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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ECOLOGIA HUMANA NO CONTEXTO EMPRESARIAL – UMA ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DO TRABALHADOR SOCIAL E O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO Por: Rita Leziete Constantino Vieira Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Co-Orientador Sérgio Augusto Borges Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ECOLOGIA HUMANA NO CONTEXTO EMPRESARIAL – UMA

ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DO TRABALHADOR SOCIAL

E O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO

Por: Rita Leziete Constantino Vieira

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Co-Orientador

Sérgio Augusto Borges

Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ECOLOGIA HUMANA NO CONTEXTO EMPRESARIAL – UMA

ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DO TRABALHADOR SOCIAL

E O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Planejamento e Educação Ambiental.

Por: Rita Leziete Constantino Vieira

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ECOLOGIA HUMANA NO CONTEXTO EMPRESARIAL – UMA

ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DO TRABALHADOR SOCIAL

E O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO

OBJETIVOS:

Formular questões relacionadas as novas

exigências do Instituto Nacional do Seguro

Social sobre o registro de situações de risco do

trabalhador social.

Iniciar uma abordagem sobre as implicações

desta norma para o trabalhador social, a forma

de elaboração e manutenção do PPP, para evitar

possíveis perdas de registro de informações

valiosas para o futuro do trabalhador, sob a

perspectiva da Ecologia Humana.

4

AGRADECIMENTOS

Aos colegas de classe pela possibilidade de

conviver com artífices da educação e

conhecer um pouco mais de sua realidade

nas instituições onde atuam como eternos

mestres e aprendizes.

5

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos professores que

estão sempre em busca do saber como forma

de melhor realização de sua missão:

Educar-se.

6

RESUMO

A Ecologia Humana busca devolver aos homens uma capacidade que

trazem latente desde a concepção: poder viver com plena autonomia, com o

máximo de seu potencial e harmonização. Enquanto o ser humano não for

capaz de cuidar de cada centímetro de onde vive, nunca poderá participar com

êxito da preservação da vida do meio ambiente. Por isso, considera essencial

para a sobrevivência individual e planetária, dar a todos as bases de uma ética

individual para desenvolver uma ética global.

Tanto do ponto de vista pessoal quanto social, a importância do trabalho

neste contexto é muito grande, bem como o valor da saúde do trabalhador

social. As pessoas que não trabalham, por qualquer razão que seja, terminam

por ficar “incompletas”, para dizer o mínimo. Ficam sujeitas às forças muitas

vezes incontroláveis do não profissionalismo, do descaso e das intempéries.

O trabalho na sua justa concepção, constitui-se, na sua dimensão

produtiva, em algo essencial e de impossível substituição. Daí a importância

de, no plano do indivíduo, fazer o possível para que ele seja o mais prazeroso

possível, e, no social, para que seja um direito do maior número de pessoas,

que possam exercê-lo em ambientes seguros e confiáveis.

A partir de 01 de novembro de 2003, todo e qualquer empregado regido

pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT deverá receber no ato da

demissão, em caso de acidentes ou doença do trabalho o documento

denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP –, no qual estarão

descritas as atividades laborais, exposição a riscos, informações médicas e de

Recursos Humanos, de acordo com a Instrução Normativa 84/2002, do

Ministério da Previdência Social.

7

Contribuir para uma melhor compreensão das razões desta exigência e

seus impactos para o trabalhador social e para as empresas é o objetivo maior

deste trabalho, tecendo algumas considerações sobre o PPP e buscando

entender como isso poderá (ou não) facilitar a vida do trabalhador social, seja

pela dimensão do trabalhador, que pouco conhece sobre seus direitos, seja

pela dimensão do empresariado, ainda pouco atento a esta determinação e

suas implicações, inclusive pecuniárias.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

A ERA INDUSTRIAL E O SENTIDO DO TRABALHADOR SOCIAL 12

A IMPORTÂNCIA DO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO

PREVIDENCIÁRIO – FAZENDO VALER A LEI 14

ECOLOGIA HUMANA – UMA ABORDAGEM 22

O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO E AS

QUESTÕES QUE SE COLOCAM 27

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

ANEXO 35

9

INTRODUÇÃO

A partir de 01 de novembro de 2003, todo e qualquer empregado regido

pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT deverá receber no ato da

demissão, em caso de acidentes ou doença do trabalho o documento

denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP –, no qual estarão

descritas as atividades laborais, exposição a riscos, informações médicas e de

Recursos Humanos, de acordo com a Instrução Normativa 84/2002, do

Ministério da Previdência Social.

Conforme esta legislação, a obrigação de elaboração do PPP envolve

todo o quadro funcional, independentemente da área de atuação do

empregado ser ou não de risco, insalubre, perigosa ou penosa. O espírito desta

legislação reflete-se através da decisão de monitorar o relacionamento entre

trabalhadores sociais e seus empregadores, visando a diminuição dos riscos

de incapacidade precoce do empregado para o trabalho, tanto por acidentes

quanto por exposição a agentes nocivos (IN 84/2002 – Art. 187, & 1o, do

Ministério da Previdência Social).

Com vista a contribuir para uma melhor compreensão das razões desta

exigência e seus impactos para o trabalhador social e para as empresas é o

que forma o objetivo maior deste trabalho, tecendo algumas considerações

sobre o PPP e buscando entender como isso poderá (ou não) facilitar a vida do

trabalhador social, seja pela dimensão do trabalhador, que pouco conhece

sobre seus direitos, seja pela dimensão do empresariado, ainda pouco atento a

esta determinação e suas implicações, inclusive pecuniárias.

A exigência do preenchimento e entrega do documento sugere um

aspecto prevencionista, já que o PPP será gerado a partir do Programa de

Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA e do Programa de Controle Médico

de Saúde Ocupacional - PCMSO, garantindo-se com isso um documento de

maior veracidade e segurança quanto aos aspectos das informações. Também

10

com essas informações, o INSS poderá monitorar melhor as empresas no

cumprimento das normas regulamentadoras estabelecidas pelo Ministério do

Trabalho e Emprego. Com o mapeamento de todas as áreas de atividades da

empresa, a identificação de possíveis agentes nocivos e a confecção do perfil

profissiográfico previdenciário, o empregado terá algumas garantias.

Não se pretende aqui fazer uma avaliação profunda do PPP, devido a

tratar-se de um tema ainda em fase de construção. Ainda não se tem dados

históricos suficientes sobre o comportamento desta determinação. Este tipo de

exigência determinará uma análise documental mais consistente e estruturada

sobre a vida pregressa do trabalhador nos diferentes estágios de seu percurso

laboral, bem como um estudo complexo nos meandros da complexidade que é

o contexto da previdência social no Brasil. Ao ater-se ao PPP como objetivo

principal deste trabalho, procura-se discutir – a partir de uma breve análise

sobre o que são e o que representam – a relevância do meio ambiente

influenciando o contexto social, a ecologia humana em última análise.

Criado pela Instrução Normativa 84/2002, do Ministério da Previdência

Social, os PPPs tiveram sua origem nas orientações para aposentadoria

especial e tem como mérito consolidar ações estratégicas e serviços

previamente delimitados como o PCMSO – Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional, PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, o

LTCAT – Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho, podendo ser

entendido como um documento que servirá de base para uma decisão que

impactará o destino do trabalhador social, no momento de sua retirada do

mercado de trabalho, ou seja: sua aposentadoria.

A despeito das expectativas favoráveis que essa determinação possa vir

a ter na vida do trabalhador social, ainda são muitos os questionamentos, até

pela ausência de uma prática que tem data marcada para estar implementada,

comprometendo o empresariado brasileiro em uma rotina de procedimentos

sem tamanho para atender a esta exigência. Ainda existem questionamentos a

11

serem respondidos em relação a esta solicitação: será que, não sem tempo, o

INSS dará conta de verificar se as empresas estão mesmo atualizando os

PPPs? Será que o trabalhador social terá como saber se seu PPP está

atualizado? Será que a partir de dezembro de 2003 será mais fácil definir uma

aposentadoria? São perguntas que ainda não têm respostas, sendo difícil fazer

uma afirmação sobre as mudanças que a implementação dessa prática trará na

ecologia humana do trabalhador e do empresariado. Entretanto, não se pode

ignorar o mérito dessa decisão, seja pela redução da burocracia, seja pela

possibilidade do trabalhador ter sempre ao alcance seu processo laboral.

A ERA INDUSTRIAL E O SENTIDO DO TRABALHADOR

SOCIAL

A história da humanidade se incorporou de um capítulo recheado de

transformações drásticas a partir do pós-guerra. Desastres ecológicos,

aquecimento global, povos vivendo em condições de miséria absoluta, má

distribuição da riqueza natural e humana comprovam os aspectos predatórios e

sócio-políticos adotados nas últimas décadas. Paralelamente vem crescendo a

conscientização sobre a interferência negativa que as ferramentas do

desenvolvimento humano provocam no sistema natural.

Em 1972, na Conferência de Estocolmo, este assunto tomou proporções

globais, alertando o mundo para a questão ambiental e a necessidade de

preservar os recursos naturais. No início dos anos 70 a meta era a produção,

não se levava em conta a saúde do trabalhador e as questões da proteção

ambiental não eram consideradas e nem levadas em conta a opinião da

comunidade.

Já no início dos anos 80 começou-se a perceber que a produção gerava

resíduos sólidos, líquidos e gasosos e a grande interrogação era o que fazer

com eles? Começa-se então a realizar o controle da poluição, definindo-se

onde esses resíduos deveriam ser tratados antes de serem lançados no meio

ambiente. Uma característica forte dessa época é que o tratamento das

questões ambientais eram feitas de maneira isolada, pelo técnico de segurança

do trabalho, que era o responsável pela saúde do trabalhador, sem que as

demais áreas da empresa se envolvessem nessas questões.

Na década de 90 começa a ocorrer o envolvimento da comunidade,

formada pelos vizinhos, funcionários, familiares, autoridades, acionistas, mídia

e organizações não governamentais, as ONGs. No passado a comunidade era

a favor da instalação de novas indústrias pois geravam empregos, agora

surgem novas preocupações como o risco à saúde não só do trabalhador mas

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também da população do entorno, e a devastação do meio ambiente onde

estão instaladas estas indústrias.

Uma mudança profunda dessa época é que a gestão ambiental começa

a ser vista como um envolvimento entre diversas áreas em uma organização, e

precisa ser gerenciada em conjunto, nunca isoladamente. Constitui-se o caráter

multidisciplinar da questão ambiental.

Uma grande tendência da questão ambiental no futuro é o

Desenvolvimento Sustentável. Desenvolvimento porque não é possível

conviver com a pobreza existente na Terra e o desenvolvimento seria o

remédio para este mal. Sustentável porque este desenvolvimento tem que ser

feito da maneira a não comprometer os recursos para a geração futura. Aqui

reside o grande desafio da humanidade.

A IMPORTÂNCIA DO PPP – FAZENDO VALER A LEI

A expressão meio ambiente do trabalho foi utilizada na Constituição

Federal, em seu artigo 200, inciso VIII, definindo-se como um conjunto de bens

imóveis e móveis, instrumentos e meios, de natureza material e imaterial,

salubres e sem periculosidade, em face dos quais o ser humano exerce

atividades laborais. Ou ainda como o complexo de fatores climáticos, físicos ou

qualquer outro que interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local de

trabalho. Apesar da aparência individualista do conceito, isto não ocorre, visto a

importância, o interesse e a obrigação do Estado na proteção dos

trabalhadores.

O meio ambiente do trabalho enquadra-se nos casos protegidos pela Lei

7.347/85, que em seu art.1º, I, estabelece a adequação da ação civil pública na

proteção do meio ambiente e em seu inciso IV inclui também o caso de danos

causados a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, de forma que é

plenamente viável falarmos na existência da ação civil pública para resguardar

os direitos dos trabalhadores a terem um ambiente de trabalho sadio e

ecologicamente equilibrado (art.225, Constituição Federal).

Assim, estão legitimados a propor ação civil pública neste sentido as

pessoas de direito público e as entidades elencadas no art.5º da Lei 7.347/85,

dentre elas os sindicatos e o Ministério Público - MP. Evidentemente que antes

de se ajuizar a ação poderá o membro do MP chamar a empresa para tentar

solucionar a questão mediante compromisso de ajustamento, mas antes ainda

poderá requisitar vistoria de engenharia e médica do trabalho para verificar as

condições, solicitar dos peritos quais as medidas técnicas para sanar as

irregularidades; requisitar documentos como laudos ambientais, relação das

CATs (Comunicação de Acidentes do Trabalho) e atas das CIPAs (Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes) e com esses documentos tentar o

15

compromisso de ajustamento, o que aliás tem sido feito com sucesso.

A nossa Constituição Federal incluiu entre os direitos dos trabalhadores

o de ter reduzido os riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança (art.7º, XXII), e determinou que no sistema de

saúde, o meio ambiente do trabalho deve ser protegido (art.200, VIII),

mostrando uma moderna posição com relação ao tema, de forma que as

questões referentes ao meio ambiente do trabalho transcendem a questão de

saúde dos próprios trabalhadores, extrapolando para toda a sociedade.

Já a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) trata da segurança e

saúde do trabalhador no art.154 e seguintes do Tít. II, Cap.V e no Tít. III

(Normas Especiais de Tutela do Trabalho, além das Portarias do Ministério do

Trabalho e a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90). Há ainda o Programa de

Controle Médico de Saúde Ocupacional e o Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais, sem contar a obrigatoriedade das empresas terem que instituir as

CIPAs - Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (art.163,CLT). Tudo

visando a preservação da qualidade ambiental do local de trabalho. Portanto, o

empregador que por inobservância das normas de segurança do trabalho não

fornecer aos seus empregados um ambiente de trabalho sadio e,

consequentemente, vier a causar-lhes danos poderá sofrer ação civil pública

para que adapte seu estabelecimento e/ou pague multa, bem como poderá ter

seu estabelecimento fechado judicialmente, além de poder responder em

alguns casos até criminalmente. Estará ainda sujeito a multas administrativas

(art.201,CLT), interdição do estabelecimento ou equipamento (art.161, CLT).

Poderá ainda responder por indenização, em se constando sua culpa e danos

ao trabalhador, apuráveis por meio da ação de indenização (art.7º, XXVIII, CF

e art.159, Código Civil). Assim, as empresas devem dar mais atenção ao

ambiente de trabalho, adequando-o aos novos anseios mundiais de

desenvolvimento e de qualidade de vida, o que só trará vantagens diretas aos

trabalhadores e indiretamente à toda sociedade.

16

A Constituição Federal do 1988, ao tratar a Ordem Social – Título VIII,

em seu artigo 225 atribui ao meio ambiente a qualificação jurídica de bem de

uso comum do povo: “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo, e essencial a qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as futuras gerações”.

Para a legislação brasileira (art 3o, inc.I da Lei 6938/81) o meio ambiente

é na verdade “um conjunto de condições, leis, influências e interações de

ordem química, física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas

as suas formas”. É neste contexto que analisaremos esta determinação do

Ministério da Previdência Social, onde o fornecimento do PPP se dará nos

seguintes casos:

1. Sempre que solicitado pelo INSS, para verificação de qualquer informação;

2. Nos requerimentos de benefícios por incapacidade (auxílio-doença simples

ou acidentário), para que o médico perito do INSS, em seu diagnóstico,

constate se há nexo causal ou não com o que o segurado queixa e o

exercício de suas atividades;

3. No requerimento de aposentadoria, para constatação se houve exposição a

qualquer agente nocivo legal e, portanto, deva ser deferida a

Aposentadoria Simples ou Especial;

4. No momento da demissão do empregado, para que o mesmo leve consigo

a “história” de sua passagem pela empresa, sem correr o risco de num

futuro remoto, ao necessitar do documento, a empresa já não tenha mais o

mesmo lay out ou até mesmo tenha sido vendida ou não exista mais;

5. Quando solicitado pela justiça do trabalho. No momento em que o

processo trabalhista chega ao juiz para decisão, é solicitado o PPP para

análise da veracidade das alegações do empregado, no caso de a queixa

ser de exposição a qualquer agente nocivo.

17

A existência do PPP se faz imprescindível quando se imagina a

mobilização do trabalhador social num país de dimensões continentais como o

Brasil, as diferenças político-econômicas e sociais que levam esse homem a

buscar seu espaço onde possa encontrar trabalho que o dignifica, sem uma

possibilidade de rastreabilidade de sua vida laboral pregressa, no vai e vem de

empresas que desaparecem na noite.

O PPP é um documento histórico-laboral individual do trabalhador, que

abrange as atividades por ele desenvolvidas ao longo de sua vida profissional:

cargos exercidos, atividades e setores de trabalho com os seus respectivos

períodos laborados. Possui informações geradas pelo LTCAT – Laudo Técnico

das Condições Ambientais do Trabalho, sobre agentes nocivos prejudiciais à

saúde do trabalhador ou à sua integridade física, assim como informações

sobre a exposição habitual e permanente, não ocasional nem intermitente,

terminologia importante para a concessão ou não da Aposentadoria Especial.

Também fazem parte deste documento informações referentes a monitorização

do PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, de acordo

com a Norma Reguladora número 7. Em relação à emissão do documento,

pode ser mantido em forma magnética, sendo impresso apenas em duas

situações: quando o contrato de trabalho do empregado for rescindido ou

quando o mesmo solicitar requerimento para a Aposentadoria Especial. A

elaboração do PPP envolve diferentes atores, como gestores da organização,

engenheiros de segurança e médicos do trabalho e se compõe das seguintes

etapas:

Descrição do Cargo: Será fornecida pela área de Recursos Humanos

das empresas. É o relato padronizado das tarefas que compõe um cargo, ou

seja, a fotografia do trabalho desenvolvido pelo empregado, envolvendo as

seguintes ações:

Ü Coletar todas as informações pertinentes aos empregados que serão

analisados;

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Ü Reunir os empregados por postos de trabalho ou que tenham

atividades semelhantes;

Ü Agrupar os empregados por cargo ou função semelhantes;

Ü Distribuir os empregados por atividades operacionais ou

administrativas;

Ü Planejar vistorias nos locais de trabalho dos empregados,

acompanhado de quem conheça perfeitamente todos os locais de

trabalho e os empregados.

Outro campo para ser preenchido no PPP é o ambiente de trabalho, com

informações sobre a existência ou não de insalubridade elaborado pela

empresa com base no LTCAT – Laudo Técnico das Condições Ambientais do

Trabalho – de responsabilidade do médico do trabalho ou do engenheiro de

segurança do trabalho. A empresa que não mantiver o LTCAT atualizado com

referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho, ou que

emitir documentos em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à

penalidade prevista no Art. 133 da Lei número 8.213, de 1991 (multa). Deverá

conter informações específicas em relação aos agentes nocivos aos quais o

trabalhador está exposto, sua intensidade, o período de exposição, a técnica

utilizada para sua mensuração, os EPIs e etc. Precisa ser atualizado

anualmente ou caso a empresa mude o seu layout ou ainda se o empregado

ficar exposto a agentes nocivos diferentes.

O Controle Médico Ocupacional – PCMSO também se constitui em

informações necessárias. O cuidado que a empresa tem com a segurança e

saúde do empregado, os exames periódicos de saúde e audiométricos serão

fornecidos pelo médico do trabalho da empresa. Esse procedimento com

informações ambientais no PPP de progressiva piora na saúde do trabalhador

demonstrados por exames seqüenciais, possibilitará aos interessados na

prevenção da saúde do trabalhador ações reparadoras.

19

Relatos de acidentes de trabalho, fornecimento de equipamentos de

proteção individual – EPIs ou de EPCs com comprovação de sua eficiência ou

não também deverão ser colocados a disposição do INSS.

Quanto às empresas prestadoras de serviços, caberá a elas o

preenchimento do PPP, devendo ser usado o LTCAT daqueles onde os

serviços são prestados, de acordo com a Instrução Normativa 84/2002 – artigo

161. As empresas contratantes de serviços de terceiros deverão guardar os

PPPs destes junto aos de seus empregados próprios, no local onde prestam

serviços.

As empresas com empregados expostos a agentes nocivos devem

recolher alíquotas suplementares relativas a 6% (25 anos), 9% (20 anos), 12%

(15 anos) ao INSS, através do GFIP (Guia de Recolhimento do Fundo de

Garantia por tempo de Serviço e Informações à Previdência Social), criado em

abril de 1999, para financiar a Aposentadoria Especial dos Empregados que se

enquadram nessas condições.

Observa-se alguns impactos em relação ao PPP, encontrando nas

multas altas e alíquotas retroativas (GFIP) cobradas desde 1999 seu aspecto

negativo. Os positivos são a inclusão em um só documento as informações do

PPRA (NR-9) e do PCMSO (NR-7) e da CAT emitidas; obrigar as empresas a

declinar agravos à saúde do trabalhador, informando resultados de exames

complementares específicos exercidas com exposição aos agentes nocivos,

melhor controle sobre a saúde ocupacional e a segurança do trabalho dos

terceirizados; melhor gestão das SST da empresa e evitar futuros passivos

trabalhistas. Origina-se destes procedimentos algumas demandas

administrativas que nem todas as empresas darão conta, como a

disponibilização de mais um documento para a fiscalização do INSS; a

organização de arquivos atualizados, inclusive para os PPPs dos terceirizados,

a série histórica atualizada da empresa profissiográfica e a fiscalização dos

terceirizados.

20

Para dar conta de tantas exigências será necessário às empresas

realizar uma unificação de conhecimentos sobre o trabalhador numa única

base de dados, consolidando ações estratégicas e serviços previamente

delimitados como o PCMSO, PPRA, LTCAT, PPP, controle de absenteísmo,

investigação de acidentes de trabalho, possibilitando uma visão integrada da

saúde e segurança no trabalho. Um melhor gerenciamento de risco, com a

facilitação do diagnóstico dos mesmos e implantação de medidas de controle e

prevenção, com antecipação de situações de risco e a adoção de uma postura

pró-ativa. Isto possibilitará articulação entre vários serviços, gerando

flexibilidade para pesquisas básicas de acordo com o perfil da empresa e perfis

pontuais de acordo com a necessidade do momento. A possibilidade de

delineamento de indicadores de qualidade e medidores de resultados para a

situação dos trabalhadores é um dado possível de monitorar.

Deve-se ressaltar que a elaboração dos PPPs hoje consome horas das

empresas para dar conta de atender a esta exigência, porém não aponta como

isso poderá ser apropriado pelo trabalhador social, nem tampouco oferece

instrumentos para que ele possa cobrar do INSS e do empresariado as

medidas necessárias para garantir a possibilidade de sua concretização,

notadamente nas pequenas empresas.

Como resultado, nota-se que apesar de reconhecer seu indiscutível

valor para o trabalhador social enquanto cidadão atuante, o PPP ainda terá

grandes dificuldades até a concretude de sua prática. Muitos desafios ainda

continuam expostos e a grande pergunta é como fazer para concretizar o PPP,

fazendo-o emergir do papel para a realidade.

O espaço do trabalhador social é o espaço do grupo, das instituições, do

vínculo que se estabelece entre o capital e o trabalho, do vínculo entre os

indivíduos trabalhadores, do social, do institucional e que segundo Käes (1998)

define:

21

“A instituição é, em primeiro lugar uma formação da sociedade e

da cultura, ela possui a sua lógica própria. Instituída pela

divindade ou pelos homens, a instituição se opõem ao que é

estabelecido pela natureza. A instituição é um conjunto de formas

e de estruturas sociais, instituídas pela lei ou pelo costume: a

instituição regulamenta nossas relações, ela preexiste a nós e se

impõem a nossa presença, ela se inscreve nas permanência.

Cada instituição é dotada de uma finalidade que a identifica e a

distingue.”(Käes, 1998:7).

As instituições não são entidades ingênuas, são implicadas de

responsabilidades sociais para com o meio onde está inserida, notadamente

em relação ao grupo de trabalhadores sociais que lhe dão a razão de existir,

lhes perpetuam um espaço no meio econômico, fortalecendo a constituição de

um vínculo grupal.

Devemos considerar também os sistemas de valores que se produzem

nas instituições e apropriando do pensamento de Enriquez (1991):

“Tal sistema de valores para existir deve apoiar-se em uma (ou

mais de uma) representação coletiva, em um imaginário social

comum... Entendendo que só podemos agir quando temos uma

certa maneira de nos representar; aquilo que somos, aquilo que

queremos vir a ser, aquilo que queremos fazer e que tipo de

sociedade ou organização desejamos intervir... Para serem

operantes tais representações devem não só ser intelectualmente

pensadas, mas afetivamente sentidas... Trata-se de sentir

coletivamente, de experimentar a mesma necessidade de

transformar um sonho ou uma fantasia e realidade cotidiana e de

se munir dos meios adequados para conseguir isso” (Enriquez,

op.cit.p.57).

ECOLOGIA HUMANA – UMA ABORDAGEM

Ecologia Humana é o ramo da ciência social que trata do sistema de

relações íntimas entre o homem, a terra, as plantas, os animais e os outros

homens de uma mesma região, que dão forma ao complexo cultural de

determinada área, representada nos hábitos e costumes da vida local, tendo

como objeto de estudo os diferentes processos de interação entre o homem e

seu ambiente natural. Através da Ecologia Humana foi possível repensar toda

ecologia e ressaltar que esta não compreende apenas a natureza, mas

também a cultura e a sociedade – a ecologia social, que se entrecruzam numa

rede de interdependências. A Ecologia Humana é uma hipótese sobre a

convivência, a ética e a condição humana (Pierson, 1977).

A meta da Ecologia Humana é devolver aos homens uma capacidade

que trazem latente desde a concepção: poder viver com plena autonomia, com

o máximo de seu potencial e auto-estima, auto-abastecimento, auto-realização

e harmonização. Considera que, enquanto o ser humano não for capaz de

cuidar de cada centímetro de onde vive, nunca poderá participar com êxito da

preservação da vida do meio ambiente. Por isso, considera essencial para a

sobrevivência individual e planetária, dar a todos as bases de uma ética

individual para desenvolver uma ética global.

A utilização de uma abordagem ecológica para problemas de ordem

social teve seu apogeu nos EUA dos anos 20, merecendo destaque os

sociólogos da Escola de Chicago, sendo considerada como o grupo mais

impulsionador da Ecologia Humana. O “grupo de Chicago” desenvolveu

inúmeras pesquisas no período de 1915 a 1940, marcando de forma indelével

não só a sociologia americana, mas as formas de se pensar e trabalhar. A

Escola de Chicago vê a comunidade como seu objeto de estudo por

excelência. A consideração dos processos que promovem a dinâmica

23

comunitária, através das relações dos homens entre si e com o meio físico a

sua volta, integram o escopo central de sua existência (Pierson, 1977).

Acrescentamos a dimensão da dignidade, reforçando-se a importância

crucial do trabalho como componente de nossa sociedade, e a isto ligado o

cuidado que se deve ter com o trabalhador social. A ponto de sua ausência,

que tem como expressão econômica o desemprego, constituir-se algo

socialmente desastroso e motivo de preocupação dos homens públicos

responsáveis. Também se manifesta nas ausências do trabalhador para

cuidados com a perda da saúde, muitas vezes originária das condições de

trabalho. Aqui vale lembrar o pensamento de Jonh F. Kennedy, 1917-1963,

presidente dos EUA: O desemprego é um acidente econômico que machuca

fundo a dignidade humana (Jonh F Kennedy, 1960).

Tanto do ponto de vista pessoal quanto social, a importância do trabalho,

portanto, é muito grande, bem como o valor da saúde do trabalhador social. As

pessoas que não trabalham, por qualquer razão que seja, terminam por ficar

“incompletas”, para dizer o mínimo. Ficam sujeitas às forças muitas vezes

incontroláveis do não profissionalismo, do descaso e das intempéries.

Normalmente, as pessoas que não trabalham ficam amargas e pessimistas. O

tipo de pessimismo que o próprio trabalho redime, conforme conclui Onassis:

O pessimismo é uma doença que deve ser tratada como qualquer

outra. O objetivo é melhorar o mais rápido possível e voltar ao

trabalho. (Aristóteles Onassis, 1906-1975, armador grego).

Não se pretende aqui a defesa do trabalho pelo trabalho, ou do trabalho

como idolatria, mas sim do trabalho como instância estruturadora, na

perspectiva que nos aponta Henry Ford:

24

O melhor trabalho da fábrica não é fabricar produtos. O melhor

trabalho da fábrica é fabricar homens. (Henry Ford, 1823-1947,

industrial norte-americano).

Até porque, hoje em dia, há uma espécie de contestação ao que se

convencionou chamar de idolatria do trabalho, conforme define Domênico De

Masi, ideólogo deste movimento: A idolatria do trabalho, na maioria dos casos,

é apenas uma inútil escravidão psicológica (Domênico De Masi, 1999).

Sem o exagero da escravidão psicológica, a verdade é que o trabalho,

na sua justa concepção, constitui-se, na sua dimensão produtiva, em algo

essencial e de impossível substituição. Daí a importância de, no plano do

indivíduo, fazer o possível para que ele seja o mais prazeroso possível, e, no

social, para que seja um direito do maior número de pessoas, que possam

exercê-lo em ambientes seguros e confiáveis.

As mudanças no ambiente e no trabalho, a globalização e o

neoliberalismo deram a tônica no final do século XX e início deste século,

avançando sobre os trabalhadores e a Nação. O ambiente de trabalho tem sido

degradado em nome da globalização. A estrutura industrial brasileira mudou na

década de 90 em nome dessa nova ordem mundial, resultando na

terceirização, na precarização das relações de trabalho, na destruição

ambiental, nos acidentes químicos, acidentes de trabalho e aumento das

doenças ocupacionais, reforçando a importância do PPP. Na verdade, a

precarização do trabalho, que de forma amena aparece com o rótulo de

terceirização, foi a forma que o setor privado encontrou para diminuir seus

custos e aumentar ganhos. Para o Estado, isso leva a um aumento de custos,

pois esse processo é feito através de licitações, fazendo com que o setor

público formalize contratos onde seus gastos serão bem maiores.

O Estado deixa de cumprir sua função de fiscalizar esses vínculos de

trabalho, papel fundamental para a garantia de direitos, permitindo que o setor

25

privado preste o serviço contratado e não cumpra com suas obrigações

trabalhistas, levando o trabalhador social a perdas irreparáveis. Talvez

amenizadas com a total utilização dos PPPs. Um dos mais perversos efeitos da

precarização são as condições de trabalho desumanas, permitindo que o risco

de adoecer ou de se acidentar, muitas vezes fatalmente, seja encarado como

uma condição natural do trabalho. Diante de uma conjuntura de desemprego,

as empresa impõem ao trabalhador não só um contrato de trabalho que em sua

essência descumpre os direitos trabalhistas, como também condições de

trabalho que os submete a graves riscos, resultando nos elevados índices que

hoje temos de morte e adoecimento do trabalhador social.

De acordo com o Instituto Nacional do Trabalho – INST, da CUT, são

gastos no Brasil em torno de 20 bilhões de reais por ano em doenças

relacionadas ao trabalho e acidentes de trabalho. Ocorreram,

aproximadamente, 350.000 acidentes de trabalho em 2000. De cada 100

acidentes, 1 trabalhador vai ao óbito e 4 jamais retornam ao trabalho devido à

invalidez (INST, 2001). São dados preocupantes, que poderão ser melhor

utilizados quando da total implantação dos PPPs, com uma atuação pró-ativa

junto as empresas, com programas de capacitação para o trabalhador social,

constituindo-se em outra vantagem do PPP.

Revela-se de importância também devido às mudanças velozes que a

globalização vem imprimindo aos países de um modo geral, no tocante à perda

de direitos de cidadania, nos quais se situa o direito à saúde, o

desenvolvimento de lutas sociais, seja para preservá-los ou mesmo para

ampliá-los. O direito à saúde, direito social incorporado pela Constituição

Federal, pressupõe a democratização dos espaços de tomada de decisão, fato

facilitado pelo alcance dos PPPs pelo trabalhador social. A efetivação desse

direito requer a ampliação da capacidade e desenvolvimento de competências

dos diversos segmentos sociais de atuarem na defesa de interesses do

trabalhador social e a formação de entidades públicas para o exercício da

26

função no campo da Administração Pública, visando a perfeita utilização do

PPP e fortalecendo uma cultura de direito e cidadania.

O PPP E AS QUESTÕES QUE SE COLOCAM

Olhando-se para o futuro, este parece bem incerto. Não sabemos qual

será o comportamento desta iniciativa e desconhecemos sua aplicabilidade

para o bem estar do trabalhador social. Há muito a ser feito e as expectativas

são otimistas.

Pode-se dizer que o processo tem como suporte as idéias recentes de

complexidade, multirreferencialidade, inteligência coletiva, as três ecologias

(individual, coletiva e do humano e os demais seres vivos e não-vivos) e

noções emprestadas à psicologia Junguiana, integradas em um diálogo

interpretativo com símbolos, relações e correlações com o ambiente de

trabalho, buscando referências que possibilitem visões alternativas de mundo,

de ser humano e da natureza. Buscamos uma nova ética, que parte da

consciência humana para uma percepção atenta e inteligente do momento

atual, estendendo a visão restrita dos “direitos humanos”, para a defesa dos

direitos de todos, cuidando deste ser especial que é o trabalhador social.

O fortalecimento das infra-estruturas nacionais que apoiam os serviços

de saúde ambiental nos seus esforços para melhorar a qualidade da água, ar,

solo e alimentos, bem como para prevenir os danos ocasionados pelos

diversos produtos e subprodutos decorrentes da tecnologia moderna, constitui

um imperativo já conscientizado em nosso meio. Estender este procedimento

para o cuidar do trabalhador social é o desafio do futuro.

A exploração das riquezas naturais, a industrialização e a urbanização

planejada sem critério têm provocado a contaminação da água, do ar e do solo,

que são assim afetados no desequilíbrio desfavorável das espécies. Os casos

de agravamento da poluição ambiental estão ligados ao crescimento da

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população, ao aumento da demanda de bens e serviço e ao acúmulo de

resíduo.

Está patente que a qualidade de vida deriva do contínuo intercâmbio e

inter-relação dos seres humanos com o ambiente em que vivem, como um

verdadeiro metabolismo social do qual participam todas as variáveis

imagináveis induzidas ou produzidas pelo homem e pela natureza.

Com o confronto inevitável entre o modelo de desenvolvimento

econômico vigente — que valoriza o aumento de riqueza em detrimento da

conservação dos recursos naturais — e a necessidade vital de conservação do

meio ambiente, surge a discussão sobre como promover o desenvolvimento

das nações de forma a gerar o crescimento econômico, mas explorando os

recursos naturais de forma racional e não predatória. Estabelece-se, então,

uma discussão que está longe de chegar a um fim, a um consenso geral. Será

necessário impor limites ao crescimento? Será possível o desenvolvimento

sem aumentar a destruição? De que tipo de desenvolvimento se fala? E o

aspecto do trabalho como dignificador da condição humana?

Concorda-se que é fundamental a sociedade impor regras ao

crescimento, à exploração e à distribuição dos recursos de modo a garantir as

condições da vida no planeta. Nos documentos assinados pela grande maioria

dos países do mundo, incluindo-se o Brasil, fala-se em garantir o acesso de

todos aos bens econômicos e culturais necessários ao seu desenvolvimento

pessoal e a uma boa qualidade de vida, relacionando-o com os conceitos de

desenvolvimento e sociedade sustentáveis.

Desenvolvimento sustentável foi definido pela Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento como o "desenvolvimento que satisfaz as

necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras

29

de suprir suas próprias necessidades" (Carvalho, 2002). Muitos consideram

essa idéia ambígua, permitindo interpretações contraditórias. Porque

desenvolvimento pode ser entendido como crescimento, e crescimento

sustentável é uma contradição: nenhum elemento físico pode crescer

indefinidamente. Nas propostas apresentadas pelo Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), emprega-se o termo "desenvolvimento

sustentável" significando melhorar a qualidade da vida humana dentro dos

limites da capacidade de suporte dos ecossistemas (Carvalho, 2002). Isso

implica, entre outros requisitos, o uso sustentável dos recursos renováveis —

ou seja, de forma qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis

com sua capacidade de renovação.

O PNUMA, com o apoio da ONU e de diversas organizações não-

governamentais, propôs, em 1991, princípios, ações e estratégias para a

construção de uma sociedade sustentável. Na formulação dessa proposta

emprega-se a palavra "sustentável" em diversas expressões: desenvolvimento

sustentável, economia sustentável, sociedade sustentável e uso sustentável.

Parte-se do princípio que se uma atividade é sustentável, para todos os fins

práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia

de sustentabilidade a longo prazo porque muitos fatores são desconhecidos ou

imprevisíveis (Machado, 2003). Diante disso, propõe-se que as ações humanas

ocorram dentro das técnicas e princípios conhecidos de conservação,

estudando seus efeitos para que se aprenda rapidamente com os erros. Esse

processo exige monitorização das decisões, avaliação e redirecionamento da

ação. E muito estudo.

Uma sociedade sustentável, segundo o mesmo Programa, é aquela que

vive em harmonia com nove princípios interligados apresentados a seguir.

• Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos (princípio

fundamental). Trata-se de um princípio ético que "reflete o dever de nos

30

preocuparmos com as outras pessoas e outras formas de vida, agora e

no futuro".

• Melhorar a qualidade da vida humana (critério de sustentabilidade). Esse

é o verdadeiro objetivo do desenvolvimento, ao qual o crescimento

econômico deve estar sujeito: permitir aos seres humanos "perceber o

seu potencial, obter autoconfiança e uma vida plena de dignidade e

satisfação".

• Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra (critério de

sustentabilidade). O desenvolvimento deve ser tal que garanta a

proteção "da estrutura, das funções e da diversidade dos sistemas

naturais do Planeta, dos quais temos absoluta dependência".

• Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis (critério de

sustentabilidade). São recursos como os minérios, petróleo, gás, carvão

mineral. Não podem ser usados de maneira "sustentável" porque não

são renováveis. Mas podem ser retirados de modo a reduzir perdas e

principalmente a minimizar o impacto ambiental. Devem ser usados de

modo a "ter sua vida prolongada como, por exemplo, através de

reciclagem, pela utilização de menor quantidade na obtenção de

produtos, ou pela substituição por recursos renováveis, quando

possível".

• Permanecer nos limites de capacidade de suporte do Planeta Terra

(critério de sustentabilidade). Não se pode ter uma definição exata, por

enquanto, mas sem dúvida há limites para os impactos que os

ecossistemas e a biosfera como um todo podem suportar sem provocar

uma destruição arriscada. Isso varia de região para região. Poucas

pessoas consumindo muito podem causar tanta destruição quanto

muitas pessoas consumindo pouco. Devem-se adotar políticas que

desenvolvam técnicas adequadas e tragam equilíbrio entre a capacidade

da natureza e as necessidades de uso pelas pessoas.

31

• Modificar atitudes e práticas pessoais (meio para se chegar à

sustentabilidade). "Para adotar a ética de se viver sustentavelmente, as

pessoas devem reexaminar os seus valores e alterar o seu

comportamento. A sociedade deve promover atitudes que apóiem a

nova ética e desfavoreçam aqueles que não se coadunem com o modo

de vida sustentável."

• Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio ambiente (meio

para se chegar à sustentabilidade). É nas comunidades que os

indivíduos desenvolvem a maioria das atividades produtivas e criativas.

E constituem o meio mais acessível para a manifestação de opiniões e

tomada de decisões sobre iniciativas e situações que as afetam.

• Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e

conservação (meio para se chegar à sustentabilidade). A estrutura deve

garantir "uma base de informação e de conhecimento, leis e instituições,

políticas econômicas e sociais coerentes". A estrutura deve ser flexível e

regionalizável, considerando cada região de modo integrado, centrado

nas pessoas e nos fatores sociais, econômicos, técnicos e políticos que

influem na sustentabilidade dos processos de geração e distribuição de

riqueza e bem-estar.

• Constituir uma aliança global (meio para se chegar à sustentabilidade).

Hoje, mais do que antes, a sustentabilidade do planeta depende da

confluência das ações de todos os países, de todos os povos. As

grandes desigualdades entre ricos e pobres são prejudiciais a todos. "A

ética do cuidado com a Terra aplica-se em todos os níveis, internacional,

nacional e individual. Todas as nações só têm a ganhar com a

sustentabilidade mundial e todas estão ameaçadas caso não

consigamos essa sustentabilidade."

Os idealizadores da exigência do PPP não apontam maneiras para que o

trabalhador social alcance sua efetividade, nem oferece instrumentos para que

ele possa cobrar do seu empregador um direito constituído. Sem desconsiderar

a vitória que uma exigência deste porte representa para o trabalhador, ainda há

32

muito há fazer até a sua efetiva disponibilização, cabendo pensar num futuro

próximo que, ao desligar-se de uma empresa, este ser humano terá a alegria

da concretização de seus direitos, conquista de uma vida de dedicação e

realização pelo trabalho. Finalizando com as sábias palavras de Fernando

Pessoa (Gadotti, 2000):

De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava

sempre começando, a certeza de que era preciso continuar

e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um

passo de dança, do medo, uma escada, do sonho, uma

ponte, da procura, um encontro.

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TUIAVII e SCHEURMANN, E. O Papalagui. São Paulo: Marco Zero, 1984.

ANEXO

PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES CULTURAIS E

EDUCACIONAIS, 2002 / 2003