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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O surrealismo dos desenhos Por: Gabriela Veloso Bacharach Orientadora Prof. Dayse Serra Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O surrealismo dos desenhos

Por: Gabriela Veloso Bacharach

Orientadora

Prof. Dayse Serra

Rio de Janeiro

2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O surrealismo dos desenhos

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito final para obtenção

do grau de especialista em Arteterapia em educação

e saúde

Por: Gabriela Veloso Bacharach

3

AGRADECIMENTOS

.... Aos meus pais e meu marido

Gustavo, que sempre acreditam em

mim.

4

RESUMO

O tema dessa monografia é o desenho vindo do inconsciente e decorre

da seguinte questão central: como o tratamento de alguns pacientes pode ser

mais eficaz quando são usados desenhos espontâneos, vindos do

inconsciente. O desenho pode trazer conteúdos psíquicos inconscientes muito

importantes para a estabilização dos quadros até mais complicados.

No decorrer dos capítulos, a monografia pretende mostrar e

contextualizar alguns pontos da História da Arte, que trabalham com propostas

vindas do inconsciente, como o Surrealismo e alguns de seus seguidores.

Estudaremos também como o nosso inconsciente trabalha e como é capaz de

ajudar no ato de criar do ser humano. Abordaremos a interpretação de alguns

desenhos inconscientes, identificar desenhos que expressam esse

inconsciente e por fim, o desenho como agente de cura, usado pela arteterapia.

5

METODOLOGIA

Esta monografia trata de uma pesquisa bibliográfica pelo fato de que os

métodos utilizados para obter o conhecimento da solução do problema foram

através de referências ao assunto estudado em livros e periódicos

(considerados material científico). A metodologia utilizada foi com enfoque

empírico por se tratar de ideias e conceitos científicos que foram

fundamentados com base em livros e periódicos (considerados material

científico)

Os principais autores utilizados na realização desta monografia foram

Carl Gustav Jung, Gregg M. Furth, Vanessa Coutinho, Maria Cristina

Urrutigaray, Cathrin Klingsohr-Leroy.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I – O INCONSCIENTE, 09

SEU FUNCIONAMENTO E SUAS IMAGENS

CAPÍTULO II - A INCONSCIÊNCIA DO SURREALISMO 16

CAPÍTULO III – O DESENHO EXPRESSO PELO INCONSCIENTE 20

CAPÍTULO IV – A ARTETERAPIA E O DESENHO 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS 38

INDICE 39

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INTRODUÇÃO

Existe pouca informação sobre o uso dos desenhos no tratamento

arteterapêutico, por isso, os objetivos dessa monografia são o reconhecimento

da importância dos conteúdos psíquicos, que aparecem diretamente nos

desenhos produzidos pelos pacientes. Esses conteúdos psíquicos trazem

informações sobre o indivíduo que o faz e muitas vezes até sobre a relação

que o cerca, envolvendo muitas vezes todos os integrantes da família.

Conhecer na arte obras e conceitos que trabalham com os conteúdos

psíquicos também faz parte dessa monografia. Alguns artistas, ao longo da

história, colocam inconscientemente seus conteúdos psíquicos em suas obras,

já que o desenho é uma das formas de alcanço do inconsciente. Mas, alguns

artistas, que serão estudados mais especificamente, fizeram parte de um

movimento artístico, onde a maior preocupação é a busca do material do

inconsciente, o surrealismo.

A fundamentação teórica da presente monografia está dividida em 4

capítulos. O capítulo I conceitua e contextualiza o Surrealismo, movimento

artístico que trabalha principalmente com o conceito dos conteúdos psíquicos,

estudando os principais artistas do movimento. O capítulo II aborda de forma

simples, pois não é o principal objetivo desta monografia, o funcionamento do

inconsciente e suas imagens. O capítulo III vem com o propósito de abordar o

desenho, as fases do desenho humano, a relação humana com o desenho

desde a infância e as interpretações dos desenhos, como elas podem ser

realizadas. Por fim, o capítulo IV mostra como a arteterapia pode utilizar o

desenho para a cura ou ajuda no tratamento de pacientes. Conceituaremos a

arteterapia, as formas e atividades que podem ser utilizadas no processo,

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usando o desenho, e os diversos tratamentos realizados a partir dos conteúdos

psíquicos importantes transmitidos pelos desenhos.

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CAPÍTULO I

O INCONSCIENTE, SEU FUNCIONAMENTO E SUAS IMAGENS

1.1 O funcionamento do inconsciente

Depois de muito estudo, Freud concluiu que o comportamento humano

não pode apenas ser baseado na existência apenas do consciente. Para

entendermos esse comportamento teríamos que afirmar a existência do

inconsciente, uma zona do psiquismo constituída pelos desejos.

Alguns autores definem a zona do psiquismo comparando-a com um

iceberg. O consciente corresponderia à parte vista do gelo, que fica por cima, já

o inconsciente seria a parte que não se vê, mas exerce uma forte influência no

comportamento.

Desejos e pulsões são recalcados, assim, esse recalque assume o papel

de um mecanismo de defesa, devolvendo ao inconsciente tudo o que deve

tornar-se consciente.

O inconsciente freudiano não é uma substância espiritual, contrafação da res congitans cartesiana, nem é um lugar ou uma coisa. O termo “conteúdo do inconsciente” não designa uma relação de conteúdo a continente análogo a quando dizemos que o copo contém água. Dizer que uma representação é inconsciente não significa outra coisa senão que ela está submetida a uma sintaxe diferente daquela que caracteriza a consciência. O inconsciente é uma forma e não um lugar ou uma coisa. Melhor dizendo: ele é uma lei de articulação e não a coisa ou o lugar onde essa articulação se dá. (GARCIA-ROZA, 2009, p.174).

O inconsciente está estruturado com uma linguagem. O termo

inconsciente empregado antes de Freud determinava só aquilo que não era

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consciente, mas nunca algo que tinha uma linguagem e funcionamento próprio,

independente.

Freud declara enfaticamente que não há nada arbitrário nos acontecimentos psíquicos, todos eles são determinados. A diferença está em que não há uma determinação única. (GARCIA-ROZA, 2009, p.170).

O inconsciente, portanto, é estruturado, possui uma ordem, é uma

linguagem. Freud diz que encontramos o inconsciente nas lacunas e

manifestações da consciência. Nessas manifestações encontramos as

primeiras “formações do inconsciente”, chamado assim por Lacan, seguindo

Freud. Essas “formações do inconsciente” podem ser os sonhos, o lapso, o ato

falho, etc.

Neles, o sujeito sente-se como que atropelado por um outro sujeito que ele desconhece, mas que se impõe a sua fala produzindo trocas de nomes e esquecimentos cujo sentido lhe escapa. É essa perplexidade e esse sentimento de ultrapassagem que funcionarão como indicadores para o sujeito (sujeito da enunciação ou sujeito do significante). (GARCIA-ROZA, 2009, p.171).

Freud se refere a essa dualidade de sujeitos com exemplos da sua

própria vida. Diz que quando são notadas em si mesmo manifestações que não

são ligadas ao resto de sua vida mental, essas manifestações pertencem a

outrem, sendo esse outrem seu inconsciente.

Os sonhos são para Freud a primeira demonstração dos motivos

inconscientes. Segundo Freud todos os conflitos psíquicos nascem entre o

princípio de realidade e o princípio do prazer. No ato de dormir estão presentes

algumas forças como, resíduos do nosso dia-a-dia, nossa energia tranqüilizada

pelo estado de sono, o desejo inconsciente traz uma energia psíquica que

constrói o sonho, e junto com a energia de censura, que conduz a nossa vida

cotidiana, e não é totalmente finalizada durante o sonho.

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Os fenômenos lacunares são, portanto, indicadores de uma outra ordem irredutível à ordem consciente e que se insinua nas lacunas e nos silêncios desta última. Essa outra ordem é a do inconsciente, estrutura segunda, e que não é apenas topograficamente distinta da consciência, mas é formalmente diferente desta. O inconsciente não é o mais profundo, nem o mais instintivo, nem o mais tumultuado, nem o menos lógico, mas uma outra estrutura, diferente da consciência, mas igualmente inteligível. (GARCIA-ROZA, 2009, p.173).

1.2 O inconsciente simbólico

Os indicadores da existência do inconsciente são os fenômenos

lacunares, as manifestações, como os sonhos, os chistes, etc. São esses

fenômenos que nos dizem e afirmam a existência de um sistema inconsciente.

O que define, portanto o inconsciente não são os seus conteúdos, mas o modo segundo o qual ele opera, impondo a esses conteúdos uma determinada forma. (GARCIA-ROZA, 2009, p.175).

O inconsciente tem um caráter simbólico, capaz de responder assim às

exigências de uma psicoanálise.

O inconsciente está sempre vazio; ou, mais exatamente, ele é tão estranho às imagens quanto o estômago aos alimentos que o atravessam. Órgão de uma função específica, ele se limita a impor leis estruturais, que esgotam sua realidade, a elementos inarticulados que provêm de outra parte: pulsões, emoções, representações, recordações. (op. Cit., pp. 234-235) (GARCIA-ROZA, 2009, p.175).

Os fatos sociais são simbólicos, por isso, podemos afirmar que estamos

inseridos também em uma cultura simbólica, com a linguagem, a arte, a

ciência, o matrimônio, etc. A cultura foi produzida pelo humano, as suas

relações, suas leis e formas de viver dentro dela. Cada povo acredita e é regido

por uma sociedade, que tem a sua cultura.

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É o pensamento simbólico que constitui o fato cultural ou social. Só há o social porque há o simbólico. (GARCIA-ROZA, 2009, p.175).

A função simbólica então, resulta em um conjunto de leis. Se dissermos

que o inconsciente obedece à função simbólica, este então, também se reduz a

um conjunto de leis.

A linguagem é um instrumento do consciente, já o inconsciente age

pelas imagens, representações imagéticas. Quando pensamos em alguma

palavra, por exemplo, cadeira, logo nos vem à mente a palavra cadeira

relacionada com a imagem de uma cadeira. No inconsciente essa palavra não

existiria e sim apenas a sua imagem.

A representação (Vorstellung) consciente abrange a representação da coisa mais a representação da palavra que pertence a ela, ao passo que a representação inconsciente é a representação da coisa apenas. O sistema Ics contém as catexias da coisa dos objetos, as primeiras e verdadeiras catexias objetais; o sistema Pcs ocorre quando essa representação da coisa é hipercatexizada através da ligação com as representações da palavra que lhe correspondem. (Freud, v.XIV, p. 230) (GARCIA-ROZA, 2009, p.177).

O inconsciente é visto por Freud como um lugar, não um lugar

anatômico, mas sim um lugar psíquico, feito por representações. Essas

representações são divididas em representações de palavras e de coisas.

Vimos que a representação de palavras é exclusiva dos sistemas Pcs, já o

inconsciente é apenas constituído das representações de coisas.

O simbólico é o mediador da realidade e ao mesmo tempo o que constitui o indivíduo como indivíduo humano. (GARCIA-ROZA, 2009, p.184).

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1.3 As imagens produzidas pelo inconsciente

Tanto as imagens oníricas como as imagens imaginadas são produzidas

em um espaço hipotético, chamado de inconsciente. O desenho e os sonhos

são os principais canais do inconsciente.

As imagens criadas plasticamente ou nos sonhos são cheias da energia

psíquica do indivíduo, que representam as emoções, os recalques e os

impulsos.

Lacan diz que o sonho é um “enigma em imagens” e as “imagens dos

sonhos só devem ser consideradas pelo seu valor significante”.

A imagem não é ela mesma portadora de seu significado. Significante e significado são duas ordens distintas, constituindo duas redes de articulações paralelas. Há um deslizamento incessante do significado sob o significante e é a rede do significante, pelas suas relações de oposição, que vai constituir a significação do sonho. (GARCIA-ROZA, 2009, p.187).

O sonho e os desenhos vindos do inconsciente são sempre uma forma

fantasiada de reproduzir desejos. Esses recalques e essas censuras

produzidas em cima dos desejos fazem com que os sonhos sofram uma

deformação, chamada de deformação onírica. Sempre quando acordamos e

lembramos-nos dos nossos sonhos, eles já sofreram uma deformação. Essa

deformação tem como papel proteger o sujeito do caráter ameaçador dos

desejos.

Os sonhos e os desenhos são bem parecidos em suas ligações com o

inconsciente. São as formas mais rápidas de acesso a esse inconsciente. Os

sonhos e os desenhos são divididos em dois registros. No caso dos sonhos, o

correspondente ao sonho lembrado e contado pelo sujeito e o sonho oculto,

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que precisa de interpretação para ser atingido. Já no desenho, temos o

desenho exposto e dito pelo sujeito, e os símbolos ocultos criados por ele, que

devem ser interpretados também.

Para Freud, a questão do sentido do sonho prende-se aos vários elementos oníricos que funcionam como significante e que, uma vez estruturados, fornecerão o sentido do sonho. (GARCIA-ROZA, 2009, p.64).

As partes omitidas ou transmitidas com estranhamento são indícios de

sua ação. Em um sonho, sempre haverá, por parte do sujeito, uma

deformação, servindo como uma proteção ao próprio sujeito, como já vimos

anteriormente. Essa elaboração onírica, explicada como essa distorção que os

torna inacessíveis ao sujeito, tem por objetivo uma cifra aos pensamentos

oníricos. Já a interpretação tem seu papel inverso, decifrar essa elaboração, o

porquê dessas partes serem omitidas ou transmitidas com estranhamento.

Freud explica quatro mecanismos fundamentais para a interpretação de

sonhos: condensação, deslocamento, figuração e elaboração secundária.

A condensação (Verdichtung) diz respeito ao fato de o conteúdo manifesto do sonho ser menor do que o conteúdo latente, isto é, de o conteúdo manifesto ser uma “tradução abreviada” do latente. (GARCIA-ROZA, 2009, p.67).

o deslocamento é obra da censura dos sonhos, e opera basicamente de duas maneiras: a primeira, pela substituição de um elemento latente por um outro mais remoto que funcione em relação ao primeiro como uma simples alusão; a segunda maneira é quando o acento é mudado de um elemento importante para outros sem importância, é uma forma de descentramento da importância. (GARCIA-ROZA, 2009, p.68).

O terceiro mecanismo da elaboração onírica é a figuração ou consideração a figurabilidade (Rücksicht auf Darstellbarkeit). Consiste ela na seleção e transformação dos pensamentos do sonho em imagens. Freud chama atenção para o

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fato de que essa transformação não afeta a totalidade dos pensamentos oníricos; alguns deles conservam sua forma original e aparecem no sonho manifesto também como pensamentos. Esse mecanismo é, por si só, um dos responsáveis pela distorção resultante da elaboração onírica. (GARCIA-ROZA, 2009, p.68).

a elaboração secundária, que consiste numa modificação do sonho a fim de que ele apareça sob a forma de uma história coerente e compreensível. A finalidade da elaboração secundária é fazer com que o sonho perca a sua aparência e absurdidade, aproximando-o do pensamento diurno. (GARCIA-ROZA, 2009, p.68).

Não podemos apenas ter uma única interpretação de um sonho, e é por

isso que um mesmo sonho pode remeter a diversos pensamentos.

O nome desses diversos pensamentos sobre um mesmo conteúdo

manifestado pelo sonho é a sobrederminação, que não é característica apenas

do sonho, e sim de toda formação inconsciente.

Tem sempre uma segunda interpretação opondo-se a primeira. O nome

desse movimento é superinterpretação. Não temos a superinterpretação para

corrigir a interpretação original, dizendo que esta está incorreta, pois não há

interpretação incorreta, mas sim dando um outro significado ao sonho.

A energia psíquica quando não levada para as profundezas do

inconsciente, torna-se consciente e é usada pela consciência, provocando no

indivíduo a busca pela realidade, transformando-o.

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CAPÍTULO II

A INCONSCIÊNCIA DO SURREALISMO

2.1 Surrealismo

Os surrealistas tinham uma principal função: quebrar o paradigma que a

arte tinha. Esse paradigma dizia que a arte deveria apenas imitar a natureza.

Já os surrealistas criaram um conceito onde suas obras quebravam

completamente esse conceito. Eram obras mostrando conteúdos de um

inconsciente pouco estudado, obras mostrando a arte pela arte.

SURREALISMO, substantivo. Automatismo puramente físico através do qual se pretende expressar, verbalmente, por escrito, ou de outra forma, a verdadeira função do pensamento. Pensamento ditado na ausência de qualquer controle manifestado pela razão, e fora de quaisquer preocupações estéticas e morais. (LEROY, 2007, p.6)

O nascimento do movimento surrealista se deu por alguns acontecimentos

históricos muito importantes. A Primeira Guerra Mundial foi responsável pelas

mudanças na sociedade, transformando-a. Essa sociedade foi muito criticada

pelos surrealistas, uma sociedade material e racional, com um estilo de vida

superficial. O surrealismo não foi um movimento só das artes e da literatura, ele

traria uma mudança social e psicológica para a sociedade, além de indagações

sobre a existência.

... a obra de arte não deve ter nem razão nem lógica. À sua maneira, ela aborda o sonho e a mente da criança. (LEROY, 2007, p. 32).

Sigmund Freud começa a realizar estudos sobre o inconsciente. Esses

estudos estimulam André Breton, organizador do movimento surrealista. André

Breton traduz a contribuição de Freud sobre o subconsciente em metodologias

artísticas e literárias, inspirando outros nesta luta contra uma cultura ameaçada

pelo racionalismo imposto.

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Na pintura, tivemos o primeiro artista a chamar a atenção de Breton pelo

uso de conceitos surrealistas em suas obras. Giorgio de Chirico se afasta

totalmente da realidade em suas obras, e isso, é um dos principais pontos

destacados por Breton para a pintura surrealista.

Era ambição de Giorgio de Chirico (1888-1978), um grego filho de pais italianos, captar sensações de estranheza que pode nos dominar quando nos deparamos com o inesperado e o inteiramente enigmático. (GOMBRICH, 1999, p.589)

As pinturas surrealistas eram sempre representacionais. Alguns artistas

como Joan Miró, por mais abstratos que pareciam ser, sempre sugerem um

tema para as suas obras, trabalhavam em prol de uma imagem interna,

representando uma visão interior.

Para os seus aderentes, o Surrealismo era uma forma de vida, uma espécie de existência que deixava espaço para a brincadeira e para a criatividade. Tratava-se de viver para o momento, com espontaneidade e liberdade intelectual interna e falta de materialismo, tudo o que se opunha totalmente aos valores da burguesia. (LEROY, 2007,p.16)

Após alguns acontecimentos, a mídia da época denuncia o “escandaloso

comportamento” dos surrealistas, declarando que eles deveriam ser

desprezados pelo público por suas ações anti-burguesas e anarquistas.

As obras surrealistas apresentavam combinações complexas de objetos

não relacionados, ligados ao método desconcertante e complicado do

surrealismo. Dizia Dali:

A realização dos actos, o prazer que é inexplicável, ou que nos contam as falsas teorias maquinadas pela censura e pela repressão. Em todos os casos analisados, estes actos respondem a fantasias e desejos claramente manifestados.(LEROY, 2007, p.20).

René Magritte dizia que o surrealismo era uma ruptura com o tradicional,

com os hálitos mentais de artistas prisioneiros de seu talento e da estética. O

surrealismo era um movimento de imagens oníricas, mas com uma técnica

surpreendente, exibidas com títulos confusos e inexplicáveis. Os artistas

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surrealistas não copiam a realidade e sim criam uma nova, como fazemos nos

nossos sonhos.

A arte não poderia ser guiada pela razão inteiramente desperta. Os artistas

surrealistas estudavam como esse estado mental, que alcança o

profundamente oculto do inconsciente poderia vir à superfície com maior

facilidade. Chegaram a conclusão de que o artista não pode planejar seu

trabalho, como dizia o artista Paul Klee, e sim deve deixá-lo crescer.

Nos sonhos, com freqüência experimentamos a estranha sensação de que pessoas e objetos se fundem e trocam de lugar. Nosso gato pode ser ao mesmo tempo nossa tia, e o nosso jardim pode ser a África. (GOMBRICH, 1999, p. 592)

O movimento surrealista tem como herança algumas ideias do movimento

dadaísta, que já trazia para a arte moderna uma proposta mais solta, irracional,

absurda, incoerente, enfatizando o ilógico, combinando elementos e

acreditando sempre no acaso da obra.

É o literato francês André Breton, admirador das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, quem assina em 1924 o primeiro Manifesto do Surrealismo. O papel da arte é, pois, o de exprimir aquilo que se esconde no inconsciente, através de processos de “automatismo psíquico puro”. O artista deixa vaguear o pensamento, anula os freios inibidores, recolhe ideias, palavras, imagens, agora reunidas em livres e casuais associações. (SCALA GROUP, 2009, p. 39).

Salvador Dalí, um dos principais artistas desse movimento, pintava com

tamanha precisão e detalhamento, que era possível perceber alguma relação

com a realidade em suas obras oníricas e loucas. Representava exatamente

como em um sonho, onde algumas imagens aparecem claramente em nossa

mente, enquanto outras são mais difíceis de serem identificadas,

permanecendo vagas e evanescentes.

Nas suas memórias, onde Dali conta de forma relativamente extensa como a pintura começou a existir, ele não aborda o conteúdo simbólico. Ele vai até ao ponto de afirmar que o seu significado enigmático e conteúdo inconsciente estavam escondidos até mesmo para ele. (LEROY, 2007, p.38).

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Na maioria das pinturas do passado, tudo representado tinha alguma

relação com a natureza, ou seja, ao usar cores e formas, os artistas faziam

com que seus quadros significassem um tronco, ou uma folha. O modo de

pensar e pintar de Dalí fazia com que cada coisa, cor ou forma, pudessem

representar mil outras, ao mesmo tempo, fazendo com que sua obra tivesse

muitos significados e interpretações.

As obras de Salvador Dalí tinham construções de sua própria mente,

complexas e enigmáticas. Na maioria de suas pinturas, pode-se notar um

sofrimento envolvendo o próprio artista, como a figura central da obra. Ele não

capta somente a irrealidade do sonho, mas também a sua complexidade.

Não sou eu que sou o palhaço, mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão inconscientemente ingênua, que joga o jogo da seriedade para melhor esconder a sua loucura. (LEROY, 2007, p.36).

Os artistas surrealistas buscavam expressar, sem nenhuma preocupação

estética e com regras propostas pela arte anterior, uma obra que compusesse

a forma dos sonhos, do erotismo recalcado, das paranóias, dos fantasmas

mais escondidos pela mente. Mas, nem sempre, essa obra é figurativa. Alguns

artistas encontram nas formas, nas linhas, nas cores e na abstração, também

uma forma de atingir o universo do surrealismo.

A obra surrealista mostra o desejo mais íntimo, o recalque sexual, a

imoralidade, sem nenhuma descrição. Segundo os surrealistas, a arte deve se

libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana.

Surrealismo como movimento visual expunha a verdade psicológica ao

despir objetos ordinários de sua significância normal, a fim de criar uma

imagem que ia além da organização formal ordinária.

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CAPÍTULO III

O DESENHO EXPRESSO PELO INCONSCIENTE

3.1 Desenhos em diferentes fases do ser humano

Na infância, quando somos crianças, começa o nosso desenvolvimento

expressivo, que pode ser divididos em algumas fases. A primeira fase seria a

fase das experiências primárias, onde prevalece na criança o cheiro, o toque,

as texturas, o movimento, as sensações. Nessa fase a criança se relaciona

com o mundo através dos símbolos já conhecidos por eles.

Convive, sente, reconhece e repete os símbolos do seu entorno, mas não é, ainda, um criador intencional de símbolos. Sua criação focaliza a própria ação, o exercício, a repetição. (MARTINS, 1998, p. 96)

Para que a criança compreenda o mundo, ela precisa de referências, só

assim, a criança cria seus símbolos, que serão usados futuramente em outras

perspectivas e interpretações. A criança só consegue definir, identificar e criar

situações, se esses símbolos já fizerem parte da vida dela, com os objetos

reconhecidos. Por trás de todas as nossas percepções e identificações do

mundo, estão nossas experiências anteriores. Cada pessoa vai adquirindo, ao

longo da vida, experiências individuais a partir também de referências culturais,

que trarão as significações para si.

Nossa penetração na realidade, portanto, é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos. O mundo por sua vez, tem o significado que construímos para ele. Uma construção que se realiza pela representação de objetos, ideias e conceitos que, por meio dos diferentes sistemas simbólicos, diferentes linguagens, a nossa consciência produz. (MARTINS, 1998, p. 37)

Em um primeiro momento a criança se expressa através dos desenhos

chamados garatujas. As garatujas são os primeiros rabiscos da criança, podem

ser gráficos, sonoros ou corporais. A criança não busca a representação da

realidade, ela apenas é tocada pelas cores, texturas e formas.

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Para a pesquisadora Rhoda Kellogg (1985), todos os futuros desenhos de um indivíduo serão construídos a partir dos movimentos iniciados na infância e registrados no papel ou na massinha. (MARTINS, 1998, p. 99)

Nesse primeiro momento a criança apenas se interessa em

experimentar o material, em qualquer linguagem. Ela não cria signos de forma

consciente, mas como está rodeada de símbolos do mundo, ela já lê e imita

esses símbolos.

A imitação é uma forma importante de

aprendizagem (MARTINS, 1998, P. 101)

No segundo movimento vivido pela criança podemos observar o símbolo

como papel importante nesse desenvolvimento. Essa fase, chamada por

muitos teóricos de fase simbólica, é onde a criança começa a criar os próprios

símbolos, em diferentes linguagens. Temos o faz-de-conta, jogos simbólicos,

com papel importante nesse movimento, pois a criança usa os símbolos já

conhecidos, para agora criar. Brincar de inventar, inventar uma nova realidade,

faz com que a criança simbolize, criando a representação de objetos, cenas e

personagens que estão ausentes.

O desenho vai se transformando de uma forma mais lenta. As crianças

têm seu primeiro contato com a linguagem escrita, então os rabiscos vão se

transformando em letras, e assim, surgem também as primeiras figuras

humanas. Essas figuras humanas consistem em um círculo com olhos, nariz e

boca.

A grande cabeça / corpo de onde saem os braços e as pernas parece mesmo ser gerada do sol. É fácil ver como os primeiros desenhos de figura humana os cabelos se parecem muito com os raios, estão quase sempre espetados, e as pernas e os braços são apenas prolongamentos maiores desses raios. (MARTINS, 1998, p. 105)

É nesse movimento que a criança experimenta e cria símbolos em

linguagens diferentes. A partir dessa fase e desses símbolos construídos, a

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criança terá mais facilidade para criar e inventar possibilidades futuramente.

Quando isso não é oferecido para a criança, essa possibilidade de

conhecimentos e essa liberdade de expressão, é provável que essa criança se

torne repetidora de modelos.

No terceiro movimento do desenvolvimento do desenho infantil, a

criança está no ápice da sua busca pelos signos do mundo. A criança registra

tudo o que for possível, com mais fidelidade à realidade vista, e busca soluções

gráficas para registrar o que vê. Nesse momento a preocupação estética está

mais forte nos desenhos. Surge a linha horizontal do desenho, que simboliza o

chão, podendo ser a própria margem da folha ou uma linha desenhada no meio

dela. Existe uma maior preocupação em representar o espaço em uma forma

tridimensional. A criança não desenha mais em partes e sim, parte para o todo.

É uma única linha que faz surgir o desenho.

Levamos desse terceiro movimento expressivo a invenção de relações e regras que geram critérios próprios, na busca de soluções criativas que vão alimentando um pensamento criador com maior autonomia. (MARTINS, 1998, p. 114)

3.1.1 Relação ser humano e desenho

A comunicação entre as pessoas pode ser vista desde a pré-história.

Cada vez mais o homem descobre novas formas para se comunicar por meios

que não utilizem apenas as palavras, os códigos.

Desde a época em que habitavam as cavernas, o ser humano vem manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies, movimentos, luzes, etc., com a intenção de dar sentido a algo, de comunicar-se com os outros. (MARTINS, 1998, p. 14)

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Muitas outras formas de comunicação e leitura do mundo podem ser

utilizadas no lugar da palavra. A dança, a música, a arte, o cinema, são

algumas formas que o ser humano encontrou para não utilizar somente a

palavra na comunicação. Outras linguagens conseguem alcançar conteúdos

inconscientes e emocionais como muito mais facilidade do que apenas as

palavras.

Para nos apropriarmos de uma linguagem, entendermos, interpretarmos e darmos sentidos a ela, é preciso que aprendamos a operar com seus códigos. Do mesmo modo que existe na escola um espaço destinado à alfabetização na linguagem das palavras e dos textos orais e escritos, é preciso haver cuidado com a alfabetização nas linguagens da arte. (MARTINS, 1998, p.14)

O ser humano tem na sua essência uma vontade imensa de expressar

suas vontades e faz isso de diversas formas diferentes. Existem pessoas que

preferem se expressar através da escrita, com a literatura, por exemplo, outras,

através da palavra oral, outras, pela arte. Diversas linguagens foram

descobertas pelo homem para haver a comunicação com o mundo. O homem

as utiliza de diferentes maneiras e conceitos. Na arte, uma das formas muito

utilizadas para expressar e provocar a emoção é o desenho. A partir do

desenho, emoções, expressões e linguagens são provocadas facilmente. Por

isso, no estudo arteterapêutico, podemos utilizar o desenho para resgatar

conteúdos do inconsciente.

Algumas pessoas preferem a linguagem artística, pois não têm uma

capacidade tão grande de elaboração de uma linguagem oral ou escrita, por

isso, é bom que possam utilizar diferentes instrumentos e canais para

expressar sentimentos.

Por vezes, uma imagem consegue provocar reações mais intensas do que as palavras, e parece carregar em si mesma tantas mensagens subjacentes, que é capaz de causar emoção tanto em quem a criou como em quem a aprecia. (Coutinho, 2009, p. 43)

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3.2 Interpretando os desenhos

Cada desenho, de cada pessoa, pode ser interpretado de diferentes

formas. O desenho é individual e cada um tem o seu valor simbólico, trazendo

com ele, assim como o sonho, símbolos do inconsciente, que podem ser úteis

como agentes de cura. O inconsciente é representado na arte pelos desenhos

e símbolos.

Compreendendo que os símbolos presentes no desenho surgem do

inconsciente, podem fazer com que esses símbolos sejam interpretáveis, de

diferentes formas e não uma única.

Em momentos difíceis, os materiais inconscientes se manifestam

externamente, por isso, um paciente com dificuldades pode encontrar no

tratamento da arteterapia, usando o desenho como técnica, um aliado à cura

ou descobrimento de suas fraquezas.

As dificuldades aparecem em símbolos nos desenhos e sonhos, e por

meio desses símbolos pode-se descobrir o complexo do paciente. Quando o

paciente se encontra com um problema, sua energia se volta para esse

complexo, ficando estagnada. Assim que esse complexo é descoberto, por

meio desses símbolos, essa energia volta a fluir, indo para a consciência.

... pode-se dizer, que o trabalho com os complexos pode levar a um crescimento e a um desenvolvimento da psique individual e que isso pode ser alcançado pela arteterapia. (FURTH, 2004, p. 33)

O arteterapeuta pode usar o desenho então, como uma forma de

descobrir o complexo do paciente, sabendo onde a energia está estagnada.

Para Jung, na sua teoria chamada por ele de enantiodromia, equivalente

ao principio de estabilidade no mundo natural, do equilíbrio, consiste na ação

25

inconsciente em conflito com o propósito das mentes conscientes, ou seja, para

cada operação do consciente existe uma do inconsciente.

Já na teoria da compensação, Jung baseia-se na teoria dos opostos. O

inconsciente se relaciona com o consciente a fim de manter a saúde psíquica

do indivíduo.

Considero-o em geral como equilibração funcional, como auto-regulação do aparelho psíquico. Nesse sentido, considero a atividade do inconsciente como equilibração da unilateralidade da atitude geral, causada pela função da consciência. (JUNG, 1991, p. 399)

Nessa teoria, Jung diz que o inconsciente complementa ou compensa o

consciente, obtendo sempre o equilíbrio da psique. Assim, é importante que o

profissional seja capaz de conhecer a atitude consciente do paciente para

então, saber como esse inconsciente realizará a compensação.

No desenho, alguns símbolos criados pelo paciente irão compensar ou

complementar a psique.

Para realizar a interpretação de um desenho, em primeiro lugar deve-se

saber quando e como esse desenho foi feito. Alguns fatores como, materiais

disponíveis, ambiente propício ou não ao desenho, iluminação correta,

instrução dada, são fatores diferenciadores no resultado para a análise.

A primeira impressão causada pelo desenho deve ser levada em conta

na hora da interpretação realizada pelo arteterapeuta. Na verdade, a princípio

não se deve interpretar o desenho e sim, prestar atenção nos sentimentos

causados por ele.

Para a compreensão de uma obra de arte, analisamos tanto pela

representação formal, quanto pela contextual, diferenciando cada autor e suas

circunstâncias de vida. Então, uma obra sempre é o fruto da experiência e

sentimentos vividos pelo autor e o meio social em que vive.

26

Um trabalho de interpretação de imagens demanda uma série de obras

produzidas por aquele autor. Só assim, com essas obras seqüenciais,

podemos analisar ligações, combinações e objetos repetidos em várias

execuções, fazendo assim com que a execução do autor mostre complexos a

serem desenvolvidos.

Esses complexos devem ser analisados e interpretados. Assim como

nos sonhos, vindos dos recalques, os desenhos também mostram símbolos

desse desejo inibido. Como uma autopreservação, o sujeito usa esses

símbolos para “esconder” o desejo inibido, tanto nos sonhos como nos

desenhos. Interpretar esses desejos inibidos “mascarados” por esses símbolos

é a fonte da descoberta do complexo do sujeito. O símbolo é sempre utilizado

no lugar de alguma coisa.

A interpretação desse desenho é realizada por uma série de imagens

feitas pela mesma pessoa. A interpretação dessas imagens deverá ser feita

obedecendo à ordem da realização dessas imagens. Uma única imagem pode

ser analisada, mas nunca interpretada isoladamente, fora de contexto.

O terreno que pisamos é totalmente inexplorado, e o que importa, em primeiro lugar, é adquirir suficiente experiência. Por motivos extremamente sérios, quero evitar – por se tratar desse campo especificamente – toda a conclusão precipitada. Está em jogo um processo vital, extraconsciente da alma, que aqui temos a oportunidade de observar indiretamente. Ainda não sabemos até que desconhecidas profundezas o nosso olhar pode penetrar nesse processo. (Jung, CW16, p.51) (FURTH, 2004, p. 83).

Alguns pontos específicos são levados em consideração na

interpretação de imagens. Por exemplo, a verticalização pode indicar

autoridade, afirmada na consciência, fazer uma declaração, já a

horizontalidade mostra o processo histórico de vida, as relações pessoais,

contam histórias. Devemos prestar atenção nas nossas primeiras impressões

(se é um desenho harmonioso, se tem detalhes, se falta detalhes, se é

27

simétrico, se tem itens omitidos, como é usada a cor, se tem objetos repetidos,

etc...). As imagens materializam emoções e organizam a ordem interna.

As figuras são criações subjetivas. Estética, tons de cor, o que se gosta o que não se gosta, e assim por diante, são todos traços subjetivos que o artista pode usar ao seu critério. Esses elementos podem ser considerados na análise de desenhos; contudo, a avaliação do conteúdo psicológico e do “sentimento” do desenho é o ponto mais significativo. (FURTH, 2004, p. 77).

Dentro de uma só pessoa existem várias outras “pessoas”. E são essas

“outras” pessoas que o sujeito guarda dentro dele, que devemos buscar

informações quando queremos decifrar algum conteúdo de um desenho.

Precisamos lembrar de que os desenhos são uma ferramenta para se trabalhar com o paciente como uma pessoa inteira. Nesse processo, traduzimos para ele o que ele apresentou no papel. Ao fazer isso, é fácil cair em interpretações cognitivas, evitando os sentimentos do indivíduo. (FURTH, 2004, p. 165).

28

CAPÍTULO IV

A ARTETERAPIA E O DESENHO

4.1 Arteterapia e o trabalho com a arte

Mudanças ocorreram no mundo e a visão do humano passou a existir

em espaços isolados, em alguns estudos afastados. A racionalidade passou a

ser essencial para o crescimento dos Países, sua indústria, descobertas e

criações.

Neste “Universo” instituído pelo paradigma racional os fatores como emoções, as fantasias, os sonhos e as intuições, como aspectos também constituintes de uma subjetividade, ficaram desconsideradas, por não poderem ser mensuradas e portanto não passíveis de controle. Consideradas apenas como descrições de ocorrências cabíveis unicamente a conhecimentos especulativos, portanto não científicos. (URRUTIGARAY, 2008, p. 15).

Por meio das expressões criativas descobriu-se que o homem é capaz

de manifestar um sistema complexo de informações sobre ele mesmo e o meio

que o cerca, trazendo nessas manifestações um “Universo simbólico”. Esses

símbolos só podem ser interpretados se quem os interpreta conhece a visão do

mundo do outro.

Através da arte, que é um dos meios mais acessíveis às imagens do

inconsciente, conseguimos que o sujeito simbolize seus complexos ocultos,

direcionando-os para a superação pessoal.

A arteterapia tem como princípio permitir a expressão de conteúdos

psíquicos ligados a ideias, valores, afetos que se encontram ausentes da

consciência.

A experiência do trabalho com a arteterapia proporciona a possibilidade de reconstrução e de

29

integração de uma personalidade. Contribuindo como procedimento prático e, apoiado num referencial teórico de suporte, permite a aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para melhora da vida humana. Pois ao ser possível integrar, pela atuação consciente, o resultado do criado com a temática emocional oculta na representação apresentada, o sujeito adquire a condição de transcender as suas vivencias imediatas, experimentando novos sentimentos e disponibilizando-se para novas oportunidades. (URRUTIGARAY, 2008, p. 18).

A arteterapia consegue conectar mundos externos e internos do

indivíduo. Unindo a prática terapêutica com a criação livre e desimpedida da

arte, tornamos esse processo menos doloroso e mais eficaz, já que a arte

encontra esse caminho ao inconsciente com muito mais facilidade.

Através da arteterapia podemos buscar essas formas de reelaboração

entre o sentir e o pensar, o crer e o não crer, a imaginação e conceito,

auxiliando a pessoa a refletir sobre si mesma.

A arte é uma criação humana, primeiramente com valores estéticos,

(equilíbrio, harmonia, beleza, etc.). Com a prática artística dizemos o que

nunca foi dito anteriormente, concretizamos em uma obra emoções e

sentimentos, além da cultura vivida, o meio e uma época. A princípio o homem

atende com a arte as suas necessidades, criando meios de sobrevivência. Mais

tarde objetos artísticos começam a ser criados sem nenhum caráter instrutivo,

apenas para afirmar sua cultura, seus pensamentos e novos olhares.

Para Freud, a arte é um produto de uma neurose que se encontra sublimado, isto é, a arte adquire uma característica defensiva bem sucedida de um conflito, que por sua própria caracterização de foco de tensão, possibilita uma adequação social ao ego. A arte (assim como também a investigação intelectual), seria, por sua identidade como agente de criatividade, elemento propiciador subordinado à vontade egóica, dotando-a de liberdade de ação frente aos impulsos sexuais ou agressivos. A pulsão, como um impulso originado no inconsciente

30

(mais precisamente no id – como instância ou tópica psíquica), vê-se sublimada na medida em que é desviada, como na atividade artística, para uma nova meta, cujo objetivo é socialmente aceito. Libertando o ego de sua pesada carga conflituosa, frente à necessidade de mediar as demandas do inconsciente, com as regras impostas pela cultura. (URRUTIGARAY, 2008, p. 22).

Para nos conhecermos, precisamos trazer à consciência o que está

inconsciente. A arte com seus diferentes meios e os sonhos são as formas

mais acessíveis a esse encontro.

Trabalhar com arte no espaço terapêutico possibilita a passagem de

conteúdos inconscientes para a consciência. A arte nesse espaço é vivida e

sentida livremente, deslocando-se da estética.

Todo trabalho com arte necessita das experiências vividas pelo sujeito.

Essas experiências fazem parte da sua realidade, que está na consciência.

Para que o sujeito faça um trabalho artístico então, ele precisa estar

consciente, pois precisa das suas experiências, porém as ideias contidas nesse

trabalho não são fatos, são sonhos e fantasias. Depois do trabalho pronto, o

sujeito vê a imagem criada, e assim, consegue elaborar mentalmente o que

fez, transformando isso em fatos. Então, ele trouxe todo o conteúdo

inconsciente para a realidade.

uma imagem é portadora de um conteúdo simbólico porque ela transcende a realidade manifesta, ou empírica, possuindo um aspecto inconsciente mais amplo, que não consegue ser precisamente definido ou explicado. (URRUGARAY, 2008, p. 30)

4.1.2 Arte como processo terapêutico

A arte possibilita o estado do imaginar, ativando o imaginário. As

imagens criadas se originam no inconsciente denominado coletivo, pois seus

conteúdos são universais. O inconsciente pessoal necessita das suas

experiências pessoais, já o inconsciente coletivo não depende delas, isso não

31

significa que ele não precise dessas experiências, e sim que são experiências

herdadas por toda a humanidade. É nessa camada do inconsciente que todos

os seres humanos são iguais.

Fonte geradora de conceitos e símbolos imagéticos autônomos, esta parte oculta da psique também está dotada de emoções e impulsos, capazes de promover e dirigir a atividade humana, por seu caráter motivador. (URRUGARAY, 2008, p. 45)

Fazer arte em sua totalidade: escrevendo poemas, encenando uma cena

ou pintando uma tela, são exemplos das formas mais próximas e seguras para

a contenção da energia inconsciente que vem para a consciência.

A arte nesse processo não trabalha o lado realista, como cópia da

natureza e modelos já prontos, e sim o indivíduo produz, resgatando a sua

dimensão. Não descartamos do processo os trabalhos copiados, ou o uso de

moldes, pois esses também representam questões pessoais. Escolhemos esse

ou aquele molde por algum motivo, e esse motivo torna-se pessoal.

Os materiais e as técnicas artísticas influenciam no processo criativo do

indivíduo, por isso, a escolha do material adequado, que torne facilitador esse

processo, é essencial. A liberdade de poder utilizar diversos materiais plásticos

na confecção desses trabalhos ajuda a distanciar o indivíduo da sua realidade

pessoal e sua cultura como estereótipo. As novas experiências são importantes

nesse processo.

Os materiais são divididos em alguns grupos. Existem os materiais

denominados materiais secos, como por exemplo: lápis, giz de cera, canetas

hidrográficas. Esses materiais são fáceis de serem controlados, por isso

diminuem a ansiedade quanto à realização da tarefa, transmitindo segurança e

equilíbrio. Todos esses materiais têm suas especificidades quanto ao uso, por

exemplo, o lápis, além de trazer segurança e equilíbrio, é também um material

indicativo, ao prestarmos atenção em como ele é segurado, na intensidade da

32

sua cor (referente à força usada), efeitos de luz e sombras, destacando ou

intimidando formas.

Já as tintas manifestam em grande escala as emoções. Por ser um

material líquido, é mais difícil de ser controlado e corrigido, podendo provocar

(diferente dos materiais secos), certa insegurança. As tintas estimulam

também a expressão corporal.

Os materiais tridimensionais desenvolvem a coordenação motora, a

criatividade e imaginação. O ato de esculpir, entalhar, gravar, transforma o que

era bidimensional em tridimensional, concretizando uma forma pensada. No

caso das argilas e massinhas, a possibilidade de fazer, desmontar e fazer de

novo, criando uma forma totalmente diferente, traz ao sujeito a vivência de

poder ser de diferentes maneiras, levando-o à autoconfiança.

A colagem é um material muito utilizado em espaços terapêuticos, pois,

por se tratar de um material “menos técnico”, o cliente não fica “pressionado” a

criar como um artista. Na colagem o cliente escolhe diferentes imagens de

revistas ou jornais para elaborar o trabalho. Nessa técnica o cliente se distancia

dos seus conteúdos psíquicos, por achar que aquelas imagens não se

relacionam com ele mesmo. Algumas imagens escolhidas e como elas formam

a composição do trabalho indicam algo e chamam atenção.

Algumas técnicas traduzem elementos da natureza, que representam

alguns sentimentos. As técnicas que representam o elemento fogo traduzem a

intuição, são os gizes de cera (quando usados quentes), os contos, a argila, a

caixa de areia, etc. Já as técnicas que representam a água, traduzindo os

sentimentos, são as tintas, as poesias, as músicas e as cores. O elemento ar,

reproduzindo o pensamento utilizam os materiais: lápis, giz de cera, recorte e

colagem, leitura, escrita, dobradura. E por fim, a terra, que reproduz as

sensações, é representada pelas técnicas da argila, colagem, textura, sucata,

tecidos, grãos, comidas e trabalhos corporais.

33

A arte, por produzir imagens, acessa os conteúdos mais profundos, que

só se manifestam simbolicamente, incapazes de serem verbalizados. O

trabalho com as imagens ajuda a moldar o que não se consegue perceber.

4.1.3 As imagens na arteterapia

A compreensão do mundo inicia-se através de imagens, com a

ambientação pré-lógica, ou seja, antes do raciocínio. Um bebê, antes da

aprendizagem de uma linguagem, comunica-se com o mundo através de

imagens, realizadas pelas pessoas que o cercam ou por ele mesmo.

A imagem é a representação de um objeto ou da natureza. Essa imagem

pode ser realizada em uma composição natural, quando é a própria natureza

realizadora dessa imagem, ou por uma composição artística, quando o homem

que a compõem. Existem três modos de análise de uma composição feita pelo

homem: análise objetiva, formal e subjetiva.

A análise objetiva está intimamente vinculada aos aspectos concretos ou visuais, dispostos na composição, dos quais podemos extrair e verificar as influências ambientais e culturais que estejam inseridas na estruturação da mesma. Esta nos fornece o “modelo” ou a “forma”. A análise formal vincula-se ao aspecto ou ao modo de expressão de um determinado tema. Refere-se a como um indivíduo representou ou expressou seus sentimentos, com relação a um determinado conteúdo. Se foi de maneira romântica, de maneira clássica (ou tradicional), de maneira impressionista, de maneira abstrata; ou melhor, visa identificar qual a “forma” de lidar com um determinado tema ou tratamento dispensado ao mesmo. Ela nos fornece a “maneira” ou o “modo” de “estar. A análise objetiva é como o próprio sujeito interpreta (até empiricamente) com ou sem justificativas ou argumentações, o que ele vê, sente e faz. Ela nos fornece o “comportamento” ou a “atitude” frente à composição” ou frente a vida. (URRUGARAY, 2008, p. 99).

34

Unindo esses três modos de pensar com o pensar individual do

arteterapeuta, suas primeiras impressões, os pontos de estranhamento nessa

imagem, e a própria análise do cliente, começamos um ponto de partida para

interpretar a imagem.

A criação de uma imagem parte de algum motivo, algo motivador. Essa

imagem então está cheia de conteúdo inconsciente, que vem chegando aos

poucos à consciência. O arteterapeuta identifica objetos e imagens que lhe

oferecem sensações de estranhamento. Essas imagens são repetidas pelo

cliente, isoladas da composição, criando outras análises em volta das mesmas.

Imagens abstratas e geométricas também trazem em si conteúdos importantes

do indivíduo.

Nise da Silveira verificou no seu trabalho junto a esquizofrênicos, no Museu do Inconsciente, que as imagens geométricas revelavam esforços instintivos para acalmar conflitos emocionais, transformando-os em construções estáveis e palpáveis (pela identificação da forma construída). (Silveira, 1981) (URRUTIGARAY, 2008, p. 100).

O arteterapeuta tem como missão ao analisar e interpretar um trabalho

realizado por seu cliente, o olhar e perceber sinalizações enviadas por meio de

imagens. Junto com a história de vida do paciente, resgatando memórias

pessoais, o arteterapeuta descobre e trabalha os complexos existentes.

A interpretação dessas imagens deve começar não só pela imagem em

si, e sim em como o cliente se posiciona, como ele usa o material e que

material é esse. A primeira impressão da obra criada é um fator muito

importante. O arteterapeuta começa como um apreciador de arte ao lidar com o

trabalho criado pelo seu cliente, no que se refere à estética do trabalho, à

composição, aos ritmos, aos efeitos visuais criados ou não. Porém, o

arteterapeuta necessita unir a obra criada com o criador, diferente de um

apreciador de arte, que só se preocupa com a obra.

35

As análises de profundidade (perspectiva, superposição), bem como de ritmo encontrado nos tipos de traçado: fino, grosso, alterado, modular; ou de movimento: linha horizontal, vertical e transversal – são indicativos de estabilidade, de subida, ou descida de humor, dando a noção do espaço interno do cliente, como calmo ou violento. (URRUTIGARAY, 2008, p. 103)

A intenção do arteterapeuta ao iniciar o processo com o a interpretação

de imagens, é aproximar o criador dele mesmo, fazendo com que ele se avalie,

critique, raciocine e sinta. Trabalhar junto com o cliente é fundamental no

processo, percebendo, juntos, as estranhezas, falando sobre a sua produção.

Ao evocar o modelo ou imagem principal (enfoque objetivo), acentua-se a postura frente à mesma (enfoque subjetivo), como o modo como a realizou (enfoque formal). (URRUTIGARAY, 2008, p. 103).

A interpretação de imagens indica a projeção da personalidade nos

níveis mais inconscientes, provocando no indivíduo um conhecimento maior

dele mesmo, uma melhor expressão de seus sentimentos, trazendo a

transformação.

O indivíduo pode expressar seus conteúdos inconscientes através de

imagens, sendo a forma mais clara e eficiente dessa reprodução. As imagens

arquetípicas, ou seja, imagens que reproduzem arquétipos de uma cultura ou

de como as coisas devem ser em uma sociedade são quase sempre usadas

para a representação dos complexos pessoais, chegando mais perto da

consciência, da realidade.

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns pontos que foram abordados nessa monografia são de grande

importância para o tratamento e a transformação do indivíduo.

Alguns artistas utilizam a arte como um meio facilitador da expressão

dos sentimentos, que muitas vezes não se consegue com tanta facilidade pelo

meio da linguagem e do raciocínio. A arte tem o poder de ativar conteúdos da

inconsciência e trazê-los para a consciência com mais rapidez e eficiência, e é

através da construção de imagens e escolha de materiais que isso se torna

viável.

Os complexos desenvolvidos pelo inconsciente devem ser provocados,

para que voltem para a consciência, e para a realidade. Nossos pensamentos

vêm até nós mesmo através de uma linguagem inconsciente, que é encontrada

nas imagens oníricas ou nas imagens plásticas, como os desenhos, as

encenações, as esculturas. O uso e a escolha do material também são

essenciais para trazer ao indivíduo emoções e sentimentos inconscientes. Uma

análise dessas imagens promove uma compreensão dessas mensagens

inconscientes, que identificam os complexos a serem desenvolvidos. Os

desenhos, quando analisados sistematicamente, identificam a personalidade e

onde está localizada a energia psíquica do sujeito.

A arteterapia tem como principal objetivo atingir esses conteúdos

inconscientes através da arte, transformando o próprio indivíduo. Essa

monografia se baseia principalmente no estudo dos desenhos, na linguagem

plástica. A interpretação desses desenhos descobre complexos do indivíduo.

O desenho é uma fonte segura e individual de representá-los. Para a análise e

interpretação desse desenho, é necessário que a pessoa (arteterapeuta ou

37

terapeuta), esteja apto a fazê-lo, pois é necessário um afastamento de sua vida

pessoal, de seus conceitos, de seus arquétipos e interpretações iniciais.

Os desenhos podem sim ser interpretados. A partir de um atendimento

em espaço terapêutico, propício ao desenvolvimento de uma linguagem

artística, o terapeuta realiza uma sucessão de desenhos. À essa série de

desenhos, há a interpretação. Sendo um único desenho, o arteterapeuta

somente fará uma análise breve, sem muitos conceitos.

A interpretação é iniciada desde a primeira impressão do desenho, as

primeiras estranhezas. A partir disso, pode-se analisar tudo, desde a posição

da folha usada, o material escolhido, as cores e de como tudo isso se

relaciona. Nesse trabalho a estética (muito importante em trabalhos artísticos),

é deixada de lado, sem importância. O importante é a busca dos símbolos

expostos nos desenhos. O símbolo tem a função de “substituir” algo que esteja

faltando.

O arteterapeuta então utiliza o desenho para interpretar e transformar

complexos do inconsciente em imagens conscientes, que venham para a

realidade. Esse é um processo lento e progressivo. Assim acontecendo, o

cliente passa a se conhecer, a se analisar, iniciando sua própria transformação.

O arteterapeuta fica apenas com o papel de mediador nesse processo.

“É tão difícil para um homem enxergar a si mesmo quanto olhar para trás

sem se virar.”

38

REFERÊNCIAS

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo, Freud e o inconsciente – 24. Ed – Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed, 2009

KLINGSÖHR-LEROY, Cathrin, Surrealismo, Paisagem, 2007

GOMBRICH, Ernest Hans, 1901-2001, A história da arte / E.H. Gombrich;

tradução Álvaro Cabral. – Rio de Janeiro: LTC, 2009.

UZZANI, Giovanna, Enciclopédia Visual da Arte- Surrealismo, Italy, Scala

Group S.p.A, 2009

FURTH, Greeg M., O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana

da cura pela arte / Greeg M. Furth; (tradução Gustavo Gerheim). – São Paulo:

Paulus, 2004. – (coleção Amor e psique)

URRUTIGARAY, Maria Cristina, Arteterapia: a transformação pessoal pelas

imagens / Maria Cristina Urrutigaray. 4 ed. – Rio de Janeiro: Wak, 2008

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

RESUMO 04

METODOLOGIA 05

SUMÁRIO 06

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

O INCONSCIENTE, SEU FUNCIONAMENTO E SUAS IMAGENS 09

1.1 O funcionamento do inconsciente 09

1.2 O inconsciente simbólico 11

1.3 As imagens produzidas pelo inconsciente 13

CAPÍTULO II

A INCONSCIÊNCIA DO SURREALISMO 16

2.1 O surrealismo 16

CAPÍTULO III

O DESENHO EXPRESSO PELO INCONSCIENTE 20

3.1 O desenho em diferentes fases do ser humano 20

3.1.1 Relação ser humano e desenho 22

3.2 Interpretando desenhos 24

CAPÍTULO IV

ARTETERAPIA E O DESENHO 28

4.1 Arteterapia e o trabalho com arte 28

4.1.1 Arte como processo terapêutico 30

4.1.3 As imagens na arteterapia 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS 38