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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A PEDAGOGIA WALDORF E A ARTE Por: Maria de Fátima de Oliveira Orientador Prof. Mary Sue Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PEDAGOGIA WALDORF E A ARTE

Por: Maria de Fátima de Oliveira

Orientador

Prof. Mary Sue

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PEDAGOGIA WALDORF E A ARTE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Arteterapia em

Educação e Saúde.

Por: . Maria de Fátima de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

A Deus, aos meus familiares e amigos.

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DEDICATÓRIA

Dedico ao meu pai, que esteja aonde

estiver está olhando por mim, a minha

mãe, aos meus sobrinhos, irmãos e

amigos.

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RESUMO

O propósito desse trabalho é analisar como a arte pode ser usada como

recurso pedagógico e terapêutico. Refletir como os elementos artísticos

ajudam no desenvolvimento do indivíduo e podem ajudar a procura de novos

caminhos para alcançar as forças criativas. Avaliar a importância da arte na

pedagogia Waldorf. Refletir sobre uma meta educativa, como também

conhecer de que modo a pedagogia Waldorf torna a vida escolar mais feliz e

provocadora. Levar ao conhecimento que a arte na pedagogia Waldorf

influencia todas as áreas do aprendizado escolar e não - escolar.

Com base nas pesquisas bibliográficas apresentamos questões

pertinentes e significativas para a compreensão do significado da pedagogia

Waldorf e a arte no processo de ensino- aprendizagem e terapêutico. O

educador ou o terapeuta precisa ter um domínio também da arte quanto mais

domínio há sobre o código , mais facilmente ele descobre os valores com os

quais o sujeito trabalha e pode melhor auxiliar a enriquecer sua linguagem e

sua capacidade de simbolização. Os desafios impostos pela arte e pela

pedagogia Waldorf instigam o pensamento lógico, as emoções e as

sensações, as diferentes formas de linguagem e de expressão, recorrendo

sistematicamente à imaginação e criatividade.

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METODOLOGIA

No que se refere ao material e ao procedimento a pesquisa é

bibliográfica, a partir de leituras analíticas de Margarethe Hauschka, que

abrange a pintura, o desenho a modelagem e reconhece a necessidade de se

desenvolverem terapias em todos os campos da arte, e também de Rudolf

Steiner, que visando formar futuros adultos livres, com pensamentos individual

e criativo, com sensibilidade social e para a natureza , criou ao pedagogia

Waldorf.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Pedagogia Waldorf 11

CAPÍTULO II - Os elementos da terapia artística 17

CAPÍTULO III – A arteterapia e a pedagogia Waldorf 24

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ATIVIDADES CULTURAIS 40

ÍNDICE 41

FOLHA DE AVALIAÇÃO 42

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INTRODUÇÃO

Para uma transformação dos paradigmas educacionais, é necessário

ao educador ter oportunidade de experienciar uma nova forma de aprender e

ensinar, através da arte. Compreender o valor da arte como espaço de

expressão individual e grupal e de autodescoberta, poderá promover ações

educativas mais eficazes.

Rudolf Steiner, visando formar futuros adultos livres, com pensamentos

individual e criativo, com sensibilidade social e para a natureza, criou a

pedagogia Waldorf.

Segundo Steiner (1970), para uma real prática de ensino, se precisa

ensinar, com entusiasmo, se precisa não passar sobre a criança e educador

intelectualmente. O inteiro homem tem que virtuar como educador, não

meramente com o pensar mas com o sentir e o querer .

Segundo Karl Ulrich (1966), enquanto a intelectualização e a

mecanização cortam freqüentemente e precocemente ao jovem as

possibilidades de desenvolvimento fazendo dele um autômato, sem iniciativa, a

escola Waldorf quer conservar a atividade e a maleabilidade pela prática das

artes e dos trabalhos manuais.

Conforme Lanz (1979), “o homem moderno, sem percebê-lo, vive

numa idolatria, consciente ou inconsciente, da abstração, da formula, da

quantificação, da tecnologia. Falta-lhe, cada vez mais, a capacidade para uma

abordagem mais ampla, que inclua vivência estética, e para pensamentos não

mecanicista.”

As crianças que vivem nesse ambiente são modeladas pela sua

influencia. Disso resulta a importância do elemento artístico, que apelam ao

sentimento e à ação do aluno: ele tem que fazer algo com as mãos ou outras

partes do corpo: ele tem que criar algo que seja resultado da sua fantasia,

usando a vontade, a perseverança, a coordenação psicomotora, senso

estético.

Por isso a arte tem alto valor pedagógico e terapêutico, quando

exercitado com regularidade. Os trabalhos manuais encontram um

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complemento harmonioso da sua personalidade na experiência viva dos

materiais que suas mãos passam a trabalhar.

Muitas vezes vemos crianças introvertidas ou tendo dificuldade de

aprender, progredindo mentalmente pela magia dos trabalhos manuais.

A adaptação da arte para o plano terapêutico não pode ser aprendida

através de receitas, mas só poderá decorrer de um profundo conhecimento

dos processos sãos e doentes e de sua contra- imagem artística.

A arte na pedagogia Waldorf não é apenas um complemento

estetizante, mas uma disciplina que recebe a mesma atenção que as demais e

perpassa por todas sendo considerada de igual importância.

As escola Waldorf, tem um ambiente aconchegante com cores bem

escolhidas, pinturas criam um clima de enobrecimento e bem – estar.

Na ótica de Steiner, o professor deve ser um artista, no sentido mais

amplo da palavra, e todo o ensino deve ser uma obra de arte. Assim como o

artista se dirige aos sentimentos do seu publico, o educador alcançará suas

metas apelando aos sentimentos e à fantasia dos seus educandos.

Por isso é fundamental ampliar o diálogo com a arte, com os

elementos artísticos como: música, pintura, modelagem e etc. Saber sob que

condições elas podem tornar-se verdadeiros elementos de terapia artística.

De acordo com Hauschka (1987), a compreensão da atuação artística

no homem faz parte da higiene do futuro.

Nas escolas Waldorf, os professores aprendem a tocar flauta, a cantar,

a falar artisticamente , a desenhar e a trabalhar com as mãos.

Ao apresentar peças de teatro sobre uma determinada matéria o aluno

se envolve completamente, ganhando experiência também nos campos da

língua, da música, da expressão corporal , da dinâmica de grupo.

Para vermos a atividade humana em sua relação com saúde e doença

impregnamos o campo artístico com pensamentos terapêuticos. De acordo

com Hauschka ( 1987), devemos adquirir uma compreensão íntima daquilo que

se passa no homem, dos processos que entram em movimento quando uma

pessoa exerce uma atividade artística.

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CAPÍTULO I

A PEDAGOGIA WALDORF

A partir da análise das dimensões específicas do ser humano: o pensar,

o sentir e a vontade, Rudolf Steiner firmou as bases de uma educação que

tende a responder às necessidades atuais e futuras da humanidade.

Segundo ele, uma sociedade só pode configurar-se e desenvolver-se

de forma sadia e adequada às solicitações da época se levar em conta as

dimensões essenciais do ser humano. É sobre a base desse mesmo princípio

que concebeu a Trimembração do Organismo Social que são as atividades

anímicas do homem, o pensar, o sentir e o querer.

O pensar ao qual se junta a percepção sensorial e a memória. Segundo

Steiner, não existe atividade anímica que não se englobe numa dessas três

áreas. Essa divisão, não se limita às atividades anímicas, ela tem um reflexo

na constituição física e nos graus de consciência da mente humana.

O corpo humano pode ser considerado como composto da cabeça, do

tórax do abdome, ao qual se acrescentam os membros.

Na cabeça está concentrado o sistema neuro-sensorial; ela é o ponto de

maior concentração das percepções e do pensamento, pois os órgãos de

percepção estão distribuídos no corpo inteiro.

O metabolismo está centrado na parte abdominal, onde os movimentos

inconscientes e os processos de transformação, auxiliado pelo trabalho dos

membros, têm por finalidade incorporar o mundo material ao organismo

através da alimentação, digestão e etc. Entre estas duas atividades anímicas o

pensar (cabeça) e o querer (abdome) está o sentir ( tórax) que constitui uma

atividade intermediaria. É dentro de si que o homem avalia, por reação de

agrado e desagrado, de simpatia e antipatia, as impressões recebidas, os

conteúdos dos pensamentos e até a qualidade dos alimentos. Na visão de

Steiner o sentir ocupa uma posição mediadora, e esta é sublinhada na prática

pela presunção de que o sentir está ligado ao coração, circulação e a

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respiração, ou seja, ao processo rítmico que tem sua origem na região

torácica, mas que abrange o corpo inteiro.

O querer não trata da vontade clara e nítida de um ser consciente,

mas do impulso bruto, subjacentes a todos os impulsos vitais.

Para isso, revalorizou os impulsos do lema da Revolução Francesa:

Liberdade, Fraternidade e Igualdade, como diretrizes máximas das diferentes

funções sociais. Concebeu a Liberdade como o princípio básico que deve reger

a vida cultural-espiritual; a Igualdade como alicerce fundamental da questão

jurídico-legal e a Fraternidade como sustento imprescindível para a atividade

econômica.

Na educação, isso significa desenvolver na criança as bases para um

pensamento claro e preciso, isento de preconceitos e dogmas, o que leva à

liberdade; sentimentos autênticos não massificados e que respeitem os

demais, num marco de igualdade de direitos e obrigações; e uma capacidade

vigorosa de sustentar responsavelmente a fraternidade na vida econômica do

futuro.

Em 1919, logo após a primeira grande Guerra Mundial, Emil Molt, um

comprometido colaborador do Movimento pela Trimembração do Organismo

Social, diretor da fábrica de cigarros Waldorf/Astória em Stuttgart, Alemanha,

em virtude da sugestão de Rudolf Steiner, percebeu que os trabalhadores da

fábrica deveriam conhecer melhor o propósito de seu trabalho específico e,

desse modo, conseguir uma relação mais humana com respeito a ele.

Assim, Emil Molt, dispôs que se proferissem palestras para seus

empregados sobre temas sociais e educativos. Conseqüentemente, surgiu

entre os trabalhadores o desejo de que seus filhos recebessem uma educação

escolar mais adequada às reais necessidades do desenvolvimento humano na

modernidade.

Emil Molt pediu ao Dr. Rudolf Steiner para organizar uma escola para

os filhos dos operários da sua fábrica. Esse impulso partia da intuição de que

uma reforma social a longo prazo tinha que começar necessariamente pela

educação da juventude.

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Educar a juventude significa: cultivar o espirito na

matéria; cultivar o amanhã no hoje; cultivar a

realidade espiritual na existência terrena. (Steiner,

1977)

Por conseguinte, Rudolf Steiner, visando formar futuros adultos livres, com

pensamentos individuais e criativos, com sensibilidade social e para a

natureza, funda essa pedagogia.

A pedagogia Waldorf, como verdadeira arte educacional nova,

fundamenta-se cientificamente numa antropologia baseada na observação e

compreensão das fases evolutivas do homem. Estas fases, que são totalmente

diferenciadas, possuem exigência anímico - espirituais diferentes ( disposição

para o aprendizado- conteúdos de ensino).

Portanto, esta pedagogia é dirigida ao aluno com os conteúdos que

ele, pela idade, está maduro para receber (ou tem necessidade de receber)

sendo que as séries obedecem ao princípio da idade. O ensino Waldorf reúne

elementos científicos, artísticos e religioso.

O elemento artístico, segundo (Karl Ulrich), percorre como um fluxo de

sangue vital. Ele não é utilizado como uma faculdade em si, mas simplesmente

como veículo didático para todas as matérias. Ele é caracterizado pelo ritmo,

pela imaginação e pelo cultivo da fantasia.

Não pode possuir a firmeza do querer quem não

submeteu sua força de vontade a um verdadeiro

treino pela atividade artística. (Steiner,1977)

O elemento religioso (sem profissão de nenhuma religião específica

ou seita) faz parte do ensino o cultivo do respeito, ou reverência, pelo cosmos,

pela terra (minerais, animais e plantas) e pelo outro homem.

Há três virtudes básicas, que o educador deve

desenvolver na criança: a Gratidão, o Amor e a

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Consciência do Dever. Nessas três virtudes se

resume todo comportamento social. (Steiner,1977, p.

9)

De acordo com Steiner (1977) a vida humana não decorre de forma

linear, mas em ciclos de aproximadamente sete anos. Em cada um desses

ciclos, um determinado membro da entidade humana se desenvolve.

Nos primeiros anos de vida, até aos 7 anos, é importante ensinar a

criança a perceber o que ela recebe do ambiente como gratidão. Assim, a

gratidão é a virtude da criança nesta fase.

Na segunda idade de vida, entre os 7 aos 14 anos, o amor, ver o outro,

é que está ativo na organização do homem. Isso é a virtude para esta fase da

vida.

Na puberdade desenvolve-se o dever, o respeito pelo outro, a

responsabilidade de cuidar da natureza, dos animais.

Neste sentido, devemos desenvolver na criança gratidão e amor, por

tudo aquilo que lhe foi dado, o que está acima o cosmo, ao lado e abaixo, a

terra, os animais, as plantas e o desenvolvimento integral do homem.

Desenvolver também a consciência de que faz parte de uma

comunidade social, e que o indivíduo não existe por si só.

A verdadeira educação deverá desenvolver no ser humano o respeito

ao próximo, o senso da responsabilidade social em cada um.

Segundo Steiner (1977), ao educar pertence sentimento de

responsabilidade. Assim, tudo aquilo que se efetua de bom ou de ruim na

criança, desenvolverá na sua fase adulta felicidade, infelicidade, saúde,

doença.

É importante o educador desenvolver em si aquelas forças e

faculdades e antes de todas as coisas aquela constituição d’alma que virá a

ser suficientemente forte, para plantar aqueles germens d’alma na infância,

que somente mais tarde desabrocham.

Dessa forma, tudo que levamos ao encontro da criança ela absorve,

como esponjinhas. Se levamos a elas alegria, harmonia, amor e um ensino

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através da arte, onde as aulas são divertidas e agradáveis certamente

crescerão adultos mais felizes e saudáveis.

As crianças são como sementes, tudo que plantamos um dia irá

germinar. Por isso temos que ter o discernimento para proteger as crianças

daquilo que bloqueia o desenvolvimento.

É fundamental saber que educar não se limita a repassar informações

ou mostrar apenas um caminho, o caminho que o professor considera o mais

correto, e sim, ajudar o indivíduo a tomar consciência de si mesmo, dos

outros e da sociedade. É saber aceitar a si próprio como indivíduo e saber

aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para que o indivíduo possa

escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores,

sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá

encontrar.

Segundo Steiner (1977), “...nós precisamos de uma pedagogia que

repousa sobre reconhecença d’homem, sobre reconhencença da criança”.

Portanto, para educar é necessário conhecer o homem. Também

precisamos saber que a criança em idade escolar, está orientada para a

imaginação, assim, precisamos procurar no elemento artístico algo importante

para o educar e ensinar. Por isso, as artes, os trabalhos manuais, ocupam na

pedagogia Waldorf um lugar de destaque. Não para formar artistas, mas para

proporcionar aos jovens o contato com vários materiais e atividades como fiar

tecer, modelar, esculpir , pintar e etc.

O indivíduo que passou por essa experiência tem respeito ao trabalho

com a arte. Sua sensibilidade pelas qualidades de um material ou atividade

será aprofundada, sem falar dos conhecimentos adquiridos. Além disso, tais

atividades exigem perseverança, capricho, esforço. E atuam sobre a vontade e

o senso estético. Cabe ressaltar que a conseqüência desse ensino é a

compreensão do trabalho do outro e o respeito .

As obras produzidas nunca devem ser apenas decorativas, mas

integrar-se pela forma e pela funcionalidade, no mundo .

Por esse motivo, o currículo da escola Waldorf contempla da educação

infantil até a última série do ensino médio, um programa de atividades

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artísticas e artesanais, tão intimamente adaptada à faixa etária de cada classe

quanto o é o ensino das matérias tradicionais. Essas matérias não são

consideradas opcionais, mas essenciais para a educação integral da criança. A

arte é um meio de envolver além do intelecto as forças emocionais e corporais

do aluno.

Um dois princípios desta pedagogia é o íntimo relacionamento entre

professor e aluno . O professor permanece na mesma turma durante oito anos

do ensino fundamental como “ professor de classe”. As aulas específicas , tais

como música, língua estrangeira , educação física, marcenaria são ministradas

por professores específicos . Cada turma possui no máximo 20 alunos, com

isso o professor acaba conhecendo profundamente cada aluno, sua família e

seu contexto sócio-econômico.

A formação de um professor antroposófico (Waldorf) necessita de

aprofundamento na filosofia que é a base desta metódica, e na metódica

propriamente dita. Esta formação exige um aperfeiçoamento pedagógico e

artístico especial.

Portanto, um professor Waldorf, precisa se aprofundar na filosofia

trazida por Rudolf Steiner, e ter muita prática das várias artes, não somente

conhecer a matéria como usá-la, conscientemente como meio pedagógico,

expondo-a com entusiasmo.

De acordo com Lanz (1979), “os professores são a alma viva de uma

escola Waldorf. Se deixam de crescer e de desenvolver, a escola para e

definha”.

A dedicação do professor é exclusiva, para um contínuo

aperfeiçoamento, com cursos, palestras seminários filosóficos, pedagógicos e

artísticos.

Para Steiner (1981), “a arte pedagógica vem sendo cultivada com o

mais dedicado amor. A escola Waldorf já cresceu ao coração a todos aqueles,

que a conhecem”

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CAPÍTULO II

OS ELEMENTOS DA TERAPIA ARTÍSTICA

A pedagogia Waldorf utiliza os elementos para transmitir os conteúdos,

as matérias práticas e para desenvolver e fortalecer o sistema rítmico dos

alunos .

Segundo Hauschka (1987) a terapia pela arte possibilita uma

transformação onde o paciente é o agente que segue e dá continuidade a um

determinado processo que lhe traz harmonia. Dá forma onde há pouca

estrutura, dissolve onde há rigidez, dá clareza onde tudo é vago e traz fantasia

onde a mente está endurecida.

Trabalhar com os elementos artísticos é muito importante, mas não

basta entregar a uma criança tinta e um pincel para que possa pintar, ou barro

para modelar, às vezes é necessário que o trabalho seja dirigido. A eficácia da

atividade, no sentido da cura, depende muito mais do modo da execução do

que do objeto propriamente dito.

É importante também que o terapeuta ou educador, faça um estudo

detalhado desses elementos. Cada um em particular, tem propriedades que

mobilizam emoções e sentimentos de maneiras diversificadas a cada indivíduo.

O que chama a atenção de uma escola Waldorf é a presença das

artes. A música, a pintura, as artes plásticas, a euritmia, o teatro e etc.

Para Steiner, os elementos artísticos, estão relacionados com os

elementos da natureza; na cabeça, uma vida solar interior que nos ilumina de

maneira musical. Ela nos atravessa como elemento do calor, e impregna com

o elemento aéreo. A pintura é próximo do coração, e é impregnada com o

elemento água. A escultura é próximo do plexo físico e é impregnado com o

elemento terra.

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Segundo Steiner, na primeira infância até aproximadamente o sétimo

ano de vida, forma-se o homem cefálico com neuro-sensorial . Sua vida interior

é musical. É quando o sistema neuro-sensorial está pronto, dele se desprende

a constelação musical.

Todas as impressões sensoriais ainda exercem um impacto sobre a

formação dos órgãos internos da criança, pois ela vive entregue ao seu meio

ambiente, imitando tudo ao seu redor. Por isso é importante respeitar a

delicadeza desses processos de crescimento e não violar sua harmonia.

É importante nesta primeira infância, proporcionar a criança música de

boa qualidade, para ajudar na boa formação do aparelho auditivo.

De acordo com Hauschka, a música é de maior importância na época

em que a cabeça humana está se formando, isto é no período embrionário.

Neste caso, “as leis do eu que atuam na música exercem efeitos organo-

genético.”

Também é nesse período que podem ocorrer os piores danos através

da música de má qualidade, pois “a cabeça se forma com características

humanas ou sub- humanas até em suas estruturas mais finas”.

Segundo Hauschka, a música é sentida como vinda das alturas. Atua

em nós como uma ressonância celeste. Possui também um poder sobre a vida

afetiva, por isso não podemos senti-la de modo distante.

A música atravessa e impregna nosso ser de modo

semelhante ao calor. Tem o poder de criar harmonia

entre elementos contrários. Em meio ás distrações e

a eterna transformação da vida dos sentidos,

sentimo-nos como que concentrados e reatados a

um elemento duradouro. (Hauschka, 1987)

Podemos dizer que a música tem sua origem além do espaço e do

tempo, tem algo a ver com o conceito de continuidade.

De acordo com Brunis (1998), o ensino de música ajuda a desenvolver

as habilidades sociais, ou seja, a escuta, a expressão adequada, o respeito

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mútuo pela prática em conjunto. É aconselhável nessa idade instrumentos

mais suaves e feitos de materiais naturais.

A música, eu a considero, em principio como um

indispensável alimento da alma humana. Por

conseguinte, um elemento e fator imprescindível à

educação do caráter da juventude. (Heitor Villa-

Lobos, 1965)

Segundo Hauschka a organização rítmica do corpo leva mais tempo

para sua maturação e só se estabiliza definitivamente entre o sétimo e o

décimo quarto ano de vida. Dela se desprende a faculdade e a possibilidade

de vivência pictórica.

Para a autora, a essência interior do homem rítmico é de natureza

pictórica.

A criança adquire o gosto pelas imagens e pela pintura mais tarde,

porque essa faculdade se relaciona com processo mais profundo.

Na ótica de Hauschka ( 1987) a pintura é uma atividade complicada.

Basta observar um pintor: ele se aproxima da tela, mergulhando no quadro e

se afasta novamente. É uma atividade rítmica e tem a característica da

mudança de estado.

Assim a música flutua ao redor da cabeça enquanto a pintura, o

mundo da imagem , é próximo do coração.

De acordo com Hauschka, na natureza, o mundo das cores também se

cria sempre de novo entre o ar (música) e a água (pintura). Toda vida

cromática não é continuamente como a vida musical da cabeça, mas é uma

vida que respira, é um movimento rítmico. As forças formativas do ar, quando

elas trabalham na esfera da água nascem o arco-íris, as auroras, o crepúsculo

etc.

Portanto uma está ligada a outra, uma é a continuação da outra.

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O lado pedagógico da pintura é saber que devendo revelar a sensação

em imagens, o aluno, ou paciente que pinta é forçado a dirigir-se do interior

para o exterior.

Pintar é olhar o presente, que vem acompanhado e

todos os olhares anteriores, deixando uma brecha

para o olhar que virá ( o que não tem fim). É a

vontade de alinhavar a totalidade. (Abumansur,

1998)

Segundo Hauschka, o pintar pode despertar o interesse pelo mundo

em pessoas introvertidas.

Muita coisa pode ser feita neste sentido, no caso de criança que não

demonstra participação amorosa no mundo ambiente. Por outro lado, cores e

quadros de má qualidade atuam sobre as secreções, relacionadas com o

apetite físico, provocando náuseas. “As pessoas de fina sensibilidade sabem

disto”. (Hauschka, 1987)

Ainda conforme a autora, a escultura é uma faculdade do adulto. No

sistema metabólico e dos membros plenamente formados desprende-se a

força plástica, o desejo de plasmar a matéria do mundo das imagens. O

escultor cria no espaço. Ele vive em seus membros, mantém os pés firmes

sobre a terra, e está familiarizado com o processo de introduzir matéria numa

idéia ou de erguer a matéria à vida.

O elemento plástico situa-se entre o aquoso e o sólido e na esfera das

forças terrenas. A medida que a forma é colocada no espaço, estamos

totalmente na terra acompanhando, de modo geral, a relação entre as artes e

os elementos. Assim, podemos dizer que o calor reina musicalmente no ar, o

ar com seu estados de luz reina pictoricamente na água e a água reina

plasticamente no sólido.

Para a autora a escultura encontra seu emprego terapêutico em todos

os casos de formação pouco nítida dos pensamentos, falta de concentração e

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outros. “A compreensão da atuação artística no homem faz parte da higiene do

futuro”. (Hauschka, 1987)

Nos dias de hoje observamos como forças extra-humanas dominam o

homem e seu organismo. De todos os lados a técnica e a química agem sobre

ele, criando um mundo que ameaça destruir o indivíduo.

Steglic (1966) diz que “se o homem não quiser sucumbir, deve ele criar

por iniciativa própria as forças contrárias que lhe conservem a saúde”.

O homem deve fortalecer-se física, psíquica e espiritualmente, contudo,

a fuga para a natureza não é mais suficiente, pois a natureza está sendo aos

poucos envenenada e destruída.

Dessa forma, procurando sair desse dilema podemos encontrar uma

valiosa ajuda na antroposófia de Rudolf Steiner.

Esse conhecimento da natureza humana, verdadeira ciência espiritual

antroposófica, é o fundamento de todos os impulsos concebidos por Rudolf

Steiner para renovar a nossa civilização em todos os domínios da vida

artística, científica e social.

Também o poeta alemão Friedrich Shiller, como que prevendo essa

calamidade da nossa época, deixa uma resposta em suas Cartas estéticas da

educação do homem, que trata sobre os três impulsos básicos do homem: o

neuro- sensorial, o rítmico e o metabólico .

Nas cartas ele discorre sobre o impulso da forma a partir da cabeça,

do impulso da matéria, que constrói “ de baixo para cima”, e do impulso lúdico

que iguala os dois outros pelo “jogo”, chamando o homem a participar desse

“jogo”. Essa participação consiste em tudo que é arte, seja música, poesia,

pintura escultura ou a dança ou a arte suprema que consiste em harmonizar a

própria vida de acordo com os princípios da sabedoria.

Essa arte suprema, as atividades artísticas, a euritmia, a arte de

movimento através do qual se tornam “visíveis”, por meio de movimentos do

corpo, os conteúdos espirituais inerentes a palavra e a música, Steiner aplica

quando elabora o currículo e o método das escolas Waldorf.

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A euritmia não é uma dança expressiva, pois não é a pessoa que dita

os movimentos, mas os referidos conteúdos da língua e da música. O nome

explica a sua própria essência com efeito, o prefixo grego “Eu” significa bom,

benéfico, sanativo. Assim a Euritmia age qual um ritmo benéfico sobre o

homem.

Para Steglich, a Euritmia harmoniza as relações entre fôlego e sangue,

forma e força fortalecendo o pólo mediano, rítmico do homem. Também

transmite a espiritualidade do centro intelectivo (cabeça) aos movimentos dos

membros que integram o pólo do metabolismo. Os movimentos desordenados

e caóticos vêm a ser dominados, harmonizados, e enobrecidos pela

espiritualização.

A euritmia domina os efeitos das máquinas que amiúde tomam o lugar

das atividades humanas e aumentam ainda a atuação do sistema da “força”

localizado principalmente no abdômen e nos membros, muito importante para

todos.

Steiner criou uma euritmia pedagógica, que tem o efeito harmonizado

e coordenado e que se faz sentir imediatamente.

Já euritmia curativa, Steiner e um grupo de médicos, criou uma

verdadeira terapia pela euritmia de aplicação múltipla que permite tratar com

sucesso distúrbios respiratórios e circulatórios, além de fraquezas e doenças

orgânicas.

Todos estes elementos artísticos observando as especificidades de

cada um, se levado a sério, contribui para uma aprendizagem mais prazerosa

e significativa. A ampliação da arte de curar já trilha caminhos a longos anos

através da terapia artística fundamentada na visão médica, terapêutica e

artística pela Antroposofia de Rudolf Steiner.

A terapia artística foi fundamentada a partir de um trabalho iniciado em

1925 no Instituto Clinico terapêutico de Arlesheim na Suiça, no âmbito da

medicina antroposófica desenvolvido pela Dra Margarethe Hauschka, de

acordo com os ensinamentos da Dra Ita Wegman, fundadora do Instituto e

importante colaboradora de Rudolf Steiner.

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A terapia artística exerce efeitos que podem influenciar a estrutura

básica da alma e sua relação com o corpo.

A arte é a expressão mais pura que há para a

demonstração do inconsciente de cada um. É a

liberdade de expressão, é sensibilidade, é

criatividade, é vida. (Jung, 1920.)

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CAPÍTULO III

A ARTETERAPIA E A PEDAGOGIA WALDORF

A pedagogia visa à formação do ser humano quer desenvolve-lo

harmoniosamente em todos os seus aspectos: inteligência, conhecimento,

vontade e etc.

Segundo Lanz (1979), a pedagogia quer despertar todas as suas

qualidades e disposições inatas e estabelecer um relacionamento sadio entre o

indivíduo e o seu meio ambiente, o qual inclui outros homens.

A arteterapia é um processo terapêutico que se utiliza do recurso

expressivo a fim de conectar os mundos internos e externos do indivíduo.

Na arte pedagógica trazida por Rudolf Steiner, não se trata da

realização prática, isto é da capacidade de pintar, de músico ou de poeta, mas

sim, da maleabilidade, da fantasia e da criatividade que fazem o verdadeiro

artista.

De acordo com Hauschka ( 1987, p.29 ), existe uma grande diferença

entre a arte e a arte curativa. O artista faz tudo pela obra de arte; o terapeuta

artístico tem o homem como ponto central de sua atenção. E tendo constatado

a necessidade terapêutica do indivíduo, através de forças amorosas intuição

dirigida à alma, o terapeuta tentará transformar essa necessidade terapeuta

numa tarefa artística.

Assim deveria ser o professor terapeuta, tendo seu aluno com ponto

central, observando sua dificuldades e qualidades, tentando harmonizá-las.

Para ser um bom educador, é preciso conhecer a natureza humana e

as leis segundo as quais se desenvolve. O professor precisa saber trabalhar,

em cada fase do desenvolvimento, com as forças que estão disponíveis na

criança.

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Segundo Steiner, existem alunos cuja fantasia é rica; em casos

especiais, chegam a ser atormentados por imagens e representações mentais.

Para estes, trabalhos manuais, cantar, pintar, desenhos geométricos são uma

terapia eficaz. E a outros, de fantasia pobre; estes serão incentivados pela

obrigação de observar, de ler e pela prática de música instrumental.

O educador tem, pois uma infinidade de recursos; estes sempre

deverão ser frutos de uma observação individual viva.

Segundo Steiner (1981, p.83), a medicina e a pedagogia deveriam ser

levadas uma para perto da outra, se fecundarem reciprocamente.

Curar o homem, que em si traz não a plena

humanidade, porém a danificada humanidade é uma

atividade parecida como o educar.

Somente quando se percebe a afinidade, o natural e o espiritual

parentesco entre ambos, se poderá vir a fecundar a pedagogia no modo

correto através de uma psicologia ética.

Rudolf Steiner, a pedido de um grupo pequeno de professores e

médicos que estavam interessados em saber mais sobre crianças “anormais” e

como a pedagogia e a medicina poderiam contribuir para o desenvolvimento

sadio de suas capacidades, fez um curso de pedagogia curativa, realizando

doze palestras, onde apresentou vários casos, indicações e tratamentos,

abordados de uma maneira completamente inovadora.

Segundo Steiner e Dra. Ita Wermann (1979) a causa das doenças

deve ser procurada na capacidade espiritual e psíquica do homem, e a cura

deve consistir com a organização física. A fim de promover este processo

através de uma atividade artística, é necessário que se torne transparente a

relação entre o corpo e a alma, peculiar a cada caso.

Portanto Steiner conseguiu juntar uma arte pedagógica, com a

arteterapia. É o encontro da área da saúde, com a área da educação.

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Buber (1977) afirma que a relação é o que acontece de essencial entre

os seres humanos e que, nessa dinâmica, o encontro acontece no diálogo face

a face.

Nessa busca do diálogo que requer a presença do outro, ocorre uma

dinâmica que possibilita aproximação, identidade, confronto, distanciamento

com as diferenças.

A responsabilidade do arteterapeuta e do educador, com postura

terapêutica é encontrar, respeitar a outra pessoa, em prol de uma mudança

sem exigir que o outro mude.

Considerando o pensamento de Buber, aquele que se coloca como

terapeuta (educador, psicopedagogo, arteterapeuta) não está a serviço do

paciente e do aprendiz, mas também a serviço da tarefa de curar, ensinar e

aperfeiçoar. Não esquecendo, portanto, que os recursos expressivos e as

linguagens não verbais entram a favor desse encontro EU e TU, enriquecendo

a dialógica.

Resgatamos também para reflexão de Jung (1991, p.77):

[...]encontro, uma discussão entre dois todos em que

conhecimento é usado simplesmente como

ferramenta. O objetivo é transformar não uma

transformação predeterminada, mas sobretudo uma

mudança indeterminável cujo único critério é o

desaparecimento do “egohood”. O máximo que pode

fazer é suavizar o caminho para o paciente e ajudá-

lo a obter uma atitude que ofereça o mínimo de

resistência à experiência decisiva.

Se considerarmos aprendizagem como um processo em que o sujeito,

na relação recíproca com o outro, gera transformações, o processo de “ir se

curando” está sempre presente, diante dos sentimentos de perdas, ganhos e

medo decorrentes das desconstruções e construções implícitas na dinâmica

da mudança.

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De acordo com Cionar (2005), o ato de “cura” é mobilizado e ampliado

por um processo de aprendizagem em que o sujeito acredita ser capaz de

transformar-se, de libertar-se e de se tornar construtor dos caminhos em busca

da liberdade.

Nas escolas Waldorf, o trabalho com as artes, não é só para transmitir

os conteúdos, mas transmiti-los de uma forma terapêutica. Essa pedagogia jaz

nela o terapêutico.

O ensino da música é de grande importância, ela tem o poder de atuar

sobre o ânimo dos ouvintes: pode relaxar, animar, concentrar etc.

Segundo Brunis (1998), o canto é uma expressão fundamental do ser

humano, revela as emoções e sentimentos. Se não for cultivada na infância a

voz perde a sua maleabilidade, o que corresponde a um endurecimento

anímico.

Nas escolas Waldorf, as crianças cantam na entrada, na saída e

durante algumas aulas, principalmente na aula de música onde eles batem

alguns ritmos, brincam com o som e tocam flauta.

Ainda conforme a autora, a prática de música na infância estimula a

formação de conexão cerebral, aumentando a inteligência nos seus múltiplos

aspectos. O domínio de um instrumento desenvolve a motricidade fina e leva a

um maior controle corporal, diminuindo a agressividade.

Na pintura o trabalho é feito com aquarela que estimula a imaginação.

Segundo Heide (1987, p.62), o efeito da pintura, o manejo com as

tintas, de modo geral, dirige-se ao sentido do amor e da compreensão do ser

humano. Segundo ele o “mundo desprovido de cor, é carente de alma e de

amor”. “Imaginem o mundo sem cor”.

Ainda conforme o autor, a cor é tão intimamente ligada a água quanto

à alma. Na pintura passa-se da impressão sensorial para a impressão moral,

dirige-se a cor da crítica para a crítica do coração. A pintura transvitaliza,

movimenta o coração e a respiração.

Na pedagogia Waldorf, a pintura começa na educação infantil e vai

até o ensino médio. Do exper viver das cores até os trabalhos de acordo com

as disciplinas.

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A análise das cores pode ser usada como instrumento para

compreensão dos desenhos, embora as cores sejam, muitas vezes, difíceis de

interpretar de maneira acurada, podendo ser mal interpretadas por leigo.

Alguns teóricos tem interpretação diferentes das cores, mas eles

concordam que as cores podem simbolizar alguns sentimentos, humores e até

o tom de uma relação.

Steiner (1981) diz que uma identificação com uma cor pode dar a

vida da alma uma direção especial. Essas direções podem ser usadas

terapeuticamente.

Ainda de acordo com o autor, enquanto se está diante da cor como

sujeito que contempla não se reconhece que ela é o elemento no qual a

própria alma também vive objetivamente. É justamente através das impressões

cromáticas que se participa animicamente do mundo.

Um mundo cinzento nos lançaria terrivelmente sobre

nós mesmos, deixando-nos ressecados e isolados.

O colorido do mundo introduz um movimento

libertador em nossa alma, que sem esta fecundação

diária, dificilmente alcançaria plena consciência de

seu existir. (Hauschka 1987)

Saber o caráter de cada cor e a sua importância é fundamental para um

trabalho terapêutico. O uso de certa cor ou o seu posicionamento em um

desenho pode sugerir um equilíbrio ou um desequilíbrio em nossas vidas. As

cores podem indicar a importância de fatores psicológicos ou físicos, Rudolf

Steiner descreve sobre o caráter de cada cor:

A cor azul é o “resplendor da alma”: esta pode estender-se nele

indivisa, expandir-se da prisão na terra e até mesmo tornar-se macrocósmica.

O processo de acalmar-se parte da vivência do azul, pois é a cor do lado

cognitivo de nossas faculdades anímicas. A alma inquieta pode recolher-se

para uma retrospectiva.

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Agora olhamos para o verde, o verde temos uma espécie de Verbo

Universal, que nos diz como a vida existe e vive na planta. Ao vermos como a

vida permeia o que é morto, criando através dele uma imagem, ou seja, a

imagem da planta, então sentimos o verde como a imagem morta da vida.

A cor verde, que retrata a vida terrestre da planta, possui algo

calmante isolante: faz-nos sentir o chão sob os pés.

Segundo Hauschka (1987, p.63), na terapia o verde provoca a

vivificação da organização sensorial, o processo calmante da alma e uma certa

reclusão e encontro do solo. “Os pacientes com problemas de visão

demonstram boa experiência com o verde, pois o órgão precisa reviver,

necessita de fortalecimento interior.”

Citando novamente Steiner (1981)

Quando se trata de uma cor amarela, e nela

mergulhamos, percorrendo o mundo como homens

plenos de amarelo, então nos sentimos, - nesta

vivência do amarelo, como que – permitam me dizer-

colocados no inicio da nossa era. Sentimo-nos viver

com as forças a partir das quais fomos criados ao

assumirmos nossa primeira encarnação terrestre.

Aquilo que fomos por toda a existência terrena

sentimos aparentado com o que nos vem de

encontro partindo do mundo, ao qual nós mesmos

levamos o amarelo que se nos depara.

O amarelo puro é nobre e alegre, voltado para o mundo, tanto para

presentea-lo como também para conseguir algo.

Na ótica de Hauschka, na terapia precisa ter o cuidado de não subtrair

ao amarelo sua força de união e seu alegre prazer de doar, e, portanto de

manter-se puro. “Tal como o espirito quer planar em liberdade, tampouco o

amarelo quer ser limitado: ele pode, porém, perder-se completamente nas

outras cores por tal sacrifício”.

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Segundo Steiner (1981)

[...] quando entramos para o mundo unificando-nos

com o laranja movimentamo-nos de modo que , a

cada passo avançado, sentimo-nos fortificados cada

vez mais por esse viver nas forças do laranja.”

Vivemos com o laranja para dentro do mundo.

Aprendemos então a captar a alegria de viver, no

íntimo das coisas ,unindo-as a nós.

Após o que foi dito sobre o laranja, compreende-se que o mesmo é de

grande importância na terapia artística.

De acordo com Hauschka, tal como levamos conosco diariamente o

brilho do sol poente para a noite, assim o doente deveria vivenciar mais a cor

mais forte e mais quente, porém sem exagerarem essas indicações. “A cor

laranja pintada numa grande superfície não é agradável; “podem-se pintar

corredores e escadarias de laranja porque são locais de passagem.”

O laranja é, em qualquer caso, um sentimento que se volta para fora.

No céu do entardecer recebemos a ultima saudação calorosa do sol poente

com os tons laranjas- a cena fala por si.

Segundo Steiner (1981), quando alguém percorre o mundo como o

vermelho, torna-se idêntico ao vermelho.

[...] como se todo esse mundo em vermelho

igualmente nos permeasse com a substância da ira

divina, que nos irradia de todos os lados em direção

a tudo aquilo que de possibilidade do mal e da culpa

existe em nós. Podemos sentir-nos igualmente,

nesse espaço vermelho infinito, como dentro de um

julgamento de Deus.

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Ainda conforme o autor, no caso do vermelho ocorre o fato de

podermos elevar-nos e enobrecer-nos através de todas as esferas. “Vermelho

e o resplendor da vida”.

Voltado para dentro surge o violeta como revelação da escuridão, que,

segundo Steiner no vermelho, buscamos a coragem para as metas terrestre de

todas as religiões, quando nos identificamos com o violeta na mais profunda

seriedade, e então retornamos a luz, ascendendo, por assim dizer, do violeta,

pois que atua fortificando o querer.

Hauschka diz que os doentes físicos podem perder-se no violeta e

atrapalhar-se ao pintar essa cor. Na pintura terapêutica só é utilizado com

parcimônia, e geralmente é necessário retirar o doente dessa cor, caso ele

esteja subjugado, tanto anímica como fisicamente por essa força condensada

que se retrata no violeta profundo.

Ainda conforme a autora, a pedra ametista, tem valor como auxiliar

contra a fraqueza do eu, que se anuncia especialmente através de manias, do

corpo astral não dominado. Pode-se-ia ainda mencionar que o violeta pesado

das vestes clericais representa sacrifício, penitência, subordinação

incondicional do querer próprio ao querer de Deus.

O marrom representa a “boa terra”, a terra que carrega e suporta, a

terra que tudo digere.

Segundo Hauschka, na terapia pode-se usar marrom para todas as

pessoas que perderam o chão sob seus pés. Mais jamais uma cor escolhida

terapeuticamente é usada sozinha; com ela se constrói uma imagem, de forma

que pode haver também uma conversa sobre ela. Marrom também é a veste

da penitência, da boa vontade que quer carregar o pecado com submissão. O

marrom é a cor da madeira, que nos é presenteada pelo mundo vegetal como

a substância do movimento ereto, o exemplo cósmico para a postura do nosso

eu.

Steiner (1981) diz que trabalhar terapeuticamente usando cores é

fundamental. Na pedagogia Waldorf usamos cores para a matemática, língua

portuguesa, em todas as matérias.

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Pela pintura e pelo desenho a criança é introduzida ao mundo das

forças plasmadoras. Desenvolve a sensibilidade pelas cores ao vivenciar as

cores puras em suas consonâncias e dissonâncias e tendo a experiência da

forma como de um resultado das cores. É interessante observar como as

crianças da primeira infância ficam admiradas, quando o amarelo luminoso e o

azul aquoso faz nascer o verde da planta.

Segundo Steiner, no anímico estão às origens da doença, e o mundo

das cores é a revelação dessa interioridade, que do contrário permaneceria

eternamente fechada à contemplação.

O desenho está presente em todas as atividades das crianças. Ela

utiliza os mais diferentes instrumentos para deixar sua marca: carvão, pedras

lápis e etc, sempre uma variedade muito grande de traços.

Podemos considerar o desenho quando a linguagem falada está mais

desenvolvida. No inicio os pequenos desenham de memória, mesmo que o

objeto esteja a sua frente, eles não desenham o que vêem, mas o que

conhecem. Inicia-se ai, uma função mais simbólica, da imitação, da brincadeira

livre.

Quando a criança começa a desenhar, ela pode estar pensando em

algo que já vivenciou e essa habilidade de pensar fica estimulada para criar

com mais naturalidade, ao invés de caracterizar suas marcas em figuras

universalizadas, como casinha com os mesmos telhados e portas que

conhecem nos desenhos infantis. Ela colocará em suas produções somente

coisa que conhece e que tiveram um significado especial, tornando seu

desenho singular, deixando que as informações adquiridas ao logo de sua vida

apareçam. Esse é o grande inicio para um trabalho criativo autônomo.

Além das pinturas e dos desenhos muito coloridos e elaborados,

também tem o desenho de formas, onde o educador tem como finalidade,

avivar e fortalecer o querer (as forças de vida) e também de um pensar vivo e

dinâmico.

Outra arte que é cultivada na pedagogia é a modelagem. Modelar é

criar formas, contornos. O efeito da modelagem atua nas sensações físicas e

viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma

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canalização de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo

podendo ser livre ou dirigida. A sensação de estar em contado com o barro

pode ser muito gratificante ou não. A argila age como transformadora, de um

estado de desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer a tona

conflitos indesejáveis.

De acordo com Carrano (2008), quanto maior o contato com a argila

tanto maior as possibilidades de percepção, e consequentemente o auto-

conhecimento, a relação com o mundo, possibilitando a pessoa viver mais

integrada e criativa.

Nesta pedagogia Waldorf a modelagem é feita com barro, mas a

preferência é a cera de abelha, que exige um certo esforço dos dedos para

amolecer.

Também é feito com as crianças, o pão, onde elas modelam e depois

leva para os pais e elas mesmas comem.

Nas Escolas Waldorf , as aulas começam com um verso , ou uma

poesia , que permeia, ritmicamente, dia após dia, a vida das representações.

Elas recitam em grupo.

Segundo Steiner( 2005),fazer com que as crianças “normais” ou

“anormais digam o verso em coro tem uma influência maravilhosa

harmonizadora. Especialmente em crianças que as impressões tendem a

desaparecer, será importante induzir certas impressões por meio dessa

repetição rítmica.

A poesia é também de grande importância, nessa pedagogia, pois

permeia por todas as disciplinas, além de um conhecimento cultural muito

grande dos poetas brasileiros e outros.

O teatro também é uma ferramenta usada para transmitir

conhecimentos e para a arteterapia, uma vez que ele engloba vários artifícios

que podem ser utilizados de modo terapêutico, como o ato de representar, que

possibilita a expressão corporal e exteriorização de sentimento.

Ao apresentar peças de teatro sobre uma determinada época histórica

o aluno se envolve completamente, ganhando experiências também nos

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campos da língua, da música, da expressão corporal, da dinâmica de grupo e

etc.

Nas Escolas Waldorf, os alunos fazem essas apresentações teatrais

e ocupam o palco para recitações em coro falado, música, euritimia e

dramatizações. Nesse trabalho conjunto cada um depende de todos os outros.

A jardinagem está em várias séries, e é matéria obrigatória, uma

atividade que desenvolve o interesse pela natureza e a expervivência de

atividade humanas elementares como adubar, semear, colher e comer o fruto

de tanto trabalho.

Os contos de fadas são de grande importância nessa pedagogia e

considerado um excelente adjuvante pedagógico e terapêutico, mas só os

autênticos contos populares têm essa função. Entre eles os contos dos Irmãos

Grimm, uma coletânea de velhos contos populares anotados pelos dois

cientistas.

Segundo Lanz (1979), os velhos contos populares tem seu valor no

conteúdos que transmite, numa forma imaginativa, verdades e realidades de

ordem espiritual cujo objetivo é a evolução espiritual da humanidade e do

indivíduo.

Já Hauschka ( 1987, p.86), diz que “o que o leite significa para a

criança é o mesmo que os contos representam para a alma humana, que por

toda a vida deveria conservar forças da infância.”

Os contos autênticos nos leva ao passado antes do nascimento.

Muitos falam figurativamente da vida pré-natal e do caminho da alma para a

terra, para dentro da encarnação (“ irmãozinho e irmãzinha”, “João e Maria”,

Branca de Neve” etc). Estes caminhos estão cheios de perigos, e há sempre

que solucionar tarefas e conquistar o mais elevado pertencente a si próprio.

Segundo Hauschka, o príncipe e a princesa são nosso lado anímico-

espiritual mais superior. Os contos satisfazem, por seu conteúdo veraz, às

profundezas da alma, mesmo que o intelecto apenas lhes dê credito artístico, e

as vezes nem isso.

Para as crianças, os contos são um alimento inexaurível. Numa

determinada idade mostram em suas imagens, as tendências e anseios que,

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inconscientemente, desenham-se na alma infantil, gravando em seu

subconsciente ideias e anseios que mais tarde, transformam-se naturalmente

nos ideais e aspirações da vida.

O tratamento da temática dos contos está latente no instinto lúdico;

Schiller o descreve como sendo aquela esfera onde somos totalmente

humanos, nem estreitados por leis nem tocados por paixões ou desejos

egoístas. Movimentando-nos livremente através de todas as metamorfoses,

preparamo-nos para vencer todos os perigos no caminho de nosso eu, como o

príncipe que é ajudado pêlos animais e pêlos seres elementares quando tem o

coração puro.

A arte é um meio de envolver além do intelecto, as forças emocionais

e corporais, tudo que é transmitido através da arte fica na alma do educando.

A Pedagogia Waldorf dá uma formação global aos alunos para

receberem um intenso cultivo do senso de responsabilidade social. Este se

combina perfeitamente com ênfase dada à personalidade. Na base das suas

múltiplas vivências, o aluno possui uma rica escala de valores, sem prejuízo do

seu espírito crítico, da sua honestidade e da coragem para atacar problemas e

para lutar em prol de ideias. A classe em que passa muitos anos, é uma

imagem do convívio social que o espera na vida adulta; a luta contra a seleção

conduz à compreensão dos colegas que são diferentes e, segundo os cruéis

critérios das escolas tradicionais, o coleguismo, no lugar da ambição, produz o

prazer de ajudar o colega, ao invés de pisoteá-lo.

Nos países em que já existe uma tradição da Pedagogia Waldorf, os

ex-alunos são preferidos para os cargos de responsabilidade na industria e na

administração em geral, por causa de sua maior criatividade, fantasia e

disposição para combater os problemas.

A arteterapia, resgata desenvolve e amplia o potencial criativo do

sujeito, através do processo terapêutico tendo a arte como fator essencial

fundamental do seu existir.

Juntar a pedagogia e a arteterapia não é uma tarefa muito fácil, mas Dr.

Steiner conseguiu. Ele criou uma pedagogia onde é utilizado a arte, para

educar, ensinar e curar.

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O desafio de uma reflexão e de uma prática que integram pedagogia e

arteterapia, construindo projetos no âmbito da arteterapia institucional, é criar

novas e diferentes condições de aprendizagem e de ensino, numa co-

participação dialogal.

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CONCLUSÃO

Pensar na importância da arte nos remete a diversas abordagens

existentes, como a cultural, a educacional e a psicológica. A criança é um ser

social, desde que nasce e é inserida na cultura de sua família. Ela transporta

suas experiências, suas atitudes e seus valores para outros contextos

próximos, como a escola. A criança não deve ser entendida como alguém

que será um dia, pois ela já é hoje, e continuará sendo na medida em que

interagir nos mais diversos contextos.

Através da pedagogia Waldorf e a arte, a criança adquire uma

aprendizagem que vai além da proposta de conhecimento que as escolas

costumam pregar. Com isso a amplitude do seu saber ultrapassará qualquer

barreira tradicional e social.

A aprendizagem não deve ser de forma rígida, pois esta não permite

que os objetivos da educação sejam alcançados. É essencial o educador

gostar daquilo que faz, pois somente assim poderá fazer bem-feito.

A pedagogia Waldorf aparece para mudar o modo de aprendizagem,

transformando-a em um ato prazeroso, facilitando uma mudança no ser

humano e ajudando na melhoria dos resultados educacionais para ajudar o

indivíduo a ter consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade.

Permitir que a criança tenha espaço para criar é uma demonstração de

respeito. Proporciona interações, o encontro do que ela é buscando

compreendê-la efetivamente nas atividades. Desse modo, fica clara a

importância da arte no âmbito escolar.

É por meio das artes e dos elementos artísticos que a criança interage

com regras, valores, modos de agir e pensar, relacionando-se com o outro e

em grupos possibilitando o desenvolvimento de seus processos psíquicos e

contribuindo para o conhecimento de diferentes maneiras do viver humano.

Em síntese, pode-se dizer que a arte e os elementos artísticos podem

contribuir muito com a educação e saúde. Sendo um dos caminhos mais

interessantes que pode ser oferecido às crianças de qualquer idade e faixa

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sócio-econômica, pois é fundamental o espaço com arte na instituição escolar

e na vida das crianças.

Estamos em um tempo onde a educação deve procurar novas

metodologias que os educandos aprendam com mais alegria e amorosidade.

Nós achamos que esse novo modelo educacional trazido por Rudolf Steiner,

essa pedagogia, é completa, pois abrange cultura, desenvolvimento motor,

desenvolvimento emocional e social.

Dessa forma vimos que é possível fazer a união da pedagogia com a

arteterapia, onde podemos usar a arte como recurso pedagógico e terapêutico.

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Ampliação da Arte de Curar. São Paulo: Associação Beneficente Tobias,1979

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Pedagógica Rudolf Steiner, 1966.

VILLA, Heitor Lobos. Citação. Rio de Janeiro: Museu Villa-Lobos.1965.

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ATIVIDADES CULTURAIS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A PEDAGOGIA WALDORF 11

CAPÍTULO II

OS ELEMENTOS DA TERAPIA ARTÍSTICA 17

CAPÍTULO III

A ARTETERAPIA E A PEDAGOGIA WALDORF 24

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: A PEDAGOGIA WALDORF E A ARTE

Autor: Maria de Fátima de Oliveira

Data da entrega: 31/01/2009

Avaliado por: Conceito: