universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · (bossa, idem, p. 8). 2.2 a...

46
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO EM CRECHE/ PRÉ-ESCOLA Por: Janaina Dias Lima Pimentel Orientador Prof.ª Fernanda Canavez Rio de Janeiro 2012

Upload: others

Post on 30-Jan-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    AVM FACULDADE INTEGRADA

    A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO EM

    CRECHE/ PRÉ-ESCOLA

    Por: Janaina Dias Lima Pimentel

    Orientador

    Prof.ª Fernanda Canavez

    Rio de Janeiro

    2012

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    AVM FACULDADE INTEGRADA

    Apresentação de monografia à AVM Faculdade

    Integrada como requisito parcial para obtenção do

    grau de especialista em Psicopedagogia.

    Por: Janaina Dias Lima Pimentel

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Jesus, fonte de amor e

    sabedoria, pela vida, por ser meu refúgio, minha

    força e meu amparo, tanto nos momentos de

    alegria, como nas tribulações.

    Ao meu esposo Marcelo que soube entender

    ao longo desses anos de vida acadêmica os

    percalços que tivemos.

    Aos nossos filhos, pelo apoio, confiança,

    amor e carinho, por ser suporte na realização dos

    nossos sonhos. Sem isto nada em nossas vidas

    seria possível.

    A todos os meus familiares, e aos amigos

    especiais que contribuíram de forma incisiva para a

    realização do meu projeto de vida.

  • 4

  • 5

    DEDICATÓRIA

    A minha filha Giovanna que é um presente de Deus

    na minha vida, e meus queridos alunos por fazerem

    parte desta nova jornada.

  • 6

    RESUMO

    Esta monografia objetivou investigar a importância e atuação do

    psicopedagogo na educação infantil e sua relevância para a prática e na

    formação continuada dos professores que atuam nesta etapa inicial da

    educação básica. Inicialmente foram apresentados o conceito e um breve

    histórico da psicopedagogia no Brasil e suas diferentes áreas de atuação. Em

    seguida buscamos trazer o entendimento do que é a educação infantil e a

    compreensão de como se dá aprendizagem nesta fase da vida, enfatizando

    ainda a íntima relação do brincar como essencial para o seu desenvolvimento.

    E por fim, abordamos o papel do psicopedagogo e a intervenção

    psicopedagógica na educação infantil, e suas contribuições na formação

    continuada dos profissionais que nela atuam. Diante desta pesquisa, concluiu-

    se que a psicopedagogia contribui para a ação pedagógica na educação

    infantil através da orientação e reflexões com o professor para que se tenha

    como resultado um desenvolvimento infantil efetivo de qualidade e na

    prevenção de futuros problemas de aprendizagem.

  • 7

  • 8

    METODOLOGIA

    O presente trabalho trata-se de um estudo teórico de uma pesquisa

    bibliográfica, onde os dados foram coletados através de uma documentação

    indireta, com consulta a fontes secundárias (livros, revistas, sites e artigos

    científicos) que abordam o tema através dos seguintes autores: BOSSA,

    Nadia; OLIVEIRA, Vera; FERNANDEZ, Alícia; PORTO, Olívia, SCOZ, Beatriz,

    ARIÈS, Philippe, entre outros que foram pesquisados ao longo do trabalho.

    PALAVRAS CHAVES: psicopedagogia; educação infantil; formação

    continuada.

  • 9

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 11

    CAPÍTULO 1 - A PSICOPEDAGOGIA

    1.1 A PSICOPEDAGOGIA 13

    1.2 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL 15

    1.3 O CAMPO DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

    19

    CAPÍTULO 2 - A EDUCAÇÃO INFANTIL

    2.1 O QUE SE ENTENDE POR EDUCAÇÃO INFANTIL 22

    2.2 A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL 25

    2.3 O BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

    29

    CAPÍTULO 3 – A PSICOPEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS QUE NELA ATUAM

    3.1 O PAPAEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO 33

    3.2 A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA NA CRECHE/PRÉ-ESCOLA 35

    3.3 A RELAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COM OS PROFISSIONAIS DE CRECHE/PRÉ-ESCOLA

    37

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    41

  • 10

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

  • 11

  • 12

    INTRODUÇÃO

    Venho através de este trabalho monográfico fazer um estudo acerca da

    importância do psicopedagogo na creche e pré-escola.

    Ao longo dos anos várias pesquisas foram realizadas tendo como

    resultado, que os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o

    desenvolvimento humano.

    Diante deste fato, a educação e o cuidado na primeira infância vêm

    sendo tratados com importância, pois o número de oferta deste serviço e

    atendimento (creches/pré-escolas) em unidades públicas e privadas aumentou

    não só quantitativamente, mas também na qualidade de sua estrutura física,

    material, e na exigência de qualificação por partes dos profissionais que nela

    atuam (equipe técnica pedagógica e de apoio).

    A psicopedagogia tem o seu foco na aprendizagem. É neste contexto

    que procuramos mostrar a importância da atuação do psicopedagogo na

    educação infantil, pois é justamente nesta primeira etapa que fortes alicerces

    devem ser construídos para que a aprendizagem seja saudável, rica e

    prazerosa.

    Diante disso, na presente pesquisa foram fundamentados vários

    teóricos e conhecimentos adquiridos ao longo do curso de psicopedagogia no

    qual contribuíram no desenvolvimento e compreensão da importância do

    psicopedagogo em instituições de creches e pré-escolas e sua relevância para

    a prática e formação de professores.

    No decorrer da monografia serão apresentados três capítulos que estão

    organizados da seguinte maneira:

    Com o intuito de estudar a contribuição da psicopedagogia na educação

    infantil, consideramos pertinente que no primeiro capítulo fosse realizado uma

    síntese histórica para a compreensão da definição do que é a psicopedagogia.

    Através de sua trajetória no Brasil conheceremos ainda os seus diferentes

    campos de atuação.

    No segundo capítulo mostraremos que a concepção de infância é

    historicamente construída, pois a ideia de infância sofreu grandes

  • 13

    transformações ao longo dos tempos. Tais mudanças originaram-se através

    dos aspectos sociais e econômicos. Em seguida, apresentaremos as bases

    psicológicas do processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança

    através das concepções sociointercionistas de Piaget, Vygotsky e Wallon. Tais

    teorias se aproximam ao compreenderem que o processo de aquisição do

    conhecimento acontece na relação entre o sujeito e o meio de forma dialética,

    ou seja, na interação entre eles.

    Ainda neste capítulo aproveitaremos para falarmos sobre o brincar como

    algo essencial para a saúde física e mental das crianças, pois esta ação faz

    parte do processo educativo do ser humano.

    Por último identificaremos o papel do psicopedagogo na instituição e o

    processo de avaliação e intervenção psicopedagógica em creches/pré-escolas

    que tendo como foco a prevenção das dificuldades de aprendizagem.

    Verificaremos também que a relação do psicopedagogo junto aos profissionais

    que atuam na educação infantil é primordial para a orientação de meios e

    instrumentos que possibilite o bom desenvolvimento das crianças.

    Espera-se com o desenvolvimento deste trabalho sensibilizar todos os

    profissionais da educação sobre a valorização de se ter o psicopedagogo nas

    instituições de ensino, principalmente nos espaços de creche e pré-escolas.

  • 14

    CAPÍTULO I

    A PSICOPEDAGOGIA

    1.1 A PSICOPEDAGOGIA

    De acordo com Bossa (2011) a psicopedagogia nasceu da necessidade

    de buscar soluções para os problemas de aprendizagem, que são bastante

    complexos, pois há uma série de fatores que levam a interferir no processo de

    aprendizagem.

    Ao analisarmos o termo psicopedagogia parece ser uma aplicação da

    psicologia com a pedagogia, porém essa definição não se faz por completa

    devida a sua origem. Para entendermos a complexidade dessa definição é

    necessária uma análise histórica da psicopedagogia.

    Em estudos realizados por Bossa (idem) nos diz que a preocupação com

    os problemas de aprendizagem teve início na Europa durante o século XIX.

    Estas pesquisas foram realizadas por médicos, psiquiatras e filósofos do

    Iluminismo com uma visão organicista atribuindo o problema de aprendizagem

    a chamada Dificuldade Cerebral Mínima.

    Para esses estudiosos as respostas para se compreender as

    dificuldades de aprendizagem eram atribuídos a problemas neurológicos ou

    patológicos.

    Kiguel (1991, p. 2 apud BOSSA, 2011, p.77) nos explica que “tal

    concepção organicista e linear apresentava uma conotação nitidamente

    patologizante, uma vez que todo indivíduo com dificuldades na escola era

    considerado portador de disfunções psiconeurológicas, mentais e

    psicológicas”.

    Scoz (2005) fala que esse conceito organicista permitiu uma aceitação

    da criança pelo professor e sua família, pois tendo problemas neurológicos ela

    não poderia ser responsabilizada pelo próprio fracasso. A autora acrescenta

    ainda que tal situação desmotivou educadores a investirem na sua

    aprendizagem. “E nos consultórios psicopedagógicos o atendimento o reforçou

  • 15

    e explicação organicista com uma postura medicalizadora vigente na época”.

    (SCOZ, idem, p.24).

    De acordo com Bossa (2000, p.9).

    Essa crença perdurou até fins da década de setenta e norteou os procedimentos psicopedagógicos imprimindo na avaliação o caráter de medida das faltas, ou seja, a avaliação como identificação dos déficits, orientando um plano de intervenção com vista suprir tais deficiências.

    Essas concepções medicamentosas de tratamento de caráter clínico ao

    longo dos anos não possibilitaram avanços para amenizar os problemas de

    aprendizagem. Rubinstein (2010, p. 127) ressalta “que o que estava em

    evidência era o tratamento das dificuldades, pouca preocupação havia sobre

    sua origem não levando em conta a história do aprendiz”.

    Bossa (2011) novamente nos trás ao debate a questão acerca do

    conceito de psicopedagogia definindo-o como um estado de confusão. E logo

    nos remete a seguinte pergunta: o que é o objeto de estudo da

    psicopedagogia? A autora em sua obra cita diversos autores como Weiss,

    Rubinstein, Scoz e Kiguel, que ambos, de forma consensual nos respondem

    que o principal objeto de estudo da psicopedagogia é o processo de

    aprendizagem humana. Ressalta ainda que “o tema da aprendizagem ocupa-

    os e preocupa-os, sendo os problemas desse processo (de aprendizagem) a

    causa e a razão da Psicopedagogia”. Assim Bossa (idem, p. 33) nos explica

    que:

    Como se preocupa com o problema de aprendizagem. Portanto, vemos que a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las e preveni-las.

    Segundo Rubinstein (2010) a psicopedagogia foi buscar diálogo com as

    diferentes áreas do conhecimento como: psicologia cognitiva, psicanálise,

    antropologia, sociologia, linguística entre outras. Esta interação possibilitou

    investigar e entender as dificuldades de aprendizagem não baseado nas

    concepções neurológica e patológica, mas nos diversos fatores que podem

    interferir no processo de aprendizagem.

  • 16

    (...) compreender através da iluminação das diferentes áreas do conhecimento os aspectos envolvidos, pois a psicopatologia, a didática e a pedagogia são insuficientes para entender o fenômeno. Faz-se necessária a participação de conhecimentos advindos das áreas anteriormente mencionados para fazer a leitura da problemática em questão. (RUBINSTEIN, idem, p.128).

    Para Bossa (2005) de fato, a psicopedagogia vai além da aplicação da

    Psicologia à Pedagogia, pois não pode ser vista sem um caráter

    interdisciplinar, que implica a dependência e contribuição teórica e prática de

    outras áreas de estudo para se constituir como tal. Assim, “os psicopedagogos

    têm construído seu corpo teórico na articulação da psicanálise e psicologia

    genética. E a clínica tem se constituído em eficiente laboratório da teoria”.

    (BOSSA, idem, p. 8).

    2.2 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

    Segundo Bossa (2011) no Brasil, por muitos anos acreditava-se que as

    causas dos problemas de aprendizagem eram atribuídas por fatores

    orgânicos.

    No início da década de 80 começa a se configurar uma teoria sócio-

    política a respeito do fracasso escolar e o “problema de aprendizagem escolar”

    passa a ser concebido como “problema de ensinagem”. (BOSSA, 2005, p.49).

    Sendo assim a prática da psicopedagogia surgiu da necessidade de contribuir

    na questão do fracasso escolar apresentando um caráter reeducativo,

    assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico.

    Bossa (2011) cita em sua obra os trabalhos e as pesquisas acerca do

    fracasso escolar realizadas por Collares, Patto e Brandão, onde constataram

    que suas causas são atribuídas somente aos fatores extraescolares,

    desconsiderando a contribuição dos fatores intraescolares (a escola, currículo,

    metodologia, práticas pedagógicas etc.), assim eximindo a instituição de sua

    responsabilidade escolar do aluno.

  • 17

    Foram justamente dentro deste contexto que surgiram no Brasil os

    primeiros cursos de especialização em Psicopedagogia para auxiliar psicólogos

    e educadores na sua formação, ambos buscavam soluções para os problemas

    de aprendizagem.

    De acordo com Bossa (2011, p.55) “o movimento da psicopedagogia no

    Brasil remete ao seu histórico na Argentina”. Há diversos trabalhos de autores

    argentinos na literatura brasileira que muito têm influenciado a nossa prática,

    pois esses profissionais constituem os primeiros esforços no sentido de

    sistematizar um corpo teórico próprio da psicopedagogia como: Sara Paín,

    Jorge Visca, Alícia Fernandez e outros.

    A autora nos explica que antes mesmo das instituições oferecerem

    cursos de formação em Psicopedagogia, eram realizados grupos de estudos

    com profissionais que atuavam com a problemática de aprendizagem.

    Em seguida, a mesma nos diz que na Argentina já havia um estágio

    mais avançado de estudos nessa área pelo professor e médico Julio Bernaldo

    de Quirós que se dedicou aos estudos de leitura e escrita durante anos e

    pesquisas em escolas argentinas publicando já na década de 50 e 60 essas

    experiências. E nos anos70 difundindo-os em conferências pelo Brasil.

    Bossa (2011) ressalta que no Brasil em Porto Alegre, vários

    profissionais realizam centros de estudos destinados à formação e à

    atualização em Psicopedagogia no modelo dos cursos do Centro Médico de

    Pesquisas de Buenos Aires, sendo entre eles o professor Nilo Fichtner que

    fundou o Centro de Estudos Médicos e Psicopedagógicos na capital gaúcha.

    Para constituir a retrospectiva histórica da Psicopedagogia no Brasil,

    Bossa (2011) contou também com as contribuições da psicopedagoga e

    professora da Faculdade do Rio Grande do Sul, Sonia Moojem Kiguel que nos

    forneceu dados a esse respeito a seguir:

    • No ano de 1954, no Rio Grande do Sul surge o primeiro registro

    de um curso de orientação psicopedagógica patrocinado pelo

    Centro de pesquisas e Orientação Educacional (CPOE) da

    Secretaria de Educação e Cultura que foi coordenado por Aracy

    Tabajara e Dorothy Fossati.

  • 18

    • Em 1967, é desenvolvido um curso com dois anos de duração

    para professores especializados no atendimento

    psicopedagógico das clínicas de leitura. O curso com meio ano

    de estágio foi supervisionado pelo Dr. Julio Bernaldino de Quirós.

    • A partir de 1970 iniciam cursos de formação de especialistas em

    psicopedagogia na Clínica Médica-Pedagógica de Porto Alegre,

    com duração de dois anos.

    • O terceiro destes cursos foi desenvolvido na FACED em nível de

    especialização, com um total de 1.530 horas, que oportunizou

    duas especializações: área das Deficiências específicas da

    Aprendizagem e Áreas dos Excepcionais (deficiência mental,

    auditiva e visual).

    • Durante o desenvolvimento desses cursos foram encontradas

    diversas dificuldades como a falta de estrutura em termos de

    estágios e a falta de pessoal especializado e com experiência,

    vinculado à UFRGS, porém não houve uma interrupção no

    processo de formação profissional em Psicopedagogia

    Terapêutica sendo desenvolvidos em caráter particular.

    • A PUCRS realizou cursos de especialização relacionados à área:

    Curso de Reeducação em Linguagem (1979/80) e Curso de

    Psicoeducação (1982/83).

    • Em 1972 a mesma universidade mantém a área de concentração

    em Aconselhamento Psicopedagógico, dentro do seu curso de

    pós-graduação em Educação, nas áreas de especialização e/ou

    mestrado.

    Segundo Bossa (2011) o 1°Encontro de Psicopedagogos, em São Paulo

    foi um marco decisivo na história da psicopedagogia no Brasil no ano de 1948,

    onde foram apresentados os trabalhos de Clarissa Golbert e Sonia Moojen

    Kiguel. Tal evento repercutiu grande sucesso que a partir daí o Grupo Livre de

  • 19

    Estudos em Psicopedagogia (como era chamado) passaram a se reunirem

    mensalmente no período de 1984 e 85. Em seguida foi amadurecida a ideia de

    o grupo ser transformado em Associação de Psicopedagogos. Neste mesmo

    ano ocorreu o 1° Seminário de Estudos em Psicopedagogia e ao final deste

    encontro foi criado o primeiro capítulo gaúcho da Associação Brasileira de

    Psicopedagogia.

    Bossa (2011) também destaca a importância do trabalho da professora

    e coordenadora da PUC/SP Genny Golubi de Moraes pela sua contribuição na

    compreensão e no tratamento dos problemas de aprendizagem, pela formação

    de um número considerável de profissionais da psicopedagogia que

    atualmente desenvolvem importantes trabalhos na área onde sempre priorizou

    o trabalho preventivo para que menos crianças cheguem à clínica com

    problemas de aprendizagem.

    Em seguida Bossa (2011) complementa que no ano de 1979, em São

    Paulo no Instituto Sedes Sapientiae é criado o primeiro curso regular de

    psicopedagogia pela pedagoga e psicodramatista Maria Alice Vassimon e pela

    diretora do Instituto Madre Cristina Sodré Dória. Segundo Scoz e Mendes

    (1987, apud BOSSA, 2011, p.85) explicam que:

    Maria Alice Vassimon, preocupada com a perspectiva de um homem global, percebido a partir de referências intelectuais, afetivas e corporais, questionando o mito da psicologia na época e com grande vontade de retomar a educação como área de conhecimento mais atuante, faz uma proposta para que o Instituto Sede Sapientiae, até então literalmente ocupado por psicólogos e psicanalistas, abrisse o seu espaço para um curso que valorizasse a ação do educador.

    Bossa (2011) acrescenta ainda, que inicialmente a maioria dos

    profissionais que procuravam fazer o curso tinha interesse para atuação no

    nível clínico. Logo depois com a aquisição dos novos conhecimentos das áreas

    de Linguística, Psicolinguística e Teorias do Desenvolvimento bem como as

    contribuições de Emilia Ferreiro, houve uma mudança, pois “os problemas de

    aprendizagem são ressignificados e os próprios cursos passam a ter outro

    direcionamento”. Sendo assim, dando início a uma linha de trabalho em nível

    preventivo. (BOSSA, idem, p. 86).

  • 20

    A autora nos assinala que o presente curso passou por fases diferentes,

    sendo o primeiro numa perspectiva da Reeducação em Psicopedagogia (e

    mesmo com a preocupação às questões preventivas o curso inicialmente era

    caracterizado como escola de reeducação). Em seguida o curso passa a ter

    um caráter mais terapêutico, no qual, no âmbito clínico, aprofundando-se nos

    aspectos afetivos da aprendizagem. Com essas mudanças passa-se a refletir e

    praticar a Psicopedagogia na instituição escolar.

    Vimos que historicamente a Psicopedagogia foi inicialmente reconhecida

    pela intervenção clínica. Atualmente, há uma ação maior do psicopedagogo

    nas instituições escolares com uma perspectiva preventiva. Assim os cursos de

    especialização em Psicopedagogia (latu sensu) passaram a ser oferecidos em

    diversas faculdades (estatais e privadas) e em vários estados do Brasil.

    Bossa (2011) nos lembra de que ao fazermos uma breve trajetória da

    Psicopedagogia no Brasil, é relevante falarmos da Associação Brasileira de

    Psicopedagogia (ABPp) um órgão de classe e de referencia nacional para os

    psicopedagogos que visava como objetivo inicial tornar conhecido o campo de

    atuação profissional do psicopedagogo, que ainda não é totalmente definido.

    Atualmente a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp)

    prossegue na luta pela regulamentação da profissão, por meio da aprovação

    do projeto de Lei n.° 3.124/97. Apesar do psicopedagogo ainda não ser uma

    categoria reconhecida legalmente, a entidade tem sido responsável pela

    organização de eventos (encontros e congressos) e por publicações onde os

    temas retratam as preocupações e as tendências na área.

    1.2 O CAMPO DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

    O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas também, e em especial, ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, ao lugar deste campo de atividade e ao modo de abordar o seu objeto de estudo. (BOSSA, 2011, p.47)

    Segundo Bossa (2011) o trabalho psicopedagógico pode ser clínico ou

    preventivo, porém é também teórico na medida da necessidade de refletir

    sobre a práxis. A autora explica ainda que no seu campo de atuação é

  • 21

    necessário que o psicopedagogo aborde o seu objeto de estudo de acordo

    com a modalidade (clínica ou preventiva), pois cada uma delas possuem

    tarefas especificas.

    Antes de compreendermos a diferenciação dessas modalidades e sua

    atuação, Porto (2011, p.109) nos explica que:

    Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de aprender. [...] O profissional deve tomar ciência do problema de aprendizagem e interpretá-lo para a devida intervenção.

    Sendo assim o trabalho psicopedagógico na área preventiva

    (institucional) é de orientação no processo ensino-aprendizagem que tem como

    objetivo de levar o indivíduo a apropriação do conhecimento.

    Bossa (2011) nos explica que há três diferentes níveis de prevenção: No

    primeiro o psicopedagogo atua nos processos educativos com objetivo de

    diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem. O segundo diminuir e

    cuidar dos problemas já instalados e criar um plano de diagnóstico da

    instituição. Já o terceiro eliminar os transtornos também instalados através do

    procedimento clínico.

    Na área preventiva cabe ao trabalho psicopedagógico: a) detectar

    possíveis perturbações no processo de aprendizagem; b))participar da

    dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos

    de integração e troca; c) promover orientações metodológicas de acordo com

    as características dos indivíduos; d) realizar processos de orientação

    educacional, vocacional e ocupacional. Essas atividades podem ser tanto na

    forma individual quanto em grupos, na área da saúde mental e da educação.

    Segundo Bossa (2011) na psicopedagogia clínica (mais voltada para a

    terapêutica) tem como objetivo compreender de forma global e integrada os

    processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos

    que interferem na aprendizagem, para favorecer o resgate do prazer de

    aprender na sua totalidade, estando presente nesse processo: pais,

    professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam

    no universo educacional do aluno.

  • 22

    “O trabalho clínico acontece em consultórios ou em hospitais, o

    psicopedagogo busca não só compreender o porquê de o sujeito não

    aprender, mas também o que ele pode aprender e como.” (BOSSA, idem, p.

    150).

    A autora também nos informa que no tratamento clínico com o aluno, o

    psicopedagogo realiza uma investigação cuidadosa que permite levantar uma

    série de hipóteses indicadoras das estratégias capazes de possibilitar a

    situação terapêutica, que indique um caminho satisfatório para uma

    aprendizagem efetiva.

    Na instituição escolar, Porto (2011) acrescenta que o trabalho

    psicopedagógico se desenvolve de duas formas: os alunos com dificuldades

    de aprendizagem o psicopedagogo terá como função reintegrar e adaptar o

    aluno com intuito de desenvolver suas funções cognitivas relacionadas ao

    afetivo desbloqueando e canalizando gradualmente para a aprendizagem dos

    conceitos de acordo com os objetivos da aprendizagem formal. Na segunda,

    ocorre um trabalho de assessoramento com toda a equipe técnica pedagógica

    da instituição.

    Além das escolas e consultórios, a psicopedagogia vem avançando sua

    atuação em outras instituições como hospitais e empresas. Na área da saúde

    o trabalho é realizado em consultórios privados ou hospitais com o intuito de

    identificar e atender às alterações da aprendizagem sistemática ou

    assistemática, de natureza patológica.

    Há também proposta de sua atuação nas empresas sua intenção seria

    favorecer a aprendizagem do sujeito para uma nova função, incentivando-o

    para um desenvolvimento mais efetivo de suas atividades.

    Através desse breve histórico sobre a psicopedagogia no Brasil, vimos a

    trajetória de seus esforços e preocupações em procurar não somente sanar e

    prevenir dificuldades no aprender, mas principalmente nos possibilitar a

    refletirmos e compreendermos os problemas de aprendizagem que se

    encontra em nosso sistema educacional.

  • 23

    CAPÍTULO 2

    A EDUCAÇÃO INFANTIL

    2.1 O QUE SE ENTENDE POR EDUCAÇÃO INFANTIL

    Para falarmos de educação infantil, precisamos compreender que as

    concepções de infância e seus direitos foram se modificando por conta das

    transformações econômicas, políticas, sociais e culturais na sociedade.

    Segundo Bujes (2001, p.13) “durante muito tempo, a educação da

    criança foi considerada uma responsabilidade das famílias ou do grupo social

    ao qual pertencia”. Ou seja, não havia nenhuma instituição que pudesse dividir

    essa responsabilidade, como temos hoje na Constituição Federal de 1988, que

    em relação às políticas de atenção à infância, inaugurou um novo momento na

    história da legislação infantil ao reconhecer a criança como cidadã.

    Ao contemplar o direito das crianças pequenas à educação a

    Constituição Federal de 1988 estabeleceu como dever do Estado, a garantia

    do atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos. Dessa

    forma, nomeia formas concretas de garantir, não só amparo, mas

    principalmente a educação das crianças. Com isso, as creches começaram a

    fazer parte das políticas públicas enquanto instituições educativas.

    Contudo, Bujes (2001) nos diz que o reconhecimento da criança como

    cidadão de direito em desenvolvimento nem sempre foi assim e que isso, só foi

    possível porque também se modificaram na sociedade as maneiras de se

    pensar o que é ser criança. Por isso, falar da infância na sociedade

    contemporânea nos remete inicialmente a compreensão dos diferentes

    significados que a criança recebeu no decorrer da história da humanidade.

  • 24

    Segundo Ariès (1981) na sociedade medieval, a criança era considerada

    um adulto em miniatura, que executava as mesmas atividades dos mais

    velhos, tinha a mesma forma de se vestir, possuía baixa expectativa de vida

    por conta das precárias formas de vida e participavam de reuniões e festas

    onde tudo eram discutido e tratado na frente da criança.

    Nesta época não existia a consciência das características e diferenças

    entre adultos e crianças, os adultos se relacionavam com as crianças sem

    nenhum tipo de descriminações. O autor relata em sua obra que neste período

    eram altos os índices de mortalidade e práticas de infanticídio, e não existia o

    sentimento de amor materno, pois a família era social e não sentimental, onde

    a mortalidade infantil era algo aceito com bastante naturalidade.

    Em seguida Ariès (1981) nos diz que no século XVII houve mudanças

    em relação ao cuidado com a criança por parte da Igreja e do poder público de

    não aceitar passivamente o infanticídio, “... como se a consciência comum só

    então descobrisse que a alma da criança também era imortal. É certo que essa

    importância dada à personalidade da criança se ligava a uma cristianização

    mais profunda dos costumes...” (idem, p. 61).

    Isso fez com que surgissem medidas para salvar a criança melhorando

    as condições de higiene e a preocupação dos pais no zelo da sua saúde

    passando então a ser cuidada e educada pela família.

    Diante dessas circunstâncias inicia-se um olhar diferenciado sobre a

    concepção de criança. Ariès (1981) destaca duas concepções de infância

    desse período: o da criança ingênua e inocente, que ele traduz como o

    sentimento de “paparicação” da criança por parte dos adultos, enquanto a

    outra, a criança era considerada imperfeita e incompleta tendo a necessidade

    do adulto moralizar a criança.

    Embora esses dois sentimentos de infância tivessem origens diferentes

    um provindo da família e outro do meio eclesiástico e intelectual, observamos

    que a criança perde seu anonimato e assume um papel central no meio

    familiar.

  • 25

    Logo surgem as primeiras propostas de educação e moralização infantil

    que passa a ser designada aos colégios que propõe separá-la do adulto para

    educá-la nos costumes e na disciplina, dentro de uma visão mais racional.

    Para Bujes (2001) a instituição de educação infantil esteve de certa

    forma ligada ao nascimento da escola e do pensamento pedagógico moderno,

    entre os séculos XVI e XVII, segundo a mesma esta organização ocorreu por

    conta de um conjunto de possibilidades como, por exemplo:

    (...) a sociedade na Europa mudou muito com a descoberta de novas terras, com o surgimento de novos mercados e com o desenvolvimento cientifico (...). É preciso lembrar que, com a implantação da sociedade industrial passaram a ser feitas novas exigências educativas para dar conta das novas ocupações no mundo do trabalho. (idem, p. 14).

    A autora sinaliza outro fator importante para a nova maneira de encarar

    a infância foi a organização de espaços especialmente para educar as crianças

    e o interesse de especialistas de discutir suas características e a importância

    deste momento na vida do sujeito.

    Enfatiza ainda, que muitas teorias surgiram neste período para

    descrever as crianças e sua natureza moral, suas intenções boas ou más e

    defendiam ideias de oferecer educação como uma forma de proteger a criança

    das influências negativas do seu meio e preserva-lhe a inocência, afastá-la da

    ameaça, da exploração etc.

    Bujes (2001) acrescenta que creches e pré-escolas têm o seu

    aparecimento não somente depois do surgimento das escolas, mas

    principalmente com o trabalho materno fora do lar e incorporação das

    mulheres à força de trabalho assalariado, na organização das famílias e, num

    novo papel da mulher na sociedade.

    Diante disso, o atendimento da criança de zero a seis anos intensificou-

    se com a LDB – 1996, onde o Ministério da Educação e do Desporto propôs

    um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação

    Infantil, que tem como objetivo servir de referência para a elaboração dos

    currículos e a definição dos conteúdos básicos para Creches e Pré-escolas,

    além de oferecer subsídios para o trabalho do professor.

  • 26

    Através deste percurso, podemos compreender que a criação de

    creches e pré-escolas surgiu a partir de mudanças econômicas, políticas e

    sociais que ocorreram na sociedade. Isso nos permitiu identificar que cada

    época tem uma forma própria de considerar o que é ser criança.

    Nos dias de hoje, a criança passou a ter importância como nunca havia

    ocorrido antes, pois ela passou a ser descrita e estudada por muitos

    estudiosos e pesquisadores passando a ser considerada como cidadão de

    direito em desenvolvimento e de sujeito histórico cultural, pois ela não só

    participa desta transformação, mas também é transformada pelas experiências

    que vivem no mundo.

    2.2 A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. (DAVIS & OLIVEIRA, 1994, p. 20).

    De acordo com as autoras, desde o nascimento a criança aprende

    através das interações com o outro aonde ela gradativamente vai ampliando

    suas formas de lidar com o mundo, construindo significados para suas ações e

    para as experiências que vivem.

    É através da linguagem que esses significados ganham uma proporção

    maior surgindo em seguida o conceito. Além disso, a linguagem “irá integrar-se

    ao pensamento, formando uma importante base sobre a qual se desenvolverá

    o funcionamento intelectual”. (DAVIS & OLIVEIRA, 1994, p. 21).

    A educação infantil é uma fase essencial da aprendizagem, por isso

    creches e pré-escolas são locais onde a vida coletiva favorece as interações

    em grupo porque recebem influências das condições socioculturais que são

    importantes no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

    Porém Davis & Oliveira (1994, p. 23) ressaltar que “muito antes de entrar na

    escola, a criança já vem desenvolvendo hipóteses e construindo um

    conhecimento sobre o mundo.” Ou seja, a criança já traz consigo experiências

    do cotidiano vividas com a família amigos etc. A diferença é que ela aprende

  • 27

    na instituição educativa de maneira sistemática, fora dela de forma

    espontânea.

    Ao longo dos anos muitos teóricos realizaram pesquisas a respeito da

    aprendizagem e do desenvolvimento humano, entre eles podemos citar Piaget,

    Vygotsky e Wallon ambos “concluíram que a capacidade de aprender e de

    conhecer se constrói a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio.”

    (FELIPE, 2001, p.27). E que o desenvolvimento humano vive em um processo

    de crescimento e mudança nos seus diferentes níveis de desenvolvimento

    (físico, cognitivo, afetivo-emocional e motor).

    Ao compreendermos essa concepção interacionista de que o organismo

    e meio exercem ação recíproca, um influenciando o outro e que essas

    interações acarreta mudanças sobre o indivíduo. Foram tais concepções que

    nos trouxe a luz sobre uma nova compreensão do desenvolvimento infantil,

    possibilitando ações dentro do espaço das instituições de educação infantil

    como creches e pré-escolas.

    Felipe (2001) nos diz que Piaget tinha preocupação em descobrir como

    se estruturava o conhecimento, acreditando que se estudasse cuidadosamente

    e profundamente a forma como as crianças constroem as noções

    fundamentais de conhecimento lógico poderia compreender a gênese e a

    evolução do conhecimento. Logo concebeu que a criança possui uma lógica de

    funcionamento mental que difere qualitativamente da lógica do funcionamento

    mental do adulto.

    Segundo Davis & Oliveira (1994) Piaget, em sua investigação partiu de

    uma concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de

    trocas entre o organismo e o meio ambiente. Para Piaget o alicerce de sua

    teoria é a noção de equilíbrio. Ou seja, o desenvolvimento cognitivo do

    indivíduo ocorre através de constantes desequilíbrios e equilibrações. Como

    explica as autoras:

    Para este autor, todo organismo vivo- quer que seja uma ameba, um animal, uma criança procura manter um estado de equilíbrio ou de adaptação com seu meio, agindo de forma a superar perturbações na relação que se estabelece com o meio. O processo dinâmico e constante do organismo busca um novo e superior estado de equilíbrio é denominado processo de equilibração majorante. (idem, p.38)

  • 28

    Davis & Oliveira (1994) acrescentam que para alcançar um novo estado

    de equilíbrio dois mecanismos são acionados, o primeiro chamado

    assimilação: transforma o objeto de conhecimento de acordo com o que temos

    construído e segundo a acomodação: que significa adaptar-se ao objeto de

    conhecimento através do sujeito. Sendo assim, o sujeito se transforma para

    acomodar o objeto.

    Piaget definiu o desenvolvimento humano como sendo um processo de

    equilibrações sucessivas. Entre tanto esse processo, embora contínuo, é

    caracterizado por diversas fases, etapas ou períodos descritos abaixo por

    Davis & Oliveira (1994 p. 39- 46):

    Período Sensório-Motor (0 a 2 anos) a criança baseia-se

    exclusivamente em percepções sensoriais e em esquemas motores para

    resolver seus problemas, que são essencialmente práticos: bater numa caixa,

    pegar um objeto, jogar uma bola e etç.

    Período Pré-Operatório (2 a 7 anos) é marcado, em especial pelo

    aparecimento da linguagem oral por volta dos dois anos. Ela permitirá a

    criança dispor além da inteligência prática construída na fase anterior, da

    possibilidade de ter esquemas de ação interiorizados, chamados de esquemas

    representativos ou simbólicos.

    Período das Operações Concretas (7 a 11 ou 12 anos) nesta fase as

    características da inteligência infantil, a forma como a criança lida com o

    mundo e o conhece, demonstram que ela se encontra numa nova etapa de

    desenvolvimento cognitivo: o desenvolvimento lógico, objetivo adquire

    preponderância, o pensamento se torna menos egocêntrico, é capaz de

    construir um conhecimento mais compatível com o mundo que a redeia, o real

    e o fantástico não mais se misturarão em sua concepção.

    Período das Operações Formais (11-12 anos em adiante) a principal

    característica desta etapa reside o fato de que o pensamento se torna livre das

    limitações da realidade concreta, ou seja, a criança neste nível consegue se

    torna capaz de raciocinar logicamente mesmo se o conteúdo do seu raciocínio

  • 29

    for falso, criatividade para trabalhar com hipóteses impossíveis ou irreais -

    raciocínio hipotético.

    Davis & Oliveira (1994) nos sinalizam um fator importante as faixas-

    etárias previstas para cada fase não são rigidamente demarcadas, pois

    referem somente às medidas de idade onde ocorrem determinadas

    construções de pensamento.

    Ao falarmos das concepções de Wallon sobre o desenvolvimento

    infantil, Felipe (2001) diz que o médico Frances propôs o estudo integrado do

    desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da

    motricidade e da inteligência. “Para ele o desenvolvimento da inteligência

    depende das experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que

    o sujeito faz delas”. (idem p.28).

    Sendo assim, os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a

    linguagem, bem como os conhecimentos presentes na cultura contribuem

    efetivamente para formar o contexto de desenvolvimento infantil. Para Wallon,

    as emoções é principal mediador no processo de aprendizagem e têm papel

    importante no desenvolvimento da criança. É por meio delas que o aluno

    exterioriza seus desejos e suas vontades.

    Outro tipo de interacionismo é proposto por Vygotsky que “defende a

    ideia de interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica de

    comportamento humano”. (DAVIS & OLIVEIRA, 1994. p.49).

    Para este autor funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o individuo e o mundo exterior. Tais relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, no qual a cultura desempenha um papel fundamental, fornecendo ao individuo os sistemas simbólicos de representação da realidade. (FELIPE, 2001, p.29)

    Segundo Felipe (2001) para Vygotsky a cultura e a linguagem nas

    interações sociais desempenha um papel importante na organização do

    pensamento complexo e abstrato individual. Ou seja, para ele a criança

    inicialmente usa a fala socializada para se comunicar, e somente depois é que

    ela passará a usá-la como instrumento de pensamento, com a função de

    adaptação social.

  • 30

    Em seus estudos, “Vygostky observa que a criança apresenta em seu

    processo de desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro

    potencial ou proximal”. (FELIPE, 2001, p. 29).

    Para ele a zona de desenvolvimento real diz respeito a etapas já

    alcançadas pela criança como, por exemplo, coisas que ela já consegue fazer

    sozinha, sem a ajuda de outras pessoas. No nível de desenvolvimento

    potencial visa realizar tarefas com a ajuda de outros, pois há atividades que a

    criança não é capaz de realizar sozinha, mas poderá fazer se outro explicar e

    demonstrar como fazer. Sendo assim, Felipe (2001, p.29) conclui que “a zona

    de desenvolvimento proximal ou potencial consiste na distancia entre o nível

    de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.”.

    Diante desse processo o professor tem papel fundamental e consiste

    em intervir e mediar na zona de desenvolvimento proximal ou potencial dos

    alunos provocando avanços que não aconteceriam espontaneamente.

    Vygotsky também dá ênfase a importância do brinquedo e da

    brincadeira do faz de conta para o desenvolvimento infantil.“O simbolismo

    representa um passo importante para o desenvolvimento do pensamento pois

    faz com que a criança se desvincule das situações concretas e imediatas

    sendo capaz de abstrair”. (FELIPE, 2001, p. 30).

    A importância de se estudar os períodos de desenvolvimento da criança

    e as diferentes concepções de aprendizagem desses autores consistem no

    fato de que, a compreensão destas é de suma importância para que os

    profissionais da educação promovam para as crianças pelas suas práticas,

    experiências diversas e enriquecedoras para que possam desenvolver suas

    capacidades resultando um ensino efetivo e de qualidade.

    2.3 O BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

    Segundo Maluf (2009, p.18) “brincar é uma necessidade tanto da

    criança quanto do adulto”. Assim, o brincar faz parte da vida do ser humano,

  • 31

    pois é uma das maneiras mais comuns do comportamento humano, sem

    contar que o brincar é natural na vida das crianças.

    Muitos estudos e pesquisas foram feitas a respeito da importância do

    brincar para o desenvolvimento e a aprendizagem e concluíram que as

    brincadeiras possibilitam o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da

    criança.

    "Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. (...) Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem, também, algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.”(RCNEI,1998,p.22).

    Para Dornelles (2001, p. 104) desde muito cedo se brinca, os bebes

    começam a conhecer o mundo através das pessoas e objetos que estão a sua

    volta e como estes interagem com ele. “É pelo jogo e pelo brinquedo que a

    criança vai constituindo-se como sujeito e organizando-se.”

    Através do brincar a criança conhece o mundo, pois favorece a

    formação social. “A maneira como a criança brinca e desenha reflete de

    maneira implícita na forma como esta lida com a realidade.” (OLIVEIRA, 2011,

    p.23).

    “Brincar é muito importante, pois enquanto estimula o desenvolvimento

    intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos

    necessários ao seu crescimento” (BETTELHEIM apud MALUF, 2009, p. 19).

    Conforme a criança vai crescendo a brincadeira passa a ter uma

    característica mais socializadora com um interesse mais comum de seus

    pares. As crianças absorvem todas as possibilidades de aprender: como o lidar

    com o mundo, partilhar brinquedos, dividir tarefas e tudo aquilo que implica

    uma vida coletiva.

    Para Maluf (2009) é no espaço das creches e pré-escolas que as

    crianças precisam ter condições de participarem de atividades lúdicas. Por isso

    se faz necessário que as crianças tenham oportunidades de vivenciar

    brincadeiras, faz de conta e situações lúdicas.

    Bomtempo (2001, p. 129), afirma que “no comportamento diário das

    crianças, o brincar é algo que se destaca como essencial para seu

  • 32

    desenvolvimento e sua aprendizagem. Dessa forma, se quisermos conhecer

    bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e brincadeiras”.

    Piaget foi citado por Oliveira (2000) em sua obra, que os jogos não são

    apenas para fins de entretenimento, também contribuem para o

    desenvolvimento intelectual, físico e mental dos indivíduos, fazendo com que

    os mesmos assimilem o que percebem da realidade. Afirma também

    que a partir da brincadeira a criança pode demonstrar o nível cognitivo que se

    encontra além de permitir a construção de conhecimentos.

    Da mesma forma a autora também cita que Vygotsky, compreendeu a

    brincadeira (como qualquer outro comportamento humano) como resultado de

    influências sociais que a criança recebe ao longo do tempo.

    Na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança

    e do Adolescente, acrescenta no Capítulo II, Art. 16°, Inciso IV, que toda

    criança tem o direito de brincar, praticar esportes e divertir-se. Este documento

    reconhece a importância do brincar como parte do direito à liberdade. Isto nos

    reflete que brincar não é só um direito da criança, mas um dever por parte de

    todos os cidadãos.

    Acreditamos que brincando a criança aprende conceitos novos, absorve

    informações do mundo externo e interno. Sem contar que quando a infância da

    criança tem seus direitos respeitados ela tem maiores possibilidades de um

    crescimento saudável, tornando-se um adulto equilibrado físico e

    emocionalmente.

    Nesse sentido é primordial que profissionais de creches e pré-escolas

    estejam atentos em atender as necessidades das crianças não só no cuidar e

    educar, mas principalmente na observação e participação do adulto nas

    brincadeiras. Esse envolvimento no universo da criança também faz parte do

    processo de acompanhamento e orientação do desenvolvimento das crianças

    que frequentam creches e pré-escolas.

    Em uma pesquisa realizada por Kishimoto (2001), relatou que

    brinquedos que incentivam o simbolismo e a socialização das crianças são

    poucos explorados pelos educadores. A autora concluiu ainda que para esses

  • 33

    profissionais os brinquedos e materiais pedagógicos são bem mais utilizados,

    pois são considerados por eles como educativo.

    Diante desta pesquisa podemos considerar que o ato de brincar precisa

    fazer parte da formação profissional dos professores, principalmente para

    aqueles que desejam atuar na educação infantil onde o brincar, o faz de conta

    e as brincadeiras fazem parte do cotidiano das crianças pequenas.

    De acordo com Brougère (1997), o brincar exige uma aprendizagem;

    sendo assim o professor terá este papel fundamental de inserir a criança na

    brincadeira, criando espaços, oportunidades e interagindo com ela.

    Que através deste capítulo, cada educador desenvolva e crie atividades

    adequadas aos seus alunos potencializando o desenvolvimento de cada um

    deles compreendendo a importância do brincar para sua aprendizagem.

  • 34

    CAPÍTULO 3

    A PSICOPEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS

    PROFISSIONAIS QUE NELA ATUAM

    3.1 O PAPAEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO O psicopedagogo dentro da instituição escolar tem a função de observar

    e avaliar as necessidades da unidade escolar e atender as suas questões para

    buscar respostas e possibilidades para os problemas de aprendizagem.

    Segundo Porto (2011) o papel do psicopedagogo é analisar e assinalar

    os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em

    uma instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento de projetos favoráveis às

    mudanças educacionais, visando evitar processos que conduzam as

    dificuldades da construção do conhecimento.

    Para Bossa (2011, p. 105) cabe ainda ao psicopedagogo:

    Assessorar a escola, alertando-a para o papel que lhe compete, seja reestruturando a atuação da própria instituição junto a alunos e professores, seja ainda redimensionando o processo de aquisição e incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, seja encaminhando alunos para outros profissionais.

    Bossa (idem, p. 105 -106) nos relata em sua obra, que como assessor o

    psicopedagogo deve promover:

    1. O levantamento, a compreensão e análise das práticas escolares e suas

    relações com a aprendizagem;

  • 35

    2. O apoio psicopedagógico a todos os trabalhos realizados no espaço da

    escola;

    3. A ressignificação da unidade ensino/aprendizagem, a partir das relações

    que o sujeito estabelece entre o objeto de conhecimento e suas

    possibilidades de conhecer, observar e refletir, a partir das informações

    que já possui;

    4. A prevenção de fracassos na aprendizagem e a melhoria da qualidade

    do desempenho escolar.

    A autora acrescenta ainda, que este trabalho de assessoramento pode

    ser desenvolvido em diferentes níveis, propiciando aos educadores

    conhecimentos para:

    1. A reconstrução de seus próprios modelos de aprendizagem, de modo

    que ao se perceberem também como “aprendizes”, revejam seus

    modelos de ensinantes;

    2. A identificação das diferentes etapas do desenvolvimento evolutivo dos

    alunos e a compreensão de sua relação com a aprendizagem;

    3. O diagnóstico do que é possível ser melhorado no próprio ambiente

    escolar e do que presa ser encaminhado para profissionais fora da

    escola;

    4. A percepção de como se processou a evolução dos conhecimentos na

    história da humanidade, para compreender melhor o processo de

    construção de conhecimentos dos alunos;

    5. As intervenções para melhoria da qualidade e do ambiente escolar;

    6. A compreensão da competência técnica e do compromisso político

    presentes em todas as dimensões do sujeito.

    A presença do psicopedagogo no espaço escolar é pertinente, pois é

    justamente neste ambiente que grande parte da aprendizagem acontece,

    principalmente na relação com o professor, com o conteúdo e com o grupo

    social escolar enquanto um todo.

  • 36

    O psicopedagogo também irá promover a discussão dos grupos dentro

    da instituição escolar, levar a reflexão de suas práticas e da dinâmica entre os

    atores que a compõe possibilitando mudanças das dificuldades detectadas e

    dos comportamentos e atitudes presentes.

    Sendo assim, o papel do psicopedagogo é analisar e investigar todos os

    fatores envolvidos; orgânicos, cognitivos, emocionais e ambientais,

    relacionando esses fatores a três vertentes; o indivíduo, a família e a escola.

    3.2 A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA NA CRECHE/PRÉ-ESCOLA O diagnóstico psicopedagógico é utilizado para descobrir as causas dos

    problemas de aprendizagem. O diagnóstico psicopedagógico é em si uma

    intervenção, pois o psicopedagogo tem que interagir com o cliente, a família e

    a escola que são as partes envolvidas na dinâmica do problema.

    Antes de discutirmos esta temática precisamos compreender o conceito

    da palavra intervenção, pois este termo é muito utilizado entre professores e

    psicopedagogos. O dicionário Aurélio nos informa que intervenção significa

    “mediação”, e para o verbo intervir “colocar-se no meio”.

    Para Souza (2010, p. 115) “um dos objetivos da psicopedagogia é a

    intervenção, a fim de “colocar-se no meio”, de fazer a mediação entre a criança

    e seus objetos de conhecimento.”.

    Esses significados nos fazem refletir sobre as diferentes formas de

    mediação que acontece com a criança. “Ou seja, diversas pessoas e

    instituições que se colocam no meio, entre a criança e o mundo físico e social,

    desde o inicio da sua vida.” (SOUZA, 2010, p. 114).

    Além da família, escola e professores são importantes mediadores que

    se responsabilizam em ensinar e aprender conteúdos, desenvolver sua

    inteligência e sua afetividade.

    Numa perspectiva psicopedagógica Scoz (1992, p.3 apud, PORTO

    2011. p.118), nos diz que o psicopedagogo deve atuar como:

    (...) um mediador capaz de integrar e sintetizar as várias áreas do conhecimento junto com a equipe escolar (...). É de fundamental importância instrumentalizar o professor para lidar com essa questão, tornando acessível o conhecimento necessário para o trabalho com as dificuldades de aprendizagem.

  • 37

    Sendo assim a intervenção e avaliação psicopedagógica na primeira

    etapa da educação básica permite observar desde cedo possíveis transtornos

    e patologias da aprendizagem.

    Souza (2010) nos diz que para se planejar uma intervenção

    psicopedagógica é necessário conhecer as características próprias das

    crianças e o pensamento delas.

    A autora cita Piaget concluindo que nos seus estudos com crianças

    pequenas “apontara as diferenças entre o pensamento da criança pequena e o

    do adulto, sugerindo tratamentos diferentes para pensamentos de qualidades

    diferentes”. A autora enfatiza ainda que:

    Este autor apresentara um método de investigação do pensamento infantil, ressaltando a importância de se investigarem as crenças das crianças e sua resistência à interferência do adulto, o que pode ser interessante quando se pensa na escola exercendo uma influencia sobre o desenvolvimento e aprendizagem da criança. (SOUZA, 2010, p. 113).

    Segundo Sisto (2010) a teoria psicogenética de Piaget possibilitou

    instrumentos, para ter noção de como anda a construção do sistema cognitivo

    em termos de estágios, pois assim podem-se encontrar possíveis atrasos no

    processo como um todo.

    Levando-se em conta que se tratando de uma intervenção e avaliação

    psicopedagógica com crianças de creches e pré-escolas (zero a seis anos),

    devemos considerar que nesta faixa etária a criança fornece poucas

    informações (por exemplo, o vocabulário) para se comunicar e expressar o que

    sente e deseja.

    Na Educação Infantil a criança está em contato de maior frequência em

    situações lúdicas, por isso é necessário que o psicopedagogo possa aproveitar

    a utilização do jogo, desenho e brincadeiras como instrumento de avaliação e

    intervenção psicopedagógica. Nesse sentido Oliveira (2011, p. 23) nos diz que:

    A maneira como uma criança brinca ou desenha reflete sua forma de pensar e sentir, nos mostrando, quando temos olhos para ver, como está se organizando frente à realidade, construindo sua historia de vida, conseguindo interagir com as pessoas e situações de modo original, significativo e prazeroso, ou não. A ação da criança ou de qualquer pessoa reflete enfim sua estruturação mental, o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo-emocional.

  • 38

    Na intervenção psicopedagógica o jogo pode ser uma técnica que

    permite a articulação de aspectos objetivos e subjetivos, necessários para que

    a aprendizagem aconteça sem problemas. Para Brenelli (2010, p.140)

    “compreender o lugar do jogo na pedagogia ou na psicopedagogia torna-se

    imprescindível para que este recurso possa ser utilizado adequadamente”.

    Outra possibilidade de intervenção e avaliação psicopedagógica seria a

    criatividade e o desenvolvimento de atividades que possibilitem observar os

    aspectos da inteligência e da projeção da criança.

    Oliveira (2011) orienta que o psicopedagogo precisa estar atento com a

    escolha do material, pois a escolha é feita de acordo com a queixa trazida,

    sendo na maioria das vezes material lúdico que consiste em peças figurativas

    (bonecos. carrinhos, etc.), não figurativas (sucatas, módulos etc.), jogos de

    regras; o material gráfico (lápis de cera e de cor e papel etc.).

    A autora enfatiza que durante todo o processo de avaliação e

    intervenção a escuta, a análise e observação se fazem primordial para que

    ocorra um diagnostico preciso da criança nessa faixa-etária.

    Caso for necessário o psicopedagogo pode também encaminhar a

    criança a um psicólogo a fim de que realize uma avaliação psicológica,

    efetivando um trabalho multidisciplinar.

    3.3 A RELAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COM OS PROFISSIONAIS DE CRECHE/PRÉ-ESCOLA A psicopedagogia na formação continuada dos professores é pertinente

    porque direciona um olhar diferenciado para o aprendente, colaborando para o

    entendimento do significado de aprendizagem para cada aluno respeitando e

    compreendendo que a aprendizagem acontece de diferentes maneiras.

    O psicopedagogo em conjunto com o professor e a equipe escolar

    possibilita a identificação do significado da aprendizagem para cada aluno,

    bem como da sua modalidade de aprendizagem, da etapa operatória do

    pensamento, das suas dificuldades e possibilidades. Isso permite ao professor

    a organização de um planejamento de ensino adequado. Nas palavras de

    Porto (2010, p.118):

  • 39

    Repensar a prática pedagógica em uma dialética constante entre pensamento e ação, à luz da teoria psicopedagógica, traz ao educador a possibilidade da prevenção das dificuldades de aprendizagem, na medida em que viabiliza a construção de uma ação voltada as reais necessidades dos alunos.

    Essa parceria entre o psicopedagogo e professores possibilita uma

    aprendizagem enriquecedora para as crianças. Infelizmente em nossas

    escolas, existem professores oferecendo materiais desatualizados com aulas

    desestimulantes para as crianças motivando o seu desinteresse em aprender,

    não levando em consideração suas diferenças individuais.

    Sabemos que fatores afetivo-emocionais fazem influência na vida do ser

    humano. Alguns fatores são momentâneos, como por exemplo: brigas,

    frustrações contrariedades, conflitos etc. Outros fatores afetivos são mais

    duradouros e estes podem interferir no processo de aprendizagem.

    Por isso, dentro da instituição escolar as relações precisam ser a melhor

    possível para uma aprendizagem efetiva, pois o relacionamento professor-

    aluno também assume um caráter fundamental no processo ensino-

    aprendizagem e este é um fato importante que deve ser constantemente

    avaliado pelo psicopedagogo.

    Olhar psicopedagogicamente o processo de aprendizagem de um grupo de alunos/professores é buscar compreender como eles usam os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. É buscar compreender também a relação do aluno/ professor com o conhecimento, e a qual é permeada pela figura do professor e pela a escola. (SISTO, 2010, p.10).

    Este olhar diferenciado não só permite a motivação e o prazer de

    aprender do aluno, mas principalmente na identificação e prevenção de

    possíveis dificuldades de aprendizagem. Segundo Porto (2011, p.112) “O

    professor deve apostar na capacidade da criança visando mais as suas

    qualidades do que seu fracasso”.

    Para Fernández (1990, p.32) o problema de aprendizagem deve ser

    “diagnosticado, prevenido e curado, a partir dos dois personagens (ensinante e

    aprendente) e no vínculo que se estabelece entre ambos”. Sendo assim é

    necessário que na sala de aula, o trabalho com crianças de creches e pré-

    escola requer uma interação maior entre os sujeitos envolvidos. Neste sentido

  • 40

    o psicopedagogo estimula o desenvolvimento das relações interpessoais, ou

    seja, o estabelecimento de vínculos entre os sujeitos.

    Por isso a presença do psicopedagogo nas creches e pré-escolas, se

    faz necessário juntamente com todos os profissionais envolvidos no processo

    de desenvolvimento da criança, para a realização de um trabalho de

    orientação integração e conscientização desses através de uma postura

    psicopedagógica.

    O psicopedagogo tem condições de trabalhar com as concepções que os professores têm sobre os processos de ensino-aprendizagem, assinalando a multidimensionalidade do problema, a importância de se considerar fatores orgânicos, cognitivos, afetivos/sociais e patológicos, dentre outros. (FINI, 2010, p.69).

    Isto requer principalmente por parte do professor a realização de um

    planejamento que se leve em consideração a afetividade, o lúdico, as

    vivencias, os conhecimentos que a criança trás adotando uma metodologia que

    possibilite a criança ter uma aprendizagem significativa.

    Neste sentido é preciso que o psicopedagogo conduza educadores a

    refletirem suas práticas para que se percebam como um importante mediador

    nos processos de aquisição de conhecimento. Assim ao se utilizar das

    diferentes contribuições que a psicopedagogia trás, o educador certamente

    ampliará a sua ação pedagógica.

    Diante dos assuntos discutimos o psicopedagogo poderá atuar

    preventivamente junto aos educadores das seguintes formas:

    § Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a

    aprendizagem;

    § Trabalhando com a formação continuada dos professores.

    § Na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação

    pedagógica;

    § Atuando junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de

    aprendizagem, apoiado em uma visão holística, levando-o a aprender a

  • 41

    lidar com seu próprio modelo de aprendizagem, considerando que esses

    problemas podem ser derivados:

    § Das suas estruturas cognitivas;

    § De suas questões emocionais;

    § Da sua resistência em lidar com o novo;

    § Ou outra derivação que possa se apresentar.

    Assim sendo, pensar a escola à luz da psicopedagogia nos remete uma

    análise sobre a formação do professor. “Pode-se dizer, por conseguinte, que

    uma das tarefas mais importante na ação psicopedagógica preventiva é

    encontrar novas modalidades para tornar essa formação mais eficiente.”

    (BOSSA, 2011, p.147).

    Para isso se faz necessário que as propostas de formação docente

    ofereçam aos professores condições para que estabeleça uma relação madura

    e saudável com seus alunos, pais e autoridades escolares.

    Diante destas questões, a psicopedagogia tem uma tarefa

    extremamente importante da qual se ocupa: de investigar, analisar e realizar

    novas propostas para uma formação docente. As práticas e os saberes

    pedagógicos e a psicopedagogia devem estar sempre presentes na formação

    de professores, pois podem adquirir oportunidades para se conhecer mais

    sobre como ocorre o desenvolvimento e as dificuldades de aprendizagem da

    criança.

  • 42

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    A elaboração deste estudo possibilitou uma reflexão e ampliação de

    nossos conhecimentos, sobre nossas práticas enquanto educador para

    desenvolvermos uma aprendizagem significativa.

    É neste contexto que percebemos a importância da Psicopedagogia,

    sendo o Psicopedagogo um profissional qualificado, apto a trabalhar na área

    da educação, dando assistência aos alunos e orientando pais, professores e

    outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do

    processo ensino-aprendizagem, assim como para um trabalho preventivo.

    O psicopedagogo trabalha o resgate do desempenho escolar do aluno,

    quando houver comprometimento afetivo, intelectual ou social. Compreende-se

    cada vez mais a necessidade dos educadores desenvolverem suas

    experiências e habilidades para saber lidar com as questões do dia a dia sob

    uma ótica psicopedagógica.·.

    Para isso faz-se necessário que os profissionais da educação infantil se

    dediquem ao estudo das dificuldades de aprendizagem e se empenhe na

    busca de formação especializada para a intervenção apropriada dentro da

    escola e da sala de aula.

    É preciso que os educadores busquem conhecimentos que possam

    subsidiar a sua prática escolar para auxiliar nas formas diferenciadas de

  • 43

    tratamento a serem dadas a cada aluno a cada caso com vista ao sucesso

    pedagógico.

    A psicopedagogia pode contribuir para o aprimoramento da atividade

    docente e também em situações que envolvem um trabalho de qualidade nas

    relações interpessoais.

    Conclui-se que o professor deve adotar o olhar e a escuta

    psicopedagógica como forma de identificar, intervir e prevenir os problemas de

    aprendizagem de modo a entender seu aluno, bem como através do

    diagnóstico encaminhá-lo se preciso a outros profissionais além de realizar um

    trabalho preventivo para que sejam evitadas futuras problemas no processo de

    aprendizagem da criança.

    Nesta perspectiva, a psicopedagogia contribui proporcionando na

    educação infantil mais possibilidades de buscar e reflexão com professores e

    educadores estabelecendo um diálogo para adequar suas práticas e qualificar

    suas ações para atender as necessidades coletivas e individuais das crianças

    onde todos fazem parte deste processo.

  • 44

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    ARIÈS, Philippe. História Social da Infância e da família. Rio de Janeiro: Zahar. 1981. BOMTEMPO, Edda. Brincar, fantasiar, criar e aprender. In: OLIVEIRA, Vera Barros de (Org.). O Brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.p. 127-149. BOSSA, Nádia. Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil. Contribuições a partir da prática. 4° edição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. BRASIL. Constituição Brasileira da República. 1988. Disponível em: http://www6.senado.gov.br/legislacao. Acesso em: 12 Set. de 2012. ______. (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990. _______. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9394, de 20 dezembro de 1996. _______. (1998). Ministerio da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. BRENELLI, Rosely Palermo. Uma proposta Psicopedagogica com jogo de regras. In: SISTO, Firmino Fernandes. (Et al.). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 13° edição p. 140 – 162. BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez Editora, 1997.

    http://www6.senado.gov.br/legislacao

  • 45

    BUJES, Maria Isabel Edelweis. Escola Infantil: pra que te quero? In CRAIDY, Carmen Maria. (Orgs). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre, RS: Artemed, 2001. P.13 – 22. DAVIS, Cláudia. OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994 – 2. Ed. Ver. – (Coleção Magistério. 2° grau. Série formação do professor). DORNELLES, Leni Vieira. Na Escola Infantil Todo Mundo Brinca se Você Brinca: In CRAIDY, Carmen. (Orgs). Educação Infantil: pra quê te quero? Porto Alegre, RS: Artemed, 2001. P 101 – 108. FELIPE, Jane. O desenvolvimento Infantil na perspectiva Sociointeracionista: Piaget, Vygotsky, Wallon. Educação Infantil: pra que te quero? In: CRAIDY, Carmen. (Orgs). Porto Alegre, RS: Artemed, 2001. P 27-37. FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência Aprisionada - Abordagem psicopedagógica clinica da criança e sua família. Trad. Iara Rodrigues, Porto Alegre, Artes Médicas, 1990. FINI, Lucila Diehl Tolaine. Rendimento Escolar e Psicopedagogia. In: SISTO, Firmino, F. (Et al.). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 13° edição p. 64-76. KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 229-245, jul./dez. 2001. Disponível em: . Acesso em: 12. Set.2012. O Jogo Como Recurso de Aprendizagem. Rev. Psicopedagogia 2010; 27(83): 282-7 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v27n83/13.pdf. Acesso em: 10 de Set. 2012. OLIVEIRA, Vera Barros de (Org.). O Brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. OLIVEIRA, Vera Barros de. BOSSA, Nádia Aparecida (Orgs.). Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento. 4° edição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. RUBINSTEIN, Edith. A Especificidade do Diagnóstico. Psicopedagogia na Instituição educativa: a creche e a pré-escola. In: SISTO (Et al.). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 13° edição p. 127 – 139.

    http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v27n83/13.pdf

  • 46

    SISTO, Firmino Fernandes (Et a.l). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 13° edição. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar: o problema escolar e de aprendizagem. , Vozes, 2005. SOUZA, Maria Thereza C.C. de. Intervenção Psicopedagógica: como é e o que planejar? In: SISTO (Et al.). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 13° edição p. 113 – 126.

    AGRADECIMENTOS