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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO CRISTÃ NA PRESERVAÇÃO DA
INSTITUIÇÃO CASAMENTO
MARCOS FERREIRA MONSANTO
ORIENTADORA
FABIANE MUNIZ
RIO DE JANEIRO
JANEIRO DE 2005
2UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO CRISTÃ NA PRESERVAÇÃO DA
INSTITUIÇÃO CASAMENTO
MARCOS FERREIRA MONSANTO
Trabalho Monográfico apresentado
como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Especialista
em Terapia de Família.
RIO DE JANEIRO
JANEIRO DE 2005
3
Agradeço a Deus, que é digno
de toda honra, glória, louvor e
ações de graça.
Agradeço aos meus pais,
minha esposa Isabel e a minha
filha Paula, pelo amor, carinho
e apoio neste projeto de
família.
4
Este trabalho é dedicado a
todos os homens e mulheres,
que se preocupam em
preservar o casamento e a
unidade familiar segundo a
vontade de Deus.
5
RESUMO
O presente trabalho visa expor de forma clara e objetiva, o
valor da religião cristã e sua influência na instituição casamento, no seu
contexto histórico, social e religioso, avaliando a influência religiosa na
preservação do matrimônio hoje, no novo século, em que as
transformações atingem as estruturas religiosas, os costumes e as
tradições do nosso país, onde alguns acham que está chegando o fim de
certas práticas sociais e religiosas.
A instituição casamento não acabou, apesar de todas as
mutações sociais. O censo estatístico realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística no ano de 2000 mostra que uma quantidade
significativa da sociedade ainda opta pelo casamento e que o
crescimento religioso, principalmente dos evangélicos, que têm o
casamento como um princípio bíblico a ser seguido, e a tradição católica,
com certeza, irão dar continuidade a essa cerimônia religiosa e civil na
sociedade brasileira.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esta pesquisa envolve uma
investigação da instituição matrimonial e sua relação com a religião
cristã, realizada através de pesquisa biográfica de natureza científica em
conceituados autores históricos, religiosos e contemporâneos, que
influenciaram na matéria em questão. Os problemas que se referem a
valores religiosos e ao conhecimento teológico serão tratados de forma
equilibrada e imparcial.
O tema é atual, e será avaliado, também, através de pesquisa
descritiva de dados estatísticos coletados junto ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, que nos fornecerá uma visam ampla, quantitativa
e avaliativa em relação à religião e ao casamento em nosso país, servindo
de instrumento de comprovação para o tema proposto e sua solução.
7
SUMÁRIO
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Capítulo I
O Casamento como Instituição Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Capítulo II
O Casamento no século XXI e as influências externas . . . . . . . . . . . . . . 15 Capítulo III
O Casamento e as Novas Tendências de Uniões Estáveis . . . . . . . . . . . 23
Capítulo IV
Uma Análise Estatística do Casamento e da Religião Cristã na Sociedade
Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Capítulo V
A Influência da Religião Cristã na Preservação do Casamento . . . . . . . . 38
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8
INTRODUÇÃO
“Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem”.
(São Marcos 10.9)
O objetivo do presente trabalho é comprovar que a instituição
casamento não está em processo de extinção, mesmo com toda a
modernidade social. Falar sobre casamento parece coisa do passado,
principalmente nas grandes capitais e na alta sociedade, onde surgem
inovações e novas tendências interferindo nos padrões sociais vigentes. O
número de matrimônios diminuiu consideravelmente no Brasil, algo
incontestável, o que para muitos significa o fim desse tipo de união.
Tendo o casamento as vertentes civil e religiosa, sendo a
segunda um fator que envolve princípios éticos e morais da crença do indivíduo
como ser social que é dotado de liberdade religiosa. Será que a religião cristã
pode influenciar a continuidade da instituição casamento na sociedade
brasileira?
Para buscar a resposta, precisamos analisar a história do
casamento e seus princípios religiosos, dentro do cristianismo, chegando até
os nossos dias, nos quais há um choque entre o casamento e as novas formas
de uniões livres. Outro ponto, que não pode ser desprezado, diz respeito ao
crescimento quantitativo dos evangélicos no Brasil, que, dentro de seus
princípios religiosos, têm o matrimônio como uma ordenação divina, orientando
o homem e a mulher a se unir através do matrimônio, e a mesma orientação
faz parte do conceito de matrimônio da Igreja Católica Apostólica Romana.
Através de dados coletados sobre casamento e religião, avaliados
separadamente e em conjunto, poderemos comprovar a veracidade do estudo
proposto, demonstrando que o casamento ainda é uma opção para nossa
sociedade e continuará sendo por muito tempo.
9
Capítulo I
O Casamento como instituição histórica
A origem do casamento como uma instituição histórica tem suas
raízes fundamentadas principalmente no aspecto religioso. Segundo o
cristianismo, o casamento ou matrimônio, foi instituído por ordem divina no
Jardim do Éden, por ocasião da criação do homem e da mulher. Na Bíblia
Sagrada, o ato cerimonial matrimonial ocorre no momento em que Deus diz:
“Portanto deixará o varão o seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e
serão ambos uma só carne” (Gênesis 2.24). O sentido cristão do casamento
revela-se através da ordem de Deus orientando uma união monogâmica, que
no início tinha como propósito à provisão de uma companheira para o homem e
a propagação da raça humana. O valor da união entre homem e mulher é
também ratificado nas palavras de Jesus Cristo, que constam no texto bíblico
do Novo Testamento no Evangelho Segundo o Apóstolo São Mateus, onde se
lê: “Assim não serão dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou não
separe o homem” (Mateus 19.3). Fica claro o propósito cristão de uma união
estruturada de forma monogâmica e permanente, na qual prevalece o ideal
divino - o homem como ser espiritual - que valoriza o casal como uma só carne
e não os interesses pessoais e a individualidade, conforme diz o Dr. Russel
Chaplim e João Bentes.
“No seu sentido bíblico e cristão, um casamento, idealmente falando, é uma extensão da missão e do destino das pessoas envolvidas, ou seja, uma ajuda ao cumprimento dos propósitos especiais dos cônjuges. Nesse sentido, o matrimônio vai além dos meros costumes sociais e da procriação, tornando-se um importante aspecto do desígnio espiritual das pessoas”.
(CHAPLIM & BENTES, 1997, p.174, vol.4)
A visão criacionista baseia-se no relato de Adão e Eva, sendo que
para a maioria dos antropólogos é importante apenas o aspecto instrutivo dos
10ideais do casamento, enquanto os evolucionistas pensam no cruzamento das
espécies como origem da união entre os seres vivos. É importante destacar
que todas as correntes de pensamentos demonstram que o casamento ou a
união entre o masculino e o feminino é algo natural e essencial para espécie
humana, e tem sua origem na antiguidade, não sendo possível definir o tempo
exato do seu surgimento. Outro aspecto fundamental envolve as várias formas
de celebrações em todo o mundo, todas com um objetivo central de unir
homem e mulher como casal. O Professor de Direito Matrimonial Canônico
Júlio Capparelli aborda o assunto com muita propriedade quando escreve:
“Dizer que o matrimônio é uma instituição natural já constitui lugar-comum. Com isso, quer-se dizer que se trata de algo próprio da natureza humana, e não provem de nenhuma criação legislativa. Essa união estável entre homem e mulher é uma exigência da ordem natural, necessária para o bem dos próprios cônjuges, perpetuação da espécie humana e desenvolvimento da sociedade”.
(CAPPARELLI, 1999, p.9)
A origem etimológica das palavras matrimônio e casamento,
também revelam claramente o sentido da importância do homem e da mulher,
quando se unem, seguindo a tradição bíblica-cristã. Capparelli explica a origem
e a evolução histórica dos vocábulos citados.
“Etimologicamente, ‘matrimônio’ significa ofício ou tarefa da mãe (do latim: mater, mãe, e munium ou múnus, ofício). De forma analógica, fala-se de patrimônio (do latim: pater, pai, e munium ou múnus, ofício), caracterizando-se dessa maneira a função do pai. De acordo com esses vocábulos, corresponde à mãe a tarefa de cuidar do lar e dos filhos, e ao pai, prover ao sustento da família”. “Em português também se usa a palavra ‘casamento’, por meio da qual se indica a constituição de uma nova casa ou lar”. (CAPPARELLI, 1999, p.7)
Historicamente, conforme orientação bíblica, o casal cristão tem
funções definidas para cada cônjuge, cabendo ao marido a função de provedor
e a mulher de zeladora do lar. Tudo começava na promessa matrimonial, pela
11qual, de forma recíproca duas pessoas, um homem e uma mulher,
comprometiam-se em celebrar um matrimônio, e daí surgem às palavras
esposo e esposa, que têm sua origem no latim, conforme escreve Capparelli.
“A denominação provém da conjugação latina ‘spondeo’, quer dizer, prometo. Em Roma, quando alguém pretendia casar com determinada moça, formulava ao pai da jovem a pergunta: ‘Spondesne?’, ao que este respondia: ‘Spondeo’. E assim se chamou ‘sponsa’ à prometida, ‘sponsus’ o prometido e ‘sponsalia’ ou ‘esponsais’ ao que se costuma chamar de ‘compromisso”. (CAPPARELLI, 1999, p.33)
O modelo de casamento religioso no cristianismo recebe a
influência, principalmente, do modelo judaico, tendo absorvido algumas de
suas tradições e costumes. No judaísmo encontramos princípios e leis sobre o
assunto, no Pentateuco, que corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia,
que constam dos textos do Antigo Testamento, sendo eles: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio.
As leis acerca do casamento são rígidas e fazem parte da
legislação mosaica, ou seja, o código de leis dado por Deus a Moisés. O
noivado já era uma prática tradicional, assim como uma vestimenta específica
para tal ocasião e um sacerdote para a realização do cerimonial, tradições que
de certa forma foram assimiladas no cristianismo. A beleza e o desejo divino
da preservação do casamento, descritos no Pentateuco, já podiam ser
contemplados no noivado e se estendiam após a celebração do casamento. O
noivo, ao assumir o compromisso ou promessa (“spondeo”) com a noiva, faria
tudo para cumprir sua palavra, sendo, inclusive, impedido legalmente de
participar de guerras, pois poderia ser morto em combate, deixando de honrar
seu compromisso, conforme o texto bíblico: “E qual é o homem que está
desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá, e torne-se à sua
casa, para que porventura não morra na peleja e algum homem a receba”
(Deuteronômio 20.7). Após a consumação do casamento, o marido ainda
gozava de privilégios que visavam à felicidade do casal, “Quando um homem
12tomar uma mulher nova, não sairá à guerra, nem se lhe imporá carga alguma;
por um ano inteiro ficará livre na sua casa, e alegrará a sua mulher, que tomou”
(Deuteronômio 24.5).
O caráter indissolúvel do casamento é a expressão da vontade
divina na Bíblia Sagrada, mesmo sendo registrada nas escrituras a existência
do divórcio. O Doutor em Teologia Russel Chaplim explica que o divórcio na
legislação mosaica não era uma regra, mas, sim, uma exceção.
“É bem possível que as provisões mosaicas, referentes ao divórcio, houvessem sido estabelecidas a fim de regulamentarem uma prática já existente; pelo que também o Senhor Jesus disse em verdade que tais provisões foram estabelecidas, não como um reflexo da verdadeira vontade de Deus, e sim, para atender à dureza dos corações humanos”. (CHAMPLIM, 2001, p.4161, vol.6)
Champlim faz referência às palavras de Jesus Cristo, quando este
foi interrogado acerca dos motivos que poderiam levar um homem a dar a carta
de divórcio a sua mulher. Confirmando a preciosidade do matrimônio, Cristo
fala da dureza do sentimento humano e deixa apenas uma possibilidade para
separação, o adultério. Ainda que haja a traição, caso haja arrependimento
daquele que promoveu a falta, e a vítima consiga suportar a dor, é lícitos o
perdão e a tentativa de restaurar a união.
“... Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhe ele: Moisés por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa da prostituição, e casar com outra, comete adultério”.
(SÃO MATEUS 19.8-9)
Nota-se nos ensinos de Jesus que o matrimônio não é visto como
uma experiência ou um laboratório, onde o objetivo proposto pode ser
abandonado a qualquer momento. O sentido real é a unidade permanente do
13casal, a busca da realização comum, a felicidade mútua e a constituição de
uma família, cuja regra básica é a união.
Após a época de Cristo, a história do casamento prossegue tendo
à influência do poder patriarcal até o século XVIII. Durante esse período, vários
casamentos foram consumados seguindo a vontade dos pais dos cônjuges,
que determinavam os pares que deveriam se unir e o valor financeiro que
envolveria o matrimônio. Valores como: procriação, linhagem, herança e
tradição, eram transmitidos de geração a geração. No fim do século seguinte,
segundo Garbar e Theodore, os padrões sociais relacionados à família
começam a sofrer modificações que influenciaram de forma positiva os novos
matrimônios, que passam, agora, a ser constituídos segundo os desejos e a
escolha do homem e da mulher, valorizando, assim, o amor, em detrimento o
interesse financeiro e a sede de poder.
“Desde o fim do século XIX, os pais foram sendo progressivamente excluídos da escolha matrimonial. O casamento não está mais ligado a um valor de troca, de alianças necessárias e de dote. Os ‘casamentos por conveniência’ talvez não tenham desaparecido totalmente, mas tornaram-se raros”.
(GARBAR & THEODORE, 2000. p.29)
A evolução na forma da escolha matrimonial avança no século
XX, trazendo um novo sentido de liberdade para as novas gerações, gerando
uma série de transformações sociais, tendo como conseqüências novas formas
de estruturas familiares que hoje influenciam toda a sociedade.
A instituição casamento caminha pela tradição judaica, passa pelo
cristianismo e chega ao século presente, fazendo parte da cultura mundial de
nações, povos e tribos, sendo sua historicidade incontestável. Milhares de anos
passaram-se e o conceito precípuo do enlace matrimonial, a união permanente
do casal; permanece em várias culturas, sobrevivendo a modismos, guerras e
conceitos humanos.
14A presente exposição mostra que a religião cristã tem um papel
importante na história da evolução da humanidade, deixando como herança
tradições enraizadas no seio da sociedade moderna, sendo o casamento, uma
das principais.
15
Capítulo II O Casamento no século XXI e as influências externas
A passagem do século XX para o XXI marca uma nova era, que
surge com uma série de transformações; surgem novos conceitos de família
que invocam novas propostas sociais, trazendo para a sociedade
contemporânea mutações aceleradas; novos valores surgem na pós-
modernidade, onde a ortodoxia dos costumes relacionados à moral e às
tradições de nossos antepassados não prevalece mais numa sociedade
democrática, que tem como regra fundamental: “é proibido proibir”. A moral não
tem mais um valor absoluto e objetivo, o padrão outrora seguido dá lugar a
conceitos subjetivos avaliados a partir da vontade pessoal e da satisfação
humana, onde a individualidade ganha espaço no contexto social.
A globalização une nações em torno de objetivos financeiros e
capitalistas, visando o desenvolvimento tecnológico, gerando várias mudanças
no cenário mundial; em contrapartida, o “homem globalizado” experimenta o
isolamento social e passa a depender cada vez mais de psicólogos, analistas e
outros terapeutas para resolver os seus problemas interiores. Ciências como:
sociologia, antropologia e psicologia ocupam agora um papel de destaque na
sociedade, onde os direitos humanos e a ecologia despontam como soluções
para um mundo melhor; valoriza-se o desejo humano; e o meio ambiente é o
estandarte de organizações não governamentais. A prostituição não é mais
vista como crime relacionado aos costumes; o adultério ganhou status de
moda; e o conceito de família agora envolve novas combinações entre pessoas
do sexo oposto, do mesmo sexo ou onde apenas um cônjuge exerce o papel
do casal.
As modificações das estruturas sociais ocorrem a partir da
mutação do conceito família, que passa a influenciar a convivência familiar e
matrimonial no Brasil. Podemos destacar alguns fatores fundamentais que
16contribuíram para nova estrutura familiar brasileira, começando com a pós-
industrialização que gera uma sociedade pós-moderna, na qual o homem e a
mulher defrontam-se com uma nova realidade, que envolve, de um lado, a
liberdade ética e moral, onde os padrões são determinados pelo livre arbítrio e
a necessidade da satisfação do desejo, e do outro, uma vida ativa onde os
ideais são voltados para o capital, o poder financeiro, necessidade de
sobrevivência, consumo e realização pessoal, onde as pessoas investem
quase em sua totalidade o seu tempo de vida. Em muitos casos, tanto o
homem quanto à mulher precisam trabalhar para conseguir suprir suas
necessidades financeiras e o que sobra de tempo não é suficiente para
aprofundar a intimidade da família, gerando dentro do lar uma individualidade
entre seus membros.
Blank (1996) enfatiza o valor dado à necessidade de o homem
moderno buscar o aperfeiçoamento e a melhor capacitação para competir no
mercado de trabalho, mesmo que essa dedicação o torne um ser solitário,
isolado, sem relacionamentos, afetos e compromissos duradouros. Por trás
dessa modernidade vigente, temos pessoas que vivem ao mesmo tempo uma
vida mecânica e prazerosa, na qual o objetivo precípuo envolve o trinômio:
liberdade, dinheiro e prazer, tendo este último, forte inclinação para a
realização sexual, em detrimento da realização sentimental, em que o indivíduo
passa a ser escravo de si mesmo, tendo na satisfação pessoal o seu objetivo
de vida.
“No sistema sócio-econômico da pós-modernidade, o indivíduo se vê confrontado cada vez mais com uma funcionalização crescente do homem. As necessidades pessoais do homem devem ser submetidas a exigências anônimas e a necessidades estruturais. A eficiência econômica e profissional prevalece, e as necessidades pessoais de um relacionamento emocional profundo têm de recuar”.
(BLANK, 1996, pg. 29)
O indivíduo agora não tem tempo para conversar com seus
amigos ou amigas, parte de sua vida está fixada no trabalho, na tela de um
17computador ou de uma televisão, e - por que não dizer? - na internet, “a febre
do momento”, que aumenta essa mecanização humana, afetando estruturas
tradicionais como o casamento e a religião. As salas de “bate-papo on-line”
registram uma freqüência impressionante e constante de milhares, ou - quem
sabe? - milhões de pessoas; o sexo virtual preenche o vazio de muitos e
encontros pessoais são agendados num curto prazo, vale tudo por uma noite
de prazer sem compromisso. A influência do mundo digital e globalizado é
objeto de abordagem de Jurandir Freire Costa que retrata a atual conjuntura
social do mundo, onde a regra para fazer parte da comunidade internacional
diz que se deve abandonar as velhas idéias de Nação e Estado, que fazem
parte de uma cultura ultrapassada, por uma nova cosmovisão mundial, em que
as decisões interessam um todo e não apenas um país.
“A nova sociedade pertence à comunidade internacional dos que estão conectados pela internet e dos que podem ingressar no circuito mundial das trocas econômicas, intelectuais, artísticas, científicas e tecnológicas”.
(COSTA, 2000, p.80).
A internet, um instrumento que abriu um campo de conexão para
a prática de relacionamentos virtuais, sendo também, uma fonte de
disseminação de idéias voltadas para novos modelos de uniões estáveis que
se contrapõem ao casamento e às doutrinas religiosas tradicionais, mesmo
assim, a internet interfere também, de forma positiva, quando serve de
intermediária para construção de novos relacionamentos que tem como fruto
um matrimônio.
Outro fator positivo liga casamento, religião cristã e internet,
quando trata da adaptação das estruturas religiosas ao mundo digital, através
da criação de páginas de caráter religioso e até, “salas de bate-papo”, que
aproximam pessoas com o mesmo credo e fé, facilitando o início de novos
relacionamentos que, em alguns casos, se transformam em casamentos. A
religião adapta-se ao mundo digital.
18As elites contribuíram sensivelmente para esse processo de
alheiamento do indivíduo, pois, através do poder, ditam normas e regras
veiculadas principalmente pela mídia. Seus novos hábitos, manias e desejos
são difundidos em massa para as classes média e baixa, trazendo para a
sociedade novos costumes e normas de conduta, que geram modismos,
alastrando-se rapidamente e interferindo em todo contexto social, conforme
afirma Jurandi Freire Costa em sua análise sobre a ética democrática e seus
inimigos, na qual aborda o papel da classe dominante no regime democrático
brasileiro e sua intervenção na vida do indivíduo e da família, provocando um
afastamento cada vez maior das pessoas num processo de individualização.
“O caso da família é exemplar. Tida por muito tempo como refúgio contra a dureza do mundo espelho da moralidade, a típica família de elite brasileira vem sendo reduzida ao conjunto de indivíduos que possuem a mesma chave da casa”.
(COSTA, 2000, p.85)
“As elites brasileiras monopolizam a maior parte das riquezas materiais do país e os instrumentos que consagram normas de comportamentos e aspirações como recomendáveis e desejáveis. Seu valor estratégico no que concerne a mudanças sociais, é, por este motivo, de grande importância”.
(COSTA, 2000, p.78)
As modificações ocorridas no comportamento social do indivíduo
levam a abandonar conceitos enraizados, em busca de novas opções, dando
total ênfase ao exercício pleno da liberdade de expressão e ação, em que
certas tradições e costumes, mesmo sofrendo desgastes com as novas
realidades, permanecem mantendo a sua origem. Em alguns casos,
adaptando-se aos novos padrões, como é o caso do casamento e da religião.
O fator fundamental para a continuidade do matrimônio como
instituição no século presente está intimamente ligado à religião cristã, que
reúne em sua maioria de adeptos, pessoas de classe baixa, que não se
adaptam às idéias das elites e do poder capitalista e consumista, tendo nos
19padrões morais herdados de seus antepassados, na fé e nos ensinos bíblicos
os seus alicerces contra as novas tendências da sociedade moderna.
A família tradicional brasileira regida por leis civis e religiosas,
denominada família patriarcal, pelo seu aspecto de poder relacionado à figura
paterna, sofre um duro golpe com o desenvolvimento industrial urbano e a
abertura para o consumo, que abrem um caminho para uma nova inserção da
mulher na sociedade, onde ela depende cada vez menos do marido, passando
a ocupar um lugar no mercado de trabalho, disputando cada vez mais com o
sexo oposto à hegemonia do lar, desvinculando-se gradativamente da
obrigatoriedade do cuidado dos filhos. Tais modificações nas formas de
sociabilidade na família implicam a reformulação da legislação brasileira,
culminando com o Novo Código Civil Brasileiro, o qual traz transformações que
afetam os padrões familiares que perduraram por longos anos e constituíram
um aspecto significativo na história social da família.
As modificações ocorrem, principalmente, a partir do Código Civil
de 1916, em que o homem ainda exercia legalmente o pátrio poder. Naquela
época, o legislador já acenava com mudanças, ao abrir um precedente para a
mulher exercer a função do marido, no controle dos filhos até a maioridade,
quando na falta ou impedimento daquele. Para Fernando Barros (2001) o
homem já não exerce o poder total sobre a família. Inicia-se aí o declínio da
primazia do homem e o princípio da queda da estrutura legal do poder
patriarcal, e a ascendência da mulher na sociedade, não mais como uma figura
dependente do marido para exerce seus direitos, mas, agora, já desfrutando de
um ponto de igualdade em relação ao homem. A mulher não é mais incapaz
perante a lei, agora é considerada relativamente incapaz.
“O pai teve seu poder dividido com a esposa e limitado à menoridade do filho. Perde aí, neste ato de lei, parcela importante do poder, e vemos a mãe e os filhos terem seu poder aumentado no seio da família. Muda-se o jogo de forças no cenário da filiação”.
(BARROS, 2001, p.56)
20 O processo continua com mudanças sociais ocorridas na década
de 60, com a participação da mulher no mercado de trabalho, o surgimento da
pílula anticoncepcional, a liberação sexual e a emancipação da mulher casada
ocorrida através da Lei Nº 4.121, de 27 de dezembro de 1962, que dispõe
sobre a situação jurídica da mulher casada, pela qual lhe é outorgada
capacidade jurídica plena. Tais avanços culminaram com a Lei Nº 6.515, de 26
de dezembro de 1977, conhecida como a “Lei do Divórcio”, que estipula a
obrigação comum dos cônjuges para a manutenção dos filhos, sem discriminar
o sexo responsável pela pensão. Em suma, a mulher avança em direitos e
igualdade em relação ao sexo oposto.
O quadro familiar não para de sofrer alterações. Em 1988 é
promulgada a nova Constituição da República Federativa do Brasil, que surge
com uma série de novidades que visam ampliar os direitos humanos, valorizar
a dignidade da pessoa humana e a igualdade social. No seu Capítulo I, que
versa sobre os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, estabelece:
Artº 5º Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
Agora temos igualdade de condições. A mulher passa a usufruir a
mesma liberdade que goza o homem. Os seus direitos, deveres e obrigações
são realidades vigentes e sua participação no cenário social aumenta
consideravelmente, reduzindo o espaço antes ocupado pelo sexo masculino. O
golpe fatal no poder patriarcal perpetrado pelas autoridades humanas é
consumado com o advento do Novo Código Civil através da Lei Nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002, que institui, no Livro IV, o poder familiar no casamento,
findando com o poder patriarcal. O poder compete aos pais e, na falta ou
impedimento de um deles, o outro exercerá a autoridade com exclusividade, é
21o que diz a legislação do novo milênio, onde as mudanças refletem os novos
valores fundamentados através da vontade das massas populares e do desejo
de ser livre, sem restrições, sejam elas morais ou sociais.
A nova legislação e a atual visão social alteram o status da
mulher, dando-lhe novas diretrizes em relação a sua colocação na família e no
casamento. Ela agora precisa adaptar-se a um novo modelo, que lhe permite
ampla liberdade e igualdade em relação ao marido. Sua nova função surge ao
mesmo tempo em que a sociedade experimenta uma série de mudanças. A
rapidez nas transformações não deixa espaço para pensar em escolher o
melhor caminho a seguir. Talvez seja esse o motivo do fim de muitos
relacionamentos conjugais e o aumento de agressões entre casais.
Surge um novo mosaico nas relações familiares e conjugais.
Garbar e Francis abordam o novo status do homem moderno que também
sofre com as conseqüências que envolvem o fim da era patriarcal e o início da
liberdade feminina.
“A mudança do status da mulher modifica também o do homem, que vê desaparecer sua função de patriarca com poder exclusivo. Agora, ele deve elaborar um papel diferente, despojado de sua superioridade tradicional. Com a ampliação crescente do desemprego e com o trabalho das mulheres, sua função social e econômica se fragiliza. Ele perde o papel de responsável pelo aporte financeiro à família. Alguns, por obrigação ou por escolha, acabam ficando em casa, enquanto sua mulher vai trabalhar. Em certos casos, a perda desse papel chega a provocar descompensação psicológica. Talvez esse fato tenha a ver até mesmo com o número de mulheres agredidas pelo marido.
(GARBAR & THEODORE, 2000. p.31)
As mudanças que determinaram a queda do poder patriarcal
influenciaram no casamento civil e religioso, gerando aumento no número
divórcios e uma mudança de mentalidade de parte da sociedade, que hoje opta
por uniões estáveis, sem vínculos jurídicos ou religiosos. A substituição dos
termos poder patriarcal por poder familiar sofre rejeição por parte da igreja
22cristã, principalmente, das correntes conservadoras. Segundo os conceitos
doutrinários contidos na Bíblia sobre o casamento, a autoridade patriarcal é
indiscutível e inegociável, sendo essa à vontade de Deus.
A diferença entre a legislação humana e a legislação divina fica
evidente na questão do poder patriarcal. Os religiosos praticantes continuam
crendo na estrutura familiar que tem como líder à figura do homem, enquanto
aqueles que não se preocupam com vínculos religiosos seguem os seus
instintos e desejos. Nesse momento vemos a importância dos valores
religiosos adquiridos ao longo dos anos, que são os alicerces de sustentação
da instituição casamento, e ainda se valem da antiga estrutura familiar
patriarcal, sem desrespeitar os conceitos legais vigentes. As duas correntes
seguem firmes, e seus adeptos sustentam suas posições sem interferências.
Cabe ressaltar que o poder patriarcal ainda é exercido entre
casais que seguem as doutrinas bíblicas, sendo importante frisar, que, com os
novos conceitos, o casal cristão passou por um processo de adaptação ao
novo papel exercido pela mulher na sociedade. O pátrio poder continua sendo
o padrão cristão familiar, agora com mais flexibilidade e compreensão do
homem.
Finalizando, o casamento e a religião sofreram com as influências
externas do mundo moderno, resistindo e se adaptando, sendo uma prova
cabal de que o elo entre o casal e Deus é real e permanente.
23
Capítulo III
O Casamento e as Novas Tendências de Uniões
Estáveis
A família tradicional composta de pai, mãe e filhos, formada a
partir do matrimônio, representava uma instituição sagrada e sólida,
fundamentada em princípios históricos, morais e religiosos herdados dos
nossos pais. Com a evolução do aspecto legal, segundo Bucher (1999) a união
monogâmica, que representa a visão cristã de família e casamento, sofre a
interferência dos modelos modernos de uniões, agora legitimados pelas
autoridades que representam a vontade do povo.
“Do ponto de vista da legislação, várias transformações ocorrem em relação à família. Em parte essas mudanças respondem à tradição vigente na cultura cristã que, já por vários séculos, considera como ideal de família, o casal como aquele estruturado pelo laço do casamento monogâmico, com crianças, ou filhos de sangue ou por adoção, vivendo sob o mesmo teto”.
(BUCHER, 1999, p.84)
Continuando sua avaliação sob os conceitos tradicionais, Bucher
(1999) avalia o casal e a família sob novas formas de interação, dizendo que:
“Essa tradição se torna cada vez mais difícil de ser mantida, o que leva as
grandes transformações nas leis a partir das transformações na vida conjugal e
familiar”. A tradição sobrevive, pois sua base religiosa persiste, mas agora
divide espaço com novas formas de convivência, que forçaram alterações no
aspecto legal e social, interferindo sensivelmente nas estruturas familiares
históricas. Toda essa diversidade de opções se transforma num importante
instrumento de análise para estabelecermos um parâmetro em relação à
continuidade da instituição casamento e as novas modalidades de constituição
familiar e conjugal.
24Os valores que norteavam esse modelo familiar histórico, hoje
são confrontados com novos modelos e conceitos de família e união estável,
modificando profundamente a estrutura vigente em nossa sociedade. O
casamento ainda é uma opção para muitos, principalmente, para aqueles que
pautam sua conduta em princípios religiosos e tradições familiares, mas já não
é um padrão absoluto, pois novos arranjos surgiram, frutos da modernidade e
das influências externas que alteram a definição de família. Ao escrever sobre
o assunto, Blank mostra uma série de novas combinações familiares que
envolvem casais, divorciados e solteiros que alteraram o modo de convivência
familiar e matrimonial.
“Hoje, a família tradicional com vários filhos não é a única maneira de conviver intimamente dentro da sociedade. Ao lado dela, há solteiros que não querem casar-se; há casais em uniões não oficializadas; há experiências de convivências extra-matrimoniais; há divorciados que convivem com solteiros e outros divorciados que convivem com divorciados; há casais que, de antemão, não querem filhos ou que, no máximo, querem um; há mulheres solteiras que não querem casar, mas que têm filhos, e outras mulheres que sustentam família enquanto o marido fica desempregado ou desaparece. E assim por diante.”
(BLANK, 1996, pg. 27)
Com a mudança dos modelos de convivência interpessoais,
assumir um compromisso como o casamento tornou-se um grande desafio
para o homem moderno, que hoje goza de uma série de escolhas conjugais
que apresentam um grau de responsabilidade bem menor que um matrimônio
tradicional. A diminuição do poder de tutela do Estado sobre a vida do homem
e da mulher gerou uma série de transformações nos padrões de moralidade
outrora seguidos como regra de vida. O adultério, antes condenado legalmente
e considerado imoral pela igreja, já é absorvido pela sociedade como uma
opção do indivíduo, assim como os relacionamentos homossexuais, sendo
essas opções amplamente difundidas na mídia como algo normal, tanto para o
homem como para a mulher. Hoje, o indivíduo é livre para escolher como quer
se relacionar com o outro e até quando esse relacionamento preenche os seus
25desejos íntimos. Em muitas relações a individualidade é a condição
preponderante, onde imperam a satisfação pessoal, a vontade realizada e o
desejo consumado.
A família moderna, em muitos casos, não é mais constituída de
um casamento e filhos. Sendo assim, vários conceitos de uniões familiares
surgem e devem ser avaliados para podermos entender até que ponto a
instituição casamento foi atingida e tem condições de se manter na sociedade
contemporânea. A proliferação das uniões estáveis na sociedade brasileira
contribuiu sensivelmente para a redução do número de matrimônios,
principalmente, a partir do seu reconhecimento através da Constituição Federal
de 1988, que, no artigo 226, parágrafo terceiro, diz: “Para efeito da proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento”. Nota-se, que
agora, não há distinção legal entre união estável e casamento, a família ganha
uma nova conotação, independente da vontade da igreja cristã que não
reconhece tal união, pois fere os ensinos religiosos e a doutrina eclesiástica,
que considera tal convivência como um ato de fornicação, e em alguns casos,
de prostituição, segundo os ditames bíblicos. Colocar o casamento e a união
estável no mesmo patamar, não só fere princípios religiosos, mas, também,
abre precedente para complicações legais gerando duas instituições conjugais,
uma, de direito, representada pelo casamento, que dá, principalmente à mulher
certo amparo legal, e outra, de fato, a união estável, onde a troca de cônjuge
pode ocorrer sem que se quebre um princípio legal e moral. O Estado
reconhece a união, mas não é mais o instrumento com plenos poderes de
tutela, com poder de coibir múltiplos relacionamentos, como escreve o jurista
Dr. Elias Assad (2001), da Associação Paranaense de Advogados, em seu
artigo na internet, Poligamia Constitucional Brasileira, onde argumenta sobre a
facilidade legal de constituir uma união estável e a facilidade de findar esse
relacionamento, iniciando imediatamente outro, tendo a possibilidade de repetir
esse comportamento quantas vezes desejar, sem cometer a bigamia, que só
pode ser cometida por uma pessoa casada.
26
“No plano prático não há diferença nenhuma entre casamento e ‘união estável’. Uma situação é de direito e outra fática. Se uma pessoa casada contrai outro casamento comete crime de ‘bigamia’, enquanto aquele que mantém a ‘união estável’, embora pratique a mesma conduta, constituindo uma nova união estável, nenhum ilícito comete. Dois ou mais casamentos simultâneos é crime, duas ou mais ‘uniões estáveis’, não! Crime de adultério só os casados legalmente são passíveis de cometê-lo, ‘conviventes’, não!”
(Assad. 2001.)
A abordagem do Dr. Elias é pertinente, pois vislumbra uma
diferença entre o casamento e a união estável que envolve a preservação da
família e do lar, pois a atual situação facilita a união conjugal de indivíduo com
mais de uma pessoa, com amparo legal do poder público. Em suma, a
constituição familiar chamada união estável, surge sem um instrumento legal
de preservação conjugal, o que o ilustre advogado chama de “massacre
legislativo da entidade familiar”.
“Existe, ainda, uma hipótese que se traduz em verdadeiro massacre legislativo da entidade familiar denominada ‘união estável”, onde a legalidade, da janela, flerta com a imoralidade. É quando uma pessoa, embora em união estável com outra há muitos anos, com filhos, interesses comuns, etc., deserte desse lar. Pode ela livre, legal e imediatamente, pela atual sistemática, contrair casamento com uma terceira pessoa. A anterior companheira que com essa pessoa vivia, nada poderá fazer ou opor, não constituindo sequer impedimento legal para o casamento o fato de um dos contraentes estar ou ter vivido em ‘união estável” com outrem.”
(Assad. 2001.)
O termo união estável tem uma amplitude maior, pois absorve
outros termos utilizados para casais que optaram por viver sem estar casado e
desejam viver a dois livremente. Antes se falava em concubinato que significa o
estado do homem e da mulher, que vivem como marido e mulher sem estarem
casados; ou então, co-habitar que significa morar junto. A evolução social criou
o termo união livre que, segundo definição, significa, “a vida a dois fora das
27regras legais”, que, inicialmente, ficou vinculado aos jovens que passaram a
viver juntos, como se estivessem casados, exercendo uma revolução na
liberdade tradicional, entrando em choque com os padrões outrora
estabelecidos de casamento e costumes religiosos. Não demorou muito para
que a união livre se espalhasse, gerando uma nova cosmovisão social,
invadindo várias camadas da sociedade, independentemente de sexo, cor,
idade e status social. O “amor” agora tem duração determinada pelo desejo de
satisfação do ego pessoal e está vinculado à vontade de ficar ou não, podendo
ser trocado por uma nova relação, que implica nova oportunidade, e assim por
diante. São permitidas várias experiências. O que importa no mundo moderno
não é ser feliz para sempre, mas, viver feliz no presente, pois o futuro pode ser
negociado através de novos investimentos. Garbar e Francis (2000) abordam o
assunto união livre e chamam as novas constituições familiares de família
mosaico, não se referindo à Lei de Moisés recebida por instrução divina, nos
textos do Antigo Testamento, mas, sim, ao encaixe de peças diferentes que,
juntadas, formam um novo conjunto. A família é comparada a um mosaico que
suporta várias peças individuais, arranjos e opções de encaixe.
“Mas se a união livre evocou por muito tempo a marginalidade e a juventude, hoje faz parte dos costumes. Abrange todas as idades e todos os meios sociais. A duração dos sentimentos pretende ser a única razão da perenidade da relação. Reserva-se o tempo de ver, de se expressar, de se deixar e de recomeçar com outra pessoa. Deseja-se multiplicar as chances amorosas”.
(GARBAR & THEODORE, 2000, p.28)
As uniões livres deram uma nova dinâmica na vida de pessoas
interessadas em formar uma família sem interferência do Estado, da Igreja e da
religião. Nos arranjos contemporâneos, a escolha dos parceiros é da ordem do
privado, um contrato entre dois, independentemente do sexo, onde são
negociados os papéis, e a duração é condicionada; em contrapartida, o
casamento ainda funciona como uma instituição de ordem pública, onde o
Estado ainda exerce um papel de tutela e controle institucional, junto com a
28Igreja, que interfere positivamente, quando o casal deseja prosseguir a vida
conjugal seguindo os antigos padrões religiosos, morais e legais da sociedade,
ou, como gostam de chamar os pesquisadores da área de família, o modelo
tradicional. Não podemos negar a falência do modelo tradicional no mundo
pós-moderno, mas, também, não podemos afirmar que o matrimônio está em
processo de extinção. O matrimônio, como uma obrigação social, como
imposição familiar visando satisfazer exigências econômicas, ou como vontade
dos pais, perdeu seu espaço na conjugação familiar contemporânea, que agora
está voltada para uma nova forma de relacionamento que implica,
necessariamente, um compromisso, direito de amar e escolha do parceiro. O
casamento é valorizado na sociedade moderna através da oportunidade de
escolha, de acordo com o sentimento, um novo viés que é explorado
principalmente por aqueles que querem optar por um modelo tradicional
equilibrado, agora ajustado às novas realidades. Na opinião de Blank, o
casamento está vivo e ativo na sociedade, agora com uma nova dinâmica na
qual a escolha pelo compromisso entre duas pessoas requer mais
responsabilidade diante dos homens e de Deus.
“O matrimônio, em sua velha forma de contrato, de fato está morto, porque não corresponde mais às exigências de uma vida pós-industrial. Mas, ao mesmo tempo, o matrimônio não morreu, não. Está vivo numa nova forma dinâmica, baseada no compromisso existencial de duas pessoas consigo mesmas, com a sociedade, com o mundo e com Deus. Compromisso este que não se sustenta em códigos legais, mas numa opção fundamental, responsável, perante si mesmo, perante a sociedade e perante Deus”.
(BLANK, 1996, pg. 25)
O casamento se transformou, acompanhando a evolução social,
passando por um processo de adaptação às novas realidades e exigências
sociais. A interferência das uniões estáveis ou livres afetou em parte o
casamento como instituição, não destruindo o seu valor, nem os seus
princípios. Em muitos casos, essas formas de casamento não-oficializadas não
apresentaram soluções definitivas para uma convivência duradoura e feliz,
apesar de toda a liberdade que pode ser explorada. A lógica nos leva a aceitar
29que nem todos se adaptam a um modo de vida em que a responsabilidade é
subjetiva e limitada à vontade de permanecer unido ou não. Nesse momento,
fica claro que o casamento tradicional não é o grande vilão da história.
O casamento encontra nos ensinos da religião cristã o seu
alicerce para manter os padrões tradicionais, que, apesar de reestruturados,
não perderam a sua essência e não se misturam com as novas formas de
uniões estáveis. A crença em Deus leva o homem e a mulher cristã ao
exercício da responsabilidade conjugal que se complementa com a realização
matrimonial e o desejo de viver satisfazendo a si mesmo e ao cônjuge, sem
que isto se torne um fardo para suas vidas. Com o crescimento do sentimento
religioso e o aumento dos adeptos nas igrejas cristãs o casamento oficializado
continua a ser uma opção natural e permanente, pela qual as pessoas buscam
realizar o sonho de encontrar a pessoa ideal para constituir uma família
tradicional.
Apesar de todo o aparato de divulgação das novas tendências,
através dos meios de comunicação e o crescimento dos adeptos dos novos
modelos, as pesquisas comprovam que o casamento é uma realidade
contínua, que tem na religião cristã sua maior aliada frente aos novos modelos
de constituição de relacionamentos estáveis.
O mundo muda, surgem novas formas de uniões, mas o
casamento ainda é a melhor opção.
30
Capítulo IV
Uma Análise Estatística do Casamento e da Religião
Cristã na Sociedade Brasileira
As informações estatísticas constituem uma importante fonte de
acompanhamento da evolução do casamento e da religião no Brasil,
proporcionando uma visão clara da influência religiosa nas uniões conjugais. O
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, responsável pela coleta,
análise e divulgação de dados numéricos que envolvem toda a sociedade
brasileira, realizou censos em 1991 e 2000, sendo que este último, teve seus
dados divulgados recentemente, o que será de suma importância para nossa
análise. Além dos censos citados, o Instituto também faz acompanhamento
anual produzindo previsões de vários dados que também servirão de objeto de
estudo.
4.1 - Analisando o Casamento
Inicialmente, iremos avaliar os dados do IBGE que fazem parte
das pesquisas sobre estatísticas de Registro Civil que fornecem várias
informações relativas a casamentos, separações judiciais e divórcios. Os dados
são obtidos junto a Cartórios de Registro Civil e não registram dados sobre
uniões consensuais. Segundo o Instituto, no ano de 2002 foram registrados
715.166 casamentos, o que representa uma queda de 4% em relação aos
743.416 casamentos registrados em 1991. Constatou-se também, que o menor
índice registrado entre os anos citados, ocorreu em 1998, que registrou 698 mil
casamentos. No ano seguinte houve uma parceria entre a Igreja Católica e as
prefeituras locais, visando legalizar uniões estáveis, promovendo casamentos
coletivos, o que gerou um aumento considerável, chegando ao número de
788.744 casamentos em 1999, comprovando que a religião ainda detém
31influência na escolha pelo casamento, e que muitos não legalizam a união por
falta de recursos econômicos.
650.000
700.000
750.000
800.000
ano 1991 ano 1998 ano 1999 ano 2002
Casamentos no Brasil - 1991/2002
(FONTE: IBGE. Estatística de Registro Civil. gráfico 9, v.29, 2002)
O gráfico acima mostra a evolução do casamento no período
1991/2002, já analisado em número de casamentos realizados. Para melhor
avaliação poderemos recorrer aos dados do IBGE sobre taxa de nupcialidade
legal, que é obtida através da divisão do número de casamentos de pessoas
com 15 anos ou mais de idade pelo total da população residente, multiplicando-
se o resultado por 1.000. No ano de 1991, houve 7,5 casamentos para cada
1000 pessoas; no ano de 1998, o valor cai para 6,0 casamentos; em 1999 sobe
novamente, principalmente, pelos casamentos coletivos, para 6,6 casamentos,
tendo nos anos de 2001 e 2002 mantido o patamar de 5,7 casamentos a cada
mil habitantes. Nota-se que a união legal pelo casamento apresenta uma
diminuição numérica com o passar dos anos, principalmente, pelo crescimento
das novas formas de uniões estáveis que, hoje, já detêm algum
reconhecimento legal. A queda foi gradativa até 1998 e, no ano seguinte, teve
seu índice aumentado pela intervenção da igreja e do poder municipal, que
facilitou a legalização matrimonial. Os números recentes apresentam certo
equilíbrio e estabilidade. Talvez isso esteja relacionado à faixa etária em que as
pessoas se casam. Um dado interessante observado pelo IBGE, no ano de
322002, mostra que 69% dos casamentos ocorreram entre pessoas de 29 anos
de idade, sendo que os homens se casam, em média, aos 30 anos, e a mulher,
aos 27 anos. No ano de 1991, os homens contraíam casamento, em média,
aos 27 anos, e a mulher, aos 23 anos. Tendo por base o ano 2002, vemos que
houve um aumento de três anos na faixa etária para o casamento em relação
ao ano de 1991.
O gráfico nos dá uma visão melhor do equilíbrio da taxa de
nupcialidade dos últimos anos pesquisados, tendo por base o ano de 1991.
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
ano1991
ano1998
ano1999
ano2000
ano2001
ano2002
Taxa de Nupcialidade - Brasil - 1991/2002
(FONTE: IBGE. Estatística de Registro Civil. gráfico 10, v.29, 2002)
É incontestável o declínio da taxa de nupcialidade nos últimos
anos, em virtude dos novos arranjos conjugais e da situação econômica do
país, que, em muitos casos, leva pessoas pobres a optarem por viverem juntas,
pelo simples fato de não terem recursos para custear um casamento oficial.
“Na hora de se casar, o brasileiro dá cada vez menos importância ao papel passado: 28% dos casais que vivem sob o mesmo teto não oficializaram a união no civil nem no religioso. Há pelo menos duas explicações para o crescimento desse tipo de matrimônio: os custos de um casamento oficial e a diminuição do preconceito contra pessoas que simplesmente vivem juntas”.
(COLEÇÃO ALMANAQUE ABRIL. 2002. nº 4. p.12)
33Mesmo com o declínio nos resultados censitários, o casamento
tradicional continua sendo o tipo mais comum de união conjugal, e o equilíbrio
nos índices atuais, pode ser mantidos e até aumentado, caso haja uma
modificação no perfil religioso da sociedade brasileira e uma integração maior
entre os órgãos públicos e as igrejas, visando facilitar a legalização de
casamentos.
Outra vertente que podemos avaliar envolve o número de
pessoas casadas no Brasil em 2000, em relação ao número populacional
estimado.
Natureza da União - Censo 2000 Viviam em União - 67.713.209
49,43%
28,63%
4,41%
17,51%
Casamento civil eReligioso
Só casamento civil
Só casamento religioso
União Consensual
(FONTE: IBGE. Censo Demográfico 2000 – Tabela 1.5.1 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, por estado civil, segundo o sexo, natureza da união – Brasil))
O gráfico acima se refere a pessoas de 10 anos ou mais de idade,
em 2000, que totalizavam 136.910.358 pessoas, e revela dados importantes
sobre a natureza da união. Do total apresentado, 49.45% das pessoas,
67.713.209 viviam em união. Partindo desse número, vemos que o somatório
dos percentuais relacionados ao casamento, civil e/ou religioso, representam
71,35%, chegando a 48 milhões de pessoas, um número expressivo, que
34mostra que a maior parte da sociedade brasileira está constituída de famílias
que valorizam o casamento como instituição social e tradicional brasileira.
Para demonstrar a importância da religião na formação das
uniões conjugais no Brasil, analisaremos o somatório das uniões envolvendo
casamento civil e religioso e só casamento religioso, no qual encontramos o
percentual de 53,84% de pessoas que viviam em união, o que representa
numericamente, no ano de 2000, mais de 36 milhões de brasileiros que tiveram
seu casamento oficializado através de um cerimonial religioso.
A análise estatística das pesquisas que envolvem o casamento,
confirma a solidez da instituição matrimonial tradicional com o número
expressivo de famílias que ainda mantêm o matrimônio e o juramento feito
diante de Deus. Além disso, vemos que a cada ano cerca de 700 mil pessoas
se casam no Brasil, ficando claro que, apesar da modernidade e dos modismos
das novas uniões, o casamento se mantém como uma instituição viva e
permanente, na qual o amor ainda é o sentimento a ser completado, conforme
a orientação bíblica.
4.2 - Analisando a Religião Cristã
A pesquisa sobre religião cristã e a evolução do Catolicismo e dos
Evangélicos é essencial para análise da estrutura conjugal brasileira, por ser o
cristianismo a religião “oficial” do país.
A Igreja Católica Romana é a ramificação cristã predominante no
país, mas, segundo os últimos censos de 1991 e 2000, vem apresentando
declínio acentuado. Segundo o Almanaque Abril de 2002 (p.155), pelo censo
do IBGE, em 1991 os Católicos representavam 83% da população, e, os dados
do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP), em 2000, indicam que o percentual desce para 71%. A cada ano,
35calcula-se que 600 mil pessoas abandonam o catolicismo migrando para
igrejas evangélicas.
O censo do IBGE de 2002 constatou um percentual de 73% de
católicos, o que representa uma queda de 10% de adeptos em 10 anos. Estes
números mostram que dentro do catolicismo existem, de um lado, os ortodoxos
que guardam as doutrinas e seguem os ritos religiosos, e do outro, um grande
número de adeptos do “catolicismo popular”; que é caracterizado por pessoas
que afirmam ser católicas, mas não têm o hábito de freqüentar a igreja e
valorizar todos os sacramentos. Apesar das duas vertentes, o casamento é a
única forma de união aceitável pelo clero católico que, inclusive, através de
parcerias com o poder público costuma realizar casamentos coletivos.
O Gráfico mostra a realidade do cristianismo no Brasil.
Religião Cristã - Censo 2000Total: 169.872.856
73,57%
15,41%
11,01%
Católico ApostólicoRomano 124 980 132
Evangélicos 26 184 941
Outros 18 707 783
(FONTE: IBGE. Censo Demográfico. 2000. Tabela 1.3.1 – População residente, por sexo e situação de domicílio, segundo a religião - Brasil)
Assim como os Católicos Romanos, os religiosos Protestantes
hoje denominados Evangélicos, termo este, que engloba várias vertentes, só
admite o casamento como forma de união conjugal. Qualquer exceção a essa
regra representa um número insignificante, sem valia para o estudo em objeto.
36A grande diferença entre as duas principais religiões cristãs,
reside na participação em massa dos evangélicos nos cultos e cerimoniais da
igreja, que não aceita em seu rol de membros casais que vivem em uniões
livres. A doutrina evangélica é inflexível no que se refere ao casamento, e os
evangélicos em todas as suas principais ramificações vêm apresentando
crescimento marcante nas pesquisas censitárias, o que torna fundamental a
análise do aumento desse viés religioso, que tem grande poder de influência na
instituição casamento.
O gráfico mostra a evolução do percentual quantitativo dos
evangélicos entre os anos de 1970 e 2000, com dados obtidos no artigo
intitulado: Quantos Evangélicos há no Brasil? Publicação do Jornal Folha
Cristã, com dados pesquisados junto ao IBGE e a SEPAL – Serviço de
Evangelização para América Latina, onde consta que, em 1970, havia 4,8
milhões de evangélicos; em 1980 este número sobe para 7,9 milhões; em
1991, aumenta para 13,7 milhões, chegando em 2000 a 26,1 milhões.
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
ano 1970 ano 1980 ano 1991 ano 2000
Crescimento do Evangélicos - 1991/2000
( FONTE: JORNAL FOLHA CRISTÃ. 2004. pg.4.)
37É impressionante o índice de crescimento dos evangélicos. Nota-
se que, entre os anos de 1970 e 1980, houve um aumento percentual de 65%
de adeptos; entre os anos de 1980 e 1991 o percentual cresce para 74%, e
entre os anos de 1991 e 2000, atinge 90% de crescimento, o que mostra que,
num período de 30 anos, a população evangélica aumentou de 4,8 milhões
para 26 milhões. A continuar esse crescimento, segundo o artigo, os religiosos
evangélicos tendem a atingir aproximadamente 55 milhões no ano 2010,
chegando à metade da população brasileira no ano de 2022. Os números
apresentados demonstram que o crescimento expressivo dos evangélicos nas
últimas décadas, vinculado a visão doutrinária sobre o casamento civil e
religioso, exercerá uma forte influência no aumento dos índices de matrimônios
no país, o que ressalta a importância da religião cristã na sociedade brasileira.
38
Capítulo V
A Influência da Religião Cristã na Preservação do
Casamento
A influência da religião cristã na instituição casamento pode ser
comprovada pela capacidade de adaptação do matrimônio religioso à
sociedade do novo milênio, na qual os conceitos liberais servem de incentivo a
novas modalidades de uniões que são propagados pela mídia como um avanço
democrático natural. As transformações sociais, legais e, principalmente,
morais, não foram capazes de interferir na identidade e na ortodoxia dos
ensinamentos doutrinários sobre o casamento, que permanece como tradição e
livre expressão da vontade religiosa manifestada pelos cristãos no ato da união
nupcial.
A análise censitária mostra a força do casamento, com 67
milhões de pessoas casadas e 700 mil matrimônios anuais no Brasil. Os
números são consideráveis e devem ser avaliados imparcialmente. Fala-se
muito na diminuição do número de casamento em relação à população e do
aumento numérico das uniões estáveis, porém pouco se dá valor a tradição
Católica, que representa boa parte da população no país, e ao crescimento
avançado da população evangélica, que em 20 anos pode chegar a metade da
população no Brasil, elevando o número de matrimônios, mantendo o equilíbrio
numérico, ou, até mesmo, aumentando o percentual em relação às uniões
estáveis.
Os dados apresentados refletem a realidade presente e projetam
para o futuro a continuidade do matrimônio. Provam, também, que há um
cristianismo enraizado no seio da sociedade brasileira, que tem suas bases
firmadas na constituição da família, na efetivação do casamento, que visa: à
39procriação, à satisfação sexual e a unidade do casal em Cristo, como um só
corpo. Azevedo concorda com a afirmação dizendo:
“Antes, devemos, como cristãos, repetir que a família faz parte do propósito divino para felicidade dos indivíduos e das sociedades e quem quiser ser feliz deve procurar viver segundo os princípios que o Senhor da história fez registrar na Bíblia Sagrada”.
(AZEVEDO, 2003, p. 9)
A trajetória da instituição matrimonial no Brasil está vinculada à
religião cristã, que tem em seus preceitos a união do homem e da mulher como
uma questão sagrada, que, para a Igreja Católica Apostólica Romana, constitui
um dos sete sacramentos, e para as Igrejas Evangélicas constitui uma
ordenação divina, santa e inegociável, independente da abertura para novas
constituições familiares na legislação vigente no país.
O casamento, para muitos, está ultrapassado e faz parte de um
passado envolto em uma relação de contrato e obrigações das partes
envolvidas, em que cada cônjuge deveria renunciar em favor da relação com o
outro, algo que não teria mais espaço na sociedade atual que prima pelo
individualismo, e a realização dos próprios desejos. Blank analisa a questão
dizendo que: “Os verdadeiros valores do matrimônio cristão são bem
diferentes. Em nada foram superados pela nova dinâmica da sociedade pós-
industrial” (1996. p.86). O que ela afirma sugere que, apesar da evolução dos
papéis desempenhados pelo homem e pela mulher, o casamento sempre se
ajusta, mesmo com sua forma sacra e tradicional, que envolve no altar um
compromisso mútuo de companheirismo, renúncia e amor.
“A sacramentalidade do matrimônio cristão não o estatiza, como muitos de seus críticos gostam de afirmar. Pelo contrário, revela-se uma força dinâmica e ativa. Ela pode tornar-se um caminho original rumo a uma transcendência perdida, e não obstante, tão desejada por esta nossa sociedade”.
(BLANK, 1996, p.86)
40Essa força dinâmica é a expressão da atuação divina que se
manifesta através da crença e do desejo do casal de unir-se segundo os
padrões bíblicos revelados na religião cristã, onde a união envolve uma terceira
pessoa que conduz o casal, pelo caminho da fé, a uma relação de
compromisso, respeito mútuo e fidelidade. Azevedo enfoca, que: “Nesse novo
tipo de triângulo amoroso. Deus está no vértice superior, ditando os valores,
inspirando as decisões e fortalecendo os laços conjugais”. (2003. p. 50). A
crença na participação divina influi no casal de forma positiva, quando,
imbuídos da consciência cristã, buscam uma relação de equilíbrio na qual os
desejos são respeitados e renunciados em favor de uma vida feliz.
“No casamento, firmado segundo os princípios espirituais de Deus, o maior prazer (em todas as suas dimensões) é o prazer do outro. Não se casa para ver o que se pode tirar do outro, mas para oferecer o máximo ao outro, em termos de cuidado, carinho, afeto, proteção e preocupação”.
(AZEVEDO. 2003, p.50)
O casal cristão busca sempre uma relação de unidade conjugal,
em que as diferenças e os conflitos servem de ponto de avaliação para o
equilíbrio do relacionamento conjugal. O casamento completo, segundo Pelt
envolve mais que se apaixonar e casar. “Em lugar disso, um casamento feliz –
o casamento bem sucedido – envolve duas pessoas na busca da solução para
grandes ou pequenos problemas”. (2002. p.10). Continuando, Pelt mostra uma
ilustração do filósofo Platão que enriquece o valor do matrimônio ao compará-lo
a uma escada.
“As duas partes laterais da escada simbolizam o marido e a mulher, e cada degrau representa aquilo que os atrai e os mantém unidos num companheirismo inseparável. O degrau mais baixo é a atração física, e o degrau mais alto, o puro amor a Deus. Cada degrau da escada depende dos outros degraus, fazendo com que todos se tornem importantes a fim de manter a unidade da escada de um casamento completo”.
(PELT. 2002, p.10)
41A escada simboliza um belo exemplo de equilíbrio e dependência
mútua do casal e expressa sua relação com Deus. Não há lugar para
permissividades modernas, nem superioridade na relação; todos os degraus
estão interligados em igualdade, e cada degrau conquistado em direção ao
topo aproxima mais o casal de si mesmo e do amor de Deus. Assim é o
casamento segundo a orientação cristã. É uma instituição na qual não deve
haver brechas, nem experiências extraconjugais, e cuja virtude é o amor, que
só pode ser encontrado em sua plenitude em Deus. Nesse contexto,
poderíamos colocar a religião cristã como o chão que dá apoio à escada,
impulsionando o casal, através dos ensinamentos bíblicos, a subir em busca da
felicidade conjugal.
Pelt ratifica a importância do relacionamento humano com Deus e
a influência divina no instituto casamento, como algo natural do ser humano.
“A necessidade de um relacionamento pessoal com Deus é algo inerente do ser humano. A espiritualidade é o ingrediente que falta neste século de permissividade. Quando um casal entrega a si mesmo e ao seu lar a um poder mais elevado, tornam-se parceiros unidos num relacionamento matrimonial estável e bem-sucedido”.
(PELT, 2002, p.12)
Na Bíblia Sagrada também encontramos citações que
apresentam o casamento através de símbolos, sendo um deles um jardim,
conforme o texto: “Jardim fechado és tu irmã minha, esposa minha, manancial
fechado, fonte selada” (Cantares de Salomão 4.12), onde é enfatizada a
unidade conjugal como uma só carne, e a felicidade da vida a dois, partilhada
em um jardim, onde só os noivos podem entrar e gozar do manancial, que
simboliza a realização sexual e emocional com a aprovação de Deus.
O casamento monogâmico atravessa épocas, faz história com
seus cerimoniais religiosos e símbolos, vence barreiras sociais e continua
sendo um sonho de muitos corações. As mulheres ainda o desejam com seus
vestidos brancos e os homens celebram no altar a conquista alcançada. Tudo
42isso é firmado diante de Deus numa liturgia onde são proferidos os votos
matrimoniais.
Na Revista O GLOBO, Martha Medeiros (2004), narra no artigo
“O umbigo do Brasil”, sua experiência vivenciada durante o casamento de uma
jovem simples e religiosa, ocorrido recentemente. A cerimônia é realizada
numa igreja sem luxo, onde o padre faz uma explanação exaltando o amor e
condenando o sexo livre, as revistas, as novelas e liberdade social. Nesse
momento a colunista se surpreende com a reação do público presente, cerca
de cem pessoas.
“Olhei para os lados pra ver se todos estavam, como eu, achando aquele papo tirânico demais, mas o que vi foram rostos emocionados, em êxtase. Imaginei que a dupla no altar estaria suando frio diante de tanta pressão, doídos pra sair dali correndo, mas, numa cena inédita para meus olhos, noivo e noiva puxaram os aplausos no final do sermão, no que foram entusiasticamente acompanhados pelo resto da igreja.
(MEDEIROS, 2004, p.12)
O discurso do casamento mesmo “inadequado” para a sociedade
atual, foi aclamado pela platéia e representa a opinião de uma massa
populacional religiosa que preserva o que aprendeu. Medeiros, então, afirma
que: “A maioria da população é obediente aos mandamentos de Deus, não
quer saber de novos arranjos afetivos, de flexibilidade, de nada disso. Aprova a
rédea curta” (2004. p.12.).
A constatação da influência da religiosidade nesse matrimônio
revela que existe uma intervenção das elites no processo de informação e
mutação dos costumes, que não representa a maioria da sociedade; mas, sim,
a classe privilegiada que deseja impor seu liberalismo moral. Continuando, o
artigo diz:
“Dentro daquela igreja havia umas cem pessoas humildes e crentes, e duas ou três que não tinham nada em comum com
43o resto. Uma amostra proporcional da população do Brasil. Somos minoria não só em termos de poder aquisitivo, mas uma minoria moral: o país é careta. Enquanto que nós, os ‘modernos’, achamos banal que as pessoas se separem, tenham filhos de várias relações e levem seus desejos às últimas conseqüências, há uma outra turma muito mais numerosa que acredita na família padrão e no amor para sempre...”.
(MEDEIROS, 2004, p.12)
Há um contraste entre um grupo pequeno que detém o poder e a
massa popular. São dois mundos diferentes, onde os “modernos” exaltam a
liberdade de expressão, opção e padrões morais. Enquanto pessoas humildes
que compõem grande parte da sociedade, aprenderam a respeitar e seguir o
seu Deus, a religião e têm prazer em cumprir os princípios bíblicos de
moralidade, apesar de não serem ouvidos e notados. O fim da história mostra a
verdadeira realidade social do Brasil.
“Saí da igreja e fui jantar num restaurante tailandês. Olhei para os lados e era outro país: pessoas elegantes, descoladas, algumas no terceiro casamento. Um mundo realista e lúcido. Mas há um outro mundo que também é verdadeiro, cuja lucidez funciona em outra voltagem. A diferença é que os habitantes deste outro mundo aparecem muito pouco nos meios de comunicação: eles não são entrevistados, não são fotografados, suas idéias não viram ensaios nem crônicas, e acabamos esquecendo que o Brasil tem muito mais a cara deles que a nossa”.
(MEDEIROS, 2004, p.12)
Apesar de toda distinção entre as classes, ainda existe no Brasil
um povo numeroso, que tem na religião cristã seu alicerce contra novas
tendências, e que preserva o casamento como uma instituição sagrada, onde
prevalece a moral e o compromisso entre duas pessoas que se unem em amor
e comunhão permanente.
Viva o casamento! Uma instituição criada por Deus e desejada pelo
verdadeiro cristão.
44
CONCLUSÃO
Falar sobre a importância da instituição casamento hoje requer
coragem e confiança na proposição. Por isso, ao analisarmos a origem do
matrimônio através da origem cristã e como foi preservado, mesmo com a
evolução social e as novas tendências, já demonstra que o assunto requer
especial atenção.
A mídia e grande parte das elites formadoras de opinião tratam o
assunto casamento como uma tradição quase morta no contexto social
brasileiro. O avanço pós-industrial e a globalização levaram a sociedade ao
afrouxamento das leis morais, com o pretexto de liberdade democrática e
individual, onde a satisfação dos prazeres íntimos supera quaisquer barreiras,
leis e atributos religiosos e morais.
O casamento, mesmo sendo massacrado por ideais liberais,
permanece vivo como tradição na vida de milhões de casais, que ainda
mantém a união consagrada diante de Deus e dos homens, como a forma
moral, ética e religiosa da união entre um homem e uma mulher. Além disso,
ainda é a opção de milhares de pessoas que desejam realizar o sonho de
encontrar a felicidade de viver a dois, crendo no caráter indissolúvel do
matrimônio.
Alheia à camada elitizada, existe uma classe simples e humilde
esquecida pela mídia eletrônica, jornais e revistas, mas que preserva a tradição
e senti prazer em constituir uma família segundo os costumes e ensinamentos
bíblicos preservados no catolicismo e no protestantismo brasileiro. O
catolicismo mesmo enfrentando um declínio no número de adeptos, ainda
realiza em suas paróquias milhares de cerimônias de uniões conjugais. Os
protestantes, hoje conhecidos como evangélicos, experimentam um
crescimento quantitativo impressionante, gerando um aumento expressivo no
número de casamentos.
45O cristianismo permanece firme e ainda é o maior formador de
opinião em nossa sociedade, ditando normas éticas e morais que sobrevivem à
evolução, às legislações, aos desejos pessoais e ao poder humano. A religião
cristã não é um movimento novo, um modismo popular, por isso deve ser
respeitada em seus costumes e tradições, vigentes durante séculos, no Brasil
e no mundo. O casamento é parte integrante e fundamental dos ensinamentos
de Cristo, refletidos no sistema religioso da nossa nação, e continuará sendo a
opção de milhares de pessoas que têm na fé, na esperança e no amor seu
modo de viver.
46
ANEXOS
47
BIBLIOGRAFIA
ALMANAQUE ABRIL BRASIL 2002. São Paulo: Editora Abril, 2002.
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www.ibge.gov.br. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
49
ÍNDICE
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 08
Capítulo I
O Casamento como Instituição Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Capítulo II
O Casamento no século XXI e as influências externas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Capítulo III
O Casamento e as Novas Tendências de Uniões Estáveis . . . . . . . . . . . . . . 23
Capítulo IV
Uma Análise Estatística do Casamento e da Religião Cristã na Sociedade
Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Capítulo V
A Influência da Religião Cristã na Preservação do Casamento . . . . . . . . . . . 38
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Folha de Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título: A influência da religião cristã na preservação do casamento.
Data da Entrega:__________________________________________________
Avaliado por:_______________________________________Grau_________.
______________________, _______de_________________de______.