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1 U NIVERSI DADE CA NDI DO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” P R OJETO A VEZ DO MESTRE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTI VIDADE Por: ELZA SERRA MOURA CORREIA Orientador Prof. Dr. Jean Alves Pereira Alme id a Rio de Janeiro 2006 UNIVERSI DADE CA NDI DO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

Por: ELZA SERRA MOURA CORREIA

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves Pereira Almeida

Rio de Janeiro

2006

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Processo Civil.

Por: Elza Serra Moura Correia

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AGRADECIMENTOS

Ao meu marido, companheiro amado de todas as horas, aos meus filhos,

razão maior da minha vida, e aos meus netos, renovação da minha alegria.

Aos demais familiares pela presença e incentivo constantes.

Aos colegas pela camaradagem e solidariedade nas horas mais complicadas.

E, em especial, à amiga Fátima Correia pelo apoio integral e logístico durante

o correr do curso.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos os

profissionais que fazem de suas vidas um

sacerdócio ao Direito.

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METODOLOGIA

O tema proposto e desenvolvido no presente trabalho, apesar de não

estar previsto no nosso ordenamento jurídico, possui material abundante para

pesquisa.

Inicialmente, a leitura do Código de Processo Civil Comentado, no Livro

que aborda o processo de execução, como supedâneo ao estudo da exceção

de pré-executividade, eis que a proposta do presente trabalho é o instituto

aplicado dentro do referido tipo de processo. A seguir, um mergulho nos

manuais de execução, como forma de melhor conhecer as suas nuances e

poder aquilatar a real utilidade dessa construção doutrinário-jurisprudencial,

para que seja atingido o escopo da atividade jurisdicional. Ao mesmo tempo,

através de sites jurídicos aconteceu o primeiro contato com a matéria

especificamente. Neles, já se fazia sentir a gama de controvérsias existentes

quanto à aplicabilidade e extensão do uso da exceção de pré-executividade.

Finalmente, a consulta a obras específicas, através de seu manuseio nas

Bibliotecas da Justiça Federal e da Univercidade, foi base para a realização do

presente trabalho, que não possui o compromisso de inovar com apresentação

de tese sobre o assunto ou posicionamento diante das correntes doutrinárias

existentes, mas, tão somente, de expor a fecundidade dos trabalhos

doutrinários e da jurisprudência sobre o assunto.

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RESUMO

Como instrumento de defesa, a exceção de pré-executividade é uma

construção doutrinária e jurisprudencial, que proporciona ao executado,

atingido por um processo executório ilegal ou indevido, a oportunidade de

trazer ao judiciário suas razões, sem que para isso seja necessária a

segurança do juízo, por medidas constritivas em seu patrimônio.

O instituto, usado pela primeira vez por Pontes de Miranda em seu

Parecer nº 95, traz ínsita a idéia de concentração dos atos, eis que

apresentado intra-execução, desmistifica a via dos embargos, ação autônoma,

como única para oposição ao direito alegado pelo credor.

Nesta fase constitucionalista do direito processual, onde, com muito

acerto, a Carta Magna é o norte para todas as disciplinas do Direito, a exceção

de pré-executividade é uma solução para que os princípios do contraditório, da

ampla defesa e do acesso à justiça possam ser sentidos, em toda a sua

plenitude, no processo de execução, atendendo, destarte, também, a presente

fase instrumentalista do processo, uma vez que seu fim é a celeridade, justiça

e efetividade do provimento jurisdicional.

Apresentando-se como uma alternativa mais célere que a tradicional

ação de embargos do executado, pela exceção de pré-executividade podem

ser alegadas matérias referentes ao juízo de admissibilidade, bem como

referentes ao juízo de mérito, permitindo ao julgador manifestar-se sobre o

direito invocado, através da prova pré-constituída que deve acompanhar a

petição, efetuando uma cognição sumária e exauriente acerca da questão

suscitada.

Com a exceção de pré-executividade, abandona-se o excessivo

formalismo existente para a interposição de embargos, simplificando,

sobremaneira, a defesa de quem é indevidamente demandado numa ação

executiva.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Processo de Execução 10

CAPÍTULO II - Exceção de pré-executividade 26

CAPÍTULO III - Processamento da exceção de pré-executividade 41

CAPÍTULO IV - Hipóteses de cabimento 54

CONCLUSÃO 63

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 66

ANEXOS 70

ÍNDICE 84

FOLHA DE AVALIAÇÃO 85

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INTRODUÇÃO

A abordagem do tema exceção de pré-executividade, neste trabalho, deveu-se

à indignação, muitas vezes sentida, quando, no exercício de minha função de

Oficial de Justiça, deparava-me, ao cumprir um mandado de citação para

execução ou de realização de penhora, com situações em que, ou o

executado não possuía bem algum para garantia do juízo, ao mesmo tempo

em que alegava estar o débito exeqüendo em fase de parcelamento, ou que já

havia sido pago, ou, ainda, que não era sócio da empresa na época do débito.

Ao ouvir pela primeira vez falar sobre a exceção de pré-executividade a minha

curiosidade aguçou.

Entretanto, à época, não me aprofundei no assunto, eis que, no dia-a

dia, sobrecarregada com tantos mandados a entregar, satisfiz-me com uma

breve leitura sobre a matéria.

Ao iniciar o presente trabalho, arrependi-me da escolha do tema.

Entretanto, o arrependimento foi fulgaz. Com a leitura inicial, o interesse

adormecido acordou e, na verdade, quanto mais lia, mais desejosa ficava em

seguir mais à frente.

Deparei-me, no curso do trabalho, com indagações preciosas, com

definições e conceitos precisos, com posicionamentos de vanguarda e com a

certeza que o Processo Civil moderno está a anos-luz do visto na Faculdade de

Direito. A evolução foi de tal monta que era como se o estivesse lendo pela

primeira vez.

A nova visão do Processo Civil enfatiza seus resultados, tendo a

jurisdição como objetivo maior a pacificação de situações conflitantes vividas

por pessoas, sendo um instrumento com a incumbência da referida pacificação

perante a coletividade, sempre tendo como norte a justiça.

A ênfase ao aspecto constitucional do processo, a nova visão

instrumentalista, que humaniza normas tão frias, buscando o que Ada Pellegrini

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9Grinover chama de ordem jurídica justa, parece ser a resposta correta para que

os princípios constitucionais, do contraditório, de acesso à justiça e da ampla

defesa sejam de fato alcançados, quer pelos que buscam um provimento

jurisdicional célere e justo, quer pelos aplicadores do Direito comprometidos

com a nova realidade social.

Distante hoje se encontra aquela figura do juiz indiferente, mero técnico

do direito, que em nome da conclamada imparcialidade deixava sobrepujar a

letra fria da lei a situações que não foram por ela contempladas.

Essas modificações atingem também a atividade jurisdicional no

processo de execução e servem de esteio para que novos instrumentos sejam

colocados à disposição dos jurisdicionados, visando sempre seja alcançada a

efetividade do processo.

Desta forma, imbuídos desta nova visão, iniciaremos nosso trabalho

abordando o processo de execução, breve passagem, com o único objetivo de

situar o instituto abordado, servindo, destarte, de base para a apresentação do

tema proposto.

Após apresentar alguns tópicos relacionados ao processo executório,

entraremos no tema - exceção de pré-executividade - não com o fito de exaurir

o assunto ou de apresentar novas propostas, mas unicamente discorrer sobre

a doutrina que o estuda e o adota como uma oportunidade de defesa mais

justa para os que são indevida ou ilegalmente submetidos a um processo de

execução.

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CAPÍTULO I

Processo De Execução

A fé é a convicção de fatos que se não vêem.(Hb. 11.1.)

De acordo com o provimento jurisdicional requestado ao Estado,

classifica-se o Processo em Processo de conhecimento, Execução e Cautelar.

Ante o tema a ser desenvolvido, faz-se mister, uma breve passagem pelo

Processo de Execução, eis que é neste, que a exceção de pré-executividade

será examinado.

1-1 Evolução Histórica

No direito romano, a execução inicialmente, tinha caráter privado, e a

atuação do magistrado, que não pertencia a nenhum organismo público, sendo

apenas um jurisconsulto a quem as parte submetiam as questões, cingia-se a

liberar a atividade do credor. Nessa primeira fase, não só os bens do devedor

respondiam pela dívida, mas também a sua pessoa, podendo ser reduzido a

condição de escravo e assim ser vendido como coisa (res). Evolui o direito

romano por diversas fases, chegando à execução patrimonial, onde os bens

do devedor respondiam pelas dívidas contraídas, permitido sempre o desforço

físico do credor para ver satisfeito o seu crédito. O objetivo “era sempre o de

coagir a vontade do devedor para constrangê-lo a solver a sua dívida” 1 e não a

de satisfazer o crédito.

Na Europa, após a queda do Império Romano, prevaleceu o direito intermédio,

também conhecido como germânico, fundamentado em princípios

sabidamente inferiores, caracterizando-se os meios executivos pela violência

e coação real e psicológica sobre o devedor. Neste período a execução voltava

a ser universal. Nela, o credor estava autorizado, antes mesmo de qualquer

ação judicial, a promover a satisfação de seu direito, podendo proceder à 1 - Alfredo Buzaid, Do concurso de credores no processo de execução, n. 9

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11penhora dos bens do devedor, independente da verificação da existência real

da dívida, bastando, para tanto, a sua simples afirmativa. A intervenção do

devedor só poderia acontecer após a efetivação da penhora. Iniciava-se o

procedimento pela execução e não pela cognição.

Com o revigoramento do direito romano, por meio da influência das

universidades, fica superada a defesa privada ou a autojustiça. Resgata-se a

visão da necessidade de um pronunciamento formal sobre a legitimidade do

crédito pretendido, “devendo, antes de tudo, citar o devedor em juízo e

aguardar que, pelas vias procedimentais, sua pretensão fosse apreciada e

posta em atuação, se procedente”. 2 Dessa forma, restaura-se a prioridade

temporal da cognição sobre a execução, ficando esta dependente de um

pronunciamento formal sobre a legitimidade do crédito pretendido.

A partir do século XIII, com a obra doutrinária de Fasolo, Martino Di Fano

e Duranti, foi introduzido no direito italiano a tese de que o juiz, na execução,

devia assumir a posição de executor, e não a de juiz. Data, ainda, dessa

época a distinção entre a função cognitiva e a executiva dentro da jurisdição,

preconizando Di Fano a idéia de “officium iudicis” que abrangia “todas as

atividades que o juiz devia exercer naturalmente, em virtude de seu ofício” 2,

consistindo, então, a execução em simples impulso processual requerida pela

parte ao juiz que houvesse julgado.

Ao incremento do comércio correspondeu o imperativo de criação de

títulos de crédito, que reclamavam mecanismos mais céleres e severos para

sua cobrança do que os existentes à época, impondo-se, como conseqüência,

a necessidade de um processo executivo contencioso, verdadeira ação

executiva com prazos diferenciados e oportunidades especiais para a defesa 3.

Desta evolução, renasce o sistema romano, sendo imperativo a

instauração de uma nova relação processual para se chegar a uma execução

forçada. Recepcionado que foi o processo executivo pelo Código Napoleônico,

ainda hoje, os mais importantes ordenamentos jurídicos o mantém em suas

características essenciais.

2 -Enrico Túlio Liebmam, Embargos do Executado, 2. ed. , p. 523-Humberto Theodoro Junior, a Execução de sentença e a garantia do devido processo legal, p. 144.

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12De todo o processo de evolução ocorrido, o mais significativo, o de maior

expressão foi, com certeza, a eliminação do caráter pessoal da execução

deslocando-a a limites absolutamente patrimoniais, ressalvando-se a privação

da liberdade para casos especialíssimos, previstos expressamente no artigo

5 º , LXVII, da Constituição Federal.

No direito português há que se remontar às Ordenações do Reino,

época em que a execução era estatal, incidia sobre o patrimônio do devedor e

havia a ordem de precedência de quem primeiro penhorava. Os títulos

extrajudiciais eram desconhecidos e a execução se realizava após o processo

de conhecimento, sempre per officium iudicis. O privilégio da “assinação de dez

dias“, que levava a uma cognição sumária, contemplava alguns negócios que

tinham certa presunção de veracidade, tendo este vigorado no Brasil, sendo

tratado pela doutrina como forma de execução. 4

Dos nossos diplomas processuais, há que se destacar sobre o processo

de execução:

Regulamento 737 - “assinação de dez dias”, executio parata da sentença e a

ação executiva de certos títulos decorrentes de atos de comércio.

Regulamento 738 – disciplinou o processo de falência, execução coletiva do

devedor comerciante.

Códigos de 1939 – nele estavam previstos a ação executiva para os títulos

extrajudiciais e a ação executória de sentença, além do concurso de credores

no processo executivo sobre duas modalidades. Iniciava-se a ação executiva

com citação para pagamento em 24 horas, prosseguindo, a seguir, como

processo de conhecimento, sendo proferida sentença sobre o título

extrajudicial. Desaparece a precedência da primeira penhora e com a segunda

o processo transformava-se em concurso de credores que podia ser parcial ou

universal,

No Código atual a execução é processo autônomo em relação ao

processo de conhecimento, equiparando-se os títulos judiciais e extrajudiciais,

não se distinguindo a ação de execução pela natureza do título, diferenciando-

se, isto sim, os procedimentos e as medidas executivas a serem adotados pela

4- Vicente Greco Filho, Direito Processual Civil, vol. 3, p. 12.

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13natureza da obrigação existente no título. Retorna a precedência do credor que

primeiro penhorar, deixando esta de prevalecer se for decretada a insolvência

do devedor, (como sói acontecer na falência) dando lugar à igualdade entre

credores de igual categoria.

Hodiernamente, nesta fase instrumentalista do processo, abandona-se a

visão introspectiva, processo como mero instrumento técnico predisposto à

realização do direito material, e passa-se a enxergá-lo de um ângulo externo,

aferindo-se seus resultados na vida prática, pela justiça que é capaz de fazer.

Inegavelmente, é de suma relevância o processo de execução, pois o

resultado prático de um provimento jurisdicional é alcançado por meio dele.

Nos últimos anos vem o Código de Processo Civil sofrendo pequenas

reformas visando, exatamente, a evolução da tutela jurisdicional executiva.

Apesar de tímidas, essas pequenas reformas resultaram em melhorias para a

tutela jurisdicional executiva, tornando mais efetiva a prestação jurisdicional.

1.2 Dos direitos e garantias constitucionais

José Afonso da Silva em palavras poucas, mas de forma bem

elucidativa, ensina-nos que a palavra princípio na expressão “princípios

constitucionais” deve ser entendida como mandamento nuclear de um

sistema.5

São os princípios constitucionais que vão definir o arcabouço do

sistema, bem como caracterizar as opções político-constitucionais de um

Estado.

Esses princípios são a viga mestra, o pilar, de todo o ordenamento

jurídico que é formado por um conjunto de normas que interagem entre si,

observando, de toda forma, a hierarquia das leis.

Miguel Reale, define os princípios constitucionais, como enunciações

normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do

5 - José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional, 18ª ed , p. 95

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14ordenamento jurídico 6. E seguindo a lição, o notável mestre, afirma que ainda

são os princípios que irão nortear a solução de situações não reguladas pelo

sistema de leis, preenchendo lacunas ou contradições existentes dentro do

próprio ordenamento.

Aos princípios, no dizer de Canotilho cabe fundamentalmente guiar e

influenciar a interpretação e a aplicação das demais normas jurídicas.7

Hoje, vivemos a fase do direito processual constitucional, fruto da

interligação da Constituição e Processo, como forma de erigir os direitos

processuais existentes à categoria de direitos constitucionais, insusceptíveis

de serem modificados ou eliminados pela legislação ordinária, constituindo-se

em verdadeiras garantias constitucionais.

Assim fazendo, o legislador constituinte objetivou, certamente, colocar

como parâmetro os princípios ali cristalizados, a serem utilizados como

instrumentos para alcançar melhor aplicação da lei e do exercício do poder

político.

A atual fase instrumentalista, tão bem retratada por Barbosa Moreira, ao

dizer que se toma consciência, cada vez mais da função instrumental do

processo e da necessidade de fazê-lo desempenhar de maneira efetiva o papel

que lhe toca, assegura, no dizer de Chiovenda, ao jurisdicionado tudo aquilo e

exatamente aquilo que tenha direito de receber.

Abeberando-se no direito processual constitucional, os que abraçaram

essa visão instrumentalista do processo, buscam o aperfeiçoamento do

sistema, com a ampliação do acesso à justiça, a igualdade de tratamento sem

considerar as desigualdades sociais e econômicas existentes, o contraditório, a

ampla defesa, entre outras aspirações.

Dentro deste arcabouço jurídico, alguns princípios são erigidos à

categoria de sustentáculos de outros princípios, sendo verdadeiros pilares do

ordenamento jurídico.

Viga mestra que abrange os demais princípios e os incorpora, o princípio

de devido processo legal exige que se dê às partes a tutela jurisdicional

6 - Miguel Reale, Lições preliminares de direito, p. 300.7 - J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e teoria da Constituição, p. 1034 -1036.

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15adequada. “Vãs seriam as liberdades dos indivíduos se não pudessem ser

reivindicadas e defendidas em juízo”, nas palavras de Ada Pellegrini Grinover,8

O princípio do acesso à justiça é essencial para a postulação de direitos

que o processo, como garantia fundamental, deve tutelar. Entenda-se o acesso

à justiça como acesso ao processo, constituindo-se este como instrumento

para se obter a tutela jurisdicional pleiteada.

O enfoque atual desse princípio está em que esta garantia

constitucional engloba não só o direito de provocação do judiciário, com o

exercício do direito de ação, mas também o direito à tutela adequada,

tempestiva e justa, que deve ser entendida como aplicável não só ao que

busca, na qualidade de autor, um provimento jurisdicional, como também ao

réu, no seu direito de defesa, ao contrariar a pretensão deduzida em juízo pelo

primeiro.

Diretamente do princípio do devido processo legal decorrem os

princípios do contraditório e da ampla defesa, institutos que se entrecruzam, e

que, de tão assemelhados, em muitas situações, se torna difícil individualizá-

los.

A ampla defesa, princípio de maior abrangência, engloba a resposta e

o contra-ataque, do réu. O contraditório impõe a oitiva ou ciência do réu,

(indiciado, acusado, executado) para ou sobre realização de atos processuais,

com prazo para apresentação de sua defesa, recurso, etc.

Os princípios constitucionais do processo civil aplicam-se,

indistintamente aos três tipos de processo previstos em nosso Código de

Processo Civil. Entretanto, alguns desses princípios não deixam de ser

considerados aplicáveis, como o princípio do contraditório ao processo de

execução, por possuir esse processo características e princípios próprios.

Ao assegurar o contraditório ao processo judicial, garantia prevista no

artigo 5º, LV, a Constituição Federal vigente, fê-lo de modo indistinto, não

ressalvando qualquer das categorias de processos existentes, embora há de

ser aplicado tal princípio observando as peculiaridades de cada uma dessas

categorias.

8 As garantias constitucionais do direito de ação, p. 15-16.

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16Está totalmente superada a visão de que inexiste contraditório na

execução, como defendido por alguns doutrinadores, que a enxergam apenas

como uma atividade prática e material do juiz, onde está patente a

desigualdade das partes. Marcelo Lima Guerra observa que “é incidência do

contraditório na execução que justifica a aplicabilidade, neste processo, do art.

9º do CPC”.9 Ilustrando sua observação, cita o jurista, parte do voto do

Ministro Francisco Rezek ao enfrentar questão pertinente: “há, por conseguinte,

um contraditório no processo de execução, ainda que desprovido de latitude

igual àquela com que o princípio é contemplado no processo cognitivo.

Havendo contraditório, cumpre que o ausente se veja amparado pelo curador

especial”. (RTJ 120 /1.280)10

Nelson Nery Júnior nos informa o reconhecimento, pela doutrina alemã,

do contraditório na execução forçada: “Embora negando o contraditório amplo

como no processo de conhecimento, a doutrina alemã entende presente a

garantia constitucional do rechtches Gehör no processo de execução, claro

que com as limitações deste tipo de processo. Seriam manifestações do

contraditório na execução, por exemplo, o direito à nomeação de bens à

penhora, interposição de recursos e outros atos cuja prática a lei confere ao

devedor”.11

Apesar de, em sua obra, Liebmam afirmar que uma das diferenças entre

o processo de conhecimento e o de execução é a inexistência do contraditório

no último, Joaquim Munhoz de Mello preleciona que o entendimento exposto

pelo notável jurista deve ser entendido como referência ao contraditório sobre

o direito do credor, existente no título, sobre o qual, dentro do processo

executório não cabe discussão, só podendo ser objeto de tal em outro

processo de cognição de caráter incidental, abrindo-se espaço para isto nos

Embargos do devedor, previsto em nosso ordenamento. Considera ainda que

ao Executado, no âmbito do processo de execução, são assegurados direitos

e garantias em obediência ao princípio de que a execução deverá se processar

de modo menos gravoso ao devedor (artigo 620 do Código de Processo Civil).

9- Marcelo Lima Guerra, Execução forçada: controle de admissibilidade, p. 27.10- Ibden , p. 2811 - Nelson Nery Júnior, Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, p. 133.

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17Continua o doutrinador considerando que, em contraposição ao processo de

execução antigo, caracterizado pelos excessos e abusos cometidos contra o

patrimônio e pessoa do devedor, o processo de execução moderno outorga ao

executado poderes e faculdades de forma a lhe assegurar sejam observados

e respeitados os limites e o escopo da execução de que participa, na

qualidade de sujeito da relação processual, vislumbrando, destarte, os

doutrinadores afetos à área processual a real existência de contraditório nesse

processo .12

Humberto Theodoro Júnior é categórico ao afirmar: “que embora os

princípios processuais possam admitir exceções, o do contraditório é absoluto,

e deve ser observado, sob pena de nulidade do processo”.13

Apesar de não haver previsão legal, com fundamento na existência do

princípio do contraditório no processo executivo, abre-se ao devedor a

possibilidade de defender-se no bojo da execução, sem estar seguro o juízo,

através do instituto da exceção de pré-executividade, fruto de construção

doutrinária, que vem sendo aceita pela jurisprudência, sendo muitos os

julgados sobre a matéria.

1.3 Conceito

Vicente Greco Filho, repetindo Chiovenda, conceitua a execução como

o conjunto de atividades atribuídas aos órgãos judiciários para a realização

prática de uma vontade concreta da lei, previamente consagrada num título, ou

ainda como o conjunto de atos jurisdicionais materiais concretos de invasão do

patrimônio do devedor para satisfazer a obrigação consagrada no título.

Para Barbosa Moreira o que se busca com a execução é fazer atuar a

norma concreta já enunciada em prévio processo de conhecimento ou

expressa em documento a que a lei reconheça semelhante eficácia 14.

12-Joaquim Munhoz de Mello, em nota a Enrico Túlio Liebmam, Processo de Execução, 5ªed, p. 44/45.13- Curso de direito processual civil, v. 1, p. 27 14 - José Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro p. 342.

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18Amílcar de Castro, em inesquecível lição, preleciona que, quando se fala

em execução forçada, este adjetivo há de ser entendido como último subsídio

utilizado pelo juízo para vencer a possível resistência do executado 15.

O uso da força, pelo Estado é a característica básica da execução ao

ministrar a sanção ao devedor que se nega a cumprir a obrigação

consubstanciada no título. Quando há o cumprimento espontâneo, não há que

se falar em execução.

O diploma processual contempla vários tipos de execução: Execução

para entrega de coisa, execução de obrigação de fazer e de não fazer, e a

execução por quantia certa. Subdivide-se esta última de acordo com a situação

econômica do devedor, podendo este ser solvente ou insolvente o que

determinará tratamentos processuais distintos, possuindo a execução, quanto

ao devedor insolvente, regime concursal.

Nas três primeiras espécies, no atual regime dos artigos a elas

pertinentes, não há mais processo autônomo de execução e sim, a expedição

de provimento mandamental para a satisfação do direito, quando da sentença.

Vê-se, portanto, cognição e execução em um único processo, ficando o Juiz

autorizado a conhecer, acautelar e dar efetividade à tutela pretendida.

Discute a doutrina sobre a chamada execução indireta ser ou não forma

de execução. Os que lhe negam essa qualidade fazem-no por entender que,

em não havendo a aplicação da sanção intimidatória pelo Estado, em razão do

cumprimento da obrigação, a atividade executiva não estaria configurada, só

estando presente quando não ocorre o cumprimento e haja cobrança de multa

imposta, ou aplicada pena de prisão por dívida de alimentos. Para os que, ao

contrário, defendem ter a execução indireta função executiva, o cumprimento

não é espontâneo e sim voluntário, porque a sanção está presente, em forma

de previsão de imposição de medidas coativas. 16

15 - Comentários ao Código de Processo Civil, v. 8, p. 4-5.16 -Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato C.Almeida, Eduardo Talamini, Curso avançado de Processo Civil, vol. 2, p. 32

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19Para Barbosa Moreira o que se busca com a execução é fazer atuar a

norma concreta já enunciada em prévio processo de conhecimento ou

expressa em documento a que a lei reconheça semelhante eficácia 17.

Amílcar de Castro, em inesquecível lição, preleciona que, quando se fala

em execução forçada, este adjetivo há de ser entendido como último subsídio

utilizado pelo juízo para vencer a possível resistência do executado 18.

O uso da força, pelo Estado é a característica básica da execução ao

ministrar a sanção ao devedor que se nega a cumprir a obrigação

consubstanciada no título. Quando há o cumprimento espontâneo, não há que

se falar em execução.

O diploma processual contempla vários tipos de execução: Execução

para entrega de coisa, execução de obrigação de fazer e de não fazer, e a

execução por quantia certa. Subdivide-se esta última de acordo com a situação

econômica do devedor, podendo este ser solvente ou insolvente o que

determinará tratamentos processuais distintos, possuindo a execução quanto

ao devedor insolvente regime concursal.

Nas três primeiras espécies, no atual regime dos artigos a elas

pertinentes, não há mais processo autônomo de execução e sim, a expedição

de provimento mandamental para a satisfação do direito, quando da sentença.

Vê-se, portanto, cognição e execução em um único processo, ficando o Juiz

autorizado a conhecer, acautelar e dar efetividade à tutela pretendida.

1.4 Natureza Jurídica da Execução

Apesar das discussões que existiram sobre a natureza jurídica da

execução, tendo ela, para alguns doutrinadores natureza administrativa conexa

à atividade jurisdicional de conhecimento, hoje, prevalece para a maioria dos

doutrinadores a sua natureza jurisdicional, entre outras razões, mas

principalmente, pelo caráter de substitutividade da atividade estatal, ali

presente.

17 - José Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro p. 342.18 - Comentários ao Código de Processo Civil, v. 8, p. 4-5.

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20Dinamarco, que se posiciona nessa corrente, diz serem visíveis as

características essenciais da jurisdição neste processo, seja pelo escopo

social de pacificação, o jurídico de atuação concreta da vontade da lei e da

substitutividade. Esta última característica é evidente, eis que fim almejado

pelo Estado através do processo de execução é o resultado que o próprio

obrigado deveria realizar, só havendo atividade jurisdicional na ausência dessa

realização 19.

Encontra-se na execução as características fundamentais da jurisdição,

e até mesmo a argüição de inexistência de coisa julgada neste processo,

colocada como um dos atributos necessários à configuração da atividade

jurisdicional, pelos que defendiam sua natureza administrativa, é frágil, ante o

argumento de que os feitos julgados improcedentes por falta de pressupostos

processuais ou pela falta de condições de ação caracterizam uma atividade

jurisdicional sem, entretanto, produzir coisa julgada.

1.5 Pressupostos da Execução

Além dos pressupostos processuais e condições de ação comuns ao

processo de conhecimento e que devem ser objeto da cognição do juiz,

quando do juízo de admissibilidade, na execução, o pressuposto vital é o título

executivo judicial ou extrajudicial, de acordo com o tradicional princípio nulla

executio sine titulo.

Tal princípio explicita o veto à prática de atos executivos sem um título,

impedindo, destarte, à incursão na esfera jurídica do devedor sem a plena

realização do contraditório e o exaurimento da fase cognitiva.

Esse princípio só é excepcionado, no atual Código, quando o sistema

passou a admitir, desde que presentes os requisitos necessários, a tutela

antecipada, que viabiliza a realização de atos de agressão ao patrimônio, antes

mesmo da instauração da relação jurídico-processual.

19- Cândido Rangel Dinamarco, Execução Civil, p. 193

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21Exceção à parte, estabelece o artigo 583 do Código de Processo Civil

que “toda execução tem por base um título judicial ou extrajudicial” e o artigo

641 do mesmo diploma legal prescreve:

“Cumpre o Credor ao requerer a execução pedir a citação do devedor e

instruir petição inicial

I - com o título executivo “.

É, portanto, o título executivo a base e a condição, no dizer de José

Alberto dos Reis, suficiente e necessária do processo de execução, possuindo,

por força de lei, o condão “de liberar a coação estatal em favor do credor para

a satisfação da obrigação”. 20

Várias são as correntes, identificadas na doutrina, que procuram definir

a natureza jurídica do título executivo.

Para Vicente Greco Filho o título executivo pode ser conceituado como

“o documento ou o ato documentado que consagra obrigação certa e que

permite a utilização direta da via executiva”, conceito este extraído da própria

forma como o sistema, através das normas que o compõe, ora privilegia o

documento em sua literalidade, formalidade e abstração, ora o negócio jurídico

ou à própria obrigação.

Humberto Theodoro Júnior entende que o título executivo deve ser

considerado em dois sentidos, um interno, como ato jurídico, que é a própria

substância e outro externo, como documento escrito, (forma). Desta maneira,

também ele, concilia as duas doutrinas existentes, vendo no título executivo

natureza de ato jurídico e documento.

Proposta uma execução sem título o credor é carecedor de ação por

falta de interesse de agir, eis que só o título torna adequado o processo de

execução e suas medidas executivas. 21

O título executivo como supedâneo do processo executivo, possui três

funções: autoriza a execução (não há execução sem título), delimita seu âmbito

(fixa os limites objetivos e subjetivos do processo executivo ao definir o valor

da obrigação, seu objeto, acessórios, o devedor e o credor) e determina o seu

20 - Vicente Greco Filho, Direito Processual Civil Brasileiro, vol. 3, p. 2321 -Cândido Rangel Dinamarco, A execução cit. P. 173

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22fim (descrevendo o conteúdo da obrigação e a sanção a ser imposta em caso

de seu inadimplemento caracterizando o tipo de execução a ser proposta).

O artigo 586 do Código de Processo Civil estabelece como requisitos

formais do título executivo a certeza, a liquidez e exigibilidade.

Na lição de Calamandrei, citado por Humberto Theodoro Junior, ocorre

a certeza em relação ao crédito quando em torno do título não há controvérsia

sobre a sua existência (an), liquidez quando é determinável o valor da

prestação (quantum) e exigibilidade quando não está sujeito a termo , condição

ou outra limitação qualquer.22

.

1.6 Princípios informativos do Processo Executivo

Além dos princípios genéricos presentes, quer no processo de

conhecimento, quer no executivo, há os princípios específicos que norteiam a

atividade executiva e que podem ser identificados de forma pontual nos artigos

do Código de Processo Civil que o disciplinam.

Assim, podemos extrair do artigo 591 do Código de Processo Civil que

toda execução recaí sobre o patrimônio do devedor, ou seja, é real;

Do artigo 659 do mesmo diploma que prescreve seja a penhora

realizada “em tantos bens quantos bastem... sendo suspensa a arrematação

logo que o produto dos bens bastar para o pagamento credor”, inferimos que a

execução visa à satisfação do direito do credor, delimitando o artigo o campo

de incidência da execução que abrangerá tão somente os bens necessários ao

pagamento do direito do credor,

O princípio da utilidade da execução vem consagrado no artigo 659, §

2º que preceitua “não se levará a efeito a penhora quando for evidente que o

produto da execução dos bens será absorvido pelo pagamento das custas da

execução”, bem como, no artigo 692 que proíbe a arrematação do bem por

22- Humberto Theodoro Junior, curso de Direito Processual Civil, vol. II, p. 33.

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23preço vil, isto é, seja desproporcional ao valor da avaliação, ou ainda, mesmo

quando de acordo com esta, seja ela defasada em razão do lapso de tempo

decorrido desde a realização do último laudo. Tal princípio deve ser entendido

como vedação a que o processo executivo seja instrumento de castigo ou de

sacrifício do devedor sem qualquer benefício ao credor.

Deverá a execução ser também econômica, realizando o direito do

credor da forma menos onerosa ao devedor, consoante disposto no artigo 620

do diploma processual civil.

O princípio da especificidade da execução é contemplado pela regra

inserida no artigo 627 e observa que ao credor seja dado precisamente aquilo

que alcançaria se o devedor cumprisse diretamente a obrigação, permitindo

sua conversão em pecúnia nos casos em que se torne impossível a entrega da

coisa certa ou de recusa da prestação de fato.

Ao devedor incumbe o pagamento de todas as despesas da execução

forçada, inclusive os honorários expendidos pelo credor com seu advogado,

em obediência ao princípio de que ”a execução corre às expensas do

executado”, regra insculpida nos artigos 651 e 659 do Código de Processo

Civil.

Humberto Theodoro Júnior, citando Lopes da Costa, ainda destaca o

princípio do respeito à dignidade humana que deve nortear a execução,

princípio este que encontra guarida no diploma processual ao prever a

impenhorabilidade de certos bens necessários à manutenção da dignidade da

pessoa do devedor e de seus familiares, tais como as provisões de alimento,

salário, instrumentos de trabalho e do único imóvel (Lei 8009/90), salvo as

ressalvas inseridas na própria lei.

Por fim, há de se falar, no princípio da disponibilidade da execução,

consubstanciado no artigo 569, do mesmo diploma legal, que coloca como

faculdade do credor desistir de todo o processo executório ou de algumas

medidas executivas sem que para isto necessite da concordância do

executado. Diferentemente do processo de conhecimento, o credor possui a

disponibilidade de executar ou não o título executivo que possui

independentemente da vontade da parte contrária.

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24Ressalve-se, entretanto, que havendo embargos e estes versarem sobre

outras matérias que não as processuais, a extinção decorrente da desistência

do credor dependerá de prévia anuência do embargante.

Desistindo da execução assume o desistente o ônus das custas e,

havendo Embargos, dos honorários do Embargante, aplicando-se in casu o

artigo 26 do Código de Processo Civil.

Vistos os princípios específicos que informam a atividade jurisdicional

executiva, devemos ter em mente que esses , como sói acontecer com todos

os outros, são de extrema importância para a compreensão do sistema e para

a interpretação particular de cada norma, devendo sempre ser perquirido e

buscado de forma a se harmonizar com os vetores correspondentes à

inspiração maior e final do instituto jurídico-normativo

1.7 Cognição na Execução

Inegável é a existência de cognição dentro do processo executivo,

caracterizando-se por ser de menor grau em relação ao processo de

conhecimento.

Kazuo Watanabe conceitua cognição como um ato prevalentemente

lógico, um ato de inteligência do juiz, que para julgar, deverá analisar as

questões de fato e de direito deduzidas no processo e valorar as provas

produzidas pelas partes, que servirá de fundamento à sua decisão.23

Pugna, o ilustre processualista, por uma classificação dos processos

levando em conta não só o tipo de tutela pretendida, mas também pelo tipo de

cognição que há em cada um. Assim, sob o critério da cognição haveria ação

de cognição plena que é realizada no processo de conhecimento, também

chamada de processo de cognição; em ação de cognição sumária onde a

cognição se caracteriza pela sua superficialidade ou parcialidade, e ação de

cognição rarefeita, exemplificando esta última como o tipo de cognição

cumprida no processo de execução.

23 - Da cognição no processo civil, p. 41-46 .

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25Cândido Rangel Dinamarco afirma que no processo executivo o juiz não

realiza atos apenas executivos, cabendo-lhe também o conhecimento de todos

os incidentes deste processo, nos quais efetua atos eminentemente

cognitivos24.

Assim, quando realiza a cognição do juízo de admissibilidade, através

da análise dos requisitos atinentes aos pressupostos processuais e condições

da ação, se desta análise passar desapercebida a ausência ou violação de

alguns desses requisitos da execução, esta ausência/violação poderá ser

argüida pela exceção de pré-executividade, como forma de defesa do

executado no bojo do processo executivo, sem a constrição de bem. Neste

caso estará presente uma cognição em grau maior.

24 - execução civil, p. 115.

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26

CAPÍTULO II

Exceção de Pré-executividade

Como forma de atendimento ao princípio da economia processual, deve

ser o processo submetido a uma espécie de “mecanismo de filtragem” 25,

quando são descartados aqueles onde estão ausentes os requisitos

necessários à sua existência e validade.

Assim, o juiz ao examinar a petição inicial do processo de execução,

deve examinar se estão presentes os pressupostos processuais e as condições

da ação, tal como os existentes no processo de conhecimento, bem como os

requisitos específicos do controle de admissibilidade na execução, a existência

do título executivo e a inadimplência do devedor.

Constatando o juiz a irregularidade a execução será extinta, (art. 267, §

3º do CPC), se instado a emendá-la o exeqüente não o fizer (aplicação

subsidiária do artigo 284 do CPC).

Contudo, as matérias concernentes aos pressupostos processuais e

condições da ação são de ordem pública e está o juiz autorizado a delas

conhecer a qualquer tempo. E embora não haja previsão legal, nada justifica

que o executado tenha que ter, primeiramente seus bens constritos, para só

após, em sede de embargos, poder argüir matéria que deveria ter sido

conhecida de ofício pelo juiz e que levaria a extinção do processo.

Quando do juízo de admissibilidade o despacho inicial do juiz pode ter

um conteúdo positivo ou negativo. Quando negativo o conteúdo profere uma

sentença terminativa, extinguindo o processo. Caso contrário, admitindo a

execução é uma decisão interlocutória.

Por conseguinte, admitindo-se a existência de um controle de

admissibilidade na execução e a incidência, irrefutável, do contraditório neste

processo, nada obsta a parte que utilize a exceção de pré-executividade como

25 - Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Admissibilidade e mérito na execução. In Revista do Processo. 1987, n. 47, p. 47.

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27forma de defesa, bem como de forma a impedir se prospere um processo

eivado de nulidades.

2.1 Precedentes Históricos da exceção de pré-executividade

Encontramos, segundo Galeno Lacerda, na ação de “assinação de dez

dias” prevista nas Ordenações Filipinas, através do Regulamento 737, datado

de 25/11/1850, a origem do instituto modernamente chamado de exceção de

pré-executividade. Neste regulamento houve a distinção dos embargos do

executado na execução de sentença, com a exigência da prévia penhora para

segurança do juízo, e os embargos na assinação de dez dias, sem penhora

anterior.26 Era “cabível tal ação nos casos correspondentes àqueles que nos

outros países davam lugar ao processo executivo, e permitia a consecução de

uma sentença condenatória de modo mais rápido do que o do processo

ordinário, ao mesmo tempo em que o procedimento era simplificado, e a

defesa do devedor sensivelmente limitada”.27

O Regulamento 737/1850, através da ação decendiária, já permitia a

defesa do executado, em processo executório, sem a segurança do juízo, mas

pela via de embargos.

O Decreto Imperial 9.885 de 1.888, em seus artigos 10 e 31, admitia

uma forma de oposição do Executado, independente da segurança do juízo. E

pelo Decreto n. 848, de 1890 a defesa do executado no próprio processo de

execução foi considerado de forma que: “comparecendo o réu para se defender

antes de feita a penhora, não será ouvido sem primeiro segurar o juízo, salvo

se exibir documento autêntico de pagamento da dívida, ou anulação desta”. O

art. 201 admitia ainda que: “A matéria da defesa, estabelecida a identidade do

réu, consistirá na prova de quitação, nulidade do feito e prescrição da dívida”. 28

Houve ainda no Decreto n. 5.225 do Estado do Rio Grande do Sul, que

modificava alguns dispositivos do Código de Processo Civil e Comercial 26 - Galeno Lacerda. Execução do título judicial e a segurança do juízo. In: Estudos de direito processual em homenagem a José Frederico Marques, S.Paulo, Saraivam, 1982, p.68. 27- Enrico Túlio Liebman. Execução e ação executiva, In: Estudos sobre o processo civil brasileiro. S.Paulo: ed. José Bushatsky, 1976, p. 65-66. 28 - Alberto Camiña Moreira, Defesa sem Embargos do executado: exceção de pré-executividade, p. 22.

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28daquele Estado, e criava, pelo artigo 1º, XXIII, expressamente , a exceção

de impropriedade do meio executivo, dispondo que “a parte citada para a

execução de título executivo poderá, antes de qualquer procedimento, opor as

exceções de suspeição e incompetência do Juízo ou de impropriedade do meio

executivo.” 29

No direito comparado, pode ser encontrada forma de defesa do

executado, semelhante à exceção de pré-executividade, no antigo Código de

Processo Civil Português de 1939, que no artigo 812 dizia ser possível o

Executado opor-se à execução por embargos ou por simples requerimento,

este usado nos casos em que alegasse matéria provada por documentos.30

Segundo Artur Anselmo de Castro, esse meio processual se prestava à

alegação de vícios da relação processual executiva, falta de pressupostos

processuais gerais e a inexeqüibilidade do título, os vícios como para argüir as

oposições de mera forma e as oposições de fundo, passíveis de serem objeto

de prova documental.31

Em 1961, com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil

Português, observa-se a abolição da oposição por simples requerimento,

argumentando os que defendem essa supressão que havia duplicação inútil

dos embargos, sendo coincidentes a tramitação de um e de outro. Para os

doutrinadores, que se colocam em posição de confronto com a nova redação

que suprimiu a aposição por simples requerimento, os argumentos

justificadores de tal não se sustentam, eis que, na realidade, os caminhos são

diversos, bem como suas características.

Araken de Assis, afirma que, na realidade, a supressão deveu-se a

um equívoco, que se trai quando acaba por dizer-se que a argüição das

nulidades não está sujeita a embargos, mas ao regime geral, que é afinal a do

requerimento, ou quando se excluem dos embargos matérias como a argüição

da falta de pressupostos processuais, ou se omitem questões como a da

incompetência absoluta do tribunal ou da relativa, que se hão de resolver pelo

requerimento.

29 -Luiz Edmundo Appel Bojunga, A exceção de pré-executividade, In: Revista de processo, n. 55, p. 67.30 José Alberto dos Reis, Processo de Execução, v. 1, p. 194.31 - Ibidem, p. 195/200.

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29Apesar de abolida a previsão legal esse tipo de defesa, manteve-se,

destarte, inalterado o fundamento da sua existência e da sua necessidade.32

O direito alemão, no ZPO, de 1.877, ainda em vigência, não condiciona a

oposição do devedor, na execução, à penhora prévia. 33

O Código de Processo Civil Italiano prevê a oposição de embargos à execução

antes ou depois da penhora, não havendo condicionamento deste à

segurança do juízo.

No Brasil, o instituto da exceção de pré-executividade não é previsto

expressamente no ordenamento, sendo, quando utilizado, invocados como

seus fundamentos os princípios constitucionais da ampla defesa, do

contraditório, a farta doutrina que lhe é favorável e jurisprudência dominante.

A partir do Parecer n. 95, da lavra do eminente jurista Pontes de

Miranda, começa-se a dar ênfase ao instituto da exceção de pré-

executividade, como defesa do executado dentro do próprio processo de

execução. A questão posta ao jurista era se, com as várias ações de

execução e os sucessivos pedidos de falência baseados em duplicatas falsas

que a Companhia Siderúrgica Mannesmann vinha sofrendo, acarretando o

agravamento de sua situação, havia a possibilidade de a Companhia requerer,

antes da penhora e, no prazo previsto no artigo 229 do Código de Processo

Civil, vigente à época, nas ações de execução que lhe eram movidas, a

nulidade da citação, com o argumento de serem falsos os títulos.

Neste parecer Pontes de Miranda demonstra que os Embargos não são

o único meio de defesa do Executado e que este pode argüir por meio de

exceções pré-processuais matérias pertinentes aos requisitos de

admissibilidade do processo executivo, considerando que a análise a ser

realizada sobre o título é de direito pré-processual, e não, como querem

alguns, de direito processual.34

No desenrolar de seu Parecer, ao justificar esta forma de defesa no

processo de execução, antes da penhora, afirma que a ratio legis está no

32 - Araken de Assis, Manual de processo de execução, p. 426.33 - Galeno Lacerda, Execução de título extrajudicial e segurança do juízo, p. 10.34 - Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Dez anos de pareceres, v. 4, p. 125/129.

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30excessivo poder de executar, que seria atribuído ao juiz, sem que o executado

pudesse alegar incompetência do juízo, inclusive ratione materiae, ou

suspeição do juiz, ou ainda falta de pressupostos para a executividade do título

(lato sensu).35 Nos dizeres do processualista, seria absurdo que juízes

incompetentes, ou suspeitos, ou por despacho baseado em títulos falsos, ou

sem eficácia contra o demandado (...) pudessem determinar a penhora sem

oportunidade para a alegação.36

E termina o parecer afirmando a segurança do juízo somente deve ser

exigida para a oposição de embargos do executado, não o sendo para a

oposição de exceções e de preliminares concernentes à falta de eficácia

executiva do título, judicial ou extrajudicial, devendo o juiz, quando alegada

oposição de exceção pré-processual ou processual, examinar a espécie e o

caso, para que não cometa a arbitrariedade de determinar a penhora de bens

de quem não estava exposto à ação executiva. 37

Contrariando a posição de Pontes de Mirando de forma veemente, o não

menos festejado jurista Alcides de Mendonça Lima propugna que a ação de

embargos à execução é a única forma de defesa para o executado, a ser

apresentada e recebida após a prévia segurança do Juízo. Quando da sua

manifestação, fundamentou-a na própria norma processual contida no artigo

737, do Código então em vigor.

Seu argumento em sentido contrário era que se houvesse a plena

aceitação do instituto, não haveria mais campo para os embargos com

penhora, que seria colocado à margem, pois sempre haveria a possibilidade

de, com algum artifício, o devedor arranjar ardiloso argumento para eximir-se

da penhora, mesmo que apresentasse embargos ou, talvez, interpor agravo

contra o despacho de citação para pagar ou nomear bens a penhora. Em sua

opinião, seria o caos do processo de execução, desfigurado de sua acepção

teleológica, deixando de proteger o credor para favorecer o devedor.38

35Ob. cit. , p. 127.36 - Ibidem, p. 131.37 - Ibidem, p. 138.38 - Alcides de Mendonça Lima, Processo de conhecimento e processo de execução, 2ª ed. , p. 279/280.

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31Encerra, o ilustre jurista, afirmando que “A tese de que questões ou

exceções pré-executivas dispensam a penhora como antecedente necessário

aos embargos do devedor, tratando-se de ação executiva fundada em título

extrajudicial, é meramente acadêmica, podendo servir, por sua relevância,

como valiosos subsídios, contudo, para a reforma do CPC, configurando-se,

de modo preciso e exato, os dispositivos respectivos”.39

Em breve digressão ao abordado neste capítulo, é de se registrar a

existência de previsão da possibilidade de defesa no bojo do processo de

execução em período anterior ao nosso primeiro Código de Processo Civil,

tendo este e o posterior se omitido sobre a matéria.

Apesar da posição contrária de alguns doutrinadores à utilização do

instituto da exceção de pré-executividade, a grande maioria deles e os

tribunais vêm acolhendo o questionamento pelo executado, notadamente

quanto aos vícios e falhas referentes aos requisitos de admissibilidade da

execução, dentro do processo executivo, independente da segurança do juízo.

EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE.

A exceção de pré-executividade, construção doutrinária

tendente à instrumentalização do processo, não se

presta para argüir ilegalidade da própria relação jurídica

material que deu origem ao crédito executado. Seu

âmbito é restrito às questões concernentes aos

pressupostos processuais, condições da ação e vícios

objetivos do título, referentes à certeza, liquidez e

exigibilidade.

( 1ª turma do STJ, REsp 232.076-PE, Rel. Min. Milton

Luiz Pereira, j. em 18/12/2001.

39- Ibidem, p. 280.

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322.2 Doutrina sobre a exceção de pré-executividade

Apesar de vozes dissonantes na doutrina que contestam a exceção de

pré-executividade, nela enxergando um risco ao processo executivo, a

realidade, hoje, é a consolidação do posicionamento que a admite como defesa

do devedor, intra-execução, sem a necessidade de segurança do juízo e de

oferecimento de Embargos, “como forma de contraditar e fulminar no

nascedouro pretensão executiva viciada ou inexistente”.40

Dissentem entre si, entretanto, os autores a ela favoráveis, no que se

refere às hipóteses de seu cabimento, limitando-a uns às defesas

processuais, enquanto outros a ampliam ao entendê-la cabível também em

determinadas defesas relacionadas à defesa de mérito.

Galeno Lacerda, que aderiu à tese expendida por Pontes de Miranda

em seu Parecer, manifestou-se impugnando a necessidade de segurança do

juízo e compulsoriedade dos embargos como condição para o devedor fazer

frente à execução, quanto às matérias dos pressupostos e condições de ação.

Assim, colocou a questão: “Se estes pressupostos ou condições inexistem, ou

ocorre grave suspeita em tal sentido, constituiria violência inominável impor-se

ao injustamente executado o dano, às vezes irreparável, da penhora prévia

ou, o que é pior, denegar-lhe qualquer possibilidade de defesa se acaso não

possuir ele bens penhoráveis suficientes.41

Enio Garcia afirma que o executado pode nos próprios autos argüir a

defesa ao invés de oferecer bens à penhora para depois entrar com

embargos.42

Luiz Edmundo Appel Bojunga manifesta-se no sentido de que deve o

Juiz, ao examinar a inicial fazer a verificação dos pressupostos processuais,

cabendo, entretanto, ao executado sua fiscalização. E se ao juiz escapar

alguma irregularidade, abre-se ao executado, em qualquer fase do

procedimento, a possibilidade de apresentar a exceção de pré-executividade.43

40- Rita Dias Nolasco, Exceção de pré-executividade, 2ª ed., p. 175.41- Galeno Lacerda, Execução de título extrajudicial e segurança do juízo, p. 173.42 -Enio Garcia, Execução sem título hábil: defesa através de exceção de pré-executividade, p.16.43 - Luiz Edmundo Appel Bojunga, A exceção de pré-executividade, p. 63.

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33O processualista Humberto Theodoro Júnior entende que “A nulidade é

vício fundamental e, assim priva o processo de toda e qualquer eficácia. Sua

declaração, no processo de execução, não exige forma ou procedimento

especial. O juiz, a qualquer tempo, poderá declarar a nulidade do feito tanto a

requerimento da parte como ex officio. Não é preciso, portanto, que o devedor

se utilize dos embargos à execução. Poderá argüir a nulidade em simples

petição, nos próprios autos da execução”.44

José Alonso Beltrame, considera que desde que não envolva aspectos

de alta indagação, nada impede que as nulidades sejam objeto de exame

dentro dos próprios autos da execução e “se ao juiz é possível conhecê-las de

oficio, ao credor é dado apontá-las, ao devedor é de se delegar a faculdade de

provocar o exame delas no bojo do processo de execução, embora disponha

dos embargos”.

Cândido Rangel Dinamarco acentua não ser legítimo obrigar o devedor

aos embargos, com a antecedente penhora ou depósito, quando a execução

for visivelmente inadmissível, sendo necessário debelar o mito dos embargos,

que leva os juízes a uma atitude passiva, adiando decisões que poderiam ser

tomadas liminarmente, uma vez que dos fundamentos dos embargos poucos

são os que o juiz não possa conhecer de ofício, na própria execução.45

Araken de Assis também se posiciona favoravelmente ao instituto,

chamando-o, exceção de executividade, colocando que, conquanto não haja

previsão legal, se o judiciário tolerar , por lapso, a falta de algum pressuposto,

ao demandado é possível requerer seu exame, quiçá promovendo a extinção

da demanda executória, prescindindo de penhora e de oferecimento de

embargos tal provocação referente à matéria passível de conhecimento de

ofício pelo juiz.46

Além dos citados, muitos são os autores que propugnam pela aceitação

da exceção de pré-executividade podendo ser relacionados ainda: Nelson

Nery Júnior, Marcos Valls Feu Rosa, Sergio Shimura, Alberto Camiña Moreira,

Teresa Arruda Alvim Wambier, Luiz Rodrigues Wambier, Vicente Greco Filho,

44- Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, p. 864. 45 - Execução civil, p. 450-451.46- Manual de execução, p. 443.

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34Olavo de Oliveira Neto, dentre outros que discorrendo sobre o tema, muito

contribuíram para a sua aceitação pelos nossos Tribunais.

De modo contrário à defesa no próprio processo de execução, registre-

se a posição de Alcides de Mendonça Lima, a quem já nos referimos quando

da exposição dos precedentes históricos do instituto, posição esta exposta em

Parecer solicitado pela Copersucar, que figurava no pólo ativo de uma ação

executiva por título extrajudicial movida em face da Central Paulista de Açúcar

e do Álcool e seus sócios, na qualidade de devedores solidários, onde

sustentava a inviabilidade da exceção de pré-executividade em razão da falta

de previsão legal, apegando-se à aplicação da norma contida no artigo 730 do

CPC, então em vigor.

Segue tal posicionamento, Willis Santiago Guerra, para quem a

estrutura da execução não admite que o devedor, dentro do processo

executivo, possa manifestar-se sobre qualquer matéria, diga ela respeito aos

pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo

iniciado, ou de condição da ação executiva, ou, principalmente, quanto ao ato

subjacente ao título executivo. 47

A posição de Marcelo Lima Guerra é dúbia, como demonstra Olavo de

Oliveira Neto.48 Ao mesmo tempo em que é contrário à exceção de pré-

executividade para alegar vícios da execução, que necessitam de produção de

prova para serem constatados, eis que haveria mister de dilação probatória, o

que é contrário à lei e provocaria, se deferida a produção de prova oral ou

pericial, a desconfiguração do processo de execução, transformando-o em

processo de conhecimento, tornando letra morta todo o conteúdo do Livro II do

CPC, o autor, ao tratar em específico do tema, prevê e exemplifica os vícios

que podem ser alegados através desta, o prazo que se deve abrir para o

credor se manifestar a respeito da exceção e a que defesa pode ser

comparada. Após estas considerações, volta à sua postura contrária a esse

meio de defesa, vindo, a seguir a admiti-la nos casos onde não houver

necessidade de prova dos vícios alegados.49

47 - Aspectos da execução forçada no sistema processual brasileiro, p. 65.48 -A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada, p. 107-108.49 - Execução Forçada, p. 155-156.

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35Apesar das críticas existentes, doutrina e jurisprudência tem aceitado a

exceção de pré-executividade como meio de defesa do executado, defesa esta

incidental ao processo de execução, sem a segurança do juízo.

Para Eduardo Arruda Alvim a exceção de pré-executividade não afeta a

execução nos seus princípios fundamentais, sendo que, o que acontece é que

“está preenchendo espaços, colmatando lacunas e, de fato, tornou-se uma

alternativa viável para que o executado demonstre a insubsistência da

execução, sem comprometer seu patrimônio e também sem atravancar o curso

e a celeridade do processo de execução, pois, em regra, este incidente é

decidido com rapidez e, no geral, há um ganho de tempo muito grande com a

adoção deste procedimento, pois se evidenciada a nulidade da execução, por

exemplo, evita-se o prosseguimento de um processo fadado ao insucesso, em

que a execução seja visivelmente incabível”.50

Incoerente se mostra a postura da corrente doutrinária que

restringe as possibilidades de cabimento do instituto e isto em razão de admiti-

lo para situações como alegação de ilegitimidade por homonímia e contestá-la

para alegação de pagamento do débito, débito prescrito, ou ainda exoneração

de fiança, em razão de estarem ligadas ao mérito.

Na verdade, o que define o bom uso da exceção de pré-

executividade é que a matéria por ela argüida esteja comprovada de forma

irretorquível, a dispensar qualquer tipo de dilação probatória, esta sim,

incompatível com o processo executório e, possível somente em sede de

embargos.

Neste sentido a lição de Sergio Shimura que aduz que, embora a

lei só contemple a via dos embargos como forma de defesa do devedor, é

perfeitamente cabível em nossa sistemática processual o oferecimento de

defesas no bojo do processo de execução podendo ser argüidas não só as

matérias que devem ser conhecidas de ofício pelo Juiz (pressupostos

processuais e condições de ação) como também as que dependem de

alegação da parte, desde que não requeiram para sua constatação a dilação

probatória, e cita como exemplos a prescrição, pagamento, compensação,

50- Exceção de pré-executividade, p. 211.

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36novação, etc. devendo estar provadas de forma límpida, irretorquível. Somente

nas matérias cuja comprovação exige dilação probatória e que se faz mister a

oposição de embargos pelo devedor.51

No mesmo sentido, Alberto Camiña Moreira, amplia as possibilidades

de cabimento da exceção de pré-executividade, desde que haja prova pré-

constituída ou sua comprovação se dê à frente de documentos. Fica, destarte,

facultado ao executado alegar exceção material ou substancial intra-execução,

ou seja, é-lhe permitido a defesa do mérito, sem embargos á execução.

Quanto ao posicionamento de parte da doutrina de que não é de se admitir a

exceção de pré-executividade, pois propiciaria o uso indevido do instituto como

meio de protelar a execução, não há que servir como óbice, pois o próprio

diploma processual fornece meios ao juiz para coibi-la ao prever a

possibilidade de condenação da parte por prática de atos atentatórios à

dignidade da justiça e fixar multa, (art. 600, II e 601 do CPC) bem como

condenar o devedor por litigância de má-fé (art. 17, VI, do CPC).

2.3 Terminologia

Questão ainda polêmica em relação ao instituto é a relativa a sua

terminologia.

Usada pela primeira vez por Pontes de Miranda, essa defesa do

executado recebeu do eminente mestre a denominação de exceção pré-

processual ou processual. Conforme nos dá notícia Carlos Renato de Azevedo

Soares, posteriormente, Galeno Lacerda e José Frederico Marques a

chamaram oposição pré-processual. 52

A celeuma existente quanto ao termo exceção de pré-executividade,

para expressar a defesa interna ao processo de execução envolve não só o

uso da palavra exceção, que para alguns doutrinadores, como Nelson Nery

Junior, seria imprópria porque “a palavra exceção traz ínsita a idéia de

51 -Título executivo, p. 70-71,78.52-Exceção de pré-executividade, p. 243.

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37disponibilidade do direito, razão por que, não oposta a exceção, ocorre a

preclusão e sendo seu objeto matéria de ordem pública, decretável ex ofício

pelo juiz, por isso mesmo insuscetível de preclusão, propõe que se denomine

este expediente de objeção de pré-executividade,53 como também, aos termos

pré e executividade que, segundo Marcos Valls Feu Rosa, não é nem

exceção, nem pré e nem executividade, eis que exceção, tal como usada por

Pontes de Miranda, só se justificaria àquela época em que a palavra abrangia

todo o tipo de defesa do réu e a expressão pré-executividade seria pertinente,

apenas, ao que fosse anterior à formação da executividade, deixando à

margem toda e qualquer questão surgida após a inicial e que necessitassem do

pronunciamento do juiz, tais como o inciso II do artigo 618 do CPC (nulidade da

execução pro irregularidade na citação) e o artigo 746 do mesmo diploma

(matérias supervenientes à penhora).54

Outros autores divergem do termo, hoje adotado de maneira uniforme

nas decisões dos tribunais, por fundamentos variados. Sergio Shimura, prega

a utilização de ambos os termos, exceção e objeção de pré-executividade, de

acordo com a matéria a ser argüida. Assim, se matéria de ordem pública que

pode ser conhecida de ofício pelo juiz, o termo apropriado é objeção de pré-

executividade; se as matérias a serem alegadas são aquelas que cabem a

parte argüir e desde que não necessitem de dilação probatória para

constatação, será exceção de pré-executividade.55

Neste diapasão, também entendem Cláudio Armando Couce de

Menezes e Leonardo Dias Borges.

Olavo de Oliveira Neto propugna pela expressão incidente de pré-

executividade, eis que o tipo de cognição é que determinará ao juiz decidir

independentemente de embargos e da segurança do juízo, constituindo, desta

forma, exceção e objeção, apenas um incidente processual que será resolvido

intra-execução. 56

53 -Princípios do processo civil na constituição, p. 129.54 - Exceção de pré-executividade: matérias de ordem pública no processo de execução, p. 94.55 - Título executivo, p. 70-71.56 -A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada, p. 118.

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38 Defensor da expressão exceção de pré-executividade para nominar a

defesa intra-execução, Alberto Camiña Moreira justifica sua posição explicando

que o termo exceção não pode ser tomado no sentido restrito do atual Código

de Processo Civil, pois obviamente os sentidos são distintos não significando

defesa indireta contra o órgão julgador e quanto à expressão pré-executividade

esta quer significar a possibilidade da exceção ser apresentada antes do

início da atividade executória (antes da constrição de bens) podendo ainda ser

alegada até mesmo após os embargos do devedor e da arrematação.57

Adotamos no presente trabalho a terminologia exceção de pré-

executividade por entendê-la cabível e adequada a esse tipo de defesa intra-

execução, sem a necessidade de segurança do juízo, entendida exceção no

seu sentido amplo de defesa, bem como, pela sua aplicação nas decisões

proferidas pelos Tribunais.

Divergências à parte, o essencial sobre a matéria aqui abordada é que

esta vem se consolidando como forma de defesa do devedor, dentro do

processo de execução, sem que para tal sofra constrição de seu patrimônio,

contrariando pretensão de executividade de forma mais célere, devendo a

expressão exceção ser tomada em seu sentido amplo de defesa.

2.4 Natureza Jurídica

De plano, devemos afastar a sua natureza das exceções previstas no

Código de Processo Civil, que possuem o restrito sentido de oposição de

defesa indireta processual, como a suspeição, o impedimento e a

incompetência, bem como seja considerada como uma contestação, pois

nesta qualquer matéria de defesa pode ser argüida, inclusive as que exigem

dilação probatória, com realização de perícia, por exemplo, e se não

apresentada dentro do prazo previsto ocasiona a revelia, o que não sói

acontecer com a exceção de pré-executividade, que não admite alegações

57 -Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade, p.34.

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39pendentes de provas e que pode ser argüida a qualquer tempo, dentro da

execução.

Vista sob o ângulo do devedor, pode ser considerada como defesa pela

qual se pede a extinção do processo por falta de seus requisitos legais58, mas,

como alerta Marcos Valls Feu Rosa ela não é um meio de defesa, mas tão

somente um pedido para que o juiz exerça seu oficio, considerando ainda, este

autor que a exceção “é um instrumento de provocação do órgão jurisdicional,

através do qual se requer manifestação acerca dos requisitos da execução”.59

Já no direito português, que em seu antigo Código de Processo Civil

previa a oposição por simples requerimento, instituto assemelhado à exceção

de pré-executividade, o doutrinador Arthur Anselmo de Castro vislumbrava a

sua natureza de incidente, ou processo incidental, como tal reclamando

imediata resolução.60

Alberto Camiña Moreira vê no instituto natureza de incidente defensivo

que recai sobre o processo de execução, constituindo o que chama de

“momento novo no processo” a sua argüição pelo devedor, não necessitando

de contemplação normativa eis que implícito no lineamento do processo civil

brasileiro.61

Neste sentido, considerando a natureza da exceção de pré-

executividade como incidente processual, os doutrinadores Tereza Arruda

Alvim Wambier e Luiz Rodrigues Wambier conceituam sua natureza jurídica

como incidente a ser argüido no bojo da própria execução, devendo ser

dicidido pelo juiz, antes de tudo, que deverá, se for o caso, extinguir a

execução.

Embora de forma indireta, os Tribunais em suas decisões sobre o

cabimento da exceção de pré-executividade, também acabam se manifestando

sobre a sua natureza jurídica:

58 - Exceção de Pré-executividade: matérias de ordem pública no processo de execução, p. 97.59 - Ibidem, p.98.60- A acção executiva singular, comum e especial, p. 313. Apud: Alberto Camiña Moreira, Defesa sem Embargos do executado:exceção de pré-executividade, p. 36.61 - Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade, p.37.

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40Exceção de pré-executividade. Honorários advocatícios.

Cabimento. Sendo a exceção de pré-executividade meio

excepcional e atípico, até porque não prevista em lei,

não passa de mero incidente processual, limitado ao

conhecimento daquelas questões apreciáveis de oficio,

não podendo falar-se em condenação em honorários

advocatícios.... (grifo nosso)62

Processo Civil. Execução Fiscal. Exceção de pré-

executividade rejeitada por sentença. Recurso cabível.

Ausência de erro grosseiro. Princípio da fungibilidade.

Apelação conhecida como agravo de instrumento.

A defesa, através de petição direta no processo de

execução dita exceção de pré-executividade, é

incidente processual cuja rejeição enseja agravo de

instrumento. Aplicação... 63 (grifo nosso)

62 -TRF da 1ª Região – Quinta Turma – AG. 2001.01.00.046429-9/MG – Rel. Desemb. Federal Plauto Ribeiro – Julgamento: 26/06/2002. 63 - TRF 5ª Região - Terceira Turma – Apelação Cível 194736 – Rel. Desemb. Federal Ridalvo Costa – J. 29/08/2002 – DJ 11/10/2002 p. 966.

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41

CAPÍTULO III

PROCESSAMENTO DA EXCEÇÃO DE

PRÉ-EXECUTIVIDADE

3.1 Do prazo para sua apresentação

Da mesma forma que não há consenso da doutrina no que se refere à

melhor denominação para a exceção de pré-executividade, o prazo para

apresentá-la não é menos tormentoso. Pontes de Miranda o primeiro a usar o

instrumento, em seu Parecer fala que sua argüição caberia nos três primeiros

dias do prazo para a contestação, obedecendo ao prazo geral das exceções,

em consonância com o Código de Processo Civil então em vigor. Para esta

afirmação resultaram diferentes interpretações quanto ao prazo, ao ser

transportado para os dias de hoje. Assim diferentes doutrinadores se

manifestaram: Galeno Lacerda entende que o prazo referido equivaleria a 24

horas, isto é, o interregno de tempo entre a citação e a nomeação de bens à

penhora; 64 Luiz Peixoto de Siqueira Filho registra que, por força do artigo 305

do CPC, esse prazo seria de 15 dias 65 e Marcos Valls Feu Rosa manifesta-

se no sentido de que a conformação desse prazo às regras atuais

representaria cinco dias. 66

Os entendimentos sobre o prazo diferem de acordo com a orientação

seguida. Nelson Rodrigues Neto, considerando a opinião de Pontes de

Miranda, para quem o objetivo da exceção de pré-executividade é atacar o

despacho inicial do processo executivo, e por via direta, impedir a penhora,

explica que o prazo exíguo fixado pela grande processualista tinha como

motivo a necessidade de celeridade do conhecimento e deferimento da

exceção, visando impedir os atos constritivos da execução.

64 - Execução de título extrajudicial e segurança do juízo, p. 14.65 - Exceção de pré-executividade, p. 62.66 -Exceção de pré-executividade: matérias de ordem pública no processo de execução, p. 54.

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42Nessa linha, Carlos Renato de Azevedo Ferreira expõe que a exceção

deve ser oposta até mesmo antes do despacho inaugural para se evitar a

penhora, eis que esta é decorrência daquele, desde que ausentes as

condições da execução.

Clito Fornaciari Júnior, na mesma linha de pensamento, explicita que,

com a penhora, a apreciação da exceção de pré-executividade fica

prejudicada, restando ao devedor a via dos embargos.67 Mais longe, mas neste

mesmo sentido, Donaldo Armelim afirma que, superada a fase da penhora,

falta interesse de agir ao devedor para a propositura da exceção de pré-

executividade, não sendo, ainda, para o referido processualista, cabível a

sua argüição em execuções onde não seja necessária a constrição de bens

(obrigações de fazer e não fazer) para a oposição de embargos. Considera,

ainda, inadmissível, sua apresentação na execução contra a Fazenda Pública 68, no que é acompanhado por Nelson Rodrigues Netto69.

Galeno Lacerda, Luiz Edmundo Appel Bojunga comungam do mesmo

pensamento colocando que a matéria relativa aos pressupostos processuais

por ser de ordem pública, podendo (devendo) ser decretada de oficio pelo juiz,

não se submete aos efeitos da preclusão, e, em conseqüência, argüíveis a

qualquer tempo, até mesmo, desde o ajuizamento da ação executiva.

Para Alberto Camiña Moreira mesmo que a lei determinasse um prazo

certo para a interposição do instituto esta poderia ser oferecida a qualquer

tempo “pois a natureza das matérias alegadas não se subordina a

peremptoriedade inerente à preclusão. Questões processuais, de ordem

pública, podem ser alegadas a qualquer tempo: da mesma forma a prescrição,

a decadência, o pagamento e a compensação”. 70

No sentido de que as matérias levantadas através da exceção de pré-

executividade não se submetem aos efeitos da preclusão, podendo ser

opostas a qualquer tempo e grau de jurisdição, mesmo que interpostos

embargos, já decidiu a 4ª Turma do STJ proclamando a irrelevância “do prazo

67 - Exceção de pré-executividade, Revista Síntese Trabalhista, v. 25, p. 3.. 68 - Palestra proferida na OAB de Ribeirão Preto /SP, Agosto de 1999, Apud Rita Dias Nolasco, Exceção de Pré-executividade, p. 197.69 - Exceção de pré-executividade, p.32-33.70 - Defesa sem embargos do executado, p. 55

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43fixado para os embargos do devedor” para aceitar a exceção oposta nos autos

da execução (REsp n. 220.100/rj, 2.9.1999, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

DJU de 25/10/1999, p. 93).

Questão, ainda a ser enfrentada no presente trabalho, é quanto à

subsunção das exceções substantivas, que integram a defesa indireta de

mérito, opostas dentro da exceção de pré-executividade ao fenômeno

preclusivo.

O mestre Araken de Assis nos adverte que, para tal, necessário

analisar a matéria à luz dos três tipos de preclusão previstos na nossa

doutrina, isto por que as exceções substantivas submetem-se, sim, à

preclusão. Portanto, explica-nos ele que, se for omitida a alegação no tempo

oportuno, o réu não poderá fazê-lo posteriormente, nem o juiz conhecê-las de

ofício porque a lei a subordina sua alegação à iniciativa da parte. Desta

forma é de se ressaltar que não existe prazo para a oposição da exceção de

pré-executividade, como, alhures, já visto, o que afasta de pronto a preclusão

temporal com a inaplicabilidade do artigo 183 do CPC; o mesmo destino tem a

preclusão lógica, eis que não há que se falar em incompatibilidade entre

outros atos e a exceção; e quanto à preclusão consumativa, esta sim poderá

existir, “mas, aí, se pressupõe o emprego da exceção, com ou sem êxito,

apenas se excluindo ao executado aditá-la, completá-la ou repeti-la”71.

3.2- Legitimidade

Estão legitimados a usar a exceção de pré-executividade todos

aqueles que podem oferecer embargos, do devedor ou de terceiro, ou seja,

todos os que podem figurar no pólo passivo da execução, arrolados no artigo

568 do Código de Processo Civil.

Discute-se na doutrina se ao exeqüente é facultado o uso do instituto

para argüir a nulidade de atos processuais que teriam sido realizados sem

observância da forma preconizada e que poderia mais tarde ser fulminado pela

71 - Araken de Assis, em palestra sobre a exceção de pré-executividade proferida no Simpósio de Direito Bancário, em 8-7-2000, Apud Rita Dias Nolasco, Exceção de Pré-executividade, p. 200

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44nulidade. Marcos Valls Feu Rosa, defensor dessa posição preconizando que

o que interessa é o fato de o juiz ser alertado, uma vez que o exame, ou

reexame das questões pendentes deveria ter sido feito de ofício.72 Exemplo

clássico do interesse do autor em interpor a exceção de pré-executividade é o

caso de uma penhora feita em bem de família do executado, o que não trará

vantagem alguma a ele, credor, que à frente terá de suportar a anulação do

ato, com a necessidade de sua repetição.

Camiña Moreira contesta tal posição afirmando que o exeqüente não é

parte legítima para apresentar exceção de pré-executividade, por lhe faltar

interesse processual, bastando que propugne pela extinção da execução que

desencadeou. Tal posicionamento, entretanto, não é consentâneo com a

situação do problema enfocado, eis que neste, o interesse do credor é tão

somente a nulidade da penhora efetivada e a conseqüente realização de outra

em bem disponível, com o prosseguimento do processo de execução.

3.3.Forma

Não há forma preconizada para a apresentação da exceção de pré-

executividade, bastando, segundo a doutrina, e neste aspecto não existe

divergência, que seja argüida por simples petição, sem obediência aos

requisitos impostos para a exordial, nos artigos 282 e 283 do CPC.

Oliveira Neto preleciona que, “tratando-se de incidente processual,

deve a exceção de pré-executividade ser requerida nos próprios autos do

processo de execução por simples petição”.73

Nelson Nery Júnior também discorre sobre o assunto afirmando que a

exceção deverá ser argüida por mera petição, com os motivos de fato e de

direito pelos quais o executado entende ser a execução incabível ou ilegal,

devendo, ainda conter pedido de extinção da execução ou de alteração do seu

valor. Pelo fato de não estar regulado expressamente este meio de defesa no

72 - Exceção de pré-executividade: matérias de ordem pública no processo de execução, p.48-49.73 - A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada, p. 68-69.

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45CPC, a petição deverá ser processada nos autos da execução, e não em autos

apartados.74

Marcos Valls Feu Rosa admite seja ela argüida também em audiência,

se esta vir a realizar-se por exigência do juiz, que pode, a qualquer momento,

ordenar o comparecimento das partes, fazendo uso do artigo 299, I do Código

de Processo Civil, devendo, nesta hipótese ser consignada na ata de

audiência. Embora de difícil ocorrência, encontra-se a situação prevista no

ordenamento.

3.4- Do meio de prova admitido

Como já abordado anteriormente, a exceção de pré-executividade só é

admitida para a argüição de matérias que possam ser conhecidas de plano

pelo juiz, sem a necessidade de dilação provisória, eis que, apresentada intra-

execução, desconfiguraria o processo de execução, transformando-o em

verdadeiro processo de conhecimento, tornando, como visto alhures, letra

morta o Livro II do Código de Processo Civil. A única espécie de prova viável a

ser admitida na exceção de pré-executividade é a prova documental pré-

constituída que pode ser definida como a prova fornecida por instrumentos

públicos ou particulares constitutivos de quaisquer relações jurídicas que,

segundo a lei, possam ser por elas criadas.75

Desta forma, deve a exceção de pré-executividade, ao ser

apresentada, estar instruída com todos os documentos que comprovem de

plano o direito alegado, sob pena de ser indeferido o pedido, “já que a prova

deve ser, assim como no Mandado de Segurança pré-constituída”.76

A técnica de cognição exercida no Mandado de Segurança e aplicável

também no procedimento da exceção de pré-executividade é no dizer de Luiz

Guilherme Marinoni como exauriente secundum eventum probationis, ou seja,

trata-se de procedimento que, embora “limitando as provas que podem ser

74 - Código de Processo Civil Comentado, p. 1188.75 - Moacyr Amaral dos Santos, Da prova judiciária no cível e no comercial, v.1, p.70.76- Olavo de Oliveira Neto, A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada, p. 121-122.

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46utilizadas, objetivando uma tutela mais célere do direito, almeja sempre a

cognição exauriente e não a cognição sumária”.77

Embora a cognição realizada pelo juiz na exceção de pré-

executividade não seja total quanto à extensão, uma vez que as matérias que

podem ser argüidas são limitadas, ela será, quanto à profundidade, exauriente,

por se tratar apenas de prova documental passível de livre apreciação.

3.5 Aplicação do princípio do contraditório

Em atenção aos princípios do contraditório e da igualdade, necessário

se faz a manifestação do exeqüente depois de apresentada a exceção de pré-

executividade.

É de se aplicar à espécie, por analogia os artigos 326 e 327 do CPC. Ao

defender-se através da exceção, o executado argüi fato impeditivo,

modificativo ou extintivo do direito alegado pelo credor, pelo que, aplicando-se,

subsidiariamente os artigos acima citados, deve-se garantir ao exeqüente

(credor) o “direito de contraditar o pedido formulado pelo executado na

exceção”.78

Neste mesmo sentido Nelson Nery Júnior expõe que “em homenagem

ao contraditório, recebida a exceção o juiz deverá dar oportunidade para que o

credor-excepto se manifeste sobre o incidente, fixando prazo razoável para

tanto”.79

Entretanto, Marcelo Lima Guerra é contrário a este entendimento

colocando que, alegado o vício, o juiz deve de imediato reconhecê-lo e

extinguir a execução, como o faria se, por si mesmo, o tivesse identificado,

com o que não incorreria em nenhum error in procedendo. 80

No direito português, que contempla a oposição por simples

requerimento apresentada pelo devedor, segundo o processualista Fernando

Amâncio Ferreira, o juiz, por analogia ao estabelecido no artigo 207º pode ou

77 - Tutela inibitória: individual e coletiva, P. 258.78 - Alberto Camiña Moreira, A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada, p. 123.79 - Código de Processo Civil Comentado, p. 1188.80 -Execução forçada, p. 158.

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47indeferir o requerimento ou deferi-lo sem manifestação do exeqüente, por

desnecessário ou, ainda, ordenar a notificação do exeqüente para responder.81

Colocamo-nos favoráveis à corrente que pugna pelo respeito ao

princípio do contraditório, até por uma questão de coerência, pois, a admitir

que seja permitido ao devedor invocá-lo para, por meio de simples petição,

intra-execução, se defender, justo se mostra que, ao credor, seja aberta a

oportunidade para se manifestar sobre a mesma.

3.6 Efeitos da exceção de pré-executividade

Outro ponto de divergência na doutrina é quanto à suspensão do

processo de execução pela apresentação da exceção de pré-executividade.

Camiña Moreira entende que a suspensão do processo só se pode dar

exclusivamente por determinação legal, ou seja, nas hipóteses previstas pela

lei processual, não podendo ser determinada por ato do juiz, portanto, não

havendo previsão na lei, a exceção de pré-executividade não suspende o

procedimento.

Nelson Rodrigues Netto comunga da mesma opinião e complementa: “o

tempo é crucial no trâmite da exceção de pré-executividade” 82.

Feu Rosa e Luiz Peixoto de Siqueira Filho admitem a suspensão do

processo de execução pela exceção de pré-executividade sendo que para Feu

Rosa o fundamento legal que o autorizaria seria a aplicação, por anologia, do

artigo 791, inciso II do CPC, pois “se o Código de Processo Civil prevê a

suspensão do processo quando é oferecida exceção atinente a requisitos

sujeitos à preclusão (...) com mais razão deverá a execução ser suspensa

quando é argüida a ausência de requisitos de ordem pública”.83 Aduz, ainda o

autor, em defesa à suspensão, que havendo razões para se discutir a

81 - Curso de processo de execução, p. 103, Apud Rodrigo Campos Zequim, In: Exceção de Pré-executividade, p. 56.82- Exceção de pré-executividade, p. 35. 83 - Exceção de pré-executividade: matérias de ordem pública, p. 78-79.

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48regularidade processual, deve a execução ser suspensa, sob pena de se privar

bens de cidadãos sem observância do devido processo legal.84

Para Cândido Rangel Dinamarco os casos de suspensão do processo

executivo não são apenas os enumerados 791 do CPC. Para ele o rol não é

exaustivo. Poderá o juiz, no uso de seu poder discricionário, (usando os

critérios de conveniência e oportunidade), a requerimento da parte e por

motivos graves, com ou sem caução, suspender a execução.85

Entendemos, após a leitura da doutrina sobre a matéria, que a

suspensão é de ser aplicada ao processo executório, nos casos em que assim

ditar a análise e o bom senso do juiz, que poderá fazer uso de seu poder geral

de cautela.Nossos Tribunais tem-se manifestado positivamente a respeito da

suspensão da execução.

Processual Civil. Execução. Exceção de Pré-

executividade. Suspensão do Processo. Cabimento.

CPC. Art. 791. I – A regra do artigo 791 da lei adjetiva

civil comporta maior largueza na sua aplicação,

admitindo-se, também, a suspensão do processo de

execução, pedida em exceção de pré-executividade,

quando haja a anterioridade da ação revisional em que

discute o valor do débito cobrado pelo credor hipotecário

de financiamento contratado com o S.F.H. II – Recurso

especial não conhecido”. (Ac. 4ª Turma do STJ, no Resp

268.532-RS, rel Min. Aldir Passarinho Junior, j. 05-04-01,

DJU 11-06-01, p.230).

3.7 Decisão e recursos

A matéria ora abordada é tratada de forma pacífica pela doutrina, não

havendo controvérsias significativas. Nelson Nery Júnior, de forma bastante

84 Ibidem, p.78-79.85 Execução civil, p. 146.

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49singela, enfrenta a questão afirmando: ”O ato do juiz que resolve a exceção é

recorrível: a) se rejeitá-la é decisão interlocutória, impugnável por recurso de

agravo (CPC 162 § 2º e 522) ; b) se acolhê-la e extinguir a execução é

sentença, impugnável por apelação (CPC 162 § 1º, 795 e 513); c) se acolhê-

la mas não extinguir a execução é decisão interlocutória, impugnável pelo

recurso de agravo (CPC 162 § 2º ). Se não acolhida ou conhecida a exceção

de pré-executividade, a execução prosseguirá normalmente, após a intimação

da decisão às partes.O ato da decisão, uma decisão interlocutória, desafia o

recurso de Agravo de Instrumento, sendo incabível a forma retida, pois as

questões proferidas no curso de ação executiva devem ser reapreciadas

imediatamente.

Questão interessante, mas que é abordada de forma perfunctória pela

doutrina é a referente à possibilidade de concessão de efeito suspensivo ao

agravo de instrumento interposto pelo executado da decisão interlocutória

proferida negando o acolhimento da exceção. Prevista no artigo 558 do Código

de Processo Civil, o relator a quem for o recurso distribuído poderá, a

requerimento da parte, e desde que presente o risco de lesão grave e de difícil

reparação e relevantes fundamentos, suspender os efeitos da decisão

recorrida. Nesta hipótese, o deferimento do recurso implicará, até o seu

julgamento final, na suspensão da execução. Entretanto, se este agravo for

interposto de decisão que nega o acolhimento da exceção de pré-executividade

argüida após a realização da penhora, para que o devedor tenha seu direito

resguardado será necessário requerer que seja emprestado, do que a doutrina

denomina, efeito suspensivo ativo à decisão do relator.

Em relação à matéria de recursos na exceção de pré-executividade,

nossos tribunais têm se pronunciado:

RECURSO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO.

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE REJEITADA. VIA

ADEQUADA. Rejeitada a exceção de pré-executividade

apresentada em processo de execução, a decisão

indeferitória tem natureza interlocutória, impugnável por

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50agravo de instrumento e não por apelação. Correta a

decisão que indefere o processamento da apelação

apresentada. Inteligência dos artigos 162, § 2º, e 522 do

Código de Processo Civil. Agravo improvido. (Ac. 5ª Cam.

Cível do 2º TACivSP, no AI 583.428-00/9, j. 28-07-99,

JTA(LEX) 180/369)

PROCESSUAL CIVIl. DECISÃO QUE ACOLHE

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE E EXTINGUE

EXECUÇÃO, NATUREZA DA SENTENÇA.

INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 795 DO CPC. APELO

ACOLHIMENTO – Decisão que, acolhendo exceção de

pré-executividade, extingue o processo de execução tem

natureza de sentença. Inteligência do art. 795 do CPC.

Admissibilidade da Apelação. – Manutenção da decisão

(rectius sentença) por ajustada ao acórdão invocado como

suporte da pretendida execução, pois nele não se

vislumbra eficácia condenatória. – Remessa ex officio e

apelo improvidos. (TRF 5ª Região – Primeira Turma -

Apelação Cível 227961 – Relator Desemb. Federal

Francisco Wildo – J. 21-08-2003 - DJ 09-10-2003, p. 971,

v.u).

3.8- Da Coisa Julgada

Apesar de ser consenso na doutrina não haver coisa julgada material

no processo de execução, por não tratar a sentença que a extingue de matéria

de mérito, autores há, que identificam e reconhecem a existência de coisa

julgada neste quando é o caso de acolhimento da exceção de pré-

executividade fundamentada em alegação de prescrição, pagamento e

decadência.

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51 Camiña Moreira e Barbosa Moreira assumem esta posição, juntamente

com outros autores, afirmando da possibilidade de coisa julgada material na

sentença proferida em execução, quando em seu bojo é discutida matéria de

mérito (cuja via própria seria a de embargos).

Ad argumentadum, Kazuo Watanabe coloca que, em sentido contrário,

há no processo de execução cognição rarefeita, incompatível com a formação

da coisa julgada, eis que, para ocorrer esta exigiria cognição plena e

exauriente.86

Camiña Moreira refuta a argumentação afirmando “ao admitir que só a

prova documental pode instruir pedido de extinção da execução por meio de

exceção de pré-executividade, é certo que sobre ela a cognição será

exauriente. A limitação existente para o executado está nas matérias que se

pode deduzir, mas, uma vez alegadas, passam pelo crivo da cognição plena e

exauriente”.87

Assim, diante das lapidares lições dos grandes mestres, filiamo-nos ao

entendimento de que versando a exceção de pré-executividade sobre matéria

de mérito, e, em sendo acolhida a alegação do pretenso devedor, há que se

admitir a formação da coisa julgada material, impedindo, destarte, a reabertura

da discussão à respeito. No caso, cabível é a ação rescisória.

3.9 Da condenação em honorários advocatícios

Indiscutível, hoje, a responsabilização do exeqüente ao pagamento de

honorários advocatícios, se acolhida a exceção de pré-executividade com a

conseqüente extinção do processo execução, por força do preceituado no §

4º do artigo 20 do Código de Processo Civil. Além da unanimidade da doutrina

tem-se todo um repositório jurisprudencial que o respalda:

“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE. HONORÁRIOS DE ADVOGADO, EM

86 - Da cognição no processo civil p. 86.87 - Defesa sem embargos do executado. p.192.

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52PRINCÍPIO SÃO DEVIDOS (CPC, art. 20 § 4º).

DISTINÇÃO ENTRE EXCUÇÃO EXTINTA E EXECUÇÃO

NÃO ENCERRADA. Em linha de princípio, na exceção de

pré-executividade, cabe a condenação em verba

honorária, convindo, porém, fazer a distinção entre a

exceção extintiva ou não da execução. Se importar, por

iniciativa do devedor, em extinção da execução impõe-se

a condenação em verba honorária, eis que caracterizada

a sucumbência. Não extinta a execução, a exceção de

pré-executividade tem caráter de nímio incidente

processual, descabendo impor-se o encargo da verba de

patrocínio. Recurso não conhecido”. (Ac. 5ª Turma do

STJ, no Resp 442.156-SP, rel. Min.José Arnaldo da

Fonseca, DJU 15-10-02).

HONORÁRIOS DE ADVOGADO. EXECUÇÃO. EXCEÇÃO

DE PRÉ-EXECUTIVIDADE - VALOR IRRISÓRIO. É

DESPROPORCIONAL O VALOR DE R$ 3.000,00 para

honorários de advogado que suscitou com êxito a exceção

de pré-executividade em processo de execução superior a

R$ 2.000.000,00. A só responsabilidade pelo patrocínio de

demanda desse valor e a efetiva atuação em juízo justifica

a elevação dessa verba para R$ 30.000,00. Recurso

conhecido e provido “. (Ac. 4ª Turma do STJ, no Resp.

280.878-SC, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.14-12-00,

DJU 12-03-01, p.149).

HONORÁRIOS DE ADVOGADO – CONDENAÇÃO –

EXECUÇÃO – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE –

ADMISSIBILIDADE – APLICAÇÃO DO ARTIGO 20 § 4º

DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

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53Na exceção de pré-executividade deve o advogado ser

remunerado pelo seu trabalho em quantia razoável

arbitrada segundo a regra do artigo 20 § 4º do Código

de Processo Civil (2º TAC/SP – AI 743.079-00/0 – 5ª

Câm. – Rel. Juiz S. Oscar Feltrin – J. 29-05-2002 – v.u.)

É unânime a jurisprudência, portanto, quanto ao

cabimento da condenação em verba honorária, quando há a extinção do

processo de execução em decorrência da exceção de pré-executividade

acolhida. Caso não seja acolhido o incidente, não há que se falar em

condenação em honorários, prosseguindo-se a execução.

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54

CAPÍTULO IV

Hipóteses de cabimento

Restrita anteriormente a possibilidade de argüição da exceção de pré-

executividade à ausência dos pressupostos processuais e condições de ação

no processo executivo, com divergências doutrinárias sobre seu campo de

incidência, hodiernamente as possibilidades de seu uso vem se alargando,

seja pela própria doutrina, seja pelo acolhimento no âmbito dos tribunais.

Ponto pacífico entre essas correntes é a necessidade da prova documental

pré-constituída a acompanhar a exordial, de tal forma que o direito seja de

plano constatado pelo juiz afastada, em qualquer hipótese, a dilação

probatória. É comparável, como visto, alhures, neste ponto, à ação de

Mandado de Segurança.

Também já enfocado neste trabalho, se não de forma a exaurir a

matéria, mas de maneira a satisfazer o objetivo almejado, a ausência dos

pressupostos processuais e das condições de ação a ensejar o uso deste

meio de defesa, que pode e deve ser conhecida ex officio pelo julgador, a

qualquer tempo e grau de jurisdição, e cuja inobservância por este autoriza o

“devedor” a manejar o instituto, ora em comento. O artigo 267, IV do CPC é

claro ao prescrever que o juiz não poderá deixar de extinguir o processo

quando lhe faltar qualquer dos pressupostos de constituição e

desenvolvimento válido e regular do processo e, o inciso VI, do mesmo artigo,

estende a extinção aos casos em que não concorrer qualquer das condições

de ação, aplicando-se, tais disposições ao processo de execução por força do

artigo 598 que determina a aplicação subsidiária à execução das disposições

atinentes ao processo de conhecimento.

Sobre esses requisitos, manifesta-se a jurisprudência:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA DE

BENS AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA A

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55DECISÃO QUE A ORDENOU CONTRA TERCEIRO

INDICADO COMO SUCESSOR TRIBUTÁRIO.

-A regra, na execução fiscal, é a de que o executado

deverá alegar toda a matéria útil à defesa nos embargos

do devedor (Lei 6.830 de 1980, art. 16 § 2°).

Excepcionalmente, admite-se a exceção de pré-

executividade, no âmbito da qual, sem o oferecimento da

penhora, o executado pode obter um provimento, positivo

ou negativo, sobre os pressupostos do processo ou

sobre as condições da ação-decisão, então, sujeita a

agravo de instrumento. Hipótese em que o interessado

interpôs desde logo...(ROMS 9980/SP; Recurso Ordinário

em Mandado de Segurança 1998/0050955-0; 2ª Turma do

STJ; Rel. Min. Ari Pargendler; Fonte DJ 05/04/1999;

p.00100; v.u) RDDT 45/171 (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL

ILEGITIMIDADE PASSIVA - EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE.

I – Se a matéria em discussão relacionar-se com

pressupostos processuais ou condições de ação,

temas que, devido à sua natureza de ordem pública

podem ser conhecidas pelo juiz ex officio, assiste ao

executado o direito de argüi-las nos próprios autos da

execução, em homenagem ao princípio da economia

processual e do menor gravame à parte executada.

II – se, por força de contratos de arrendamento

celebrados, as sócias não atuavam na administração da

empresa, sendo a sua gestão, bem como de suas filiais,

durante certo período, realizada por arrendatários, são

estes os possíveis responsáveis pelos créditos tributários,

vinculados ao fato gerador da respectiva obrigação.

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56III – Agravo provido. (TRF da 2º Região – Segunda Turma

– Decisão unânime – AgIn.- proc. N. 01.02.01.034703-3 –

UF: RJ – Relator Juiz Castro Aguiar – DJU: 26/03/2002 - p.

132 ). (grifo nosso)

Se em relação aos pressupostos processuais e condições de ação, em sentido

lato, o cabimento é, por assim dizer, quase pacífico, o mesmo se faz notar

quanto aos requisitos de admissibilidade específicos da execução.

O título executivo, como já visto, é documento indispensável para a

propositura da ação de execução, representando, conforme posicionamento de

parte da doutrina, o interesse-adequação, ou seja, o título executivo é uma

causa que caracteriza o interesse de agir que valida o uso da via executiva,

configurando sua ausência caso de carência de ação por falta de

interesse de agir.88

Esta ausência do título há de ser entendida em seu sentido lato, não

se configurando apenas pela sua ausência física, mas também quando os

requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade não estiverem presentes.

Colacionamos a seguir decisões que enfocam a matéria em questão:

“FALTA DE LIQUIDEZ, CERTEZA E

EXIBILIDADE DO TÍTULO”.

1- Não ofende a nenhuma regra do Código de Processo

Civil o oferecimento de exceção de pré-executividade para

postular a nulidade de execução (art. 618 do Código de

Processo Civil), independentemente dos embargos de

devedor.

2- Considerando o Tribunal de origem que o título não é

líquido, certo e exigível, malgrado ter o exeqüente

apresentado os documentos que considerou aptos, não

tem cabimento a invocação do art. 616 do Código de

Processo Civil. 3- Recurso especial não conhecido. (Ac.

88 - Cândido Rangel Dinamarco, Execução Civil, p. 413/415.

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573ª Turma do STJ, no REsp. 160.107, rel. Min. Carlos

Alberto Menezes Direito, j. 16-03-99, DJU 03-05-99, p.

145) (grifo nosso)

“APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE. COISAJULGADA. INOCORRENCIA.

CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO. TÍTULO

INÁBIL PARA EMBASAR A EXECUÇÃO. NULIDADE DO

PROCESSO EXECUTIVO”.

1 - Não caracteriza a coisa julgada material, o ato judicial

que, em embargos do devedor, extinguiu o processo sem

adentrar no mérito.

2- Consoante estipula a Súmula 233 do STJ, o contrato

de abertura de crédito em conta corrente, usualmente

denominado “cheque especial”, não constitui título

executivo, devendo o credor utilizar-se do processo de

conhecimento para o recebimento de seu crédito.

3- Nos termos do art. 618, I do CPC, é nula a execução

que não se funda em título líquido, certo e exigível,

podendo a nulidade ser reconhecida até mesmo de ofício

e em qualquer tempo ou grau de jurisdição, por se tratar

de matéria de ordem pública. Recurso conhecido e

improvido ”. (Ac. 3ª Câm. Civ. do TJGO, na Ap. Cív.

57.842-1/188, j. 30-08-01, DJGO 20-09-01, p. 10)” . (grifo

nosso)

Através da exceção de pré-executividade poderão ser, também, como

nos indica a melhor doutrina, argüidos vícios, tais como, emendas e rasuras,

que caracterizam falsidade material do título, eis que, para que seja exeqüível

o título há de ser claro, revelando os fatos que deverão ser provados de forma

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58a não suscitar duvidas quanto a sua inteireza. Pontes de Miranda, em seu

parecer, propugnou pela propriedade da exceção de pré-executividade para

argüição da falsidade da assinatura no título, justificando “que está em exame

a pretensão à execução e não o mérito da causa”. 89 Entretanto, as decisões

de nossos Tribunais não são pacíficas. Em alguns casos rechaçam o

cabimento da exceção de pré-executividade, colocando a via de embargos

como única para tal pretensão, em virtude da necessidade de dilação

probatória, com realização de prova pericial grafotécnica. Em outras

oportunidades, entendem ser perfeitamente cabível a alegação por este meio

de defesa, mesmo com a necessidade de realização da aludida prova. De um

e de outro posicionamento transcrevemos, a seguir, decisão:

“EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.

MATÉRIA RECLAMANDO PRODUÇÃO DE PROVAS.

DESCABIMENTO. EMBARGOS DO DEVEDOR-VIA

ADEQUADA. A alegação do devedor de que a assinatura

aposta em instrumento particular de confissão de dívida,

que serve de fundamento para a a execução é falsa não

pode ser resolvida através de simples exceção de pré-

executividade , pois trata-se de questão que depende de

ampla dilação probatória e prova pericial, razão pela qual

somente poderá ser levantada em sede de embargos do

devedor do devedor, após seguro o juízo”. (Ac. 7ª Câm.

Civ. Do 1º TACivSP, no AI 869.131-0, j. 10-08-99, RT

774/285)

“PROVA. PRODUÇÃO. EXECUÇÃO POR TÍTULO

EXTRAJUDICIAL. CAMBIAL. CHEQUE. PRETENSÃO DO

RECORRENTE, POR MEIO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE. A REALIZAÇÃO DE PROVA

PERICIAL, PARA COMPROVAR A FALSIDADE DE

ASSINATURA APOSTA NA REFERIDA CÁRTULA

89 - Dez anos de pareceres, p. 128.

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59EXTRAVIADA. POSSIBILIDADE PORQUE O

RECORRIDO ACABOU CONFESSANDO QUE PODERIA

ADMITIR A FALSIDADE. INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE

DE FALSIDADE DETERMINADO, OBSERVADO QUE SE

COMPROVADO O CONTRÁRIO, O RECORRENTE

DEVERÁ RESPONDER POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.

RECURSO PROVIDO PARA ESSE FIM”.

É lícito ao devedor, em face da natureza da matéria

discutida na execução, deduzir como defesa,

independentemente de embargos e penhora, a chamada

exceção de pré-executividade. (Ac. da 4ª Cam. do 1º

TACivSP- AI 792.023-5/00, rel. Zélia Maria Antunes Alves,

j. 6-05-0998)”.

Podem, ainda, ser objeto da exceção de pré-executividade matérias

referentes à nulidade da penhora, (quando realizada em bens impenhoráveis

ou inalienáveis), evidente excesso de execução (erro na memória discriminada

e atualizada do cálculo), nulidade de arrematação, (nulidade esta que tanto

pode ser substantiva, concernente ao negócio em si, como processual

decorrente de inobservância de algum requisito prescrito na lei processual) e

ainda ao pagamento, que é fato extintivo do direito material do exeqüente e que

torna sem objeto a execução.mas que apesar de algumas controvérsias

existentes, tem-se admitido a sua alegação intra-execução. Da mesma forma a

prescrição e a decadência são institutos que se alcançam dentro do direito

material, mas que se mostram no direito processual. A decadência é

decretável de ofício pelo Juiz. Já a prescrição, se incidente sobre direitos

patrimoniais, há de ser alegada pela parte a quem aproveita, não podendo o

juiz conhecê-la de oficio. Os embargos são o meio próprio para a argüição da

prescrição. Contudo, vem a doutrina e a jurisprudência admitindo sua alegação

na própria execução, desde que evidenciada de plano, devendo, de imediato, o

juiz abrir vista ao exeqüente sobre a alegação. A aceitação da prescrição em

sede de exceção de pré-executividade era rechaçada, principalmente pelo STJ,

havendo inúmeras manifestações daquela Egrégia Corte neste sentido. Hoje a

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60matéria, por estar decidida pela sua Corte Especial, mostra-se tranqüila,

abrindo-se, destarte, outra possibilidade ao executado.

“PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO

FISCAL – MATÉRIA DE DEFESA: PRÉ-EXECUTIVIDADE

– ARGÜIÇÃO DE PRESCRIÇÃO – PRECEDENTE DA

CORTE ESPECIAL NO EREsp 388.000/RS.

1. A jurisprudência do STJ oscilou, até que a Corte

Especial, no julgamento do EREsp 388.000/RS, na sessão

de 16/03/2005, acórdão publicado no DJ de 28/11/2005, p.

169), firmou entendimento de que é possível reconhecer a

prescrição em sede de exceção de pré-executividade,

desde que não haja necessidade de dilação probatória e

seja verificável de plano, nos termos do voto do Ministro

José Delgado, relator para acórdão.

2. Hipótese em que o acórdão recorrido conclui pela

imprescindibilidade do exame de provas.

3. Recurso especial improvido. (Ac. 2ª Turma do STJ,

Resp rel. Min. Eliana Calmon, j. 18-05-2006, DJU 14-06-

2006, p. 209)”. (grifo nosso)

No mesmo sentido, entre outros, sobre a matéria, o Egrégio STJ

decidiu: Resp 770434/RJ , EDRESP 790970 , Resp 817826/RJ.

O instituto da compensação, que é meio de extinção recíproca de

obrigações, entre pessoas que são devedoras entre si, opera de pleno direito,

isto é, coexistindo as duas dívidas, elas se extinguem, reciprocamente, até o

limite de seus valores. Como forma de extinção de obrigações, a

compensação, desde que haja prova inequívoca da existência dos créditos a

serem compensados, pode ser alegada a qualquer tempo, sendo, portanto,

viável, sua alegação pela exceção de pré-executividade.

Manifestam-se nossos Tribunais a respeito:

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61PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CRÉDITO

TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO. SENTENÇA

TRANSITADA EM JULGADO. PAGAMENTO. ALEGAÇÃO

NOS PRÓPRIOS AUTOS. INEXISTÊNCIA DE GARANTIA.

POSSIBILIDADE. SOBRESTAMENTO DA EXECUÇÃO.

1- A exceção de pré-executividade objetiva a apresentação

de defesa nos próprios autos da execução, sem garantia

do juízo, sendo admitida, de modo geral, quando as

questões de ordem pública (condições da ação,

pressupostos processuais, etc) e outras relativas a

pressupostos específicos da execução puderem ser

identificadas de plano.

2- A alegação do executado de que o crédito tributário é

objeto de compensação, por força de sentença transitada

em julgado, conduz ao sobrestamento da execução, com

vistas a oportunizar a manifestação do exeqüente sobre a

alegação de pagamento e documentos que lhe servem de

suporte, independentemente de garantia do juízo, de modo

a evitar eventuais e desnecessários prejuízos ao devedor.

3- Agravo parcialmente provido

4ª Turma do TRF da 1ª Região, rel. Juiz Mario César

ibeiro, j. 06-02-2001, DJ. 09-03-2001. p. 407) .

Nas execuções fiscais, regidas pela Lei 6.830/80

onde figura como Exeqüente a Fazenda Pública, que, em nome da supremacia

do interesse público, goza de prerrogativas e privilégios, após alguma

resistência, fruto da mentalidade de que ao juiz cabia resguardar o erário

público, a jurisprudência passou a aceitar, a exceção de pré-executividade

como forma de defesa do executado, sem garantia do juízo, para alegar vícios

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62que possam ser demonstrados de plano, sem necessidade de dilação

probatória.

Mais ainda, além dos vícios, toda e qualquer matéria que impeça o seguimento

do curso do processo de execução acarretando sua extinção, desde que não

exijam dilação probatória, podem ser alegados pela via da exceção de pré-

executividade, sem que seja necessária a garantia do juízo.

Sobre o assunto preleciona Sérgio Shimura que “embora a lei só preveja a via

de embargos como forma do devedor deduzir suas defesas (arts. 741 e 745,

CPC; art. 16 § 1º, c/c o art. 38, LEF), em nossa sistemática processual é

perfeitamente viável o reconhecimento ou oferecimento de defesas, antes

mesmo de seguro o juízo”. Segundo ele, “em tema de execução fiscal tem se

admitido a exceção de pré-executividade para casos como imunidade, isenção,

remissão, anistia, parcelamento administrativo”.

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63

CONCLUSÃO

O Direito processual civil é regido por normas que se encontram na

Constituição Federal e na lei infraconstitucional.

Da Constituição, emanam normas que traçam as linhas fundamentais

do direito processual. Consubstanciados na Constituição os princípios gerais

que regem o processo são, assim, verdadeiras garantias a todos os que

exerceram o direito à jurisdição, bem como daqueles que resistiram,

apresentando sua defesa.

Hoje, vivemos a fase instrumentalista do processo, que alargou

conceitos e estruturas do direito processual, com ênfase a esses princípios

constitucionais, abandonando a visão excessivamente tecnicista e formalista, e

volvendo os olhos para a realidade ao aplicar a lei..

Essa nova visão do processo, como instrumento de pacificação social,

trouxe importantes reflexos, também, para o processo de execução, que tem

como escopo a pronta e efetiva satisfação de um direito já reconhecido, seja

por sentença ou pela existência de um título a que a lei dá eficácia executiva.

No processo de execução, onde o credor, como portador de um título

executivo, goza de uma posição de ascendência sobre o devedor, este

encontra, como único meio previsto legalmente para se opor à pretensão

executória, a via dos embargos, ação autônoma, sendo para tal necessária a

anterior garantia do juízo.

Com a exigência da garantia do juízo, ficam excluídos do direito de

defesa, aqueles que não possuem patrimônio para tal e que se deparam

muitas vezes com uma execução espúria. Ademais, com freqüência nos

deparamos com processos de execução onde estão ausentes os pressupostos

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64processuais e condições da ação executiva (que por serem matérias de ordem

pública devem ser conhecidas de ofício pelo Juiz) bem como, a ausência de

certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo que lhe dá supedâneo. No

entanto, vem adquirindo cada vez mais adeptos, na doutrina e na

jurisprudência a tese da exceção de pré-executividade, consistente, em sua

essência, na possibilidade do devedor alegar, sem a necessidade da garantia

do juízo, determinadas matérias, desde que comprovadas de plano.

Esta porta, que se abre e que encontra guarida no novel processo civil,

introduz o contraditório no processo de execução e está calcada nos princípios

constitucionais do devido processo legal, do acesso à justiça, da ampla defesa

e do próprio contraditório.

É, portanto, a exceção de pré-executividade um meio de defesa do

devedor, para se opor a uma execução sem que sofra ato de constrição.

Sua natureza é de incidente processual, eis que com sua apresentação

incluem-se no processo executivo atos não previstos no seu procedimento,

possuindo ainda conteúdo de questão prejudicial, que reclama uma imediata

decisão do Juiz e que refletirá no mérito do processo executório, com a não

realização dos atos executórios visando à satisfação da obrigação contida no

título.

Apesar das divergências existentes, a doutrina majoritária manifesta-se

no sentido de que a exceção de pré-executividade poderá ser argüida a

qualquer tempo, eis que seu escopo não é apenas evitar a constrição de bens

e sim evitar a efetivação de um processo executório constituído irregular ou

ilegalmente.

A legitimidade para oferecer este meio de defesa é a de todos aqueles

que podem figurar no pólo passivo da execução (art. 568 do Código de

Processo Civil) e ainda o terceiro com responsabilidade patrimonial (art. 592, II

e IV do CPC).

A terminologia adotada, exceção de pré-executividade, parece-me a

mais consentânea com o instituto, eis que já acolhida pela jurisprudência

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65pátria, devendo-se entender o termo exceção em seu sentido lato, qual seja de

defesa e o termo pré-executividade como anterior aos atos executórios.

A forma de apresentá-la há de ser por de simples petição, dentro do

processo de execução, não havendo que se falar em autos apartados.

A prova sempre será a documental pré-constituida, eis que não se pode

falar em dilação probatória, sob pena de se ter um processo de conhecimento

em sede de execução.

Ao acolher a exceção de pré-executividade e extinguir o processo de

execução, o recurso cabível será, é lógico, o de Apelação. Não recebendo a

exceção de pré-executividade, ou recebendo-a, mas rejeitando o incidente, a

decisão proferida é interlocutória desafiando o recurso de Agravo de

Instrumento. Do acórdão que julgar esses recursos poderá haver recurso

especial e extraordinário.

Extinta a execução em decorrência da exceção de pré-executividade, ao

exeqüente caberá o pagamento das custas e honorários advocatícios. Se

rejeitada, como mero incidente que é, não haverá sucumbência.

Podem ser alegadas pela exceção de pré-executividade tanto as

matérias pertinentes ao juízo de admissibilidade quanto do juízo de mérito da

execução, desde que sem necessidade de dilação probatória. Assim, o cerne

da questão não se prende a matéria argüida e sim à cognição que pode ser

efetuada pelo juiz, que deverá ser secundum eventum probationis, isto é,

matéria que o juiz possa conhecer de plano, sem necessidade, como já dito, de

dilação probatória.

De todo o exposto no correr do trabalho concluímos pela necessidade

de adoção do instituto abordado, como forma de uniformizar procedimentos,

evitando-se a sua rejeição ab-initio por juízes “legalistas” que se sentem

contrariados por serem provocados sobre matéria que, de oficio, deveriam ter

se manifestado, bem como, pela possibilidade de concretizar-se com maior

celeridade e menor onerosidade o escopo da jurisdição.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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11 - CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 3. ed., v.

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12 - CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da

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13 - CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional Tributário.

5.ed., São Paulo: Malheiros, 1993.

14 - CASTRO, AMILCAR DE. Comentários ao Código de Processo Civil. 3. ed.,

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15- CASTRO, Carlos Roberto de Siqueira. O devido processo legal e a

razoabilidade das leis na nova Constituição do Brasil. Rio de Janeiro:

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16- CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini;

DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 21.ed., São

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18- FORNACIARI JÚNIOR, Clito. Exceção de pré-executividade, Revista

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19 – GRECO FILHO, Vicente. Direito Processial civil brasileiro. 17. ed., São

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20- GRINOVER, Ada Pellegrini. As garantias constitucionais do direito de ação.

São Paulo: RT, 1973.

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6821- GUERRA Marcelo Lima. Execução forçada: controle de admissibilidade.

2.ed., São Paulo, RT, 1998.

22- LACERDA, Galeno. O novo direito Processual civil e os feitos pendentes.

Rio de Janeiro:Forense, 1974.

23- MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 7. ed., São Paulo: Atlas,

2000.

24- MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção

de pré-executividade. São Paulo: Saraiva, 1998.

25- MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 20. ed.,

Rio de Janeiro: Forense, 1999.

26- NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade, Código de Processo

Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 5. ed., ver

e ampl. São Paulo: RT, 2001.

27- Nolasco, Rita Dias, Exceção de Pré-Executividade. 2.ed., São Paulo:

Método, 2004.

28- PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. Comentários ao Código de

Processo Civil (de 1973). Rio de Janeiro: Forense, 1974-1976. v. 9 e 10.

29- ROSA, Marcos Vallls Feu, Exceção de pré-executividade: matérias de

ordem pública no processo de execução. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,

1996.

30- SHIMURA, Sérgio. Título executivo. São Paulo: Saraiva, 1997.

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6931- SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 18. ed.,

rev. e atual.

32-THEODORO Júnior, Humberto. Comentários ao Código de Processo Civil.

Rio de Janeiro: Forense, 1983, v. 5.

33- _________________________.Curso de Direito processual Civil. 19. ed.,

Rio de Janeiro: Forense, 1997, v. 1 e 2.

34- WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sobre a

objeção de pré-executividade. In. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.).

Processo de execução e assuntos afins. São Paulo: RT, 1998.

35-WATANABE, kazuo. Da cognição no processo civil. São Paulo: RT , 1987.

36- ZEQUIM Rodrigo Campos. Exceção de pré-executividade. Curitiba: Juruá,

2006.

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70

ANEXO

Índice de anexos

Anexo 1 >> Parecer nº 95 de Pontes de Miranda 67

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71ANEXO 1

PARECER Nº 95 DE PONTES DE MIRANDA

Sobre pedidos de decretação de abertura de falência, baseados em

títulos falsos, e de ação executiva em que a falsidade dos títulos afasta tratar-

se de dívida certa.

I – OS FATOS

(a) Foi pedida, em Belo horizonte, por Robert Marent, a decretação da

abertura da falência da Companhia Siderúrgica Mannesmann, e o juiz

denegou-a por serem falsos os títulos apresentados.

(b) Também no Estado da Guanabara foi feito o mesmo pedido, por

Marcos Crinspum, perante o Juízo da 6ª Vara Cível, que se julgou

incompetente, por ser situado em Belo horizonte o principal estabelecimento da

Companhia Siderúrgica Mannesmann. A decisão foi confirmada pela 8ª

Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Guanabara, unanimemente. Em

conseqüência disso, os autos em que se pedira a decretação da falência foram

remetidos para Belo Horizonte, onde, posteriormente à chegada, o Juiz da 2ª

Vara Cível daquela Comarca, indeferiu o pedido, por entender, que também se

fundava em títulos falsos, conforme, no curso do processo, se alegara e

provara.

(c) Algumas ações executivas foram propostas por portadores de títulos,

contra a empresa, no foro do Rio de Janeiro, no de São Paulo e no de Belo

Horizonte.

No Rio de Janeiro, na ação proposta por Danilo Joaquim Gilhermina dos

Santos, foi a empresa citada, tendo-se procedido à penhora, que recaiu em

depósito existente no Banco da província do Rio Grande do Sul.

No prazo de 24 horas, fixado pelo artigo 299 do Código de Processo

Civil, a companhia Siderúrgica Mannesmann requereu a decretação da

nulidade da citação, com o argumento de serem falsos os títulos. Ainda não foi

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72decidido pelo juiz, porque não fora completado o procedimento da penhora,

pois que teria de ter ciência a empresa, e não fora expedida a carta precatória

para Belo Horizonte.

Os indeferimentos dos pedidos de decretação de abertura da falência

estabeleceram que os processos eram baseados em títulos falsos. Daí terem

portadores lançado mão de ação executiva de títulos extrajudiciais, para que,

com as penhoras sucessivas, se agravassem os depósitos bancários da

empresa, levando-a aa paralisação de seus negócios e de qualquer atividade

social.

II. OS PRINCÍPIOS

(a) Para que haja executividade, é preciso que se repute título executivo

e instrumento da dívida ou que haja sentença com carga suficiente de

executividade.

Quando se pede ao Juiz que execute a dívida ( exercício das

pretensões pré-processual e processual à execução) tem o juiz de examinar se

o título é executivo, seja judicial, seja extrajudicial.

(b) O título extrajudicial, para o ingresso da ação executiva há de ser

suficiente. O serventuário da justiça, que apresenta pedido de execução, para

cobrança de custas, tem de juntar documentos do seu cargo e da contagem

das custas. Se, nas vinte e quatro horas, a que se refere o Código de Processo

Civil, art. 299, o citado alega que não há prova do cargo de serventuário da

justiça ou que o demandante não o é, ou que a prova (o documento de

investidura) é falsa, o juiz tem de decidir sobre isso, antes da eficácia da

alternativa (pagamento ou penhora). Dá-se o mesmo a respeito dos

intérpretes, e tradutores públicos, dos corretores dos leiloeiros e dos porteiros.

Se algum condutor ou comissário de transporte cobra a conta,

executivamente, e o demandado nega que o demandante seja condutor ou

comissário, o ônus da prova incumbe, nas vinte e quatro horas, à pessoa que

se diz condutor ou comissário. Somente após a decisão do juiz, pode ser eficaz

a alternativa. Se alguém propõe ação executiva por dívida garantida por

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73alguma caução judicial, ou hipoteca, a alegação de falsidade ou insuficiência

do título há de ser julgada antes de qualquer eficácia da penhora, porque não

se refere à executividade. Dá-se o mesmo quanto à debêntures, letras

hipotecárias, cupões de juros , título de penhor. Se algum credor de foros,

laudêmios alugueres, ou rendas de imóveis, exerce a pretensão à execução,

mas o pretenso devedor alega, nas vinte e quatro horas, que a assinatura é

falsa, ou que o nome é de outrem, a despeito do parecença, tem isso de ser

decidido antes da eficácia alternativa (pagamento ou penhora). Idem, quanto à

cobrança de despesas de edifício de apartamentos, ou de prestação

alimentícia, ou de renda vitalícia ou temporária, ou de conta corrente

reconhecida pelo devedor, ou de warrants, conhecimento de depósito, ou de

dívidas a liquidatário de massa falida.

Se alguém entende que pode cobrar dívida que consta de instrumento

público ou particular, assinado pelo devedor e duas testemunhas, e o

demandado - dentro das vinte e quatro horas - argúi que o instrumento público

é falso, ou de que a sua assinatura, ou de alguma testemunha é falsa, tem o

juiz de apreciar o caso antes de ter o devedor de pagar ou sofrer a penhora.

Trata-se de negação da executividade do título. Pode mesmo alegar que o

instrumento público não foi devidamente assinado.

As letras de câmbio, as notas promissórias, os cheques e outros títulos

cambiariformes são líquidos; porém a certeza há de resultar do que está

escrito, de veracidade das assinaturas e da observância das exigências legais.

Se o sacador ou o aceitante da letra de câmbio, dentro das vinte e quatro

horas, diz que a sua assinatura é falsa, ou que o nome é igual ou parecido,

porém não foi ele que se vinculou ao título cambiário ou cambiariforme, o juiz

tem de decidir quanto a isso, porque está em exame a pretensão à execução, e

não o mérito da causa.

O problema da técnica legislativa que constitui a espinha dorsal do

processo das ações executivas do artigo 298 do Código de Processo Civil, é o

do entrosamento dos dois processos, o de execução e o de cognição.

Problema intercalar entre o que se levanta a propósito das mediads

preventivas e o que está à base do processo da execução de sentença. a) Ali o

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74processo cautelar concede a constrição, elemento comum às medidas de

segurança, aos adiantamentos de execução e às execuções de sentença,

porém como resolução prévia e eliminadora de perigo. b) Nos processos do

artigo 298 do Código de Processo Civil, a constrição vai mais longe, porque se

opera para execução, isto é, desde já com a transferência do poder de dispor

do estado. c) Nos processos de execução de sentença, a constrição é para a

execução e sem a particularidade de ainda se ter de decidir sobre a matéria de

cognição.

A construção do praeceptum ou mandatum cum clausuta iustificativa

como processo em que, se o réu comparece, se transforma o preceito em

simples citação, ignorava assim a justa posição temporal do exercício das duas

pretensões como o fato da cognição incompleta. Tinha o processo especial

(executivo, arts. 298-300) como sem qualquer cognição – talvez fruto tardio da

primitiva execução de mão própria seguida da ação do réu, tal como se vê nos

povos antigos. No estado atual do problema, com ou sem procedimento

ordinário (art. 301). A contestação mostra que se fazem valer, desde o início,

as duas pretensões, a pretensão à execução e a pretensão à sentença. Por

isso mesmo se cinde a cognição que é incompleta a princípio e se completa,

sempre, com a sentença de condenação e confirmação do mandado

executivo.A contestação não é o ponto de partida do processo de cognição; O

que abre esse processo é a citação. O procedimento ordinário apenas

complementa o processo de cognição, como parte eventual dele.

Cada um dos incisos do artigo 298 do Código de Processo Civil

menciona os pressupostos processuais do processo executivo, sem a qual a

via judiciária seria a condenatória. Ainda a respeito de tal início da lide, valem o

princípio iura novit curia e quaisquer outros relativos aos poderes e deveres do

juiz.

Na prática, esses pontos são de relevo.

Se os processos dos artigos 298-301 do código de Processo Civil são de

cognição, ou se são de execução, é questão acadêmica. A pretensão a

executar começa a ser exercida antes, ao passo que o exercício da pretensão

a obter condenação, depois da qual devia ser exercida aquela, segue o seu

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75curso, mais ou menos longo, conforme houve, ou não, contestação. A

executividade prepondera, posto que a apresentação de contestação, em vez

de condição de inércia para a solução da dívida, que estava no mandado,

ponha a condição de confirmação desse. O elemento de cognição é

inextirpável, mas o elemento de execução prepondera. De modo que o dilema “

cognição ou execução” é inadmissível. O que se pode indagar é qual o que

prepondera> Porque há execução e cognição, ação de execução e ação de

condenação, uma vez que há dois exercícios de duas pretensões: a de

condenação e a de execução, - aí invertidos.

O direito pré-processual é que diz se o título extrajudicial e título

executivo ou não. Os requisitos que o direito pessoal ou real há de ter para

que a pretensão à condenação que lhe corresponde possa ser exercida

simultaneamente com a pretensão à execução são pressupostos de tutela

jurídica (pressupostos pré-processuais, (Rechtssshutzvoraussetzungen; cf. F.

Staun, Der Urkunden – und Wecheselprozess, 61 s.: Über die veraussetzungen

des Rechtsschutzes, 21). Os que reputam processuais , e não pré-processuais,

os requisitos de admissibilidade do processo executivo de títulos extrajudiciais

deixam-se levar pelo fato de só se iniciar a execução depois de citado, não

pagar o devedor. Daí terem pensado em metê-los em subclasse de

pressupostos processuais, ditos pressupostos processuais especiais. (cf. G.

Schüler, Der Urteilsanspruch, 64; W Sauer, Grundlagen des Prozessrechts,

232, que adota explicação própria de matéria de mérito). O juiz, examinando a

petiçaõ, já tem cognição incompleta do mérito e atende ao que o direito pré-

processual concedeu ao título extrajudicial. Não é o seu despacho que confere

a executividade; preexistia, e o mandado já se expede em deferimento da parte

da petição em que se exerceu a pretensão à execução (adiantada).

A ação que se faz simultânea à ação de execução, razão por que é

possível adiantar-se a essa (= começar-se pela penhora), há de ser ação de

condenação. No sistema jurídico brasileiro, a ação pode ser executiva pessoal,

ou executiva real. Se a mpretensão é real, real é a ação executiva.

(c) Silvestre Gomes de Morais (Tractatus de Executionibus iustrumentorum et

sententiarium, Conimbricae, 1742, III, 285) falava da “pignora praestanta per

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76spatium viginti quatuor rorarum”, de modo que , findo o tempo, se procedia à

“executio coacta”. Tal a praxe, dizia ele, e tal o estilo do reino. Se assim não se

fazia, nula seria a penhora. Se algo o exige, pode o juiz prorrogar o tempo

(Pedro Barbosa, Commentarii ad interpretationem Tituli, Pandectarum, de

Iudiciis, Francofurti, 1729, 48).

Manoel de Almeida e Souza (Tratado prático e crítico de todo o Direito

Enfitêutico, Lisboa, 1857, II, 268 s.) exprobrava tribunais e auditórios que

“principiavam com a penhora, sem precedente citação, citando-se só no ato da

penhora o executado” e dizia tratar-se de “erro que deve desterrar-se”) . A

todas as penhoras havia de “preceder citação do condenado para em vinte e

quatro horas pagar ou nomear penhores” (270). Acrescentava “(...) toda a

execução que se faz por qualquer Magistrado sem prévia citação do devedor é

um fato despótico, em que o Magistrado figura não como tal, mas como

qualquer particular, a que pode resistir-se, e tudo é nulo”.

No Registro n. 737, de 25 de novembro de 1850. o artigo 310 estatuía:”

O mandado executivo deve determinar que o réu pague incontinenti, ou que se

proceda à penhora nos bens que ele oferecer ou que lhe forem achados, tantos

quantos bastem para pagamento da dívida e custas”. No artigo 510: Se o

executado, dentro das vinte e quatro horas, não pagar, ou não nomear bens à

penhora, ou fizer a nomeação contra as regras do artigo 508, proceder-se-á

efetivamente à penhora, passando-se mandado”.

Lê.-se no Código de Processo Civil, artigo 299: “A ação executiva será

iniciada por meio de citação para que o réu pague dentro de vinte e quatro

horas, sob pena de penhora”. Feita a penhora é que se inicia o prazo para a

contestação (art. 301) O prazo do artigo 299 tem outra ratio legis. Idem o do

artigo 918.

A ratio legis está em que seria atribuir-se aos juízes poder incontrolável

de executar sem que a pessoa contra quem se expede o mandado de penhora

pudesse alegar incompetência de juízo, inclusive ratione materiae, ou

suspeição do juiz, ou falta de pressupostos para a executividade do título (lato

sensu). Seria absurdo, por exemplo, que os juízes incompetentes, ou

suspeitos, ou por despacho baseado em títulos falsos, ou sem eficácia contra o

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77demandado (e.g., assinado por outrem, que tem o mesmo nome, ou assinado,

em nome do demandado, sem que tivesse o subscritor poderes de

presentação ou de representação), pudesse determinar a penhora sem ensejo

para a alegação. O artigo 299 do Código de Processo Civil provém da praxe

reinícola e da boa doutrina portuguesa, com a explicitude legal, posterior, do

Registro n. 737, de 25 de novembro de 1850, artigos 310 e 510. Ao artigo 299

do Código de processo civil correspondem o artigo 918, que estabelece o

prazo de vinte e quatro horas mesmo se se trata de sentença com execução

por quantia certa, o artigo 992, em que, tratando-se de execução por coisa

certa, ou em espécie, se fixa o prazo de dez dias para o demandado fazer a

entrega da coisa ou alegar defesa, e o artigo 998, que, se a execução é de

obrigação de fazer ou de não fazer, ou se há de observar o prazo que a

própria sentença determinou, ou, se tal não ocorreu, o juiz o determina,

atendendo às circunstâncias, portanto – razoavelmente. A penhora ou o

depósito somente é de exigir-se para a oposição de embargos do executado;

não para a oposição das exceções e de preliminares concernentes à falta de

eficácia executiva do título extrajudicial ou da sentença.

As exceções, em geral, têm de ser opostas antes de expirar o prazo dos

três dias, que são os três primeiros dias para a contestação (Código de

processo Civil, art. 182). Como nas ações executivas, há o prazo do artigo

299, o início da oponibilidade é o momento da citação, perfazendo-se o prazo

de cinco dias, em vez de três dias. Idem, quanto ao artigo 918.

(c) Nos Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo XIV, 72 s.: “As

exceções concernentes ao Juízo são oponíveis nos prazos legais, contados

conforme o artigo 182 do código de Processo Civil, com eficácia suspensiva,

pois a regra jurídica concerne a quaisquer ações . As referentes aos órgãos

do Ministério Público, aos serventuários e aos peritos, não têm eficácia

suspensiva (art. 189). A de litispendência e a de coisa julgada (art. 182, II),

também. São processuais. A de incompetência ratione materiae pode ser

alegada em qualquer tempo(art. 182, § 1º ). Bem assim a de coisa julgada. As

exceções de direito material são oponíveis em embargos do executado.

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78Pergunta-se: há no direito brasileiro, processo de oposição de exceções

fora (=antes) dos embargos do executado, ou têm de ser opostas como matéria

desses embargos? Abstraiamos do que se asserta nos sistemas jurídicos

estrangeiros em que afirmação de não se poder opor exceção processual no

juízo executivo, ou de só poder opor nos embargos do executado.

Quanto à primeira afirmação, choca-se com a tradição do direito luso-

brasileiro. O que se punha em discussão era o cabimento das exceções

declinatórias fori, pois que o juiz (então, apenas de regra, e, hoje,

cogentemente) é prolator da sentença exeqüenda, portanto o mesmo, e se

havia de entender que se renunciara a elas, na causa principal (Jorge de

Cabedo, Decisiones, d, 22, n 4,6 e 10; Manuel Mendes de Castro, Practica

lusitana, I, 108; Manuel Gonçalves da Silva, Comentaria, III, 184 e 195). A

exceção de suspeição não é de julgar-se procedente, em princípio, porque o

juiz é o mesmo da ação em que se proferiu a sentença exeqüenda; Mas a

pessoa do juiz pode ter mudado. As Ordenações Filipinas , Livro III, Título 21, §

28, davam como ratio legis da pré-exclusão o cabimento de “outros remédios

de direito” , excedendo os juízes “ o modo” de executar. Não temos hoje tal

regra jurídica e mesmo ao tempo das Ordenações Filipinas se permitia a

exceção de suspeição se se havia de liquidar. Hoje, temos de entender que, se

o juiz (não só o juízo) é o mesmo, não é de conhecer-se a exceção de

suspeição, salvo se a causa de suspeição (Código de Processo Civil, art. 185)

é superveniente à sentença exeqüenda. Seria absurdo que fosse o juiz da

execução quem se casou com a filha do autor exeqüente ou com a autora

exeqüente.

Mesmo a respeito da execução de sentença escrevemos: “O conceito

“embargos do executado” não exaure o de defesa do executado. A ação de

execução de sentença ou de título extrajudicial faz nascer relação jurídica

processual em ângulo, como a que se observa nas ações de cognição:

exeqüente (autor), Estado (juiz da execução, executado (réu). De modo que

todas as exceções processuais podem ser usadas pelo réu ou executado. Daí

a aplicação dos artigos 182-189. Não há, no Código de Processo Civil,

qualquer norma, explícita com conteúdo das exceções processuais,

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79concernentes ao processo em que se proferiu a sentença exeqüenda, pois o

artigo 1010, I, só se refere à falta ou nulidade da citação inicial da ação de

condenação.

O juiz da execução (à diferença do juiz do processo de cognição), ainda

que se trate de ações executivas do artigo 298 do Código de processo Civil

(executividade + condenação) tem poder para evitar que se cumpra o seu

despacho mandamental, revogando-o (retirando a voz). A execução confina

com interesses gerais, que exigem do juiz mais preocupar-se com a segurança

intrínseca ( decidir bem), do que com a segurança extrínseca (ter decidido),

conforme a distinção que explanamos em 1922 (Rechtssicherheit und

innerliche Ordnung, Blatter fur vergleichende Rechtswissenschaft, 17, 1 s.).

Porém essa faculdade – ou dever - do juiz não é permanente. Cumprindo o

mandado (não só expirado o prazo para embargos do executado) cessa esse

controle do juiz, no que seria matéria de embargos do executado. O que é

declarável de ofício ou decretável de ofício e suscitável entre o despacho do

juiz e o cumprimento do mandado de citação ou de penhora. Também o seria,

se o citando tivesse sabido da remessa da petição ou do ato de distribuição e –

antes do despacho – fizesse ao juiz a comunicação de que a petição poderia

levá-lo a despachar injustamente.

Assim, se a sentença é inexistente ou nula ipso iure, e não se precisa

de prova que dela mesma não conste, ou de certidão exibida imediatamente,

pode o juiz – no intervalo entre o despacho e a citação revogar o despacho,

porque fora contra o direito, sem qualquer dúvida. Também é de revogar-se o

despacho, se o citando mostra que não é a pessoa que se teria de citar. Talvez

mesmo não se precise de revogação, por bastar que o juiz faça o oficial

conhecer da identidade da pessoa que, erradamente, ou por má informação,

se ia citar. A ação executiva exige o título executivo, seja documental seja

sentencial. Aí, a diferença é grande entre título documental, ou, melhor,

extrajudicial, e título judicial (sentença), dando ensejo às duas classes de

ações executivas (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo XIV, 73s.)”.

No trato das exceções, deve o juiz começar pelo exame das exceções literais

da declaração cambiária (falta de legitimação material, incapacidade, carência

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80ou insuficiência de representação, falta de vontade cambiariamente

insuficiente). De regra, delas deve conhecer o juiz e decidir de ofício. Cumpre,

porém, advertir-se em que a de falsa subscrição e a de irrepresentação exigem

prova que não consiste na literalidade cambiária, de modo que seria contra os

princípios que o juiz as julgasse, sem provocação. O ônus da prova da

autenticidade da assinatura, uma vez que se tenha negado com pertinência, e

da existência da representação competem ao autor. Por igual, da veridicidade

do contexto do título cambiário visivelmente modificado, ou do valor para o

obrigado de um texto que se falsificou. O réu, mostrando não ser sua a

assinatura, ou não ter dado poderes ao representante, põe o autor na

contingência de provar que a assinatura é do obrigado e que houve os

poderes, ou, se não os houve, ocorreu suprimento da vontade ou expressão de

vontade de legitimação material, a falsificação do texto e outras exceções

semelhantes dão a prova ao réu. São processuais as exceções concernentes à

penhora (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo IV, 2. ed., 367 s.).

A nota promissória é pressuposto indispensável para o exercício do

remédio cambiário específico, quer executivo, quer de rito diferente. Só o supre

a sentença de amortização. O título deve estar completo. O título em branco

precisa ser completado. Contudo, se o juiz deixou que saísse o mandado

executivo, posto que em branco o título, acertado ainda se ordena que se

encha, salvo se, já então, prejudicaria a defesa do réu.

III. A CONSULTA E AS RESPOSTAS

(1) Pergunta-se:

- Podem ser considerados “títulos líquidos e certos”, para que com eles

se proponha ação executiva, títulos indevidamente emitidos em nome da

Companhia Siderúrgica Mannesmann, se neles há falsa assinaturade um dos

diretores e é exigida pela empresa, estatutariamente, a existência de firmas de

dois diretores?

Respondo:

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81- A regra jurídica do Código de Processo Civil, artigo 298, XIII,

concernente à eficácia executiva dos títulos cambiários e do cheque ( e outros

títulos cambiariformes), apenas e a latere do que se disse no art. 298, XII

relativo a “credores por dívida líquida e certa, provada por instrumento público,

ou por escrito particular, assinado pelo devedor e e subscrito por duas

testemunhas”. A referência especial aos títulos cambiários e ao cheque( e a

outros títulos cambiariformes, como os do artigo 298, XV) tinha de ser feita,

porque – a despeito de serem dívidas líquidas e certas as que resultam de

letras de câmbio, notas promissórias, cheques e outros títulos cambiariformes,

a eles não se exige o instrumento público ou o instrumento particular, com a

assinatura de quem se vincula e a subscrição de duas testemunhas.

A certeza e a liquidez são pressupostos indispensáveis em quaisquer

casos do artigo 298, XII, XIII, XIV e XV.

Se o demandado, nas vinte e quatro horas, alega e prova que não é a

pessoa vinculada, contra a qual se poderia propor a ação executiva, tem de

haver a decisão do juiz antes de se expedir mandado de penhora. Se se trata

de pessoa jurídica, ou houve presentação, o que só o órgão representativo,

conforme a lei e os estatutos, podia fazer, ou representação, conmforme a lei e

os estatutos, podia fazer, ou representação, com outorga de poderes pelo

órgão competente, segundo a lei e os estatutos e exercício regular dos poderes

outorgados.

No caso da consulta, uma vez que os estatutos exigiam, para a

presentação, as firmas de dois diretores, vinculada somente podia ficar a

empresa se houve as assinaturas, verdadeiras, de dois diretores. Se as duas

são falsas, ou se uma só o é, nenhuma vinculação cambiária (ou

cambiariforme) se poderia estabelecer para a empresa.

(2) Pergunta-se:

- Nas vinte e quatro horas, que é o prazo fixado pelo artigo 299 do

Código de Processo Civil, para que o devedor pague sob pena de penhor, pode

a empresa, contra a qual se move a ação, alegar a falsidade do título ou dos

títulos, independentemente do oferecimento de bens a penhora?

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82Respondo:

- Sim. A respeito da própria execução das sentenças, a alegação de

inexistência, da invalidade ou da ineficácia da sentença é alegável antes da

expedição do mandado de penhora, isto é, ao prazo legalmente fixado

conforme o estilo do reino de Portugal, do registro n. 737, de 25 de novembro

de 1950, artigos 310 e 510, e de Código de Processo Civil, artigos 918,922 e

998 (cf. Comentários ao Código de Processo Civil, IV, 66-77).

(3) Pergunta-se:

- Alegada a falsidade dos títulos, dentro do prazo previsto pelo artigo 299

do Código de Processo Civil, pode o juiz exigir a penhora dos bens da empresa

demandada antes de se pronunciar sobre a falsidade dos títulos?

Respondo:

- Uma vez que houyve alegação que importa em oposição de exceção

pré-processual ou processual, o juiz tem de examinar a espécie e o caso, para

que não cometa a arbitrariedade de penhorar bens de quam não estava

exposto à ação executiva.

(4) Pergunta-se:

- Alegada a falsidade dos títulos, pode o juiz indeferir in limine o pedido

de execução?

Respondo:

Evidentemente, sim. O despacho do juiz, na petição inicial, com o prazo

das vinte e quatro horas, é revogável, e tem de ser revogado, se a alegação é

procedente. Se ao ser pedida a execução, há prova, que o juiz conheça, ou se

há razão para que o juiz ordene verificação, é dever do juiz indeferir o próprio

pedido inicial.

(5) Pergunta-se:

- Tendo sido subscritas as notas promissórias, indevidamente, em nome

da Companhia Siderúrgica Mannesmann, e colocados no mercado paralelo, se

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83falsa a assinatura promitente, uma vez que os estatutos da empresa exigem a

assinatura de dois diretores?

Respondo:

- Se o juiz já conhece o fato de ser falsa a assinatura de um dos

diretores, não pode deferir pedido de execução contra a empresa, que não foi

presentada por um órgão: o órgão, para a atividade negocial, tinha de ser de

elemento dúplice (dois diretores). Se um só diretor assinou, responsável é ele,

mesmo se empregou carimbo, ou dizeres como “em nome de A”, ou ”diretor da

empresa A”. A espécie insere-se nos artigos 147 e 149 do Código Comercial e

nos artigos 1.304 e 1.305 do código civil; mas, principalmente, nos artigos 116

§1º, e) e 119, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 2.627, de 26 de setembro de

1940.

A ação cambiária somente pode ser exercida contra o diretor ou ex-

diretor que assinou.

Este é o meu parecer.

Rio de Janeiro, em 30 de julho de 1966.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Processo de execução

1.1 - evolução Histórica 10

1.2 - Dos direitos e garantias constitucionais 13

1.3 - Conceito 17

1.4 - Natureza Jurídica da Execução 19

1.5 - Pressupostos da Execução 20

1.6 - Princípios Informativos do Processo Executivo 22

1.7- Cognição na Execução 24

CAPÍTULO II

Exceção de Pré-executividade 26

2.1- Precedentes Históricos 27

2.2 -Doutrina sobre a exceção de pré-executividade 32

2.3- Terminologia 36

2.4- Natureza jurídica 38

CAPÍTULO III

Processamento da exceção de pré-executividade

3.1- Do prazo para sua interposição 41

3.2- Legitimidade 43

3.3- Forma 44

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853.4- Do meio de prova admitido 45

3.5- Aplicação do principio do contraditório 46

3.6 – Efeitos da exceção de pré-executividade 47

3.7- Decisão e recursos 48

3.8- Da coisa julgada 50

3.9 -Da condenação em honorários 51

CAPÍTULO IV

Hipóteses de cabimento 54

CONCLUSÃO 63

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 66

ANEXOS 70

ÍNDICE 84

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Exceção de Pré-Excutividade

Autor: Elza Serra Moura Correia

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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