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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJMENTO E DESENVOLVIMENTO PROJETO A VEZ DO MESTRE Oficina Psicopedagógica Crescer Sabendo Ser Jogos e Brincadeiras Ana Laura Teixeira Orientador: Celso Sanchez Rio de Janeiro, 27 de março de 2006.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJMENTO E DESENVOLVIMENTO

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Oficina Psicopedagógica Crescer Sabendo Ser

Jogos e Brincadeiras

Ana Laura Teixeira

Orientador: Celso Sanchez

Rio de Janeiro, 27 de março de 2006.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJMENTO E DESENVOLVIMENTO

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Oficina Psicopedagógica Crescer Sabendo Ser

Jogos e Brincadeiras

Projeto de Monografia apresentado à Universidade Candido Mendes, Projeto A vez do Mestre como Requisito parcial para conclusão do curso de Pós graduação em

Psicopedagogia.

Por:

Ana Laura Teixeira

Orientador:

Celso Sanchez

Rio de Janeiro, 27 de março de 2006.

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SUMÁRIO Introdução

05

Capítulo I - A Oficina Crescer Sabendo Ser 1.1 Registro do 1º Dia da Oficina

09

17 Capítulo II – Breve Histórico sobre a Criança

19

Capítulo III – Jogos e Brincadeiras 3.1 - Histórico 3.2 - Distinção entre jogar e brincar 3.3 - A escola

23

23

25

30 Considerações Gerais

34

Bibliografia

36

Anexo 37

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Agradecimento especial a minha querida prima, Laura Vivinea, professora da Universidade Estadual de Recife pela ajuda dispensada a minha monografia. A amiga e companheira de Oficina

Claudia Márcia Vieira pelo nosso trabalho realizado. A minha mãe, Laura Teixeira, pela

paciência e o tempo dispensado a minha filha para que pudesse me dedicar a confecção deste trabalho. As minhas professoras de pós, Marta

Relvas, Marise Piloto e Carly Machado pela atenção e carinho dedicado a mim num dos momentos mais difíceis da minha vida.

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Dedico esta monografia a minha filha

Analu Teixeira de Sá, que foi minha inspiração e o motivo pelo qual comecei o trabalho com crianças.

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RESUMO

Esta monografia tem como objetivo pesquisar a relevância da “Oficina

Crescer Sabendo Ser” que consiste em atividades Psicopedagógicas, cujo

propósito é a estimulação através do LÚDICO, com técnicas e instrumentos

científicos, as habilidades: cognitiva, motora, psico-afetiva, social e lingüística

das crianças, com faixa etária compreendida entre dois a dez anos de idade,

de uma escola da rede particular. Desejamos assim, respaldar com

instrumentos teóricos a importância de estimular essas habilidades na criança,

através de vivências, utilizando diferentes recursos artísticos / lúdicos para que

se tornem indivíduos autônomos e autores de suas produções.

Este estudo se organiza da seguinte forma: o Capítulo I relata o

surgimento e o funcionamento da Oficina Crescer Sabendo Ser. No Capítulo

II é feito um breve histórico sobre a criança, desde o século XVII até os dias de

hoje. O Capítulo III fala sobre jogos e brincadeiras, um pequeno histórico, sua

importância para o desenvolvimento da criança e a relação destes com a

escola. Finalizando o trabalho é apresentado as considerações gerais.

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ÍNDICE Introdução

05

Capítulo I - A Oficina Crescer Sabendo Ser 1.1 Registro do 1º Dia da Oficina

09

17 Capítulo II – Breve Histórico sobre a Criança

19

Capítulo III – Jogos e Brincadeiras 3.1 - Histórico 3.2 - Distinção entre jogar e brincar 3.3 - A escola

23

23

25

30 Considerações Gerais

34

Bibliografia

36

Anexo

37

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INTRODUÇÃO

“‘Se a vida é um jogo e o jogo pode se transformar em

brincadeira, por que não viver brincando e aprender com

a brincadeira?’’ (João Luiz appud Queiroz 2002: 7).

A criança diante do mundo que a cerca está continuamente exposta a

situações diversas (estímulos do meio) e assim, busca encontrar melhores

maneiras de responder às solicitações do ambiente físico e emocional em que

se encontra. Ao brincar, a criança desloca para o exterior seus medos,

angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação.

“Melaine Klein observou que o brincar da criança poderia

representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias

e... isto é, como expressão simbólica de seus conflitos

inconscientes.” (Mello, 2006: 36)

Durante o seu desenvolvimento bio-psico-social a criança passa por

diversas fases de maturação onde está preparando-se potencialmente para

adaptar-se e equilibrar-se em sua realidade cotidiana, pois desta forma ela

partirá de um universo estreito (domiciliar) para uma sociedade que irá oferecer

variadas possibilidades de aprimoramento de suas habilidades mentais.

Podemos dizer, por fim, que a família e a escola, constituem o grupo de

socialização primária da criança. As teorias psicológicas concordam quanto à

importância desse primeiro grupo na formação do indivíduo, e quanto nele ou

dele, a criança obterá experiências.

“Tudo o que precisava realmente saber, sobre como

viver, o que fazer e como ser, aprendi no Jardim de

Infância” (autor desconhecido appud Pereira, 2002: 94)

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Isto poderia ser dito, e com certeza, é pensado e descoberto pela

criança dentro desse período de crescimento. E é justamente isso o mais

importante dessa etapa: o descobrir-se como pessoa, destacado do universo

familiar, embora a ele e a outras pessoas ligado afetivamente.

O processo de socialização é, assim, contínuo e propicia a formação da

identidade da criança.

“Mesmo que cada indivíduo apresente um ritmo

diferente, a ordenação dos estágios é a mesma para

todos...” (Pereira, 2002).

Para que este processo do desenvolvimento infantil seja bem sucedido,

faz-se necessário um constante estímulo através de incessante observação,

avaliação e intervenção por meio de profissionais qualificados para este fim.

Ao ingressar na Pós Graduação de Psicopedagogia a meta a ser

alcançada, se constituía em estudar e respaldar um trabalho que

potencialmente poderia ser realizado que uma escola particular situada no

bairro da Penha no Rio de Janeiro. Após um ano de observação já atuando

como Psicóloga Clínica, dentro do espaço escolar, percebemos que haviam

muitas crianças em estágios, variando desde a educação infantil até a 4ª série

do ensino fundamental, que apresentavam importantes dificuldades nas partes

cognitivas, motoras, psico-afetiva, social e lingüística. Partindo dessa

observação, surgiu a idéia da Oficina Crescer Sabendo Ser onde estes

aspectos seriam trabalhados de forma lúdica, com o seguinte questionamento:

Crianças estimuladas através da Oficina Crescer Sabendo Ser, com

instrumentos lúdicos, na parte cognitivos, motores, psico-afetiva, social e

lingüística têm um melhor aprendizado escolar?

Esta monografia vai pesquisar da importância da “Oficina Crescer

Sabendo Ser” que consiste em atividades Psicopedagógicas que pretende

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estimular através do lúdico, com técnicas e instrumentos científicos, as

habilidades: cognitiva, motora, psico-afetiva, social e lingüística das crianças

com idades variando entre dois a dez anos de idade de uma escola da rede

particular, com crianças da educação infantil e do ensino fundamental.

Desejamos assim, respaldar com instrumentos teóricos a importância de

estimular as habilidades: cognitivas, afetivas, sociais e corporais da criança em

desenvolvimento, através de vivências, utilizando diferentes recursos artísticos

/ lúdicos para que se tornem indivíduos autônomos e autores de suas

produções.

“A meta é que a criança alcança, por meio do brincar na

análise e de suas interpretações, o domínio da angustia

que a aflige, que lhe rouba a maior parte de sua energia

psíquica e lhe causa sofrimento.” (Melo, 2006: 39)

Acredita-se que esta pesquisa pode fundamentar teoricamente a Oficina

Crescer Sabendo Ser, no sentido de explicar, fundamentar e relatar a

importâncias desse trabalho de estimulação através do lúdico, com jogos e

brincadeiras, onde as crianças podem conhecer, experimentar e vivenciar

conceitos importantes e fundamentais do ensino como: português, matemática,

ciências entre outros.

Pensamos ser importante citar um pensamento Vygotsky, que relata a

importância do ato de brincar para o pensamento infantil:

“A ludicidade e a aprendizagem não podem ser

consideradas como ações com objetivos distintos. O jogo

e a brincadeira são, por si só, uma situação de

aprendizagem. As regras e a imaginação favorecem à

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criança comportamentos além dos habituais. Nos jogos e

brincadeiras a criança age como se fosse maior do que a

realidade, e isto, inegavelmente, contribui de forma

intensa e especial para o seu desenvolvimento”.

(Vygotsky appud Queiroz, 2002: 6)

Sendo assim este estudo se organiza da seguinte forma: o Capítulo I

relata o surgimento e o funcionamento da Oficina Crescer Sabendo ser; no

Capítulo II é feito um breve histórico sobre a criança, e no Capítulo III um

pequeno levantamento histórico sobre os brinquedos; discussões sobre Jogos

e brincadeiras e por fim a escola de hoje.

CAPÍTULO I - A OFICINA CRESCER SABENDO SER. “Hoje nos preocupa a falta de movimentação da criança,

face às restrições de espaço livre, para que ela possa

gastar as energias correndo, brincando e jogando.

Cerceando-se seu espaço limita-se também a

possibilidade de movimento amplo e natural, que

permitiria a criança a conhecer o mundo que a rodeia e

se relacionar com ele, vencendo os desafios por etapas,

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de forma gradativa e sem limitações.” (Rodrigues,

1992: 39 )

A Oficina Crescer Sabendo Ser foi iniciada no dia 21 de junho de 2005.

Foi feita a divulgação na escola com banner informativo e um prospecto nas

agendas das crianças, informando a importância de participarem do Dia da 1ª

Oficina Crescer Sabendo Ser. As crianças inscritas receberiam uma lembrança

da Oficina, um certificado de participação e uma avaliação em relação às

atividades propostas na Oficina que eram as seguintes: atenção, concentração,

percepção, coordenação motora, noção espacial, memória, entre outros.

Houve a participação de cinqüenta e uma crianças inscritas, as quais foram

divididas em 4 grupos: dois matutinos e dois vespertinos, conforme a idade e

escolaridade.

O momento desta atividade encontra-se documento nas fotos abaixo

que relatam dois momentos da Oficina, o início com a apresentação utilizando

um fantoche como instrumento para tal e o final, após a música de

encerramento.

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Manhã:

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• Maternal e jardim I - total de 8 crianças inscritas.

• Jardim II, III, CA e 3ª série – total 13 crianças inscritas.

Tarde:

• Maternal, jardins I e II – 10 crianças inscritas.

• Jardim III, CA, 1ª e 2ª série – 20 crianças inscritas.

“ A experiência em grupo é uma atividade que permite a

todo o grupo de crianças vivenciarem uma situação

convidativa, ainda que não tão comprometida quanto a

experiência direta. (Pereira, 202: 101).

Nesta etapa do trabalho, foi pensado a idéia de fazer a Oficina Semanal

Psicopedagógica Crescer Sabendo Ser. Após recesso escolar o projeto foi

concretizado, tendo se iniciado em 01 de agosto de 2005, inicialmente com

somente um grupo de 4 crianças, que compreendiam crianças do maternal,

jardim I e II.

“Dar condições ao pré-escolar para se desenvolver bem

todas as suas possibilidades é assegurar-lhe um futuro

mais feliz e saudável no trabalho, no lazer, no esporte e

no seu dia-a-dia, sem traumas físicos e psíquicos”.

(Rodrigues, 1992: 10)

Foram selecionadas para ilustrar e facilitar a compreensão do

funcionamento da Oficina Crescer Sabendo Ser, mais duas fotos que mostram

o funcionamento e exemplificam duas atividades desenvolvidas: o desenho

livre e jogo do igual.

Foto do 1º grupo da Oficina

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Atividade do dia: desenho livre e jogo do igual.

“Dentro das atividades criadoras, o jogo ocupa o lugar

mais importante e destacado, já que permite a criança ir

se adaptando ao meio social, estruturando a realidade e

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desenvolvendo sua função simbólica, ao reproduzir,

através do mesmo, coisas que sabe ou conhece, usando

símbolos monopolizantes que integram os chamados

jogos de fantasia.” (Pereira, 2002: 100).

Abrimos vários horários para a Oficina, onde as crianças deveriam se

inscrever conforme a série ou idade. Logo na segunda semana já estávamos

com mais um grupo que compreendiam crianças do CA e 1ª série.

Sentimos a necessidade de darmos um nome para os grupos. Nós,

terapeutas, pensamos em nomes que tinha relação de algum modo com as

atividades que desenvolvíamos na Oficina e que eram ligados as cores:

Colorindo, Lápis–de-cor, Aquarela e Arco-íris e; levamos para que as

crianças exercessem sua preferência, quanto ao nome do grupo.

O primeiro grupo, que compreendiam as crianças do maternal, jardim I e II

escolheram o nome Colorindo; o segundo grupo, os da CA e 1ª série,

escolheram Aquarela; o terceiro grupo, que foi formado na terceira semana,

compreendiam crianças do jardim III, escolheram o nome Arco-íris e o último

grupo o do maternal e jardim I manhã ficou com o nome Lápis de cor. Cada

grupo deste tinha em média de cinco a seis crianças.

FOTO DOS 4 GRUPOS DA OFICINA

Grupo Lápis de cor

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Atividade realizada: pintura do desenho

Grupo Aquarela

Atividade realizada: Jogo Max Still

Grupo Colorindo

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Atividade realizada: pique de formas

Grupo Arco-íris

Atividade: Pula Macaco

Os encontros ocorriam uma vez por semana com duração de uma hora. No

inicio do mês era realizado o planejamento das atividades mensais e de cada

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encontro: coordenação motora, percepção visual, auditiva, tátil, noção espacial,

memória, concentração, atenção, controle de intensidade de força,

discriminação de cores, números e formas, etc. Os encontros eram iniciados

com uma musica de saudação de boas vindas e finalizados sempre com uma

história contada por membros da equipe executora, ou criadas por eles, com

uma posterior música de despedida.

“O prazer da criança pequena em ouvir histórias de fadas

e bruxas tem uma origem semelhante. A criança

identifica-se com os personagens, revivendo com eles

emoções e sentimentos contraditórios, da rebeldia aos

pais e medo de punição... O distanciamento possibilitado

pela situação de fantasia é extremamente importante

para a criança trabalhar suas emoções mais fortes, da

mesma forma como acontece para os adultos.” (Oliveira,

2001: 59

O trabalho era todo realizado através do lúdico, com jogos e brincadeiras,

como, por exemplo, jogo da memória, dominó, pique, amarelinha, entre outros;

com concomitante associação com conteúdos escolares como português,

matemática, geografia...

A fim de mostrar um pouco como nos organizávamos e trabalhávamos as

crianças, segue aqui o planejamento do 1º dia da Oficina semanal do Grupo

Colorindo:

Oficina Semanal Psicopedagógica

Crescer Sabendo Ser

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Início dia 01/08/05.

Horário: 14h30 min.

Dias das oficinas: 01/08//05 - 08/08/05 - 15/08/05 - 22/08/05 - 29/08/05.

Alunos inscritos:

G. N. – Jardim II manhã

J. F. – Jardim I tarde

J. S. – Jardim II tarde

V. F. – Maternal manhã

Aspectos a serem trabalhados:

Atenção, concentração, coordenação motora e esquema corporal.

• Grupo Colorindo

Dia: 01/08/05 – Tema: animais

1- Iniciar com a música: Boa tarde, como vai? (Faixa 01). Apresentação

com Fantoche e solicitar que as crianças digam o seu nome. Informar

que esta oficina ocorrerá semanalmente e que tem como objetivo

trabalhar atenção, concentração, coordenação motora e esquema

corporal.

2- Conversar sobre os animais de estimação, aquáticos e os selvagens,

solicitar que eles imitem: cachorro, gato, pato, porco, boi e colocar a

música dos bichos. Música: Ia-ia, ô (Faixa 05)

3- Jogo do igual dos animais e depois tentar ver se conseguem fazer o jogo

da memória.

4- Atividades psicomotoras: Abre-fecha (pág.70) visando o

desenvolvimento motor, e Boca do forno (pág. 58) que desenvolve a

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percepção e trabalha o esquema corporal - trabalhar dentro/ fora - perto/

longe.

5- História escolhida pelas crianças – Os Três Porquinhos.

6- Música de encerramento (Faixa 06).

A Oficina foi realizada durante um semestre e a cada dois meses foi

enviado para os pais, um relatório sobre o desenvolvimento da criança, e o

tema trabalhado nas Oficinas.

“É em função do seu desenvolvimento motor que a

criança se transformará numa criatura livre e

independente (Jersild, 1969 appud Rodrigues, 1992 )

No decorrer deste tempo algumas crianças não permaneceram nos grupos,

mas o semestre foi finalizado com um total de 20 alunos fixos.

CAPÍTULO II – BREVE HISTORICO SOBRE A CRIANÇA

“Parece ter sido ontem o início da história da infância!

Mas juntos, vamos caminhando para um conhecimento

mais especializado da criança e de suas necessidades.

Mudou a família, mudou o mundo!” (Pereira, 2002: 44)

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Ao pesquisar e buscar fundamentos sobre o mundo da criança, surgiu o

interesse de conhecer um pouco sobre como era representada a criança

historicamente e observamos que não havia referências delas, antes do século

XVII, e mesmo assim a idéia de infância se confundia e se misturava com a da

morte e a idéia de santidade.

“No século XVII, quando começam a aparecer

representações de crianças vivas, acreditamos que

também o interesse pela própria criança”. (Pereira, 2002:

40)

Nesta época não havia a noção de família que conhecemos nos dias de

hoje, já que não havia a distinção do público e do privado, onde era quase

inexistente o limite de intimidade. A família era muito numerosa, na maior parte

do tempo se encontrava em praças e comunidades de trabalho. Nela estavam

presentes, uma grande diversidade de pessoas que abrangiam adultos,

crianças, serviçais, estrangeiros entre outros. Sendo assim a família era uma

realidade acima de tudo moral e social.

“...sendo a família aberta e as cidades e ruas, um

emaranhado de relações sociais, as crianças se fundiam

neste ambiente, sem nenhuma discriminação de idade,

raça, nobreza, condições sociais e etc. Reparamos que a

criança não é o centro de nada: é sempre vista onde há

pessoas ou relacionando-se de alguma maneira”

(Pereira, 2002:41)

No século XVIII começou a ocorrer uma pequena mudança, a família

começou a sentir a necessidade de se isolar e de se defender do mundo,

acarretando assim um fechamento desta família para a sociedade, onde se

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precisavam se cerrar dentro dos seus próprios muros. Começa ai a

preocupação dos pais com o futuro dos seus filhos e assim conseqüentemente

com a educação, a formação profissional.

“A criança assume um lugar junto aos pais. Aquelas

famílias estranhas ou as amas que recebiam as crianças

para ensinar-lhes algo, começam a ser substituídas por

escolas”. (Pereira, 2002: 41)

Já no século XIX há a divisão entre o público e o privado, a criança

começa a ser cuidada pela família conjugal, onde a descendência, isto é o

sangue começa a ter grande significado. A criança então é cuidada pela

família e pela escola, que agora é uma instituição do Estado, deixando de

acontecer de maneira espontânea, passando a ser enquadrado em projetos

políticos e preenchendo também espaços geográficos e psicosociais.

Nesta época ainda não ocorre uma preocupação com a experiência

vivida pelas crianças. No final deste século as crianças começam a freqüentar

a escola.

“Nos últimos 25 anos do século XIX, regulamentando a

atividade da mulher em casa, a união da família, a ida

das crianças a escola, a estabilidade empregatícia do

homem, a especificação das famílias, o controle dos

costumes familiares e a separação da comunidade

social.” (Pereira, 2002: 43)

Pensando sobre a realidade dos dias de hoje, percebemos que cada dia

que se passa há uma individualização da família e conseqüentemente dos

membros que as compõe. Com isso cada vez mais ocorre uma delimitação de

tempo, ou seja, horários; lugares, como por exemplo, lugares de lazer, de

trabalhar, de estudar, de dormir, de comer; e com isso expectativas sobre

atitudes esperadas em cada uma dessas situações que se aplicam tanto a

crianças quanto aos adultos.

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“A criança tem tanta atenção especializada que sua

realidade começa a ficar difusa... Antes dependente,

depois em busca de sua autonomia, ela encontra pela

frente especializações...” (Pereira, 2002: 44).

No século XX a criança começa a ser respeitada, há a noção de que

elas têm necessidades e desejos, isto é, querer. Ocorre uma mudança no

relacionamento entre pais e filhos, pois agora, as crianças começam a ser

realmente ouvidas, deixando a relação aos poucos de ser autoritária, ganhando

assim mais autenticidade.

“O relacionamento entre pais e filhos ganhou mais

autenticidade menos autoritarismo. O poder absoluto dos

pais sobre os filhos foi substituído por uma relação mais

democrática.” (Zagury, 2004: 14)

A maioria dos atuais pesquisadores que trabalham na área do

desenvolvimento da criança de modo geral concordaria sobre um conjunto de

pressupostos básicos que enfatizam o papel ativo da criança no

desenvolvimento e as mudanças seqüenciais em suas estratégias para

interagir com o ambiente. É muito relevante o conhecimento dos aspectos

evolutivos da criança para saber como melhor proceder e que atividades

desenvolver com elas. Pois, à medida que a criança cresce ela apresenta

novas necessidades e desejos.

No que tange a seqüência do desenvolvimento, é a mesma para todas

as crianças mas, é notável, que exista sim uma singularidade entre elas, pois

as histórias de vida são diferentes e precisam ser respeitadas e serem levadas

em consideração.

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“Mesmo que cada indivíduo apresente um ritmo diferente,

a ordenação dos estágios é a mesma para todos... Cada

estrutura é um subsídio para as posteriores, que tem

dentro de si as anteriores.” (Pereira, 2002: 49)

Pensando na criança que cada dia que passa entra na escola / creche

com menos idades e que conseqüentemente estes estágios do

desenvolvimento são vistos mais cedo no ambiente escolar, este

desenvolvimento tem que ser observado e respeitado por todos os profissionais

que lidam com a educação.

A fim de conhecer como esta criança lida com seus jogos e brincadeiras,

iniciamos o capítulo seguinte contando um pouco sobre a história do brinquedo,

a distinção entre jogar e brincar assim como sua utilização na escola.

CAPÍTULO III – JOGOS E BRINCADEIRAS.

3.1 - Histórico:

“Nada mais sério do que uma criança brincando”.

(Claparede appud: Queiroz, 2002: 7)

Refletindo sobre os jogos e brincadeira, tivemos uma curiosidade de

conhecer um pouco como surgiu o brinquedo e pensamos ser interessante

fazer uma breve pontuação histórica em relação a isso.

Alguns autores relatam que os brinquedos surgiram no século XVIII,

dentro das próprias famílias, por criação dos entalhadores de madeiras, que

começaram a fazer bonecas e dos fundidores de cobre, que criaram os

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soldadinhos de chumbo. Cada um, nesta época, se ocupava somente do que

tinha haver com o seu trabalho, assim, as bonecas não podiam ser pintadas

pelo marceneiro.

Surge às pequenas industrias e como elas tinham que dividir trabalhos

simples, o marceneiro fabricando a boneca, o pintor pintando e etc. ocorreu um

encarecimento do brinquedo. Nascia assim a era dos brinquedos artesanais,

onde havia exportadores que compravam brinquedos para distribuir e vender

em pequenas lojas.

O brinquedo começa a tomar proporções maiores no meado do século

XIX e com o aumento da industrialização, deixa o brinquedo de ser do controle

da família, isto é, as famílias deixam de produzir os seus próprios brinquedos e

começam a comprá-los em lojas.

“O primeiro estudo sério do jogo foi, com efeito, o de

Goss sobre os Jogos dos animais, em 1896; seguiu-se,

em 1899, um estudo do mesmo autor sobre os Jogos

humanos..” (Debesse,1972 : 204)

Rodrigues expõe em seu livro que Fingermann (1970) relata que:

“...cabe a Claparéde o mérito de haver classificado, de

forma sistemática, quatro teorias sobre a natureza do

jogo. A mais antiga é a que considera o jogo como

‘recreio’, ou seja, uma reparação ou restituição das forças

físicas e mentais esgotadas pelo trabalho...” (Rodrigues,

1992 : 46)

Refletindo sobre isso, vemos que esta teoria na realidade está mais

vinculada a adultos e que não se aplica em crianças, em nenhum dos seus

estágios.

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Rodrigues continua a contextualizar as teorias classificadas por

Claparede e afirma que: “ A última teoria agrupada por Claparéde é a teoria

de Goss (1896 que diz ser o jogo uma preparação para a vida.)” (Rodrigues,

1992: 48), citado anteriormente.

Surgiram ao longo dos anos muitos autores que estudaram o brinquedo,

o jogar, a interação e a importância disso para as crianças.

Queiroz, enfatizando a importância do brincar e cita Beheheim:

“Brincar é muito importante porque, enquanto estimula o

desenvolvimento intelectual da criança, também ensina,

os hábitos necessários ao seu crescimento”. (Beheheim

appud Queiroz, 2002: 6)”.

Continuamos estudando, nas diversas culturas a história do brinquedo,

chegamos até os denominados brinquedos pedagógicos, que tanto falamos e

usamos nos dias de hoje.

3.2 - Distinção entre jogar e brincar

“Brincar é uma linguagem, é a nossa primeira forma de

cultura. A cultura que pertence a todos e que nos faz

participar de idéias e objetivos comuns.” (Meyer, 2004:

33)

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É fundamental parra o homem o movimento e o mesmo está presente

mesmo antes do nascimento, dentro do ventre materno, o movimento já ocorre.

“É através do movimento que a criança explora o mundo

que a rodeia, se expressa e se comunica, pois ele

possibilita o seu desenvolvimento como um todo,

representando o que ela sente, pensa e quer.”

(Rodrigues, 1992: 63).

Observamos que é importante pontuar que:

“ Há um longo processo para a criança chegar ao

domínio das habilidades mais complexas e, para isso, as

experiências com os movimentos fundamentais como

correr, saltar, arremessar, chutar, quiçá, etc., são de

grande importância e vão servir de base para a aquisição

de habilidades da etapa seguinte”. (Gallahue, 1982,

apud, Rodrigues, 1992).

Refletindo sobre vários autores que dissertam sobre jogos e

brincadeiras, encontramos um questionamento similar ao nosso, quando Meyer

pergunta: “Brincar, brincadeira, brinquedo e jogo. Serão sinônimos? Será a

brincadeira apenas mais um recurso didático?” (2004: 33).

Encontramos em Queiroz uma explicação para tal dúvida:.

“Brincar: proposta criativa e recreativa de caráter físico ou

mental, desenvolvida espontaneamente, cuja evolução é

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definida e o final nem sempre previsto. Quando sujeito a

regras, estas são simples e flexível, e o seu maior

objetivo é a prática da atividade em si.

Jogar: forma de comportamento organizado, nem sempre

espontâneo, com regras que determinam, duração,

intensidade e final da atividade. Importante lembrar que o

jogo tem sempre como resultado a vitória, o empate ou a

derrota.

Lúdico: é tudo aquilo que diverte e entretém, seja em

forma de atividade física ou mental.” (2002: 7)

E afirma Pereira:

“Brincar é uma forma própria da criança se relacionar

com o mundo, é a exteriorização de sentimentos através

do concreto, é o encontro com o próprio mundo, a

interação com o outro, a descoberta do mundo construído

no real e no ‘faz-de-conta’ “ (2002: 93).

Nesta forma de se relacionar com o mundo, segundo Meyer: “O

brinquedo enquanto objeto, é suporte de brincadeira, é o material que permite

fluir o imaginário infantil..” (2004: 39)

E dando continuidade sobre este pensamento Meyer afirma ainda que:

“O brinquedo coloca a criança na presença de

reproduções: tudo que existe no cotidiano, na natureza e

nas construções humanas, o brinquedo acaba sendo um

substituto dos objetos reais, podendo assim manipulá-

los.” (2004, pg 39).

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Debesse, já escrevia, em 1972 que: “o jogo é o melhor elemento de

equilíbrio psíquico na criança; assegura a base da personalidade.” (1972: 205)

Vêem se estudando ao longo dos anos o comportamento das crianças

como um todo. Em relação à importância do brincar, vale ressaltar que já na

década de 20, Melanie Klein, ao iniciar um trabalho em relação a bebês e

criança, começa a dá um outro significado ao brincar:

“...desenvolveu um novo instrumento de trabalho e, como

ocorre freqüentemente no desenvolvimento científico, a

estas novas descobertas seguiu-se o uso de novas

ferramentas. No caso da análise de crianças a nova

ferramenta foi a técnica de brincar. O caráter primitivo do

psiquismo infantil exigiu uma técnica analítica específica

e foi encontrada na forma lúdica. Por meio dela foi

possível alcançar as fixações e experiências mais

profundamente recalcadas da criança e exercer uma

influência importante em seu desenvolvimento.” (Melo,

2006: 36)

A partir realmente deste estudo e deste momento é que se começou a

observar e a valorizar o brincar da criança.

Com todos estes estudos, observa-se hoje que:

“O comportamento assumido na brincadeira tem uma

significação específica de acordo com a situação. Para

brincar é preciso se comunicar e interpretar, a partir de

uma decisão por parte daqueles que brincam.” (Pereira,

2002: 40)

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O brincar assume um papel social, onde as crianças convivem e

experimentam as regras sociais, os seus limites, e a realmente tomar

consciência de que o outro existe.

E, como Oliveira(2001) perguntam:

“Que papel é esse atribuído pelas crianças aos objetos?

Qual o personagem que eles estão substituindo no faz-

de-conta? O grande personagem oculto seria a própria

criança que, nesta ocasião, passa a ocupar o papel do

adulto, aquele que provê cuidados à criança.” (Oliveira,

2001: 57)

Através dos jogos e brincadeiras, as crianças estão expressando o seu

mundo, onde precisa haver uma interação social com as crianças, onde a

criança busca o prazer.

“...o intenso prazer que as crianças encontram em seus

jogos ocorre não somente por estes gratifica em seus

impulsos de realização de desejos mas porque o

brinquedo permite o domínio da angustia.” (Melo, 2006:

39)

E concordamos com Meyer (2004) quando diz que:

“Em toda brincadeira infantil estão presentes três

características: a imaginação, a imitação e a regra. Cada

uma delas pode aparecer de forma mais evidente em um

tipo ou outro de brincadeira, tendo em vista a idade e a

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função específica que desempenham junto às crianças.”

(Meyer,2004: 35)

Apesar de todos estes estudos, ainda nos dias de hoje encontramos

profissionais, ligados a educação, que parecem não entender bem a

importância do brincar.

“Contudo as brincadeiras infantis nem sempre são bem

entendidas por certas pessoas, inclusive alguns

educadores que costumam dizer: ’as crianças estão só

brincando’, como se ali nada acontecesse”. (Oliveira,

2001: 53)

3.3 - A escola

“È importante traduzir as prática infantis para a

comunidade e mostrar que brincar é um direito da

criança e que muito se aprende brincando.” (Meyer,

2004: 43)

Considerando a escola como continuidade do lar e levando em conta a

importância dela na formação da personalidade de uma criança e concordamos

com Meyer ao afirmar que:

.

“A vivência familiar é insubstituível. No entanto, a

possibilidade de ampliar esta vivência entre outras

crianças, num ambiente propício, com metodologia que

considere suas necessidade se características, favorece

e enriquece o seu desenvolvimento. Escola e família não

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se excluem, se completam. É na interação que a criança

constrói o seu conhecimento”. (Meyer,2004: 43)

Observamos a importância da entrada da criança na escola e a

mudança do significado do brincar:

“A entrada no colégio modifica profundamente o mundo

do brinquedo. As letras e os números convertem-se em

brinquedos para as crianças. A curiosidade pelo

conhecimento é a continuidade da curiosidade que

sentirá pelo mundo circundante até os cinco ou seis

anos. Com a aprendizagem escolar aparecem novos

jogos em que combinam as aptidões intelectuais e sorte.”

(Aberastury, 1992: 68 appud Pereira, 2002:113)

Nesses termos, cabe aos profissionais que estão trabalhando com a

criança nas escolas que respeitem o brincar das crianças, pois percebemos

que:

“Alguns educadores de creche dizem que a criança bem

pequena não gosta de brincar, que ela ‘vive mudando de

brincadeira, pegando e largando logo os objetos’. O que

eles não consideram é que a criança pequena pode ter

esta forma de brincar, envolvendo-se em sucessivas

brincadeiras por curto período de tempo. Apenas com o

desenvolvimento é que a criança é capaz de criar e

participar de enredos mais planejados e duradouros”.

(Oliveira, 2001: 53)

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Pensando sobre o papel da educação infantil concordamos com Pereira:

“Na Educação Infantil cujo objetivo principal é favorecer o

desenvolvimento integral da criança deve se procurar...

que os professores se preocupem mais com tudo aquilo

que contribuir para a maturidade da criança do que com

conteúdos ou informações a serem adquiridas”. (Pereira,

2002:105)

Hoje em dia, o como ensinar, que instrumentos psicopedagógicos são

mais adequados, agora começa a ter um peso em relação à aprendizagem das

crianças assim como o lado social e psicológico desta está ganhando mais voz.

Nesse sentido:

“Portanto, a possibilidade de absorção de certos

conhecimentos pelo aluno dependerá, em parte, de como

estas informações lhe chegaram, lhe foram ensinadas, o

que por sua vez dependerá, nessa cadeia, das condições

sociais que determinam a qualidade do ensino.”

(Weiss,2004: 17)

Queiroz e Martins em seu livro Jogos e brincadeiras de A a Z, pontuam

que a educação tem que levar em conta, segundo os documentos

internacionais editados pela UNESCO.

“Aprender a aprender, conhecer, selecionar, pesquisar;

Aprender a fazer, resolver problemas, qualificar-se

Aprender a viver, com os outros e co a sociedade,

envolve compreensão e respeito;

Aprender a ser, expressar opiniões, desenvolver

personalidade, ser Humano. “ (Queiroz e Martins, 2002:

6)

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A criança e a aprendizagem é valorizada onde neste momento há uma

troca de informações entre professor e aluno, deixando de lado a visão do bom

aluno aquele que é passivo e que só recebe informações.

Assim sendo como relata Meyer (2004)

“Educar significa estar junto, construir, vivenciar, atuar,

trocar, ceder, descobrir e humanizar estabelecendo uma

interação dinâmica com o grupo. Educar significa

também respeitar a criança: ela não é um mini-adulto,

mas um ser que tem características, sensibilidade e

lógica próprias. Assim, desenvolvimento, transformação,

crescimento são partes deste processo global”

(Meyer,2002: 44)

A educação toma assim, uma nova forma de ser, onde há a

possibilidade do encontro do professor com o aluno bem como o grupo geral,

buscando e respeitando o que foi tão bem exposto acima por Meyer.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.

No decorrer deste estudo observamos um pouco sobre a história da

infância e dos brinquedos e vimos que muitos teóricos tem apresentado suas

opiniões sobre este tema, sobre a necessidade de um bom planejamento

didático na hora de utilizar determinados recursos como os jogos e brincadeiras

assim como a importância da clareza desta distinção tanto para os profissionais

quanto para as crianças que precisam perceber que cada momento tem um

objetivo.

Para tal é preciso em primeiro lugar considerar a natureza do jogo

infantil e a natureza concreta das atividades lúdicas, reconhecendo a

importância do brincar e levando em conta as abordagens cultural, educacional

e psicológica dos jogos e brincadeiras, respeitando as características do

desenvolvimento da criança sob todos os aspectos, motor, cognitivo e sócio-

afetivo.

A Oficina Crescer Sabendo Ser surgiu e ainda continua utilizando e

respeitando as atividades lúdicas como instrumento de trabalho

psicopedagógico a fim de construir essa interação escola-criança-brincar; com

objetivo de favorecer o desenvolvimento escolar.

Assim afirmamos que as atividades lúdicas, incluindo aqui a Oficina

Crescer Sabendo Ser, constitui um importante meio educacional na formação

do desenvolvimento infantil.

Pois, a Oficina Crescer Sabendo Ser, busca criar um espaço de

confiança, onde ocorrem jogos, brincadeiras e criatividades. Realmente

acreditamos que só neste contexto, num lugar aconchegante, se poderá se

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desenvolver a escuta e o olhar clínico e dar a possibilidade da criança se

expressar em suas queixas e angústias assim como em seu prazer.

Desejamos uma escola que respeite a singularidade de cada um, que

esteja aberto a criticas e sugestões, onde se observe o método utilizado por ela

assim como o material pedagógico usado pelos professores e a relação aluno-

professor. Esperamos que aumentem o número de profissionais da área da

educação que realmente escute a queixa e o sintoma do aluno, refletindo qual

a melhor forma de ajudá-lo.

Para terminar e concluirmos esta monografia reafirmamos o pensamento

de Weiss, ao falar que:

“Triste é a escola que não acompanha o mundo de hoje,

ignorando aquilo que o aluno já vivencia fora dela.

Transforma aquele que inteligentemente a questiona e

que saudavelmente se recusa a buscar um conhecimento

parado no tempo ‘portador de problemas de

aprendizagem” .(Weiss,2004:18)

BIBLIOGRAFIA

BLEGER, Jose. Temas de Psicologia. Entrevistas e grupos. SP, editora Martins Fontes, 1998.

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DEBESSE, Maurice. Psicologia da Criança. Do nascimento à adolescência. SP, editora Companhia Nacional,1972. MELLO, Mª Cecília P. S. A. A técnica e a linguagem do brincar. Revista Viver &cérebro – Coleção memória da psicanálise – Melanie Klein , vol. 3, 2006. MEYER, Ivanise Corrêa Rezende. Brincar & Viver. Projetos em educação infantil. RJ, editora Wak, 2004. OLIVEIRA, Vera Barros de at alli. Avaliação Psicopedagógica da Criança de Zero a Seis anos. Petrópolis, editora Vozes, 1994. OLIVEIRA, Zilma de Moraes, MELLO Ana Maia e outras., Creches: crianças faz de conta e cia. Petrópolis, editora Vozes 9ª edição, 2001. PEREIRA, Mary Sue. A Descoberta da Criança, introdução a educação infantil. RJ, editora Wak, 2002. QUEIROZ, Tânia Dias e MARTINS, João Luiz. Jogos e Brincadeiras de A a Z.SP, editora Rideel, 2002. RODRIGUES Maria. O desenvolvimento do pré-escolar e o jogo. SP, editora ícone ltda. 1992. WEISS, Mª Lúcia L. Psicopedagogia clínica. Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem. RJ, editora, DP&A, 2004. ZAGURE, Tânia. Limites sem trauma. RJ Editora Record, 2004.

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ANEXOS

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu”. Título da Monografia: Oficina Psicopedagógica Crescer Sabendo Ser – Jogos e Brincadeiras Auto Avaliação: Como você avaliaria esta monografia? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Avaliado por: _________________________ Grau: _________

Rio de Janeiro, ______ de________________ de 2006.

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