuidade. Por exemplo: ele começou um tema

em uma aula e disse que ia continuar na próxima aula, mas quando chegou o dia,

ele já começou outro assunto, isso me deixou confusa, então eu não entendia

direito. Um dia ele chegou na sala e falou o que vocês querem que eu dou? Acho

que não é bem assim. Eu superei isso, ele mandou fazer trabalhos, pesquisas, eu

aprendi mais com pesquisa na internet, com livros do que com a própria aula dele.

Acho que os professores de Universidades, Escolas particulares no geral, eles

deveriam antes de entrar numa sala de aula, ter um planejamento, eu sei que o

aluno contribui, as vezes na aula o aluno fala dá opinião, mas às vezes tem muitos

professores que esperam muito dos alunos. Então para não ficar confuso, o

professor tem que vir mais preparado.

M – E a questão da informática, levantou-se uma questão a respeito disso, e eu

gostaria de saber se nos primeiros períodos vocês tiveram dificuldade nessa área?

S5 - Eu tinha bastante dificuldade e tenho até hoje na área de informática. Eu

conheço muito pouco, mas para pesquisa resolve, no começo para fazer e montar

os trabalhos era muito difícil, porque eu não tinha esse conhecimento em

informática. Eu falo: Sou uma analfabeta em informática. O que eu conheço é muito

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pouco, para quem está no nível universitário, se torna um pouco carente o

conhecimento da informática.

S4 – Eu também tive bastante dificuldade, até mesmo com as normas da ABNT, até

hoje não sei bem ao certo, mas estou procurando aprender. Sei que os professores

não vão ensinar passo a passo da internet para os alunos, mas eles deveriam dar

algum apoio que tivesse uma aula sobre as normas. Eu ia à casa da minha colega e

ela me ajudava a fazer e formatar.

M – E como vocês resolveram?

M5 – Eu fiz um curso de informática para me auxiliar nas dificuldades que eu tinha.

As normas da ABNT, a formatar. Hoje eu já consigo fazer, mas ainda estou

engatinhando na informática. O meu esposo que trabalha na área de comunicação

me ajudou muito. Eu aprendi, melhorei bastante, mas ainda preciso melhorar.

S4 – Para superar eu tive que ser encorajada. Existem apostilas de informática,

hoje, mas, na minha opinião, para você aprender você precisa praticar. Então eu

sentava na frente do computador, o esposo da minha tia ficava do meu lado e me

encorajava para conhecer os programas, essa foi a forma que eu tive para superar

essa dificuldade. Praticando... ser desafiada a conhecer novos programas, digitar,

formatar.

S5 – A informática tem que ser prática, para aprender, tem que praticar todo o dia, é

como a leitura, se não praticar você não consegue melhorar.

M – Tem mais alguma coisa que vocês gostariam de falar?

S5 – Não.

S4 – Não.

S2 – Não.

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S1 – Não.

S3 – Não.

M- Quero agradecer a participação de vocês nessa pesquisa e parabenizá-los pela

conquista. Obrigada.

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Anexo C- Transcrições Grupo Focal 2

M - Bom dia.

Quero desde já agradecer a presença de vocês aqui, e gostaria que vocês falassem

quais as dificuldades que vocês tiveram nos primeiros períodos do curso de

Pedagogia, para se inserir no ensino superior.

S7 – A dificuldade que nós encontramos nos primeiros semestres é que eram muitas

informações muita teoria, então a gente não conseguia assimilar principalmente eu.

Eu tive muita dificuldade em fazer uma leitura e saber interpretar essa leitura.

Foi uma dificuldade minha, eu não sei minhas amigas...

S8 – Uma dificuldade que tive também foi do tempo. Uma coisa que aconteceu no

primeiro semestre é que foi difícil conciliar o tempo de trabalho porque eu estudava

de manhã e trabalhava de manhã também. Então eu entrava no serviço 11:30 hs.e a

aula aqui termina às 11:00 hs. Eu moro longe, a maioria das vezes eu tinha que sair

antes, e os professores continuavam passando as matérias, eu acabava perdendo

muitas coisas. O primeiro semestre, foi o semestre que eu tirei mais notas baixas. Eu

não tinha tempo, e eu trabalhava em escola, mas não conseguia enxergar o que eu

aprendia com a escola que eu trabalhava, então ficava difícil de conciliar as duas e

por conta disso, o rendimento foi lá embaixo.

M – E como você fez para superar essa dificuldade?

S8 – Bom no começo foi difícil porque a minha diretora não entendia, eu tenho uma

bolsa do sindicato dos metalúrgicos e era só de manhã, eu não poderia ir para a

noite se não eu perderia o desconto; mas a diretora não entendia ela queria que eu

tivesse lá antes das 11:00 hs. Eu só consegui solucionar esse problema no 3º.

semestre, que foi a época que eu me afastei, nesse tempo, agora eu estou afastada,

mas as meninas até hoje, na escola onde eu trabalho, elas tem dificuldade com essa

questão de horário, mas assim , a diretora mudou a escola, agora é uma escola

particular mas era conveniada, mas ninguém entendia. Ela queria que eu tivesse lá

antes das 11:00 h, e antes das 11:00 h era quase impossível, então eu só consegui

solucionar esse problema no 3º semestre, que foi a época que eu me afastei, nesse

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tempo agora eu estou afastada, mas assim, as meninas na escola onde eu trabalho

tem dificuldade com essa questão de horário, a diretora dizia:”se vira, ah sai mais

cedo”; mas se sair mais cedo eu perco matéria, não podia ficar até o final das

provas. Solucionar, não solucionou tudo, agora melhorou porque eu me afastei de lá

e talvez volte o ano que vem, mas não tem uma solução ainda para isso, porque

eles lá não entendem esse fato de poder estudar.

M – E você teve outra dificuldade?

S8 – Eu tive a dificuldade de interpretação de texto também no começo. Nossa! Era

complicado entender os textos.

S9 – Porque é meio fora da nossa realidade totalmente. Quando você lê, são poucas

às pessoas que tem o hábito de ler, lê no máximo um jornal. Aí você se depara na

Universidade com textos científicos, trabalhos científicos, não faz parte da nossa

realidade, não faz parte da realidade da maioria das pessoas, pelo menos na nossa

classe social. Não somos acostumados à isso. Então, chegar na Universidade e se

deparar com um texto de 20 páginas, e o professor dizer assim: “ É um texto

pequenininho, só tem 20 páginas”, é complicado, é muito difícil. Porque eu acho que

as dificuldades começam dentro de casa, para a gente sair de dentro da nossa casa,

já é uma dificuldade. Eu tenho 2 filhos, quando eu vim para a Universidade o meu

pequenininho tinha 2 anos, e eles ficariam sozinhos para eu vir para a Universidade,

então eu venho e fico o tempo inteiro olhando para o celular, porque a orientação lá

em casa é: Qualquer coisa, liga para a mãe. Eles ficam sozinhos até hoje. Eu e S8

moramos na mesma região, eu moro no Jardim São João e ela mora na Cidade

Soberana, nós pegamos o ônibus, um ônibus que cabe 100 pessoas, 50 sentados e

50 em pé; eles conseguem colocar 250 pessoas dentro do ônibus 6 horas da

manhã, isso já é uma dificuldade, dinheiro de condução é uma dificuldade,

mensalidade é uma dificuldade.

S8 – Tem o trânsito.

S9 - É o trânsito é uma dificuldade.

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S8 – Às vezes você chega atrasado, por exemplo: teve um acidente na famosa Via

Dutra e a Dutra parou. Aquela história o cachorro comeu meu trabalho... Você

explica para o professor que teve um acidente na Dutra, e ele diz: Ah lá vem aquelas

desculpinhas, mas não é uma tira, é uma realidade que a gente enfrenta desde o 1º.

semestre.

S9 – Ainda mais se for aqui em São Paulo, se tem uma moto quebrada na

trabalhadores trava-se tudo. Você acaba pegando o trânsito, condução lotada, você

acaba tendo outros desgastes . Nós tivemos uma professora de sociologia que ela

dizia o seguinte: Se você chegar até o terceiro semestre, você vai se formar.

S8 – É

S9 – Porque toda dificuldade que você vai ter na Universidade, de relação com o

próximo... , Eu até coloquei num papel que a diversidade entre pessoas é muito

grande, você tem que aprender a trabalhar em grupo, a respeitar a opinião do

próximo, e tudo isso no 1º. E 2º. Semestre é muito mais difícil. Depois você vai

levando, aprende a respeitar, engole, toma um copo de água para ajudar o sapo

descer, às vezes ele fica engasgado na garganta, mas, vai melhorando... Mas você

vai aprendendo a conviver com isso, porque na verdade quando você vai para o

mercado de trabalho... Você saiu do mundo da sua casa, do mundo da Universidade

onde você conviveu por um período de tempo com algumas pessoas, e vai conhecer

outras pessoas, são outras dificuldades... Você aprende. O legal da Universidade é

isso, você aprende a vencer algumas barreiras aqui dentro. Eu acho que a principal

função da Universidade é você aprender a romper algumas barreiras de crença, de

religião, de tudo, de valores.

S6 – Isso aí é muito focado, na Universidade você tem dificuldade de

relacionamento.

S9 – Ainda mais na nossa sala né, só tem mulher.

S8 – A gente estava comentando antes o assunto da camiseta, para escolher só um

negocinho, um modelinho, uma frase, foi assim.

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S7 - Ficamos um tempão debatendo... (risos).

S8 - Que cor? A fonte tem que ser diferente. Então é um monte de opinião que

acaba uma se debatendo na outra, e no final, pelo que eu estou vendo, na sala está

todo mundo com a camiseta igual (risos).

S9 – A gente quase se matou, ficou de mal, mas todas estão quase com a mesma

camiseta.

S7 – Mas a gente não conseguiu tirar um dia para que todas venham com a mesma

camiseta, vai ter 1 dia ou 2 da semana que todas virão com a mesma camiseta,

porque três não aceitaram comprar a mesma camiseta, não quiseram, ou seja, são

diferentes.

S8 – E as que aceitaram diziam: Ah o que vai bordar?... Aí fica aquela coisa... o foco

mesmo era só...

S9 – A pessoa só vê só o seu umbiguinho não vê o todo. Nós estamos no 6º.

semestre do curso de Pedagogia. A camiseta é algo que eu não vou usar todos os

dias da minha vida, é algo para marcar o fim de um tempo e o início de um novo

tempo. O valor é sentimental. A S10 por exemplo, bateu o pé que não queria.

Acabou comprando de tanto que nós falamos. Porque é por um bem em comum. A

gente já usou as camisetas, ela não usou ainda; mas o dia que for votado para que

todas venham com a camiseta, ela vai vir com a dela também. Essas dificuldades na

Universidade são difíceis, por isso se chamam dificuldades, mas serve para o

amadurecimento.

S10 – Eu quero falar um pouquinho também, é com relação aos textos, é uma

dificuldade que para mim, por exemplo, na História da Educação eu me pergunto:

porque que a gente tá aprendendo isso? Porque as questões da paidéia para surgir

o nome Pedagogia? Não é uma coisa que a gente entende no primeiro momento, é

uma coisa que chegando ao segundo semestre, no terceiro, no quarto semestre, é

aquela coisa do embasamento teórico, a gente vem sem base nenhuma, né? Eu não

sai do ensino médio e entrei direto, mas quem passa por isso eu acredito que seja,

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difícil de continuar. Como a professora falou, se você for para o 3º. semestre você

continua, mas quem para no 2º. e fala: O que é que estou fazendo aqui? Não está

entendendo nada, lá no ensino médio era assim... Aqui na Faculdade é desse jeito.

Não tem ninguém para apoiar, cada um tem que fazer a sua parte.

M – Quando você fala da parte teórica, que saiu do ensino médio e é diferente da

Faculdade. Você acha diferente no quê?

S10 – É porque no ensino médio desde o primeiro ano até hoje, a gente não tem

aquela matéria que o professor vai fundo. Eu não vou precisar pesquisar, é só ir no

Google ver o que tem baixar uma figura bonita e ele vai te dar “A”. Na Faculdade

você tem que pesquisar mesmo, você pode até achar alguma coisa no Google, mas

você vai ver se aquilo é verdade, no ensino médio não tem essa obrigação de ver se

é verdade ou não, na faculdade tem. No ensino médio fazíamos uma capa de

cartolina, aquele almaço. Na Faculdade tem as normas da ABNT, é uma dificuldade

no começo, mas depois você não escreve uma receita de bolo se não tiver 3/3 e 2/2.

rsrs.

S8 – Tem a questão da estética.

S10 – É uma dificuldade no começo, mas no final você não consegue entregar seu

trabalho sem as normas. Às vezes eu vejo que os avisos no elevador do prédio

está feio, então eu penso: se eu colocar nas normas da ABNT vai ficar bonitinho.

Qualquer textinho que você pega, você quer colocar nas normas.

S9 – E placa de caminhão então?

S6 – Eu tive dificuldade na realização de trabalhos, como elas falaram a gente fazia

com almaço, também porque fiquei fora da escola, já tinha passado muito tempo,

fiquei fora da sala de aula muito tempo. Quando regressei, a minha dificuldade era

navegar na internet, porque como dona de casa, eu não navegava na internet. Aí

como mexer no computador? Esse negócio de normas, como faz? Eu tive que pedir

ajuda para o meu marido, para os meus filhos, para as amigas do grupo, da sala,

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mas a coisa não andava, quando eu achava que tinha conseguido uma coisa, vinha

um e falava: não, não é mais assim, vinha outro e falava não, não é assim, é

assado. Aperta tal botão, não é esse botão é o do lado. Fui resolver esse problema

no 2º. semestre.Tenho dificuldade até hoje ainda. Se eu falar que consigo navegar é

mentira, mas hoje tenho mais intimidade com o computador (risos).

M – E você conseguiu isso com ajuda dos familiares? Como foi?

S6 – Meu marido sempre me ajudou numa boa, ele sempre me incentivou a voltar a

estudar, ele está mais acostumado a mexer no computador por causa do trabalho

dele. O meu filho por ser mais novo já cresceu nesse meio, para ele é normal, é

esquisito quando ele vai fazer alguma coisa e não tem computador. O que eu

achava que era muito complicado, e tinha uma seqüência de botões que eu não

lembrava, então eu pedia para ele fazer para mim. Rsrs... é assim até hoje.

M – Tem alguma dificuldade que vocês não falaram ainda e queiram comentar?

S7 – Como a S6 falou que ficou muito tempo fora da escola, foi o meu caso também,

fiquei mais de 20 anos fora da escola, quando voltei a estudar fui para a EJA, fiquei

3 anos e meio, fiz da 5ª. série até o 3º. Colegial, e a partir disso entrei na

Universidade em 2009. Quanto tempo fiquei fora da escola? Para mim todas aquelas

matérias eram um bicho de sete cabeças. Eu não conseguia entender, era muito

difícil, então a partir do 2º. semestre em diante foi clareando... clareando alguma

coisa. Foi o que a S6 falou do computador. Até anotei aqui: A questão do

computador, a internet para mim era novidade, eu não sabia. Então meus filhos

foram me ajudando, eu fiz um curso para conhecer um pouquinho o computador,

hoje eu não sei mexer tudo, mas conheço uma boa parte, quando tenho dificuldade

o meu filho e minha filha me ajudam. Até nos trabalhos acadêmicos, meus filhos são

muito importantes nessa parte, meu esposo também, meu segundo esposo, porque

no meu primeiro relacionamento/casamento, fui casada com ele 18 anos e meu

sonho era voltar a estudar, ele nunca deixou. Eu falei para ele que ia me separar

dele, mais ia voltar a estudar, me separei dele e voltei a estudar. E esse outro no

começo colocou barreiras e eu disse: Olha eu me separei do meu primeiro marido,

pai dos meus filhos, para voltar a estudar, não vai ser você que vai me impedir, aí

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ele falou: tudo bem então, hoje ele me apóia, me parabeniza porque eu não tive

nenhuma dependência, nenhum exame. Graças a Deus, só tenho a agradecer. E eu

me esforço. Eu fui cabeleireira durante 21 anos, hoje ainda exerço a função, mas

muito pouco, por conta da faculdade. Eu deixei um pouco esse trabalho de lado,

faço uma vez ou outra por semana. Eu dedico praticamente 80% do meu tempo para

estudar, para aprender alguma coisa, mas para mim foi muito bom esse curso.

M – Vocês falaram um pouco sobre as dificuldades de leitura dos textos, quais foram

as estratégias que vocês utilizaram para superar essa dificuldade?

S7 – Eu não tinha hábito de ler, eu passei a fazer leitura constante, ler livros, até

mesmo textos científicos, passei a estudar mais, e também em grupo a gente se

reunia e conversava um pouco sobre essa dificuldade. Principalmente minhas

colegas que tem mais conhecimento do que eu, eu perguntava e elas iam me

ajudando. Eu não superei 100%, eu tenho muito a aprender ainda.

S9 – Você pega um texto científico e fala: que texto chato!

S7 – Você não compreende.

S9 – É você não compreende: Então eu não sei se eu superei essa dificuldade, mas

eu aprendi a fazer, é... porque na verdade esses textos científicos nada mais são do

que suas próprias vivências. Hoje mesmo foi muito legal, nós apresentamos um

seminário em sala de aula, todas nós, e eram sobre temas do nosso cotidiano com

outros nomes, por exemplo, currículo da diversidade cultural (texto científico), o

nosso era o fim das metas narrativas, aí nós tivemos uma dificuldade imensa de

entender, lendo o que era o fim das metas narrativas, era um texto científico, só que

quando você o traz para sua vida, nada mais é do que o aprendizado totalizado e

focado naquela única verdade, e quando você traz isso para sua vida, para o seu

cotidiano, se torna mais fácil. Nós lemos um texto sobre motivação e liderança, um

texto muito científico, com palavras que nós não sabíamos. Só que quando você fala

sobre motivação e liderança, e na verdade é o que todo mundo procura ou quer.

Você precisa ser motivado, você veio para a Universidade por alguma motivação, e

você quer ser líder em alguma coisa, se você não é, você se identifica em algum

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momento. Se você trouxer esse texto científico para a sua vivência, você começa a

relacionar aquele texto àquilo que você já viu em algum lugar, isso está guardado,

eu acho que não melhora mas facilita, facilita muito a compreensão e você passa a

perceber que ele não é tão chato assim. É uma linguagem que você desconhece.

M – Mas...nos primeiros períodos o que aconteceu?

S9 – Ah! Eu chorei muito, eu chorava muito.

S7 – Eu também chorei.

S9 - Eu achava que não ia dar conta, sabe? aí eu procurava muito no Google

alguma palavra que eu não conhecia, trabalho de 5ª. série mesmo. A carinha do 5º.

Ano, vai lá e procura saber o que é, eu fazia a mesma coisa. A única diferença é

que eu não podia tirar do Google e trazer para a faculdade, procurava no Google só

para entender o que estava dizendo ali. E nós tivemos uma professora, por exemplo:

A gente tem aula dela, não se pode faltar, alguns outros professores também, se

faltar na aula dessa professora tá de exame. Mas são os professores que te exigem,

e não fazem isso porque são maus, mas te exigem porque querem que você tenha

compreensão daquilo. Hoje a gente tem essa maturidade, só que lá no começo,

como na verdade eu não podia parar a Universidade, porque eu tinha um foco, eu

tinha uma meta a cumprir, então eu tinha que pensar da seguinte maneira: Eu

preciso tentar entender isso, conversando eu tentava entender, lendo na internet,

porque na verdade o computador vira ferramenta necessária.

S8 – Para entender realmente eu tive que prestar atenção, porque pegar um texto e

não acompanhar a aula não adianta, aí você chega no 6º. semestre e ainda não

entende nada. Então eu acho que acompanhar a aula é fundamental. E tem texto

para ler, para fazer algum trabalho como o professor comentou: que cada um pega

um pedaço do trabalho e a gente vai corrigir o trabalho, sempre falta alguma coisa

pelo fato de cada um pega uma parte do texto. E Tem essa também, de ler para

saber o que está escrevendo, entendeu?

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S8 – O que me ajudou a compreender melhor os textos foi a leitura que é

importante, o trabalho que a gente dividia, uma fazia uma parte e a outra pessoa

outra parte, a gente se reúne e assim acaba comentando: a minha parte tá falando

assim...assim...assim..., a outra fala outra coisa, então eu consegui conciliar assim: a

parte que eu não entendi, foi a parte que ela entendeu, e aí ela me ajuda naquilo

que eu não entendi, e eu a ajudo naquilo que entendi. Esse foi o ponto que me

ajudou mais a compreender os textos.

S6 – Bom eu tive dificuldade também na leitura do texto, mas como eu sempre lia

muito e via jornal também, o que era assunto em relação à atualidade, quando eram

textos com essa referência tudo bem, mas quando eram textos filosóficos aí nem

Cristo me ajudava...

M – E o que você fez para superar essa dificuldade?

S6 – Eu recorri às colegas... aí quando tinha chance, eu perguntava para o

professor: o que quer dizer isso? Porque quando o texto é filosófico mesmo que a

gente recorra ao dicionário parece que não esclarece, pelo menos para mim.

S10 – A gente até entende o que está no dicionário, mas pergunta: Porque essa

palavra está aqui?

S7 – Dicionário para mim, ele anda lado a lado comigo, quando eu não estou com

ele eu jogo no Google, pergunto e ele fala, eu digo: mas não é isso que eu quero

saber. Eu pergunto de novo e ele fala assim: mas o que você quer saber? E eu digo

você quis dizer o que? Risos. O senhor não é o pai dos burros? Então vamos lá?

Risos.

S10 – Tem uma questão que a gente não colocou em relação às dificuldades que é

a questão dos estágios.

S9 – Nossa!!!

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S10 – E a atividade complementar então? Na minha opinião, na atividade

complementar, as visitas culturais...tem algum fundamento, mas eu acho que a

gente vai e faz 200, 250 horas no curso todo, só que não tem um professor para

falar assim: olha vocês vão lá, que depois a gente vai estudar sobre isso, vai discutir

o que vocês acham.

S7 – É verdade...

S10 – A aula de estágio nada mais é para o professor ver se sua ficha está certa ou

não... As dificuldades do estágio acontecem em todos os aspectos: tempo, dinheiro,

disponibilidade. Às vezes por causa de uma vírgula você tem que refazer o trabalho

todinho, aí você vai lá e imprime seu trabalho todinho... Porque o P de Pedagogia

ficou com letra minúscula... Para mim, o que pegou mais no curso falando hoje no

sexto semestre, foi o estágio e atividade complementar.

S8 – E também a questão da organização das disciplinas, porque uma dificuldade

que eu houve muito grande, foi por exemplo: nós estamos tendo disciplinas sobre

administração, gestão, liderança, tudo mais voltado para esse lado, e o nosso

estágio do quinto semestre...

S9 – Foi empresarial.

S8 – Foi no semestre anterior. A gente chegava na empresa para fazer aquele

estágio, e a gente via aquele monte de nomes. O professor queria saber o clima

organizacional, queria saber de todos os termos... e a gente ficava assim: O que é

isso? As disciplinas anteriores eram sobre EJA, metodologias de matemática, coisas

que não tinham muito a ver. A organização das disciplinas, eu acho, não sei... No

meu ver não é assim corretamente, porque hoje se eu fosse fazer o estágio numa

empresa, eu já iria entender os termos que eles usavam, porque para falar a

verdade eu coloquei no papel no semestre passado, o estágio eu fiz, e coloquei no

papel, mas entender o que aquilo queria dizer eu não entendi. Hoje eu entendo, até

falo para as meninas: Caramba fiquei tão agoniada no semestre passado porque eu

não sabia os termos que eles usavam.

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M – Em que semestre começam os estágios?

S8 – No segundo semestre, E agora no 6º. semestre com TCC para a gente

entregar, a gente tem estágio também.

S9 – É uma confusão brava.

S8 – É muita confusão...

S9 – É sim, o negócio está estreito.

S8 – As orientações do TCC a gente foi ter muito depois, assim que começou o

semestre e a gente já pensou que teria as orientações do TCC e foi lá para frente.

Mas é verdade, foi lá para frente, A gente comentou quando foram na sala de aula

falar: Poxa, mas não teria como vir antes? E falaram não tem, porque tem que

programar um monte de coisa. Só que aí a gente acaba ficando perdido. Porque o

estágio, a professora de estágio graças à Deus é ótima, não dá esses problemas,

mas o TCC é aquela coisa, é a conclusão do curso, você fica com aquilo na sua

cabeça o dia inteiro. Eu tenho que fazer o TCC.

S7 – É

S8 – Senhor ilumina...

S9 – Para falar a verdade no meu ponto de vista, você está concluindo o curso

agora, então quando chega o final do seu curso você tem o TCC para fazer, o

estágio para fazer, você tem filho, marido, então tudo que não está bom acaba

piorando, e você não encontra qualidade no que está fazendo, porque vai se

preocupar na quantidade, você pega o conteúdo.

M – Vocês falaram sobre a dificuldade do trabalho em grupo nos primeiros períodos,

querem comentar sobre isso?

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S7 – No meu caso, graças a Deus eu estou com o mesmo grupo desde o primeiro

semestre. A gente formou um grupo de 5 meninas, apenas uma saiu, ela saiu da

faculdade porque mudou para outro Estado, então ficamos em quatro, e no terceiro

semestre saiu outra colega, mas o meu grupo continua até hoje. A gente não teve

muita dificuldade de relacionamento.

S8 – A gente teve um pouquinho de dificuldade, a gente pôde conhecer um

pouquinho de cada pessoa.

S9 – Não é pessoal.

S8 – A gente viu que não estava produzindo legal. Eu entrei num semestre no grupo,

logo depois uma integrante descobriu que Pedagogia não era o forte dela (risos). Ela

era inteligente, mas disse: que iria fazer outro lado. A partir daí o grupo começou a

esvaziar, então a S10 chegou, ela entrou no segundo semestre, eu me identifiquei

bem com ela, por conta das leituras, ela me ajuda muito quando eu não estou

entendendo uma coisa. Eu falo: S10 eu não estou entendendo isso aqui. Ela me

ajudou muito. Aí veio a S9 que acabou entrando no grupo também, e tem uma

colega que não veio hoje. Eu não vi como uma dificuldade o grupo ter separado, eu

vi como... eu pude aprender um pouquinho. Uma vez uma professora fez uma

atividade com a gente dentro da sala, uma atividade do barbante, que a gente ia

pegando no barbante e ia falando daquela colega, aquela colega que você não

conhece muito; e ia falando, por exemplo: eu acho a S9 uma pessoa que se

comunica bem, e ai a gente acabava conversando e conhecendo um pouquinho

mais as outras pessoas, essa questão de não ter mantido as mesmas pessoas do

grupo, desde o primeiro semestre até agora, foi uma boa coisa. No nosso grupo

todo mundo chega e fala com todo o mundo. Não tem aquela coisa assim: Ah eu

não gosto de você, é horrível você chegar num lugar e ter pessoas que não gostam

de você, e três anos é uma convivência. No mínimo um bom dia...

S9 – Cada um aqui tem um grupo, eu não vejo a dificuldade do grupo como pessoal.

Eu sou capaz de estar no mesmo grupo que você, e não necessariamente sermos

amigas, de uma ir na casa da outra todos os dias, não é isso; mas se tem a

facilidade de se tolerar, tolerar mesmo. Na intolerância não se tem grande coisa.

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Acho que a nossa sala, não é ruim, ela não tem um ambiente pesado. É uma sala

assim: O pessoal não coopera por diversos motivos, por exemplo não vamos fazer

amigo secreto. A gente percebe, tem problemas dentro dos grupos, é claro... onde

tem mais que um ser humano tem problema.

S7 – Até eu sozinha tenho problemas.

S9- É comigo mesma eu me dou bem, Me dou bem comigo mesma.

M – Mas, nos primeiros períodos você pensavam assim também?

S9 – Não ...

S7 – Não...

S8 – Não...

S10 – Não...

S9 – Nos primeiros semestres eu queria jogar as pessoas pela janela. Quando eu

cheguei na Universidade, foi depois de uns 20 dias que as aulas já tinham

começado, os grupos já estavam formados. Eu tive uma dificuldade maior porque

não conseguia escolher um grupo... Fui inserida no meio de um grupo que todos já

estavam lá, e nem sempre você se identifica com aquelas pessoas, que foi o meu

caso. Então no primeiro semestre eu olhava para aquelas pessoas do meu grupo e

pensava: Eu te mato! Vou te dar chumbinho no café... Você acha que tudo é

pessoal, mas tudo por conta da falta de maturidade. Então você fica com raiva da

pessoa mesmo.

S7 – Mas com você aconteceu?

S9 – Comigo aconteceu. Com a pessoa que aconteceu, hoje não somos amigas,

mas eu não acho que faça falta a minha vida na dela sei lá... a gente conversa da

risada... mas, para fazer um trabalho não dá...passou ... não dá para fazer. Porque

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129

eu tenho uma maneira de ver as coisas, você tem outra. Quando você não aprende

a unir a sua maneira e a minha, fecha os olhos para algumas coisas, fica mudo para

outras; mas no primeiro semestre você não sabe disso. No primeiro semestre você é

verdade absoluta, eu acho que é o que eu estou dizendo, ela acha que é o que ela

está dizendo... Depois a maturidade muda.

S6 – Eu vou falar da minha dificuldade, igual a S9 eu entrei na faculdade um mês

depois, o mesmo caso que ela. As pessoas já tinham formado seus grupos, e eu

cheguei e caí onde tinha menos gente, Comecei numa segunda-feira, e acho que

tinha um feriado na terça e já tinha um trabalho para ser entregue na semana

seguinte, me passaram algumas informações, o que a professora falou e já tinha

dividido: vai fazer assim, assim, assado e cada um tinha um pedaço para resumir.

Eu levei o meu pedaço para casa, como tinha feriado combinamos para nos falar por

telefone para trocar idéias Cheguei em casa toda feliz... Resumindo... Resumindo...

Resumindo... Eu não sabia se estava bom, se batia com as idéias das meninas ou

não. Pedi para o meu menino digitar, isso foi na terça-feira à noite, no feriado eu

mandei para as meninas do grupo. Uma delas respondeu: está muito bom, você

pode levar na segunda-feira? Eu respondi posso, então ficou assim: eu levava o

meu pedaço e cada um levava o seu. Quando chegou a segunda-feira, na hora de

mostrar cada um o seu pedaço, só tinha o meu, e cadê os outros? Eu falei: eu fiz,

mandei para vocês, e vocês falaram que estava bom e eu trouxe, e uma das

meninas que estava lá falou: mas você só fez isso? Risos. Eu de idade no meio de

meninas novas. Fiquei sem palavras na hora e disse: não foi esse o combinado.

Pensei: vou terminar esse trabalho, porque agora não tenho como sair daqui. Ir para

onde? Quando terminou aquele trabalho eu pensei →vou procurar outro grupo.

M – Você superou essa dificuldade procurando outro grupo?

S6 – É fui procurar pessoas que falassem mais ou menos a minha linguagem,

procurei fazer amizade, aí até que achei um grupo. Porque ali eu pensei: não vai dar

certo.

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S9 – Já teve trabalho em grupo do grupo não aparecer, e nós tivemos uma menina

do grupo que em toda apresentação, ela não vinha porque tinha diarréia, mas isso

era do emocional dela mesma, ela passava mal de suar frio, ficar branca.

S8 – Ela pediu para entrar no grupo e nós falamos: tudo bem, a gente aceita, mas

você vai ter que chegar mais cedo nas aulas.

S9 – Essa questão do trabalho em grupo agora, você dá risada. Eu e as meninas

estamos juntas há 3 semestres, desde o 4º. Semestre. No semestre anterior eu

fiquei responsável por um trabalho muito importante, e fiquei de passar para a S10,

só que eu apertei um botão na última linha e o inferno apagou tudo. Eu liguei para a

S10 chorando e perguntei: você recebeu o trabalho? Ela disse: não. Você acaba

comprometendo todo o grupo. O trabalho em grupo é um problema; mas há

problema entre pai e mãe. Marido e mulher, filho...

S8 – No trabalho em grupo não tem como você pensar individualmente. Como a S9

apontou... É um absurdo, você fica totalmente sem chão... por exemplo teve

trabalho, recente, nesse semestre que a S9 não pode vir porque tinha que cuidar do

filho que é pequeno, e não tinha com quem deixar, e eu e a Raquel não tínhamos

lido o texto. E o professor ia discutir geralmente ele discute, a gente é que fica

apresentando, falando e ele discute. Chegou na hora da apresentação e não

tínhamos lido o texto. Tinha uma integrante que falou: Eu li, mas não gosto de falar e

não vou explicar. Graças a Deus, um pouco que a gente leu, consegui explicar na

hora, procurando nas páginas, o professor falava: e tal página? Nós falávamos: Qual

professor? Íamos lá e procurávamos. A gente conseguiu entender e passamos por

essa fase. A meu ver, um grupo não pode pensar em um só. Eu tenho que pensar

em mim, na S10, na outra colega... Nós temos que ser uma equipe.

M – Tem mais alguma dificuldade que vocês queiram falar?

S8 – Não.

S7 – Não.

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131

S6 – Não. S10 – Não. S9 – Não. M – Quero agradecer a participação de vocês.

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Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 132

1- Dificuldades externas ao curso

2- Problemas familiares e de

ordem emocional.

3- Estrutura Física da Universidade

4- Relação com o Professor e o curso

5- Relação com o conhecimento

6- Relacionamento Interpessoal

Dificuldade de conciliar tempo, trabalho, família e estudo estudos - Dificuldade a econômica, que não permite a aquisição de materiais ( Computador, livros, xerox) - Origem social – Dificuldade para estudar ( Interrupções nos estudos egresso de escolas públicas. Superação - O sonho de fazer um curso superior a fez superar os desafios da inserção no ensino superior. - O correr atrás, a vontade de vencer a fez superar os desafios.

Relação com a família, as responsabilidades para com a família, ser mãe, esposa, trabalhar e estudar. - Falta de motivação. Superação - A superação das dificuldades de conciliar casa, família, estudos valeu à pena. - O apoio familiar incentiva a prosseguir.

Dificuldade com as condições do laboratório de informática. - Dificuldade de acessar o material on-line, dificuldade de fazer consultas à internet e utilizar as normas. - Necessidade de uso de xerocópia considerável. - Dificuldade em obter orientação na biblioteca, reclama da recepção dos funcionários da biblioteca. Superação - Superou a dificuldade de lidar com a informática, praticando. - Superou fazendo um curso para lidar melhor com a informática. - Uma amiga ajudou-a em como consultar os livros (Biblioteca)

Falta de planejamento adequado por parte dos professores. Certeza de ser aprovado desestimulava. Falta de orientação para realizar os trabalhos. -Falta de metodologia adequada às condições dos alunos. - Falta de compreensão por parte dos professores das condições econômicas e familiares dos alunos. - Falta de comunicação entre professores e alunos. .. falta de orientação e mediação dos professores para o trabalho em grupo. Curso muito amplo, enfoca muitos conteúdos. - Muita teoria, pouca prática. Diversidade de conteúdos disciplinas. Superação - Dificuldade com as críticas ao curso de Pedagogia, quanto à sua desvalorização na

Dificuldade em lidar com o conhecimento teórico e abstrato. . Dificuldade de leitura, compreensão e interpretação de textos. Dificuldade com a quantidade de conteúdos das disciplinas. Solicitação de conhecimentos e atividades práticas; - Adquiria o material, mas não lia. - Tensão teoria e prática. - Discurso aprendido X realidade. Superação - Enfrentou lendo textos que achava difíceis, fazendo resumos, usando dicionário para entender as palavras no 2º. e 3º. semestres, estava escrevendo e entendendo melhor. - Superou a dificuldade de leitura lendo várias vezes, demarcando o texto. - A internet como fonte de informações para

Dificuldade de trabalhar em grupo ( de se encontrar, de resolver impasses). - Relações interpessoais conflituosas, falta de preparo para lidar com os conflitos em grupo. - Falta de comprometimento por parte das pessoas. - Grupos fechados, divisão entre os grupos da sala, falta de interação. - Dificuldade de lidar com críticas - Diversidade de comportamento no grupo vista como negativa. - Dificuldade na apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação entre os alunos da sala. - Problemas que aconteceram durante os trabalhos. - Os grupos de trabalho já são formados no primeiro semestre e permanecem sem alterações, são poucos os

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Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 133

sociedade, mas percebeu que o curso era amplo, e lhe daria várias oportunidades, por isso prosseguiu. .

a construção de aprendizagens (pesquisas) . - Solicitação de ajuda da professora para a compreensão da leitura. Superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos na relação professor aluno.

que mudaram de grupo durante o curso. Superação - Observando as dificuldades dos outros aprende a aceitar e superar as suas. - Procurou superar a dificuldade de trabalhar em grupo, conhecendo novas pessoas, mas diz que as pessoas estão muito fechadas. - Superou a dificuldade das apresentações expressando conhecimento sem se preocupar com as críticas.- - Começou a perceber que a disposição de aprender com o outro, de trocar conhecimentos enriquece. - Percepção da importância das diferenças no grupo. - Percebe-se a importância do trabalho em grupo para professores. -Consegue perceber a importância do trabalho em grupo na sociedade, e reflete sobre o papel do professor

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Anexo D - Quadro de dificuldades – Grupo Focal 1 134

com relação a isso. Sugere que os professores poderiam incentivar a diversificação dos componentes dos grupos. - A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade do trabalho em grupo.

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135

Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2

1-Dificuldades externas ao curso

2- Problemas familiares e de

ordem emocional.

3- Estrutura Física da Universidade

4- Relação com o Professor e o

curso

5- Relação com o conhecimento

6- Relacionamento Interpessoal

Dificuldade de

administrar o

tempo, conciliar

tempo de trabalho

e estudo

(exigência do

trabalho e notas

baixas nos

primeiros

períodos).

Tensão trabalho x

estudos.

Conflito com a

diretora, trabalho

e estudos (tensão

trabalho x

estudos).

Dificuldade de

locomoção

(transporte x

estudos) trânsito.

Dificuldades

financeiras.

Dificuldade com

trânsito.

Superação

Percebe que

melhorou, mas

não solucionou de

fato. A tensão no

trabalho com

relação aos

estudos

permanece.

Dificuldade de

conciliar Família e

estudos.

Dificuldade

emocional, dúvida

se consegue

continuar ou não

fazendo o curso (

nos primeiros

períodos).

Não podia parar

com o curso porque

tinha uma meta.

Alteração

emocional no

momento das

apresentações.

A responsabilidade

familiar acontece

concomitante a

responsabilidade

com relação aos

estudos em grupo.

Superação

Enfrentar as

dificuldades como

caminho para a

aprendizagem e

superação de

barreiras.

Envolvimento da

família para

realização de

trabalhos

acadêmicos e

manuseio do

computador.

Necessidade de

apoio por parte da

Universidade.

Diferença do ensino

médio e faculdade:

No ensino médio

não há necessidade

de se aprofundar

nos estudos, na

faculdade é

necessário.

Dificuldade com a

internet

Superação

Pediu ajuda para a

família e amigos,

para superação da

dificuldade com a

internet.

Fez curso

Melhorou com

relação à internet

no segundo

semestre.

Dificuldades com

normas da ABNT.

Dificuldade com

trabalhos científicos.

Tempo sem

estudar.

Exigência de alguns

professores com

relação à disciplina,

aos conteúdos.

Dificuldade com

estágio e atividades

complementares,

não entendem para

quê as atividades.

Dificuldade com

relação a

organização das

disciplinas e estágio(

descompasso).

Orientações do tcc

tardias.

Preocupação com

quantidade e não

qualidade.

Superação

Dificuldade

com relação às

teorias, leitura

e

interpretação

de texto.

Dificuldade

em fazer

relação teoria

e prática.

Dificuldade

com a relação

à quantidade

de conteúdos.

Nos grupos de

estudos há

aqueles que

dividem o

trabalho e só

estudam a sua

parte, e há

aqueles que

tentam

compreender

todo o texto.

Superação

Dedicação,

tempo para

estudos.

Trazer o texto

científico para

sua realidade,

facilita a

compreensão.

Superação das

dificuldades

com os textos

na troca de

informações

no grupo.

Para superar

Nos primeiros

períodos, há

dificuldade de

interação nos

grupos.

Dificuldade no

trabalho em grupo,

diversidade entre

as pessoas.

Relacionamentos

em conflito.

Dificuldade de

encontrar unidade.

Esvaziamento do

grupo.

Um professor

provoca a

interação dos

alunos na sala,

mas, sempre há os

que não aceitam.

Não há tolerância

para o trabalho em

grupo.

O Ser Humano é

complexo e por

isso ocorrem

problemas nos

grupos e os

relacionamentos

ficam

estremecidos.

Falta de

cooperação nos

grupos.

Busca de

identidade com

relação ao grupo.

O grupo que já

está, dita as regras

para quem chega

depois.

Diferença entre

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136

Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2

as dificuldades

com os textos

recorreu aos

colegas

(auxílio do

grupo de

estudos) e ao

professor.

Somente o

dicionário não

traz o

contexto.

Superação da

dificuldade de

leitura, auxilio

do grupo de

estudos.

Ajuda do

Google e do

dicionário na

leitura.

A atenção em

sala de aula é

fundamental

para a

compreensão.

O computador

como

ferramenta

necessária

para os

estudos, a

busca pelo

entendimento

dos textos na

internet, no

Google.

Dificuldades

com as

disciplinas

Melhorou no

segundo

semestre.

Dedicação,

tempo para

estudos.

Não superou

grupo e equipe.

Superação

Vê as mudanças de

grupo como forma

de aprender.

A aproximação do

grupo só ocorreu

no quarto

semestre.

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137

Anexo E – Quadro de dificuldades- Grupo Focal 2

toda a

dificuldade de

leitura.

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138

Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).

1-Dificuldades externas ao curso.

2-Problemas familiares e de ordem emocional.

3-Estrutura Física da Universidade

4-Relação com o Professor e o curso

5-Relação com o conhecimento

6-Relacionamento Interpessoal

-Dificuldade de conciliar tempo, trabalho, família e estudo estudos. - Dificuldade a econômica, que não permite a aquisição de materiais (Computador, livros, xerocópias) - Origem social – Dificuldade para estudar ( Interrupções nos estudos egresso de escolas públicas.

Conflito com a

diretora,

trabalho e

estudos (tensão

trabalho x

estudos).

Dificuldade de

locomoção

(trânsito).

Dificuldades

financeiras.

Superação - O sonho de fazer um curso superior a fez superar os desafios da inserção no ensino superior. - O correr atrás, a vontade de vencer a fez superar os

-Dificuldade de conciliar família e estudos. (Relação com a família, às responsabilidades para com a família, ser mãe, esposa, trabalhar e estudar). -Dificuldade

emocional,

dúvida se

consegue

continuar ou não

fazendo o curso (

nos primeiros

períodos).

-Não podia parar

com o curso

porque tinha uma

meta.

-Alteração

emocional no

momento das

apresentações.

-A

responsabilidade

familiar acontece

concomitante a

responsabilidade

com relação aos

estudos em

grupo.

- Falta de motivação. Superação - A superação das dificuldades de conciliar casa, família, estudos valeu à pena. - O apoio familiar incentiva a prosseguir.

-Dificuldade com as condições do laboratório de informática. - Dificuldade de acessar o material on-line, dificuldade de fazer consultas à internet e utilizar as normas. - Necessidade de uso de xerocópia considerável. - Dificuldade em obter orientação na biblioteca, reclama da recepção dos funcionários da biblioteca.

- Necessidade de

apoio por parte da

Universidade.

-Diferença do

ensino médio e

faculdade: No

ensino médio não

há necessidade de

se aprofundar nos

estudos, na

faculdade é

necessário.

Superação - Superou a dificuldade de lidar com a informática, praticando. - Superou fazendo um curso para lidar melhor com a informática. - Uma amiga ajudou-a em como

-Falta de planejamento adequado por parte dos professores. Certeza de ser aprovado desestimulava. -Falta de orientação para realizar os trabalhos. -Falta de metodologia adequada às condições dos alunos. -Falta de compreensão por parte dos professores das condições econômicas e familiares dos alunos. - Falta de comunicação entre professores e alunos. -Falta de orientação e mediação dos professores para o trabalho em grupo. -Curso muito amplo, enfoca muitos conteúdos. Muita teoria, pouca prática. Diversidade de conteúdos disciplinas. -Dificuldades

com normas da

-Dificuldade com

relação às

teorias, leitura e

interpretação de

texto.

- Dificuldade em

fazer relação

teoria e prática.

-Dificuldade com

a relação à

quantidade de

conteúdos.

-Solicitação de

conhecimentos e

atividades

práticas, há

conflito entre o

discurso

aprendido e a

realidade

(tensão teoria x

prática).

-Nos grupos de

estudos há

aqueles que

dividem o

trabalho e só

estudam a sua

parte, e há

aqueles que

tentam

compreender

todo o texto.

Superação

- Enfrentou lendo textos que achava difíceis, fazendo resumos, usando dicionário para entender as palavras no 2º. e 3º. semestres, estava escrevendo e entendendo melhor.

-Dificuldade de trabalhar em grupo (de se encontrar, de resolver impasses). - Nos primeiros semestres há relações interpessoais conflituosas, falta de preparo para lidar com a diversidade entre as pessoas (diversidade vista como negativa), conflitos em grupo. - Falta de comprometimento por parte das pessoas, falta de cooperação. - Grupos fechados, divisão entre os grupos da sala, falta de interação. - Dificuldade de lidar com críticas - Dificuldade na apresentação dos trabalhos por causa da falta de cooperação entre os alunos da sala. - Problemas que aconteceram durante os trabalhos, relacionamentos estremecidos. - Os grupos de trabalho já são formados no

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139

Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).

desafios.

Percebe que

melhorou, mas

não solucionou

de fato. A

tensão no

trabalho com

relação aos

estudos

permanece.

-Enfrentar as

dificuldades

como caminho

para a

aprendizagem e

superação de

barreiras.

-Envolvimento

da família para

realização de

trabalhos

acadêmicos e

manuseio do

computador.

consultar os livros (Biblioteca)

-Pediu ajuda para a

família e amigos,

para superação da

dificuldade com a

internet.

-Fez curso

-Melhorou com

relação à internet

no segundo

semestre.

ABNT.

-Dificuldade

com trabalhos

científicos.

-Tempo sem

estudar.

-Exigência de

alguns

professores com

relação à

disciplina, aos

conteúdos.

-Dificuldade com

estágio e

atividades

complementares,

não entendem

para quê as

atividades.

-Dificuldade com

relação à

organização das

disciplinas e

estágio(

descompasso).

-Orientações do

tcc tardias.

-Preocupação

com quantidade

e não qualidade.

Superação - Dificuldade com as críticas ao curso de Pedagogia, quanto à sua desvalorização na sociedade, mas percebeu que o curso era amplo, e lhe daria várias oportunidades, por isso prosseguiu. .

- Superou a dificuldade de leitura lendo várias vezes, demarcando o texto. - A internet como fonte de informações para a construção de aprendizagens (pesquisas) . - Solicitação de ajuda da professora para a compreensão da leitura. Superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos na relação professor aluno. -Dedicação,

tempo para

estudos.

-Trazer o texto

científico para

sua realidade,

facilita a

compreensão.

-Superação das

dificuldades com

a leitura dos

textos na troca

de informações

no grupo de

estudos (

recorrer ao

colegas e ao

professor

porque o

dicionário

somente não

traz o contexto).

-A atenção em

sala de aula é

fundamental

para a

primeiro semestre e permanecem sem alterações, são poucos os que mudaram de grupo durante o curso.

-Dificuldade de

encontrar

unidade,

esvaziamento do

grupo, falta de

interação.

-Um professor

provoca a

interação dos

alunos na sala,

mas, sempre há

os que não

aceitam.

-Não há

tolerância para o

trabalho em

grupo.

-Busca de

identidade com

relação ao grupo.

-O grupo que já

está, dita as

regras para quem

chega depois.

-Diferença entre

grupo e equipe.

Superação - Observando as dificuldades dos outros aprende a aceitar e a superar as suas. - Procurou superar a dificuldade de trabalhar em grupo, conhecendo novas pessoas, mas diz que as pessoas estão muito fechadas.

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140

Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).

compreensão.

-O computador

como

ferramenta

necessária para

os estudos, a

busca pelo

entendimento

dos textos na

internet, no

Google (ajuda do

Google e do

dicionário na

leitura).

-Dificuldades

com as

disciplinas

Melhorou no

segundo

semestre.

- Não superou

toda a

dificuldade de

leitura.

- Superou a dificuldade das apresentações expressando conhecimento sem se preocupar com as críticas. - Começou a perceber que a disposição de aprender com o outro, de trocar conhecimentos enriquece. - Percepção da importância das diferenças no grupo. - Percebe-se a importância do trabalho em grupo para professores. -Consegue perceber a importância do trabalho em grupo na sociedade, e reflete sobre o papel do professor com relação a isso. Sugere que os professores poderiam incentivar a diversificação dos componentes dos grupos. - A participação em vários grupos possibilitou a superação da dificuldade do trabalho em grupo. Vê as

mudanças de

grupo como

forma de

aprender.

-A aproximação

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141

Anexo F – Quadro de dificuldades dos Grupos Focais: Grupo 1 (azul) – Grupo 2 (verde) – dificuldades em comum (vermelho).

do grupo só

ocorreu no

quarto semestre.