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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ- REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA NO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NILMA PEIXOTO PEREIRA ORIENTADORA: PROF ª. MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE RIO DE JANEIRO JULHO / 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM

PSICOPEDAGÓGICA NO CURSO DE

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

NILMA PEIXOTO PEREIRA

ORIENTADORA: PROF ª. MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE

RIO DE JANEIRO JULHO / 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO JULHO / 2004

A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM

PSICOPEDAGÓGICA NO CURSO DE

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

NILMA PEIXOTO PEREIRA

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AGRADECIMENTO

A meus pais (in memorium) que sempre me apoiaram e incentivaram na busca de maiores conhecimentos. A todos os professores do Curso de Psicopedagogia pelo caminho aberto para realização deste trabalho. Aos participantes deste trabalho pelo que tornaram possível.

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DEDICATÓRIA

Aos professores e alunos dos Cursos de Formação de Professores.

5

EPÍGRAFE

“Não há experiência no empreendimento humano que não esteja baseada numa percepção fundamental do mundo e de como estamos nele”.

(Keem, 1979)

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RESUMO

Neste trabalho buscou-se produzir conhecimento sobre como acontece

a formação teórica e prática do psicopedagogo, com vistas a conhecer e construir

uma trajetória profissional

Saber como o aluno aprende e constrói seu conhecimento, bem como

compreender as dimensões da relação com a escola, pode contribuir para o

esclarecimento dos processos de aprendizagem e informar sobre como superar

dificuldades no rendimento escolar.

O que a psicopedagogia oferece aos profissionais que se interessam

por aprendizagem é a possibilidade de analisar este processo do ponto de vista

do sujeito que aprende e da instituição que ensina.

Entendemos a Psicopedagogia como uma área interessada em

investigar a relação da criança com o conhecimento. Essa relação pode

configurar-se como problemática, em razão de aspectos pedagógicos e/ou

psicológicos. Dentre estes últimos, incluem-se aqueles associados a aspectos

afetivos e/ou cognitivos.

O estudo para este trabalho desenvolveu-se através de pesquisa

qualitativa, que objetivou a descrição de aspectos relacionados à formação teórica

e prática do professor.

A formação teórica foi levantada através de pesquisas bibliográficas. A

prática profissional foi levantada através de observações e entrevistas com

profissionais em uma instituição escolar, Colégio Estadual Guilherme Brigs.

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METODOLOGIA

Antes de falar da importância de uma abordagem psicopedagógica no

Curso de Formação de Professores, optamos por iniciar o trabalho com uma

pesquisa descritiva explicitando o que é psicopedagogia e sua

interdisciplinaridade, a formação e atuação do psipedagogo, visando aclarar

situações para futuros planos e decisões.

A necessidade de uma nova educação que remeta o educando para a

realidade e, então, nela intervir, obriga o professor a modificar a idéia de que a

escola que funciona bem é aquela onde o professor transmite e o aluno

repete/reproduz nos momentos de avaliação. Daí, a importância de uma formação

psicopedagógica do professor.

A proposta desta monografia é mostrar a importância de uma

abordagem psicopedagógica no Curso de Formação de Professores com o fim de

humanizar cada vez mais as relações sociais, ou seja, que o curso de Formação

de Professores possa constituir-se no espaço legítimo para a construção de um

fazer psicopedagógico transformador. Para tal é de suma importância um trabalho

de pesquisa bibliográfica sobre o significado da Psicopedagogia e suas

implicações destacando a importância do papel do psipedagogo na instituição

escolar.

Para a realização deste trabalho houve intensa leitura bibliográfica

sobre o assunto seguida de documentação através de resumo e fichamento.

Para a pesquisa relacionada à prática profissional do psipedagogo e

sobre a importância de uma abordagem psicopedagógica no Curso de Formação

de Professores, foi feito um trabalho investigatório com entrevistas e observações

em sala de aula, em uma instituição escolar.

Na instituição de ensino visitada, Colégio Estadual Guilherme Brigs,

participamos de reunião pedagógica, além de realizarmos entrevistas com

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profissionais da área, coordenadores e diretores, recorremos para tal, ao uso de

gravador a fim de registrar as informações obtidas oralmente e facilitar a

transcrição dos dados obtidos.

Uma vez organizadas as informações, os dados foram trabalhados de

forma a favorecer a escrita deste trabalho monográfico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 00

CAPÍTULO I

A PSICOPEDAGOGIA E SEU SIGNIFICADO 00

CAPÍTULO II

A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR 00

CAPÍTULO III

O CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 00

CONCLUSÃO 00

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 00

ÍNDICE 00

FOLHA DE AVALIAÇÃO 00

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INTRODUÇÃO

A questão do fracasso escolar é um ponto muito importante na educação

brasileira. Devido às características do quadro educacional brasileiro era preciso

que os educadores adquirissem conhecimentos que ajudassem na sua prática

escolar e no sucesso dos alunos. Surgiu então, no campo da educação várias

contribuições, dentre elas a Psicopedagogia, área de estudo que se preocupa com

o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes.

A educação deve ser comprometida com a formação de sujeitos

capazes de assumir seus papéis de agentes de transformação social. Para tal, a

escola não pode mais continuar assumindo o papel de reprodutora da estrutura

social, com todas as suas características e propriedades. As experiências de vida

de seus alunos devem ser consideradas assim como seu universo vocabular, tudo

deve estar inserido num trabalho permanente de questionamento e análise crítica

da realidade social.

Assim, faz-se necessária uma maior preocupação com a formação dos

futuros professores. Os cursos de formação de professores devem procurar dotá-

los de marcos de interpretação e análise da situação na qual se desenvolverá sua

atividade. Marcos que serão enriquecidos e ampliados na sua interação com a

realidade cotidiana da prática profissional. Neste sentido, mesmo sendo certo que

o pensamento do professor transcende em muito aquilo que caberia ser

considerado como "conhecimento psicopedagógico" parece necessário que sua

formação contemple de forma adequada este âmbito. Isso conduz a propor como

parte integrante da formação do professor um núcleo teórico-conceptual coerente,

relativo ao conhecimento psicopedagógico.

Assim, acredita-se que à já tradicional formação prática, presente nos

currículos de formação do professorado, deve ser acrescentada uma dimensão de

auto-observação, de reflexão sobre o próprio desempenho, que contribua para

torná-la mais adequada. Pretendemos neste trabalho, evidenciar a articulação do

currículo com o cotidiano escolar. É necessário que o professor perceba a

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importância do currículo abordar uma visão psicopedagógica do processo de

ensino-aprendizagem. Torna-se essencial que os futuros professores passem a

entender os alunos como sujeitos históricos, sociais, biológicos, perceptivos,

motores e cognitivos.

A Psicopedagogia traz uma enorme contribuição à Psicologia da

Educação e a Pedagogia, e, assim, vemos a necessidade de se tratar, mesmo

que superficialmente, das implicações desta área a partir do Curso de Formação

de Professores, já que muitos, infelizmente, não seguirão seus estudos a níveis

de graduação e pós-graduação e, sabemos que é uma área do conhecimento

extremamente importante e interessante para todos os profissionais da Educação

comprometidos com uma verdadeira educação.

Estudar o que o meio faz com a criança: quais os aspectos familiares

que estão problematizando a aprendizagem e ainda se a escola oferece um

ensino adequado ou, tentando gerar o mínimo de erros, está simplesmente

repetindo estruturas artificiais, não é tipo de questionamento abordado nas

escolas que promovem Cursos de Formação de Professores. Estes têm um

currículo limitado, onde a ênfase maior é dada aos aspectos mais instrumentais e

"práticos" do dia-dia, como o modo correto de apagar o quadro, por exemplo As

escolas normais se preocupam muito com aspectos didáticos, deixando de lado

questões fundamentais para uma formação mais consistente, como os

mecanismos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Os Cursos de Formação de Professores devem possibilitar leituras

mais aprofundadas sobre a aprendizagem e seu desenvolvimento (processo) pois

somente através da informação, torna-se possível à superação dos entraves

existentes.

Só um ensino comprometido com uma formação crítica e reflexiva

sobre a realidade (dia-dia) escolar, terá condições de preparar profissionais

competentes para intervirem no processo educativo de modo a inserir as ações

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sobre os problemas de aprendizagem num movimento mais amplo de luta pela

transformação da sociedade.

O saber psicopedagógico deve capacitar os futuros professores, para

que compreendam com mais clareza o processo de aprendizagem e não

aprendizagem dos alunos com vistas a prevenção de maiores problemas futuros.

É essencial sentir e compreender como é que as crianças aprendem. O aprender

vivenciado na experiência contínua, renovada, conduz à capacidade de avaliação

do processo e, conseqüentemente, a uma ação mais bem instrumentada e

assumida com liberdade, criatividade, autoridade e atividade.

Nesta monografia, o primeiro capítulo, é dedicado a uma abordagem

do significado da Psicopedagogia e seu objeto de estudo, "o distúrbio da

aprendizagem" explicitando esta área de atuação do psipedagogo.

No segundo capítulo, abordamos o papel do psipedagogo na instituição

escolar e a atuação articulada deste com a atividade docente.

No terceiro capítulo, tratamos da parte principal deste trabalho, o Curso

de Formação de Professores, mostrando a necessidade de uma abordagem

psicopedagógica no mesmo.

O professor precisa entender que seu trabalho não é fazer alunos se

debruçarem sobre livros didáticos, mas sim debruçarem-se, também, sobre a

realidade tentando entendê-la. Para que isso ocorra é necessário que a escola

seja vista como um espaço para fornecer às novas gerações uma compreensão

crítica (científica, filosófica) da realidade, favorecendo, assim, sua inserção na

sociedade.

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CAPÍTULO I

A PSICOPEDAGOGIA E SEU SIGNIFICADO

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O termo Psicopedagogia, à primeira vista, trata-se de uma aplicação da

Psicologia à Pedagogia, porém, tal definição não reflete o significado que este

termo assume em razão de seu nascimento.

A Psicopedagogia enquanto produção do conhecimento cientifico,

nasceu de uma necessidade de melhor compreensão do processo de

aprendizagem, não se bastando assim, como aplicação da Psicologia à

Pedagogia. Lino de Macedo (1992) lembra-nos, ainda que no Novo Dicionário

Aurélio da Língua Portuguesa, o termo Psicopedagogia é definido como

"aplicação da psicologia experimental à pedagogia". (1992, pág. VII)

A Psicopedagogia tem um caráter interdisciplinar que visa, através da

Psicologia e de outras áreas do conhecimento, estudar os problemas de

aprendizagem e constituir um corpo teórico próprio.

A Psicopedagogia como área de aplicação, antecede o status de ares

de estudo, a qual tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o

seu objeto de estudo, delimitar o seu campo de atuação e, para isso, recorre à

Psicologia, Psicanálise, Lingüística, Fonoaudiologia, Medicina e Pedagogia.

Para Kiguel, que tem contribuído nesse processo de construção do

saber psicopedagógico:

"...históricamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional."

(KIGUEL, 1997, pág.22)

1.1. O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA

Vejamos qual é a definição do objeto de estudo da Psicopedagogia

segundo alguns psicopedagogos brasileiros:

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"... o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos - bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento."

(KIGUEL, 1997, pág.24) “A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades e uma ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os."

(SCOZ, 1987, pág.2)

No processo de aprendizagem de um aluno ou grupo de alunos é

necessário olhar psicopedagógicamente buscando compreender como eles

utilizam os elemento do seu sistema cognitivo e emocional para aprender E,

também,, buscar compreender a relação do aluno com o conhecimento, a qual é

permeada pela figura do professor e pela escola.

"... o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da Psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem."

(GOLBERT, 1985, p.13) "...num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou mediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma."

(RUBINSTEIN, 1992, pág.103)

Trata-se de focalizar o rendimento escolar do aluno e o caminho que

ele tomou para chegar a esse rendimento, de tal maneira que seu percurso

natural como sujeito do conhecimento possa ser respeitado sem a ocorrência de

desvios ou atitudes emocionais relacionadas à frustração concernente à não-

aprendizagem.

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"... a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma. O objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente; a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que intervém neste processo."

(RUBINSTEIN, 1992, pág.103)

Todas essas considerações em relação ao objeto de estudo da

Psicopedagogia sugerem que há um certo consenso quanto ao fato de que ela

deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é ilusão pensar que

isto nos conduza, a um único caminho. É importante, no entanto, ressaltar que a

concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem e é, em

razão desta, que acontece a práxis pedagógica.

1.2. A FORMAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

A formação do psipedagogo deve ser, antes de tudo, multidisciplinar,

assentada em diversas ciências.

Do ponto de vista filosófico, seu embasamento deve lhe permitir

encontrar a idéia de homem e os valores implícitos em cada teoria educacional.

Sua formação sociológica deve lhe possibilitar a compreensão do seu tempo e do

seu espaço sócio-cultural sensível à realidade social, ele pode discriminar as

influências positivas e/ou negativas que as organizações sociais têm sobre o

educando.

O psipedagogo é o profissional que dá um saber especial ao aspecto

psicológico do indivíduo que aprende. Desta forma, sua fundamentação

psicológica deve abranger o estudo do desenvolvimento sob os pontos de vista

evolutivo e dinâmico, das relações interpessoais na família e na escola, das

teorias de aprendizagem. O psipedagogo deve ter domínio das estratégias

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didático-pedagógicas, já que estas lhe possibilitam a prevenção e/ou intervenção

nas dificuldades de aprendizagem, permitindo-lhes adaptar métodos e técnicas às

situações e aos indivíduos. Torna-se fundamental, ressaltar que o psipedagogo

opera com diversas áreas do conhecimento. Porém, a integração, entre as

mesmas, não lhe é dada "a priori". Ele a constrói como produto de sua

sensibilidade e da sua experiência.

1.3. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA AÇÃO DO

PSICOPEDAGOGO

O psipedagogo, segundo Golbert (1985), é o profissional que, reunindo

conhecimento de várias áreas e estratégias pedagógicas e psicológicas, volta-se

para o processo de desenvolvimento e aprendizagem, atuando numa linha

preventiva e/ou terapêutica.

Numa linha preventiva, ele pode desempenhar uma prática docente

envolvido com a preparação de profissionais da educação ou atuar dentro da

própria escola. O psipedagogo preocupa-se, essencialmente que as experiências

de aprendizagem sejam prazerosas para o indivíduo, e, sobretudo, que

promovam o desenvolvimento das capacidades do Ego para lidar com o meio

ambiente numa linha de evolução, o mais natural possível.

Devido a atividade da escola estar determinada pelo aspecto

internacional, o psipedagogo pode e deve ser visto como fazendo parte de uma

equipe interdisciplinar que é campo de discussão da problemática docente,

discente e administrativa.

O psipedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a

escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Golbert (1985) o psipedagogo pode atuar preventivamente

junto a professores e técnicos, de vários modos:

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· Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios que são

pré-requisitos para as aprendizagens, auxiliando a que as situações de

ensino sejam organizadas de acordo com o desenvolvimento;

· Participando da equipe de currículo, auxiliando a determinar

prioridades em relação aos objetivos educacionais;

· Atuando, como integrador que é, como elemento de elo entre os

profissionais da escola diretamente envolvidos com o processo de

ensino-aprendizagem.

Assim, fica claro que o psipedagogo pode contribuir no esclarecimento

de dificuldades de aprendizagem que não tem como causa apenas deficiências

do aluno, mas que são conseqüências de problemas escolares, tais como a

organização da instituição, dos métodos de ensino, da relação professor-aluno, da

linguagem do professor, entre outros. A função básica do psipedagogo é, então,

de facilitar e desencadear a busca da aprendizagem. Sua atuação caracteriza-se,

também, pela explicitação dos processos defasados da aprendizagem. não só do

indivíduo, mas das classes e da escola em geral.

O psipedagogo norteia sua ação consciente de que a aprendizagem é,

antes uma relação com o mundo externo e que o vínculo que se estabelece com

o indivíduo será fator relevante na sua mobilização para a busca do novo. Este

profissional procura, então, mobilizar o seu próprio potencial afetivo para tornar um

fator segurizante e incentivador da aprendizagem do indivíduo, que, por vezes muito

jovem, já experimenta intensos sentimentos de fracasso e desânimo.

Para finalizar, cabe aqui, as palavras do professor de Neuropsicologia do

Conhecimento, Marcelo Antunes (com seu consentimento):

"O psipedagogo não deve ser somente terapeuta das dificuldades e sim

um terapeuta do amor”.

19

CAPÍTULO II

A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

20

Para um melhor entendimento da Psicopedagogia na instituição escolar

acreditamos ser importante abordar sua origem.

A Psicopedagogia surgiu como uma necessidade de compreender os

problemas de aprendizagem, refletindo sobre as questões relacionadas apenas

aos "problemas", e suas pesquisas e, se dirigem para duas vertentes: a

psicopedagogia curativa ou terapêutica e a psicopedagogia preventiva.

A psicopedagogia curativa tem-se desenvolvido nos consultórios onde

o trabalho tem uma conotação clínica, geralmente individual. Porém, hoje, estas

práticas têm sido reformuladas para o trabalho em grupo, no contexto

institucional.

Na instituição escolar podem ser identificadas duas naturezas de

trabalho psicopedagógico: o primeiro relacionado a uma psicopedagogia curativa

voltada para grupos de alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu

objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando

o respeito às suas necessidades e ritmos. É importante ressaltar que esse

processo desenvolvido dentro da instituição escolar possibilita uma leitura mais

próxima da realidade escolar da criança, identificando com o grupo e

desenvolvendo dinâmicas mais próximas da situação de sala de aula.

Em relação ao segundo tipo de trabalho, pode-se dizer que se refere à

assessoria junto a pedagogos, orientadores e professores. Seu objetivo é

trabalhar as questões pertinentes às relações vinculadas professor-aluno e

redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e cognitivo, através

da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento.

Assim, fica clara uma visão diferente de uma psicopedagogia curativa

que restringe seus trabalhos a uma atuação puramente clínica. A Psicopedagogia

terapêutica (curativa) pode desenvolver um trabalho muito bom dentro de uma

instituição escolar.

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A Psicopedagogia a nível preventivo pode ter uma atuação em

diferentes formas de intervenção, tais quais:

"Releitura e reelaboração no desenvolvimento das programações curriculares, centrando a atenção na articulação dos aspectos afetivo-cognitivos, conforme o desenvolvimento integrado da criança e adolescente." "Análise mais detalhada dos conceitos, desenvolvendo atividades que ampliem as diferentes formas de trabalhar o conteúdo programático. Nesse processo busca-se uma integração dos interesses, raciocínio e informações de forma que o aluno atua operativamente nos diferentes níveis de escolaridade. Criação de materiais, textos e livros para o uso do próprio aluno, desenvolvendo o seu raciocínio, construindo criativamente o seu conhecimento, integrando afeto e cognição no diálogo com as informações."

(FAGALI e VALE, 1993, pág. 11)

Torna-se fundamental destacar a importância do primeiro item descrito

nesta citação, já que está intimamente ligado ao propósito deste trabalho: mostrar

a necessidade da abordagem psicopedagógica fazer parte do contexto geral dos

cursos de formação de professores, apontando para a necessidade de se

repensar e reelaborar as programações curriculares que devem ter como foco

central à articulação dos aspectos cognitivos-afetivos, de acordo com o

desenvolvimento integrado da criança e adolescente.

2.1. O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO COTIDIANO

ESCOLAR

Os profissionais engajados no campo da Psicopedagogia têm atentado

para a necessidade do trabalho a ser realizado na instituição escolar. Pensar a

escola, à luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui

questões metodológicas, relacionais e sócio-culturais, englobando o ponto de

vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo, a participação da família e

da sociedade.

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Junto às instituições escolares, o psicopedagogo deve refletir e buscar

dar sua contribuição no sentido de prevenir ulteriores problemas de escolaridade.

O psicopedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a escola

a respeito de diversos aspectos do processo ensino-aprendizagem.

O pensamento do professor é uma construção constante, que resulta

da interação entre os conhecimentos e experiências que já possui e a realidade

cotidiana em que atua.

2.2. O CARÁTER INTERDISCIPLINAR DA

PSICOPEDAGOGIA

Segundo Kiguel (1987), a Psicopedagogia Terapêutica é um campo do

conhecimento relativamente novo que surgiu na fronteira entre a Psicologia e a

Pedagogia. Justamente por ser um campo novo, encontra-se em fase de

organização de um corpo teórico específico, visando a integração das ciências

pedagógica, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística para

uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana.

É importante ressaltar que a psicopedagogia implica um trabalho a

nível preventivo e curativo. A nível preventivo cabe à Psicopedagogia atuar nas

escolas e Cursos de Formação de Professores esclarecendo sobre o processo

evolutivo das áreas ligadas à aprendizagem escolar (perceptiva-motora, de

linguagem, cognitiva, emocional), auxiliando na organização de condições de

aprendizagem de forma integrada e de acordo com as capacidades dos alunos.

Torna-se relevante deixar claro que todo este trabalho segue a linha preventiva.

Já a nível curativo os estudos psicopedagógicos são dirigidos às crianças e

adolescentes com distúrbios de aprendizagem, integrando os procedimentos para

análise e auxílio do diagnóstico, buscando-se a explicitarão das condições de

aprendizagem do paciente, identificando-se áreas de competência e de

dificuldades. Junto com o grupo, o Psicopedagogo avalia o educando e determina

as prioridades de atendimento.

23

Em relação aos aspectos evolutivos de áreas relacionadas à

aprendizagem e pode-se dizer que são três as áreas: emocional, cognitiva e

percepto-motora.

Na área emocional é estabelecida uma relação entre os estágios de

desenvolvimento psico-sexual de Freud e as etapas de aprendizagem. A

integridade afetiva é uma das condições básicas para que a aprendizagem se

processe. Cabe ao profissional que trabalha com os distúrbios de aprendizagem,

o conhecimento dos períodos do desenvolvimento emocional e a compreensão

das vivências evolutivas na orientação do desempenho na aprendizagem.

Já na área cognitiva, são preciosas as contribuições de Piaget quando

afirma que a inteligência passa por um processo de estruturação continua. A

criança só pode aprender aquilo que suas estruturas cognitivas do momento

permitem. A compreensão dos processos cognitivos subjacentes a cada etapa do

desenvolvimento é fundamental, para a compreensão do processo de

aprendizagem. O importante é ressaltar que existem estruturas do pensamento

que devem ser respeitadas.

Na área percepto-motora existem aspectos percepto-motores que são

pré-requisitos importantes da aprendizagem escolar. A ação da criança sobre seu

corpo e com relação aos objetos é fundamental, tanto para o desenvolvimento da

motricidade, percepção, como para o desenvolvimento de estruturas cognitivas.

Segundo Paulo Freire: "a leitura do mundo precede a leitura das palavras."

É fundamental para a compreensão do fenômeno da aprendizagem, de

forma a integrar as várias áreas do conhecimento, considerando os diferentes

níveis evolutivos, a interdisciplinaridade entre os diversos especialistas para se

desvendar esse fenômeno complexo e desafiador que é a aprendizagem.

Segundo Linhares (1987), uma visão bastante criticada atualmente,

está relacionada a idéia de equipe multidisciplinar, onde cada elemento do grupo

se compromete em avaliar uma área emocional, social, neurológica, pedagógica e

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depois tentar reconstruir a totalidade do fenômeno. O mais apropriado é a

formação de uma equipe interdisciplinar onde cada elemento só é compreendido

no conjunto de suas relações com, os outros.

É relevante ressaltar a diferença existente entre as crianças com

dificuldades de aprendizagem e aquelas com dificuldades escolares. Estas

últimas são reveladoras da incompetência das instituições educacionais no

desempenho do seu papel social.

A aprendizagem se desenvolve dentro de um campo de relações,

sendo um processo dialético, que se dá através da presença de um objeto e

envolve o que Piaget (1983) denominou de processos de assimilação e

acomodação.

De acordo com Fichtner (1987), a aprendizagem é uma construção

progressiva, ativada pela experiência e pela relação recíproca da criança com o

seu meio. Deve-se procurar entender a gênese e o desenvolvimento dos

distúrbios de aprendizagem da criança e do adolescente, a partir de um modelo

construtivista.

São tratados termos como dificuldades normativas de aprendizagem e

distúrbios reativos de aprendizagem. As dificuldades normativas de aprendizagem

ocorrem junto com as crises normativas de desenvolvimento, como por exemplo,

a crise da adolescência. São dificuldades transitórias. Já os distúrbios reativos de

aprendizagem surgem no decorrer de crises situacionais (nascimento de irmão,

perda de um ente querido, separação dos pais). São crises oriundas das perdas

significativas e causam depressão ou ansiedade.

Segundo Fichtner (1987), a família é a matriz dos pré-requisitos

necessários para a aprendizagem e adaptação escolar e a falta de prontidão

psiconeurológica para aprendizagem é um fator desencadeante da carreira de

fracasso e desadaptação escolar.

25

Para Fonseca (1987), a cisão construtivista do desenvolvimento e do

processo de aprendizagem contribui para a prática psicopedagógica. Qualquer

aprendizagem ou construção tem por suporte aprendizagens ou construções que

foram se realizando desde os primeiros anos de vida. O importante é entender

como se deu todo o processo evolutivo do indivíduo e observando o

desenvolvimento psicomotor, perceptivo e cognitivo, buscar a reconstituição da

história de todo processo de desenvolvimento para, através de sua gênese e

evolução, melhor entender o momento atual.

É essencial que fique claro que é função da psicopedagogia

compreender o indivíduo enquanto aprendiz. Como alguém cheio de dúvidas,

fazendo escolhas e tomando decisões a cada passo do longo caminho percorrido

em vida.

Um fato importante, é que cabe a nós profissionais da Educação,

alertar para a importância do diagnóstico precoce dos distúrbios de aprendizagem

e quanto mais tardia a intervenção psicopedagógica, mais estruturadas tendem a

estar as manifestações psicológicas e maior a defasagem psicopedagógica e

pedagógica. Outro ponto importante é que a escola não pode ser substituta da

função familiar. As relações entre escola e família devem ser estreitas para que

se trabalhe em uma só direção, porém os seus papéis não podem ser

confundidos em hipótese alguma.

O rendimento escolar é influenciado por uma multiplicidade de

variáveis, entre elas, aspectos afetivos e cognitivos dos alunos e aspectos

relacionados ao funcionamento da instituição escolar.

2.3. INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E ATIVIDADE

DOCENTE: ATUAÇÃO ARTICULADA

A algum tempo atrás, a individualização do ensino era o objetivo central

da educação escolar. Com a evolução da Educação, esta se torna obrigatória, e

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com a diversidade das crianças que chegam à escola, passou-se a exigir novas

competências no professorado. Esta perspectiva viu-se reforçada quando a

escola permitiu o acesso de alunos com sérios problemas de aprendizagem, ou

com necessidades educativas especiais, em geral. Assim, surge a necessidade

de um assessoramento que seria feito pelas equipes multiprofissionais e pelos

psicopedagogos que foram sendo incorporados ao sistema educacional,

mostrando uma grande similitude ainda que os modelos de organização

pudessem ser diferentes em algumas escolas.

É interessante ficar claro que uma primeira imagem do psicólogo e do

pedagogo na escola, como pessoas que "consertavam' certos transtornos

apresentados por certos alunos, foi-se passando progressivamente a atribuir-lhes

um papel menos ”médico", outorgando-lhes, em contrapartida, uma difusa

competência no assessoramento sobre temas especialmente desconhecidos ou

difíceis para o professorado.

A intervenção psicopedagógica assume, na atualidade, um amplo

leque de tarefas, prevenção educativa, detecção e orientação educativa dos

alunos que apresentam desajustes em seu desenvolvimento ou em sua

aprendizagem escolar, assessoramento em aspectos curriculares, orientação

escolar e profissional.

Em relação à formação inicial e permanente dos docentes, sabe-se que

o currículo tem escassa ou nula presença de conteúdos relativos à intervenção

psicopedagógica e na função que nela assumem os mestres e professores.

Enquanto esse quadro não for revertido, não ocorrerão as mudanças

necessárias para que uma educação verdadeiramente se concretize.

Como enfatizam Martin e Sole (1995), todas as situações

concretizadas pelo psicopedagogo, relativas aos pais, professores, à instituição

em seu conjunto ou aos alunos em particular, têm a intenção de assegurar as

condições que permitam que os processos de mudança provocados pelas

situações de ensino e aprendizagem sejam produzidos da melhor maneira

possível.

27

A intervenção psicopedagógica não pode ser efetuada, de forma

isolada, sobre alguns dos elementos que configuram o processo de ensino e

aprendizagem, sem correr o risco de cair em uma representação parcial e

assistência do mesmo. É fundamental que qualquer intervenção deve levar em

conta o processo em seu conjunto, mesmo quando possa estar centrado de forma

prioritária em um determinado elemento. Caso queira realmente incidir sobre essas

mudanças.

No processo de intervenção, não se pode simplesmente desestabilizar o

que está pronto, deve-se discutir, apontar as falhas e tentar, junto com o grupo de

docentes, propor soluções para os problemas detectados. A intervenção exige

uma análise detalhada do conteúdo escolar como um todo e para isso a

Psicopedagogia deve estabelecer sua função, definindo-se como alguém que pode

colaborar com os docentes e que, por sua vez, requer a colaboração destes para

realizar seu trabalho.

Na verdade, dificilmente um psicopedagogo pode ter sucesso em seu

trabalho reeducativo se não houver a colaboração do professor. O trabalho

conjunto do professor e do psicopedagogo trará ao aluno a sensação e a certeza

de que conseguirá superar os obstáculos já que, está sendo apoiado por pessoas

nas quais ele confia e que, em contrapartida confiam nele. Faz-se necessária a

colaboração entre mestres e psicopedagogos. Juntos analisarão os motivos

responsáveis para que uma determinada seqüência de aprendizagem não esteja

sendo significativa para o aluno e elaborarão alternativas para que a situação se

inverta. Assim, fica claro o papel e a importância do trabalho do psicopedagogo,

não só nos Cursos de Formação de Professores, mas em toda a escola. Sabe-se

que ao professor cabe ensinar e ao psicopedagogo intervir, porém, nem todas as

escolas apresentam uma equipe especializada com psicopedagogos. Portanto, o

papel de intervir recai sobre o professor e caso este não esteja a par dos

elementos que constituem essa intervenção, problemas surgirão e certamente os

alunos serão levados ao fracasso.

28

CAPÍTULO III

O CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

29

Martin e Sole (1995) relatam de forma bastante clara e precisa a

necessidade de se analisar cuidadosamente as contribuições que podem ser

dadas pela psicologia para a capacitação profissional dos docentes, no contexto

pluridisciplinar exigido pela formação do professorado, além das relações

estabelecidas entre o conhecimento psicológico e a prática educativa.

Sabe-se que a formação recebida pelos estudantes do Magistério é,

ao menos em parte, produto daquilo que se considera o que é saber e saber fazer

um docente, refletindo-se nos currículos que ordenam sua formação . Mesmo

sabendo que existem vários modelos seguidos nos Cursos de Formação de

Professores onde o professor, aluno e ensino são vistos de forma diferentes, deve-

se pensar que os futuros docentes são melhores formados a partir de uma visão

mais revolucionária e menos tradicional de educação.

3.1. ANÁLISE HISTÓRICA DE SUA TRAJETÓRIA

A preocupação com a formação do professor para o ensino primário na

América latina esteve presente desde o tempo do Império, embora pouco tenha sido

feito em relação ao ensino no Brasil.

Data de 1835 a fundação da primeira escola (localizada em Niterói),

com o objetivo de formar professores para o curso primário, sendo esta pioneira na

América Latina.

Nessa época, as Escolas Normais, assim como o Ensino Primário,

eram de competência dos Estados. Á União competia tão somente, legislar sobre

o ensino superior de capital da República. Na maioria dos Estados, a falta de

recursos impediu que houvesse progresso no setor educacional.

A partir de 1920, este quadro começa a se transformar, por fatores de

ordem econômica, política e social, como por movimento educativo de caráter

ideológico.

30

Em 1930, com a criação do Ministério da Educação, começa a se

esboçar uma coordenação em nível nacional na área de educação. Aparece nesta

época o que seria o marco no plano de evolução do pensamento pedagógico, "o

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova". A escola defendida pelos "pioneiros"

deveria se organizar como Escola-Única garantida pelo estado e sem

discriminação econômico-social. Para tornar este pensamento possível fez-se

imprescindível reformular a formação de professores.

Em 1932 é criada uma nova instituição de ensino - o Instituto de

Educação - que compreendia um sistema completo abrangendo todos os graus de

Ensino: pré-primário e primário, destinado à prática dos professores, secundário e

superior.

Em 1937, com o golpe de Estado se estabelece um plano centralizado

e unitário da política da educação em todo território nacional, sendo denominado

Estado Novo.

Somente em 1946 foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Nacional,

bem como a Lei Orgânica do Ensino Primário, como ramo do Ensino Profissional.

O Curso organizou-se de forma a atender aos objetivos do Ensino Primário

buscando a uniformidade e a melhoria do Ensino. A formação de professores

primários continuou sendo realizada pelas Escolas Normais e pelos Institutos de

Educação.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 4.024/61)

não fez nenhuma alteração significativa no Ensino Normal.

A habilitação para o Magistério está envolvida em uma série de fatores

que contribuem para sua problemática, que por conseqüência, influem em toda a

Educação. Tais fatores podem ser caracterizados em algumas grandes áreas;

pretendemos explicitar os fatores decorrentes da Política Educacional do Sistema

de Ensino e os fatores decorrentes da habilitação de Magistério.

31

O antigo Curso Normal é hoje uma habilitação de 2o grau. Esta questão

vem contribuindo para a desvalorização do magistério, fazendo com que esta seja

uma habilitação a mais no meio de tantas outras. Sem uma formação Pedagógica

consistente, sem nenhum "status" perante outras habilitações e o que é mais

grave, na definição de habilitação Magistério, a Lei de Diretrizes e Bases do

Ensino de primeiro e segundo grau não permite que se forme nem o professor e,

menos ainda, o especialista (quarto ano), A formação é toda fragmentada.

Esses fatores se tornam mais alarmantes quando, somando à falta de

preparo dos professores dos Cursos de Formação de Professores, de 1a a 4a

série, favorecem à precariedade do curso pois, suas aulas em grande escala são

pouco trabalhadas, o que identifica o não domínio dos conteúdos e o preconceito

em transmitir a realidade, o que causa uma grande distorção de valores,

distanciando o Curso Normal de sua clientela e favorecendo uma formação

descontextualizada e pouco crítica.

Podemos ampliar a falta de uma articulação para a Educação Nacional

nos três graus de Ensino. Os cursos de terceiro grau (Pedagogia e Literatura) que

preparam os alunos da escola primária. Este ciclo, geralmente, não tem nenhum

vínculo com a realidade e nem coerência entre si. caracterizando desta forma as

condições precárias em que se encontra o Curso de Formação de Professores e,

desse modo, o próprio exercício do magistério.

Não deixamos de reconhecer como fatores para a desvalorização do

Magistério, as precárias condições de trabalho, bem como de funcionamento dos

Cursos de Formação de Professores, que desprestigiam a carreira do docente,

trazendo implicações negativas à clientela que ingressa nos cursos. Para a

maioria, a escolha pelo Magistério se deve mais a imposição circunstancial do

que a uma opção profissional.

O próprio Curso de Formação de Professores para o Magistério se

destaca por si só como um dos fatores responsáveis pela sua desvalorização,

pois os currículos desenvolvidos na maioria dos cursos já impedem a garantia de

32

uma formação competente ao professor, enquanto profissional consciente da

realidade na qual irá atuar, fundamentado teoricamente a fim de investir na

realidade e transformar a realidade.

3.2. A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM

PSICOPEDAGÓGICA

Para falar sobre a importância de uma abordagem psicopedagógica no

Curso de Formação de Professores, parece-nos que a opção mais acertada seria

uma investigação, buscando examinar a importância do currículo abordar uma

visão psicopedagógica, a fim de que o aluno (sujeito da ação educativa) não seja

reduzido somente ao aspecto cognitivo. Ficou decidido, então, a realização de um

trabalho investigatório no Colégio Estadual Guilherme Brigs, onde já trabalhei.

Foram realizadas entrevistas e observações, bem como coleta de informação

junto à secretaria da escola. Toda entrevista com professor era antecedida de

uma observação de sua aula.

Para que a investigação se fizesse o mais perfeita possível (mais

completa) foi observado por alguns meses, a prática do Orientador Educacional e

Diretor, pois assim poderia deixar claro a existência ou não de coerência na

relação entre teoria e prática, ou melhor, entre ação-reflexão/reflexão-ação

desses profissionais. Acreditamos que através da análise das práticas do

orientador educacional e diretor fica mais fácil entender o espaço e atuação dos

profissionais do Curso de Formação de Professores do Colégio Estadual

Guilherme Brigs.

A análise aqui realizada está pautada nas idéias desenvolvidas por

Vítor Paro em seu livro "Por dentro da escola pública". Tendo por base a teoria de

Paulo Freire a respeito de antidialogicidade e dialogicidade relatada em seu livro

"Pedagogia do Oprimido".

33

O Colégio tem o curso primário (de 1a a 4ª série) no segundo turno

(parte da tarde), e de 5a a 8a e 2o grau (Formação de Professores) na parte da

manhã.

A primeira entrevistada foi a Orientadora Educacional, e abaixo estão

transcritas suas palavras:

"Defendo uma postura mais democrática da escola, por isso, venho lutando para que haja uma maior colaboração por parte dos pais no funcionamento da escola. Acredito que pais e todo corpo docente e discente devem estar em plena comunhão para que assim, realmente, a escola possa atender às reais necessidades de sua clientela. Sugeri que os professores e toda a direção discutissem sobre a possibilidade da formação de um Conselho onde os pais pudessem expressar suas angústias, dúvidas e sugestões acerca do processo educacional de seus filhos. Para um ensino mais democrático em que todos pensem juntos e decidam juntos. No começo foi difícil, pois alguns professores acreditavam que não seria bom a interferência do pai em seu trabalho. Depois de muitas reuniões, consegui, junto com direção, que os professores enxergassem que através da gestão democrática, poderiam conseguir aliados para exigir melhores condições de trabalho e de salário. Com o tempo, todos perceberam a importância e o poder do Conselho. Muitas idéias surgiram e foram colocadas em prática”.

Fica claro no relato desse profissional de ensino, sua preocupação em

torno da necessidade de um trabalho pautado nas relações sociais, ou melhor, de

um trabalho fundamentado no contexto social e na comunidade. A orientadora

mostrou estar a par da função que a escola tem de reprodução da ideologia

dominante, Por isso, deixou explícita em seu discurso, a necessidade de se abrir

as portas da escola para a comunidade, a fim de que esta participe, se coloque a

respeito das reais necessidades dos alunos, para que transformações realmente

verdadeiras possam ocorrer no âmbito educacional. Em relação ao ensino

aprendizagem e seus problemas, encara os mesmos como sendo distúrbios

provenientes da prática do professor e não do aluno. Acredita não ser certo

34

atribuir rótulos aos alunos, como por exemplo "problema", "deficiente", pois a

escola é que deve ser questionada e não o aluno.

A partir das visitas realizadas à escola, pudemos constatar que o papel

do diretor se caracteriza por uma questão de gestão. Se esta for democrática, se

as decisões forem tomadas de forma circulares (todos participam), o trabalho é

melhor. Mas se a gestão é autoritária (decisões tomadas só pela direção), o

trabalho não deve ser bem visto pelo grupo em geral. De acordo com a ação

observada do diretor, pudemos constatar que sua postura tendia para uma gestão

democrática. Mostrava-se sempre aberta à sugestões e questionamentos.

Foram realizadas observações em sala de aula a fim de verificar a

metodologia (se existe preocupação em abordar uma visão psicopedagógica), a

relação professor/aluno, a autonomia do professor em desenvolver projetos, bem

como a formação dos professores, incentivos por parte da escola e motivações

pessoais que estimulem o processo de aprender e desaprender de suas práticas.

Houve divergência no grau de importância atribuído ao componente

formativo e informativo da educação. Para a maioria, embora a função

característica da escola seja a de instruir ou de informar. O componente formativo

deve estar sempre presente. Assim, a maioria dos entrevistados reconhece que

tanto a informação quanto a formação é de grande importância na educação

escolar.

"O ideal seria que se produzisse a integração entre o caráter informativo e o formativo, de modo a que o primeiro servisse de vínculo e de alimentador do segundo, trabalhando-se o formativo em cima do informativo."

(Professora de Matemática do Pedagógico).

Outro elemento comum nas falas dos depoentes é a convicção de que

não apenas o professor mas todos os que trabalham no interior da escola devem

ser considerados como educadores escolares, já que todos têm contato com os

35

alunos e transmitem a eles, por meio da comunicação ou do exemplo, elementos

formativos e informativos.

Na escola investigada, os alunos são encorajados a pensar de maneira

autônoma, a confrontar diferentes opiniões, de maneira crítica e a modificar

velhas idéias quando estão certos de que uma nova é melhor. Afirma a professora

de Fundamentos de Psicologia:

"Infelizmente, hoje, nas escolas, os estudantes são levados a recitar

respostas "certas" e, raramente são perguntados sobre o que pensam de

verdade."

Todos os depoimentos acerca da educação hoje apontam para a

necessidade de uma reconceituação fundamental dos seus objetivos. Ao pensar

autonomamente, o aluno passa a respeitar as regras que ele fez para si mesmo,

trabalhando, assim, com mais desempenho para atingir as metas que colocou

para si mesmo.

A preocupação básica do grupo docente é ensinar seus alunos a

refletir, encorajando-os a construírem, por si mesmos, seus próprios valores. Para

isso torna-se fundamental saberem que a autonomia não significa liberdade

completa.

Os depoimentos aqui transcritos representam o pensamento dos

profissionais do Curso de Formação de Professores do Colégio Estadual

Guilherme Brigs.

Para continuarmos refletindo sobre a importância de uma abordagem

psicopedagógica no Curso de Formação de Professores, será transcrito aqui os

pontos levantados pelos professores da escola visitada, numa reunião

pedagógica a que fui convidada a assistir. Na referida reunião, foi pedido que um

participante, espontaneamente, lesse um texto de Paulo Freire "O Homem e o

Mundo", e logo após foi suscitado um debate a fim de ampliar as discussões e

36

idéias trazidas pelo texto. Várias foram às conclusões a que todos chegaram,

sendo que algumas acreditamos ser fundamental ressaltar:

· Hoje, o indivíduo passa a ser mais um que consome e não é visto

como um homem/ser multifacetado, dinâmico, um ser da práxis;

· Vivemos um império do "ter" e não do "ser";

· A interpretação depende da história de vida de cada um, as

percepções são diferentes. O professor terá que ter percepção do que

o aluno quer aprender;

· Nova Educação deve ver o homem enquanto "único" (corpo,

mente, espírito e emoções, ser total);

· O melhor professor é aquele que não detém o poder nem o

saber, mas que está disposto a perder o poder, para fazer emergir o

saber múltiplo - perder é uma forma de ganhar e o saber é recomeçar;

· O educador deve, promover um ambiente amistoso para a

realização da aprendizagem, ter consciência que aprender é

transformar, o verdadeiro professor é aquele que ajuda o indivíduo a

descobrir o conhecimento que tem dentro de si e fomenta a abertura

para novas possibilidades desconhecidas, o professor necessita

estar aberto para a mudança, um agente do aprendizado mas não sua

causa principal.

Estes foram alguns dos pontos levantados pelos professores a partir

da leitura do texto de Paulo Freire.

Podemos observar que os professores têm consciência da importância

da interdisciplinaridade e do estudo da construção do conhecimento em toda a sua

complexidade , levando em conta os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que

lhes são implícitos. Se a escola oferece um ensino adequado ou se está

simplesmente repetindo, reforçando estruturas artificiais, precisaria de uma

observação da mesma, porém, a importância de perceber os alunos não como

máquinas, mas como seres únicos que trazem uma realidade rica de

experiências que não podem ser descartadas, ignoradas.

37

Para Paulo Freire, 1993: "a educação (escola) não pode ser entendida

fora do contexto social em que esta se encontra. O objetivo da escola é reproduzir

os valores impostos pelo sistema maior."

Para ele a escola não pode ser entendida sem que se leve em conta

como o poder em cada sociedade se vem constituindo (a favor de quem, contra

quem, a serviço de quem). A crise da escola é falada como se ela existisse

desgarrada dos problemas sociais, políticos e econômicos da sociedade da qual

faz parte.

A escola reproduz os valores determinados pelo sistema e por isso é

vista isolada do contexto social.. Não podemos falar em vivermos historicamente,

se a escola (educação) não consegue e não faz parte das mudanças, das

transformações que ocorrem na sociedade.

Fica certo que o homem deve construir no seu ser individual, o seu ser

social, sendo então essa construção o dever da educação.

A escola pública hoje, está abrindo um espaço para que as pessoas

reivindiquem seus direitos e consigam se integrar na cidadania, mas uma questão

importante é a continuação da dominação da classe dominante em relação aos

conteúdos que serão passados. A democratização do ensino é um fato

necessário já confirmado, porém, para que democratizar, se não é tratada a

questão da permanência e sucesso das classes populares na escola?

Já é de conhecimento de todos que o direito do homem e a

apropriação do conhecimento é uma exigência de cidadania que deveria ser

atendida pelo estado. Só que na verdade, o Estado mostra uma falsa aparência

de igualdades de oportunidades.

Os educadores que buscam transformações verdadeiras no campo

educacional devem lutar para estabelecer a construção de uma escola onde o

povo tenha "voz" e que a partir dessa "voz” possa construir sua história, onde sua

38

cultura seja respeitada. Assim, o povo se sentiria mais seguro e livre para

posicionar-se exigindo sua participação nas decisões políticas, sociais e

econômicas.

Nós educadores, devemos nos colocar disponíveis na luta pela

promoção de um método de participação, das decisões coletivas de socialização

das informações, onde as diferenças são respeitadas permitindo surgir processos

alternativos para afirmação de uma sólida cultura democrática. A partir dessas

idéias, os Cursos de Formação de Professores devem pautar seus objetivos.

Somente com a participação de todos os segmentos da escola, que

historicamente aparece como excluídos da participação política, teremos garantia

na Escola Democrática Pública e popular, a articulação efetiva e permanente de

todos os verdadeiros responsáveis pelo processo de um projeto pedagógico que

promoveria a leitura do mundo que a escola tradicional não permite.

Torna-se importante ressaltar que, se falar em dinâmica

psicopedagógica no Curso de Formação de Professores, significa que os

professores que lecionam para os futuros educadores devem se colocar como

aqueles que perdem o controle absoluto, de quem sabe tudo, para se tornar um

pesquisador em ação dentro da sala de aula (fato que influenciará na própria

formação dos futuros educadores). Devem, pois, buscar um caminho novo,

alternativo, diferente, prazeroso e estimulante para educar. Uma prática

verdadeiramente eficaz e significativa está sempre em permanente construção,

tornando-se totalmente imprescindível fazer com que os futuros educadores

entendam que a criança constrói seu próprio conhecimento através de uma

interação constante sobre o indivíduo e o meio, fato que não torna a figura do

professor dispensável. Muito pelo contrário, ele deve ter pleno domínio de sua

disciplina para transformá-la, continuamente. Em um saber didaticamente

compreensível para a criança.

O verdadeiro educador deve entender/perceber que sua tarefa é formar

o pensamento e não equipá-lo como defende a educação tradicional. Uma escola

39

ativa pressupõe uma comunidade de trabalho com alternância entre o trabalho

individual e o trabalho de grupo. Toda verdade a ser adquirida deve ser

reinventada pelo aluno, ou pelo menos reconstruída e não, simplesmente

transmitida. O educando não pode ser entendido como um simples aprendiz que

chega à escola totalmente desprovido de conhecimentos, tendo sua capacidade

de pensar tolhida e subestimada.

O que se deseja, realmente, ao se propor dinamizar o Curso de

Formação de Professores, através de uma abordagem psicopedagógica, é que o

professor deixe de ser apenas um conferencista e estimule a pesquisa e o esforço,

ao invés de se contentar com a transmissão de soluções já prontas.

Na realidade, a educação representa um todo indissociável. Não se

pode formar personalidades autônomas no domínio da moral, se o indivíduo é

submetido a um constrangimento intelectual de tal ordem que tenha de se limitar a

aprender por imposição, sem descobrir por si mesmo a verdade, se é passivo

intelectualmente, não conseguirá ser livre moralmente.

No decorrer dos três anos do Curso de Formação de Professores, os

futuros educadores devem perceber que torna-se evidente que o educador

continua indispensável, a título de mediador, para criar situações e armar os

dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas úteis à criança.

O professor deve se preocupar com o conteúdo didático, deve lembrar-

se que suas atitudes afetam o desenvolvimento da personalidade das crianças.

40

CONCLUSÃO

O grande objetivo que permeia todo este trabalho é propor uma reflexão

acerca do Curso de Formação de Professores.

Vimos, neste trabalho, o quanto a Psicopedagogia ainda é uma área

em construção; o quanto ainda devemos discutir a formação teórica e prática

do psicopedagogo, assim como a do educador; o quanto a demanda escolar

provoca o movimento dos educadores em busca de novas alternativas

solucionadoras e/ou preventivas do fracasso escolar; o quanto a

multidisciplinaridade dos interessados na área contribui para o favorecimento da

interdisciplinaridade dos conteúdos e conhecimentos; a real contribuição da

prática profissional para o aperfeiçoamento teórico do psicopedagogo.

Queiramos ou não, estamos entrando na era da totalidade, não só da

mente, não só do corpo, não só do espírito, mas do ser total. O homem "todo" em

"tudo", alargando seus limites, educa-se e se deixa educar, como um ser de

relação em permanente mudança.

Considerando o homem como um ser de relação em permanente

mudança, temos que pensar que o processo de educação é infindável, não só na

educação como conceito, mas como práxis. Infelizmente, nossa visão educacional é

ainda extremamente linear, onde a fragmentação ou dicotomia entre sujeito-objeto

é valorizada. Devemos ter em mente que o ato de educar jamais poderá, ser

fragmentado, dissociado da totalidade existencial do educando.

Toda educação deve possibilitar ao educando uma tomada de

consciência das suas potencialidades, para que dessa forma, possa escolher e

assumir a direção de sua própria existência. Propiciar condições para que o

homem atinja o que já é, valorizando a noção de espontaneidade de criar

condições possíveis para sua plena valorização, também, faz parte dos

princípios básicos da educação.

41

No caso do educando, educar-se não significa adaptar-se a um ideal

abstraio ou a uma forma de caráter, mas sim explorar todas as suas virtualidades,

desenvolver-se cessar e estender seus interesses espontâneos, até o limite de

suas capacidades. O educando tem inúmeras possibilidades de vir a ser, cabe ao

educador poder ajudá-lo a optar por aquela que possa engrandecê-lo. Ser livre

para optar, significa ser responsável pela escolha, e só e possível escolher o que

se conhece. Saber e liberdade estão inseparavelmente unificados.

Longe de ser utopia, uma nova Educação - o da pessoa como um

todo -significa educar pessoas como o mundo precisa, não uma educação para o

conformismo, mas voltada para a liberdade e para a autonomia, pois somente

buscando em indivíduos verdadeiros, poderá existir um "verdadeiro mundo".

Enfim, a educação deve se basear no aprender a aprender

transformando e transformando-se. E aqui, cabe-nos perguntar: como educador,

onde estou como estou e para onde quero ir? Para responder a essas questões

temos que refletir sobre nossa realidade e tudo o que representa para nós,

porque toda mudança implica em uma percepção daquilo que já não nos serve,

daquilo que já não nos mobiliza e portanto, do que já não nos permite descobrir

novos caminhos e possibilidades.

O primeiro passo para a verdadeira mudança será sempre aprender a

aprender ou a desaprender todo e qualquer conhecimento que possa aprisionar

pelas certezas e imutabilidade das coisas. Assim, a solução não está, certamente,

na reprodução, na acomodação, mas sim, na busca constante de desafios. O que

falta, no âmbito da escola, é um trabalho conjunto e integrado, com um objetivo

maior a ser perseguido por todos: formar cidadãos,pessoas conscientes de seu

papel na sociedade e que sejam úteis e integradas a ela. E preciso construir na

escola um projeto de educação nascido de quem está envolvido no processo

educativo - professores, estudantes, servidores, dirigentes, todos, enfim - assumido

e aplicado igualmente por todos.

42

Portanto, pode-se afirmar que o Curso de Formação de Professores

deve priorizar a estimulação da própria imaginação/criatividade dos futuros

educadores. Devemos explorar o caminho da intuição na relação pedagógica e

na construção do saber. Essa tomada de consciência da importância do trabalho

coletivo deve ser desde o primeiro ano do Pedagógico. Somente ficando a par da

verdade, dos problemas sócio-histórico-político-culturais que permeiam a

Educação , os futuros educadores poderão se posicionar criticamente e

transformar a realidade já posta.

Assim, torna-se evidente a necessidade de maior mobilização por parte

dos organizadores dos Cursos de Formação de Professores em salientar a

importância de se capacitar os professores (tanto os já formados quanto àqueles

que se formarão) para que compreendam com mais clareza o processo de

aprendizagem e não-aprendizagem dos alunos com vistas na prevenção de maiores

problemas futuros.

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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44

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WOLLHEIM. Richard. As Idéias de Freud. São Paulo, Ed. Cultruix, 1991.

45

ÍNDICE

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

A PSICOPEDAGOGIA E SEU SIGNIFICADO 13

1.1. O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA 14

1.2. A FORMAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO 16

1.3. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA AÇÃO DO PSICOPEDAGOGO 17

CAPÍTULO II

A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR 19

2.1. O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO COTIDIANO ESCOLAR 21

2.2. O CARÁTER INTERDISCIPLINAR DA PSICOPEDAGOGIA 23

2.3. INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E ATIVIDADE DOCENTE: ATUAÇÃO

ARTICULADA 25

CAPÍTULO III

O CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 28

3.1. ANÁLISE HISTÓRICA DE SUA TRAJETÓRIA 29

3.2. A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA 32

CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

TÍTULO DA MONOGRAFIA

A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM

PSICOPEDAGÓGICA NO CURSO DE FORMAÇÃO

DE PROFESSORES

Data da Entrega: ________________

Avaliado por: Mª da Conceição Maggioni Poppe Grau: _____

Rio de Janeiro, ____ de _____________ de ____

__________________________________________________________

Coordenação do Curso