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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
EM TERAPIA DE FAMÍLIA
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O PAPEL DA FAMÍLIA NA PREVENÇÃO DE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Por: Jarilson Peixoto da Silva
Orientadora: Profª Maria Poppe
Março – 2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
TERAPIA DE FAMÍLIA
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O PAPEL DA FAMÍLIA NA PREVENÇÃO DE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
OBJETIVOS:
Analisar e identificar o papel da família na
educação preventiva da dependência química:
a) Identificar os principais fatores de risco na dinâmica
familiar que facilitam a adesão às drogas.
b) Analisar até que ponto esses fatores de risco são de
total responsabilidade da família.
c) Analisar como a família poderá tornar-se um agente
de prevenção diante desses possíveis fatores de risco.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado a oportunidade
de iniciar e concluir o Curso através desse
trabalho. A todos os professores, destaque
inicial a professora Maria Poppe que com
sua paciência, equilíbrio e segurança pode
contribuir grandemente para meu
aprendizado. A todos os autores das obras
consultadas, a irmã Dilce pela digitação
desse trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a minha
mulher Luciene pelo seu apoio, incentivo e
também por ter me proporcionando
condições favoráveis à realização desse
trabalho. Aos adolescentes Dayse e Bruno
por me permitir conhecer e entender mais
os conflitos dessa fase.
RESUMO
Na vida uterina o feto vive em condições de harmonia e equilíbrio. No
parto vivencia-se a primeira grande crise, praticamente ela é “expulso”,
desfazendo a “simbiose biológica”. Porém, permanece a “simbiose
psicológica”, que é um nível de ligação e dependência emocional muito
grande. O amor transmitido ao bebê nesse primeiro ano de vida é essencial
para a sua sobrevivência física e emocional (saúde mental). Quanto mais
disponível a mãe estiver para o bebê, melhor será o desenvolvimento do ego
autônomo. Por isso podemos dizer que o amor recebido, principalmente
nesse período será a base da individualidade, que por sua vez é a base da
personalidade. O amor é essencial para uma auto-estima elevada.
A auto-estima elevada é a melhor defesa contra as drogas. A criança
ou o adolescente que gosta de si mesmo (auto-estima elevada) e que é bem
informado do mal que ela causa, dificilmente usará drogas. Porém, para ter
uma auto-estima elevada só o amor não é suficiente, ela é a base. O outro
ingrediente fundamental é “limite”. Parte do processo de crescimento e
amadurecimento consiste ajudar os filhos a assumir a responsabilidade por
sua vida, aprendendo que haverá conseqüência positiva para o ato bom e
conseqüência negativa para o ato mal. Isso ocorre quando os pais
transmitem ao filho a noção integrada e equilibrada, confirmação / limite, e
de direito / deveres. O resultado disso é uma auto-estima elevada e uma
sensação de valor-próprio, que é indispensável para defendê-lo das drogas.
Há muitos obstáculos, fatores externos e internos que atingem a
família e impedindo que essa noção integrada e equilibrada de confirmação /
limite e de direitos / deveres venha ser transmitida aos filhos de forma
autêntica e adequada.
Os obstáculos e os fatores externos e internos foram desencadeados
pela evolução histórica, e pelo avanço tecnológico causando grandes
mudanças comportamentais no homem pós-moderno. Uma família que
funciona de forma adequada sem dúvida produzirá fatores de proteção
dificultando a adesão às drogas. Com todas essas mudanças acontecendo
de forma acelerada tem sido um desafio para todos. A família pós-moderna
tende para os extremos (autoritarismo ou liberação total), produzindo fatores
de risco que facilitam a adesão às drogas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 09
FALTA DE AMOR FUNDAMENTAL (Necessidades emocionais não
Preenchidas) 10
CAPÍTULO II 27
AUSÊNCIA DE LIMITES 28
CAPÍTULO III 49
MODELOS DE FAMÍLIA, E OS SEUS FATORES DE RISCO E DE
PROTEÇÃO CONTRA AS DROGAS. 50
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA 69
INTRODUÇÃO
Os especialistas na área de dependência química concluíram que um
pai alcoólico ou drogado pode propiciar um filho compulsivo, dependente de
pessoas, coisas ou mesmo drogas. A família onde um membro é
dependente químico causará um forte impacto em pelo menos quatro ou até
seis pessoas, tais como esposas/os, filhos e colegas de trabalho. Se 10%
dos jovens têm problema sério com drogas e álcool, se cada dependente
atinge quatro ou até seis pessoas, então temos 98 milhões de brasileiros
afetados por esse mal, chegando às raias da epidemia.
As drogas têm sido apontadas com freqüência como a razão principal
do aumento assustador da violência, homicídio no Brasil. Elas têm atingido
todas as classes sociais. Entre as razões que facilitam a adesão à droga,
cita-se com freqüência o ambiente familiar desajustado. Temos visto em
noticiários, como as drogas têm levado desespero e violência para dentro de
casa.
Uma pesquisa sobre relação entre pais e filhos e o uso de drogas,
realizado pelo hospital Mount Sinai, no USA, que teve inicio em 1979 e ainda
está sendo concluída, mostrou que crianças agressivas, que têm um
relacionamento distante com os pais, estão mais pré-dispostas a usar
maconha na adolescência. Os especialistas também citam como fator de
risco pela inclinação a droga o autoritarismo excessivo de alguns pais ou o
oposto, incapacidade de impor limites.
Teria mesmo a família um papel relevante, preventivo? Analisaremos
como a família poderá tornar-se um agente de prevenção, e até que ponto
os fatores de risco são de total responsabilidade da família.
CAPÍTULO I
FALTA DE AMOR FUNDAMENTAL
(necessidades emocionais não preenchidas)
“Para os pais, o amor incondicional que sente pelos
filhos está claro, mas para os filhos nem sempre esse
amor é tão claro assim”
Içami Tiba
FALTA DE AMOR FUNDAMENTAL
(necessidades emocionais não preenchidas)
Todos nós sabemos que as crianças precisam de amor e afeto.
Porém, até que ponto é tão fundamental para a formação e o
desenvolvimento da personalidade do indivíduo? Teriam os pais a maior
responsabilidade, e condições em suprir às necessidades emocionais dos
filhos?
Tânia Zagury define necessidade como, “algo inevitável, algo que se
não atendido, pode levar o indivíduo, a ter problemas sérios no seu
desenvolvimento, seja físico, intelectual ou emocional”, (Zagury, 2000, p.87),
ela cita a Hierarquia das Necessidades de Maslow em vários níveis:
1ª – necessidades fisiológicas (ligados à sobrevivência)
2ª – necessidades de segurança (física, psicológica, social)
3ª - necessidade de amor e de afeto, etc...
1.1. Simbiose Biológica (a vida uterina)
“Durante a gravidez, mãe e filho são uma
individualidade que se rompe fisicamente no momento
do parto, se tornam dois. Surge aí uma nova dupla,
mãe e filho. A principio, são extremamente
dependentes entre si; o filho depende da mãe para
sobreviver, mas esta depende da existência do filho
para ser mãe. A reciprocidade do vínculo é algo de que
nem sempre nos damos conta.” (A Família e seu
espaço, p. 93)
O psiquiatra Dr. Fábio Damasceno, usa o termo simbiose que é
tomado da biologia, que consiste numa relação em que dois seres vivos
estabelecem um vinculo de dependência exagerada, onde ambos tiram
vantagem desse relacionamento. Quando o feto está no ventre de sua mãe
numa condição de harmonia e equilíbrio. A mãe e o feto vivem uma vida
comum. O corpo deles compartilha da mesma vida, do mesmo oxigênio, do
mesmo nutriente, experimentando uma “simbiose biológica”.
1.1.1 - Simbiose Psicológica (vida pós parto, primeiro ano de
vida)
... “O principal tipo de ralação que o bebê manterá
com o ambiente será de natureza afetiva: é o período
emocional, fase mais arcaica da vida humana... O
bebê, que trava com a mãe aquilo que Ajuriaguerra
chamou de “diálogo tônico”, depende de toques,
carícias, contatos visuais, da voz em seus aspectos
mais elementares: melodia, ritmo, altura, modulação.”
(Wallon apud DANTAS, p. 92)
No parto a primeira grande crise da experiência humana, a criança é
“expulsa”, entrando na infância na condição de filho. O corpo da criança que
era praticamente um com a mãe, agora se individualizou, passando a existir
como um corpo diferente do corpo da mãe. Porém permanece a simbiose
psicológica, porque embora a mãe seja uma pessoa, e o bebê outra,
psicologicamente a criança e a mãe ainda vivem uma simbiose, num nível
muito profundo e sutil, têm a sensação de que eles são uma coisa só. Não
se trata aqui de algo racional e consciente, mas de uma sensação lá dentro
da mãe de que aquele filho é um “pedaço” dela, pertencendo-lhe profunda e
visceralmente. Por seu lado, a criança tem a mesma sensação: quando a
mãe se afasta, ela chora e grita.
1.1.2 - Simbiose psicológica é a base da individualização que por sua
vez é a base da personalidade
A psicanalista Mahler estudando o processo de separação e
individuação, diz: “A disponibilidade emocional da mãe é essencial para o
ego autônomo do bebê alcance a capacidade ótima”. (Carlos, apud Mahler,
p. 25)
Para Mahler a base da individualidade é a simbiose psicológica
vinculada no primeiro ano, e essa base vai depender do eficaz
estabelecimento de uma relação simbiótica com a mãe. “Assim, para separar
primeiro é preciso ter uma boa ligação. Quanto mais “perto de ótima” a
simbiose e a “conduta protetoras” da mãe, melhor o bebê terá sido ajudado a
separar-se suave a gradualmente, afirma Mahler.” (Carlos, apud Mahler, p.
25). E podemos dizer que o aprendizado básico da infância é essa lição da
individualidade, que virá a ser o alicerce da personalidade.
1.1.3 - A simbiose psicológica não vivenciada de maneira
saudável, resulta em sentimento de abandono, insegurança, ansiedade,
vazio, etc..
A teoria psicanalítica tenta explicar a fonte da ameaça, que leva a
ansiedade. Gordon Jackson diz:
“O nascimento é a primeira ameaça, pois o recém-
nascido separa-se da segurança da separação. A vida
é caracterizada por milhares de experiências de perda,
porém elas tornam-se mais terríveis quando o ego
nascente encontra-se lutando pela sobrevivência e está
mal equipado para enfrentar o choque. O primeiro ano
de vida, em seguida a essa entrada abrupta no mundo
através do trauma do nascimento, consiste numa série
de perdas ou de perdas ameaçadas. Não podemos
imaginar que choque o bebê deve ser o do dia quando,
ela deslizar suas mãos sobre seu corpo e o de sua
mãe, descobrir a separação entre sujeito e objeto. A
mãe está separada dele. Até aquele dia ela fazia parte
dele.” (Jackson, apud PERRY, 1991, p.70)
Jackson continua explicando que a separação cada vez maior entre
mãe e filho, no decorrer da infância, produz uma sensação de abandono, de
solidão ou vazio. Em conseqüência, a criança passa a sentir ansiedade.
1.1.4 - Bebê nos primeiros anos de vida pode perecer por falta de
amor e afeto.
O estudo de René Spitz sobre depressão, mostra-nos a importância
da afeição paterna durante os primeiros anos de vida. Em um filme
documentário, ele conta a pungente história de noventa e sete bebês de três
meses a três anos.
“Ficaram doentes e morreram por falta de amor.” O
orfanato em que eles haviam sido colocados estava
equipado para prestar cuidados normais, de rotina. As
crianças foram alimentadas e vestidas adequadamente,
e receberam atenção médica apropriada... Só um
elemento estava faltando... Elas não tinham hora para
brincar com as pessoas, não lhes podiam dar consolo
ou conforto emocional de qualquer espécie... No fim de
cinco meses manifestara-se uma deteriorização
acelerada e galopante. A maior parte dos bebês se
tornou encolhida, a ponto de se tornar irreconhecível..
vinte e sete dessas crianças morreram em seu primeiro
ano de vida. Mais sete morreram em seu primeiro ano
de vida. Mais sete morreram em seu segundo ano de
vida. Outras vinte e uma ... conseguiram sobreviver,
mas estavam tão alteradas, pela experiência que
tiveram de ser classificadas como neuróticas
irremediáveis, ou pior.” (Perry, citando Spitz, 1991,
p.103)
1.1.5 - A Ausência de amor e afeto produz um indivíduo com uma
personalidade dependente.
Na Clínica Minirth-Meier, Dr. Robert Hemfelt e sua equipe entendem
que essa necessidade de amar e ser amado, é algo que nasce dentro de
cada bebê. E uma necessidade primária de amor se não for satisfeita, elas
vão carregar estas cicatrizes até o fim da vida.
Ir em busca de amor é crucialmente importante até para os bebês que
ainda não dominaram a compreensão abstrata. Para eles você não pode
dizer “eu te amo” ao passar pelo berço é preciso transmitir amor de forma
não-verbal, que o bebê entenda instintivamente. Falar com neném
sussurrando o nosso carinho e anima-lo nos braços é tão importante quanto
calor e alimento. Os bebês desprovidos de amor podem literalmente morrer.
Dr. Hemfelt em tratamento com pacientes co-dependente, ilustra “a
fome de amor” desenhando um tanque em forma de coração, como
reservatórios de amor. Em cima do tanque dois outros, seria os pais
biológicos. Com o passar dos anos eles vão enchendo o seu tanque a partir
do tanque deles (pais).
Quinze ou vinte anos mais tarde, quando você desagregar da família de
origem, seu tanque estará bem cheio. Agora em idade adulta, estamos
munidos e prontos para encher os tanques dos nossos filhos que por sua
vez, vão encher os tanques de seus filhos. E, portanto, numa família normal
e funcional o amor é transmitido de geração a geração.
Numa família de oito pessoas os pais conseguem encher
adequadamente todos os do mesmo modo que os pais de um dos ou dois
filhos. A analogia não é quantidade nesse sentido, mas em outros sentidos
ele é quantitativa.
Dr. Içami Tiba corroborando com estudo do Dr. Hlemfelt
“Necessidades emocionais não preenchidas”. Ele diz:
“Desde pequeninas as crianças podem ser comparadas
a carros de corrida. Vivem correndo em volta ou
próxima dos pais e fazem pit stops quando precisam
abastecer de cuidados, beijinhos, ser ouvidas, ser
vistas etc... Quanto melhor for o atendimento, menos
ficarão parada no pit stops, vão diminuindo de número
e tempo de permanência na mesma proporção em que
aumenta a auto-estima da criança.” (Tiba, 2002, p.130)
1.2 - O amor é a base da auto estima elevada
A auto estima é o combustível que vai sustentá-la cada vez mais
capacitando-a dar voltas cada vez maiores e mais demoradas.
“As voltas vão se tornando maiores até que chega a adolescência e
os filhos passam circular em territórios próprios.” ( Tiba, 2002, p.130)
1.2.1 - Auto-estima essencial
Para o Drª. Içami Tiba, “o bebê descobrirá o seu valor a partir do valor
que é transmitido pelos outros.”
Vai se formando a auto-estima essencial. “Na verdade são os
cuidados adequados à idade, carinhos, respeito e afeto ao lidar com o bebê
que aumenta sua alto estima essencial.” (Tiba, 2002, p. 54)
1.2.2 - Auto-estima é o ingrediente mais importante da saúde mental.
A Drª Dorothy entende que auto-estima é um sentimento calmo de auto-
respeito, e de valor próprio.
“Quando sentimos interiormente ficamos
satisfeitos em sermos nós mesmos... Quando se tem
uma boa auto-estima, não se perde tempo e energia
procurando impressionar os outros, já se conhece o
próprio valor... O ingrediente mais importante da saúde
mental é uma auto-estima elevada.” (Dorothy, 2000, p.
6)
1.2.3 - A auto-estima elevada é maior defesa contra as drogas.
Se a auto-estima não for alimentada, algo irá ficar faltando, e se há
uma falta, haverá um desejo de ser suprida.
“Os pais podem dar alegria, conforto, satisfação e roupas da moda
para os filhos, mas não podem dar felicidade”. O que os pais podem fazer é
alimentar a auto-estima dos filhos que é a base da felicidade. (Tiba, 1999, p.
263)
Em síntese para se defender das drogas a criança e o adolescente
precisam gostar de si mesmo e ter informações de que elas fazem mal.
Ninguém se ama sozinho. A auto-estima nada mais é do que o resultado
final do amor recebido dos pais. Mas aquele amor gratuito, sem retorno. Só
ser amado não resolve. “A verdadeira auto-estima nasce de amor dado e
recebido.” (Tiba, 1999, p. 263).
1.2.4.1 - Auto-estima elevado é fundamental para que o
indivíduo seja feliz.
“A idéia que seu filho faz de si mesmo influencia a
escolha dos amigos, a maneira pela qual se entende
com os outros, o tipo da pessoa com quem se casa e
produtividade que terá. Afeta sua criatividade,
integridade, estabilidade e até mesmo a possibilidade
de ser um líder, ou um seguidor. Seus sentimentos do
seu próprio valor formam a essência de sua
personalidade... Na verdade, auto-estima é a mola que
impulsiona a criança para êxito ou fracasso como ser
humano.” (Dorothy, 2000, p. 6).
1.2.5 - A principal razão de uma auto-estima inadequada de falta
de amor fundamental.
“Sem esse amor como alicerce, a pessoa não se
sente aceita e amada. A pessoa que experimenta tal
amor tem uma confiança de que é aceita, não importa o
que ela faça ou deixe de fazer. Seu sentimento de ser
aceita não depende de sua “performance”, sua
produtividade ou habilidade de satisfazer outros.”
(Kornfield, 2001, p. 164)
Segundo Dr. David quando somos criados de forma que não
experimentamos “amor fundamental”, podemos reagir principalmente de
duas formas: ira e raiva atacando o mundo que não nos criou bem; ou medo
e temor. Fugindo de tal mundo, nos defendendo e escondendo. Ou provável
que teremos uma mistura das duas reações, ainda que venha predominar
uma. Há abaixo três formas necessárias para uma ato-estima elevada:
• Afirmação verbal – ouvir de seus pais frases como “Eu te amo!”, “Você é
tremendo!”, “gosto de você”, “É tão bom estar com você”, “minha querida”.
• Afeição física saudável – receber beijos, abraços, sentar no colo, andar
de mãos dadas, etc...
“Na prática, o cuidado com o filho concretiza o
amor paterno. Amor platônico ou por envio de ondas
mentais só satisfaz o pai. O que a criança realmente
sente, o que vai de fato fazer diferença para ela é o
contato físico, o abraço, o carinho que toca a pele.”
(Tiba, 2002, p. 109).
• Investimento pessoal – ter um tempo pessoal com seus pais, fazendo o
que você quer: esportes, brincando com bonecas, lendo histórias para você,
indo ao Shopping, etc. isto é diferente de eles convidarem você para fazer o
que eles querem.
1.3 - O amor estimulante
A Drª Dorothy Cokille Briggs, corrobora com o Dr. David Kornfield em seu
conceito de “amor fundamental”. Usando o termo “amor estimulante” ela
aprofunda mais as formas de experimentar este amor, que é tão
fundamental para o desenvolvimento de personalidade do indivíduo. Para
ela o sentimento de ser ou não ser amada é que afeta a maneira pela qual
se desenvolverá.
...”numerosas crianças cujos pais se interessam
profundamente por elas não se sente amadas...
algumas crianças nunca ouvem as palavras “eu te
amo”, mas sentem-se profundamente amadas. Outras,
mergulhadas na afeição verbal, sentem-se não
amadas”. (Dorothy, 2000, p. 61)
O que vai alimentar a auto-estima é o amor estimulante que se
manifesta quando há encontro autêntico.
1.3.1 - O que é amor estimulante e como ele se comunica?
“O amor estimulante é o cuidado carinhoso e a valorização da criança
apenas porque ela existe. Esse amor se manifesta quando você vê seus
filhos como alguém especial e querido em um encontro autêntico”. (Dorothy,
2000, p. 64)
1.3.2 - O encontro autêntico.
A questão não é se você ama seu filho, e sim se ele se sente amado
por você, ou como você comunica os seus sentimentos a ele.
“O encontro autêntico é simplesmente a atenção
focalizada... É atenção com uma intensidade especial,
nascida da participação direta, pessoal. Toda criança
precisa ter encontros autênticos, verdadeiros,
periódicos com os pais”. (Dorothy, 2000, p. 64)
É atenção concentrada, participação direta “presença”, é a qualidade
que transmite amor. Ela estimula o respeito próprio no que há de mais
intimo, porque ele diz: “Eu me preocupo”.
1.3.3 - O que faz a diferença não é a quantidade e sim a
qualidade.
Se as horas passadas com os filhos são cheias de críticas, falta de
respeito, comparações e exigências excessivas. Quanto mais tempo ele fica
nesse clima, menos adequados e amados se sentem. O tempo por si só,
não corresponde necessariamente o amor. “E a qualidade do tempo, e não a
sua quantidade, que afeta os sentimentos de ser amado”. (Dorothy, 2000, p.
62)
1.3.4 - Não encontro autêntico.
As crianças percebem quando não houve o encontro autêntico.
“As crianças são muito sensíveis ao grau de
atenção focalizada que recebem... Eles são
programados para uma presença interior. Sem ela, o
tempo passado junto aos pais é desperdiçado e até
prejudicial. E, no entanto. Com que freqüência danos
presentes em lugar de presença.” (Dorothy, 2000, g. 64
e 65)
1.4 - Sentir amado gera a sensação de pertencimento que o
tornará menos vulnerável às drogas
... “A criança pequena diz orgulhosa, “Você é o
meu pai” não para marcar a propriedade dela, mas
para deixar claro que pertence a alguém: “Eu pertenço
a você, você é quem cuida de mim”. Se essa sensação
for preservada o pai e mãe reforçarem o “você é meu
filho”, forma-se uma unidade em que tudo o que faz
interfere na vida do outro. Ao tomar qualquer atitude, a
pessoa pensará naqueles que ama. Isso a torna mais
forte e menos vulnerável às pressões para uso das
drogas, pensa: Não vou usar porque não quero
prejudicar a mim nem aos outros”, (Tiba, 2002, p. 265).
1.5 - Obstáculo á transmissão de amor, afeto aos filhos.
1.5.1 - Baixa estima dos pais
A baixa-estima por parte dos pais pode-se tornar um obstáculo para o
encontro autêntico. A fome de perfeição (perfeccionismo) impede de
perceber as características às singularidades dos filhos.
“Quando você tem uma boa auto-aceitação fica mais livre para
focalizar a atenção no seu filho. Se, ser pressionado por necessidades
interiores.” (Dorothy, 2000, p. 69)
1.5.1.1 – Pai, identidade que vem pelo fazer
Segundo Dr. David Kornfied, os homens tem uma tendência de
ganhar seu significado (auto-estima) por meio do trabalho. Se não estão
realizados no trabalho, se não sentem fazendo algo importante por meio de
suas vidas ficam frustrados e deprimidos. Quando ficam desempregados,
isso fica mais agudo ainda. Identidade que vem pelo fazer e não pelo ser é
muito frágil.
1.5.1.2 – Mãe, auto-estima nutrida pelos relacionamentos.
As mulheres têm uma tendência de ganhar sua auto-estima por meio
de seus relacionamentos, especialmente nas relações mais íntimas como
filha (até se casar), esposa e mãe. Quando esses relacionamentos não
estão indo bem é fácil a mulher entrar em depressão. A vida emocional de
uma mulher casada tende a cair quando o marido demonstra mais interesse
no trabalho (onde ganha sua auto-estima) do que nela.
1.5.1.3 - Tanques vazios.
Corroborando com o Dr. Dorothy, o Dr. Hemfelt da Clínica Ministh
Méier entende que deixar sua família de origem sem ter sido suprido as suas
necessidades emocionais, se tornará provavelmente um adulto co-
dependente, baixa estima e sem condição de suprir as necessidades
emocionais dos filhos, desenvolvendo uma personalidade dependente.
Dr. Içani Tiba compara filho como carros de corrida, que em um
determinado momento necessita parar no pit-stops, para ser abastecido. Se
ele não se sentir satisfeito, na próxima vez poderá parar em outros pit-stops
que a sociedade oferece. Os piores são os “pontos de venda de drogas”.
“Quanto melhor for a auto-estima, menos os filhos
aceitarão parar nesses pit-stops ruins para a qualidade
de vida. Quando seus pit-stops em casa já não
satisfazem, os filhos farão paradas em outros lugares.
Então dependerão muito mais do que têm de si
mesmos que dos pais. Poderão encontrar
combustíveis melhores ou piores, e um dos
combustíveis mais perigosos são os da drogas.” (Tiba,
2002, p. 130).
1.5.2 - Pais ausentes.
“A participação do pai é essencial não apenas para “ajudar a mulher,
coitada...”, mas, por entendermos que é fundamental a distribuição de
papéis a nível psicológico, tendo-se em vista a estruturação de uma
dinâmica familiar.” (A Família e seu espaço, p.93)
Dr. Içami Tiba entende que em nossa sociedade tem crescido o
número que ele denomina de “pães”. Mães que tem seus esposos ausentes,
ou omissos em casa. ... “pais somente recreativos, desvalidos, drogados,
doentes, falecidos. Até mesmo pai após a separação some da vida da antiga
família, transformando-se em ex-pai.” (Tiba, 2002, p. 222)
1.5.3 - Pais hipersolícitos, preocupados e estressados.
Dr. David Kornifield, entende que as mudanças estão chegando cada
vez mais rapidamente às nossas vidas. As estruturas tradicionais e centros
comunitários com a família, vizinhança, a igreja e a escola, ou seja, toda
sociedade estão perdendo seu poder num ritmo alarmante. Para alguém que
muda de lugar rural ou cidade pequena para uma cidade grande, as
mudanças podem vir tão rapidamente, que a pessoa não agüenta o choque.
O homem não tem estrutura emocional, física e espiritual para acompanhar
o ritmo alarmante das mudanças. As conseqüências são a ansiedade,
estresse e a hipersolicitude, etc.
1.5.3.1 - Excesso de ocupação neutraliza a “presença”, dificulta
os encontros humanos.
“Não intencionalmente sem compreender a
importância do encontro, nós falamos, falamos,
falamos. O envolvimento profundo com nossos
compromissos lá fora impossibilita a nossa presença
aqui, agora. Poucas pessoas vivem o presente com
numa atenção concentrada. Fechados no passado, ou
concentrados no futuro, não estamos no presente que,
afinal de contas, é o único tempo que na realidade
temos. Queremos estar toda parte ao mesmo tempo. E
assim, num certo sentido não estamos em parte
alguma”. (Dorothy, 2000, p. 66 e 67).
1.5.4 - Ausência de um clima afetivo entre pai e mãe.
A relação afetiva e amorosa entre pai e mãe principalmente no
primeiro ano, é fundamental para estabilização, segurança de mãe. Se um
dos pais não está disponível por algum motivo, esta criança vai ter, na
melhor das hipóteses, meio reservatório a seu dispor (tanque de amor),
geralmente tem menos.
A melhor maneira de o marido ajudar na amamentação e manter um
clima afetivo favorável para a companheira. (Tiba, 2002, p. 108)
1.5.5 - Materialismo e problemas financeiros
Materialismo é a filosofia da vida centralizada em coisas materiais.
Basicamente, o valor da pessoa e baseado em suas posses e condições
financeiras.
“Bons pais atendem, dentro das suas condições,
os desejos dos seus filhos. Fazem festas de
aniversario, compram tênis, roupas, produtos
eletrônicos, proporcionam viagens. Pais brilhantes dão
algo incomparavelmente mais valioso aos filhos. Algo
que todo o dinheiro do mundo não pode comprar: o seu
ser, a sua história, as suas experiências, as sua
lágrimas, o seu tempo. Pais brilhantes dão presentes
materiais para seus filhos, mas não os estimulam ser
consumistas, pois sabem que o consumismo pode
esmagar a estabilidade emocional, segar tensão e
prazeres superficiais”. (Cury, 2003, p. 21)
1.6 - Os pais têm a responsabilidade de atender as necessidades
emocionais de seus filhos.
• Entre 1 a 4 anos, ela necessita de sentir-se desejada, amada e
necessária.
• Entre 5 a 7 anos, ela necessita de carinho, é muito afetiva nessa idade.
• Entre 8 a 11 anos, ela necessita de relacionar-se com os pais
amorosamente.
• Na adolescência, ela tem necessidade de amor e afeto. Ele pode
demonstrar que não necessita, até de não querer, ter certa aversão ao
contato físico com os pais.
“Não acreditem, eles precisam muito de amor,
mas para essa idade há outras formas de mostrar
carinho: um sorriso, um tapinha nas costas, desarrumar
o cabelo, elogiar a roupa, dizer que admirou seu novo
corte de cabelo, etc.” (Zaguri, 2003, p. 146).
São maneiras de transmitir amor numa fase tão perturbada. Quando
estiverem a sós sem os amigos, vale um beijinho estalado.
Para Tânia Zagury, as necessidades emocionais, afeto e amor são
imprescindíveis para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, se
não atendida poderá ter problemas sérios em seu desenvolvimento. Para ela
todo o pai tem o dever de atender às necessidades de seu filho sejam elas
de que níveis forem.
CAPÍTULO II
AUSÊNCIA DE LIMITES
Desenvolver limites na criança é uma famosa
medida de prevenção. Se lhe ensinarmos a ter
responsabilidade, a impor limites e a esperar pela
recompensa logo cedo, anos mais tarde a vida dela
será mais tranqüila.
Cloud, H. Townsend, J.
A AUSÊNCIA DE LIMITES
Dr. Içami Tiba entende que o exagero de amor não garantir,
poderíamos dizer que só o amor não basta, é preciso mais para proteger os
filhos das drogas.
Dr. Cloud e Townsend corrobora com este pensamento, ele entende
que depois de aprender a estabelecer um vinculo, formar laços fortes, o mais
importante que os pais podem dar aos filhos é a noção de responsabilidade
(limite), saber por que são responsáveis ou não e saber dizer e aceitar um
não.
A maneira de lidarmos com os limites na educação dos filhos terá
enorme impacto sobre a formação da personalidade, o desenvolvimento dos
valores, o desempenho escolar, a escolha dos amigos, do cônjuge e o
desempenho profissional. (Cloud e Townsend, 2002, p. 190)
2.1 - Os motivos da ausência total de limites em nossa geração
No passado, aproximadamente nos anos 60, os filhos eram educados
de baixo de um autoritarismo, as crianças não tinham o direito se quer de
expressar suas vontades, hoje, porém nós presenciamos o oposto, uma
liberdade total. Fomos para um outro extremo, os motivos são vários.
2.1.1 - O uso indevido da psicologia moderna
A partir dos anos 70, se popularizou no Brasil, as idéias de teóricos
como a médica italiana Maria Montessori e o psicólogo Suíço Jean Piaget,
suas idéias e teorias se propagaram com rapidez atingindo as escolas e o
ambiente domésticos. Vivíamos em um regime autoritário, com bastante
rigidez. “Antes, os pais davam broncas, punham de castigo e cortavam as
regalias porque era assim que as coisas funcionavam, e ponto final.” (Veja,
2004, p. 72)
Não há nada de errado nas idéias da neurologista Maria Montessori e
o psicólogo Jean Piaget, “o problema é que a vulgarização do construtivismo
e de outras teorias do gênero deu margem para interpretações
equivocadas.” (Veja, 2004, p. 72)
Hoje se vive o oposto da rigidez de antes. Os pais se sentem mais
sobre o seu papel, estão totalmente desorientados e os filhos, na ausência
de quem estabeleça limites à sua conduta, assumiram o papel de tiranos.
“No afã de atender aos reclamos da moderna psicologia e pedagogia,
os pais perderam um pouquinho o rumo.” (Zagury, 2003, p. 16)
2.1.2 - O desejo de fugir da tarefa que é educar o adolescente.
Com a consolidação do capitalismo, o materialismo. As mudanças e
renovações tecnológicas estão chegando cada vez mais rápida em nossas
vidas.
“No inicio do século passado acreditava-se que
com avanços da tecnologia, trabalharíamos cada vez
menos e teríamos mais tempo para o lazer e a família.
Porém ocorreu justamente o contrário, o computador,
internet, fax, telefone celular, TV a cabo, etc.. obrigou o
homem a competir com aquilo que no princípio parecia
que facilitaria a vida moderna. “A maioria das pessoas
acumulou mais tarefa, ficar ligada 24 horas por dia e
vive angustiada num emprego que não sabe por quanto
tempo será capaz de manter”. (Veja, 2004, p. 66)
O resultado são pais sempre preocupados, ausentes emocionalmente
outrora fisicamente, impedidos de se dedicar à tarefa dificílima que é educar
os filhos, principalmente na fase da adolescência. Pra piorar, os jovens de
hoje são muito bem informados, cada sanção precisa ser acompanhadas de
boas justificativas, o resultado desse fenômeno é a mudança de
comportamental dos pais em relação aos filhos.
“Esses netos, nascidos em plena efervescência
da informatização, têm vida muito diferente da de pais
e avós. Influenciados pelo ecossistema e pelo “como
somos” vigente, perderam os critérios relacionais
saudáveis. Agitados, impulsivos e irritados, os
pecurruchos não suportam frustrações, reagindo
fortemente, chutando as canelas dos pais e cuspindo
nas mães ao serem contrariados”. (Tiba, 2002, p. 221)
“Fuga pela medicalização da adolescência. “Ao menor sinal de
alguma coisa está fora dos eixos, os pais correm para um consultório, em
vez de tornar eles próprios as rédias da situação”. (Veja, 2004, p. 731)
“No fundo, o que eles procuram é se livrar do
problema. Quem uma justificativa externa para o mau
comportamento dos filhos e têm a falsa idéia de que
dois comprimidos por dia resolvem qualquer problema”,
afirma o psiquiatra Francisco Assumpção da
Universidade de São Paulo”. (Veja, 2004, p. 74)
2.1.3 - Os pais nasceram em um ambiente já bastante marcado
pela Educação liberal.
Os avós eram autoritários. Os pais se tornaram permissivos, e os
netos totalmente sem limites. Os pais sofreram tanto com esse método de
criação que largaram as rédias ao se tornar pais. Então trataram de negá-lo
fazendo o oposto. Assim tornaram extremamente liberais.
“É como se houvesse um elástico. No passado,
ele ficava esticado demais para o lado do pai e o filho
se submetia. Autoritarismo! Quando assumimos a
paternidade, soltamos o elástico de uma vez. E o que
aconteceu? Foi para o extremo oposto. “É proibido
proibir”. Liberalismo total. “(Tiba, 1999, p. 99)
“Aqueles filhos reprimidos por pais machistas na
pré-liberação sexual hoje são avós e fazem parte da
geração que chamo de “asa e pescoço” (do frango da
macarronada de domingo). Os pais deles comeram
“peito e coxa”, deixando-lhes a asa e o pescoço.
Quando chegou a sua vez, deram aos filhos a melhor
parte do frango, o peito e a coxa, e comeram outra vez
asa e pescoço. Como foram vítimas do autoritarismo e
da repressão, deram liberdade ilimitada aos filhos.
Começaram a trabalhar cedo e continuam trabalhando
mesmo depois de aposentados”. (Tiba, 2002, p.221)
2.1.4 - Pais com conflitos internos
Dr. Içami Tiba recomenda que se os pais não conseguem fazer o que
sabem que tem que ser feito, busquem ajuda.... Conflitos internos dos pais
interferem nas ações educativas, ... mas não conseguia impor-lhe os limites
necessários. “Ele não suporta vê-lo sofrendo”. (Tiba, 2002, p. 47) os
principais conflitos internos são:
2.1.4.1.1 - Culpa cultivada pelos pais por trabalharem e
passarem pouco tempo com os filhos.
“Os pais passam, hoje, a maior parte do dia longe
de casa. Na volta, querem agradar às criancinhas a
todo custo. Não põem os limites necessários à
educação. Assim, as crianças não educam suas
vontades. Os pais criam verdadeiros príncipes que
acabam por escravizá-los como tiranos” (Tiba, 1999, p.
100)
Pais que trabalham fora costumam usar pensamento de
compensação, se tornando assim, mais recreativo que educativo.
“Quando trabalha fora, a mulher de hoje, ainda atropelada pelo
“instinto” materno, tende a se sentir culpada por ficar de fora de casa o dia
todo.” (Tiba, 2002, p. 40)
“Os pais que trabalham fora já não convivem tanto
tempo com o filho, por isso no pouco tempo em que
estão juntos querem agradá-lo. “Já passamos tanto
tempo longe e quando estamos perto ainda vamos ficar
pegando no pé dele?”” (Tiba, 2002, p. 150)
“Os pais morrem de medo de errar. Preocupam-
se muito, temendo que um erro deles traumatize a
criança pelo resto da vida.
Se traumas infantis matassem, a humanidade estaria
extinta. Não há filho que não tenha sido contrariado. A
imensa maioria deles tem condições de agüentar
contrariedades.
A insegurança paterna / materna faz com que os
filhos sintam como se tivessem a bordo de um carro
cujo motorista fica o tempo todo perguntando se a
velocidade está boa, se deve virar à esquerda, à
direita, se ultrapassa ou se deixa ultrapassar etc.”
(Tiba, 2002, p. 159)
2.1.4.2 - Medo de parecer repressor.
“Por medo de errar é que acabam errando, pois não estabelecem
limites. Só um erro não traumatiza. O que distorce tudo são os pais
freqüentemente deixarem de agir quando necessário.” (Tiba, 2002, p. 144)
“Com medo de parecerem repressores, muitos fazem vista grossa à
recusa de seus filhos em comer.” (Veja, 2002, p. 234)
2.1.5 - Os pais delegaram a televisão, escolas, igrejas, etc. a
responsabilidades que é deles.
“Acreditar que a escola possa assumir sozinha o
papel de educar os adolescentes é uma saída pela
tangente bastante comum. A permissividade chegou a
um ponto em que os próprios colégios estão tendo de
chamar a atenção dos pais para seus deveres” (Veja,
2004, p. 73)
Quanto mais tarde a criança se iniciar no mundo da TV melhor. É
assustador ver crianças pequenas, de fraldão, tentando imitar o rebolado
das dançarinas. Se elas imitam a dança, por que não imitarão a violência?
Aquela imagem que entra no ambiente familiar passa a ser natural,
um costume. Essa é uma questão a ser considerada na educação.
Toda vez que a criança assiste a um anuncio de TV mostrando uma situação
prazerosa associada ao cigarro ao cigarro ou álcool, por exemplo, sua
cabeça está sendo feita. Aquela imagem é recebida num ambiente familiar,
tornando seu conteúdo também familiar.
“Além disso, é muito comem presenciar os pais, familiares e amigos
da família tornando aperitivos ou fumando, o que aproxima o álcool e o
cigarro da criança.” (Tiba, 2002, p. 175)
“A televisão mostra mais de sessenta
personagens por hora com as mais diferentes
características de personalidade. Policiais irreverentes,
bandidos destemidos, pessoas divertidas. Essas
imagens são registradas na memória e competem
coma a imagem dos pais e professores.
Os resultados inconscientes disso são graves. Os
educadores perdem a capacidade de influenciar o
mundo psíquico dos jovens. Seus gestos e palavras
não têm impactos emocionais e, conseqüentemente,
não sofrem um arquivamento privilegiado capaz de
produzir milhares de outras emoções e pensamentos
que estimulem o desenvolvimento da inteligência.
Frequentemente os educadores precisam gritar para
obter o mínimo de atenção.
A maior conseqüência do excesso de estímulos da TV
é contribuir para gerar a síndrome do pensamento
acelerado, SPA. Nunca deveríamos ter mexido na
caixa preta da inteligência, que a construção de
pensamentos, mas, infelizmente, mexemos. A
velocidade dos pensamentos não poderia ser
aumentada cronicamente. Caso contrário, ocorreriam
uma diminuição da concentração e um aumento da
ansiedade. É exatamente isso que está acontecendo
com os jovens.” (Cury, 2003, p. 59)
“Os pais têm então de decidir se satisfazem o gosto do filho,
permitindo que brinque com o videogame violento “que todo mundo tem”, ou
simplesmente “não tocam nesse assunto” com ele.” (Tiba, 1999, p. 19)
2.2 - Os resultados de não impor limites
Jovens frágeis sem nenhuma condição de suportar contrariedade;
levam para dentro de casa desespero e violência; são egoístas amantes de
si mesmas, convivendo com a falsa sensação de onipotência; são totalmente
irresponsáveis.
“Recordando alguns erros de amor: educação
permissiva e tolerante; liberdade e poder total para
fazer o que quiser; não tolerar frustrações; é mais
importante aliviar o sofrimento do que resolver o
problema; o que vale é se divertir, porque as
responsabilidades são dos pais.” (Tiba, 1999, p. 104)
2.2.1 - Não toleram frustrações, “o importante é aliviar o
sofrimento”. Terão enorme dificuldade de interagir na sociedade.
Figuras paternas e mães hipersolícitas transformam os filhos em
parafusos de geléia.
Se levam um apertão, espanam. Não agüentam ser contrariados. Não
foram educados para suportar o “não”, receberam tudo de graça. O simples
fato de existir era motivo suficiente para os pais atenderem a seus mínimos
desejos. E assim, sem conhecer o significado do “não”, partiram para o
mundo. O mundo é a realidade onde convivem o “sim” e o “não”. Eles
acreditavam que o mundo seria como seus pais, que jamais lhes disseram
“não”.
Essa é uma das tristes conseqüências da educação do “sim”, da
permissividade e da hipersolicitude.
E, assim, a geração zap se acostuma à quantidade e à
superficialidade. Esta, aliás, é uma das tendências do mundo moderno que
mais prejudicam a sociedade. Pessoas descartam uma às outras. Pais
abandonam filhos com facilidade. O que vale é satisfazer o objetivo pessoal.
Reina o individualismo.
Enquanto dá certo, permanecem no jogo; quando não conseguem
superar obstáculos, em vez de fazer novas tentativas, pegam outro.
Simplesmente mudam de tela. Todas as crianças fazem isso. Descartam
jogos difíceis e preferem brincar com aqueles em que vão melhor.
“Daí resulta o grande problema dessa geração: a
incapacidade de lidar com frustrações que se transpõe
para os relacionamentos sociais. Se não dá certo com
uma pessoa, as criancinhas a agridem, deixam-na de
lado, buscam outra. Descartam-na como se fosse
videogame.” (Tiba, 2002, p. 234)
“Se o filho está infeliz porque brigou com a
namorada, o pai lhe oferece dinheiro para ir ao
Shopping e a mãe o consola: “não tem importância, a
mamãe te ama” nem o pai nem a mãe percebem o
sofrimento efetivo do filho” (Tiba, 2002, p. 194)
“... Os parafusos de geléia são cruéis e não se incomodam em ferir
outras pessoas quando não suportam uma situação.” (Tiba, 2002, p. 58)
“Pais que admitem que estão sempre certos
nunca ensinarão seus filhos a transcender seus
fracassos. Pais que não pedem desculpas nunca
ensinarão seus filhos a lidar com a arrogância. Pais
que não revelam seus temores terão sempre
dificuldade de ensinar seus filhos a ver nas perdas
oportunidades para serem mais fortes e experientes.
Temos agido assim com nossos filhos, ou
desempenham apenas as obrigações triviais da
educação?” (Cury, 2003, p. 58)
2.2.2 - O que vale é o prazer, por que a responsabilidade é dos
pais (Tendência Hedonista)
“Nem tudo que é prazeroso é bom, há coisas que
dão prazer que não são boas, como também nem tudo
que é amargo é ruim. O que deve ser evitado não é o
amargo, mais o ruim. “gostoso é uma sensação física
(biológica, portanto animal) de prazer que todas as
pessoa sentem, independentemente de idade, sexo,
cultura, raça, religião, etc... bom ou ruim é um critério
racional que pertence a um quadro de valores, portanto
depende de critérios como saúde, cultura, lei, religião,
sociedade etc.” (Tiba, 2002, p. 261)
Os jovens usuários de drogas dizem que usa por ser gostosa. Vivem
em uma sociedade com fortes tendências Hedonistas (ensina que o que dá
prazer, o que faz sentir bem é a base para as nossas decisões).
Ultimamente os laboratórios farmacêuticos têm dado sabores
agradáveis aos remédios dificultando a compreensão desse fato.
Medicamento deve ter gosto de remédio, gostoso ou não ele é bom.
“O usuário sabe que a maconha ou cocaína dá
prazer. Essa filosofia Hedonista impede que eles
percebam que o custo é muito alto, pra ele o custo não
é o problema, muito menos a responsabilidade sobre
seus atos. O mais importante é fazer o que tem
vontade, é desfrutar do prazer, “sempre pode fazer o
que quis, sente-se poderoso para continuar fazendo o
que quer.” (Tiba, 1999, p. 104)
2.2.3 - Tornam-se extremamente egoístas. Acham que os outros
vivem para servi-lo, são verdadeiros reizinhos.
“Os filhos desses pais, portanto netos dos avós
autoritários tornam-se onipotentes com pés de barro:
para eles tudo pode, mas não suportam nenhuma
frustração. Sentem-se fortes, mas são parafusos de
geléia, isto é, não suportam os “apertões” que a vida
naturalmente dá em todos os seres viventes.” (Tiba,
2002, p. 53)
“Quem quer que o filhos seja egoísta? Coloque-o sempre em primeiro
lugar em detrimento dos outros e diga sim a todos os seus desejos.” (Tiba,
2002, p. 129)
“Ser supermimado e superdependente, torna-se o
centro das atenções, querer tudo para si, achar que os
outros estão ali para servi-lo, só comer porcaria, não ter
ritmo para nada, ser incapaz de superar dificuldades
sozinho, chorar, gritar, agredir, embirrar quando
contrariado, agir por impulso, querer sempre ter razão
etc.” (Tiba, 2002, p. 151)
2.2.4 Não arcam com a responsabilidade de seus atos, dar-se o
direito de fazer o que tem vontade. Liberdade e poder total para fazer o
que quiser
“O problema de hoje pode ser resultado do que não se fez ontem. Se
o estudo for deixado de lado, já que dá muito trabalho, o preço a pagar no
futuro pode ser muito alto.” (Tiba, 2002, p. 262)
“Deram tudo tão mastigado para facilitar a vida
dos filhos que estes não aprenderam a mastigar a
própria comida, a lutar com ímpeto para alcançar seus
objetivos, a ter garras para transformar sonhos em
realidade.
Muitos pais acreditam que seu filho jamais usará
drogas, porque recebe muito amor. Mas só o amor não
educa. O que educa é deixar a criança assumir, desde
pequena, a responsabilidade pelo que faz.” (Tiba, 2002,
p. 60)
“As crianças estão crescendo sem limites. Não aprendem a respeitar
o que os adultos determinam nem sentem o peso de suas
responsabilidades.” (Tiba, 1988, p. 100)
“Na visão moderna de alguns pais, não se devem
por limites. Criança tem direito a tudo que tiver vontade,
de uma pseudodemocracia que esconde a dificuldade
de dizer não. A criança ainda não está capacitada para
decidir se deve ou não tomar a cerveja.” (Tiba, 1999, p.
22)
As crianças têm sido criadas sem limite. Não aprenderam a obedecer,
o que os mais velhos determinam, e nem assumem as suas
responsabilidades e conseqüências dos seus atos.
Dr. Içami Tiba entende que a criança sem limites prevalece o eu
interior instintivo (animal), se tornando violentos, não medem conseqüências
nem assume a responsabilidade pelo que faz.
“A omissão, que permite à criança fazer tudo o
tem vontade, ou a explosão diante de qualquer deslize
do filho, além de não educar, distorcem a
personalidade infantil, tornando a criança folgada (sem
limites) ou sufocada (entupida, reprimida, tímida). No
futuro, ela poderá se revoltar quando for contrariada ou
tiver forças suficientes para se rebelar contra o
opressor. Portanto, é importante que os pais busquem
ajuda quando não conseguem fazer o que sabem que
tem de ser feito.” (Tiba, 2002, p. 47)
2.3 - Ajudar a assumir a responsabilidade pela sua própria vida.
“Desenvolver limites na criança é uma famosa
medida de prevenção. Se ensinarmos a ter
responsabilidade, a impor limites e a esperar pela
recompensa logo cedo, anos tarde a vida dela será
mais tranqüila. Quanto mais tarde fizermos isso, mais
trabalho teremos.” Cloud e Townsend, ......., p. 192)
2.3.1 Premiando ou recompensando o bom comportamento
(conseqüência positiva)
“Sempre que a criança tiver atitudes corretas,
devemos ressaltar esse fato.
‘‘Assim, as crianças ficam com a sensação de que
não vale a pena fazer tudo certinho: afinal, se agem de
maneira adequada o mais das vezes, não recebem
qualquer estímulo, às vezes, nem um simples olhar
aprovador; nas outras ocasiões, porém, quando erram,
o mundo parece que vai acabar: ganham palmadas,
reprimendas, castigos etc., então para que se esforçar?
Por isso, a melhor forma de se alcançar um objetivo
educacional é elogiando, incentivando o ressaltando
tudo de bom que a criança faz.” (Zagury, 2003, p. 59)
2.3.2 Entendendo que premiar não é obrigatoriamente dar coisas
materiais
“Para a criança tem muito mais valor um carinho, um elogio sincero, o
reconhecimento do esforço, do que presentes, dinheiro, viagens etc.”
(Zagury, 2003, p. 60)
Tânia Zagury, entende que não é errado premiar dando coisas
materiais, porém o perigoso é a criança ser acostumada a serem
“compradas”, eles aprenderão agir da mesma forma, poderá tornar-se
também pequenos consumistas.
A palavra, o olhar e o amor do pai e da mãe ainda são os melhores
prêmios, eles terão o ego fortalecido e auto-estima elevada.
2.3.3 Fazendo com que a criança assuma as conseqüências dos
seus atos (negativos ou positivos)
Parte desse processo de amadurecimento consiste em dar-nos a
assumir a responsabilidade por nossa vida. Mais importante que os pais
podem dar aos filhos é a noção de responsabilidade, saber por que são
responsáveis ou não e saber dizer e aceitar um “não”. A responsabilidade é
um presente de mesmo valor.
“Quando as crianças erram os pais devem
conversar e agir. Porém se conversando, explicando
ela não muda de comportamento, então é necessário
que a criança entenda que ela é responsável pelos
seus atos e também, evidentemente, pelas suas
conseqüências.” (Zagury, 2003, p. 61)
Devemos deixar claro que assim como os atos bons tem
conseqüências muito agradáveis (elogios, carinhos, aprovações, às vezes
até presentinhos). Assim acontece também com atitudes incorretas
(conseqüências negativas).
“De forma simples – assim como premiamos as
atitudes que queremos ver repetidas, devemos dar a
nossos filhos sinais de que determinadas atitudes não
terão aprovação dos pais e, mais importante ainda,
devemos deixar claro que serão eles os responsáveis
pelas conseqüências dessas atitudes.” (Zagury, 2003,
p. 62)
2.3.4 Os pais têm que fazê-lo assumir as conseqüências.
“Castigo, como primeira medida, não educa uma criança folgada. O
que educar é assumir as conseqüências de seus atos.” (Tiba, 2002, p. 142)
“Uma vez que a adquire consciência da inadequação de seu ato, o ser
humano demonstra a tendência natural de melhorar.” (Tiba, 2002, p.142)
“Quem aprendeu a ter lucros na delinqüência
precisa começar a ter prejuízos para que o equilíbrio se
restabeleça. O pai avisou ao filho que ele não deveria
fazer tal coisa, mas seu limite foi ignorado. Então está
na hora de estabelecer um prejuízo para o garoto
entender que seu comportamento traz conseqüências.”
(Tiba, 2002, p. 168)
“É natural as crianças tentarem, de várias
maneiras, recuperar o que foi perdido através de choro,
depressão, agressão, cara fechada, mau humor, chute,
raiva. Elas têm o direito de reagir. E os pais devem
dizer: “Tudo bem você reagir, mas sua reação não vai
mudar o que estabelecemos, pois você está recebendo
o que mereceu”.
A explicação educativa dessa medida é fazer a
criança sentir a perda que um mau comportamento
traz.
O ser humano se ressente de dois tipos de perde:
a material e a psicológica.
Só a perda material (ficar privado de um objeto)
não adianta. A perda psicológica (não ter a atenção dos
pais) a criança sabe que os pais não conseguirão
manter por muito tempo.” (Tiba, 2002, p.169)
Como fazer nossos filhos assumirem as conseqüências de seus atos:
• Usando prêmios ou recompensas;
• Lembrando que premiar é sempre melhor que castigar
• Acreditando que responsabilização (ou conseqüência) pode ser
necessária algumas vezes.
• Cumprindo e fazendo cumprir regras.
• Lembrando que prêmios e recompensas podem não ser coisas materiais
(Zagury, 2003, p. 64-96)
2.5 - Limites saudáveis desenvolvem a individualidade
O psiquiatra Dr. Fábio Damasceno entende que há dois ingredientes
importantes para a individualidade de crianças.
2.5.1 Direitos e Deveres
“Esses ingredientes vão sendo descobertos na vida social,
principalmente na escola. Ela vai descobrindo que tem direito a ver seu
espaço e objetos respeitados pelos outros, mas que por outro lado, ela tem
dever de respeitar o direito do outro.
Este binômio direito / deveres é fundamental ma percepção da
individualidade de cada um.” (Damasceno, 1996, p. 244)
DIREITOS
DEVERES
via de mão dupla
Na vida em família, há um outro binômio que também é
importantíssimo à formação da individualidade.
2.5.2 Confirmação / limite
Confirmação: elogios, prêmios, reconhecimento, afirmação, valor,
autonomia e amor.
Limites: regras, códigos, disciplina, leis, frustrações, restrições e os “nãos”.
INDIVÍDUO A
INDIVÍDUO B
“Também podemos dizer que confirmação e
limites são o correspondente, na linguagem familiar,
para direitos e deveres da linguagem social. Aliás,
confirmação e limites chegam primeiro à criança do que
a noção de direitos e deveres. Aqui, invertemos essa
ordem por uma questão didática.” (Damasceno, 1996,
p.245)
direitos confirmação
INDIVIDUALIDADE
deveres limites
2.5.3 A importância da noção integrada e equilibrada de direitos /
deveres e confirmação / limites
Noção integrada e equilibrada de direito / deveres, de confirmação /
limites, vai produzir um senso de valor próprio e de auto-estima. Os
extremos da individualidade é o individualismo (egocentrismo) e baixa-
estima (menos-valia) A individualidade é o meio termo entre dois extremos.
2.5.3.1 Individualismo
“O individualismo é uma forma egoísta e distorcida de se vivenciar a
individualidade. Ter um ego é uma qualidade, porém, viver egoisticamente é
uma distorção.” (Damasceno, 1996, p. 250)
Uma criança que teve todos os seus direitos assegurados de forma
acentuada, e pouco se cobrou os seus deveres, a personalidade vai se
tender a um senso de valor próprio exagerado (egocentrismo) pouca
percepção dos outros.
2.5.3.2 Baixa-estima
Por outro lado, alguém que, ao longo da infância, recebeu muito
limite, disciplina exagerada, regras e restrições em excesso vai ter seu ponto
de equilíbrio mais para o lado dos deveres do que dos direitos. (Damasceno,
1996, p. 250)
O resultado é uma pessoa com baixa-estima, permitindo que os
outros lhe manipulem e invadam a sua vida, uma personalidade com
tendência de pessoas ou química, etc.
direitos deveres
INDIVIDUALISMO INDIVIDUALIDADE BAIXA-ESTIMA
Amor próprio
valor própria
confirmação limites
• Mãe que faz o dever de escola para o filho.
“Se a mãe fez o trabalho, qual é base do filho
para dar o passo seguinte? Como fazer algo mais feio
do já se fez? Assim a mães, além de não ajudar,
prejudica a auto-estima da criança porque tira sua
possibilidade de realização.” (Tiba, 2002, p.191)
• Realizar tarefas e deveres faz sentir útil e desenvolve a auto-estima.
“O que amadurece saudavelmente uma criança é
o leque de aptidões desenvolvido. Portanto, reforços,
elogios e prêmios devem ser justos e mais
recompensadores quanto mais difícil, trabalhosa ou
democrata for a atividade. Mãe que faz o dever de
escola par o filho.” (Tiba, 2002, p.141)
“Ao encaixar objetos, fazer as próprias lições e até mesmo
futuramente enfrentar desafios, a auto-estima dela se fortalece.” (Tiba, 2002,
p.192)
“Com esse critério interno, a vida da criança melhora muito, pois sua
auto-estima vai crescendo à medida que vence os desafios.” (Tiba, 2002,
p.141)
“Em síntese, para se defender das drogas, a
criança e o adolescente precisam gostar de si mesmos
e ter a informação de que elas fazem mal.
Ninguém se ama sozinho. A auto-estima nada
mais é do que o resultado final do amor recebido dos
pais. Mas não aquele amor gratuito, sem retorno. Só
ser amado não resolve.
A verdade auto-estima nasce do amor dado e
recebido.
É essencial que os filhos se sintam importantes
para os pais por poder também ajudá-los. Pelo ciclo
natural da vida, as crianças crescem e só adultos
envelhecem, precisando muitas vezes de cuidados. Se
o filho tiver os pais dentro de si, ele fará isso de bom
grado.
A religiosidade familiar protege o adolescente
contra as drogas hoje. E o estimula a cuidar dos pais
idosos no futuro”. (Tiba, 1999, p.262)
Portanto, Dr. Damasceno entende que uma noção integrada e
equilibrada de direito / deveres, e de confirmação / limites vai produzir um
senso de valor próprio e auto-estima. Entendemos que a conseqüência do
bom ato (prêmios, elogios, reconhecimentos, etc.) e assumiram a
conseqüência do mau ato, também de forma equilibrada, não exagerando
para não parecer falso, irá produzir uma sensação de valor próprio e auto
estima.
CAPÍTULO III
MODELOS DE FAMÍLIA, E OS SEUS FATORES DE RISCO E
DE PROTEÇÃO CONTRA AS DROGAS.
As famílias, de alguma forma, são os laboratórios
em que esses dois ingredientes seriam ministrados e
misturados; são matrizes da identidade individual tanto
quanto instrumentos de socialização.
Elkain, 1998
MODELOS DE FAMÍLIA, E OS SEUS FATORES DE RISCO E
DE PROTEÇÃO CONTRA AS DROGAS.
“Os modelos de Stierlin podem ser relacionados
aos modelos de famílias ligadas ou aglutinadas e
desligadas ou separadas, que têm sido descrito por
vários autores, em especial pelo grupo de Minuchin, na
Filadélfia, e com os modelos de apego excessivo e de
evitação, de Bowlby. Os termos são diversos, mas o
fenômeno é o mesmo. As construções teóricas que
embasam esses autores, trabalhando em lugares tão
diferentes, são diversas, mas seus achados
convergem. Suas diferentes construções estão ligadas
ao contexto teórico experimental onde cada um se
situa.” (Dantas, 1989, p.27)
Os tipos, os modelos de família onde cada um foi formado vão definir
seu ponto de equilíbrio: baixa-estima, individualidade saudável. Outros
fatores importantes também são: o lugar, a função e o papel que cada um
desempenhava na família.
Dependendo do tipo da família, ela produzirá fatores de risco ou
fatores de proteção. Fatores de risco são fatores que quando presentes
aumentam a probabilidade do uso indevido de drogas, porém não determina
o uso das drogas. Os de proteção, e o oposto, é algo que pode diminuir a
possibilidade, porém de igual modo não é determinante.
3.1 – Um marco importante na compreensão dos sistemas familiares.
O argentino Salvador Minuchin, com formação em psiquiatria infantil e
psicanálise, na década de 1960, pouco depois de ter completado seus
estudos, trabalhou na Wiltwyck Shool for Boys, um internato localizado em
um bairro muito pobre de Nova York. Ele e seus colaboradores, se
defrontaram com a necessidade de implementar uma abordagem terapêutica
que se adaptasse às necessidades daquela população dos guetos,
altamente desfavorecida.
Cinco anos depois, em 1967, Minuchin e uma equipe interdisciplinar,
a través da obra Family of the Slum, publica o resultado dessa experiência
realizada com famílias de adolescentes, sendo então considerada como um
marco importante na compreensão dos sistemas familiares de baixo nível
sócio-econômico. Isto porque, até àquela época, os terapeutas familiares,
haviam se interessado somente pelas populações pertencentes à classe
média. Nela o autor questiona a “família delinqüente”, na medida em que
elas assim rotuladas apresentavam diferentes formas de organização.
3.1.1 – O papel do sintoma na estrutura familiar.
O sintoma (paciente identificado) denuncia a desestrutura e a
disfunção familiar. Minuchin relaciona o sintoma (dependente químico), com
estruturas familiares disfuncionais. O sintoma revela o modo como os
membros da família se posicionam em relação a quem apresenta o sintoma
(paciente identificado) e, por isso, põe à prova a estrutura da família.
As famílias que buscam terapia têm identificado um de seus membros
como problema. Entretanto, o problema não é o paciente identificado, porém
determinados padrões desta interação familiar. As soluções que ela vem
tentando são repetições estereotipadas de transações ineficazes, que geram
afeto extremado, sem, contudo produzir mudança.
3.1.2 – Os três tipos de fronteiras que caracterizam os modelos
de família.
Em 1974, Minuchin publica a obra Families anda Family Therapy.
Nela o autor expõe de forma clara e concisa a sua teoria sobre a estrutura e
o funcionamento da família.
Em 1978, Minuchin e equipe multidiciplinar publica Psychosomatica
Families. Nela reúne as conclusões de uma pesquisa, realizada durante dez
anos, sobre a estrutura disfuncional de famílias com crianças portadoras de
distúrbio psicossomático, regularmente hospitalizadas no Children’s Hospital
da Filadélfia, por causa de graves crises, mesmo quando o tipo de
tratamento apontado, em condições, dispensasse re-hospitalizações.
Nessas crianças estudas por Minuchin et al., os sintomas
psicossomáticos desenvolvidos e manifestados por elas, exerciam um papel
importante na manutenção da homeostase familiar, que tinha a ver com a
presença ou não de tensão na relação dos pais.
3.1.2.1 – A importância das fronteiras.
• fronteira rígida apartação
• fronteira clara normalidade
• fronteira difusa enredamento
Elas são necessárias para sustentar e preservação a diferenciação.
Portanto, a função das fronteiras é de proteger os diferentes sistemas e,
para que o funcionamento da família seja adequado às mesmas devem ser
nítidas.
Toda família pode ser situada em um eixo que liga um pólo, onde as
fronteiras interpessoais são difusas ou enredadas. Ao pólo, no qual a
exagerada rigidez de fronteiras se manifesta sob a forma de apartação.
Esses dois extremos de funcionamento das fronteiras são
classificados respectivamente de aglutinado e desligado. As operações
nesses dois pólos opostos indicam áreas de possível disfunção do sistema.
3.2 – Os modelos de família de Minuchin e os similares.
Os termos dado aos modelos, ou tipos de família são vários, porém o
sentido tem sido os mesmo descritos por alguns autores. O mais
proeminente sem dúvida é o argentino Salvador Minuchin citado acima. Os
autores mais recentes têm aperfeiçoado e contextualizado conforme a
realidade.
Minuchin
Fronteiras:
Curso de prevenção de Dep. Química da Prefeitura do
Rio de Janeiro
Dr. Fábio Damasceno
Nítida, clara, normalidade
Democrática
Individualizada
Difusa, enredamento
Permissiva
Simbiótica
Rígida, apartação
Autoritária
Cismática
-
-
Mista
-
-
Desagregada
3.2.1 – Modelo de família, difusa, simbiótica, permissiva e os
seus fatores de risco.
a) Difusas
Em algumas famílias, onde a distância entre os membros fica
diminuída, desenvolvem-se fronteiras difusas. Seus membros chocam-se
com várias dificuldades relacionadas à intensificação do sistema de
pertencimento e à submissão da autonomia. As relações interpessoais se
caracterizam simultaneamente por uma superabundância de comunicação e
por uma preocupação excessiva em relação às necessidades do próximo.
As fronteiras individuais são poucos respeitadas, o que denota uma estrutura
familiar de tipo enredado, isto é, uma invasão no espaço do outro e vice-
versa, onde os membros da família intrometem-se nos sentimentos e
pensamentos do outro.
b) Família Simbiótica.
Uma família simbiótica é aquela na qual prevalecem as relações de
confirmação num nível afetivo. Na família simbiótica, tudo é feito em “nome
do amor”. De fato, não se trata de uma relação de amor saudável, pois todos
vivem de maneira muito aglutinada. Psicologicamente, tais pessoas não se
diferenciam. A noção do “eu” e do “não eu” não está muito clara. Vale uma
ilustração: a família simbiótica é um verdadeiro purê, onde, em nome do
amor, não vêem as batatas. Isto significa que as pessoas não conseguem
definir claramente o que é competência de uma e de outra. Pessoas
oriundas de famílias simbióticas tendem a estabelecer relações simbióticas
também como os outros, já que elas têm necessidade de perpetuar
relacionamentos de dependência.
Na família simbiótica, qualquer movimento no sentido da
individualização é percebido como traição. Também não é possível que um
esteja triste e outro feliz. Em nome do amor, os indivíduos são sufocados e,
assim, se a figura principal da família está triste, todo o resto deve lamentar
e chorar. As peculiaridades não são reconhecidas e os interesses individuais
não têm espaço.
Para esses indivíduos, amar é manter uma relação simbiótica, mesmo
como os de fora da família (Damasceno, 1996, p. 256)
c) Família Permissiva
Ü Fatores de Risco:
• Não estabelece limite.
“É como se houvesse um elástico. No
passado, ele ficava esticado demais para o lado do pai
e o filho se submetia. Autoritarismo! Quando
assumimos a paternidade, soltamos o elástico de uma
vez. E o que aconteceu? Foi para o extremo oposto. “É
proibido proibir”.” Liberalismo total. (Tiba, 1999, p.99)
“Os pais que trabalham fora já não convivem tanto tempo com o filho,
por isso no pouco tempo em que estão juntos querem agradá-lo.” (Tiba,
2002, pg. 150)
• Liberdade definitiva.
“Na visão moderna de alguns pais, não se devem
pro limites. Criança tem direito a tudo que tiver vontade.
Se quiser experimentar cerveja, ela decide. Trata-se,
na verdade de uma pseudodemocracia que esconde a
dificuldade de dizer não. A criança ainda não está
capacitada para decidir se deve ou não tomar cerveja.”
(Tiba, 1999, p. 22)
“Sempre pôde fazer o que quis. Agora, sem os pais por perto, sente-
se poderoso para continuar fazendo o que quer.” (Tiba, 1999, p. 22)
• Ausência de controle.
“Mas, se costumam atender a todas as vontades da criança, ela
provavelmente fará o que quer onde não pode como em restaurantes e
locais públicos.” (Tiba, 2002, p. 135)
• Relaxamento dos costumes em nome de uma pseudo-liberdade.
Tanto faz se você vai escovar dentes, ou não.
“Com medo de perecerem repressores, muitos fazem vista grossa à
recusa de seus filhos em comer” (Veja, 18/02/04, p. 74)
• Sem fronteiras nítidas de certo / errado.
“Para ser feliz, a criança precisa desenvolver no dia-a-dia um critério
interno de que é certo ou errado, adequado ou inadequado e do que é
essencial ou supérfluo.” (Tiba, 2002, p. 141)
• Presença dos pais é sem significativo.
• Comportamento de rebeldia.
“A omissão, que permite a criança fazer tudo o
que tem vontade, ou a explosão diante de qualquer
deslize do filho, além de não educar, distorcem a
personalidade infantil, tornando a criança folgada (sem
limites) ou sufocada (entupida, reprimida, tímida). No
futuro, ela poderá se revoltar quando for contrariada ou
tiver forças suficientes para se rebelar contra o
opressor. Portanto, é importante que os pais busquem
ajuda quando não conseguem fazer o que sabem que
tem de ser feito.” (Tiba, 2002, p.47).
“Desrespeito pelo outro – colegas, irmãos, familiares e pelas
autoridades em geral” (Zagury, 2003, p. 43)
• Códigos morais e éticos mal delineados.
“A ética se desenvolve com a responsabilidade,
quando a criança faz o que é capaz de fazer. Os pais
precisam parar de fazer tudo pelo filho... O pai e a mãe
que sempre amarram o tênis do filho, oferecendo por
amor essa ajuda de boa vontade, acabam mais
atrapalhando que ajudando no desenvolvimento da
ante-suficiência do filho”. (Tiba, 2002, p. 265)
• Dificuldade no engajamento profissional. Criança de família
permissiva vive experiência do “mês”, tudo é fácil. Não aprende
vencer frustrações.
“Esses rapazes receberam tudo de graça. O
simples fato e existir era motivo suficiente para os pais
atenderem a seus mínimos desejos. E assim, sem
conhecer o significado “não”, partiram para o mundo. O
mundo é a realidade onde convivem o “sim” e o “não”.
Eles acreditavam que o mundo seria como seus pais,
que jamais lhes disseram “não”.” (Tiba, 2002, p. 52)
• Limite à liberdade total é vista como manipulação.
• Dificuldade de enfrentar situações frustrantes.
“Os filhos desses pais, portanto os netos dos avós
autoritários, tornam-se onipotentes com pés de barro:
para eles tudo pode, mas não suportam nenhum
frustração. Sentem-se fortes, mas são parafusos de
geléia, isto é, não suportam os “apertões” que a vida
naturalmente dá em todos os seres viventes.” (Tiba,
2002, p. 53)
3.2.2 – Modelos de família fronteira rígida, cismática, mista e
autoritária e os seus fatores de risco.
a) Família fronteira rígida
A família apartada desenvolve fronteiras excessivamente rígidas. As
fronteiras são tão marcadas, que as dificuldades tendem a conservar um
caráter individual. Os membros podem funcionar de forma autônoma com
senso de independência pervertido. Ou seja, o sentimento de fidelidade e de
pertencimento são tão frágeis que seus membros são incapazes de perceber
a si mesmos como independentes, sendo assim não solicitam a ajuda e o
conforto de que necessitam. A comunicação é deficiente e as funções de
proteção inerentes à família raramente são exercidas.
b) Família cismática
Ao contrário da família simbiótica, os membros de uma família
cismática permanecem ligados uns aos outros através do conflito. A palavra
“cisma” significa divergência, ruptura, conflito de opiniões. Assim, a família
cismática está permanentemente se digladiando na conquista dos seus
direitos. Neste caso, as pessoas exageram a atenção aos deveres alheios.
Até mesmo o afeto circula por intermédio da briga: ninguém sabe dizer que
gosta do outro.
c) Família Mista
A família mista faz circular tanto confirmação quanto limites, porém
estabelecem-se partidos, blocos estanques, onde alguns só transmitem
limites estanques, onde estabelecem-se partidos, blocos estanques, onde
alguns só transmitem limites e outros só confirmação. É possível que esta
família, tenha uma mãe simbiótica e um pai cismático, por exemplo. Nesse
caso, enquanto o pai cobre tudo de forma rígida e dura, a mãe se apressa
em proteger. Como eles nunca trocam de papéis, os filhos tendem a
desenvolver uma individualidade extremamente oscilante, ora egocêntrica,
ora frágil e dependente.
d) Família desagregada
“Atualmente há uma enorme tendência das
famílias para se desagregarem. Hoje, os laços
familiares tendem a ser cada vez mais tênues, isso
tudo em nome da individualidade ou da liberdade. As
pessoas buscam experiências legítimas
(individualidade, autonomia) por meios errados,
caminhos distorcidos e acabam sozinhas, solitárias.
Para que haja família é preciso abrir mão do
individualismo e de outras prerrogativas da vida de
solteiro. Para formar a família também é necessário
“deixar de ser” filho ou filha para se tornar pai ou mãe.
Que implica mais dar do que receber. Hoje em dias, as
pessoas estão menos dispostas a dar.
Esse tipo de família gera uma permanente
sensação de falta – a pessoa não consegue
estabelecer um vínculo básico, a partir do qual a
interação das relações vai permitir a formação da
individualidade, e segue vida a fora buscando.“
(Damasceno, 1996, p. 264)
e) Família Autoritária
Ü Fatores de risco
Ü Esmaga o poder de decisão da criança, que será necessária na
adolescência, ao fazer escolhas para a vida profissão, religião,
companheiro etc.
“Saber a diferença entre “sim” e “não” confere à
criança poder de decisão sobre suas escolhas, poder
que alimenta sua auto-estima. Portanto, não são o
“não” nem o “sim” que traumatizavam a criança, mas o
mau uso deles.
O que educa é deixar a criança assumir, desde
pequena a responsabilidade pelo que faz.” (Tiba, 2002,
p. 30 e 123)
A criança precisa desde cedo ir desenvolvendo a autonomia, o sujeito,
a individualidade. Pais autoritários poderão contribuir para um
desenvolvimento de uma personalidade venerável a manipulação.
• Proporciona desejo de escapar rapidamente do domínio família,
despertando sentimentos de rejeição e de impotência na criança.
Esse deseja atinge tanto o menino quanto a menina.
Na cidade de São Paulo, em 2001, fugiram de casa mais garotas que
rapazes. A maioria não queria mais se submeter ao autoritarismo machista e
à violência em casa.
“Quanto às meninas atingem a idade da
onipotência juvenil, geralmente após os 13 anos,
podem se envolver com pessoas que usam drogas com
o pretexto de tentar salvá-las, mas o que habitualmente
acontece é elas também acabarem se envolvendo com
drogas. Quem usa drogas tem estimulada a sua
onipotência da paixão, e de tudo e de todos, o mais
importante é o namorado.” (Tiba, 2002, p. 59).
• Resulta na deformação do conceito de Deus, como sendo
autoritário.
• Empurra o adolescente para amigos dominadores, podendo ser
usuários de drogas.
• Pobreza de diálogo, não aceitação da opinião do outro. Crença
de que estes dois tipos de idéias “as minhas e as erradas”. Pais
autoritários, para fazer valer a sua própria opinião, esmagam o
poder de decisão dos filhos, impossibilitando o diálogo.
A falta de informação sobre drogas é um fator de risco relevante. O
problema é que, sem diálogo sadio, não há informação capaz de prevenir
contra as drogas.
• Posse de poder e do conhecimento, exercidos através da
imposição e de forças. O que a agressão realmente ensina é.
Segundo Tânia Zagury:
a temer o maior, o mais forte ou o mais poderoso;
a perda de interesse pela atividade que estava desenvolvendo no
momento em que apanhou;
que o comportamento agressivo é válido;
que a agressão física é ima atitude normal e praticável (afinal se
papai e mamãe estão fazendo...);
que a força bruta é mais importante que a razão e o diálogo;
que os pais, figuras de quem a criança espera proteção e amparo,
não são confiáveis;
que ocultar ou omitir fatos pode dar bons resultados e evitar umas
“boas palmadas” – afinal, quando os pais não ficam sabendo dos erros
ou faltas dos filhos, não batem;
que de quem se espera amor podem vir pancada e agressão.
• A atitude de moralismo, estéril, preocupações com o que outros
vão pensar. Preocupado mais com sua reputação do que com o
filho.
• Controle excessivo, centrado na repressão. “Faça o que eu
mando e não faça o que eu faço”. Um discurso normalmente
incoerente.
3.2.3 – Modelo de família, fronteira nítida, individualizada,
democrática e seus fatores de proteção.
a) Família fronteira nítida
São fronteiras claras, com normalidade e é o funcionamento
adequado para a família.
b) Família Individualizada
“Diante desses exemplos, resta-nos
encontrar uma relação de família que diríamos
amadurecida e que chamaremos de família
individualizada. Isto significa que os pais conseguiram
sair do papel de filhos, apara assumir as funções
parentais, aprendendo também alternar os papéis e
funções quanto a limites e confirmação, estabelecendo,
nas suas diferenças, pontes que possibilitam a troca
dentro da família e que evitam exagerado grau de
competição entre os cônjuges. Eles divergem, brigam e
competem, porém o resultado de tudo isso não produz
um reforço dos padrões cismáticos ou simbiônticos das
famílias donde eles procedem e, sim, uma nova síntese
peculiar a essa nova família que eles estão edificando.
É uma família que se individualizou inclusive em
relação às famílias de origem (famílias donde
procedem cada um dos cônjuges). Individualização não
significa dar as costas e abandonar os vínculos com as
famílias de origem, nem deixar de ser família, mas
alcançar um grau mínimo de autonomia psicológica. Há
uma relação de apoio e ajuda na família
individualizada, mas seus membros não se sufocam.
Eles aprendem a respeitar os direitos e deveres de
cada um e, como conseqüência, o valor próprio de
cada membro está razoavelmente situado.
Numa família individualizada, cada pessoa
apresenta as seguintes características.”: (Damasceno,
1996, p. 266)
Fatores de proteção
Ü É capaz de oferecer e receber ajuda;
Ü É permeável, acessível;
Ü É capaz de exercer influência e de ser influenciada;
Ü Sabe ouvir os outros mesmo assim tem firmeza e clareza de suas idéias;
Ü Consegue ter vida afetiva sem depender exageradamente das outras
pessoas.
Ü Vive relacionamentos de troca e, não, de dependência;
Ü Tem senso de valor e amor-próprio adequados;
Ü Entende quais são os direitos e os deveres seus e dos outros;
Ü Não tende nem para o individualismo nem para a baixa-estima.
c) Família Democrática e seus fatores de Proteção:
• Abertura e diálogo, com os filhos
“Sempre que puder, converse com seus filhos. De
preferência, quando estiverem em casa com vocês –
sem os amigos... A hora do jantar, quando estivem
juntos vendo TV ou apenas sem nada o que fazer –
essas são as horas boas e descontraídas que
favorecem o diálogo”. (Zagury, 2003, p. 152)
“É importante que ela se sente à mesa e converse com os pais
durante a refeição, mesmo que não coma, pois isso aumenta e fortalece a
alegria de viver em família.” (Tiba, 2003, p. 270)
”... quanto mais se sabe sobre drogas menos se quer experimentar”.
(Tiba, 1999, p. 221)
• Trabalhe através de negociação
“Eles não sentem necessidade de aprender o que não lhes interessa,
os adolescentes são interesseiros, por isso os pais devem explorara essa
característica deles para negociar os estudos. “ (Tiba, 2002, p. 70)
“Os diálogos tornam-se então muito difíceis (mas não impossíveis) e
insuficientes; o que pode provocar mudanças são os acordos estabelecidos
e cumpridos por todos.” (Tiba, 2002, p. 59)
• Dosar amor (conformação) e controle (limite), filhos tomam decisões
responsáveis.
“Uma dica importante aos pais: quando proíbem alguma coisa ao
filho, encontrem outras que ele possa fazer. A simples proibição é
paralisante. A educação é mobilizar a criatividade para o bem comum.”
(Tiba, 2002, p. 57)
• Respeita e é respeitado
• Usa autoridade e não autoritarismo.
“Assim, um pai autoritário é aquele que não deixa
o filho entrar na sala porque naquele dia ele está de
mau humor, mas num outro, de bem com a vida, não
só permite como até exige a presença do menino...
O pai que tem autoridade, por outro lado, ouve e
respeita seu filho, mas pode, por vezes até
impositivamente, mas sempre o objetivo será o bem-
estar do filho, protegê-lo de algum perigo ou orientá-lo
em direção à cidadania.” (Zagury, 2003, p.31)
• Apresenta abertura para ouvir os filhos e tempo para
recuperação juntos.
“Desde que queiram falar, é claro, e nem sempre
eles querem; portanto, saiba esperar, seja mais maduro
que eles que são jovens e estão aprendendo. Não
queira que eles falem, quando não estão realmente
dispostos. Você não conseguirá nada, apenas uma
situação de conflito a mais e de pouca ou nenhuma
utilidade. Aguarde momento mais favorável. Ser pai de
jovem é realmente uma arte... mas que, evidentemente,
tem grandes compensações. Agora, quando eles
estiverem contando alguma coisa, preste atenção.
Ouça com o coração e a razão juntos, se possível! Não
comece logo a criticar, a falar junto ou a brigar. Aí, não
vai sair mais nada...” (Zagury, 2003, p. 149)
• Liberdade com responsabilidade, você é responsável por aquilo que
decidi.
“..., esta união de liberdade e responsabilidade
torna-se mais do que idéia agradável. A pessoa
experimenta-a em sua própria pulsação. Ao optar por si
mesma torna-se cônscia de ter escolhido,
conjuntamente, a liberdade pessoal e a
responsabilidade.” (May, 1953, p.144)
• Auto controle emocional.
Quando a criança recebe de maneira dosada amor (confirmação) e
limite (controle), ela desenvolve o sentido de conversar, pedir, solicitar, em
vez de gritar, berrar, espernear...
• Se for família religiosa, Deus é considerado amor e justiça. Nessa
família o uso de droga é muito raro.
“Festas juninas e jogo esportivo são ocasiões em que costuma haver
uso de maconha, mas nos encontros religiosos de jovens ele é raríssimo”
(Tiba, 1999, p. 162)
• Filhos de família democrática
• Sentimento de dignidade pessoal
• Consegue tomar decisões autônomas. Quem escolhe de maneira
responsável não se deixa levar por pressões de grupo, sabe o que
quer.
CONCLUSÃO
Portanto, a família adequada é aquela em que sua dinâmica familiar,
seu funcionamento, se encontra entre os extremos, e os pólos. Esse modelo
de família é a que tem maiores condições de providenciar proteção interna
(fatores de proteção) contra as drogas, que é a melhor forma de prevenção.
O ambiente familiar saudável reforça a sensação de pertencimento. Por
outro lado aquelas que em sua dinâmica familiar, funcionam nos extremos
indicam áreas de possíveis disfunção e patologias. Produzem fatores de
risco que facilitam à adesão as drogas, porém os fatores de risco e fatores
de proteção não são determinantes.
Essa epidemia, o aumento a adesão às drogas no Brasil, penso que
as razões é multifatorial. Existem fatores externo que atingem e exercem
pressão mudando a dinâmica da família, impedindo que funcione de maneira
adequada. Fatores como sócio-econômico, histórico, as mudanças ocorridas
pelo avanço tecnológico. Esses fatores criaram obstáculos para que os pais
não exerçam de maneira para que os pais não exerçam de maneira eficaz o
seu papel. Eles aumentaram a tensão, o estresse, ansiedade. Tornando a
relação familiar muitas das vezes conflitante. O maior exemplo é o
crescimento das indústrias farmacêuticas, pois a procura tem sido grande
em busca de alivias as tensões.
A família como a primeira instituição onde o ser humano é inserido, é
a que mais participa da formação da personalidade, tem a maior
responsabilidade de suprir as necessidades sejam elas de que níveis forem
vejo que a família tem a maior responsabilidade, e condições de se tornar
mais eficaz, agente de prevenção às drogas.
Entendi nessa pesquisa que realmente o desajuste no ambiente
familiar é a maior razão pela adesão as drogas. Porém não é só a família
responsável por este desajuste no ambiente familiar, com vista existem
outros fatores externos.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TERAPIA DE
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Tema: O Papel da Família na Prevenção de Dependência Química Data da entrega: 19 de abril de 2004. Auto Avaliação: Avaliado por:
Rio de Janeiro, ___ de ________________ de 2004.