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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DESENHO DE MODA: HABILIDADE QUE PODE SER ENSINADA E APRENDIDA LUCÍLIA LEMOS DE ANDRADE Orientador Prof.: Vilson Sergio de Carvalho Divinópolis Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DESENHO DE MODA: HABILIDADE QUE PODE

SER ENSINADA E APRENDIDA

LUCÍLIA LEMOS DE ANDRADE

Orientador

Prof.: Vilson Sergio de Carvalho

Divinópolis

Novembro de 2008

ii

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DESENHO DE MODA: HABILIDADE QUE PODE

SER ENSINADA E APRENDIDA

LUCÍLIA LEMOS DE ANDRADE

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Docência do Ensino Superior.

Divinópolis

Setembro de 2008

iii

AGRADECIMENTOS

Ao professor Vilson Sérgio pela valiosa orientação e pelas palavras de

grande motivação para o desenvolvimento e conclusão deste trabalho.

A todos os adultos que dizem “não saber desenhar” - adultos que se

tornaram fonte de pesquisa em busca de conhecimento no universo do

desenho.

Aos meus pais, por acreditarem que o maior bem é a educação de seus

filhos.

Um agradecimento especial ao meu marido Saulo, cujo amor, paciência

e incentivo foram o alicerce deste trabalho.

Acima de tudo, agradeço a Deus por estar sempre presente, iluminando

e conduzindo meus caminhos.

iv

DEDICATÓRIA

À memória de meu pai, pois todo seu apoio e

incentivo se fazem presente em minha vida

gerando forças na busca por meus ideais.

v

RESUMO

A maioria dos adultos não progride em aptidão artística muito além do

nível de desenvolvimento atingido aos 11 ou 13 anos de idade. O

desenvolvimento da aptidão para o desenho parece deter-se na infância na

maioria das pessoas.

Pessoas adultas, sem muito talento para o desenho, continuam

produzindo desenhos infantis. Alunos iniciantes dos Cursos Superiores de

Design de Moda, ao produzirem seu primeiro desenho, demonstram essa

realidade evocando símbolos infantis, dificultando o aprendizado do desenho

realista de moda.

Através da compreensão da reprodução mental pela prática do desenho

e considerando o conhecimento definido pela trajetória individual de cada ser

humano, busca-se uma solução para que o educador possa se instrumentalizar

em relação à linguagem gráfica do adulto, tornando assim, mais fácil a

aprendizagem do desenho para alunos iniciantes dos Cursos Superiores de

Design de Moda.

Palavras-chave: Simbologia, desenhos, crianças, adultos, moda, ensinar,

aprender.

vi

METODOLOGIA

Local de estudo

A metodologia que norteia este trabalho apóia-se em uma pesquisa

bibliográfica e de campo, por meio de entrevistas, observações e exercícios

práticos realizados em curso livres de desenho, escolas técnicas e de nível

superior em Design de Moda do Município de Divinópolis/MG.

Sujeitos da pesquisa

Partindo de autores que procuram analisar o significado do desenho e

como ele se manifesta em diferentes etapas do desenvolvimento humano,

fizemos um trabalho de pesquisa selecionando pessoas de diferentes faixas

etárias. Analisamos crianças de 1 ano e oito meses à 13 anos, adolescentes de

14 á 19 anos e adultos à partir dos 20 anos, todo inseridos no município de

Divinópolis/MG e que permitissem a obtenção de dados para uma análise da

influência da simbologia artística desenvolvida na infância no aprendizado do

desenho de Moda de alunos iniciantes dos Cursos Superiores de Design de

Moda. Para se fazer a caracterização da influência da simbologia artística

infantil no desenho de adulto, procurou-se delimitar uma amostra cujos

elementos consistiam em crianças e adultos que nunca tivessem feito cursos

específicos de desenho, que levassem uma vida sócio-cultural e

economicamente norma, além de crianças e adultos que já tivessem feito

algum curso de desenho.

vii

Coleta de dados

Os dados foram coletados de campo, por meio de entrevistas,

observações e exercícios práticos desenvolvidos individualmente. Para o

alcance dos objetivos propostos, criamos um critério de avaliação:

§ Caracterizar a transição do desenho através do desenvolvimento

infantil;

§ Analisar o desenho do adolescente através de um desenho realista;

Analisar a influência da simbologia artística infantil no desenho de alunos

iniciantes dos Cursos Superiores de Design de Moda.

viii

SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO ii

AGRADECIMENTOS iii

DEDICATÓRIA iv

RESUMO v

METODOLOGIA vi

2.1. Local de estudo vi

2.2. Sujeitos da pesquisa vi

2.3. Coleta de dados vii

LISTA DE FIGURAS ix

INTRODUÇÃO 01

CAPÍTULO I - A Transição do Desenho através do Desenvolvimento

Infantil 03

CAPÍTULO II - A Influência da Simbologia Artística Infantil na fase

Adulta 10

CAPÍTULO III - O Desenho como Habilidade que pode ser Ensinada

e Aprendida 18

3. CONCLUSÃO. 27

4. BIBLIOGRAFIA . 29

5. WEBGRAFIA 30

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Desenho de alunas iniciantes – Curso Superior de Design de

Moda ....................................................................................... 13

Figura 2 Desenho da figura humana - egípcio...................................... 15

Figura 3 Desenho da figura humana - grego ....................................... 15

Figura 4 Desenho da figura humana - renascimento .......................... 16

Figura 5 Desenho da figura humana - expressionismo........................ 16

Figura 6 Desenho da figura humana - cubismo..................................... 16

Figura 7 Desenho da figura humana - 3D ............................................. 17

Figura 8 Desenho de observação – alunas do Curso Superior de Design

de Moda.................................................................................. 21

Figura 9 Desenho de modelo vivo......................................................... 22

Figura 10 Desenho de mãos ................................................................. 23

Figura 11 Ilustração de Antonio Lopez ................................................... 23

Figura 12 Representação de desenho técnico ....................................... 24

Figura 13 Desenho do croqui de moda .................................................. 25

Figura 14 Ilustração de moda.................................................................. 25

Figura 15 Desenho computadorizado .................................................... 26

1

INTRODUÇÃO

A idéia deste trabalho surgiu ao observar a dificuldade que alunos

adultos iniciantes dos Cursos Superiores de Design de Moda demonstram ao

tentar passar para o papel o que eles têm em mente. Dificuldade que pareceu

estar relacionada à simbologia artística desenvolvida enquanto crianças.

Na maioria das atividades físicas e mentais, as aptidões de uma pessoa

mudam e se desenvolvem à medida que ela atinge a idade adulta, como no

caso da fala e da escrita. O desenho, por ser a primeira manifestação da

escrita humana, continua sendo uma das primeiras formas de expressão

usadas pela criança.

O sistema de símbolos explica em grande parte o motivo pelo qual as

pessoas em idade adulta ou avançada, sem talento para o desenho, continuam

reproduzindo desenhos que faziam quando crianças. Os adultos iniciantes dos

Cursos Superiores de Design de Moda, comumente não vêem o que têm diante

dos olhos, ou seja, não dominam as técnicas de observação que a prática do

desenho exige. Anotam o que têm diante de si e rapidamente traduzem a

percepção em palavras e símbolos, basicamente fundamentados no sistema de

símbolos que desenvolveram na infância e no que sabem acerca do objeto

percebido.

Pessoas adultas, sem muito talento para o desenho, continuam

produzindo desenhos infantis. Alunos iniciantes dos Cursos Superiores de

Design de Moda, ao produzirem seu primeiro desenho, demonstram essa

realidade evocando símbolos infantis, dificultando assim, o aprendizado do

desenho realista de moda.

O desenvolvimento da aptidão para o desenho parece deter-se na

infância na maioria das pessoas. À medida que a criança vai sendo

alfabetizada, a escola se encarrega de afastá-la desta forma de expressão e

2

ela cresce dizendo que não sabe desenhar. Em nossa cultura, a maioria dos

adultos continua desenhando como crianças.

Fundamentado nessa realidade, este trabalho busca compreender como

as imagens visuais do desenho se desenvolveram da infância até a

adolescência, procurando identificar o que impede que um adulto desenhe de

forma madura.

• Através da compreensão da reprodução mental pela prática do

desenho e considerando o conhecimento definido pela trajetória

individual de cada ser humano, busca-se uma solução para que o

educador possa se instrumentalizar em relação à linguagem

gráfica do adulto, tornando assim, mais fácil a aprendizagem do

desenho, para que então, os alunos iniciantes dos Cursos

Superiores de Design de Moda possam ver o Desenho de Moda

como uma habilidade que pode ser ensinada e aprendida.

No primeiro capítulo, foi feita uma síntese das etapas de evolução do

desenho através de pesquisas sobre o desenvolvimento mental da criança até

atingir o bloqueio do desenho na adolescência.

Já no capítulo seguinte, falamos sobre como este bloqueio influencia no

desenho do adulto. Onde o início da adolescência marca o fim do

desenvolvimento artístico em termos de aptidão para o desenho.

No Terceiro e último capítulo discorremos sobre o enfoque de nossa

pesquisa – o desenho como habilidade que pode ser ensinada e aprendida por

alunos iniciantes dos Cursos Superiores de Design de Moda. Percebemos

neste capítulo que o preconceito generalizado de que é preciso ter um dom

especial para desenhar não passa de um mito. Falamos então, sobre o

desenho no curso superior de Design de Moda e sobre alguns tipos de

desenhos a ele relacionados, abordando a importância de se desenvolver a

3

habilidade do desenho para o profissional que deseja atuar como designer na

indústria da moda.

4

CAPÍTULO l

A Transição do Desenho através do Desenvolvimento Infantil

Várias são as abordagens quando se trata de fazer uma análise da

produção gráfica infantil até a fase adulta. Há uma seqüência constante de

comportamentos motores que revelam o nível de desenvolvimento gráfico e a

respectiva sucessão de ganhos na estruturação do pensamento, que devem

ser de conhecimento do professor para fazer do desenho livre um instrumento

eficiente de avaliação da maturidade a leitura e a escrita.

Os primeiros estudos sobre a produção gráfica das crianças datam do

final do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas e

estéticas de então. Desde o início do século, é cada vez maior o número de

autores que têm se preocupado com o tema.

Sully (1895) no seu livro Studies em Childhood inclui um capítulo sobre

o desenho infantil, onde relaciona a produção da criança com a dos povos

primitivos e estabelece três grandes fases que são retomadas posteriormente:

a fase da garatuja1; o desenho primitivo ou esquema; os desenhos mais

elaborados de personagens e animais.

Quando Sully denomina a garatuja, implicitamente ele impõe sua

concepção de forma como representação reconhecível da realidade. A forma

passa a ser reconhecida com o desenho dos primitivos e Sully é o primeiro a

utilizar o termo esquema em relação ao desenho infantil (READ, 1943).

Sully (1895) vê o desenho da criança como uma “arte embrionária” onde

não se deve entrever nenhum senso verdadeiramente artístico, porém, ele

reconhece que a produção da criança contém um lado original e sugestivo.

Sully afirma que as crianças são mais simbolistas do que realistas em seus

desenhos (RIOUX, 1951).

1 Rabiscos desordenados; desprovidos de controle motor.

5

Widlöcher (1998) critica o termo realismo intelectual, dizendo que a

preocupação da criança não é representar as coisas tais quais elas são, mas

figurá-las de maneira identificável.

Em relação à evolução da criança em direção ao realismo visual, Luquet

(1994) afirma que, para não desenhar senão aquilo que se vê, é preciso saber

se livrar de todas as interferências intelectuais e esquecer o que se sabe. A

criança não pode isolar esse ponto de vista. A partir do momento em que Lê o

que faz, graças ao progresso de suas capacidades de atenção e de

concentração, ela renuncia ao sincretismo do realismo intelectual e ingressa,

então, na fase do realismo visual.

Luquet (1927) fala dos “erros” e “imperfeições” do desenho da criança

que atribui a “inabilidade” e “falta de atenção”, além de afirmar que existe uma

tendência natural e voluntária da criança para o realismo.

Como resultado destas primeiras observações e paralelo às pesquisas

sobre o desenvolvimento mental da criança, temos o estabelecimento das

etapas do desenvolvimento do desenho. É interessante observar como estas

etapas ainda se fazem presentes no senso comum, influindo na forma de como

se interpreta o desenho da criança ainda hoje.

Elmer Brown (1897) professor da Escola Normal da Universidade da

Califórnia fez pesquisas com crianças de dois a quatro anos sobre as primeiras

manifestações gráficas e determinou que inicialmente a criança se interessa

pelo movimento; passando em seguida a se interessar pelo produto de seu

gesto; logo a mão passa a obedecer à vontade e o desenho se aproxima mais

e mais da realidade objetiva.

Lukens (1896) estuda os desenhos de uma criança de dois anos e três

meses a cinco anos pelo método biográfico e identifica três momentos,

tomando como parâmetro o interesse da criança pela ação de desenhar. A

criança primeiro se interessa pelo produto do gesto gráfico. Passa pela ação de

6

desenhar e dá livre curso a sua imaginação. Quando o espírito crítico se

exerce, ela constata a insuficiência de sua produção e pára de progredir.

Lukens infere que a criança só ultrapassa esta fase se é dotada para a arte.

A observação deste autor a respeito do espírito crítico da criança em

relação a sua própria produção e a questão do dom artístico é um aspecto

bastante questionável e que ainda hoje geram conflitos e suscitam pesquisas.

A criança não nasce sabendo se movimentar nem falar. Para interagir

ela precisa da presença do outro, de alguém mais experiente, ou de um adulto,

em quem ela possa ter ou sentir apoio. Pode-se inferir que a aprendizagem

cognitiva seria a tentativa da mente humana em compreender o mundo.

“Vygotsky entende que o desenvolvimento é fruto de uma grande influência

das experiências do indivíduo. Mas cada um dá significado particular a essas

vivências. O jeito de cada um aprender o mundo é individual (...), o

desenvolvimento e o aprendizado estão intimamente ligados: nós nos

desenvolvemos se aprendemos”. (PELEGRINI, 2001, p.25).

O desenho em cada etapa da evolução das atitudes intelectuais,

perceptivas e motoras das crianças, representa um compromisso entre suas

intenções narrativas e seus meios. Trata-se, portanto, de um campo de estudos

original da psicologia da criança.

A identificação e a legibilidade da produção são geralmente tributárias

de uma semelhança visual, visão fotográfica com o objeto: a imagem

desenhada aparece como uma transcrição, sobre a folha de papel, das

qualidades sensíveis do objeto; ela reduz o real para melhor o evocar; ela é

uma elaboração original, um agregado de significados, cuja natureza e

estrutura são largamente determinadas pelos processos diversos, de ordem

perceptiva, cognitiva e sócia cultural: processo que, além disso, subentendem e

trabalham a personalidade do desenhista.

7

Luquet (1969) lamenta que a criança natural e voluntariamente busque,

ao se desenvolver, formas de representar a realidade que se aproxima da

perspectiva adulta. Luquet afirma que a fase áurea do desenho infantil é o

realismo intelectual, ou seja, quando a criança desenha o que ela sabe e

conhece do objeto e não o que ela vê.

A qualidade da produção gráfica é legitimada por uma dimensão

normativa e cultura; o desenho da criança é, desde então, descrito em termos

negativos, em termos de ausência, de semelhança e de detalhes. Um exemplo

disso está na maioria das escalas psicométricas, onde a argumentação de

número de detalhes traduz uma melhor leitura (interpretação) do desenho e

aparece como uma mais valiosa ordem intelectual.

“ansiosamente são descarregadas técnicas para a criança aprender a

desenhar. Prática que acaba por inibir qualquer tipo de exploração ou

subversão, tanto em relação ao uso do material quanto à manifestação de

elementos gráficos que expressam um imaginário”. (DERDYK, 2003, p.26)

Para o presente trabalho, optamos por uma classificação mais simples e

global dos autores. Assim sendo, vamos fazer uma síntese de suas teorias,

demonstrando a transição do desenho através do desenvolvimento infantil até

a adolescência:

§ De 1 a 3 anos: é a idade das famosas garatujas: a criança ignora os limites

do papel e mexe todo o corpo para desenhar, avançando os traços pelas

paredes e chão.

§ De 3 a 4 anos: A criança acha que a cabeça é o centro de tudo, e dela

saem os braços e pernas. A mesma forma circular pode representar o pai, a

mãe, o irmão, ou até mesma a própria criança.

§ DE 4 a 5 anos : Nessa idade as crianças fazem seus desenhos para contar

histórias. È a fase onde a mesma figura humana é o símbolo básico.

8

§ De 5 a 6 anos: Nesse período as crianças desenvolvem um conjunto de

símbolos para criar uma paisagem. È nessa idade que adquirem símbolos

básicos. Como exemplo: o sol, casa com chaminé, montanhas, flores,

árvores.

§ De 6 a 7 anos: é a fase onde a criança faz seu desenho de perfil e de frente

ao mesmo tempo: rosto desenhado de perfil, olhos, boca e tronco de frente

e os pés desenhados de perfil.

§ De 7 a 8 anos: Nesta fase, as crianças procuram acrescentar maiores

detalhes aos seus desenhos, esperando conseguir desse modo maior

realismo.

§ De 8 a 9 anos: É nesse período que os desenhos se tornam sexualmente

diferenciados. Meninos desenham carros, piratas, foguetes, cenas de

guerra. Meninas desenham flores, casinhas, bonecas.

§ De 9 a 10 anos: Os desenhos são inspirados nas histórias em quadrinhos e

desenhos animados, e são desenhados bem próximos do desenho real.

§ De 11 a 13 anos: Fase em que o realismo seta em seu ápice. Quando os

desenhos não saem certos, ou seja, quando não parecem realistas, as

crianças desanimam de desenhar. A maioria das crianças entre 9 e 13 anos

de idade demonstram paixão pelo desenho realista. Tornam-se críticas dos

desenhos feitos quando pequenas e passam a desenhar certos temas

favoritos repetidamente numa tentativa de aperfeiçoar a imagem. Quando

não conseguem atingir o realismo perfeito, sentem-se frustradas, e param

de desenhar.

§ Dos 14 aos 21 anos: É o fim da adolescência e o início da juventude. Fase

marcada por transição. O jovem começa a trabalhar e namorar, passando

9

então, a ter menos tempo para o desenho, ou seja, se não desenvolver

seus dons artísticos, desenhará os mesmos símbolos desenvolvidos na

infância.

Quase ninguém percebe que a maioria dos adultos desenha como

crianças e que a maioria das crianças desistem de desenhar aos 11 ou 13 anos

de idade. Ao crescerem essas crianças tornam-se os adultos que dizem que

jamais souberam desenhar.

Apontamos a seguir, alguns motivos que levam as crianças a desistirem

de desenhar:

§ Frustração pela falta de perfeição do próprio desenho (autocrítica).

Por volta dos 11 ou 13 anos, a paixão pelo desenho realista está em

seu ápice. Quando os desenhos não saem certos, ou seja, quando

não parecem realistas, as crianças geralmente desanimam de

desenhar.

§ A crítica feita pelo outro. Certas pessoas inconseqüentes fazem, às

vezes, observações sarcásticas a respeito dos desenhos infantis,

levando a criança, como meio de defesa, raramente voltar a

desenhar.

§ Os desenhos na escola. Crianças que não aprendem o desenho na

idade certa, raramente tentam aprender a desenhar mais tarde.

Alguns professores deixam o desenho de lado e freqüentemente

recorrem a trabalhos de artesanato, que parecem mais seguros e

menos angustiantes, mas, se receberem instruções apropriadas,

crianças muito novas podem facilmente aprender a desenhar. Por

outro lado, alguns professores de arte, descarregam técnicas para a

criança aprender a desenhar, inibindo qualquer tipo de exploração

quanto ao uso do material ou mesmo ao uso da imaginação.

10

O ensino da arte deve respeitar a livre expressão da criança, pois o mais

importante é o seu processo – pensamento, sentimento, percepções e reação

ao ambiente. O produto final está subordinado ao método criador que identifica

a sensibilidade estética.

Para que a auto-identificação da criança com seu trabalho seja uma

experiência importante, é necessário que o professor seja capaz de identificar-

se com seus alunos, de forma a proporcionar a motivação adequada e as

condições ambientais favoráveis a uma expressão significativa.

“o melhor professor de arte seria um artista que tivesse, ao mesmo tempo,

profunda compreensão dos problemas humanos e grande desejo de ajudar

as crianças e os jovens em seu crescimento e desenvolvimento.”

(LOWENFELD, 1977; 219)

O professor de arte desempenha um papel decisivo no desenvolvimento

individual da expressão da criança, desde que a ajuda não seja no sentido de

interferir nessa expressão, em sua liberdade e confiança ou de inibir sua

descarga emocional.

“o educador deve apagar-se, deixar a criança desenhar o que quer,

propondo-lhe temas sempre que ela necessita, sobretudo quando lhe

pede, mas sem lhes impor, e sobretudo deixá-la desenhar como quer,

a seu modo.” (LUQUET, 1969; 230)

11

CAPÍTULO ll

A Influência da Simbologia Artística2 Infantil na fase Adulta

A maioria dos indivíduos na infância começa a comunicar-se

graficamente por meio do desenho, independentemente de raça, sexo ou

nacionalidade. Basta um pedaço de papel e um lápis, que tudo se transforma

em magia e brincadeira, nas mais belas formas do desenho, como um

processo natural de desenvolvimento.

O desenho é um importante meio de comunicação e representação da

criança e apresenta-se como uma atividade fundamental, pois a partir dele a

criança expressa e reflete suas idéias, sentimentos, percepções e descobertas.

“...a representação que uma determinada criança faz de um mesmo

objeto ou motivo através de uma sucessão de desenhos que

apresentam uma evolução gradual” (LUQUET. 1927, p.57).

Sabendo da importância do desenho para o desenvolvimento da criança,

é imprescindível estimular esta linguagem desde a mais tenra idade. Cabe

principalmente à família e à escola ter clareza da importância deste processo, o

qual não deve ser interrompido em nenhum dos dois contextos.

É preciso disseminar o conhecimento sobre o desenvolvimento gráfico

infantil nas escolas e na comunidade, pois somente assim as pessoas podem

construir a consciência dos erros que podem estar cometendo, sem perceber

suas conseqüências.

O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças

significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da

garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os

2 Em desenho, conjunto de símbolos sistematicamente utilizados para compor uma imagem.

12

primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interações da criança

com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas.

Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é

simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar

os efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas,

que refletiam sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir,

transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação, e

podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a

outros desenhos.

Organizar as coisas no espaço significa localizar em cima, ao lado de

cá e ao lado de lá (que depois a criança vai nomear de esquerdo e

direito). A criança mostra que é capaz de organização, representando a

linha da terra, o chão (...). Outro limite de espaço que as crianças

costumam representar é o céu, que aparece como se fosse um teto e

não uma massa de ar. Nesta fase em que as crianças começam a

representar, ela vai também começar suas primeiras construções: uma

madeira e um prego formam um rádio (...) (ZILBERMANN, 1990, p.157)

Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a

criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico.

Começando com símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no espaço

bidimensional do papel, na parede ou em qualquer outra superfície. Passa

também a constatar a regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente

e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimento em

suas próprias produções.

No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve

para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização,

a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de

representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese de

que o desenho serve para imprimir o que se vê.

“...o desenho típico de uma criança, um boneco, é realmente

uma enumeração gráfica daquelas características humanas

13

das quais a criança se lembrou. Representa o conteúdo do

conceito ‘infantil’ do homem.” (GOMBRICH, 1963, p. 8)

É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria

individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação,

reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras

simbólicas de outras crianças e adultos.

Baseado nesta realidade percebe-se que o início da adolescência marca

o fim do desenvolvimento artístico em termos de aptidão para o desenho na

maioria dos adultos. Aprender a ver através do desenho pode ajudar as

crianças a se tornarem, mais tarde, adultos que utilizam todo o cérebro.

Se todos os indivíduos continuassem o processo de desenvolvimento

gráfico, passando por todas as etapas, com certeza saberiam se expressar a

partir de manifestações artísticas. No entanto, sabe-se que a maioria dos

adultos teve seu processo de desenvolvimento gráfico interrompido em alguma

etapa fundamental.

O desenho aperfeiçoa o sentido da visão e o raciocínio, proporcionando

acesso a soluções criativas para seus problemas, sejam eles pessoais ou

profissionais.

O sistema de símbolos adquiridos na infância explica em grande parte o

motivo pelo qual pessoas adultas, sem talento para o desenho, continuam

produzindo desenhos infantis. Alunos adultos iniciantes dos Cursos Superiores

de Design de Moda, ao tentarem criar seu primeiro desenho, demonstram essa

realidade evocando símbolos de “bonecas” infantis, conforme se pode notar na

Figura 1.

14

. Figura 1. Desenho de Alunas iniciantes - Curso Superior de Design de Moda

A lateralização do cérebro se completa por volta dos dez anos de idade

e coincide com o período de conflito na arte infantil, quando o sistema de

símbolos parece se sobrepor às percepções e interferir com desenhos exatos

destas percepções. Assim, quando atingimos a fase adulta, o lado do

hemisfério esquerdo3 do cérebro que é verbal e analítico, predomina sobre o

hemisfério direito4, não verbal e global.

O cérebro do lado direito percebe e processa informações visuais da

maneira pela qual devemos ver para podermos desenhar. Já o cérebro do lado

esquerdo percebe de uma forma que parece interferir com o ato de desenhar.

“o hemisfério esquerdo analisa no tempo, ao passo que o

hemisfério direito sintetiza no espaço.” (JERRE LEVY, 1974)

3 A metade do cérebro situada em nosso lado esquerdo. Na maioria das pessoas destras e em grande

parte das canhotas, as funções verbais localizam-se no hemisfério esquerdo.

4 A metade do cérebro situada em nosso lado direito. Na maioria dos destros e em grande parte dos

canhotos, as funções espaciais e relacionais ficam localizadas no hemisfério direito.

15

Alunos adultos iniciantes de cursos superiores de desenho, geralmente

não vêem o que têm diante dos olhos, então, anotam o que têm diante de si e

rapidamente traduzem a percepção em palavras e símbolos, basicamente

fundamentados no sistema de símbolos que desenvolveram na infância e no

que sabem acerca do objeto percebido. A dificuldade dos alunos em fazer um

desenho realista, reside no fato de que o hemisfério esquerdo parece insistir

em utilizar seus símbolos de desenho, armazenado na memória.

Uma das grandes dificuldades do desenho para alunos adultos é o rosto

humano. A cabeça humana é, naturalmente, um bom exemplo de assunto para

o qual a maioria das pessoas possui um sistema de símbolos muito forte e

persistente. Todos nós temos nosso próprio conjunto de símbolos,

desenvolvido e memorizado durante a infância, sistema este que é

consideravelmente estável e resistente a mudanças. Estes símbolos parecem

impedir que vejamos, e, portanto, muito poucas pessoas são capazes de

desenhar uma cabeça humana realista, e menos ainda um retrato

reconhecível.

Estudar o desenho da figura humana através da pintura é um incentivo à

criatividade, produção de estilo e análise dos diferentes estudos que foram

feitos para compor a proporção e o movimento do corpo humano. Desenhar

rostos é uma excelente maneira de contornar sistemas simbólicos arraigados.

Em períodos pré-históricos vê-se desenhos feitos em cavernas, com

materiais rudimentares, mas, com uma tecnologia impressionante: neste

período os desenhos eram realizados com a mão ou com pincéis rústicos. Uma

técnica conhecida, a de pistolar, era feita com tintas naturais extraída de

plantas. O homem primitivo enchia a boca de tinta e soprava através de um

canudo feito de osso ou madeira sobre as rochas.

16

Figura 2. Desenho da figura humana – egípcio

Depois das figuras egípcias, que misturam animais e corpo humano, os

gregos introduzem os primeiros estudos anatômicos. A unidade de medida era

o comprimento da cabeça repetida sete vezes.

Figura 3. Desenho da figura humana - grego

No Renascimento surge um trabalho mais sofisticado com uma

perfeição que dominou por séculos a forma de representar a figura humana.

Somente com o advento da fotografia que o homem passou a interpretar o

corpo de uma forma mais estilizada.

17

Figura 4. Desenho da figura humana - renascimento

Figura 5. Desenho da figura humana - expressionismo

Figura 6. Desenho da figura humana - cubismo

18

Nem bem largamos lápis e pincéis já estamos vetorizando imagens e até

mesmo animando com softwares específicos.

Da caverna ao computador, vale a pena pesquisar imagens da história

da arte para ver como o homem buscou desenhar a sua própria imagem, com

diversidade de estudo, estilo, traço, cultura e intenção.

Figura 7. Desenho da figura humana - 3D

“...quanto maior é a clareza com que o artista vê o modelo,

maior é a clareza com que vemos o artista através do retrato.”

(EDWARDS, 2000, p. 182).

19

CAPÍTULO lll

O Desenho como Habilidade que pode ser Ensinada e

Aprendida

O desenho é uma habilidade de expressão gráfica natural do ser

humano, ocorrendo o seu aparecimento ainda na infância. O desenho, para a

criança, é uma continuidade entre objeto e a representação gráfica. A criança

apresenta o objeto em si, ou seja, a sua criação é diferente da criação do

adulto. Ela liberta-se das aparências e, ao mesmo tempo, pode representar o

objeto como ele é realmente, enquanto o adulto só o representa por um único

ponto de vista.

Segundo LUQUET, apud MERLEAU-PONTY (1990)

“ o desenho é uma íntima ligação do psíquico e do moral. A intenção de

desenhar tal objeto não é senão o prolongamento e a manifestação da sua

representação mental; o objeto representado é o que, neste momento,

ocupará no espírito do desenhador em lugar exclusivo ou

predominante.”(p.130)

Enquanto habilidade natural, o desenho da criança passa por várias

fases de desenvolvimento, desde os primeiros rabiscos até sua estagnação

com o realismo por volta dos 11 ou 13 anos de idade. A partir daí a

representação de formas feitas por jovens ou adultos de qualquer idade

tendem a regredir ou permanecer inalteradas, mantendo as mesmas

características do desenho infantil.

O sistema de símbolos artísticos são geralmente consolidados na

infância e, muitas vezes, persistem até a idade adulta, a não ser que seja

modificado por novas maneiras de aprender a desenhar.

20

“quando o cérebro se cansa de sua tagarelice verbal, o desenho é um modo

de fazê-lo calar e de obtermos um vislumbre da realidade transcendental.

Através do meio mais direto, nossas percepções visuais atravessam o

sistema humano – retinas, trajetos de fibras óticas, hemisférios cerebrais,

trajetos de nervos motores – para transformar, como que por mágica, uma

folha comum de papel numa imagem direta de nossa reação pessoal, nossa

visão da percepção”. (EDWARDS, 2000, p. 268).

As dimensões do ato de desenhar estão ligadas às atividades vivenciais

e existenciais, inseridas no patrimônio cultural da humanidade. Porém, o

desenvolvimento da capacidade de representação gráfica depende também

das dinâmicas compartilhadas em sala de aula, aliadas aos desafios propostos

pelos professores. Começar a desenhar pode parecer uma tarefa difícil e pouco

confortável para aqueles adultos que fizeram seu último desenho na aula de

artes na escola.

Uma das maiores dificuldades que encontramos para o ensino do

desenho é o preconceito generalizado de que é preciso ter um dom especial

para desenhar – é preciso modificar essa idéia de dom. Desenhar é uma

habilidade que se desenvolve através da observação e do treino – não se trata

de fazer trabalhos artísticos, mas sim de aprender a empregar uma linguagem,

que é, simultaneamente, o meio de desenvolvimento do pensamento visual e

sua possibilidade de expressão.

“desenhar é uma habilidade que pode ser aprendida por qualquer pessoa

normal com visão e coordenação motora medianas. A habilidade manual não

é um fator primordial para o desenho. Se a sua caligrafia é legível, ou mesmo

se você consegue escrever em letras de forma inteligíveis, então você tem

toda destreza necessária para desenhar bem” (EDWARDS, 2000, p. 189).

Devido à inexistência de preparo escolar na área da visualidade e

representação de imagens, temos adolescentes e adultos inseguros quanto ao

seu desenho. A maioria dessas pessoas, quando interrogadas, responde que

não sabe desenhar. Apesar de a afirmação corresponder à negação de pelo

21

menos uma das capacidades naturais do homem, ela também soa como uma

autodefesa.

Antes de iniciar um Curso Superior de Design de Moda o aluno já tem

idéias pré-concebidas sobre o desenho de moda. Equivocadamente, o

estudante acredita que deve iniciar seus estudos já dominando a habilidade do

desenho. Além disso, há os que acreditam que desenhar bem significa “nascer

sabendo” ou ainda, que é preciso ter o “dom para o desenho”.

Segundo Edwards (2000)

“Aprender a desenhar é mais do que desenvolver a habilidade em si. (...)

aprender a processar a informação visual daquela maneira especial usada

pelos artistas. Ela é diferente da maneira que normalmente se usa para

processar informações visuais e parece exigir que se use o cérebro de um

modo também diferente do comum. (...) E uma das coisas que você

aprenderá é que as propriedades especiais do cérebro nos permitem

desenhar imagens do que percebemos”. (p.29)

A habilidade do desenho é de grande importância para o profissional de

moda, especialmente para aquele que trabalha com o produto, seja na criação,

no desenvolvimento de peças do vestuário, acessórios ou joalheria. É através

do desenho como ferramenta de comunicação, que o produto de moda nasce

e, passando por diferentes mãos, ele toma forma e tridimensionalidade.

Os projetos que o estudante de moda deve realizar que envolvem o

desenho, normalmente desenvolvidos ao final do curso simulam a realidade

mercadológica e, ao mesmo tempo, servem como apresentação formal do

aluno ao mercado de trabalho.

De acordo com Riegelman (1985)

“Dentro da indústria de moda, o propósito do desenho de moda (o desenho

conceitual, oposto ao desenho técnico utilizado nos estágios de fabricação

das peças) é apresentar um projeto de consideração para possível

22

fabricação. Um desenho pode ser considerado útil, do ponto de vista do

designer, se ele apresenta o conceito do projeto da maneira mais clara e

positiva possível, representando os tecidos e materiais da maneira mais

próxima do real”. (p.11)

Para a indústria de moda, o desenho de moda ou croqui é de

fundamental importância, uma vez que, se bem feito, pode convencer os

responsáveis a favor de sua fabricação, mesmo sem que tenha sido realizado

um protótipo do produto. O desenho de moda bem feito reduz custos e otimiza

recursos e tempo para a indústria.

Para fazermos um desenho realista de uma imagem, roupa ou figura, é

preciso usar a modalidade visual do cérebro localizada do lado direito. À

medida que aumenta a capacidade de ver, a capacidade de desenhar o que se

vê também aumenta. O desenho de observação possibilita o desenvolvimento

das ferramentas necessárias para que se possa, mais adiante, desenhar as

imagens produzidas pela imaginação e passar a desenhar com estilo próprio.

Figura 8. Desenho de observação – alunas do Curso Superior de Design de

Moda.

23

O desenho é uma linguagem que possibilita a expressão e

comunicação de idéias visuais. No desenho de moda, as idéias a serem

expressas são sobre soluções que ainda não existem fora da mente do

designer, tanto com finalidade de orientação sobre o produto de moda como

com a finalidade de desenvolver um processo de criação. O profissional de

moda pode realizar desenhos técnicos e objetivos, passando pelo desenho

representativo e mercadológico e atingindo um nível avançado, com a

ilustração subjetiva e referencial. Todos os tipos de desenhos têm seu espaço

no mercado da moda, mas sua utilização depende dos objetivos a serem

alcançados pelo designer.

O desenho pode ter como ponto de partida, vários enfoques. Há os que

reproduzem o mundo real, outros que revelam a memória do seu autor e ainda

os que são propostas originais de novas formas. Vejamos sobre cada uma

dessas facetas nos tópicos a seguir:

a) Desenho de observação: É a representação, na maioria das vezes

figurativa, a partir da observação de um modelo se propondo a transferir para o

papel de desenho sua forma, textura, iluminação, cor, etc., com auxílio de

instrumentos de mensuração visual à distância ou medidas e cálculos mentais

por meio da observação direta.

Figura 9. Desenho de modelo vivo

Fonte: Morris( 2007: 65)

24

b) Desenho de memória: Representação gráfica que se espelha na forma de

elementos da realidade visualizada anteriormente.

Figura 10. Desenho de mãos

Fonte: Morris( 2007: 45)

c) Desenho de criação: Apresenta configuração original. Pode ser obra da

pura imaginação, abstração ou o resultado da combinação de outras formas já

existentes, inspiradas nos elementos da realidade.

Figura 11. Ilustração de Antonio Lopez

Fonte: Morris( 2007: 89)

25

d) Desenho Técnico de Moda: Entendemos como desenho técnico de moda a

representação planificada e bidimensional de peças de vestuário, acessórios,

bolsas e calçados.

O objetivo do desenho técnico é demonstrar o produto de moda de

forma clara e objetiva, visando sua reprodução exata em escala industrial. A

confecção do produto passa por diferentes mãos e empresas e por isso há a

necessidade de que este desenho seja preciso e acompanhado de informações

escritas, contextualizadas em fichas técnicas.

O desenho técnico na área de moda caracteriza-se como instrumento

indispensável nas confecções e oficinas de produção e desenvolvimento de

moda, também em catálogos e manuais de venda, orientando sobre detalhes

de modelos e produtos.

Figura 12. Representação de desenho técnico

Fonte: Jones (2005: 94)

e) Croqui de Moda: Esse termo tem origem na palavra francesa croquis, que

significa um desenho rápido, normalmente utilizado por estilistas franceses

para apresentar suas idéias à seus clientes. O objetivo do croqui é ajudar na

trajetória da criação acelerando o processo do desenho de moda.

26

Figura 13. Desenho do croqui de moda

Fonte: Jones (2005: 90)

f) Ilustração de Moda: A Ilustração de Moda, nos dias atuais, invadiu vários

campos do processo de desenvolvimento do produto nas confecções. A

Ilustração não serve mais apenas para representar o produto a ser

desenvolvido, hoje a ilustração entra no campo do Marketing e mostra não

apenas a roupa a ser produzida, mas a marca e identidade da empresa.

A ilustração de Moda exige técnica e estudos, e vem evoluindo a cada

dia e por isso conquista seu espaço em catálogos de Moda, outdoor e revistas.

Os cursos superiores de moda preparam o profissional para este aspecto. As

disciplinas de desenho são estruturadas ao ponto de deixar o profissional apto

também a descobrir seu próprio estilo, seu próprio traço.

O mercado hoje recebe muito bem o Ilustrador de Moda e o leque de

atuação se amplia à medida que temos um maior aprendizado sobre a

ilustração e podemos desenvolvê-la profissionalmente.

Figura 14. Ilustração de Moda

27

g) Desenho de Moda Computadorizado: No mercado de trabalho o desenho

pode ser realizado de duas formas: manualmente ou digitalmente. Nos cursos

superiores de moda, o desenho técnico é ensinado a partir do traçado manual,

onde o aluno manuseia material específico sobre o papel. Acompanhando os

avanços tecnológicos, o desenho técnico também é ensinado a partir de

programas de computador que permitem a elaboração de linhas e planos

bidimensionais. Algumas das possibilidades para o desenho e ilustração de

moda digital, são o Coreldraw, Adobe illustrator e o fhotoshop. Para o desenho

artístico de moda podemos fazer um desenho de croqui à mão livre, escannear

para ter como base e redesenhar no programa.

Figura 15. Desenho Computadorizado

Fonte: Morris( 2007:171)

A maioria dos Cursos Superiores de Design de Moda dedicam boa parte

da grade curricular para o desenho de moda, por isso, é bom se habituar e

encarar sem preconceitos este tipo de ilustração. Para alunos iniciantes, ou

mesmo para quem fica um tempo sem desenhar e depois retoma, sugerimos

que deixem de lado o sistema de símbolos adquiridos quando crianças e

passem a desenhar com fidelidade o que se vê.

“ O pintor pinta com os olhos, não com as mãos. O que vê, se o

enxerga com clareza, será capaz de pintar. Passar o que vê para a tela é um

ato que talvez exija muito cuidado e esforço, mas nada além da agilidade

muscular que o artista precisa para escrever o próprio nome. O importante é

ver com clareza.” ( MAURICE GROSSER, 1951, p. 126).

28

CONCLUSÃO

O desenho é uma habilidade de expressão gráfica natural do ser

humano, ocorrendo o seu aparecimento ainda na infância. Enquanto habilidade

natural, o desenho da criança passa por várias fases de desenvolvimento,

desde os primeiros rabiscos até sua estagnação com o realismo por volta dos

11 ou 13 anos de idade. O início da adolescência marca o fim do

desenvolvimento artístico em termos de aptidão para o desenho na maioria das

pessoas. A partir daí a representação de formas feitas por jovens ou adultos de

qualquer idade tendem a regredir ou permanecem inalteradas, mantendo as

mesmas características do desenho infantil.

Devido à inexistência de preparo escolar na área da visualidade e

representação de imagens na fase infantil, temos adolescentes e adultos

inseguros quanto ao seu desenho. A maioria acha que não tem potencial para

o mesmo.

Alunos iniciantes dos Cursos Superiores de Design de Moda, ao

produzirem seu primeiro desenho, demonstram essa realidade evocando

símbolos infantis, dificultando o aprendizado do desenho realista de moda. O

sistema de símbolos explica em grande parte o motivo pelo qual as pessoas

em idade adulta ou avançada, sem talento para o desenho, continuam

reproduzindo desenhos que faziam quando crianças.

Como resultado dessas observações sobre as dificuldades e habilidades

para o desenho, concluímos que o sistema de símbolos explica em grande

parte o motivo pelo qual as pessoas em idade adulta ou avançada, sem talento

para o desenho, continuam reproduzindo desenhos que faziam quando

crianças não importando seu nível de conhecimento e experiência.

Assim, para fazermos um desenho realista de uma imagem, roupa ou

qualquer figura, é preciso usar a modalidade visual do cérebro localizada do

29

lado direito. À medida que aumenta a capacidade de ver, a capacidade de

desenhar o que se vê também aumenta.

O desenho de observação possibilita o desenvolvimento das

ferramentas necessárias para que se possa, mais adiante, desenhar as

imagens produzidas pela imaginação e passar a desenhar com estilo próprio.

Para uma boa aprendizagem do desenho de moda o aluno deve deixar de lado

o sistema de símbolos adquiridos na infância e passar a desenhar através da

observação, desenhado com fidelidade o que se vê.

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BIBLIOGRAFIA

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criadora. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002, 153 – 161 p.

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Paulo: Cosac Naify, 2007.

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WEBGRAFIA

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PIRES, Ciça. O desenho da figura humana através dos tempos. Disponível

em www.clickmoda.com.br/ Acesso em 08/11/2008