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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE REFUGIADOS AMBIENTAIS Por: Jansen Coli Almeida de Oliveira Orientadora Professora Maria Esther Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

REFUGIADOS AMBIENTAIS

Por: Jansen Coli Almeida de Oliveira

Orientadora

Professora Maria Esther

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

REFUGIADOS AMBIENTAIS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Gestão Ambiental, sob a orientação da

professora Maria Esther.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus familiares e

amigos, que direta e indiretamente

contribuíram para que eu pudesse

realizar este trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu pai Hélio (In

Memorian) pelos ensinamentos da vida, e

a minha mãe Yolanda pelo seu exemplo

de resignação, perseverança e paciência.

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RESUMO

A monografia será desenvolvida em quatro capítulos, baseado no

surgimento de uma nova categoria denominada Refugiados Ambientais.

O primeiro capítulo abordará o problema dos refugiados e sua

perspectiva histórica considerando o problema geral dos movimentos

migratórios onde as pessoas estão sendo forçadas a fugir por uma complexa

combinação de razões, ligadas muito mais ao crescimento populacional,

pobreza, fome e degradação ambiental do que às maciças violações de

direitos humanos, tensões sociais e étnicas, e conflitos armados.

No segundo capítulo, será abordado o surgimento da temática ambiental

no cenário internacional que resultou nos movimentos originalmente distintos

que convergiram e sintetizaram ciência, política e correntes filosóficas de

variados matizes.

O terceiro capítulo abordará as novas dimensões da política ambiental e

do conceito de segurança onde será tratada a realidade ambiental como um

problema de segurança por um número crescente de cientistas e formuladores

de decisões e as ações e fenômenos naturais que ameaçam a qualidade de

vida dos cidadãos de uma nação.

No quarto capítulo será abordada a nova categoria que surgiu

denominada refugiados ambientais que tiveram que deixar seus habitats,

temporária ou permanentemente, por causa de riscos ambientais potenciais ou

transtorno em seus ecossistemas essenciais à continuidade da vida.

.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a composição deste trabalho foram a

pesquisas em livros, revistas especializadas, na internet e na observação diária

dos meios de comunicação de massa como a televisão e rádio.

A coleta de dados foi baseada na pesquisa de temas sobre o assunto e

também no estudo de casos que ocorrem no mundo.

O leitor terá a sua disposição uma dissertação acadêmica simples,

adequada à realidade deste assunto tão discutido atualmente.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O problema dos Refugiados: uma perspectiva histórica 10

CAPÍTULO II - O surgimento da temática ambiental no cenário

internacional 14

CAPÍTULO III - As novas dimensões da política ambiental 21

e do conceito de segurança

CAPÍTULO IV - Refugiados Ambientais: uma nova categoria 25

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

BIBLIOGRAFIA CITADA 42

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

Esta monografia apresenta como tema de estudo a questão do

surgimento de uma nova categoria: os refugiados ambientais. Historicamente,

o surgimento de refugiados tem suas causa nas disputas territoriais, nas

perseguições política, étnica e religiosa, e de ordem econômica decorrente dos

constantes deslocamentos de agrupamentos humanos, em grande parte por

estarem ligados diretamente ao meio onde eles vivem. Contudo, o

reconhecimento de um novo elemento – a degradação ambiental - concorre

para adensar a lista das causas subjacentes ao problema e conquistar seu

lugar nas mesas de debate de importantes questões internacionais.

Neste sentido é importante salientar que a situação dos refugiados

ambientais ganhou relevância e notoriedade no momento em que as Nações

Unidas substituíam a Sociedade das Nações logo após a Segunda Guerra

Mundial. O surgimento de regimes autoritários, que lançaram mão da matança

sistemática de minorias como afirmação ideológica, deixou cerca de 21

milhões de refugiados espalhados pela Europa. O deslocamento em massa

daqueles que fugiam aos horrores da guerra levou à percepção da

necessidade de proteger-lhes, seja pelo fato de não poderem retornar a seus

Estados originários pelo medo da perseguição política, seja pela própria

condição inóspita em que esses Estados eram deixados.

A conseqüência imediata foi à criação da Organização Internacional

para Refugiados que, mais tarde, foi substituído pelo atual Alto Comissariado

das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) que de maneira categórica

estabeleceu, em 1951, a definição de “refugiado”, tornando-a internacional e

universalmente aceita, e consagrou a responsabilidade da comunidade

internacional pela questão.

Nesta perspectiva, observam-se as mudanças ocorridas no fim dos anos

80 – o fim da bipolaridade, do colonialismo e um crescente hiato entre centro e

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periferia – abriram-se novas oportunidades para a retomada do

multilateralismo e da cooperação internacional. Impulsionado pela dinâmica da

globalização, o mundo não só desfrutava os benefícios do progresso

econômico, mas também era afetado por problemas em comum. É exatamente

numa época de grandes conferências – a exemplo marcante da ECO-92, que a

questão da degradação ambiental surge na cena internacional.

Nesta perspectiva, foi observado que os problemas surgiram em larga

escala com o efeito adverso do surto de industrialização nas últimas duas

décadas, cujo motor foi o uso intensivo de combustíveis fósseis e na

exacerbação do problema do aquecimento global – fenômeno que existe

naturalmente –, e, como conseqüência direta e imediata, o aumento no

número de desastres naturais – secas, furacões, enchentes. Pois, é nesse

catastrófico cenário que surge esta categoria de refugiados: os ambientais.

O objetivo desta monografia é analisar a situação dos refugiados

ambientais, procurando avaliar os problemas enfrentados com esses “novos”

refugiados, mostrando a amplitude do problema e suas implicações.

No desenvolvimento da monografia serão abordados: no Capítulo I, o

problema dos refugiados e sua perspectiva histórica; no Capítulo II, o

surgimento da temática ambiental no cenário internacional; no Capítulo III, as

novas dimensões da política ambiental e do conceito de segurança; no

Capítulo IV, a nova categoria que surgiu denominada refugiados ambientais; e

por fim, a conclusão, mostrando possíveis mudanças que efetivamente

reduzam a magnitude do problema.

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CAPÍTULO I

O PROBLEMA DOS REFUGIADOS: UMA PERSPECTIVA

HISTÓRICA

“Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras

nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos

por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o

progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome

da democracia, unamo-nos!” (Charles Chaplin - “O Grande

Ditador”).

O processo da degradação do meio ambiente causado pela natureza

com suas mudanças climáticas e também pelo próprio homem tem provocado

a movimentação de populações em diversas partes do planeta, onde o

habitante daquelas regiões tem perdido sua moradia, trabalho, plantações para

sua sobrevivência, sua família e sua história de vida.

Observa-se que estas mudanças climáticas e sua conseqüente

degradação têm aumentado consideravelmente nos últimos anos trazendo

fome, doenças, morte e situações de desequilíbrio moral e social,

apresentando um quadro que necessita de interferência para a recolocação

das populações migratórias em novas áreas, alterando a geografia

populacional.

Nas últimas décadas têm sido discutidas as mudanças do clima no

mundo, levando em consideração as suas causas e efeitos sobre o meio

ambiente e sobre os habitantes do planeta. As causas dessas mudanças e

suas origens estão no aquecimento global e no aumento da poluição

atmosférica, o que leva ao efeito estufa e conseqüentemente provocam

catástrofes em várias regiões, levando populações a se deslocarem, buscando

uma nova condição de vida. As pessoas que sofrem essa agressão da

natureza e das mudanças climáticas são denominadas refugiados ambientais.

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Deve ser esclarecido que a questão das mudanças climáticas no mundo

ajudou no surgimento dos refugiados ambientais, agravando a sua situação

social e econômica, bem como colocando em risco as novas áreas de

ocupação, tornando-se necessária a formação de órgãos que buscassem

contribuir na solução dos problemas que se apresentavam e evitar que novas

situações provocassem problemas no futuro. Nesse cenário tornou-se

necessário buscar e desenvolver soluções que resguarde e proteja o meio

ambiente, bem como salvaguardar o direito dos refugiados ambientais.

Na busca de elementos elucidativos para elaboração deste trabalho

observou-se que o problema no âmbito dos refugiados não é uma situação

nova e inusitada e sim do surgimento de populações que não fugiram das

guerras e da tirania de seus dirigentes, mas sim do processo de deslocamento

de suas regiões em conseqüência de desastres naturais, como: terremotos,

maremotos, erupção de vulcões e também de diversos fatores ambientais

como a erosão do solo, as secas, a desertificação, e também dos acidentes

industriais, provocados pelo homem.

1.1 – Refugiados Ambientais e sua denominação

A Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, alterada

pelo Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967, enfatiza que o direito

internacional visa ordenar a condição de "status" de refugiado. O documento

define que,

“Refugiado é aquele que, possuído de um temor

bem-fundado de ser perseguido por razões de raça,

religião, nacionalidade, de ser integrante de um

grupo social específico ou por suas opiniões

políticas, encontra-se fora do país de sua

nacionalidade, e está incapacitado ou possuído por

tal temor, por não poder receber a proteção daquele

país; ou quem, não tendo nacionalidade e estando

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fora do país de sua habitual residência, está

incapacitado, ou possuído por tal temor, não tem a

possibilidade de voltar para ele.”

A relação que se estabelece no Tratado de Genebra sobre Refugiados,

define o refugiado, como pessoas que se deslocam devido a dificuldades e

obstáculos enfrentados devido as suas ideologias políticas, credo religioso,

preconceito racial e são denominadas como refugiadas e estão protegidas por

esse Estatuto.

Percebe-se que os benefícios dessa proteção à medida que os

problemas são localizados permitem oferecer garantias as pessoas, e se torna

fundamental para que os seus direitos sejam respeitados no tocante a sua

liberdade, sua segurança e o direito a vida.

No ano de 1985, surgiu a denominação "refugiados ambientais" com

base em uma publicação do Professor Essam El Hinnawi do Egyptian National

Research Centre, do Cairo - Egito. Nos diversos segmentos que tratavam

desse assunto, surgiram outras denominações para “refugiados ambientais”

como "refugiados climáticos” ou "ecos-refugiados". O PNUMA (Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente) define a situação dos refugiados

ambientais da seguinte forma:

“Com o objetivo de se chegar à solução em

questão, a ONU, no final do ano de 2008, em

Poznan, na Polônia, realizou conferência para

debater o relatório das “Alterações Climáticas e

Cenários de Migrações Forçadas”. O Alto

Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

(ACNUR) sugeriu efetiva definição de "refúgio

ambiental" e de instrumentalização jurídica que

regule internacionalmente a proteção, bem como os

direitos dos refugiados ambientais.“

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Buscou-se nessa Conferência estudar a regulamentação desta

categoria, porém não se chegou a um consenso sobre a elaboração de um

documento que fosse endossado e aplicado pelos países. Este documento

colocaria em questão a responsabilidade e a necessidade intrínseca de

defender a causa dos refugiados. A partir da consolidação desse documento

seria implementado mecanismos que acolhessem as necessidades e os

interesses desta categoria de refugiados, permitindo a melhoria nas suas

condições socioambientais e conseqüentemente na sua dignidade.

Cabe salientar que o ACNUR está claramente consciente que a

degradação ambiental é uma causa crescente dos movimentos populacionais.

Esta relação entre refugiados e o meio ambiente tem sido ignorada por muito

tempo diante das causas tradicionais subjacentes aos movimentos de

refugiados e que as mudanças climáticas e a ação do homem promoveram os

movimentos migratórios dessas pessoas.

No desenvolvimento das causas que provocam o deslocamento e da

constante mudança dos cenários, os refugiados ambientais ainda não foram

alcançados pela assinatura de protocolos e tratados internacionais. Os novos

deslocamentos tem demonstrado que as nações desenvolvidas devem

reavaliar os seus metodos, a medida que os conflitos forem surgindos, em

função da migração das populações para outras áreas em virtude da situação

catastrófica em que se encontram em sua região.

Destaca-se na pesquisa dessa monografia, que há preocupações das

nações por essa situação e o trabalho a ser realizado é de grande

envergadura, levando em consideração que os desdobramentos das

mudanças ambientais demonstraram que houve aumento expressivo do

quantitativo de refugiados ambientais e que o desafio a ser enfrentado é

salvaguardar os refugiados ambientais, permitindo-lhe as melhores condições

de sobrevivência.

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CAPÍTULO II

O SURGIMENTO DA TEMÁTICA AMBIENTAL NO

CENÁRIO INTERNACIONAL

“Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas

também pelo que deixamos de fazer.” (Molière).

O surgimento do problema ambiental em escala global resultou de

movimentos originalmente distintos que convergiram e sintetizaram ciência,

política e correntes filosóficas de variadas matizes.

Segundo Coelho (1997, p.241), o tratamento da questão ambiental pela

agenda multilateral expandiu-se com base em dinâmica própria, marcada por

fatores tais como a crescente sofisticação conceitual e política, ou a evolução

temática, de forma a incorporar os processos produtivos, e não só seus efeitos,

como a poluição, o caráter globalizante dos efeitos da degradação ambiental

ou da interferência nos ecossistemas, como nos casos da teoria do efeito

estufa ou da destruição da camada de ozônio.

Deve ser esclarecido, que no surgimento da vertente científica

acompanhou-se de perto a Guerra Fria instalada após a Segunda Guerra

Mundial e derivou-se tanto da existência da bomba atômica, que introduziu a

possibilidade de aniquilação total da terra, quanto da consciência de que

fabulosos progressos científicos podem causar danos em escala planetária. O

possível cenário de destruição global impregnou permanentemente corações e

mentes desde a primeira utilização do artefato nuclear.

Percebe-se que a temática ecológica no cenário internacional

acompanhou os embates entre os países desenvolvidos e países em

desenvolvimento. No início, as divergências entre os dois campos giravam em

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torno de problemas como o crescimento econômico e seu impacto negativo

sobre o meio ambiente, a superpopulação e a poluição. Gradualmente, porém,

a temática foi tornando-se mais complexa e diversificada: a redução da

camada de ozônio, o efeito estufa, o transporte de resíduos tóxicos

evidenciaram-se não apenas a globalização dos problemas como também a

sua urgência. Esse período pode ser demarcado de um lado, pela Conferência

de Estocolmo em 1972, e de outro pela Conferência do Rio, em 1992

(DUARTE, 2003).

No decorrer dessa situação, nota-se que os problemas ecológicos

decorrentes do desenvolvimento de técnicas científicas apareciam em diversas

áreas: na indústria, na agricultura, nas cidades. Cidades européias

apresentavam, na década de 50, índices de poluição que provocavam graves

doenças na população.

Segundo Guimarães (1997, p. 204), a crise do desenvolvimento via

transição ecológica constitui marca registrada da sociedade contemporânea,

da mesma forma que o padrão antropocêntrico da civilização moderna levou-a

a considerar progresso e evolução apenas como produtos da capacidade

humana para gerar tecnologia, sem admitir limites.

Observa-se que na citação de Guimarães, “sobre a capacidade humana

de gerar tecnologia”, permitiu-se a elaboração de modelos que cruzavam

dados referentes à industrialização, ao crescimento econômico dos países, ao

incremento populacional e aos recursos disponíveis. Os relatórios disponíveis

para essa temática são importantes e principalmente os “Limites ao

Crescimento” e “Relatório do Clube de Roma”. Pode-se notar que a conclusão

dos relatórios é semelhante: manter a exploração dos recursos e na

industrialização em ritmo acelerado, e conseqüentemente as fontes de

riquezas naturais mundiais se esgotaria.

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O desenvolvimento do mundo, construído no pós 1945, caracterizou-se

inicialmente pela descolonização dos países afro-asiáticos e pela ênfase na

busca de soluções, onde a própria ideologia da modernização era objeto de

barganha política nas relações entre as superpotências e os países do Terceiro

Mundo, uma vez que o modelo de acesso ao mundo desenvolvido tomava

como referência a industrialização (DUARTE, 2003).

Na evolução e no embate dessa temática, observar-se que alguns

órgãos das Nações Unidas também denunciavam alterações severas no meio

ambiente global e propunham uma conferência internacional para discutir a

situação do planeta. A idéia de reunir os Estados para discutir politicamente o

meio ambiente foi fortalecendo-se, e a Assembléia Geral da ONU decidiu

convocar uma conferência em 1972. A Suécia ofereceu-se para sediar o

evento que seria a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

Humano.

Nesse ponto, sabe-se que eram tempos de articulação dos países em

desenvolvimento na ONU, da formação de blocos como o dos Não-Alinhados.

Convocada por países do Norte e verifica-se a preocupação para tratar da

poluição, da degradação dos recursos e da superpopulação. Dessa forma a

agenda da Conferência foi ampliada para incluir questões como erosão do solo

e gerenciamento de ecossistemas, desertificação e assentamentos humanos,

de interesse dos países pobres.

A evolução do percurso até a Conferência do Rio de Janeiro, em 1992,

por outro lado, foi particularmente movimentada. Sucederam-se cenas de

grandes desastres ambientais, a intensa cobertura dos meios de comunicação,

a participação de chefes de Estado que se autoproclamavam “verdes” desde o

nascimento e a mobilização dos principais astros do cinema e da música

internacionais.

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Na medida em que as grandes expectativas de Estocolmo pareciam ir-

se desvanecendo diante de uma realidade que se apresentava cada vez mais

assustadora: os dois choques do petróleo, o desemprego maciço, a

reestruturação das corporações, em suma, a recessão global.

Percebe-se que a complexidade dessas questões, que se originavam do

meio ambiente convergiam para a necessidade de conservação ambiental

durante a década de 1980. Já nos primeiros anos, comprovou-se que a

camada de ozônio havia se tornado mais fina e rompeu-se em algumas partes,

formando extensas áreas desprotegidas da radiação solar. Adicionalmente,

começavam a serem divulgadas ao público as pesquisas sobre o “efeito

estufa”, que existe em condições naturais. Nota-se que estas pesquisas

correspondem ao aumento das temperaturas por causa da retenção de gases,

principalmente de CO2, nas camadas baixas da atmosfera.

Verificou-se durante as pesquisas, que as altas temperaturas ocasionam

alterações nos padrões da natureza, podendo gerar uma variedade de

desastres: secas, inundações, furacões, derretimento de geleiras e

modificações de áreas aráveis. Com o fim do bloco socialista foram reveladas

as péssimas condições do meio ambiente em países do Leste Europeu, além

da falta de segurança de diversas instalações nucleares.

Na avaliação dessa estratégia, nota-se que para fazer frente a esse

cenário, as Nações Unidas em 1983 foi estimulada a reunir um grupo de

especialistas, presidida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland, para discutir

o estado do meio ambiente do planeta e propor novos rumos para sua gestão.

Nesse sentido a comissão produziu o relatório “Nosso Futuro Comum” –

também conhecido como Relatório Brundtland -, que se tornou referência para

discussão sobre a temática ecológica, consolidando a expressão

“desenvolvimento sustentável”, síntese para a consecução do crescimento com

conservação, e que leva em consideração o direito de gerações futuras.

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Por esta questão, foi estudado e analisado o Relatório Brundtland, e

dessa maneira a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução

que determinava a realização de uma conferência sobre temas ambientais,

para revisar os avanços obtidos desde Estocolmo. Nesse cenário, verificou-se

a necessidade de convocar uma Conferência para junho de 1992.

Com o advento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento – ECO-92 -, levantam-se diversos temas para a

agenda, o que demonstrava a ampla abertura do leque de problemas desde

Estocolmo: proteção aos solos, por meio do combate ao desmatamento,

desertificação e seca; proteção da atmosfera por meio do combate às

mudanças climáticas, ao rompimento da camada de ozônio e à poluição

transfronteiriça; proteção das áreas oceânicas e marítimas; conservação da

diversidade biológica; controle da biotecnologia; controle de dejetos químicos e

tóxicos; erradicação de agentes patogênicos e proteção das condições de

saúde.

Verifica-se que nos objetivos estabelecidos para a conferência, é notório

a concentração na avaliação do estado do planeta nos últimos vinte anos e nas

estratégias regionais e globais, nacionais e internacionais, para restabelecer o

equilíbrio do meio ambiente e evitar sua continua degradação.

Deve ser ressaltado que os documentos aprovados ao final do evento

foram a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção sobre

Diversidade Biológica, e Declaração sobre Manejo das Florestas, a Declaração

do Rio e a Agenda 21, esta última um programa de ação que reunia as

recomendações para a implementação das decisões alcançadas na

Conferência. Na parte burocrática, o PNUMA (Programa das Nações Unidas

para Meio Ambiente) permaneceu como centro de coordenação dos temas

ambientais.

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Como se sabe, na euforia que se seguiu a ECO-92 torna-se necessário

esclarecer que se fazia supor um mundo reinventado sob o império do

ecologicamente correto. Durante esse período, no entanto, quando se realizou

a primeira avaliação dos resultados da Conferência e da implementação da

Agenda 21, descobriu-se que, entre as metas acordadas, poucas haviam sido

atingidas. Havia algumas boas notícias, mas, em alguns casos, observavam-se

até mesmo retrocessos, pelo menos em termos de disposição negociadora dos

Estados.

Na Conferência, observa-se que uma das principais questões a dominar

a década de 1990 foi o aquecimento global, resultante de alterações no efeito

estufa. Ao longo dos anos, percebe-se que o fenômeno das mudanças

climáticas permanece o mais tempestuoso dentre todos os assuntos: os

prognósticos sobre o aquecimento global são cada vez mais incisivos, com

alertas sobre a desertificação, o grande número de refugiados ambientais

como conseqüência de catástrofes diversas e os prejuízos incontestáveis para

os países pobres.

Em suas observações sobre a natureza desses desenvolvimentos,

Guimarães (1997, p. 202), revela:

O que caracteriza a sociedade global de fins de

século é o esgotamento de um estilo de

desenvolvimento que se mostrou ecologicamente

predatório, socialmente perverso e politicamente

injusto. Nesse sentido, os sinais de vulnerabilidade

do ecossistema planetário têm atuado como uma

grande caixa de ressonância de vários

“esgotamentos” que assistimos encadearem-se

numa lógica que reivindica a necessidade de

mudanças profundas em nosso modelo de

civilização.

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Portanto, é nesse contexto, onde as projeções de cenários

apocalípticos e catástrofes iminentes habitam as mesas de discussão,

destaca-se que a dimensão da segurança sofre uma mudança em seu

paradigma, e a gestão ambiental ganha proeminência na temática dos

refugiados ambientais, e que esse novo posicionamento oriente os

pensamentos dos responsáveis pelas tomadas de decisões.

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CAPÍTULO III

AS NOVAS DIMENSÕES DA POLÍTICA AMBIENTAL E

DO CONCEITO DE SEGURANÇA

“Alguns líderes responderão aos problemas mundiais por razões

genuinamente morais e humanitárias. Outros, entretanto, agirão

somente quando virem seu próprio bem-estar ser ameaçado”

(Jean Lambert).

No século XXI, espera-se que os problemas ambientais mantenham o

nível de importância global que tem sido observado desde o fim dos anos 80.

Eles não só têm causado a deterioração da qualidade de vida dos seres

existentes, mas também alcançaram níveis potenciais de ameaça aos

ecossistemas necessários à vida.

Analisando esses problemas, nota-se que a realidade ambiental está

sendo tratada como um problema de segurança por um número crescente de

cientistas e formuladores de decisões. Richard Ullman (1983), defensor dessa

visão, argumenta que ações e fenômenos naturais que ameaçam a qualidade

de vida dos cidadãos de uma nação, em um período curto de tempo, deveriam

ser considerados ameaças à segurança nacional. Norman Myers (1996, p.21)

declara igualmente que:

Segurança nacional há muito não se refere a lutar

contra forças hostis e armamentos somente. O

problema remete às fontes aqüíferas, plantações,

florestas, fontes genéticas, clima e outros fatores

raramente considerados pelos especialistas militares

e líderes políticos, mas que, tomados como um

conjunto precisa ser considerado igualmente tão

crucial à segurança de uma nação.

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Advogando a mesma visão, o Relatório sobre Desenvolvimento Humano

de 1993, do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, diz que

O conceito de segurança deve mudar de uma

ênfase exclusiva na segurança nacional para uma

ênfase muito maior na segurança das pessoas; da

segurança através do armamento para a segurança

através do desenvolvimento humano; da segurança

territorial para a segurança alimentar, trabalhista e

ambiental.

Sachs (2003) revela que no passado, a estratégia de segurança estava

freqüentemente focada nas ameaças externas, e mais especificamente

“ameaças militares” que exigiam respostas militares. A natureza dos conflitos

exigirá dos que estão envolvidos com a preservação do monopólio do uso da

força do Estado à inclusão de problemas como a poluição ambiental, a

degradação da camada de ozônio, o aquecimento global e a migração massiva

de refugiados não desejados.

Ressalta-se que estas questões podem se tornar a causa direta de

conflitos como no caso de guerras por recursos escassos de água e solos

férteis, mas podem facilmente provocar conflitos através de mecanismos de

declínio econômico e instabilidade política.

Jessica Mathews (1989), presidente do World Resource Institute,

declara que em conflitos deflagrados pela degradação ambiental “a causa

subjacente dos distúrbios é freqüentemente ignorada; os governos por sua vez

apontam a pobreza e a instabilidade como seus resultados”. Tendo em vista

essas questões percebe-se que os desenvolvimentos globais agora sugerem a

necessidade de outra e mais abrangente definição de segurança nacional no

sentido de incluir os recursos naturais, meio ambiente e questões

demográficas.

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Myers (2002) em suas análises observa que há uma crescente ligação

entre o meio ambiente e os conflitos. Deficiências ambientais fornecem as

condições em que os conflitos ocorrem. Todavia, nota-se que elas servem para

determinar sua fonte, atuar como multiplicadores que agravam as causas

centrais e no delineamento da natureza do conflito. Estas questões não só

contribuem para exacerbar o problema, mas estimulam também o uso da força

para reprimir a desafeição entre aqueles que sofrem as conseqüências da

degradação ambiental.

Considera-se que a segurança ambiental define a relação entre a

segurança estabelecida dos fatores naturais, que são componentes essenciais

dos fundamentos ambientais de uma nação, que em última instância, sustenta

todas as atividades socioeconômicas e conseqüentemente a estabilidade

política. Por outro lado, quando estes recursos estão degradados ou

destruídos, a segurança se deteriora também. Assim a definição reflete a

segurança em sentido amplo: segurança para todos e ilimitada.

Reconhece-se nesse momento é que as conseqüências ecológicas da

forma em que a população utiliza os recursos do planeta estão intimamente

relacionadas com o padrão de relacionamento entre os próprios seres

humanos (GUIMARÃES, 1997).

Tendo em vista que os problemas ambientais foram tratados no

contexto da segurança, nos conceitos de desenvolvimento sustentável e de

segurança humana e que ganharam significância especial, é notório que o

primeiro supre as necessidades da presente geração sem comprometer a

necessidade das futuras gerações e realça a noção de justiça entre elas. Na

análise desta definição, verifica-se que a segurança humana não significa

“lutar por sua sobrevivência”, mas também a capacidade de se beneficiar e

salvaguardar direitos fundamentais humanos, incluindo o direito a um meio

ambiente saudável.

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De fato, percebe-se que conceitos como segurança planetária,

ambiental e humana estão sendo empregados com freqüência nas relações

internacionais enquanto há, destarte, uma tendência crescente no número de

atividades nesse campo em organizações tais como as Nações Unidas e seus

afiliados, a OCDE e a OTAN. Nesse contexto percebe-se que a OTAN está

comprometida com uma maior abordagem da segurança, que reconhece a

importância de fatores políticos, econômicos, sociais e ambientais além da

indispensável dimensão da defesa.

Considerando-se a interação entre o humano e o seu meio, a

preservação das bases dos recursos naturais aparece claramente como o fator

para a realização da segurança humana. A sobrevivência da humanidade

depende, em grande medida, da preservação dos ecossistemas.

Nesse contexto, o problema dos refugiados ambientais emerge hoje

como o produto de uma série de razões incluindo perda da biodiversidade,

mudança climática, fenômenos climáticos extremos, desflorestamento,

desertificação, erosão do solo, pressão demográfica e poluição.

Os fatores que determinaram os deslocamentos humanos provocados

pelas alterações do meio ambiente impeliram comunidade inteiras a migrarem

devido a problemas com a degradação do solo e das águas. A questão da

segurança ambiental passou a ser reconhecida e evidenciam-se os problemas

do meio ambiente nos países em desenvolvimento que afetarão os países

desenvolvidos no futuro, considerando-se a constante instabilidade do

ambiente e suas graves conseqüências.

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CAPÍTULO IV

REFUGIADOS AMBIENTAIS: UMA NOVA CATEGORIA

“Tudo o que permanece alheio ao homem é como se não

existisse para ele, mas nem por isso deixa de existir para os

demais”. (Introdução ao Conhecimento Logosófico)

O termo “refugiado ambiental” foi popularizado pela primeira vez por

Lester Brown do Worldwatch Institute nos anos 70, mas o primeiro a chamar a

atenção sobre o assunto foi Essa El-hinnawi em seu relatório “Environmental

Refugees”, publicado pelo Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente

em 1985. El-hinnawi define o termo como “estes que tiveram que deixar seus

habitat, temporária ou permanentemente, por causa de riscos ambientais

potenciais ou transtorno em seus ecossistemas essenciais à continuidade da

vida”. Por outro lado, Shin-Wha Lee (1994 apud AYBET, 1999) declara:

Eu identifico refugiados ambientais como pessoas

que não têm nenhuma outra escolha, a não ser

deixar seus habitat pela sua sobrevivência, por

causa de desastres ecológicos naturais ou induzidos

pelo homem, ou pela mudança no ambiente: ou

estes que são internamente deslocados ou que são

compelidos a atravessar fronteiras como resultado

de planos governamentais danosos, ecocídio

governamental, e devido a planos governamentais,

ou de reabilitação ou de assentamento, que

descriminam grupos específicos.

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Myers (1995), por sua vez, refere-se ao termo como:

Pessoas que não podem mais ter um meio de vida

seguro em suas terras por causa da seca, erosão

do solo, desertificação, desflorestamento e outros

problemas ambientais, junto com problemas

associados às pressões demográficas e pobreza

profunda.

Stuart Leiderman (1996 apud FELL, 1996), renomado cientista

ambiental da Universidade de New Hampshire, que desenvolve o projeto

“Refugiados Ambientais e Restauração Ecológica” afirma que “os refugiados

ambientais são ‘bio-indicadores’ da qualidade ambiental. Hoje há refugiados de

enchentes, derramamento tóxico, projetos hidroelétricos entre outras atividades

humanas internacionais”.

De maneira geral, pode-se dizer que as estimativas são observadas com

cautela, pois permite verificar a existência em torno de 26 milhões de

refugiados ambientais levando em consideração aos 27 milhões de refugiados

tradicionais, no que tange as às perseguições políticas e religiosas. Verifica-se

que esse quantitativo poderia multiplicar no período compreendido de 1995 a

2010. Nesta questão, constata-se que existem espalhados nos países em

desenvolvimento 135 milhões de pessoas ameaçadas pela desertificação, e

550 milhões de pessoas com dificuldades de utilização de água potável.

Acredita-se que neste contexto muitas dessas pessoas foram incluídas

na faixa desses 26 milhões, e diversas foram levadas a migrar sem serem

consideradas como refugiados ambientais. No entanto, este número poderia

crescer a um ritmo de crescimento constante uma vez que o número de

pessoas empobrecidas exerce pressão em ambientes que já se encontram

sobrecarregado.

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Deve-se considerar que há certa dificuldade em se diferenciar os

refugiados gerados por fatores ambientais e aqueles impelidos por problemas

econômicos. Myers (2004) analisa esse impasse observando-se que, em

certos casos, os refugiados que atravessam fronteiras, notadamente aqueles

em circunstâncias econômicas moderadas, porém toleráveis, são

impulsionados mais pela oportunidade de uma vida econômica melhor em

outros lugares do que propriamente forçados pela destruição ambiental. Em

contrapartida, aqueles que migram por serem afetados pela pobreza são

freqüentemente o resultado da degradação ambiental. É a situação ambiental,

mais do que qualquer outro fator, que os torna economicamente

empobrecidos.

Analisando esta situação, pode-se considerar que esses migrantes

tendem a retornar a seus habitat originais, e dessa forma criou-se

espontaneamente uma categoria, com três tipos de refugiados ambientais:

§ Refugiados que são deslocados em determinados períodos e

posteriormente voltam aos seus locais de origem, a partir do

momento que o dano sofrido é reparado;

§ Refugiados que são movimentados em caráter permanente e

fixam novas moradias em outras áreas; e

§ Refugiados que se deslocaram na procura de condições melhores

em suas vidas, a partir da sua área de origem, que foi degradada

a tal ponto que suas necessidades básicas já não poderiam ser

satisfeitas.

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4.1 – Enfocando as Causas do Problema

De maneira geral a migração ambiental apresenta certa dificuldade em

sua definição. Percebe-se que as relações causais entre o meio ambiente,

população e outros fatores econômicos e sociais são altamente complexas. No

entanto, há certo consenso entre os estudiosos onde se identifica cinco causas

principais dessa migração:

4.1.1 – Desastres Naturais

Sabe-se que desastres como enchentes, terremotos, erupções

vulcânicas, secas e tempestades tropicais são normalmente caracterizados

pelo rápido acontecimento, e seus efeitos devastadores são em função do

número de pessoas vulneráveis e mais do que a intensidade do desastre. O

número de pessoas afetadas por desastres naturais cresceu de 28 milhões nos

anos 60, para 64 milhões nos anos 80. Nota-se que pessoas pobres nos

países em desenvolvimento são as mais vulneráveis aos efeitos dos desastres

naturais. Um exemplo de desastre natural é de TUVALU, no Pacífico.

Observa-se que nação independente de Tuvalu, composta por nove

atóis no pacífico, está vulnerável ao aumento do nível do mar e a inundações,

deparando-se com a ameaça de deixar de existir dentro de um século. A

erosão afeta as linhas costeiras e as águas do mar já penetraram o solo

tornando inférteis umas grandes quantidades de árvores. Barreiras marinhas

poderiam reduzir o tempo de erosão, entretanto, os níveis oceânicos

continuarão a aumentar e a população inteira de Tuvalu – 11.636 habitantes –

eventualmente terá que ser evacuada.

Acredita-se que mediante a essa ameaça foi necessário anunciar a

tomada de providências para, diante da Corte Internacional de Justiça,

processar os maiores Estados poluentes e que contribuíam para a

intensificação do efeito estufa. Este argumento baseava-se no fato de que as

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nações mais ricas e industrializadas, como os EUA, Rússia e Austrália,

lançavam na atmosfera os mais danosos gases causadores desse efeito. No

entanto, eles deveriam assumir parte da culpa e auxiliar os países em

desenvolvimento a adaptar-se às conseqüências do aquecimento global.

De maneira geral, percebe-se que outra ameaça imediata à Tuvalu e a

outras pequenas ilhas (Maldivas, Kiribati e Vanuatu) é prevista pelo aumento

da intensidade e freqüência de ciclones e tempestades. Entre essas pequenas

nações insulares, 90% da população vivem ao longo das costas. As

inundações costais, causadas a partir do aumento no número de tempestades,

provoca a erosão praieira, prejudica a infra-estrutura, saliniza os solos e fontes

de água potável, conseqüentemente forçando muitos a abandonar suas vilas.

Acredita-se que as conseqüências desse eventual deslocamento

implicariam na perda de nacionalidade, de sua condição de cidadania,

tornando esses refugiados essencialmente apátridos, sem qualquer proteção

internacional. Pode-se considerar diante dessa situação que os dados

demonstram a extraordinária escala em que esses indivíduos serão afetados

pelo aquecimento global.

4.1.2 – Mudanças Cumulativas

Nesta categoria, inclui-se o aquecimento global, a desertificação, o

desflorestamento, mudança climática, erosão, degradação do solo, salinização,

escassez de água e sedimentação dos rios, que já afetam mais do que um

sexto da população mundial. Nota-se que essas mudanças são, às vezes,

naturais, mas com freqüência exacerbada por atividades humanas ou

diretamente causada pelo homem. Sabe-se que a degradação do solo

normalmente afeta de maneira direta a agricultura em áreas rurais. A atividade

industrial geradora de poluição e degradação ambiental encontra-se nessa

categoria.

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Deve-se ainda ser destacado o assoreamento dos rios, que no Brasil

são da ordem de 60% nos estados brasileiros, podendo ser considerado como

exemplo no fato que o meio ambiente alterado provoca a migração de

populações inteiras. Pode-se citar o exemplo do rio Taquari, que divide os

estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, que pode ser classificado

como o fato mais agravante no cenário ambiental e socioeconômico daquela

região.

Neste contexto percebe-se que as áreas cultiváveis estão na influência

deste curso d’água e as inundações de terras ocorrem em parte do ano. A

partir da metade da década de 1990, o cenário começou a ter novo

delineamento, com crescimento sem planejamento da agropecuária naquela

região. A falta de planejamento para a expansão provocou o desmatamento e

a utilização inadequada das áreas de terra e que provocaram processos de

erosão com gravidade na parte superior da bacia do rio Taquari. As

intempéries como as tempestades, com chuvas ventos e inundações, levaram

sedimentos para locais da área inferior do relevo. As águas do rio Taquari,

carregadas por meio das correntezas, inundaram as terras da parte baixa, fato

este que resultou na diminuição do seu leito e provocando transbordamento

em determinadas áreas, onde as inundações deixaram de existir e parte dessa

área encontra-se submersa e improdutiva. A área pode ser comparada no

percentual de 45% com a dimensão total das áreas que foram desapropriadas

pela União para o planejamento e execução da reforma agrária.

Pode-se afirmar que as conseqüências foram devastadoras para mão

de obra local com prejuízos para os colonos e o abandono de pecuaristas da

região. Nessa fase diversas colônias de pequenos produtores localizadas na

parte baixa do curso do Taquari tiveram sua região devastada com inundações

e decorrência da obstrução do rio que provocou o arrombamento das margens.

Percebe-se ainda, que este fato trouxe vários problemas e com o

agravante do afundamento da agricultura desenvolvida nessas colônias, onde

habitavam aproximadamente 500 famílias. Atualmente vivem naquela área em

torno de 15 famílias, algumas migraram e vivem em condições precárias na

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periferia das cidades e as demais fazem parte de programas de assentamento

dos sem-terras.

Deve-se ainda ser destacado que mineração é também considerada

uma atividade associada ao assoreamento de corpos d’água no Brasil. Pode-

se considerar que essa prática também responsável por muitos outros

problemas ambientais, como a destruição da mata ciliar, a erosão e a

contaminação do meio-ambiente por produtos químicos.

Pode-se também admitir que desde a época colonial, a descoberta de

minérios resulta em intensos fluxos migratórios para áreas no interior do país.

No entanto, passada a bonança inicial, não raro resta apenas uma grande área

degradada onde há grande dificuldade para o desenvolvimento de alternativas

econômicas.

Ressalva-se que a partir da década de 1990, intensificou-se o

esgotamento das riquezas e o declínio da exploração de minérios, onde se

percebe que os impactos ambientais foram devastadores e acredita-se que a

recuperação das áreas destruídas pela mineração leve muito tempo para

serem recuperadas.

4.1.3 – Projetos de Desenvolvimento

Neste item demonstra-se que o deslocamento involuntário é

freqüentemente causado pela expropriação de terras para projetos de infra-

estrutura. O rápido desenvolvimento urbano é também uma causa, onde solos

cultiváveis são transformados para o uso urbano. O caso de projeto de

desenvolvimento de maior destaque é da construção da Barragem das Três

Gargantas, na China.

Considera-se que o maior projeto hidroelétrico do mundo, com 2.309

metros, a construção da Barragem das Três Gargantas, na China, é um

exemplo atual e controverso de um projeto que altera o meio ambiente a tal

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grau que mais de um milhão de pessoas serão deslocadas. Espera-se que

seja gerada tanta energia quanto a que seria produzida por 18 usinas

nucleares para que as crescentes demandas de energia sejam atendidas.

Argumenta-se também que a barragem reduzirá as inundações e a

conseqüente destruição do Rio Yangtze. Sua construção se realiza com vistas

a tornar-se um símbolo proeminente da vitalidade e poder da nação.

Entretanto, sabe-se que a despeito das vantagens dessa construção,

ela tem se mostrado altamente controversa e tem sido alvo de investigações

locais e internacionais. Estima-se um quantitativo aproximado de 1,2 milhões

de pessoas deslocadas, e os atuais programas de remanejamento e

compensação têm sido inadequados e, por conseguinte, não lhes oferecem

condições favoráveis nem garantia de acesso aos direitos humanos mais

básicos que seguem padrões internacionais.

Acrescenta-se a essa situação, o fato que as terras substitutas

oferecidas, de qualidade inferior, e as promessas de emprego feitas aos que

tiveram que deixar suas regiões era geralmente temporárias ou sequer

existem. Há ainda a repressão política aos cidadãos que tentaram criticar o

projeto, pela falta de liberdade de expressão na China.

Argumenta-se que o projeto alterou o meio ambiente a tal ponto, que ele

tornou-se inabitável, e os resultantes refugiados ambientais foram lançados à

própria sorte. De maneira geral a Barragem das Três Gargantas passou a ser

conhecida como um instrumento de repressão com difundido abuso de direitos

humanos. A despeito do reconhecimento da falta de compensação adequada

pelo deslocamento, nenhuma ajuda internacional foi concedida.

4.1.4 – Acidentes Industriais

Nessa categoria incluem-se os acidentes nucleares, desastres

industriais e a poluição do meio ambiente. Entre 1986 e 2011 houve mais de

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85 acidentes de grandes proporções matando mais de 4.000 pessoas em todo

o mundo, ferindo 62.000 e deslocando mais de 2 milhões. Nota-se que a

maioria dos deslocamentos nessa categoria são temporários, pois não afetam

os meios de sobrevivência, mas têm efeitos a longo prazo. O caso mais

ilustrativo desse acidentes é o de Chernobyl (1986),

Pode-se afirmar que o acidente ocorrido em 1986, na estação de

energia nuclear de Chernobyl, produziu efeitos tão danosos, que forçou

milhões de pessoas a evacuar suas vilas, impedindo que muitos voltem a

habitá-las. A zona de contaminação atingiu aproximadamente 2,3 milhões de

hectares, e espalhou-se para a Belarus e Rússia.

Afirma-se que essas áreas foram contaminadas aos níveis mais altos de

radiação. 25 % do total de radioatividade foram dissipadas imediatamente e os

restantes 75% foram expelidos 10 dias depois do acidente. O número estimado

de mortes como resultado da exposição à radiação, incluindo-se os que

morreram por causa do enfraquecimento de seus sistemas imunológicos, foi de

100.000.

Estima-se que os níveis de radiação atingiram tamanha amplitude que a

maioria das áreas afetadas tornaram-se inabitáveis não só para os humanos,

mas também para plantas e animais. De maneira geral, grande parte dessas

áreas são agora “cidades fantasmas” uma vez que todos os habitantes foram

compelidos a deixá-las em definitivo.

Salienta-se que os indivíduos compreendidos num raio de 30 km do

reator nuclear foram evacuados; 10 dias após o acidente 130.000 pessoas de

76 povoações foram removidas e desde então, essa área foi declarada zona

de exclusão. Considera-se que em longo prazo provocaram um aumento ainda

maior no número de evacuados: 456 vilas e pelo menos 350.400 pessoas na

Rússia, Ucrânia e Belarus.

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Pode-se considerar que a explosão em Chernobyl é hoje igualada à

explosão de 20 bombas nucleares. A contaminação não só afetou a vidas das

inúmeras vítimas, mas alterou significantemente a estrutura social das vilas e

cidades onde essas vítimas fixaram residência. Destaca-se que o relatório

produzido sobre Chernobyl enfatiza as tensões que freqüentemente surgem

entre esses novos habitantes. Observa-se outro constrangimento enfrentado

por estes refugiados ambientais que é o estigma associado com a

contaminação radioativa, visto por muitos como uma doença infecciosa.

4.1.5 – Conflito e Guerra

A guerra pode ser a causa e o resultado da degradação ambiental. O

conflito com freqüência causa intensa degradação ambiental, e o dano

ambiental pode também ser uma forma de guerra.

Destaca-se nesses problemas a Guerra do Golfo de 1991 que durante o

conflito, os poços de petróleo do Kuwait foram incendiados e também lançados

milhares de litros de petróleo em rios e seus mananciais. Nessa fase ocorreu

outro fato no Camboja, quando foi destruído parte da reserva florestal durante

os confrontos bélicos que marcaram a história do país. A guerra em Angola

produziu um efeito devastador na fauna, onde o quantitativo de animais

diminuiu em 85%. No conflito sangrento da guerra do Vietnã, toneladas do

agente químico Orange foram pulverizadas nas florestas, danificando áreas de

vegetação e plantio e que nos dias atuais ainda não podem ser cultivadas.

Analisando os problemas apresentados conclui-se que durante os

confrontos da guerra, o meio ambiente e os recursos da natureza são

penalizados silenciosamente. Os estoques de alimentos são incinerados, os

cursos de água, severamente poluídos, bem como o envenenamento dos solos

e a dizimação dos animais. Na estratégia apresentada, constata-se que os

objetivos têm linhas de ação diferenciadas como: na obtenção de vantagem,

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desagregação das populações, conquistar e ganhar a resistência ou dar

condições para fornecimento de alimentos às tropas.

Pode-se afirmar que as conseqüências dessa situação podem ser

consideradas de difícil controle com conseqüências trágicas. Atualmente

assistimos fatos degradantes como a destruição da natureza, a poluição de

substâncias altamente tóxicas e extremamente perigosas.

Neste contexto, também presenciamos as conturbações sociais, em

que a etapa final do processo é o surgimento de grupos de refugiados que,

conseqüentemente, pressionam os recursos escassos.

Na realidade percebe-se que na maioria das vezes os conflitos são

observados em países com extrema pobreza, onde podemos comprovar o

desajuste econômico que penaliza as populações carentes, que não possuem

capacidade de enfrentar os problemas e os danos provocados no meio

ambiente, e também de vencer os obstáculos que são provocados pelas

dificuldades do desenvolvimento.

Ressalta-se que a migração em massa devido a conflitos pode também

causar sérios danos a áreas já sensíveis e dessa maneira teremos que dar

atenção especial ao meio ambiente, nas regras que regem o direito

internacional e na melhoria das condições dignas para as populações

duramente afetadas.

No entanto, ao se considerar a natureza global do problema, deve-se

atentar para outros fatores, além dos acima mencionados. Nota-se que há um

nascente reconhecimento de que as relações entre o comércio global e

atividades de investimento, e seus efeitos sociais, precisam ser consideradas

oficialmente. Ao mesmo tempo os ministros do meio ambiente do G8,

reconheceram, em 1999, que os regimes econômicos e financeiros

internacionais, incluindo as políticas de ajuste estrutural das instituições

financeiras internacionais, deveriam levar em consideração as dimensões

ecológicas e sociais.

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Lambert (2005) coloca que há crescente interesse internacional na idéia

de uma Organização Ambiental Mundial (WEO), que agregaria valor aos

acordos ambientais multilaterais. Considera-se também a declaração de um

membro do parlamento preocupado com as questões “verdes”, o belga Paul

Cannoye, afirmou que, quando da adoção de seu relatório sobre Parceria

Global, na preparação para o encontro de cúpula de Joanesburgo, que o

encontro deve focar a construção de uma estrutura global de gerenciamento

das Nações Unidas que contrabalance com planos e prioridades que sejam

traçados em prol das pessoas, dos pobres e do planeta. Espera-se, no entanto

que as medidas de proteção ambiental não estejam subordinadas às regras e

que os trabalhos devem ser compatíveis com os acordos ambientais

multilaterais.

Todavia, acredita-se, em que pese à inegável existência de milhões de

refugiados ambientais, sendo admitidas as causas e a possibilidade de uma

abordagem mais adequada para a prevenção do que Myers (2005) denomina

“a iminência de uma das mais graves crises humanitárias de nossos tempos”,

esses refugiados ainda carecem de reconhecimento oficial.

4.2 – A Necessidade de Reconhecimento Oficial

A atual definição oficial de “refugiado” não abrange indivíduos forçados

a migrar por razões ambientais, pois se refere somente àqueles fugindo à

perseguição. Segundo Myers (2005), até o presente momento, o problema tem

sido visto como uma preocupação periférica, um tipo de aberração da ordem

normal das coisas, mesmo que ele seja uma manifestação explícita de

profunda privação e de desespero.

Hermsmeyer (2005) afirma que o refugiado ambiental é uma categoria

de refugiado que tem sido excluída dos benefícios e da proteção oferecida por

tal status. Contribuindo para as atuais críticas.

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Pode-se admitir que o ACNUR tenha historicamente tido um

crescimento substancial em tamanho, caráter e exigência, e, todavia, mantém

que sucessivos grupos de refugiados eram muito diferentes daqueles na

Europa e clamavam por uma nova abordagem para a questão de como

determinar o status de refugiado. Percebe-se que a relação entre a

degradação ambiental e o refugiado tem sido reconhecida e refletida nas

atuais atividades do ACNUR. No entanto, verifica-se que a definição não

evoluiu o suficiente para acompanhar a prática do Alto Comissariado.

No entanto, nota-se que a expansão da definição, ainda que

reconhecidamente necessária, encontra forte oposição dos Estados.

Argumenta-se que alguns políticos evitam deliberadamente as repercussões

da degradação ambiental para que o número de refugiados mantenha-se

reduzido. Ao mesmo tempo em que outros argumentam que estender a

proteção do refugiado para incluir aqueles que são deslocados devido à

degradação ambiental gerará ambigüidade na definição, pois ela falsamente

implica a separação entre as causas ambientais e as causas econômicas,

política e social dos movimentos populacionais.

No entanto, Hermsmeyer (2005) afirma:

Se o ACNUR expandisse sua definição de

“refugiado”, para que ela se adequasse à prática e à

substancial quantidade de evidência que sustenta o

elo entre o dano ambiental e os movimentos

populacionais, a legitimidade e eficácia do seu

mandato aumentariam. O mandato central não

sofreria mudança, pois, desde 1950, a proteção dos

refugiados e a busca por soluções para seus

problemas permanecem a razão de ser da

organização.

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Seguindo-se o mesmo pensamento, a Federação Internacional das

Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho ressalta que um dos

grandes obstáculos na preparação para movimentos massivos de refugiados

ambientais é a falta de flexibilidade na designação de um status de refugiado,

apresentando o argumento de que a lei de refugiados urge revisão para que se

enfrente o problema.

Acredita-se que esses densos contingentes de indivíduos não são

reconhecidos e não estão protegidos sob qualquer mandato internacional, eles

normalmente são forçados a se realocar com pouca ou nenhuma

compensação.

Devemos considerar que a inexistência de reconhecimento suscita

maiores preocupações e determina a dimensão da crise quando se observam

as projeções em longo prazo. Percebe-se que seguindo o curso cauteloso de

estimativas, Myers projeta o número de refugiados ambientais entre 150 e 200

milhões em 2050, baseando-se nas previsões do número de pessoas

existentes no mundo nesse período, estimado em 10 bilhões. Entretanto esse

prognóstico seria em função do aumento do nível do mar e da distribuição das

áreas habitáveis, causados pelo aquecimento global e pelas mudanças

climáticas.

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CONCLUSÃO

Analisando o contexto da questão dos refugiados ambientais, pode-se

verificar que por mais relutantes que sejam os governos nacionais, agências e

organizações internacionais em reconhecer essa categoria de refugiados, eles

existem de fato e são um problema crescente que prenuncia uma crise

humanitária sem precedentes, que desconhece limites e afeta o mundo como

um todo.

A relação entre os direitos humanos e o meio ambiente é vastamente

reconhecida. As atividades humanas têm alterado, de maneira significativa, as

condições e estabilidade do meio em que os indivíduos vivem. É essencial que

o problema dos refugiados ambientais seja abordado holisticamente,

reconhecendo a complexidade e indiciossiabilidade da natureza das causas

subjacentes à migração ambiental.

Diante das questões abordadas deve-se considerar que o conceito e a

definição de “refugiado” sejam expandidos de maneira a incluir esses “novos

refugiados” no contexto internacional, pois assim se estimularia uma política de

mudanças e de atividades que efetivamente reduziria a magnitude do

problema. Ao se expandir, conseqüentemente promoverá o reconhecimento

internacional dos refugiados ambientais e suas causas poderiam ser

investigadas mais extensivamente e sua proteção assegurada, pois políticas

reativas às crises são muito menos efetivas e compreensivas quando

comparadas às políticas preventivas e predeterminadas.

No decorrer dessa monografia percebe-se que os refugiados ambientais

são uma categoria que reflete as novas facetas da política internacional

contemporânea. Enquanto novas normas emergem, os formuladores de

política devem tomar esta oportunidade para desenvolver meios melhores e

mais eficientes para enfrentar os novos desafios que se impõem neste século.

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Pode-se afirmar que o meio ambiente, assim como a democracia, o

desenvolvimento e os direitos humanos, não são valores básicos comuns

deste século, mas permanecerão como tais nos próximos séculos com tomada

de decisões e ações efetivas. Desta forma, reconhecendo-se que essas

mudanças busquem mecanismos que atendam as condições básicas do ser

humano, e conseqüentemente a sua melhoria na qualidade de vida, onde uma

nova categoria possa ter condições deixar um futuro melhor para seus

descendentes.

Conclui-se que a percepção de unicidade do mundo e a complexa

relação entre as diversas áreas que nele interagem urgem uma mudança de

comportamento coletiva. Somente uma tomada de consciência em nível global

poderá garantir à continuidade da humanidade e tornar seguras as condições

de vida dos refugiados ambientais.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS

(ACNUR). Documento de Informação do Alto Comissariado das Nações

Unidas para Refugiados. Genebra, 1994.

AYBET, G. NATO’s developing roles in collective security. Sam Papers. nº

4. Ministry of Foreign Affairs, Ankara, June 1999.

COELHO, Pedro Motta Pinto. O tratamento multilateral do meio ambiente:

ensaio de um novo espaço ideológico. In: FONSECA JÚNIOR, Gelson;

Castro, Sérgio Henrique Nabuco (Org.). Temas de Política Externa Brasileira II.

Vol 1, 2ª ed, p. 233-262. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

DUARTE, Lílian C. B. Política externa e meio ambiente. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 2003.

EL-HINNAWI, E. Environmental Refugees. United Nations Environment

Programme (UNEP), Nairobi, 1985.

GUIMARÃES, Roberto Pereira. Da oposição entre desenvolvimento e meio

ambiente ao desenvolvimento sustentável: uma perspectiva do sul. In:

FONSECA JÚNIOR, Gelson; Castro, Sérgio Henrique Nabuco (Org.). Temas

de Política Externa Brasileira II. Vol 1, 2ª ed, p. 201-232. São Paulo: Paz e

Terra, 1997.

HERMSMEYER, Heidi A. Environmental refugees: a denial of rights.

Working paper n° 2. University of California. San Diego: January 2005.

KEANE, David. Environmental causes and consequences of migration: a

search for the meaning of “environmental refugees”. Georgetown

International Environmental Law Review, Winter 2004.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - COELHO, Pedro Motta Pinto. O tratamento multilateral do meio ambiente:

ensaio de um novo espaço ideológico. In: FONSECA JÚNIOR, Gelson; Castro,

Sérgio Henrique Nabuco (Org.). Temas de Política Externa Brasileira II. Vol 1,

2ª ed, p. 233-262. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

2 - DUARTE, Lílian C. B. Política externa e meio ambiente. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 2003.

3 - GUIMARÃES, Roberto Pereira. Da oposição entre desenvolvimento e meio

ambiente ao desenvolvimento sustentável: uma perspectiva do sul. In:

FONSECA JÚNIOR, Gelson; Castro, Sérgio Henrique Nabuco (Org.). Temas

de Política Externa Brasileira II. Vol 1, 2ª ed, p. 201-232. São Paulo: Paz e

Terra, 1997.

4 - LAMBERT, Jean. Refugees and the environment: the forgotten element of

sustainability. Belgium: European Parliament, 2004.

5 - MYERS, Norman. Environmental refugees in a globally warmed world.

Bioscience, n. 1, vol. 43, issue 11, December,1993.

6 - SACHS, Stephen E. The changing definition of security. International

Relations, Week 5, Merton College, Oxford., Michaelmas Term, 2003.

7 - MATHEWS, Jessica T. Redefining security. Foreign Affairs, 68:2, Spring

1989.

8 - HERMSMEYER, Heidi A. Environmental refugees: a denial of rights.

Working paper n° 2. University of California. San Diego: January

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO

8

CAPÍTULO I

O PROBLEMA DOS REFUGIADOS: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 10

1.1 - Refugiados Ambientais e sua denominação 11

CAPÍTULO II

O SURGIMENTO DA TEMÁTICA AMBIENTAL NO CENÁRIO

INTERNACIONAL

14

CAPÍTULO III

AS NOVAS DIMENSÕES DA POLÍTICA AMBIENTAL E DO CONCEITO DE

SEGURANÇA

21

CAPÍTULO IV REFUGIADOS AMBIENTAIS: UMA NOVA CATEGORIA

25

4.1 Enfocando as causas do problema

4.1.1 Desastres Naturais

4.1.2 Mudanças Climáticas

4.1.3 Projetos de Desenvolvimento

4.1.4 Acidentes Industriais

4.1.5 Conflito e Guerra

4.2 A necessidade de reconhecimento oficial

28

28

29

31

32

34

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CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BIBLIOGRAFIA CITADA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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41

42

43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes (A Vez do Mestre)

Título da Monografia: Refugiados Ambientais

Autor: Jansen Coli Almeida de Oliveira

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: