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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O FENÔMENO DA DESLEGALIZAÇÃO POR PARTE DO ESTADO Por: Viviane Góes Delzi Orientador Prof. Ivan Garcia Rio de Janeiro 2011

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · legislação pertinente. As principais fontes bibliográficas são os livros de Alexandre Santos de Aragão, “Agências

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O FENÔMENO DA

DESLEGALIZAÇÃO POR PARTE DO ESTADO

Por: Viviane Góes Delzi

Orientador

Prof. Ivan Garcia

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O FENÔMENO DA

DESLEGALIZAÇÃO POR PARTE DO ESTADO

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para a obtenção do grau

de especialista em Direito Empresarial e dos Negócios.

Por: Viviane Góes Delzi

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que direta ou

indiretamente me apoiaram durante a

realização deste trabalho, especialmente a

DEUS, pois sem ele nada seria possível.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, Izaura

Góes, a Fabiano Coelho Ramos e aos

meus irmãos, Elaine Cristina Delzi

Barbosa e Cleiton Góes Delzi, que muito

me apoiaram nessa conquista.

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“Os obstáculos são essas coisas espantosas que você vê quando tira o olho de sua meta.”

Henry Ford

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre a legitimação do poder

normativo das agências reguladoras através do instituto da deslegalização. Para

tanto é realizada uma análise do tema na Reforma do Estado e na Constituição

Federal de 1988, assim como das características das agências reguladoras,

especificamente o seu poder normativo, e o momento no qual elas foram inseridas

no ordenamento jurídico brasileiro. Constata-se que apesar da Constituição Federal

não ter previsto expressamente a forma de atuação do poder normativo desses

entes regulatórios, não há inconstitucionalidade quanto a essa atuação, tanto

concernente ao princípio da legalidade quanto à delegação de poderes legislativos.

Nesse conjunto, verifica-se uma evolução do modelo estatal, no interesse da

coletividade, que deve ser acompanhado pelo Direito; porém sem ferir princípios e

diretrizes constitucionais. Ao órgão regulador a lei atribui o papel de preencher a

moldura com conhecimentos técnicos à luz da realidade em que a lei vai ser

aplicada. A deslegalização não consiste em uma delegação de poderes e nem

confere poder aos regulamentos para revogar leis. No próprio conceito de regulação

está inserido a necessidade de descentralização administrativa, principalmente de

natureza técnica, caracterizando a própria finalidade das agências reguladoras.

Assim também com observância ao caput do art. 37 (alterado com a Emenda 19/98)

onde se verifica a necessidade de se obedecer ao princípio da eficiência na

administração de qualquer dos Poderes Públicos. Daí podemos verificar, que não

há qualquer inconstitucionalidade perante o instituto da deslegalização, que consiste

em uma lei deslegalizadora estabelecer diretrizes para que um regulamento possa

vir a atuar dentro dos conjuntos de normas estabelecidos, sem a violação de

preceitos legais.

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METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido através do estudo teórico

fundamentado a partir de fontes bibliográficas, sites de pesquisa na internet e

legislação pertinente. As principais fontes bibliográficas são os livros de Alexandre

Santos de Aragão, “Agências Reguladoras e a Evolução do Direito Administrativo

Econômico” e o livro de José dos Santos Carvalho Filho, “Manual de Direito

Administrativo” e ainda comentários sobre o julgado do STF na ADI/1668.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

CAPÍTULO I ............................................................................................................ 11

AS AGÊNCIAS REGULADORAS............................................................................ 11

CAPÍTULO II ........................................................................................................... 32

FUNÇÃO NORMATIVA........................................................................................... 32

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.............................................................................. 41

ÍNDICE .................................................................................................................... 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO ......................................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

O fenômeno da deslegalização, em síntese, consiste em retirar da lei, certas

matérias e passar para o campo do regulamento, consiste na transferência da esfera

normativa legislativa de determinadas matérias para a do regulamento.

Por se tratar de novidade em nosso ordenamento, surgem várias posições

contrárias, argumentando a sua inconstitucionalidade.

Essa problemática passa a ser analisada neste trabalho. A discussão sobre

possível delegação de competência e inobservâncias ao princípio da legalidade.

O presente trabalho, objetiva também fornecer um panorama sobre a função

regulatória e a necessidade de deslegalização dessas normas pelo Estado.

Traça uma breve síntese sobre a atuação das agências reguladoras e como

exemplo, vemos um breve enfoque sobre a ANATEL que é uma agência reguladora,

prestadora de serviços de telecomunicações, revestida de autonomia para sua

atuação, autonomia esta concedida pelo Estado através de poderes estabelecidos

dentro dos âmbitos legais e fundamentos constitucionais.

A evolução histórica, as fases em que o Brasil passou, até que fosse

adotado o modelo atual de regulação e seus benefícios para modernização do

mercado de serviços. Tal era a necessidade de o Estado garantir a boa prestação

dos serviços, que para tanto necessitavam de normas mais técnicas, para melhor

atender aos interesses da coletividade.

O Estado cria a figura das agências reguladoras, com natureza jurídica de

autarquia de regime especial. Esse regime garante, em regra, a maior autonomia em

relação à Administração Direta; a estabilidade de seus dirigentes, garantida pelo

exercício de mandato fixo, que eles somente podem perder nas hipóteses

expressamente previstas, afastada a possibilidade de exoneração ad nutum

(vontade unilateral, do Chefe do Poder Executivo); ao caráter final das suas

decisões, que não são passíveis de apreciação por outros órgãos ou entidades da

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Administração Pública, possibilitando maior autonomia nas suas decisões e

beneficiando o interesse da coletividade, garantindo assim, mais agilidade nas

tomadas de decisões e propiciando a possibilidade de melhores serviços e

atendimento ao interesse da coletividade.

A necessidade de descentralização administrativa, principalmente de

natureza técnica, caracterizando, a própria finalidade das agências reguladoras.

Assim também como prevê o caput do art. 37 da Constituição Federal, que

introduziu a necessidade de se obedecer ao princípio da eficiência na administração

de qualquer dos Poderes Públicos.

O poder conferido às agências reguladoras de expedir normas para regular o

mercado, onde os agentes reguladores editam normas, desde que compatíveis com

a Constituição e com a lei.

Nesse sentido, o trabalho desenvolverá seu estudo, sob a fundamentação

doutrinária, através de análises de teóricos, tais como, Gustavo Binenbojm, Hely

Lopes Meirelles, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, José dos Santos Carvalho Filho

entre outros.

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CAPÍTULO I

AS AGÊNCIAS REGULADORAS

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, agência reguladora, em sentido

amplo, seria no direito brasileiro, qualquer órgão da Administração Direta ou

entidade da Administração Indireta com função de regular matéria especifica que lhe

esta afeta1.

Ainda destacando Di Pietro, nas palavras de Calixto Salomão Filho: a

regulação, em sentido amplo, “engloba toda forma de organização da atividade

econômica através do Estado, seja a intervenção através da concessão de serviço

publico ou o exercício de poder de policia”2. A seu ver, “a concepção ampla justifica-

se pelas mesmas razoes invocadas acima’’. Na verdade , o Estado está ordenando

ou regulando a atividade econômica tanto quando concede ao particular a prestação

de serviços públicos e regula sua utilização - impondo preços, quantidade produzida

etc. - como quando edita regras no exercício do poder de policia administrativo”. 3

Pode-se então considerar a existência de dois tipos de agências reguladoras

no direito brasileiro: as que exercem poder de polícia e as que regulam e controlam

atividade que são objeto de permissão, concessão e autorização no serviço publico.

Tais poderes eram antes exercidos apenas pela Administração Pública

Direta e agora estão sendo exercidos também pelas agências reguladoras,

principalmente quando o objeto da concessão é um serviço público, como nas

hipóteses elencadas no art. 21, XI e XII, da Constituição, e quando o objeto da

concessão é a exploração de atividade econômica monopolizada, como nas

hipóteses do art. 177 da Constituição Federal.

Dispõe o Art. 21, XI e XII da Constituição Federal:

1 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.466. 2 SALOMÃO FILHO, Calixto. Regulação e Atividade Econômica: princípios e fundamentos jurídicos. São Paulo. Malheiros, 2001, apud, DI PIETRO. 3 Ibid., p. 466.

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Art. 21

[...]

XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão

ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da

lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de

um órgão regulador e outros aspectos institucionais;

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização,

concessão ou permissão:

a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o

aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação

com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura

aeroportuária;

d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre

portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham

os limites de Estado ou Território;

e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e

internacional de passageiros;

f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

A concessão é uma forma que o Poder Público tem de melhor oferecer os

serviços ao usuário, a quem tem obrigação de prestar. Sendo a concessão contrato,

assegura maior estabilidade ao concessionário, pois estabelece direitos e deveres

recíprocos, especialmente decorrentes do estabelecimento de prazos quanto a

execução e fornecimento dos serviços.

As agências reguladoras, não possuem lei específica para sua criação, elas

são criadas por lei esparsas, como as que instituíram a Agência Nacional de Energia

Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a Agência

Nacional do Petróleo (ANP). Porém a ANATEL e a ANP tem fundamento

constitucional (arts. 21, XI, e 177, parágrafo 2º, III da Constituição Federal), sendo

previstas sob a expressão de órgão regulador.

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Art. 177

[...]

§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre...

III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio

da União.

As agências reguladoras foram criadas como autarquias de regime especial

e desta forma, sujeitam-se as normas constitucionais que disciplinam esse tipo de

entidade; o regime especial vem definido nas respectivas leis instituidoras, dizendo

respeito, em regra, a maior autonomia em relação à Administração Direta; a

estabilidade de seus dirigentes, garantida pelo exercício de mandato fixo, que eles

somente podem perder nas hipóteses expressamente prevista, afastada a

possibilidade de exoneração por ato do poder executivo, ao caráter final das suas

decisões, que não são passiveis de apreciação por outros órgãos ou entidades da

Administração Publica.

Com relação aos seus dirigentes, a Lei 9.986, de 18-07-2000, vem dispor

sobre a gestão de recursos humanos das Agências Reguladoras, veio uniformizar as

normas de seu provimento, ao determinar que os mesmos sejam escolhidos pelo

Chefe do Poder Executivo, porem dependendo, a escolha, de aprovação pelo

Senado Federal.

Art. 4º da lei 9.986/2000, dispõe que:

As Agências serão dirigidas em regime de Colegiado, por um

Conselho Diretor ou Diretoria composta por Conselheiros ou

Diretores, sendo um deles seu Presidente ou o Diretor-Geral ou

Diretor-Presidente.

Art. 5º

[...]

O Presidente ou o Diretor-Geral ou Diretor-Presidente e os

demais membros do Conselho Diretor ou da Diretoria serão

brasileiros, de reputação ilibada, formação universitária e

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elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para

os quais serão nomeados, após aprovação do Senado Federal,

nos termos da alínea f do inciso III do artigo 52 da Constituição

Federal.

Além dos dirigentes das agências possuírem autônoma política, a lei procura

imunizá-los de ingerências do próprio Poder Executivo, cria mecanismos para

assegurar sua independência face aos agentes privados, porém, além de outras

restrições legais, temos a chamada quarentena, lapso de tempo após o mandato

durante o qual fica o ex-dirigente impedido de prestar qualquer tipo de serviço no

setor público ou a empresa integrante do setor regulado pela agência.

Analisando o direito norte-americano, depreende-se que as agências

reguladoras gozam de certa margem de independência em relação aos três Poderes

do Estado: em relação ao Poder Legislativo, porque dispõem de função normativa;

em relação ao Poder Executivo, porque suas normas e decisões não podem ser

alteradas ou revistas por autoridades estranhas ao próprio órgão; em relação ao

Poder Judiciário, porque dispõem de função quase-jurisdicional, no sentido de que

resolvem, no âmbito das atividades controladas pela agência, litígios entre os vários

delegatórios que exercem serviço publico mediante concessão, permissão ou

autorização e entre estes e os usuários dos serviços públicos.

Essa independência, no Brasil em relação ao Poder Judiciário, quase não

existe; a agência pode dirimir conflitos em ultima instancia administrativa, da mesma

forma que outros órgãos administrativos, mas isto não impede e não pode impedir o

controle das suas decisões pelo Poder Judiciário, tendo em vista a norma do art. 5º,

XXXV, da Constituição, em cujos termos “a lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Significa a adoção, no direito brasileiro, do

sistema de unidade de jurisdição, ao contrário de outros países que seguiram o

direito francês e adotaram o sistema da dualidade de jurisdição, que admite, ao lado

da jurisdição comum, a jurisdição administrativa, com competência para dirimir

conflitos de interesse envolvendo a Administração Publica, com forca de coisa

julgada. Essa possibilidade não existe no direito brasileiro. Assim todo ato praticado

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pelas agências reguladoras, que causem lesão ou ameaça de lesão, pode ser

apreciado pelo Poder Judiciário.

No que tange ao Poder Legislativo, essa independência também não existe,

tendo me vista que os seus atos normativos não podem conflitar com normas

constitucionais ou legais, por força do principio da legalidade.

A maior independência que há, é em relação ao Poder Executivo, assim

mesmo os limites estabelecidos em lei, podendo variar de um caso para outro. Como

autarquia de regime especial, seus atos não podem ser revistos ou alterados pelo

Poder Executivo. A outorga de estabilidade aos seus dirigentes confere maior

independência, não muito comum na maior da parte das entidades da Administração

Indireta.

As agências reguladoras, em suas atribuições, no que diz respeito à

concessão, permissão e autorização de serviço público, resumem-se ou deveriam

resumir-se as funções que o poder concedente exerce nesses tipos de contratos ou

atos de delegação; regulamentar os serviços que constituem objeto da delegação,

realizar o procedimento licitatório para escolha do concessionário, permissionário ou

autorizatário, celebrar o contrato de concessão ou permissão ou praticar ato

unilateral de outorga da autorização, definir o valor da tarifa e da sua revisão ou

reajuste, controlar a execução dos serviços, aplicar sanções, encampar, decretar a

caducidade, intervir, fazer a rescisão amigável, fazer a reversão de bens ao termino

da concessão, exercer o papel de ouvidor de denuncias e reclamações dos

usuários, enfim exercer todas as prerrogativas que a lei outorga ao Poder Publico na

concessão, permissão e autorização. Isso significa que a lei ao criar a agência

reguladora, esta tirando do Poder Executivo todas essas atribuições para colocá-las

nas mãos da agência.

Das características atribuídas as agências reguladoras, a que mais suscita

controvérsia é a função reguladora, exatamente a que justifica o nome da agência.

Com relação a ANATEL, pode-se reconhecer a sua função normativa mais

ampla, porque se trata de entidade com previsão constitucional, como órgão

regulador.

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1.1 Direito Regulatório Brasileiro e Sua Evolução Histórica

A moldura e estruturação do Estado, ao longo do século, se deu em três

fases diversas no que concerne seu papel em relação à administração. A primeira

delas, definida como pré-modernista4 ou Estado Liberal, que tem como precursor

Adam Smith exibe um Estado de funções reduzidas, confinadas à segurança, justiça

e serviços essenciais. Esse Estado traduzia-se na proteção da propriedade privada e

na livre concorrência.

Então a segunda fase, denominada como modernidade ou Estado Social,

tem inicio na segunda década do século que se encerrou, onde o Estado assume

diretamente alguns papéis econômicos, trazendo para si a responsabilidade de

investir no progresso econômico e diminuir as diferenças sociais existentes, porem,

mesmo o Estado promovendo o progresso econômico, à idéia de um estado

socialista é a de promover o desenvolvimento social. O final do século XX

corresponde a terceira e última fase, a pós-modernista, que encontra o Estado sob

crítica cerrada, associando-o à idéia de ineficiência, desperdício de recursos,

morosidade, burocracia e corrupção.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988, autorizou o Estado a intervir no

domínio econômico, intervenção esta que se dá de duas formas: ele será agente

regulador da atividade econômica, exercendo do poder de policia nos termos do art.

174 da Constituição Federal, bem como pode ser agente interveniente no mercado,

participando como concorrente, em certos casos, com o particular, nos termos do

art. 173 da Constituição Federal.

Art. 173

[...]

4 O professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto usa a expressão pré-modernidade, modernidade e pós-modernidade, em referência à evolução das diversas formas do Estado e sua estrutura governamental. Na sua obra Direito Regulatório, o professor Luiz Roberto Barroso, que por curiosidade copia com as mesmas palavras o texto integral do professor Diogo, em seu texto publicado na revista Latino-Americana de estudos constitucionais também não poderia deixar de ser adepto as mesmas expressões.

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Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a

exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será

permitida quando necessária aos imperativos da segurança

nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos

em lei.

§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública,

da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que

explorem atividade econômica de produção ou comercialização

de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:

I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e

pela sociedade;

II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas

privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,

comerciais, trabalhistas e tributários;

III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e

alienações, observados os princípios da administração pública;

IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de

administração e fiscal, com a participação de acionistas

minoritários;

V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a

responsabilidade dos administradores.

§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia

mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos

às do setor privado.

§ 3º - A lei regulamentará as relações da empresa pública com

o Estado e a sociedade.

§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à

dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao

aumento arbitrário dos lucros.

§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos

dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade

desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza,

nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e

contra a economia popular.

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Art. 174

[...]

Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o

Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização,

incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor

público e indicativo para o setor privado.

§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento

do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e

compatibilizará os planos nacionais e regionais de

desenvolvimento.

§ 2º - A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras

formas de associativismo.

§ 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade

garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do

meio ambiente e a promoção econômico-social dos

garimpeiros.

§ 4º - As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior

terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e

lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas

áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo

com o art. 21, XXV, na forma da lei.

A intervenção significa a atuação direta do Estado em determinados setores

privados, como por exemplo, a exploração de petróleo e gás, através de empresas

de atividade de economia mista. No entanto, atuação do Estado pode também ser

como agente regulador, em alguns casos dele mesmo, como é o caso da atuação da

ANP, regulando as atividades.

A livre iniciativa prevista na constituição no art. 170 da Constituição Federal,

tem como princípio básico a existência digna e a justiça social, assegurando a livre

escolha e o livre acesso as atividades econômicas.

Art. 170

[...]

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A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos

existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento

diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e

serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte

constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e

administração no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de

qualquer atividade econômica, independentemente de

autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em

lei.

Sabe-se que o princípio da livre iniciativa resguarda a atividade econômica

prestada para atender ao interesse da coletividade. Assim tal atividade submete-se a

intervenção regulatória voltada para as políticas publicas com foco no

desenvolvimento econômico da sociedade. O Estado passa então a orientar-las de

forma a efetivar o exercício de tais atividades para atender o interesse da

coletividade. A Constituição Federal de 1988, conforme dito anteriormente, autorizou

o Estado a interferir no domínio econômico como agente normativo e regulador, com

o escopo de exercer as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, referente

ao setor privado, sempre com observância aos princípios constitucionais da ordem

econômica.

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Pode-se se depreender deste artigo que ele trata das hipóteses em que é

possível a exploração de atividade econômica pelo Estado e denota cada regime

jurídico a que se submetem.

Novamente os arts. 174 da Constituição Federal, que em seu texto vai dispor

sobre a função reguladora e normativa do Estado nas atividades econômicas, em

que deve a lei reprimir o abuso do poder econômico, que visar a dominação dos

mercados, eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário de lucros. E a

incumbência do Estado na prestação de serviços, conforme preceitua o art. 175 da

Constituição Federal.

Deu-se em três fases, a reforma do Estado Brasileiro, cada uma

desenvolvendo transformações estruturais distintas. Duas delas tiveram que ser

precedidas de emendas à Constituição, sendo que a terceira se fez mediante

legislação infraconstitucional e a prática de atos administrativos.

Algumas das transformações de ordem econômica brasileira na Constituição

foi a alteração de determinadas restrições ao capital estrangeiro, com a edição da

Emenda Constitucional nº 6, de 15.08.95, que revogou o art. 171 da Constituição,

que trazia a conceituação de empresa brasileira de capital nacional e admitia a

outorga a elas de proteção, benefícios especiais e preferenciais, e mesma emenda

modificou também, a redação do artigo 176, caput, para permitir que a pesquisa e

lavra de recursos minerais e os aproveitamentos dos potenciais de energia elétrica

sejam concedidos ou autorizados a empresas constituídas sob leis brasileiras,

dispensada a exigência do controle do capital nacional.5

Art. 176

[...]

As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os

potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta

5 Na mesma linha, a Emenda Constitucional nº 7, de 15.08.95, modificou o artigo 178, não mais exigindo que a navegação de cabotagem e interior seja privativa de embarcações nacionais e a nacionalidade brasileira dos armadores, proprietários e comandantes e, pelo menos, de dois terços dos tripulantes. Mais recentemente ainda, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 36, de 28.05.02, que permitiu a participação de estrangeiros em até trinta por cento do capital das empresas jornalísticas e de radiodifusão.

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da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e

pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade

do produto da lavra.

Também na mesma linha de reformas que modificaram a feição da ordem

econômica brasileira foi a chamada flexibilização dos monopólios estatais. A

Emenda Constitucional nº 5, de 15.08.95, alterou a redação do § 2º do artigo 25,

abrindo à possibilidade de os Estados-Membros concederem às empresas privadas

a exploração dos serviços públicos locais de distribuição de gás canalizado, que,

anteriormente, só podiam ser delegados a empresa sob controle acionário estatal.

O mesmo passou aos serviços de telecomunicações e de radiodifusão

sonora e de sons e imagens. A Emenda Constitucional nº 8, de 15.08.95, modificou

o texto dos incisos XI e XII, que só admitiam a concessão à empresa estatal. E na

área do petróleo, a Emenda Constitucional nº 9, de 09.11.95, rompeu, igualmente,

com o monopólio estatal, facultando à União Federal a exploração por empresas

privadas das atividades relativas a pesquisa e lavra de jazidas de petróleo, gás

natural e outros hidrocarbonetos fluidos, a refinação do petróleo nacional ou

estrangeiro, a importação, exportação e transporte dos produtos e derivados básicos

de petróleo.

As privatizações foram a terceira transformação econômica e que se operou

sem alteração do texto da Constituição, com a edição da lei 8.031, de 12.04.90, que

criou o Programa Nacional de Privatizações, depois substituída pela lei 9.491, de

9.09.97, que dentre os objetivos fundamentais do programa estavam incluídos, nos

termos do artigo 1º, incisos I e IV: reordenar a posição estratégica do Estado na

economia, transferindo à iniciativa privada atividades que eram exploradas pelo setor

público de forma ineficiente; contribuir para a modernização do parque industrial do

País.

Esse Programa de desestatização foi levado a finalidade, por mecanismos

como a alienação, leilão nas bolsas de valores, do controle acionário de sociedades

estatais. Inicialmente, no plano federal, foram privatizadas empresas dos setores

petroquímico, siderúrgico, metalúrgico e de fertilizantes, seguindo-se o programa de

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privatização, envolvendo a venda do controle acionário das empresas com a

concomitante outorga do serviço público como tem se passado com as empresas de

energia e telecomunicações e com rodovias e ferrovias.

Juntamente com as emendas constitucionais citadas, assim como a lei

8.031/90, os últimos anos foram marcados por uma grande produção legislativa em

temas econômicos, que inclui diferentes setores, como: energia (lei 9247, de

26.12.96), telecomunicações (lei 9.472, de 16.07.97) e petróleo (lei 9.478, de

6.08.97), com a criação das agências reguladoras.

A função estatal é considerada uma modalidade de intervenção estatal sobre

as atividades econômicas e sociais, que é bem conceituada por Diogo de Figueiredo

Moreira Neto:

“Conceitualmente, considera-se o instituto da intervenção do

Estado sobre as atividades econômicas e sociais como a

imposição imperativa que faz de uma ordem artificialmente

engenhada, aquela abstratamente presumida como eficiente,

para reger as relações das sociedades que jurisdiciona,

afastando a ordem espontânea por elas gerada.”6

Sendo assim, o professor Diogo expõe a idéia de que a intervenção tem

como principal função evitar desigualdade nas relações econômicas, as quais, se o

Estado não interviesse, aquele que possui maior poder econômico sempre teria

vantagem, assim sendo, o Estado cria normais gerais de conduta, exemplo seria o

Código de Defesa do Consumidor, sendo assim, cria-se um parâmetro nas relações

econômicas, evitando-se uma “anarquia” que geraria inúmeros prejuízos ao Erário.

Idea essa advinda desde os primórdios do direito na obra do Thomas Hobbes, o qual

define o direito natural. Quando o professor fala de ordem presumidamente eficiente,

o mesmo quer dizer que, ao elaborar uma lei o Estado a presume como a norma

mais correta possível de conduta.

6 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito Regulatório, Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 2003, p. 21

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Caracteriza-se a intervenção regulatória pela imposição, por normal legal, de

prescrições positivas e negativas sobre o desempenho de atividades econômicas ou

sociais privadas, sempre visando ao interesse público legalmente definido.

Sendo certo que tal interesse público dependia e ansiava por melhorias e

progresso, estabelecendo assim a necessidade de o Estado criar um órgão com

especialização e de cunho mais técnico , e assim passa a atribuir essa função as

normas reguladoras.

As normas reguladoras não se destinam a definir nem a impor

imperativamente qualquer espécie de interesse público nas relações privadas, mas

apenas a harmonizá-los com todos os demais interesses juridicamente relevantes e

protegidos referidos a determinados setores que foram legalmente identificados

como sensíveis.

A recente experiência brasileira no que abrange a regulação tem seu estudo

dividido em duas partes, sendo a análise histórica, identificando as condições em

que foi positivada e a apreciação crítica do modelo brasileiro.

A experiência brasileira e a mundial apresentam uma diversificadíssima

gama de modelos de funções e de órgãos regulatórios, tendo em comum a

preocupação finalística de exercer algum tipo de intervenção estatal deslegalizada

nas atividades sociais e econômicas. É bem possível destacar características

essenciais que possam servir de padrão a partir do qual se poderá avaliar a

eficiência operacional incerta de órgãos destinados à função regulatória, a finalidade

dessa simplificação a que se chegou7 está diretamente relacionado a um conceito de

operatividade, ou seja, de aptidão de um modelo para realizar satisfatoriamente a

função que lhe comete.

A saber, após a Constituição de 1988 e, sobretudo, ao longo da década de

90, o tamanho e o papel do Estado passaram para o centro do debate institucional.

O intervencionismo estatal não resistiu à onda mundial de esvaziamento do modelo

no qual o Poder Público e as entidades por ele controladas atuavam como

7 A simplificação a que se chegou diz respeito a uma estrutura regulatória que tem como função de fiscalizar a execução dos serviços públicos em atendimento aos interesses públicos, na busca por um serviço mais eficiente que atenda as necessidades públicas.

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protagonistas do processo econômico. “O Estado brasileiro chegou ao fim do século

XX grande, ineficiente, com bolsões endêmicos de corrupção e sem conseguir

vencer a luta contra a pobreza” 8.

Diogo de Figueiredo Moreira Neto, elucida alguns princípios adotados no

modelo brasileiro.

“A competência regulatória é a que se definirá no elenco de

hipóteses de aplicação a partir do âmbito de deslegalização de

matérias operado pelo legislador, envolvendo

fundamentalmente as funções híbridas a serem executadas: de

criar a norma reguladora, de aplicá-las administrativamente e

de dirimir administrativamente os conflitos por elas suscitados.

A independência regulatória apresenta-se sob tríplice aspecto:

a funcional, que se caracteriza pela inoponibilidade de recursos

hierárquicos impróprios às decisões, a dos agentes, que se

afirma pela garantia de seus mandatos, e a financeira, que se

logra pelo gerenciamento de recursos próprios.

A participação regulatória como característica legitimatória da

atuação regulatória, se realiza pela garantia de publicidade,

portanto, de plena visibilidade dos atos e dos processos de

regulação; pela garantia de plena abertura processual aos

administrados e pela possibilidade ou obrigatoriedade legal de

tomar decisões com a participação dos administrados.”9

Esses princípios deixam as claras as características desejáveis das

agências, daí as superposições e a existência de um quinto princípio, o da limitação

da intervenção estatal, que na realidade, não o é, mas a própria finalidade de adotar-

se o instituto da regulação.

As reservas normativas atribuem à lei, a disposição sobre certas matérias,

eis que somente esses dois corpos políticos têm legitimidade para disporem tanto

8 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito Regulatório, Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 2003, p. 21. 9 Ibid, p. 169.

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sobre interesses públicos específicos quantos sobre direitos e obrigações. Há duas

formas distintas de satisfazer as reservas legais genéricas, conforme o legislador

opte ou pela imposição direta de condutas, predefinidas por ele próprio, ou pela

disposição direta apenas de finalidades, caso em que as normas deverão ser

casuisticamente detalhadas por uma fonte normativa derivada, por via de

deslegalização, ou seja, uma disposição indireta, da regulação que vier a ser

produzida pela fonte secundária, mas nem por isso fica dispensada a sua devida

legitimação.

Procedendo a análise do disposto no artigo 174 da Constituição, verifica-se

que não há delegação de competência na deslegalização, ao Estado é conferido a

característica de agente normativo e regulador, devendo ser exercidas, na forma da

lei, as funções a esses poderes conferidos.

A atuação das autarquias como agente normativo e regulador da atividade

econômica, têm como função incentivar, fiscalizar e planejar, sendo este indicativo

para o setor privado e determinante para o setor público, nos termos do art. 174 da

CF/88.

Porem, com a atuação do atual modelo estatal, fundado em uma doutrina

neoliberal, é premente a necessidade de regulação da atividade econômica, haja

vista que esta foi deixada à livre atuação dos particulares, só atuando diretamente o

Poder Público quando necessário aos imperativos da segurança nacional ou

relevante interesse público, conforme dispõe o art. 173 da Constituição Federal.

1.2 Normas Reguladoras e a Deslegalização por parte do Estado

Com base no Estado Democrático de Direito instituído no Brasil,

temos que não há como a Administração, relegar a função reguladora, amplos

poderes para editar atos normativos que afetam a vida de milhões de cidadãos, sem

que haja participação destes.

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Conforme preceitua, Diogo Moreira Neto, para alcançar a desejável

legitimidade da função reguladora, os destinatários da norma reguladora devem ser

parte no processo decisório da atividade reguladora.

Os primórdios da política de desestatização na década de 90 no Brasil foi

essencial para dar continuidade ao processo de democratização e crescimento do

país. Pode-se dizer que tal fenômeno foi uma das soluções encontradas para sanar

a impossibilidade do Poder Público em investir e gerar desenvolvimento, ou seja,

não tinha recursos.

Porém esse Programa Nacional de Desestatização acelerou a concretização

das atividades estatais, agravou a hipertrofia de funções existentes dentro da

assoberbada máquina administrativa, na medida em que exigiu da mesma o

exercício da função reguladora.

Modernamente, em razão da crescente complexidade das atividades

técnicas da administração, passou-se a aceitar nos sistemas normativos o fenômeno

da deslegalização, pelo qual a competência para regulamentar certa matérias se

transfere por autorização do próprio legislador. Desta forma, a normatização sai do

domínio da lei para a esfera do ato regulamentar.

Portanto, vê-se que essa função reguladora, decorrente do fenômeno

denominado deslegalização, se evidencia com o início das transferências de

algumas atribuições e serviços do setor público para o setor privado.

A Carta Magna atribui às casas legislativas a possibilidade de dispor sobre

certas matérias, como se estabelece com clareza para o Congresso Nacional no seu

art.48, uma competência genérica que vai muito além daquelas outras previsões de

competência, como a estabelecida no art. 49. Imediatamente, autorizado a dispor

sobre as matérias elencadas no art. 48 da Constituição, o Congresso Nacional tanto

pode optar por legislar sobre elas, como por manter a legislação existente, por

deslegalizá-las, ou até mesmo, não legislar. Sendo assim, a norma reguladora

deslegalizada, embora venha a ser produzida pelo órgão que se tornou legalmente

competente, não incorpora a natureza jurídica de norma legal, senão que dela se

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deriva nos limites e com validade que lhe for reconhecida pela norma legal

deslegalizada.

Isso explica o fato de a norma reguladora não revogar a norma legal que

incide sobre a mesma hipótese, pois, na verdade, como ela só se aplica sobre a

matéria que venha a ser deslegalizada, será apenas a lei deslegalizadora que

poderá operar a revogação.

A norma de direito administrativo tem como função principal a interpretação

do conteúdo técnico da lei. A definição de produto perigoso, de atividade poluidora,

de serviço eficiente, de tarifa módica, de preço abusivo e de bem essencial. A

regulação envolve a implementação desse conjunto de decisões de natureza

política, tendo como objeto a execução da vontade da lei pela autoridade estatal,

visando o funcionamento dos agentes econômicos e dos mercados.

No entanto, a Constituição estabelece limites ao poder de deslegalizar10,

como por exemplo, a reserva legal estrita, sendo assim, determinadas matérias

somente poderão ser redigidas por normas legais. O legislador constitucional

resguardou os direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania, quando limitou a disposição de legislar do

Congresso nacional, quando da prerrogativa de escolha por deslegalizar matérias,

ou mesmo deixar de legislar. Desse modo, ficou vedada ao Congresso Nacional a

opção por deslegalização de determinadas matérias, quando a Constituição

reforçasse uma reserva legal com a expressão reserva legal estrita, ou seja, uma

reserva legislativa específica.

Não se confunde, a função regulatória com a função de produção de normas

pela Administração Pública, já que abrange, também, a prática de atos executivos e

judicantes, distinguindo-se, também, dos demais “poderes” da Administração

Pública, são eles: poder regulamentar, o poder discricionário, o poder disciplinar, o

poder hierárquico, o poder de polícia. Ela é distinta da função regulamentar porque

esta nos termos da Constituição Brasileira, art. 84, IV, só pode ser exercida pelo

Presidente da República. Embora muito se fale na existência, no âmbito das

agências reguladoras, de um “poder regulamentar amplo”; essa não é a expressão

10 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito Regulatório, Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 2003.

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adequada, posto que é privativo do Chefe do Poder Executivo. Ademais, enquanto o

regulamento é ato informado por critérios políticos de detalhamento da lei, a norma

regulatória explicita conceitos jurídicos indeterminados, implícitos na lei.

Existem outras competências normativas no âmbito da administração

pública, exercidas por outras autoridades públicas. Daí nova distinção, esclarecendo

que, embora a função regulatória também envolva editar normas, a isso não se

limita, já que a ela é inerente às funções “quase legislativa”, “quase executiva” e

“quase judicial”. Ademais, naquilo que diz respeito à edição de normas, é informada

por critérios técnicos e não critérios políticos, critérios técnicos esses que devem ser

garantidos pela independência (técnica e política) da qual deve ser dotada a agência

reguladora.

“É Importante também fixar como distinção que a função

normativa dos demais agentes da administração pública tem

por objetivos fatores dos mais variados, conforme a

competência da entidade administrativa em atuação, enquanto

que a função regulatória tem por objetivo precípuo a

“competição” entre os agentes do mercado, porque por meio

dela haverá maior consciência na decisão tomada pelo

consumidor e, a partir daí, um maior fornecimento de

informações aos agentes no mercado acerca de como o

consumidor deseja ver atendido o seu interesse enquanto parte

da sociedade.

Cabe, portanto, à norma reguladora traduzir tecnicamente, com

neutralidade política princípios constitucionais e legais que

compõem a base da moldura regulatória (marco regulatório)

para uma implementação eficiente com vistas ao atendimento

das decisões políticas previamente tomadas pela sociedade

por meio de seus representantes no Poder Legislativo.

Os agentes reguladores editam normas, que passam a compor

a moldura regulatória, desde que compatíveis com a

Constituição e com a lei. A norma regulatória representa a

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maneira pela qual o agente regulador interpreta determinados

comandos constitucionais e legais.”11

Há de se considerar que no próprio conceito de regulação está inserido a

necessidade de descentralização administrativa, principalmente de natureza técnica,

caracterizando - como falamos acima - a própria finalidade das agências

reguladoras. Não podemos esquecer, também, que o caput do art. 37 da

Constituição Federal (alterado com a Emenda 19/98) introduziu a necessidade de se

obedecer ao princípio da eficiência na administração de qualquer dos Poderes

Públicos.

Assim, sendo a discussão que gira acerca da legitimidade do poder

normativo exercido pelas agências reguladoras se limita na atribuição de tal poder às

agências reguladoras é o resultado final de uma delegação de competência

legislativa denominada deslegalização; no poder normativo das agências

reguladoras tem por objeto retirar o caráter genérico e abstrato da lei e atribuir um

caráter técnico e especifico para a norma.

Com o advindo da Constituição Federal de 88, foi vedado a livre delegação

de competência legislativa, adotando um modelo de separação de poderes, a

atribuição de legislar, compete ao Poder Legislativo, porém a Constituição nos arts.

44 e 48, estabelece regras para delegação de competência, ou seja, é possível a

delegação da competência legislativa em determinados casos seguindo as regras da

Constituição. Demais disso, o art. 25 do ADCT, revoga os dispositivos legais que

atribuam ou deleguem ao Poder Executivo a ação normativa.

Tal norma está em harmonia com a clausula pétrea do art. 5º , II da

Constituição, que estabelece o principio da legalidade, segundo qual, ninguém é

obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão por força de lei, entendendo a

mesma, tanto no seu sentido material quanto no seu sentido formal, ou seja, esse

último é a lei advinda de um órgão competente pelos tramites legais.

11 SOUTO, Marcos Juruena Villela. Função regulatória. Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n. 11, fevereiro, 2002. Disponível em: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 05 de janeiro de 2011.

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No entanto, ao tratarmos de deslegalização, surge uma dúvida em relação

ao art. 68 da Constituição Federal, porém tal questionamento não pode prosperar

por conta que o mesmo artigo trata de lei delegada que em nada tem a ver com o

tema abordado no capítulo em tela. Entendimento reforçado pela professora Letícia

Queiroz de Andrade, mestre em direito administrativo pela PUC/SP, em seu texto

publicado:

“A única exceção à vedação da delegação de competências

legislativas, assim entendidas como aquelas juridicamente

aptas a criar, modificar e extinguir direitos e obrigações, é a lei

delegada, que, como não poderia deixar de ser, está prevista

na Constituição Federal, em seu artigo 68. Não nos cabe fazer

aqui mais comentários acerca dessa espécie legislativa porque

o exercício de poder normativo pelas agências reguladoras,

que em nada tem que ver com leis delegadas, o que é fácil de

constatar pela leitura do correspondente artigo constitucional,

que especifica as condições e procedimentos peculiar para

elaboração dessas leis.”12

A deslegalização, como resultado da função normativa atribuída as agências

reguladoras, foi criticada em sua forma por Marçal Justen Filho, com fundamento no

seu entendimento que discorda da constitucionalidade da transferência de

competência do Poder Legislativo para o Executivo. O doutrinador citado, entende

que a concessão de poderes normativos para as agências reguladoras decorreria,

não como forma de deslegalização dito anteriormente, porém como exercício do

poder discricionário da Administração Pública, resultante de uma delegação

secundária.

12 ANDRADE, Letícia Queiroz de. Poder Normativo das Agências Reguladoras. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. (REDAE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº 15, agosto/setembro/outubro, 2008. Disponível em: <http://www.direitodoestado.com.br/redae.asp>. Acesso em 17 de dezembro de 2010.

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O professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto sustenta que a função

normativa das agências reguladoras seria então uma subespécie da delegação

legislativa, ou seja, discordando do autor acima citado, numa posição mais acertada

de acordo com a doutrina moderna, o professor Diogo reafirma tal delegação como

sendo o fenômeno da deslegalização, em entendimento contrário ao autor citado no

parágrafo anterior.

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CAPÍTULO II

FUNÇÃO NORMATIVA

Através da efetivação de sua autonomia decisória, de especialização

necessária, da agilização de sua atuação e uma certa distância em relação aos

órgãos políticos, as agências ganham o poder de editar normas concernentes à

atividade cuja regulação lhes é confiada.

Postula ainda, Alexandre Santos de ARAGÃO, que ditas normas expressam

um novo tipo de direito, o chamado direito regulatório. As normas são

instrumentalizadas para a consecução de objetivos e finalidades do sistema político

e, pela complexidade da matéria regulada, adquirem caráter particularístico. Onde a

sua legitimidade aparece como decorrência dos fins sociais aos quais se voltam.

Com o afastamento do Estado dessas atividades de cunho mais técnico,

acabaria por exigir a instituição de órgãos reguladores,como passou então a constar

do art. 21, XI, da CF, com a redação da EC n 8/95, e do art. 177, parágrafo 2°, III,

com a redação da EC n 9/95. Foram então criadas as agências reguladoras, sob

forma de autarquia de regime especial, com típica função de controle. Assim, vieram

a ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações, criada pela Lei 9472 de

16/07/1997; a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, criada pela Lei 9427

de 26/12/1996 e a ANP – Agência Nacional de Petróleo, criada pela Lei 9478 de

06/08/1997.

A elas foram atribuídas a função primordial de controlar a prestação de

serviços públicos e o exercício de atividades econômicas, assim como a atuação das

entidades privadas que passarem a ter o exercício dessas atividades.

Essas autarquias de regime especial, diga-se, as agências reguladoras,

deverão controlar e estar atentas as áreas sob sua subordinação, para que não haja

o abuso de poder econômico por parte das pessoas privadas em exercício, com o

intuito de derrubar e eliminar a concorrência para provocarem aumento arbitrário de

seus lucros. Tal forma de abuso se encontra demonstrada no art. 173, parágrafo 4°

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da CF, sendo de responsabilidade das agências a importante função de controle dos

serviços e atividades por ela exercidos através da concessão.

2.1 Da Independência Funcional como Requisito para atuação das

Agências Reguladoras

Através da lei é assegurada autonomia e independência decisória em

relação ao governo, visando proteger, as agências reguladoras de indevidas

ingerências ou pressões políticas. Primeiramente, seus membros têm mandato, o

que significa dizer que não podem ser demitidos durante o prazo previsto na lei,

caso porventura contrariem algum interesse do governo. Em segundo lugar, suas

decisões não podem ser revistas no âmbito do Poder Executivo. Esse modelo

institucional visa assegurar as condições necessárias para que tais entes possam

implementar políticas de Estado, de longo prazo, e que muitas vezes contrariam

interesses imediatistas do governo.

Tal independência diferencia as agências reguladoras dos demais entes da

administração Pública Indireta. As decisões tomadas, que contrariam grandes

interesses econômicos são questionadas em juízo, sendo assim, a plena eficácia

das decisões das agências reguladoras depende essencialmente da qualidade e

autonomia de sua defesa em juízo.

Cabe, as agências reguladoras estipular o índice tarifário aplicáveis a cada

modalidade de serviço público ou poderá adotar-se um regime de liberdade vigiada,

sem que isso possa ferir o direito do usuário. As tarifas são fixadas no contrato de

concessão ou termo de permissão, conforme edital ou proposta adjudicada na

licitação. Como forma de garantir a competição no mercado, estipulado no artigo

104, da Lei 9472, e 16 de julho de 1997 (ANATEL), que atribui a Agência à

responsabilidade de fixar, reajustar, revisar e acompanhar o índice das tarifas

cobradas pelas prestadoras, preservando o interesse dos usuários.

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Ao se estipular o valor da tarifa deverão ser observados os princípios da

razoabilidade da remuneração da prestadora, de modo que os recursos não sejam

insuficientes a ponto de pôr em risco a continuidade e a qualidade da prestação, e

nem que sejam preços abusivos que prejudiquem o usuário dificultando o acesso da

população aos serviços, bem como os princípios da universalização e de não-

discriminação. Os descontos de tarifa somente serão admitidos, quando extensíveis

a todos os usuários, desde que se baseie em critério objetivo.

Para cada modalidade de serviço há uma estrutura tarifária a ser

estabelecida, não podendo as próprias concessionárias estabelecer livremente o

valor das tarifas.

As tarifas são fixadas no contrato de concessão, conforme edital ou a

proposta apresentada na respectiva licitação. A concessionária pode cobrar tarifa

inferior à fixada, bem como conceder descontos, desde que favoreça o usuário.

É obrigação da concessionária observar o princípio da razoabilidade, porém

a lei também poderá desautorizar a prática de tarifas ou preços que não se

enquadrem na realidade de custos, a fim de comprometer a continuidade do serviço.

2.2 Da Função Regulatória e suas Atribuições

O poder concedente tem sempre o dever de exigir, a boa prestação dos

serviços em caráter geral, permanente, regular, eficiente e com tarifas módicas. E

para garantir o cumprimento desses requisitos indispensáveis em todo serviço

concedido, cabe à Administração Pública o direito de fiscalizar. O regulamento

deverá ter previsão de constituição de representante do poder concedente

integrando a comissão.

Como bem expõe o professor Hely Lopes:

“No poder de fiscalização está implícito o de intervenção para

regularizar o serviço, quando estiver sendo prestado

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deficientemente aos usuários ou ocorrer sua indevida

paralisação.13 O ato interventivo, expedido previamente pelo

concedente deverá indicar os motivos da medida e o prazo de

sua duração, e no início e no fim da intervenção lavrar-se-á o

termo respectivo com todas as indicações necessárias à sua

regularidade. A intervenção há que ser provisória, pois, se

definitiva, importaria encampação do serviço ou rescisão do

contrato (arts. 29, III, e 32 a 34).”14

A encampação é a retomada coativa do serviço, pelo poder concedente,

durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, não podendo o

concessionário, em nenhuma hipótese opor-se à encampação. Nesse caso o direito

do concessionário estreita-se apenas a receber à indenização, contudo, para

assegurar uma maior garantia na prestação do serviço para o concessionário, à

decisão de encampar foi transferida para o Legislativo.

É preciso ressaltar que a observância dos contratos ou atos de atribuição de

direitos aos particulares, faz-se necessária, tendo em vista que esses geram para as

partes direitos e obrigações, sendo que quando uma das partes não cumpre seus

deveres, responde pelas conseqüências de sua inobservância, sendo atribuído o

direito de reclamar o ressarcimento de danos e a aplicação de sanções.

O anexo à Resolução nº 344, de 18 de julho de 2003, da ANATEL, tem por

objetivo estabelecer parâmetros e critérios para aplicação de sanções

administrativas por infrações referentes às Leis aplicáveis ao setor de

telecomunicações, aos regulamentos ou demais normas pertinentes, bem como em

conseqüência da inobservância dos deveres decorrentes dos contratos de

concessão ou dos atos e termos de permissão e de autorização de serviço ou dos

atos de autorização de uso de radiofreqüência, observados os princípios

constitucionais e legais, bem como a inobservância dos contratos e atos

13 O TJSP admitiu a intervenção preventiva diante de uma situação de perigo iminente para o serviço de transporte coletivo (MS 45.953-1- SP, rel. Dês. Freitas Camargo). Apud Meirelles, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo, Ed. Malheiros, 2001, 26 ed.p. 367. 14 Ibid., p. 367.

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administrativos, porém os infratores estarão sujeitos as sanções, sem prejuízo

daquelas de natureza civil e penal, inclusiva a prevista pelo artigo 183 da lei 9472 de

97. Para efeito desse regulamento, foi necessário classificar os serviços de

telecomunicações prestados, em relação: a modalidade de serviço; a abrangência

dos interesses a que atendem; o número de usuários do serviço e o regime jurídico

de sua prestação.

As sanções devem ser aplicadas mediante decisão fundamentada da

ANATEL, assegurando o direito à ampla defesa e ao devido processo legal. Nas

infrações praticadas por pessoa jurídica, também devem ser punidos com a sanção

de multa os seus administradores ou controladores, quando tiverem agido de má-

fé15.

A sanção de multa pode ser imposta a qualquer infrator às Leis aplicáveis ao

setor de telecomunicações, inclusive radiodifusão, no que tange aos aspectos

técnicos, aos regulamentos ou às normas aplicáveis, bem como em decorrência da

inobservância dos deveres constantes dos contratos, termos e atos de autorização

ou de outorga.

2.3 Dos conflitos gerados e o Posicionamento do STF

No ano de 1998, alguns partidos políticos com representatividade no

Governo, ajuizaram perante o Supremo Tribunal Federal – Ação Direta de

Inconstitucionalidade na ADI/1668 com pedido de medida cautelar, para suspender a

eficácia jurídica de parte da Lei 9472 de 16 de junho de 1997, que criou a ANATEL,

lei esta decorrente da Emenda Constitucional 008/95.

15 Considera-se má-fé, dentre outros comportamentos caracterizados por fraude ou dolo: deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de leis, regulamentos, contratos, termos e atos aplicáveis ou fatos incontroversos; opor resistência injustificada ao andamento de processo, à fiscalização ou à execução de decisão da Anatel; agir de modo temerário; provocar incidentes infundados; e interpor recurso ou pedido de reconsideração manifestamente protelatório. A multa prevista deve ser proporcional à aplicada à pessoa jurídica. A apuração da infração deve ser realizada em autos apartados, apensados ao processo principal, instaurado em desfavor da pessoa jurídica.

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Foi questionada a inconstitucionalidade de parte da lei pelos partidos

políticos. Alegou-se que alguns dispositivos da norma regulamentadora, burlavam o

texto constitucional, em especial o art. 54 em seu parágrafo único e os arts. 55 ao 58

da lei. Esses artigos inseriram no nosso ordenamento jurídico duas novas

modalidades de licitação para a aquisição de bens e serviços: a consulta e o pregão.

Através da decisão liminar, o Supremo Tribunal Federal, declarou a

constitucionalidade do parágrafo único do art. 54, bem como dos arts. 55 a 58 da lei,

que criaram as modalidades de licitação, de consulta e de pregão.

A Lei nº. 8.666/93 disciplinou as obras e serviços realizados e prestados por

terceiros, à administração pública e ainda as compras, alienações e locações

ajustadas com terceiros. Agora, a Lei Geral das Telecomunicações, dispôs sobre

matéria específica, decorrente da Emenda Constitucional nº. 8/95, não tratada e não

abrangida pela mesma lei. A Lei 8666/93, não possui, em relação a outras leis

federais, hierarquia especial e distinta. Ela se encontra no mesmo patamar de

qualquer outra lei federal, não é ela lei complementar, tratando de contratos de

prestação de serviços de terceiros para a União.

A Lei Geral das Telecomunicações dispõe sobre os contratos entre a União

e terceiros para a prestação dos serviços de telecomunicações para a população,

por isso as leis são distintas, pois ela passou a dispor sobre matéria específica,

decorrente da Emenda Constitucional nº. 8/95, matéria essa não tratada e não

abrangida pela Lei nº. 8.666/93, nem pela Lei nº. 8.987/95.

No voto do então o Ministro Celso de Mello, ficou consagrado o

entendimento de que nada impedia a Agência Nacional de Telecomunicações –

ANATEL em inovar nos procedimentos de licitação. Baseando-se no que dispõe o

inciso XXVII do art. 22 da Constituição Federal que não obrigou a edição de lei

única, mas atribui competência privativa à União para legislar sobre normas gerais

de licitação e contratação em todas as modalidades. Sendo certo que, uma coisa é

poder editar normas gerais sobre todas as modalidades, obrigatórias também para

Estados e Municípios e outra seria obrigar existir uma lei geral para todas as

modalidades.

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Em conformidade com esta interpretação do Supremo Tribunal Federal, no

disposto no § 8º do art. 22 da Lei nº. 8.666/93, que vedava a criação de outras

modalidades de licitação, foi efetivamente derrogado, não tendo mais eficácia

jurídica, pois, em consonância com o que foi decidido pelo plenário na ADI 1668, o

disposto não exclui evidentemente, a possibilidade de determinados tipos de

modalidades de licitações serem criadas em lei específica.16

16 ROLIM, Juliano Alberge. A “consulta” e o “pregão” da Anatel sob a ótica do STF. Jus Navegandi, Teresina, ano 9, n. 814. 25 set. 2005. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7332>. Acesso em 26 de dezembro de 2010.

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CONCLUSÃO

É importante, observar, o papel das agências reguladoras no atual cenário

constitucional brasileiro, contudo pela forma como hoje são reguladas. Com a

criação das agências reguladoras, se permitiu evolução na prestação dos serviços à

coletividade e grande independência na sua atuação com relação ao poder público.

Desvinculada do caráter político, que se faz claro quanto ao mandato do presidente

das agências, o qual é eleito no início de um governo, tendo seu término computado

ao final da gestão seguinte.

De acordo com o trabalho em tela, as leis contém normas que possuem

caráter genérico e abstrato, pois o objetivo aqui é abranger o maior numero

possíveis de fatos geradores numa sociedade, pelo máximo período de tempo

possível. Porém, o avanço tecnológico exigiria uma rapidez na elaboração de

normas jurídicas, que não torna-se possível num sistema político adotado num

Estado em que possui uma legislação estática. Assim sendo, concedendo-se a

autonomia necessária, dentro dos preceitos legais, o sistema de deslegalização

consegue adaptar-se a essa realidade tecnológica para o devido regulamento dentro

do sistema jurídico, diante de uma sociedade dinâmica.

Embora, surjam várias controvérsias, com relação a autonomia normativa

das agências reguladoras, as normas regulatórias não são e nem tem a força de lei,

tanto que uma norma reguladora, não pode revogar uma lei, apenas traz um caráter

técnico à norma jurídica. Estabelece preceitos normativos, punições e procedimento

a serem adotados pelas empresas prestadoras de serviço público.

Sendo tal autonomia necessária para a melhoria dos serviços públicos

prestado e avanços tecnológicos em benefício da coletividade em geral que se

encontra em constante evolução, pois dá a agência reguladora, atuação dinâmica,

que não é característica base do Estado, uma vez que este fica preso a normas de

cunho geral e sem especialização técnicas, necessárias para a boa atuação e

prestação de serviços.

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Assim, a função reguladora é capaz de contribuir para curar o problema da

lei que abrange de forma genérica e lenta e estática, diante de uma sociedade em

constante desenvolvimento e evolução, buscando desburocratizar e dar maior

celeridade na execução e na efetivação da prestação dos serviços públicos à

coletividade.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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2010.

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Administrativo Econômico. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

BINENBOJM, Gustavo. Uma Teoria de Direito Administrativo: direitos

fundamentais, democracia e constitucionalização. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar,

2008.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 6ª

ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

BRASIL. ADI/1668, Ação Direta de Inconstitucionalidade. Supremo Tribunal Federal.

Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/petiçãoInicial/verPetiçãoinicial.asp?base=base=ADIN&s1

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BRASIL. Lei 9472 de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização dos

serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão

regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda

Constitucional nº 8, de 1995. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9472.htm>. Acesso em: 28 dez. 2010.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22 ed.

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 22 ed. São Paulo: Atlas,

2009.

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MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório. Rio de Janeiro:

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ROLIM, Juliano Alberge. A “consulta” e o “pregão” da Anatel sob a ótica do STF. Jus

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SOUTO, Marcos Juruena Villela. Função regulatória. Revista Diálogo Jurídico,

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ÍNDICE AGRADECIMENTOS................................................................................................ 3

DEDICATÓRIA ......................................................................................................... 4

RESUMO................................................................................................................... 6

METODOLOGIA ....................................................................................................... 7

SUMÁRIO ................................................................................................................. 8

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

CAPÍTULO I ............................................................................................................ 11

AS AGÊNCIAS REGULADORAS .......................................................................... 11

1.1 Direito Regulatório Brasileiro e Sua Evolução Histórica.................................... 16

1.2 Normas Reguladoras e a Deslegalização por parte do Estado ......................... 25

CAPÍTULO II ........................................................................................................... 32

FUNÇÃO NORMATIVA .......................................................................................... 32

2.1 Da Independência Funcional como Requisito para atuação das Agências

Reguladoras............................................................................................................ 33

2.2 Da Função Regulatória e suas Atribuições ....................................................... 34

2.3 Dos conflitos gerados e o Posicionamento do STF........................................... 36

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................ 41

ÍNDICE .................................................................................................................... 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO........................................................................................ 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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