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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” PROJETO VEZ DO MESTRE O PAPEL DO DOCENTE NO COMBATE À DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO MEIO ESCOLAR Nilmar Sales Paiva Professor Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves Rio de Janeiro Outubro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”

PROJETO VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO DOCENTE NO COMBATE À DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO MEIO ESCOLAR

Nilmar Sales Paiva

Professor Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves

Rio de Janeiro Outubro 2004

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe Nilza, que sempre viu em mim a figura do sucesso e que, em nenhum momento, duvidou do meu potencial e jamais deixou de me incentivar. A ELA e a todos que contribuíram para a elaboração deste trabalho.

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A ESCOLA

Escola é...

o lugar onde se faz amigos

não se trata só de prédios, salas, quadros,

programas, horários, conceitos...

Escola é, sobretudo, gente,

gente que trabalha, que estuda,

que se alegra, se conhece, se estima.

O diretor é gente,

O coordenador é gente, o professor é gente,

o aluno é gente,

cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

na medida em que cada um

se comporte como colega, amigo, irmão.

Nada de ”ilha cercada de gente por todos os

lados”.

Nada de conviver com as pessoas e depois

descobrir

que não tem amizade a ninguém

nada de ser como o tijolo que forma a parede,

indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar, não é só

trabalhar,

é também criar laços de amizade,

é criar ambiente de camaradagem,

é conviver, é se “amarrar nela”!

Ora , é lógico...

numa escola assim vai ser fácil

estudar, trabalhar, crescer,

fazer amigos, educar-se,

ser feliz.

Paulo Freire

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S U M Á R I O

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I 7

AS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE PROVOCAM A DEPENDÊNCIA 8

CAPÍTULO II 11

AS IMPLICAÇÕES DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 12

CAPÍTULO III 15

OS PROBLEMAS PROVOCADOS PELA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 16

CONCLUSÃO 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24

ANEXOS 28

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INTRODUÇÃO

É de extrema relevância o estudo do presente assunto. O problema

dependência química é assustador e causador de grande preocupação em nossa

sociedade. Está presente em todas classes sociais, de forma abusiva e cruel.

Na dependência química existem substâncias naturais ou sintéticas, lícitas

(álcool, tabaco, substâncias farmacológicas calmantes etc.) ou ilícitas (proibidas por

lei, de um modo geral, como: maconha, cocaína etc.).

O Brasil é uma sociedade onde o álcool pode ser vendido e consumido quase

em todo lugar e por qualquer um, se tomarmos a legislação como referência. Existem

poucos regulamentos restritivos e os existentes são raramente mantidos em vigor.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, estabelece restrições para

publicações destinadas ao público infanto-juvenil, que não poderão conter

ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,

armas e munições. Proíbe também a venda de bebidas alcoólicas às crianças e aos

adolescentes menores de 18 anos.

Outro fator que complica a situação de um dependente de substância química é

o fato que a faixa etária em que as pessoas buscam tratamento depende entre outras

coisas da substância utilizada. O consumo começa normalmente na adolescência. Os

usuários de álcool levam vários anos para chegar a dependência. Por isso, esses

indivíduos procuram tratamento por volta dos trinta anos. E aí ... o tempo útil para

soluções, pode ter passado. Pode ser tarde demais e o organismo terá perdido a

capacidade de recuperação.

Pelo fato desta ameaça ser latente e começar cedo, é de suma importância o

papel do professor, de um modo geral, em todas as fases do aprendizado escolar.

Segundo Amaro (1998:25), o professor pode e deve atuar como conselheiro. O

professor de Matemática, por exemplo, através dos seus conhecimentos profundos

sobre Estatística, constitui-se em um vetor importantíssimo na abordagem, detecção

e tratamento técnico do problema.

Assim sendo, a respeito dos métodos estatísticos possíveis de serem aplicados,

destacamos o que foi dito por Lakatos (1993:108):

“Criado por Quetelet, os processos estatísticos permitem obter, de conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relações entre si. Assim, o método

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estatístico significa redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre a sua natureza, ocorrência ou significado.”

O método de pesquisa estatística, usando média, desvio padrão, variância, etc,

em uma população significativa de dependentes, permite uma série de estratificações,

dentre elas, a estratificação por classes sociais. Através dos cenários traçados será

possível reencontrar o seu caminho de volta à vida normal e saudável, na sociedade.

As técnicas estatísticas são muito potentes, pois são ricas em soluções.

Entretanto, no caso das pesquisas com dependentes, existe o fato delas serem feitas

após os danos já estarem instalados nos dependentes (ex post facto), portanto de

caráter muito mais profundo que uma pesquisa de intenções. Aí entra o papel do

professor, que por acompanhar desde cedo a problemática, pode intervir “a tempo”.

O presente trabalho tem por objetivo colaborar com a sociedade, de um modo

geral, na prevenção e no combate a uso de substâncias químicas, lícitas ou ilícitas, no

meio escolar, visando com isso o restabelecimento das boas atitudes.

No primeiro capítulo são mostradas quais são as substâncias químicas que

alimentam o problema da dependência química, identificando-as e classificando-as.

No segundo capítulo são apresentadas as implicações sociais e econômicas

decorrentes do problema da dependência química.

No terceiro capítulo é feita a abordagem do problema da dependência química

no que diz respeito as suas causas e efeitos, assim como das possíveis soluções para

prevenção e tratamento.

Os anexos apresentados servem como sugestão para o controle e prevenção do

problema, uma vez que é imprescindível a utilização de alguma metodologia sempre

que um problema necessite uma intervenção.

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CAPÍTULO I

As Substâncias Químicas que Provocam a Dependência

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AS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE PROVOCAM A

DEPENDÊNCIA

Segundo Ferreira (FERREIRA, Salete; www.olharvirtual. ufrj.br/painel/2004/

16mar _olho.htm), atualmente, a variedade de substâncias que afetam os dependentes

químicos é muito grande. Existe uma dimensão psíquica e uma social para cada tipo

de substância. Algumas atuam no cérebro, modificando a maneira de sentir, pensar e

de agir. Elas trazem algum prazer (senão ninguém as usaria). Trazem também riscos,

que podem estar relacionados aos seus efeitos diretos: riscos legais, sociais e de

dependência.

A dependência química é um dos problemas mais difíceis da atualidade

(ACSELRAD,1993, P.12). Embora as substâncias causadoras de dependência

química possam ser lícitas ou ilícitas (PAULO, Ana Cláudio; www.sobresites.

com/dependencia/ilicitas.htm, 2004), o que sempre vem à mente são as ilícitas, como

a maconha e a cocaína. O que passa despercebido por muita gente é que as mais

consumidas entre os jovens no Brasil são as lícitas, disfarçadas principalmente como

“inocentes cervejinhas de fim de semana”. O fato de uma destas substâncias ser lícita

(legal) não a isenta de riscos. Suas propriedades químicas podem, tanto quanto nas

ilícitas, provocar riscos para a saúde.

As substâncias causadoras de dependência química podem ter efeitos

depressores, estimulantes ou perturbadores do Sistema Nervoso Central (SNC).

Dentre todas as substâncias conhecidas, uma das mais banalizadas é o álcool

(RAMOS,1998, P.13). É depressora, diminuindo o funcionamento cerebral, dando

ao usuário um certo “desligamento”, uma característica, às vezes engraçada, de

“devagar, quase parando”, um estado de “flutuação”. Obviamente, estes são o

estados “prazerosos”. O excesso advindo da dependência é que trará, certamente, os

problemas sociais e psíquicos.

Segundo, ainda, a psicóloga Salete Ferreira, existe a preservação na cultura

brasileira, do uso do álcool. É uma substância historicamente usada em quase todas

as civilizações e, no Brasil, é usada de maneira muito específica, por determinadas

classes sociais, e de forma muito banalizada (a cerveja, por exemplo), gerando os

seus já conhecidos efeitos maléficos. O grande consumo de álcool pelos jovens deve-

se ao fato dele ser lícito — pelo menos aos maiores de idade, o que já facilita sua

compra — e uma maneira de os jovens se sociabilizarem. “A bebida é socialmente

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aceita, fácil de comprar e, para os jovens, é uma maneira de se integrar ao grupo”.

São freqüentes os casos de adolescentes de 13 anos de idade dependentes em bebidas

alcoólicas. O início precoce da dependência é explicado por alguns fatores familiares

que, mesmo sem querer, estimulam a criança a consumir alguma bebida e pela

facilidade na sua compra.

A alta ingestão de álcool provoca doenças físicas (cirrose, por exemplo) e

mentais. O alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, está

associado a cerca de 50% dos acidentes com morte, 50% dos homicídios e 25% dos

suicídios. É uma doença crônica, sendo fundamental que se mantenha a continuidade

do tratamento com o objetivo de prevenir as recidivas.

O tratamento do alcoolismo deve ser realizado por médico específico ou terapia

social. O “Alcoólicos Anônimos” (AA) é uma organização dedicada ao auxilio do

dependente, através de grupos de auto-ajuda (PAULO, Ana Cláudio; Grupos de

Apoio: www.sobresites.com/ dependência/grupos.htm, 2004):

a) Al-Anon, para companheiros, parentes, e amigos de dependentes no uso do

álcool;

b) Al-Ateen, para adolescentes e crianças, com função de suporte.

Os opiáceos, também depressores, são os derivados do ópio, sendo mais

conhecidas: a morfina e a heroína; que se fixam em receptores cerebrais e em pouco

tempo levam a dependência. Tem ação analgésica, pode causar uma euforia inicial

seguida de apatia e sonolência. Em superdosagem pode levar ao coma e morte por

parada respiratória. Durante a abstinência confere ao dependente, sensações de

náusea, dores musculares e diarréia.

Os inalantes ou solventes estão, juntamente com a maconha, entre as drogas

mais usadas por crianças e adolescentes no Brasil. Incluem-se: a gasolina, os

removedores de tinta, a cola de sapateiro, a benzina e a acetona. São depressores

cerebrais podendo causar inicialmente euforia, sensação de flutuar, tontura ... Com

aumento da dose causam torpor mental.

Dentre as substâncias estimulantes do SNC, temos a cocaína, refinada ou não,

que aumenta a atividade cerebral, dando ao usuário uma condição de “ligado”,

“elétrico”. Mais uma vez aparece a situação “prazerosa”, inicialmente, e depois, com

o excesso, os efeitos danosos ao indivíduo.

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A cocaína refinada consiste em um pó branco que pode ser aspirado ou

injetado, causando um estado de intensa euforia. Já a cocaína não refinada é formada

por pastas em solventes básicos, resultando nas pedras de crack (ou merla), que são

fumados. Têm ação mais rápida, na obtenção de sensações e conseqüentemente nos

danos ao cérebro. Em doses altas podem causar morte por parada cardíaca.

Outras substâncias estimulantes são as anfetaminas e derivados, a nicotina e a

cafeína.

No que diz respeito à nicotina, como fator interessante, temos: a nicotina e

outras substâncias, presentes no cigarro, segundo determinada pesquisa, foram as que

mais perderam terreno. A proporção dos que fumam diariamente é de cerca de 3%

dos alunos. Isso se deve principalmente às campanhas esclarecedoras (medida de

prevenção, conforme visto no item 5 – Objetivos), contra o tabagismo.

Finalmente, temos as substâncias perturbadoras do SNC, onde a maconha tem

posição de destaque. O cérebro do usuário passa a funcionar fora do normal, não em

velocidade, mas sem qualidade do funcionamento. Confere ao usuário, na fase

prazerosa, uma sensação de euforia, tranqüilidade, quase de sonho. O uso crônico da

maconha leva a um estado de apatia e passividade.

Outras substâncias consideradas perturbadoras do SNC são: mescalina, LSD

(ácido), DMT (Santo Daime), MDMA (ecstasy) etc.

Todas as substâncias, citadas até o momento, são de uso muito freqüentes em

nosso meio, apresentando crescimento acentuado; não só nas ruas, nas escolas, nas

empresas e nas fábricas, nos clubes, festas e academias de ginástica; mas também

dentro da sala de milhares de famílias de todas as classes sociais.

As substâncias capazes de alterar o funcionamento mental ou psíquico são

denominadas substâncias psicotrópicas ou simplesmente psicotrópicos. Psicotrópico

advém da junção de psico (mente) e trópico (atração por). Desse modo, substâncias

psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando nossa maneira

de sentir, de pensar e, muitas vezes, de agir. Mas estas alterações do nosso psiquismo

não são iguais para toda e qualquer substância. Cada uma delas é capaz de causar

diferentes reações.

Uma parte das substâncias psicotrópicas é capaz de causar dependência. Essas

substâncias receberam a denominação de substâncias de abuso, devido ao uso

descontrolado observado com freqüência entre os seus usuários.

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CAPÍTULO II

As Implicações da Dependência Química

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AS IMPLICAÇÕES DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A dependência química é um problema que se estruturou aos poucos na vida do

dependente. Muitas vezes, levou anos para aparecer. Muitas coisas foram afetadas: o

desempenho escolar, a eficiência no trabalho, a qualidade dos relacionamentos, o

relacionamento com a família, a confiança do patrão, o respeito dos empregados etc.

Como esperar, então, que algo presente na vida de alguém há tempo e que lhe trouxe

tantos comprometimentos desapareça de repente? Quem decide começar um

tratamento, se depara com os sintomas de desconforto da falta da substância que

provocou a dependência e, além disso, com um futuro prejudicado pela falta de

suporte, que o próprio indivíduo perdeu ou deixou de adquirir ao longo da sua

história de dependência (BAPTISTA, P.28).

Como já citado anteriormente, a faixa etária em que as pessoas buscam

tratamento depende entre outras coisas da substância utilizada. O consumo começa

normalmente na adolescência. Os usuários de álcool levam vários anos para chegar a

dependência. Por isso, esses indivíduos procuram tratamento por volta dos trinta

anos. Os usuários de cocaína também podem esperar anos até a chegada ao

tratamento. Já os usuários de opiáceos e crack, rapidamente se tornam dependentes e

procuram ajuda em menos tempo. Dessa forma, serviços especializados no

tratamento da dependência de álcool tendem a atender um perfil de indivíduos mais

velhos. Já aqueles que tratam usuários de cocaína, crack e opiáceos, trabalham com

indivíduos mais novos.

Finalmente, temos como conclusão um ponto que, no andamento da vida, deve

ser o primeiro de todos os tópicos: como saber se alguém usa uma substância

causadora de dependência química?

Se for detectado no início, obviamente, o problema será de solução mais rápida.

Assim, o “olho clínico” de qualquer pessoa sã poderá evitar ou conduzir alguém à

felicidade de se tornar uma pessoa normal, sem dependência de drogas. Assim, deve

ser possível se observar:

a) Mudança brusca no comportamento;

b) Irritabilidade sem motivo aparente e explosões nervosas;

c) Inquietação motora. O jovem se apresenta impaciente, inquieto, irritado,

agressivo e violento;

d) Depressões, estado de angústia sem motivo aparente;

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e) Queda do aproveitamento escolar ou desistência dos estudos;

f) Insônia rebelde;

g) Isolamento. O jovem se recusa a sair de seu quarto, evitando contato com

amigos e familiares;

h) Mudança de hábitos. O jovem passa a dormir de dia e ficar acordado à noite.

Existência de comprimidos, seringas, cigarros estranhos, entre seus pertences;

i) Desaparecimento de objetos de valor, de dinheiro ou, ainda, incessantes

pedidos de dinheiro. O jovem precisa de dinheiro, a cada dia mais, a fim de atender

às exigências e exploração de traficantes, para aquisição de produtos que lhe

determinaram a dependência;

j) Más companhias. Os que se iniciaram no vício passam a fazer parte da vida

do jovem.

Obviamente o professor não tem condições de observação em todos os itens

descritos. Deve haver, assim sendo, uma integração com o meio social do aluno

observado. As reuniões escolares, com a presença de responsáveis, as conversas

francas e o estabelecimento de estratégias devem ser sempre enfocadas.

O meio social global do paciente exerce impacto importante tanto sobre o

desenvolvimento como sobre a recuperação da dependência de substância química. O

meio social modela atitudes com relação ao contexto apropriado para o seu uso

(como as diferenças verificadas entre o hábito de beber socialmente em reuniões

familiares e o recreacional, até atingir a intoxicação). Modelos de família ou

companheiros influenciam o contexto social e psicológico para o uso de substâncias

e a escolha das mesmas e o grau de controle exercido sobre os comportamentos dos

usuários. Quando falamos “companheiros” temos uma abrangência muito larga. Em

alunos de pouca idade os companheiros são seus colegas de turma, rua, clube etc.

Em alunos de mais idade, pela complexidade natural dos relacionamentos ao longo

da vida, somam-se as namoradas ou namorados, conhecidos etc.

Uma vez desenvolvido, o padrão de dependência ou abuso, a motivação e a

habilidade em aceitar o tratamento são influenciadas pelo grau de suporte no grupo

de companheiros e meio social para permanecer abstinente.

Quanto aos fatores culturais, existem pesquisas que sugerem pior prognóstico

para as minorias éticas e raciais em programas de tratamento convencional,

conquanto isso possa ser decorrente das diferenças das classes sociais. Embora

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existam poucas pesquisas sobre a eficácia em programas culturalmente específicos,

os serviços de tratamento que são sensíveis à cultura e abordam as preocupações

especiais de grupos de minoria étnica podem melhorar a aceitação do tratamento, a

adesão e, finalmente, o prognóstico terapêutico.

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CAPÍTULO III

Os Problemas provocados pela Dependência Química

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OS PROBLEMAS PROVOCADOS PELA DEPENDÊNCIA

QUÍMICA

Uma vez estabelecido que existe o problema da dependência química é fácil

observar que o estado do usuário e dependente de drogas traz imensurável sofrimento

para todos, sendo inadmissível alguém participante desse quadro (o professor

também) se posicionar fora dele. Pensar que tudo se resolverá a partir de uma

internação ou após algumas consultas médicas não é correto.

Os debates e questionamentos são o único meio que podem ajudar a encontrar

soluções que atenuem ou erradiquem as causas desse problema. A prevenção,

sobretudo na escola (onde as classes sociais muitas vezes se encontram), e o

conhecimento podem funcionar como um inibidor no uso indevido e generalizado de

substâncias impróprias. O desenvolvimento de ações conjuntas para sensibilizar e

buscar a participação de todos, através da realização de seminários, palestras e

exibição de filmes, pode colaborar na obtenção vitoriosa desta meta. A família,

propriamente, os professores, os colegas de turma e os amigos são importantes nesta

cadeia, pois todos, sem exceção, sofrem, ao verem uma pessoa querida envolvida em

distúrbios pessoais (desequilíbrio emocional) e sociais (internamentos, prisão,

dificuldades nos relacionamentos etc).

E, finalmente, toda a sociedade, isto é: todas as classes sociais, tem que se

envolver para colaborar. Um circunstante pode ser afetado pela proximidade de um

usuário problemático. Em confrontos policiais temos a “bala perdida”. O vizinho ou

amiguinho pode influir na conduta de alguém de nossas relações, e aí por diante. Não

é mais possível se colocar à margem do problema achando que “o problema não de

sua alçada”.

Segundo Cruz (CRUZ, M.S.,www.olharvirtual.ufrj.br/painel /2004/16mar_olho.

htm), a família é fundamental para o sucesso do tratamento da dependência química.

Quando se diz família, devemos pensar em pai, mãe, irmãos, tios, tias, primos,

namorado ou namorada, amigos etc. O professor também deve fazer parte dessa

“família”, uma vez que está presente quase que diariamente, quase que o ano todo na

vida do aluno, dependente ou não.

Assim sendo todos poderão ajudar, mas a família de verdade não pode faltar,

porque:

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a) O dependente muitas vezes não tem a noção completa da gravidade do seu

estado. Por mais que deseje o tratamento, acha que as coisas serão mais fáceis do que

imagina. Por conta disso, se expõe a situações de risco que podem levá-lo de volta ao

consumo.

b) O dependente sente a necessidade de “se testar”, expondo-se a situações

de risco para ver se seu esforço está valendo a pena. A família (o professor está

incluído) deve ajudá-lo, estabelecendo com o dependente regras que ajudem a afastá-

lo da recaída. Todo o tratamento começa com um mapeamento dos fatores e locais de

risco de recaída. A família deve ajudar o dependente a evitar esses locais. Isso não

deve ser feito de modo policial. Não se trata de fiscalizar. Trata-se, sim, de chamá-lo

à reflexão e à responsabilidade, sempre que esse, sem perceber, se expuser ao risco

da recaída.

c) O dependente sente dificuldades em organizar novas rotinas para sua vida

sem as substâncias. O dependente de substâncias químicas precisa de apoio para

superar as dificuldades e estabelecer um novo modo de vida sem as mesmas. Vários

fatores interferem nessa tarefa. A pessoa, quando jovem pode ser aquele aluno que

faltava muito por causa do problema da dependência e como conseqüência pode ter

saído da escola muito cedo e agora está pouco qualificado para um bom emprego.

Quando adulta, pode ter estado fora do mercado de trabalho há muitos anos,

desatualizada e sem contatos que lhe proporcionem voltar em curto prazo. Há

dificuldade em se relacionar com as pessoas, agüentar as frustrações, saber esperar a

hora certa para tomar a melhor atitude. A autocrítica do dependente por vezes é dura

consigo mesmo. Deixa um clima depressivo e de fracasso no ar. Isso pode fazer com

que os planos para o tratamento sejam deixados de lado.

d) A família no tratamento mostra que o diálogo ainda existe. A rotina da

dependência química traz ressentimentos para todos. Muitos debates deverão ser

estabelecidos. No entanto, é preciso entender que se trata de uma doença. Em um

primeiro momento a motivação do dependente para a mudança e do apoio da família

para mantê-lo motivado são importantíssimos. Isso demonstra que a família ainda é

capaz de se unir, conversar e resolver seus problemas. Quando o momento de debater

o assunto chegar, todos estarão fortalecidos, desenvolvendo-o com mais ponderação

e menos emoção. Uma vez que o professor “faz parte da família”, quando o aluno

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retorna deve encontrar no docente o apoio necessário, através, principalmente do

aconselhamento.

Mudando de enfoque, a situação poderia não existir se fosse feita a prevenção.

Convém dizer que prevenção e repressão não são a mesma coisa. Elas supõem

posturas diferentes, porém complementares:

a) Prevenção - consiste na redução da demanda do consumo de substâncias

causadoras de dependência química. Neste caso, as ações têm como objetivo fornecer

informações e educar os jovens a adotarem hábitos saudáveis e protetores em suas

vidas. Espera-se que as pessoas diminuam ou parem de consumir estas substâncias.

O papel do educador torna-se de suma importância na prevenção, pois ele tem

condições de mostrar tecnicamente os efeitos físicos e sociais decorrentes do uso de

substâncias impróprias. Se desde cedo o aluno compreende os seus malefícios, o

caminho se torna mais accessível.

b) Repressão - consiste na redução da oferta de substâncias. As ações

repressivas têm como objetivo dificultar o acesso às mesmas, como por exemplo: a

legislação que proíbe o uso de algumas substâncias, ações policiais para prender

traficantes e restrições ao consumo de álcool e tabaco para menores de 18 anos.

Ambos conceitos encontram-se presentes no cotidiano da escola: no mesmo

tempo que a escola faz campanhas educacionais antitabagistas, proíbe a todos

(inclusive professores e funcionários) de fumarem na instituição.

Como exemplo de atividades preventivas, temos:

a) Professores e funcionários - Criar um banco de aulas, atividades e

dinâmicas reaplicáveis que abordem todas as substâncias causadoras de dependência

química e os diferentes usos. Elaborar material didático: cartilhas e folhetos;

b) Pais - Criar um canal de discussão e de parceria com os pais através de

eventos específicos. Promover uma discussão sobre os fatores de risco e de proteção;

c) Alunos - Planejar projetos pedagógicos e culturais: exposições de pesquisas

e trabalhos realizados. Discussão de algumas propagandas de álcool e medicamentos,

por exemplo.

Uma visão geral do problema, devido ao uso das substâncias causadoras de

dependência química, pode ser visto através do gráfico constante no Anexo III.

Boa parte das pessoas experimenta alguma substância causadora de dependência

química, durante a vida. A maior parte reduz, abandona ou passa a utilizá-las

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controladamente. A outra, passa a apresentar problemas. Quando esses problemas se

tornam evidentes, alguns indivíduos conseguem abandonar a substância

espontaneamente. Outros procuram tratamentos, enquanto um terceiro grupo

continua a consumi-la. Abandonar as substâncias após a chegada da dependência

significará para muitos uma série de recaídas, abandonos e retornos ao tratamento e o

surgimento de complicações. No entanto, aqueles que não desistem e permanecem

em tratamento sempre apresentam melhora.

Há algumas fases da vida em que as pessoas ficam mais expostas à dependência

química. Os adolescentes, curiosos e contestadores por natureza, são aqueles que

mais experimentam as substâncias. Os adolescentes são leais aos amigos (incluem-se

aí os colegas de escola). Desse modo, curiosidade, contestação e lealdade são

qualidades naturais do adolescente. Quando se juntam a um grupo que usa

substâncias causadoras de dependência química, se sentem impelidos a experimentar

também. Todos querem se sentir iguais, dividir as mesmas experiências, angustias e

solucionarem juntos as suas dificuldades. O corpo docente deve estar sempre atento à

possibilidade do uso de drogas no espaço da escola (as imediações da escola também

devem ser considerados como tal). A partir daí os métodos de prevenção devem ser

rigorosamente aplicados.

Os problemas relacionados ao consumo de substâncias podem aparecer desde a

primeira experiência. Acidentes de carro, provocados por “overdose”, por exemplo,

são sempre possíveis quando se utiliza uma substância. Mas apesar disso, a maioria

das pessoas evolui para um consumo de baixo risco (por exemplo, o uso social de

álcool), ou mesmo abandonam o consumo. Uma parte menor passará a apresentar

problemas com mais freqüência e poderão até chegar à dependência.

A faixa etária em que as pessoas buscam tratamento depende entre outras

coisas da substância utilizada. O consumo começa normalmente na adolescência. Os

usuários de álcool levam vários anos para chegar a dependência. Por isso, esses

indivíduos procuram tratamento por volta dos trinta anos. Os usuários de cocaína

também podem esperar anos até a chegada ao tratamento. Já os usuários de opiáceos

e crack, rapidamente se tornam dependentes e procuram ajuda em menos tempo.

Dessa forma, serviços especializados no tratamento da dependência de álcool tendem

a atender um perfil de indivíduos mais velhos. Já aqueles que tratam usuários de

cocaína, crack e opiáceos, trabalham com indivíduos mais novos. Obviamente, em se

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tratando de alunos, esta é a faixa mais populosa, onde a atuação do professor e as

possíveis estatísticas devem se apresentar mais significativas.

De um modo geral, existem duas situações possíveis para que um dependente

químico comece um tratamento:

Por sua livre iniciativa:

a) Aparecimento de complicações clínicas ligadas ao consumo de drogas;

b) Após experimentar complicações agudas (“porre”, overdose);

c) Preocupação com os danos futuros que o consumo poderia causar;

d) Reações sociais ao consumo (por exemplo: demissão do trabalho);

e) Piora do relacionamento familiar, em especial do casamento;

f) Envolvimento do usuário com a religião;

g) Por pressão de pessoas que o usuário gosta muito (familiares, amigos);

h) Desejo de se aproximar de pessoas que não usam (amigos, envolvimentos);

i) Necessidade de mostrar para si um autocontrole sobre o consumo;

j) Por razões econômicas ou problemas financeiros;

k) Para dar exemplo a outras pessoas (filhos, irmãos mais novos);

l) O lado negativo da vida nas ruas (violência, mendicância);

m) A sensação de não agüentar mais conviver com as crises;

n) Mudanças no estilo de vida e o surgimento de novas situações (um curso

escolar promissor, um novo namoro, emprego, oportunidade social) que são

incompatíveis com o consumo de substâncias causadoras de dependência química.

Por imposição de outras pessoas:

a) tratamento compulsório por determinação judicial;

b) por imposição dos pais, filhos ou parceiro;

c) por pressão do patrão ("ou o tratamento, ou a demissão");

d) por imposição do médico de uma outra especialidade;

e) internação forçada após um episódio de agitação extrema.

O meio social global (a escola está inserida fortemente) do paciente exerce

impacto importante tanto sobre o desenvolvimento como sobre a recuperação da

dependência de substância química. O meio social modela atitudes com relação ao

contexto apropriado para o seu uso (como as diferenças verificadas entre o hábito de

beber socialmente em reuniões familiares e o recreacional, até atingir intoxicação).

Modelos entre a família ou companheiros influenciam o contexto social e psicológico

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para o uso de substâncias e a escolha das mesmas e o grau de controle exercido sobre

os comportamentos dos usuários.

Uma vez esteja desenvolvido, o padrão de dependência ou abuso, a motivação e

a habilidade em aceitar o tratamento são influenciadas pelo grau de suporte no grupo

de companheiros e meio social para a permanência da abstinência.

Quanto aos fatores culturais, existem pesquisas que sugerem pior prognóstico

para as minorias éticas e raciais em programas de tratamento convencional,

conquanto isso possa ser decorrente das diferenças das classes sociais. Embora

existam poucas pesquisas sobre a eficácia em programas culturalmente específicos,

os serviços de tratamento que são sensíveis à cultura e abordam as preocupações

especiais de grupos de minoria étnica podem melhorar a aceitação do tratamento, a

adesão e, finalmente, o prognóstico terapêutico.

A prevenção ainda é o melhor caminho. No caso dos adolescentes o papel do

docente torna-se crucial, pelas oportunidades constantes de enfoque informativo,

pelo respeito do aluno, pela característica de ser ainda o início dos fatos etc. Mas,

uma vez existindo o problema deverão ser tomadas as providências adequadas, caso

a caso.

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CONCLUSÃO

Dentro da escola temos todas as classes sociais e econômicas. Para que não se

corra o risco de “ensinar como usar substâncias químicas”, ao se mostrar algo aos

alunos, é importante tomar cuidado com o enfoque a ser dado. O mais importante é

quanto aos danos decorrentes. Em turmas com alunos com condições melhores de

entendimento as informações podem ser mais claras. Em um certo momento poder-

se-á mostrar os diversos agentes de dependência, desde a cola de sapateiro, mais

barata e accessível, até as mais sofisticas e caras substâncias. Outras informações

também poderão ser mostradas, do tipo: o estudante dependente químico

normalmente usa a maconha, o empresário bem-sucedido e a atriz famosa usam

cocaína etc, e assim por diante. Esses cuidados nem sempre são eficientes, pois a

mídia mostra, dia a dia, tudo explicado, em sua busca de sensacionalismo.

Portanto, aparte a classe social de cada usuário, seja ele aluno ou não, para

atender as suas “necessidades de consumo” e até mesmo de “experimentar na busca

de diferentes sensações”, ocorre o fenômeno das pessoas entrarem nas classes

sociais, uma das outras, num entrosamento, infelizmente, muito eficiente. E isto tudo

ocorre facilitado pela vida social, sobretudo a vida social escolar. O corpo docente de

uma instituição de ensino deve, neste momento, estar atento e atuante.

Assim sendo, os projetos que identificam as classes sociais e a interação entre

as mesmas, como as existentes dentro do meio escolar, são muito importantes. As

estatísticas formadas podem se constituir em ferramentas no controle ao problema

“dependência química”. Um projeto deste tipo tem como objetivo: identificar as

classes sociais e a interação entre as mesmas, mostrando como os dependentes de

substâncias químicas “visitam” as classes, uns dos outros, dentro do ambiente

escolar, para atender as respectivas “necessidades”;

Uma vez identificadas as camadas sociais características do problema em tese

abordado, será possível contribuir na criação de técnicas preventivas mais eficientes,

para minimizar os efeitos correlatos; reforçar a importância da “família” (contando

com todos os que se relacionam com o dependente) no tratamento e rápida obtenção

da cura; a disseminação detalhada de quais são as substâncias, sob os diversos graus

de periculosidade, lícitas ou ilícitas, que são usadas pelo dependente e alertar sobre

as graves e inevitáveis conseqüências do uso de tais substâncias químicas nas

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mulheres (geração de filhos com problemas físicos e mentais gravíssimos, por

exemplo) e nos homens (problemas de impotência, por exemplo). Por sinal, hoje em

dia, estas situações já são notórias devido à precocidade na prática sexual em nossa

sociedade. Muitos alunos e alunas já conhecem o sexo, devendo ser alertados para os

efeitos daninhos após o consumo de substâncias químicas inadequadas.

Um questionamento sempre presente é: “o dependente é problemático por

causa do meio social ou o meio social o tornou dependente (causalidade reversa)”?

Os questionários, conforme os exemplos mostrados nos anexos I e II, poderão

ser utilizados no questionamento de dependentes e pessoas de seu relacionamento

social são. Na verdade, qualquer pesquisa constitui-se numa tentativa de se

proporcionar ao usuário o “melhor caminho”, conforme mostrado no anexo III.

Assim sendo, a utilização de um método estatístico provavelmente poderá

revelar, esperamos a tempo, a possível origem do problema. Os Anexos I, II e III

representam, respectivamente:

Anexo I – Questionário I, a ser aplicado aos dependentes;

Anexo II – Questionário II, a ser aplicado aos familiares e amigos;

Anexo III – Gráfico característico das trajetórias possíveis e inevitáveis do

problema, com importância relevante dos ramos “tratamento-recaída-abstinência”.

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A N E X O S

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO I

Pergunta nº 1 Qual seu nome completo?

Pergunta nº 2 Qual sua idade?

Pergunta nº 3 Você estuda?

Pergunta nº 4 Você tem bom relacionamento com sua família?

Pergunta nº 5 Você tem namorado (a)?

Pergunta nº 6 Qual pessoa lhe dá mais apoio?

Pergunta nº 7 Você gosta de animais de estimação?

Pergunta nº 8 Você gosta de Cinema?

Pergunta nº 9 Que tipo de filme você gosta?

Pergunta nº 10 Você gosta de assistir televisão?

Pergunta nº 11 Que tipo de programa de televisão você gosta?

Pergunta nº 12 Qual personalidade pública você admira?

Pergunta nº 13 Você pratica algum esporte?

Pergunta nº 14 Você gosta de colecionar alguma coisa?

Pergunta nº 15 Qual a cor de sua preferência?

PARECER:

Anexo I – Questionário I. Exemplo de questionário a ser aplicado aos dependentes.

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ANEXO II

QUESTIONÁRIO II

Pergunta nº 1 Qual seu nome completo?

Pergunta nº 2 Qual sua idade?

Pergunta nº 3 Trabalha, atualmente?

Pergunta nº 4 Pratica algum esporte?

Pergunta nº 5 Assiste televisão?

Pergunta nº 6 Já participou de algum grupo de apoio a dependentes químicos?

Pergunta nº 7 Qual personalidade pública você admira?

Pergunta nº 8 Qual sua formação profissional?

Pergunta nº 9 Você é ou já foi dependente químico?

Pergunta nº 10 Que tipo de relação você tem com o dependente?

Pergunta nº 11 Quando você percebeu algo estranho no comportamento do dependente ?

Pergunta nº 12 Você procurou ajudá-lo?

Pergunta nº 13 A aproximação do dependente foi bem sucedida?

Pergunta nº 14 Como foi a receptividade do dependente?

Pergunta nº 15 Você tem, na sua família, algum caso de dependência química?

PARECER:

Anexo II – Questionário II. Exemplo de questionário a ser aplicado aos familiares e amigos

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ANEXO III

Gráfico demonstrativo do ciclo causado pelo uso das substâncias causadoras de

dependência química (vide citação à página 14) e estatística referente ao “ramo

tratamento-recaída-abstinência”.

ANO TRATAMENTO ABANDONO ALTA RECAÍDA 200X 200Y

Anexo III – Gráfico característico das trajetórias possíveis e inevitáveis do problema. Exemplo de tabela para os ramos “tratamento-recaída-abstinência”.